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ISSN: 1984-7688

ARTIGO DE REVISÃO

DEPRESSÃO RELACIONADA A FATORES HEREDITÁRIOS

DEPRESSION RELATED TO HEREDIRARY FACTORS

Hália Venâncio Rodrigues1*; Isabella Vyllennev Garcia Venâncio2; Rosemary Rodrigues


da Silva3

1. Estudante de Biomedicina do Centro Universitário de Belo Horizonte, Belo Horizonte, Minas Gerais.

RESUMO: Introdução:
2. Estudante A depressão
de Biomedicina é um
do Centro transtorno
Universitário grave
de Belo e frequente
Horizonte, de humor,
Belo Horizonte, Minas podendo
Gerais. ocorrer ao longo da
vida. As causas da depressão ainda são desconhecidas, porém fatores genéticos, psicológicos, ambientais,
anatomopatológicos
3. Doutora em e bioquímicos
Bioquímica estão UFMG,
e Imunologia, envolvidos na sua gênese
1997. Professora adjunta doe Centro
evolução, estando
Universitário presentes
de Belo Horizonte em
- graus
variáveis emUniBH.
cadaBelo
indivíduo.
Horizonte,O fator
MG. genético-hereditário está presente em muitos casos de forma clara. Em
Rosersilva01@terra.com.br
outros, podemos supor que ele não seja tão evidente. Metodologia: Realizou-se uma busca bibliográfica sobre
doenças psíquicas relacionadas à fatores hereditários, com critérios de exclusão de artigos de revisão, sem
ligação com o tema e com publicação anterior a 1999. Resultado: foram pré-selecionados 110 artigos, dos quais
vinte e dois foram utilizados para compor a amostra. Discussão: vários pesquisadores na psiquiatria, têm se
dedicado a pesquisar a possibilidade de a herança genética do indivíduo conferir susceptibilidade para o
desenvolvimento de determinados transtornos mentais. A partir dessas observações clínicas, tem-se procurado
demonstrar a existência de componentes genéticos para essa condição. Quais seriam os genes envolvidos nesse
processo e como estes interagem com as influências ambientais para manifestação do fenótipo psiquiátrico.
Considerações finais: Através desse estudo pode observar-se a presença de fatores genéticos que influenciam na
depressão. A herança é multigênica, assim o vasto número de genes possíveis, ocasionando um obstáculo em
descobrir realmente quais fatores são esses. A identificação desses genes proporcionará um desenvolvimento de
novos tratamentos para depressão.

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PALAVRAS-CHAVE: Transtornos depressivos, Fatores hereditários, Estudo genético.

ABSTRACT: Introduction: Depression is a serious and frequent mood disorder that can occur throughout life. The
causes of depression are still unknown, but genetic, psychological, environmental, anatomopathological and
biochemical factors are involved in its genesis and evolution, being present in varying degrees in each individual.
The genetic-hereditary factor is clearly present in many cases. In others, we may assume that it is not so obvious.
Methodology: A literature search was carried out on psychical diseases related to hereditary factors, with criteria
for exclusion of review articles, without linking to the topic and with publication prior to 1999. Outcome: 110 articles
were pre-selected, of which twenty Two were used to compose the sample. Discussion: Several researchers in
psychiatry have been dedicated to investigate the possibility that the genetic inheritance of the individual confer
susceptibility to the development of certain mental disorders. From these clinical observations, we have tried to
demonstrate the existence of genetic components for this condition. What would be the genes involved in this
process and how do they interact with environmental influences to manifest the psychiatric phenotype. Final
considerations: Through this study can be observed the presence of genetic factors that influence depression.
Inheritance is multigenic, thus the vast number of possible genes, causing an obstacle in actually discovering what
factors are these. The identification of these genes will provide a development of new treatments for depression.
KEYWORDS: Depressive disorders, Hereditary factors, Genetic study.

1. INTRODUÇÃO psicomotoras, com sintomas de intensidade leve a


grave ou incapacitantes. É um quadro fásico, que
Os transtornos depressivos constituem um grupo de
evolui em episódios únicos ou repetidos, no qual
patologias com alta e crescente prevalência na
podem ter início súbito e remitir espontaneamente, ou
população geral. De acordo com estatísticas da
apresentar curso crônico ao longo da vida (OMS,
Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão
2005).
representará a segunda alteração patológica em 2020,
O diagnóstico da doença Depressão considera os
podendo até mesmo ultrapassar o número de afetados
seguintes fatores: sintomas psíquicos, fisiológicos e
por doenças cardiovasculares (BAHLS, 2002;
evidências comportamentais. De acordo com a
MONTEIRO et al., 2007).
Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Associação
O termo depressão vem sendo empregado tanto para Americana de Psiquiatria, o paciente depressivo deve
determinar um estado afetivo normal (tristeza), quanto apresentar ao menos cinco sintomas do transtorno, no
um sintoma, síndrome ou doença. No sentido qual um obrigatoriamente deve ser o humor deprimido
patológico se caracteriza principalmente por (tristeza, desânimo e pensamentos negativos) ou a
alterações patológicas do humor, cognitivas e

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perda de interesse por itens que antes eram utilizando-se revistas eletrônicas, artigos publicados
prazerosos (OMS, 2005). nas bases de dados Scielo, PubMed e Medline, além
Ainda não se tem certeza sobre as causas da de sites oficiais como o Ministério da Saúde e a
depressão, porém fatores genéticos, psicológicos, Organização Mundial de Saúde. Foram selecionados
ambientais, anatomopatológicos e bioquímicos estão artigos em português e inglês.
envolvidos na sua gênese e evolução, sendo que cada As palavras chaves utilizadas foram: “doenças
indivíduo apresenta estes sintomas em graus variáveis psíquicas”, “fatores hereditários em doenças
(DEL-BEM, 2005; LAFER et al., 1999). psíquicas”, “transtorno depressivo”, e “psicopatia”.
O fator genético-hereditário em alguns casos pode ser Os artigos incluídos na pesquisa foram publicados
observado de forma clara. No século XIX foram entre 1999 a 2017 e correlacionavam depressão com
realizadas as primeiras observações que incluíam fatores hereditários.
fatores genéticos como possíveis causas de Tabela 1: Base de dados
depressão, por psiquiatras europeus como Morel,
Griesinger, Maudsley e Kraepelin, que constataram
que esse distúrbio parecia se concentrar mais em
determinadas famílias (LAFER et al., 1999).
Banco de Dados Palavras chaves
A maior dificuldade quando se trata de investigar o
componente genético da depressão, é a
caracterização precisa do fenótipo, ou seja da
manifestação da doença (LAFER et al., 2000).
Este estudo tem o objetivo de compreender a Depressão fatores
etiopatogenia da depressão e quais são os fatores hereditários, depressão
Scielo
hereditários que influenciam nesta doença. em estudo de animais,
psicopatia

2. METODOLOGIA

2.1. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

Realizou-se uma busca bibliográfica sobre doenças Causas da depressão,


Medline
psíquicas relacionadas à fatores hereditários, transtorno depressivo

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Estudo genético, fatores 3.RESULTADOS


PUBMED hereditários, transtornos
Em nosso estudo, foram pré-selecionados 140 artigos,
depressivos
devido aos critérios de inclusão e exclusão foram
selecionados 14 artigos para compor a amostra, além
disso, foram usados 3 livros como referência. Os
artigos selecionados foram de estudos primários e
secundários, com os anos de publicação entre 1999 a
Critérios de inclusão: 2017.

• Artigos sobre doenças psíquicas


• Artigos sobre depressão Tabela 2: Resultado dos artigos encontrados.

• Artigos publicados no período de 1999 a 2017


• Artigos que relacionam fatores hereditários
com doenças psíquicas
• Artigos que relacionam fatores hereditários
com depressão Artigos pré- Artigos
Base de Dados
selecionados selecionados

Critérios de exclusão:

SCIELO 78 08

• Artigos fora do período estipulado de ano de


publicação
• Artigos que não estavam no idioma português
e inglês PUBMED 49 05

• Artigos que não relacionavam doenças


psíquicas com fatores hereditários

MEDLINE 13 01

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TOTAL 140 14 As pesquisas mais recentes de genética em


psiquiatria adotaram metodologias mais rigorosas e
confiáveis, podendo confirmar as observações
adquiridas (ELKIS et al., 2007).

Atualmente são utilizadas estratégias para investigar


os componentes genéticos nas doenças mentais, que
4. DISCUSSÃO
são classificados basicamente em estudo genético-
4.1 GENÉTICA EM PSIQUIATRIA epidemiológico e estudo genético-molecular (ELKIS et
al., 2007).
Vários pesquisadores na psiquiatria, têm se dedicado
a pesquisar a possibilidade de a herança genética do 4.2 TIPOS DE ESTUDOS GENÉTICOS REALIZADOS
indivíduo conferir susceptibilidade para o EM PSIQUIATRIA
desenvolvimento de determinados transtornos
mentais. Morel, Griesinger, Maudsley e Kraepelin, 4.2.1 ESTUDOS GENÉTICOS- EPIDEMIOLÓGICOS
psiquiátras europeus do século XIX, foram os ESTUDOS COM FAMÍLIAS
primeiros a notarem que os transtornos do humor
O passo inicial dado na investigação da aparição de
pareciam se concentrar mais em determinadas
componentes genéticos é a demonstração de sua
famílias (LAFER et al., 1999).
agregação familiar. Verifica-se, de um lado, a
A partir dessas observações clínicas, tem-se frequência ou a prevalência da doença em familiares
procurado demonstrar a existência de componentes portadores do transtorno e, de outro, a frequência
genéticos para essa condição. Quais seriam os genes desse mesmo transtorno em familiares de indivíduos
envolvidos nesse processo e como estes interagem saudáveis, representativos da população geral. Se a
com as influências ambientais para manifestação do incidência do transtorno for significativamente maior
fenótipo psiquiátrico, são as respostas mais no grupo de parentes dos doentes, pode-se afirmar
procuradas pelos pesquisadores (ELKIS et al., 2007). que a doença tem caráter familial (ELKIS et al., 2007).
A realização dos estudos genéticos de manifestações De acordo com Lima et al. (2004), nos últimos
comportamentais ou emocionais, não é tarefa fácil, quarenta anos em que se refere os estudos de família,
sobretudo porque as classificações psiquiátricas são os pesquisadores têm seguido a classificação
baseadas em uma análise clínica de validade incerta e sugerida por Leonhard (1957), o qual subdivide as
confiabilidade variável. Por esse motivo pode haver alterações de humor em distúrbio bipolar e depressivo.
divergências nos resultados das pesquisas genéticas.

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Lima et al. em 2004 observaram que a maioria dos Os resultados de estudos de gêmeos possibilita
autores concordam que o risco de parentes em também estimar o tamanho do efeito genético na
primeiro grau de indivíduos não afetados sofrerem determinação de uma doença, ou seja, o valor da
depressão é de 5%, quando comparados com Herdabilidade (h2). É feito um cálculo onde subtrai a
parentes de primeiro grau com depressão, o risco da concordância entre MZ pela concordância em DZ e
doença aumenta aproximadamente três vezes. divide-se o resultado pela subtração de um menos a
concordância em DZ (h2 = MZ - DZ ÷ 1 – DZ) (ELKIS
Weissman et al. (1988), afirmam que quando a
et al., 2007).
depressão apresenta os sintomas antes dos 20 anos,
ela está associada há uma importante carga familiar. Bertelsen et al. realizaram um estudo com gêmeos na
Os autores acrescentam que filhos de pais que Dinamarca em 1977, onde foram investigados 123
tiveram transtorno depressivo antes dos 20 anos pares de gêmeos, no qual um dos gêmeos já
apresentaram um risco 14 vezes maior de desenvolver apresentava transtorno de humor. Foi observado uma
depressão antes dos 15 anos quando comparados a concordância com relação a doença de 64% para MZ
população geral (LIMA, 2004). e 24% para DZ (LIMA et al., 2004).

Em 1986, em uma amostra de 102 indivíduos,


Torgersen encontrou uma taxa de concordância de
O estudo em famílias é importante, porém não é
51% para MZ e de 20% para DZ. McGuffin et al.
suficiente para comprovar a transmissão genética.
(1991) averiguaram na Inglaterra pares de gêmeos,
ESTUDOS COM GÊMEOS
onde foi possível observar uma concordância entre
Esses estudos partem da premissa de que gêmeos MZ de 53% em DZ de 28%. O estudo mais recente é
monozigóticos (MZ) e dizigóticos (DZ) sofrem de 1993, realizado por Kendler et al. na Suécia com
influência ambiental semelhante, porém, os MZ são 486 pares de gêmeos, onde se pode verificar a
geneticamente idênticos, enquanto os DZ concordância de 69% em pares MZ e de 34% em
compartilham apenas metade de sua herança pares DZ. Baseado nesses dados, a taxa de
genética, como qualquer irmão. Assim, em doenças concordância para depressão em gêmeos MZ é de
que podem ser determinadas pelo ambiente a duas a três vezes maior do que nos DZ, reforçando a
concordância entre MZ e DZ seria próxima, enquanto hipótese de componentes genéticos nestas
em doenças genéticas a concordância nos MZ seria enfermidades (ELKIS,et al., 2007).
maior que nos DZ (VALLADA et al., 2000).

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Conforme Quevedo (2013), os estudos de gêmeos maior de casos de depressão nos pais biológicos
permite estimar a herdabilidade na depressão em quando comparados a seus pais adotivos (ELKIS et
torno de 40% a 50%. al., 2007).

ESTUDOS COM ADOTADOS Através dos relatos observados pelos autores, pode-
se concluir que há uma presença de componentes
Segundo Vallada et al. (2000), os estudos com
genéticos na determinação da depressão. Devido à
adotados têm o intuito de diferenciar ainda mais a
dificuldade desses estudos serem realizados por
participação do ambiente na influência do componente
causa de questões éticas e por exigir um bom serviço
genético.
de registro de adoção, o que muitas vezes não é
São basicamente dois planos principais: investigar a
possível, o assunto é pouco abordado.
frequência da enfermidade entre os pais biológicos e
ANÁLISES DE SEGREGAÇÃO
entre os pais adotivos de crianças adotadas que
vieram a desenvolver a doença, e observar a Depois de constatada a presença de componentes
frequência do distúrbio nos filhos biológicos de genéticos de determinada doença, o próximo passo é
portadores da doença que foram adotados ao nascer tentar compreender o modo pelo qual se dá sua
e comparar com filhos biológicos de pais saudáveis transmissão. Segundo Elkis et al. (2007), as análises
que também foram adotados logo após o nascimento de segregação da depressão realizadas até hoje não
(VALLADA et al., 2000). conseguiram estabelecer de modo evidente o modelo
de transmissão por não apresentar um padrão de
Se tratando de doenças depressivas, foram relatados
transmissão compatível com o modelo de herança
três casos de investigação com adotados. O primeiro
mendeliana simples e o fato da concordância entre
foi realizado por Cadoret em 1978, em uma amostra
gêmeos monozigóticos não ser 100%. Isto demonstra
de mães com depressão, onde pode se observar uma
que fatores não genéticos também interferem no
frequência seis vezes maior de depressão em seus
aparecimento das enfermidades.
filhos adotados ao nascer, quando comparados aos
filhos de mães com outras condições clínicas, também 4.2.2 ESTUDOS DE GENÉTICA MOLECULAR
adotados no nascimento. Pesquisas realizadas por
ESTUDOS DE LIGAÇÃO
Wender et al. em 1986, investigaram uma amostra
dinamarquesa de 71 adotados afetados pela
depressão e encontraram uma prevalência oito vezes

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De acordo com Lafer et al. (1999) uma das estratégias de afetados do que a de não afetados. Busca-se,
para localizar o gene relacionado à determinada portanto, determinar se a associação entre a condição
doença consiste no conceito de ligação genética. Este de afetado e aquele polimorfismo do gene é maior do
conceito refere-se ao fato de que dois loci gênicos que sua ocorrência ao acaso na população geral
situados muito próximos em um mesmo cromossomo (ELKIS et al., 2007).
tendem a ser herdados conjuntamente sem sofrerem
Esse tipo de estratégia apresenta a vantagem de
influência das permutas gênicas. Desse modo, se
poder detectar genes que apresentam efeitos
algum traço ou marcador genético cuja localização já
discretos ou moderados na determinação de uma
é conhecida, for sempre herdado com a doença nas
doença, o que é interessante quando são pesquisadas
famílias, muito provavelmente o gene dessa doença
enfermidades poligênicas e multifatoriais (ELKIS et al.,
terá sua localização nas vizinhanças do marcador.
2007).
Esse tipo de pesquisa, em geral, necessita de famílias
Conforme as pesquisas de Lima em 2004, os
grandes e com múltiplos afetados, podendo auxiliar na
primeiros estudos sobre a análises de associação na
localização de regiões cromossômicas onde podem
depressão, foram realizados a partir de 1996 por
existir genes relacionados à suscetibilidade à
Ogilvie et al., focados principalmente nos genes
determinada doença.
relacionados ao sistema serotoninérgico. Os primeiros
Nos dias atuais, já se sabe que a depressão não
estudos a relatar uma associação entre um número
expressa um padrão de transmissão compatível com o
variável de repetições em série (VNTR) no segundo
modelo de herança mendeliana simples (causada
intron do gene que codifica o transportador da
apenas por um gene), consequentemente esse tipo de
serotonina (5- HTT). Collier et al. tentaram replicar os
estudo não é mais utilizado.
estudos de Ogilvie et al., porém não encontraram
ANÁLISES DE ASSOCIAÇÃO associação com a depressão.

O estudo de associação é outra investigação Em 2003, Caspi et al. descobriram uma variante que
molecular que é realizada na busca de genes consiste na deleção de 44 pares de bases, na região
causadores de doenças. O pesquisador levanta a do promotor do gene 5HTT que determina menor
hipótese de que proteína codificada por determinado atividade transcricional deste gene. Esta mutação foi
gene está envolvida na fisiopatologia da doença e, a associada com maior risco de depressão frente a
partir daí verifica se a frequência de certo polimorfismo eventos de vida, numa grande amostra neozelandesa.
gênico é significativamente maior entre a população (LIMA, 2004)

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Em 2004, Gutiérrez et al. relataram maior frequência sexualmente que também portavam alelos MAOA-
de alelos de alta atividade enzimática em mulheres mVNTR de baixa atividade. Em estudos também
deprimidas com episódios de padrão sazonal e uma realizados em 2007, Kersting et al. avaliaram
maior frequência de homozigose de alelos mais pacientes com depressão que possuíam uma história
longos do polimorfismo MAOA-mVNTR em pacientes de luto e encontraram que alelos longos do
com depressão e sintomas psicóticos. Há estudos que polimorfismo MAOA-mVNTR foram significativamente
demonstraram que a presença de alelos mais longos associados com luto complicado em mulheres.
estava associada também com pior resposta a
Em síntese, os estudos de associação verificados
antidepressivos e menores taxas de remissão em
neste trabalho não estabelecem resultados
mulheres com depressão. Porém, quando o estudo foi
conclusivos, uma vez que a maioria dessas
realizado com amostras menores, não foi possível
conclusões não puderam ser replicadas, o que pode
relatar qualquer efeito dessas variantes na resposta
sugerir se tratar de falso-positivos decorrentes de
do tratamento. Nos estudos de Du et al., também em
estratificações populacionais ou do acaso.
2004, não encontraram nenhuma associação entre o
O fato é que em decorrência do vasto número de
polimorfismo MAOA-mVNTR e depressão no sexo
genes candidatos ao estabelecimento dos transtornos
masculino.
depressivos, muitos estudos ainda serão realizados, o
Uma pesquisa mais recente datada de 2007, realizada
que indica um longo caminho na tentativa de
por Cicchetti et al., observou que adolescentes vítimas
investigação sistemática de todos os possíveis genes
de três ou mais tipos de abuso (abusos sexual, físico
candidatos (ELKIS et al., 2007).
ou emocional e negligência) e que tinham o alelo de 3
repetições (codifica MAOA de baixa atividade) 4.2.3 ÚLTIMAS DESCOBERTAS
apresentaram mais sintomas de depressão do que os Em 2011, Breen et al. e Pergadia et al.; acharam uma
jovens com alelos que codificam MAOA de alta ligação forte entre a depressão e variação genética no
atividade e que também sofreram os mesmos tipos de cromossomo 3 (mais especificamente no cromossomo
abuso. Os autores também descobriram que variantes 3p25-26).
genéticas de baixa atividade do 5HTT (5HTTLPR:
Pergadia et al. avaliaram a depressão ligada a hábitos
genótipos SS ou SL) foram associadas com maior
de fumo em diversas famílias australianas e
gravidade para depressão, ansiedade e sintomas
finlandesas, de acordo com os resultados
somáticos, somente entre adolescentes abusados
encontrados, pode associar um pico de ligação

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genética significativo no cromossomo 3 p25-26. As Algumas regiões mostram-se mais ligadas ao


descobertas feitas por eles indicam que é necessário desenvolvimento da doença, mas ainda aguardam
fazer uma investigação mais aprofundada, já que os confirmação por meio de novos estudos. A
achados não foram identificados de forma identificação dos genes favorecerá a prática clínica,
convincente. contribuindo na prevenção, diagnóstico e tratamento
da depressão, através da elucidação dos
Já no estudo de Breen et al.; foram analisadas 839
componentes genéticos.
famílias com depressão. De acordo com a pesquisa,
observou-se uma relação da doença com vários
cromossomos, mas os resultados mais significativos 6. REFERÊNCIAS
foram vistos no cromossomo 3p25-26. Um trabalho de
BAHLS, S. C. Aspectos clínicos da depressão em
acompanhamento de sequenciamento genético está
crianças e adolescentes. Jornal de Pediatria, Rio de
sendo realizado com 40 famílias envolvidas na
Janeiro, vol.78, n.5, 2002.
primeira pesquisa, com o intuito de encontrar genes
específicos e as variações envolvidas na depressão, BREEN G.; WEBB B.T.; BUTLER A.W.; VAN DEN
por enquanto nenhum resultado foi publicado. OORD E.J.; TOZZI F.; CRADDOCK N.; GILL M.;
KORSZUN A.; MAIER W.; MIDDLETON L.; MORS O.;
OWEN M.J.; COHEN-WOODS S.; PERRY J.;
5. CONCLUSÃO GALWEY N.W.; UPMANYU R.; CRAIQ I.; LEWIS
C.M.; NQ M. BREWSTER S.; PREISIQ M.;
O estudo dos transtornos depressivos indica um
RIETSCHEL M.; JONES L.; KNIGHT J.; RICE J.;
continuo conjunto de evidências que sugerem a
UGLIA P.; FARMER A.E.; MCGUFFIN P. A genome-
existência de fatores genéticos na propensão para o
wide significant linkage for severe depression on
surgimento da doença. No entanto, não há nenhuma
chromosome 3: the depression network study. Am J
identificação irrefutável sobre a existência de um gene
Psychiatry, vol. 168, p. 840-7, ago 2011.
de susceptibilidade, devido à multigenicidade da
herança, que amplia o número de genes envolvidos
comprometendo a replicabilidade dos resultados.

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