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RESUMO
Os edifícios do Luanda Skycenter, situados em Luanda, possuirão entre 25 e 28 pisos elevados e 8 pisos
subterrâneos, correspondentes a uma escavação de profundidade variável entre 25m e 27m. O solo
ocorrente no local pertence às miocénicas “Formações de Luanda”, de constituição areno-argilosa. A
escavação, já concluída, constituiu um desafio em termos de tecnologia de contenção e fundações em
solos arenosos, particularmente sensíveis à descompressão causada pela supressão da tensão vertical.
Este fenómeno implicou a utilização de diversas tecnologias para reposição no terreno da capacidade de
suporte exigida pelos edifícios. Durante a escavação o sistema de observação implementado registou,
numa das zonas da estrutura de contenção, deformações próximas dos níveis de alerta definidos;
simultaneamente, a acumulação de água no terreno revelou condições hidrogeológicas e geomecânicas
diferentes das previstas. Estas ocorrências justificaram o emprego de diferentes medidas estabilizadoras.
ABSTRACT
The Luanda Skycenter buildings, located in Luanda, have 25 to 28 stories above ground and 8 floors
underground, corresponding to excavation depths between 25m and 27m. The soil occurring at the site
belongs to the sandy-clayous Miocene complex known as "Formação de Luanda”. The planned excavation
posed a challenge in terms of excavation technology and foundations in sandy soils, which are
particularly vulnerable to decompression caused by the suppression of vertical pressure. This
phenomenon led to the use of various technologies to re-accomplish the ground supporting capacity
required by the buildings. Throughout the excavation, deformations close to the alert level defined were
locally recorded by the monitoring system in the diaphragm wall; simultaneously, the accumulation of
water in the soil revealed hydrogeological and geomechanical conditions quite different than the
previously identified by site surveys, which required the implementation of different stabilizing solutions.
1 - INTRODUÇÃO
O complexo Luanda Skycenter localiza-se no Município da Ingombota, em Luanda, entre as ruas Marechal
Tito e Conselheiro Aires Ornelas. Originalmente de cariz residencial e constituída por moradias
unifamiliares entre arruamentos sossegados, a zona onde está implantado apresenta uma malha urbana
bastante densa, atualmente assumida como um dos futuros centros de negócios e de habitação de luxo
da capital angolana.
Cidade A
Municípi
Figura 2 - Luanda Skycenter: Configuração final dos edifícios
Promovido pelo Grupo ESCOM, o Luanda Sky Center é composto por 4 torres, a primeira das quais foi
concluída e inaugurada em 2009. A atual construção das 3 torres tem um valor estimado em 485 milhões
de dólares. Os projetos de arquitetura estiveram a cargo do Atelier do Chiado e da Risco; o projeto de
Estrutura foi desenvolvido pela Betar. À semelhança do Edifício ESCOM, já concluído, a sua construção foi
adjudicada à Teixeira Duarte, SA., também autora dos projetos de escavação, contenção periférica e
fundações.
Os edifícios destinam-se a habitação e comércio (Escom, Sky Residence I e Sky Residence II) e
escritórios (Sky Business). Na globalidade, o complexo possui cerca de 170m×50m de área total de
implantação. Os edifícios têm um porte variável entre 25 e 28 pisos elevados (Fig.2) e 7 a 8 pisos
subterrâneos, reservados a instalações técnicas, geradores, depósitos de água, gás e combustível,
parqueamento automóvel e arrecadações.
Uma vez terminadas, as quatro torres constituirão uma referência na capital angolana, não só pela sua
situação num ponto elevado da Cidade Alta, mas também pelas suas características arquitetónicas e
funcionais.
2 - CARACTERIZAÇÃO DA OBRA
A grande profundidade da escavação projetada, variável entre 25m e 27m, constituiria só por si um
desafio em termos de tecnologia de contenção periférica; contudo, os solos arenosos, que nesta zona se
revelam particularmente sensíveis à descompressão, implicaram uma abordagem cuidadosa no
dimensionamento da estrutura de contenção, que permitisse minimizar a ocorrência de fenómenos
potencialmente nocivos para a segurança da obra e sua envolvente.
Existiam também fortes imperativos relativos ao bom comportamento estrutural destes edifícios ao longo
do tempo, não só em relação aos estados limites últimos, mas particularmente em relação aos estados
limites de utilização, muito restritivos de forma a preservar a elevada qualidade dos acabamentos
selecionados. Assim, tornou-se necessário o recurso a metodologias adequadas para reposição no terreno
de características compatíveis com o nível de tensões transmitidas ao terreno, de modo a limitar a
ocorrência de assentamentos diferenciais na estrutura.
Neste âmbito, a experiência adquirida durante a execução do edifício ESCOM (Edifício GES 1), o único
que se encontra concluído à data, constituiu uma importante mais-valia e tornou-se num referencial para
o dimensionamento das fundações e contenção periférica dos restantes edifícios.
Na presente comunicação, após uma breve descrição das condições geológicas e da solução adotada,
descreve-se o sistema de monitorização implementado, o comportamento da estrutura de contenção e a
definição de sistemas de travamento suplementares.
3 - CONDIÇÕES GEOLÓGICAS
A caracterização das formações geológicas ocorrentes neste local foi realizada, não só a partir das
campanhas de sondagens especificamente executadas para o efeito, como também das informações
recolhidas durante a execução da obra do edifício ESCOM, já concluída à data de execução dos projetos
de contenção periférica e fundações do presente complexo.
A prospeção geotécnica incluiu a execução de 3 furos de sondagem à rotação com execução de ensaios
de penetração dinâmica com sonda normalizada (SPT), no caso do edifício ESCOM, e outros 3 furos no
terreno de implantação dos edifícios Sky Residence I, Sky Residence II e Sky Business. Verifica-se que os
terrenos ocorrentes no local da obra são atribuíveis à formação Miocénica (Terciário), designada
“Formações de Luanda”.
Recente
Plistocénico (Quaternário):
(Quaternário): Ilhas, praias e
Formações de aluviões
Cazenga e
Musseque
Miocénico
(Terciário):
Formação de
Luanda,
Cacuaco e
Quinfandongo
De constituição essencialmente arenosa, grão fino a grosseiro, por vezes argilosos, acastanhados ou
acinzentados, estes solos apresentam nos ensaios NSPT resultados variáveis entre 6 e 60 pancadas; estes
valores tendem a aumentar em profundidade, registando-se um valor médio superior a 40 pancadas a
partir dos 8m.
A cerca de 6m de profundidade surgem leitos calcários de espessura variável entre 1.0m e 3.0m na zona
do edifício ESCOM e com valores máximos de 2.0m no Sky Residence I; a espessura da camada calcária
diminui para Nordeste, descontinuando-se entre o Sky Residence II e o Sky Business.
Não foi detetada a presença de nível freático em nenhuma das sondagens no decurso das campanhas de
prospeção; também não foi observada a ocorrência de água no terreno durante todo o período em que
decorreram as obras de geotecnia no edifício ESCOM.
Embora nas sondagens não tenham sido identificados aterros, a sua presença foi considerada para efeitos
de cálculo nos três primeiros metros, de modo a obter uma envolvente conservativa dos impulsos de
terras.
No dimensionamento das ancoragens, seladas nas formações do Terciário com NSPT compreendido entre
30 e 60 pancadas, admitiram-se valores de pressão limite com pressiómetro de Ménard variáveis entre
1500kN/m2 e 3000kN/m2, a que correspondem valores de atrito lateral máximo variável entre 150 e
350kN/m2, respetivamente (Bustamante & Doix, 1985).
O retorno dos resultados de 60 pancadas a tão curta profundidade implica que a redução da capacidade
portante dos terrenos não se deve à mera normalização do ensaio SPT em função da profundidade, como
se poderia pensar, mas a uma efetiva descompressão devida à diminuição da tensão vertical por remoção
do terreno sobrejacente.
4 - DESCRIÇÃO DA SOLUÇÃO
Para os edifícios do Sky Center projetou-se uma fundação direta através de ensoleiramento geral,
constituído por uma laje maciça em betão armado, de espessura variável entre 2.0m na zona dos pilares
e 3.0m nos núcleos de escadas e elevadores. Abrangendo a laje de fundo, a profundidade total a escavar
totalizaria aproximadamente 25.0m, equivalente à da obra anterior.
De acordo com o EC7 e com a tradição da Teixeira Duarte, a experiência obtida em obras executadas em
condições semelhantes é sempre valorizada, pois os cálculos não permitem prever, na sua globalidade, o
comportamento de um terreno in situ. Embora constituam um referencial útil e necessário para o
dimensionamento, devem ser constantemente calibrados para aferir a sua validade - papel crucial que é
desempenhado pela monitorização.
Assim, projetou-se inicialmente uma solução de contenção periférica constituída por uma parede em
betão armado, com 0.50m de espessura, executada segundo a tecnologia das paredes moldadas, que já
tinha sido adotada com sucesso na execução do edifício ESCOM.
No entanto, esta obra (Sky Residence I, Sky Residence II e Sky Business) possuía uma dimensão cerca
de 3 vezes superior à sua antecedente (edifício ESCOM), pelo que o prazo de execução seria
forçosamente mais dilatado; e como é sabido, o tempo é um dos fatores que potencia a deterioração da
compacidade destes solos arenosos.
Por outro lado, a presente escavação iria decorrer na imediata vizinhança de um edifício já em
exploração, o edifício ESCOM, o que implicava a adoção de táticas preventivas para minimização do risco
de ocorrência de assentamentos diferenciais devidos a eventuais descompressões do solo ao nível das
fundações.
O sistema de monitorização foi implementado para avaliação das condições de segurança no decurso dos
trabalhos de escavação, acompanhamento dos assentamentos durante a execução da estrutura e deteção
de eventuais empolamentos resultantes da injeção para tratamento de solo (Secção 8). Este objetivo é
conseguido através do controlo de determinados parâmetros, tais como a deformação horizontal da
parede (nomeadamente abaixo da cota de escavação) e do terreno no extradorso da contenção, os
eventuais assentamentos ou rotações de muros e edifícios limítrofes e a variação de carga nas
ancoragens.
A frequência inicialmente prevista para as leituras foi quinzenal. Os dados recolhidos nas várias
campanhas de observação efetuadas foram sendo processados logo após a sua obtenção. Procurou-se
que durante o normal decurso da obra as leituras dos equipamentos fossem realizadas após conclusão de
cada fase (nível de escavação, aplicação de pré-esforço ou colocação de escoras, execução de lajes de
travamento, entre outras) e, quando possível, à mesma hora.
A periodicidade das leituras foi aumentada sempre que identificada alguma anomalia no decurso dos
trabalhos, tendo em conta o grau de risco da ocorrência, e durante todo o período de tempo necessário à
sua normalização. Em certas alturas foram efetuadas leituras diárias para esclarecimento de situações
menos compreensíveis e determinação do processo mais adequado para estabilização.
O sistema de observação foi posteriormente complementado com a execução de piezómetros para estudo
da água que se acumulou no terreno ao longo da Rua Marechal Tito. Estes equipamentos não tinham sido
previstos inicialmente já que, conforme referido, nenhuma intervenção anterior nesta zona tinha
detetado água no terreno.
Para além dos procedimentos descritos, foram preconizadas inspeções visuais regulares à obra para
deteção de possíveis anomalias, não identificadas pela instrumentação, como por exemplo ligações
defeituosas nas juntas da parede moldada, fissuração nos elementos de betão armado, integridade da
cabeça das ancoragens, perturbações no terreno confinante, anomalias ao nível de acabamentos nos
edifícios vizinhos e integridade do próprio sistema de observação.
6 - DESCRIÇÃO DA OBRA DE ESCAVAÇÃO
A obra começou em Abril de 2008, com a preparação de plataformas e execução dos painéis de parede
moldada em toda a periferia. A escavação, iniciada em 2009, principiou na extremidade noroeste do
edifício ESCOM, prosseguindo depois ao longo da Rua Aires Ornelas antes de avançar no sentido da Rua
Marechal Tito. Existiu, assim, uma diferença significativa em termos de progresso da escavação entre as
duas frentes principais da obra.
O comportamento da estrutura de contenção nesta frente foi perfeitamente exemplar (Fig. 8),
registando-se deslocamentos inferiores a 30mm na generalidade dos alvos refletores e dois resultados
próximos dos 35 mm, observados meses depois de concluída a escavação. A deformada traçada pelo
inclinómetro refletia valores máximos inferiores a 20mm (Fig. 9).
640
620
600
Pré-esforço (kN)
580
560
540
520
500
Junho 10
Julho 09
Outubro 09
Dezembro 08
Maio 09
Janeiro 10
Setembro 10
Março 10
Novembro 10
Fevereiro 09
Figura 9 - Leituras topográficas de alvos reflectores, variação do pré-esforço nas células de carga e deformada
segundo calha inclinométrica inserida na parede moldada. Apesar de a calha não ter permitido leituras
abaixo abaixo da cota de escavação, os deslocamentos traduzidos pelos alvos e valores do pré-esforço nas
ancoragens permitem concluir que a contenção teve nesta zona um comportamento perfeitamente normal.
Nesta frente de obra, cuja escavação se iniciou alguns meses depois da da Rua Conselheiro Aires
Ornelas, a estrutura de contenção teve um desempenho normal até se atingir o 4º nível de ancoragens.
A partir dessa altura, os equipamentos do sistema de monitorização evidenciaram, concomitantemente, o
acréscimo de deslocamentos e esforços nas ancoragens, com alguns indicadores a atingirem os valores
de alerta e, até, de alarme (Fig.11). Foram também observadas escorrências nas ancoragens; de
incipientes, foram aumentando a sua expressão de forma consistente, e de dispersas passaram a
frequentes nas ancoragens abaixo do 2º nível original (Fig.10).
Este panorama revelou condições hidrogeológicas e geomecânicas nos solos totalmente distintas das
previstas em fase de projeto, que implicaram a adoção de diferentes medidas estabilizadoras, e que
adiante se descrevem.
Figura 10 - Escavação em progressão, com evidentes sinais da existência de água no terreno (escorrências nas
ancoragens); aterro para estabilização temporária da frente de obra; aspeto geral da parede
800
750
700
Pré-esforço (kN)
650
600
550
500
450
400
Junho 10
Julho 09
Outubro 09
Dezembro 08
Maio 09
Janeiro 10
Setembro 10
Março 10
Novembro 10
Fevereiro 09
Figura 11 - Leituras topográficas de alvos reflectores (nível de alerta atingido em maio e alerta em julho de 2009),
variação do pré-esforço nas células de carga (nível de alerta atingido em Março de 2009 na célula C7,
entre novembro e dezembro nas células C11 e C16) e deslocamentos na calha inclinométrica localizada a
meio do alinhamento entre maio e setembro de 2010 (atingidos os níveis de alerta e alarme)
Neste alinhamento, com cerca de um terço do comprimento dos anteriores, o avanço da escavação foi
moderado pela acumulação de terrenos provenientes da escavação nesse local para posterior extração
(Fig. 12) e pela proximidade da frente mais complexa da Rua Marechal Tito.
No entanto, o terreno ao longo do lote vizinho demonstrou também a acumulação de água – variável
entre 2m e 4m de profundidade - tendo-se registado, ao longo do tempo, deslocamentos próximos dos
níveis de alarme e acréscimo da carga nas ancoragens (Fig. 13), embora aqui com tendências menos
pronunciadas do que ao longo da Rua Marechal Tito.
Figura 12 - Escavação em progressão, com evidentes sinais da existência de água no terreno (escorrências nas
ancoragens); aterro para estabilização temporária da frente de obra; execução de ancoragens de reforço
590
570
550
Pré-esforço (kN)
530
510
490
470
450
Junho 10
Julho 09
Outubro 09
Dezembro 08
Janeiro 10
Setembro 10
Maio 09
Março 10
Novembro 10
Fevereiro 09
C4 C20
Figura 13 - Leituras topográficas de alvos reflectores (nível de alerta atingido entre setembro e outubro de 2010,
estabilizando em seguida), variação do pré-esforço nas células de carga (dentro de valores normais) e
deslocamentos na calha inclinométrica, entre junho e setembro de 2010 (nível de alerta atingido em julho e
alarme em setembro)
Quadro 3 - Piezómetros
Piezómetro 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Zona 7.5 8.0 24.0 24.0 8.0 8.5 7.0 8.0 8.0
crepinada (m)
substanciais.
PM 24
PM25
P1
PM44 PM43 PM4 2
P2
PM 41 PM40 PM39 PM 38
P3
PM37 PM36 PM35 PM 34 PM33
P4
PM32 PM 31 PM30
P5
através da abertura de poços (Fig. 14).
P7
Dez-10
Jun-10
Ago-10
Out-10
Jan-10
Fev-10
Mar-10
Jan-11
Abr-10
Mai-10
Set-10
Jul-10
O aumento da deformação da parede para níveis próximos dos valores de alerta e, seguidamente, de
alarme, desencadeou uma ação de estabilização, que se iniciou com o aterro da frente de obra afetada
(Rua Marechal Tito) para execução de ancoragens de reforço que permitissem o avanço da escavação em
condições de segurança.
Foram propostos quatro níveis de ancoragens de reforço, com várias distribuições e objetivos; por
exemplo, posicionando o bolbo de selagem entre outros anteriormente realizados, para consolidação do
conjunto, ou localizando-o numa zona mais distante, de modo a mobilizar estratos ainda não alterados e
evitar a excessiva concentração de tensões no solo (Fig. 16).
Rua Marechal Tito
R. Conselheiro Aires Ornelas
? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ?
? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ?
? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ?
Piso -6
? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ?
? Piso -7
Piso -8
Piso -9
0 5 10 15 20 m
Porém, o pré-esforço adicional não atingiu os resultados pretendidos, visto que após uma pequena fase
de abrandamento o acréscimo dos deslocamentos na parede aumentava, assistindo-se a uma maior
aceleração em cada ciclo de escavação.
Com o objetivo de repor os níveis de segurança da obra e sua envolvente e evitar dilatações do prazo,
entendeu-se que a escavação não devia prosseguir sem a implementação de uma segunda ação de
estabilização, utilizando outras tecnologias para travamento da estrutura de contenção. Realizou-se o
escoramento da parede através de faixas de laje com cerca de 11.5 m de largura, executadas em top-
down antes do prosseguimento da escavação, e deu-se prioridade à execução do ensoleiramento, de
modo a conseguir o travamento rápido da base da parede.
Figura 18 - Travamento da estrutura metálica de suporte e prolongamento da laje do Piso -6, a partir da estrutura já
executada em parte do edifício
Figura 19 - Prolongamento das lajes dos Pisos -5 e -4; Figura 20 - Escavação até abaixo da cota do Piso -7,
travamento da estrutura metálica de suporte
vertical e execução da laje
Figura 21 - Escavação até à cota final e betonagem da laje Figura 22 - Execução, de baixo para cima, dos pilares e
de fundo restante estrutura enterrada
SkyBusiness
SkyResidence II
Zona
executada em
top-down
Execução de
baixo para
cima
Figura 25 - Escavação abaixo da faixa de laje do Piso-6 para execução da laje de fundo
Nesta fase, o edifício Sky Residence I tinha já alguns pisos de laje executados, que, em conjunto com as
medidas implementadas, aplicadas a uma faixa da estrutura no extremo do edifício Sky Residence II
(Fig.25 e Fig.26), efetivaram o travamento da estrutura de contenção.
Figura 26 - Faixas de laje executadas entre o edifício Sky Residence I e a estrutura executada para travamento
horizontal da parede moldada (esquema de dimensionamento e fotografia)
Conseguiu-se, assim, a estabilização dos deslocamentos em toda a frente afetada, o que permitiu a
conclusão da escavação e posterior execução dos pisos enterrados na generalidade da obra.
O travamento conferido pelas lajes foi suficientemente eficaz para dispensar a execução dos 3 últimos
níveis de ancoragens na extensão correspondente à largura da intervenção (11.50m).
É importante ainda referir que quando se evidenciou o aumento da deformação da parede se procedeu de
imediato ao dimensionamento de uma solução de travamento alternativa, muito versátil e de rápida
colocação. Constituída por escoras metálicas, era vocacionada para uma intervenção urgente caso se
constatasse uma deterioração acelerada das condições de estabilidade da parede, incompatível com a
execução da estrutura em betão armado. As ligações à parede moldada e à estrutura do edifício foram
estudadas para um posicionamento simples e eficaz.
O estudo de soluções alternativas, que possam ser realizadas caso todas as outras se venham a
demonstrar inexequíveis, é de extraordinária importância nestes casos.
Figura 28 - Estrutura de travamento provisório alternativa estudada
8.1 - Intervenções
Conforme já referido, na escavação para a execução das fundações do edifício ESCOM ocorreu uma
descompressão generalizada dos terrenos de fundação, numa profundidade variável entre os 5.0 e os
6.0m; com resultados de 60 pancadas nos ensaios SPT executados ao nível da superfície original, o
terreno revelou valores médios de NSPT≈25 pancadas à cota de escavação.
Esta descompressão determinou a injeção do terreno abaixo da cota de escavação para reposição da
capacidade de suporte no terreno.
No caso dos edifícios Sky Residence I, Sky Residence II e Sky Business, o conhecimento da extensão do
fenómeno e das tensões descarregadas pela estrutura no terreno implicaram a seleção criteriosa de
tecnologias distintas, adequadas a cada caso, para evitar que a diminuição da tensão vertical se
traduzisse em descompressões tão importantes.
A execução das fundações do edifício Sky Residence I foi antecedida de um tratamento de solo de
carácter preventivo através de inclusões rígidas em betão simples, executadas 3m acima da cota final de
escavação (Fig.29). Em termos estruturais, na fase de escavação as colunas minimizam a descompressão
das areias funcionando à tração; em fase de definitiva, as colunas trabalham à compressão provocando
um aumento da resistência e rigidez do solo. As colunas, executadas no diâmetro de 600 mm, estão
distribuídas em planta numa malha regular de 2.50x2.50 (m).
Cota da plataforma
(execução das estacas)
3.00
Zona
5.50
5.00
descomprimida
4.00
4.50
DESCOMPRESSÃO DESCOMPRESSÃO
INDUZIDA PELA ESCAVAÇÃO INDUZIDA PELA ESCAVAÇÃO
PROFUNDIDADE DE DESCOMPRESSÃO
PROFUNDIDADE DE DESCOMPRESSÃO
PROFUNDIDADE DE DESCOMPRESSÃO
DESCOMPRESSÃO
INDUZIDA PELA ESCAVAÇÃO
PROFUNDIDADE DE DESCOMPRESSÃO
DESCOMPRESSÃO
BASE DE
INDUZIDA PELA ESCAVAÇÃO
ESCAVAÇÃO
PROFUNDIDADE DE DESCOMPRESSÃO
PROFUNDIDADE DE DESCOMPRESSÃO
Qemp Qemp Qemp
Admitindo um comportamento elasto-plástico na zona que irá estar sujeita ao empolamento, as colunas
estarão sujeitas a uma tração de:
Qemp ≤ Qs , zona _ descomprimida ⇔ qemp × Ainf ≤ Qs , zona _ descomprimida ⇔ 57.0 × 2.5 2 = 356.25 kN ≤ 414.7 kN
Qemp ≤ Qs , zona _ não _ descomprimida ⇔ qemp × Ainf ≤ Qs , zona _ não _ descomprimida ⇔ 57.0 × 2.5 2 = 356.25 kN ≤ 508.9 kN
Verificação da secção das colunas de betão simples à tração (betão da classe C25/30)
π ×φ 2
Qemp ≤ Aφ 600 × f ctk ⇔ q emp × Ainf ≤ × f ctk ⇔ 57.0 × 2.5 2 = 356.25 kN ≤ 0.283 × 1800 = 509.4 kN
4
Em fase definitiva, ter-se-á uma solução em que o terreno e as colunas funcionam em simultâneo. É
ainda de referir que as colunas possuem uma reserva resistente correspondente à tração mobilizada
durante a fase de escavação, e que, devido ao tratamento aplicado, é expectável que o solo da zona
descomprimida não sofra uma grande redução nas propriedades geomecânicas. Deste modo, é possível
considerar um solo equivalente de SPT 40 a 50 pancadas, obtendo-se o valor da tensão admissível de
600 kN/m2.
Resistência de ponta:
π ×φ 2 π × 0.62
Qp = Qp,zona_ não_ descomprimida = kc × × qc / Fp = 0.15× × 33000 / 3.0 = 466.5 kN
4 4
Resistência por atrito lateral: Qs = Q s , zona _ descomprimida + Qs , zona _ não _ descomprimida
π × 0.60 × 80 × 5.50 π × 0.60 × 120 × 4.50
Qs = + = 414.7 + 508.9 = 923.6 kN
2 2
Q p + Qs 466.5 + 923.6
σ adm
conjunto
= σ adm
colunas
+ σ adm
terreno
= + σ adm
terreno
= + 400 = 620 kN / m 2
Ainf 2 .5 2
As colunas executadas à rotação pelo processo de trado contínuo são particularmente bem adaptadas a
este tipo de terreno, por ser de execução rápida e de reduzido impacto no terreno e no próprio estaleiro,
o que simplifica o planeamento geral da obra.
No caso do Sky Residence I e Sky Business, não existindo já o risco de afetar outros edifícios, recorreu-
se a injeções de calda de cimento para atingir a capacidade de suporte necessária.
8.4 - Resultados
A comparação dos resultados dos ensaios SPT realizados em diversas fases no terreno permite concluir
que devido às medidas preventivas, se conseguiu restringir a altura da franja de descompressão de cerca
de 9.0m para aproximadamente 5.0 m (comparação entre as linhas azul e vermelha).
Após tratamento do terreno com injeção de caldas, a zona descomprimida reduz-se a cerca de 2.5m.
Verifica-se ainda que, abaixo da cota de fundação, a capacidade resistente do terreno é comparável à do
terreno in situ antes de iniciada a escavação.
NÚMERO DE PANCADAS (SPT)
Figura 32 - Resultados médios nos ensaios SPT executados em diversas fases da obra
8.5 - Controlo Topográfico das Injeções
Para acompanhamento da campanha de injeções, foram instalados alvos topográficos nos elementos
mais rígidos da estrutura, para deteção de eventuais empolamentos ocorridos durante a injeção do solo
abaixo da laje de fundo.
Assentamentos
Medições durante a campanha de injecções
18-01-2011
25-01-2011
01-02-2011
08-02-2011
15-02-2011
22-02-2011
01-03-2011
08-03-2011
15-03-2011
22-03-2011
29-03-2011
05-04-2011
12-04-2011
19-04-2011
26-04-2011
AT3 4.0
AT4
3.0
AT2
AT1 2.0
(mm)
1.0
0.0
AT6 AT5
AT7
-1.0
-2.0
AT1 AT2 AT3 AT4 AT5 AT6 AT7 AT8 AT9 AT10 AT11
PISO 30
PISO 25
Nº DE PISOS EXECUTADOS
PISO 20
PISO 15
PISO 00
01 Mar 11 01 Abr 11 01 Mai 11 01 Jun 11 01 Jul 11 01 Ago 11 01 Set 11 01 Out 11 01 Nov 11 01 Dez 11 01 Jan 12 01 Fev 12
01 Mar 11 01 Abr 11 01 Mai 11 01 Jun 11 01 Jul 11 01 Ago 11 01 Set 11 01 Out 11 01 Nov 11 01 Dez 11 01 Jan 12 01 Fev 12
0.00
1.00 SKY RESIDENCE I
2.00 SKY RESIDENCE II
ASSENTAMENTO
5.00
6.00
7.00
8.00
9.00
10.00
Tendo em atenção a relação entre o nível de tensão média transmitida pelos edifícios ao terreno de
fundação e a sua dimensão em planta, os valores dos assentamentos registados podem ser considerados
insignificantes.
Apesar de a obra não estar ainda concluída, os assentamentos acumulados registados, a velocidade de
assentamento e a tendência definida nestes meses cruciais para a obra são reveladores de um bom
comportamento das fundações, resultado que se associa à eficácia das soluções de tratamento de solo
implementadas.
9 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
No caso de existirem outros fatores que contribuam para agravar o fenómeno da descompressão - como
ações mecânicas, combinadas ou não com a presença de água no solo - os pressupostos teóricos são
completamente alterados e o impacto da intervenção aumenta significativamente.
Desta forma, é necessário avaliar, em cada obra e a cada momento, a intensidade dos fenómenos
envolvidos, de modo a interpretar precocemente tendências que possam mais tarde despoletar
comportamentos pouco satisfatórios e adotar as medidas de reforço mais adequadas para os limitar ou
corrigir os seus efeitos.
Por outro lado, o projeto geotécnico deve ser evolutivo e ajustável às condições reais da obra; neste tipo
de intervenções geotécnicas em areias é essencial prever soluções estruturais alternativas, de
implementação versátil e apropriadas a diversas situações, que permitam o reforço rápido ou alteração
do processo construtivo sempre que as condições reais da obra divirjam das calculadas ou se modifiquem
durante as operações.
A obra apresentada ilustra um caso de sucesso face a situações imprevistas, tendo a escavação e
construção dos pisos subterrâneos sido concluída com todas as condições de segurança e integridade.
REFERÊNCIAS
Bustamante, M. & Doix, B. (1985). “Une méthode pour le calcul des tirants et des micropieux injectés”, Bulletin de
liaison des Laboratoires des Ponts et Chaussées, nº 140, nov.-déc., pp.75-92.
Bustamante, M. & Gianeselli, L. (1981). “Prévision de la capacité portante des pieux isolés sous charge verticale.
Règles pressiométriques et penetrométriques”, Bulletin de liaison des Laboratoires des Ponts et Chaussées, nº
113, mai.-juin., pp.83-108.