Licenciatura em Música - Matheus Tomazelli RESENHA - INDÚSTRIA CULTURAL, INDUSTRIA FONOGRÁFICA, TECNOLOGIA E CIBERCULTURA
VIANA, Lucina Reitenbach. Indústria Cultural, Indústria Fonográfica, Tecnologia e
Cibercultura. In: X Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul. Blumenau. 28 a 30 de maio de 2009. Divisão Temática de Comunicação Multimídia. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Blumenau, 2009.
No artigo “Indústria Cultural, Indústria Fonográfica, Tecnologia e Cibercultura”,
Lucina Reitenbach Viana (Pós-Doutora em Comunicação pela UNISINOS, na linha de pesquisa de Cultura, Cidadania e Tecnologias da Comunicação) apresenta a função da indústria fonográfica dentro da indústria cultural, sugere a revisão do termo e discorre sobre o papel do consumidor, que vira concomitantemente produtor e distribuidor de música através da internet e do computador. Alguns conceitos tradicionais do universo da música acabam por se redefinir com o constante crescimento das ferramentas facilitadoras da composição musical, como os computadores e a internet. O termo “indústria cultural”, por exemplo, cunhado pela Escola de Frankfurt em suas reflexões anteriores aos anos 60 e que designa, entre outras tantas camadas, o “[…] caráter manipulador e da influência exercida pela transformação do entretenimento em produto de consumo” (VIANA, 2009, p. 2) deve sofrer uma mudança em seu significado devido ao acesso crescente da participação do homem no processo de produção e distribuição musical, pois ele já não se encontra totalmente desinformado. Após, a autora apresenta um breve histórico da indústria fonográfica no Brasil, e defende que a concepção de indústria cultural como defendida por Adorno e Horkheimer só pode ser aplicada no Brasil após a década de 60, no período de consolidação da televisão. A indústria fonográfica surge a partir da oportunidade de gravação dos sons e seu desenvolvimento pode ser dividido em quatro fases: a mecânica (cilindros fonográficos), a elétrica (discos de vinil), a eletrônica (fitas- cassete) e a digital (CD’s), sendo que é no último período em que ocorre a introdução dos hardwares e softwares de produção musical. Em meados da década de 90, com o desenvolvimento da internet e de sua democratização, a indústria fonográfica se inseriu nos processos ciberculturais, possibilitando o acontecimento das principais mudanças mercadológicas musicais, através do desenvolvimento da economia de nichos. Agora, a economia não se move mais através de hits, mas sim através de uma variedade de estilos, subgêneros e mesclas. Com isso, os consumidores tem um controle maior sobre quais conteúdos eles consomem, e acabam por se mesclar nos processos de produção. O avanço das capacidades computacionais e o progresso tecnológico são essenciais para o desenvolvimento da música que, como todas as outras artes, tenta se comunicar com o público de alguma maneira. Tal comunicação é feita através do uso da própria tecnologia: “a relação fundamental da tecnologia com a música está na essência da comunicação entre o artista e o público […]” (VIANA, 2009, p. 9), passando de simples produção artística para evento comunicacional através das plataformas sociais. Conforme as tecnologias se desenvolvem e avançam, mais simples é o processo de produção musical. Se o compositor souber como usar a tecnologia, ele pode alcançar seus objetivos criativos sem saber como tocar um instrumento, por exemplo. Outro fator importante defendido pela autora é a questão da “quebra” da indústria fonográfica como hegemonia nas formas de organização, armazenagem, distribuição e consumo de música, bem como nas ações técnico-burocráticas que anteriormente eram decisões tomadas somente pelas grandes gravadoras e hoje em dia estão à disposição do artista, fazendo com que ele “[…] tome responsabilidade pelo processo completo de sua arte, desde a origem até o encontro com o público.” (VIANA, 2009, p.11), resultado da utilização das tecnologias e mídias eletrônicas. Parte da “quebra” citada acima se deve ao uso de remixes e mashups que, apesar de algumas pessoas considerarem pirataria, por um olhar mercadológico se considera insatisfação dos consumidores, ilustrando como funciona a questão da reconfiguração musical na cibercultura. Finalmente, a autora divide os processos musicais mediados por computador em três momentos: atividades de garimpo e reutilização de ideias musicais, conhecidas como samples; produção musical propriamente dita através de DAW’s (Digital Audio Workstation); e o momento de distribuição e consumo da música. Fica claro que a música é usada como pretexto no artigo, pois é escrito por uma pessoa da área da comunicação. A autora parece ignorar a questão da relativização na revisão dos conceitos apresentados: não se pode negar que o perfil da indústria cultural mudou e que o processo de massificação não ocorre como anteriormente devido aos nichos, porém a autora defende que o sentido proposto por Adorno e Horkheimer não faz mais sentido na cibercultura. Ela não relativiza o conceito de mercado, que ainda existe hoje em dia e é tão ou mais cruel do que o mesmo mercado citado pela Escola de Frankfurt. O consumidor agora não apenas consome: ele tem a oportunidade de ser o criador do próprio consumo, mas não deixa de ser consumidor.
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