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Unitá Faculdade – Graduação em Direito

Allan Piacente
Leonardo Tsuga
Vinícius Gardin

Prescrição Intercorrente após trânsito em julgado:

Jurisprudência, doutrina e lei.

Artigo apresentado à Faculdade


Unitá como parte do curso de
Direito Penal IV – Graduação em
Direito. Prof.(a) Camila Oliveira

Campinas-SP

2021
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RESUMO

O presente trabalho busca contribuir na discussão sobre a prescrição intercorrente


após trânsito em julgado na seara do Direito Penal. Buscou-se elencar o
entendimento sobre o assunto sobre diversas óticas: doutrinário, legal e
jurisprudencial.

Palavras-chave: Prescrição. Intercorrente. Penal.


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Sumário
1 Introdução: a prescrição intercorrente ...................................................................... 4

2 Desenvolvimento: posicionamentos ......................................................................... 5

3 Doutrinário ................................................................................................................ 6

4 Lei ............................................................................................................................ 7

5 Jurisprudência .......................................................................................................... 7

6 Conclusão ................................................................................................................ 8

7 Referências Bibliográficas ........................................................................................ 9


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1 Introdução: a prescrição intercorrente

No Direito Penal, a prescrição apresenta nuances, algumas próprias do Direito


Penal brasileiro, principalmente a partir da reforma penal de 1984, com a Lei 7.209/84.
Como sabemos, com a prática do crime, nasce para o Estado a pretensão de
punir o autor da conduta delituosa; é o chamado jus puniendi. Porém, não deve o
Estado permanecer com essa pretensão indefinidamente, como forma de se manter
a paz social. O ministro Ricardo Lewandowski observou que, no meio acadêmico, os
professores costumam lembrar que “a prescrição visa impedir que o cidadão viva
eternamente com uma espada de Dâmocles na cabeça”. O ministro também citou o
jurista Clóvis Beviláqua que dizia que o fundamento da prescrição é a necessidade de
se assegurar a ordem e a paz na sociedade. “Me parece absolutamente inafastável a
necessidade de garantir-se, por meio da prescrição, certeza e segurança nas relações
sociais, sobretudo no campo patrimonial”, ressaltou. Assim, o Estado deve apurar a
conduta do agente e aplicar-lhe a correspondente sanção, se for o caso, dentro de
determinado lapso de tempo, sob pena de ver esvair-se a sua pretensão punitiva.
Nesse sentido, na lição da melhor doutrina, a prescrição é essa perda que o Estado
sofre no seu direito de punir em virtude do decurso do tempo, no conceito do eminente
mestre Damásio E. de Jesus: "é a perda da pretensão punitiva ou executória do
Estado pelo decurso do tempo". É a prescrição uma das causas extintivas da
punibilidade, como se vê do art. 107 inciso IV, do Código Penal.
A prescrição, em matéria penal, vai além da perda do direito de ação,
superando, inclusive, a perempção e a decadência, atingindo, diretamente, o direito
material. No Direito Penal, a ocorrência da prescrição não só impede o Estado de
atuar no jus persequendi, dando um basta na apuração do fato delituoso, como
também, mesmo após a final apuração do fato típico, verificada que seja sua
antijuridicidade e constatada a culpabilidade do agente, inibe o Estado de exercitar o
jus executionis.
Nesse sentido, temos que a prescrição pode ocorrer após o trânsito em julgado
da sentença condenatória, caso em que o prazo a ser utilizado é regulado pela pena
em concreto, ou seja, pela pena concretizada na sentença condenatória, conforme
estabelece o art. 110 caput do Código Penal, e nos prazos a que alude o art. 109 do
mesmo diploma penal. É a prescrição da pretensão executória, indevidamente
chamada de prescrição da pena ou da condenação. Deve-se ter o presente que o
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termo a quo, para a contagem do prazo prescricional, é a data do trânsito em julgado


para a acusação (STF- RHC · DJU 18.3.77), além das demais situações previstas no
art. 112 do Código Penal.
Assim, com o advento da reforma penal de 1984, surge, em definitivo, outra
forma de prescrição, como uma simbiose entre as duas prescrições antes apontadas,
pois que, representando uma forma mista, atinge, ou melhor, extingue a pretensão
punitiva, mas com base na pena in concreto. É o que preveem as disposições do art.
110 §§ I e 2, combinadas com o art. 109, ambos do Código Penal. Essas normas
vieram acolher, consagrando até com maior abrangência, entendimento já existente
no Supremo Tribunal Federal, consubstanciado na Súmula 146, segundo a qual, in
verbis:
“A prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na
sentença, quando não há recurso da acusação"

2 Desenvolvimento: posicionamentos
A prescrição pode ocorrer até a publicação da sentença, se esta transitar em
julgado para a acusação, ou, ainda, se seu recurso vier a ser improvido, pendente ou
não recurso da defesa. O prazo é contado a partir da denúncia ou da queixa-crime,
até a data do decreto condenatório, ou mesmo da data de consumação do fato
delituoso, até o início da ação penal. A inexistência de recurso por parte da acusação
faz com que nenhuma decisão possa dilatar o quantum da pena, sendo injustificável
continuar a prescrição a regular-se pela pena em abstrato. É a prescrição retroativa,
sobre a qual o STF já se pronunciou no RE- Rel. Carlos Madeira RT 117/259 e 321:
"Nos termos do art. 110 do CP a prescrição depois da sentença com trânsito
em julgado para a acusação, regula-se pela pena aplicado, alcançando a pretensão
punitiva do Estado, em face da impossibilidade de ser alterada aquela em prejuízo da
defesa".
"A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para
a acusação, regula·se pela pena aplicada e alcança a pretensão punitiva ou a ação,
e não apenas a pretensão executória"(STF 1" Turma Rel. Oscar Correa- DJU 19.6.87,
págs. 12.453).
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Dirimindo dúvidas quanto à necessidade ou não de recurso da defesa para a


ocorrência da prescrição retroativa, o STF passou a entender, como condição
essencial, a inexistência de recurso da acusação, sendo irrelevante tenha ou não a
defesa recorrida. É o que se extrai das ementas seguintes:
Prescrição da ação penal com base na Súmula 146 do STF: a falta de recurso
da defesa contra a sentença condenatória não impede, por si só, o reconhecimento
da prescrição da ação penal com base na pena concretizada, conforme
reiteradamente decidido pelo STF (HC- Rel. Cunha Peixoto RT 558/398)
"Não impede a aplicação da Súmula 146 o fato de não ter o réu apelado, desde
que o não tenha feito a acusação" (STF - HC - Rel. Décio Miranda RT 5441469).
A prescrição retroativa, contando-se o prazo a partir da publicação da sentença
condenatória até o trânsito em julgado da decisão proferida pela instância superior,
julgando recurso exclusivo da defesa, ou ainda, se tiver havido recurso da acusação,
improvendo-o (art. li O § I • do C.P.). Aqui, de igual forma, tem-se por base a pena in
concreto, e os efeitos da prescrição atingem a pretensão punitiva. É a denominada
prescrição superveniente ou retroativa intercorrente.

3 Doutrinário
Conforme Ricardo Antônio Andreucci, a prescrição intercorrente, embora
ocorra após o trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação, regula-
se pela pena em concreto aplicada, pois o art. 100, §1º constitui exceção à regra do
art. 109 do Código Penal.
Na prescrição intercorrente, aplicada a pena na sentença e não havendo
recurso da acusação, a partir da data da publicação da sentença começa a correr o
prazo prescricional, calculado sobre a pena concretizada. Assim, embora ainda não
se possa considerar prescrição da pretensão executória, por não haver a sentença
transitado em julgado para ambas as partes, a prescrição intercorrente não mais se
regula pela pena em abstrato, mas, antes, pela pena em concreto aplicada.
Isto porque, em tendo apenas o réu apelado, havendo trânsito em julgado para
a acusação, a quantidade da pena aplicada não pode mais ser alterada, em função
do princípio que proíbe, nesse caso, a reformatio in pejus indireta.
Outrossim, a publicação do acórdão confirmatório da sentença condenatória
recorrível interrompe o prazo prescricional superveniente à decisão de primeiro grau,
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segundo a redação dada ao inciso IV do art. 117 do CP, pela Lei 11.596/2007. Nesse
caso, embora possa haver outros recursos por parte da defesa, o prazo prescricional
com base na pena em concreto começará a ser contado novamente.

4 Lei
Conforme o Código Penal, no § 1º do artigo 110, tem-se a seguinte descrição
para a prescrição intercorrente:
A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a
acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada...
Ademais, vale dizer que segundo o Código de Processo Penal, no artigo 366,
se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, suspender-
se-á o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a
produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar
prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.

5 Jurisprudência
HABEAS CORPUS. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. PRESCRIÇÃO.
ALEGAÇÃO DE SER O AGENTE MAIOR DE 70 (SETENTA) ANOS NA
DATA DA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. INTERPRETAÇÃO DO
ART. 115 DO CÓDIGO PENAL. ORDEM DENEGADA.
1. A prescrição da pretensão punitiva, na modalidade intercorrente ou
superveniente, é aquela que "ocorre depois do trânsito em julgado para a
acusação ou do improvimento do seu recurso, tomando-se por base a
pena fixada na sentença penal condenatória" (GRECO, Rogério. Curso de
Direito Penal. Parte geral. Volume 1. 11. ed. Ímpetus: Niterói, RJ, 2009, p.
738). Essa lição espelha o que diz o § 1º do art. 110 do Código Penal:
"A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado
para a acusação, ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela
pena aplicada".
2. No caso, na data da publicação da sentença penal condenatória, o
paciente contava 69 (sessenta e nove) anos de idade. Pelo que não há
como aplicar a causa de redução do prazo prescricional da senilidade a
que se refere o art. 115 do Código Penal. Até porque a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal é no sentido de que tal redução não opera
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quando, no julgamento de apelação, o Tribunal confirma a condenação


(HC 86.320, da relatoria do ministro Ricardo Lewandowski; HC 71.711, da
relatoria do ministro Carlos Velloso; e AI 394.065-AgR-ED-ED, da minha
relatoria).
3. Ordem indeferida, ante a não ocorrência da prescrição superveniente.
(HC 96.968, relator ministro Ayres Britto)

6 Conclusão

Conforme aos aspectos tratados no decorrer deste artigo, observou-se que a


prescrição, em se tratando de matéria penal, nada mais é do que a extinção do direito
que o Estado tem de punir pelo decurso do tempo. À vista disso, existe a prescrição
da pretensão punitiva (PPP), sendo o prazo para que o Estado exerça a pretensão de
punir o autor do fato criminoso, e a prescrição da pretensão executória (PPE),
referindo-se ao lapso temporal para o Estado exercer seu direito de executar a sanção
imposta na sentença condenatória do indivíduo.
Ademais, foi elucidado a respeito dos motivos os quais dão ensejo a prescrição,
pontos esses que citamos alguns autores como Clóvis Beviláqua, Ricardo Antônio
Andreucci e jurisprudências que auxiliaram a compreender melhor as causas as quais
levaram a prescrição a ser adotada como este instituto do Direito.
Verificou-se ainda que há distinção no critério de definição do prazo prescricional. No
tocante à prescrição da pretensão punitiva, usa-se o máximo da pena abstrata
cominada ao delito, enquanto que na prescrição da pretensão executória, utiliza-se a
quantidade da pena imposta na sentença para se determinar o referido prazo. Com
relação ao início da contagem da prescrição, também há distinções, pois no caso da
PPP, a prescrição corre a partir da consumação do delito, enquanto que na PPE o
termo a quo seria o trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação.
Por fim, diante dessa breve síntese do artigo supramencionado, de fato, pode-se
concluir que esse poder/direito de punir de que o Estado é titular, precisa observar
certos limites, sendo o deles o referido tema, a prescrição. Não obstante, é importante
observar que, caso haja abusos, sobretudo pelo excesso de recursos possíveis que
se estendem no tempo, retardando a execução da pena imposta, a prescrição pode
se transformar em um instrumento prejudicial à sociedade e “amiga fiel” a
marginalidade, razão pela qual pode merecer reparos e aperfeiçoamentos.
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7 Referências Bibliográficas

Andreucci, Ricardo Antonio. Manual do direito penal, Saraiva Jur 2021.

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