Você está na página 1de 8

VIDA E OBRA DE

MARTINHO LUTERO
 
Biografia. Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, Alemanha. Foi criado
em Mansfeld. Na sua fase estudantil, foi enviado às escolas de latim de Magdeburg(1497) e
Eisenach(1498-1501). Ingressou na Universidade de Erfurt, onde obteve o grau de bacharel em
artes (1502) e de mestre em artes (1505).

Seu pai, um aldeão bem sucedido pertencente a classe média, queria que fosse advogado. Tendo
iniciado seus estudos, abruptamente, os interrompeu entrando no claustro dos eremitas
agostinianos em Erfurt. É um fato estranho na sua vida, segundo seus biógrafos. Alguns
historiadores dizem que este fato aconteceu devido a um susto que teve quando caminhava de
Mansfeld para Erfurt. Em meio a uma tempestade, quase foi atingido por um raio. Foi derrubado por
terra e em seu pavor, gritava "Ajuda-me Santa Ana! Eu serei um monge!". Foi consagrado padre em
1507.

Entre 1508 e 1512, fez preleções de filosofia na Universidade de Wurtenberg, onde também ensinou
as Escrituras, especializando-se nas Sentenças de Pedro Lombardo. Em 1512 formou-se Doutor em
Teologia. 

Fazia conferências sobre Bíblia, especializando-se em Romanos, Gálatas e Hebreus. Foi durante este
período que a teologia paulina o influenciou, percebendo os erros que a Igreja Romana ensinava, à
luz dos documentos fundamentais do cristianismo primitivo.

Lutero era homem de envergadura intelectual e habilidades pessoais. Em 1515, foi nomeado vigário,
reponsável por onze mosteiros. Viu-se envolvido em controvérsias com respeito a venda de
indulgêngias.

Suas Lutas Pessoais. Lutero estava galgando os escalões da Igreja Romana e estava muito
envolvido em seus aspectos intelectuais e funcionais. Por outro lado, também estava envolvido em
questões pessoais quanto à salvação pessoal. Sua vida monástica e intelectual não forneciam
resposta aos seus anseios interiores, às suas aflitivas indagações.

Seus estudos paulinos deixaram-no mais agitado e inseguro, particularmente diante da afirmação "o
justo viverá pela fé", Rm 1:17. Percebia ele que a Lei e o cumprimento das normas monásticas,
serviam tão-somente para condenar e humilhar o homem, e que nesta direção não se pode esperar
qualquer ajuda no tocante à salvação da alma.

Martinho Lutero, estava trabalhando em "repensar o evangelho". Sendo monge agostiniano,


fortemente influenciado pela teologia desta ordem monástica, paulina quanto aos seus pontos de
vista, Lutero estava chegando a uma nova fé, que enfatizava a graça de Deus e a justificação pela
fé.

Esta nova fé tornou-se o ponto fundamental de sua preleções. No seu desenvolvimento começou a
criticar o domínio da filosofia tomista sobre a teologia romana. Ele estudava os escritos de
Agostinho, Anselmo e Bernardo de Claraval, descobrindo nestes, a fé que começava a proclamar.
Staupitz, orientou-o para que estudasse os místicos, em cujos escritos se consolou.

Em 1516, publicou o devocionário de um místico desconhecido, "Theologia Deutsch". Tornou-se


pároco da igreja de Wittenberg, e tornou-se um pregador popular, proclamando a sua nova fé.
Opunha-se a venda de indulgências comandada por João Tetzel. 

As Noventa e Cinco Teses. Inspirado por vários motivos, particularmente a venda de


indulgêngias, na noite antes do Dia de Todos os Santos, a 31 de outubro de 1517, Lutero afixou na
porta da Igreja de Wittenberg, sua teses acadêmicas, intituladas "Sobre o Poder das
Indulgências". Seu argumento era de que as indulgências só faziam sentido como livramento das
penas temporais impostas pelos padres aos fiéis. Mas Lutero opunha-se à idéia de que a compra das
indulgências ou a obtenção das mesmas, de qualquer outra maneira, fosse capaz de impedir Deus
de aplicar as punições temporais. Também dizia que elas nada têm a ver como os castigos do
purgatório. Lutero afirmava que as penitências devem ser praticadas diariamente pelos cristãos,
durante toda a vida, e não algo a ser posto em prática apenas ocasionalmente, por determinação
sacerdotal. 

João Eck, denunciou Lutero em Roma, e muito contribuiu para que o mesmo fosse condenado e
excluído do Igreja Romana. Silvester Mazzolini, padre confessor do papa, concordou com o parecer
condenatório de Eck, dando apoio a este contra o monge agostiniano. 

Em 1518. Lutero escreveu "Resolutiones", defendendo seus pontos de vista contra as


indulgências, dirigindo a obra diretamente ao papa. Entretanto, o livro não alterou o ponto de vista
papal a respeito de Lutero. Muitas pessoas influentes se declararam favoráveis a Martinho Lutero,
tornando-se este então polemista popular e bem sucedido. Num debate teológico em Heidelberg, em
26 de abril de 1518, foi bem sucedido ao defender suas idéias.

Reação Papal. A 7 de agosto de 1518, Lutero foi convocado a Roma, onde seria julgado como
herege. Mas apelou para o príncipe Frederico, o Sábio, e seu julgamento foi realizado em território
alemão em 12/14 de outubro de 1518, perante o Cardeal Cajetano, em Augsburg. Recusou-se a
retratar-se de suas idéias, tendo rejeitado a autoridade papal, abandonando a Igreja Romana, o que
ficou confirmado num debate em Leipzig com João Eck, entre 4 e 8 de julho de 1519.

A partir de então Lutero declara que a Igreja Romana necessita de Reforma, publica vários escritos,
dentre os quais se destaca "Carta Aberta à Nobreza Cristã da Nação Alemã Sobre a Reforma
do Estado Cristão". Procurou o apoio de autoridades civis e começou a ensinar o sacerdócio
universal dos crentes, Cristo como único Mediador entre Deus e os homens, e a autoridade exclusiva
das Escrituras, em oposição à autoridade de papas e concílios. Em sua obra "Sobre o Cativeiro
Babilônico da Igreja", ele atacou o sacramentalismo da Igreja. Dizia que pelas Escrituras só
podem ser distinguidos dois sacramentos o batismo e a Ceia do Senhor. Opunha-se à alegada
repetida morte sacrificial de Cristo, por ocasião da missa. Em outro livro, "Sobre a Liberdade
Cristã", ele apresentou um estudo sobre a ética cristã baseada no amor. 

Lutero obteve grande popularidade entre o povo, e também considerável influência no clero.

Em 15 de julho de 1520, a Igreja Romana expediu a bula Exsurge Domine, que ameaçava Lutero
de ser excomungado, a menos que se retratasse publicamente. Lutero queimou a bula em praça
pública. Carlos V, Imperador do Santo Império Romano, mandou queimar os livros de Lutero em
praça pública.

Lutero compareceu a Dieta de Worms, de 17 a 19 de abril de 1521. Recusou-se a retratação,


dizendo que a sua consciência estava presa à Palavra de Deus, pelo que a retratação não seria
seguro nem correto. Dizem os historiadores que concluiu a sua defesa com estas palavras : "Aqui
estou; não posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude. Amém". Respondendo a Dieta em 25 de
maio de 1521, formalizou a excomunhão de Martinho Lutero, e a Reforma nascente também foi
condenada. 

Influência Política e Social. Por medidas de precaução, Lutero este recluso no castelo de
Frederico, o Sábio, cerca de 10 meses. Teve tempo de trabalhar na tradução do Novo Testamento
para a língua alemã. Esta tradução foi publicada em 1532. Com a ajuda de Melancton e outros, a
Bíblia inteira foi traduzida, e, então, foi publicada em 1532. Finalmente, essa tradução unificou os
vários dialetos alemães, do que resultou o moderno alemão.

Tem-se dito que Lutero foi o verdadeiro líder da Alemanha, de 1521 até 1525. Houve a Guerra dos
Aldeões em 1525, das classes pobres contra os seus líderes. Lutero tentou estancar o derramento
de sangue, mas, quando os aldeões se recusaram a ouví-lo, ele apelou para os príncipes a fim de
restabelecerem a paz e a ordem.

Fato notável foi o casamento de Lutero, com Catarina von Bora, filha de família nobre, ex-freira
cisterciana. Tiveram seis filhos, dos quais alguns faleceram na infância. Adotou outros filhos. Este
fato serviu para incentivar o casamento de padres e freiras que tinham preferido adotar a Reforma.
Foi um rompimento definitivo com a Igreja Romana.

Houve controvérsia entre Lutero e Erasmo de Roterdã, que nunca deixou a Igreja Romana, por
causa do livre-arbítrio defendido por este. Apesar de admitir que o livre-arbítrio é uma realidade
quanto a coisas triviais, Lutero negava que fosse eficaz no tocante à salvação da alma. 
Outras Obras. Em 1528 e 1529, Lutero publicou o pequeno e o grande catecismos, que se
tornaram manuais doutrinários dos protestantes, nome dado aqueles que decidiram abandonar a
Igreja Romana, na Dieta de Speyer, em 1529.

Juntamente com Melancton e outros, produziu a confissão de Augsburg, que sumaria a fé luterana
em vinte e oito artigos. Em 1537, a pedido de João Frederico, da Saxônia, compôs os Artigos de
Schmalkald, que resumem seus ensinamentos.

Enfermidade e Morte. Os últimos dias de Lutero tornaram-se difíceis devido a problemas de


saúde. Com frequência tinha acesso de melancolia profunda. Apesar disso era capaz de trabalhar
tenazmente. Em 18 de fevereiro de 1546, em Eislebem, teve um ataque do coração, vindo a falecer.

A Teologia de Lutero. Como monge agostiniano, Lutero dava preferência a certos estudos, dentre
os quais se destacam a soberania de Deus, dando uma abordagem mais bíblica às questões
religiosas e às doutrinas cristãs. Alguns pontos defendidos por Lutero são :

1 - nem o papa nem o padre, tem o poder de remover os castigos temporais de um pecador.

2 - a culpa pelo pecado não pode ser anulada por meio de indulgências.

3 - somente um autêntico arrependimento pode resolver a questão da culpa e do castigo, o que


depende única e exclusivamente de Cristo.

4 - só há um Mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo.

5 - não há autoridade especial no papa.

6 - as decisões dos concílios não são infalíveis.

7 - a Bíblia é a única autoridade de fé e prática para o cristão. 

8 - a justificação é somente pela fé.

9 - a soberania de Deus é superior ao livre-arbítrio humano.

10 - defendia a doutrina da consubstanciação em detrimento da transubstanciação.

11 - há apenas dois sacramentos : o batismo e a ceia do Senhor.

12 - opunha-se a veneração dos santos, ao uso de imagens nas Igrejas, às doutrinas da missa e das
penitências e ao uso de relíquias.

13 - contrário ao celibato clerical. 

14 - defendia a separação entre igreja e estado.

15 - ensinava a total depravação da natureza humana.

16 - defendia o batismo infantil e a comunhão fechada.

17 - defendia a educação dos fiéis em escolas paroquianas.

18 - repudiava a hierarquia eclesiástica. 


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA. 
1 - "Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia"; R. N. Champlin; J. M. Bentes; Candeia; 1994.
2 - "Enciclopédia Histórico-Teológica"; W. A. Elwell, ed.; Edições Vida Nova;1990.
3 - "Teologia dos Reformadores"; T. George; Edições Vida Nova; 1994.
4 - "História da Igreja Cristã"; R. H. Nichols; CEP;1992.
.
VIDA E OBRA DE

JOÃO CALVINO
Biografia.

1. Educação e Preparação. 
 
No dia 10 de julho de 1509, nascia João Calvino de Noyon, filho de Gerard Cauvin e Jeanne de La
Franc, casal distindo e ilustre, bem relacionado social e politicamente. Batizado na tradição católica,
teve como padrinho Jean Vatine, cônego da Catedral em Noyon.
Foi educado sob orientação pedagógica de Marturin Cardier, um dos mestres do latim na sua época,
no Colégio de La Marche, em Paris. Mais tarde foi transferido para Montaignu, atendendo aos
propósitos de seu pai, que desejava fazer de Calvino um clérigo. Em 1528, com 19 anos, deixa o
colégio e Paris. 
Gerard Cauvin, decide então mandar Calvino para Orleans, a fim de estudar Direito, o caminho mais
seguro para a fama e a fortuna. Se destaca pela sua inteligência e brilhantismo, deixando Orleans
antes de completar o curso, mas a Academia lhe confere o título de Doutor, pôr serviços prestados,
segundo alguns dos seus biógrafos. Foi monitor da disciplina em várias ocasiões, tendo oportunidade
de tomar contato com o mundo da antiguidade clássica, tendo sido tutelado pôr Melchior Wolmar no
estudo do grego. 
Seu pai, Gerard Cauvin, morre em 1531, tendo Calvino se desobrigado do estudo do Direito,
passando à literatura clássica. Em Paris, em 1532, publica o seu primeiro livro, uma edição do livro
de Sêneca intitulado "Sobre a Clemência", completada com um apartato textual e um longo
comentário.
 
 
2. A Conversão. 
 
Supõe-se que sua conversão ao protestantismo tenha se dado no período compreendido entre 1527
e 1534. De formação católica tradicional, deve ter tido contato com as idéias evangélicas, talvez
através dos escritos de Lutero, que foram escritos na década de 20, e teve contato com humanistas
franceses evangélicos, como Jacques Lefèvre, Farel, e um seu primo Robert Olívetan, em cujo Novo
Testamento Francês ( 1535 ), Calvino escreveu um prefácio intitulado "A todos os que amam a
Jesus Cristo e Seu evangelho". 
Em 1555, Calvino recordou sua "súbita conversão" segundo alguns, escrevendo sobre ela no
prefácio do seu "Comentários Sobre Os Salmos", onde declara que "Deus mudou meu coração", e
seu desejo de viver em reclusão para seus estudos, "em paz em algum canto desconhecido". 
 
 
3. A vocação de Calvino. 
 
Em 1533, no Dia de Todos os Santos, Calvino se envolve, como autor ou co-autor, do discurso
proferido pôr Nicholas Cop, médico, amigo de Calvino e Reitor da Universidade de Paris, onde
declara públicamente Cristo como único mediador de Deus. O seu discurso revela simpatias com
Lutero, e a Sorbonne o repele, convocando o Parlamento. Copp foge para a Basiléia.
Calvino tem sua casa vasculhada e seus livros apreendidos. Disfarçado de agricultor foge para
Angoulême, onde o cônego da catedral. Luis Tillet, concede-lhe asilo e põe à sua disposição a
biblioteca, onde provavelmente, Calvino começou a escrever sua primeira edição das Institutas. Daí
vai para Nerac na Gascônia, visita Noyon sua terra natal, voltando a Paris.
A investida contra os "hereges" na França, devido ao surgimento dos "Cartazes", em 18 de outubro
de 1534, um ataque à missa e seus adornos, faz com que Calvino deixe o país apressadamente e
encontre refúgio na cidade reformada de Basiléia, onde vem a publicar a primeira edição das
Institutas, através do editor Thomas Platter, em março de 1536, com o título "O Ensino Básico da
Religião...".
No verão de 1536, Calvino, seu irmão Antoine e sua meia-irmã Marie viajavam para Estrasburgo,
onde esperava estabelecer-se, para seu antigo desejo de descanso e estudo. Mas a movimentação
de tropas leais a Francisco I e Carlos V, desviam a sua trajetória para Genebra.
Foi abordado por Farel, que havia levado a cidade a abraçar a Reforma, numa assembléia pública,
em 25 de maio de 1536, votando unanimente por "Viver de agora em diante de acordo com a lei do
evangelho e com a Palavra de Deus e abolir todos os abusos papais". Farel, o demove de seus
intentos, lhe implorando que ficasse em Genebra, dizendo que Deus o castigaria por sua fuga
comodista à convocação divina; já que o único desejo de Calvino, era chegar a Estrasburgo, onde
fixaria residência, dedicando-se aos estudos.
Em Genebra, redigiu um manual de doutrina cristã para a Igreja de Genebra, assumindo diversas
tarefas ao longo dos anos, confirma-se a sua vocação básica de pastor e de mestre. Em 20 de julho
de 1537, o Senado e o povo de Genebra, solenemente declaram sua aceitação das principais
doutrinas e disciplinas da religião cristã. Quanto a aceitação do catecismo e da confissão de fé, não
houve subscrição individual satisfatória. 
O concílio de Genebra percebeu certos desacertos nas medidas tomadas, e resolveu afouxar as
exigências, tomando a si posteriormente, a jurisdição da comuna em assuntos morais e religiosos, o
que contrariava as idéias de Calvino, que sempre julgou o poder civil incapaz de resolver assuntos
morais e religiosos, os quais deviam caber à Igreja, por suas autoridades ou consistórios, como mais
tarde se veio a fazer.
Em abril de 1538, Calvino e Farel foram expulsos de Genebra. Após uma breve estada em Basiléia,
Calvino se dirige para Estrasburgo, como no início desejava.
Calvino passou três anos em Estrasburgo, tendo sido convidado insistentemente, por Martin Bucer
para assumir o pastorado dos refugiados franceses. Este se torna seu protetor e amigo nesta cidade,
sendo grande intelectual, personalidade de alto porte, um teólogo, um espírito equilibrado, de
disposição pacífica e moderada. 
Em Estrasburgo, Calvino teve oportunidade de conviver com outras personalidades e reformadores
notáveis, tais como Hédio, Niger, Capito e Sturm. Lecionava, pregava em dois ou três pontos
diferentes, organizando igrejas, formulando a ordem do culto, da celebração da Santa Ceia,
batizados, casamentos. Cuidou do cântico da igreja, metrificou alguns Salmos, bem como o cântico
de Simeão e o decálogo.
Em Estrasburgo, Calvino publicou um tratato sobre a Santa Ceia, alicerçando a sua doutrina do
sacramento de maneira sólida nas Escrituras, diferentemente de Zwinglio e Lutero. O trabalho de
Calvino, vem a se evidenciar porque era pastor, professor, escritor e estadista da Igreja.
É nesta cidade que Calvino vem a contrair núpcias com Idalete de Buren, viúva de um anabatista
convertidapela instrumentalidade de Calvino, em 14 de agosto de 1540, tendo a benção sido dada
por seu amigo Farel. A vida matrimonial de Calvino tem curta duração, entretanto feliz e cheia de
ternura, a despeito dos sofrimentos do casal. O único filho do casal morreria logo após o
nascimento, e Idalete, em março de 1549, também vem a falecer vitimada pela tuberculoso. A
dedicada e afetuosa companheira de Calvino, é lembrada por ele como : "Fiel companheira de minha
vida, fiel ajudadora de meu ministério". 
Outra vez, Calvino foi convidado a retornar a Genebra, sem Farel. Inicialmente recusou-se, porque
deseja levar a sua vida bucólica, estudando e desenvolvendo seus escritos, longe dos transtornos.
Seu protetor, Martin Bucer, levanta o tema do julgamento divino - "se você recusar a retomar seu
ministério, estará agindo como Jonas, que tentou fugir de Deus!!!". 
Retorna a Genebra em 13 de setembro de 1541, onde realizou dois atos oficiais. Um foi apresentar
ao conselho da cidade um plano detalhado para a ordem e o governo da Igreja. As "Ordenanças
Eclesiásticas" exigiam o estabelecimento de quatro oficios, a saber - pastor, doutor, ancião e
diácono, que correspondiam a doutrina, educação, disciplina e serviço social. Aprovado o plano,
Calvino passou o resto de sua vida tentando executá-lo. O segundo ato, foi a subida ao púlpito da
Catedral de São Pedro, onde começou de onde tinha parado antes, no mesmo versículo, capítulo e
livro da Bíblia.
Em Genebra, Calvino tem a oportunidade de fundar a sua Academia a 5 de março de 1559, onde
adota um programa de ensino unificado - primário, secundário e universitário. Quando morreu, a
Academia contava com 1200 alunos universitários, além de 300 alunos nos cursos inferiores. Ele
tinha como ideal preparar líderes para a Igreja, a sociedade civil e para o governo civil.
Em 25 de dezembro de 1559, Calvino é convidado ao concílio da cidade de Genebra, para aí receber
o título de cidadão da cidade, que passa a ser conhecida como a cidade de Calvino.
Calvino vem a falecer em 27 de maio de 1564, desde seus dias de estudante, fora frágil e com
frequência estava doente.
Há que se mencionar o lamentável episódio com Servetus, polemista, teólogo, médico, contra o qual
Calvino foi chamado a testemunhar, e contra as expectativas de todos, foi condenado como herege,
à pena de morte, para ser queimado vivo. Direta ou indiretamente, consciente ou
inconscientemente, fato é que houve participação de Calvino, o julgamento deste cabendo à
História.
 
 
4 - A Obra Literária de Calvino.
Existem seis grandes obras de Calvino, que não podem deixar de ser consultadas para um estudo
completo da teologia de Calvino.
1 - As Institutas.
É a principal obra de Calvino. A primeira edição em 1536, consistiam em seis capítulos. A edição de
Estrasburgo, em 1539, foi ampliada. Ao todo, Calvino produziu oito edições do texto latino e cinco
traduções para o francês. A edição de 1539, é aquela que o satisfaz, é uma obra imensa,
aproximadamente do tamanho do Velho Testamento mais os evangelhos sinóticos. , organizada em
quatro volumes, assim distribuídos :
Volume I :
O Conhecimento de Deus, O Criador; O conhecimento duplo de Deus; Escrituras; Trindade; Criação;
Providência;
Volume II :
O Conhecimento de Deus, O Redentor; A queda, a pecaminosidade humana; A Lei; O Antigo e o
Novo Testamentos; Cristo, o Mediador : Sua Pessoa ( Profeta, Sacerdote e Rei ) e obra ( expiação );
Volume III :
O Método Pelo Qual Recebemos a Graça da Cristo, Seus Benefícios e Seus feitos; Fé e Regeneração;
Arrependimento; Vida Cristã; Justificação; Predestinação; A Ressurreição Final;
 Volume IV :
Os Meios Externos Pelos Quais Deus Convida-nos à Sociedade de Cristo; A Igreja; Sacramentos;
Governo Civil.
2 - Comentários.
Como complemento às Institutas, Calvino reportava os leitores a seus comentários bíblicos. Calvino
produziu comentários sobre todo o Novo Testamento, excetuando-se 2 e 3 João e Apocaplipses,
sobre o Pentateuco, Josué, Salmos e Isaías. Os comentários de Calvino sobre o Velho Testamento,
perfazendo um total de 45 volumes na tradução inglesa do século XIX.
3 - Sermões.
Calvino foi um pregador e mestre, em uma época em que o púlpito era o principal meio de
comunicação para uma cultura inteira. Alguns sermões foram publicados durante toda a vida ,
outros permanecendo na forma de manuscrito até hoje.
4 -Folhetos e Tratados. 
Alguns destes folhetos eram dirigidos contra oponentes teológicos, como os reformadores radicais os
católicos romanos; os católicos romanos e os luteranos. 
5 - Cartas .
Calvino foi corresponde de várias pessoas, reformadores, reis e príncipes, igrejas, pastores e
mártires. As cartas de Calvino o revelam como teólogo contextualizado, atento às correntes políticas
e sociais de sua época, quanto a assuntos religiosos específicos. O alcance internacional da teologia
de Calvino e a extensào de sua influência pessoal podem ser captados observando-se suas cartas.
6 - Escritos litúrgicos e catequéticos.
Como pastor, versificou textos em francês para a igreja em Estrasburgo e Genebra. Ele era
consciente de que a única forma de recuperar a vida moral e religiosa do povo era instruindo-o na
"escola da fé". Elaborou uma confissão de fé e um catecismo para complementar a obra "A Forma
das Orações" em 1542.
BIBLIOGRAFIA.
1 - "Teologia dos Reformadores"; Timothy George; Ed. Vida Nova; S.P. 1994.
2 - "Calvino - Vida, Influência e Teologia"; Wilson Castro Ferreira; Ed. "Luz Para O Caminho"; S.P.
1985.
 
A Contemporaneidade na Pregação dos Reformadores
A Reforma marca um avivamento na pregação. Como fatores mais importantes deste avivamento
Zórzoli destaca a nova ênfase na pregação como um elemento vital na vida e na adoração, tendo a
mensagem proferida por um pregador voltado ao lugar que a missa havia ocupado. Além disso, o
mesmo autor ainda acrescenta a influência da pregação na luta contra os erros patrocinados pela
Igreja Papal, a volta da utilização do texto bíblico na pregação e o refinamento dos métodos
homiléticos até então utilizados. 
Os precursores anabatistas, além de Lutero, Calvino e Zwinglio, atestam o restabelecimento da
prioridade da pregação.
Neste período surgem obras no campo da Homilética que merecem destaque, como a Ratio
Brevissima Concionandi, de Felippe Melanchton (1517) e que em sua primeira parte discorre sobre
as várias partes do discurso (exórdio, narração, preposição, argumentos, confirmação, ornamentos,
amplificação, confutação, recaptulação e peroração), em seguida enfoca a maneira de desenvolver
temas simples, depois como trabalhar com temas complexos, e assim por diante. Constitui-se numa
das principais obras do gênero, conforme Burt. 
Outra obra Homilética citada pelo mesmo autor é o Ecclesiastes, Sive Concionator Evangelicus, de
Erasmo (c. de 1466-1536), que dividiu-se em quatro livros: o primeiro sobre a dignidade, piedade,
pureza, prudência e outras virtudes que o pregador deve cultivar; o segundo sobre estudos que o
pregador deve fazer; os demais sobre figuras do discurso e o caráter do sacerdócio. 
Embora Martinho Lutero (1483-1546) não tenha escrito uma obra específica sobre a arte de pregar,
Burt destaca suas Palestras à Mesa, das quais resume os seguintes preceitos homiléticos:
O bom pregador deve saber ensinar com clareza e ordem. Deve ter uma boa inteligência, uma boa
voz, uma boa memória. Deve saber quando terminar, deve estudar muito para saber o que diz.
Deve estar pronto a arriscar a vida, os bens e a glória, pela Verdade. Não deve levar a mal o enfado
e a crítica de quem quer que seja. 
Ainda sobre ensinos de Lutero acerca da pregação, Burt destaca estas palavras do reformador,
voltadas especificamente aos jovens pregadores:
Tende-vos em pé com garbo, falai virilmente, sede expeditos. Quando fores pregar, voltai-vos para
Deus e dizei-lhe: "Senhor meu, quero pregar para tua honra, falar de ti, magnificar e glorificar o teu
nome". E que o vosso sermão seja dirigido não aos ouvintes mais conspícuos, mas aos mais simples
e ignorantes. Ah! que cuidado tinha Jesus de ensinar com simplicidade. Das videiras, dos rebanhos,
das árvores, deduzia Ele as suas parábolas; tudo para que as multidões compreendessem e
retivessem a Verdade. Fiéis à vocação, nós receberemos o nosso prêmio, senão nesta vida, na
futura.
Podemos perceber nestes conselhos de Lutero a preocupação de tornar a mensagem compreensível
ao povo mais simples que compõe a Congregação. Esta é uma das características principais dos
reformadores deste período. 
Com relação a João Calvino (1509-1564), que foi pastor da Église St. Pierre, em Genebra, na Suíça,
podemos destacar sua obra literária que foi amplamente distribuída e lida em todas as partes da
Europa e que influenciou grandemente o movimento reformador. 
Como teólogo e pastor, Calvino deu prioridade ao ensino das Escrituras, tendo escrito comentários
sobre 23 livros do Antigo Testamento e sobre todos os livros do Novo Testamento, menos
Apocalipse. Suas Institutas, obra composta de 79 capítulos e completada em 1559, é o principal de
seus escritos. 
Dentre outras coisas, Calvino é tido como um pregador preocupado com a delimitação do verdadeiro
papel da Igreja na sociedade, tendo sido precursor de um grande impacto na sociedade de sua
época. Ensinava que a Igreja precisava orar pelas autoridades políticas. 
Comentando I Timóteo 2:2, afirmou que precisamos não somente obedecer a lei e os governantes,
mas também em nossas orações suplicar pela salvação deles. Expressou também grande
preocupação com a injustiça social. Comentando Salmo 82:3 , afirmou: "um justo e bem equilibrado
governo será distinguido por manter os direitos dos pobres e dos aflitos". Sua pregação levou a
Igreja de Genebra a batalhar contra os juros elevados, a lutar por oportunidades de empregos e
tudo aquilo que era pertinente a uma sociedade secular mais humana.
Dentre os grandes pregadores do século XVI podemos destacar ainda John Knox (1514-1572), o
reformador escocês. Uma de suas características marcantes foi sua visão social bem esclarecida
expressa na defesa da obrigação de cada cristão cuidar dos pobres e no sistema elaborado por ele
mediante o qual cada igreja sustentaria seus próprios necessitados e administraria escolas de
catequese para todas as crianças, ricas e pobres.
Para Zórzoli, no geral, os séculos XVII e XVIII foram de novo declínio, com uma quase generalizada
pobreza de púlpitos na Europa. Destaca pregadores como Baxter, Bunyan e Taylor, na Inglaterra, e
Bossuet e Fenelon, na França, como sendo exceções no século XVII. Destaca como grandes
pregadores e exceções do século XVIII, que considera marcado pela mediocridade, John e Carl
Wesley, juntamente com George Whitefield, na Inglaterra, que produziram um avivamento centrado
na pregação às multidões. Na América do Norte destaca Jonathan Edwards. Todos estes foram
pregadores que conseguiram fazer a ponte da Palavra aos corações de multidões de pessoas. 
Sobre Jonathan Edwards (1703-1758), cujo mais famoso sermão foi intitulado "Pecadores nas Mãos
de Um Deus Irado", pregado na Igreja Congregacional em Northampton, Massachusetts, em 1741,
podemos destacar o seu sermão de despedida do pastorado daquela igreja, depois de 23 anos de
ministério ali. 
Ao buscardes o futuro progresso desta sociedade é de maior importância que eviteis a contenda. Um
povo contencioso é um povo miserável. As contendas que têm surgido entre nós desde que me
tornei vosso pastor têm sido o fardo mais pesado que tenho carregado no decurso do meu
ministério - não somente contendas que tendes comigo, mas aquelas que tendes tido uns com os
outros por questões de terras e outros interesses. Eu já sabia muito bem que a contenda, o espírito
inflamado, a maledicência e coisas semelhantes, eram frontalmente contrárias ao espírito do
Cristianismo e têm concorrido, de modo todo peculiar, para afastar o Espírito de Deus de um povo, a
tornar sem efeito todos os seus meios de graça, além de destruir o conforto e o bem estar temporal
de cada um. Permita-me que vos exorte com todo o vigor, que, daqui para a frente, todas as vezes
que vos empenhardes na busca do vosso bem futuro, que vigieis atentamente contra ume espírito
contencioso: "se quiserdes ver dias bons, buscai a paz e seguí-a"(2 Pedro 3:10-11).
Nota-se nesta transcrição da conclusão do sermão o cuidado de enfocar um assunto vivenciado pela
congregação. O pregador falou ao povo sobre uma deficiência do povo. Esta contextualização da
pregação determinou o sucesso e caracterizou os grandes pregadores em todos os períodos da
história da pregação.

Você também pode gostar