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PROCURADOPI 4-GERAL DO DISTRITO FEDEPAL
PROCORL MIMSTRkTIVA
APROVADÇJ pelo Ex.mo
ur Sr. Procurador-Geral do DF
em jJ'frÇ i_ e i:elo
PARECER Nc 0307/2008 PROCAD/PGDF
-
Ev.mo Sr. Gcvernador do
PROCESSO N. 080.020.84912 005 DF em /
INTERESSADO: SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO DISTRITÔEDERAL
ASSUNTO: APLICAÇÃO DE MULTA POR ATRASO DE FORNECIMENTO

EMENTA: ADMiNISTRATIVO. TOMADA DE


PREÇOS. FORNECIMENTO DE MATEPJAL EM ATRASO.
MULTA STJPERIOR AO VALOR TOTAL DO EMPENT-IO.
O princípio da culpabilidade impõe, ao administrador
público, o ônus de examinar as alegações constantes da defesa prévia
apresentada pelo irnecedor coiïtratado, devendo esse apontar, de
forma motivada, em sua decisão, em que consiste a reprobabilidade da
conduta do destinatário da sanção.
A inetroatividade do Decreto n° 28.561106, aliada ao
princípio da vinculação ao ato convocatório, impede a incidência do
mencionado diploma à espécie.
Havendo utilidade do material entregue em atraso para
a Administração, mostra se excessiva a multa fixada crn percentual
-

superior ao que fixado em razão de eventual inadimplemento completo


cia obrigação. Precedente do TJDF (Acórdão 106302, Apelação Cível
48.087/98).
Eventual multa há de ser calculada sobre o montante
das parcelas obrigacionais adimplidas em atraso.
Parecer pela impropriedade da fixação da multa
pecuniária nos termos da memória de cálculo apresentada à fi. 25 dos
autos do PA 080-010658/2007 (apenso).

Exma. Sra. Procuradora-Chefe da Procuradoria Administrativa,

J. RELATÓRIO

\Tersam os autos acerca de aplicação de multa, no valor de


R$S0.325,00 (oitenta mil, trezentos e vinte e cinco reais), à empresa
iNDUSTRIA DE ARTEFATOS DE PAPEL ANIE-IANGTJE.RA, em razão de
suposto atraso de 215 dias no fornecimento de materiais constantes da nota de

LAY
empenho n° 00064/07 - FUDEB, emitida em razão da adjudicação de item
da Tomada de Preços n° 065/2006 - SUCOM/COPEL/SEF.

A mencionada empresa foi notificada da penalidade e apresentou


defesa (fis. 26-60, autos do PA 080-010(558/2007, em apenso).

A Unidade de Administração Geral da Secretaria de Estado da


Educação suscita quest&s à Assessoria Jurídica daquela Pasta, sugerindo o
posterior encaminhamento à Procuradoria-Geral do Distrito Federal:

'Por jucuito tempo pode a A,1711,inisti'ciç1ic. esperar


pelo cuniprinieiitc. clt' co,iti'ato (eiitrega do incitericil) por pai te da
einpresci? E acieqiíadc. esperar 215 chc,s? NL1C' seria iiiais rci:c'Jl'ei
cancela,' o empenho e co,n'ocar o segiimicic. lugar?
O dispositivo iegcil previsto no Dec,'etc' n' 26. S51/06
e alterciç3es, arte 4:, JJ, pelinite cipiicciçJíc' de
ete,inini') chegciiicio, no caso em coniento a aplicaça0 de muita
de mais de 100 (e;n por ce,ito,?
A api!ca,'1?ío de 5 (-1rt. 4°, III dcci elo n°
26.851106) por ciescumprillienlo cio pra'o de entrega iiio
cciracteria BIS IN IDEN, ilina vez que os incisos 1 e II cio mesmo
artigo punem i eu/presa J'el' iiieSlllt' iiktiVi'?
A propósito, mesmo cmii iíi;ia modalidade de licita ço
com enipenho gic'bcii, caso ci emupresdi entregue parte d0 mnatei7al
antes cio ve,,ciineiito dc. pi'a' o perceniucil de miiiilta de 5 (por
atraso IIL1 elitrega do inatericil restL7nt) tem que se;' apijcado
sobre o inontcnite total ('mesmo sobre a parte jc em//regue),
com?I'2'r1 ile c,rt. 4' III, cio citado decreto?" (fi. 282).

Nesses termos se manifestou a Assessoria Jurídico-Legislativa da


Secretaria de Educação:

"(c'iisiclerancIc, que esta assess(:,rici jc'í manifestou


entencliinemitc' ciesfivorc'n'el .' L7plicLiLks dci mimlta de 50 t5 (cinco
por cento,) prevista i/o Decreto 26.851120061, Cli1 respeito ciuS
primici'pios dci rci:oc,bilicic,cle e dci pmopc'i'cionciliclacle, por
c(-- nsidem'Llr caso de bis iii iclem) e ce'l/siderclllLlo a coiiiplexiciacie
da mtitericl sublnetidLl a aprecl1içao em face de que ci J1r1!ra e cia
Ordem de R$ o4.2c.O,00 (sessenta e quatro mml e cliízentos e

Proc::o OO.O2ú.'I'/2OÜ5 - r' Oú7/2úúC - PP.O'2ADfPGD ,7 !J[ - 2


sessentci reais,, enqlk7Iito que ci muita aplicada de R$ 80.625, 00
('o itentci i;ii seiscc',itc's e vinte e cimico reais,), sugiro o
eiiccu,iiizhcmiento cio presente feito a cio ulta Procuradoi'ia-Gerai
dc' Distrito Feclei cd para o necessario pronuncicunento. " (fi. 283)

A Exma. Sra. Secretária Adjunta de Educação do Distrito Federal


acolheu a sugestão da Assessoria Jurídico-Legislativa, encaminhado os autos a
esta Procuradoria.

É o relatório.

2. FUNDAMENTAÇÃO

2.1 Exame das alegações da empresa fornecedora. Devei' da


autoridade com poder sancionatório.

Verifico, inicialmente, que a defesa prévia da empresa


fornecedora procura, em síntese, justificar o atraso cia entrega aludindo a
alongadas tratativas com a Administração visando sanar controvérsia quanto a
supostas divergências entre as amostras apresentadas e as especificaç5es do
Edital, bem como se reporíando a pedido de substituição de notas fiscais de
serviço por notas fiscais de venda.

Cumpre registrar que não cabe a esta Procuradoria imiscuir-se no


mérito cia discussão quanto à conformidade entre as amostras apresentadas e
as especificaçes do Edital.

Trata-se de matéria a ser examinada no âmbito da Secretaria


consulente, que poderá se basear, se assim julgar necess5rio, em laudos e/ou
pareceres tecmcos que atestem ou não a conf'ormidade cia amostra.

Entretanto, saber se as amostras anteriores da empresa


fornecedora de fato deixaram de atender as exigências do Edital, bem como se
a conduta da Administração, quer na elaboração da especificação, quer na
condução das tratativas com a empresa com o objetivo de obter o material em
conformidade com o exigido, contribuiu para o atraso na entrega, são medidas
que se impem à autoridade que decidirá quanto à aplicação de penalidade,

"-
rru. oiJ0 020 , '/2oii —P2r r n° ou7/2coc -rrc:

Ik
pois, tal como no direito penal, vigora no regime jurídico das penalidades
achninistrativas o princípio da culpabilidade.

Nessa linha, entende MARÇAL':

"líTui Estado D,nc'civ'ítjcc' d- Direito abcsniiva c'


sctncio177i;ientc' punitivo clissc'ciacio cia coiiipi'oi'açYo da
Ciii jblIidkk. .lV91 SC pihdC !L11Jilt1l 3 puniç..7c' c!Jiic1S eii virtude
da cciicretiaçYo de i!n,a c c'i'rncia claiiosa ,,iateriai. Pune-se
J'orql!e aiguiin agiu mal, de incido iproi'ái'ei, ciii termnc's
antisc'ciais. 4 cc'iiiprc.i'ciçícs dc' ekiiiei,to subjetivo
iniispeiisái'eI para a iniposiç.?ío de penaiiciacle, ainda quando se
possa p1et117der unia c'bjctivaçlcs cia ciilpabilidcide ciii
determincíclos Casos.

Assim, a decisão quanto à imposição, ou não, de penalidade


deverá examinar as alegaç.es apresentadas pela empresa fs:rnecedora em sua
defesa previa, declmando, se ftr o caso, de forma expressa, as raz&s de seu
convencimento quanto à culpabilidade da mesma pelo atraso da entrega do
produto.

No que diz respeito à controvérsia quanto à espécie de nota fiscal


a ser apresentada à Administração, se de vendas ou de serviço, entendo que a
questão encontra-se prejudicada, na medida em que houve a concordância da
empresa em expedir nota fiscal de venda, sem recorrer administrativamente da
decisão que assim teria deliberado.

De qualquer frma, a matéria não foi ohj etc da consu]Ia


formulada pela Secretaria de Educação a esta Procuradoria.

2.2 Razoabiliciade do prazo de espera pela Administração.


Questionamento afeto iã conveniência e oportunidade cio administrador.

Questiona, inicialmente, a UAG/SEE:

/
JUSTEN FILI-TO, Íarç1, i,'io,- à Li Liciiç& Cc'n'ic -ÍJnziiii.i,ail;'c, t'iakiica, 10
ediço, 2004, p. 600

Prcc 00.020.'!9/2005 - ° 007/200. - 4


"Por qucinto t..inpo pode ci -11.iministrciço esperar
pelo cunipriineiito cio contrato (ei?iiegcí cio inatericil) por parte cia
empresa? E acieqiicicio esperar 215 dias? Nío seria mais r7:c'1'ei
cai icelar o enipenho e com'o.cir C. seguiiclo lugar?"

A dúvida no encerra questionamento propriamente jurídico. No


há marco legal específico e determrnado a impor o prazo máximo que a
Adimnistração se obriga a aguardar por determinado fornecimento de
material.

Trata-e, isso sim, de questionamento afeto ao juízo de


eonvenkneia e oportunidade da Administraçto, que, caso a caso, deverá
observar a permanência da utilidade do bem a ser fornecido, ou seja, se esse
ainda atenderá o interesse público, mesmo após o atraso prolongado. Deverá,
ainda sopesar o tempo de espera com o tempo que decorreria das providencias
administrativas para a contratação com outro fornecedor. 1-lá que se lembrar
que a simples declaração, pela Administração, de que o atraso seria de forma
tal demasiado a caracterizar o inadimplemento completo da obrigação, impõe
sejam observados os princípios, do contraditório e ampla defesa do licitante
vencedor.

Ao contrário do que menciona a TJAG/SEE, não se trata de


procedimento automático de cancelamento de nota de empenho e chamada do
segundo co1.:cado. Tal providência implicaria medidas que poderiam tomar
mais tempo que a própria espera pelo fornecimento em atraso. Da mesma
forma, haveria ainda o risco de o segundo colocado não ter interesse em
fornecer o material, já que não é obrigado a isso, e se ver a Administração na
iminência de necessitar realizar novo procedimento licitatório para a
realização da compra.

De qualquer forma., cumpre à Administração, no exercício de seu


poder-dever de fiscalização, controlar os prazos de fornecimento estabelecidos
em suas contrataçes, compelrndo as empresas contratadas a cumprir a
contento as ohrigaçes avençadas, utilizando as medidas sancionatórias com
razoabilidade para atingir tal objetivo.

Como se v, trata-se de decisão que diz respeito ao juízo de


conveniência e oportunidade do administrador

F.
Procex, 030.020. !Ç'/2Ü0: - ' Psec.i 0307/2003 - F
fk
2.3 Ap1icaço do Decreto 110 26.851/2006 ao caso em aiiilise

Continua a consulta da UAG:

"O dispositivo 1'g4Ii pri'istcs no Derto n°


26351106 ' 7itraçs, ai't' 4 ; II, permit ap1icciçc. k 0,66°
'ad teiiiiii;i clb2gaIlcio, no ccisc' e 171 co,,iiito a aplicaÇclO d
niuit, ck ijiais de 100 (ceili por ce,itc?"

Questío prévia a ser resolvida diz respeito à aplicabilidade, ou


não, do Decreto n° 2.6.851/2006 aos casos em que o Edital contenha previsão
de percentuais de multa distintos daqueles previstos na referida norma.

É o que acontece no presente caso.

Como se observa dos itens 14.1, 1 e II do Edital (fi. 23, autos do


PA 080-0 1u5S/2ou7, em apenso), estabelecem-se percentuais de o,3 ao dia
por atraso até o 30° dia e 0,6% ao dia após tal prazo.

Já no Decreto n. 26.851, de 31.5.2006, há a previsão de


hicid.iicia dos percentuais de 0,33% e 0,66%, respectivamente até e após o
300 dia de atraso.

O primeiro ponto a ser observado é que o Edital da Tomada de


Preços n. 6512006 foi çiuhlicado no DODF de 15.5.2006 (fi. 73), antes,
portanto, da ediçío do Decreto acima mencionado.

Assim, o primeiro óbice à aplicação do Decreto n. 26.85112006


ao caso concrets: diz respeito ao fato de o mesmo não ter efeito retroativo.

Por outro lado, norteia-se a licitação ao princípio da vinculação


ao ato convocatório, indicado, de forma expressa, no art. 30 da Lei 8.666/932.

2
Art. 3o A lici1çc. d tina-ce garantir a observância do princípio cori:Liíucional da isonomia e a elecionar
a propoata maia vantajosa para a Adminiatraçó e ará procec:ada e julgada em e:iiita conformidade com os
princípioa básicos da legalidade, da impessoalidada, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da
probidade adminiatrativa, da vinculaçIô ao instiumnto ecinvocatório, do julganiento objetivo e dos qua
lhes so corralatos.

Proco oo.:,2o.,4çI1oo5 - Paracar n O3O7/2OCI - PFO'AD/PJE'F


[T IA2VTT
;. .. o

............-................. ........
Dessa forma, a relação jurídica que se forma entre o licitante e a.
Adminis1Taçío, embora adstrita ao regime de direito piihlico notadamente
marcado por sujeições e prerrogativas, se sujeita ao que expresso no Edital.
Em outras palavras, o edital é "lei" entre as partes.

Por essa razão, é vedado à. Adniinisft'ação alterar, no curso da


licitação, o teor de cláusula editalícia.

A regra é de tal rigor que se a Adminisfraço verificasse a


ocorrencia de falha msanavel no Edital somente poderia altera-lo com a
anulação dos atos já praticados e reabertura do certame em todas as suas fases,
desde a publicação, inclusive.

A confirmar o entendimento, basta observa precedente do


Superior Tribunal de Justiça em que entende admissível a imposição de
penalidade no constante no Edital apenas em razão de ter sido a mesma
objeto de ajuste entre a Administração e a adjudicatária.

Colho da ementa:

"ADMiNISTRATIVO - LICITA Ç1O - CLÁUSULA


PENAL 1\LTC) PREI'JSTA NO EDITAL - LICITUDE -
VALIDADE.
Cláusula penal ii.íc' prevista no edital, ajustada,
após adjudica ei,tre a Aduuuinistraçio Pública e o licitante
vitorioso. Se 1130 lioin'e i'ício de C071Si1ti1//ei1t0 CIIi sua
coiitrcítciçao, tal cláusula pencil é lícita e eficaz.
(REsp 1328551MG, Rel. Ministro FRANCISCO
FALCÃO, Rel. p1 Acórdão Ministro 1-IL1MBERTO GOMES DE
BARROS, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19.04.2001, DJ
01.10.2001 p. 162)

A contrário senso, a não realização de contrato posterior à


adjudicação entre a Administração e a empresa fornecedora alterando a
cláusula saiicionatói'ia impede a utilização dos percentuais previstos no
Decreto n. 26.85112006.

Pi:,c.o ÚÚ.O2O.S'l9/2CiO5 - Pai'ci o ú3O7/2OÚ - PPCCAtfP0L'F


/ 7
Por essa razão, tenho por corretos os percentuais de 0,3% e 0,6%
utilizados na memória de cálculo n° 02/2008 (11 25, autos do PA 080-
010658/2007, em apenso), eis que são os percentuais previstos no Edital.

2.4 Limite cio qutintum da mula a título de atraso do


fornecimento.

A prosseguir no exame da questão transcrita no item acima,


passa-se a verificar se há limite para a aplicação dos percentuais de 0,3% e
tyz, dia apõs dia, excedendo-se, inclusive, a lou% do valor da contratação.

A questão envolve a correta aplicação dos princípios da


razoabiliclade e da proporcionalidade.

De início, há que se observar que as sanç5es administrativas hão


de ser aplicadas de ftrnia gradativa e proporcional à gravidade cio
descuniprimento contratual.

A proporcionalidade há de sei observada tanto na aplicação das


diversas espécies gradativas de penahdade estabelecidas no art. 87 da Lei
8.666/93 (advertência, multa, suspensão temporária de participação em
licitação/ impedimento de contratar com a Adniinistração e declaração de
inidctneidade), como na fixação cio quantum a ser imposto, por exemplo, a
título de multa.

Embora os percentilais a incidirem sobre os dias de atraso no


aclimplemento da obrigação serem prévia e objetivamente estabelecidos em
Edital, imperioso perseguir a interpretação que melhor atenda aos princípios
da proporcionalidade e razoabilidade.

A hipótese de penalidade proposta representa o recebimento, pela


Administração, de bens entregues pelo fornecedor, ainda que em atraso, sem
por eles nadapagar, eis que todo o pagamento ficaria retido para saldar a
multa imposta.. Para piorar o quadro, teria ainda o fbrnececlor inadimplente
que complementar, em favor do erário, o restante da multa que estaria a
exceder o aludido pagamento.

Pc oOOO2O!W2iU —P L rr° u7/i0—rPCD/PGt'F -


Entendo que a soluç.Ao no é razoável, pois representa, em última
análise, enriquecimento ilícito da Administra ç.to em detrimento da outra parte
contratante.

A corroborar tal entendimento, basta comparar a situaço dos


autos com a hipótese de inadimplemento absoluto cia ohrigaçào, ou seja., a no
entrega do material, descumprimento contratual que, apesar de mais grave que
o atraso, imporia à contratada a multa de 150 0 sobre o valor cio contrato/nota
de empenho (11cm 14.2, II do Edital; fi. 60 verso).

Verifico que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal já


examinou caso semelhante ao que tratado nos autos.

Colho da ementa de acórdo profericlo na Apelaç.ío Cível n°


48.087/98, Terceira Turma Cível, Rei. Des. Campos Amaral, DJTJ 05.08.1998:

"E)i,iic' Civil. 1. Cc',iii'c,to c,dministi'ativc'.Aircisc' iici


entrega de ,jicitericii. _4plicciçío de nn,ltc, pela apelante. -lç3o
pai'...? liherciçacs de ,i,,,ita. Senteiiça que julga prcscedeizte o
pedido. _4pelcuçJíc'. 2. -1 multa soniente pode sei , imposta ou
clescc'ntacla das fcitui'cis da jmiieeeciorcí após prcscesso
acinzinisti'citivc' espeLfico e n7o nos próprios c,utc's do proceSso
de licita ç'ío. Este . pj•, pri'io que se eiicemivi com a
puíblicaçcio do despacho homumologatomio. C) § 2" dc' cu,'t. .ó dc, Lei
n ° 8. ótt./'-'3 exige "i'egular processo aclinnnstrcut,vo parei a
aplicciçao da muita. Obsei'vcmncic, elos prmncij:sic's daau;ipia defrsci
e de' coniraditóric'. 3. -1 iitiliilade da presta ç/lo da contratante,
ei,iboíi tenha ocorrido ati,so, iiao jiisiiJki a aplica çéio da
iiiiilli de 88,5% sobre o valor do contrato. um ira
desproporcional. Apela çJío desprovida.

Transcrevo esclarecedor trecho cio voto do relator:

"Por outro lado, no que pertine ao quantuili da


jimita, é importante saiientai que esta deve observar o priIic1pio
da proporciouiülidade e da legalidade, ii/io sendo possível à
Admiuuistraçlo apijcar penas pecuniárias excessivas ou 1h10
previstas na lei ou no contrato. E e' que lecic'i,a Hely Lopes
Meireiles, na oh. cii., pág. 595, ipsis litteris:,,

F'rocac, OO.O2O.i!9/2OO5 - Par n° CdO7/2OO - PPC'?ADIPGt.F 9

i
Embora a graciaçío das sa7iç5es
czciiniiiisti'citivas - CleiJllSSaO, lJ/i!it/, embcirgcs de .hra,
deStr/iiÇdld' de coisas, i,iteivliacs de atfl'ididldie e
outras - seja ciiscr,cionarii, izac' e arbitraria e, por
iSSC', deve gucirdar csri'espoiiciêiicia e
)1J'OJL'lL1klllciklu Cijili iJ ll7JiJÇdii l.1j711117L]Li i/O
respectivo pl'ocessc', cii.i,i de estc,r iissai;ieiite
prevista em ;,ori,ia c,ci,,,inistrc,tiva, pois uJio dado à
44cIiniiiisiiviç 71c' aplicar penoliLi,-le no fstabe1eCid1a
em lei, decreto ou contrato, cojijo iiao o sem o
devido processo legal, que se erige em garantia
iiiciiv,cival de iin'el cc'nst,tucic'nal ('ali. 5 L19.í

De fato, pela iiiexeeiíçío total ou parcial cio


contrato por parte cia contrc,tc,cici, a (lc,usi,lcí Decii;ia Primeira
6-7. 20,), repetindo os disposiç'áes cio art. 86 cio Reguloiiienío de
Licitciçes e Coiitrc,tciçes 1a CJESB tfl. 63,), previa as seguintes
SdiIlç5eS pecuniái'ias:

'b,) inultc, de 05°- (ciiico decinios por


cento,) sobre o valor dc' fornecimento, ao dia, at o
300 (17 -1gsniio) clici de atrcsso, quando a
CONTRATADA cleixcir de cumprir ci obrigaç%o
assumida, e

e) inulíc, de 20 (vil/te pc'r cento) sobre


o valor do fornecimento iilo recilircido e
canceiai;iento cio contrato, qucindo decorridos 30
(trinta) dias de atraso iia sua enti'egdi.

Portanto, 11(10 poderia a apelante aplicar multa


n,aior que 20° sobre o i'alor total por que i,10 previsto eni lei ou
no contrato. Muito emimbora tenha ocorrido atraso de 177 dias mia
entrega do material, a muita de 88,5° aplicada é excessiva e
tilio em,cont,'a respaldo legal ou comitratual. Ademais, iu7o houve
o canceian,ento do c'o,itrato e a utilidade da presta çto da
apelada é evidejite para a apelamite, de modo que, sob o ângulo
do justo, mulo se inc afigura correta a aplica çíio da imuumilci de

Prúco OO.O2ú.:49/2úO - Parc.r n° O3O7I2OO - PPOCAt'/P3t'F /,,J) lo


88,5° sobre o valo, do colitrato, desde que todas os materiais
foraiii entregues e recebidos.

Dessa fiqi,i1.i, dcve sr i;iuit1Li a r. seiiteiiçci que


cleteriniiio,, o pagcíi;ieutc, dos i'1.iicsrcs ciesco,itaclos ci título de
multa. " (grifamos)

Assim, a se dotar o entendimento exarado pelo Egrégio Tribunal


de Justiça do Distrito Federal, concluímos que a entrega e recebimento dos
materiais, a pressupor a sua utilidade para a Administração, em conjunto com
a fixação de multa de 1 5?. sobre o valor do empenho para a hipótese de não
fornecimento (inadimplemento completo), implica reconhecer que é
excessiva a multa que se propõe seja aplicada a contratada, nos termos do
cálcúlo apresentado em memorial de cálculo juntado aos autos.

Assim, imão pode a multa em questão exceder o quantum


obtido pela aplicação do percentual estabelecido no ari. 14.2, II do Edital,
que é de 15% sobre o valor do contrato/nota de empenho.

2.5 Ris ii, ide,,, na aplicação do ari. 40, III do Decreto n°


26.851/06

Prossegue a. consulta da UAG/SEE:

í1 1J)Jl1Çf. s°; (1-í1'I. -i», iii J7


26.851/06) por ciesciíiuprniieiito cio prcí:o de eiitregci ucio
caracteri:(i BIS INIDEN, imia ve: que os mcisos 1 e II cio mesmo
artigo j_uiieiu a enipresa pelo mesmo ,notn'o?

Como já assentado no item 2.3 do parecer, entendo que o Decreto


n° 26.851/06 não se aplica ao caso em apreço, razo pela qual se tem a questo
por prejudicada.

De qualquer forma, nem se diga que o raciocínio que levou à


aplicação do referido dispositivo pudesse ser utilizado no caso concreto em
anlise de forma a atrair a incidência do item 14.1, I\T do Edital, que prevê a
aplicação de multa de 5% sobre o valor do contrato por infração a. qualquer
cláusula contratual que não gere a inexecução do contrato.

Processo 030.020.'1Ç/2005 - Prxr n o 00712001 - ProcAD/poDF 11


Entendo que a aplicaç.io do dispositivo é suhsicliria, ou seja, se
há hipótese de clesciunprimento contratual, como o atraso de fornecimento,
que já contemple sanção específica (multa), não há se cogitar na aplicação do
item 14.1, IV do Edital, sob pena de dupla sanç.ao motivada por um unico ato
do contratado (bis iii idein).

Tal regra depende do princípio da t,icida1Ie, também observável


no âmbito do regime jurídico das sanções administrativas.

Por essa razão, entendo que a multa adicional de 5%, tal como
prevista na memória de cálculo apresentada nos autos, é descabida.

2.6 Incidência da multa apenas sobre a parcela do objeto


entregue emim atraso

Por último, questiona a LLAG:

"A propósito, niesinc' em in;ia ijiociciliciacie de


licita çc/o com empenho gic)lvil, caso ci em;/pmscí entregue parte do
material cuites cio vencimimento pra:c' o percentual de mimitita de
IJLI

5 or atraso na emitrega cio mncite,'ic,i restante) tem que ser


aplicado sc'hre o inoiitcmnte total (mnesmncs sobre a parte já
elilregue), cc',fiine arí. 4°, III, cio citado cied1t'

Mais urna vez, tendo afastado a incidência do Decreto n°


26.85 1/06 à espécie (item 2.3), tenho por prejudicada a consulta no ponto.

Entretanto, julgo oportuno trazer a lume entendimento


jurisprudencial do Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo (Apelaço el Cív
n° 221.867-1, Rei. Dés. Toledo César), referido na obra de JACOBY 3, no
sentido de que "a mimulici deve ser cc,lcuic,cici soiiieiiie iia proporço da parte
izilo cumprida mais a corre çYo monetária" (grifamos).

FA
FERIJA1DES, Jorge T_ïIie Jac.oby, Iicl3-Zfte?,ni 1e Lici,aç'ee e C.ni;csic., T ei Eeo I-Jori:onie: Fórum,
2005, p. 952
_-
Procú 00.020.$9/200 - Par.crn 007I200 - Pr.c'cAt.3Dr - 12
1.
Assim, tenho por contrária ao princípio da razoabilidade a
cobrança de multa que incida sob parcela do conftato efetivamente cumprida a
contento, no prazo estabelecido em ato convocatorio.

No caso em exame, se parte do objeto foi entregue no prazo, a


multa, que, como afirmamos acima, nao podera ultrapassar o percentual de
15% estabelecido para o machmplcmento total, somente podera incidir sobre o
valor da parcela fornecida em atraso.

3. CONCLUSÃO

Ante o exposto, opinamos, s.m.j., pela iniproprieciade da


fixação da multa pecuniária tios termos da memória de cálculo
apresentada à fi. 25 dos autos cio PA 080-010658/2007 (em apenso).

Recomendamos que a Secretaria consulente analise as alegações


da defesa prévia, acatando-as ou refutando-as de forma motivada em decisão
quanto à aplicação de penalidade proposta.

No caso de decidir pela aplicação de penaliclade de multa, esta


deverá observar os percentuais constantes do Edital, eis cltle as disposiçes do
Decreto n° 26.851I0 não se aplicam ao caso concreto, e no podera
ultrapassar o percentual estabelecido para o inadimplemento completo da
obrigação, sendo o montante a ser calculado sobre a parcela firnecida em
atraso.

É o parecer, sub .e,1Si1r7, o qual submeto à elevada consideração


superior.

Sugiro, ainda, seja juntado aos presentes autos, cópia do


acórdão proferido pelo T.JDF nos autos da APC 48.087198 (anexo), dada a
semelhança entre o caso em apreço e o quadro fático apontado no mencionado
paradigma..

Brasília-DF, 0 3 de junho de 2008

ALEXA$DRE ÜRAES PEREIRA


P r o irador do Distrito Federal

Pr;so OO.O2O.19/2ÜO5 - Par.c.r « O3o7I2oo - Fch:


GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL
PROCURADORIA ADMINISTRATIVA

PROCESSO N° 080.020.849/2005
INTERESSADO: SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO
ASSUNTO: APLICAÇÃO DE MULTA POR ATRASO DE FORNECIMENTO

Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral,

Cuida-se de questicnamento susc:itadc pala SecrEtaria

de Estado de Educação acerca cia recjulariclade da multa aplicada

à emi:rasa Inclilstria cia Artefatos cia Papel Anhanguera, sanção


imposta em razao de atraso no adimplemento de contrato firmado

com o Distrito Federal.

Deslgr!aclo i:ara emissão de i:arecer, o i. Procurador


do Distrito FGdra1 Dr. Alexandre Mc raes Pereira concluiu pela
impropriedacle da flxaçao da multa pecuniária nos termos da

memória de cálculo apresentada à f 1. 25 dos autos do PA

080.010.658/2007.

Discorreu o inclito Procurador, em síntese, sobre a

im:'ossibi1icade de que a aplicação dos percentuais

estabelecidos no edital de licitação para os casos de atraso

no cum:rimento do objeto contratado supere o i:ercentual

previsto 1:'ara o inadimplerciento cc'mi:'letc' da oJ:ricjação.

Aduziu que a multa deverá ser calculada apenas sobre

o montante das parcelas cujo aclmj:lemento ocorreu com atraso.

. I.

-
Recoraenciou, ainda, que o achctinistrador r.Espor!sãvel
1:rocecia ao e::ame motivado das alegacões deciu:das na defesa
previa :feil:ada i:elc ccnLratado, da mcicIe a r:•:ar jul:o de
culpabilidade acerca cia conduta supostamente faltosa.

Por conccrciar rejramente com o entendjmento


esi:osado pelo i Procurador, submeto à elevada apreciação da
Vossa E::celncia o Parcr n° 307/2008-PROCAD/pGDF, o qual
aprovo, 1:'or seus i:rói:rios e jurídicos fundamentos.

A superior consideração.

Brasília, 9 de junho de 2008.

J.J'TAINA LARLA MENDONÇA HERINGEP,


Procuradora-Chefe
Procuradoria Administrativa
À DISTRITO FEDERAL
PROCURADORIA-GERAL
GABINETE DO PROCURADOR-GERAL

PROCESSO: 080.020.84912005
INTERESSADO: Secretaria d.e Estado de. Educação do Distrito. Federal.
ASSUNTO: Aplicação de penaidades

ri. •e 24/,
r(.4 I a • ...___...:_L_.2.__.__._.__.___

APROVO O PARECER N° 030712008 —

PROCADIPGDF, elaborado pelo í. Procurador do Distrito Federal


ALEXANDRE MORAES PEREIRA, bem como a cota da respectiva
chefia, e determino a restituição dos autos à Secretaria de Estado de
Educação do Distrito Federal.

Em I06 /,6'jçoÇ

p cJo Loi d C'c*


PATRICIA DA SILVEIRA CARDADOR
Procuradora-Geral Adjunta do Distrito Federal

DBRC
"Brasília - Patilmônio CuiLural da Hurnanidad"

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