O processo de desenvolvimento e aquisição da linguagem tanto oral quanto
escrita perpassa a vivência cotidiana das crianças desde a mais tenra idade e, especificamente na fase de alfabetização, fica mais evidente a importância das interações sociais enquanto elemento formador e transformador do aparato cognitivo/comportamental das mesmas. É neste contexto que as teorias da aprendizagem elaboradas por Piaget e Vigotisky tentam explicar o processo de construção e representação simbólicas da realidade por meio do qual a criança desenvolverá os instrumentos necessários para estabelecer uma relação com o entorno de maneira a gradativamente organizar sua atividade intelectual. Nesse sentido, Piaget estabeleceu uma classificação para o desenvolvimento cognitivo das crianças em fases, cada uma correspondendo à faixas etárias específicas nas quais a capacidade lógica passará por um processo contínuo de complexificação de acordo com a quantidade e qualidade das interações e estímulos a que a criança esteja submetida. Para o autor, as fases de desenvolvimento da linguagem na crianças classificam-se em sensório-motor, que corresponde de 0 a 2 anos que relaciona-se ao sistema de sucção, audição e visão pelo qual a criança passa a conhecer o mundo. Já o estágio de desenvolvimento denominado pré-operacional, que abrange o período de 2 a 6 anos de idade, ocorrerá na criança o processo de interiorização do meio fazendo com seja possível a representação mental do entorno no qual a criança está inserida. Existe também o estágio operacional formal, que ocorre a partir dos 12 anos e perdura durante toda a vida da criança. Nesta fase a criança será capaz de pensar e raciocinar de forma hipotético-lógico-dedutiva, devido ao aumento da complexidade das operações mentais desenvolvidas pela criança neste estágio do desenvolvimento linguístico. Por outro lado, tem-se na teoria interacionista da aprendizagem de Vigotisky a perspectiva que aponta para o contato cultural com o grupo social em que a criança está inserida como o principal fator a determinar o desenvolvimento da linguagem. Segundo o autor, a linguagem enquanto sistema constituído por símbolos desempenha um papel essencial na construção do pensamento, pois este viabiliza os meios internos de organização da realidade na criança. Assim, ele afirma que a “linguagem age decisivamente na estrutura do pensamento e é ferramenta básica para a construção de conhecimentos”. (VIGOTSKY, 1994, p. 86 ). De acordo com esta perspectiva teórica, o processo de aprendizagem da criança se dá por intermédio do professor enquanto mediador entre esta e o ambiente que a cerca. Portanto, a linguagem promoverá o desenvolvimento cognitivo da criança na medida em que esta interage com outras crianças e adultos, seja em ambiente familiar ou na escola. Tendo feita estas considerações, torna-se necessário refletir sobre a qualidade e a quantidade das interações enquanto instrumentos intermediadores que favorecem o desenvolvimento cognitivo das crianças no atual contexto brasileiro a partir da pandemia do Covid 19 que impôs o distanciamento social como medida de combate a este vírus que tantos prejuízos e transtornos tem causado. Diante desta realidade, não somente os educadores, mas também os familiares, vêm somando esforços para superar os obstáculos na comunicação afim de que as crianças em fase de alfabetização não se encontrem prejudicadas em seu processo de desenvolvimento da aprendizagem. Lidar com as novas formas tecnológicas de comunicação importa numa constante adaptação dos meios didáticos e pedagógicos, uma vez que este representa uma nova linguagem que tanto alunos quanto professores e familiares tiveram que se adaptar. Isso faz com que o aspecto dinâmico e transformador da linguagem ganhe novas nuances exigindo um esforço coletivo para a concretização eficaz do processo de ensino-aprendizagem. REFERÊNCIAS
VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994.