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II – Literatura mesopotâmica
Sua autoridade conduz longe, Sua palavra é sublime e sagrada! O que ele decide é
imprescritível: Ele designa sempre os destinos dos seres! (...) Ele é o grande e potente
Soberano/ Que domina o Céu e a Terra/ Que sabe tudo e que compreende Tudo”
(Falkenstein Sumerische Götterlieder , I, p. 11 apud BOTTÉRO, Jean Mésopotamie, pp.
377-378) Já percebemos, então, preocupações da esfera religiosa no ofício dos escribas.
3 – O Código de Hammurabi
Reforma Política e ‘Jurídica’ de Hammurabi
Hammurabi sucedeu seu pai como soberano da Babilônia em 1792 a. C. (séc. XVIII a.
C.). Hammurabi foi um grande conquistador (pois venceu muitos outros soberanos, entre
eles Rimsin de Larsa) e administrador: regulagem do curso do Eufrates; construiu e
conservou canais para irrigação e navegação, incrementou assim a produção agrícola e o
comércio.
Sobre o código: “O exemplar mais importante é, hoje, a Estela de diorito negro, com
2,25 m de altura, encontrada pela expedição arqueológica francesa de J. de Morgan (...)
Essa Estela encontra-se atualmente no Museu do Louvre.” (BOUZON, E. O Código de
Hammurabi. Petrópolis: Vozes, 1986, p. 24)
Não podemos considerar a obra de Hammurabi como um ‘código’ no sentido
moderno (coleção completa de todo o direito vigente ou parte dele). “(...) o texto da estela
de Hammurabi devia ser considerado, não como um código de leis, mas como uma obra
literária da escola babilônica. (...) a existência de um determinado esquema literário que
parece ter servido, também, aos escribas de Hammurabi na confecção do texto da Estela.
Esse esquema apresenta uma divisão tripartida em prólogo, corpo das leis e epílogo. (...) No
prólogo são mencionados as medidas sociais que o rei implantará e que o tornarão glorioso
entre os reis. (...) O epílogo continua a descrição das diversas atividades de Hammurabi em
prol da justiça e do bem-estar de seu povo, fala, também, da finalidade de sua obra e
termina com o pedido de bênçãos para todos os que respeitarem as prescrições da Estela e
de maldição dos deuses para quem tentar aboli-las. (...) a preocupação do rei pela justiça e
(...) suas inúmeras sentenças e decisões para salvaguardar o direito de seus concidadãos.”
(pp. 26-27) Hammurabi, pelo conteúdo da estela, pode ser visto atuando como juiz. A parte
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legal da Estela (dividida em parágrafos) pode ser dividida da seguinte maneira: determinam
as penas a ser impostas em alguns delitos praticados durante um processo judicial;
determinam a penas para lesões corporais; regulam preços e salários; regulam o direito
patrimonial; regulam o direito de família, filiação e heranças, etc. (p. 29)
Então o ‘Código’ está dividido em 1 – Prólogo, 2 – Leis e 3 – Epílogo.
O ‘Código’ consiste em 282 regras com base na tradição e costume relativas às
questões de família, de trabalho e de comércio. O seu valor se deve ao reconhecimento do
direito e dos deveres dos indivíduos independente de seu estatuto social e por ter legado tal
conceito para as sociedades ocidentais. O uso da lei deixa de ser um privilégio de alguns
para atingir toda a comunidade (um direito de todos). Talvez quando comparado com as
leis modernas, o ‘Código’ deve parecer extremamente severo em suas penalidades pelo fato
de constar como punição a mutilação e morte daqueles que ultrapassavam os limites da lei:
Na parte das Leis vejamos o parágrafo 6: “Se um awilum [cidadão] roubou um bem
(de propriedade) de um deus ou do palácio: esse awilum será morto; e, aquele que
recebeu de sua mão o objeto roubado, será morto”. Isso quer dizer que tanto o que
roubou, quanto aquele que recebeu do ladrão o objeto serão mortos. Ainda mais objetos
revestidos de caráter sagrado (de um templo).
192 – se um filho adotivo disser para o seu pai ou mãe – você não é meu pai/mãe –
sua língua deve ser cortada.
218 – “Se um médico fez em um awilum [cidadão] uma operação difícil com um
escapelo de bronze e causou a morte do awilum ou abriu a nakkaptum [arco acima
da sobrancelha] com um escapelo de bronze e destruiu o olho de um awilum, eles
cortarão a sua mão.”
219 – “Se um médico fez uma operação difícil com um escapelo de bronze no escravo
de um muskênum [homem livre com poucos recursos] e causou-lhe a morte, ele
deverá restituir um escravo como o escravo (morto).”
229 – “Se um pedreiro edificou uma casa para um awilum , mas não reforçou o seu
trabalho e a casa, que construiu, caiu e causou a morte do dono da casa, esse
pedreiro será morto.”
230 – “Se causou a morte do filho do dono da casa, matarão o filho desse pedreiro.”
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231 – “Se causou a morte de um escravo do dono da casa, ele dará ao dono da casa
um escravo equivalente.”
232 – “Se fez perder bens móveis, compensará tudo que fez perder e, porque não
reforçou a casa que construiu e ela caiu, deverá reconstruir a casa que caiu com
seus próprios recursos.”
Sobre o rito do casamento:
159 – “Se um awilum , que já enviou para a casa de seu sogro o presente nupcial e já
pagou a terhatum [preço que o pai do noivo pagou ao pai da noiva], deixou-se atrair
por uma outra mulher e disse ao seu sogro: ‘Não tomarei tua filha por esposa’, o pai
da filha levará consigo tudo o que lhe foi trazido.”
160 – “Se um awilum enviou o presente nupcial à casa do sogro e pagou a terhatum
e o pai da filha disse: ‘Não te darei minha filha’, ele restituirá o dobro de tudo que
lhe foi trazido.”
Sobre o adultério:
129 – “Se a esposa de um awilum foi surpreendida dormindo com um outro homem,
eles os amarrarão e os lançarão n’água. Se o esposo deixa viver sua esposa, o rei,
também, deixará viver seu servo.”
131 – “Se o marido acusou sua esposa (mas) ela não foi surpreendida dormindo com
outro homem, ela pronunciará o juramento de deus e voltará para sua casa.”
153 – “Se a esposa de um awilum , por causa de um outro homem, fez matar o seu
marido, essa mulher será empalada.”
Incesto: 154 – “Se um awilum teve relações sexuais com sua filha, eles farão esse
awilum sair da cidade.”
Sobre o divórcio:
136 – “Se um awilum abandonou a sua cidade e fugiu e depois sua esposa entrou na
casa de um outro, se esse awilum voltou e quis retomar sua esposa, a esposa do
fugitivo não retornará a seu esposo, porque ele desprezou a sua cidade e fugiu.”
138 – “Se um awilum quer abandonar sua primeira esposa, que não lhe gerou filhos,
dar-lhe-á a prata correspondente à sua terhatum e restituir-lhe-á o dote que trouxe
da casa de seu pai; (então) poderá abandoná-la.”
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139 – “Se não há terhatum , dar-lhe-á uma mina de prata como indenização do
repúdio.”
140 – “Se é um muskênum , dar-lhe-á 1/3 de uma mina de prata.”
142 – “Se uma mulher tomou aversão a seu esposo e disse-lhe: ‘Tu não terás
relações comigo.’, seu caso será examinado em seu distrito. Se ela se guarda e não
tem falta e o seu marido é um saidor e a despreza muito, essa mulher não tem culpa,
ela tomará o seu dote e irá para a casa de seu pai.”
143 – “Se ela não se guarda, mas é uma saidora, dilapida sua casa e depreza o seu
marido, lançarão esta mulher n’água.” Ou seja, caso os juízes da região
administrativa constatem que a mulher não quer ter relações sexuais com seu marido e
é adúltera, ela será reconhecida culpada e condenada à morte por afogamento.
Os três termos que indicam diferenciação social na Mesopotâmia de Hammurabi:
1 – Awilum (cidadão/ homem livre): camada mais ampla da sociedade babilônica. Nela
eram recrutados os funcionários, os escribas, os sacerdotes, os comerciantes, os
profissionais liberais, os trabalhadores rurais e grande parte dos militares. Havia awilum
detentor de riquezas e também pequenos camponeses.
196 – “Se um awilum destruiu o olho de um (outro) awilum, destruirão o seu olho.”
197 – “Se quebrou o osso de um awilum , quebrarão o seu osso.”
202 – “Se um awilum bateu na face de um awilum que lhe é superior, será açoitado
60 (vezes), na assembléia, com um chicote (de couro) de boi.” Aqui vemos a
diferenciação social no interior da esfera de awilum (cidadão).
2 – Wardum (escravo) – representava a minoria da sociedade: eles eram obtidos em
campanhas militares, com a captura de prisioneiros de guerra ou em ‘razias’ realizadas nas
regiões montanhosas.
199 – “Se [um awilum] destruiu o olho do escravo de um awilum ou quebrou o
osso do escravo de um awilum , pesará a metade de seu preço.”
205 – “Se o escravo de um awilum bateu na face de um awilum , cortarão a sua
orelha.”
3 – Muskênum – grupo intermediário entre o awilum e o wardum. Pode ser considerado
um pobre/ homem livre com poucos recursos.
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