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077
Bibliografia
ISBN 978-85-444-2369.1
DOI 10.24824/978854442369.1
1. Educação 2. Currículo 3. Políticas de avaliação 4. Pisa I. Lopes, Alice Casimiro II. Macedo,
Elizabeth. Coord. Et al. III Título IV. Série.
Introdução
Neste capítulo partimos do consenso educacional atual sobre a necessidade de
ensinar e avaliar competências, requisito imprescindível para a construção de uma
cidadania reflexiva e crítica. Mudanças têm sido propostas em especial porque
profissionais da educação estão convencidos da necessidade de levar a educação em
direção a um novo paradigma psicoeducacional, centrado na ideia de que todos os
estudantes, ao finalizar a etapa de escolarização obrigatória, tenham desenvolvido as oito
competências básicas propostas pela OCDE. Uma das transformações fundamentais
dentro desse processo faz referência necessariamente à avaliação.
1
Tradução Anna Carolina Pimentel F. de Souza. Revisão Carlos Augusto Aguilar Junior e Maria Isabel
Ramalho Ortigão.
2
Professora associada da Universidade Autónoma de Barcelona
3
Professor da Universidade Autónoma de Barcelona.
Entretanto, os centros educacionais não ignoram, nem deveriam ignorar, a função
certificadora e de prestação de contas da avaliação. Avaliações nessa perspectiva, em
geral, são externas à escola e objetivam dar conta da qualidade do ensino. Projetos
centrados em avaliar os resultados educacionais por meio de provas padronizadas e
focados em estabelecer comparações entre centros e sistemas educacionais afetam e
modificam as crenças docentes sobre avaliação. Às vezes, inclusive, podem exercer
pressão sobre as estratégias de avaliações implementadas no dia a dia em sala.
O Projeto Gappisa
4
Para mais informações sobre a equipe de pesquisa Sinte da Universidade Autônoma de Barcelona,
consultar o link: https://www.sinte.me/.
cumpriam ou não os critérios necessários para avaliar competências de forma realista e a
partir disso introduzir mudanças nessa direção.
O processo formativo sobre avaliação a partir desse guia durou dois semestres
escolares, durante os quais participaram oito professores. Sobre essa primeira
experiência, realizaram-se várias investigações para dar conta dos resultados positivos da
formação e, especialmente, do Guia Gappisa como instrumento (DURAN; MONEREO,
2008; MONEREO; LEMUS, 2009; MONEREO, 2009). As melhoras significativas
encontradas nas mudanças das provas de avaliação impulsionaram a implementação da
formação com o uso do Guia Gappisa, estabelecendo-se como eixo central dela.
Atualmente, a formação mantém o propósito de oferecer recursos e habilidades aos
professores para que estes melhorem seus instrumentos avaliativos, realizando mudanças
a partir da realidade de cada escola e em direção às bases compartilhadas com as provas
Pisa. A seguir, passamos a descrever a estrutura do Projeto e os instrumentos principais
com maior profundidade.
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A plataforma de aprendizagem encontra-se em: http://sintedi.wixsite.com/proyectogappisa.
Figura 1: Esquema das fases do projeto formativo Gappisa
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Dispusemos também uma versão online desse documento, em formato de aplicativo de
autoaprendizagem: https://sintedinetwork.wixsite.com/gappisa
que os docentes, com a ajuda desse instrumento, podem detectar em que nível estão e
quais ações gerais podem realizar para alcançar o nível seguinte.
Por último, uma das características principais do projeto é a formação por meio
de multiplicadores, utilizada em situações nas quais a formação ocorreu em instituições
pertencentes a redes escolares. Nesse caso, não participava todo o corpo docente, mas sim
um número determinado de docentes (professores multiplicadores) de várias escolas, que
formavam parte de uma rede de escolas com modelo pedagógico comum. Nesse caso,
formávamos um responsável em cada centro, para o qual dávamos apoio com ferramentas
próprias de um assessor, para que coordenasse e acompanhasse os docentes de seu centro.
Entre suas funções estava transformar o grupo de participantes numa comissão
permanente sobre avaliação que se dedicasse a promover a participação de novos
professores.
Pisa 2012
Pisa 2009 Pisa 2015
Característica Competência
Competência Leitura Competência Ciências
Matemática
Inicia-se com texto ou
Inicia-se com uma Inicia-se com uma
problemática inicial,
Estímulo prévio situação-problema real situação-problema
com ou sem imagem,
ou um texto. real.
que contextualiza.
Situações dos âmbitos Situações dos âmbitos
Contextos pessoais,
Autenticidade e pessoal, público, pessoal, público,
locais, nacionais e
relevância educacional e educacional e
globais.
trabalhista. científico.
Processos de crescente Processos de crescente Três níveis de demanda
Complexidade
complexidade, cinco complexidade, quatro cognitiva de crescente
cognitiva
ações. ações. complexidade.
Texto e imagem (na
opção de suporte
Tipologia de itens Texto e imagem
Texto e imagem. computacional,
segundo a pergunta (algumas interativas).
algumas são
interativas).
Fechada e aberta, Fechada e aberta,
escrita (frase em escrita (frase em
Tipologia de itens Principalmente
parágrafos de quatro) parágrafos de quatro)
segundo resposta fechada.
ou desenhada (gráfico ou desenhada (gráfico
ou diagrama). ou diagrama).
Papel; suporte
Meios tecnológicos
Formato da prova Papel. computacional
(computadores).
opcional.
O Guia Gappisa
Entretanto, o Guia Gappisa vai um pouco além dessa relação inicial da primeira
análise do Pisa. Primeiramente, cabe assinalar que o Guia sofreu algumas modificações
ao longo dos anos com o objetivo de atualizar suas bases. Essas mudanças surgiram da
revisão das novas características das provas do Pisa (por exemplo, o uso das TIC na
resolução de problemas) e dos próprios processos de mudança pelos quais passavam os
professores durante a formulação das provas (como construir problemas autênticos,
partindo primeiro de informação real e contextualizada).
É essencial destacar que, ainda que realizemos essa separação por categorias, a
linha é difusa, em primeiro lugar, porque há uma relação de interdependência entre todas
as características, de maneira que, ao se modificar uma delas, reverte-se positivamente o
restante, facilitando a mudança; em segundo plano, a quantidade de características a
transformar deve ir associada com a programação da aula (conteúdos, atividades de
ensino...) e com as possibilidades reais do centro (recursos, tempo disponível, cultura...),
de forma que na prova nem sempre seja necessário introduzir mudanças relacionadas a
todas as características.
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A Educação Básica na Espanha é composta por doze anos, distribuídos em três níveis: três anos de
Educação Infantil, seis anos de Primário e três anos de Secundário, indo dos três anos de idade até os 14
anos. O Ensino Médio superior, também obrigatório, é o que chamam de bachillerato, é composto por
três anos e abarca a faixa etária dos 14 aos 17 anos. Ver em:
https://www.gob.mx/cms/uploads/attachment/file/198738/Modelo_Educativo_para_la_Educacio_n_Oblig
atoria.pdf. Pág. 205. Nota da tradução.
Figura 1: Versão traduzida da prova original de Matemática (2º ESO), antes da formação
A prova começa por uma situação inicial bem descrita (a prefeitura te pede
assessoramento como arquiteto) à qual seguem atividades reais e relevantes (debate entre
diversas opiniões sobre como resolver, elaboração de um possível percurso...). Tais
tarefas vão crescendo de nível de complexidade, de modo que os estudantes comecem por
analisar os dados para interpretá-los e comunicá-los (elaborar um relatório). Além disso,
uma das tarefas é indicada para ser resolvida em grupo, tal qual se faria num contexto
profissional de trabalho em equipe.
Don Quixote de la Mancha. A prova original que o docente utilizava era pouco
competencial, só avaliava conteúdos e não oferecia nenhum recurso nem indicadores que
pudessem facilitar a reflexão e a aprendizagem sobre o processo (Figura 3).
Figura 3: Versão traduzida da prova original de língua e literatura (3º ESO), antes da
formação
Após a formação, a prova foi aprimorada pelo docente e passou a propor tarefas
que avaliam competências (pesquisar e redigir uma notícia) e de realização colaborativa
(Figura 4). Essa prova se destaca especialmente por oferecer recurso para conseguir
informações (endereços na web), técnicas para analisá-las (tabela para recolher dados e
pauta de conteúdo) e indicadores de qualidade (rubrica de processos de cada uma das
atividades).
Figura 4: Versão traduzida de fragmentos da prova de competências de Língua e
Literatura (3º ESO), depois da formação
Como vimos nesta seção pela análise de produções reais, o Guia Gappisa e as
atividades do projeto são instrumentos eficazes para acompanhar os professores na
formulação de provas por competências que sejam formadoras e inclusivas. A partir
daqui, é interessante analisar se essas mudanças são significativas e se afetam uma
amostra importante dos participantes, assunto que trataremos na próxima seção.
Conclusão
Como vimos, o Guia Gappisa, baseado nas bases psicoeducacionais das provas do
Pisa, constitui-se em um dispositivo apropriado para ajudar professores na formulação de
provas baseadas em competências que apresentam caráter mais formativo e inclusivo.
Ainda que no futuro seja preciso revisar as categorias que menos impactaram os
professores, em especial a diversidade, destacamos muito positivamente a melhora
naquelas características que coincidem com os aspectos que constituem as provas do Pisa,
com referência a uma avaliação por competências.
Nosso objetivo não foi analisar os resultados das provas, mas sim que a
transformação da avaliação não seja uma atividade pontual e se estenda a toda a equipe
docente, instaurando-se como mais uma tarefa a compor a prática pedagógica dos
professores. Mudar os instrumentos de avaliação não é suficiente e, para realizar uma
mudança mais substancial, devemos analisar como esses primeiros passos afetam a
própria identidade docente.
Referências
ÁLVAREZ-BERNARDEZ, P.; MONEREO, C. Formación del profesorado de ELE y
evaluación. Construcción de una guía para autentificar pruebas de español lengua
extranjera. Porta Linguarum, v. 25, p. 163-177, 2016.
DURAN, D.; MONEREO, C. Una guia per l’anàlisi de proves d’avaluació des de la
perspectiva Pisa. Revista de Didàctica de la llengua i la literatura, v. 44, p. 101-116,
2008.
MONEREO, C.; LEMUS, R. Dime cómo evalúas y te diré cómo aprenden (a aprender)
tus alumnos. Innovación Educativa, n. 190, p. 56-59, 2009.
MONEREO, C.; CASTELLÓ, M.; DURÁN, D.; GÓMEZ, I. Las bases psicoeducativas
del proyecto Pisa como guía para el cambio en las concepciones y prácticas del
profesorado de secundaria. Infancia y Aprendizaje, v. 32(3), p. 421-447, 2009.