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Razões de Recursos | 1ª Fase | Exame XXXIII

Direito Civil
Questão:
Tipo 01: 37
Tipo 02: 41
Tipo 03: 38
Tipo 04: 41

A questão de número 37, do XXXIII Exame unificado de Ordem, parte integrante do caderno de provas da
disciplina de Direito Civil, traz questão relativa ao Contrato particular de promessa de compra e venda.
Pela redação do enunciado da questão citada, nota-se que as partes “Valdeir” e “Max” firmaram Contrato
particular de promessa de compra e venda com direito de arrependimento. “Valdeir” na qualidade de
promitente-vendedor prometeu vender apartamento de sua propriedade à “Max”, promitente-comprador.
Restou estipulado entre as partes que ao promitente-vendedor consistia a obrigação de firmar escritura
definitiva de compra e venda a favor do promitente-comprador, no prazo de 90 (noventa) dias.
O enunciado traz a informação de que no ato da assinatura do contrato de promessa de compra e venda, o
promitente-comprador pagou arras penitenciais no montante de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).
Todavia, “Valdeir”, ora promitente-vendedor celebrou escritura definitiva de compra e venda a favor de terceiro.
Diante dos fatos narrados, a questão exige do examinando conhecimento acerca dos direitos de “Max” diante
do arrependimento de “Valdeir”.
O Contrato de compromisso de compra e venda é um contrato pelo qual o promitente-vendedor obriga-se a
vender e outorgar escritura definitiva de determinado bem imóvel, assim que o promitente-comprador adimplir
com a sua obrigação. Trata-se de um contrato preliminar, através do qual as partes obrigam-se a celebrar um
contrato definitivo, com observância aos requisitos de validade impostos pelo art. 108, do Código Civil.
O Contrato particular de promessa de compra e venda pode ser firmado em caráter irretratável, pela ausência
de cláusula de arrependimento; ou, as partes podem estipular o direito de arrependimento, na hipótese de
haver cláusula expressa permitindo esse arrependimento.
Havendo cláusula expressa prevendo o direito de arrependimento, podem as partes arrepender-se e voltar
atrás, e nesta hipótese não se concluirá o contrato definitivo de compra e venda. O enunciado da questão 37,
trata justamente desta hipótese.
O sinal ou arras é quantia ou bem móvel entregue por uma parte a outra, com a finalidade de confirmar que
futuramente o contrato definitivo será celebrado.
As arras ou sinal são de duas espécies: a) arras confirmatórias; b) arras penitenciais.
As arras serão penitenciais quando no contrato preliminar constar cláusula prevendo o direito de
arrependimento, e neste caso, as arras atuam como pena convencional.
O artigo 420 do Código Civil prescreve:

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Art. 420. Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das
partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as
deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais
o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização suplementar.

Pela redação do art. 420 do CC, resta claro que acordado o direito de arrependimento, o contrato torna-se
resolúvel, respondendo o que se arrepender pelas perdas e danos prefixadas pelo art. 420 do CC.
Conforme inteligência do art. 420, na hipótese de haver direito de arrependimento do promitente-vendedor,
na hipótese do enunciado “Valdeir”, deverá devolver a “Max”, na qualidade de promitente-comprador, o
montante que recebeu, mais o equivalente.
A última parte do dispositivo citado é clara ao afirmar que “não haverá direito a indenização suplementar”.
Portanto, não se admite a cobrança de qualquer outra verba a título de perdas e danos, ainda que a parte
inocente, no caso “Max” tenha sofrido prejuízo superior ao sinal.
A única resposta provável para a questão número 37, é a alínea “a” que assim dispõe: “Max poderá exigir de
Valdeir a importância paga a título de arras mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices
oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado”.

A OAB ao redigir a questão se baseou na Súmula 412 do STF. Vejamos:

SÚMULA 412 -
NO COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA COM CLÁUSULA DE ARREPENDIMENTO, A
DEVOLUÇÃO DO SINAL, POR QUEM O DEU, OU A SUA RESTITUIÇÃO EM DOBRO, POR
QUEM O RECEBEU, EXCLUI INDENIZAÇÃO MAIOR, A TÍTULO DE PERDAS E DANOS,
SALVO OS JUROS MORATÓRIOS E OS ENCARGOS DO PROCESSO.

A Súmula 412 do STF foi redigida em junho de 1964, ou seja, em momento anterior ao atual Código Civil de
2002.
Ademais, os juros são incompatíveis com a natureza das arras penitenciais.
A questão da OAB é problemática à medida que afirma que além da importância paga a título de arras mais o
equivalente, “Max” poderá exigir “correção monetária”, “juros” e “honorários de advogado”.
A Súmula 412 do STF não menciona “atualização monetária”, faz menção, porém a possibilidade de juros
moratórios.
No atual sistema temos que os juros classificam-se em: a) juros compensatórios; b) juros moratórios.

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É de se ressaltar que, a alínea “a” da questão 37, não faz referência à qual espécie de juros “Max” teria direito,
o que se faz imprescindível para a análise detalhada do aluno. A omissão quanto a espécie de juros é vício que
torna a questão anulável.
Em um segundo momento, ressalta-se que os juros moratórios constituem pena imposta ao devedor, atuando
como verdadeira indenização pelo retardamento no adimplemento da obrigação, possuindo, portanto, natureza
totalmente incompatível com a natureza jurídica das Arras penitenciais citada no enunciado da questão.
Portanto, considerando que a resposta afirma que “Max” teria direito a “atualização monetária”, verba não
prevista na Súmula 412 do STF, considerando que a alínea “a” da questão 37, não faz referência à qual espécie
de juros “Max” teria direito, sendo totalmente omissa quanto a elemento imprescindível para a análise do aluno,
e ainda, que os juros moratórios possuem natureza totalmente incompatível com a natureza jurídica das Arras
penitenciais, a questão é passível de anulação.

Direito Penal
Questão:
Tipo 01: 59
Tipo 02: 61
Tipo 03: 59
Tipo 04: 61

A questão pode ser anulada por duas razões: É que ela contém um erro no enunciado, pois menciona uma
contravenção penal prevista no art. 65 da lei de contravenções penais, a contravenção penal de perturbação
da tranquilidade, ocorre que uma lei de março/2021 revogou esta contravenção penal. Esta contravenção não
está mais em vigor, desta forma, contém um erro no enunciado. Além disso, ainda que não fosse um erro no
enunciado, a questão seria controvertida, porque a alternativa que foi dada como correta diz que a
contravenção penal não gera reincidência, mas gera maus antecedentes, ocorre que, um entendimento recente
do STJ de 2019 acolheu o entendimento de que “o porte de drogas para uso pessoal não gera nem reincidência
e nem maus antecedentes, por equiparar-se a contravenção penal. A partir deste entendimento do STJ passou
a ser defensável a tese de que as contravenções penais não geram nem reincidência, nem maus antecedentes.

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Direito do Trabalho
Questão:
Tipo 01: 74
Tipo 02: 70
Tipo 03: 75
Tipo 04: 71

Questão - Suelen trabalhava na Churrascaria Boi Mal Passado Ltda. como auxiliar de cozinha, recebendo salário
fixo de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais) mensais. Por encontrar-se em dificuldade financeira, Suelen
pediu ao seu empregador um empréstimo de R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais) para ser descontado
em parcelas de R$ 500,00 (quinhentos reais) ao longo do tempo. Sensibilizado com a situação da empregada,
a sociedade empresária fez o empréstimo solicitado, mas 1 mês após Suelen pediu demissão, sem ter pago
qualquer parcela do empréstimo.
Considerando a situação de fato, a previsão da CLT e que a empresa elaborará o termo de rescisão do contrato
de trabalho (TRCT), assinale a afirmativa correta.
A) A sociedade empresária poderá descontar todo o resíduo do empréstimo do TRCT.
B) A sociedade empresária poderá, no máximo, descontar no TRCT o valor de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos
reais).
C) Não pode haver qualquer desconto no TRCT, porque o empréstimo tem a natureza de contrato civil, de
modo que a sociedade empresária deverá cobrá-lo na justiça comum.
D) Por Lei, a sociedade empresária tem direito de descontar no TRCT o dobro da remuneração do empregado
por eventual dívida dele.
Gabarito: B

Possibilidade de recurso: a Equipe Trabalhista Damásio indicou como correta a alternativa B, o que se
confirmou com o gabarito preliminar apresentado pela banca examinadora. Não obstante, a referida alternativa
abre espaço para eventual questionamento por adotar posicionamento controvertido na jurisprudência.

Probabilidade de alteração do gabarito: baixa.

Razões de recurso: o exercício apresenta caso concreto no qual o empregado e o empregador entabulam
um contrato de mútuo, em razão do qual que a empresa emprestou R$ 4.500,00 ao trabalhador, que seriam
descontados do salário ao longo do tempo. Todavia, em razão da extinção do contrato sem pagamento de
qualquer parcela, questiona-se sobre a possibilidade de desconto, parcial ou integral, desses valores.

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Dentre todas as alternativas, é possível indicar a letra “B” como correta, porém ela adota um entendimento
controvertido nos Tribunais.

De fato, o art. 477, § 5º, da CLT, autoriza o empregador a efetuar a compensação de créditos que tenha a
receber do empregado no ato da rescisão contratual, porém limitada ao valor de um mês de remuneração do
trabalhador.

Em paralelo, a Súmula 18, do Tribunal Superior do Trabalho, estabelece que “a compensação, na Justiça do
Trabalho, está restrita a dívida de natureza trabalhista”.

Assim, considerando essas duas diretrizes, há posicionamento jurisprudencial rejeitando a


possibilidade de compensação do empréstimo na ocasião do pagamento das verbas da rescisão
trabalhista, uma vez que o mútuo, ainda que originado da relação empregatícia, tem natureza
civil (art. 586, CC).

Para exemplificar, apresentamos os seguintes precedentes:

RESCISÃO CONTRATUAL. CONTRATO DE MÚTUO. COMPENSAÇÃO COM AS VERBAS


RESCISÓRIAS. IMPOSSIBILIDADE. Esta Corte, interpretando o artigo 477, § 5º da CLT,
editou a Súmula nº 18, segundo a qual - A compensação, na Justiça do Trabalho, está restrita
a dívidas de natureza trabalhista. No caso concreto, restou evidente que o desconto realizado
pela reclamada nas verbas rescisórias do reclamante decorreu de contrato de mútuo firmado
com sua empregadora, o que demonstra sua natureza inquestionavelmente civil. Assim, não
se tratando de hipótese em que há compensação de verbas trabalhistas, não há falar em
compensação. (
Acórdão do processo Nº ARR - 3505300-92.2009.5.09.0016).

CONTRATO DE MÚTUO. RESCISÃO CONTRATUAL. VERBAS RESCISÓRIAS. COMPENSAÇÃO.


IMPOSSIBILIDADE. No caso dos autos, houve a celebração de um contrato de mútuo, por
meio do qual a reclamante fez um empréstimo diretamente com a reclamada, sua
empregadora. Rescindido o contrato de trabalho, a reclamada reteve as verbas rescisórias
como pagamento pelo empréstimo anteriormente realizado. Ora, a jurisprudência sumulada
desta Corte Superior é no sentido de que a compensação, na Justiça do Trabalho, está
restrita a dívidas de natureza trabalhista (Súmula nº 18). Na hipótese dos autos, estamos
diante de parcelas de natureza diversa: de um lado, as verbas

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rescisórias, de natureza trabalhista; de outro, o empréstimo, de natureza civil. Sendo assim,
inviável seria qualquer compensação entre tais verbas. Todavia, mantém-se o acórdão
regional, o qual determinou a devolução do valor de R$ 9.287,89 à reclamante, em
observância ao princípio do non reformatio in pejus. Recurso de revista

conhecido e não provido. (Acórdão do processo Nº RR - 51800-36.2010.5.23.0007).

Assim, considerando a natureza civilistas do empréstimo, ele não poderia ser compensado na oportunidade da
rescisão contratual, uma vez que a compensação somente poderia envolver verbas de natureza trabalhista.

Reitere-se que o tema tem divergência nos tribunais, de modo que há decisões autorizando a compensação no
caso em análise.

Posto isso, as demais alternativas estão incorretas.


A alternativa A e D estão em desconformidade com o disposto no art. 477, § 5º, da CLT, de maneira que a
assertiva afronta de maneira direta a legislação.

Por sua vez, a alternativa C também não de mostra adequada em razão do seguinte trecho: “de modo que a
sociedade empresária deverá cobrá-lo na justiça comum.”

A natureza civilista da matéria (mútuo) não impede o conhecimento da pretensão pela Justiça do Trabalho,
assim como ocorre com outras matérias, a exemplo da responsabilidade civil.

Com efeito, o elemento que atrai a competência trabalhista, no caso em tela, decorre da existência da relação
empregatícia, na medida em que o art. 114, I, da Constituição Federal dispõe que compete há Justiça do
Trabalho às ações oriundas da relação de trabalho.

Desse modo, a alternativa C, ao adotar o verbo “deverá”, expressa afirmação de que o empregador não poderia
acionar o empregado na Justiça do Trabalho, o que está incorreto.

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