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Caro aluno

Você está recebendo o primeiro livro da Unidade Técnica de Imersão (U.T.I.) do Hexag Vestibulares.
Este material tem o objetivo de retomar os conteúdos estudados nos livros 1 e 2, oferecendo um
resumo estruturado da teoria e uma seleção de questões dissertativas que preparam o candidato
para as provas de segunda fase dos principais vestibulares. Além disso, as questões dissertativas per-
mitem avaliar a capacidade de análise, organização, síntese e aplicação do conhecimento adquirido.
É também uma oportunidade de o estudante demonstrar que está apto a expressar suas ideias de
maneira sistematizada e com linguagem adequada.
Aproveite este caderno para aprofundar o que foi visto em sala de aula, compreender assuntos que
tenham deixado dúvidas e relembrar os pontos que foram esquecidos.
Bons estudos!

Herlan Fellini

SUMÁRIO
ENTRE LETRAS
GRAMÁTICA 3
INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS: ENTRE TEXTOS 19
LITERATURA 27

ENTRE FRASES
ESTUDO DA ESCRITA - REDAÇÃO 39

BETWEEN ENGLISH AND PORTUGUESE


ESTUDO DA LÍNGUA INGLESA 55
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020
Todos os direitos reservados.

Autores
Lucas Limberti
Murilo Almeida Gonçalves
Pércio Luis Ferreira

Diretor-geral
Herlan Fellini

Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista

Coordenador-geral
Raphael de Souza Motta

Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica


Hexag Sistema de Ensino

Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Imagens
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ISBN: 978-85-9542-072-4

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GRAMÁTICA
FORMAÇÃO DE PALAVRAS

Exemplo: guarda (flexão do verbo guardar;


FORMAÇÃO DE PALAVRAS sentinela) + roupa (vestuário) = guarda-rou-
As palavras da língua portuguesa são formadas basica- pa (mobiliário).
mente pelos processos de derivação e composição, mas São dois os processos de formação por composição:
também por onomatopeia, neologismo e hibridismo.
ƒ Composição por justaposição: quando não ocorre
a alteração fonética das palavras. A justaposição tam-
Formação por derivação bém pode ocorrer por hifenização.
No processo de formação por derivação, a palavra primiti-
va (primeiro radical) sofre acréscimo de afixos. São seis os Exemplos: girassol (gira + sol); guarda-chuva
tipos de formação por derivação. (guarda + chuva).

ƒ Derivação prefixal: acréscimo de prefixo à pala- ƒ Composição por aglutinação: quando ocorre alte-
vra primitiva. ração fonética, em decorrência da perda de elementos
das palavras.
Exemplo: in-capaz.
Exemplos: aguardente (água + ardente); embora
ƒ Derivação sufixal: acréscimo de sufixo à pala- (em + boa + hora).
vra primitiva.
Exemplo: papel-aria.
Outros processos
ƒ Derivação prefixal + sufixal: acrescenta-se um pre-
fixo e um sufixo a um mesmo radical de modo sequen- Hibridismo
cial, ou seja, os afixos não são encaixados ao mesmo No processo de formação por hibridismo, as palavras
tempo. Percebe-se facilmente, ao remover um dos afi- compostas ou derivadas são constituídas por elementos
xos, a presença de uma palavra com sentido completo. originários de línguas diferentes:
Exemplo: in-feliz-mente.
ƒ grego + latim: automóvel e monóculo
ƒ Derivação parassintética: acréscimo simultâneo de um ƒ latim + grego: sociologia, bicicleta
prefixo e de um sufixo a um mesmo radical ou à palavra
ƒ árabe + grego: alcaloide, alcoômetro
primitiva. Em geral, as formações parassintéticas originam-
-se de substantivos ou adjetivos para formarem verbos. ƒ tupi + grego: caiporismo
Exemplo: en-triste-cer. ƒ africano + latim: bananal
ƒ africano + grego: sambódromo
ƒ Derivação regressiva: ocorre redução da palavra pri-
mitiva. Nesse processo, formam-se substantivos abstratos ƒ francês + grego: burocracia
por derivação regressiva de formas verbais.
Exemplo: ajuda (substantivo abstrato da deriva-
Neologismo
Neologismo é o nome dado ao processo de criação de
ção regressiva do verbo ajudar).
novas palavras. São três tipos: Semântico (a palavra já
ƒ Derivação imprópria: ocorre a alteração da classe existe no dicionário, mas adquire um novo significado); Le-
gramatical da palavra primitiva. xical (criação de uma palavra nova, sem necessariamente
Exemplos: (o) jantar – de verbo para substantivo; seguir regras formais); Sintático (construção sintática que
(um) Judas – de substantivo próprio para comum. passa a ter um significado específico).
Exemplo:
Formação por composição Originalmente, a palavra bonde significava certo
Nos processos de formação de palavras por composição, veículo utilizado como meio de transporte. Hoje,
ocorre a junção de dois ou mais radicais. Palavras com na variedade linguística utilizada por falantes inse-
significados distintos formam uma nova palavra com um ridos no estilo do funk carioca, foi dado um novo
novo significado. significado para a palavra bonde: turma, galera.

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ARTIGOS, SUBSTANTIVOS E ADJETIVOS

ARTIGO Preposições
o, os a, as
Artigos
um, uns uma, umas
Artigo é a palavra que se antepõe a um substantivo (é um a ao, aos à, às — —
marcador pré-nominal), com a função inicial de determiná-
de do, dos da, das dum, duma,
-lo ou indeterminá-lo. Subdivide-se em dois grupos: defini-
duns dumas
dos e indefinidos.
em no, nos na, nas num, numa,
ƒ Artigos definidos: determinam o substantivo de ma- nuns numas
neira precisa. São eles: o(s), a(s). por pelo, pela, — —
Exemplo: Preciso que você me traga a cadeira pelos pelas
branca. (O artigo definido marca a necessidade
de se pegar uma cadeira determinada.) SUBSTANTIVO
ƒ Artigos indefinidos: determinam o substantivo de Classe de palavras variável que dá nome aos seres, obje-
maneira vaga/imprecisa. São eles: um(uns), uma(s). tos e coisas em geral. Os substantivos são classificados em
Exemplo: Preciso que você me traga uma cadeira próprios, comuns, concretos, e abstratos. Eles se fle-
branca. (O artigo indefinido marca a necessidade xionam em número, gênero e grau.
de se pegar uma cadeira qualquer, indeterminada.)
ADJETIVO
Artigo combinado com preposições Palavra que acompanha e modifica o substantivo, podendo
A contração de artigos com preposições é um movimento caracterizá-lo ou qualificá-lo.
essencial para a demarcação de sentido em construções
textuais. Muitas vezes, fazer ou não fazer a contração do Nomes substantivos e
artigo com a preposição pode alterar significativamente o nomes adjetivos
entendimento que se tem de um texto. Esses eventos tex-
tuais serão discutidos no próximo tópico (o artigo aplicado No contexto de uma frase, é possível identificar palavras de
ao texto). Ficaremos aqui com as possibilidades de contra- outras classes, entre elas os adjetivos, que se transformam
ção do artigo com a preposição. em nomes (substantivos) desde que precedidas de um artigo.

VERBOS: NOÇÕES PRELIMINARES E


MODOS INDICATIVO E SUBJUNTIVO

VERBO Ela bebeu chá fervendo. (advérbio)


Fervendo, desligue. (advérbio)
ƒ Particípio
Formas nominais do verbo
A feira foi inaugurada. (adjetivo)
O infinitivo, o particípio (regular e irregular) e o gerúndio
O parque foi inaugurado. (adjetivo)
são chamados formas nominais do verbo porque podem
funcionar como nomes – substantivo, adjetivo, advérbio.
ƒ Infinitivo
Modos e tempos verbais
Os modos verbais traduzem a intencionalidade com que
O comer demais faz mal. (substantivo)
se emprega a forma verbal. São classificados em indi-
O viver é bom. (substantivo) cativo (fato), subjuntivo (desejo, hipótese) e imperativo
ƒ Gerúndio (ordem, apelo).

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Quando lemos, falamos ou escrevemos, posicionamo-nos Pretérito imperfeito
em um determinado tempo. No momento do enunciado,
ƒ Indica um processo ocorrido anteriormente ao mo-
os verbos ocorrem (presente), ocorreram (passado) ou
mento da declaração, mas contemporâneo a outro
ocorrerão (futuro), dependendo do modo verbal.
fato passado.

Tempos do modo indicativo Eu ouvia samba quando se deu o estouro.


Ele comia quando da sua chegada.
Presente
ƒ Indica processo no momento da fala. ƒ É empregado para indicar processo em desenvolvimento.

Faço minhas escolhas. (atualmente, agora) Eu dançava quando ele entrou.

ƒ Indica processo habitual, constante, fato real, verdade. ƒ Indica processo em continuidade, habitual, constan-
te, frequente.
Ela cumpre seus acordos. (ação habitual)
Eu residia nesta casa.
ƒ Indica processo ocorrido até o momento da declaração.
ƒ Indica processo idealizado, não realizado.
Moro com meus colegas.
Pretendíamos ir à Bahia, mas o frio repentino
ƒ Em narrativas históricas (presente histórico), em lugar não permitiu.
do pretérito perfeito.
ƒ Como manifestação de cortesia, de polidez, em lugar
Colombo chega à América e, em 1492, conquis-
do presente do indicativo ou do imperativo.
ta o Novo Mundo.
Queria só um abraço.
ƒ Em acontecimento próximo, em lugar do futuro.
ƒ Em lugar do futuro do pretérito do indicativo.
Não posso almoçar contigo amanhã.
Se ele pagasse, já estávamos (em
ƒ Em expressões condicionais (se...), em lugar do subjuntivo.
vez de “estaríamos“) na França.
Se tudo corre bem, podemos viajar.
Pretérito mais-que-perfeito
Pretérito perfeito ƒ Indica uma ação passada, um fato concluído que
ƒ Indica um processo, algo já realizado, concluído, ter- aconteceu antes de outro fato (ambos no passado).
minado, sem necessidade de referência à outra ação O trem partira quando ele enfim chegou.
anterior ou contemporânea.
Ela estivera presente a toda reunião.
João saiu ontem.
Ele dançara muito.
Fiz as compras.
ƒ Em construções exclamativas.
Cheguei.
Quem lhe dera tê-la nos braços naquela tarde!
ƒ Indica processo ocorrido antes da declaração expressa ƒ Em lugar do pretérito imperfeito do subjuntivo.
pelo verbo.
Nadou como se estivera (estivesse) à beira
Em 1939, Hitler invadiu a Polônia. da morte.
ƒ É frequente o emprego do pretérito perfeito compos- ƒ É bastante frequente o emprego do mais-que-
to – presente do indicativo do verbo auxiliar “ter“ ou -perfeito composto – imperfeito do verbo auxiliar
“haver“ e particípio do verbo principal. “ter“ ou “haver“ e particípio do verbo principal.
Pode indicar ato habitual: Eu tinha falado bastante.
Eu tenho lido bastante. Já havia ocorrido o pior.
Os alunos têm estudado muito. Futuro do pretérito
ƒ Também pode indicar fato ocorrido até o momento ƒ Exprime ação futura em relação ao passado, ação que te-
da declaração: ria ocorrido em relação a um fato já ocorrido no passado.
Tenho comprado muitos carros iguais a este. Eu iria se você chegasse a tempo.

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ƒ Designa ações posteriores à época em que se fala. ƒ É frequente o emprego do futuro do presente compos-
to – futuro do presente do verbo auxiliar “ter“ ou “ha-
Ainda ficaria. Esperaria a noite.
ver“ e particípio do verbo principal.
(Marques Rabelo)
Quando você chegar, eu já terei ido.
ƒ Designa incerteza, probabilidade, dúvida, suposição so-
bre fatos passados. ƒ Indica ação futura a ser consumada antes de outra.
Seriam mais ou menos dez horas quando che- Quando o guarda chegar, já teremos fugido.
garam. (Monteiro Lobato) ƒ Indica possibilidade de um fato passado.
ƒ Forma polida do presente para denotar um desejo. Terá passado o furacão dentro de oito dias?
Eu precisaria namorar aquela moça. ƒ Indica certeza de uma ação futura.
ƒ O futuro do pretérito composto expresso – verbo auxi- Se não voltarmos em algumas horas, teremos
liar “ter“ ou “haver“ no futuro do pretérito e particípio perdido a oportunidade.
do verbo principal.
Eu teria dito (diria) umas verdades a você. Tempos do modo subjuntivo
ƒ Indica fato que teria acontecido no passado mediante Presente
certa condição.
ƒ Expressa hipótese, desejo, suposição, dúvida.
Teria sido diferente, se eu a amasse.
(Ciro dos Anjos) Tomara que você tenha boas festas!

ƒ Indica possibilidade de um fato passado. Bons ventos o levem!

Teria sido melhor não escrever nada. Pretérito imperfeito


(Ruben Braga)
ƒ É empregado nas orações subordinadas da oração
ƒ Indica incerteza sobre fatos passados em certas frases principal em que o verbo esteja no pretérito imper-
interrogativas. feito, no pretérito perfeito ou no futuro do pretérito
Ele só teria falado ou também...? do indicativo.
Ela desejava que todos morressem.
Futuro (do presente)
Esperei que eles fizessem os trabalhos direito.
ƒ Indica a ação ainda não ocorrida, mas já declarada
Apreciaria que você me beijasse.
pelo verbo.
Ora (direis) ouvir estrelas! / (...) E eu vos direi: Pretérito mais-que-perfeito (composto)
amai para entendê-las! (Olavo Bilac)
ƒ Verbo auxiliar “ter“ ou “haver“ no pretérito imperfeito
ƒ Empregado para indicar um fato aproximado ou para do subjuntivo seguido do particípio do verbo principal.
enfatizar uma expressão.
Imaginei que ele tivesse trazido a grana.
Na África, quantos não estarão mortos de fome! (Indica fato anterior a outro, ambos no passado.)
ƒ Indica incerteza, probabilidade, dúvida, suposição.
Futuro simples
Há uma várzea em meu sonho, mas não sei onde
ƒ Designa fato provável, eventualidade futura.
será. (Augusto Meyer)
Quando ela vier, encontrará uma bagunça.
ƒ Indica fatos de realização provável.
Vem, dizia ele na última carta; se não vieres Futuro composto
depressa, acharás tua mãe morta. (Machado
ƒ Verbo auxiliar “ter“ ou “haver“ no futuro do subjuntivo
de Assis)
seguido do particípio do verbo principal. Designa fato futu-
ƒ Como forma polida, em vez do presente. ro como encerrado em relação a outro também no futuro.
Mas como foi que aconteceram? E eu lhe direi: Só deixarei esta casa, quando ele tiver trazido
sei lá, aconteceram: eis tudo. (Drummond) todos os meus pertences.

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VERBOS: MODO IMPERATIVO
E VOZES VERBAIS

MODO IMPERATIVO Voz passiva analítica


O modo imperativo manifesta ordem, conselho, súplica ou ƒ A voz passiva dos verbos é formada pelo verbo auxiliar
exortação do emissor e pode ser imperativo afirmativo ou ser, conjugado no tempo e na pessoa desejados, segui-
imperativo negativo. do do particípio do verbo principal: A árvore foi cortada
pelo lenhador./ Muitas mansões foram alugadas em Bra-
ƒ Se beber, não dirija!
sília./ Muita gente ainda vai ser julgada inocente.
ƒ Dorme, que já está na hora!
ƒ A voz passiva analítica sempre é formada por tempos
TABELA PARA CONJUGAÇÃO DO MODO IMPERATIVO compostos – ser + verbo principal transitivo direto –,
presente imperativo
imperativo negativo
presente bem como pelos verbos auxiliares ter e haver.
do indicativo afirmativo do subjuntivo
(ainda que) Têm sido (foram) alugadas muitas mansões
eu compro x x
eu compre em Brasília.
(ainda que)
tu compras compra tu* compres tu
tu compres Voz passiva sintética
(ainda que)
ele compra compre você compre você
ele compre ƒ Formada com o verbo principal transitivo direto na voz
(ainda que) ativa, na terceira pessoa do singular ou do plural, acom-
nós compramos compremos nós compremos nós
compremos nós panhado da partícula apassivadora “se“.
(ainda que)
vós comprais comprai vós compreis vós
vós compreis
Aluga-se casa.
(ainda que) Alugam-se casas.
eles compram comprem vocês comprem vocês
eles comprem
Compra-se apartamento.
*AS DUAS PASSAGENS DO PRESENTE DO INDICATIVO PARA O IMPERATIVO AFIRMATIVO
IMPLICAM NA PERDA DO “S” FINAL QUE COMPÕE A CONSTRUÇÃO VERBAL.
Compram-se apartamentos.

VOZES VERBAIS Voz reflexiva


O fato expresso pelo verbo pode ser representado em três vozes. ƒ Necessariamente formada pelos verbos pronominais
– acompanhados de “me“, “te“, “se“, “nos“, “vos“,
ƒ João cortou árvores. “se“ –, cuja ação designada parte do sujeito e volta-se
O fato (cortou) é praticado pelo sujeito (João). Por- para ele mesmo.
tanto, o verbo está na voz ativa.
Eu me feri. (O ato e o efeito do ferimento par-
ƒ Árvores foram cortadas por João. tem e voltam para o “eu”, que é o sujeito.)
O sujeito (árvores) é alvo, ou seja, sofre a ação de Tu te feriste.
João. Portanto, o verbo está na voz passiva.
Ele se machucou.
ƒ João cortou-se com o machado.
O sujeito (João) é alvo (cortou-se) do machado. Nós nos prejudicamos.
Portanto, o verbo está na voz reflexiva. Eles se feriram com faca.

ADVÉRBIOS

ADVÉRBIOS advérbios, cada qual com intenções bastante específicas.


ƒ Associam-se a verbos para indicar com maior precisão
Os advérbios formam uma classe de palavras invariá- as circunstâncias da ação verbal.
veis que se associam a verbos, a adjetivos ou a outros

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Exemplo: Paula viajou ontem. (O advérbio tanto; que (quão); tudo; nada; todo; quase; de todo;
“ontem” indica com maior precisão quando de muito; por completo; extremamente; intensamente;
Paula viajou.) grandemente; bem (aplicado a propriedades graduá-
ƒ Associam-se a adjetivos para intensificar o adjetivo já veis), etc.
apresentado. ƒ Interrogativos: onde; aonde; donde; quando; como;
Exemplo: Roberto ficou bastante preocupado. por que; empregados em interrogações diretas ou indi-
(O advérbio “bastante” intensifica o adjetivo pre- retas – entende-se por interrogações diretas aquelas em
ocupado.) que as palavras em destaque iniciam uma frase interro-
gativa. As interrogações indiretas, por sua vez, são aque-
ƒ Associam-se a advérbios para intensificar outro advér-
bio já apresentado. las em que os termos destacados não iniciam a frase.

Exemplo: O jogador do Corinthians está se Interrogação direta Interrogação indireta


recuperando muito bem. (O advérbio “muito” Como isso aconteceu? Queria saber como isso aconteceu.
intensifica o outro advérbio “bem”.) Onde ela mora? Precisava saber onde ela mora.
Quero entender por
Por que ela não veio?
que ela não veio.
Classificação dos advérbios Aonde você vai? Quero saber aonde você vai.
Os advérbios e as locuções adverbiais estabelecem diferen- Necessito entender don-
Donde vem esse rapaz?
tes relações semânticas, que são as seguintes: de vem esse rapaz.

ƒ De lugar: aqui; antes; dentro; ali; adiante; fora; acolá; Quando que chega a carta? Quero saber quando chega a carta.
atrás; além; lá; detrás; aquém; cá; acima; onde; perto;
aí; abaixo; aonde; longe; debaixo; algures; defronte; ne- Locuções adverbiais
nhures; adentro; afora; alhures; aquém; embaixo; exter-
Locuções adverbiais são expressões formadas a partir de
namente; a distância; a distância de; de longe; de perto;
duas ou mais palavras que exercem função adverbial. Em
em cima; à direita; à esquerda; ao lado; em volta, etc.
geral, são constituídas por uma preposição seguida de ou-
ƒ De tempo: hoje; logo; primeiro; ontem; tarde; outro- tra palavra, como substantivo, advérbio ou verbo, que seja
ra; amanhã; cedo; depois; ainda; antigamente; antes; capaz de indicar a circunstância.
doravante; nunca; então; ora; jamais; agora; sempre; já;
enfim; afinal; amiúde; breve; constantemente; imediata- ƒ De lugar: à esquerda; à direita; de longe; de perto;
mente; primeiramente; provisoriamente; sucessivamente; para dentro; por aqui, etc.
às vezes; à tarde; à noite; de manhã; de repente; de vez ƒ De afirmação: por certo; sem dúvida, etc.
em quando; de quando em quando; a qualquer momen-
ƒ De modo: às pressas; passo a passo; de cor; em vão;
to; de tempos em tempos; em breve; hoje em dia, etc.
em geral; frente a frente, etc.
ƒ De modo: bem; mal; assim; melhor; pior; depressa; de-
ƒ De tempo: à noite; de dia; de vez em quando; à tarde;
balde; devagar; às pressas; às claras; às cegas; à toa; à
hoje em dia; nunca mais, etc.
vontade; às escondidas; aos poucos; desse jeito; desse
modo; dessa maneira; em geral; frente a frente; lado a Amanhã precisarei acordar cedinho.
lado; a pé; de cor; em vão; e a maior parte dos que termi- Ela mora pertinho daqui.
nam em ”–mente”: calmamente; tristemente; proposi-
tadamente; pacientemente; amorosamente; docemente; O advérbio aplicado ao texto
escandalosamente; bondosamente; generosamente, etc.
Em relação aos advérbios aplicados ao texto, existe uma
ƒ De afirmação: sim; certamente; realmente; decerto; gradação semântica entre os advérbios frásicos e advérbios
efetivamente; certo; decididamente; deveras; indubita- extrafrásicos, além da distribuição de advérbios modais
velmente, etc. (terminados em –mente).
ƒ De negação: não; nem; nunca; jamais; de modo algum; ƒ Advérbios frásicos: são aqueles que se relacionam com
de forma alguma; tampouco; de jeito nenhum, etc. um elemento específico da frase. Não apresentam mar-
ƒ De dúvida: acaso; porventura; possivelmente; provavel- cas de deslocamento (vírgulas).
mente; talvez; casualmente; por certo; quem sabe, etc. Exemplo: O veículo corre muito.
ƒ De intensidade: muito; demais; pouco; tão; em exces- ƒ Advérbios extrafrásicos: são aqueles exteriores à fra-
so; bastante; mais; menos; demasiado; quanto; quão; se, que estão no âmbito da enunciação e, geralmente,

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deslocados por vírgula. Quando ocorre uma frase que congrega mais de um
Exemplo: Ele, infelizmente, não jogou bem hoje. advérbio terminado em “–mente”, deve-se fazer a con-
tração dos advérbios centrais (retirar o termo “– men-
Observação: os advérbios extrafrásicos atuam
te”) e preservar apenas o último advérbio flexionado.
como elementos de avaliação do enunciador
acerca do conteúdo enunciado. Errado: Ele saiu calmamente, sorrateiramen-
te e rapidamente.
ƒ Distribuição textual de advérbios modais (mais de um
advérbio terminado em “–mente”) Certo: Ele saiu calma, sorrateira e rapidamente.

PRONOMES PESSOAIS

PRONOME fim, para apontar a pessoa de quem se fala (3ª pessoa), são
utilizados ele(s) e ela(s).
Pronome é a palavra variável que identifica os participantes De acordo com o posicionamento nos processos sintáticos,
da interlocução (pessoas do discurso), os seres e objetos os pronomes pessoais podem funcionar como:
no mundo, além de eventos ou situações aos quais o dis-
curso faça referência. ƒ Caso reto: são pronomes pessoais que, em uma cons-
trução sintática, ocupam a posição de sujeito ou de
Em geral, os pronomes, operam em conjunto com os subs- predicativo do sujeito.
tantivos (nomes), podendo substituí-los, referenciá-los ou,
ainda, acompanhá-los em um processo qualificativo. Exemplos: Eu fiquei bastante chateado. (sujeito)
O encarregado do projeto sou eu. (predicativo
Pronomes pessoais do sujeito)

Os pronomes pessoais são aqueles que substituem os ƒ Caso oblíquo: são pronomes pessoais que, em uma
substantivos. Eles se caracterizam por evidenciar as três construção sintática, ocupam a posição de comple-
pessoas do discurso. Para designar a pessoa que fala (1ª mento verbal (objeto direto ou indireto) ou
pessoa), são usados os pronomes eu (singular) e nós (plu- complemento nominal.
ral). Para marcar a pessoa com quem se fala (2ª pessoa), Exemplo: Compraram-nos alguns presentes. (O
são utilizados os pronomes tu (singular) e vós (plural). Por pronome é complemento do verbo comprar.)

PRONOMES DEMONSTRATIVOS E POSSESSIVOS

PRONOMES POSSESSIVOS ou em relação a um contexto. Esses processos ocorrem em


relações espaciais, temporais e sintáticas.
São pronomes que acrescentam à pessoa gramatical a ƒ Os pronomes demonstrativos dividem-se em dois gru-
ideia de posse sobre algo. pos: os variáveis e os invariáveis.
Exemplo: Este dinheiro é meu.
ƒ Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s),

PRONOMES DEMONSTRATIVOS aquela(s).


ƒ Invariáveis: isto, isso, aquilo.
Os demonstrativos são utilizados para situar, no espaço e
no tempo, a pessoa ou a coisa designada. O aspecto funda-
mental dos pronomes demonstrativos é sua capacidade de
Relações espaciais
indicar um objeto sem nomeá-lo. Também evidenciam o po- ƒ Os pronomes este, esta e isto indicam que o item/
sicionamento de uma palavra em relação a outras palavras objeto está perto de quem fala.

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Exemplo: Usarei este lápis (aqui) mesmo. de rua, chamados de orelhões. / Aquelas praças
costumavam ser seguras.
ƒ Os pronomes esse, essa e isso indicam que o item/
objeto está perto da pessoa a quem se fala.
Exemplo: Usarei esse lápis (aí) mesmo.
Relações Sintáticas
ƒ O pronome este e suas variantes são utilizados para
ƒ Os pronomes aquele, aquela e aquilo indicam que
anunciar/adiantar o que será dito na sequência frasal
o item/objeto está afastado tanto de quem fala ou para remeter a um termo imediatamente anterior
como da pessoa a quem se fala. (recém-mencionado).
Exemplo: Usarei aquele lápis (ali) mesmo. Exemplo (anunciando informação): O maior
problema está neste relatório: ele não dá conta
Relações temporais de explicar todos os problemas.
ƒ O pronome este e suas variantes são utilizados para Exemplo (retomando termo recente): Não
indicar tempo presente em relação ao momento em sei se eu adquiro uma moto ou um carro. Acho que
que se fala. este (último = carro) é um pouco mais seguro.
Exemplo: Esta noite eu vou ao shopping / Neste ƒ O pronome esse e suas variantes são utilizados
mês chove bastante. para retomar um termo, uma ideia ou uma oração
já mencionados.
ƒ O pronome esse e suas variantes são utilizados para
indicar tempo futuro ou passado recente em relação ao Exemplo: Duas vezes por ano, o Sol atinge sua
momento em que se fala. maior declinação em latitude. Esse fenômeno é
conhecido como solstício.
Exemplo (futuro): Nessa reunião definiremos
os parâmetros de venda. ƒ O pronome aquele e suas variantes são utilizados para
retomar um termo mais distante entre dois apresenta-
Exemplo (passado): Esse aumento da crise
dos em uma sentença (em geral, ele é trabalhado em
ocorreu em todos os países da América do Sul. conjunto com o pronome este, que retomará o item
ƒ O pronome aquele e suas variantes são utilizados mais próximo).
para indicar tempo passado distante em relação ao Exemplo: Na empresa há dois funcionários que
momento em que se fala. se destacam: Pedro e Rogério. Este pela sua or-
Exemplo: Naquela época ainda havia telefones ganização, e aquele pela sua eficiência.

PRONOMES RELATIVOS,
INTERROGATIVOS E INDEFINIDOS

PRONOMES INDEFINIDOS Exemplo: A escola tem um calendário que pos-


sui muitos feriados.
Os pronomes indefinidos fazem referência à 3a pessoa do dis- No exemplo apresentado, o pronome “que” recupera o subs-
curso, dando-lhe caráter indeterminado, vago ou impreciso. tantivo calendário (o antecedente).
Exemplo: Alguém quebrou os copos da cristaleira. Observação 1: Os pronomes que, o qual, os quais, a qual
Nota-se que o termo alguém refere-se a uma terceira pes- e as quais são equivalentes; no entanto, o pronome que é
soa (de quem se fala), mas não é possível atribuir identi- invariável, cabendo em qualquer circunstância, enquanto os
dade a essa pessoa, pois a informação é vaga e imprecisa. demais necessitam de um substantivo já determinado.
Exemplo: Esta é a garota com a qual conversei.
PRONOMES RELATIVOS Observação 2: Para evitar ambiguidades e outros pro-
Pronomes relativos são aqueles que se referem a nomes blemas de sentido, o pronome relativo onde deve ser uti-
anteriormente mencionados (antecedentes), estabelecen- lizado para recuperar lugares físicos/localidades (regiões,
do com eles relação. cidades, ambientes, etc.).

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Exemplo: Este é o armazém onde estocamos
os produtos. PRONOMES INTERROGATIVOS
Observação 3: O pronome relativo cujo não realiza a re- Os pronomes interrogativos são utilizados nas formulações
cuperação de um antecedente, mas aponta para uma rela- de perguntas diretas ou indiretas. Fazem referência direta
ção de posse com o consequente. aos pronomes de 3ª pessoa. Os principais pronomes in-
terrogativos são que, quem, qual e quanto (e suas va-
Exemplo: A mulher cuja casa foi invadida já riações). Entende-se como pergunta direta aquela em que
está em segurança. o pronome interrogativo aparece no início do questiona-
Observação 4: O pronome quem faz referência a pesso- mento (há sinal de interrogação no fim da pergunta). A
as e ocorre sempre precedido de preposição. pergunta indireta, por sua vez, é aquela em que o pronome
interrogativo aparece em outra posição na frase, e não no
Exemplo: Aquele é o sujeito a quem devo mui-
início (não há sinal de interrogação).
to dinheiro.
Pergunta direta Pergunta indireta
Quanto custou a Gostaria de saber quanto
reforma da casa? custou a reforma da casa.

12
U.T.I. - Sala Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
1. (Fuvest 2018) Leia o texto. fiquei sendo o da Maria
Um tema frequente em culturas variadas é o do desafio à ordem do finado Zacarias.
divina, a apropriação do fogo pelos mortais. Nos mitos gregos, Pro- Mas isso ainda diz pouco:
meteu é quem rouba o fogo dos deuses. Diz Vernant que Prome- há muitos na freguesia,
teu representa no Olimpo uma vozinha de contestação, espécie de por causa de um coronel
movimento estudantil de maio de 1968. Zeus decide esconder dos que se chamou Zacarias
homens o fogo, antes disponível para todos, mortais e imortais, na e que foi o mais antigo
copa de certas árvores – os freixos – porque Prometeu tentara tape- senhor desta sesmaria.
á-lo numa repartição da carne de um touro entre deuses e homens. Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Na mitologia dos Yanomami, o dono do fogo era o jacaré, que cui- Vejamos: é o Severino
dadosamente o escondia dos outros, comendo taturanas assadas da Maria do Zacarias,
com sua mulher sapo, sem que ninguém soubesse. Ao resto do lá da serra da Costela,
povo – animais que naquela época eram gente – eles só davam as limites da Paraíba.
taturanas cruas. O jacaré costumava esconder o fogo na boca. Os Mas isso ainda diz pouco:
outros decidem fazer uma festa para fazê-lo rir e soltar as chamas. se ao menos mais cinco havia
Todos fazem coisas engraçadas, mas o jacaré fica firme, no máxi- com nome de Severino
mo dá um sorrisinho. filhos de tantas Marias
Betty Mindlin. O fogo e as chamas dos mitos. mulheres de outros tantos,
Revista Estudos Avançados. Adaptado. já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
a) O emprego do diminutivo nas palavras “vozinha” e magra e ossuda em que eu vivia.
“sorrisinho”, consideradas no contexto, produz o mes- Somos muitos Severinos
mo efeito de sentido nos dois casos? Justifique. iguais em tudo na vida:
b) Reescreva o trecho “Os outros decidem fazer uma na mesma cabeça grande
festa para fazê-lo rir (...). Todos fazem coisas engraça- que a custo é que se equilibra,
das”, substituindo o verbo “fazer” por sinônimos ade- no mesmo ventre crescido
quados ao contexto em duas de suas três ocorrências. sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
2. (Unicamp 2018) Enquanto viveu em Portugal, o es- que usamos tem pouca tinta.
critor Mário Prata reuniu centenas de vocábulos e ex- E se somos Severinos
pressões usados no português falado na Europa que iguais em tudo na vida,
são diferentes dos termos correspondentes usados no morremos de morte igual,
português do Brasil. Reproduzimos abaixo um dos ver- mesma morte severina:
betes de seu dicionário. que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
Descapotável de emboscada antes dos vinte,
É outra palavra que em português faz muito mais sentido do que de fome um pouco por dia
em brasileiro. Não é mais claro dizer que um carro é descapotável, (de fraqueza e de doença
do que conversível? é que a morte severina
Mário Prata. Dicionário de português: ataca em qualquer idade,
schifaizfavoire. São Paulo: Globo, 1993, p. 48. e até gente não nascida).
NETO, João Cabral de Melo. Morte e vida severina e outros
a) Identifique os dois afixos que formam a palavra “des- poemas em voz alta. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980.
capotável” a partir do substantivo “capota” (cobertura
de um automóvel) e explique a função de cada um. O meu nome é Severino,
b) Explique por que o autor considera, com certo humor, não tenho outro de pia. (l. 2-3)
que a palavra “descapotável“ do português europeu faz
E se somos SEVERINOS
mais sentido de que o termo “conversível”, usado no por-
tuguês brasileiro. iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
3. (Uerj 2018) MORTE E VIDA SEVERINA (AUTO DE NATAL mesma morte SEVERINA: (l. 40-43)
PERNAMBUCANO)
No poema, o autor lança mão da mudança de classe de
O retirante explica ao leitor quem é e a que vai palavras como recurso expressivo da criação poética.
— O meu nome é Severino, a) Com base nisso, indique a classe gramatical das palavras
não tenho outro de pia. sublinhadas, na ordem em que aparecem.
Como há muitos Severinos, b) Em seguida, explique o sentido que o termo severina assume
que é santo de romaria, na expressão “morte severina”, tendo em vista a representa-
deram então de me chamar ção que se faz do retirante.

13
4. (Uerj 2018) b) Sem prejuízo para o sentido dos versos, que expressões
poderiam substituir os termos “onde” (2º verso da 1ª es-
Ao oferecer-se para ajudar o cego, o homem que depois roubou o trofe) e “pelo” (4º verso da 3ª estrofe), respectivamente?
carro não tinha em mira, nesse momento preciso, qualquer inten-
ção malévola, muito pelo contrário, o que ele fez não foi mais que
obedecer àqueles sentimentos de generosidade e altruísmo que são,
como toda a gente sabe, duas das melhores características do gêne- U.T.I. - E.O.
ro humano, podendo ser encontradas até em criminosos bem mais
1. (Unesp) A questão a seguir toma por base um poema
empedernidos do que este, simples 1ladrãozeco de automóveis sem
de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).
esperança de avanço na carreira, explorado pelos verdadeiros donos
do negócio, que esses é que se vão aproveitando das necessidades Fuga
de quem é pobre. (...) Foi só quando já estava perto da casa do cego De repente você resolve: fugir.
que a ideia se lhe apresentou com toda a naturalidade (...). Os cép- Não sabe para onde nem como
ticos acerca da natureza humana, que são muitos e teimosos, vêm nem por quê (no fundo você sabe
sustentando que se é certo que a ocasião nem sempre faz o ladrão, a razão de fugir; nasce com a gente).
também é certo que o ajuda muito. 2Quanto a nós, permitir-nos-e-
mos pensar que se o cego tivesse aceitado o segundo oferecimento É preciso FUGIR.
do afinal falso samaritano, naquele derradeiro instante em que a Sem dinheiro sem roupa sem destino.
bondade ainda poderia ter prevalecido, referimo-nos o oferecimento Esta noite mesmo. Quando os outros
de lhe ficar a fazer companhia enquanto a mulher não chegasse, estiverem dormindo.
Ir a pé, de pés nus.
quem sabe se o efeito da responsabilidade moral resultante da
Calçar botina era acordar os gritos
confiança assim outorgada não teria inibido a tentação criminosa e
que dormem na textura do soalho1.
feito vir ao de cima o que de luminoso e nobre sempre será possível
encontrar mesmo nas almas mais perdidas. Levar pão e rosca; para o dia.
SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. Comida sobra em árvores
São Paulo: Companhia das Letras, 1995. infinitas, do outro lado do projeto:
um verdor
O narrador de Ensaio sobre a cegueira emite uma opi- eterno, frutescente (deve ser).
nião sobre o homem que roubou o carro ao chamá-lo de Tem à beira da estrada, numa venda.
ladrãozeco (ref. 1). O dono viu passar muitos meninos
a) Considerando os diferentes tipos de narrador, clas- que tinham necessidade de fugir
sifique o do romance de José Saramago. e compreende.
Toda estrada, uma venda
b) Em seguida, indique o processo de formação da pala- para a fuga.
vra ladrãozeco e aponte o morfema responsável pela
avaliação depreciativa que se faz do ladrão. Fugir rumo da fuga
que não se sabe onde acaba
5. (Unesp 2018) Leia o poema de Murilo Mendes (1901- mas começa em você, ponta dos dedos.
1975). Cabe pouco em duas algibeiras2
e você não tem mais do que duas.
O pastor pianista Canivete, lenço, figurinhas
Soltaram os pianos na planície deserta de que não vai se separar
Onde as sombras dos pássaros vêm beber. (custou tanto a juntar).
Eu sou o pastor pianista, As mãos devem ser livres
Vejo ao longe com alegria meus pianos para pesos, trabalhos, onças
que virão.
Recortarem os vultos monumentais
Contra a lua.
Fugir agora ou nunca. Vão chorar,
vão esquecer você? ou vão lembrar-se?
Acompanhado pelas rosas migradoras (Lembrar é que é preciso,
1
Apascento os pianos: gritam compensa toda fuga.)
E transmitem o antigo clamor do homem Ou vão amaldiçoá-lo, pais da Bíblia?
Você não vai saber. Você não volta nunca.
Que reclamando a contemplação, (Essa palavra nunca, deliciosa.)
Sonha e provoca a harmonia, Se irão sofrer, tanto melhor.
Trabalha mesmo à força, Você não volta nunca nunca nunca.
E pelo vento nas folhagens, E será esta noite, meia-noite.
em ponto.
Pelos planetas, pelo andar das mulheres,
Pelo amor e seus contrastes,
Você dormindo à meia-noite.
Comunica-se com os deuses.
(Menino antigo, 1973)
(As metamorfoses, 2015) 1
soalho: o mesmo que “assoalho”.
1
apascentar: vigiar no pasto; pastorear. 2
algibeira: bolso de roupa.

a) Explique por que se pode afirmar que o verso inicial desse a) Identifique uma forma verbal e um substantivo que, bas-
poema opera uma perturbação ou quebra do discurso lógico. tante retomados ao longo do poema, ilustram seu tema.

14
b) Em seguida, valendo-se dessa informação, explique a oposi- Razões de sobra tinha, pois, o pretenso facultativo para sentir a
ção entre o último verso e o restante do poema. mão fria e um tanto incerta, e não poder atinar com o pulso de
tão gentil cliente.
2. (Uerj) Inocência
Visconde de Taunay. Inocência. São Paulo: Ática, 2011.
Depois das explicações dadas ao seu hóspede, sentiu-se o mineiro
mais despreocupado. graúna – pássaro de plumagem negra, canto me-
lodioso e hábitos eminentemente sociais
— Então, disse ele, se quiser, vamos já ver a nossa doentinha. livro de horas – livro de preces
secundou – respondeu
— Com muito gosto, concordou Cirino.
lavrados – na província de Mato Grosso, cola-
E, saindo da sala, acompanhou Pereira, que o fez passar por duas res de contas de ouro e adornos de ouro e prata
cercas e rodear a casa toda, antes de tomar a porta do fundo, fron- lobrigar – enxergar
teira a magnífico laranjal, naquela ocasião todo pontuado das bran- escabelo – assento
cas e olorosas flores. facultativo – médico

1
— Neste lugar, disse o mineiro apontando para o pomar, todos — Neste lugar, disse o mineiro apontando para o pomar, todos os
os dias se juntam tamanhos bandos de graúnas, que é um barulho dias se juntam tamanhos bandos de graúnas, que é um barulho dos
dos meus pecados. Nocência gosta muito disso e vem sempre coser meus pecados. Nocência gosta muito disso e vem sempre coser de-
debaixo do arvoredo. É uma menina esquisita... baixo do arvoredo. (ref. 1)

Parando no limiar da porta, continuou com expansão: Nesta passagem, há duas palavras, de mesma classifica-
2
— Nem o Sr. imagina... Às vezes, aquela criança tem lembranças e ção gramatical, empregadas pelo locutor para indicar a
perguntas que me fazem embatucar... Aqui, havia um livro de horas proximidade ou distância do elemento a que se referem.
da minha defunta avó... Pois não é que 3um belo dia ela me pediu a) Cite essas palavras e identifique sua classificação gramatical.
que lhe ensinasse a ler? ... Que ideia! Ainda há pouco tempo me disse b) Transcreva o trecho em que uma dessas palavras se refere
que quisera ter nascido princesa... Eu lhe retruquei: E sabe você o que a uma informação presente no próprio texto.
é ser princesa? Sei, me secundou ela com toda a clareza, é uma moça
muito boa, muito bonita, que tem uma coroa de diamantes na cabeça, 3. (G1 CP2) ANTIGUIDADES (fragmento)
muitos lavrados no pescoço e que manda nos homens... Fiquei meio Quando eu era menina
tonto. 4E se o Sr. visse os modos que tem com os bichinhos?! ... Parece bem pequena,
que está falando com eles e que os entende... (...) Quando Cirino pe- em nossa casa,
netrou no quarto da filha do mineiro, era quase noite, de maneira que, certos dias da semana
no primeiro olhar que atirou ao redor de si, só pôde lobrigar, além de se fazia um bolo,
diversos trastes de formas antiquadas, uma dessas camas, muito em assado na panela com um 1testo de 2borralho em cima.
uso no interior; altas e largas, feitas de tiras de couro engradadas. (...)
Mandara Pereira acender uma vela de sebo. Vinda a luz, aproxima- Era um bolo econômico,
ram-se ambos do leito da enferma que, achegando ao corpo e pu- como tudo, antigamente.
xando para debaixo do queixo uma coberta de algodão de Minas, se Pesado, grosso, pastoso.
encolheu toda, e voltou-se para os que entravam. (Por sinal que muito ruim.)

— Está aqui o doutor, disse-lhe Pereira, que vem curar-te de vez. Eu era menina em crescimento.
— Boas noites, dona, saudou Cirino. Gulosa,
abria os olhos para aquele bolo
Tímida voz murmurou uma resposta, ao passo que o jovem, no seu que me parecia tão bom
papel de médico, se sentava num escabelo junto à cama e tomava e tão gostoso.
o pulso à doente.
Caía então luz de chapa sobre ela, iluminando-lhe o rosto, par- A gente mandona lá de casa
te do colo e da cabeça, coberta por um lenço vermelho atado cortava aquele bolo
por trás da nuca. com importância.
Com atenção.
Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era Inocência de Seriamente.
beleza deslumbrante. Com vontade de comer o bolo todo.
Do seu rosto, irradiava singela expressão de encantadora ingenuida- Era só olhos e boca e desejo
de, realçada pela meiguice do olhar sereno que, a custo, parecia coar daquele bolo inteiro.
por entre os cílios sedosos a franjar-lhe as pálpebras, e compridos a
ponto de projetarem sombras nas mimosas faces. Minha irmã mais velha
governava. 3Regrava.
Era o nariz fino, um bocadinho arqueado; a boca pequena, e o quei-
Me dava uma fatia,
xo admiravelmente torneado.
tão fina, tão delgada...
Ao erguer a cabeça para tirar o braço de sob o lençol, descera um E fatias iguais às outras 4manas.
nada a camisinha de crivo que vestia, deixando nu um colo de fas- E que ninguém pedisse mais!
cinadora alvura, em que ressaltava um ou outro sinal de nascença. E o bolo inteiro,

15
quase intangível, a hidrelétrica fora construída, concluiu por sua morte biológica.
se guardava bem guardado, Em Tucuruí não foi muito diferente. Quase dez mil famílias fica-
com cuidado, ram sem suas terras, entre indígenas e ribeirinhos. Diante desse
num armário, alto, fechado, quadro, em relação à Belo Monte, é preciso questionar a forma
impossível. antidemocrática como o projeto vinha sendo conduzido, a relação
Cora Coralina. Melhores poemas. custo-benefício da obra, o destino da energia a ser produzida e a
2. ed. São Paulo: Global, 2004.
inexistência de uma política energética para o país, que privilegie
1
testo: camada; energias alternativas.
2
borralho: brasido coberto de cinzas; cinzas quentes, rescaldo;
3
regrar: traçar linhas ou regras sobre; (...)
4
mana: irmã; A persistência governamental em construir Belo Monte está ba-
Na terceira estrofe, o eu lírico caracteriza a si mesmo, quando seada numa sólida estratégia de argumentos dentro da lógica e
criança, por meio de um adjetivo.
vantagens comparativas da matriz energética brasileira. Os rios
a) Transcreva esse adjetivo. da margem direita do Amazonas têm declividades propícias à
b) Copie o verso por meio do qual o eu lírico justifica essa sua geração de energia, e o Xingu se destaca, também, pela sua po-
característica.
sição em relação às frentes de expansão econômica (predatória)
4. (G1 CP2) A POLÊMICA DA USINA DE BELO MONTE da região central do país. O desenho de Belo Monte foi revisto e
(fragmento) os impactos reduzidos em relação à proposta da década de 80.
O lago, por exemplo, inicialmente previsto para ter foi reduzido,
A polêmica em torno da construção da usina de Belo Monte na Ba-
depois do encontro, para Os socioambientalistas, entretanto,
cia do Rio Xingu, em sua parte paraense, já dura mais de 20 anos.
estão convencidos de que além dos impactos diretos e indiretos,
Entre muitas idas e vindas, a hidrelétrica de Belo Monte, hoje con-
Belo Monte é um cavalo de 1troia, porque outras barragens virão
siderada a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimen-
depois, modificando totalmente e para pior a vida na região.
to (PAC), do governo federal, vem sendo alvo de intensos debates
Fonte: <www.socioambiental.org/esp/bm/
na região, desde 2009, quando foi apresentado o novo Estudo de
indez.asp>. Acesso em: 24 out. 2011.
Impacto Ambiental (EIA) intensificando-se a partir de fevereiro de 1
Cavalo de Troia – A lenda do Cavalo de Troia diz que os gregos
2010, quando o MMA [Ministério do Meio Ambiente] concedeu a deram de presente aos troianos um grande cavalo de madeira como sinal
licença ambiental prévia para sua construção. de que estavam desistindo da guerra. O cavalo, porém, escondia, em
seu interior, soldados gregos, que, durante a noite, saíram e abriram os
Os movimentos sociais e lideranças indígenas da região são con- portões de Troia para o exército grego. Este invadiu e dominou a cidade.
trários à obra porque consideram que os impactos socioambientais
não estão suficientemente dimensionados. Em outubro de 2009, Texto I – ETNIA (fragmento)
por exemplo, um painel de especialistas debruçou-se sobre o EIA Somos todos juntos uma miscigenação
e questionou os estudos e a viabilidade do empreendimento. Um E não podemos fugir da nossa etnia
mês antes, em setembro, diversas audiências públicas haviam sido Todos juntos uma miscigenação
realizadas sob uma saraivada de críticas, especialmente do Mi- E não podemos fugir da nossa etnia
nistério Público Estadual, seguido pelos movimentos sociais, que
Índios, brancos, negros e mestiços
apontava problemas em sua forma de realização.
Nada de errado em seus princípios
Ainda em outubro, a Funai [Fundação Nacional do Índio] liberou a O seu e o meu são iguais
obra sem saber exatamente que impactos causaria sobre os índios Corre nas veias sem parar
e lideranças indígenas kayapó enviaram carta ao Presidente Lula Costumes, é folclore, é tradição
Capoeira que rasga o chão
na qual diziam que, caso a obra fosse iniciada, haveria guerra. Para
Samba que sai da favela acabada
culminar, em fevereiro de 2010, o Ministério do Meio Ambiente con- É hip hop na minha embolada [...]
cedeu a licença ambiental, também sem esclarecer questões centrais
em relação aos impactos socioambientais. 1
Maracatu 2psicodélico
Capoeira da pesada
(...)
Bumba meu rádio
3
Exemplos infelizes como a construção das usinas hidrelétricas de Berimbau elétrico
Tucuruí (PA) e Balbina (AM), as últimas construídas na Amazônia,
nas décadas de 1970 e 1980, estão aí de prova. Desalojaram co- Frevo, samba e cores
munidades, inundaram enormes extensões de terra e destruíram Cores unidas e alegria
Nada de errado em nossa etnia.
a fauna e flora daquelas regiões. Balbina, a 146 quilômetros de
Manaus, significou a inundação da reserva indígena Waimiri-Atro- Lucio Maia e Chico Science. In: <http://vagalume.
ari, mortandade de peixes, escassez de alimentos e fome para as com.br/ chicoscience-nação-zumbi/etniahtml>.
populações locais. A contrapartida, que era o abastecimento de 1
Maracatu: dança e música de origem africana, em que se executam pas-
energia elétrica da população local, não foi cumprida. O desastre sos e sapateados ao som de violas, flautas, cuícas, chocalhos, pandeiros etc.
foi tal que, em 1989, o Instituto Nacional de Pesquisas da Ama- 2
Psicodélico: que remete a coisas muito coloridas.
3
zônia (Inpa), depois de analisar a situação do Rio Uatumã, onde Berimbau: instrumento musical usado na capoeira.

16
Texto II – Na Bélgica, presidenta destaca diversidade Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá--los me
cultural brasileira sinto como que desonrado e fujo para o
Pantanal ONDE sou abençoado a garças.
Na abertura do Festival 1Europalia, em Bruxelas, a presidenta Dilma
Rousseff fez uma homenagem à diversidade cultural do Brasil, que a) A palavra “onde”, destacada acima, remete a um ter-
estará presente em manifestações artísticas e culturais na capital mo anteriormente expresso. Transcreva esse termo.
da Bélgica. Segundo ela, são exposições desde a pré-colonização
b) Nomeie também a classe gramatical de “onde”, substitua-a
até a “vanguarda mais experimental em mais de 400 atividades por uma expressão equivalente e indique seu valor semântico.
envolvendo as mais variadas linguagens artísticas e manifestações
regionais do país”. 7. (G1 CP2) A DEVASTAÇÃO, UMA HERANÇA PARA AS
FUTURAS GERAÇÕES
Para a presidenta Dilma, a cultura é a expressão maior da alma de
uma sociedade e, no momento em que o mundo precisa reaprender Quando fecho os olhos à noite, onde quer que esteja, minha mente
a importância do diálogo, o Brasil e a América do Sul têm a oferecer volta com frequência ao passado, à época em que o recém-constru-
a capacidade de conviver em paz nessa diversidade. ído Calypso flutuava sob o céu do Mediterrâneo. O barco foi meu lar
durante a infância, embora nunca tivesse nele um local só para mim.
“A diversidade cultural do Brasil integra nossas raízes históricas. Eu dormia num beliche diferente todas as noites, às vezes com mi-
2
Somos um país mestiço, no qual migrantes de todas as regiões do nha mãe, às vezes com meu pai, e algumas vezes dentro da gaveta
mundo somam-se às três matrizes onde surgiram o povo brasileiro: a da cômoda. O Calypso foi minha identidade infantil.
indígena, a europeia e a africana. Eis uma mistura que nos orgulha e
Tive sorte: o barco de meu pai foi minha base, o começo de meu
define. 3Os brasileiros orgulham-se muito de seu patrimônio cultural
futuro. À medida que o Calypso percorria os mares do mundo, ele
e de suas tradições populares, mas também ousam reinventá-los e
passou a abarcar a filosofia de que a vida em nosso planeta é frágil,
reinterpretá-los. Mostraremos aqui, na Europalia, 4um pouco dessa
e sua beleza, embora aclamada, é perecível.
cultura viva em movimento permanente.”
5
Meu pai imbuiu em mim a convicção de que não somos donos dos
A presidenta avaliou ainda que o Festival Europalia poderá contri-
recursos do mundo, apenas seus administradores. Somos responsá-
buir para que a Europa supere “os percalços do momento”. Além veis pela proteção daquilo que legaremos a nossos sucessores.
disso, acrescentou, “é mais um passo no aprofundamento do co-
nhecimento mútuo, fundamental para a construção do mundo mais Hoje, tento viver por essa cartilha, mas em minhas viagens me dou
democrático, aberto e plural que todos queremos”. conta de quão raramente os adultos pensam nas gerações futuras.
No mundo inteiro, vemos pais que parecem pouco se importar com
Disponível em: <blog.planalto.gov.
a condição do planeta que seus filhos herdarão.
br>. Acesso em: 4 out. 2011.
1
Europalia: Festival Internacional de Cultura da Eu- Poluímos os rios e mananciais que serão a fonte de água potável
ropa, que homenageia, este ano, o Brasil. de nossos filhos, interferimos com a camada de ozônio, que pro-
tege nossos filhos contra os perigosos raios solares. Pusemos em
“SOMOS UM PAÍS MESTIÇO (...)” (TEXTO II, REF. 2) andamento o que parece ser um perigoso aquecimento da Terra,
Que substantivo do texto I tem sentido semelhante ao do adjetivo do ameaçando nossos filhos com a seca e a calamidade. As crianças
trecho acima? por nascer não podem se pronunciar, mas nem por isso somos
menos responsáveis por gerações que não conhecemos.
6. (Uerj) AUTORRETRATO FALADO [...]
Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas. Atentem para o caso, agora clássico, de Wezip Alolum, que tem
Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da que ver simplesmente com a lama. Alolum, habitante da aldeia
Marinha, onde nasci. Jobto, na província papua de Madang, era dono de terras com
Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do matas nas quais havia um poço de lama. Durante gerações sua
chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios. família ganhou a vida trocando bolas de lama e potes de lodo
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de barrento por alimentos. O poço, sua herança, lhe fora confiado
estar entre pedras e lagartos. intacto por seus ancestrais.
Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz.
Um dia chegaram estrangeiros, que lhe pediam permissão para
Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me
abater árvores nas terras de sua família. “Você não precisa mais
sinto como que desonrado e fujo para o
de lama, agora que tem dinheiro”, disseram. Alolum hesitou, mas
Pantanal onde sou abençoado a garças.
finalmente concordou.
Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo
que fui salvo. Contudo, ele não percebera que a companhia pretendia abater ou
Descobri que todos os caminhos levam à ignorância. queimar todas as árvores, não deixando nenhuma para o replantio.
Não fui para a sarjeta porque herdei uma Nunca lhe passara pela cabeça que a companhia trataria a terra sem
[fazenda de gado. Os bois me recriam. o menor respeito por seu futuro. Não demorou para que todas as
Agora eu sou tão ocaso! árvores desaparecessem e, com a resultante erosão, o poço de lama
Estou na categoria de sofrer do moral, porque só fosse afetado.
faço coisas inúteis. Seu barro ficou arruinado, seco demais para ser utilizado. Pouco de-
No meu morrer tem uma dor de árvore. pois, o dinheiro de Alolum acabou. Sem lama, pela primeira vez na
Manoel de Barros. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010. história de sua família ele estava pobre.

17
Alolum procurou a companhia florestal, exigindo que o reembolsas- Para o berço onde pousou um mosquito.
se pela perda do poço, mas quem paga compensação por lama? No E dava um suspiro... que fundo!
entanto para Wezip Alolum o poço de lama representava o capital
herdado de seus antepassados. 2
Lá longe meu pai campeava
Ele fora dono e administrador, mas agora não tinha nada para deixar no mato sem fim da fazenda.
para seus filhos, e o ciclo de sua família fora rompido. Alolum foi E eu não sabia que minha história
vítima da falta de visão ao trocar recursos por dinheiro. era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
Mas o que dizer de nós? Ao desperdiçarmos recursos naturais não Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.
estamos nos comportando irresponsavelmente em relação a nossos
filhos? Quando perceberem que lhes legamos um sem-número de No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
perigos ambientais, um inventário de recursos completamente exau-
rido, o que pensarão de nós, a despeito de nossa tendência a lhes a ninar nos LONGES da senzala – e nunca se esqueceu (ref. 1)
comprar o que há de melhor ao nosso alcance?
O Calypso foi mais que um presente da infância. Ele continua sen- Lá LONGE meu pai campeava
do uma herança para mim, um lembrete de continuidade e o ideal no mato sem fim da fazenda. (ref. 2)
de herança combinada com responsabilidade. Ele é um documento
vivo, minha Constituição do amanhã. Classifique gramaticalmente as palavras sublinhadas e
Talvez, se modificarmos nossos modos, uma Constituição global prote- aponte a diferença de sentido entre elas.
ja um dia o ar, a água, as florestas e a vida selvagem – nossa herança
natural – para futuras gerações. Nossos filhos talvez a escrevam. 10. (Unicamp) UM CHAMADO JOÃO
Jean-Michel Cousteau, em reportagem João era fabulista?
publicada no Jornal da Tarde fabuloso?
fábula?
Releia o seguinte trecho do texto: Sertão místico disparando
“Meu pai imbuiu em mim a convicção de que não somos donos dos no exílio da linguagem comum?
recursos naturais do mundo, APENAS seus administradores.” Projetava na gravatinha
a quinta face das coisas
Reescreva-o, substituindo o termo sublinhado por outro que
mantenha o mesmo sentido. inenarrável narrada?
Um estranho chamado João
8. (Fuvest) Leia a seguinte fala, extraída de uma peça para disfarçar, para farçar
teatral, e responda ao que se pede. o que não ousamos compreender?
(...)
Odorico – Povo sucupirano! Agoramente já investido no cargo de Pre-
Mágico sem apetrechos,
feito, aqui estou para receber a confirmação, ratificação, a autentica-
civilmente mágico, apelador
ção e, por que não dizer, a sagração do povo que me elegeu.
de precípites prodígios acudindo
Dias Gomes. O Bem-Amado: farsa sócio- a chamado geral?
político-patológica em 9 quadros.
(...)
a) A linguagem utilizada por Odorico produz efeitos humorísti- Ficamos sem saber o que era João
cos. Aponte um exemplo que comprove essa afirmação. Justifi- e se João existiu
que sua escolha. deve pegar.
b) O que leva Odorico a empregar a expressão ”por que não Carlos Drummond de Andrade, em Correio da
Manhã, 22/11/1967, publicado em Rosa, J.G.
dizer”, para introduzir o substantivo ”sagração”?
Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
9. (Uerj) INFÂNCIA
a) No título, ”chamado” sintetiza dois sentidos com que
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. a palavra aparece no poema. Explique esses dois senti-
Minha mãe ficava sentada cosendo. dos, indicando como estão presentes nas passagens em
Meu irmão pequeno dormia. que ”chamado” se encontra.
Eu sozinho menino entre mangueiras b) Na primeira estrofe do poema, ”fábula” é deriva-
lia a história de Robinson Crusoé, da em ”fabulista” e ”fabuloso”. Mostre de que modo
comprida história que não acaba mais. a formação morfológica e a função sintática das três
palavras contribuem para a formação da imagem de
1
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu Guimarães Rosa.
a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
— Psiu... Não acorde o menino.

18
INTERPRETAÇÃO

19
FUNÇÕES DA LINGUAGEM

A teoria das funções da linguagem afirma que a lingua- ƒ Referencial ou denotativa: foco no contexto ou na
gem apresenta funções mais amplas do que simplesmen- referência de mundo (o assunto, situação ou objeto so-
te as de caráter informativo. Nesse sentido, os sistemas bre o qual se fala);
comunicativos seriam pautados por seis funções da lin- ƒ Fática ou de contato: foco no canal de comunicação
guagem, que seriam determinadas a partir de um “foco” ou a partir da abertura de contato (físico ou psicológi-
(ou uma ênfase) que recai em pontos específicos da men- co) com terceiros;
sagem observada. As funções seriam as seguintes:
ƒ Poética: foco nos modos de elaboração da mensagem
ƒ Emotiva ou expressiva: foco no emissor, locutor ou e do texto que a compõe;
enunciador (a pessoa que fala ou escreve);
ƒ Metaliguística: foco no código comunicativo (nas
ƒ Apelativa ou conativa: foco no receptor ou interlo- bases prévias de comunicação, sejam elas verbais ou
cutor (a pessoa para quem se fala ou escreve, ou, em não verbais).
algumas abordagens, aquele com quem se conversa);

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

A variação linguística é a diversificação dos sistemas de uma ƒ frases inacabadas, porque foram cortadas ou inter-
língua em relação às possibilidades de mudança de seus ele- rompidas;
mentos (vocabulário, fonologia, morfologia, sintaxe). ƒ uso frequente da omissão de palavras;
Exemplo: Eu vou com minha mãe e com meu pai; em-
Linguagem formal versus presta o seu caderno?
linguagem informal ƒ formas contraídas;
a. Norma culta/padrão: é a denominação dada à varieda-
Exemplo: prof, med, refri, facul
de linguística dos membros da classe social de maior prestí-
gio dentro da classe literária. ƒ afastamento das regras gramaticais;

Observação: não se trata da única forma correta. Exemplo: Eu vi ele.

b. Linguagem informal/popular: é a denominação dada ƒ possibilidade de adequar o discurso de acordo com as


reações dos ouvintes.
à variedade linguística utilizada no cotidiano e que não exige
a observância total da gramática. b. Língua escrita: recorre a sinais de pontuação e de
acentuação para exprimir os recursos rítmicos e melódicos
Língua falada versus língua escrita da oralidade:

a. Língua falada/oral: dispõe de um número incontável de ƒ uso de descrições ricas;


recursos rítmicos e melódicos – entonação, pausas, ritmo, flu- ƒ obedece às regras gramaticais com maior rigor;
ência, gestos – porque, claro, o emissor (pessoa que fala ou
ƒ sinais de pontuação e acentuação para transmitir a ex-
transmite uma mensagem numa dada linguagem) está pre-
pressividade oral;
sente fisicamente. Algumas das características principais são:
ƒ frases longas, apesar de também poder usar frases curtas;
ƒ frequência da ocorrência de repetições, hesitações e
bordões de fala (“Pois, eu aaa... eu acho que... pronto, ƒ uso de vocabulário mais amplo e cuidadoso;
não sei...“, “Cara, o que é isso, cara?“); ƒ conectivos e estruturas sintáticas para garantir a coe-
ƒ frases curtas; são textual.

20
Variação diatópica Variação diamésica
Também conhecida como variação regional ou variação Ocorre quando a linguagem apresenta variações de acordo
geográfica, ocorre quando a linguagem apresenta va- com os diferentes “meios” em que ela é usada, entenden-
riações de acordo com o espaço em que ela é operada. do esses “meios” como espaços de uso oral da linguagem
É por meio dessa variação que são estudados os so- (fala) e uso escrito.
taques ou dialetos interioranos (como o dialeto caipira).
Preconceito linguístico
Variação diacrônica Denomina-se preconceito linguístico aquele gerado
Também conhecida como variação histórica, ocorre quan- pelas diferenças linguísticas existentes dentro de um mes-
do a linguagem apresenta variações de acordo com o tem- mo idioma. Ele está associado a diferenças de base lin-
po em que ela é operada. Parte-se do pressuposto que a guística, especialmente as regionais (envolvendo dialetos,
linguagem é um sistema vivo e constantemente mutável. socioletos, regionalismos, gírias e sotaques). Também é ge-
rado em menor grau pelos outros tipos de variação.
Variação diastrática O preconceito linguístico tem sido muito praticado na atu-
Também conhecida como variação social, ocorre quando a alidade (de modo voluntário e involuntário), sendo forte
linguagem apresenta variações por causa de dois fatores marcador de exclusão social.
mais gerais: fatores socioeconômicos e uso de socioleto (na
Não existe uma forma “certa“ ou “errada“ dos usos da
linguística, um socioleto é a variante de uma língua falada
língua e que o preconceito linguístico, gerado pela ideia
por um grupo social, uma classe social ou subcultura).
de que existe uma única língua correta (baseada na gra-
mática normativa), colabora com a prática da exclusão
Variação diafásica social. No entanto, é necessário lembrar que a língua é
Também conhecida como variação situacional, ocorre quan- mutável e vai se adaptando ao longo do tempo de acordo
do a linguagem apresenta variações de acordo com o con- com as ações dos falantes.
texto/situação em que ela é usada. É verificável quando um Além disso, as regras da língua, determinada pela gramá-
indivíduo, adaptado a um tipo de uso linguístico, é obrigado tica normativa, não incluem expressões populares e varia-
a fazer uma alteração momentânea em seu registro por cau- ções linguísticas, como gírias, regionalismos, dialetos, etc.
sa de uma situação de mundo específica.

FIGURAS DE LINGUAGEM

Figuras de palavra Figuras de sintaxe


Também conhecidas como tropos (figuras em que ocorrem O objetivo das figuras sintáticas é dar maior expressivida-
mudanças internas ou externas de significado), as figuras de ao significado geral de uma frase. As principais figuras
de palavra funcionam a partir da “realização de um em- sintáticas do português são as seguintes:
préstimo“ de uma determinada palavra ou expressão que, 1. Hipérbato
por uma aproximação de sentidos, funciona de maneira
2. Anáfora
específica dentro de um contexto determinado. Observe a
seguir as principais figuras de palavra do português: 3. Pleonasmo
4. Catáfora
1. Metáfora
2. Comparação ou símile 5. Elipse
3. Catacrese 6. Zeugma
4. Metonímia 7. Silepse
5. Antonomásia ou perífrase 8. Anacoluto
6. Sinestesia 9. Polissíndeto

21
10. Assíndeto
Figuras de pensamento
11. Hipálage
As figuras de pensamento são formadas a partir do empre-
go de termos conotativos, contrariando a expectativa do
Figuras de som ou de harmonia ouvinte. As principais figuras de pensamento são:
As figuras de som ou de harmonia são aquelas formadas 1. Antítese
a partir de parâmetros sonoros da língua. São divididas da
seguinte forma: 2. Paradoxo ou oximoro

1. Aliteração 3. Eufemismo

2. Assonância 4. Ironia

3. Paronomásia 5. Hipérbole

4. Onomatopeia 6. Prosopopeia ou personificação


7. Apóstrofe
8. Gradação
9. Quiasmo
10. Preterição

U.T.I. - Sala
1. (Ufjf) Observe a charge abaixo:

Agora, responda:
a) Qual é a temática principal da charge acima?
b) Quais são os elementos verbais e não verbais utilizados na charge para construir o seu significado? Justifique sua
resposta por menção direta a esses elementos.

2. (G1 CP2) O SAL DA TERRA Pra banir do mundo a opressão


Para construir a vida nova
Anda!
Quero te dizer nenhum segredo Vamos precisar de muito amor
Falo nesse chão da nossa casa A felicidade mora ao lado
Vem que tá na hora de arrumar... E quem não é tolo pode ver...

Tempo! A paz na Terra, amor


Quero viver mais duzentos anos O pé na terra
Quero não ferir meu semelhante A paz na Terra, amor
Nem por isso quero me ferir O sal da...
Vamos precisar de todo mundo

22
Terra! (por assim dizer) no vácuo de um leque potencialmente infinito de
És o mais bonito dos planetas interpretações possíveis. Wilkins poderia ter objetado que, no seu
Tão te maltratando por dinheiro relato, o senhor tinha certeza de que a cesta mencionada na carta
Tu és a nave nossa irmã era a mesma levada pelo escravo, que o escravo que a levara era
exatamente o mesmo a quem seu amigo dera a cesta, e que havia
Canta! uma relação entre a expressão “30” escrita na carta e o número de
Leva tua vida em harmonia figos contidos na cesta. Naturalmente, bastaria imaginar que, ao lon-
E nos alimenta com seus frutos go do caminho, o escravo original fora assassinado e outra pessoa
Tu que és do homem, a maçã... o substituíra, que os trinta figos originais tinham sido substituídos
por outros figos, que a cesta foi levada a um destinatário diferente,
Vamos precisar de todo o mundo que o novo destinatário não sabia de nenhum amigo ansioso por
Um mais um é sempre mais que dois lhe mandar figos. Mesmo assim seria possível concluir o que a carta
Pra melhor juntar as nossas forças estava dizendo? Entretanto, temos o direito de supor que a reação
É só repartir melhor o pão do novo destinatário seria algo do tipo: “Alguém, e Deus sabe quem,
Recriar o paraíso agora mandou-me uma quantidade de figos menor do que o número men-
Para merecer quem vem depois... cionado na carta que os acompanha.” Vamos supor agora que não
apenas o mensageiro tivesse sido morto, como também que seus
Deixa nascer o amor
assassinos tivessem comido todos os figos, destruído a cesta, co-
Deixa fluir o amor
locado a carta numa garrafa e a tivessem jogado no oceano, de
Deixa crescer o amor
modo que fosse encontrada setenta anos depois por Robinson Cru-
Deixa viver o amor
soé. Não havia cesta, nem escravo, nem figos, só uma carta. Apesar
Beto Guedes e Ronaldo Bastos. Disponível em: <http://
letras.terra.com.br>. Acesso em: 05 dez. 2009. disso, aposto que a primeira reação de Robinson Crusoé teria sido:
“Onde estão os figos?”
Na quinta estrofe do texto, o uso da linguagem colo- Adaptado de: ECO, Umberto. Interpretação e
quial é evidente. Reescreva o verso que exemplifica a superinterpretação. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 47-49.
afirmação, empregando o registro formal.
a) Explique como se ilustra no Texto 1 a relação entre
3. (PUC-RJ) No começo de seu “Mercury; Ou: O Mensa- a interpretação de um texto e as circunstâncias de
geiro Secreto e Rápido“ (1641), John Wilkins conta a sua leitura.
seguinte história: b) Umberto Eco imagina contextos alternativos para
a circulação da carta mencionada por John Wilkins.
O quanto 1essa Arte de escrever pareceu estranha quando da sua Explicite o conteúdo que se mantém inalterado nos
Invenção primeira é algo que podemos imaginar pelos Americanos diferentes contextos imaginados.
recém-descobertos, que ficaram espantados ao ver Homens conver-
sarem com Livros, e não conseguiam acreditar que um Papel pu- 4. (UFSC) Leia as citações a seguir e responda à questão
desse falar... proposta.
Há um relato excelente a esse Propósito, referente a um Es- “Mas muito lhe será perdoado, à TV, pela sua ajuda aos doentes, aos
cravo Índio; que, ao ser mandado por seu Senhor com uma velhos, aos solitários.“
Cesta de Figos e uma Carta, comeu durante o Percurso uma BRAGA, Rubem. 200 crônicas escolhidas. Rio de
grande Parte de seu Carregamento, entregando o Restante Janeiro/São Paulo: Record, 2004, p. 486.
à Pessoa a quem se destinava; que, ao ler a Carta e não
encontrando a Quantidade de Figos correspondente ao que “Sinhô e Sinhá num mêis ou dois mêis se há de casá!“
se tinha dito, acusa o Escravo de comê-los, dizendo que a LIMA, Jorge de. Novos poemas. Rio de
Carta afirmava aquilo contra ele. Mas o Índio (apesar dessa Janeiro: Lacerda Editores, 1997, p. 3.
Prova) negou o Fato, acusando o Papel de ser uma Testemu-
nha falsa e mentirosa. “... eu osvi falá que os bugre ero uns bicho brabo...“
CASCAES, Franklin. O fantástico na Ilha de Santa
Depois disso, sendo mandado de novo com um Carregamento se- Catarina. Florianópolis: Editora da UFSC, 2004, p. 27.
melhante e uma Carta expressando o Número exato de Figos que
deviam ser entregues, ele, mais uma vez, de acordo com sua Prática “... morreu segunda que passou de uma anemia nos rim...“
anterior, devorou uma grande Parte deles durante o Percurso; mas, Machado de Assis. Brás, Bexiga e Barra Funda.
antes de comer o primeiro (para evitar as Acusações que se segui- São Paulo: Martin Claret, 2004, p. 55.
riam), pegou a Carta e a escondeu sob uma grande Pedra, assegu-
rando-se de que, se ela não o visse comer os Figos, nunca poderia Levando em conta as diferentes formas linguísticas uti-
acusá-lo; mas, sendo agora acusado com muito mais rigor do que lizadas pelos autores na composição de suas obras,
antes, confessou a Falta, admirando a Divindade do Papel e, para o comente sobre a linguagem usada como recurso na
futuro, promete realmente toda a sua Fidelidade em cada Tarefa. construção dos textos. Para tanto, considere as duas
proposições a seguir:
Poder-se-ia dizer que um texto, depois de separado de seu autor (as-
sim como da intenção do autor) e das circunstâncias concretas de sua a) variação linguística versus erro linguístico;
criação (e, consequentemente de seu referente intencionado), flutua b) funções da linguagem na literatura.

23
5. (Uerj) COPLAS1 um Rio de Janeiro que se modernizava no início do sé-
I culo XX.
O GERENTE - Este hotel está na berra2! a) Aponte o gênero de composição em que se enquadra
Coisa é muito natural! esse texto e um aspecto característico desse gênero.
Jamais houve nesta terra b) A fala do gerente revela atitudes distintas, quando se
Um hotel assim mais tal! dirige aos criados e quando está só. Identifique o modo
Toda a gente, meus senhores, verbal e a função da linguagem predominantes na fala
Toda a gente ao vê-lo diz: dirigida aos criados.
Que os não há superiores
Na cidade de Paris!
Que belo hotel excepcional
O Grande Hotel da Capital U.T.I. - E.O.
Federal! 1. (Unesp 2018) Para responder à questão, leia o soneto
CORO – Que belo hotel excepcional etc... de Raimundo Correia (1859-1911).
Esbraseia o Ocidente na agonia
II
O sol... Aves em bandos destacados,
O GERENTE – Nesta casa não é raro
Por céus de ouro e de púrpura raiados,
Protestar algum freguês:
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...
Acha bom, mas acha caro
Quando chega o fim do mês.
Delineiam-se, além, da serrania
Por ser bom precisamente,
Os vértices de chama aureolados,
Se o freguês é do bom-tom
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Vai dizendo a toda a gente
Uns tons suaves de melancolia...
Que isto é caro mas é bom.
Que belo hotel excepcional!
Um mundo de vapores no ar flutua...
O Grande Hotel da Capital
Como uma informe nódoa, avulta e cresce
Federal!
A sombra à proporção que a luz recua...
CORO – Que belo hotel excepcional etc...
O GERENTE (Aos criados) – Vamos! Vamos! Aviem-se! Tomem as A natureza apática esmaece...
malas e encaminhem estes senhores! Mexam-se! Mexam-se!... Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
(Vozerio. Os hóspedes pedem quarto, banhos etc... Os criados res- Surge trêmula, trêmula... Anoitece.
pondem. Tomam as malas, saem todos, uns pela escadaria, outros
pela direita.)
a) Transcreva da primeira estrofe um exemplo de perso-
nificação. Justifique sua resposta.
CENA II b) Cite duas características que permitem filiar esse so-
O GERENTE, depois, FIGUEIREDO neto à estética parnasiana.
O GERENTE (Só.) – Não há mãos a medir! Pudera! Se nunca houve 2. (Uerj 2018) MORTE E VIDA SEVERINA (AUTO DE NATAL
no Rio de Janeiro um Hotel assim! Serviço elétrico de primeira or- PERNAMBUCANO)
dem! Cozinha esplêndida, música de câmara durante as refeições da 01
O retirante explica ao leitor quem é e a que vai.
mesa redonda! Um relógio pneumático em cada aposento! Banhos 02
— O meu nome é Severino,
frios e quentes, duchas, sala de natação, ginástica e massagem! 03
não tenho outro de pia.
Grande salão com um plafond3 pintado pelos nossos primeiros artis- 04
Como há muitos Severinos,
tas! Enfim, uma verdadeira novidade! – Antes de nos estabelecer- 05
que é santo de romaria,
mos aqui, era uma vergonha! Havia hotéis em S. Paulo superiores 06
deram então de me chamar
aos melhores do Rio de Janeiro! Mas em boa hora foi organizada 07
Severino de Maria;
a Companhia do Grande Hotel da Capital Federal, que dotou esta 08
como há muitos Severinos
cidade com um melhoramento tão reclamado! E o caso é que a 09
com mães chamadas Maria,
empresa está dando ótimos dividendos e as ações andam por empe- 10
fiquei sendo o da Maria
nhos! (Figueiredo aparece no topo da escada e começa a descer.) Ali 11
do finado Zacarias.
vem o Figueiredo. Aquele é o verdadeiro tipo do carioca: nunca está 12
Mas isso ainda diz pouco:
satisfeito. Aposto que vem fazer alguma reclamação. 13
há muitos na freguesia,
AZEVEDO, Arthur. A capital federal. Rio de 14
por causa de um coronel
Janeiro: Serviço Nacional de Teatro, 1972. 15
que se chamou Zacarias
16
1
espécie de estrofe e que foi o mais antigo
17
2
estar na moda senhor desta sesmaria.
18
3
teto Como então dizer quem fala
20
ora a Vossas Senhorias?
O texto faz parte de uma peça de teatro, forma de ex- 21
Vejamos: é o Severino
pressão que se destacou na captação das imagens de 22
da Maria do Zacarias,

24
22
lá da serra da Costela, Outro dia vi um Ivanildo fuçando uma lata de lixo à procura de
23
limites da Paraíba. comida que sobra dos nossos pratos, mas o dono da lanchonete
24
Mas isso ainda diz pouco: apareceu para expulsá-lo com um cabo de vassoura.
25
se ao menos mais cinco havia
26
Fiquei com a impressão de que mendigos trazem má sorte para o
com nome de Severino
27 comércio, e que restos de comida não são para restos de pessoas.
filhos de tantas Marias
28
mulheres de outros tantos, “Nós, os filhos de Deus, privatizamos até as migalhas”.
29
já finados, Zacarias,
30
Tenho a impressão que os únicos que gostam dos moradores de
vivendo na mesma serra
31 rua são os cachorros. Aliás, de raça ou não, não conheço nenhum
magra e ossuda em que eu vivia.
32 cachorro que não tenha um mendigo pra cuidar.
Somos muitos Severinos
33
iguais em tudo na vida: Moradores de rua são uma espécie rara de seres humanos: Eles não
34
na mesma cabeça grande têm dentes, eles não cortam os cabelos, eles não tomam banho,
35
que a custo é que se equilibra, pedem-nos esmolas, dormem no nosso caminho de casa, e nós, a
36
no mesmo ventre crescido não ser que peguem fogo, simplesmente não os vemos.
37
sobre as mesmas pernas finas,
38 É difícil vê-los. Somos cristãos demais para enxergá-los. E tem mais,
e iguais também porque o sangue
39 dizem que são invisíveis a olho nu.
que usamos tem pouca tinta.
40
E se somos Severinos Mas não são, suas sombras miúdas se arrastam em nossas orações,
41
iguais em tudo na vida, para o deleite da nossa hipocrisia. Fingir que gostamos de deus é a
42
morremos de morte igual, melhor forma de agradar o diabo.
43
mesma morte severina:
44 Um ser humano pegando fogo na calçada e os nossos joelhos doen-
que é a morte de que se morre
45
de velhice antes dos trinta, do de tanto rezar pela nossa felicidade material...
46
de emboscada antes dos vinte, Deus sabe o que faz, a gente não. Devia ser o contrário.
47
de fome um pouco por dia
48 Se dependesse de mim, a humanidade (?) já tinha pegado fogo há
(de fraqueza e de doença
49 muito tempo. Um por um.
é que a morte severina
50 VAZ, Sérgio. Literatura, pão e poesia: histórias de um povo
ataca em qualquer idade,
51
e até gente não nascida). lindo e inteligente. São Paulo: Global, 2011. p. 67-68.

João Cabral de Melo Neto. Morte e vida severina e outros


Segundo o Dicionário Houaiss, ironia é “figura por
poemas em voz alta. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980.
meio da qual se diz o contrário do que se quer dar a
vivendo na mesma serra entender“ (2001, p. 1651). Localize no texto de Sér-
magra e ossuda em que eu vivia. (l. 30-31) gio Vaz dois casos em que se emprega a ironia e ex-
plique a utilização delas.
a) Na descrição da serra, observa-se o emprego de uma
figura de linguagem. Nomeie essa figura. 4. (Unesp 2018) Leia o poema de Murilo Mendes (1901-
b) Indique, ainda, a relação estabelecida entre a per- 1975) para responder à questão.
sonagem e o ambiente, a partir do efeito produzido por
essa descrição. O PASTOR PIANISTA
Soltaram os pianos na planície deserta
3. (UFJF-Pism 1) SOMBRAS MIÚDAS Onde as sombras dos pássaros vêm beber.
Eu sou o pastor pianista,
A história de Ivanildo é que ele simplesmente não tem história. Mora-
Vejo ao longe com alegria meus pianos
dor de rua, virou notícia porque teve corpo queimado por gasolina e
faleceu na última terça-feira (27), e é só, mais nada. Recortarem os vultos monumentais
Contra a lua.
O assassino, conforme as investigações policiais, era outro mo-
rador de rua, e o crime, vejam vocês a ironia da miséria humana, Acompanhado pelas rosas migradoras
foi motivado por conquista de território. Dizem que precisavam Apascento1 os pianos: gritam
de mais espaço para viverem na rua.
E transmitem o antigo clamor do homem
Pois é, as calçadas! Há pessoas em guerra pelas calçadas frias
da cidade de São Paulo. Não conheci Ivanildo nem o seu algoz Que reclamando a contemplação,
piromaníaco, mas tenho uma vaga ideia de quem sejam os Sonha e provoca a harmonia,
infelizes. Já os vi queimando na retina dos meus olhos, numa Trabalha mesmo à força,
dessas noites geladas e indignas, em suas casas de papelão E pelo vento nas folhagens,
que se movem como fantasmas pela nossa imaginação. Pelos planetas, pelo andar das mulheres,
Ivanildo não devia ter documentos, tampouco identidade. Indigente, Pelo amor e seus contrastes,
deve ter sido enterrado com seus trapos numa vala qualquer, de um Comunica-se com os deuses.
cemitério qualquer, que é o lugar certo para qualquer um de nós, (As metamorfoses, 2015.)
miserável ou não. 1
apascentar: vigiar no pasto; pastorear.

25
a) Na segunda estrofe, verifica-se a personificação dos Na luta, cede ao cansaço,
pianos. Que outro elemento também é personificado E cai da máquina à beira,
nessa estrofe? Justifique sua resposta. E a roda esmaga-lhe um braço...
b) Quem é o sujeito do verbo “comunica-se” (3ª estro- Ai! o infortúnio é severo!
fe)? Justifique sua resposta. Bastou por tanto um só dia
Para entrar o desespero
5. (Unesp) A questão focaliza um trecho de um poema Donde fugiu a alegria!
de 1869 do poeta romântico português Guilherme Bra- Empenha em vão tudo, a esmo,
ga (1845-1874) e uma marcha de carnaval de Wilson Pouco dinheiro lhe fica,
Batista (1913-1968) e Roberto Martins (1909-1992), E não lhe cobre esse mesmo
gravada em 1948. As despesas da botica.
Pobre mãe, pobres crianças!
EM DEZEMBRO Já, de momento em momento,
Vão minguando as esperanças,
Olhai: naquele operário Vai crescendo o sofrimento;
Tudo é força, ânimo e vida;
(Heras e violetas, 1869)
Se o trabalho é o seu calvário
Sobe-o de cabeça erguida.
Deus deu-lhe um anjo na esposa, PEDREIRO WALDEMAR
E as filhas são tão pequenas Você conhece
Que delas a mais idosa O pedreiro Waldemar?
Conta dez anos apenas. Não conhece?
Tem cinco, e todas tão belas Mas eu vou lhe apresentar
Que, ao ver-lhes a alegre infância, De madrugada
Julga estar vendo as estrelas Toma o trem da Circular
E o céu a menos distância; Faz tanta casa
Por isso, quando o trabalho E não tem casa pra morar
Lhe fatiga as mãos calosas, Leva a marmita
Tem no suor o fresco orvalho Embrulhada no jornal
Que dá seiva àquelas rosas, Se tem almoço,
[...] Nem sempre tem jantar
Depois, da ceia ao convite, O Waldemar,
Toda a família o rodeia Que é mestre no ofício
À mesa, aonde o apetite Constrói um edifício
Faz soberba a humilde ceia. E depois não pode entrar.
[...] (Roberto Lapiccirella (Org.). “Antologia
No entanto, como a existência musical popular brasileira”, 1996.)
Não tem em si nada estável,
Num dia de decadência Explique o caráter metafórico do emprego da palavra rosas na quar-
Este obreiro infatigável, ta estrofe do trecho reproduzido do poema de Guilherme Braga.
Por ter gasto a noite inteira

26
LITERATURA

27
A ARTE LITERÁRIA E
O ESTUDO DOS GÊNEROS

na expressão do “eu poético” ou “eu poemático” – voz que


Prosa e poesia fala no poema, não necessariamente correspondente à voz
Prosa e poesia são formas diferentes de comunicação lite- do autor.
rária. A prosa é mais referencial e se vale do uso do texto
corrido organizado da esquerda para a direita no papel Menos grandiosos que os da epopeia, seus temas dizem
ocidental sem preocupação com a forma, apenas com o respeito ao mundo interior do eu lírico, aos sentimentos,
conteúdo e as linhas cheias. ao individualismo, às relações consigo mesmo. Pronomes
e verbos vêm normalmente na primeira pessoa do singu-
Já o poema está primordialmente preocupado com a for- lar e predominam emoções, rimas, ritmo, sonoridade das
ma e adquire, no decorrer da história, várias estruturas a palavras, metáforas, repetições, entre outras figuras de lin-
partir da lógica do verso, que é a linha do poema, e de guagem que trazem aos versos musicalidade e suavidade.
um conjunto deles, denominado estrofe. Estão imersos
num trabalho de ritmo e rimas que podem ou não seguir O gênero lírico é subdividido em: soneto, elegia, ode, ma-
padrões de tamanho e convenção. Os termos “poesia”, drigal, écloga etc. São formas poéticas mais afeitas ao
“poética” e “poeta” derivam dos termos gregos poíesis, gênero lírico.
poiêtikê, poiêtês, que significam criar.
Natureza das rimas
O QUE É GÊNERO LITERÁRIO? ƒ Ricas – entre palavras de classes gramaticais diferentes:

Gênero é o modo como se veicula a mensagem literária, Cristina e ensina


o padrão a ser utilizado na composição artística. Há gran- ƒ Pobres – entre palavras de mesma classe gramatical:
des diferenças entre o conteúdo e a forma dos textos. Um
Precisava esconder sua afeição...
poema não se confunde com um conto, e um romance
segue padrões bastante próprios em relação a uma peça Na Idade Média, uma imortal paixão
de teatro, por exemplo. ƒ Toantes – entre sons vocálicos repetidos:
Na Antiguidade Clássica, Aristóteles conceituou o con- hora e bola; saltava e mata
teúdo como elemento constitutivo da representação das
paixões, das ações e do comportamento humano. A for- ƒ Aliterantes – entre sons consonantais idênticos
ma desse conteúdo, a princípio aplicada apenas à poesia, ou semelhantes:
compreende três gêneros: épico, lírico e dramático.
vozes, veladas, veludosas, vozes

O gênero épico vagam nos velhos vórtices velozes

Épico é derivado do grego épos que, entre outras coisas, ƒ Consoantes – entre sons e letras repetidos:
significa palavra, verso, discurso. Esse gênero, também terra e serra;
chamado de epopeia, nasceu com a Ilíada e a Odisseia,
de Homero. Oriundas das tradições orais, as epopeias amoníaco e zodíaco;
contam histórias que auxiliam os homens a entender a rutilância e infância
trajetória de seus povos.
ƒ Esdrúxulas – entre palavras proparoxítonas:
Narrados de maneira elevada e com vocabulário grandilo-
quente e solene, os assuntos históricos sofrem influência É um flamejador, dardânico
uma explosão de rápidas ideias,
do imaginário e não se privam de recorrer à imaginação,
que com um mar de estranhas odisseias
bem como à mitologia. As epopeias são divididas em “clás- saem-lhe do crânio escultural, titânico!...
sicas ou primárias” ou de “imitação ou secundárias”.
(CRUZ E SOUSA)

ƒ Agudas – entre palavras oxítonas:


O gênero lírico
dó e só; fez e vez; ti e vi
Esse gênero nasceu na Grécia antiga, cujos poemas eram
acompanhados musicalmente pela lira. É o gênero centrado ƒ Preciosas – entre palavras combinadas:

28
múmia e resume-a; réstea e veste-a; Caracterizam o gênero dramático a ausência de narrador,
águia e alague-a; estrela e vê-la o discurso direto – estrutura dialogada – e as rubricas –
instruções que sinalizam ao diretor e aos atores a postura
ƒ Versos brancos – verso sem rimas.
no palco, o tom de voz etc.
Classificação das rimas Em vez do narrador, o texto dramático conta a história pre-
tendida por meio do diálogo entre os personagens, que
ƒ Monossílabos: uma sílaba.
estabelecem com o público uma relação direta, a fim de
ƒ Dissílabos: duas sílabas. comprometê-lo emocionalmente com a história contada e
ƒ Trissílabos: três sílabas. com os personagens dela. O termo teatro deriva do grego
théatron, que significa “ver”, “contemplar”.
ƒ Tetrassílabos: quatro sílabas.
Esse gênero subdivide-se em tragédia, comédia, drama,
ƒ Pentassílabos: cinco sílabas ou redondilha menor.
auto e farsa.
ƒ Hexassílabos: seis sílabas.
ƒ Heptassílabos: sete sílabas ou redondilha maior. O gênero narrativo
ƒ Octossílabos: oito sílabas. Oriunda do gênero épico, a narrativa organiza uma história
ƒ Eneassílabos: nove sílabas. levando em consideração aspectos primordiais de sua es-
trutura: apresentação, desenvolvimento, clímax e desfecho.
ƒ Decassílabos: dez sílabas.
Os gêneros narrativos apresentam-se como:
ƒ Hendecassílabos: onze sílabas.
ƒ Dodecassílabos: doze sílabas ou alexandrino. ƒ Conto
Narrativa curta centrada em um único acontecimento. Apre-
ƒ Verso bárbaro: mais de doze sílabas.
senta uma ação que se encaminha para uma tensão (clí-
max) entre personagens, delimitados num tempo e espaço
Classificação dos versos reduzidos. Exemplos: Amor, de Clarice Lispector; O menino
ƒ Monossílabos – uma única sílaba. do boné cinzento, de Murilo Rubião; e A causa secreta, de
ƒ Dissílabos – duas sílabas. Machado de Assis.

ƒ Trissílabos – três sílabas. ƒ Novela


Narrativa situada entre a brevidade do conto e a longevi-
ƒ Tetrassílabos – quatro sílabas.
dade do romance. Exemplos: A hora e a vez de Augusto
ƒ Pentassílabos ou redondilha menor – cinco sílabas Matraga, de Guimarães Rosa; e Os crimes da rua Morgue,
ƒ Hexassílabos – seis sílabas. de Edgar Allan Poe.
ƒ Heptassílabos ou redondilha maior – sete sílabas. ƒ Crônica
ƒ Octossílabos – oito sílabas. Narrativa breve baseada na vida cotidiana, delimitada por
ƒ Eneassílabos – nove sílabas. tempo cronológico curto, em linguagem coloquial e leve to-
ƒ Decassílabos ou Medida Nova – dez sílabas. que de humor e crítica. Exemplos: Comédias da vida priva-
da – 101 crônicas escolhidas, de Luís Fernando Veríssimo.
ƒ Hendecassílabos – onze sílabas.
ƒ Dodecassílabos ou Alexandrinos – doze sílabas. ƒ Romance
ƒ Bárbaros – mais de doze sílabas. Narrativa longa que discorre sobre um grande conflito cen-
tral que dá origem a outros secundários, compreendendo
O gênero dramático vários personagens em constante conflito psicológico, envol-
A característica e a finalidade primordiais do gênero dramático vidos pela trama que caminha para um clímax. Exemplos:
(do grego drân: agir) é ser levado à representação, à “ação”. Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa; São Bernardo,
de Graciliano Ramos; e O senhor dos anéis, de J.R.R. Tolkien.
Compreende o gênero teatral, cuja encenação, no entanto,
escapa à alçada da literatura propriamente. O eu poético ƒ Anedota
relaciona-se com um tu/vós, segunda pessoa do discurso, Relato de um acontecimento curioso ou engraçado. Como o
a plateia. O texto dramático pressupõe essa plateia, que o provérbio, a anedota, além da tradição oral, vem inserida em
vivencia e tem probabilidade de fruir emoções mediante a textos literários. Exemplos: O asno de ouro, do escritor latino
representação do texto. Apuleio, é uma constelação de pequenas aventuras picantes.

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ƒ Apólogo caixinha de costura. Faze como eu, que não abro cami-
nho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Historinha entre objetos inanimados com moral implícita
ou explícita. Um apólogo, de Machado de Assis, trata da Contei esta história a um professor de melancolia, que
conversa entre uma agulha e uma linha que discutem so- me disse, abanando a cabeça:
bre a importância delas. Observe o último parágrafo em – Também eu tenho servido de agulha a muita linha
que está implícita a moral: ordinária!”
“Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, ƒ Fábula
de cabeça grande e não menor experiência, murmurou
à pobre agulha: Difere do apólogo, uma vez que seus personagens são ani-
mais. Esse gênero teve ilustres cultores na literatura ociden-
– Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para tal, como Esopo, Fedro e La Fontaine, cujas fábulas estão
ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na reunidas em doze livros.

TROVADORISMO: A LITERATURA DA IDADE MÉDIA

CONTEXTO TIPOS DE CANTIGA


ƒ Idade Média (século XII–XIV). As cantigas trovadorescas são divididas em dois grupos:
as líricas, que falam de sentimento e são subdivididas em
ƒ Formação dos países europeus e de suas línguas.
cantigas de amor e cantigas de amigo; e as cantigas
ƒ Reconhecimento do reino de Portugal, no ano de 1179. satíricas, intencionalmente críticas e cômicas, também
subdivididas em cantigas de escárnio e de cantigas
ƒ Feudalismo.
de maldizer.
ƒ Teocentrismo (Deus como centro do Universo / motivo
de tudo). Líricas
ƒ Sociedade com estamentos estáticos: o clero (os padres A poesia lírica diz respeito à lira, instrumento musical da
= homens de oração), a nobreza e a cavalaria (poder Antiguidade clássica que acompanhava as canções expres-
mundano e defesa militar) e os servos (o povo = tra- sando sentimentos.
balhadores).
cantigas de amor cantigas de amigo
eu-lírico masculino, pobre eu-lírico feminino, pobre
O código do amor cortês amor impossível saudade
Os termos que definiam as relações feudais foram trans- poucos refrãos muitos refrãos
postos para as cantigas, caracterizando a linguagem do ausência de paralelismo paralelismo
Trovadorismo: a mulher era a senhora, o homem era o seu linguagem refinada (amor cortês) linguagem popular
servidor. Eram muito prezadas a generosidade, a lealdade
submissão à dama
e, acima de tudo, a cortesia. grau de igualdade
“mulher idealizada”
“mulher atrevida”
(vassalagem amorosa)
As cantigas de amor do Trovadorismo desenvolvem um mes-
coita d’amor amor correspondido
mo tema: o sofrimento provocado pelo amor não correspon-
dido – a “coita de amor”. Como o princípio do amor cortês é origem em Provença, sul da França península Ibérica (galega)

a idealização da dama pelo trovador, os textos não manifes-


tam a expectativa de correspondência amorosa. Satíricas
As cantigas satíricas passeiam por muitos temas, sempre As cantigas satíricas fazem críticas ao comportamento das
expressando um olhar crítico sobre a conduta de nobres, pessoas em suas ações sociais e usam o humor e o vocabu-
homens e mulheres, nas esferas individual e social. É bas- lário chulo para denunciar alguns nobres e damas.
tante comum os trovadores ridicularizarem um nobre que Além disso, a sátira se estende a instituições sociais, censu-
se envolve com uma serviçal ou que não percebe a trai- rando os males da sociedade ou dos indivíduos, quase tudo
ção da esposa. com tom sarcástico, irônico e obsceno.

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Cantigas de escárnio Cantigas de maldizer XII. Elas contam as aventuras vividas pelos cavaleiros an-
Crítica sutil Crítica direta dantes e tiveram origem com o declínio do prestígio da
Linguagem ambígua e velada Linguagem direta e clara
poesia dos trovadores.
Vocabulário comedido Vocabulário agressivo Estão organizadas em três ciclos, de acordo com o tema
que desenvolvem e com o tipo de herói que apresentam:

TRÊS CANCIONEIROS ƒ Ciclo clássico: novelas que narram a guerra de Troia


e as aventuras de Alexandre, o Grande. O ciclo recebe
Os cancioneiros são manuscritos, coletâneas de cantigas essa denominação porque seus heróis vêm do mundo
com características variadas e escritas por diversos autores. clássico mediterrâneo.
Os mais importantes são os três cancioneiros que concen- ƒ Ciclo arturiano ou bretão: histórias envolvendo o rei
tram boa parte da produção conhecida dos séculos XII, XIII e Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda. Nessas nove-
XIV: Cancioneiro da Ajuda, Cancioneiro da Biblioteca Nacio- las, podem ser identificados vários núcleos temáticos: a
nal e Cancioneiro da Vaticana. história de Percival, a história de Tristão e Isolda, as aven-
turas dos cavaleiros da corte do rei Arthur e a demanda

AS NOVELAS DE CAVALARIA do Santo Graal.


ƒ Ciclo carolíngio ou francês: histórias sobre o rei
As novelas de cavalaria são os primeiros romances, Carlos Magno e os Doze Pares de França.
ou seja, longas narrativas em verso, surgidas no século

HUMANISMO E CLASSICISMO

HUMANISMO .
e da Esparsa. Toda a produção de poesia palaciana foi
reunida num volume chamado Cancioneiro geral, or-
ganizado por Garcia de Resende.
Contexto ƒ Teatro – voltado para temas religiosos e didáticos, ou
ƒ Século XV – fim da Idade Média. seja, feito para ensinar religião. Representava cenas bí-
blicas, vidas dos santos e mártires da Igreja. O teatro
ƒ Grandes navegações. propriamente dito, com texto elaborado, inaugurou-se
ƒ Desenvolvimento das cidades e do comércio. em Portugal com a obra de Gil Vicente, que mostrou
peças cheias de sátira à sociedade, com temas tanto
ƒ Burguesia. profanos, nas farsas, como religiosos, nos autos. Seu
ƒ Período de transição dos valores medievais para os va- teatro desenvolveu essencialmente “tipos sociais”, isto
lores do Renascimento, ou seja, do teocentrismo para o é, personagens que representavam figuras que desen-
antropocentrismo. volviam papéis específicos na sociedade e apontavam
os defeitos da personalidade humana. A sua crítica al-
ƒ Valorização da cultura.
cançou desde os mais pobres aos mais ricos ou mais
graduados clérigos. Sua obra aponta o equilíbrio entre
Produção literária a razão e a emoção, que norteou a arte do século XV,
ƒ Crônicas – histórias curtas sobre o cotidiano dos no- considerando que ele alcançou o século XVI e viveu o
bres que queriam registrar seus grandes feitos. O mais início e o auge do Renascimento. Por isso, notam-se em
sua obra valores teocêntricos e antropocêntricos.
famoso cronista de Portugal foi Fernão Lopes, nome-
ado cronista-mor da Torre do Tombo, por D. Duarte.
ƒ Poesia palaciana – poemas compostos em redondi- CLASSICISMO
lhas, sem o acompanhamento musical, e impressos,
feitos para declamação dentro dos palácios; além de tra-
tar da vida da corte, retomavam os temas das cantigas
Contexto
trovadorescas, porém com preocupação técnica e novas ƒ Renascimento – século XVI – resgate da Antiguida-
formas poemáticas, como é o caso do Vilancete, da Trova de clássica.

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ƒ Crescimento do comércio e fortalecimento da burguesia. sombreado realçava a ideia de volume dos corpos. Também
teve início a utilização da tela e da tinta a óleo.
ƒ Descobrimentos.
ƒ Antropocentrismo (homem como centro das preocu- Na escultura, o que mais chama a atenção é a busca pela
pações). representação ideal do homem, normalmente retratado nu
a fim de exaltar as formas humanas.
Produção artística A arquitetura também se inspirou nos traços clássicos, re-
tratando a figura humana e o conceito de beleza dos tem-
O classicismo seguiu os modelos da cultura greco-latina,
plos construídos de maneira harmônica, normalmente co-
uma vez que representavam o equilíbrio e a perfeição.
bertos por uma cúpula.
Nesse sentido, as características gerais do período fo-
ram o racionalismo, o universalismo, a perfeição formal, Entre os artistas mais importantes da arte renascentista es-
o resgate da mitologia clássica e o humanismo. tão Leonardo da Vinci (1452-1519), Michelangelo (1475-
1564) e Rafael Sanzio (1483-1520)..
A Itália foi onde essa tendência renascentista apareceu
com mais intensidade, sendo o palco desse retorno ao
mundo da Antiguidade, ou seja, fez renascer, desde me- Literatura
ados do século XIII, os ideais de valorização dos gre- O poeta Dante Alighieri, autor da Divina comédia, introduziu
gos e latinos, dos esforços individuais, da perfeição, da o verso decassílabo, chamado de “medida nova”, o dolce stil
superioridade humana e da razão como parâmetro de nuovo (doce estilo novo), em contraponto à redondilha, con-
observação e interpretação da realidade. siderada como “medida velha”. O poeta Francesco Petrarca,
criador do soneto, influenciou vários poetas europeus, entre
Pintura, escultura e arquitetura o quais o inglês William Shakespeare e os portugueses Luís
Vaz de Camões e Sá de Miranda.
Na pintura, alguns dos principais traços do Renascimento
foram a noção de perspectiva e a tematização de elemen- Em 1527, Sá de Miranda, retornando da Itália, introduziu em
tos da Antiguidade, bem como a humanização do tema Portugal a “medida nova”. Contudo, foi Luís Vaz de Camões
sacro. A técnica era levada em conta acima de tudo, e o quem se destacou na literatura portuguesa desse período.

CLASSICISMO: CAMÕES ÉPICO E LÍRICO

LUIS VAZ DE CAMÕES língua portuguesa. Teve como modelos estruturais as epope-
ias da Antiguidade: a Ilíada e a Odisseia. Entretanto, Camões
Luís Vaz de Camões teria nascido em 1524 ou 1525, pro- introduziu uma novidade, pois, em Os Lusíadas, o herói é
vavelmente na cidade de Lisboa (talvez Coimbra ou San- coletivo, ou seja, é o povo português; ao contrário do que
tarém). Morreu em 10 de junho de 1580. Curiosamente, ocorre nas epopeias modelares. Essa modalidade de escrita
o herói da poesia portuguesa expirou quando se iniciou o passou a ser chamada de epopeia secundária.
declínio do poderio imperial de Portugal, no mesmo ano Os Lusíadas conseguiu conciliar a mitologia pagã (fruto do
da União da Península Ibérica, em que o país ficou sob o gosto renascentista pelo estudo da cultura pagã) e a mitolo-
domínio da coroa espanhola.
gia cristã (ideologia pessoal do autor).
Em 1572, publicou Os Lusíadas, sua obra-prima. Em 1595,
foi publicada a obra Rimas, com uma compilação de sua
obra lírica, de versos redondilhos elaborados à maneira
Estrutura da obra
medieval, e também de seus sonetos decassílabos de in- A obra de Camões apresenta 8.816 versos decassílabos, di-
fluência petrarquiana. vididos em 1.102 estrofes, todas em oitava-rima, organizada
em dez cantos. Além disso, existem outras cinco partes:
CAMÕES ÉPICO ƒ Proposição (canto I, estrofes 1 a 3)
O poeta apresenta o que vai cantar, ou seja, o tema dos fei-
Engenho e arte tos heroicos dos ilustres barões de Portugal, o herói, Vasco
A obra épica Os Lusíadas é a mais importante epopeia em da Gama, e o destino da viagem.

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ƒ Invocação (canto I, estrofes 4 e 5) poesia de tradição popular, na forma e no conteúdo. São
O poeta invoca as Tágides, ninfas do rio Tejo, pedindo a elas exploradas as redondilhas, de cinco ou de sete sílabas (me-
para inspirá-lo na composição da obra. nor ou maior, respectivamente).

ƒ Dedicatória ou oferecimento (canto I, estrofes Os poemas em medida nova são relacionados à tradição
6 a 18) clássica: sonetos, éclogas, elegias, oitavas, sextinas. Quan-
to ao conteúdo, a poesia lírica clássica se relaciona com
O poeta dedica seu poema a D. Sebastião, rei de Portu-
o petrarquismo. Francesco Petrarca foi o responsável por
gal na época em que o poema foi publicado, visto como
fixar a forma do soneto, no século XIV; o conteúdo de sua
a esperança de propagação da fé cristã e continuação dos
grandes feitos de Portugal. poesia delineia um lirismo amoroso platônico, relacionado
indissoluvelmente a uma mulher inacessível, Laura, a que
ƒ Narração (canto I, estrofe 19 até canto X, es- dedicou perto de 360 sonetos, no seu Cancioneiro.
trofe 144)
O poeta relata a viagem propriamente dita dos portugueses A lírica amorosa
ao Oriente. O desenrolar dos fatos começa In Media Res, ou O tema amoroso é explorado na lírica camoniana sob du-
seja, no meio da ação, quando Vasco da Gama e sua esqua-
pla perspectiva. Com frequência, aparece o amor sensual,
dra se dirigem ao Cabo da Boa Esperança.
próprio da sensualidade renascentista, inspirada no paga-
ƒ Epílogo nismo da cultura greco-latina. Predomina, porém, o amor
É a conclusão do poema (estrofes 145 a 156 do canto X), neoplatônico, espécie de extensão e aprofundamento da
em que o poeta demonstra cansaço e, em tom melancólico tradição da poesia medieval portuguesa ou da poesia hu-
e pessimista, aconselha ao rei e ao povo português que manista italiana, em que o amor e a mulher se configuram
sejam fiéis à pátria e ao cristianismo. como idealizados e inacessíveis.
Em Camões, percebe-se o conflito entre o sentimento espi-
CAMÕES LÍRICO ritual, idealizado, e o sentimento de manifestação carnal. O
amor é, dessa forma, complexo, contraditório.

“Tu, só tu, puro amor” Esses sentimentos contraditórios, bem como certo pessimis-
mo existencial que marca a poesia lírica de Camões, fogem
A obra lírica de Camões compreende poemas feitos na me- ao espírito harmonioso e racional do Renascimento e pre-
dida velha e na medida nova. A medida velha obedece à nunciam o movimento literário do século XVII: o Barroco.

QUINHENTISMO E BARROCO

Os períodos literários do Brasil Colônia:


Quinhentismo (1500-1601) Barroco (1601-1768) Neoclassicismo (1768-1836)
O primeiro documento escrito foi a Carta
Publicação do poema épico Prosopopeia, de Publicação de Obras Poéticas, de Cláudio Man-
de Pero Vaz de Caminha, destinada a Dom
Bento Teixeira. uel da Costa.
Manuel, rei de Portugal.
Florescimento da chamada literatura de
Poesias lírica, religiosa e satírica, de Atuação do Grupo Mineiro em Vila Rica,
informação, cujo objetivo era descrever
Gregório de Matos, em Salvador, Bahia. Minas Gerais.
para a Corte portuguesa a terra descoberta.
Desenvolvimento da literatura de Oratória doutrinária do padre Antônio
Poesia árcade de Cláudio Manuel da Costa
catequese com a finalidade de doutri- Vieira, em Salvador, Maranhão, e outras
(sonetos).
nar os indígenas. áreas do Nordeste brasileiro.
Tomás Antônio Gonzaga escreve Marília de
Textos de teatro com teor catequético. Sermões, do padre Antônio Vieira.
Dirceu.
Poesia épica indianista: O Uraguai, de
Produção de poesia religiosa. Conceptismo e cultismo. Basílio da Gama, e Caramuru, de Santa Rita
Durão.
José de Anchieta é o principal expoente da
Contexto de reformas religiosas. A natureza é a base temática.
literatura catequética.

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QUINHENTISMO OU A arte barroca
LITERATURA COLONIAL O barroco traduz o drama do homem “entre o céu e a Terra”,
atormentado pela fé, pela existência após a morte e pelo
julgamento de atos praticados durante o “trânsito terreno”.
Contexto histórico A expressão plástica barroca caracteriza-se pela exacer-
ƒ Século XVI. bação dos tons mais altos e mais coloridos e das texturas
mais ricas: mais decoração, mais luz e sombra em busca
ƒ Início da colonização do Brasil. deliberada de efeitos.
Na literatura, duas tendências de estilo se manifestam no
Literatura de informação Barroco: o cultismo e o conceptismo. O cultismo é mais
Textos criados para enviar a Portugal notícias sobre as ter- próprio da poesia, e o conceptismo, da prosa.
ras descobertas. Esses relatórios, denominados “crônicas de ƒ Cultismo
viagem”, possuem caráter mais histórico do que literário, e a Trata-se da preferência pelo rebuscamento formal da lingua-
linguagem é predominantemente referencial ou denotativa. gem por meio de jogos de palavras, figuras de linguagem,
Considerada o primeiro documento da literatura no Brasil, vernáculo preciosista, efeitos sensoriais – cor, som, forma,
A carta, de Pero Vaz de Caminha, inaugurou, em 1500, a volume, sonoridade, imagens eloquentes e fantasiosas. Me-
chamada literatura informativa. táforas, antíteses, sinestesias, trocadilhos, dicotomias e hi-
pérbatos compõem os textos barrocos. A tendência cultista
também recebeu o nome de gongorismo, cujo escritor
Literatura de formação ou jesuítica mais eloquente foi o poeta espanhol Luis de Góngora.
Ao lado da prosa informativa, ocorreram manifestações ƒ Conceptismo (do espanhol concepto, ideia)
em poesia e teatro escritas por jesuítas com a finalidade
Trata-se de linguagem pautada no raciocínio e no pensa-
de catequizar os índios. Essa produção é denominada mento lógico. Os argumentos são centrados na inteligên-
literatura de formação, em decorrência do aspecto di- cia e na razão em busca da concisão e da coesão, sempre
dático que apresenta. Seus principais expoentes são os disciplinados pela lógica e seus mecanismos oferecidos por
padres José de Anchieta e Manuel da Nóbrega. analogias, silogismos e sofismas. Essa tendência também re-
cebeu o nome de quevedismo, graças ao estilo marcante do
BARROCO OU SEISCENTISMO poeta espanhol Francisco Gómez de Quevedo.

Contexto histórico Autores de destaque


ƒ Gegório de Matos, poeta baiano que viveu muitos
ƒ Séculos XVI e XVII
anos em Portugal e escreveu poemas religiosos, líricos,
ƒ Reforma protestante. filosóficos e satíricos, sendo que, por esses últimos, ga-
ƒ Contrarreforma. nhou a alcunha de “O Boca do Inferno”.

ƒ Desaparecimento de D. Sebastião (1578). ƒ Padre Antônio Vieira, português, jesuíta, autor de


vários sermões em que apontou aspectos da sociedade
ƒ União Ibérica (1580). do século XVII, tanto no Brasil como em Portugal.

GREGÓRIO DE MATOS GUERRA, O BOCA DO INFERNO

Gregório de Matos (1633-1696) é o maior poeta bar- Seus poemas são dados ao gosto pelo jogo de palavras
roco brasileiro e um dos fundadores da poesia lírica e e das brincadeiras.
satírica no Brasil. Em sua obra, Gregório acolheu a poe-
sia religiosa, os costumes e a reflexão moral. Em relação O “língua de trapo”
aos temas, convivem em seus poemas um desenfreado Irreverente como poeta lírico, Gregório seguiu e ao mes-
sentimento de sensualismo, erotismo e paixão idealizada. mo tempo implodiu os modelos barrocos europeus. Foi

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apelidado de Boca do Inferno, graças à sua poesia emocional, às vezes conceitual, mas frequentemente
satírica, dirigida aos governantes corruptos, a religiosos preocupada em entender contradições. A lírica sacra
licenciosos e às hipocrisias da sociedade. ressalta o senso do pecado ao lado do desejo do perdão.
O lirismo amoroso é contraditório, marcado pela ambigui-
Poesia satírica dade da mulher, vista como uma dualidade entre matéria
e espírito.
Não poupa aspecto algum do sistema e do poder, o que faz
dele um poeta maldito. Provoca os políticos e ridiculariza
os que viviam para bajular e louvar os poderosos, traços Poesia lírica filosófica
que contribuíram para o “abrasileiramento” do Barroco A lírica filosófica de Gregório de Matos revela um poeta
importado da Europa. que, tal qual os clássicos, transmite um forte senso do
“desconcerto do mundo”, ocupando-se com a transito-
Poesia lírica: sacra e amorosa riedade da vida, o escoamento do tempo e a fragilidade
A poesia lírica de Gregório de Matos é idealista, às vezes do homem.

PADRE ANTÔNIO VIEIRA

Antônio Vieira (1608-1697) é a principal expressão do Entre sua vasta produção de mais de duzentos sermões e
Barroco em Portugal. Sua obra pertence tanto à literatu- quinhentas cartas, destacam-se:
ra portuguesa quanto à brasileira. Sua característica mais ƒ Sermão da sexagésima, proferido na Capela Real de
marcante é a de orador e pregador da fé cristã. Lisboa, em 1655, cujo tema é a arte de pregar.
As qualidades de Vieira como orador são incompará- ƒ Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal con-
veis. Dotado de boa formação jesuítica, pronunciou tra as de Holanda, proferido na Bahia, em 1640, posi-
sermões que se tornaram ao mesmo tempo a expres- ciona-se contra à invasão holandesa.
são máxima do Barroco em prosa sacra e uma das ƒ Sermão de Santo Antônio (aos peixes), proferido no
principais expressões ideológicas e literárias da Con- Maranhão, em 1654, ataca a escravização de índios.
trarreforma. Pregou no Brasil, em Portugal e na Itália, ƒ Sermão do mandato, proferido na Capela Real de Lis-
sempre com grande repercussão. boa, em 1645, desenvolve o tema do amor místico.

ARCADISMO EM PORTUGAL: BOCAGE

ARCADISMO profundas transformações sociais e econômicas que


anunciavam revoluções intelectuais nas sociedades euro-
peias, desenvolve-se um novo estilo literário, o Arcadismo.
Contexto histórico O Arcadismo foi chamado também de Neoclassicismo, um
Europa novo Classicismo, em decorrência da retomada dos modelos
ƒ Iluminismo – século XVIII (o século das Luzes). clássicos. As principais características do estilo são:
ƒ Retomada da cultura clássica. ƒ Busca pela perfeição.
ƒ Linguagem simples. ƒ Referências mitológicas.
Brasil ƒ Racionalismo.
ƒ Inconfidência Mineira. ƒ Pastoralismo.
ƒ Bucolismo: proposta de uma vida no campo como
Características alternativa à agitação das cidades e contraponto às
A partir da segunda metade do século XVIII, junto às normas sociais e religiosas.

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ƒ Valorização da cultura greco-latina. em Portugal, e a Nova Arcádia (1790), da qual participou
ƒ Eu lírico = pastor. o maior poeta português do século XVIII: Bocage.

ƒ Uso de psudônimos.

Autores de destaque
MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE
Bocage entrou para a história da literatura portuguesa como um
Em Portugal, Manuel Maria Barbosa Du Bocage, que poeta erótico, embora sua poesia lírica árcade seja considerada
já prenuncia o Romantismo.
superior. A obra Rimas, de 1791, valeu-lhe o convite para a Nova
No Brasil, Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manoel Arcádia, onde usava o pseudônimo Elmano Sadino.
da Costa, Alvarenga Peixoto, Santa Rita Durão e
Basílio da Gama. A fase inicial da poesia de Bocage é marcada por for-
mas e temas próprios do Arcadismo: o ambiente bucólico
Os poetas brasileiros, na verdade, refletiam a maneira de (fugere urbem ), o ideal de vida simples e alegre (aurea
pensar dos europeus, porque estudaram na Europa, apesar mediocritas ), a simplicidade e a clareza das ideias e da
de o país ainda ser colônia.
linguagem, etc.
Para recuperar a perfeição e o equilíbrio dos clássicos e do
Renascimento, era comum entre os autores o uso de cli- Idílios marítimos, Rimas (três volumes) e Parnaso bocagia-
chês árcades ditos sempre em latim: no reúnem a produção literária de Bocage. Os sonetos de
ƒ Carpe diem (aproveitar o dia). Rimas são o ponto alto de sua produção. e alguns estudio-
sos chegam a compará-lo a Camões. A solidão, a desilu-
ƒ Fugere urbem (fugir da cidade).
são amorosa, o sentimento de desamparo e a dor de viver
ƒ Locus amoenus (lugar tranquilo).
impactaram de tal maneira sua poesia que ela acabou se
ƒ Aurea mediocritas (equilíbrio de ouro, desprezo aos afastando da estética árcade para se enveredar pelo cam-
bens materiais).
po dramático e confessional, fato que inseriu Bocage num
ƒ Inutilia truncat (cortar o inútil). contexto pré-romântico.
A produção satírica de Bocage foi uma das que mais se po-
Arcádias pularizou, embora seja considerada inferior à poesia lírica.
As Arcádias eram academias literárias. Em Portugal existi- Foi por meio dessa poesia que o poeta recebeu a alcunha
ram duas importantes academias árcades: a Arcádia Lu- de “poeta maldito”, uma vez que tratava de temas de na-
sitana, que efetivamente deu início ao movimento árcade tureza grosseira, vulgar e obscena.

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U.T.I. - Sala Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram;
Leia o texto a seguir para responder às questões 1 e 2. (...)
Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
À SUA MULHER ANTES DE CASAR Destemperada e a voz enrouquecida,
Discreta, e formosíssima Maria, E não do canto, mas de ver que venho
Enquanto estamos vendo a qualquer hora Cantar a gente surda e endurecida.
Em tuas faces a rosada Aurora, O favor com que mais se acende o engenho
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia: Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Enquanto com gentil descortesia Duma austera, apagada e vil tristeza
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
5. Durante o século XIV, a poesia trovadoresca entra em
Quando vem passear-te pela fria:
decadência, surgindo uma nova forma de poesia, total-
mente distanciada da música, apresentando amadureci-
“Goza, goza da flor da mocidade,
mento técnico, com novos recursos estilísticos e novas for-
Que o tempo trata a toda ligeireza,
mas poemáticas. Qual é o nome deste momento literário e
E imprime em toda a flor sua pisada,
qual a determinação dada para a poesia da época?

U.T.I. - E.O.
Oh não aguardes, que a madura idade,
Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada”.
(Gregório de Matos) Leia o texto a seguir para responder às questões 1 a 3.
Ondas do mar de Vigo,
1. A preocupação com a brevidade da vida induz o po- se vistes meu amigo!
eta barroco a assumir uma atitude que revela qual as- E ai Deus, se verrá1 cedo!
pecto do Barroco? Ondas do mar levado2,
se vistes meu amado!
2. Determine a estrutura formal do poema em seus vári- E ai Deus, se verrá cedo!
os aspectos. Martim Codax
1. verrá = virá\ 2. levado = agitado
3. Leia o poema a seguir e determine de qual fase da
poesia do escritor Bocage ela se enquadra. Justifique 1. Segundo a tradição da poesia medieval, como pode-
sua resposta. -se classificar a cantiga de Martim Codax?
Ó retrato da morte, ó Noite amiga 2. Determine as características que justificam sua clas-
Por cuja escuridão suspirou há tanto! sificação.
Calada testemunha de meu pranto, 3. A estrutura paralelística é, neste poema, particular-
De meus desgostos secretária antiga! mente expressiva, pois revela uma relação importante
com o aspecto da temática. Determine qual é esta relação.
Pois manda Amor, que a ti somente os diga,
Dá-lhes pio agasalho no teu manto; Leia o texto a seguir para responder às questões 4 e 5.
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel, que a delirar me obriga: Mote:
Perdigão perdeu a pena,
E vós, ó cortesão da escuridade, Não há mal que lhe não venha.
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Volta:
Inimigos, como eu, da claridade!
Perdigão que o pensamento
Em bandos acudi aos meus clamores; Subiu a um alto lugar,
Quero a vossa medonha sociedade, Perde a pena do voar,
Quero fartar meu coração de horrores. Ganha a pena do tormento.
Não tem no ar nem no vento
4. Leia o trecho a seguir de Luiz Vaz de Camões e de- Asas com que se sustenha:
termine de qual obra ele foi retirado. Em seguida, justi- Não há mal que lhe não venha.
fique do ponto de vista temático e formal sua resposta. (Camões)

As armas e os Barões assinalados 4. De que fase da poesia de camões este poema se en-
Que da Ocidental praia lusitana, quadra?
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana, 5. Do ponto de vista formal, como pode se classifi-
Em perigos e guerras esforçados, car o poema classicista de Luís Vaz de Camões?

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Leia o texto a seguir para responder às questões 6 a 8. Leia o texto a seguir para responder às questões 12 e 13.
Passada esta tão próspera vitória, Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam
Tornado Afonso à Lusitana terra,
os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais
A se lograr da paz com tanta glória
própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os
Quanta soube ganhar na dura guerra,
reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo das provín-
O caso triste, e dino da memória cias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com
Que do sepulcro os homens desenterra, força roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um
Aconteceu da mísera e mesquinha homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo
Que despois de ser morta foi Rainha. do seu risco, estes sem temor nem perigo; os outros se furtam, são
(Luis Vaz de Camões) enforcados, estes furtam e enforcam.
6. De que obra de Luis Vaz de Camões o trecho apresen- Padre Antônio Vieira – “Sermão do bom ladrão”
tado foi retirado?
12. O jesuíta padre Antônio Vieira ficou famoso por seu
7. Qual o ano da publicação da obra em que o trecho poder de argumentação em função do projeto de coloni-
se enquadra? zação catequética de Portugal. Um de seus instrumentos
8. O texto faz menção a uma passagem importante era o “silogismo aristotélico”. Determine suas premissas
da obra que se enquadra. Qual é esta passagem e e conclusão no trecho do “Sermão do bom ladrão”.
qual o seu significado no todo da obra? 13. Padre Antônio Vieira escrevia seus sermões antes
de proferi-los em sua missa. Além disso, ele organizava
Leia o texto a seguir para responder às questões 9 a 11. seus escritos com uma estrutura específica que muito
Eu cantarei de amor tão Docemente, se parece com a estrutura da epopeia. Determine o
Por uns termos em si tão concertados, nome e a ordem de cada uma destas partes que com-
Que dois mil acidentes namorados põe esta estrutura.
Faça sentir ao peito que não sente.
14. Qual é o documento que na história da Literatura
pode ser considerado a “Certidão de nascimento da
Farei que amor a todos avivente,
Literatura Brasileira”? Determine também quem foi o
Pintando mil segredos delicados,
responsável por sua autoria e a data de sua publicação.
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente. 15. Uma das marcas da escola literária do Barroco é a
contradição. Do ponto de vista técnico, pode-se afirmar
Também, Senhora, do desprezo honesto que existem duas modalidades específicas de escrita
De vossa vista branda e rigorosa que simbolizam essa dualidade seiscentista. Quais são
Contentar-me-ei dizendo a menor parte. elas e quais suas características?

Porém, para cantar de vosso gesto


A composição alta a milagrosa,
Aqui fala saber, engenho e arte.

9. De que fase da obra de Luis Vaz de Camões o trecho


a cima foi retirado?
10. Camões possui temas fundamentais em sua poesia.
Determine qual a temática predominante no texto “Eu
cantarei de amor tão docemente”?
11. Do ponto de vista formal, como se pode classificar o
poema acima? Justifique com pelo menos um aspecto.

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REDAÇÃO

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DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA

A dissertação é um gênero textual que se caracteriza por crenças e preconceitos ou numa visão menos esclarecida
apresentar, analisar e explicar um determinado assunto. Ou sobre determinada situação.
seja, ela propõe a discussão de um tema a partir da análise e
do questionamento dos elementos de um todo. A disserta- Linguagem
ção argumentativa segue a mesma linha; contudo, além
A linguagem utilizada na redação deve respeitar a norma
da exposição, ela exige a defesa um ponto de vista claro e
padrão da língua portuguesa e prezar pela clareza e pela
coerente, sustentado por argumentos convincentes.
objetividade. Os termos que atribuem incerteza e impreci-
são às afirmações devem ser deixados de lado. Além disso,
Elementos básicos é importante evitar palavras pouco usadas na língua e com
nível muito alto de erudição. Às vezes, empregar uma pala-
Tese vra rebuscada para “impressionar” o corretor pode ser um
É a formulação da ideia principal a ser defendida grande equívoco.
no texto. Em outras palavras, trata-se do posiciona- É importante lembrar que a linguagem do texto disserta-
mento do autor a respeito do tema abordado. A função da
tivo-argumentativo é basicamente denotativa, e, portanto,
tese é resumir em um período a visão que o autor pretende
não pode estar recheada de clichês, ironias, frases de efeito
desenvolver ao longo do texto. Por isso, seu desenvolvi-
ou recursos de estilo. Em princípio, as figuras de linguagem
mento pressupõe a escrita de um período argumentativo,
são ferramentas que exploram os sentidos das palavras e,
ou seja, composto pela opinião do autor do texto.
consequentemente, atrapalham a objetividade da redação.
A criatividade é bem-vinda quando é aplicada no título
Argumento do texto ou na apresentação de alguma ideia, mas, para
Argumentos são elementos que servem para comprovar empregá-la, é preciso ter um domínio considerável dos ele-
e sustentar a tese ou o desdobramento de tese e devem mentos básicos do texto dissertativo.
ser reconhecidos como verdadeiros na discussão do tema.
O desenvolvimento da argumentação estará comprometi- Existe um detalhe fundamental: é necessário que o autor
do se os argumentos forem falsos ou pouco prováveis. Os empregue a 3.ª pessoa do singular para manifestar suas
argumentos costumam apresentar exemplos, compara- ideias e opiniões.
ções, relações de causa e consequência, analogias
e argumentos de autoridade destinados a comprovar Aspectos exigidos nas redações
a ideia a ser defendida.
(principais critérios)
Reflexão crítica ƒ Adequação entre o tema proposto e o texto do candidato.
A elaboração da redação exige um momento de reflexão ƒ Adequação ao tipo de texto solicitado (dissertação, car-
especial do candidato. Na maior parte dos casos, é mais ta, artigo de opinião).
produtivo dedicar um tempo maior para a análise do tema ƒ Coesão textual – emprego correto de conjunções, pro-
e para a seleção dos argumentos que para a própria escri- nomes e preposições entre os períodos.
ta, uma vez que a construção de um ponto de vista claro e
objetivo é a principal finalidade do texto. ƒ Coerência dos argumentos.

Uma das maneiras de refletir criticamente sobre um assun- ƒ Correção gramatical e seleção vocabular adequada.
to é separar o “joio do trigo”. No caso das dissertações-
-argumentativas, a reflexão pode ser iniciada separando o Aspectos INDESEJADOS
senso comum do senso crítico. O senso crítico se encarrega na dissertação
de analisar a fundo as problemáticas discutidas observan-
do seu surgimento, suas causas e seus principais agentes; ƒ Emprego de vocabulário rebuscado ou excessivamente
o senso comum, por sua vez, apenas reflete uma opinião expressivo.
superficial ou limitada, usualmente baseada em hábitos, ƒ Composição de parágrafos isolados.

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ƒ Ausência de posicionamento crítico diante do tema ƒ Repetição meramente descritiva das problemáticas apre-
proposto (textos argumentativos). sentadas na coletânea (paráfrase).
ƒ Desconexão entre exemplos, citações e análises críticas. ƒ Conclusão contraditória em relação aos argumentos e
posicionamentos apresentados.

ESPECIFICIDADES DO ENEM

De modo geral, o Enem exige que o aluno produza um introdução, desenvolvimento e conclusão. Além disso, a
texto em prosa, do tipo dissertativo-argumentati- competência avalia se a redação do aluno está adequada
vo, a respeito de um tema de ordem social, científica, ao recorte temático proposto, observando se há tangen-
cultural ou política. Por isso, é importante estar sempre ciamento do tema. Por último, avalia-se a capacidade do
antenado com as principais discussões de cada uma dessas aluno em relacionar repertório sociocultural de outras de
naturezas no país e no mundo. áreas do conhecimento aos argumentos desenvolvidos ao
longo do texto.
A cartilha do Enem também propõe que o aluno defenda uma
tese apoiada em argumentos consistentes, estruturados Nesse sentido, a cartilha do Enem recomenda que aluno
com coerência e coesão. Além disso, o aluno deve apresen- reflita sobre o tema apresentado pela coletânea e apresen-
tar proposta de intervenção social para o problema te um ponto de vista baseado nessa reflexão. É importante
apresentado no desenvolvimento do texto. Isso sig- não se prender às ideias desenvolvidas nos textos apresen-
nifica que o aluno precisa: expor seu posicionamento so- tados, e muito menos copiar trechos desses textos.
bre a problemática adotada, apresentar argumentos Para sair desse ponto inicial, o aluno deve buscar informa-
que comprovem sua visão sobre o tema e sugerir ções de várias áreas do conhecimento na composição
uma intervenção social para o problema abordado, de sua dissertação. Isso demonstra que ele possui repertó-
lembrando que tal ação deve respeitar os direitos humanos. rio e que sabe interpretar corretamente um proble-
ma apresentado pela proposta. Entretanto, é preciso ter
Entendendo as competências do Enem cuidado: todas as informações devem estar ligadas à
construção do ponto de vista. Qualquer dado desconec-
tado da argumentação, ainda que seja importante, não tem
Competência 1 - Demonstrar domínio da
relevância nenhuma para a dissertação, pois não ajuda a con-
modalidade escrita formal da língua portuguesa vencer o leitor a respeito do posicionamento do autor.
A primeira competência do Enem verifica se o aluno é ca-
paz de compor um texto sem problemas de construção Competência 3 - Selecionar, relacionar,
sintática e sem desvios (gramaticais, de convenções organizar e interpretar informações,
da escrita, de escolha de registro e de escolha vo-
cabular). Em outras palavras, é preciso cuidar tanto dos
fatos, opiniões e argumentos em
aspectos fonológicos e morfossintáticos da escrita – como defesa de um ponto de vista
acentuação, ortografia, pontuação, concordância e regên- De modo geral, a terceira competência do Enem avalia o pro-
cia – como dos aspectos de adequação vocabular à norma jeto de texto do aluno, observando se os argumentos apre-
padrão da língua portuguesa, o que significa evitar gírias, sentados realmente comprovam a tese defendida. Segunda
marcas da oralidade, vocabulário impreciso, entre outros. a cartilha, trata-se da “forma como você, em seu texto,
seleciona, relaciona, organiza e interpreta informa-
Competência 2 - Compreender a proposta ções, fatos, opiniões e argumentos em defesa do
ponto de vista escolhido como tese.”
de redação e aplicar conceitos das várias
áreas de conhecimento para desenvolver Muitas vezes, no projeto de redação, os alunos possuem um
posicionamento e também argumentos correspondentes ao
o tema, dentro dos limites estruturais do seu ponto de vista. No entanto, na hora de compor o texto,
texto dissertativo-argumentativo em prosa muitos deles têm dificuldade de organizar os parágrafos e de
Essa competência avalia se o aluno é capaz de construir explicar as informações que sustentam a tese. Nesse caso, a
um texto dissertativo-argumentativo, isto é, um texto com má seleção, explicação e distribuição dessas informações en-

41
tre os parágrafos – e também dentro deles – prejudica a com- A quinta competência do Enem avalia se o texto do aluno
preensão geral da dissertação, ou seja, o corretor não con- apresenta uma proposta de intervenção para o proble-
segue entender o raciocínio que o aluno desejou apresentar. ma levantado. Por isso, é fundamental que esse problema
esteja discutido na tese e nos argumentos, a fim de que
Competência 4 - Demonstrar conhecimento a intervenção a ser proposta esteja coerente com o as-
dos mecanismos linguísticos necessários sunto abordado e realmente apresente uma solução
para o problema exposto no texto.
para a construção da argumentação
A quarta competência do Enem avalia os mecanismos de Além disso, é imprescindível que a proposta de intervenção seja
coesão do texto. Em outras palavras, trata-se da forma como completa. Isso significa dizer que ela deve contemplar quem
o aluno realiza as conexões entre as partes de sua redação a serão os atores sociais responsáveis pela solução de acordo
fim de garantir uma sequenciação coerente do seu raciocínio. com o âmbito que ela demanda: individual, familiar, comunitá-
rio, social, político, governamental e mundial. Do mesmo modo,
Nesse sentido, o aluno é avaliado pela forma como ele re- é preciso detalhar qual será essa ação e qual será o meio de
aliza o encadeamento de suas ideias, seja por meio do uso sua execução, incluindo também quais são os resultados que
conjunções, pronomes, preposições, advérbios e locuções ela pode gerar com relação ao problema discutido. Ademais,
adverbiais; seja pela articulação da própria estrutura textu- é fundamental detalhar ao menos 1 desses elementos
al. O grande objetivo é observar se o aluno conhece os me- para que a intervenção seja completa.
canismos de coesão “que garantem a conexão de ideias
tanto entre os parágrafos quanto dentro deles”. Nesse sentido, recomenda-se que o aluno apresente inter-
venções mais concretas, mais factíveis e mais próxi-
mas da realidade brasileira. As generalizações acerca
Competência 5 - Elaborar proposta de dos “verdadeiros responsáveis” pelos problemas ou as so-
intervenção para o problema abordado, luções muito gerais, como “é preciso investir na educação”
respeitando os direitos humanos devem ser evitadas.

PLANEJAMENTO DE TEXTO

ETAPAS coletânea de textos que são fundamentais para a compre-


ensão do direcionamento proposto pela banca. Assim, é
possível afirmar que um mesmo assunto pode abran-
Análise do recorte temático ger diferentes recortes.
Pode parecer desnecessário dedicar alguns minutos para
refletir sobre a dimensão do recorte temático numa pro- Leitura da coletânea
posta de redação, dado que a identificação desse fator não A primeira leitura da coletânea tem como objetivo compre-
se revela tão complicada para muitos alunos. Contudo, é ender atentamente o tema abordado no exame. É a partir
muito comum que alguns candidatos se percam ao desen- dessa primeira leitura que o aluno começa a definir seu
volver seu raciocínio, justamente porque não compreende- posicionamento a respeito do tema e o que pode vir a ser a
ram o tema de modo correto, o que gera prejuízos graves, sua tese principal. Nesse momento, é importante realizar
podendo causar a anulação do texto. uma leitura atenta, destacando as informações principais e
analisando a fonte de cada um dos excertos.
Em vista disso, é fundamental compreender a diferença en-
Em seguida, é preciso relacionar as informações dadas
tre assunto e recorte temático. Embora as palavras possam
pela coletânea. Ou seja, o aluno deve avaliar os posicio-
ser sinônimas em alguns contextos, é necessário diferenciar namentos dos autores, analisar criticamente os dados
esses conceitos quando se trata de uma redação de vesti- de infográficos e verificar como todas essas informações
bular. O assunto pertence a uma instância mais ampla aparecem no meio social abordado. O aluno pode criar
de determinada questão, mais genérica, mais aberta e que orações que ilustrem a reflexão gerada a partir dessas
engloba uma infinidade de debates diferentes. O recor- análises. De todo modo, é fundamental que os textos
te temático, por sua vez, pressupõe um direcionamento, sejam avaliados em conjunto, pois eles constituem a base
uma especificidade e, na maior parte das vezes, possui uma da abordagem temática proposta na prova.

42
O aluno deve relacionar as informações lidas com a ora- não esteja confiante em relação a uma das ideias desen-
ção-tema orientadora do exame, habitualmente apresen- volvidas, é melhor não arriscar: esses elementos devem
tada na maior parte dos vestibulares do país. Caso essa ficar de fora. É preferível prezar pela clareza, objetividade
oração seja uma pergunta, é indispensável que a redação e coerência dos argumentos do que pela ousadia ou pelo
forneça uma resposta. risco na hora de escrever.

Brainstorm A importância da seleção


O segundo passo da elaboração consiste na realização de
cuidadosa do projeto de texto
um brainstorm, ou seja, uma tempestade de ideias acerca do A contradição é uma das consequências óbvias de um
tema, que pode ser feita depois ou durante uma segunda lei- texto mal planejado. Isso ocorre quando, no mesmo texto,
tura da coletânea. Nesse momento, é necessário anotar tudo é possível identificar duas ideias distintas sendo igualmen-
aquilo que vier na cabeça: exemplos, analogias, compara- te defendidas. Outra evidência do mal planejamento é a la-
ções, citações, definições, ilustrações, etc. Essas ideias podem cuna argumentativa, um problema textual que consiste
ser organizadas em pequenas orações que ajudarão o aluno no mal desenvolvimento de ideias. Por exemplo: iniciar o
a construir uma visão mais clara do conjunto. texto com uma referência que não terá qualquer relação
com o conteúdo abordado nas linhas seguintes.

CRITÉRIOS DE SELEÇÃO Estratégias para organizar


O aluno dispõe de muitos elementos para determinar seu o planejamento
projeto depois de realizadas as etapas anteriores. Agora, a O projeto pode ser feito com uma lista organizada ou
tarefa é selecionar apenas aquilo que entrará no corpo do com um mapa mental com o conteúdo por parágrafo a
texto e organizar esse conteúdo em parágrafos. Para isso, ser desenvolvido. Para iniciá-lo, é preciso retomar as ideias
considere os critérios abaixo na ordem que seguem: desenvolvidas ao longo do brainstorm ou ainda recorrer
a algumas perguntas básicas para a formação do pensa-
ƒ Selecione os argumentos que apresentem uma relação
mento crítico.
mais direta com a tese a ser desenvolvida e com a te-
mática abordada nos textos motivadores. Para garantir o projeto ideal, é importante definir es-
tratégias para o início do texto que deverão nortear o per-
ƒ Selecione os argumentos que tenham uma melhor sus-
curso até a conclusão.Esse fator preservará o paralelismo
tentação: exemplos, argumentos de autoridade, dados
introdução-conclusão. A partir das ideias desenvolvidas
históricos, comparações, etc.
no brainstorm, é possível tentar definir qual será a ideia
ƒ Selecione os argumentos que possam ser embasados inicial e como ela será retomada ao longo do texto.
por alguma teoria (sociológica, filosófica).
Com a estratégia definida, é preciso estruturar o proje-
É importante lembrar que deve ser escolhido para o texto to ou o mapa de ideias, buscando reservar um destaque
o que estiver mais bem sustentado pelos argumentos e/ central ao tema em discussão, o qual deve ser desenvol-
ou o que for mais fácil e mais seguro de redigir. Caso o vido ao longo da análise e reflexão, até que se chegue à
aluno não tenha certeza de algum exemplo ou citação, e tese a ser defendida.

INTRODUÇÃO

As principais funções da introdução são apresentar o


tema ao leitor, anunciar o direcionamento e criar Contextualização
empatia com o leitor.
Em sua obra “O cortiço”, publicada em 1890, o escritor Aluísio
Azevedo retrata parte da população pobre do Rio de Janeiro
Composição da introdução obrigada a viver em espaços aglomerados e a pagar altos alu-
A estrutura da introdução pressupõe duas partes. Uma
guéis por essas habitações. No livro, mesmo as personagens
mais geral, que situa o leitor a respeito do assunto (con-
que trabalhavam horas a fio não possuíam situação financeira
textualização); e uma mais específica, responsável por
apresentar a perspectiva adotada pelo autor diante daque- suficiente para habitar outros espaços com condições mínimas
le tema (direcionamento). Observe os exemplos: de dignidade.

43
na introdução. A citação pode ser de um personagem da
Direcionamento literatura, de uma canção popular, de um poema, e até
mesmo, de um artigo de lei. A única restrição é selecio-
Na contemporaneidade, de modo análogo, o acesso à moradia
nar essas fontes por meio do bom senso.
digna para as classes baixas nas cidades continua a ser prati-
camente inviável, seja em razão da irresponsabilidade do Esta-
do ao negligenciar esse direito, ou da especulação imobiliária Desconstrução do senso comum
que se apropria ferozmente dos espaços urbanos. A redação também pode ser introduzida com a contesta-
ção de conceitos generalizantes a respeito do tema. Nes-

ESTRATÉGIAS DE INTRODUÇÃO se modelo, apresenta-se um discurso próprio do senso


comum que, em seguida, é invalidado pelos argumentos
do autor. Em outros termos, trata-se de apresentar de uma
Apresentação da questão questão que parece ser coerente, e na sequência, exibir as
razões que a tornam equivocada.
Esse modelo de introdução, usado por muitos alunos, é um
dos mais seguros para os que possuem mais dificuldade
de iniciar a redação. Ele pode ser iniciado por afirmações,
declarações gerais e até mesmo exemplos a respeito do as-
ELABORAÇÃO DA TESE
sunto, seguidos de exposição da problemática que envolve A tese representa o direcionamento da abordagem que será
o tema e, finalmente, a tese do autor. feita ao longo do texto. Ela funciona como um norte, como
o posicionamento central a ser defendido. E, para que essa
opinião fique muito clara para o leitor, é fundamental que a
Uso de imagens frase esteja apresentada – de modo muito claro – no primei-
Esse modelo consiste em apropriar-se de uma imagem/ ro parágrafo.
metáfora que, de alguma forma, relacione-se com o as- Nos exames cuja oração-tema é constituída por uma per-
sunto em questão. Trata-se de selecionar uma imagem gunta, a tese deve ser uma elaboração síntese da resposta a
(dentro de um universo simbólico) que conduzirá o ra- essa questão. Não se trata de respondê-la de modo escolar,
ciocínio a ser construído. mas é preciso construir um período que apresente um po-
sicionamento claro sobre a pergunta realizada. Nos outros
Essa imagem pode ser uma história, uma anedota, um di-
casos, a tese deve resumir a opinião do autor diante da ora-
to-popular, isto é: algo que aparentemente não se relacio-
ção-tema oferecida, podendo inclusive ser elaborada a partir
na com o tema, mas que é usado como forma de construir
da recombinação das palavras presentes na oração tema.
uma analogia.

Dados históricos Tipos de tese


O uso de dados históricos é um dos modelos mais usados Tese analítica
na redação, justamente por ser uma forma segura de iniciar Também conhecida como tese organizadora, esse é o
o período. No entanto, é preciso ter cuidado: a informação modo de formulação de tese no qual são apresentados os
deve estar diretamente relacionada com o tema e deve ser argumentos a serem defendidos ao longo do texto. Trata-se
usada apenas para introduzir a questão. Muitas vezes, al- da formulação de um período que descreva resumidamente
guns alunos exageram nos detalhes históricos e esquecem a articulação dos argumentos apresentados no segundo e
o objetivo principal, deixando a introdução longa e tediosa. no terceiro parágrafo. Não é necessário apresentar muitos
detalhes de cada um deles, já que as justificativas serão es-
Uso de citações pecificadas nos parágrafos seguintes.

Esse é um dos modelos de introdução mais presentes nas


melhores redações do Enem. No entanto, a recomendação
Tese sintética
é a mesma do uso de dados históricos: a citação só deve Esse modelo de formulação também é conhecido como
entrar se estiver diretamente conectada ao tema. É funda- tese sugestiva, uma vez que sua principal característi-
mental evitar as velhas citações que podem servir aos mais ca é anunciar o posicionamento sem fazer referência aos
variados assuntos, já que – por serem usadas tantas vezes argumentos a serem desenvolvidos. Baseia-se apenas na
– não despertam nenhum interesse no leitor da redação. construção de um período síntese que oferece o direciona-
mento a ser defendido pelo autor do texto e costuma ser
No entanto, não é preciso se prender aos maiores no- comum entre as redações que pressupõem uma resposta
mes da filosofia e da sociologia para garantir o sucesso à pergunta em alguns temas de redação mais reflexivos.

44
Recomendações para a b. Tecer julgamentos positivos ou negativos: As
estratégias desenvolvidas pelo Ministério da Saú-
elaboração de uma tese
de não funcionam. A medida de incluir a leitura
Para facilitar a composição de sua tese, são recomendadas nos presídios é um grande acerto.
algumas estratégias:
c. Empregar adjetivos: Esse problema ainda ocor-
a. Compor definições próprias a partir do uso de re em razão de políticas públicas ineficazes do
verbos de ligação: A rede social passou a ser o uso problemático das verbas privadas.
novo ópio da modernidade. / As pautas identitá-
rias também se tornaram mercadorias. / A cultura d. Verbos no presente: A questão ambiental per-
manece à mercê da iniciativa privada e da ausên-
de massa está morta.
cia de políticas do Estado.

ESPECIFICIDADES DA FUVEST E DA VUNESP

ESPECIFICIDADES FUVEST Posicionamento


De acordo com último manual do candidato da Fuvest, a Assim como o Enem, a Fuvest exige que o candidato ela-
bore um posicionamento a respeito do tema abordado e
prova de redação exigia “uma dissertação de caráter ar-
discuta tais reflexões a partir de argumentos. Para tanto,
gumentativo, na qual se espera que o candidato, visando
convém ressaltar que esses argumentos não devem ser
sustentar um ponto de vista sobre o tema, demonstre ca-
meramente expositivos: eles só fazem sentido se estiverem
pacidade de mobilizar conhecimentos e opiniões; argu-
alinhados ao ponto de vista adotado. Como a presença
mentar de forma coerente e pertinente; de articular efi-
de informações aleatórias e desconectadas da elaboração
cientemente as partes do texto e expressar-se de modo
de um raciocínio lógico implica na penalização da nota, é
claro, correto e adequado.”
interessante caprichar no projeto de texto e segui-lo rigida-
mente, evitando a inclusão de informações desnecessárias.
O conceito de autoria
A Fuvest, assim como o Enem, valoriza a elaboração de Formato do recorte temático
textos em que a noção de autoria possa ser reconhecida.
Caso a prova seja composta por um questionamento no re-
Ou seja, o aluno deve fugir de estruturas pré-fabricadas
corte temático, é fundamental que o texto do aluno procure
e deve mostrar que possui competência para elaborar um
elaborar reflexões respondendo à indagação, ainda que para
texto argumentativo a partir de suas próprias reflexões e
isso seja necessário tecer hipóteses e fazer ressalvas – isto é,
dos textos abordados na coletânea. Além disso, o concei-
expor a legitimidade de posicionamentos contrários. Só não
to de autoria também se estende à noção de repertório.
vale “ficar em cima do muro”, nem levar a discussão para
A Fuvest determina que o candidato não se prenda apenas
longe, abandonando a pergunta inicial.
aos textos da coletânea, mas que consiga articular o texto
com um repertório pessoal de exemplos e de reflexões. Nes-
se ponto, o mais importante é a capacidade de relacionar o Valorização da reflexão
tema abordado com elementos pertinentes ao assunto e que De modo geral, o vestibular da Fuvest valoriza muito a capa-
a reflexão seja bem construída. cidade de reflexão do aluno, já que poucas de suas pro-
postas contemplaram temas polêmicos ou aguardados nos
Filosofia e vida em sociedade grandes vestibulares. Além disso, não se costuma adotar um
modelo padrão de apresentação da coletânea: ela pode ser
A introdução da filosofia nas propostas de redação não
composta de excertos de gêneros diferentes – texto jorna-
representa uma limitação ou uma abordagem ampla des-
lístico, texto filosófico, texto literário, verbetes, entre outros;
conectada de exemplos concretos. Ao contrário disso, o
pode ser feita com apenas um texto filosófico –, ou pode ser
desafio proposto pela Fuvest é de que o candidato encon- projetada a partir de textos não verbais. É importante que o
tre exemplos e conceitos reais que permitam compreender candidato esteja preparado para lidar com qualquer modelo
determinado princípio filosófico. de proposta de redação.

45
Tendo em vista esse cenário, a solução mais adequada é Assim como a Fuvest, a Vunesp elabora sua prova com base
treinar bastante a reflexão a partir dos textos e também em CONCEITO DE AUTORIA, PERGUNTA-TEMA e NÃO EXI-
caprichar na construção de um repertório pessoal, uma GÊNCIA DE PROPOSTA DE INTERVENÇÃO. Além disso, é
vez que o candidato pode encontrar um tema sobre o qual fundamental conhecer outras características da prova.
nunca se debruçou, e, portanto, não possui um posiciona-
mento definido. Padrão de coletânia
Diferentemente da Fuvest, a Vunesp possui um modelo pa-
Apresentação direta dronizado de apresentação da proposta. Ele consiste na
da problemática seleção de dois a cinco textos que servem de auxílio para
Não é recomendável que o candidato perca tempo apre- a compreensão do tema e para a elaboração dos argu-
sentando ideias gerais sobre o assunto e demore para ini- mentos pelo candidato. Como a maior parte desses excer-
ciar a discussão da problemática apresentada. As redações tos é proveniente do meio jornalístico, entende-se que as
que já trazem na introdução a posição do autor costumam propostas da VUNESP dialogam com temas em constante
ser bem avaliadas. Quanto mais cedo as contradições são debate na mídia, o que facilita a construção dos argumen-
expostas e o senso crítico aparece, mais linhas o candidato tos. No entanto, é importante saber interpretar todos os
tem para argumentar a favor de seu ponto de vista. gêneros textuais: quadrinhos, charges, textos filosóficos,
poemas, etc., pois algumas coletâneas podem ser compos-
tas de diferentes tipos de texto.
Não exigência de proposta
de intervenção Análise de diferentes pontos de vista
A Fuvest não exige uma proposta de intervenção para as
Os excertos escolhidos pela Vunesp costumam apresentar
discussões apresentadas na prova de redação, até mesmo
pontos de vista divergentes sobre o assunto em questão. Essa
porque seus temas não se vinculam necessariamente a um
problema cuja resolução esteja ao alcance de diferentes escolha não é aleatória: ela induz o candidato a criar argumen-
setores, como esperado no Enem. Caso seja pertinente e tos que sejam capazes de corroborar ou contestar os posicio-
esteja em consonância com a argumentação construída, namentos apresentados na coletânea, fazendo – sobretudo
em alguns temas específicos o candidato pode sugerir in- – o uso de ressalvas. Sendo assim, é importante observar se
tervenções em diferentes níveis. os argumentos escolhidos para sustentar a tese já não estão
“invalidados” por um desses excertos da coletânea.

ESPECIFICIDADES VUNESP Abordagem contemporânea


A redação da Vunesp exige uma “dissertação em prosa na As propostas da VUNESP costumam trabalhar com temas
norma padrão da língua portuguesa, a partir da leitura de de diferentes áreas do conhecimento – social, econômica,
textos auxiliares, que servem como um referencial para am- política, comportamental, etc. Entretanto, esses temas sem-
pliar os argumentos produzidos pelo próprio candidato. Ele pre se referem a discussões de caráter atual. Por isso, uma
deverá demonstrar domínio dos mecanismos de coesão e boa dica é estar antenado aos assuntos que permeiam o
coerência textual, considerando a importância de apresen- debate contemporâneo no Brasil e no mundo, conhecendo
tar um texto bem articulado.” as fontes de onde os excertos costumam ser extraídos.

PARÁGRAFO PADRÃO E TÓPICO FRASAL

PARÁGRAFO PADRÃO sua unidade. A maior parte dos parágrafos confusos são
aqueles que se propõem a discutir – num mesmo espaço
Na dissertação argumentativa, parágrafo padrão é a uni- – dois ou três assuntos diferentes, prejudicando a com-
dade composta por vários períodos na qual se desenvolve preensão geral do texto, sobretudo por apresentarem
uma ideia central. Ele deve conter apenas um assunto, grandes saltos temáticos.
pois é justamente a centralidade da ideia que garante

46
TÓPICO FRASAL O uso da afirmação/declaração é o principal modo de
empregar tópico frasal. Trata-se de uma ideia do autor que
Chama-se tópico frasal o período-síntese que anuncia a orientará o parágrafo. Por se tratar de uma declaração ge-
ideia a ser desenvolvida no parágrafo. Ele deve ser curto ral, deve ser redigida por períodos argumentativos,
e conciso, e deve sempre pressupor explicações. Outro de- isto é, períodos que contenham julgamentos, avaliações,
talhe importante: em boa parte dos empregos eles estão ou definições do próprio autor que, obrigatoriamente, exi-
acompanhados de conjunções que fazem a conexão com jam explicações.
o parágrafo anterior.

ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS

Explicação Narração
A explicação é uma estratégia argumentativa articulada Os processos argumentativos também podem ser encade-
em duas etapas sequenciais. A primeira vale-se do tópi- ados por meio da construção de uma narrativa. Em termos
co frasal para fazer uma declaração do posicionamento mais claros, ocorre quando se recupera uma história/um
do autor. Em seguida, no desenvolvimento, é necessário caso, com seus personagens, localidades e vínculos tem-
complementar a informação, explicando o motivo dos porais. Para que não haja confusões entre o entendimento
fatos anteriormente apresentados. Em outros termos, tra- do que é uma narração e, por exemplo, uma descrição ou
ta-se de uma elucidação mais ampla das causas do que exemplificação, é necessário lembrar desses três pontos:
se afirma no tópico frasal. É importante destacar também I. O processo narrativo configura um conjunto de altera-
que a explicação do tópico frasal geralmente vem acom- ções de situações referentes a personagens determinadas.
panhada de outras estratégias que constituem o repertó- Essas personagens podem ser unitárias ou coletivas (po-
rio do aluno, como exemplificações ou citações. de-se ter um indivíduo sobre o qual se conta algo, como
o prefeito de São Paulo, ou uma personagem coletiva,
Exemplificação como a sociedade ou os jovens da geração 2000).
Outra estratégia interessante de desenvolvimento do tó- II. A história dessa(s) personagem(ns) precisa(m) estar
pico frasal é a exemplificação. O movimento consiste em vinculada(s) a uma temporalidade precisa e a um espaço
apresentar uma afirmação geral mais simples para, na se- bem configurado. A narrativa é um texto figurativo que vai
quência, realizar uma prova dessa afirmação por meio de compor um argumento concreto de seu texto.
exemplos que sustentem o tópico. III. Toda história possui uma progressão temporal (eventos
anteriores, concomitantes e posteriores). Aqui, é essencial sa-
Dados estatísticos / científicos ber manipular os elementos verbais, inclusive para que seja
possível organizar a disposição desses eventos em ordens
O desenvolvimento do tópico frasal também pode ser re-
variadas, de acordo com a necessidade imposta pelo tema.
alizado por meio de dados estatísticos / científicos. Essa
estratégia requer um pouco de cautela, pois não se reco-
menda que o estudante forneça dados estatísticos de sua Contra-argumentação
memória, principalmente se não há certeza sobre as fontes A contra-argumentação é uma estratégia argumentativa
de obtenção. A principal recomendação é que o texto repli- que consiste em apresentar um argumento oposto ao seu,
que dados fornecidos pela própria coletânea de textos que para depois questioná-lo, desconstruí-lo ou condená-lo.
acompanha a proposta de redação.

47
PROPOSTA DE REDAÇÃO – A AUTOMEDICAÇÃO NA SAÚDE BRASILEIRA
ACERVO
TEXTO I
Pesquisa mostra que 77% dos brasileiros têm o hábito da automedicação
Prática é considerada de alto risco à saúde em razão dos efeitos negativos que
os medicamentos podem provocar quando não há prescrição médica
Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, a pedido do Conselho Federal de Farmácia (CFF), constatou que a automedicação é um hábito comum
a 77% dos brasileiros. Quase metade (47%) dos entrevistados disse que toma remédio por conta própria pelo menos uma vez por mês. Um quarto
(25%) faz isso todo dia ou pelo menos uma vez por semana. Especialistas alertam que, quando usado de forma errada, o medicamento pode provo-
car danos graves à saúde, como lesões nos rins, hemorragia digestiva, hepatite medicamentosa, dependência e, em caso extremo, pode levar à morte.
“A automedicação é um problema de saúde pública no Brasil. A busca pela cura imediata e a facilidade para adquirir medicamentos são fatores
que estão relacionados com essa prática”, afirma Dimas dos Santos Rocha Júnior, docente da área de saúde e bem-estar do Senac Itapetininga e
formado em farmácia e bioquímica.
Ainda segundo a pesquisa, familiares, amigos e vizinhos foram citados como os principais influenciadores na escolha dos medicamentos usados sem
prescrição médica. “O medicamento que é bom para o vizinho ou algum parente pode não surtir o mesmo efeito em outra pessoa. Pode, inclusive,
fazer mais mal do que bem”, adverte Dimas. Ele alerta que a automedicação pode, ainda, mascarar os sintomas e dificultar o diagnóstico correto.
Um levantamento feito com base nos atendimentos realizados pelo Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) da Unicamp, em
Campinas, em 2017, concluiu que o consumo de remédios foi responsável por 33% dos casos de intoxicação naquele ano. Isso representava mais
que o dobro dos atendimentos por picadas de animais peçonhentos e consumo de produtos químicos. De acordo com o docente, outros estudos
indicam resultados semelhantes e igualmente preocupantes.
Neste caso, Dimas avalia que o papel do farmacêutico e do atendente de farmácia é fundamental para orientar e minimizar os riscos de intoxicações
severas decorrentes do consumo de medicamento sem prescrição médica. Segundo o docente, em um cenário bastante competitivo, como é o
ramo farmacêutico, a qualidade do atendimento é o diferencial. “Orientar corretamente o cliente, com ética e responsabilidade, pode ser um fator
preponderante no esforço para diminuir o hábito perigoso da automedicação”, afirma.

HTTP://OLAITAPETININGA.COM.BR/PESQUISA-MOSTRA-QUE-77-DOS-BRASILEIROS-TEM-O-HABITO-DA-AUTOMEDICACAO/ (03.03.2020)

TEXTO II
Os perigos do autodiagnóstico e da automedicação por pesquisas no Google
Quem nunca se automedicou? A prática é muito comum, principalmente quando surgem sintomas considerados simples pelo paciente, como
coceiras e dores no corpo. A saída é quase sempre perguntar às pessoas mais próximas, principalmente aos mais velhos, referências de remédios
que possam aliviar os incômodos. Mas, na era digital, os conselhos dos mais experientes começam a perder espaço para a ferramenta de busca na
internet: o Google. Uma pesquisa britânica divulgada recentemente mostrou que 25 por cento das mulheres na Inglaterra utilizam o Google como
pesquisa para autodiagnóstico. Os perigos dessa prática são diversos: desde efeitos colaterais até a piora no quadro da doença.
O gerente de Monitoramento e de Fiscalização de Medicamentos da Anvisa, Tiago Rauber, alerta para os riscos da automedicação. ”A automedi-
cação é um tipo de prática não recomendada por nenhuma autoridade de saúde no Brasil. Esse tipo de prática acarreta uma série de riscos como,
por exemplo, você mascarar os sintomas de uma doença, e ter uma dificuldade de diagnosticar corretamente, futuramente essa enfermidade. Pode
acarretar também, maior número de intoxicações. Além do mais, temos a questão de você não fazer realmente o tratamento efetivo daquela en-
fermidade. Então, todos esses elementos corroboram a tese de que essa é uma prática altamente perigosa, e que temos tido resultados bastante
complicados”, alerta Tiago.
O gerente da Anvisa, Tiago Rauber, destaca que o uso de medicamento precisa sempre ser acompanhado por um profissional de saúde. ”Qualquer
sintoma, qualquer problema, por mais simples que seja, ele pode ser o início de um diagnóstico de uma enfermidade mais complexa. Então, todo
tipo de sintoma necessita um atendimento de um profissional habilitado, de um médico. Medicamento não é um bem de consumo qualquer, não é
uma caneta, não é uma camiseta. Medicamento tem uma série de benefícios, mas ele também tem riscos”, ressalta o gerente.
Tiago Rauber alerta ainda para os riscos do estoque de medicamentos em casa, a chamada farmacinha caseira que se forma pelo uso indiscrimina-
do de remédios. Além dos riscos da automedicação, essa prática pode levar a pessoa a ingerir o medicamento vencido, o que piora ainda mais os
sintomas de quem fizer uso do remédio.
HTTP://WWW.BLOG.SAUDE.GOV.BR

48
TEXTO III
Conforme a própria definição, a publicidade influência o julgamento de usuários e prescritores sobre medicamentos. Vários estudos têm demons-
trado que propagandas são empregadas como fonte de informação pelos prescritores, sendo consideradas determinantes da prescrição (LEXCHIN,
2002; JONES, 2001). Dentre as intervenções fundamentais para se promover um uso mais racional destes produtos, proposta pela Organização
Mundial de Saúde, estão à informação independente sobre medicamentos e a regulamentação da promoção de medicamentos a fim de assegurar
que a mesma seja ética e imparcial. Todas as informações utilizadas para promover um medicamento devem ser precisas, verídicas, informativas,
atuais e comprováveis (OMS, 2002). Diversos estudos visando à análise da qualidade de peças publicitárias, em diferentes veículos de comunicação,
têm sido realizados considerando as regulamentações e recomendações internacionais.

“ANÁLISE DA PUBLICIDADE DE MEDICAMENTOS VEICULADA EM GOIÁS - BRASIL” REVISTA ELETRÔNICA DE FARMÁCIA VOL 2(2), 80-86, 2005. ISSN 1808-0804

TEXTO IV
Centro de Informação Toxicológica orienta sobre
uso racional de medicamentos
A automedicação e uso indiscriminado de medicamentos são apontados como os principais responsáveis pelos altos índices de intoxicação. Para
alertar e conscientizar a população, 5 de maio foi estabelecido como o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos. O Centro de Informação
Toxicológica do Rio Grande do Sul (CIT/RS) realizou, nos últimos cinco anos (2014 a 2018), em torno de 120 mil atendimentos, sendo 36 mil (30%)
envolvendo medicamentos. Os dados indicam que, de cada três casos atendidos no serviço, um envolve medicamento.

Do total de ocorrências registradas pelo CIT no período, crianças menores de seis anos ocupam a primeira posição em número de atendimentos,
respondendo por cerca de 30 mil (25%). Nesta faixa etária, o pico máximo das intoxicações ocorreu em crianças de dois anos e a grande maioria
foi pela ingestão acidental ou inadequada de medicamentos.

“É importante que os pais ou responsáveis adotem medidas simples de cuidados e prevenção para que ocorra uma redução do número de acidentes
tóxicos com crianças”, alerta o médico toxicologista do CIT, Carlos Augusto Mello da Silva. De acordo com ele, as crianças são vulneráveis à intoxi-
cação por medicamentos via ingestão acidental. Por segurança, eles devem estar longe do alcance das crianças e, de preferência, armazenados em
locais fechados e chaveados.

Recomenda que não sejam colocados em “mesinhas de cabeceiras” ou gavetas de armários abaixo de 1,5m. Lembra também que, ao medicar uma
criança, não se deve dizer que é bala ou guloseima. Destaca a importância do uso da dosagem adequada. “Uma criança não é um meio adulto. As
doses pediátricas são precisas e levam em consideração aspectos como o peso. Nem todo medicamento para adultos pode ser utilizado por crianças.”

O médico orienta que, no caso de suspeita de intoxicação ou de reações adversas, o usuário deve relatar imediatamente ao profissional de saúde
que lhe receitou o medicamento ou buscar orientação junto ao CIT/RS. O serviço funciona há 42 anos, 24 horas por dia, sete dias na semana. O
atendimento, prestado exclusivamente por telefone pelo número 0800-7213000, é gratuito e dá as primeiras orientações.

Idosos
Os cuidados também devem ser intensificados com pessoas idosas e que já apresentam problemas de visão e de memória. O objetivo é prevenir
confusões com o uso da medicação. “Uma forma de ajudar é etiquetar o medicamento com indicações de dosagem, horários de administração e
modo de usar. Também é importante observar o momento em que o idoso não tem mais condições de administrar sozinho sua medicação. Nesses
casos, o ideal é delegar essa tarefa para um cuidador ou familiar”, avalia o médico. Segundo ele, os casos de intoxicação entre idosos vem crescendo
com o aumento da longevidade desta população.
Ele alerta que as intoxicações por medicamentos atendidas no CIT/RS incluem anticonvulsivantes, drogas de efeito no sistema nervoso central,
ansiolíticos e drogas para melhorar o estado de humor. Mas também remédios mais populares, como os analgésicos. Usar medicamento em dose
superior à recomendada pelo médico ou até mesmo não prescrito aumenta as chances de reações adversas. Os efeitos no organismo podem levar à
intoxicação e causar vários tipos de reações que variam de leves alergias até a morte. “Doses terapêuticas preconizadas para melhorar os sintomas
são seguras. As acima da recomendação, que excedem à dose terapêutica diária, ampliam as chances de reações adversas. As muito acima do
preconizado são consideradas overdose e são tóxicas ao organismo”, explica o toxicologista.

Uso Racional
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), há uso racional quando pacientes recebem medicamentos para suas condições clínicas em
doses indicadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade. O uso irracional ou ina-
dequado é um dos maiores problemas em nível mundial. A OMS estima que mais da metade de todos os medicamentos são prescritos, dispensados
ou vendidos de forma inadequada e que metade de todos os pacientes não os utiliza corretamente.

49
Silva cita a automedicação como uma das principais causas de intoxicação ou reações adversas entre adultos. “Não devemos tomar uma medicação
porque fez bem a um amigo ou a uma vizinha. A medicação é individualizada e o médico assistente considera a situação de saúde de cada pessoa,
doenças preexistentes e medicamentos que o paciente já utiliza para evitar interação medicamentosa.” O toxicologista alerta que a automedicação
pode também mascarar sintomas e dificultar o diagnóstico e o consequente tratamento adequado. “Doenças diferentes podem apresentar alguns
sintomas similares.”

HTTPS://JORNALBOMDIA.COM.BR/NOTICIA/29645/CENTRO-DE-INFORMACAO-TOXICOLOGICA-ORIENTA-SOBRE-USO-RACIONAL-DE-MEDICAMENTOS (07.05.2019)

TEXTO V
O risco da automedicação, uma prática comum entre os brasileiros
Estudo aponta que 77º dos brasileiros se automedicaram nos últimos seis meses. No
Nordeste, 21º dos entrevistados declararam utilizar remédios por conta própria
O Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, que foi celebrado no último domingo (5), não condiz com a realidade do Brasil. Uma pesquisa
realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio do Instituto Datafolha, constatou que 77% dos brasileiros fizeram automedicação nos
últimos seis meses. Entre os menos conscientes da importância de se procurar um profissional especializado estão os moradores da região Nordeste,
onde apenas 21% dos entrevistados declaram não utilizar medicamentos por conta própria, sem prescrição.

Na última semana, entidades ligadas à ONU publicaram relatório alertando que o uso excessivo de medicamentos pode levar a dez milhões de mor-
tes por ano até 2050. As entidades apontam problemas ligados aos remédios antimicrobianos, entre os quais estão antibióticos, antivirais, antifún-
gicos e antiprotozoários. De acordo com uma das diretoras do Conselho Regional de Farmácia em Pernambuco, Joyce Nunes, o uso indiscriminado
de remédios pode mascarar sintomas relacionados a outras doenças. “Alguns pacientes, às vezes, têm vergonha de perguntar ao médico. Outras
pessoas alegam dificuldade em conseguir uma consulta. Mas, o que muitos não sabem é que toda farmácia tem um farmacêutico devidamente
capacitado para tirar dúvidas e prescrever alguns medicamentos”, explica.

Inédita na história dos conselhos de Farmácia, o levantamento


do CFF investigou o comportamento dos brasileiros
Por meio do estudo foram identificados, também, os medicamentos
mais utilizados pelos brasileiros nos últimos seis meses. É surpre-
endente o alto índice de utilização de antibióticos (42%), somente
superado pelo porcentual declarado para analgésicos e antitérmi-
cos (50%). Empatado com os moradores da região Sul do Brasil,
os nordestinos estão no topo da lista quando o assunto é dúvida
sobre a quantidade ou dose que deveria tomar do medicamento. No
Nordeste, 21% declararam ter esse tipo de incerteza.
A coleta de dados foi feita entre os dias 13 e 20 de março de 2019.
Com uma amostra de 2.074 pessoas, o estudo teve abrangência
nacional, incluindo capitais/regiões metropolitanas e cidades do
Interior em todas as regiões do País. A turismóloga Ana Clarice Ro-
drigues, 32 anos, conta que as circunstâncias da vida adulta foram
fatores importantes para começar a se automedicar. Ela costuma
ingerir analgésicos, anti-inflamatórios, ansiolíticos e até mesmo anti-
bióticos sem prescrição médica.
“Pela correria porque fica mais prático resolver o problema. Consultas
em gerais demoram muito, mesmo com plano de saúde”, comenta.
Contudo, recentemente, ela teve problemas por não consultar um pro-
fissional de saúde. “Tive dores lombares e tomei vários medicamentos
que contêm sódio. Aliado ao estresse fez com que minha pressão des-
regulasse. Atualmente, estou tomando remédios de pressão, passado
pelo cardiologista, para tentar regularizar. Acredito que não tomarei
mais remédios sem antes passar pelo especialista”, afirma.
HTTPS://WWW.FOLHAPE.COM.BR/NOTICIAS/NOTICIAS/COTIDIANO/2019/05/06/
NWS,103959,70,449,NOTICIAS,2190-O-RISCO-AUTOMEDICACAO
UMA-PRATICA-COMUM-ENTRE-BRASILEIROS.ASPX (06.05.2019)

50
É IMPORTANTE SABER
I. DADO ESTATÍSTICO RELEVANTE
A pesquisa foi feita pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF). Quase metade (47%) se automedica pelo menos uma vez por mês, e 25% faz todo
dia ou pelo menos uma vez por semana.
HTTPS://G1.GLOBO.COM/BEMESTAR/NOTICIA/2019/05/13/AUTOMEDICACAO-E-UM-HABITO-COMUM-A-77PERCENT-DOS-BRASILEIROS.GHTML (13.05.2019)

II. DADO HISTÓRICO RELEVANTE


No Brasil, até 2010, antes da publicação da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 44/2010, os antibióticos eram vendidos livremente, sem neces-
sidade de retenção de receita médica, em farmácias e drogarias, e muitas vezes vendidos até mesmo sem a prescrição médica. Esta dispensação sem
controle e os casos de resistência bacteriana descritos nos últimos anos colaboraram para elaboração de uma Resolução que obrigasse a retenção de
receita, para que seja realizado um controle maior sobre a possível evolução que as bactérias podem sofrer ao longo dos tratamentos, tornando-se
bactérias mais resistentes a antibióticos
CONTROLE DA DISPENSAÇÃO DE ANTIBIÓTICOS – PANORAMA ATUAL NO BRASIL. HTTP://WWW.CPGLS.PUCGOIAS.EDU.BR/8MOSTRA/ARTIGOS/SAUDE%20E%20BIOLOGICAS/
CONTROLE%20DA%20DISPENSA%C3%87%C3%83O%20DE%20ANTIBI%C3%93TICOS%20%E2%80%93%20PANORAMA%20ATUAL%20NO%20BRASIL.PDF

III. ARGUMENTO DE AUTORIDADE


O gerente de Monitoramento e de Fiscalização de Medicamentos da Anvisa, Tiago Rauber, alerta para os riscos da automedicação. ”A automedi-
cação é um tipo de prática não recomendada por nenhuma autoridade de saúde no Brasil. Esse tipo de prática acarreta uma série de riscos como,
por exemplo, você mascarar os sintomas de uma doença, e ter uma dificuldade de diagnosticar corretamente, futuramente essa enfermidade. Pode
acarretar também, maior número de intoxicações. Além do mais, temos a questão de você não fazer realmente o tratamento efetivo daquela en-
fermidade. Então, todos esses elementos corroboram a tese de que essa é uma prática altamente perigosa, e que temos tido resultados bastante
complicados”, alerta Tiago.
HTTP://WWW.BLOG.SAUDE.GOV.BR

IV. EXEMPLOS DO COTIDIANO


Em meio à discussão sobre a disposição dos MIPs para fora do balcão, muitas farmácias paulistas, apesar de uma lei aprovada no Estado permitir a
disposição desses medicamentos no autosserviço, os mantêm atrás do balcão.

A Revista do Farmacêutico ouviu profissionais que estão à frente de drogarias e que mantiveram os medicamentos fora do alcance do consumidor,
justamente por entenderem a importância da orientação do farmacêutico.

Sócia-responsável da Drogaria Popular, em Atibaia (SP), dra. Maria Luzia Bondança focou na saúde ao manter sua postura. “Na minha drogaria os MIPs
estão fora do alcance do consumidor e não pretendo mudar isso, apesar da RDC da Anvisa permitir. Os pacientes já se acostumaram a pedir orientação,
perguntam sobre o risco de interação. É uma facilidade a mais para que eu possa informá-los e por conta disso não mudarei meu posicionamento”.
HTTP://PORTAL.CRFSP.ORG.BR/COMPONENT/CONTENT/ARTICLE/268-REVISTA-107/3820-CAPA.HTML

V. CITAÇÃO
Não há nada na natureza que não seja venenoso. A diferença entre remédio e veneno está na dose de prescrição.
PARACELSO, CIENTISTA SUÍÇO DO SÉCULO XVIII.

VI. DIREITOS HUMANOS


A saúde consta na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, no artigo XXV, que define que todo ser humano tem direito a um padrão
de vida capaz de assegurar-lhe e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais
indispensáveis. Ou seja, o direito à saúde é indissociável do direito à vida, que tem por inspiração o valor de igualdade entre as pessoas.

No contexto brasileiro, o direito à saúde foi uma conquista do movimento da Reforma Sanitária, refletindo na criação do Sistema Único de Saúde
(SUS) pela Constituição Federal de 1988, cujo artigo 196 dispõe que “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a
promoção, proteção e recuperação”.
HTTPS://PENSESUS.FIOCRUZ.BR/DIREITO-A-SAUDE (ACESSO EM03.06.2019)

51
INTERATIVIDADE
LER
• As novas tecnologias da informação e o consumismo em saúde Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 26(8):1473-1482, ago, 2010.
https://drauziovarella.uol.com.br/entrevistas-2/riscos-da-automedicacao-entrevista/
• Automedicação: algumas reflexões sociológicas
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65292001000300008

VER
•https://drauziovarella.uol.com.br/videos/coluna/por-que-tomar-medicamentos-por-conta-propria-e-perigoso-coluna-82/

PROPOSTA ENEM
TEXTO 1
Automedicação é o ato de tomar remédios por conta própria, sem orientação médica. Muitas vezes vista como uma solução para o alívio imediato
de alguns sintomas pode trazer consequências mais graves do que se imagina.

HTTP://BVSMS.SAUDE.GOV.BR/BVS/DICAS/255_AUTOMEDICACAO.HTML

TEXTO 2
Automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros
A pesquisa foi feita pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF). Quase metade (47%) se automedica pelo menos uma vez por mês, e 25% faz
todo dia ou pelo menos uma vez por semana.
Quase metade dos brasileiros se automedica pelo menos uma vez por mês e 25% o faz todo dia ou pelo menos uma vez por semana. Esses
dados fazem parte de uma pesquisa feita pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF). De acordo com o estudo, a automedicação é um hábito
comum a 77% dos brasileiros.
As mulheres são as que mais usam medicamentos por conta própria, pelo menos uma vez ao mês – 53%. Familiares, amigos e vizinhos são os
principais influenciadores na escolha dos medicamentos usados sem prescrição (25%).

HTTPS://G1.GLOBO.COM/BEMESTAR/NOTICIA/2019/05/13/AUTOMEDICACAO-E-UM-HABITO-COMUM-A-77PERCENT-DOS-BRASILEIROS.GHTML (13.05.2019)

TEXTO 3

HTTP://PORTAL.ANVISA.GOV.BR/(ACESSADO EM 03.06.2019)

52
TEXTO 4
Segundo pesquisa do Instituto Hibou, realizada em 2014 com 1.216 moradores do estado de São Paulo, mesmo tendo consciência dos malefícios
da ingestão excessiva ou inadequada, 45% da população acredita que automedicar-se só é prejudicial no caso de remédios identificados com tarja
vermelha ou preta.

HTTP://G1.GLOBO.COM/SP/BAURU-MARILIA/ESPECIAL-PUBLICITARIO/MEDECELL-DO-BRASIL/DESLIGUE-A-DOR/NOTICIA/2016/08/
AUTOMEDICACAO-E-PRATICA-COMUM-EM-MAIS-DE-90-DA-POPULACAO.HTML (08.08.2016)

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua
formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre
o tema A CULTURA DA AUTOMEDICAÇÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA, apresentando proposta de intervenção que
respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para
defesa de seu ponto de vista.

53
54
INGLÊS

55
OVERVIEW AND ANALYSIS

TIPOS DE PROVAS vocabulário ou gramática. Além disso, os enunciados e


alternativas dessas questões podem ser apresentados em
No Brasil, existem dois tipos de provas de vestibular que português ou inglês.
são comuns: as provas compostas por questões de múltipla
escolha e as provas compostas por questões dissertativas Provas Dissertativas
com respostas em português. Além desses dois casos, é
A principal característica das provas de Inglês dos princi-
comum encontrar provas de somatória e provas com ques-
pais vestibulares é a prevalência de questões que deman-
tões do tipo certo/errado.
dem domínio de vocabulário e leitura de texto. Questões
objetivas sobre gramática são cada vez mais raras. No
Provas de múltipla escolha entanto, três tópicos ainda são muito comuns: Pronomes,
Os vestibulares brasileiros, em sua maior parte apresen- Conectores e Modal Verbs. Estes temas são pedidos exa-
tam questões de múltipla escolha, sendo que elas podem tamente porque sem esse domínio não se faz uma leitura
demandar habilidades de leitura e compreensão de texto, de texto correta neste idioma.

DO YOU UNDERSTAND?
(TEXT INTERPRETATION)

ALGUNS FALSOS COGNATOS ƒ condom (preservativo)


ƒ convict (condenado)
IMPORTANTES ƒ corporate (cabo na hierarquia militar)
ƒ actual (real, verdadeiro) ƒ costume (fantasia)
ƒ actually (na verdade, na realidade, o fato é que) ƒ deception (fraude, falsificação)
ƒ admiral (almirante) ƒ devolve (transferir)
ƒ alias (pseudônimo, nome falso) ƒ diversion (desvio)
ƒ amass (acumular, juntar) ƒ durex (preservativo)
ƒ animus (rivalidade) ƒ eventually (finalmente, por fim)
ƒ anthem (hino) ƒ exit (saída, sair)
ƒ appoint (nomear, indicar) ƒ fabric (tecido)
ƒ argument (discussão, debate) ƒ grip (agarrar algo firmemente)
ƒ beef (carne bovina) ƒ hospice (albergue)
ƒ braces (aparelho dental) ƒ idiom (expressão idiomática)
ƒ collar (gola) ƒ ingenious (engenhoso)
ƒ college (faculdade) ƒ inhabitable (habitável)
ƒ commodity (mercadoria) ƒ injury (ferimento)
ƒ comprehensive (abrangente, extenso, amplo) ƒ interest (juros)
ƒ compromise (entrar em acordo, fazer concessão, acordo) ƒ lecture (palestra, aula)

56
ƒ library (biblioteca) ƒ realize (perceber)
ƒ lunch (almoço) ƒ requirement (requisito)
ƒ mayor (prefeito) ƒ retired (aposentado)
ƒ novel (romance escrito) ƒ retribution (represália, punição)
ƒ office (escritório) ƒ scholar (erudito)
ƒ parents (pais) ƒ sensible (sensato)
ƒ phony (trapaceiro , mau caráter) ƒ service (atendimento)
ƒ prejudice (preconceito) ƒ support (appoiar, apoio)
ƒ preservative (conservante) ƒ tax (imposto)
ƒ private (recruta) ƒ tenant (inquilino)
ƒ push (empurrar)

WHO IS WHO?

PERSONAL PRONOUNS Em linhas gerais, a função desSa classe de pronomes nas


duas linguagens é similar: pronomes substituem nomes.
Não é comum repetirmos o mesmo nome muitas vezes,
Subject Pronouns Object Pronouns mas sim usar um pronome, uma vez que sabemos a quem
I ME tal pronome se refere.
YOU YOU
HE HIM
Exemplos:
SHE HER Kate loves Brian.

IT IT She loves Brian.


WE US O exemplo acima faz a substituição do nome Kate pelo
YOU YOU pronome She. Observe o exemplo a seguir

THEY THEM Brian loves Kate.


Brian loves her.
Os personal pronouns da língua inglesa podem, com al-
A diferença entre eles é que no exemplo 1 o nome Kate
gumas variacões, ser relacionados aos pronomes pesso-
tem função de sujeito e foi substituído por um pronome
ais da língua portuguesa. O que o português chama de
pronomes pessoais do caso reto, a língua inglesa chama de sujeito (She). Já no exemplo 2, o nome Kate tem
de subject pronouns, e os pronomes oblíquos são análo- função de objeto e foi substituído por um pronome de
gos aos object pronouns. objeto (her).
Veja mais exemplos:
Observe alguns usos dos subject pronouns:
Brazilians agree with you.
I am Brazilian – Eu sou brasileiro
You are Brazilian – Você(s) é(são) brasileiro(s) We agree with you.
He is Brazilian – Ele é brasileiro They agree with other Brazilians.
She is Brazilian – Ela é brasileira
They agree with them.
It is Brazilian – Isto/Esta coisa é brasileira
We are Brazilian – Nós somos brasileiros The police officer will adress the issue
They are Brazilian – Elas/Eles são brasileiros(as) She/He will adress the issue.

57
POSSESSIVE PRONOUNS I can’t find my pen. Can I use yours?
(Eu não consigo encontrar minha caneta. Pos-
so usar a sua (caneta)?
Possessive Adjective Possessive Substantive
Pronouns Pronouns 2. Quando o substantivo a que se refere o pronome estiver
MY MINE antes do próprio pronome.
YOUR YOURS Exemplo:
HIS HIS It belongs to a friend of mine.
HER HERS (Isto pertence a um amigo meu).
ITS ------- 3. Após preposições.
OUR OURS
Exemplo:
YOUR YOURS
They will come with their parents, and we’ll come
THEIR THEIRS with ours.
Os pronomes desse tópico, como o próprio nome supõe, in- (Eles virão com os pais deles e nós, com os nossos).
troduzem uma relação de posse com um substantivo e são
bastante semelhantes ao que encontramos na língua portu-
guesa. Mas aqui podemos enfrentar alguns problemas. Se
REFLEXIVE PRONOUNS
por um lado o português apresenta marcação quádrupla de
pronomes (Eu – meu, minha, meus, minhas) e o inglês apre- Reflexive Pronouns
sente marcação simples para eles, este tem dois tipos de pro- Myself
nomes possessivos (Adjective e Substantive), enquanto aque- Yourself
le tem apenas um, o que pode gerar algumas dificuldades.
Himself
Herself
Possessive Adjective ou
Itself
Possessive Substantive?
Ourselves
Em alguns casos, pode ser pedido que o vestibulando opte Yourselves
entre os dois tipos de pronomes acima mencionados. Além
de ser um ponto que gera uma dúvida razoável, ele tam- Themselves
bém é muito solicitado em questões gramaticais.
O uso dos pronomes reflexivos é de certa forma simples. Uti-
Tenha em mente que os pronomes Possessive Adjectives lizado como uma autorreferencia do sujeito. Ao contrário do
(my, your, his, her, its, our, their) são aqueles que que ocorre na Língua Portuguesa, a autorreferência não faz
são normalmente usados. Você só os substituirá pelos uso do mesmo pronome do objeto e sim de um específico. É
Possessive Substantives (mine, yours, his, hers, ours, uma referência a si mesmo e que não possui tradução direta.
theirs) em situações específicas. São elas:
Exemplo:
1. Quando o substantivo a que se referir o pronome estiver
Farei isso por mim mesmo.
omitido/subentendido.
I will do it by myself (jamais me, como
Exemplo: uma tradução direta poderia sugerir)

THE HERE AND NOW

SIMPLE PRESENT (REGRA GERAL) To need = precisar, necessitar


I need to work better. (Eu preciso trabalhar melhor)
Ao contrário do português, que apresenta múltiplas desinên- You need to work better. (Você precisa traba-
cias, o inglês tem como regra geral (exceções serão vistas no lhar melhor)
final deste item) a adição da letra “s” às terceiras pessoas do He needs to work better. (Ele precisa trabalhar
singular (he, she, it). Observe os exemplos a seguir: melhor)

58
She needs to work better. (Ela precisa trablhar
melhor)
Formas interrogativas
Para que se obtenham as formas interrogativas do verbo to
It needs improvements. (Isto precisa de melhorias)
be, deve-se apenas inverter a posição do verbo e do sujeito.
We need to work better. (Nós precisamos trab-
lhar melhor)
You need to work better. (Vocês precisam trab-
THERE TO BE
lhar melhor) A estrutura there to be é usualmente entendida como o
verbo haver, existir, ocorrer. Ele apresenta duas formas no
They need to work better. (Eles/elas precisam tra- presente there is (para o singular) e there are (para o plural).
blhar melhor)
Deve-se acrescentar a partícula not às formas afirmativas
Percebe-se que, enquanto a língua inglesa acrescenta ao do there to be para que se obtenham suas respectivas for-
bare infinitive dos verbos (infinitivo sem a partícula ‘to’) a mas negativas.
letra ‘s’ aos pronomes de terceira pessoa do singular (he,
she, it), a língua portuguesa acrescenta várias desinências Formas interrogativas
ao verbo (preciso, precisa, precisamos, etc).
Para que se obtenham as formas interrogativas do verbo
there to be, deve-se apenas inverter a posição do verbo e
Formas negativas do simple present do sujeito.
A forma negativa dos verbos no simple present segue uma

PRESENT CONTINUOUS
norma bem simples: acrescente do not (don’t) quando o
sujeito for I, you, we, they; acrescente does not (doesn’t)
quando o sujeito for he, she, it.
Importante: Após o uso dos auxiliares do ou does, utilize
(PRESENT PROGRESSIVE)
o base form (infinitivo sem o to). O Present Continuous apresenta enorme semelhança com
o tempo verbal Presente Contínuo da língua portuguesa.
Ele é um tempo verbal que serve para expressar ações que
Formas interrogativas estão acontecendo simultâneas à fala. O Present Conti-
Para que se obtenham as formas interrogativas dos ver- nuous (ou Progressive) é formado pelo presente do verbo
bos no simple present, deve-se fazer uso dos verbos au- to be (concordando com cada sujeito) mais um outro verbo
xiliares do (para os pronomes I, you, we, they) e does (he, no gerund (sufixo ING).
she, it), colocados antes dos respectivos sujeitos.
Veja os exemplos:

TO BE
ƒ I am composing a song right now. (Eu estou compon-
do uma música neste exato momento.)
O verbo to be não segue as mesmas regras que orientam a ƒ You are listening my music. (Você está ouvindo minha
maioria dos verbos em inglês. Ele é o único que apresenta música.)
três formas de presente. São elas:
ƒ He is composing a song on his acoustic guitar. (Ele está
ƒ I am Brazilian. (Eu sou brasileiro)
compondo uma música em sua guitarra.)
ƒ He, she it is from the Netherlands. (Ele/ela/isto é da
Holanda.) ƒ She is singing in her room. (Ela está cantando no quar-
ƒ You, we, they are thirsty. (Você(s), nós, eles(as) estão to dela.)
com sede) ƒ It is working very well. (Isto está funcionando mui-
Talvez a maior dificuldade ao se lidar com o verbo to be to bem.)
resida no fato de que, ao ser vertido para o português, ele ƒ We are watching a very interesting movie.
possa ter tanto estar quanto ser como significado, depen-
dendo do contexto em que o verbo está inserido. ƒ (Nós estamos assistindo um filme muito interessante.)
ƒ You are wasting money. (Vocês estão desperdiçando
Formas negativas dinheiro.)
Para se conseguir as formas negativas do verbo to be, deve-se ƒ They are surfing the web on their computers. (Elas(es)
apenas acrescentar a partícula not à forma afirmativa. estão navegando na internet em computadores.)

59
As formas interrogativas do Present Continuous são dadas As formas negativas do Present Continuous são dadas pela
pela inversão do sujeito com o to be. adição de not às formas do to be.
ƒ She is not (isn’t) composing a music. (Ela não está
Exemplos: compondo uma música.)
ƒ Are you paying attention to the instructions? (Você ƒ I am not thinking about it. (Eu não estou pensando
está prestando atenção às instruções?) sobre isso.)
ƒ Is it working properly? (Isto está funcionando cor-
retamente?)

FOCUS ON THE PAST

SIMPLE PAST língua inglesa se parece com a portuguesa, apresentan-


do formas verbais variadas (daí o termo irregular), e as-
sim como para aprender o português, também se torna
Regular verbs (verbos regulares) necessário memorizar tais formas. Entretanto, tenha em
mente que há apenas uma forma de passado para cada
Os verbos regulares são os “queridinhos”dos alunos bra-
verbo, independente do sujeito. Seguem-se apenas al-
sileiros por se configurarem de forma mais simples. Para
guns exemplos.
obter o passado dos verbos regulares, basta acrescentar
o sufixo ED a sua base form (infinitivo sem a partícula to), ƒ to take – took (past)
independente de quem seja o sujeito. Observe os exem- I took the subway to work. (Eu peguei o metro
plos a seguir: para trabalhar)
to need (precisar, necessitar) She took the subway to work. (Ela pegou o me-
I needed to be smarter (Eu precisei ser mais in- tro para o trabalho)
teligente.) We took the subway to work. (Nós tomamos o
You needed to be smarter (Você precisou ser metro para o trabalho)
mais inteligente.) ƒ to go – went (past)
He needed to be smater. (Ele precisou ser mais You went to school. (Você foi para a escola)
inteligente)
He went too far. (Ele foi longe demais.)
She needed to be more careful. (Ela precisou ser
mais cuidadosa.) They went home together. (Eles foram juntos
para casa)
It needed to be practical(Isto precisava ser mais
prático.) ƒ to eat – ate (past)
We needed to be more practical. (Nós precisa- I ate the whole pizza (Eu comi a pizza inteiro)
mos ser mais práticos(as).) The dog ate our food (O cachorro comeu a nos-
You needed to be more practical (Vocês precisa- sa comida)
ram ser mais práticos)
We ate pasta toguether (Nós comemos ma-
They needed to be more practical. (Elas(es) preci- carrão juntos)
saram ser mais práticos(as).)
Formas Negativas
Irregular verbs (verbos irregulares) Para chegar as formas negativas dos verbos no simple
Encarar os verbos irregulares talvez seja a maior dificul- past, é preciso acrescentar, após o sujeito e antes do
dade para o estudante brasileiro quando esse se depara verbo principal, o verbo auxiliar did mais a partícula not,
com o simple past da língua inglesa. Nesse aspecto na independentemente do verbo ser regular ou irregular.

60
Formas interrogativas Formas negativas
Para se verter uma frase para a forma interrogativa quando Para chegar as formas negativas de passado do there to be,
um verbo está no simple past é preciso acrescentar o verbo é preciso acrescentar a palavra not às formas afirmativas.
auxiliar did antes do sujeito da oração. O verbo principal
deve permanecer no base form (infinitivo sem to). Formas interrogativas
Ao trocar a posição da forma verbal was ou were com o
TO BE pronome there, obtém-se a forma interrogativa do verbo
there to be.
O verbo to be tem duas formas de passado: was (I, he, she,
it) e were (you, we, they).
Observe os exemplos: CAN
I was at work yesterday. O verbo can tem todas as suas formas de passado (incluí-
(Eu estava no trabalho ontem). das as de subjuntivo) concentradas na palavra could com
qualquer que seja o sujeito envolvido.
You were at home yesterday.
(Você estava em casa ontem.) Sophia could play sing very well when she was
He was an French singer. a child. (Sophia podia cantar muito bem quando
(Ele era um cantor francês.) ela era criança.)

She was an Spanish doctor. Two years ago we could buy a car, but today this
(Ela era uma médica espanhola) is impossible. (Há dois anos nós podíamos com-
prar um carro, mas hoje isto é impossível.)
The bike (it) was here four hours ago.
(A bicicleta estava aqui há quatro horas atrás.) I would go home if I could. (Eu iria para casa se
eu pudesse.)
We were busy yesterday.

USED TO
(Nós estávamos ocupados(as) ontem.)
They were bought in Russia in 2019.
(Eles foram comprados na Rússia em 2019.) Ao se deparar com textos em língua inglesa, o aluno sem-
pre lida com um problema comum de quem tem português
como língua materna: as formas de passado do inglês são
Formas interrogativas correspondentes aos nossos verbos do pretérito perfeito ou
Para chegar as formas interrogativas de passado do do pretérito imperfeito? Como devo entender uma frase
verbo to be, deve-se trocar a posição do verbo com o como ‘I played very well’? ‘Eu joguei muito bem’ ou ‘Eu
sujeito da oração. jogava muito bem’?
As frases grafadas em simple past em inglês usualmente
Formas negativas correspondem ao que nós nomeamos como pretérito per-
Para chegar as formas negativas do verbo to be no passa- feito (ex: joguei, comi, bebi). Para se obter o mesmo sig-
do, deve-se inserir a palavra not após o verbo. nificado das nossas sentenças no pretérito imperfeito (ex:
jogava, comia, bebia), a língua inglesa faz uso da estrutura
THERE TO BE used to. Em linhas gerais, ela é utilizada para expressar
uma ação que era verdadeira no passado, mas que não é
Assim como no presente, duas formas de passado para o mais. Observe os exemplos:
verbo there to be se apresentam: there was (para passa-
do singular) e there were (para passado plural). Veja os I used to play basketball very well. (Eu costuma-
exemplos a seguir. va jogar/jogava basquete muito bem)

There was a restaurant near here. She used to be a great singer. (Ela era/costu-
mava ser uma grande cantora)
(Havia/existia um restaurante perto daqui.)
Did you use to travel to the country when you
There were many restaurants here.
lived abroad? (Você costumava viajar/viajava
(Havia/existiam muitas restaurantes perto daqui.) para o interior quando você morou no exterior?)

61
I didn’t use to like it, but now I do. (Eu não gativas, cada um dos verbos seguindo suas próprias regras.
costumava gostar disso, mas agora eu gosto) Estude os exemplos abaixo:
Didn’t they like their new clothes? (Eles(as) não
PAST CONTINUOUS gostaram de suas novas roupas?)
Didn’t you talk to him? (Você não conversou
Muito parecido com o caso previamente apresentado do com eles?)
present continuous, o past continuous da língua inglesa é
um tempo verbal utilizado para expressar uma ação que Weren’t you at home yesterday? (Você não es-
estava acontecendo simultaneamente à outra, no passado tava em casa ontem?)
e é formado por uma forma de passado do verbo to be Wasn’t there a person waiting here? (Não havia
(was ou were) mais um outro verbo de ação acrescido do uma pessoa esperando aqui?)
sufixo ING (gerund). Estude os exemplos: Couldn’t you ride bicycles when you were 6?
When you called, I was taking a shower. (Quan- (Você não conseguia andar de bicicleta quando
do você ligou eu estava tomando banho) você tinha 6 anos de idade?)
Were you sleeping when I called you yester- Apêndice #2: Uso enfático do auxiliar did
day? (Você estava dormindo quando eu te Além das formas interrogativas e negativas,há outro uso
liguei ontem? para o auxiliar did: o enfático. Veja os exemplos a seguir.
She wasn’t paying attention when the tea- I liked the show (Eu gostei do show) – I did like
cher assigned her homework. (Ela não estava the show (Eu gostei muito do show)
prestando atenção quando o professor passou She told you not to be mad (Ela te pediu que
a lição de casa.) não se chateasse) – She did tell you not to be
Apêndice #1: formas interrogativa-negativas mas (Ela realmente te pediu/foi muito clara
As diversar formas verbais abordadas nesta unidade (sim- ao te pedir que não se chateasse.)
ple past, to be, there to be e can) mostram, além das for- Apêndice #3: Tabela dos 150 verbos mais comuns da
mas apresentadas (afirmativa, negativa e interrogativa) língua inglesa (regulares e Irregulares). A segunda coluna
uma quarta forma: a interrogativa-negativa. As formas apresenta as formas de passado desses verbos, e a terceira
interrogativa-negativas são obtidas a partir das formas ne- coluna as formas de particípio passado (past participle).

LOOKING FORWARD

Existem duas estruturas verbais básicas para se apresentar me perdoar.)


ações futuras em língua inglesa: will e going to. Those two countries will face a war. (Aqueles
dois países vão encarar uma guerra.)
WILL
É a forma mais comum. Serve para expressar um futuro
Negativa: Sujeito + WILL NOT
mais incerto, sem data definida ou que acontecerá em um (WON”T) + verbo (base form)
futuro mais distante.
Exemplos:
Afirmativa: Sujeito + WILL I will not (won’t) marry to her. (Eu não vou ca-
+ verbo (base form) sar com ela)
She will never forgive me. (Ela nunca me perdoará)
Exemplos:
Those two countries will not (won’t) face a
I will buy a house (Eu vou comprar uma casa.) war. (Aqueles dois países não vão enfrentar
She will forgive me someday. (Ela um dia vai uma guerra)

62
Interrogativa: WILL + Sujeito Negativa: Sujeito + to be (present)
+ verbo (base form) + NOT + going to + verb
Exemplos: Exemplos:
Will you marry her? (Você vai casar com ela?) You are not going to buy it! (Você não vai
comprar isso!)
Will she ever forgive you? (Ela algum dia irá
te perdoar?) People are going to accept any changes. (As
pessoas vão aceitar quaisquer mudanças)
Will those two countries face a war? (Aqueles
dois países enfrentarão uma guerra) This is going to be designed in China. (Isto vai
ser projetado na China)
WILL: expressa também decisão
pessoal súbita, sem programação. Interrogativa: to be (present)
Exemplo: + sujeito + going to + verb
“Look that dog! It is very cute. I will buy it!” Exemplos:
Are we going to accept his apologies? (Nós
Observações: vamos aceitar suas desculpas?)
Am I going to obey you? (Eu vou obedecer vocês?)
NUNCA utilize to antes ou depois do verbo au-
xiliar WILL. Is Laura going to live abroad? (Laura vai viver
no exterior?)
I will to help you. (incorrect)

I will help you. (correct) Going to: expressa também ideia de


NUNCA acrescente ‘s’ no verbo auxiliar WILL para futuro a partir de evidências notáveis.
as terceiras pessoas do singular she, he, it. Exemplo:
She wills help you. (incorrect) “The sky is cloudy. It is going to rain soon.”
She will help you. (correct) Apêndice #1
Embora muito menos comuns, existem duas outras estru-
turas verbais que também apresentam ações futuras. Estu-
GOING TO de os exemplos abaixo:
A estrutura verbal going to é utilizada para expressar um
futuro mais próximo, com data ou preparação já definidos.
Present Continuous
Exemplos:
Afirmativa: Sujeito + to be I can’t go to the club with you because I am
(present) + going to + verbo seeing my dentist tomorrow. (Eu não posso ir
para balada com você porque eu vou no meu
Exemplos: dentista amanhã)
I am going to marry her. (Eu vou casar com ela.) They are answering the e-mail very soon. (Eles
George is going to take your credibility into ac- estarão respondendo ao e-mail muito em breve)
count. (George vai levar em conta sua credibilidade.)
Simple Present
Japan is going to host the 2020 Olympic Games.
(O Japão vai sediar os jogos olímpicos de 2020) Exemplos:
Those two countries are certainly going to face Governments are likey to face challenges in a
a war (Aqueles dois países certamente vão entrar near future. (Governos estão propensos a ter de-
em guerra.) safios em um futuro próximo)

63
His schoolmates play basketball every Friday sin- mais comumente encontrado associado aos sujeitos I e
ce 1993. (Os colegas de escola dele jogam bas- WE. Estude os exemplos a seguir:
quete toda sexta-feira desde 1993)
I shall/will talk to the principal about that. (Eu
Apêndice #2 conversarei o diretor sobre isso)

O verbo auxiliar SHALL tem a mesma função de WILL, We shall/will not pass beyond this point. (Nós
embora seja muito mais formal e raro. SHALL é muito não iremos além desse ponto)

SHOULD WE CONTINUE

Os verbos modais são: can, could, may, might, should,


must, ought to, will, shall e would. SHOULD, MUST, OUGHT
Veja as regras gramaticais dos verbos modais: TO, HAVE TO
ƒ Não adicione ‘s’ à terceira pessoa do singular. Normalmente expressam sugestões, conselhos, ordens,
ƒ Não são usados verbos auxiliares para frases negativas proibições e obrigações. Eles são normalmente entendi-
ou interrogativas. dos em português como os verbos dever (ria) ou ter que.

ƒ Nunca acrescente a partícula to nem antes nem depois Todos os verbos desse grupo são verbos auxiliares, ou seja,
de um verbo modal (com exceção de have to e ought to). não têm sentido sozinhos, mas somente associados ou re-
ferindo-se a outros verbos.

CAN/COULD, MAY/MIGHT Formas negativas


Expressam capacidade, habilidade, possibilidade, probabi- As formas negativas dos modal verbs são obtidas através
lidade, para pedir e dar permissão e pedir auxílio. Todas da adição da palavra not.
as leituras possíveis incluem, no português, o verbo poder,
sendo que o verbo can está sempre no presente. Could, Formas interrogativas
além de ser a forma de passado de can, também pode ser As formas interrogativas dos modal verbs são obtidas atra-
compreendido como futuro do pretérito do verbo can (po- vés da inversão do sujeito da oração e do verbo modal.
deria, poderíamos). May e might também são usualmente
compreendidos como poderia, poderíamos, etc.

PERFECTION

1. PRESENT PERFECT saiu da casa e ainda não retornou.


Be quiet, please! I haven’t finished it yet. (Fi-
HAVE/HAS + PAST PARTICIPLE que quieto, por favor! Eu ainda não terminei.)
O Present Perfect é um tempo verbal utilizado para expres- Ou seja, eu comecei algo e ainda estou executan-
sar uma ação que começou no passado e cujas consequên- do esta tarefa.
cias se estendem (e são relevantes) até o momento da fala. ƒ Ele é utilizado para expressar ações que têm se repeti-
Exemplos: do nos últimos tempos.

I have lost my bag (Eu perdi minha bolsa). Exemplos:


Neste caso, meu passaporte continua perdido. She has worked a lot recently. (Ela tem traba-
She has left the house(Ela saiu da casa). Ela lhado muito recentemente)

64
I have slept very well since I changed room with A definição e o uso são quase os mesmos. Eles servem
my sister. (Eu tenho dormido muito bem desde para expressar uma ação que está no passado do pas-
que eu troquei de quarto com a minha irmã.) sado. Ou seja,caso se faça necessário expressar duas
We have been responsible for her for 5 years. ações não simultâneas no passado, a ação mais antiga
(Nós somos/temos sido os responsáveis por (que aconteceu primeiro) deve ser estar no Past Perfect,
ela nos últimos 5 anos.) Nós começamos e ainda enquanto a mais recente (que aconteceu depois), deve
somos responsáveis por ele. estar no Simple Past. Estude os exemplos a seguir.
ƒ Ele é utilizado por ações que acabaram de acontecer
ou estão quase acontecendo. Exemplos:
Don’t be mad! When you arrived work, we had
Exemplos: already finished the meeting (Não fique bravo!
I have just sent you my report. (Eu acabei de Quando você chegou ao trabalho, nós já tínha-
te mandar meu relatório) mos terminado a reunião.)
Rush! The plane has arrived. (Apresse-se! O Portugal and Spain had already signed the
avião está chegando) Tordesilhas treat when Pedro Àlvares Cabral ar-
ƒ Com as palavras ever (ou never) normalmente expres- rived in the Brazilian Coast in 1500. (Portugal e
sam-se experiências de uma vida inteira. Espanha já tinham/haviam assinado o trata-
do de Tordesilhas quando Pedro Álvares Cabral
Exemplos: chegou na costa brasileira em 1500)
Have you ever seen a lion? (Você já viu um
leão?) Ou seja, desde o nascimento até o mo- Past Perfect Continuous
mento da fala.
HAD + BEEN + VERB (ING)
No, I have never seen a lion. (Não, eu nunca
vi um leão) Ou seja, desde o nascimento até o O Past Perfect também pode ser utilizado em sua forma
momento da fala. contínua, e, assim como o Present Perfect Continuous, a
She has never been abroad (Ela nunca esteve ênfase está na duração e continuidade da ação.
no exterior)
Exemplos:
Present Perfect Continuous I was short of breath on the phone because I
had been running in the park. (Eu estava
HAVE/HAS + BEEN + VERB(ING)
ofegante ao telefone porque eu tinha corrido/
É uma variação do Present Perfect. Ele é utilizado quando estava correndo no parque.)
se quer enfatizar a continuidade de uma ação que come-
She had been waiting for a long time when
çou no passado e continua no presente.
you arrived. (Ela havia esperado/ esteve esperan-
do por um longo tempo quando você chegou.)
Exemplos:
She has been washing the dishes since she
arrived. (Ela está lavando louça desde que ela FUTURE PERFECT CONTINUOUS
chegou) Ou seja, ela não interrompeu a lavagem Mesmo que sejam muito mais raros, é possível que você
em nenhum momento. encontre os dois tempos acima em textos mais sofisticados,
They have been married for 35 years. (Eles es- portanto, vamos aprender um pouco sobre eles. Ambos são
tão casados há 35 anos.) Ou seja, há 35 anos, usados para expressar ações no futuro que se iniciaram em
eles estão casados. algum ponto do passado.

Estude os exemplos a seguir:


PAST PERFECT In a near future, Brazil will have hosted the two greatest
HAD + PAST PARTICIPLE events in the world. (Em um futuro próximo, o Brazil terá se-
diado os dois maiores eventos do mundo.) – Future Perfect.
O Past Perfect corresponde ao tempo verbal que a lín-
gua portuguesa chama de Pretérito mais-que-perfeito. By 2030, I will have been living for 59 years. (Quando

65
2030 chegar, eu terei vivido por 59 anos.) – Future Per- TEXTO II
fect Continuous.
EXPERIENCE, NOT THINGS

Alan Krueger devoted part of his career as an economist to studying


Formas interrogativas happiness. Alan died last March 16, at 58, from suicide. News of
As formas negativas dos tempos perfeitos são conseguidas his death sent shock and sadness through the world of economics
por meio da inversão do verbo auxiliar to have com o su- – including his fellow economists at Princeton and elsewhere; his
former colleagues in the Obama and Clinton administrations; and
jeito da oração.
journalists whom Alan had informally tutored over the years.

“To some economists, investigating happiness probably seemed


Formas Negativas silly,” Catherine Rampell, the Washington Post columnist,
As formas negativas dos tempos perfeitos são consegui- wrote. “But Alan saw it as a central mission of his discipline.
das através da adição do advérbio not junto ao verbo The whole point of economics is to figure out how, in a world of
scarce resources, we can make people’s lives better.”
auxiliar to have, ou em alguns casos por meio da adição
do advérbio never. The first lesson that Alan gave us comes from a finding that sounds a
bit like a letdown: people waste a lot of money on gifts. Surveys show
that gift recipients don’t have much use for many objects that they
receive. They usually appreciate the thought behind the gift, but the
actual item isn’t of much value to them. In economic terms, they place

U.T.I. - Sala a lower value on the gift than it cost.But experiences are different.
When someone receives an experience – say, a nice meal out – they
often both appreciate the thought and enjoy the actual gift.
Leia ambos os textos para a resolução das questões 1 a 5
The second lesson involves spending time with friends. It’s one of the
TEXTO I best ways to increase happiness, according to the survey data.Alan
said this finding had stayed with him. At the end of a long day or long
HE’S HAPPIER, SHE’S LESS SO
week, he said his instinct was sometimes to skip a social gathering.
Researchers added a twist to something known as a time-use In the moment, he felt too tired. But the data had persuaded him to
survey. Instead of simply asking people what they had done push through his fatigue more often. Sure enough, he was almost
over the course of their day, the researchers also asked how always glad he had, he said.
people felt during each activity. Not surprisingly, men and
Alan pushed for economics to become less theoretical and more
women often gave similar answers about what they liked to
empirical. He did pathbreaking work on the minimum wage,
do (hanging out with friends) and didn’t like (paying bills). But
occupational licensing and other subjects. He threw himself into
there were also a number of activities that produced different
messy policy debates. He wrote not just for other economists but for
reactions from the two sexes: Men apparently enjoy being with
the rest of us too.
(__1__) parents, while women find time with their parents to
be slightly less pleasant than doing laundry. He relished debate: three different times, he stepped out of academia
to serve in the federal government, including to help the Treasury
Alan Kruger, a Princeton economist who studies happiness, figures
Department fight the financial crisis in 2009.
that there is an explanation for the difference. For a woman, time
with (__2__) parents often resembles work, whether it’s helping The New York Times, March, 19th, 2019 (adaptado).
them pay bills or plan a family gathering. “For men, (__3__) tends
to be sitting on the sofa and watching football with their dad,” 1. According to the text I
said Mr. Krueger, who is analyzing time-use studies over the last
four decades. He has found a pattern. Since the 1960s, men have 2. According to the text I, Women are sadder than
gradually cut back on activities they find unpleasant. They now work men because
less and relax more .Women, on their turn, have replaced housework
with paid work – and, as a result, are spending much time doing 3. The best alternative that fill the blanks 1, 2 and 3 in
things they don’t enjoy as in the past. But women are not actually the text I is:
working more than they were 30 or 40 years ago. They are instead
doing different kinds of work. They’re spending more time on paid 4. Descreva as lições deixadas pelo economista Alan
work and less on cleaning and cooking. Krueger segundo o jornalista autor do texto II
What has changed – and what seems to be the most likely 5. Os textos I e II têm tempos verbais predominantes
explanation for the happiness trends – is that women now bem definidos. Identifique que tempos verbais predo-
have a much longer to-do list than they once did (including minantes são estes e por que são utilizados.
helping their aging parents). They can’t possibly get it all done,
and many end up feeling as if they are somehow falling short.
The New York Times, September, 26th, 2007 (adaptado).

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U.T.I. - E.O.
1. ECONOMICS is “not a ‘gay science’,” wrote Thomas Carlyle in 1849. No, it is “a dreary, desolate, and indeed
quite abject and distressing one; what we might call, by way of eminence, the dismal science.”
Carlyle was a fine one to talk. He was a brooding curmudgeon who thundered against industry, progress and the young science that sought to
explain them. He found economists dismal not for the obvious reasons, such as their1 dry arithmetic or their gloomy preoccupation with scarcity and
subsistence. Instead, he took against them2 because they were so wedded to the idea of happiness.

The economists of his3 day took their cue from Jeremy Bentham and his “utilitarian” philosophy. They calculated happiness, or utility, as the sum of good
feelings minus bad, and argued that the pursuit of pleasure and the avoidance of pain were the sole springs of human action. One even looked forward
to the invention of a hedonimeter, a “psychophysical machine” that would record the ups and downs of a man’s feelings just as a thermometer might
plot his temperature. Such people, Carlyle complained, fancied that man was a “dead Iron-Balance for weighing Pains and Pleasures on”.
Fonte: <www.economist.com> (adaptado).

Pronomes substituem nomes e substantivos e são usados para retomá-los ou evitar a repetição dos mesmos. Indique
o que os pronomes marcados com 1, 2 e 3 retomam ou substituem.

2. A quem ou o que o pronome THEM, no quarto quadro, se refere? Qual o efeito cômico da tira?

3. Qual o tempo verbal na fala do personagem do cartum? Como isto explica o efeito cômico da tirinha?

4. No último quadrinho, o garoto faz uso de qual tempo verbal? Qual o efeito cômico obtido?

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5. Campanhas publicitárias de sucesso são reconhecidas pela forma engenhosa com que trabalham a língua, criando
efeitos inusitados ou inesperados. Esta campanha da Leo Burnett foi amplamente premiada pela forma como veicu-
lou a ideia do impacto dos fatos inesperados na vida das pessoas de forma muito adequada ao principal de seu clien-
te, a seguradora SwissLife. Descreva a ideia presente e o efeito obtido para cada um dos três cartazes da campanha
indicados acima.

6. Com base na leitura da charge, explique, em português, qual é o ponto de humor apresentado.

7. Indique o tempo verbal mais usado na história escrita por Calvin. Em seguida, retire, em inglês, dois verbos regu-
lares conjugados nesse tempo.

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8.

a) A figura 1 refere-se a uma campanha. Qual é o objetivo dessa campanha?


b) Por que o cachorro que aparece na figura 2 não consegue abrir a porta? Justifique sua resposta.

9.

a) Cite os conselhos irônicos que o primeiro pôster dá aos adolescentes que se sentem incomodados pelos pais.
b) Explique as duas leituras possíveis do segundo pôster.

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10.

a) O texto acima corresponde ao modelo de um documento. De que documento se trata? Qual seria a cor dos olhos
da sua pretensa portadora?
b) Em que mês a pretensa portadora do documento teria nascido e a que se refere a data expressa pela sequência
numérica ”09-30-08”?

11. Lolita
By Vladmir Nabokov

First published in France by a pornographic press, this 1955 novel explores the mind of a self-loathing and highly intelligent pedophile named
Humbert Humbert, who narrates his life and the obsession that consumes it: his lust for “nymphets” like 12-year-old Dolores Haze. French
officials banned it for being “obscene,” as 1did England, Argentina, New Zealand and South Africa. Today, the term “lolita” has come to imply an
oversexed teenage siren, although Nabokov, for his part, never intended to create such associations. In fact, he nearly burned the manuscript in
disgust, and fought with his publishers over whether an image of a girl should be included on the book’s cover.

Transcreva do trecho sobre o livro “Lolita” o que é solicitado:


a) o vocábulo substituído por DID (ref. 1);
b) um conectivo que estabelece uma relação de oposição de ideias;
c) um conectivo que introduz uma exemplificação;
d) as palavras que expressam o mesmo sentido de BECAUSE IT WAS.

12. Global Handwashing Day


October 15, 2009

Although people around the world wash their hands with water, very few wash their hands with soap at critical moments. Global Handwashing
Day will be the centerpiece of a week of activities that will mobilize millions of people across five continents to turn handwashing with soap before
eating and after using the toilet into an ingrained habit. This could save more lives than any single vaccine or medical intervention, cutting deaths
from diarrhea by almost half and deaths from acute respiratory infections by about a quart.
Adaptado de: <www.globalhandwashingday.org/Global_Handwashing_Day_2nd_Edition.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2009.

a) Que hábito a campanha descrita no texto pretende incentivar?


b) Segundo o texto, em quanto esse hábito pode reduzir as taxas de mortalidade?

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