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Estudo

Estudantes de Medicina e de Engenharia são os mais religiosos


Ateus e agnósticos representam 28% dos universitários, um número superior ao do resto da
população. O budismo é a segunda religião que estes jovens mais admiram

Texto de Mariana Correia Pinto • 25/07/2012 - 09:00

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“Deus não existe” ou “Não sei se existe mas não tenho motivos para crer”. Juntas, estas
duas respostas – que reproduzem ateus e agnósticos – representam 28% dos jovens
universitários portugueses, uma população com uma ligação cada vez menos forte à
religião.

Ainda que o número de pessoas para quem a religião é muito importante continue a ser
“significativo”, “a percentagem de não religiosos entre os universitários é maior do que
no resto da população”, concluiu José Pereira Coutinho no seu estudo.

A tendência europeia não anda longe destes resultados e, por isso, José Pereira Coutinho
não ficou especialmente surpreendido com o facto de os universitários se mostrarem
pouco crentes. Um dos dados de que não estava à espera foi a percentagem (13%) de
jovens que responderam que, em relação à concepção de Deus, diziam que Ele
“correspondia à própria natureza”.

Foi um resultado inesperado, mas coerente com a escolha do Budismo como uma das
religiões ou doutrinas mais admiradas: 46% dos 500 alunos de quatro universidades
públicas de Lisboa admitiram que era o Budismo a religião que mais admiravam,
ficando o Catolicismo em primeiro lugar, com 52%.

Falta paciência e instrospecção

O sociólogo acredita que a “erosão gradual da família tradicional, do casamento


religioso, o aumento do divórcio e das uniões de facto” sejam as principais alterações
que motivam estes resultados. Por outro lado, o facto de “a mulher estar cada vez mais
integrada no mercado de trabalho” e de o processo de socialização se transferir mais
para a escola, amigos e internet também não aproxima os jovens da religião. 

“Vivemos num ambiente que não desenvolve o valor da paciência e da introspecção,


muito importantes para desenvolver a religiosidade”, resume Pereira Coutinho.

Em matéria de religião, não são os opostos que se atraem: as sociabilidades são feitas
junto dos pares de convicções religiosas, ou seja, os jovens religiosos tendem a dar-se
com os religiosos e os não crentes com os não crentes.

Médicos e engenheiros: os mais religiosos

Um dos dados mais curiosos da tese sociológica prende-se com a distribuição de


religiosidade de acordou com os cursos tirados: “Os estudantes de Medicina e os de
Engenharia são os mais católicos e os de Biologia, Ciências Sociais são os menos
católicos.”

O “aborto” é o parâmetro com menos aceitação, sendo o mais bem aceite a utilização de
contraceptivos. E são as mulheres as mais religiosas, o que vai ao encontro de vários
estudos.

Para o sociólogo José Pereira Coutinho caminhamos para uma realidade semelhante à
do início do Cristianismo: “Vai tender para poucos, mas mais convictos.” Ou seja,
“ainda que vão continuar a existir pessoas que se dizem católicos por tradição, a maior
parte só será por convicção”. Ateus e agnósticos serão uma fatia “cada vez maior” e as
minorias religiosas, por força da imigração, tendem a crescer.

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