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CONCERTAÇÃO SOCIAL
Francisco Assis nega ao Expresso que estivesse em causa o veto do documento. “Estou
convencido que a proposta iria passar, embora com algumas abstenções e dois ou três
votos contra”, disse. Alguns dos participantes na reunião questionaram a
“oportunidade” desta discussão, numa altura em que o país enfrenta uma pandemia
grave e uma maior crise económica e social. Assis responde que “não estamos em
estado de paralisia, nem impedidos de pensar” e justifica a retirada da proposta antes
da votação pela necessidade de “acolher os vários contributos apresentados na
reunião”. O presidente do CES admite, no entanto, existirem algumas “reservas e
resistências” e considera que “temos toda a vantagem em fazer uma discussão aberta,
porque o que não é discutido não é interiorizado”.
A ideia de que é necessário tornar os documentos oficiais mais ‘inclusivos’ não é nova,
surge mesmo como recomendação feita, não só pelo Conselho Europeu, mas também
pelo próprio Conselho de Ministros. E, no seu primeiro contributo para a discussão, a
socióloga defende o manual como forma de “garantir que, no CES, a discussão de
diferentes temas e a transmissão de ideias seja feita de forma a seguir as orientações e
as boas práticas em matéria de linguagem inclusiva”.
Para facilitar, a autora dá exemplos e apresenta “formas simples de evitar o uso do
masculino universal”, passando para o uso da “linguagem neutra”. Em regra, os nomes
comuns como ‘trabalhadores’, ‘gestores’, ‘idosos’, ‘contribuintes’ ou ‘migrantes’,
deixam o género masculino para passarem a ser designados como ‘a população’:
trabalhadora, ou idosa, ou migrante, respetivamente. Em alternativa, “a outra opção é
a de especificar os dois determinantes. Tanto no singular, como no plural”, esclarece
Sara Falcão Casaca, exemplificando, assim com “o trabalhador e a trabalhadora”, “o
pensionista e a pensionista” e por aí adiante.
O manual de linguagem inclusiva não se fica apenas pelos protagonistas principais dos
documentos, habitualmente, produzidos no CES. E porque “as boas práticas linguísticas
requerem a inclusão de todas as pessoas”, a investigadora ilustra a sua proposta com
outros casos onde “ importa dissociar a pessoa/ser humano da condição específica que
se pretende descrever”. É o caso das referências aos vários tipos de deficiências ou de
comunidades.
“ A título ilustrativo, não é a pessoa que é deficiente, pelo que não é a pessoa que se
qualifica, mas sim a sua condição de deficiência ou de incapacidade para o trabalho
profissional”, diz o documento, que passa assim a sugerir que se designem os cegos
como “pessoa invisual”, os coxos por “pessoa com deficiência física” ou a “raça cigana
por povo ou comunidade cigana”. Até mesmo os “amblíopes” passam a ser designados
como “pessoas com baixa visão”.
O manual tem múltiplos exemplos e, apesar de ter como “foco principal a elaboração
de documentos” não deixa de se estender ao “contexto de reuniões e e-mails” feitos
com ou por membros do CES. É sugerido, assim que, a abertura das reuniões do
Conselho siga a seguinte fórmula: “Bem-vindas e bem-vindos senhoras e senhores
conselheiros”, admitindo-se que “a ordem é indiferente”. Já quanto ao correio
eletrónico, “tanto a redação de e-mails, como o seu título deve seguir a estratégia
recomendada para a comunicação nas reuniões”.