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Implicit Bias in the Judiciary: Confronting the problem through normalization by Meagan Biwer

Eduardo Castelo Branco e Silva

O texto cuida de expor os vieses implícitos em juízes e, depois propor formas de combater esses
vieses. Juízes não tem consciência de seus vieses implícitos e permanecem vítimas destes. Tais vieses
afetam o desempenho dos deveres dos membros do Judiciário e devem ser encarados sem estigmas
para permitir sua diminuição. O modelo clássico de neutralidade do juízo prega que um juiz pode
incorporar ideais de objetividade e imparcialidade contanto que ele ponha de lado seus vieses
pessoais. Isso gera uma crença que juízes decidem de forma justa, objetiva, e de uma forma que
harmoniza os fatos e questões jurídicas presentes. Tal virtude de neutralidade deve ser tanto
objetiva, nos fatos desempenhados pelo juízo, como subjetiva, através da aparência de neutralidade,
para legitimar este nos olhos do público. Um juiz que manifesta preconceitos em um processo
prejudica a noção de justo e traz prejuízos para a imagem do Judiciário. A questão apresentada no
texto é o que fazer quando este viés não é fácil de detectar ou erradicar.

O texto descreve o viés implícito como associações estereotípicas tão sutis que pessoas talvez nem
percebam que as tem, e tem uma relação com heurísticas usadas na evolução para facilitar nossa
capacidade de reação a ameaças. O Implicit Association Test (IAT) é um método de pesquisa que
mede a força das associações subconscientes comparada com a quantidade de tempo que o
indivíduo demora para tomar uma decisão. Indivíduos mesmo juízes, agem de acordo com esses
vieses e, ainda, adotam postura defensiva quando confrontados, negando ou alocando
responsabilidade a outros fatores que não eles mesmos.

Como solução, temos educar sobre a presença dos vieses, o que é problemático quando a pessoa
não acredita na força dos próprios vieses, o que pode gerar resistência; deliberações mais demoradas
e racionais, que tem um problema de homogeneidade de grupo, além dos riscos associados;
diversidade da composição dos órgãos julgadores e das perspectivas judiciais, que, infelizmente, não
demonstraram uma mudança significativa dos índices de vieses no IAT; e, por último, a sugestão
dada pela autora, da normalização do viés implícito em que, reconhecendo sua existência em um
sentido institucional, este pode ser enfrentado.

Em primeiro lugar, não vejo diferenças entre a solução da educação e da normalização visto que, em
ambos, requer um reconhecimento institucional da existência. Em segundo lugar, a força dos vieses
não sugere sofrer qualquer alteração, seja via instituição de um enunciado na norma, ou não. Há,
ainda, o problema da resistência e da racionalização dos vieses, que permanece intocada na solução
dada. Como agir no caso de um julgamento enviesado? Como detecta-los de forma mais eficiente? E
os estigmas envolvidos? Qual grupo seria responsável? Como garantir a lisura deste grupo? Várias
questões que não são abordadas no texto de forma satisfatória. No fim, a autora reconhece o
problema, enumera esforços e as dificuldade de cada um, mas ela, por si só, não consegue êxito em
sua missão da proposta.

Implicit Bias in the Courtroom by Kang et al.

Eduardo Castelo Branco e Silva


O texto visa demonstrar o impacto do viés implícito no processo de tomada de decisões de juízes,
júri, promotores e defensores públicos (com limitações quanto a esses dois últimos) em
procedimentos criminais e cíveis e, depois, apresentar diferentes estratégias de intervenção para
dirimir esse viés de diferentes formas. O primeiro capítulo apresenta o que é viés implícito, como ele
pode se manifestar, efeitos do mesmo, sua forma sutil de influência e como os Implicit Association
Tests (IATs) podem ser usados para verifica-lo e, de certa forma, mensurá-lo em grupos.

A primeira trajetória, a criminal, começa com os parâmetros de abordagem feitos por policiais e se a
tendência de detecção de comportamento suspeito, ou o tempo de reação para atirar é diferente no
caso de minorias étnicas. Os estudos indicam que sim, com uma associação negros = armas maior do
que com brancos = armas. O tempo de reação para atirar contra negros, também, era menor. A etnia
do policial não influenciava, tendo policiais negros a mesma propensão que brancos. A discrepância
de tratamento prossegue no caso de recebimento de denúncias e pedidos de acordo, com negros
tendo mais probabilidade de serem sujeitos ao processo penal que brancos, e costumam ter acordos
piores. Pela natureza da questão, entretanto, não foi possível para os pesquisadores fazerem estudos
conclusivos concretos. No caso do júri, jurados de uma etnia tendem a mostrar vieses contra réus de
outra etnia com, inclusive, um estereótipo implícito de correlação entre negro e culpado. No caso
dos juízes, a tendência prossegue, mas com uma certa diferença: juízes com viés pro-brancos (não
confundir com antinegros) não parecem ser influenciados pela etnia, mas, no caso de juízes negros,
os que tinham um viés pro-negros eram menos prováveis de condenar réus negros e juízes negros
pró-branco eram mais prováveis de condenar réus negros. No caso do sentenciamento, a tendência
de negros serem pior tratados que brancos continua, mas com um detalhe: Não foi vista diferença
formal entre brancos e negros em si, mas quanto mais afrocêntricas eram as feições do condenado,
mais dura era a punição.

No caso da trajetória civil, esta focou em casos relacionados a discriminação no emprego e questões
relacionadas a demissões imotivadas e discriminações no ambiente de trabalho. Estudos indicavam
que há fator de discriminação entre etnias e gênero. Quanto maior o estereótipo implícito de gênero,
menos contavam outros fatores, como habilidades de sociabilidade. Ainda, foram detectadas
mudanças nos parâmetros usados para avaliar com base na predileção do avaliador. Este iria mudar
seus parâmetros na hora para justificar sua predileção. Tal viés também se manifestava quando o
trabalhador não se encaixava no “tipo ideal” esperado para o profissional.

Sobre estratégias de intervenção, para juízes, os autores sugerem exposição de indivíduos a contra
exemplos para diminuição do viés; diminuir a presunção de competência e capacidade de fazer
decisões imparciais, lembrar da humanidade e da falibilidade do decisor; aumentar a motivação do
indivíduo para ser justo, no texto sugerindo conscientização e explicação da natureza dos vieses;
melhora das condições para a tomada de decisões, com responsabilização no caso de erros, e
garantias de ambiente adequado.

Para júris, as estratégias são verificar aqueles que apresentam vieses muito elevados relevantes para
o caso em questão; diversidade do júri; educação sobre a existência do viés implícito; e mudança de
perspectivas para garantir uma multiplicidade de pontos de vista.

O texto demonstra, comparativamente, como o estudo de vieses para com juízes está mais evoluído
que para os outros profissionais ligados ao Judiciário, pois frequentemente levanta problemas de
limitações de verificação e escassez de dados quando não envolvem juízes ou policiais no estudo.
Ainda que pode ser justificada tal falta pela questão da natureza do trabalho e das questões
relacionadas a sigilo e estratégia profissionais, o problema permanece. As soluções, também, são
mais sugestões sem levar em consideração aspectos práticos que podem ser problemas de aplicação
e a viabilidade delas, sendo mais uma lista de sugestões do que uma lista de propostas concretas
propriamente ditas.

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