Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como propósito refletir sobre a família na sociedade romana antiga,
partindo de uma análise que relaciona sociedade, homem e educação. Para que desta
maneira possa entender o ideal de homem e seus anseios, os quais acontecem a partir das
condições e vivências sociais que estruturam o perfil da família romana.
Para o desenvolvimento desse estudo serão analisadas algumas obras, que retratam três
eixos de suma importância para a análise; Sociedade, família e educação. Com o intuito de
fazer uma reflexão entre diversos autores, que igualmente expressam esse período e com
um ponto em comum, a família na Roma antiga.
Para obter tais respostas, o presente trabalho divide-se em dois momentos, no primeiro
momento busca-se fazer uma breve retomada da concepção da família na sociedade
1
Ângela Oliveira Sampaio, formada em Pedagogia (UEM), especialista em Políticas Sociais: Infância e
Adolescência (UEM) e em Educação Especial (Instituto Paranaense de Ensino)
VI Jornada de Estudos Antigos e Medievais – Trabalhos Completos – ISBN: 978-85-99726-09-9
A família consistia para os romanos a base de sua organização social, ou seja, termo família
não designava somente o pai, a mãe e os filhos, mas também a casa, os escravos e até os
animais de sua propriedade. Nesse espaço o pai exercia o domínio sobre a mulher, os filhos
e os escravos, tendo direito de decidir sobre o destino das crianças recém-nascidas. Ou seja,
o fato de nascer não significava que a criança fosse aceita pela família, muitos filhos eram
abandonados ou vendidos como escravos.
Onema (2007) argumenta que na Roma antiga os pais tinham total poder de decisão sobre o
que lhe era de sua propriedade, aos proprietários de terras, os patrícios, obtinham o direito
de dizer o destino das mulheres e das crianças, que eram consideradas objetos de sua
propriedade, assim como os animais e as plantações. O pai poderia, por exemplo, decidir
sobre o casamento dos filhos e filhas e lhe era reservado o direito de matar os próprios
filhos, mesmos já adultos, quando representavam ameaça a sua propriedade.
VI Jornada de Estudos Antigos e Medievais – Trabalhos Completos – ISBN: 978-85-99726-09-9
Segundo Montanelli (1998) a vida dos romanos era uma vida dura, de constante exposição
e perambulação de lugar para lugar. Por estas razões, a severidade era essencial para sua
sobrevivência, e os rituais severos eram observados no momento do nascimento. Pois a
partir do nascimento, o romano já estava sujeito a receber todas as leis, religiões, tradições
e costumes que eram seguidos por séculos, entretanto muitas das leis tradicionais com o
passar dos tempos iam diminuindo, mas os traços das mesmas ainda permaneciam. Tais leis
variavam de tribo para tribo e de país para país.
Funari (1993) retrata que existia uma variedade de rituais que deveriam preceder o
nascimento. Em algumas tribos a mãe deveria desatar alguns nós, para garantir que o
cordão umbilical não ocorresse o risco de ter um nó, todos os nós nas roupas da gestante
eram desfeitos ou cortados e o cabelo da gestante não poderia estar preso era solto. A mãe
não poderia ser vista por homem algum, exceto o seu marido, até o dia do batismo, e o
VI Jornada de Estudos Antigos e Medievais – Trabalhos Completos – ISBN: 978-85-99726-09-9
marido enfrenta restrições também. Pois o mesmo ficava proibido de sair entre o por do sol
e o nascer do sol, pois acreditavam de desta maneira o pai ficaria longe de espíritos
malignos, que poderiam atacar a criança durante a noite.
Segundo Funari (1993) o casamento para as moças também representava, como nas cidades
gregas, a passagem de suas vidas do controle paterno para o do marido. As mulheres
romanas também tinham como centro da sua atuação o âmbito doméstico, onde tinham que
rezar conjuntamente com os maridos e filhos, orientar a limpeza da casa, coordenar a
preparação das refeições e, depois de tudo isso, com o auxílio das criadas, se preparar para
recepcionar o marido, cansado de mais um árduo dia de trabalho e afazeres na rua. Por esse
motivo as mulheres romanas passavam por um pequeno tratamento de beleza diário que
incluía penteados, maquiagem e a escolha de belos trajes para o final do dia em companhia
do marido.
VI Jornada de Estudos Antigos e Medievais – Trabalhos Completos – ISBN: 978-85-99726-09-9
Já Machado (2007) retrata que existência de famílias numerosas era estimulada na Roma
Antiga, nem sempre isso se concretizava devido às condições precárias em que a
maternidade ocorria normalmente no âmbito doméstico, o que acarretava a morte prematura
das mães e também das crianças. Uma outra ação corriqueira por parte das famílias
tradicionais e plebéias no Império Romano era o sacrifício ou o abandono de crianças
recém-nascidas que tivessem deficiências. A perfeita saúde física e mental era considerada
como atributo indispensável para que a criança pudesse em sua vida futura seguir os passos
do pai, no caso dos meninos, ou conseguir um bom casamento, no das meninas.
Por todos esses fatos abordados anteriormente, era comum perceber na estrutura da família
romana, que o nascimento de uma criança era um evento muito especial, confirmava a
continuação da linhagem familiar e acrescentava respeito a esta. O anúncio da vinda de
uma nova criança requeria certos costumes a serem observados para a introdução de um
bebê saudável na família, o qual carregaria todas as linhagens e tradições da sua família.
A educação romana era utilitária e moralista, organizada pela disciplina e justiça, o que
caracteriza o homem em todos os tempos e lugares. Este estudo era dado na escola do
"gramático", que seguia algumas fases; ditado de fragmento do texto, memorização deste,
tradução da prosa em verso, expressão da mesma idéia em diversas construções, análise das
palavras e frases e composição literária.
que para a guerra não havia necessidade de escola, os quartéis ou a própria guerra
resolviam o problema.
Sendo o direito era uma das grandes atividades em que o homem romano se inseria, nas
vias da vida publica e da política romana, mas não se esquecendo do amplo papel que o
orador representava também dentro dos foros e assembléias, este deveria abarcar uma série
de conhecimentos em sua formação que o ajudassem a tornar persuasiva e verossímil sua
argumentação para os ouvintes. Para tanto, a retórica para os antigos romanos significava a
busca pela persuasão do ouvinte por intermédio da argumentação, e que o êxito de um
orador só era alcançado com o veredicto favorável de um auditório, em que a alma do
ouvinte percebendo um discurso bem pronunciado, repleto de tons que suscitem paixões ou
gestos que expressem o caráter, era levada a acreditar que a fala deste estaria impregnada
de verdade.
Para Funari (1993) haviam leis que garantiam certos privilégios às mães de três filhos, pois
cumpriram seu dever, embora alguns documentos atestem à existência de famílias
numerosas contendo cinco, nove e até doze filhos. A educação das crianças era confiada a
uma nutriz (aquela que amamenta) e a um pedagogo, também chamado "nutridor", os quais
desempenhavam um papel decisivo na formação do jovem. As crianças viviam com eles
durante todo o dia; a nutriz ensinava as crianças a falar, enquanto os escravos, chamados
pedagogos, acompanhavam-nas até a escola, a partir dos seis ou sete anos de idade. Aos
doze anos, meninos e meninas se separavam.
VI Jornada de Estudos Antigos e Medievais – Trabalhos Completos – ISBN: 978-85-99726-09-9
Como herdeiros de parte da tradição grega, os romanos também definiram sua estrutura
educacional e familiar com base no paternalismo. Esposa, filhos e escravos estavam todos
aos seus auspícios. Era comum entre os romanos que irmãos se mantivessem vivendo
debaixo de um mesmo teto ou numa mesma propriedade até a morte de seu pai e que, em
virtude disso, as famílias de irmãos se considerassem toda como parte de uma única e
grandiosa unidade familiar. Além de abrigar durante um bom tempo os seus próprios filhos,
era usual que influentes homens da sociedade romana mantivessem famílias humildes sob a
sua proteção, agindo dessa forma como patronos. Isso garantia a esses poderosos senhores
vantagens como votos em eleições, trabalhadores e, até mesmo, amantes e filhos fora de
seus casamentos.
Mas o toque definitivo na formação deles era dado pelo exército. Quanto
mais um cidadão era rico, mais impostos tinha de pagar e mais anos
devia prestar de serviço militar. Para quem desejava iniciar uma carreira
pública, o mínimo era dez anos. Portanto, praticamente só os ricos
podiam abraçá-la, pois somente eles podiam passar tanto tempo longe da
terra ou da oficina. Mas também os que se contentavam em exercer seus
direitos políticos, isto é, os do voto, deviam ser soldados. De fato, era
VI Jornada de Estudos Antigos e Medievais – Trabalhos Completos – ISBN: 978-85-99726-09-9
Como já foi retratado anteriormente, para Funari (1993, p.52) a educação era privilegio de
poucas crianças romanas, apenas os meninos de famílias abastadas tinham esse privilégio.
Ensinava-se o latim e o grego, cálculos, literatura e retórica. “Os meninos ricos
normalmente contavam com preceptores, uma espécie de professores particulares, que
ensinavam uma série de disciplinas. Aprendiam não apenas ler e a escrever, como
estudavam grego, muitas vezes antes do próprio latim”. As meninas tinham que aprender os
deveres domésticos com suas mães, as pessoas provenientes de famílias humildes
raramente eram alfabetizadas e os meninos eram preparados para seguirem a formação
voltada para o exército.
Como não existia a escola pública, somente os meninos, se pertencessem a uma família
abastada, continuavam seus estudos, passando pelo secundário até atingir o ensino superior.
Sob a supervisão de um professor de literatura, estudavam os autores clássicos, a mitologia,
as ciências humanas, etc. Pretendia-se formar um jovem instruído nas belas letras,
desenvolvendo sua capacidade de retórica, sua eloqüência. Já as meninas não continuavam
seus estudos, pois entre os doze e quatorze anos eram consideradas adultas, os homens as
chamavam de "senhora", e algumas já eram entregues em casamento desde esta tenra idade.
Assim, era o marido, escolhido pelo pai da noiva, que cuidava da educação dessas jovens
romanas.
lutas políticas, religiosas que era moldado o perfil desta criança que futuramente se
transformaria em um homem pronto para defender os valores e anseios da sua sociedade.
A educação romana teve que produzir o homem necessário para a relação com a sociedade.
Desta forma, era preciso fazer com que a criança desde cedo entendesse que educação
voltada para a grande originalidade do ensino latino era o fato de oferecer à ambição dos
jovens a carreira jurídica, pois para os romanos o homem que conhece o direito, que sabe a
fundo as leis, os costumes, regras processuais, o repertório da jurisprudência, o homem que
diz o direito, que tem a habilidade de o pô-la em execução.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este texto teve como objetivo, fazer uma reflexão sobre a família na sociedade romana
antiga, com o objetivo de entender o ideal de homem e seus anseios, os quais acontecem a
partir das condições e vivências sociais que estruturam o perfil da família romana.
No primeiro momento enfatizamos o perfil e os ideais da família romana em relação à
todos os membros que compõem a família romana. As famílias eram muito numerosas, mas
o nascimento de uma criança era um evento muito especial, confirmava a continuação da
linhagem familiar e acrescentava respeito a esta. O anúncio da vinda de uma nova criança
requeria certos costumes a serem observados para a introdução de um bebê saudável na
família. A futura mãe era cuidada somente por outras mulheres da comunidade, mas
continuava a conviver em seu ambiente familiar e o seu marido poderia passar somente
poucos períodos de tempo com ela durante toda a gravidez. Normalmente era função do
VI Jornada de Estudos Antigos e Medievais – Trabalhos Completos – ISBN: 978-85-99726-09-9
marido assumir todas as tarefas domésticas enquanto a sua esposa não era mais capaz de
realiza-las.
Na seqüência, traçamos um breve olhar da sociedade romana perante a educação. Ela tinha
como base a retórica, entendida como um importante instrumento de ação política. A
educação transmitida para a criança, era utilitária e moralista, organizada pela disciplina e
justiça, o que caracteriza o homem em todos os tempos e lugares. Neste sentido, pode-se
entender que a criança e a educação nada mais são do que o reflexo da sociedade em que
vivem.
REFERÊNCIAS
EIRE, Antonio Lopes. Los Fundamentos de la Retórica. Buenos Aires: UNS, 2001.
FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Roma: Vida Pública e Vida Privada, São Paulo: Atual, 1993.
MONTANELLI, Indro. História de Roma. Trad. por Sandra Lazzarini. Rio de Janeiro: Record,
1989.
OMENA, Luciane Munhos de. Os Ofícios: Meios de Sobrevivência dos Setores Subalternos da
Sociedade Romana. Disponível em < http://www.revistafenix.pro.br >, acesso em 14 de junho de
2007.
PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Estudos de História da Cultura Clássica. Lisboa: Calouste
Gulbenkian, 2002.