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Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/

Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e


Psicologia – ISSN 2178-1281

AS TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO: A INTERNET COMO


ESPAÇO PARA DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO

Paula Roberta Santana Rocha


Instituto de Ensino Superior de Rio Verde – IESRIVER

A revolução tecnológica trouxe uma nova forma de vida em sociedade. É


vivenciado hoje, não mais o nascimento da cibercultura salientada por Lévy1, mas
sim, o seu desenvolvimento e expansão. A cibercultura é um termo cunhado pelo
filósofo francês Pierre Lévy que designa a transformação das culturas humanas para
uma cultura globalizada e cibernética. É a mudança da forma de vida das
sociedades, das diversas áreas de conhecimento, dos planos econômico, político,
cultural e humano.
Numa linha semelhante, tem-se o conceito de Castells em sua célebre obra
“A sociedade em rede”2, onde ele explana sobre esse momento histórico vivido pelas
sociedades, em que a nossa “cultura material” transforma-se a partir desse novo
paradigma tecnológico, que se organiza por meio das tecnologias da informação 3.
Entre as tecnologias de informação, é possível citar, segundo Castells, a
microeletrônica, a computação, as telecomunicações, a optoeletrônica e ainda a
engenharia genética. O autor faz a concepção de tecnologia através dos conceitos
de Harvey Brooks e Daniel Bells, que seria “o uso de conhecimentos científicos para
especificar as vias de se fazerem as coisas de uma maneira reproduzível” 4. A
linguagem digital torna-se assim, o modus operandi do processo tecnológico, a
forma como a informação é gerada, armazenada, processada e transmitida.
Dessa forma, a revolução tecnológica tem aquilo que Castells denomina de
penetrabilidade, isto é, as tecnologias penetram em todos os campos da vida
humana e é nesse ponto que o autor demonstra a real essência da revolução, onde
o cerne se encontra nas tecnologias de informação, processamento e comunicação.
E é neste sentido, que o presente trabalho abordará, isto é, através de uma revisão
bibliográfica tratará de questões concernentes à internet, inserida no campo das
tecnologias de informação e comunicação.
A internet como meio de comunicação e informação foi difundida
massivamente na metade da década de 1990 e início dos anos 2000. Todavia, a
função que exerce hoje não é a mesma de quando foi criada. Para que se torne
possível a compreensão da evolução da internet, suas especificidades e como
democratizou a informação, é preciso conhecer sua história e criação da World Wide
Web.

Breve história da internet

A internet teve suas raízes no período da Guerra Fria, quando uma


organização do Departamento de Defesa norte-americano, a Arpa (Advanced
Research Projects Agency - Agência de Pesquisa e Projetos Avançados) criou, em

1
Cf. LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2 ed. São Paulo: 34, 1999.
2
Cf. CASTELLS, Manuel. A sociedade em redes. 5 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
3
Cf. CASTELLS, Manuel. Idem, 1999.
4
Idem, Ibidem, p. 49.

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1969, a Arpanet, uma rede nacional de computadores. A Arpanet foi desenvolvida


para garantir comunicação emergencial caso os Estados Unidos fossem atacados
por outro país, especialmente a União Soviética, sua rival5.
Como o projeto obteve êxito, em 1970, cientistas e a comunidade acadêmica,
que faziam trabalhos relativos à defesa e à segurança nacional tiveram acesso à
rede para transferir dados e utilizar e-mails. A partir desse momento, é que se
começou a expansão da rede, pois outros centros de pesquisa passaram a oferecer
acesso para outras universidades e instituições de pesquisa. Contudo, nesse
período, o nome “internet” ainda não existia; era apenas uma rede que se conectava
a outras, possibilitando a transferência de dados e o uso do correio eletrônico. Em
1975, a Agência de Comunicações e Defesa passou a ter o controle da Arpanet,
depois de inúmeros testes para conexão entre estados distantes como Dallas e
Washington.
Apesar da comunidade acadêmica e pesquisadores utilizarem a rede para
transferência de documentos através do correio eletrônico, o foco da Arpanet ainda
era o serviço de informação militar, pois todo o projeto era financiado pelo governo
norte-americano. De acordo com Ferrari novas redes começaram a aparecer
proporcionando acesso para outras universidades e organizações de pesquisa
dentro do país como a Bitnet (Because It‟s Time Network) e a CSNET (Computer
Science Network – Rede de Ciência da Computação)6.
Segundo Pinho (2003)7, um importante pioneiro dos sistemas de trocas de
mensagens foi o Bulletin Board System (BBS), criado em 1978 por Ward
Christianson. O BBS permitia que qualquer pessoa pudesse instalar seu próprio
servidor com a utilização de um microcomputador e um modem. O servidor
disponibilizava aos usuários, programas, dados ou imagens, softwares de domínio
público e conversas on-line, os populares chats.
No início dos anos 80, o desenvolvimento e utilização do TCP/IP
(Transmission Control Protocol/Internet Protocolii) como protocolo para a troca de
informações na Arpanet possibilitou a conexão entre redes diferentes, aumentando
bastante a abrangência da rede.
Ferrari explica que em 1986, uma importante rede foi desenvolvida para
conectar pesquisadores dos Estados Unidos por meio de centros de informática, a
NSFNET. A NSFNET foi desenvolvida por um órgão independente do governo norte-
americano, denominado NSF (National Science Foundation), que de acordo com
Pinho passou a ser detentora da Arpanet. Segundo o autor “como uma das primeiras
medidas, a NSF criou em 1986, cinco centros de supercomputação para aumentar a
largura da banda disponível, todos eles conectados entre si a 56 Kbps, formando a
NSFNET, a espinha dorsal da ARPAnet”8.
A NSFNET continuou sua expansão, se ligando a outras redes existentes,
inclusive fora dos Estados Unidos, passando a interconectar centros de pesquisa e
universidades em todo o mundo. Em 1990, o Departamento de Defesa dos Estados
Unidos derrubou a Arpanet, que foi substituída pela rede da NSFNET que se
popularizou, em todo o mundo, com a denominação Internet. A palavra internet vem

5
Cf. FERRARI, Pollyana. Jornalismo digital. 4 ed. São Paulo: Contexto, 2010.
6
Cf. FERRARI, Pollyana. Idem, p.15
7
Cf. PINHO, J. B.. Jornalismo na Internet: planejamento e produção on-line. São Paulo: Summus
Editorial, 2003.
8
Cf. PINHO, J. B. Idem, p.29, 2003.

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de uma expressão inglesa denominada “INTERaction or INTERconnection between


computer NETworks” (Interação ou Interconexão entre as redes de computador),
tradução livre9.
Conforme Ferrari explica, no começo da década de 1990, já existia mais de
oitenta países conectados à rede:

O cenário do final dos anos 80 era este: muitos computadores


conectados, mas principalmente computadores acadêmicos
instalados em laboratórios de pesquisa. A internet não tinha a cara
amigável que conhecemos hoje. Era uma interface simples e muito
parecida com os menus dos BBS. Mas, enquanto o número de
universidades e investimentos aumentava em progressão
geométrica, tanto na capacidade dos hardwares, como dos softwares
usados nas grandes redes de computadores, outro núcleo de
pesquisadores, até bem modesto criava silenciosamente a World
Wide Web (Rede de Abrangência Mundial), baseada em hipertexto e
sistemas de recursos para a internet10

Em 1991, o protótipo da internet que se conhece hoje estava sendo criado, o


World Wide Web pelo pesquisador e engenheiro Tim Berners-Lee e a equipe do
Laboratório Europeu de Física de Partículas, o CERN, localizado em Genebra,
Suíça. “A World Wide Web é fundamentalmente um modo de organização da
informação e dos arquivos na rede” (PINHO, 2003, p.33). O HTML, o HTTP e o URL
são métodos que fazem parte da web, que a torna mais simples para usar e mais
eficiente. O HTML (Hypertext Markup Language) é a linguagem da web para
escrever páginas de documentos, onde se encontram textos, sons e imagens. O
HTTP (Hypertext Transport Protocol) é um protocolo de comunicação que possibilita
ao usuário transferir dados e informações relativas à WWW. O URL (Uniform
Resource Locator) é um localizador de identificação de recursos e serviços da
web11.
Ferrari12 explica que desde que o www foi lançado, seu crescimento nunca
mais parou. “Para dar uma dimensão do crescimento da internet, o número de
computadores conectados ao redor do mundo pulou de 1,7 milhão em 1993 para
vinte milhões em 1997”. No ano de 2000, segundo dados da UIT 13 citados pelo site
g1.com, havia 250 milhões de usuários de internet no mundo. Já no início do ano de
2011, o número pulou para dois bilhões. No Brasil, de acordo com dados da
ComScore14 de 2010, o crescimento de internautas brasileiros saltou para 20% em
relação ao ano anterior. O Brasil possui atualmente a maior número de usuários de
internet da América Latina, com cerca de 40 milhões de usuários acima de 15 anos
que acessam a internet de casa ou do trabalho. Se consideradas as pessoas abaixo
dessa idade e as que acessam a internet de lan houses e da casa de amigos,
chega-se a um número estimado de 77,3 milhões de pessoas.
9
Idem, ibidem.
10
Cf. FERRARI, Pollyana. Idem, p. 16, 2010.
11
Cf. Pinho, J. B. Idem. 2003
12
Cf. FERRARI, Pollyana. Idem, p.17, 2010.
13
In: http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2011/01/numero-de-usuarios-de-internet-no-mundo-
alcanca-os-2-bilhoes.html
14
In:http://www.comscore.com/por/Press_Events/Presentations_Whitepapers/2011/State_of_the_Inter
net_in_Brazil

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Não se pode deixar de afirmar também o quanto o desempenho dos


equipamentos digitais evoluíram (e ainda continuam), em curtíssimos espaços de
tempo. Não apenas a técnica em si pode ser levada em conta neste caso, mas
também as mutações sociais e culturais que as novas tecnologias, em especial a
internet provocou e continua provocando na sociedade contemporânea. Como diz
Lévy ao presumir a evolução da cibercultura:

As projeções sobre os usos sociais do virtual devem integrar esse


movimento permanente de crescimento de potência, de redução dos
custos e de descompartimentalização. Tudo nos leva a crer que
estas três tendências irão continuar no futuro. Em contrapartida, é
impossível prever as mutações qualitativas que se aproveitarão desta
onda, bem como a maneira pela qual a sociedade irá apropriar-se
delas e alterá-las. É neste ponto que projetos divergentes podem
confrontar-se, projetos indissoluvelmente técnicos, econômicos e
sociais15

Aqui, o autor prevê o crescimento exponencial dos equipamentos digitais,


mas não se propõe a fazer o mesmo em relação ao impacto causado na sociedade.
Vivenciamos atualmente esta ascensão, visto que a internet já faz parte da vida de
milhões de pessoas e oferece amplos recursos técnicos e um novo suporte para as
mais diversas atividades.

Internet: o grande fenômeno tecnológico

Diversos autores acreditam que a internet é uma das mais importantes


inovações provenientes das novas tecnologias. No campo das comunicações, isso
se mostra ainda mais visível, já que é um meio que abriga várias mídias em uma só
(multimídia) e transmite as informações no momento em que acontecem (tempo
real). Para muitos estudiosos, a internet é a mais importante revolução na área da
comunicação, desde a invenção da prensa de tipos móveis de Johannes Gutenberg
por volta de 1439.
Ferrari16 afirma que “o ciberespaço nos permite misturar, articular, e
incorporar formatos não-textuais em textuais, imagéticos em sonoros e vice-versa –
tudo em um fluxo de negociações intersemióticas”. Tudo isso, por possuir uma
textura híbrida e ser elástico e plástico. Essa hibridez mostra o quanto a web se
manifesta como uma tecnologia revolucionária que, juntamente com outras
tecnologias foi capaz de transformar, não só a sociedade atual, mas todo o cenário
da comunicação. Para a autora, a hipermídia entrelaçou a sociedade pós-moderna e
derrubou fronteiras entre as profissões por fazer parte da grade curricular de várias
delas.

(...) a textura híbrida da hipermídia entrelaçou a sociedade pós-


moderna em uma hierarquizada replicação rizomática de Deleuze,
que foi capaz de prever a desterritoriolização da escrita, saindo de
um regime maquínico – com o livro e a imprensa como seus maiores

15
Cf. LÉVY, Pierre. Idem, p. 33, 1999.
16
Cf. FERRARI, Pollyana (Org.). Hipertexto, hipermídia: as novas ferramentas da comunicação
digital. São Paulo: Contexto, 2007, p. 79.

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expoentes – e torna-se um rizoma orgânico na web. Absorvemos


regimes complexos como um caldo tecnocultural que ingerimos sem
grandes reflexões17.

Segundo a autora, o filósofo francês Gilles Deleuze já previa como a


hipermídia modificaria a tradição da escrita, tornando-a acessível a todos,
desterritorializada. Deleuze, juntamente com Félix Guattari, utilizaram a palavra
rizoma, que significa raízes de plantas, para simbolizar, de forma filosófica, uma
construção horizontal, não-hierárquica, possuindo múltiplas portas de entrada e
saída. E essa é a característica da hipermídia.
Semelhante ao pensamento dos filósofos acima citados, o “universal sem
totalidade” é outra expressão que caracteriza a hipermídia. Segundo Lévy, devido à
enorme expansão do ciberespaço, ele só tende a tornar-se “universal”, enquanto
que o mundo informacional só tende a tornar-se menos “totalizável”. Assim, ele
explica que “o universal da cibercultura não possui nem centro nem linha diretriz. É
vazio, sem conteúdo particular”18. Contudo, não é neutro, muito pelo contrário. É um
universo indeterminado, paradoxal, desprovido de significado central, que a cada
momento se amplia e se desenvolve.
Dessa forma, com o advento das TIC (Tecnologias de Informação e
Comunicação) inauguram-se os termos “Sociedade do Conhecimento” e “Sociedade
da Informação”, este último, cunhado por Castells. O paradigma desse novo
momento histórico é a manifestação do conhecimento como um novo fator de
produção da sociedade capitalista.
Kucinski ao dizer sobre as implicações que as novas tecnologias causam,
especialmente a internet, acredita que:

A internet é o espaço paradoxal em que melhor se manifesta a


fragmentação ética e o individualismo de nosso tempo, ao mesmo
tempo em que é uma nova e poderosa ferramenta dos libertários,
dos que não se resignaram ao triunfo do neoliberalismo19.

Com isso, o autor explica que a internet e as novas tecnologias não são um
desenvolvimento da revolução industrial do século XVIII, como muitos autores
apontam, “as novas tecnologias levam a organização da produção a uma direção
oposta à da revolução industrial”20. Agora, grupos de trabalhadores, principalmente
de intelectuais podem ter de volta sua autonomia perdida devido à expansão do
capitalismo. A liberdade de expressão se torna ainda mais ampla, graças aos
mecanismos que a internet oferece. Além disso, esse novo meio de comunicação
pode ser acessível a todos por ser barato e de fácil uso. E é nesse ponto que
Kucinski expressa maior exaltação: “esse é o maior significado da atual revolução
tecnológica. Ela é barata, anticoncentradora e libertária”21.
Já na visão filosófica de Chauí, com os meios digitais, o poder do capital se
detém sobre o espaço, o tempo, o corpo e a psique humanos. Ela explica que agora

17
Idem, ibidem, p. 79.
18
Cf. LÉVY, Pierre. Idem, p. 111, 1999.
19
Cf. KUCINSKI, Bernardo. Jornalismo na era virtual: ensaios sobre o colapso da razão ética. São
Paulo: Fundação Perseu Abramo; São Paulo: UNESP, 2005, p. 71.
20
Cf. KUCINSKI, Bernardo. Idem, p. 71.
21
Cf. Idem, p. 71 e 72.

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existe uma nova forma de inserção do saber e da tecnologia no modo de produção


capitalista. Para a autora, a revolução tecnológica mudou “o modo de inserção social
dos pensadores porque se tornaram agentes econômicos diretos, e a força e o
poder capitalistas, encontram-se hoje, no monopólio dos conhecimentos e da
informação...”22. Cabe ressaltar aqui, que atualmente sabe-se que contrariamente ao
que Chauí explica, o conhecimento e a informação não estão centralizados e, sim,
como Kucinski suscita, eles se mostram anti-concentrados e descentralizados. E,
portanto, democratizados.
A internet possui inúmeras características que a faz muito diferente dos outros
meios de comunicação. Segundo Kucinski, “como mídia, ou meio de comunicação
social, a internet se apresenta em várias formas”23. Existem diversas maneiras de
comunicação na internet como os blogs pessoais, os grandes sites e portais de
notícias, os boletins e newsletters, os e-mails e os jornais e revistas on-line. Podem-
se destacar também as redes sociais, que são outra forma de comunicação social
que possuem milhares de adeptos (sobre as redes sociais, será visto em outra
seção deste trabalho).
Outra funcionalidade que Kucinski expõe é a de ferramenta de trabalho, onde
se pode ter acesso a bancos de dados, jornais e publicações de todo o mundo; a de
memória: todo e qualquer arquivo digitalizado pode ser encontrado na rede, além da
produção intelectual, artística e científica; e por último a de transmissão de dados: a
internet abriga funções que o telefone, o telégrafo e o fax possuem.
Além disso, outras características importantes podem ser encontradas neste
novo meio, como a interatividade; os conceitos de hipertexto, hipermídia e tempo
real; o acesso irrestrito ao sistema tanto pelo emissor, quanto pelo receptor; a
existência de um banco de dados gigantesco e biblioteca virtual e outras inúmeras.

Principais características da internet

A internet como meio de comunicação e informação é bastante distinta dos


outros meios tradicionais, como os impressos, rádio ou TV. Na rede, pode-se ter
acesso a qualquer tipo de informação, entretenimento, serviços e negócios. No
âmbito das comunicações, é possível citar as principais existentes na web. Fazem
parte, a não-linearidade dos textos, a hipertextualidade, a interatividade, a
multimidialidade, a customização do conteúdo, a instantaneidade, entre vários
outros, variando do conceito de cada autor.
Aguiar24 aponta como principal característica, a hipertextualidade que consiste
na interconexão entre texto, som, vídeo e fotografia – através de links. Para Pinho
(2003) a forma não-linear do texto na web vincula-se com o hipertexto. Enquanto no
papel, as informações são lidas de maneira linear, por exemplo, da primeira à última
página, no hipertexto, o usuário pode movimentar a estrutura do texto sem uma
seqüência predeterminada e pular de um ponto do mesmo documento para outro
documento. Isso afeta profundamente o modo como o receptor absorverá a
informação. De acordo com o autor, a principal característica do hipertexto é o seu
modo natural de processar a informação, fazendo com que se pareça com a mente

22
CHAUÍ, Marilena. Simulacro e poder. Uma análise da mídia. São Paulo: Perseu Abramo, 2006, p.
61.
23
Cf. KUCINSKI, Bernardo. Idem, p. 76.
24
In: RODRIGUES, Carla (Org.). Jornalismo on-line: modos de fazer. Rio de Janeiro: Sullina, 2009.

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humana que trabalha por associação ou identificação de ideias já armazenadas na


mente, não recebendo a informação linearmente.
Kucinski25 afirma que somente a internet pode oferecer essa opção de leitura
(hipertexto). Apesar de os textos, em sua maioria serem curtos para uma leitura
rápida, na web pode-se fazer uma leitura comparativa, ter acesso a textos grandes e
o usuário tem a possibilidade de ler imediatamente um assunto que está sendo
veiculado em jornais do mundo inteiro. Nenhum outro meio de comunicação pode
oferecer isso. Hoje, o ato de escrever nunca foi tão constante. De acordo com
reportagem publicada na revista Língua Portuguesa26, o texto está mais acessível e
por causa da leitura não-linear, o usuário recebe a informação em diferentes
linguagens, tornando o leitor mais ativo, receptivo e participativo.
Partindo para outra característica também ligada à hipertextualidade, tem-se a
multimidialidade que é a “convergência dos formatos dos meios de comunicação
tradicionais – jornal, rádio e televisão – para o relato do fato jornalístico”27. A internet
permite abrigar todos os meios de comunicação. Nela, é possível ouvir a uma rádio,
assistir a televisão e ler textos de quaisquer jornais e revistas do mundo. Cabe
ressaltar que, como Aguiar explica, essa tecnologia não pode ser vista apenas como
uma reprodução ou soma dessas três matrizes midiáticas, “e sim uma produção
discursiva disponibilizada de forma integrada e complementar pelo suporte web”28.
Dessa forma, com a convergência das mídias, vê-se uma mudança do termo
multimídia para hipermídia, que possui como característica mais significante, a
interatividade. E este é outro aspecto essencial da comunicação digital.
A internet proporciona ao usuário comentar e opinar sobre a informação que
recebeu. E isso pode ser feito no mesmo instante em que recebe a notícia. Hoje,
jornalista e público trabalham juntos, o feedback é imediato. “O jornalismo ingressa
na era da produção colaborativa de notícias”, este é o título do artigo de Castilho e
Fialho29. Os autores levantam questões relevantes ao afirmarem que, com o advento
da web 2.0, a melhoria das interfaces gráficas e o jornalismo digital, forma-se uma
base de transição para o processo de produção colaborativa online de notícias. Os
meios pelos quais essa colaboração acontece, parte de contribuições individuais de
pessoas que fazem parte de blogs noticiosos; redes sociais, como Twitter,
Facebook, Orkut; newsletters; reportagens e textos colaborativos; fóruns; além das
plataformas wiki.

A avalanche informativa atingiu uma intensidade tal que o jornalista


já não é mais capaz de processar sozinho toda a demanda de
notícias por parte de comunidades, porque isso exigiria redações
gigantescas, cujo custo inviabilizaria a sobrevivência econômica do
jornal, revista, rádio ou televisão, em uma grande metrópole.
Portanto, a colaboração entre profissionais do jornalismo e membros
de comunidades é inevitável e mutuamente interessante. Em vez de
ficar discutindo quem pode ou não pode ser jornalista, deveríamos

25
Cf. KUCINSKI, Bernardo. Idem.
26
Cf. Murano, Edgard. O texto na era digital. Revista Língua Portuguesa . v. 64, n. 64, p. 29-33. fev.
2011.
27
In: RODRIGUES, Carla (Org.). Jornalismo on-line: modos de fazer. Rio de Janeiro: Sullina, 2009, p.
129.
28
Idem, ibidem.
29
In: RODRIGUES, Carla (Org.). Jornalismo on-line: modos de fazer. Rio de Janeiro: Sullina, 2009.

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estar preocupados em como capturar a incalculável massa de


conhecimento tácito, mais popularmente conhecido como sabedoria
popular, existente em nossas comunidades urbanas e rurais30.

A customização, também chamada de personalização ou individualização do


conteúdo refere-se a outra característica que está relacionada à opção feita pelo
usuário de escolher e configurar produtos jornalísticos baseados em seus interesses
pessoais. Existe um programa que permite ao usuário “criar um sistema individual de
busca e seleção de notícias de diversas fontes informativas, associada com o
clipping de notícias, capaz de reunir assuntos selecionados pelo usuário (...)” 31. Este
sistema é chamado de RSS (Really Simple Syndication). O site Spectra Visual
Newsreader (www.spectravisualnewsreader.com) é um bom exemplo desse tipo de
customização. Nele, o próprio usuário monta sua página, adicionando os canais de
notícia de seu interesse, a partir de um cardápio variado: mundo, esportes,
tecnologia, política, negócios, entretenimento, saúde, viagem e outros. Ele ainda
pode filtrar palavras e expressões, escolhendo dentro dos canais de notícias os
temas específicos que devem ser disponibilizados.
Além destes, tem-se a instantaneidade e velocidade da informação. Essas
duas características sempre foram inerentes à comunicação, especificamente ao
jornalismo, porém, com o advento da internet como um veículo de comunicação,
elas se potencializaram. O afã na busca da velocidade, a introjeção do tempo real
são marcas registradas à comunicação digital.
Outras características que necessitam ser explanadas são a dirigibilidade, os
custos de produção e de veiculação e a acessibilidade. A dirigibilidade refere-se à
filtragem da notícia pelo editor. Enquanto que na mídia tradicional, existem as
restrições de tempo e espaço, além da intervenção do editor para escolher que
notícia será ou não será veiculada, “na Internet, outra grande vantagem é que a
informação pode ser instantaneamente dirigida para a audiência sem nenhum
filtro”32.
Além disso, os custos de produção e de veiculação na teia de abrangência
mundial são mínimos. O necessário é fazer um investimento inicial com softwares e
hardwares. Posteriormente, as despesas são muito baixas, tanto para o site
noticioso quanto para o público. Se comparado a um programa televisivo ou mesmo
a um jornal impresso, vê-se uma enorme diferença. Cada vez mais, os
microcomputadores estão diminuindo os preços e a despesa com internet também é
mínima. A última característica também assinalada por Pinho faz referência à
acessibilidade. A internet mudou radicalmente os conceitos de espaço e tempo.
Pode-se ter acesso a ela em qualquer momento, 24 horas por dia, sete dias por
semana, 365 dias por ano.

A internet como espaço para a democratização da informação

Diante do exposto, é possível visualizar as inúmeras potencialidades que a


internet possui e também os seus aspectos positivos. No que concerne às
comunicações, a democratização da informação é um deles.

30
Cf. Idem, p. 142.
31
Idem, p. 170.
32
PINHO, J. B. Idem, p. 52.

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Com o advento da internet e sua massificação, muitos autores


apregoaram que haveria um novo tipo de exclusão, a exclusão digital. Kucinski
critica fortemente esse pensamento, que foi até tema de teses. Para ele, “dizer que a
internet e o computador criaram uma nova forma de exclusão, „a exclusão digital‟, é
como dizer que, ao inventar a impressão com tipos móveis, Gutenberg criou o
analfabeto”33.
No mesmo contexto, no início dos anos 2000, muitos estudiosos diziam que a
internet ainda não tinha capacidade de alcançar grande parte da população por
vários motivos e consequentemente, a informação através das redes não poderia
ser acessível a todos:

Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU de 1999,


menos de 7% da população mundial está conectada à internet,
sendo que a maior parte desta parcela (90%) reside nos Estados
Unidos e em outros países industrializados. No Brasil, somente
8,93% da população tem acesso à rede34 (...).

Entretanto, por outro lado, percebe-se que a internet cresce de forma


exponencial no mundo inteiro. Como dito na seção “Breve História da Internet”, no
ano de 2000 havia 250 milhões de usuários de internet no mundo. Já no início do
ano de 2011, o número pulou para dois bilhões. Isso quer dizer um crescimento de
cerca de 1.250% em 11 anos. O mesmo ocorre no Brasil, que concentra o maior
número de usuários de internet de toda a América Latina.
Pesquisas quantitativas como essa demonstram a capacidade que a internet
tem de alcançar as inúmeras camadas da população. É claro que quando se fala de
populações que vivem em situação de miséria, o quadro muda. Mas, atualmente,
esse tipo de discurso não pode mais ser defendido.
Pinho35 elaborou um esquema onde explica o intervalo de descoberta de um
novo meio de comunicação e sua difusão maciça. De acordo com o autor, a
imprensa demorou 400 anos (de 1454 ao século XIX); o telefone, 70 anos (de 1876
até o período posterior à Segunda Guerra Mundial); o rádio, 40 anos (1895 até o
período entre as duas guerras mundiais); a televisão, 25 anos (de 1925 até os anos
de 1950) e a internet que precisou apenas de sete anos (de 1990 até 1997) para
estar acessível à população.
Séculos atrás, o saber, a informação restringia-se à Igreja e à Universidade. O
fluxo de informação era armazenado de forma hierárquica e tido como um “mistério”
e privilégio dos iniciados. No entanto, tudo muda a partir do ano de 1800 com a
Revolução Francesa, quando o Estado se incumbe de assegurar à sociedade a
circulação da informação. Os primeiros jornais impressos surgiram neste mesmo
período, entre 1780 e 1880. E foi a partir daí, que a informação começou a fazer
parte da vida dos cidadãos36.

33
Cf. KUCINSKI, Bernardo. Idem, p. 72.
34
Cf. MONTEIRO, Luís. A internet como meio de comunicação: possibilidades e limitações. (2001).
Disponível em: http://galaxy.intercom.org.br:8180/dspace/bitstream/1904/4714/1/NP8MONTEIRO.pdf.
Acesso em: 07 de julho, 2011.
35
Cf. PINHO, J.B. Idem, p. 38.
36
Cf. MARCONDES FILHO, Ciro. Comunicação & Jornalismo: a saga dos cães perdidos. São Paulo:
Hacker editores, 2000.

Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281
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Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/
Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e
Psicologia – ISSN 2178-1281

A chamada penny press37, que alcançou seu auge nos fins do século XIX e
início do século XX nos Estados Unidos, também contribuiu fortemente para uma
maior circulação de informação, assim como o surgimento do rádio e da televisão no
século XX. Mas foi no fim da década de 1990 e começo dos anos 2000 que um novo
meio ou espaço38 surge, consolidando de forma abrangente o acesso à informação,
tanto da emissão quanto da recepção.
Portanto, é nesta perspectiva que se torna possível considerar que o
universo digital, especialmente a internet, contribui para uma nova e maior
democratização da informação, já que cria novos espaços ou canais para divulgação
de idéias, possui um número de fontes de consulta gigantesco, o que permite a
pluralidade da informação e, além disso, possibilita uma nova forma de socialização
entre as pessoas através das mídias sociais e é acessível às diversas classes
sociais. Sabe-se também, que graças a essa acessibilidade e pluralidade de
informações, “o direito à informação”, resguardado nos direitos fundamentais da
Constituição Federal recebe maior respaldo e pode ser usufruído por todos.

37
Jornais surgidos no fim do século XIX, destinados às massas, que custavam o equivalente a um
centavo e possuíam características sensacionalistas.
38
Por ser um meio híbrido e complexo, a internet se define mais como um espaço, o ciberespaço do
que como veículo de comunicação.

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