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Em um plano imagético-alegórico composto por uma carruagem, um cavalo, as rédeas

e um cocheiro, Platão associa esses elementos, respectivamente, com o corpo, o ímpeto, os


pensamentos e o ego. A racionalidade, por conseguinte, não só se mostra inerente ao homem
e transcendente ao momento, mas também é o fator peremptório da posição de destaque
ocupado pela espécie humana em relação às demais. A ciência, ao instrumentalizar essa
capacidade e ter como atribuição o aperfeiçoamento das condições de vida, principalmente
quando vinculada à lógica de mercado, possui grande importância na contemporaneidade.
Define-se a ciência como todo conhecimento produzido pelo emprego do método
científico, o qual preconiza a previsibilidade de resultados. Por isso há uma relação biunívoca
entre o resvalo de uma caneta e sua queda axiomática, produto da gravitação universal de
Newton, entre anomalias registradas em sismógrafos e o aumento da possibilidade de
terremotos, entre a precisão das técnicas cirúrgicas e menores chances de um paciente vir a
óbito. O prognóstico científico, em função de ser acurado, permite a antecipação de alguns
fenômenos que hão de vir e a salvaguarda dos indivíduos que seriam afetados como
consequência; isso já é condição suficiente de uma maior qualidade de vida.
Ademais, o aconchego adquire ampliação no mundo coevo, visto que o circuito fechado
de retroalimentação entre capital que gera tecnologia a partir de investimentos e tecnologia que
gera capital a partir do comércio é produto do vínculo entre ciência e mercado. Vale ressaltar
que, apesar desse vínculo apresentar-se em sua versão mais coesa no tempo que vige, o
filósofo e economista Adam Smith, no século XVIII, retratou-o em seu ​magnum opus​, “A
Riqueza das Nações”, arguindo em prol das decisões individuais e, portanto, facultativas sobre
os produtos consumidos, sendo que a demanda por certos insumos atiça a competição entre
os setores que os oferta; partindo dessa competição, a necessidade de mais destreza no
processo produtivo, de novos produtos disponíveis e de mais aperfeiçoamento dos produtos já
existentes são sanadas pelas novas técnicas advindas da ciência. Como a liberdade individual
da escolha sobre o produto consumido visa ao autobenefício e à melhoria da própria qualidade
de vida, a inserção científica nessa conjuntura permite associá-la ao bem-estar do paradigma
vigente.
O papel da ciência na contemporaneidade possui tamanha ampliação porque sua
metodologia, cuja divisão dá-se em observar a realidade, propor uma hipótese, conduzir um
experimento e produzir uma conclusão, alia a abstração da imaginação mental com seu vínculo
à realidade objetiva, ou seja, adapta-se às necessidades e condições humanas. Quanto às
necessidades, ressaltam-se a sobrevivência, que advém do prenúncio científico apurado
garantidor de medidas profiláticas, e a busca do bem-estar o qual o elo entre a ciência
produzida para o consumo e o respeito às decisões individuais fomenta. Por outro lado, a
doutrina científica conjuga-se, em uníssono, com as disposições humanas, instrumentalizando
a racionalidade indissociável à espécie, permitindo, usando alegoria platônica, que o cocheiro
guie sua carruagem, com as rédeas, ao terreno sem trepidações iluminado pelo advento
científico.

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