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COMPARAÇÃO DE SOBRETENSÕES EM LINHA DE TRANSMISSÃO COM

DIFERENTES REPRESENTAÇÕES DA CORRENTE DE DESCARGA

Vanildo Lopes Mendes Cunha

Projeto de Graduação apresentado ao Corpo


Docente do Departamento de Engenharia
Elétrica da Escola Politécnica da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do tı́tulo de
Engenheiro Eletricista.

Orientadores: João Pedro Lopes Salvador


Antonio Carlos Siqueira de
Lima

Rio de Janeiro
Maio de 2016
COMPARAÇÃO DE SOBRETENSÕES EM LINHA DE TRANSMISSÃO COM
DIFERENTES REPRESENTAÇÕES DA CORRENTE DE DESCARGA

Vanildo Lopes Mendes Cunha

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE


DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA
POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO
GRAU DE ENGENHEIRO ELETRICISTA.

Examinado por:

Prof. João Pedro Lopes Salvador, M.Sc.

Prof. Antonio Carlos Siqueira de Lima, D.Sc.

Prof. Robson Francisco da Silva Dias, D.Sc.

Prof. Sergio Sami Hazan, Ph.D.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL


MAIO DE 2016
Cunha, Vanildo Lopes Mendes
Comparação de Sobretensões em Linha de Transmissão
com Diferentes Representações da Corrente de Descarga
/ Vanildo Lopes Mendes Cunha. – Rio de Janeiro:
UFRJ/Escola Politécnica, 2016.
XIII, 63 p.: il.; 29, 7cm.
Orientadores: João Pedro Lopes Salvador
Antonio Carlos Siqueira de Lima
Projeto de Graduação – UFRJ/Escola Politécnica/
Departamento de Engenharia Elétrica, 2016.
Referências Bibliográficas: p. 48 – 49.
1. Sobretensão. 2. Descarga Atmosférica. 3. Linha
de Transmissão. 4. Coordenação de Isolamento. I.
Salvador, João Pedro Lopes et al. II. Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Departamento de
Engenharia Elétrica. III. Tı́tulo.

iii
Dedico este trabalho aos meus
pais João e Noémia

iv
Agradecimentos

Primeiro quero agradecer a Deus por ter me guiado a esse mundo fantástico, que
é a Engenharia Elétrica, e por ter me dado forças ao longo desses anos, tornando
possı́vel chegar na fase final.
Ao Brasil e Cabo Verde que me deram a oportunidade de fazer a graduação aqui
no Brasil, pelo convênio PEC-G.
Aos meus pais João e Noémia, pelo carinho, compreensão e pela educação que
me deram, e mesmo não estando presentes durante todos esses anos, sempre me
apoiaram. Aos meus irmãos Ângela, Edmilson, Gilson, Indira e Jandira, pelo apoio.
Um agradecimento especial ao meu irmão Admilson, pelos conselhos, orientações e
por ter me mostrado a vida de uma forma diferente.
Um grande agradecimento aos meus orientadores João Pedro Lopes Salvador
e Antonio Carlos Siqueira de Lima, pela orientação e sobretudo a paciência que
tiveram comigo. Ao professor Antonio Lopes de Souza, pela sua força de querer
ensinar, mesmo enfrentando problemas de saúde, e pelo apoio que sempre demostrou
por mim. Aos demais professores da DEE que contribuı́ram para a minha formação,
e a secretária Kátia, pelo apoio.
A todos os amigos que fiz na faculdade, em especial o Daniel Hauser, Diodotce
Lima, Guilherme Moreira, Gustavo Gontijo, Hyrllann Almeida, Leandro Marinho,
Maurı́cio Dias e Sersan Dias. Obrigado Daniel Hauser por ter me apresentado a
ferramenta LATEX.
Finalmente, não poderia esquecer das pessoas que me ajudaram no momento que
mais precisei durante o desenvolvimento desse trabalho. Obrigado Armindo (Toge),
Evânia e Adilson pela hospedagem. Sem vocês seria muito mais difı́cil finalizar esse
trabalho.

v
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como
parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Eletricista

COMPARAÇÃO DE SOBRETENSÕES EM LINHA DE TRANSMISSÃO COM


DIFERENTES REPRESENTAÇÕES DA CORRENTE DE DESCARGA

Vanildo Lopes Mendes Cunha

Maio/2016

Orientadores: João Pedro Lopes Salvador


Antonio Carlos Siqueira de Lima
Departamento: Engenharia Elétrica

Descarga atmosférica constitui a principal causa de defeitos nas linhas de trans-


missão, em função das sobretensões causadas pela queda direta ou indireta. Por-
tanto, uma representação consistente da corrente de descarga é essencial para garan-
tir a qualidade dos resultados nos estudos de desempenho das linhas de transmissão,
frente aos surtos atmosféricos.
Este trabalho apresenta um estudo de sobretensões em uma linha de transmissão
de 138 kV devido a descarga atmosférica no topo da torre e no cabo pararraios no
meio do vão, utilizando três tipos de formas de onda comumente utilizados para
representar a primeira corrente de descarga descendente negativa. Os resultados das
sobretensões associadas a cada uma dessas formas de onda são comparados com os
obtidos utilizando formas de onda realı́sticas, que contemplam todos os parâmetros
médios da descarga obtidos a partir de medições nas estações Monte San Salvatore
e Morro do Cachimbo.
O estudo foi realizado empregando-se o EMTP/ATP e a interface gráfica
ATPDraw.

Palavras-chave: Sobretensão, Descarga Atmosférica, Linha de Transmissão, Coor-


denação de Isolamento.

vi
Abstract of Graduation Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of
the requirements for the degree of Electrical Engineer

OVERVOLTAGES COMPARISON IN TRANSMISSION LINE WITH


DIFFERENT LIGHTNING CURRENT REPRESENTATIONS

Vanildo Lopes Mendes Cunha

May/2016

Advisors: João Pedro Lopes Salvador


Antonio Carlos Siqueira de Lima
Department: Electrical Engineering

Lightning is the main source of faults in transmission lines due to overvoltages


caused by direct and indirect strikes. Therefore, a consistent representation of the
lightning stroke current is essential to guarantee the quality of the results in studies
of lightning performance of transmission lines.
This work presents a study of overvoltages in a 138 kV transmission line due to
lightning strikes in the top of the tower and at the ground wire in the middle of
span. Three commonly-used waveforms are utilized to represent the first negative
downward stroke current. The results of the overvoltages associated to each one
of the previously mentioned waveforms are compared to results obtained using real
waveforms, which contemplate all the lightning median parameters. These real
waveforms are obtained through measurements at Monte San Salvatore and Morro
do Cachimbo stations.
The work was realized with the software EMTP/ATP and the graphic interface
ATPDraw.

Key-words: Overvoltage, Lightning, Transmission Line, Insulation Coordination

vii
Sumário

Lista de Figuras x

Lista de Tabelas xiii

1 Introdução 1
1.1 Contextualização e Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Organização do Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2 Modelagem do Sistema 4
2.1 Linha de Transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2 Torres e Aterramentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.3 Formas de Onda da Corrente de Descarga Adotadas . . . . . . . . . . 9
2.3.1 Double-Peaked ou Duplo Pico . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.3.2 Single-Peaked ou Pico Único . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.3.3 Dupla Exponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.3.4 Berger Aproximado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.3.5 Comparação das Formas de Onda da Corrente de Descarga . . 16

3 Resultados e Simulações 21
3.1 Verificação da Modelagem do Sistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.1.1 Modelagem no EMTP/ATP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.1.2 Resultados da Modelagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.2 Análise das Sobretensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.2.1 Sobretensões Tipo I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.2.2 Sobretensões Tipo II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.2.3 Sobretensões Tipo III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.2.4 Sobretensões Tipo IV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.2.5 Sobretensões Tipo V . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.2.6 Taxa de Crescimento das Sobretensões Tipo I . . . . . . . . . 34
3.2.7 Taxa de Crescimento das Sobretensões Tipo II . . . . . . . . . 36
3.2.8 Taxa de Crescimento das Sobretensões Tipo III . . . . . . . . 38

viii
3.2.9 Taxa de Crescimento das Sobretensões Tipo IV . . . . . . . . 40
3.2.10 Taxa de Crescimento das Sobretensões Tipo V . . . . . . . . . 41
3.3 Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

4 Conclusões 45
4.1 Conclusões Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.2 Trabalhos Futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

Referências Bibliográficas 48

A Modelo Modal Variante na Frequência 51

B Códigos para Gerar as Formas de Onda Duplo Pico, Pico Único e


Berger Aproximado no EMTP/ATP 53

C Cálculo das Derivadas da Corrente de Descarga e das Sobretensões


no EMTP/ATP 61

ix
Lista de Figuras

2.1 Incidência na torre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4


2.2 Incidência no cabo pararraios no meio do vão . . . . . . . . . . . . . 5
2.3 Parâmetros de configuração da linha no modelo JMarti. . . . . . . . . 6
2.4 Dados geométricos dos condutores de fase e pararraios. . . . . . . . . 7
2.5 Torre de transmissão: (a) Dimensões; (b) Modelagem no EMTP/ATP. 8
2.6 Parâmetros da modelagem da torre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.7 Modelagem da fonte de corrente duplo pico no EMTP/ATP . . . . . 11
2.8 Formas de onda duplo pico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.9 Modelagem da fonte de corrente pico único no EMTP/ATP . . . . . . 12
2.10 Formas de onda pico único. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.11 Fonte de corrente dupla exponencial do EMTP/ATP . . . . . . . . . 14
2.12 Formas de onda dupla exponencial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.13 Modelagem da fonte de corrente Berger aproximado no EMTP/ATP . 15
2.14 Forma de onda Berger aproximado. MSS . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.15 Forma de onda Berger aproximado. MCS . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.16 Formas de onda duplo pico e pico único. . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.17 Formas de onda duplo pico e dupla exponencial. . . . . . . . . . . . . 17
2.18 Formas de onda duplo pico e Berger aproximado . . . . . . . . . . . . 17
2.19 Derivada em relação ao tempo das formas de onda duplo pico e pico
único . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.20 Derivada em relação ao tempo das formas de onda duplo pico e dupla
exponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.21 Derivada em relação ao tempo das formas de onda duplo pico e Berger
aproximado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

3.1 Modelagem do sistema para incidência na torre. . . . . . . . . . . . . 22


3.2 Modelagem do sistema para incidência no cabo pararraios ao meio do
vão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.3 Sobretensões tipo I. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.4 Sobretensões tipo II. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.5 Sobretensões tipo III. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

x
3.6 Sobretensões tipo I, para correntes duplo pico e pico único. . . . . . . 26
3.7 Sobretensões tipo I, para correntes duplo pico e dupla exponencial. . 26
3.8 Sobretensões tipo I, para correntes duplo pico e Berger aproximado. 26
3.9 Sobretensões tipo II, para correntes duplo pico e pico único. . . . . . 28
3.10 Sobretensões tipo II, para correntes duplo pico e dupla exponencial. . 28
3.11 Sobretensões tipo II, para correntes duplo pico e Berger aproximado. 28
3.12 Sobretensões tipo III, para correntes duplo pico e pico único. . . . . . 30
3.13 Sobretensões tipo III, para correntes duplo pico e dupla exponencial. . 30
3.14 Sobretensões tipo III, para correntes duplo pico e Berger aproximado. 30
3.15 Sobretensões tipo IV, para correntes duplo pico e pico único. . . . . . 31
3.16 Sobretensões tipo IV, para correntes duplo pico e dupla exponencial. . 32
3.17 Sobretensões tipo IV, para correntes duplo pico e Berger aproximado. 32
3.18 Sobretensões tipo V, para correntes duplo pico e pico único. . . . . . 33
3.19 Sobretensões tipo V, para correntes duplo pico e dupla exponencial. . 33
3.20 Sobretensões tipo V, para correntes duplo pico e Berger aproximado. 34
3.21 Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo I, para correntes
duplo pico e pico único. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.22 Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo I, para correntes
duplo pico e dupla exponencial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.23 Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo I, para correntes
duplo pico e Berger aproximado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.24 Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo II, para correntes
duplo pico e pico único. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.25 Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo II, para correntes
duplo pico e dupla exponencial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.26 Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo II, para correntes
duplo pico e Berger aproximado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.27 Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo III, para corren-
tes duplo pico e pico único. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.28 Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo III, para corren-
tes duplo pico e dupla exponencial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.29 Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo III, para corren-
tes duplo pico e Berger aproximado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.30 Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo IV, para corren-
tes duplo pico e pico único. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.31 Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo IV, para corren-
tes duplo pico e dupla exponencial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.32 Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo IV, para corren-
tes duplo pico e Berger aproximado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

xi
3.33 Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo V, para correntes
duplo pico e pico único. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.34 Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo V, para correntes
duplo pico e dupla exponencial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.35 Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo V, para correntes
duplo pico e Berger aproximado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

C.1 Modelo do sistema para incidência na torre, com a rotina TACS para
calcular as derivadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
C.2 Modelo do sistema para incidência no cabo pararraios no meio do
vão, com a rotina TACS para calcular as derivadas. . . . . . . . . . . 63

xii
Lista de Tabelas

2.1 Parâmetros usados para produzir as formas de onda duplo pico do


MSS e MCS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.2 Parâmetros usados para produzir as formas de onda pico único do
MSS e MCS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.3 Parâmetros usados para produzir as formas de onda dupla exponen-
cial do MSS e MCS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.4 Parâmetros usados para produzir as formas de onda Berger aproxi-
mado do MSS e MCS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.5 Tempo de frente de onda de cada corrente de descarga . . . . . . . . 19
2.6 Taxa de crescimento máxima em relação a tempo de cada corrente de
descarga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

3.1 Tipos de sobretensões analisados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21


3.2 Amplitudes máximas das sobretensões tipo I . . . . . . . . . . . . . . 27
3.3 Amplitudes máximas das sobretensões tipo II . . . . . . . . . . . . . 29
3.4 Amplitudes máximas das sobretensões tipo III . . . . . . . . . . . . . 31
3.5 Amplitudes máximas das sobretensões tipo IV . . . . . . . . . . . . . 32
3.6 Amplitudes máximas das sobretensões tipo V . . . . . . . . . . . . . 34
3.7 Taxas de crescimento máximas (dv/dtmax ) nas frentes de onda das
sobretensões tipo I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.8 Taxas de crescimento máximas (dv/dtmax ) nas frentes de onda das
sobretensões tipo II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.9 Taxas de crescimento máximas (dv/dtmax ) nas frentes de onda das
sobretensões tipo III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.10 Taxas de crescimento máximas (dv/dtmax ) nas frentes de onda das
sobretensões tipo IV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.11 Taxas de crescimento máximas (dv/dtmax ) nas frentes de onda das
sobretensões tipo V . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

xiii
Capı́tulo 1

Introdução

Descargas atmosféricas são consideradas as principais causas de defeitos nas li-


nhas de transmissão, seja por incidência direta (incidência na torre, cabo de fase
ou cabo pararraios) ou por incidência indireta (incidência no solo próxima a li-
nha). Quando se trata da incidência direta sobre a linha, o fenômeno de transitórios
eletromagnéticos depende dos parâmetros elétricos e da geometria da linha, e dos
parâmetros da descarga. Na ocorrência desse fenômeno, há um processo de pro-
pagação de ondas de tensão e corrente pelo sistema, com reflexões e refrações nos
pontos onde há mudança de impedância caracterı́stica. Como consequência surgem
tensões elevadas nas cadeias de isoladores e entre os cabos pararraios e de fase, que
podem exceder a suportabilidade de isolamento, estabelecendo um arco elétrico, o
qual será mantido pela tensão do sistema.
Uma ruptura de isolamento na cadeia de isoladores por incidência no cabo de
fase é conhecida como flashover. Já a ruptura de isolamento na cadeia de isoladores
por incidência no cabo pararraios é chamada de backflashover. Também pode ocor-
rer ruptura no meio do vão entre o cabo pararraios e o cabo de fase, ocasionado pela
incidência no cabo pararraios no meio do vão [1]. Embora o uso de cabos parar-
raios reduz a probabilidade de uma elevada corrente atingir um cabo de fase, podem
ocorrer desligamentos por falhas de blindagem, ocasionados por correntes de descar-
gas de baixa amplitude, mas ainda com capacidade suficiente de gerar sobretensões
capazes de romper a suportabilidade de isolamento [1].
Na ocorrência desses defeitos, o sistema de proteção atua de forma a eliminá-
los. Isso implica, na interrupção do fornecimento da energia no circuito atingido
pela descarga, causando prejuı́zos para as concessionárias e consumidores, além da
redução da confiabilidade da rede. Para garantir o correto funcionamento das linhas
de transmissão e assim, garantir a confiabilidade do serviço frente as sobretensões
causadas pelas descargas atmosféricas, é necessário um correto estudo de desempe-
nho das linhas de transmissão.

1
1.1 Contextualização e Motivação
Descarga atmosférica é um fenômeno natural, cujos parâmetros provêm da
análise de medições, que já há várias décadas são feitas em todo mundo. Nos
estudos de desempenho de linhas de transmissão, há um interesse particular nas
descargas descendentes [2]. Essas descargas podem ser de polaridade positiva ou
negativa, sendo que essa última pode ser de múltiplas descargas (descargas sub-
sequentes à primeira). As positivas são caracterizadas por possuı́rem amplitudes
maiores e frentes de onda mais lentas que as negativas, sendo que as negativas sub-
sequentes apresentam tempos bem menores para atingirem o pico máximo do que
as primeiras descargas negativas [3]. No entanto, as primeiras descargas negativas
possuem amplitudes maiores que as subsequentes, e por serem mais frequentes que
as demais, há um interesse maior quando se trata de proteção contra descargas
atmosféricas [4].
De um modo geral, nos estudos computacionais de transitórios eletromagnéticos
decorrentes de descargas atmosféricas, é de fundamental interesse uma modelagem
adequada da corrente de descarga para garantir a qualidade nos resultados. Nesse
sentido, é de se esperar que tal modelagem incorpore os principais parâmetros das
formas de onda reais da corrente de descarga, obtidos a partir de medições feitas em
torres instrumentadas [5, 6].
Nos experimentos em laboratórios e estudos computacionais, frenquentemente
são utilizados a dupla exponencial para representar a primeira corrente de descarga
descendente negativa. Isso é justificado pela sua facilidade de implementação a partir
de descarga de capacitores, e facilidade de diferenciação e integração no tempo.
Também outros modelos como as formas de onda Heidler, dupla rampa, CIGRE e
ainda outros propostos por alguns pesquisadores [7, 8], são utilizadas nos estudos
computacionais de transitórios eletromagnéticos. Geralmente, esses modelos levam
em consideração os principais parâmetros das formas de onda reais da corrente de
descarga, como a amplitude máxima, o tempo da frente de onda e o tempo de
meia onda. No entanto, esses modelos são simplificados e não contemplam todas
as caracterı́sticas presentes nas formas de onda reais, e.g., a concavidade na frente
de onda, o aumento acentuado em torno da metade do pico e o segundo pico da
corrente, que são caracterı́sticas obtidas a partir da média dos dados de medições
em torres instrumentadas [5, 6]. Isso pode trazer como consequência resultados de
sobretensões superestimados ou ainda subestimados [4, 9].
Para uma modelagem mais consistente, De Conti e Visacro [10] propuseram uma
expressão analı́tica baseada no somatório de funções de Heidler capaz de representar
a forma de onda real da primeira corrente de descarga descendente negativa (du-
plo pico), com todas as caracterı́sticas anunciadas anteriormente. A partir de sete

2
funções de Heidler foi possı́vel sintetizar as formas de onda das correntes de descarga
medidas nas estações do Monte San Salvatore (MSS) e Morro do Cachimbo (MCS),
incorporando todos os seus parâmetros médios.

1.2 Objetivos
O objectivo desse trabalho é avaliar os efeitos do uso de formas de onda simpli-
ficadas para representar a primeira corrente de descarga descendente negativa, nos
estudos de sobretensões desenvolvidas em uma linha de transmissão. Para isso, essas
sobretensões são comparadas com aquelas associadas à representações realı́sticas da
corrente de descarga, que possuem todos os parâmetros médios da primeira corrente
de descarga descendente negativa, obtidos a partir de medições nas estações MSS e
MCS.
Serão avaliadas as sobretensões causadas pela incidência direta, na torre e no
cabo pararraios no meio do vão. Todo o estudo é feito para um sistema de
transmissão de 138 kV, utilizando o EMTP/ATP (Electromagnetic Transients Pro-
gram/Alternative Transients Program) com a interface gráfica ATPDraw. A mode-
lagem do sistema utilizado se baseia na referência [11].

1.3 Organização do Trabalho


Este trabalho está estruturado em 4 capı́tulos, incluindo esse capı́tulo intro-
dutório. A descrição de cada capı́tulo é feita nos parágrafos seguintes.
Capı́tulo 2: Apresentada uma modelagem detalhada do sistema de transmissão
de 138 kV, incluindo as diferentes formas de onda da corrente de descarga utilizadas.
Capı́tulo 3: Mostra os resultados das sobretensões obtidos para as diferentes
formas de onda da corrente de descarga e compara com os obtidos utilizando a
forma de onda real da corrente das estações MSS e MCS. No final é feita uma
discussão acerca dos resultados obtidos.
Capı́tulo 4: É feita uma conclusão geral do trabalho, focando nos principais
tópicos e em seguida são apresentadas algumas sugestões de trabalhos futuros. Re-
sultados mostram que algumas formas de onda simplificadas não representam ade-
quadamente a corrente de descarga. Além disso, verifica-se que a presença do se-
gundo pico na forma de onda da corrente de descarga não é relevante.

3
Capı́tulo 2

Modelagem do Sistema

Este capı́tulo aborda os detalhes da modelagem da linha de transmissão, torres,


aterramentos e da corrente da descarga atmosférica. As figuras 2.1 e 2.2 apresentam
os esquemas do sistema de transmissão de acordo com o ponto de incidência da
descarga.

Figura 2.1: Incidência na torre

4
Figura 2.2: Incidência no cabo pararraios no meio do vão

2.1 Linha de Transmissão


Nos estudos de transitórios eletromagnéticos em sistemas de potência, um dos
aspectos mais importantes na modelagem da linha de transmissão é a consideração
da variação dos parâmetros com a frequência. Isto porque o sistema é submetido
a uma ampla faixa de frequências. Segundo Martı́ [12], na maioria dos casos, a
representação por parâmetros constantes produz uma ampliação das harmônicas
mais elevadas dos sinais e, consequentemente, uma distorção geral das formas de
onda e picos exagerados.
Neste trabalho, a linha de transmissão foi modelada utilizando o modelo JMarti
existente no EMTP/ATP, que é um modelo que foi desenvolvido pelo pesquisador
José R. Martı́ e que considera a variação dos parâmetros com a frequência. Uma
das desvantagens desse modelo é que somente é possı́vel representar o solo a par-
tir de uma resistividade elétrica constante, não considerando a sua variação com
a frequência. Nesse caso, a resistividade elétrica do solo foi considerada igual a
2000 Ω.m [11]. Ressalta-se também que esse modelo considera que os condutores
estão a uma altura média, não levando em conta a catenária.
No modelo JMarti as equações em coordenadas de fase (A.1, A.2) são trans-
formadas para coordenadas modais através de matrizes de transformação modais.
Assim, cada modo pode ser calculado separadamente como um circuito monofásico.
Após a solução dessas equações modais, é feita o processo inverso passando para
coordenadas de fase. Para configurações de linha equilibrada, essas matrizes são in-
dependentes da frequência e mostram muita precisão para linha transposta. No caso
de linhas desequilibradas e não transpostas as matrizes de transformação modais são
dependentes da frequência [12]. Nesse caso, elas são aproximadas por matrizes cons-
tantes calculadas a uma frequência média [13]. Neste trabalho foi utilizada uma

5
frequência média de 5 kHz, de acordo com [14]. Detalhes sobre o modelo modal
variante na frequência, utilizado no JMarti podem ser vistos no Apêndice A.
Para descarga atingindo a torre de transmissão, a linha foi modelada com dois
vãos de 300 m. Para o caso da descarga atingindo o cabo pararraios no meio do
vão, a linha foi modelada com um único vão de 300 m, onde a fonte da descarga
será inserida a 150 m das torres. Em ambos os casos foram inseridas nas extre-
midades da linha um vão maior de 3 km para representar os demais vãos. Esse
comprimento foi calculado de forma que as ondas refletidas nas extremidades da
linha retornem à última torre modelada num tempo igual ou superior ao tempo de
simulação. Levando em consideração um tempo de simulação de 20 µs e uma veloci-
dade de propagação das ondas na linha de aproximadamente 300 m/µs, tem-se que
o comprimento mı́nimo desse vão tem que ser igual a (1/2) × 20 µs × 300 m/µs,
ou seja, 3 km, pois, as medições de tensões não serão afetadas.
Na modelagem da linha, o efeito das torres e aterramentos depois da primeira
torre trafegada pelas ondas da descarga foram desprezados. As figuras 2.3 e 2.4
apresentam os dados da linha introduzidos no modelo JMarti.

Figura 2.3: Parâmetros de configuração da linha no modelo JMarti.

6
Figura 2.4: Dados geométricos dos condutores de fase e pararraios.

2.2 Torres e Aterramentos


As torres foram modeladas por segmentos representando os braços e os troncos,
em que cada segmento corresponde a uma linha de parâmetros distribuı́dos sem
perdas, com sua respectiva impedância caracterı́stica e velocidade de propagação.
Para calcular a impedância caracterı́stica de cada linha, os braços e os troncos fo-
ram aproximados por condutores cilı́ndricos equivalentes. Assim, essas impedâncias
foram estimadas através de formulas empı́ricas que às relaciona com a altura (h) e o
raio (r) dos cilindros. Para cilindros verticais (troncos) foi utilizada a equação (2.1)
e para cilindros horizontais (braços) a equação (2.2), de acordo com as referências
[15] e [16], respectivamente. A velocidade de propagação nas torres foi considerada
igual a da luz (300 m/µs) [16]. A figura 2.5 mostra as dimensões da torre e a sua
modelagem no EMTP/ATP.
" √ ! #
2 2h
ZT = 60 ln −1 (2.1)
r

2h
ZB = 60 ln (2.2)
r

7
0,65 m 2,25 m
1 1
2,25 m
2
C 1,20 m C
2
1,90 m 3
B 3 B
1,90 m
4
4 A
A

17,85 m

5 5
4,5 m

(a) (b)

Figura 2.5: Torre de transmissão: (a) Dimensões; (b) Modelagem no EMTP/ATP.

A altura de cada cilindro corresponde ao comprimento do respectivo tronco ou


braço. O raio equivalente do cilindro que representa o tronco principal (4-5) foi
estimado a partir da equação (2.3), sendo x1 igual a metade da largura da base do
tronco e x2 a metade da largura do topo do tronco. Para os outros troncos (1-2, 2-3
e 3-4), os raios equivalentes foram aproximados pela metade de suas larguras [17].
Já no caso dos braços, foram considerados iguais a 1/4 de suas larguras no ponto de
junção com o tronco [16]. A figura 2.6 apresenta os parâmetros da modelagem das
torres.
 
1
r = exp [x1 (ln x1 − 1) − x2 (ln x2 − 1)] (2.3)
x1 − x2

8
1

𝑍𝑇 = 103 Ω
𝑣 = 300 𝑚/𝜇𝑠
𝑙 = 3,45 𝑚
𝑍𝐵 = 163 Ω
2 𝑣 = 300 𝑚/𝜇𝑠 C
𝑙 = 2,25 𝑚
𝑍𝑇 = 67 Ω
𝑣 = 300 𝑚/𝜇𝑠
𝑙 = 1,9 𝑚
𝑍𝐵 = 163 Ω
B 𝑣 = 300 𝑚/𝜇𝑠 3
𝑙 = 2,25 𝑚
𝑍𝑇 = 67 Ω
𝑣 = 300 𝑚/𝜇𝑠
𝑙 = 1,9 𝑚
𝑍𝐵 = 163 Ω
4 𝑣 = 300 𝑚/𝜇𝑠 A
𝑙 = 2,25 𝑚
𝑍𝑇 = 156 Ω
𝑣 = 300 𝑚/𝜇𝑠
𝑙 = 17,85 𝑚

Figura 2.6: Parâmetros da modelagem da torre

A modelagem das torres por segmentos apresenta uma desvantagem, que é o


aumento do tempo de cálculo do programa, em função da diminuição do tempo de
passo. Quanto menor o comprimento do segmento, menor é o tempo de propagação
da onda nesse segmento, o que demanda um tempo de passo menor, para se ter uma
boa precisão na simulação. Neste caso, o menor segmento possuiu comprimento
igual a 1,9 m. Para velocidade de propagação na torre de 300 m/µs, tem-se que o
tempo de propagação é igual a 6,33 ns. Para se ter uma boa precisão na simulação
foi considerado um tempo de passo igual a 0,633 ns. Porém, tempos de passo
nessa ordem excederam o limite de armazenamento da Lista de Pontos Históricos
(LPAST). Com o auxı́lio do programa ATP Launcher foi possı́vel aumentar o espaço
de armazenamento dessa lista e obter uma simulação satisfatória.
O sistema de aterramento foi representado por uma resistência elétrica de 30,63 Ω
[11]. Portanto, não foi considerada a variação dos parâmetros do solo com a
frequência.

2.3 Formas de Onda da Corrente de Descarga


Adotadas
Esta secção apresenta as formas de onda realı́sticas (duplo pico) e as formas de
onda simplificadas, que foram utilizadas na simulação. Foram adotadas três formas

9
de onda simplificadas, comumente utilizadas na literatura. Para essas formas de
onda foram consideradas amplitudes máximas iguais àquelas das formas de onda
realı́sticas (amplitudes médias obtidas nas estações MSS e MCS). Todavia, os de-
mais parâmetros que às caracterizam foram consideradas de acordo com os padrões
encontrados na literatura. Não foi considerada a impedância do canal de descarga
na modelagem. Ressalta-se que, para melhor visualização, todas as formas de onda
utilizadas são apresentadas como positivas, muito embora a corrente de descarga
seja negativa.

2.3.1 Double-Peaked ou Duplo Pico


No trabalho de De Conti e Visacro [10] são apresentadas duas formas de onda de
dois picos que contemplam os parâmetros médios das primeiras correntes de descarga
descendentes negativas, correspondentes as medições feitas nas estações Monte San
Salvatore (MSS) e Morro do Cachimbo (MCS). Essas formas de onda são baseadas
no somatório de funções de Heidler, de acordo com as equações (2.4) e (2.5).
m
X I0k (t/τ1k )nk (−t/τ2k )
i(t) = e (2.4)
k=1
ηk 1 + (t/τ1k )nk
"   1/nk #
τ1k nk τ2k
ηk = exp − (2.5)
τ2k τ1k

I0k : parâmetro que controla a amplitude da forma de onda;


ηk : parâmetro que corrige a amplitude da forma de onda;
τ1k : tempo da frente de onda;
τ2k : tempo de decaimento;
nk : parâmetro que controla a inclinação da forma de onda.
A tabela 2.1 apresenta os parâmetros que sintetizam as duas formas de onda
duplo pico, de acordo com [10].

Tabela 2.1: Parâmetros usados para produzir as formas de onda duplo pico do
MSS e MCS.

MSS MCS
Curva k
I0k (kA) nk τ1k (µs) τ2k (µs) I0k (kA) nk τ1k (µs) τ2k (µs)
1 3 2 3 76 6 2 3 76
2 4,5 3 3,5 25 5 3 3,5 10
3 3 5 5,2 20 5 5 4,8 30
4 3,8 7 6 60 8 9 6 26
5 13,6 44 6,6 60 16,5 30 7 23,2
6 11 2 100 600 17 2 70 200
7 5,7 15 11,7 48,5 12 14 12 26

10
Inicialmente tentou-se implementar a fonte de corrente duplo pico utilizando
sete fontes de Heidler em paralelo, com os respectivos parâmetros da tabela 2.1.
No entanto, o modelo da fonte Heidler do EMTP/ATP apresenta uma expressão
diferente de (2.4), não possuindo o parâmetro ηk (equação (2.5)), que controla a
amplitude da forma de onda. Com o intuito de contornar esse problema, foi incluı́da
uma amplitude já corregida em cada uma das sete fontes. Porém, obteve-se uma
forma de onda com perfil diferente do duplo pico. Deste modo, optou-se por uma
outra alternativa de implementação, utilizando uma fonte de corrente (TACS sourse)
controlada por um bloco MODELS. As funções de Heidler com os seus respectivos
parâmetros foram inseridas dentro do bloco MODELS utilizando-se a linguagem
MODELS do EMTP/ATP. A figura 2.7 mostra o modelo da fonte de corrente duplo
pico criado no EMTP/ATP e na figura 2.8 são apresentadas as formas de onda da
corrente duplo pico do MSS e MCS, obtidas com esse modelo.

MODEL
heidler

Figura 2.7: Modelagem da fonte de corrente duplo pico no EMTP/ATP

35 50

30
40
25
Corrente (kA)

Corrente (kA)

20 30

15 20
10
10
5

0 0
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 2.8: Formas de onda duplo pico.

2.3.2 Single-Peaked ou Pico Único


Borghetti et al [18] e Silveira et al [4] propuseram formas de onda de um pico
para representar a primeira corrente de descarga descendente negativa, medidas nas

11
estações MSS e MCS, respectivamente. Nesse caso as formas de onda são determi-
nadas a partir do somatório de duas funções de Heidler, de acordo com as equações
(2.4) e (2.5). Os parâmetros que sintetizam as formas de onda pico único estão
apresentados na tabela 2.2.

Tabela 2.2: Parâmetros usados para produzir as formas de onda pico único do
MSS e MCS.

MSS[18] MCS[4]
Curva k
I0k (kA) nk τ1k (µs) τ2k (µs) I0k (kA) nk τ1k (µs) τ2k (µs)
1 28 2 1,2 15 25,5 2,1 1,3 25
2 16,8 2 15 1700 19 3,5 2,2 1000

As fontes de corrente pico único do MSS e MCS foram implementadas do mesmo


modo que no caso do duplo pico, agora, substituindo os parâmetros pelos da ta-
bela 2.2. A figura 2.9 mostra o modelo da fonte de corrente pico único criado no
EMTP/ATP e na figura 2.10 são apresentadas as formas de onda da corrente pico
único do MSS e MCS, obtidas com esse modelo.

MODEL
heidler

Figura 2.9: Modelagem da fonte de corrente pico único no EMTP/ATP

35 50

30
40
25
Corrente (kA)

Corrente (kA)

20 30

15 20
10
10
5

0 0
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 2.10: Formas de onda pico único.

12
2.3.3 Dupla Exponencial
A expressão analı́tica da forma de onda tipo dupla exponencial é:

i(t) = ηI0 e−at − e−bt , para t ≥ 0




1
a= (2.6)
τ1
1
b=
τ2

sendo:
I0 : amplitude máxima da corrente da descarga;
η: fator de correção para que o valor máximo de i(t) coincida com I0 ;
τ1 e τ2 : constantes de tempo associadas à frente de onda e ao término do sinal,
respectivamente.
Segundo Salari [2], os parâmetros η, τ1 e τ2 são determinados num processo
iterativo de acordo com a forma em que o tempo da frente de onda é definida. Neste
trabalho foi considerado um impulso padronizado 1,2 × 50 µs, onde os parâmetros
η, τ1 e τ2 foram extraı́dos de [2].
A tabela 2.3 apresenta os parâmetros utilizados para produzir as formas de onda
dupla exponencial, sendo I0 igual a 31,1 e 45,3 kA correspondentes a média das am-
plitudes máximas das correntes obtidas nas estações MSS e MCS, respectivamente.

Tabela 2.3: Parâmetros usados para produzir as formas de onda dupla exponencial
do MSS e MCS

I0 (kA) η a (s−1 ) b (s−1 )


31,1 1,03709 14591,40 2469720,2
45,3 1,03709 14591,40 2469720,2

No caso da dupla exponencial, já existe um modelo dessa fonte de corrente no


EMTP/ATP. As únicas diferenças em relação a expressão (2.6) são os parâmetros
a e b que são definidos como negativos, em vez de considerar o sinal negativo nos
expoentes das duas exponenciais. Na figura 2.11 é apresentada essa fonte de corrente
do EMTP/ATP e na figura 2.12 as formas de onda dupla exponencial obtidas para
MSS e MCS.

13
Figura 2.11: Fonte de corrente dupla exponencial do EMTP/ATP

35 50

30
40
25
Corrente (kA)

Corrente (kA)
20 30

15 20
10
10
5

0 0
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 2.12: Formas de onda dupla exponencial.

2.3.4 Berger Aproximado


Em alguns trabalhos [7, 8], Portela propõe o uso de uma forma de onda definida
por partes para representar a primeira corrente de descarga descendente negativa.
Essa forma de onda é composta por uma frente de onda descrita por uma expressão
analı́tica e uma cauda representada por uma função constante seguido de uma rampa
descendente. Ela consiste numa aproximação da forma de onda obtida nas medições
realizadas por Berger et al. [19] na estação do Monte San Salvatore. A função que
descreve a forma de onda Berger aproximado é:
  
αt/tf α

 I0 (e − 1)/(e − 1) se 0 ≤ t ≤ tf
i(t) = I0 se tf < t < t1 (2.7)

at + b se t1 ≤ t ≤ t2

sendo a = I0 /(t1 − t2 ) e b = −at2 , onde:

I0 : amplitude máxima da corrente da descarga;


α: parâmetro adimensional que controla o perfil da frente de onda;
tf : tempo da frente de onda;
t1 : tempo do inı́cio da rampa;
t2 : tempo do término da rampa.

14
Para representar a primeira corrente de descarga descendente negativa, o
parâmetro α tem que ser positivo. A tabela 2.4 apresenta os parâmetros utiliza-
dos para produzir as formas de onda Berger aproximado, sendo I0 igual a 31,1 e a
45,3 kA correspondentes a média das amplitudes máximas das correntes medidas nas
estações MSS e MCS, respectivamente. Os parâmetros tf , α, t1 e t2 foram extraı́dos
de [2].

Tabela 2.4: Parâmetros usados para produzir as formas de onda Berger


aproximado do MSS e MCS.

I0 (kA) α tf (µs) t1 (µs) t2 (µs)


31,1 2 2 20 100
45,3 2 2 20 100

A fonte de corrente Berger aproximado foi implementada com três fontes de


correntes (TACS source) em paralelo, controladas por três blocos MODELS. As
funções que representam cada etapa da forma de onda foram inseridas dentro de
cada bloco MODELS. Cada fonte de corrente é ativada e desativada através de uma
chave, de acordo com os intervalos de tempo definidos para a função 2.7. Essa
modelagem é apresentada na figura 2.13 e as formas de onda da corrente do MSS e
MCS obtidas são apresentadas nas figuras 2.14 e 2.15, respectivamente.

MODEL
descarga

MODEL
descarga

MODEL
descarga

Figura 2.13: Modelagem da fonte de corrente Berger aproximado no EMTP/ATP

15
35 35

30 30

25 25

Corrente (kA)
Corrente (kA)

20 20

15 15

10 10

5 5

0 0
0 20 40 60 80 100 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) Forma de onda completa (b) Frente de onda

Figura 2.14: Forma de onda Berger aproximado. MSS

50 50

40 Corrente (kA) 40
Corrente (kA)

30 30

20 20

10 10

0 0
0 20 40 60 80 100 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) Forma de onda completa (b) Frente de onda

Figura 2.15: Forma de onda Berger aproximado. MCS

2.3.5 Comparação das Formas de Onda da Corrente de Des-


carga
Nas figuras 2.16, 2.17 e 2.18 são apresentadas as comparações das três formas de
onda da corrente de descarga (pico único, dupla exponencial e Berger aproximado,
respectivamente) com as formas de onda reais da corrente de descarga (duplo pico)
do MSS e MCS.

16
35 50

30
40
25
Corrente (kA)

Corrente (kA)
20 30

15 20
duplo pico duplo pico
10
pico único pico único
10
5

0 0
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 2.16: Formas de onda duplo pico e pico único.

35 50

30
40
25
Corrente (kA)

Corrente (kA)

20 30

15 20
duplo pico duplo pico
10
dupla exponencial dupla exponencial
10
5

0 0
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 2.17: Formas de onda duplo pico e dupla exponencial.

35 50

30
40
25
Corrente (kA)

Corrente (kA)

20 30

15 20
duplo pico duplo pico
10
Berger aproximado Berger aproximado
10
5

0 0
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 2.18: Formas de onda duplo pico e Berger aproximado

As figuras 2.19, 2.20 e 2.21 apresentam as derivadas em relação ao tempo cor-


respondentes às formas de onda mostradas anteriormente. Essas derivadas foram
calculadas diretamente no EMTP/ATP utilizando uma componente de derivada do
módulo TACS (Transient Analysis of Control Systems). Também foi possı́vel obtê-

17
las através do programa Wolfram Mathematica usando uma função de derivada.
Nesse caso, primeiro é preciso fazer um interpolação dos pontos das curvas das cor-
rentes obtidas no EMTP/ATP, para depois calcular as derivadas. Ambos os métodos
apresentaram os mesmos resultados, porém, é mais viável o cálculo diretamente no
EMTP/ATP, por questões de praticidade e rapidez.

30 25

25 20
duplo pico duplo pico
20
pico único 15 pico único
di/dt (kA/µs)

di/dt (kA/µs)
15
10
10
5
5

0 0

-5 -5
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 2.19: Derivada em relação ao tempo das formas de onda duplo pico e pico
único

80 120

100
60
duplo pico duplo pico
80
di/dt (kA/µs)

di/dt (kA/µs)

dupla exponencial dupla exponencial


40 60

20 40

20
0
0

-20 -20
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 2.20: Derivada em relação ao tempo das formas de onda duplo pico e dupla
exponencial

18
40 60

50
30
duplo pico duplo pico
40
di/dt (kA/µs)

Berger aproximado Berger aproximado

di/dt(kA/µs)
20 30

10 20

10
0
0

-10 -10
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 2.21: Derivada em relação ao tempo das formas de onda duplo pico e
Berger aproximado

As tabelas 2.5 e 2.6 mostram respectivamente, o tempo da frente de onda e a


taxa de crescimento máxima em relação a tempo de cada corrente de descarga.

Tabela 2.5: Tempo de frente de onda de cada corrente de descarga

tf (µs)
Forma de onda
MSS MCS
Duplo pico 13,5 13,7
Pico único 3,8 5,3
Dupla exponencial 1,2 1,2
Berger aproximado 2 2

Tabela 2.6: Taxa de crescimento máxima em relação a tempo de cada corrente de


descarga

di/dtmax (kA/µs)
Forma de onda
MSS MCS
Duplo pico 24,4 20,2
Pico único 21,1 19,5
Dupla exponencial 77,2 112,4
Berger aproximado 35,6 51,8

A corrente de descarga duplo pico é caracterizada por possuir dois picos, uma
frente de onda côncava e uma inclinação acentuada em torno da metade do segundo
pico. Além disso, a sua taxa de crescimento no instante inicial é igual a zero.
Essas caracterı́sticas foram encontradas em vários registos da corrente de descarga
feitos em pequenas torres instrumentadas [6, 19]. No entanto, as correntes pico
único, dupla exponencial e Berger aproximado, adotadas nesse trabalho, possuem
caracterı́sticas distintas do duplo pico, tanto no caso MSS quanto no MCS. Além de
não possuı́rem o segundo pico, elas apresentam tempos de frente de onda, taxas de
crescimento e perfis da frente de onda diferentes.

19
As derivadas em relação ao tempo das correntes duplo pico apresentam uma
caracterı́stica oscilatória, em função dos seus dois picos. As taxas de crescimento
máximas dessas correntes ocorrem em 6,59 e 6,96 µs (próxima a metade do segundo
pico), para MSS e MCS, respectivamente. Para as correntes pico único essas taxas
ocorrem nos instantes 0,66 e 0,98 µs (próxima a metade do pico), para MSS e MCS,
respectivamente. Já as correntes dupla exponencial têm um crescimento máximo
justamente no instante inicial. No caso das correntes Berger aproximado, as mai-
ores taxas de crescimento acorrem nos instantes em que atingem suas amplitudes
máximas, ou seja, em tf , que nesse caso é igual a 2 µs, para MSS e MCS. Observa-se
que essas duas ultimas correntes apresentam taxas de crescimento máximas maiores
do que aquelas verificadas nas correntes duplo pico. Já para as correntes pico único
essas taxas são menores.
A dupla exponencial apresenta uma descontinuidade na sua derivada em t = 0.
O Berger aproximado, apesar de possuir uma frente de onda com perfil côncavo,
que é uma caracterı́stica do duplo pico, apresenta a desvantagem de ser definida
por três funções (analı́tica ascendente, constante e rampa descendente). Essa sua
caracterı́stica faz com que haja descontinuidade na sua derivada em t = tf e t = t1 ,
nesse caso, em 2 e 20 µs, além da descontinuidade em t = 0.

20
Capı́tulo 3

Resultados e Simulações

Neste capı́tulo são apresentados os resultados das sobretensões associadas às três
formas de onda simplificadas da corrente de descarga (pico único, dupla exponencial
e Berger aproximado, respectivamente), onde são comparadas com as sobretensões
associadas às formas de onda reais da corrente de descarga (duplo pico), do MSS e
MCS.
Foram analisadas as sobretensões desenvolvidas nas cadeias de isoladores, e entre
o cabo pararraios e os cabos de fase no meio do vão. Também foram analisadas o
comportamento das sobretensões desenvolvidas no pé-da-torre. Para facilitar na
descrição e citação de cada sobretensão, elas foram diferenciadas por um nome,
conforme mostrado na tabela 3.1. No final do capı́tulo é feita uma discussão acerca
dos resultados obtidos na simulação no EMTP/ATP.

Tabela 3.1: Tipos de sobretensões analisados

Sobretensão resultante nas cadeias de isoladores, para descarga


Tipo I
atingindo o topo da torre.
Sobretensão resultante nas cadeias de isoladores, para descarga
Tipo II
atingindo o cabo pararraios no meio do vão.
Sobretensão resultante entre o cabo pararraios e os cabos de fase,
Tipo III
para descarga atingindo o cabo pararraios no meio do vão.
Sobretensão resultante na resistência de aterramento, para descarga
Tipo IV
atingindo o topo da torre.
Sobretensão resultante na resistência de aterramento, para descarga
Tipo V
atingindo o cabo pararraios no meio do vão.

21
3.1 Verificação da Modelagem do Sistema
3.1.1 Modelagem no EMTP/ATP
As cadeias de isoladores foram representadas como interruptores simples sem
tensão de abertura. Para comparar os resultados da modelagem com [11], foi consi-
derada a mesma forma de onda da corrente de descarga, no caso, o Berger aproxi-
mado (2.3.4) com a amplitude I0 igual a 30 kA. Foi considerado um tempo total de
simulação de 20 µs e um tempo de passo igual a 0,633 ns, de acordo com o motivo
mencionado na seção 2.2. Foram analisadas as sobretensões tipo I, II e III, descritas
na tabela 3.1.
Nas figuras 3.1 e 3.2 são apresentadas as modelagens do sistema, para incidência
na torre e no cabo pararraios no meio do vão, respectivamente.

MODEL
descarga

MODEL
descarga

MODEL
descarga
I

3 km 300 m 300 m 3 km

LCC LCC LCC LCC

+ Vf - + Vf - + Vf -
+
-
v

- Vf + - Vf + - Vf +
v
+
-

+ Vf - + Vf - + Vf -
+
-
v

Figura 3.1: Modelagem do sistema para incidência na torre.

22
MODEL
descarga

MODEL
descarga

MODEL
descarga

I
+ + +
v v v
- - -
3 km 150 m 150 m 3 km

LCC LCC LCC LCC

+ Vf - + Vf -
+
-
v

- Vf + - Vf +
v
+
-

+ Vf - + Vf -
+
-
v

Figura 3.2: Modelagem do sistema para incidência no cabo pararraios ao meio do


vão.

3.1.2 Resultados da Modelagem


As figuras 3.3, 3.4 e 3.5 apresentam, respectivamente, os resultados das sobre-
tensões tipo I, II e III obtidos a partir da modelagem descrita acima e os resultados
obtidos em [11]. Relembrando, a sobretensão tipo I é resultante nas cadeias de isola-
dores, para descarga atingindo o topo da torre. Já a sobretensão tipo II é resultante
nas cadeias de isoladores, para descarga atingindo o cabo pararraios no meio do vão.
Por último, a sobretensão tipo III é resultante entre o cabo pararraios e os cabos
de fase, para descarga atingindo o cabo pararraios no meio do vão. Para efeito de
comparação, essas sobretensões são referentes à fase mais alta (fase C).

23
1.0

0.8 Tomasevich [11]


Verificação
Tensão (MV) 0.6

0.4

0.2

0.0
0 5 10 15 20
Tempo (µs)

Figura 3.3: Sobretensões tipo I.

0.8

0.6
Tensão (MV)

0.4

0.2

Tomasevich [11]
0.0
Verificação

-0.2
0 5 10 15 20
Tempo (µs)

Figura 3.4: Sobretensões tipo II.

24
4

2
Tensão (MV)
1

-1 Tomasevich [11]
-2 Verificação

-3
0 5 10 15 20
Tempo (µs)

Figura 3.5: Sobretensões tipo III.

Ressalta-se que neste trabalho foi empregada uma modelagem das torres diferente
de [11], o que justifica as discrepâncias obtidas em relação à [11]. Nota-se que
essas discrepâncias são maiores nas sobretensões dos tipos I e II (figura 3.3 e 3.4,
respectivamente). Já no caso da sobretensão tipo III (figura 3.5) os resultados são
bem próximos. Isso pode ser facilmente entendido, já que a sobretensão tipo III
é uma sobretensão resultante no meio do vão, tendo pouca influência da torre em
função da distancia entre a torre e o meio do vão. Apesar das discrepâncias obtidas,
verifica-se que as amplitudes máximas das sobretensões são próximas às do [11].
Levando-se em consideração as diferenças na modelagem das torres, por conta
das impedâncias caracterı́sticas dos segmentos que foram estimados neste trabalho,
através das equações 2.1 e 2.2, considera-se que os resultados obtidos são satisfatórios
para o estudo de interesse.

3.2 Análise das Sobretensões


3.2.1 Sobretensões Tipo I
As figuras 3.6, 3.7 e 3.8 apresentam as sobretensões tipo I associadas às três
correntes de descarga (pico único, dupla exponencial e Berger aproximado, respecti-
vamente), comparadas com as sobretensões tipo I associadas às correntes de descarga
duplo pico do MSS e MCS. Essas sobretensões são resultantes nas cadeias de isola-
dores, para descarga atingindo o topo da torre. As letras A, B e C se referem aos
isoladores das fases A, B e C, sendo a C a fase superior, B a fase do meio e A a fase
inferior.

25
0.8 1.0
A A
duplo pico
B 0.8 B
0.6
C C
Tensão (MV)

Tensão (MV)
0.6
0.4
0.4

0.2
0.2
pico único duplo pico
pico único
0.0 0.0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.6: Sobretensões tipo I, para correntes duplo pico e pico único.

1.0 1.4
A A
dupla exponencial duplo pico 1.2 dupla exponencial
0.8 B duplo pico B
C 1.0 C
Tensão (MV)

Tensão (MV)

0.6 0.8

0.4 0.6

0.4
0.2
0.2

0.0 0.0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.7: Sobretensões tipo I, para correntes duplo pico e dupla exponencial.

1.0 1.4
A A
duplo pico 1.2
0.8 B duplo pico B
C 1.0 C
Tensão (MV)

Tensão (MV)

0.6 0.8

0.4 0.6

0.4
0.2
0.2
Berger aproximado Berger aproximado
0.0 0.0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.8: Sobretensões tipo I, para correntes duplo pico e Berger aproximado.

Cada corrente de descarga desenvolve um perfil de sobretensão diferente, que


é comandada pela frente de onda. Nas sobretensões geradas pelas correntes dupla
exponencial e Berger aproximado, verifica-se uma atenuação em torno de 0,3 µs,
causada pela reflexão no próprio sistema de aterramento da torre que sofre o impacto
da descarga. Como a distância dos vãos é de 300 m e a velocidade de propagação na

26
linha é próxima à da luz, as reflexões nas torres e aterramentos adjacentes retornam
ao ponto de incidência (torre central) após 2 µs. Esse tempo corresponde a duas vezes
o tempo de propagação da onda de uma torre para a outra. Portanto, as atenuações
e distorções nas sobretensões acontecem a cada 2 µs, como verificado nas figuras
3.6, 3.7, 3.8. A tabela 3.2 mostra as amplitudes máximas das sobretensões tipo I
obtidas para cada modelo da corrente de descarga.

Tabela 3.2: Amplitudes máximas das sobretensões tipo I

Vmax (MV)
Forma de onda MSS MCS
A B C A B C
Duplo pico 0,6125 0,6027 0,5925 0,7887 0,7720 0,7552
Pico único 0,6553 0,6392 0,6230 0,8166 0,7983 0,7799
Dupla exponencial 0,8052 0,8036 0,7979 1,1729 1,1705 1,1623
Berger aproximado 0,9316 0,9128 0,8918 1,3570 1,3295 1,2851

As amplitudes máximas das sobretensões associadas às correntes pico único, du-
pla exponencial e Berger aproximado foram maiores que aquelas associadas às cor-
rentes duplo pico. Isso é justificado pelo fato das três correntes possuı́rem tempos
de frente de onda menores (tabela 2.5). Quanto maior é esse tempo, maior é a ate-
nuação nas amplitudes máximas, em função das reflexões nas torres e aterramentos
adjacentes. Nos casos das correntes dupla exponencial e Berger aproximado, essas
reflexões chegam a torre central após o pico máximo nas sobretensões, o que faz com
que as amplitudes máximas sejam bem maiores. Isso está relacionado ao fato dos
tempos de frente de onda dessas duas correntes serem menores do que o tempo de
chegada da onda refletida. Portanto as amplitudes máximas não são afetadas por
essas reflexões. Além disso, as taxas de crescimento máximas dessas correntes são
maiores. Consequentemente, houve um crescimento rápido das sobretensões.
A tendência das ondas refletidas é de reduzir as amplitudes das sobretensões, já
que possuem polaridade inversa motivada pelo coeficiente de reflexão negativo (a
impedância de aterramento é menor que a impedância caracterı́stica da torre, neste
caso).

3.2.2 Sobretensões Tipo II


As figuras 3.9, 3.10 e 3.11 mostram as sobretensões tipo II associadas às três
correntes de descarga (pico único, dupla exponencial e Berger aproximado, res-
pectivamente), comparadas com as sobretensões tipo II associadas às correntes de
descarga duplo pico do MSS e MCS. Essas sobretensões são resultantes nas cadeias
de isoladores, para descarga atingindo o cabo pararraios no meio do vão. As letras
A, B e C se referem aos isoladores das fases A, B e C.

27
1.2 1.2
A A
1.0 pico único duplo pico 1.0 pico único duplo pico
B B
0.8 C 0.8 C
Tensão (MV)

Tensão (MV)
0.6 0.6

0.4 0.4

0.2 0.2

0.0 0.0

-0.2 -0.2
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.9: Sobretensões tipo II, para correntes duplo pico e pico único.

1.5 2.0
dupla exponencial A dupla exponencial duplo pico A
B 1.5 B
1.0
C C
Tensão (MV)

Tensão (MV)

1.0
0.5
0.5

0.0
0.0
duplo pico
-0.5 -0.5
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.10: Sobretensões tipo II, para correntes duplo pico e dupla exponencial.

1.2 1.5
Berger aproximado A Berger aproximado A
1.0
B B
1.0
0.8 C C
Tensão (MV)

Tensão (MV)

0.6
0.5
0.4

0.2
0.0
0.0 duplo pico duplo pico
-0.2 -0.5
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.11: Sobretensões tipo II, para correntes duplo pico e Berger aproximado.

Observa-se que nesse caso as sobretensões possuem uma caracterı́stica oscilatória,


que é lentamente amortecida. Essa oscilação depende do comprimento do vão e,
consequentemente, do tempo de propagação até as torres adjacentes. Como se trata
de uma descarga no meio do vão de 300 m, as sobretensões são afetadas pelas
reflexões nas torres e aterramentos adjacentes a cada microssegundo.

28
Neste caso, as sobretensões começam a evoluir após o instante de 0,5 µs, que
corresponde ao tempo de chegada da frente de onda nas torres. A tabela 3.3 apre-
senta as amplitudes máximas das sobretensões tipo II obtidas para cada modelo da
corrente de descarga.

Tabela 3.3: Amplitudes máximas das sobretensões tipo II

Vmax (MV)
Forma de onda MSS MCS
A B C A B C
Duplo pico 0,6599 0,6443 0,6294 0,7336 0,7152 0,6974
Pico único 0,6426 0,6257 0,6099 0,6224 0,6061 0,5900
Dupla exponencial 1,0471 1,0287 1,0118 1,5252 1,4984 1,4738
Berger aproximado 0,7869 0,7695 0,7533 1,1462 1,1208 1,0972

Neste caso as sobretensões geradas pelas correntes pico único atingiram ampli-
tudes máximas menores, quando comparadas com aquelas geradas pelas correntes
duplo pico. Em relação às sobretensões obtidas com as correntes dupla exponencial
e Berger aproximado, mesmo com as atenuações, em função da diminuição do tempo
de chegada das ondas refletidas, elas demonstraram amplitudes máximas muito mai-
ores, quando comparadas à aquelas geradas pelas correntes duplo pico. Isso ainda
é justificado pelo fato dessas correntes possuı́rem tempos de frente de onda me-
nores. Portanto, as atenuações nas amplitudes máximas são menores. A taxa de
crescimento elevada dessas duas correntes também é responsável pelas elevadas am-
plitudes.

3.2.3 Sobretensões Tipo III


As figuras 3.12, 3.13 e 3.14 apresentam as sobretensões tipo III associadas às
três correntes de descarga (pico único, dupla exponencial e Berger aproximado,
respectivamente), comparadas com as sobretensões tipo III associadas às correntes
de descarga duplo pico do MSS e MCS. Essas sobretensões são resultantes entre o
cabo pararraios e os cabos de fase no meio do vão, para descarga atingindo o cabo
pararraios no meio do vão. As letras A, B e C se referem às fases A, B e C.

29
6 6
pico único A pico único A
4 B 4 B
C C
Tensão (MV)

Tensão (MV)
2 2

0 0

-2 -2
duplo pico
duplo pico
-4 -4
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.12: Sobretensões tipo III, para correntes duplo pico e pico único.

10 15
dupla exponencial A A
dupla exponencial
B 10 B
5
C duplo pico C
Tensão (MV)

Tensão (MV)

5
0
0

-5
duplo pico -5

-10 -10
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.13: Sobretensões tipo III, para correntes duplo pico e dupla exponencial.

6 10
Berger aproximado A Berger aproximado A
8
4 B B
C 6 duplo pico C
Tensão (MV)

Tensão (MV)

2 4

0 2

0
-2
duplo pico -2

-4 -4
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.14: Sobretensões tipo III, para correntes duplo pico e Berger aproximado.

As sobretensões tipo III atingiram amplitudes bem maiores do que as sobre-


tensões tipo I e II. Isso é justificado pela impedância caracterı́stica vista do ponto
de incidência da descarga (meio do vão), que é maior que nos outros casos. Quanto
maior for a distância do ponto de incidência da descarga em relação às torres, maior
é a sobretensão vista desse ponto.

30
Neste caso, o efeito das reflexões nas torres e aterramentos adjacentes são sentidas
após 1 µs, que corresponde a duas vezes o tempo de propagação das ondas do meio
do vão até as torres adjacentes. A tabela 3.4 mostra as amplitudes das sobretensões
tipo III para cada modelo da corrente de descarga.

Tabela 3.4: Amplitudes máximas das sobretensões tipo III

Vmax (MV)
Forma de onda MSS MCS
A B C A B C
Duplo pico 3,3112 3,2304 3,1394 3,3804 3,2897 3,1984
Pico único 4,3473 4,2278 4,1084 4,1577 4,0445 3,9311
Dupla exponencial 6,9872 6,7995 6,6059 10,1870 9,9042 9,6221
Berger aproximado 4,2126 4,1008 3,9879 6,1361 5,9732 5,8087

Há discrepâncias bem elevadas entre as amplitudes das sobretensões geradas


pelas correntes pico único, dupla exponencial e Berger aproximado, com relação
àquelas geradas pelas correntes duplo pico.

3.2.4 Sobretensões Tipo IV


As figuras 3.15, 3.16 e 3.17 mostram as comparações das sobretensões tipo IV
associadas às três correntes de descarga (pico único, duplo pico e Berger aproximado,
respectivamente), com as sobretensões associadas às correntes de descarga duplo pico
do MSS e MCS. Essas sobretensões são resultantes na resistência de aterramento,
para a descarga atingindo o topo da torre.

1.0 1.2

0.8 1.0

0.8
0.6
Tensão (MV)

Tensão (MV)

0.6
0.4
0.4
0.2
duplo pico 0.2 duplo pico
0.0 pico único 0.0 pico único

-0.2 -0.2
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.15: Sobretensões tipo IV, para correntes duplo pico e pico único.

31
1.0 1.4
1.2
0.8
1.0
0.6
Tensão (MV)

Tensão (MV)
0.8
0.4 0.6
0.4
0.2
duplo pico 0.2 duplo pico
0.0 dupla exponencial dupla exponencial
0.0
-0.2 -0.2
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.16: Sobretensões tipo IV, para correntes duplo pico e dupla exponencial.

1.0 1.4
1.2
0.8
1.0
0.6
Tensão (MV)

Tensão (MV)

0.8
0.4 0.6
0.4
0.2
duplo pico 0.2 duplo pico
0.0 Berger aproximado Berger aproximado
0.0
-0.2 -0.2
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.17: Sobretensões tipo IV, para correntes duplo pico e Berger aproximado.

Observa-se que as sobretensões tipo IV possuem caracterı́sticas semelhantes


àquelas verificadas nas sobretensões tipo I. Além disso, apresentam amplitudes
máximas bastantes elevadas, o que mostra a forte contribuição da resistência de
aterramento nas sobretensões desenvolvidas nas cadeias de isoladores. A tabela 3.5
mostra as amplitudes máximas dessas sobretensões, de acordo com o modelo da
corrente de descarga.

Tabela 3.5: Amplitudes máximas das sobretensões tipo IV

Vmax (MV)
Forma de onda
MSS MCS
Duplo pico 0,6916 0,9777
Pico único 0,7821 1,0722
Dupla exponencial 0,8640 1,2585
Berger aproximado 0,9003 1,3114

32
3.2.5 Sobretensões Tipo V
As figuras 3.18, 3.19 e 3.20 mostram as comparações das sobretensões tipo V
associadas às três correntes de descarga (pico único, duplo pico e Berger aproximado,
respectivamente), com as sobretensões associadas às correntes de descarga duplo pico
do MSS e MCS. Essas sobretensões foram medidas na resistência de aterramento,
para a descarga atingindo o cabo pararraios no meio do vão.

0.6 0.8

0.6
0.4
Tensão (MV)

Tensão (MV)
0.4
0.2
0.2

0.0 duplo pico duplo pico


0.0
pico único pico único

-0.2 -0.2
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.18: Sobretensões tipo V, para correntes duplo pico e pico único.

1.0 1.5

0.8
1.0
0.6
Tensão (MV)

Tensão (MV)

0.4 0.5

0.2
duplo pico 0.0 duplo pico
0.0 dupla exponencial dupla exponencial

-0.2 -0.5
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.19: Sobretensões tipo V, para correntes duplo pico e dupla exponencial.

33
0.8 1.2

1.0
0.6
0.8
Tensão (MV)

Tensão (MV)
0.4 0.6

0.2 0.4

duplo pico 0.2 duplo pico


0.0
Berger aproximado 0.0 Berger aproximado

-0.2 -0.2
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.20: Sobretensões tipo V, para correntes duplo pico e Berger aproximado.

Neste caso, também as sobretensões atingiram amplitudes elevadas. A tabela


3.6 apresenta as amplitudes máximas dessas sobretensões, de acordo com o modelo
da corrente de descarga.

Tabela 3.6: Amplitudes máximas das sobretensões tipo V

Vmax (MV)
Forma de onda
MSS MCS
Duplo pico 0,5591 0,7272
Pico único 0,5384 0,6993
Dupla exponencial 0,7937 1,1561
Berger aproximado 0,6796 0,9898

3.2.6 Taxa de Crescimento das Sobretensões Tipo I


As figuras 3.21, 3.22 e 3.23 mostram as derivadas em relação ao tempo das
sobretensões tipo I obtidas na Subseção 3.2.1.

34
A B C A B C A B C A B C
1.5 1.0
pico único pico único
0.8
duplo pico
1.0 duplo pico 0.6
dv/dt (MV/µs)

dv/dt (MV/µs)
0.4
0.5 0.2
0.0
0.0
-0.2
-0.4
-0.5
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.21: Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo I, para correntes
duplo pico e pico único.

A B C A B C A B C A B C
8 15

6 dupla exponencial dupla exponencial


duplo pico 10
4 duplo pico
dv/dt (MV/µs)

dv/dt (MV/µs)

2 5

0
0
-2

-4 -5
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.22: Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo I, para correntes
duplo pico e dupla exponencial.

A B C A B C A B C A B C
2 4
Berger aproximado
Berger aproximado
1 duplo pico 2 duplo pico
dv/dt (MV/µs)

dv/dt (MV/µs)

0
0
-1

-2
-2

-3 -4
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.23: Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo I, para correntes
duplo pico e Berger aproximado.

35
Quanto mais rápido for o crescimento da corrente de descarga, mais rápido será o
crescimento da sobretensão. Portanto, a maior taxa de crescimento na frente de onda
de cada sobretensão ocorre próximo ao instante onde há um máximo crescimento
da corrente de descarga.
Na figura 3.23 observa-se que após o instante de tempo de 2 µs, ocorre um decres-
cimento muito elevado nas sobretensões associadas às correntes Berger aproximado.
Isso acontece em função da descontinuidade na derivada dessas correntes, nesse ins-
tante. Na tabela 3.7 são apresentadas as taxas de crescimento máximas nas frentes
de onda das sobretensões tipo I associadas a cada corrente de descarga.

Tabela 3.7: Taxas de crescimento máximas (dv/dtmax ) nas frentes de onda das
sobretensões tipo I

dv/dtmax (MV/µs)
Forma de onda MSS MCS
A B C A B C
Duplo pico 0,8965 0,8877 0,8763 0,5632 0,5555 0,5471
Pico único 0,7277 0,7244 0,7248 0,5122 0,5103 0,5074
Dupla exponencial 7,4323 6,4880 5,8662 10,826 9,4504 8,5447
Berger aproximado 1,3693 1,4148 1,4568 1,9944 2,0608 2,1220

As taxas de crescimento máximas nas frentes de onda das sobretensões asso-


ciadas às correntes dupla exponencial e Berger aproximado foram maiores do que
aquelas associadas às correntes duplo pico. Já para as correntes pico único elas
foram menores.

3.2.7 Taxa de Crescimento das Sobretensões Tipo II


As figuras 3.24, 3.25 e 3.26 mostram as derivadas em relação ao tempo das
sobretensões tipo II obtidas na Subseção 3.2.2.

36
A B C A B C
A B C A B C
2
1.5
duplo pico duplo pico
1.0
1
dv/dt (MV/µs)

dv/dt (MV/µs)
0.5

0 0.0

-0.5
-1
-1.0
pico único pico único
-2 -1.5
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.24: Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo II, para correntes
duplo pico e pico único.

A B C A B C A B C A B C
8 10
dupla exponencial dupla exponencial
6
duplo pico 5 duplo pico
4
dv/dt (MV/µs)

dv/dt (MV/µs)

2
0
0

-2
-5
-4

-6 -10
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.25: Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo II, para correntes
duplo pico e dupla exponencial.

A B C A B C A B C A B C
3 4
Berger aproximado
Berger aproximado
2
duplo pico duplo pico
2
1
dv/dt (MV/µs)

dv/dt (MV/µs)

0 0

-1
-2
-2

-3 -4
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.26: Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo II, para correntes
duplo pico e Berger aproximado.

37
Neste caso, as sobretensões começam a crescer após 0,5 µs aproximadamente,
que é o tempo em que as frentes de onda levam para percorrer a distância do ponto
de incidência (meio do vão) até chegarem às torres. Portanto, há um retardo no
instante em que ocorre a taxa de crescimento máxima na frente de onda de cada
sobretensão.
A tabela 3.8 mostra as taxas de crescimento máximas nas frentes de onda das
sobretensões tipo II. Com as correntes dupla exponencial atingiu-se taxas de cresci-
mento bem maiores, comparadas com aquelas obtidas com as correntes duplo pico.
Para correntes Berger aproximado, foram menores para MSS e maiores para MCS.
Já com as correntes pico único foram menores, tanto para MSS como para MCS.

Tabela 3.8: Taxas de crescimento máximas (dv/dtmax ) nas frentes de onda das
sobretensões tipo II

dv/dtmax (MV/µs)
Forma de onda MSS MCS
A B C A B C
Duplo pico 1,1656 1,1403 1,1154 0,7071 0,6903 0,6743
Pico único 0,9592 0,9401 0,9239 0,6988 0,6837 0,6704
Dupla exponencial 6,0032 5,6458 5,2828 8,7443 8,2237 7,6948
Berger aproximado 0,9917 0,9600 0,9345 1,4444 1,3984 1,3612

3.2.8 Taxa de Crescimento das Sobretensões Tipo III


As figuras 3.27, 3.28 e 3.29 mostram as derivadas em relação ao tempo das
sobretensões tipo III obtidas na Subseção 3.2.3.

A B C A B C A B C A B C
15 10
pico único pico único
10 duplo pico duplo pico
5
dv/dt (MV/µs)

dv/dt (MV/µs)

0 0

-5
-5
-10

-15 -10
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.27: Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo III, para
correntes duplo pico e pico único.

38
A B C A B C A B C A B C
30 40
dupla exponencial dupla exponencial
20 duplo pico
duplo pico
20
dv/dt (MV/µs)

dv/dt (MV/µs)
10

0 0

-10
-20
-20

-30 -40
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.28: Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo III, para
correntes duplo pico e dupla exponencial.

A B C A B C A B C A B C
15 15
Berger aproximado Berger aproximado
10 duplo pico 10 duplo pico
dv/dt (MV/µs)

dv/dt (MV/µs)

5 5

0 0

-5 -5

-10 -10

-15 -15
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.29: Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo III, para
correntes duplo pico e Berger aproximado.

Neste tipo de sobretensão verifica-se um aumento extremamente elevado nas ta-


xas de crescimento. Conforme mostrado na tabela 3.9, para as correntes de descarga
dupla exponencial verificam-se taxas de crescimento muito maiores, quando compa-
radas com aquelas obtidas com as correntes duplo pico. Para as correntes Berger
aproximado, foram menores para MSS e maiores para MCS. Em relação às correntes
pico único, foram menores para MSS e maiores para MCS.

39
Tabela 3.9: Taxas de crescimento máximas (dv/dtmax ) nas frentes de onda das
sobretensões tipo III

dv/dtmax (MV/µs)
Forma de onda MSS MCS
A B C A B C
Duplo pico 5,3563 5,2057 5,0560 3,6571 3,5550 3,4533
Pico único 5,1064 4,9637 4,8216 4,7120 4,5812 4,4507
Dupla exponencial 18,450 18,307 17,774 25,450 26,666 25,890
Berger aproximado 3,6360 3,5387 3,4404 5,2962 5,1545 5,0113

3.2.9 Taxa de Crescimento das Sobretensões Tipo IV


As figuras 3.30, 3.31 e 3.32 mostram as derivadas em relação ao tempo das
sobretensões tipo IV obtidas na Subseção 3.2.4.

0.8 0.8

0.6 duplo pico 0.6 duplo pico


pico único pico único
dv/dt (MV/µs)

dv/dt (MV/µs)

0.4 0.4

0.2 0.2

0.0 0.0

-0.2 -0.2

-0.4 -0.4
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.30: Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo IV, para
correntes duplo pico e pico único.

3 4

duplo pico duplo pico


3
2 dupla exponencial dupla exponencial
dv/dt (MV/µs)

dv/dt (MV/µs)

2
1
1

0
0

-1 -1
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.31: Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo IV, para
correntes duplo pico e dupla exponencial.

40
1.5 1.5
duplo pico duplo pico
1.0 Berger aproximado 1.0 Berger aproximado
dv/dt (MV/µs)

dv/dt (MV/µs)
0.5 0.5

0.0 0.0

-0.5 -0.5

-1.0 -1.0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.32: Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo IV, para
correntes duplo pico e Berger aproximado.

A tabela 3.10 apresenta as taxas de crescimento máximas nas frentes de onda das
sobretensões tipo IV. Neste caso verifica-se que tanto as correntes dupla exponencial
quanto Berger aproximado geraram sobretensões com taxas de crescimento maiores
que aquelas obtidas com as correntes duplo pico. Já no caso das correntes pico único
foram menores, para MSS e MCS.

Tabela 3.10: Taxas de crescimento máximas (dv/dtmax ) nas frentes de onda das
sobretensões tipo IV

dv/dtmax (MV/µs)
Forma de onda
MSS MCS
Duplo pico 0,7240 0,5497
Pico único 0,5924 0,5444
Dupla exponencial 2,6854 3,9115
Berger aproximado 1,0056 1,4648

3.2.10 Taxa de Crescimento das Sobretensões Tipo V


As figuras 3.33, 3.34 e 3.35 mostram as derivadas em relação ao tempo das
sobretensões tipo V obtidas na Subseção 3.2.5.

41
1.0 1.0

duplo pico duplo pico


0.5 pico único 0.5 pico único
dv/dt (MV/µs)

dv/dt (MV/µs)
0.0 0.0

-0.5 -0.5

-1.0 -1.0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.33: Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo V, para correntes
duplo pico e pico único.

3 4

duplo pico 3 duplo pico


2
dupla exponencial dupla exponencial
2
dv/dt (MV/µs)

dv/dt (MV/µs)

1
1
0
0

-1
-1

-2 -2
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.34: Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo V, para correntes
duplo pico e dupla exponencial.

1.0 1.5
duplo pico
Taxa de variação (MV/µs)

duplo pico
Berger aproximado 1.0
0.5 Berger aproximado
dv/dt (MV/µs)

0.5
0.0
0.0

-0.5
-0.5

-1.0 -1.0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Tempo (µs) Tempo (µs)

(a) MSS (b) MCS

Figura 3.35: Derivada em relação ao tempo das sobretensões tipo V, para correntes
duplo pico e Berger aproximado.

A tabela 3.11 apresenta os valores das taxas de crescimento máximas nas frentes
de onda das sobretensões tipo V. Neste caso as correntes pico único geraram sobre-

42
tensões com taxas de crescimento menores para MSS e maiores para MCS, quando
comparadas com aquelas obtidas com as correntes duplo pico. Já para as correntes
dupla exponencial e Berger aproximado foram maiores, tanto para MSS quanto para
MCS.

Tabela 3.11: Taxas de crescimento máximas (dv/dtmax ) nas frentes de onda das
sobretensões tipo V

dv/dtmax (MV/µs)
Forma de onda
MSS MCS
Duplo pico 0,6803 0,5005
Pico único 0,5790 0,5349
Dupla exponencial 2,1754 3,1686
Berger aproximado 0,6715 0,9781

3.3 Discussão
Apesar das correntes pico único, dupla exponencial e Berger aproximado ado-
tadas neste trabalho possuı́rem as mesmas amplitudes que as correntes duplo pico,
elas apresentam tempos de frente de onda, tempos de decaimento e taxas de cresci-
mento máximas diferentes. Além disso, o perfil da frente de onda de cada uma delas
é diferente. Consequentemente, foram obtidas sobretensões com diferentes perfis,
amplitudes e taxas de crescimento. O perfil de cada sobretensão está intimamente
relacionado ao perfil da corrente de descarga, sobretudo na frente de onda.
As sobretensões associadas às correntes dupla exponencial e Berger aproximado
mostraram ser bem superiores àquelas associadas às correntes duplo pico, o que
é justificado pelas rápidas frentes de onda e pelas elevadas taxas de crescimento.
Para o caso das correntes pico único, somente as sobretensões tipo I, III e IV foram
superiores. Já as sobretensões tipo II e V foram menores.
Diferentes taxas de crescimento máximas nas frentes de onda das sobretensões
foram observadas, sendo que, as mais elevadas estão relacionadas às correntes dupla
exponencial e Berger aproximado. Quanto mais rápido for o crescimento da corrente
de descarga, mais rápido é o crescimento da sobretensão e consequentemente maiores
amplitudes são obtidas.
Resultados mostram que as sobretensões relacionadas à fase inferior (fase A) são
maiores que aquelas relacionadas às fases superiores (fases B e C). Isso é justificado
pelo acoplamento eletromagnético entre a fase inferior e o cabo pararraios, que é
menor que nos outros dois casos, para esse sistema de transmissão.
As distorções causadas pelas reflexões nas torres e aterramentos adjacentes foram
verificadas em todas as sobretensões analisadas. Essas reflexões são responsáveis

43
pela redução das amplitudes das sobretensões. Isso acontece quando a impedância de
aterramento é menor que a impedância caracterı́stica da torre, ocasionando reflexões
negativas no sistema. Portanto, é importante a consideração das torres adjacentes
na modelagem do sistema.
Em todos os casos analisados, as amplitudes máximas das sobretensões associ-
adas às correntes duplo pico ocorrem antes dessas correntes atingirem o segundo
pico. Portanto, o segundo pico não contribui para as amplitudes máximas das so-
bretensões.

44
Capı́tulo 4

Conclusões

4.1 Conclusões Gerais


Este trabalho mostrou os impactos do uso de algumas formas de onda simplifi-
cadas, para representar a primeira corrente de descarga descendente negativa, nos
estudos de sobretensões em uma linha de transmissão de 138 kV, causadas pela in-
cidência direta na torre e no cabo pararraios no meio do vão. Para tal, os resultados
dessas sobretensões foram comparados com aqueles relacionados às formas de onda
realı́sticas da corrente de descarga, chamadas de duplo pico.
Para esse estudo, empregou-se um modelo de linha de transmissão variável com a
frequência (JMarti), pelo fato da descarga atmosférica ser um fenômeno que envolve
uma variedade de frequências. Para se ter uma análise mais detalhada das tensões
medidas nos isoladores, as torres foram modeladas por linhas de parâmetros dis-
tribuı́dos sem perdas, representando cada tronco e braço. O sistema de aterramento
foi modelado de uma forma simplificada através de uma resistência elétrica.
As formas de onda duplo pico incluem todos os parâmetros médios das primei-
ras correntes de descargas descendentes negativas, obtidas a partir de medições nas
estações MSS e MCS, e portanto compreendem todas as caracterı́sticas presentes
em tais correntes de descarga, como a concavidade na frente de onda, o crescimento
acentuado em torno da metade do pico e o segundo pico. As formas de onda sim-
plificadas não incluem o segundo pico da corrente, além disso, apresentam tempos
de frente de onda relativamente menores, taxas de crescimento máximas diferentes
e ainda perfis de frente de onda diferentes.
Para incidência da descarga na torre de transmissão foram analisadas apenas as
sobretensões desenvolvidas nas cadeias de isoladores (tipo I) e para incidência no
cabo pararraios no meio do vão foram analisadas tanto as sobretensões desenvolvi-
das nas cadeias de isoladores (tipo II) como as sobretensões desenvolvidas entre o
cabo pararraios e os cabos de fase no meio do vão (tipo III). Essas três sobretensões

45
são responsáveis pela ocorrência de backflashover em linhas de transmissão. Por-
tanto, uma boa acurácia nos resultados é necessária. Também foram analisados o
comportamento das sobretensões na impedância de aterramento das torres (tipo IV
e V), para os dois locais de incidência da descarga.
O perfil da frente de onda de cada sobretensão segue rigorosamente o perfil da
frente de onda da corrente de descarga. Logo, a forma de onda da sobretensão está
intimamente relacionada à forma de onda da corrente de descarga. Os parâmetros
que mais influenciaram as amplitudes das sobretensões foram o tempo de frente de
onda e a taxa de crescimento da corrente de descarga.
Os resultados indicam uma superestimação das amplitudes máximas das sobre-
tensões quando se usa as formas de onda dupla exponencial e Berger aproximado.
No entanto, o uso da forma de onda pico único, mostrou tanto superestimação (na
sobretensão tipo III) quanto subestimação (na sobretensão tipo II). Sobretensões
superestimadas fazem com que a linha de transmissão seja projetada com um nı́vel
maior de suportabilidade de isolamento. No entanto, quanto maior o nı́vel de su-
portabilidade da linha, maior será o seu custo. Portanto, do ponto de vista de
desempenho da linha de transmissão, o uso das formas de onda dupla exponencial
e Berger aproximado é melhor, mas do ponto de vista do custo, o uso da forma de
onda real (duplo pico) é mais adequada. No caso de valores de sobretensões subesti-
mados, como consequência, a linha será projetada com uma suportabilidade abaixo
do que deveria ter, o que aumentaria a probabilidade de ocorrência de ruptura de
isolamento, em função da incidência de descargas atmosféricas na linha.
Embora o segundo pico do duplo pico seja maior do que o primeiro pico, a sua
presença não influência a amplitude máxima das sobretensões. Portanto, a omissão
do segundo pico na modelagem da corrente de descarga nos estudos de desempenho
de linhas de transmissão não traz prejuı́zos para a suportabilidade de isolamento.
Diante dessas diferenças obtidas e levando em consideração a enorme de-
pendência da forma de onda da corrente de descarga na suportabilidade de iso-
lamento da linha, acredita-se que o uso de uma forma de onda mais elaborada pode
representar com maior precisão a primeira corrente de descarga descendente nega-
tiva.
Deve-se levar em consideração a limitação do modelo do sistema utilizado, dado
que o sistema de aterramento foi representado de uma forma simplificada através de
uma resistência elétrica. Portanto, não foi considerada a variação dos parâmetros
do solo (resistividade e permissividade elétrica) com a frequência. Além disso, o
modelo de linha utilizado (JMarti) considera que os condutores estão a uma altura
média, portanto, não leva em conta a catenária.

46
4.2 Trabalhos Futuros
Do ponto de vista da modelagem do sistema e do local da incidência da descarga,
aqui se destacam algumas sugestões de trabalhos futuros:

• Avaliar as sobretensões induzidas por descargas atmosféricas próximas a linha


(incidência indireta).

• Incluir um modelo do solo com parâmetros variáveis com a frequência.

• Avaliar as sobretensões para diferentes configurações do solo.

• Avaliar as sobretensões para diferentes configurações do sistema de aterra-


mento (variar o comprimento dos cabos contrapesos).

47
Referências Bibliográficas

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mosféricas: Influência do Efeito Corona na Ruptura a Meio do Vão. Dis-
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Transmissão - Modelagens nos Domı́nios do Tempo e da Frequência. Tese
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Analysis of Lightning Current Parameters: Measurements at Morro do
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[8] SALARI, J. C., PORTELA, C. “A Methodology for Electromagnetic Transients


Calculation - An Application for the Calculation of Lightning Propagation
in Transmission Lines”, IEEE Transactions on Power Delivery, v. 22, n. 1,
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48
[9] SILVEIRA, F. H., CONTI, A. D., VISACRO, S. “Effect of a Realistic Lightning
Current Wave Representation for Evaluations of Overvoltages in Electrical
Systems: Direct Strikes and Induced Voltages”. In: Proceedings of the X
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[11] TOMASEVICH, M. M. Y. Modelos de Linhas de Transmissão Usando Repre-


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[13] PINHEIRO, F. E. C. Estudo Teórico e Computacional do Desempenho de


Linhas de Transmissão de Alta Tensão na Presença de Descargas At-
mosféricas. Dissertação de M.Sc., UFMA, São Luı́s, MA, Brasil, 2008.

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Lightning-Surge Analysis”, IEE Proceedings-Gener. Transm. and Distrib.,
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[17] ANDERSON, J. G., HAGENGUTH, J. H. “Magnetic Fields Around a Trans-


mission Line Tower”, AIEE Transactions on Power Apparatus and Sys-
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[18] BORGHETTI, A., MORCHED, A., NAPOLITANO, F., et al. “Lightning-


Induced Overvoltages Transferred Through Distribution Power Transfor-
mers”, IEEE Transactions on Electromagnetic Compatibility, v. 24, n. 1,
pp. 360–372, jan. 2009.

49
[19] BERGER, K., ANDERSON, R. B., KRONINGER, H. “Parameters of Light-
ning Flashes”, Electra, , n. 41, pp. 23–37, jun. 1975.

50
Apêndice A

Modelo Modal Variante na


Frequência

As equações diferenciais que definem uma linha de transmissão trifásica no


domı́nio da frequência e em coordenadas de fase são:

∂2
V̄abc (x, s) = Zabc (s)Yabc (s)V̄abc (x, s) (A.1)
∂x2

∂2 ¯
Iabc (x, s) = Yabc (s)Zabc (s)I¯abc (x, s) (A.2)
∂x2
sendo,
V̄abc (x, s): vetor de tensões em coordenadas de fase
I¯abc (x, s): vetor de correntes em coordenadas de fase
Zabc (s): matriz de impedância série em coordenadas de fase
Yabc (s): matriz de admitância shunt em coordenadas de fase
Para passar de coordenadas de fase para coordenadas modais usam-se matrizes de
transformações modais de tensão e corrente, TV (s) e TI (s), respectivamente. Essas
matrizes são definidas de forma a diagonalizar as equações diferenciais A.1 e A.2.
Assim, cada modo pode ser estudado separadamente como um circuito monofásico.
Para simplificar o cálculo, essas matrizes são calculadas com uma frequência média.

V̄abc (x, s) = TV (s)V̄012 (x, s) (A.3)

I¯abc (x, s) = TI (s)I¯012 (x, s) (A.4)

Z012 (s) = TV (s)−1 Zabc (s)TI (s) (A.5)

51
Y012 (s) = TV (s)−1 Yabc (s)TI (s) (A.6)

A partir das equações A.1, A.2, A.3, A.4, A.5 e A.6 e fazendo-se algumas mani-
pulações algébricas, resulta nas seguintes equações diferenciais definidas em coorde-
nadas modais:

∂2
V̄012 (x, s) = Z012 (s)Y012 (s)V̄012 (x, s) (A.7)
∂x2

∂2 ¯
I012 (x, s) = Y012 (s)Z012 (s)I¯012 (x, s) (A.8)
∂x2
onde,
V̄012 (x, s): vetor de tensões em coordenadas modais
I¯012 (x, s): vetor de correntes em coordenadas modais
Z012 (s): matriz de impedância série em coordenadas modais
Y012 (s): matriz de admitância shunt em coordenadas modais
Uma solução para A.7 pode ser dada por:

Vk (x, s) = e−γk (s)x Vk+ (0, s) + eγk (s)x Vk− (0, s) (A.9)

Analogamente para A.8 tem-se:

Ik (x, s) = e−γk (s)x Ik+ (0, s) + eγk (s)x Ik− (0, s) (A.10)

onde,
k: corresponde aos modos 0, 1 e 2. Caso a linha possua n condutores serão n
modos.
p
γk (s): constante de propagação de cada modo k, definida por Zk (s)Yk (s), sendo
Zk (s) e Yk (s) os elementos das matrizes modais da impedância série e admitância
shunt, respectivamente.
Vk+ (0, s) e Vk− (0, s): componente progressiva e regressiva de tensão de cada modo
k em x = 0, respectivamente.
Ik+ (0, s) e Ik− (0, s): componente progressiva e regressiva de corrente de cada modo
k em x = 0, respectivamente.

52
Apêndice B

Códigos para Gerar as Formas de


Onda Duplo Pico, Pico Único e
Berger Aproximado no
EMTP/ATP

Neste apêndice são apresentados os códigos implementados nos blocos MODELS


para gerar as correntes duplo pico, pico único e Berger aproximado, tanto para o caso
MSS quanto para MCS. O MODELS é uma linguagem que permite a representação
e estudo de sistemas variantes no tempo.

53
Duplo Pico: Caso MSS

MODEL DP MSS
OUTPUT Itotal
VAR Itotal,I0[1..7],n[1..7],t1[1..7],t2[1..7],Eta[1..7],I[1..7],k
INIT
I0[1..7]:=[3,4.5,3,3.8,13.6,11,5.7]1E3
n[1..7]:=[2,3,5,7,44,2,15]
t1[1..7]:=[3,3.5,5.2,6,6.6,100,11.7]*1E-6
t2[1..7]:=[76,25,20,60,60,600,48.5]*1E-6
ENDINIT
EXEC
k:=1
WHILE k<=7 DO
Eta[k]:=exp(-(t1[k]/t2[k])*(n[k]*t2[k]/t1[k])**(1/n[k]))
I[k]:=(I0[k]/Eta[k])*((t/t1[k])**n[k])*exp(-t/t2[k])/(1+(t/t1[k])**n[k])
k:=k+1
ENDWHILE
Itotal:=I[1]+I[2]+I[3]+I[4]+I[5]+I[6]+I[7]
ENDEXEC
ENDMODEL

54
Duplo Pico: Caso MCS

MODEL DP MCS
OUTPUT Itotal
VAR Itotal, I0[1..7],n[1..7],t1[1..7],t2[1..7],Eta[1..7],I[1..7],k
INIT
I0[1..7]:=[6,5,5,8,16.5,17,12]*1E3
n[1..7]:=[2,3,5,9,30,2,14]
t1[1..7]:=[3,3.5,4.8,6,7,70,12]*1E-6
t2[1..7]:=[76,10,30,26,23.2,200,26]*1E-6
ENDINIT
EXEC
k:=1
WHILE k<=7 DO
Eta[k]:=exp(-(t1[k]/t2[k])*(n[k]*t2[k]/t1[k])**(1/n[k]))
I[k]:=(I0[k]/Eta[k])*((t/t1[k])**n[k])*exp(-t/t2[k])/(1+(t/t1[k])**n[k])
k:=k+1
ENDWHILE
Itotal:=I[1]+I[2]+I[3]+I[4]+I[5]+I[6]+I[7]
ENDEXEC
ENDMODEL

55
Pico Único: Caso MSS
MODEL PU MSS
OUTPUT Itotal
VAR Itotal,I0[1..2],n[1..2],t1[1..2],t2[1..2],Eta[1..2],I[1..2],k
INIT
I0[1..2]:=[28,16.8]*1E3
n[1..2]:=[2,2]
t1[1..2]:=[1.2,15]*1E-6
t2[1..2]:=[15,1700]*1E-6
ENDINIT
EXEC
k:=1
WHILE k<=2 DO
Eta[k]:=exp(-(t1[k]/t2[k])*(n[k]*t2[k]/t1[k])**(1/n[k]))
I[k]:=(I0[k]/Eta[k])*((t/t1[k])**n[k])*exp(-t/t2[k])/(1+(t/t1[k])**n[k])
k:=k+1
ENDWHILE
Itotal:=I[1]+I[2]
ENDEXEC
ENDMODEL

56
Pico Único: Caso MCS
MODEL PU MCS
OUTPUT Itotal
VAR Itotal,I0[1..2],n[1..2],t1[1..2],t2[1..2],Eta[1..2],I[1..2],k
INIT
I0[1..2]:=[25.5,19]*1E3
n[1..2]:=[2.1,3.5]
t1[1..2]:=[1.3,2.2]*1E-6
t2[1..2]:=[25,1000]*1E-6
ENDINIT
EXEC
k:=1
WHILE k<=2 DO
Eta[k]:=exp(-(t1[k]/t2[k])*(n[k]*t2[k]/t1[k])**(1/n[k]))
I[k]:=(I0[k]/Eta[k])*((t/t1[k])**n[k])*exp(-t/t2[k])/(1+(t/t1[k])**n[k])
k:=k+1
ENDWHILE
Itotal:=I[1]+I[2]
ENDEXEC
ENDMODEL

57
Berger Aproximado: Caso MSS
Expressão 1

MODEL BERGER MSS EXP1


OUTPUT I
VAR I,I0,alf,tf
INIT
I0:=31100
alf:=2
tf:=2E-6
ENDINIT
EXEC
I:=I0*((exp(alf*t/tf)-1)/(exp(alf)-1))
ENDEXEC
ENDMODEL

Expressão 2

MODEL BERGER MSS EXP2


OUTPUT I
VAR I
EXEC
I:=31100
ENDEXEC
ENDMODEL

58
Expressão 3

MODEL BERGER MSS EXP3


OUTPUT I
VAR I,I0,t1,t2,a,b
INIT
I0:=31100
t1:=20E-6
t2:=100E-6
ENDINIT
EXEC
a:=I0/(t1-t2)
b:=-a*t2
I:=a*t+b
ENDEXEC
ENDMODEL

Berger Aproximado: Caso MCS


Expressão 1

MODEL BERGER MCS EXP1


OUTPUT I
VAR I,I0,alf,tf
INIT
I0:=45300
alf:=2
tf:=2E-6
ENDINIT
EXEC
I:=I0*((exp(alf*t/tf)-1)/(exp(alf)-1))
ENDEXEC
ENDMODEL

59
Expressão 2

MODEL BERGER MCS EXP2


OUTPUT I
VAR I
EXEC
I:=45300
ENDEXEC
ENDMODEL

Expressão 3

MODEL BERGER MCS EXP3


OUTPUT I
VAR I,I0,t1,t2,a,b
INIT
I0:=45300
t1:=20E-6
t2:=100E-6
ENDINIT
EXEC
a:=I0/(t1-t2)
b:=-a*t2
I:=a*t+b
ENDEXEC
ENDMODEL

60
Apêndice C

Cálculo das Derivadas da Corrente


de Descarga e das Sobretensões no
EMTP/ATP

Neste apêndice são apresentados os esquemas montados no EMTP/ATP para


calcular as derivadas das formas de onda da corrente de descarga e das sobretensões.
As derivadas foram calculadas utilizando a componente DEVICE59 do módulo
TACS (Transient Analysis of Control Systems). Para efetuar esses cálculos, é ne-
cessário primeiro transformar as grandezas EMTP (tensões e correntes, no caso)
para grandezas TACS, que é feito através da componente EMTP OUT. Isto por-
que o EMTP/ATP não permite conectar diretamente grandezas de potência com
grandezas de controle (TACS).
As figuras C.1 e C.2 apresentam os modelos do sistema de transmissão para
incidência na torre e incidência no cabo pararraios no meio do vão, respectivamente,
onde foi adicionada uma rotina TACS para calcular as derivadas da corrente de
descarga e das sobretensões. O modelo da corrente de descarga que se encontra
nas figuras corresponde ao duplo pico ou pico único. Para os outros casos, basta
substituir esse o modelo para o modelo que se queira analisar.

61
T
du

T
MODEL F G
dt
heidler
59

I
cálculo da derivada
da
corrente de descarga

3 km 300 m 300 m 3 km

LCC LCC LCC LCC

T T

+ Vf - + Vf - + Vf -
+
-
v

- Vf + - Vf + ISOLC - Vf +

T T
v
+
-

T T
+ Vf - + Vf - + Vf -

ISOLB V
+
-
v

T
ISOLA

cálculo das derivadas das sobretensões

T
du
F G
dt ISOLC
59

T T
resistência
du ISOLB du de
F G
dt F G
dt
aterramento
59 59

F G
du ISOLA
dt
59

Figura C.1: Modelo do sistema para incidência na torre, com a rotina TACS para
calcular as derivadas.

62
T
du

T
MODEL F G
dt
heidler
59

I
cálculo da derivada
da
corrente de descarga

+ + +
3 km 150 m v v v 150 m 3 km
- - -

LCC LCC LCC LCC

T T T

+ Vf - + Vf -
+
-
v

T T
- Vf + - Vf +
v
+
-

T T
+ Vf - + Vf -
+
-
v

V
T T
T

cálculo das derivadas das sobretensões

T T
du du
F G
dt ISOLC F G
dt MEIOC
59 59

T resistência
T T du
F G de
F G
du
ISOLB F G
du MEIOB dt
dt dt 59 aterramento
59 59

T T

F G
du
ISOLA F G
du MEIOA
dt dt
59 59

Figura C.2: Modelo do sistema para incidência no cabo pararraios no meio do vão,
com a rotina TACS para calcular as derivadas.

63

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