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RESUMO:
Introdução
Muitos autores concordam com Iudícibus (1995 : 37), para quem “Os bons cursos de
Ciências Contábeis, diga-se de passagem, são escassos”. Também destacam que para se
obter um bom curso de Ciências Contábeis há necessidade de uma infra-estrutura adequada
com boas instalações, bons equipamentos para utilização como recurso didático, laboratórios,
uma excelente biblioteca e bons professores, qualificados e aptos para exercer sua função.
Na maioria das vezes o perfil do professor de Contabilidade (em grande parte das
instituições de ensino superior no Brasil) não condiz, em aspectos gerais, com o perfil de um
bom professor. Os professores qualificados são em número reduzido, em termos de titulação,
ou seja, com mestrado e doutorado, como é mostrado nas Tabelas 2 e 3 a seguir.
Comparando o número total de mestres e doutores em 1995 (279) com esse mesmo
número em 1998 (386) há um aumento verificado de 38,35%; ainda mais significativo,
entretanto, foi o aumento de 70,70% de novos doutores, ou seja, um aumento de 29 doutores
contra um total inicial 41 em 1995. Em 1995, para cada professor titulado (mestre ou doutor)
havia 1,3 cursos de Ciências Contábeis; em 1998 esta relação estava em 1: 1,1.
No que diz respeito à qualificação docente, as alterações tem sido
relativamente lentas, mas constantes, refletindo o incentivo do órgão representante da classe
contábil, CFC – Conselho Federal de Contabilidade e as exigências do MEC, advindas da
própria LDB.
Esta tendência de melhoria da qualificação docente pode ser observada na Tabela 4
que mostra a evolução do número de dissertações e teses defendidas, divididas por instituição
de ensino, de 1962 até 1998.
No período 1991/98 foram defendidas 221 teses e dissertações, contra 165 nas 3
décadas anteriores, ou seja 134% a mais. Entretanto, a se comparar tal evolução com a
evolução dos cursos, percebe-se que ainda irá demorar para que se tenha um número bom de
docentes qualificados nos cursos de Ciências Contábeis. Essa comparação é feita na Tabela 5.
2 - Metodologia da Pesquisa
O presente trabalho pode ser caracterizado como uma pesquisa descritiva de caráter
exploratório que usou como instrumento de coleta de dados um questionário estruturado.
O uso de um questionário a ser respondido pelo aluno é a estratégia mais utilizada até
o momento neste tipo de estudo. Busca-se a opinião daquele que é o espectador e que está
mais próximo da atuação do professor durante o processo de ensino.
Para Moreira, (apud Lampert 1999 : 137) “Avaliar a qualidade do ensino é uma tarefa
por demais difícil e complicada para basear-se unicamente na opinião do aluno. Por outro
lado, é difícil conceber-se uma avaliação da qualidade do ensino sem levar em conta o que
pensam os alunos, pois eles constituem a audiência para a qual o ensino é dirigido”.
As perguntas contidas no questionário devem estar contemplando aquilo que o aluno
tem condições de responder. Conforme Ahamada Acevedo, (apud Lampert 1999 : 138),
“Considera-se o aluno incompetente e incapaz de opinar sobre tão delicado tema. Na
verdade, o aluno não é capaz de avaliar aspectos ligados à preparação das aulas,
adequações dos objetivos e princípios de uma disciplina. Ele está apto a opinar sobre clareza
das explicações, participação e interação, motivação, metodologia utilizada na sala de aula,
sistema de avaliação”.
Outro aspecto a ser observado é que os alunos podem se deixar influenciar por
professores extremamente simpáticos, brincalhões etc, mas que não dão o respaldo necessário
para o aprendizado. Conforme Castro, (apud Lampert 1999 : 138) “Os alunos captam bem a
dedicação dos professores, o seu empenho em sala de aula e a excelência de sua pedagogia.
Sua liderança, sua capacidade para motiva-los não passam tampouco despercebidas.
Contudo, têm também suas limitações. Favorecem o professor simpático mas que pouco
ensina. Prejudicam o professor duro, secarrão, mas que acaba fazendo os alunos
aprenderem”.
2.1 - O Instrumento
2.2 – Os Sujeitos
O aluno expressava sua resposta indicando sua concordância ou não com uma
determinada afirmativa, de acordo com uma escala de 5 pontos: Concordo Plenamente (CP) –
pontuação 5, Concordo (C) – pontuação 4, Indeciso ou não tenho opinião (NO) – pontuação 3,
Discordo (D) – pontuação 2 e Discordo Totalmente (DT) – pontuação 1.
As afirmativas 02, 03, 05, 08, 09, 10, 11, 14, 15, 16, 18, 19, 20, 25, 26 e 27, pela sua
própria formulação, são quantificadas de forma inversa.
3 – Apresentação e Análise dos Resultados
O total de alunos que respondeu ao questionário foi 25, sendo eliminados por várias
razões 4 questionários, das seguintes disciplinas: 01 de Contabilidade Tributária, 02 de
Auditoria e Perícia contábil e 01 de Contabilidade Gerencial Assim, os dados apresentados
dizem respeito a 24 questionários de Contabilidade Tributária, 23 de Auditoria e Perícia
Contábil, 24 de Contabilidade Gerencial, 25 de Análise das Demonstrações Contábeis e 25 de
Contabilidade Aplicada II.
Sexo
48% Feminino
52% Masculino
No que se refere a profissão podemos detectar que do total dos alunos do sexo
feminino (12), 5 são estagiárias, 5 são auxiliares Contábeis e 2 são bancárias (Gráfico 2).
Profissão
17%
41% Estagiário
Auxiliar Contábil
Bancário
42%
Profissão
Aux. Contábil
8% 8% Aux. de Escritório
8% 38% Téc. em contab.
Militar
15% Vendedor
15% 8% Comerciante
Bancário
Nenhum aluno estava desempregado, ainda que não atuando na área do seu curso. Para
as alunas, pode-se verificar que 42% já trabalham na área do curso e 41% são estagiárias em
áreas ligadas à Contabilidade, totalizando 81% de atuação na profissão contábil. Já com
relação aos alunos esta frequência é um pouco menor: 61% atuam na área Contábil contra
39% que estão fora da área.
Nela constam as médias das pontuações aos itens 01 a 38, referentes ao desempenho
docente dos 5 professores avaliados, indicados como Prof. 1, Prof. 2, etc. Também estão
sendo indicadas as pontuações mais altas e mais baixas, relacionadas com o professor que as
obteve (indicado pelos números 1 a 5).
Os 38 itens, relativos ao desempenho docente, foram agrupados em 3 grandes
aspectos. O primeiro deles foi denominado de “Características do professor” e contempla 16
itens:
1- Parece dominar a matéria.
2- Dá explicações pouco claras.
8- Mostra-se inseguro ao responder perguntas dos alunos.
10- Parece não se preocupar se o aluno está aprendendo ou não.
11- Tem pouca didática.
17- Mantém o aluno atento durante as aulas.
19- Parece não planejar as aulas.
20- Dá as aulas sem entusiasmo.
23-Parece gostar de dar aulas.
27- Suas aulas são de um modo geral, desinteressantes.
28- Poderia ser recomendado como bom professor.
29- Aceita o ponto de vista do aluno.
30- Estimula a participação do aluno em aula.
31-Dá evidências de se aprimorar como professor.
32- O professor demonstra ter senso de humor durante as aulas.
34- Comunica-se com clareza.
Características do Professor
5,00 4,24
3,84 3,78 3,73
4,00 3,20 1
3,00 2
2,00 3
1,00 4
0,00 5
1 2 3 4 5
5,00 4,28
3,88 3,76 3,77
4,00 3,24 1
3,00 2
2,00 3
1,00 4
0,00 5
1 2 3 4 5
Recursos do Professor
É possível fazer uma análise individual dos professores quanto a sua avaliação
nos diversos itens, levando em consideração, digamos, médias obtidas abaixo de 3,5 num
dado item. Assim, temos:
Professor 1 – Obteve 26 itens com média igual ou inferior a 3,50:
2- Dá explicações pouco claras.
3- Não estimula o interesse pela matéria.
4- Destaca aspectos importantes da matéria.
5- Exige pouco raciocínio do aluno.
10- Parece não se preocupar se o aluno está aprendendo ou não.
11- Tem pouca didática.
12- Estimula soluções criativas para os problemas propostos.
13- Apresenta a matéria como uma ciência em evolução.
15- Parece utilizar livros de texto desatualizados.
17- Mantém o aluno atento durante as aulas.
19- Parece não planejar as aulas.
20- Dá as aulas sem entusiasmo.
22- Estabelece relações entre a teoria e a prática.
23-Parece gostar de dar aulas.
24- Propõe problemas interessantes.
25- Apresenta a matéria desorganizadamente.
26- Apenas repete o que está nos livros.
27- Suas aulas são de um modo geral, desinteressantes.
28- Poderia ser recomendado como bom professor.
30- Estimula a participação do aluno em aula.
31-Dá evidências de se aprimorar como professor.
33- Estabelece um clima favorável à ocorrência da aprendizagem.
35- Define o(s) objetivo(s) de cada aula.
36- Propõe atividades variadas (individuais, grupais, de pesquisa, de debate
etc) para os alunos.
37- Utiliza recursos de ensino variados para o aluno compreender o conteúdo.
38- Utiliza diferentes instrumentos (trabalhos, pesquisas, seminários etc) para
avaliar o aluno.
Assumindo como pontos realmente fracos do professor aqueles itens onde obtenha
média inferior a 3,00, no caso do professor 1 eles são os seguintes:
O professor 2 obteve 3 itens com média igual ou inferior a 3,50, que foram:
2- Dá explicações pouco claras.
7- Procura facilitar a compreensão do aluno.
17- Mantém o aluno atento durante as aulas.
O professor 4 não obteve itens com média inferior a 3,00. No entanto sete itens
ficaram com média igual ou inferior a 3,50. São eles:
5- Exige pouco raciocínio do aluno.
11- Tem pouca didática.
17- Mantém o aluno atento durante as aulas.
19- Parece não planejar as aulas.
26- Apenas repete o que está nos livros.
35- Define o(s) objetivo(s) de cada aula.
37- Utiliza recursos de ensino variados para o aluno compreender o conteúdo.
O professor 5 não obteve nenhuma média abaixo de 3,5. No entanto podem ser
observados 4 itens que destoaram dos demais, os de números 6, 17, 24 e 32.
6- É justo na atribuição de notas ou conceitos.
17- Mantém o aluno atento durante as aulas.
24- Propõe problemas interessantes.
32- O professor demonstra ter senso de humor durante as aulas.
Muitos trabalhos na área de Didática tem procurado detectar as características do bom
professor. No entanto, é importante considerar que “a idéia de competência portanto, é
localizada no tempo e no espaço. Mesmo que não de forma expressa, há uma concepção de
professor competente feita pela sociedade e, mais precisamente, pela comunidade escolar.
Ela é fruto do jogo de expectativas e das práticas que se aceitam como melhores para a
escola do nosso tempo”. (CUNHA, apud LAMPERT 1999: 115).
No caso do ensino da Contabilidade, Marion, em 1996, destacou também algumas
características que deveriam estar presentes entre os professores desta área:
- Dominar a(s) disciplina(s) que leciona, (Qualificação);
- Gostar da(s) disciplina(s) que leciona;
- Gostar dos alunos;
- Ter senso de humor;
- Memória;
- Força de vontade;
- Bondade;
- Humildade etc.
No caso da nossa pesquisa é possível observar que vários outros aspectos foram
apontados pelos alunos o que nos permite inferir que a competência didática envolve um
conjunto de comportamentos bem mais amplo do que os indicados por Marion.
Deve-se levar em conta também que um dos itens que tem uma importância grande,
para análise dos questionários aplicados, é o de número 43, que indaga sobre a validade do
questionário para o aluno. É possível imaginar que se o aluno acha que a aplicação do
questionário não é importante, irá responder de forma descuidada. Na Tabela 11 estão
mostradas as porcentagens de respostas positivas e negativas na questão 43. A partir dela é
possível termos uma idéia da validade dos resultados obtidos com a aplicação dos
questionários.
Podemos concluir que em média, 81% dos questionários foram respondidos com a
seriedade necessária para tanto.
Considerações finais
O objetivo da avaliação do professor pelo aluno não é punir o professor pelas falhas
cometidas e demonstradas através dos resultados dos questionários. Para que possa ser
alcançado o objetivo da aplicação desta metodologia há necessidade de humildade, reflexão e
auto-crítica por parte do professor, buscando a melhoria do seu ensino. O que interessa é o
feedback, para dar condições para que o professor possa crescer como pessoa e como
profissional.
A instituição de ensino, por sua vez, deve oferecer subsídios para que isto possa se
concretizar, subsídios estes que devem ir desde as condições físicas até as intelectuais,
principalmente levando-se em conta o fato de que o bacharel em Ciências Contábeis não tem
uma formação pedagógica específica para o ensino.
As Universidade devem montar um plano de qualificação docente onde haja
oportunidades para o crescimento de seus profissionais.
Para o profissional que segue a carreira docente o aprendizado exige uma formação
continuada, através de um constante aperfeiçoamento e sucessiva atualização de seus
conhecimentos, por meio de cursos de pós-graduação em nível de lato e estrictu senso, ou seja
especialização, mestrado, doutorado, pós-doutorado e o que é mais importante, permeados por
pesquisas na sua área de conhecimento.
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