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Ensino Coletivo de Violao - Principios de Estrutura e Organizacao - Cristina-Tourinho
Ensino Coletivo de Violao - Principios de Estrutura e Organizacao - Cristina-Tourinho
CRISTINA TOURINHO
RESUMO ABSTRACT
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
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Texto apresentado no I Seminário da
Violão, Ensino coletivo, Música. Guitar, Group lessons, Music. AAPG (nov./2007).
1 INTRODUÇÃO
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84 REVISTA ESPAÇO INTERMEDIÁRIO, São Paulo, v.I, n.II, p. 83-93 , novembro, 2010.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
editamos um livro específico para atender às nossas exigências. Inicialmente o curso era
apenas para introdução ao violão com leitura musical, usando o repertório tradicional para
o instrumento. Outras possibilidades foram acrescidas posteriormente, e mais estagiários
passaram a trabalhar no projeto.
Em 2007 contávamos com 14 estagiários, alunos do curso de Graduação em Instrumento
e de Licenciatura em Música. Estes atendiam 38 turmas em quatro vertentes: música popular
(com iniciação técnico instrumental, sem obrigatoriedade de leitura no primeiro semestre,
dois níveis, semestral), oficina de violão (com leitura musical e repertório clássico europeu e
música popular, quatro níveis semestrais), iniciação musical com introdução ao violão (para
crianças de 8 a 12 anos, três níveis, anual) e violão para adultos (pessoas acima de 50 anos,
que desejam tocar apenas por hobby). A partir de 2007 introduzimos também o atendimento a
pessoas com deficiência e, com o Programa Permanecer4, modificações estruturais nos cursos
de música popular e na parte administrativa em geral.
Uma das mudanças mais significativas para a estrutura administrativa dos cursos foi a
realização do I Seminário dos Estagiários da Extensão de Violão da UFBA, realizado no dia 1 e 2
de agosto de 2007. Substituindo as improdutivas reuniões pedagógicas, o seminário mobilizou
os estagiários a expor suas dificuldades e acertos. As reuniões pedagógicas mensais tinham
sofrido um desgaste, e os estagiários estavam pouco motivados a frequentá-las, muitas vezes
comparecendo somente pela obrigatoriedade e mantendo-se apáticos durante sua realização.
Nos dias 4, 5 e 6 de dezembro de 2007 aconteceu o II Seminário, que projetou problemas
e soluções para o cumprimento das metas em 2008. Em 2010 foram realizadas Semanas
Pedagógicas no início de cada semestre, com a participação de tutores e professores.
2 PERFIL DO CURSO
Em uma visão pessoal, acredito que a essência do ensino coletivo acontece quando existe
um professor que trabalha com diversos indivíduos no mesmo espaço físico, horário, e que
várias pessoas aprendem conjuntamente a tocar a mesma peça. Isto é, o professor está se
dirigindo a um grupo de estudantes, que recebem simultaneamente a mesma informação,
embora o recebimento e o processamento desta informação aconteça de forma individual.
O que não é ensino coletivo de violão, a meu entender, se feito de forma sistemática e como
atividade principal: ensaio de uma peça a várias vozes; orquestra de violões; música de câmara
(duos, trios, violões e outros instrumentos); atendimentos individualizados, como um master-
class. O paradoxo é que todas estas atividades podem ser partes integrantes das aulas de
ensino coletivo de violão, mas não constituem sua essência se feitas como atividade principal
do curso5. No ensino coletivo, o professor deve se dirigir SEMPRE ao grupo, mesmo quando
trabalhando individualmente com um estudante. No ensino coletivo de violão, são possíveis e
devem ser usados repertório solo, música com letra e cifra para acompanhamento e músicas a
duas, três e quatro vozes.
Por ser um instrumento harmônico no qual se tocam facilmente dois acordes, o violão se
presta de forma magnífica para fazer música desde a primeira aula. Uma rápida visita a um
site de músicas cifradas mostra a possibilidade de repertório com canções de dois acordes,
geralmente Tônica e Dominante. E tocar rapidamente é tudo o que a grande maioria dos
iniciantes deseja. Quem nunca ouviu a famosa pergunta: “Professora, em quanto tempo eu
vou tocar?”. Trabalhamos de forma que a resposta seja: “Hoje você vai para casa tocando a sua
primeira música”. Esta é uma das diferenças do ensino coletivo de instrumentos melódicos de
corda e sopro, que exigem outra técnica de trabalho e cujas primeiras peças estão divididas
entre naipes. Acho que a motivação para o desenvolvimento do estudo individual é uma das
vantagens do ensino coletivo de violão, embora manter grupos de pessoas motivadas exija
habilidade por parte de qualquer professor de instrumento.
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Ver o artigo no site <www. Algumas vantagens pedagógicas são óbvias, como a) o atendimento ao maior número
artenaescola.com.br>. de pessoas em menos tempo de trabalho; b) menor desgaste para o professor com as aulas
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iniciais, onde se repete menos as informações básicas; c) os estudantes aprendem uns com
os outros, por observação mútua e autoavaliação intuitiva; d) os parâmetros musicais são
adquiridos mais rapidamente. Existem também vantagens financeiras, como a diminuição do
valor da hora-aula.
As desvantagens que aponto se referem à dificuldade de administrar diferenças individuais
de aprendizagem, inclusive de temperamento e gosto musical, disciplina, assiduidade,
pontualidade e estudo em casa. O ensino coletivo também tem curta duração. No máximo,
após dois anos de aulas coletivas, para prosseguir nos estudos, aconselha-se a passar para
atendimento individual ou em duplas e manter uma master-class ou encontro mensal.
Uma das particularidades essenciais do ensino coletivo consiste no planejamento. Embora
exista muita dificuldade para que os estudantes de bacharelado, acostumados ao ensino
tutorial, planejem suas aulas, no ensino coletivo o planejamento é indispensável. A diferença
no rendimento e resultado entre o estagiário que planeja e o que não o faz é muito grande.
Quanto mais iniciante seja o educador, mais cuidadoso e minucioso deve ser o planejamento e
mais trabalho para convencê-lo de que deve planejar. Com o planejamento, é possível antever
resultados, mudar para outra atividade caso a planejada não surta um bom efeito, poder ir e vir
dentro de uma estrutura conhecida e aumentar o “repertório” de estratégias.
4 ASPECTOS ORGANIZACIONAIS
Instituições que oferecem cursos gratuitos, com apoio psico-pedagógico, uma refeição
e/ou lanches, salas de estudo e instrumento para empréstimo ou aluguel a baixo custo
costumam ter uma procura muito grande, principalmente a cada início de ano. Se forem
feitas duas admissões anuais, no segundo semestre a procura cai, mesmo assim de forma
pouco expressiva. O problema passa a ser como atender a demanda. Estou me referindo a
conservatórios públicos, escolas profissionalizantes, ONGs, cursos de extensão universitária,
onde existem diversas alternativas para fazer algum tipo de seleção ou nivelamento, que
variam entre: a) testes de percepção auditiva combinados ou não com entrevista; b) sorteio
de vagas; c) senhas para inscrição; d) limites por faixa etária. Tenho visitado instituições que
adotam estas medidas e percebo que, de forma geral, repetir ritmos e ordenar sons não parece
ser garantia para selecionar um bom estudante. Se o teste for feito de forma individual, os
professores examinadores ficam esgotados ao fim de cada turno, devido ao grande número
de candidatos. A menos que reunidas previamente e decidindo de comum acordo, também
não se pode garantir que bancas simultâneas procedam da mesma forma. Um teste gravado
a ser aplicado de forma única para grupos de candidatos diminui o cansaço dos professores,
mas ainda assim não garante o bom desempenho posterior dos estudantes. Pergunta: quais
os fatores que influenciam e conduzem o desempenho dos estudantes? Como os testes de
seleção poderiam garantir o bom desempenho posterior?
Na UFBA, como temos um curso pago, atendemos à quase totalidade da demanda com
uma entrevista de nivelamento. Embora seja um processo cansativo para os professores-
examinadores, todos os inscritos passam por uma entrevista. Geralmente a entrevista é feita por
três pessoas, que trabalham em conjunto. Incluir os estagiários nas entrevistas de nivelamento
é uma forma de treiná-los também para fazer a avaliação diagnóstica inicial. Existe uma ficha
prévia de inscrição, preenchida na secretaria, que permite agrupar pessoas para entrevista de
acordo com o curso desejado. Antes da entrevista de nivelamento, é feita uma reunião com os
professores efetivos de violão para determinar os horários a serem utilizados pela extensão e
para determinar com os estagiários quais serão os horários disponíveis e em que tipo de curso
desejam atuar. Aproveitamos as habilidades específicas, disponibilidade de horário e afinidades
com faixas etárias, acreditando que cada estagiário irá trabalhar mais satisfeito desta forma.
A escolha do turno para estudo e o curso são os maiores delimitadores para a formação
das novas turmas. Depois destes dois itens, a habilidade musical (não toca, toca, o quanto
toca?) são o segundo passo. E como terceiro e último fator, a idade. Procuramos, na medida do
possível, agrupar faixas etárias próximas por uma questão de gosto musical e velocidade de
aprendizagem. Em média as crianças são colocadas em turmas com faixas etárias de um ano
de diferença 8-9, 10-11, 11-12. Os adolescentes e adultos jovens entre 14 e 25 anos podem ficar
juntos. Pessoas com mais de 50 anos formam turmas especiais. Dois fatores concorrem para
este tipo de agrupamento por idade: repertório e habilidade motora. Mas existem exceções,
e não raro jovens e adultos estão misturados. A escolha do dia da aula e horário é feita
imediatamente após a entrevista, e o futuro aluno sai com as orientações básicas por escrito.
A cada semestre fazemos uma aula de abertura, quando comparecem os novos estudantes
e os professores-estagiários. É feita uma apresentação do curso em Power Point, e em seguida
tocam ex-alunos e estagiários. Alguns estagiários, hoje alunos da Graduação, foram oriundos
dos cursos de extensão e sempre dão uma palavra de estímulo para os iniciantes.
O semestre está dividido em 15 aulas, com fichas mensais para presença e avaliação por
turma. Ao fim de cada mês o professor-estagiário entrega a ficha preenchida na Secretaria. As
presenças não são registradas pelo professor e sim assinadas pelos estudantes a cada semana.
Nesta mesma ficha mensal o professor assinala as faltas, desistências e trocas de horário e
avalia cada estudante com uma nota e uma frase de justificativa. A ficha ainda tem telefones
para contato.
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RELATO DE EXPERIÊNCIA
Existe um programa-guia para cada um dos cursos, embora muitas turmas nem sempre
consigam completá-lo. Estabelecemos então o repertório mínimo para considerar cumprido
cada módulo.
Temos material didático editado apenas para as Oficinas (nível I, II e III), sendo o volume I
o único editado comercialmente, com CD de áudio incluso. O CD tem gravação do repertório
e ainda sequências de acordes para exercícios de técnica aplicada, sendo muito apreciado
pelos estudantes. O material dos cursos de música popular ainda está sendo testado (a cada
ano fazemos uma nova versão) que é cedida aos estudantes para cópia. A ideia futura é
compilar as duas vertentes em um único material, sem distinção “erudito-popular” e poder
usar ambos os repertórios em um curso inicial híbrido, que substitua a atual dicotomia, tendo
a leitura em partitura como base para ambos os cursos. Um dos relatos mais frequentes dos
professores-estagiários é de que existe resistência ao aprendizado da leitura musical por
parte das pessoas inscritas no curso de música popular. Em 2007 resolvemos testar a junção
teoria/prática na mesma aula e com o mesmo professor, e os resultados, apesar de positivos,
não foram considerados economicamente viáveis. Por isso as aulas voltaram a ser divididas
em teóricas e práticas, persistindo os problemas citados. O material para as crianças, também
não editado, inclui muitos exercícios de altura sonora, escrita e leitura relativa, jogos (Guia
e Cavalieri, 2005), além do repertório de canções de dois e três acordes. As crianças são
musicalizadas através do violão e as aulas utilizam atividades muito parecidas com as de
musicalização infantil, só que através de um instrumento específico, a exemplo do material
editado por Parizzi e Santiago (1998).
4.5 Avaliação
Com exceção das crianças, que permanecem juntas até o final do ano letivo, adolescentes
e adultos são remanejados a cada semestre. Muitas vezes permanecem com a mesma turma,
horário e professor. Mas também mudam de horário, pelos mais diversos motivos, ou são
reagrupados pelo critério de desenvolvimento técnico. Nunca se proíbe um estudante de
passar para um novo módulo no meio do semestre, desde que tenha conseguido completar
o anterior. Se o próprio professor-estagiário não tem uma turma em horário compatível,
outro professor absorve o estudante. Também não existe “reprovação”, quem não consegue
cumprir o programa mínimo tem a chance de complementá-lo no próximo semestre. E quem
chegou ao fim do semestre apenas com o mínimo vai encontrar peças com o mesmo nível
de dificuldade no início do próximo módulo. O curso está organizado para quatro semestres,
mas como a maioria dos estudantes fica apenas dois semestres, e alguns cursam somente um,
estamos sempre investigando as causas das desistências e abandonos. Embora não se possa
garantir a sinceridade de uma resposta por telefone, quando indagados, os desistentes alegam
motivos como falta de dinheiro, mudança de horário no emprego ou demissão. Raramente
são feitas queixas ao professor, ao curso. Os estudantes por vezes se queixam que o repertório
não é do agrado, mas fica impossível atender a todos. Estamos investigando como conseguir
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Sendo o material e as atividades para o ensino coletivo semelhantes aos da aula tutorial,
a grande responsabilidade pela condução das aulas e pelo sucesso do curso é do professor
e do seu desempenho em classe. Acreditamos que a formação do professor para atuar no
ensino coletivo é responsável pelo bom andamento do curso e extrapola a aquisição de
materiais e o espaço físico sofrível que oferecemos como instituição federal. O professor bem
instrumentalizado vai atuar também com competência em situações de conflito e nas que
requerem preparo pedagógico, tomando decisões acertadas.
Em nosso entendimento, para trabalhar com o ensino coletivo é preciso ter como requisito
básico as seguintes crenças:
a) Acreditar que todos podem aprender
Deixar de lado os conceitos de que somente pessoas com “talento” podem aprender a tocar
e acreditar que todos aprendem, a seu tempo e ritmo. Que nem todos serão instrumentistas
profissionais, mas que deverão sair apreciadores e ouvintes conscientes, e sobretudo passarem
horas agradáveis na instituição.
b) Acreditar que uns aprendem com os outros
Da mesma forma que aprendemos a falar, andar, comer e a nos portar socialmente, é
possível aprender com os pares pela observação do outro, auto-observação, avaliação e
autoavaliação. Este comportamento e ações para promovê-lo devem fazer parte das aulas. O
professor não é mais o único detentor do saber, e os estudantes podem e devem contribuir
para o aprendizado dos colegas.
c) Conhecer as possibilidades e limites de um curso de iniciação musical.
Cada estágio de aprendizagem tem um limite, é preciso determinar uma meta e o caminho
para alcançá-la e compreender que se deve ater aos objetivos propostos inicialmente. A EMUS
não pode se propor a resolver o problema da ausência de música nas escolas, apenas faz a sua
parte. Não temos espaço físico nem pessoal treinado para atender a todas as especialidades
que nos são requeridas (flamenco, harmonia e improvisação avançada, algumas pessoas com
deficiência, horários norturnos).
d) Planejar as aulas
Aulas planejadas têm mais chances de sucesso. Escolher o repertório de e em acordo com
o grupo, escrever sequências de atividades, planejar avaliações e anotar os resultados obtidos
vão ajudar a formar um repertório de possibilidades para as situações de classe.
O professor de aulas coletivas não tem horário vago! Se todos os alunos faltam à aula, está
acontecendo algum problema que deverá ser relatado ao coordenador. Se nenhum dos alunos
estuda, as causas devem ser investigadas. Se todos se comportam mal, deve-se estar atento
para os fatos que causam comportamentos anômalos.
A formação continuada do professor de ensino coletivo deve estar centrada em três
pilares: instrumental, pedagógico e psicossocial. O professor precisa tocar com desenvoltura o
repertório que irá ensinar. Os estudantes percebem rapidamente quando não existe domínio
técnico e interpretativo. Neste caso, como não se trata de tutoria entre iguais, o estudante
tende a pensar que está sendo enganado.
7 CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
GUIA, Rosa dos Mares e CAVALIERI, Cecilia. Jogos pedagógicos para a educação musical. Belo
Horizonte: Editora da UFMG, 2005.
PARIZZI, Beatriz e SANTIAGO, Patricia Furst. Pianobrincando. Belo Horizonte: s/e, 1998.
TOURINHO, Cristina. Ensino coletivo de violão: proposta para disposição física dos estudantes em
classe e atividades correlatas. Disponível em </www.artenaescola.com.br/pesquise_artigos.php:.
Acesso em 31 jan. 2008.