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ÉTICA NA EDUCAÇÃO

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 3

O QUE É ÉTICA? .................................................................................................................. 4

ÉTICA NA EDUCAÇÃO ....................................................................................................... 11

RELAÇÕES HUMANAS, TRABALHO EM EQUIPE, QUALIDADE NO ATENDIMENTO


PÚBLICO ............................................................................................................................. 15

REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS ............................................................... 16

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ÉTICA NA EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Trata-se de uma reunião do pensamento


de vários autores que entendemos serem os mais
importantes para a disciplina.

Para maior interação com o aluno


deixamos de lado algumas regras de redação
Nos esforçamos para oferecer um científica, mas nem por isso o trabalho deixa de
material condizente com a graduação daqueles ser científico.
que se candidataram a esta especialização,
procurando referências atualizadas, embora Desejamos a todos uma boa leitura e
saibamos que os clássicos são indispensáveis ao caso surjam algumas lacunas, ao final da apostila
curso. encontrarão nas referências consultadas e
utilizadas aporte para sanar dúvidas e aprofundar
As ideias aqui expostas, como não os conhecimentos.
poderiam deixar de ser, não são neutras, afinal,
opiniões e bases intelectuais fundamentam o INFERÊNCIAS INICIAIS...
trabalho dos diversos institutos educacionais,
mas deixamos claro que não há intenção de fazer A Ética é a ciência da verdade; não existe
apologia a esta ou aquela vertente, estamos uma ética da mentira, nem a meia ética e ambas,
cientes e primamos pelo conhecimento científico, ética e verdade são a essência da consciência
testado e provado pelos pesquisadores. humana. Ninguém lhes pode ser indiferente.

Não obstante, o curso tenha objetivos A omissão da consciência é tão dolorosa


claros, positivos e específicos, nos colocamos que o homem, quando não consegue seguir seus
abertos para críticas e para opiniões, pois temos ditamos, inventa simulacros de ética e de
consciência que nada está pronto e acabado e verdade. Cria caricaturas da ética, sacrificando a
com certeza críticas e opiniões só irão verdade por meio de retóricas ideológicas, assim,
acrescentar e melhorar nosso trabalho. prevalecem as exteriorizações que nada mais
são do que a relativização da ética, que
Como os cursos baseados na corresponde à elasticidade da consciência.
Metodologia da Educação a Distância, vocês são
livres para estudar da melhor forma que possam A ética e a verdade, por habitarem a
organizar-se, lembrando que: aprender sempre, consciência, vêm de dentro, têm a ver com o ser:
refletir sobre a própria experiência se somam e ou é ou não se é! (MATOS, 2008).
que a educação é demasiado importante para
nossa formação e, por conseguinte, para a A ética é o fundamento da sociedade!
formação dos nossos/ seus alunos.
Não há possibilidade de vida social sem
Deste modo, a apostila em questão traz os que haja observância de princípios éticos.
seguintes conteúdos:
A sociedade apoia-se em três conceitos, seus
Ética: pilares éticos:

origens, definições, o pensamento dos filósofos, 1. É essencial que ela seja justa –
valores éticos. Ética na educação, pela ótica dos que haja oportunidade para todos;
parâmetros curriculares nacionais, os
pressupostos vinculados à ética e as relações 2. É essencial que ela seja livre –
humanas, o trabalho em equipe e a qualidade no que a vontade educada torne a liberdade
atendimento público. responsável;

O módulo tem como objetivo geral levar 3. É vital que ela seja solidária –
o profissional a perceber que a ética permeia todo que haja compromisso com o bem pessoal e o
a vida do sujeito, quer seja no ambiente pessoal bem comum.
quanto profissional.

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Ética da simulação ou meia-ética são certamente pode servir de modo indireto como
mentiras inteiras que não resistem à verdade, no orientação moral para os que pretendam agir
tempo, mas estão ai camufladas no meio social e racionalmente no conjunto da sua vida.
nosso interesse é justamente levá-los a refletir
que o compromisso com a sociedade, o respeito 1.1 Origens
à dignidade humana passam necessariamente
pela ética, onde quer que esteja o profissional, na Ética é uma palavra de origem grega,
educação, nos serviços de saúde, na com duas origens possíveis. A primeira é a
administração pública, no meio empresarial, ele palavra grega éthos, com e curto, que pode ser
deve permear seu viver na ética. traduzida por costume, a segunda também se
escreve éthos, porém com e longo, que significa
Para que sejam cumpridas as funções propriedade do caráter. A primeira é a que serviu
básicas da sociedade, são imprescindíveis de base para a tradução latina Moral, enquanto
desenvolverem-se, igualmente, três que a segunda é a que, de alguma forma, orienta
capacidades, eminentemente éticas: a utilização atual que damos a palavra Ética
(GOLDIM, 2000).
 Liderança integrada – não
basta que haja líderes, eles devem estar Ética é a investigação geral sobre aquilo que é
integrados por verdades comuns; bom.

 Organização flexível – que as Ética significa modo de ser, caráter,


estruturas estimulem a participação, a comportamento. É o ramo da filosofia que busca
criatividade, a descentralização e a delegação de estudar e indicar o melhor modo de viver no
autoridade; cotidiano e na sociedade. Diferencia-se da moral,
pois enquanto esta se fundamenta na obediência
 Visão e ação estratégicas – a normas, tabus, costumes ou mandamentos
que se desenvolva simultaneamente a percepção culturais, hierárquicos ou religiosos recebidos, a
diagnóstica (saber o que está acontecendo) e o ética, ao contrário, busca fundamentar o bom
pensamento estratégico (saber definir cenários modo de viver pelo pensamento humano.
do porvir e tomar decisões eficazes) (MATOS,
2008). Na filosofia clássica, a ética não se
resume ao estudo da moral (entendida como
O QUE É ÉTICA? “costume”, do latim mos, mores), mas a todo o
campo do conhecimento que não é abrangido na
Desde suas origens entre os filósofos da física, metafísica, estética, na lógica e nem na
antiga Grécia, a Ética é um tipo de saber retórica.
normativo, isto é, um saber que pretende orientar
as ações dos seres humanos. A moral também é Assim, a ética abrangia os campos que
um saber que oferece orientações para a ação, atualmente são denominados antropologia,
mas enquanto ela propõe ações concretas em psicologia, sociologia, economia, pedagogia,
casos concretos, a Ética – como Filosofia moral – educação física e até mesmo política, em suma,
remonta à reflexão sobre as diferentes morais e campos direta ou indiretamente ligados a
as diferentes maneiras de justificar racionalmente maneiras de viver.
a vida moral, de modo que sua maneira de
orientar a ação é indireta: no máximo, pode Porém, com a crescente
indicar qual concepção moral é mais razoável profissionalização e especialização do
para que, a partir dela, possamos orientar nossos conhecimento que se seguiu à revolução
comportamentos (CORTINA; MARTÍNEZ, 2009). industrial, a maioria dos campos que eram objeto
de estudo da filosofia, particularmente da ética,
Portanto, em princípio, a Filosofia moral foram estabelecidos como disciplinas científicas
ou Ética não tem motivos para ter uma incidência independentes. Deste modo, é comum que
imediata na vida cotidiana, pois seu objetivo atualmente a ética seja definida como “a área da
último é esclarecer reflexivamente o campo da filosofia que se ocupa do estudo das normas
moral. No entanto, esse esclarecimento, morais nas sociedades humanas” e busca

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explicar e justificar os costumes de um É extremamente importante saber


determinado agrupamento humano, bem como diferenciar a Ética da Moral e do Direito. Estas
fornecer subsídios para a solução de seus três áreas de conhecimento se distinguem,
dilemas mais comuns. Neste sentido, ética pode porém têm grandes vínculos e até mesmo
ser definida como a ciência que estuda a conduta sobreposições (GOLDIM, 2003).
humana e a moral é a qualidade desta conduta,
quando julga- se do ponto de vista do Bem e do Tanto a Moral como o Direito baseiam-se
Mal. em regras que visam estabelecer uma certa
previsibilidade para as ações humanas. Ambas,
A ética também não deve ser confundida porém, se diferenciam.
com a lei, embora com certa frequência a lei
tenha como base princípios éticos. Ao contrário A Moral estabelece regras que são
do que ocorre com a lei, nenhum indivíduo pode assumidas pela pessoa, como uma forma de
ser compelido, pelo Estado ou por outros garantir o seu bem-viver. A Moral independe das
indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem fronteiras geográficas e garante uma identidade
sofrer qualquer sanção pela desobediência a entre pessoas que sequer se conhecem, mas
estas; por outro lado, a lei pode ser omissa utilizam este mesmo referencial moral comum.
quanto a questões abrangidas no escopo da
ética. O Direito busca estabelecer o
regramento de uma sociedade delimitada pelas
Modernamente, a maioria das profissões fronteiras do Estado. As leis tem uma base
tem o seu próprio código de ética profissional, territorial, elas valem apenas para aquela área
que é um conjunto de normas de cumprimento geográfica onde uma determinada população ou
obrigatório, derivadas da ética, frequentemente seus delegados vivem. O Direito Civil, que é
incorporados à lei pública. Nesses casos, os referencial utilizado no Brasil, baseia-se na lei
princípios éticos passam a ter força de lei; note- escrita. A Common Law, dos países anglo-
se que, mesmo nos casos em que esses códigos saxões, baseia-se na jurisprudência. As
não estão incorporados à lei, seu estudo tem alta sentenças dadas para cada caso em particular
probabilidade de exercer influência, por exemplo, podem servir de base para a argumentação de
em julgamentos nos quais se discutam fatos novos casos. O Direito Civil é mais estático e a
relativos à conduta profissional. Ademais, o seu Common Law mais dinâmica.
não cumprimento pode resultar em sanções
executadas pela sociedade profissional, como Alguns autores afirmam que o Direito é
censura pública e suspensão temporária ou um sub-conjunto da Moral. Esta perspectiva pode
definitiva do direito de exercer a profissão. gerar a conclusão de que toda a lei é moralmente
aceitável. Inúmeras situações demonstram a
A Ética tem por objetivo facilitar a existência de conflitos entre a Moral e o Direito. A
realização das pessoas. Que o ser humano desobediência civil ocorre quando argumentos
chegue a realizar-se a si mesmo como tal, isto é, morais impedem que uma pessoa acate uma
como pessoa. (...) A Ética se ocupa e pretende a determinada lei. Este é um exemplo de que a
perfeição do ser humano. Moral e o Direito, apesar de referirem-se a uma
mesma sociedade, podem ter perspectivas
Ética existe em todas as sociedades discordantes.
humanas, e, talvez, mesmo entre nossos
parentes não humanos mais próximos. Podemos Sintetizando: A Ética é o estudo geral do
abandonar o pressuposto de que a Ética é que é bom ou mau. Um dos objetivos da Ética é
unicamente humana. a busca de justificativas para as regras propostas
pela Moral e pelo Direito. Ela é diferente de
A Ética pode ser um conjunto de regras, ambos - Moral e Direito - pois não estabelece
princípios ou maneiras de pensar que guiam, ou regras.
chamam a si a autoridade de guiar, as ações de
um grupo em particular (moralidade), ou é o Esta reflexão sobre a ação humana é
estudo sistemático da argumentação sobre como que a caracteriza (GOLDIM, 2003).
nós devemos agir (filosofia moral).

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1.2 Definições Robert Henry Srour (2000) ensina que a


moral vem a ser um conjunto de valores e de
Ético (ethos): disciplina filosófica que regras de comportamento, um código de conduta
estuda o valor das condutas humanas, seus que coletividades adotam, quer sejam uma
motivos e finalidades. Reflexão sobre os valores nação, uma categoria social, uma comunidade
e justificativas morais, aquilo que se considera o religiosa ou uma organização. Enquanto a ética
bem. diz respeito à disciplina teórica, ao estudo
sistemático, a moral correspondente às
Análise da capacidade humana de representações imaginárias que dizem aos
escolher, ser livre e responsável por sua conduta agentes sociais o que se espera deles, quais
entre os demais. Para alguns autores, o mesmo comportamentos são bem-vindos e quais não.
que moral (MARTINS, 2002). Em resumo, as pautas de ação ensinam o “o bem
fazer” ou o “fazer virtuoso”, a melhor maneira de
Anti-ético: contra uma ética agir coletivamente; qualificam o bem e o mal, o
estabelecida ou contra a ideia (da ética) de permitido e o proibido, o certo e o errado, a
estabelecer o que devemos fazer ou quem virtude e o vício.
queremos ser levando os outros em
consideração. Muitas vezes, o antiético têm Para José Renato Nalini (1999) a ética é
ideias éticas próprias. uma ciência, pois tem objeto próprio, leis próprias
e método próprio. O objeto da ética é a moral. A
Aético: sem ética, mas não contra uma ou outra moral é dos aspectos do comportamento
ética. humano. A expressão deriva da palavra romana
mores, com o sentido de costumes, conjunto de
Para o Professor de Filosofia Alfredo de normas adquiridas pelo hábito reiterado de sua
Oliveira Moraes (2000) o termo ética provém de prática.
outro, mais especificamente de ethos, o qual por
sua vez corresponde, em nosso idioma, a uma A ética e a moral não devem ser
transliteração dos dois vocábulos gregos, sejam: confundidas. Segundo os estudiosos do assunto,
ethos com eta inicial cuja raiz semântica remete a ética não cria a moral (MARTINS, 2002).
ao significado de morada do homem, sendo o
ethos designativo da casa do homem, resumido O Professor de ética Mário Alencastro
na bela expressão – o homem habita sobre a (2000) assevera que toda moral supõe
terra acolhendo-se ao recesso seguro do ethos. determinados princípios, normas ou regras de
comportamento, não é a ética que os estabelece
Na visão do teólogo Leonardo Boff (2000) numa determinada comunidade. A ética depara
o centro do ethos é o bem (Platão), pois somente com uma experiência histórico-social no terreno
ele permite que alcancemos nosso fim, que da moral, ou seja, com uma série de práticas
consiste em sentirmo-nos em casa. E nos morais já em vigor e, partindo delas, procura
sentirmos bem em casa (temos um ethos, determinar a essência da moral, sua origem, as
realizamos o fim almejado) quando criarmos condições objetivas e subjetivas do ato moral, as
mediações adequadas, como hábitos, certas fontes da avaliação moral, a natureza e a função
normas e maneiras constantes de agir. Por elas, dos juízos morais, os critérios de justificação
habitamos o mundo, que pode ser a destes juízos e o princípio que rege a mudança e
casaconcreta, ou o nosso nicho ecológico local, a sucessão de diferentes sistemas morais.
regional ou nossa casa maior, o planeta Terra.
Os problemas éticos,
Ética é a ciência da moral (SILVA, 1999). ao contrário dos
prático-morais são
Dalai Lama (2000), de maneira simples caracterizados pela
nos diz que ético “é aquele que não prejudica a sua generalidade. Por
experiência ou a expectativa de felicidade de exemplo, se um
outras pessoas”. indivíduo está diante
de uma determinada
situação, deverá

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resolvê-la por si pelo islamismo, e a ética se centralizou na moral


mesmo, com a ajuda (interpretação dos mandamentos e preceitos
de uma norma que religiosos).
reconhece e aceita
intimamente, pois o No renascimento e no século XVII, os
problema do que filósofos redescobriram os temas éticos da
fazer numa dada antiguidade, e a ética foi entendida novamente
situação é um como o estudo dos meios de se alcançar o bem
problema prático- estar e a felicidade.
moral e não teórico-
ético. Mas, quando A seguir são descritas brevemente as
estamos diante de teorias éticas de alguns filósofos clássicos:
uma situação, como,
por exemplo, definir o Para a escola cirenaica , a felicidade
conceito de Bem, já consistia no gozo de todo prazer imediato.
ultrapassamos os Defendia, porém, um controle racional sobre o
limites dos problemas prazer para que não se desenvolvesse uma
morais e estamos dependência dos prazeres.
num problema geral
de caráter teórico, no Demócrito de Abdera afirmava que, ao
campo de buscarmos ser felizes, devemos fazer poucas
investigação da ética. coisas afim de que o que fizermos não ultrapasse
Tanto assim, que nossas forças e não nos leve à inquietação. Dizia
diversas teorias éticas que “é sábio quem não se aflige com o que lhe
organizaram-se em falta e se alegra com o que possui” e que “a
torno da definição do moderação aumenta o gozo e acresce o prazer”.
que é Bem. Muitos Afirmava que a agressividade é insensata porque
filósofos acreditaram “enquanto se busca prejudicar o inimigo,
que, uma vez esquecemos o nosso próprio interesse”.
entendido o que é
Bem, descobriríamos Aristóteles, em sua obra Ética a
o que fazer diante das Nicômaco, afirma que a felicidade (eudemonia)
situações não consiste nem nos prazeres, nem nas
apresentadas pela riquezas, nem nas honras, mas numa vida
vida. As respostas virtuosa. A virtude (areté), por sua vez, se
encontradas não são encontra num justo meio entre os extremos, que
unânimes e as será encontrada por aquele dotado de prudência
definições de Bem (phronesis)
variam muito de um 1
filósofo para outro. O fenômeno da felicidade
Para uns, Bem é o 2
prazer, para outros é Escola de pensamento fundada em
o útil e assim por Atenas, por Aristipo de Cirene. Foi a partir do
diante. nome desta cidade que os cirenaicos receberam
(ALENCASTRO, sua denominação. É considerada pela tradição
2000). uma das chamadas escolas socráticas,
juntamente com os cínicos e os megáricos. Tais
1.3 O pensamento dos filósofos escolas recebem esta denominação por se
configurar, cada uma delas, como uma
Na antiguidade, todos os filósofos determinada interpretação dos ensinamentos de
entendiam a ética como o estudo dos meios de Sócrates, especialmente no que concerne à
se alcançar a eudaimonia1 e investigar o que correlação entre conhecimento e virtude.
significa felicidade. Porém, durante a Idade
Média, a filosofia foi dominada pelo cristianismo e

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Aristóteles faz uma distinção entre os Os saberes poiéticos, diferentemente


saberes teóricos, poiéticos e práticos que nos dos saberes teóricos, não descrevem o que
levam a entender melhor que tipo de saber existe, mas procuram estabelecer normas,
constitui a ética. padrões e orientações sobre como se deve agir
para atingir o fim desejado (ou seja, uma roda ou
Os saberes teóricos (do grego theorein: uma manta bem feitas, uma escultura, uma
ver, contemplar) ocupam-se de averiguar o que pintura ou um poema belos). Os saberes
são as coisas, o que ocorre de fato no mundo e poiéticos são normativos, porém não pretendem
quais são as causas objetivas dos servir de referência para toda a nossa vida, mas
acontecimentos. São saberes descritivos, unicamente para a obtenção de certos resultados
mostram-nos o que existe, o que é, o que que supostamente buscamos.
acontece. As diferentes ciências da natureza
(Física, Química, Biologia, Astronomia, etc.) são Por sua vez, os saberes práticos (do
saberes teóricos na medida em que o que grego práxis: atividade, tarefa, negócio), que
buscam é, simplesmente, mostrar-nos como é o também são normativos, são aqueles que
mundo. procuram orientar-nos sobre o que devemos
fazer para conduzir nossa vida de uma maneira
Aristóteles dizia que os saberes teóricos boa e justa, como devemos agir, qual decisão é a
versam sobre “o que não pode ser de outra mais correta em cada caso concreto para que a
maneira”, ou seja, o que é assim porque assim o própria vida seja boa em seu conjunto. Tratam do
encontramos no mundo, não porque assim o que deve existir, do que deveria ser (embora
dispôs a nossa vontade: o sol aquece, os animais ainda não seja), do que seria bom que
respiram a água se evapora, as plantas acontecesse (segundo alguma concepção do
crescem... tudo isso é assim e não podemos bem humano). Tentam nos mostrar como agir
mudá-lo a nosso bel-prazer. Podemos tentar bem, como nos conduzir adequadamente no
impedir que uma coisa concreta seja aquecida conjunto de nossa vida (CORTINA; MARTÍNEZ,
pelo sol, utilizando para tanto quaisquer meios 2009).
que tenhamos a nosso alcance, mas que o sol
aqueça ou não aqueça não depende de nossa Na classificação aristotélica, os saberes práticos
vontade: pertence ao tipo de coisas que “não eram agrupados sob o rótulo
podem ser de outra maneira”.
“filosofia prática”, rótulo que abarcava
Em contrapartida, os saberes poiéticos não só a Ética (saber prático destinado a orientar
e práticos versam, segundo Aristóteles, sobre “o a tomada de decisões prudentes que nos levam
que pode ser de outra maneira”, ou seja, sobre o a conseguir uma vida boa), mas também a
que podemos controlar à vontade. Os saberes Economia (saber prático encarregado da boa
poiéticos (do grego poiein: fazer, fabricar, administração dos bens da casa e da cidade) e a
produzir) são aqueles que nos servem de guia Política (saber prático que tem por objeto o bom
para a elaboração de algum produto, de alguma governo da pólis).
obra, quer seja algum tipo de artefato útil (como
construir uma roda ou tecer uma manta) ou Para Epicuro a felicidade consiste na
simplesmente um objeto belo (como uma busca do prazer, que ele definia como um estado
escultura, uma pintura ou um poema) (CORTINA; de tranquilidade e de libertação da superstição e
MARTÍNEZ, 2009). do medo (ataraxia), assim como a ausência de
sofrimento (aponia). Para ele, a felicidade não é
As técnicas e as artes são saberes desse tipo. O a busca desenfreada de bens e prazeres
que hoje chamamos de corporais, mas o prazer obtido pelo
conhecimento, amizade e uma vida simples. Por
“tecnologias” são igualmente saberes exemplo, ele argumentava que ao comermos,
que abarcam tanto a simples técnica - baseada obtemos prazer não pelo excesso ou pelo luxo
em conhecimentos teóricos - como a produção culinário (que leva a um prazer fortuito, seguido
artística. pela insatisfação), mas pela moderação, que
torna o prazer um estado de espírito constante,

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mesmo se nos alimentarmos simplesmente de alcançar plenamente esse objetivo necessitam


pão e água. das orientações morais.

Para os filósofos cínicos, a felicidade era Mas, além disso, ela nos proporciona
identificada com o poder sobre si mesmo ou critérios racionais para averiguar que tipo de
autossuficiência (em grego, autárkeia) e é comportamentos, quais virtudes, em suma, que
alcançada eliminando-se da vontade todo o tipo de caráter moral é o adequado para essa
supérfluo, tudo aquilo que fosse exterior. finalidade.
Defendiam um retorno à vida da natureza, errante
e instintiva, como a dos cães. Desacreditavam as Desse modo, Aristóteles entende a vida
conquistas da civilização, suas estruturas moral como um modo de “auto- realização” e por
jurídicas, religiosas e sociais. isso dizemos que a ética aristotélica pertence ao
grupo de éticas eudemonistas, porque assim se
Para os estóicos, a felicidade aprecia melhor a diferença em relação a outras
consiste em viver de acordo com a lei racional éticas. Para ele os valores seriam:
3
Um filósofo grego do período helenístico. Seu
pensamento foi muito difundido e numerosos 1- Próprias do intelecto teórico:
centros epicuristas se desenvolveram na
Jônia, no Egito e, a partir do século I, em  Inteligência (nous)
Roma, onde Lucrécio foi seu maior divulgador
 Ciência (episteme)
da natureza e aconselha a indiferença (apathea)
em relação a tudo que é externo. O homem sábio  Sabedoria (Sofia)
obedece à lei natural reconhecendo-se como
uma peça na grande ordem e propósito do 2- Próprias do intelecto prático:
universo, devendo assim manter a serenidade e
indiferença perante as tragédias e alegrias.  Prudência (frónesis)

Espinoza, em sua obra Ética, afirma  Arte ou técnica (tekne)


que a felicidade é encontrada através da alegria
ativa, que nos possibilita ultrapassar as paixões  Discrição (gnome)
(tristeza e alegria passivas). A alegria ativa Perspicácia (euboulía)
consiste em compreender e ativamente criar as
condições/oportunidades exteriores que levam à 3- Próprias do autodomínio:
alegria e ao amor (o amor é definido por ele como
a alegria que associamos a uma causa exterior a  Fortaleza ou coragem (andreía)
nós), contra a tristeza e o ódio (o ódio é definido
por ele como a tristeza que associamos a uma
 Temperança ou moderação
causa exterior a nós). Ele criticava severamente
(sofrosine)
os filósofos cristãos medievais que afirmavam
que a tristeza e o sofrimento são bons (como em
 Pudor (aidos)
Cristo).
4- Próprias das relações humanas:
Para Espinoza, unicamente a alegria
nos leva ao amor no cotidiano e na convivência
com os outros, enquanto a tristeza nunca é boa,
 Justiça (dikaiosine)
intrinsecamente relacionada ao ódio, à tristeza
sempre é destrutiva para nós e para os outros.  Generosidade ou liberdade
(eleutheríotes)
1.4 Valores éticos
 Amabilidade (filia)
A ética aristotélica afirma que existe
moral porque os seres humanos buscam  Veracidade (aletheía)
inevitavelmente a felicidade, a ventura, e para
 Bom humor (eutrapelía)

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 Afabilidade ou doçura (praotes)

 Magnificência (megaloprepéia)

 Magnanimidade (megalofijía)
(CORTINA; MARTÍNEZ, 2009).

Para Scheler1 , existe uma ciência pura


dos valores, uma axiologia pura, que se sustenta
em três princípios:

1. Todos os valores são


negativos ou positivos;

2. Valor e dever estão


relacionados, pois a captação de um
valor não realizado é acompanhada pelo
dever de realizá-lo;

3. Nossa preferência por


um valor e não por outro verifica-se
porque nossa intuição emocional capta
os valores já hierarquizados. A vontade
de realizar um valor moral superior em Surgida na década de 1970 a ética do
vez de um inferior constitui o bem moral, discurso propõe encarnar na sociedade os
e seu contrário é o mal. Não existem, valores e liberdade, justiça e solidariedade por
portanto, valores especificamente meio do diálogo, como único procedimento capaz
morais. de respeitar a individualidade das pessoas e, ao
mesmo tempo, sua inegável dimensão solidária,
Esse modelo ético foi seguido e ampliado porque em um diálogo precisamos contar com
por pensadores como Nicolai Hartmann, Hans pessoas, mas também com a relação que existe
Reiner, Dietrich Von Hildebrand e José Ortega y entre elas, a qual, para ser humana, deve ser
Gasset, que chamou a intuição emocional de justa.
“estimativa” e incluiu os valores morais na
hierarquia objetiva, diferentemente de Scheler, Esse diálogo nos permitirá questionar as
como mostra o quadro abaixo. normas vigentes em uma sociedade e distinguir
quais são moralmente válidas, porque
acreditamos realmente que humanizam.

Obviamente, não é qualquer forma de


diálogo que nos levará a distinguir o socialmente
vigente do moralmente válido, por isso a ética
discursiva tentará apresentar o procedimento
dialógico adequado para alcançar essa meta, e
mostrar como ele deveria funcionar nos
diferentes âmbitos da vida social. Por isso, divide
sua tarefa em duas partes: uma dedicada à
fundamentação – à descoberta do princípio ético

1
Max Scheller (1874-1928) foi um filósofo
fenomenologista, preocupado especialmente com a
filosofia dos valores.

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– e outra à aplicação deste à vida cotidiana metafórico, aplicando-a à ação educadora”


(CORTINA; MARTÍNEZ, 2009). (JAEGER, 1986, p. 09-10).

ÉTICA NA EDUCAÇÃO Ao longo da filosofia clássica, sempre


esteve presente a pergunta sobre como formar os
Um dos problemas que se coloca na jovens, o que lhes deveria ser ensinado para
sociedade brasileira contemporânea é o do como alcançarem a virtude.
educar para o respeito às diferenças e para o
respeito a todos os seres humanos, sem Portanto, paidéia e areté, educação e
violência. Essa questão é central para ética. virtude, não poderiam ser pensadas
separadamente. Toda a sociedade e a cultura
Nas escolas, atualmente, não são estavam presentes na formação do homem e do
incomuns ações de violência e desrespeito sob cidadão. Era este ideal de excelência e perfeição
todas as formas: agressões, uso de drogas, que os grego buscavam através da educação: a
ameaças, discriminações, desrespeito aos excelência do homem, das instituições, das
professores e aos alunos. Como a ética pode nos cidades. Entretanto, não era apenas como fim
auxiliar a construção uma educação contra a que este ideal se fazia presente na educação
violência? grega, ele era meio, princípio, forma e ação. Ou
seja, o homem grego devia ser educado para a
O artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases virtude, de modo virtuoso, por pessoas virtuosas,
da Educação Nacional (LDB) diz que a educação praticando ações virtuosas e fazendo sua cidade
abrange os processos formativos que se virtuosa (SANTOS, 2001).
desenvolvem em várias esferas (família,
convivência, trabalho, escola, movimentos A questão da educação para a virtude e
sociais etc.). para a cidadania volta à baila quando, em nossos
tempos, a LDB institui que a escola é um espaço
O artigo 2º da LDB considera que, de formação de cidadãos e difusão de valores
inspirada nos princípios da liberdade e nos ideais que expirem cidadania e ética, mas não
de solidariedade humana, é finalidade da considera que a ideia da educação como
educação nacional o pleno desenvolvimento do formação do homem e do cidadão pressupõe que
educando, seu preparo para o exercício da a escola, local onde esta formação ocorrerá (ao
cidadania e sua qualificação para o trabalho. menos parcialmente, como diz a Lei), também
deva ser pensada como um espaço/instituição no
A educação para a cidadania, e os qual estes valores estejam presentes. Para que a
programas educacionais voltados para esse fim, escola seja inspiradora de valores éticos, é
pressupõe a crença na tolerância, a marca do preciso que ela também seja um espaço ético,
bom senso, da razão e da civilidade que faz com operando por meios éticos. De acordo com os
que os homens possam se relacionar entre si. clássicos, isso não poderia ocorrer de outro
Pressupõe, também, a crença na possibilidade modo.
de formar este homem, ensinando a tolerância e
a civilidade dentro do espaço e do tempo da Contudo, o que se observa é que a
escola. A ideia clássica de formação nos auxilia a sociedade brasileira é marcada pela violência e
compreender esse tópico (SANTOS, 2001). que esta violência também se faz presente nas
escolas. Marilena Chaui (1998) no artigo “Ética e
A proposta de educação do homem como violência” explica que podemos entender como
membro de uma cultura foi apresentada violência os atos de brutalidade, sevícia e abuso
primeiramente pelos gregos como paidéia físico e/ou psíquico contra alguém, opressão,
(formação). “Os gregos viram pela primeira vez intimidação pelo medo e pelo terror. São as ações
que a educação tem de ser também um processo que retiram dos sujeitos sua autonomia, tratam as
de construção consciente. „Constituído de modo pessoas, os seres humanos, como se fossem
correto e sem falhas, nas mãos, nos pés e no coisas como desprovidos de razão e de vontade,
espírito‟ (...). Só a este tipo de educação se pode por isso a violência é o exato oposto da ética. A
aplicar com propriedade a palavra formação, tal mesma autora afirma que a sociedade brasileira
como a usou Platão pela primeira vez em sentido que “é marcada pela estrutura hierárquica do

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ÉTICA NA EDUCAÇÃO

espaço social que determina a forma de uma sociedade? Como


sociedade fortemente verticalizada em todos os fazer com que os
seus aspectos: nela, as relações sociais e educandos passem
intersubjetivas são sempre realizadas como a desejar o bem e a
relação entre um superior, que manda, e um virtude e a
inferior, que obedece. As diferenças e praticálos para que
assimetrias são sempre transformadas em nossa sociedade
desigualdades que reforçam essas relações. não se transforme
no reino da
“O outro jamais é reconhecido como barbárie?
sujeito nem como sujeito de direitos, jamais é (SANTOS, 2001).
reconhecido como subjetividade nem como
alteridade” (CHAUÍ, 2000, p. 89). Para que tudo isso se efetive e se faça
cumprir é necessário o comprometimento dos
Isso nos convida a refletir sobre quem, professores. É preciso que os professores
nas escolas, seriam os educadores para a acreditem que é possível ensinar a virtude, que é
formação dos cidadãos. Infelizmente, a resposta possível ensinar cidadania.
convencional de que os educadores seriam os
próprios professores não é suficiente para Não se pode ignorar que o professor, a
esvaziar a pergunta e nos conduz a outras. Se a escola e os profissionais que ali atuam detenham
virtude (a areté, a cidadania) pode ser ensinada, o poder de formar cidadãos. E, mais ainda, que
os professores estariam preocupados, como os os professores, mesmo sendo pessoas, quando
filósofos clássicos, em se tornarem eles mesmos no exercício público da razão, podem e devem ter
virtuosos, sábios, despojados de seus uma responsabilidade ética pelo que ensinam,
preconceitos e de suas ilusões em busca do transmitem, opinam. Desde a antiguidade
conhecimento do que é a virtude e do como clássica, a ideia de educação implica a busca de
ensiná-la ou seriam como os sofistas ensinando uma ação moderada, menos corrompida, menos
porque recebem para isso, mas, de fato, não influenciada pelas paixões. Entretanto, hoje „a
oferecendo seu assentimento às ideias que educação foi quase inteiramente identificada com
pronunciam ou não crendo na perenidade do que escolarização‟ (PRADO JÚNIOR, 1985, p.
é ensinado?
99).
As atuais
discussões sobre Desta forma, a questão do papel do
como adequar as professor ganha uma relevância ainda maior
instituições de porque será a partir dele, de suas atitudes, da
ensino e “capacitar” forma como lida com conteúdos, como elabora
os professores de suas aulas, como se relaciona com seus alunos,
acordo com o que da forma como lida com seus preconceitos e
pede a Lei se conceitos que outros valores, vícios e virtudes
aparenta com esta poderão ser definidos.
querela: como
vamos transformar Quando se admite que a educação, em
nossos professores nossos tempos, é praticamente idêntica à
em cidadãos aptos escolarização e se transfere para a escola e para
a ensinar cidadania os profissionais ali presentes a tarefa de educar
e nossas escolas para a formação do cidadão (ou seja, a formação
em espaços ética e política), em decorrência, passa-se a
democráticos que colocar em evidência a postura ética daqueles
auxiliem a resolver que, como responsáveis pela educação, serão
o problema da modelos de conduta, espelhos de caráter,
ausência de ética e difusores de valores. Por isso cabe perguntar o
da violência que significa transferir para os professores a
presentes na exigência das virtudes, da justiça e da

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ÉTICA NA EDUCAÇÃO

responsabilidade pela formação dos cidadãos e os valores e construir o bem comum (SANTOS,
em que medida as virtudes dos educadores, 2001).
expressas em seu trabalho, seriam responsáveis
pelas mudanças no perfil de seus alunos 2.1 A ética nos Parâmetros Curriculares
(SANTOS, 2001). Nacionais

Se a educação é projeto e utopia, uma Segundo os Parâmetros Curriculares


resposta para uma educação ética e, portanto, Nacionais (PCN) trazer a ética para o espaço
contrária à violência, talvez resida na escolar significa enfrentar o desafio de instalar,
democratização das instituições de ensino e na no processo de ensino e aprendizagem que se
efetivação de uma educação inclusiva. realiza em cada uma das áreas de conhecimento,
uma constante atitude crítica, de reconhecimento
A proposta de uma educação inclusiva dos limites e possibilidades dos sujeitos e das
parece assinalar para uma saída, não só porque circunstâncias, de problematização das ações e
contempla a utopia presente em todo projeto relações e dos valores e regras que os norteiam.
pedagógico, como também acena para a
alteração do paradigma educacional das Configura-se, assim, a proposta de
sociedades autoritárias porque pressupõe que a realização de uma educação moral que
transformação social deva implicar na proporcione às crianças e adolescentes
transformação e na democratização de todas as condições para o desenvolvimento de sua
relações sociais (SANTOS, 2001). autonomia, entendida como capacidade de
posicionar-se diante da realidade, fazendo
Transformar a escola em um espaço escolhas, estabelecendo critérios, participando
efetivamente plural seria uma das formas mais da gestão de ações coletivas. O desenvolvimento
eficazes de uma educação ética ou para a ética, da autonomia é um objetivo de todas as áreas e
porque permitirá a expressão das diferenças num temas transversais e, para alcançá-lo, é preciso
espaço público de modo a incorporar todos os que elas se articulem. A mediação representada
valores sem hierarquiza-los. pela Ética estimula e favorece essa articulação
(BRASIL, 1998, p. 61).
Se a escola não está separada do mundo
e a ética se constrói através da livre expressão de Ao ingressar no campo da ética no
ideias e projetos no espaço das cidades e da ensino escolar, as atividades persecutórias
cidadania, uma educação ética também esbarram-se em limitações, não sendo
implicaria a formação de cidadãos através do livre totalmente livres para agirem. Deve haver
exercício da atividade política ou a ampliação de respeito coma individualidade e a realidade posta
espaços públicos de manifestação das diferenças a cada aluno. Como também com a realidade de
(SANTOS, 2001). cada sociedade.

Dito isso, pensar a correlação entre ética Logo ao nascer, o ser humano se
e educação na sociedade brasileira significa relaciona com regras e valores da sociedade em
pensar a sociedade como um todo e todos os que está inserido. A família é o primeiro espaço
seus espaços públicos como agentes de de convivência da criança. Ao lado da família,
educação que devem ser livremente acessados outras instituições sociais veiculam valores e
pelos diferentes componentes da espera pública desempenham um papel na formação moral e no
da sociedade, de toda a sua diversidade. A desenvolvimento de atitudes. A presença
educação para a ética ou uma educação ética constante dos meios de comunicação de massa
pressupõe a construção de sociedades nos espaços públicos e privados, conferem a eles
verdadeiramente democráticas (SANTOS, 2001). um grande poder de influência e de veiculação de
valores, de modelos de comportamento. A
Nesse sentido, podemos dizer que a religião contribui da mesma forma. As várias
tradição filosófica nos ensinou algo que talvez instituições sociais, motivadas por interesses
seja sábio recuperar: a ética se ensina permitindo diversos concorrem quando buscam desenvolver
o convívio entre os diferentes nos diferentes atitudes que expressam valores. Os indivíduos
espaços públicos nos quais se possam expressar transitam por algumas dessas instituições

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ÉTICA NA EDUCAÇÃO

durante toda a sua vida; em outras, por períodos A escola, como uma instituição pela
determinados; e em outras, ainda, nunca qual espera-se que passem todos os membros
transitarão (CAMARGO E FONSECA, 2006). da sociedade, coloca-se na posição de ser mais
um meio social na vida desses indivíduos.
A ética depende do tipo de relação social Também ela veicula valores que podem
que o indivíduo mantém com os demais e, convergir ou conflitar com os que circulam nos
segundo os autores acima, existem tantos tipos outros meios sociais que os indivíduos
de moral como de relações sociais. A moral é frequentam ou a que são expostos. Deve,
imposta a partir do exterior como um sistema de portanto, assumir explicitamente o compromisso
regras obrigatórias, muitas vezes difícil de ser de educar os seus alunos dentro dos princípios
compreendida. Tamanha é a interferência da democráticos. Se entendida como apenas mais
diversidade cultural que é explanado no PCN: um meio social que veicula valores na vida das
pessoas que por ela passam, a escola encontra
O fato é que, inevitavelmente, os seu limite na legitimidade que cada um dos
indivíduos se constituem como tais convivendo indivíduos e a própria sociedade conferir a ela
simultaneamente com sistemas de valores que (CAMARGO E FONSECA, 2006).
podem ser convergentes, complementares ou
conflitantes, dentro do tecido complexo que é o Se entendida como espaço de práticas
social. As influências que as instituições e os sociais em que os alunos não apenas entram em
meios sociais exercem são fortes, mas não contato com valores determinados, mas também
assumem o caráter de uma predeterminação. A aprendem a estabelecer hierarquia entre valores,
constituição de identidades, a construção da ampliam sua capacidade de julgamento e a
singularidade de cada um, se dá na história consciência de como realizam escolhas,
pessoal, na relação com determinados meios ampliam-se as possibilidades de atuação da
sociais; configura-se como uma interação entre escola na formação moral, já que se ocupa de
as pressões sociais e os desejos, necessidades uma formação ética, para formação de uma
e possibilidades afetivo-cognitivas do sujeito consciência moral reflexiva cada vez mais
vivida nos contextos socioeconômicos, culturais e autônoma, mais capaz de posicionar-se e atuar
políticos (BRASIL, 1998, p. 62). em situações de conflito.

Ao trabalhar a ética na educação em sala A escola de hoje está deixando um pouco


de aula, o professor se depara com a questão do de lado a construção moral e a educação ética,
choque de valores. Os diversos valores, normas, atribui-se prioridades a outros assuntos como o
modelos de comportamento que o indivíduo vestibular, a mensalidade escolar, mas esquece
compartilha nos diferentes meios sociais a que que a formação do indivíduo é a mais importante,
está integrado ou exposto colocam-se em jogo e que permeará por toda a sua vida. (BOELTER,
nas relações cotidianas. A percepção de que 2008).
determinadas atitudes são contraditórias entre si
ou em relação a valores ou princípios expressos A criança que educa-se eticamente
pelo próprio sujeito não é simples e nem óbvia. torna-se um adulto capaz de ir ao encontro do
outro, reconhece-se com seu igual e não assume
Para isso requer uma elaboração, as regras morais como regras obrigatórias.
implicando reconhecer os limites para a Portanto, o educador possui um papel
coexistência de determinados valores e fundamental na formação ética e moral do
identificar os conflitos e a incompatibilidade entre indivíduo, principalmente na educação infantil,
outros. A forma de operar com a diversidade de onde inicia- se a vida escolar.
valores por vezes conflitantes também é dada
culturalmente, ainda que do ponto de vista do Boelter (208) acredita que trabalhamos a
sujeito dependa também do desenvolvimento ética e a moral na educação infantil vivendo-as,
psicológico. Os preconceitos, discriminações, o demonstrando-as aos nossos alunos através dos
negar- se a dialogar com sistemas de valores nossos atos, da nossa postura, das atitudes e dos
diferentes daqueles do seu meio social, o agir de valores aos quais acreditamos. Não ensina-se
forma violenta com aqueles que possuam valores moral e ética, vivencia-se.
diferentes, são aprendidos (BRASIL, 1998, p. 64).

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ÉTICA NA EDUCAÇÃO

Portanto, se a escola deixa de cumprir o vivências criar relações que exemplifiquem tais
seu papel de educador em valores, a referência questões (CAMARGO E FONSECA, 2006).
ética de seus alunos estará limitada à convivência
humana que pode ser rica em se tratando de A escola pública possui uma diversidade
vivências pessoas, mas pode estar também cultural, étnica, religiosa, sexual e social muito
carregada de desvios de postura, atitude, grande. Nesse contexto, a solidariedade
comportamento ou conduta, e mais, quando os assume um lugar de comprometimento com o
valores não são bem formal ou sistematicamente aprendizado. Ser solidário no ambiente escolar é
ensinados, podem ser encarados pelos respeitar as diferenças que constituem os atores
educandos como simples conceitos ideais ou educacionais, não ocultando a sua existência,
abstratos, principalmente para aqueles que não mas trabalhando estas diferenças no coletivo.
os vivenciam, sejam por simulações de práticas
sociais ou vivenciados no cotidiano (BOELTER, A partir da solidariedade os educadores
2008) irão sentir-se mais confiantes no que realmente
podem ser enquanto profissionais da educação
2.2 Pressupostos vinculadas à etica comprometidos com a vida de cada um de seus
educandos. Faz-se necessário superar as
Segundo Camargo e Fonseca (2006) barreiras do Capitalismo, do corre-corre diário, de
todos têm direitos e deveres no meio em que competição desenfreada, onde a vantagem está
vivem. Cabe a escola questionar como eles se em primeiro lugar, para triunfar a solidariedade, a
apresentam. Até que ponto a comunidade onde compreensão e o respeito. Respeito mútuo.
se está inserido não está abnegando estes Sem ser unilateral. Respeitar com reciprocidade
direitos, cada um cumpre com os seus deveres (CAMARGO E FONSECA, 2006).
para cobrar os seus direitos? Questões como
esta podem ser levantadas constantemente pela E ainda, dialogar. Manter o diálogo em
escola. sala de aula é uma atividade muito importante
para criar condições de discussão, sobre temas
Alguns pressupostos estão relacionados a questões sociais, políticas e
vinculados à ética como: econômicas.

• A justiça; Essas discussões criam conceitos ou os


reformulam, ou até mesmo constroem outros a
• A solidariedade; partir da vivência de cada um.

RELAÇÕES HUMANAS, TRABALHO EM


• O respeito mútuo e;
EQUIPE, QUALIDADE NO ATENDIMENTO
PÚBLICO
• Diálogo.
Segundo Pepe (2008), cada pessoa tem
Temas importantes para serem inseridos
uma história de vida, uma maneira de pensar a
nas aulas de diferentes disciplinas de maneira
vida e assim também o trabalho é visto de sua
transversal, permitindo desmitificar a questão
forma especial. Há pessoas mais dispostas a
ética como sendo restrita à área da Filosofia.
ouvir, outras nem tanto, há pessoas que se
interessam em aprender constantemente, outras
A justiça já era uma preocupação dos
não, enfim as pessoas têm objetivos
filósofos gregos, pois Platão em sua República já
diferenciados e nesta situação muitas vezes
pensava como deveria ser tratado um ato justo,
priorizam o que melhor lhes convém e às vezes
qual a relação entre justiça e injustiça. No
estará em conflito com a própria empresa.
entanto, há de ser questionado como despertar
no educando a noção de justiça. A escola pode
Como observado por Bom Sucesso, o
propiciar situações onde seja exercitada a
autoconhecimento e o conhecimento do outro
criticidade do educando oportunizando-lhe a
são componentes essenciais na compreensão de
distinção entre um ato justo e um injusto. Fazer
como a pessoa atua no trabalho, dificultando ou
essa distinção na escola faz com que o educando
facilitando as relações. Dentre as dificuldades
reflita sobre a diferença e possa a partir de suas

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ÉTICA NA EDUCAÇÃO

mais observadas, destacam-se: a falta de a-Na-Educacao/pagina1.html> Acesso em: 21 jul.


objetivos pessoais, dificuldade em priorizar e 2010.
dificuldade em ouvir.
BOFF, Leonardo. Ethos mundial: um
É bom lembrar também que o ser consenso mínimo entre os humanos. Brasília:
humano é individual, é único e que, portanto Letra Viva, 2000.
também reage de forma única e individual a
situações semelhantes. BOM SUCESSO, Edina de Paula.
Trabalho e qualidade de vida. 1 ed. Rio de
Para Bom Sucesso (1997, p. 176) no Janeiro: Dunya, 1997.
cenário idealizado de pleno emprego, mesmo de
ótimas condições financeiras, conforto e BRASIL. LEI n° 9.394 de 20 de
segurança, alguns trabalhadores ainda estarão dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da
tomados pelo sofrimento emocional. Outros, Educação. Disponível em:
necessitados, cavando o alimento diário com <http://www.regra.com.br/educação/NovaLDB.ht
esforço excessivo, ainda assim se declaram m.> Acesso em: 17 jul. 2010.
felizes, esperançosos.
BRASIL. Secretaria de Educação
Nesse contexto e de acordo com os Fundamental. Parâmetros Curriculares
processos dinâmicos e interativos de gerir nacionais: Terceiro e quarto ciclos; Apresentação
pessoas (agregar, recompensar, desenvolver, dos temas transversais. Brasília: MEC/SEF,
manter e monitorar) estabelecidos por 1998.
Chiavenato (2005), a promoção da socialização
do funcionário ou colaborador também agrega CAMARGO, Edson Carpes;
valor às inter-relações no ambiente de trabalho, FONSECA, Jorge Alberto Lago. A ética no
ou seja, as empresas precisam promover a ambiente escolar: educando para o
socialização dos novos funcionários, o que pode diálogo.(2006) Disponível em:
acontecer através de vários programas de
integração, quer sejam do tipo formal ou informal; <http://www.ufsm.br/gpforma/2senafe/
individual ou coletivo; uniforme ou variável, PDF/021e4.pdf> Acesso em: 23 jul. 2010.
dentre outros.
CHAUI, Marilena. Ética e Violência.
Um ambiente saudável, rico, tranquilo e Palestra apresentada no Colóquio Interlocuções
ao mesmo tempo desafiador, que leve o indivíduo com Marilena Chaui, São Paulo, 1998.
a buscar novas conquistas, a satisfazer novas
necessidades favorece não só as relações CHAUI, Marilena. Brasil. Mito fundador
pessoais, mas o bom desenvolvimento, a fruição e sociedade autoritária. São Paulo: Perseu
dos trabalhos e o atendimento dos objetivos da Abramo, 2000.
administração quer seja ela pública ou privada.
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de
REFERÊNCIAS CONSULTADAS E pessoas. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
UTILIZADAS
CORTINA, Adela; MARTÍNEZ, Emilio.
ALENCASTRO, Mário. A importância Ética. Tradução: Silvana Cobucci Leite. 2 ed. São
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GOLDIM, José Roberto.
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