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Mariana Ribeiro - Medicina 1

CARDIOLOGIA
SOBRECARGAS
Desvio para a direita e/ou para a frente;
O aumento das câmaras cardíacas produz alterações no ECG.
Como na maioria das vezes esses crescimentos são Nos casos em que a onda P se desvia para a frente, ela é
determinados por aumentos da pré-carga (volume de sangue comumente pontiaguda nas derivações precordiais direitas
(V1 a V3).
que chega ao coração) ou da pós-carga (resistência à impulsão
do sangue), as modificações resultantes no ECG são
denominadas sobrecargas.

As sobrecargas de volume, como as insuficiências valvares,


acarretam dilatação das câmaras cardíacas e as sobrecargas de
pressão, como a hipertensão arterial e a estenose aórtica,
produzem hipertrofia do miocárdio. O padrão ouro para
dimensionar o aumento das cavidades e a espessura da parede
é o ecocardiograma.

A sobrecarga ou aumento de uma câmara pode acarretar no


ECG modificações diversas da onda P ou do complexo QRS:
aumento de amplitude, aumento de duração ou ainda desvio do
eixo elétrico.

Figura 2. Sobrecarga atrial direita


SOBRECARGAS ATRIAIS
A sobrecarga atrial direita pode ser observada nas seguintes
As doenças cardíacas que produzem crescimento atrial são patologias:
acompanhadas de alterações no ECG típicas da onda P.
Lesões valvares múltiplas com ou sem lesão tricúspide, com
hipertensão pulmonar;
Lesões tricúspides;
Miocardiopatia dilatada;
Cor pulmonale agudo e crônico.

Figura 1. Morfologia da onda P Sinais indiretos de SAD


Quando ocorre crescimento ou sobrecarga do átrio direito (AD),
São sinais de probabilidade de sobrecarga do AD evidenciados
o vetor médio do AD aumenta a amplitude, desloca-se mais para
pela análise do QRS, úteis para diagnóstico de SAD na presença
frente e para direita. Achados no ECG:
de fibrilação atrial.
Aumento da amplitude da onda P (maior que 2,5mm em DII
Sinal de Penaloza-Tranchesi: diminuição da voltagem do
e VI);
QRS de V1 em relação a V2 (menor que um terço) devido à
Onda P apiculada em muitas derivações (DII, DIII, a VF e VI);
interposição do AD aumentado.
Desvio do vetor médio de P para a direita (60 a 90 graus).
Ondas q em V1: como o AD aumentado se interpõe entre
A onda P tem orientação mais próxima de D2, poderão ser
os ventrículos e V1, nesta derivação registra-se a mesma
vistos: aumentos de amplitude ou duração.
morfologia qR que é obtida com eletrodo intracavitário em
Em V1 a onda P é geralmente difásica; o primeiro
AD.
componente, positivo, corresponde ao átrio direito, e o
segundo, negativo, ao átrio esquerdo. Assim, o aumento do
SOBRECARGA ATRIAL ESQUERDA (SAE)
componente positivo de V1 caracteriza a sobrecarga do
átrio direito (SAD), e o aumento da fase negativa, a Quando ocorre crescimento do AE, o seu vetor médio se dirige
sobrecarga do átrio esquerdo (SAE). mais para trás, para cima e para a esquerda, e isso levará aos
seguintes achados no ECG:
SOBRECARGA ATRIAL DIREITA (SAD)
Aumento da duração da onda P (> 0,10s);
Onda P com amplitude aumentada (>0,25mV); Presença de entalhes bem marcados, separados por mais
Morfologia: ondas altas e pintiagudas em algumas de 0,03s, principalmente em D1 e D2 (o entalhe evidencia
derivações;
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os dois componentes da onda P – AD inicial e AE final – deve Onda P mais apiculada e com duração maior, em torno de
ter um distanciamento mínimo de 1mm); 0,12s, em D2, D3 e aVF;
Desvio do eixo elétrico de P para a esquerda; Onda P bifásica em V1 com início apiculado positivo (>
Fase negativa da onda P em V1 > 0,03mm/s (índice de 1,5mm), com o componente final negativo com mesma
Morris). altura (> 0,04s) e profundidade de pelo menos 1mm;
O eixo elétrico pode estar desviado para a direita ou para
Etiologias esquerda ou estar na faixa de normalidade.

Insuficiência mitral;
Estenose mitral;
Miocardiopatia dilatada;
Cardiopatias hipertensivas.

Índice de Morris

Na SAE é comum o encontro de onda P difásica com fase SOBRECARGAS VENTRICULARES


negativa grande em V1. Assim, Morris convencionou um índice A sobrecarga ventricular é a situação na qual mais comumente
de área negativa da onda P na derivação V1 que, quando maior ocorre o aumento da amplitude do QRS. No entanto, o QRS
que 0,3mm/s, indica SAE com probabilidade maior que 90% de pode estar aumentado em indivíduos normais nas seguintes
acerto. Na prática, considera-se o índice + quando a porção situações:
negativa da onda P em V1 é maior que 1mm 2.
Crianças, adolescentes e adultos jovens;
Longilíneos;
Atletas;
Mulheres mastectomizadas;
Vagotonia.

Os vetores de ativação ventricular esquerda predominam. Por


outro lado, quando há grande sobrecarga ventricular direita
haverá sensível alteração do ECG normal. Mas para que ocorra
a predominância do VD é necessário que o aumento da massa
ventricular exceda em três vezes a massa do ventrículo
esquerdo.

Figura 3. Sobrecarga atrial esquerda. Ondas P com duração aumentada (0,14s), SOBRECARGA VENTRICULAR ESQUERDA (SVE )
entalhadas e fase negativa em V1 > 1mm (índice de Morris +). QRS desviado
para a direita (+110º) e para frente (SVD). SAE + SVD caract. de estenose mitral Causas: hipertensão arterial, estenose aórtica, insuficiência
c/ hipert. pulmonar. aórtica, insuficiência mitral, persistência do canal arterial;
miocardiopatia hipertrófica e miocardiopatia dilatada
idiopática.

Ocorre predominância elétrica do ventrículo esquerdo,


aumentando a amplitude dos potenciais registrados.

Aumento da amplitude de ondas R e/ou ondas S;


Orientação para a esquerda e para trás – embora haja
pequeno desvio para a esquerda, na maioria dos casos a
orientação do QRS continua normal;
SOBRECARGA BIATRIAL (SBA) Alterações secundárias da repolarização ventricular – o
segmento ST e a onda T se opõem ao QRS configurando
Há uma combinação morfológica com crescimento de ambos os aspecto característico denominado strain (esforço ou
átrios. O crescimento biatrial pode ser observado nas lesões estiramento).
tricúspides, na dupla lesão mitral e na insuficiência cardíaca.
ALTERAÇÃO DA REPOLARIZAÇÃO VENTRICULAR
No ECG manifesta-se pela associação dos sinais do SECUNDÁRIA À HIPERTROFIA VENTRICULAR (STRAIN)
crescimento/sobrecarga atrial direito e esquerdo.
Na parede ventricular normal, a despolarização ventricular se
dirige do endocárdio para o epicárdio e a repolarização tem
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sentido inverso, porque as células próximas do epicárdio se Ondas S profundas em V1 e V2: Maior que 24mm. Não são
repolarizam + rapidamente que as outras, devido à específicas, em algumas situações pode significar aumento
predominância de fibras com potencial de ação do tipo rápido. de VD.
No ECG, a onda T aparece positiva nas derivações esquerdas, Ondas R amplas em V5 e V6: Não é possível determinar
paralela ao QRS. valor a partir do qual se afirme que há SVE, pois depende
da proximidade do VE com a parede torácica.
Quando há hipertrofia ventricular, a despolarização demora Deflexão intrisecoide ou tempo de ativação ventricular:
mais para atravessar a parede e as células próximas do Aumento discreto na duração do complexo QRS às custas
endocárdio, as primeiras que foram despolarizadas, começam a de maior tempo de aparecimento do ápice do R (maior que
se repolarizar, invertendo o sentido da repolarização e a onda T 0,04s) nas derivações que observam o VE.
no ECG. Na hipertrofia do VE, a onda T se torna negativa nas Desvio do eixo elétrico para a esquerda: Acima de -30º
derivações esquerdas, opondo-se ao sentido do QRS.
Rotação horária: Não é um achado exclusivo.
Na hipertrofia do VD, a onda T Alterações da repolarização: Onda T achatada nas
também se opõe ao sentido do derivações esquerdas (D1, aVL, V5 e V6) ou padrão tipo
QRS. Porém, como o QRS desvia strain (infradesnivelamento do ST com onda T negativa e
para a direita, a onda T assimétrica).
permanece com a sua orientação Aumento do AE: É necessário descartar estenose mitral. É
normal para esquerda. um sinal indireto.
Entretanto, nas derivações
precordiais direitas (V1 a V3)
observam-se as ondas T
negativas, opostas às ondas R, que representam strain de VD.

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA SVE

Figura 4. Sobrecarga ventricular esquerda


Padrão de avaliação para análise de SVE

SOBRECARGA VENTRICULAR DIREITA (SVD)

Figura 5. Morfologias em V1 para SVD - Morfologias de Fisch

Causas: estenose valvar pulmonar, T4F, hipertensão pulmonar,


comunicação interatrial, drenagem anômala de veias
pulmonares, insuficiência tricúspide e insuficiência pulmonar.
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Figura 6. Parâmetros de avaliação de SVD.

SOBRECARGA BIVENTRICULA R (SBV)

REFERÊNCIAS

http://ole.uff.br/wp-content/uploads/sites/419/2019/04/ECG-Manual-Pr%C3%A1tico-de-Eletrocardiograma-HCor.pdf
Baltazar, Romulo F. Basic and Beside Electrocardiography. Lippincott Williams & Wilkins, 2009.
David M. Mirvis, e Ary L. Goldberger. “Eletrocardiografia.” Em Braunwald. Tratado de Doenças Cardiovasculares, por Douglas P. Zipes, Petter Libby, Robert O. Bonow e Eugene Braunwald, 107-
147. Elsevier, 2006.
Geva, Tal. “Imaging Criteria for Arrhythmogenic Right Ventricular Cardiomyopathy.” J Am Coll Cardiol, 2015: 65(10):996-998.

Guyton & Hall

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