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30/10/2020

Capitulo “Crise esperança – 1974 – 1980” necessário para responder a questão 1 do Bloco 2. (Livro que
está na seção castello branco).

A Crise da Dívida – Entrada no governo Figueiredo que terá que lidar com uma nova realidade
econômica, mais dura, que de seu antecessor.

Qual a situação econômica que Figueiredo se depara? Ele enfrentará um novo choque do petróleo.
Diferente do primeiro choque em 1973, (esse era o primeiro choque: a economia está com inflação
moderada, em trajetória de baixa e a economia se encontrava também bastante acelerada), mas agora,
por ocasião do segundo choque, a economia crescia a taxas menores, menor que o milagre, mas não
tava indo mal (crescendo 4-5%, não é extraordinário, mas não podemos falar em crise, no início dos
anos 60 crescia-se 1-2%, com a população crescendo 3%). Em 77/78 a inflação já batia a casa dos 40%.
Desde o primeiro choque do petróleo não conseguíamos mais inflação abaixo de 30%. O segundo
choque do petróleo terá como resultado um processo inflacionário diferente de 73, que teve um ponto
de partida, em termos de inflação, mais confortável.

Do ponto de vista do balanço de pagamentos, a situação também está desconfortável que a que
vigorava em 73. De 78 para 79, o déficit em transações correntes é bem maior, ou seja, as necessidades
de financiamento externo são maiores, no entanto, as condições que vigoram os mercados financeiros
internacionais não são confortáveis. E, pra piorar tudo, as taxas de juros internacionais estão subindo.
Finalmente, o BACEN americano, em resposta ao processo de aceleração da inflação, (estagflação em
muitos países desenvolvidos), aumentará os juros (choques de taxas de juros).

Manter a economia aquecida nessas condições, requer mais financiamento externo em um cenário no
qual as condições internacionais de liquidez já se mostram bastante adversas. E não é mais confortável,
alimentar novos ciclos de endividamento externo.

A despeito da situação, embora as condições de financiamento externo fossem mais adversas, ainda
assim existe a possibilidade de buscar novos financiamentos. Essa possibilidade existe mais
desaparecerá do horizonte a partir de 1982 – ano da moratória mexicana. Esse endividamento externo
ocorreu com a maior parte das economias latino-americanas. O México foi particularmente afetado pela
desaceleração econômica com a queda de suas exportações e muita dificuldade para seguir pagando os
juros da dívida externa.

Composição das transações correntes: o Brasil é cronicamente deficitário na conta de rendas, pagamos
mais juros que recebemos e repassamos mais lucros que recebemos, em grandes proporções. A conta
de rendas tem a seguinte dinâmica: uma estratégia de desenvolvimento para atrair empresas
internacionais, essas empresas remeterão lucros para o exterior. Quando elas ingressam registra-se
investimento externo direto. Ela remeterá lucros e contribuirá para o aumento do déficit. Isso acontece
com o conjunto das economias latinas que tiveram um modelo de desenvolvimento bastante parecido,
não apenas que se industrializarão por substituição de importações, mas todas que estimularam o
ingresso de empresas estrangeiras.

Percebam o déficit em transações correntes vem piorando desde o início da década de 70. O déficit
comercial também piora até 75-76, melhorando em 77 e depois estabiliza. A situação do México era
similar, com um déficit em transações correntes alto e condições de financiamento a partir do aumento
das taxas de juros internacionais impossibilitou a continuidade da estratégia mexicana, que então,
declarou moratória.

Como os países latinos tinham condições muito similares, com a moratória mexicana, os credores
internacionais interpretaram que, pela similaridade, o conjunto de países latino-americanos eram
inadimplentes em potencial. Ou seja, os credores, passarão a se mostrar menos dispostos a rolar as
dívidas para os países latinos. A moratória do México é um marco nessa lista de adversidades pq a partir
disto, a américa latina estará alheia aos mercados. Ou seja, a rolagem de dívida e novos financiamentos
não são mais opção, a restrição externa agora aperta de forma muito forte.

O que chamaremos de crise da dívida externa é, na verdade, a impossibilidade de manter altas taxas de
crescimento do produto elevadas em razão da nossa impossibilidade de financiar déficits em transações
correntes compatíveis com altas taxas de crescimento. Preciso, agora, fazer um pouso forçado da
economia brasileira, o pouso, deveria ser suave, mas será “aos trancos e barrancos”, em razão da
sucessão de acontecimentos na economia internacional. Preciso, a partir da sucessão de eventos
internacionais, preciso colocar a economia brasileira numa trajetória de crescimento compatível com as
novas, e mais restritas, condições de financiamento internacional: reduzir importações – pq não vou
conseguir comprimir os gastos com juros, a menos que negocie as dívidas – essa negociação se dará em
termos muito duros. Diante de um processo difícil de negociação da dívida, teremos que reduzir
importações, como? Redução das taxas de crescimento do produto.

A partir da década de 1980, não vamos mais conseguir repetir a taxa média de crescimento do PIB de
7,5% de 1948-1980. Média 81-11: 2,55% (e atualmente próximo de 2,1%). Na década de 80, claramente
os efeitos da crise da dívida externa: a situação em que, em razão, do ciclo de endividamento da década
de 70, das condições de pagamento de juros e amortizações da dívida, impossibilidade de rolar a dívida
depois da moratória do México, taxas mais altas, toda economia latina compreendida pelos credores
como potenciais inadimplentes (efeito contágio – nessa situação os credores se recusam a rolar a dívida
ou conceder novos empréstimos de forma a afrouxar a restrição). Existem claro episódios de negociação
da dívida, tentativas de acordo com FMI, etc.

A ideia de Década Perdida também está muito associada a essa situação. Não temos como crescer e
manter déficits altos em transações correntes. A solução é reduzir importações. Durante toda a década
de 1980, precisaremos de esforços no sentido de gerar mega-superávits comerciais para colocar o déficit
em transações correntes em patamar financiável, compatível com as novas condições nos mercados
financeiros internacionais, bem mais restritas. Isso é a crise da dívida externa. A economia americana
tem poder de determinar os ciclos de liquidez internacionais: Os EUA aumentam os juros e atraem a
liquidez pra si. Valorização do dólar. O aumento de juros dos EUA no início da década de 80 tem duas
interpretações, complementares: i. Banco central que combate a inflação e aumenta os juros para
tentar conter a escalada de preços (aperto da política monetária). Ii. Quem estuda geopolítica
internacional, entende a década de 80 como questionamento da supremacia do dólar, desde Bretton-
Woods, o dólar assumiu papel privilegiado, e, vem sofrendo questionamentos desde o final dos anos 60.
(Em 71 foi declarada o fim do padrão-ouro), junte-se os choques de petróleo, não se tem muita clareza
para onde caminha a moeda. O Japão e a Alemanha despontam como potências, França e Inglaterra,
etc. Os EUA então, quando aumentam o juros, fortalece novamente o dólar, como forma inclusive de
mostrar que quem tem reservas internacionais em dólar terá interesse em manter uma moeda
valorizada, reafirmando a supremacia da moeda com o aumento da taxa de juros internacional. Esse
movimento, que mantém o mundo em estagnação, recoloca/reafirma o dólar no topo da hierarquia das
moedas internacionais. E os países periféricos acabam sentindo os efeitos. Em razão, principalmente, do
endividamento externo e dos impactos que esse aumento dos juros tem.

Isso já diferencia o segundo choque do petróleo, em 79, do primeiro. Pq o aumento dos juros impacta
negativa as transações correntes. O choque impacta a balança comercial e o aumento dos juros impacta
a conta de renda. Dois fatores contribuindo para a deterioração das transações correntes. Fatores que
requererão mais financiamento externo. E, o aumento da taxa de juros nos EUA é o elemento que
contribui para reverter o ciclo de liquidez internacional e inviabilizar as condições para obtenção de
novos financiamentos, o que não aconteceu em 1974.

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