Você está na página 1de 6

GABRIEL TRETTEL DA COSTA DOS SANTOS - 8191525

LICENCIATURA EM MÚSICA

RELATÓRIO CRÍTICO-REFLEXIVO
ESTÁGIO SUPERVISIONADO E PRÁTICA - ENSINO FUNDAMENTAL
(6º ao 9º ano)

SOROCABA - SP
2023
1. Introdução:

O presente relatório tem como base: 1. A observação da atividade docente de duas


professoras do componente curricular Artes do ensino fundamental da Escola
Estadual Regente Feijó, sendo uma das professoras encarregada pelos 6º e 7º
anos, e a segunda pelos 9º anos; 2. Entrevista realizada com uma das professoras.
Foram observadas as aulas nos dias 05/06, 12/06, 15/06, 16/06, 19/06, 22/06, nas
quais foram trabalhadas oito abordagens pedagógicas que se repetiam em três
turmas diferentes por cada ano.

2. Objetivos do Estágio / Prática – Ensino Fundamental (Ciclo 3):

o Ler e estudar os conhecimentos propostos no Ciclo de Aprendizagem 3, de


acordo com o período estabelecido no Plano de Ensino.
o Realizar uma entrevista com o professor de Ensino Fundamental, a luz dos
estudos realizados no ciclo 3 a respeito da Base Nacional Comum Curricular.
o Analisar o “fazer docente”, considerando os pressupostos pedagógicos
propostos na BNCC de Ensino Fundamental.
o Observar o trabalho didático-pedagógico do (a) professor (a) de Ensino
Fundamental (Anos Finais – 6º ao 9º anos).
o Desenvolver uma postura investigativa, analítica e reflexiva em relação à
prática docente, considerando os objetos de conhecimento, competências e
habilidades da Área de conhecimento que irá atuar como futuro professor.
o Observar e realizar a análise crítica de abordagens didático-metodológicas
alinhadas à BNCC, a fim de garantir uma sólida e contextualizada
aprendizagem da docência.
o Refletir e analisar as ações docentes que resultem em experiências e
aprendizagens efetivas e contextualizadas no Ensino Fundamental, para que
possa subsidiar a organização e o planejamento de práticas pedagógicas
inovadoras, desafiadoras e significativas em sua futura atuação profissional.

3. Fundamentação Teórica do Ciclo 3:

O ensino fundamental é a etapa mais longa do ensino básico brasileiro, constitui-se


de 9 anos de formação, sendo cinco os iniciais e do 6º ao 9º ano os finais. As
habilidades a serem desenvolvidas em sala de aula estão divididas em cinco áreas
do conhecimento com os seus componentes curriculares e respectivas unidades
temáticas. Trataremos do componente curricular artes, que está relacionado a área
de conhecimento linguagens, e suas unidades temáticas são as Artes Visuais,
Dança, Música e Teatro.

Visando facilitar a abordagem pedagógica e fomentar a forma não disciplinar e não


fragmentada, interdisciplinar no ensino de artes, a BNCC propõe dimensões de
conhecimento, sendo elas: Criação, a qual refere-se ao ato do fazer artístico, com
uso das ferramenta das linguagens e suas implicações; Crítica, na qual se articula
os pensamentos propositivos e se relaciona o fazer artístico com elementos
históricos, filosóficos, sociais, econômicos e culturais; Estesia, a qual refere-se as
sensações experimentadas pelos elementos artísticos, como o espaço, tempo, o
som, a imagem; Expressão, refere-se a possibilidade da expressão de
subjetividades próprias, individuais ou coletivas, através dos processos artísticos;
Fruição, refere-se a sensibilização durante o fazer artístico; Reflexão, refere-se a
fase de criação de argumentos sobre as dimensões anteriores.

“Uma vez que os conhecimentos e as experiências artísticas são constituídos


por materialidades verbais e não verbais, sensíveis, corporais, visuais,
plásticas e sonoras, é importante levar em conta sua natureza vivencial,
experiencial e subjetiva.”(BRASIL, 2018, pg. 195)

Para que o processo de aprendizagem transite entre as dimensões propostas pela


BNCC, as habilidades específicas das unidades temáticas são divididas em seus
respectivos objetos de conhecimento. Na unidade temática música por exemplo,
temos os objetos de conhecimento: Contextos e práticas, elementos da
linguagem, materialidades, notação e registro musical, processos de criação.

Com o currículo organizado por competências, a BNCC permite ao professor maior


flexibilidade no trabalho das habilidades específicas. A competência é o elemento
norteador da aprendizagem, resultado da mobilização das habilidades. Em artes, por
exemplo temos como uma das competências a experiência da ludicidade,
percepção, criação, para resinificar os espaços da escola no âmbito da artes. Para
ter êxito nesta competência devemos mobilizar diferentes habilidades, precisam
estar claros os elementos da linguagem, os materiais a serem utilizados e quais
serão os processos utilizados.

O desenvolvimento de competências tem como objetivo a formação integral do


aluno, para que este tenha as capacidades necessárias para entender a realidade,
agir sobre ela e transformá-la. Para isso, o principal desafio colocado para o ensino
fundamental e a educação básica em geral é trabalhar os conteúdos de forma
interdisciplinar, a partir de metodologias ativas e inovadoras para que os alunos
tenham autonomia e participação ativa no processo de ensino-aprendizagem.
Assim, os estudantes passam a ser protagonistas e os professores os mediadores
no processo de aprendizagem.
4. Descrição detalhada, analítica e reflexiva do Estágio Supervisionado/Prática:

4.1 Estágio Supervisionado de Observação:

A observação foi marcada pela falta de recursos pedagógicos e a pouca, ou


nenhuma, aplicação de metodologias ativas e inovadoras.

Na primeira aula observada, a professora escreveu conceitos sobre artes cênica no


quadro, tais como iluminação, espaço, recursos tecnológicos, é a tarefa designada
aos alunos era passivamente copiar o conteúdo e responder a um questionamento
por escrito, individualmente. Na semana seguinte à mesma turma foi designada uma
avaliação com questões de múltipla escolhas sobre o mesmo assunto. Me pareceu
uma mera punição aos alunos, sem qualquer tentativa de engajar os alunos em
atividades criativas sobre o assunto. Sem dúvida, os alunos tiveram desempenho
negativo na avaliação.

O conteúdo trabalhado traz infinitas possibilidades de integração dos alunos no


processo de ensino-aprendizagem, poderiam alterar a iluminação da sala,
reorganizar a disposição da sala para ressignificar o espaço, por exemplo. Mas o
conteúdo foi tratado de forma mecânica, como se os alunos não tivessem olhos,
bocas e ouvidos, muito menos sentimentos, somente um caderno e branco.

Essa não foi uma situação isolada, em uma aula de 7º ano a segunda professora
observada adotou a mesma metodologia. Minha sensação é de que os professores
utilizam essa metodologia passiva em salas supostamente menos disciplinadas. E
assim, o desenvolvimento de competências, autonomia e protagonismo dos alunos é
deixado de lado.

No período observado, as produções artísticas executadas pelos alunos se limitaram


a desenhos em seus cadernos individuais de artes. Essas atividades foram a que
mais se aproximaram de um carácter interdisciplinar, é da perspectiva de formação
integral dos alunos. Neste sentido, duas práticas interessantes foram:

 Realizar desenho com elementos do sertão nordestino a partir da escuta


e análise da letra de Asa Branca, de Luiz Gonzaga

 Realizar desenho dos símbolos representativos da inclusão de pessoas


com síndromes de nascimento, como por exemplo síndrome de dahl ou
o transtorno de espectro autista.

Apesar de positivas no trabalho da interdisciplinariedade, as atividades não parecem


estarem atreladas a um planejamento geral da escola, e agem de forma isolada, e
muitas vezes as tentativas de se relacionar o conteúdo com outra unidade temática
acontece de forma mecânica. O fazer docente confunde a relação entre os
componentes curriculares e as unidades temáticas em metodologias ativas, com
abordar de forma tradicional um conteúdo de outra “disciplina”.

As formas de avaliação foram o elemento mais frustrante da observação. Ao invés


de estarem preocupas com o retorno sobre o processo de ensino-aprendizagem, as
avaliações eram exclusivamente para a avaliação dos alunos, colocando-os
constantemente sob a pressão da ameaça de reprovação.

4.2 Prática:

A professora entrevistada parece entender os princípios da BNCC e o currículo por


competências na teoria. Porém, a prática docente ainda está bem distante das
propostas da BNCC.

A principal dificuldade apontada pela professora, é a quantidade excessiva de


alunos por turma, o que impede o envolvimento de todos os alunos nas atividades.
De fato, o ambiente escolar observado é bem sufocante, com barulho excessivo e
falta de circulação de ar. Como se não bastasse, por meio de uma mapa de classe,
os alunos são obrigados a se sentarem todos as aulas, todos os dias, na mesma
lugar da mesma sala. Difícil ter motivação nessa situação.

Minha sensação é de que falta repertório no sentido de atividades com base em


metodologias ativas. A plano de atividades trabalhadas em sala de aula tem base no
currículo paulista. Apesar de o material ser organizado por competências, a maior
parte das atividades são abordadas de forma tradicional, onde os alunos assumem
uma postura passiva.

5. Considerações Finais:

Sem dúvida, ainda há muito trabalho a ser feito para que a educação básica
brasileira atinja um nível satisfatório e exerça papel transformador positivo na
sociedade. Essa escola não é nenhum caso isolado, a realidade de muitas escolas
ainda são de ambientes insalubres, com salas lotadas e falta de professores
capacitados. É necessária uma avaliação constante do processo de ensino-
aprendizagem, honesta, que aponte as mudanças necessárias, e amplie o repertório
de metodologias ativas. A BNCC é somente a bússola que orienta a direção, as
navegações e os marinheiros que irão navegar pelo oceano da educação devem ser
forjados diariamente.
6. Referências Bibliográficas

BRASIL. Ministério da Educação. A etapa do Ensino Fundamental. In: BRASIL.


Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base.
Brasília: MEC, [2018]. p. 57-452. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_sit
e.pdf. Acesso em: 25 jan. 2020.

Você também pode gostar