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A China diante de
novas propostas,
desafios e
insurgências:
do levante dos
Boxers à Longa
Marcha
Ana Carolina Huguenin Pereira
História do Oriente
Meta da aula
Apresentar o contexto histórico chinês das primeiras décadas do século XX, analisando
episódios, como: o levante dos boxers, a Revolução Republicana, o Quatro de maio, a
formação do Guomidang e do Partido Comunista Chinês.
Objetivos
1. analisar o contexto histórico chinês do início do século XX, marcado por levantes,
por agitações sociais, pela penetração de influências ideológicas democráticas e
esquerdistas e pela Revolução Republicana;
2. relacionar tal contexto histórico à atuação das potências imperialistas no país;
3. identificar as origens de novas alternativas políticas, a partir da formação de novos
partidos – o Guomidang e o Partido Comunista Chinês, e a relação de aproximação e
conflito entre ambos.
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INTRODUÇÃO
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1.
Desde o reino de Xianfeng [Imperador da China entre 1851 e 1861], a Igreja Católica
e os ocidentais tramaram juntos para deixar a China furiosa. Eles dilapidaram as
riquezas de nosso país, demoliram nossos templos, quebraram as imagens de Buda,
usurparam as terras onde o povo conservava suas tumbas; milhões de pessoas odeiam-
no. A cada ano os cultivos do povo sofreram flagelos: insetos ou secas. Também o país
estava perturbado, o povo inquieto e a cólera chegou até o Céu.
Hoje em dia, pela Graça do Grande Senhor dos Céus, os deuses desceram até nossos
altares e transmitiram instruções divinas a nossos filhos e irmãos: “Apoio aos Qing,
morte aos estrangeiros”. [...]. E nós nos devotamos à pátria, nós consolidamos nossa
comunidade; ajudando o povo personificado pelos camponeses, nós protegeremos
nossas aldeias. [...]
Irritado de ver uma religião estrangeira e a bruxaria desviar os homens, o Céu envia
santos sobre a terra para ensinar a nossos filhos e irmãos a se tornarem Yihetuan. Yi
significa justiça e he concórdia. Com a justiça e a concórdia, a paz e a harmonia
reinarão nas aldeias. A virtude é nosso princípio, a agricultura nosso ofício; nós
obedecemos ao budismo.
(Proclamação de um grupo boxer em uma vila próxima à Pequim, em 1900. In: CHESNEAUX,
J. La Chine 2: L´illusoire modernité (1885-1921). Paris: Haitier Université, 1972, pp. 90 e 91.)
[...] [os boxers] tinham em torno dos rins um cinturão vermelho, seus turbantes eram forrados
de vermelho; havia também os que portavam um cinturão amarelo e turbante amarelo.
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golpes com os punhos e os pés; mesmo aqueles de sete ou oito anos saltavam a uma
altura de muitos pés. Eles avançavam e recuavam, levantavam-se e deitavam-se como
se fossem dirigidos por um só homem. Os velhos da região perguntavam-me se havia
algo parecido no Sul. Eu os perguntei: “Por que sorte de gente o boxe é ensinado?”
Eles responderam: “Não há mestre de boxe, só há deuses que se fixam nos corpos dos
meninos e então estes são capazes de se exercitar. Nós chamamos isso de boxe divino.
Depois de dezoito dias de exercício, eles alcançam a perfeição.
Uma descrição dos boxers: carta de um sub prefeito chinês em viagem (1900). (In:
CHESNEAUX, J. Id. Ibid.)
Após a leitura dos documentos citados, analise o contexto histórico em que se situa a rebelião
Boxer, relacionando o movimento à ação das potências imperialistas em território chinês.
Resposta Comentada
De acordo com o que foi apresentado ao longo do texto, a resposta deve apontar características
e motivações implicadas no levante popular dos boxers. Tal levante deve ser compreendido
dentro de um contexto histórico que abrange a ação das potências internacionais sobre a China,
reduzida, à época, a um estado semicolonial. Com a imposição do sistema de tratados desiguais,
privilégios comerciais e diplomáticos foram “extorquidos” do Império, e isto abriu caminho para
a presença atuante não apenas dos homens de negócio – banqueiros, industriais, comerciantes
– mas para a pregação de missionários cristãos. A abertura forçada do território chinês garantiu
aos missionários a extraterritorialidade, a possibilidade de circular, pregar, converter e mesmo
de instalar templos, escolas e orfanatos cristãos no país, marcado pela tradição budista.
Princípios culturais estranhos à tradição chinesa passaram assim a ser disseminados entre o
povo, que manifestou indignação e mal-estar através do levante. Tal mal-estar não diz respeito
somente a questões espirituais (embora os boxers defendessem o budismo e manifestassem
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O último imperador
O último imperador manchu e também o último
imperador da China (ou o último “mandatário do
Céu”) era então, à época da revolução republica-
na, uma criança. Puyi subiu ao trono aos três anos de
idade, em 1908, após a morte de Cixi. Assim, em sua
primeira década de vida, Puyi ascendeu à, foi obriga-
do a abdicar da, posição de imperador, mantendo, a
princípio, o direito de permanecer na Cidade Proibi-
da, embora não exercendo poder político.
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2.
Internamente somos escravos dos manchus e sofremos com a tirania deles, externamente
estamos sendo atormentados pelas Potências e estamos duplamente escravizados.
A razão por que a nossa sagrada raça Han [...] deveria apoiar a independência
revolucionária procede precisamente da questão de se nossa raça vai fracassar e
ser exterminada. Vocês possuem governo, dirijam-no vocês mesmos; [...] têm leis,
mantenham-nas vocês mesmos; [...]; possuem forças armadas, comandem-nas vocês
mesmos; [...] recursos inexauríveis, explorem-nos vocês mesmos. Vocês estão qualificados
de todas as maneiras para a independência revolucionária.
(Citado em: SPENCE, Jonathan. Em busca da China moderna. São Paulo, Companhia das
Letras, 1996, p. 240. Grifos meus.)
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Resposta Comentada
a) Trata-se de um contexto marcado pela penetração estrangeira e pelo despertar da preocupação
em fortalecer a nação chinesa. Em relação à revolução republicana mais especificamente,
Sun Yat Sen e seus partidários acreditavam que o sistema dinástico deveria ser derrubado
em prol de um novo regime político, que incluísse princípios democráticos, republicanos, e
representativos. É perceptível, no movimento, a influência de ideias e parâmetros políticos em
voga no Ocidente. Tratava-se, assim, de adotar parâmetros modernos ocidentais, que diferiam
de tradições milenares (dinásticas e confucianas) chinesas, como forma de fortalecer e promover
mudanças no país, e torná-lo mais apto a enfrentar os desafios da contemporaneidade. Não se
tratava, desta forma, de uma negação ou do desapego em relação à nação (não é isto que a
incorporação de parâmetros políticos ocidentais significava), mas do desejo de vê-la fortalecida
e mais independente, e, para tanto, transformada em suas próprias instituições.
b) Ambos os movimentos contextualizam-se em um período de instabilidade e crise, no qual
a China vira-se reduzida a um estado semicolonial. Ambos são respostas exasperadas a tal
situação e demonstram interesses em propor, cada qual à sua maneira, maior independência
e afirmação nacionais. O movimento boxer tem fortes raízes populares e místicas (embora,
como vimos, não se resuma a elas), reivindicando tradições religiosas e dinásticas chinesas,
sob o lema “apoiar os Qing, expulsar os estrangeiros”. A rejeição às influências estrangeiras
era imensa, concentrando-se de forma mais direta e explícita sobre a expansão e a influência
da religião cristã. Por sua vez, o movimento republicano incorporou influências ideológicas
estrangeiras – o republicanismo, as instituições democráticas e representativas, estranhas às
tradições políticas e ideológicas imperiais da China – entre seus objetivos estavam a derrubada
da dinastia Qing e do sistema dinástico de maneira geral, e sua substituição por uma espécie
de regime, adotado em certos países do Ocidente, mas nunca, até então, na China.
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Foi também no ano de 1925 que Sun Yat Sen veio a falecer,
sendo a liderança do Partido Nacionalista assumida por Chiang Kai
Chek – este, conforme mencionamos, cultivava posturas certamente
mais reticentes em relação às esquerdas e logo romperia a aliança
com o PCC. Antes, porém, da ruptura, ainda no ano de 1926 e
sob o comando de Chiang, a chamada “Expedição ao Norte” fora
deslanchada, a partir de Cantão – tratava-se de uma campanha
militar contra o domínio dos “senhores de guerra”. Como objetivo,
a reconfiguração de um centro de poder político íntegro (em
oposição à desintegração representada pelo domínio fragmentado
dos “caudilhos” chineses). Tratava-se, pois, de uma expedição
estruturada em torno de objetivos independentistas e nacionalistas – o
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CONCLUSÃO
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Atividade Final
Baseado no que você estudou ao longo desta aula, analise o contexto em que se deu na
China o aparecimento de novas propostas políticas e de novos projetos em relação ao
futuro – sua resposta deve contemplar o surgimento e a importância do GMD e do PCC e
a relação que se estabeleceu entre os mesmos.
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Resposta Comentada
Você deve apresentar um resumo geral da matéria estudada, incluindo em sua resposta: que o
surgimento do GMD, liderado por Sun Yat Sen até 1925, seguiu-se à Revolução Republicana,
a qual levantou propostas de remodelação do sistema político do país, buscando incluir
princípios republicanos e democráticos, com a pretensão de fortalecer a nação e reafirmar sua
independência frente ao domínio estrangeiro; que o PCC, fundado em 1921, representava e
apresentava, também ele, propostas alternativas em relação aos caminhos pelos quais o país
deveria rumar, numa perspectiva crítica, à esquerda do GMD, a tradições políticas, sociais e
culturais da milenar China. Ambos os partidos eram favoráveis a um futuro no qual o país se
desembaraçasse da condição semicolonial em que temporariamente se encontrava, opondo-se,
assim, ao exercício do poderio imperialista ocidental e japonês, em território chinês. Baseados
no anti-imperialismo e com o apoio do Comitern, os partidos firmaram aliança. O PCC previa,
de acordo com orientações do Comitern, apoiar a chamada revolução “democrático burguesa”,
de caráter nacionalista, unindo-se ao GMD no combate à fragmentação política (representada
pelos “senhores guerreiros”) e na promoção da união, do fortalecimento e da independência da
nação frente ao poderio estrangeiro. Uma aliança, ou “frente única”, foi firmada e sustentada
ao longo dos anos 1920, até que Chiang Kai Chek rompeu-a, em 1927, de forma brusca e
passou a perseguir obstinadamente os antigos aliados.
RESUMO
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