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A avaliação da performance no violão na modalidade EAD

Felipe Rebouças
Universidade Federal da Bahia
felipemreboucas@gmail.com

Resumo: O presente trabalho apresenta um projeto de pesquisa que trata da avaliação em


performance no violão na modalidade EAD. Objetiva investigar como se deu a avaliação no
ensino de violão em um curso de licenciatura em música. Como referências são utilizados
autores que tratam de avaliação, avaliação em música, avaliação em performance no violão, e
educação a distância. Também aponta escritos recentes que abordam esta experiência em
ensino de violão na modalidade EAD, trazendo alguns dados sobre o curso em questão. O
estudo valoriza a escolha de critérios e de instrumentos de coletas de dados para a avaliação, e
aborda as características do diálogo entre professor e aluno nesta modalidade de ensino.
Palavras-chave: ensino de violão, avaliação em performance, educação a distância.

Introdução

A recente expansão da educação a distância mediada pela internet tem trazido


possibilidades de formação para pessoas que até então não tinham acesso a um curso superior,
alcançando regiões que dificilmente seriam contempladas com ensino em nível de graduação
e pós-graduação. Mesmo com a criação de novas universidades em vários estados, a educação
presencial ainda não demonstra ser suficientemente eficiente para atingir populações distantes
dos grandes centros urbanos. Os cursos a distância têm se mostrado capazes de oferecer esta
possibilidade.
Além da expansão do acesso ao ensino superior, a EAD tem explorado os meios de
interação entre as partes envolvidas no processo de ensino. Estas novas formas de interação,
por sua vez, abrem espaço para formas diferenciadas de ensinar, aprender e avaliar, o que
exige a produção de uma bibliografia específica.
Este projeto de pesquisa em andamento tem por objetivo investigar de que formas a
avaliação foi abordada no ensino de violão no Curso de Licenciatura em Música na
modalidade EAD da UFRGS, que fez parte do programa Pró-licenciaturas fase II do MEC e
foi oferecido em parceria com UFBA, UFES, UDESC, UNIR, UFAL e UFMT (NUNES,
2012, p. 19-20). Iniciado em abril de 2008 e concluído em maio de 2012, graduou professores
de música em diversos estados do Brasil. A sigla PROLICENMUS será utilizada neste
trabalho para fazer referência a este curso (NUNES, 2012).

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Foi ofertado na interdisciplina Seminário Integrador (SI) o ensino de teclado e


violão, pois o Projeto Pedagógico de Curso do PROLICENMUS traz “a ideia de educar
musicalmente por intermédio da utilização do canto acompanhado por instrumento harmônico
(piano/teclado ou violão)” (UFRGS, 2010, p. 3). No ensino de violão (SI Violão), que é o
objeto de estudo deste projeto, foram empregados diversos recursos tecnológicos, como
imagens, animações, exemplos de áudio, vídeos e videoaulas interativas.
A avaliação neste curso foi feita sob três olhares diferentes sobre o aluno,
contemplando três níveis de avaliação: a Avaliação de Nível 1 (N1) observou como se deu o
processo de estudo do aluno, verificando sua interação com os materiais didáticos, com os
tutores/professores e com os outros cursistas; a Avaliação de Nível 2 (N2) buscou verificar o
domínio do estudante sobre os conteúdos trabalhados e sua capacidade de posicionamento
crítico-reflexivo sobre sua prática docente; Avaliação de Nível 3 manteve o foco sobre os
resultados práticos dos estudos e pesquisas dos alunos, sobretudo nas questões relacionadas
ao cotidiano escolar dos próprios cursistas. Esta última também difere das anteriores por ser
uma avaliação coletiva, que emite conceito comum a todas as interdisciplinas, para todos os
alunos do polo onde foi aplicada (UFRGS, 2010). Esta pesquisa manterá seu foco na
avaliação de N2, por esta abordar de forma direta a performance do aluno.
A questão norteadora deste projeto de pesquisa indaga como se deu a avaliação de
performance em violão no curso de licenciatura em música EAD da UFRGS e quais as
relações entre os instrumentos de avaliação, metodologias e as teorias que fundamentaram a
prática pedagógica. A pesquisa envolverá questionários, pesquisa documental e entrevistas
semiestruturadas, os quais serão aplicados a ex-alunos, tutores e professor formador.
O interesse deste pesquisador pelo tema surgiu durante experiências de participação
em processos avaliativos no PROLICENMUS, no âmbito das avaliações de SI Violão. A
constante interação com a equipe de tutores e com o professor coordenador da interdisciplina
para definição de repertório, elaboração de orientações, definição de critérios de avaliação,
análise das atividades realizadas e formatação dos resultados obtidos pelos alunos
estimularam reflexões sobre o processo avaliativo. Em sua atuação enquanto tutor de polo,
este pesquisador também pôde perceber a receptividade dos alunos às atividades de SI Violão,
o que fornecia indícios de que algumas práticas adotadas no ensino de violão neste curso
careciam de maior reflexão e aprofundamento teórico.

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Questões como “esta peça é adequada ao nível e ao contexto musical do aluno?”,


“estamos sendo claros ao comunicarmos os critérios e objetivos aos alunos?”, “estes critérios
avaliam o desempenho musical de forma adequada?” ou “estamos divulgando os resultados
de forma clara?” estavam presentes tanto durante o processo de elaboração do material
didático quanto na interação com o aluno no polo de apoio presencial.

Fundamentação teórica

Os principais referenciais teóricos que fundamentaram este pré-projeto de pesquisa


foram Tourinho (2001), Moore & Kearsley (2007) e Luckesi (2011).
Sobre avaliação em performance, Tourinho (2001) conclui que há três aspectos que
encurtam o caminho para as mudanças de comportamento pretendidas pelo professor: a
precisão da informação, a demonstração do que se deseja como resultado e a solicitação de
reflexão por parte dos professores” (TOURINHO, 2001, p. 196). Também acredita ser útil no
processo avaliativo uma caderneta musical, com registros em vídeo de todas as performances
dos alunos, acompanhados de dados sobre as performances e pareceres do professor, a qual
poderia ser consultada inúmeras vezes sob diferentes pontos de vista (TOURINHO, 2001, p
197-198).
Moore e Kearsley (2007) definem a Teoria da Interação a Distância como a lacuna
existente na comunicação e compreensão entre professores e alunos por causa da distância
geográfica/temporal característica do ensino a distância. Defendem ainda que esta
característica da Interação a Distância deve ser assistida por “procedimentos diferenciados na
elaboração da instrução e na facilitação da interação” (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 240).
Luckesi (2011) tece considerações importantes sobre instrumentos de coleta de dados
para avaliação. Segundo o autor, estes instrumentos ampliam a nossa capacidade de
observação sobre o objeto avaliado, mas deve-se ter uma lista de aspectos a serem observados
no momento da avaliação. Do contrário comprometerá o foco da avaliação, pois a
aleatoriedade da observação resultará em uma descrição inadequada da realidade que se
pretende avaliar. O autor também alerta para a necessidade da adequação do instrumento de
coleta de dados empregado, ressaltando que este “precisa coletar exatamente os dados
necessários para descrever o desempenho do educando que estamos precisando descrever, -
nem mais nem menos, somente os dados necessários" (LUCKESI, 2011, p. 305).

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Swanwick (2003) alerta para o fato de que na avaliação formal o conceito de difícil
está associado tradicionalmente ao acúmulo de elementos técnicos musicais, o que sugere que
o aspecto quantitativo é valorizado em detrimento do aspecto qualitativo da realização
musical (SWANWICK, 2003).
O método MAaV1 (NUNES, 2005) observa as características da educação na fase
adulta, quando há “resistência a novas estruturas de pensamento” e predominância das
“motivações extrínsecas”. (NUNES, 2005, p. 19). A autora considera, ainda, que todos têm
alguma musicalidade, a qual pode ter sido estimulada e manifestar-se formalmente, ou não ter
sido educada, tornando-se expressões espontâneas, mas sem aproveitamento das capacidades
do indivíduo (NUNES, 2005).
Westermann (2010) analisa os fatores que influenciam a autonomia do aluno de
violão no PROLICENMUS. O autor considera a interferência do tutor residente, no
atendimento presencial como fator determinante para o desenvolvimento da autonomia do
aluno. Sugere que professores e tutores criem situações presenciais ou virtuais para estimular
a interação e a reflexão por parte dos alunos (WESTERMANN, 2010).
Tourinho et al. (2012) faz uma descrição das metodologias utilizadas no ensino de
violão no curso, observando as transformações ocorridas ao longo dos semestres. Com relação
à avaliação, destaca o aumento na freqüência das gravações como forma de “aproximar” o
aluno da equipe da interdisciplina e de dar mais oportunidades para o aluno lidar com a
situação de gravação e performance. São abordados no referido trabalho os procedimentos de
gravação uma vez por semestre e a progressão até o sistema de gravação por pontos de prova.
Este modelo consistia em uma estrutura de avaliação que permitia diferentes níveis de
aprendizado do instrumento. A autora também salienta as mudanças na forma de divulgação
dos resultados das avaliações, sempre através de pareceres, os quais indicavam, nos primeiros
semestres, apenas os resultados parciais e finais, indicando se os alunos estavam aptos ou não
aptos a seguirem adiante no programa (repertório). Estes pareceres passaram a explicitar, nos
semestres finais, cada critério considerado na avaliação, fornecendo um julgamento mais
detalhado do desempenho do aluno (TOURINHO et al., 2012).
Rebouças (2012) aborda a gravação como instrumento de coleta de dados para a
avaliação de performance em violão no PROLICENMUS. O autor fala da necessidade de

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O MAaV (Musicalização de Adultos através da Voz) é um método que utiliza o canto como principal
ferramenta para o desenvolvimento da musicalidade de pessoas adultas.

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explicitar de forma clara para os alunos os procedimentos para a realização de gravações,


considerando que uma compreensão errônea destes procedimentos pode comprometer a
percepção da performance dos alunos por parte do avaliador, prejudicando o processo
avaliativo como um todo (REBOUÇAS, 2012).

Perspectivas

Espera-se com este trabalho contribuir com o ensino de violão a distância,


oferecendo reflexões para balizar experiências futuras e bibliografia específica sobre o
assunto. Apesar de haver uma bibliografia considerável sobre avaliação em música, são raros
os trabalhos sobre a avaliação em música na modalidade EAD. É preciso observar que esta
modalidade encontra-se em constante expansão, com vistas ao cumprimento da lei nº
11.769/08, que dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas básicas do
Brasil.
A observação da metodologia empregada na experiência de ensino de violão no
PROLICENMUS, especialmente sobre avaliação, trará acréscimos às formas de diálogo de
que professor e aluno precisam para a verificação do desenvolvimento do estudante e para a
proposição de eventuais correções de percurso. Serão analisadas situações reais e de avaliação
e diálogo, observando os aspectos pertinentes das sistematizações de conteúdos efetuadas e as
possibilidades de aprendizado decorrentes destas sistematizações.
Também será verificada a validade dos instrumentos de avaliação e o potencial de
uso das ferramentas desenvolvidas para um diagnóstico claro e preciso do processo de estudo
do aluno. Ferramentas estas utilizadas para análise e intervenção sobre resultados
apresentados pontualmente, mas ao longo de todo um processo de aprendizado.
Serão, ainda, estabelecidas relações entre os critérios utilizados nas avaliações e a
literatura que trata deste tema em música, a exemplo de Swanwick (2003), que indica a
necessidade de declarar critérios que façam sentido para qualquer pessoa (SWANWICK,
2003, p.83).
Por fim, pretende-se investigar as formas de explicitação de resultados empregadas.
Os recursos de que a informática e a internet dispõem, e mais especificamente as ferramentas
que a plataforma Moodle oferece possibilitaram formas específicas de clarificar a percepção
do aluno sobre seu próprio desempenho. Esta etapa decisiva para a tomada de decisões do
aluno no sentido de efetuar correções de percurso é objeto que requer atenção especial, pois

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lacunas na comunicação entre professor e aluno podem gerar possíveis mal-entendidos, como
afirmam Moore e Kearsley (2007). E estes mal-entendidos podem resultar no desestímulo do
aluno, o que pode ser potencializado pela impossibilidade de o professor avaliar de imediato a
reação do aluno, a menos que este se pronuncie através dos meios disponíveis, no caso do
PROLICENMUS, os fóruns de discussão ou mensagens privadas.
Contudo, precisamos registrar que a despeito de toda a fragilidade deste projeto
inovador, as atividades foram conduzidas com muita competência e dedicação, resultando em
benefícios para as comunidades onde os alunos atuavam e/ou atuam. Isto pode ser verificado
por um número significante de aprovações no último semestre da interdisciplina SI Violão –
cerca de 60% (TOURINHO et al., 2012, p.162) -, mesmo que este tenha sido o momento em
que o desempenho do aluno frente ao perfil estabelecido para egresso do curso tenha sido
mais cobrado.
Como resultado de todos os esforços, tanto pela equipe da sede, quanto pelas equipes
dos polos e alunos, foi possível alcançar o número de 189 alunos formados nesta edição do
curso, o que significa a capacitação de professores com domínio técnico e conhecimento
idiomático do instrumento escolhido (violão ou teclado) suficientes para o trabalho em sala de
aula, além de conhecimentos pedagógicos para atuarem na educação básica com competência.

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Referências

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Paulo: Cortez, 2011.

MOORE, Michael; KEARSLEY, Greg. Educação a Distância: uma visão integrada. Trad.
Roberto Galman. São Paulo: Thomson, 2007.

NUNES, Helena M. S. Musicalização de Adultos através da Voz: livro do professor. Porto


Alegre: CAEF, 2005.

NUNES, Helena de Souza. (Org.). EAD na Formação de Professores de Música -


Fundamentos e Prospecções. 01ed. 320p il. Color. Tubarão, RS: Copiart, 2012, v. 01.

REBOUÇAS, Felipe. A utilização da gravação como ferramenta de coleta de dados para a


avaliação em performance no ensino de violão a distância: um relato de experiência. In: Anais
do I Congresso Nacional Educação Musical. Feira de Santana, 2012. No prelo.

SWANWICK, Keith. Ensinando Música Musicalmente. Trad. Alda Oliveira e Cristina


Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.

TOURINHO, Cristina. Relações entre os Critérios de Avaliação do Professor de Violão e


uma Teoria de Desenvolvimento Musical. Salvador, 2001. 246f. Tese (Doutorado em
Educação Musical). Universidade Federal da Bahia.

TOURINHO, A. C. G. S.; Westermann, B.; Marques, E. ; Rebouças, F. M.; Oliveira, A.;


Guerini, R. Cordas e Redes no Ensino de Violão. In: Helena Nunes. (Org.). EAD na
Formação de Professores de Música - Fundamentos e Prospecções. 01ed. Tubarão, RS:
Copiart, 2012, v. 01, p. 149-164.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Projeto Pedagógico de Curso.


Documento integrante do CD Projeto Pedagógico do Curso / PROLICENMUS da UFRGS.
Porto Alegre, 2010.

WESTERMANN, Bruno. Fatores que Influenciam a Autonomia do Aluno de Violão em um


Curso de Licenciatura em Música a Distância. Salvador, 2010. 124f. Dissertação (Mestrado
em Educação Musical). Universidade Federal da Bahia.

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