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P au l Y onggi C h o

R.Whitney Manzano
MUITO
MAIS DO
NUMEROS
Wm
MBSa

NUMEROS
MUITO MAIS
PO QUE
NUMEROS!
O Dr. C. Peter Wagner, professor de Crescimento dc
na Escola de Missões Mundiais, do Seminário Tef
Fuller, assim se refere a este livro: .. um livro proem
É, por certo, um dos mais significativos livros da décad
o crescimento da igreja.”

O Dr. Paul Yonggi Cho, que se converteú do bi


quando jovem, é pastor da Igreja Central do Evangelho
há mais de 25 anos. Antes de entrar para o pastorado, o 1
fez cursos de medicina e de direito. Seus livros anh-
publicados em português, incluem: A Quarta Din
Soluções para os Problemas da Vida e Grupos Família
Crescimento da
R. Whitney Manzano m 'osofia, represen
Cho na América d o T tor. Como ed
e escritor, j suas publica
cc
ÍNDICE

Introdução......................................................... 7
1. Crescimento da igreja e nossos
recursos pessoais ............................................. 11
2. Crescimento da igreja e o laicato.................. 33
3. Crescimento da igreja e o sistema de
grupos ................................................................ 43
4. Crescimento da igreja e os veículos
de comunicação ............................................... 65
5. Crescimento da igreja e o reino deDeus ... 87
6. Crescimento da igreja e reavivamento ......... 113
7. Crescimento da igreja internacional.............. 149
8. Crescimento da igreja e o futuro .................. 165
INTRODUÇÃO

A expressão “crescimento da igreja” está-se tornan­


do rapidamente popular no mundo inteiro. Não
obstante, que é crescimento da igreja? Difere de
expressões comuns já em uso, tais como “evangeliza­
ção” ou “missões mundiais”? Antes que eu tente
responder a essas importantes perguntas, devo dar ao
leitor uma vista geral de como trato este assunto de
grande importância.
Sendo coreano e tendo sido salvo da religião
budista, tenho podido avaliar a posição característica
dos cristãos procedentes dos países do Terceiro Mun­
do. Estamos vindo de uma cultura que não é tradicio­
nalmente cristã. Os primeiros missionários norte-ame­
ricanos chegaram à Coréia há quase cem anos. A
partir daí, nós, cristãos evangélicos coreanos, desen­
volvemos nossas próprias tradições. Isto é muito
importante porque nos possibilita ser cristãos sem ser
menos coreanos. No passado, os missionários não só
levavam sua religião aos países que evangelizavam,
mas também sua cultura. É lógico, portanto, que os
novos convertidos tenham perdido muito de sua
herança natural. Creio que este fato criou um obs­
táculo à aceitação do evangelho de Jesus Cristo, o
qual é para todos os povos. Portanto, o crescimento
8 Muito mais do que números
da igreja é mais do que apenas missões mundiais,
porque opera em um nível individual ou congregacio-
nal, sem levar em conta a cultura ou nacionalidade.
Já afirmei que sou ministro evangélico. Que preten­
do dizer com isso? E difícil rotular alguma coisa ou
alguma pessoa. Contudo, sem uma definição de
nossos termos, teremos dificuldade em comunicar
exatamente o que pretendemos dizer. Por evangélico
entendo uma posição básica quanto à teologia e
quanto a estilos de vida. Em palavras mais simples,
creio em um Deus trino e uno: Pai, Filho, e Espírito
Santo. Creio que a Bíblia, em seu texto original, é a
inspirada Palavra de Deus, autoridade final e infalível
de fé e metodologia. Como cristão evangélico também
creio em viver uma vida moralmente reta que manifes­
ta o fruto do Espírito Santo. Finalmente, creio na
realidade do novo nascimento que produz mudança
do estilo de vida e gera um desejo autêntico de ver
outras almas salvas do pecado. Embora haja no
presente algumas divergências entre os evangélicos
quanto à manifestação dos dons do Espírito Santo,
creio que, como cristãos comprometidos com a causa,
devemos esforçar-nos por manter a unidade do Espíri­
to Santo no vínculo da paz.
Também escrevo este livro da perspectiva particular
de um pastor que organizou três igrejas nos últimos
vinte e seis anos. Tenho lucrado muito com a leitura
de livros que me esclareceram a Palavra de Deus.
Contudo, não sendo teólogo, pois sou formado em
Direito, escrevo baseado em minha experiência pes­
soal. Deus tem sido bom para comigo. Todas as igrejas
que fundei ainda são congregações saudáveis, cres­
centes. Minha atual igreja tem um rol de membros de
trezentas e trinta mil almas, e continua crescendo à
razão de dez mil membros por mês.
O sucesso não veio com rapidez ou com facilidade.
Introdução 9
Muitas das lições que tenho aprendido resultaram de
provas difíceis em minha vida e ministério; a graça de
Deus sempre foi suficiente para a provação do mo­
mento.
Sendo pastor, estou particularmente interessado
nos princípios de crescimento da igreja que afetam a
congregação local. Portanto, escrevo este livro com a
consciência de que não só os pastores, mas também
os cristãos sinceros que se interessam por suas igrejas,
procurarão ler o que escrevo. Por este motivo, faço-o
num estilo tão simples quanto possível, sem limitar a
profundidade do que Deus me ensinou.
Já tenho lido artigos e manuscritos que citam meu
ensino sobre o crescimento da igreja. Às vezes fico
desapontado com sua perspectiva a respeito do que
digo. Visto que apresento muitos princípios e técnicas
quando ensino, alguns ouvem apenas as técnicas e
nunca captam a teologia básica e a filosofia espiritual
que fazem essas técnicas funcionar. Crescimento da
igreja é mais do que um conjunto de idéias e princípios
que, quando postos em prática, automaticamente
fazem a igreja crescer em número. Por este motivo,
uso a primeira parte deste livro para demonstrar
minha filosofia básica tão claramente quanto possível.
Tratarei, em particular, do coração do líder, porque é
aí que o crescimento da igreja deve começar.
Por fim, dirijo minhas observações diretamente a
você, meu amigo. Muitas vezes lemos um livro com
indiferença. Por favor, não leia este livro com essa
atitude, mas acompanhe-me na viagem de conheci­
mento espiritual do crescimento da igreja. Conto
como certo que você é um cristão consagrado,
interessado na edificação não só da igreja de Jesus
Cristo, mas, em particular, de sua própria congregação
local, não importa se grande ou pequena.
Por favor, leia este livro num lugar tranqüilo, onde
10 Muito mais do que números
possa tirar dele o maior proveito. Tenha à mão,
também, sua Bíblia, porque a estarei citando a todo
instante. Se você quiser sublinhar alguns parágrafos
do livro, espero que não o tenha tomado emprestado!
Escrevo-o na esperança de que você o consulte muitas
vezes. Se marcar alguns trechos, não terá dificuldade
para localizar a passagem que realmente o ajudou.
1
CRESCIMENTO DA IGREJA
E NOSSOS RECURSOS PESSOAIS

Durante muitos anos tenho orado pedindo a Deus a


capacidade de falar com autoridade sobre o cresci­
mento da igreja. Lembro-me de, há alguns anos, fazer
a seguinte oração: “Senhor, minha igreja possui
apenas 50.000 membros. Quem me dará ouvidos
quando eu falar de crescimento da igreja?” Então,
quando Deus me deu 100.000 membros, senti-me
como se ainda não pudesse falar sobre o assunto com
um verdadeiro senso de autoridade. Há dois anos, de
novo aproximei-me de Deus em oração, dizendo:
“Senhor, se tu me deres pelo menos 200.000 mem­
bros, as pessoas me ouvirão quando eu falar das
coisas que me ensinaste sobre crescimento da igreja.”
No começo de 1983, havíamos atingido o marco
histórico de uma só congregação com 200.000 mem­
bros. Embora nenhuma outra congregação tenha
conseguido até aqui um rol de membros desse porte,
ainda não me sinto à vontade quanto falo ou escrevo
sobre crescimento da igreja. Sei que ainda há muita
coisa que devemos aprender.
Pesquisa e desenvolvimento constituem em muitas
disciplinas, um aspecto de interesse muitíssimo impor­
tante, mas historicamente temos considerado o desen­
volvimento de uma igreja local como fato consumado.
12 Muito mais do que números
Devemos reconhecer que a única entidade de supre­
ma importância aqui na terra é o reino de Deus
manifestado ao mundo—a igreja de Jesus Cristo. Por
que não tem havido mais estudos e escritos sobre seu
desenvolvimento adequado? Porém ao aproximar-nos
do fim desta era, a igreja está de novo assumindo uma
posição central na consciência do povo de Deus.
Para Crescer por Fora é Preciso Crescer
por Dentro
O milagre da Igreja Central do Evangelho Pleno é
muito maior ao considerarmos que a Coréia tem sido,
tradicionalmente, um país budista. Quando jovem,
lembro-me de haver orado a Buda. Vim de um lar
religioso budista. Portanto, a realidade de que Deus
me usaria para edificar a maior igreja do mundo, na
história do Cristianismo, tem de ser atribuída à
multiforme graça de Deus. Na primeira parte do meu
ministério aprendi uma verdade: para crescer exterior­
mente é preciso, primeiro, crescer interiormente. Por
crescimento interior quero dizer o desenvolvimento
dos recursos interiores do líder. Isto é de importância
primordial.
Recentemente parei junto a um projeto de constru­
ção na vizinhança de minha casa em Seul. O enorme
buraco que estavam cavando, parecia-me tão profun­
do que não haveria como enchê-lo. Engenheiros e
operários trabalhavam com cuidado no grande abis­
mo. Perguntei a alguém que estava ali por perto:
—Por que cavam tão fundo?
O cavalheiro olhou-me com um sorriso, e disse:
—É porque planejam levantar um edifício alto.
O caráter fundamental do homem nem sempre é
óbvio. Assim também não se vê o alicerce de um
edifício depois de erigido. Mas quando se manifesta a
tensão da finalidade do edifício, a resistência do
E nossos recursos pessoais 13
alicerce é de suma importância. O dirigente de uma
igreja deve ter um sólido fundamento para o cresci­
mento dela. Na verdade, quanto maior a igreja, tanto
mais forte deve ser seu alicerce.
Estive, há pouco tempo, numa grande cidade norte-
-americana, ensinando em uma de nossas Conferên­
cias Internacionais de Crescimento da Igreja. Uma
senhora aparentando quarenta e poucos anos, aproxi­
mou-se de mim e perguntou com grande sinceridade:
—Dr. Cho, que posso fazer para levar minha igreja
a crescer com dinamismo?
—Irmã, onde está seu pastor? —perguntei-lhe, olhan­
do diretamente em seus olhos. A resposta veio rápida:
—Oh, meu pastor nunca comparece a este tipo de
reunião.
Após notar que ela falava com indiferença a respeito
da falta de interesse do seu pastor, eu disse:
—Uma coisa que a senhora pode fazer é ir de volta
à sua igreja e começar a orar pelo seu pastor. Mas, não
ore apenas por ele. Comece a dar apoio ao trabalho
que ele está fazendo na igreja. Uma vez convencido de
seu sincero interesse por ele e pelo bem-estar da
igreja, ele virá.
O crescimento da igreja jamais ocorrerá sem a
liderança ativa do pastor. Tenho visto pastores enviar
seus representantes ou co-pastores às conferências
sobre crescimento da igreja, mas isso não basta. Se
você é dirigente de um grupo cristão, deve empenhar-se
ativamente ou então encontrar alguém que lidere. Se
a sua igreja não está crescendo, então creio que este
livro é para você. Se está crescendo mas acredita que
deveria estar crescendo mais depressa, então é deste
livro que você precisa. Quem quer que seja você,
garanto-lhe que nunca mais será o mesmo depois de
havê-lo lido com cuidado.
14 Muito mais do que números
Mudando a Atitude
Seu coração é o lugar em que Deus começa a obra
de crescimento da igreja. É no coração que começam
todos os nossos problemas. Jesus disse: “Não se turbe
o vosso coração” (João 14:1). Salomão disse: “Sobre
tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração,
porque dele procedem as fontes da vida” (Provérbios
4:23). Salomão correlaciona o efeito da visão do
indivíduo com seu coração: “Filho meu, atenta para
as minhas palavras; aos meus ensinamentos inclina o
teu ouvido. Não os deixes apartar-se dos teus olhos;
guarda-os no mais íntimo do teu coração” (Provérbios
4:20-21).
Como é que alguém se torna bem-sucedido como
pastor, como empresário, ou em qualquer outra
profissão? Primeiro é preciso que se mude a atitude do
coração. Como se efetua essa mudança? Examine a
visão que você tem. Se sua visão é errada ou se é
pequena demais para a capacidade que Deus lhe
concedeu, a atitude do seu coração também será
errada e você se desanimará, se desnorteará e ficará
deprimido.
Alguns pastores acobertam o fracasso dizendo coi­
sas que parecem espirituais. Continuando a dizer tais
coisas, finalmente se convencem a si mesmos e às suas
congregações de que não crescer é fato normal. Certa
vez um pastor me procurou após uma de minhas
preleções e disse:
—Dr. Cho, não concordo com o senhor. Creio que
Deus nos chamou para sermos os poucos escolhi­
dos—. Com um suspiro e ar piedoso, ele continuou:
—Não contamos nossa gente. Deus livrou-nos da
confusão dos números.
Tendo já ouvido afirmativas desse teor, não me
escandalizei com tais declarações. Simplesmente lhe
pedi que estudasse o livro de Atos, em particular 2:41,
£ nossos recursos pessoais 15
em que Lucas nos diz que na primeira reunião da
igreja, três mil pessoas se converteram. Na próxima
reunião evangelística de Pedro e João, sabemos que
cinco mil almas foram acrescentadas à igreja. Ora, se
Lucas achou importante registrar os resultados das
duas primeiras reuniões públicas da igreja, por que
deveríamos nós ignorar registros que Deus está obvia­
mente conservando?
Ficar satisfeito com insignificância não só revela falta
de visão mas também falta de compaixão. Com três
bilhões de pessoas ainda aguardando a oportunidade
de rejeitar ou aceitar o evangelho, o momento não é
para sentir-se satisfeito. Se a igreja há de crescer, Deus
deve operar no coração dos líderes.
A Visão de um Homem Também Limita seu
Comportamento
Nunca seremos maiores do que nossos sonhos. Ao
fixar os olhos na santa Palavra de Deus e desenvolver
profunda comunhão com o Espírito Santo, nossa
visão se transforma. Como podemos transformar
nossa visão? Não pc demos; mas o Espírito Santo
pode, e o fará.
Logo que me casei, aceitei minha esposa como um
fato consumado. Eu era um pastor ocupado, e
quando não estava ensinando, visitando e orando,
viajava pelo país pregando em cultos de evangeliza­
ção. Vinha para casa simplesmente para mudar de
roupa e saía de novo. Após algum tempo minha
esposa ficou deprimida e chorando, me disse:
—Por que se casou? Você não precisa de uma
esposa—precisa é de uma empregada.
Censurei-a imediata mente:
—É o diabo que está falando por seu intermédio,
mulher.
Sentia-me justamente indignado, e continuei:
16 Muito mais do que números
—Sou ministro do evangelho; vou fazer a vontade
de Deus, não importa o que você diga.
Um dia minha estimada sogra veio conversar comi­
go:
—Filho, sei que você ama a minha filha. Agora que
você está casado, precisa mostrar este amor. Vocês
precisam aprender a passar tempo juntos, conhecer
um ao outro, e isso também glorificará a Deus.
Deus tomou essas palavras e as usou, não só em
meu casamento, mas também em minha relação com
o Espírito Santo. Eu tinha de libertar-me do conceito
de que o Espírito Santo não passa de uma experiência
e chegar ao reconhecimento de que ele é uma pessoa
divina, real.
A medida que comecei a esperar nele e a falar com
ele, ele passou a ser real para mim e minha visão
começou a mudar. Na verdade, quando fixamos o
olhar no Espírito Santo, ele toma o pincel da fé,
mergulha-o na tinta da Palavra de Deus e desenha
belos quadros sobre a tela de nosso coração. Depois
de dar-nos um novo quadro pelo qual lutar, descobri­
mos uma nova motivação interior.
Nada há que possa desanimar aquele que recebeu
uma visão do Espírito Santo. Um dos principais
obstáculos a vencer é a opinião dos que dizem: “E
impossível. Nunca se fez isso antes.” Qual é o
problema deles? É que nunca viram o que Deus
mostrou a você. Uma vez que Deus lhe concedeu uma
visão, é preciso aprender a passar tempo sonhando
com ela.
Esta é a essência de minha filosofia cristã. Ela
abrange todos os princípios da obra de crescimento da
igreja. Chamo-a de “visões e sonhos”. Em minhas
viagens pelo mundo, tenho visto demonstrações de
que a aplicação de “visões e sonhos” realmente
funciona e muda a atitude do coração do indivíduo.
E nossos recursos pessoais 17
Faz alguns anos, nossa denominação na Austrália
pediu-me que realizasse um seminário para pastores.
Parece que as igrejas tinham um problema: não
cresciam. A Austrália é um belo país, com um povo
forte e operoso. Sempre admirei os australianos e me
admirava do quanto estavam abertos à obra do
Espírito Santo.
Antes do início das preleções, alguns dos pastores
me contaram, individualmente, as dúvidas que tinham
do futuro do crescimento da igreja na Austrália.
—Esta é uma sociedade afluente; os australianos se
interessam mais por esportes do que pela obra de
Deus—disse-me um pastor que parecia muito desani­
mado.
—Seus princípios podem funcionar na Coréia, mas
aqui não funcionarão—disse-me outro pastor.
Depois de orar, eu estava certo de que havia
diagnosticado o problema. Esses homens estavam
satisfeitos com o status quo. Tinham congregações
que variavam de trinta a cinqüenta membros; e visto
que a maioria era dizimista, podiam viver confortavel­
mente sem expandir-se. Assim, muitas vezes as igrejas
se tornam em pequenos clubes restritos. Quando isto
acontece, não se desenvolve o desejo de ver a igreja
crescer.
Uma experiência engraçada que tive ao chegar à
Austrália veio confirmar minha opinião quanto ao
problema da igreja. A viagem aérea de Seul, na
Coréia, até à Austrália, é longa. Quando cheguei,
estava bem cansado. Portanto, desejava ir para um
bom hotel, tomar um banho quente de chuveiro e
uma boa refeição. Meu anfitrião cumprimentou-me
afetuosamente no aeroporto; colocou em seu carro
minha mala (sempre viajo com pouca bagagem) e me
conduziu ao hotel. Em vez de prestar atenção à nossa
conversa ligeira, minha mente antegozava uma boa
18 Muito mais do que números
soneca após a refeição; depois eu estaria pronto para a
primeira reunião. A medida que o carro ia rodando,
passamos em frente do belo Hotel Hilton, porém
havia um Hyatt mais adiante e nos encaminhávamos
naquela direção. Para minha surpresa, deixamos o
Hyatt para trás—na verdade, estávamos agora deixan­
do o centro e nos encaminhando para um bairro
pobre da cidade. Logo paramos em frente da Associa­
ção Cristã de Moças. Eu, o único homem numa
hospedaria de mulheres! Ao entrar no refeitório, notei
diversos grupos de senhoras olhando em minha
direção, rindo. Passei por diversas mesas para chegar
à cozinha.
Na parede além da porta estava o único telefone da
hospedaria. Quando voltei as vistas para o refeitório,
os mesmos grupos de mulheres ainda estavam rindo.
Senti-me como um bicho oriental num zoológico
ocidental.
—Por favor, telefonista, desejo falar com a Sra. Cho
neste número, chamada a cobrar—disse eu, sentindo-me
inquieto em face de minhas circunstâncias fora do
comum.
—Alô, querido, dê-me o número do telefone do seu
hotel para que eu possa chamá-lo—respondeu minha
esposa toda feliz.
—Bem, não sei o número—disse com voz mansa.
Imediatamente minha esposa percebeu que havia algo
errado. Com grande firmeza, perguntou:
—Onde está você?
—Os pastores me alojaram na Associação Cristã de
Moças—confessei afinal.
—Dê o fora daí imediatamente—declarou ela sem
hesitação.
Expliquei-lhe que embora eu tivesse dinheiro para
hospedar-me num hotel de primeira classe, não queria
ofender meus anfitriões; diante disso ela concordou
E nossos recursos pessoais 19
em que eu ficasse ali. Este incidente era outro indício
do problema maior com a liderança. Eles não acredita­
vam em Deus para obter coisas maiores.
Naquela semana passei muito tempo ensinando os
líderes a começarem a expansão de suas visões e
sonhos. Por estranho que nos soe aos ouvidos, parece
que o Pai celeste permite que seus representantes na
terra limitem a atividade divina pela falta de visão.
Após lidar com a questão de como expandir suas
visões e sonhos, ensinei-lhes os mesmos princípios de
crescimento da igreja que incluo neste livro. Fiquei
contente, no ano passado, ao ouvir que desde nossa
Conferência de Crescimento da Igreja, as igrejas da
Assembléia de Deus na Austrália tiveram um notável
aumento. Depois de dois anos, a taxa de crescimento
era superior a 50%. Antes da conferência, o cresci­
mento estava abaixo de 1%. Visto como a população
da Austrália havia crescido a uma taxa muito mais
elevada, as igrejas ali se tomavam mais insignificantes
a cada ano que passciva. Agora tudo era diferente.
Que aconteceu com os pastores australianos? Mu­
daram a atitude do seu coração. Captaram uma nova
visão do Espírito Santo, permaneceram nessa visão, e
finalmente viram-na transformar-se em realidade. Este
processo se tornará mais claro à medida que você
continuar a leitura.
Visões e Sonhos São a Linguagem do
Espírito Santo
Se eu fosse escrever este livro em coreano, estou
certo de que a maioria dos meus leitores não o
entenderia. Se você não puder entendê-lo, não terá
valor para você. Por isso, precisamos aprender a
linguagem do Espírito Santo.
Paulo revelou-nos um importante aspecto da lin­
guagem de Deus, ao escrever: “O Deus que vivifica os
20 Muito mais do que números
mortos e chama à existência as coisas que não
existem” (Romanos 4:17). Paulo referia-se à posição
da fé que Abraão tinha. Na verdade, Abraão é o
exemplo perfeito do homem que aprendeu a entrar no
domínio da visão e sonhos. Abraão era um homem
que não estava disposto a permanecer no status quo.
Ele podia deixar o conhecido e de comum acordo
entrar em um novo lugar.
A promessa de Deus a Abraão foi: “Vai para a terra
que te mostrarei. Farei de ti uma grande nação.
Engrandecerei o teu nome. Farei de ti uma grande
bênção para todas as famílias da terra.” Se Abraão
fosse olhar para as circunstâncias, não teria levado em
conta o que Deus havia dito e permaneceria em Harã.
Sara, sua esposa, era estéril. Ele tinha setenta e cinco
anos. Canaã era uma terra estranha. Não obstante,
Abraão possuía uma qualidade fundamental que o
levava a obedecer a despeito de qualquer obstáculo.
Em vez de ver o cumprimento da promessa de Deus,
ele passou fome, que o forçou a ir para o Egito. Aí,
Abraão também enfrentou circunstâncias embaraço­
sas, porém as venceu e retornou a Canaã. Uma vez
separado de Ló, Deus falou-lhe de novo: “Ergue os
olhos e olha desde onde estás para o norte, para o sul,
para o oriente e para o ocidente; porque toda essa
terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência,
para sempre” (Gênesis 13:14, 15). Abraão teve de
chegar ao ponto de ver o que Deus estava prometen­
do. Antes de Abraão começar a andar na promessa de
Deus, ele tinha de vê-la. Antes de você entrar numa
nova dimensão de êxito em sua vida e serviço, é
preciso que você tenha olhos para vê-la.
Observe que primeiro Abraão foi obediente a Deus,
deixando o conhecido, dispondo-se a entrar no desco­
nhecido. Embora cresse que Deus podia fazer o que
prometera, Abraão teve de ver a promessa antes que
£ nossos recursos pessoais 21
realmente pusesse os pés nela. O mesmo princípio era
válido no cumprimento da promessa de Deus a ele
concernente a um filho. Abraão viu a promessa ao
olhar para as estrelas do céu. “Conta as estrelas”,
havia dito Deus. “Assim será a tua posteridade.”
Uma vez que Abraão entrara num relacionamento
de obediência com ele, Deus lhe deu uma visão. Em
segundo lugar, Abraão sonhou com o cumprimento
dessa visão. Passava as noites contemplando as
estrelas do céu, e sua imaginação saturou-se do
cumprimento da Palavra de Deus a ele. Não só teria
um filho, mas a sua posteridade seria numerosa como
as estrelas do céu. Ele teria de incubar essa promessa
cerca de vinte e cinco anos antes que a visse tornar-se
realidade, mas havia começado a aprender a lingua­
gem do Espírito Santo: “Deus chama à existência as
coisas que não existem.”
Paulo dá-nos uma posterior descrição da obra do
Espírito Santo em revelar os propósitos de Deus para
nós: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem
jamais penetrou em coração humano o que Deus tem
preparado para aqueles que o amam” (1 Coríntios
2:9). A seguir, Paulo acrescenta algo novo ao que
havia sido uma citação geral de Isaías 64:4: “Mas
Deus no-lo revelou pelo Espírito.” Paulo mostra,
então, por que o Espírito Santo pode revelar-nos o
plano de Deus: “Porque o Espírito a todas as coisas
perscruta, até mesmo as profundezas de Deus” (1
Coríntios 2:10).
Devemos lembrar-nos sempre de que Deus está
mais interessado do que nós em nosso êxito no
crescimento da igreja. Afina! de contas, trata-se da
igreja dele. O problema é qu j nossos corações não
tinham a atitude própria porque nossa visão não era
correta. Não temos a visão adequada porque não
entramos numa profunda e amorável comunhão com
22 Muito mais do que números
o Espírito Santo. Ora, o modo de tratar uma enfermi­
dade, conforme aprendi na faculdade de medicina,
não é tratar do sintoma, mas ir direto à causa
fundamental. A enfermidade é a falta de crescimento
da igreja. O motivo fundamental é a falta de visão dos
líderes por causa do fracasso em ter comunhão com o
Espírito Santo.
Somos essencialmente seres espirituais, usando
intelecto e emoção, alojados num corpo físico. Nosso
espírito revive por ocasião do novo nascimento, mas
necessita de nutrição e desenvolvimento. O Espírito
Santo nos foi dado como Consolador para guiar-nos e
orientar-nos. Ele tem a mente de Deus, até para sua
igreja. Uma vez que a pessoa recebe a visão e direção
do Espírito, a atitude do seu coração muda do fracasso
para o sucesso. Agora ela começa a ser motivada por
uma força maior do que pode imaginar, e começará a
ver os resultados ao observar os princípios adequados
de crescimento da igreja.
Sem mudar a atitude do coração, a pessoa pode ler
este livro e outros mais sobre o crescimento da igreja e
jamais ver resultado em sua vida e ministério. Aprendi
este princípio logo no início de meu ministério. Eu
estava fundando uma igreja num país não-cristão.
Recém-saído de um instituto bíblico, vi-me cercado
pela pobreza e doença de um país que se recuperava
de duas guerras devastadoras. Todas as circunstâncias
eram negativas. Aprendi a jejuar, não por causa de
minha grande espiritualidade, mas porque não havia o
que comer. Esses princípios não foram aprendidos
todos de uma vez. O Espírito Santo levou anos para
desenvolver esta compreensão em minha vida e
ministério.
Neste momento tenho uma visão de 500.000
membros em nossa igreja local para 1984. Acordo
com a visão dessa gente enchendo-me a mente, e
E nossos recursos pessoais 23
quando vou deitar-me, essas pessoas são tão reais
como se eu estivesse pregando para elas hoje. Com o
presente índice de crescimento e com o programa de
construção em curso, não tenho a mínima dúvida de
que a visão se tornará realidade no tempo determina­
do.
Há pouco ouvi a história de um casal, em Nova
Iorque, que negocia no ramo de automóveis; esse
casal pôs este princípio a funcionar em seu negócio.
Decorridos apenas três anos, têm agora a maior
distribuidora de sua linha de carros na área da cidade
de Nova Iorque. Isto é mais impressionante quando
sabemos que 1982 foi o ano em que houve maior
número de falência de distribuidores, nos Estados
Unidos. Os princípios divinos funcionam em qualquer
empreendimento, inclusive na indústria automobilística.
O Espírito Santo bem sabe que este é o fim da era.
Agora ele está preparando a noiva de Jesus Cristo
para a segunda vinda do Noivo. Contudo, estou
consciente de que dos quatro bilhões e meio de
pessoas vivas hoje, mais de 70% não tiveram a
oportunidade de aceitar ou rejeitar a Jesus Cristo. Se a
igreja despertar-se para a grande tarefa e começar a
crescer por toda parte, veremos mais gente no céu do
que no inferno por ocasião da segunda vinda do
Senhor. Poderá facilmente haver milhares de igrejas
tão grandes quanto a nossa, ou maiores até, em todos
os continentes.
O maior obstáculo à realização do desejo de Deus
de ver sua igreja crescer, é a falta de visão dos líderes.
“Isso não pode acontecer aqui. Este campo é muitíssi­
mo difícil.” Tais afirmações negativas devem ser
eliminadas de nosso vocabulário, de uma vez por
todas. Temos de começar a usar a linguagem do
Espírito Santo e criar uma nova consciência de
sucesso na mente do nosso povo.
24 Muito mais do que números
Mudando a Auto-imagem
—Dr. Cho, sou um pecador imprestável. Por que
Deus me usaria na edificação de uma grande igreja?
—disse-me, após uma conferência recente, um desco-
roçoado pastor que já pensava em renunciar à sua
igreja e abandonar por completo o ministério.
Qual a imagem que você tem de si próprio? Quanto
você acha que vale? Pode Deus usá-lo para realizar
uma significativa transformação no mundo? (Estão aí
algumas perguntas importantes que você deve fazer a
si mesmo ao analisar sua auto-imagem.)
Cresci num país oprimido pelo Japão. Perdemos os
nomes e a língua coreanos. Em realidade, os manus­
critos coreanos foram escondidos em vasos de barro e
enterrados, para que não perdêssemos a herança
nacional, que existe por mais de cinco mil anos.
Milhares de coreanos foram arrastados para o Japão a
fim de servirem como operários comuns. Muitos não
sabem que foram mortos milhares de coreanos quan­
do se lançaram as bombas atômicas sobre Hiroxima e
Nagasáqui, duas áreas industriais do Japão.
Quando eu era criança, se alguém me tivesse dito
que Deus me usaria para construir a maior igreja da
história, eu simplesmente teria rido. Eu era um budista
devoto e não tinha a mínima intenção de mudar de
religião. Meu estado físico era muito precário devido a
um caso de tuberculose aparentemente incurável. Em
termos de um goleiro de futebol, eu já tinha dois gols
contra mim e a terceira bola vinha rápida contra a
minha rede. Não obstante, de uma condição tão
deplorável, Deus transformou totalmente minha auto-ima­
gem. O meu passado faz-me compreender a luta de
muitas pessoas oprimidas que não têm esperança
alguma quanto ao futuro. Creio, portanto, que Deus
pode mudar nossa auto-imagem, de nenhum valor
pessoal para a de um servo de Deus por quem ele
£ nossos recursos pessoais 25
enviou seu Filho para morrer. Fomos redimidos da
maldição do pecado não só quando ele nos afeta o
espírito, a alma e o corpo, mas especificamente
quando toca nossa força motivacional.
Para que motivemos os outros no sentido de
alcançar sucesso, é preciso que tenhamos uma atitude
de sucesso não só em nosso falar mas também em
nossa vida. Muitas igrejas permanecem numa atitude
de estagnação porque o pastor não possui auto-estima
suficientemente elevada. Este é um dos segredos da
liderança. Os motivos de uma auto-imagem pobre
podem ser: pobreza de aparência, educação, discipli­
na, situação familiar, capacidade e saúde. Essa lista
está longe de ser completa, mas representa as descul­
pas mais freqüentes para uma auto-imagem pobre.
Aparência Pobre
Ao viajar pelo Ocidente, tenho observado um
fenômeno comum, isto é, pregadores gordos. Devido
à dieta coreana, que acentua o consumo de porções
muito pequenas de gorduras e carboidratos, a obesi­
dade nunca foi problema para mim. Contudo, tenho
visto muitos pastores norte-americanos empanturran-
do-se após as reuniões. Os alimentos que eles ingerem
tendem a aumentar-lhes o peso. Ouço suas desculpas:
“Dr. Cho, o meu problema de peso é causado por
minhas glândulas.” Quando me encontro com embai­
xadores das principais nações do mundo, um dos
traços comuns que parecem possuir é a boa aparência
geral. Podem não ser jovens ou elegantes, mas
parecem estar em boa forma. Afinal de contas, não
representam seus países? Não deveriam apresentar a
melhor imagem? O reino de Deus também tem
embaixadores que representam o Rei dos reis e
Senhor dos senhores.
Minha opinião é que um líder pode mudar a auto-ima­
26 Muito mais do que números
gem controlando a dieta e fazendo o melhor que pode
com o que Deus lhe deu. Faça um inventário de sua
aparência. Como embaixador de Cristo, está você
fazendo o melhor para apresentar uma imagem que
outros devam imitar? Se não está, convém saber que
nunca é tarde demais para mudar. Se você sentir-se
bem a seu respeito, outros também o sentirão. Não é
preciso gastar muito dinheiro para aprender a combi­
nar cores e vestes de maneira conservadora; mas a sua
aparência pessoal fará grande diferença na forma
como outros ouvem o que você tem para dizer.
Primeiro as pessoas olham para você, depois ouvem o
que você diz. O que vêem afeta-lhes a maneira de
ouvir.
Educação Pobre
Gostaria de ter mais educação formal do que tenho.
O fato de crescer em tempos muito difíceis limitou
meu potencial de educação formal. Não obstante, vivo
todo o tempo aprendendo. As pessoas se espantam de
que eu tenha um programa em inglês nas estações de
televisão dos Estados Unidos. Tanto quanto sei, sou o
único estrangeiro a apresentar-se na televisão norte-ameri­
cana. Quantos anos estudei inglês na escola? Ne­
nhum. Estudei nos livros, fiz muitas perguntas, prati­
quei. Depois de alguns anos, eu falava inglês fluente­
mente. Na maioria dos países por onde viajo, falo em
inglês e minhas mensagens são interpretadas para a
língua local. Como aprendi a falar tão depressa? O
Espírito Santo deu-me o desejo de falar. Trabalhei e
exercitei por muitas e longas horas. Finalmente,
acreditei que eu podia ser bem-sucedido, porque o
Espírito Santo está em mim e tudo posso por intermé­
dio de Jesus Cristo.
Quando estou no Japão, falo a língua japonesa.
Aliás, também me apresento na televisão japonesa.
£ nossos recursos pessoais 27
Quando estou em países de fala alemã, pratico o
alemão. Por que me esforço por aprender? Porque
meu chamado não é só para a Coréia, mas para as
nações do mundo. Quanto mais conheço da língua,
da história e da cultura dos outros povos, tanto mais
posso ministrar-lhes ajuda espiritual. Ninguém precisa
passar o resto da vida sem instrução. Se você não
recebeu muita instrução formal, então pode e deve
instruir-se, ser autodidata. Um dos problemas que
enfrento nas viagens é ouvir os naturais do país
usarem uma linguagem pobre. Se a mensagem de
Jesus Cristo é de tão grande importância para ser
proferida, é importante também que seja anunciada
corretamente.
Autodisciplina Pobre
A falta de disciplina é outro motivo por que as
pessoas têm de si mesmas uma imagem pobre. Tenho
tido entrevistas com líderes que comparecem com
uma ou duas horas de atraso. Tráfego, pressão dos
negócios e circunstâncias imprevistas são desculpas
esfarrapadas para o atraso. Tenho a fama de sempre
chegar cedo para as entrevistas. Por quê? Porque
creio que se alguém tem importância bastante para
que eu o procure, também é importante demais para
ficar esperando. O fato de eu poder cumprir minhas
entrevistas na hora aprazada e ainda pastorear ativa­
mente a maior igreja do mundo se deve à disciplina
pessoal. Faça planos com margem para o inesperado.
Se você tem uma entrevista no outro lado da cidade,
saia cinco minutos mais cedo, prevendo problema de
tráfego. Se não surgir o problema, você chegará cedo
para o encontro. Que elogio para seu anfitrião!
Levar uma vida de disciplina ajuda-o a criar discipli­
na naqueles com os quais você trabalha. Visto como
creio em delegar não apenas responsabilidade mas
28 Muito mais do que números
também autoridade, devo confiar nos outros para
ajudar-me a conduzir meu grande rebanho. No pre­
sente momento, tenho mais de trezentos pastores de
tempo integral em nosso corpo de ministros. Se eu
não for disciplinado em minha vida de oração, vida
social, tempo de estudo e negócios, eles não serão tão
responsáveis quanto devem ser no atingimento de
nosso alvo mútuo de edificar a igreja de Deus.
O pecado é uma das principais causas da pobreza
de auto-imagem. É imperativo, portanto, que toda
pessoa a quem Deus deseja usar na edificação de sua
igreja, leve uma vida santa. Aquilo que a pessoa
contempla e em que se detém afetará o que ela virá a
ser. Se houver pecado em sua vida, confesse-o a Deus
imediatamente, arrependendo-se dele e pedindo a
graça divina para viver moralmente limpo. Os peque­
nos sucessos conduzirão a grandes vitórias e logo você
descobrirá que sua auto-imagem mudou. Deus é
amoroso e perdoador. Se ele espera que você perdoe
ao seu irmão, por que não perdoaria ele a você?
Status Familiar Pobre
Na Coréia, status é parte importante de nossa
sociedade. Excesso de população é um aspecto histó­
rico da vida asiática. Confúcio ensinou um sistema de
ética que ainda é praticado na maioria dos países
asiáticos. Esta cultura não é conhecida no Ocidente
basicamente igualitário. Dirigimo-nos às pessoas e
falamos com elas de modo diferente, segundo seu
status de família, educação, posição ou de idade. Não
obstante, estando-se em Cristo, não deve haver essa
diferença. Podemos ter diferenças aqui na terra,
porém são temporais. Na eternidade, seremos julga­
dos por nossa fidelidade ao chamado divino. Portanto,
aprendi a dispensar respeito aos que o merecem aqui
na terra, mas não me encontro limitado pelos sistemas
£ nossos recursos pessoais 29
de valores terrenos, porque não somos deste mundo.
Não me preocupa a posição inferior que sua família
possa ter, porque você pode mudar a auto-imagem.
Lembre-se de que Jesus, embora sendo o filho de
Deus, nasceu em circunstâncias domésticas muito
pobres. Ao captar uma nova visão da vontade divina
para sua vida e ministério, você pode vencer todas as
barreiras da sociedade e ter êxito.
As capacidades podem diferir, mas o êxito é para
todos. O problema começa ao comparar-nos com
outras pessoas. Se o exame que fizemos recebe nota
inferior ao de nossos amigos, entregamos os pontos e
formamos uma imagem pobre de nós mesmos. O
modo de vencer este obstáculo é comparar-nos com o
alvo que Deus colocou diante de nós. Ele nunca nos
leva a fazer coisa alguma para a qual não nos tenha
dado graça e força de nos sairmos bem. Não se julgue
tão severamente ou com pressa demais. O cientista
Einstein fracassou em seu primeiro curso de matemáti­
ca. Milionários célebres têm acentuado o número de
vezes que se viram falidos, mas continuaram tentando.
Só porque falhou, não significa que você seja um
fracasso. Tenho cometido muitos erros em meu
ministério, mas isso não quer dizer que sou um erro de
Deus. Meus erros me ensinaram valiosas lições e por
isso tenho podido ajudar inúmeras pessoas.
Saúde Pobre
A saúde é uma das posses que mais prezo. Posso
dar assistência pastoral numerosas vezes no domingo,
viajar nessa noite para uma Conferência Internacional
sobre Crescimento da Igreja em alguma parte do
mundo, e depois começar, na terça-feira, uma série de
reuniões que durem a semana toda. Meus anfitriões
geralmente não sabem quanta coisa já fiz antes de
chegar. Acreditam que vim para entregar-me de corpo
30 Muito mais do que números
e alma à sua comunidade. Tenho de depender da
minha saúde.
Confio em Deus não só para efetuar curas, mas
também para conservar a saúde. Não obstante, devo
cooperar com ele para manter meu corpo em boas
condições. Faço exercícios regularmente e seleciono
bem o que como. Evito doces. Descanso tantas vezes
quantas me for possível. Minha vocação é importante
demais para que se veja impedida por saúde deficien­
te.
Os anos têm-me ensinado o que é não ter boa
saúde. Meu organismo não é tão forte quanto o de
outros, e quando jovem, sofri de tuberculose. Tenho
isto em mente quando sou tentado a assumir trabalho
em demasia.
O estresse é um dos maiores problemas da saúde.
No tempo em que eu costumava fazer tudo em minha
igreja, desfalecia de exaustão. Agora aprendi a confiar
em outras pessoas. Deixo que meus cooperadores
cometam erros e aprendam destes como Deus faz
comigo. Descobri que se eu delegar, posso fazer muito
mais com menos tensão e energia.
Há líderes que têm deficiências físicas. Essas defi­
ciências não devem, porém, afetar-lhes a capacidade
de assistir o povo de Deus. Devemos tomar as
deficiências e transformá-las num bem. Devemos
confiar em Deus no que se refere à cura e restauração
total, e nunca permitir que problema algum de ordem
física nos impeça de realizar o chamado divino.
Lembremo-nos disto: as pessoas estão mais cônscias
da atitude que temos para com a deficiência do que
estão para com a deficiência em si mesma.
A maior deficiência que o indivíduo pode ter está
em sua própria mente e atitude. Devemos tomar
cuidado com as pessoas com quem nos associamos.
Estão elas limitando nossa auto-imagem? Quais são as
E nossos recursos pessoais 31
atitudes de nossos pais para conosco? Dizem eles:
“Você não serve para nada. Você é um fracasso. Você
é igualzinho à sua mãe” ou “igualzinho a seu pai”?
Muitas vezes os pais refletem as próprias frustrações,
ignorando os efeitos contínuos que suas palavras têm
sobre os filhos. Não obstante, pelo poder do Espírito
Santo, podemos libertar-nos dos efeitos inibidores de
nossos pais e amigos. Podemos ler a Palavra de Deus
e descobrir o que Deus diz a nosso respeito. Se Deus
achasse que não tínhamos valor, não teria enviado
seu Filho unigénito para morrer por nós, nem nos
chamaria para fazer parte de seu grupo especial, a
igreja. Sim, temos grande valor. Pela graça divina,
podemos fazer tudo quanto Deus nos chamou para
fazer.
As vezes oramos, pedindo a Deus que faça algo em
nossa igreja, e então nos recuamos para ver o que
Deus faz. É um grande erro. Deus trabalha na igreja
por nosso intermédio. Se ele quisesse realizar o
crescimento da igreja sem utilizar-nos, ela já teria
completado sua tarefa há séculos e Cristo já teria
vindo. Se Deus vai operar, o fará por seu e por meu
intermédio. É por isso que os recursos pessoais são de
suprema importância. Como seríamos nós se tivésse­
mos o sucesso que esperamos ter? A resposta a essa
pergunta é muito importante. Nosso caráter está
sendo preparado agora para a maior explosão de
crescimento da igreja na história. Estamos sendo
provados e encontrando graça para vencer a prova.
Por quê? Porque Deus deseja usar-nos.
Agora estamos preparados para prosseguir com a
próxima seção deste livro que trata, antes de tudo, da
metodologia do crescimento da igreja. Se você leu
este capítulo e achou que não se aplica a você, então
seria melhor relê-lo. Se acha que compreendendo seu
problema, já o venceu, então conviria lembrar-se de
32 Muito mais do que números
que a compreensão é apenas parte da solução. Sim,
agora você deve confiar na graça de Deus para pôr em
prática os passos que o levarão ao êxito.
Ao iniciarmos a próxima seção, creio que você já
mudou a atitude de seu coração. Está aprendendo a
ter comunhão com o Espírito Santo, e dessa forma
recebe nova visão e sonhos. Finalmente, você entra
na próxima seção com uma auto-imagem saudável.
2
CRESCIMENTO DA IGREJA
E O LAICATO

Meu livro, Grupos Familiares e o Crescimento da


Igreja (publicado em português pela Editora Vida) foi
útil a muitos pastores. A primeira parte do livro trata
do meu livramento da ambição pessoal e do medo.
Esses dois traços devastadores impedem que os
dirigentes da igreja vejam um dos aspectos cruciais do
crescimento, isto é, o uso conveniente dos leigos.
O tempo é uma mercadoria limitada, visto como
cada dia tem apenas 1440 minutos. A energia é outra
mercadoria limitada, visto como há poucas coisas que
o homem pode fazer antes que o corpo exija descan­
so. Assim sendo, como posso conseguir 500.000
membros em 1984 com essas limitações que me
afetam do mesmo modo que afetam o leitor? Aprendi
a usar os leigos da minha igreja na obra do ministério.
No presente momento tenho mais de 18.000 dirigen­
tes de grupos familiares. São assistentes não-remune-
rados em nossa igreja. Eles formam a base de meu
ministério local. Antes de entrar em detalhes sobre o
êxito absoluto deste sistema, há diversos problemas
básicos que precisam ser considerados.
Que Posição Ocupa o Leigo em sua Igreja?
Tome, por exemplo, o “Novo Dicionário Aurélio”,
e veja o verbete “Leigo”. Diz lá: “Que não é clérigo;
34 Muito mais do que números
laical, laico. Que é estranho ou alheio a um assunto;
desconhecedor.” Receio que o dicionário tenha regis­
trado a errônea concepção geral que a maioria dos
cristãos tem com relação ao leigo.
Tenho para mim que a carta de Paulo à igreja de
Efeso é um dos mais claros e abrangentes ensinos que
ele apresenta com relação ao papel que cada um de
nós deve desempenhar na igreja. Paulo escrevia da
cela de uma prisão. Sua mente havia projetado longas
horas concernentes à sua experiência no ministério.
Agora, sem a distração de quaisquer grandes altera­
ções, ele nos dá no ministério nossa mais importante
tarefa: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos,
outros para profetas, outros para evangelistas, e outros
para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamen­
to dos santos para o desempenho do seu serviço, para
a edificação do corpo de Cristo” (Efésios 4:11, 12).
A tarefa que Paulo considera de primeira importân­
cia no ministério é a preparação dos leigos para essa
obra. A medida que cada pessoa entra para o corpo
de Cristo, automaticamente é arrolada num programa
de treinamento no ministério.
De fato, ao ler o livro de Atos, nunca vejo Deus
concedendo ao recém-convertido a escolha de ser
ativo. Quando os novos convertidos entram para
nossa assembléia, chegam com uma fé vigorosa. Se
ficarem sentados, sem ter o que fazer, tornar-se-ão
passivos. Portanto, é imperativo que os recém-conver-
tidos entrem para a igreja como ativos participantes no
serviço. Minha experiência, no decorrer desses anos
todos, mostra que com treinamento adequado, os
leigos se tornam o instrumento mais eficaz que temos
para evangelizar.
Na conquista de alguém para Cristo, há necessidade
de um elo de confiança entre a pessoa que dá
testemunho e a que o recebe. Às vezes um estranho
E o laicato 35
ganha uma pessoa para Cristo, mas na maioria das
vezes tem de haver uma afinidade pessoal. Todo
recém-convertido tem esta afinidade, seja com os
membros da família, com amigos, ou com colegas de
trabalho. Toda pessoa que o recém-convertido conhe­
ce é novo membro da igreja em potencial. Esta
afinidade, consolidada no decorrer dos anos, não
deve ser menosprezada.
Os novos convertidos também possuem uma nova
fé que em geral brilha com o sentimento de perdão e
aceitação. Uma vez treinados, podem transmitir essa
fé a outros que os conheceram antes da conversão, e
fazê-lo com eficiência. As vezes acho que os recém-
-convertidos são muito agressivos. Podem até mani­
festar certo entusiasmo imaturo. Todavia, se canalizar­
mos suas energias de maneira conveniente, se torna­
rão testemunhas eficientes. O apóstolo Paulo perse­
guia a igreja com todas as suas energias, crendo
sinceramente que esta nova seita judaica era uma
força destrutiva. Dominado por Cristo na estrada de
Damasco, passou a proclamar a Cristo, com zelo, aos
judeus e gentios. Contudo, seu zelo foi fonte de
grande perseguição. No capítulo 9 de Atos, Lucas
conta que os discípulos enviaram Paulo de volta à sua
cidade natal, Tarso. No versículo 31 temos uma
informação muito interessante: “A igreja, na verdade,
tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria.” As
igrejas gozavam de tranqüilidade desde que Paulo
partira. Não obstante, sabemos que Paulo passou a
ser uma testemunha operosa depois de treinado pelo
Espírito Santo.
Talvez os membros da igreja mais problemáticos
assim o sejam porque nunca foram reconhecidos e
desafiados. Um membro apático nunca cria proble­
mas. Que posição ocupam os leigos em sua igreja? Se
você os considera como colegas em potencial, teste-
36 Muito mais do que números
munhas capazes e extensões ativas de seu ministério,
sua igreja pode crescer de forma dinâmica.
Como é Que Treino Meus Leigos?
Há diversos passos a seguir quando o recém-con-
vertido começa a receber treinamento.
Passo n° 1. Mostre-lhes o quanto são importantes
para a igreja como um todo. Numa igreja grande é
possível que se desenvolva um senso de insignificân­
cia. Quanto maior a congregação, tanto menos mani­
festo ou conhecido se torna o membro. Não obstante,
como no corpo físico cada célula é importante, o
mesmo se dá no corpo espiritual. Os novos membros
devem saber que Deus lhes deu um dom muito
necessário a todos os membros da igreja. Devem
saber que são importantes.
Passo n? 2. Motive-os. Uma das mais importantes
coisas que o pastor pode fazer é motivar os membros
de sua igreja. Para motivar alguém, é preciso que o
próprio pastor esteja motivado. É por isso que na
primeira parte deste livro trato dos recursos pessoais.
Os sermões devem ter uma finalidade. Não devemos
apresentar assuntos que não têm significado algum
para as pessoas que nos ouvem.
Faz alguns anos, um pastor norte-americano veio
falar à minha igreja. Ele começou criticando os norte-
-vietnamitas e os horrores da guerra no Vietnã.
Embora fosse este um assunto de interesse para os
cristãos norte-americanos, para os coreanos fazia
pouco sentido. Poucos perceberam que eu estava
acrescentando meu sermão ao que estava sendo
pregado em inglês enquanto o interpretava. Após a
reunião, o pastor visitante ficou muito contente com a
reação dos membros da minha igreja. Ele nunca ficou
sabendo que eles não tinham ouvido o seu sermão.
Achei, porém, que era importante que o meu povo
E o laicato 37
fosse alimentado e motivado, por isso tomei a liberda­
de de acrescentar minha mensagem ao sermão da­
quele pregador.
Passo n? 3. Reconheça-os. Entregamos certificados
a todos os que concluem o treinamento. Quando os
novos membros vêem que outros foram reconhecidos
por haverem realizado fielmente um curso de estudos,
eles também desejam ser reconhecidos.
Passo n? 4. Elogie-os. A vida comum tem pouco
motivo de elogio para a média das pessoas. Todos nós
queremos que outros pensem que fizemos algo de
valor. Isto aumenta nosso senso de dignidade e
melhora nossa auto-imagem. Todos nós podemos
encontrar algo que criticar nos outros; por isso mesmo
todos têm algo que merece louvor. O reforço positivo
funciona, quer no trato dispensado a uma garçonete
no restaurante, quer no trato dispensado aos mem­
bros da sua igreja. Se elogio os novos membros que
entraram para o treinamento, descubro que há muitos
outros que desejam ser treinados.
Agora que os novos membros desejam ser treina­
dos, tenho um programa engrenado para atender às
suas necessidades. Temos dois institutos bíblicos. Um
destina-se aos leitos; o outro é para os que são
chamados ao ministério de tempo integral. Aqui
vamos concentrar-nos no instituto bíblico para os
leigos.
Nossos cursos são claramente definidos; os objeti­
vos claramente declarados; os resultados que espera­
mos são claros. Todo recém-convertido precisa co­
nhecer aquilo que crê, e por que crê nisso. Sua
experiência inicial de conversão não durará muito
tempo quando os ventos da provação soprarem em
sua vida. Ele precisa estar bem alicerçado nas Escritu­
ras. Não obstante, devemos ter sempre em mente que
não estamos preparando um pastor, mas treinando
38 Muito mais do que números
um leigo com a finalidade de torná-lo numa testemu­
nha mais eficiente do evangelho de Jesus Cristo.
Portanto, esse treinamento tem de ser muito prático.
Não vamos enchê-lo de teologia. É preciso lembrar
que a pessoa que trabalha é responsável por obter o
sustento da família. Também ela não terá de falar de
teologia com os companheiros de trabalho. Ela terá de
falar-lhes de Cristo, de uma maneira clara e com­
preensiva.
Além disso, deve receber treinamento prático em
evangelização. Deve aprender a maneira correta de
dar testemunho. Só porque um recém-convertido é
motivado e sincero, não quer dizer que já sabe como
testemunhar com eficácia.+É preciso que receba os
fundamentos bíblicos de como viver com êxito a vida
cristã. Precisa aprender a importância de contribuir.
Aprendendo a contribuir, trará as bênçãos de Deus
sobre sua vida material. “Nunca dou para receber”,
disse-me alguém carta vez. Não obstante, nunca
seremos mais morais do que Deus. Ele diz-nos que
devemos dar para receber. Em realidade, diz-nos que
o motivo de não termos é porque não damos e não
pedimos. Uma vez que o recém-convertido concluiu o
curso de estudos, que em geral dura dois anos, esTá
preparado para ensinar num grupo familiar.
Não tenho como acentuar a importância de que o
pastor veja os membros de sua igreja como extensão
de seu próprio ministério. Eles são os elementos que
fazem aumentar as suas dez a quatorze horas por dia
de serviço potencial, para uma soma inumerável de
horas. São os meios pelos quais o pastor pode estar
em muitos lugares ao mesmo tempo. Descobri, por­
tanto, o segredo da ubiqüidade. Estou em toda a
Coréia, todos os dias, mediante meus membros
fielmente treinados.
Paulo diz que o propósito central do ministério é
£ o laicato 39
treinar os santos para servir. Se o pastor não obedecer
à admoestação do Espírito Santo, sua igreja não
atingirá o potencial pleno. Deus não considera o
ministério leigo uma questão opcional. Espera que os
membros da igreja sejam testemunhas ativas do
evangelho de Jesus Cristo. A próxima vez que você
estiver perante a congregação, olhe bem para ela.
Olhe para os rostos das pessoas. Observe seus olhos.
Aí mesmo, na sua congregação, está o maior recurso
ministerial de que você dispõe. Ame-os; alimente-os;
mas não se esqueça de treiná-los?"
Está você tão comprometido com os seus leigos
como espera que estejam com você?
Um dos problemas que os membros de sua igreja
podem estar enfrentando é um senso de insegurança.
Como líder, você é para eles uma figura paterna. Eles
devem respeitá-lo e estar dispostos a seguir não
apenas suas palavras, mas também suas ações. Se os
seus leigos sentem que a igreja é só um ponto de
parada e que o pastor busca uma igreja maior ou
melhor alhures, não terão o senso de segurança
necessário ao contínuo crescimento da igreja. A esta
altura, devo fazer-lhe uma importante pergunta. Está
você disposto a passar os próximos dez anos condu­
zindo este rebanho? A menos que a resposta seja um
retumbante sim, seu povo já o sabe por intuição.
Você nunca terá um crescimento dinâmico da igreja
se não estiver disposto a entregar a vida e o futuro ao
povo a quem serve. O crescimento da igreja exigirá
que o povo acompanhe o líder numa nova e refres­
cante visão. Todavia, os membros da igreja não
seguirão um plano se acharem que este pode ser
mudado no futuro. O modo de criar segurança no
coração dos leigos é assegurar-lhes que você veio para
ficar. Você está pronto a obedecer ao Espírito Santo
caso ele decida mudá-lo; mas está pessoalmente
40 Muito mais do que números
comprometido com eles sem o mínimo desejo de
deixá-los.
Mais adiante vou apresentar o segredo do planeja­
mento apropriado para o crescimento da igreja; antes,
porém, precisamos falar deste importante problema
da perspectiva do leigo. Nunca pode haver mais de
uma visão na igreja. Comolíder, a visãcTdeve vir do
pastor. Já escrevi sobre como obter do Espírito Santo
uma visão nova, mas a esta altura devo acentuar que
essa visão deve ser comunicada com clareza aos
membros de sua congregação. Quando pela primeira
vez o Espírito Santo me deu uma visão de 200.000
membros em 1982, meditei muito sobre este alvo, que
não era meu; o Espírito Santo colocou-o diante de
mim. Este alvo se originou de minha comunhão com o
Espírito Santo.
Com base no alvo, lancei um plano qüinqüenal, e
para atingi-lo, orçamos nossa renda. Depois comuni­
quei ao meu povo a visão, o alvo e o plano. Ministrei a
Palavra de Deus com o propósito de dar maior
motivação ao povo no sentido de atingirmos o alvo.
Portanto, meu ministério nos domingos era planejado
com um propósito claro. Meu povo sabia para onde
íamos, por que íamos e como chegaríamos lá. Para
alcançar este senso de direção, aprendi a pregar
dominicalmente sobre um assunto de importância que
motiva os leigos a continuar trabalhando, orando e
contribuindo para o propósito e alvo definidos.
Outro fator que gera confiança no coração dos
leigos é a honestidade. Se cometo um engano,
confessò-õ "perante ã^congregação. Nunca acoberto
um erro que porventura eu tenha cometido. Contar a
verdade ao meu povo, doa ou não, leva-o a crer
naquilo que digo. Nada será mais destruidor da
credibilidade para com o povo do que exagerar ou
dizer algo que não corresponda à realidade. Quando
£ o laicato 41
comecei a confessar as falhas perante meu povo, senti
grande medo. Minha maneira natural de pensar dizia-
-me que a congregação não mais me respeitaria, e
assim, por amor a ela, eu deveria encobrir tudo. Mas
depois de muitos anos de contar-lhes a verdade, o
amor das pessoas por mim é mais forte do que nunca.
Já não pensam que sou perfeito, mas me veem como
um homem honesto.
Ao viajar por esse mundo de Deus e pregar em
grandes conferências e cruzadas, recebo muito dinhei­
ro. Que faço com ele? Se eu quisesse, poderia morar
numa casa grande e bonita, ter muitos empregados,
dirigir um senhor carro e viver como um rei. Meu povo
me amaria do mesmo modo. Porém, o desejo do meu
coração é dar. Quando percebo alguém em necessida­
de, dou automaticamente. O restante do dinheiro que
recebo, dou para o ministério de extensão internacio­
nal. Por que faço isso? Porque Deus pôs no meu
coração o amor de contribuir.
Meu povo me vê contribuir, embora raramente eu
fale sobre o assunto, e isto lhe serve de exemplo. Na
verdade, acho difícil falar aqui a respeito de minha
contribuição pessoal. Mas estou disposto a expor-me,
na esperança de que traga algum auxílio ao leitor. Não
creio na pobreza. Se eu não ganhasse dinheiro, não
teria o que dar para a obra de Deus. Creio que Deus
deseja que prosperemos espiritual, física e financeira­
mente. Mas para sermos abençoados financeiramente,
precisamos aprender a dar. À medida que dou para a
obra de Deus, Deus me dá em grande abundância.
Contudo, resolvi reaplicar essa abundância em sua
obra. Visto que minha esposa e eu gostamos de viver
uma vida relativamente simples, com algum conforto,
não precisamos de muito dinheiro.
Esta atitude tem produzido dois importantes resulta­
dos. Sendo pastor da maior igreja do mundo, meu
42 Muito mais do que números
nome é conhecido por toda parte. Os repórteres estão
sempre me entrevistando quando viajo. Não somente
minhas palavras, mas as minhas ações e motivos estão
constantemente sob vigilância. O levar uma vida
simples, mas confortável, não põe em jogo meus
motivos.
Em segundo lugar, o sistema tributário da Coréia
difere da maioria dos países ocidentais. Os donativos
feitos à igreja não são isentos de impostos. Os dízimos
que os membros entregam à igreja não são dedutíveis
do imposto sobre a renda. Os membros de nossa
igreja contribuem porque amam a Deus. Contribuem,
também, porque me veem dar o exemplo.
Contando nossa igreja atualmente com 330.000
membros, é-me impossível um contato pessoal com
cada um deles. Gostaria de ter esse contato porque os
amo. De bom grado daria a vida por eles e eles sabem
que isso é verdade. Como, porém, demonstro meu
amor aos leigos de minha igreja? Criamos um sistema
pelo qual posso estar em contato com cada um dos
330.000 membros. Posso visitar cada um deles quan­
do têm uma necessidade pessoal. Como é possível
isto? A resposta é simples: pelo sistema de grupos
familiares.
3
CRESCIMENTO DA IGREJA
E O SISTEMA DE GRUPOS

—Dr. Cho, tentamos o sistema de grupos familiares


em nossa igreja e não deu resultado. No seu entender,
que é que saiu errado?—perguntou-me, há pouco
tempo, um pastor norte-americano. Ao analisar o seu
experimento com o sistema, essencial na edificação de
minha igreja, descobri diversos problemas.
Problemas Potenciais
Conquanto o pastor tenha lido meu último livro
Grupos Familiares, ele, pessoalmente, não havia parti­
cipado do sistema. Este é um erro funesto. A simples
organização de um programa^ em sua igreja não
assegura o sucesso continuado. É preciso que o pastor
desempenhe um papel ativo e contínuo na implemen­
tação e motivação do plano.
Em segundo lugar, ele não esperou tempo suficien­
te para que a verdade se tornasse parte integral da
conscientização da igreja. Se o pastor está começando
algo novo na igreja, não espere resultados imediata­
mente. Primeiro é preciso desensinar os conceitos
errados que as pessoas têm, antes que estejam
preparadas para aceitar uma nova forma de fazer as
coisas. Em sua maioria, as igrejas têm, tradicionalmen­
te, considerado a obra do ministério como missão do
pastor. Ele foi contratado para pregar, visitar os
44 Muito mais do que números
enfermos e idosos, celebrar casamentos, oficiar nos
enterros e aumentar o rol de membros. Por que iria ele
usar os leigos para fazer o trabalho que lhe compete?
Portanto, leva meses e anos de ensino e motivação
para mudar esses conceitos falsos que estão arraiga­
dos na igreja.
Em terceiro lugar, muitas igrejas estabelecem gru­
pos familiares simplesmente fazendo um mapa da
comunidade, escolhendo líderes em cada seção geo­
gráfica dessa comunidade, e a seguir dizendo aos
líderes: “Realize uma reunião em seu lar.” Mesmo
que os líderes de grupos obedeçam aos desejos do
pastor e formem um grupo em seus lares, de que tipo
será? Na maioria dos casos, essas reuniões familiares
não passam de cultos diferentes. Visto que a maior
parte dos membros do grupo já são membros da
igreja, por que deveriam eles freqüentar outro culto?
Cinco Perguntas
Os problemas que acabo de apresentar são apenas
alguns dos que o pastor enfrenta, no desejo de criar
um sistema de grupo familiar na igreja. Há muitas
outras indagações que, tenho certeza, o leitor pode
estar fazendo a esta altura. Portanto, dedicarei esta
seção à resposta de cinco importantes perguntas: 1)
Que é um grupo familiar? 2) Como funciona? 3)
Como organizá-lo? 4) Como escolher os dirigentes
dos grupos? 5) Que acontece com um grupo familiar
quando se torna grande demais?
Há muitas outras questões incorporadas nestas
cinco. Embora eu não tenha condições de responder a
cada pergunta que lhe passe pela mente a esta altura,
creio que as respostas dadas às cinco indagações
acima respondem, se não a todas, pelo menos à maior
parte delas, de modo geral.
Antes que eu comece a responder às cinco pergun­
£ o sistema de grupos 45
tas, desejo dizer-lhe por que me sinto tão seguro
acerca do sistema de grupos familiares. Vivemos, na
Coréia, apenas a cinqüenta quilômetros do Norte
Comunista. A última vez que os comunistas invadiram
a Coréia do Sul, foram implacáveis com as igrejas,
especialmente com os líderes. Quando regresso ao lar
depois de uma viagem pelo Ocidente, posso sentir a
tensão no ar. Esses ímpios estão apenas aguardando a
oportunidade de atacar-nos. Os soviéticos os equipa­
ram com os mais modernos instrumentos de guerra, e
acreditam que podem unir as duas Coréias sob o
comunismo. Portanto, mantemos registro dos mem­
bros de nossa igreja num lugar seguro. As instruções
que dou ao nosso pessoal são claras. Se os comunistas
atacarem, todos os registros devem ser destruídos
imediatamente.
Os comunistas podem encontrar-nos e matar-nos,
porque somos líderes, mas nunca poderão destruir os
18.000 grupos que criamos em nossa igreja. Podem
destruir nossas grandes instalações; mas para mim, os
edifícios não são a igreja. Não, a igreja reúne-se todos
os dias em fábricas, escolas, escritórios, lares, restau­
rantes e em clubes. No domingo, a igreja apenas se
congrega para celebrar o que Deus fez durante a
semana, para juntos adorarmos nosso Senhor e
ouvirmos o ministério da Palavra de Deus. Mas a
verdadeira igreja não pode ser facilmente localizada e
destruída.
Tenho observado, também, que algumas igrejas
grandes se desenvolveram em torno de um pastor
vigoroso. Não obstante, se o pastor morre, ou se
muda, ou desiste por algum motivo, a igreja esvazia-se.
Minha igreja não é a igreja de Paul Yonggi Cho,
embora eu seja o pastor fundador. Minha igreja
pertence ao Senhor Jesus Cristo, e não pode girar em
torno de minha personalidade. Com o sistema de
46 Muito mais do que números
grupos, o verdadeiro ministério é realizado ao nível do
grupo. Conquanto as pessoas me tenham em alta
estima e me sejam leais, podem prosseguir sem mim.
Quando viajo, faço questão de telefonar à minha
esposa regularmente. Noutros tempos eu me transtor­
nava quando ela dizia: “Sim, tudo vai indo muito bem
sem você.” Agora recebo como um elogio ao meu
ministério o fato de a igreja continuar seu fantástico
crescimento quer eu esteja presente, quer não. A
realidade de que o programa de Deus pode prosseguir
sem o pastor pode ser devastadora para o seu ego. É
por isso que a primeira parte deste livro versa sobre os
recursos pessoais do líder. Enquanto orgulho e ambi­
ção pessoal estiverem na raiz de seu desejo de que a
igreja cresça, ele não conseguirá produzir um sistema
de grupos bem-sucedido. Enquanto ele sentir-se amea­
çado pelo êxito de um de seus colegas, estará
amedrontado demais para edificar um sistema conve­
niente de crescimento ilimitado na igreja.
Que é um Grupo Familiar?
Grupo familiar não é uma reunião social, conquanto
haja sociabilidade entre as pessoas do grupo. Grupo
familiar não é uma reunião doméstica, ou igreja em
casa, embora tais grupos possam reunir-se nos lares.
Grupo familiar não é um centro de caridade, embora
possam executar atos de caridade. Grupo familiar não
é uma reunião de oração a noite inteira, embora
muitos possam assim fazê-lo. Grupo familiar não é
outro culto da igreja, embora possa haver cântico de
hinos, oração e mensagem na maioria das reuniões.
Que é, pois, um grupo familiar?
Grupo familiar é a peça fundamental de nossa
igreja. Não se trata de outro programa da igreja—é o
programa da igreja. Tem um tamanho limitado: geral­
mente não mais do que quinze famílias. Tem um alvo
E o sistema de grupos 47
definido, determinado por meus colegas de ministério
e por mim. Tem um plano definido, dado a cada
grupo por escrito. Tem uma liderança definida, treina­
da em nossa escola. Há homogeneidade entre os
membros, isto é, as pessoas que o compõe têm
“background” similar.
Visto que o leitor perseverou até aqui na leitura
deste livro, suponho que seja um dirigente eclesiástico
vivamente interessado no crescimento da igreja.
Creio, também, que considerou, em espírito de ora­
ção, o que eu já disse, e está disposto a permitir que o
Espírito Santo faça os ajustamentos necessários em
seu coração para que ocorra em sua igreja crescimen­
to dinâmico e contínuo. Digo isto porque os detalhes
de princípios dos capítulos restantes tratam, antes de
tudo, de técnicas. Se você acaba de voltar-se para este
capítulo e não leu piedosamente o que vem antes
desta seção, então as técnicas que darei a seguir, não
funcionarão em sua igreja.
O sistema de grupo, desenvolvido em minha igreja,
foi um fenômeno progressivo, lento e difícil. Gostaria
de ter podido ler um livro como este, no começo do
meu ministério, pois teria me ajudado a evitar os erros
que cometi. Não obstante, por meio desses erros,
aprendi que se eu quisesse ver a minha igreja crescer
além das limitações de minha própria capacidade e
ministério, o sistema de grupo teria de ser o seu
programa central. Para que o sistema de grupo tenha
bom êxito em sua igreja, não pode ele ser apenas
outra nova atividade que você tenta antes de passar
para a próxima. Uma vez que você pôs no coração
que o sistema de grupo é a vontade de Deus para você
e sua igreja, então é preciso que se disponha a investir
paciência, tempo e recursos necessários para que ela
cresça.
Em nosso primeiro experimento com o sistema de
48 Muito mais do que números
grupos, tentamos conseguir que todos os homens de
destaque da igreja, principalmente os diáconos, come­
çassem uma reunião em seus lares. Conforme contei
em meu último livro, Grupos Familiares, verificamos
que isto não estava dando resultado. Primeiro, muitos
desses homens estavam ocupados em seus próprios
negócios e às vezes chegavam a casa tarde da noite.
Não dispunham de energia para aceitar outra respon­
sabilidade. Em segundo lugar, nossos homens, sendo
práticos e lógicos, achavam que devíamos experimen­
tar o sistema numa escala pequena antes de entregar­
mos de corpo e alma a algo novo.
Embora não pudesse discordar dessa lógica, eu
sabia que devia obedecer à voz do Espírito Santo.
Quem conhece a história, deve lembrar-se de que este
novo sistema me foi revelado numa hora de grande
necessidade física em meu ministério. Eu estava
exausto por tentar fazer tudo em minha crescente
igreja, naquele tempo com menos de três mil mem­
bros. Se Deus não me houvesse falado com tanta
força naquela ocasião, eu hoje não estaria vivo. Por
isso que é tão importante ouvir o que Deus tem a dizer
com relação a uma nova visão para sua igreja. A
menos que o Espírito Santo lhe tenha dado uma
visão, você não perseverará na luta contra os obs­
táculos.
Então Deus me mostrou que deveríamos usar
mulheres como líderes de grupos. Isto nos era total­
mente revolucionário, não só como conservadores,
cristãos que crêem na Bíblia, mas também como
coreanos. Na Coréia, como na maioria do Oriente,
liderança é negócio para homens. O papel tradicional
da mulher era casar, ter filhos, e manter um lar bom e
feliz. O marido é o provedor e a ele cabe o controle
dos negócios e da vida do lar. Embora a situação
esteja mudando na Coréia agora, nossa cultura ainda
£ o sistema de grupos 49
é basicamente orientada pelo sexo masculino. Assim,
conceder posições de responsabilidade e autoridade
às mulheres na igreja era mais revolucionário do que
estabelecer o próprio sistema de grupos.
O primeiro problema que enfrentei ao nomear
mulheres foi de ordem teológica. Paulo disse: “Con­
servem-se as mulheres caladas nas igrejas” (1 Corín-
tios 14:34). O mesmo tema é seguido na admoestação
de Paulo a Timóteo (1 Timóteo 2:11, 12). Contudo,
pregando no dia de Pentecoste, Pedro disse: “Mas o
que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta
Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que
derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos
filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão
visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus
servos e sobre as minhas servas derramarei do meu
Espírito naqueles dias, e profetizarão” (Atos 2:16-18).
A promessa de que o Espírito Santo concederia a
capacidade de profetizar não foi feita apenas aos
homens mas também às mulheres. Essas mulheres
teriam de profetizar em algum lugar e a alguém, pois
não poderiam profetizar para si próprias. Na carta aos
Romanos, ao referir-se a Febe, Paulo usa a palavra
traduzida na maioria das vezes como diácono. Tam­
bém diz a Tito que as mulheres idosas deviam ensinar
às jovens no que tange às responsabilidades práticas
do cristão.
Também notei que as mulheres eram mais leais e
fiéis do que os homens no ministério de Jesus.
Primeiro ele apareceu a Maria Madalena, cuja missão
foi transmitir as boas novas da ressurreição ao restante
dos discípulos que se achavam escondidos. Conti­
nuando a orar e a estudar, concluí que a mulher
poderia exercer um ministério enquanto estivesse sob
a autoridade da igreja. Assim, resolvi usar as mulheres
como dirigentes de grupos em minha igreja. Havendo
50 Muito mais do que números
começado a utilizar as mulheres e tendo vencido todos
os preconceitos, conforme relatei em Grupos Familia­
res, os homens da igreja se tornaram muito mais
cooperativos. Nos anos todos em que venho ensinan­
do o sistema de grupos, tenho verificado que minhas
colegas femininas têm sido leais e dignas de confiança.
Não só não se rebelaram, como fizeram o que lhes
competia e trabalharam com afinco.
Meu conselho é, pois: “Não tenha medo de empre­
gar as mulheres.” Temos muitos tipos diferentes de
grupos familiares. Verifiquei haver um princípio socio­
lógico básico que deve ser mantido para que haja
êxito. O princípio é o da homogeneidade.
Meu bom amigo Peter Wagner, uma das principais
autoridades sobre crescimento da igreja, escreveu um
livro intitulado Our Kind of People (Gente do Nosso
Tipo). Nessa obra ele estuda o assunto dos grupos
homogêneos versus grupos heterogêneos, nos Esta­
dos Unidos. Por homogeneidade queremos dizer igual
ou semelhante em espécie. A base da teoria de
Wagner é que as igrejas crescerão se ministrarem a
grupos similares de pessoas. Embora o Dr. Wagner
apresente uma boa argumentação em seu livro, acho
que não temos na Coréia os mesmos problemas
sociológicos que há nos Estados Unidos. Essa nação
está-se tornando rapidamente uma sociedade multi-
-racial, multiétnica. Os imigrantes, procedentes de
todo o mundo, trazem consigo suas próprias culturas.
Nós, na Coréia, tivemos uma identidade cultural
básica durante cinco mil anos. Portanto, com relação à
raça, língua e identidade cultural, somos totalmente
coreanos. Não obstante, ainda é válido o mesmo
princípio homogêneo fundamental. Nossa cultura na­
cional divide-se mais ao longo das linhas da educação
e da profissão. Portanto, os médicos, os professores
universitários e outros profissionais terão mais elemen-
E o sistema de grupos 51
tos em comum do que teriam com operários de fábrica
e garçons. As donas-de-casa terão mais em comum
com outras donas-de-casa do que teriam com profes­
soras. Verificamos que os grupos familiares baseados
no princípio da homogeneidade terão maior êxito do
que grupos baseados, antes de tudo, em limites
geográficos.
Se o Sr. Chun, banqueiro, for incumbido de liderar
um grupo, convocará principalmente pessoas da área
financeira para uma reunião do grupo, de uma hora
de duração, a realizar-se num restaurante local. O
refeitório teria a aparência de um almoço de negócios.
O alvo é definido: a salvação de duas almas por ano—
sabendo que se conseguirem que dois chefes de
família aceitem a Cristo como Salvador, consequente­
mente suas famílias também se tornarão membros da
família de Deus. Depois de relatar o que Deus vem
fazendo em sua vida e na vida de seus familiares,
podem passar algum tempo orando por necessidades
específicas. Mas, antes de encerrar a reunião, devem
discutir sobre um convertido em potencial. Talvez seja
outra pessoa da área financeira que se defronta com
um grande problema. Se essa pessoa que enfrenta o
problema vai aceitar o evangelho, deve fazê-lo quan­
do necessita de mais apoio do que a família e sua
religião atual podem dar-lhe.
O convertido em potencial é convidado para a
reunião. Convém notar dois fatos concernentes a este
convite: 1) Ele é convidado para um local que não
represente ameaça. Pode ser que ele nunca teria
aceito um convite para ir à minha igreja ou a qualquer
outra. Mas um restaurante local não lhe causará
nenhum temor ou suspeita. 2) E convidado por
pessoas com as quais possa relacionar-se. Se fosse
convidado a estar com um grupo heterogêneo, talvez
se sentisse como peixe fora d’água. Podia perguntar-se
52 Muito mais do que números
quem são aquelas pessoas e se pertencem ao mesmo
nível. Todavia, ele conhece pelo menos uma pessoa
naquele salão e ficará contente em notar que as outras
pessoas com as quais se encontra têm algo em comum
com ele. Falam todos a mesma linguagem.
Os membros do grupo tentarão ajudar o convertido
em potencial; chamemo-lo de Lucas. O Sr. Lucas não
será de imediato bombardeado com o evangelho.
Antes, demonstram-lhe amor e interesse. É o evange­
lho em ação. Não é só o Sr. Chun que é útil ao Sr.
Lucas; os demais membros do grupo conversam com
ele e tentam ajudá-lo. Não demora muito, o Sr. Lucas
estará aberto à mensagem evangélica. Ele e sua
família desejarão unir-se à igreja, porque já se junta­
ram à família de Deus. A esposa do Sr. Lucas desejará
unir-se a um dos grupos que cuidam das esposas do
grupo familiar. Podem realizar reuniões conjuntas nos
lares. Há, porém, um traço-de-união desenvolvido no
decorrer dos anos à medida que todos se sentem parte
uns dos outros. Agora que o Sr. Lucas foi aceito como
membro do grupo, podem orar com relação à próxi­
ma pessoa a ser convidada.
Na história acima, eu disse que o alvo era a
conversão de dois homens naquele ano. Isto não
significa que outros não possam ser alcançados;
significa apenas que havia um alvo definido a atingir.
Se conseguirem a conversão de quatro homens em
um ano, quer dizer que dobraram o alvo e devem
sentir-se orgulhosos por isso.
Se a história acima lhe soa mecânica demais,
pergunto-lhe: “Acha você que é importante salvar
almas?” Se acha que sim, então o sistema de grupos
familiares é para você. Descobri que os grupos
baseados só na consideração geográfica tendem a
congregar gente que pouco tem em comum. Isto é o
que chamamos de grupos familiares heterogêneos.
E o sistema de grupos 53
Perde-se muito tempo e energia tentando criar um
sentido de unidade, e o objetivo principal de alcançar
os perdidos e cuidar das ovelhas não será tão eficaz.
Devemos lembrar-nos, porém, que o princípio que
acabamos de expor é usado no desenvolvimento do
nosso sistema de grupo, e não no desenvolvimento da
igreja toda. Em nossa igreja não diferenciamos entre
ricos e pobres, altos e baixos, letrados e analfabetos.
Somos todos um no corpo de Cristo. No desenvolvi­
mento do sistema de grupos, tentamos aplicar este
princípio natural visando a um modo mais eficaz de
alcançar os perdidos para Jesus Cristo.
Donald A. McGavran, conhecido como pai do
moderno movimento de crescimento da igreja, declara
em Understanding Church Growth (Compreendendo
o Crescimento da Igreja): “Homens e mulheres prefe­
rem tornar-se cristãos sem cruzar barreiras” (p. 227).
Esse experiente erudito e missionário cita muitos
exemplos de princípio homogêneo funcionando no
mundo inteiro, conforme pesquisas feitas.
O mais claro exemplo deste princípio encontra-se
no Novo Testamento. A igreja começou como um
movimento judaico. Milhares de judeus aceitaram a
Jesus Cristo como o Messias. A igreja primitiva reunia-
- se regularmente no templo e nas sinagogas, e seguia
as festas judaicas. Enquanto tornar-se cristão não
significava que o indivíduo deixava de ser judeu, a
igreja vicejou na comunidade judaica.
Quando Pedro pregou o evangelho à família de
Comélio, pela primeira vez os gentios foram aceitos
como membros da família de Jeová. Foi por isso que
Pedro passou por maus momentos e teve de defen­
der-se. Afinal de contas, não havia Deus enchido do
Espírito Santo aqueles italianos? Por que deveria
Pedro negar-lhes o batismo se Deus os havia escolhi­
do, como era óbvio?
54 Muito mais do que números
Paulo começou a pregar o evangelho à comunidade
gentia, mas a reação dos judeus foi violenta. Mais
tarde, quando Paulo declarou que os gentios não
eram menos cristãos se não seguissem os rituais e
costumes judaicos, os judeus começaram a achar que
pelo fato de tornar-se cristãos, não podiam ser aceitos
como judeus. Foi assim que a igreja se tornou antes de
tudo gentia, até ao dia de hoje. Sou grato a Deus por
permitir que o evangelho fosse pregado fora da
comunidade judaica, pois do contrário eu nunca teria
sido aceito. Contudo, permanece válido o princípio de
que as pessoas aceitarão o evangelho se acharem que
não precisam tornar-se algo menos do que já são
naturalmente.
Creio que na Coréia temos tratado deste problema
no contexto do sistema de grupos familiares. Portanto,
nossos grupos se especializam em alcançar pessoas de
diferentes grupos homogêneos, e o fazem com grande
eficiência.
Para cada trinta grupos em nossa igreja, temos um
pastor. Nossos grupos também se subdividem em
doze distritos. Cada distrito está a cargo de um pastor.
Caso o leitor nos visite para conhecer os seminários
que realizamos em inglês, uma vez por ano, talvez
queira dar uma olhada nos nossos escritórios. Cada
distrito tem mapas e gráficos na parede. Na verdade,
parece uma sala de estratégia militar. Cada dirigente
do distrito executa seu trabalho com muita seriedade.
É uma guerra que estamos travando. O inimigo é o
diabo. O campo de batalha é o coração da humanida­
de perdida. O objetivo é salvar tantas almas quantas
for possível antes que Jesus volte.
Um dos problemas que enfrentamos na pregação
do evangelho em Seul é alcançar as pessoas que
moram em arranha-céus de alta segurança. Todavia,
uma de nossas dirigentes de grupos femininos venceu
E o sistema de grupos 55
esse obstáculo. Alugou um apartamento num dos
edifícios mais difíceis de evangelizar. Mudou o seu
ministério para o elevador. Andava no elevador,
subindo e descendo, procurando meios de servir aos
vizinhos. Uma senhora, certo dia, entrou no elevador
com uma criança pequena e algumas compras; a
dirigente ofereceu-se para ajudá-la. Depois convidou a
senhora para subir até ao seu apartamento e tomar
uma xícara de chá. No dia seguinte, durante o chá, ela
falou-lhe de Jesus Cristo. Essas pequenas sessões de
chá continuaram até que, algumas semanas mais
tarde, aquela senhora aceitou a Jesus Cristo como seu
Salvador pessoal.
Nossa cooperadora tinha agora uma sócia em seu
ministério de elevador. Hoje, a maior parte dos
moradores daquele edifício são cristãos empenhados
na causa. Todas as semanas se realizam ali diversas
reuniões.
Na explosão urbana atual a evangelização pode
conquistar até os edifícios altos. Toda situação difícil é
uma oportunidade para evangelizar. Alguns anos atrás
tivemos, na Coréia, um problema trabalhista. Infeliz-
mente, havia uma organização que se dizia cristã e
incitava os trabalhadores a rebelar-se contra os empre­
gadores e a entrar em greve. Tinham como alvo uma
de nossas maiores empresas do ramo de confecções,
com o intento secreto de paralisá-la. O dono da
empresa telefonou-me perguntando se eu poderia
ajudá-lo, de sorte que não precisasse fechar a empre­
sa. Concordei, e dentro do horário da companhia
realizei vários cultos de evangelização. Diversos dos
líderes grevistas vieram à frente e aceitaram Jesus
Cristo. Confessaram seu pecado e suas vidas se
transformaram por completo.
Em pouco tempo havia uma reunião de grupo na
hora de almoço da companhia. Muitos operários
56 Muito mais do que números
foram salvos. Depois que o grupo alcançou mais ou
menos cinqüenta pessoas, dividiu-se em dois. Em
pouco tempo os resultados se evidenciaram na produ­
tividade da companhia. O proprietário da empresa
notou que os cristãos eram os operários mais produti­
vos e fiéis, de modo que resolveu examinar melhor
essa religião. Alguns meses mais tarde o proprietário,
que era budista, aceitou a Jesus Cristo como Salvador
e Senhor.
Com 18.000 grupos familiares em nossa igreja, há
18.000 histórias que poderiam ser contadas. Basta
dizer, porém, que uma vez que o sistema começa a
funcionar numa igreja, não há limites para o cresci­
mento potencial.
Como Funciona um Grupo Familiar?
Não há um processo específico para se formar um
grupo familiar. Ele pode reunir-se numa sala de aula,
durante os intervalos; pode dar-se num hotel, no
mercado ou num edifício de apartamentos. Não
obstante, cada grupo conta com um dirigente, que
deve ter passado por um programa de treinamento.
Esse dirigente é responsável por escolher um assisten­
te, de modo que, ao atingir o grupo determinado
número de elementos, forme-se outro grupo que
contará com um líder treinado. Cada grupo deve ter,
também, um tesoureiro.
Uma vez que temos tirado lições de nossos erros,
convém contar ao leitor nossa experiência concernen­
te ao dinheiro arrecadado durante as reuniões do
grupo. Com o funcionamento do grupo durante
algum tempo, desenvolve-se em cada um de seus
membros um sentimento de família. Contudo, vimos
surgir um problema logo depois que o sistema come­
çou a funcionar em nossa igreja. Um dirigente de
grupo começou a emprestar dinheiro a outros mem-
E o sistema de grupos 57
bros do grupo sem nenhum registro contábil ou sem
conhecimento de ninguém. Descoberto o problema,
chegamos à conclusão de que isto poderia acontecer
de novo, por isso nomeamos tesoureiros para cada
grupo. O tesoureiro prestará contas do dinheiro arre­
cadado e de sua aplicação. Se houver alguma necessi­
dade financeira no grupo familiar, socorre-se a pessoa
que está em dificuldades até que ela se equilibre.
Contudo, mantém-se registro de todas as questões
financeiras e esse registro deve estar à disposição de
qualquer membro que deseje examiná-lo. Isto remove
qualquer possibilidade de desentendimentos.
O grupo familiar não é um clube social. Na verdade,
tivemos de limitar a atividade social de cada grupo. No
começo tivemos famílias que serviam deliciosas refei­
ções. Quando, porém, essas famílias eram convidadas
para reunir-se em outro lar, os anfitriões se esmera­
vam por exceder o que fora servido no lar anterior. Os
que não dispunham de recursos sentiam-se desanima­
dos, porque não podiam competir com os anfitriões
mais prósperos. Esta situação poderia ter destruído
todo o sistema se não lhe puséssemos um paradeiro.
Hoje, os grupos se limitam, no que tange a comer
alguma coisa, ao estritamente convencional: uma
xícara de chá e, talvez, algumas bolachas.
A reunião deve, também, ter uma duração limitada.
No começo, as pessoas desejam que a reunião se
prolongue; algumas têm perguntas importantes a
fazer; outras têm pedidos especiais de oração. Não
obstante, se não houver um limite de tempo, cedo as
reuniões se tornarão longas demais e os que têm de
trabalhar no dia seguinte relutam em comparecer à
próxima reunião. Uma boa filosofia, também, é que as
pessoas sejam despedidas quando ainda desejam
continuar. Lembre-se de que uma refeição será mais
bem lembrada se a pessoa não exagerar no que come.
58 Muito mais do que números
Na verdade, esta é também uma boa prática para os
cultos da igreja.
Como Escolhemos os Dirigentes?
Liderança é uma qualidade inerente à personalida­
de de algumas pessoas. Um bom pastor estará sempre
com os olhos abertos, observando as pessoas que com
toda a naturalidade atraem os outros. As vezes,
pessoas que têm um pendor natural para a comunica­
ção, dão excelentes líderes. Na maioria dos casos,
observo que as pessoas dotadas de qualidades de
liderança despontam naturalmente. Minha missão,
pois, é orientar essa qualidade de liderança no sentido
de serviço útil à igreja toda.
Os líderes dos grupos não são apenas treinados em
nosso instituto; são também motivados a usar o pleno
potencial na obra de Deus. Isto se faz pelo reconheci­
mento dos bons serviços e por meio de um sistema de
prêmios e certificados de conclusão de cursos.
( É de suma importância delinear com clareza um
alvo e um plano para cada dirigente. Uma vez por
ano, dirijo pessoalmente uma convenção de líderes de
grupos. Durante o tempo que passamos juntos, mos­
tro-lhes que aquilo que o Espírito Santo me falou é o
alvo de cada grupo. Ainda há pouco, tive de limitar o
crescimento dos grupos porque nossas instalações
eram muitíssimo restritas. Aos domingos, as pessoas
tinham de esperar pelo menos uma hora numa longa
fila para conseguirem um lugar onde assentar-se em
um de nossos sete cultos.
Os Grupos Familiares Têm de Concentrar-se na
Expansão
De novo acentuo a importância de manter os
grupos familiares como veículos de extensão da igreja.
Um dos problemas que um grupo de pessoas enfrenta
quando se reúne regularmente é que se torna encra-
E o sistema de grupos 59
vado, isto é, cresce para dentro. Na Coréia, como na
maior parte do mundo, a família é a unidade básica de
identidade. Um filósofo coreano, ao comparar as
culturas ocidental e oriental, disse: “No Ocidente há
espaços abertos fora dos lares; grandes gramados e
jardins, mas dentro, muitas portas e paredes. No
Oriente, temos muros fora de nossos lares, mas
poucas paredes e portas no interior.”
A realidade histórica e sociológica da superpopula­
ção tem levado os asiáticos a tornar-se mais contem­
plativos. Um asiático pode estar cercado não só pela
família imediata, mas também pelos pais, tios, tias e
primos. É por isso que podemos ver muitos orientais
viajando em grupos. Os coreanos não são diferentes.
Somos um povo social. Nossas relações de família são
muito importantes.
Quando alguém se torna parte de um grupo
familiar, logo estabelece um vínculo de família com os
demais membros do grupo. Como ocorre em sua
família, a pessoa gosta de estar junto e age de maneira
diferente quando chega um visitante. É difícil incorpo­
rar os estranhos na unidade familiar. Verifica-se este
mesmo fato no grupo familiar. Se deixado por sua
própria conta, o grupo se tornará numa unidade
familiar ampliada, não recebendo de bom grado o
influxo de estranhos. E por isso que há necessidade de
acentuar o propósito do grupo familiar continuamen­
te. A introdução de pessoas de fora também dá aos
membros recém-treinados do grupo a oportunidade
para treinar outros. Todos têm de aprender fazendo.
Se ensinamos a alguém um versículo da Bíblia, o
versículo será mais bem lembrado se a pessoa aplicá-lo
imediatamente à vida cotidiana.
A tendência natural humana é no sentido de
lembrar-nos das coisas que julgamos de maior impor­
tância. É o que ocorre também num grupo familiar. Se
60 Muito mais do que números
um novo membro do grupo que começa a receber
treinamento nos princípios de doutrina e na metodolo­
gia de ganhar almas não tiver alguém a quem possa
ensinar o que está aprendendo, não aprenderá com o
mesmo entusiasmo que teria se houvesse a quem
transmitir o conhecimento. Com a contínua introdu­
ção de convertidos nos grupos familiares, estamos
oferecendo oportunidade a que os membros mais
novos sejam estimulados e ensinem a um membro
mais novo do que eles.
O Grupo Familiar Torna-se um Meio de Atingir os
Crentes Desanimados ou Descontentes
Há, numa comunidade, muitas pessoas que perten­
ceram a alguma igreja, mas no momento não freqüen-
tam nenhuma. Por algum motivo, juntam-se às fileiras
dos cristãos desistentes que encontramos em toda
parte. Em sua maioria, os cristãos desistentes que
tenho conhecido parecem contar a mesma história.
Ainda creem em Jesus Cristo, consideram-se cristãos,
mas ficaram desapontados com alguma coisa na
igreja. Alguns podem ter-se envolvido numa cisão da
igreja. Outros, talvez, se desiludiram com o pastor ou
com os líderes da igreja. E possível ainda que alguns
tenham caído em pecado e se sintam envergonhados
de voltar à igreja. Há os que teriam sido negligen­
ciados pelo pastor que nunca os visitou. Seja qual for
o motivo, ainda há um grande número de pessoas que
precisam ser alcançadas e trazidas de volta ao reba­
nho, para que o Senhor as cure.
O dirigente de grupo familiar é treinado para ganhar
almas. Ele conhece seu ministério e crê que Deus o
ungiu para ocupar esse posto. Mas também é treinado
para aconselhamento. Isto é muito importante, porque
o cristão desistente não precisa ser tratado como
alguém que nunca ouviu falar do evangelho. Alguém
E o sistema de grupos 61
precisa sondar o porquê da sua mágoa. Repito: ouça
as suas razões. Além disso, o dirigente precisa mostrar
que a graça de Deus se aplica a todos quantos o
invocarem.
Paulo diz que somos aceitos no Amado. Somos
aceitos em Jesus Cristo. Não somos aceitos porque
sejamos aceitáveis, mas porque estamos incluídos no
relacionamento de amor entre o Pai e o Filho. Sem
emitir juízo e condenação, o dirigente do grupo
apresenta aquele irmão ferido aos demais membros
que também lhe demonstram genuíno interesse. Sen­
tindo-se amado e aceito, esse cristão desistente está
preparado para voltar à igreja. O grupo familiar se
torna, pois, numa extensão pessoal e íntima para os
cristãos necessitados que não freqüentam nenhuma
igreja. Se convidados de chofre para ir à igreja, é
quase certo que rejeitam. Mas no ambiente acolhedor
de um lar, ou mesmo de um restaurante, ficam muito
mais à vontade para expressar-se. Algumas das histó­
rias são, de fato, muito tristes, mas todas têm um final
feliz em potencial.
Todo líder de grupo sabe que para Deus não há
impossibilidades. Deus pode perdoar e curar qualquer
coração quebrantado que venha a ele com sincerida­
de. O ministério de reconciliação não é um trabalho
apenas do pastor. Muitas vezes o leigo pode desempe-
nhá-lo mais eficazmente. O dirigente de grupo, por
exemplo, pode não ser alvo do preconceito que o
cristão magoado tem para com os pastores. A pessoa
ferida pode achar que todos os pastores são iguais.
Mas um leigo pode entendê-la.
Portanto, não só a conquista de almas, como
também a cura e a recuperação dos que não estão
freqüentando a igreja, constituem um ministério que
pode ser levado a cabo com eficácia no sistema de
grupos.
62 Muito mais do que números
Que Acontece Quando um Grupo se Torna
Grande Demais?
Se tivermos de enfrentar um problema, que seja ele
devido ao sucesso e não ao fracasso. Estamos sempre
vendo grupos que começaram com umas poucas
pessoas, tornarem-se grandes demais para o local em
que se reúnem, e para a finalidade que tinham em
mira. Nesse caso, divide-se o grupo. Mas, para
algumas pessoas, isso não é fácil. Quando um grupo
se desenvolve não apenas em tamanho mas também
em espiritualidade, muitos dos membros sentem-se
como uma família. A forma de efetuar uma divisão
bem-sucedida é manter a liderança já conhecida.
Lembre-se de que o dirigente do antigo grupo esteve
treinando o novo líder para essa finalidade todo o
tempo; assim sendo, o novo dirigente não é um
estranho. Além disso, o grupo será feliz na divisão se
de contínuo der-se ênfase ao propósito da divisão. Os
grupos familiares existem para conduzir os pecadores
a Jesus Cristo, de maneira mais efetiva. O crescimento
em demasia é um obstáculo natural a impedir que as
pessoas cheguem ao conhecimento de Jesus Cristo.
Reconhecido este importante fato, as pessoas estarão
dispostas a dividir-se.
Dividido o grupo, os dirigentes de ambos os grupos
se reúnem regularmente para verificar o que cada um
está fazendo. Mantêm contato pessoal com cada
membro. Se alguém ficar doente, será visitado. Se
houver uma necessidade pessoal, o dirigente estará a
postos. Dessa maneira, cada pessoa recebe muito
mais assistência pastoral do que em muitas igrejas que
contam apenas com uma centena de membros.
Após o culto matutino de certo domingo, notei
diversos ônibus completamente lotados. Dirigi-me ao
líder:
—De onde vem toda essa gente?
E o sistema de grupos 63
—Oh, pastor Cho, somos os grupos familiares de
um dos subúrbios de Seul—respondeu o homem
cheio de orgulho.
Um jovem formara um grupo e agora havia tanta
gente que era preciso alugar ônibus nas manhãs de
domingo para trazer todos à igreja. Jamais eu teria
condições de dar assistência adequada às necessida­
des daquelas pessoas que residiam a uma distância de
quase cinqüenta quilômetros. Porém o sistema de
grupos ali estava, e atendia às necessidades com muita
eficiência.
Quando faço preleções sobre o sistema de grupos
familiares em conferências de crescimento da igreja,
geralmente traço um triângulo no quadro-negro. Se
virarmos o triângulo de cabeça para baixo e colocar­
mos o pastor no ângulo inferior, estaremos de­
monstrando a forma convencional de crescimento da
maioria das igrejas. Quanto maior a igreja, tanto maior
o peso que recai sobre os ombros do pastor. É por isso
que muitos pastores estão hoje desanimados, prontos
para deixar o ministério. Não é que não tenham sido
chamados por Deus para o serviço, mas estão exaus­
tos porque toda a responsabilidade da igreja foi posta
sobre eles.
Contudo, adotando-se o sistema de grupos familia­
res, a igreja pode crescer sem destruir o seu dirigente.
Demonstro isto invertendo a posição do triângulo.
Agora o pastor está no topo. O tamanho da igreja não
pesa sobre ele. Percebe que está ali, antes de tudo,
para treinar e motivar os leigos da igreja a realizarem a
obra.
Estou certo de que esta seção não respondeu a
todas as perguntas do leitor. Mas você tem ao seu
dispor o mesmo Espírito Santo que eu tenho. O
mesmo Espírito que me abriu os olhos para a realida­
de do sistema de grupos familiares como plano de
64 Muito mais do que números
Deus para o crescimento de uma nova era de
superigrejas, pode dar-lhe a resposta específica de que
você precisa; basta ir a ele em atitude de fé e oração.
Não se deixe levar pelo conselho dos que dizem:
“Isto não funciona nesta comunidade.” Toda cidade,
não importa se grande ou pequena, tem a chave do
reavivamento. Se você passar tempo desenvolvendo
uma comunhão íntima com o Espírito Santo, ele lhe
dará a chave para sua comunidade. Deus não promo­
verá crescimento na greja sem usar o pastor. 0
crescimento não será trazido por anjos. Não cairá do
céu como chuva. Deve começar no coração do
dirigente. Não é só para a Coréia. E para todos os
cantos da terra.
CRESCIMENTO DA IGREJA
E OS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO

Um dos principais instrumentos de evangelização de


que a igreja dispõe em nossos dias é a comunicação
de massa. Este ano, nossa igreja está empregando
uma considerável parcela de seu orçamento para
pregar o evangelho na televisão e no rádio. Todos os
dias, em qualquer parte da Coréia, pode-se ouvir
nosso programa de rádio. Uma vez por semana, o
programa de televisão de nossa igreja transmite a
mensagem do evangelho de Jesus Cristo a toda a
Coréia.
Liberdade dos Veículos de Comunicação
Uma das mais importantes liberdades que desfruta­
mos na Coréia é a de pregar o evangelho pelo rádio e
televisão. Meios estes regulamentados pelo Ministério
das Comunicações. Até aqui a atitude do governo
para com a televisão e o rádio cristãos tem sido justa.
A diferença é que não há estações de televisão
puramente cristãs. É preciso lembrar que a Coréia
ainda não é totalmente cristã. Mais da metade da
população ainda é budista. Porém somos muito gratos
a Deus pela oportunidade de pregar o evangelho com
a liberdade que usufruímos. Também não cessamos
de orar para que esta liberdade continue.
Viajando pelo mundo, tenho notado que poucos
66 Muito mais do que números
são os países que têm a oportunidade de usar as
ondas aéreas públicas para a proclamação do evange­
lho de Jesus Cristo. Na Europa, muitos pastores têm
pedido nossas orações para que seus governos mu­
dem as políticas públicas com vistas à religião anuncia­
da na televisão e no rádio. Visto que na Coréia
podemos pregar o evangelho com toda a liberdade,
creio que a igreja precisa servir-se desse importante
instrumento para a divulgação do evangelho.
O Uso da Televisão
Sociólogos e psicólogos concordam que a televisão
é, hoje, o principal e mais eficaz veículo de comunica­
ção. Os professores sabem que aquilo que vemos
afeta a retenção da informação muito mais do que
aquilo que apenas ouvimos. Para mim, um modo de
lembrar-me do que ouvi é anotar. Uma vez que meus
olhos possam retratá-lo, consigo lembrar-me. Na
verdade, li um estudo no qual se afirmava que mais de
70% do que sabemos nos veio através da visão. Há
muita verdade no ditado que diz: “Um retrato vale por
mil palavras.” Basta que analisemos o efeito da
televisão sobre o que percebemos como realidade.
Infelizmente, esta enorme força tem estado nas mãos
do mundo por muitos anos.
Li recentemente, na revista Time, um artigo decla­
rando que a escalada da violência na sociedade norte-
-americana era diretamente proporcional à escalada
da violência na televisão. Assistindo à televisão no
mundo ocidental, evidencia-se como os produtos são
vendidos mediante o uso do sexo. Tudo, desde roupa
até pasta dentifrícia, é oferecido através de conotações
sexuais. Sexo ilícito e violência constituem a mensa­
gem subliminar que grande parte da televisão está
espalhando. Alguns produtos são vendidos na televi­
são mediante o uso de quadros e palavras exibidos tão
E os veículos de comunicação 67
rapidamente no vídeo que mal percebemos que os
vimos. Essas estruturas rápidas de informação levam a
mente subconsciente a responder aos produtos que
vemos nas prateleiras dos supermercados. As redes de
televisão cobram quantias enormes para um anúncio
de trinta segundos no chamado horário nobre. Se a
televisão não fosse o melhor meio de comunicação, o
mundo financeiro e comercial não gastaria somas tão
grandes tentando influenciar as pessoas por esse
veículo.
Que Faria Jesus?
Creio com toda a sinceridade que Jesus usaria a
televisão e o rádio para comunicar as Boas-Novas.
Examinando seu ministério, podemos ver exemplos
claros de Cristo empregando os melhores meios
disponíveis para que o maior número de pessoas
ouvisse suas palavras. Ao falar a uma multidão, ele
subiu ao alto da colina de sorte que mais pessoas
pudessem ouvi-lo. Junto ao mar, Jesus entrou num
barco e afastou-se um pouco para que as forças
refletivas das águas pudessem aumentar o volume de
sua voz. Era evidente que Jesus estava interessado em
que todos o ouvissem falar.
Jesus poderia ter comunicado sua mensagem do
reino de Deus em secreto. Ele poderia ter falado aos
discípulos, esperando que depois levassem a mensa­
gem a outros; porém seu ensino era para todos os que
tinham fome de ouvir as palavras de vida. Milhares de
pessoas puderam ouvi-lo falar sem o emprego de alto-
-falantes, porque Jesus sabia como colocar-se de sorte
que as multidões o ouvissem.
Como Pregar na Televisão
Tenho programas de televisão na Coréia, no Japão
e nos Estados Unidos. O programa coreano difere do
programa norte-americano. Sociedades diferentes têm
68 Muito mais do que números
de ser atingidas de modos diferentes. Não podemos
esperar que os outros se adaptem a nós. Devemos
estudar e pesquisar o público que pretendemos alcan­
çar antes de nos aventurarmos num ministério pela
televisão.
Quando Deus me mostrou que eu devia começar
um programa de televisão nos Estados Unidos, sim­
plesmente me espantei. Isto ocorreu enquanto me
encontrava em Washington, D.C., falando na posse
do presidente Reagan. O Dr. II Suk Cha, ex-vice-pre-
feito de Seul, ex-professor, e empresário bem-sucedi­
do, disse-me que Deus lhe ordenara começar um
programa de televisão nos Estados Unidos. A princípio
eu fui contra a idéia. Pensei comigo mesmo: “Por que
deveria eu vir ao país mais superevangelizado do
mundo com um programa de televisão? Os Estados
Unidos já têm muitos e ótimos ministérios pela televi­
são. Os norte-americanos nunca irão aceitar um
oriental tentando ensinar em língua inglesa.” Todos
esses bons e justificados motivos não satisfizeram ao
Espírito Santo; ele havia testemunhado em meu
coração que meu presbítero e amigo, Dr. Cha,
realmente havia ouvido a voz de Deus.
Então coloquei diante do Espírito Santo um grande
obstáculo. Eu disse ao Dr. Cha:
—Irmão Cha, se o senhor está disposto a oferecer
os préstimos para este ministério, eu farei.
Disse isso sabendo que um empresário bem-sucedi­
do jamais abandonaria sua empresa e elevada posição
social para trabalhar num projeto de televisão norte-
-americano, sem remuneração. De novo me espantei
quando o Dr. Cha me disse:
—Pastor, creio que o Espírito Santo me mandou
sacrificar minha empresa em benefício deste trabalho.
Eu o farei.
Embora o Dr. Cha tivesse recebido diversos diplo-
E os veículos de comunicação 69
mas de universidades norte-americanas e devotasse
um grande amor aos Estados Unidos, jamais pensei
que ele estaria disposto a fazer os sacrifícios pessoais
que um empreendimento como este demandaria.
Removido o principal obstáculo que eu havia coloca­
do perante o Espírito Santo, senti profunda paz; tinha
certeza de que Deus me estava guiando para a
televisão norte-americana.
Gostaria de usar a experiência de estabelecer um
ministério pela televisão nos Estados Unidos como a
base para oferecer-lhe os dez passos necessários para
realizar um ministério eficaz e bem-sucedido pela
televisão.
Passo N? 1. Saber Que Deus o Guiou
Usar a televisão para proclamar o evangelho não é
apenas um esforço dispendioso; consome, também,
muito tempo. Se de antemão eu soubesse o custo,
talvez não tivesse sido tão obediente ao Espírito
Santo. A única coisa que me tem conservado no
ministério pela televisão é o conhecimento seguro de
que se trata de uma ordem de Deus.
Quando se entra neste ambiente, está-se entrando
em território de Satanás. Ele é chamado príncipe das
potestades do ar. No grego, a palavra “ar” significa
literalmente atmosfera. O uso das vias aéreas cruza o
território de Satanás, e vai topar com forte oposição.
Passo N? 2. Resolver a Quem Você Vai Falar
Isto se chama visar sua audiência. Sem um alvo
definido, nada do que façamos terá êxito. Portanto, ao
levar ao ar um ministério pela televisão, é preciso que
saibamos a quem vamos alcançar.
Normalmente, meu ministério na televisão e no
rádio tem a finalidade de atingir os perdidos com a
mensagem do evangelho de Jesus Cristo. Contudo,
nos Estados Unidos, o Espírito Santo mostrou-me que
70 Muito mais do que números
eu devia alcançar a igreja com a mensagem de
crescimento. Ele revelou-me que a igreja nos Estados
Unidos era abençoada por causa de sua disposição de
contribuir para a divulgação do evangelho de Jesus
Cristo ao redor do mundo. Todavia, as igrejas precisa­
vam de alguém que as incentivasse a orar e crer que
Deus dará o crescimento. Também ele me mostrou
que muitos cristãos nos Estados Unidos haviam contri­
buído no passado para o anúncio do evangelho,
porém se desapontaram com a construção de grandes
edifícios que nada têm que ver com a pregação do
evangelho.
A Montanha da Oração (veja p. 121) também seria
uma bênção para os cristãos norte-americanos que se
sacrificaram em duas guerras para dar-nos liberdade.
Era preciso orar a favor deles. Há cem anos os
missionários norte-americanos trouxeram o evangelho
à Coréia; agora oraríamos por eles. Ao viajar pelo
mundo, tenho encontrado muitos que não dão valor
aos sacrifícios que os cristãos fizeram nos Estados
Unidos e na Europa. Os cristãos coreanos, porém, são
muito gratos a Deus por aqueles que se dispuseram a
deixar o conforto de seus lares para trazer-nos as
Boas-Novas de que Jesus salva. Agora a maior igreja
do mundo não está no Ocidente, mas num antigo
campo missionário. Portanto, eu pediria ao povo dos
Estados Unidos que nos envie seus pedidos de oração.
Cada carta será motivo de oração e jejum de nossa
parte. Sím, Deus deixou claro que minha missão nos
Estados Unidos destinava-se à igreja.
Passo N? 3. Desenvolver uma Fórmula Natural ao
Seu Próprio Ministério
É importante que um ministro sempre tenha sua
própria personalidade. Nunca tente imitar ninguém.
No começo do meu ministério, tentei pregar como
£ os veículos de comunicação 71
Billy Graham. Fazia pose para parecer-me com ele;
segurava a Bíblia como ele, e até mesmo a voz eu
forçava. Não demorou muito, descobri que poucos
minutos depois eu já estava cansado. Depois de orar,
descobri que Billy Graham comia bife e eu comia
apenas arroz e um prato típico coreano. Agora falo de
uma maneira que me é muito mais natural. Elevo a
voz quando desejo realçar um ponto, mas na maioria
das vezes falo com toda a naturalidade e sempre do
que me vai no coração.
Visto que viajo muito, falando nas Conferências de
Crescimento da Igreja Internacional, meu ministério
pela televisão desenvolveu-se naturalmente como um
programa de viagem. Todas as semanas levo os
telespectadores a uma parte diferente do mundo,
onde possam ver o que Deus está realizando. Portan­
to, as pessoas podem ser abençoadas vendo o mundo
comigo. Já que meu ministério não visa só a inspirar,
mas também a educar, a fórmula desenvolveu-se num
programa informativo. Recentemente, mostramos a
revelação de Deus empregando a língua chinesa.
Traçamos caracteres chineses e explicamos o evange­
lho de Jesus Cristo por meio desses caracteres. A cruz
foi profetizada aos chineses há milhares de anos. Antes
que os chineses caíssem na idolatria, os antigos pais
estavam cônscios de um único Deus. Com base nessas
ilustrações que fizemos em Cingapura, pude empregar
os últimos dez minutos do programa transmitindo uma
útil mensagem da Palavra de Deus.
Em sua maioria, as pessoas que me escrevem são
pastores e dirigentes de igrejas. Muitos homens e
mulheres desanimados me escrevem porque sabem
que também sou pastor e os amo. Por intermédio do
programa tenho recebido cartas que realmente me
têm abençoado. “Minha igreja estava prestes a dividir-se”,
escreveu um desanimado pastor. “Assisti ao programa
72 Muito mais do que números
no qual o senhor falava sobre receber do Espírito
Santo uma nova visão e passei muitas horas em
oração.” À medida que o pastor continuava, as
lágrimas me vinham aos olhos. “Meu ministério tem
agora uma nova unção. A igreja não vai dividir-se e
pela primeira vez em muitos anos vejo-a crescer.
Obrigado, Dr. Cho, por sua presença na televisão.”
Passo N? 4. Aprender a Falar a Uma Pessoa
Um problema que a maioria dos pregadores tem
com a televisão é que não entendem o veículo. A
televisão é, antes de tudo, um veículo pessoal. Ela
alcança as pessoas, não num teatro público, mas na
intimidade de seus próprios lares. Assentado numa
poltrona, descontraído, sandálias nos pés, o indivíduo
não está disposto a ouvir gritaria. Como reagiria você
se alguém lhe batesse à porta, entrasse em sua sala,
assentasse, olhasse para você e começasse a gritar? E
assim que muitos pregadores são vistos no vídeo.
Quando olho para a câmara, penso apenas em uma
pessoa. Falo-lhe do íntimo do coração, como se
estivesse em sua sala de estar; é uma conversa de
coração para coração.
Passo N? 5. Ser Sempre Honesto
A televisão tem um poder diferente do cinema. Ela
sempre vai direto às nossas ações e revela nosso
coração. Ela capta toda mancha de insinceridade e
nervosismo. Se abrirmos o coração e transmitirmos
com toda a sinceridade o que Deus colocou ali, as
pessoas o sabem por intuição.
Passo N? 6. Delegar Responsabilidade a Alguém
que Tenha o Mesmo Espírito
Meu diretor de televisão tem o mesmo espírito que
eu. Ele sabe como me sinto, por isso dirige o programa
para refletir meus verdadeiros sentimentos. Ele é
£ os veículos de comunicação 73
especialista no campo da televisão; eu não sou. Sou
um pregador a quem o Espírito Santo encarregou de
comunicar o evangelho pela televisão. Tenho aprendi­
do a atender à sua direção e cooperar com ele. Às
vezes estou muito cansado quando faço um progra­
ma. Talvez ele diga: “Dr. Cho, sinto muito, mas temos
de repetir esta cena. Algo saiu errado com o ‘tape’ e
receio que não dê boa imagem.” Minha propensão
natural é dizer: “Não; estou cansado. Fica para
depois.” Mas aprendi a cooperar e fazer o que me
pedem, no que for possível.
Quando vejo o produto acabado, alegro-me de ter
dado atenção. Muitos ministros têm problemas porque
não se dispõem a atender aos outros. Acham que têm
todas as respostas. O resultado é acabarem fazendo
todo o trabalho criativo. Um dos segredos de meu
êxito no ministério é que aprendi a delegar a outros
responsabilidade e autoridade.
Passo N? 7. Elaborar um Orçamento
A televisão pode afundar financeiramente um minis­
tério. O equipamento é dispendioso e a hora no ar é
extremamente cara. Se a pessoa vai gastar mais do
que espera levantar, seria bom verificar o que foi que
Deus lhe disse. Se pretende construir uma torre, Jesus
aconselha a calcular primeiro o custo. Calcular o custo
com antecedência evita complicações futuras.
Passo N? 8. Não Ficar Estático
Nada é mais aborrecido do que manter a mesma
cena durante alguns minutos. É preciso variar. Uma
forma de ver se a pessoa está fazendo boa televisão é
tirar todo o volume e deixar apenas a imagem. Faça a
si mesmo a pergunta: “O que estou vendo é ainda
interessante?”
No ministério estamos engrenados no sentido da
comunicação verbal. Cremos na Palavra de Deus, por
74 Muito mais do que números
ele comunicada verbalmente ao coração dos escritores
inspirados. Nem sempre nosso ministério leva em
conta a comunicação não-verbal. Fatores como lin­
guagem corporal e vestimenta normalmente não me­
recem cuidadosa atenção. Donde se conclui que a
televisão cristã não está preparada para a comunica­
ção visual.
Afinal de contas, a finalidade da comunicação é
transmitir uma idéia de uma pessoa para outra. A
transmissão dessa idéia tem de ser entendida. Pregan­
do um sermão na igreja, o pastor não tem comunica­
ção pessoal com o indivíduo mas com a congregação.
Ele reage ao grupo como este reage à sua mensagem.
O pregador pode perceber quando a congregação
começa a perder interesse numa determinada parte da
mensagem; ele pode, então, passar para outro assun­
to. A congregação ainda sofre a dinâmica das reações
das pessoas que lhe estão ao redor. No púlpito, o
pregador se movimenta para manter o contato visual
com tantas pessoas quantas lhe for possível. Contudo,
as mesmas pessoas que poderiam ouvi-lo durante
uma hora numa igreja, em geral não permaneceriam o
mesmo tempo diante de um aparelho de televisão. A
dinâmica da multidão não funciona no lar. Portanto,
para comunicar com eficácia, é preciso ter consciência
da necessidade de parecer interessante e tornar aquilo
que o telespectador vê interessante também, sem que
o desvie da mensagem. Descobrimos que usar partes
do vídeo-teipe mostrando o conteúdo de minha
mensagem é muito útil na comunicação visual bem
como auditiva.
Ainda há pouco eu comentava a respeito de minha
viagem pela Dinamarca. Eu havia falado em duas
cruzadas sobre crescimento da igreja. Escolhemos um
interessante local para sentar-me em frente de um
restaurante onde se podia ver o porto de Copenhague
E os veículos de comunicação 75
e a famosa estátua da Pequena Sereia ao fundo.
Enquanto eu mostrava o que Deus havia feito na
semana anterior, o pessoal técnico da televisão exibia
o motivo de minha palestra. A audiência não precisava
olhar para o movimento dos meus lábios, porque
podia ver o que eu estava dizendo.
Passo N? 9. Cuidado com a Forma
de Levantar Dinheiro
O dinheiro é um dos principais problemas na
televisão cristã. Se nos apresentamos na televisão a
fim de ganhar os perdidos para Cristo, e nosso método
de levantar fundos faz que percamos a credibilidade,
que foi que ganhamos? Quando assisto à televisão
cristã, pergunto-me: que é que a pessoa não-salva está
pensando quando vê a pesada campanha para levan­
tamento de fundos? Na Coréia não nos é permitido
levantar dinheiro pela televisão. Portanto, isto não
constitui problema no meu país.
Entretanto, sei que o tempo no ar é muito dispen­
dioso. Felizmente, nunca recebemos nenhuma carta
negativa concernente ao levantamento de fundos. Em
primeiro lugar, não é de meu feitio pedir dinheiro.
Prefiro sair do ar a ter de pedir. Também confio na
inteligência do telespectador. Creio que quando os
crentes virem o que Deus está fazendo através do
ministério do crescimento da Igreja Internacional,
desejarão participar financeiramente.
Passo N? 10. Não Ter Medo de Repetir
É comum os pastores pensarem que as pessoas
ouvem o que dizemos da primeira vez que o dizemos.
Muitas pessoas retêm muito pouco do que se está
dizendo. As vezes tenho de dizer alguma coisa seis
vezes antes que a maior parte das pessoas me ouçam
pela primeira vez. Quantas vezes Jesus se repetiu?
Repetidas vezes ele ensinou princípios fundamentais
concernentes ao reino de Deus. Ele usava ilustrações
76 Muito mais do que números
diferentes, circunstâncias diferentes, e auditórios dife­
rentes, mas ensinava os mesmos princípios básicos.
Na verdade, no que tange à ressurreição, os discípulos
não ouviram ou não entenderam seu ensino senão
depois que ele morreu e ressuscitou.
Se aquilo que temos para dizer é importante,
convém que seja repetido. Durante muitos anos
venho ensinando a milhares de pessoas a verdade
concernente a visões e sonhos. Ainda me espanto com
o pequeno número de pessoas que entendem o que
digo. Digo que, ao orar, é preciso que a pessoa tenha
um quadro nítido do que deseja de Deus, e ainda
assim muitas pessoas não me entendem. Lembro-me
de usar a história de como o Espírito Santo me
ensinou esta lição dando-me uma bicicleta, uma
cadeira e uma escrivaninha de mogno. Muitos têm-me
contado a bênção que a história representou para eles,
mas depois de conversar com tais pessoas, percebo
que nunca entenderam o ponto.
Em realidade, este princípio é importante não
apenas no que se refere à televisão; é importante
também no ministério de pregação.
Televisão Cristã no Japão
Estamos agora cobrindo Kanto, Tóquio e Kansai
(Osaka) com a televisão cristã. Filmamos o programa
de nossa igreja na Coréia e o dublamos em japonês.
Uso parte do mesmo material que uso na televisão
norte-americana, mas tenho alterado o programa
porque sei que estou atingindo uma cultura completa­
mente diferente. Os resultados têm sido maravilhosos.
Meu ministério na televisão japonesa é principal­
mente evangelístico. Apenas uma pequena porcenta­
gem dos japoneses se diz cristã. Em realidade, menos
de 0,5% confessa-se cristã.
É difícil pregar o evangelho no Japão. Não há, com
E os veículos de comunicação 77
efeito, um nome que se possa usar para Deus. No
Japão há milhares de deuses. Portanto, usar uma
palavra japonesa própria para significar o único e
verdadeiro Deus vivo, é uma dificuldade. Em coreano
temos uma palavra para o nome de Deus: HANNA-
NEEM. “Hanna” é uma palavra que significa o
número um. Portanto, quando dizemos Deus, não há
problema para saber que estamos falando do Deus da
Bíblia. No Japão não temos tal nome. Os japoneses
perguntam-me: “A respeito de qual deus você está
falando? O Deus israelense ou o norte-americano? Ou
se refere aos deuses hindus? Que é que você quer
dizer por Deus?” Entendendo bem sua cultura e
podendo pregar fluentemente em japonês, tenho
condições de pregar o evangelho de Jesus Cristo a
120 milhões de almas perdidas.
No ano passado um telespectador japonês mostrou-
-me algumas fotografias tiradas no mês anterior. A
família Tanaka havia aceitado a Cristo enquanto
assistia a um dos nossos programas e escrevera ao
nosso escritório em Osaka. Um membro de nossa
equipe foi à sua casa e começou a estudar a Bíblia
com eles. Foram batizados em água e filiaram-se a
uma congregação local. A medida que a Palavra de
Deus começou a criar raízes em seus corações, toda a
família se preocupou com uma imagem que, acima de
tudo, era uma antigüidade muito valiosa. Que fariam
com este ídolo? Vendê-lo-iam? Qual seria a reação
dos parentes ao “insulto” que estava sendo planejado
por esses novos convertidos?
Depois de muita oração, a família resolveu queimar
a imagem em público e arcar com as conseqüências.
Tiraram fotografias da imagem ardendo e me foram
elas mostradas. Agora a família sente nova liberdade
em seu lar. O restante dos familiares começou a
entender e Cristo lhes está dando paz.
78 Muito mais do que números
Resultados da Televisão Cristã
Muitos pastores se apresentam na televisão com um
programa da igreja a fim de fazer publicidade. Outros
acham que a televisão atrairá novos membros. Alguns
pensam até que um programa de televisão local dará
credibilidade à igreja. Todos esses motivos para apre­
sentar-se na televisão são legítimos. Entretanto, há
alguns resultados intangíveis que justificam o dispên­
dio de tempo, energia e recursos para que o pastor se
apresente na televisão.
Uma senhora escreveu-me e endereçou a carta à
sede do nosso trabalho em Nova Iorque. Dizia ela que
estivera presa ao leito por muitos anos. Nosso progra­
ma de televisão trouxe-lhe tantas bênçãos que ela se
via na obrigação de escrever-me. Ela vira fotografias
de nossa gente orando na Montanha da Oração (veja
p. 121). É normal termos entre 5.000 e 10.000
pessoas orando dia e noite por suas necessidades,
pelo reavivamento na Coréia e no restante do mundo.
A senhora que me escreveu, Sally Porter, fora
tocada de tal sorte pelo Espírito Santo, que se sentiu
levada a pedir a Deus uma oportunidade de servir. Eis
a sua oração: “Pai, tu sabes que sou velha e enferma.
Não tenho família nem dinheiro. Jesus, tenho estado à
espera da morte. Venho pleiteando contigo que eu
possa morrer. Agora, porém, desejo viver. Se os
cristãos coreanos podem tomar de seu valioso tempo
a fim de trabalhar por ti em oração, também posso.”
Essa carta tocou-me realmente. Respondi-lhe de
imediato. Em minha carta incentivei-a a ler as passa­
gens bíblicas que mencionam a intercessão. As notí­
cias que tenho dessa senhora dizem que ela se sente
muito melhor. Continua sem família e sem dinheiro,
mas agora tem um motivo para viver. Ela anda em sua
cadeira de rodas, pra lá e pra cá, entregando aos
outros pacientes tiras de papel nas quais eles escrevem
£ os veículos de comunicação 79
seus pedidos de oração; depois ela passa um dia
inteiro em seu quarto, orando a favor de cada
necessidade, citando nome por nome. Ela aprendeu a
ser específica quanto aos pedidos de oração. Hoje ela
se sente muito feliz por estar no hospital; está conse­
guindo resultados positivos. Os outros pacientes a
procuram regularmente, e até os funcionários do
hospital lhe fazem pedidos de oração. Ela sente que
agora tem uma nova família.
Isto é resultado de termos um ministério regular pela
televisão naquela comunidade. Ela nunca virá à nossa
igreja; nunca poderá contribuir financeiramente para o
ministério. Não importa. Ela foi transformada numa
força positiva e dotada naquele hospital da Califórnia.
A igreja receberá benefícios diretos se tiver um
ministério pela televisão em sua comunidade; ele
contribui para o crescimento da igreja. Há pessoas que
nunca responderiam aos seus apelos ou nunca iriam à
sua igreja; não obstante, podem ser abençoadas e
tomar-se uma bênção por intermédio do programa da
igreja. Nunca se apresente na televisão com a idéia de
apenas receber. Faça-o pensando em dar à sua cidade
algo que seja uma grande bênção. Se começar seu
ministério pela televisão tendo este propósito em
mente, você nunca se desapontará.
Ministério Pelo Rádio
De certo modo, a televisão eclipsou o rádio como
veículo de comunicação. Não obstante, em muitas
partes do mundo o povo não tem aparelhos de
televisão. O melhor meio para atingir as massas do
Terceiro Mundo é o rádio.
Temos programas radiofônicos diários que cobrem
toda a Coréia. Também temos um ministério pelo
rádio em chinês, transmitido todos os domingos para a
República Popular da China. Não tenho espaço aqui
80 Muito mais do que números
para escrever tudo o que Deus está fazendo ali, mas
posso dizer isto: a igreja na China vai melhor do que
nunca. Todas as semanas recebemos relatórios do que
o Espírito Santo está realizando naquela parte do
mundo. As pessoas estão sendo salvas e acrescenta­
das à igreja aos milhares. Creio que, neste momento,
há pelo menos de vinte a trinta milhões de cristãos na
China.
A igreja chinesa está crescendo através do sistema
de grupos familiares. Não posso indicar com precisão
onde e como a igreja está crescendo; posso dar-lhe
apenas informação de caráter geral. O motivo de
minha cautela é que eu disse algumas coisas em
público com referência à igreja na China e depois
descobri que as autoridades exterminaram o grupo.
Em certa parte da China o sistema de grupos
familiares está funcionando tão bem e com tanta
rapidez, que as autoridades ali não ousam deter o que
o Espírito Santo está realizando. A China passa, no
presente momento, por um novo impulso e moderni­
zação. Para que a nova China saia de seu atual
desastre econômico, precisa de uma nova estirpe de
trabalhador—uma pessoa dedicada ao desenvolvi­
mento econômico do país.
Na Coréia a igreja cresceu, no início, porque os
cristãos coreanos eram extremamente patriotas. Em
outras palavras, os bons cristãos se tornaram sinônimo
de bons coreanos.
Quando os japoneses ocuparam nosso país, os
cristãos coreanos foram dos primeiros a conduzir a luta
pela independência. Os líderes da igreja passaram por
maus momentos; sofreram perseguição. Na verdade,
atribuo nosso êxito em grande parte ao sangue dos
mártires que clamava por justiça. Pagaram o preço
para dar credibilidade ao Cristianismo em nossa
nação.
E os veículos de comunicação 81
Assim, também, na China. Os cristãos não estão
vinculados a nenhum grupo estrangeiro. Todos são
cristãos consagrados. Creem, porém, que tudo o que
está na Bíblia é verdadeiro e para hoje. Creem no
miraculoso poder de Deus. Vêem milagres ocorrendo
com regularidade. Mais importante, ainda, é que eles
excedem os não-cristãos em produção e trabalho. São
cidadãos que não brincam em serviço. Por este motivo
as autoridades locais não se atrevem a impedir as
conversões em massa que ocorrem naquela área.
Deter a evangelização dessa parte da China podia
significar, também, que as cotas de produção não
seriam atingidas. Assim, nos seus melhores interesses,
convém deixar que a igreja cresça.
Um dos principais veículos de ensino da igreja
naquela parte da China são nossas transmissões
regulares pelo rádio. Visto que elas não vêm do
Ocidente, e considerando que sou oriental, há um
sentimento diferente com relação aos meus progra­
mas, diferente do que sentem quanto a outros ótimos
programas divulgados na Ásia.
Em Quê Difere o Rádio?
No rádio, a pessoa tem apenas as palavras como
veículo de comunicação; portanto, é preciso pintar o
quadro com palavras. Ao apresentar uma ilustração, é
preciso dar muito mais detalhes do que na televisão.
Se pretendemos que as pessoas ouçam e retenham a
nossa mensagem, há necessidade de competirmos
com todos os estímulos visuais que cercam a audiên­
cia. Nessas condições, é preciso pensar muito no que
dizer através do rádio.
Normalmente, mantenho transmissões curtas e ob­
jetivas. Aprendi que se pode realizar muito mais pelo
mesmo preço, dizendo o que tenho para dizer em
períodos mais breves de tempo, porém mais vezes. O
82 Muito mais do que números
rádio é muito mais barato do que a televisão, o que o
torna mais viável para as igrejas menores que desejam
levar ao ar um ministério radiofônico.
No rádio é preciso, também, que definamos a
audiência que pretendemos atingir. Nossa audiência
baseia-se no tipo de ministério que estamos transmi­
tindo. Se o que temos em mira é ensinar os cristãos,
então passaremos boa parte do tempo preparando
uma mensagem de ensino. Se a audiência é, antes de
tudo, constituída de não-salvos, e estamos apresen­
tando um programa evangelizante, então teremos de
tratar de tópicos importantes e notícias que despertem
interesse.
É preciso lembrar ainda que o rádio é um veículo de
comunicação mais versátil. As pessoas ouvem rádio
quando dirigem automóveis, quando saem para rela­
xar-se, e muitas vezes deixam o rádio ligado enquanto
trabalham na casa. Este é um dos motivos de haver
necessidade de mais preparo em apresentar o evange­
lho pelo rádio. Aprendi que posso dar detalhes vívidos
em minhas mensagens. Também relato no rádio
muitas experiências importantes, porque as histórias
humanas captam a atenção.
Por Que Devem os Pastores Usar os Veículos
de Comunicação?
Quer utilizemos a televisão, quer o rádio, o motivo
da existência desses modernos órgãos de comunica­
ção é a propagação do evangelho de Jesus Cristo. Se
o pastor desejar que a igreja cresça, então deseja
automaticamente que a evangelização prolifere.
Quanto mais almas salvas, tanto maior o número de
pessoas que desejarão fazer parte da igreja.
Creio que o pastor é quem deve usar os veículos de
comunicação. A esta altura as ondas aéreas estão
cheias de evangelistas pregando o evangelho. En-
£ os veículos de comunicação 83
tretanto, em minha opinião o evangelista deve traba­
lhar com a igreja, e não fora dela. Creio nos ministé­
rios de comunicação de massa. Creio, porém, que a
pessoa a usar o veículo de comunicação em maior
escala do que qualquer outra deve ser o pastor. A ele
cabe a maior responsabilidade pelo crescimento da
igreja.
O Crescimento da Igreja é uma Possibilidade
O pastor pode exercer maior influência na comuni­
dade por causa do evangelho. Uma tentação a evitar é
a idéia da possibilidade de fazer outras coisas na
televisão e no rádio além da pregação do evangelho.
Muitas vezes me indagam a respeito de política.
Venho de uma nação que tem sido muito mal-
-interpretada. Às vezes me perguntam: “Dr. Cho, que
pensa o senhor da posição de seu país quanto aos
direitos humanos?” Geralmente respondo: “Senhor
(ou senhora), vou dizer-lhe o que penso sobre a
posição da Coréia quanto aos direitos religiosos.”
Não que eu tenha medo de assumir uma posição
política. Não tenho motivo para temer, mas creio que,
como ministro de Cristo, minha missão é pregar o
evangelho; só isso. Se eu envolver-me na política,
estarei descendo do alto propósito para o qual o Pai
me chamou. Resista à tentação e pregue apenas a
Palavra de Deus. Se você pregar a Palavra, as pessoas
modificarão a sociedade e a situação política. Já
mudei minha comunidade com os 330.000 membros
de minha igreja. Os políticos percebem que temos
uma voz poderosa em nosso país. Mas também sabem
que vou orar por eles e apoiar seu trabalho.
Paulo pediu aos cristãos romanos que se sujeitas­
sem às autoridades constituídas e orassem por elas. Eu
teria entendido esta ordem se fosse dada a outra
igreja. Mas aos cristãos de Roma? Não era aí a sede
84 Muito mais do que números
dos odiados ditadores do mundo? Não estavam os
romanos, à época em que Paulo escrevia a epístola,
matando os cristãos? Contudo, Paulo disse que toda
autoridade, religiosa ou política, é concedida por
Deus. Jesus disse a Pilatos que ele tinha autoridade
para executar a crucificação só porque o Pai lha
concedera.
Meu maior interesse é pela liberdade de pregar o
evangelho à humanidade perdida. Não que eu não
creia em programas sociais de ajuda aos necessitados.
Creio, porém, que a coisa mais importante que se
possa dar a um ser humano é a finalidade para a qual
foi criado. Desde que a pessoa reconheça que é
especial, que Deus realmente a ama, será motivada a
transformar seu próprio meio ambiente. Desejará ser
membro produtivo de sua sociedade. Quando recuso
participar de grupos políticos e de ação social, expo­
nho-me a considerável crítica por parte de outros
ministros. Acontece, porém, que enquanto eles estão
ocupados com o combate de causas, estou edificando
a maior igreja na história da cristandade.
Portanto, os veículos de comunicação devem ser
usados para a pregação do evangelho. Com o uso da
televisão e do rádio surge um tipo especial de poder. A
televisão, em especial, leva as pessoas a considerar-nos
diferentes das demais. Elas sentem como se nos
conhecessem pessoalmente. De certo modo, estamos
em desvantagem. Ao produzir um programa para a
televisão, vemos apenas lentes. Transmitido o progra­
ma, milhões de pessoas veem o nosso rosto. Elas
acham que estiveram pessoalmente conosco, isto é, se
realizamos um bom trabalho. Este tipo de poder nas
mãos da pessoa errada pode ter um efeito corruptor.
E por isto que o Senhor Jesus deve lidar com os
motivos do coração. Daí a razão de eu dispensar tanto
tempo sobre o assunto no início deste livro. O desejo
E os veículos de comunicação 85
pessoal de ser famoso e benquisto pelas massas, se
não for santificado pelo Espírito Santo, destruirá o
pastor por meio de enorme orgulho, avareza e sede de
dinheiro, ou por desastrosos problemas morais. Quan­
to mais famoso o pastor se torna, tanto maior a
pressão exercida sobre ele, e tanto mais sólido tem de
ser seu caráter cristão.
(maio DA IGREJA
5
E O REINO DE DEUS

Faz alguns anos, uma bela e idosa senhora convi-


dou-me para jantar em sua casa. Essa noite haveria de
causar um grande impacto sobre minha vida e ministé­
rio. A Sra. Park, ex-deputada, chegou à sala de jantar
e nos assentamos à mesa onde estava servido um
lauto jantar coreano e começou a narrar-me sua
história. Embora eu já conhecesse pormenores de seu
testemunho, considerei privilégio ouvi-lo de seus pró­
prios lábios.
—Durante o ataque dos comunistas norte-coreanos
a Seul. . .—disse ela com voz suave. Fez uma pausa
enquanto saboreava uma porção de arroz. — . . .che­
garam tão de surpresa que a maioria das principais
figuras políticas não tiveram oportunidade de fugir
para o sul. Fui ao meu guarda-roupa, peguei um
vestido velho e tentei disfarçar-me de vendedora
ambulante. Quando fugia para o sul, os soldados
norte-coreanos me prenderam. Disse-lhes que eu era
apenas uma pobre mulher, mas não acreditaram em
mim. Levaram-me para o quartel a fim de interrogar-
-me. Quanto mais eu negava ser alguém de importân­
cia, tanto mais me interrogavam, até que um deles
tomou-me as mãos e disse que eu mentia. “Essas não
são mãos de uma vendedora ambulante; são muito
88 Muito mais do que números
macias”, disse ele. Logo depois fui conduzida à
presença de um oficial que, abruptamente, senten­
ciou: “Amanhã, ao alvorecer a senhora será fuzilada.”
—O corredor era úmido e frio. Eu podia ouvir apenas
o fraco ruído de passos acima de mim quando me
levaram para uma cela no porão. Tudo o que eu tinha
sobre o corpo eram uns trapos de roupa que usava na
tentativa de disfarçar-me. Nessa hora eu estava muito
cansada e deitei-me no piso de cimento. Enquanto a
mente percorria os fatos que me aconteceram, senti
muita tristeza e remorso.
Que belo final para a sua gloriosa carreira, disse
comigo mesma. Você que tinha tudo. Você que
conhece tanta gente. Entretanto, esta é sua última
noite. Que lhe acontecerá amanhã? Continuei a
perguntar-me, e caí no sono.
— É sempre difícil acordar quando se tem muito
sono. Porém é duplamente difícil quando se sabe que
essa é a última vez que se estará acordado. Um jovem
de uns vinte anos segurou-me pelo braço e me levou
de volta pelo corredor, escada acima, e saímos para a
rua. Quando o sol me brilhou no rosto, fiquei ofusca­
da. Mas não tão ofuscada que não pudesse ver o fuzil
que ele trazia aos ombros.
—Caminhamos diversos quarteirões. Observei os
buracos que restaram do que outrora eram lares
carinhosos, embora pequenos. Todas essas casas
estavam espremidas umas contra as outras como se
tentassem proteger-se do frio severo que nos recebia
naquela manhã. Meus olhos encheram-se de lágrimas
ao lembrar-me dos principais acontecimentos de mi­
nha vida. Lembrei-me de sempre estar participando
de alguma atividade. Não é comum que uma mulher
coreana negligencie o casamento e a educação dos
filhos a fim de dirigir uma seção da resistência
antijaponesa. Lembrei-me das emoções sentidas
£ o reino de Deus 89
quando as tropas norte-americanas derrotaram os
japoneses; estávamos livres de tudo isso afinal. Entrei
para a política em busca de justiça para o povo. Mas
logo fui apanhada na ascensão social que acompanha
o poder recém-encontrado.
—Minha mente voltou-se para nossa pequena igreja
metodista. Não sentia interesse pelos sermões, mas
tinha prazer em cantar os hinos. Na realidade, muitas
vezes me via cantarolando alguns de meus hinos
prediletos quando estava amedrontada ou solitária.
“Quão bondoso amigo é Cristo”, eu cantava baixi­
nho. Mais lágrimas me enchiam os olhos e rolavam
pela face enquanto eu dizia para mim mesma: “Você
nunca aceitou realmente a Jesus Cristo como seu
Salvador.” Esta declaração, percebida na mente e
proferida em voz baixa, trazia-me sentimentos ainda
mais profundos de dor e frustração.
—Eu me perguntava se Jesus me perdoaria e me
salvaria naquele instante. Então, com todas as forças
que pude reunir, eu disse: “Jesus, vou morrer em
poucos minutos. Tenho sido uma pecadora. Sei que
não mereço, mas peço que perdoes os pecados desta
velha e me salves como fizeste com o ladrão na cruz.”
—Senti uma alegria súbita encher-me o coração.
Ele batia tão depressa que, tenho certeza, o jovem que
me olhava com curiosidade enquanto subíamos a
colina onde eu seria executada, podia ouvi-lo. Fui
perdoada; estava livre, preparada para morrer.
—Creio sinceramente que ninguém está preparado
para a vida sem Cristo; muito menos, porém, para a
morte sem a certeza que só o Senhor Jesus Cristo
pode dar. Agora que eu me sentia feliz e livre, comecei
a cantar em voz alta: “Revelou-nos seu amor, e nos
diz que lhe entreguemos os cuidados sem temor.”
—Cale essa boca, velha! —gritou comigo o rapaz
que se fizera soldado. —Pare com essa cantoria agora!
90 Muito mais do que números
—Por que deveria eu obedecer-lhe agora? —per­
guntei. —Não é verdade que vou morrer? Agora sou
cristã; acabo de ser salva ao subir esta colina e
aproveitarei os últimos minutos que me restam na
terra para louvar a meu Senhor e Salvador, Jesus
Cristo.
— “Que segurança, Jesus é meu; tenho antegozo
da glória do céu.” Comecei a cantar um novo hino
para o jovem e rude soldado. De súbito, veio-me à
memória toda a letra do hino e continuei a cantar tão
alto quando pude. Ao lado de outra colina nos
arredores da cidade notei que havia uma área plana.
O jovem pegou uma pá e começou a cavar a minha
sepultura. Enquanto cavava, continuei a cantar. De
quando em quando ele me olhava e continuava a
cavar. Terminada a cova, ele pegou uma venda,
colocou-a nos meus olhos e disse: “Velha, deseja dizer
alguma coisa antes que eu a mate e sepulte seu
corpo?” Embora eu estivesse com os olhos vendados,
percebi que podia ver o que se passava no coração do
jovem carrasco ali diante de mim.
—Ah, sim—disse eu, sentindo pesar por ele. —Te­
nho apenas umas poucas coisas que dizer. Tenho
vivido uma vida maravilhosa na terra. Mas enquanto
caminhávamos para cá, você pôde notar que algo me
aconteceu. Acordei esta manhã cheia de medo. Agora
tenho paz e alegria. Veja bem, hoje cedo eu era cristã
apenas de nome, mas agora sou salva. Gostaria que
você pudesse conhecer este maravilhoso Salvador
Jesus Cristo —. Eu poderia ter dito mais alguma coisa,
mas naquele momento senti alguém dizer-me que
orasse a favor de meu jovem guarda.
—Posso passar os últimos instantes de minha vida
orando pela sua alma? —perguntei, encaminhando-me
para o buraco que ele havia cavado para minha
sepultura. Ajoelhei-me e comecei a orar. Depois de
E o reino de Deus 91
orar uns poucos minutos, ouvi o jovem chorar.
Terminei a oração e disse: “Pronto, pode fuzilar-me
agora.” Nada, porém, aconteceu. Que havia de
errado? Eu disse de novo: “Terminei a oração. Pode
atirar.”
—Não posso—ouvi-o dizer entre soluços e lágrimas
de agonia. Ele desceu à sepultura, tirou-me a venda
dos olhos, e fitou-me. —Minha mãe orava desse
modo por mim. Posso vê-la orando por mim agora.
Quando ergui o fuzil para matá-la, tive uma visão de
minha mãe, e não posso fuzilar minha mãe.
—Você tem de obedecer às ordens, do contrário
eles o matarão—disse-lhe eu, agora mais preocupada
com a vida dele do que com a minha.
—Não posso matá-la. Por favor, fuja quando eu der
um tiro para o ar—disse ele enquanto me desamarra­
va as mãos e me deixava ir. Corri para as colinas em
busca de segurança.
No momento em que a Sra. Park terminou a
história, eu chorava com ela, pouco me preocupando
com o fato de mal haver tocado o alimento. Hoje a
Sra. Park está no céu, porém ela passou o resto da
vida testemunhando aos líderes acerca do poder de
Jesus de salvar e de libertar prisioneiros. Foi ela que
começou o primeiro desjejum de oração presidencial
na Coréia, e tocou os corações de muitos de nossos
mais poderosos líderes políticos e econômicos. Lem­
bro-me, contudo, de ela olhar-me nos olhos ao final
de sua história e dizer-me algo que causou grande
impacto.
—Pastor Cho, o senhor é jovem. Tem um grande
futuro no ministério. Devo, porém, aconselhá-lo acer­
ca de algo que nunca deverá esquecer. Pregue o reino
de Deus. Nunca entre por desvios. Pregue o evange­
lho do reino. Nunca permita que as conveniências ou
a proeminência o impeçam de pregar a mensagem
92 Muito mais do que números
que Jesus pregou. Repito: pregue o reino de Deus!
Nunca me esqueci das palavras desta santa corea­
na. Portanto, falarei da importância de pregar o reino
de Deus e de ver o poder do reino de Deus em ação.
Que é o Evangelho do Reino de Deus?
Antes de tratarmos do que Jesus queria dizer por
evangelho do reino, convém entender o que é o reino
de Deus. O reino de Deus manifesta-se de duas
formas. Há o aspecto futuro e também a realidade
presente. Embora este importante assunto bíblico
tenha muitas facetas, julgo de importância que todo
cristão entenda como o reino de Deus influencia o
crescimento da igreja. Entendida esta grande lição,
podemos liberar o poder dinâmico que jaz dentro de
todo crente. Podemos ver o poder do Espírito Santo
atuando em nosso ministério como atuou no ministé­
rio dos primeiros apóstolos.
Que é o Reino de Deus?
Desde que se começou a registrar a experiência
humana, os homens sempre tentaram imaginar uma
sociedade ideal. Platão, renomado filósofo grego,
sonhava com uma sociedade ideal baseada numa
estrutura política ética. Sua República veio a ser um
modelo para as futuras sociedades, mas o próprio
Platão reconhecia que suas filosofias política e social
eram idealistas demais para serem levadas a cabo com
a perfeição que ele desejava.
Os profetas do Antigo Testamento falaram de uma
era futura em que os homens viveriam juntos sem
armamentos de guerra. Isaías falou de lanças transfor­
madas em podadeiras, e de uma nação não levantar a
espada contra outra. Na verdade, a paz do mundo
seria tão dramaticamente diferente, que ele usou as
imagens do lobo habitando com o cordeiro, do
leopardo deitando-se junto ao cabrito, e do bezerro e
E o reino de Deus 93
o leão novo andando juntos, querendo com isso
significar a radical mudança nos negócios mundiais
que haveria de ocorrer no futuro.
A mensagem que Jesus pregou era de arrependi­
mento porque estava próxima a inauguração de uma
nova era. “Arrependei-vos, porque está próximo o
reino dos céus” (Mateus 4:17). Seus ensinos, ilustra­
ções e parábolas versavam, antes de tudo, sobre o
reino de Deus. Com efeito, a oração que ele ensinou
aos discípulos, diz: “Venha o teu reino, faça-se a tua
vontade, assim na terra como no céu” (Mateus 6:10).
Até ao fim, Jesus nunca deixou de acentuar aos
discípulos a importância do reino. Embora seja óbvio
a todos os que estudam os evangelhos que a principal
ênfase de Jesus era sobre o reino de Deus (Mateus
chamava-o de reino dos céus porque escrevia tendo
em vista os judeus) há pouco acordo sobre o que é o
reino de Deus e o que deveria ser a mensagem do
evangelho do reino.
Agostinho entendia que o reino de Deus era
sinônimo da igreja. O movimento da Reforma desem­
penhou grande papel em redefinir o significado do
reino de Deus. Calvino concordava basicamente com
Agostinho. Divergiam apenas sobre que aspecto da
igreja representava o reino de Deus. No seu entender,
a verdadeira igreja, dentro da igreja visível era a
manifestação terrenal do reino de Deus, cabendo-lhe
a missão de transformar as nações do mundo em
povos dispostos a submeter-se ao senhorio de Jesus
Cristo. A tarefa da igreja seria possível mediante o uso
de um poder especial chamado evangelho do reino.
Este evangelho do reino de Deus tocaria de tal modo a
vida, primeiro dos homens e depois das nações, que
haveria uma poderosa transformação da realidade
social, política e econômica. A igreja foi comparada ao
fermento que lentamente vai permeando a massa da
94 Muito mais do que números
terra de tal modo que num determinado ponto da
história a terra proclamaria a Jesus Cristo como
Senhor e Rei. A essa altura o Senhor Jesus Cristo
voltaria a fim de receber o reino que o Pai celestial
preparou para ele.
Há outra escola de teologia que não tenta explicar o
reino de Deus em termos do futuro; procura entendê-lo
em seu presente contexto social. Harvey Cox é apenas
um dos muitos teólogos modernos que consideram o
reino de Deus como uma ordem social produzida pela
igreja. Os problemas de desigualdades, preconceitos,
bem como o restante de nossas preocupações sociais,
devem ser ventilados e tratados por uma igreja cônscia
de sua missão. Os termos bíblicos são redefinidos para
torná-los mais aplicáveis aos problemas hodiernos.
Muitos de nossos líderes eclesiásticos liberais são
motivados pelo que consideram falta de interesse dos
líderes eclesiásticos evangélicos mais conservadores.
Embora mais adiante, neste capítulo, eu externe
minha opinião acerca do reino de Deus, creio que há
uma falha fundamental em manter-se apenas uma
opinião sobre ele. Conquanto eu creia na razão, não
creio na infalibilidade dela. Há um fundamento maior
do que a razão para estabelecer-se o que é realmente
o reino de Deus. Esse fundamento é a simples porém
profunda Palavra de Deus. Examinemos alguns princí­
pios bíblicos básicos que nos ajudarão a entender o
que é o reino de Deus.
1. O reino de Deus não é só pare o futuro, mas
também para o presente. “O reino de Deus não é
comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no
Espírito Santo” (Romanos 14:17). Paulo revela-nos
que o reino de Deus transcende a existência natural do
homem e leva-o a experimentar no presente o fruto
do Espírito Santo; que se a pessoa associar-se com o
Espírito Santo, tornar-se-á semelhante àquele com
E o reino de Deus 95
quem se associa. O resultado natural da associação
com o Espírito Santo será uma existência mais de
acordo com a qualidade que Deus confere à vida do
que com seus aspectos essenciais, como comer e
beber.
2. Paulo revela ainda que o reino de Deus é algo em
que entramos como resultado da regeneração pelo
Espírito Santo. “Ele [Deus] nos libertou do império
das trevas e nos transportou para o reino do Filho do
seu amor” (Colossenses 1:13).
No grego, a palavra “transportou” é metestasen,
que literalmente significa mudar de lado.
Pode-se comparar este versículo a um jogo de
futebol. Cada time ocupa um lado do campo. Num
lado está a equipe representando o reino das trevas.
No outro, a que representa o reino de Deus. Durante o
jogo, um dos principais jogadores do time das trevas
tira a camisa, vai para o banco do adversário e veste a
camisa do reino de Deus. Depois ele entra em campo
para jogar contra o time das trevas. Ele simplesmente
troca de lado.
Foi isto que aconteceu conosco. Passamos de um
reino para o outro, o reino de nosso Senhor.
3. O reino de Deus também é retratado em sua
perspectiva futura de bem-aventurança eterna: “Por
isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior,
confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto,
procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum.
Pois, desta maneira é que vos será amplamente
suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo” (2 Pedro 1:10, 11).
Jesus falou do futuro, ao dizer: “Muitos virão do
Oriente e do Ocidente e tomarão lugar à mesa com
Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus” (Mateus
8: 11).
Ainda no capítulo 13 desse mesmo Evangelho
96 Muito mais do que números
nosso Senhor narra parábolas que dão maior clareza
ao que, para ele, significava o reino de Deus. Ele diz
que, expurgado o reino das impurezas, os justos
resplandecerão como o sol.
4. Jesus é a representação de como é estar no reino.
“Não vem o reino de Deus com visível aparência.
Nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Lá está! porque o reino de
Deus está dentro em vós” (Lucas 17:20-21).
Este versículo pode aplicar-se ao fato de que o reino
de Deus estava no meio deles. Jesus estava entre eles.
Os fariseus não deviam procurar uma manifestação
gloriosa no futuro, porque o reino estava diante deles
e eles eram cegos demais para observar que Deus
estava operando sem estardalhaço.
5. O paradoxo do reino tem de ser considerado na
base de uma compreensão equilibrada. Jesus disse a
Pilatos, no capítulo 18 de João: “O meu reino não é
deste mundo.” Também ele disse, no capítulo 13 de
Lucas, que o reino de Deus cresce quase impercepti-
velmente como um grão de mostarda. Não obstante,
esta semente, quase despercebida, cresceria e afetaria
o mundo inteiro.
Em vez de ver opiniões opostas na Bíblia, como
contraditórias, vejo-as como um equilíbrio. Portanto,
o reino de Deus é futuro, mas também é presente.
Não é deste mundo, mas afeta este mundo. Pode-se
entrar nele agora, mas há uma realização futura.
Não se pode vê-lo com os olhos naturais, mas o
reino de Deus encontra-se onde Cristo está. Quando
analisamos o reino um pouco mais, podemos perce­
ber que é possível entendê-lo de diferentes modos.
Tanto baileia, palavra grega traduzida como reino,
assim como a palavra hebraica malkuth, representam
a categoria de autoridade exercida por um rei. A idéia
que temos hoje relaciona-se com as pessoas que estão
sob a autoridade do rei ou com o território $obre o
£ o reino de Deus 97
qual se exerce a autoridade real. Assim, a natureza da
autoridade pode estar mais próxima da compreensão
do conceito bíblico de reino do que os súditos estão da
autoridade.
O Salmo 145:13 expressa em termos poéticos algo
desta idéia: “O teu reino é o de todos os séculos, o teu
domínio subsiste por todas as gerações.” Na poesia
clássica hebraica, os dois versos do poema devem
expressar a mesma idéia de modos diferentes. Portan­
to, o conceito que o poeta tem do reino é de que era
domínio real de Deus.
Herodes o Grande não foi um rei popular em Israel.
Conquanto ele tenha reconstruído o templo com
grandeza majestática e tenha edificado muitos prédios
públicos em Jerusalém, não tinha um reino verdadei­
ro. Não havia base autêntica para sua autoridade à
parte do poder romano. Ele tinha ido a Roma e
recebera o reinado sobre Israel sem uma base legítima
para gozar deste tipo de autoridade. Não nasceu para
isso. Não foi ungido por um profeta reconhecido. Não
era descendente de Judá. Não tinha legitimidade.
Embora vivesse num palácio, usasse coroa e fosse
chamado rei Herodes, seu reino fora comprado, não
merecido. Na Grã-Bretanha há propriedades que,
adquiridas, trazem consigo um título. Nesse caso, se a
pessoa tiver dinheiro suficiente, poderá comprar um
título. Não obstante, não é a mesma coisa que receber
um título concedido pela rainha; ou haver nascido
numa família nobre. O dinheiro pode comprar-lhe um
título, porém não um título legítimo.
Quando analisamos um pouco mais esta idéia,
podemos entender a oração que Jesus nos ensinou:
“Venha o teu reino, faça-se a tua vontade, assim na
terra como no céu.” Mais do que pedir a Deus que
assuma o comando do mundo numa situação catas­
trófica, parece que há, no coração do Senhor, o
98 Muito mais do que números
desejo de que a autoridade de Deus seja tão óbvia na
terra como o é no céu.
Creio, portanto, que o reino de Deus é a natureza
de seu domínio ou autoridade. É autêntico, indisputá­
vel, eterno. O reino de Deus é presente, mas também
futuro. Deus sempre esteve no comando! Ele é o
Criador da terra e do universo todo. Ele é Todo-
-poderoso. Contudo, nesta arena humana chamada
terra, Deus limitou-se a si mesmo. Satanás recebeu
um domínio de autoridade. Ele é o deus do presente
século. Ele tem autoridade sobre os sistemas mun­
diais. Sua sede de autoridade está na atmosfera que
envolve o mundo. Mas Deus não permitiu que o
homem ficasse à mercê de Satanás. Ele proveu uma
via de escape do território sobre o qual Satanás tem
autoridade. Essa via de escape é Jesus Cristo, o último
Adão.
O último Adão deu a todos os que confiam nele
tudo quanto o Adão original perdeu, e ainda mais.
Pois agora o homem está incluído numa relação de
amor. Ele é aceito no amado.
Não obstante, Cristo entrou no território de Satanás
e teve de merecer o direito de demarcar o território
para o lado oposto, o reino da luz. Deus não quebra
sua palavra divina. Para que a autoridade de Satanás
fosse diminuída, ele teria de perder o direito a essa
autoridade. Satanás tinha, portanto, de tentar destruir
o filho. Mas Deus o protegeu. Satanás tentou o
homem Jesus Cristo, mas Cristo venceu a batalha.
Tão-logo Satanás perdeu o primeiro assalto da luta
pela autoridade para governar a terra, Jesus manifes­
tou o poder do reino de Deus. Ele curou os enfermos e
expeliu demônios.
Jesus chamou discípulos que não só receberam seu
poder e foram enviados, mas também foram prova­
dos. Os setenta foram enviados para curar enfermos e
E o reino de Deus 99
expelir demônios. Ficaram assombrados por também
eles terem autoridade.
A última luta contra Cristo aconteceu na cruz.
Satanás, através do domínio ou autoridade que
recebeu, havia estabelecido as regras do jogo. Mataria
o Filho de Deus e dispersaria os discípulos. Já não
teria de temer contradita ao seu direito de governar.
Jesus não só morreu; ressuscitou no terceiro dia e
venceu a Satanás e todas as suas hostes. Ele tomou as
chaves da morte e do próprio Hades e foi proclamado
Senhor de tudo.
Antes de Jesus deixar a terra e ascender ao Pai, ele
disse: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na
terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações” (Mateus 28:18, 19). Marcos acrescenta uma
dimensão maior ao que Jesus ordenou aos discípulos:
“Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem:
em meu nome expelirão demônios; falarão novas
línguas . . .se impuserem as mãos sobre enfermos,
eles ficarão curados” (Marcos 16:17, 18).
Em Mateus, Jesus disse que um sinal de que o reino
dos céus se manifestara a eles era a capacidade que
ele tinha de curar os enfermos e expelir demônios.
Agora que ele obteve a vitória final sobre Satanás, ele
dava esta mesma autoridade a todos os crentes. O fato
de que Cristo está no comando é manifesto ao mundo
por nossa pregação no poder do Espírito Santo, por
nossa capacidade de orar pelos enfermos e vê-los
curados, e também por nossa capacidade de assumir
autoridade sobre o que resta do falso reino de
Satanás.
Digo que o reino das trevas de Satanás é falso por
causa de sua natureza, extensão e durabilidade.
Um reino terreno não se concentra apenas em
manter sua autoridade, mas também sua longevidade.
Por isso que uma das coisas mais importantes para um
100 Muito mais do que números
rei era um herdeiro. Hoje, em algumas partes do
mundo, aceita-se o divórcio como recurso bastante
para um rei quando a rainha não lhe dá um herdeiro
ao trono. Tendo um herdeiro, o rei sente que seu
reino poderá sobreviver-lhe.
A autoridade de Satanás devia ser apenas um
fenômeno temporário na história. Em Gênesis 3:15,
Deus diz à serpente, representativa de Satanás, que a
semente da mulher seria ferida no calcanhar, mas a
cabeça da serpente seria ferida pela semente da
mulher. Não havia dúvida na mente de Satanás
quanto ao significado desta profecia.
Nas batalhas antigas, o vencedor podia terminar o
conflito e proclamar a vitória colocando o pé sobre a
cabeça do vencido. Satanás sabia que haveria Al­
guém, procedente da raça humana, que limitaria a
extensão de sua autoridade sobre a terra. Não seria
um anjo; mas um homem. Este homem foi Jesus
Cristo. Profecia posterior do Antigo Testamento decla­
rava que ele seria da tribo de Judá e da descendência
de Jessé. Foi por esse motivo que Satanás atacou a
descendência do homem. Em muitas oportunidades,
Israel teria sido destruído como povo, não fora a
proteção de Deus. Satanás fez todo o possível para
obstar o cumprimento da profecia de Gênesis 3:15.
Paulo diz-nos no primeiro capítulo da carta aos
Efésios que a autoridade de Cristo está muito acima de
todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de
todo nome, não só no presente século, mas também
no vindouro. Portanto, a autoridade de Cristo não
termina nunca.
O apóstolo resolve também a questão dos herdeiros
de Cristo, declarando que somos co-herdeiros com
Cristo. Portanto, estamos sentados com Cristo no
reino celestial que se encontra muito acima do plano
terrenal. É claro que agora temos toda a autoridade
£ o reino de Deus 101
necessária para realizar a Grande Comissão de ir por
todo o mundo e fazer discípulos de todas as nações.
Que é o Evangelho do Reino?
A palavra evangelho significa boas-novas. Tantas
vezes as pessoas vão à igreja e ouvem de tudo, menos
boas-novas. Ouvem falar do que Satanás está fazen­
do; do que os políticos estão fazendo. O que está
acontecendo no mundo é indicativo de que o tempo
do Anticristo está próximo. Tenho visto cristãos irem
felizes à igreja, e voltarem temerosos e deprimidos.
Ouviram más notícias em vez de boas-novas. Ligue a
televisão, o rádio, ou pegue um jornal, e terá todas as
más notícias que desejar. As pessoas que vão à igreja
precisam saber o que são as boas-novas!
As boas-novas são que Deus está no controle total e
estamos do lado vencedor. Quando pego um livro,
gosto de ler o último capítulo. Se descubro que o livro
tem um final triste, não começo a leitura. Por que iria
eu ler durante muitas horas, para sentir-me entristeci­
do no final da história? Mas quando leio a última
porção da Palavra de Deus, as boas-novas são óbvias.
Somos os vencedores. Mateus 13:16 dá-nos uma
compreensão de que somos realmente especiais. No
contexto de uns poucos versículos Jesus declara quão
felizes somos por podermos entender todo o quadro.
Penso nesses versículos como um belo quebra-
cabeças como aqueles que eu costumava dar aos
meus filhos. Eles pegavam todas as peças e as
espalhavam pelo chão. Certas partes do quadro eram
desde logo reconhecíveis, mas outras seções do que­
bra-cabeças não eram compreendidas enquanto não
se conhecia o quadro. Foi assim com os profetas. Eles
profetizavam só em parte. Transmitiam o que o
Espírito Santo os ungia para dizer. Mas agora que
Cristo completou o quebra-cabeças, somos bem-aven-
102 Muito mais do que números
turados. Isto é, podemos olhar cada peça e ver como
ela se encaixa no quadro. Podemos voltar-nos para
Isaías e ver o que Deus tinha em mente quando deu
ao profeta o capítulo cinqüenta e três.
Todavia, o evangelho do reino cai em diferentes
tipos de solo. Satanás aí está para nos tomá-lo porque
o evangelho é a única mensagem que expõe sua total
derrota efetuada por Cristo e nos dá coragem para
combater o bom combate da fé.
A palavra do reino cai em quatro tipos de coração.
A beira de uma estrada é tão trilhada que se torna
dura. A semente que cai sobre este tipo de terreno tem
pouca possibilidade de vir a ser uma planta significati­
va. Essas pessoas simplesmente não estão interessa­
das, e nunca permitem que a mensagem crie raízes em
seus corações.
O terreno pedregoso indica o grupo de pessoas que
ouvem a palavra, entendem suas implicações, mas
não pagarão o preço para que a mensagem realmente
lhes transforme a vida.
O terreno espinhoso indica aqueles que aceitam a
palavra, mas estão mais preocupados com as coisas da
presente vida, portanto ela não lhes é importante e
nunca cria raiz.
Mas então vem o grupo dos que ouvem a mensa­
gem do reino de Deus e estão dispostos a pagar
qualquer preço para que ela produza frutos. Dão-lhe a
prioridade necessária para que ela tenha êxito e
frutifique de acordo com a capacidade que lhes foi
concedida.
O evangelho do reino de Deus tem de ser ouvido,
experimentado e proclamado. Os apóstolos estavam
prontos para pagar o preço necessário para que o
reino de Deus se manifestasse na igreja primitiva.
Roma não faria objeção ao aparecimento de outra
seita judaica, mas as autoridades romanas foram
£ o reino de Deus 103
veementemente contrárias à proclamação de que
havia outro rei, Jesus Cristo, o Senhor. César reinava
naquele tempo, mas a igreja primitiva proclamava que
ele era apenas uma realidade temporária. Havia outro
rei mais poderoso e eterno, Jesus Cristo. Então, pela
cura dos enfermos, provaram que este rei estava no
comando. Os milagres foram um meio óbvio de não
serem desafiados a simplesmente defender os méritos
de uma nova religião.
O assunto da cura divina é controverso em nossos
dias. Nunca tive problema com a cura divina porque
se não fosse por ela eu seria agora um budista morto.
Lembre-se, converti-me ao Cristianismo no leito da
morte, sofrendo do que parecia ser um caso terminal
de tuberculose.
Reconheço, porém, que para muitos ministros
evangélicos a cura divina apresenta um problema
teológico. Em verdade, muitas das nossas conferên­
cias sobre crescimento da igreja são patrocinadas por
pastores e igrejas que não praticam a cura divina. No
México, o presidente da Conferência de Crescimento
da Igreja, que atraiu 4.500 líderes cristãos, era um
presbiteriano que tinha reservas quanto a esse assun­
to. Muitos de meus melhores amigos aprenderam que
a cura divina foi um processo necessário à igreja
primitiva, mas temporário. Uma vez completada a
Bíblia, já não havia necessidade da cura divina, que
por isso foi abandonada. Embora eu não concorde
com essa perspectiva teológica, não creio que os que a
esposem tenham menos amor a Jesus ou sejam
ministros de segunda classe.
Creio que devemos tentar manter a unidade que o
Espírito Santo procura estabelecer na igreja hoje, até
que todos finalmente estejamos de acordo. Considero
as diferenças de opinião sobre interpretação da Bíblia
entre cristãos sinceros e autênticos como entrar em um
104 Muito mais do que números
quarto escuro. Pode alguém entrar por uma porta e
dizer que está na sala de estar. Eu posso entrar por
outra porta e dizer que estou na sala de jantar. O único
jeito para descobrir a realidade é continuar amando-nos
uns aos outros até que a luz acenda e se torne óbvia a
função da sala em que estamos.
Pedro fala do caráter progressivo da revelação:
“Temos assim tanto mais confirmada a palavra profé­
tica, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia
que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a
estrela da alva nasça em vossos corações” (2 Pedro
1:19). Pedro diz que as Escrituras são mais uma
revelação profética do que uma palavra audível do Pai
no monte da Transfiguração. Esta Escritura é então
comparada a uma luz que brilha num lugar escuro. O
verbo brilhar está aí no tempo presente progressivo.
Os tempos progressivos no grego mostram continuida­
de de ação. Isso quer dizer que nosso entendimento
da Bíblia vai-se tornando cada vez mais brilhante, até
que a entendamos com clareza por ocasião da volta de
nossa estrela da alva, o Senhor Jesus Cristo.
Assim, se você não concorda comigo sobre a cura
divina, não se escandalize; queira-me bem, pois você
pode aprender alguma coisa! Espero que você nunca
tenha de mudar de opinião por necessitar da cura
divina. Se você já crê na cura divina e pensa que estou
procurando justificá-la, engana-se. Não tenho por que
justificar aquilo que vejo como a verdade segura da
Palavra de Deus e manifestação clara de que o reino
está operando em nossa comunidade.
Tenho, literalmente, milhares de experiências de
cura divina em minha igreja. Cremos em Deus para
manter a saúde dos membros de nossa igreja. Mas
também cremos na oração a favor dos enfermos e
esperamos que Deus opere o milagre. Cremos no
ministério da medicina. Temos muitos médicos em
£ o reino de Deus 105
nossa igreja, e os vemos como que dando a Deus uma
oportunidade de realizar um milagre óbvio ou então
usar suas habilidades dadas por Deus como médicos e
ver que Deus cura por esse processo também. Deus
usa ambos. Contudo, creio em Deus para realizar
milagres em nossa igreja. Isto prova a uma comunida­
de incrédula que Deus está vivo e que as pessoas
necessariamente não têm de sofrer. Afinal de contas,
Buda não pode curá-las. Só Jesus pode curar o
espírito, a alma e o corpo.
Cura e Milagres em Relação com o Crescimento
da Igreja
Certa vez um ministro me disse que a cura já não
era necessária. Disse-me que os milagres tiveram
razão de ser numa época em que a civilização ainda
não havia ensinado o mundo a raciocinar. Discordo
inteiramente dele. Viajando pelo mundo, tenho visto
homens que se dizem civilizados atuar de forma
muitíssimo incivilizada. No fim da Segunda Guerra
Mundial o mundo descobriu que a Alemanha, a nação
mais educada, culta e cientificamente mais avançada
do mundo, permitira-se executar as atrocidades mais
incivilizadas de que a história guarda registro. Não, o
mundo pode estar mais instruído, mas temos visto a
presente época afogando-se nas águas poluídas da
pornografia, da imundícia e da perversão. Em nossos
dias, o poder de cura do Espírito Santo tem de ser
ministrado a uma sociedade enferma e necessitada.
Descobrimos, na Coréia, que muitas pessoas fecha­
das ao evangelho, abrem-se quando enfrentam uma
necessidade física em seu corpo ou em sua família.
Quase toda a Coréia sabe muito bem que nossa igreja
é um lugar onde Deus está evidentemente em ação.
Não que tenhamos curas em massa aos domingos. O
que acontece é que Deus opera a cura e as pessoas
espalham a notícia.
106 Muito mais do que números
O Espírito Santo Está Interessado
Um dos presbíteros de minha igreja tinha um filho
aleijado. Tinha sido um belo rapaz, mas de repente as
pernas deixaram de funcionar e foi parar numa
cadeira de rodas. Os médicos não conheciam o
problema do moço e disseram ao pai que seu filho
teria de passar o resto da vida como aleijado. Durante
três anos orei por ele, porém nada aconteceu. Revol­
tei-me com o diabo por afligir este rapaz na flor da
idade com esta moléstia deformante.
—Por que estou doente, pastor? —perguntou-me o
rapaz um dia em meu escritório. —Que pecado cometi
para que Deus me castigue dessa forma?
Eu tinha poucas respostas. Mas assegurei-lhe que a
aflição não vinha de Deus. Tranqüilizei-o, dizendo-lhe:
—Isto é obra de Satanás. Não vamos aceitar esta
enfermidade paralisante como final. O diabo é um
inimigo derrotado. Pelas feridas que Jesus sofreu,
você está curado.
Isto lhe deu esperança por algum tempo, mas logo
depois todos aceitaram a enfermidade e o amamos e
aceitamos com seu problema.
Minha esposa e eu gostamos de estar com os nossos
presbíteros. Nossa igreja tem agora cinqüenta, e eles
funcionam como uma junta de diretores, como um
conselho no sistema presbiteriano. Uma noite estáva­
mos todos reunidos num jantar de confraternização.
Minha esposa e eu nos sentamos juntos, desfrutando
de uma refeição coreana.
“Vá ao presbítero Kim e diga-lhe que seu filho será
curado esta noite!” Falou-me ao coração o Espírito
Santo. Inclinei-me para Grace, minha esposa, e disse:
—O Espírito Santo acaba de falar-me.
Ela olhou para mim e sorriu. O nome Grace lhe
assenta muito bem; ela é capaz de fazer tudo de
maneira graciosa.
£ o reino de Deus 107
—Maravilhoso! —disse ela, não sabendo o que
Deus me havia dito.
—Grace, o Espírito Santo acaba de falar-me que
devo dizer ao presbítero Kim que seu filho vai ficar
completamente curado hoje à noite.
Grace, por causa dos que estavam sentados à mesa,
não alterou muito a expressão ao ouvir o que eu lhe
dizia. Porém me deu um beliscão na perna e com um
sorriso apagado, disse:
—Yonggi Cho, você não se atreverá a tanto!
Quantas vezes você já orou por ele? Se a cura não
acontecer, você será alvo de zombaria de toda a
comunidade.
Minha esposa crê em Deus com uma fé poderosa,
mas desta vez não tinha ouvido a voz, por isso
raciocinava por conta própria.
“Não dê ouvidos à sua esposa. Vá e diga ao
presbítero Kim que seu filho será curado esta noite!” A
voz era mais forte e meu coração estava mais fraco.
Em silêncio procurei sair de meu lugar. Nesse instante
minha esposa percebeu e perguntou:
—Aonde vai?
—Por aí—respondi-lhe com voz fraca. Deus sabe
que eu não desejava obedecer à voz. Parecia-me que
ia morrer. Mas tenho aprendido que é melhor obede­
cer do que perguntar-me se devia ter obedecido.
Quando começamos a andar com o Espírito Santo, a
obediência é muito importante. Se continuamente
desobedecemos, a voz que nos fala vai-se enfraque­
cendo até que desaparece de vez e nos tomamos
insensíveis.
Inclinei-me sobre a mesa onde o presbítero Kim e a
esposa estavam sentados. Dentro de instantes ele
ergueu os olhos para mim e perguntou:
—Alguma coisa errada, pastor? Por que me olha?
Respirei fundo e disse com vigor:
108 Muito mais do que números
—Deus acaba de falar-me que seu filho vai ser
curado hoje à noite.
—Louvado seja Deus! —exclamou o presbítero.
Ele e a esposa começaram a chorar. Vertiam
lágrimas de alegria. Outros se uniram a eles em
regozijo. Eu, porém, não me regozijava; sentia-me
doente.
—Por que fiz isso? —perguntei à minha esposa.
—Porque você não me deu ouvidos, só por isso—
respondeu ela.
Sempre tenho grande fé quando o Espírito Santo
vem a mim, mas depois que sua presença especial se
retira, minha mente natural assume o comando e
lamento haver obedecido ao Senhor. Todavia, apren­
di a nunca deixar que a razão me governe o coração.
É preciso cuidado para não sermos guiados pela
emoção, mas pelo Espírito Santo.
Quando o presbítero Kim chegou a casa, esperava
ver o filho curado. Mas o rapaz se arrastava fora da
cama, incapaz de andar. Entraram no quarto e
contaram-lhe o que eu havia dito. Contudo, o rapaz
ainda estava no chão, sem poder mover-se. Sabendo
os pais que eu nunca lhes diria algo que não estivesse
seguro ser a voz de Deus, pegaram o rapaz pelos
braços e o ergueram.
—Em nome de Jesus, você está curado. Deus falou
ao nosso pastor e cremos que é verdade. Ande!
Após uns poucos minutos, o rapaz começou a sentir
algo nas pernas.
Eu não conseguia dormir; deitado na cama, eu me
perguntava o que iria acontecer no dia seguinte. Se
nada acontecesse ao rapaz, eu não importava tanto
com minha reputação como com a integridade de
Deus em nossa cidade.
Na casa do presbítero Kim, as pernas do rapaz iam
encontrando novas forças.
E o reino de Deus 109
—Sinto uma sensação de formigamento subindo-
-me pelas pernas, pai—. Depois de alguns minutos, o
rapaz começou a andar. Os pais regozijaram-se, mas
não me telefonaram.
Pela manhã eu fiquei sabendo que o jovem havia
corrido fora da casa e começava a contar aos vizinhos
o que havia acontecido. Os budistas e outros não-
-cristãos da cidade, ao tomarem conhecimento do
acontecido, ficaram assombrados com o poder de
Deus. Desde então, a maioria das pessoas daquela
parte da cidade foi salva por causa do poder curador
de Deus. O reino de Deus manifestou-se naquela
comunidade e as pessoas vieram a Cristo.
Deus deseja curar, não para firmar minha reputa­
ção, mas para glorificar seu nome. Não obstante, por
três anos o rapaz havia sofrido. Por quê? Não tenho
todas as respostas, nem tento justificar os caminhos de
Deus. Estão totalmente fora de minha compreensão.
Uma coisa eu sei: Deus pode e deseja curar, desde
que sejamos obedientes à suz voa e confiemos no
cumprimento de sua palavra.
Amarrando a Satanás
Nossa igreja crê na existência de um diabo real.
Cremos que ele é mais do que a personificação do
mal. Cremos que ele é tão real quanto Jesus. Deus
disse a Moisés: “EU SOU me enviou a vós outros.”
Satanás teria dito: “Eu sou e não sou.” Não crer na
existência de Satanás é ficar sem nenhuma defesa
contra ele.
Quando oramos, devemos usar a autoridade que
Jesus nos deu. Jesus disse, primeiro a Pedro e depois
ao restante dos discípulos: “Tudo o que desligardes na
terra, terá sido desligado no céu.” Nosso povo apren­
deu que não estamos lutando contra came e sangue.
Nossa principal preocupação não é com os comunistas
110 Muito mais do que números
na fronteira norte. Nosso principal inimigo é o poder
que está impulsionando os comunistas. Portanto,
atamos o poder de Satanás em operação em nossa
comunidade. Podemos realizar mais através das ora­
ções conjuntas do que se pode realizar por meio de
todas as armas à disposição do mundo livre. Moisés
aprendeu a importância da oração quando teve de
manter erguidos os braços para que Israel derrotasse o
inimigo. Temos poder e autoridade porque Cristo no-los
deu.
Uma igreja crescente e ativa é uma congregação de
crentes que sabem que estão em Cristo. Sabem que
os cristãos são mais do que vencedores. Sabem que as
armas de nossa guerra não são carnais ou temporais,
mas poderosas para derrubar as fortalezas do inimigo.
Não têm medo dele, mas estão cônscios de sua tática.
Sabem que a guerra com o diabo é real e isso os
mantém sóbrios e vigilantes.
Dou graças a Deus porque a Palavra do reino de
Deus na Coréia não caiu em ouvidos surdos. Talvez
seja porque como povo temos passado por grande
sofrimento. Sofremos duas guerras nos últimos qua­
renta anos. Assim, não tratamos com leviandade as
promessas divinas.
A igreja primitiva também sofreu. O império roma­
no a perseguiu. Aqueles cristãos sabiam que deviam
morrer pela causa de Cristo. Por isso que Cristo lhes
enviou uma carta por intermédio de João na ilha de
Patmos. O livro de Apocalipse assusta muita gente que
não entende sua mensagem. Mas quando vemos o
livro inteiro em seu contexto, reconhecemos que
Cristo é Senhor. Conquanto o Anticristo possa apare­
cer logo; conquanto possamos ter ainda muito sofri­
mento pela frente, Jesus Cristo está no controle total e
sua vitória final já foi ganha. Com esta forte certeza do
Cristo ressurreto, a igreja primitiva pôde resistir firme e
E o reino de Deus 111
por fim sair vitoriosa sobre os perseguidores. Sim, a
igreja primitiva conquistou os conquistadores, não
com cavalos e carruagens, mas com a mensagem do
evangelho do reino de Deus. Roma caiu diante do
mundo cristão, não por aniquilamento, mas por
conversão. Roma finalmente aceitou o fato de que
Jesus era Senhor e o César, Constantino, teve de
dobrar os joelhos diante de um rei mais forte, o
Senhor Jesus Cristo.
O evangelho do reino de Deus deve ser pregado
regularmente de todos os púlpitos do mundo, dia após
dia. Então as pessoas ficarão emocionadas com o
Senhor a quem servimos e amamos.
Sim, sua igreja pode crescer e crescerá, se os
pecadores da comunidade à qual você serve finalmen­
te reconhecerem que o Deus que é cultuado em sua
igreja está vivo e ativo. Ele pode suprir-lhes as
necessidades^Só os que não reconhecem ter grande
necessidade é que podem proceder com indiferença
em relação ao seu ministério. Mas todos tomam
posição quando necessitam de Cristo. Nesse tempo,
as pessoas saberão que Deus está em ação na sua
igreja e virão e verão a manifestação do reino de Deus.
6
CRESCIMENTO DA IGREJA
E REAVIVAMENTO

Que é reavivamento? F. Carlton Booth deu uma


excelente definição. “Em muitos casos, a palavra
reavivar (em hebraico, “haya”; em grego: “anazao”)
significa literalmente voltar à vida de entre os mortos.
Mesmo quando este não seja o significado, a palavra
traz em si maior força do que ela tem para nós hoje,
pois temos confundido reavivamento com evangeliza­
ção. Evangelização é boas-novas; reavivamento é
nova vida. Evangelização é o homem trabalhando
para Deus; reavivamento é Deus trabalhando de uma
forma soberana a favor do homem. Falar de realizar
um reavivamento é empregar erradamente o termo.
Nenhum ser humano pode despertar o interesse,
avivar a consciência de uma pessoa, gerar a intensida­
de da vida espiritual, seja individual ou comunitária,
seja na igreja ou numa nação; só o Espírito de Deus
pode fazê-lo. Ninguém pode programar um reaviva­
mento, porque só Deus é o doador da vida. Mas
quando as trevas se adensam; quando a decadência
moral atinge seu mais baixo nível; quando a igreja se
torna fria, morna, morta; quando chega a ‘plenitude
do tempo’ e a oração ascende de uns poucos corações
sinceros, ‘Porventura não tornarás a vivificar-nos, para
que em ti se regozije o teu povo?’ (Salmo 85:6), então
114 Muito mais do que números
a história ensina que é tempo para a maré do
reavivamento extravasar-se uma vez mais. O reaviva-
mento sempre requer a pregação do juízo divino, da
confissão de pecados, do arrependimento, da aceita­
ção da salvação como dom gratuito, da autoridade das
Escrituras e da alegria e disciplina da vida cristã.
Embora os reavivamentos não durem, os seus efeitos
sempre perdurarão” (Baker s Dictionary ofTheology).
É preciso ter sempre em mente que a igreja
começou como obra soberana do Espírito Santo.
Enquanto os 120 seguidores de Cristo aguardavam
em Jerusalém, não tinham a mínima idéia do que ia
acontecer. Estavam juntos, perseveravam unânimes
em oração, e esperavam que Deus fizesse algo. Então
o Espírito Santo fez o que nunca antes havia aconteci­
do. A igreja nasceu, pois, num reavivamento.
O primeiro fenômeno que acompanhou a obra do
Espírito Santo na vida dos fiéis serviu para mostrar aos
de fora que Deus verdadeiramente operava no meio
do seu povo. Portanto, as línguas de fogo que
pousaram sobre os discípulos eram sinais para os
incrédulos. De modo que a finalidade de um reaviva­
mento, a operação de Deus na vida do seu povo, é
mostrar ao mundo que ele, Deus, está vivo e os leva a
ouvir as boas-novas de Jesus Cristo.
Como tantas vezes acontece, aquilo que começa
com a centelha da vida divina, acaba nas cinzas da
razão humana. Todos os movimentos têm início
porque uma idéia leva as pessoas a entusiasmar-se;
mas como se verifica com as emoções humanas, o
entusiasmo não pode ser mantido indefinidamente.
Enquanto se desenvolve um movimento, são atraídos
homens que têm capacidade mental para projetar a
dinâmica e desenvolver a ideologia que dará perspec­
tiva ao que acaba de ser motivado pelo entusiasmo.
Com o declínio gradual da emoção, o movimento que
E reavivamento 115
negligencia aquilo que lhe deu origem acomoda-se no
estudo de sua ideologia. A igreja tem comprovado este
fato.
O livro de Atos não trata de teologia; é uma história
das primeiras fases da igreja de Jesus Cristo. Mostra-nos
com clareza alguns princípios de reavivamento.
Todos os reavivamentos são obra soberana do
Espírito Santo. A terceira pessoa da Trindade é, tantas
vezes, a pessoa esquecida da Divindade. Oramos ao
Pai em nome do Filho. E que dizer do Espírito Santo?
A primeira vez que o Espírito Santo é mencionado
no livro de Atos dos Apóstolos, vemos uma de suas
mais importantes funções. “Até ao dia em que, depois
de haver dado mandamentos por intermédio do
Espírito Santo aos apóstolos que escolhera, foi eleva­
do às alturas” (Atos 1:2). O Espírito Santo é o Espírito
da Verdade. É ele quem ilumina nossas mentes para
falar a verdade de Deus, e também nos ilumina os
corações para entender a verdade proferida.
O Espírito Santo havia descido sobre os profetas,
porém nunca havia manifestado sua plenitude em
ninguém, não imergira em ninguém até à vinda de
Jesus. Agora Jesus oferecia aquilo que tinha direito
exclusivo de dar: o batismo no Espírito Santo. Eviden­
temente, os discípulos, quando lhe perguntaram sobre
a restauração do reino a Israel, desconheciam a
importância do que Jesus lhes oferecia. Jesus, porém,
continuou, mostrando quais seriam os efeitos do
batismo do Espírito Santo. “Recebereis poder.” Este
seria o efeito de ficarem os discípulos cheios do
Espírito Santo. Este poder capacitaria os fracos e
ineficientes seguidores de Cristo a ser fortes e podero­
sas testemunhas do evangelho. O Espírito Santo não
somente deu à nova igreja grande poder que podia
atrair a atenção dos incrédulos, mas também romper
com os preconceitos da igreja primitiva.
116 Muito mais do que números
Enquanto a igreja se compunha de judeus, podia
atrair muitos outros judeus ao conhecimento de
Cristo, o Messias. Desde, porém, que a igreja abriu as
portas da fé aos gentios, os judeus hesitaram em unir-se
a um grupo que os levaria a ser menos do que
tradicionalmente judeus. O Espírito Santo deu uma
visão a Pedro e falou com ele. A ordem era no sentido
de ir à casa de um italiano por nome Comélio, homem
temente a Deus. Enquanto Pedro falava na casa de
Comélio, o Espírito Santo, não obstante o preconceito
de Pedro, operou soberanamente. Aqueles crentes
gentios também foram cheios do Espírito, da mesma
forma que Pedro o havia experimentado no dia de
Pentecoste. Este acontecimento despertou tanto alvo­
roço que Pedro teve de defender-se em Jerusalém:
“Pois se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós
nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem
era eu para que pudesse resistir a Deus?” (Atos
11:17). Portanto, a obra soberana do Espírito Santo
rompeu a atitude antigentia dos apóstolos e abriu a
porta da fé ao restante do mundo não-judaico. Em
ambos os casos em que Pedro usou as chaves do
reino para abrir a porta da fé aos judeus e mais tarde
aos gentios, o Espírito Santo atuou soberanamente.
Todavia, há outro fato que precisamos examinar com
relação a esses dois acontecimentos. Tanto os discípu­
los em Jerusalém como os gentios na casa de Corné-
lio, estavam em atitude de prolongada oração.
A oração é o segredo do reavivamento. Se o
reavivamento é trabalho soberano do Espírito Santo,
que é que o leva a atuar no coração do povo de Deus,
concedendo novo poder e maior ousadia? A resposta
é simples: oração.
Quantas vezes você passou a noite inteira de joelhos
diante de Deus? Quantas vezes sua igreja reuniu todos
os membros para um longo período de jejum e
E reavivamento 117
oração? Seria a falta de oração o motivo de você não
estar tendo reavivamento em sua vida e ministério?
Se for este o seu problema, ânimo! Esta seção é
escrita especialmente para você. Você vai encontrar
um novo desejo de orar. Vai admitir que o motivo de
não ter sido o tipo de cristão que tem desejado ser é
que não tem orado. Espero que você não adquira o
desejo de orar só porque vou citar-lhe alguns ver­
sículos conhecidos. Não! Você desejará orar porque o
Espírito Santo vai tocar-lhe o coração enquanto
continua a leitura em espírito de oração.
Lucas nos apresenta um grande segredo: “Qual
dentre vós, tendo um amigo e este for procurá-lo à
meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães,
pois um meu amigo, chegando de viagem, procurou-
-me, e eu nada tenho que lhe oferecer. E o outro lhe
responda lá de dentro, dizendo: Não me importunes; a
porta já está fechada e os meus filhos comigo também
já estão deitados. Não posso levantar-me para tos dar;
digo-vos que, se não se levantar para dar-lhos, por ser
seu amigo, todavia o fará por causa da importunação,
e lhe dará tudo o de que tiver necessidade” (Lucas
11:5-8). O Senhor responderá à oração importuna e
será tocado por nossa importunação. E importante
entender a dinâmica desses versículos.
Primeiro, o homem que pede o pão é amigo
daquele que o tem. Não devemos aproximar-nos de
Deus como estranhos. Ele é nosso Pai celestial e
deseja dar-nos tudo o de que temos necessidade.
Necessitamos de um reavivamento em nossa vida e
especialmente em nossa igreja. Estamos cansados dos
cultos mortos e das reuniões de oração sem vida que
vimos realizando. Necessitamos de um despertamento
espiritual. Mas não nos aproximamos de Deus como
estranhos e, sim, como amigos.
Segundo, não estamos pedindo apenas para nós
118 Muito mais do que números
mesmos. O homem que Jesus está usando como
exemplo recebeu a visita de um amigo tarde da noite e
não tem nada que dar-lhe. A hospitalidade oriental
exige que o anfitrião alimente os que vêm à sua casa.
A igreja também é visitada a todo instante por
pecadores famintos, necessitados de vida espiritual.
Tantas são as igrejas que têm a despensa vazia, que os
pecadores deixam os templos vazios e sem salvação,
para nunca mais voltar. Justifica-se nosso pedido a
Deus; necessitamos do reavivamento por causa da­
queles pelos quais Cristo morreu, daqueles que não
encontraram o sentido da vida eterna.
Terceiro, já se faz tarde. O mundo não tem onde
buscar segurança e nutrição. Somente nós temos a
capacidade de satisfazer às necessidades deste mundo
que está às portas da morte. Se não nós, quem? Se
não agora, quando? Este é o estado em que se
encontra a sociedade atual no mundo todo; precisa­
mos ser sensíveis bastante aos problemas do mundo
para sabermos que está ficando tarde.
Quatro, a porta pode estar fechada, mas é possível
abri-la. No coração do homem que solicita os três
pães, há esperança de que a resposta seja afirmativa.
O reavivamento é possível para qualquer igreja. A
pessoa não precisa estar na Coréia para experimentar
o reavivamento; pode estar em qualquer parte. Como
a história japonesa que relatei anteriormente, não há
nenhum campo difícil demais. Conquanto a porta
pareça estar fechada, creia que o Deus que está por
trás dela a abrirá se não desfalecermos mas persistir­
mos em oração.
Por último, é preciso criar uma atitude de intenso
desejo a fim de que alguém persista em oração. O
homem que solicitava os três pães tinha medo de
perder a honra. Se alguém ficasse sabendo que seus
hóspedes não haviam sido tratados como convinha,
E reauiuamento 119
ele perderia a honra; nesse caso, seria melhor que ele
morresse. Nós, no mundo oriental, temos uma expres­
são: “perder a cara”, isto é, perder o prestígio,
desmoralizar-se. Quando se perde a cara, perde-se a
honra. Portanto, o homem estava desesperado. Para
que alguém persista no tipo de oração necessária para
trazer o reavivamento, é preciso manifestar seu deses­
pero diante de Deus.
Às vezes a prosperidade impede que os cristãos
mostrem desespero diante de Deus. Nós, na Coréia,
passamos por grande sofrimento—primeiro, durante
muitos anos, nas mãos dos japoneses, e depois nas
dos comunistas. Sabemos o que é passar fome,
vergonha e não ter o que vestir. Aprendemos a orar,
não no conforto das salas de estar, mas fora, nos
campos. De maneira semelhante os cristãos chineses
aprenderam a orar nos bosques e florestas, em
cavernas e porões frios. Se apanhados, poderiam ser
mortos por estarem orando, mas aprenderam que sem
oração não se pode sobreviver.
Charles Dickens, renomado escritor inglês do século
dezenove, diz que o espírito da revolução se manifes­
tou de maneiras diferentes na cultura francesa e na
inglesa, nos começos do século dezenove. A Inglaterra
evitou a revolução sangrenta ocorrida na França, não
por causa de diferenças políticas, mas por ter a Grã-
-Bretanha passado por um reavivamento do Espírito
Santo no ministério de João Wesley, sacerdote da
Igreja da Inglaterra no século dezoito. Ele e seu irmão
Carlos experimentaram, pessoalmente, um desperta-
mento espiritual. Num momento de adversidade pes­
soal, João Wesley ajoelhou-se diante de Deus e o
Senhor o tocou de um modo especial. Seus olhos se
abriram para a verdade bíblica da santificação e da
santidade pessoal. Em 1739 ele começou a comunicar
o que o Espírito Santo lhe havia revelado. Esta nova
120 Muito mais do que números
compreensão fez que ele e outros ministros avivados
da Igreja Anglicana sofressem grande perseguição.
Nos meados do século dezoito, seus ensinos se
espalhavam por todas as colônias britânicas, incluin­
do-se os Estados Unidos. Em sua maioria, os divulga­
dores deste novo método de vida cristã eram leigos.
O reavivamento wesleyano na Inglaterra causou tal
mudança que se lhe atribui o mérito de salvar as
massas da revolta e do derramamento de sangue.
Também estimulou a educação popular e uma atitude
mais humanitária para com os pobres. Os historiado­
res devem reconhecer a influência do reavivamento
metodista na atual cultura ocidental.
Hoje, a Igreja Metodista é uma das maiores denomi­
nações do mundo. Contudo, muitos dos seus mem­
bros não sabem como o movimento teve início.
Começou na adversidade e cresceu por causa do
reavivamento. Grande parte da literatura metodista
relata as vigílias e reuniões de oração que duravam a
noite inteira.
Há muita coisa que se pode dizer acerca dos
reavivamentos no país de Gales, na índia, na América
Latina, e nos Estados Unidos; um fato, porém,
permanece constante: nenhum reavivamento histórico
ou moderno jamais ocorreu sem que as pessoas
reconhecessem a necessidade de orar. Não me refiro a
orações de uma sentença, ou momentos de oração,
ou palavras de orações—refiro-me a orações longas e
concertadas, e também jejuns, perante Deus. Posso
honestamente dizer que estamos passando por um
verdadeiro reavivamento na Coréia. No presente,
estamos crescendo à razão de quatro vezes a taxa de
nascimentos de nosso país. Isto significa que em vinte
anos, caso o Senhor retarde sua vinda, vamos ter uma
população cristã superior a 80% da população do
país.
£ reavivamento 121
Devemos lembrar-nos de que a Coréia é uma nação
tradicionalmente budista. Não tem sido fácil conquis­
tar almas para Cristo. É muito mais fácil converter
alguém que foi criado num ambiente cristão tradicio­
nal. Afinal de contas, há muito que o Ocidente está
exposto à ação do evangelho. Contudo, estamos
vendo na Coréia uma grande colheita entre os não-cren­
tes. Eles estão chegando ao Deus da Bíblia. Esta é, em
realidade, uma obra do Espírito Santo.
Enquanto escrevo esta página (1983), temos mais
de 330.000 membros só em nossa igreja. Quando o
livro for publicado, é possível que esse número tenha
ultrapassado a casa dos 350.000. Mensalmente, cerca
de 10.000 convertidos filiam-se à nossa igreja. Não
diria você que isto é um reavivamento?
Como é que temos mantido esse crescimento fora
do comum? Oração; essa é a verdadeira resposta.
Todas as sextas-feiras temos uma reunião de oração
que dura a noite toda. Não temos espaço suficiente
para todas as pessoas que desejam vir e orar. Oramos
a favor da nação e de seus líderes. Oramos para que o
evangelho seja pregado no mundo todo. Oramos pela
volta de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Oramos para que os Estados Unidos e o Japão
tenham um reavivamento. Cantamos, adoramos e
ouvimos a Palavra; porém, a maior parte do tempo
oramos. O modo mais fácil de deter o reavivamento
que experimentamos agora é cancelar as reuniões de
oração semanais, de noite inteira. Contudo, não
temos a mínima intenção de abandoná-las. Precisa­
mos orar.
Montanha da Oração
Alguns anos atrás adquirimos um pedaço de terra
de pouco mais de 240.000m2, distante cerca de 95
quilômetros da fronteira com a Coréia do Norte. No
122 Muito mais do que números
início a idéia era usar o terreno como cemitério da
igreja. Minha sogra, a Dra. Choi, estava jejuando e
orando; de súbito o Senhor lhe falou: “Construa um
lugar especial dedicado à oração.”
—Precisamos criar uma montanha da oração—
disse-me ela.
—O momento é muitíssimo difícil para nós—
respondi-lhe. —Estamos metidos na pior crise finan­
ceira da história de nossa igreja—arrazoei. Mas a
minha sogra não pareceu impressionar-se com a
lógica de adiar a Montanha da Oração. Eu também
era de opinião que nossa igreja necessitava de um
lugar aonde ir para concentrar-se de corpo e alma à
oração e ao jejum. Assim, sem dinheiro algum,
começamos a construir a Montanha da Oração.
No início levantamos uma tenda na qual as pessoas
pudessem orar juntas. Depois, nas encostas da colina
construímos grutas de oração, isto é, pequenas caver­
nas na terra, com uma esteira e uma porta. Aí as
pessoas podiam trancar-se com Deus e buscá-lo sem
distrações. Dentro em pouco verificamos que havia
mais gente querendo jejuar e orar do que o espaço
disponível. A seguir, construímos um edifício de
blocos de cimento, capaz de acomodar três mil
pessoas.
Em 1982, contamos 630.000 pessoas, procedentes
de todo o mundo, que vieram à Montanha da Oração.
Uma das pessoas de que me lembro ter ido à
Montanha da Oração era uma senhora que tinha um
filho aleijado.
—Dr. Cho, por favor, ore por meu filho—implorou-
-me a mãe. —Ele é totalmente paralítico. Suas pernas
estão dilaceradas e agora a paralisia está piorando.
—A senhora deve ir à Montanha da Oração. Seu
filho será curado em sete semanas—disse-lhe eu. A
mulher foi com o filho, fielmente, durante seis fins de
E reavivamento 123
semana; nada, porém, acontecia. No último dia da
sétima semana, Deus curou o jovem e agora ele está
completamente são. Espalhou-se pelo país a notícia
de que se alguém precisasse de um milagre, a
Montanha da Oração é o lugar onde Deus opera. Não
digo com isso que todos quantos vão à Montanha da
Oração serão curados. O que digo é que sei de muitas
pessoas que Deus curou aí.
Como líder, devo dar o exemplo aos membros de
minha igreja. Se eu não orar, eles não oram. Tenho
minha própria gruta de oração na Montanha. Sempre
que tenho um problema para o qual não encontro
solução, entro na gruta e fecho a porta. Às vezes leva
horas para extrair da mente as coisas que lá estão. O
melhor modo de fazê-lo é contar tudo ao Senhor.
Tenho aprendido a ser honesto com Deus.
Se alguém me magoou, conto-o a Deus.
Não faz muito tempo, um homem procurou destruir
meu ministério. Enviou espias à nossa igreja para
ouvir-me falar. Domingo após domingo lá estavam
eles, prestando atenção a tudo o que eu dizia, na
esperança de captar algum exagero. Todo testemunho
que eu dava, era conferido com todo cuidado. Um dia
falei sobre a importância de honrar os pais. Este
assunto é de especial importância para os crentes
orientais, por causa de nosso passado confucionista.
Confúcio ensinava um sistema de ética, e não uma
religião. Sua ética ainda é popular por todo o Oriente.
Um de seus mais importantes ensinos relaciona-se
com a honra aos antepassados. Em algumas partes da
Ásia, as pessoas ainda cultuam os antepassados.
Muitos não podem aceitar o Cristianismo porque ele
não ensina qual a posição dos antepassados do
indivíduo. Mostrei que a Bíblia nos ensina a honrar os
pais. Isto não significa cultuá-los mas simplesmente tê-los
em alta estima. Não era intenção de Deus que os
124 Muito mais do que números
honrássemos apenas enquanto vivos; assim supúnha­
mos não ser pecado honrá-los mesmo depois de
haverem passado para a glória. Abraão ainda era tido
em elevada estima como pai da fé.
Isto deu ao espia a munição que procurava.
Acusou-me publicamente de ser um falso mestre e de
ensinar idolatria. Esta acusação chegou aos jornais e
fui envolvido numa controvérsia. Alguns me disseram
que eu devia processá-lo, mas achei que devia ir à
Montanha da Oração. Ali, contei ao Senhor toda a
história. Contei-lhe a ira que eu sentia e o que eu
desejava fazer.
Depois de diversas horas em oração, ouvi o Senhor
dizer-me que perdoasse ao homem. Sendo assim,
perdoei-lhe. Desejei perdoar-lhe? Sim. Por quê? Por­
que Deus havia colocado o perdão em mim. Isto não
aconteceu de imediato. Levou horas para o Senhor
curar-me o coração de toda mágoa e amargura;
finalmente senti que o perdão me entrava no coração
e pude, com honestidade, perdoar ao homem.
Como o leitor pode ver, fui curado na Montanha da
Oração. Sim, fui curado de uma enfermidade mais
grave do que a paralisia: a amargura que me domina­
va o coração. Quando relato ao meu povo o que Deus
realizou em mim na Montanha da Oração, incentivo
os outros a ir e resolver seus problemas.
Por que deveriam dez mil pessoas orar e jejuar na
Montanha da Oração? Não têm elas televisão para
assistir e bons restaurantes onde comer? Estou certo
de que muitas pessoas têm feito esta pergunta. Nós,
coreanos, somos como qualquer outro povo. Gosta­
mos de uma boa refeição num restaurante, e temos
muitos dos melhores restaurantes do mundo. Temos
televisão e rádio. Em realidade, Seul é uma das mais
belas e modernas cidades do mundo.
Agora que nos preparamos para hospedar os Jogos
E reavivamento 125
Olímpicos em 1988, há um grande surto de constru­
ções ocorrendo em toda a cidade de Seul. Assim, as
pessoas não vão à Montanha da Oração por não
terem o que fazer. Elas vão porque creem que Deus ali
está para responder às suas necessidades. Isto não
significa que Deus não possa responder-lhes em
qualquer outra parte. Esse não é o ponto. Deus está
em todos os lugares. Mas não é sempre que podemos
encontrar um lugar dedicado a Deus, onde possamos
estar a sós com ele durante muitas horas e também
unir-nos a milhares de pessoas que dedicaram total­
mente esse tempo para buscarem a Deus.
E preciso motivar as pessoas. A Montanha da
Oração estaria vazia se eu não acentuasse a importân­
cia de orar com regularidade. Por isso, se o leitor for a
um dos seminários do Crescimento da Igreja Interna­
cional, verá também nosso novo auditório com capa­
cidade para 10.000 lugares, lotado de pessoas que
estão buscando a Deus. Nossos pisos são aquecidos
para que a pessoa possa colocar aí sua esteira e orar
com os demais irmãos. Estou certo de que você jamais
seria a mesma pessoa.
Agora que temos esses milhares de pessoas acostu­
madas a ir à Montanha da Oração, posso encarregá-las
de orar por assuntos especiais. Por exemplo, quando o
presidente Ronald Reagan foi alvejado, todos os
cristãos oraram por ele dia e noite. Ficamos muito
contentes quando recebemos um telefonema do escri­
tório de Nova Iorque informando-nos que o presiden­
te não corria risco de vida.
Oramos também pela guerra no Líbano. Eu acredi­
tava que Deus interviria e poria fim ao desnecessário
derramamento de sangue entre os libaneses. Estamos
orando para que ali a igreja tenha um despertamento
espiritual. Com todo o sofrimento que o Líbano
suportou nos últimos oito anos, essa nação está
126 Muito mais do que números
preparada para um reavivamento do Espírito Santo à
moda antiga, que sare toda a amargura do passado e
leve milhares de pessoas a Deus.
Nos últimos dois anos temos orado a favor do
Japão. Com o programa de televisão que temos ali,
podemos alcançar setenta milhões de japoneses. Esta­
mos em oração contínua na Montanha da Oração
para que haja um reavivamento na igreja japonesa.
Estou certo de que em breve havemos de ver uma
grande obra do Espírito Santo nesse país. Foi-me
tremendamente difícil ir ao Japão. Ao tomar conheci­
mento dos milhões de pessoas massacradas pelos
japoneses antes de 1945, eu os odiava demais.
Contudo, Deus curou-me o coração quando confessei
o meu pecado. Agora viajo ao Japão todos os meses.
Chegou a hora de um reavivamento em sua igreja.
Sua comunidade nunca mais será a mesma. O povo
verá o Espírito Santo operando e será atraído pelo
espírito de amor que emana de cada membro. Creio
sinceramente que Deus conduziu você até este capítu­
lo porque agora está obtendo um novo desejo de
começar a orar como nunca. Não me importa há
quantos anos você é cristão; o importante é que
necessita deste novo desejo de orar. Você está obten­
do também uma nova visão de como sua igreja pode
começar a jejuar e orar com regularidade. Como sei
disto? Porque oro enquanto escrevo este capítulo.
Como oro? Já fiz referência a diversos princípios
básicos, mas agora vou dar-lhe meus sete princípios
fundamentais da oração:
1. Aquiete-se diante de Deus
O salmista escreveu de sua própria experiência:
“Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus” (Salmo
46:10). É preciso reconhecer que Deus não nos deu
uma opção, mas uma ordem. Infelizmente, a maior
E reavivamento 127
parte de nossa oração inexperiente é falar a Deus.
Nada há de errado nisso; é, de fato, uma boa forma de
aquietar-nos diante de Deus. Como eu disse anterior­
mente, tenho aprendido a contar a Deus tudo quanto
me aborrece. Isto me alivia e faz que me acalme diante
dele. Devemos lembrar-nos, também, que a oração é
um diálogo e não um monólogo. Portanto, quando
oramos, devemos não apenas falar mas também
ouvir. Deus não é autor de confusão mas de paz.
2. Entre em comunhão com o Espírito Santo
Já demos uma olhada no capítulo 2 à primeira carta
de Paulo aos Coríntios. Vimos que só o Espírito Santo
conhece a mente de Deus. E ele que tem poder para
colocar um espírito tranqüilo em comunhão com Deus
e revelar o plano divino para nós. Isto se verifica tanto
na direção específica como na direção geral que Deus
deseja levar-nos.
Começo falando diretamente ao Espírito Santo.
Digo-lhe: “Amado Espírito Santo, preciso saber o que
meu Pai deseja que eu faça. Por favor, abre-me o
espírito neste momento e revela-me o que ele deseja
mostrar-me para que eu glorifique a meu Salvador
Jesus Cristo.” E continuo: “Eu te amo, ó Espírito
Santo. Tu me fizeste nascer no corpo de Cristo. Deste -
-me tua plenitude. Deste-me teus dons, de modo que
eu possa ser uma bênção para este mundo. Amado
Espírito Santo, mostra-me o que eu devo conhecer.”
Um dia tive um problema. Alguém me perguntou
onde ficava a residência de Deus. Era no céu?
Respondi que sim. Mas onde é o céu? Se alguém que
vive na Austrália erguer os olhos para o alto, então a
pessoa que vive no Alasca deve estar olhando para
baixo. Devo admitir que na ocasião eu não tinha a
resposta. Assim, no próximo domingo, disse à igreja:
“Domingo que vem vou dar-lhes o endereço de
128 Muito mais do que números
Deus.” Todos ficaram muito felizes. Então fui à gruta
da oração e aquietei meu espírito diante de Deus, em
comunhão com o Espírito Santo. Afinal de contas, ele
é onisciente; sabe todas as coisas. Enquanto orava, o
Espírito Santo me deu a resposta. Eu não agüentava
esperar pelo domingo. Pus-me em pé perante a
congregação e disse: “Hoje vou dar-lhes o endereço
de Deus.” Todos me fitavam, munindo-se ao mesmo
tempo de lápis e papel. “O endereço de Deus está
dentro de vocês!” Enquanto eu pregava, o povo era
abençoado pela realidade da presença permanente de
Deus.
3. Desenvolva suas visões e sonhos
Já declarei quão importante é ter uma visão vinda
de Deus. Isto é de particular importância na oração.
Faz pouco tempo, ouvi um psiquiatra dizer que a
mente subconsciente é sobremodo influenciada pela
imaginação. Se alguém vê alguma coisa, isso lhe
afetará a mente consciente muito mais do que apenas
ouvir. É por isso que muitas pessoas oram olhando
para alguma coisa. Quando Daniel ficou preocupado
com o futuro de sua nação, ele orava voltado para
Jerusalém. A João, na ilha de Patmos, foi dito que
visse o que Deus lhe revelaria. Estou certo de que
João assentou-se na praia de Patmos, de onde quase
se pode ver as praias de Efeso. A revelação começou
por mostrar-lhe a condição das igrejas que estiveram
sob seus cuidados antes que Roma o exilasse. José
teve uma visão antes que ela se tornasse realidade.
Abraão teve de olhar para alguma coisa enquanto
Deus lhe fazia promessas. Olhou para a terra que
haveria de herdar, e essa imagem se lhe gravou no
coração. Encheu-se daquela visão até que ela se
tornou realidade.
Uma mulher me procurou e disse:
E reavivamento 129
—Dr. Cho, ore a favor de meu filho; ele não é
crente e leva uma vida muito pecaminosa. Venho
orando por ele há anos, mas nada acontece.
—Vá para casa e comece a vê-lo como crente
enquanto ora pela sua salvação. Sim, retrate na
imaginação a pessoa que ele seria se fosse crente.
Depois de algumas semanas essa irmã me contou
que a princípio foi difícil orar pelo filho segundo
minhas instruções. Porém mudou de atitude e come­
çou a ver o filho como crente. Imaginava-o indo com
ela à igreja. Imaginava-o lendo a Bíblia e orando.
Ficou tão feliz com esta nova visão do filho que em vez
de continuar orando por ele, começou a dar graças a
Deus pela sua salvação.
Não muito depois que ela começou a dar graças
pela salvação do filho, ele lhe disse que queria ir com
ela à igreja. Naquele domingo entregou o coração ao
Senhor e ainda está servindo a Deus.
Um homem em minha igreja tinha um negócio que
ia de mal a pior. Veio ao meu escritório e pediu-me
que orasse por ele.
—Não sei o que há de errado, pastor—disse em
lágrimas. —Sou dizimista regular. Contribuo para os
pobres e tento levar uma vida cristã. Porém minha
panificadora está indo à falência. Para mim isto seria
um desastre por causa do mau testemunho na comu­
nidade. Tenho dado testemunho a muitos de meus
fregueses. Por isso, se eu falir, irão rir do meu Jesus—
continuou ele torcendo o lenço em grande angústia.
Depois de orar por ele, ensinei-lhe o princípio das
visões e sonhos. Disse-lhe:
—Sr. Ho, volte à panificadora. Comece a ver o
êxito. Comece a contar o dinheiro na registradora
vazia e veja toda aquela gente lá fora fazendo fila para
entrar em sua confeitaria apinhada.
Depois de dizer-lhe essas palavras, orei de novo e o
130 Muito mais do que números
despedi. Enquanto ele saía, olhou para mim de um
modo um tanto espantado; mas de qualquer maneira,
tentou.
Em apenas dois meses, voltou ao meu escritório um
sorridente Sr. Ho.
—Dr. Cho, a coisa funcionou. Eu não entendi o que
o senhor me dizia. Pensei que o senhor estava maluco,
mas o senhor é um homem de Deus e devo obedecer
ao meu pastor. Minha esposa e eu temos agora um
cheque para entregar à igreja.
Fiquei admirado ao ver um cheque de mil dólares.
Era o dízimo.
4. Em suas circunstâncias, assuma autoridade
sobre o diabo
Lembre-se de que você está assentado com Cristo
nas regiões celestes. Paulo diz-nos que o trono de
Cristo está muito acima de todos os principados e
potestades. Você tem o direito de ver cumprida a
resposta às suas orações. O diabo não tem vez em
seus negócios. Mas como enganador, ele tentará
ocupar território que não lhe pertence. Portanto,
assuma a autoridade legítima que você tem em nome
de Jesus e repreenda o diabo—ele deverá fugir de
suas circunstâncias.
5. Mantenha um registro preciso de seus pedidos a
Deus
Saiba quando você orou; por que orou—e anote.
Deste modo você não terá de depender da memória.
Também pode manter diante de Deus as orações não
respondidas e lembrá-lo do que ainda precisa ser feito.
Garanto-lhe que louvará a Deus pelas respostas,
desde que reconheça quantas de suas orações estão
sendo respondidas. Quantas vezes oramos e esquece­
mos o motivo das orações! Quando a resposta chega,
não reconhecemos a fidelidade de Deus.
E reavivamento 131
6. Louve a Deus antecipadamente
Lembre-se: Deus chama as coisas que não são
como se fossem. Deus vê a você e a mim perfeitos em
Cristo. Com todas as nossas deficiências, com todos os
nossos pensamentos pecaminosos, Deus se regozijará
em nós com júbilo. “O Senhor teu Deus está no meio
de ti, poderoso para salvar-te; ele se deleitará em ti
com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á
em ti com júbilo” (Sofonias 3:17).
Mal posso imaginar o poderoso Deus do universo
regozijando-se em mim e em você. Ora, se Deus pode
ver-nos perfeitos em Cristo, por que não podemos ver
a obra de Deus já concluída? Portanto, regozijemo-
-nos antes mesmo que a resposta de Deus se torne
óbvia.
7. Orar sem cessar
Como posso pastorear uma igreja tão grande, viajar
pelo mundo, escrever livros, ter um ministério na
televisão em dois continentes e ainda orar todo o
tempo? Por que não? Que é a oração se não
comunhão?
Aprendi, no decorrer dos anos, a ter o espírito
postado na direção própria. Posso estar num banque­
te, cercado por muitas pessoas e ainda ter meu íntimo
voltado para o alto. Digo ao Senhor: “Amado Senhor,
tenho de ir a este jantar com a minha esposa. Estarei
na companhia do teu povo. Mas a qualquer momento
estarei pronto para ficar a sós contigo. Pelo simples
fato de eu estar ocupado, não hesites em puxar-me
para um lado. Tenha a bondade, Senhor; estou em
atitude contínua de oração, muito embora esteja
ocupado exteriormente.”
Penso que nosso Senhor aprecia este tipo de
consideração. Jesus estava continuamente em comu­
nhão com o Pai. Ele nunca disse coisa alguma que não
132 Muito mais do que números
tivesse antes ouvido o Pai dizer. Nunca fez coisa
alguma que não tivesse visto o Pai fazer. Portanto, é
possível estar continuamente aberto ao Pai.
Dei-lhe os sete princípios que uso em minha vida
pessoal de oração porque desejo que você também
desenvolva a sua. Se já tem uma vida de oração, sei
que não se molestou por eu haver tratado do assunto
aqui. Se não a tem, é hora de começar.
Você nunca terá reavivamento em sua vida e
ministério se não orar. Sua igreja nunca começará a
orar, a menos que você o faça.
“O Espírito Santo, o reavivamento vem de ti. Envia-o;
começa a obra em mim. A Palavra declara que tu
suprirás nossa necessidade de bênção agora; ó Se­
nhor, rogo-te humildemente.” Estas palavras de um
antigo poema retratam a atitude que Deus deseja
tenhamos com relação ao reavivamento.
Plano para um reavivamento
Neste importante capítulo sobre crescimento da
igreja e reavivamento, tenho acentuado a importância
de conceber um reavivamento, de orar por ele, e de
perseverar até que se realize. Agora desejo falar sobre
a importância de um plano num reavivamento. Por
que o plano? A resposta é simples. Deus nunca fez
nada sem um plano definido. Quando deu instruções
a Moisés com vistas ao tabernáculo, deu-lhe planos
claros. O templo foi construído segundo o plano claro
dado por Deus. A igreja primitiva crescia de acordo
com o plano de Deus. Sim, desde a criação do
universo até à salvação da alma do leitor, Deus seguiu
um plano claro. Assim sendo, por que iríamos nós
edificar a igreja local sem um plano definido?
Como podemos ter um plano para um reavivamen­
to?
Já afirmei que o reavivamento é obra soberana do
E reavivamento 133
Espírito Santo. Não podemos, pois, planejar um
reavivamento. Mas devemos ter um plano num reavi­
vamento.
Estou considerando como certo que você agora crê
em Deus para que o Espírito Santo atue em sua vida e
em sua igreja. Por que orar se não crê que Deus
responde? Se, porém, você crê que Deus vai respon­
der às suas orações e sua igreja passará por um
reavivamento, então espere que centenas e até milha­
res de almas sejam adicionadas a ela. Surge, contudo,
uma pergunta óbvia: Que fazer com as centenas ou
com os milhares de novos membros? Como cuidar
deles? Onde irão sentar-se? Que programa de treina­
mento foi traçado para motivar os novos convertidos e
treiná-los para conquistar outros? Surge, pois, o
problema óbvio, isto é, muitas igrejas oram por algo
para o qual não estão preparadas.
Só porque Deus faz alguma coisa soberanamente
não quer dizer que ele vai mantê-la sem a nossa
cooperação. Lembre-se de que Deus o escolheu como
instrumento da obra divina em sua comunidade. É
preciso que você esteja preparado para a resposta às
suas orações pelo reavivamento.
Por que não Planejamos Antes?
Os pregadores evangélicos não têm, tradicional­
mente, planejado com cuidado o crescimento de suas
igrejas. Que aconteceria com o governo se não tivesse
um plano ou um orçamento? O fato é que os négocios
da igreja têm sido dirigidos de modo a garantir o não-
-crescimento.
Desejo a volta de nosso Senhor Jesus Cristo. Creio
que ele virá em breve. Trabalho dia e noite na
esperança de que Jesus me encontre labutando com
fidelidade em sua vinha quando ele vier. Mas também
reconheço que cristãos fiéis vêm aguardando a volta
134 Muito mais do que números
do Senhor, já vai para dois mil anos. E ele ainda não
veio. Isto significa que o Senhor Jesus não voltará até
que sejam atingidas condições próprias neste mundo.
Jesus disse, em Mateus, que o evangelho do reino
teria de ser pregado por todo o mundo como testemu­
nho claro antes que viesse o fim. Isto significa que o
Senhor não retornará até que, em toda parte, todos os
homens tenham a oportunidade de aceitar ou rejeitar
o senhorio de Jesus Cristo. Visto que mais de 80% de
todos esses que não ouviram falar do evangelho
vivem na Asia, sinto-me particularmente desafiado por
esse versículo do capítulo 24 de Mateus. Creio que os
pastores que não planejam por crerem que o Senhor
vem já, estão sendo desobedientes à ordem do
Senhor. Lucas revela a ordem de Cristo aos discípu­
los: “Chamou os dez servos seus, confiou-lhes dez
minas e disse-lhes: Negociai até que eu volte” (Lucas
19:13).
A palavra grega aqui usada e traduzida por “nego­
ciai” é pragmateomai. O Theological Dictionary ofthe
New Testament geralmente conhecido como de Kittel,
diz que esta palavra só é usada no Novo Testamento,
neste versículo. Literalmente significa ocupar-se de
um negócio, obter lucro. Não é uma palavra passiva; é
ativa. Nos clássicos, a palavra era empregada com
referência aos que concediam empréstimos em dinhei­
ro. Esta ordem revela a atitude que o Senhor espera
tenhamos aqui na terra até que ele volte. É interessan­
te notar que a palavra “pragmático” tem suas raízes
etimológicas na palavra grega acima citada.
Portanto, nossa atitude, de acordo com a ordem de
nosso Senhor, deveria ser a mesma do antigo empres-
tador de dinheiro. Devemos estar interessados em
obter lucro para o reino de Deus até que nosso Senhor
regresse. Recebemos o capital—o evangelho do reino
E reaviuamento 135
de Deus. Conhecemos o mercado—os corações dos
homens pecadores. Temos um banco seguro—a igreja
de Jesus Cristo. Portanto, devemos ver aumento. Mas,
para consolidar o aumento e assegurar retorno contí­
nuo sobre o principal, precisamos planejar com cuidado.
Outro motivo da falta de planejamento é que muitos
pastores não têm fé realista.
Em algumas mentes, a fé é uma entidade surrealis­
ta, de natureza etérea. Considero que minha fé tem
natureza transcendental. Isto é, ultrapassa os limites de
minha experiência; é semelhante à compreensão do
conhecimento de Kant; ao mesmo tempo sou, tam­
bém, um homem muito prático. Reconheço que para
melhor realizar o propósito para o qual Deus me
vocacionou, devo exercitar fé prática.
A carta aos Hebreus diz que a fé tem substância.
Jesus também descreveu a fé como pessoal: “Confor­
me a vossa fé” (Mateus 9:29, itálico do autor).
Paulo diz que cada um de nós recebeu certa medida
de fé (Romanos 12:3). Portanto, cremos que, ao orar,
devemos fazê-lo na medida da fé que nos foi concedi­
da especificamente.
Por exemplo, se você tem uma igreja de trezentos
membros, não comece a orar para que ela cresça para
dez mil membros. Você não tem a experiência nem a
atuação interior do Espírito Santo para arcar com tão
grande responsabilidade. Isto não quer dizer que em
poucos anos você não esteja preparado para isso;
significa, sim, que no presente momento você deve
lutar por algo que esteja dentro de um plano exeqüí-
vel. Comece a orar por uma congregação de mil
membros. Estou limitando Deus? De maneira nenhu­
ma. Deus não pode ser limitado. Mas entendo que
Deus deseja trabalhar por meu intermédio e preciso
reconhecer a capacidade de minha fé atual.
136 Muito mais do que números
Estabeleça Metas Realistas
Tomemos o caso de um pastor que tem uma
congregação de trezentos membros. Estabelece um
alvo definido de mil membros. Coloca esse alvo diante
do Pai e começa a insistir nele. Fica obsedado com a
idéia de mil membros. Ao pregar aos domingos, vê mil
membros diante dele. Feito isso, está preparado para
começar o planejamento.
Treinamento da Liderança
Seus futuros líderes estão diante de você. O único
problema é que você ainda não os identificou. Preste
atenção nos homens e mulheres que fielmente com­
parecem à igreja todos os domingos. Já manifestam
uma importante qualidade da futura liderança—fideli­
dade.
Na maioria das congregações, geralmente há umas
poucas pessoas que fazem a maior parte do trabalho.
Essas pessoas já estão ocupadas; mas quando você
deseja fazer algo, estão dispostas a ir um pouco além.
São líderes em formação.
Não cometa o erro comum de convocar para guia
leigos os membros de sua congregação, de êxito nos
negócios. Com freqüência, a maioria das pessoas de
sucesso nos negócios não se dispõem a dedicar seu
tempo para o trabalho da igreja. Isto não quer dizer
que Deus não usa pessoas bem-sucedidas. Mas é
preciso selecioná-las de acordo com as qualidades que
já estão revelando.
Fale com os líderes em potencial acerca de sua
visão e alvo. Leve-os a começarem a orar com você
por um reavivamento. Dê a cada um deles uma
responsabilidade especial no futuro crescimento da
igreja. Essa responsabilidade especial significa que
cada um deve orar a favor de uma parte específica de
sua igreja. Por exemplo, a igreja vai precisar de
E reavivamento 137
instalações mais amplas. Nesse caso, o orçamento terá
de ser maior. Comece a falar sobre a importância de
criar um sistema de grupos familiares. Mais importante
ainda: instile neles o desejo ardente de salvação das
almas perdidas.
Um dos problemas que você terá de enfrentar é a
falta geral de desejo sincero de ganhar almas. Desen­
volvemos o antigo método de colocar pessoas nas
esquinas das ruas e distribuir folhetos a todos os que
passam. Isto não é errado, contanto que venha de
Deus a orientação de distribuir folhetos ou pregar em
praças públicas. Contudo, com o crescimento de
cultos religiosos de índole pagã, muitas pessoas ficam
apreensivas com aqueles que mercadejam materiais
religiosos nas ruas; seus líderes podem sentir-se hesi­
tantes em fazer esse tipo de evangelização.
Outro problema que você terá de enfrentar é o
seguinte: Muitas pessoas ativas numa igreja estão à
procura de grupos de comunhão com a finalidade de
tornar-se mais espirituais. Isto significa que não estão
muito ansiosas por ganhar almas se esta atividade as
impede de crescer no Senhor.
Uma das verdades que devem ser instiladas em seus
futuros líderes é que o tornar-se mais espiritual não é
apenas ler a Bíblia e manter comunhão com outros
crentes. Não. O modo mais eficaz é tornar-se um pai
ou uma mãe no Senhor. Se você é pai, sabe disto
imediatamente. Lembra-se do nascimento do seu
primeiro filho. Você assumiu a responsabilidade por
outro ser humano. Achou que simplesmente amadu­
receu quase da noite para o dia. Agora, você já não se
preocupava apenas consigo mesmo. Tinha de apren­
der a dar-se como nunca antes. Isto se verifica
também com os que se tornam pais espirituais. A
pessoa acha que tem de estudar mais porque agora há
alguém que depende do seu ensino. Tem de orar mais
138 Muito mais do que números
porque deve responder às intermináveis perguntas do
recém-convertido. Sua experiência espiritual adquire
também um novo entusiasmo e vigor porque agora
você tem uma compreensão vicária do novo nasci­
mento, inteiramente nova.
Uma vez que a congregação entenda que é de seu
maior interesse levar as pessoas a Cristo, você encon­
trará muitos outros verdadeiros ganhadores de almas.
Descobri um princípio simples na vida. Ninguém será
motivado a fazer alguma coisa durante um prolongado
período de tempo se não crer que é de seu melhor
interesse fazê-lo. Portanto, não tento combater o que
é natural a todos os homens; simplesmente uso esse
princípio para a glória de Deus.
Exponha o Plano de Longo Alcance
Depois de cuidadosa e piedosa consideração com
sua liderança fiel, é preciso expor à assembléia o plano
de longo alcance, o qual não deve constituir-se em
surpresa para ninguém. Todo o tempo você precisa
estar despertando interesse na congregação. Seus
sermões devem ter um propósito definido. E preciso
criar um crescente entusiasmo pelo futuro. Chega,
então, a oportunidade de expor o plano.
Que período deve o plano abranger? Geralmente
faço um plano de cinco anos para minha igreja.
Em 1979 estabeleci um alvo de 500.000 membros
para 1984. Sei que era a vontade de Deus. Todos nós
havíamos orado e examinado cuidadosamente o
plano durante um longo período. Naquela ocasião
tínhamos apenas 125.000 membros. O plano foi
dividido em várias etapas. Em 1980, teríamos
150.000 membros; em 1982, 200.000, e em 1983,
300.000 membros. Completaríamos nossas novas
instalações durante esse ano e teríamos capacidade
para 30.000 lugares no santuário central e outros
E reauivamento 139
30.000 nas muitas capelas ligadas ao santuário por
circuito fechado de televisão. Isto nos daria um total de
60.000 para cada culto. Continuando a realizar sete
cultos por domingo, poderíamos acomodar 420.000
pessoas no fim de 1983. Em 1984, adicionaríamos
outras instalações, o que nos daria uma capacidade de
500.000. Posso agora dizer que no momento em que
terminar o manuscrito deste livro, teremos 300.000
membros. O programa de construções continua con­
forme planejado, e se nada der errado, terminaremos
antes do prazo.
Todos sabem para onde vamos. Estamos edificando
uma igreja de 500.000 membros. Pararemos aí? Claro
que não. Só me preocupo com o alvo e com o plano
que Deus coloca diante de mim. Se ele tiver um alvo
maior, então ele o revelará mais tarde. Comece onde
está. Diz um antigo provérbio chinês: “Uma viagem de
mil quilômetros começa com o primeiro passo.”
Orçamento
Em sua maioria, as igrejas elaboram um orçamento.
Calculam as despesas e depois o que os membros da
igreja devem fazer para atendê-las. O dinheiro é
levantado através de compromissos ou de apelos
durante uma campanha para levantamento de fundos.
Sim, creio em orçar com fé.
Se Deus vai derramar o Espírito Santo sobre sua
igreja para que ela tenha um avivamento, espere
novas almas. Com o esperado aumento do rol, serão
precisos mais assistentes e instalações maiores. Por­
tanto, se Deus lhe deu um alvo claro para o rol de
membros, então é preciso elaborar um orçamento
para atender às maiores necessidades de sua crescente
congregação. Precisará de mais salas para a escola
dominical. Precisará de maior espaço para escritórios,
e assim por diante.
140 Muito mais do que números
Você precisa, pois, de um orçamento de fé. Confie
em que Deus lhe mostrará a quantia que satisfará às
necessidades da ampliação do ministério. Creio que
Deus tem o dinheiro de que necessitamos para realizar
seu plano. Uma vez que os membros deixem de
considerar a contribuição para a igreja como um
imposto espiritual, você os verá a dar com fé. Se
captarem sua visão, desejarão participar do cumpri­
mento dela. No final, a congregação maior terá
condições de arcar com o aumento das despesas do
orçamento acrescido de sua igreja. Mas, como uma
organização que cresce, é preciso planejar as finanças
com os coeficientes realistas de crescimento.
Nossa igreja tem um escritório onde guardamos
nossos gráficos. Um dos gráficos mostra o aumento do
rol de membros; outro mostra o crescimento das
finanças. Num relancear de olhos posso ver se estamos
em dia ou adiantados com o programa. Com a recente
recessão, atrasamo-nos um pouco, o que nos levou a
orar mais e Deus está suprindo os fundos orçados.
O reino de Deus não é inferior aos reinos do
mundo. Jesus disse: “Os filhos do mundo são mais
hábeis na sua própria geração do que os filhos da luz”
(Lucas 16:8).
Se todos os governos e as grandes empresas fazem
planos e orçamentos de longo prazo, por que deve­
riam os filhos da luz funcionar de uma forma menos
condizente?
Foi-nos confiado o mais importante desenvolvimen­
to deste mundo. A igreja de Jesus Cristo não é um
instrumento secundário para a salvação do mundo. E
o instrumento fundamental de Deus. Na realidade,
Deus não tem um plano B. Ele só tem o plano A—a
igreja de Jesus Cristo. Portanto, compete-nos planejar
com clareza e eficiência o grande reavivamento que
está para vir ao mundo.
E reaviuamento 141
Pressões do Reavivamento
Finalmente, creio que uma das mais importantes
coisas que posso dizer-lhe neste capítulo sobre o
reavivamento é como vencer com êxito as pressões do
reavivamento. Se você pudesse imaginar a grande
pressão que recairá sobre seus ombros uma vez que o
reavivamento chegue à sua igreja, talvez parasse de
orar imediatamente. Entretanto, Deus lhe colocou no
coração um grande desejo de que o Espírito Santo
atue em sua vida e em sua igreja, por isso não se
deterá. Contudo, já tenho vinte e cinco anos de
experiência como pastor e creio que posso ajudá-lo a
evitar os erros que cometi. Consola-me, porém, o fato
de que uma coisa é cometer erros; outra, muito
diferente, é aprender deles. O que hoje sei, aprendi a
duras penas.
Há muitas áreas que eu poderia mencionar sobre
este importante assunto, mas vou referir-me breve­
mente apenas a cinco.
1. Reavivamento e pressões sobre as relações da
família. A família é o mais importante grupo em sua
vida e ministério. Acho que minha esposa é o segredo
de meu sucesso ou fracasso. Se ela me apóia, pode
conduzir-me ao êxito. Se perde o interesse, pode
levar-me ao fracasso. As mulheres são motivadas de
forma diferente dos homens. Os homens são motiva­
dos, em sua maioria, pelo trabalho; as mulheres, por
seus relacionamentos. Para elas, o relacionamento
mais importante é com o esposo. Embora na socieda­
de hodierna muitas mulheres tenham de trabalhar
para que a família sobreviva financeiramente, ainda
assim são motivadas por seus relacionamentos, mais
do que pelos empregos. Isto foi revelado em uma
pesquisa feita em 1983 nos Estados Unidos. Creio que
tal fato é verdadeiro no mundo todo.
Quando o reavivamento atingir a sua igreja, haverá
142 Muito mais do que números
um grande aumento de almas. O rol de membros
crescerá. Exigir-se-á mais de você.
O livro de Atos mostra-nos o começo de um grande
reavivamento. Pedro viu três mil almas responderem
ao seu primeiro sermão. Mais tarde, outras cinco mil
foram adicionadas à igreja. Havia tal entusiasmo entre
as pessoas que elas se dispunham a vender o que
possuíam e repartir o produto da venda com os
membros da nova unidade familiar, a igreja. En­
tretanto, depois de algum tempo surgiu uma grande
contenda na igreja, entre as mulheres gentias de
origem grega e as judias. Tenho para mim que
enquanto a energia e entusiasmo do reavivamento
eram intensos, as pessoas estavam dispostas a deixar
de lado preconceitos e problemas. Mas arrefecido o
fervor, esses problemas vieram à tona e causaram
grandes transtornos.
Descobri que as grandes demandas sobre o meu
tempo não devem impedir-me de manter um íntimo
relacionamento com a minha esposa. Ela tem de vir
em primeiro lugar. Uma forma de realizar isto é tê-la
trabalhando comigo. Minha esposa dirige o programa
de música de nossa igreja. Ela tem dois diplomas de
mestrado em música e é muito competente.
Grace é, também, chefe de nossa casa publicadora.
Ela cuida de todos os nossos livros.^ Vai comigo às
principais cruzadas e conferências. E parte vital de
meu ministério. Eva foi criada como auxiliadora
idônea de Adão. Por isso, quando a esposa se sente
parte do que o marido realiza, poderá aceitar as
pressões indizíveis que um reavivamento acarreta,
sem queixar-se. Os filhos não podem ser criados
detestando o trabalho que lhes rouba o pai. Às vezes
esta atitude latente aflora anos mais tarde, levando-os
a evitar a igreja.
Qual é a resposta?
E reaviuamento 143
Muito simples: aprenda a dividir o tempo com
eficácia. Atribua prioridades sobre o tempo. A família
vem logo abaixo de seu relacionamento com Deus.
Depois, vêm as responsabilidades eclesiásticas.
2. Manter uma atitude conveniente e disciplinada. É
tão difícil lidar com o sucesso quanto o é com o
fracasso; porém a pressão do êxito sobre o caráter é
muito mais forte. O fracasso faz o homem pensar
sobre o que saiu errado e então fazer as devidas
correções para que não venha a incidir no mesmo
erro. O sucesso concentra nossa atenção sobre os
aspectos positivos de nosso trabalho. Traz-nos distin­
ções. Às vezes faz-nos pensar que por algum motivo
somos muito especiais, talvez fora das normas que
Deus aplica aos outros. Isto acarreta pressão indizível
sobre os fundamentos de nossa integridade. E por isso
que na primeira parte deste livro acentuo a importân­
cia de desenvolver recursos pessoais.
Portanto, num reavivamento é de extrema impor­
tância que guardemos nossa vida moral. Devemos
estar atentos aos sinais de escorregões morais. Não
devemos evitar os velhos amigos que se dispõem a
discordar de nós e usam de franqueza conosco
quando entendem que erramos. Também erramos ao
cercar-nos de pessoas que sempre concordam conos­
co. Foi o que aconteceu com o rei Saul. Quando ele
era pequeno aos seus próprios olhos, o Senhor o fez
rei; mas quando se envaideceu, o Senhor tomou-lhe o
reino e deu-o a Davi.
3. Manter um espírito de perdão. Com o crescimen­
to do rol de membros, crescem também os problemas.
Quanto maior a igreja, tanto maior o número de
problemas a resolver. Nem sempre se pode agradar a
todos. Se o pastor passa o tempo tentando agradar ao
Senhor e procurando andar na paz do Espírito Santo,
satisfará àqueles que, na igreja, também estão em
144 Muito mais do que números
harmonia com o Espírito Santo. E quanto mais
popular ele se torna, tanto mais sujeito estará a
críticas. Portanto, a amargura e a ira tentarão arraigar-
-se em seu coração. Lembre-se de que o coração é o
lugar em que o diabo começa sua obra destruidora. Se
a atitude do coração do líder começa a azedar, sua
saúde e força física também tendem a declinar.
O melhor modo de enfrentar este problema é praticar
o perdão. Perdoe a todos que o magoem, quer lhe
peçam perdão, quer não. Lembre-se de que Cristo
perdoou a humanidade na cruz, muito embora não se
levantasse uma voz sequer pedindo-lhe perdão.
Nasci numa época difícil da história coreana. Não
éramos uma nação. Vivíamos sob a mão opressora
dos japoneses. Milhões de coreanos foram levados
para o Japão como escravos. Nem mesmo nos era
permitido falar nossa língua. Assim, cresci com ódio
aos japoneses.
Há questão de oito anos, o Espírito Santo começou
a lidar comigo a respeito do Japão. Eu disse ao
Senhor: “Amado Senhor, sei que minha atitude para
com os japoneses não é correta, mas não posso deixar
de sentir-me assim.” Entretanto, o Senhor tinha um
meio especial de curar-me. Fui convidado a falar a um
grupo de pastores japoneses.
Chegado ao Japão, não me sentia à vontade. Era
esta a terra que nos havia tirado o nome e a língua;
que havia castigado nossos patriotas; que havia incen­
diado nossos templos e massacrado os cristãos que
permaneceram fiéis à sua religião e à sua pátria.
Quando me levantei para falar, tentei dizer algumas
coisas boas sobre o Japão, mas qual! não conseguia.
Comecei a chorar. Um profundo silêncio dominou o
auditório. Então ergui os olhos e confessei meus
sentimentos, dizendo:
—Devo confessar que odeio todos vocês. Não os
E reaviuamento 145
odeio pessoalmente, mas odeio o fato de serem
japoneses. Sei que é uma atitude errada, mas, hones­
tamente, é isso o que sinto. Podem perdoar-me?
Arrependo-me do meu pecado e peço-lhes que orem
por mim.
Ditas essas palavras, curvei a cabeça e comecei a
chorar. Ao erguer os olhos, vi que os pastores também
choravam. Após alguns minutos, um dos ministros se
levantou e disse:
—Dr. Cho, nós, como japoneses, assumimos plena
responsabilidade pelos pecados de nossos pais. Pode­
ria o senhor perdoar-nos?
Então desci da plataforma e abracei o homem que
acabava de falar.
—Sim, eu os perdoo e me comprometo a orar por
vocês e pelo Japão.
Instantaneamente senti-me curado da amargura
que vinha sofrendo desde criança. Estava livre.
Deus deu-me uma promessa de que dez milhões de
japoneses serão salvos na década dos anos oitenta.
Agora vou ao Japão todos os meses. Tenho um
ministério pela televisão de âmbito nacional. Confio
em que Deus vai promover um grande reavivamento
que se espalhará por todo o Japão. Vi tudo isto
acontecer porque pedi a Deus que me livrasse da
amargura.
4. Praticar a moderação. Com o êxito de uma igreja
crescente vem a grande tentação de o pastor pensar
em si mesmo como um empresário de sucesso, e
passar a viver numa escala semelhante à daqueles que
ele considera bem-sucedidos. O dinheiro pode consti-
tuir-se no maior obstáculo à manutenção do cresci­
mento de sua igreja rediviva. Tenho aprendido a
abster-me da aparência do mal. Constantemente
recebo envelopes cheios de dinheiro. Nunca abro tais
envelopes. Entrego-os imediatamente à secretaria da
146 Muito mais do que números
igreja que os passa às mãos do tesoureiro. Não aceito
dinheiro que me é dado pessoalmente por qualquer
serviço. Entrego tudo à igreja. Dessa forma, evito ser
acusado de aceitar dinheiro das pessoas a fim de orar
por elas.
Também levo uma vida moderadamente confortá­
vel. Minha esposa e eu temos quem cuida de todas as
nossas necessidades, porém não temos um estilo de
vida que, de alguma maneira, prejudique a eficiência
de meu ministério. Isto não quer dizer que não creio
na prosperidade. Creio. Porém creio mais na conti­
nuada eficiência de meu ministério à igreja, ao país e
ao mundo.
5. Precavenha-se de criar uma atitude sectária.
Como líderes da igreja, temos sempre de lembrar-nos
de que não estamos em competição com os pastores
das outras igrejas, mas nos encontramos numa batalha
mortal com o diabo pelas almas perdidas. Não deve­
mos ter um espírito exclusivista, mas um espírito de
amor e cooperação com as demais igrejas da comuni­
dade. Este ano é um perfeito exemplo de como
devemos todos trabalhar juntos na cidade de Seul. Em
1982, nossa igreja cresceu de 200.000 para 300.000
membros. Entretanto, demos 15.000 novos converti­
dos a outras igrejas. Depois fundamos duas outras
igrejas em Seul e lhes cedemos 5.000 convertidos com
os quais começar. Temos um bom relacionamento
com a igreja presbiteriana, com a metodista, e com
outras igrejas em nossa comunidade. Embora sejamos
a maior igreja, não somos a única da cidade—e
certamente não sou o único pastor!
O mundo precisa ver que amamos uns aos outros.
Precisa ver que Cristo só tem um Corpo, e esse Corpo
não está dividido. O mundo nunca crerá em nossa
mensagem se não puder ver nosso amor.
Esta é a última grande ação do Espírito Santo antes
£ reavivamento 147
que Cristo volte. Creio que a ênfase agora é sobre a
igreja local. As necessidades do mundo serão satisfei­
tas por um clero e laicato redivivos, todos cooperando
para a evangelização do mundo. O reavivamento
deve vir à igreja local a fim de que ela esteja preparada
para a grande tarefa que Cristo lhe deu. Está você
preparado para as pressões que o reavivamento
acarretará?
Se a resposta for positiva, então está confiando na
graça de Deus para guiá-lo ao que está para vir.
7
CRESCIMENTO DA IGREJA
INTERNACIONAL

Não tenho a menor dúvida acerca da recente ênfase


que o Espírito Santo tem produzido sobre a questão
do crescimento da igreja. Crescimento da Igreja Inter­
nacional não é uma denominação ou movimento
limitado a um tipo particular de igreja. Crescimento da
Igreja Internacional é uma organização criada para
atender às necessidades dos líderes eclesiásticos no
mundo todo.
Anos atrás, quando eu voltava de uma série de
conferências na Europa, o Espírito Santo falou-me ao
coração, dizendo: “Dê início a uma organização
dedicada ao crescimento da igreja!”
“Senhor, como é isso possível? Sou coreano.
Quem me ouvirá?” foi minha reação de surpresa à
ordem de Deus.
“Pai, todas as grandes organizações começam nos
Estados Unidos. Eles têm ministros tão talentosos.
Pertenço ao Terceiro Mundo, o mundo em desenvol­
vimento”, continuei, notando meu coração subita­
mente temeroso enquanto enfrentava este novo desa­
fio. Olhei para fora da janela do avião e me perguntei
como poderia começar outra organização e ainda
manter meu horário todo tomado, como pastor do
que era então uma igreja de 50.000 membros. Mas as
150 Muito mais do que números
palavras continuavam a soar-me no coração: “Crie
um centro de treinamento. As pessoas virão de todo o
mundo para ver por si mesmas o crescimento da
igreja.”
Resolvi o problema, dizendo ao Senhor: “Pai,
precisamos de uma instalação na Ilha Yoido (onde se
localiza nossa igreja) e vai custar muito dinheiro. Se no
domingo, quando eu apresentar esta visão, as pessoas
responderem com compromissos e donativos de um
milhão de dólares, então ficarei sabendo que realmen­
te desejas que eu construa na Coréia um centro para o
crescimento da igreja.”
Contei a visão aos líderes de nossa igreja e concor­
damos em levá-la à congregação. Naquele domingo
solicitamos ofertas, incluindo compromissos para a
construção de um Centro de Missão Mundial. Após o
último culto, o tesoureiro da igreja entrou em meu
escritório com um sorriso.
—Pastor, recebemos compromissos e donativos
que totalizam exatamente um milhão de dólares.
Deus havia falado e confirmava sua palavra com os
recursos necessários para o começo da construção do
novo edifício.
O Senhor também nos enviou de volta um missio­
nário norte-americano que me ajudara no passado.
Ele trabalhou comigo até ao ano passado, quando o
Dr. II Suk Cha assumiu a responsabilidade de coorde­
nador do Crescimento da Igreja Internacional. Foi
para mim uma bênção ver meu velho amigo e
presbítero assumir esta nova responsabilidade como
voluntário. Trazendo consigo muitos anos de expe­
riência nos negócios, e um sincero desejo de evangeli­
zar o mundo, o Dr. Cha está organizando o C.I.I. de
modo a tornar-se num instrumento eficaz no movi­
mento de crescimento da igreja.
Há dois anos, em dezembro, fomos convidados a ir
Internacional 151
à Cidade do México. O convite veio do Rev. Daniel
Ost, estadista missionário e pastor de três grandes
igrejas mexicanas. A comissão executiva era presidida
por um pastor presbiteriano e se constituía da maior
parte das igrejas evangélicas do México. Ao chegar à
Cidade do México, de imediato me senti à vontade.
Percebi o espírito de reavivamento na atmosfera da
cidade, uma das maiores do mundo.
Ao assomar à plataforma, estava tão cansado da
viagem que eu disse ao Rev. Ost, meu intérprete:
“Danny, não poderei falar mais do que trinta minutos.
Estou realmente cansado.” Mas quando vi o salão de
festas do Hotel México lotado (mais de dez mil líderes
cristãos) e observei o seu entusiasmo, o profundo
amor a Jesus e a generosa hospitalidade latina,
encontrei novas forças para falar durante duas horas!
Havia pastores de doze países, a maioria da Améri­
ca Latina. Vieram com uma expectativa que tenho
encontrado em poucos lugares do mundo. Oh, quanto
amo o povo mexicano! São tão calorosos! Amaram-me,
embora fôssemos obviamente diferentes. O importan­
te, porém, é que compareceram às sessões de ensino
com uma atitude de fé e de expectação. Ainda
estamos recebendo relatórios do México relativos aos
efeitos de nossa conferência sobre Crescimento da
Igreja Internacional. Creio com sinceridade que a
conferência teve um efeito profundo e duradouro
sobre a evangelização da América Latina.
Com os problemas econômicos do México, o
momento era propício para uma grande ação do
Espírito Santo. Os pastores estão agora edificando
suas igrejas de acordo com o sistema de grupos
familiares. Captaram a visão de oração e reavivamen­
to, e trabalham para atender às necessidades do povo.
Esta é a hora da visitação do Espírito Santo aos
mexicanos. Por isso estamos orando a favor desta
152 Muito mais do que números
grande nação. Dela pode irradiar-se uma grande
influência.
Liderança do Crescimento da Igreja Internacional
O Crescimento da Igreja Internacional é orientado e
dirigido por uma junta consultiva internacional com­
posta de pastores bem-sucedidos. São homens de
ministério comprovado e interessados em devotar
tempo e energia para que os princípios do crescimento
da igreja sejam ensinados em todo o mundo. Também
me ajudam a levantar os fundos necessários ao
atendimento das conferências do C.I.I. em toda parte.
Na verdade, estamos formando um rol de membros
do C.I.I. composto de clérigos e leigos com o ideal de
alcançar os países que não têm condições de arcar
com as despesas de uma dessas conferências.
Na reunião anual do ano passado, realizada na
Austrália, resolvemos concentrar-nos no ensino dos
países mais necessitados. Sem exceção, a resposta é
sempre positiva. Mas, por causa da falta de fundos,
não nos tem sido possível alcançar muitos países.
“Por que não levantam ofertas na Coréia para essas
necessidades?” é a pergunta que ouço com freqüên-
cia. Devido aos estritos regulamentos sobre câmbio, o
dinheiro não pode sair da Coréia com facilidade,
especialmente em quantias significativas. Temos de
depender do país hospedeiro e dos que estão captan­
do a visão do crescimento da igreja nos países
desenvolvidos.
Meu desejo é ir aos países^ que nos têm feito
insistentes apelos de ajuda. A índia pediu-nos que
fôssemos lá e realizássemos uma conferência do C.I.I.
Com facilidade teríamos 100.000 pastores e líderes
presentes. No momento, porém, não há fundos. Mas
tenho esperança e confiança em que Deus vai suprir
os recursos necessários para alcançar países como a
Internacional 153
índia, as ilhas do Caribe, e os países africanos que nos
têm convidado.
Direção do Crescimento da Igreja Internacional
Tenho recebido do Espírito Santo a direção concer­
nente à manifestação do reino de Deus na terra. A
igreja tem de reavivar-se antes da segunda vinda do
Senhor. Embora esteja havendo uma redução, esta é a
poda da árvore, não o corte dos ramos vivos. A
finalidade da poda é trazer vida nova. Conquanto
vejamos muitas igrejas vazias, muitos púlpitos desocu­
pados por falta de interesse no ministério, há uma vida
nova em desenvolvimento. As igrejas que verdadeira­
mente pregam o evangelho do Senhor Jesus Cristo no
poder do Espírito Santo, essas estão sendo reaviva­
das.
Para cumprir sua missão na terra, a igreja precisa
tocar todos os setores da sociedade. Deve servir tanto
aos líderes do governo como aos camponeses. Deve
ser exemplo de justiça e de misericórdia. Deve atender
às necessidades humanas e físicas do povo enquanto
procura salvar-lhes a alma. Para que a igreja atinja este
grande alvo, é preciso que tenha direção. Precisa
saber para onde vai e como chegar lá. Tem de dizer ao
mundo que não o abandonamos ao léu da sorte—
que, embora o deus deste século esteja em atividade,
assumimos um novo compromisso de alcançar a
comunidade incrédula de uma maneira mais ampla.
Nosso Plano para Alcançar as Nações
O Crescimento da Igreja Internacional reúne-se com
líderes cristãos evangélicos de todas as partes do
mundo. Nosso plano é simples.
1. Avaliamos a composição geral da comissão
organizadora nacional. Desejamos tocar a igreja toda e
não apenas um segmento dela. Não somos de nature­
za sectária; desejamos trabalhar com pessoas verda-
154 Muito mais do que números
deiramente interessadas na evangelização e no cresci­
mento da igreja. Cuidamos de que a comissão se
constitua de membros respeitados e representativos
da igreja evangélica no país. Cremos que os princípios
aqui apresentados funcionarão em qualquer igreja que
crê. Por isso não desejamos limitar a conferência a
uma denominação em particular.
2. Trabalhamos, pois, estreitamente com a comis­
são local dos líderes eclesiásticos para que os arranjos
coordenados sejam feitos com fé. Em fevereiro de
1982 fomos às Filipinas. Disseram-me que esta seria a
pior conferência do C.l.I. Não havia dinheiro nem
tempo suficientes para um cuidadoso planejamento.
Não obstante, nosso povo, trabalhando com a comis­
são local, encabeçada pelo bispo Castro da igreja
metodista, havia planejado com fé. Alugaram o maior
auditório, com capacidade para 30.000 pessoas.
Embora alguns de meus mais chegados auxiliares
me aconselhassem a cancelar a conferência, eu sabia
que Deus me havia falado. Por isso não fiquei
surpreso ao ver os resultados da reunião do C.l.I. de
Manilha. Nosso grupo foi recebido no aeroporto por
uma delegação oficial, incluindo autoridades governa­
mentais. Imediatamente fomos conduzidos aos veícu­
los que o governo providenciou para levar-nos ao
hotel. Viajávamos, sempre escoltados por policiais em
motocicletas. Cinco mil pastores inscreveram-se para
fregüentar o seminário.
A noite, o auditório lotava. Preguei o evangelho
todas as noites e convidei o povo a decidir-se por
Cristo. Oito mil pessoas tomaram a decisão de seguir a
Jesus Cristo. O governo foi tão receptivo à nossa
ênfase sobre o crescimento da igreja, que nos ofereceu
um almoço. O presidente Marcos agradeceu nossa ida
às Filipinas. Reconheceu a importância da igreja em
seu país como a mais eficiente organização promotora
Internacional 155
de uma época de renovação social e espiritual.
Durante a semana que passamos em Manilha, vi­
mos os líderes eclesiásticos da nação tocados pelo
poder de Deus. Saíram dos seminários de ensino com
uma nova confiança e esperança no crescimento da
igreja.
3. Escolhem-se oradores que possam falar por
experiência própria e também teoricamente acerca do
crescimento da igreja. Tenho uma dívida de gratidão
para com muitos pastores que viajam às suas próprias
expensas para apresentar os princípios de crescimento
da igreja nas conferências do C.I.I. O pastor Thomas
F. Reid, de Buffalo, da cidade de Nova Iorque, tem
trabalhado comigo em muitas conferências sobre
crescimento da igreja.
Havendo posto a funcionar em sua igreja de
Orchard Park os princípios expostos neste livro, o
pastor Reid fala com base na experiência. As reuniões
de grupos familiares têm sido o segredo do seu êxito.
Um dos grupos, dirigido por um judeu convertido,
treinado pelo Dr. Reid, começou na comunidade
judaica da região de Buffalo. Logo perceberam a
necessidade de adquirir um local de reuniões, e
compraram uma ex-casa funerária judaica. Agora,* nas
noites de sextas-feiras, muitos crentes judeus se reú­
nem e trocam experiências sobre sua nova fé no
Messias. Estão mobilizados, também, para ganhar
outros judeus para Cristo. O grupo ainda é parte vital
da igreja-mãe, mas adotou o princípio da homogenei­
dade e vem obtendo ótimos resultados.
Outro grupo é responsável por alcançar os bairros
necessitados da cidade de Buffalo. Com isso, prestam
um grande serviço a uma parte dessa cidade negligen­
ciada por outras igrejas. Essas pessoas outrora pobres
têm nova esperança. Suas condições financeiras talvez
não tenham mudado dramaticamente ainda, mas
156 Muito mais do que números
descobriram que a pobreza é um estado mental e não
falta de saldo na conta bancária, se é que pobre tem
conta em banco! Como cristãos não podemos ser
pobres. Somos filhos do Rei. Embora não tenhamos
todos os bens do mundo, somos herdeiros com Cristo
de todas as riquezas do Pai. Uma vez mudada a
atitude mental e a auto-imagem, suas condições
materiais começaram a mudar também.
4. Escolhem-se assuntos práticos. Creio que em
toda parte os líderes cristãos se interessam em obter
respostas práticas para seus problemas. Não estão
muito interessados em teorias; querem respostas que
funcionem, dadas por pessoas que comprovaram tais
respostas na experiência real. Portanto, os assuntos
que ensinamos são de natureza muito prática.
Em um dos seminários nos Estados Unidos, come­
cei as sessões perguntando: “Como vão convencer
suas igrejas de que precisam mudar a forma de pensar
e tomar um rumo diferente?” De imediato pude ver o
interesse no rosto dos ouvintes. Homens e mulheres
que se inscreveram para a conferência haviam viajado
muitos quilômetros para descobrir nova direção para
seus ministérios. Depois de freqüentar seminários e
mais seminários e sessões de pergunta-e-resposta,
estavam entusiasmados com o crescimento da igreja
em suas próprias congregações. Estou certo de que
durante a noite muitos deles se puseram a fazer planos
para convencer as comissões de suas igrejas a aceita­
rem a idéia desta nova direção. Minha pergunta havia
despertado intenso interesse.
Falei durante duas horas sobre uma forma prática
de motivar as igrejas. Usei muitos exemplos de minha
própria igreja bem como de alguns dos mais bem-
-sucedidos pastores do mundo. Mantemos as sessões
engrenadas de modo a atender às necessidades
práticas dos líderes evangélicos.
Internacional 157
5. Sempre trabalhamos através da igreja local.
Embora me fosse mais fácil e mais prático organizar
nossas próprias reuniões com uma equipe preparada
para obter a cooperação das igrejas locais, prefiro
trabalhar através destas. Não estou, com isto, critican­
do o ministério de muitos dos grandes evangelistas
que vão a uma cidade com sua própria organização.
Creio que o pastor e o evangelista devem trabalhar
juntos visando ao grande alvo da evangelização do
mundo. Se os evangelistas fossem esperar pela coope­
ração dos pastores de algumas comunidades, nunca
pregariam nessas áreas. Infelizmente, muitas igrejas
ainda vivem em competição e não captam a visão do
crescimento da igreja. Contudo, como pastor que tem
um ministério dedicado à edificação do Corpo de
Cristo, devo trabalhar através da igreja local. Isto
mantém minhas boas relações com a liderança da
igreja local e torna mais eficaz a obra do Crescimento
da Igreja Internacional.
6. Como é financiado o C.I.I.? Toda organização
religiosa tem, hoje, um programa para levantar fun­
dos; ou, assim parece. A recente recessão tem atingido
o mundo com um severo golpe que não tem poupado
os grupos religiosos. Contudo, nossa confiança está
depositada no Senhor do povo e não no povo do
Senhor. Mas, para que o Crescimento da Igreja
Internacional continue a existir fora da Coréia, precisa­
mos levantar uma considerável soma.
Quando estamos em países economicamente de­
senvolvidos, geralmente levantamos uma oferta de
amor para o C.I.I. que ajuda a financiar nossa obra no
mundo subdesenvolvido. As igrejas nesta parte do
mundo passam por grandes necessidades.
Nosso ministério pela televisão nos Estados Unidos,
tão-logo comece a sustentar-se, passará a levantar
fundos missionários para alcançar o mundo todo com
158 Muito mais do que números
a mensagem do crescimento da igreja. Esta é a única
esperança do mundo. E preciso que a igreja local e o
ministério se revitalizem, se quisermos ver este mundo
efetivamente ganho para Cristo. Pessoalmente, tenho
meus recursos comprometidos com esta causa; e Deus
está agora trazendo muitas igrejas e homens de
negócios que se unem a nós para as finalidades já
mencionadas.
Deus tem-nos dado membros do C.I.I. com uma
nova visão em Cingapura, na Europa e nos Estados
Unidos. Embora o grupo esteja apenas começando a
crescer, seu compromisso é com a evangelização do
mundo.
7. As publicações são outro recurso com que conta
o Crescimento da Igreja Internacional. Até ao ano
passado, a revista das nossas missões denominava-se
World of Faith (Mundo da Fé). Seu nome atual é
Church Growth (Crescimento da Igreja), publicação
trimestral. Nela continuamos a apresentar os princí­
pios que efetivam o crescimento da igreja. Publicamos
com regularidade artigos escritos por pastores bem-su­
cedidos, que em todas as edições dão suas experiên­
cias sobre o crescimento da igreja. Outro aspecto
importante de cada edição é a reportagem vinda de
todo o mundo, mostrando o que Deus está fazendo
por intermédio do C.I.I. Atualmente esta revista é
publicada em inglês, mas esperamos produzir edições
em outras línguas também.
Publicamos a revista na Coréia com o auxílio de um
pessoal consagrado. Uma das seções mais populares
da revista é um relatório atualizado do progresso da
Igreja Central do Evangelho Pleno.
8. Efeitos do Crescimento da Igreja Internacional.
Através do ministério do C.I.I. temos visto um número
significativo de igrejas tornar-se literalmente mais
eficientes em alcançar suas comunidades para Cristo.
Internacional 159
O pastor Robert Tilton, do norte de Dallas, contou-me
recentemente sua história. Hoje ele é membro da
nossa junta de televisão, que conta com alguns dos
mais bem-sucedidos pastores dos Estados Unidos. É
um forte mantenedor do ministério do C.I.I.
Não faz muitos anos, o pastor Tilton e a esposa
mudaram-se para um bairro de Dallas com o propósi­
to de edificar uma igreja para atender às necessidades
daquela grande cidade. Conheci o pastor Tilton há
dois anos, e logo reconheci nele um homem de visão.
Em questão de poucos anos, ele construiu uma igreja
com uma congregação de sete mil membros. Seu
ministério pela televisão, “Estrela d’Alva”, é agora
retransmitido em várias cidades dos Estados Unidos.
Uma vez que o pastor Tilton captou a visão do
crescimento da igreja, foi em frente com ela. Hoje ele
conta com seiscentos grupos familiares na cidade de
Dallas. Estão, presentemente, com um programa de
construção que em breve se completará, com capaci­
dade para cinco mil lugares.
“Meu alvo é ter uma congregação de 100.000
membros em 1986”, declarou ele com firme determi­
nação. Creio que haverá muitas igrejas desse porte em
todas as grandes cidades do mundo quando os
pastores captarem a visão do crescimento da igreja.
O pastor Stanley, da Primeira Igreja Batista de
Atlanta, do estado de Geórgia, há dois anos veio à
Coréia com seu colega de pastorado. Eu não sabia
que o Dr. Stanley era um destacado ministro da
denominação batista. Chegado à Coréia, ele apresen­
tou uma atitude humilde. Disse apenas: “Viemos orar
e aprender.” Fiquei bem impressionado com a humil­
dade e simplicidade do Dr. Stanley. Todavia, de volta
à bela cidade de Atlanta, ele começou a pôr em prática
os princípios que aprendeu em Seul. Os resultados
são de fato impressionantes. Nos últimos dois anos a
160 Muito mais do que números
igreja dobrou de tamanho, o que é uma realização
notável mesmo pelos padrões batistas.
Van Nuys, na Califórnia, é uma localidade deliciosa
dos Estados Unidos. A Primeira Igreja Batista dessa
cidade é pastoreada pelo Dr. Jess Moody. O pastor
Moody ia muitíssimo bem em Palm Beach, na Flórida,
quando o Senhor o chamou para sua nova congrega­
ção na Califórnia. A igreja passara por algumas
dificuldades e a assistência estava caindo. O Dr.
Moody começou a buscar o Senhor com respeito a
uma nova direção para a igreja. Depois de muito orar,
o Espírito Santo falou-lhe ao coração que entrasse em
contato com o nosso ministério. Desde esse tempo nos
tornamos amigos íntimos, e agora o Dr. Moody faz
parte da junta consultiva do C.I.I.
Através do sistema de grupos familiares, a igreja do
Dr. Moody é hoje uma das maiores da Califórnia. Mas
a visão não parou aí. Ele acredita em manter contato
com cada membro de sua grande igreja. Por isso foi
instituído o sistema de grupos familiares. Hoje os
líderes desses grupos estão falando do amor de Cristo,
individualmente, aos astros do cinema e também à
classe trabalhadora de Van Nuys.
Desejamos contatar igrejas de todas as denomina­
ções que sintam sincero desejo de evangelizar as
comunidades em que vivem e, portanto, crescer
dinamicamente.
Seja na América do Norte, na América Latina ou na
Europa, a história é sempre a mesma. Deus está
usando o C.I.I. como jamais imaginei. E possível que
no passado, minha visão tivesse sido pequena demais,
mas agora tenho uma visão maior do que nunca.
Minha visão quanto ao C.I.I. foi influenciada no ano
passado pela cruzada evangelística de Cingapura.
Cingapura é um dos mais belos lugares do mundo.
A prosperidade chegou a esta pequena ilha não faz
Internacional 161
muitos anos. O país é, em grande parte, de origem
chinesa, mas há, também, uma grande população
indiana e européia.
No ano passado, os dirigentes de empresa de
Cingapura receberam uma visão do Espírito Santo.
Deviam patrocinar uma cruzada nacional que atingisse
todo o país. Alugaram um estádio de futebol com
capacidade para 70.000 pessoas. Um líder empresa­
rial, o Sr. Wy Wy Wond, pagou toda a publicidade nos
jornais do país. A comissão era constituída de pasto­
res, empresários e profissionais de diversas categorias.
Esses homens e mulheres tinham algo em comum: um
desejo ardente de reavivamento em Cingapura, cuja
população cristã é pequena.
Durante cinco noites seguidas as chuvas caíam
torrencialmente. Mas às seis horas da tarde o céu
clareava e podíamos reunir grandes multidões para
ouvir o evangelho.
O número total de pessoas que vieram à frente para
aceitar a Cristo me deixou surpreso. Todas as noites
eu repetia: “Por favor, venham somente os que
desejam aceitar a Cristo como seu Salvador pessoal
pela primeira vez na vida.” E cada noite, contamos
mais de 50.000 pessoas decidindo-se por Cristo.
Minhas reuniões com os dirigentes das igrejas locais
foram muito animadoras. Creio que Cingapura será
futuramente um baluarte do Cristianismo. Há pessoas
aí comprometidas com o crescimento da igreja. Minha
esperança é que usem sua recente prosperidade para
alcançar com maior eficiência outros asiáticos para
Cristo.
Seja na França, onde vimos dez mil pessoas ir à
frente, ou na Dinamarca, Finlândia, Alemanha Oci­
dental, ou no Japão, temos visto o C.I.l. como
instrumento eficaz nas mãos de Deus para alcançar
162 Muito mais do que números
lideres e membros das igrejas com nova esperança e
nova visão.
Em janeiro deste ano falei num Seminário da Fé,
em Winter Haven, na Flórida. O pastor Quinten
Edwards hospedou esta conferência em sua bela e
nova igreja, com capacidade para mais do quatro mil
pessoas. O Dr. Edwards também é membro da junta
de televisão do C.I.I. Enquanto estava neste seminá­
rio, o Espírito Santo falou-me: “Meu filho, você vai
tocar cada pastor e líder eclesiástico deste país.
Embora eu lhe dê permissão para falar a todos os
cristãos, sua principal tarefa é abrir o coração e
comunicar aos pastores e líderes de igrejas o que eu
lhe tenho falado.” Sexta-feira à noite anunciamos que
no domingo de manhã eu falaria somente aos líderes e
pastores. As nove horas, vi duzentos pastores reunir-se
na Catedral do Cipreste, ansiosos por ouvir a Palavra
de Deus. Nessa reunião falei durante duas horas.
Notei que havia poucos com os olhos enxutos en­
quanto eu lhes transmitia a Palavra. Alguns me
disseram que a unção do Espírito Santo foi tão
poderosa que mal podiam conter-se assentados.
Isto mudou minha estratégia. Agora realizo uma
sessão especial com os líderes eclesiásticos aonde quer
que eu vá. Também oro a favor de cada um, pedindo
a Deus que lhes comunique a visão do crescimento da
igreja.
Creio que estamos vendo apenas o começo da
eficiência do Crescimento da Igreja Internacional.
Posso ver cada país da terra sendo alcançado com o
evangelho de Jesus Cristo. Posso ver cada pastor que
ama a Cristo recebendo uma nova visão do Espírito
Santo e começando um despertamento na igreja local.
É a visão grande demais? Não! Para que o trabalho
seja feito, precisamos ver em cada comunidade da
terra uma igreja que se esforce. Visto que Deus me
Internacional 163
permitiu edificar a maior igreja na história do mundo,
posso falar com experiência e autoridade.
O mesmo Deus que pegou um rapaz que estava
morrendo de tuberculose e o curou; o mesmo Deus
que salvou esse jovem do budismo; o mesmo Deus
que o fez construir a maior igreja num país do Terceiro
Mundo—esse mesmo Deus ajudará este ministério em
cooperação com outros ministérios consagrados à
evangelização mundial.
Devemos todos trabalhar juntos para trazer de volta
o Rei dos reis e Senhor dos senhores.
8
CRESCIMENTO DA IGREJA
E O FUTURO

Há alguns meses, voltando de uma viagem, notei


um cavalheiro no outro lado do corredor do avião,
que parecia estar brincando com o relógio fazia já
algum tempo. Levantei-me, passei perto de sua pol­
trona e vi que ele brincava com o “video game” do
relógio. Isto me levou a pensar enquanto voltava à
minha poltrona.
Vivemos hoje na era das maiores transformações da
história. A tecnologia desenvolveu-se tão rapidamente
que é impossível predizer como será a vida no mundo
nos próximos dez anos. Na Coréia, podemos ver de
imediato o que está acontecendo ao redor do mundo.
Sociologicamente, o mundo está muito mais dife­
rente do que se pode imaginar. Não somente nos
Estados Unidos, mas em muitos outros países, as
pessoas estão sendo classificadas por meros números.
Isto tem causado uma despersonalização geral da
sociedade. Os computadores realizam hoje muitos
serviços que antes eram feitos por pessoas. Palavras
como “bytes”, “chips” e “software” estão-se tornan­
do parte integrante de nosso vocabulário. Por conse­
guinte, a desumanização da sociedade moderna tem
produzido numerosos problemas que a igreja tem de
analisar. Alienação, solidão e depressão constituem
166 Muito mais do que números
sintomas comuns de nosso moderno estilo de vida.
Para que possa crescer, a igreja deve conhecer os
problemas dos nossos tempos, e indicar-lhes as res­
postas.
De há muito o medo vive conosco; nunca, porém,
com a intensidade de hoje. Nossa capacidade de fazer
o planeta desaparecer com o simples pressionar de um
botão tem levado grande parte do mundo a viver com
medo. Historicamente, sempre tivemos tragédias.
Contudo, os sistemas atuais de comunicação instantâ­
nea têm-nos conscientizado de mais catástrofes, guer­
ras, terremotos e revoluções do que nunca antes.
Outro fato que desafia a igreja hoje é a explosão
populacional. No ano 2000, calcula-se que haverá
mais pessoas vivas neste planeta do que a soma de
quantas já morreram. Entretanto, apenas pequena
porcentagem da população mundial detém a maioria
dos recursos do mundo. Por toda parte existem
desigualdades. A injustiça, a opressão e a desumani­
dade crescem sempre. Qual é o lugar dos representan­
tes de Deus nesses importantes problemas? Tem a
igreja alguma utilidade para a sociedade atual? A todo
instante ouvimos essas perguntas, formuladas não
apenas por liberais, mas cada vez mais por outros
crentes evangélicos sensíveis a tais problemas e preo­
cupados com eles.
Alvin Toffler, renomado escritor norte-americano,
recentemente escreveu um livro que fala das altera­
ções sociológicas atuais, e procura dar-nos uma pers­
pectiva fora do comum com respeito a elas. Em seu
livro, A Terceira Onda, ele analisa o passado em
termos de ondas da experiência humana. Usa a
metáfora das ondas porque elas se misturam umas às
outras de sorte que muitas vezes coexistem, não
obstante permanecerem distintas.
A primeira onda, que durou milhares de anos, foi a
£ o futuro 167
sociedade agrícola. A segunda onda foi a revolução
industrial, que teve início no século dezenove. A
terceira onda, a do futuro, é a que estamos experi­
mentando agora. Contudo, a definição de Toffler não
é fácil de se compreender. Embora o livro me pareça
interessante, acho que o autor não poderia predizer o
futuro com a mesma clareza com que descreveu o
passado. E sempre mais fácil ser historiador do que
profeta. Preocupa-me o fato de que muitos ministros
do evangelho considerem um mal as mudanças que
estão ocorrendo. Esquecem-se de que é Deus, e não o
diabo, quem está no controle do futuro deste mundo.
Todos os problemas, presentes e futuros, não são
necessariamente obstáculos, mas oportunidades. A
igreja não pode ser vítima da mudança; deve ser a luz
orientadora em meio a ela.
Não tenho a mínima dúvida de que o livro mais lido
tem as respostas na forma de princípios para os
problemas com os quais se defronta a última parte do
século vinte. Contudo, a verdade de Deus, a Bíblia,
precisa ser interpretada de sorte que o mundo entenda
a sua mensagem. Jesus não citou a Bíblia. Ele tomou a
Palavra de Deus e a interpretou para satisfazer às
necessidades das pessoas às quais ele servia. Para
crescer, a igreja deve atender às necessidades da
sociedade. Ela tem de responder às indagações e curar
as enfermidades espirituais e emocionais que infestam
a todos. No futuro, a igreja terá de lidar com os
problemas que a desafiam no presente, e então
proclamar e viver com eficiência a realidade das boas-
-novas. Para isto, é preciso que identifiquemos os
problemas fundamentais com que nos defrontamos.
Lembremo-nos, também, de que o mundo não tem
resposta para as necessidades básicas do homem; ele
só pode fazer perguntas. Nossa responsabilidade é
ouvir com atenção, analisar as perguntas em espírito
168 Muito mais do que números
de oração, e responder com humildade.
A ciência não tem respostas para as necessidades
humanas e sociais; contudo, é útil para dar-nos
informações e dados. Quando os cientistas tentam
desempenhar o papel de profetas, geralmente dão
saltos de fé maiores que os cristãos. Robert J. Oppen­
heimer, cientista e um dos pais da bomba atômica,
tentou imiscuir-se no papel de profeta, na década de
1960. Declarou que, devido ao progresso da ciência, o
futuro seria brilhante. No futuro os cientistas poderiam
resolver os problemas do homem. Contudo, vinte
anos depois, temos mais problemas sociais do que o
Dr. Oppenheimer teria imaginado. A verdade é que os
cientistas estudam as enfermidades humanas partindo
de uma base de pressupostos errados. Visto que o
problema básico do homem é espiritual, a resposta
deve ter uma base espiritual. Só quem está em
comunhão com o Espírito Santo pode lidar efetiva­
mente com os problemas do mundo. Em assim
fazendo, preenche o vazio da necessidade humana e
se torna mais pertinente na opinião da comunidade.
Nossa mensagem. Nossa mensagem deve ser apre­
sentada com clareza e concisão. Temos de ventilar
problemas importantes para nossa comunidade. De­
vemos considerar as perguntas que as pessoas estão
fazendo e dar-lhes respostas honestas e específicas.
Nenhum outro grupo possui um livro-fonte eterna­
mente verdadeiro. Somos os guardiães do manual do
fabricante para uma vida melhor. Nosso Criador
comunicou-nos as regras que funcionam. Entretanto,
o mundo não está cônscio das direções claras que
Deus nos deu. Certa vez ouvi um ditado que me
pareceu verdadeiro: “Se tudo mais falhar, leia as
instruções.” A sociedade não está funcionando, mas
onde estão as instruções? Estão na Bíblia Sagrada. O
Espírito Santo está à espera de que nos comunique-
£ o futuro 169
mos com ele, para que possa tomar a verdade eterna e
aplicá-la especificamente aos nossos problemas pre­
sentes.
Mensagem bem-sucedida. Um princípio fundamen­
tal de êxito usado nos negócios é: “Encontre um vazio
e preencha-o eficientemente.” Este mesmo princípio
funciona na edificação de uma igreja bem-sucedida.
Toda cidade tem algo com que preocupar-se; pode ser
desemprego, inflação, energia, crime, política ou outra
coisa qualquer. Preencha o vazio! Comunique-se com
o Espírito Santo e descubra o que ele tem para dizer
acerca do problema. Ele o guiará às passagens bíblicas
corretas. Quantas vezes lemos que Jesus tomou um
rolo do Antigo Testamento; leu um capítulo, e a seguir
começou a falar sobre os versículos que havia lido?
Poucas vezes. Por quê? Porque ele sabia como
prender a atenção das pessoas.
Que adianta ter as respostas para perguntas que as
pessoas não fazem? Devemos responder às perguntas
que estão sendo feitas. Jesus lidou com problemas
como os impostos cobrados pelos romanos e atitudes
para com os pobres e maltratados. A seguir deu as
respostas vindas do Pai e apoiou suas palavras com as
Escrituras. Ao examinar o ministério da igreja do Novo
Testamento, vemos um grupo que contava com
poucos intelectuais, que dispunha de poucos recursos
financeiros, mas que mudou o curso da história. Este é
o tipo de igreja que pode, no fim da presente era,
satisfazer às necessidades da raça humana na hora de
sua maior provação. O necessário é que a igreja
complete o processo de restauração. Isto é, restabele­
cer a igreja ao seu equilíbrio, ministério, verdade,
unidade e poder iniciais.
Escatologicamente falando, creio na verdade de
que há um período vindouro em que o mundo passa­
rá por grande tribulação. Creio que o Anticristo se
170 Muito mais do que números
manifestará e os homens receberão a justa recompen­
sa por seus atos. Mas creio também que a igreja será
forte antes do fim da presente era e poderá realizar a
ordem que Cristo deu de levar as boas-novas a todas
as nações. Sou, portanto, otimista quanto ao futuro da
igreja.
Poderemos usar os recursos de que dispomos para
pregar com eficácia a Palavra à maior audiência em
potencial já congregada na história do mundo? Ser-
mos-á possível pregar a verdade no poder do Espírito
Santo para que o resultado seja mais gente no céu do
que no inferno? A resposta às duas perguntas deve ser
positiva.
Para atingir essas grandes metas, devemos ver
completado o processo de restauração. Que pretendo
dizer por processo de restauração?
Depois de tornar-se aceitável e dotada de poder, a
igreja se corrompeu. Na história européia, a resultante
degeneração da igreja causou o que comumente se
conhece como Séculos de Trevas, ou seja, a Idade
Média. Ocorreu uma mudança quando Martinho
Lutero redescobriu a doutrina da justificação pela fé e
a trouxe de volta à igreja. O Espírito Santo serviu-se
de João Wesley para mostrar outro aspecto do
processo de reforma e restauração—acentuar a verda­
de da santificação e da santidade. O Espírito Santo e
seus dons foram trazidos de volta à igreja no começo
do presente século, de uma forma nova. Agora
estamos vendo a restauração da igreja local e seu
crescimento como parte integrante do processo de
restauração.
Hoje os pastores estão redescobrindo que sua
principal função é preparar os leigos para o serviço ou
ministério. Estão estabelecendo o ministério de casa
em casa bem como o do templo. Crendo na renova­
ção e planejando para ela, estão fazendo os preparati­
E o futuro 171
vos para o maior reavivamento na história do mundo.
Há, pelo menos, cinco áreas que creio devemos ver
restauradas na igreja em futuro próximo.
1. Equilíbrio entre razão e espiritualidade
Os homens são naturalmente atraídos para duas
áreas diferentes de entendimento: a mística e a
racional. Um neurocirurgião disse-me, certa vez, que
as partes do cérebro que controlam a emoção e a
razão operam diferentemente em todos nós. Portanto,
somos atraídos para o aspecto místico do Cristianis­
mo, ou o que chamo de espiritual e racional. Esta
dicotomia da percepção existe desde os tempos de
Platão e de Aristóteles. Entretanto, na igreja do Novo
Testamento, Paulo apresentou a doutrina básica da fé,
enquanto João apresentou o relacionamento experi­
mental com Cristo. Houve um equilíbrio de teologia e
experiência.
Calvino, embora muitíssimo influenciado pelo con­
ceito agostiniano da graça, dependeu fortemente da
razão para desenvolver sua teologia. Sua razão,
porém, foi usada dentro da estrutura bíblica. Ele
influenciou e, por sua vez, mudou totalmente a
sociedade da sua época mediante o ensino contínuo
da Palavra de Deus. Mas deu pouca ênfase ao aspecto
experimental do Cristianismo.
Não obstante os ensinos de Martinho Lutero serem
ortodoxos, muitas vezes ele se referia às suas expe­
riências espirituais.
Os cristãos evangélicos da era presente enfrentam a
mesma opção com referência à fé. Contudo, o que a
comunidade crente está tendo é um equilíbrio ade­
quado entre a razão e a experiência. Nós, na Igreja
Central do Evangelho Pleno, esforçamo-nos por al­
cançar uma síntese adequada entre experiência e
teologia. Nos últimos quinze anos tenho visto a
172 Muito mais do que números
importância de ambas. Oriundo de um ambiente
pentecostal, tive forte influência de um Cristianismo
experimental, o que fez que a realidade da presença
divina se tomasse significativa não só para a minha
mente mas também para o meu coração. Mas tenho
observado que muitos que confiam demais na expe­
riência tendem para a instabilidade em seu andar
cristão. O motivo é que a experiência não é uma
constante. Ela se baseia na emoção, que, do ponto de
vista moral, é neutra. Em outras palavras, a emoção
não é boa nem má. É um fenômeno da vida que,
dependendo dos estímulos, pode ser a base de grande
dor ou de grande prazer.
A igreja não teve origem como resultado de prele­
ções teológicas; começou como resultado de uma
intervenção divina que resultou em elevação emocio­
nal. Mas a igreja cresceu em virtude do ensino
contínuo dos apóstolos e da aplicação prática desse
ensino na comunhão diária e na oração dos novos
santos.
A ênfase de nossa igreja não tem desprezado o
aspecto experimental, em particular a experiência
muitíssimo importante que é o novo nascimento;
temos ensinado nosso povo a viver e a testemunhar.
Nossos cultos são de tal natureza que ninguém que
entre na igreja pela primeira vez se sinta fora de lugar.
Temos procurado manter equilíbrio entre ensino vigo­
roso e experiência. Por outro lado, tenho observado
que, em muitas igrejas que acentuam puramente o
ensino e negam a experiência, os membros têm a
tendência de ser estéreis e mortos. A oração, o
principal ingrediente do reavivamento, não é encareci­
da com o fervor mencionado nas Escrituras. Há
necessidade de que as pessoas se libertem do temor
do desconhecido e confiem em que o Espírito Santo
não trará confusão e, sim, paz.
E o futuro 173
Tive, recentemente, o prazer de visitar a Primeira
Igreja Batista de Van Nuys, na Califórnia. Durante
algumas semanas o pastor Jess Moody ministrou
ensino sobre louvor e adoração. Embora a igreja não
seja carismática, os membros cantavam e cultuavam a
Deus de uma maneira tão entusiástica que a gente
pensava estar num culto pentecostal. O Dr. Moody,
homem erudito, com longa e fiel reputação na deno­
minação batista, crê que as passagens bíblicas concer­
nentes ao louvor e à adoração não podem ser
eliminadas da Bíblia. Visto como as igrejas evangélicas
creem nas Escrituras, o entusiasmo pertence a todos
os evangélicos, pentecostais ou não. O vigoroso
crescimento da igreja do Dr. Moody se deve não só ao
sistema de grupos familiares, mas também a um culto
de adoração animado e vibrante nos domingos.
Espírito sem Palavra causa fanatismo. Palavra sem
Espírito causa estagnação (o Dr. Cho emprega, no
original, um neologismo: “estagnatismo” —N. do T.).
Um equilíbrio adequado de ambos causará crescimen­
to dinâmico da igreja.
2. Restauração do ministério
Um problema que vemos na igreja atual é a erosão
da confiança do público em geral com relação a
muitos que se encontram em posição de liderança
eclesiástica. Os jornais atacam a ética e a credibilidade
dos ministros religiosos com aparente impunidade.
Muitos dos renomados líderes religiosos têm sido
atacados de uma maneira incomum, nestes últimos
tempos, com relação à moral e negócios. Infelizmente,
isto influencia a todos nós que estamos no ministério.
Conquanto grande parte daquilo que se diz contra
os servos de Deus não tenha apoio nos fatos, Satanás
tem utilizado este fogo de barragem para desacreditar
a igreja em geral. O cinismo que se tem desenvolvido
174 Muito mais do que números
no público em geral não é novidade. Na Idade Média,
a comunidade européia mostrou atitude semelhante
para com o clero, o que ajudou a motivar a Reforma.
Hoje há necessidade de uma nova reforma e esta deve
começar pelos líderes da igreja.
O profeta trata deste assunto no capítulo 34 de
Ezequiel, que corresponde ao 23 de Jeremias. Deus
censura os pastores de Israel em termos fortíssimos. A
base de seu juízo divide-se em quatro partes.
1. Deus responsabiliza os líderes pela salvaguarda
das ovelhas.
2. O cuidado devido das ovelhas as impedirá de
transviar-se.
3. A alimentação devida proporcionará segurança.
4. A raiz do problema está na preocupação do
pastor com suas próprias necessidades e não
com as do povo.
A resposta de Deus é explícita.
Davi seria levantado como pastor e Deus seria mais
evidente para as ovelhas. A esta altura o povo seria
abençoado e bem alimentado. Há necessidade, nesta
última parte do século vinte, de uma restauração do
ministério. A palavra ministro significa servo, e não
governante. A base de nossa autoridade não é judicial
mas voluntária. As pessoas seguem minha liderança
não porque tenham de fazê-lo, mas porque o dese­
jam. Que é que faz 300.000 pessoas desejarem seguir
minha liderança como pastor? É simples, sabem que
sou seu pastor porque estou a serviço delas e porque
Davi (o Senhor Jesus Cristo) está operando por meu
intermédio. Portanto, não posso aceitar o crédito
pessoal pelo êxito que com toda a honra pertence a
Cristo. Ele é o Pastor. Eu sou o pastor-ajudante, cujo
dever é executar suas instruções.
O fato de sermos simples servos do povo deve
E o futuro 175
demonstrar-se por ações, e não apenas por palavras:
1. Nossa atitude não pode ser arrogante; deve ser
humilde.
2. Nosso estilo de vida não pode pôr em dúvida
nossos motivos.
3. Nosso ministério não deve salientar o perfil
pessoal.
4. Nossos recursos não podem ser usados para
edificar monumentos a nós mesmos.
5. Nosso tempo não pode ser gasto em atividades
que não tragam benefícios diretos à igreja.
6. Nossa vida de oração deve ser mantida para que
o Grande Pastor possa dirigir-nos ativa e conti­
nuamente.
7. Nossos desejos devem ser purificados de tudo
quanto não pertença ao reino de Deus.
A observação dos sete princípios arrolados acima
não nos livrará dos ataques de Satanás, mas impedirá
ataques justificados. À medida que permanecemos
fiéis a Cristo, a ele cabe justificar-se. Não temos,
portanto, de justificá-lo.
Assim como o século dezesseis produziu um novo
ministério que serviu de exemplo para outros, assim
também vemos que se desenvolve um novo corpo de
clérigos nestes últimos tempos. O desejo deles é para
as ovelhas, e não para si próprios. Seu alvo é a
edificação do reino de Deus, e não seus próprios
reinos. Sua fonte é o Espírito Santo, e não suas
próprias idéias. Isto terá como causa uma nova
credibilidade dentro de cada comunidade dos que
estão sinceramente buscando a realidade que só
Cristo pode oferecer.
Portanto, sou otimista com relação ao futuro da
igreja no final da presente era. Temos o exemplo da
igreja primitiva que não era perfeita, mas dotada de
176 Muito mais do que números
poder. Temos dois mil anos de história da igreja que
podem ajudar-nos a não cometer os mesmos erros. E
temos a promessa do primeiro milagre de Cristo; que
Cristo reservou o melhor para o fim.
3. Restauração da verdade
Para compreendermos a crescente importância do
papel do serviço equilibrado que a igreja presta ao
mundo, devemos entender para onde vai o homem
do século vinte.
Andando por uma grande cidade do Ocidente, no
ano passado, fui a um museu de arte. Conquanto
geralmente eu esteja ocupado demais para ir a
museus, fiquei curioso por descobrir o que os artistas
estavam produzindo na década de 1980. Dirigi-me à
seção chamada Arte Moderna. Estudei o que me
pareciam ser linhas irracionalmente pintadas na tela.
“Isto é arte?” perguntei a mim mesmo. “Meu filho
pequeno poderia pintar melhor do que isto”, conti­
nuei, de mim para mim. Todavia, em vez de apenas
bancar o crítico, enquanto voltava ao hotel comecei a
pensar sobre o que eu havia visto. E facílimo para os
cristãos criticarem o mundo hoje e julgarem-no segun­
do nossos padrões. Se Deus nos concedeu a graça de
viver, pensar e atuar como cristãos, por que somos tão
prontos para julgar o mundo se ele não é recipiente
desta graça? Não, a responsabilidade do servo de
Deus não é proferir sentença sobre o sistema mundial,
mas trazer a verdade divina aos não-regenerados de
forma compreensível e amável.
Não é difícil ver que o mundo, como outrora o
conhecemos, mudou muito. Basta que giremos o
botão sintonizador do rádio para que topemos com o
que presentemente se chama “o novo som”. Se
agüentarmos ouvir por alguns minutos, perceberemos
que o que estamos ouvindo já não são melodias e
E o futuro 177
harmonias, mas puro barulho. As regras que costuma­
vam governar a composição musical foram sistemati­
camente quebradas pelo desejo de libertar-se delas. A
linha que ressalta aquilo que está por trás da nova arte
e música é um crescente senso de extremo cepticismo;
não apenas quanto a Deus, mas cepticismo básico ao
conceito da verdade. Em outras palavras, a desordem
geral que se avoluma na maioria das áreas da
expressão humana é um ataque à qualidade funda­
mental da própria ordem. Para que entendamos isto,
precisamos compreender a relação que há entre
verdade, ordem e regras. As regras existem para
manter a ordem. A ordem existe devido ao conceito
humano básico de verdade.
No passado, a composição musical tinha ordem e
significado. J. S. Bach compunha música com grande
simetria. Havia começo e fim. As artes visuais também
continham significado. As grandes obras-primas po­
diam ser apreciadas porque o observador entendia
imediatamente o assunto da pintura. Também o pintor
expunha o assunto de modo que deixava a pessoa
emocionada por uma compreensão ou sentimento
particular. Dessa forma, a pintura transmitia significa­
do. Que foi que causou essa mudança dramática e
intrigante? Que é que está impulsionando a contínua
destruição da ordem em nossa sociedade? Na minha
opinião, é um ataque à ordem provocado pelo
cepticismo.
Uma pessoa céptica é aquela que já não crê na
universalidade, na integridade e na objetividade da
verdade. A verdade se torna, pois, uma realidade
subjetiva. A afirmativa do céptico é: “Aquilo que é
verdadeiro para você não é necessariamente verda­
deiro para mim.” Para o céptico, a verdade já não é
universal, não tem sentido. Visto que a verdade,
segundo o céptico, já não é significativa, ela perde a
178 Muito mais do que números
integridade. E pelo fato de já não ser objetiva, pode
tomar-se pessoal e subjetiva.
Então o céptico pode justificar sua ética como sendo
situacional. Isto é, aquilo que é certo pode mudar,
dependendo das circunstâncias. Visto que artistas e
compositores são os intérpretes óbvios da filosofia
predominante da época, pintam e compõem hoje para
convencer a sociedade atual da realidade e autentici­
dade de sua posição filosófica.
No meu entender, esta nova posição do cepticismo
não é nova. Pirro, antigo filósofo grego, foi o primeiro
expoente desta filosofia de que temos conhecimento.
Assim, entre os filósofos e os teólogos, esta posição é
chamada de “Pirronismo”. Qual é nossa resposta?
Embora essa tendência não seja nova, o que é novo
é a aceitação em larga escala que o cepticismo tem
tido dentro da comunidade intelectual do Ocidente.
Nós, no Oriente, estamos começando a ser influen­
ciados por ela. Se julgarmos pela história recente, em
futuro próximo a igreja estará às voltas com o
cepticismo numa escala muito mais ampla.
Quando a verdade se torna relativa, deixa de existir.
Quando digo: “Isto é verdadeiro”, não estou apenas
dando uma opinião acerca de algo que, naturalmente,
é subjetivo. Estou confiando numa realidade universal
que dá substância àquela declaração. Isto significa
que, sem exceção, essa afirmativa é sempre verdadei­
ra. Embora alguns filósofos modernos aleguem que as
declarações só podem ser universalmente verdadeiras
na ciência exata da matemática, outros declaram que
a experiência e a lógica podem ser também considera­
das. Por exemplo, existem agora (em 1983) mais de
330.000 membros em nossa igreja em Seul. Essa
afirmativa é verdadeira. Pode ser verificada, mas
dentro de uma semana mudará. Portanto, não é
universalmente verdadeira. “A terra é basicamente
£ o futuro 179
redonda, e não plana.” Esta declaração era verdadeira
antes de Colombo navegar da Espanha para o Novo
Mundo. É verdadeira hoje. E, a não ser que o globo
seja destruído, será verdadeira no futuro.
Que é que produziu este cepticismo?
Duas grandes guerras na Europa em apenas três
décadas causaram grande devastação. A devastação
não foi apenas material e social; foi também intelec­
tual.
Nos séculos dezessete e dezoito, a sociedade secular
começou a descartar a fé no Cristianismo. Por outro
lado, em particular no século dezenove, a comunidade
intelectual começou a ter fé na capacidade do homem
de criar uma sociedade pacífica, justa e duradoura,
usando para isso a lógica e a razão. Muitos teólogos
também participaram desta opinião filosófica predomi­
nante. Através da medicina, o homem venceria todas
as enfermidades. Através da ciência, daria resposta a
todos os mistérios do universo. Uma vez respondidas
todas as perguntas, a humanidade poderia criar paz na
terra. A atitude para com a religião era de que esta
desapareceria como desapareceram os antigos mitos.
Portanto, o homem tinha confiança em si próprio.
O Extremo Oriente estava muito mais estruturado
em seu arcabouço sociológico. Confúcio ensinou um
sistema de ética que permeou a maioria das socieda­
des orientais. Devido à nossa perene superpopulação,
nós no Oriente tivemos de aprender a conviver uns
com os outros. Portanto, adotamos um sistema que
controlava nossas ações na vida da família, nos
negócios e na política. O budismo era mais filosófico
na Coréia e no Japão do que as religiões no Sudeste
asiático.
Não obstante, a Segunda Guerra Mundial destruiu
muitos de nossos hábitos e idéias. Os Estados Unidos
eram o novo conquistador. Não vieram ao Extremo
180 Muito mais do que números
Oriente para colonizar, como o haviam feito a Grã-
-Bretanha, Portugal e Espanha. Ajudaram-nos a re­
construir e procuraram transmitir-nos amor à liberda­
de e à democracia. Portanto, em nossa parte da Ásia,
começamos a contar com os Estados Unidos para uma
nova ordem social e intelectual. Aprendemos inglês a
fim de comunicar-nos com o nosso novo Grande
Irmão. Parece tratar-se de uma lição para a história
moderna que as idéias começam na Europa e levam
diversos anos para cruzar o Oceano Atlântico. Uma
vez que se tornam parte da cultura norte-americana,
são transportadas por filmes, televisão e literatura ao
restante do mundo em desenvolvimento. Particular­
mente após a Segunda Guerra Mundial, o cepticismo
começou a crescer. O existencialismo secular, que não
deve ser confundido com a teologia existencial de
Kirkegaard, foi promovido por muitos filósofos como
Heidegger, Sartre, Camus e Becket, do continente
europeu.
Na Inglaterra, começou a deitar raízes outro ramo
da filosofia. Bertrand Russell foi um dos expoentes de
uma filosofia chamada análise lingüística. A perda da
fé na visão positiva do homem levou os existencialistas
da Inglaterra e, mais tarde, os dos Estados Unidos, a
definir palavras. Pensavam que entendendo as pala­
vras usadas na língua inglesa, a comunicação podia
ser um meio para o progresso.
A visão existencialista secular é a de existir para o
momento. A universalidade e a objetividade abriram
passagem para o subjetivo. Nos anos 60, os Estados
Unidos estavam às voltas com uma revolução social
semelhante. Embora o cepticismo se localizasse princi­
palmente nos maiores centros intelectuais do país,
crescia em força. A guerra do Vietnã foi o choque
social que provocou a desordem produzida pelo
cepticismo. Naquele tempo foram atacados o patriotis­
£ o futuro 181
mo, a fé no Deus Supremo, e até os mais fundamen­
tais elementos da estrutura social norte-americana.
Embora os Estados Unidos tenham vencido os
aspectos mais insidiosos do cepticismo, os elementos
básicos ainda funcionam na arte e na música. As
implicações sociais e intelectuais revelam-se nos filmes
e nos livros exportados para todo o mundo. Os filmes
que agora trazem anti-heróis como personagens cen­
trais; os programas de televisão que pregam a aceita­
ção da imoralidade e da promiscuidade sexual, e os
livros que proclamam a liberdade total do indivíduo a
expensas do bem-estar da sociedade influenciam
rapidamente o restante do mundo.
A prosperidade das últimas décadas só tem propor­
cionado mais lazer para as práticas que nós, cristãos,
detestamos. O uso ilícito de drogas, até por dirigentes
públicos e empresariais, o crime, a pornografia como
arte, e a homossexualidade são apenas sintomas e não
a causa dos problemas que a igreja local deve
enfrentar no futuro.
O problema básico é o cepticismo, que ataca a
universalidade e a objetividade da verdade. Que
podemos fazer a fim de preparar-nos para atender às
necessidades desta geração perdida?
Não somos filósofos nem teólogos. Cristo nos
chamou a todos para amar. Devemos, portanto,
observar três princípios básicos:
1. Entender o problema.
2. Entender a causa do problema.
3. Revelar a verdade na prática.
Nossa missão de pregar tem-se tomado mais prática
em virtude de muitos fatores. Não temos de satisfazer
à fé que o homem costumava depositar na ciência e
na tecnologia a fim atender às necessidades humanas
e sociais. Também não estamos enfrentando a grande
fé que o homem tem tido em sua bondade inerente
182 Muito mais do que números
(de que ele não precisa ser salvo de coisa alguma).
Portanto, no presente, e mais ainda no futuro, podere­
mos falar aos corações abertos ao evangelho. O
ataque à verdade tem produzido um vazio que só
Cristo pode preencher, porque ele é a Verdade.
Entendendo o problema. Conforme declarei ante­
riormente, o problema não é a desordem na arte, na
música e na sociedade em formas crescentes. O
problema é mais complexo. É uma incessante e
crescente rejeição da verdade em sua forma universal
e objetiva. O fato de seu argumento ser irracional não
parece importunar os cépticos, visto como têm pouco
desejo de serem racionais.
Entendendo a causa do problema. Não se chegou
ao cepticismo racionalmente. O que lhe deu origem foi
uma reação emocional à depravação do homem, que
não é um fato novo para o crente. A Bíblia sempre
ensinou que o homem não-regenerado era basica­
mente pecador, e só a graça de Deus o torna moral e
reto. Jesus levou o pecado à cruz. Confiando no
sacrifício de Cristo, que satisfaz à justiça de Deus, o
homem é salvo do pecado.
O futuro, portanto, é nosso. Só o cristão tem uma
estrutura universal e objetiva da realidade. Temos o
Criador, o Pai. Temos a fonte do entendimento, o
Espírito Santo. Temos o exemplo, o Senhor Jesus
Cristo. E temos o grupo óbvio que revela a verdade na
vida diária, a igreja.
Captando uma visão de ilimitado crescimento, bem
como organizando-se de uma forma que possa efeti­
vamente lidar com esse crescimento, a igreja pode
preencher o vazio que os cépticos criaram. Todavia, a
igreja não deve confiar apenas em sua capacidade de
proclamar a verdade, de uma forma clara e racional.
Ela deve, também, proclamar a verdade no poder do
Espírito Santo.
E o futuro 183
4. Restauração do poder
“Mas recebereis poder” (Atos 1:8). A diferença
entre a pregação atual do evangelho e a proclamação
do evangelho na época da igreja primitiva é uma
questão de poder. Embora usemos meios mais pode­
rosos de comunicação, a mensagem que pregamos
parece ser menos potente. A diferença é o Espírito
Santo. Não se trata, aqui, de uma declaração de fato
apenas individual; é, antes, uma observação coletiva.
Para entendermos o problema, precisamos estudar
a promessa. Atos 1:8, que citamos acima, apresenta
dois princípios.
1. A promessa é, por natureza, coletiva. O verbo
“recebereis” está no plural. A promessa do poder é
dada aos discípulos como grupo. A igreja recebeu
certas promessas que pode reclamar como grupo.
Embora possamos ver a manifestação de poder em
pastores ou evangelistas, individualmente, a igreja
como um todo não está, no presente, manifestando o
mesmo poder da igreja primitiva.
O desafio à igreja será aumentado pelas forças de
Satanás inerentes ao secularismo, cepticismo, comu­
nismo e materialismo. Em resposta, a igreja deve atuar
com um novo poder coletivo, e creio que o fará.
2. A promessa é certa. Jesus não disse: “Talvez
recebais poder.” Não, ele foi categórico: “Recebereis
poder.” A certeza de Cristo no poder que a igreja
manifestou após o Pentecoste não estava na capacida­
de, na coragem ou na vontade dos discípulos, mas na
capacidade do Espírito Santo.
O Espírito Santo podia tomar pessoas não dotadas
e fazer com que os dons divinos fluíssem por seu
intermédio. Podia tomar um apóstolo como Pedro,
que numa só noite negou a Cristo três vezes, e fazê-lo
erguer-se corajosamente diante de uma multidão de
184 Muito mais do que números
judeus procedentes de todo o império romano e
potencialmente hostis. Revestido de coragem, Pedro
proclamou o evangelho de Jesus Cristo com grande
clareza e poder.
Cristo podia ter certeza por causa do Espírito Santo.
Podemos contar com o mesmo Espírito Santo, no fim
da presente era, para fazer guias espirituais do que
agora chamamos pastores; evangelistas, de proclama-
dores proféticos; e testemunhas vigorosas, de leigos
desinteressados.
5. Poder em ação
Precisamos de poder para testemunhar. A promessa
de Cristo, em Atos 1:8, era definida: “Sereis minhas
testemunhas.” O “dunamis” de Deus não sugere
apenas a intensidade da força, mas também a dinâmi­
ca do propósito. O poder que Cristo prometeu,
“martus” no grego, transformaria os discípulos em
testemunhas. A testemunha contém três aspectos
básicos:
a. Mártir é palavra derivada de “martus”. Portanto,
a palavra testemunha significa sacrifício. O Espírito
Santo dá poder à igreja para que possa proclamar as
boas-novas de Jesus Cristo—mesmo que isso signifi­
que grande sacrifício. Em verdade, nos países em que
a igreja se sacrifica ao máximo, seu testemunho é
muitíssimo poderoso.
b. No grego clássico, a palavra significa uma pessoa
que testemunha num julgamento. As testemunhas de
maior credibilidade são as que conhecem, de primeira
mão, determinado acontecimento. Se uma testemu­
nha no tribunal meramente repete o que ouviu al­
guém dizer, seu depoimento é considerado testemu­
nho auricular ou testemunho de ouvido. E tido como
inaceitável e eliminado dos registros da corte.
O Espírito Santo concede poder à igreja para
£ o futuro 185
experimentar, em primeira mão, o esplendor e a glória
de Cristo. Com isso ela pode proclamar as boas-novas
do Senhorio de Cristo como testemunha ocular. Este
testemunho é, a um tempo, seguro e crível.
c. A testemunha devia ser específica: “Minhas
testemunhas.” O Espírito Santo deu à igreja poder
para testemunhar as boas-novas de Jesus Cristo. Ela
não devia pregar nenhuma outra mensagem. Con­
quanto o evangelho tenha implicações sociais, políti­
cas e econômicas, a mensagem fundamental da igreja
tem de permanecer: “Jesus Cristo, e este crucificado.”
A vida de Paulo é um exemplo perfeito deste ponto.
Os capítulos 17 e 18 de Atos revelam a história de
duas cidades, Atenas e Corinto. Atenas era o centro
intelectual do mundo ocidental. Corinto era um pode­
roso centro industrial.
Em Atenas, viajando sozinho, Paulo proclamou o
evangelho usando seu poder intelectual. Em Corin­
to—acompanhado por Timóteo, Silas, Áqüila e Prisci­
la—Paulo proclamou o evangelho não só de forma
racional, mas no poder do Espírito Santo. Em Atenas,
a estada de Paulo foi breve. Em Corinto, ele permane­
ceu seis meses.
Não temos conhecimento de nenhum grande mila­
gre ocorrido em Atenas. Em Corinto, a situação foi
diferente. “A minha palavra e a minha pregação não
consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria,
mas em demonstração do Espírito e de poder” (1
Coríntios 2:4). Em Atenas, o relato bíblico não indica
que se tivesse estabelecido uma igreja. Em Corinto,
estabeleceu-se uma igreja forte e cheia de dons,
embora mais tarde se dividisse em facções. Se a igreja
quiser experimentar o crescimento dinâmico, é preciso
que reconheça, como um corpo, a promessa de
Cristo. O desejo do Senhor é que a igreja proclame a
mensagem com poder, de sorte que o mundo céptico
186 Muito mais do que números
tenha um testemunho claro.
Talvez o mundo inteiro não responda com fé; mas,
o mundo todo deve receber um testemunho claro
antes do fim da presente era.
6. Restauração da unidade
Durante muitos anos tem-se pregado, escrito e
orado a respeito de João 17:24. Não obstante, o
grande alvo da unidade cristã ainda está por atingir.
Historicamente, o maior obstáculo que o Cristianismo
tem tido nas partes não evangelizadas do mundo são
as muitas vozes que o proclamam, mas que se opõem
umas às outras.
Antes que possamos vencer as forças que nos
dividem, devemos entender quem somos em Cristo.
Na carta aos Efésios, Paulo revela vinte fatores que
representam a igreja em Cristo. O que se segue é um
comentário de versículo por versículo de trechos
escolhidos de Efésios.
1. Escolhidos (1:4). Não somos cristãos porque
escolhemos a Cristo, mas, sim, porque ele nos esco­
lheu.
2. Santos (1:4). A intenção divina é que sejamos
um povo santo, o que significa sermos separados para
o serviço divino.
3. Irrepreensíveis (1:4). Por causa da cruz, estamos
livres de toda culpa diante de Deus.
4. Predestinados (1:5). Fomos predestinados a ser
conformes à imagem de Cristo.
5. Favorecidos (1:6). Nossa união com Cristo
levou-nos ao favor divino.
6. Herança de Cristo (1:11). Somos a herança que
Cristo recebeu depois de morrer e ressuscitar dos
mortos.
7. Preordenados (1:4). Deus quis que pertencêsse­
mos a Cristo antes mesmo da criação do mundo.
E o futuro 187
8. Louvor (1:12). A intenção é que sejamos um
louvor que traga glória ao Pai.
9. Selados (1:13). O Espírito Santo selou-nos com
segurança.
10. Propriedade de Deus (1:14). Já não somos de
nós mesmos, mas fomos comprados por bom preço.
11. Sentados (1:20). Estamos sentados no trono de
Cristo, muito acima de toda autoridade na era presen­
te e na futura.
12. Seu corpo (1:23). Compomos a presença física
de Cristo neste mundo.
13. Sua plenitude (1:23). Ele é ainda tão pleno
neste mundo como somos plenos em sua igreja.
14. Vivos (2:5). Fomos criados com percepção
espiritual.
15. Feitura dele (no grego, “poema” — 2:10).
Somos obra-prima da sua criação para trazer glória ao
Grande Senhor.
16. Concidadãos (2:19). Somos agora concidadãos
dos santos do Antigo Testamento do Israel de Deus.
Temos plenos direitos e privilégios.
17. Membros da família de Deus (2:19). Estamos
incluídos entre os parentes mais chegados de Deus.
Somos aceitos como parte de sua família.
18. Seu santuário (2:21). Somos parte de sua
habitação divina.
19. Co-herdeiros (3:6). Somos co-herdeiros com
Cristo. Portanto, herdamos o que Cristo herdou.
20. Somos seu exército (6:11-17). Foi-nos dado
armamento defensivo e ofensivo com o qual podemos
combater vitoriosamente a Satanás.
Expus essas vinte posições que desfrutamos em
Cristo porque devemos reavaliar o que somos a fim de
vermos o que não somos. Examinando brevemente os
títulos que recebemos em Efésios, podemos notar
uma similaridade esplendorosa: Não alcançamos ne-
188 Muito mais do que números
nhuma das vinte condições por nossos próprios esfor­
ços. Elas nos foram dadas por Deus como resultado da
obra de Cristo.
Não podemos vir a ser aquilo que Deus já nos fez
por sua graça. Por conseguinte, é evidente que nós,
por nossa própria força, não podemos ser nada sem a
graça de Deus. Isto é de suma importância ao
examinarmos o assunto da unidade.
Um princípio penetrante, que tem orientado meu
ministério durante vinte e cinco anos é este: “Ache o
rio da vontade de Deus. Nade nele até à metade e
deixe que a vontade divina o faça flutuar na direção de
seu divino propósito.” Creio ser isto que o autor da
epístola aos Hebreus tinha em mente quando fala de
descansar. O descanso não é passivo, mas ativo.
Contudo, não é atividade ou esforço de nossa parte. É
a vontade de Deus, operando em nós, que alcança
resultados duradouros.
7. A unidade do Espírito Santo
“Esforçando-vos diligentemente por preservar a
unidade do Espírito no vínculo da paz” (Efésios 4:3).
O problema da união que muitas igrejas têm tentado
realizar é que seus esforços, conquanto nobres, são
humanos.
A igreja do Novo Testamento não se achava
dividida em denominações rigidamente estruturadas.
Ainda assim, as forças que causaram cismas denomi-
nacionais estavam operando.
Uns seguiam a Paulo, outros a Apoio. Alguns
favoreciam à adesão de Pedro à lealdade judaica;
outros, porém, praticavam a liberdade de Timóteo.
A diferença estava em que a igreja primitiva tinha
um jeito de lidar com os conflitos e diferenças
doutrinárias. Os concílios podem não ter tido êxito em
mudar as tendências naturais dos santos primitivos,
£ o futuro 189
mas conseguiram manter a unidade pelo espírito de
comunicação e companheirismo.
A ordem é que preservemos a unidade do corpo de
Cristo. Efésios 4:3 possui três aspectos que precisam
ser estudados aqui.
1. A unidade que devemos preservar é aquela
produzida pelo Espírito Santo. O Espírito Santo é
espírito de harmonia, e não de discórdia. Toca todos
os que estão em sincera comunhão com ele visando à
unidade. A unidade é uma atitude mental. Não quer
dizer que sempre estamos em comunhão ininterrupta
com as demais partes da igreja. Significa que estare­
mos numa atitude de cooperação.
2. Devemos preservar a unidade. A palavra original,
traduzida por preservar, deriva seu significado das
ações de uma sentinela. Nossa atitude deve ser de
vigilância. Temos de estar cônscios, acordados, infor­
mados, alertas. A sentinela não pode dormir enquanto
em serviço. Paulo diz que devemos preservar a
unidade porque essa é a única coisa que Satanás pode
sempre atacar com êxito. Destruindo a unidade,
Satanás não precisa temer nossa força.
3. O que mantém a unidade é a paz. Tranqüilidade
é uma das mais difíceis atitudes que somos chamados
a apresentar. Os cuidados deste mundo podem des­
truir com muita facilidade a nossa paz. Uma vez
perturbada esta, já não nos mantemos vigilantes em
preservar a unidade do Espírito Santo. Assim, é de
suma importância conservar o coração em paz.
8. A unidade da fé
O corpo de Cristo será, finalmente, considerado
maduro quando a igreja chegar à unidade da fé. “E
ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para
profetas, outros para evangelistas, e outros para
pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos
190 Muito mais do que números
santos para o desempenho do seu serviço, para a
edificação do corpo de Cristo, até que todos chegue­
mos à unidade da fé e do pleno conhecimento do
Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da
estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4:11-13).
Conforme eu já disse, a finalidade do ministério é
preparar os leigos. Mas a missão de treinamento deles
só se completará quando nós, como igreja universal,
chegarmos a uma compreensão mais completa de
Cristo.
Este alto e supremo alvo será alcançado quando
chegarmos à unidade da fé.
Os primeiros crentes estavam reunidos num local e
eram unânimes em sua maneira de proceder, quando
o Espírito Santo concebeu a igreja. Como crianças,
eram idealistas, mas ingênuos.
No fim do século vinte temos a mesma oportunida­
de com o mesmo Espírito Santo que deu início à
igreja. Ele está trabalhando para aperfeiçoá-la. Temos
dois mil anos de história para estudar e entender. Não
temos escusa se repetirmos os erros do passado.
A unidade coletiva conduzirá a um poder renovado
da mensagem e do ministério, que levará a uma
compreensão ilimitada. Esta nova compreensão nos
introduzirá na maturidade coletiva que Deus está
aguardando. O futuro não será facil. Mas é possível
que toda expressão local de Cristo cresça tanto
espiritual como numericamente.
O processo de restauração está funcionando. A
restauração não é de origem humana, mas demanda
preservação de nossa parte. O movimento de cresci­
mento da igreja é parte integrante do processo de
restauração. Pois, como podemos observar, os desa­
fios do futuro devem ser enfrentados numa base de
igreja por igreja. O crescimento cristão significativo é
realizado individualmente em cada comunidade dota-
E o futuro 191
da de poder pelo Espírito Santo de Deus.

CONCLUSÃO

Procurei, neste livro, elaborar um guia para o


crescimento da igreja, baseado nos meus vinte e seis
anos de ministério. Passei centenas de horas orando a
respeito do material que incluí nestas páginas. Meu
desejo é que o leitor receba bênçãos de sua leitura.
Agora que você completou a leitura do livro, por
favor, ore para que o Espírito Santo lhe conceda a
graça e o poder de pôr em prática as lições que
aprendeu. Se não usar o que eu transmiti, então a
leitura terá sido de pouco valor.
A quem muito se dá, muito lhe será exigido. Se
você leu e compreendeu o que eu disse, Deus o fará
responsável. Caso tenha perguntas, escreva-me para
o escritório de Nova Iorque:
Church Growth International
Post Office Box 3434
New York, N.Y. 10163 — E.U.A.
Impresso nas oficinas da
Editora Betânia S/C
Venda Nova, MG

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