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O Oceano

Mauricio Ghigonetto - Shaku Hondaku

Esta parábola é contada por alguns reverendos do Honpa Hongwanji como metáfora para explicar o Outro Poder (Tariki) e o Próprio Poder
(Jiriki), além de conceitos de Buda Amida e Terra Pura. Esta versão foi encontrada no livro "Ocean" do Rev. Ken Tanaka e traduzida por
Mauricio Ghigonetto (Shaku Hondaku)

"Numa noite um navio parte de uma ilha tropical. Depois de muitas horas em alto mar, um marinheiro caiu pela amurada mergulhando na
água. Ninguém no navio notou que faltava um homem e continuaram navegando em sua rota. A água estava gélida e as ondas estavam
agitadas. Estava assustadoramente escuro. O marinheiro se sacudia freneticamente para se manter acima da água.

Ele então começou a nadar em direção a uma ilha que ele viu antes de cair. Tinha perdido totalmente seu senso de direção e não estava
seguro de que estava indo para a direção correta. Embora fosse um bom nadador, seus braços e pernas logo começaram a enfraquecer,
seus pulmões estavam cansados e ofegava por ar. O marinheiro se sentia perdido e totalmente sozinho no meio do oceano. Seu fim parecia
estar próximo. Sendo tomado pelo desespero, suas energias se esvaíam, como a areia de uma ampulheta e começou a engasgar com a
água que batia em seu rosto, sentindo seu corpo sendo sugado para as profundezas.

Neste instante, ele ouviu uma voz das profundezas do oceano que dizia: "Livre-se! Livre-se de seu esforço! Está tudo certo, você está bem!
Namo Amida Butsu!”

O marinheiro ouviu a voz e parou com seu esforço inútil de tentar nadar por suas próprias forças. Ao invés disso, virou de costas, com os
cotovelos abertos e as mãos atrás da nuca, como se estivesse deitado em seu gramado numa confortável tarde de verão. Ele estava
surpreso por ver que o oceano o segurava, o suportava e o levava a qualquer parte, sem nenhum esforço seu!

Agora, a água parecia quente e as ondas estavam calmas, pois sem nadar contra elas ele apenas subia e descia com seu passar. O oceano
que antes parecia querer sugá-lo agora cuidava dele e o marinheiro estava agradecido e feliz em saber que tudo estava certo!
Compreendeu, então, que tudo sempre esteve certo e que ele sempre esteve bem! Ele apenas não sabia disso. O oceano não mudou em
nada. Mas alterando sua maneira de pensar, a relação do marinheiro com o oceano foi que mudou. O mar transformou-se de um inimigo
perigoso e assustador, num amigo que abraça e apóia. O marinheiro sabia que não podia boiar para sempre no meio do oceano. Se não
tivesse nenhum outra obrigação ou responsabilidade, poderia ficar ali e desfrutar desta calma infinita. Mas, a imagem de sua mulher e filhos
pequenos esperando em casa ansiosamente por sua volta o inspirou a tentar alcançar a costa.

Ele começou a nadar como antes, mas com uma importante diferença. Agora, ele confia no oceano como um ente querido que protege e
consola. Sabe que toda vez que se cansar, pode deixar-se levar, pois o oceano o apoiará. Mais importante, ele agora sabe que enquanto
nadar será o poder do oceano e não o seu próprio que o manterá acima da água. Sim, ele move seus cotovelos para nadar, mas aprendeu
que pode boiar sem se esforçar. Agora que se sente seguro nos braços do mar, o marinheiro pode pensar em como achar uma ilha. Estuda
a posição das estrelas e da lua, bem como a direção dos ventos. Usando seu treinamento como marinheiro, este imagina onde estaria a ilha
mais próxima e se move em direção a ela. O nadador não tem nenhuma garantia de que escolhera a direção correta, mas agora tem
certeza de que o oceano não o deixará se afogar. Eventualmente ele encontrará a ilha. Em retribuição por esta nova confiança e alegria, o
marinheiro escuta a si mesmo murmurar: “Namo Amida Butsu! Namo Amida Butsu! Namo Amida Butsu....!”

Extraído do livro "Ocean - An Introduction to Jodo Shinshu Buddhism in America" - Rev. Kenneth K. Tanaka (Wisdom Ocean Publication) -
Tradução livre de Shaku Hondaku

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