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CRUZEIRO DO SUL

ORGAM REPUBLICANO
PROPRIEDADE DE UMA ASSOCIAÇÃO
REDACÇÃO
RUA. MONSENHOR J. SOARES, 25
Expediente
ASSIGNATURAS:
ANNO.............. 12$000
SEMESTRE:...... 8$000
PARA FÓRA
ANNO..................... 14$000
SEMESTRE.............. 8$500
Nossas columnas são francas aos
escriptos de utilidade publica.
PREÇO DAS PUBLICAÇÕES
Editaes, linha ................. 100 rs.
Secção Livre .................. 150 “
A’ Redacção cabe o direito de corrgir ou não publicar os
artigos que julgar conveniente, ou que não estiverem de accordo
com o nosso programma.
Os artigos da Secção Livre devem vir legalisados.
Fazemos hoje larga distribuição da nossa folha rogando ás
pessoas que não nos queiram honrar com suas assignaturas, o
obsequio de devolvel-a.

Sx 12/6/1903 Edição nº. 1 do jornal.

Nosso Programma
De longa data acariciavamos a idéa de publicar uma folha que não estivesse adstricta a
conveniencias de partidos politicos: que existisse por si, sem depender senão do apoio publico; que dissesse o
que precisa dizer, e que defendesse com hombriedade (sic) os interesses do Direito e da justiça. Essa idêa
realisamos agora com a publicação do Cruzeiro do Sul.
Apparece sem outros intuitos senão o de cooperar para o engrandecimento da terra onde vê a luz. E.
se tanto conseguir, ainda mesmo em diminuta parcella, dar-nos-emos sobejamente recompensados.
Não é orgam partidario; é uma folha republicana e nada mais.
Acolherá em suas columnas os artigos de utilidade publica.
Até onde lhe fôr possivel, defenderá com independencia os direitos do povo, garantidos pela Lei, e
pugnará em pról das classes opprimidas.
Não irá provocar discussões de caracter privado, nem a ellas dará abrigo.
Quando no desempenho de nossa missão, tivermos de entrar na critica e na apreciação dos actos
publicos, o faremos na região serena dos principios, sem rancor e sem paixão. (Pois sim!).
Esta folha é propriedade deuma associação que não viza interesses pecuniários, nem aspira posições
officiaes.
O «Cruzeiro do Sul», ao tomar humilde posição nas fileiras da imprensa, sauda cordealmente aos
seus confrades e ao publico benevolo de quem espera favoravel acolhimento.

Chronica
E o malvado velhinho, como se conta na historia do barão de Munckausen (sic), o malvado velhinho
só desejava pilhar-se ás costas do rapaz, a quem pedira para leval-o, por favor além do riacho.
Cruzou os braços e as pernas encarquilhadas no se cavallinho e lá se foi.
Passado o riacho, quem diz querer elle deixar o rapaz!
Pediu-lhe isto e aquillo; fel-o andar para todos os lados.
Á custa delle, á custa do favor, colhia fructos das arvores, andava ás voltas para cá e para lá.
Ah! si aquelle trouxa não acreditasse nas bambuseiras, na labia doce do velhaco velhinho!
Assim é, meus amigos. Nós, o povo, temos ás costas alguns... meninos bonitos, robebeques (??)
elegantes que já nos tomaram o pulso, não nos largam mais.
Farão de nós o que bem entendem.
Elles passeiam allegres, fumam os charutinhos mais caros e perfumosos e o povo, esse pobre
lavrador que vê o suor do seu rosto, a seara que custou tantos sacrificios, devorada pela praga, só tem
lagrimas de soffrimentos.
E todos esses bons viventes incensam-se mutuamente, com esse incenso interesseiro.
Qual! Não ha nada como puxar!
Mas sabes de uma cousa, oh meu amigo que incensas o Lulú?
O Lulú, o teu inseparavel em carne e osso, o teu doirado botão de ouro, o alfinete precioso de teus
ciumes, o teu thesouro, que se não julgue sempre senhor destas terras do Sarutayá.
E sabes de uma cousa? O Pelludo tambem é capaz de occupar chapeu duro, art nouveau, frak e
calcinha de pescar siri.
Depois ficará tambem gordinho, até com um non mi toques no andar.
Do contrario será sempre o Pelludo, de girasol na lapella do paletot, circumcisflautico, macambusio
e ás vezes mimico.
Com que então pensas que estamos na Somalilndia, no Moçambique ou na Guiné?
Ah! Não ha mal que sempre dure nem bem que não se acabe.
Deixe estar jacaré! A lagoa ha de seccar.

O pão
Em todas as cidades e centros civilisados se tem cuidado com especial interesse do alimento mais
substancial, mais util para nós – o Pão, que não pode faltar na mesa do rico nem do proletario.
Deve, pois, merecer toda attenção da edilidade que procura o adiantamento da cidade.
Para isso seria um acto digno de louvor, que a nossa Municipalidade fizesse empenho em zelar pelo
fabrico (seguem palavras apagadas) a cada uma.
Assim seriam cohibidos alguns abusos.
Para tudo temos medida e porque não será regularisado o preço e o peso do Pão.
Impossivel pensamos não ser esta nossa opinião perante os senhores edis que devem-se honrar com
todo trabalho honesto e criterioso que redunde em beneficio do povo.

O Jury
Não póde passar despercebida a ultima sessão do Jury desta comarca, quanto á parte que cabe aos
cidadãos no cumprimento da lei
Ser jurado é uma nobreza.
Da consciencia dos juizes de facto é que depende a libertação de um innocente ou o castigo de um
criminoso.
Occultar-se o cidadão do cumprimento de um dever sagrado é não querer sacrificar poucos minutos
em pról da victoria da justiça.
O mais das vezes não ha numero nas sessões: adiam-se sempre e esses pobres lavradores,
testemunhas que vem de longe, soffrem porque têm de pagar a mesa, o leito onde dormem, deixando seus
afazeres, prejudicando seus interesses.
Por isso é que escrevemos estas linhas, pedindo mais escrupulo na concessão de attestados medicos
e pedindo aos senhores cidadãos que se lembrem de que o jury é a instituição mais nobre que conhecemos, é
o tribunal venerando.
Cumpra-se a lei.

Piadas

Seu fiscal que faz agora?


Não vê a enorme cachorrada,
insupportavel, damnada
que a todo minuto e hora
vaga ... (ilegível por descoramento)... cidade
(idem)
(ibidem) agora pra caipora?
Nada enxerga e nada vê?

Senhor intendente tenha


mais cuidado por favor
O capinzal, ó que horror!
é grande calamidade;
cresce por toda a cidade;
até na rua da Penha
cresce com grande vigor!
Senhor intendente venha;
venha vêr, faça o favor.

Alli, bem na rua, á porta


da cadeia no primeiro
dia de junho eu vi morta
gallinha exalar bom cheiro;
alli bem na rua, á porta
da cadeia, bem na frente
da Camara, junto e rente,
bem aos olhos do intendente!
E todo o povo passou,
Sentindo o gostoso cheiro
e, alli, todo o dia inteiro
a tal gallinha ficou.
CORUJA

Guarda Nacional
A organisação da guarda nacional, como tem sido (apagado) uma verdadeira (apagado). Não
havendo ali pessoal sufficiente para formar brigada e nem desejos para satisfazer vaidades, saltaram por cima
da lei do alvará, ultimamente publicado, do Ministro do Interior, declarando só poderem ser nomeados
officiaes da guarda nacional, pessoas residentes na comarca.
Quando vimos publicada a lisa dos noeados officiaes para a brigada d’aquella localidade, notámos
incluidos nomes de pessoas notoreamente residentes na Capital e Juquery, mas levando em vista os
residentes neste municipio, que embora residam na comarca, não deviam ser utilisados naquella brigada,
porque lhes vae ser muito difficil o serviço.
E’ verdade que este procedimento, comquanto abusivo, foi baseado sobre um precedente, que não
serve de regra, pois um abuso não auctorisa outro. Refiro-me á visinha comarca da Piedade, para cuja guarda
nacional foram nomeados muitos cidadãos desta cidade, entre elles alguns empregados publicos.
Que prova isto? Que os directorios locaes, querendo a todo o transe formar brigada sem terem
pessoal para isso, vão lançando mão do pessoal mais visinho e, dada a boa vontade de possuirem patentes,
tudo cáe a talho.
Prova mais esta minha asserção a falta de pessoal e menos, prezo á lei que até o vigario foi
contemplado no posto de tenente-coronel de um dos corpos alli organisado. Felizmente, porém, elle soube
conhecer a sua exempção, não acceitando.
E’ verdade que este precedente não achou quem o apadrinhasse, como os outros e, neste caso, foi o
vigario de Campo Largo esquecido.
Em compensação, porém, foi ali commettido grave abuso da lei, nomeando-se officiaes da guarda
nacional, praças de pret, que são exceptuadas de alistamento, segundo disposição dos artigos 10 e 17 da lei
602 de 17 de Setembro de 1850 e decreto n. 722 de 25 de Outubro de 1850, que, além de outros mencionados
nella diz: «officiaes e praças effectivas do exercito e armada, dos corpos policiaes pagas.»
Na nova revisão feita da lei da guarda nacional, os artigos citados, não foram alterados, estando
porisso em pleno vigor.
Assim sendo, não posso comprehender a posição destes nomeados, que julgo incompativeis com os
postos da guarda nacional, collocadas na difficuldade de não saberem a quem obedecer.
Ora; figuremos uma hypothese, que não deixa de ter cabimento:
E’ chamado um destes officiaes para serviço na séde do commando superior, cujo serviço o prenda
por tres, quatro ou mais dias. Pode este official abandonar o destacamento, que está sob o seu commando,
para attender ao serviço da guarda nacional?
Não importa este facto em abandono do destacamento?
Neste tempo em que este official se acha ausente, não póde o seu superior, commandante da força
publica, chamal-o incontinente para a capital?
Qual o proceder deste official que lhe chamo mixto? É soffrer as consequencias de sua má
comprehensão em se metter entre duas amarras.
É sabido que as praças da força publica tem um contracto firmado de engajamento por tres annos,
para prestarem os seus serviços, segundo a designação de seus superiores e, em quanto não expirar o praso ou
não forem rebaixados por qualquer penalidade, não podem dispor de sua pessoa em serviços de outra ordem
a que estão sujeitos.
Se estes abusos se forem assim dilatando, nãoé de estranhar, vermos muito breve, um alferes ou
capitão de sabre á cinta como ordenança de auctoridade, ou mesmo acompanhando presos a fazer limpeza de
cadeia.
Estes factos, estas desorientação, é falta de comprehensão da lei, têm sido feitos com fim todo
proposital, ora a satisfazer vaidades, ora a recompensar serviços partidarios, o que faz descer o homem da
pratica de seus deveres, para o terreno do interesse mesquinho e desrespeito á letra escripta da lei.
Não é sem fundamento, que avanço a assim pensar, porque os factos o demonstraram
evidentemente.
Na ordem da responsabilidade de um tal auso, não attribuo a culpabilidade ao governo nem tão
pouco á commissão central que são illudidos pelos directorios locaes.
Em vista do exposto, dou a palavra, na parte que lhes interessa providencia, ao muito digno coronel
da força publica do Estado e ao directorio desta cidade, quando tenha de organisar a guarda nacional deste
municipio.
Haja muito criterio e nós seremos os primeiros a eleval-o

Directorio Politico
Estamos auctorisados a declarar que o nosso particular e prestigioso amigo Alfs. Elias Lopes de
Oliveira não faz mais parte do Directorio Politico desta cidade.

Gréve
Domingo ultimo fizeram gréve os operarios da olaria de Angelo Zepherino por falta de pagamento.

Como tivessem alguns delles comparecido á casa do Sr. Delegado João Nóbrega, este arranjou-lhes
o pagamento em tijolos.
Os operarios alegres com isto promoveram grande algazarra cujo motivo foi com certeza o alcool.
Algumas praças dispersaram a agglomeração barulhenta e quando voltavam o sr. Bernardino Telles
apresentou-lhes, como preso por ordem do Delegado, os srs. Zepherino e seu cunhado, que estavam em suas
proprias casas, porém embriagados.
Sciente disto, o sr. Delegado mandou pol-os em liberdade.

Stegomia parasitaria
Soubemos, de pessoa competente, que foi descoberto uma nova especie de pernilongos que
começam damnificando as plantas, desde a menor à maior e que nos póde transmittir molestia incuravel.
O que será?
No outro numero trataremos de satisfazer a nossos leitores.

Reclamações
Um visitante em Sorocaba, estando comnosco, censurou a Municipalidade em relação á limpeza
publica, salientando os montões de lixo que se encontram no largo da Independencia, donde exhala mau
cheiro, e tambem os pés de couve que se acham, ha uma semana, em pleno largo do Rosario.
Cumpram-se as posturas municipaes.

Pedem que reclamemos contra o barulho infernal que fazem a noite alguns desoccupados no paredão
da rua da Boa Vista.
Com vistas a quem competir.

É de necessidade urgente que a Camara colloque um mictorio no largo da Matriz, afim de acabar de
vez, com o fètido que exala das paredes lateraes da egreja.

A Sorocabana que agora se tem esmerado em bem servir o publico, mais um acto de louvor faria si
mandasse collocar algumas lampadas no largo da Estação, pois é intranzitavel em noite chuvosa
principalmente.

Para constar
Chegou o fim as festas do Divino, de que foi festeiro Cláudio Estevam de Madureira, com a missa e
a tradicional distribuição de pães aos pobres. No ano que vem, o festeiro será Joviniano Teodoro de
Oliveira, o popular Jó.
Bambuseiras é o que modernamente se chama baboseiras.
O jornal já começa brigando com o Dr. Luís Nogueira Martins, a quem trata por Lulu e o qualifica
como “senhor destas terras do Sarutayá”.
O violinista Diaz Albertini apresentou-se no Club Aymorés, executando Beethoven.
Hércules Tavares de Campos está reformando a sua casa comercial, que brevemente reabrirá. O
jornal o trata por nosso prezado amigo. Mas, em pouco tempo mudará de opinião.
Outro que o jornal está tratando por “nosso amigo” é o comerciante Francisco Loureiro, que, mais
tarde, será declarado inimigo pelos Pires. O Chico Loureiro está inaugurando a sua nova casa comercial,
no Largo da Matriz, esquina da Rua de São Bento, montada com todo o capricho e com explêndido
sortimento. O seu lema: “Ganhar pouco e vender muito”.
Houve grande visitação a São Jorge, exposto na Cadeia Pública.
Dona Maria de Barros, esposa de Francisco Manuel de Barros, está enferma.
A Companhia Dramática, do ator Couto Rocha, estreou no salão de teatro da Real Sociedade de
Beneficência Portuguesa Vasco da Gama, com o drama “José do Telhado”, de Furtado Coelho, com bom
público, apesar de ter sido anunciado à última hora.
Por diversas vezes, tem sido vista uma assombração na Rua do Cemitério.
O jornal começa a publicar em folhetim “Quo Vadis”, de Henrik Zinkiewicz.
O monte de pés de couve do largo do Rosário já foi removido.
No rodapé da segunda página, capítulo de Quo Vadis, de Henrik Zinkiewicz.
Francisco Scarpa & Filho, com casa de secos e molhados por atacado na Rua Padre Luiz, 49, em
frente ao Largo de Santo Antônio, também vende “Materiaes de agua e exgotto sem competencia”.
Na rua Mons. João Soares, 12, esquina da rua Direita, funciona o Café Restaurant, de Francisco
Scaletti.
A loja de fazenda e armarinhos de Camilo José Curi fica na Rua do Comércio, 27, esquina da Rua
da Penha.
A loja de tecido de José Curi fica na Rua Floriano Peixoto (Penha), esquina com a Padre Luís.
Artur Gomes é o autor de “Estudo dos Verbos da Lingua Portugueza baseados sobre o Latim”.
“Ao Chic Paulista”, de Januário Arcuri & Irmão, fica na rua Mons. João Soares, 23. E’ uma
alfaiataria especializada em uniformes escolares e para os ferroviários da Sorocabana.
Inácio Vecchio é barbeiro com loja na rua Floriano Peixoto, n. 48.
O Benvenuto Ferro, além de afinador de piano, fabrica harmônicas e consertinas e conserta
concertinas e quaisquer instrumentos musicais. Ele está estabelecido na rua Dr. Alvaro Soares, 61. E, desde
que convidado e bem pago, também toca em bailes.

Qa 17/6/1903 n. 2

Assim é o mundo
O espirito dos homens pende para os regosijos, para as cousas alegres, para os divertimentos. Eis ahi
a satisfação do mundo.
Nós vemos continuamente affixados pelas paredes das cidades extrondosos reclames de
espectaculos, de circos e de concertos.
As festas de junho ahi estão para a queima dos fogos.
Daqui a poucos mezes, tambem o Carnaval, ao chocalhar dos guisos (ilegível), sahirá pelas ruas da
cidade, com aquelle cynismo sem espirito, com aquella semsaboria e insipidez que lhe são peculiares.
O dinheiro para esses festejos é todo facil; dá-se com o coração grande.
E os santos, agora, neste mez, tambem vão se alegrar com as festas sem fim.
O contraste se vê entre os innumeros pobres que ahi andam pelas ruas a pedir esmolas, os doentes da
Santa Casa e a alegria dos que vivem felizes, daquelles a quem nada falta.
Aqui as senhoritas mais bem vestidas, com o luxo, com os enfeites da ultima moda, gastando
superfluamente para se apresentarem ao publico: acolá uns miseraveis que vivem desgraçadamente.
Chega uma noticia official. Vem um homem de fóra. Prepara-se o banquete.
Os convidados se reunem.
Começa a musica, espoucam os foguetes. E o dinheiro se esvae, como se esvae com o chops.
Um homem levanta a idéia de manifestação. As despesas são cobertas immediatamente. Nem se
sente a falta de dinheiro.
De tudo isto nos lembramos ao visitarmos a nossa Santa Casa de Misericordia, onde tudo demonstra
o criterio. O zelo com que é dirigida. Asseio, ventilação, temperatura e luz: por conseguinte – salubridade e
hygiene.
E’ sempre grande o número dos infelizes que nella procuram abrigo e onde encontram medicos
dedicados que lhes mitigam os soffrimentos.
A Santa Casa não tem patria. Acolhe em seu seio, como verdadeira mãe cosmopolita, o necessitado
que lhe venha bater á porta.
A Santa Casa tem a simplicidade propria dos estabelecimentos de caridade e se assemelha á mulher
criteriosa que lucta com difficuldades, mas sempre cuida de seus filhos.
Muito de outro modo são outras casas pias, semelhantes á mulher que gasta o superfluo e que vem
depois precisar do necessario.
Estas linhas escrevemos, lembrando aos verdadeiros sorocabanos, ás almas caridosas e aos homens
que desejam o bem do proximo, a minoração da sua dor.
Quando fordes gastar frivolamente o vosso dinheiro, empregando-o em festas e banquetes, voltae, ó
vós que sois de alma bondosa! voltae o seu olhar benigno para a melhor das instituições pias, a nossa Santa
Casa de Misericordia.
E quem nos affiançará que, um dia, não precisaremos della?
Assim é o mundo.

Camara Municipal
Consta-nos que os novos eleitos da Camara Municipal pretendem fazer passal-a por uma nova phase
de economia reduzindo os ordenados de seus empregados e mesmo dispensando aquelles cujos serviços são
considerados de mera conservação.
Muito bem.
Nesse ponto é que a linha pára, mas é preciso que a façam correr livremente, sem nó, e que não se
deixem levar pelas picadas da agulha, que procurarão dirigil-a para outros pontos da costura.
Dado que seja este primeiro passo, facilmente se levará a effeito este grande desideratum cuja chave
principal é a economia e boa applicação das rendas municipaes.
Até aqui não nutriamos esperança de melhora economica naquella repartição, mas agora não
pensamos assim, pois dos novos eleitos nem todos são levados a ter a mão presa por baixo da mesa
(rompido) embora digam que uma andorinha só não faz verão.
A salvação da Camara consiste na boa vontade desta, que é revestida de independencia politica e
que não foi com auxilio que alcançou uma cadeira de vereador, mas pelo reconhecimento de seus amigos,
pela sua aptidão, força de vontade, que, a bem dos interesses da cidade, tem manifestado em seus actos.
Longe de nós qualquer ideia allusiva e tampouco um polimento injusto com pretenções a um fim
qualquer.
Ella traduz francamente a nossa esperança de que teria o povo um novo sentimento.
A nossa confiança se deposita na persistencia de um soldado firme pela sua disciplina, que soffre, no
seu honroso posto, todas as contrariedades do tempo e não abandona seu lugar; morre mas não se rende.

Chronica
O bom do padre, já de cabellos brancos, porém de natureza sadia, continuamente punha as mãos á
cabeça, por causa dos afilhados traquinas.
Esses meninos insupportaveis, que elle criára com sacrificio, aproveitavam-lhe a riqueza e abriam o
titulo do reverendo em todas as lojas e armazens.
E o vigario tinha sempre de gemer, no passo triste do pagamento dos fiados.
Todo o santo dia, nem bem a cozinheira Quiteria abria as portas da casa, já os cadaveres entravam:
Eram as contas a pagar.
Não valiam as descomposturas pois os afilhados não se corrigiam, nem por um decreto.
Passavam bem: gravatinhas, tambem os charutinhos, etc. e tal.
Assim o padre virou a ca(rasgado) e cahiu no poço da pindura.
(Rasgado), seus afilhados, (rasgado) figura, rematando bandejas de doces, (rasgado) e, dia depois,
as suas (rasgado) hypothecavam.
O pobre padre agora, depois de tanto desperdicio, ainda sustenta seus afilhados.
Pobre povo! Como aguenta tantas despezas?
Ademais não sabe que é feito de tanto dinheiro, de tantos sacrificios!
Nem uma prova! Mudez completa!
Assim ve sempre gemendo o bom do padre, no passo (rasgado) do pagamento das dividas para
sustentar estes traquinas afilhados.

O Phantasma
E’ perto da madrugada. Impera o silencio. O sereno cahido sobre a cidade e (rasgado) em quando,
algum (rasgado) longamente.
Na rua do Cemiterio, junto a uma pequena cruz, cerdade de (rasgado) eu passava a sós.
(Rasgado) assassinado (rasgado longo trecho) veste alva como o lenço, ora um vulto negro.
Si algum corajoso se apresenta e segue o phantasma, este foge, desapparece, como a nuvem
correndo de leve, e paira no ar o cheiro de flôr de enxofre queimado.
Logo a pessoa sente passar-lhe por sobre a cabeça um mocho, cortando a mortalha, e um sibilo,
como o sibilo do vento na casuarina, perpassa-lhe rente aos ouvidos.
Quem não estremece de medo ante o phantasma?
Os cabellos se eriçam, o corpo resfria e os olhos escurecem, si por alli vae alguem sem saber da
alma perdida daquellas paragens.
As arvores visinhas tremem, as folhas fazem bulha e dalli sae um gemido surdo, triste como o
ultimo soluço de moribundo.
Hontem fomos verificar a apparição do phantasma.
Rompera meia-noite, romperam duas horas, e nada vimos.
Finalmente ao amanhecer, quando as nuvens coloridas se levantavam no Oriente, annunciando o
nascer do Sol, distinguimos, a cavar furiosamente um montão de terra, um cão de fórmas estranhas, que
gemia e uivava fortemente.
Approximamo-nos, de arma em punho; mas o cão desappareceu, ficando somente os montes de lixo
que se veem pela cidade onde, altas horas da noite, vaga a alma perdida da limpesa publica.

Stegomya
Todos, naturalmente, ficaram sobresaltados com a triste nova do stegomya parasitaria.
Embor não conheçaes, leitores, essa classe, segundo os termos medicos, no emtanto os conheceis de
visu, claramente.
Tem duas pernas, que podem ser rajadas ou não, conforme a qualidade do pello que os cobre.
Tem dois olhos, cabellos, bigodes e barba.
Andam por ahi, á vossa vista, e á vossa vista vão introduzindo a miseria em vossas casas.
E vós os alimentaes, por força. Tendes de satisfazer-lhes as vontades, quer queiraes, quer não
queiraes.
A culpa de quem? É vossa, porque não trataes seriamente de vossos interesses e o vosso voto cae na
urna, com aquella frieza dos homens convencidos de que tudo está desmoralisado e não tem remedio.

Piadas

Está facil que é um gosto,


o negocio de dar posto
nessa guarda nacional
Está facil que é um gosto...
Qualquer se faz official.

Digam-nos que significa,


lá no largo da Matriz,
o tal negocio de cerca.
Digam-nos que significa?
Passa o povo todo e diz:
Tudo passa e a cerca fica.

La no becco dos prazeres


cresce o capim, faz-se matto,
cria cobras, lagartixas,
pernilongo e carrapato.
Correm aguas nas sargetas,
aguas sujas sem cessar,
e de lavagem talvez.
Acabe-se isto de vez.
A cidade não se (rasgado)
é por toda parte (rasgado)
Onde iremos nós (rasgado)
Mais cuidado, mais (rasgado).

O phantama
(Longo trecho danificado, destruído)
(...) ora veste alva como o lençol, ora um vulto negro.
Si algum corajoso se apresenta e segue o phantasma, este foge, desapparece, como a nuvem
corrrendo de leve, e paira no ar o cheiro de flôr de enxofre queimado.
Logo a pessoa sente passar-lhe sobre a cabeça um mocho, cortando a mortalha e um sibilo, como o
sibilo do vento na casuarina, perpassa-lhe rente aos ouvidos.
Quem não estremece de medo ante o phantasma?
Os cabellos se eriçam, o corpo resfria e os olhos escurecem, si por alli vae alguem sem saber da
alma perdida daquellas paragens.
As arvores visinhas tremem, as folhas fazem bulha e dalli sae um gemido surdo, triste como o
ultimo soluço de moribundo.
Hontem fomos verificar a apparição do phantasma.
Rompera meia-noite, romperam duas horas, e nada vimos.
Finalmente, ao amanhecer, quando as nuvens coloridas se levantavam do Oriente, annunciando o
nascer do Sol, distinguimos, a cavar furiosamente um montão de terra, um cão de fórmas estranhas que gemia
e uivava fortemente.
Approximamo-nos, de arma em punho; mas o cão desappareceu, ficando apenas os montes de lixo
que se veem pela cidade, onde, altas horas da noite, vaga a alma perdida da limpeza publica.

Assassinato
No bairro do Jundiaquara foi assassinado Antonio Vieira da Rocha por Bento da Silveira, na noite
dos festejos de Santo Antonio, por occasião de uma reza que aquelle fazia em uma pequena capella.
Lastimamos immensamente o facto e esperamos que se faça justiça.

No Jardim
Esteve muito concorrido o passeio no jardim e duas horas de prazer nos dispensou a boa banda Lyra,
no domingo.

Pedimos, em nome das familias que frequentam o jardim, mais limpesa nos bancos, pois, no esado
em que se acham, denotam relaxamento e falta de attenção aos visitantes.

Annuncios
Estamos á espera de material typographico novo e apropriado e, logo que chegue, aperfeiçoaremos
os annuncios em nossa folha.

Visitantes
Ante-hontem veiu com mais pessoas incumbidas pelo Governo, o Dr. Theodoro Sampaio, afim de
inspeccionar e receber o serviço de agua desta cidade.

O lixo
Ainda não foram retirados os montões de lixo do largo da Independencia.
Isto depende do Sr. Intendente.
E’ sua obrigação, por isso exigimos, em nome do povo.

Estrada para Piedade


Deve hoje chegar a esta cidade e seguir incontinenti para a Piedade uma turma de engenheiros, por
ordem do Governo, chefiada pelo Dr. Matta Cardoso, afim de proceder a estudo de uma nova estrada que,
partindo da Estação do Ytupararanga, ramal ferreo do Votorantim, irá terminar naquella villa.
Parabens aos moradores da Piedade que em breve vão dar o primeiro passo para sua autonomia e
progresso.

Falta de Agua
Não sabemos porque motivo tivemos hontem falta de agua.
Tomára que isto não continue.
No grupo não houve aula de uma hora em diante, por esse motivo.
Quousque tandem?

Festa na Apparecida
Desde a vespera, o povo deste logar aguardava festejando, animado, a chegada de sua padroeira.
No dia 14, ao romper d’alva, houve alvorada, no largo da matriz, com musica, bateria e foguetes.
Daqui sahiu então, a procissão tradicional de Nossa Senhora da Apparecida, a quem o povo desta
cidade, e visinhanças, consagra especial e antiga devoção.
A concurrencia foi grande como sempre.
Acompanhou a procissão a banda Lyra.
Na egreja da santa houve missa solenne, em que tocou a banda S. Benedicto.
Esta festa sempre deixa recordações.

Largo da Matriz
E’ triste e lastimoso ver-se o estado das cerquinhas, das arvores alli plantadas quando outr’ora com
pequeno dispendio, tudo se retocava com ordem. E’ o cumulo!

E o mictorio? Quando será feito?

Pensamentos
O interesse explica os phenomenos mais difficeis e complicados da vida social.

A modestia doura os talentos, a vaidade os deslustra.

Os abusos, como os dentes, nunca se arrancam sem dores.

Quando o povo descrê da probidade, generalisa-se a immoralidade.

Como o espaço comprehende todos os corpos, a ambição abrange todas as paixões.

Para constar
«O Coronel Fernando Prestes é o verdadeiro e real cidadão democrata, é a honestidade
encarnada. Como presidente do Estado, sempre foi justo, senhor dos seus atos, cumpridor da lei. Não se
nega a confessar publicamente que toda a responsabilidade, durante o seu governo, cabe a si». Opinião do
jornal.
Foi o Coronel Fernando Prestes que, como presidente do Estado, sancionou a lei de águas e
esgotos para Sorocaba. Quando aqui alastrava a epidemia da febre amarela, apareceu junto ao leito dos
infelizes e procurava animá-los, falando-lhes ao ouvido.
Com dez mil réis, o Cruzeiro abriu uma subscrição permanente para auxílio à Santa Casa e
Filantropia Sorocabana.
Por entender que o romance é bastante longo, o jornal anuncia a suspensão da publicação de Quo
Vadis, mas, em compensação, começou a publicar Iracema, de José de Alencar.
O jornal cita a notícia do 15 de Novembro, que anuncia o seu aparecimento.
Numa semana, a influenza matou cerca de sessenta e cinco mil pessoas em Londres. Será verdade?

Sb 20/6/1903 n. 3

Os pobres
Cresce assombrosamente a onda dos pedintes.
Dóe-nos vêr o cordão andrajoso e faminto que, aos sabbados, percorre as uras, supplicando esmola
pelo amor de Deus. Alguns, por piedade e religião, depositam na mão estendida o obulo da caridade; outros,
com desdenhoso «não pode ser» os despedem vasios, e outros ainda escolhem a pequena moeda para
descargo de consciencia, e com ella dão o producto negro da avareza.
E a scena repete-se diariamente.
A romaria lugubre dos morpheticos fez a sua retirada á sombra da mão bemfeitora de uma
associação benemerita, que carinhosamente os affaga no lar da miseria e da dôr.
Não basta, porém.
A situação economica de nosso paiz aggrava-se constantemente, apertando em circulo de ferro as
classes proletarias. Além do pobre que pede esmola, ha o pobre que a não pede, e que curte no silencio as
dores cruciantes da fome.
Uma associação particular tem a seu cargo minorar as necessidades desta classe, na medida de suas
forças.
São duas, portanto, as aggremiações aqui formadas com intuitos beneficentes em favôr dos
desvalido, demonstando positivamente que a sympathia pelo infortunio alheio tem cultores em nosso meio.
Aos appellos constantes da miseria, devem todos accudir, amparando as mãos consagradas á obra do bem.
Pela nossa vez, abrimos desde já uma caixa para os nossos pobres, de cujos resultados daremos
noticia por estas columnas, e de que faremos escrupulosa applicação.

É regular?
Paralysou-se trabalho de agua e exgottos nas casas.
Si um terço dos habitantes podem pagar a exigencia dos sessenta e cinco mil réis para tal serviço,
dois terços não o podem fazer, por absoluta falta de recurso.
Não sabemos de que maneira se alcaçará o completo saneamento da cidade. – A epidemia arruinou
completamente a população nos seus haveres e agóra estamos soffrendo os restos dessa tremenda desgraça.
A epidemia arruinou completamente a população nos seus haveres e agóra estamos soffrendo os
restos dessa tremenda desgraça.
A Camara não teria absolutamente prejuiso se deixasse de cobrar o imposto pesado que lançou aos
hombros dos senhores proprietarios; antes o prejuiso ella tem, pois que, si levantasse esse imposto, muitos
mandariam collocar aguae exgottos em suas casas e, de melhor mente, se iriam acabando os antigos poços e
as antigas e insupportaveis privadas.
Ora; si esse imposto fôr vigorando, o prejuizo é da Camara; pois os proprietarios recusarão,
allegando falta de recursos, a sanear as proprias casas.
De que vale o material ahi, si não pode ser utilisado?
Concordamos que a Camara, depois das installações hygienicas, lance um imposto sobre o material
cedido.
Que se pretende, porém, appregoando multas aos que não cumprirem as disposições da Camara?
Pois, si não fazem as installações é porque não podem e, assim, muito menos poderão satisfazer as multas.
Essa é a grande questão que prende a attenção publica presentemente
Ha tambem bastante irregularidade na cobrança do imposto de agua.
Não podemos comprehender semelhante tabella, quando varias pessoas nos fizeram vêr a
desigualdade que por ahi se dá.
Cobra a Camara por valor locativo?
Mas nós não podemos então comprehender isso, pois ha casas enormes que, si fosse alugadas,
dariam quasi dois contos por anno e, onde moram, actualmente, duas ou trez pessoas, quando ha outras
pequenas, onde se gasta desproposito de agua.
E’ regular isto?
Crêmos na boa vontade dos senhores Camaristas e pedimos, em nome da boa ordem e justiça, que se
harmonise isto.

Chronica
Eu quizera ser uma capacidade, afim de poder subir até as alturas do planalto elevado, onde, por
tanto tempo, brilhou a intelligencia de um engraçado chronista.
Lembro-me (e que saudade!) do velho Paschoal dos tempos passados, daquelle velhinho cheio de
graça, cheio de espirito, que prendia, com o encanto de seu estylo chronico, a attenção de milhares de
leitores.
Daqui, da minha pequenez, levanto os olhos para o cimo daquella columna magestosa, que foi outro
tempo doirad pelo talento do fallecido collega, e tenho saudades, seriamente, tenho saudades daquelles ditos
amaveis, daquelle chistoso dizer das coisas do meu velho Paschoal.
Paz á sua alma; e Deus o tenha no céo, no meio dos mais bonitos anjinhos, emquanto eu fico aqui na
terra, (ó meu velhinho Paschoal!), chorando a tua ausencia, soffrendo as contrariedades do mundo, soffrendo
uma tristeza infinita porque as tuas palavras eram unica alegria que eu tinha.
Cada linha de tua chronica, pobre Paschoal, me fazia rir. Era como uma gotta de mel cahindo-me
aos labios.
Permita-me á tua alma, oh intelligencia illustre! Oh saudoso Paschoal!
Si estivesses vivo, com certeza este teu pobre amigo, havia de merecer algumas piadas, este pobre
amigo que jamais quiz se mostrar mais talentoso, mais sabio e mais gracioso que tu.
Saudade do
ZEBEDEU.

Piadas

Delegados, delegados ...


Oh! minha Nossa Senhora!
Que porção de delegados
ve-se por todos os lados
Nunca vimos coisa assim!
Delegados, delegados ...
Santo Antônio do Bom Fim!
A collecção não tem fim!
Delegados, delegados...

Até carniça, senhores,


via-se no becco d’Aldeia!
Que cousa, que cousa feia!
Até carniça, senhores!
Os corvos devoradores
vivem por lá farejando.
E vive esse negro bando
de corvos devoradores,
nossos fiscaes debicando!
CORUJA

Aos nossos assignantes


Qualquer irregularidade que se dê quanto á nossa folha, muito prazer teremos em saber para
satisfazermos a nossos leitores.

Será possivel?
Consta que nestes ultimos dias, deu-se um facto bem censuravel.
É que não cabendo um caixão na cova, o coveiro foi sobre elle afim de empurral-o para baixo.
Será verdade? Será crivel?
Não conseguindo, teve de usar de novo a cavadeira.

Depois...
Na rua da Penha existe um sobradinho antigo, sob numero... que, de repente, esmaga algum
transeunte.
Depois...

Arte
Vimos um chapeu feito pelo habil artista Sr. Pinto Braga que será offerecido á kermesse do Gabinete
de Leitura.
O chapeu é superior e pesa (é digno de nota) nada mais, que 40 grammas.
Vamos ver quem será o felizardo que o arrematará.

É demais
Numa carroça de carne verde vê-se pintado o seguinte:
Emblema da Republica – a estrella, Nossa Senhora do Bom Conselho, Santo Antonio e um cão
arrastando um porco pela orelha!
Onde estamos?
Ainda os cães
Ainda passeia, dando espectaculos pelas ruas da cidade, grande quantidade de cães.
Si sempre se tomasse providencia, não se multiplicariam tanto.

Gentileza
Por uma agradavel missiva, o sr. Dr. Horacio Costa, ajudante do Trafego na Sorocabana participou-
nos que em breve seriam collocadas no largoda Estação, algumas lampadas electricas.
Em nome do povo lhe agradecemos a attenção.

Correspondencia
Sr. Sylvio – Não podemos publicar seus artigos por não estarem de accôrdo com nosso programma e
não virem legalisados.
Sr. Jack – O seu offerecimento agradecemos.
Demais os seus versos vieram quasi todos mancos.
Estude a metrificação e quando elles vierem bem encannados, será attendido.

Nossa folha
Muito nos animou a acceitação que teve a nossa folha, e envidaremos todos os esforços de podermos
corresponder á gentileza e boa vontade de nossos amigos leitores e assignantes e de pugnarmos sempre na
defesa do Povo, a quem abrimos nossas columnas para desabafo de seus soffrimentos e a quem offerecemos
nossa penna, como arma sempre sua defensora.

Os novos camaristas
Tomaram assento, em suas respectivas cadeiras, os novos eleitos.
Esperamos que trabalharão com consciencia, criterio e honestidade, lembrando-se de que portadores
da confiança do povo e o seu dever, depois de cumprido o mandato com que foram honrados, appresentarem-
se ao publico, de cabeça erguida, com a consciencia tranquilla do cumprimento da lei.
A boa applicação das rendas municipaes deve ser a mira de seus intuitos, e si assim fôr nós
saberemos ser justos e render-lhes louvor.
Meus amigos; a economia é a mãe da prosperidade.
Merecerá louvor todo o acto criterioso que se fizer! principalmente si se diminuir um accumulado.
Nem me lembrava!
Que boa coisa... heim? Ha um como advogado, guarda-livros, ganhando ainda porcentagem na
cobrança dos impostos.
Não acham que são tres mamas boas?

Secção Livre
Que tal?
Começou-se a limpeza. A vassoura trabalha agora. Isso é que serve.

Chegaram os convidados para a funcção do julgamento secreto e para tratar da matança dos ratos
que, hoje, mais do que nunca, nos transmittem molestia de toda sorte.
Eu tambem soffro duma dessas molestias chronicas que enthysicam a gente completamente — a
molestia algiberica.
Afinal, continuemos.
Chaquaiou-se o buso. Que deu? O ratão. Vôa ou não vôa?
Sahe ou não sahe? — Sahe.
Zas, zas, zas praft! Que deu?
O zebú. Sae ou não sae? Vôa ou não vôa? Vôa. Que vôa.

E a vacca? Coitada! Desanimada, esgotada de uma vez, com certeza vae morrer.
Morre mesmo a coitadinha!
Está secca como um bacalhau.
A bezerrada berra ao redor della.
Sentou p’ra traz, berrou, berrou, e agora não berra mais.
O boiadeiro vae-se embora porque não pode mais com ella.
Mas a vacca? A coitada! Cada chuchão é um tombo. A fraqueza é de mais.
PICA-PAU.

Para constar
O soba Luiz Nogueira Martins é inimigo do “Cruzeiro do Sul”.
Com o apoio de Rodrigues Alves, cogita-se da candidatura de Fernando Prestes de Albuquerque à
presidência do Estado.
O Club Aymorés foi fundado em 1895.
Breve, a grande inauguração da Casa Hércules.
No último dia 12, em Itapetininga, faleceu Francisca de Castro, mãe de Etelvina Castro Gomes,
esposa do Prof. Artur Gomes, primeiro tabelião de Sorocaba.
O major João C. Vieira Barbosa é presidente do Diretório Político de Campo Largo.

Qa 24/6/1903 n. 4

O relatorio
Estamos em junho e ainda não vimos o relatorio que a nossa Camara Municipal, a bem do seu nome
e para salvaguardar sua honestidade, devia ter publicado.
Todas as camaras, como medida para demonstar o bom emprego do dinheiro publico, tem o costume
e a obrigação de consciencia, de publicar o relatorio annual, provando ao povo, com a evidencia dos
algarismos a distribuição justa da somma arrecadada para os cofres publicos.
Nada mais justo e não é (roto) suspeita nem indignação de nossa parte, si, destas columnas, pedimos
aos senhores camaristas a prova do desempenho fiel de sua missão, para com todos nós, nos fazendo ver a
imparcialidade, a rectidão que presidem ás deliberações da Camara Municipal.
Temos visto a publicação es(roto)alatosa de bandalheiras, de (roto) e de gratificações partidarias,
feitas por algumas municipalidades do Estado.
Longe de nós levantar calumnias contra quem quer que seja, pois não nutrimos absolutamente
prevenções, nem desejamos, porisso, que se diga que fazemos opposição systhematica.
Queremos a verade clara e nua, e, ao mesmo tempo combatendo em prol do povo, que geme sob os
excessivos impostos, hostilisar toda idéa injusta e parcial, testemunhando, ao mesmo tempo, nosso
reconhecimento aos actos criteriosos e que visam o bem estar de nossa terra.
Não desejamos, de fórma alguma, que por ahi se levante clamor deprimente do caracter de nossos
edis, e que o peso de responsabilidades da legislatura municipal, de erros e de negociatas, cahia sobre um só
desses que têm em mãos o suor do povo, para distribuil-o de conformidade com a necessidade e
adiantamento de Sorocaba.
Longe de nós o pessimismo, pois cremos seriamente que, o relatorio a se publicar, virá
demonstrando, de perfeito accôrdo com as nossas necessidades, de perfeita harmonia com os documentos, a
justa applicação do grande producto do imposto pelo qual o povo cóme o amargo pão e faz o maiores
sacrificios.

Decretos
A camara publicou ultimamente as leis n. 49, 50, 51 e 52.
A primeira decreta o dispendio de 4:000$000 para soccorros medicos, ás victimas da febre palustre
que grassa em diversos bairros.
A segunda dá o nome de José Bento Penteado (?) (a interrogação é do próprio jornal, pois, de fato,
Bento está por Leite) ao antigo Becco do Inferno. A terceira chama concurrencia para reconstruir a estrada de
rodagem que vae desta cidade a Porto Feliz, dispendendo 1:900$000. A quarta pretende gastare dez contos de
réis para desapropriação dos terrenos marginaes da cabeceira do rio Cubatão.
ooo
Ponderemos um pouco.
A primeira é justa.
Necessitamos porem, frizar aqui a facilidade com que se abrio o cofre publico para pagamento de
serviço de um medico.
Consta que o dr. Paula Souza, chefe da commissão sanitaria tendo a noticia da febre palustre que
grassa no Piragibù, mandou para lá o dr. Flaminio.
Este fez uma viagem e apresentou conta á Camara, de trez contos de réis, como si a Camara lhe
tivesse incumbido esse serviço, que era de sua obrigação visto ser remunerado como medico de hygiene.
Enão querem que gritemos?
Então, vendo o cofre publico se esvaziar lastimosamente não nos revoltaremos com a força de
orgam independente?
Havemos de dizer a verdade.
O dr. Flaminio recebeu um conto de réis da cmara, e somente ante-hontem é que foi dispensado da
commissão medica da hygiene.
Vamos muito bem com as accumulações.
ooo
A segunda nota é de pouca importancia.
Quanto a terceira, resta saber, si essa estrada está nas condicções de precisar de reconstrucção,
empregando nella dinheiros, que sae chorado dos cofres publicos.
Não consta depois por ahi que a Camara desejou arranjar algum afilhado, ou se algum arranjou-se
com a camara.
Deus nos livre que isso aconteça!
Não duvidamos das boas intenções dos senhores camaristas, pois elles pensam muito bem que na
Camara, não vão gerir com dinheiro de uma associação, porém com o suor dos sorocabanos.
Reconhecemos nelles os bons distribuidores do fructo de nossos sacrificios e não uns felizardos a
passarem bem a custa dos outros.
A quarta abre um credito de dez contos de réis, para acquisição de terrenos marginaes do Cubatão,
que deviam ter sido pagos em tempo.
Quanto a isto sabemos que está concluido o negocio ha mezes, e, para isso não precizamos indagar
si valem ou não valem os terrenos essa quantia. Achamos muito.
Resta que a Camara, a nosso ver, trate, antes de qualquer cousa, do saneamento da cidade.
Conceda permissão aos habitantes para fazerem, independente de multa, as canalisações em suas
casas.
Assim poderemos immediatamente abaular as ruas, pôr tudo isto limpo e digno dos elogios de
nossos hospedes.
Dessa maneira, teremos a cidade saneada, quanto mais cedo possivel e d’ahi a justiça da Camara em
lançar o imposto necessario afim de satisfazer seus compromissos.
E esse imposto colherá, pouco a pouco, sem perseguir a população com o espantalho da multa.

Os campos...
Desde ha muito que por ahi se fala do pouco escrupulo na legitimação de posse de terrenos e de
concessões feitas sem as formalidades legaes.
Estudaremos essa questão e procuraremos o fio mysterioso desse consta que, com certeza, traz agua
no bico.
Houve, por exemplo, um sujeito de 25 annos que serviu de testemunha de posse, a favor do outro.
Esta é muito bôa!
Como póde um moço de 25 annos testemunhar a posse de um terreno, quando não têm a edade
rasoavel?
Estas facilidades deviam ser tomadas em consideração pelos senhores fiscaes da Fazenda Publica, si
não nos enganamos, ou pela Commissão de Agricultura, a quem, segundo nos disseram, deve-se esse
encargo.
Esperamos que isto tudo não passe de um consta, mas, ao mesmo tempo, pedimos ao dignissimo
presidente dessa commissão, alguns esclarecimentos a respeito, pois desejamos que o que é de Cesar se dê a
Cesar.

A’s claras
Para prova da boa legislação que vae pela Camara, apresentamos ao publico estas linhas.
Foram assignadas diversas letras na importancia de doze contos, segundo nos consta, a vencer-se em
agosto proximo.
Isto com certeza virá apertar um circulo de ferro a Camara, pois outros credores tambem arrogarão a
si os mesmos direito.
Deus permitta que esses doze contos de réis, depois de vencidas as letras, não nos custe mais com o
sobrecarregamento de impostos e multas!
Nós iremos trilhando o nosso caminho, sobranceiros, cumprindo o nosso programma, sem nos
importarmos com os espinhos que procuram estorvar nossa carreira, e as pedras que se nos lançam, porque
estes jamais nos hão de ferir, pois a nosso estrada é a estrada do dever, na defesa sagrada do interesse
popular.
Dissemos.

Piadas
Não sahe o lixo, intendente?
Não se acaba essa esterqueira
que, pela cidade inteira,
encommoda toda a gente?
Não sahi o lixo, intendente?
Não se acaba essa esterqueira?

E os cães... Agora eu bem creio


no que tanto ouço falar:
com elles tem gente um meio
de a vida boa arranjar.

Fazem delles criação;


... mas o que não nos agrada
é essa troça, oh intendente,
essa grande cachorrada
que persegue toda a gente.

E as aguas sujas então?


Que cidade! Deus do Céo!
Não ha humilde tabaréo
que não tenha compaixão
do nosso povo infeliz!

Outr’ora agua suja sahia


em carroções. Hoje em dia,
é o que todo o povo diz:
Jogue-se á rua agua suja.
Até quando? Então? Responda,
Não esperae que se esconda
o teu amigo
CORUJA
O Pão
Quando falamos sobre o pão, não nutriamos prevenções contra quem quer que seja, e sim desejos de
cuidar pela saude publica, de zelar pelo bem do povo.
Para prova da necessidde que temos de tratar desse assumpto, damos a lêr aos nossos leitores, o
seguinte trecho do “Sãoroquense”:
“Um dia estando em casa de um amigo que exercia um cargo policial, vi chegar um homem e
queixar-se áquella auctoridade de que, tendo comido um pedaço de pão, sentio-se ferido no paladar e lingua
por um pedaço de vidro. Nesse mesmo dia, contando nós esse facto a um amigo que exerce importante cargo
publico n’esta cidade, elle nos contou que tambem em sua casa foi encontrada uma agulha dentro de um pão;
passado algum tempo um outro amigo veio nos dizer que estando sua senhora a cortar um pão para o chá,
encontrou dentro do mesmo um dente humano, e nol-o mostrou.
Emfim, fragmentos de panno, papel, e até cabellos e barata, tem-nos sido mostrado por diversas
pessoas dest cidde, encontrados em pães.”
Todo o homem de senso concorda com esta nossa ponderação que só visa o adiantamento de
Sorocaba.
Não atiramos pedra sobre este ou aquelle.
Os que têm consciencia de trabalhar com asseio, não temem ser fiscalisados e, antes, preferem que
seja attestado o escrupulo e o zelo que presidem á fabricação do pão.

Chronica
Lá, da Terra Vermelha, eu e o meu amigo Zé, de altura pyramidal, de olhar delicado de santo,
contemplavamos a cidade, ao pôr do sol, quando a sombra vinha de longe, deliciosamente cobrindo os valles
e as montanhas.
Elle, arrependido de se ter envolvido nos negocios dos poderosos da terra, teve um movimento de
tristesa na alma e começou a chorar, o meu pobre Jeremias.
Um bello dia, o coração empedernido do homem tambem se commove ante as infelicidades de
outrem.
Estendeu o olhar sobre a cidade ao longe e o quadro das desgraças todas da sua terra se lhe
apresentou vivamente:
A febre amarella que dizimou milhares de pessoas, (entre as quaes podiam ter ido tomar ares alguns
felizardos da terra); os contractos tratados amigavelmente, o monopolio opprimindo o povo; a multa, esse
dragão bravo e feroz, arregalando os olhos contra a população; o saneamento enthysicando e o imposto
pesado, esse fardo de mil kilos caindo ás costas do grande asno popular, que soffre as pancadas sem poder se
defender.
Tinha razão o Zé!
Bemdicto seja elle compadecendo-se dos seus irmãos!
E que o coração de seus companheiros de lucta da legislatura municipal, se commove, tenha dó da
miseria que por ahi vae, afim de não terem a consciencia horrorosamente ferida, afim de não ficarem com o
remorso que persegue os homens ambiciosos e que se aproveitam do erario publico.
ZEBEDEU.

Com o sr. Intendente


Tenha dó sr. Intendente, dos pobres que lhe vão pedir para fazerem installação de agua e exgottos!
E’ preciso falar com a Camara?
Deixe disso, essa ordem o sr. já tem.
Quem necessita mais, os empregados da Camara, que tem feito installação com material que o
governo mandou para os pobres que tem ido lhe pedir e nada tem alcançado?
CS

Club União
O sr. dr. Luiz Nogueira Martins arrogou-se o direito de devolver nossa folha que enviamos gratis ao
Club.em consideração aps distinctos associados.
Sem commentarios.

A nossa redacção
Foi grande o numero de amigos que no domingo nos visitou, animando-nos para a lucta em prol dos
sãos principios do interesse da futurosa Sorocaba.
A esses bons amigos nossos sinceros agradecimentos.

Luz electrica
Consta que vae sahir da empreza electrica desta cidade o nosso bom amigo o sr. Joaquim Soeiro,
gerente da mesma.
Lastimamos.

Largo da Matriz
Louvamos o sr. Intendente mandando concertar as gradinhas das arvores do largo.
Resta que continue sempre a cumprir seu dever e que se lembre do largo da Independencia e das
ruas da cidade que depõem contra nós.

Nossa officina
Qualquer dia nos chegará o resto do material, que encommendmos, para completar nossa officina de
obras, habilitada a fazer qualquer serviço por preço rasoavel.

Esmolas
Lastimamos bastante que as almas caridosas não nos favoreçam nesta secção.
Lembrem-se dos pobres que soffrem, no leito, as agruras da miseria.
E’ a melhor festa que podeis fazer.

A Policia
Temos necessidade urgente de mais oito ou dez praças para o policiamento da cidade, pois as praças
daqui não bastam para manter a ordem, principalmente nestes dias de festas em que, nos bairros, sempre se
realizam resas que dão por fim em desordem.
Consta que se pediu mais força e não se mereceu attenção.
Sem commentarios.

Os presos
Como a Cadeia Publica acha-se em trabalhos de melhoramentos, os presos foram recolhidos a uma
só prisão.
Como não passarão os coitados!

Desleixo
Vieram nos contar que ha dois dias apodrece uma gallinha na rua do Ypiranga.
Desleixo e pouco caso.

A luz
A illuminação publica já tem começado a soffrer.
Esperamos que não continue.

Fallecimento
Hontem, á noite, falleceu o sr. Augusto Rodrigues Gomes, á cuja familia apresentamos pezames.

Reclamação
Moradores da rua Cezario Motta reclamam contra o barulho infernal que em certa casa, fazem
alguns individuos, sempre de sabbado para domingo.
Que fazem tantos delegados?

Campo Largo
15 — 6 — 03.
Não obstnte a crise que atravessa a lavoura e o commercio, Campo Largo está progredindo: assim é
que acham-se em construcção diversos palacetes de propriedade do Sr. Major Manoel Machado, a cuja
construcção tem presidido o bom gosto.
Trata-se de erigir um novo frontespicio na egreja matriz, bem como uma torre.
Fazem parte da commissão que está angariando donativos, os senhores: tenente coronel Antonio G.
de Almeida, Major Manoel Machado, João C. V. Barbosa, tenente Fernando Schnor, cap. Antonio Barbo, em
collaborações com o digno vigario da parochia.
Têm-se augmentado os negociantes dos diversos ramos, para o qual muito tem concorrido grande
numero de extrangeiros aqui domiciliados ultimamente.
Foi abundante a safra de algodão este anno: alêm das machinas que possue esta villa, em numero de
5, sendo 4 movidas a vapor, o municipio exporta muito algodão para Sorocaba, Sarapuhy, Tatuhy e Pilar.
Depois de renhida lucta entre os dois grupos em que se dividiu a politica governista local, realisou-
se no dia 6 do corrente uma grande reunião dos chefes de ambos os partidos na sala da Camara municipal, a
que presidiu o sr. tenente coronel Antonio Vieira Rodrigues que depois de expôr o fim da reunião, declarou
que por motivos de ordem particular, deixava de acceitar um lugar no novo directorio, visto estar extincto o
mandato do actual. Procedida a eleição, foram eleitos os seguintes senhores: major João Carlos Vieira
Barbosa, Presidente; tenente Cor. Antonio Gomes de Almeida, secretario, major Manoel Machado de
Oliveira, Francisco Mascarenhas Martins, Cap. Antonio Barbo Antunes, Major Francisco Euclydes da Silva,
Major Arthur Moraes Rosa, Cap. Pedro Alves, Tenente João Frederico Menck.
Finda a reunião, o povo em grande massa percorreu as ruas, acompanhado de uma banda de musica,
sendo dado muitos vivas á Commissão Central e chefes locaes, dispersando-se na melhor ordem.

Psra constar
No dia 21, às 6 horas da tarde, houve a inauguração da importante Casa Hércules, com grande
número de povo e com distribuição do “jornalzinho” de reclame «O SINO».
A subscrição para a Santa Casa,, aberta pelo jornal com dez mil réis, não recebeu um centavo
sequer de outros eventuais contribuintes.
São os festeiros de São Pedro, da Santa Cruz do Largo do Jardim: João Batista Ferreira,
Domingos Marco Monteiro, Rafael Soares e Rafael França.
O Correio de Botucatú é dirigido pelo Dr. Miguel de Alvarenga.
Em Itapetininga circula o jornal Tribuna Popular; em Tatuí circula A Cidade de Tatuí e, em Itu, A
Cidade de Itú
Há poucos dias, escapou de ser assassinado o Czar Nicolau II, da Rússia, por um homem
disfarçado de militar.
Dom Carlos, rei de Portugal, pretende visitar a América do Sul, devendo começar pelo Brasil.

Sb 27/6/1903 n. 5
(não consta o seu lugar. Ver que adiante repete-se a data.)

Estamos novamente com a palavra. Sim senhores. Já viu o publico que o pasquim do sr. prefeito
insultou a Camara, pelo facto de ter pago ao dr. Flaminio Botelho a quantia de um conto de réis, por serviços
medicos prestados á municipalidade. Sim senhores! Analysemos a incoherencia, a politicagem e sobretudo a
desfaçatez com que essa gente quer á viva força, alcançar o apoio publico.
No anno de 1903, appareceram, como viu o publico, no bairro do Piragibù deste municipio alguns
casos de febre de mau caracter e a Camara, no louvavel intuito de sopear, de momento a propagação do mal,
que podia por um descuido tornar-se epidemico, enviou para aquella zona sem contracto previo o dr.
Flaminio Botelho. Até aqui nada vimos digno de censura e, muito menos, de insulto grosseiro. Tendo com a
extincção do mal, cessado os motivos que determinaram a ida daquelle medico para aquelle local, apresentou
em seu regresso a conta de honorarios à Camara, a qual ainda uma vez provou ter a capacidade moral, que
não tem o actual prefeito, impugnando a referida conta e só pagando a quantia que julgou equitativa.
Já vê o publico, que a camara procedeu correctamente; impugnou uma conta excessiva, pagando,
porém, o justo valor do serviço prestado por aquelle clinico.
Quanto ao facto do dr. Flaminio estar desempenhando as funcções de medico da hygiene e como tal,
sem direito de cobrar, cumpre lembrar que elle foi a mandado da Camara e portanto com ella tinha que se
haver quanto ao pagamento.
Já que estamos falando em esbanjamentos, protecções e politicagem, aproveitamos a occasião para
tocar num assumpto que bem merece ser conhecido do publico para que se estabeleça o parallelo entre o
facto e aquelle que determinou a reclamação do orgam adverso, e ver quanto cynismo encontra guarida no
meio dessa gente do monopolio da honra.
Existem neste municipio quatro escolas de bairros, estipendiadas pelo cofre municipal, sendo uma
mixta no bairro da Apparecida, uma outra no bairro do Piragibù, a terceira no bairro da Terra Vermelha e
finalmente a quarta no bairro do Ipatinga, dispendendo a nossa edilidade com a manutenção de taes escolas, a
quantia de 4:800$000 annuaes.
Agora perguntamos ao sr. prefeito, que necessidade ha em a Camara manter taes escolas, quando os
bairros são favorecidos por uma disposição do novo regulamento da instrucção publica, que obriga aos
professores no inicio do seu tirocinio proverem as cadeiras dos bairros?!
O espirito da lei não será justamente favorecer deste modo a instrucção da população rural?
E si assim não fosse, desejavamos saber si a instrucção primaria que recebem os poucos alumnos
que frequentam taes escolas, compensam o sacrificio feito pelo cofre municipal, já em profunda anemia.
O snr. prefeiro quando em seu relatorio ultimo falou em taes escolas, teve um pequeno movimento
de pudor e não quis annunciar ao publico a frequencia das escolas de dois bairros: a da Terra Vermelha e a do
Ipatinga.
Querem saber porque?
E’ porque a escola do bairro do Ipatinga conta com a frequencia maxima de cinco alumnos!!!
A da Terra Vermelha acha-se quasi nas mesmas condições!
Saberá mais o pubblico porque foi creada a escola do bairro da Terra Vermelha?
Não foi um acto patriotico da Camara, visando zelar pela instrucção.
Longe disso, porque tudo quanto é nobre e elevado, não encontra abrigo no seio da maioria. Esta
escola, attenta ao bem publico, que custa um conto e duzentos mil réis annuaes é fructo de um voto dado na
ultima eleição municipal, pelo respectivo professor, que negou o seu voto ao nosso partido, allegando essa
circumstancia.
Agora perguntamos ao snr. prefeito: - Qual dos actos é mais censuravel, qual o que encerra mais
politicagem, qual encerra emfim, mais immoralidade?
Será o acto da Camara passada pagando um conto de réis a um medico no desempenho de valioso
serviço á causa da saude publica em imminencia de perigo ou o da actual Camara esbanjando 4:800$
annuaes, o que, digamos a verdade, não passa de uma vergonhosa protecção.
Vamos snr. prefeito, s. s. para justificar o conceito que tanto almeja, carece explicar-nos onde está a
sua coherencia. S. s. não se envernhará nem siquer por um momento, de tantas patifarias?
Continuaremos.

Lei n. 49
(...) é justa.
Necessitamos, porêm, frisar aqui a facilidade com que se abriu o cofre publico para pagamento do
serviço de um medico.
Consta que o dr. Paula Souza, chefe da Commissão Sanitaria, tendo noticia da febre palustre que
grassa no Pyragibú, mandou para lá o dr. Flaminio.
Este fez uma viagem e apresentou a conta á Camara, de trez contos de réis, como si a Camara lhe
tivesse incumbido esse serviço, que era de sua obrigação, visto ser remunerado como medico da hygiene.
(...).
O dr. Flaminio recebeu um conto de réis da Camara, e somente ante-hontem é que foi dispensado da
commissão medica da hygiene.
Vamos muito bem com as accumulações.

Sb 27/6/1903 n. 5

Presidente
Algumas folhas têm levantado a candidatura do Coronel Fernando Prestes á presidencia do Estado.
Nós folgamos em registar esta noticia que, com certeza, nos dará animo para trabalharmos e unirmos
as nossas forças, afim de se realisar esta nova que nasceu espontaneamente do coração do povo.
Muitos dos senhores votantes não se encommodam com a causa sancta da elevação á presidencia de
um homem que saiba cumprir a lei, saiba ser honesto, na experessão lacta da palavra.
E’ preciso pensar no beneficio que o povo póde receber das mãos de um patriota e, de outro lado
tambem, na desgraça que nos pode advir da incontinencia governamental.
O Coronel Fernando Prestes deu já provas da força de seu caracter, patente ou a firmeza de suas
resoluções de accordo com a justiça e a lei, e, porisso, si havemos de soffrer quatro annos de calamidades,
sob o edito de algum tyranno possesso de partidarismo ferrenho, nós levantamos tambem o alarme da
propaganda e pedimos ao eleitorado criterioso, patriotico, a consagração do nome do Coronel Fernando
Prestes para presidente do nosso Estado.
Pouco se nos importa que alguns blasonem de nosso modo de proceder.
Nós não temos programma partidario. Somos republicanos e trabalharemos para o bem do povo.
Por conseguinte, convictos da honradez do illustre brasileiro, desse homem democrata e bom,
sincero e justo, sentimos que o nosso coração se abre, nosso enthusiasmo cresce e prophetisamos, desde já, o
triumpho do Coronel Fernando Prestes, digno de nossa estima, pela sua democracia, pelo seu patriotismo,
pela nobreza de seu caracter.

O relatorio
Não foi debalde que em nosso numero passado, exigimos da Camara Municipal o relatorio que devia
ter sido publicado no principio do corrente ano.
Todo o povo ignora em que estado estão as cousas municipaes e quer nos parecer que não temos
Camara, pois muito nos adminra que uma cidade como a nossa, se esqueça tanto do Decreto n. 86 de 29 de
1892 (sic), que assim exprime no art. 12 – do poder legislativo municipal:
«As Camaras Municipaes publicarão trimestralmente o balancete de sua receita e despeza e, no
principio de cada anno, o balanço das contas do anno findo (Lei, arts. 35, 36, 37 e 43.)»
Por ahi nos podemos julgar o desleixo que preside os negocios publicos em Sorocaba, onde, o que
muito nos admira, ha homens que são tidos de grande inteligencia.
Porém, e isto não é questão de intelligencia nem de talento, é questão de principios, é questão de
caracter e de se zelar pelo proprio nome.
Ha muitos homens de grande capacidade que não servem para governar, pois, pensam
enthusiamados pelas posições que occupam, serem senhores de tudo.
Não é assim, não.
O homem publico que tem caracter se sentiria satisfeito si alguem exigisse a prova de sua
honestidade e assim patentearia a sua honradez e mais uma prova o povo teria para respeital-o devidamente.
Senhores: a camara tem tudo em ordem a escripta em dia, os lançamentos de conformidade com os
documentos... então porque não publicou o relatorio de 1902 e até este mez o 1.º balancete trimestral,
devendo ainda publicar o 2.º balancete no fim deste?
Não falamos puerilmente.
Esigimos o cumprimento da lei, exigimos que o povo saiba como andam os negocios municipaes,
afim de quando fôr preciso, saber a quem confiar a chave dos cofres publicos.
Não temos inimigos, nem pretendemos tel-os, porém queremos que a luz se faça, a justiça seja feita,
e o povo não seja menosprezado em sua soberania.

Chronica
S. João, aquelle anachoreta que no deserto comia gafanhotos, mas illustrava o espirito, cultivando
silenciosamente os pensamentos para o bem da Humanidade, lá no céo, á mão direito do velho e serio Padre
Eterno, com certeza, ao romper do dia 12, já se achava todo vestido de luminosas vestes, refulgindo, ao alto
de sua cabeça, a mesma pomba que outr’ora viu, quando baptisava o Nazareno.
Na terra ainda reboam de seculos a seculos, o echo retumbante de seu nome transmittido pelas
gerações no echo festivo das salvas alegres.
Os balões foram para lá, para a morada illuminada de estrellas, e resplandescima galantemente,
como cometas radiantes.
Emquanto todos esses festejos se faziam, eu me lembrava do dinheiro derramada á larga,
frivolamente, emquanto (quem sabe!) algum miseravel padecia no leito.
E S. João, esse sol de intelligencia, o diamante luminoso dos Evangelhos, o predecessor do sagrado
e immortal Messias, pensará peor do que eu, gostará de ver, lá de cima, risonho e feliz, a miseria que anda
por estes mundos, onde um só quer, ás vezes, arrebanhar o que fazem tantos miseraveis, não se lembrando
depois dos que choram e se sacrificam?
Oh S.João, derrama um pouco de agua no cerebro ôco dos homens soberbos, baptisa-o um pouco,
afim de que a luz os illumine!
O teu bondoso irmão S. Pedro, que tem as chaves do céo, para estes coitados abra a porta do
descanso, lhes seja prodigo, perdoando-lhes a cubiça das vaidades humans, afim de que Satanaz não se
aproveite da occasião para frital-os no caldeirão do meu amigo Pedro Botelho.

Piadas – (A propósito da devolução, ordenada por Nogueira Martins, do exemplar do “Cruzeiro do Sul”,
enviada ao Club União, CARANCHO escreveu):

Não póde ser assignante


Do tal Cruzeiro do Sul,
Quem fôr da vacca empregado.
Não póde ser assignante
Porque o grande rei reinante,
É poderoso e taful;
Torna-se logo zangado.
Do tal Cruzeiro do Sul,
Não póde ser assignante,
Sem um abaixo assignado,
Ou ordem do commandante,
Alguem da vacca empregado.

Per la marona! Ora bolas!


E o tal negocio do União?
Bateram as castanholas?
Os valentes Aymorés.
Gostaram da coisa? Então,
Não ha diversas cacholas?
Só ha cacholas de Zés?
Todos pensam como um só?
Per la madona! Ora bolas!
Eis a grande exclamação
Do nosso velho Lolót
Que velho não quer ser, não,
E exclama , alegrete só:
E o tal negocio do União!

Ha um cordão nesta terra,


De puxança colossal:
Um chóra, outro mama e berra,
Mais labioso cada qual.
Ha um cordão nesta terra,
De puxança sem igual.
Puxa, que puxa e puxa,
Mas ladino cada qual...
Mas no fim é rolha ou bucha,
A vacca geme e estrebucha
E acaba o leite afinal...
CARANCHO

Pensamentos e sentenças
(De diversos auctores)
O elogio que mais saboreamos é de ordinario o que menos merecemos.

Não ha peior desgraça para um homem bem creado do que dever obrigações a um villão ruim.

Dizemos muito, fallado pouco, quando sabemos bem os termos proprios da nossa lingua.

Um coração contente é um festim permanente.

A verdadeira coragem acha sempre lgum recurso contra a adversidade.

A educação é a mais valiosa herança que os paes podem deixar a seus filhos.

Nem todos os homens podem ser grandes, mas todos podem ser bons.

A Calumnia é sempre a arma dos invejosos.

O punhal da calumnia muitas vezes é mais cruel que o punhal do assassino.

O rico sem caridade é uma arvore que não dá fructo.

As chammas da caridade seccam as lagrimas de dor.

Confessar que nos enganamos é confessar que temos um erro de menos.

Quem dá muito acanhadamente, obriga pouco; quem dá pouco magnificamente, obra muito.

Edificaram sempre as palavras e as obras dos varões exemplares: mas as do fim da vida parece que
trazem fogo, e se apegam nas almas.

Tres sortes de pessoas são infelizes na lei de Deus; o que não sabe e não pergunta; o que sabe e não
ensina; o que ensina e não faz.

O sol doira a quem o vê, o sabio illumina quem o ouve.

A nossa folha
Muito nos desvanece a acceitação que tem tido a nossa folha.
Em vista disto, esgotou-se já a pequena collecção que nos restou dos primeiros numeros.
A Directoria do C. União
«Estamos auctorisados a declarar em nome de todos os membros da actual directoria do Club União,
que ss. ss. são solidarios com o acto do dr. presidente daquella associação devolvendo uma folha da terra.»
Nós, porém, continuaremos a mandar nossa folha, a pedido de diversos socios do Club que não
pactuam com o procedimento da directoria.
Não commentamos mais.

O dedo...
Andam por ahi, ás occultar, alguns instrumentos dos desgostosos, tratando da devolução de nossa
folha.
Não nos esmorecem essas mesquinhezas. O nosso caminho é a estrada larga, embora cheia de
espinhos, do cumprimento da lei, e procuraremos abrir os olhos de todos que vivem cegos e se arrastam
humildemente, puxados pela conveniencia.
Nós combatemos o homem publico; não temos amigos nem inimigos á nossa frente; desprezamos,
totalmente, toda a vilania que nos persegue.
Nossa penna não se quebrará.
Seremos firmes no nosso posto e saibam que não aspiramos lucro algum de nossos trabalhos, porém
andarems de cabeça erguida e havemos de vencer, havemos de melhorar a condição dos pobres martyres da
prepotencia.

O N. 67
Na rua Floriano Peixoto, o n. 67 qualquer dia esmaga um transeunte.
E já reclamamos.

A multa
Fomos intimados pela Camara Municipal, afim de pagarmos no praso de dois dias, a multa de
20$000, por infracção do art. 10 da lei municipal n. 47. Caso não satisfizermos essa exigencia, teremos a
cobrança executiva.
Pela intimação imposta, os nossos leitores verificarão que isto não passa de perseguição
encommendada.
Nós não offendemos quem quer que seja e, si merecemos isto é porque os abusos, como os dentes,
nunca se arrancam se dores.
Ficamos surprehendidos. Pois havendo officiado ao sr. Intendente, não fugimos do pagamento do
imposto devido e, antes, apesar de nos esquecermos de fazer logo, deviamos ser intimados para o pagamento
e não pela multa lavrada por dous fiscaes que vieram despoticamente bater ás nossas portas.
Ha por ahi muitos negociantes que ainda não pagaram o imposto, como si fôr necessario provaremos
e sabemos de muitos que o pagaram depois de trinta dias e mais, sem comtudo serem multados, e não nos
consta que hajam sido multados.
Além disto a multa é por falta de alvará de licença.
Perguntamos, a quem competir, si todos os negociantes e jornaes que têm apparecido nesta cidade
possuem alvará de licença.
Sabemos que só se exige alvará de licença no fim do anno, quando pagos os impostos de industria e
profissões, sahem os fiscaes a fazer correcção.
Então serão multados os que não estiverem de accôrdo com as posturas.
Mas agora A que cargas d’agua?

Santo (sic) Dumont


Telegramma de Paris:
«O destemido aeronauta Santos Dumont fez esta manhã uma explendida ascensão.
Tendo partido de Neilly (sic) Santos Dumont deu duas voltas sobre o Arco do Triumpho, atravessou
os Campos Elysios e foi cahir á porta de sua casa de habitação, onde entrou para almoçar. Depois tomou de
novo o seu balão e voltou ao ponto de partida.
Esta nova experiencia do «Santos Dumont n. 9» deixou a população de Parisw maravilhada pela
precisão e facilidade das evoluções.»
Do Jornal do Commercio.

Pergunta
Quando será collocado um mictorio no largo da Matriz?

Cadaver
Foi encontrado um cadaver perto da Arvore Grande.
Por emquanto nada podemos adiantar a respeito, senão que já estava um pouco adiantada a
putrefacção. É o que nos consta.

Companhia Sorocabana
Chegou a S. Paulo dos Agudos a primeira machina da Companhia Sorocabana.
Parece, porém, que não se verificou ainda a inauguração solenne.
O dr. Alfredo Maia, dr. Penido e outros membros da direcção superior da Sorocabana, foram até o
extremo dos trilhos e em Agudos foram recebidos festivamente pelas principaes pessoas do logar, tendo o dr.
Leopoldo Gomes pronunciando um discurso de cumprimento e o sr. A. Oliveira, representantes dos
empreiteiros e sr. Huet Bacellar, engenheiro constructor, recebido muitas saudações do povo de Agudos.
Do Correio de Botucatú.

Directorio Politico
Consta que no dia 25 deste reuniram-se no Gabinete de Leitura alguns eleitores, que elegreram o
Directorio, que assim ficou composto: dr. Nogueira Martins, dr. Ferreira Braga, tent. José de Barros,
Francisco de Mascarenhas, José Tavares, capm. Antonio Antunes Netto e dr. Calixto de Paula Souza.
Podemos garantir que este ultimo não acceita fazer parte do Directorio, porque a isso se tem
manifestado e nem foi consultado.
Quanto ao numero de eleitores, para eleger o Directorio, foi preciso andarem emissarios pelos
bairros, ameaçando os eleitores para assignarem uma auctorisação dando poderes ao dr. Martins para
represental-os sob pena do resultado de um descontentamento.
Aqui na cidade anda um fiscal da Camara, como o livro da acta da reunião pedindo a assignatura dos
eleitores.
Assim é que se prova a influencia expontanea dos correligionarios politicos!?

Festa de S. Pedro
No dia 28 realisa-se, no lrgo do Jardim, na capella Santa Cruz, a festa a S. Pedro, comose vê do
respectivo annuncio.

Abuso
Soubemos de um preto que quando precisa de cobre, sae pela cidade com o divino, a aproveitar dos
ingenuos e dos catholicos.

Sessão Livre
CLUB UNIÃO
Não sabia que o Club União era politico, para converter sua directoria em dictadura!
Reuniu-se ella com o fim especial de approvar a deliberação tomada pelo seu presidente, não
consentindo dar-se entrada no Club ao Cruzeiro do Sul!!
ABRIU-SE A SESSÃO
— Ou eu saio do Club ou o Cruzeiro aqui não entra.
— Não, nunca! Seria para o Club um desastre; responderam com effusão de palmas.
CORO
Já que isso a você convem,
a questão não se repique;
que saia o Cruzeiro, saia!
Não queremos que aqui fique.
— Que fique, que fique, fique.
Em vista désta sentença,
Da mesa dictatorial,
Faço estes autos conclusos
A esta assembléia geral.
— Que fique, que fique, fique.
Eu vou contra as minhas crenças
sou obrigado, Jesus,
a lêr o que diz Cruzeiro,
fujindo de ver a cruz.
— Que fique, que fique, fique.
Oh Prata, toma cuidado!
Não deixe o Cruzeiro entrar:
prenda-o, leve p’ra cadeia,
Vou mandal-o castigar.
— Prompto, meu branco. Posso dar serviço ao aço?!
— Não; o Cruzeiro não é cigano; é um jornal que se publica aqui.
— Tendo S. S. terminado a sessão, permitta que leia um trecho da Biblia, em referencia a S. S.:
«E todo aquelle que abandonar a familia e as riquezas, por amor de mim, receberá, cem vezes tanto
e herdará a vida eterna». (S. Matheus 19 ver. 29)
— Muito bem! Que fique, que fique, fique.
— Está encerrada a sessão.
Nota: O que fique é do
MENELIK

Festa de S. Pedro
Sta. Cruz do Largo do Jardim
Os abaixo assignados, festeiros participam aos fieis e devotos que no domingo, 28 do corrente, será
celebrada a festa do glorioso S. Pedro.
O programma é o seguinte:
A’s 4 horas, alvorda, pela corporação musical 7 de Setembro.
A’s 5 horas da tarde, levantamento do mastro e ás 7 horas da noite magnifico leilão de prendas, após
o qual terá logar a ladainha
Os festeiros, penhorados, agradecem aos fieis a valiosa coadjuvação e esperam que S. Pedro os
proteja.
Sorocaba, 25 de Junho de 1903.
Os festeiros
João Baptista Ferreira
Domingos Marco Monteiro
Raphael Soares
Raphael França

Externato Vieira
Acha-se estabelecido á rua Padre Luiz n. 19.
A mensalidade pela instrucção primaria será, de julho em diante, de 5$000, pagos adiantadamente.

Para constar
Maria Josepha Valio faleceu em 25/6/1903.
Apesar do tempo chuvoso, a festa de São João no Ipanema foi muito animada, com muitos fogos e
balões.
Amanhã a «Lyra Artística Sorocabana» tocará no Jardim das 5 às 7 horas da tarde. No programa,
os dobrados «Guarda Nacional» e «Adamastor», as mazurkas «A Desunião» e «Sorriso di Fata»; a polca
«Sempre ela», o tango «Cara Dura», a ária de «Ernani» e a valsa «Cachopa».
O advogado João Vieira de Campos atende no n.º 19 da Rua da Matriz.
Rodrigues Costa & Comp. com depósito permanente de sal, açúcar, farinha de trigo, arroz e
querosene, fica na Rua Floriano Peixoto, n. 38.
O armazém de secos e molhados de Angelo Coló fica no nº. 6 da Rua do Comércio.

Qa 1/7/1903

Ainda
Não fosse o peso de nossos artigos baseados na lei, e não veriamos um artiguinho a dizer que não
tem sido olvidadas as disposições de lei commettem ao Intendente o encargo de apresentar annualmente
circumstanciado relatorio de sua gestão e que essa boa pratica não será interrompida pelo actual
funccionario, em occasião opportuna.
Nada temos que ver com a occasião opportuna.
A occasião opportuna, a occasião demarcada pela lei, é todos os trimestres, é todo o primeiro de
cada anno.
Que boa pratica essa? si o unico intendente que apresentu relatorio no praso da lei, foi o Sr.
Francisco Loureiro em 1900 – nestes tres annos?
Nada temos com a occasião opportuna; e o noticiarista e articulista que se referiu aos relatorios
municipaes, que nós bem sabemos quem seja, parte interessada nos negocios da Camara e, quiçá obrigado
pela consciencia a responder-nos; o tal noticiarista, em vez de querer desviar nossas vistas, publicasse o
relatorio que o povo exige e cujo praso já se passou de cinco mezes.
Uma cousa extranha que talvez nos venha auxiliar na propaganda contra as irregularidades que se
praticaram e se praticam na Camara de Sorocaba: depois de tres annos, só agora é que se deu o alarme contra
uma parte do relatorio do Sr. Intendente de 1900, e isto, devido a tomarmos a iniciativa de patentear ao
publico o que se esconde machiavelicamente?
Então, depois de trez annos e sendo ainda preciso a nossa folha sahir a campo, com a coragem dos
que não temem contestação, é que o articulista se lembra de levantar uma lebre? E porque não levantou ha
tanto tempo?
Precisava o temor que lhe causou a nossa folha?
O que o articulista deseja é, talvez, manchar a reputação do Sr. Francisco Loureiro que está prompto
a oppôr-se, com os documentos legaes, contra as manhas de uma que quer fazer figura e pretende adiantar-
nos agora.
Alto lá! sr. articulista! Mande o Sr. Intendente publicar o relatorio passado, que já deve estar feito; é
só copear.
Temos muitas cousas a profligar e, com o tempo, o povo ficará sabendo como é victima innocente
de senhores feudaes.
A nossa folha não persegue quem quer que seja, e, como combatemos pelo povo, a Providencia nos
guie, e havemos de nos insurgir contra o abuso, contra a injustiça e pelo direito.

Repartição de Agua e Exgottos


Temos em mão o parecer apresentado pelos srs. Maj. Arthur Gomes, Tenente Christiano Exel e
Tenente João Padilha, sobre os boatos que corriam quanto a certas irregularidades existentes naquella
repartição.
Nada mais era preciso para desfazer toda e qualquer aleivosidade levantada contra o sr. Joaquim
Nunes, do que o exame feito por aquelles illustes cidadãos, na escripta e documentos apresentados para tal
fim.
Concordamos com o parecer apresentado, porque tudo aquillo estava na incumbencia que os trez
cidadãos haviam tomado para abafar a diffamação injusta.
Nós, porêm, apezar de estarmos de accordo com o parecer, nos lembrmos de perguntar ao sr.
Intendente, si a Camara tem a escripta da entrad no almoxarifado, do material de exgottos, pois, o que nos
consta, a Camara não tem regularisado esses lançamentos.
Os senhores da commissão examinadora, não podiam passar além do limite da sua incumbencia e,
por isso, se satisfizeram, em plena rasão, de responder aos quesitos apresentados.
Nós tambem sabiamos de certas irregularidades e ficamos num equilibrio de duvidas, visto como o
proprio sr. Intendente foi quem levantou a lebre, o que podemos provar com pessoas dignas de consideração,
porque todos os empregados da repartição podem attestar que nós nunca entramos lá.
E assim iremos, pouco a pouco, dando a Cesar o que é de Cesar.

Chronica
A aguia não caça mosca.
E’ muito certo isto, Cada qual com seu igual. Não passe o sapateiro além do chinello.
E estas phrases me vieram á mente. Não sei donde me ficaram nos miolos e parece que calham
bem...
Um dia, vi numa esquina um homem bravo a soltar improperios contra outro.
Este, apezar de ser forte, deixava o inimigo atirar-lhe ás faces todas aquellas injurias... e se calava,
porque quem cala vence.
De que valia responder os improperios com outros improperios?
Cada um dá o que tem.
Lembro-me de que, quando faço viagem, montado na bestinha gateada, não tenho medo de correr
distancia, nem tampouco de assaltos que me podem dar os cães pelo caminho.
Continúo minha viagem, muito senhor de mim, na minha bestinha gateada, pensando que, um dia,
hei de chegar á casa, com toda paz, com toda tranquillidade.
Para variar, em logar de descrever as festas, eu conto aqui a celebre historia d’O lobo e o cordeiro.
O cordeiro bebia agua na parte inferior de um rio, quando o lobo chegou: Quem te deu o
atrevimento de turvar a agua que pretendo beber? — Senhor, responde o cordeiro, a agua desce para mim. —
Respondes, insolente? tornou o lobo arreganhando os dentes – e já o anno passado falasgte mal de mim. —
Como, si não tenho seis mezes? — Pois, si não foste tuo, foi o teu pai, teu irmão, algum dos teus e por elles
pagarás.
«E devorou o cordeiro.»
Isto li no livro de um tal Rocha que, com certeza, fez a proposito.
E no fim, ainda diz na Moralidade: —Foge do máo; com elle não argumentes; as melhores razões te
não poderão livrar da sua furia.
Evita-o fugindo.
E eu, com isto, vou pegando o meu chapeusinho, sahindo de barriga, e pensando commigo mesmo:
Cada um dá o que tem.

Piadas
Quando passardes por perto,
desses que vos achincalham,
mostrae coração aberto,
tirae o vosso chapéu!
Quando passardes por perto,
acreditae, pois que é certo,
que muito dóe a resposta
do desprezo a quem vos fere.
Tirae o vosso chapéu...
E quem faz, um pouco espere,
que tambem terá o seu,
o seu quinhão justo e certo.
Quando passardes por perto,
tirae o vosso chapéu!

E aquelle pobre menino,


trepou sosinho no pau...
mostrou-se esperto, ladino;
mas não fez nada de máo.
E aquelle probre menino
quiz só ganhar o presunto,
comer o presunto quiz...
mas foi parar lá no páo.
Coitado! ainda criança,
bem perto dos Aymorés,
puxou-lhe assim pelos pés
e aquelle pobre menino,
que não fez nada de máo
somente mostrou-se fino
e foi parar la no páo.
CARANCHO

Aymorés
Taba valente e guerreira
dos heroicos Aymorés,
não ha floresta inteira,
tribu gloriosa como és!

Enfeitae-vos, ó rei das florestas!


Enfeitae-vos do linco cocar!
Sôe a inubia a annunciar vossa festa
e os triumphos da taba exaltar!

Eia sempre na conquista


do patriotismo e valor;
e tremam, á vossa vista,
as tribus presas de horror!

Aymorés, ó phalange de bravos!


Salve! Ao vosso triumpho sem par!
Nunca fostes humildes escravos!
Vossa fronte não se ha de curvar.

Os açougues
Pedem-nos reclamar, a quem competir, sobre a falta de asseio em alguns açougues desta cidade, que
são lavados somente de 15 em 15 dias, pois que, em vista disto, o mau cheiro prejudica a saude publica,
encommodando os visinhos e transeuntes.

As aguas
E as aguas sujas que correm pelas sargetas?
Serão precisas mais reclamações?

Mictorio
Não se faz mesmo o mictorio?
Sr. Intendente, faça o favor de chegar até o becco da Matriz. Veja com os proprios olhos e tenha
piedade da saude publica.
Aquillo é insupportavel.
E’ demais numa cidade como Sorocaba!

Repartição de Agua e Exgottos (o artigo não consta no número deste dia, colocado na Internet, portanto,
há que localizar a data em que foram publicados)
Temos em mão o parecer apresentado pelos srs. Major Arthur Gomes, Tenente Christiano Exel e
Tenente João Padilha, sobre os boatos que corriam quanto a certas irregularidades existentes naquella
repartição.
Nada mais era preciso para desfazer toda e qualquer aleivosidade levantada contra o sr. Joaquim
Nunes, do que o exame feito por aquelles illustres cidadãos na escripta e documentos apresentados para tal
fim.
Concordamos com o parecer apresentado, porque tudo aquilo estava na incumbencia que os trez
cidadãos haviam tomado para abafar a diffamação injusta.
Nós porêm, apezar de estarmos de accordo com o parecer, nos lembramos de perguntar ao sr.
Intendente, si a Camara tem a escripta da entrada no almoxarifado, do material de exgottos, pois, o que nos
consta, a Camara não tem regularisado esses lançamentos.
Os senhores da commissão examinadora, não podiam passar alem do limite da sua incumbencia e,
por isso, se satisfizeram, em pela rasão, de responder os quesitos apresentados.
Nós tambem sabiamos dos boatos de certa irregularidades alli existentes e ficamos num equilibrio de
duvidas, visto como o proprio sr. Intendente foi quem levantou a lebre, o que podemos provar com pessoas
dignas de consideração, porque todos os empregados da repartição podem attestar que nós nunca entramos lá.
E assim iremos, pouco á pouco, dando a Cesar o que é de Cesar.

Para constar
O “Cruzeiro” também é ‘viúva’ do Floriano. Por ter passado o aniversário da sua morte o jornal,
em seu primeiro artigo, enche de heroismo a vida preguiçosa de quem pagava para não se mexer. E’, os
heróis são feitos de covardias que deram certo! (essa foi eu que inventei).
Por occasião dos festejos de São Pedro, o Chico Loureiro soltou um balão de oito metros, portando
reclame de sua casa comercial.
No último dia 29, faleceu o menino Carlos, filho de José Rodrigues Costa.

Sb 4/7/1903

Fernando Prestes
As demonstrações de sympathia com que tem sido recebida a nova da candidatura do Sr. Coronel
Fernando Prestes á presidencia do Estado de S. Paulo, faz crer no triumpho do seu nome.
De todos os logares se espalham noticias da expontaneidade do povo, neste sentido, e esperamos
realisar-se esta prova de independencia particular.
Ninguem mais merecedor da estima dos sorocabanos que Fernando Prestes e, oxalá saibam
reconhecer o que lhe devemos e não paguemos com a ingratidão o beneficio recebido.
Infelizmente os homens são mais propensos a não considerar o bem que lhe fazer e, como os
sorocabanos devem mostrar-se reconhecidos, nós aqui ficamos de atalaia, afim de espreitarmos o desenrolar
da eleição presidencial.
Trave-se, pois, a contenda; seja o eleitorado independente, franco na expansão de suas idéas.
Mostrem os sorocabanos a estima que devem ao bom Coronel Fernando Prestes, e nos acompanhem
na campanha em prol de sua candidatura, que não nos arrependeremos.
Elle é considerado por todos os republicanos sinceros, porque faz jus ao respeito que lhe devemos,
em virtude de sua honestidade e caracter.
Salve! Coronel Fernando Prestes!

É isto
O povo, quando fôr eleger suas camaras municipaes deve escolher, para distribuidores das rendas
publicas, homens honestos, de reconhecido criterio, politicos da vida e conhecedores das necessidades de nós
todos.
Tudo depende de senso, de imparcialidade, de justiça, de maneira que o povo não veja o seu suor
aproveitado illicitamenta.
O governo é feito pelo povo e não o povo feito para o governo.
Uma camara não pode ser partidaria, porque deve tambem ser reconhecida e respeitada a idéa de
seus concidadãos.
Si todos contribuem para o cofre publico porque rasão são justos só os da maioria?
Dahi os abusos que se dão todos os dias.
Uns tomam conta das posições e ficam senhores de tudo.
Decretam leis a seu bel prazer.
Não pensam no povo. Só pensam em si proprios e nos amigos.
Decretam impostos, fazem-se monopolios, dão-se gratificações... e augmentam-se as leis
oppressoras da massa popular, que, innocente, paga a vaidade de seus senhores.
Vem-nos á memoria o levante feito pelo povo de Itapetininga contra a Camara Municipal daquella
cidade.
Foi uma lição solenne de civismo em que triumphou o Direito e a Justiça.
Nós aqui em Sorocaba, vivemos tambem subjugados horrivelmente.
O imposto de agua é irregularissimo, quanto á porcentagem e quanto ao valor locativo do predio.
Os impostos de industria e profissões, pesadissimos.
E o imposto do serviço de exgottos é outro fardo atirado ás costas do povo exanime, exhausto e
soffrendo até miseria.
No emtanto o material para os pobres ahi está.
Mas como farão elles o serviço?
Para isso é preciso pagar os sessenta e cinco mil réis, fora o que si augmentar. E’ o mesmo que se
convidar uma pessoa a entrar em caza e ameaçal-o com um punhal.
Depois, ha um material só que póde ser utilisado; com certeza em proveito de algum privilegio.
A Camara sabe das condições do povo; e então porque faz gratificações?
Si nem pode saldar suas contas?
Santo Deus! Como poderá este pobre povo, soffrendo sacrificio, sanear a cidade, si deante de si vê o
abysmo do cofre municipal?
E, si não tratamos, quanto antes da limpeza da cidade, si voltar aquella triste febre, como nôs
arranjaremos?
A Camara não pode ser benigna e ha de sempre maltratar os pobres sorocabanos.
Faça economia, dimunua os ordenados. Si nos vamos soffrendo por causa dos impostos, porque os
empregados publicos tambem não soffrerão?
Vivitur parvo bene. Vive-se bem com pouco.
Não concordamos com tamanho despotismo.
E onde está a liberdade na republica?
Então Camara é isto?»

Piadas
E a vacca? A pobre! Coitada que houve durante essa festa,
Foi morta lá no Casino! foi, o que é caso provado,
tendo filho pequenino. e que todo o mundo attesta,
E a valente rapaziada, nem vos estou enganando,
não quiz saber de lambança, que um delles disse admirado:
gostando da carne assada, o bezerrro de espantado,
e do fresquinho churrasco, sahiu pulando e berrando.
entraram depois na dansa, ***
nem fez o mais curto fiasco. E o mictorio? Que tristeza
De tudo o mais engraçado, E elle é preciso bastante!
De tantas boas pilherias, Queremos da gentileza
De todas picantes lérias de quem faz tudo e é mandante,
Ditas como coisas sérias que mande logo fazel-o.
Todos queixam-se e eu me queixo e lhe agarra o calcanhar.
de tanta falta de zelo,
de tanto triste desleixo E de noite embora traga
*** a gente grande lanterna,
Pelas ruas da cidade com essa invencivel praga
Ninguem mais póde passar; morder-lhe mesmo na perna
qualquer cão vem, sem piedade, CHANCHAN

Reclamando
Temos recebido devolução de algumas pessoas que nos pediram e reclamaram, por carta, a remessa
de nossa folha.
Havemos de saber donde nos vem essa affronta e de novo pedimos aos nossos bons assignantes que
nos façam scientes de qualquer falta ou irregularidade na entrega da folha.

Para o Rio
Segue hoje para o Rio de Janeiro o nosso conterraneo e amigo dr. Eurico Pereira, quinto annista de
medicina.
Feliz viajem.

Santos Dumont
O illustre brasileiro tem assombrado Paris com o seu maravilhoso invento e com a agilidade com
que se move o seu novo balão.

Correria
Chamamos attenção de quem competir, para certas pessoas que passam a cavallo galopando pelas
ruas.

A febre amarella
Suscitou-se uma questão entre os medicos no Rio de Janeiro, sobre a transmissão da febre amarella.
Alguns seguem o dr. Emilio Ribas, da Capital de São Paulo, sobre a propagação pelo stegomya
faciata e outros oppôem-se, pretendendo, por seu turno, provar que todo o contacto, o vomito, a roupa e os
trastes, podem fazer o contagio da molestia.
Vamos vêr em que ficamos.

Que fazem então?


Será impossivel acabar-se com as aguas sujas que correm pelas sargetas?
Na rua da Memoria ha um cavallo em putrefacção, e o fetido é insupportavel.
Isto é limpeza publica e hyggiene!
E os responsaveis, que fazem, então!

A multa
Vieram ao nosso escriptorio mostrar um recibo de pagamento de imposto predial, onde vimos a
multa de 30 por cento cobrada, por motivo de um mez de atrazo somente.
E’ um despotismo. Precisamos de mais benignidade.
Com certeza redundará em gratificações.

Para constar
Tem sido calamitosa a seca no Rio Grande do Norte.
Em dia de visitação à Santa Casa, os donativos importaram em quinhentos e nove mil e oitocentos
réis. A «Lyra Sorocabana» animou o evento.

Qa 8/7/1903

Clama, ne cesses
Quando tomamos da penna, nosso único intuito é proteger a plebe, o vulgo que vive arrastando de
Deo in Deo, preso pelas cadeias rijas do poder mal comprehendido e peior empregado.
Ha tantos annos conhecemos Sorocaba, aqui vivemos, e nunca tamanho dominio imperou sobre os
seus filhos.
Sabemos que a Camara tem grandes compromissos, fructo de erros, sejam por innocencia ou sejam
por indiscripção e partidarismo, porém, por isso não se segue que um bruto imposto, exorbitante, fora das
raias de um governo liberal e republicano, caia como uma fouce cortante, fira erroneamente a população
Quer nos parecer que vivemos escravos agora e, si frisamos melhor este ponto, nós somos
verdadeiros escravos de senhores, cujo poder escravocrata é legalisado.
A humanidade caminha para a conquista santa da liberdade e, no emtanto, em pleno regimen
republicano, (bem ao conttrario do que se proclamava antes da Republica) vivemos perseguidos por impostos
nunca vistos, temos senhores que não transigem do cumprimento de sua vontade.
Porque se não hade fazer tudo debaixo das normas da justiça, deante das necessidades do povo e
procurar-lhes o bem estar e a paz?
No emtanto, o clamor se espalha. De todos os cantos se levantga a indignação contra as injustiças,
mas os ouvidos dos nossos senhores não se inclinam para attender as supplicas justas do povo que pede a
regularisação, a ordem e allivio de tão onerosa tabella de impostos que, para dizermos a verdade, só consta de
alguns numeros avulsos de um jornal, com tantas emendas.
A’s claras, ao povo o celebre e encantado relatorio, porque o povo quer saber de suas
circumstancias, quer saber como zelam delle.
Clama, ne cesses: Clama, não cesses.
Vamos, cumprindo assim, á risca, o nosso programma e não somos partidarios por atacarmos a
administração local que opprime o povo e se ri de seus padecimentos.
Um homem que se quizesse mostar digno da estima de seus concidadãos, seria o primeiro, no
governo, a soffrer as consequencias dos males que nos affligem e mostrar que bem sabe avaliar a doutrina da
egualdade e que não tem mais direito do que os outros. Todos nós somos eguaes.
Constituem-se as cidades, a união, agim de melhorar as condições de todos nós e, no entanto,
elegendo os que devem zelar por nós, para o nosso bem e conforto, vemos que a degeneração do caracter faz
com que se esqueçam do direito que temos e da obrigação que tomaram de defender o pobre povo. »
Será crivel, senhores, que tenhamos actualmente na administração do nosso municipio, o mesmo
homem que outrora assim pensava, parecendo um poco de criterio e de honestidade?
E’ o mesmo homem que nos governa procedendo porém, de modo absolutamente opposto ao modo
de pensar de outr’ora, o que prova as grandes verdades ditas por nós tantas vezes – que elle desejava galgar
posição e assento á mesa do orçamento, muito embora alardeie riqueza e diga que não precisa, como é
costume.
Veja o publico, quanta verdade em nossas palavras e quantta razão em nossas accusações!
Mandou dizer o sr. prefeito pelo seu pasquim, que «o povo quando fôr eleger suas camaras
municipaes deve escolher, para distribuidores das rendas publicas, homens honestos de reconhecido criterio,
praticos da vida e conhecedores das necessidades de nós todos.
Uma camara nestas condições é poderosa alavanca para o progresso do municipio.
Tudo depende do senso de imparcialidade e justiça de maneira que o povo não veja o seu suor
aproveitado illicitamente.

Codigo de Posturas
Parece incrivel, mas é justo confessar, a falta de um Codigo de Posturas da nova Camara Municipal,
onde o povo possa conhecer a lei a que está sujeito.
E’ verdade que o existente, impresso ha muitos annos, já não póde servir de base a qualquer pessoa
que o queira consultar, pelas alterações que tem passado.
Ha, porém, alli na Camara, um livro á imitação dos albuns de collecção de sellos, onde vão sendo
grudadas as leis e deliberações novas, e isto mesmo sem ordem e regularidade.
Notamos que todas as Camaras do Estado tem o seu Codigo impresso e em localidades de menos
importancia.
Pois, si a Camara trata do bem do povo, quira viver ás claras, fazer as coisas de accordo com a
justiça, afim de sabermos a quanto andamos.
S. P.

Piadas
Nesta grande Sorocaba, pedindo o seu dito cujo,
Ai! Trim trim! Ó cebolorio! como o povo todo diz,
A Camara só se gaba, pedindo o seu dito cujo.
A Camara só se gaba,
mas, não trata de um mictorio. Passa a noite e o dia vem-nos
e de novo a noite cae...
E o becco lá da Matriz e o mictorio? nem ao menos,
ha de viver sempre sujo, uma verba p’ra ele sae!
mostrando os dentes tamanhos,
E no emtanto o povo soffre, fazendo mil arreganhos,
pagando esse grande imposto e nem nos deixam dormir.
mas a Camara abre o cofre,
mas a Camara abre o cofre, E’ bem feito, é caridade
gratificações que é um gosto. attender-nos, por favor:
o lixo, os cães na cidade,
E os cães? Safa! C’os dianhos! até é immoralidade,
Por toda a parte a latir, alêm de causar horror.
CHAN-CHAN

Do Rio
Carissimo Redactor
Tenho recebido os primeiros numeros de sua boa folha, de collaboração variada e, francamente,
nestes ultimos annos, Sorocaba ainda não teve jornal egual.
O “Commercio de Sorocaba”, quando nasceu, foi de grande formato e ia fazer vida, si o redactor não
cuidasse somente da Sorocabana que, hoje, graças á capacidade do novo superintendente, tem feito jus ao
elogio do publico.
Henrique era de muito tino, porêm, o que não agradava era o modo de dizer as coisas.
A outra folha não póde luctar, devido a não lhe ser permittido, em virtude da politica adoptada.
Daqui começarei a enviar-lhe, de vez em quando, algumas linhas, e faço votos para que a sua folha,
que já nasceu com o prestigio de antigos sorocabanos propagandistas da Republica, faça brilhante carreira e
siga, desassombrada, o trilho aberto para a defesa da Justiça e do Direito. (Não constou a assinatura do
missivista).

Leão XIII
Está gravemente enfermo o papa Leão XIII.
A noticia tem alarmado profundamente a velha Roma.

Fallecimento
Falleceu no dia 5 do corrente, pelas duas horas, mais ou menos da tarde, o sr. Pedro Loureiro
(parece ser o 4-74, atirador), que era bastante estimado entre nós.
Nossos pesares á familia.

Animaes
Vieram pedir-nos que reclamassemos contra a malvadez e maus tratos que se dão aos animaes,
principalmente sovando-os a puxar carroça, quando estão magros de mais.

Centro Espirita
Consta que existe nesta cidade um centro espirita denominado 24 de Julho, composto de muitos
associados.

No Jardim
Disseram-nos que as grades do jardim precisam de nova mão de tinta, pois estão enferrujando já.
O mesmo se dá com as grades da ponte, em vista do mau costume de ourinarem (sic) lá.

Contra desmentido
Vimos uma declaração contra nós em que se contestava um trecho das Piadas sobre a prisão do
menino que subiu ao pau de cocanha, na festa dos Aymorés.
Nós não declaramos nome de quem quer que seja e, agora, affirmamos que o menino foi preso, foi
arrastado entre as familias, e levou um safanão, o que podemos provar com pessoas de bastante consideração.
Quando quizerem chamar-nos de mentirosos, pensem e venham (palavra ilegível) com provas.

Club Aymorés
Tendo chegado ao nosso conhecimento que a Directoria deste Club devolvera nossa folha por não
termos considerado aquella associação desde o primeiro numero, temos a declarar que isto foi motivado
exclusivamente pela pouca pratica da pessoa incumbida das primeiras distribuições da folha.

D. Dolores Gonçalves
A força hypnotica.
Esta entre nós esta senhora dotada de grande força natural hypnotica, que tem feito maravilhosas
curas repentinas de paralysia, nevralgia, asthma, reuthmatismo etc.
Estivemos com dezenas de pessoas que soffreram os passes beneficos dessa boa intermediaria da
força espirita, e nos contaram que, quando estão soffrendo a acção da cura, um fluido extraordinario lhes
percorre o corpo, com forte corrente electrica.
Nós cremos, nella pois a força hypnótica existe em muitas pessoas que, por não saberem aproveital-
a nada podem fazer.
É força natural que necessita, somente, de cultivo, de sabel-a applicar.

Declaração
Para acabar com as intrigas, declaro que o sr. Joaquim Soeiro continua na gerencia da Empreza
Electrica desta cidade e a merecer minha inteira confiança.
A. J. Byington.

Para constar
O jornal é marcadamente tendencioso para o espiritismo, isto desde o seu primeiro número. Traz as
historietas de Eliphas Lévy e o Sr. Vera Cruz, redator do jornal, também mete as suas espiritualidades para
apreciação dos leitores. Até aqui não se sabe de qualquer reação da Santa Madre Igreja.
Agora reclama-se outro mitório: nas proximidades da POonte, onde é grande a fedentina de urina.
Tem um comerciante (será que é mesmo?) reclamando ao jornal que ainda não apareceu, de
rompante, um fiscal de pesos e medidas em seu estabelecimento, e alega: «Isto é bem prejudicial ao
comércio honesto e ao povo, pois que uns vendem barato demais porque seus pesos não são justos; e o
outro, o povo, é que fica prejudicado e iludido». Muito consciençudo o tal!
Em Itapetininga pagam-se dezoito mil réis anuais pelo fornecimento de agua. Em Tatuí, pagas-e
mensalmente três mil réis por casa, ou seja, o dobro do que se paga em Itapetininga.
A «Tribuna de Santos» informa que o Congresso do Estado pretende reduzir a 100$000 e 150$000
o ordenado dos professores.
Na eleição do último domingo do Club União saíram eleitos para o biênio 1903-1904 os seguintes
senhores: Major Eduardo Anthero, presidente; Dr. Artur Martins, vice-presidente; João Dias, tesoureiro;
Francisco da Rocha Pinto, primeiro secretário; Tenente João Padilha de Camargo, segundo secretário.
No Beco do Iporanga, o estado de sujeira é uma tristeza.
O inspetor de Higiene reclamou dos fiscais, que fosse posto na rua o lixo dos quintais, o que eles
providenciaram. Porém, os carroceiros da coleta não o recolheram, alegando ter ordens de só retirar o lixo
que estiver em latas ou cestos. Será verdade?
Dia 21 realizar-se-á a festa de São Benedito.
Endereços úteis: médicos – Dr. Alvaro Soares, Rua Floriano Peixoto, 18; Dr. Artur Martins, Rua
da Ponte, 27; Dr. Flamínio Botelho, Rua do Rosário, 18; Dr. Costábile Matarazzo, Rua Padre Luís, 31; Dr.
José de Paula Sousa, Largo do Rosário, 2. Advogados – Dr. Luís Nogueira Martins, Rua Floriano Peixoto,
126; Dr. Joaquim Marques Ferreira Braga, Rua Dr. Álvaro Soares, 3; Antônio de Oliveira, Rua da Ponte,
25; Crispiniano Fontoura da Costa, Rua Padre Luís, 34; João V ieira de Campos, Rua Padre Luís, 19. –
Cartório do Registro Geral e Hipotecas de Terras e Anexos: Major João Lycio Gomes e Silva, Rua
Floriano Peixoto, 71. Administração do Cemitério: Hipólito Cassiano da Silva, Rua da Matriz, 9. Coletoria
Estadual: coletor Cap. Manuel Januário de Vasconcelos, Rua Direita, 40. Coletoria Federal: coletor
Tenente João Padilha de Camargo, Rua do Comércio, 16.
Chegou ontem o Circo Americano, que deve estrear-se no próximo sábado.
Domingos Valoni, um pobre pai de família, como ele se identifica, agradece ao Sr. Francisco
Catalano o tê-lo tirado da cadeia pública, onde esteve recolhido por cinco dias.

Sb 11/7/1903

Vox clamantis in deserto


No nosso gabinete a sós, como operario intellectual, pensamos maduramente, trabalha o nosso
cerebro atacado de mil modos, quantas são as injustiças que temos de combater.
Não ha pennas mais branda, não genio mais cordato e docil, que não se revolte quando á imagem do
martyrisado povo se lhes apresenta, mostando, a nós, os signaes dolorosos feitos em seu corpo pelas
vergastadas da injustiça.
Porque, senhores, não voltam de uma vez os olhos para aquelles que se confiaram em vós, vos
entregaram cheios de fé, a administração de nossa cidade?
Acaso não tem o povo, direito de pedir-vos, direito de impor-vos a sua vontade?
Então elle, innocente, ante vossas promessas, ante vosso juramento de bem dirigirdes os negocios
publicos, em vez de alcançar a vossa attenção, merece que despreseis desdenhosamente, como a um animal
robusto preso a uma corrente de aço?
Vossa consciencia não se revoltará, acaso, vendo a indignidade, a dôr que causa nas familias, esse
imposto exagerado?
Não vos lembraes tambem que ha muitos pobres precisando de auxilio e ainda daes gratificações?
Ainda continuaremos, senhores, a viver por longo tempo subjugados pela formidavel tabella de
impostos?
Não abuseis, vos pedimos, da força que vos deu o povo afim de serdes uteis, bemfeitores, dóceis á
voz e ás necessidades da população!
Não vos defendaes, porém, dizendo haverem grandes compromissos municipaes á solver, porque se
assim fosse, o cofre com mais difficuldade se abriria.
Pede o povo essa grande alma sofredora e humilde, que seja mais merecedor, emfim de estima e
consideração.
Nada vos será mais nobre que o cumprimento de vossas promessas ao tomardes as redeas da
direcção do nosso municipio.
Abri vosso coração, acolhei, é vosso dever, as supplicas de todas as familias que luctam para ganhar
o pão, e no entanto vê o que lhes custa tanto, facilmente distribuido!
Si assim fizerdes nós seremos os primeiros a render vos tributos de louvor e, si pelo contrario, nossa
penna não se quebrará, porém irá sempre batalhando em pról do direito.
Não voem nossas palavras: não sejam com a vox clamantis in deserto, a voz de quem clama no
deserto, mas como uma oração verdadeira, filha da amargura por quem ainda tem um pedaço de coração.

Piadas
E lá na repartição Escutem, porém... hom’essa?!
acabou-se o cafesinho... não se faz mesmo o mictorio?
oh lá, si acabou ou não!?
E era quente e gostosinho. E Chan-chan cae na ninhada,
Abre as unhas e, sem dó,
Afinal, como o Cruzeiro não perde um filhote só,
começou a derrubada, dessa grande afilharada.
já vae tudo em debandada,
não fica signal nem cheiro. Fui ao kioske na Ponte,
-- (...). (sic)
E fujam que lá vae obra! --(...). (sic)
O Cruzeiro logo vem; Oh que horror! Que fedentina
e vem bravo como cobra
e não perdoa a ninguem. E viva, viva a Intendencia!
Talvez, o mictorio saia!
Appareça o relatorio; Sinão, ai! Tenha paciencia,
façam bem, façam depressa... segure-se, que não caia!
CHAN-CHAN

Padre Dr. Barros


Acha-se a passeio nesta cidade o nosso ex-vigario rv. Conego dr. João E. da Silva Barros, Reitor do
Seminario Episcopal de S. Paulo.

Os cães
Graças a Deus, começou a matança dos cães.
Apezar de acharmos bem repugnante o emprego do veneno, que deixa em horriveis convulsões os
cães na agonia, podiamos apresentar um meio mais adequado para exterminal-os da cidade, porêm parece-
nos um pouco difficil.
O melhor, mesmo, é prohibir-se cães na rua. Multar os donos.
Assim a procreação não seria tão grande.

Ponte encantada
Consta-nos que a ponte do Lava-pés está sendo feita desde Março, dirigida pelo sr. Intendente,
occupando 7 a 8 empregados diariamente, ganhando, si é verdade o que nos informaram, 5$ a 6$ diarios.
Alem disso empregam uma actividade extraordinaria, de maneira que será mais uma bemfeitoria
digna de louvor, e que custará com certeza, pouco dinheiro ao cofre publico.
Havemos de vêr em quanto vae ficar.
Agua e exgottos
A Camara, daque a poucos dias, vae fazer uma sessão ordinaria.
Será em beneficio, para o povo, tratarem da questão de Agua e exgottos.
Cuidem do bem estar das familias, não as sobrecarreguem de impostos.
Deixal-as agir de conformidade com as exhaustas forças que lehs restam.

Directorio de Campo Largo


A Commissão Central do Partido Republicano reconheceu o Directorio Politico de Campo Largo de
Sorocaba, constituido pelos Srs. major João Carlos Vieira Barbosa, tenente-coronoel Antonio Gomes de
Almeida, major Manoel Machado de Oliveira, Arthur de Moraes Rosa, Francisco Euclides da Silva,
Francisco Mascarenhas Martins, capitão Antonio Barbosa Antunes, Pedro Ives e João Frederico Menk.
E’ um bom Directorio com que o povo de Campo Largo muito tem a lucrar.
São homens de bastante criterio e, principalmente de honestidade.

Dolores Gonçalves
Tem sido muito procurada esta senhora.
A sua casa está constantemente cheia de pessoas que vão procurar allivio para seus soffrimentos.

Para constar
Que coisa! O Cardeal Rampolla estava esperando a morte do Papa e andou cabalando a propria
eleição á mitra pontifical. Mas, ”O plano do Rampolla deu em droga...”; “O Papa ainda vive.”
O jornal reclama demais dos cães rueiros, mas são os caseiros que estão fazendo os mais notáveis
estragos. Elvira, criada do Tte. João Basílio de Oliveira – o que iria fornecer aos Pires e Cia. as fatídicas
armas de 20 de junho de 1910 – foi ao quintal regar as plantas do patrão e um dos cães da casa atacou-a e
rasgou-lhe o lábio superior: Santa Casa nela! – Outra foi a Miloca, filha do Cap. Antônio Antunes Neto: ela
levou uma mordida na perna daquelas de dilacerar. Coisa horrorosa!
Alguns empregados do comércio reclamam que seus patrões conservam as portas abertas até altas
horas do domingo. E o descanso da rapaziada?
E, em Nova York, continuam a aparecer, ao amanhecer, corpos de negros, linchados e pendurados
nos postes. Pois é. Os nossos republicanos mais fanáticos já estão pensando em fazer o mesmo por aqui, já
que os Estados Unidos são o paradigma das nações republicanas da América Latina e o Brasil precisa
correr atrás do “progresso”. Vamos imitá-los, macacada verde-amarela! Por falar em verde e amarela,
porque será que os nossos republicanos não mudaram a cor da nossa bandeira? Verde e amarela são as
cores da Casa de Bragança, da nossa casa imperial.
Há uma carroça que trafega pela cidade com duas “obras de arte” pintadas em suas laterais: do
lado direito, um cão arrastando um porco pela orelha e, do lado esquerdo, Nossa Senhora do Bom
Conselho. Uma beleza!
Luís Alves Bastos, secretário do Circo Americano, é o ex-diretor-gerente do jornal Republica, de
Itu.
Com leite desnatado e bórax, faz-se, atualmente, um marfim artificial tão duro, que até serve para
bolas de bilhar.
O único soberano europeu que não tem seguro de vida é o czar da Rússia.
O escrivão da Polícia, Joaquim Augusto Rolim de Arruda, atende no Largo do Jardim, n. 10.
No Fórum, o Primeiro Tabelião é o Major Arthur Gomes, o Segundo é o Tenente João José da
Silva, o Contador é José Antão de Arruda.
As esmolas para a Santa Casa, de iniciativa do Cruzeiro do Sul, há muitos dias que estacionou em
25$000. A Redação e o Cap. Elias Lopes de Oliveira contribuíram com dez mil réis cada um, e Pinto Braga
& Cia. com cinco. Por que será que a sociedade sorocabana não quer colaborar nessa lista?

Qa 15/7/1903

Pax justis
Hoje em dia não se vê mais, com antigamente, pessoas que na Camara, procuravam honrar seu
nome, tratando de fazer bem ao povo, colher-lhe a estima, trabalhar pelo melhoramento das condições da
população.
O que se nota, digamos francamente, é um partidarismo amigavel, um apoio incondicional entre os
senhores camarista.
A primeira parte do programma é amenisar a propria vida, visar primeiramente o interesse de seus
amigs.
Cada partido vencedor tem lá sua eterna força, de maneira que qualquer idéa, por melhor que seja,
basta uma pequena desharmonia, e o nosso amigo volta, pensando entristecido, no que todo o mundo diz:
fazem como lhes agrada e interessa.
Independencia, mesmo? Alli não se conhece. Demais o caracter, essa altivez que o homem deve
sempre conservar e defender, é hoje muito caro.
Já se foi o tempo em que um fio de barba valia um juramento.
O homem de certa maneira, cioso de sua reputação, quando querem fazel-o de instrumento, revolta-
se ante o menospreso ligado a sua independencia, o seu modo de pensar e agir.
Precisamos de pessoas esmeradas no cumprimento do dever, de suas idéas, que lutem pela victoria
de seus planos e que se imponham, assim, ao respeito dos que confiaram em si e que muito terão attestando
os beneficios deixados pelo seu eleito.
* * *
Não ha nada bom como ter-se liberdade de dispor de qualquer cousa á vontade, principalmente
quando não se tem de dar satisfação, ou quando outros não se interessam por exigir a prova do bom
desempenho da missão de que se é incumbido.
Não há nada como a tranquillidade, o socego, a fartura.
Ruim é dever-se apresentar contas perante amigos, quando não se tem consciencia dos actos
praticados.
Triste é a Camara deixar correr tudo às mil maravilhas, fazer tudo á vontade, sem se lembrar de não
fazer aos outros o que não deseja para si, e agora, depois de tamanha pedra posta em cima do encantado
relatorio, ter de tiral-a, abrir ao publico o grande livro do dever, attestar o seu trabalho digno de elogios,
merecedor de um voto sincero de agradecimento, por parte da população.
Sim, senhores, em breve teremos a grande obra do relatorio e vamos ter, tambem, o quadro vivo, o
documento das bemfeitorias que Sorocaba recebeu das mãos de seus patriotas e leaes bemfeitores.
O povo tem pago impostos pesados, porem Deus permitta que elle não se entristeça, lembrando de
suas lagrimas, vendo o fructo e xiguo do que tanto lhe custou.
Queremos, ó povo, que ante os beneficios da Camara, saibas agradecer a boa vontade dos executores
de nossos desejos e bem estar, e te ufanes dizendo: custou muito, mas aginal, lucramos e podemos beijar as
mãos de nossos bemfeitores.
Abençoados aquelles que te ouviram e deram remedio a teus males, o povo!
O remorso perseguirá, porém, os que menos prezaram o teu suor, as familias sacrificadas.
Pax hominibus bonam voluntates.
Paz aos justos.

A agua
Constantemente ouvimos queixas de pessoas, quanto á porcentagem do imposto de agua.
Não póde haver mais falta de justiça, maior pouco caso ao clamor publico, não póde haver maior
falta de dó para com o pobre povo exgottado de recursos, espoliado legalmente por uma semelhante tabella
de impostos!
E’ uma desorganisação, é uma desordem que cahe em prejuiso da pobre população.
Senhores da edilidade! pelo amor de Deus, não façaes á outrem o que não quereis para vós.
Felizes dos que podem e mandam como bem entendem, e fazem o que lhe apraz!
Ai dos que vivem em suas pobres casas, e, ainda assim, sentem o fructo de uma administração que
em vez de defender o povo, julga-se senhora soberana, e impõe o que pensa e quer!
E’ isto; não se contesta; é a verdade nua e crua.

Piadas
O Cruzeiro que levante A ponte, o mictorio, impostos,
a rouca e tremenda voz; Santo Deus! Ai que desgraça!
não ha o que nos supplante, Em que embrulho fomos postos
não ha o que nos espante, E nada ao Cruzeiro passa!
e quem manda somos nós.
Cuidado! Agora acabou-se
Fazemos, fazemos tudo O gosto cafesinho:
Num santo e gosto accordo, ha muita cangica doce
comendo o carneiro gordo; que precisa um reparinho.
mas Cruzeiro, esse abelhudo,
reclama, reclama tudo Quando sahe o encantado
e faz de tudo arrelia. mictorio, meus bons edis?
Ao pé da egreja Matriz, E todo o povo... coitado!
vê-se um becco perfumado, desconsolado se queixa
como o povo todo diz. vendo o mictorio encantado
Relatório?... Tá bão, deixa!
Mas a Intendencia, porem,
mostra o seu ouvido mouco, A luz electrica, então,
e a todos diz alto e rouco: essa nossa pobre amiga
Qual mictorio! Elle não vem! anda com dôr de barriga,
que até causa compaixão.
CHAN-CHAN

Com o Correio
Assignantes do fim da rua Floriano Peixoto, Moreira Cesar e largo da Independencia, pedem-nos
providencias, afim de lhes ser entregue (sic), pelo sr. carteiro, as suas correpondencias que são deixadas em
casas visinhas.

O jogo
Vieram chamar nossa attenção para o abuso de se permittir menores jogando bilhar no Casino.
Pedimos providencias e cumprimento do proprio regulamento dessa casa.

Consta
Consta-nos com visos de verdade, que na Camara appareceu um requerimento pedindo uma
gratificação para o guarda-livros, por ter posto em dia a escripturação.
Consta-no tambem, que o Secretario recebeu, si não nos enganamos, 100$ para o mesmo trabalho.
Vae tudo muito bem.

Assassinato
No Avaré foi assassinado o sorocabano Coronel Anacleto Dias Baptista Pires, tio do gerente de
nossas officinas, e chefe dissidente naquella localidade.
Nossos pezames á familia enluctada.

As divisas
Sabemos que o Juiz da Capital despachou a favor do municipio da Piedade e contra este, quanto á
questão da divisa de Caetano Prestes e Braga Velho, ficando assim Sorocaba sem uma parte de terra que
sempre lhe pertenceu, conforme a lei nº 51 de Abril de 1872.
E os chefes politicos daqui??? (Não foi nada disso: o juiz da Capital fez consulta a perito e não deu
despacho algum.)

No Mercado
Negociantes e pessoas do sitio pedem reclamarmos contra o procedimento do sr. escrivão do
Mercado, que não os considera, nem os tgrata com delicadeza.

Sem epígrafe
«Nos sertões de Picos, entre Ceará e Piauhy, na fazenda do coronel Ignacio Gomes, está na ordem
do dia uma creança de 10 annos, verdadeiro phenomeno.
E’ de uma extranha precocidade intellectual, alliada a uma memoria extraordinaria; mas
inexplicavel, visto como relata com toda a precisão factos passados ha dezenas de annos, citando nomes,
episodios, commentando-os como si os tivesse assistido.
Estevam, como se chama, é filho de um vaqueiro de nome Isidoro de Almeida, que nunca sahiu
desses logares e é completamente analphabeto.
Essa creança phenomenal, quando perguntam qualquer coisa do passado, cerra por instantes os
olhos, como num extase, e depois narra perfeitamente os factos a que alludem , determinando horas e logares.
Perguntado sobre os phenomenos constantes das seccas, depois de grande extase, declarou que era
um castigo divino, pois que em outros seculos de menos peccados os phenomenos não se reproduziam com
tanta constancia assim.
Diz que em certos momentos, fechando os olhos, como que ouve a resposta do que lhe perguntam e
apenas faz reproduzir o que lhe occorre ao cerebro.
Estevam annuncia futuras calamidades ao Ceará e diz que se devem queixar das deshumanidades
dos politicos que tanto tem perseguido os pequenos e bons.
O povo dessas regiões está verdadeiramente assombrado...
Digam os sabios da escriptura...»
D’«A folha» de Porto Ferreira.

Para constar
São filhos do Capitão João Clímaco de Camargo Pires: Helena, Trajano e Sinésia.
O Circo Americano tem tido casa cheia.
O promotor publico da comarca é o Dr. Armando Sousa Ramos.
A última diretoria eleita do Club União não aceitou os cargos. Fez-se nova eleição que deu o
seguinte resultado: presidente, Manuel José da Fonseca; Vice-Presidente, Antônio Xavier de Araújo;
Primeiro Secretário, França Júnior (argh!); Segundo Secretário, João Padilha de Camargo; Tesoureiro,
João Câncio de Azevedo Sampaio.
Tocou, ontem, no Jardim, a «Lyra Sorocabana».

Sb 18/7/1903

Nulla dies
Callam profundamente no coração, as palavras, as queixas, que, constantemente ouvimos a respeito
dos imposto.
Si estes fossem distribuidos com justiça, attentas ás condições pessimas em que se acha o povo
sorocabano, por força acabar-se-iam os abusos.
A nossa Camara parece não ter mais força para se impor pois que as multas... ninguem se
incommoda com ellas, a não ser algum coitado, receioso e timido.
Outros ha que fazem capricho de não pagal-as.
Isto porque revolta, mesmo, o despotismo, a tyrania, a injustiça dessa arma ferina.
Parece-nos que, assim, a nossa Camara vae-se desmoralisando, pois as suas leis não estão
coordenadas, e as irregularidades são reaes, dão-se continuamente.
Precisamos de uma lei clara, feita tambem de conformidade com as nossas necessidades.
A Camara, si dividisse o imposto, com toda equidade imparcial, naturalmente fasia com mais
facilidade a cobrança.
Da maneira actual, com este desleixo de triste menção, tanto se sacrifica a população como a
Camara; aquella porque paga um imposto exhorbitante e esta porque não tem força precisa para se fazer
respeitada.
Ou tudo, ou nada; ou uma cousa em ordem, ou anarchia.
Ha casas de pobres em que moram uma ou duas pessoas só, pagando tanto quanto outras habitadas
por cinco ou seis pessoas.
Tratem os nossos camaristas de legislar mais justamente, attendendo as queixas do povo, esse pobre
cordeiro que soffre sem gemer.
Façam o imposto de maneira a facilitar o pagamento por parte das familias.
Não se arrependerão e, pelo contrario, tornar-se-ão dignos de louvor e agradecimento.
* * *
E o saneamento?
Não sabemos quando continuará.
Trez quartos da população não póde fazer as despezas com installação de agua e exgottos e, alem
disso, a municipalidade cobra o imposto de 65$000, quando devia facilitar o serviço a bem da urgente
hygiene da cidade.
Si o material recebido pela Camara, é uma parte destinada a ser dada aos pobres, cumpra um acto de
beneficencia; sinão ceda o material pelo mesmo preço como já cedeu a diversos, afim de vermos, em breve,
Sorocaba limpa e salubre.
A Camara, que lucra do material empatado?
Ella tem em deposito, cerca de 500 latrinas e material para as respectivas installações.
São 500 casas que, em breve, pódem ficar saneadas, e são 500 contribuintes certos para as rendas
municipaes.
Pedimos aos srs. camaristas que façam sentir seu amor por esta terra, ha poucos annos assolada pela
terrivel epidemia, e lembrem-se que ainda não estamos livres della e é preciso, quanto antes, acabar-se com
as innumeras privadas que tornam pestilento o ar desta cidade, outr’ora puro e bom.

Piadas
Dizem que a terra é redonda;
tal não posso acreditar, A agua gostosa e salubre,
pois esse negocio de ronda da biquinha se acabou;
tem me dado o que pensar somente na vacca o ubre
ninguem julga que seccou. Eu vou chamr o Boccudo
para gritar sem piedade,
Vamos ver como se arranja sem descançar, contra tudo.
a Camara com as leis
e quem chupará a laranja E o relatorio encantado?
ganhando um conto de réis? E o mictorio, oh Intendente?
Si assim vives, num cortado,
Não sei; e a Camara abre porque não ouves a gente?
o cofre que gratifica...
Isto é só levando a sabre... Da Matriz é sujo, é immundo,
O’ Prata, no que isto fica? é triste, o falado becco;
e então, até o fim do mundo,
E o capim pela cidade? tu ficarás rijo e secco?
CHAN-CHAN

As divisas
Segundo nos informaram, o Juiz da Capital ainda não despachou favoravelmente ao municipio de
Piedade e sim mandou consultar aqui, pessoas competentes, afim de saber melhor do terreno litigioso em
que, na distancia de duas leguas ha eleitores sorocabanos, prova que nos pertence.
Tudo isso se deve á incuria dos arbitros. (RV)

Santa Casa e a Camara


Muito nos admira a seguinte lei:
«LEI N. 54
O cidadão Doutor Luiz Nogueira Martins, Presidente da Camara Municipal de Sorocaba, faz saber
que a Camara decretou e elle promulga a lei seguinte:
Art. 1.º -- Fica o Intendente autorisado a entrar em accôrdo com os representantes legaes da Santa
Casa, desta cidade, no sentido de serm permutadas por apolices municipaes, de egual valor, e de juros de 10
por cento annuaes pagos trimestralmente, as apolices federaes que possue aquella instituição, lavrando a
respectiva escriptura.
Art. 2.º -- Revogam-se as disposições em contrario.
Sorocaba, 13 de julho de 1903.
Eu, José Bella, Secretario da Camara Municipal, a escrevi.
Luiz Nogueira Martins
Presidente»
Sabemos que já está realisada a transacção.
Muito nos admira que a Directoria da Santa Casa tenha feito tal negocio, quando a Camara
Municipal está em questão com o sr. João Lacerda, não podendo, por isso, offerecer garantia sufficiente alem
de compromissos tomados.
E’ preciso que tenhamos misericordia da Misericordia, em vista do estado lamentavel em que se
acha a Camara.

Sahe ou não sahe?


Consta-nos que os autos da questão da Camara com o sr. Lacerda acham-se prezos a uma gaveta.
Muito breve havemos de procural-o.
O que será? Sahe ou não sahe?

Luz
Pediram-nos que reclamassemos mais lampadas electricas no Jardim, onde ha logares bem escuros.
No relogio da Matriz tambem seria conveniente uma lampada.

Vispora
Visinhos da casa onde se joga vispora, na rua do Commercio, pedem que reclamemos contra jogo
tão encommodo para os ouvidos do proximo.

Carta
Recebemos a seguinte:
Sr. Redactor.
Por diversas vezes tenho sido intimado, pelo sr. Inspector Sanitario, para cimentar, assoalhar e forrar
a cocheira de meus animaes.
Achando um pouco exagerada tal medida, fui ver a cocheira em que estão os animaes do sr.
Inspector, e muito me admirou não haver nella a limpeza e asseio que exigia na minha!
A lei é igual para todos. Como é de justiça, peço publicar estas linhas.
Do seu
Amo. Cro.
(E vejam só que belezinha! O remetente reclamão não se identifica. Não seria esta carta mais uma
invenção do Nhô Quim Pires?).

Espectaculo
Domingo, será dado, em matinée, um espectaculo, a 1 hora da tarde, dedicado aos operarios das
fabricas de Sorocaba.
Ao que nos consta, os operarios terão abatimento nas entradas.
(Viram que bonitinho? Primeiro a entrada não é de graça e, segundo, alguém da platéia sabe onde
vai ser essa “matinée”? E’, operário tem mais é que pastar, segundo a elite sorocabana).

Orgam
O distincto mechanico sr. Paulo Budig está acabando de construir um grande orgam que, em breve
porá em exposição.

O capim
Quando o sr. Intendente se lembrará de mandar tirar o capim que cresce nas sargetas?
Quando tambem o povo poderá lhe agradecer o beneficio de um mictorio no largo da Matriz?

?
Pergunta-se ao Exmo. Dr. Juiz de Direito, porque ainda não deu despacho nos autos do sr. João
Lacerda, sobre os negocios da Luz Electrica e tambem no processo do sr. Carlos Steinberg?

Para constar
O Coronel Benevenuto Pacheco Jordão esteve em Sorocaba. Ele é o redator e proprietário do
jornal «A Gazeta de São Paulo» e autor do livro «Guia Pratico para officiaes da Guarda Nacional».
As pessoas que procuraram Doña Dolores em suas sessões curativas, dizem que sentem uma
espécie de corrente elétrica passando-lhes pelo corpo. E ela, Doña Dolores González diz que vê espíritos
nessas sessões e até se aconselha com eles.

Qa 22/7/1903

Parece castigo
Sorocaba, de hoje não é mais uma cidade onde se gose tranquillidade e onde o povo industrioso e
bom, viva contente e feliz.
A praga arruinadora deu-lhe como a peste na plantação. A miseria a passos largos com a epidemia
triste, entrou na cidade.
Além disso, neste regimen que se diz de liberdade e fraternidade, nós vemos aqui a escravidão
disfarçada, e temos por senhores, homens de coração mais rijos do que ferro, absolutos no dizer, absolutos no
cumprir.
Diga o jornal o que disser, o poder seu está nas mãos; perderam de uma vez toda a consciencia de
seus deveres para com o povo. A pobre Camara, fallida quasi exanime, sem sangue, ainda assim tem bons
filhos e como a boa mãe que não poupa sacrificios, sabe auxilial-os, sabe gratifical-os.
* * *
Pouco antes de 97, a variola matou muitas pessoas.
Depois, a febre amarella ceifou mais milhares de vida e, não satisfeita, voltou sanhuda, passando
sem piedade o alforge (deve ser alfanje) cortante por sobre a população.
Varias vezes levantaram-se casos suspeitos de febre amarella (mas a bicha não pegou) e o carro
sinistro dos doentes appareceu augurando nova catastrophe.
Depois, a questão da Sorocabana tambem fez vir a esta cidade aquella soldadesca desenfreada, mal
educada, que andou com tanta imponencia pelas ruas, desfeiteando a população.
Emfim, tudo passou, como hão de passar as que hão de vir.
Somente o que nos resta é a debatida história dos impostos municipaes exagerados, e a collecta
exhorbitante, e a porcentagem para a installação de agua e exgottos é uma exigencia extraordinaria que nunca
se viu.
E tudo isto é injusto, tudo isto merece que proclamemos como abuso de poder, como falta de
caridade e justiça.
Até quando os senhores camaristas consentirão neste miserrimo estado de coisas.
Si estão na Camara para beneficiar a população, digam-nos: isto é fazer bem ou é uma falta de senso
e consideração para com o pobre povo que paga tudo, e que não sabe de que forma se zela das rendas
municipaes.
A Camara acha-se em condições de fazer beneficios, como se contasse com um futuro lisongeiro.
Não bastam quarenta contos que já se foram; não basta mais o conto de réis e ainda não bastarão os
duzentos e oitenta contos, ou mais, da questão da Luz Electrica, que ameaça tirar mais sangue das pobres
familias em proveito de um, motivado simplesmente pelo desnorteamento dos senhores contractantes.
E, ao que consta, nessa questão a Camara tem pouco elemento de defeza.
Ella descuidosa de seus deveres, como se descuidou da escripturação que sempre devia estar em dia,
publicando os balancetes e relatorios, de conformidade com a lei, vae fazer o povo pagar a sua falta de
criterio.
Não nos bastam os sellos que ameaçam engulir os capitaes todos de Sorocaba, e ainda impostos
exaggerados, desnorteamento em cobrança de agua, porcentagem sobre o material, exigencia despotica do
Inspector de Hygiene!
A nossa folha aqui está no firme proposito de defender o povo.
Não queremos lucro algum, sinão que Sorocaba prospere, tome força nas industrias e as familias
vivam em paz.
Custe o que custar, o nosso programma o cumpriremos e nos collocamos, desde jà, de atalaia, contra
as desgraças que ameaçam augmentar mais ainda, a situação afflictiva do povo sorocabano.
Até parece castigo!

(ver de onde é isto)


Calam profundamente no coração as palavras, as queixas que constantemente ouvimos á respeito
dos impostos.
Si estes fossem distribuidos com justiça, attenta as condições pessimas em que se acha o povo
sorocabano, por força acabar-se-iam os abusos.

Carta aberta
Ao muito digno Provedor da Santa Casa de Misericordia, dr. Alvaro da Cunha Soares:
Senhor:
Vós que tendes sido o sustentaculo daquella instituição de Caridade; que tendes dado ao publico a
prova exhuberante de uma dedicação sem limite, mostrando-vos sacrificador da propria saude, afim de não
faltar no posto de honra, que distribue conforto aos infelizes; que tendes tomado, como filha do vosso
coração essa auxiliadora do bem estar da Humanidade; vós que tendes sido o amparo, o soldado fiel na
defesa dessa instituição que honra a Sorocaba, estas linhas sinceras.
A Santa Casa foi aqui levantada, ha perto de 60 annos, mais ou menos, pelo então Juiz Municipal
Joaquim Pedro Villaça, de saudosa memoria para os sorocabanos.
Não vendo futuro lisongeiro, esmo assim, foi de tenacidade sem igual e, em pouco tempo, cercaram-
n’o corações nobres, seguiram-n’o, como os discipulos seguiam a Christo caritativo pela formos Judéa.
Elle proprio trocava a sua toga de Juiz pelas insignias humillimas da irmandade da Santa Casa e, de
porta em porta, procurava a esmola para edificar o grande asylo que vemos hoje, grande hospital
cosmopolita, que não conhece extrangeiros, verdadeiro exemplo do amor social. Com o auxilio do Governo e
dos corações generosos dos sorocabanos, a Santa Casa tem sido verdadeira mãe de caridade, tem enxugado
muitas lagrimas.
Pois bem, vós vistes, ha poucos dias, publicada a lei n. 54 e com certeza, com vossa intelligencia
exclarecida, com vossa practica inilludivel, podeis avalial-a de conformidade com a justiça, pensando, ao
mesmo tempo, na responsabilidade que vos cabe della.
Lembro-me de um exemplo passado, ha bem annos.
Era Provedor o sr. Luiz Matheus Maylasky e, em uma das reuniões da meza, apresentou indicação
lembrando a venda das apolices, patrimonio da Santa Casa, afim de se applicar o producto da transacção na
compra de casas.
Á primeira vista parecia tudo vantajoso para a Misericordia e alguns expectadores, que pretendiam
vender casas, alegravam-se já com as resoluções premeditadas.
Pediu, porem, a palavra o sr. Manoel José da Fonseca, protestou contra a indicação, conseguiu
convencer a mesa das inconveniencias da proposta, sendo as apolices patrimonio sagrado da Santa Casa.
E triumphou sua palavra, com quanto os juros fossem diminutos, porém certos e garantidos, ao
passo que, hoje, são depreciados os alugueis e absolvidos (sic) pelos concertos feitos por inquilinos.
Peço-vos a vossa valiosa attenção para estas linhas.
Eu não bajulo e pouco se me dá que me atirem a percha de caduco, mas muito me prezo em ter
alguma sinceridade e muito me honra em subscrever-me, com toda a cordeal amisade e consideração
JOSÉ DIAS DE ARRUDA.
O Grande Leão (ver sob esta mesma epígrafe em Francisco Vera Cruz, na pasta Incao).

Leão XIII
Expirou, ás 4 horas da tarde do dia 20, Leão XIII, com 93 annos de edade.
Nasceu em Carpineto, a 2 de março de 1810. Filho do coronel Luiz Pecci e Anna Prosperi.
Em 3 de Março de 1878, no conclave pela morte de Pio IX foi eleito Papa.
Leão XIII pontificou durante 25 annos.
Tratou de harmonisar os governos entre si e conciliar o ideal catholico com o de outras religiões.
Tinha um affecto especial pelo Brasil e em 16 de Julho de 1892, mostrou-se, por uma encyclica,
interessar-se pela emancipação dos escravos.
Nas grandes questões internacionaes, poz-se ao lado dos fracos e pretendeu encaminhar o
socialismo catholico, com a argucia de seu espirito. Foi este um dos motivos que o distiguiram entre os seus
antecessores.
Aos Catholicos os nossos sinceros pezames.

Telegrammas
«Leão XIII morreu ás 4 horas da tarde, hora de Roma.
A morte foi calma.
A grande porta de bronze do Vaticano foi immediatamente cerrada.
Apenas o Pontifice exhalou o ultimo alento, o cardeal camerlengo Oreglia, revestido de habito e
capa côr de violeta, signal de luto cardinalicio, acompanhado dos prelados, trajando de preto, penetrou na
camara pontifical.
Ahi chegando, sua eminencia cahia no genuflexorio, orando por instantes. Em seguida, tomou do
martello de ouro que lhe foi apresentado pelo cardeal mestre de cerimonias, batendo suavemente por tres
vezes na fronte do Papa morto e repetindo tres vezes o seu nome.
Voltando-se depois para os cardeaes, que o rodeavam, disse-lhes: Leão XIII está em verdade morto.
A COMMUNICAÇÃO OFFICIAL
Sahindo da Camara pontificia, onde jaz o corpo do Papa, o cardeal carmelengo (sic) Oreglia, do alto
das escadarias do Vaticano, fez solenne communicação aos romanos da morte do supremo chefe da Egreja,
Leão XIII.
Nesse instante começou a dobrar o sino grande do Capitolio.
Quasi simultaneamente todos os sinos dos templos desta capital e os situaddos fóra dos da cidade,
entraram a dobrar a finados, annunciando a morte de Leão XIII.
A COMMOÇÃO NA CAPITAL
Roma apresenta aspecto tristonho. A população acha-se profundamente compungida com a morte do
Pontifice.
O movimento de transeuntes e carruagens é enorme em todas ruas e praças.
Em frente ao Vaticano é immensa multidão, sendo difficil o transito.
Foram distribuidas guardas reforçadas para a manutenção da ordem.
RIO 20
O secretario da Agencia Havas nesta capital, logo que recebeu o telegramma commun icando a
morte do Papa, foi pessoalmente mostral-o ao sr. presidente da Republica.
O dr. Rodrigues Alves mandou então hastear no palacio do Cattete a bandeira nacional a meio pau,
determinando que o mesmo se fizesse em todas as repartições publicas.
S. exa. far-se-a representar em todas as exequias.
Espanhada a noticia recebida pela agencia Havaes (sic), muitos sacerdotes, entre os quaes os
conegos revs. Molina, Amador Bueno e Julio Maria, correram ao arcebispado afim de apresentar pesames a
d. Joaquim Arcoverde.
S. exa. revma., entretanto, não recebera noticia alguma official até as 4 ½ da tarde, sendo informado,
do acontecimento pela agencia Havas.
D. Joaquim Arcoverde incumbiu o mesmo revmo. vigario geral do arcebispado telegraphar ao sr.
internuncio apostolico, afim de obter a confirmação da noticia.
O cabido se reunirá amanhã ou depois para providenciar sobre as demonstrações de pesar por parte
da Egreja.
Haverá solennes exequias na cathedral, pontificando o sr. arcebispo.
O revmo. vigario geral deixou o arcebispado cerca das 4 horas da tarde, para communicar-se com
com internuncio apostolico.
Si a resposta deste fôr affirmativa, o sr. arcebispo ordenará que de amanhã em deante, e durante três
dias, das 6 horas ao meio dia e á tarde, os sinos das matrizes dobrem finados.
Frei Domingos da Transfiguração Machado, abbade geral do Mosteiro de S. Bento, logo que soube
da morte do Papa, dirigiu-se ao arcebispo afim de saber das disposições com relação aos cerimoniaes.
O abbade, descendo do outeiro, foi cercado pelos reporters, que tambem queriam informações sobre
o assumpto, mas s. revma. nada poude adeantar, porquanto os cerimoniaes dependiam de ordem superior, e
essa ainda não a tinha elle recebido.
Em signal de pesar pela morte do Papa, os theatros hoje não funccionaram.
As redacções dos jornaes hastearam a bandeira nacional a meio pau. A Agencia Havas tambem
hasteou a meio pau os pavilhões nacional e francez.
Os navios surtos no porto embandeirararão amanhã em signal de pesar pela morte do Papa.»
Do Correio Paulistano.

Os funeraes dos Papas


Logo que o Papa deixa de existir, o cardeal carmelengo (sic), prevenido por um mestre de
ceremonias, traja-se de cor violeta como signal de luto, vai acompanhado pelo tribunal e clerigos da Camara
Apostolica á camara mortuaria onde se acham reunidos os penitenciarios de S. Paulo, guardando o corpo do
defunto, que está deitado com o rosto coberto por um veo.
Depois de uma breve oração, o cardeal manda levantar o veo e bate tres vezes na testa do morto com
um martello de prata, chamando-o pelo seu nome.
Voltando-se depois para os assistentes, diz-lhes:
Papa vere mortuus est.
Depois de recitar o De profundis, asperge o cadaver com agua benta, manda ao mestre de Camara
que se lhe entregue o anel do Pescador que tem de ser partido na primeira assembléa geral dos cardeaes.
Um advogado da Camara lê de joelhos o processo verbal do fallecimento e do deposito do anel.
Apenas sai o cardeal camerlengo, os penitencianos de S. Pedro lavam o cadaver com perfumes.
Os autores antigos fornecem pormenores muito curiosos sobre a maneira como então se lavava e se
embalsamava o cadaver.
Hoje é o cirurgião principal, o Archiatro, quem, vinte e quatro horas depois do fallecimento, ajudado
pelos seus collegas, pelo pharmaceutico do palacio e ajudante da Camara, procede a abertura do cadaver e o
embalsama, depois de lhe extrahir as entranhas, interiora precordia, as quaes tambem embalsama e guarda
numa urna convenientemente sellada, que se transportava para a egreja de San Vicenzo e Santo Anastacio, si
o Papa morria no Quirinal e as suas entranhas repousam em San Vicenzo e Santo Anastacio.
Julio II foi o primeiro Papa aberto e embalsamado a maneira moderna.
Terminado o embalsamamento, os penitenciarios revestem o Papa com seu habitos ordinarios:
batina branca com borlas de ouro, meias brancas, sapatos vermelhos, roquete, murça, camauro vermelho e
estola. Os penitenciarios expõem o Papa, assim vestido,sobre um leito de Estado, com uma cobertura purpura
e ouro, tendo superiormente um docel (sic).
Ardem nos quatro cantos cirios gigantescos. Os penitenciarios rezam; os guardas estão a postos até o
corpo ser transportado para a Capella Sixtina.
Ahi os penitenciarios revestem-n’o de todos os habitos pontificaes vermelhos, proprios das maiores
solennidades, calçam-lhe sandalias, luvas e põem-lhe o anél, o pallium e a mitra de ouro.
A côr vermelha nem sempre foi usada.
Encontram-se cadaveres de alguns pontifices vestidos de roxo e outros, como Adriano IV, 1159,
vestidos de preto.
As vestimentas do Papa nas grandes solennidades, nos Pontificaes resumem a insignia de todas as
ordens menores e maiores com os attributos particulares da Dignidade Suprema.
Entre ellas convem especializar:
1º A fulda, veste comprida de seda branca.
Quando o Pontifice está de pé no throno, a fulda cai ao longo dos degraus estreitos, dando á estatura
proporções gigantescas.
2º O fanon, dupla murça, com as duas partes sobrepostas, deseguaes no comprimento.
E’ feito em listas perpendiculares alternativamente, branca e ouro, unidas por uma lista amarantho.
Na fronte uma cruz bordada a ouro, envolta em raios.
3ª O pluvial, de uma amplitude magestosa, -- é fechado sobre o peito por um largo formal de ouro
ou prata, que é muitas vezes uma obra de arte.
O formal de Clemente VII fora cinzelado por Benvenuto Cellini.
A tiara. Como bispo, o Papa serve-se de mitra no altar, mas quando vem a egreja, na Sede
gestatoria, traz a tiara in signum imperii.
A tiara não é mais do que a mitra, que tinha primitivamente um circulo de ouro na base.
Bonifacio VIII accrescentou-lhe uma segunda corôa: Urbano V uma terceira.
Quando o Papa está revestido dos paramentos pontificaes e usa tiara, supporta durante muitas horas
um verdadeiro supplicio.
E’ necessario, por isso, transportal-o, porque impossivel seria por seus pés percorrer um longo
espaço.
Muitos Papas adoeceram em seguida a um pontifical e a mesma cousa produziu a morte de Gregorio
XVI, segundo se diz. E, com effeito, imagine-se o Papa carregado dessa maneira, alagado em suor, obrigado
a dar do alto das varandas de S. Pedro, S. João de Latrão e Santa Maria Maior, umma bençam solenne e a
fazer-se ouvir a sua voz ás multidões; e não será difficil de comprehender o seu supplicio.
O Papa, depois de morto, recebe ainda, apenas encerrado no caixão, as homenagens dos que passam
deante do se cadaver.
Ajoelham, como o faziam deante delle vivo.
A celebração das exequias, chamadas Novendiales, foi officialmente regulamentada por Pio IV na
sua bulla – Descete Romanum Pontificem.
Começa a celebração no quarto dia depois da morte do Papa.
Dura nove dias. Eis o seu aspecto geral.
A porta maior e o portico de S. Pedro são ornados de armações roxas e encimados pelas armas do
defunto.
No meio da capella do coro, sobre um catafalco em roda do qual se revezam os guardas nobres, com
a espada em funeral, entre cirios sem conta, acha-se exposto o cadaver.
No primeiro dia das Novendiales, os cardeaes, a convite do deão do Sacro Collegio, vão a S. Pedro.
Levam batina e murça roxas; revestem-se da capa magna na sachristia e vão um por um á capella.
Vem os patriarchas, os arcebispos, os bispos assistentes, ao throno, os quatro prelados de Fiochetti,
os bispos não assistentes, os prelados orientaes, os auditores da Rote, os advogados consistoriaes, o mestre do
Sacro Palacio, os geraes e procuradores geraes das ordens religiosas, todos os ecclesiasticos e leigos, emfim,
que tém direito á figura na Capella Papal.
Entrando no côro, dobram todos o joelho, não só defronte do altar, mas tambem para a direita ou
para a esquerda, em frente dos cardeaes porque, embora ainda desconhecido, está no meio delles o futuro
Papa.
Nesse primeiro dia a missa solenne, Pro Papa defuncto, é celebrada pelo cardeal deão.
Os cardeaes e bispos celebram-na nos cinco dias seguintes.
Os cardeaes padres nos tres ultimos dias.
Os chantres da capella cantam a missa Dies iræ e Libera me. Fazem-se dispendiosas distribuições de
cêra branca ao povo.
No setimo dia, depois da missa, começam as cinco absolvições pontificaes.
Desappareceu o catafalco; em vez delle ergue-se um monumento mais rico, mais nobre, rodeado de
cruzes, de inscripções, de emblemas, de pinturas commemorativas aos acontecimentos do Papado.
Aos quatro cantos veem-se os escabellos para os quatro cardeaes que tinham ido revestir-se do
amyto, da alva, da estola, do pluvial preto, da mitra e das luvas, descem do altar precedidos da Cruz e dos
brandões e vão enfileirar-se ao pé do monumento.
O celebrante recita o Non intres ao qual o coro responde: Amen.
Em seguida canta-se Sub venite Sancti Dei, e, durante o ultimo Kyrie, o menos antigo dos quatro
cardeaes, benze o incenso e entoa o Pater Noster.
Os membros do Sacro Collegio, pronuncia em latim a oração funebre do defunto.
Cantado que seja o ultimo Libera encerra-se o corpo num caixão, onde o mordomo colloca tres
bolsas de velludo carmezim, contendo medalhas de ouro, de prata e de bronze, com a effigie do defunto e um
pergaminho, onde se commemoram os acontecimentos mais notaveis do Papado.
Depois transporta-se o caixão para a urna de marmore que existe por cima da Capella Canonica, á
prota da escada que conduz á Capella de S. Pedro.
(Do Correio Paulistano).

Firmo Soares
Seguiu para Casa Branca este nosso amigo, que vae como professor adjunto do grupo daquella
cidade.
Felicidades.

Piadas
Felippe, ataca, Felippe! troveja raios, trovões,
E’s um chronista de lei. as juntas duras destronca,
Quem ha que tanto destripe... mette, Felippe, a ronca,
Felippe, ataca, Felippe!... nessas gratificações.
Como és tu, nunca encontrei!
Falar do imposto, fala!
Mette, Felippe, a ronca, Não estamos na Guiné,
nem no tempo de usasr pala, Ninguem mais pode escarrar,
nem em dores do Guaxupé. cuispir ninguem pode mais,
se antes disso não tomar
Afinca as unhas, agarra um boccado de agua raz.
a afilharada sem dó;
toca a depois a guitarra, Cada qual deve usar roupa
alegre como a cigarra, bem verde, de hoje em diante,
Felippe alegrete só! e na janta tomar soupa,
e depois tomar purgante.
Falar dos mictorios, dessa
fedentina que não vê Pagar os poucos impostos,
a Hygiene; préga-lhe a peça, com alma santa e leal,
Felippe, Felippe.. hom’essa!? para, em paga dos desgostos,
Porque não falas, porque? ir-se á patria celestial.

De hoje em diante, promulga Ahi, então, o Padre Eterno


nova lei, seu inspector: olhando cá para baixo,
não appareça uma pulga, dirá raivoso! Managio!
em qualquer casa, elle julga Aquelle mundo é um inferno,
ser um perigo de horror.
Pois eu fiz Adão e Eva
Foi-se embora o tal Caldeira, na mais doce e santa paz,
com seus microbios. Agora, mas, agora o mundo leva
quanta exigencia, Pereira! um ponta-pé por detraz.
Como este povo é caipora!
Desaforo! Quantos patos?
As gallinhas de hoje em diante, Quantas gargantas eu vejo!
diz o saneamento novo, Quantas ninhadas de ratos!
só podem botar um ovo, Sorocaba é um grande queijo.
quando a lua for mingoante.
Emquanto isto, emquanto dormes,
A gente tambem não póde povo humilde e singular,
andar vestido de preto, os sanguesugas enormes
nem com barba feita a bóde, vivem teu sangue a chupar.
nem com feição de esqueleto. CHANCHAN

Inventos
O sr. João Tiburcio de Lima enviou ao «Correio da Manhã» a seguinte carta:
«Não mais será preciso queimar dinheiro para se obter força motriz, graças a feliz descoberta dos
motores matitimos pelo influxo das ondas e do novo motor a vento.
O motor maritimo já não é preciso enaltecer as suas vantagens, visto como o illustre engenheiro
militar Dr. José Bevilacqua já externou, por cartas dirigidas á imprensa da Gazeta de Noticias e Correio da
Manhã, de 1 e 2 de janeiro do anno proximo passado.
Não obstante todas as investigações feitas para melhorar o apparelho, sómente deram resultado o
mais negativo; logo está de pé a opinião do illustre engenheiro.
O novo motor a vento é tão mais simples e vantajoso do que o primeiro, já por sua facilidade e
soliida installação em qualquer ponto do Globo Terrestre e já por ser susceptivel de por-se em movimento
automaticamente, precisando apenas do braço humano para ter o ponto de parada.
Este novo systema de apparelho será impulsionado pelo maior elemento e inexgotavel, que se
denomina vento, e produzirá força para extracção de agua potavel ou salgada, para as lavagens das ruas e
exgottos e bem assim fazer trabalhar as fabricas, manufacturas, bonds, estradas de ferro, illuminações,
automoveis, etc.
Uma vez este motor installado nos altos sertões, que são flagellados pelas grandes e frequentes
seccas, se obtem rios artificiaes permanentes, podendo ter longo curso para fertilidade da industria agricola e
pastoril, pela abundancia desse delicioso liquido tão necessario a todos os misteres.
Portanto o autor, João Tiburcio Fiuza Lima, privilegiado com as patentes de invenção n. 2.997,
3.476 e 3.868, sendo de um salva-vidas maritimo pelo influxo das ondas e do novo motor a vento.
Pelo que vem expor, submette os seus inventos á apreciação dos Governo Federal, Estadoaes,
Congressos, Municipalidades e aos particulares e industriaes que precisem de forças motoroas.
15-7-903.»
(D’A União)

Club Aymorés
A Directoria... apressa-se a declarar que não dirigiiu officio algum a tal jornal e nem auctorizou
pessoa alguma a fazel-o.
Quando quizerem desmentir-nos, venham com provas, pois nós prezamos muito o que dizemos e
não andamos acephalos.
Ainda mais: Pelo dr. Flaminio, orador do Club, foi proposto que, em vista da explicação dada pelo
Cruzeiro do Sul, fica esta directoria auctorisada a recebel-o d’ora avante.
Si não pretendiam receber nossa folha, não precisavam cuidar disto nem se encommodar por tão
pouco e nós desde já declaramos ao publico que, em vista de nossa delicadeza não ter sido correspondida
airosamente antes do officio nós não enviamos depois delle, um numero sequer de nossa folha a tal Club.
Eis o officio que recebemos:
«Cidadãos Redactores do «Cruzeiro do Sul»
Em vista da explicação dada em vosso jornal de 8 deste á Directoria do Club, ella em reunião de
hontem resolveu acceitar a remessa de vossa folha em sua séde social onde espera que se dignarão fazer a
remessa de harmonia com a sua publicação.
Saúde e fraternidade.
O secretario ad-hoc
Francisco Alcindo Monteiro.
Secretario do Club Aymorés, 11 de Julho de 1903.»
Pelo Secretario fomos auctorisados a declarar que aguarda somente a chegada de um doutor, seu
companheiro de secção, afim de dizer a verdade sobre o caso.
Soubemos que somente o sr. Hercules assigna a declaração no “15” e muito nos admira, pois elle
não é dono do Club.
Ha poucos dias, passando pela nossa redacção, perante pessoas que podem testemunhar, declarou
que ia reunir a Directoria do Club e mandar-nos um officio pedindo o jornal.

Sb 25/7/1903

Cynismo
Dissemos uma vez que a terça parte do povo tem recursos para cuidar da installação de agua e
exgottos em suas casas, quando trez partes não o podem fazer.
Isso é uma verdade incontestavel, palpavel e clara.
A Camara tomou mesmo, por capricho, não ouvir o que dizemos, cala-se porque a sua força moral é
fraca e, na balança do conceito peza muito pouco.
Quereriamos apresentar um único recurso para se cuidar do completo saneamento da cidade, porém,
como fazel-o, si não vemos o relatorio, não sabemos quanto a Camara deve, não sabemos qual a sua receita
annual e tambem porque conserva o material em deposito?
Com certeza anda acephalla.
Ella sabe das circumstancias do povo, porem não se esqueceu de fazer contracto com a sua folha
defensora, para publicar tudo o que diz respeito a seus negocios.
Isto é prova da protecção mais ferrenha.
Si os senhores camaristas tratam de bem dirigir os negocios publicos, onde há dois jornaes, não pode
fazer contracto com um, sem a precisa concurrencia.
Por ahi dizem que ella dá boas comezainas, engorda empregados, gratifica escandalosamente, faz
negocios proveitosos, etc., etc.
Nós não podemos dizer cousa alguma, sem primeiro, termos provas, com o relatorio, sobre que
temos escripto muito, cuja resposta é o silencio profundo. Com certeza estão fazendo na sombra, concertando
a escripta, pondo-a a jeito, emfim fasendo, nestes ultimos dias, o que já devia estar feito a tres annos, para
depois apresentar como surpresa ao publico, o relatorio que não sahiria, si não fosse a nossa folha.
Afinal de contas, temos de desconfiar da Camara; sua escripta não foi feita chronologicamente e, por
conseguinte, contra o Codigo Commercial.
Nós havemos de saber a verdade sobre as gratificações, no emtanto a cidade tem falta de limpeza,
parece uma villa do interior, onde o desleixo impera.
A Camara não nos quer responder.
Havemos ainda de enfrental-a, porque nestes ultimos tempos, todo o povo sabe, a administração dos
negocios municipaes tem sido lastimosa; de um lado os grossos ordenados para os empregados publicos; de
outro, o povo sem recursos, diminuindo o pão que come para leval-o à custa de ameaças, ao cofre de seus
senhores.
Continuae, senhores na vossa mudez.
Quereis mostrar que nos desprezaes?
Mas quem não tem mesmo razão não pode usar desse recurso.
Não podeis mesmo responder. Continuae, não vos encommodeis com as pobres familias.
O imposto, essa harpya esfaimada, insaciavel, de garras aduncas, que arranque todo ofructo do
trabalho do povo. Continuae! Fazei-vos de surdos. Mas havemos de livrar o povo dessa penitencia injusta, -
porque nós estamos numa terra livre; nós não estamos num carcere!
Tanto é o Cynismo!

Á Camara
Pedimos em nome do povo, que vive opprimido pelas leis tyrannicas da Camara, que publiqueis,
quanto antes, o relatorio, demonstrando o estado em que se acham as finanças municipaes.
Não tendes cumprido com as disposições da Lei e, portanto, exigimos uma satisfação ao povo.
O imposto é exhorbitante, além de não ser cobrado com justiça e de accordo com as condições da
pobre população.
Portanto, antes que o povo soberano na sua vontade, procure justiça por suas proprias mãos, dentro
dos limites constitucionaes, em defeza de seus direitos, elle espera attenção de vossa parte e não póde mais
carregar tão grande fardo de sacrificios!
Si isto fazemos, é porque a isto nos forçam as condições a que a Camara reduziu este pobre povo
que, depois de victima de cruel epidemia, vê-se victima de uma administração que levanta contra si os
clamores, as queixas justas e serias de todas as familias sorocabanas e do infeliz proletariado!

Emprestimos
Consta que a Camara fez novos emprestimos, em virtude do que tratou de fazer a transacção com a
Santa Casa de Misericordia.
A folha local sua defensora disse que algumas pessoas têm criticado a transacção em vias de realisar-se
entre a Santa Casa e a Camara. Mais adiante, que, com tal transacção, quem lucra é a Santa Casa, etc.
Ora, muito bôa! Como se pode saber que é a Santa Casa que lucra?
E, se assim fôr, é a Camara que perde; não ha contestação.
Conforme a lei da legislação dos municipios estes não podem fazer emprestimos e contrahir dividas, que
excedam á terça parte de suas receitas.
E a camara de Sorocaba, si não nos enganamos, deve já cerca de trezentos e tantos contos a mais, e
ainda faz emprestimos. Melhor seria que ella diminuisse o ordenado de seus empregados, começando de
cima, desde o sr. intendente, até as cocheiras, tratando de economias, porque, quem não pode, não inventa
modas.
Depois, é isso; o relatorio promettido, não sae mesmo.
Havemos de ver si não sar.
Não estamos em alguma colonia da costa da Africa.

Piadas
que agora virei casaca;
Piruli que bate bate; do sino puxo o badalo
Piruli que já bateu; e também mamo na vacca.
eu gosto de chocolate
e do amigo Zebedeu. De jesuita hoje me péllo,
e agóra sou clerical;
E puxo, que puxo, puxo bello, bello, muito bello!
e puxo a mais não poder, Beijo o pé sacerdotal.
até que o meu grande bucho
não se possa mais encher! E puxo, que puxo, puxo,
Meu programma é de puxar:
Eu de atheu fiquei catholico, Gosto muito deste bucho,
jesuita tal e qual, De puxança hei de gostar!
ha algum tempo fui diabolico, *******
mas agora sou papal. Morrem reis, morreu o Papa
E mil outros vão atraz,
Ora vejam, neste mundo E ninguem da morte escapa;
como as coisas já se dão: Só o mictorio não se faz!
anti-clerical furibundo,
e hoje todo devoção! Brigam lá no Vaticano,
O Gotti e o senhor Rampola
Eu de padre mais não falo, E o relatório? Ha mais de anno,
Deu em droga ou em cebola Apertem-se nesse apuro;
A barriga dóe de mais.
E os taes só gemem no duro; (Não traz assinatura).
Estão em apuro os taes;

A barca de S. Pedro (na pasta Francisco Vera Cruz)

Emprestimos
Consta que a Camara fez novos emprestimos, em virtudo do que tratou de fazer a transacção com a
Santa Casa de Misericordia.
A folha local sua defensora disse que algumas pessoas têm criticado a transcção em vias de
realisar-se entre a Santa Casa e a Camara. Mais adiante que com tal transacção, é a Santa Casa quem
lucra, etc.
Ora, muito bôa! Como se póde saber que é a Santa Casa que lucra?
E, si assim fôr, é a Camara que perde; não ha contestação.
Confórme a lei da legislação dos municipios, estes não podem fazer emprestimo ou contrahir dividas
que excedam á terça parte de suas receitas.
E a Camara de sorocaba, si não nos enganamos, deve já cerca de trezentos e tantos contos, a mais, e
ainda faz emprestimos.
Melhor seria que ella tratasse de diminuir o ordenado de seus empregados, começar de cima, desde o
senhor Intendente, até ás cocheiras, tratando de economias, porque, quem não póde, não inventa modas.
Depois, é isso; o relatorio promettido parece que não sahe mesmo.
Havemos de vêr si não sahe.
Não estamos em alguma colonia da costa da Africa.

Negociante de calçados
Sabemos que os negociantes de calçados vão dirigir um officio ao sr. Intendente, afim de pôr um
paradeiro aos vendedores ambulantes deste genero de commercio, pois que muito os prejudica.

Supiriry de Cima
Vieram pedir-nos reclamarmos contra o estado em que se acha esse corrego, estagnado em varios
logares, num dos quaes existem 20 coxos (sic) de cortume vasando para a parte donde a visinhança tira agua
para beber.
Seria conveniente que a hygiene providenciasse.

A’ Commissão de Hygiene
Pedimos a Vv. Ss., zeladores da saude publica, toda attenção para com o nosso pedido, no sentido de
serem collocados mictorios: no largo da Matriz, largo de Sto. Antonio, Largo do Rosario e Jardim, afim de
acabar-se, de vez, com a fedentina que existe em taes logares, proveniente da urina.
Esperamos de Vv. Ss. as necessarias providencias.

Na Repartição
Ao que nos consta o sr. José Antonio de Carvalho dimittiu-se do seu logar na Repartição, devido a
implicancias dos desgostosos por ser elle assignante de nossa folha.
Até um pae de familia tem de pagar caprichos destes politicos.
Não faz mal: hodie mihi, cras tibi.

Para constar
No artigo sob a epígrafe O Grande Leão, o neófito do espiritismo e ornejante em matéria de
catolicismo, Francisco Vera Cruz, expõe, com uma impressionante frustração de não ter encontrado macho
para seu deleite, tanta barbaridade contra Leão XIII – e afinal estava apenas chutando um cadáver – que
merece um estudo a parte.
O Tte.-Cel. Fernando Schnorr demitiu-se do cargo de delegado de policia de Campo Largo.
Substituiu-o o Major Manuel Machado de Oliveira.
Os operários da Santa Rosália doaram 315$800 à Santa Casa de Misericórdia.
Segunda-feira próxima, na Matriz, ás 8 horas da manhã, será celebrada a missa de “Requiem”,
com “Libera me”, em sufrágio da alma de Leão XIII.
O Promotor Público, Dr. Armando de Barros, conseguiu três meses de licença e seguiu para Itu,
para tratar da sua saúde.
No último dia 18, realizou-se uma festa socialista em que se comemorou a Tomada da Bastilha e se
regozijou pela Liberdade Humana. Foi no Centro Socialista Ferri.
Qa 29/7/1903

As estradas de ferro
Talvez daqui a pouco tempo, teremos a Sorocabana arrendada pela Paulista.
Si por acaso isto acontecer, a Ingleza haverá de lutar com a Paulista, uma estrada futurosa e a que
tem, talvez, a melhor renda.
Dahi, muito provavelmente se fará a linha ferrea de Mayrink a Santos, e mais movimento lucrará a
Sorocabana e menos lucro terá a Ingleza que, seja dita a verdade, judiou bem da nossa estrada quando
interrompeu o trafego mutuo, prejudicando os interesses de nossos agricultores e o movimento commercial
de nossa zona.
Começando o funccionamento do ramal da Sorocabana a Santo, nos livraremos de armazenagens,
ter-se-á facil communicação com o movimento maritimo e, além de todas as vantagens, a concurrencia entre
as duas estradas, a Ingleza e a Paulista.
Imaginem nossos leitores em que apertos não se verá aquella estrada, si esta conseguir o
arrendamento da Sorocabana!
No fim do reinado do sr. Casemiro que, por favor de Deus, está pagando pelos males que nos fez, a
Ingleza ambicionou pela compra da nossa estrada e se disse mesmo que, si fosse questão de milhões, haveria
de lhe pertencer a Sorocabana.
Isto se vê claramente: para ella será grande desgraça o emprehendimento do ramal que vem ferir
profundamente seus interesses, abalar profundamente suas rendas.
Nós devemos nos regosijar e praza aos céos que a Sorocabana, em breve, em mãos de nós
brasileiros, una a prospera cidade de Santos ao glorioso Estado do Rio Grande!
Desta sorte, como estrada estrategica, qualquer movimento que se sinta de parte de nossas visinhas
republicas, o governo brasileiro terá facilidade no movimento de tropas.
Como não seria um attestado de nosso progresso si, em breve tempo, vissemos o Rio Grande ligado,
pela estrada de ferro, ao grande estado nortista de Matto Grosso!
Para os senhores accionistas da Sorocabana, estas noticias ou mesmo estes boatos, não deixam de
trazer uma doce esperança.
Nós ainda avançamos a mais:
E quem sabe si aquella bella Estação Ingleza virá a pertencer á Sorocabana!?
Nada é impossivel.
O. S.

Mictorios
Constando-nos que, em breve, serão construidos os mictórios, desde já agradecemos aos camaristas
o grande beneficio que o povo vae receber de suas mãos.
De facto, nada mais justo e muito nos alegra tal procedimento digno de louvor.

Praça Dr. Fajardo


Tendo-se dito que a arborisação da praça Dr. Fajardo se deve á lembrança do «15 de Novembro»,
podemos declarar que tal idéa veiu exclusivamente do sr. Vicente Gonçalves Pinto, a quem devemos tal
melhoramento.

Melhoramento
Consta-nos que estão construindo, junto á Estação Sorocabana, nes cidade, uma casa para o novo
restaurante e o logoar, do existente hoje se tornará sala de espera para as exmas. familias.

No Matadouro
Vimos algumas pessoas censurando o procedimento da Camara que deu aos sr. Antonio Salerno um
dos chiqueiros onde os conductores de porcos prendiam as suas porcadas.
Será verdade?
(No número seguinte, o jornal confessa que não confirmou esta notícia).

O exgotto
Além o Supiriry, junto á linha ferrea que vae desta a S. Paulo, foi feito um serviço digno de louvor:
sobre um pontilhão ha uma ligação feita de canno de ferro com a galeria de cimento. Vasa continuamente.
Não sabemos como o sr. engenheiro constructor haja feito tal serviço!

Zonofono
A’ Rua do Rozario, n. 15, vende-se um zonofono, com um escolhido repertorio de 36 peças de musicas,
cantos e modinhas, tudo em perfeito estado. (Zonofone é o mesmo que Gramofone).

Para constar
Esteve concorridissima a missa de Requiem por alma de S.S. o papa Leão XIII, para grande tristeza
e perplexidade do Vera Cruz. Na missa, tocou a orchestra regida pelo maestro sr. Francisco de Aquino.
No artiguete A Morte do Mal, o V. Cruz desaba um monte de besteiras, que não vi razão para
transcrever. Estou começando a desconfiar que ele era bicha e, por isso, dá até para compreender os
incômodos da sua hemorróida; naquele tempo, o homossexualismo não era moda como nos nossos dias.
Tem um colaborador do Cruzeiro, metido a cronista ou sei lá o quê, que assina Felippe. Senhor
poderoso, como o tal é chato e sem sal!
Outro que esteve muito sem graça nesta edição foi o Chan-Chan, com suas Piadas. Por isso nem
anotei.
O nem menino nem moço, pois tem dezesseis anos de idade, Oswaldo de Faria, filho do
Comendador Urbano de Faria, mereceu do jornal a epígrafe Outra gloria brazileira, porque inventou uma
máquina elétrica que, “além de determinar a fixidez da luz do arco voltaico, tem outras aplicações”. O
menino conta com a proteção e o entusiasmo do Sr. Barão do Rio Branco, que mandou testar seu invento em
Paris, onde, parece, foi aprovado. Vamos ver no que vai dar.
No Chile, um tal de Lucas Lucia Vanejas diz ter resolvido o problema do “moto contínuo”. Será?
No Itinga, realizaram-se sábado passado as corridas de cavalos, com grande animação.
O professor João Vieira de Campos está substituindo o promotor público, que saiu de licença.
O Governo Federal pretende introduzir o serviço militar obrigatório, conforme já prevê a
Constituição.

Sb 1/8/1903

A crise da Agricultura
A nossa patria está cançada de luctar com tantos sacrificios e, de toda parte, indicam os meios de
restituir-lhe as forças, de curar sua anemia profunda.
Uma das causas, se não a principal, foi a facilidade com que os nossos agricultores entregaram suas
terras aos lavradores e immigrantes, com a condição de, quando o café formado, estes ususfruirem a safra dos
primeiros annos e, depois, entrearem aos srs. agricultores as plantações.
Foi um grande mal os nossos patricios se attirarem cégamente ao exclusivo e grande cultivo de café,
emquanto o Egypto e outras terras aptas para elle, tambem cuidavam de encher os mercados do mundo,
prejudicando, desta fórma, os agricultores brasileiros.
Não resta duvida alguma de que a abundancia faz a baixa de preço, como a escassez faz o augmento.
Depois, seja dita a verdade, nós temos sido de uma incuria injustificavel, imperdoavel, pois nos
mostrava sempre o café um futuro lisongeiro.
Si tivessemos tratado de encher nossos mercados de outros cereaes de maior consumo entre nós,
outras seriam nossas condições.
O defeito geral dos brasileiros é não ter expediente, digamos com franqueza, pois que, só os
extrangeiros, em cujas patrias o terreno é pouco e difficultoso de cultivar, é que sabem avaliar e approveitar o
chão fertil que possuimos.
Antigamente os braços de nossos camaradas de sitio custavam mais, elles não se sujeitavam a
pouco, evitando, desta maneira, o excesso de plantações dando um alto preço ao cafe!
Depois, vindo a immigração, os nossos lavradores algum tanto ambiciosos, acharam-se na era da
fartura, época de ouro para engrandecer seus capitaes.
E cultivaram-se as terras e augmentaram-se assombrosamente os cafesaes, a unica esperança dos
senhores fazendeiros, emquanto o arroz, o milho, o trigo e outros cereaes, foram esquecidos.
Si isto não se desse, com a producção do necessario para o consumo dos colonos, os lavradores
economisariam e os seus celleiros estariam fartos.
Agora não ha remedio; parte ha de soffrer forçosamente o erro commettido, e não se equilibrarão
nossas finanças, emquanto nós não tratarmos de alargar a plantação dos cereaes, todos em uma certa
proporção, facilitando assim o nosso meio de vida.
A nossa Patria, emquanto não se convencer desta verdade, si é que não erramos e emquanto não
exportar mais do que importa e não deixar de achar melhor o que nos vem do extrangeiro, ha de soffrer
necessariamente, de toda maneira.
O. S.

Assumptos Municipaes
Quando dizemos que, em parte alguma se opprime tanto o povo com leis tyrannicas, em
desharmonia com as condições precarias das pobres familias, não falamos aéreamente, mas sentimos
profundamente, nos revoltamos contra os que devem zelar do povo, e que delle, não fazem senão um animal
preso, maltratado por um novo systema de inquisição.
Nós, falemos a verdade, ante a qual hão de se curvar os que não a respeitam, nós havemos de
patentear ao publico a pessima administração que o tem sacrificado.
Toda a população de Sorocaba sabe perfeitamente que, a despeito dos grandes serviços que
reclama o saneamento da cidade e apesar da situação financeira que a reduziu a crise da quadra epidemica ,
a Camara não presta ouvidos ao clamor publico.
Nunca foi regular a cobrança de agua nesta cidade, nem tampouco em parte alguma se cobra tanto,
nem mesmo na capital, como nesta infeliz terra dominada por uma dictadura.
Para prova do que dizemos, consultem as tabellas de impostos das cidades vizinhas; è em
Itapetininga o imposto de agua taxado a 18000 por anno e em Tatuhy a 3000 por mez, e assim em outros
logares.
Desmintam-nos, queremos a prova do contrario e soam o seguinte. E’ um osso amargo, mas é duro
como a verdade.
Eis um modo bom de porcentagem:
Genuario Arcuri paga 50$ aluguel 7 de agua.
José Arcuri “ 65$ “ 6 “ “
Padaria Allemã “ 100$ “ 13 “ “
Antonio Eufrazio “ 30$ ” 6 “ “
João N. Soares “ 35$ “ 5 “ “
Bertini Antonio “ 40$ “ 6 “ “
Pensão Brasileira “ 60$ “ 6 “ “
Restaurant Italiana “ 50$ “ 7 “ “
Alex. Fernandes “ 90$ “ 11 “ “
Angelo Guazelli “ 50$ “ 7 “ “
Franc. F. de Almeida “ 30$ “ 5 “ “
Antonio Gomes “ 40$ “ 6 “ “
Oscar de Barros “ 30$ “ 5 “ “
Sampaio, Silva & C. “ 100$ “ 11 “ “
Vejam só que bonita tabella!
Que administração bonita! Que boa orientação que se imprime nos negocios municipaes! Que triste
cynismo! exclamamos nós.
Felizmente, o povo sorocabano tem comprehendido e applaudido a superior orientação... Isto é
demais! E’ falsa tal affirmação e, sinão tem levado muitas reclamações até a Camara, é porque muitas
pessoas receiam a vingança que as póde ferir, si murmuram contra as leis de Cesar ou de Nero.
Imagine o publico que alguns, que quando fomos tirar por ahi de repente, a pequena lista que demos,
alguns recearam.
E porque?
Porque um despotismo nos governa!
Superior orientação que se imprime aos negocios municipaes!
Onde está o relatorio, que já devia, ha seis mezes, ter sido publicado? Onde os balancetes, de
conformidade com o decreto n. 86 de 29 de Junho de 1892 capitulo 3.º, do poder legislativo municipal, art.
12 § 1.º? em que a Camara é obrigada a decretar annualmente, em epocha prefixada as despezas e impostos
locaes, e a applicação da receita e tambem é obrigada a publicar trimestralmente o balancete de sua receita e
despeza, e no primeiro de cada anno, o balanço das contas do anno findo? (Leis arts. 32, 35, 37 e 43).
Tudo o que a Camara diz por intermedio da folha com a qual fez contracto, pouco antes do
apparecimento da nossa, afim de não haver concurrencia, tudo póde contestar.
Tenha sido feita por quem quer que seja a tabella de imposto de agua, nós nada temos com isso e
protestamos batalhar pelo direito de povo livre, pela justiça na distribuição das leis.
Nós não temos trivialissimo manejo politico, nem tampouco nossa folha nasceu sob promessas de
incondicionalismo para servir de instrumento de quem quer que seja, calando-se ante a verdade para apoiar
um partidarismo reprovado.
O que ha hoje em dia é uma grande falta de caracter e nossa folha não nasceu senão para castigar os
que merecem, como homens publicos, desvairados de seus deveres para com a sociedade.
O sr. Intendente não tem dado gratificações?
A Camara está destituida da hombridade que deveria ter perante a população sorocabana, porque é
mal vista por todas as familias, muito embora se queira pintar-nos a face com o colorido que ennobrece os
justos.
Não fale de justiça a nossa municipalidade!
Justiça é uma cousa muito seria e é o que lhe falta, innegavelmente.
Publique o relatorio. Queremos ver em cifras os 40:000$000 e as gratificações.
De tal maneira é disposta a Camara Municipal que, além de reconhecer a circumstancias da
população, ousa barbaramente lançar um imposto de 65$000 sobre o material de installação de agua e
exgottos!
Publique o relatorio. Venha a publico essa peça de causar admiração e o povo hade ver, em letras
redondas, garrafaes, em nossa folha, o debito assimbroso deixado, como eterno padrão de calamidade porque
passou a pobre Sorocaba.

Escravidão
Hoje existe a escravidão disfarçada e è peior que a antiga, porque abusa da fé dos incautos.
Um facto censuravel vamos relatar, com toda a clareza, para mostrar ao povo que não somos livres,
e que o despotismo nos escravisa.
Ha poucos dias, um industrial desta praça, foi a Camara pagar o respectivo imposto de agua e, como
este fosse exagerado, desejava saber se precisava requerimento ou si verbalmente poder-se-ia conseguir que
se fechasse a agua em sua casa. Responderam-lhe que a hygiene não permitte de forma alguma. E, no
emtanto quando um pobre inquilino não póde pagar esse imposto, a Camara manda fechar logo a agua: vae
de encontro ao que preceitua a hygiene.
Disto se conclue que o reinado da desordem começou para nós.
Não temos liberdade.
Ainda mais disseram: que a agua do rio foi prohibida.
E’ boa! ha tantos annos que se uzou della e, no emtanto, agora, appareceu a tyrania condemnando-a!
Isto é uma escravidão!
Não se pòde mais com estas exigencias sem limite, com este estado de sitio insupportavel, com este
desgraçado modo de subjugar a população, a victima innocente de um despotismo inexoravel e injusto.

Piadas
Agora que começou Adeus, Felippe, até a volta;
de novo o jogo do bicho, lá na enorme eternidade,
eu pergunto: se tirou ronca Felippe solta
das ruas o eterno lixo? a ronca na Humanidade!

Ora, bolas! Nesta terra E no mundo fico triste,


vive o povo atormentado; lembrando do viver nosso,
jogo do bicho se berra e resando um padre-nosso
e do outro lado se enterra desde o dia que partiste.
a faca no povo amado.
Dá lembrança ao Padre Eterno,
Morreu o pobre Felippe! vae soltando a gargalhada
Que tristeza, Deus do céo! emquanto aqui neste inférno,
Peço que o não distripe... levo a vida atormentada!
Morreu, eu choro, Felippe,
E tiro, saudoso, o chapéu! Adio! adio! boa viagem!
Vae Felippe para o Céo!
Adeus, ó meu velho amigo! O’ povo, vem a carruagem!
Nunca voltes para o mundo O’ povo! tira o chapéo!
que no outro ha menos perigo, O’ povo! tira o chapéu!
no teu descanso progundo. CHAN-CHAN

Com a Camara
Lembramos aos nossos edis que é algum tanto injusto nesta cidade, os srs. negociantes conservarem
seus negocios abertos aos domingos porque os empregados tambem precisam de descanço e não pódem
sujeitar-se ás ambições dos patrões.
Isto fazemos porque temos recebido varias cartas pedindo o nosso auxilio na defeza dos pobres
empregados que luctam tanto e, ás mais das vezes pela necessidade, sujeitando-se a exigencias deste calibre.
Tratem nossos camaristas de fazer cumprir-se a lei e não exceptuem negociante algum.

Candida Demetrio Sertorio


Terça-feira, 4 de Agosto, haverá na egreja do Rosario, ás 7 horas da manhã, a missa do 7º dia do
passamento de d. Candida Demetrio Sertorio, esposa do nosso amigo Augusto Sertorio.
Ao Publico
Li no «15 de Novembro» de hoje, em seus Assumptos municipaes.
“O honrado sr. Intendente apenas cumpriu lei municipal, quando, porem, S.S. entendesse necessaria
e justa uma gratificação pro labore, não faria nada mais, nada menos, do que muitos exemplos e actos de
seus illustres antecessores srs. Capitão José Dias de Arruda, Francisco Loureiro e Carvalho Braga, que
usaram de taes attribuições, como administradores municipaes.”
Em vista disso é preciso que o publico saiba qo que se passou, nesse sentido, na minha
administração, affim de não se dizer que dei gratificações a alguem.
Quando appareceu aqui a febre amarella, a commissão de Hygiene tomou a si todo o serviço por
parte do governo, dispensando os meus por parte da Camara e retirei-me para S. Paulo, não me esquecendo
de pôr á disposição da mesma commissão os serviços do fiscal Bemjamim dos Santos, o Administrador e
dois coveiros do cemiterio.
De volta quando a epidemia cessàra, soube dos sacrificios porque haviam passado estes homens,
martyres do Dever. Não sendo eu intendente, pedi em sessão uma gratificação a elles em signal de gratidão
por parte da Camara, que generosamente lhes concedeu.
Sendo assim, o snr. Loureiro deu 200$ ao snr Bemjamim, 200$ ao Administrador, e 100$ a cada
coveiro, importando tudo em 600$000.
Eis a verdade e o que se passou, quando fui intendente.
31 – 7 – 903.
JOSÉ DIAS DE ARRUDA.
NOTA: O dr. Flaminio, com uma viagem só ao Pyragibú, fez tamanhos sacrificios? Não foi então
cumprir tão somente o seu dever por parte da Commissão de Hygiene?
A Redacção.

Para constar
O “Cruzeiro” está recrutando, com urgência, compositor que seja paginador habilitado.
No dia 30 de julho passado, faleceu o inocente João, filho do Capitão Antônio Augusto de Andrade.
A Camara cobra 5% de imposto sobre o valor locativo dos prédios que possuem água e esgoto e
10% dos que não os possuem. A instalação de água e esgoto custa 65$000.

Qa 5/8/1903

A educação
Uma das cousas de que depende o desenvolvimento da moral da sociedade, é sem duvida, o ensino
da civilidade.
As escolas em nosso paiz não cogitam desse meio, e é por isso que, em geral, o resultado é algum
tanto mediocre, pois, deixando a educação entregue aos paes dos alumnos, muitas vezes elles não têm a
ventura de poder ensinar aos filhos.
E’ porisso que os collegios melhor se adapatam ao cultivo do bom proceder, pois em quasi todos, ha
uma aula de polidez, em que os alumnos se instruem quanto ao modo de se portarem na sociedade.
O ensino moderno, digamos a verdade, falta muito para ser bastante considerado, porque não se
cuida da perfeição de moldar o coração dos alumnos na pratica do bem; resume-se tudo em pouco de cada
cousa e, dahi, raros são aquelles ou aquella que conquistam certo valor perante a instrucção.
As escolas de hoje são bastante frequentadas, não pelo optimo resultado que deixam, mas pela
facilidade dos meios de se conseguir regular ensino.
Os senhores professores devem sempre procurar captivar o coração dos alumnos, de maneira a fazel-
os brandos para o cumprimento do dever.
Ahi está a grande força do mestre: saber guiar pelo bem e não castigar, considerando o castigo causa
de desbrio de muitos.
Tem-se modificado o methodo de ensino e esquecido da polidez.
Da maneira em que vamos, desta fórma, com tantas escolas, é verdade, que a instrucção se espalha,
mas não passa de um certo colorido, que desbota facilmente.
Não ha motivo para se deixar o ensino de polidez entregue aos senhores paes de familia; o professor
deve ter um cunho de moral e é por isso mesmo que devem ser mais respeitados.
Confessemos a verdade; falta muito para termos instrucção na altura de um grande beneficio moral.
E da moral depende a sociedade honesta e da moral depende, ainda, a felicidade da Patria Brasileira.
O. S.

Ainda mais
Este negocio de assumptos municipaes não se pode discutir largamente, porque o relatorio está
difficil de se extrahir, como o ouro da mina.
Dizem que a Camara, não fez nada mais nada menos, que imitar exemplos... Estão justificados, sim
senhores!
Dizei-nos o seguinte: si as camaras passadas houvessem desfalcado os cofres publicos, vós tambem
devieis fazer o mesmo?
Então, não ides tratar do bem do povo, senão prehencher um lolgar que da fructos facilmente. Onde
está então a independencia, o caracter, a honradez em summa?
Imitar... para imitar é que não precisamos de camaristas. Demais, dizei-nos, sob a presidencia de
quem tem havido mais irregularidades?
Do dr. Paula Souza ou deste outro? (Dr. Nogueira Martins)
Respondam francamente; nós queremos a lucta, porque queremos a luz, e realmente, enaltecer esta
camara, equivale a fazer o povo de cégo.
Imaginem o que seria da administração municipal, si não nascesse uma folha para exigir os
relatorios!
A camara não está em condições de dar gratificações e devia pelo contrario, procurar fazer
econimias. Essa seria a melhor e superior orientação nos negocios municipaes.
Por exemplo: porque não fazem intendente um homem que possa e queira, independente de ganho,
exercer o cargo?
Já tivemos intendentes assim. Hoje em vez de tratarem de economias, dão a intendencia a quem não
precisa e tem um bom ordenado.
Não ha duvida alguma; vamos ás mil maravilhas. Tudo corre na serena paz dos corações felizes, em
quanto o povo paga o pato.

A erupção do Krakatoa (locado na pasta Conferências).

Jesus, Aaswerus e o Pontifice (locado na pasta Incao, em Francisco Vera Cruz)

Giuseppe Sarto
Nascido em Riese, provincia de Mantua, no anno de 1838, foi elevado por Leão XIII á purpura e
inscripto na ordem dos sacerdotes.
Regeu a diocese de Mantua em que conquistou grande popularidade, tanto que, quando em 1893 foi
nomeado patriarca de Veneza, o seu nome obteve a approvação geral da população de Veneza.
Engenho culto e moderno, preparado especialmente em theologia, philantropo e amante de todas as
artes, soube em Veneza conseguir a maior tradição de arte e de piedade.
É indubitavelmente homem de bom senso e de muita prudencia.
Grande franqueza não desligada de grande resguardo.
Em varias occasiões os olhares de toda a Italia se voltaram para elle.
Quando os soberanos da Italia vieram a Veneza inaugurar a primeira exposição artistica, o cardeal
Sarto foi ao palacio real fazer sua visita.
E tambem recentemente, na ceremonia do collocamento da primeira pedra do campanario de S.
Marcos, o cardeal Sarto se achou ao lado do conde de Torino e pronunciou um discurso enthusiastico á fé e á
patria.
Deverá pois ser um papa conciliador; e tal augurio terá por certo os applausos da população
venesiana na sua partida para Roma.
Por todos os modos elle será um papa intelligente e culto.
«Traduzido da “Fanfulla”».

O novo Papa
As 11 ½ da manhã de hontem, o digno correspondente da Tribuna Italiana mostrou-nos o
telegramma que lhe participava a eleição do Cardeal Giuseppe Sarto ao solio pontificio.
Assim sendo, collocamos á frente da nossa redacção a estampa do Pontifice, de quem a Egreja
Catholica muito espera.

Piadas
Neste buraco profundo, meus leitores, um medonho
Profundo, medonho e largo conto terrivel sonho
Gosa o infinito lethargo, de Felippe, que o raio o parta.
Felippe, longe do mundo.
Vocês andam, meus amigos
E Chanp-chan recebeu carta... por ahi... deixem estar!
não são livres de perigos... e o Tiburcio que alto berra.
Tiburcio fica em logar.
Cuidado! Olhe o lixo! Tira,
Felippe então passou ordem intendencia, o lixo da rua!
ao seu bom representante, Si é verdade ou si é mentira,
que não admitta desordem nós não estamos na lua!
nesta terra e a todo instante.
O relatorio... elle que saia,
Felippe morreu; lembrança que saia o mictorio tambem!
manda a todos cá da terra, Quando não, vão para a praia...
mas deixou o Sancho Pança O povo já é Pedro-Sem...
SANCHO PANÇA

Para constar
O Diretório do PRP de Campo Largo tenta obter auxílio do governo do Estado para o conserto da
estrada que liga aquela vila à estação da Vileta.
O festeiro de São Benedito gastou em outras cousas o dinheiro arrecadado para a festa; assim, não
haverá festa de São Benedito.
De hoje para amanhã, festa do Bom Jesus no bairro do Indaiatuba.
Na noite do dia 2 ouviram-se vários tiros na Rua Direita.
Na Rua da Penha um homem feriu-se com um tiro do próprio revólver.
João Dias da Silva é casado com Maria Cândida Dias.
Domingo último, o Club União mudou-se para o sobrfado da Rua do Comércio. Houve grande
baile.
O Circo Americano partiu para Porto Feliz.
W. Albert Naxara, cirurgião dentista, anuncia que fixou residência em Sorocaba, com um bem
montado gabinete na Rua Floriano Peixoto, 49.

Sb 8/8/1903

Chronica Christã
O verdadeiro representante de Christo
Uma noticia que abalou já o coração da Cidade Santa assentada sobre as sete collinas, é o ideal do
novo Pontifice, completamente adverso ao de seus antecessores.
Os inimigos da Egreja, os filhos das Trevas e do Averno, agora hão de curvar-se ante o Summo
Sacerdote christão.
Já, ao primeiro passo, Pio X clamará contra a usurpação dos Estados Pontificios e não vae de
encontro aos desejos de conciliação com o Quirinal.
O rei da Italia não terá outro remedio, senão agasalhar sob sua protecção o novo Pontifice.
Pio X vae exigir a entrega dos bens do Vaticano e, a seu favor, chama os pobres, que pretende
agasalhar.
Daqui a poucos mezes, a grande transformação se dará no ideal christão.
Sarto não quer os tropheus orgulhosos legados por Leão XIII, não quer as tiaras de ouro massiço
nem os baculos carissimos, tudo emfim, onde replende a riqueza, os diamantes e as pedras caras.
Elle vae abrir as portas do Vaticano, recolher os humildes, os desgraçados, os infelizes que não têm
leito e nem têm pão e vivem pelo mundo, o valle cheio de miserias.
O Vaticano serà um grande e magestoso asylo, como não houve igual na Terra, e todos os objectos
do palacio luxuriante de Pedro, converter-se-hão em beneficio e sustento dos pobres.
Os Estados Pontificios, pois, voltarão, não para a manutenção do luxo inegualavel dos cardeaes, mas
para auxilio dos desgraçados que pedem misericordia!
Entrega, Rei da Italia, os bens da Egreja, si vão dar agasalho, roupa, leito e pão aos desgraçados.
Sarto, Pontifice glorioso, verdadeiro pastor dos mansos cordeiros que Jesus amou, Sarto mereces a
consagração imperecivel de successor de Christo (acho que o O.S. é o mesmo Vera Cruz. Que insistência é
essa de que o Papa é sucessor de Cristo?), o teu nome só, dentre a phalange dos Papas, se destacará
fulgurante, como um padrão glorioso do Bem, enaltecendo o mundo christão.
O. S.

Assumptos Municipaes
O Quinze de Novembro» que não tem a praze senão de defender incondicionalmente a Camara
Municipal que o protege, portanto seus argumentos são suspeitos, vem affirmando que a tabella de impostos
de agua nesta cidade é a mais modica do Estado.
Além disso diz que Itapetininga não tem exgottos.
Isto é falso; nós não mentimos: temos aqui a tabella á disposição dos que a queiram ver. Quanto a
Tatuhy, nós não falamos de exgottos e sim que uma cidade que trata, por sua propria conta o serviço de agua,
ainda à vapor, empatando capitaes devia cobrar relativamente mais do que aqui, que teve o material gratis.
Quanto ao contracto, nós nada temos que vêr que fosse assignado por este ou aquelle nem tão pouco
temos de indagar dos meios que foram empregados para tal fim, somente lembramos que foi uma desgraça,
uma falta de senso e mesmo um passo pouco airoso para que a Camara desse tempo que tinha o mesmo
presidente que hoje tem.
E ao que nos consta, o sr. dr. Nolasco era director das obras e, quando não sinão quando, sem a
devida concurrencia, sem a publicação pela imprensa, foi feito o contracto malsinado que concorreu para
opprimir mais o povo, lesando-o legalisadamente.
Colheremos mais dados afim de podermos mostrar ao publico, como ha zelo na administração deste
municipio.
O intendente desse tempo não queria assignar semelhante contracto mas o dr. prezidente disse-lhe
que era diplomado e que assignasse.

Piadas
O São Benedicto, o pobre Livre pensador... Porque
agora ficou sem festa; ficou hoje clerical?
evapore-se seu cobre
e lambeu tudo co’a testa. E os mictorios? Que desleixo,
na rua do Cemiterio!
O tempo, que anda bicudo E’ feio, é horrivel o lixo!
não está para isso mais, Hei de metter mesmo o queixo,
nosso bolso anda rombudo heide ficar bravo e serio,
de encher-se é mesmo incapaz. pois vejo em tanto desleixo
tanta falta de capricho!
E o puxa anda puxando
nunca se viu coisa igual! Vão fazer greve as praças
reverendo e revenerando Que a pindahyba é brava.
de tudo elle gosta afinal. Nesgte tempo de desgraças
é triste viver na piava!
Quem te viu e quem te vê! (sem assinatura)
Que mudança radical!

Com o Correio
Sabemos que o sr. Benedicto Estevam Cordeiro, antigo e conceituado empregado do Correio, que
desde 20 de Fevereiro de 1900 até 11 de Março de 1901 foi thesoureiro, de que prestou boas contas, não
recebeu o ordenado correspondente ao mez de Maio, em que esteve doente durante 17 dias, apezar de ter
justificado com attestado do Dr. Alvaro Soares, que o julgou impossibilitado de comparecer á repartição;
além tambem de ter requerido licença de 15 dias em prorogação e agora licença para tratar da justificação das
faltas, o que não lhe foi concedido.

Bello exemplo
Consta-nos, com fundo de verdade, que o snr. Francisco Eleuterio de Camargo, tendo recebido os
vencimentos das praças, foi á festa de Indaiatuba e lá perdeu tudo no jogo. Será exacto mesmo?

Para constar
A Chronica Christã, estampada na primeira página do jornal e assinada por O. S., é um acumulo
de bobagens e apelações, ditadas pela supina ignorância do seu auto, completo desconhecedor do
catolicismo, de política, do regime eclesiástico e de tudo o mais. O estilo do artiguete, a repetição de certas
idéias bem veracruziana, o estilo lamuriento e pseudopiedoso de lobo que, fingindo ser cordeiro, vem pastar
no cadáver de Leão XIII – um grande papa, diga-se de passagem, muito voltado para a situação e a sorte
dos operários e, acima de tudo, prático nas suas ações e não parado nas teorias como os salvadores do
amor social, tais Marx, Engels e outros. E’ tão cretina a argumentação desse tal O.S. que eu chego mesmo a
crer que ele seja o Francisco Vera Cruz, ou, no mínimo, um perfeito plagiador deste.
O artigo O Julgamento de Jesus está transcrito na pasta Conferências.
Escolástica, filha do Tenente Joaquim Firmiano de Camargo Pires, acionista do “Cruzeiro do Sul”,
nasceu no dia 31 de Julho de 1903.
A casa n.º 20 da Rua Cesário Mota, que ameaça ruína está sendo consertada, mas, tem gente
reclamando que aquilo não tem jeito, não.
A festa de São Bom Jesus de Indaiatuba, neste município, foi bastante concorrida.
Vai à praça uma invernada, denominada «Catingueiro», localizada no bairro do Cagerê, com
cerca de quarenta alqueires de terra, lindando com terras de Marcelino de Camargo, Francisco Rodrigues,
Antônio Camelo, herdeiros de Francisco de Almeida, um valo e o rio Sorocaba. A invernada está avaliada
em quatro contos de réis e não consta a quem pertence.

Qa 12/8/1903

Havemos de ver...
Nós não ambicionamos os cargos da Camara, principalmente de uma como esta em que o desleixo
tem primado, como já demonstramos, publicando a lei que a obriga a dar ao publico os relatorios.
O nosso collega procura evasivas, põe as manguinhas de fóra, porém receia algum tanto.
Fala com uma pose de quem não tem força, nem está com a verdade.
Por varias vezes tem-nos desmentido, porem... cahindo de barriga. Anda com certa anemia.
Porque não defende a Camara quanto aos relatorios?
Que historia é essa de tanta demora?
Temos em nosso poder alguns documentos e ainda arranjaremos mais, afim de patenterarmos ao
publico, fundamentadas na verdade, verdadeiras provas do que temos dito e vamos dizer.
E Deus queira que ainda a justiça não trate de liquidar contas com uma administração que não tem
cumprido com os preceitos de lei, que tem andado aéreamente.
Quaes são os beneficios que a Camara, sob a presidencia do nosso deputado estadual, fez.
Aponte-nos, digam-nos com os relatorios. Hade ser o mesmo que os negocios das divisas com a
Piedade e Pilar, incuria injustificavbel que deundou em nosso prejuizo.
Esse é um dos grandes beneficios.
Para que nos serve então, chefe politico, si não usa de sua força perante a Camara do nosso Estado?
Ha contractos bem bonitos paa analysar, e é o que pretendemos fazer; havemos de luctar, havemos
de cortar mamatas, e não quiram tapar a luz do sol com a peneira.
Veremos; havemos de justar nossas contas. E’ só esperar mais algum tempo.
O que promettemos, cumpriremos, porque é em defesa do direito do povo e para realce da verdade.

De nuca
Para o publico saber mais claramente do proceder da Camara, até quando alguns camaristas se
retiraram della afim de não pactuarem com as irregularidades que lá se davam, vamos relatar a seguinte
informação que nos prestou o sr. cap. João Climaco de Camargo Pires.
«Attribuindo-se a mim parte da responsabilidade da mal feita tabella de agua, tenho a dizer o
seguinte: vindo do sitio, apresentei-me de repente em uma reunião de commissões que tratavam de dar
diversos pareceres, entre os quaes o do imposto de agua.
Apresentaram-me a tabella, exagerada, em desacordo com as necessidades e falta de recursos do
povo.
O sr. tent. José de Barros disse-me que era provisoria e que em vista da Camara necessitar de
dinheiro, era preciso arranjar um meio de receber quanto antes esse imposto, de muitas casas onde se javiam
feito installações de agua e exgottos.
Ainda mais que mais tarde, conforme as reclamações, seria a tabella modificada.
Em vista disso votei, confiado na palavra do sr. tent. Josè de Barros por não desejar atrapalhar a
administração municipal.»
No emtanto, a irregularidade é patente aos olhos de todos que não soffrem de myopia completa e
que não nasceram cégos!
Os 40:000$000
A Camara Municipal, sem as formalidades da lei, sem publicação pela imprensa, concedeu
privilegio ao sr. dr. Nolasco, que era empregado da Camara, como director do serviço de agua e exgottos, o
que tornava-o incompativel para fazer contractos com a camara.
Depois foi o privilegio vendido ao sr. capm. Hercules Tavares de Campos.
Quando se tratou de rescisão do contracto, depois de diversas reuniões para os seus camaristas
tratarem do assumpto, alguns delles se manifestaram contra o pagamento da multa.
Nessas reuniões o dr. Luiz Nogueira e José de Barros procuraram sempre convencer seus collegas da
camara, de que o contracto só poderia ser rescindido pagando-se a multa, por não ser annullavel.
Depois disto fez-se outra reunião de camara em que appareceu uma indicação para ser o intendente
auctorisado a rescindir o contracto, dentro dos limites do mesmo, esperando que o sr. Intendente, bom
entendedor havia de zelar pelo povo.

A luz electrica
Sendo a Camara citada pelo advogado do sr. João Lacerda, foi auctorisado o sr. Intendente a arranjar
um advogado em defesa da Camara.
A quem procurou logo o sr. Intendente? ao sr. Dr. Braga, que era membro do Directorio, supplente
da Camara, delegado de policia.
Como tudo isso é bonito!
No emtanto, os autos dormem o somno do esquecimento.
Ponderemos mais isto: o advogado do sr. Lacerda disse-lhe que, si ganhasse a questão, tinha de
pagar-lhe 20% e si perdesse nada receberia!
Porque a Camara não fez o mesmo?
A Camara, ganha ou perca, temd e pagar ao advogado defensor.
E quanto? Não sabemos si são 5, 10, 15 ou 20 contos.
O relatorio nos dirá, e a analyse, que breve faremos de todas as irregularidades que possa ter havido
contra a Lei!

Declaração
Lendo uma declaração em que se dizia ser infundada o nosso consta a respeito do sr. Alferes
Camargo e que as praças já foram pagas, temos a declarar que não fez mais do seu dever, e estimamos.
Quanto á noticia, foi-nos trazida pelos proprios amigos do Sr. Camargo e não por quem por ahi se
propala.
Nós não fomos á festa do Indaiatuba.

Lixo
Pedem-nos reclamarmos contra a grande quantidade de immundicies e animaes mortos depositados
perto da estrada da Agua Vermelha, em frente á chacara da Saúde, donde exala grande fedentina.
Seremos attendidos?

Os mantenedores da ordem
Soubemos que o sr. Saboia, soldado, desordeiro, armado de cacete, puxou garrucha contra os
paisanos na rua Cezario Motta, em casa do sr. Domingos Cozzi, sabbado à noite.
São esses os mantenedores da ordem!
Bebida, etc. etc. Para bom entendedor...

Fallecimento
Em Tatuhy falleceu, com 95 annos de edade, a exma. sra. d. Antonia M da Conceição, mãe do
finado dr. Abilio Alvaro Martins de Castro.

O jogo
O bicho anda por ahi! Deus do céu! Quando se acabará com essa praga?
E as roletas tambem... E a Constituição? E a Lei? E o officio do sr. Delegado?
Não haverá mesmo autoridade que se imponha, que saiba ser justa e rigorosa?
Si não podem cumprir com a lei, desistam do cargo que occupam.
Quer nos parecer que estamos em terra onde as autoridades favorecem este util divertimento.

Piadas
A Intendencia vive triste,
Com o tal negocio do lixo,
Mas outro mal maior existe:
E’ o tal negocio do bicho!

Que se ha de fazer, porêm,


Si permitte o proprio Estado
que a loteria, tambem,
deixe o povo escalavrado?

Dizem que a tal loteria


faz caridade... maior,
caridade ella faria
si dos jogos a mania
não fosse o jogo peior!
(sem assinatura)

Para constar
Domingo último, foi batizado Jacob Curi, de sete meses, filho do comerciante José Curi. Foram
padrinhos o Cap. Elias Lopes de Oliveira e Maria A. Camargo Pires. Seguiram-se os comes e bebes.
Domingo último celebrou-se, na Matriz, o solene “Te Deum”, em ação de graças pela elevação de
Pio X ao Pontificado; foi enorme a concorrência de público.
A «Tribuna Popular», jornal que se edita em Itapetininga, foi fundado no dia 7 de agosto de 1887.

Se 17/8/1903

Respondendo
Vimos um artigo em que se defende incondicionalmente os amigos do partido e como, quem o
publica tem muito amor ás palavras e não á razão, temos a dizer que sempre se consultava o dr. Luiz
Nogueira quanto ás questões da camara, por ser diplomado, como aconteceu com o sr. Loureiro.
Demais, pouco se nos importa que o sr. dr. Nogueira não fosse o presidente quando fez o contracto
de 40:000$000; maior desastre de responsabilidade moral, foi a rescisão do tal contracto. – Hoje, por
exemplo, temos a questão da agua. É um caiporismo!
Caixa que se arrebenta, represa que se parte em tempo de secca, cannos estreitos que não estão em
relação com a agua que se gasta... tabella de agua desorganisada, questão da luz electrica, parte do territorio
municipal quasi ás mãos dos municipios de Piedade e Pilar.
Não queremos saber si tudo cabe ao dr. Nogueira; a maior parte aconteceu sob a sua presidencia.
Ainda analysaremos a questão das latrinas que se diz terem vindo para os pobres.
Os relatorios, os balancetes trimensaes que não foram publicados como a lei manda e que não o
serão senão no fim do corrente anno, estes desleixos é que combatemos e muito nos admira o sr. Presidente
da Camara, homem de certa e presumida posição, não ter cuidado de zelar pelos negocios municipaes, afim
de não se vêr nestes apuros.
Nós não somos politicos partidarios; o que desejamos é o funccionamento em ordem dos negocios
municipaes, o cumprimento da lei, a paz do povo e a bôa utilisação de rendas publicas e não gratificações á
larga.
Diz-se que a responsabilidade do malsinado contracto é de responsabilidade exclusiva do intendente
municipal; isto não é verdade: o intendente executa o que a Camara determina, portanto, os responsaveis são
os camaristas todos e com particularidade os homens que deviam melhor saber como se fazem as cousas e
não se sujeitarem a que mais tarde o publico os accuse com toda a razão.

Reclamando
Na rua da Boa Vista ha muito barulho, todas as noites.
Onde estão os guardas?
Quando sahem os mictorios?
Quando sahem os relatorios?

O jogo
Soubemos que o sr. delegado tomou já as necessarias providencias afim de ser cohibido este abuso.
Um voto de louvor.
Apezar de s.s. mostrar energia e boa vontade, talvez tenha que luctar com certos elementos de
posição, nesta cidade.
Esperamos, porém, que, tambem attendendo à nossa folha que està a seu lado nesta campanha,
mostre ser justo e imparcial.

No Mercado
Chamamos a attenção de quem competir para certos abusos de moralidade que se dão no mercado
municipal.

Agua
Devido ao desmancho na represa do Cubatão, temos tido falta de agua.

A nossa folha
Devido a um incidente na machina, nossa folha só poude sahir hoje.

Piadas (de Narigão)


Quando se prende um pobre,
É aos empurrões e a sabre... Que delegado turuna!
Quando o sujeito tem cobre, Ai xentes! Que sabichão!
Quando é graúdo o sujeito, Com todo orgulho de enfuna,
A policia com respeito, E o padre, coitado, então,
Com muitas desculpas se abre. Dos outro paga o peccado...
Vae parar na detenção!
Quando se prende um coitado,
Oh Prata, grita-se, venha! Que delegado! Ora petas!
E vae o desventurado, Que delegado! Ora bolas!
Triste, trriste, desfeiteado, De bravo faz mil caretas...
E ainda mais – desgraçado! Que delegado! Ora bolas!
Com pena de levar lenha. Que delegado! Ora petas!

Para constar
O escritório da Inspetoria de Agricultura, do distrito agronômico sediado em Sorocaba, fica no
Campo de Experiências Agrícolas Local e atende das 10 horas da manhã às 3 horas da tarde. O Inspetor é
J. Amândio Sobral.
Ontem, no salão do Club dos Atiradores, foi representada a peça «As Noventa e Nove Desgraças de
Tio Ambrósio», dirigida por Augusto Stramazzi.

Qa 19/8/1903

O Relatorio
? ? ?
Qual será o tempo opportuno?
Onde está a lei?
Esta é a superior orientação dos negocios municipaes?
Que fez a Camara durante estes trez annos?
Até quando o povo espera?
! ! !
No outro numero, uma penna rija e vibrante fará autopsia da administração municipal.
? ? ?

O Socialismo
O Socialismo é, para as pessoas que se presumem mais dignas que os outros, para as pessoas
soberbas, collocadas pela politica ou pelo dinheiro, em certa posição, o Socialismo, diz-se, è a anarchia, é a
desordem.
Nós, porém, homens do trabalho, que vivemos sobrecarregados de sacrificios, é que sabemos o que
é a vida, o que é dar, com o suor do rosto, o pão para a familia.
Um riso de ironia e cynismo, vês nos labios dos burguezes, que se inculcam ao direito de serem mais
homens do que os outros, quando se fala do Socialismo e do operariado.
No emtanto, a grande phalange de proletarios é a força do progresso, move os mercados do mundo,
move as industrias, move os caminhos de ferro, abre as minas, ergue as cathedraes, levanta cidades. O senhor
dos operarios é o Deus Milhão, esse malvado que deixa no ocio a quarta parte da humanidade sustentada
pelas outras trez quartas partes de pobres, dos que trabalham para não morrer de fome.
No Socialismo não haverá riqueza, pois della não se precisa, o governo socialista cuida da
instrucção, cuida dos doentes, cuida das viuvas e dos orphams e os paes de familia podem morrer em paz,
porque seus filhos e sua mulher não sentirão fome, nem privação de especie alguma.
No Socialismo, quem não trabalha não deve comer; logo todos trabalham, ha abundancia de tudo e
cada qual segue a carreira que a Natureza lhe marca.
Poucas horas de trabalho por dia.
As crianças terão o trabalho como divertimento e não como castigo, o que se dá na sociedade
moderna.
A mulher é livre, sem imposição de especie alguma e, por conseguinte, natural, de conformidade
com o verdadeiro amor, que não será comprado porque o dinheiro não fará um melhor que o outro.
Ao Jury presidirá a consciencia só, a verdadeira justiça.
O homem não fará mal ao proximo, não por temor de prisões infectas onde ha máus tratos que
demonstram o atrazo e selvageria, mas pela vergonha que ha de opprimil-o ante seus irmãos.
Não haver[a fome nem sede. Será o verdadeiro reino de Christo: «Amae vos uns aos outros».
Não haverá patrias no mundo, todas as nações formarão uma só patria e, então, a Humanidade
progredirá e se adorará a Deus em espirito e verdade, como disse Jesus à Samaritana.
Grande será o dia da Comunhão Universal!
A raça humana, numa só familia, cantará os hymnos eternos e floriosos da sublime alliança, e o anjo
da Paz pousará sobre o mundo inteiro.
ISRAEL (Não ha o que ver: este artigo é do Vera Cruz).

Piadas
Então meus amigos, ahn?
Esta cidade anda agora Trez annos a Camara sóva
Pedindo misericordia, O povo sem ter piedade.
Ha uma praga que devóra Nem um relatorio! Vejo,
E que em tudo faz mixordia. Me parece na verdade,
Misericordia! Misericordia! Que esta terra é um grande queijo.

Nunca se viu, cá na terra, Imaginem: as roletas


Uma desordem tamanha! Estão na moda. A cidade
A Camara toma a sanha, o dinheiro, Sempre com lixo. As sargetas
Nem tem coragemn, nem berra! Com agua podre. E quem ha de
Apreciar a Sorocaba
Não ha Camara tão triste, Si isto tudo não se acaba
Como a Camara daqui! E jogam as authoridades?
Pobres, coitados, ouvi:
Neste mundo não existe Oh jogo, maldito vicio,
Camara que não preste Muda-te lá para o hospicio!
Ao povo o seu relatorio.
Mas esta (oh diabo! oh peste!) O porteiro da casa de jogo: «Eu tô aqui
Já não faz nem um mictorio! pra morde não dexá os menol intrá drento... »
Tá muntu paricidu!
Depois dizem que Chan-Chan CHAN-CHAN
Não diz verdade e não prova...

O imposto municipal
A Camara, como sabemos, já baixou a 40$ o imposto de installação de exgottos.
E o de agua?
Vamos ver si se melhóra.

No grupo escolar
Diversa vezes já nos pediram voltarmos as vistas para o Grupo Escolar, onde ha certas
irregularidades.
Ha poucos dias foi uma das professoras censurada, em plena aula, pelo facto de não querer ceder á
outra uma cadeira americana que pertencia á sua secção, ou muito tempo se achava em se poder.
Esperamos que não se use destas armas para desgostar uns e agradar outros, mormente quando esta
professora lucta com difficuldade e não conta com protecções.

Professor Toledo
Hontem, 18, ás 5 horas da tarde, realisou-se o enterro do distincto Professor Toledo.
O acompanhamento foi extraordinario, já pela estima que lhe dedicavam antigos discipulos, já pela
illustre familia Mascarenhas, a que pertenceu.
Falleceu a 16, no seu sitio, no municipio de Campo Largo.
Nascido em São Paulo, a 31 de Agosto de 1824, na edade de 19 annos veiu a esta cidade, onde
exerceu o cargo de professor de latim por muito tempo.
Teve o Collegio Lageado e exerceu muitas vezes cargos de confiança popular e politicos.
Registramos aqui o nosso pezar e rendemos pezames á sua desolada familia.
Entre os discipulos do saudoso professor Xavier de Toledo, notam-se os srs: Arthur Gomes, dr.
Americo Brasiliense, José Rubino de Oliveira, General Pinheiro Machado, Paula Gomes, pdr. Thyerri O. de
Albuquerque, Francisco Baillot, Maj. João Lycio, capt. José Dias, Venancio Fontoura, capt. Piedade,
Christiano Exel, Joaquim Firmino de Toledo, Benedicto Cordeiro, alguns destes fallecidos.
O professor dizia: «Façam o que faço». E’ preciso muita consciencia de seus actos, para um homem
dizer isto; e o pranteado amigo podia dizel-o.
Trazendo para estas columnas a lembrança do nosso particular amigo Capt. José Dias, lembramos
aos antigos discipulos do bondoso Toledo, a nobre idèa de uma lapide em sua sepultura. Elle merece.
Falou no Cemiterio, realçando as nobres qualidades do morto, como educador, como pae da pobresa
e verdadeiro mestre, o Prof. Arthur Gomes.
Muitas pessoas não poderam conter as lagrimas, tanto é sincero, tanto sabe commover ao povo, com
suas palavras e phrases palpitantes de sentimento, o nosso amigo Arthur Gomes.

Ao sr. Delegado de Policia


Peço em nome dos moradores do Bairro do Cerrado, providencias quanto a José Fabiano, que é um
homem barulhento.
Veiu de Itapetininga, por valente. Como neste bairro não se póde fazer divertimento algum onde o
referido não se intervenha com suas façanhas e rotinas, de desordeiro, para não acontecer alguma cousa
desagradavel, levamos ao conhecimento de V. S. estas linhas.
Este senhor ha poucos dias respondeu Jury por ferimentos com faca.
No dia 16 do corrente, havendo um pequeno divertimento no Cerrado, este cidadão dirigiu-se contra
Tristão de Tal, armado de uma faca. Não podendo satisfazer sua vontade, deu duas facadas na banca de jogo
dando prejuizo ao proprietario. Sendo advertido, ameaçou tambem a João da Rocha Camargo, dizendo que
era o paus do Bairro.
Para evitar, pois, qualquer desgraça, chamamos a attenção da policia para tratar de dar lições de bem
viver ao sr. José Fabiano, que tambem, á noite do mesmo dia do divertimento, andou por lá dando tiros para
provocar-nos.
Sorocaba 17-8-1903.
«Um Sorocabano»,

Sb 22/8/1903

O Relatorio
Temos falado tantas vezes, a nosso favor chamando a lei, demonstando que a Camara desta cidade
ha mais de dois annos não publica os relatorios annuaes, não publica os balhancetes trimensaes, não cumpre
com a obrigação que tem de patentear ao publico o bom emprego das rendas municipaes!
E é por isso que ella tem dado gratificações á larga, é por isso que não nos póde responder e é por
isso ainda, que a sua folha escravisada não tem ordem de luctar comnosco.
Não lucta e não póde mesmo luctar, porque já demos na trilha das gratificações e da afilhadagem.
Os senhores desta terra vão á capital, atiçam lá o orgam das defezas que se compram, que não sabe
conservar as mesmas opiniões, e aquelle sem conhecer cousa alguma de nossa terra, levanta a bandeira de
combate.
Retire-se que nós não luctaremos sinão com aquelles que usam arma limpa.
Nós estamos com a verdade.
Não há quem prove que a Camara de Sorocaba tem cumprido seus deveres!
Ella não publica os relatorios, ella tem feito contracto sem chamar concurrencia, tem dado
gratificações injustas, sem dar satisfações ao publico, a quem ella é obrigada a prestar contas!
A escripturação da Camara tem andado de Herodes a Pilatos, tem custado muito e não é feita de
harmonia com o Codigo Comercial, porque não tem sido feita chronologicamente.
Quanto a nós nos levantamos contra a administração que tem a viseira erguida como auctoritaria e
poderosa, esperavamos que nos desse combate, dentro das raias da verdade, destruindo os nossos
argumentos.
Não somos filhiados (sic) a partido algum, somos sorocabanos e sómente fazemos opposição á má
administração municipal.
Franqueza; não ha logarejo, por mais atrasado que seja, que tenha semelhante administração.
Pedimos á s. s. sr prefeito, responder-nos, com franqueza; que logar existe, que tenha a desventura
de ter um prefeito tão incapaz como s. s.?
Estamos com o povo e pedimos aos senhores camaristas o cumprimento restricto de seus deveres,
porque não fazem mais do que cumprirem o promettido!
Não se reunam por formalidade; compenetrem-se da miseria do povo e lembrem-se quando
penetrarem no paço municipal, de que a responsabilidade que lhes peza é de consciencia e de justiça.
Attendam e olhem as codições do povo.
Basta de soffrimento!
LEÃO XIII
O camerlengo Oreglia, vagaroso,
do Sagrado Collegio precedido,
bate, de leve, lento, temeroso
na cabeça do grande adormecido.

Em vão, o chama. O vulto vaporoso,


esguio, magro, velho, contrahido,
não dá signaes de vida. Então, choroso,
cobre de novo o rosto ao fallecido.

O povo espera e o mundo já se cala,


nervoso fica, pallido, absorto,
para do Camerlengo ouvir a fala.

A sentença, que trouxe o desconforto,


este lucto pesado que avassala;
-- Oh! Effectivamente o Papa é morto!
ASTOLPHO BAPTISTA

A quem competir
Recebemos a seguinte carta:
«Illm. Sr. Redactor do Cruzeiro do Sul
Moradores da rua José Manoel pedem que reclameis, por intermedio de vosso conceituado jornal, a
quem competir, para o estado continuo de imundicie em que se acha essa rua, muito prejudicando a hygiene e
o decoro publico.
Algumas victimas.»
Tambem moradores da rua 7 de Setembro vieram a nossa redacção, reclamar providencias a respeito
de um quintal em aberto, que existe na referida rua, esquina da rua dos Prazeres que devido a ser deposito de
lixo exala um fedite que muito prejudica a saude publica.

Theatro
Hoje será representado no salão dos Atiradores mais um espectaculo organisado pelo sr. Augusto
Stramasio.Vai á scena a peça fantastica em 6 actos intitulada Giuseppe Musolino.
Amanhã a Sepultada Viva e Tio Ambrosio.

Grupo Escolar
Esteve em nossa redacção o sr. França Junior, director do Grupo, que deu-nos explicações sobre o
incidente que nos referimos em numero passado.

Jury
A 17 do corrente, foi installada a 3. Sessão annual do jury desta comarca.
Feita a chamada a hora do costume e não havendo numero legal de jurados, o dr. Juiz de Direito
recorreu a urna supplementar, marcando para 2 horas da tarde a sessão.
As 2 horas da tarde foi feita nova chamada; verificando a existencia de numero legal, foi aberta a
sessão.
Não podendo entrar em julgamento o primeiro processo por haver alguns jurados impedidos, deveria
entrar o segundo porem pelo adiantado da hora, foi transferida a sessão para o dia seguinte 18.
A 18, as 11 ½ horas da manhã foi feita a chamada: havendo numero legal, como porem, ainda
houvesse os impedimentos da vespera o dr. Juiz de Direito marcou a sessão para uma hora da tarde, n’esse
intervallo mandou os officiaes de Justiça notificarem alguns jurados que não tinham sido encontrados na
vespera.
A uma hora da tarde feita novamente a chamada e havendo numero legal, foi aberta a sessão, sendo
submettido a segundo julgamento o réo José Nunes da Silva, accusado por ter morto a antonio Sant’Anna em
Bacaetava, municipio de Campo Largo.
Representou a Justiça Publica o prof. João Vieira de Campos que fez a accusação do réo.
Foi patrono do rèo o Advogado Antonio de Oliveira que produzio desenvolvida defesa. Houve
replica e treplica, depois do que recolheu-se o conselho a sala secreta do jury de onde sahio trazendo a
absolvição do accusado por 8 votos.
A 19 entrou em julgamento o réo Francisco Izidoro Machado, accusado por estupro em sua filha
Guilhermina.
O réo foi defendido pelos intelligentes quarto annistas de direito Francisco Lagrecca e Francisco
Infantini (engano: é José Infantini) que depois de brilhante defeza, replica e treplica, conseguiram a
absolvição unanime do accusado.
A 20 foi submettido a julgamento o rèo Romão antonio Fernandes accusado por crime de ferimentos
graves na pessoa de sua sógra, no bairro do Sarapuhy. Foram defensores do accusado os intelligentes
academicos Drazio (sic) Coelho e Waldemir Magalhães, que conseguiram a absolvição unanime do seu
constituinte.
Hontem entrou em julgamento o réo Bento Martins da Silveira, accusado por ter morto a Antonio
Vieira da Rocha, no bairro do Jundiaquara. O prof. João Vieira de Campos proferio extensa accusação.
Defenderam o accusado os advogados dr. Joaquim Marques Ferreira Braga e José Bertoni; houve replica e
treplica.
O prof. João Vieira de Campos mostrou mais uma vez a independencia de caracter dizendo que,
n’este ultimo processo, desde a formação de culpa houve intervenção da Politicagem em favor do rèo. (mas,
no que deu?).
Hoje entraram em julgamento os rèos Joaquim Ferraz de Almeida e Vicente }antunes Pontes,
accusados por incursos no artigo 303 do Codigo Penal. O primeiro foi defendido pelo Professor João Vieira
de Campos, servindo como promotor adooc (sic) o advogado Antonio de Oliveira, o segundo teve por
defensor o dr. Joaquim M. F. Braga e promotor o Professor João Vieira de Campos. Foram ambos
unanimemente absolvidos.
Com estes dois julgamentos ficou encerrada a presente sessão do Jury.

Ao pé da lettra
Quem leu o aranzel publicado pela folha escrava da Camara, ha de por certo vacillar, por aquelle
jogo de palavras e phrases de advogado, quanto as nossas affirmativas, de que a Camara de Sorocaba, nestes
tres ultimos annos, tem sido de uma infelicidade sem igual, principalmente sob uma dictadura que tem
prejudicado os interesses locaes e o desenvolvimento da cidade.
As invectivas do orgam escravo, naquelle artigo que se diz de fundo, não tem fundo, e percebe-se
alli o dedo do grande Chefe.
De todo o mundo é sabido que si alguns camaristas se retiraram, da Camara, inxlusive o sr. Capitão
Pires que não é myope e sim homem respeitavel, honrado e conhecido por todos (e não é elogio) foi para não
se envergonharem dos escandalos administrativos que muito abertamente se commettiam e se commettem na
municipalidade.
Quando esses vereadores sahiram, o orgam comprado não publicou copia do officio da sahida dos
mesmos, porque era uma prova irrefutavel, vergonhosa, de vilipendio contra aquelles que não se lembram de
bem dirigir, de bem usar das rendas publicas!
Isto provam as gratificações injustas, os contractos sem escripturação da Camara, tudo num desleixo
completo, tanto que ainda não appareceram os balancetes e os relatorios que o sr. Intendente é obrigado a
publicar.
Mais tarde, com mais vagar faremos a autopsia daquelle artigo, corpo inerte, sem vida, pallido como
a invectiva politica, como um manejo politico, como a falta de criterio dos que não se compenetram dos seus
deveres e ainda pretendem fazer figura occupando os cargos que deviam ser occupados por homens de senso,
inimigos do alcool e da jogatina.
Quanto ao sr. capm. Pires, esperem a resposta que virá esclarecer a verdade e esmagar a inverdade.

Para constar
O “Cruzeiro” chama o “15 de Novembro” de folha escrava da Camara, de orgam escravo, orgam
comprado, etc.
Estiveram em Sorocaba os estudantes da Faculdade de Direito da Capital, o futuro poeta e tribuno
piracicabano Francisco de Castro Lagrecca (1883-1944), José Infantini e Dráusio Moreira Coelho.

Qa 26/8/1903

Resposta
Ao sr. Tenente José de Barros.
Tendo deparado no jornal da Camara uma carta dirigida por s. s. ao mesmo jornal e que me diz
respeito, passo a responder-lhe.
Quanto ao primeiro periodo quasi nada tenho ao dizer porquanto s. s. ou seu Espirito Santo de
orelhas nada disse que mereça a penna. Procurou melhor baralhar, para desvirtuar o que eu disse e não o
conseguiu.
Consiste em pequena estirada de rethorica e nada mais.
Está, pois, perfeitamente de pé, que eu votei a lei que regula a taxa de aguas, apezar de acha-la
elevada porque s.s. disse que podia ser modificada. É s.s. mesmo que vem corroborar a minha asserção com o
seguinte trecho da carta: – convem declarar que a tabella hoje censurada por s.s. é transitoria, pois está
sujeita, como toda tabella de impostos, á revisão orçamentaria que se faz todos os annos.
Agora uma pergunta: Sendo com s. s. affirma, porque em vista das reclamações que em nome do
povo tem feito este jornal, (o «Cruzeiro») a Camara ainda não a modificou, e obstina-se a conserval-a como
foi votada? Talvez queira s. s. dizer que a revisão orçamentaria só deve ser feita em epocha especial do anno.
Mas isto não teria procedencia porquanto o serviço de aguas não está completo, não podendo
portanto ser completo o seu orçamento, tendo por isso perfeito cabimento a revisão em qualquer tempo.
O que collige-se pois, é que a Camara não quer attender o povo; que despresa as suas mais justas
reclamações e que não cumpre com o seu dever.
Continua s.s.
Quanto ás insinuações que o sr. Cap. Pires diz ter eu exercido sobre meus honrados e
independentes collegas, no tocante á recisão do contracto Nolasco permitta s.s. que qualifique essa asserção
de pura phantasia: faça s.s. um ligeiro esforço de memoria e recordar-se-á que já em primeiro de Maio de
1902 eu apresentava á Camara uma indicação no sentido de ser rescindido aquelle contracto, sem onus
algum para o municipio.
A isto tenho a dizer que por maior esforço de memoria que eu faça, é impossivel recordar-me que
s.s. tenha apresentado á Camara indicação alguma nesse sentido. Do que me recordo porem, sem o menor
esforço, como si fosse hoje, é que no dia de votar-se a rescisão, tendo eu lhe dito que sentia-me contrariado
de dar meu voto com onus para a Camara, disse-me s.s. que não havia remedio sinão votar assim, porque do
contrario, o dono do contracto, na hypothese de questionar com a Camara e ganhar a questão o que era muito
provavel segundo disiam homens formados, nós os Camaristas, teriamos de pagar a multa do nosso bolso, em
vista de uma lei-expressa que ha nesse sentido. Tenho pois isto a oppor á veracidade de sua asserção; e s.s.
apresentou essa indicação porque em vez de affirmar não prova publicando a acta em que ella está inserida?
Não acha mais racional provar de que affirmar, quando essa prova está em suas mãos.
Ainda mais. Si s.s. apresentou tal indicação, porque votou a rescisão com onus para a Camara? –
Como s.s. vae votar contra sua propria indicação? Ainda mais. Si s.s. apresentou tal indicação, porque votou
a rescisão com onus para a Camara? – Como s.s. vae votar contra sua propria indicação?
Onde está a sua coherencia e seo bom senso?
Continua com a palavra s.s.: Admira, senhor redactor, que o Cap. Pires seja hoje tão acerrimo
defensor dos direitos do povo e não o fosse quando de facto o representava; votando systematicamente
contra o projecto que apresentei á Camara, pelo qual os proprietarios teriam suas installações 20% mais
barato do que hoje ellas custam: para esse projecto é verdade que solicitei o voto de s.s. que todavia não
deu, embora não justificasse sua recusa.
Temos pela frente outro desproposito.
S.s. está soffrendo a mania de affirmar tudo e não provar nada.
Sim, venha primeiro provar que as installações feitas por s.s. ficariam mais baratas 20%, que as
feitas pelos outros. – E se s.s. tem consciencia do que affirma, proque não apresentou de novo o seu projecto
e o não defendeu pedindo o apoio de seus collegas?
Quem o embaraça agora?
Estou certo de que si s.s. conseguisse provar que elle traria tal vantagem, não faltariam votos para
que fosse convertido em lei. Devo ser franco porem, em declarar-lhe que continuaria a negar meu voto ao seu
projecto, por uma rasão muito simples. É que s. senhoria com os cargos administrativos que tem, anda como
se diz, á reboque, não conseguiu ainda contentar a ninguem, quanto mais sobrecarregado com aqeulle que
por si só e semduvida muito mais espinhoso e pesado que todos os outros juntos.
S.s. explanando-se sobre a questão Lacerda e dos advogados da Camara, procurou fechar sua carta
com a seguinte chave de ouro: Creio que em materia de contractar advogados s.s. não foi feliz: Si me não
falha a memoria, a Camara teve de pagar 3:300$ a um que o sr. capt. Pires havía contractado
gratuitamente! Aqui não fui só eu a victima de sua sanha, o foi tambem o meu particular amigo dr. Gordo.
Mas quem auctorisou s.s. a diser que aquelle illustre sr. patrocinou gratuitamente a Camara e depois cobrou
3:300$? Tinha elle proventura a obrigação de trabalhar de graça para a Camara? Por ser meu amigo e chefe
politico de então?
Mas o advogado que s.s. contractou não é seu íntimo amigo? Não é elle chefe do partido do qual s.s.
tambem presume ser?
Não é alem disso filho desta terra: Prque s.s. não empenha seu prestigio e a sua amizade, afim de
que advogasse gratuitamente a causa da Camara?
Assim s. s. viria com mais gosto dizer que eu não sou feliz com s. s. para ajustar advogados!!
Agora mais duas palavras e basta.
Fique s.s. sabendo, e mais os seus comparsas, que eu não sou redactor nem diretor, nem informante
deste jornal, a não ser a declaração que foi publicada entre aspas e tanto reboliço produziu em seu arraial,
nada mais cabe-me quanto ao que tem elle publicado. Sou simples accionista e nada mais. – Estas são as
primeiras linhas que escrevo obrigado por s.s. Sou-lhes pois devedor desta honra, e voltarei se preciso for.
CAMARGO PIRES.

O cataclysmo da Martinica
UMA CARTA RELATANDO DOS HORRORES
FORT DE FRANCE, 12 MAIO
E’ ainda sob emoção da terrivel catastrophe que vos escrevo. Não vos admireis pois si sou um tanto
incoherente e si não ha união em minhas ideias.
É um desastre assombroso, de que não ha exemplo não somente em nossa pequena historia local
mas mesmo em todo o mundo, da humanidade. Toda uma cidade de 25.000 almas destruida num espaço de
trinta segundo.
De Santa Philomena ao Carbot nada ficou; nada.
Poucas pessoas deixaram S. Pedro; mesmo muitas pessoas de Fort-de-France alli chagavam
constantemente para ver!
Desde oito dias o vulcão lançava muito fumo, mas ninguem temia. Ouvia-se, sem interrupção,
estrondos subterraneos, como o ruido de uma carroça que roda. Um de nossos amigos que chegou de
Guadalupe, contou-me que na vespera do dia 7, ouviam-se ruidos e, Pointe-á-Pitre e com tal intensidade, que
se duvidava se restaria alguma coisa na Martinica. Mesmo em Fort-de-France, haviamos recebido cinzas.
A catastrophe foi tão subita que algumas victimas não podiam ter soffrido: não se teve tempo de ver
morrer. Encontrou-se na praça «Bertin» uma mulher que começara a cobrir a cabeça com as mãos; o gesto
não foi acabado; as mãos estavam na altura dos ouvidos.
Suppõe-se que uma immensa cava se abriu no flanco da montanha Pelée, para as bandas de S. Pedro.
Saiu uma tal quantidade de fogo, de pedras incandescentes, e provavelmente gazes deleterios que todo o
mundo ficou asphuxiado derrepente (sic).
Esta banda, esta zona de fogo deixou de dois lados, linites nitidos: do lado de Carbete, vê-se,
seguindo uma linha direita, de uma banda, herva verde, as arvores, no mesmo estado que antigament; de
outro lado, tudo arrasado. O mesmo se deu em Prêcheur.
Eu não vos citarei as victimas.
Tenho pouco tempo para vos dizer os nomes de raros privilegiados que escaparam. M. e Mme.
Mouttet são mortos. Para inspirar confiança, M. Mouttet que não acreditava na imminencia do perigo, havia
enviado sua mulher no momento da catastrophe, elle estava com os membros da Commissão nomeada para
estudar o phenomeno, em um lugar retirado a 400 metros, mais ou menos da praia, dirigindo-se a Pécheur.
Sua mulher nessa hora (8 horas da manhã) devia estar em seu quarto, no hotel da Intendencia.
Pobre mulher!
E’ uma catastrophe sem nome, de que vós não podeis fazer a menor ideia.
GEIRONARDE BONNAIRE

Chuva
Após quasi trez mezes de secca, que muito estava prejudicando a lavoura, tivemos um pequeno
aguaceiro de sabbado para domingo.

A quem competir
Chamamos a attenção de quem competir para o estado immundo em que se acha o becco da rua da
Boa Vista.
Exala um fetido insuportavel.

Luz electrica
Por um desmancho no dynamo a cidade ficou as escuras duas noites.
O sr. Joaquim Soeiro, gerente da empreza, tomou as providencias que o caso exigia.

Com a policia
Chamamos a attenção da policia para o numero de ebrios que vagam pelas ruas da cidade,
proferindo palavras deshonestas, o que muito offende a moral publica.
Esperamos que a policia attenda a esta nossa reclamação, porque pessoas que estiveram entre nòs
notaram isso, com desagrado.

Fallecimento
Falleceu após longos soffrimentos, no dia 24 do corrente, ás 2 horas da manhã, a sra. d. Rita de São
Tito Demetrio.
A sua morte foi muito sentida, pois que era uma senhora dotada de bom coração, mãe dos nossos
amigos Porfirio Demetrio, Adolpho Demetrio, Ricardo Demetrio e José Demetrio.
Era tia e sogra do sr. José Leopoldo Machado.
A’ enlutada familia os nossos pesames.

Para constar
A cidade de São Pedro, Saint-Pierre, para os pedantes estrangeiristas,foi arrasada pela erupção
da Montanha Pelada, Mont-Pelé, para os mesmos bruzundangas.
Teve lugar domingo a festa do Sagrado Coração de Jesus, com missa solene às 11 horas e bênção
do Santíssimo Sacramento a noite. Nas duas ocasiões orou o Padre Tadei.
Também na Rua do Ipanhema há lixo acumulado.
O «Cruzeiro» que, no outro dia, só saiu à noite, continua saindo fora de horário e, com as
desculpas, a explicação: acúmulo de serviços avulsos na tipografia.
O jornal está chamando o Chico Loureiro de “nosso amigo”. E’, mas as cousas mudariam. E
como!
Já está em 130$000 a subscrição para a lápide do túmulo do Professor Toledo.
Começa no dia 27 e termina no dia 30 a festa de Nossa Senhora da Consolação, na igreja do
Rosário.

Sb 29/8/1903

Refutando
Decididamente o jornal da Camara não póde defendel-a; porque os nossos argumentos são
cimentados nas provas que jamais poderão ser refutadas.
Todo o povo sabe, está a par de todas as irregularidades que se praticam nas repartições municipaes,
desde os quarenta contos até as gratificações mais illegaes e a tabella de impostos injustos e exorbitantes.
Quando era presidente da Camara o dr. Paula Souza, no triennio transacto, para se gastar cem mil
réis, si podemos dizer , a Camara se reunia para consultar seus membros; hoje é completamente o contrario:
gastam-se contos de réis, sem dar satisfação ao povo, sem publicar os relatorios e os balancetes exigidos por
lei.
Nós não estamos na Zambezia, na Hotentotia ou Barbaria para se pisar as leis, para se escravisar a
população para se mandar e fazer como manda e faz um Czar ou um Sultão.
Penna, mais branda um pouco, porque os homens te odeiam e tu fazes mal.
Não avances, não queiras sangrar o coração dos potentados que até hoje governam despoticamente o
pobre povo, victima de sua sanha.
Não consentimos não se pode consentir que uma Camara se relaxe a tanto, a ponto de não cumprir o
seu dever.
Senhores do mando, posso e quero, nós tambem queremos, mandamos e podemos, em nome do
povo, que publiqueis os relatorios, que ponhaes a limpo, ás claras a vossa vida administrativa, porque nós
temos direito, nós tambem somos sorocabanos e fazemos parate do povo que soffre. Vós dizeis que não se
deu desvio de dinheiros publicos.
Queremos o relatorio para nos convencermos do contrario.
Não sabemos como a Camara que não tem tido a escripturação em dia, poderá apresentar contas
legalisadas!
Quanto ao officio dos vereadores em poucas palavras disseram tudo. Pauca, sed bene parata.
Deixemos de rodeios, pannos quentes, subterfugios, rodelas, contos da carochinha e não queiram
fazer o povo engulir as pilulas preparadas no laboratorio official do orgam official da Camara.
Publiquem os relatorios; queremos ver em que gastaram tanto dinheiro arrecadado.

Ao Publico
Deve o publico saber que não posso mais, nesta cidade, continuar minhas curas, em vista de ter sido
multada em 100$ pelo sr. Inspector Sanitario (José Pinto de Paula Sousa ou Francisco Luís Viana?).
Admirei-me bastante, porque em Campinas, Piracicaba, Rio Claro e muitos outros logares, onde
tenho curado os pobres que não têm meios de pagar drogas nem medics, nunca fui multada embora nesse
logares haja commissão sanitaria.
Não é de minha vontade curar, mas isto me é imposto pela onda de enfermos que curo e tenho
curado, muitos dos quaes estavam em mãos de medicos, e, além de tudo, desenganados.
Nunca explorei; nunca cobre real de minhas curas, isto mesmo porque minha religião não permitte e
o dinheiro não me seduz.
Os meios que eu emprego estão á vista de todo o mundo e a influencia de meu curativo é patente,
póde ser estudada pelos senhores medicos que não devem negar as forças occultas da natureza.
Sr. Inspector Sanitario, ahi deixo innumeros doentes quasi restabelecidos e que foram procurar
allivia a suas lagrimas, me procurar, porque são livres e não são escravos.
Cure a esse pobres a celebre commissão sanitaria que como diz um medico fluminense, no
«Despotismo Sanitario», é a maior epidemia que grassa entre nós.
Disse.
Sorocaba, 29-8-1903.
Dolores Gonçalves.

Assumptos Municipaes
Com a epigraphe acima os jornaes, que se publicam nesta cidade, têm discutido os actos da
administração municipal, e néssa discussão o jornal «O 15 de Novembro» tem atirado a mim a
responsabilidade de certos actos Municipaes, que se deram na minha administração, quando exerci o cargo de
Intendente nesta cidade.
O orgam official em um de seus artigos affirmou que eu mandei dar gratificações a empregados
municipaes e para que não continue em pé tal affirmação é que venho hoje á imprensa afim de expôr ao
publico o que existe de verdade na administração de meu tempo, podendo assim o publico firmar seu juizo
seguro.
Ficará sabendo a quem compete a responsabilidade, que atualmente querem me atirar.
O orgam official, affirmando ter eu dado gratificações a quem quer que fosse, sem autorisação da
Camara, meutiu.
Nunca na minha adminsitração mandei pagar gratificações a quem quer que fosse, sem autorisação
do poder competente.
Vamos agora analysar o contracto que foi lavrado com o sr. Dr. Nolasco para installações
domiciliarias.
Diz o Orgam official entre outras cousas o seguinte:
«E’ assim que embora sacrificanco a probidade historica, só tem imputado á Camara actual a
responsabilidade do contracto lavrado com o Dr. Nolasco, sobre installações domiciliarias, atirando-se
igualmente a sua carga, o onus que aquelle acto trouxe ao Municipio.
E’ justo que se restabeleça a verdade sobre este ponto da vida Municipal.
Bem ou mau, conveniente ou lesivo, o facto é que contracto malsinado foi lavrado pelo honrado
cidadão Francisco Loureiro, que, ao tempo, exercia o cargo de intendente nesta cidade, sendo o respectivo
instrumento transcripto nas notas do tabellião Arthur Gomes».
Até aqui nada disse de novo o orgam official pois ninguem ignora que esse contracto foi lavrado por
mim e transcripto nas notas do tabellião Arthr Gomes.
Pergunto ao Orgam official:
Pelo simples facto de ter eu assignado esse contracto com o Dr. Nolasco serei responsavel pelo que
se tem passado? Parece-me que não; porque, bom ou mau, conveniente ou lesivo, a responsabilidade cabe a
todos nós, os vereadores daquelle tempo, que votamos para ser concedido o tal contracto, pois se eu mandei
lavrar esse contracto, foi em virtude de uma lei municipal; do contrario eu não poderia faser semelhante
contracto, só com o meu voto não poderia faser uma lei.
Como acabo de expôr, o publico vê que a responsabilidade do contracto, conforme diz um distincto
vereador da actual Camara, podia ser annullado sem pagamento da multa.
Quando se tratou de annullar o contracto, eu fasia parte da Camara, representando a minoria, e
discutindo esse assumpto, fiz vêr que era um desastre a annullação d’esse contracto com o pagamento da
multa.
Mas nada adiantaram os motivos que expuz e porisso votei contra esse acto não me cabendo,
portanto, responsabilidade que o orgam quer atirar-me.
Quanto ao dizer-se que eu não lavrei o contracto de accordo com a petição é uma inverdae, pois
tenho em meu poder copia da petição que o Dr. Nolasco dirigiu á Camara e que poderia ser confrontada com
a escriptura de contracto, em 29 de Março de 1901.
Sobre o mesmo parecer, a que se refere o mesmo jornal, perdôem-me que eu o digo, foi feito
verbalmente, e só escripto muitos dias depois da sessão, e talvez nessa occasião quiseram fugir á
responsabilidade que lhes pesava.
O jornal «Cruzeiro do Sul» tambem em um de seus artigos disse que eu lavrei esse contracto,
instigado pelo sr. Dr. Luiz Nogueira Martins, que então exercia o cargo de Prezidente da Camara. Tambem
não é verdade, pois nesse tempo era presidente o sr. Capitão Elias Monteiro, e nunca o sr. Dr. Luiz Nogueira
me instigou a assignar aquelle acto.
Si o fiz, foi em obediencia á Lei Municipal.
A Cesar o que é de Cesar.
Sorocaba, 25 – 8 – 1903.
Francisco Loureiro
Piadas
Numa sepultura o cofre vasio e o povo,
Neste buraco sem sahida, numa profunda afflicção,
jaz uma velha enterrada, sem um vintem, sem um ovo
uma Camara fallida, pela sua alimentação.
bem triste e desengonçada.
Dorme, Camara, repousa,
O testamento deixado apodrece-te, afinal;
por esta Camara triste, não prestas para outra cousa,
é original, é engraçado, já nos deste muito mal!
nem igual no mundo existe: (sem assinatura)

D. Dolores
Foi multada em 100$000, pelo sr. Inspector Sanitario, a sra. Dolores Gonsalves, a quem iam os
pobres que não podem pagar drogas nem medicos, pedir allivio a seus soffrimentos.
Vimos correrem lagrimas dos olhos de uma senhora, cujo filho estava sarando sob protecção de
Dolores, a humilde e boa mulher, humanitaria, cujo coração é brando para com os pobres.
A culpa das lagrimas dos que ficarão chorando não cahirão ás costas de D. Dolores.

O jogo
Anda-se desenvolvendo assombrosamente o jogo.
Para o proximo numero reservamos um artigo que recebemos descrevendo vivamente esta miseria.

Reclamamos
Contra o costume que têm alguns carreiros de não trazerem um guia deante dos bois, pois ha poucos
dias, quasi pegou uma criança.
Alguns carroceiros, tambem, andam no varal das carroças.
Cavalleiros ha que galopam pelas ruas.
Os srs. fiscaes onde estão?

Fallecimento
Falleceu no dia 27 do corrente o sr. Francisco Nogueira, irmão do estimado sorocabano Coronel
Manoel Nogueira.
Seu enterro realisou-se hontem, 28 ás cinco da tarde.
Pezames á enlutada familia.

Para constar
A «Loja da Ponta», de Alfredo Vaz Guimarães, mudou-se do Largo da Matriz para a rua de São
Bento, baixos da Maçonaria.

Qi 3/9/1903

A morte moral
Temos escripto com toda força de expressões, exigido da Camara Municipal os relatorios e
balancetes obrigados por Lei e a senhora Camara não presta ouvidos ás justas reclamações e parece que
falamos com pessoas de ouvidos moucos.
Larguem, senhores Camaristas, de fazer-vos de surdos, sejam correctos, apresentem as contas da
Camara, a conta do dinheiro arrecadado durante trez annos, que já deve chegar a muitos contos de réis, e
mostrem ao povo o que fez a Camara com tanto dinheiro!
Já estamos em Setembro, cançados de esperar, cançados de vivermos illudidos pela administração
municipal, a mais desleixada, a mais desorganisada, a mais mal feita que se conhece nos annaes dos
municipios!
Onde se viu, em que parte do mundo, uns poucos de camaristas, incumbidos de zelar do dinheiro do
povo, deixarem que seus empregados não cumpram as obrigações. Para que a Camara tem tido guarda-livros:
Para ganhar sem cuidar de seus serviços?
E’ demais o cynismo com que se procura disfarçar não ouvir o nosso justo clamor, em defesa do
povo opprimido, do povo perseguido de multas, quando nem a propria Camara cumpre o seu dever!
Até quando esperamos os relatorios?
Nós tratariamos de banir essa Camara, mas não o fazemos, porque seria para ella uma felicidade.
Comera a carne? Roam os ossos e, depois, apresente-nos a prova dos beneficios que fizeram para
esta pobre cidade, doente, anemica, falha de recursos, tratada por uns medicos municipaes tão desorientados
e sem criterio!
A nossa penna é rija, porque o remedio é conforme o mal.
E ainda ha alguem que ousa dizer que a Camara não commetteu um acto só irregular!!!
Conte a população, contem as familias as amarguras porque tem passado, os vexsames que tem
soffrido!

O Jogo
Este funesto vicio, tão inveterado em nosso meio social, vae merecer a nossa attenção, pois tem
ultrapassado todas as raias das mais phantasticas espectativas.
Os Banqueiros, com um petulante desassombro e certos da impunidade, abrem casa de tavolagem
onde jogam, ás escancaras, pessoas qualificadas na mais inqualificavel promisquidade (sic) com humildes
operarios, disputando com criminosa ganancia os parcos recursos que representam o suor e o sangue do seu
labor quotidiano.
Já não basta essa praga de loterias, tão criminosamente admittidas pelo governo, ainda temos, para
assoberbar a nossa decadencia economica, esse nefasto flagello, que tanto nos deprime e avilta aos olhos dos
homens que procuram, no trabalho honesto, o seu bem estar e o de sua familia, tollerado e acoroçoado por
aquelles que tem o dever de reprimir. Essa peste que se estende e se alastra sobre a incuria de quem lhe deve
oppôr inexpugnavel barreira, tem feito passar pelos horrores da fome infelizes familias, cujos chefes perdem
de noite o fructo de seu honrado trabalho, perdem de dia a disposição para continuar a sua faina, n’este mar
revolto da lucta pela vida, de que tiraria com proveito e honradez, os meios de subsistencia e mais se tornaria
impossibilitado, por noites passadas em orgias e vicios, de seguir o caminho do bem e do dever.
Desde as ruas, onde engeitadas creanças fugidas das escholas se iniciam no vicio e na vadiagem, atè
as casas de tavolagem, se observa uma singular predilecção por esse torpe vicio que tantas desgraças tem
acarretado á familia e á sociedade.
O numero dos desoccupados cresce na proporção dos novos iniciados no vicio do jogo, porque são
muitos os que procuram no azar os meios para manter uma falsa posição que, não raras vezes, os leva a
practicar actos indignos de que já não se envergonham a força de as repetir. O mais ingenuo observador nota
a indifferença das nossas authoridades, diante das scenas que tanto compromettem os nossos foros de povo
operoso; mas nós, em sugsequentes artigos, diremos a razão porque essas authoridades não cumprem com o
seu dever.
E. P.

Uma carta
SÃO PAULO, 28 – 8 – 1903
CARO REDACTOR
Não calcula o amigo quanto tenho apreciado esse valente orgam da imprensa, que tem luctado
valorosamente, defendendo minha terra natal, contra essa politica tacanha que só tem dado infelicidades á
Sorocaba, outr’ora tão pacifica, tão bem governada por homens de probidade e de senso que tinham
patriotismo.
Que é de Paula Sousa, Augusto Franco, Antonio Monteiro, Coronel Nogueira, Gustavo Scherepel,
José Vaz Guimarães, Coronel Pires e outros que deixaram saudades no coração dos sorocabanos?!
Eram despidos de interesses os actos desses abnegados servidores do povo, que se esforçavam por
advinhar-lhes (sic) as necessidades.
Como estão mudados os tempos!
A politica hoje se me representa como uma imagem triste de desolação, que tem acarretado tantas
maguas para o povo!
Deus do Ceu! Quando, das o caminho por onde passaram os nossos antigos politicos, será trilhado
por outros homens dignos, cheios de amor pela liberdade e pelo bem da minha terra!
Quando raiará, para os flagellados filhos de Sorocaba, uma nova aurora de paz, de tranquillidade
para as familias, sob uma administração criterios, feita por homens que pensam no que fazerm?!
Lucte sr. redactor! A lucta é a alma da vida, e o trabalho, sacrificio pelo povo, é o mais justo orgulho
que póde ter um homem.
AURELIO VEIGA

Imposto do Sello
Este mundo não vai bem, Por enorme cinturão.
As cousa mudadas estão.
O que valia um vintem Foi depois da monarchia
Agora vale um tostão; Que o Brazil se complicou:
É preciso na barriga
Os generos logo subiram, E de manhã muito cedo
O cambio logo baixou; Sella o criado a vassoura.
A vida, as leis, os Estados
O governo reformou. O credor sella o freguez
Quando lhe vende fiado,
Nessa lucta incessante, As vezes o caso muda
Muitas cousas melhoraram; E o credor fica sellado,
Porem maior é o numero Fica sellado na bolsa
Das cousas que peioraram. Que é o sello mais safado.
Os decretos que fiseram,
Os impostos que crearam. Na grande sala do jury
O réo que está sentado,
Não ha papel nem emprego; O juiz e o promotor,
Não ha nenhum preparado, E tambem o advogado,
Não ha droga nem droguista Aquelles que estão presentes,
Que não seja bem sellado: Tudo, tudo vai sellado.
Não escapou o charuto
Nem o tabaco migado. Nas bodas de casamentos,
Em outra festa qualquer,
Os presidentes d’Estados O beberrão sella o copo,
Sellam os seus secretarios; O comilão o talher
Os bispos nas dioceses, O escrivão sella o noivo,
Sellão tambem os vigarios. O noivo sella a mulher
E as velha para rezar,
Devem sellar os rosarios. O gallo sella a gallinha,
A gallinha sella o gallo,
Os altos funcionarios, O carreiro no serviço
Chefes de repartição, Sella tambem o cavallo
Emfim todos os empregados, O sachristão sella o sino
Em suas grandes secções, Quando pega no badallo
Sellam livros, sellam reguas,
Sellam mappas e talões. O carapina sella o páo
O sapateiro o calçado,
Barbeiro sella a navalha, O ferreiro sella o ferro,
O alfaiate a tesoura, O roceiro o seu roçado...
O criador sella o gado, Com tanto sello devemos
O plantador a lavoura Sellar a sogra um bocado

Carta
A carta que hoje publicamos sob pseudonymo é de um nosso amigo e conterraneo (seria também
cotiano o mentiroso?) residente em S. Paulo.
Incita-nos a batalharmos pelo bem estar desta terra.
Querer ainda a folha local dizer que somos despeitados, opposicionistas e tantas chacotas mais?
Ainda bem que Sorocaba conta com filhos que sabem mandar a mão à penna, em socorro de seus
patricios que soffrem a oppressão de uma dictadura municipal!
Proezas de Taddei
Do n. 950, de 13 de Agosto de 1902 do 15 de Novembro:
Alguns trechos:
«O fanatismo e o confessionario são os primeiros degraus por onde sobem a desgraça, a
immoralidade e adeshonra, para penetrar no santuario da familia.
Quejanda phrases proferiu na tribuna sagrada o padre Taddei. Após a pratica, recolhia-se ao
confessionario onde permanecia até deshoras, ouvindo as confissões dos penintentes, lançando-lhes santa
absolvição!
Por nossa parte, conforme já dissemos, pode o jesuita Taddei continuar a insultar-nos, porque assim
nos encoraja, cada vez mais, na lucta aberta que temos declarado e sustentado contra a horda jesuitica;
simplesmente o que temos que lamentar é que, nesta cidade onde o progresso e a civlisação se tem
desenvolvido notavelmente, ainda se dê guarida a um jesuita de tal jaez, que outra cousa não tem em mira
com a sua propaganda, a não ser coarctar o pensamento e a consciencia humana en yn aoertadi curcykim
deterninado pelo fanatismo religioso, para em seguida formar o assalto ao lar das familias e ahi saciar os seus
instinctos ferinos, espalhando a deshonra e a immoralidade.»
Hoje o convertido, que tantas vezes chamou os catholicos de fanaticos, inhibidos, bebe a agua de
que disse que não beberia.
Com ferre feres, com férro serás ferido. E o convertido hoje é o que faz o proprio papel que
condemnou nos outros!
Ninguem cuspa para o ar, que no rosto não lhe caia!
De vez em quando, faremos destas excavações, relatando as memorias do grande orgam orientador
da opinião sorocabana.

Ao Dr. Chefe de PoliciaN


Chamamos a attenção de V. S. para a jogatina desenfreada que se augmenta nesta cidade.
V. S. escolha para este cargo, a bem da moral publica, homem de bem, homem são e que não seja
authoridade protectora da jogatina.
O sr. Dr. Chefe de Policia, acabe com este cancro que devora a sociedade!

O leite
Chamamos a attenção de quem compettir para o abuso de pôr-se agua no leite.
Ai das pobres crianças!

Sub-vulpe
Dois jornaes da capital têm escripto alguma cousa sobre os negocios de Sorocaba, atacando-nos.
Nós que percebemos em tudo o dedo dos comparsas do intendente e presidente da camara desta
cidade, não discutiremos com taes folhas, que não podem estar a par das irregularidades desta nefasta
municipalidade.
Nós não temos outro intuito, que o de obrigar a Camara a cumprir com o seu dever publicando os
relatorios e balancetes que a lei exige e a fechar o cofre municipal para não dar mais gratificações.
A Camara fique sabendo que não é com amizades nem com litteratura que a gente se deve defender.
E’ com os factos, com as provas da direcção que deram ao dinheiro publico, que ella tem de argumentar.
Pedimos tão somente á «A Tribuna», dizer-nos que fez para Sorocaba o Dr. Luiz Nogueira e que fez
na politica do estado.
Desejamos só isso.

Piadas (Também sem constar o autor).

É demais, augmenta a praga


Devoradora do jogo,
Acaba com o jogo, oh Braga,
Bote as roletas no fogo!

O senhor é delegado,
Sabe quaes são os banqueiros...
Si não são seus companheiros,
Porque não fica zangado?

Num Museu
Neste museu descança,
Com a collecção de clichés,
para sempre, duma vez,
o nosso amigo Bragança.

O Diabo, que não descança,


juntou do jornal os trez,
e com elles mesmo fez
sociedade de lambança.

Puxa hoje, puxa, puxa,


quem hontem falou dos padres,
mettendo-lhes mesmo a faca.

Padres, temei uma bucha:


si hoje vos são compadres,
amanhan viram casaca.
(não consta o autor)

Para constar
O jornal não informa de onde extraiu O imposto do sello, nem quem o lavrou. Refere-se à Lei do
Selo, coisa de presidente republicano ávido por arrecadar para dar de mamar à curriola. Como até hoje se
faz.
Na quinta coluna da primeira página, sob a epígrafe Villa do Pilar, notícias de Pilar do Sul, pelo
correspondente do jornal naquela localidade. Só para dar uma idéia do babugismo do intelecto do
correspondente, aí vai o primeiro parágrafo: «Esta localida obedecendo os preceitos do civismo, attenta á
radiação esplendorósa que sempre assistiu a familia paulista, a qual sabe comprehender e fazer lavrar na
tela brilhante onde se esculpem os sentimentos de educação popular: testemunhou com os povos cultos o
cumprimento do dever. A villa do Pilar acompanhando as localidades adiantadas do Estado – tambem fez-se
manifestar, celebrando-se a 20 do corrente solêmnes ezequias em suffragio a Leão decimo terceiro. O nosso
prestimoso vigario Dyonisio Perine...». E vai por aí afora!
A Marmoraria Sorocabana, de Serafino Francesconi, mudou-se para o n.º 26 da Rua Floriano
Peixoto.

Se 7/9/1903

Ao Publico
Levo ao conhecimento do publico que para não continuar com discussão esteril, provocante por
parte do sr. Intendente, abstenho-me de responder-lhe as banalidades, as muitas palavras, o pouco sentido e a
falta de delicadeza que devia ter para commigo, ao menos em consideração ao meu modo de proceder em
resposta.
Os seus artigos nada provam, fogem da luz; suas phrases são ôcas sem criterio nenhum.
Possa-se agora discutir, argumentar com semelhante epistola ininteligivel!
O sr. Intendente, ou cousa que o pareça, tem truncado todos os sentidos de maneira que o succo de
seus artigos longos, producto de longas noites de insomnia, não passa deuma gota miserrima de inverdade e
que só merece o despreso.
Quanto ao ser mentiroso, e o único desafeiçoado de v. s. o publico que responda e veja em que plano
nos achamos.
Agora, para satisfazer ao publico, tão somente, a quem considero, e para não resultar cousa
desagradavel em desaffrontas das pechas que me atirou o sr.Intendente, que tem cynismo digno de nota,
explico a questão do seu nefasto projecto.
O projecto (do Intendente para a instalação de água e esgotos) foi apresentado sem parecer de
commissão alguma. O sr. Carvalho Braga fez comsiderações sobre a sua desvantagem e ultimou disendo que
si o auctor do projecto podesse exclarecer os pontos achados inconvenientes, elle votaria em prol.
E o sr. Intendente calou-se.
Posto a votos o projecto, eu e o sr. Carvalho Braga votamos contra e dois vereadores mais votaram a
favor, havendo portanto empate. E o sr. Presidente declarou que o recurso legal era adiar a votação para a
sessão futura.
E esse projecto nunca mais appareceu.
Desminta-se agora! E vem dizendo, entretanto, que sou eu o único responsavel por esse acto!
Quanto aos 3:300$, que é o cavallo de batalha do sr. Intendente, que nada tem a dizer, narro o
seguinte:
Augusto Franco foi incontestavelmente uma dos melhores intendentes que Sorocaba tem tido, já
pela sua honestidade, em dedicação e capacidade, já pelo seu caracter e honradez, o que provam as
bemfeitorias que ahi estão, apreciadas pelo povo.
Elle nunca deixou de publicar balancetes e os relatorios minuciosos e claros como manda a lei, já
para defender sua reputação e firmar seu nome, já para se homem de bem e de caracter, o que V. S, devia
imitar.
Trabalhou 3 annos sem receber remuneração alguma, tendo gasto até dinheiro do proprio bolso,
como posso provar, afim de pôr a cidade num certo grau de adiantamento e prosperidade.
Tendo sido injuriado, a Camara, em desaffronta processou o calumniador, gastando 3:300$ em
defesa do benemerito homem.
Para tratar disso fez-se sessão extraordinaria, e o ajuste do advogado foi determinado pela Camara.
Por consequencia, não foi causa minha particular, tanto que a Camara só dispendeu com advogado e
nós, os camaristas para não sobrecarregar a despeza publica, pagamos as custas, de nosso bolso.
E o sr. Intendente, agora chama em seu soccorro (pobre idéa cadaverica) um argumento que não
póde vigorar em seu favor.
Veja o publico: para desaffronta da calumnia levantada contra a honestidade de Augusto Franco, que
trez annos trabalhou com desinteresse e dedicação em prol da cidade, gastou-se legalmente a ninharia de
3:300$, com um homem que poupou ao municipio 14:400$000!
E o sr. Intendente de hoje, que não precisa e que vive á custa tambem de um ordenado gordo, de
400$ por mez, tem a coragem de insurgir-se contra a memoria de Augusto Franco!
Basta, sr. Intendente! Com v. s. é impossivel discussão: aonde o fanatismo e a inconsciencia
existem, não prevalece a rasão!
Basta.
CAMARGO PIRES.

Memorias de um convertido
EXCAVAÇÕES
Do «15 de Novembro» de 21 de Novembro de 1901, n. 875
Alguns trechos bonitos:
«Respigas»
«O sacro collegio, alarmado com o grande decrescimento do obulo de S. Pedro, recommenda aos parochos a
celegração de festas em beneficio, para que seja coberto o deficit existente.
Quanta tristeza nesta noticia! Ja vae a humanidade cahindo no abysmo da descrença! As indulgencias, as
bençans apostolicas, já não conseguem abafar a alma dos mortaes, fazendo reverter em ouro, em muito ouro, para as
caixs do Vaticano, toda a unção de seus corações pios! Infeliz humanidade!
Que podem valer-te os ultimos milagres do teu engenho, as descobertas maravilhosas de Pasteur, de
Rontegen, Marconi, de Dumond, se ellas somente são feitas por influencia diabolica, desde que diminue o obulo de S.
Pedro, o que significa que a fé se intibia nos homens e que, consequentemente, seguem todos, a passos largos o
caminho da perdição eterna?
Ainda é tempo, humanidade transviada!
Reconcilia-te com Deus pçelo seu vigario na terra; enche a bolsa do Vaticano; arranca da bocca de teus filhos
um pedaço de pão; não des ouvidos aos mendigos famintos que se atravessam a tua passagem; si mesmo poderes,
extorque aos que não crêm, uma esmola para o representante de Deus, pois isto não é crime; os fins infinitamente
nobres de tua acção, justificam os meios que empregares para conseguil-os.
Reconciliae-vos, homens, reconciliae-vos, que dá ao papa empresta a Deus!
Desde que sejais credores, ó homens, é certa a vossa salvação! Uma esmola para o obulo de S. Pedro!
Um amigo residente em S. Paulo encontrou na alameda Glete, proximo ao collegio dos sallesianos duas tiras
com os comentarios acima transcriptos e apressou-se em os remetter-nos.
Destinavam-se com certeza a um desses jornaes que se multiplicam em S. Paulo a medida que se avolumava a
invasão dos expulsos das Philipinas, Hespanha, etc. O leitor que já está por nós informado sobre a santa causa desse
conto do vigario do Eterno, que medite bem sobre os taes commentarios.
E que tal? Não é que realmente a obra é bem feita? Tirar-se o pão da bocca dos filhos, deixar morrer a fome
os mendigos para não abandonar o obulo de s. Pedro.»
E o convertido, ha poucos dias, á festa do collegio de N. S. da Consolação enviou dous
representantes, Ferreira Junior e Joaquim Silva, que brindaram os reverendos Agostinianos!

Sem epígrafe
Dois jornaes da Capital disseram de nós, com o estylo que lhes é peculiar, o seguinte:
«O Rebate»: «O 15 de Novembro não responde as infamias do «Cruzeiro» e faz muito bem».
A «Tribuna»: «O «15 de Nobembro» tem pulverisado suas accusações.»
Qual dos dois será o mentiroso?
O publico que os julgue.

Parece incrivel
Que o juiz de direito désta comarca, tendo por lei, no maximo, 10 dias para dar os despachos e 60
para as sentenças, não tenha ainda, desde Abril despachado os requerimentos de cobrança dos autos da
questão da luz elètrica, que ha mais de um anno dorme em poder do advogado da Camara; ao passo que,
quando esta acionava o ex-empresario, tudo correu a vapor.
Demorar a justiça equivalle a negal-a, o que não succéde com os seus vencimentos e custas, porem,
S. E. sendo muito justo cumpridor de seus de veres (assim mesmo)... fiquemos quietos.
NEMO.

Piadas
O’ Quinzoca, largue a praxe de tanto gostar cruzados,
de dar retratos! que diabo! ganhar mais assignaturas!
Chan-chan pede: não relaxe Chan-chan pede por favor,
a feição dos retratos! que mais retrato não ponha
Tanto luxo para, ao cabo nesse jornal, que envergonha
o mais pobre dos mortaes! que o diga o soldado Prata!
Largue disso, meu senhor, Seja um pouco delicado,
largue disso, que é demais! sete e meio! Tem paciencia...
Porque ficaste calado
Dizei-me porque o sete e meio na data da Independencia?
nada disse sobre a data CHAN-CHAN
que se celebra? Isto é feio,

Para constar
O coronel Benedito Pires é casado com Dª Escolástica V. A. Pires.
Joaquim Firmiano, filho do coronel, é casado com Francisca de A. Oliveira Pires. O casal tem uma
filha homônima da avó.
No dia 5 último, foi batizada Escolástica, filha do Nhô Quim Pires.
Em comemoração ao Dia da Pátria, o jornal publicou em sua primeira página, encimada por uma
centralizada epígrafe – LYRA PATRIOTICA, três colunas, duas de rimas, «Independencia», à esquerda, e
«Santos Dumont», à direita, e, no centro, em prosa, «O dia solenne». Todos anônimos e nenhum merecedor
de transcrição. Credo in cruce!
Parece que Santos Dumont, o célebre «Conquistado dos Ares», está de volta ao Brasil. E o hornal
insiste em grafar Dumond!
Hoje tem festa de aniversário da banda «Sete de Setembro».
Eduardo dos Santos Proença contratou casamento com a Srta. Luzia Leite de Magalhães, filha de
Manuel Leite de Magalhães.
O «Cruzeiro» não saiu sábado para sair no feriado.
Em «Piadas» o jornal chama Joaquim Silva de Quinzoca e o jornal «O 15 de Novembro» de «Sete e
Meio». Respeito, que é bom...
O jornal informa que tem havido roubos no Mercado. Não seriam furtos?

Qi 10/9/1903

O Proletariado
Todo homem não ser util só para si, deve sel-o tambem para com o seu semelhante, zelar pelo bom
proceder de outrem, amigavelmente mostrando-lhe o caminho do bem.
Para isto têm-se já constituido diversas sociedades, cujo escopo é proteger o proletariado contra os
vicios.
O operario que trabalha afoutamente e sem descanço, durante doze ou treze horas por dia, quando
chega o domingo vae matar suas maguas pelas tavernas, bebendo o alcool que lhe tira o espirito, pelo menos
algumas horas, a lembrança das necessidades por que passa e os sofrimentos da familia, no custo doloroso de
ganhar o pão.
Quanto mais vae se adiantando a civilisação, nas cidades industriosas, regularisa-se o modo de vida
dos operarios, afim deles não soffrerem cruelmente.
Instituem-se sociedade que lhes proporcionam divertimentos honestos, não o jogo – esse cancro
social; criam-se escolas para seus filhos na educação sentirem a luz, modelam-se os corações na pratica do
«amae-vos uns aos outros» (aqui tem dedo do Vera Cruz!) e, assim vão-se os operarios melhorando suas
condições.
Muitos dizem que elles são, em geral, gente bruta, ruim, mal educada, etc. Disso tem culpa a
Humanidade (sem dúvida, é o Vera Cruz!) que privilegia os grande despresando os pobres, os himildes, os
pequenos, esse que são ingenuos e vivem explorados cruelmente.
Qundo nos vem á memoria o estado da sociedade moderna, corrompida que não zela dos
necessitados, daquelles que mais precisam auxilio do proprio governo, o que é pura realidade, nos revoltamos
e condemnamos a politica do seculo.
Cuide-se do proletariado rude; diminuam-se as horas de trabalho, tenham os senhores industriaes
mais piedade dos innocentes, tenham mais coração, dem-lhe mais descanço da lucta tristissima no ganho do
honrado e caro pão.
Hoje, infelizmente, os paes operarios ganham tão minguadamente, que necessitam aproveitar-se do
trabalho de seus filhos, para auxilio da familia; e essas crianças, em vez de tomarem lições proveitosas na
escola, ficam na mesma escuridão em que nasceram como desgraçados parias, sem direito à liberdade e
descanço. Dahi os crimes que se praticam na sociedade!
Pobres operarios! Uni-vos, fazei vossa sociedade, afim de lutctardes contra as agruras da vida!
E vós outros, tambem operarios que soi obrigados a tirar de vossas tristezas, guardae um pouco do
vosso exiguo recurso, deprezae o vicio e, como uma abelha laboriosa, tambem concorrei para a construcção
do vosso futuro!
Uni-vos, que a união é a força!
S. P.

Santos Dumont
No Rio, foi grande o enthusiasmo para recepção do nosso patricio.
Os alumnos da Escola Militar hastearam á noite do dia 7 no cume do Pão de Assucar, uma enorme
bandeira de panno branco, em forma de triangulo, de 10 metros de largo e 30 de alto, tendo o distico SALVE
DUMONT. Era luminosa essa bandeira e de um effeito lindissimo.
No caes, o povo agglomerava de um modo extraordinario, para a recepção do heróe. A cidade
regosijava. Musica, foguetes, salvas, tudo dava um cunho enthusiastico á festa.
As embarcações, no dia da chegada do Atlantique, estavam embandeiradas garridamente.
Quando avistou-se o navio, as salvas saudaram o genio brasileiro; bandas de musica tocavam sem
descanço; vivas se levantavam da multidão apinhada no caes Pharoux.
Dumont, ao entrar na cidade, foi coberto de flores que lhe eram atiradas das saccadas e janellas.
O povo applaudia delirantemente.
O aspecto das ruas deslumbrantes como nunca se viu.
Foram ao encontro de Dumont innumeras commissões felicital-o, em nome das sciencias e das artes,
em nome da alma nacional.
A 1 hora da tarde, almoçou Santos Dumont em companhia do Dr. José Carlos Rodrigues.
Santos Dumont não trouxe balão algum, em vista das difficuldades de fazer as experiencias no
Brazil.
Hontem, 8, foi visitar o tumulo de seu pae, no cemiterio de São João Baptista.
Hoje, deve elle chegar a S. Paulo, onde se demorará somente 48 horas, para voltar ao Rio e, de novo,
embarcar no Atlantique, com destino a Paris, onde continuará suas experiencias.
Santos Dumont, no Catete, em palestra com o dr. Presidente da Republica, disse “As glorias, si
porventura as tive, não são minhas, são da minha Patria”.

Sociedade Operaria
Soubemos que o C. Socialista Ferri vae tratar de fundar uma sociedade operaria, promovendo, aos
domingos, divirtimentos (sic) licitos aos operarios socios. E’ uma boa idéa e fazemos votos para que se
realise.

A Banda 7 de Setembro
No dia do seu anniversario, celebrando tambem a nossa independencia, esta boa banda de musica
tocou no jardim.
O que notamos é não se-lhe ter offerecido o coreto.
Tambem ha privilegio nisso? Isto vae mesmo ás mil maravilhas.

Club Tiradentes
Pedimos a alguns socios desse club que não sigam exemplos de jogatina, nem queiram fazer
referencias ao Cruzeiro do Sul que está com plena convicção do que diz.
Respeitem a memoria de Tiradentes.

Piadas
No dia 7 de Setembro, em que elle fala tranquillo,
na passeata que se fez, ora é um ruidoso vulcão
diz o “15 de Novembro” que ao povo medroso aterra!
que o Ferreira falou trez;
falou somente elle só, Embora na grande festa,
durante toda a passeata! Nossa Senhora da Serra,
oh! oh! oh! oh! no dia da Independencia,
Esse illustre diplomata quem não tem a sapiencia,
faz na terra um figurão; fizesse oração modesta...
em qualquer festa que seja, no dia da grande festa,
deita ás massas falação: “O 15” só noticiou:
sua voz rouca e troveja, «o Ferreira é que falou».
é grandioso o seu estylo...
ora é a propria mansidão, E só o Ferreira, o graúdo,
intelligencia sem par, só noticiou que o Ferreira
quem tem um profundo estudo desembuchou o chouriço...
das cousas de terra e mar. falou na passeata inteira!
Porisso o 15, porisso (sem assinatura)

Com a Camara
Para o publico ficar sciente das irregularidades que se praticam na Camara Municipal, narro o
seguinte:
Paguei em Janeiro de 1903, no dia 19, o alvará de licença annual, na importancia de Rs. 151$600,
correspondente ao imposto de industrias e profissão de meu negocio de seccos e molhados e pastos de
aluguel. Agora a 10 de setembro de 1903, o sr. Chrispiniano Fontoura mandou-me uma intimação dizendo
que procedia a liquidação das dividas activas da Municipalidade, pelos meios judiciaes, e pedindo-me o
pagamento de Rs. 186$300. A differença é contra mim de Rs. 34$700!
E assim hão de outras victimas cahir ás garras da Camara.
Paguei o imposto e ainda a Camara me exige novo pagamento com augmento de mais 34$700!
A Camara não tem escripturação? Doutro modo não pode ser e, para mostrar ao publico o modo por
que se administram os negocios municipaes, faço esta publicação.
Senhores da Edilidade! zelem das rendas publicas com o exemplo necessario, afim de não ficar
lesado o povo!
Cumpram os seus deveres!
Lucio Cepellos.

Club Cyclista Sorocabano


A commissão abaixo assignada, no intuito de reorganisar o «Club Cyclista Sorocabano» e
reconstruir o «Velodromo», actualmentge em ruinas, toma a liberdade de convocar os Snrs. socios,
accionistas e credores, para a assembléa geral que deverá rrealisar-se no dia 13 do corrente, ás seis horas da
tarde, no edificio do «Gabinete de Leitura Sorocabano» gentilmente cedido para esse fim. Outrosim, lembra á
Directoria transacta a apresentar o seu relatorio e contas para serem tomados na devida consideração.
Sorocaba, 6 de setembro de 1903.
A Comissão
Manoel Ferreira Leão
Valdomiro da Silveira
Oscar de Barros

Festa do Divino Espirito Santo


O abaixo assignado, festeiro sorteado para fazer a fésta do Divino Espirito Santo, no proximo anno,
no bairro do Cerrado, convida a todos os devotos a comparecerem, Domingo 13 do corrente as 3 horas da
tarde no largo da Independencia afim de ser recebido festivamente o Divino Espirito Santo e
processionalmente conduzido do referido largo á sua residencia a rua 13 de Maio.
Agradece d’ante mão a todos que se dignarem comparecer a essa solennidade.
Sorocaba, 9 de Setembro de 1903.
Martiniano Antonio Soares.

Do 13/9/1903

Santos Dumont
Ao ver o primeiro balão transpor as muralhas de aço que sitiavam Paris, Bismark deixando irromper
o seu despeito, exclamou: isso não é leal.
O chanceller de ferro contava poder estrangular a França, entregando Paris ao horror das paixões as
mais desencontradas, desenvfolvidas numa população de dois milhões de almas, desvairadas pela humilhação
da derrota.
Era o quadro dantesco de Ugolino, em grande, combinado com o epilogo sinistro de Nana Sahib, de
Richepin: a morte pela segregação absoluta, o incendio devorando os sobejos da fome.
A cidade sitiada lembrou-se, porém, de que dispunha ainda de uma arma poderosissima, de uma
força que podia romper o baraço de ferro, que a estrangulava.
Só a imaginação esculptural de Hugo, descrevendo a ARANHA DO PROPHETA, nos podia dar a
imagem da França agonizante, pendurando-se no espaço a uma bolha de hydrogeno, jangada aerea em que se
salvava a gloriosa metropole latina.
O balão ergueu-se no espaço, como uma hostia convidando a fé no patriotismo a commungar com
as energias que ainda não haviam desfallecido.
Com a sua genial clarividencia, Bismark comprehendeu logo que a presa lhe escapava; a ascenção
de GIGANTE era uma trachetomia; Paris até agora suffocada, passava a respirar pelo largo pulmão da França.
Não ha pagina mais emocionante do que a viagem de Gambetta, a bordo do Amand Barbés, sentindo
rente as balas sibilantes, e o balão falho de força ascencional, tendendo a cair, apesar da retirada do lastro.
Era a propria França que alli estava em perigo; mas, tres horas depois o organisador do governo da
Defesa podia dizer que, si não se leva a Patria na sola dos sapatos, consegue-se transportal-a no coração e na
coragem, para fazel-a renascer mais forte e, sobretudo, mais digna de amor, apòs o martyrio.
O balão salvou a França, em paga da ospitalidade que ella lhe dispensou. Seus grandes homens, e
eram extraordinarios pelo tempo, em que os Montgolfier construiram a primeira machina aerostatica
victoriosa, descobriram desde logo a inestimavel valia do prodigioso invento.
Bella lição para nós outros, filhos de uma nação, que recolheu com riso de mofa o misero
Bartholomeu de Gusmão, alheiada, que andava do seu futuro e de sua gloria.
Realizando a PASSAROLA, Bartholomeu teve a exacta intuição do seu valor.
Elle propunha fazer a ronda do imperio portuguez e lhe garantir as conquistas, ao mesmo tempo que
lhe propellisse a civilisação.
Ninguem accreditou que o sonho do LICENCIADO seria mais tarde convertido na mais util das
realidades. E este sonho, transmittido a Montgolfier, á salvou a humanidade de uma tremenda mutilação da
sua gloria.
O balão acaba de adquirir uma alma: transformou-se em pessoa viva, que pensa e quer. Deixou de
ser um globo inerte, joguete das correntes aereas, um divertimento pyrotechnico, um instrumento postal,
menos seguro que um pombo-correio.
Dessa alma, o Deus, que rege os mundos e gradua o movimento da civilização, elegeu o depositario
um espirito brazileiro, o de Santos Dumont.
A dirigibilidade dos balões é a bençam divina do Brazil para ser o arbitro dos novos destinos da
humanidade.
A natureza associa-se cada vez mais ao homem, para que elle se aperfeiçôe.
As leis naturaes revelam-se agora aos espiritos, para que se opèrem milagres assombrosos na
sciencia.
Parece que a humanidade, após a Revolução Franceza, attingiu á maioridade intellectual, e Deus só
esperou que ella tivesse plena consciencia da sua liberdade e dos thesouros que ella encerra, para dar-lhe em
dote os segredos atè agora escondidos ás suas mais fatigantes investigações.
A dirigibilidade não se apresentou a Santos Dumont, espontaneamente, como a transformação das
correntes electricas ao espirito de Oswaldo de Faria.
Não obstante, a sua gloria não foi procedida de martyrio. Fructo de genial perseverança,
amadureceu-o, entretanto, o proprio calor da inveja que provocaram as suas primeiras probabilidades de
exito.
As suas primeiras ascenções foram outros tantos desastres, escola providencial desse sangue frio
inexcedivel, sinão singular na historia da aerostação.
Colombo solitario, o oceano sem ondas do espaço, armou-lhe mil ciladas para dar-lhe essa tempera
que actualmente assombra e desnorteia os seus competidores.
Sente-se uma vontade sobre natural dirigindo as experiencias do aeronauta. Elle quer mais do que
deve. Quando a sua aeronave se abate, ha um poder occulto que opera sobre ella com o espanto da fluctuação
do barco do Apostolos no Tiberiades. Vê-se bem que não é um homem que se salva, mas uma nova phase da
evolução humana.
Santos Dumont não è só um genio, é um predestinado; não faz a sua gloria pessoal, mas a de um
povo. O balão é o berço do nosso futuro. Eu olho para elle como para a cesta de vime em que Bethsabé
salvou o legislador da nação de Jesus.
Alma envelhecida e desalentada para desenganos, olho para o meu tempo sem ver claro, como
acontece quando só nos alumia aluz diffusa do crepusculo.
Vi no balão, gerado num cerebro brasileiro, um appello sobrenatural para cima e levantemos os
nossos corações.
O balão é uma nova parabola christã, proposta ao nosso pensamento.
A cruz fez-se constellação em nosso céo, como para lembrar ao Brasil que ella é o seu phanal, o seu
caminho.
Mas as paixões nos cegaram e nós baixamos os olhos e perdemos de vista o symbolo de nossa
civilisação.
Era preciso que uma força invencivel nos obrigasse a levantar os olhos e a ver o nosso caminho.
E veiu o balão coagir-nos a cravar de novo a vista no alto, ensinar-nos que temos o dever de erguer a
cabeça para a sciencia e para a fé.
A nossa patria deve aprender com Santos Dumont a arte de perseverar para vencer.
Este genio é a corporificação de um symbolo.
Fundiu-se no seu organismo o sangue brasileiro, que produzio Bartholomeu de Gusmão e o sangue
francez, que produziu Montgolfier e o sobrehumano Pilatre de Rozier.
Neste acaso se ve bem que a natureza nos ensina providencialmente que ella nos dá a
espontaneidade do genio, mas exige, como convicção de nossa grandeza, repassal-a de todas as conquinstas
da civilização.
Para que não perdessemos tempo em discutir a prioridade da descoberta dos balões, a immigração
reuniu em Santos Dumont as deuas primogenituras da soberania sobre o espaço.
Arvore bemdicta, em que facilmente se enxertam todas as raças, produzindo uma floração
esplendorosa e fructos de raro sabor, faça-se a minha Patria uma copa de larga sombra em que Santos
Dumont descanse por algum tempo de suas heroicas fadigas e cobre forças novas para proseguir na sua
empreza de glorificar sósinho um povo inteiro.
Eu não o recebo, só com o enthusiasmo devido ao triumphador; junto-lhe a fé que tenho na efficacia
da dirigibilidade para renovar e melhorar a civilização humana. E penso que talvez, em breve, dada a politica
de expansão euroéa, Santos Dumont venha a salvar o Brazil, como Montgolfier salvou a França.
JOSÉ DO PATROCINIO

Sem epígrafe
A nossa redacção enviou ao illustre brasileito o seguinte
TELEGRAMMA
Do Cruzeiro do Sul
a Santos Dumont
S. Paulo.
A redacção do “Cruzeiro do Sul” synthetisando a expressão enthusiastica do coração
dos sorocabanos tem a honra de saudar o grande brasileiro triumphante conquistador dos
ares, estrella de grandioso brilho na constellação dos eleitos do Genio e da Sciencia.
Sorocaba. 11 – 9 – 903.

Circo
Está-se constuindo um circo de cavallinhos no largo do Rosario e promette em breve espectaculos.

Com a Camara
Seria conveniente que a Camara economisasse mais, reduzindo a dois os fiscaes desta cidade, pois o
tempo para os trez é de sobra. O cofre publico anda vasio.

O «Avanti!»
Este valente defensor do operariado, em uma correspondencia destra cidade, assim se exprime:
«Um jornal local, o “Cruzeiro do Sul”, grita continuamente contra o abuso systhematico desta
administração local, convidando o povo a protestar, mas é como si clamasse no deserto; o trabalhador daque
não se envolve em politica, deixa-se pellar pacificamente, frequenta as festas religiosas, os bichos, sacrifica a
Baccho, e tirada a somma temos: a Companhia Sorocabana que atraza trez meses o pagamento aos operarios;
fabricas de tecido em que se trabalha 12 horas por dia, com uma media de salario que é de 1$ por dia para os
adultos e 10$ mensaes para os meninos, dos quaes metade de 10 annos de idade.
O nosso Circulo é a unica associação operaria que existe em Sorocaba e espero, em breve, dar-vos
boa noticia.
Agora, faço appello, por intemedio do “Avanti!” a todos os meus companheiros que pertenceram ao
Circulo, a inscrever-se novamente e a deixar em paz as questões pessoaes, porque a União é indispensavel á
propaganda do nosso Ideal!
Avante, Operarios! Uni-vos!»

Memorias de um convertido
Um trecho do 15 de Novembro de 1903 n. 989.
Depositada num confessionario – Lemos em um jornal hespanhol, ultimamente chegado:
Num confessionario da egreja de S. Vicente, em San Sebastian, Hespanha, foi encontrada uma
creança recemnascida.
Não se sabe quem a depositou alli; foi immediatamanente baptisada.
Já os confessionarios se transformam em depositos de exposto.
E’ realmente exquisito um tal facto; não queremos, porém, commental-o deixando ao criterio
dos nossos leitores a investigação das causas que o determinaram.
Porque o convertido não continua o seu ideal primitivo?
Elle foi sempre vira-casaca.
Tem rasão; a conveniencia compra até caracateres.
O mundo anda perdido!

Piadas
E o mictorio? E o retratorio? excellentissimos finorios...
E as duplicada cobrança? (sic) Publiquem os relatorios,
Tudo isso ha de ir em dança da Camara façam o balanço.
Como diz mestre Gregorio: Ainda quando o doente
Tomem esfrega; vocês está morrendo e agoniza,
só querem fazer figura? dá-se o remedio que é urgente,
ter uma vida de cura, troca-se-lhe uma outra camisa.
na mais santa placidez? CHAN-CHAN
Aquente-se no balanço,

E que tal?
Depois que veiu o Cruzeiro que na mão dos potentados
muita gente sapateou ha de explodir como obuz!
não se faz como primeiro,
tudo aqui já se mudou. Aguenta-te afora oh gente
entre a cruz e a caldeirinha...
Andam os taes apertados pulo, pulo de contente,
com o negocio da tal luz hei de te bicar na pinha!
LUZ ELECTRICA

Para constar
Sob a
epígrafe A Jogatina, o jornal começa com o seguinte provocador parágrafo: «Como este vício alastra-se
entre nós, esquecido pelas autoridades, mostramos ao público os seguintes artigos do Código Penal, a fim
de se julgar como a lei é completamente inepta em mãos dos que não sabem exercer s cargo de que são
investido». E cita os artigos 369, 370, 374, 210, 245, 266. E termina ainda provocando. Assim:
«Perguntamos o que fez a authoridade para prohibir, isto é para que se cumprissem as disposições do
Codigo Penal para se cortar o mal que infelizmente, mais a mais vai corrompendo a nossa sociedade. –
“Dura lex sed lex”; a lei é dura mas é lei; cumpra-se o que ela manda; se faz-se justiça contra os outros
abusos proibidos por lei, faça-se tambem contra a jogatina; e a justiça é uma».
Florentino Hansted está expondo, em sua residência da Rua da Ponte n. 46, seus trabalhos
fotográficos.
Desde que surgiu, o jornal tomou uma posição de crítica, ora com comentários de fingida sisudez,
ora com piadinhas rimadas, à Empresa Elétrica de Sorocaba, controlada pelos Lichtenfels e, vira e mexe,
lembra com simpatia o ex-concessionário Lacerda, que não levou avante a empreitada. Mais para a frente o
os diretores do jornal irão queixar-se da resenva com que eram tratados pelo diretor daquela companhia e
se exarcebariam na incitação do ex-conceccionário contra o Dr. Braguinha, que resultaria na morte deste
por aquele. Ah, mas, os Pires não tiveram nada com isso! Ah, não tiveram! Caras de pau!

Qa 16/9/1903

Assumptos municipaes
Vimos uma carta do sr. tent. José de Barros, e ficamos verdadeiramente com vontade de dizer algo
quanto á ella.
Primeiro, somos de opinião que o sr. cap. Pires fez muito bem de se retirar da polemica esteril, não
porque fosse vencido mas, simplesmente porque o resumo dessa discussão nada de proveito traria ao publico,
pois nas cartas do sr. Intendente, percebe-se o dedo de um advogado que baralha muito bem os assumptos.
O publico sabe que o sr. cap. Pires, não reside nesta cidade, não é jornalista e sim lavrador; portanto
não pode se occupar de discussões banaes.
O sr. cap. Pires tem uma parte sagrada a zelar até o tumulo; é a sua dignidade.
E o sr. Intendente, para salvar sua dignidade, devia ter zelos no cumprimento de seos deveres e não
quem apparecer na sociedade sorocabana como enfunado e pavonesco burguez.
Insiste ainda quanto sod 3:300$000! E’ realmente original a sua implicancia!
O sr. cap. Pires já mostrou ao publico a verdade dos factos e não adianta mais cousa alguma o sr.
Intendente tocar o realejo fanhoso e cheio de tèdio de sua argumentação.
Deixe apodrecer esse cadaver mestre José de Barros; não convèm mais fazer a autopsia; está
completamente deteriorado e não revolva os intestinos dessa questão.
O publico já está enjoado por causa da indigestão de seus argumentos.
V. S. (ou v. exa. como melhor lhe aprouver) diz não haver encontrado lei que auctorisasse o
dispendio de 3:300$000; e si a Camara não tivesse resolvido isso, não se faria o pagamento, e não venha s. s.
atirar esta pedra contra a Camara que legislou sobre o assumpto.
Vade retro.
Quanto a s. s. dizer, enfatuado, com pose de homem de peso e criterioso (Oh! desilusão) que recebe
o honrado producto de seus trabalhos (?!) somos obrigados a embargar-lhe a marcha.
Si nos faz o favor; v. s. não ganha honradamente os 400$000 mensaes, v. s. para se dizer honrado,
precisa tambem de dizer-nos onde se consome o honrado producto do suor do povo.
Cumpra o seo dever, depois venha dizer ao publico que ganha novremente o fructo dos seos
trabalhos.
O maior titulo que um homem póde conquistar é o de homem de bem; e v. s. si quizer alcançal-o,
deve publicar os relatorios, os balancetes trimestraes, como a lei exige.
V. s. compenetre-se de seu papel, da responsabilidade que lhe cae aos hombros e, depois de ter
cumprido a obrigação sagrada que v. s. tem de dar satisfação ao publico de seus actos publicos, pòde passear
de cartola e frak fumando elegantemente como um deputado elegante, um precioso havana.
Ahi v. s. regenerado, mostrará que recebeu o santo baptismo da consciencia.
Quanto a v. s. (oh! intelligencia profunda) dizer que o cap. Pires passou certidão de obito do illustre
Augusto Franco, convem v. s. procurar a palavra memoria em qualquer diccionario e, depois, convença-se de
que v. s. anda mesmo de dois pés.
Pax tecum.

Conjuncto... e zero
Os nossos adversarios se levantam pela imprensa da capital. Quanto ao elogio que a «A Tribuna»
faz á administração local, já lhe demos a resposta justa, pedindo-lhe o obsequio de nos dizer que fez o sr. dr.
Nogueira Martins como chefe politico, em sorocaba, e como deputado na Camara do Estado. Ainda não
obtivemos resposta.
«O Rebate» tambem, que injuriou o nosso redactor, no que admiramos a altivez e o caracter do sr.
Samuel Porto.
«O Rebate» cobre-nos de epithetos cheios de aleivosidades, atira sobre nós toda a maldade que gera
o seu cerebro, mas não se apéga á narração dos factos, despaz-se em incensar a camara que infelicita este
povo. «O Rebate» o mesmo jornal que assim ataca «A Republica» não se lembra, não verbera a Camara
daqui que paga 1.800$000 annualmente ao «O 15 de Novembro» conforme contracto, para a publicação das
leis e cousas municipaes!
150$000 mensaes pagos a um jornal que sae 8 vezes por semana, a fim de publicar os negocios da
Camara!
Alem disso hade haver serviços avulsos a preços modicos.
Que diz a isto «O Rebate»?
Censure, seja justo, censure tambem este protecionismo.
Elogiar uns, injuriar outros, é cousa muito facio; para isso não faltam folhas.
O que é difficil é encontrar-se gente independente, que argumente com a verdade, que desprese a
calumnia.
Diz «O Rebate» que a Camara de Sorocaba é patriotica, que todos os melhoramentos que tem o
municipio se deve a actual municipalidade!
E’ demais! E’ o cumulo semelhante affirmação.
«O Rebate» queira fazer-nos o favor de mencionar as bemfeitorias que até hoje recebemos da
Camara governante e do chefe politico.
Precisamos de mais padrões de gloria que attestem para sempre, até a eternidade, o valor, a memoria
desta Camara desastrosa.
Diga-nos por favor e convide tambem á «A Tribuna».
Vós ambos, jornaes da Capital, devem mesmo estar ao par do que se passa aqui.
A vossa campanha é justa.
Pedimos, porem de usarem de termos honestos, dignos de serem ouvidos por qualquer pessoa briosa.
O conjuncto de todos os artigos que tendes publicado, è a cifra, é o grande 0.

Com a Hygiene
Seria bom que a Hygiene, que se esmera bastante em trazer a cidade limpa, lembre-se de que já lhe
pedimos fazer com que a Camara colloque os mictorios.
Numa cidade como esta, não se ter cuidado disso é um grande attestado do atrazo e desleixo em que
vivemos.

A Luz Electrica
Sabemos que já está em mãos do sr. dr. Juiz de Direito os autos desta questão.
A Justiça é cega; faça-se ella no prazo da Lei.

Declaração
Vimos uma em que o sr. Dr. Juiz de Direito dizia não ter falado em nome desta redacção.
Dizemos a verdade: a noticia foi um tanto ambigua e nós não precisavamos de pessoa alguma para
nos representar nos festejos de 7 de Setembro.

Para constar
Muita gente na recepção do Divino, no Largo da Independência, pelo festeiro Martiniano Soares.
Foi no domingo último.
Tem gente que está se servindo da água de um córrego que passa pelo quintal da Santa Casa. A
água é ruim.
Domingo ultimo, estreou o Circo Oriente, bem melhor que o seu antecessor o Alacrino.
Um grupo de estudantes cariocas, que vieram na comitiva de Santos Dumont, fizeram barbaridades
no Jardim da Luz. E tantas e tais aprontaram qeu o intendente Antônio Prado mandor fechar o Jardim, pelo
que foi vaiado pelos cariocas, que só calaram o bico quando o vaiado falou em chamar a polícia. Aí,
quietinhos, eles se “espalharam”.
Ontem, finou-se, aqui em Sorocaba, o Sr. Joaquim Rodrigues da Silveira.
A diretoria do Club Tiradentes está assim constituída: presidente, Cesário Augsto César; vice-
presidente, Salerno Augusto Camargo Neves; tesoureiro, Paulo João de Souza, e, secretário, Joaquim João
Francisco.

Sb 19/9/1903

Lyceu Sorocabano
Daqui a tres mezes finda o anno de 1903 e, daqui a tres mezes, quem sabe!? o nosso Lyceu
Sorocabano feche as portas.
Quando se fundou esta instituição de ensino ideal do sempre bom cidadão serviçal á Patria, o sr.
Arthur Gomes, coadjuvado por outros professores, a Perseverança III dava um passo mais para firmar seu
amor e zelo pela Humanidade.
No fim do primeiro anno o enthusiasmo cresccia entre os rapazes para sede do saber, e os mestres,
fatigados embora, sentiram-se animados a prosseguir na lucta sagrada de um dever de civismo que havia de
lhes guardar os nomes na memoria dos cidadãos a quem Sorocaba muito deve.
Dois annos de ensino já é uma prova de esforço enorme no amor pelo adiantamento das lettras nesta
terra que, seja dita a verdade, precisava de escolas de largos horizontes para cultivo das intelligencias que se
perdem.
Dois annos de lucta cerrada em que os illustres se mantiveram heroicamente no posto sagrado do
dever que se impuzeram de levar até o cabo, até os ultimos esforços, o fardo pesadissimo do cumprimentos
da promessa.
Nós nos recordamos ainda de quando, reunidos o povo numa sala do Lyceu, para o fechamento
solenne e festivo do primeiro anno de ensino, os oradores animavam os mestres afim de que não
aandonassem a mocidade, de quem a patria e Sorocaba muito esperava (sic).
E os animos se voltaram para o representante politico, pediu-se-lhe interceder junto ao Governo
afim de que esta terra industriosa, antiga, podesse contar em seu seio com uma casa de ensino para satisfazer
o desejo da mocidade que quer, depois de seus trabalhos, alcançar o diploma - patente de seu aproveitamento.
No emtanto, desvaneceram-se as esperanças; parte dos alumnos sentiram-se magoados; deixaram os
livros, deixaram a penna e, agora, poucos restam, aquelles que souberam corresponder os esforços dos
mestres.
Muitos collegios e externatos foram comparados ao Gymnasio do Estado, até mesmo o Collegio de
Ytú, mas Sorocaba não sente a influencia do Governo na parte mais util para o progresso de nossa patria – o
ensino, as lettras.
É com grande magua que já antevemos, no fim deste anno, o cerramento das portas sagradas do
Lyceu Sorocabano, que deixará, como o Collegio do Lageado, quem sabe homens que, um dia apparecerão
na politica, como patriotas e entre os seus patricios como mestres.
Assim a Providencia não permittisse que o Lyceu desapparecesse!
Afinal, numa terra como esta, onde a politica não se nivella aos altos interesses sociaes e beneficos
para o povo, toda a planta, rodeada embora de cuidados, ha de morrer, porque o civismo, o patriotismo,
desappareceram de braços dados com a politiquice.
“A Tribuna”
«A Tribuna» de S. Paulo, em seu ultimo numero, vem se fazendo de mal entendida e nos faz a
seguinte pergunta: «Quem assignou o contracto Nolasco?» etc... as mesmas banalidades do snr. Samuel
Porto, redactor do “O Rebate”, em cujas officinas é impresso a “A Tribuna”, por signal que tem as mesmas
idéas.
Oh, snr. Penido: V. S. que não é penedo e redige a “A Tribuna”, procure ler os nossos jornaes
passados e veja que quem assignou o contracto foi o cidadão Francisco Loureiro que, por si só, não podia
fazer lei alguma, como elle mesmo declarou em uma carta que publicamos.
Compre oculos, snr. Penido. V. S. não anda bom da vista e tambem nos parece soffrer da myopia
cerebral, como diz o Int. José de Barros.
-- O Quinzoca, este coitado, anda na moita, põe apenas o focinho de fora, cheira, sente que a coisa
não vae bem e... zás!... recolhe-se. E faz bem, recolha-se. Mas, o diabo aproveita as puxanças e os artigos dos
seus collegas da Capital!
Diz adeus com o chapeu dos outros.
E’ boa! Mas, afinal, elle gosta de remexer esses altos assumptos.

Luz electrica
Tem andado muito fraca a luz electrica, com força de luz igual a dos lampeões de kerosene.

Rolo
Ante-hontem houve um barulho, junto ao circo de cavallinhos, recebendo o sr. Antonio Marques
Flores, um pedaço de tijolo na testa.
A policia tomou conhecimento e nada conseguio.

Na ratoeira
Do açougue do sr. Pistorezzi, uma cosinheira costumava tirar nickeis.
Um bello dia, Pistorezzi tratou de collocar uma ratoeira na gaveta.
Vem a cosinheira e, quando tratava de surripiar os nickeis, ficou com a mão preza.
Toma!

Declaração
A pedido do nosso amigo sr. Antonio Felisberto de Oliveira, declaramos, a bem da verdade que, atè
hoje, elle não escreveu siquer uma linha para ser publicada em nossa folha.
Isto, porém, não o inhibe de nos auxiliar, quando queira honrar-nos com o brilho de seu talento de
moço intelligente.
Sabemos que um dos chefes politicos espalha, em conciliabulos, que o sr. Felisberto é o auctor de
varios artigos publicados em nossa folha, tudo isto movido, ora para inimisar o nosso bom amigo, ora para
negar-nos competencia e nos humilhar.
Como nos disse o sr. Felisberto, em qualquer escrito seu não receia assignar o proprio nome.

Uma da Camara
A Camara, quando sentiu que nós iamos requerer copia de varios contractos celebres e privilegios,
tratou de taxar as certidões, cousa que nunca se fez na Camara Sorocabana.
E’ deveras notorio o desejo de augmentar os rendimentos municipaes; mas, para isto, os senhores
edis deviam cuidar de mais economia; era o verdadeiro.

Piadas
E o tal annuncio do Quinzoca? engenheiro original...
E’ deveras de pasmar! de habilitação reclame!
Fala de couves e minhocas,
uma salada, (pipocas) Viva a Municipalidade
uma mistura sem par! De mil novecentos e tres,
que faz, para a nossa cidade,
Não faz mal, tambem a nossa o que outra qualquer não fez!
Camara nobre e patriotica,
anda numa mistura exotica... Lixo, lixo, lixo, lixo...
Não ha quem com ella possa! urinas em todo o canto...
E gasta-se tanto, tanto!
Para o serviço de exame Intendencia, mais capricho!
de cannos... vae Sandoval!... CHAN-CHAN
Para constar
O jornal previne seus assinantes que, em vista da necessidade de reformar os anúnicos com os tipos
novos, recém recebidos, a folha não sairá na próxima semana; só voltará a sair no dia 30.
Amanhã, às oito e meia da noite, na Sociedade Portuguesa Vasco da Gama, estreará a Companhia
Dramática Judith, levando à cena a comédia «O Lenço Branco», peça em três atos, e «A Senhora está
Deitada». Judith Rodrigues é a principal estrela da companhia.
Sorocaba tem exportado para a zona oeste do Estado, grande quantidade de sementes de algodão.
A garantia de 3$000 a arroba, que aqui se offerece, não tem entusiasmado os produtores locaes.
O último número do «15 de Novembro» publicou anúnicos em uma salada só: começa propagando
as obras completas de Allan Kardec, passa, inopinadamente, para a venda de sementes de hortaliças e flores
e mete uma linha maçônica com todas palavras abreviadas e rematadas pelos triângulo de pontos. O
“Cruzeiro” deitou e rolou e até fez poesia (acima).
O Club Tiradentes tem sua sede social na Rua de São Bento, n.º 2.

Qa 30/9/1903

Assumptos Municipaes
E’ nobre a imprensa quando trablha honestamente, amparada pela justiça e pela verdade, tornapse
tambem um mal irreparavel, quando nas mãos dos que não pesam os proprios actos, daquelles que não sabem
trilhar o caminho honesto da narração justa e criteriosa dos factos.
Sagrada é a palavra da imprensa que se nobilita e trabalha em pról do povo, e mesquinha é ella
quando não visa á moralisação da sociedade e adiantamento e progresso da humanidade!
Precisamos da imprensa recta, imparcial, que não explore e dê a Cezar o que é de Cezar.
Mas, infelizmente, ha jornaes que são cégos para a critica austera e nobre, comtanto que os ajude a
conveniencia!
Vimos no «O Rebate», de São Paulo o seguinte:
«Os negocios politicos de Sorocaba tem merecido a nossa melhor attenção, desde que o Cruzeiro do
Sul, na faina de atacar tudo que é honesto, não trepidou em dizer do honrado chefe daquelle municipio o que
o memoravel mafoma não disse do antigo, moderno e contemporaneo toucinho. Num dos seus ultimos
numeros, o jornaleco sorocabano lançou-nos o seguinte repto:
«O Rebate» queira fazer-nos o favor de mencionar as bemfeitorias que até hoje recebemos da
Camara governante e dos chefe politico.»
Como é manifesta a má vontade do «Cruzeiro» para com o honrado dr. Luiz Nogueira Martins!
Ao lançar-nos aquelle repto o primeiro patrão de Vera Cruz julgava que a sua arrogancia seria um
desconcerto para nós outros, e estivessemos em trevas absolutas quanto ao progresso de Sorocaba e aos
beneficios que a tradicional cidade paulista deve áquelle digno moço.
E’ por isso que, gostosamente vamos ao encontro do «Cruzeiro» satisfazendo-lhe a vontade.
Eis uma parte da fé de officio do dr. Nogueira Martins.
Em 1897 foi elle, neguem-nos os pasquineiros do «Cruzeiro», que tratou de abahular e apedregulhar
as ruas da cidade.
Em 1897 foi elle que, como substituto, tratou de organisar o jardim publico daquella cidade, que é
um dos melhores e mais bellos do E. de S. Paulo.
A sua collaboração nos trabalhos da rede de exgottos, já perante o Estado que forneceu os materiaes,
já na Camara com sua direcção, não póde ser negada por quem tenha olhos e ouvidos naquella cidade.
Foi elle ainda, oh bonzos, que augmentou o cemiterio municipal e aperfeiçoou o matadour.
E finalmente foi elle que dotou Sorocaba deste grande e inestimavel beneficio: a rêde de aguas,
serviço esse que alli foi proclamado, em brilhante oração publica, pelo benemerito chefe republicno coronel
Fernando Prestes.
Estes serviços, que vimos de enumerar, formam o sufficiente para Sorocaba, considerando-o o seu
benemerito!
Não ha exaggero em nossas palavras: não ha desejo de lisonjear o dr. Nogueira Martins.
Vimos simplesmente dizer ao publico que o «Cruzeiro» é um jornaleco, onde os despeitados fizeram
o seu covil e que o dr. Nogueira Martins tem feito por Sorocaba em poucos annos, o que outros, por desidia
ou imcompetencia, não conseguiram realisar em 20!
Quanto aos demais serviços publicos podem nos responder o novo Hospital de Misericordia, a
desapropriação do Cubatão, o melhoramento das ruas Cezario Motta, S. Paulo, o Campo de Experiencias, etc.
Sob sua direcção apparecem os trabalhos, e mais na parte politica, ainda não se registrou o menor ataque á
liberdade alheia.
Releva notar que a sua direcção se inciou, propriamente, após a crise tremenda da epidemia e em
época de geral desfallecimento economico, no paiz e no Estado.
Agora perguntamos nós: o que fizeram os detractores do presidente da Camara? Façam, si podem, o
inventario de seus serviços.
Não o farão, apenas darão no seu activo, algumas perseguições politicas, diversas arbitrariedades,
pequenos empastellamentos e mais... 0.
Uma cousa porem fizeram: dividas passivas para o municipio.
Note-se ainda que o distincto chefe sorocabano ainda não teve tempo de prestar melhores beneficios
á terra natal.
Não teve tempo, dizemos, porque conta apenas 30 annos de idade e ha pouco que lhe vota uma
dedicação sem limites.
O «Cruzeiro» agora, deante das provas inabalaveis que apresentamos em favor do dr. Nogueira
Martins, é obrigado a curvar-se ante a verdade!
Emfim, como é reconhecida a pouca vergonha dos seus argumentos, aguardamos a palavra honrada
do jornaleco.
E’ uma infelicidade a gente metter-se com gente ruim!
Desde que saimos ao encontro de Vera Cruz, Pires et reliqua, ainda não passamos um só dia com o
estomago perfeito, sem indisposição, sem nauseas...
Ora temos que aguentar a perfidia da argumentação; ora os golpes profundos, mortaes, que elles
vibram na grammatica!
Respondendo ao «O Rebate» dizem os nossos heroes que censuramos a «A Republica», do Pinhal,
porque recebe 1.500$000 da Camara local, e não verberamos a Camara de Sorocaba, que paga 1.800$000 ao
«15 de Novembro», conforme contracto, para a publicação das leis e cousas municipaes.
E assobia o «Cruzeiro»: 150$000 mensaes a um jornal que sahe 8 vezes por semana, etc.
Vamos devagar:
Em primeiro lugar é preciso esclarecer que o «15 de Novembro» não está nas mesmas condicções da
“Republica”:
1.º, porque o orgam pinhalense foi creado exclusivamente para defender a Camara dissidente
monarchica local, ao passo que o orgam sorocabano foi fundado para defesa das instituições e dos interesses
do municipio; 2.º, porque o orgam pinhalense publica apenas uma acta por mez, ao passo que o orgam
sorocabano dá publicidade a todas as actas, leis e cousas municipaes, e ainda executa sem mais pagamentos,
trabalhos para a municipalidade;
3.º, dinalmente, porque o o orgam pinhalense sae uma vez por semana ao passo que o sorocabano
publica-se bi semanalmente.
Accresce que o 15 de Novembro, não recebe 1:800$000 e sim quantia inferior.
Vêm, pois o Cruzeiro e sua gente que não censuramos a Republica pelo facto de ter ella um
contracto com a Camara do Pinhal, e sim porque esse contracto é um pretexto para encher a pança dos
malandros que redigem o tal jornaleco, sem prestimo publico e sem leitores.
Em conclusão: é licito o contracto do 15 de Novembro com a camara de Sorocaba, é immoral o
accordo da “Republica” com a panellinha dissidente-monarchica do Pinhal.
Quanto ao assobio do «Cruzeiro» de que o «15 de Novembro» sáe 8 vezes por semana, podemos
garantir que isso é mentira: 1.º, porque o collega é bi-semanal; 2.º, porque a semana não tem aquelle numero
de dias, salvo si o sapientissimo capitão Pires e o illustre Vera Cruz, alteraram esses algarismos para bem da
humanidade... que tem titulos a vencer...»

Audiencia extraordinaria
Ante-hontem, 18 do corrente, o snr. Francisco Vera Cruz, na sua qualidade individual, compareceu á
audiencia e accusou, ao Meretissimo Dr. Juiz de Direito, a citação feita ao editor responsavel do «O 15 de
Novembro» para ser exhibida auctorisação legal, ou dizer quem auctorisou a transcripção de um artigo, de
«Secção Livre» publicado no «O 15 de Novembro» n. 1069, de 24 de Setembro do corrente anno, contendo
phrases injuriosas e calumniosas contra o mesmo cidadão Francisco Vera Cruz.
Compareceu o snr. João Teixeira Ferreira Junior, que disse chamar-se por esse nome, ser socia da
firma M. Silva & Comp., proprietaria do «O 15 de Novembro» de cujo jornal é editor responsavel e, nessa
qualidade, auctorisou a transcripção do alludido artigo, em represalia aos artigos do «Cruzeiro do Sul» contra
o «15 de Novembro».
Encerrada a audiencia, retirou-se do Forum o grande numero de pessoas que tinham ido assistil-a.
Sabemos que o snr. Vera Cruz continuará o processo, para defesa de seus sagrados direitos e para
triumpho da sua dignidade offendida.

Piadas
O Sete e Meio... Que choque! tremeloque, tremelique!
O Sete e Meio... Que chic!
Tremelique, tremeloque, E que tal o sete e meio?
Elle foi austero e recto, quando quer, vira a casaca.
todo de luvas... Que asseio!
todo de luvas... correcto. O Sete e meio, que choque!
Quem ha que não embasbaque?
E quem deste mundo inteiro Trique, trique, treque traque!
uma tal nobreza ataca? Tremelique, tremeloque!
Sete e meio, que é matreiro,
Para constar
Zélia, filha de Otto Wey, nasceu no dia 20 de setembro de 1903.
José Curi, em homenagem ao grande brasileiro que, pelo seu gênio e talento, acaba de descobrir a
dirigibilidade da navegação aérea, batizou hoje o seu estabelecimento (na Rua Padre Luís, esquina da Rua
Floriano Peixoto) dando-lhe o seu nome: Loja Santos Dumont.
Antônio Peçanha da Silva, do Jundiaquara, confessa-se eternamente agradecido a Lino Barbosa
Machado, pelo maravilhoso curativo que este fez no pé da filha daqueles, pé picado de cascavel. O Lino
praticamente ressuscitou a menina. Que coisa linda!
A casa número 74 da Rua da Ponte está a venda.

Sb 3/10/1903

Nós
Os nossos amigos e leitores haviam de, por certo, ter notado o nosso silencio, no ultimo numero,
quanto aos ultimos artigos que outras folhas tem publicado elogiando os politicos de Sorocaba.
Não se pode comprehender como se publicam mentiras tão escandalosas para endeusar uns,
deprimir outros e conspurcar a verdade.
Nós, na nobre arena de trabalharmos em prol do povo, luctamos sem temor porque não nos
intimidam as ameaças. Grulham por ahi os bajuladores, esses que não se prezam, não sabem ter dignidade,
sacrificam o caracter, em proveito dos interesses da conveniencia!
Justa, sagrada é a campanha que movemos, como sagrado é o direito do povo, como santos são os
nossos direitos de liberdade, como é grandiosa a liberdade da imprensa!
Para traz, thuriferarios, cuja vida se resume no mesquinho interesse individual!
Vós não sois homens, sois parasitas sociaes.
Conheceis a Verdade e proclamais a Mentira. Queimaes incenso á Mentira e atiraes lodo á face da
Justiça!
Vós sois egoistas, quereis tudo para a vossa facção e conspurcaes os legitimos direitos dos vossos
patricios comtanto que em vossas casas reine a abundancia, embora nos outros lares reine a miseria!
Vós estaes com o poder que abusa, o poder que escravisa e, assim com a espada na mão, zombaes
dos que clamam justiça contra abusos monstruosos de vossos amigos!
Para traz thuriferarios. A verdade é um chrystal, mas a mentira é lama!
O «Rebate» da Capital, aventurou-se a elogiar cegamente o dr. Luiz Nogueira, collocando-o sobre as
mais altas columnas da fama, como se fosse um semi-deus, a quem Sorocaba tudo devesse, como se
Sorocaba fosse fundada por elle.
A quanto desce o jornalismo!
Diz o «Rebate» que o Dr. Luiz Nogueira foi quem fez o Jardim Publico desta cidade! Mentira!
Grossa mentira!
O Jardim foi iniciado e delineado pelo sr. Augusto da Silveira Franco, na presidencia do Dr. Calixto
de Paula Souza e feito á custa de subscripção popular!
Nesse tempo, era intendente o sr. Augusto Franco que, retirando-se mais tarde para S. Paulo, deixou
em seu lugar o Cap. José Dias que se offereceu gratuitamente á Camara para administrar o Jardim.
Portanto, ao sr. Cap. José Dias se deve grande parte de serviços, pois foi quem arranjou collecção de
plantas e flores á propria custa, collocou as placas no Jardim em que se veem os nomes dos iniciadores desse
grande melhoramento: Paula Souza, Augusto Franco. Nesse tempo o Dr. Luiz Nogueira era professor
somente no Collegio Diocesano.
Ha pouco, na presidencia delle foi que se fez um pequeno coreto do Jardim em que se gastou quasi
DESOITO CONTOS DE RÉIS!!! (Oito contos, conforme Errata em 7/10, depois, em 14/10, acabou em 15
contos, que não se firmou, pois o jornal acabou por bater o martelo em 18 contos mesmo).
Quanto a rua Cezario Motta, temos a dizer que em uma pequena parte, em continuação com a
mesma rua, que foi mandada abrir pelo presidente actual da Camara, gastou-se a insignificante quantia de
14:000$000!!!
Quanto ao Cemiterio, declaramos que foi feito pelo então presidente da Camara Francisco
Gonçalves O. Machado, e, mais tarde, augmentado pelo Dr. Ferreira Braga que, na occasião, accumulava as
funcções de presidente e intendente. – Depois, achando-se a capella em ruinas, o sr. Cap. José Dias, como
intendente, contractou o empreiteiro José de Barros para fazer os reparos. Hoje o «Rebate» ataca
miseravelmente quem merece mais consideração e respeito!
Quanto ao Matadouro, foi feito no tempo da Intendencia do Governo Provisorio.
Desde ahi, até hoje, não se fez reparo algum.
Quanto ao apedregulhamento das ruas, ha desoito annos que disso não (elidido este não, conforme
errata de 7/10) se trata! E o «Rebate» acha que tudo isso devemos ao dr. Luiz Nogueira!
Que triste papel o desse jornal!
Nós jamais voltaremos a arena em que se acham os thuriferarios e os bajuladores.
A imprensa não deve ser um vehiculo de mentiras, nem um meio de explorar a humanidade!
Nós discutimos com sãos e justos principios da justiça e da verdade e ao ostracismo do despreso
atiramos as injurias que se nos lançam porque cumprimos o nosso dever; não tememos, procuramos o bem do
povo, e o triumpho de seus direitos!

Um patriota
Elle, (a seus patricios):
-- Não vos esqueçaes da nossa grande terra de alem-mar, berço de heroes, cuja fama assombra o
mundo! O patriotismo é um dever sagrado. Deve-se preferir derramar sangeu que renegar á Patria!
Festejemos as datas gloriosas da nossa terra! Unamo-nos, seremos fortes, levantaremos, mais ainda,
a gloria do pendão da patria!
Os patricios: Viva! Viva a Patria!
* * *
Elle, depois, andou querendo embarcar em uma canôa... um emprego publico e, esquecendo-se das
promessas sagradas em defesa da Patria, naturalisa-se brazileiro, renega o berço que o viu nascer e convence-
se de que: quem precisa não póde ter opinião, nem capricho, nem independencia.
Fez-se renegado.
* * *
Hoje, depois que não lhe deram o osso para roer, que não poude entrar na canôa, anda por ahi, pobre
renegado.
Quando vê seus patricios, lembra-se dos bellos tempos de patriotismo; quer angariar seus amigos; de
novo falar da patria, mas seus patricios não o querem mais!
Triste lição!
* * *
Quem não o conhece, que o compre, dizem os outros.
E elle, por ahi vae, triste escravo da conveniencia.

Assumptos
E’ realmente pasmosa a maneira porque se pretende defender os actos publicos!
Escreve-se... palavras bonitas... mas da lei ninguem se lembra!
Ninguem se lembra do que diz o Codigo Penal, no artigo 210. «Si qualquer dos crimes mencionados
nos arts. 207 (5.º Exceder os prazos estabelecidos em lei para o relatorio e revisção do feito, etc.) e 208, se
for commettido por frouxidão, indolencia, negligencia ou omissão, constituirá falta de execução no
cumprimento do dever e será punido com as penas de suspensão por seis mezes a um anno e multa de
100$000 a 500$000.»
E no entanto, o Intendente não cumpre com esta disposição de lei! Ainda o defendem!
(DO PODER MUNICIPAL)
Art. 5.º, § 9. Os vereadores em geral, todas as auctoridades, funccionarios e empregados
municipaes, são responsaveis civil ou criminalmente, por prevaricação, abuso ou omissão no desempenho de
suas funcções.
(DO PODER EXECUTIVO)
Art. 181. A execução das leis, posturas, provimentos e outras deliberações das camaras, compete ao
intendente que dentre os vereadores, for annualmente eleito para esse fim pelas mesmas camaras, o qual
poderá ser reeleito.
Art. 16 e 17 da lei, § 7.º. Compete ao intendente: Prestar ás camaras, trimestralmente, ou quando lhe
for exigido, contas de sua gestão. (Art. 18 da lei).
E, porque os senhores vereadores não exigem do sr. Intendente as contas de cada trimestre e o
relatorio annual?
Deante destas leis, o publico deve ficar mesmo adminrado, por ter uma administração tão
“patriotica”! Discutam com a lei; não insultem!

Piadas
A PANELLINHA
Panellinha, panellinha, ai, que dezejos em mim trago!
que fazes em Sorocaba?
Quero ver si da vaquinha Que dezejo, oh panellinha,
o leitinho não se acaba. de quebrar-te de uma vez!
A pobre da terra minha
Panellinha, panellinha, na miseria cae, talvez!
tu foste feita de barros?
Responde à pergunta minha, Panellinha, tu que o leite
senão aguentas esbarros. recebes da gorda vacca,
deves estar, (calculei-te),
Panellinha, panellinha, cheia até que embasbaca.
quando ficarás quebrada?
Meu pensamento adivinha Panellinha, bezerrada,
tua sorte desgraçada. bezerrada, que berreiro!
Laguem da vacca! E a coitada
Panellinha, panellinha, ‘tá secca como um coqueiro!
panellinha, panellões,
jamais esta terra tinha Bezerros gordos, bezerros,
tantos patos e patões. mamai, bezerros, mamai!
Sacudi vossos cincerros.
Panellinha, panellona, A vacca rende, pulae!
não cresças, fazes estragos; CHAN-CHAN
panellinha, minha dona,

E’ isto
Vimos um artigo em que se dizia não estarem de accordo com a narração dos factos o nosso artigo
sobre o Lyceu Sorocabano e que o chefe politico nada influe quanto a este assumpto.
Si não influe, porque, na sessão de encerramento do Lyceu, o chefe politico disse que tomaria as
providencias junto ao Governo para conseguir a equiparação do Lyceu ao Gymnasio Nacional?
Ora, é bem sabido que a Perseverança III, no seu ideal em prol do progresso da humanidade, nesse
caso, cederia o predio para esse fim, afim de nelle funccionar a escola.
Então, si assim não era para ser, porque motivo pediu-se ao chefe politico a sua intercessão ante o
Governo?
E o povo daqui, então, não se uniria para arranjar tal melhoramento?
E’ muito facil encher tiras de papel, fazer bonitos artigos, porem a verdade é uma e, embora o jornal
pense de um modo, o povo – esse que precisa de instrucção – sabe melhor analysar os factos.
Ha jornaes que não representam ideias populares e sim ideias de seus redactores tão somente.

Os mictorios
Perguntamos porque rasão não fazem o mictorio?

Exhibição de autographos
Hontem, ao meio dia houve audiencia do dr. Juiz de Direito, em que foi accusada a citação para
exhibição de autographos, comparecendo como supplicante o editor do «O 15 de Novembro» e citado o sr.
Vera Cruz que disse não ter autographos dos artigos exigidos.
Compareceram muitas pessoas, a maior parte para assistir a um leilão apregoado pelo porteiro dos
auditorios.
Amanhã, ao meio-dia, o sr. Vera Cruz accusará outra citação ao editor responsavel do «O 15 de
Novembro», para exhibição de autorisação para transcripção de artigos injuriosos, calumniosos e infamantes,
do que foi victima pela Secção Livre do «O 15 de Novembro».

O Jogo
Sabemos que funcciona nesta cidade a roleta.
Apezar de havermos falado já varias vezes contra este cancro social, as nossas auctoridades não
providenciam, parece que nada os encommoda, ou antes, que merece sua protecção.
E’ demais!
Nós, neste numero, não declaramos os nomes dos jogadores, porem, si continuar essa peste, não se
arrependam os exploradores da humanidade.
Nós nada receamos, temos a consciencia tranquilla, mas o coração revoltado contra estas
bandalheiras.
No Rio já se começou a campanha contra o jogo e a imprensa, que deve zelar do povo, como a mãe
zela dos filhos, deve perseguir os vadios, a garotagem que não sabe cuidar de seus deveres de cidadãos ou de
seus deveres de familia!
Basta de jogatina!
E’ porisso que a nossa patria vive miseravelmente e é por isso que hoje o caracter rasteja no lodo, é
porisso que a dignidade, hoje em dia, fugiu da sociedade!

REPAROS
A proposito dos grandes beneficios que recebemos do chefe politico, sabemos o seguinte:
Que o campo de experiencias e o serviço da rua dos Prazeres não foram pagos. O que nos resta ao
pobre povo, de todos esses beneficios, é a divida assombrosa de quasi 600:000$!
Beneficios desta ordem?
Nós veridicamos isto; ha de vir o relatorio e, então o povo ficará sciente de que “isto” que vemos,
não é ”beneficio”, é uma calamidade!

Para constar
O artigo Um patriota, foi escrito muito provavelmente pelo redator Francisco Vera Cruz, tendo por
alvo o redator do jornal concorrente, o “15 de Novembro”, o lusitano José Teixeira Ferreira Júnior, com
quem vem contendendo, numa rivalidade pessoal. Isto sem contar as piadinhas em prosa e verso. Do outro
lado também há cutiladas e os dois estão com pendenga na Justiça. O português parece que não gosta da
falsa piedade do itapetiningano famélico e, este, não aprecia o apuro dos trajos do português. Uma coisinha
mais feia, essa briguinha!
Segundo o «Cruzeiro», “consta qye firan cercados 50 alqueires de terras da Camara”.
No último dia 25, Alvaro de Almeida Nunes, que cumpriu nove meses de prisão, deixou a cadeia. O
que será que ele fez?
Alfredo Arthur de Madureira é o inventariante do espólio do Cap. Joaquim Rodrigues da Silveira.

Qa 7/10/1903

NEGOCIOS PUBLICOS
Nada mais serio do que um homem ser possuidor da confiança popular, ser investido de um cargo
publico, principalmente si elle tem caracter inquebrantavel e não deseja nivelar-se á corrupção dos costumes
que hoje se alastra na sociedade.
O homem publico deve viver ás claras, não mentir aos seus juramentos de tudo fazer em beneficio
da população de uma cidade ou de ennobrecimento de seu partido e de seus ideaes.
O homem publico no trabalho não deve ter outra mira senhão o bom aproveitamento dos dinheiros
publicos; calculará tudo que possa redundar em bem do povo e, acima de tudo, medirá seus actos pela razão e
pela consciencia. Pode ter amigos, mas estes que não usufruam proveitos em negociatas, à custa da amisade
de seus chefe.
A politica não deve servir para usurpar os haveres dos muncipes e enriquecer meia duzia de
correligionarios que o bajulam; não! isso não é politica, é desenfreada ambição, é um meio torpe de abusar da
confiança popular.
A administração de um municipio, não tem por fim escravisar o povo, perseguil-o de impostos
insupportaveis e, ao mesmo tempo crear empregos publicos, crear verbas para a afilhadagem.
Os distribuidores do erario publico não devem proteger os seus affeiçoados prejudicando os
sagrados interesses do municipio.
Já que falamos em geral, sobre negocios publicos finalisemos este artigo e perguntemos aos
camaristas de Sorocaba: porque razão a lei voga, obrigando o povo a trazer ao cofre a importancia de
impostos e collectas e, porque rasão não as cumpre tambem a lei, no sentido de se dar conta do dinheiro
publico arrecadado durante quasi trez annos completos? Então, para nós, a lei é inexoravel, e para a Camara,
a lei não passa de uma fantasia?
Para nós, o povo, ha multa e para a Camara ha a plena liberdade de tudo para fazer como entende,
sem consultar as leis da constituição do Estado?
Si nós pagamos imposto, somos contribuintes dos cofres publicos, temo o sagrado direito de exigir o
celebre e encantado relatorio.

Sem epígrafe
Da Secção Livre do «O 15 de Novembro»: «Cego é você, seu Vera-Cruz, que alem de toda essa
cegueira, ainda se aprofunda em NOSSAS trevas».
Não tem perigo, soceguem.
Mercado
No mercado desta cidade, ha extraordinaria falta de milho.

Chuva
Domingo ultimo, á tarde, choveu abundantemente nesta cidade, pois a secca reina ha muito tempo,
prejudicando a lavoura.
A falta de agua na cidade tambem ficou assim sanada.

Conferencia
Domingo ultimo, á uma hora da tarde, começou-se a serie de conferencias que vae realisar o
Gavinete de Leitura Sorocabano.
Falou o Dr. Armando Sobral dissertando sobre o cultivo e mais particularidades do algodão, desde o
plantio até a industria fabril.
Em toda a conferencia mostrou o Dr. Amandio a sua rara capacidade e o profundo conhecimento
que tem da Agricultura. Teve muita concorrencia.

Fallecimentos
No dia 3 do corrente falleceu nesta cidade, a exma. sra. baroneza de Monte Carmello, mãe do sr.
commendador Manoel Bonifacio da Silva Baptista, abastado capitalista residente em S. Paulo.
Era uma senhora muito virtuosa, gosando de geral estima na sociedade paulista.
No dia 4 do corrente foi seu corpo transportado para S. Paulo, enterrando-se no cemiterio do Carmo,
sendo muito concorrido o enterro.
Nossas condolencias á enluctada familia.
Falleceu hontem, após longos padecimentos, o sr. Francisco Warker, proprietario da Padaria Allemã.
O finado era muito estimado na sociedade sorocabana.
A’ familia enluctada sentidos pezames. (Era casado com Helena Walcher).

Declaração
O abaixo assignado, proprietario do terreno em que está situado o Velodromo, declara ao publico em
geral, e as pessoas interessadas em particular, que em vista da extincção do Club Ciclista Sorocabano, a quem
tinha doado por dez annos o terreno acima referido e do abandono em que jaz o mesmo, de accordo com a
clausula 4.ª do contracto, vai chamar a si os direitos de posse sobre o Velodromo e proclama a nullidade do
contracto.
Só serão tomados em consideração os protestos contra a referida posse, no prazo de quinze dias
depois desta publicação.
Sorocaba, 6 de Outubro de 1903.
Manoel Ferreira Leão.

Para constar
Ana e Francisca de Aquino foram a Cotia cantar nas festas da padroeira daquelle burgo e de São
Benedito, isto nos dias 20 e 21 de setembro transacto. Diz o jornal que foram muito apreciadas pela
suavidade harmoniosa de suas vozes, mas, também informa que as festas foram pouco concorridas e que,
também lá na terra dos Pires daqui a jogatina campeou desenfreada, prejudicou o leilão e deu prejuizo ao
comércio e aos festeiros. Ainda mais, as ruas de lá é uma sujeira só.
O Conde de La Vaulx, acompanhado do Conde de Autremont e do Capitão Voyer, do Exército
Francês, navegaram 360 milhas em balão, de Saint-Cloud, nos arredores de Paris, a Hull, na Inglaterra. O
objetivo era alcançar a Escócia, mas os ventos atrapalharam um tanto.
Na Alemanha, grande número de médicos estão contra o piano; entendem que a prática prematura
desse intrumento origina graves perturbações nervosas e pode até causar a morte precoce, como aconteceu
com Mozart, Chopin, Mendelssohn e Schubert. Recomendam que ninguem comece a aprender piano antes
dos dezesseis anos.

Sb 10/10/1903

Verdades
Ha um grande defeito em nossas leis: é a falta de protecção aos pobres.
O homem rico, que póde pagar advogado, (por exemplo), toma um pedaço de terra a uma pobre
familia sem recurso.
Esta nada póde fazer, porque lhe faltam os meios de defesa, que é o dinheiro. Assim, o rico lhe toma
o solo que cultiva, certo de que a lei, hoje, é um manto proctetor dos burguezes; isto não porque a lei proteja
por si propria, mas pelo grande defeito que ha nella.
Eis como o pobre não póde fazer valer seus direitos.
Haverá contestação?
ooo
Outro mal:
Varias vezes corre, de bocca em bocca, pela plebe, alguma noticia de que um malvado, um dos
grandes da politica, abusa da innocencia de uma pobre filha de familia, que não tem recursos de defesa.
As auctoridades se movem; o juizo se move, mas o resultado é o silencio, é a grande pedra que
cobre crimes e indignidades.
E porque?
Ah! Porque os fracos não tem direito, hão de ser sempre esmagados pela prepotencia, hão de viver
maltratados vilmente, sem lhes permittirem um protesto, um ai!
E os dias correm, correm os annos; sepultam-se os crimes.
Os humildes soffrem nas galés; os desgraçados sem instrucção soffrem nos carceres; a innocencia, a
virgindade infeliz chora occultamente seus padecimentos, e os carrascos da humanidade, os ladrões da honra,
por ahi passeiam, fazendo figura nas praças publicas, saudados como homens honrados e nobres.
Triste humanidade corrompida, cuja lei vive com a tunica manchada, cuja razão vive arrastada pela
tyrannia dos senhores do povo!
A consciencia? Sim: a consciencia desappareceu; os corações não têm mais os sentimentos da
humanidade e o povo vive, pobre povo desgraçado! sem lei, sem justiça e sem dignidade!
E a humanidade progride! Sim, a humanidade progride!
A humanidade progride para aquelles que amam a ambição, para aquelles que não sabem sacrificar-
se em defesa da justiça e da consciencia!
S. B.

Sem epígrafe
Nas officinas do «Cruzeiro do Sul» não se editam jornaesinhos criticos por preço algum.

Piadas
Hoje em dia é uma tristeza; em vez dessa patacoada,
si se discute politica, vão aprender marimbau!
si se faz alguma critica
os taes só promettem pau! Vão aprender birimbau,
Deixem, valentes, de arenga,
Eu que não pato nem nada deixem dessa lenga lenga,
Digo a essa gente damnada: deixem historias de pau.
CHAN-CHAN

Para constar
O famoso José do Patrocinio diz que no dia 15 de novembro fará a primeira ascensão no balão
«Santa Cruz». Depois, promete uma excursão do Rio a Santo. Que valente!
Brevemente será aberta mais uma farmácia em Sorocaba. Estamos progredindo!
Em Piadas, há forte cheiro de que, já então, a turma dos Pires começava, com boatos, a armação
do “empastelamento”, ou simulacro de tal, que ocorreria no final do mês.

Qa 14/10/1903

O Jogo
Por ahi blasonam que não temos que nos encommodar com o tal negocio do jogo, que, quem joga é
porque quer, é senhor de seu dinheiro e não tem que dar satisfações a quem quer que seja.
Primeiro, temos a dizer que o jogo é um torpe vicio, prohibido pela Constituição.
Depois, todo o homem que se preza, não póde, não déve entregar-se á jogatina, ao azar, quando seus
filhos precisam de pão elle tem o dever de respeitar o que pertence aos proprios filhos.
Demais, o jogo é um escandalo e, o homem trabalhador não precisa delle para viver; tem os proprios
braços, amparos sagrados e honrados de sua familia.
O jogador não se lembra da esposa e dos filhos; esse vicio tristissimo o seduz, por noites e noites.
Um dia a sorte o favorece; outro a desgraça o despe de seus haveres e, assim, a infeliz familia do
jogador não póde contar com o dia de amanhã.
E o escandalo? Sim; o proprio Christo disse: o escandaloso deve ser lançado ao mar, amarrando-se-
lhe uma corda com uma pedra ao pescoço. (Deturpação do Evangelho: o que Cristo disse foi: a provocar
escândalo, melhor seria que o escandaloso se metesse ao pescoço uma corda com uma pedra e se lançasse
ao mar. O caso é de suicídio e não de homicídio. E’ no que dá a interpretação da Bíblia “à zóio”).
E Christo tinha rasão: o mau exemplo é que põe a perder a mocidade.
O jogo é um vicio escandaloso, condemnado por todos que pensam um pouco nos males que
affligem a humanidade.
E’ a ociosidade, é o principio corruptor da moralidade.
Quem joga ouve rindo as blasphemias mais indignas, os improperios mais impudicos, e, emfim,
quem jóga, quem não póde se dominar, tambem não póde ter caracter, não póde ser quem se preza, quem tem
nobreza de sentimentos.
E, já que os homens viciados, amigos inseparaveis da jogatina, não se podem conter, porque lhes
falta o principal, a força de vontade, um certo cunho de civismo, a lei, o supremo arbitro que nos legisla na
sociedade, a lei, que protege o bem e condemna o mal, a lei profliga o jogo, como senhora absoluta que não
distingue classes sociaes.
A lei é severa; é um dique levantado contra a corrupção dos homens.
Morte ao jogo!
S. B.
(Onde será que os Pires foram achar semelhante besta? O que ela diz a respeito da lei no dia 10,
em Verdades, hoje ela desmente. Da leitura deste artigo, fica a impressão de S. B., que tudo leva a crer ser o
mesmo Vera Cruz, é uma pena mercenária e nada mais: escreve o que o patrão quer e pelo que paga. O fato
é que os Pires não são esse poço de virtudes que a campanha contra o jogo que o jornal vem desenvolvendo,
quer fazer crer. A coisa é bem mais antiga e é política: o delegado de polícia atual é nada mais nada menos
que o Dr. Braguinha, filho do Dr. Ferreira Braga que, um dia, em 1893 ou 1894, o Coronel Benedito Pires
mandou matar e que só escapou fugindo para o Paraná, onde encontrou segurança entre os federalistas. E,
para açular as hemorróidas piresíacas, o Dr. Braguinha se alinhava com a situação política local e era
meio “inclinadinho” para o jogo. Mas, as cousas iriam piorar e só teriam desfecho na tragédia do 20 de
junho de 1910 e no assassinato do Dr. Braguinha em setembro de 1911. Eles, finalmente, conseguiriam!)

Num poço
No dia 10 do corrente, deu-se, nesta cidade, um facto lamentavel.
Angela era cosinheira da casa do nosso particular amigo Major Arthur Gomes e, aos que consta, ha
tempos soffria de pequenos toques de accesso mental.
Era silenciosa, quieta e esquecida. Morava em uma pequena casa da rua de Santa Clara.
No dia 10 do corrente, mais ou menos pelas tres horas da tarde, Angela sentiu-se encommodada de
repente; começou a tremer e mal balbuciava palavras.
Encommodada a boa e distincta mulher do sr. Arthur Gomes, D. Etelvina, immediatamente mandou
um cartão a seu esposo que se achava a serviço no Forum, para saber que remedio devia se dar á cosinheira,
ou que fazer.
O major Arthur Gomes mandou vêr o carro de praça do sr. Eusebio e este foi buscar Angela para
conduzil-a á sua casa, onde seria medicada.
Em casa de Angela estava a irmã que extranhou o seu modo anormal, rasgando a propria roupa e
pedindo que não a contrariasse.
Passados poucos instantes, Angela vae ao quintal, apressada, talvez já um pouco atacada das
faculdades mentaes e, tropeçando um tijollo, cahe no poço que está a trez passos, contados, distante da porta
do quintal da casa, entre duas paredes, com um pequeno desvio de um lado.
Nas bordas do poço não havia mais que um palmo de altura de tijollos.
Angela foi retirada morta do precipicio bastante fundo e enterrada, um dia depois, correndo as
despezas necessarias por conta de pessoas caridosas.
Sabemos que Angela não ficou em casa do sr. Arthur Gomes por absoluta falta de commodo e
mesmo porque ella queria ir para a propria casa.
Commentemos; aproveitemos a occasião para mostrar ao publico de quem amneira se zela pela
saude publica e dos negocios de obrigação da commissão de hygiene.
Então, o sr. inspector sanitario, Dr. Pereira da Cunha, que se embravece com qualquer pequena lata
ou com poça de agua que se encontrem em qualquer quintal, não viu, não tinha obrigação resticta de
providenciar no sentido de serem tapados os poços que são feitos junto das portas dos quintaes?
Além disso, não devia o mesmo sr. Inspector obrigar a collocar-se um caixão ou grade ao redor de
cada poço, afim de prevenir tantas desgraças?
Onde estão os seus serviços?
Para que é pago?
Pela cidade existem mais poços como este em que se deu o ultimo e tristissimo acontecimento e
queremos ver si V. S. os descobre!
Quando não o faça, nós lhe mostraremos, nós que n ão temos obrigação com V.S., sr. Inspector.
Ahi pela cidade, nos largos, em dias de chuva, e mesmo dias depois, vêm-se lagoas enormes. A
urina cheira mal em varios lugares frequentados pelo publico e o sr. Inspector Dr. Pereira da Cunha, não se
lembra de providenciar a respeito.
O cuidado pela extincção dos microbios lhe toma todo o tempo!
De vez em quando precisamos falar severamente da incuria desses empregados publicos que não
zelam de seus deveres e ganham honradamente os ordenados.
(E assim o jornaleco, palmatória do mundo quis desviar a atenção do público para um caso
gravíssimo, desviando, com argumentos infantis, a responsabilidade de Arthur Gomes e família para o
serviço de inspeção sanitária. Parece claro que o quadro clínico da infeliz Angela era o do que hoje
chamamos AVC, naquele tempo “derrame”. A ordem passada ao condutor do carro de praça foi bem clara:
livrar a apavorada consorte daquele “embrulho”, o quanto antes, e despachá-lo o mais rápido possível. A
morte de Angela deu-se por falta de assistência médica, ao alcance do ilibado cidadão, e não por falta da
fiscalização da Higiene. Que grandes hipócritas! Ou eles, patrão e jornal estão justificados por que se
tratava de uma simples cozinheira e, ainda por cima, preta?).

Desastre
Na tarde de domingo ultimo, em casa do sr. Joaquim Soeiro, deu-se um lamentavel desastre.
Estavam na varanda de sua casa, elle, sua senhora, sua sogra, e o machinista da usina de
electricidade, conversando sobre rewolver. Disse sua sogra que si em sua auzencia apparecesse algum
gatuno, sua senhora nada poderia fazer, porque a molla do seu rewolver é muito forte. O sr. Soeiro mandou
sua mulher buscar o rewolver que estava no quarto de dormir, tirou as casulas, com que estava carregado e
puxou muitas vezes pelo gatilho, dizendo que a molla era muito fraca.
O machinista, moço inglez ha pouco chegado da Europa, péga do seu rewolver, dizendo ser melhor
que o do Joaquim, dá á sua senhora deste para que o visse, porêm ao passar a arma da mão delle para a da
senhora, fez com tanta infelicidade que detonou uma capsula, attingindo a bala o rosto do machinista que
cahiu banhado em sangue.
Prestaram os primeiros soccorros ao ferido os dr.s Arthur Martins e F. Botelho.
A auctoridade policial tomou conhecimento do facto.
Segunda-feira foi o ferido transportado para a Santa Casa de Misericordia, onde se acha em
tratamento em quarto particular. (Quem historinha mais mal contada!)

Foot-ball
Segunda-feira ultima seguiu, a desafiar o «Sport Club Itapetiningano», o «Club Athletico
Sorocabano» que, diga-se a verdade, não teve a gentileza de mandar-nos convidar.
Note-se: nós não censuramos, nem nos importamos com isto, mas necessitamos dizer a verdade,
como ella é: clara, incontestavel.
A’s nove e tanto da manhã, num wagon de segunda classe (e a noticia que corria era de trem
especial) ligado ao trem de passageiros, seguiu o «Club Sorocabano» e mais duas ou tres pessoas que não
faziam parte da sociedade.
Devia ter sido um grande fiasco a chegado dos valentes campeões do Foot-ball porque, em
Itapetininga, o povo, julgando que daqui iriam sorocabanos, para o encontro amistoso de representantes de
duas cidades amigas, o povo de lá havia se preparado para fazer uma festa digna de nota e enthusiastica.
Imaginem nossos leitores que triste papel do «Club Athletico Sorocabano»! Em Itapetininga a
commissão de festejos preparando bandas de musica, banquete, passeata, etc., gastando para receber
dignamente os sorocabanos e, na chegada do trem, o povo daquella cidade encontrar o «Club Athletico
Sorocabano» somente, sem uma banda de musica e emfim, encontrando um grande fiasco.
Como não ficaria o povo de Itapetininga!
Então o «Club Athletico Sorocabano» não se devia ter lembrado que a gentileza se paga com a
gentileza e vae apparecendo lá com um grandissimo fiasco?
Nós não culpamos o povo daqui, e os itapetininganos não nos censurem (pelo que deviamos ter
feito).
A culpa recahe sobre a sociedade de Foot-ball que não soube considerar que sejam as demonstrações
de amizade entre duas cidades.
O Club Itapetiningano fez 4 goals e o Sorocabano 0.
Que grande fiasco!

E os microbios?
Na rua 13 de Maio estão assoalhando, sem cimentar uma casa que serviu de deposito de defuntos
durante a epidemia de febre amarella.
E os microbios? E o sr. Inspector de Hygiene?

Uma carta
«Sr. Redactor. – Li em um dos numeros de seu jornal que o coreto do jardim havia ficado em
18:000$000. Depois encontrei uma retificação para 8:000$000.
Tendo estado com pessoas fidedignas e que sabem alguma cousa desse negocio, tomo a liberdade de
pedir-lhe confirmar que o coreto do jardim si não ficou em 18 contos de réis, custou de 15 para cima; é uma
verdade. – Um leitor amigo.»
Confirmamos, pois, o que dissemos a repeito do jardim desta cidade e muito nos admira que em um
simples coreto se gastasse quasi 18:000$000!!

Piadas (Da lavra do Chan-Chan, mistura a ‘surra’ levada pelo Club Athlético e os estragos da chuvarada
nas ruas da cidade.)

E o nosso Club Athletico?


É bôa! Que figurão!
Foi fiascar sem duvida.
Ai! foi fiascar! Pois não.

Sim! Antes não se arriscasse,


Sem cobre nada se faz...
- Wagon de segunda classe...
Dizia ante-hontem um rapaz.

E as lagoas que se formam


Pela cidade. Não é?
Pescam-se peixes enormes,
Criam... até jacaré!
Sb 17/10/1903

Absolutamente, não!
Ninguem póde negar a justiça que nos segue, na defesa sagrada do interesse popular.
Os proprios senhores camaristas, si é que têm a consciencia ainda não maculada, nos seus, lares,
pondo as mãos á fronte, hão de convir, forçosamente que muita coisa se tem feito em Sorocaba, contra as
regras do bom senso, contra a pratica da boa legislação.
Quanta coisa se nos occulta aos olhos! Quem sabe! A nossa folha clama no deserto;
desgraçadamente hoje, está acima de tudo o poder, querer e fazer.
Não se consulta a razão, não se obedece a lei, não se cuida de conservar a dignidade como cousa
mais sagrada do homem.
Esta é uma verdade, porque si assim não fosse, outras seriam as condições da população, muito
de outro modo se procederia para com a opinião publica, para com a opinião daaquelles que pagam o
pesado tributo, os enormes impostos, sem saberem que proveito se tira de seus sacrificios.
Fala-se de cincoenta alqueires de terra devoluta cercados por um dos affilhados dos dominadores
locaes; fala-se de tantas coisas veladas pela falta do relatorio; clama o povo da desorganisação da
cobrança de agua.
Vem-nos á memoria perguntar ao sr. Intendente, e será um grande favor feito ao publico, dizer-
nos alguma cousa quanto ao fim a que se destinam os materiaes de agua e exgottos que foram
despachados da Secretaria de Obras Publicas á Camara desta cidade.
Dizem que vieram 500 latrinas e mais pertences para serem distribuidos aos pobres e, no entanto,
queixa por ahi a pobreza.
A nossa questão de divisas com Piedade e Pilar, lá está na Commissão Central... até quando?
Não sabemos.
Então, deante da mudez do sr. Intendente, que bem podia vir á imprensa esclarecer-nos, podemos
nos conformar com este estado de negocios municipaes?
Não, absolutamente não; somos de opinião diversa.
O homem publico tem immensa responsabilidade e não póde regeitar as explicações que
pedimos sobre estes assumptos.
Com este systema de administrar, não nos conformamos, absolutamente não!
S. B.

Em Itapetininga
Soubemos que foi pomposa a recepção feita, em Itapetininga, aos do «Club Athletico
Sorocabano». – Á estação appareceram os alumnos das escolas daquella cidade, com o corpo docente,
precedidos da banda «Lyra Itapetiningana».
Fallou em nome do «Club Athletico Sorocabano» o sr. Ferrreira Junior e, por parte dos
itapetininganos o sr. prof. Pedro Voss, digno director das escolas e outros professores.
O campo de foot-ball estava graciosamente ornamentado, tendo camarotes pra as exmas.
familias.
Houve um lauto banquete, passeata e baile á noite, tendo tudo extraordinaria concurrencia de
povo.
Nessa festa, mais uma vez os itapetininganos deram uma prova da gentileza e amizade que
votam a Sorocaba.
Soubemos que o «Efusy Club» desta cidade, composto de pessoal selecto, irá disputar com o
«Club Athletico Itapetingano».
É o que nos consta e quer nos parecer que será isto, depois que tenhamos pago as manifestações
que em Itapetininga foram feitas ao «Club Sorocabano».
O «Efusy Club» é assim composto: Adam Gray; Abelardo Lara – Cesar Filho; J. Gaspar Martins
– Alfredo Nunes – Charles Kuck; Paulo Gomes – Dr. Oscar Werneck – Dr. Horacio Costa – Luiz Baddini
e Adolpho. – Flags-man, Dr. Paula Souza.

Match de hoje
Hoje, ás 4 horas da tarde, este mesmo club (Efusy) na chacara do sr. Carvalho, jogará o foot-ball,
com o enthusiastico team acima referido, disputando com o «Athletico Sorocabano».
Esperamos que haja bastante concurrencia.

Nascimentos
Registraram-se os seguintes em Outubro:
DISTRICTO DA PONTE
Dia 4 – Umberto, filho de Pedro Labonia; Zelia, filha do cap. Otto Wey. Dia 7 – (espaço em
branco), filha do cap. Elias Lopes de Oliveira; Heitor, filho de João Baptista Gonçalves martins; Raphael,
filho de Nicolangelo Carrilo; Francisca, filha de João Leopoldo Romão; Angelo, filho de Pedro Genesi.

Obitos
Registraram-se os seguintes, em Outubro:
DISTRICTO DA PONTE
Dia 3 – Clara dos Santos, preta, solteira, 55 annos, aloolismo; dia 11 – Angela Maria da
Conceição, parda, solteira, 32 annos, asphyxia por submersão (é a cozinheira da casa de Artur Gomes);
Nestor da Silva Mafra, solteiro, 18 annos, tuberculose pulmonal.

Para constar
Estão proclamados no Distrito da Ponte os seguintes casamentos: José Montesino e Maria
Gomes; Dr. Arthur Martins da Costa Passos e Adalzira da Cunha Vieira; João Paulino da Silva e
Gabriel Maria das Dores; João Baptista Bazilio e Camilla Theodoro.
Em breve, Joaquim Pires irá a Campo Largo e Sarapuí, a serviço do «Cruzeiro do Sul».
O Açougue Brasileiro, de Marcolino Ferraz de Almeida, fica na Rua da Boa Vista, n.º 7.

Qa 21/10/1903

Uma idéa
Sorocaba necessita de uma escola de ensino secundario; não ha duvida alguma.
Como fazer si nem o nosso proprio Lyceu pôde ser comparado ao Gymnasio?
Veiu-nos ao pensamento lembrarmos aos senhores Monges Benedictinos que, por parte delles,
seria uma obra de louvor, merecedora de gratidão, que se aproveitasse do convento de S. Bento, desta
cidade, para a fundação de um collegio de ensino secundario.
O edificio do convento é grande, tem lugar de sobra, e, em vez de ser atirado a um canto,
esquecido, servisse para educar a mocidade, do que os srs. Benedictinos têm tanta pratica.
Não resta a menor duvida de que os sorocabanos affluiriam para lá e a ordem teria feito uma
acção digna, patenteando assim a estima pelo progresso da humanidade.
Avmos ver se isto se realisa. Alveydre disse que «toda idéa é uma força e toda força um
principio de acção».
Oxalá que os srs. Benedictinos façam este grande beneficio á Sorocaba, onde precisa de mais
instrucção, de mais luz, afim de não serem perdidas intelligencias.
Quem sabe!? Muitas vezes onde não se espera, dahi se extrae o ouro.
Si, realmente, a ordem de S. Bento é caridosa, é uma grande caridade cuidar da instrucção de
uma cidade como Sorocaba, onde existem vinte mil almas e não ha senão um pequeno grupo escolar e o
Lyceu Sorocabano que, no fim deste anno, com certeza, fechará as portas.
S. B.

D. Carlota Wagner
Falleceu no dia 18 do corrente a exma. sra. d. Carlota Wagner, avó da exma. esposa do sr.
Juvenal Vieira da Cunha, socio da firma Teixeira Cunha & Cia.
Contava a finada 67 annos de idade e era muito estimada de todos.
A’ familia da distincta morta nossos pezames pela irreparavel perda.

Foot-ball
Imponente o match disputado entre o «Athletico Sorocabano» e o «Efusy Club».
Como noticiamos, realisou-se o jogo no sabbado, na chacara Carvalho.
O «Athletico» desta vez conseguiu marcar dois goals contra zero.

O jogo
Continúa desenfreada a jogatina na cidade.
A roleta, o baralho, o buso (assim mesmo) e tantos outros jogos que por ahi existem... e a policia
não toma providencias porque o proprio delegado de policia (Dr. Braguinha) é jogador de profissão.
Temos innumeras provas disso, porque muitas vezes têm vindo a nossa redacção pessoas
queixar-se contra o abuso da auctoridade que joga e consente semelhante cancro.
Em vista das nossas auctoridades não tomarem providencias, chamamos a attenção do digno e
energico dr. Antonio de Godoy, que em boa hora occupa o elevado cargo de chefe de policia.

Casamento
Contractou casamento o sr. Gamaliel Almeida, chefe das nossas officinas, com a senhorita Ruth
de Moura, filha do sr. Egydio de Moura, de saudosa memoria.

Inspector Sanitario
Foram nomeados inspectores sanitarios effectivos os srs. drs. José Pinto de Paula Souza e
Francisco Luiz Vianna, que occupavam os mesmos lugares em commissão.

Licença
Foi concedido mais 30 dias de licença ao Dr. Armando de Barros Souza, distincto promotor
publico desta comarca.

Fallecimento
Falleceu no dia 17 do corrente á noite, nesta cidade, o sr. Antonio J. Correa, victimado por uma
tuberculose pulmonal.
O sr. Corrêa era representante de algumas casas commerciaes da Capital e gosava de geral
estima pela sua honradez e integridade de caracter.
O seu enterro effectuou-se no dia seguinte, as 4 horas da tarde, sendo bastante concorrido.
Pezames.

Para constar
Juvenal Vieira da Cunha é sócio da firma Teixeira Cunha & Cia.
Paulino da Rocha Camargo casou-se, no último sábado, em São Roque, com Isaura de Moraes
Rosa, filha do fazendeiro Sílvio de Moraes Rosa.
O Dr. Artur Martins marcou seu casamento para o próximo dia 31.
Na Società Italiana di Mutuo Soccorso e Beneficenza, foi representada a peça «O Assassinio de
Macário» e a comédia «A Raiz Maravilhosa»,a cargo da Companhia Judith.
A «Formicida Pestana» - a mais enérgica, a mais acreditada e preferida pelos srs. lavradores –
é encontrada na Rua Floriano Peixoto, 110, onde vive o seu depositário, Manuel do Rego.

Sb 24/10/1903

Chronica
Chove! é a exclamação de contentamento que ouve-se de toda parte.
Nem era para menos.
Havia longos mezes que a inclemencia de um sol ardentissimo tudo ia consumindo, ameaçando-
nos compartilhar a sorte afflictiva dos nosso infelizes irmãos do norte.
O lavrador, penalisado, via destruido o producto do trabalho regado a suor, e, o fogo com todo o
seu cortejo de horrores, atirando aos ares bulcões de fumo que turvava a atmosphera, tornando-a mais
pesada e quente.
Como se ia tornando desagradavel a Natureza! A plantação morria, as pastagens reduzia-se a pó,
trazendo a creação quasi em completo aniquilamento.
Nas estradas de ferro e de rodagem os viajantes eram, além do calor, atormentados pelo pó. Os
rios e confluentes diminuiram de volume, ficando reduzidos a terça parte, de modo que o elemento
indispensavel á vida escasseava geralmente.
O manancial que abastece a cidade diminuiu tambem consideravelmente, prejudicando a
população.
A edilidade cá da terra, acossada pelas impertinentes reclamações que de toda parte surgiam,
impotente para solvel-as, deve tambem estar tranquilla com o remedio que do céu lhe veiu.
Finalmente, quanto ao abastecimento de aguas e exgottos, esta pequena esfrega foi um aviso que,
esperamos, servirá de prevenção para evitar-se futuras consequencias.
FILENO.

Crime
Consta que corre na policia o processo de um crime monstruoso commettido num bairro dos
arrabaldes desta cidade.
Para não embaraçar a acção da policia, mais tarde orientaremos melhor nossos leitores. ( Parece
que não houve tal orientação e, talvez, nem mesmo o crime).

Os pinheiraes
O viajante que vae, caminho do sul, passando por Itapetininga e Faxina, nota, admirado as
grandes florestas de pinheiros que occupam serras inteiras da divisa do Estado com o Paraná.
Lá, por aquellas bandas, derrubam-se os pinheiros para roçadas, e o fogo consome (que
prejuiso!) milhares e milhares de troncos dessa madeira estimada.
Do pinheiro é que se extrae a therebentina ou melhor a agua-raz. O governo devia providenciar
no sentido de serem prohibidos os estragos em pinheiraes, mormente agora que se pretende conduzir a
Estrada de Ferro Sorocabana de Itapetininga a Itararé.

Nascimentos
Registraram-se os seguintes em Outubro:
DISTRICTO DA PONTE
Dia 17. – Celestina, filha de Luciano Antonio Ferraz; Raimundo, filho de José Marciano de
Mascarenhas; Rosa, filha de Agostinho Vieira Pinto; Margarida, filha de Benedicto Manoel de Oliveira;
Escolastica, filha do Cap. João Climaco de Camargo Pires. Dia 20 – Pedro, filho de Benedicto Joaquim de
Camargo; Francisca, filha de Francisco Caetano Soares; Ercilia, filha de Domingos Capalbo.

Obitos
Registraram-se os seguintes em Outubro:
DISTRICTO DA PONTE
Dia 19 – D. Carlota Wagner, 67 annos, viuva, victima de lezão cardiaca.

Qa 28/10/1903

Manuel Heleno
Falleceu na tarde do dia 26 do corrente o honrado cidadão Manoel Heleno.
Foi victimado por antigos padecimento que o retinham a tres annos e trez mezes no leito de
soffrimentos.
Deixa uma prole numerosa, que segue todos os exemplos de probidade de seu chefe.
Os seus filhos são todos respeitados na sociedade como cidadãos prestantes.
Realisou-se o enterro do venerando ancião no dia 27, ás 5 horas da tarde, seguido por numeroso
acompanhamento.
A’ familia enluctada, profundas sympathias do «Cruzeiro do Sul». (O nome dele era Manuel
Heleno de Arruda).

Exoneração
Foi exonerado, a pedido, da commissão de agricultura deste municipio, o sr. Cap. Elias Lopes de
Oliveira.

Jogo
Quando afirmamos que o delegado de policia (Dr. Braguinha) é jogador, não nos referimos ao
sr. Isaltino de Almeida em exercicio, porque disso não sabiamos.
Muito admiramos suas dores sendo simplesmente um terceiro supplente.

Emprestimo
Lemos algures que, em uma sessão da camara o sr. intendente apresentou o projecto de um
emprestimo da avultada quantia de 550 contos de reis, em legtra ao portador no valor nominal de 100$
cada uma, a juros de 10% ao anno, amortisaveis em dez annos, por meio de sorteios annuaes.
Esse emprestimo será para fazer a unificação da divida municipal. Mas, ponderemos um pouco.
Qual será o banqueiro ou capitalista que queira emprestar essa quantia a uma camara que não publica
relatorios? Ao certo ninguem quererá fazer em vista das irregularidades que se tem observado na
adminsitração municipal.
Si o sr. intendente tivesse publicado os relatorios annuaes, si trouxesse a publico todos os actos
da camara, si tivesse demonstrado com algarismos o que tem recebido, e o que tem gasto sob a sua
administração talvez fosse mais facil contrahir esse emprestimo.
A base do projecto de emprestimo está na publicação dos actos municipaes. Primeiro isso, depois
o emprestimo.
Declaração
Havendo sido propalado, com o fim de tirar um partido que ignoro, á algumas pessoas de minha
amisade, pelo Snr. João Teixeira Ferreira Júnior, socio da firma M. Silva & Cia. e redactor responsavel
d’«O 15 de Novembro», que sou eu o auctor dos artigos publicados no «Cruzeiro do Sul», firmado por S.
B. e outros affectos á redacção, declaro não passar de aleivosas inverdades, aquillo que assevera a meu
respeito.
Nunca precisei utilisar-me do anonymato para manifestar meus pensamentos.
Sorocaba, 26 de Outubro 1903.
Oscar de Barros.

Para constar
Morreu, em Porto Alegre, o Dr. Júlio de Castilhos, um dos maiores sobas que a República criou
e sustentou, uma espécie de vice-rei do Rio Grande do Sul. Já foi tarde. Muito tarde!
O «Correio de São Carlos» foi fundado em 25 de outubro de 1899.

Sb 31/10/93

Infamia villissima
Tentativa de empastelamento – Arrombamento
Hoje, depois da meia noite foi a nossa redacção assaltada por um grupo de bandidos.
Cerca de vinte homens bem armados e municiados, começaram por arrombar, a alavanca, uma
das portas.
Logo no começo do arrombamento ouviu-se o grito: «Viva o dr. Braguinha!».
Fechamos todas as portas que davam entrada ás nossas officinas e oppuzemos tenaz resistencia.
Depois de meia hora de trabalho conseguiram entrar no predio e retiraram o que encontraram na
sala da redacção.
Accenderam uma fogueira alimentada por um fardo de papel, uma bycicleta, uma mesa, duas
cadeiras e folhas de porta.
A uma hora e dez minutos retirou-se o grupo assaltante e somente a uma hora e vinte e dois
minutos chegou o alferes Francisco Eleuterio, acompanhado por seis soldados.
Um homem postado proximo á fogueira disse á outro: «Fizemos serviço completo...»
No proximo numero daremos noticias mais circumstanciadas. (Claro! leva algum tempo a
composição de uma boa fábula).
Compareceu ao local do crime o sr. Isaltino de Almeida, supplente de delegado, deixando uma
praça á porta.
Pedimos providencias aos Exmo. Sr. DR CHEFE DE POLICIA.
Sobre o projecto de empastellamento e seus acuctores, estamos bem orientados.

Sem epígrafe I
E’ redactor responsavel do «Cruzeiro do Sul» o sr. Joaquim Firmiano de Camargo Pires.

Sem epígrafe
É provavel que o futuro bispo de S. Paulo seja o actual bispo de Coritiba, d. José de Camargo
Barros, natural de Sorocaba.

Para constar
Muito estranho, mas muito estranho mesmo, o fato de a «tentativa de empastelamento» do
«Cruzeiro do Sul» vir só na segunda página. Como uma notícia de arromba e um fato momentoso cede
toda a primeira página a artiguetes que falam de Finados, que ainda não chegou, historinhas como
«Rachel», «A Louca», «Lupe», esta um seriado, tudo coisinhas insossas, inclusive uma poesia «Rosas e
Goivos» e a conversa mole sobre anúncios nos Estados Unidos? Um atentado desse porte relegado à
segunda página, aparecendo assim meio com vergonha de aparecer, como se estivesse escondendo de
vergonha, vacilando ante a peta que tentou passar ao público e que até fez emudecer de raiva e vergonha
o próprio Delegado Geral, que aqui veio sindicar dos fatos.
No próximo dia 15 de novembro será inaugurada a luz elétrica em Faxina.
No sertão do Rio Feio, adiante de Bauru, os índios coroados têm invadido povoações carentes
de força policial.
A peste bubônica atormenta o Rio.
Uma comissão formada por Manuel Ferreira Leão, Valdomiro da Silveira e Oscar de Barros
está encarregada de organizar o «Club Sportivo» (Progresso).

Qa 4/11/1903

Vandalismo e infamia
Quasi nada podemos adiantar por emquanto sobre as barbaridades praticadas á redação do nosso
jornal por achar-se affecto ao mui digno delegado auxiliar do Exmo. Sr. Dr. Chefe de Policia, Sr. Dr.
Arthur Pinheiro e Prado, de quem esperamos, saberá com toda a correcção e justiça que lhe são
peculiares, descobrir os chefes e os assalariados deste attentado que por sua natureza podia produzir a
desgraça de uma familia, succumbida pelo elemento de que lançaram mão.
Não descuraremos, porém, no decorrer deste processo, de fornecer as informações precisas que
as auctoridades nos solicitarem, afim de triumphar a verdade, visto estarmos ao par do facto e de todos os
auctores desta infamia.
Logo que houver opportunidade, iremos satisfazendo a natural curiosidade dos nossos leitores,
fornecendo-lhes informações referentes ao acto delictuoso.
Aproveitamos o ensejo para agradecer penhorados as sympathias que temos recebido da
população desta cidade e declaramos mais uma vez que as perseguições movidas por alguns
desclassificados, mais nos incitam á lucta pelo progresso deste municipio e em defeza dos seus habitantes.

Agradecimento
Aos bons e humanitarios moços, Juvenal da Cruz e Antonio Eufrasio, o abaixo assignado, por si
e em nome de sua familia, agradece penhorado o terem extinguido o fogo que alguns malvados deitaram á
porta da sua casa por occasião do arrombamento e tentativa de empastelamento do «Cruzeiro do Sul».
Sorocaba, 4 de Novembro de 1903.
BENEDICTO PIRES.

Delegado auxiliar
Para proceder o inquerito policial referente ao crime praticado na redacção desta folha, esteve
nesta cidade o sr. dr. Arthur Pinheiro e Prado, muito digno delegado auxiliar da chefia da policia.
S. s. chegou domingo, pelo trem da manhã e regressou segunda-feira pela tarde.

Casamento
Teve logar no dia 31 do mez findo, as 9 horas da noite, no palacete do major Eduardo Anthero da
Cunha Vieira, em oratorio particular, o consorcio de sua exma. filha d. Adalzira da Cunha Vieira com o
sr. dr. Arthur Martins da Costa Passos.
Serviram de paranymphos no civil, por parte da noiva, o sr. dr. Nicolau Pereira de Campos
Vergueiro, representado por seu filho dr. Luiz Vergueiro e por parte do noivo, o sr. cap. Elias Lopes de
Oliveira. No religioso, por parte da noiva, o sr. cap. Antonio Rodrigues Costa e da do noivo o sr. dr.
Alvaro da Cunha Soares.
Após o acto foi servido, em uma mesa em forma de A abundantes e delicados doces aos
convidados. Ao champagne o dr. Luiz Vergueiro, em expressivas e amaveis palavras, saudou os nubentes
e a exma. familia do sr. major Eduardo, em seu nome e no de sua familia, de quem era alli representante.
Á meia noite retiraram-se os convidados satisfeitos e gratos pelas maneiras delicadas e
attenciosas que o major Eduardo Anthero e sua exma. familia dispensaram a todos.
De nossa parte agradecemos e desejamos aos recem-casados muitos annos de vida e perennes
felicidades.

Consorcio
Realisou-se no dia 31 de Outubro o casamento do sr. Thimoteo Rodrigues Pacheco com d. Maria
Eduarda de Almeida. Impetrou a bençam religiosa o rev. Othoniel Motta.
Ao jovem par deseja o «Cruzeiro» uma vida cheia de felicidades.

Criminoso
Consta-nos que se acha homiziado nesta cidade, um criminoso fugido de Ytú, que alli praticára
uma tentativa de morte. Consta-nos mais que, tendo sido requerido a sua prisão pelas auctoridades
ytuanas, até hoje não foi elle preso, por ser protegido por pessoa influente na politica local. O criminoso é
conhecido pelo nome de Cuca e esconde-se numa casa do becco do Theatro, bem perto do seu protector.
Com vistas ao exmo. dr. Chefe de Policia.
Luz electrica
Acaba de chegar novo dynamo para a illuminação electrica desta cidade.
É do systema monofacico (sic) e foi adquirido nos Estados Unidos e é da fabrica General
Electric Comp.
São as seguintes as suas forças: excitador 5 ½ kilowats, 44 ampèrs e 125 volts. Expende 1.050
revoluções por minuto.
A empreza pretende inaugurar este importante melhoramento até o fim do anno.

Tempestades
Nas tardes dos dias 1, 2 e no dia 3, cahiram sobre esta cidade enormes mangas de agua, sendo
nos dois primeiros dias com violenta ventania e no dia 3 com saraiva.
Em S. Paulo a tempestade do dia 1º fez com que se suspendesse o movimento de bonds por doze
horas. Não se publicaram a «Fanfulla» e a «Tribuna Italiana» por falta de electricidade para os motores e
illuminação. O «Estado» sahiu com cinco horas de atrazo. São grandes os prejuizos. Morreu um
empregado da Light esmagado por um poste que um raio derrubou.

«Club Progresso»
Domingo, 1º do corrente, á 1 hora da tarde, mais ou menos, realisou-se a annunciada Assembleia
Geral do Club Sportivo.
A presidencia foi brilhantemente occupada pelo illustrado consocio sr. Arthur Gomes, servindo
de seus secretarios os srs. Oscar de Barros e Valdomiro Silveira, ambos signatarios da commissão
organisadora.
Em um bello improviso, agradeceu o illustrado presidente a acclamação de que foi alvo,
dissertando com a sua eloquencia proverbial sobre os fins que visavam a fundação do novo club.
O primeiro secretario, convidado a ler o regulamento que formava a base da novel associação,
terminou a leitura sem receber dos presentes o mais insignificante protesto.
Iniciou-se, em seguida, a eleição para a Directoria, sendo suffragados dicersos candidatos,
verificando-se pela apuração, logo procedida, o resultado seguinte:
Presidente, Oscar de Barros; Vice-Presidente, Manoel Ferreira Leão; 1º. Secretario, Olympio
Cozzetti; 2º. Secretario, Chrispiniano F. Costa; Thesoureiro, Hermogenes de Oliveira; Director do
Velodromo, Adam Gray. (v. «15 de Novembro» de 5/11/1903).
A posse dos recem-eleitos não se fez esperar, assumindo então a presidencia o sr. Oscar de
Barros.
O primeiro secretario, em nome da Directoria, agradeceu aos seus consocios a escolha que
acabavam de fazer, confiando-lhe a direcção do Club, contando com o seu apoio e dedicação, para o bom
desempenho do mandato.
Patente, tambem ficou, a gratidão da Directoria ás commissões das sociedades que se fizeram
representar; Club Aymorés, S. B. P. Vasco da Gama, S. S. Vicente de Paula e a S. Italiana M. Soccorso e
Beneficenza.
Dando começo aos trabalhos, o sr. Oscar de Barros consultou a Assembléa sobre a denominação
do Club e como ella não se manifestasse a respeito, apresentou a de – Club Progresso – sendo geralmente
acceita.
Seguiram-se outros trabalhos, encerrando-se a sessão as tres horas da tarde, ao som de
estrepitosas palmas e enthusiasticas composições musicaes executadas com proficencia pela «Lyra
Artistica Sorocabana».
Destacam-se, dentre os diversos brindes levantados – do sr. Arthur Gomes á mocidade brazileira,
representada no Club Progresso; do sr. Oscar de Barros ao seu preclaro mestre e ás associaç~eos
representadas na fundação do Club e tambem aos seus dedicados consocios, á todos elles agradecendo o
inestimavel concurso que acabavam de demonstrar, cooperando para o brilhantismo da solennidade
realisada; do sr. Olympio Cozzetti ao sr. Arthur Gomes, respondendo á saudação dirigida á mocidade
brazileira, representada pelo Club Progresso.
Mais algumas peças musicaes executadas e deu remate á festa o patriotico Hymno Nacional.
O Club Progresso conta com setenta socios fundadores, mais ou menos, pretendendo, no dia 15
do corrente effectuar algumas corridas no Velodromo, estando já aberta a inscripção de corredores para 4
pareos.
É motivo de regosijo para Sorocaba contar com um Club Sportivo das proporções animadoras do
que acaba de ser fundado e que muito poderá contribuir para o progresso local.

Pergunta
Pergunta-se ao cidadão João Teixeira Ferreira Junior redactor de uma folha da terra, por que
meios soube que era velha a bycicleta que os vandalos atiraram ao fogo na occasião que attentaram contra
a redacção d’O «Cruzeiro»?
O sr. examinou bem a bycicleta antes de a mandarem para o fogo?
Pede-se resposta urgente.
J. Cumplice.

Para constar
O circo de touros, de Francisco Gálvez, estéia domingo, dia 8.

Sb 7/11/1903

Vergonha
Li no «Estado de S. Paulo» o relatorio do dr. Pinheiro e Prado sobre o facto passado na redacção
do «Cruzeiro» que, pelas declarações das testemunhas, se vê claramente as personagens que tomaram
parte nesse attentado e que, no correr do processo, mais se tornarão salientes e, por isso, com o tempo
opportuno, chegarão ao conhecimento do publico.
Não clamo contra a gravidade criminal do arrombamento e estragos materiaes da redacção, mas
sim da tentativa de incendio a um importante predio, onde estava, na occasião, a familia Pires, composta
de oito pessoas, inclusive uma criancinha de tres mezes, a quem, pela sua posição na sociedade, tinhamos
o dever de respeitar.
É sem contestação provado que Juvena e Eufrasio foram os unicos que livraram de uma
vergonhosa mancha os sorocabanos, extinguindo o fogo que tinha sido lançado á porta com o auxilio de
kerozene.
Seria para nós o espectaculo mais deprimente se hoje fossemos cavar nas cinzas os despojos de
uma familia ali extincta, pelas mãos de homens sem coração e que têm familias a zelar!
Seria, para nós sorocabanos, a maior das degradações que um ente póde imaginar e que ia lançar
uma mancha negra sobre o nosso passado que só conta tradições honrosas!
Felizmente o dedo da Providencia riscou de nossas vistas esse espectaculo deprimente e
vergonhoso!!
Si os desgostosos e molestados pelas verdades deste jornal não têm os recursos legaes, ouví
callados, mas não lançando mão de um meio proprio de anarchistas, assassinos, salteadores.
UM SOROCABANO.

ASSALTO AO «CRUZEIRO»
Com a epigraphe de um jornal assaltado, publica o «Estado de S. Paulo», do dia 5 o seguinte:
«O sr. dr. Pinheiro e Prado, segundo delegado auxiliar, remetterá hoje ao sr. dr. chefe de policia o
inquerito a que procedeu em Sorocaba sobre o assalto da redacção do Cruzeiro do Sul.
Acompanha o inquerito, que será enviado ao juiz da comarca daquella cidade, o seguinte
relatorio:
“Pelas declarações de fl. 7 deste inquerito consta que na noite de trinta para trinta e um do
passado, cerca de meia hora depois de meia noite (Joaquim) Firmiano de Camargo Pires, redactor do
jornal que se publica em Sorocaba, Cruzeiro do Sul, pernoitava com sua familia na casa em que funcciona
a typographia daquelle jornal, acordou com o ruido de pancadas nas portas da redacção, uma das quaes
foi arrombada, ouvindo na rua gritos dum grupo de individuos que se postavam em frente da casa,
ouvindo vivas ao dr. Braguinha! e morras ao Cruzeiro do Sul. Que alem das pessoas de sua familia não
havia outras na casa; todavia, ouviu de Juvenal da Cruz e Antonio Eufrasio que antes do arrombamento
alguem poz fogo com querozene numa das portas da redacção do Cruzeiro, tanto que foram elles quem
apagaram aquelle fogo, os quaes reconheceram os individuos alli agrupados; todavia ignora qual a causa
deste ataque ao seu jornal, o qual apenas tem verberado o jogo que em Sorocaba campeia, sem offensa á
pessoa alguma; todavia seu irmão João Climaco, está mais ao corrente do delicto.
Constantino de Mattos disse, depois do ataque ao jornal, que o alferes commandante do
destacamento o convidára para o ataque á typographia do Cruzeiro e que Constantino sabe quaes são os
mandantes e mandatarios, pois o declarante não podia determinar quaes sejam elles, visto que não pôde
reconhecer nenhum dos individuos que se agrupavam em frente da sua casa. Tendo ouvido dizer que
mandantes eram José Rodrigues Costa, alferes Francisco Eleuterio de Campos, Hercules Tavares de
Campos e mandatarios eram Venancio Lisbôa, Candido Maximo Cordeiro, Bemjamim dos Santos, João
Liper (sic), Cicero Rodrigues Bastos (Costa) e outros de cujos nomes não se recorda, que esses individuos
entraram na redacção e damnificaram o que encontraram.
João Climaco de Camargo Pires declara que sua irmã o despertou, dizendo que tentavam
arrombar a redacção do “Cruzeiro do Sul” e vindo á janella viu um grupo de doze pessoas – mais ou
menos as quaes estavam armadas – suppondo que duas ou tres forçavam a porta da redacção e então
desceu ao escriptorio – e, para intimidar, deu tres tiros – observando que aquellas pessoas se retiraram,
mas voltaram e arrombaram uma porta e entraram no escriptorio, donde tiraram um fardo de papel e
outros objectos que incendiaram – tendo o declarante, aramado de carabina, obstado que entrassem na
typographia e a empastelassem. Que chegaram, logo depois, o delegado, o alferes e cinco praças para
conhecerem do occorrido.
O declarante, pôde reconhecer os que atacaram a redacção, porque a mesma estava ás escuras –
todavia, pelo clarão da fogueira, que fizeram na rua, pôde ver que os individuos estavam disfarçados.
Constantino Gonçalves de Mattos lhe disse que tinha sido convidado para o ataque pelo alferes
commandante do destacamento, e que, alem deste, eram auctores
Hercules de Campos, José Rodrigues Costa, Cicero Costa, Benjamim dos Santos, João Liper,
Francisco Catalano e João Teixeira Ferreira Junior e que os assaltantes eram Venancio Lisboa, Cyrillo
Cordeiro, o preto Salermo, Totó Abbade e outros cujos nomes ignora.
Que antes tentaram incendiar o predio – pois Juvenal Abadia da Cruz e Antonio Euphrasio viram
fogo numa das portas da redacção – fogo esse que elles apagaram e que no interior do predio – tentaram
incendiar – pois houve muita fumaça com cheiro de kerozene tanto que ia asphixiando á familia que
estava no pavimento superior do predio. Que attribue esse ataque ao Cruzeiro do Sul por ter esse jornal
accusado actos da camara e certas auctoridades policiaes que se entregam ao jogo, que existe franco na
cidade. Pelo auto de corpo de delicto – fl. 3 – se vê que houve arrombamento do predio – em que
funccionava o Cruzeiro do Sul – na rua Monsenhor João Soares n. 25 – e damnificação no interior do
mesmo.
Foram ouvidas seis testemunhas – offerecidas pelos pacientes – e uma referida.
A primeira, a folha 16 diz que na noite de 30 para 31, cerca de 11 horas viu agrupamento de
individuos e desconfiando desses factos veiu communicar ao alferes e o encontrando no largo da Matria,
este lhe disse que precisava delle, e perguntado para que, respondeu o alferes? Vamos empastelar o
Cruzeiro. Posso contar com você? Constantino lhe disse Póde que o alferes lhe offereceu armamento. Que
no largo da Matriz, encontrou João Liper, Benjamim dos Santos, Ferreira Junior, Cicero Costa e o alferes,
e que num restaurante chegaram Cyrillo Cordeiro, Candido Cordeiro, Venancio Lisbôa, Totó Abbade, o
preto Salermo, onde chegou depois Hercules Tavares de Campos e disse: «Desçamos, pois, são horas».
Se não fizermos isto hoje fica muito feio para nós, – que ouvindo apitos de soccorro, correu para o logar e
em frente da redacção do Cruzeiro viu Juvenal da Cruz e Antonio Eufrazio, tendo visto fogo na porta da
casa, e Venancio Lisboa forçando a porta da redacção, quando chegaram os soldados Olympio e
Francisco, dizendo que Venancio, que nada tinha com a policia, e pedia uma alavanca e uma marreta, mas
tendo sido offendido por Venancio, se reitrou não sabendo de que houve depois do arrombamento. Que
do restaurante onde se achava ouviu tiros, e ouviu Salermo, Benjamim dos Santos, Candido e Cyrillo
Coredeiro dizerem: o serviço está feito. Que viu uma fogueira de papel, uma folha de porta e uma
bycicleta quebrada, mas que não pode precisar o movel dum ataque á redacção, bem como não póde
precisar quaes os seus auctores.
Juvenal de Araujo, diz que a 30 do passado, conjuntamente com Antonio Eufrazio, viu fogo
numa das portas do Cruzeiro, e viram dois vultos correrem para a rua Direita, os quaes não pode
conhecer. Que apagando o fogo, que fora ateado com kerozene, apitou e chegaram dois soldado, mas elle
veiu procurar a auctoridade policial, e encontrando o sub-delegado José Rodrigues Costa, este ordenou ao
alferes que fosse ver o que havia, e voltando para a redacção do Cruzeiro, ahi encontrou um grupo de
pessoas entre as quaes reconheceu Benjamim dos Santos, João Liper, Candido e Cyrillo Cordeiro,
Venancio Lisboa, a este de revólver em punho. Que recebeu voz de prisão de Constantino Gonçalves de
Mattos, que se achava no grupo, que não quis arrombar a porta, pois a noite era escura, reconhecendo,
porém, pela voz, os individuos que referiu acima. Que Constantino de Mattos depois lhe disse que fora
convidado pelo alferes da policia para tomar parte no ataque ao Cruzeiro. Que attribue esse facto ao ter o
Cruzeiro do Sul sensurado actos da camara e chamado o delegado de policia de jogador de profissão, e
observou que o kerozene derramado na rua ia da sargeta á porta da redacção. – Finalmente, não sabe, nem
por ouvir, quem seja o auctor desse delicto.
Antonio Eufrazio refere o mesmo que disse Juvenal, e como este não sabe quaes os mandantes e
mandatarios desse ataque ao Cruzeiro, que não foi empastelado, pois foi publicado no dia seguinte. –
Francisco Catalano ciu apenas ajuntamento de pessoas em frente da redacção do Cruzeiro do Sul não
tendo ouvido dizer quem foi que mandou atacar o Cruzeiro do Sul.
Olympio da Costa disse que foi despertado por Francisco de Andrade e ambos accudiram aos
apitos de soccorro e viu um grupo de cem pessoas, e viu Constantino de Matto de garrucha em punho
tentando arrombar a porta da redacção do Cruzeiro do Sul, que veiu com o seu companheiro referir ao
alferes o que havia, o qual partiu com reforço de soldados, e lá chegando não encontrou mais ninguem,
que viu a porta da redacção arrombada, papel queimado no escriptorio e na rua uma fogueira de papel,
que ao chegarem a primeira vez na redacção não viram fogo em parte alguma.
Manoel Ramalho diz que acompanhou os soldados juntamente com Hercules de Campos e
chegando em frente á redacção do Cruzeiro viu um ajuntamento de mais de cem pessoas e ouviu diversos
tiros e viu Constantino de Mattos que se arremeçava contra a porta da redacção, querendo arrombal-a –
sendo agarrado por Benjamim dos Santos que não consentiu que levasse a effeito a sua pretensão, que se
separou de Hercules de Campos e foi collocar-se a distancia e viu arrombarem a porta e queimaresm uma
porção de papel na rua, uma folha de porta e uma bycicleta, não sabendo quaes os auctores desse acto – e
nem o motivo que o determinou. Pelos autos de corpo de delicto de fl. 26 – se vê que não houve incendio
na redacção do Cruzeiro do Sul.
Estando provado que houve arrombamento e damnificação na casa em que funcciona a
typographia do Cruzeiro do Sul – delictos esses previstos no codigo penal, o escrivão regista e remette
este inquerito ao exmo. sr. dr. chefe de policia para que se digne de envial-o ao dr. juiz de direito de
Sorocaba.
São restemunhas indicadas pelos pacientes como testemunha de vista Januario Salerno,
Rodrigues Arcuri, Florencio José de Almeida.»

Assassinato (Ver o “15 de Novembro” de 8/11/1903)


Deu-se no dia 5 do corrente as 11 horas da manhã na rua do Commercio desta cidade, o
assassinato de Angelo Coló, negociante estabelecido com casa de seccos e molhados na mesma rua, por
Antonio Jachetta, que desfechou em Coló um tiro de rewolver que o matou instanteamente.
Quanto á causa que determinou este assassinato, pertencde a Justiça averiguar.
O assassino evadiu-se após o crime.
O cadaver foi autopsiado no necroterio do cemiterio municipal pelo dr. Matarazzo e
pharmaceutico sr. Sampaio.
Lamentamos profundamente esse triste acontecimento.

De mudança
Seguiu para a visinha cidade de Itapetininga, com a sua ex. familia o nosso amigo Tnt. Joaquim
Gonçalves Bastos, com o fim de abrir ali um estabelecimento de chapeos e outros artigos de modas.
Desejamos felicidade.

O Relatorio Policial
Não podemos deixar sem reparo alguns topicos do relatorio do sr. dr. Pinheiro e Prado, 2º
delegado auxiliar, principalmente no depoimento dos dois soldados, que disseram ser o grupo assaltante
da nossa casa composto de mais de cem pessoas. Podemos garantir que os vandalos não excederam de 20.
Sabemos que os dois soldados foram bem insinuados por alguem, quando chamados pelo dr.
Pinheiro e Prado para fazerem o depoimento.
Com todas essas irregularidades do relatorio o povo não deixará de fazer o seu juizo recto, sobre
quem recáe a responsabilidade dos actos de selvageria praticados no predio em que funccionam a
redacção e officinas da nossa folha.

Declaração
O abaixo assignado declara que, de hoje em diante, não é mais accionista do jornal «Cruzeiro do
Sul», que se publica nesta cidade, retirando-se pago e satisfeito de seus trabalhos, nada havendo a receber,
nem á associação proprietaria do dito jornal.
Sorocaba, 6 – XI – 1903.
Francisco Vera Cruz.

Para constar
O jornal «Cidade de Bragança» foi fundado em 1895.
A Relojoaria Central, de Samuel Levy Júnior, reabriu na Rua Padre Luiz n. 15.
Francisco Scaletti, proprietário de restaurante na Rua Mons. João Soares, 12, esquina da Rua
Direita, além da atividade peculiar ao seu estabelecimento, vende cigarros, charutos, bebidas e latarias,
agora anuncia que representante, em Sorocaba, da Livraria Bertolloti, da Capital, da qual tem a venda
excelentes romancer. Quem misturada!
Na Rua do Supiriri, nº. 12, manilhas de barro vidarado, de 4 polegadas de diâmetro, da Fábrica
Água Branca, da Cia. Progresso Paulista, custa agora 1$400; custava 1$700. Se levar mais de cem,
cada uma sai por 1$200.
Qa 11/11/1903

Padre Diogo A. Feijó


No dia 9 do corrente completou sessenta annos que o padre Diogo Antonio Feijó desappareceu
dentre os vivos.
Este grande estadista e talento privilegiado, era membro da familia Camargo, cujas tradições são
honrosas no Estado de S. Paulo
Feijó occupou diversos cargos politicos de importancia, como o de regente do imperio na
menoridade de D. Pedro II e muitos outros que seria difficil mencionar.
Foi um dos chefes da revolução de 1842 e, nesta cidade, foi preso, vindo a fallecer de desgostos
no anno seguinte.
O caracter inquebrantavel de Feijó, o patriotismo digno de imitação, a energia e tenacidade
fazem com que seu nome seja sempre glorificado por todos os brazileiros.
O seu protesto contra o celibato clerical é o immorredoiro padrão de gloria, é a prova do seu agir
independente.
Paz a Feijó.

A imprensa e nós
Agradecemos aos nossos collegas que têm se referido ao crime de que foi victima o nosso jornal.
Entre esses o «Tietê» e o «Commercio de S. Paulo», fortemente defenderam a nossa causa,
vituperando o procedimento incorrecto dos depredadores da propriedade alheia.
A «Cidade de Tatuhy» tambem fez o mesmo (defendeu a causa do “Cruzeiro”), mas diz que «as
officinas foram assaltadas por um grupo de populares», e logo adiante, «A autoridade policial trata de
descobrir os autores do vandalismo». Não ha tal, collega. Não foi o povo, que é por nós, quem arrombou
nossa redacção e a auctoridade policial cá da terra...
«A Republica», de Ytú, publicou o artigo, que em outro lugar transcrevemos, com o titulo Mais
um...
A’s palavras de sympathia, ás muitas provas de popularidade, aos que assignaram o «Cruzeiro»
depois de 30 de Outubro, nossos agradecimentos. (O quê? quer dizer que o simulacro de empastelamento
foi só um golpe publicitário? para angariar novos assinantes?).
«O Democrata», de Itapetininga, serviu-se da noticia mentirosa do «15 de Novembro», cujo
redactor tem o rabo na ratoeira e, assim, não pôde dar á publicidade o caso como foi.
A nossa folha tem clamado contra a politica local porque isso é necessario; tem clamado contra a
policia porque esta ampara a jogatina; recebe franca collaboração e ninguem ousou vir defendel-os;
tornem-se elles servidores leaes do povo e seremos nós os primeiros a elogial-os.
Os que atacámos, á meia noite, nos responderam á ferro e fogo.
(c).

Mais um...
Os governistas de Sorocaba acabam de dar má copia de si. Não podendo com vantagem contestar
as verdades que o orgam opposicionista local tem trazido a publico, sobre o desbarato dos dinheiros do
povo, lançaram mão de uma violencia inqualificavel e muito propria de sicarios: destruir a typographia do
«Cruzeiro do Sul», jornal que, nascido outro dia, tem já conquistado muitas sympathias do civilisado
povo sorocabano.
Infelizmente a redacção do prezado collega foi destruida pelos vandalos. A typographia, porém,
ficou intacta porque, guarnecida de companheiros leaes, resistiram briosamente á invasão dos barbaros!
A politica tacanha, vesga e impopular que ha tempos infelicita a belissima cidade industrial não
quer que os seus actos sejam discutidos; não consente que cidadãos honestos partilhem do poder que
abocanharam para si e julgam-n’o seus possuidores perpetuos.
O egoismo e a falta de civilidade, não diremos do povo sorocabano, porque este repugna os
mandões actuaes, mas de individuos perversos e que talvez não nascessem debaixo deste explendiddo céo
americano, determinaram a selvageria que toda a imprensa do Estado profligou.
Não procuramos agora saber que motivos tiveram os assaltantes para assim proceder, porque
sejam elles quaes forem, a lei sempre previdente, estabelece penalidades para os que claudicam, para os
que se exorbitam nas suas attribuições.
O que é incontestavel é que o anomalo facto de Sorocaba deixou plenamente evidente uma
cousa: o receio de que certas verdades venham a publico, verdades que facilmente podiam alijar do
mando certos individuos que não primam pela honestidade.
Solidarios com os destemidos collegas do «Cruzeiro do Sul», batemos a violencia de que foram
victimas e garantimos-lhes o nosso apoio na defesa sagrada da liberdade do pensamento.
(Do Republica de Ytú).

Uma victima
Realisou-se o recolhimento ao corpo a que pertence do alferes commandante do destacamento
desta cidade, Francisco Eleuterio de Camargo.
Não obstante o seu procedimento manifestado de interesse a um acto reprovado e criminoso aqui
praticado, por pessoas que, entre ellas, algumas aliciadas de sua plena responsabilidade, teve patronos,
que procuram encobrir a verdade manifesta, dando-lhe uma luz divergente, como causa primordial do seu
recolhimento.
Bem prova a sua falta de raciocinio, deixando-se elevar (não seria levar?) por uma mal
entendida firmeza, abusando de sua posição de mantenedor da ordem publica, para se nivelar com esses
que assaltaram, com fins sinistros, um predio habitado por não pequena familia.
Não teve elle o raciocinio preciso para medir o terreno vasto de sua responsabilidade e o alcance
ha muito premeditado de opacidade a quem de direito tem a luz em suas mãos!
O tempo mostrará esta verdade, porque nem sempre serão trevas e os factos se desenrolam tão
manifestamente que só os beocios não poderão comprehender.
O presente facto demonstra claramente, pelas personagens adrede escolhidas pelos interessados,
na solução de um plano, á trazer outra esphera de luz que satisfaça claramente a vaidade e ambição de um
campo que seja occupado somente pelos famigerados.
Nós teremos a força sufficiente de repulsão.
Prova mais esta nossa asserção, quando vemos no auge do desespero, por uma victoria no ponto
principal da destruição, uma voz que faz reanimar as forças dos assaltantes, quasi desfallecidos.
Vimos claramente os apregoadores de bullas falsas annunciando auctoria individual, sem que á
consciencia lhes péze tanta falsidade, porque esses são os elementos que formam a base desse idolo que
suppõem poder levantar.
Basta!
Contemplemos agora a sorte da victima, que a ambição de melhoria de posto arrastou para traz.
KYW.

Policia
Por ordem do dr. Chefe de Policia foi recolhido á capital o alferes Francisco Eleuterio de
Camargo e, para substituil-o, foi nomeado o alferes sr. Viriato Ferreira de Moura, que tem no livro mestre
do batalhão uma fé de officio limpa.
Um bravo ao dr. Antonio de Godoy.

Ordens menores
No dia 8 do corrente o nosso conterraneo Arnaldo Pereira recebeu as ordens menores.
Muitos parabens a si e a sua exma. familia, desejando que muito breve seja realisado o feliz
desejo de seus paes.

Theatro
A Companhia Dramatica dirigida pelos actores Henrique Duarte e Arthur Azevedo (será que é
aquele?) dará no sabbado, 14 do corrente, mais um variado espectaculo, sendo seu programma o seguinte:
Comedia Velhos Gaiteiros, Quincas Teixeira e Dueto de Nitouche.
O espectaculo realisa-se no salão da S. B. P. Vasco da Gama.

Jury
Por falta de numero legal, ou não havendo casa, foi transferida a sessão do dia 9 para hontem, em
que entrou em julgamento pela terceira vez o reu J. Francisco de Leme, por crime de homicidio na pessoa
de seu irmão, por causa de uma mulher mundana.
Foi defendido pelo sr. Arthur Gomes que, em termos breves, claros e correctos, desenvolveu
uma brilhante defesa, não obstante haver accusação particular. (E daí? Condenado ou absolvido?).
Hoje entrará em julgamento Benedicto Alvares Barbosa e nas Sessões seguintes Alfredo Pires
(negritei) e João Leme.

Para constar
O Panamá acaba de proclamar a sua independencia. O movimento foi pacifico. Essa
independencia activou o rompimento de relações entre a Columbia e os Estados Unidos, provocado
pelas obras do canal.
Foi transferido para o bispado de S. Paulo, o bispo de Coritiba, d. José de Camargo Barros e
foi nomeado o conego Duarte Leopoldo e Silva, vigario de Santa Cecilia, para bispo de Coritiba.
Os moradores de Cotia ameaçam expulsar os colonos de M’Boy. O dr. Pinheiro e Prado seguiu
para lá, afim de manter a ordem.
Foi apenas regular a afluência do público na estréia do Circo de Touros, de Francisco Gálvez.
O vigário de Itapetininga, Padre João Cecere, escreveu um livoro: «Questões Vitais».

Sb 14/11/1903

15 de Novembro
Amanhã inicia a Republica o seu decimo quinto anno de existencia e, mais debil que em 1899,
vae singrando os mares do futuro, luctando contra parceis e arrecifes.
Encalhou num banco de areia – o cambio a 5 – mas dextros marinheiros a fizeram proseguir.
Vendavaes medonhos ameaçaravam a barca da Patria-Republica. A revolta de 6 de setembro de
1893, ilha da da Trindade, Missões, Amapá, Canudos, foram as mais fortes borrascas que, em vão,
tentaram sossobrar a debil barca.
Transcrevemos do «Diario de Sorocaba» de 15 de Novembro de 1890 o artigo sobre a grandiosa
data:
«Salve, mil vezes, salve, si a tua aurora brilhante surgiu para o futuro da patria brazileira cheia
de esplendores de um dia que tinha de marcar para sempre uma data grandiosa nos destinos de um povo,
que começava a viver.
Foste o marco dessa lucta titanica entre o direito e a força, a inercia e a iniciativa e irrompeste
encorajando com teu sol brilhante de liberdade os nobres batalhadores dessa cruzada augusta, que desde
então se impozeram a tarefa de reorganisar a patria, estabelecendo o verdadeiro regimen do trabalho e da
democracia no seio do povo brazileiro, concitando-o por leis suasivas, e recompensas magnanimas a
aentrar numa nova era de prosperidade, aproveitando os fartos elementos de que dispunhamos!
Povo! Brazileiro! cumpre-vos agora a tarefa de honrar o dia em que vista baquear o ultimo
throno no Continente Americano! e com elle as oppressoras instituições que tanto compromettiam o
vosso futuro.
Cumpre sim! ha um anno que a Republica tomou a si a reorganisação da patria; essa tarefa
grandiosa, e ella contou e conta comvosco, para estabelecimento de novo regimen de trabalho, da
liberdade e da fraternisação dos povos americanos; do trabalho que nobilitando o homem pela energia do
genio e da vontade, viesse estabelecer uma vida inteiramente nova em paiz onde sobravam elementos e
faltava autonomia: da liberdade que, derivada da comprehensão desse grandioso beneficio, convertesse-o
em bem da sociedade nova e do individuo que se tornasse digno de gosal-a; da fraternisação dos povos
americanos, essa, originada do consorcio do trabalho e da liberdade, consistindo na mutua
correspondencias e troca de productos de susa industria e trabalho.
A Republica tem procurado chegar a esse ponto e não a tendes ajudado.
Não quer impôr leis que vos opprimam, mas quer muito patriotismo em proveito exclusivamente
vosso que sois um operario della.
E’ tempo ainda. O presente não é responsavel pelo futuro (???),
Ergamo-nos, pois, pelo trabalho e atiremos com razão á todos os ventos, este brado patriotico,
que deve partir unisono do legitimo coração brazileiro:
Salve, duas vezes, 89!»
Esse brado cheio de patriotismo, tem até agora tido um desmentido, as esperanças de então têm
baqueado no meio de desenganos. «A Republica tem procurado chegar a esse ponto e não a tendes
ajudado».
Brazileiros! que fazeis, que não vindes amparar a patria? Uní-vos todos e, quando souberdes os
verdadeiros direitos e deveres do cidadão republicano, levareis a Patria-Republica ao apogeo da
civilisação.
Irá o Brasil, de mãos dadas com as potencias poderosas, dictando leis e enchendo o mundo com
productos de sua industria.
Então calar-se-ão os desgostosos do novo regimen e teremos a republica sonhada dos
propagandistas.
Mas é necessario que vós Brazileiros, comprehendaes o que seja o DEVER. E’ necessario que
não vos entregueis, na urna ou nos assaltos a meia noite, ao mando de novos Regulos!
Salve 15 de Novembro!

Sem epígrafe
Pedimos aos nossos assignantes que ainda não pagaam suas assignaturas o favor de o fazerem
com a maxima brevidade.
Todos conhecem as grandes difficuldades com que lucta um jornal no primeiro anno de sua
existencia e a vista das sympathias que o Cruzeiro do Sul tem conquistado do publico esperamos que o
nosso appello seja attendido com urgencia pelo que agradecemos.
Os nossos assignantes de fóra poderão enviar-nos a importancia de suas assignaturas pelo
correio, descontando o porte das mesmas.

Jury
No dia 11 entrou em julgamento o réu Benedito Alvares Barbosa, accusado de homicidio. Foi
accusado pelo dr. Braga e defendido pelo dr. Nogueira Martins.
O conselho de sentença absolveu-o, sendo porém, appelado para o Tribunal de Justiça.
No dia 12 foi julgado Alfredo Pires, por crime de homicidio.
Occupou a cadeira da promotoria o sr. professor João Vieira de Campos e a de defeza o dr.
Braga, sendo o reu absolvido.
Hontem entrou em julgamento João Leme, sendo accusador Vieira Campos e defendido pelo sr.
Antonio de Oliveira. Foi absolvido.
Com este processo encerrou-se a ultima sessão deste anno.

Club Progresso
A illustre Directoria desta sympathica associação, communicam-nos (sic) que, festejando a data
da proclamação da Republica, fará amanha ás 8 horas da manhã uma passeata de cyclistas, partindo do
largo da Matriz e percorrendo diversas ruas.
Ao meio dia, realizará o seguinte programma de corridas:
Partida: Largo da Matriz.
Itenerario: Rua de S. Bento, Dr. Arthur Martins, Frei Barauna, Cesario Motta, Moreira Cesar,
Floriano Peixoto, Monsenhor João Soares e Ponte.
Velocidade: Esquina da rua Brigadeiro Raphael Tobias e S. Bento.
Chegada: Gabinete de Leitura.

Registro Civil
Obitos
Districto do Rosario. Dia 2: Carlos, 10 dias, atrophia; Olivia, 7 annos, anemia. Dia 4: Antonio de
Queiroz, 30 annos, casado, tuberculose pulmonal. Dia 5: Angelo Coló, casado, 39 annos, hemorrhagia
intertoraxica produzida por projectil de arma de fogo; Augusto Avelino, casado, 28 annos, infecção
purulenta devido a queimaduras; Affonso Mascarenhas Carvalho, 32 annos, tuberculose pulmonal;
Bendicto Mendes, 18 mezes, athrepsia. Dia 6: Leocádia Maria Andrade, viuva, 51 annos, lesão dupla do
coração. Dia 10: Antonio Joaquim Luiz, casado, 60 annos, tuberculose pulmonal.
Districto da Ponte. Outubro 27: Albertina Bertoni, 7 annos, gastro interite. Dia 7 de Novembro:
Benedicta Maria de Jesus, 60 annos, insufficiencia mitral; Romilda Lucchesi, 2 mezes, atrophia; Maria J.
da Cruz, 6 mezes, gastro interite.
CEMITERIO DO SALTO
Foram sepultados os seguintes cadavers de 15 de Julho até hoje: Antonia de Oliveira, poucos
dias de vida, inanição; Justina Maria, solteira, 50 annos, aneurisma; Belarmino Vieira, 8 mezes, gastro
interite; Bento Ferraz, 6 mezes, gastro interite; Bento Manoel Alves, lavrador, casado, 50 annos, febre
renittente; Braz Paulo de Almeida, 80 annos, hydropesia; Antonia Maria de Jesus, viuva, 48 annos,
aneurisma; Maria das Dores, 3 e meio annos, filha de João da Silva Netto, gastro enterite; Maria Antonia
de Cerqueira Cesar, 2 e meio annos, filha de José Cerqueira Cesar, gastro enterite.
NASCIMENTOS
Districto do Rosario. Dia 2: José, filho de Queiroz da Silva Mello. Dia 4: Francisco, filho de
Samuel Pinto. Dia 5: Chrispim, filho de Francisco de Paula Souza. Dia 6: Rosa, filha de Narignani
Mariano. Dia 9: Theodora Stella, filha de Serafim Perez Damini; Francisca, filha de Narciso Eugenio da
Silva; Lazara, filha de Gaucencio Nogueira. Dia 10: Antonio, filho de Luiz Victorino Francisco; Herzira,
filha de Manoel Jorge; José Barbosa, filho de Agostinho Augusto Barbosa; Angelina, nascida a 9 de
novembro, filha de Antonio Bueno da Silveira.
Districto da Ponte. Outubro 24: Maria José; filha de Pedro Alves Lenne. Dia 25: Luiz, filho de
Joaquim Alexandre de Oliveira. Dia 26, Raphaela, filha de Maria Joanna Romão. Dia 29: Antonio, filho
de Manoel Chrispim de Jesus. Novembro 2: Antonio, filho de Americo Caetano Ferraz. Dia 3: Dorwal,
filho de Cicero Rodrigues Costa. Dia 6: Carma, filha de Benedicto Bonifacio Ribeiro.
CASAMENTO
Districto da Ponte. Acham-se affixados neste cartorio os seguintes proclamas de casamento:
Antonio Decimoni e Guilhermina Appolonia – italianos. Ernesto Basto e Liberata de Queiroz Cardoso –
brazileiros.

Novo bispo
O Exmo. D. José de Camargo Barros, Bispo do Paraná, ora removido para esta diocese, é natural
de Itú e passou os primeiros annos de sua infancia nesta cidade (Sorocaba); aqui aprendeu as primeiras
letras, foi seu mestre o velho professor sr. Venancio José Fontoura de quem é s. Exc. dedicado amigo.
Daqui foi para o Seminario Episcopal de S. Paulo onde iniciou sua brilhante carreira ecclesiastica.

A Imprensa e nós
«O Tempo», de Faxina, transcreveu a noticia que demos no dia 31 de Outubro.
«O Correio do Sul», de Pirajú lastima o facto e termina assim a noticia:
«E’ realmente de lastimar-se que, numa cidade como Sorocaba, cujos destinos politicos se acham
confiados á direcção criteriosa do dr. Nogueira Martins, paixões inconfessaveis dessem aza a taes scenas
de vandalismo».
«O Trabalho», de Jacarahy, publicou o seguinte em seu numero do dia 12:
««O Cruzeiro do Sul», orgam republicano de Sorocaba, foi victima de um assalto, contra o qual
levantamos o nosso brado de protesto, collocando-nos ao lado do illustre collega. E’ preciso que o
Governo se mostre energico e imparcial, decidido deveras a fazer sentir que será inexoravel contra todos
aquelles que, covardes, valentes só quando com as costas quentes, tentam abafar a voz da imprensa que
sabe profligar com altivez os seus crimes; é preciso que o actual Governo, desviando-se dos caminhos
tortuosos dos que se celebrizaram como conniventes na destruição de jornaes neste Estado, faça saber lá
fora que aqui a liberdade da manifestação do pensamento é uma verdade.
Os governos que temem as criticas de seus actos, como o do triste periodo presidencial da
Republica de 94-98, em que se destruiram muitas officinas typographicas; fracos na opinião publica,
praticam attentados dessa ordem, mas vão para as paginas da historia cobertos de maldições.»
Nossos agradecimentos aos collegas.

Para constar
Gamaliel de Almeida é o chefe das officinas do “Cruzeiro do Sul”. Joaquim Firmiano de
Camargo Pires é o redactor responsável.
O bacharel José Pereira da Silva Barros pediu sua remoção para a capital.
Nasceu o primogênito de Olympio Cozzetti.
O jornal se apresenta com novo cabeçalho, obra de Gamaliel de Almeida, chefe das oficinas.

Qa 18/11/1903

Um appello
A nossa posição se reveste hoje de um sentimento, que traduz a realidade de um caminho
escabroso na ordem o progresso á nossa cidade, porque se encaminham os factos mais deprimentes, na
ordem do bem estar e garantia á propriedade e familia.
O facto da tentativa de empastelamento do «Cruzeiro» e incendio na propriedade, vem
claramente firmar o nosso modo de pensar.
Lamentamos que esse facto viesse a ser julgado de pouca importancia ao sr. dr. Luiz Nogueira
Martins, chefe politico, que sem razão assim o julgue, quando é certo, peza á elle sua acção moral.
Avançamos em pensar deste modo, porque sabe a fundo os envolvidos nesse attentado, que estão
sob a sua influencia politica.
Não é motivo justificativo o termos ante posto a direcção mal encaminhada do poder municipal,
porque neste ponto cumprimos um dever de zelo aos interesses publicos; não levando por este motivo o
seu interesse por um facto, que traz para si a responsabilidade moral e o derrocamento do conceito que
goza, pondo-o ao novel dos incendiarios e assaltantes á propriedade alheia.
E’ bem de veer que um facto desta ordem reclama certo desabafo ao publico, mostrando por
actos a limpeza de sua responsabilidade, não visando solidariedade.
O acto inicial que lançou mão de uma stegomyia fascista, é uma esperança de que deseja o
ambiente que o rodeia, se eleve na sua verdadeira pureza e assim deverá proseguir antes que outros que o
circulam venham produzir um mal incuravel.
UM SOROCABANO.

Sem epígrafe
Quem viajou ha um anno na Sorocabana e agora torna a viajar, não póde deixar de apreciar os
beneficos serviços do actual superintendente, dr. Alfredo Maia.
Elle tudo reforma: aqui pinta, alli desmancha e reedifica, por toda a parte melhora tudo e tudo
embelleza.
Raro é o trem que chega cinco minutos fóra do horario. E desastres, encontros de trem?... isso
tudo foi abolido, agora não póde mais haver desastres.

Club Progresso
As corridas realisadas no dia 15 do corrente, estiveram imponentes.
O Largo da Matriz apresentava um aspecto encantador e bastante accentuado era o movimento
de transeuntes em todas as ruas por onde tinham de passar os corredores.
A Directoria, tendo quatro pareos constituidos, viu-se obrigada a organisar mais tres em virtude
dos insistentes pedidos que recebia dos corredores.
A festa inaugural do “Club Progresso” é uma esperança que animará a prosseguir na luminosa
trilha que em boa hora encetou.
Os pareos foram bem disputados e agradaram os enthusiasticos espectadores que davam os seus
applausos aos destimidos vencedores. (Quem foram esses vencedores?).

Nova Pharmacia
O sr. Domingos Robilotta abriu nesta cidade uma pharmacia, filiar (sic) da sua em Rio Claro.
Desejamos-lhe muita prosperidade e, para o annuncio que vae na sessão competente dessa folha,
chamamos a attenção dos nossos amaveis leitores.

La Voz de España
Recebemos o n. 180 deste apreciado jornal, orgam da colonia Hespanhola que se publica na
Capital do Estado.
Agradecemos ao bondoso collega, bem como ao seu correspondente nesta cidade, as phrases de
censura contra os actos de selvageria e barbarismo praticado contra a nossa folha.
Ainda bem que quasi toda a imrensa do Estado, inclusive extrangeiras, sabem censurar o
vandalismo praticado por alguns sicarios (ja bem conhecidos) que tentaram manchar as tradições
honrosas do brioso povo sorocabano.

Melhoramentos na Sorocabana
Consta que a Companhia pretende alterar o horario, diminuindo duas horas o trajecto de trens de
passageiros.
Consta mais que vae ser creado um rapido, alem do expresso, e que vae haver reducção nos
preços das passagens. (Não encontrei notícia da concretização).

Novo professor
Formou-se na Escola Normal o nosso conterraneo sr. José Rizzo, filho de nosso amigo Angelo
Rizzo.
Parabens.

Hospede
Esteve entre nós e deu-nos a honra de sua visita o nosso conterraneo sr. Enéas de Barros, que
veio á esta cidade visitar a sua familia.
O sr. Enéas reside na Capital do Estado onde está complementando os preparatorios para
matricular-se na Escola de Medicina do Rio de Janeiro.
Gratos.

Para constar
No dia 13 faleceu Antonio Dias de Oliveira, casado com Donária da Silveira Dias. Era genro de
Ana Luiza de Sousa da Silveira; era pai de Elisa, Ana, Ernâni, Luiz e Antonio. Morreu por causa de uma
cirrose hipotrópica do fígado, aos 42 anos de idade.
Nas touradas de domingo passado, o toireador Manuel dos Santos tentou pegar um dos bois à
unha e se deu mal: levou tremenda marrada e teve que ser carregado para fora da arena. Mas, passa
bem o paspalhão.

Sb 21/11/1903

Serigote
Muito interessante a origem da palavra serigote.
O serigote é um arreio tosco, muito usado pelos peões brazileiros, especialmente pelos do sul.
Parece-nse em tudo com o socado, com a differença que este tem a armação de páo e aquelle de ferro.
Como origem da palavra conta-se o seguinte caso:
Estabeleceu-se numa villota das campanhas rio-grandenses um ferreiro allemão. Industrioso e
emprehendedor, começou a fazer de ferro armações para socados.
A freguezia aumentava-se-lhe diariamente e todos querendo saber o nome do socado de ferro
perguntavam:
-- Que nome tem isto?
-- Sehr gut! (muito bom) respondia o mestre ferreiro, que não comprehendia o portuguez.
-- Zerigute! E logo a fama das vantagens do zerigute sobre o socado era proclamada a uma voz.

-- O sr. tem zerigute


-- Oh! Oh! sehr gut! barrata!
O freguez não entendia o muito bom do allemão e este ainda menos comprehendia a pergunta
daquelle.
Vinha outro e perguntava a mesma coisa e a custa de tanto repetirem a palavra transformaram
sehr gut em zerigota e depois fizeram della o serigote.
AMALIA

Registo Civil
NASCIMENTOS
Districto da Ponte. Dia 15: Ruben, filho de Olympio Cozzetti; dia 16: Maria, filha de Romão
Luiz de Oliveira; dia 17: Assuntina, filha de Miguel Gallucci; Francisco, filho de Francisco Firmo; dia 19:
Pedro, filho de Eugenio Rosa.
Districto do Rosario. Dia 12, Antonia, filha de Antonio Gonçalves de Athayde; Graziela, filha de
Felicio Ballareli, dia 14: antonio, filho de Vicente Pransano; Tristão, filho de Ristão de Oliveira Rosa; dia
16: Pedro Antonio, filho de João Picoloto; Hermelina Eugenia, filha de Joaquim Martins; dia 17: Maria
Francisca, filha de João Lourenço Pinto; Benedicta, filha de Marcellino de Almeida; dia 19: Pedro, filho
de Jacob Fregoni; Joaquim Francisco da Silva, filho de Euzebio Angelo da Silva; Edweges, filho de
Quirino Izidoro; Durvbal, filho de João Batista Ferreira.
CASAMENTOS
Proclamas affixados do Districto da Ponte. Ernesto Bastos com d. Liberata Queiroz Cardoso,
brazileiros; Olympio Guilherme da Rocha com d. Jovina Zilda de Campos; brazileiros; Antonio de Padua
com d. Juliana Rodrigues, brazileiros; Firmino Cezar com d. Emilia Pinto da Fonseca, brazileiros.
No Districto do Rosario, Abilio Soares da Rosa com d. Maria Rita de Oliveira; Mariano Soares
de Campos com d. Virgilina Soares da Rosa
OBITOS
Districto da Ponte. Dia 13: Antonio Dias de Oliveira, 42 annos, casado, cirrhose hypotrophica do fígado;
dia 15 José, 7 mezes, filho de Francisco Corrêa da Costa, gastro-enterite; Dia 17: Bento Lopes, 70 annos, viuvo,
lesão dupla do coração; dia 19: José, 7 mezes, filho de João A. Oliveira Sobrinho, dissenteria; dia 20:
Ruben, 9 dias, filho de Olympio Cozzetti, athrepsia; João Luiz do Espirito Santo, 60 annos, lavrador,
viuvo, rheumatismo.
Districto do Rosario. Dia 10: Alvaro, filho de Eduardo Senger, 8 mezes, meningite; dia 13:
Domingos Monteiro, 50 annos, viuvo, insufficiencia mitral; dia 16: Maria Francisca, meia hora, fraqueza
congenita; Ramiro Peinado, 47 annos, tuberculose pulmonar, na Santa Casa; dia 18: Jeronymo de
Oliveira, 70 annos, viuvo, lesão cardiaca; dia 19: Antonio Joaquim Pinto, natural de S. Roque,
hemorrhagia central.

Animal roubado
Foi roubado na noite do dia 12 do corrente, do pasto lavapés, rua S. Paulo 67, um burro ruano
marilico, colla e crina branqueada, corpolento, barrigudo, lerdo, com signaes de coalheiras e arreio, meio
cabano, uma cicatriz na canella, marca Raio do lado de montar.
Penhoradissimo a quem se dignar noticiar ao abaixo assignado.
Benedicto Nascimento
Rua S. Paulo, 100 – Sorocaba.
20 de Novembro de 1903.

Para constar
Que pena! Faleceu o primogênito de Olympio Cozzetti.
O seminarista Arnaldo Pereira está na cidade.

Qa 25/11/1903

Ficarão impunes?
É passado quasi um mez, que os bandidos infames, arrombadores e incendiarios, tentaram contra
a redacção desta folha e o predio onde funcciona a mesma, e no emtanto guarda-se sigillo absoluto contra
os reprobos que na opinião publica deviam estar recebendo a verdadeira punição da lei.
Que é do relatorio policial: que é da formação da culpa contrta os envolvidos nesta infamia? Os
culpados passeiam impunes pelas ruas da cidade! Nunca se viu semelhante audacia. Tentam empastelar o
«Cruzeiro», incendiar um predio em pleno regimen republicano.
E donde foi que rompeu o primeiro viva a republica:
Foi justamente num edificio que malvados tentaram incendiar.
Onde com maior sacrifico e desinteresse tanto se trabalhou a favor da ideia republicana?
Foi ainda nesse edificio, nenhum sorocabano o póde negar.
Alem dos motivos acima referidos, os quaes temos obrigação de respeital-os, accresce mais que,
embora sejamos hoje republicanos, aquelle edificio tradicional merece para nós os sorocabanos, o maior
acataamento e respeito, porque foi alli honrosamente hospedado, por varias vezes, o grande brazileiro,
cujas virtudes não podemos deixar de venerar.
Mas um consolo nos resta: é que não existe nenhum republicano historico dirigindo os destinos
politicos do municipio, e nunca, em tempo algum, a população se viu tão sobressaltada e descontente...
Nunca se praticou tantos e tão intoleraveis abusos!
Isto não póde continuar.
A sociedade precisa ser desafrontada: é necessario dar satisfação, que o caso exige, com severa
punição dos culpados.
Diante de tantas razões, precizamos ainda de um advogado? Não está informado de tudo o Exm.
Juiz de Direito desta cidade?
Esperamos, pois, de sua independencia de caracter promptas e energicas providencias para o
andamento do processo.
Ao dr. Luiz Nogueira Martins, chefe politico, mais uma vez lhe fazemos lembrar que pesa sobre
seus hombros grande responsabilidade moral.
Não estão os culpados sob a sua acção moral? Esta é a pergunta que faz o povo sorocabano por
nosso intermedio.
Ser politico não lhe impede a punição de incendiarios e arrombadores, ao contrario, lhe dá força
e prestigio.
Mostre pois a sua influencia politica punindo os culpados.

Systema Lichtenfels
Com prazer transcrevemos para as nossas columnas o artigo seguinte do «Jornal do
Commercio», do Rio.
«Realizou-se hontem (20), á 1 hora da tarde, achando-se presente toda a Directoria da Estrada
de Ferro Central do Brazil, varios engenheiros, muitos cavalheiros e representantes da imprensa, na linha
do Jockey-Club, a experiencia definitiva dos apparelhos do invento dos Srs. Bernardo Lichtenfels Senior &
Junior, para evitar choques de trens e fazer illuminação electrica, aviso, signaes, etc.
A experiencia deu bom resultado, tendo sido os inventores auxiliados pelo Sr. Dr. Osorio de
Almeida e Sub-Directores da Estrada de Ferro.
Logo que a Directoria da Central chegou ao lugar, o Dr. Osorio de Almeida deu ordem para que
fosse dado começo as experiencias. A machina n. 258 collocou-se em frente da machina n. 145 em uma
distancia de 600 metros. O carro da inspecção da Directoria achava-se junto á machina 258, cujo
machinista transmittio, pelo telephone, que se acha fixado nas machinas, ao machinista da locomotiva n.
258 (não seria da 145?) a ordem do Sr. Director de se approximar com toda a velocidade á outra, o que
foi obedecido, andando a respectiva locomotiva uns 30 metros e parando automaticamente.
Em seguida realisou-se nova manobra, ordenando o Dr. Osorio de Almeida que ambas as
locomotivas corressem uma contra a outra. Dado o signal, partirão ellas, parando ambas depois de
identico percurso. Esta manobra foi repetida sempre com igual successo.
Para terminar, os inventores inutilisarão o apparelho da machina 238 e o successo repetiu-se,
pois que esta locomotiva, tendo ordem de seguir, parou poucos metros adiante, visto a de n. 145 vir de
encontro a ella.
O Dr. Osorio de Almeida, dando-se por satisfeito, deu por findas as experiencias, que foram
unanimemente applaudidas pelos circumstantes, que se retirárão satisfeitos por caber ao Brazil a
realização de mais um invento de grande valor no serviço de segurança nas estradas de ferro.
O systema Lichtenfels não consiste somente nos apparelhos para evitar choques de trens, possue
outros para illuminação electrica dos carros em movimento, aviso nas respectivas estações do percurso
feito por qualquer locomotiva em viagem, por meio de um relogio marcador de kilometros, tendo ainda a
vantagem dos machinistas ou chefes de trens poderem-se communicar como hontem o fizeram
telephonicamente entre si e com as estações e em caso de urgente necessidade o agente de qualquer das
duas estações entre as quaes trafegar um trem poderá, por meio de uma manivella, fazer paral-o,
independente da vontade do machinista.
A installação dos apparelhos dos quaes os inventores tirárão patente sobre o nome «Systema
Lichtenfels» foi feita provisoriamente, tendo a casa Siemen & Halske gentilmente cedido dous dynamos
que funccionárão perfeitamente.
E’ provavel que se realize novas experiencias a pedido de muitos engenheiros».

Liga operaria
Alguns operarios sorocabanos, conscios da força da união, convocam, para domingo proximo,
uma reunião com o fim de se organisar uma liga no operariado desta cidade.
Conseguindo esse ideal só o bem advirá disso. (A reunião foi marcada para o meio dia de 29, na
igreja de São Bento).

Para constar
O promotor publico da comarca, Dr. Armando de Barros, já voltou da licença.
O Dr. Deodato de Moraes, cirurgião dentista, pretende fixar-se em Sorocaba.

Sb 28/11/1903

Impostos municipaes
Tem sido publicado pelo «15 de Novembro» as notas para o lançamento de impostos de
industrias e profissões e por ella se vê que, com justa razão, o publico se acha offendido em seus direitos
de negociantes e industriaes.
Os valores por que são elles taxados são completamente vexatorios, e isto notando-se um
accrescimo annual que, pelos modos sem criterio feitos, póde muito em breve a Camara chamar a si os
rendimentos dos negociantes, deixando-os na mais pura miseria.
Conhecemos negociantes que dão graças em venderem diariamente alguns vintens, que mal dão
para a sua subsistencia e já não fallamos do necessario para pagamentos de impostos e seus
compromissos, resultando desse estado, a sua ruina, sem meios de poder sortir o seu negocio.
Em vista da apreciação que temos do máo estado de uma crise desfavoravel para o commercio e
para o pobre operario, que vive de seu trabalho, éra de equidade da parte da Camara toda a sua attenção
no sentido de alivial-os de um compromisso tão elevado.
Não está longe de nós a lembrança dos revezes por que passou esta cidade, que até hoje os seus
habitantes não puderam recuperar as forças perdidas, continuando a miseria e o vexame por falta de
recursos.
No estado em que se acham as taxas para o lançamento de industrias e profissão é melhor o
negociante fechar a sua porta para mais tarde não ter o desgosto de uma intimação aspera e exigente,
porque de prompto e no seu tempo proprio seria impossivel um pagamento elevado em relação ao seu
negocio.
Seria justa equidade que a Camara attendesse de modo a não sobrecarregar o povo, ao menos por
algum tempo, em vista dos sacrificios por que tem passado ultimamente, obrigados por uma despeza não
pequena da ligação de agua e exgotto para suas habitações.
O povo acha-se exhausto de recursos. É dever da Camara rever o actual lançamento, fazendo
concessões que a justiça permitte, para assim pol-os acobertados dos vexames a que estão sujeitos.

Mudança
Mudou-se para S. Paulo o nosso amigo sr. José Gaspar Martins.
Agradecendo a attenção da despedida, desejamos que seja muito feliz em sua nova residencia.

Grupo Escolar
Encerrou-se no dia 26 as aulas do grupo escolar desta cidade, devendo reabrir-se em Fevereiro
vindouro.
Os trabalhos dos alumnos já estão em exposição nas salas do Gabinete de Leitura.

Eleições
Hontem reuniram-se os Juizes de Paz do 1º e 2º districtos agim de comporem as mesas para a
eleição do dia 1º, sem anteceder a isso o edital de convocação dos Juizes de Paz e seus immediatos em
votos, quando a lei providencia sobre esta regularidade e ainda mais, sendo feita estta reunião cinco dias
antes, quando a lei marca tres.
Em vista da formal irregularidade torna-se a eleição a que se vae proceder nulla por sua natureza.
Este facto não é mais do que a pretenção do trabalho ser feito a seu bel prazer.
Havemos de ver isso!

Encanamento
Consta-nos que o sr. Tavares, muito digno vereador da actual Camara Municipal, passou para a
sua padaria o encanamento de agua de seu visinho.
Sabemos mais que o sr. intendente já se intendeu com o mesmo vereador a respeito, mas não
sabemos em que ficou, se continua ou não; em todo o caso é bom que o publico fique sabendo que bom
corte de zelador dos interesses municipaes!

460!
Trinta arrobas e dez kilos tal é o pezo de um boi que foi abatido hontem no matadouro desta
cidade.

Registro Civil
NASCIMENTOS
Districto do Rosario. Dia 20: Achilles, filho de Lauriano de Paula Cardoso; Feto, filho de Maria
de Oliveira; dia 15: Clemente, filho de Joaquim Fogaça de Almeida; dia 27: Antonio, filo de Martiello
Virgilio, Victor, filho de Anna Mauricio de Almeida.
OBITOS
Districto do Rosario. Dia 20: Ozias, 1 mez, filho de Christiano Luiz Vieira, gastrite; Feto, seco
masculino, filho de Maria de Oliveira, nasceu morto; dia 22: Serafim, 10 dias, filho de Narciso Batista,
natural desta; dia 21: Eurico, 15 mezes, filho de Antonio Dias Ribeiro, gastro entero colite; Caetana
Sorrentino, casada, lesão cardiaca; dia 23: Ottilia, 6 mezes, filha de Antonio de Souza, natural desta,
gastro enterite; dia 27: Herculano, 14 mezes, filho de Evaristo de Castro Ferreira, natural de Pyramboia,
entero colite aguda.
CASAMENTOS
Districto do Rosario. Porphirio Pinheiro de Camargo e Maria Lopes de Oliveira; Antonio
Antunes Mendes e Marcolina Clara de Jesus.

Convite
A commissão encarregada de re-organizar a sociedade «Liga Operaria Sorocabana» convida a
todos os operarios e artistas Brazileiros á uma assembléa geral, que se realisará domingo 29 do corrente,
ao meio dia, na Egreja de S. Bento.
Pede-se o comparecimento de todos.
Sorocaba, 24 de Nov. 1903.
A Commissão.

Para constar
O Club Progresso pretende arrendar o Velódromo.
O Dr. Amâncio de Carvalho, da Capital, inventou um processo de embalsamamento de cadáver,
feito por injeções hipodérmicas que conservam as vísceras do morto. Só não revelou a substância usada
nessas injeções.
«O Baluarte» é periódico que acaba de vir a lume em Campinas. Orgão do Centro Literário dos
Homens de Cor, trata dos interesses da classe.
Diversos assinantes do «Cruzeiro» estão reclamando não estarem recebendo o jornal. A
redação estranha o fato e diz que tem sido pontual na remessa, mas, não fala em reposição.
J. A. Gonçalves está indo embora. Transferiu seu estoque de materiais de águas e esgotos para
Francisco Scarpa & Filho.

Qa 2/12/1903

Exposição de S. Luiz
Dentro de poucos mezes realizar-se-á, nos EE. UU. do Norte, o grande certamen – a exposição
universal.
Lá terá o viajante occasião de observar productos da arte, industria, commercio e da natureza de
todo o orbe. Verá a par dos grandes machinismos pequenos objectos. Visitará nação por nação ali
representada e, entre ellas, encontrará tambem o Brasil.
O governo brasileiro não tem poupado esforços para fazer que a representação da terra do
Cruzeiro seja digna e chame a attenção universal.
Em todas as cidades paulistas já se soltou o grito de enthusiasmo: Concorramos com o producto
do nosso trabalho á grande exposição!
E concorrem todas para que a patria obtenha no concurso os muitos louros que merece.
ooo
E tu, oh povo sorocabano, que fazes nesse sentido?
Parece-nos que já vemos os marmores do Itupararanga e mais productos mineraes attrahindo a
attenção dos entendidos na materia. E o ferro do Ypanema? eil-o recebendo menção honrosa.
Oxalá que a industria sorocabana seja alli representada. Será nossa cidade conhecida como um
centro industrial.
Qual será o industrial que não deseja um premio qualquer para o seu producto? Um diploma de
merito a um industrial é a melhor recomendação da superioridade do seu trabalho.
As vantagens das exposições universaes são por demais conhecidas para encarecermol-as.
Os intelligentes industriaes, artistas, commerciantes e o povo desta terra com certesa attenderão a
este nosso appello, se bem que fraco e só nesta cidade, e na grande exposição Sorocaba apparecerá.

Club Progresso
Domingo 29 do mez passado, teve lugar a sessão de Assembléa Geral, desta importante
associação com regular concorrencia de associados.
O presidente sr. Oscar de Barros, declarou aberta a sessão, pronunciando por essa occasião um
bem elaborado discurso.
O sr. Olympio Cozzetti primeiro secretario, procedeu a leitura do relatorio do club, que
despertou a attenção dos snrs. socios pela correcção com que foi feito.
O sr. Hermogenes de Oliveira, thesoureiro apresentou o balancete das entradas e despezas,
demonstrando o estado lisongeiro das finanças do club.
Em seguida tratou-se da approvação dos estatutos e tambem do contrtacto com o velodromo,
sendo tudo approvado com algumas emendas.
Em virtude da renuncia do dr. Adam Gray, de director do velodromo, eleito em 1º de Novembro,
foi eleito para substituil-o o sr. Alvaro P. Rodrigues Alves.
Obteve tambem votos para esse cargo o sr. Antonio Guilherme da Silva.
Nada mais havendo a tratar o sr. presidente deu por encerrada a sessão.
Apóz o encerramento da sessão foi distribuido um profuso copo de cerveja, brindando o «Club
Progresso» o director desta folha, sendo correspondido pelos associados que tambem saudaram o nosso
director.
O sr. Antoniio G. da Silva brindou o sr. Alvaro Alves, pela sua eleição para a directoria do
Velodromo.
O relatorio do 1.º secretario é o seguinte:
«Cumpre-nos apresentar-vos nesta Assembléa, com o jubilo de que nos achamos justamente
possuidos, o pequeno relatorio dos trabalhos executados por esta Directoria, dês sua installação até a
presente data. Não fosse a esperança que temos de encontrar em vossos animos bom acatamento para os
nossos actos e valioso apoio ás nossas decisões, por certo tal não intentariamos.
Porisso envidamos todos os esforços possiveis, correspondendo dess’arte á confiança que
immerecidamente nos tributastes, dando-nos a direcção da novel, mas futura sociedade cujo brilho, á
semelhança de uma estrella de primeira grandesa, já se começa a mostrar na sublime e grandiosa
constellação do amôr ao progresso e adiantamento desta amena cidade, elevfando-a ainda mais sobre as
suas congeneres no Estado.
Constituido por 71 socios fundadores, tendo apenas como Estatutos umas normas provisorias, até
a confecção destes, para a sua estabilidade e não dispondo de promptos elementos para a sua perfeita
organisação, têm, não obstante isso, tomado outras proporções, devido a grande sympathia que
conquistou no nosso meio social, como tambem aos esforços de muitos de seus associados, trazendo para
o seu amago novos associados. Tanto assim que o Club em 28 dias de vida já conta para mais de 110
socios, (entre fundadores, que eram 71, e contribuintes) podendo desta forma orgulhar-se de possuir um
grande capital para sua vitalidade, aliás tão lavoriosa pelas innumeras difficuldades que, hoje em dia,
enfrentam o andamento de tentativas grandiosas. Está, portanto, o Club, em condições de logo que as
circumstancias o permittirem, poder recompensar a bôa vontade de seus associados com a organisação de
uma séde social, já exigida por muitos socios, o que será assumpto de maxima importancia e estudos para
esta Directoria, amtes de fomdar-se o seu mandato. Com referencia as differentes diversões, que fazem
parte do programma a seguir, como foi lido em Assembléa de 1.º do corrente, cumpre-nos accrescentar
que o nosso esforço será utilisado tantum quantum para proporcianarmos aos associados amiudadas vezes
aquellas diversões, da melhor forma possivel e a contento dos senhores associados, e para isso esta
Directoria vae lavrar como proprietario do Velodromo o contracto de arrendamento que vae ser
submettido a vossa criteiosa apreciação e cujas clauzulas, como ides verificar de forma alguma oneram o
Club, pelo contrario, em tudo lhe são favoraveis. O contracto resa o seguinte:
(O jornal enche uma linha com pontos em vez de revelar as disposições do contrato).
Tendo nós conseguido uma séde para nossas diversões (o Velódromo), torna-se logico que da
resumida despeza para o Club que tributamos em 100$000 mensaes, ficará naturalmente um saldo mensal
para mais de 200$000 que irá passando para o fundo do capital a empregar-se na fundação da séde social
e outros melhoramentos que o Club resolver de direito e necessidade. Em 15 do corrente, o Club, como
sabeis, proporcionou aos seus associados e ao publico corrida de bycicletas, cujo resultado foi, deve-se
dizer, nullo, attento ás despezas feitas.
No emtanto esta Directoria sentiu-se satisfeita, pois, alem de ter, por sua vez, festejado
honrosamente a grande data da proclamação da Republica, deu um passo para o progresso do Club,
mostrando aos seus associados que não deixará de offerecer-lhes diversões, sempre que appareçam
occasiões e ao publico fazendo desde o inicio de sua gestão uma propaganda para a nossa sociedade. Por
deliberação desta Directoria ficou organisado um grupo annexo a Sociedae e della dependendo, cuja
denominação foi a de Grupo Musical, assumindo a sua direcção o talentoso maestro sr. Fernando Luiz
Grohmann que de boa vontade acceitou a incumbência. As bases para este Grupo ficaram para ser
discutidas em occasião opportuna. É desejo da Directoria formar mais dois grupos dos quaes, um será
litterario e outro dramatico, e para isso, já tem ddo diversos passos e breve poderá dar como organisados.
São essas as apresentações do nosso modesto relatorio e resta-nos dizer que sentimos nos muito
desvanecidos pelo grande incremento que vae tomando o novel Club que, com prazer e maximo esforço,
de que dispomos, dirigimos e esperamos que, coadjuvados pela brilhante mocidade que constitue seu
alicerce, trabalhando com todo ardor da realisação do nosso desideratum que julgamos representar o de
todos os socios, possamos breve orgulhar-nos de ter, nesta bella e adiantada cidade, não um club de
recreação, mas um club de caracter elevadissimo, onde os espiritos de um associado esteja summamente
enlevado pelas ideias da communidade, esforçando-se todos os socios em elevar a nossa associação ao
auge em que tem collaborado para para elevar outras sociedades e assim poderemos fazer figurar o nosso
Club como um dos primeiros em todo o Estado.
Para isso esta Directoria envidará todos os esforços possiveis, com esse fim ella tratará
seriamente de todas as questões tendentes a fazer progredir a Associação, certa de que nos vossos
corações de brazileiros, de apulistas, de sorocabanos, só encontraremos a boa vontade e em vossa energia
o trabalho em commum, trabalho esse que nos dará as necessarias forças e elementos para attingirmos o
nosso porto de esperançoso porvir.
Com o presente relatorio esta Directoria sente-se desobrigada para com os seus associados.»

O sr. Lichtenfels
Chegou ante-hontem pelo trem da tarde, o sr. Bernardo Lichtenfeld, que acaba de obter, no Rio,
completo triumpho numa grande invenção.
A’ sua chegada compareceu grande numero de populares, em franca expansão de jubilo,
acompanhados por uma banda de musica.
Na wagon foi abraçado por nosso chefe e pelo sr. José Teixeira e, na plataforma, por innumeros
amigos.
Ao sahir da estação foi saudado em nome do povo pelo sr. França Junior que, em breves e
eloquentes phrases, bem demonstrou quanto é considerado pelo seu genial talento o sr. Lichtenfeld.
Terminou levantando vivas ao manifestado e sua patria – á Allemanha.
Agradeceu o nobre inventor, attribuindo ao acaso a invenção, dizendo que ao dr. Ozorio de
Almeida e á casa Siemens & Halske se deve o exito de suas pesquizas, pois foram os coadjuvadores
materiaes.
Os manifestantes acompanharam-no até sua residencia.
Duma janella fallou o dr. Amandio Sobral, representando a alma dos sorocabanos. Acclamou o
inventor, o «verdadeiro aristocrata – aristocrata do genio e do talento». Depois o mesmo fallou a pedido
do inventor agradecendo ao povo.
Assomou a janella o sr. Bernardo convidando o povo a tomar um copo de cerveja.
Os seus muitissimos admiradores não cansam-se de prestar-lhe as devidas homenagens.
+ + +
Deixamos de transcrever a descripção feita pelos srs. Lichtenfeld Senior e Junior, no Club dos
Engenheiros, do Rio, por falta de espaço. Fal-o-hemos no proximo numero.

Club Operario
Realisou-se no Domingo ultimo a reunião convocada por uma commissão de operarios, com o
fim de ser organisado nesta cidade um club para tratar dos interesses da classe operaria.
A commissão pediu ao sr. Cap. Azevedo Sampaio para presidir a reunião a que prestou-se de boa
vontade.
Foi nomeada a directoria provisoria que assim ficou composta: Presidente, Juvencio Cesar de
Camargo, 1º secretario, Dario Garcia Vieira, 2º secretario. Antonio da Rocha Oliveira.
A directoria está incumbida de organisar o Club que para isso comvoca uma assembléa geral que
terá lugar no dia 6 do corrente.

Cinematographo
No dia 29 do passado estreou no salão do Club Aymorés este apreciado divertimento.
Hoje houve nova exhibição e amanhã haverá outra.
Esplendidos espectaculos.

Encanamento
O sr. Pedro Tavares, vereador, veiu a nossa casa e deu-nos explicações detalhadas com relação
ao nosso consta do numero passado.

Hospede
Está entre nós, em visita a sua familia, em visita á sua familia, o sr. Ubaldino Dias, cunhado do
nosso amigo cap. Otto Wey.
Grato.

Assassinato
Na villa de Guarehy, no dia 25 passado, foi barbaramente assassinado o coronel Antonio
Theodoro Mocinho. O assassinado era bastante conhecido nesta cidade onde por varias vezes esteve a
negocios.
Não podemos obter o nome do criminoso e nem o motivo do crime. O sr. Antonio Mocinho,
apezar de idoso, pretendia ser valente e talvez fosse isso a causa da triste scena.

Linha Paulista
Esta marcada para o dia 7 de Dezembro a inauguração da estgação de S. Paulo dos Agudos, na
linha Paulista.

1º de Dezembro
A Real Sociedade Portugueza de Beneficencia Vasco da Gama, rememorando a gloriosa data de
1º de Dezembro de 1640, em quem Portugal livrou-se do jugo de Castella que havia sessenta annos o
deprimia, organisou uma passeata.
Sahindo da séde da Sociedade, as sete e meia da noite, acompanhados por uma banda de musica,
vieram os socios cumprimentar o «Cruzeiro do Sul».
Fallou pela Sociedade o sr. Manoel José da Fonseca e respondeu, em nome da redacção, o nosso
amigo e prestante cidadão sr. Arthur Gomes.
Proseguindo, foram cumprimentar a redacção do «15», Club Aymorés, Società Italiana Mutuo
Soccorso, dr. Juiz de Direito, dr. Promotor Publico, Club União e Loja Perseverança III.
Voltaram as dez horas da noite os manifestantes á séde da Sociedade, onde dispersou-se o povo.
O «Cruzeiro» destas columnas, envia suas saudações á nobre colonia portugueza desta cidade e
rejubila-se em saudal=a pela data em que Portugal «olhava ao céo e ao largo chovia-lhe o maná em seu
deserto...»

Despedida
Veiu trazer-nos as suas despedidas o sr. José Antonio Gonçalves que retirou-se desta para a
cidade de Santos.
Agradecemos, e desejamos ao sr. Gonçalves muitas prosperidades em sua nova residencia.

Registro Civil
Districto da Ponte
CASAMENTOS
Proclamas affixados: Eugenio João de Freitas e d. Jorgina Maria Antunes. Olegario Guilherme
da Rocha e d. Jovina Zilda de Campos, Firmino Cezar e d. Emilia Pinto da Fonseca.
NASCIMENTOS
Dia 21: Luiza de Jesus, filha de Pedro Rodrigues Furtado; José Pereira Ignacio, filho de Adelino
Pereira Ignacio; dia 25: Maria da Conceição Medeiros, filha de José Pacheco de Mediros; Maria
Guilherme da Rocha, filha de Ovidio Leme dos Santos; Maria das Dores Camargo, filha de José Mariano
de Camargo; dia 26: Abilia, filha de Joaquim de Camargo Barros; dia 27: Maria do Carmo, filha de
Miguel Rosa; José Braga, filho de Martinho Braga; dia 30 Adilio, filho de Theresa Caldieri.
OBITOS
Dia 21: Luiza de Jesus Furtado, filha de Pedro Rodrigues Furtado, 10 mezes (consta no rol dos
nascidos neste dia, acima; ver Multa, abaixo), gastro enterite; Marco Antonio dos Santos, viuvo, 60
annos, estupor; Agostinho Floriano Leme, solteiro, tuberculose pulmonal; Anna Romão, 70 annos, viuva,
hydropsia; dia 25: Benedicta Nunes, 11 mezes, entero colite; Rita Maria Padilha, 14 mezes, gastro
enterite; dia 27: Benedicta Seabra, 6 mezes, syphilis; dia 28: Maximiano da Rocha, 9 mezes, entero colite;
Luiz Betine, 1 anno, grastro enterite; dia 30: Rosa Pereira Pinto, 1 ½ anno, entero colite.
MULTA
Foi multado em 10$000 o cidadão Pedro Rodrigues Furtado, por não ter feito o registro de
nascimento de sua filha Luiza (de Jesus), de accordo com a lei. A importancia foi entregue á Colletoria
Federal.

Ultima hora
Do «Estado» de hoje noticia um telegramma de Montevideu.
Nota-se desusado movimento em Santa Anna do Livramento.
As tropas estão aquarteladas; alguns piquetes de forças do Estado reunem os paisanos a força.
Attribuem aos federalistas o proposito de provocarem uma revolução immediata. (Parece que a coisa era
bem outra: do outro lado da fronteira, em Rivera, República Oriental do Uruguai, agitava-se a
população com a nova de uma revolução, que estava em fase final de gestação e da qual era um dos
cabeças o famigerado Aparicio Saraiva, que não se confunde com o nosso Gumercindo Saraiva, morto
em 1894).

Para constar
Antônio Rosa dos Santos contratou seu casamento com Olympia Gonçalves.
No redondel montado no Velodromo, no proximo domingo, o toureiro-artista Galvecito farpeará
um boi em bicicleta. Onde será que esse boi aprendeu a pedalar?!
Na exposição dos trabalhos dos alunos do Grupo Escolar, destaque para os desenhos do
aplicado aluno Juvenal Valente.

Sb 5/12/1903

Systema Lichtenfels
Transcrevemos hoje o que a «Gazeta de Noticias» publicou no seu numero do dia 29 de
Novembro, sobre o systema Lichtenfels.
Nós, que luctamos na imprensa, nos enchemos de orgulho em tornar o publico conhecedor dos
progressos da humanidade. E quantas vezes nem conhecemos os humanitarios inventores para
elogiarmos? Não importa, o genio e o talento são dignos do reconhecimento pblico.
Com quanto mais razão e enthusiasmo devemos acclamar o genio perseverante de um cidadão
que estimamos pelos seus bons serviços á industria desta terra.
Elogiamol-o como se fosse filho de Sorocaba e como verdadeiro merecedor da admiração da
sciencia.
No decorrer dos annos, a pratica do systema Lichtenfels salvará muitas vidas. Os salvos dos
desastres louvarão melhor os humanitarios inventores, e esse louvor será o melhor padrão de gloria dos
srs. Lichtenfels.
Eis a noticia:
«No salão do Club de Engenharia, achando-se presente a directoria, diversos engenheiros e
varios cavalheiros, realisaram hontem os senhores Bernardo Lichtenfels Senior e Junior uma conferencia
sobre o systema Lichtenfels que consta dos apparelhos descobertos pelos mesmos senhores, destinados a
evitar encontros de trens e desastres e a introduzir diversos melhoramentos nas estradas de ferro.
Dada a palavra a um dos srs. Lichtenfels depois de agradecer o acolhimento que por parte do Dr.
Osorio de Almeida, director da Central, e Dr. Paulo de Frontin, presidente do club, e de declarar o seu
invento puramente brasileiro por serem domiciliados no Brasil ha muitos annos e aqui terem feito todos
os estudos e todas as experiencias, fez elle com grande clareza a descripção dos apparelhos de seu
invento, demonstrando á vista de um schema préviamente desenhado na pedra, todas as vantagens que
podem advir do seu emprego nas estradas de ferro, com relação á illuminação electrica, signaes,
movimento dos trens, etc.
O systema Lichtenfels consiste no seguinte:
No centro da via permanente é fixado um trilho de papel maché em cujo champignon se engasta
um tubo de metal com uma ranhura, destinado a conduzir a electricidade. Cada uma das locomotivas em
movimento na linha é provida de um dynamo actuado pelo movimento das rodas da propria locomotiva,
da qual se desprende um fio que percorre a ranhura do champignon, tendo tambem drivações presas a um
apparelho telephonico.
Por meio destes e de outros apparelhos annexos combinados com o freio «Westinghouse» se
conseguem as seguintes vantagens: evitar o encontro dos trens que marcham em direcção opposta, as
quaes param immediatamente ao se approximarem, em virtude da direcção oopposta das correntes
electricas communica um trem que se acha em movimento e que em qualquer momento dado com a
estação principal ou com as intermediarias entre as quaes elle se acha, ou ainda com qualquer dos vigias
da linha, podendo até os agentes ou os vigias fazer parar o trem independente da vontade do machinista,
sendo necessario apenas para isso estabelecer a communicação com a terra; illuminação electrica dos
comboios; movimentos dos signaes que são levantados ou abaixados pelas proprias locomotivas, etc.
Com esse systema e com um relogio electrico installado no seus escriptorio, pode o director da
estrada saber em qualquer occasião em que kilometros se encontram os diversos trens que se acham em
marcha em toda a extensão da linha, as suas velocidades, emfim, fazel-os parar o voltar. Se cahe uma
barreira sobre a linha, dá-se a communicação com a terra e o trem que se approxima pára
immediatamente.
Esta rapida descripção é bastante para demonstrar o alto valor do invento dos Srs. Lichtenfels
Senior e Junior, que precisam agora somente que o governo os auxilie para que este maravilhoso invento
se torne uma realidade, o que não é difficil de prova, á vista do exito que teve a experiencia definitiva
effectuada na Estrada de Ferro Central.
Na exposição de S. Luiz poderiam os Srs. Lichtenfels fazer a mais cabal e brilhante prova do seu
admiravel invento: é nos Estados Unidos que se encontram as duas mais importantes fabricas de
locomotivas – Baldwin e Brooks e ainda a importante empreza Westinghouse.
Alli, numa das linhas da propria exposição, fariam os Srs. Lichtenfels, com o valioso concurso
dos grandes fabricantes norte-americanos, as mais decisivas experiencias da sua invenção, sob a bandeira
do Brazil, que nenhuma outra honra maior adquiriria por certo no certamen mundial.
Os Srs. Lichtenfels foram, ao terminar sua conferencia, applaudidos pelas pessoas presentes, que,
em conversa despretenciosa, continuaram a manifestar o seu grande interesse pelo assumpto, inquirindo
de muitas particularidades e de outras applicações delle.
O Dr. Van-Erven, que presidia a reunião entreteve com os inventores longa conversação,
parecendo amplamente satisfeito com as explicações que lhe foram dadas».

Fallecimento
Depois de prolongado soffrimento, falleceu honte as 9 horas da noite, a innocente Maria, filha do
sr. Annibal da Costa Dias.
Pezames.

Registro Civil
Districto do Rosario
NASCIMENTOS
Dia 28: Mazarino, filho de Prudente Antonio Alves: dia 29: Anna, filha de João Gonçalves da
Silva; Feto masculino, filho de Laurinda Maria de Jesus; dia 30: Miguel, filho de Geraldo Losasse; Feto
feminino, filho de Claudio Jacob Sewaibricker; dia 1.º de Dezembro: Feto, masculino, filho de Fortunato
Antonio; Sylvio, filho de Angelo Bertagini; dia 2: Catharina, filha de Constantino Mentone.
OBITOS
Dia 28: José, 5 dias, athrepsia; 29: Feto, de Inhoahiva, nasceu morto; 30: Feto feminino, nasceu
morto; Feto masculino de Passa Tres, nasceu morto; Benedicta, 15 mezes, entero colite; 2 de Dezembro:
Anna Felizarda, 55 annos, viuva, sorocabana, arterio exclerose.

Desastre
Hontem pela manhã, quando diversos pedreiros e serventes trabalhavam nas novas edificações
da Sorocabana, aconteceu desabar um andaime, derrubando da altura de alguns metros desoito
trabalhadores.
Ao tombar, o andaime apanhou um servente hespanhol, produsindo extenso ferimento na testa,
de certa gravidade.

A quem competir
Chamamos attenção para o estado pessimo das ruas da cidade que em occasião de chuvas,
tornam-se intransitaveis, principalmente o alto da rua 7 de Setembro, proximo ao largo da Independencia.

Previlegio
Estamos informados que foi concedido, pelo governo da União, previlegio de invenção por 15
annos, aos srs. Bernardo Lichtenfels Senior e Bernardo Lichtenfesl Junior, este residente em Sorocaba,
para a sua invenção de novo conductor de electricidade denominado «Conductor Brasil».

Ultima Hora
Appareceram no mercado desta cidade, hoje pela manhã tres notas falsas de 10$.
O administrador do mercado fez chegar o facto ao conhecimento da policia.

Para constar
O mau tempo impediu Galvecito de treinar farpeio de boi em bicicleta; portanto, cancelado esse
número.
O Tribunal de Justiça fez reunião secreta para tratar da responsabilidade de alguns juízes de
direito do Estado.
Luiz Pereira de Campos Vergueiro é quartoanista da Faculdade de Direito de São Paulo.
Santos Dumont está em plena atividade em Paris.
A assembléia geral da Irmandade da Santa Casa, no dia 8, será no Club União, à rua do
Comércio, por estar em ruinas a Igreja de Santo Antônio.
Após um sol ardentíssimo e um calor sufocante, veio abundante chuva.

Qa 9/12/1903

Chronicando
Snr. Redactor.
Não querendo ir de encontro a pragmatica de todos os povos civilizados, deste velho valle de
amarguras, venho em primeiro lugar saudar-lhe, bem como ao seu valente jornal, desejando a V. S. saude
e muitos annos de vida prospera, e a este que continue sempre cahindo no gosto do Zé povo, como até
aqui.
Isto feito, tenho tambem o dever de apresentar-lhe a minha pessoa que é o velho Jaguarana.
Não sei se o meu humilde nome tem chegado até V. S., mas a verdade é que apezar de não ser
filho desta nobre e bella terra de Rafael Tobias, aqui vivo desde a minha infancia e a quero tanto como a
minha propria.
Sou retrahido em extremo e a isso devo a minha obscuridade. Sou republicano adherente, mas
não tenho estomago para a politiquice actual e, por essa rasão, não sou eleitor e nem tenho sido lembrado
para occupar cargo algum. Noutros temos, que já vão longe, tive a ventura de ser votante e por signal
presenciei em tempo de eleição muitas coisinhas que me fazem rir e quase chorar de saudade.
Nas vesperas dos pleitos, que eram então renhidissimos, porque havia dois partidos fortes e
muito arregimentados, que disputavam a primazia, sahiam os proprios chefes chamar seus soldados para a
batalha. Aos recalcitrantes promettiam muitas coisas que não cumpriam, isso lá é verdade, mas cahiam
sempre com um costumesinho de algodão riscado e um parzinho de chinellos. Recolhiam-os ao viveiro e
até os retinham sob policiamento um tanto severo. Em compensação porém, os tratavam com muita
bondade e davam-lhes meza de lords. Quando lhes falavam do governo faziam sempre má reputação do
partido que estava no poder, mas nunca diziam sinão cousas lisongeiras da forma de governo, que
consideravam a melhor do mundo. Aconselhavam-os que votassem com gosto porque viriam logo
grandes melhoramentos em beneficio de todos e aprezentavam ou liam o programa dos candidatos. Não
os intimidavam nem os ameaçavam. Emgim, sr. Redactor, era tudo ao inverso de hoje e por isso não
tenho de que me arrepender de não ser eleitor.
Naquelles tempos havia um monarcha; hoje não se sabe quantos temos, visto como é preciso
contal-os quasi pelo numero dos municipios e, com a grande differença que aquelle era um homem
honesto e patriota, até virtuoso na opinião de muitos, excessivamente democrata e accessivel a todos; dos
doze milhões de habitantes que então contava este vastissimo Paiz, nenhum deixaria de apertar-lhe a mão
desde que o quizesse e tivesse ensejo. E hoje os tyrannos de opereta, a pretexto de estarem dormindo ou
no banho, mandam despedir de sua porta por um de seus criados, homens que por suas qualidades moraes
estão muito além de suas pretensas posições.
Dos que lhe fazem sombra por terem influencia e prestigio reaes, procuram se desembaraçar por
qualquer meio; aos eleitores e ao povilheo, olham sobranceiramente porque se consideram soberanos e
não lhes devem o bastão;
Si as vezes lhes é veddo fazerem eleições á General Mallat (porque não ha quem não seja
contrariado) e precizam votos para satisfazer suas vaidades, improvisam esquadrões de sapadores que se
atiram aos bairros com ordem de arrastar por qualquer meio ás urnas, os eleitores incautos.
Um desses realejos já estragado mais pelo uso que pela sua má qualidade, chega a galopito em
casa de um eleitor, com muita pressa e ares de magarefe, sem a menor cerimonia e sem apear-se, pergunta
se vae ou não votar. Si é que sim, remata o figurão: «Faz muito bem. E’ preciso acompanhar o governo
para evitar que aconteça o que seu com Fulano» (e cita um facto mais ou menos sensacional como por
exemplo a tentativa de incendio e empastelamento do vosso jornal) e sahe como chegou, muito
azafamado em procura de outra victima. Si esta diz, porém, que não póde, que não vota ou cousa que o
valha, o heroe finge mais serenidade e com a mesma pressa sahe dizendo: «Tenho de assistir hoje a uma
reunião do directorio para apresentar os nomes dos que não vão votar porque o governo está resolvido a
saber com quem conta».
Para arranjarem os directorios politicos que são mais uma feitoria que outra coisa, os meios
pouco variam; sahem então os taes personagens e apresentam ao eleitor, sob as mesmas ameaças, uma
procuração sui generis para ser assignada auctorizando o chefe a votar em quem julgar digno de sua
escolha e assim constituem-se em camarilha os salvadores da Patria.
Mas, sr. Redactor, se este modo de fazer politica generalizar-se, faça V. S. a ideia da
popularidade que terá em pouco tempo esta malsinada republica.
Para os inimigos desta forma de governo, nada com isto, porquanto, estes que por grosseira
ironia se intitulam republicanos, vão se encarregando de dar, em menos tempo que se espera, cabo disso
que ahi está e que tão caro nos tem custado.
Esta já vae longa, sr. Redactor, e não querendo ser pau desde a primeira vez que se dirige a V.
S., vae fazer ponto e solicita um canto de vossa conceiturada folha, para de vez em quando ir
desenferrujando a penna dando expansão as suas rabugices o velho
JAGUARANA.

Providencia sobre a pesca


O sr. dr. chefe de policia ordenou ao delegado do Rio Bonito, que, prohiba naquelle municipio, a
pesca por meio de parys, redes fixas, dynamite e substancias venenosas, sob pena de multa de 1:000$ e de
2:000$ no caso de reincidencia.
Chamamos a attenção das auctoridades para a portaria a que nos referimos, pois é evidentemente
sabido que um italiano tem, em Itavuvú, feito grandes caçadas de peixes por meio de redes fixas, a que
dão o nome de cóvos de malhas e isto faz com que os peixes não possam subir.
A bem do publico esperamos providencias sobre o caso.

Novo dentista
Foi plenamente approvado no curso de odontologia, gráo 9 nas tres cadeiras, o nosso conterraneo
Alvaro Martins da Costa Passos.
Nossas sinceras felicitações pelos louros colhidos de seu assiduo trabalho.

Abuso
Tem chegado á nossa redacção queixa contra uma sucia de vadios que se reunem diariamente, de
tarde até alta hora da noite, na ponte ou numa venda que ha unida a mesma e, alem de outros actos pouco
decentes que praticam, dirigem graçolas e paragens obscenas a quem por ali passa, inclusive senhoras
honestas. Pedimos promptas e energicas providencias a quem compette.

João Liper
Na noite de hontem para hoje estava João Liper, fiscal da Camara, jogando numa casa de jogo da
rua da Margem.
Sahiu as 2 horas da madrugada e logo depois os demais jogadores ouviram a detonação de um
tiro e accudiram ao local.
Encontraram Liper debatendo-se no chão, tendo um ferimento de bala na cabeça e uma garrucha
ao lado.
Não se sabe a que attribuir o facto – si a um crime ou suicidio.
Dizem que Liper falára á diversos que acabaria com a vida se não pudesse casar com quem elle
queria.
Até a ultima hora não conseguimos saber mais.

Dr. Braulio Gomes


Pelos jornaes de S. Paulo de 7, soubemos que falleceu no dia 6, as 10 horas da noite o dr. Braulio
Gomes, conceituado clinico ali residente. Victimou-o uma febre typhoide.
Ao dr. Nicolau Vergueiro, concunhado do fallecido, e á exma. familia nossos pezames.

Foot-ball
Hontem, no ground do Votorantim, disputaram um match de foot-ball os primeiros teams do S.
C. Sorocabano e do Votorantim Club, sahindo este victorioso com um gol contra zero. (RV)

Progresso
Pede-se aos chefes dos malvados, dos vandalos e bandidos, procurarem na redacção do
«Cruzeiro do Sul» o esqueleto da bycicleta, que os mesmo mandaram queimar na noite de 30 para 31 de
Outubro, afim de figurar na exposição de S. Luiz, em memoria ao bem que fizeram e ao progresso que
desejam a esta terra.

Para constar
Na quinta corrida de touros, no Velódromo, o quarto boi foi um ferdinando, o que muito irritou
o publico. No dia 7, o Galvecito partiu para Tatuí para arranjar bois mais bravios.
O cinematógrafo que funciona no salão dos Aymorés exibiu ontem, a pedidos, «Paixão de
Cristo», paa uma sala repleta.
Faltou irmãos e a reunião da Irmandade da Misericórdia não pôde ser realizada ontem. Ficou
para o dia 25.
Os donativos continuam pingando nos cofres da Santa Casal
Até agora se não vendeu o Zonofono.

Sb 12/12/1903

Collaborando
As scenas que ultimamente tem sido represntada nesta terra, são de tanta gravidade, que é
impossivel cidadãos honestos, que conservam o sentimento do dever, do respeito ás leis, ás familias e á
sociedade, deixem de tomar na devida consideração
Principiemos pela municipalidade, que fecha os olhos ás leis, ás reclamações justas do pobre
povo, que geme sob a pressão de pesados e ainda augmentados impostos.
As ruas em pessimo estado, esburacadas e sujas, nellas vê-se, quando chove, enormes poças de
agua impedindo o transito publico.
Sem falar dos arrabaldes, cujas ruas se conservam sempre sujas e abandonadas, lembramos aqui
somente o centro da cidade, com as calçadas e sargetas demolidas, as pedras atiradas ao lado, impedindo
por toda a parte a escoção das aguas, pois estão entupidas de areia, matto e lixo.
Damos para prova a rua mais central da cidade – a Direita, que já se parece com um caminho
abandonado e intransitavel.
Todos os dias temos que suar de vergonha, ouvindo censuras que fazem os hospedes, ante o
pessimo estado e abandono de nossas ruas.
Ha bastante tempo que pennas patrioticas têm pedido á edilidade o cumprimento do seu dever de
publicar os relatorios e balancetes, mas ella não quer se rebaixar a lhes prestar attenção.
Que importa o dever e que o povo soffra e gema sob o dominio dos potentados, que olham só as
conveniencias de interesses mesquinhos.
Tudo em Sorocaba é desordem, pois os homens da actualidade assim querem, julgam que
praticando o mal lhes vêm a garantia...
Foi nesta pacata cidade, berço de homens illustres, em que outrora a população gosava de paz e
bem estar (no tempo do Império, é claro), que alguns desnaturados armaram as mãos de sicarios, que
aproveitaram-se das sombras da noite e do somno tranquillo de uma familia (Nossa! Nhô Quim, que
apelação é essa?), para violenta e barbaramente incendiar e arrombar o predio tradicional de Sorocaba.
Sim, innocente e tranquillo, porque ella tem consciencia que sempre soube cumprir o seu dever e
nunca offendeu pessoa alguma.
Mas houve desnaturados, que foram violar a paz do seu lar e tentaram manchar o nome de
Sorocaba, cuja população reprovará eternamente semelhante barbaridade.
Esses barbaros não têm familia, não conhece amor de mãi, de esposa, de filhos?!
Certamente conhecem tudo mas os vicios corromperam os sentimentos, cortaram-lhes uma por
uma as fibras do amor e da dignidade, embotaram-lhes a intelligencia e os reduziram a flagellos da
sociedade.
UM SOROCABANO.

Major Eduardo Anthero da Cunha Vieira


A população desta cidade foi hontem, logo ao amanhecer, dolorosamente surprehendida com a
noticia do passamento do prestante cidadão major Eduardo Anthero da Cunha Vieira.
Tendo ha muito, o organismo minado por pertinaz enfermidade, os seus padecimentos
aggravaram-se extrordinariamente ha tres dias, tornando-se ante-hontem, á noite, desesperador o seu
estado.
De nada lhe valeram os carinhos da familia nem os esforços da sciencia, que foram inexcedivesi:
á meia hora da madrugada exhalava o ultimo hausto de vida, deixando a familia e os amigos immersos na
mais profunda dor.
Longe estavamos de suppor, vendo-o ainda ha poucos dias, alegre e folgazão, que tão cedo
teriamos de chorar a sua morte, lamentando a perda irreparavel de uma vida preciosa como era a sua.
Portuguez de nascimento, veio muito moço para Sorocaba, fazendo desta terra que elle
estremecia, como filho que mais a quizesse, a sua segunda patria.
Aqui constituio familia, ligando-se pelos laços do matrimonio, a d. Dioguina Dias, dilecta filha
do cap. José Dias de Arruda.
Figurou sempre no alto commercio, onde mostrou muita aptidão, conseguindo fazer por ella, um
trabalho methodico de muitos annos a sua independencia, accumulando avultados bens de fortuna.
Collaborou em diversos jornaes desta cidade, pondo sempre em evidencia os dotes de sua
intelligencia esclarecida; occupou cargos de eleição popular e teve a rara ventura de ver o seu nome
acatado pela aureola de virtudes que o circumdam e, sobretudo, pela independencia e nobreza de caracter.
Eduardo Anthero era um espirito cultivado e experiente, capaz de exceder a sua actividade em
qualquer ramo de vida e alem disso, um democrata na verdadeira accepção da palavra. Confabulava com
todos a sua alegra philosophia de homem sem preconceitos.
Era um dos caracteristicos da sua individualidade: o seu genio revoltando-se, obrigava-o, mesmo
desrespeitando comveniencias, a combater os ridiculos preconceitos da sociedade; e fazia-o com
desassombro, com uma argumentação de logica admiravel, desfechando nos adversarios as settas
envenenadas de sua satyra mordaz.
Com o desapparecimento de Eduardo Anthero perde Sorocaba um dos factores do seu progresso
e a familia um chefe extremosissimo.
A todos os membros da familia enluctada, enviamos as nossas sentidas condolencias.
Logo que circulou pela cidade a triste nova, innumeras pessoas foram levar á desolada familia e
ao nosso amigo Gabriel da Cunha Vieira, irmão do finado, palavras de conforto e prestar ao morto um
preito de amisade.
Uma das salas de seu palacete foi transformada em camara ardente.
Sobre uma eça estava o caixão mortuario coberto de riquissimas coroas com os disticos:
Saudades de sua esposa e filhas, Saudade de seu sogro e sogra, Saudades de seu irmão Gabriel, Saudade
de seu cunhado e amigo F. de Souza Pereira familia, Saudades de seu genro, Saudade de Jordina e
Octacilio, O Club União ao seu querido socio, Saudades do Braga
, e Lembranças do José.
A’s 5 horas da tarde sahiu o enterro, sendo o caixão conduzido a mão até o cemiterio. Era tão
numeroso o acompanhamento, que impossivel nos foi tomar nota dos nomes das pessoas presentes, que
calculamos em mais de trezentas.

Club Progresso
De ordem do Sr. Presidente, convido ás pessoas que desejarem arrendar o botequim, situado no
Velodromo, a apresentarem as suas propostas devidamente legalisadas; até o dia 27 do corrente.
Sorocaba, 9 de Dezembro de 1903.
O 1º. Secretario
Olympio Cozzetti.

Ao Velodromo
DOMINGO, 13 DO CORRENTE
Ao meio dia dar-se-á começo as primeiras corridas de bycicletas, disputadas por valentes
corredores.
A Directoria do Club Progresso faz saber que: A entrada geral é franca; ficando as
archibancadas reservadas aos socios e ás exmas. familias.
As pessoas extranhas á sociedade, mediante a contribuição de 1$000 pela sua entrada, poderão
gosar das mesmas regalias.
Sorocaba, 10 de Dezembro de 1903.
O 1º Secretario
Olympio Cozzetti.

Para constar
O «Republica», de Itu, foi fundado no dia 6 de dezembro de 1899, por Joaquim Vaz Guimarães
e Jorge Guimarães.
A Sociedade Beneficente Protetora dos Chapeleiros reune-se na Rua Monsenhor João Soares,
46.
O dentista Deodato de Moraes avisa que, a partir do dia 14, passará a residir na Rua de São
Bento, nº. 28.
A Dra. Isabel de Matos, cirurgiã-dentista, diplomada pela Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro, com longa pratica na profissão, brevemente abrirá consultório em Sorocaba, com vistas no
público feminino.

Qa 16/12/1903

Responsabilidade
III
OS ARROMBADORES
Fizemos serviço completo
UMA VOZ: E os typos?...
Mal acabára o bando de scelerados a torpeza premeditada e já selhes despertava no imo da alma
o peso da responsabilidade.
A scena foi menos rapida que suppunham. A porta mais firme e forte. Não bastou a alavanca:
dêem-me uma marreta...
Entraram, carregaram papel, quebraram vidraças, diziam graçolas, iam, vinham, avançavam,
afastavam... Afinal correram e, meio alegres, meio tristes: «Fizemos serviço completo...» «E os typos?»
perguntou alguem. «Não pudemos la chegar». «Ora!...»
Os arrombadores perceberam que essa exclamação desonerava os mandatarios de lhes offerecer
o garrafão da crystalina e apetitosa canninha.
Elles responsabilisaram-se a fazer o serviço completo; garantiram-lhe a paga. Dal-a-iam, mas
«os typos?...»
Turbulentos entontecidos pelo estrepito das marretadas e tiros, tiveram temor e perderam a
ordem no ataque.
Um chegou a sentir o cheiro dos typos (estava no escuro), mas foi intimado amistosamente a
retroceder.
Outro admirava-se de ser combustivel a borracha da bycicleta.
«Foi Cruzeiro um dia», mas enganou-se – cinco horas depois o prélo gemia com a mesma
placidez de sempre.
E os typos? Typos são voces, que mandam uns typos mexer typos e cá estão os typos: ainda
servem para estes rabisco.
Sabem que falta? A penna adestrada de um literato para descrever a noite do divertimento.
GIL

Itupararanga
Domingo, 13 do corrente, foi inaugurado o novo ramal para transporte de mineraes da grande
pedreira para as caieras do Banco União, no Itupararanga.
A construcção foi feita pelos profissionaes srs. Laurentino de Camargo e Alberto Graf e
inspeccionada pelo engenheiro Mr. Bicherdich (não foi, não!). A tracção é feita por cabos, desce o
wagonete carregado e sobe vasio.
Assistiram a inauguração os srs. Augusto Cezar do Nascimento Filho, Americo Mariz de
Oliveira, Eugenio Mariz de Oliveira, Charles J. F. Houck, Antonio E. de Oliveira e suas exmas. familias.
Foram as pessoas photographadas, no alto da pedreira, pelo habil amador sr. Wanderlino de
Oliveira.

Pancadaria
Não sabemos se devido ao tempo quente ou pelo zelo que tinham ao serviço, armaram hontem
grossa chinfrinada, na rua Direita, dois pedreiros italianos contra um preto. Resultou da renhida disputa
sahir o preto com a cabeça partida por um caibro e os italianos ergueram-se.

Cyclismo
Realisou-se no dia 13, domingo, a corrida de bycicleta no velodromo. Foram muito disputados os
quatro pareos, correndo tudo em ordem. (Mas, quem ganhou?).
Um bom divertimento. O Club Progresso continuará a dal-os como esse ultimo. (E o jornal a
não informar o nome dos vencedores).

Registro Civil
NASCIMENTOS
Districto do Rosario. Dia 2: Julio, filho de Mariano Raphael; 4, Guilherme, filho de Pedro
Ludovico Volpi; 5, Geraldina, filha de Cormeville Antunes; 7, Orlando, filho de Charles Y. J. Houck; 9,
Laudelino, filho de Feliciano Antunes; Maria Navarro, filha de Francisco Navarro; João, filho de Alfredo
Constantino da Rocha; João, filho de Joaquim de Camargo Barros; 11, Feto sexo feminino, filho de João
Alves dos Santos; Eugenio, filho de Alexandre Angheben; Durvalino, filho de Adolpho Andreotti;
Arnaldo, filho de Attilio Regulo de Camargo; 13, Laudelino, filho de Aureliano Vieira Prestes; Oswaldo,
filho de Alfredo Nunes de Oliveira; 15, Francisca, filha de Manoel Leite de Oliveira.
Districto da Ponte: Dia 1: Benedicto, filho de Aguida Maria de Jesus; 4, Zoraida, filha de
Francisco de Paula Arruda; 6, Ida, filha de Semi Giuseppe; José, filho de Antonio Betim; 7, Roberto, filho
de Gabriel Fabri; Diva filha de Maria da Conceição; 9 Uma filha de Julio Fernandes Rosa; Erico, filho de
Ricardo de Oliveira; 12, Cassilda, filha de Luiz Teixeira; Virginia, filha de Nicolau Curci; 13, Georgina,
filha de Candido Fidencio da Rosa; 14, Uma filha do cap. F. Alcindo Monteiro; Bertolina, filha de
Antonio Cassimiro de Andrade; 15, José, filho de Domingos Ferraz de sousa.
OBITOS
Districto do Rosario. 5: Irineu, 5 mezes, gastro enterite; Agostinho Joaquim Garcia, 40 annos,
casado, broncho pneumonia; Elisa, 13 annos, tuberculose pulmonal; 11, Feto feminino, nascido morto;
12, Lazara, 35 dias, gastro enterite aguda; Elpidio, 3 mezes e 9 dias, entero colite; 13: Antonio da Rocha,
casado, 29 annos, tuberculose pulmonal; Ludolpho, 18 mezes, gastro entero colite aguda; 14: Bernardo
Jeremias, casado, 50 annos, lesão cardiaca.
Districto da Ponte.Dia 1: José de Camargo, 8 mezes, gastro enterite aguda; Rolando dos Santos,
9 mezes, athrepsia; 4, Alzira, 8 mezes, athrepsia; Maria de Jesus, 5 mezes, filha de Annibal da Costa
Dias; 9 Francisco Pinto da Fonseca, lavrador, solteiro, 26 annos, pneumonia dupla; major Eduardo
Anthero da Cunha Vieira, portuguez, casado, 58 annos, coma diabetico; 11, Maria José, 18 mezes, gastro
enterite.
No Districto da Ponte está affixado o proclama de casamento de Antonio Rosa Santos e d.
Olympia Gonçalves.
Casaram-se, dia 5, Antonio Decimoni e d. Guilhermina Appolonia; 8, Olegario Guilherme da
Rocha e d. Jovina Zilda de Campos; 12; Firmino Cezar e d. Emilia Pinto da Fonseca

A Carne
Grita o «15» contra os marchantes, por venderem a carne de vacca por 700 rs. o kilo.
De minha parte digo que o «15» não tem rasão. Vendo carne superior, de bois velhos, cansados,
carreiros experimentados, que de tanto trabalho, devem ter a carne macia de roer.
Grite o «15» contra a Camara e a Commissão Sanitaria e tambem contra os vendedores de carne
de porco, que não podem contar onde foram mortos (morreram) os porcos que vendem.
Si o «15» quizer gritar sobre o assumpto, contarei essa historia.
O marchante
Zé Caipóra.

Para constar
O dentista recém-formado, Álvaro Martins, é filho de José Martins da Costa Passos.
Antônio Lopes de Oliveira incumbiu-se de representar o «Cruzeiro do Sul» em diversos lugares.
O finado Major Eduardo Anthero da Cunha Vieira era casado com Dioguina Dias da Cunha,
era pai de Adalzira da Cunha Martins, casada dom o Dr. Arthur Martins da Costa Passos; era genro de
José Dias de Arruda e concunhado de Francisco de Souza Pereira.
Nicotinha de Araújo e Maria Elisa de Araújo são filhas (gêmeas?) do finado major João da
Cruz Araújo.

Sb 19/12/1903

Fiat lux!
Vimos na folha local um edital do sr. intendente municipal, chamando a concurrencia publica
para o fornecimento de pedregulho para as ruas da cidade.
Felizmente parece que a camara está acordando do estado de lethargia em que tem permanecido
até aqui, no que diz respeito a limpeza e outros melhoramentos precisos, nas ruas e largos da cidade.
Já uma vez tivemos occasião de falar nesse assumpto. Por isso é desnecessario tocar nelle, pois
está patente ao publico o estado lastimavel e vergonhoso das nossas ruas.
Sobre a questão do pedregulho, é preciso que a camara ponha de parte recompensas por maioria
de eleitores na eleição e procure das propostas a que offerece mais economia á municipalidade.
Quasi sempre estamos convencidos disso, que em casos taes sempre predomina a afilhadagem,
não levando em vista a camara a economia que deve presidir os seus actos, vindo recahir estes desmandos
no pobre povo sobrecarregado de impostos.
Parece que o edital do sr. intendente, a que nos referimos, é a consciencia fiel de seu remorso,
accudindo aos gritos do publico contra o estado vergonhoso das ruas da cidade.
Não ha uma rua, um largo que se possa qualificar de prestavel; todas ellas cheias de ondulações e
montões de terra, deixados dos serviços de agua e exgottos, dando isto lugar a que os vehiculos que
transitam pela cidade estejam em continuos concertos, causando prejuizos a seus proprietarios.
Não lembra o sr. intendente que este meio de locomoção paga impostos e não pequenos? Por que
rasão o sr. intendente não dá um giro pela cidade para certificar-se de nossa verdade? Se as suas pernas
não o ajudam, o que não creio, tome um carro de praça, e terá occasião de observar com seus proprios
olhos o que dizemos e, ainda mais, verá estrellas ao meio dia com os solavancos provenientes do máo
estado do terreno.
Abençoado edital, é elle o inicio de um despertar de esperanças; é a luz que vae illuminar outros
melhoramentos, que tanto precisamos.
Esperemos.

Itupararanga
Somos obrigados a fazer uma pequena retificação à noticia que demos sobre a festa que houve
em Itupararanga, por occasião da inauguração da linha de transporte de mineraes da grande pedreira para
as caieiras do Banco União.
O nosso informante disse que essa construcção foi inspeccionada pelo sr. Bicherdich. Por novas
informações soubemos que este sr. não tomou parte alguma na alludida fiscalisação porque aquelle
trabalho é extranho ás suas attribuições.

Para constar
Aníbal Prestes, filho de José Ferreira Prestes conclui o primeiro ano da Escola de Farmácia de
S. Paulo.
São festeiros de N. S. Aparecida: João Rodrigues Pacheco Gatto, Vicente Ferreira dos Santos e
João de Almeida Tavares.
O Engenheiro Victor da Silva Freire esteve hospedado no Hotel do Vicente. Também la
estiveram, na mesma ocasião, o advogado francês Hyppolite Charrut, interessado em estradas de ferro;
um tal Amador Bueno da Ribeira; José Pinheiro da Silva Júnior, que tem o mesmo nome do irmão do
presidente de Minas Gerais, Dr. João Pinheiro (seria o próprio?). O que será que eles vieram fazer
aqui?!
Os encarregados da festa de traslado da imagem de Nossa Senhora da Aparecida, do bairro a
que ela empresta o nome à Matriz, são: João Rodrigues Pacheco Gatto, Vicente Ferreira dos Santos e
João de Almeida Tavares.
As loterias de São paulo, a se extraírem nos dias 21 e 24 do corrente, serão em beneficio da
Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba.
Sebastião Rosa mudou o seu depósito de aguardente para a rua do Supiriri n.º 60.

Qa 23/12/1903

Melancias
Sobre a reclamação das melancias verdes expostas a venda, o que achamos justo e razoavel e
sobre o modo por que são ellas vendidas nas ruas da cidade, em horas de um sol ardente, que tornam-se
prejudiciaes á saude, ao passo que se fosse limitada a sua venda até as 10 horas da manhã, não haveria
perigo para a saude publica.
E’ esta a causa principal do apparecimento de typho e outras febres de máo caracter, que
apparecem no verão: a melancia cosida pelo sol.

Luz electrica
Terminou a 14 do mez passado o prazo de 60 dias que a lei concede ao Exmo. Sr. Dr. Juiz de
Direito para dar sentença nesta questão; o que se pode verificar pelo livro de carga em cartorio.
Oxalá que não passe a 60 mezes ou não fique como a do Snr. Justiniano Marçal de Souza, a do
perdigueiro do Itinga, cujos contendores falleceram de febre amarella e outras muitas que ainda dormem
no archivo do esquecimento, prejudicando as partes e o pessoal do foro.
Não queremos dizer com isso que as suas sentenças sejam más, o que reclamamos é a execução
da lei, justiça e cumprimento dos seus deveres em certas e determinadas circumstancias, porque ninguem
ignora que a demora seja fatal a todo e qualquer negocio; tanto mais nessa cauza que não é de pequena
monta, assim como V. E. tambem sabe que todos mais ou menos têm seus compromissos a satisfazer e
vendo as cousas paradas, é claro que desesperaremos.
Pois, não exigimos sacrificios nem pedimos cousa alguma a não ser a distribuição da justiça para
o que V. E. é muito bem pago com o producto dos elevados impostos que pagamos quotidianamente.
Onde dormem os autos da contenda entre Sampaio e José de Barros com outros do Vossoroca?
Estarão em cartorio ou debaixo de algum travesseiro?
Dirão alguns que o autor destas linhas é despeitado, neurastenico e mau; mas tal o bom senso
não poderá conceber porque na actualidade o estado das cousas acompanhado de um governo desastrado
que só tem pesado sobre o povo indefeso as maiores crueldades para aquelles que não merecem sua
sympathia ou por outra aos que não commungam pela mesma cartilha e alem de tudo vermos ainda lhe
ser negada a justiça e o seu direito abafado, supplantado por aquelles que tem o dever da defeza e o
cumprimento da lei; é, na verdade, uma tyrannia de Nero e sobrevivente á uma desgraça não prevista por
um relidioso, resador que não perde missa, batendo ao peito, sem accuzação de consciencia de seus actos,
com gestos e artes de um coração justiceiro e leal, mas que Jesus jamais o terá por tal.
V. E. se de algum modo desgosta da cauza por affeições, etc. deverá então suspeitar-se e nunca
ter os autos fora do prazo legal, mostrando ser o verdadeiro guarda da lei e não fazer com que a vida de
um homem seja insufficiente para esperar a decisão das causas.
Repetimos, não temos intenção de offendelo-o, nem ao menos magoal-o, só queremos justiça e
nada mais. Isto mesmo fazemos bem contra a vontade e com muito pezar, lembrando-nos dos 10 dias que
a lei lhe concede para o despacho dos 4 requerimentos de cobrança de autos e que V. E. levou 6 mezes,
isto é, desde Abril até Setembro, isto em pleno proveito da parte contraria á qual só convem protelar.
E porque assim não procedeu quando ella accionava o ex-empresario?
E’..... que.....
Por hoje aqui ficamos.
Ao publico
Tendo sido distribuido nesta cidade uma oração, acompanhada de um papelucho mal impresso,
no qual se dizia que todos aquelles que conservarem a tal oração receberiam uma estampa de meio metro
de altura, dada por mim, venho pois affirmar que não sei quem é o auctor de uma brincadeira sem
espirito, avançando a assignar o meu nome, quando em nada tenho com semelhante distribuição.
Sorocaba, 20-12-1903.
José Roque
Sachristão da Matriz.

Para constar
O mau tempo impediu a realização de touradas no Velódromo.

Sb 26/12/1903

Desastre
Na noite de 23 do corrente, às 7 horas da noite, Francisco de tal, carroceiro, portuguez, fosse por
ignorar a força da electricidade, ou por alcoolisado, foi victima de um desastre.
Francisco ao sahir da rua José Manuel para o largo da Estação Votorantim, trepou num barranco
e levou uma das mãos ao fio electrico, recebendo forte choque que o fulminou.
Consta-nos que a infeliz victima não deixou familia.
Procedeu o exame cadaverico o dr. Alvaro Soares.

Reclamação
Na rua direita, esquina da do Commercio, ha dias que um grande monte de terra impede o
transito de vehiculos. Esperamos que seja desobstruida a rua.

Para constar
Veiu de Araraquara, onde é empregado, o sr. Andrelino Pedroso Junior, com o fim de visitar a
sua familia.
Em São Roque, no dia 22, Rafael dos Santos, de 22 anos, vulgo Rapazote, matou com um tiro de
garrucha Maximina Júlia de Oliveira, de 16 anos, a quem pretendia desposar, apesar da oposição de
ambas as famílias. Ele fugiu.
A noite de 24 para 25 foi de forte chuva em Sorocaba, mesmo assim tinha muita gente na missa
do galo.
Dos vários presépios da cidade, destaque para os dos srs. Vicente Ferreira da Silva e Antonio
de Faria.
A Dra. Isabel S. M. Gonçalves já está residindo em Sorocaba.
Esteve na cidade o vice-diretor do Ginásio Nogueira da Gama, de Jacareí, Sr. F. Antunes da
Costa. O ginásio, cujo diretor é Lamartine Delamare, recebeu equiparação ao Ginásio Nacional.
Domingos de Lemos é o diretor do Colégio de Nossa Senhora da Consolação.

Qa 30/12/1903

O nosso Folhetim
Começamos hoje a publicar a «Assassina», importante peça literaria, producto da habil penna do
saudoso escriptor sr. Antonio Joaquim da Rosa, Barão de Piratininga.
O Barão de Piratininga nasceu na cidade de S. Roque; era membro de uma distincta familia
daquella cidade. Fez os seus estudos em gabinete particular, pois desde menino mostrava um talento
prodigios. Foi chefe proeminente do então partido conservador, sendo eleito diversas vezes deputado
provincial e geral.
Occupou uma occasião o cargo de vice-presidente da então provincia de S. Paulo e muitos outros
que soube desempenhar dignamente.
A «Cruz de Cedro» e a «Feiticeira» tamvem são de sua lavra e uma innumera collecção de bellas
poesias.
O barão de Piratininga falleceu na cidade que lhe serviu de berço, no dia 26 de Dezembro de
1886.
Elle que occupou altas posições officiaes, possuia avultados bens de fortuna. Politico invejavel
pelo seu tino e caracter, justiceiro, conseguiu ser um dos vultos mais sympathicos da antiga Provincia.
Democrata á extremo, despido de todas as vaidades, deixou escripto para o seu modesto tumulo
somente a palavra – Ninguem.

A Sorocabana
Consta á «Noticia» que o governo da União pretende encampar a Estrada de Ferro Sorocabana e
Ytuana. Será a estrada governada por funccionarios nomeados pelo governo ou então encorporada á
Estrada de Ferro Central.

Operariado
Está convocada para o domingo, 3 de Janeiro, a assembléa geral da Liga Operaria, agim de
serem discutidos os estatutos.

Declaração
Bernardo Lichtenfels declara que de hoje em diante passa a assignar-se Bernardo Lichtenfels
Junior, visto haver mais pessoas com nome identico.
Sorocaba, 30 de Dezembro de 1903.
Bernardo Lichetenfels Junior.

Para constar
As Comissões de Justiça e Fazenda da Câmara Municipal são de parecer que se autorize o
Intendente a abrir o primeiro trecho da Av. Supiriri.
O Collegio de N. S. da Consolação é dirigido pelos Padres Agostinianos. As aulas começam a
1º de Fevereiro, e desde já acham-se abertas as matrículas na secretaria do collegio. O diretor é
Domingos de Lemos.

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