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Novo Hamburgo
2021
UNIVERSIDADE FEEVALE
Reitor: Prof. Cleber Prodanov
Chefe de Gabinete: Profa. Tamires Becker
Pró-Reitora de Ensino: Profª. Angelita Renck Gerhardt
Diretora do Instituto de Artes: Profa. Marines Andrea Kunz
Coordenador do Curso de Artes Visuais: Profª. Cristina Ennes da Silva
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, que sempre fizeram de tudo dentro de suas possibilidades para me
dar a chance de conseguir ter o que eles, infelizmente, não conseguiram adquirir.
A minha companheira que sempre me auxiliou em toda esta jornada, tendo sempre
uma palavra de apoio para me confortar e uma mão amiga para me ajudar.
Aos professores por todo o ensino ao longo de todo o meu curso, saibam que
levarei todos vocês comigo, pois tentarei ser um professor tão bom quanto os que tive
aqui.
A minha orientadora Profª. Dr. Laura Marcela Ribero Rueda, por toda sua empatia
e seu auxílio na construção deste trabalho.
Agradeço, também, a todos que de alguma forma não acreditaram em mim, vocês
foram a minha bússola ao longo desta jornada, muito obrigado, sem vocês, provavelmente
eu esqueceria de onde estou vindo e para onde estou indo.
Também agradeço a minha tia Maria Lizete Santos, pois sem o incentivo dela para
que eu estudasse desenho nada disso teria acontecido, obrigado por ser esta estrela que me
ilumina sempre.
RESUMO
Este trabalho tem como finalidade estimular o pensar sobre a utilização da fotografia de
autorretrato também conhecida popularmente como selfie, para o auxílio na autoaceita-
ção. Está cada vez mais fácil adquirir um celular com câmeras e a crescente oferta de
redes sociais que utilizam este recurso é cada vez maior, assim como a chamada “vida
perfeita de redes sociais”. Este comportamento tem um impacto muito grande na socie-
dade, principalmente nos adolescentes. Nesta fase alguns, na busca incansável para serem
aceitos em grupos sociais, se utilizam da selfie para retratar uma vida digital que, muitas
vezes, não condiz com a realidade. O resultado deste comportamento é devastador, pois
em alguns casos faz com que os alunos não se enxerguem e aceitem como são realmente.
Numa tentativa de mudar esta realidade iremos trabalhar visando a alteração deste com-
portamento nocivo para uma utilização saudável das selfies. A pesquisa participativa com
abordagem qualitativa está baseada no processo de ensino-aprendizagem com uma dupla
na faixa etária entre 18 e 29 anos: uma é estudante de arquitetura e a outra é formada em
engenharia civil. O estudo ocorreu de forma dinâmica nos dois encontros que tive com as
participantes, os mesmos se subdividiram em quatro atividades centrais. Inicialmente,
foram aplicadas três aulas: autorretrato na história, praticas fotográficas, Frida Kahlo vida
e obras. Na sequência, as participantes produziram alguns autorretratos. Para este projeto
as participantes escolheram uma única imagem que será mostrada no decorrer do traba-
lho. O intuito desta produção é incentivar as participantes a trabalhar as questões sensíveis
referente as suas imagens, como elas se enxergam e como elas são, tendo como viés para
esta produção seus sentimentos.
ABSTRACT
This work aims to stimulate thinking about the use of self-portrait photography also pop-
ularly known as selfie, to aid in self-acceptance. Over the years it is increasingly easy to
acquire a mobile phone with cameras and the growing supply of social networks that use
this feature is increasingly tied to this comes the so-called perfect life of social networks.
This behavior has a very large impact on society, especially in adolescents. In this way
some tireless quest to be accepted into social groups and use the selfie to portray a life on
social networks that often does not agree with reality. The result of this behavior is
devastating because in some cases it causes students not to see themselves and accept as
they really are. Trying to change this reality we will work to change this harmful be-
havior, trying to get into a reality where there is a healthy use of selfies. Participatory
research with a qualitative approach is based on the teaching-learning process with a pair
of 2 people, aged between 18 and 29 years, one is an architecture student and the other
has a degree in civil engineering. The study occurred dynamically in the two meetings I
had with the participants they were subdivided into four central activities, initially three
self-portrait classes were applied in history, photographic practices, Frida Kahlo life and
works and finally the part where the participants produced some self-portraits. For this
project the participants chose a single image that will be shown in the course of it. The
purpose of this production is to encourage participants to work on sensitive issues related
to their images, how they see themselves and how they are. Always having as bias to this
production your feelings.
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................8
2 ARTE E EDUCAÇÃO................................................................................................11
3 O AUTORETRATO NA HISTÓRIA .................................................................... 16
4 FOTOGRAFIA ...................................................................................................... 29
4.1 Selfie mais que uma simples fotografia ............................................................... 31
4.2 Questões Técnicas................................................................................................ 35
5 FRIDA KAHLO: VIDA E OBRAS........................................................................ 38
5.1 Autorretratos de Frida Kahlo ............................................................................. 41
6 LOCAL DE PROPOSTA E ESTRUTURA ........................................................... 49
6.1 Conhecendo as participantes .............................................................................. 50
6.2 Planejamento dos encontros................................................................................ 50
7 RELATÓRIO DOS ENCONTROS ....................................................................... 51
7.1 1º relatório dos encontros .................................................................................... 51
7.2 2º relatório dos encontros .................................................................................... 58
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 62
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 64
8
1 INTRODUÇÃO
Quando criança eu sempre fui agitado, até o sexto ano só queria saber das aulas
de educação física, pois nelas eu encontrava conforto. Sempre gostei de desenhar e com o
incentivo de minha tia comecei a estudar mais sobre o assunto. Com seu auxilio, convenci
meus pais a comprarem materiais para que eu pudesse iniciar meus estudos.
Meus familiares compraram alguns lápis, folhas e dois livros que prometiam-me
ensinar a desenhar. O primeiro ensinava a desenhar pessoas, e o segundo animais. Com
o passar do tempo, percebi que gostava cada vez mais de desenhar. Aos poucos, procurei
me aprofundar, porém meu conhecimento por arte ainda era inexistente.
Ao longo dos anos, meus pais perceberam que meu desenvolvimento no desenho
era significativo, porém, fui incentivado a considerá-lo como recreação. Entretanto, o fato
de desenhar bem me rendeu popularidade na escola. Muitas pessoas me procuravam,
pediam para fazer trabalhos comigo, inclusive, decorações em cartas românticas.
Nunca fui incentivado por minha família no campo das artes, infelizmente, ne-
nhum dos meus familiares teve a oportunidade de desenvolver essa habilidade. A maioria
possui baixa escolaridade, mas ainda assim sempre fui incentivado por eles a estudar.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam nunca sonhei em ser professor, esta
escolha foi acontecendo com o tempo. Costumava ensinar amigos ou familiares e recebia
pareceres positivos. Dessa forma, cada vez mais fui entrando para mundo da educação e
quanto mais me inteirava, mais gostava.
Foi, então, que fiz a seguinte pergunta: “o que irei lecionar?”. E recordei de toda
a minha trajetória até esse momento, e, assim, resolvi estudar o curso de licenciatura em
Artes Visuais.
Durante a graduação aprofundei meus conhecimentos sobre pintura e fotografia,
ambas técnicas sempre me fascinaram e procurei pesquisar mais sobre elas, e acabei des-
cobrindo a artista Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón. Gosto de todos os tra-
balhos dela, em particular as obras nas quais ela realiza autorretratos, pois este assunto
também me fascina. Também me atrai a versatilidade artística que a fotografia proporci-
ona.
Na cadeira de estágio I que foi realizada em uma escola pública da cidade de Porto
Alegre presenciei algumas experiências ruins. Conheci o lado mais cruel das escolas,
como a intolerância e a necessidade de ser aceito em um grupo a qualquer custo. Tais
vivências me fizeram recordar de algumas histórias que também protagonizei em minha
9
2 ARTE E EDUCAÇÃO
A arte passou a fazer parte do currículo escolar como disciplina obrigatória a partir
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em 1996. A lei nº. 9.394/96 no
seu art. 26, § 2° afirma “O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais,
constituirá componente curricular obrigatório da educação básica”. Ainda em seu art. 26
§ 6° confirma 6 que “As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as linguagens que
constituirão o componente curricular de que trata o § 2o deste artigo”. (BRASIL apud
IECKER, 1997, p. 72).
A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da per-
cepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência
humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção e imaginação, tanto ao realizar
formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas produzidas por ele e
pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas (BRASIL, 1997, p. 19).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) foram elaborados por teóricos e pro-
fessores de arte, o que garante maior confiabilidade em relação ao conteúdo nele apresen-
tado, pois possui profundidade e abrangência relevantes para a área em estudo. Porém, a
abordagem é bastante superficial em relação à metodologia de aplicação da arte, cabendo
ao educador definir a forma de encaminhar concretamente as atividades (VIEIRA apud
IECKER, 2006, p. 43).
Barbosa apud RODRIGUES (2007, p. 13) muito embora os PCNs tenham reco-
nhecido um lugar de destaque no currículo, ao dar a Arte a mesma importância que deu
as outras disciplinas, tivemos poucos resultados.
O que se está observando em todo o mundo é que a moda globalizadora de esta-
belecer currículos nacionais ou outros eufemismos, como standards nacionais e até pa-
râmetros nacionais, resulta no desenvolvimento do poder de controle do governo sobre a
educação, mas não numa melhoria de qualidade das escolas e do ensino. (BARBOSA,
1998, p. 96).
Segundo a autora, mesmo existindo no Brasil a obrigatoriedade, o reconhecimento
não garante um ensino-aprendizagem de qualidade, capaz de fazer o discente entender
a essência da arte e aprender o conceito. Somente professores com ações verídicas e
inteligentes podem tornar a arte essencial para o crescimento do indivíduo. A hierarquia
do conhecimento escolar explícita e implícita ainda mantém o ensino de arte num escalão
inferior da estrutura curricular; porém, felizmente, não decreta o falecimento (BARBOSA
12
A arte pode ser uma das soluções de mudança na vida do ser humano só devemos
dar a importância que ela merece. Não precisamos mais de fórmulas e receitas educaci-
onais – precisamos, sim, é de um comprometimento humano, pessoal, valorativo, com a
educação e a Nação. Precisamos de uma real arte-educação, e não de uma “arte culiná-
ria”. Uma “arte culinária” cuja receita principal é cozinhar em fogo brando os corações e
mentes das novas gerações, para servi-los no grande banquete do desenvolvimento indus-
trialista (JR, 1988, p. 31).
Foi em 1993, no festival de inverno de Campos do Jordão, que se deu o início do
processo, mas foi entre os anos de 1987 e 1993 que ficou conhecida inicialmente como
Metodologia Triangular, em ações sistematizadoras no Museu de Arte Contemporânea da
Universidade de São Paulo (USP), tendo como base fundamental o ensino da arte no fazer
e ver. O surgimento da proposta triangular tinha como objetivo melhorar o ensino de arte,
o entendimento sobre arte e o desenvolvimento de um conhecimento crítico para alunos e
professores (BARBOSA, 2012, p. 29).
É importante deixar claro que a Proposta Triangular não se trata de um modelo
pré-formatado, portanto, fica explícito que a Proposta Triangular não é indicada a todos
que procuram um método padronizado, pelo contrário, a Proposta Triangular está atrelada
ao conceito de liberdade para assim obter o conhecimento crítico no processo das práxis
(MACHADO, 2010, p. 79).
A Proposta Triangular gera novas possibilidades para o professor na sua prática
docente, tendo a liberdade de fazer escolhas e, ainda assim, conseguir realizar mudanças
e adequações, não se trata de um modelo fechado (BARBOSA, 2012, p. 48).
A Proposta Triangular aponta que é importante pensar o que é a imagem, seja uma
imagem do cotidiano, da história ou da cultura, considerando as atividades em sala.
Fazendo-se necessário sempre fazer uma leitura crítica das produções artísticas e sobre
o sujeito. Não depende só de como o sujeito enxerga a imagem, mas como a interpretar
(NOVAES, p. 27).
Pode-se dizer que a leitura de imagem está ligada ao contexto em que se vive.
Entretanto, isso não significa que iremos trabalhar visando só o cotidiano, mas ela contri-
bui para que os alunos consigam fazer uma leitura mais crítica. Dessa forma, é possível
realizar a contextualização das imagens, a fim de identificar e refletir, entender o papel
dela dentro da sociedade, realizando seu papel político de transformação social e não só
realizando uma observação apreciativa (DEWEY, 2010, p. 46).
A Proposta Triangular da Prof.ª Ana Mae Barbosa (2010), possui a seguinte es-
14
afirma a autora sobre a importância da arte: “Se a arte não fosse importante não existiria
desde o tempo das cavernas, resistindo a todas as tentativas de menosprezo”.
A apreciação é ressaltada no ensino da arte durante todo o período de escolariza-
ção, e deve sempre ser realizada de forma abrangente seguindo os Parâmetros Curriculares
Nacionais (BRASIL, 1997, p. 51). Como existe uma diferenciação entre o olhar estético
e o olhar do cotidiano, é através do ensino da prática em apreciação que os alunos poderão
desenvolver tal competência. Segundo Barbosa (2002), “a escola seria a instituição que
pode fornecer o acesso à Arte para a maioria dos estudantes em nossa nação”.
Apreciação deve ocorrer não apenas com as obras de arte, mas também com tudo
que cerca o leitor. O olhar precisa sempre se manter alerta a outras formas de consumo
de imagens, e o arte/educador deve fornecer os meios para gerar uma autonomia ao estu-
dante, para que ele consiga construir a sua percepção visual.
Barbosa apud Silva (1991, pág. 36), desenvolver a capacidade crítica da obra de arte por parte
do aluno, propõe alguns procedimentos com base na descrição e análise de obras de arte, na
interpretação e julgamento da obra, na investigação de seus significados, com base em dados
coletados anteriormente. Discute questões estéticas que tratam dire- tamente da qualidade
expressiva da obra, sem emitir juízos de valor como conceitos de belo ou feio.
16
3 O AUTORETRATO NA HISTÓRIA
Atualmente é comum ver pessoas fazendo selfies, mas o que poucos sabem é que
este comportamento não teve seu início com o advento da fotografia, selfie nada mais é do que
uma forma atual de realizar um autorretrato. Dentro da história da humanidade existeuma
lista de momentos onde o homem tenta registrar sua passagem na história, como
resultados mais expressivos que podemos citar temos os rastros deixados nas cavernas de
Lascaux, na França, e a criação da escrita.
Segundo CANTON (2004) , menciona que o autorretrato andava em paralelo com
a humanidade enquanto a mesma buscava por uma forma de registrar sua história para
posteridade. Por esta busca, quase obsessiva por deixar um legado, a figura humana e suas
especificidades começam a povoar cada vez mais os pensamentos dos artistas. Estenovo
comportamento teve início no renascimento, o reflexo do indivíduo faz com que o
autorretrato assuma o seu lugar de destaque dentre os demais gêneros, os autorretratos
têm um aumento em suas produções, mas inicialmente não retratavam de forma fiel a
imagem real (GOMBRICH; TORROELLA; SETÓ, 1997, p. 37).
Os motivos que fazem os artistas a se autorretratarem são diversos, no epicentro
deste comportamento podemos dizer que está o fato de que os artistas começam a se
enxergar como únicos, atrelado à vontade de deixar seu legado. Gerou-se, assim, uma falta de
conexão com os retratos que produziam sob encomenda para os contratantes da época. Os
autorretratos possibilitaram aos artistas deixar clara a forma com que pensavam e também
permitiu que pudessem aperfeiçoar técnicas, conceitos e utilizar novos materiais sem
correr o risco de sofrerem qualquer tipo de dano financeiro ou moral. Ao atuar como
estratégia principal de afirmação do sujeito o autorretrato passa a conceder ao artista,
antes mero artesão, status social (BOTTI et al., 2005, p. 11).
O pintor Giotto di Bondone (1267-1337) (figura 2.1) foi um dos principais pionei-
ros do retrato, talvez do autorretrato (LORENZINI, 2013, p. 32). Segundo relatos, este
pintor que viveu na Itália entre o final da Idade Média e o início da Renascença, no século
treze, usava um espelho para se retratar, buscando sempre uma imagem pessoal mais
próxima da realidade. Segundo Burckhardt, “Giotto usou todo o seu potencial para
realizar uma imagem absolutamente particular a partir da sua própria imagem, que ele
criou com a ajuda de um espelho” (LORENZINI, 2013, p. 25). O pintor e arquiteto
italiano Giorgio Va- sari (1511-1574) acreditava que Giotto também se retratava em
algumas de suas obras encomendadas, como os murais de Assis e Annunziata, Gaeta e
Pádua.
17
Nesta época, os artistas tentavam se retratar como heróis, seres especiais. O que
pode ser bem observado nas obras de Giorgio Barbarello (1478-1510), que se autorre-
tratou como Rei Davi (figura 2.2). Segundo a Bíblia, Davi era o rei de Israel, Giorgio
escolheu esse personagem para gerar maior impacto social e aumentar sua credibilidade
(LORENZINI, 2013, p. 14).
18
Com o passar dos anos o artista vai se aperfeiçoando e deixando cada vez mais
evidente seu domínio sobre a técnica, tentando obter o status de um verdadeiro mestre,
um legitimo criador (figura 2.4).
CANTON (2004) menciona que ao longo de sua vida o artista faz alguns autorre-
tratos. Em 1522, Dürer cria um autorretrato, onde ele se pinta como cristo, Dürer acredita
que o verdadeiro mestre tem a mesma importância que Deus ou Jesus (figura 2.5).
De acordo com JANSON (1986), Dürer faz isso, porqie está tentando imortalizar
sua imagem, gerar uma importância, objetivo que fazia com que os patronos contratassem
os pintores para fazer seus retratos.
CANTON (2004) menciona que o autorretrato é uma fonte de estudos e experi-
mentações do artista, onde o artista e o modelo se equiparam, em uma espécie de au-
tobiografia gráfica. Devemos deixar claro que não existe um suporte específico para a
realização do autorretrato, o que importa neste gênero é a representação expressiva e
emocional que pode ser real ou objetivada. "O que vê um artista quando olha para si pró-
prio ao espelho? Verá também através de si próprio aqueles que estão a olhar para ele?
20
FONTE: http://peneira-cultural.blogspot.com/2015/01/rembrandt-o-mestre-da-expressao-que.html
(2021)
Leonardo e Dürer; não foi um gênio tão admirado quanto Miguel Ângelo, cujas opi- niões
e sentenças foram transmitidas à posteridade; não era um epistológrafo diplomático como
Rubens, que trocava ideias com os maiores humanistas do seu tempo. Contudo, parece-
nos conhecer Rembrandt talvez melhor, mais intimamente, do que qualquer des- ses
grandes mestres, porque ele nos legou um espantoso registro de sua própria vida em uma
série de autorretratos que vão desde os tempos da juventude, quando era um mestre
vitorioso e mesmo muito em voga, até a velhice inquebrantável de um homem realmente
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FONTE: http://peneira-cultural.blogspot.com/2015/01/rembrandt-o-mestre-da-expressao-que.html
(2021)
grande, cuja face refletia a tragédia da bancarrota. Todos esses retratos se combinam
numa incomparável autobiografia.
“O esquema visual das personagens de Rembrandt (figura 2.8) situa-se entre a
dignidade pessoal (representações como apóstolo ou soberano) e a baixeza (pedinte, bobo,
carrasco). E no centro de todas as suas aparições a expressão facial é o dramático, e tantas
vezes experimentalmente explorado campo de constantes metamorfoses. Jogos de
personagem e profundidade existencial (BENEVIDES, 2016, p. 31) .”
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FONTE: http://peneira-cultural.blogspot.com/2015/01/rembrandt-o-mestre-da-expressao-que.html
(2021)
FONTE: https://www.nationalgalleries.org/art-and-artists/34114/francisco-goya-y-lucientes-
self-portrait-plate-1-los-caprichos (2021)
Vincent Van Gogh (1853-1890) foi um pintor holandês ( figura 2.12 ), pintou mais de
20 autorretratos com cores vivas, pouco contraste entre claro e escuro e pinceladas fortes.
Este estilo é denominado Neoimpressionismo. Van Gogh usou sua imagem como forma
de expressão. Em carta ao irmão Theo, Van Gogh declarou que embora as pessoasdigam
que é difícil se conhecer, ele dizia que pintar a si mesmo não era uma tarefa fácil,
principalmente se fosse para diferenciar de uma fotografia (GAY, 2009, p. 11).
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FONTE: http://peneira-cultural.blogspot.com/2015/01/rembrandt-o-mestre-da-expressao-que.html
(2021)
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4 FOTOGRAFIA
mente em imagem. essa transformação é ativa: sinto que a fotografia cria meu corpo ou o
mortifica a seu bel-prazer (BARTHES, 1984, p.22).
Em relação ao ponto de vista do espectador, o conceito refere-se à possibilidade da
fotografia ser utilizada como meio de aprendizagem. Barthes (1984) refere-se a isso como
biografemas (resgatando através deste termo, o conceito de biografia). Sobre o fotógrafo
e seus objetivos com a fotografia, Barthes (1984) deixa claro não dominar esta prática.
(FABRIS apud Bettiol, 2008, p. 22).
Foto-retrato é um objeto de reflexão, segundo Barthes (1984), neste tipo de foto-
grafia se cruzam quatro tipos de imaginários: “aquele que me julgo, aquele eu gostaria
que me julgassem, aquele que o fotógrafo me julga e aquele de que ele se serve para exibir
sua arte”.
"A descoberta da fotografia proporcionou uma nova modalidade artística. Assim
como em outros momentos na história, o homem sente a necessidade de tratar sua reali-
dade através de imagens recortadas de um plano amplo."(FABRIS apud BETTIOL, 2008,
p. 14).
O poder de sedução está na fidelidade da imagem e no preço relativamente módico,
que lhe permitem entrar em concorrência com os retratos feitos a mão (FABRIS, 2008, p.
14).
O desenvolvimento tecnológico e a facilidade em operar a câmera fotográfica nas
últimas décadas possibilitou a expansão da produção de imagens na cultura de massa
fazendo com que o termo e a práatica de realizar selfies fique cada vez mais difundida.
31
DUBOIS apud Silva (1993, p. 143) a analogia do espelho nas expressões visuais
de si mesmo é aquilo que Dubois chama de “a fotografia como espelho do real”, discurso
visual que acompanha a produção fotográfica desde seu surgimento, e que culmina com
a comparação mitológica de Narciso: Se a imagem observada por Narciso é seu próprio
reflexo “pintado” e se o quadro, como a fonte, é também uma pintura ”reflexo”, então o
que se reflete será sempre a imagem do espectador que a observa. Sou, portanto, sempre
eu que me vejo no quadro que olho. Sou (como) Narciso: acredito ver um outro, mas é
sempre uma imagem de mim mesmo (DUBOIS, 1994, p. 140).
Sendo assim, pode-se deduzir que ao analisar uma selfie, mais do que analisar
o fotógrafo que está perante o observador, coloca-se no lugar de Narciso, analisando a
si mesmo, ainda que a imagem exposta seja de outro. Porém, a forma de expressão do
fotógrafo, assim como sua finalidade em produzir essas imagens, muda, sobretudo de
acordo com o ambiente social em que ele se insere (DUBOIS apud Silva, 1993, p. 143).
33
Kandinsky apud Silva (2008, pág. 11) o importante da essência da forma é saber
que a mesma venha de uma necessidade interior, esta forma é o meio de materializar o
sentimento quando um valor é desenvolvido no ser humano, assim forma [...] é a expres-
são exterior do conteúdo interior, ou seja, representa a personalidade do autor.
Deste modo, a arte na fotografia surge da percepção de sentimentos que o artista
transforma em imagens, visão que prescinde dos conceitos abstratos e gerais, indispensá-
veis ao conhecimento científico e filosófico, e que se estabelece em expressão de senti-
mentos e emoções (KANDINSKY apud SILVA 2008, pág. 11).
Segundo Fabris, o fotógrafo Disdéri faz o que é chamado de "cartão de visitas
fotográfico", ele cria uma série de artifícios para produzir fotos parecidas com as da bur-
guesia. Começa, então, uma segunda fase na história da fotografia. Disdéri fotografa o
cliente e o cerca de artifícios teatrais que definem seu status, longe do indivíduo e perto
da máscara social, numa paródia de autorrepresentação em que se fundem o realismo es-
sencial da fotografia e a idealização intelectual do modelo. (FABRIS apud Bettiol, 2008,
p. 21).
Para a autora, a encenação nas fotos começa com pessoas vestindo roupas de ou-
tras classes sociais, ocupando espaços que não eram delas e se portando de maneira di-
ferenciada para aparentar riqueza nas fotografias. A aparência ideal torna-se realidade na
fotografia encenada, criando uma imagem identitária idealizada. Esse é um ponto impor-
tante para o estudo das selfies e da fotografia na atualidade. Hoje, os artifícios são mais
evoluídos e permitem criar uma autoimagem idealizada facilmente. Com apenas alguns
toques pode-se ativar um aplicativo de edição nos celulares. (FABRIS apud Bettiol, 2008,
p. 21).
Sontag apud FERREIRA (2004, p. 21), “A fotografia tornou-se um dos principais
expedientes para experimentar alguma coisa, para dar uma aparência de participação”.
Esse comportamento fica evidente com a chegada da internet e das redes sociais em uma
sociedade que caminhou na direção da produção e reprodução em grande escala. Com a
chegada do novo milênio e a criação das mídias sociais, a câmera passou a registrar a vida
cotidiana em vez de eventos importantes e cerimônias (DIJCK apud FERREIRA, 2008,
p. 53).
A selfie também pode ser definida como “[...] uma prática – um gesto que pode
enviar (e frequentemente tem a intenção de enviar) diferentes mensagens para diferentes
indivíduos, comunidades e audiências” (SENFT; BAYM, apud FERREIRA, 2015, p 36).
34
FONTE: https://www.techtudo.com.br/dicas-e-tutoriais/noticia/2014/04/saiba-o-
significado das-siglas-e-numeros-da-abertura-de-lentes-de-cameras.html. (2021)
36
dade informa a quantidade desta luz que a câmera captará, fazendo também com que a
fotografia possa ficar clara ou escura.
A profundidade de campo (Figura 3.3), também é afetada pela abertura de câmera,
deixando ou não o fundo da foto embaçado com relação ao objeto/pessoa que está sendo
focada.
A velocidade (Figura 3.3), definirá a aparência da foto, podendo deixá-la com uma
sensação estática ou fluida, estas funções são configuradas de forma simultânea.
37
Na fotografia analógica, a classificação ISO significa sensibilidade do filme. Quanto
mais sensível o filme, menos luz é necessária. Com as câmeras digitais, a configuração
ISO pode ser alterada de imagem para imagem. Nas câmeras digitais, a sensibilidade ISO
representa a sensibilidade à luz do sensor de imagem.
Ainda que o trabalho se proponha à questões mais subjetivas, entende-se que tra-
zer aos participantes estes conhecimentos técnicos é importante, o intuito é auxiliar os
participantes em suas reflexões e trabalhos para que, assim, nos exercícios posteriores dos
discentes, não haja trabalho sem pensamento crítico.
38
Frida Kahlo (1907-1954) foi uma pintora mexicana conhecida por seus autorretra-
tos de inspiração surrealista. Todo o nome de nascimento da artista é Magdalena Carmen
Frida Kahlo y Calderón, que nasceu na aldeia de Coyoacán, México, em seis de julho
de 1907. Filha de pai alemão e mãe espanhola, desde pequena apresentava problemas de
saúde. Aos seis anos, ela contraiu poliomielite e obteve uma lesão no pé. Aos 18 anos,
sofreu um grave acidente de ônibus que a deixou internada por um longo período
(BASTOS, 2010, p. 19) .
Apesar de estar deprimida e incapaz de andar, Frida começou a pintar sua imagem
com um espelho pendurado à sua frente e um cavalete adaptado para que ela pudesse
pintar deitada. Dizia: “Para que preciso de pés quando tenho asas para voar”. A sua
primeira pintura foi “A Moldura” (Figura 4.1), dedicado a Alejandro Gómez Arias, seu
ex-namorado na época (BASTOS, 2010, p. 17).
1
Diego Rivera (1886-1957) nasceu na cidade de Guanajuato, México, no dia 8 de dezembro de 1886.
Um dos mais importantes pintores do “Muralismo Mexicano”. Sua arte imbuída de intenções políticas. Em
1907 Diego Rivera realizou sua primeira exposição, cursou a Escola de San Fernando, em Madri. Entre
1923 e 1928 realizou gigantescos murais para a Secretaria de Educação Pública e para a Escola Nacional
de Agricultura de Chapingo. Diego Rivera faleceu em sua casa (convertida em Casa Estúdio Diego Rivera)
na Cidade do México, México, no dia 24 de novembro de 1957
40
tornando-se um símbolo do feminismo. Em agosto de 1953, Frida teve uma perna am-
putada no joelho devido à gangrena. Com todo esse sofrimento, Frida escreveu em seu
diário: “Minha perna foi amputada há seis meses, fui torturada por séculos e há momen-
tos em que quase perco a razão. Eu ainda quero me matar”. Deprimida, viveu os últimos
anos de sua vida na Casa Azul, no México, que em 1958 passou a abrigar um museu em
sua homenagem. A pintora Frida Kahlo faleceu em Coyoacán, México, em 13 de julho
de 1954 (BASTOS, 2010, p. 40).
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A artista Frida Kahlo encontrou na pintura uma forma de transbordar tudo o que
vivia e sentia, criando obras únicas que retratavam com detalhes tudo o que a artista
passava e como se enxergava diante de tais acontecimentos.
Após o acidente, Frida criou sua primeira pintura séria e seu primeiro autorretrato
como um presente para Alejandro Gómez Arias, visto na figura 4.2.
A conexão de Frida com as tradições mexicanas ficava cada vez mais forte: suas
roupas, linguagem e até suas pinturas são afetadas. É por isso que, quando Diego deixou
o México sob pressão política e a levou embora, Frida se sentiu separada de suas raízes.
Segundo Herrera (2011) o autorretrato com macaco foi pintado em 1943 (Figura
4.3), nesta pintura, Frida aparece no centro da imagem, rosto em três quartos, mas ainda
olha para o observador, e as famosas sobrancelhas destacam sua expressão. A expres- são
séria e indiferente é a mesma de todos os autorretratos que ela pintou, causando um
desconforto momentâneo no expectador, pois não é possível decifrar se a artista está
questionando algo ou tentando relatar algo e, assim, sua personalidade é misteriosamente
apresentada.
A artista demonstra em suas obras diversos elementos, os quais são apresentados
para que os expectadores consigam compreender que a função deles vai para além do
ornamento nas obras, constituem sua identidade. Ela os fez de forma que alguns aspectos
de sua vida pudessem ser enaltecidos.
Frida Kahlo, com sua camisa branca de algodão huipil sem mangas, caracteriza
um dos trajes tradicionais mais comuns entre as mulheres indígenas e mestiças mexicanas,
detalhe que pode ser visto em outros autorretratos. Ela aparece entre os muitos animais
de estimação mantidos em seu quintal. Elementos como a flora e a fauna, a maneira de se
vestir e até as cores da bandeira nacional (verde, branco e vermelho) destacam-se no
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gica marcante que fez dela uma das representações mais expressivas da luta nacionalista
em que mergulhava sua nação, identificada à causa mais popular. (2010, p. 65)
Ainda, segundo Bastos (2010), no autorretrato Memórias a artista, em 1936 (Fi-
gura 4.5), seguiu o padrão de retrato mencionado anteriormente. Em uma pequena tela
pintada com óleo, Frida Kahlo reaparece ao centro da composição, transmitindo rapida-
mente o tema principal da pintura, onde sua imagem foi proposta mais de duas vezes, sem
ter que voltar a pintar-se completamente
Figura 4.5: Frida Kahlo: Memória (O coração)
Podemos ver uma referência a uma recente cirurgia no pé, que foi uma das deze-
nas de operações cirúrgicas que ela teve de realizar em sua vida. O pé que parece estar
amarrado à bandagem branca, apresentando deformação de seus sapatos pretos, forma a
figura de um veleiro que navegava no mar. Na altura do coração de Frida Kahlo, há um
buraco com uma haste de metal onde há um minúsculo cupido nu em cada extremidade,
os dois anjinhos parecem estar em uma gangorra, fazendo alusão aos altos e baixos que
sua vida sentimental teve. O fato de seu coração estar fora de seu lugar anatômico reforça
a carga de dor, tanto física quanto emocional (BASTOS, 2010, p. 33).
Frida Kahlo se encontra no meio de duas de suas identidades, representadas por
conjuntos de roupas, que, como mencionado, eram elementos fundamentais para ela na
criação de sua autoimagem. Esses conjuntos se ligam à figura central por fitas vermelhas.
De um lado está a roupa que ela usava para frequentar a escola, vestia-se como uma
estudante alemã, o que é representado no autorretrato pelo uniforme formado por uma
camisa branca de mangas curtas e uma saia em azul escuro. Do outro lado estão presentes
as famosas vestes tehuanas que passou a utilizar depois de seu casamento. Ambos os
conjuntos estão suspensos no ar em cabides.
Na figura central de Frida Kahlo não há membros superiores, seus braços estão
juntos das roupas. Nas roupas da jovem, o membro era rígido e esticado em direção à
pintora, mas não conseguia alcançá-la, o que indica que ela estava mais distante desta
época de sua vida. Ao mesmo tempo, a imagem de Tehuana envolve seu braço nas mangas do
casaco usado pela figura central. Embora sem mãos, o gesto sugere proximidade levando
a entender que Frida Kahlo está mais próxima desta realidade.
[...] Frida combinava realismo concreto e fantasia quando retirava de seu corpo as
próprias entranhas e as apresentava como símbolos de sentimentos e sensações. O uso
literal e feroz que Frida faz de seu coração extraído como símbolo da dor do amor em
Lembrança e outras pinturas não é tão grotesco quando entendido no contexto da cultura
mexicana. É, por exemplo, tão diretamente naïf quanto a maneira como a dor é
simbolizada em pinturas mexicanas coloniais [...] (HERRERA, 2011, p. 233).
No autorretrato com cabelo cortado (figura 4.6), Frida Kahlo está sentada em uma
cadeira de madeira amarela simples, no centro. Seu cabelo é cortado curto, o que é dife-
rente da autoimagem construída na maioria dos autorretratos. O corpo da artista é todo
pintado, na posição de fotografia três quartos, e apesar de ter as mesmas características
como as sobrancelhas icônicas acentuando a aparência dura e direta, ela aparece sem os
elementos mexicanos e a exaltação de sua feminilidade que eram costumeiramente retra-
tadas através de sua maquiagem, penteados e roupas típicas.
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Já no título, é possível perceber o tema da obra, Frida Kahlo se retrata com cabelos
pretos muito curtos, que não podem ser penteados com suas fitas e arranjos de flores
habituais. A pintora usava um terno preto e uma calça, deixando claro se tratar de uma
roupa masculina. Frida Kahlo demonstra sua imagem nesta obra se arrumando de uma
maneira considerada masculinizada, deixando só seus brincos como um resquício de sua
feminilidade “[...] podemos entender que os cabelos são tomados, nesse momento, como
significantes da sexualidade feminina.” (BASTOS, 2010).
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Na obra As duas Fridas (figura 4.7 ), a artista deixa evidente toda sua lamúria em
relação a sua condição, onde demostra uma Frida europeia se conectando com a Frida
mexicana, formando, assim, uma crítica sobre a perda de suas referências ancestrais por
parte de pai e uma busca por autoafirmação, além de deixar claro que tais fatos geram
uma ligação que é demostrada com uma carga dramática, pois esta ligação é representada
através do coração. Em contrapartida as mãos expressam uma clara aceitação entre elas,
expondo uma transitoriedade que por vezes agrega, por vezes conflita.
Figura 4.7: Frida Kahlo: Duas Fridas
Na obra A coluna torta (figura 4.8), Frida demostra de forma gráfica sua dor.
A coluna aparece revestida, de forma que nos leva a crer ter sido foi trocada. Por conta
desta enfermidade a artista realizou diversas cirurgias, mas esta coluna quase que robótica
também representa o ponto de sustentação. Novamente Frida demonstra de forma singular
algo conflitante, pois a coluna que lhe causa a dor é a mesma que lhe sustenta para seguir
em frente. Os demais elementos e a paisagem deixam claro a situação de solidão que
a artista se encontra reforçando ainda mais o conflito que Frida tem com relação ao seu
corpo.
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Uma pessoa que esteve tão perto da morte não precisa de magenta para se sentir
viva; para ela, mesmo o bege, o marrom, o preto e o cinza são vibrantes. (HERRERA,
2011, p. 103).
As obras aqui apresentadas são apenas um fragmento do vasto trabalho da artista
Frida Kahlo, estas obras foram escolhidas para que através delas pudesse deixar menos
abstrato o processo com que a artista trabalhava todas as questões envolvidas em seu
trabalho (sentimentos, histórias, técnicas). Frida Kahlo também produziu outros quadros,
mas os temas principais sempre giravam em torno dos mesmos aqui demostrado, suas
dores, seus amores (Rivera, sua cultura), com sua linguagem direta, forte e ao mesmo
tempo sensível Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón, encantou e ensinou mais que
uma simples técnica, mas sim como a arte é importante no desenvolvimento do ser
enquanto indivíduo.
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Inicialmente a proposta deste trabalho foi pensada para ser realizada em uma es-
cola pública da cidade de Porto Alegre. Mas por conta da COVID-19, a execução teve
de ser alterada, tal situação impactou de forma significativa na realização e resultado do
referido trabalho.
Infelizmente, o número de participantes se mostrou um complicador, pois para
realizar as atividades os participantes deveriam ter à disposição internet e um celular com
câmera. Porém, como estamos atravessando um período de pandemia muitas pessoas
decidiram se abrigar em locais mais afastados, o que resulta em qualidade insatisfatória
do sinal de internet.
Após conseguir as participantes de forma conjunta visando o melhor aproveita-
mento e facilidade mútua, decidimos juntos qual seria o melhor meio de comunicação.
Foi acordado que utilizaríamos a plataforma do aplicativo Zoom (Figura 6.1) para que
pudéssemos desenvolver o trabalho.
FONTE: https://mundoconectado.com.br/artigos/v/13361/zoom-veja-como-instalar-e-usar-o-app-de-
videoconferencia-em-pcs-e-smartphones-video (2021)
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Primeiro encontro
Data: 31/05/2021
Horário: das 13h30 às 14h30
O primeiro encontro ocorreu na plataforma do aplicativo Zoom, realizado com a
participante "B". Inicialmente, questionei a participante sobre seus conhecimentos em
autorretrato, que informou não ter profundidade teórica sobre o assunto. Após esta rápida
indagação, iniciei a aula expositiva referente ao tema. Os recursos utilizados para as aulas
expositivas foram três apresentações em Power Point (1ª apresentação : figura 7.1, figura
7.2).
Figura 7.1: Apresentação sobre autorretrato
Iniciei aula apresentando os artistas que havia selecionado para esta atividade,
entre todos, a participante "B"alegou só conhecer o Van Gogh e Frida Kahlo. Ela de-
monstrou um pequeno interesse com as obras de Dürer, questionei-a por qual motivo, e
de forma relutante, respondeu: "é por causa que ele faz tudo perfeitinho".
Depois de ter discorrido todos os artistas e suas obras, foi dialogado com a parti-
cipante com o intuito de refletir sobre o impacto da fotografia selfie em relação ao autor-
retrato, mais uma vez a participante não demonstrou estar à vontade para expressar sua
opinião. O planejamento seguiu e foi apresentado o conceito de fotografia selfie.
A todo instante a participante "B"foi questionada com a intenção de fazer com que
ficasse mais à vontade e participasse mais da aula, entretanto sem sucesso. Como proposta
previamente foi reforçada a informação de que a participante "B"teria de reali- zar ao
menos uma fotografia a ser enquadrada nos conceitos apresentados. Ela poderia realizar
esta atividade com qualquer tipo de câmera e, em seguida, enviar o resultado via aplicativo
de WhatsApp, como visto na figura 7.3 .
Em sequência à aula expositiva, foi iniciada a apresentação do tema fotografia na
prática (figura 7.4 e 7.5). Já que anteriormente havia sido questionada sobre seus
conhecimentos prévios, a participante relatou que sobre o referido tema seu conhecimento
se resumia a aplicativos específicos para fotografia.
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modelo DSL.
De forma guiada a participante foi conduzida para realizar alguns exercícios de
iluminação e um simulador de câmera fotográfica. No site de iluminação a participante
esteve mais livre para obter uma experiência de caráter exploratório.
Já no simulador foi sinalizado onde a participante iria realizar as alterações de
configuração para que, assim, pudesse conseguir diferentes resultados em suas fotografias. Foi
solicitado como exercício dois tipos de fotografias: uma com o fundo desfocado e outra
com o movimento congelado. Em ambos os exercícios no simulador a participante “B” se
saiu bem.
Por fim, a participante foi questionada se sabia ou já tinha ouviu falar sobre a
artista Frida Kahlo, já que havia mencionado ter um conhecimento prévio da artista. De
forma evasiva, respondeu: “não sei muita coisa e o pouco que sei foi pela da mídia que
aprendi”.
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Nesta parte foi comentado sobre a vida e origens da artista (figura 7.6 e 7.7) para
a participante , e, conforme a história de Frida Kahlo iria se desdobrando,
concomitantemente foram apresentados os autorretratos da artista, com a preocupação
de deixar claro o link que existia entre a obra e a vida da artista.
De forma guiada foram realizadas as leituras das imagens da seguinte forma:
informava-se o contexto histórico da artista em que realizou determinada obra, aguardava-
se a observação da participante por alguns instantes e, depois, iniciava-se uma reflexão
sobre os aspectos que a obra comunicava.
Infelizmente, por conta do comportamento adotado por parte da participante “B”,
não foi obtido um resultado satisfatório e tal comportamento impactou diretamente no
resultado final da proposta deste trabalho. A leitura de imagem se deu mais de forma con-
templativa por parte da participante, enquanto realizava-se a leitura e a contextualização
das obras.
Como resultado final destas atividades a participante deveria realizar uma fotogra-
fia selfie, onde deveria aplicar os conhecimentos obtidos com as aulas e exercício. Junto
da foto foi solicitado que a participante enviasse um pequeno relato explicando o motivo
de ter feito a foto desta forma, sempre relacionando com os conteúdos aplicados.
Segundo a participante “B” ela mandou esta foto (figura 7.8 ) “porque gosto de
praia e é onde melhor me sinto”. Alguns pontos a serem observados: não há regra que
determine um posicionamento específico para ser considerado uma fotografia selfie, então
o corpo do fotografado pode aparecer, mesmo que seja incomum.
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Segundo encontro
Data: 05/06/2021
Horário: das 18h00 às 19h30
O segundo encontro também foi realizado através da plataforma do aplicativo
Zoom, o material didático apresentado para a participante "A"foi o mesmo apresentado
a participante anterior. Logo no início foi observado que a participante estava tranquila
e com vontade de participar, ela perguntou se poderia falar sobre fotografia e o desejo
foi concedido, já que o material foi criado de forma a ser apresentado na sequência que
melhor conviesse, sem perder qualidade teórica.
Questionei-a sobre seus conhecimentos técnicos de fotografia, ela informou que
não tinha nada além de um conhecimento de usuário esporádico em fotografia. Ainda que
demonstrasse interesse em fotografar com auxílio do material didático, os conhecimentos
foram aprofundados conforme ela realizava questionamentos sobre o que estava sendo
ensinado.
Como previsto no planejamento, foram indicados os links do simulador de câmera
e do site de iluminação, a participante “A”, de forma intuitiva exploratória, começou a rea-
lizar as fotos. Inicialmente, não houve interferência para não prejudicar a experimentação
da participante. Quando ela demonstrou dúvida sobre o desfoque ao fundo da fotografia,
a intervenção foi pontual. Referente ao site de iluminação o mesmo comportamento foi
adotado por ambas as partes, com intervenções pontuais, pois a participante mostrou um
alto nível de interesse e retenção do conteúdo recebido, fazendo com que sua experiência
de exploração fosse mais enriquecedora.
Na sequência, com as aulas expositivas, a aula de autorretrato foi realizada. Quando
questionada sobre seu conhecimento sobre o assunto, ela explanou: “Autorretrato só se
refere a fotografia, porque no nome tem retrato, o que remete a fotografia”. Diante desta
argumentação, ela foi indagada sobre o que seriam as obras, ao que ela respondeu: “Pin-
turas”.
Quando questionada se conhecia algum dos artistas apresentados, ela falou: “Co-
nheço a Frida Kahlo, e já vi Van Gogh mas não sabia seu nome”. A participante relatou:
“Gostei das obras do Rembrandt, mas algumas vezes achei elas melancólicas, sombrias, e
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tive a sensação de que estava escondendo o que sentia”. Outro ponto levantado pela par-
ticipante “A” foi: “Entre todos os artistas ele foi o que mais se preocupou em diversificar
suas posições”.
Durante a conversa foi compreendido que a fotografia selfie teve sua origem, indis-
cutivelmente, nas obras de autorretrato. Por meio de perguntas, foi fomentado o diálogo
para instigar a participante a falar mais sobre o assunto. Em certo momento, ela falou:
“Agora conheço o avô da selfie (referindo- se ao autorretrato)”. Quando a aula referente
a vida e obras de Frida Kahlo ocorreu, ficou nítido o espanto das participantes com os
acontecimentos que ocorreram na vidada artista. Conforme a história da vida da artista
avançava, eram apresentadas as obras e as participantes eram convidadas a interpretá-las.
A participante “A” rapidamente percebeu que as obras da artista se mostravam daquela
forma por se tratar de um meio com que a artista achou para expurgar o que a mesma
tinha entranhado dentro de si.
Ela ficou vislumbrada com a forma com que a artista Frida Kahlo lidava com seus
demônios internos. Relato da participante: “Nunca achei que alguém pudesse suportar
tanta coisa na vida”, referindo-se a todos os momentos ruins vividos pela artista. Segundo
a participante, a artista consegue transmitir de forma clara sua mensagem, “Você olha para
a pintura e sabe que ela não está bem, mesmo sem conhecer sua história”. A participante
foi questionada sobre este fato, se ela achava que isso podia diminuir a compreensão por
parte das pessoas que não conhecem a vida da artista. Ela disse: “Não acredito que esta
perda ou limitação de compreensão aconteça, na minha opinião ocorre o contrário, as
pessoas que conhecem a vida da artista acabam ganhando um bônus por compreender por
completo a dor da artista”. Então, pegando como base tais reflexões foi proposta uma nova
discussão. Questionei se a participante “A” acreditava que tais comportamentos pudessem ser
aplicados a fotografia selfie. Para a participante: “Até o momento que antecedeu nosso
encontro, eu pensava que não, mas diante do novo conhecimento minha opinião mudou”.
Ela foi questionada sobre o motivo que a fez mudar de opinião e respondeu: “Agora tenho
uma compreensão sobre o motivo das pessoas demonstrarem uma vida diferente nas redes
sociais”. Novamente foi questionada se ela interpretava que o que a sociedade estava
fazendo era o mesmo que a Frida Kahlo. Nesse momento a participante ficou em dúvida.
Depois de alguns instantes a participante respondeu: “Sim, mas não para obter o
mesmo objetivo que a artista”. Diante dessa resposta ela foi questionada sobre qual seria
o objetivo da artista para ela. A participante respondeu: “A artista tinha a intenção de se
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A participante “A” informou em seu relato que teve como inspirações os artistas,
Rembrandt e Frida Kahlo. Na foto da esquerda, ela relatou que tentou expressar seus
sentimentos sem deixar de forma tão evidente, o que, segundo ela, é o que o artista Rem-
brandt fazia, e na fotografia da direita, ela deixou transparecer mais seus sentimentos
como visto nas obras de Frida Kahlo. Já na fotografia que está centralizada, ela informou
que tentou fazer o que, segundo ela, a sociedade faz que é criar uma nova realidade em
cima de sentimentos inventados.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
ensino médio que seriam trabalhadas originalmente, pude perceber que arte é um trabalho
contínuo e que não devemos pensar em privilegiados quando se trata de arte-educação.
Se pudesse classificar meus resultados diria que atingi cinquenta porcento de meu
objetivo. Uma das participantes teve uma participação abaixo do esperado e nos resulta-
dos obtidos com ela fica visível que ela não assimilou os conteúdos e a proposta. Já com
a segunda participante, obtive um resultado muito expressivo, conseguindo criar uma di-
nâmica de reflexões. Mesmo sem nenhum conhecimento referente a arte ou fotografia,
ela teve um resultado final palpável, evidenciado no seu trabalho final, cujos conceitos e
reflexões antes realizados foram levados em conta na produção.
Enquanto arte-educador foi um momento singular em minha trajetória, pois ficou
ainda mais claro o quanto é árduo o trabalho de lecionar — ainda mais quando se trata de
questões que estão ligadas diretamente a construção do indivíduo.
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REFERÊNCIAS
BARTHES, R. A câmara clara: notas sobre fotografia (j. guimarães, trad.). Rio de
Janeiro, RJ: Nova Fronteira.(Trabalho original publicado em 1980), 2012.
BASTOS, M. Frida Kahlo: Para-além da Pintora. [S.l.]: Mauad Editora Ltda, 2010.
GOMBRICH, E. H.; TORROELLA, R. S.; SETÓ, J. Historia del arte. [S.l.]: Phaidon
New York, 1997.
HALL, J. The self-portrait: A cultural history. [S.l.]: Thames & Hudson, 2015.
RAHMAN-JONES, I. Uma breve história da selfie desde 1889. 2017. Available from
Internet: <https://www.bbc.com/portuguese/salasocial-42094122>.