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PROFESSOR: JEFFERSON DE OLIVEIRA DA SILVA

Língua
Portuguesa &
Técnicas de Interpretação Textual
INTRODUÇÃO

As práticas de linguagem contemporâneas não só envolvem novos


gêneros e textos cada vez mais multissemióticos e multimidiáticos,
como também novas formas de produzir, de configurar, de disponibilizar,
de replicar e de interagir. As novas ferramentas de edição de
textos, áudios, fotos, vídeos tornam acessíveis a qualquer um a produção
e disponibilização de textos multissemióticos nas redes sociais
e outros ambientes da Web. Não só é possível acessar conteúdos
variados em diferentes mídias, como também produzir e publicar
fotos, vídeos diversos, podcasts, infográficos, enciclopédias colaborativas,
revistas e livros digitais etc. Depois de ler um livro de literatura
ou assistir a um filme, pode-se postar comentários em redes sociais
específicas, seguir diretores, autores, escritores, acompanhar de perto
seu trabalho; podemos produzir playlists, vlogs, vídeos-minuto, escrever
fanfics, produzir e-zines, nos tornar um booktuber, dentre outras
muitas possibilidades.

http://portal.mec.gov.br/

BNCC, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, PÁG: 64

Declaração Universal dos Direitos Linguísticos, Barcelona, 1996, com o patrocínio da


UNESCO.
Disponível em: <http://e-ipol.org/direito-linguistic>. Acesso em: 6 dez. 2017.
I – CONCEPÇÕES DE LEITURA

FOCO NO AUTOR
Afirmamos que à concepção de língua como representação do pensamento
corresponde à de sujeito psicológico, individual, dono de sua vontade e de suas
ações. Trata-se de um sujeito visto como um ego que constrói uma representação mental
e deseja que ela seja “captada” pelo interlocutor da mesma maneira como foi
mentalizada.
Nessa concepção de língua como representação do pensamento e de sujeito como
senhor absoluto de suas ações e de seu dizer, o texto é visto como produto lógico do
pensamento (representação mental) do autor, nada mais cabendo ao leitor senão
“captar” essa representação mental juntamente com seus intensões (psicológicas).
Exercendo papel PASSIVO.
A leitura, assim é entendida como a atividade de captação de ideias do autor sem se
levar em conta as experiências e os conhecimentos do leitor a interação:
AUTOR-TEXTO-LEITOR
O foco de atenção é, pois, o autor e suas intenções, e o sentido está centrado no autor,
bastando tão somente captar suas intenções,

EXEMPLO 1

Da esquerda para a direita, sentados: Ministros Gilmar Mendes, Celso de Mello, Joaquim Barbosa
(Presidente), Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski (Vice-Presidente). Na mesma ordem, de pé: Ministros
Luiz Fux, Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Rosa Weber e Doutor Roberto Monteiro Gurgel Santos
(Procurador-Geral da República). Sessão solene realizada em 22 de novembro de 2012
“(...) Ao falar-se sobre o direito à igualdade, sobre o direito à igual consideração, é preciso
ter a honestidade intelectual para reconhecer que há um grande déficit de justiça entre nós.
Nem todos os brasileiros são tratados com igual consideração quando buscam o serviço
público da justiça.
Em vez de se conferir ao que busca a restauração dos seus direitos o mesmo tratamento,
a mesma consideração que é dada a uns poucos, o que se vê aqui e acolá — não
sempre, é claro, mas, às vezes, sim — é o tratamento privilegiado, o bypass, a preferência
desprovida de qualquer fundamentação racional. Gastam-se bilhões de reais anualmente
para que tenhamos um bom funcionamento da máquina judiciária, porém é importante que
se diga: o Judiciário que aspiramos a ter é um Judiciário sem firulas, sem floreios, sem rapapés
— pelo menos na minha concepção. O que buscamos é um Judiciário célere, efetivo
e justo. (...)”

http://www.stf.jus.br/ Trecho do Discurso de posse do Excelentíssimo Senhor Ministro


JOAQUIM BARBOSA,
Presidente do Supremo Tribunal Federal, 2012, PAGINA 50

EXEMPLO 2

“Apesar da distância mais ou menos longa do tempo, deveis estar neste


momento recordando a emoção indizível por que passastes no ato de vossa
posse neste augusto ambiente, repleto de tradições, em que, no dizer de um
vosso confrade, fundador da Casa, acabastes “de tirar o bilhete para a
imortalidade, na estação conhecida do mundo” por Academia Brasileira de
Letras.

Bem podeis avaliar o misto de emoção e de cuidados que deste vosso


confrade se apodera na ocasião em que vós me recebeis para um período, que
espero longo, de convivência fraterna, de enriquecimento cultural e de trabalho
e realizações que todos acreditamos meritórios à luz da sociedade e
fortalecedores dos ideais daquele grupo, que transformou o sonho nesta
radiosa realidade que é a Academia Brasileira de Letras. (...)”

Trecho do Discurso de Posse do Filólogo e gramático Evanildo Bechara na ABL (Academia


Brasileira de Letras) RJ, eleito em 11 de dezembro de 2000, na sucessão de Afrânio Coutinho e
recebido em 25 de maio de 2001 pelo Acadêmico Sergio Corrêa da Costa.
http://www.academia.org.br/academicos/evanildo-bechara/discurso-de-posse

FOCO NO TEXTO

Por sua vez, à concepção de língua como estrutura corresponde a de sujeito


determinado, ”assujeitado” pelo sistema, caracterizado por uma espécie de “não
consciência”.

Nessa concepção de língua como código – portanto como mero instrumento de


comunicação - e de sujeito como (pre) determinado pelo sistema, o texto é visto
como simples produto de codificação de um emissor ...
... a ser decodificado pelo leitor/ouvinte, bastando a este, para tanto, o conhecimento do
código utilizado.

Consequentemente, a leitura é uma atividade que exige do leitor o foco no texto, em


sua linearidade, uma vez que tudo está “dito no dito”

EXEMPLO 1

• Ana Clara Socha


“A estudante Ana Clara tem 21 anos, é de Brasília/DF, e tem o sonho de ser Médica. Ela
fez o Enem pela 4ª vez até conseguir a nota 1000 na redação. Ana relembra que treinou
muito e fazia pelo menos duas redações por semana, além de sempre conversar com um
professor para entender o que deveria mudar e acabar com os erros. A estudante conta
como foi a preparação e nas vésperas da prova. “No dia anterior à prova eu revisei todas
as minhas redações do semestre para lembrar dos erros que não poderia cometer e
também lembrar dos repertórios que tinha usado”, contou Ana.”

Redação ENEM NOTA 1.000

"Embora a Constituição Federal de 1988 assegure o acesso à cultura como direito de todos os
cidadãos, percebe-se que, na atual realidade brasileira, não há o cumprimento dessa garantia,
principalmente no que diz respeito ao cinema. Isso acontece devido à concentração de salas de
cinema nos grandes centros urbanos e à concepção cultural de que a arte direcionada aos mais
favorecidos economicamente.

É relevante abordar, primeiramente, que as cidades brasileiras foram construídas sobre um viés
elitista e segregacionista, de modo que os centros culturais estão, em sua maioria, restritos ao
espaço ocupado pelos detentores do poder econômico. Essa dinâmica não foi diferente com a
chegada do cinema, já que apenas 17% da população do país frequenta os centros culturais em
questão. Nesse sentido, observa-se que a segregação social - evidenciada como uma
característica da sociedade brasileira, por Sérgio Buarque de Holanda, no livro "Raízes do
Brasil" - se faz presente até os dias atuais, por privar a população das periferias do acesso à
cultura e ao lazer que são proporcionados pelo cinema.

Paralelo a isso, vale também ressaltar que a concepção cultural de que a arte não abrange a
população de baixa renda é um fato limitante para que haja a democratização plena da cultura
e, portanto, do cinema. Isso é retratado no livro "Quarto de Despejo", de Carolina Maria de Jesus,
o qual ilustra o triste cotidiano que uma família em condição de miserabilidade vive, e, assim,
mostra como o acesso a centros culturais é uma perspectiva distante de sua realidade, não
necessariamente pela distância física, mas pela ideia de pertencimento a esses espaços.

Dessa forma, pode-se perceber que o debate acerca da democratização do cinema é


imprescindível para a construção de uma sociedade mais igualitária. Nessa lógica, é imperativo
que o Ministério da Economia destine verbas para a construção de salas de cinema, de baixo
custo ou gratuitas, nas periferias brasileiras por meio da inclusão desse objetivo na Lei de
Diretrizes Orçamentárias, com o intuito de descentralizar o acesso à arte. Além disso, cabe às
instituições de ensino promover passeios aos cinemas locais, desde o início da vida escolar das
crianças, medianta autorização e contribuição dos responsáveis, a fim de desconstruir a ideia de
elitização da cultura, sobretudo em regiões carentes. Feito isso, a sociedade brasileira poderá
caminhar para a completude da democracia no âmbito cultural."

https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/

TEXTO 2
Augusto Scapini

Com 17 anos, o estudante Augusto, de Goiânia/GO, fez o Enem por duas vezes. Ele concluiu o
Ensino Médio em 2019 e afirma que começou a aperfeiçoar a escrita desde o 1º ano.

Redação ENEM NOTA 1.000

Aristóteles, grande pensador da Antiguidade, defendia a importância do conhecimento para a


obtenção da plenitude da essência humana. Para o filósofo, sem a cultura e a sabedoria, nada
separa a espécie humana do restante dos animais. Nesse contexto, destaca-se a importância do
cinema, desde a sua criação, no século XIX, até a atualidade, para a construção de uma
sociedade mais culta. No entanto, há ainda diversos obstáculos que impedem a democratização
do acesso a esse recurso no Brasil, centrados na elitização do espaço público e causadores da
insuficiência intelectual presente na sociedade. Com isso, faz-se necessária uma intervenção que
busque garantir o acesso pleno ao cinema para todos os cidadãos brasileiros.

De início, tem-se a noção de que a Constituição Federal assegura a todos os cidadãos o acesso
igualitário aos meios de propagação do conhecimento, da cultura e do lazer. Porém, visto que os
cinemas, materialização pública desses conceitos, concentram-se predominantemente nos
espaços reservados à elite socioeconômica, como os "shopping centers", é inquestionável a
existência de uma segregação das camadas mais pobres em relação ao acesso a esse recurso.
Essa segregação é identificada na elaboração da tese de "autocidadania", escrita pelo sociólogo
Jessé Souza, que denuncia a situação de vulnerabilidade social vivida pelos mais pobres, cujos
direitos são negligenciados tanto pela falta de ação do Estado quanto pela indiferença da
sociedade em geral. Fica claro, então, que o acesso ao cinema não é um recurso
democraticamente pleno no Brasil.

Como consequência dessa elitização dos espaços públicos, que promove a exclusão das camadas
mais periféricas, é observado um bloqueio intelectual imposto a essa parte da população. Nesse
sentido, assuntos pertinentes ao saber coletivo, que, por vezes, não são ensinados nas
instituições formais de ensino, mas são destacados pelos filmes exibidos nos cinemas, não
alcançam as mentes das minorias sociais, fato que impede a obtenção do conhecimento e, por
conseguinte, a plenitude da essência aristotélica. Essa situação relaciona-se com o conceito de
"alienação", descrito pelo alemão Karl Marx, que caracteriza o estado de insuficiência
intelectual vivido pelos trabalhadores da classe operária no contexto da Revolução Industrial,
refletido na camada pobre brasileira atual.

Portanto, fica evidente a importância do cinema para a construção de uma sociedade mais culta
e a necessidade de democratização desse recurso. Nesse âmbito, cabe ao Ministério da Educação
e da Cultura promover um maior acesso ao conhecimento e ao lazer, por meio da instalação de
cinemas públicos nas áreas urbanas mais periféricas - que deverão possuir preços acessíveis à
população local -, a fim de evitar a situação de alienação e insuficiência intelectual presente nos
membros das classes mais baixas. Desse modo, o cidadão brasileiro poderá atingir a condição de
plenitude da essência, prevista por Aristóteles, destacando-se, logo, das outras espécies animais,
através do conhecimento e da cultura."

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FOCO NA INTERAÇÃO AUTOR-TEXTO-LEITOR

Diferentemente das concepções anteriores, na concepção interacional (dialógica) da


língua, os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais,

Desse modo, há lugar, no texto, para todo uma GAMA DE IMPLÍCITOS, dos mais
variados tipos, somente detectáveis quando se tem, como pano de fundo, o contexto
sociocognitivo dos participantes da interação.

Nessa perspectiva, o sentido de um texto é construído na interação texto-sujeitos e não


algo que preexista a essa interação. A leitura é, pois, uma atividade interativa altamente
complexa de produção de sentidos, que se realiza evidentemente com base nos
elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização,
mas requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do evento
comunicativo.

TEXTOS 1, 2 E 3
Nas três tirinhas é bem representado o papel do leitor que, em interação com o texto,
constrói-lhe o sentido, considerando não só as informações explicitamente construídas,
como também o que é implicitamente sugerido, numa clara declaração de que:

➔ A leitura é uma atividade na qual se leva em conta as experiencias e os


conhecimentos do leitor.
➔ Concepção sociocognitiva-interacional de língua que privilegia os sujeitos e seus
conhecimentos em processo de interação
➔ Dá possibilidade ao leitor a função ATIVA “ responsiva ativa” espera-se que o
leitor concorde ou discorde das ideias do autor, complete-as, adapte-as...etc
➔ Leitor enquanto construtor de sentido
Compreensão (Está no
texto)

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