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MAT 225 - FUNÇÕES ANALÍTICAS

Instituto de Matemática e Estatı́stica da USP

Ano 2015

Professor Oswaldo R. B. de Oliveira

http://www.ime.usp.br/~oliveira oliveira@ime.usp.br

Capı́tulo 11 - Aplicações da Integração Complexa

11.1 - A Expansão de Laurent e a Classificação de Singularidades.


11.2 - Resı́duos em pontos do plano.
11.3 - Resı́duos no ponto ∞.
11.4 - Princı́pio do Argumento para Funções Meromorfas.
11.5 - Cálculo de Integrais.
11.6 - Transformada de Fourier.

1
Capı́tulo 1

NÚMEROS COMPLEXOS
Capı́tulo 2

TOPOLOGIA DO PLANO C
Capı́tulo 3

POLINÔMIOS
Capı́tulo 4

SÉRIES E SOMABILIDADE
Capı́tulo 5

SÉRIES DE POTÊNCIAS
Capı́tulo 6

FUNÇÕES ANALÍTICAS
Capı́tulo 7

EXPONENCIAL, ÍNDICE,
PRINCÍPIO DO ARGUMENTO
E TEOREMA DE ROUCHÉ
Capı́tulo 8

TEOREMA DE CAUCHY
HOMOTÓPICO E
LOGARITMO
Capı́tulo 9

TEOREMA E ESFERA DE
RIEMANN E APLICAÇÕES
CONFORMES
Capı́tulo 10

INTEGRAÇÃO COMPLEXA
Capı́tulo 11

APLICAÇÕES DA
INTEGRAÇÃO COMPLEXA

11.1 - A Expansão de Laurent e a Classificação das Singularidades

Uma série de Laurent com centro ζ e coeficientes an , com n ∈ Z, é do tipo


+∞
∑ an (z − ζ)n = ⋯ + + + a0 + a1 (z − ζ) + a2 (z − ζ)2 + ⋯.
a−2 a−1
n=−∞ (z − ζ)2 z−ζ
As séries
+∞ +∞
∑ an (z − ζ)n e ∑ a−n (z − ζ)−n
n=0 n=1
são ditas, respectivamente, parte regular e parte principal da série de Laurent, a
qual é convergente no ponto z se as partes regular e principal convergem em z.
A soma de uma série de Laurent é
+∞ +∞ +∞
(11.1.1) ∑ an (z −ζ)n = ∑ a−n (z −ζ)−n + ∑ an (z −ζ)n ,
−∞ n=1 n=0

nos pontos z em que suas partes regular e principal convergem. A parte regular
é uma série de potências e indicamos seu raio de convergência por R1 . Por outro
lado, a parte principal é a série de potências
+∞
∑ a−n wn , em w =
1
z−ζ
,
n=1

com raio de convergência ρ2 indicado por

[com R2 = +∞ se ρ2 = 0 e R2 = 0 se ρ2 = +∞].
1
R2
Notemos que se R2 = +∞, a parte principal diverge para todo z ∈ C.

13

R2
R1
ζ

Figura 11.1: Anel de Convergência de uma série de Laurent

11.1 Lema (Propriedades da série de Laurent). Mantenhamos a notação


acima. Suponhamos R2 < R1 .
(a) A série de Laurent
∑ an (z − ζ)n
n=+∞

n=−∞
converge uniforme e absolutamente nos compactos no anel de convergência
Ω = A(ζ; R2 ; R1 ) = {z ∈ C ∶ R2 < ∣z − ζ∣ < R1 }.

(b) A função
f (z) = ∑ an (z − ζ)n , onde z ∈ Ω,
n=+∞

n=−∞
é derivável termo a termo e
f ′ (z) = ∑ nan (z − ζ)n−1 .
+∞

n=−∞

(c) Seja γ(θ) = ζ + reiθ , com θ ∈ [0, 2π] e R2 < r < R1 . Então temos
f (z)
an =
1
2πi ∳ (z − ζ)n+1
dz, para todo n em Z.
γ

Prova.
(a) Sejam r1 e r2 tais que R2 < r2 < r1 < R1 . Então,


⎪ ∑ an (z − ζ)n converge uniforme e absolutamente em {z ∶ ∣z − ζ∣ ≤ r1 }
+∞




⎪ n=0
⎨ e





⎪ ∑ a−n wn converge uniforme e absolutamente em {w ∶ ∣w∣ ≤ r12 < R12 } .
+∞

⎩ n=1
No compacto {z ∶ r2 ≤ ∣z −ζ∣ ≤ r1 } as séries ∑+∞
n=0 an (z −ζ) e ∑n=1 a−n (z −ζ)
n +∞ −n

convergem absoluta e uniformemente e assim, a série de Laurent também .

14
(b) Trivial, pois a parte regular é uma série de potências ao passo que a parte
principal é uma série de potências composta com a função holomorfa
1
z−ζ
.

Solicito ao leitor verificar.

(c) Dado n ∈ Z temos


f (z)
= ∑ ak (z − ζ)k−n−1 ,
(z − ζ) n+1
k∈Z

com Imagem(γ) uma circunferência (compacta) na coroa circular A(ζ; R2 ; R1 )


e a série de Laurent convergindo uniformemente sobre Imagem(γ). Logo,
f (z)
∳ (z − ζ)n+1 dz = ∑ ak ∳ (z − ζ) dz = an 2πi♣
k−n−1

γ k∈Z γ

11.2 Teorema (A Expansão de Laurent). Consideremos a coroa circular

Ω = {z ∶ ρ1 < ∣z − ζ∣ < ρ2 } e f ∈ H(Ω).

Então, existem duas sequências (bm )m≥1 e (an )n≥0 , de números em C, tais que

f (z) = ∑
+∞ +∞
+ ∑ an (z − ζ)n , para todo z ∈ Ω.
bm
m=1 (z − ζ)
m
n=0

Ainda, a expansão em uma série de Laurent da função f é única.

Prova.

Pelo Lema 11.1 basta provar que existe uma série de Laurent para f , em
Ω. A unicidade segue do Lema 11.1 (c). A seguir, representamos f via
Fórmula Integral de Cauchy e então expandimos o integrando em séries.
Fixado um ponto z na coroa Ω = {z ∶ ρ1 < ∣z − ζ∣ < ρ2 }, sejam r1 > 0 e r2 > 0
tais que
ρ1 < r1 < ∣z − ζ∣ < r2 < ρ2 .

A fronteira da coroa “interior”

{z ∶ r1 < ∣z − ζ∣ < r2 }

é dada pelas circunferências: γ1 e γ2 , de raios r1 e r2 , respectivamente, que


orientamos no sentido anti-horário.

15
O ciclo γ2 − γ1 é homólogo a 0 em Ω [cheque].

γ2
ρ2
γ1
ρ1
r1

r2

Figura 11.2: A expansão de Laurent em um anel

Pela Fórmula Integral de Cauchy (homológica) obtemos,

f (w) f (w)
(11.2.1) f (z) =
1 1
2πi ∫ w−z
dw−
2πi ∫ w−z
dz.
γ2 γ1

No Teorema 10.13 mostramos que a expansão em séries de potências

+∞ ⎛ ⎞
f (w) f (w)
∫ w−z = ∑ ∫ ⎜ ⎟ (z − ζ)n ,
(w −
dw dw
n=0 ⎝ ⎠
ζ)n+1
γ2 γ2

é absolutamente convergente se ∣z − ζ∣ < r2 .


A prova da expansão
f (w) +∞
=
bm
∫ w−z ∑
m=1 (z − ζ)
dw m
, com bm em C,
γ1

é análoga à prova da expansão no Teorema 10.13 [cheque, vide Lema 11.1(a)]♣

Comentário. Não é necessário o teorema de Cauchy homológico na prova acima.


De fato, considerando um diâmetro do cı́rculo {z ∶ ∣z − ζ∣ = r2 }, com o diâmetro
nao contendo o ponto z, é trivial escrever o lado direito de (11.2.1) como soma de
duas integrais, a primeira sobre uma curva fechada η1 tal que Ind(η1 ; z) = 1 [logo,
z no interior de η1 ] e a segunda sobre uma curva fechada η2 tal que Ind(η2 ; z) = 0
[isto é, z no exterior de η2 ] . Então, pela fórmula integral de Cauchy (teorema
10.11) segue a identidade (11.2.1). Por favor, cheque (esboce a figura apropriada).

16
11.3 Definição. Seja Ω um aberto em C e ζ ∈ Ω. Se f ∈ H(Ω ∖ {ζ}), dizemos
que f tem uma singularidade isolada em ζ.

Seja ζ uma singularidade isolada de f . Pelo Teorema 11.2, em uma bola “reduzida”

B ∗ (ζ; ρ) = B(ζ; ρ) ∖ {ζ}

contida em Ω, a função f é dada por

f (z) = ∑
+∞ +∞
+ ∑ an (z − ζ)n ,
bm
m=1 (z − ζ)m
n=0

e classificamos as singularidades isoladas em três tipos distintos:

● ζ é singularidade removı́vel de f se bm = 0 , para todo m ≥ 1.

● ζ é polo de ordem (multiplicidade) k ≥ 1 se bk ≠ 0 e bm = 0 para todo m > k.


Notação: a valuação de f no polo ζ é

ν(f ; ζ) = −k.

● ζ é singularidade essencial de f se {m ∈ N ∶ bm ≠ 0} é infinito.

Comentário. Se bm = 0, para todo m ≥ 1, dizemos que ζ é singularidade removı́vel


pois definindo f (ζ) = a0 obtemos uma extensão de f (ainda denotada f ) que é
holomorfa em Ω.

11.4 Teorema (Remoção de singularidades, Riemann). Seja ζ uma sin-


gularidade isolada de f ∈ H(Ω ∖ {ζ}). São equivalentes as afirmações abaixo.

(a) ζ é singularidade removı́vel.

(b) f admite uma extensão holomorfa ao aberto Ω.

(c) f admite uma extensão contı́nua ao aberto Ω.

(d) Existe lim f (z).


z→ζ

(e) f é limitada em alguma bola reduzida B ∗ (ζ; r) = B(ζ; r) ∖ {ζ}, com r > 0.

(f ) Temos lim(z − ζ)f (z) = 0.


z→ζ

17
Prova.

(a) ⇒ (b) ⇒ (c) ⇒ (d) ⇒ (e) ⇒ (f ). Trivial.

(f) ⇒ (a). Podemos supor ζ = 0 [cheque] e D(0; r) ⊂ Ω, com r > 0.


Com a notação na Definição 11.3 temos

zf (z) = (⋯ + + ) + (b1 + a0 z + a1 z 2 + ⋯), se 0 < ∣z∣ ≤ r.


b3 b2
z2 z
Pela hipótese sobre zf (z) e por continuidade, existe M > 0 tal que

∣zf (z)∣ ≤ M se 0 < ∣z∣ ≤ r e ∣b1 + a0 z + a1 z 2 + ⋯∣ ≤ M se ∣z∣ ≤ r.

A desigualdade triangular garante

∣⋯ + + ∣ ≤ 2M, se 0 < ∣z∣ ≤ r.


b3 b2
z2 z
Pela desigualdade de Gutzmer-Parseval (6.12) segue
∣b2 ∣2 ∣b3 ∣2
( + 4 + ⋯) ≤ 4M 2 , se 0 < ∣z∣ ≤ r.
∣z∣2 ∣z∣
Donde segue bm = 0 se m ≥ 2. Por fim,

0 = lim zf (z) = lim(b1 + a0 z + a1 z 2 + a2 z 3 ) = b1 ♣


z→0 z→0

Exercı́cio. Prove o teorema acima utilizando a fórmula para os coeficientes da


série de Laurent, dada no Lema 11.1(c). Ainda, leia a prova (uma terceira prova)
em W. Rudin, Real and Complex Analysis, 3rd. ed., p. 210.

11.5 Corolário. Mantendo as notações acima para uma série de Laurent, se


bm ≠ 0 para algum m ≥ 1 então ∣f ∣ é ilimitado em qualquer bola reduzida B ∗ (ζ; r).

11.6 Proposição. Seja f ∈ H(B ∗ (ζ; r)). Então,

(a) ζ é um polo de ordem k de f se e somente se

lim(z − ζ)k f (z) ∈ C∗ .


z→ζ

(b) Se ζ é um polo de f então

lim ∣f (z)∣ = ∞.
z→ζ

Prova.

18
(a) (⇒) Temos,

f (z) =
+∞
+ ⋯ + + ∑ an (z − ζ)n , bk ≠ 0 , e
bk b1
(z − ζ)k z − ζ n=0

(z − ζ)k f (z) = bk + bk−1 (z − ζ) + ⋯ + b1 (z − ζ)k−1 + ∑ an (z − ζ)n+k .


+∞

n=0
Logo,
lim(z − ζ)k f (z) = bk ≠ 0.
z→ζ

(⇐) Se
lim(z − ζ)k f (z) = β ∈ C∗ ,
z→ζ

pela Proposição 11.4 o ponto ζ é uma singularidade removı́vel da


função
(z − ζ)k f (z).
Desta forma encontramos

(z − ζ) f (z) = β + ∑ cn (z − ζ)n em B ∗ (ζ; r), para algum r > 0.


+∞
k
n=1

Donde,

f (z) = ∑ cn (z − ζ)n−k , β ≠ 0,
+∞
+ + ⋯ + +
β c1 ck−1
(z − ζ)k (z − ζ)k−1 z − ζ n=k
o que mostra que ζ é um polo de ordem k.

(b) Se ζ é um polo de ordem k, por (a) temos

lim(z − ζ)k f (z) ≠ 0.


z→ζ

Logo,
∣(z − ζ)k f (z)∣
lim ∣f (z)∣ = lim = ∞♣
z→ζ z→ζ ∣z − ζ∣k

Os polos de ordem 1, 2 e 3 são ditos polos simples, duplos e triplos, respecti-


vamente.

Seguem algumas definições úteis ao estudo de funções holomorfas que “as-


sumem” o valor infinito ∞ e também funções holomorfas em uma vizinhança do
infinito. Tais definições preparam o caminho para o estudo de funções holomorfas
definidas na esfera de Riemann e com valores na esfera de Riemann.

19
● Dizemos que f é meromorfa no aberto Ω ⊂ C se f é holomorfa em

Ω ∖ P,

onde P é um subconjunto discreto do aberto Ω e constituı́do de polos de f .


Notação. Dado Ω um aberto de C, escrevemos

M(Ω) = {f ∶ f é meromorfa em Ω}.

● Sejam f e P como acima. Se ζ ∈ P , então existe m em N∗ tal que

(z − ζ)m f (z)

é holomorfa numa vizinhança de ζ. Logo, em uma bola reduzida centrada


em ζ, a função f é o quociente de duas funções holomorfas.

● Dizemos que f é meromorfa em um ponto ζ se f é meromorfa em um aberto


contendo ζ.

● Pode ser provado (o resultado é profundo) que toda função meromorfa é


quociente de duas funções analı́ticas [vide Real and Complex Analysis, W.
Rudin, ed. 3, Theorema 15.12, p. 304].

11.7 Teorema (Casorati-Weierstrass). Se ζ é singularidade essencial de f ,


então f ( B ∗ (ζ; r) ) é denso em C, para todo r > 0 e pequeno o suficiente.

Prova.

Seja r > 0 tal que B ∗ (ζ; r) está contida no domı́nio de f .


Suponhamos, por contradição, que existe B(w; ǫ), com ǫ > 0, tal que

f ( B ∗ (ζ; r) ) ⋂ B(w; ǫ) = ∅.

Então temos:
∣f (z) − w∣ ≥ ǫ para todo z ∈ B ∗ (ζ; r),

g(z) = ∈ H( B ∗ (ζ; r) ) e ∣g(z)∣ ≤ , para todo z ∈ B ∗ (ζ; r).


1 1
f (z) − w ǫ

20
ǫ

Figura 11.3: Casorati-Weierstrass

Pela Proposição 11.4, segue que o ponto ζ é uma singularidade removı́vel


da função g e existe
lim g(z).
z→ζ

Se g(ζ) = 0, como temos g(z) ≠ 0 se z ≠ ζ, segue que ζ é um zero de ordem


maior ou igual a 1 de g e então, pela equação

f −w = ,
1
g
concluı́mos que ζ é um polo de f , contra a hipótese.

Se g(ζ) ≠ 0, então a função

f (z) = w + é holomorfa ☇
1
g

Comentário. O Teorema de Casorati-Weierstrass é uma versão fraca do “Teorema


grande de Picard: se f tem uma singularidade essencial em ζ, então

f (B ∗ (ζ; r)) é C ou é C menos um ponto.′′

Não provaremos este resultado neste curso.

Seja m ∈ N∗ = {1, 2, . . .}. Dada g holomorfa no ponto ζ, com g(ζ) ≠ 0, então a


função
f (z) = (z − ζ)−m g(z) tem um polo de ordem m em ζ.

Devido a tal observação, dizemos que um polo é um zero de ordem negativa.

21
11.8 Definição. Dizemos que f tem uma singularidade isolada em ∞ se f é
analı́tica em

{z ∶ ∣z∣ > r} [uma vizinhança de ∞] para algum r ≥ 0.

Neste caso, a função


g(z) = f ( )
1
z
tem uma singularidade isolada em 0.

○ O tipo de singularidade (removı́vel, polo ou essencial) de f em ∞ é o tipo


de singularidade (removı́vel, polo ou essencial) de g em 0.

○ A função f é meromorfa (respectivamente, holomorfa) em ∞ se a função


g é meromorfa (respectivamente, holomorfa) em 0.

○ A ordem de f em ∞ é a ordem de g em 0.

Seja F holomorfa em C, exceto um conjunto (contável) de singularidades isoladas.

○ A função F é dita meromorfa na esfera de Riemann S 2 (isto é, o plano


estendido C) se F é meromorfa em C e no ponto ∞.

○ A função F é holomorfa em S 2 ≡ C se F é holomorfa em C e no ponto ∞.

Comentários. Por favor, verifique as afirmações abaixo.

● Se uma função f tem uma singularidade removı́vel no infinito, então f é


limitada em uma vizinhança de ∞. Assim, pelo teorema de Liouville, se
uma função inteira tem uma singularidade removı́vel no infinito então tal
função é constante.

● Um polinômio complexo p(z) = a0 + a1 z + ⋯ + an z n e de grau n ≥ 1 é uma


função racional com polo no infinito.

● Toda função racional é meromorfa no plano estendido C.

● Uma função racional cujo único polo é ∞ é um polinômio.

22
De forma mais geral, consideremos um aberto Ω na esfera de Riemann S 2 .
○ Uma função G é dita meromorfa em Ω se G é analı́tica em Ω, exceto um
conjunto (contável) de singularidades isoladas, com todas elas polos.
Comentários. Por favor, cheque as afirmações abaixo sobre funções meromorfas.
● Somas e produtos de meromorfas são meromorfas. Quocientes de meromor-
fas são meromorfas, se o denominador não é a função nula.

Exercı́cio. Verifique as afirmações abaixo.


(a) Se f é holomorfa em C e tem um polo em ∞, então f é um polinômio.

(b) Toda função meromorfa no plano estendido C é racional.


Esboço da solução de (b). O conjunto S = {z1 , . . . , zn , ∞} de singularidades é
finito, pois ∞ é singularidade isolada. Se o conjunto Zf de zeros é infinito, então
f (1/z) se anula numa vizinhança de 0. Pelo PZI, segue f ≡ 0 em C. Segue o caso
Zf = {w1 , . . . , wm }. Seja pj a ordem do polo zj e qj a ordem do zero wj . Então
(z − z1 )p1 ⋯(z − zn )pn f (z)
F (z) =
(z − w1 )q1 ⋯(z − wm )qm
é holomorfa em C.

Claramente [cheque] ∞ não é singularidade essencial de F . Logo, ∞ é polo ou


singularidade removı́vel. Assim, F é constante ou um polinômio.

11.2 - Resı́duos em pontos do plano

Dados r e R, com 0 ≤ r < R, utilizemos a notação

A(ζ; r; R) = {z ∈ C ∶ r < ∣z − ζ∣ < R}

para anel circular, ou anel, ou coroa circular (aberta), de centro ζ e raios r e R


11.9 Definição. Seja f holomorfa no anel A(ζ; 0; r). O resı́duo de f em ζ é o
coeficiente b1 da série de Laurent de f com centro ζ. Indicamos

b1 = Res(f, ζ) .

Dada uma circunferência γ(θ) = ζ + δeiθ , para θ ∈ [0, 2π] e com 0 < δ < r e
então orientada no sentido anti-horário, pelo Lema 11.1(c) segue

(11.9.1) ∳γ f dz = 2πiRes(f, ζ).

23
11.10 Teorema dos Resı́duos. Seja f holomorfa em Ω ∖ S, com S o conjunto
das singularidades isoladas de f em Ω. Seja Γ um ciclo em Ω ∖ S e homólogo a
0 em Ω. Então,
f (w)dw = ∑ IndΓ (ζ)Res(f ; ζ).
1
2πi ∫Γ ζ∈S

Ω −
γ2 − γm
ζ2
ζn

Γ
γ1−
ζ1

Figura 11.4: Ilustração ao Teorema dos Resı́duos

Prova.
Sejam

I(Γ) = {z ∶ Ind(Γ; z) ≠ 0} e E(Γ) = {z ∶ Ind(Γ; z) = 0}.

Como Γ é homólogo a 0 em Ω, então I(Γ) está contido em Ω.

◇ O somatório dos resı́duos é finito. Temos que

S ∗ = {ζ ∈ S ∶ Ind(Γ; ζ) ≠ 0}

está contido no compacto I(Γ) ∪ Imagem(Γ) [cheque, vide Definição 7.16]


contido em Ω. Já que S não tem ponto de acumulação em Ω, concluı́mos
que S ∗ é finito.

24
Escrevamos
S ∗ = {ζ1 , . . . , ζn }.

Para cada j = 1, . . . , n, seja γj a fronteira de um disco (não degenerado)


fechado centrado em ζj e contido em Ω, orientada no sentido anti-horário.
Assumamos que os discos são disjuntos. Seja

mj = Ind(Γ; ζj ).

◇ As cadeias Γ e ∑nj=1 mj γj são homólogas em Ω ∖ S.


De fato, dado um ponto α em Ωc = C ∖ Ω temos

Ind(Γ; α) = 0 e Ind(γj ; α) = 0 para todo j = 1, . . . , n.

Se α = ζk para algum k ∈ {1, . . . , n} então

Ind(Γ; α) = mk e Ind (∑ mj γj ; α) = mk .
n

j=1

Pelo Teorema de Cauchy Homológico 10.17 e a fórmula (11.9.1) temos


n
∫Γ f dz = ∑ mj ∫γ f dz
j=1 j

= 2πi ∑ mj Res(f ; ζj )♣
n

j=1

Frequentemente, em aplicações, o aberto Ω é simplesmente conexo. Neste


caso, toda curva fechada é homóloga a 0 em Ω e a hipótese sobre Γ é supérflua.
Geralmente, Ω é uma bola ou um retângulo.

Recordemos que uma função f é holomorfa em um ponto a se f é holomorfa


numa vizinhança de a.

25
11.11 Lema (Propriedades Operatórias para Resı́duos).

● Seja a uma singularidade isolada da função holomorfa f .

(R1) Se a é singularidade removı́vel, então

Res(f, a) = 0.

(R2) Se a é um polo de ordem 1, então

Res(f, a) = lim(z − a)f (z).


z→a

(R3) Se a é um polo de ordem k > 1, então

g k−1 (a)
Res(f, a) = , onde g(z) = (z − a)k f (z).
(k − 1)!

● Sejam f e g holomorfas em a, com a um zero simples de g.

(R4) Temos,
f (a)
Res ( , a) = ′
f
g (a)
.
g
(R5) Temos,
Res ( , a) = ′
1 1
g (a)
.
g
● (Resı́duo Fracionário) Seja a um polo simples de f . Seja γǫα um arco de
circunferência de ângulo α contida na circunferência de centro a e raio
ǫ > 0, orientada no sentido anti-horário, {z ∶ ∣z − a∣ = ǫ}.

(R6) Temos,
lim ∳ f (z)dz = α i Res(f, a).
ǫ→0 γǫα

Prova.

(R1) Trivial.

(R2) A série de Laurent de f no anel A(a; 0; ρ) é

f (z) = + ∑ an (z − a)n .
+∞
b1
z − a n=0

26
Logo,
lim(z − a)f (z) = lim (b1 + ∑ an (z − a)n+1 )
+∞

z→a z→a
n=0

= b1

= Res(f, a).

(R3) Neste caso temos

f (z) =
+∞
+ ⋯ + + ∑ an (z − a)n .
bk b1
(z − a)k z − a n=0

Então,

g(z) = bk + bk−1 (z − a) + ⋯ + b1 (z − a)k−1 + ∑ an (z − a)n+k


+∞

n=0

é uma série de potências. Logo, pela Fórmula de Taylor para os coeficientes,

g (k−1) (a)
b1 =
(k − 1)!
.

(R4) Devido às hipótese temos, para ∣z −a∣ < r, com 0 < r e r pequeno o suficiente,



⎪ f (z) = f (a) + f ′ (a)(z − a) + ⋯ + f n!(a) (z − a)n + ⋯ ,
(n)









⎩ g(z) = g (a)(z − a) + ⋯ + n! (z − a) + ⋯ , g (a) ≠ 0.
′ g (n) (a) n ′

Logo, para 0 < ∣z − a∣ < r temos,


⎡ ⎤
f (z) 1 ⎢⎢ f (a) + f ′ (a)(z − a) + ⋯ + n! (z − a)n + ⋯ ⎥⎥
f (n) (a)
=
g(z) z − a ⎢⎢ g ′ (a) + g′′ (a) (z − a) + ⋯ + g(n) (a) (z − a)n−1 + ⋯ ⎥⎥
.
⎣ 2! n! ⎦
Pelas regras operatórias para séries de potências, existe ρ > 0, ρ < r, tal que

f (z) f (a)
= [ ′ + a1 (z − a) + a2 (z − a)2 + ⋯] , se 0 < ∣z − a∣ < ρ.
1
g(z) z − a g (a)

Donde segue
f (a)
Res ( , a) = ′
f
g (a)
.
g

[Uma prova breve (e menos transparente) de (R4), segue da Prop. 11.6 (a).]

27
(R5) Imediato de (R4).

(R6) Escrevamos



⎪ f (z) = z−a + g(z),

b1






⎩ com g ∈ H(B(a; r) ), para algum r > 0.

Encontramos
∫γ α f (z)dz = b1 ∫γ α z − a + ∫γ α g(z)dz.
dz
ǫ ǫ ǫ

Notemos que
θ0 +α iǫeiθ
=∫
dz
∫γǫα z−a θ0 ǫeiθ

= αi.

Por outro lado, como a função g é contı́nua e portanto limitada por alguma
constante M > 0 em uma vizinhança de a, pela Estimativa M-L segue

∣∫ g(z)dz∣ ≤ M αǫ ÐÐ→ 0.
ǫ→0
γα ǫ

Assim,
∫γ α f (z)dz ÐÐ→ iαb1 .
ǫ→0

Recordemos que por definição temos b1 = Res(f, a).


Portanto, provamos que

∫γ α f (z)dz ÐÐ→ iαRes(f, a).


ǫ→0

A prova do Lema 11.11 está completa♣

28
11.3 - Resı́duos no ponto ∞

Seja f holomorfa em C ∖ D(0; r), onde r > 0. Então, a função

g(z) = f ( ) , onde 0 < ∣z∣ < ,


1 1
z r
é analı́tica e tem uma singularidade na origem. Seja
+∞
g(z) = ∑ bn z n = ⋯ + + + b0 + b1 z + b2 z 2 + ⋯
b−2 b−1
n=−∞ z2 z

a série de Laurent de g no anel circular

A (0; 0; ) .
1
r
Segue então que a série de Laurent de f = f (z) na bola aberta (no plano
estendido) C ∖ D(0; r) e centrada no ponto ∞ é da forma

f (z) = ∑ an z n = ⋯ +
+∞
+ + a0 + a1 z + a2 z 2 + ⋯.
a−2 a−1
n=−∞ z2 z

Definimos o resı́duo de f em ∞ por qualquer uma das duas expressões

Res(f, ∞) = f (z)dz ou Res(f, ∞) = −a−1


1
2πi ∲γ
onde γ(θ) = Re−iθ , para θ ∈ [0, 2π] e R > r, está orientada no sentido horário.
[Por favor, verifique que as fórmulas coincidem.]

Notemos que na usual orientação anti-horária da circunferência SR (0), o ponto


0 se encontra à esquerda da curva η(θ) = Reiθ . Analogamente, na definição de
Res(f ; ∞), o ponto ∞ se encontra à esquerda da curva orientada no sentido
horário γ(θ) = Re−iθ .

Atenção. É falso, em geral, que Res(f ; ∞) = Res(g; 0). Por exemplo, para

g(z) = f ( )
1
z
temos
Res ( ; ∞) = −1 mas Res(z; 0) = 0.
1
z

29
Comentário. Expliquemos a frequente desigualdade

Res(f ; ∞) ≠ Res [f ( ) ; 0] .
1
z
Consideremos f holomorfa em C e γ a parametrização usual de uma circunferência
centrada na origem, porém orientada no sentido horário. Definamos

σ(t) =
1
.
γ(t)

Notemos que σ é a parametrização usual de uma circunferência centrada na ori-


gem e orientada no sentido anti-horário. É trivial ver que [cheque]
σ′
γ′ = − .
σ2
Donde segue
∲γ f (z)dz = ∫0 f (γ(t))γ (t)dt
1

σ ′ (t)
=∫ f( ) (− 2 ) dt.
1 1
0 σ(t) σ (t)
A seguir, definamos a função

g(w) = − f ( ).
1 1
w 2 w
Concluı́mos então a identidade

∲γ f (z)dz = ∳σ g(w)dw.

Donde segue a fórmula abaixo para o resı́duo de f no ponto ∞, a qual é bem útil,

Res(f ; ∞) = Res(g; 0), onde g(w) = − w12 f ( w1 ).

Isto mostra que para definirmos o resı́duo de forma invariante por mudança de
coordenadas, o resı́duo não deve ser associado à função f (z) mas sim ao diferencial

f (z)dz.

Embora f (z) possa ser analı́tica em ∞, o diferencial f (z)dz pode não ser analı́tico
em ∞, como pode ser visto pela mudança de variável 1/z [cheque].

30
11.4 - Princı́pio do Argumento para Funções Meromorfas

11.12 Lema. Seja a um zero, ou um polo, de f . Então,







a é polo simples de ff


⎨ e




⎩ Res ( f ; a) = ν(f ; a).
⎪ f′

Prova.

◇ O caso: a um zero. Escrevamos f (z) = (z − a)ν g(z), com ν = ν(f ; a)


a ordem de a como um zero de f , e g holomorfa com g(a) ≠ 0. Logo,
f ′ = ν(z − a)ν−1 g + (z − a)ν g ′ e
f′ g′
= + .
ν
f z−a g
Assim, como g ′ /g é holomorfa, temos

Res (
f′
; a) = ν.
f
◇ O caso: a um polo. Escrevamos (z − a)−ν f = g, com ν = ν(f ; a) o oposto
(aditivo) da ordem de a como um polo de f e g holomorfa tal que g(a) ≠ 0.
Encontramos g ′ = −ν(z − a)−ν−1 f + (z − a)−ν f ′ e
g′ −ν f′
= +
g z−a f
Assim, como g ′ /g é holomorfa, temos

Res (
f′
; a) = ν ♣
f
11.13 Teorema. Seja Γ um ciclo em Ω e homólogo a 0 em Ω. Seja f meromorfa
em Ω e com um número finito de polos e zeros nos pontos

ζ1 , . . . , ζn ,

todos em Ω ∖ Imagem(Γ). Seja mj = Ind(Γ; ζj ), para j = 1, . . . , n. Então,

dz = ∑ mj ν(f ; ζj ).
n
1 f′

2πi Γ f j=1

Prova. Imediata, pelo teorema dos resı́duos 11.10 e o Lema 11.12♣

31
No resultado a seguir, utilizamos a seguinte notação. Sejam f uma função
meromorfa em um aberto Ω e γ uma curva fechada e C 1 por partes em Ω, com

Indγ ≡ 0 no complementar de Ω e Indγ ≡ 1 em I(γ), o interior de γ.

O número de polos de f no interior de γ e contados com suas multiplicidades é

P (f ; γ) = − ∑ ν(f ; p), onde p é um polo de f e p pertence a I(γ).

11.14 Princı́pio do Argumento (para funções meromorfas). Mantida a


notação imediatamente acima, se f não tem zeros ou polos em Imagem(γ) então

dz = Z(f ; γ) − P (f ; γ).
1 f′
2πi ∫γ f
Prova. Devido às hipóteses, o conjunto I(γ) está contido no aberto Ω.
Como f é meromorfa, o conjunto dos polos de f não tem ponto de acu-
mulação em Ω. Por hipótese, f não tem polos em Imagem(γ). Logo, o
conjunto dos polos de f no compacto I(γ) ∪ Imagem(γ) [vide Definição
7.16] é finito:
{p1 , . . . , pn }.

Então, f é holomorfa no aberto O = I(γ) ∖ {p1 , . . . , pn }. É válida a inclusão


∂O ⊂ Imagem(γ) ∪ {p1 , . . . , pn } [vide Definição 7.16]. Se C é uma compo-
nente conexa (aberta) de O então ∂C ⊂ ∂O [verifique]. Assim, se f é nula
em C então f é nula em ∂C e portanto f se anula em Imagem(γ), o que
é uma contradição. Em consequência, pelo PZI concluı́mos que o conjunto
dos zeros de f não tem ponto de acumulação no aberto O. Sendo assim, o
conjunto dos zeros de f no compacto I(γ) ∪ Imagem(γ) é finito:

{z1 , . . . , zm }.
f′
Então, o conjunto das singularidades de f no aberto I(γ) é dado por

S = {z1 , . . . , zm , p1 , . . . , pn }.

Pelo teorema dos resı́duos 11.10, o Lema 11.12 e a definição de P (f ; γ)


segue

dz = ∑ Res ( ; zj ) + ∑ Res ( ; pk ) = Z(f ; γ) − P (f ; γ)♣


n m
1 f′ f′ f′

2πi γ f f f
j=1 k=1

32
11.5 - Cálculo de Integrais

11.15 Definição. Seja f ∶ R → R Riemann-integrável em cada [a, b] ⊂ R.

● Se existir, o limite
f (x)dx
b

a→−∞ ∫
lim
a
b→+∞

é a integral imprópria de f , a qual indicamos por

∫−∞ f (x)dx,
+∞

e dizemos que a integral imprópria converge. Se tal limite não existir, di-
zemos que a integral imprópria diverge.

● Se existir, o limite
lim ∫ f (x)dx
r

r→+∞ −r

é denominado valor principal de Cauchy (ou, brevemente, o valor principal)


da integral imprópria
∫−∞ f (x)dx.
+∞

Indicamos então,

f (x)dx = lim ∫ f (x)dx.


+∞ +r
VP∫
−∞ r→+∞ −r

É claro que se existir a integral imprópria de f então existe o valor principal de

∫−∞ f (x)dx
+∞

e eles são iguais. É fácil mostrar que o reverso não ocorre (verifique).

Vejamos como computar algumas integrais, via método dos resı́duos.

33
P (x)
+∞

Caso I: ∫ Q(x) dx.


−∞

Seja f holomorfa no semi-plano aberto, exceto em um número finito de pontos,

Ω = {z ∈ C ∶ Im(z) > −ǫ} ∖ {a1 , . . . , ak } , com ǫ > 0,

e a1 , . . . , ak polos de f tais que Im(a1 ) > 0, . . . , Im(ak ) > 0.

γ2

γ1
−r 0 r x
Figura 11.5: Ilustração ao Caso I

Consideremos a semi-circunferência γ = γ1 ∨ γ2 definida por,

γ1 (t) = t, se t ∈ [−r, r], e γ2 (t) = reit , se t ∈ [0, π],

com r tão grande que o interior da semi-circunferência contém os polos de f .


Então, temos

2πi ∑ Res(f, aj ) = ∫ f (z)dz = ∫ f (t)dt + ∫ f (reit )ireit dt.


k r π

j=1 γ −r 0

Desta forma obtemos a implicação:

lim ∫ f (re )ire dt = 0 Ô⇒ 2πi ∑ Res(f, aj ) = V P ∫ f (x)dx.


π k +∞
it it
r→+∞ 0 −∞
j=1

34
Uma condição simples para que o limite à esquerda seja zero é dada por



⎪ existe K > 0 tal que ∣f (reit )∣ ≤ rK2 ,


(11.15.1) ⎨





⎩ para todo t ∈ [0, π] e para todo r grande o suficiente.
Pois, neste caso, para r suficientemente grande temos

∣∫ f (reit )ireit dt∣ ≤ ∫ =


π π Kr Kπ r→+∞
dt ÐÐÐÐ→ 0.
0 0 r2 r
Ainda, a condição (11.15.1) acima implica

∣f (x)∣ ≤ , para todo x ∈ R com x grande o suficiente,


K
x2
donde segue que existe a integral imprópria de f dada por

∫−∞ f (x)dx (cheque).


+∞

Logo, encontramos
+∞ +∞

∫ f (x)dx = V P ∫ f (x)dx
−∞ −∞

= 2πi ∑ res(f, aj ).
k

j=1

A condição (11.15.1) ocorre quando (solicito ao leitor verificar), por exemplo,


a função f = f (x) tem a forma


⎪ f (x) =


P (x)



Q(x) ,




onde



P e Q são polinômios com coeficientes reais,







satisfazendo



⎩ grau(Q) ≥ grau(P ) + 2 e Q não tem raı́zes reais.

35
Exemplo para o caso I. Compute
+∞dx
∫−∞ x4 + 1 .

[Este exemplo é histórico. Ainda, Leibnitz (incompreensivelmente para os olhos


modernos) considerou que não era possı́vel fatorar o polinômio Q(z) = z 4 + 1.]
Solução.

As raı́zes de Q(z) = z 4 + 1 no semi-plano superior são

ei 4 = ω e ei 4 = −ω.
π 3π

Pelo que foi desenvolvido no caso I, encontramos

∫−∞ x4 + 1 = 2πi [Res ( z 4 + 1 ; e 4 ) + Res ( z 4 + 1 ; e 4 )] .


+∞ dx 1 iπ 1 i3π

Pela propriedade (R5) [vide Lema 11.11] temos [observemos que ω 4 = −1]


⎪ (
⎪ 4 +1 ; e 4 ) = Q′ (ω) = 4ω 3 = − 4


1 1 1 ω

Res

z
⎨ e





⎩ Res ( z4 +1 ; e 4 ) = 4(−ω)3 = 4 .
i3π
1 1 ω

Logo,
∫−∞ x4 + 1 = 2 (−ω + ω)
+∞ dx πi

πi √
= (− 2i)

2

=
π 2

2

Exercı́cio. [Importante para o método de frações parciais.] Compute


+∞ dx
∫−∞ (x2 + 1)2 .

36
F (cos t, sent)dt.

Caso II: ∫0

Dada uma função racional F (z), onde z = x + iy, consideremos a curva

γ(t) = eit , onde t ∈ [0, 2π] (sentido anti-horário).

Notemos que se z = eit então temos

0 x

Figura 11.6: Ilustração ao Caso II

∣z∣ = 1, z = ,
1 dz
= iz e
z dt

cos t = (z + ), (z − ) e dt = .
1 1
sin t =
1 1 dz
2 z 2i z iz
Logo,
F (cos t, sin t)dt = ∫ F ( (z + ) , (z − )) .
2π 1 1 1 1 dz
∫0 γ 2 z 2i z iz
Se o integrando à direita não possui polos ao longo de γ, obtemos

F (cos t, sin t)dt = 2πi ∑ Res(f, aj ),


2π n
∫0
j=1

com a1 , . . . , an as singularidades de

f (z) = F ( (z + ) , (z − )) em B(0; 1).


1 1 1 1 1
iz 2 z 2i z

37
Exemplo 1 para o caso II. Compute

, com a real e a ∈ (1, +∞).


2π dθ
∫0 a + cos θ
Solução.

Pelo desenvolvido no caso II temos


⎡ ⎤
⎢ ⎥ dz
=∳ ⎢ ⎢ 1 ⎥ .
2π dθ
∫0 ⎥
a + cos θ ⎢ a + 12 (z + z1 ) ⎥ iz
∣z∣=1 ⎣ ⎦

A função
⎡ ⎤
1 ⎢⎢ ⎥
⎥= −2i
f (z) = ⎢
1 2z
⎥ =
iz ⎢ a + 2 (z + z ) ⎥ iz(2az + z + 1) 2az + z 2 + 1
⎣ ⎦
1 1 2

não se anula ao longo da curva γ(θ) = eiθ , onde θ ∈ [0, 2π]. Ainda, temos
√ √
z 2 + 2az + 1 = (z + a)2 − (a2 − 1) = (z + a + a2 − 1)(z + a − a2 − 1).
√ √
Observemos que a + a2 − 1 > 1 e 0 < a − a2 − 1 < 1. Logo, o único polo de f


na bola B(0; 1) é
−a + a2 − 1 ∈ B(0; 1).

Pela propriedade (R5) [vide Lema 11.11] segue



f (z)dz = Res (f ; −a + a2 − 1)
1

2πi γ
−2i
= √
2 (−a + a2 − 1) + 2a
−i
=√ .
a2 − 1
Por fim, temos
=√


2π dθ
∫0 a + cos θ a2 − 1
Exercı́cio. Compute (segue trivialmente do exemplo acima, cheque)

∫0 a + cos θ , onde a ∈ (1, +∞).


πdθ

38
Exemplo 2 para o caso II. Compute
π

I =∫
2 dθ
.
0 1 + sin2 θ
Solução.
Notemos que

I= f (z)dz,
1 2π
= ∫
1 1 dz 1
=


4 0 1 + sin θ 4 iz 4 ∫
+ [ (z − )]
2 1 1 2
∣z∣=1
1 2i z ∣z∣=1

Figura 11.7: Caso II - Exemplo 2. Os quatro polos de f .


onde

f (z) =
4iz
= 4
4iz
=
4iz
(z 2 − 1) − 4z z − 6z + 1 [(z − 1) − 2][(z + 1)2 − 2]
2 2 2 2
.

Os polos de f são [em ordem crescente, vide figura acima]


√ √ √ √
−1 − 2, 1 − 2, −1 + 2 e 1 + 2.
√ √
Apenas ζ = 1− 2 e −ζ = −1+ 2 pertencem a B(0; 1). Pelo teorema dos resı́duos,

f (z)dz = Res(f ; ζ) + Res(f ; −ζ).


1
2πi ∫∣z∣=1

Pela propriedade (R5) [vide Lema 11.11] segue

Res(f ; ζ) = √ √ .
4iζ
= = Res(f ; −ζ) =
i i i
e
4ζ 3 − 12ζ ζ 2 − 3 −2 2 −2 2
Por fim, √
√ π

f (z)dz = π 2 =
π 2


∫∣z∣=1 ∫0
2
e
1 + sin2 θ 4

39
+∞ P (x) +∞ P (x)
Caso III: ∫−∞ Q(x) cos(λx)dx ou ∫−∞ Q(x) sin(λx)dx [λ real].

Analogamente a uma situação descrita no caso I, suponhamos:



⎪ f (x) = Q(x)


P (x)

com P e Q polinômios com coeficientes reais,







⎩ Q sem raı́zes reais e grau(Q) ≥ grau(P ) + 2.

γ2

γ1
−r 0 r x
Figura 11.8: Ilustração ao Caso III

Se o integrando contiver a função cosseno, o uso imediato do contorno semi-


circular visto no caso I não é fáctivel aqui. Pois, sobre o eixo imaginário temos
e−y + ey
cos(iy) = = cosh(y), com y ∈ R,
2
e assim, a função cos z cresce exponencialmente sobre o eixo-imaginário.
A idéia é então
trocar cos z por eiz ,
e em seguida computar a integral usando o contorno semi-circular visto no caso
I, notando que no semi-plano superior vale a desigualdade

∣eiz ∣ = e−y ≤ 1 , pois Im(z) = y ≥ 0,

e, por fim, computar a parte real do valor obtido.

40
11.16 Exemplo para o caso III. Compute
+∞

∫ 1 + x2 dx = πe , onde λ > 0.
cos λx −λ

−∞
Solução.
A integral imprópria dada converge (cheque). Seja z = x + iy. Definamos

f (z) =
eiλz
1 + z2
.

Consideremos a semi-circunferência γ = γ1 ∨ γ2 como na exposição do caso III,


indiquemos seu raio por a com a > 1. A única singularidade de f no semi-plano
superior {z ∶ Im(z) > 0} é o polo simples

ζ = i.

Figura 11.9: Exemplo 11.16

Pelo teorema dos resı́duos segue

2πiRes(f ; i) = ∫ f (z)dz = ∫ f (z)dz + ∫ f (z)dz


γ γ1 γ2

Notemos que se ∣z∣ = ∣x + iy∣ = a e y > 0, então ∣z 2 + 1∣ ≥ a2 − 1 e


∣eiλ(x+iy) ∣
∣f (z)∣ ≤
e−λy
≤ ≤
1
a2 − 1 a2 − 1 a2 − 1
.

Logo,
∣∫ f (z)dz∣ ≤ 2
πa a→+∞
ÐÐÐÐ→ 0.
γ2 a −1
Portanto, obtemos
a eiλx +∞ eiλx +∞ eiλx
2πiRes(f ; i) = lim ∫ = ∫−∞ 1 + x2 = ∫−∞ 1 + x2 dx.
a→+∞ −a 1 + x2
dx V P dx

Donde segue
2
+∞ eiλx eλi
∫−∞ 1 + x2 dx = 2πi 2i = πe .
−λ

Para encerrrar, temos

(
+∞ cos λx +∞ eiλx
∫−∞ = Re ∫−∞ x2 + 1 dx) = πe ♣
−λ
x2 + 1
dx

41
f (x)dx.
b
Caso IV: VP ∫
a

11.17 Definição. Dizemos que a integral ∫a f (x)dx é absolutamente convergente


b

se a integral (própria ou imprópria)

∫a ∣f (x)∣dx ,
b

é convergente (i.e., finita). A integral é dita absolutamente divergente se

∫a ∣f (x)∣dx = +∞.
b

Lembrando o que ocorre com séries absolutamente convergentes e séries condi-


cionalmente convergentes, para uma integral absolutamente convergente temos
essencialmente uma única maneira de atribuir um valor para a integral, enquanto
que para uma integral absolutamente divergente não temos uma forma óbvia para
atribuir um valor a tal integral.

11.18 Definição. Seja f = f (x) contı́nua em [a, x0 ) ∪ (x0 , b]. O valor principal
da integral
∫a f (x)dx
b

é, se existir o limite abaixo, definido e denotado por

⎛ ⎞
x0 −ǫ b

f (x)dx = lim+ ∫ f (x)dx + ∫ f (x)dx .


b
VP∫
a ǫ→0 ⎝ ⎠
a x +ǫ 0

Exercı́cio. O valor principal de uma integral coincide com o valor usual de uma
integral (própria ou imprópria) se o integrando f é absolutamente integrável.
A definição de valor principal, se ou a, ou b, ou ambos: são pontos de descon-
tinuidade de f ou são infinitos ou não pertencem ao domı́nio de f , é análoga à
definição já dada 11.18 (imediatamente acima).
Se f tem um número finito de descontinuidades no intervalo aberto (a, b), o
valor principal da integral de f é computado dividindo (a, b) em sub-intervalos,
cada um contendo um ponto de descontinuidade de f e então computando os
valores principais de cada integral de f restrita a cada sub-intervalo e, finalmente,
somando os valores principais obtidos.

42
11.19 Exemplo para o caso IV.

dx = − √ .
+∞ 1 π
VP ∫
−∞ x3 −1 3
O integrando, próximo de x = 1, é comparável com a função
1
x−1
.

Assim, a integral (imprópria) acima é absolutamente divergente. As integrais, nos


intervalos (−∞, 1 − ǫ] e [1 + ǫ, +∞) são absolutamente convergentes (verifique).

O valor principal da integral acima é definido por:

⎛ ⎞
+∞ 1−ǫ +∞
1
dx = lim ∫ 3
1
dx + ∫ 3
1
VP∫ 3
x −1 ǫ→0 ⎝ x −1 x −1 ⎠
dx .
−∞ −∞ 1+ǫ

A função
f (z) =
1
−1
z3
têm três polos de ordem 1, que são as 3 raı́zes cúbicas de z = 1. Integremos f sobre
uma semi-circunferência denteada superior C com base centrada na origem, de
raio R > 1, contornando o polo simples z = 1 e orientada no sentido anti-horário.

y
C

ζ =e
2πi

γǫ−
3

−R 1 R x

Figura 11.10: Ilustração ao Caso IV

O interior de tal semi-circunferência denteada contém o polo simples ζ = e2πi/3


e pelas regras operatórias 11.11, (R5) e (R6), obtemos

43
Res ( Res (
1
, ζ) = 2 = ,
1 1
, 1) =
ζ 1
z3 −1 3ζ 3 z3 −1 3
e
dz = −π i Res ( 3
1 1
, 1) = − i,
π
lim ∫
ǫ→0 γǫ− z3 −1 z −1 3
onde empregamos a parametrização γǫ− com

γǫ (t) = 1 + ǫeiθ , com θ ∈ [0, π].

Assim temos, com ΓR uma parametrização para a semi-circunferência superior


centrada na origem e de raio R, orientada no sentido anti-horário,

(11.19.1) = ∫ f (z)dz
e2πi/3
2πi
3 C

1−ǫ R

=∫ 3 +∫ +∫ 3 +∫
dx dz dx dz
x −1 γǫ− z − 1 x −1 ΓR z − 1
3 3
.
−R 1+ǫ

Aplicando a Estimativa M-L temos:


RRR RR
RRR dz RRRR
RRR∫ 3 RRR ≤ 3
πR R→+∞
ÐÐÐ→ 0.
RRR z − 1 RRR R − 1
RΓR R
Deta forma, computando o limite de (11.19.1) para R → +∞ obtemos

⎛ dx ⎞
1−ǫ +∞

(− + i )= ∫ 3
2πi 1 3
+∫ 3 + ∫
dx dz
⎝ x −1 x − 1⎠ γǫ z − 1
3
,
3 2 2 −
−∞ 1+ǫ

donde, computando o limite para ǫ → 0 segue,


√ +∞


π 3 π
− i = VP∫ 3 − i♣
dx π
3 3 x −1 3
−∞

44
+∞ P (x) +∞ P (x)
Caso V: ∫−∞ Q(x)
cos(x)dx ou ∫
−∞ Q(x)
sin(x)dx.

Suponhamos

⎪ f (x) = Q(x)


P (x)

com P e Q polinômios com coeficientes reais







⎩ grau(Q) = grau(P ) + 1 .
Notemos que neste caso as integrais (impróprias) são absolutamente divergentes.

11.20 Lema de Jordan. Dado o semi-cı́rculo ΓR (θ) = Reiθ , θ ∈ [0, π], segue

∫Γ ∣e ∣ ∣dz∣ < π.
iz
R

Prova.

y
ΓR

Figura 11.11: Lema de Jordan

É claro que

∫ ∣e ∣ ∣dz∣ = ∫0 ∣e ∣ ∣iReiθ ∣dθ = R ∫ e−R sin θ dθ.


π iθ
π
iz iRe
0
ΓR

No intervalo [0, π2 ], a função sin θ tem a concavidade voltada para baixo e seu
gráfico está acima do reta conectando os pontos (0, 0) e ( π2 , 1).
Logo,
sin θ ≥
2
θ, se θ ∈ [0, ].
π
π 2
Assim,
π π

e−R sin θ dθ = 2 ∫ e−R sin θ dθ ≤ 2 ∫ e dθ = e−t dt < ♣


π π R π
∫0 ∫
2 2 −2Rθ
π
0 0 R 0 R

45
11.21 Exemplo para o caso V. Verifiquemos
+∞ sin x
dx = .
π
∫0 x 2
Abaixo temos o gráfico da função (sin x)/x, definida na variável real x.

sin x
Figura 11.12: O gráfico de x

Mudemos para variável complexa. Como


sin z
z
é inteira, temos que (sin x)/x é integrável em qualquer intervalo limitado.
Cheque que (sin x)/x não é absolutamente integrável em [0, +∞]. Isto é,


∣ dx = +∞.
sin x+∞
∫0 x
Ainda, devido à paridade da função em questão temos
sin x 1 +R sin x
dx = ∫
R
∫0 x 2 −R x
dx.

Logo, encontraremos o resultado desejado computando o valor principal


+∞ sin x
VP∫ dx.
−∞ x
Consideremos
f (z) =
eiz
,
z
com um só polo (simples) em z = 0 e

Res(f, 0) = 1.

Seja C a semi-circunferência denteada no semi-plano superior, contornando z = 0.

46
y

−R −ǫ 0 ǫ R x
Figura 11.13: Ilustração ao Exemplo 11.21

Com a notação no Lema de Jordan, seja ΓR a semi-circunferência de raio R


no semi-plano superior.
Seja ǫ > 0 e pequeno o suficiente. Definindo

γǫ (θ) = ǫeiθ , com θ ∈ [0, π],

encontramos

(11.21.1) 0 = ∫ f (z)dz = ∫
−ǫ eix eiz R eix eiz
dx + ∫ dz + ∫ dx + ∫ dz.
C −R x γǫ− z ǫ x ΓR z

Pelas regras operatórias para resı́duos temos

dz = −π Res ( , 0) = −πi.
eiz eiz
lim ∫
ǫ→0 γǫ− z z
Computando o limite de (11.21.1) para ǫ → 0+ encontramos
eix eiz
0 = VP∫ dx − πi + ∫
R
dz.
−R x ΓR z

Destacando a parte imaginária da identidade acima obtemos

dx − π + Im [∫
eiz
0=∫
R sin x
dz] .
−R x ΓR z

Finalmente, pelo Lema de Jordan 11.20 segue

∣∫ ∣eiz ∣ ∣dz∣ <


eiz
dz∣ ≤
1 π R→+∞
Γ z ∫
R ΓR R
ÐÐÐ→ 0.
R

Logo,
+∞ sin x
dx = lim ∫
R sin x
VP∫ dx = π♣
−∞ x R→+∞ −R x

47
Caso VI: Ramos - Um contorno buraco de fechadura

Exemplo 11.22. Verifiquemos que



∫0 x2 + 6x + 8 dx = π (1 − √ ) .
∞ x 1
2
Solução.
Notemos que [cheque]

(11.22.1) 0≤ 2 ≤ 3 , para todo x > 0.
x 1
x + 6x + 8 x 2
Logo, a integral solicitada é absolutamente convergente.
Passando para variável complexa, para facilitar os cálculos usamos o ramo

z = z 2 = e 2 , onde L ∶ C ∖ [0, +∞) → C
1 L(z)

é um ramo logaritmo com argumento variando em [0, 2π).

Figura 11.14: Exemplo 11.22

Consideremos ǫ tal que 0 < ǫ < 1 e R > 4.


Seja Γ o arco de circunferência de raio R centrada na origem, orientada no
sentido anti-horário,
√ √
de inı́cio A =R2 − ǫ2 + iǫ e final B = R2 − ǫ2 − iǫ.

Seja γ o arco de circunferência de raio 2ǫ centrada na origem, orientada no
sentido horário,
de inı́cio b = ǫ − iǫ e final a = ǫ + iǫ.
Seja C o contorno indicado na figura acima.

48
Notemos que os zero de z 2 + 6z + 8 = (z + 3)2 − 1 no interior de C são

ζ1 = −4 e ζ2 = −2.

Seja √
f (z) = 2 , onde z ∈ C ∖ [0, +∞).
z
z + 6z + 8
Então, temos

(11.22.2) ∫C f (z)dz = ∫ǫ f (x + iǫ)dx + ∫Γ f (z)dz + ∫R f (x − iǫ)dx + ∫γ f (z)dz.


R ǫ

No que segue, z ∈ C ∖ [0, +∞).


√ √ √
Temos ( z)2 = z e então ∣ z∣ = ∣z∣. Pela desigualdade (11.22.1) segue

∣f (z)∣ ≤
1
se z ≠ 0.
∣z∣ 2
3

Donde, pela estimativa M-L obtemos

∣∫ f (z)dz∣ ≤ 3/2 2πR ÐÐÐÐ→ 0.


1 R→+∞
Γ R
√ √
Se z ∈ Imagem(γ), então ∣ z∣ = ∣z∣ ≤ 1 e ∣z 2 + 6z + 8∣ ≥ 8 − 6 − 1 = 1. Donde segue

∣∫ f (z)dz∣ ≤ 1. 2ǫπ ÐÐÐ→ 0.
ǫ→0
γ

Deviso à escolha do argumento, temos


⎧ √ ǫ→0+ √

⎪ x + iǫ ÐÐÐ→ x uniformemente em [0, R] e
⎨ √ √

⎪ uniformemente em [0, R].
⎩ x − iǫ ÐÐÐ→ e
ǫ→0+
iπ x

A seguir, em (11.22.2) impondo ǫ → 0 e aplicando o teorema dos resı́duos obtemos


√ √
2πi [Res(f ; −4) + Res(f ; −2)] = ∫ + ∫ f (z)dz − ∫
R x 0 x
x + 6x + 8 R x + 6x + 8
2 2
dx.
0 Γ

Impondo R → +∞ nesta última identidade segue



2πi [Res(f ; −4) + Res(f ; −2)] = 2 ∫
+∞ x
x + 6x + 8
2
dx.
√ √ √
0

Por fim, (notemos que −4 = 2i e −2 = 2i) propriedades de resı́duos mostram


√ √ √
dx = πi ( ) = π (1 − )♣
+∞ 2i
+
x 2i 2
∫0 x + 6x + 8
2 2(−4) + 6 2(−2) + 6 2

49
11.6 - Transformada de Fourier

Dada f ∶ R → R absolutamente integrável, a sua transformada de Fourier é

fˆ(ξ) = ∫ f (x)e−2πixξ dx, onde ξ ∈ R.


+∞

−∞

Exemplo 11.23. Seja f (x) = e−πx . Mostremos que


2

fˆ(ξ) = ∫
+∞
e−πx e−2πixξ dx = e−πξ .
2 2

−∞

◇ Primeira Solução (Via Resı́duos).


Fixemos ξ > 0. Consideremos R > 0 e o retângulo de vértices −R e R,
no eixo real, e vértices superiores R + iξ e −R + iξ, orientado no sentido
anti-horário.

Figura 11.15: Retângulo de vértices −R, R, R + iξ e −R + iξ.

Seja ΓR a parametrização do retângulo acima. Seja

f (z) = e−πz ∈ H(C).


2

Pelo teorema de Cauchy temos

∫Γ f (z)dz = 0.
R

Logo,

(11.23.1)
−R
0=∫
R ξ 0
e−πx dx+∫ e−π(R+iy) idy+∫ e−π(x+iξ) dx+∫ e−π(−R+iy) dy.
2 2 2 2

−R 0 R ξ

50
As integrais nas “laterais” tendem a 0 se R → +∞. De fato, temos

∣e−π(R+iy) ∣ = ∣e−π(−R+iy) ∣ ≤ eπξ e−πR , se y ∈ [0, ξ].


2 2 2 2

Donde segue

∣∫ e−π(±R+iy) idy∣ ≤ ξeπξ e−πR ÐÐÐÐ→ 0.


ξ 2 2 2 R→+∞
0

Então, impondo R → +∞ em (11.23.1) encontramos

(11.23.2)
+∞ −∞
∫−∞ e dx+eπξ ∫ e−πx e−2πixξ dx = 0.
−πx 2 2 2

+∞

Por outro lado, pelo teorema de Fubini e por coordenadas polares temos
2
(∫ e−πx dx) = (∫ e−πx dx) (∫
+∞ 2
+∞ 2
+∞ 2
e−πy dy)
−∞ −∞ −∞

=∫
2 +y 2 )
e−π(x dxdy
R2
+∞
=∫

∫0
2
e−πρ ρdρdθ
0
2


e−πρ +∞
= 2π
(−2π) 0
= 1.
Desta forma, reescrevemos (11.23.2) como
+∞
1 − eπξ ∫ e−πx e−2πixξ dx = 0.
2 2

−∞

Isto é,
+∞
∫−∞ e dx = e−πξ , se ξ > 0.
−πx −2πixξ 2 2
e
O caso ξ ≥ 0 está provado.
Para finalizar, mostremos que a função fˆ é par. Notemos que dada qualquer
função g absolutamente integrável em R, a mudança de variável x = −t
fornece
−R
∫−R g(x)dx = ∫R g(−t).(−1)dt = ∫ g(−t)dt, para todo R > 0.
R R

−R

Donde então segue

fˆ(ξ) = ∫
+∞ +∞
e−πx e−2πixξ dx = ∫
2 2
e−πt e2πitξ dt
−∞ −∞

e−πt e−2πit(−ξ) dx = fˆ(−ξ).


+∞
=∫
2

−∞
A primeira solução está completa.

51
◇ Segunda Solução (Via Derivação Sob o Sinal de Integração).

Notemos que
+∞

fˆ(ξ) = ∫ F (x, ξ)dx,


−∞
onde
F (x, ξ) = e−πx e−2πixξ com (x, ξ) ∈ R × R.
2


Temos


⎪ ∣F (x, ξ)∣ = e−πx com ∫−∞ e−πx dx < ∞
2 +∞ 2



⎨ e




⎩ ∣ ∂ξ (x, ξ)∣ = 2π∣x∣e
⎪ ∫−∞ ∣x∣e
∂F −πx2 com +∞ −πx2 dx < ∞.

Segue então [vide comentários e exercı́cios no Capı́tulo 10 p. 41 e adapte


(é simples) ou vide Teorema 10.4 e/ou Teorema 10.22 e adapte (é simples)]
que
d(fˆ)
(ξ) = ∫ e−πx (−2πix)e−2πixξ dx.
+∞ 2

dξ −∞

Destacando (momentâneamente) i e então integrando por partes obtemos

(−2πx)e−πx e−2πixξ dx = e−πx e−2πiξ ∣ e−πx (−2πiξ)e−2πixξ dx


+∞ +∞
−∫
+∞
∫−∞
2 2 2

−∞ −∞
+∞
= 2πiξ ∫
2
e−πx e−2πixξ dx.
−∞
Donde segue
1 dfˆ
(ξ) = 2πiξ fˆ(ξ)
i dξ
e portanto
dfˆ
(ξ) = −2πξ fˆ(ξ).

Assim, fˆ satisfaz a edo
g ′ (ξ) = −2πξg(ξ).

Donde segue que fˆ tem a forma

fˆ(ξ) = λe−2πξ , para algum λ ∈ R.


2

Como fˆ(0) = 1, segue que λ = 1. Concluı́mos então que

fˆ(ξ) = e−πξ ♣
2

52

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