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MINISTÉRIO DA SAÚDE
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA

CHERYL GOUVEIA

LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA NO CAMINHO DA CACHOEIRA,


COLÔNIA JULIANO MOREIRA, CAMPUS FIOCRUZ DA MATA ATLÂNTICA,
JACAREPAGUÁ, RIO DE JANEIRO: INDICADORES ENTOMOLÓGICOS E EDUCAÇÃO
POPULAR EM SAÚDE.

Rio de Janeiro
2006
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CHERYL GOUVEIA

LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA NO CAMINHO DA CACHOEIRA,


COLÔNIA JULIANO MOREIRA, CAMPUS FIOCRUZ DA MATA ATLÂNTICA,
JACAREPAGUÁ, RIO DE JANEIRO: INDICADORES ENTOMOLÓGICOS E
EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE.

Monografia apresentada à
Escola Nacional de Saúde
Pública Sérgio Arouca como
requisito parcial para
obtenção do título de
Especialista em Saúde Pública

ORIENTADORES:
JOSÉ WELLINGTON GOMES ARAÚJO
Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – FIOCUZ

ELIZABETH FERREIRA RANGEL


Instituto Oswaldo Cruz - FIOCRUZ

Rio de Janeiro
2006
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CHERYL GOUVEIA

LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA NO CAMINHO DA CACHOEIRA,


COLÔNIA JULIANO MOREIRA, CAMPUS FIOCRUZ DA MATA ATLÂNTICA,
JACAREPAGUÁ, RIO DE JANEIRO: INDICADORES ENTOMOLÓGICOS E
EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE.

Monografia apresentada à
Escola Nacional de Saúde
Pública Sérgio Arouca como
requisito parcial para
obtenção do título de
Especialista em Saúde Pública

Aprovada em 08 de Dezembro de 2006.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________
José Wellington Gomes Araújo
Orientador

___________________________________________________________
Guido Antônio E. S. Palmeira
Avaliador

___________________________________________________________
Célia Regina de Andrade
Avaliador
4

A todos os moradores da comunidade do


Caminho da Cachoeira, que me
receberam carinhosamente e
compartilharam suas experiências e
saberes.
5

AGRADECIMENTOS

A todos os moradores da comunidade do Caminho da Cachoeira, em especial a Dona Guil, por


terem me recebido carinhosamente e por terem compartilhado seus saberes, fundamentais para a
elaboração deste trabalho.

A meus pais, por todo o amor, pelo enorme esforço realizado, sem o que certamente eu não
completaria mais essa etapa da minha vida.

A minha orientadora, Dra. Elizabeth Ferreira Rangel, pelo valioso incentivo profissional e pela
amizade, por estar presente em todos os momentos, bons e ruins, sempre com palavras de
encorajamento e força perante os obstáculos.

Ao meu orientador, Dr. José Wellington Gomes Araújo, por todo apoio e dedicação, pelas longas
conversas, e por ter me encorajado a caminhar pelos campos da educação popular em saúde.

Aos coordenadores do Curso de Especialização em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde


Pública Sérgio Arouca / FIOCRUZ, pela oportunidade de realização deste, que contribuiu
significativamente na minha construção profissional.

Ao Dr. Julio Vianna Barbosa, do Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde, do Instituto


Oswaldo Cruz / FIOCRUZ, por possibilitar a inserção da equipe do Laboratório de Transmissores
de Leishmanioses / Laboratório de Referência em Vigilância Entomológica: Taxonomia e
Ecologia de Vetores das Leishmanioses do Instituto Oswaldo Cruz / FIOCRUZ no Projeto
“Construção de Metodologias Participativas Inovadoras para Promoção da Saúde da Comunidade
no Campus da FIOCRUZ Jacarepaguá”, por ter contribuído com parte do financiamento (PDTSP)
para a realização deste trabalho e, finalmente, por ter introduzido a oportunidade de um novo
olhar para a produção das leishmanioses.

A toda equipe do Projeto “Construção de Metodologias Participativas Inovadoras para Promoção


da Saúde da Comunidade no Campus da FIOCRUZ Jacarepaguá”, pelo suporte nas atividades de
campo e pelo companheirismo.
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Ao técnico Oswaldo Carvalho da Silva, do Laboratório de Transmissores de Leishmanioses /


Laboratório de Referência em Vigilância Entomológica: Taxonomia e Ecologia de Vetores das
Leishmanioses do Instituto Oswaldo Cruz / FIOCRUZ, pelo indispensável auxílio nas coletas de
flebotomíneos.

Ao estudante Daniel Motta-Silva, do Laboratório de Transmissores de Leishmanioses /


Laboratório de Referência em Vigilância Entomológica: Taxonomia e Ecologia de Vetores das
Leishmanioses do Instituto Oswaldo Cruz / FIOCRUZ, por ter colaborado significativamente
para a identificação dos flebotomíneos e por ter desenhado com extrema dedicação a cartilha
desenvolvida durante a execução desta.

A Prof. Mauricio Luiz Vilela, do Laboratório de Transmissores de Leishmanioses / Laboratório


de Referência em Vigilância Entomológica: Taxonomia e Ecologia de Vetores das Leishmanioses
do Instituto Oswaldo Cruz / FIOCRUZ, amigo e companheiro de trabalho, pelo incentivo, apoio e
por estar sempre disposto a colaborar.

A meus amigos e companheiros de trabalho do Laboratório de Transmissores de Leishmanioses /


Laboratório de Referência em Vigilância Entomológica: Taxonomia e Ecologia de Vetores das
Leishmanioses do Instituto Oswaldo Cruz / FIOCRUZ, pelo apoio e por terem se envolvido
ativamente na elaboração desta.

À Ângela Lúcia de Carvalho, Ester Lucia G. Silva e Simone Tavares Marujo, Secretárias do
Departamento de Entomologia, Instituto Oswaldo Cruz, pela amizade e disposição em ajudar.

Ao Departamento de Entomologia, Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ, pela infra-estrutura e


suporte financeiro de parte destes estudos.

A Guilherme Carvalho, pelo envolvimento na realização deste trabalho, por todo carinho e
serenidade tão importantes nos momentos de dificuldade, pela descontração e pelo amor.

A meus amigos de turma, por tudo; justa e simplesmente por terem sido, antes de mais nada,
verdadeiramente amigos.
7

“(...) eu vou deixando a vida me levar...”

Disse Dona Roberice, com desesperança

“Eu é que não deixo a vida me levar!

Eu é que levo ela, nem que seja no pontapé!”

Exclamou Dona Guil


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SUMÁRIO
Página
Resumo .................................................................................................................................. 9
Introdução ............................................................................................................................ 10
As Leishmanioses ................................................................................................................. 12
A Situação no Rio de Janeiro .............................................................................................. 15
Indicadores Entomológicos ................................................................................................. 18
Educação Popular em Saúde ............................................................................................... 20
Colônia Juliano Moreira: Um Breve Histórico ................................................................. 24
Objetivos
Objetivo Geral ............................................................................................................ 28
Objetivos Específicos ................................................................................................. 28
Metodologia
Unidade de Trabalho .................................................................................................. 29
Indicadores Entomológicos: identificação da presença do vetor, sua densidade e
abundância ............................................................................................................................. 30
Entrevistas: percepção acerca da LTA ....................................................................... 31
Educação em Saúde: elaboração do material educativo ............................................. 31

Resultados
Indicadores Entomológicos
Identificação da Presença do Vetor ............................................................................ 32
Densidade dos Vetores ............................................................................................... 33
Abundância Relativa dos Vetores .............................................................................. 33
Entrevistas: percepção acerca da LTA ............................................................................. 34
Educação em Saúde: elaboração do material educativo .................................................. 39
Discussão e Conclusões ........................................................................................................ 41
Referências Bibliográficas ................................................................................................... 49
Anexos
Anexo A – Croqui da Comunidade ................................................................................. 58
Anexo B – Roteiro para Entrevistas ................................................................................ 60
Anexo C – Cartilha .......................................................................................................... 64
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RESUMO

Estudos foram desenvolvidos na Comunidade do Caminho da Cachoeira, Colônia Juliano

Moreira, Campus Fiocruz da Mata Atlântica, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro / RJ, com o objetivo

de avaliar fatores de risco para a transmissão e conhecer a percepção social da Leishmaniose

Tegumentar Americana (LTA). A avaliação de fatores ambientais propícios ao estabelecimento

do ciclo de transmissão de LTA numa determinada área, assim como a percepção da mesma pela

população local, são aspectos fundamentais para a implantação e sucesso das medidas de

vigilância e controle, devendo considerar a educação popular em saúde e o manejo ambiental

como propostas imprescindíveis em um programa de ação integrada. Neste sentido, estudos

entomológicos associados aos estudos de percepção social foram realizados na comunidade, por

um período de doze meses consecutivos. A partir das pesquisas entomológicas foi possível

avaliar a presença do vetor nas estações trabalhadas, sua densidade e abundância relativa. Foram

registradas duas importantes espécies vetoras de LTA no Brasil, Lutzomyia intermedia e L.

migonei, a primeira em maior número. Dados sobre a abundância relativa, especialmente de L.

intermedia, sugerem que características ambientais verificadas no peridomicílio das residências

trabalhadas estariam favorecendo a manutenção do vetor e o estabelecimento do ciclo de

transmissão da doença na comunidade. Através das entrevistas, foram observadas algumas

lacunas na apropriação do conhecimento pelos moradores da comunidade, cujos pontos críticos

se encontram no que se refere aos fatores de transmissão. Com base nas informações obtidas, foi

elaborada uma cartilha ilustrada objetivando, em linguagem popular, esclarecer dúvidas e orientar

estudantes, líderes comunitários e a população em geral. O presente estudo discute a importância

da adoção de ações de educação em saúde, associadas a noções de manejo ambiental, como uma

das ferramentas de sucesso num programa integrado de vigilância e controle da LTA.


10

Introdução

As leishmanioses apresentam vasta distribuição no Velho e Novo Mundo,

comprometendo atualmente mais de 12 milhões de pessoas, estando cerca de 350 milhões

expostas ao risco de contrair a infecção (WHO, 2004). Em 1993 a Leishmaniose Tegumentar

Americana (LTA) foi considerada pela Organização Mundial de Saúde a segunda enfermidade de

importância em Saúde Pública causada por protozoário, sendo a primeira a malária (Camargo-

Neves, 1999). Nas Américas, estima-se que, de cada 4 a 5 casos sucedidos em um ano, somente 1

seja diagnosticado (WHO, 1990).

Nos últimos dois anos, o Ministério da Saúde registrou uma média de 35 mil novos casos

de LTA no Brasil (Costa, 2005). Além do fato da LTA apresentar uma grande incidência, as

lesões cutâneas provocadas por sua manifestação clínica podem acarretar infecções secundárias e,

até mesmo, mutilações irreversíveis, gerando comprometimento psicológico e prejuízo da

capacidade produtiva do indivíduo, havendo reflexos, portanto, nos campos social e econômico.

Novos aspectos complicadores da enfermidade emergem com o aparecimento da Síndrome de

Imunodeficiência Adquirida (AIDS), aumentando seu grau de impacto nas populações (WHO,

1994).

De acordo com a política de saúde vigente no Brasil, o controle das leishmanioses é da

responsabilidade do Sistema Único de Saúde, onde as Secretarias Municipais de Saúde, apoiadas

pelas Secretarias Estaduais de Saúde, deverão, segundo a orientação do Programa Nacional das

Leishmanioses, da Secretaria de Vigilância em Saúde, ter a responsabilidade de organizar a rede

básica para atendimento ao paciente e instituir as ações de combate ao vetor. A indicação das

atividades voltadas para o controle vetorial, vai depender essencialmente das características

entomológicas e epidemiológicas de cada localidade.


11

A LTA na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro tem se caracterizado pela presença de

surtos epidêmicos, restritos, articulados e circunscritos a algumas áreas (Kawa, 2003). Desde o

ano de 1974, quando ocorreu a primeira epidemia de LTA no bairro de Jacarepaguá, o ciclo de

transmissão da doença vem se mantendo próximo às vertentes do maciço da Pedra Branca (Kawa

& Sabroza, 2002).

Uma preocupação constante dos moradores da antiga Colônia Juliano Moreira, localizada

neste bairro (junto as vertentes deste maciço), é a grande ocorrência da doença. A maioria das

famílias moradoras do local já teve pelo menos uma pessoa com LTA. Na Comunidade do

Caminho da Cachoeira, 73% dos moradores indicou a LTA como o principal problema de saúde

da comunidade (ISER/FIOCRUZ, 2004). A LTA apresenta-se, portanto, como um dos

problemas, tanto de saúde da família como de saúde coletiva, mais relevantes da localidade.

O entendimento dos fatores ambientais propícios ao estabelecimento do ciclo de

transmissão de LTA numa determinada área, assim como a percepção da mesma pela população

local, apresentam grande importância para a implementação de estratégias de ações de controle,

que devem considerar a educação popular em saúde e o manejo ambiental como propostas

complementares, imprescindíveis em um programa de ação integrada.

Com o intuito de realizar práticas de educação popular em saúde buscou-se conhecer a

percepção social e avaliar possíveis indicadores entomológicos da LTA na comunidade do

Caminho da Cachoeira.
12

As Leishmanioses:

Os parasitos são completamente insensíveis em relação a essa


profunda alienação coletiva, característica do nosso tempo. As
determinações que dirigem sua reprodução são objetivas e
pertencem ao conjunto das nossas relações econômicas e sociais.
Paulo C. Sabroza

As leishmanioses são protozoonoses causadas por leishmânias, microorganismos do

gênero Leishmania e transmitidas através da picada de flebotomíneos, dípteros da família

Psychodidae e sub-família Phlebotominae, dos gêneros Lutzomyia e Phlebotomus (Young &

Duncan, 1994).

São doenças de notificação compulsória no Brasil, estando presentes em todas as unidades

federadas. Nos últimos 20 anos sua incidência tem aumentado, em praticamente todos os Estados

e, nesse período, houve um crescente processo de instalação das leishmanioses nas áreas urbanas

e periurbanas (Rangel, 1995). Surtos epidêmicos têm ocorrido nas regiões Sudeste, Centro-Oeste,

Nordeste e, mais recentemente na região Amazônica, relacionados ao processo predatório de

colonização (Costa, 2005). Atualmente, é possível observar ciclos de transmissão de

leishmanioses tegumentar e visceral instalados inclusive em capitais de Estados (SVS/MS, 2003).

A leishmaniose visceral compromete o baço, o fígado e a medula óssea, e o indivíduo

apresenta um quadro de febre, anemia e caquexia, além da evidente hepatoesplenomegalia. A

pessoa acometida pode vir a óbito se o diagnóstico não se der a tempo hábil para iniciar o

tratamento.

Já a leishmaniose tegumentar provoca uma ou mais feridas na pele do indivíduo

acometido. As lesões cutâneas são profundas e apresentam bordas elevadas, havendo grande

destruição tecidual ou até mesmo mutilações. Após o tratamento, ocorre a formação de uma

cicatriz, que gera o fator estigmatizante da enfermidade. Podem ocorrer recidivas caso o

tratamento seja interrompido.


13

No Brasil, a leishmaniose visceral é causada pela Leishmania (L.) infantum chagasi, seu

vetor principal é Lutzomyia longipalpis, espécie altamente adaptada ao ambiente urbano, e seus

principais reservatórios são o cão, neste ambiente, e a raposa, no ambiente silvestre. Já as

principais espécies de leishmânias capazes de causar LTA são: Leishmania (V.) braziliensis, L.

(V.) guyanensis e L. (L.) amazonensis sendo mais raro o adoecimento por L. (V.) lainsoni, L. (V.)

naiffi, L. (V.) shawi e L. (V.) lindemberg. Estas apresentam cerca de 12 espécies de flebotomíneos

vetores, sendo as mais importantes no estado do Rio de Janeiro a Lutzomyia intermedia e a L.

migonei, altamente antropofílicas.

Cada espécie de leishmânia apresenta particularidades concernentes às manifestações

clínicas, vetores, reservatórios, padrões epidemiológicos, distribuição geográfica e até mesmo à

resposta terapêutica.

Os vetores apresentam hábitos crepusculares e apenas as fêmeas se alimentam de sangue e

são capazes de transmitir o parasito. Tanto os machos quanto as fêmeas alimentam-se de

carboidratos, que podem ser secreção de afídeos ou seivas de plantas. O embaraço em estabelecer

medidas de controle vetorial voltadas para os estágios imaturos desses insetos está no fato do seu

ciclo biológico ocorrer, quase que inteiramente (de ovo a pupa), no solo (em matéria orgânica), o

que dificulta a localização de criadouros.

Considera-se, atualmente, a existência de três padrões epidemiológicos característicos da

LTA no Brasil: o ciclo de transmissão ocorrente em áreas de vegetação primária; o ciclo de

transmissão associado a alterações ambientais; e a transmissão em áreas de colonização antiga

(SVS/MS, 2006).

No primeiro ciclo de transmissão, a LTA é essencialmente uma zoonose de animais

silvestres, ocorre em ambientais florestais e, em humanos, apresenta características basicamente


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ocupacionais, acometendo principalmente o homem que tem a mata como seu local de trabalho

e/ou lazer (SVS/MS, 2006).

Processos contínuos de desmatamentos e queimadas, oriundos da expansão das fronteiras

agrícolas e do extrativismo, o estabelecimento de assentamentos, áreas de garimpo, construções

de barragens e hidrelétricas, a exploração desordenada das florestas e derrubada de matas para a

construção de estradas e treinamentos militares, assim como o ecoturismo, proporcionam as

condições necessárias ao surgimento de surtos epidêmicos e, conseqüente, ao estabelecimento do

segundo padrão de transmissão da doença (Rangel, 1995; SVS/MS, 2006).

Os progressivos fluxos migratórios (componente sócio-econômico das populações

carentes na busca de qualidade de vida, fato tão evidente em países subdesenvolvidos), com a

ocupação de encostas e formação de aglomerados em grandes cidades, associados a matas

secundárias ou residuais, constituem um conjunto de fatores que configuram o terceiro padrão

epidemiológico da LTA, cada vez mais emergente, onde a vigilância epidemiológica apresenta

extrema relevância tendo em vista o risco de transmissão domiciliar (SVS/MS, 2006).

Portanto, o aumento expressivo no número de casos em regiões de ocupação antiga em

grandes centros urbanos contraria a expectativa de que com a pressão antrópica os focos naturais

da doença desapareceriam (Kawa & Sabroza, 2002).


15

A situação do Rio de Janeiro

Entre os desejos dos arautos da modernidade por decreto e a


insuficiente transformação das estruturas econômicas e sociais,
consolidaram-se as condições necessárias para a difusão dos
parasitos. E estes, como sempre ocorreu, aproveitaram as
possibilidades para expandir suas áreas endêmicas, ocupar novos
nichos, utilizar outros ciclos.
Paulo C. Sabroza

A LTA ocorre em praticamente todo o Estado do Rio de Janeiro (Oliveira-Neto, 1998). O

primeiro registro de LTA na cidade do Rio de Janeiro ocorreu em 1913 (Rabelo, 1913) e já em

1922 (Aragão, 1922) ocorreu sua primeira epidemia, na região de Santa Tereza e Cosme Velho.

No decorrer dos anos, vários focos de LTA foram descritos, tanto associados a áreas de

colonização antiga quanto ligados a áreas de desmatamentos recentes. Até que, mais tarde, em

1974 (FIOCRUZ, 1974), ocorreu uma epidemia de LTA em Jacarepaguá, atingindo localidades

situadas nas várzeas e encostas do maciço da Pedra Branca, e, desde então, pode-se observar que

as localidades onde a doença se manteve estão situadas próximas às vertentes desse maciço. Entre

1985 e 1988, 20.8% dos casos de LTA no Rio de Janeiro situava-se em Jacarepaguá (Kawa &

Sabroza, 2002).

A ocorrência de surtos de LTA na cidade do Rio de Janeiro está diretamente ligada ao

processo de sua urbanização, aparecendo de maneira temporal, esparsa e localizada (Kawa &

Sabroza, 2002). Isto se dá devido à modificação do ambiente natural e destruição da mata

primária decorrente deste processo, o que favorece uma maior interação homem / vetor. A

crescente ocupação de encostas com fragmentos de Mata Atlântica, principalmente por

populações de baixa renda, é um fator social que contribui para o aumento e manutenção do ciclo

de transmissão da doença na periferia da cidade, assim como a construção de moradias precárias,

que aumentam a exposição do homem ao vetor (Rangel, 1995).


16

As características epidemiológicas da LTA na cidade são bem peculiares e divergem da

epidemiologia comum aos ciclos silvestre e rural (Sabroza, 1981). No Rio de Janeiro, a distinção

por sexo não é muito marcante, havendo uma incidência discretamente maior nos homens.

Quanto à idade, pode-se observar uma maior ocorrência nas quatro primeiras décadas de vida,

havendo um maior percentual em indivíduos entre 20 e 40 anos. Ocorre ainda, nos indivíduos

acometidos, um predomínio de lesões únicas e ulceradas, principalmente nos membros inferiores,

havendo habitualmente um comprometimento linfático (Oliveira-Neto, 1998). Não há relação

ocupacional, ocorre agregação de casos familiares e baixa proporção de formas mucosas, sendo

estas principalmente encontradas em indivíduos com idade mais avançada (Sabroza, 1981;

Oliveira-Neto, 1998).

O domicílio como fator de risco para a transmissão da enfermidade (Sabroza, 1983) já se

mostrava presente desde os primeiros relatos da ocorrência da LTA na cidade, onde a

proximidade das casas às matas e a grande quantidade de vetores capturados no peridomicílio

eram ressaltados pelos autores (Cerqueira & Vasconcelos, 1922; Aragão, 1922; 1927). Os dados

clínicos supracitados vêm corroborar com os dados provenientes de estudos entomológicos mais

recentes que sugerem a ocorrência de um ciclo de transmissão peri e intradomiciliar (Oliveira-

Neto et al., 1988; Rangel et al., 1990; Marzochi, 1994; Lucciola et al., 1996).

A incriminação de L. intermedia como vetor da LTA no Estado do Rio de Janeiro data de

1921, proveniente de dados de um surto ocorrido em Águas Férreas (Aragão, 1922). Entretanto,

de 1969 a 1974, vários surtos ocorreram em diversos municípios do Estado sem que o vetor

pudesse ser esclarecido. O encontro de altas densidades desta espécie de flebotomíneo durante a

epidemia de 1974 em Jacarepaguá (FIOCRUZ, 1974) e durante o surto de 1979 em Ilha Grande

(Araújo-Filho, 1979), aliado ao achado de sua infecção natural por L. (V.) braziliensis (Rangel et
17

al., 1984) vieram fortalecer seu papel como vetor e esclarecer sua relação com o agente

etiológico da LTA.

Atualmente, são considerados como alguns dos principais vetores de L. (V.) braziliensis

os flebotomíneos L. intermedia e L. migonei, encontrados com infecção natural (Pita-Pereira et

al., 2005). Estas são espécies bastante antropofílicas e altamente adaptadas a áreas de transição,

situadas entre o peridomicílio e a mata, e a áreas alteradas pela ação do homem (Rangel &

Lainson, 2003). Caninos e eqüídeos também apresentam lesões e são apontados como possíveis

reservatórios domésticos de L. (V.) braziliensis, contribuindo para a manutenção desse ciclo de

transmissão no ambiente domiciliar (Rangel et al., 1990).

O controle da LTA no Estado do Rio de Janeiro se dá, basicamente, por meio de ações

direcionadas ao vetor, principalmente através da borrifação de inseticidas no peri e

intradomicílio, surgindo, como entraves a esta prática, dificuldades logísticas e econômicas

(Oliveira-Neto, 1998). Além disso, pode-se supor que o efeito residual do inseticida utilizado

favorece o vetor, presente no interior das matas cerca de 800 metros das casas (Meneses et al.,

2005), a retornar ao peridomicílio na busca de fontes alimentares quando o composto químico

torna-se escasso, dando continuidade ao ciclo de transmissão.


18

Indicadores Entomológicos:

O interesse pelos flebotomíneos recebeu enorme estímulo quando


algumas espécies desses pequenos e delicados insetos hematófagos
foram incriminadas como vetores de algumas doenças importantes
para o homem (...) Mas, sem dúvida, o interesse médico que
envolve esses dípteros está na capacidade de transmitirem uma
protozoose que tem merecido uma especial atenção dos
organismos governamentais brasileiros. O entendimento da inter-
relação dos elos que compõem a cadeia de transmissão das
leishmanioses está respaldado nos conhecimentos adquiridos ao
longo dos anos sobre a ecologia dos flebotomíneos vetores.
Elizabeth Rangel & Ralph Lainson

A ocorrência da leishmaniose visceral (LV) está intimamente relacionada à pobreza e ao

baixo nível socioeconômico, características comuns de áreas rurais e periferias de grandes centros

urbanos, porém, nos últimos dez anos, vem ocorrendo a urbanização da doença. Surtos

registrados no Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Araçatuba (SP), Santarém (PA),

Campo Grande (MS), Teresina (PI), Natal (RN), São Luís (MA), Fortaleza (CE), Palmas (TO),

entre outros, confirmam sua ocorrência em áreas urbanas, inclusive em capitais de Estados

(SVS/MS, 2003).

No Brasil, duas espécies de flebotomíneos, até o momento, estão relacionadas com a

transmissão da doença: Lutzomyia longipalpis (a mais importante e amplamente distribuída) e

Lutzomyia cruzi, esta última registrada apenas em Mato Grosso do Sul. A partir da década de 80,

verificou-se a adaptação de L. longipalpis a ambientes urbanos, nas periferias de grandes cidades,

principalmente nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e em parte da região norte. Nessas, esses

insetos podem ser encontrados no peridomicílio (canil, galinheiro, chiqueiro, paiol, etc.) e no

intradomicílio (SVS/MS, 2003).

De acordo com o Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral (SVS/MS,

2003), nas áreas de transmissão de LV, é recomenda a realização de análises periódicas dos

indicadores epidemiológicos e entomológicos, com o intuito de monitorar o curso da epidemia e


19

de avaliar a efetividade das medidas de controle empregadas, a fim de adequar tais medidas à

situação local.

Os resultados das pesquisas entomológicas devem ser trabalhados com a finalidade de

gerar indicadores que subsidiem as ações de controle. Os indicadores priorizados pelo Manual

são: índice de setores/localidades positivas, que visa analisar a dispersão do vetor e, com isso, a

extensão do risco de transmissão; abundância relativa do vetor, que torna possível conhecer a

média de flebotomíneos coletados por residência, permitindo uma futura avaliação das medidas

de controle; e, distribuição espacial do vetor, que serve de base para a delimitação da área para o

controle químico.

Este manual preconiza, portanto, que as ações dirigidas contra o vetor passem pela

identificação do local provável de infecção (LPI) e pela verificação da presença do vetor, após o

registro de caso humano. Sabendo-se claramente que a cadeia de transmissão da leishmaniose

visceral está no ambiente urbano e que tanto o vetor quanto sua participação no mecanismo de

transmissão estão bem definidos (Lainson & Rangel, 2003), tornou-se factível essa proposta de

proteção das residências e seus anexos.

Entretanto, enquanto para LVA a estratégia de controle encontra-se estruturada, o controle

da leishmaniose tegumentar permanece um desafio para o Programa Nacional de Leishmanioses,

pois diante de uma diversidade de ciclos de transmissão envolvendo diversos parasitos, vetores e

hospedeiros (Rangel & Lainson, 2003) em nichos ecológicos tão restritos, as ações de controle do

vetor devem ser direcionadas para diferentes situações e de forma factível. Numa situação de

transmissão domiciliar, pode-se recomendar o controle químico do vetor, porém, na maioria das

vezes, a cadeia de transmissão está instalada próxima às matas, devendo-se então, considerar que

a educação em saúde e o manejo ambiental sejam propostas indispensáveis num programa de

ação integrada.
20

Educação Popular em Saúde:

Por meio da saúde e da doença, temos portanto acesso à imagem


da sociedade, de suas ‘imposições’, tais como o indivíduo as vive.
Englobada nesta imagem a doença adquire uma significação. Para
nós, como para os primitivos, é provavelmente importante que a
doença, se ela é desordem, não seja acaso; é provavelmente
importante que enquanto desordem, ela seja significativa. Ela
encarna e cristaliza a ‘imposição’ social.
Claudine Herzlich

A importância da participação comunitária no controle de endemias vem sendo cada vez

mais discutida, pois, sendo estas caracterizadas por fenômenos coletivos, qualquer medida de

controle implica na cooperação dos envolvidos (Service, 1993). Esta participação era vista como

menos importante quando os programas de controle eram verticais e dirigidos a populações rurais

esparsas, compostas por indivíduos analfabetos e com pouca consciência de direitos políticos

(Dias, 1986).

Nos anos 70, junto com os movimentos sociais emergentes, surge também uma nova

forma de serviço de saúde, onde ocorre a aproximação entre os profissionais de saúde e as classes

populares na tentativa de promover ações locais integradas ao seu grupo social. Surge, então, uma

nova cultura, distante do verticalismo e autoritarismo das ações campanhistas (Vasconcelos,

1998). Esta transformou a participação comunitária em algo de extrema importância, seja por

uma maior consciência democrática ou por reconhecer a incapacidade de realizar tais programas

onde a participação comunitária era negligenciada (Briceño-Léon apud Briceño-Léon, 1998).

Não há projeto definido de participação comunitária no Sistema Único de Saúde e, menos

ainda, no que se refere ao combate de endemias (Dias, 1998). Ainda que ocorra uma certa

divulgação da higiene voltada para populações carentes, esta remete à higiene civilizatória do

século XIX, onde, muitas vezes, a condição social dos eventos sanitários não é abordada de

forma significante (Araújo, 2003).


21

Desde então, a educação em saúde é o campo de prática e conhecimento do setor saúde

que tem se ocupado mais diretamente com a criação de vínculos entre a ação médica e o pensar e

fazer cotidiano da população (Vasconcelos, 2005).

Na medida em que cada um sabe dos seus limites, é possível estabelecer uma relação

pedagógica onde o diálogo não é apenas uma estratégia de convencimento, mas a busca de uma

terapêutica mais eficaz por estar inserida na cultura e nas condições materiais do paciente, como

também por estar aberta a outras lógicas de abordagem da doença. Agindo dessa forma, se

contribui tanto na formação de cidadãos mais capazes de gerirem sua saúde, como na superação

dos limites da medicina popular, que são muitos (Vasconcelos, 2006).

Para Oliveira (2003), a prática da educação em saúde possibilitou o exercício da

convivência entre os profissionais de saúde e os grupos sociais, permitindo que diferentes saberes

buscassem soluções para os problemas coletivos. Para a autora, a ação social seria o ponto de

partida para esse conhecimento, e as informações geradas através do convívio serviriam de fonte

de mobilização social.

A educação popular em saúde deve inserir-se no cotidiano de um grupo, onde o tema

abordado deve ser problematizado pelos atores sociais envolvidos, de forma a incluí-los na

formulação das medidas de superação. Esta educação busca o crescimento da análise crítica sobre

a realidade e o aperfeiçoamento das estratégias de luta e enfrentamento. Para isso, seu ponto de

partida é o saber anterior das classes populares (Vasconcelos, 2005; Hurtado, 2006; Oliveira,

2003; Araújo, 2003).

Hurtado (2006) resume muito bem a educação popular como “a teoria a partir da prática e

não sobre a prática”. Este autor afirma ainda que o grupo de educandos precisa ter em mente o

motivo do conhecimento adquirido e deve construir sua própria teoria e conceitos.


22

Os conceitos, opiniões e crendices de uma determinada população acerca de uma endemia

constituem-se em fatores de suma importância para seu respectivo controle (Netto et al., 1985),

pois conhecendo sua percepção social torna-se mais factível a aproximação das ações de controle

à realidade local, favorecendo a participação da comunidade.

As percepções sociais são elaboradas a partir de um grupo social, através da

intercomunicação cotidiana entre os atores, sendo, portanto, peculiares aos grupos que as

concebem e empregam. Elas permitem compreender e justificar a realidade, guiar

comportamentos e práticas, e justificá-los (Sá, 1996). Segundo Minayo (1992), a metodologia

qualitativa permite reconstruir as representações sociais de determinado grupo sobre temas

específicos.

A relevância do conhecimento, das competências e atitudes da população diante do

problema mórbido, para a aceitação e participação efetivas da comunidade nas ações profiláticas

vem sendo citada por diversos outros autores, como Casavechia et al. (2002), Santos et al. (2000),

Costa et al. (1994), Marzochi & Marzochi (1994), Noronha et al. (1995) e Vázquez et al. (1991).

Baseado nas possíveis dificuldades operacionais demandadas pelas ações de controle da

LTA, representadas pelas condições ambientais em que a zoonose se estabelece, Santos et al.

(2000) propõe a participação comunitária no controle de grandes endemias. Porém isto implica

num processo educacional que vise estimular essa participação de uma forma que busque

valorizar e integrar o saber popular nas suas práticas.

Quase sempre quando se enfoca apenas o caráter individual de uma enfermidade que

apresenta também um caráter coletivo, ligado intrinsecamente a questões sociais, como é o caso
23

da LTA, e desenvolvem-se medidas de educação verticais e autoritárias, acaba por ocorrer a

“culpabilização da vítima1”, o que dificulta a participação da comunidade nas ações de controle.

Em 1991, ocorreu no México um workshop sobre estratégias de controle de

leishmanioses, onde foi ressaltada a importância de uma participação comunitária ativa na

detecção precoce de casos e de uma educação em saúde inovadora com uma abordagem

ambiental para prevenir a transmissão domiciliar e peridomiciliar da doença (Wijeyaratne et al.,

1992). A importância da educação em saúde na detecção precoce de casos pela comunidade

também foi explorada por Marzochi & Marzochi (1994).

A relevância do conhecimento da percepção social está no fato de que integrar saberes é

reconhecer o educando como sujeito e não como objeto de ações educadoras, a fim de propiciar a

implantação de projetos de controle da LTA onde a participação comunitária possa ser ativa e

permanente.

1
VALLA, V. V., 1993. Participação Popular, Educação e Saúde: Teoria e Prática (V. V. Valla & E. N. Stotz, orgs.),
p. 95, Rio de Janeiro: Relume-Dumará.
24

Um passeio no tempo: a Colônia Juliano Moreira

“Para as rosas, escreveu alguém, o jardineiro é eterno.”


Machado de Assis

A Fazenda do Engenho Novo, localizada em Jacarepaguá (município do Rio de Janeiro),

prosperava com o cultivo da cana-de-açúcar durante o século XVIII. Porém, durante o século

XIX, com o crescimento da cafeicultura, esta foi deixando de ser produtiva até perder totalmente

sua funcionalidade (Barbosa, 2001).

Na mesma época, João Augusto Rodrigues Caldas e Juliano Moreira (diretores das

Colônias Psiquiátricas da Ilha do Governador) idealizavam realizar um projeto de hospital-

colônia e necessitavam de novas instalações para este ser implementado. A fim de justificar a

transferência dos pacientes das Colônias Psiquiátricas da Ilha do Governador para um novo local,

eles argumentavam a superlotação dos prédios; as terras serem de propriedade dos Padres

Beneditinos que reclamavam sua devolução; a intenção da Marinha do Brasil em construir uma

base aeronaval no local; a insalubridade do ambiente; a arquitetura inapropriada dos prédios

existentes; o acesso difícil, feito por barcos nem sempre disponíveis; a infertilidade das terras,

impróprias para o cultivo agrícola; e a possibilidade de autonomia econômica do novo

empreendimento hospitalar através do desenvolvimento de atividades agropecuárias nas terras

férteis do rio Guerenguê em Jacarepaguá (ISER/FIOCRUZ, 2004).

Pressionada por estas argumentações, a União desapropriou a Fazenda do Engenho Novo

em 1912 e, nela, foi inaugurada a Colônia de Alienados de Jacarepaguá em 1924, que mais tarde

viria a ser chamada Colônia Juliano Moreira - CJM (Barbosa, 2001) (Figura 1).
25

Fig. 1: Colônia Juliano Moreira, Jacarepaguá, Rio de Janeiro / RJ

(Chafariz central – foto atual)

Na década de 80, o Movimento pela Reforma Psiquiátrica se radicalizou e passa a propor

não apenas humanizar os hospitais, como também acabar com a hospitalização dentro da

perspectiva do Movimento Antimanicomial (“por uma sociedade sem manicômios”)

(ISER/FIOCRUZ, 2004).

Com a constituição de 1988 e a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), iniciou-se o

processo de municipalização dos hospitais federais na década de 90, que transformou a Colônia

em uma Unidade de Saúde Municipal – o Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano

Moreira/IMASJM (ibid, 2004). Este permaneceu em atividade até o ano de 1996 quando, pela

“renovação da psiquiatria”, ocorreu o desmembramento da Colônia Juliano Moreira, sendo sua

área dividida em cinco setores.

No ano de 2003 estes setores foram concedidos à Secretaria Municipal de Saúde (onde

estão cerca de 700 pacientes em idade avançada da antiga CJM), à Secretaria Municipal de

Habitação (área considerada de invasão, sendo ocupada por moradias irregulares), ao Ministério

do Exército (áreas desocupadas), à Secretaria de Vigilância e Saúde (Centro de Referência

Professor Hélio Fraga) e à Fundação Oswaldo Cruz (400 hectares de Mata Atlântica - área de
26

preservação ambiental, pavilhões ainda funcionais e moradias de ex-funcionários da CJM e suas

famílias, num total de 220 moradias instaladas há mais de 40 anos).

Neste setor, hoje denominado “Campus FIOCRUZ da Mata Atlântica” (Figura 2) estão

localizadas seis comunidades: Vianna do Castelo, Nossa Senhora dos Remédios, Faixa Azul,

Fincão, Sampaio Correia e Caminho da Cachoeira, abrigando mais de 800 moradores.

Fig. 2: Vista aérea da Colônia Juliano Moreira, Jacarepaguá, Rio de Janeiro / RJ

(Parte da área concedida a FIOCRUZ)

Quando em atividade, os funcionários da CJM podiam residir em moradias construídas no

seu terreno; com o tempo, foram construídas outras residências a partir do crescimento das

famílias dos funcionários que lá permaneceram após a aposentadoria. Os antigos funcionários

estabeleceram um vínculo afetivo com o local e grande dependência da instituição no que se

refere a sua sobrevivência e de sua família. Além de todos os produtos de frutas, verduras e

criação de animais, os moradores usavam a luz, a água, o correio e a cozinha do hospital, e seus

filhos freqüentavam a escola da Colônia (ibid, 2004).

Em 2004, a FIOCRUZ, em associação com o ISER, cadastrou as famílias moradoras do

campus e avaliou sua condição sócio-econômica, além da sua percepção acerca da FIOCRUZ. A
27

maioria das famílias apresenta baixa renda e baixo nível de escolaridade, além de precárias

condições de moradia, como, por exemplo, a Comunidade Nossa Senhora dos Remédios, que

ocupa um antigo pavilhão da CJM condenado pela Defesa Civil, onde há famílias vivendo em

antigos banheiros. A pesquisa sobre a percepção dos moradores acerca da FIOCRUZ revelou um

certo desconforto da população local em se adequar às novas regras de convivência e à nova

situação que se iniciava.


28

Objetivos

Geral

- Avaliar fatores de risco para a transmissão e conhecer a percepção social da

Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) na Comunidade do Caminho da

Cachoeira (Jacarepaguá - Rio de Janeiro / RJ), visando a realização de práticas de

educação popular em saúde.

Específicos

- Identificar a presença do(s) vetor(es) na área de ocorrência de casos humanos;

- Avaliar a densidade do(s) vetor(es);

- Associar a presença de vetores com fatores ambientais de risco para a transmissão

de LTA, com vistas ao manejo ambiental.

- Conhecer a percepção dos moradores acerca da LTA, sua epidemiologia, clínica,

prevenção e tratamento;

- Desenvolver material educativo sobre a LTA para orientação e esclarecimento da

comunidade (cartilha).
29

Metodologia

I. Unidade de Trabalho

A Unidade de Trabalho (UT) escolhida para o desenvolvimento deste estudo corresponde

à Comunidade do Caminho da Cachoeira, núcleo de ocupação mais antiga da Colônia Juliano

Moreira, onde residem 85 famílias não muito numerosas, tendo, a maioria, renda abaixo de três

salários mínimos.

A comunidade está localizada entre dois ícones da área: o aqueduto e a cachoeira, sendo

adornada por mata atlântica (Figura 3).

Aqui a incidência de LTA é uma preocupação constante dos moradores, pois a

enfermidade ocorre em adultos e crianças, além de cães, sugeridos como reservatórios

domésticos no município de Mesquita, Rio de Janeiro, por Rangel et al. (1990).

Fig. 3: Vista aérea da Comunidade do Caminho da Cachoeira (em destaque),

Jacarepaguá, Rio de Janeiro / RJ


30

II. Indicadores Entomológicos: identificação da presença do vetor, sua densidade e

abundância

Com o intuito de caracterizar o espaço trabalhado, foi esboçado um croqui da comunidade

(anexo A), ressaltando os pontos onde há informação de casos humanos (ativos e tratados) e

caninos (suspeitos). A partir da observação do croqui foram estabelecidas duas estações de

monitoramento (EM), uma no início (EM 2) e outra no final (EM 1) da comunidade, de acordo

com a concentração de casos humanos e aspectos do peridomicílio.

Os flebotomíneos foram coletados com o uso de armadilhas luminosas HP, semelhantes

as do tipo CDC (Sudia & Chamberlain, 1962). As coletas foram realizadas de uma a três vezes

por mês, no horário de 18 às 6 h, nas estações de monitoramento pré-estabelecidas (no

peridomicílio), no período de março de 2005 a fevereiro de 2006.

As armadilhas CDC, após as coletas, foram transportadas para um Laboratório do Campus

FIOCRUZ da Mata Atlântica, para a realização da triagem dos insetos e sua fixação em álcool

70%. O material foi então transportado para o Laboratório de Transmissores de

Leishmanioses/Laboratório de Referência em Vigilância Entomológica: Taxonomia e Ecologia

de Vetores das Leishmanioses/Departamento de Entomologia/IOC, onde os flebotomíneos foram

submetidos a um processo de clarificação e diafanização e, a seguir, montados entre lâmina e

lamínula, em líquido de Berlese e analisados através de microscópio.

A terminologia dos caracteres morfológicos utilizados e a identificação das espécies

seguiram a proposta de Young & Duncan (1994).

A abundância relativa do vetor, por EM, foi calculada, através da seguinte fórmula

(SVS/MS, 2003):

Número de vetores coletados por domicílio (peridomicílio)

Total de domicílios pesquisados (peridomicílio)


31

III. Entrevistas: percepção acerca da LTA

Foram realizadas entrevistas individuais (Protocolo CEP/ENSP nº 126/05 aprovado em

07/12/2005) com a líder comunitária e com os moradores da comunidade indicados por esta, num

total de 09 entrevistas. A escolha dos entrevistados se deu através da líder comunitária, pois esta

poderia indicar com maior exatidão os moradores mais espontâneos e dispostos a colaborar com

o presente estudo. Além disso esse se torna um fator de suma importância para a mediação da

ligação entre o pesquisador e a comunidade, na medida em que a relação dos moradores com a

FIOCRUZ é complicada.

Foi utilizado um roteiro para entrevista semi-estruturado composto por perguntas abertas

de caráter qualitativo (anexo B).

Não foi estabelecida a quantidade de entrevistas a ser realizada, estas foram interrompidas

quando as informações obtidas tornaram-se repetitivas, subentendendo-se que o assunto

encontrava-se esgotado.

Com a finalidade de não permitir a identificação dos sujeitos das falas, os entrevistados

foram identificados através da letra E (entrevistado) seguida da ordem das entrevistas (exemplo:

E1, E2, etc.).

IV. Educação em Saúde: elaboração do material educativo

Uma cartilha ilustrativa (anexo C) foi produzida baseando-se nos resultados das

entrevistas, em associação com os saberes já sedimentados sobre a LTA, no intuito de contribuir

para o esclarecimento das principais dúvidas dos moradores da comunidade.


32

Resultados

I. Indicadores Entomológicos

I.I – Identificação da presença do vetor

Foram capturadas e identificadas, nas estações de monitoramento, através da metodologia

aplicada, nove espécies de flebotomíneos (Tabela I): Brumptomyia brumpti, Lutzomyia (L.)

longipalpis, L. (M.) schreiberi, L. quinquefer, L. cortelezzii, L. firmatoi, L. (P.) fischeri, L. (N.)

intermedia e L. migonei, sendo as duas últimas consideradas as principais espécies vetoras de

LTA no Rio de Janeiro. Pode-se observar que, no total de coletas realizadas há um nítido

predomínio de L. intermedia (95%), seguida por L. migonei (4.5%).

Tabela I – Percentual de espécimes por espécie coletada na Comunidade do Caminho da Cachoeira,

Jacarepaguá, Rio de Janeiro/RJ

Percentual de Espécimes Capturados


Espécies Coletadas
B. brumpti 0.09 %

L. cortelezzii 0.05 %

L. firmatoi 0.05 %

L. (P.) fischeri 0.05 %

L. (N.) intermedia 95 %

L. (L.) longipalpis 0.15 %

L. migonei 4.5 %

L. quinquefer 0.05 %

L. (M.) schreiberi 0.05 %

Total 100 %
33

I.II – Densidade dos vetores

A maior variedade de espécies e densidade de espécimens pôde ser observada na estação

de monitoramento 1 (EM 1), onde, em todas as coletas, foram capturados exemplares de

flebotomíneos.

Nesta, a espécie predominantemente encontrada foi L. intermedia, que se mostrou

presente em altos percentuais durante todos os meses e com predomínio de exemplares fêmeas,

seguida por L. migonei, de menor ocorrência e ausente no final da primavera e início do verão

(novembro e dezembro). Fêmeas de L. longipalpis, L. fischeri e B. brumpti puderam ser

observadas em baixas densidades nas coletas relativas aos meses de março, abril e novembro.

Machos de L. firmatoi, L. cortelezzi, L. schreiberi e Brumptomyia brumpti foram capturados

também em baixas densidades nos meses de abril e novembro.

Nas coletas realizadas na estação de monitoramento 2 (EM 2), não foram capturados

flebotomíneos durante o inverno e início da primavera (julho, agosto, setembro e outubro). A

única espécie encontrada, com exceção de L. quinquefer (março), foi L. intermedia, apresentando

baixa densidade e predominância de machos.

I.II – Abundância relativa dos vetores

O cálculo da abundância relativa do vetor foi efetuado, de acordo com a fórmula descrita

anteriormente, para as espécies vetoras de LTA (L. intermedia e L. migonei) e LVA (L.

longipalpis) capturadas nas duas estações de monitoramento (Tabela II). Pode-se notar a presença

de L. migonei e L. longipalpis apenas na EM 1 em baixos níveis de abundância, enquanto que L.

intermedia se mostrou presente nas duas estações de monitoramento, sendo mais abundante na

EM 1.
34

Tabela II – Abundância Relativa das Espécies Vetoras nas EMI e II, Comunidade do Caminho da Cahoeira,

Jacarepaguá, Rio de Janeiro/RJ

Espécie Vetora Capturada EM 1 EM 2

L. (N.) intermedia 47.4 % 0.1 %

L. (L.) longipalpis 2.25 % 0%

L. migonei 0.075 % 0%

Total 49.73 % 0.1 %

II. Entrevistas: percepção acerca da LTA

Com o intuito de conhecer a percepção social da comunidade em relação a LTA foram

realizadas nove entrevistas seguindo o roteiro que se encontra em anexo (anexo B).

Ao serem questionados acerca dos principais problemas de saúde da comunidade, a LTA,

a dengue e a qualidade da água foram as mais citadas, seguidas pela ausência da rede de esgotos

(valas a céu aberto), grande quantidade de mosquitos, carrapatos e verminose. Quanto à resolução

ou diminuição destes problemas, a metade dos entrevistados não soube opinar, enquanto que a

instalação de filtro de água, de rede de esgoto e a limpeza da rua e quintais foram citadas como

propostas pelos outros entrevistados.

“Aqui, vixe.... a leishmaniose é a principal e... até que em parte de... de..., apesar da
gente ter um... não ter saneamento básico nenhum, a água não ser tratada, é uma água
duvidosa, né?! Que não tem tratamento, até que Deus abençoa aqui, que as crianças até
que não, em matéria de verminoses aqui o índice foi bem baixo (se referindo aos
resultados fornecidos pela pesquisa da Marise/Deptº Biologia/IOC), graças a Deus. (...) e
na época de verão assim também a gente fica bem apreensivo, aqui teve um... um alto
índice de dengue nos anos anteriores e a gente fica bem apreensivo.”
(E1, sobre os principais problemas de saúde da comunidade).
35

Sobre a LTA, todos os entrevistados já tinham ouvido falar da doença na própria

comunidade e um ex-funcionário da FIOCRUZ ouviu falar também nos laboratórios do IOC.

Todos conhecem alguém da comunidade que já teve a doença, porém quatro já tiveram casos na

família e três já apresentaram a lesão. Dentre os que relataram ter casos na família, dois já

tiveram leishmaniose.

Não foi relatado nenhum nome vulgar para a enfermidade, sendo esta conhecida na

comunidade apenas como leishmaniose. Já o flebotomíneo foi citado como “mosquito palha” por

dois moradores, como “borrachudo” por um, como “mosquito da listrinha” por mais um e como

Aedes aegypti por outro. Cinco entrevistados disseram não conhecer o inseto. Dos quatro

moradores que afirmaram conhecê-lo, todos foram capazes de descrevê-lo, nessa descrição foram

citadas as seguintes construções: “parece uma bolinha, não vê as patas dele”, “clarinho, não é

preto não, tem asa branca, curtinho, pequenininho, é venenoso” , “ele tem as patinhas tudo cheio

de listinha” e “mosquitinho de cor palha”.

Sobre o que é a leishmaniose, oito entrevistados citaram ser uma “ferida”, três citaram ser

uma “doença do cachorro” e três citaram ser um “mosquito”. Seis moradores afirmaram conhecer

e poder reconhecer a ferida. Esta foi descrita como: “redonda, e ela tem uma borda altinha”,

“feridona bonita! Vermelhona!”, “grande, redonda e funda”, “é um buraco enorme na pele!” e

“machucado que não sara (...) ferida que tem uma casca por cima, mas por dentro, o mal tá ali”.

“Ah, o que me falaram é que é uma doença do cachorro, que até meu cachorro tinha e
eles levaram pra matar, eles falaram pra mim que era uma doença que o mosquito
mordia o cachorro e depois a pessoa...”
(E8, que teve leishmaniose, sobre o que é a leishmaniose).

“A ferida, ela é assim: no começo ela é uma mordidinha de mosquito, você coça, você
acha que é uma mordida de mosquito, né?! Que não tem nada, mas depois dum tempo
ela começa... tem a picadinha do mosquito (mostrando na própria perna) em volta ela
começa a ficar vermelha, essa vermelhão que fica na pele, ela tem tendência a crescer e
algumas pessoas olham e acha que é furuncu, entendeu? Aí, ela é tão ruim, tão ruim
(falando enfaticamente), que se você olhar no começo você fala: isso aí num é furuncu
36

não, cara! Isso aí é leishmaniose! Entendeu? Ela vem... aí depois que ela fica aquilo
vermelhão, ela começa a escurecer, é quando ela começa a vim de dentro pra fora e
abrindo, depois que ela abre, toda aquela parte que tá preta, que tá escura, aquilo tudo ali
vem abrindo, entendeu? Aí fica aquela pizza! Aquela coisa horrível!”
(Descrição da ferida feita por E3, que já teve dois casos de LTA na família).

Dentre uma das respostas sobre o que é a leishmaniose pode-se perceber a questão do

estigma e do medo da enfermidade numa das falas de uma moradora que já teve a irmã e a sogra

doentes.

“Que é uma coisa bem horrível, entendeu? Porque só a gente vendo ali aquela ferida é
que a gente tem noção, porque pela televisão é uma coisa, agora quando você tá perto, tá
vendo na pessoa, você vê num rosto (expressão de tristeza)... eu conheci uma moça que
ela teve no rosto.... entendeu? Então a gente vê aquilo ali... eu pelo menos fiquei assim
sabe (expressão de espanto), pô, essa moça vai morrer... no rosto!! Essa ferida no rosto,
ela vai morrer! Entendeu?!”
(E3, nunca teve leishmaniose).

Quando perguntei se ela já havia tido leishmaniose, o medo se mostrou ainda mais

evidente:

“Eu não! Nem fala, pelo amor de Deus! Nem sei, cara! Tá amarrado em nome de Jesus!
Amém! Se eu tiver... caraca! (balançando negativamente a cabeça).”

O estigma também se mostrou presente na fala de outra moradora, que relatou ter sofrido

discriminação por causa do seu cão que estava infectado.

“As pessoas batiam nele na rua (no cachorro), na igreja ninguém chegava perto dele.... a
gente já tava se sentindo discriminada por causa do cachorro, todo mundo: “ai!” e “não
sei o que”, onde a gente chegava tinha o comentário do cachorro, o cachorro entrava na
igreja só o padre não mandava ele sair. Coitado, o bichinho tava na igreja! (...) mas o
pessoal não queria chegar perto da gente, tinha gente que não vinha mais aqui (se
referindo a sua casa) com medo de pegar leishmaniose por causa do cachorro... não
vinha aqui! Mas eu não deixei de falar com ninguém, eu não tenho essas coisas assim...
eu ia botar na cabeça das pessoas? Não. Então eu procurava entender, conversar.... mas
sabe, as pessoas não queriam, eu não ia discutir isso não, porque não era eu que ia saber
dar todas as informações para as pessoas que precisavam, não era eu que ia botar na
cabeça de ninguém, então eu deixava pra lá.”
(E5, relatando como sofreu com seu cão doente).

Dentre os que tiveram LTA, todos apresentaram apenas uma ocorrência da enfermidade e

relataram não sentir nenhum tipo de desconforto com a ferida durante o curso da infecção, dois
37

apresentaram apenas uma lesão enquanto um apresentou três. Não foi relatado incômodo em

relação à cicatriz, porém dois dos entrevistados mencionaram um possível sentimento de

constrangimento caso esta fosse numa região corporal mais visível. Quanto ao tratamento, o

grupo relatou receber injeções diárias (um entrevistado citou o glucantime como sendo a droga

administrada) e ter completado o tratamento. Este foi descrito como normal por apenas um dos

moradores, e como doloroso e complicado por dois, que citaram efeitos colaterais diversos como

“corpo mole” e “inchaço”.

“Não doía nada, só inflamava e aí... só a ferida só, mas aí ia comendo por dentro. O
mosquito... a lesão... tava me comendo por dentro... Só que tem uma coisa: o tratamento
foi bom, agora a injeção deixa o corpo mole, (...) Mas eu me sinto um pouco abalado,
mas num é da leishmaniose, já é a idade...”
(E4, 67 anos, apresentou três lesões de LTA).

“Olha, sinceramente, o tratamento pra mim foi bom, agora, só as injeções é que não
dava! Ela dói, mas tem que tomar a injeção! Agora, o problema é que eu passei muito
mal com essa injeção porque... por causa do ácido úrico meu é que era o problema, mas
no resto ficou tudo bem, pra mim ficou bem, entendeu?”
(E9, 72 anos, teve leishmaniose).

Seis dos entrevistados disseram conhecer o tratamento recomendado pelos médicos e sete

citaram injeções. Todos afirmaram que não há realização de tratamento caseiro pelos moradores

acometidos da comunidade, referenciando o hospital do Curupaiti como local de tratamento.

Sobre o que ocorre com quem não faz o tratamento foram citados o óbito (três vezes), a recidiva

acometendo o nariz (duas vezes), a persistência da lesão (duas vezes), o acometimento de órgãos

(duas vezes) e dois não souberam informar.

“É no posto de saúde, né?! O posto de saúde é que resolve! Não adianta ir em... botar
mercúrio, não adianta botar nada disso, é no posto de saúde lá no Tanque. Eu penso que
eles vão fazer uma biópsia pra saber se é ou não, eles é que vão ver, a verdade não é
essa?”
(E2, sobre tratamentos caseiros).

“Ah, vira uma ferida horrível! Eles não sabe as conseqüência até onde vai.”
(E2, sobre o que ocorre com quem não faz o tratamento).
38

“Eu não sei te dizer direito não, mas eu acho que passa pra corrente sangüínea, acho que
passa pros órgãos e contamina tudo e a pessoa pode chegar a óbito, não é isso? Tem uns
depois que afeta (apontando para o próprio nariz) (...) É uma coisa horrível,
dependendo... reincidência, né?! A reincidência dessa doença (fazendo com as mãos
gestos de abertura) abre tudo de novo, é muito perigosa! As pessoas acham que não é tão
grave, mas é muito grave, na minha concepção, na minha opinião, é muito grave.”
(E1, sobre o que ocorre com quem não faz tratamento médico).

Sobre a transmissão, todos os entrevistados citaram ser através de um mosquito, dois

desses apontaram as fezes de animais e três apontaram o cão como fonte de infecção para o vetor.

Porém a insegurança dessa informação foi evidente.

“Ó... A princípio é o mosquito, né?! Agora... eu... pelo menos a minha irmã, ela
sempre... ela tem uma coisa na cabeça tipo: eu sei que é do mosquito, mas eu prefiro
lavar minha roupa com água quente e separado das outras roupas, entendeu? Ela sempre
fazia isso, que ela tinha medo... dizia: eu não sei... eu sei que é do mosquito mas sei lá se
de repente isso passa de uma pessoa e passa pra outra! Como ela tem uma filha pequena
então ela tinha medo, então ela sempre lavava a roupa dela separado e sempre com água
quente.”
(E3).

A respeito do desenvolvimento da leishmaniose apenas em algumas pessoas, seis

entrevistados não souberam explicar o motivo, um citou a sensibilidade da pessoa e outro o tipo

de sangue.

“Olha, minha idéia é a que eu falei, são pessoas sensíveis, alérgicas, né?! Tem alergia a
qualquer picada de mosquito, né?! (...) Então são pessoas mais sensíveis, alérgicas, que a
qualquer mordida de mosquito ficam assim.”
(E5, nunca teve caso de LTA na família).

Os meios de evitar a leishmaniose citados pelos entrevistados foram diversos, tais como:

vacinação de cães (uma vez), evitar água parada (uma vez), evitar bananeiras no quintal (uma

vez), evitar galinheiros próximo as casas (uma vez), manter o quintal limpo (duas vezes) e

borrifação de inseticidas (duas vezes). Entretanto, um entrevistado afirmou não haver

possibilidade de evitar a doença e dois mencionaram não saber que medidas utilizar.
39

“Olha... eu acho que não tem como evitar não. É sorte...”


(E5).

O sacrifício dos cães doentes, apesar da extrema afeição demonstrada para com estes, foi

indicado como forma de proteger as pessoas (quatro vezes), de não permitir o sofrimento do

animal (quatro vezes) e como alternativa a ausência de tratamento para a espécie (cinco vezes).

“Isso aí seria até uma questão do bicho também não sofrer, né?! Que a gente vê o animal
sofrendo...”
(E1, sobre por que apóia o sacrifício de cães doentes).

Todos os entrevistados revelaram grande interesse em conhecer mais sobre a

leishmaniose, com exceção de um que afirmou já conhecer o suficiente. Dentre esses, o motivo

de tal interesse seria: a possibilidade de ensinar outras pessoas (um), de evitar a doença (três), de

reconhecimento precoce dos casos (um), de aprender mais (um), de aliviar o sofrimento dos

outros (um) e pelo gosto de aprender (um).

“Com certeza! Acho que eu só não, como muita gente no... aqui os moradores gostariam
de saber mais, muito mais! Aprender mais, saber as causas, as razões, as conseqüências
(...) Por causa do sofrimento das pessoas, do tratamento doloroso das pessoas, né?! Que
a gente vê por aí... teve pessoas até que bem graves aqui, que ficaram internados por
muito tempo....”
(E1, sobre se gostaria de conhecer mais sobre a doença e por quê).

“Porque quando aparecer um caso a gente já tem, né?! Sabe reconhecer...”


(E7, sobre por que gostaria de conhecer mais sobre a LTA).

III. Educação em Saúde: elaboração do material educativo

A partir das informações sobre a relação dos moradores com a doença, foi elaborada uma

cartilha ilustrada2 (anexo C), em linguagem acessível, apresentando conceitos básicos sobre LTA

2
Direitos autorais registrados na Fundação Biblioteca Nacional (Ministério da Cultura) sob número 391.791 Livro
728 Folha 451.
40

e esclarecendo as principais dúvidas dos moradores. Esta foi encaminhada para a Secretaria de

Vigilância em Saúde/Programa Nacional de Leishmanioses, que aprovou seu uso e distribuição

em atividades de educação voltadas para LTA. Sua distribuição na comunidade e em escolas da

região será realizada durante as atividades de educação em saúde previstas para serem

desenvolvidas no local.

O material educativo mencionado adota modelagem em estilo revista em quadrinhos e

apresenta desenhos que atraem as crianças de uma maneira geral. Estas características tentam

distanciar uma qualidade descartável do material, ou seja, intencionam que as pessoas o guardem

após a leitura.

Conhecida a escassez de material deste tipo para ações de educação em saúde no que diz

respeito a LTA, o material elaborado poderá ser utilizado em práticas de educação que abarquem

o tema em qualquer ação voltada para este fim. Para tanto, entendendo que a comunicação e a

educação são atividades paralelas, a cartilha elaborada deve ser vista como um instrumento

intermediário entre estas duas ações, devendo ser adequada a realidade local onde será utilizada,

até mesmo pelo caráter focal da doença.


41

Discussão e Conclusão

A ocorrência de surtos de LTA na cidade do Rio de Janeiro acompanhou o progressivo

processo de ocupação do seu espaço urbano, havendo áreas descontínuas de ocorrência. Nos dias

de hoje, seu ciclo de transmissão ocorre basicamente em áreas do entorno do Maciço da Pedra

Branca (Kawa & Sabroza, 2002).

O padrão epidemiológico observado, atualmente, na cidade do Rio de Janeiro diverge

daquele observado nos surtos do início do século XX, quando estes ocorriam pela modificação da

paisagem através da ação do homem. Dentre os três perfis de transmissão da LTA, citados

anteriormente, os surtos do início do século XX possivelmente estão mais próximos do perfil

associado a surtos epidêmicos, enquanto que aqueles instalados recentemente se aproximam de

um terceiro perfil de transmissão, associados a áreas de colonização antiga.

Tendo em vista as modificações paisagísticas e os diferentes perfis de transmissão da

doença surge a necessidade de identificar novos indicadores entomológicos e estratégias de

controle mais adequados a situação atual. Nesse sentido, através de um estudo piloto, buscou-se

conhecer alguns aspectos relevantes para a transmissão da LTA na Comunidade do Caminho da

Cachoeira, Jacarepaguá - Rio de Janeiro / RJ.

Entre os indicadores entomológicos considerou-se, primeiramente, a identificação da

presença do vetor na área de ocorrência de casos humanos. Através das investigações

entomológicas, é notória a presença de duas espécies vetoras de LTA, L. intermedia e L. migonei,

no peridomicílio das residências trabalhadas.

Dentro do contexto de transmissão da LTA, L. intermedia é citada por diversos autores

como espécie predominantemente encontrada em áreas endêmicas dos estados do Rio de Janeiro

e São Paulo (FIOCRUZ, 1974; Araújo-Filho, 1979; Rangel et al., 1984; 1986; 1990; Camargo-
42

Neves, 1999; Rangel & Lainson, 2003). Esta espécie é bastante antropofílica e presente tanto no

domicílio quanto no peridomicílio, inclusive em abrigos de animais domésticos (Forattini, 1953;

Rangel & Lainson, 2003).

Sua ocorrência, em alta densidade, na EM 1, da comunidade do Caminho da Cachoeira,

poderia ser justificada pela presença deste tipo de instalação (canil e galinheiro), que fornece

tanto fonte alimentar quanto abrigo para o inseto. Além disso, a EM 1 conta com uma maior

cobertura vegetal que favorece, através do sombreamento, o desenvolvimento do ciclo biológico

do flebotomíneo.

A biologia de L. migonei apresenta características bastante próximas das de L. intermedia,

porém parece dotada de um menor grau de antropofilia podendo não ocorrer durante todo o ano,

observando-se sua ausência nos meses frios e secos (Barreto, 1943; Forattini, 1973).

No presente estudo, na Colônia Juliano Moreira, foi observada ausência de L.migonei do

início de novembro até o início de dezembro, ainda considerado um período de transição entre as

estações seca e chuvosa, com aumento gradativo da temperatura e umidade. Esta espécie esteve

presente apenas na EM 1, obviamente devido aos fatores ambientais já mencionados

anteriormente, quando se discute a densidade de L. intermedia.

A baixa densidade de L. migonei em comparação com L. intermedia sugere sua

participação como vetor secundário de LTA, enquanto que o papel principal no ciclo de

transmissão estaria associado à L. intermedia, o que já foi anteriormente sugerido em estudos

conduzidos em Vargem Grande, Jacarepaguá, município do Rio de Janeiro (Rangel et al., 1986).

A presença de uma maior variedade de espécies de flebotomíneos, incluindo espécies

vetoras, na EM 1 poderia estar associada às características ambientais apresentadas por esta que

divergem das da EM 2. Na EM 1 a distância entre a mata e a casa é inferior (cerca de 25 metros)


43

que na EM 2 (aproximadamente 40 m), além disso, na EM 1 há abrigos de animais domésticos

instalados muito próximos à residência, o que não é observado na EM 2 . Ainda na EM 1 há a

presença de bananeiras, claramente associadas à ocorrência desses dois vetores (Rangel &

Lainson, 2003), que não ocorrem na EM 2. A cobertura vegetal é extensa nas duas estações de

monitoramento. Apesar da diferença encontrada, entre as duas estações trabalhadas, através do

cálculo da abundância relativa do vetor, observam-se casos de LTA nos moradores das duas

residências, muito embora em número maior nas proximidades da EM 1.

A presença de L. longipapis, mesmo que em pequena densidade, chama atenção para o

risco de transmissão de LVA na localidade. Em dezembro de 2005 foi registrado um caso de

LVA de um residente em uma das comunidades da Colônia Juliano Moreira, que veio a óbito no

hospital, antes que se pudesse realizar uma investigação epidemiológica que esclarecesse a

autoctonicidade do caso.

A comunidade do Caminho da Cachoeira apresenta um conjunto de fatores que

corroboram para a manutenção do ciclo de transmissão da LTA no local. A ausência de coleta de

lixo faz com que os moradores o depositem nas ruas ou na mata, favorecendo um ambiente

propício não apenas para o desenvolvimento das formas imaturas dos vetores, mas também há

que se considerar, ainda, a atração de roedores, que possivelmente participam do ciclo de

transmissão da doença como reservatórios do parasito (Afonso et al., 2005); é digna de nota a

presença de bananeiras e de abrigos para animais domésticos, como canis e galinheiros, no

peridomicílio. As condições das moradias, muitas vezes sem proteção em janelas e portas, sem

emboço e com frestas (moradores apresentam dificuldades financeiras e de entendimento com a

administração da FIOCRUZ em realizar manutenção das residências), permitem facilmente a

entrada do flebotomíneo no ambiente domiciliar, além disso a proximidade das casas à mata
44

apresenta-se como o maior elo entre os moradores e os vetores. Reis (2004) e Vázquez et al.

(1991) descreveram as mesmas características supracitadas em áreas endêmicas do município de

Paraty (Rio de Janeiro) e da Colômbia, respectivamente.

Na comunidade do Caminho da Cachoeira a LTA é conhecida por seu nome técnico, não

sendo atribuído nenhum nome vulgar para a doença, que, segundo os entrevistados, acompanha

os moradores desde, no mínimo, 1974 (quando foi descrita a primeira epidemia na região) e a

maioria conhece alguém que já apresentou a enfermidade.

Quanto ao vetor, apesar de haver citações sobre nomes vulgares, sua descrição não foi tão

clara quanto a observada nos relatos sobre a ferida, por exemplo. A forma de transmissão da LTA

pelo vetor também não apresentou clareza nas respostas, assim como o papel do cão na sua

epidemiologia. O agente causal não foi citado por nenhum dos entrevistados. A possibilidade de

contágio interhumano é uma dúvida dos moradores, que não apresentam clareza da necessidade

do inseto vetor para que haja transmissão. A idéia de vetor torna-se um fator complicador para o

entendimento da transmissão, onde a desconstrução das noções de contágio deve ser empregada.

Merece atenção o fato de que, mesmo sendo a LTA uma enfermidade antiga na região,

onde pesquisas científicas e ações campanhistas pela antiga SUCAM (Superintendência de

Campanhas de Saúde Pública / Ministério da Saúde) foram desenvolvidas, os moradores ainda

permanecem com a não apropriação completa das informações fornecidas por esses profissionais.

A maioria dos entrevistados demonstrou conhecer bem a doença, tanto no que diz respeito

à clínica e tratamento, mesmo havendo lacunas em relação a alguns aspectos. Reis (2004) em

Paraty (Estado do Rio de Janeiro) e Said (1984) em Jacarepaguá (município do Rio de Janeiro)

também fizeram essas observações.


45

A ferida foi claramente descrita pelos moradores, revelando o alto grau de intimidade com

a LTA, que buscam o posto de saúde assim que a reconhecem, porém este reconhecimento não é

precoce, se dá após a abertura completa da lesão.

Nas suas falas, pode-se notar que o risco de contrair LTA apresenta-se como um medo

constante, portanto os moradores percebem a doença como um importante problema de saúde.

Essa conotação é evidenciada quando se trata do sacrifício de cães doentes, onde apesar da

relação de extrema afeição pelo animal, a maioria dos entrevistados apóia seu sacrifício, mesmo

desconhecendo seu papel como possível reservatório, em vista do medo que a doença traz. Esse

medo está relacionado tanto com a doença propriamente dita quanto ao tratamento. Além do

medo, a sensação de impotência frente à transmissão da doença também foi notada.

O fato de o tratamento ser descrito como doloroso não se revelou como fator de recusa

deste, nem como fator propiciador de busca por tratamentos caseiros. Estes foram descritos por

diversos autores em estudos realizados em localidades endêmicas (Reis, 2004; Moreira et al.,

2002; Dobles-Ulloa & Perriard, 1994; Vázquez et al., 1991; Netto et al., 1985). Porém, no

Caminho da Cachoeira, a utilização de medidas alternativas de tratamento não foi verificada.

Dos entrevistados que apresentaram LTA, os sentimentos são diversos, e vão desde

angústia a indiferença, passando pelo orgulho, fato também evidenciado por Reis (2004), que

sugeriu o desejo de esquecer os maus momentos, como fator de indiferença, e a derrota da

doença, como fator de orgulho. O estigma em relação à ferida parece depender de sua localidade,

as pernas e braços não foram descritos como locais que causam maiores desconfortos, enquanto

que as lesões na face foram citadas como a pior das lesões. Na comunidade, não ocorre

discriminação em relação aos acometidos, talvez pela disponibilidade de tratamento, talvez pela
46

convivência com a doença ou, ainda, por não perceberem a LTA como uma enfermidade

associada a certos comportamentos individuais.

Campanhas têm sido sempre voltadas para os indivíduos, consequentemente ocorrendo a

culpabilização da vítima, estando subjacente a estas políticas uma visão fragmentária da

sociedade. Contrastando com isso, na comunidade do Caminho da Cachoeira a LTA se mostra

como um problema coletivo. Portanto a educação e a comunicação oficial devem estar solidárias

às formas como as pessoas percebem a enfermidade, sob risco de baixa efetividade das ações

empregadas.

Muitas vezes, os entrevistados citavam informações sobre outras doenças para a LTA,

como é o caso da dengue, em que até o nome Aedes aegypti foi dado ao inseto transmissor da

leishmaniose e a água parada foi colocada como medida preventiva, e das verminoses onde as

fezes de cães poderiam ser fontes de contaminação do vetor, segundo alguns entrevistados. Esses

fatos foram observados por Reis (2004) que apontou a grande quantidade de informações

vinculadas de forma campanhista, como é o caso da saturação informacional da campanha contra

a dengue, como um fator de confusão com outras endemias, onde até mesmo as medidas

profiláticas são cruzadas.

Sobre o fato de somente alguns moradores apresentarem a infecção, a maioria dos

entrevistados não soube responder, foi levantada a questão do tipo de sangue e da sensibilidade e

alergia das pessoas, possivelmente remetendo a questões de susceptibilidade individual.

Silva (2001) esclarece a importância do processo de socialização da enfermidade quando

o indivíduo acometido divide suas angústias com familiares e vizinhos. Segundo Araújo (2003), a

experiência da enfermidade é uma construção intersubjetiva e coletiva que se dá a partir dos

enunciados dos sujeitos, e fazem com que a doença seja afirmada e aceita como real pelo grupo
47

social. Portanto, a experiência de enfermidade pode ser considerada como fonte válida de

conhecimento, e, na comunidade estudada, acumula noções de clínica e tratamento.

A maioria dos entrevistados demonstra grande interesse em conhecer mais sobre a doença

por diversos motivos, contudo sempre remetendo ao altruísmo (proteger familiares e vizinhos), a

prevenção e a curiosidade (acúmulo de conhecimentos). Vale ressaltar que a maioria dos

moradores citou que um maior conhecimento da doença seria necessário para uma melhor

prevenção e maior atuação no seu controle.

Conhecer a percepção social de uma endemia numa comunidade pode tornar mais

exeqüível a aproximação das ações de controle à realidade local, tornando a participação

comunitária mais ativa e permanente.

A partir dessas informações sobre a relação dos moradores com a doença, foi elaborada

uma cartilha ilustrada, em linguagem acessível e abarcando os valores dos atores sociais

envolvidos, apresentando conceitos básicos sobre LTA e esclarecendo as principais dúvidas dos

moradores, que será distribuída na comunidade e em escolas da região durante as atividades de

educação em saúde.

Os fatores ambientais já citados e a falta de uma infra-estrutura adequada na comunidade

(precariedade e proximidade das casas da mata, presença de árvores e animais domésticos no

peridomicílio, acúmulo de lixo, etc...) favorecem a manutenção dos criadouros de flebotomíneos

vetores no local, propiciando a transmissão da doença; por outro lado, a falta de informação e

conhecimento acerca da epidemiologia da LTA, torna menos factível a participação da

comunidade em medidas de prevenção e controle.

Os estudos desenvolvidos na comunidade do Caminho da Cachoeira sugerem fortemente

a necessidade da adoção de políticas que envolvam ações de educação em saúde, associadas à


48

noção de manejo ambiental e aos conceitos básicos sobre a doença, como elemento de sucesso de

um programa integrado de vigilância e controle da LTA.


49

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YOUNG, D. C. & DUNCAN, N. A. Guide to identification and geographic distribution of

Lutzmoyia sandflies in Mexico, the West Indies, Central and South America (Diptera:

Psycodidae). Mem Ann Entomol 54: 1-881. 1994.


58

ANEXO A

CROQUI DA COMUNIDADE
59

Fiocruz da Mata Atlântica


Comunidade Caminho da Cachoeira

- Casos humanos (tratados/em tratamento)


- Casos caninos (lesões suspeitas)
- Estações trabalhadas (EM = estações de
monitoramento 1 e 2)
60

ANEXO B

ROTEIRO PARA ENTREVISTAS


61

1. Dados Pessoais:

a) Nome:

b) Qual é a sua idade?

c) Sexo: □ M □ F

d) Qual é o seu nível de Escolaridade?

e) Qual é a sua ocupação principal e onde?

2. Questões Gerais:

a. Quais, você considera, os principais problemas de saúde da

Comunidade?

b. Você tem alguma sugestão para a resolução ou diminuição desses

problemas?

3. Leishmaniose:

a) Você já ouviu falar em leishmaniose? Onde?

b) O que você acha que é a leishmaniose?

c) Você conhece outro nome para essa doença? Qual?

d) Você conhece a ferida? Saberia reconhecê-la?

e) Você poderia descrevê-la?

f) Alguma pessoa da sua família já teve a ferida?

g) Você conhece alguém da comunidade que já teve? E animais?

h) Já teve ou tem leishmaniose?

Se não, ir para a pergunta a, b e d do bloco 4.

Se tem, ir para pergunta i.


62

Se teve, ir para a pergunta j.

i) É a primeira vez que você pega a doença?

j) Quantas vezes você teve leishmaniose e há quanto tempo cada uma

delas?

k) O que sente / sentia?

l) Como se sente em relação à ferida (no caso de quem tem lesão ativa) /

marca (no caso de quem já teve)?

4. Tratamento:

a) Você conhece o tratamento recomendado pelos médicos? Se Sim Qual?

b) Sabe o que ocorre com quem não faz esse tratamento? Se Sim O que?

c) Como você está tratando / tratou?

d) Você saberia dizer como as pessoas da sua comunidade se tratam /

trataram?

e) No caso de quem já teve: Terminou o tratamento? Por quê? No caso de

quem tem: Pretende terminar o tratamento? Não - Por quê?

f) O que está achando / achou do tratamento? Como se sente / sentia?

5. Transmissão:

a) Você sabe como se pega a leishmaniose? Como?

b) Se citar inseto: você conhece o inseto que a transmite?

c) Como vocês chamam o nome do inseto que transmite a leishmaniose?

d) Você saberia reconhecê-lo? Se sim, E poderia descrevê-lo para mim?


63

e) Tem idéia de por que algumas pessoas pegam leishmaniose e outras

não?

6. Prevenção:

a) Como você acha que pode fazer para evitar a doença?

b) O que você acha que deve ser feito com um animal que esteja com

leishmaniose? Por quê?

7. Educação:

a) Gostaria de conhecer mais sobre a leishmaniose? Por quê?

b) Você participaria de um curso dado pela FIOCRUZ sobre algumas

doenças que são consideradas problemas por aqui? Por quê?


64

ANEXO C

CARTILHA ILUSTRADA SOBRE LTA


65
66
67
68
69
70
71
72
73
74

3.
C
A
8. C O L E I R A
H
1. O 6.
4. F E R I D A M
L R É
E O 2. P I C A D A
B S 9. L I X O
O C
7. 5. V E T E R I N Á R I O
T O
L E I S H M A N I O S E
L I
A N
E
O

1. (V) O inseto que transmite a leishmaniose é o __________.


2. (H) Pegamos leishmaniose através da ___________ do flebótomo.
3. (V) Os __________ também ficam doentes.
4. (H) A leishmaniose cutânea causa uma ___________ na pele.
5. (H) Devemos deixar o ___________ examinar nossos cães.
6. (V) Se aparecer feridas na nossa pele devemos procurar um ___________.
7. (V) Devemos colocar ___________ nas janelas das casas.
8. (H) Sempre que possível nosso cão deve usar a ________ contra flebótomo.
9. (H) Devemos evitar acúmulo de _____ perto de casa.

V – vertical
H - horizontal Respostas
Veterinário; 6. Médico; 7. Tela; 8. Coleira; 9. Lixo.
1. Flebótomo; 2. Picada; 3. Cachorros; 4. Ferida; 5.
75

Cheryl Gouveia, Shênia P. C. Novo, Daniel Motta-Silva,


Sandra M. P. de Oliveira, *Ana Nilce M. Elkhoury & Elizabeth F. Rangel
Laboratório de Referência em Vigilância Entomológica: Taxonomia e Ecologia
de Vetores das Leishmanioses do Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ – RJ
*Secretaria de Vigilância em Saúde / Ministério da Saúde
2006

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