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TEMA 01

O conhecimento científico e o saber popular


Disciplina: Sociologia
Prof. Fernando Araújo
Objetivos de Aprendizagem:

● Distinguir o conhecimento do senso comum do conhecimento do senso


científico;
● Confrontar interpretações científicas com interpretações baseadas no senso
comum, ao longo do tempo e em diferentes culturas.
Para começar...
Você já recebeu mensagens falando que beber muita
água e fazer gargarejo com água morna, sal e vinagre
previne coronavírus? Ou mensagens afirmando que
alface faz bem ao coração, que a Terra é plana e que
chá de anis cura câncer, por exemplo?
Você quando recebe mensagens desse tipo repassa
para outras pessoas do seu convívio?
Já pensou ou questionou a veracidade delas checando se as informações são
verdadeiras?

Já pensou sobre o que elas têm em comum?

Já se questionou sobre o fato de que muitas delas não fazem sentido ou se eram
uma tentativa de enganar as pessoas?

Já acreditou totalmente ou em parte do que elas diziam?

Sabe como elas são chamadas na modernidade?


Lobo em pele de cordeiro
Lobo em pele de cordeiro é uma expressão popular, utilizada para caracterizar uma pessoa que
aparenta ter boa índole, mas na realidade é má, perversa ou desonesta.

Gato por lebre


Surgiu na Espanha medieval, onde a carne era escassa e a malandragem abundante. O
registro mais antigo do sentido clássico, ser ludibriado em uma transação, é de um livro de 1611,
Tesoro de la Lengua, do espanhol Sebastián de Covarrubias. Relatos dessa época mostram que
pedir uma carne e ser servido com um prato pior era uma preocupação constante dos viajantes.
(Aliás, gato e lebre, servidos decepados, são bem parecidos.)
https://super.abril.com.br/cultura/por-que-e-mau-negocio-comprar-gato-por-lebre/
Conto do vigário
Conto do vigário é uma expressão usada em Portugal e no Brasil significando
uma história elaborada com o objetivo de burlar alguém.

“Uma das histórias mais conhecidas teria como palco, ainda no século XVIII, uma
disputa entre os vigários das paróquias de Pilar e da Conceição em Ouro Preto,
pela mesma imagem de Nossa Senhora. Um dos vigários teria proposto que
amarrassem a santa ao burro que estava solto na rua. Pelo plano, o animal seria
solto entre as duas igrejas. A paróquia para a qual o burro se encaminhasse
ficaria com a imagem. O animal foi para a igreja de Pilar, que assim ganhou a
disputa. Mais tarde teria sido descoberto que o burro era do vigário dessa igreja.”
As imagens representam algum
tipo de conhecimento popular
ou científico?
O que é conhecimento?
- É o ato de compreender a realidade, por
meio da experiência. Consciência do
conhecer.
- Se dá quando ultrapassamos o “dado”
vivido, explicando-o,
- Representa a necessidade humana de
explicar e dar sentido ao mundo.
O que é ciência?

scientia (latim) ou episteme


(grego)

aprender, conhecer
O conhecimento científico diferencia-se
dos demais, não pelo seu objeto ao
estudo, mas pela forma como é obtido.
”A ciência é todo um conjunto de atitudes e
de atividades racionais, dirigido ao
sistemático conhecimento, com objetivo
limitado e capaz de ser submetido à
verificação.”
TRUJILLO FERRARI, Afonso. Metodologia da pesquisa cientifica.
São Paulo: McGraw –Hill do Brasil,1982, p.2.
Ciência e senso comum
“O senso comum e a ciência são expressões da
mesma necessidade básica, a necessidade de
compreender o mundo, a fim de viver melhor e
sobreviver.”

Rubens Alves (1981) Filosofia da Ciência:


introdução ao jogo e suas regras
Diagrama mostrando a ordem
das “esferas celestes” no
modelo heliocêntrico de
Copérnico, conforme publicado
no seu livro De revolutionibus
em 1543.
Palavras de Copérnico em Sobre a revolução dos orbes celestes, de 1543:

Para tanto, não me envergonho de defender que tudo que está abaixo da
Lua, até o centro na Terra, descreve dentre os outros planetas uma grande
órbita anual ao redor do Sol.

É na proximidade do Sol que está o centro do universo e, mais do que isso,


o que parece ser movimento do Sol é na verdade movimento da Terra. Mas
o universo é de qual tamanho que a distância da Terra ao Sol, mesmo que
significativa em comparação com as órbitas dos outros planetas, é como
nada quando comparada à esfera das estrelas fixas.

Afirmo que é mais fácil concordar com isso do que confundir a mente com a
multiplicidade quase interminável de círculos que estão obrigados a
descrever aqueles que defendem que a Terra está no centro do universo. A
sabedoria da natureza é tal que não produz nada supérfluo ou inútil, mas
com frequência produz muitos efeitos a partir de uma só causa.
Relação do sistema de Copérnico com a Bíblia

GALILEU: CARTA A CRISTINA DE LORENA Sobre a relação entre religião e


ciência
Em 1615, alertado por amigos sobre críticas à sua obra, Galileu escreve a
Cristina de Lorena, grãduquesa da Toscana, procurando mostrar que não havia
incompatibilidade entre as Escrituras e o sistema copernicano. Esta carta
tornou-se chave na época para a discussão sobre religião e ciência, embora não
tenha convencido seus adversários. Galileu apela para uma interpretação
alegórica, e não literal, das Escrituras.
Parece-me que, em discussões relativas a problemas naturais, não se deveria
partir da autoridade de passagens das Escrituras e sim da experiência sensível e
das demonstrações necessárias.
Porque as Sagradas Escrituras e a Natureza procedem igualmente do Verbo
Divino, as primeiras ditadas pelo Espírito Santo e a segunda como executora fiel
das ordens de Deus. Ora, pode-se considerar que nas Escrituras, para adaptar-se
às possibilidades de compreensão da maioria das pessoas, se dizem coisas que
muito diferem da verdade absoluta, dados os termos usados e a sua significação
literal; no caso da Natureza, ao contrário, esta se adequa inexoravelmente às leis
que lhe são impostas, sem jamais ultrapassar seus limites ou se preocupar em
saber se suas razões obscuras e seu modo de operar estão ao alcance de
nossas capacidades humanas. Disto resulta que os efeitos naturais e a
experiência dos sentidos que deles temos diante de nossos olhos, assim como as
demonstrações necessárias que deles deduzimos, não devem de modo algum ser
postos em dúvida nem condenados em nome de passagens das Escrituras,
mesmo que estas em seu sentido literal pareçam contradizê-los.
De tempos em tempos, ao estudar a
história do pensamento científico e
filosófico nos séculos XVI e XVII - eles
estão, de fato, tão intimamente interligados
e interligados que, separados, tornam-se
incompreensíveis - fui forçado a
reconhecer, como muitos outros antes
mim, que durante este período as mentes
humanas, ou pelo menos européias,
passaram por uma profunda revolução que
mudou o próprio quadro e padrões de
nosso pensamento e de que a ciência
moderna e a filosofia moderna são, ao
mesmo tempo, a raiz e a fruta.

Alexander Koyré
Essa revolução ou, como tem sido chamada, essa “crise da consciência européia”, foi descrita e
explicada de muitas maneiras diferentes. Assim, enquanto é geralmente admitido que o
desenvolvimento da nova cosmologia, que substituiu o mundo geo- ou antropocêntrico da
astronomia grega e medieval pelo heliocêntrico, e, mais tarde, pelo universo sem centro da
astronomia moderna, desempenhou um papel primordial Nesse processo, alguns historiadores,
interessados principalmente nas implicações sociais das mudanças espirituais, enfatizaram a
suposta conversão da mente humana de theoria para praxis, da scientia contemplativa para a
scientia activa et operativa, que transformou o homem de espectador em proprietário. e mestre
da natureza; alguns outros enfatizaram a substituição do padrão teleológico e organísmico de
pensamento e explicação pelo padrão mecânico e causal, levando, em última análise, à
“mecanização da visão de mundo” tão proeminente nos tempos modernos, especialmente no
século XVIII: ainda outros simplesmente descreveram o desespero e a confusão trazidos pela
“nova filosofia” para um mundo do qual toda a coerência se foi e na qual os céus não anunciam
mais a glória de Deus.
KOYRÈ, Alexandre. From the closed World to the infinite Universe. Nova York: Angelico Press,
2016.
Estudo indica que distanciamento também diminui a gravidade da covid-19

Um estudo publicado pela Universidade de Oxford indica que o distanciamento


social e o uso de máscaras podem não apenas desacelerar a transmissão do
novo coronavírus como também diminuir a gravidade dos sintomas de covid-19
em infectados.
Os pesquisadores estudaram um surto da doença entre 508 soldados na Suíça –
a maioria homens de 21 anos. Eles foram divididos em dois grupos: um que foi
infectado antes de fazer distanciamento e outro que contraiu o coronavírus
durante o isolamento. Do primeiro grupo, de 341 soldados, 30% ficaram doentes.
No segundo, com 154 integrantes, nenhum desenvolveu covid-19, apesar de
possuírem anticorpos específicos para o Sars-CoV-2.
Na conclusão da pesquisa, os autores afirmam que o distanciamento social
retarda a propagação do vírus em um grupo de adultos jovens e saudáveis,
impede um surto de covid-19, mas também induz uma resposta imune. “O inóculo
viral durante a infecção ou o modo de transmissão pode ser um fator-chave na
determinação do curso clínico da covid-19”, escrevem.
O biólogo Atila Iamarino, em uma postagem no Twitter, afirmou que o resultado da
pesquisa é “fantástico”, e que se for replicado, “pode mudar o curso da covid-19”.
O divulgador científico explica que a conclusão do estudo sustenta a ideia de que
a gravidade da doença depende da quantidade de vírus com que a pessoa entra
em contato.
“Quem tem contato com uma dose maior do coronavírus deve desenvolver uma
inflamação mais rápida e mais séria. Aí, com a máscara e com distanciamento
social, a dose é menor e a doença mais leve”, escreveu.
Segundo o biólogo, essa característica ajuda a explicar por que o aumento
recente de casos não vem acompanhado de alta correspondente nas mortes.
“Além de mais testes e tratamentos melhores, se quem contraiu o vírus estava se
protegendo, poderia ser uma covid mais leve”, argumenta.
Iamarino afirma que, se isso for confirmado, é possível diminuir a letalidade da
doença. “No mínimo, diminuir internações já seria fantástico. Mas, se diminuirmos
a letalidade também, o número de vidas em risco seria muito menor”. Por fim, o
cientista recomenda: “Fica em casa e usa a máscara”.
Disponível em:
<https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/cienciaesaude/2020/07/estudo-indica-que-distanciamento-tambe
m-diminui-a-gravidade-da-covid-1.html>. Acesso em 20/07/2020.
Livro p. 47
Conhecimento Religioso Conhecimento Científico Conhecimento popular Conhecimento filosófico
(senso comum)

Conhecimento cuja a Conhecimento que se Conhecimento mais


realidade é explicada a dá através da profundo em que se
partir do sobrenatural. observação imediata da busca compreender a
realidade. realidade a partir do
questionamento dela.

O critério para a A experiência e a Método da indução, da


formação do tradição como forma de dedução e da intuição.
conhecimento religioso obtenção deste tipo de
é a fé. conhecimento.

Caráter dogmático. Não Difere da ciência por


questionável não ter compromisso em
produzir nada
verificável.
Conhecer o mundo: Mitologia, religião, ciência, filosofia, senso comum
Há muitos modos de se conhecer o mundo, que dependem da situação do sujeito
diante do objeto do conhecimento. Ao olhar as estrelas no céu noturno, um índio
caiapó as enxerga a partir de um ponto de vista bastante diferente do de um
astrônomo. O caiapó vê nas estrelas as fogueiras que alguns de seus deuses
acendem no céu para tornar a noite mais clara. O cientista vê astros que têm luz
própria e que formam uma galáxia. O índio compreende e conhece as estrelas a partir
de um ponto de vista mitológico ou religioso. O astrônomo as compreende e conhece a
partir de um ponto de vista científico. A mitologia, a religião e a ciência são formas de
conhecer o mundo. São modos do conhecimento. São modos do conhecimento, assim
como o senso comum (popular), a filosofia e a arte. Todos eles são formas de
conhecimento, pois cada um, a seu modo, desvenda os segredos do mundo,
explicando-o ou atribuindo-lhe um sentido (...).
:
Disponível em <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/conhecer-o-mundo-mitologia-religiao-ciencia-filosofia-senso-comum.htm>. Acesso em 20/7/2020.
Um mundo de fake news
Senso comum e fake news
Atividade
Caderno de Apoio à Aprendizagem:
Sociologia. Trilha 01, págs. 1-4 e 7
(questões 01 e 02).
Referências
BETTO, Frei & Gleiser, Marcelo. Conversa sobre fé e a ciência. São Paulo: Agir, 2011.
SEVERINO, A.J. Metodologia do trabalho científico. 23ªed. Cortez, 2007. 304p.
ALVES, R. 2003. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. 7ª Ed. Edições
Loyola. São Paulo.
APPOLINÁRIO, F. 2009. Metodologia da Ciência: filosofia e Prática da Pesquisa.
Cengage-Learning. São Paulo.
KOYRÈ, Alexandre. From the closed World to the infinite Universe. Nova York: Angelico
Press, 2016.
HARARI, Yuval Noah. Uma breve história da humanidade: sapiens. São Paulo: Cia das
Letras, 2020.
SAGAN, Carl. O mundo assombrado pelos demônios. São Paulo: Cia das Letras, 2006.

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