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SOLUÇÕES DE CONTENÇÃO PERIFÉRICA E RECALÇAMENTO DE MURALHA NA

CALÇADA MARQUÊS DE ABRANTES EM LISBOA

EARTH RETAINING SOLUTIONS AND MASONRY WALL UNDERPINNING AT THE


CALÇADA MARQUES DE ABRANTES IN LISBON

Núncio, João; JetSJ Geotecnia, Lda., Lisboa, Portugal, joao.nuncio@jetsj.pt


Pinto, Alexandre; JetSJ Geotecnia, Lda., Lisboa, Portugal, apinto@jetsj.pt
Marques, Carlos João; EDIFER, Alfragide, Portugal, carlos.joao.marques@edifer.pt.
Antunes, Gonçalo; TECNASOL, Alfragide, Portugal, gantunes@tecnasol-fge.pt

RESUMO

No presente artigo são descritos os principais critérios de concepção e de execução adoptados nas soluções
de contenção periférica e de recalçamento de uma muralha de grande altura, implementadas no
Empreendimento “Santos City Design”, edifício habitacional, em construção no Largo Vitorino Damásio, em
Lisboa. Os principais condicionalismos identificados, determinaram a necessidade de realizar uma
escavação com altura máxima de 7 m, abaixo das fundações da muralha de suporte de parte da Calçada
Marquês de Abrantes. O cenário é caracterizado por estratos geológicos variados, sendo os interessados
pela escavação constituídos, no alçado Sul, por materiais de fracas propriedades geomecânicas e por uma
produtividade hidrogeológica importante. Verificou-se portanto a necessidade de recorrer a uma solução de
tratamento dos terrenos a escavar com solo-cimento, e a uma solução de recalçamento compatibilizada
com a solução de contenção periférica, executado ao abrigo da tecnologia de “Berlim Definitivo”.

ABSTRACT

The aim of this paper is to present the main design and execution criteria related with the solutions
adopted for the earth retaining structures associated with the deep excavation, and old masonry wall
underpinning, performed for the “Santos City Design” dwelling undertaking, located near the Tagus river in
Lisbon. The main constrains of the excavation project, namely the implantation area and excavation depth
(given the need to build up to 4 underground floors), as well as the preservation of the structural integrity
of the adjacent masonry wall and are pointed out. Also presented are the adopted solutions for the earth
retaining structures and the necessary compatibilization with the existent restrictions. Finally, the main
results of monitoring and survey works are presented.

1 - INTRODUÇÃO

Na sequência de trabalhos anteriores (Pinto et al, 2007 e Pinto e Pita, 2011) são apresentadas, no
presente artigo, as soluções propostas e executadas para os trabalhos de escavação e contenção
periférica, e recalçamento de uma muralha, necessários à execução de 1 a 4 pisos enterrados, conforme o
alçado, do empreendimento “Santos City Design”, localizado junto ao Largo de Santos, junto ao Rio Tejo,
em Lisboa. A localização da obra é evidenciada na Figura 1.

Figura 1 - Fotografia aérea do local de intervenção, antes do início dos trabalhos de Demolição.

A intervenção realizada ocupou a totalidade da área de implantação dos edifícios pré-existentes e


previamente demolidos no local, cerca de 1.330 m², com excepção da área destinada à criação de um
atravessamento pedonal público em escadaria, articulado com um edifício de habitação colectiva e
comércio inserido entre a malha urbana do histórico bairro da Madragoa e a zona do Largo de Santos e do
Largo Vitorino Damásio, com os quais confina a Sul, e com a Calçada Marquês de Abrantes, a Norte. A
intervenção proposta resultou da demolição de um conjunto de edifícios nas duas frentes de rua,
anteriormente ocupados pela empresa de material eléctrico Lusoeléctrica S.A., que neste local tinha, até
ao início do ano de 2004, a sua sede e armazéns. O seu local de implantação colocou a intervenção
“encaixada” a meio caminho entre o típico Bairro da Madragoa, de ocupação maioritariamente habitacional,
passando pela reconstrução pombalina da Calçada Marquês de Abrantes e a frente urbana da Avenida 24
de Julho.

O recinto de escavação encontrava-se ocupado, conforme é visível na Figura 1, por edifícios antigos de
volumetria variada, os quais foram previamente demolidos na sua totalidade.

Tendo por base avaliação dos principais condicionamentos existentes, foram estudadas e implementadas
de forma devidamente articulada, as soluções de contenção para os diferentes alçados da obra (Figura 2),
e de recalçamento da muralha no alçado norte:

 Alçados da Calçada Marquês de Abrantes (Norte):

Recalçamento da Muralha com recurso a microestacas, e contenção periférica realizada através da


técnica de “Berlim Definitivo”.

 Alçado Largo de Santos e Largo Vitorino Damásio, à cota da frente ribeirinha do Rio Tejo (Sul):

Contenção periférica realizada através da técnica de “Berlim Definitivo” após tratamento prévio do
terreno através de uma cortina de colunas de Jet-Grouting.

 Alçado dos restantes edifícios vizinhos:

Contenção periférica realizada através da técnica de “Berlim Definitivo” após tratamento prévio do
terreno através de uma cortina de colunas de Jet-Grouting.

Figura 2 - Fotografias do recinto após demolições dos edifícios existentes

2 - PRINCIPAIS CONDICIONAMENTOS

2.1 - Geologia, Geotecnia e Hidrologia

As soluções desenvolvidas foram apoiadas numa caracterização geológica e geotécnica, realizada a partir
dos resultados de duas campanhas de reconhecimento geológico e geotécnico, durante as quais se
procedeu à execução de 4 sondagens à rotação, com recolha contínua de amostras, execução de ensaios
SPT e medição do nível de água nos furos das mesmas sondagens.

Com base no reconhecimento geologico-geotécnico e nas informações recolhidas na Carta Geológica de


Lisboa, foi possível individualizar várias zonas geotécnicas. Um horizonte superior que engloba os
depósitos de aterros, de muito fraca qualidade, com uma espessura mais significativa a tardoz da muralha,
(ZG4), seguindo-se um horizonte intermédio, que engloba essencialmente aluviões, também de fraca
qualidade (ZG3). Surge por último um horizonte inferior, constituído por argilas siltosas, argilas margosas
e areias muito coesas, com valores de Nspt inferior a 50 pancadas, numa espessura de 2,0 m a 4,0 m
(ZG2), sendo este caracterizado a maiores profundidades por valores de Nspt superiores a 60 pancadas
(ZG1).

No que toca à hidrologia do local, a análise das leituras realizadas durante a campanha de prospecção
efectuada em Janeiro de 2008, portanto num período de importante pluviosidade, revelou que na
totalidade das sondagens os níveis de água registados apontavam para um nível freático situado a cerca
de 2,0 m de profundidade, relativamente à cota do terreno no Largo Vitorino Damásio (alçado Sul). A
permeabilidade dos terrenos nos alçados da contenção a Sul do recinto foi assim tida em conta, face à cota
do nível freático.

2.2 - Principais Condições de Vizinhança

A área da intervenção insere-se numa zona urbanizada, delimitada por arruamentos e por diversas
construções vizinhas a preservar, das quais foram apuradas as respectivas cotas e geometria dos
elementos de fundação. Destas condicionantes destacam-se os edifícios existentes, em ambas as
confrontações, de idade centenária e constituídos ainda por paredes de alvenaria e por pavimentos de
madeira.

No enquadramento descrito, as soluções propostas tentaram minimizar o impacto no normal


funcionamento destas estruturas e de todas as infra-estruturas, existentes no interior e exterior do recinto
da escavação, tendo sido compatibilizadas com o levantamento das mesmas, efectuado em fase de
preparação de obra.

O Projecto de Arquitectura previa uma demolição localizada da alvenaria constituinte da muralha para
instalação de núcleos de elevadores e rampas de acessos ao estacionamento automóvel. Deste modo, o
recalçamento previsto para a muralha teve que ser compatibilizado com estas demolições localizadas.

Conforme boa prática em obras com o enquadramento da presente, foram realizadas, antes do início dos
trabalhos, diversas vistorias aos edifícios vizinhos, tendo ainda sido efectuado um levantamento dos
diversos serviços enterrados. Estes levantamentos constituiriam um importante contributo para avaliar e
interpretar o estado de conservação das estruturas vizinhas a conservar, assim como para confirmar a
geometria e a localização das infra-estruturas existentes, permitindo uma adequada e atempada adaptação
das soluções propostas ao cenário real na obra.

3 - SOLUÇÕES PROPOSTAS

Na concepção das soluções preconizadas para esta intervenção procurou-se, para além da necessária
contenção dos terrenos a escavar, respeitar os seguintes pressupostos de base:

 Controlar as deformações nos terrenos envolventes à escavação, permitindo ainda a fácil


adaptação da solução a eventuais singularidades de natureza geológica e geotécnica;

 Garantir a menor interferência possível com todas as estruturas e infra-estruturas adjacentes;

 Procurar garantir facilidade, rapidez e, sobretudo, segurança de execução;

 Definir soluções com o menor custo associado possível, integrando para tal e sempre que viável, os
elementos necessários para a fase provisória na solução da fase definitiva.

Dada a dimensão do recinto de escavação, os dois últimos pressupostos adquiriram especial importância,
razão pela qual estiveram na base dos principais critérios que orientaram a concepção das soluções
preconizadas.

Tendo por base os condicionamentos descritos, e devido ao facto das condições de vizinhança não
permitirem a realização de taludes de pré-escavação no interior dos limites da área de intervenção,
propôs-se que a escavação, necessária à construção dos pisos enterrados, fosse efectuada ao abrigo de
contenções periféricas, constituídas por painéis em betão armado, ancorados ou escorados, apoiados em
microestacas verticais.

De acordo com a prática corrente neste tipo de intervenções e tendo por base a avaliação dos principais
condicionamentos existentes, foram propostas e adoptadas duas soluções de contenção periférica (Figuras
3 e 4) com a dupla função de contenção dos terrenos escavados e de fundação do futuro edifício. Estas
contenções, materializadas através de paredes de betão armado ancoradas, executadas recorrendo à
técnica “Berlim definitivo”, foram, como já referido, complementadas com uma cortina de colunas de Jet-
Grouting nos alçados que intersectavam solos brandos saturados e de permeabilidade significativa.
Figura 3 – Cortes tipo das soluções de recalçamento e contenções periféricas e Planta.

Como referido, no alçado Sul previu-se, portanto, a execução de uma cortina de colunas de jet-grouting
constituída por colunas de 800 mm de diâmetro, uma vez que a campanha complementar de prospecção
detectou a existência de um nível freático acima da cota final de escavação, instalado em terrenos
bastante permeáveis. À frente desta cortina foi executada uma parede de betão armado, com uma
espessura mínima de 30 cm, recorrendo à tecnologia tipo “Berlim Definitivo”. Neste alçado, devido à
cortina de colunas de jet-grouting, a inexistência de edifícios adjacentes e, sobretudo, à reduzida altura de
escavação, não se previu recurso a sistemas activos de travamento.

No caso do alçado Norte, atendendo à necessidade de realizar escavações sob a muralha existente, em
alvenaria de pedra, determinadas pelas soluções previstas no projecto de Arquitectura, propôs-se a
realização de furos caroteados, no interior dos quais foram inseridas as microestacas de recalçamento
desta. Após este procedimento foram iniciados os trabalhos de execução das vigas de coroamento, e
posteriormente a escavação faseada, juntamente com a betonagem dos painéis de betão, ao abrigo do
método de “Berlim Definitivo”.

A construção da parede de contenção tipo “Berlim Definitivo” consistiu, sinteticamente, na execução


alternada, de cima para baixo, dos painéis de betão armado que apoiam em microestacas verticais com
secção tubular. Os painéis foram betonados directamente contra o paramento vertical aberto no terreno,
tendo sido garantida a estabilidade provisória da parede da contenção, durante a fase de escavação, pela
execução de ancoragens pré-esforçadas provisórias, ou escoramentos metálicos de canto também
provisórios. Na fase definitiva, a própria estrutura das lajes das caves será responsável pela estabilidade
da parede de contenção, sendo que as ancoragens provisórias, serão desactivadas após conclusão da
referida estrutura.

As microestacas atrás referidas foram colocadas no interior de furos de Ømin=8 " (20 cm), e seladas e
injectadas através de sistema de Injecção Repetitiva e Selectiva (IRS), no comprimento correspondente ao
bolbo de selagem, localizado abaixo da cota de escavação- e em terrenos competentes e geologicamente
estáveis em relação à geometria da escavação.

As microestacas foram dispostas com um afastamento em planta médio de cerca de 2,75 m, localizando-
se, em regra, uma em cada extremidade dos painéis primários. Os comprimentos médios dos bolbos de
selagem foram de 7,0 m, para as microestacas de recalçamento da muralha, e de 4,0 m, para as restantes
contenções periféricas. A opção por perfis de secção tubular apresenta ainda vantagens ao nível de
resistência à encurvadura por varejamento.

As ancoragens foram constituídas por 5 cordões de 0,6 ” (força de puxe de 600 kN) e foram seladas
através do sistema IRS em formações competentes e geologicamente estáveis em relação à geometria da
escavação. O respectivo diâmetro de furação foi de 150 mm (6 ”).

Como já referido, em fase definitiva, a própria estrutura das lajes das caves será responsável pela
estabilidade da parede de contenção, sendo as ancoragens ou escoras provisórias desactivadas após
conclusão da referida estrutura. Na fase provisória, correspondente aos trabalhos de escavação, foram
igualmente criadas condições, em função do caudal de água afluente ao interior do recinto, que permitiram
a drenagem dos terrenos, através de poços de bombagem localizadas no interior do recinto de escavação.
Figura 4 – Vistas das soluções executadas para o recalçamento e contenções periféricas.

Complementarmente, atendendo às dimensões e localização da obra, foi proposto e implementado,


durante as fases de demolição e de escavação, um Plano de Instrumentação e Observação como forma de
aferir o comportamento da estrutura de contenção e das estruturas e infraestruturas adjacentes, durante e
após os trabalhos de escavação.

4 - DIMENSIONAMENTO

O comportamento das estruturas de contenção periférica e da muralha recalçada, em termos de esforços e


de deformações, foi analisado, para todas as fases construtivas, através do programa de elementos finitos
PLAXIS 2D 2010 (Figura 5), vocacionado para o efeito.

Figura 5 – Modelo de análise numérica – Malha deformada, e deformações horizontais.

A análise realizada consistiu no estudo das secções representativas de cada alçado da contenção, no total
de 5 secções tipo, com o intuito de avaliar as deformações, estados de tensão e a estabilidade do maciço
contido, bem como de estimar os incrementos de deformação em estruturas e infraestruturas vizinhas ao
recinto de escavação. Na Figura 5 apresenta-se um exemplo de uma das secções tipo modeladas, em
particular o alçado que confronta com a Calçada Marquês de Abrantes, incluindo a muralha recalçada.

Na verificação da segurança dos elementos integrantes do recalçamento da muralha e da contenção


periférica, foi adoptada a regulamentação nacional e internacional em vigor ou, em situações não previstas
regulamentarmente, metodologias de cálculo reconhecidamente comprovadas (Bustamante e Doix, 1985).
Os terrenos interessados foram modelados a partir dos parâmetros geomecânicos apresentados no Quadro
1. Neste mesmo quadro são apresentados os principais parâmetros geomecânicos adoptados nos cálculos
efectuados, tendo os mesmos sido validados em fase de obra, através da observação dos terrenos
intersectados e através da análise dos resultados da instrumentação da obra.
Quadro 1 – Parâmetros geomecânicos dos diferentes horizontes considerados.
SPT  ’ c’ E
Horizonte geotécnico Formação K0 solo
(pancadas) (kN/m3) (º) (kPa) [MPa]
ZG4 Aterros <10 16 15 0 1 0,50 0,2
ZG3 Aluviões +/- 18 18 22 1 30 0,50 0,2
ZG2 “Argilas siltosas e margosas” <50 20 28 20 40 0,50 0,2
ZG1 “Argilas siltosas e areno-margosas” >60 21 32 50 80 0,60 0,49

5 - FASEAMENTO CONSTRUTIVO

Apresenta-se em seguida, ilustrado de forma sucinta nas Figuras 6 a 11, um resumo do faseamento dos
principais trabalhos executados durante a obra.

i) Demolição dos edifícios existentes.

Figura 6 – Limpeza do recinto após demolição dos edifícios existentes.

ii) Execução de microestacas da contenção periférica, incluindo recalçamento da muralha existente.

Figura 7 – Preparação de plataforma e execução de microestacas de recalçamento da muralha.


iii) Execução de vigas de recalçamento e de coroamento de microestacas.

Figura 8 – Execução e betonagem de vigas de recalçamento.

iv) Execução de ancoragens e escavação.

Figura 9 – Tensionamento de ancoragens e escavação.

v) Contenção alçado Sul.

Figura 10 – Execução da contenção no Alçado Sul.


vi) Último nível de contenção – Alçado Norte.

Figura 11 – Execução de último nível de contenção no Alçado Norte, compatibilizada com o recalçamento da muralha,
e escavação dos troços sob a muralha, conforme exigência do Projecto de Arquitectura.

6 - INSTRUMENTAÇÃO E OBSERVAÇÃO

Tendo por base o enquadramento e a complexidade das soluções adoptadas na obra, foi, como já referido,
implementado um Plano de Instrumentação e Observação (PIO), com o objectivo de assegurar a realização
dos trabalhos em condições de segurança para a obra e para as estruturas e infra-estruturas vizinhas, bem
como para validar atempadamente os pressupostos de dimensionamento considerados na fase de Projecto.
No enquadramento descrito, foram instalados os seguintes aparelhos:

 45 alvos topográficos, distribuídos pelos vários alçados da contenção periférica e nas fachadas e
empenas dos edifícios vizinhos;

 11 células de carga (C), para aferição da carga instalada nas ancoragens;

 3 inclinómetros (I), a tardoz da muralha.

Estes aparelhos permitiram a definição de perfis verticais de observação, procedendo-se à leitura dos
mesmos com uma periodicidade semanal a quinzenal, durante os trabalhos de escavação. A partir dos
resultados dos cálculos realizados para o dimensionamento das soluções foram definidos critérios de alerta
e de alarme, assim como medidas de reforço, caso os referidos critérios viessem a ser atingidos.

Figura 12 – Leituras do inclinómetro I4 do Alçado Norte, e sua localização.

Conforme se pode verificar na Figura 12, a muralha sofreu um movimento de translação horizontal, o qual
ocorreu durante o período de suspensão de trabalhos, entre a demolição dos edifícios existentes e o início
dos trabalhos de recalçamento e escavação e contenção periférica. Este movimento foi incrementado em
cerca de 8 mm até ao fim dos trabalhos de escavação e contenção periférica, o que esteve em
concordância com os deslocamentos previstos no modelo numérico.

Figura 13 – Leituras dos alvos e identificação das fissuras no edifício vizinho.

Verificou-se ainda que no decorrer da obra, e em particular no alçado Nascente que confronta para os
edifícios vizinhos (onde estava previsto o tratamento prévio do terreno através de uma cortina de colunas
de Jet-Grouting), foram atingidos os valores de alarme para o critério dos deslocamentos horizontais, e
evidenciadas fendas e infiltrações, identificadas na Figura 13, durante os trabalhos associados à realização
das primeiras colunas de Jet-Grouting. Esta ocorrência motivou uma análise atenta da situação e a
implementação de uma solução de reforço que passou pela execução de um maior número de colunas, de
menor diâmetro e pelo incremento do número de microestacas executadas no local, promovendo um
recalçamento mais eficaz das empenas do referido edifício. Após a implementação destas medidas de
reforço, observou-se uma estabilização dos movimentos, comprovando a eficácia das referidas medidas.

7 - PRINCIPAIS QUANTIDADES

As principais quantidades associadas aos trabalhos descritos no presente artigo apresentam-se em seguida
no Quadro 2.
Quadro 2 – Principais estimativas de quantidades.

Material Escavação Betão Aço Solo-cimento Microestacas Ancoragens


Unidades
m³ m³ kg mL ml ml
de medição
Valor total 6.109 433 58.796 514 1.047 1.057

8 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A dimensão e complexidade da obra apresentada determinou a implementação de uma diversidade de


soluções técnicas e construtivas, definidas e compatibilizadas tendo por base os vários condicionamentos
existentes. A gestão do comportamento das soluções adoptadas foi conseguida através da análise e
interpretação atempada dos resultados da instrumentação e observação da obra, ferramenta indispensável
numa obra com as características da presente.

Ainda no mesmo âmbito, destaca-se, como factor importante, a versatilidade das soluções implementadas,
as quais possibilitaram diversos ajustes e afinações no decorrer da obra, em função da informação
adicional que foi sendo recolhida e atempadamente interpretada, ao longo dos trabalhos de furação e de
escavação.

Destaca-se ainda a importância que teve a implementação do plano de instrumentação e observação, pois
este permitiu monitorizar os deslocamentos das contenções e edifícios vizinhos em tempo útil,
possibilitando a implementação de soluções de reforço localizadas, mas de comprovada eficácia.
AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à EDIFER IMOBILIÁRIA, Dono de Obra, a autorização para a redacção e publicação
do presente artigo. Consideram ainda importante sublinhar que as soluções implementadas resultaram de
um trabalho de equipa, no âmbito do qual deve ser destacado o papel importante das empresas JSJ, ao
nível do Projecto de Estabilidade, e da empresa Tecnasol, nas intervenções de natureza geotécnica e de
instrumentação e observação.

REFERÊNCIAS

Bustamante, M., Doix, B. (1985). Une method pour le calcul de tirants et des micropieux injectes, Bulletin de Liason des
Laboratories des Ponts et Chaussées, Ministére de L’Équipement, du Logement, des Transports et de la Mer,
Paris.
Pinto, A., Pereira, A., Villar, M. (2007). Deep Excavation for the new Central Library of Lisbon, Proceedings of the 14th
European Conference on Soil Mechanics and Geotechnical Engineering, Madrid, Espanha, pp. 623 – 628.
Pinto, A., Pita, X. (2011). Deep Excavations in Luanda City Centre, Proceedings of the15th African Regional Conference
on Soil Mechanics and Geotechnical Engineering, Maputo, Moçambique, pp. 269 – 274.

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