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26/11/2021
Número: 0600540-19.2020.6.17.0033
Classe: AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL
Órgão julgador: 033ª ZONA ELEITORAL DE BOM JARDIM PE
Última distribuição : 08/12/2020
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Inelegibilidade - Representação ou Ação de Investigação Judicial Eleitoral Jugada
Procedente pela Justiça Eleitoral, Candidato Eleito
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
PARTIDO SOCIAL DEMOCRATICO - PSD JAILSON BARBOSA PINHEIRO FILHO (ADVOGADO)
(REPRESENTANTE) DIEGO AUGUSTO FERNANDES GONCALVES DE SOUZA
(ADVOGADO)
HENRIQUE LOURENCO DO NASCIMENTO (ADVOGADO)
MARIA STEPHANY DOS SANTOS (ADVOGADO)
DELMIRO DANTAS CAMPOS NETO (ADVOGADO)
ELEICAO 2020 JOAO FRANCISCO DA SILVA NETO VICTOR LAPORTE DE ALENCAR TRINDADE (ADVOGADO)
PREFEITO (INVESTIGADO) GUILHERME RIBEIRO ALBUQUERQUE ADRIAO
(ADVOGADO)
ALMIR CRUZ DE FARIAS NETTO (ADVOGADO)
ANTONIO JOAQUIM RIBEIRO JUNIOR (ADVOGADO)
ELEICAO 2020 ERIVANIA MARIA RIBEIRO VICE-PREFEITO VICTOR LAPORTE DE ALENCAR TRINDADE (ADVOGADO)
(INVESTIGADO) ALLAN MICHELL PEREIRA SA registrado(a) civilmente
como ALLAN MICHELL PEREIRA SA (ADVOGADO)
ANTONIO JOAQUIM RIBEIRO JUNIOR (ADVOGADO)
PROMOTOR ELEITORAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO
(FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
10015 26/11/2021 00:15 Sentença Sentença
9210
JUSTIÇA ELEITORAL
033ª ZONA ELEITORAL DE BOM JARDIM PE
SENTENÇA
1. RELATÓRIO
Trata-se de Ação de Investigação Judicial Eleitoral por abuso de poder econômico ajuizada
pelo Partido Social Democrático (PSD) de Bom Jardim/PE em face de João Francisco da Silva
Neto (prefeito) e Erivânia Maria Ribeiro (vice), referente às eleições 2020.
Citados, os investigados ofereceram defesa (ID 74758782) sustentando que não houve captação
ilícita de sufrágio nem abuso de poder econômico e que teria sido criada uma narrativa entre o
ex-prefeito e a da testemunha Helena Maria de Lima para que fosse atribuída aos investigados a
autoria pela contratação do poço artesiano.
Em seguida, o partido autor apresentou suas alegações finais tempestivamente (ID 99069281),
nas quais repisou os argumentos expendidos na inicial. Requereu que os investigados fossem
apenados com a sanção de cassação do mandato e inelegibilidade a se realizarem nos oito anos
subsequentes à eleição em que se verificaram os abusos acima narrados, nos termos do art. 22,
inciso XIV, da Lei Complementar nº. 64/90.
Com vista dos autos, o Ministério Público Eleitoral opinou pela procedência da presente ação de
investigação judicial eleitoral em razão dos áudios de WhatsApp da testemunha Helena Maria de
Lima que caracterizaram, na visão do parquet, o abuso de poder econômico e a captação ilícita
de sufrágio tendo como consequência a cassação dos mandatos (ID 99197377).
É o relatório.
2. FUNDAMENTAÇÃO
Assinado eletronicamente por: HAILTON GONCALVES DA SILVA - 26/11/2021 00:15:31 Num. 100159210 - Pág. 1
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Número do documento: 21112600153118500000095624320
No mérito, atribuem-se aos Investigados o abuso de poder e econômico e a captação ilícita de
sufrágio consistente na perfuração de um poço artesiano na propriedade da
testemunha Diocláudio de Lima Dutra.
A presente Ação de Investigação Judicial Eleitoral – AIJE – tem dois resultados objetivados – O
primeiro à decretação da inelegibilidade dos investigados (LC nº 64/90, art. 22, XIV) – O segundo
à cassação do registro ou diploma do candidato diretamente beneficiado pela interferência do
poder econômico e pelo desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos meios de
comunicação (LC nº 64/90, art. 22, XIV. José Jairo Gomes, p. 662).
Quanto ao exame da lesividade da conduta, dispõe o inciso XVI, art. 22, da LC 64/90:
XVI – para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato alterar
o resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam.
É sensato que o termo “gravidade das circunstâncias” deve ensejar uma análise acurada dos
elementos caracterizadores do fato, como suas causas, elementos e consequências. O
julgamento da conduta deve ser balizado pelos princípios da proporcionalidade e razoabilidade,
objetivando não implicar punições excessivas pela prática de irregularidades que não se revestem
de força para macular o processo eleitoral.
Além disso, nem toda a procedência de uma AIJE leva necessariamente ao duplo sancionamento
do representado: cassação de registro ou diploma e inelegibilidade. Com efeito, são diversos os
elementos de caracterização da cassação do registro ou do diploma e da decretação da
inelegibilidade. Somente se cogita da sanção de inelegibilidade quando houver prova da
responsabilidade subjetiva do sujeito passivo, através de uma conduta comissiva ou omissiva, ao
passo que basta a mera condição de beneficiário do ato de abuso para a sanção de cassação do
registro ou diploma. (Rodrigo López Zilio – Direito Eleitoral, p. 553).
Do exposto, tem-se que a lei exige, necessariamente, a prática de uma conduta ilícita – seja por
ação ou omissão – por parte dos representados, sendo que a sanção de inelegibilidade atingirá,
de igual forma, o autor do ilícito e todos os demais partícipes que contribuíram para a prática do
ilícito. Portanto, é imprescindível a prova do vínculo subjetivo do representado na prática da
infração eleitoral para a declaração (in casu, constituição) da inelegibilidade. De outra parte, a
sanção de cassação do registro ou do diploma decorre da quebra da normalidade e legitimidade
do pleito por força do ato de abuso. Por conseguinte, desnecessário cogitar de responsabilidade
subjetiva para aplicar essa sanção, revelando-se suficiente a prova da condição de beneficiário
do abuso.
Pois bem, analisando detidamente todo o contexto probatório, não ficou provado nos autos, pelos
fatos relatados, indícios, circunstâncias e documentos juntados aos autos pelo autor, que os
Investigados tenham abusado do poder econômico em benefício de suas candidaturas aos
cargos de Prefeito e Vice-Prefeita nas eleições municipais 2020 no município de Bom Jardim.
Neste sentido, pela análise dos vídeos, fotos e prova testemunhal colacionados aos autos e pelas
circunstâncias do caso, não constato a prova da autoria dos investigados.
Assinado eletronicamente por: HAILTON GONCALVES DA SILVA - 26/11/2021 00:15:31 Num. 100159210 - Pág. 2
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É fato que foi realizada a contratação da empresa NORDESTE POÇOS para escavação de poço
artesiano na propriedade da testemunha Diocládio de Lima Dutra conforme fotos, vídeos trazidos
pelo autor. No entanto, a única prova trazida aos autos que citam os investigados como
patrocinadores são os áudios de WhatsApp na conversa entre a mãe do Diocláudio, testemunha
Helena Maria de Lima, e o ex-prefeito João Lira.
É importante frisar que o ex-prefeito João Lira foi quem primeiro atribuiu a autoria do poço ao
investigado João Francisco da Silva Neto , tanto que na mensagem seguinte a testemunha
Helena Maria de Lima, diz:
No áudio 7, Helena Maria de Lima ratifica que não viu nenhum dos investigados e, no audio 10
e 11, que haveria uma reunião na casa da testemunha Diocládio e fala sobre a escavação do
poço:
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conversa que vai fazer esse poço já é terça-
feira e parece que é coisa, parece que ele
conseguiu com recurso do governo, parece
que foi perfeito, nem sei viu? que eu não
converso com ele não, conversei com ele
mais não. Desde que eles botaram o 22 que
eu fiquei com muita raiva, que foi uma
traição muito grande prefeito, uma traição
muito grande, não foi? Eles traíram você e
traíram a minha confiança entendeu?
Traíram minha confiança também, aí de lá
para cá a gente, se ele chegar e me dar a
benção tudo bem, Deus abençoe, Deus te
proteja e toda hora do jeito que o abençoe
os outros, eu abençoo ele, toda hora vou
pedir a Deus, rezar por ele, mas não tive
mais contato, não conversei mais com ele
não, viu? a gente sabe de coisa por boca
dos outros.
Nota-se pelos áudios que a testemunha Helena Maria de Lima não tem certeza das informações
e diz que os recursos para escavação poço vieram da governo, no entanto, em seguida, afirma
que os recursos vieram da alguém da cidade de João Alfredo.
A seguir, o ex-prefeito João Lira, mais uma vez, atribui a autoria ao investigado nos seguintes
termos:
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confirmados pela testemunha Helena Maria de Lima nem em sede policial nem na audiência
de instrução. Na própria petição o autor já menciona:
Diante disso, não há como imputar a autoria aos investigados com a prova exclusivamente
produzida pelo autor as quais não foram confirmadas nem no inquérito e nem no processo
de investigação judicial.
Sabe-se que na jurisprudência dominante do TSE é necessária a produção da prova robusta para
configuração dos ilícitos eleitorais, nesse sentido:
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Na verdade, a meu ver, temos indícios; inclusive, pelo fato do mencionado Diocláudio de Lima
Dutra, no momento, ser contratado pela atual gestão do Município de Bom Jardim/PE, no entanto,
ninguém pode ser condenado em processo desta natureza com base em indícios.
Assim sendo, considerando as razões acima expostas, não vislumbro demonstrado, no caso
concreto, qualquer abuso de poder econômico ou captação ilícita de sufrágio como pretende a
parte Investigante.
3. DISPOSITIVO
POSTO ISSO, considerando tudo mais que dos autos constam, JULGO IMPROCEDENTE A
PRESENTE AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL – AIJE – ante a não
caracterização de abuso de poder econômico ou captação ilícita de sufrágio.
Juiz Eleitoral
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