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Novembro, 2004.
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documento.
* Este artigo corresponde ao trabalho de deontologia profissional apresentado pela autora na prova
agregação na Ordem dos Advogados Portugueses.
JuriSTEP RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR DO ADVOGADO POR
INFRACÇÃO DOS DEVERES PARA COM O CLIENTE
ÍNDICE
NOTA INTRODUTÓRIA 3
O MANDATO JUDICIAL 5
SÚMULA CONCLUSIVA 28
BIBLIOGRAFIA 30
2
JuriSTEP RUTE MARTINS SANTOS
NOTA INTRODUTÓRIA1
Dizia Adelino da Palma Carlos, ilustre antigo Bastonário da Ordem dos Advogados
que:
1
São usadas as seguintes siglas neste estudo:
EOA – Estatuto da Ordem dos Advogados aprovado pelo Decreto-lei n.º 84/84, de 16 de Março,
alterado pela Lei n.º 6/86, de 23 de Março, pelo Decreto-lei n.º 119/86, de 28 de Maio, pelo
Decreto-lei n.º 325/88, de 23 de Setembro, e pelas Leis n.ºs 33/94, de 6 de Setembro, 30-E/2000,
de 20 de Dezembro e 80/2001, de 20 de Julho.
C.P.C. – Código de Processo Civil
C.P.P. - Código de Processo Penal
Cód. Civ. – Código Civil
LOFTJ – Lei da Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais
Cód. CCBE – Code du Conseil des Barreaux de la Communauté Européenne
ROA – Revista da Ordem dos Advogados
2
Parecer do Conselho Geral, in ROA, ano 47, pág. 427.
3
Nos termos do art. 41.º C.P.C., em caso de urgência o patrocínio pode ser exercido como gestão
de negócios, devendo a parte ratificar a actuação do advogado.
4
Acórdão da Relação de Lisboa de 30 de Junho de 1998, in Colectânea de Jurisprudência, ano 23,
tomo 3.
3
JuriSTEP RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR DO ADVOGADO POR
INFRACÇÃO DOS DEVERES PARA COM O CLIENTE
Esta não pretende ser mais do que uma breve reflexão concentrada na relação do
cliente consubstanciada no mandato forense entendido não só como o mandato
para o exercício de poderes em processos judiciais, mas como o mandato para o
exercício de qualquer acto típico da advocacia5 e 6
. Fora do objecto deste estudo
ficará a matéria relacionada com os deveres emergentes da nomeação oficiosa, do
contrato de trabalho com advogado, bem como do advogado que actua em gestão
de negócios.
5
Actualmente no EOA são elencados como actos típicos da advocacia o mandato judicial, a
representação, a assistência e a consulta jurídica. No art. 60 da proposta de alteração do EOA, o
elenco dos actos próprios da advocacia integra: o exercício do mandato forense; a consulta jurídica; a
negociação tendente à cobrança de dívidas; a elaboração de contratos, com excepção daqueles que
por lei são atribuídos a outras entidades; a instrução, organização, requisição e apresentação de actos
de registo nas respectivas conservatórias e demais entidades públicas; a instrução, organização e
marcação de escrituras de diversa natureza e o acompanhamento dos actos notariais; a instrução e
elaboração de documentos e requerimentos destinados a quaisquer processos e consulta dos mesmos
nos serviços de finanças, secretarias de autarquias locais e demais entidades públicas; a
representação e intervenção no âmbito dos procedimentos de formação de contratos ou actos de
entidades públicas, excepto quando a representação seja feita pelos respectivos representantes legais.
6
Nos termos do art. 61.º n.º 1 da proposta de alteração do EOA considera-se mandato forense:
a) o mandato judicial para ser exercido em qualquer tribunal, incluindo os tribunais ou
comissões arbitrais e os julgados de paz;
b) o exercício do mandato com representação, com poderes para negociar a
constituição, alteração ou extinção das relações jurídicas;
c) o exercício de qualquer mandato com representação em procedimentos
administrativos, incluindo tributários, perante quaisquer pessoas colectivas públicas ou
respectivos órgãos ou serviços, ainda que se suscitem ou discutam apenas questões de
facto.
4
JuriSTEP RUTE MARTINS SANTOS
O MANDATO JUDICIAL
7
Apud Pires de Lima e Antures Varela, Código Civil Anotado, vol II, pág. 787.
5
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INFRACÇÃO DOS DEVERES PARA COM O CLIENTE
8
Os poderes de representação não emergem unicamente da atribuição de procuração, podem resultar
também de outros negócios jurídicos ou da própria lei.
9
Vide art. 1157.º e ss. Cód. Civ.
10
Vide art. 208.º CRP.
11
A independência é uma das garantias necessárias ao exercício do mandato que a norma
constitucional consagrada no art. 208.º remete para a regulação legal. Em obediência ao dispositivo
constitucional dispõe o art. 6.º, n.º 2 da LOFTJ que no exercício da sua actividade, os advogados
gozam de discricionariedade técnica e encontram-se apenas vinculados a critérios de legalidade e às
regras deontológicas próprias da profissão. O EOA consagra, no art. 76.º, nº 2, que o advogado, o
exercício da profissão, manterá sempre e em quaisquer circunstâncias a maior independência e
isenção. Já a proposta de alteração do EOA, seguindo a redacção do n.º 2.1.1 do Cód CCBE
6
JuriSTEP RUTE MARTINS SANTOS
7
JuriSTEP RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR DO ADVOGADO POR
INFRACÇÃO DOS DEVERES PARA COM O CLIENTE
15
Vide art. 264.º Cod. Civ.
16
Vide art. 36.º, n.º 2 C.P.C.
17
Vide art. 83.º, n.º 1, alínea j)
18
O Cód. CCBE vai mais longe e exige que o advogado que exercer o seu direito e não mais e ocupar
de um assunto deve assegurar-se que o cliente poderá encontrar a assistência de um colega em
tempo útil de evitar que o cliente tenha prejuízos.
19
Vide art. 39.º C.P.C.
20
Vide art. 32.º C.P.C.
21
Vide art. 61.º, n.º 1, alínea a) e art. 62.º, n.º 2 C.P.P.
22
É ainda obrigatória a constituição de advogado em processo tributário nas causas judiciais cujo
valor exceda o décuplo da alçada do tribunal tributário de 1.ª instância, bem como nos processos da
competência do Tribunal Central Administrativo e do Supremo Tribunal Administrativo (art. 6.º do
Cód. de Procedimento e Processo Tributário), bem como nos processos da competência dos tribunais
8
JuriSTEP RUTE MARTINS SANTOS
Ainda de acordo com a lei processual civil, o mandato judicial pode ser celebrado,
por instrumento público ou privado ou ainda por declaração verbal da parte em
qualquer auto de diligência processual. Uma vez que se trata de um negócio
bilateral, a eficácia do mandato fica dependente da declaração de aceitação pelo
advogado. A aceitação pode ser expressa, no documento público ou particular pelo
qual o cliente constitui como seu mandatário o advogado, ou pode ser tácita,
resultando de um comportamento do mandatário. Estamos em crer que na maior
parte das situações o cliente constitui seu mandatário o advogado, através de
procuração, e este aceita tacitamente o mandato pela prática dos actos visados
pela procuração.
9
JuriSTEP RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR DO ADVOGADO POR
INFRACÇÃO DOS DEVERES PARA COM O CLIENTE
Uma vez que nos termos do mandato forense são sempre conferidos poderes de
representação do mandante (aliás, se assim não fosse não poderia o advogado
desempenhar a sua função de defesa dos interesses do seu cliente) a revogação
da procuração implica a revogação do mandato forense28 e a sua comunicação à
parte contrária é exigível nos termos do artigo acima citado.
27
Vide art. 39.º C.P.C.
28
Vide art. 1179.º Cód. Civ.
10
JuriSTEP RUTE MARTINS SANTOS
Seja qual for a fonte formal que legitima a relação advogado/cliente29, ela tem por
base a confiança que o advogado inspira ao cliente e, em contrapartida na
confiança que o cliente deposita no advogado, nas suas capacidades técnicas e na
defesa dos seus direitos e interesses.
Quando o cliente procura e escolhe um advogado por sua livre iniciativa fá-lo
porque conhece, de alguma forma, a reputação do advogado e:
29
Também quando o advogado seja nomeado oficiosamente, se estabelece uma relação à posteriori
em que o beneficiário dessa nomeação entrega a defesa do seu direito ou interesse ao advogado
nomeado e lhe revela os factos necessários para que este desempenhe convenientemente a sua
função. Não se estabelecendo esta relação de confiança e cooperação, o beneficiário pode solicitar a
substituição do advogado patrono.
30
Se ao advogado estagiário é reconhecida competência para praticar actos próprios da profissão em
causa própria, por maioria de razão também o poderá fazer o advogado (art. 164.º EOA).
31
Em processo penal a jurisprudência tem entendido que a defesa em causa própria não é admissível.
Neste sentido o acórdão da Relação de Lisboa de 17 de Junho de 1997 (Colectânea de
Jurisprudência, 22, tomo 3, pág. 158) – “O direito, reconhecido aos advogados, de litigar em causa
própria, decorrente do dispostos nos art. 54.º e 164.º do Estatuto da Ordem dos Advogados, não é
válida em processo-crime e tão pouco poderão assumir a defesa de um co-arguido.” E mais
recentemente, o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 19 de Março de 1998 (BMJ, 475, pág.
498) – “Embora, nos termos do Estatuto dos Magistrados Judiciai, da Lei Orgânica do Ministério
Público e do Estatuto da Ordem dos Advogados, os magistrados e os advogados possam advogar em
causa própria, essa regra é inaplicável aos casos em que o magistrado ou o advogado é, ele próprio,
arguido em processo penal, porque os poderes que por lei são atribuídos ao defensor não são
conciliáveis com a sua posição de arguido.”
11
JuriSTEP RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR DO ADVOGADO POR
INFRACÇÃO DOS DEVERES PARA COM O CLIENTE
O cliente confia os seus negócios, o seu dinheiro, os seus direitos, a sua liberdade
à boa e diligente defesa do advogado. Ao tomar para si a defesa dos direitos e
interesses do cliente, o advogado determina-se em liberdade e actua em
obediência a diversos deveres deontológicos que importa analisar.
32
Vide art. 52.º Lei 30-E/2000, de 20 de Dezembro.
33
Em processo penal, quando o advogado actue em desconformidade com a melhor defesa do
arguido, este pode ter intervenção directa no processo e retirar eficácia ao acto realizado por aquele
por declaração expressa anterior à decisão relativa ao acto – cf. art. 63.º, n.º 2 C.P.P.
34
Vide art. 83.º, n.º 1, alíneas a) e b) EOA.
12
JuriSTEP RUTE MARTINS SANTOS
13
JuriSTEP RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR DO ADVOGADO POR
INFRACÇÃO DOS DEVERES PARA COM O CLIENTE
35
Também assim Orlando Guedes da Costa in Direito Profissional Do Advogado, Almedina, 2003,
pág. 255 (“... constitui hoje um uso ou costume a recusa de questão por um Advogado contra quem
é seu cliente habitual, mesmo que, em determinado momento, não tenha pendente qualquer questão
ou acção em que o Advogado o patrocine.”)
36
Vide art. 83.º, n.º 1, alínea c) EOA.
14
JuriSTEP RUTE MARTINS SANTOS
Segredo Profissional37
O dever de segredo tem sido entendido pela doutrina como dever de ordem
pública, de que também o cliente beneficia. O segredo marca presença nas
relações do advogado com o cliente, com os colegas e com a parte contrária. O
segredo é a base da confiança que se deposita no advogado enquanto servidor da
justiça. Nesse sentido dispõe o n.º 2.3.1 do Cód. CCBE:
15
JuriSTEP RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR DO ADVOGADO POR
INFRACÇÃO DOS DEVERES PARA COM O CLIENTE
Toda a pessoa que recorre aos serviços de um advogado fá-lo porque confia e com
base nesse pressuposto entrega uma parte da sua vida, muitas vezes uma parte da
sua intimidade, aos cuidados e serviços especializados do advogado. A defesa dos
direitos e interesses do cliente, ou o simples aconselhamento de um consulente
pressupõe que o advogado tenha conhecimento de um conjunto de factos que
apenas lhe são revelados para aquele fim.
Não se aplica o que acabamos de dizer aos factos notórios, aos factos que já são
do domínio público ou tornados públicos por terceiros ou pelo próprio cliente ou
pelas partes envolvidas na questão, bem como aos factos provados em juízo, que
na medida em que fizer parte de um processo que é público, são também de
natureza pública.
A observância do dever de sigilo pode ser dispensado pela Ordem dos Advogados,
podendo o presidente do conselho distrital competente autorizar a cessação da
obrigação de guardar sigilo quando o advogado assim o solicite e seja
absolutamente necessário para a defesa da dignidade, direitos e interesses
legítimos do próprio advogado ou do cliente ou seus representantes38 e 39
.
38
Art. 81.º, n.º 4 EOA.
39
Augusto Lopes Cardoso tem defendido que no caso de o sigilo apenas beneficiar o cliente, poderá
este desvincular o advogado do dever de sigilo através de declaração expressa. Contudo, defende o
autor, tal declaração não terá qualquer efeito de cessação do dever de segredo se aquele tiver sido
estabelecido também em favor de outrem, como acontece quanto aos factos revelados em sede de
negociações com a parte contrária ou fornecidas por co-interessado do cliente. Cf. Do Segredo
Profissional na Advocacia, CELOA, 1998. Não acompanhamos esta posição por entendermos que
mesmos nas poucas situações que os factos sob sigilo apenas beneficiem o cliente o dever de
segredo imposto ao advogado emerge da natureza da função que lhe é cometida e do contrato
celebrado como o cliente e o primordial beneficiário da observância deste dever é a confiança da
comunidade do advogado e só reflexamente os interesses particulares do cliente. A isto acresce que
se o advogado pudesse ser dispensado do dever de sigilo pelo próprio cliente essa possibilidade seria
regulada na lei. Na falta de tal estipulação é nosso entendimento que tal não é possível. De outra
parte em todas as situações em que o cliente ou antigo cliente possa autorizar o advogado a revelar
factos sigilosos, também o próprio cliente poderá fazer essa revelação de moto próprio na sede
adequada.
16
JuriSTEP RUTE MARTINS SANTOS
O advogado que aceita o patrocínio de certa questão aceita o dever assistir o seu
cliente no que respeita a essa questão, sempre que a sua assistência seja
necessária ou seja solicitada.
Contudo, o advogado não pode deixar o cliente à sua sorte em momento crucial
para a defesa dos seus direitos ou interesses. Neste sentido determina o n.º 3.1.4
do CCBE que o advogado que exercer o seu direito de não mais se ocupar de um
assunto, deve assegurar-se que o cliente poderá encontrar a assistência de um
colega em tempo útil de evitar que o cliente tenha prejuízos43. Também a lei
processual civil estabelece um procedimento que assegura que o cliente não fique
numa situação desprotegida sem assistência44.
40
Vide art. 81.º, n.º 1, alínea j) EOA.
41
Vide art. 65.º, n.º 3 EOA.
42
Assim acontecerá se o cumprimento das instruções do cliente determinar a realização de actos
ilícitos e não exista outra forma de lhes dar cumprimento, ou se de alguma forma colocarem em
causa a independência do advogado.
43
A proposta de alteração do EOA acompanha a redacção do Cód. CCBE ao dispor no art. 99.º que
Ainda que exista motivo justificado para a cessação do patrocínio, o advogado não deverá fazê-lo por
forma a impossibilitar o cliente de obter, em tempo útil a assistência de outro advogado.
44
Vide art. 39.º C.P.C.
45
No caso da detenção de valores monetários seguindo o disposto no n.º 3.8 do Cód. CCBE o art.
101.º da proposta de alteração do EOA prevê um conjunto de regras de procedimento quanto aos
fundos dos clientes.
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JuriSTEP RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR DO ADVOGADO POR
INFRACÇÃO DOS DEVERES PARA COM O CLIENTE
Quando o mandato cessa, o advogado deve restituir tudo quanto tenha recebido
em consequência da execução do mandato (incluem-se os documentos, valores ou
objectos que lhe tenham sido entregues pelo cliente e que não foram usados, ou
que tendo sido usados forma posteriormente devolvidos, e os que tenha recebido
de terceiros).
Se não tiver havido ainda pagamento dos honorários ou não tendo sido
reembolsadas as quantias dispendidas pelo advogado em despesas na execução do
mandato, o advogado goza do direito de retenção dos valores, objectos e
documentos que ainda permaneçam em sua posse e não sejam necessários par a
prova do direito do cliente ou cuja retenção não seja susceptível de prejudicar com
gravidade o cliente48 e 49
.
O mandato celebrado com advogado presume-se oneroso, uma vez que tem por
objecto actos que o mandatário pratica profissionalmente50, mas nada impede que
o advogado exerça o mandato a título gratuito. A gratuitidade ou onerosidade não
é um elemento essencial do contrato de mandato civil ou judicial51, mas quando
seja acordada, pelas partes, a fixação de retribuição pelos serviços prestados pelo
mandatário, a determinação da sua medida deverá ser estar em conformidade com
os critérios legais fixados no EOA.
46
Vide art. 83.º, n.º 1, alínea g) EOA.
47
Vide art. 83.º, n.º 1, alínea h) EOA
48
Vide art. 84.º EOA.
49
No termos do art. 267.º, n.º 2 Cód. Civ., a procuração inclui-se no âmbito dos documentos a
restituir ao cliente e o advogado também não tem direito de retenção sobre procuração.
50
Vide art. 1158.º Cód. Civ.
51
O mesmo argumento é válido no caso de se tratar de uma mera prestação de serviços, atento o
disposto no art. 1152.º Cód. Civ.
18
JuriSTEP RUTE MARTINS SANTOS
52
Orlando Guedes da Costa, Direito Profissional do Advogado, Almedina, 2003, pág. 211 avança
ainda como critérios adicionais a urgência da resolução da questão e o incómodo causado ao
advogado pela execução do mandato. Também a proposta de alteração do EOA no art. 105.º
introduz algumas alterações aos critérios a atender na fixação dos honorários do advogado e passa a
considerar a importância dos serviços prestados, a dificuldade e urgência do assunto, o grau de
criatividade, o resultado obtido, o tempo dispendido e as responsabilidades assumidas pelo
advogado.
53
Vide art. 66.º, alínea a) e art. 83.º, n.º 1, alínea I) in fine EOA.
54
Vide art. 83.º, n.º 1, alínea i) EOA.
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JuriSTEP RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR DO ADVOGADO POR
INFRACÇÃO DOS DEVERES PARA COM O CLIENTE
Incumprimento e Sanções
Face à anterior exposição sobre os deveres do advogado fácil é concluir que são
inúmeras as hipotéticas situações de incumprimento das regras deontológicas da
profissão. Pelo mandato o advogado obriga-se a uma prestação de meios, ou seja,
à prática de um conjunto de actos com vista ao aconselhamento ou defesa dos
direitos e interesses de quem o procura. O advogado obriga-se a uma prestação
profissional diligente conformada por parâmetros legais e éticos.
De notar que muitos dos deveres do advogado para com o cliente não são
impostos unicamente para salvaguarda da posição do cliente, mas também em
nome da natureza pública da função exercida pelo advogado e mesmo para
assegurar a independência deste. Assim é com o dever de segredo profissional ou
com a proibição da quota litis.
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JuriSTEP RUTE MARTINS SANTOS
21
JuriSTEP RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR DO ADVOGADO POR
INFRACÇÃO DOS DEVERES PARA COM O CLIENTE
Causas de Justificação
55
In Responsabilidade Civil de Mandatário Judicial, Boletim OA, n.º 26, 2003
56
In La Responsabilité de l’Avocat, Daloz, 1981, pág. 10.
22
JuriSTEP RUTE MARTINS SANTOS
Assim, não se pode considerar que o advogado falta ao dever de zelo e diligência
quando não apresenta um articulado para o qual o cliente não lhe forneceu as
informações ou os documentos necessários, ou quando o advogado deixa correr o
prazo de caducidade ou prescrição, porque o cliente lhe deu uma infirmação
inexacta quanto à data do evento a partir do qual aquele prazo começava a correr
e o advogado não tinha ao seu dispor qualquer outro meio de confirmar essa
informação. Também não pode o advogado ser disciplinarmente sancionado por
não ter prestado esclarecimentos ao cliente, quando este o tenha informado
incorrectamente do seu contacto.
Sanções
O advogado que pela sua conduta viola os deveres a que está obrigado, no
contexto da sua relação com o cliente, pode ser punido com pena de advertência,
pena de censura, pena de multa, pena de suspensão ou pena de expulsão.
Salienta-se que a pena de multa e de censura são a punições mais leves. A pena
de multa apenas será aplicada em casos de violação das regras imperativas de
fixação de honorários, e de condutas incompatíveis com a honra e a independência
exigida ao advogado, bem como à violação dos deveres para com os clientes. A
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JuriSTEP RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR DO ADVOGADO POR
INFRACÇÃO DOS DEVERES PARA COM O CLIENTE
Processo Disciplinar
57
Art. 104.º EOA.
58
Vide art. 3.º, n.º 1, alínea f) e art. 90.º, n.º 1 EOA.
59
As infracções disciplinares que tenham por base factos que violem as regras de probidade, honra e
dignidade profissionais não serão alvo de estudo neste trabalho, uma vez que a conduta extra-
profissional do advogado não é delimitada nem se enquadra no contrato de mandato judicial, ora em
análise.
24
JuriSTEP RUTE MARTINS SANTOS
60
Vide art. 40.º, n.º 2, alínea a) e n.º 3, alínea b) e c) EOA.
61
Vide art. 76.º, n.º 3 EOA.
62
De acordo com a alteração proposta do EOA prevê-se, no art. 116.º, que o prazo de prescrição do
procedimento disciplinar passe a ser de cinco anos.
63
De acordo com o art. 95.º do EOA estas autoridades têm o dever de participar à Ordem dos
Advogados a ocorrência de infracções disciplinares por advogados e o Ministério Público e os órgãos
de polícia têm o dever de comunicar formalmente àquele entidade todas as participações ou queixas
feitas contra advogados.
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JuriSTEP RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR DO ADVOGADO POR
INFRACÇÃO DOS DEVERES PARA COM O CLIENTE
64
De acordo com o art. 147.º, n.º 5 da proposta de alteração do EOA o prazo de instrução pode ser
prorrogado por mais 180 dias.
65
Art. 125.º e 109.º, n.º 3 EOA.
66
A aplicação da pena de suspensão por período superior a um ano exige que a deliberação obtenha
2/3 dos votos de todos os membros do conselho. A aplicação da pena de expulsão exige ainda a
ratificação da deliberação pelo conselho superior.
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JuriSTEP RUTE MARTINS SANTOS
67
Vide art. 132.º EOA.
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JuriSTEP RESPONSABILIDADE DISCIPLINAR DO ADVOGADO POR
INFRACÇÃO DOS DEVERES PARA COM O CLIENTE
SÚMULA CONCLUSIVA
1. Seja qual for a relação jurídica que subjaz à prestação do advogado a sua
actuação é balizada por um conjunto de deveres ético-profissionais que
imperam sobre as características do contrato e exigem a sua adaptação.
2. A relação do advogado como o cliente pode constituir-se de diversas formas,
nomeadamente mediante mandato, pela nomeação oficiosa nos termos do
instituto do apoio judiciário, mediante contrato de trabalho ou de prestação
de serviços.
3. O mandato celebrado com advogado pode visar a prática de actos jurídicos
de natureza judicial ou actos natureza extra-judicial.
4. Da sujeição do advogado a deveres deontológicos emerge um conjunto de
especificidades que nos levam a distinguir o mandato celebrado com
advogado do mandado civil.
5. A relação advogado-cliente tem por base a confiança que o advogado inspira
ao cliente e, em contrapartida, a confiança que o cliente deposita no
advogado, nas suas capacidades técnicas e na defesa dos seus direitos e
interesses.
6. É dever do advogado recusar o patrocínio de clientes em questões ou causas
conexas entre si ou, noutra situação, que sejam distintas, mas
contemporâneas e cujos interesses das partes sejam contraditórios.
7. É dever do advogado dar sempre a sua opinião honesta e escrupulosa sobre o
merecimento da pretensão do cliente.
8. O advogado tem o dever de prestar ao cliente os esclarecimentos sobre o
andamento de questão cuja defesa tomou com prontidão e de forma
adequada.
9. Na posse dos conhecimentos adequados o advogado que aceita o patrocínio
de uma questão compromete-se a estudar convenientemente o assunto e a
dedicar a essa tarefa o tempo necessário para o seu cumprimento.
10. O dever de protecção da informação fornecida pelo cliente é um imperativo
qualquer que seja a forma que a relação advogado-cliente assuma, seja o seu
objecto a intervenção em juízo ou a prática de actos extra-judiciais e
independentemente da remuneração acordada.
28
JuriSTEP RUTE MARTINS SANTOS
11. O advogado não pode abandonar o cliente à sua sorte em momento crucial
para a defesa dos seus direitos ou interesses sem que possa obter assistência
adequada em tempo útil.
12. É dever do advogado prestar informação ao cliente sobre o recebimento
destes valores, a sua natureza e quantidade/valor, bem como sobre a sua
proveniência e função.
13. Todos os valores, documentos ou objectos entregues ao advogado devem ter
a aplicação determinada e não devem servir outros interesses que não seja a
defesa dos interesses do cliente.
14. Quando seja acordada, pelas partes, a fixação de retribuição pelos serviços
prestados pelo mandatário, a determinação da sua medida deverá ser estar
em conformidade com os critérios legais fixados no EOA.
15. A infracção disciplinar é uma violação culposa dos deveres impostos pela
deontologia do advogado.
16. A aplicação do critério do bom profissional na avaliação do grau de culpa do
advogado, justifica-se por se tratar de um juízo de culpa pela prática de actos
no exercício de uma competência profissional especializada e exclusiva que
exige um maior rigor da conduta.
17. O não cumprimento pelo cliente das sua obrigações contratuais poderá dar
origem a uma situação em que a conduta do advogado é justificada pelo
incumprimento de obrigações por parte do cliente.
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INFRACÇÃO DOS DEVERES PARA COM O CLIENTE
BIBLIOGRAFIA
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