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ARTIGO DE REVISÃO
1. Estudante de Biomedicina do Centro Universitário de Belo Horizonte, Belo Horizonte, Minas Gerais.
RESUMO: Introdução:
2. Estudante A depressão
de Biomedicina é um
do Centro transtorno
Universitário grave
de Belo e frequente
Horizonte, de humor,
Belo Horizonte, Minas podendo
Gerais. ocorrer ao longo da
vida. As causas da depressão ainda são desconhecidas, porém fatores genéticos, psicológicos, ambientais,
anatomopatológicos
3. Doutora em e bioquímicos
Bioquímica estão UFMG,
e Imunologia, envolvidos na sua gênese
1997. Professora adjunta doe Centro
evolução, estando
Universitário presentes
de Belo Horizonte em
- graus
variáveis emUniBH.
cadaBelo
indivíduo.
Horizonte,O fator
MG. genético-hereditário está presente em muitos casos de forma clara. Em
Rosersilva01@terra.com.br
outros, podemos supor que ele não seja tão evidente. Metodologia: Realizou-se uma busca bibliográfica sobre
doenças psíquicas relacionadas à fatores hereditários, com critérios de exclusão de artigos de revisão, sem
ligação com o tema e com publicação anterior a 1999. Resultado: foram pré-selecionados 110 artigos, dos quais
vinte e dois foram utilizados para compor a amostra. Discussão: vários pesquisadores na psiquiatria, têm se
dedicado a pesquisar a possibilidade de a herança genética do indivíduo conferir susceptibilidade para o
desenvolvimento de determinados transtornos mentais. A partir dessas observações clínicas, tem-se procurado
demonstrar a existência de componentes genéticos para essa condição. Quais seriam os genes envolvidos nesse
processo e como estes interagem com as influências ambientais para manifestação do fenótipo psiquiátrico.
Considerações finais: Através desse estudo pode observar-se a presença de fatores genéticos que influenciam na
depressão. A herança é multigênica, assim o vasto número de genes possíveis, ocasionando um obstáculo em
descobrir realmente quais fatores são esses. A identificação desses genes proporcionará um desenvolvimento de
novos tratamentos para depressão.
ABSTRACT: Introduction: Depression is a serious and frequent mood disorder that can occur throughout life. The
causes of depression are still unknown, but genetic, psychological, environmental, anatomopathological and
biochemical factors are involved in its genesis and evolution, being present in varying degrees in each individual.
The genetic-hereditary factor is clearly present in many cases. In others, we may assume that it is not so obvious.
Methodology: A literature search was carried out on psychical diseases related to hereditary factors, with criteria
for exclusion of review articles, without linking to the topic and with publication prior to 1999. Outcome: 110 articles
were pre-selected, of which twenty Two were used to compose the sample. Discussion: Several researchers in
psychiatry have been dedicated to investigate the possibility that the genetic inheritance of the individual confer
susceptibility to the development of certain mental disorders. From these clinical observations, we have tried to
demonstrate the existence of genetic components for this condition. What would be the genes involved in this
process and how do they interact with environmental influences to manifest the psychiatric phenotype. Final
considerations: Through this study can be observed the presence of genetic factors that influence depression.
Inheritance is multigenic, thus the vast number of possible genes, causing an obstacle in actually discovering what
factors are these. The identification of these genes will provide a development of new treatments for depression.
KEYWORDS: Depressive disorders, Hereditary factors, Genetic study.
perda de interesse por itens que antes eram utilizando-se revistas eletrônicas, artigos publicados
prazerosos (OMS, 2005). nas bases de dados Scielo, PubMed e Medline, além
Ainda não se tem certeza sobre as causas da de sites oficiais como o Ministério da Saúde e a
depressão, porém fatores genéticos, psicológicos, Organização Mundial de Saúde. Foram selecionados
ambientais, anatomopatológicos e bioquímicos estão artigos em português e inglês.
envolvidos na sua gênese e evolução, sendo que cada As palavras chaves utilizadas foram: “doenças
indivíduo apresenta estes sintomas em graus variáveis psíquicas”, “fatores hereditários em doenças
(DEL-BEM, 2005; LAFER et al., 1999). psíquicas”, “transtorno depressivo”, e “psicopatia”.
O fator genético-hereditário em alguns casos pode ser Os artigos incluídos na pesquisa foram publicados
observado de forma clara. No século XIX foram entre 1999 a 2017 e correlacionavam depressão com
realizadas as primeiras observações que incluíam fatores hereditários.
fatores genéticos como possíveis causas de Tabela 1: Base de dados
depressão, por psiquiatras europeus como Morel,
Griesinger, Maudsley e Kraepelin, que constataram
que esse distúrbio parecia se concentrar mais em
determinadas famílias (LAFER et al., 1999).
Banco de Dados Palavras chaves
A maior dificuldade quando se trata de investigar o
componente genético da depressão, é a
caracterização precisa do fenótipo, ou seja da
manifestação da doença (LAFER et al., 2000).
Este estudo tem o objetivo de compreender a Depressão fatores
etiopatogenia da depressão e quais são os fatores hereditários, depressão
Scielo
hereditários que influenciam nesta doença. em estudo de animais,
psicopatia
2. METODOLOGIA
Critérios de exclusão:
SCIELO 78 08
MEDLINE 13 01
Lima et al. em 2004 observaram que a maioria dos Os resultados de estudos de gêmeos possibilita
autores concordam que o risco de parentes em também estimar o tamanho do efeito genético na
primeiro grau de indivíduos não afetados sofrerem determinação de uma doença, ou seja, o valor da
depressão é de 5%, quando comparados com Herdabilidade (h2). É feito um cálculo onde subtrai a
parentes de primeiro grau com depressão, o risco da concordância entre MZ pela concordância em DZ e
doença aumenta aproximadamente três vezes. divide-se o resultado pela subtração de um menos a
concordância em DZ (h2 = MZ - DZ ÷ 1 – DZ) (ELKIS
Weissman et al. (1988), afirmam que quando a
et al., 2007).
depressão apresenta os sintomas antes dos 20 anos,
ela está associada há uma importante carga familiar. Bertelsen et al. realizaram um estudo com gêmeos na
Os autores acrescentam que filhos de pais que Dinamarca em 1977, onde foram investigados 123
tiveram transtorno depressivo antes dos 20 anos pares de gêmeos, no qual um dos gêmeos já
apresentaram um risco 14 vezes maior de desenvolver apresentava transtorno de humor. Foi observado uma
depressão antes dos 15 anos quando comparados a concordância com relação a doença de 64% para MZ
população geral (LIMA, 2004). e 24% para DZ (LIMA et al., 2004).
Conforme Quevedo (2013), os estudos de gêmeos maior de casos de depressão nos pais biológicos
permite estimar a herdabilidade na depressão em quando comparados a seus pais adotivos (ELKIS et
torno de 40% a 50%. al., 2007).
ESTUDOS COM ADOTADOS Através dos relatos observados pelos autores, pode-
se concluir que há uma presença de componentes
Segundo Vallada et al. (2000), os estudos com
genéticos na determinação da depressão. Devido à
adotados têm o intuito de diferenciar ainda mais a
dificuldade desses estudos serem realizados por
participação do ambiente na influência do componente
causa de questões éticas e por exigir um bom serviço
genético.
de registro de adoção, o que muitas vezes não é
São basicamente dois planos principais: investigar a
possível, o assunto é pouco abordado.
frequência da enfermidade entre os pais biológicos e
ANÁLISES DE SEGREGAÇÃO
entre os pais adotivos de crianças adotadas que
vieram a desenvolver a doença, e observar a Depois de constatada a presença de componentes
frequência do distúrbio nos filhos biológicos de genéticos de determinada doença, o próximo passo é
portadores da doença que foram adotados ao nascer tentar compreender o modo pelo qual se dá sua
e comparar com filhos biológicos de pais saudáveis transmissão. Segundo Elkis et al. (2007), as análises
que também foram adotados logo após o nascimento de segregação da depressão realizadas até hoje não
(VALLADA et al., 2000). conseguiram estabelecer de modo evidente o modelo
de transmissão por não apresentar um padrão de
Se tratando de doenças depressivas, foram relatados
transmissão compatível com o modelo de herança
três casos de investigação com adotados. O primeiro
mendeliana simples e o fato da concordância entre
foi realizado por Cadoret em 1978, em uma amostra
gêmeos monozigóticos não ser 100%. Isto demonstra
de mães com depressão, onde pode se observar uma
que fatores não genéticos também interferem no
frequência seis vezes maior de depressão em seus
aparecimento das enfermidades.
filhos adotados ao nascer, quando comparados aos
filhos de mães com outras condições clínicas, também 4.2.2 ESTUDOS DE GENÉTICA MOLECULAR
adotados no nascimento. Pesquisas realizadas por
ESTUDOS DE LIGAÇÃO
Wender et al. em 1986, investigaram uma amostra
dinamarquesa de 71 adotados afetados pela
depressão e encontraram uma prevalência oito vezes
De acordo com Lafer et al. (1999) uma das estratégias de afetados do que a de não afetados. Busca-se,
para localizar o gene relacionado à determinada portanto, determinar se a associação entre a condição
doença consiste no conceito de ligação genética. Este de afetado e aquele polimorfismo do gene é maior do
conceito refere-se ao fato de que dois loci gênicos que sua ocorrência ao acaso na população geral
situados muito próximos em um mesmo cromossomo (ELKIS et al., 2007).
tendem a ser herdados conjuntamente sem sofrerem
Esse tipo de estratégia apresenta a vantagem de
influência das permutas gênicas. Desse modo, se
poder detectar genes que apresentam efeitos
algum traço ou marcador genético cuja localização já
discretos ou moderados na determinação de uma
é conhecida, for sempre herdado com a doença nas
doença, o que é interessante quando são pesquisadas
famílias, muito provavelmente o gene dessa doença
enfermidades poligênicas e multifatoriais (ELKIS et al.,
terá sua localização nas vizinhanças do marcador.
2007).
Esse tipo de pesquisa, em geral, necessita de famílias
Conforme as pesquisas de Lima em 2004, os
grandes e com múltiplos afetados, podendo auxiliar na
primeiros estudos sobre a análises de associação na
localização de regiões cromossômicas onde podem
depressão, foram realizados a partir de 1996 por
existir genes relacionados à suscetibilidade à
Ogilvie et al., focados principalmente nos genes
determinada doença.
relacionados ao sistema serotoninérgico. Os primeiros
Nos dias atuais, já se sabe que a depressão não
estudos a relatar uma associação entre um número
expressa um padrão de transmissão compatível com o
variável de repetições em série (VNTR) no segundo
modelo de herança mendeliana simples (causada
intron do gene que codifica o transportador da
apenas por um gene), consequentemente esse tipo de
serotonina (5- HTT). Collier et al. tentaram replicar os
estudo não é mais utilizado.
estudos de Ogilvie et al., porém não encontraram
ANÁLISES DE ASSOCIAÇÃO associação com a depressão.
O estudo de associação é outra investigação Em 2003, Caspi et al. descobriram uma variante que
molecular que é realizada na busca de genes consiste na deleção de 44 pares de bases, na região
causadores de doenças. O pesquisador levanta a do promotor do gene 5HTT que determina menor
hipótese de que proteína codificada por determinado atividade transcricional deste gene. Esta mutação foi
gene está envolvida na fisiopatologia da doença e, a associada com maior risco de depressão frente a
partir daí verifica se a frequência de certo polimorfismo eventos de vida, numa grande amostra neozelandesa.
gênico é significativamente maior entre a população (LIMA, 2004)
Em 2004, Gutiérrez et al. relataram maior frequência sexualmente que também portavam alelos MAOA-
de alelos de alta atividade enzimática em mulheres mVNTR de baixa atividade. Em estudos também
deprimidas com episódios de padrão sazonal e uma realizados em 2007, Kersting et al. avaliaram
maior frequência de homozigose de alelos mais pacientes com depressão que possuíam uma história
longos do polimorfismo MAOA-mVNTR em pacientes de luto e encontraram que alelos longos do
com depressão e sintomas psicóticos. Há estudos que polimorfismo MAOA-mVNTR foram significativamente
demonstraram que a presença de alelos mais longos associados com luto complicado em mulheres.
estava associada também com pior resposta a
Em síntese, os estudos de associação verificados
antidepressivos e menores taxas de remissão em
neste trabalho não estabelecem resultados
mulheres com depressão. Porém, quando o estudo foi
conclusivos, uma vez que a maioria dessas
realizado com amostras menores, não foi possível
conclusões não puderam ser replicadas, o que pode
relatar qualquer efeito dessas variantes na resposta
sugerir se tratar de falso-positivos decorrentes de
do tratamento. Nos estudos de Du et al., também em
estratificações populacionais ou do acaso.
2004, não encontraram nenhuma associação entre o
O fato é que em decorrência do vasto número de
polimorfismo MAOA-mVNTR e depressão no sexo
genes candidatos ao estabelecimento dos transtornos
masculino.
depressivos, muitos estudos ainda serão realizados, o
Uma pesquisa mais recente datada de 2007, realizada
que indica um longo caminho na tentativa de
por Cicchetti et al., observou que adolescentes vítimas
investigação sistemática de todos os possíveis genes
de três ou mais tipos de abuso (abusos sexual, físico
candidatos (ELKIS et al., 2007).
ou emocional e negligência) e que tinham o alelo de 3
repetições (codifica MAOA de baixa atividade) 4.2.3 ÚLTIMAS DESCOBERTAS
apresentaram mais sintomas de depressão do que os Em 2011, Breen et al. e Pergadia et al.; acharam uma
jovens com alelos que codificam MAOA de alta ligação forte entre a depressão e variação genética no
atividade e que também sofreram os mesmos tipos de cromossomo 3 (mais especificamente no cromossomo
abuso. Os autores também descobriram que variantes 3p25-26).
genéticas de baixa atividade do 5HTT (5HTTLPR:
Pergadia et al. avaliaram a depressão ligada a hábitos
genótipos SS ou SL) foram associadas com maior
de fumo em diversas famílias australianas e
gravidade para depressão, ansiedade e sintomas
finlandesas, de acordo com os resultados
somáticos, somente entre adolescentes abusados
encontrados, pode associar um pico de ligação
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