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Fábulas angolanas, de Luandino Vieira e Alberto Péssimo

Ana T. Rocha

Em agosto passado a editota Letras &


Coisas deu à estampa o livro intitulado Fábulas
angolanas, que reúne o conjunto de fábulas
escritas por José Luandino Vieira e que haviam
sido já anteriormente publicadas, em volumes
individuais, pela mesma editora e pelo INALD.
Normalmente acompanhadas pelas
ilustrações do próprio Luandino, desta vez, as
histórias surgem complementadas pelo belíssimo
trabalho de Alberto Péssimo. As linoleogravuras
de Péssimo, compostas por um traço largo,
relembram os antigos trabalhos de ilustração com
xilogravuras muito recorrentes no popular folheto de cordel.
Não só as fábulas merecem ilustração, como as próprias notas biográficas dos
autores que, em lugar da típica foto dos mesmos, apresentam um retrato de cada um
com o mesmo traço.
O trabalho de edição merece destaque pelo bom gosto e esmero na construção do
objeto que, no interior da capa dura, é como que forrado pela repetição, em miniatura,
da gravura que inaugura a obra.
As fábulas são sete e, ao contrário do que aconteceu em algumas das anteriores
edições singulares, possuem, agora, em anexo, um glossário.
De temática política, histórica e social, a que já fizemos referência, nesta coluna,
em alguns textos que lhes dedicámos, as fábulas de Luandino, como qualquer fábula,
não perdem, por isso, o compasso à passagem do tempo, nem impõem balizas de
receção de nenhuma ordem. A interpretação fica dependente do domínio do leitor face à
linguagem utilizada por Luandino, que obedece à oralidade, e seu ritmo que, partindo da
melodia verbal da língua, se alicerça, essencialmente, no poético que determina as
pausas, os silêncios e as continuidades. Não se valendo nunca o escritor do método
descritivo, as personagens e histórias de Luandino cabem na frase de uma metáfora, na
mestria da síntese que, entre outras características, distingue a escrita luandina.

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