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Perguntas frequentes sobre a fé cristã

Michael Hardt
DLC Depósito de Literatura Cristã

© 2016

ISBN 978-85-98441-85-6

Traduzido do alemão “FAQ – häufig gestellte Fragen zum


christlichen Glauben” e do inglês “FAQ’s Frequently Asked
Questions” disponíveis respectivamente em:
www.bibelkommentare.de e em www.biblecentre.org. Se não for
citada a tradução da Bíblia, as referências bíblicas são da Almeida
Revista e Corrigida disponível em www.sbb.org.br.
Perguntas frequentes sobre a fé cristã
Introdução
1 O Senhor Jesus Cristo: A Sua pessoa.
1.1 Quem é Cristo?
1.2 E então, quem é Cristo, homem ou Deus?
1.3 Ainda existem outras passagens na Bíblia que deixam claro
que Cristo é Deus?
1.4 Mas como Ele pode ser Deus e ao mesmo tempo ser o
Filho de Deus?
1.5 O que significa “Trindade”?
1.6 Os cristãos acreditam em mais de um Deus?
1.7 Há diferentes níveis na Divindade?
1.8 Existem relacionamentos entre as Pessoas da Divindade?
1.9 Por que é um erro tão sério negar que o Senhor Jesus é o
Filho Eterno?
1.10 Cristo é ao mesmo tempo Homem e Deus, pode alguém
entender isso?
1.11 Por que é tão importante que Cristo é Deus e Homem?
1.12 Quando Cristo se tornou Homem?
1.13 Quando Ele se tornou Homem, Ele deixou de ser Deus?
1.14 Em algum momento, Cristo deixará de ser homem?
1.15 Ele teve uma alma humana, um espírito humano e um
corpo humano?
1.16 Ele foi um homem como nós?
1.17 Como Cristo podia ser tentado se Ele não podia pecar?
1.18 José era o Seu pai natural?
1.19 Maria foi Sua mãe natural?
1.20 Maria ocupa, portanto, um lugar especial? E, se assim o
for, qual é ele?
2 O Senhor Jesus Cristo: Seus sofrimentos e morte.
2.1 Jesus Cristo morreu, então Ele foi um mártir?
2.2 Cristo foi morto ou Ele deu a Sua vida?
2.3 Por que Jesus Cristo morreu?
2.4 Jesus carregou os meus pecados?
2.5 A morte de Cristo é suficiente para perdoar a todos?
2.6 Serão todos perdoados?
2.7 O que significa propiciação?
2.8 O que é substituição?
2.9 O que podemos aprender do Dia da Expiação em Levítico
16?
2.10 Na expiação o juízo de Deus estava incluso?
2.11 A expiação inclui a libertação do sofrimento físico?
2.12 O que é redenção?
2.13 O que significa comprar?
2.14 Quando o Senhor Jesus carregou os pecados dos que
nEle creem?
2.15 Por que Jesus foi desamparado por Deus?
2.16 O Senhor Jesus foi desamparado por Seu Pai?
2.17 O Senhor Jesus ainda estava desamparado por Deus
quando morreu?
2.18 Como podemos ter certeza que Deus aceitou o preço pago
por Cristo?
2.19 Podemos ser salvos pela perfeita vida do Senhor Jesus?
2.20 Por que ensinar que um crente pode perder a salvação é
um erro tão grave?
2.21 O que significa reconciliação?
2.22 A Bíblia não diz que todas as coisas serão reconciliadas?
Não serão, portanto, todos os homens salvos no final?
2.23 “Redenção universal” — o que é isso?
3 O Senhor Jesus: Suas funções e cargos.
3.1 O que o Senhor Jesus faz como nosso grande Sumo
Sacerdote?
3.2 O que o Senhor faz como Advogado?
3.3 Cristo reinará sobre essa Terra?
3.4 Por que é tão importante que Cristo reine?
3.5 Quando isso será e quanto tempo durará?
3.6 Como será o Reino Milenar?
3.7 É correto para os cristãos chamar Cristo de seu Rei?
3.8 O que compreendemos por: Cristo ser o Senhor?
3.9 Cristo é apenas o Senhor dos crentes ou também dos
descrentes?
3.10 O que significa Cristo ser o Cabeça?
4 O Senhor Jesus Cristo: a Sua Volta
4.1 O que os crentes aguardam?
4.2 Ainda precisa se cumprir alguma profecia antes do
arrebatamento?
4.3 O que significa o arrebatamento para Cristo?
4.4 O que significa o arrebatamento para os crentes?
4.5 Como sabemos que haverá um período de tribulação?
4.6 O que entendemos por: “a tribulação”?
4.7 Quais crentes passarão pela tribulação?
4.8 Os cristãos passam por provações e aflições (tribulações)?
4.9 O que significa a expressão “o Dia do Senhor”?
4.10 Quando ocorrerá a Grande Tribulação?
4.11 O que ocorrerá no meio do período da tribulação?
4.12 O que se compreende por a “aparição do Senhor Jesus”?
4.13 O que significa a aparição do Senhor Jesus para Israel e
para a Europa Ocidental?
4.14 O que significa a aparição para Cristo?
4.15 O que significa a Sua aparição com poder e glória para os
cristãos?
5 O Evangelho da Salvação. Parte 1: A justificação de nossos
pecados.
5.1 O que significa a palavra “Evangelho”?
5.2 Qual é o conteúdo do Evangelho?
5.3 Por que Paulo não se envergonhava do Evangelho?
5.4 O que é a justiça de Deus?
5.5 Quem precisa receber o Evangelho?
5.6 Todas as pessoas são culpadas?
5.7 Existe solução para o problema da culpa perante Deus?
5.8 O que significa “ser justificado” (Rm 3:20)?
5.9 O que significa “obras da lei”? Podemos ser justificados com
“boas obras” perante Deus?
5.10 Então como podemos ser justificados perante Deus (Rm
3:22-25)?
5.11 O que significa “ao qual Deus propôs para propiciação pela
fé no seu sangue” (Rm 3:25)?
5.12 Como Deus pode justificar um pecador e ser ao mesmo
tempo justo?
5.13 E quanto aos crentes do Antigo Testamento? Como são
eles justificados?
5.14 Mas não é dito na carta de Tiago que Abraão foi justificado
por obras?
5.15 Por que Cristo ressuscitou por causa de nossa justificação
(Rm 4:25)?
5.16 Quais são as consequências da justificação?
5.17 Quais são as consequências práticas para nossa vida?
6 O Evangelho da Salvação. Parte 2: Libertação do poder do
pecado.
6.1 Qual é a diferença entre pecado e pecados?
6.2 Qual é a solução divina para o problema dos pecados e do
pecado?
6.3 Um crente ainda está sob o poder do pecado?
6.4 Quais são as duas famílias descritas em Romanos 5?
6.5 Qual é a consequência de pertencer à família de Adão?
6.6 E o que caracteriza os que pertencem à família de Cristo?
6.7 Se eu agora pertenço à família de Cristo, pela graça, posso
pecar à vontade?
6.8 Por que para o crente é inescusável se ele permanecer no
pecado?
6.9 Por que, então, frequentemente eu ainda peco? Eu não
morri com Cristo?
6.10 O que significa que “nosso velho homem foi com ele
crucificado”?
6.11 O que significa a expressão “corpo do pecado”?
6.12 O problema de nossos pecados foi resolvido pela morte de
Cristo por nós. Mas como é resolvido o problema do pecado e
do seu poder?
6.13 O que significa o batismo?
6.14 Como posso saber se morri com Cristo? Posso sentir isso?
6.15 Morri com Cristo, como se altera a minha relação com o
pecado?
6.16 Como o fato de que morri com Cristo impacta em minha
vida?
6.17 Um crente deve guardar a lei (ou algumas regras) para ter
certeza de não pecar mais?
6.18 Como, então, pode um crente viver de modo a agradar a
Deus?
6.19 A quem se refere o “eu” em Romanos 7:7-25?
6.19.1 A Paulo?
6.19.2 A um incrédulo?
6.19.3 A um crente?
6.19.4 O que não é normal em seu estado?
6.20 Qual é o problema dessa pessoa em Romanos 7?
6.21 O que essa pessoa descobre (Rm 7:17-24)?
6.22 O homem que em Romanos 7 sempre fala de si mesmo,
agora, entendeu que ele mesmo não pode se tirar do lodo do
pecado. De onde vem o socorro?
6.23 Qual é a conclusão de Romanos 7?
6.24 Um crente pode ser condenado por Deus?
6.25 O que significa “a lei do Espírito de vida” e “a lei do pecado
e da morte”?
6.26 Qual é a solução de Deus para o pecado?
6.27 Isso significa que o crente faz constantemente coisas que
eram proibidas sob a lei?
6.28 Como se pode “andar no Espírito” na prática?
6.29 Um crente sempre anda por meio do Espírito?
6.30 Como podemos andar no Espírito?
6.31 Como Deus nos ajuda a andar no Espírito?
6.32 Por que tantos crentes sofrem em seus corpos e por que
ainda morrem, se a nossa salvação é completa? O corpo não
está incluído em nossa salvação?
6.33 Deus predestinou alguém para a condenação?
6.34 Quais são os maiores problemas da humanidade, e quais
são suas soluções?
7 A Igreja hoje
7.1 O que significa a palavra “Igreja”?
7.2 O que é a Igreja?
7.3 Quando ocorreu o início da Igreja?
7.3.1 Por que não mais cedo?
7.3.2 Por que não mais tarde?
7.4 A Igreja já era conhecida no Antigo Testamento?
7.5 Quem pertence hoje a essa Igreja?
7.6 Como podemos nos tornar membros do corpo de Cristo?
7.7 Por que o Novo Testamento usa figuras para descrever a
Igreja?
7.8 O que significa quando a Igreja é descrita como:
7.8.1 Corpo de Cristo?
7.8.2 Casa de Deus?
7.8.3 Noiva de Cristo?
7.9 O que queremos dizer quando falamos da “igreja em ...”
7.10 O que significa “se reunir ao nome do Senhor”?
7.11 O que é reunião como Igreja?
7.12 Quem conduz as reuniões? Essa é a tarefa de um pastor?
Ou de um ancião?
7.13 Quem deve ministrar a Palavra?
7.14 Qual é a diferença entre dons e cargos?
7.15 Por que hoje não é mais correto instituir anciões?
7.16 Quais dons são mencionados no Novo Testamento?
7.17 O papel dos sinais e milagres.
7.17.1 O que eles significavam no início?
7.17.2 O que eles significam hoje?
7.18 O que significa a “ruína (ou decadência) da Igreja”?
7.19 Como ainda podemos manifestar a unidade cristã nesse
tempo de ruínas e fragmentação?
7.20 Quem pode ser recebido para o partir do pão?
7.21 Qual é o relacionamento entre as igrejas locais?
7.22 O que é a disciplina exercida pela igreja?
7.23 O que é uma seita?
7.24 Devemos pertencer a uma denominação?
7.25 Qual deve ser a nossa relação com cristãos que não se
reúnem conosco?
7.26 O que é mais importante: doutrina exata ou devoção a
Cristo?
8 A Inspiração da Bíblia
8.1 É verdade que a Bíblia é inspirada por Deus?
8.2 A inspiração é realmente tão importante?
8.3 O que significa inspiração?
8.4 Mas a personalidade do escritor não influenciou em como e
no que foi escrito?
8.5 As escrituras são, portanto, humanas e, consequentemente,
imperfeitas?
8.6 Como a Palavra pode ter o caráter do escritor e ao mesmo
tempo ser a Palavra de Deus?
8.7 Alguma vez o Senhor Jesus corrigiu algo que os escritores
do Antigo Testamento escreveram?
8.8 Os escritores compreendiam o que eles mesmos
escreviam?
8.9 O Senhor deu as palavras ou apenas o conteúdo?
8.10 Por que a inspiração verbal é fundamental?
8.11 A inspiração estende-se a toda a Bíblia ou apenas às
partes doutrinárias?
8.12 A Bíblia afirma ser a Palavra de Deus?
8.13 Quais realmente são inspirados, os escritos originais, as
cópias manuscritas, ou nossas traduções?
8.14 Mas os manuscritos copiados não estão repletos de erros?
8.15 Mas as traduções não são muito imprecisas?
8.16 Então uma Bíblia em português não é a Palavra inspirada
de Deus?
8.17 O Senhor comentou se o Antigo Testamento é ou não
inspirado?
8.18 Como sabemos que o Novo Testamento também é
inspirado?
8.19 Como sabemos que os livros certos foram escolhidos para
compor a Bíblia?
8.20 Mas não existem contradições na Bíblia?
8.21 E quanto às palavras ditas por pessoas más e registradas
na Bíblia?
8.22 Em resumo, o que a Bíblia diz sobre si mesma?
8.23 Mas podemos confiar no testemunho que a Bíblia dá de si
mesma?
Introdução
A fé cristã não é um conjunto de regras morais e comportamentais.
Ela se refere a um relacionamento vivo com uma Pessoa viva, o
Senhor Jesus Cristo.

Portanto, o primeiro capítulo aborda uma série de perguntas com


relação à Pessoa do Senhor: Sua Divindade, Sua humanidade, a
ausência do pecado nEle e Seu relacionamento eterno de Filho com
Seu Pai.

Adicionadas às glórias de Sua pessoa, temos as glórias de Suas


obras, das quais alguns aspectos são descritos no capítulo 2:
substituição, expiação, redenção, libertação, para nomear apenas
algumas delas. Uma terceira categoria (capítulo 3), das glórias do
Senhor Jesus, mostra-se em Seu serviço: Cristo é o nosso Sumo
Sacerdote, nosso Intercessor e nosso Senhor e Cabeça; Ele ainda
será o rei de Israel.

Antes que Cristo inicie o Seu Reino, Ele voltará. A vinda do Senhor
ocorrerá em duas fases: primeiro, o arrebatamento dos Seus —
essa é a grande esperança dos crentes hoje —, segundo, a Sua
vinda com poder e glória, para iniciar o Reino Milenar de paz. As
perguntas e respostas do capítulo 4 abordam esse tema.

Com base na obra do Senhor Jesus, o Evangelho da salvação pode


ser proclamado. Esse contém duas grandes partes: justificação de
pensamentos, palavras e atos pecaminosos; e libertação do poder
do pecado. Os capítulos 5 e 6, que se ocupam com esses temas,
também podem ser lidos como uma introdução aos primeiros 8
capítulos da Epístola aos Romanos.

O plano de Deus, contudo, não se limita à salvação individual de


pessoas. Era o Seu desígnio ou plano eterno formar pelo Espírito
Santo um corpo e nele reunir “os filhos de Deus que andavam
dispersos” (Jo 11:52). E o que é ainda mais glorioso: Deus uniu esse
Corpo — a Igreja — com Cristo, assim como o corpo humano é
unido com sua cabeça.

O capítulo 7 se ocupa com uma série de perguntas sobre o tema


Igreja: o desígnio eterno de Deus, de um lado, e, do outro, a vida
prática da igreja hoje.

O capítulo 8 se ocupa com o tema inspiração. A inspiração verbal da


Bíblia é de fundamental importância. Se não crermos que “toda a
Escritura é inspirada por Deus” (2 Tm 3:16) nenhum ensino bíblico
pode ser defendido eficientemente contra os ataques do inimigo.
1 O Senhor Jesus Cristo: A Sua pessoa.
1.1 Quem é Cristo?
Essa pergunta em Mateus 16:15 é a mais importante que jamais
enfrentaremos. O Evangelho de João foi escrito “para que creiais
que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais
vida em seu nome.” (Jo 20:31). Ele se tornou homem (mais sobre
isso em 1.9 até 1.18) e viveu nessa terra por pouco mais de 30
anos. Apesar de ter sido achado por inocente pelo juízo romano, Ele
foi crucificado e morreu. Após três dias Ele ressurgiu e, 40 dias
depois, subiu ao céu. Ele virá novamente, primeiro, para levar os
que creram nEle para estarem com Ele, e, depois, para julgar o
mundo e instituir o Seu reino com poder e glória.
1.2 E então, quem é Cristo, homem ou
Deus?
Ambos. Ele é “Jesus Cristo, homem” (1 Tm 2:5), mas Ele também é
“o verdadeiro Deus” (1 Jo 5:20), “Deus bendito eternamente” (Rm
9:5).
1.3 Ainda existem outras passagens na
Bíblia que deixam claro que Cristo é
Deus?
Sim, muitas! A Bíblia não deixa quaisquer dúvidas de que Ele é
Deus. Considere apenas as seguintes:

A Sua existência eterna (preexistência):

Ele estava ali, antes e quando o mundo foi criado: (Gn 1:1,26
repare no ‘nós’; Jo 1:1; Hb 1:2). No tempo do Antigo
Testamento, por vezes, Ele apareceu como “o anjo do Senhor”
(Jz 6:11-22 etc).

Os Seus atributos:

Ele é eterno (Is 9:6; Mq 5:2; Jo 8:58 etc.);

Ele é imutável (Ml 3:6; Sl 102:25-27);

Ele é onipotente (Ap 1:8; Fp 3:21);

Ele é onisciente (Jo 1:27; 2:25; 6:64; 21:17 etc.);

Ele é onipresente (Ef 1:23; Mt 28:20 etc.).

Outras provas:

Ele criou todas as coisas (Jo 1:3,10; Cl 1:16; Hb 1:2);

Ele preserva e sustenta todas as coisas (Hb 1:3; Cl 1:17);

Ele demonstrou o Seu poder divino pelos muitos milagres


que fez, por dar o poder de fazer milagres (Mt 10:1) e pelos
milagres que outros fizeram em Seu nome (At 4:10);
Ele perdoa pecados (Lc 5:24, Cl 3:13);

Ele tem o poder de dar a Sua vida e de retomá-la (Jo


10:17,18 e 19:30);

Ele ressuscitou dentre os mortos e ressuscitará os mortos


(Lc 24:1-6; Jo 5:21, 28,29; 11:25; 2 Co 1:9);

Ele recompensará aos crentes (2 Co 5:10; 2 Tm 4:8);

Ele recebe e aceita adoração (Sl 95:6; Jo 5:23; 9:38; Lc


24:52);

Ele julgará o mundo (Jo 5:22; At 17:31; Ap 20:12);

O SENHOR do Antigo Testamento é Jesus no Novo


Testamento. O SENHOR é “primeiro e o último” (Is 41:4;
44:6; 48:12) e assim também é o Senhor Jesus (Ap 1:17;
2:8; 22;13). João posiciona a Cristo de modo igual com o
SENHOR (compare Jo 12:40,41 com Is 6:10).
1.4 Mas como Ele pode ser Deus e ao
mesmo tempo ser o Filho de Deus?
Existem três pessoas divinas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Todos os três são ‘Deus’.

Quanto ao Filho: veja 1.2 e 1.3;

Quanto ao Pai, há muitas referências dEle como o “Deus e Pai”


(p.ex. Ef 1:3);

O Espírito Santo é eterno (Hb 9:14), onipresente (Sl 139:7) e


coigual (‘no mesmo nível’) com o Pai e o Filho (Mt 28:19 e 2 Co
13:13).

No entanto, não há vários deuses, pois “Deus é um” (1 Tm 2:5). Veja


também 1 Co 8:4 e Gl 3:20.
1.5 O que significa “Trindade”?
Essencialmente, o que acabamos de dizer (em 1.4): há três pessoas
na Divindade, mas existe apenas um Deus. Nós não podemos
entender a Trindade. Esse tema não está aí para o questionarmos
com nossas limitadas mentes humanas — Deus é
imensuravelmente maior que o homem —, mas para, em fé,
adorarmos.

O termo “Trindade” não se encontra na Bíblia, mas o fato expresso


pelo termo sim.
1.6 Os cristãos acreditam em mais de um
Deus?
Não. Por vezes essa acusação é feita por ignorância. Mas o
cristianismo é claramente monoteísta, i.e., ele baseia-se na fé em
um Deus (veja 1.4).
1.7 Há diferentes níveis na Divindade?
Não. Se alguém se refere ao Pai, Filho e Espírito como “primeira”,
“segunda” e “terceira” pessoas da Divindade, não se refere a
diferentes níveis de hierarquia, mas uma simples enumeração.
Talvez devesse ser evitada essa maneira de falar para evitar mal-
entendidos.
1.8 Existem relacionamentos entre as
Pessoas da Divindade?
Sim. Cristo é o Filho de Deus. Esse relacionamento sempre existiu,
tanto na Eternidade como por todas as Eras:

O Pai amou o Filho antes do mundo ser criado (Jo 17:24);

Ele era o Filho quando o mundo foi criado (Hb 1:2); e

Ele era o Filho quando Deus o deu (Jo 3:16 e Is 9:6).


1.9 Por que é um erro tão sério negar que
o Senhor Jesus é o Filho Eterno?
Se essa verdade for abandonada, perde-se tudo. O que é tão
especial no cristianismo é que Deus é um Deus de amor. Mas como
reconhecemos o amor de Deus? Pelo fato de que Ele deu Seu Filho,
o único Filho que Ele tinha (veja Jo 3:16 e 1 Jo 4:9,10,14 e compare
com Gn 22:2 e Mc 12:6). Se alguém nega que Cristo já era o Filho
de Deus antes de Seu nascimento, isso significa que Deus
simplesmente enviou uma pessoa, não o Seu único Filho.

Além disso, Deus é revelado em seu Filho. O Filho fez conhecer o


Pai. Se Ele não era o Filho antes de vir, então ainda não
conheceríamos a Deus como Pai. Mas nós o conhecemos assim (Jo
1:18; 14:9-11).
1.10 Cristo é ao mesmo tempo Homem e
Deus, pode alguém entender isso?
Não. Ninguém. Deus é muito grande para ser compreendido pelas
limitadas mentes humanas. Mas nós cremos nisso. “O verbo era
Deus” (o Senhor Jesus é descrito como “o verbo” em João 1:1) e “o
verbo se fez carne” (i.e., se tornou homem, Jo 1:14). Veja também
Mateus 11:27: “ninguém conhece o Filho, senão o Pai”.
1.11 Por que é tão importante que Cristo é
Deus e Homem?
Primeiro, porque de outra maneira Cristo não teria completado a
Sua obra redentora. Ele precisou se tornar homem para poder
morrer. Ele precisava ser Deus para efetuar, com poder divino, a
obra redentora: “havendo feito por si mesmo a purificação dos
nossos pecados” (Hb 1:3; veja também Cl 1:19).

Segundo, Ele precisa ser tanto Deus como homem para ser o
mediador entre Deus e o homem. (1 Tm 2:5). Um mediador é
alguém que pode colocar a sua mão no ombro das duas partes
entre as quais medeia (uma figura bíblica de Jó 9:33).

Note: Cada pergunta que concerne a Cristo é importante. Se um


pregador não traz “a doutrina de Cristo” ele precisa ser rejeitado (2
Jo 9-11).
1.12 Quando Cristo se tornou Homem?
Há cerca de 2000 anos, quando Ele nasceu em Belém (veja Mq 5:1
e Lc 2:4-7). Deus chama esse momento de “a plenitude dos tempos”
(Gl 4:4). O homem foi testado em todas as maneiras possíveis e
falhou completamente. Então, Deus enviou a Seu Filho e falou por
Ele, i.e., na pessoa mesma do Filho, não apenas por meio dEle (Hb
1:1-2)1.
1.13 Quando Ele se tornou Homem, Ele
deixou de ser Deus?
Não. Ele foi, é e sempre será Deus. Isto é imutável, inquebrantável.
Deus é eterno e não pode cessar de ser Deus (Cl 1:19 e 2:9).
1.14 Em algum momento, Cristo deixará
de ser homem?
Não. Ele ressurgiu dentre os mortos (1 Co 15) e ascendeu ao céu,
onde Ele está como homem glorificado. Isso é importante, pois Ele é
agora nosso Sumo Sacerdote, um que é homem e sabe por
experiência o que é ser provado e tentado por esse mundo. Apenas
Ele não tinha e não tem a natureza pecaminosa (Hb 4:15). Durante
nossas vidas, Ele pode se compadecer e interceder por nós.
Quando Cristo vier com poder, Ele ainda será o “Filho do homem”
(Mt 24:30; 26:64).
1.15 Ele teve uma alma humana, um
espírito humano e um corpo humano?
Sim. Ele foi verdadeiramente homem; e o homem é composto de
corpo, alma e espírito (1 Ts 5:23).

Sobre o Seu corpo é dito na Bíblia: “corpo me preparaste” (Hb


10:5). Também é dito que “nele habita corporalmente toda a
plenitude da divindade.” (Cl 2:9). Ainda há outras passagens
nos evangelhos que mostram que Ele passou por experiências
que só podiam ser experimentadas por um corpo humano, por
exemplo, João 4:6;

Sobre o Seu espírito é dito: “moveu-se muito em espírito e


perturbou-se” (Jo 11:33). Naturalmente esse não é o Espírito
Santo, mas o espírito humano do Senhor;

Sobre Sua alma é dito: “Agora, a minha alma está perturbada”


(Jo 12:27).

É notável ver como a perfeita humanidade do Senhor é apresentada


em termos tão claros.
1.16 Ele foi um homem como nós?
Sim (Hb 2:14), exceto pelo pecado. Todo descendente de Adão (e
isso inclui todo homem, mulher e criança) tem uma natureza
pecaminosa (Rm 5). Mas o Senhor Jesus não teve a natureza
pecaminosa. Ele, “como nós, em tudo foi tentado, mas sem
pecado.”(Hb 4:15). Note que:

Cristo não cometeu qualquer ação pecaminosa: “o qual não


cometeu pecado” (1 Pe 2:22);

Cristo não conheceu pecado: “Aquele que não conheceu


pecado,” (2 Co 5:21);

Cristo não tinha a natureza pecaminosa e, portanto, Ele não


podia pecar, pois “nele não há pecado.” (1 Jo 3:5; veja também
1 Jo 3:9).
1.17 Como Cristo podia ser tentado se Ele
não podia pecar?
Os evangelhos descrevem que Cristo foi tentado pelo Diabo (Mc
1:13). Satanás apresentou tentações a Cristo, mas nada havia nEle
que respondesse a elas. É nisso que todos nós diferimos dEle:
todos nós temos a inclinação de responder às tentações de
Satanás, pela concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e
soberba da vida (1 Jo 2:16), pois temos a carne, a natureza
pecaminosa. Mas isso não era assim com Cristo. Ele não foi tentado
para testar se iria pecar, mas para demonstrar que não podia pecar.
1.18 José era o Seu pai natural?
Não. Cristo não teve um pai humano. O anjo Gabriel disse a Maria:
“Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá
com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de
nascer, será chamado Filho de Deus.” (Lc 1:35). Interessantemente,
o escritor desse evangelho era médico (Cl 4:14). O relato de Mateus
nos dá mais uma confirmação. Quando José descobre que Maria
estava esperando um bebê ele queria deixá-la secretamente. Mas
um anjo do Senhor aparece a ele e lhe comunica para não deixá-la
e para não temer, pois “o que nela está gerado é do Espírito Santo.”
Quem poderia pensar numa maneira mais clara de dizê-lo?

Quaisquer dúvidas finais são removidas pela declaração de que


José “não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e
pôs-lhe o nome de JESUS.” (Mt 1:25; veja também Mt 1:18).
1.19 Maria foi Sua mãe natural?
Sim. A mais antiga das profecias bíblicas sobre o Senhor se refere a
Ele como a semente da mulher (Gn 3:15). Paulo esclarece que um
dos privilégios dos israelitas era que deles viesse o Cristo, segundo
a carne (Rm 9:5). E mais, nós lemos em João 7:42: “Não diz a
Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi e de Belém, da
aldeia de onde era Davi?” Outra confirmação é achada em
Romanos 1:3, que diz que Cristo era da “descendência de Davi
segundo a carne”. Veja também 2 Timóteo 2:8.
1.20 Maria ocupa, portanto, um lugar
especial? E, se assim o for, qual é ele?
Sim, ela ocupa um lugar especial. O anjo Gabriel diz a ela “Salve,
agraciada” (Lc 1:28). Pouco depois, Isabel, cheia do Espírito Santo,
exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres” (v. 42). Era um grande
privilégio ser a mãe natural do homem Jesus Cristo.

Entretanto, os sábios vieram do oriente para Jerusalém (Mt 2), pois


tinham visto “a sua [não de Sua mãe] estrela no Oriente e …[vieram]
a adorá-lo [Ele não ela]” (v. 2). Eles foram guiados pela estrela que
“ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde
estava o menino. [não Sua mãe]” (v. 9). Notavelmente, é então dito:
“acharam o menino com Maria, sua mãe, [não a mãe com o Menino]
e, prostrando-se, o adoraram [Ele não ela]”(v. 11). Veja também as
palavras do Senhor à Maria em João 2:4 e em Marcos 3:31-35.

Todos que têm Maria em alta estima fazem bem em respeitar o seu
conselho: “Fazei tudo quanto ele vos disser.” (Jo 19:27). As palavras
do Senhor para João, “Eis aí tua mãe.” (Jo 19:27), e o fato que,
dessa hora em diante, João a tomou para estar com ele, mostra que
Maria não tinha poderes sobrenaturais. Ela precisava ser cuidada
por alguém. Se Maria tivesse nascido sem pecados e fosse a mãe
de Deus, como alguns o afirmam, Maria não teria chamado a Deus
como seu Salvador (Lc 1:47).

Quando uma mulher disse ao Senhor: “Bem-aventurado o ventre


que te trouxe...”, Ele respondeu: “Antes, bem-aventurados os que
ouvem a palavra de Deus e a guardam” (Lc 11:27-28).

Finalmente, em Atos 1:14, Maria é mencionada como uma das


mulheres que perseveravam com os discípulos em oração.
Nenhuma posição especial foi atribuída a ela.
Em resumo: Maria tinha um lugar especial — mas de privilégio, não
de autoridade ou poder. Orar à Maria é simplesmente idolatria.
Adoração pertence a Deus.

1. “Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas


maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes
últimos dias, pelo Filho,” (Hb 1:1,2). Na língua original em grego
há uma diferença entre “pelos profetas” e “pelo Filho”,
literalmente traduzido seria “em os profetas” e “em Filho”. Isso
significa que antigamente Deus falou por intermédio dos
profetas, mas nestes últimos dias Deus falou sem usar um
intermediador, externo a Ele, Deus mesmo estava falando, pois
o Filho é Deus.↩
2 O Senhor Jesus Cristo: Seus
sofrimentos e morte.
2.1 Jesus Cristo morreu, então Ele foi um
mártir?
Sim, mas sua morte engloba muito mais do que isso. A palavra
“mártir” significa “testemunha” e geralmente é aplicada para uma fiel
testemunha que morreu por seu testemunho. Tudo isso é verdade
em relação a Cristo. Ele é a “a testemunha fiel e verdadeira” (Ap
3:14) e Ele foi “obediente até à morte e morte de cruz.” (Fp 2:8).
Mas as perguntas e respostas a seguir mostram biblicamente que a
morte de Cristo tem uma importância fundamental que vai muito
além da morte de um mártir.
2.2 Cristo foi morto ou Ele deu a Sua vida?
Ambos. São dois lados distintos de Sua morte. Os homens fizeram
tudo para matá-lO: Eles O crucificaram. Nesse sentido eles se
tornaram nos assassinos do Senhor (At 2:23). Esse é o lado da
responsabilidade humana. Ao mesmo tempo, Jesus Cristo entregou
Sua vida voluntariamente (Jo 10:11,15,17,18). Nós também lemos:
”E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E,
inclinando a cabeça, entregou o espírito” (Jo 19:30). Esse é o lado
do Seu poder divino e do Seu amor.
2.3 Por que Jesus Cristo morreu?
Esse tema é tão impactante que é quase impossível dar uma
resposta breve. O Senhor Jesus morreu:

para provar Sua absoluta obediência a Deus;

para glorificar a Deus com relação ao pecado;

para glorificar ao Pai, mostrando o amor do Pai a nós;

para possibilitar a Deus a justificação de homens pecadores; e

para trazer salvação e benção aos homens, que se afastaram


de Deus.
2.4 Jesus carregou os meus pecados?
Isso depende. Se você crê nEle, se você foi a Ele com seus
pecados e O aceitou como seu Salvador pessoal, então a resposta
é “sim”. Jesus carregou nossos pecados, i.e., os pecados dos
crentes (1 Pe 2:24). A Bíblia nunca diz que Ele carregou os pecados
de “todos”, mas que Ele carregou os pecados de “muitos” (Is 53:12).
2.5 A morte de Cristo é suficiente para
perdoar a todos?
Sim. A morte de Cristo é suficiente para que todos possam trazer a
Ele seus fardos de pecados. Mas apenas aqueles que vão a Ele
recebem perdão de seus pecados (veja 2.6). A oferta é para todos:

Deus “quer que todos os homens se salvem e venham ao


conhecimento da verdade” (1 Tm 2:4);

“Se alguém tem sede, que venha a mim e beba” (Jo 7:37);

“quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água


da vida” (Ap 22:17).
2.6 Serão todos perdoados?
Toda pessoa pode ser perdoada (veja 2.5). Mas nem todos serão
perdoados, pois nem todos pedem pelo perdão. Está escrito na
Bíblia:

“para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a
vida eterna” (Jo 3:16);

“Aquele que crê no Filho tem a vida eterna, mas aquele que não
crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele
permanece” (Jo 3:36).
2.7 O que significa propiciação?
A palavra “propiciação” significa “ato que torne favorável”. Ela ocorre
em 1 João 2:2: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não
somente pelos nossos, mas também por todo o mundo”1. Como
podemos entender a expressão “por todo o mundo”? O sacrifício do
Senhor é tão grande e tem aos olhos de Deus um valor tão alto, que
Ele pode, sobre essa base, oferecer a salvação a todos — apesar
de nem todos aceitarem sua oferta (veja 2.5 e 2.6).

Deus é santo e justo. Por isso, cada pecador merece ser julgado e
condenado por Ele. Sem a obra de Cristo na cruz, a condenação
seria inevitável. Mas, graças a Deus! Cristo morreu. Ele foi a
propiciação, de modo que Deus pode oferecer a salvação de graça
a todos. Nesse sentido, Cristo “deu a si mesmo em preço de
redenção por todos” (1 Tm 2:6).

Em Romanos 3:25 encontramos um texto semelhante: “Cristo


Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação [ou propiciatório] pela
fé no seu sangue”. O termo “propiciação” aqui se refere a uma figura
do Antigo Testamento, à tampa da Arca da Aliança, que era
aspergida com sangue uma vez por ano (Lv 16:14). O sangue
aspergido na tampa da arca no Santo dos Santos ilustra o fato de
que Deus foi totalmente satisfeito através da morte de Cristo.

Em resumo, a propiciação possibilita a Deus oferecer a todos os


homens a salvação de graça. Essa salvação, no entanto, só se
torna efetiva para os que a aceitam por meio da fé.
2.8 O que é substituição?
Um substituto ocupa o lugar de outro. Na cruz Cristo ocupou o lugar
daqueles que nEle creem. O justo sofreu pelos injustos (1 Pe 3:18).
Ele carregou nossos pecados (Is 53:12; 1 Pe 2:24).

A conhecida passagem do profeta Isaías descreve o que é


substituição: “Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído
pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre
ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados. … o SENHOR fez cair
sobre ele a iniquidade de nós todos” (Is 53:5-6).

Nesse sentido o Senhor deu Sua vida como resgate por muitos (ou
no lugar de muitos) (Mt 20:28; Mc 10:45). Essa substituição é
apenas para os que nEle creem (veja 2.23).
2.9 O que podemos aprender do Dia da
Expiação em Levítico 16?
O dia da expiação era uma das Festas do Senhor (Lv 23). Esse
importante dia para o povo de Israel é descrito com detalhes em
Levítico 16. O sacrifício que deveria ser trazido nessa ocasião
mostra as duas partes da morte do Senhor: propiciação (veja 2.7) e
substituição (veja 2.8). O procedimento central nesse dia era a
oferta de dois bodes. Um deles era para o Senhor, que fala de
propiciação, e outro para o povo, que fala de substituição.

O sumo sacerdote aspergia o sangue do primeiro bode sobre e


diante a tampa da arca da aliança (propiciatório). O outro bode,
sobre cuja cabeça o sumo sacerdote confessava todos os pecados
do povo, era enviado ao deserto.

Cristo cumpriu ambas as partes: Deus foi satisfeito e glorificado pela


obra na Cruz (propiciação) e Ele carregou nossos pecados
(substituição).
2.10 Na expiação o juízo de Deus estava
incluso?
Sim, com certeza. Alguns ensinaram que a expiação simplesmente
significava que Cristo entrou no estado maligno do homem ou que
Ele se fez um com o estado do homem. Dizer isso desconsidera o
fato de que o castigo que traz nossa paz estava sobre Ele (Is 53:5) e
que a espada de Deus estava contra o companheiro, i.e., Cristo, (Zc
13:7). Cristo carregou nossos pecados, i.e., o castigo justo pelos
nossos pecados.
2.11 A expiação inclui a libertação do
sofrimento físico?
Não, ao menos não enquanto estivermos na terra. Alguns
concluíram erradamente de Isaías 53:5, que “pelas suas pisaduras
fomos sarados” deveria ser entendido de forma física. Mas esse
versículo fala de “nossas transgressões”, de “nossas iniquidades” e
de “nossa paz”. O contexto, portanto, deixa claro que a cura se
refere ao problema do pecado — essa doença terrível — e não aos
sofrimentos físicos.

Isaías 53:4 também é por vezes entendido errado: “ele tomou sobre
si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si.” Esse
versículo não se refere à obra na cruz, mas ele cumpriu-se quando
o Senhor Jesus curou enfermos durante Sua vida aqui na terra,
como a citação em Mateus 8:17 mostra.

Nós ainda aguardamos pela “redenção do nosso corpo” (Rm 8:23,


veja também 6.32).
2.12 O que é redenção?
A palavra redenção pode ser traduzida por resgate. Ela está ligada a
um preço que deve ser pago para libertar alguém. Sob a Lei de
Moisés, uma herança, que por empobrecimento tinha que ser
vendida, podia ser redimida ou resgatada pelo parente mais próximo
(Lv 25:25). Um exemplo disso encontramos no livro de Rute. Noemi
tinha perdido tudo e Boaz se torna o remidor ou resgatador.

Cristo redimiu, resgatou, libertou os que pertencem a Ele (e apenas


esses). O preço que Ele pagou foi o Seu sangue (1 Pe 1:18,19), i.e.,
a sua vida.
2.13 O que significa comprar?
Em uma compra é pago um preço, mas isso difere de redenção ou
resgate.

“Comprar” se refere a todo o mundo (humanidade), não apenas aos


crentes. Isso mostra o versículo “entre vós haverá falsos mestres,
que introduzirão encobertamente heresias destrutivas e, negando o
Senhor que os comprou, trazem sobre si mesmos repentina
destruição.”2(2 Pe 2:1). Esses falsos mestres foram comprados,
mas não foram redimidos, pois não tinham crido no Senhor Jesus.
Eles O negaram e trouxeram para si mesmos repentina destruição.

Uma ilustração interessante encontra-se na parábola do tesouro no


campo. Todo o campo foi comprado por causa do tesouro (e o
campo é o mundo, Mt 13:38,44). O Senhor Jesus recebeu pela Sua
morte o direito de compra sobre todo o mundo (adicional ao direito
de posse que Ele tem como Criador).
2.14 Quando o Senhor Jesus carregou os
pecados dos que nEle creem?
Para esclarecer qualquer dúvida: a obra do Senhor Jesus não
ocorreu durante Sua vida, nem na sepultura, também não durante
as três primeiras horas na Cruz. Cristo carregou nossos pecados
nas três horas de trevas. “E, desde a hora sexta, houve trevas sobre
toda a terra, até à hora nona” (Mt 27:45). Durante esse período a
cena foi regida pelas trevas e pelo silêncio. Não ouvimos nenhuma
palavra do Senhor Jesus até a hora nona.

Ninguém pode medir o que ocorreu durante essas horas. O clamor


do Senhor, no final, levanta um pouco o véu: “Deus meu, Deus meu,
por que me desamparaste?” (Mt 27:46).

Cristo foi o único, de quem lemos, que foi desamparado,


abandonado, por Deus. Ele foi desamparado apenas nessas três
horas, nas quais fez a expiação. Antes dessas três horas, Ele gozou
de uma perfeita e ininterrupta comunhão com Deus, depois Ele
também gozou dessa mesma comunhão. Assim, ao término das três
horas, Ele se volta ao Seu Pai e entrega o Seu espírito em Suas
mãos (Lc 23:34,46).

A passagem de 1 Pedro 2:24 também deixa claro que o Senhor


Jesus carregou “nossos pecados sobre o madeiro”, i.e., sobre a
cruz.
2.15 Por que Jesus foi desamparado por
Deus?
Esse fato era contrário a todas as experiências e expectativas (Sl
37:25). O clamor de Jesus: “Por que me desamparaste” também se
encontra em Salmo 22:1. Esse Salmo esclarece que os que confiam
em Deus são por Ele salvos e não são envergonhados (Sl 22:4,5).
Como então é possível que o mais fiel de todos fosse abandonado
por Deus?

A primeira resposta nos dá Salmo 22:3: “Porém tu és Santo”.


Quando Cristo carregou nossos pecados, o Santo Deus precisou se
desviar dEle, precisou julgá-lo e até “moê-lo” (Is 53:10).

A segunda reposta encontra-se em 2 Coríntios 5:21: “Cristo foi feito


pecado por nós, para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”.
Ele precisou ser abandonado por Deus por causa de nossos
pecados, pois Ele “não conheceu pecado” (veja também 1.16). Não
é Ele digno de nossa eterna adoração?
2.16 O Senhor Jesus foi desamparado por
Seu Pai?
A Bíblia não nos diz isso. Quando ela diz que Ele foi desamparado,
então apenas Deus é citado: “Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?” (Mt 27:46; Mc 15:34: Sl 22:1).

Quando a Bíblia nos apresenta Jesus como o Filho de Deus, ela


deixa claro que Ele sempre esteve e está no seio do pai (Jo 1:18).
Nós não queremos adentrar em assuntos que nos são encobertos e
que excedem o nosso entendimento, mas nós fazemos bem em
guardar essa diferenciação que a Bíblia faz.

Uma simples ilustração pode nos ajudar. Se um juiz precisar julgar o


próprio (culpado) filho, então, ele como juiz precisará condená-lo.
Mas como pai, ele sempre estará com seu coração ao lado do filho.
2.17 O Senhor Jesus ainda estava
desamparado por Deus quando morreu?
Não. Ele disse: “Está consumado” (Jo 19:30), e então Ele entregou
Seu espírito nas mãos de Seu Pai (Lc 23:46). Veja também 2.14.
2.18 Como podemos ter certeza que Deus
aceitou o preço pago por Cristo?
Para tal, há uma prova clara e visível. Deus honrou a Cristo, O qual
os homens pregaram na cruz, ressuscitando-O. Deus O exaltou da
posição mais profunda para a mais elevada — para o lugar de honra
à Sua direita (Ef 1:19-23; At 2:24,32: 3:15 etc.).

Com isso qualquer dúvida é eliminada: o preço que o Senhor Jesus


pagou foi aceito por Deus, pois Cristo foi ressuscitado por causa da
nossa justificação (Rm 4:25).
2.19 Podemos ser salvos pela perfeita vida
do Senhor Jesus?
Não, a Sua morte foi necessária. De outro modo “o grão de trigo”
ficaria só (Jo 12:24). “Sem derramamento de sangue não há
remissão”, perdão, de pecados (Hb 9:22). Se pudéssemos ser
salvos pela perfeita vida do Senhor Jesus (que guardou a Lei), por
que, então, Cristo morreu? “Porque, se a justiça provém da lei,
segue-se que Cristo morreu em vão” (Gl 2:21).

Nesse contexto precisamos considerar Romanos 5:10: “Porque, se


nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de
seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela
sua vida.”. Esse versículo aparenta dizer que somos salvos pela
Sua vida. Mas aqui trata-se de:

crentes já reconciliados;

uma salvação das circunstâncias da vida terrena, não a


salvação eterna;

a vida do Senhor Jesus após Sua morte, na Sua ressurreição e


no céu, e não a Sua vida na Terra antes de Sua morte.
2.20 Por que ensinar que um crente pode
perder a salvação é um erro tão grave?
Alguns ensinam que um crente é salvo, mas se ele for infiel em sua
vida de fé, ele pode perder a sua salvação. De acordo com esse
ensino, para a salvação são necessárias duas coisas: primeiro, a
obra do Senhor Jesus (Sua morte), e, segundo, nossa própria fiel e
santa vida. Mas isso significaria que a obra na cruz por si mesma
não é suficiente. Isso é no final uma ofensa contra o Senhor Jesus e
um menosprezo de Sua morte na cruz.

Se nossa salvação dependesse de nossa fidelidade, jamais


teríamos paz com Deus. E mais, nunca teríamos certeza se não
seríamos ainda condenados. Mas a Palavra de Deus deixa claro
que não há mais condenação para os crentes (Rm 5:1; 8:1).
2.21 O que significa reconciliação?
Reconciliação significa “trazer em harmonia com”. Inimigos precisam
de reconciliação. Deus não precisa ser reconciliado com os homens;
o contrário é necessário, que os homens sejam reconciliados com
Deus, pois são seus inimigos (2 Co 5:20).

Reconciliação não é o mesmo que propiciação ( 2.7), pois ela só


pode ocorrer após a propiciação ter sido feita.
2.22 A Bíblia não diz que todas as coisas
serão reconciliadas? Não serão, portanto,
todos os homens salvos no final?
Todas as coisas serão reconciliadas com Deus, mas não todos os
homens. O versículo, que cita esse fato, diz: “porque foi do agrado
do Pai que toda a plenitude nele habitasse e que, havendo por ele
feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse
consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como
as que estão nos céus.” (Cl 1:19,20).

Esse versículo fala de coisas, não de pessoas. Todo o universo foi


afetado e contaminado pelo pecado do homem (Rm 8:20). Por isso,
é importante que todas as coisas sejam novamente trazidas em
harmonia com Deus. Isso só pode ocorrer com base na obra do
Senhor Jesus na cruz, “havendo por ele feito a paz pelo sangue da
sua cruz”.
2.23 “Redenção universal” — o que é
isso?
Essa falsa doutrina diz que todas as pessoas serão salvas no final.
Na Bíblia não há qualquer menção sobre isso. De alguns versículos
chegou-se a essa conclusão, mas injustamente e por uma
compreensão errada (veja 2.22). Além disso, essa doutrina
contradiz citações bíblicas como João 3:36 “Aquele que crê no Filho
tem a vida eterna, mas aquele que não crê no Filho não verá a vida,
mas a ira de Deus sobre ele permanece”.

Quando a ira de Deus permanece sobre essa pessoas, como então


elas poderão ser salvas no final? De João 3:16 vemos claramente
que “todo aquele que nele crê” será salvo, e não que “todos os
homens serão salvos”.

1. A tradução literal é “por todo o mundo” e não “pelos de todo o


mundo”.↩

2. Tradução Literal Darby e Bremicker.↩


3 O Senhor Jesus: Suas funções e cargos.
Nós já nos ocupamos com alguns aspectos da glória da pessoa de
Cristo (Capítulo 1), e também com algumas facetas da glória de Sua
obra na cruz (Capítulo 2). Mas ainda temos as glórias referentes aos
Seus cargos, ou seja, de Suas funções e atividades
desempenhadas tanto hoje quanto no futuro.
3.1 O que o Senhor Jesus faz como nosso
grande Sumo Sacerdote?
O Senhor Jesus é o Sumo Sacerdote e, como tal, intercede por nós
(Rm 8:34; Hb 7:25,26). Ele é perfeitamente capaz de ajudar aqueles
que são tentados, pois se tornou homem e, assim, “em tudo, foi
semelhante aos irmãos” (Hb 2:17,18). Ele é totalmente capaz de se
compadecer por nós durante nossas dificuldades e problemas, pois
Ele, “como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.” (Hb 4:15).
Ele conhece e entende perfeitamente nossas fraquezas (fome,
sede, cansaço, dores, tristezas).

No Antigo Testamento há dois grandes Sumo Sacerdotes: Arão e


Melquisedeque. A tarefa de Arão consistia em entrar no Santuário a
favor do povo (interceder), para no Santo dos Santos fazer expiação
pelo povo uma vez por ano (Lv 16; veja também 2.9).
Melquisedeque, por outro lado, fortaleceu a Abraão após a batalha
com pão e vinho (Gn 14:18). Ele abençoou Abraão e bendisse ao
“Deus Altíssimo” (Gn 14:19,20).

Hoje, o Senhor Jesus é Sumo Sacerdote segundo a ordem de


Melquisedeque (Hb 5:10), mas o ministério que Ele exerce
corresponde ao Sacerdócio de Arão: Ele fez a expiação por nós na
cruz e Ele intercede por nós. No futuro, após o período da
tribulação, Ele irá fortalecer o remanescente judaico após suas
lutas, assim como Melquisedeque fortaleceu a Abraão. Ele irá,
então, estabelecer o Reino Milenar de bençãos para Seu povo
Israel. Nesse tempo Deus será adorado como o Deus Altíssimo.
3.2 O que o Senhor faz como Advogado?
Quando pecamos, o Senhor Jesus se torna ativo como advogado
por nós. Crentes não precisam e não devem pecar, no entanto, por
vezes o fazem: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que
não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o
Pai, Jesus Cristo, o justo.” (1 Jo 2:1). Só Ele é capaz de tomar
nossa causa em Sua mão, pois Ele é “o justo”. Graças a Deus, pois
o Senhor não age por nós apenas quando confessamos nossos
pecados! Ele toma a iniciativa assim que nós pecamos, para que
possamos, pela confissão, sermos restituídos à comunhão com
Deus.
3.3 Cristo reinará sobre essa Terra?
Sim. O Antigo Testamento está repleto de profecias que o
confirmam. Aqui seguem alguns exemplos:

“Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte Sião” (Sl
2:6);

“E o SENHOR será Rei sobre toda a terra” (Zc 14:9). Veja


também Salmo 72:8-11.

Essas passagens não deixam qualquer dúvida em aberto de que o


Senhor irá reinar literalmente sobre a Terra.
3.4 Por que é tão importante que Cristo
reine?
Primeiro, isso é tão importante, porque Deus o disse. A isso se
acrescenta que Cristo foi rejeitado quando Ele veio em graça aqui
na Terra. Deus assim o ordenou, que lá onde Ele foi rejeitado, Ele
reine e seja reconhecido por todos. Então, finalmente virá o tempo
em que haverá um reino com ordem e justiça nesse mundo. Cristo
se humilhou a si mesmo — e Deus se assegurará de que Ele seja
exaltado (Fl 2:5-11; Is 52:13-15).
3.5 Quando isso será e quanto tempo
durará?
O período da Igreja terminará com o arrebatamento. Então,
possivelmente após um certo intervalo de tempo, seguir-se-á uma
tribulação de sete anos. Depois Cristo aparecerá com poder e
estabelecerá o Seu reino. Esse reino permanecerá por mil anos: “e
viveram e reinaram com Cristo durante mil anos” (Ap 20:4). Por isso
o reino vindouro é comumente chamado de Reino Milenar.
3.6 Como será o Reino Milenar?
Cristo reinará em paz (Sl 72:7), em justiça (Is 11:3-5) e em
Santidade (Sl 47:8 e Zc 14:20,21). A Terra será purificada em tal
extensão que Isaías a descreve como uma “nova terra” (Is 65:17;
66:22). A harmonia na criação será reestabelecida: “E morará o lobo
com o cordeiro ...” (Is 11:6-8; Rm 8:19-22). E “a terra se encherá do
conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar” (Is 11:9).
Satanás será amarrado e encerrado no abismo (Ap 20:1-3). Quando
alguém pecar, rebelando-se contra o reinado de Cristo (isso ainda
será possível; pois apesar de Satanás estar amarrado, as pessoas
na Terra ainda terão a natureza pecaminosa e poderão pecar
conscientemente), ele será julgado imediatamente (Sl 101:8; Is
65:20). Israel será o centro terreal do Reino de Cristo e o canal de
benção para as nações (Is 2:2-4; 65:18-20; Zc 8:20-23; 14:16, 17). A
Igreja durante esse período será a cidade celestial, a santa
Jerusalém (Ap 21:9 - 22:5).
3.7 É correto para os cristãos chamar
Cristo de seu Rei?
Não; nem agora nem no futuro. Ele é o Senhor. Ele será Rei, mas
não deles. Os membros da família real não costumam tratar o Rei
como “vossa majestade”. Eles estão muito mais próximos ao Rei do
que qualquer súdito no reino. Similarmente, os cristãos compõem a
noiva, eles pertencem à Igreja e conhecem a Jesus como noivo,
como cabeça da Igreja (veja 3.10) e como seu Senhor (veja 3.8).
3.8 O que compreendemos por: Cristo ser
o Senhor?
Cristãos reconhecem, com alegria, Cristo como seu Senhor. Os
evangelhos mostram que os discípulos o chamam de Senhor (Jo
13:13,14; 21:7). Após a morte e ressurreição de Cristo foi
anunciado: “Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2:36). É o costume dos
cristãos invocar “o Nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co 1:2; 2
Tm 2:22). O cristão sabe que foi comprado por preço (1 Co 6:20), e,
por isso, reconhece o senhorio de Cristo. Ele se considera como
escravo ou servo de Cristo (1 Co 7:22; Fp 1:1).
3.9 Cristo é apenas o Senhor dos crentes
ou também dos descrentes?
Os direitos do senhorio de Cristo se estendem também aos
incrédulos, apesar deles fazerem de tudo para ignorar isso. Mas
cada língua confessará que Cristo Jesus é Senhor (Fp 2:11). Isso
ocorrerá quando Ele aparecer em glória (veja 4.12 até 4.15).
3.10 O que significa Cristo ser o Cabeça?
Existem diferentes lados dessa verdade: Cristo é o Cabeça:

de cada homem individualmente (1 Co 11:3),

de modo geral sobre todas as coisas: “cabeça sobre todas as


coisas” (Ef 1:20-22)1,

de modo coletivo da Igreja (Ef 5:23; Cl 1:18).

Como Senhor, Cristo tem autoridade sobre cada crente como Seu
escravo ou servo. Nosso relacionamento com Cristo, como Cabeça,
tem a ver com nossa responsabilidade coletiva como membros de
Seu corpo (veja 7.8). Nós devemos obedecê-lO em nosso caminho
conjunto.

A cabeça guia e cuida do corpo. Cristo é o Cabeça como homem.


Como homem Ele morreu, ressuscitou e agora está glorificado no
Céu (Ele não podia ser cabeça do corpo antes do corpo ser
formado; Cl 1:18).

A vida prática dos crentes deveria espelhar o fato que Cristo é o


Cabeça deles (Cl 2:19; Ef 4:15).

1. Almeida Revista e Atualizada.↩


4 O Senhor Jesus Cristo: a Sua Volta
Cristo cumpriu a Sua obra na cruz. Após a Sua volta ao céu, Ele
atua por nós de diferentes maneiras (capítulo 3). Mas Ele voltará. A
Sua volta ocorrerá em duas fases: o arrebatamento e Seu
aparecimento com poder e glória. As perguntas e respostas a seguir
procuram mostrar quando e como esses eventos ocorrerão.
4.1 O que os crentes aguardam?
Os crentes aguardam a volta de Cristo, para os levar deste mundo
para si (ou para arrebatá-los). Esse evento é descrito em 1
Tessalonicenses 4:16,17:

“Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de


arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo
ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos
arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor
nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.”

Essa passagem bíblica mostra:

que Cristo virá pessoalmente e

que o encontro com Ele será nos ares e não na Terra.

O fato sobre o arrebatamento ainda não era conhecido no Antigo


Testamento: “Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos
dormiremos, mas todos seremos transformados” (1 Co 15:51).

Alguns cristãos creem que devem esperar pelo Reino de Deus ou


que precisam preparar o seu estabelecimento. Cristo, no entanto,
diz: “Certamente, cedo venho” (Ap 22:20). A esperança cristã é a
volta de Cristo para o arrebatamento. “Amém! Vem, Senhor Jesus!”
(Ap 22:20). Veja também João 14:2,3 e Mateus 24:45-47.
4.2 Ainda precisa se cumprir alguma
profecia antes do arrebatamento?
Não, absolutamente nenhuma. O arrebatamento pode ocorrer a
qualquer momento. Em 1 Tessalonicenses 4:16,17 está escrito que
“nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados”. Já os crentes
dos primeiros séculos aguardavam, durante as suas vidas, pela
volta do Senhor Jesus para qualquer momento. Nessa esperança
nós também devemos viver.
4.3 O que significa o arrebatamento para
Cristo?
Como Noivo, Ele se alegra em levar Sua noiva para estar consigo.
Também é bom pensar nesse aspecto do arrebatamento, como
Paulo diz: “Ora, o Senhor conduza o vosso coração ao amor de
Deus e à constância de Cristo” (2 Ts 3:5). Essa constância ou
paciência é ilustrada no Antigo Testamento pela espera de Isaque
por Rebeca (Gn 24:63).

Quando o Senhor Jesus ainda estava na Terra, Ele orou: “Pai, a


minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os
que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste,
porque me amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17:24).
4.4 O que significa o arrebatamento para
os crentes?
O arrebatamento será uma benção, o fim de todas as dores,
lágrimas e tristezas. Mas acima de tudo, significa que estaremos
para sempre com Cristo: “assim estaremos para sempre com o
Senhor.” (1 Ts 4:17). Isso também é sublinhado em João 14:3: “virei
outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver,
estejais vós também.” Esse será o glorioso e abençoado
cumprimento da esperança e desejo da noiva. Assim o descreve a
Bíblia. Essa esperança e esse desejo se encontram em nossos
corações?
4.5 Como sabemos que haverá um
período de tribulação?
A Bíblia assim nos diz. O profeta Jeremias fala sobre um “tempo de
angústia [tribulação] para Jacó” (Jr 30:7). Daniel confirma: “e haverá
um tempo de angústia [tribulação], qual nunca houve, desde que
houve nação até àquele tempo” (Dn 12:1). O Senhor Jesus também
fala sobre esse tempo em Mateus 24:21 e Marcos 13:19.
4.6 O que entendemos por: “a
tribulação”?
O termo “a tribulação” se refere a um período terrível que irá iniciar
após o arrebatamento dos santos ( 4.10). Quem passará por ela?

Primeiro, toda a Terra (Ap 3:10; Mt 24:6,7);

Segundo, Israel: Judá será disciplinada com a tribulação que


virá do Assírio (Is 10:5,6; 28:18). Haverá ainda uma tribulação
para o remanescente judeu fiel, que será perseguido pelo
anticristo (Mt 24:8-10). Quanto ao termo “grande tribulação”
veja 4.10.
4.7 Quais crentes passarão pela
tribulação?
Alguns ensinam que os crentes, que formam a Igreja, passarão pelo
período da tribulação. O que ensina a Bíblia?

Jeremias 30:7 descreve esse período como a “angústia para


Jacó”, i.e., para os judeus;

Em Daniel 12:1 trata-se de uma tribulação para o povo de


Daniel, ou seja, para Israel;

Mateus 24 refere-se ao mesmo evento que Daniel, com


circunstâncias adicionais que indicam que o povo concernente
é o judeu: fuga nos montes de Judá, a oração que ela não
ocorra no sábado, etc;

Apocalipse 3:10 direciona-se à igreja (de Filadélfia), mas


enfatiza que os fieis serão guardados da “hora da provação” e
não que passarão por ela;

Apocalipse 7:19-14 evidencia que os anciões (dos quais a


Igreja é parte) compõem um grupo de pessoas distinto
daqueles que passarão pela tribulação.

Todas as passagens bíblicas que citam o período da tribulação têm


um ponto em comum: os crentes que passarão por ela não
pertencem à Igreja.
4.8 Os cristãos passam por provações e
aflições (tribulações)?
Sim, com certeza. Jesus disse aos Seus discípulos: “no mundo
tereis aflições” (Jo 16:33). Geralmente é válido: quem quiser seguir
fielmente ao Senhor Jesus experimentará dificuldades, até aflições,
pois o mundo está posicionado contra o Senhor. Mas essas
circunstâncias são diferentes das “da grande tribulação”.

A passagem de 2 Tessalonicenses 1:4 até 2:3 esclarece que a


aflição que os tessalonicenses viviam era diferente da “grande
tribulação”, que estava estreitamente ligada ao “dia do Senhor” (2 Ts
2:2).
4.9 O que significa a expressão “o Dia do
Senhor”?
A expressão “Dia do Senhor” descreve um período de tempo e não
um dia de 24 horas. Esse período iniciará, apenas, após o
arrebatamento dos santos ( 4.1 até 4.4) com os acontecimentos que
ocorrerão no tempo da tribulação (2 Ts 2:3,4; 4:11).

O Dia do Senhor será caracterizado por terríveis juízos (Is 13:9; Jl


1:15; 2:1,11; 3:4; Zc 1:8), que antecederão o aparecimento do
Senhor Jesus com poder e glória. Esse dia também inclui a
destruição da Terra (2 Pe 3:10). Ele abrange, então, tanto o
aparecimento do Senhor Jesus com poder e glória quanto o Reino
Milenar ( 4.12 até 4.15).

O cristão não passará por esses juízos ( 4.7). Para ele, o “Dia do
Senhor” traz a recompensa por sua fidelidade em sua vida atual (2
Co 1:14). Nesse contexto, o Dia do Senhor se chama de “o Dia de
Cristo” (Fp 1:10; 2:16).
4.10 Quando ocorrerá a Grande
Tribulação?
Na segunda metade do período de 7 anos (“a tribulação”, veja 4.6)
após o arrebatamento dos santos e antes do estabelecimento do
Reino Milenar. Na profecia de Daniel sobre as 70 semanas (1
semana profética = 7 anos) há um intervalo de tempo indefinido
entre a 69° e 70° semana (Dn 9:25-27). No final da 69° semana
Cristo é crucificado (o Messias é “tirado”). Então, inicia-se o tempo
da graça, o tempo da Igreja, no qual nós vivemos. Mas esse período
de tempo não é descrito por Daniel. A 70° semana ainda está para
ocorrer.

Durante os primeiros 3 anos e meio da 70° semana de anos, os


juízos previstos por Deus cairão sobre essa Terra (fome, guerras,
etc.; Ap 6 - 16). Os últimos 3 anos e meio serão ainda mais difíceis -
um tempo sem paralelo de aflições: “porque nesse tempo haverá
grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não
tem havido e nem haverá jamais” (Mt 24:21). Será a grande
tribulação.

Essa segunda metade da última semana de anos é descrita pelas


expressões “um tempo, e tempos, e metade de um tempo” (Ap
12:14), 42 meses (Ap 11:2; 13:5) e 1260 dias (Ap 11:3), que são
equivalentes a 3 anos e meio. A opressão virá do anticristo judeu (a
segunda besta de Ap 13) e do governo do reestabelecido império
romano (a primeira besta de Ap 13). Somado a isso, virão, durante
todo o período de 7 anos, os juízos de Deus sobre a Terra (Ap 6-19).
4.11 O que ocorrerá no meio do período da
tribulação?
No meio da 70° semana, i.e., após os primeiros três anos e meio da
tribulação, irão ocorrer quatro eventos importantes:

Satanás será lançado do céu para a Terra (Ap 12:7-9);

O sacrifício judeu cessará (Dn 9:27);

O anticristo se assentará no templo para ser adorado como


Deus (2 Ts 2:4);

A abominação da desolação estará no lugar santo (Mt 24:15).


4.12 O que se compreende por a “aparição
do Senhor Jesus”?
O Senhor Jesus voltará a essa Terra com poder e glória, quando
será acompanhado por anjos (2 Ts 1:7) e pelos santos (i.e., os
crentes) que foram arrebatados ao céu ( 4.1; 4.2; 2 Ts 1:10).

Esse evento já era predito pelos profetas do Antigo Testamento (Dn


7:13,14). Cristo descerá no monte das Oliveiras (Zc 14:4), de onde
Ele, após Sua ressurreição, ascendeu ao céu (At 1:9-12).
4.13 O que significa a aparição do Senhor
Jesus para Israel e para a Europa
Ocidental?
Israel ou uma minoria do povo (o remanescente fiel; Rm 9:27; Is
10:20-22) irá reconhecer que Cristo é quem eles, como nação,
crucificaram. Eles irão prantear, chorar, se arrepender e aceitá-lO-ão
(Zc 12:10-14; Ap 1:7). O restante do povo não se arrependerá e
será julgado.

A Europa Ocidental é descrita na profecia do reestabelecido império


romano (Ap 13). Nela a confederação de reis delegará o seu poder
ao líder desse império (Ap 17:13). Eles “combaterão contra o
Cordeiro”, mas “o Cordeiro os vencerá” (Ap 17:14; 19:19). Ele
destruirá os exércitos da Europa Ocidental com o sopro de sua boca
(veja também “a espada que saía da boca” Ap 19:21).
4.14 O que significa a aparição para
Cristo?
Será um momento de glória e triunfo. Ele tinha sido rejeitado como
rei pelos homens (Lc 19:14). Quando entrou em Jerusalém em
humildade e mansidão (Zc 9:9; Mt 21:5-11), foi rejeitado pouco
depois. Mas em Sua aparição com poder e glória, Ele será
universalmente reconhecido (Fp 2:10,11), glorificado e admirado (2
Ts 1:10).

Ele, que levou a coroa de espinhos (símbolo da maldição: Gn 3:18),


trará “muitos diademas” (Ap 19:12). Além disso, Ele trará o nome:
“REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” (Ap 19:16).
4.15 O que significa a Sua aparição com
poder e glória para os cristãos?
Apesar dos cristãos aguardarem pelo arrebatamento ( 4.1), eles
amam a sua aparição (2 Tm 4:8)1.

Por um lado, nesse dia será a manifestada a Sua glória para eles,
quando os resultados da obra do Senhor Jesus e o serviço deles
para o Senhor se manifestar (Fp 1:6,10; 4:1,9). Eles contribuirão
para a Sua glória e admiração (2 Ts 1:10). Por outro lado, e isso é
ainda mais importante, esse será o dia no qual o seu Mestre, o qual
eles seguiram em sua rejeição, será por todos glorificado e
reconhecido. Somado a isso, esse será também o dia da
recompensa (2 Tm 4:8).

O dia em que a glória do Rei dos Reis se manifestar será um dia de


alegria para a noiva.

1. O termo no grego, traduzido para o português como vinda, é


epifaneia que significa aparição ou manifestação.↩
5 O Evangelho da Salvação. Parte 1: A
justificação de nossos pecados.
As perguntas e respostas nesse capítulo podem ser lidas como uma
introdução de Romanos 1 até 5:11. O capítulo 6 contém perguntas e
repostas para Romanos 5:12 até 8:39.
5.1 O que significa a palavra
“Evangelho”?
A palavra em grego para Evangelho (euangelion) é traduzida
literalmente para “boa mensagem”. Na Grécia antiga era costume,
após ganhar uma batalha, enviar um mensageiro à cidade, o qual ao
chegar gritava: “euangelion!” Boa notícia — a batalha foi ganha! O
Evangelho é a boa notícia que, desde a morte e ressurreição de
Cristo, Deus faz proclamar aos homens.
5.2 Qual é o conteúdo do Evangelho?
O Evangelho mostra como Deus achou um caminho para que o
homem, que falhou completamente, possa ter um relacionamento
vivo com Ele. Esse caminho é por Seu Filho, o Senhor Jesus, que
era e é Deus, mas se tornou homem e morreu por pecadores na
cruz: “o Evangelho de Deus … acerca de seu Filho” (Rm 1:1,3).
Esse é o único caminho que conduz a Deus (At 4:12). O homem não
buscou a Deus, mas a boa notícia é que Deus buscou aos homens
(veja Lucas 15).
5.3 Por que Paulo não se envergonhava
do Evangelho?
Paulo poderia se envergonhar do Evangelho (Rm 1:16,17), pois o
homem naturalmente rejeita uma notícia que o declara como
culpado. O que transmite tal mensagem é geralmente desprezado.
Anunciar o Evangelho a pecadores traz consigo o opróbrio.

No entanto, por varias razões, Paulo não se envergonhava do


Evangelho. Primeiro, é o poder de Deus para todos que creem (Rm
1:16). Ele é tão poderoso que pode modificar pessoas e as conduzir
para Deus, se elas o aceitarem e crerem. E mais, o Evangelho é
válido para todos os homens (Rm 1:16). Finalmente, por meio dele,
a justiça de Deus é revelada (Rm 1:17).
5.4 O que é a justiça de Deus?
Deus mostra que Ele é justo quando:

na sua ira condena os pecadores (Rm 1:17,18);

ressuscitou a Jesus Cristo dentre os mortos e deu-Lhe um lugar


de honra (Jo 16:10);

perdoa pecados que Lhe são confessados (1 Jo 1:9);

justifica aqueles que creem em Jesus Cristo (Rm 3:25,26; 4:5).

O último ponto pode, ao primeiro olhar, surpreender: que Deus pode


justificar homens pecadores! Discutiremos a solução desse
problema em 5.11 e 5.12.
5.5 Quem precisa receber o Evangelho?
Todos. Paulo divide a humanidade em três grupos:

Pessoas que perderam todo o conhecimento do verdadeiro


Deus e não possuem nenhum bom princípio moral para os seus
procedimentos (Rm 1:18 -32);

Os moralistas, pessoas que a si mesmas estabeleceram regras


morais de comportamento e também as colocam como padrão
de referência para outros (Rm 2:1-16);

Os judeus (Rm 2:17- 3:9).

Toda pessoa pertence a um desses três grupos. Paulo mostra que


cada um desses grupos, e, portanto, cada pessoa, é culpado
perante Deus.
5.6 Todas as pessoas são culpadas?
Sim, todas pessoas são culpadas. Não há exceção! Pessoas que
pertencem ao primeiro grupo ( 5.5) são culpadas, mesmo que não
tenham ouvido o Evangelho. Elas poderiam reconhecer o Deus
Criador simplesmente observando a criação. Mas elas não o
quiseram.

Os moralistas (2° grupo, 5.5) estabelecem para si regras de


comportamento, mas não as mantêm e agem contra suas próprias
consciências (Rm 2:15).

Israel (os judeus, 3° grupo, 5.5) receberam de Deus a lei mosaica e


a quebraram.

“Não há um justo, nem um sequer” (Rm 3:10), “porque não há


diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de
Deus” (Rm 3:22b,23).
5.7 Existe solução para o problema da
culpa perante Deus?
Sim. Mas precisamos ter em mente que Deus é um justo juiz, que
Ele é santo e que abomina o pecado. Ele conhece a nós e cada um
de nossos pecados. Existem então apenas duas opções: ou Ele
precisa me condenar, ou eu preciso ser justificado. Como isso pode
ocorrer será mostrado nas próximas perguntas e respostas.
5.8 O que significa “ser justificado” (Rm
3:20)?
Ser justificado significa ser declarado como justo. Isso é ainda
melhor do que ser inocente. Alguém que é justificado pode mostrar
a Cristo, que está assentado à direita de Deus, e pode dizer: eu
pertenço a Ele, por isso sou justo. O Adão inocente não podia fazer
isso.

Se alguém quiser condenar um justificado como culpado, ele


precisaria antes condenar a Cristo como injusto — e isso é
impossível (Rm 8:34).

Nós somos justos, porque fomos justificados. Essa justiça não vem
de nós ou dos homens; ela é a justiça que vem de Deus, que nos é
atribuída por Ele (Rm 4:3,5,11; Fp 3:9; veja também 5.10).
5.9 O que significa “obras da lei”?
Podemos ser justificados com “boas
obras” perante Deus?
As obras da lei (Rm 3:20) não são apenas ações que correspondem
à lei de Moisés, mas obras que obedecem a qualquer lei. Por
guardar uma lei religiosa, queremos ganhar o reconhecimento de
Deus e então manter essa posição. A maioria das pessoas creem
que podem assim ser salvas — “se você for bom, você vai para o
céu”. Mas ninguém é bom! O povo de Israel provou, no caso da lei
mosaica, que o homem é incapaz de guardar essa ou qualquer
outra lei. Esse é um princípio geral. Não existe qualquer obra —
nada que o homem possa fazer — para ser justificado perante
Deus.
5.10 Então como podemos ser justificados
perante Deus (Rm 3:22-25)?
O que nos concerne, apenas “pela fé” (Rm 3:22-25). O que
concerne a Deus, apenas “pela sua graça”. “Por fé” significa que nós
confiamos em Cristo, que Ele pagou o preço por nossos pecados, e
isso é suficiente. “Por sua graça” significa que precisamos aceitar o
que Deus nos dá e que nós não podemos contribuir com qualquer
coisa para diminuir a culpa.

O meio para nossa justificação é o sangue do Senhor Jesus: Ele


precisou morrer como nosso substituto.
5.11 O que significa “ao qual Deus propôs
para propiciação pela fé no seu sangue”
(Rm 3:25)?
Essa é uma figura do que Cristo fez: Ele deu Sua vida, Seu Sangue
foi derramado, de modo que Deus não nos precisa condenar. Nós
somos “cobertos”, pois o Senhor Jesus deu a Sua vida por nós.
5.12 Como Deus pode justificar um
pecador e ser ao mesmo tempo justo?
Porque Cristo se tornou nosso substituto (veja 2.8). Ele tomou o
nosso lugar e suportou o juízo por nossos pecados.

Se alguém quitar a minha dívida, o que o juiz pode fazer? Nada,


pois alguém já pagou em meu favor. Ninguém poderia achar um
melhor meio para a justificação e perdão! Deus perdoa, o que em si
já é maravilhoso, mas não “fecha os olhos” para os pecados. Ele
perdoa após ter condenado e julgado nossos pecados em Seu Filho.
O problema foi resolvido e de forma justa.
5.13 E quanto aos crentes do Antigo
Testamento? Como são eles justificados?
Do mesmo modo que os crentes do Novo Testamento: por meio da
fé. Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça (Rm
4:3). Deus podia fazê-lo de forma justa, pois Ele olhava o futuro
sacrifício do Senhor Jesus (Rm 3:25,26).
5.14 Mas não é dito na carta de Tiago que
Abraão foi justificado por obras?
Sim. Porém, Tiago não fala de como somos justificados perante
Deus, mas como nossas ações mostram aos homens que somos
justificados. A única evidência de que nossa fé é genuína consiste
em nossas obras que fazemos após a nossa salvação (Tg 2:21,22).
Como poderiam os contemporâneos de Abraão ver se ele era justo?
Apenas por meio de suas obras. Quando ele se levantou para
sacrificar Isaque (Gn 22), ele demonstrou a sua fé. Mas Deus já
sabia bem antes que Abraão cria, e isso lhe foi contado por justiça
(Gn 15:6).
5.15 Por que Cristo ressuscitou por causa
de nossa justificação (Rm 4:25)?
A obra do Senhor Jesus completou-se quando Ele disse: “Está
consumado” e “entregou o espírito” (Jo 19:30). Quando Deus
ressuscitou a Jesus, Ele mostrou aos homens e aos anjos que
aceitou a morte de Seu Filho como completamente suficiente, e que
Ele estava completamente satisfeito com Cristo e Sua obra.

Deus é justo quando Ele justifica os que creem no Senhor Jesus


(Rm 3:26), i.e., esses que confiam em Sua obra na cruz. A
ressurreição comprova que a obra na cruz foi aceita por Deus e
confirma a nossa fé.
5.16 Quais são as consequências da
justificação?
Nós temos paz com Deus (Rm 5:1). Não existe mais qualquer
problema entre Deus e nós. Nada nos separa agora. Não se trata de
uma paz futura com Deus. O crente já a tem agora. Não existem
quaisquer obstáculos em nosso relacionamento com Deus. Deus
não tem mais nada contra nós. Deus é por nós (Rm 8:31). Ele só
tem bons pensamentos e sentimentos para conosco.

Mas ainda há muito mais: leia Romanos 5:1-11 para ver as


maravilhosas consequências da justificação e paz com Deus.
5.17 Quais são as consequências práticas
para nossa vida?
Os versículos em Romanos 5:3-11 nos mostram que tribulações
(provações e grandes dificuldades), com as quais somos
confrontados em nossa vida, são para o nosso bem. Provações
produzem um crescimento em paciência, experiência e esperança.
O amor de Deus foi derramado em nossos corações por meio do
Espírito Santo. Deus provou seu amor para conosco, em que Cristo
morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.

Resumindo, Deus já fez tudo por nós e nos deu o máximo possível
enquanto ainda éramos pecadores. Quanto mais agora, que
estamos com Ele reconciliados, salvar-nos-á durante todas as
dificuldades de nossas vidas e livrar-nos-á da ira vindoura! Que
segurança!
6 O Evangelho da Salvação. Parte 2:
Libertação do poder do pecado.
Quando as pessoas vêm a Cristo, confessam os seus pecados e
creem que a Sua obra na cruz do Gólgota é, para elas, suficiente,
elas ficam cheias de alegria. Elas reconhecem que têm “Paz com
Deus” (Rm 5:1). Muitas delas vão e contam a todos os conhecidos o
que acharam e como agora são felizes. Então, de repente, algo dá
errado. Elas tiveram um pensamento mau ou disseram uma palavra
ruim ou fizeram algo pior. E agora? Elas começam a se perguntar:
“Como pude fazer isso? Eu confessei todos os meus pecados e
aceitei a Cristo como meu Salvador pessoal. Sim, eu O amo. E,
agora, eu pequei de novo.” Então começam as dúvidas: “A minha
conversão era genuína? A minha confissão dos pecados foi
profunda o suficiente? Por que eu pequei de novo?”

As perguntas e respostas que seguem, procuram ajudar a achar


uma saída desse dilema.
6.1 Qual é a diferença entre pecado e
pecados?
É a mesma diferença que existe entre uma árvore e seus frutos.
Pecados são más ações, como frutas que crescem em uma árvore.
O pecado é a própria árvore, a fonte dos atos pecaminosos. Por
isso, a situação dos homens é pior do que aparenta. Não basta
resolver o problema dos pecados, tirando-os ou expiando-os, é
preciso se ocupar com a fonte de onde eles vêm, isso é, com o
pecado em si.
6.2 Qual é a solução divina para o
problema dos pecados e do pecado?
Pecados são perdoados. Quem crê em Cristo é justificado, os seus
pecados não mais lhe são atribuídos.

O pecado em si não pode ser perdoado. Ele só pode ser


condenado. Deus fez isso quando Cristo esteve pendurado na cruz
do Gólgota (Rm 8:3). Atos podem ser perdoados, mas uma má
natureza precisa ser julgada e condenada.
6.3 Um crente ainda está sob o poder do
pecado?
Não. Um crente ainda pode pecar (1 Jo 2:1), mas ele não precisa e
nem deveria pecar. Ele não está mais preso ao pecado, este não lhe
é mais inevitável. Abordaremos nas próximas perguntas como um
crente pode ser liberto do poder do pecado.
6.4 Quais são as duas famílias descritas
em Romanos 5?
Cada ser humano é, por meio do nascimento, um descendente de
Adão. Mas todos que aceitam a Cristo e creem nEle são feitos
membros de Sua família. Através da morte substitutiva de nosso
Redentor, que é atribuída a cada um que nEle crê, a nossa ligação
com Adão é rompida. Através de nossa morte com Cristo nos
tornamos membros dessa nova família, da qual Cristo é o Cabeça.
6.5 Qual é a consequência de pertencer à
família de Adão?
Cada descendente de Adão herda dele o pecado. Sua
consequência é a morte. Até hoje isso não mudou, o que é uma
prova de que o pecado atingiu cada descendente de Adão. Esse
pecado produz maus frutos: os pecados. O pecado e os pecados
dele resultantes levam à morte (Rm 5:12).
6.6 E o que caracteriza os que pertencem
à família de Cristo?
Justificação. Essa é a alegre e bendita consequência da abundante,
sim, transbordante graça de Deus (Rm 5:15-19). Em outras
palavras: cada membro da família de Deus é justificado.
6.7 Se eu agora pertenço à família de
Cristo, pela graça, posso pecar à
vontade?
Não. A graça nunca é uma desculpa para o pecado ( 6.8).
6.8 Por que para o crente é inescusável se
ele permanecer no pecado?
Porque1 estamos mortos para o pecado (Rm 6:1). Cristo morreu na
cruz e nós morremos com Ele. Nós pertencemos a Ele. No batismo
“em Cristo Jesus” somos identificados com Ele, somos agora um
com Ele. Quando, então, Cristo morreu, nós também morremos,
tanto quanto concerne ao nosso velho homem, descendente de
Adão.
6.9 Por que, então, frequentemente eu
ainda peco? Eu não morri com Cristo?
Em Romanos 6:6, aprendemos algo sobre o nosso velho homem
(veja 6.10). Ele foi crucificado com Cristo. Apesar disso, precisamos,
através de dolorosas experiências, aprender que ainda temos a
carne em nós (carne significa, nesse contexto, não o nosso corpo
físico, mas nossa natureza pecaminosa). Por isso, ainda somos
capazes de pecar. Há mais sobre esse tema em 6.17 e 6.23.
6.10 O que significa que “nosso velho
homem foi com ele crucificado”?
Meu “velho homem” (Rm 6:6) é aquilo que, antes da minha
conversão, era como descendente de Adão, como membro da
família de Adão (Rm 5:12). Antes da minha conversão, eu era
responsável e culpado diante de Deus. Já agora, como fui feito um
com Cristo na Sua morte, Deus também declarou o meu “velho
homem” como morto. Ele não me vê mais como uma pessoa, por
natureza, culpada, o que eu era antes da minha conversão.

Podemos sentir isso? Não. No entanto, é verdade, pois Deus o diz.


O parâmetro não é o nosso sentimento, mas a Palavra de Deus.
Portanto, não deveríamos confundir o nosso velho homem (que está
morto) com a carne, a natureza pecaminosa em nós (Rm
7:17,18,25; 8:4; 1Co 3:2,3).
6.11 O que significa a expressão “corpo
do pecado”?
Essa expressão encontra-se em Romanos 6:6: “..., para que o corpo
do pecado seja desfeito, a fim de que não sirvamos mais ao
pecado”. O “corpo do pecado” é todo o mecanismo ou todo o
sistema do pecado em nós — o princípio do pecado no homem.

Um crente ainda pode pecar (ele naturalmente não deveria), mas o


pecado não é mais o seu senhor.
6.12 O problema de nossos pecados foi
resolvido pela morte de Cristo por nós.
Mas como é resolvido o problema do
pecado e do seu poder?
Não é resolvido pela morte de Cristo por nós, mas por nossa morte
com Cristo. Podemos explicar isso pelo relacionamento que um
escravo tinha com seu senhor. O seu senhor tinha direitos sobre o
seu escravo enquanto este vivia. Assim que o escravo morria, o seu
senhor não lhe podia mais dar ordens. Assim também é conosco.
Morremos com Cristo, portanto, o pecado não mais tem domínio ou
poder sobre nós. Isso é libertação.
6.13 O que significa o batismo?
O batismo significa tornar-se um com Cristo em Sua morte. Assim
como Cristo morreu e foi sepultado, nós fomos unificados com Ele
no batismo (Rm 6:2,3). O batismo ainda tem outros aspectos, p. ex.,
que a pessoa batizada torna-se um discípulo (Jo 4:1,2 e 1 Co 10:2)
etc. Mas o ponto central em Romanos 6 é que nós somos
identificados (tornamo-nos um) com Cristo na Sua morte, ou seja,
nós morremos com Ele.

Com o batismo nós não ganhamos o direito de ter um lugar no céu.


6.14 Como posso saber se morri com
Cristo? Posso sentir isso?
Não. Não podemos sentir isso. Quando aceitamos a Cristo por meio
da fé, nossa morte com Cristo é simplesmente um fato, pois a
Palavra de Deus assim nos fala (Rm 6:8,9).
6.15 Morri com Cristo, como se altera a
minha relação com o pecado?
O pecado (o princípio do mau, a oposição contra Deus) não tem
mais direitos sobre mim.

É similar a um homem que pagou a outro uma grande soma de


dinheiro para que este fosse à guerra em seu lugar. Quando o
governo lhe escreveu e ordenou: “Você deve ir agora à guerra, pois
o seu substituto morreu”, ele respondeu: “Sinto muito, eu não posso
ir, pois estou morto”. Ele compreendeu, que tinha o direito de se
considerar como morto, pois o seu substituto tinha morrido.
6.16 Como o fato de que morri com Cristo
impacta em minha vida?
Nós temos o direito e o dever de nos considerarmos como mortos,
quando o pecado nos ordenar algo ( 6.15). Por meio da Fé,
compreendemos que não somos obrigados a ceder ao pecado (Rm
6:10-14).

Talvez ajude a analogia de uma moradia alugada a alguém. Quando


outra pessoa compra essa moradia, o inquilino deve pagar o aluguel
ao novo proprietário e não mais ao anterior. Mas se o antigo locador
ainda quiser exigir o pagamento, pode-se mandá-lo embora. Ele não
tem mais direitos sobre a moradia. O locatário só tem obrigações
com o locador atual. Assim também é conosco. Nós pertencemos a
um novo Senhor (Rm 6:16-23).
6.17 Um crente deve guardar a lei (ou
algumas regras) para ter certeza de não
pecar mais?
Não. Guardar a lei ou regras não é o caminho certo. Esse é um
principio carnal. Através disso nos apoiamos nas capacidades
naturais do homem. Enquanto o tentamos, teremos que
sinceramente admitir que sempre fracassamos. Paulo esclarece que
tanto a lei como o pecado morreram. Observe, também, que Deus
só deu a Lei Mosaica a uma nação, o povo de Israel (Sl 147:19,20).
6.18 Como, então, pode um crente viver de
modo a agradar a Deus?
Não guardando a lei, mas se ocupando apenas com Cristo. Assim,
nos tornaremos mais semelhantes a Ele e viveremos diariamente
para Ele. Quando possibilitamos que o Espírito Santo coloque Cristo
diante os nossos corações, então, Ele nos dará a força para viver de
modo agradável a Deus (veja 6.27 até 6.31).
6.19 A quem se refere o “eu” em Romanos
7:7-25?
6.19.1 A Paulo?

Não. Não pode ser Paulo, pois ele diz: “E eu, nalgum tempo, vivia
sem lei” (v. 9). Isso não pode se referir a Paulo. Ele foi criado como
um fariseu rigoroso (Fp 3:5).

6.19.2 A um incrédulo?

Não, também não. Essa pessoa em Romanos 7 já tem a nova


natureza. Ela quer fazer o bem (Rm 7:19) e diz: “Porque, segundo o
homem interior, tenho prazer na lei de Deus.” (Rm 7:22). Esse é um
claro desejo da nova natureza que Deus dá no novo nascimento (Jo
3:3).

6.19.3 A um crente?

Sim, é um filho de Deus, mas que não está em seu estado normal. A
declaração: “mas eu sou carnal, vendido sob o pecado” (v. 14), não
pode ser a descrição de um crente em seu estado normal.

6.19.4 O que não é normal em seu estado?

Essa pessoa nasceu de novo (veja 2.20), mas vive de forma carnal
e não espiritual (1 Co 3:1). Ela se apoia em sua própria força e, com
esta, tenta guardar a lei ou fazer o bem, por isso essa pessoa
sempre fracassa e sempre está muito triste. Ela ainda não sabe que
mesmo a carne bem-intencionada ainda é carne.

Esse não é o estado normal de um cristão. Mas muitos tem essa


experiência em algum momento de suas vidas. Só quando
aprendem a confiar apenas em Cristo e na Sua obra, que é
suficiente, eles experimentam na prática o que significa ser livre pela
morte de Cristo. Crentes podem cair várias vezes nesse estado e
deixá-lo novamente.
6.20 Qual é o problema dessa pessoa em
Romanos 7?
Essa pessoa sempre está em um grande campo de tensão. É uma
guerra entre a nova e a velha natureza. Ela gostaria de fazer o bem,
mas não o faz. Então há o mal, que ela não quer fazer, mas ela
sempre volta a cair e o faz mesmo assim (Rm 7:19).
6.21 O que essa pessoa descobre (Rm
7:17-24)?
Ao menos três coisas:

Primeiro, que ela ainda tem a carne, i.e., a velha natureza


pecaminosa (v. 17).

Segundo, que nela não habita bem algum: “Porque eu sei que
em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (v. 18).

Terceiro, ela descobre que não pode libertar-se a si mesma,


mas que para tal precisa de alguém: “Miserável homem que eu
sou! Quem me livrará do corpo desta morte?“ (v. 24).
6.22 O homem que em Romanos 7 sempre
fala de si mesmo, agora, entendeu que ele
mesmo não pode se tirar do lodo do
pecado. De onde vem o socorro?
No final do capítulo 7, essa pessoa desiste de procurar ajuda em si
mesmo e começa a procurar ajuda de fora. Não diz: “como eu me
livrarei”, mas “quem me livrará?” A ajuda vem de Cristo! (Rm
7:24,25a).
6.23 Qual é a conclusão de Romanos 7?
Uma dupla conclusão. Primeiro, essa pessoa aprendeu pela
experiência que por ela mesma não pode fazer bem algum. Não há
bem algum em sua carne (Rm 7:18). Segundo, ela reconhece que
há duas naturezas: a velha, a má e incorrigível, e a nova, a divina.
Essas duas são opostas uma a outra (Gl 5:17). Finalmente, ela
agradece a Deus (Rm 7:25), pois reconhece que tudo que é preciso
fazer já foi feito pelo Senhor Jesus Cristo. (Início do versículo 25 e
Capítulo 8:1).
6.24 Um crente pode ser condenado por
Deus?
Não, pois o crente está agora “em Cristo” (Rm 8:1). Se alguém
quiser condenar o crente, ele precisaria condenar a Cristo, que está
glorificado à direita de Deus — impossível!
6.25 O que significa “a lei do Espírito de
vida” e “a lei do pecado e da morte”?
A palavra “lei” (Rm 8:2) também pode significar princípio. Quando
uma pedra cai na terra, ela obedece a uma lei da natureza. A lei do
Espírito também é um princípio, de que o Espírito Santo nos guia e
faz com que nos ocupemos com Cristo. A lei do pecado é o princípio
da oposição contra Deus, que conduz à morte. Quando o crente
confia em Cristo, e crê que a Sua obra é suficiente e que não há
mais condenação para os que estão em Cristo Jesus (i.e., quando
ele creu no Evangelho de sua salvação (Ef 1:13)), então o Espírito
de Deus pode agir livremente nele.
6.26 Qual é a solução de Deus para o
pecado?
Deus perdoa pecados, i.e., os atos, mas o pecado só pode ser
condenado (Rm 8:3). Não há nenhum outro caminho que
corresponda à santidade de Deus, do que condenar o pecado. Isso
Cristo fez na cruz do Gólgota. A lei não podia fazer nada contra o
pecado, pois “estava enferma pela carne”, i.e. o homem não era
capaz de guardá-la.
6.27 Isso significa que o crente faz
constantemente coisas que eram
proibidas sob a lei?
Não. A justa exigência da lei cumpre-se no crente (Rm 8:4). Mas o
motivo para tal não se encontra em que ele procure guardar a lei.
Encontra-se em que viva por meio do Espírito. Disso resulta uma
vida de acordo com os pensamentos e vontade de Deus, na qual o
mal é rejeitado.
6.28 Como se pode “andar no Espírito” na
prática?
O Espírito faz o crente se ocupar com Cristo (Jo 14:26; 16;13,14).
Isso enche o crente com alegria e com o desejo de se assemelhar
com Cristo. E quando imitamos a Cristo, as exigências da lei são
cumpridas automaticamente.

Um exemplo pode deixar mais claro. A lei diz “não roubarás”. Um


crente não está sob a lei, mas o Espírito o faz ocupar-se com Cristo.
Cristo foi rico e tornou-se pobre. Ele disse que dar é mais
abençoado do que receber. O crente gostaria então de fazer algo
bom a outro, pois aprende a amar a Cristo e a imitá-lO. Como então
ele poderia roubar (Ef 4:28)?

É evidente que esse tipo de comportamento é apropriado para cada


um que ama ao Senhor. Não nos é opcional, mas o amor nos
obriga. Quando amamos ao Senhor, então devemos sempre agir
assim. Por isso o apóstolo João enfatiza que o amor a Deus e a
Seus filhos está interligado com guardar os Seus mandamentos (1
Jo 2:3; 3:22-24; 5:2,3). Quando amamos uma pessoa, então o seu
humilde desejo nos será uma ordem.
6.29 Um crente sempre anda por meio do
Espírito?
Seria normal, se ele o fizesse, mas, infelizmente, esse não é sempre
o caso, como o sabemos pela experiência. Um crente, em princípio,
é guiado pelo Espírito, mas é possível que esse crente O entristeça
(Ef 4:30). Isso ocorre cada vez que um crente peca, por não ter a
Cristo diante de seus olhos, ou seja, por não viver em comunhão
com Ele.
6.30 Como podemos andar no Espírito?
Simplesmente afastando de nossas vidas tudo o que O entristece.
Quando ocorrerem maus pensamentos, você precisa confessá-los
ao Senhor. O mesmo vale quando você diz uma palavra feia. Não
espere. Mantenha em pé o contato com Deus. Quando fazemos
isso, o Espírito pode nos guiar e nos ocupar sem limitações com
Cristo (Rm 8:14). Então iremos mortificar as obras de nossos corpos
(Rm 8:13) e andar no Espírito.
6.31 Como Deus nos ajuda a andar no
Espírito?
Deus enviou Seu Espírito para morar em nós (Rm 8:10,11). Ele
mora agora em cada crente (veja também 1 Co 6:19), ocupa-nos
com Cristo (Jo 16:14) e nos dá a certeza de que Deus é nosso Pai
(Rm 8:15,16). Isso é salvação completa: ser justificado dos pecados,
ser livre do poder do pecado e conhecer a Deus, por meio do
Espírito Santo, como um amoroso Pai!
6.32 Por que tantos crentes sofrem em
seus corpos e por que ainda morrem, se a
nossa salvação é completa? O corpo não
está incluído em nossa salvação?
Crentes ainda sofrem, pois seus corpos ainda fazem parte da
primeira criação. Paulo esclarece isso na próxima seção (Rm 8:18-
19). Por meio do homem veio o pecado no mundo. Como resultado
“toda criação geme”. Mas esse problema também será resolvido.
Nós aguardamos “a redenção do nosso corpo” (v. 23). Quando
Cristo vier, receberemos um novo corpo. Até lá nós temos essa
esperança e o Espírito (que nos ajuda em nossas fraquezas (v. 26)).
Compare 2.11.
6.33 Deus predestinou alguém para a
condenação?
Não. A Bíblia não o diz com nenhuma palavra. Deus quer que todos
os homens sejam salvos (Tt 2:11; 1 Tm 2:4; 2 Pe 3:9). Além disso,
Deus manda “agora a todos os homens, em todo lugar, que se
arrependam“ (At 17:30). Em Romanos 9:18 está escrito que Deus
endurece a quem Ele quer, mas apenas depois do homem ter
endurecido a si mesmo, como o exemplo de Faraó o mostra (v. 14-
17). Nos versículos 22-23 é cuidadosamente esclarecido que Ele
preparou os vasos de misericórdia para a glória, mas os vasos da
ira estão preparados para a perdição (não que Deus os tenha
preparado para a perdição, mas eles mesmos se colocaram nesse
estado). O maravilhoso Evangelho da salvação está aberto a todos!
6.34 Quais são os maiores problemas da
humanidade, e quais são suas soluções?
Três grandes problemas atormentam a humanidade:

1. Os pecados = atos pecaminosos em pensamentos, palavras e


ações.

2. O pecado = o principio do pecado, a fonte dos atos


pecaminosos.

3. Sofrimentos físicos.

O primeiro problema foi resolvido quando Cristo morreu por


nós, os crentes (Rm 3 - 5:11).

O segundo problema é resolvido pela nossa morte com Cristo


(Rm 5:12-6).

O terceiro problema será resolvido quando Cristo retornar e


transformar o nosso corpo perecível (Rm 8).

Em cada caso, devemos tudo a Cristo!

1. Existem também outras razões. Continuar em pecado seria um


insulto à graça de Cristo e a Ele mesmo que sofreu por nossos
pecados. Se você recebeu Cristo e conhece o grande preço
que Ele pagou (Seu sangue derramado), você desejará agradá-
lO, não O insultar andando no pecado.↩
7 A Igreja hoje
7.1 O que significa a palavra “Igreja”?
A palavra grega “ecclesia”, que é traduzida como Igreja, significa
“chamados para fora”. A Igreja não tem nada haver com esse
mundo. Ela pertence ao Céu. Ela foi chamada para fora desse
mundo e pertence a Cristo.
7.2 O que é a Igreja?
A Palavra de Deus só conhece uma Igreja. Ela consiste de todos os
cristãos crentes, que ouviram o Evangelho da salvação e creram (Ef
1:13). Eles foram acrescentados e juntados a um corpo, não por
meio de uma associação à alguma organização, mas pelo Espírito
Santo (At 2:47; 1 Co 12:13; Ef 1:23).
7.3 Quando ocorreu o início da Igreja?
A Igreja foi formada no dia do Pentecostes, ou seja, 50 dias após a
ressurreição do Senhor (At 2).

7.3.1 Por que não mais cedo?

A Igreja não podia ser formada mais cedo, pois Cristo tinha que
morrer, ressuscitar e ser glorificado antes que o Espírito Santo
viesse à Terra (Jo 7:37-39). Em Mateus 16, a Igreja ainda não
existia; ela ainda precisava ser construída: “sobre esta pedra
edificarei a minha Igreja” (v. 18).

7.3.2 Por que não mais tarde?

Alguns pensaram que a Igreja surgiu mais tarde, pois no dia do


pentecostes apenas os judeus estavam presentes. Os crentes das
nações foram acrescentados mais tarde (At 10 e 11). Mas o início da
Igreja foi de fato no dia de Pentecostes (At 2), pois lemos no final do
capítulo que “todos os dias acrescentava o Senhor à Igreja aqueles
que se haviam de salvar.” Portanto, a Igreja já existia.
7.4 A Igreja já era conhecida no Antigo
Testamento?
Não. O mistério do Cristo e Sua Igreja ainda não tinha sido dado a
conhecer (Ef 3:4,5). Foi a tarefa do Apóstolo Paulo proclamar essa
verdade (Ef 3:2,7,8). É verdade que o Antigo Testamento contém
figuras da Igreja (p.ex. Eva, Rebeca). Mas ninguém podia — sem a
luz do Novo Testamento — reconhecer nessas figuras a verdade
sobre a Igreja.
7.5 Quem pertence hoje a essa Igreja?
Todos que creram no Evangelho de sua salvação e foram, assim,
acrescentados a um corpo (Ef 1:13; 1 Co 12:13), ou seja, esses que
se converteram ao Senhor Jesus — tanto do povo de Israel quanto
das nações.
7.6 Como podemos nos tornar membros
do corpo de Cristo?
Para tal não precisamos fazer nada. Quem crê no Evangelho já é
um membro da “Igreja do Deus vivo”, a única Igreja que podemos
achar no Novo Testamento. Não precisamos, primeiro, tornarmo-nos
membros de alguma organização ou igreja. Cada crente legítimo é e
permanece um membro do corpo de Cristo (1 Co 12:12,13).
7.7 Por que o Novo Testamento usa
figuras para descrever a Igreja?
Como você explicaria o que é um avião a um pigmeu na floresta
tropical que nunca viu um avião? Sem dúvida você usaria figuras
que ele conhece como: que um avião se parece com um grande
pássaro, mas é composto de metal e não pode pousar nas árvores,
bebe gasolina ao invés de água, e assim por diante. De maneira
semelhante, Deus usa figuras que nos são familiares (corpo, noiva,
casa) para explicar o que é a Igreja.
7.8 O que significa quando a Igreja é
descrita como:
7.8.1 Corpo de Cristo?

Quando Deus fala que a Igreja é um corpo, isso significa, segundo 1


Coríntios 12, que:

todos somos diferentes, assim como os membros de nossos


corpos são diferentes e têm distintas funções;

há uma unidade, assim como os membros de nossos corpos


formam juntos uma unidade;

Cristo é o Cabeça da Igreja (veja 3.10). Esse é o fato mais


importante.

7.8.2 Casa de Deus?

Em uma casa todas as coisas devem ser organizadas como o dono


da casa as quer. Assim também é na casa de Deus:

nela existe uma ordem Divina que deve ser observada (1 Tm


3:15);

nela é manifesta a glória do Senhor da casa e Ele é honrado (Sl


26:8);

nela tudo deve ser santo (Sl 93:5).

As passagens referenciadas dos Salmos se referem, naturalmente,


ao templo de Deus no Antigo Testamento. Mas elas mostram que a
honra, glória e santidade pertencem à casa de Deus. A Igreja é hoje
a morada de Deus (Ef 2:19-22).
7.8.3 Noiva de Cristo?

A figura da noiva se refere a uma afeição e a um relacionamento


íntimo e indissolúvel (Gn 2:24). Ela nos mostra que há um
relacionamento de amor entre Cristo e a Igreja (Ef 5:25). Essa
afeição da Igreja deve ser indivisível — deve ser apenas para Cristo
(2 Co 11:2). A noiva só tem um grande desejo: a vinda do noivo!
“Amém, vem Senhor Jesus” (Ap 22:17,20).
7.9 O que queremos dizer quando falamos
da “igreja em ...”
Nós precisamos entender que a Igreja de Deus pode ser vista em
seu aspecto global (Ef 1:22,23) ou no seu aspecto local (1 Co
12:27). A Igreja de Deus em um determinado lugar (= aspecto local)
é a expressão da Igreja de Deus como um todo (= aspecto global).

A Igreja de Deus em um lugar, por exemplo, em Antioquia, consistia


de todos os crentes em Antioquia. Ela também era uma parte da
Igreja de Deus (veja 7.2).

Antigamente, no tempo do Novo Testamento, isso era


facilmente reconhecível, pois todos se reuniam de acordo com
o mesmo princípio. Quando eles se tornaram numerosos
demais para se reunirem em um só lugar, eles passaram a se
reunir em diferentes casas, mas o faziam em comunhão uns
com os outros. Eles eram conhecidos apenas como cristãos e
nenhum descrente ousava se associar a eles (At 5:13).

Hoje isso é muito mais complicado. Mas mesmo assim os


princípios de Deus ainda são aplicáveis. As pessoas fundaram
igrejas, comunidades, organizações, seitas e assim por diante,
introduzindo associações diferentes do que ser um membro do
corpo de Cristo. Como então, podemos, agora, ver ou mostrar a
Igreja de Deus em um lugar? Apenas reunindo-nos embasados
na Bíblia com outros que também têm esse desejo. Mas
precisamos estar conscientes que esses, que estão se
reunindo, não são necessariamente toda a igreja da localidade
1.
7.10 O que significa “se reunir ao nome do
Senhor”?
Um cristão gostaria, em princípio, de fazer tudo em nome do
Senhor, até comer e beber (Cl 3:17). Mas se gostaríamos de nos
reunir ao Seu nome (Mt 18:20), o Senhor precisa ser o ponto central
de nossa reunião. Ele precisa ter a direção e estar no centro de
nossas atenções. Nós só podemos nos reunir ao nome do Senhor
quando reconhecemos a Sua autoridade. Em resumo:

“onde”: um lugar que o Senhor escolheu (Dt 12);

“dois ou três: ” o número mínimo, decidido por Deus, para ser


um testemunho para Cristo;

“estão reunidos”: a força divina (reunidos por meio do Espírito


Santo);

“reunidos”: uma unidade divina;

“ao meu nome”: o nome divino do Senhor Jesus que reúne;

“ali estou”: a presença da pessoa divina: Cristo;

“no meio deles”: o centro divino.

Resumindo podemos dizer: para nos reunirmos de acordo com


Mateus 18:20 é preciso que:

o Senhor seja o ponto central da reunião;

o Corpo de Cristo seja a base;

a autoridade do Senhor seja reconhecida por meio da


separação do pecado.
7.11 O que é reunião como Igreja?
É uma reunião em qual “toda a igreja” em uma localidade se reúne
(1 Co 14:23), e isso “como igreja” (1 Co 11:18)2. Quando dizemos
“toda a igreja”, isso significa, naturalmente, todos que podem ou
querem se reunir. O Novo Testamento dá, pelo menos, três
propósitos para se reunir:

para o partir do pão (At 20:7; 1 Co 11;23-26);

para a oração (At 12:5,12 e Mt 18:19, 20);

para a edificação (1 Co 14:5,12,22-25).


7.12 Quem conduz as reuniões? Essa é a
tarefa de um pastor? Ou de um ancião?
Quando crentes se reúnem ao nome do Senhor (Mt 18:20), Cristo
deve ser o ponto central (veja 7.10). Ele conduz tudo. Não é uma
reunião que é conduzida por uma ou mais pessoas. Cristo tem a
autoridade e o Espírito Santo age e conduz como Ele quer (1 Co
12:4-6,11). Assim cada irmão (visto que as irmãs estão em silêncio
em igreja; 1 Co 14:34) deve estar pronto para ser usado pelo
Espírito. Ele cumpre com essa tarefa ao propor um hino, ao orar em
voz alta ou falar para edificação (1 Co 14:26-33).
7.13 Quem deve ministrar a Palavra?
Por “ministério da Palavra” (At 6:4) as Escrituras compreendem
pregar e ensinar a Palavra de Deus aos crentes. Isso deveria ser
feito pelos que receberam um dom para tal (mestres e pastores; 1
Co 12; Rm 12), que, do mesmo modo, foram dados como dons à
Igreja (Ef 4). Esse ministério também pode ter um caráter profético.
Este consiste em uma Palavra de Deus dita no tempo certo e que
toca os corações e consciências dos ouvintes.

A Palavra de Deus desconhece igrejas nas quais uma pessoa


apenas, “um pastor”, ministra a Palavra. Assim também havia em
Antioquia vários “profetas e mestres” (At 13:1). Paulo diz aos
coríntios: “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um
de vós tem salmo, tem doutrina ... Faça-se tudo para edificação”(1
Co 14:26). Tudo deve ser feito em amor e em santo temor que a
presença de Deus traz consigo.
7.14 Qual é a diferença entre dons e
cargos?
Dons são capacidades espirituais, p. ex., os de mestres ou
evangelistas. Por cargos, entendemos as tarefas de diáconos e
anciãos (presbíteros), que são sempre mencionados em plural.

Dons são para todo o Corpo de Cristo (Ef 4:11,12). Assim, por
exemplo, um mestre pode ensinar em outras cidades ou países.
Mas cargos se referem apenas a um local: “de cidade em cidade,
estabelecesses presbíteros (anciãos)”(Tt 1:5), e: “Aos presbíteros
que estão entre vós, admoesto eu, … apascentai o rebanho de
Deus que está entre vós” (1 Pe 5:1,2).
7.15 Por que hoje não é mais correto
instituir anciões?
No Novo Testamento os anciões sempre eram instituídos pelos
apóstolos (At 14:23) — ou pelos que receberam esse encargo
diretamente de um apóstolo (Tt 1:5). Hoje não temos mais apóstolos
(pois esses tinham que ter visto o Senhor, At 1:21,22; e também At
9:3-6 junto com 1 Co 15:8). Portanto, não existem mais pessoas
encarregadas pelos apóstolos que pudessem instituir anciões. Mas
ainda existem varões que têm as características ou qualificações de
anciões (1 Tm 3:1-7). Os que atendem a esses critérios podem
também exercer as tarefas de anciões (1 Pe 5:2; At 20:28).
7.16 Quais dons são mencionados no
Novo Testamento?
Em Efésios 4 são mencionados 5 importantes dons que Cristo deu:

1. Apóstolos — homens que viram o Senhor (At 1:22; 9:4,5) e


tinham uma autoridade especial ao agirem como enviados do
Senhor.

2. Profetas — esses que profetizavam (ou seja, que repassavam a


Palavra de Deus ao povo, aos crentes). Antes do Novo
Testamento estar completo, os profetas recebiam revelações
(Ef 3:5). Hoje a Bíblia está completa, por isso não há mais
novas revelações. No entanto, ainda existe o ministério
profético: ele consiste em direcionar uma Palavra de Deus, que
é apropriada para aquele determinado momento, para a
edificação de outros crentes (1 Co 14). Mas essa palavra se
baseia na Bíblia e por isso não é uma nova revelação. Havia
também mulheres que profetizavam (At 21:9), mas em suas
áreas de atividades e não, naturalmente, na Igreja (1 Co 14:34).

3. Evangelistas — levam aos perdidos o Evangelho e os


direcionam ao Senhor e à Igreja. Um bom exemplo é Felipe, o
evangelista (At 21:8), e a sua atividade em Atos 8.

4. Pastores — ocupam-se com as pessoas de forma individual,


assim como um pastor se ocupa com as ovelhas. Hoje muitos
entendem por pastor um “tudo em um”. Mas essa não é a tarefa
de um pastor como descrita na Bíblia.

5. Mestres (professores) — têm a capacidade de ensinar a


Palavra de Deus, de modo que os corações dos ouvintes se
aqueçam e ardam para a verdade, a Pessoa do Senhor Jesus
(Lc 24:27,32).
Além desses, ainda existem muitos outros dons (1 Co 12 e Rm 12).
Devemos também notar que em nenhuma dessas passagens há
uma lista completa de todos os dons.
7.17 O papel dos sinais e milagres.
7.17.1 O que eles significavam no início?

Por que Deus deu dons miraculosos? Para evangelização? Para


espetáculos emocionais? Ou para diminuir os sofrimentos dos
crentes? Para nenhuma dessas razões.

Deus deu sinais para manifestar que Ele fez um novo início. A era
da lei tinha passado. Deus formou a Igreja por meio do Espírito
Santo. Por isso, Ele deu aos discípulos no dia do Pentecostes (no
dia em que a Igreja nasceu; 7.3) a capacidade de falar em línguas
estrangeiras, que eram entendidas pelas pessoas presentes. Quem
podia negar que essa era uma obra de Deus?

Também precisamos reparar que os idiomas (ou línguas) era um


sinal para os judeus (1 Co 14:21). Por vezes ocorriam curas (p. ex.
At 3), não para diminuir os sofrimentos dos crentes, mas para dar
aos incrédulos um sinal (At 4:16,30; Hb 2:4).

7.17.2 O que eles significam hoje?

Os dons miraculosos e os sinais eram para o início (Hb 2:3,4). Eles


eram a comprovação visível que a Igreja era uma obra de Deus,
algo totalmente novo, um novo começo. É claro que Deus ainda
pode fazer milagres hoje, e Ele o faz. Mas isso é algo totalmente
diferente do que exercer os dons de sinais.

E quanto às línguas? Deixe-me perguntar-lhe: você conhece uma


pessoa que sabe falar um idioma, sem nunca o ter aprendido (é
exatamente isso que ocorreu em Atos 2)? E onde pessoas falam
“em línguas”, eu pergunto:

Eles respeitam as “regras do jogo” de 1 Coríntios 14?

Toda contribuição é traduzida (1 Co 14:13,27)?


As “línguas” são usadas como sinais para descrentes (1 Co
14:22)?

As mulheres estão em silêncio na igreja (1 Co 14:34)?

Quando Deus dá um dom (que é descrito no Novo Testamento), nós


devemos reconhecê-lo. Mas acautelemo-nos de enganações, de
falsos dons, não praticados de forma bíblica, mesmo que sejam
louvados como “dons”.
7.18 O que significa a “ruína (ou
decadência) da Igreja”?
Essa expressão significa que as coisas hoje são totalmente
diferentes de como originalmente estavam segundo a vontade de
Deus. O desígnios de Deus, no entanto, não mudaram e a Igreja
ainda é o Corpo de Cristo (Ef 4:4). Mas o homem fracassou muito
quanto à realização e manifestação prática da Igreja. Muitos se
tornaram membros de alguma organização religiosa — ao invés de
simplesmente se manterem como membros do corpo de Cristo (
7.6). Em muitos lugares introduziu-se o princípio de um pastor
apenas. E mais, hoje existem muitos males no cristianismo
professo:

mal eclesial, p. ex., “seitas” (Gl 5:20);

mal doutrinário (sobre Cristo, Sua pessoa, Sua encarnação,


Sua humanidade, Sua obra de redenção, Sua mensagem de
salvação, etc.), também a negação da inspiração verbal da
Bíblia (veja capítulo 8);

mal moral, que é tolerado em diversas congregações (1 Co 5;


fornicação, adultério, relação intima antes do casamento, etc.).

Parecemos estar em uma espiral descendente. Em muitas


comunidades cristãs, nem mesmo ocorre a necessária prática da
separação do mal.
7.19 Como ainda podemos manifestar a
unidade cristã nesse tempo de ruínas e
fragmentação?
O homem estragou tudo? Sim, mas isso não significa que é
impossível praticar os princípios bíblicos. Mesmo que os homens
criem organizações cristãs, podemos simplesmente fazer o que a
Bíblia diz: reunir-se ao nome do Senhor Jesus (Mt 18:20),
sabedores que somos membros do Corpo de Cristo (1 Co 12:12,13).

Ore; e o Senhor poderá mostrar-lhe outros crentes que O


reconhecem como Senhor e querem obedecê-lO (2 Tm 2:22).
Reúna-se com esses e coloque (de acordo com o seu conhecimento
e consciência) em prática o que a Bíblia ensina. Isso não significa
que você está criando uma nova igreja. Deus já criou a Sua Igreja
há 2000 anos e ela é suficiente, Ele não quer outra. Hoje nós só
precisamos reconhecer o que Ele fez e nos comportarmos de
acordo.
7.20 Quem pode ser recebido para o partir
do pão?
Todo crente — que não esteja vivendo associado ao pecado. Por
que todo o crente? Muito simples: porque em princípio todos os
membros do Corpo de Cristo têm o privilégio de tomar parte no
partir do pão (1 Co 10:17). E quando há uma situação impeditiva?
Como isso pode ocorrer? Principalmente por três motivos:

Mal moral: Por exemplo o homem em 1 Coríntios 5 teve que ser


colocado para fora por causa de fornicação. Ou seja, ele não
pode mais ter comunhão na comunidade cristã, e portanto, não
podia mais tomar parte na ceia do Senhor.

Mal doutrinário: Se alguém não trouxer a doutrina de Cristo (2


João 9-11), não pode ser recebido em casa nem ser saudado,
muito menos pode-se comer a ceia do Senhor com ele.
Também a má doutrina — que a Escritura nomeia como
fermento (Gl 5:9) — impede a participação na Ceia.

Ligação com o mal (2 Tm 2:21): Quem saúda um herege (2 Jo


9-11) “tem parte nas suas más obras”. Aqueles que visitavam
os templos de ídolos em Corinto, por meio disso (quisessem ou
não) participavam da mesa dos demônios (apesar deles
mesmos não acreditarem nos ídolos, 1 Co 10:19-22). Veja
também 1 Coríntios 15:33 e Apocalipse 2:14.
7.21 Qual é o relacionamento entre as
igrejas locais?
Uma igreja local, ou testemunho/manifestação local da Igreja, é uma
parte de toda a Igreja de Deus e uma manifestação dela (1 Co 1:2).
Igrejas locais, portanto, operam juntas em harmonia, do mesmo
modo como as diferentes partes do corpo humano trabalham juntas,
elas não combatem entre si. É evidente que o Corpo não é formado
por igrejas, mas por indivíduos crentes — mas são todos membros
do único Corpo: “Há um só corpo” (Ef 4:4), e há uma cabeça no
Céu, Cristo. Ele deseja conduzir os crentes e as igrejas em
harmonia de acordo com os Seus pensamentos.

A igreja local é apenas a expressão e representação da única Igreja


de Deus (1 Co 12:27, veja também 7.9). Quando uma igreja local
toma uma decisão, p. ex., sobre o recebimento ou sobre a disciplina
de um crente, essa decisão é válida para todas as outras igrejas. No
céu essa decisão é reconhecida: “tudo o que ligardes na terra será
ligado no céu” (Mt 18:18). Paulo fala repetidamente que suas
instruções aos coríntios eram válidas para todas as outras
localidades (1 Co 1:2; 4:17; 7:17; 11:16).
7.22 O que é a disciplina exercida pela
igreja?
O objetivo da disciplina na igreja é a restauração da pessoa que
agiu de uma forma não condizente com o ensino cristão. O tipo da
disciplina, a ser usada, depende de cada caso. Existem diferentes
tipos de disciplina:

Correção de uma pessoa que foi surpreendida em um delito:


Gálatas 6:1;

Admoestar e se afastar de pessoas que andam


desordenadamente: 1 Tessalonicenses 5:14; 2 Tessalonicenses
3:6,14,15;

Correção em público: 1 Timóteo 5:20; Gálatas 2:11-14;

Notar, prestar atenção aos que provocam dissensões: Tito


3:10,11; Romanos 16:17;

Proibir a fala: 1 Timóteo 1:3,4; Tito 1:10,11;

Uma conversa pessoal quando um irmão pecar contra outro:


Mateus 18:15-17;

Desligamento de toda comunhão cristã. Essa é a forma mais


séria da disciplina na igreja. A igreja precisa se humilhar e
admitir que não pode fazer mais nada e entregar o caso nas
mãos de Deus (leia 1 Coríntios 5).
7.23 O que é uma seita?
Essa palavra é usada com diferentes significados. Originalmente ela
descrevia uma escola ou um partido que era baseado sobre as
opiniões dos fundadores. Seitas, nesse sentido, originam-se quando
uma doutrina é criada (ou uma doutrina bíblica é supervalorizada) e
para pertencer a essa escola ou partido é necessário aceitar essa
doutrina, e semelhantemente, obedecer ao guia desse grupo. Assim
era em Corinto: lá ocorreu a tendência de se escolher um mestre e
de segui-lo (1 Co 1:11-13; 3:3-5). Havia o perigo desse espírito de
grupo formar seitas (veja 1 Coríntios 11:18-19).

Na linguagem cotidiana, diversos grupos cristãos (por vezes todos)


são hoje chamados de seitas — normalmente com um tom
depreciativo (veja At 24:5,14; 28:22).

O que faz do ponto de vista bíblico um grupo de cristãos ser uma


seita ou ter uma atitude sectária? Principalmente duas coisas:

Um caso é criar uma organização em que apenas após fazer


parte dela pode-se ter comunhão cristã com seus membros.

O outro caso é exigir daqueles, que querem ter parte na


comunhão cristã, não as condições bíblicas como pureza no
andar, doutrina e associação, mas condições extrabíblicas
como o uso de determinadas roupas ou outras leis e proibições.
7.24 Devemos pertencer a uma
denominação?
Se você pertence a uma denominação (uma organização com um
nome), reflita, por favor, nisto: os antigos cristãos não tinham
nenhum nome; eram simplesmente nomeados como “cristãos”, pois
todos sabiam que eles tinham algo a ver com Cristo, porque esses
tinham se convertido a Ele e seguiam os Seus interesses. Por que
deveríamos receber um nome hoje se a Bíblia não nos ordena?
Estejamos contentes em sermos apenas membros do Corpo de
Cristo ( 7.6)! O demais é negar a unidade desse Corpo.
7.25 Qual deve ser a nossa relação com
cristãos que não se reúnem conosco?
Eles são nossos irmãos e irmãs em Cristo. Talvez não possamos
partir o pão com eles, mas os amamos. Como podemos mostrar
esse amor? Procurando o melhor para eles. Orando por eles e
fraternalmente ajudando-os a edificarem-se e incentivando-os em
suas vidas de fé.
7.26 O que é mais importante: doutrina
exata ou devoção a Cristo?
Não faz sentido brincar jogando uma contra a outra. Nós precisamos
de ambas. Doutrina sem devoção pode ser comparada a um
esqueleto sem carne. Devoção sem doutrina é como um corpo que
não tem um esqueleto que lhe dá estabilidade.

1. Por esse motivo muitos irmãos recomendam não usar a


expressão “igreja local”, mas sim a expressão “testemunho local
da Igreja”.↩

2. Em 1 Coríntios 11:18, geralmente é traduzido por “na igreja”,


mas no original é literalmente: ‘em’. Juntamente com a falta do
artigo antes de “igreja” (ainda que poucos manuscritos o
acrescentem), ‘em’ tem a força de “no caráter de”.↩
8 A Inspiração da Bíblia
8.1 É verdade que a Bíblia é inspirada por
Deus?
Sim. Por enquanto, a citação de uma de muitas passagens é
suficiente: “Toda a Escritura é inspirada por Deus” (2 Tm 3:16)1.
8.2 A inspiração é realmente tão
importante?
Sim, absolutamente. Se a Bíblia não fosse inspirada, então ela seria
apenas um outro livro da literatura mundial, sem autoridade moral,
espiritual ou prática. Ela não seria a revelação de Deus.

Sem inspiração não teríamos nenhuma Palavra de Deus. Nós


perderíamos a base para qualquer ensino bíblico. Todos os
numerosos princípios bíblicos, sobre a pessoa de Cristo e Sua obra
redentora, sobre a Igreja, sobre o Reino de Deus ou sobre as
profecias, todos eles só podem ser defendidos se o texto bíblico vier
diretamente de Deus. Naturalmente, é necessária uma tradução
confiável.
8.3 O que significa inspiração?
“Inspirada por Deus” (2 Tm 3:16) significa expirada ou assoprada
por Deus. Toda a Escritura foi expirada ou dada por Deus, i.e., ela
vem diretamente de Deus. Uma descrição que pode ajudar a
entender isso encontramos em Atos 1:16: “Varões irmãos, convinha
que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse pela
boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que
prenderam a Jesus”. Isso é inspiração: Deus fala pela boca de uma
pessoa, a qual Ele escolheu para esse propósito.

Os homens, pelos quais Deus escreveu a Bíblia, eram “inspirados


pelo Espírito Santo.” (2 Pe 1:21).
8.4 Mas a personalidade do escritor não
influenciou em como e no que foi escrito?
Sim, em todos os casos. O estilo de João (simples, mas profundo) é
bem diferente de Paulo (lógico argumentativo), e o estilo de Paulo é
novamente diferente do de Pedro. Paulo estudou com o famoso
mestre Gamaliel. Pedro era um simples pescador da Galileia que
não havia concluído nenhum estudo. Deus usou ambos para atingir
o Seu alvo desejado.

Deus também usou a competência do médico e historiador Lucas,


que tinha condições de descrever detalhadamente o lado humano
dos eventos. No Antigo Testamento, Deus usou as experiências de
Davi para dar o conteúdo aos Salmos, e Ele usou o talento poético
de Davi para descrever os Salmos com a força de expressão que
eles têm.
8.5 As escrituras são, portanto, humanas
e, consequentemente, imperfeitas?
Não, nunca. Essas Escrituras correspondem exatamente à intenção
de Deus. Cada palavra foi dada por meio dEle (veja 8.6).
8.6 Como a Palavra pode ter o caráter do
escritor e ao mesmo tempo ser a Palavra
de Deus?
Pensemos em um escultor que está esculpindo uma estátua. Ele
usa diferentes instrumentos. Em sua obra final poderemos ver as
marcas que os diferentes instrumentos deixaram. Mas essas marcas
apenas estão lá porque o escultor usou adequadamente os seus
instrumentos para obter o resultado desejado. Do mesmo modo,
Deus escolheu e usou as características e circunstâncias da vida de
diversos escritores para alcançar o objetivo intencionado.
8.7 Alguma vez o Senhor Jesus corrigiu
algo que os escritores do Antigo
Testamento escreveram?
Nunca. O Senhor citou frequentemente o Antigo Testamento, mas
Ele nunca disse algo que indicasse que o escritor se enganou ou
que pudesse ter cometido um erro. Sua aplicação das Escrituras
mostram que Ele as considerava como tendo total autoridade (veja
p. ex.: Mt 4:4,7,10; 21:16; 26:31,54; Lc 4:17-21; Jo 17:12). Em
Mateus 5:17 Ele esclarece:

“Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar,
mas cumprir.”

É verdade que há citações no Novo Testamento um pouco


diferentes das passagens do Antigo Testamento. Mas uma análise
profunda do texto mostra que Deus usou essas diferenças
intencionalmente para um determinado fim (compare p. ex. Sl 68:18
com Ef 4:8; ou Sl 40:6 com Hb 10:5).
8.8 Os escritores compreendiam o que
eles mesmos escreviam?
Não necessariamente. Dos profetas do Antigo Testamento é dito
que: “Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os
profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, indagando que
tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava
neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a
Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir” (1 Pe
1:10-11). Os escritores do Novo Testamento entendiam, em geral, o
que escreviam. Podem haver exceções no Apocalipse, nas quais
João, provavelmente, não pôde entender plenamente a extensão de
suas visões.
8.9 O Senhor deu as palavras ou apenas o
conteúdo?
Deus deu as palavras. Paulo esclarece que os apóstolos ensinavam
palavras dO Espírito Santo (1 Co 2:13). Esta foi a lei desde os
tempos mais antigos, nos quais o Senhor disse acerca do
verdadeiro profeta: “porei as minhas palavras na sua boca” (Dt
18:18,20). Moisés registra no capítulo 29 de Deuteronômio: “Estas
são as palavras do concerto que oSENHOR ordenou a Moisés, na
terra de Moabe,” (Dt 29:1). Davi também se expressa assim: “O
Espírito do SENHOR falou por mim, e a sua palavra esteve em minha
boca.” (2 Sm 23:2). Veja também Esdras 7:11; Zacarias 7:12 e
Apocalipse 22:18,19. Todas essas passagens se referem às
palavras que o Senhor falou.

O Senhor disse: “Porque em verdade vos digo que, até que o céu e
a terra passem, nem um jota ou um til2 se omitirá da lei sem que
tudo seja cumprido” (Mt 5:18). O Seu uso do Antigo Testamento
demonstra a absoluta confiabilidade das palavras dessas Escrituras
(veja p. ex. Mt 22:31,32,43,44).

Em Gálatas 3:16, o Apóstolo indica que em Gênesis 22:18 está


escrito “à tua descendência” e não “às descendências”. Ele baseia o
seu argumento no fato de que a expressão “tua descendência” está
no singular (referindo-se a Cristo) e não no plural (seria uma
referencia a filhos e netos). Isso demonstra que ele confiava na
acurácia verbal e na inspiração das Escrituras.
8.10 Por que a inspiração verbal é
fundamental?
Porque a Bíblia (e a língua em geral) consiste de palavras. Se não
se pode confiar nas palavras, não se pode confiar em nada. Um juiz
deve fundamentar a sua sentença3 nas palavras da Lei. Um
testamenteiro precisa se fundamentar na exatidão das palavras do
testamento para cumprir sua tarefa. Se as palavras não definirem
um significado exato, então as sentenças e declarações não têm
valor.
8.11 A inspiração estende-se a toda a
Bíblia ou apenas às partes doutrinárias?
A Bíblia inteira. Alguns traduziram 2 Tm 3:16 errado: “Toda Escritura
divinamente inspirada é proveitosa...”. Essa tradução está incorreta.
O correto é: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o
ensino...”. Poder-se-ia argumentar que aqui se refere apenas às
escrituras do Antigo Testamento. Mas Paulo escreveu em 1
Coríntios 2:13: Coisas, “As quais [nós] também falamos, não com
palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo
ensina”. Ao dizer “nós” ele inclui os outros apóstolos.

Além disso, está escrito em 1 Timóteo 5:18: “Porque diz a Escritura”.


A essa expressão seguem-se duas citações. Uma é de
Deuteronômio e a outra do Evangelho de Lucas. Isso significa que
ambos, Antigo e Novo Testamento, são referenciados como partes
da “Escritura”.

De igual modo, Pedro se refere aos escritos de Paulo da mesma


forma que às outras escrituras (2 Pe 3:16) — o que implica que os
escritos de Paulo são inspirados.
8.12 A Bíblia afirma ser a Palavra de
Deus?
Sim, absolutamente. A frase “Assim diz o Senhor”, ou similar, ocorre
cerca de 700 vezes só no Pentateuco e ainda:

em torno de 400 vezes nos livros históricos;

em torno de 400 vezes nos profetas;

dessas, em torno de 150 vezes só em Isaías.

Em Ezequiel encontra-se expressões como “a palavra do SENHOR


veio a mim, dizendo” e semelhantes em torno de 350 vezes.

Finalmente, no Novo Testamento a expressão “está escrito” ocorre


cerca de 80 vezes. Não há nenhum outro livro que reivindica,
mesmo remotamente, ser a Palavra de Deus como a Bíblia o faz.
8.13 Quais realmente são inspirados, os
escritos originais, as cópias manuscritas,
ou nossas traduções?
Os escritos originais, ou seja, os textos como eles foram escritos por
Moisés, Davi, Paulo e os outros escritores.
8.14 Mas os manuscritos copiados não
estão repletos de erros?
Os textos originais do Antigo Testamento foram copiados em
manuscritos com grande cuidado e precisão. Isso foi assegurado
por meio de várias técnicas. Por exemplo, era contado o número de
letras em uma página. Se as letras na cópia não estivesse na
mesma quantidade que no original, uma nova cópia era feita e os
mesmos testes eram feitos novamente.

Abundam evidências da precisão da transmissão. Até 1947, os mais


antigos manuscritos do Antigo Testamento conhecidos eram de
cerca de 1.000 d.C. Os críticos da Bíblia afirmavam que esses
manuscritos deveriam ser muito imprecisos, por tantos séculos
terem se passado desde sua autoria. A famosa descoberta dos rolos
em Qumran, no mar morto em 1947, provou que eles estavam
errados (os críticos, não os manuscritos). As cavernas em Qumran
continha cópias de todos os livros do Antigo Testamento (exceto
Ester) de 100-200 anos antes de Cristo. Uma comparação
cuidadosa mostrou que esses manuscritos eram praticamente
idênticos, até então, aos conhecidos que datavam cerca de 1.000
d.C.

É verdade que há diferenças entre os manuscritos do Novo


Testamento, mas essas diferenças não são fundamentais para a
doutrina cristã. Além do mais, todas essas nuances podem ser
explicadas. Nenhum outro livro da mesma idade tem, nem de perto,
um tão grande número de manuscritos disponíveis (nove
manuscritos das Guerras da Gália de César, apenas um de Tácito,
contra 5.500 partes da Bíblia), nem tão antigos: alguns fragmentos
do Novo Testamento datam de cerca 150 d.C.
8.15 Mas as traduções não são muito
imprecisas?
Algumas delas, sim. Não deveríamos usar as modernas traduções
interpretativas, nem as que procuram melhorar a Bíblia — apenas
porque os tradutores não conseguem compatibilizar as declarações
bíblicas com suas próprias ideias preconcebidas.

Devemos nos esforçar para usar uma tradução o mais próxima


possível do texto original.
8.16 Então uma Bíblia em português não é
a Palavra inspirada de Deus?
Devemos observar que o Senhor e os escritores do Novo
Testamento também usaram uma tradução: a Septuaginta, ou seja,
a tradução grega do Antigo Testamento originalmente em hebraico.
Eles citaram trechos dessa tradução e disseram: “está escrito”.
Portanto, podemos confortavelmente confiar em uma boa tradução e
aceitá-la como a Palavra de Deus, apesar dela não ser inspirada.
8.17 O Senhor comentou se o Antigo
Testamento é ou não inspirado?
Sim, Ele o fez. Muitas vezes até. Ele usou o Antigo Testamento
como autoridade absoluta (veja 8.7). Ele colocou as palavras do
Antigo Testamento no mesmo nível que as Suas próprias Palavras
(compare Mt 5:18 com Mt 24:35).

Ele se referiu a Adão e Eva, Caim, Noé, Moisés, Davi, Jonas etc,
todas as vezes apresentando as narrativas do Antigo Testamento
como absolutamente verdadeiras e possuindo autoridade. Esses
escritos foram para Jesus a base para uma resposta oficial e
definitiva para todas as questões da vida (a ressurreição, o
casamento, o divórcio e muitos outros assuntos).

Finalmente, Ele se apresentou a Si mesmo como o tema de “todas


as Escrituras” (Lc 24, 27).
8.18 Como sabemos que o Novo
Testamento também é inspirado?
Diversos escritores do Novo Testamento reconheceram os escritos
uns dos outros (1 Tm 5:18; 2 Pe 3:15,16) e os colocaram no mesmo
nível que as “Escrituras” do Antigo Testamento. Veja 8.11.
8.19 Como sabemos que os livros certos
foram escolhidos para compor a Bíblia?
Os escritos inspirados tinham tal poder espiritual que se
recomendaram a si mesmos. Homens guiados pelo Espírito Santo
reconheciam que lidavam com escritos santos e inspirados (muitos
dos quais declaravam explicitamente ser a Palavra de Deus).

Interessantemente, o Senhor se referiu aos “Profetas”, aos “Salmos”


e às “Escrituras” como coleções conhecidas e reconhecidas (p. ex.
Mt. 26:56, Lc 24:27), assim como o fizeram os escritores do Novo
Testamento.
8.20 Mas não existem contradições na
Bíblia?
A Bíblia coloca o homem sob a Luz de Deus. Por isso, a tendência
natural do homem é odiar esse livro e procurar contradições nele.
No entanto, 90% das pseudo–contradições encontradas são apenas
fruto da ignorância ou de más intenções.

Existem dificuldades reais, como diferenças entre os relatos dos


evangelhos ou diferentes descrições dos mesmos eventos nos livros
dos Reis e Crônicas. Aqui é uma questão de pedir a Deus para nos
ajudar a entender o plano divino das Escrituras. Quando o fizermos,
as dificuldades desaparecerão e compreenderemos a beleza da
inspiração. Então se tornará claro que as dificuldades estavam na
intenção divina de nos mostrar diferentes aspectos da vida de Seu
Filho ou de Seu povo.

Em casos muito raros, um erro de cópia pode ter ocorrido: em 2


Reis 8:26, por exemplo, é dada uma idade de 22 anos, enquanto em
2 Crônicas 22:2, a idade mencionada é de 42 anos4. Mas a nossa fé
não se baseia nesses detalhes.
8.21 E quanto às palavras ditas por
pessoas más e registradas na Bíblia?
A Bíblia contém palavras como “Comamos e bebamos, que amanhã
morreremos” (1 Co 15:32). Tais versos não são a expressão da
mente ou da verdade de Deus, mas são reais e inspirados: eles nos
dizem que há pessoas que pensam e falam desse modo.

Também são registradas declarações de Satanás na Bíblia (no livro


de Jó e nos evangelhos). Deus as usa para explicar os papéis de
Satanás, o que ele é capaz ou incapaz de fazer, o que Deus faz com
ele e sobre a vitória do Senhor sobre ele. O registro das palavras de
Satanás é absolutamente inspirado.

As mentiras faladas pelos filhos de Jacó ao seu pai sobre o destino


de José também são textos inspirados. Eles nos mostram o coração
humano, o motivo da disciplina de Deus e a determinação de Deus
de trazer a graça apesar da maldade humana.

O livro de Eclesiastes contém explicações difíceis de serem aceitas.


Uma grande parte desse livro não é a revelação da vontade divina.
Mas expõe o pensamento humano “debaixo do sol”. Isso tudo é
inspirado e real: Deus revela por meio disso a situação do homem e
nos mostra o que o homem pensa.
8.22 Em resumo, o que a Bíblia diz sobre
si mesma?
A Bíblia afirma claramente que é a Palavra de Deus: isso implica
plena inspiração textual e, portanto, sua infalibilidade. Deveríamos
dar graças a Deus por Ele ter se agradado em revelar-se ao homem
de forma tão confiável. A Bíblia é o ponto mais seguro do universo:
“Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não hão de
passar.” (Lc 21:33).
8.23 Mas podemos confiar no testemunho
que a Bíblia dá de si mesma?
Sim, e só nele! Qualquer testemunho de terceiros seria bastante
fraco. Se Deus se revelou (como todo cristão acredita) em Sua
Palavra, então a Sua Palavra falará sobre e por si mesma.
Evidência extrabíblica só prejudicaria sua inerente autoridade. A
única autoridade que pode nos ensinar se a Bíblia é inspirada, e
exatamente o que isso significa, é justamente a própria Bíblia! O
Livro de Deus fala por si.

1. Tradução Almeida Revista e Atualizada↩

2. Jota: letra grega “Iota”, tradução da menor letra no alfabeto


hebraico “Yud”, no português corresponde à letra “i”. Til:
risquinho, um risquinho que diferencia uma letra hebraica da
outra, um exemplo no português seria o risco que diferencia “O”
de “Q”.↩

3. dentre outras coisas como princípios, doutrina e


jurisprudência.↩

4. Continua sendo uma pseudo–contradição, a inspiração divina


refere-se apenas aos escritos originais e não às suas cópias.↩

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