Você está na página 1de 20

ESCAVAÇÃO, CONTENÇÃO PERIFÉRICA E FUNDAÇÃO DO COMPLEXO

SKYCENTER, EM LUANDA, ANGOLA

EXCAVATION, RETAINING EARTH STRUCTURE AND FOUNDATION OF THE


SKYCENTER BUILDINGS, IN LUANDA, ANGOLA

Esteves, Laura; Teixeira Duarte Engenharia e Construções S.A., Portugal, lpe@teixeiraduarte.pt


Xavier, Baldomiro; Teixeira Duarte Engenharia e Construções S.A., Portugal, bx@teixeiraduarte.pt
Pina, João; Teixeira Duarte Engenharia e Construções S.A., Portugal, jsp@teixeiraduarte.pt

RESUMO

Os edifícios do Luanda Skycenter, situados em Luanda, possuirão entre 25 e 28 pisos elevados e 8 pisos
subterrâneos, correspondentes a uma escavação de profundidade variável entre 25m e 27m. O solo
ocorrente no local pertence às miocénicas “Formações de Luanda”, de constituição areno-argilosa. A
escavação, já concluída, constituiu um desafio em termos de tecnologia de contenção e fundações em
solos arenosos, particularmente sensíveis à descompressão causada pela supressão da tensão vertical.
Este fenómeno implicou a utilização de diversas tecnologias para reposição no terreno da capacidade de
suporte exigida pelos edifícios. Durante a escavação o sistema de observação implementado registou,
numa das zonas da estrutura de contenção, deformações próximas dos níveis de alerta definidos;
simultaneamente, a acumulação de água no terreno revelou condições hidrogeológicas e geomecânicas
diferentes das previstas. Estas ocorrências justificaram o emprego de diferentes medidas estabilizadoras.

ABSTRACT

The Luanda Skycenter buildings, located in Luanda, have 25 to 28 stories above ground and 8 floors
underground, corresponding to excavation depths between 25m and 27m. The soil occurring at the site
belongs to the sandy-clayous Miocene complex known as "Formação de Luanda”. The planned excavation
posed a challenge in terms of excavation technology and foundations in sandy soils, which are
particularly vulnerable to decompression caused by the suppression of vertical pressure. This
phenomenon led to the use of various technologies to re-accomplish the ground supporting capacity
required by the buildings. Throughout the excavation, deformations close to the alert level defined were
locally recorded by the monitoring system in the diaphragm wall; simultaneously, the accumulation of
water in the soil revealed hydrogeological and geomechanical conditions quite different than the
previously identified by site surveys, which required the implementation of different stabilizing solutions.

1 - INTRODUÇÃO

O complexo Luanda Skycenter localiza-se no Município da Ingombota, em Luanda, entre as ruas Marechal
Tito e Conselheiro Aires Ornelas. Originalmente de cariz residencial e constituída por moradias
unifamiliares entre arruamentos sossegados, a zona onde está implantado apresenta uma malha urbana
bastante densa, atualmente assumida como um dos futuros centros de negócios e de habitação de luxo
da capital angolana.

Figura 1 - Localização do Luanda Skycenter

Cidade A

Municípi
Figura 2 - Luanda Skycenter: Configuração final dos edifícios

Promovido pelo Grupo ESCOM, o Luanda Sky Center é composto por 4 torres, a primeira das quais foi
concluída e inaugurada em 2009. A atual construção das 3 torres tem um valor estimado em 485 milhões
de dólares. Os projetos de arquitetura estiveram a cargo do Atelier do Chiado e da Risco; o projeto de
Estrutura foi desenvolvido pela Betar. À semelhança do Edifício ESCOM, já concluído, a sua construção foi
adjudicada à Teixeira Duarte, SA., também autora dos projetos de escavação, contenção periférica e
fundações.

Os edifícios destinam-se a habitação e comércio (Escom, Sky Residence I e Sky Residence II) e
escritórios (Sky Business). Na globalidade, o complexo possui cerca de 170m×50m de área total de
implantação. Os edifícios têm um porte variável entre 25 e 28 pisos elevados (Fig.2) e 7 a 8 pisos
subterrâneos, reservados a instalações técnicas, geradores, depósitos de água, gás e combustível,
parqueamento automóvel e arrecadações.

Figura 3 - Implantação dos edifícios

Uma vez terminadas, as quatro torres constituirão uma referência na capital angolana, não só pela sua
situação num ponto elevado da Cidade Alta, mas também pelas suas características arquitetónicas e
funcionais.
2 - CARACTERIZAÇÃO DA OBRA

A grande profundidade da escavação projetada, variável entre 25m e 27m, constituiria só por si um
desafio em termos de tecnologia de contenção periférica; contudo, os solos arenosos, que nesta zona se
revelam particularmente sensíveis à descompressão, implicaram uma abordagem cuidadosa no
dimensionamento da estrutura de contenção, que permitisse minimizar a ocorrência de fenómenos
potencialmente nocivos para a segurança da obra e sua envolvente.

Houve, também a necessidade de adotar um sistema de monitorização exigente e desenvolver


previamente estratégias de intervenção suplementares, que permitissem a reposição rápida da segurança
da obra na eventualidade de comportamentos inadequados da estrutura de contenção.

Existiam também fortes imperativos relativos ao bom comportamento estrutural destes edifícios ao longo
do tempo, não só em relação aos estados limites últimos, mas particularmente em relação aos estados
limites de utilização, muito restritivos de forma a preservar a elevada qualidade dos acabamentos
selecionados. Assim, tornou-se necessário o recurso a metodologias adequadas para reposição no terreno
de características compatíveis com o nível de tensões transmitidas ao terreno, de modo a limitar a
ocorrência de assentamentos diferenciais na estrutura.

Neste âmbito, a experiência adquirida durante a execução do edifício ESCOM (Edifício GES 1), o único
que se encontra concluído à data, constituiu uma importante mais-valia e tornou-se num referencial para
o dimensionamento das fundações e contenção periférica dos restantes edifícios.

Na presente comunicação, após uma breve descrição das condições geológicas e da solução adotada,
descreve-se o sistema de monitorização implementado, o comportamento da estrutura de contenção e a
definição de sistemas de travamento suplementares.

3 - CONDIÇÕES GEOLÓGICAS

A caracterização das formações geológicas ocorrentes neste local foi realizada, não só a partir das
campanhas de sondagens especificamente executadas para o efeito, como também das informações
recolhidas durante a execução da obra do edifício ESCOM, já concluída à data de execução dos projetos
de contenção periférica e fundações do presente complexo.

A prospeção geotécnica incluiu a execução de 3 furos de sondagem à rotação com execução de ensaios
de penetração dinâmica com sonda normalizada (SPT), no caso do edifício ESCOM, e outros 3 furos no
terreno de implantação dos edifícios Sky Residence I, Sky Residence II e Sky Business. Verifica-se que os
terrenos ocorrentes no local da obra são atribuíveis à formação Miocénica (Terciário), designada
“Formações de Luanda”.

Recente
Plistocénico (Quaternário):
(Quaternário): Ilhas, praias e
Formações de aluviões
Cazenga e
Musseque

Miocénico
(Terciário):
Formação de
Luanda,
Cacuaco e
Quinfandongo

Figura 4 - Formações geológicas da região de Luanda

De constituição essencialmente arenosa, grão fino a grosseiro, por vezes argilosos, acastanhados ou
acinzentados, estes solos apresentam nos ensaios NSPT resultados variáveis entre 6 e 60 pancadas; estes
valores tendem a aumentar em profundidade, registando-se um valor médio superior a 40 pancadas a
partir dos 8m.
A cerca de 6m de profundidade surgem leitos calcários de espessura variável entre 1.0m e 3.0m na zona
do edifício ESCOM e com valores máximos de 2.0m no Sky Residence I; a espessura da camada calcária
diminui para Nordeste, descontinuando-se entre o Sky Residence II e o Sky Business.

Não foi detetada a presença de nível freático em nenhuma das sondagens no decurso das campanhas de
prospeção; também não foi observada a ocorrência de água no terreno durante todo o período em que
decorreram as obras de geotecnia no edifício ESCOM.

Embora nas sondagens não tenham sido identificados aterros, a sua presença foi considerada para efeitos
de cálculo nos três primeiros metros, de modo a obter uma envolvente conservativa dos impulsos de
terras.

No Quadro 1 encontram-se indicadas as características geotécnicas médias adotadas no


dimensionamento da solução de contenção periférica. Estes valores foram atribuídos com base na
experiência adquirida em diferentes obras de contenção executadas em condições idênticas. Por
precaução, a coesão máxima foi limitada a 15 kN/m2 nas areias argilosas com NSPT>60, para simular os
esforços em condições de alguma descompressão.
Quadro 1 - Características geotécnicas médias adotadas

Característica geotécnica Aterros Formação de Luanda

Cota inicial (m) 0.0 3.0 8.0 13.0 18.0

Cota final (m) 3.0 8.0 13.0 18.0 (...)

Número de pancadas (*), NSPT - ≈30 ≈40 ≈50 >=60

Ângulo de atrito interno, ∅ (º) 25 30 35 35 35

Coesão efetiva, c (kN/m2) 0 10 10 15 15

Peso volúmico, γ (kN/m3) 18 18 19 19 19

Módulo de Winkler, kw (kN/m3) 10000 20000 30000 50000 100000

Fator de ponta, kc - - - - 0.20

Tensão limite por ponta, qc (kN/m2) - - - - 36000

Tensão limite por atrito lateral, qs (kN/m2) - - - - 80

(*) valores não corrigidos em profundidade

No dimensionamento das ancoragens, seladas nas formações do Terciário com NSPT compreendido entre
30 e 60 pancadas, admitiram-se valores de pressão limite com pressiómetro de Ménard variáveis entre
1500kN/m2 e 3000kN/m2, a que correspondem valores de atrito lateral máximo variável entre 150 e
350kN/m2, respetivamente (Bustamante & Doix, 1985).

Ao nível das fundações do edifício ESCOM, a


profundidades variáveis entre 23.5m e 26.00m,
ocorrem formações constituídas por areias finas a
grosseiras com NSPT na ordem das 60 pancadas.

Conhecida a suscetibilidade deste tipo de solos para


sofrer alterações da compacidade devido à redução
da tensão efetiva, na obra do GES 1 foram
conduzidos testes, à medida que decorria a
escavação, para aferir a resistência do terreno.

Uma vez atingido o nível de fundação, verificou-se


que o terreno apresentava resultados de apenas 20
a 30 pancadas, quando inicialmente se tinham
registado resultados de 60 pancadas nos ensaios
SPT executados àquela cota, devido à ocorrência
generalizada de fenómenos de descompressão nas
areias.
Figura 5 - Areias do Terciário ao nível da base da
escavação
Os ensaios demonstraram também que os valores de 60 pancadas originais apenas se retomavam a
partir de 4 m, aproximadamente, abaixo da plataforma final de escavação.

O retorno dos resultados de 60 pancadas a tão curta profundidade implica que a redução da capacidade
portante dos terrenos não se deve à mera normalização do ensaio SPT em função da profundidade, como
se poderia pensar, mas a uma efetiva descompressão devida à diminuição da tensão vertical por remoção
do terreno sobrejacente.

4 - DESCRIÇÃO DA SOLUÇÃO

Para os edifícios do Sky Center projetou-se uma fundação direta através de ensoleiramento geral,
constituído por uma laje maciça em betão armado, de espessura variável entre 2.0m na zona dos pilares
e 3.0m nos núcleos de escadas e elevadores. Abrangendo a laje de fundo, a profundidade total a escavar
totalizaria aproximadamente 25.0m, equivalente à da obra anterior.

De acordo com o EC7 e com a tradição da Teixeira Duarte, a experiência obtida em obras executadas em
condições semelhantes é sempre valorizada, pois os cálculos não permitem prever, na sua globalidade, o
comportamento de um terreno in situ. Embora constituam um referencial útil e necessário para o
dimensionamento, devem ser constantemente calibrados para aferir a sua validade - papel crucial que é
desempenhado pela monitorização.

Assim, projetou-se inicialmente uma solução de contenção periférica constituída por uma parede em
betão armado, com 0.50m de espessura, executada segundo a tecnologia das paredes moldadas, que já
tinha sido adotada com sucesso na execução do edifício ESCOM.

No entanto, esta obra (Sky Residence I, Sky Residence II e Sky Business) possuía uma dimensão cerca
de 3 vezes superior à sua antecedente (edifício ESCOM), pelo que o prazo de execução seria
forçosamente mais dilatado; e como é sabido, o tempo é um dos fatores que potencia a deterioração da
compacidade destes solos arenosos.

Por outro lado, a presente escavação iria decorrer na imediata vizinhança de um edifício já em
exploração, o edifício ESCOM, o que implicava a adoção de táticas preventivas para minimização do risco
de ocorrência de assentamentos diferenciais devidos a eventuais descompressões do solo ao nível das
fundações.

Em consequência, e com o objetivo de limitar a


descompressão do solo inerente à libertação de
tensões que ocorre durante a escavação, o
comprimento da parede moldada foi aumentado
para 30m, o que corresponderia a uma
penetração no terreno de 5m em vez dos 4m
praticados na obra anterior. Foram também
dimensionados 6 níveis de ancoragens provisórias
- mais um nível do que no GES 1 - pré-esforçadas
a 500 kN, para estabilização das ações horizontais
resultantes do impulso de terras.

Contudo, alterações ao projeto de arquitetura -


algumas implementadas já depois da execução
dos painéis da parede moldada - implicaram o
acréscimo da profundidade do edifício. Embora
acompanhadas pelo aumento possível da altura
da parede, que atingiu 31.5 m, estas alterações
vieram reduzir a eficácia das medidas
preventivas, nomeadamente o comprimento da
ficha, restringido a cerca de 4.00 m.

Estas alterações exigiram o aumento dos níveis


de travamento e uma redistribuição vertical do
pré-esforço, compatível com o novo regime de
tensões atuante na parede moldada, para
reposição da segurança. O travamento provisório
Figura 6 - Cortina de contenção periférica e ancoragens desta cortina foi então assegurado por 7 níveis de
pré-esforçadas ancoragens pré-esforçadas (Fig. 6).
5 - SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO E OBSERVAÇÃO

O sistema de monitorização foi implementado para avaliação das condições de segurança no decurso dos
trabalhos de escavação, acompanhamento dos assentamentos durante a execução da estrutura e deteção
de eventuais empolamentos resultantes da injeção para tratamento de solo (Secção 8). Este objetivo é
conseguido através do controlo de determinados parâmetros, tais como a deformação horizontal da
parede (nomeadamente abaixo da cota de escavação) e do terreno no extradorso da contenção, os
eventuais assentamentos ou rotações de muros e edifícios limítrofes e a variação de carga nas
ancoragens.

Os equipamentos de observação utilizados foram de três tipos: inclinómetros para avaliação do


comportamento global da contenção, leituras topográficas e células de carga instaladas nas ancoragens
(Fig. 7).

Figura 7 - Alvo topográfico, célula dinamométrica e inclinómetro (topo)

Em função das particularidades da obra, definiram-se limites de deformação da contenção, quantificados


com base em leituras efetuadas em obras de iguais características, destinados a estabelecer níveis de
alerta e alarme que pudessem, a qualquer momento e de forma expedita, avaliar o comportamento da
obra.
Quadro 2 - Níveis de alarme e alerta

Dispositivo de Observação Nível de Alerta Nível de Alarme

Tubos Inclinométricos 3.00 cm 4.00 cm

inferior: Pcélula< 400 kN inferior: Pcélula< 300 kN


Células de Carga
superior: Pcélula> 700 kN superior: Pcélula> 800 kN

Alvos Topográficos δ> Min{30mm;0.15% H} δ>Min{45mm;0.2% H}

em que H corresponde à altura de escavação

A frequência inicialmente prevista para as leituras foi quinzenal. Os dados recolhidos nas várias
campanhas de observação efetuadas foram sendo processados logo após a sua obtenção. Procurou-se
que durante o normal decurso da obra as leituras dos equipamentos fossem realizadas após conclusão de
cada fase (nível de escavação, aplicação de pré-esforço ou colocação de escoras, execução de lajes de
travamento, entre outras) e, quando possível, à mesma hora.

A periodicidade das leituras foi aumentada sempre que identificada alguma anomalia no decurso dos
trabalhos, tendo em conta o grau de risco da ocorrência, e durante todo o período de tempo necessário à
sua normalização. Em certas alturas foram efetuadas leituras diárias para esclarecimento de situações
menos compreensíveis e determinação do processo mais adequado para estabilização.

O sistema de observação foi posteriormente complementado com a execução de piezómetros para estudo
da água que se acumulou no terreno ao longo da Rua Marechal Tito. Estes equipamentos não tinham sido
previstos inicialmente já que, conforme referido, nenhuma intervenção anterior nesta zona tinha
detetado água no terreno.

Para além dos procedimentos descritos, foram preconizadas inspeções visuais regulares à obra para
deteção de possíveis anomalias, não identificadas pela instrumentação, como por exemplo ligações
defeituosas nas juntas da parede moldada, fissuração nos elementos de betão armado, integridade da
cabeça das ancoragens, perturbações no terreno confinante, anomalias ao nível de acabamentos nos
edifícios vizinhos e integridade do próprio sistema de observação.
6 - DESCRIÇÃO DA OBRA DE ESCAVAÇÃO

A obra começou em Abril de 2008, com a preparação de plataformas e execução dos painéis de parede
moldada em toda a periferia. A escavação, iniciada em 2009, principiou na extremidade noroeste do
edifício ESCOM, prosseguindo depois ao longo da Rua Aires Ornelas antes de avançar no sentido da Rua
Marechal Tito. Existiu, assim, uma diferença significativa em termos de progresso da escavação entre as
duas frentes principais da obra.

6.1 - Rua Conselheiro Aires Ornelas

O comportamento da estrutura de contenção nesta frente foi perfeitamente exemplar (Fig. 8),
registando-se deslocamentos inferiores a 30mm na generalidade dos alvos refletores e dois resultados
próximos dos 35 mm, observados meses depois de concluída a escavação. A deformada traçada pelo
inclinómetro refletia valores máximos inferiores a 20mm (Fig. 9).

Figura 8 - Escavação concluída na Rua Conselheiro Aires Ornelas

640

620

600
Pré-esforço (kN)

580

560

540

520

500
Junho 10
Julho 09

Outubro 09
Dezembro 08

Maio 09

Janeiro 10

Setembro 10
Março 10

Novembro 10
Fevereiro 09

C1 C2 C8 C14 C17 C18

Figura 9 - Leituras topográficas de alvos reflectores, variação do pré-esforço nas células de carga e deformada
segundo calha inclinométrica inserida na parede moldada. Apesar de a calha não ter permitido leituras
abaixo abaixo da cota de escavação, os deslocamentos traduzidos pelos alvos e valores do pré-esforço nas
ancoragens permitem concluir que a contenção teve nesta zona um comportamento perfeitamente normal.

6.2 - Rua Marechal Tito

Nesta frente de obra, cuja escavação se iniciou alguns meses depois da da Rua Conselheiro Aires
Ornelas, a estrutura de contenção teve um desempenho normal até se atingir o 4º nível de ancoragens.
A partir dessa altura, os equipamentos do sistema de monitorização evidenciaram, concomitantemente, o
acréscimo de deslocamentos e esforços nas ancoragens, com alguns indicadores a atingirem os valores
de alerta e, até, de alarme (Fig.11). Foram também observadas escorrências nas ancoragens; de
incipientes, foram aumentando a sua expressão de forma consistente, e de dispersas passaram a
frequentes nas ancoragens abaixo do 2º nível original (Fig.10).

Este panorama revelou condições hidrogeológicas e geomecânicas nos solos totalmente distintas das
previstas em fase de projeto, que implicaram a adoção de diferentes medidas estabilizadoras, e que
adiante se descrevem.

Figura 10 - Escavação em progressão, com evidentes sinais da existência de água no terreno (escorrências nas
ancoragens); aterro para estabilização temporária da frente de obra; aspeto geral da parede

Pré-esforço nas ancoragens - Rua Marechal Tito

800

750

700
Pré-esforço (kN)

650

600

550

500

450

400
Junho 10
Julho 09

Outubro 09
Dezembro 08

Maio 09

Janeiro 10

Setembro 10
Março 10

Novembro 10
Fevereiro 09

C5 C6 C7 C11 C16 C20 C21 C22 C23 C24 C25 C26

Figura 11 - Leituras topográficas de alvos reflectores (nível de alerta atingido em maio e alerta em julho de 2009),
variação do pré-esforço nas células de carga (nível de alerta atingido em Março de 2009 na célula C7,
entre novembro e dezembro nas células C11 e C16) e deslocamentos na calha inclinométrica localizada a
meio do alinhamento entre maio e setembro de 2010 (atingidos os níveis de alerta e alarme)

6.3 - Lote Vizinho

Neste alinhamento, com cerca de um terço do comprimento dos anteriores, o avanço da escavação foi
moderado pela acumulação de terrenos provenientes da escavação nesse local para posterior extração
(Fig. 12) e pela proximidade da frente mais complexa da Rua Marechal Tito.
No entanto, o terreno ao longo do lote vizinho demonstrou também a acumulação de água – variável
entre 2m e 4m de profundidade - tendo-se registado, ao longo do tempo, deslocamentos próximos dos
níveis de alarme e acréscimo da carga nas ancoragens (Fig. 13), embora aqui com tendências menos
pronunciadas do que ao longo da Rua Marechal Tito.

Figura 12 - Escavação em progressão, com evidentes sinais da existência de água no terreno (escorrências nas
ancoragens); aterro para estabilização temporária da frente de obra; execução de ancoragens de reforço

Pré-esforço nas ancoragens - Lote Vizinho

590

570

550
Pré-esforço (kN)

530

510

490

470

450
Junho 10
Julho 09

Outubro 09
Dezembro 08

Janeiro 10

Setembro 10
Maio 09

Março 10

Novembro 10
Fevereiro 09

C4 C20

Figura 13 - Leituras topográficas de alvos reflectores (nível de alerta atingido entre setembro e outubro de 2010,
estabilizando em seguida), variação do pré-esforço nas células de carga (dentro de valores normais) e
deslocamentos na calha inclinométrica, entre junho e setembro de 2010 (nível de alerta atingido em julho e
alarme em setembro)

7 - MEDIDAS SUPLEMENTARES DE ESTABILIZAÇÃO

7.1 - Reforço do Sistema de Observação

O comportamento insatisfatório da estrutura de contenção despoletou imediatamente o aumento da


frequência das campanhas de observação, a instalação de novos alvos refletores – localizados nas zonas
mais afetadas – e aumentou-se o número de células dinamométricas nas ancoragens, permitindo uma
extensa recolha de dados e uma análise rigorosa da situação.
Adicionalmente, procedeu-se à execução de piezómetros para monitorizar a acumulação de água no
perímetro da obra (Fig.15). Concluiu-se que a presença de água no terreno se limitava à Rua Marechal
Tito e ao alinhamento do lote vizinho.

Figura 14 - Rua Marechal Tito: poço para inspeção, dreno e piezómetro

Quadro 3 - Piezómetros

Piezómetro 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Zona 7.5 8.0 24.0 24.0 8.0 8.5 7.0 8.0 8.0
crepinada (m)

Rua Con selheiro


Aire s de O rnela s A inspeção das condutas de abastecimento e
P9
PM1 PM2 PM3
PM4 PM 5 PM6 PM7 PM8 PM 9 PM10 PM11 PM 12 PM13 PM14
P8
P6
saneamento público existentes ao longo da Rua
PM 15

Marechal Tito permitiu reconhecer o seu estado


PM 16 PM17 PM22A
PM18 PM19 PM 20
PM21
PM22B

de avançada deterioração e evidenciou fugas


PM23

substanciais.
PM 24
PM25

Procedeu-se à recolha de amostras para análise


PM 26

em laboratório credenciado, tanto nas redes de


PM27

saneamento como da água perdida no terreno,


PM29A

PM50 PM49 PM 48 PM47 PM4 6 PM 45

P1
PM44 PM43 PM4 2

P2
PM 41 PM40 PM39 PM 38

P3
PM37 PM36 PM35 PM 34 PM33

P4
PM32 PM 31 PM30

P5
através da abertura de poços (Fig. 14).
P7

Rua Marec hal Tito


No entanto, os resultados das análises não
Nov-10

Dez-10
Jun-10

Ago-10

Out-10
Jan-10

Fev-10

Mar-10

Jan-11
Abr-10

Mai-10

Set-10
Jul-10

foram conclusivos na determinação exata da


0.00
origem da água que se acumulava no terreno.
2.00
4.00
Na Rua Marechal Tito, os piezómetros revelaram
6.00
uma variação dos níveis de água bastante
8.00
10.00
pronunciada ao longo do tempo, aparentemente,
12.00 algo influenciada pela pluviosidade (Fig.15). Por
14.00 seu lado, ao longo da Rua Conselheiro Aires
16.00 Ornelas o solo manteve-se sempre seco.
18.00
20.00 Alguns piezómetros (P1, P7, P8 e P9), não
22.00 registaram qualquer presença de água, de forma
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9
permanente ou por largos períodos; o
piezómetro P3 ficou obstruído a partir de Março
Figura 15 - Localização dos piezómetros e evolução dos
níveis de água de 2010.

7.2 - Reforço de ancoragens

O aumento da deformação da parede para níveis próximos dos valores de alerta e, seguidamente, de
alarme, desencadeou uma ação de estabilização, que se iniciou com o aterro da frente de obra afetada
(Rua Marechal Tito) para execução de ancoragens de reforço que permitissem o avanço da escavação em
condições de segurança.

Foram propostos quatro níveis de ancoragens de reforço, com várias distribuições e objetivos; por
exemplo, posicionando o bolbo de selagem entre outros anteriormente realizados, para consolidação do
conjunto, ou localizando-o numa zona mais distante, de modo a mobilizar estratos ainda não alterados e
evitar a excessiva concentração de tensões no solo (Fig. 16).
Rua Marechal Tito
R. Conselheiro Aires Ornelas

? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ?

? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ?

? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ?

Piso -6

? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ?
? Piso -7

Piso -8

Piso -9

0 5 10 15 20 m

Figura 16 - Aterro e reforço de ancoragens ao longo da Rua Marechal Tito

Porém, o pré-esforço adicional não atingiu os resultados pretendidos, visto que após uma pequena fase
de abrandamento o acréscimo dos deslocamentos na parede aumentava, assistindo-se a uma maior
aceleração em cada ciclo de escavação.

7.3 - Estruturas de travamento

Com o objetivo de repor os níveis de segurança da obra e sua envolvente e evitar dilatações do prazo,
entendeu-se que a escavação não devia prosseguir sem a implementação de uma segunda ação de
estabilização, utilizando outras tecnologias para travamento da estrutura de contenção. Realizou-se o
escoramento da parede através de faixas de laje com cerca de 11.5 m de largura, executadas em top-
down antes do prosseguimento da escavação, e deu-se prioridade à execução do ensoleiramento, de
modo a conseguir o travamento rápido da base da parede.

As figuras seguintes (Fig.17 a Fig.22) evidenciam o faseamento desta intervenção.


Figura 17 - Instalação de perfis metálicos verticais a partir das plataformas existentes

Figura 18 - Travamento da estrutura metálica de suporte e prolongamento da laje do Piso -6, a partir da estrutura já
executada em parte do edifício

Figura 19 - Prolongamento das lajes dos Pisos -5 e -4; Figura 20 - Escavação até abaixo da cota do Piso -7,
travamento da estrutura metálica de suporte
vertical e execução da laje
Figura 21 - Escavação até à cota final e betonagem da laje Figura 22 - Execução, de baixo para cima, dos pilares e
de fundo restante estrutura enterrada

Figura 23 - Escoramento da parede moldada através da execução das lajes


Zona
executada em
top-down

SkyBusiness

SkyResidence II

Zona
executada em
top-down

Execução de
baixo para
cima

Figura 24 - Planta da intervenção; Esquema do contraventamento adotado


para os perfis metálicos verticais

Figura 25 - Escavação abaixo da faixa de laje do Piso-6 para execução da laje de fundo

Nesta fase, o edifício Sky Residence I tinha já alguns pisos de laje executados, que, em conjunto com as
medidas implementadas, aplicadas a uma faixa da estrutura no extremo do edifício Sky Residence II
(Fig.25 e Fig.26), efetivaram o travamento da estrutura de contenção.
Figura 26 - Faixas de laje executadas entre o edifício Sky Residence I e a estrutura executada para travamento
horizontal da parede moldada (esquema de dimensionamento e fotografia)

Conseguiu-se, assim, a estabilização dos deslocamentos em toda a frente afetada, o que permitiu a
conclusão da escavação e posterior execução dos pisos enterrados na generalidade da obra.

O travamento conferido pelas lajes foi suficientemente eficaz para dispensar a execução dos 3 últimos
níveis de ancoragens na extensão correspondente à largura da intervenção (11.50m).

Figura 27 - Perspectiva dos edifícios, com a estrutura já


executada até ao nível dos arruamentos circundantes

É importante ainda referir que quando se evidenciou o aumento da deformação da parede se procedeu de
imediato ao dimensionamento de uma solução de travamento alternativa, muito versátil e de rápida
colocação. Constituída por escoras metálicas, era vocacionada para uma intervenção urgente caso se
constatasse uma deterioração acelerada das condições de estabilidade da parede, incompatível com a
execução da estrutura em betão armado. As ligações à parede moldada e à estrutura do edifício foram
estudadas para um posicionamento simples e eficaz.

O estudo de soluções alternativas, que possam ser realizadas caso todas as outras se venham a
demonstrar inexequíveis, é de extraordinária importância nestes casos.
Figura 28 - Estrutura de travamento provisório alternativa estudada

8 - MELHORAMENTO DO SOLO DE FUNDAÇÃO

8.1 - Intervenções

Conforme já referido, na escavação para a execução das fundações do edifício ESCOM ocorreu uma
descompressão generalizada dos terrenos de fundação, numa profundidade variável entre os 5.0 e os
6.0m; com resultados de 60 pancadas nos ensaios SPT executados ao nível da superfície original, o
terreno revelou valores médios de NSPT≈25 pancadas à cota de escavação.

Esta descompressão determinou a injeção do terreno abaixo da cota de escavação para reposição da
capacidade de suporte no terreno.

No caso dos edifícios Sky Residence I, Sky Residence II e Sky Business, o conhecimento da extensão do
fenómeno e das tensões descarregadas pela estrutura no terreno implicaram a seleção criteriosa de
tecnologias distintas, adequadas a cada caso, para evitar que a diminuição da tensão vertical se
traduzisse em descompressões tão importantes.

8.2 - Edifício Sky Residence I

A execução das fundações do edifício Sky Residence I foi antecedida de um tratamento de solo de
carácter preventivo através de inclusões rígidas em betão simples, executadas 3m acima da cota final de
escavação (Fig.29). Em termos estruturais, na fase de escavação as colunas minimizam a descompressão
das areias funcionando à tração; em fase de definitiva, as colunas trabalham à compressão provocando
um aumento da resistência e rigidez do solo. As colunas, executadas no diâmetro de 600 mm, estão
distribuídas em planta numa malha regular de 2.50x2.50 (m).
Cota da plataforma
(execução das estacas)

Cota final de escavação

3.00

Zona
5.50
5.00
descomprimida

4.00
4.50

Figura 29 - Colunas de betão para melhoramento do solo


ESCAVAÇÃO SEM ESCAVAÇÃO COM
COLUNAS DE BETÃO SIMPLES COLUNAS DE BETÃO SIMPLES

DESCOMPRESSÃO DESCOMPRESSÃO
INDUZIDA PELA ESCAVAÇÃO INDUZIDA PELA ESCAVAÇÃO

PROFUNDIDADE DE DESCOMPRESSÃO

PROFUNDIDADE DE DESCOMPRESSÃO

PROFUNDIDADE DE DESCOMPRESSÃO
DESCOMPRESSÃO
INDUZIDA PELA ESCAVAÇÃO

PROFUNDIDADE DE DESCOMPRESSÃO
DESCOMPRESSÃO
BASE DE
INDUZIDA PELA ESCAVAÇÃO
ESCAVAÇÃO

PROFUNDIDADE DE DESCOMPRESSÃO

PROFUNDIDADE DE DESCOMPRESSÃO
Qemp Qemp Qemp

Figura 30 - Funcionamento estrutural das colunas de betão durante a escavação

A capacidade de suporte foi determinada, à semelhança da solução base, através do método


penetrométrico proposto por Bustamante e Gianeselli (Bull. Liaison Lab. Ponts Et Chaussées nº 127 –
Sept-Oct 1983).
Quadro 4 - Propriedades geomecânicas
Espessura qc
Camada SPT (pancadas) kc qs (kN/m2)
média (m) (kN/m2)
Areia da zona descomprimida 5.5 40 a 50 (c/tratamento) - 0 80

Areia não descomprimida > 8.0 60 0.15 33000 120

Admitindo um comportamento elasto-plástico na zona que irá estar sujeita ao empolamento, as colunas
estarão sujeitas a uma tração de:

q emp = h × γ terreno = 3.0 × 19.0 = 57.0 kN / m 2


Verificação do interface solo-coluna

Qemp ≤ Qs , zona _ descomprimida ⇔ qemp × Ainf ≤ Qs , zona _ descomprimida ⇔ 57.0 × 2.5 2 = 356.25 kN ≤ 414.7 kN

Verificação da capacidade de suporte da coluna à tração

Qemp ≤ Qs , zona _ não _ descomprimida ⇔ qemp × Ainf ≤ Qs , zona _ não _ descomprimida ⇔ 57.0 × 2.5 2 = 356.25 kN ≤ 508.9 kN

Verificação da secção das colunas de betão simples à tração (betão da classe C25/30)
π ×φ 2
Qemp ≤ Aφ 600 × f ctk ⇔ q emp × Ainf ≤ × f ctk ⇔ 57.0 × 2.5 2 = 356.25 kN ≤ 0.283 × 1800 = 509.4 kN
4
Em fase definitiva, ter-se-á uma solução em que o terreno e as colunas funcionam em simultâneo. É
ainda de referir que as colunas possuem uma reserva resistente correspondente à tração mobilizada
durante a fase de escavação, e que, devido ao tratamento aplicado, é expectável que o solo da zona
descomprimida não sofra uma grande redução nas propriedades geomecânicas. Deste modo, é possível
considerar um solo equivalente de SPT 40 a 50 pancadas, obtendo-se o valor da tensão admissível de
600 kN/m2.

Resistência de ponta:

 π ×φ 2   π × 0.62 
Qp = Qp,zona_ não_ descomprimida =  kc × × qc  / Fp =  0.15× × 33000 / 3.0 = 466.5 kN
 4   4 
Resistência por atrito lateral: Qs = Q s , zona _ descomprimida + Qs , zona _ não _ descomprimida
π × 0.60 × 80 × 5.50 π × 0.60 × 120 × 4.50
Qs = + = 414.7 + 508.9 = 923.6 kN
2 2
Q p + Qs 466.5 + 923.6
σ adm
conjunto
= σ adm
colunas
+ σ adm
terreno
= + σ adm
terreno
= + 400 = 620 kN / m 2
Ainf 2 .5 2
As colunas executadas à rotação pelo processo de trado contínuo são particularmente bem adaptadas a
este tipo de terreno, por ser de execução rápida e de reduzido impacto no terreno e no próprio estaleiro,
o que simplifica o planeamento geral da obra.

8.3 - Edifícios Sky Residence II e Sky Business

No caso do Sky Residence I e Sky Business, não existindo já o risco de afetar outros edifícios, recorreu-
se a injeções de calda de cimento para atingir a capacidade de suporte necessária.

Estas injeções têm como objetivo a recompactação do


terreno, conseguida através do preenchimento de eventuais
vazios do solo por calda de cimento, e a sua consolidação
pela pressão introduzida.

As injeções foram executadas em malha quadrada de 3m de


afastamento, constituída por tubos manchete de 6m de
comprimento. Adotou-se um procedimento de injeção
repetitivo seletivo, em três fases.

De modo a evitar a possibilidade de fenómenos de


empolamento indesejáveis ao nível da laje de fundo, a
aplicação das injeções decorreu de forma faseada e apenas
Figura 31 - Injeções após a conclusão da estrutura enterrada.

8.4 - Resultados

A comparação dos resultados dos ensaios SPT realizados em diversas fases no terreno permite concluir
que devido às medidas preventivas, se conseguiu restringir a altura da franja de descompressão de cerca
de 9.0m para aproximadamente 5.0 m (comparação entre as linhas azul e vermelha).

Após tratamento do terreno com injeção de caldas, a zona descomprimida reduz-se a cerca de 2.5m.
Verifica-se ainda que, abaixo da cota de fundação, a capacidade resistente do terreno é comparável à do
terreno in situ antes de iniciada a escavação.
NÚMERO DE PANCADAS (SPT)

± 0.00 0 20 40 60 FORMAÇÃO DE LUANDA


0.00
AREIAS GROSSEIRAS,
2.50 ARGILOSAS
5.00 NSPT ANTES DA ESCAVAÇÃO
7.50 (MÉDIA DAS SONDAGENS S1 A S5, OUT 2007) CALCÁRIOS
10.00
12.50 AREIAS FINAS A MÉDIA
NSPT 6M ACIMA DA COTA FINAL DE ESCAVAÇÃO (NSPT˜ 30 PANCADAS)
PROFUNDIDADE (m)

15.00 (SONDAGEM S2A, SET 2010)


17.50
AREIAS GROSSEIRAS
20.00
NSPT NA COTA FINAL DE ESCAVAÇÃO (NSPT˜ 40 PANCADAS)
22.50 (SONDAGEM S1, MAR 2010)
25.00 AREIAS MÉDIAS A GROSSEIRAS
(NSPT˜ 50 PANCADAS)
27.50 NSPT APÓS CONCLUSÃO DAS INJECÇÕES
(MÉDIA DAS SONDAGENS S1, S3, S4 E S5, JAN E AREIAS DE GRANULOMETRIA
30.00
FEV 2011) VARIÁVEL (NSPT˜ 60 PANCADAS)
32.50
35.00 NSPT APÓS CONCLUSÃO DAS INJECÇÕES
(MÉDIA DAS SONDAGENS S1, S4 E S5, JAN E FEV
37.50
2011)
40.00

Figura 32 - Resultados médios nos ensaios SPT executados em diversas fases da obra
8.5 - Controlo Topográfico das Injeções

Para acompanhamento da campanha de injeções, foram instalados alvos topográficos nos elementos
mais rígidos da estrutura, para deteção de eventuais empolamentos ocorridos durante a injeção do solo
abaixo da laje de fundo.

Assentamentos
Medições durante a campanha de injecções

18-01-2011

25-01-2011

01-02-2011

08-02-2011

15-02-2011

22-02-2011

01-03-2011

08-03-2011

15-03-2011

22-03-2011

29-03-2011

05-04-2011

12-04-2011

19-04-2011

26-04-2011
AT3 4.0

AT4
3.0
AT2

AT1 2.0

(mm)
1.0

0.0
AT6 AT5
AT7

-1.0

-2.0

AT1 AT2 AT3 AT4 AT5 AT6 AT7 AT8 AT9 AT10 AT11

Figura 33 - Controlo topográfico de alvos refletores localizados ao nível do R/C

Verifica-se que, graças a um faseamento e controle de pressões de injeção rigorosos, os deslocamentos


registados durante esta fase são muito reduzidos e situam-se praticamente dentro do intervalo de
precisão do equipamento de medição; conclui-se não existirem empolamentos ou assentamentos dignos
de relevo na estrutura durante esta fase (Fig. 31).

8.6 - Controlo Topográfico dos Assentamentos Durante a Construção

De acordo com os registos do sistema de monitorização implementado, os assentamentos acumulados


até à data são inferiores a 10mm. Embora ainda não tenham estabilizado, considera-se este
comportamento perfeitamente normal uma vez que a construção de parte da estrutura do edifício Sky
Residence II está ainda em curso e se procede aos acabamentos nos edifícios Sky Residence I e Sky
Business.

PISO 30

PISO 25
Nº DE PISOS EXECUTADOS

PISO 20

PISO 15

PISO 10 SKY RESIDENCE I


SKY RESIDENCE II

PISO 05 SKY BUSINESS

PISO 00
01 Mar 11 01 Abr 11 01 Mai 11 01 Jun 11 01 Jul 11 01 Ago 11 01 Set 11 01 Out 11 01 Nov 11 01 Dez 11 01 Jan 12 01 Fev 12

01 Mar 11 01 Abr 11 01 Mai 11 01 Jun 11 01 Jul 11 01 Ago 11 01 Set 11 01 Out 11 01 Nov 11 01 Dez 11 01 Jan 12 01 Fev 12
0.00
1.00 SKY RESIDENCE I
2.00 SKY RESIDENCE II
ASSENTAMENTO

3.00 SKY BUSINESS


4.00
(mm)

5.00
6.00
7.00
8.00
9.00
10.00

Figura 34 - Evolução dos deslocamentos nos edifícios durante a construção

Tendo em atenção a relação entre o nível de tensão média transmitida pelos edifícios ao terreno de
fundação e a sua dimensão em planta, os valores dos assentamentos registados podem ser considerados
insignificantes.
Apesar de a obra não estar ainda concluída, os assentamentos acumulados registados, a velocidade de
assentamento e a tendência definida nestes meses cruciais para a obra são reveladores de um bom
comportamento das fundações, resultado que se associa à eficácia das soluções de tratamento de solo
implementadas.

9 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A intervenção em terrenos arenosos é passível de prejudicar as suas características de resistência e


compacidade. Nos terrenos mais sensíveis, como é o caso das “Formações de Luanda”, as consequências
da descompressão poderão originar comportamentos distintos dos previstos em estruturas de contenção
e fundação e afetar gravemente o comportamento dos edifícios.

No caso de existirem outros fatores que contribuam para agravar o fenómeno da descompressão - como
ações mecânicas, combinadas ou não com a presença de água no solo - os pressupostos teóricos são
completamente alterados e o impacto da intervenção aumenta significativamente.

Desta forma, é necessário avaliar, em cada obra e a cada momento, a intensidade dos fenómenos
envolvidos, de modo a interpretar precocemente tendências que possam mais tarde despoletar
comportamentos pouco satisfatórios e adotar as medidas de reforço mais adequadas para os limitar ou
corrigir os seus efeitos.

A monitorização do comportamento da estrutura ao longo da execução permite aferir as teorias admitidas


no dimensionamento, a avaliação das condições de segurança no decurso dos trabalhos e o despiste
precoce de eventuais anomalias (ou desvios ao comportamento previsto), constituindo assim um
instrumento importante de apoio à tomada de decisões.

Por outro lado, o projeto geotécnico deve ser evolutivo e ajustável às condições reais da obra; neste tipo
de intervenções geotécnicas em areias é essencial prever soluções estruturais alternativas, de
implementação versátil e apropriadas a diversas situações, que permitam o reforço rápido ou alteração
do processo construtivo sempre que as condições reais da obra divirjam das calculadas ou se modifiquem
durante as operações.

A obra apresentada ilustra um caso de sucesso face a situações imprevistas, tendo a escavação e
construção dos pisos subterrâneos sido concluída com todas as condições de segurança e integridade.

REFERÊNCIAS

Bustamante, M. & Doix, B. (1985). “Une méthode pour le calcul des tirants et des micropieux injectés”, Bulletin de
liaison des Laboratoires des Ponts et Chaussées, nº 140, nov.-déc., pp.75-92.

Bustamante, M. & Gianeselli, L. (1981). “Prévision de la capacité portante des pieux isolés sous charge verticale.
Règles pressiométriques et penetrométriques”, Bulletin de liaison des Laboratoires des Ponts et Chaussées, nº
113, mai.-juin., pp.83-108.

Você também pode gostar