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Vincent, Estudo No Vocabulario Grego Do Novo Testamento, Vol.1
Vincent, Estudo No Vocabulario Grego Do Novo Testamento, Vol.1
Vincent, Estudo No Vocabulario Grego Do Novo Testamento, Vol.1
V in cen t
V olume I
Evangelhos Sinópticos
Atos dos Apóstolos
Epístolas de Tiago, Pedro e Judas
Tradução:
D egm ar Ribas Júnior e M arcelo Siqueira Gonçalves
A missão primordial e intransferível da CPAD é proclamar, por meio da página impressa, o
Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo no Brasil e no exterior; edificar a Igreja de Cristo por
intermédio de literaturas ortodoxas, que auxiliem os obreiros cristãos no desenvolvimento
de suas múltiplas tarefas no Reino de Deus; e educara sociedade e a Igreja através da Escola
CBO Dominical, que evangeliza enquanto ensina. Nosso maior presente é pensar no futuro.
APRESENTAÇÃO............................................................................................. ix
PREFÁCIO.......................................................................................................... xi
PREFÁCIO À 2.a EDIÇÃO...............................................................................xix
MARVIN R. VINCENT - VIDA E OBRA..................................................... xxi
LISTÁ DE REDUÇÕES................................................ XXV
MATEUS.............................................................................................................. 1
Introdução............................................................................................................. 1
Comentário............................................................................................................ 7
Lista de palavras gregas empregadas somente por Mateus............................124
MARCOS........................................................................................................... 127
Introdução......................................................................................................... 127
Comentário.........................................................................................................134
Lista de palavras gregas empregadas somente por Marcos............................195
LUCAS...............................................................................................................197
Introdução aos escritos de Lucas......................................................................197
Comentário........................................................................................................ 207
ATOS DOS APÓSTOLOS............................................................................... 361
Comentário........................................................................................................ 361
Lista de palavras gregas empregadas somente por Lucas..............................487
V incent - E studo no V ocabulário G rego NT
viii
A presentação
nestle - aland (27.® ed.) e gnt (4.® ed.) detêm a preeminência em matéria de tra
dução e exegese. Em segundo, o uso da arc como texto-padrão para os trechos
bíblicos que abrem os parágrafos de comentário. Esses trechos aparecem grifa
dos. Em casos de divergência entre a kjv e a arc, indicamos a diferença de leitu
ras de forma que a coerência e integridade de todo o comentário sejam mantidas.
Em terceiro, a ampliação da comparação de versões. Vincent geralmente con
fronta os textos originais com traduções em língua inglesa (wycliffe , tyndale,
coverdale, cranmer ), sobretudo com a kjv e a Revised Version. A versão kjv,
ou Authorized Version (1611), à época de Vincent, era a versão-padrão da Bíblia
entre os protestantes de fala inglesa. A Revised Version (NT, 1881), por sua vez,
constitui o resultado do trabalho de revisão da kjv. Para esta edição, acrescen
tamos no confronto de versões as principais traduções em língua portuguesa.
Nesse cruzamento, naturalmente se expõem imprecisões e limitações variadas
inerentes às muitas versões, mas daí também surgem propostas de leitura mais
depuradas. Em quarto, a inserção do texto grego ao lado de trechos bíblicos que
abrem os comentários, em casos em que o original não os traz, mas que julgamos
importantes para a discussão subsequente. Essa inserção é marcada com colche
tes. Em quinto, a reorganização da obra original quanto às citações e referências.
Procuramos adaptá-las, quanto possível, aos padrões atuais, com destaque das
citações e indicações bibliográficas em notas. Finalmente, em sexto, a atualização
das listas de palavras gregas. Transportamos para as listas que acompanham os
livros as correções indicadas pelo próprio Vincent ao final do volume.
Nosso principal objetivo, com mais esta obra de erudição bíblica, é levar a
Igreja de Cristo a estudar, com mais eficiência, a Palavra de Deus.
Os editores.
x
P refácio
xii
P refácio
xiii
Vincent - E studo no Vocabulário G rego NT
xiv
P refácio
xv
V incent - E studo no Vocabulário G rego NT
Estava tão determinado a fazer isso, que, no início, pensei seriamente em omi
tir por completo as palavras em grego. Porém, ao considerar mais a fundo a
questão, percebi que o meu plano podería, sem prejuízo da proposta inicial, ser
expandido a ponto de incluir os novatos no estudo do Testamento grego e certos
leitores de origem acadêmica que guardaram ainda, um pouco de grego do que
restou dos seus estudos clássicos. Para tornar isso possível, inseri as palavras
originais onde elas me pareceram necessárias, mas sempre entre parênteses e
acompanhadas de tradução. Portanto, o leitor poderá estar seguro de que qual
quer valor atribuído a esta obra por ele não será diminuído pela presença de ca
racteres que lhe são estranhos. Neste caso, ele poderá simplesmente passar-lhes
os olhos e concentrar a sua atenção no texto em português.
É óbvio que o meu objetivo me desobriga a realizar a exegese das passagens,
salvo nos casos onde o vocábulo em questão é o ponto de que depende o significado
inteiro da passagem. A tentação de ultrapassar este limite foi algo constantemente
presente, não sendo impossível que tenha ocasionalmente cedido a isso. Todavia,
o prazer e o valor do estudo especial de palavras serão, em minha opinião, intensi
ficados para o estudante, se ele os separar do emaranhado gerado pelas questões
exegéticas em que, em comentários comuns, se perde quase por completo.
Algumas palavras devem ser ditas a respeito de um nome que o título deste
livro instantaneamente sugerirá aos estudiosos do Novo Testamento. Refiro-me
ao Dr. Bengel. A dívida e gratidão que todos os trabalhadores desta área devem
ao Dr. Johann Albrecht Bengel é, sem dúvida, inestimável. A sua conhecida obra
Gnomon, que continua sendo digna da mais alta reputação entre os comentários,
mesmo depois de passados quase cento e cinquenta anos do seu lançamento,
foi a pioneira neste método de tratamento do texto das Escrituras Sagradas. A
minha dívida pessoal para com ele é muito grande em função do impulso a esta
linha de pesquisa que recebi da tradução de Gnomon, há mais de vinte e cinco
anos atrás; mais por isso, sem sombra de dúvida, do que por todo o apoio re
cebido no presente trabalho. Isto, porque o seu labor pessoal contribuiu para o
desenvolvimento desta linha de pesquisa especial, desde a aparição de Gnomon,
em 1742‘. Toda a base da filologia do Novo Testamento e da crítica textual tem
sido alterada e ampliada, e, portanto, muitas de suas conclusões críticas precisam
ser modificadas ou rejeitadas. A sua obra continua mantendo o seu valor para
o pregador. Ele deve permanecer sempre em lugar de destaque por causa da
sua perspectiva arguta e profundamente espiritual, bem como pela expressivi-
Notas do editor:
i. Johann Albrecht Bengel (1687-1752) é considerado o patrono da pesquisa bíblica moderna. Foi
um aluno notável da Universidade de Tübingen, professor e pedagogo eficiente, e pesquisador
piedoso das Escrituras. Os objetivos de Bengel na erudita obra Gnomon era determinar a majes
tade. a simplicidade, a profundidade, a concisão, a extensão e o uso prático da Palavra de Deus.
XVI
P refácio
dade maravilhosamente sucinta e vigorosa pela qual, como quem faz uso de uma
chave-mestra, costuma abrir na primeira tentativa as câmaras secretas de um
vocábulo; entretanto, para resultados críticos, o estudioso deve consultar guias
mais recentes e exatos.
Quanto às fontes, é suficiente mencionar que utilizei, de forma liberal, tudo o
que me pareceu útil. O livro, entretanto, não é uma compilação. O meu plano me
forçou a fugir das análises e dos processos demasiadamente prolixos, e a ater-me
principalmente à postulação dos resultados. A fim de evitar o excesso de referên
cias nas páginas, anexei uma lista das fontes utilizadas; e os nomes dos demais
autores não mencionados ali serão encontrados junto às citações.
Não procedi com os exercícios de critica textual. Segui principalmente o tex
to de Westcott e Hort, comparando-o com a oitava edição de Tischendorf, e
normalmente adotando qualquer redação com que ambos concordassem. Talvez
seja de pouca importância mencionar que as traduções muito literais e frequen
temente grosseiras que amiúde ocorrem são apresentadas meramente com o ob
jetivo de lançar as frases ou expressões o mais próximo possível das suas formas
gregas, e não são recomendadas para adoção como versões".
Minha tarefa foi um labor amoroso, mesmo tendo sido implementada em meio
a muitas distrações e várias obrigações de um pastorado urbano. Espero com
pletá-la, no tempo devido, por um volume adicional que contemple os escritos de
João e de Paulo1".
Conta-se que, há alguns anos atrás, foi descoberta, em um de nossos estados
do oeste, um geodo que, ao ser quebrado, revelou um grupo de cristais dispostos
no formato de uma cruz. Ser-me-á de grande alegria se, com esta tentativa de
quebrar a casca dessas palavras da vida e de desvendar as suas joias secretas,
puder auxiliar o estudioso da Bíblia, aqui e acolá, a atingir uma visão mais clara
acerca da cruz, que é o centro e a glória do evangelho.
Marvin R. Vincent
Covenant Parsonage, Nova York, 30 de outubro de 1886.
ii. Brooke Foss Westcott e Fenton John Anthony Hort (Westcott-Hort) publicaram, em 1881,
The New Testament in the Original Greek, obra crítica em dois volumes, contendo, além do texto
grego do Novo Testamento, a fundamentação teórica e metodológica usada na preparação do
texto original. Lobegott Friedrich Constantin von Tischendorf (1815-1874) foi o estudioso ale
mão responsável pela tradução do Code.r Ephraemi Rescriptus, manuscrito do Novo Testamento
do século V, e pela descoberta do famoso Codex Sinaiticus. A tradução a que Vincent se refere é
conhecida como Novum Testamentum Graece, editio viii, de 1862-1872.
iii. Este labor foi executado primorosamente por Vincent. Os escritos de João compõem o volume
II desta obra, e os de Paulo, os volumes III e IV
XVII
P refácio à 2.a E dição
Nesta segunda edição, corrigimos alguns erros nas citações bíblicas, junto
com diversas falhas tipográficas no texto grego, como acentos fora do seu lugar,
omissão de aspirações etc. Algumas modificações também foram feitas segundo
as sugestões dos meus revisores. Em muitas das correções do texto grego, estou
em grande dívida com meu velho amigo, Dr. Henry Drisler, do Columbia Col
lege, cuja ajuda inestimável jamais teria ousado solicitar, no caso de uma tarefa
literária assim tão penosa, mas que, de forma voluntária e gentil, me apresentou
uma lista dos erros percebidos por ele anotados em sua leitura atenta da obra.
xxii
M arvin R. V incent - V ida e O bra
Silas Daniel
Editor-chefe do Depto. de Jornalismo da CPAD
XXlll
L ista de R eduções
L iv r o s d a B íb l ia
L i t e r a t u r a A p ó c r if a
T exto s e T raduções
G e r a is
xxvii
M ateus
Introdução
Sabemos muito pouco acerca da pessoa de Mateus. Ele era filho de Alfeu, ir
mão de Tiago, o Pequeno, e possivelmente de Tomé Dídimo. Os únicos fatos que
os evangelhos registram a respeito dele são o chamado e a festa de despedida. Ele
havia sido um publicano, ou cobrador de impostos, a serviço do governo romano;
um ofício desprezado pelos judeus em função das extorsões que normalmente
eram cometidas por tais funcionários, e porque se tratava de um sinal irritante
de sujeição a um poder estrangeiro. Ao ser chamado por Cristo, Mateus abdicou
imediatamente à sua função e ao seu antigo nome de Levi. Os registros da tradi
ção ao seu respeito dão conta de que ele teria levado uma vida ascética, à base de
ervas e água. Existe uma lenda segundo a qual, depois da dispersão dos apósto
los, ele teria viajado ao Egito e à Etiópia para proclamar o Evangelho; que teria
ficado ocupado na capital da Etiópia, na casa do eunuco batizado por Filipe, e que
também teria superado dois mágicos que estavam afligindo o povo com doenças.
Relatos posteriores informariam que ele teria ressuscitado o filho do rei do Egito
dentre os mortos, curado a sua filha Efigênia de lepra e a elevado à liderança de
uma comunidade de virgens dedicadas ao serviço de Deus; e que um rei pagão,
na sua tentativa de removê-la da sua clausura, fora acometido de lepra, e o seu
palácio destruído por um incêndio.
Segundo a lenda grega, Mateus teria morrido em paz; entretanto, segundo a
tradição da Igreja Ocidental, ele teria sofrido martírio. Jameson afirma:
Poucas igrejas são dedicadas a São Mateus, ao que me consta ele não é patrono de
nenhum país, comércio, ou profissão, exceção feita aos cobradores de impostos ou fun
cionários da receita; e esta, talvez, seja a razão pela qual, salvo quando ele é represen-
M ateus —I ntrodução
2
M ateus —I ntrodução
“às ovelhas perdidas da casa de Israel” (15.24); no mandamento para que os discí
pulos não tomassem o caminho dos gentios, nem entrassem nas cidades dos sama-
ritanos (10.5); na profecia de que os apóstolos estariam assentados como juizes na
“regeneração” (19.28). Além disso, é notória a genealogia do Senhor retrocedendo
somente a Abraão; a ênfase posta nas palavras da Lei (10.19; 12.33,37); e a profecia
que equipara o fim de Israel ao “fim do mundo” (24.3,22; 10.23).
Por outro lado, um caráter mais abrangente aparece na adoração do menino
Jesus por parte dos magos procedentes do mundo gentílico; na profecia da prega
ção do Evangelho do reino para todo o mundo (24.14), e na comissão apostólica
que os enviava a todas as nações (28.19); no elogio à fé de um gentio como sendo
superior à dos israelitás (8.10-12; compare com a história da mulher siro-fenícia,
15.28); no uso da palavra "judeu”, como se referisse a pessoas de fora da nacionali
dade judaica; nas parábolas dos trabalhadores da vinha (20.1-16), e das Bodas que
comemoravam o casamento do filho de um rei (22.1-14); na ameaça de que o reino
seria retirado de Israel (21.43); e no valor atribuído ao elemento moral e religioso
da Lei (22.40; 23.23). A genealogia de Jesus contém os nomes gentis de Raabe,
uma cananeia, e de Rute, uma moabita. Para Mateus Jesus é, simultaneamente, o
Messias dos judeus, e o Salvador de toda a humanidade.
Como a sua tarefa era aprésentar como a Lei e os Profetas tiveram o seu cum
primento em Cristo, é comum encontrar alusões a passagens do Antigo Testa
mento. As suas citações correspondem a duas classes: (l) as mencionadas por ele
mesmo como tendo sido cumpridas nos acontecimentos da vida de Cristo, tais
como 1.23; 2.15,18; 4.15,16; e (2) quanto as que fazem parte do discurso de seus
diferentes personagens, como em 3.3; 4.4,4,7,10; 15.4,8,9. Ele apresenta a lei de
Cristo, não somente como o cumprimento da lei mosaica, mas em contraste com
aquela, tal como é ilustrado no Sermão do Monte. Contudo, mesmo representan
do a nova lei como mais suave do que a antiga, ele a descreve, ao mesmo tempo,
como a mais rigorosa (vide 5.28,32,34,39,44). O seu evangelho tem um caráter
mais austero do que o de Lucas, que tem sido, apropriadamente, classificado
como “o Evangelho da universalidade e da tolerância”. Nele o elemento punitivo
recebe um maior destaque. Para ele, o pecado tem, primariamente, um apelo de
violação da Lei e, logo, a sua palavra para iniquidade é ανομία (anomia: iniqui
dade ou ausência de lei), que não ocorre em nenhuma outra parte dos Evange
lhos. Somente ele registra o dito: “Muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”
(22.14), e, como observou argutamente o professor Abbot, a distinção entre os
chamados (κλητοί) e os escolhidos (ΙκλΕκτοί) se mostra a mais impressionante, já
que Paulo utiliza estas duas palavras de forma praticamente indiferente, e Lucas,
apesar de também registrar a parábola dos convidados indignos, não se arriscou
a utilizar κλητοί com o sentido aviltante empregado por Mateus3. Para ele, igual-
Mateus, mais do que o restante dos evangelistas, parece te r atravessado dias ruins
e, em meio a uma geração desviada, em meio a cães e porcos, que eram indignos
das pérolas da verdade; entre o joio semeado pelo inimigo; entre pescadores que
devolveram ao mar muitos dos peixes apanhados nas redes do Evangelho. O cami
nho largo está sempre na sua mente, bem como a multidão daqueles que seguem
por ele, o convidado inadequadamente vestido para a festa de casamento, as virgens
tolas, as ovelhas e os bodes, e até pessoas que, mesmo tendo expulsado demônios em
nome do Senhor foram, ainda assim, rejeitadas em função de viverem iniquamente
(ou, na “ausência de lei”). Onde Lucas fala com júbilo da alegria que ocorre nos céus
com o arrependim ento de um único pecador, Mateus, com expressões mais sóbrias e
negativas, declara não ser a vontade do Pai que nenhum destes pequeninos se perca;
e como motivo para não nos distrairm os acerca do futuro, ele informa que “a cada
dia basta o seu mal”. A situação dos judeus, a sua hostilidade crescente para com
os cristãos, bem como o vacilo ou retrocesso de muitos convertidos judeus diante
do aumento das hostilidades pouco antes e durante o cerco a Jerusalém —tudo isto
pode muito bem explicar um lado do Evangelho de Mateus; e o outro lado (a con
denação da “ausência de lei”) poderia ser explicado como uma referência aos judeus
helenizadores, que (a exemplo de alguns dos coríntios) consideravam que a nova
Lei os libertava de todo tipo de restrição e que, ao lançar mão de todo e qualquer
vestígio da sua nacionalidade, desejavam também lançar mão da sua moralidade.
Na perspectiva da aproximação da queda de Jerusalém, e do retrocesso de grandes
porções da nação, a inserção das palavras “Livra-nos do mal” na Oração do Senhor
e a profecia de que "pela multiplicação da iniquidade, o amor de muitos se esfriaria"
(cf. 24.12), além de adequadas, parecerão também típicas do caráter do conjunto da
obra do primeiro Evangelho*.
5
M ateus — I ntrodução
T ítu lo
C a pítulo l
8
M ateus - Cap. 1
6. O rei Davi (τον Δαικίδ τον βασιλέα, “ο Davi, ο rei”). Os dois vocábulos são,
assim, enfatizados: o Davi de quem Cristo, se Ele era o Messias, devia descen
der; o rei com quem a genealogia do Messias alcançou a dignidade real. Nesta
genealogia, onde as gerações são simetricamente divididas em três grupos de
quatorze, o evangelista parece conectar o último nome de cada grupo com uma
época crítica da história de Israel: o primeiro, indo da origem da raça até o início
da monarquia (“Davi o rei’); o segundo, do início da monarquia até o cativeiro
babilônico; e o terceiro, e último, do cativeiro até a vinda de “o Cristo”. O mes
mo uso enfático ou demonstrativo do artigo ocorre com o nome de José (v. 16),
marcando a sua relação peculiar com Jesus, como o marido de Maria: o José, o
marido de Maria.
19. Não queria (μή θέλων) - intentou (έβουλήθη). Na bj, a ra e t b , não querendo
- resolveu. Estes dois vocábulos descrevem a atitude mental de José com intuito
de expressar diferentes etapas do seu pensamento. Os dois termos abrem a
questão de seus distintos significados no texto do Novo Testamento. Eles, de
modo geral, ocorrem nas formas θέλω, este mais frequentemente, e βούλομαι,
9
M ateus - C ap . l
e onde a tradução, em tantos casos feita com as mesmas palavras, não nos dá
qualquer pista de diferenciação. Os verbos originais são usados de forma sinô
nima nos casos onde não existe qualquer distinção. Contudo, o seu emprego
em certos textos revela uma diferença radical e reconhecida. A substituição é
inadmissível quando a força maior da expressão exigir θελειι/. Por exemplo, a
forma βούλεσθαι seria completamente inadequada em Mateus 8.3: “Quero; sê
limpo”; ou em Rm 7.15.
A distinção, que é amplamente ilustrada em Homero, é substancialmente susten
tada pelos autores clássicos em geral, bem como pelos textos do Novo Testamento.
Θέλει!1 é o vocábulo mais forte e designa um propósito ou determinação, ou
ainda um decreto, cuja execução está, ou se acredita estar, no poder da pessoa que
assim o quer. Βούλεσθαι exprimi desejo, inclinação ou disposição, caso desejemos
fazer uma coisa por nós mesmos ou queiramos que outra pessoa a faça. Θελειν,
por conseguinte, denota a resolução ativa, a vontade que impele à ação. Βούλεσθαι é
ter uma mente, um desejo, às vezes um pouco mais forte, já entrando no sentido de
propósito. Isto posto, θελειν indica um impulso da vontade, enquanto βούλεσθαι,
uma tendência dela. Βούλεσθαι sempre pode ser traduzida por θέλειν, mas θέλειι>
nem sempre pode ser expressada por βούλεσθαι.
Dessa forma, Agamenon declara: “Eu não quis (ούκ έθελον) receber a redenção
pela criada (isto é, Eu me recusei a receber), porque desejo (βούλομαι) muitíssi
mo tê-la em casa"6. Além dele, vejamos Demóstenes: “É conveniente que desejes
(έθέλειν) ouvir àqueles que desejam (βουλομένων) dar conselhos”7. Quer dizer:
Está ao seu alcance determinar se ouvirá ou não aqueles que desejam lhe dar
conselhos, só que o poder para fazer isto depende do seu consentimento. Nova
mente: “Se os deuses quiserem (θέλωσι) e você o desejar (βούλησθε)”8.
No texto do Novo Testamento, como observamos acima, apesar de os verbos
ocorrerem com frequência intercambiáveis, a mesma distinção é reconhecida.
Assim em Mt 2.18: "era Raquel chorando os seus filhos e não querendo (ήθελε)
ser consolada”; ela se recusava de forma firme e obstinada. José, tendo o di
reito e o poder, sob aquelas (supostas) circunstâncias, para fazer de Maria um
exemplo público, resolveu (θελων) poupá-la desta exposição. Então, levantou-se
a pergunta - O que José deveria fazer? Ele pensou a respeito, e, depois de pensar
(ει/θυμηθεντος), a sua mente se inclinou (tendência), e José intentou (εβουλήθη) se
afastar secretamente dela.
Alguns exemplos do uso intercambiável desses vocábulos podem ser aqui en
contrados. Mc 15.15: “Pilatos querendo’ (βουλόμβΌς); compare com Lc 23.20: “Pi-
latos querendo” (θέλων). At 27.43: “o centurião querendo (βουλόμ€νος); Mt 27.17:
“Qual quereis que vos solte?” (θέλατε); vide versículo 21. Jo 18.39: “Quereis, pois,
que vos solte” (βούλ€σθε); M t 14.5: “querendo matá-lo” (θέλων). Mc 6.48: “queria
passar adiante deles” (ήθίλε); At 19.30: “querendo Paulo apresentar-se ao povo”
(βουλομένου). At 18.27: “Querendo ele passar à Acaia” (βουλομένου). T t 3.8: “isto
quero que deveras afirmes” (βούλομαι). Mc 6.25: “Quero que, imediatamente, me
dês” (θέλω), etc.
No texto do Novo Testamento, θέλω ocorre nos seguintes sentidos:
1. Decreto ou determinação da vontade, (a) Do Senhor Deus (Mt 12.7; Rm 9.16-
18; At 18.21; lCo 4.19; 12.18; 15.38). (b) De Cristo (Mt 8.3; Jo 17.24; 5.21;
21.22). (c) Dos homens (At 25.9). Festo, tendo o poder para gratificar os judeus,
e determinado a fazer isto, diz a Paulo, que tem o direito para decidir: “Queres tu
subir a Jerusalém?” (At 25.9). Em Jo 6.67, quando outros discípulos decidiram
abandonar o Mestre, Cristo se dirige aos doze, indagando: “Quereis vós também
retirar-vos?” É esta a vossa determinação? Em Jo 7.17, lê-se: “Se alguém quiser
fazer a vontade £de Deus], ou, estiver determinado a fazer a vontade de Deus”;
enquanto em Jo 8.44: “quereis satisfazer os desejos de vosso pai”. Leia também
At 24.6.
2. Desejo. Muitíssimas passagens citadas neste item, segundo Grimm, podem
ser corretamente interpretadas como casos em que se implica algo mais forte que
um desejo; notadamente em Mc 14.36, que se refere a Cristo no Getsêmani. O
nosso Senhor dificilmente teria feito uso da expressão o que tu queres num senti
do tão débil de modo a implicar somente um desejo da parte de Deus. Mc 10.43:
“qualquer que, entre vós, quiser ser grande”, expressa mais do que um desejo por
grandeza, mas um objetivo de vida. Em Mt 27.15, vemos que os judeus receberam
a prerrogativa para decidir qual prisioneiro seria solto. Em Lc 1.62, o nome do
infante João foi tido como decisão tomada por Zacarias. Em Jo 12.24, segura
mente, Cristo expressa mais do que um desejo de que aqueles que lhe foram dados
pelo Pai estejam com Ele. Em Lc 9.54, Jesus é quem deveria ordenar que o fogo
descesse sobre as aldeias de Samaria, se assim o quisesse (vide também Jo 15.7;
lCo 4.21; M t 16.25; 19.17; Jo 21.22; Mt 13.28; 17.12). Nesse mesmo sentido
podemos citar apropriadamente 2Co 11.12; Mt 12.38; Lc 8.20; 23.8; Jol2.21; G1
4.20; Mt 7.12; Mc 10.35.
3. Gosto (Mc 12.38; Lc 20.46; Mt 27.43). Vide respectivas notas.
Βούλομαι ocorre com as seguintes acepções:
1. Inclinação ou disposição (At 18.27,19.30; 25.22; 28.18; 2Co 1.15).
2. Mais acentuado, com a ideia de objetivo (lTm 6.9; Tg 1.18; 3.4; lCo 12.11;
Hb 6.17).
11
M ateus - C ap. 1
Jesus (Ίησοϋν). A forma grega de um nome hebraico, que havia designado duas
pessoas ilustres da história de Israel no Antigo Testamento - Josué, o sucessor
de Moisés; e Jesua, o sumo sacerdote que, em conjunto com Zorobabel, assumiu
um papel ativo no restabelecimento dos sistemas civil e religioso dos judeus no
retorno de Babilônia. A sua forma original e completa é Jehoshua, tornando-se,
por contração, Joshua (Josué) ou Jeshua (Jesua). Josué, o filho de Num, é um tipo de
Cristo no seu ofício de capitão e libertador do seu povo, ao considerarmos o aspecto
militar da obra salvífica (Ap 19.11-16). Na revelação a Moisés, Deus assumiu um
caráter de Legislador; mas na revelação a Josué, assume o de Senhor dos Exércitos
(Js 5.13-14). Sob o comando de Josué, os inimigos de Israel foram conquistados e o
povo estabelecido na Terra Prometida. De modo semelhante, Jesus guia o seu povo
na luta contra o pecado e a tentação. Ele é o líder da fé que vence o mundo (Hb
12.2). Ao segui-lo, entramos no descanso.
12
M a t e u s - C ap. 1
Enquanto o profeta vivesse, seria uma profecia contínua e viva acerca da ternura
de Deus para com os pecadores e uma imagem do amor divino para conosco en
quanto estávamos afastados dele e não tendo em nós nada digno deste seu amor. A
fidelidade do mestre profético amalgama-se em Oseias, tal como em nosso Senhor,
com a compaixão, solidariedade e sacrifício do sacerdote.
Ele (αυτός). Enfático; corretamente posto na arc e nas demais versões brasi
leiras: “porque ele salvará o seu povo”.
Seus pecados (αμαρτιών). Da mesma raiz que αμαρτάνω, errar o alvo; como
um guerreiro que atira a sua lança e não acerta no adversário, ou como um via
jante que erra o seu caminho". Portanto, por esta palavra, uma de um grande
grupo que representa o pecado sob diferentes fases, o pecado é concebido como
umafalha eperda do verdadeirofim e objetivo das nossas vidas, que é Deus.
Emanuel (no hebraico, Deus éconosco). Para proteger e salvar. Podemos encon
trar um comentário em Is 8.10: “Tomai juntamente conselho, e ele será dissipado;
dizei a palavra, e ela não subsistirá, porque Deus é conosco”. Algumas pessoas
supõem que Isaías incorporou o teor da sua mensagem aos nomes dos seus filhos:
Maher-shalal-hash-baz (pilhagem rápida), um alerta acerca da vinda dos selvagens
assírios; Shear-Jashub (um remanescente retornará), um lembrete da misericórdia
de Deus para com Israel no cativeiro e Immanuel (Deus ê conosco), uma promessa
da presença edo socorro divino. Contudo, pode ser que a promessa do nome seja
cumprida em Jesus (cp. Mt 28.20: “eis que eu estou convosco todos os dias, até à
consumação dos séculos”) por meio da sua companhia proveitosa e salvífica com
o seu povo na angústia, no conflito com o pecado e na sua luta com a morte.
24. D o sonho (τοδ uttpou). A força do artigo definido; o sonho em que José teve
a visão. Por isso, a bj, a ra e tb traduzem, do sono.
Capítulo 2
' M agos (μάγοι). A n tlh traduz por homens que estudavam as estrelas-, en
quanto w y c l if f e verte esta palavra como reis. Uma casta sacerdotal entre os
persas e medos, que se ocupava, principalmente, dos segredos da natureza, da
astrologia e da medicina. Daniel se tornou o líder desta ordem em Babilônia
(Dn 2.48). O vocábulo foi transferido, sem distinção de nacionalidade, a todos
os homens que se dedicavam às ciências que, por outro lado, eram, normal
mente, acompanhadas de práticas de magia e ilusionismo. O termo, com o
sentido de mágico, foi acomodado a muitas línguas da Europa. Variegadas
tradições absurdas e palpites acerca destes visitantes à manjedoura do nosso
Senhor acabaram encontrando lugar nas crendices populares, bem como na
arte cristã. Segundo estas crenças, os visitantes seriam reis, e três em núme
ro; representantes das famílias de Sem, Cam e Jafé e, um deles, é representado
como um etíope. Os seus nomes são tidos como Gaspar, Baltazar e Melquior
e, segundo a lenda, os seus crânios teriam sido descobertos no século XII
pelo bispo Reinaldo de Colônia e estão expostos em um esquife caríssimo na
grandiosa catedral daquela cidade.
6. Terra de Judá. Para distinguir esta cidade da Belém que fica no território de
Zebulom.
23. Os profetas. Observe o plural não como indicativo de qualquer predição es
pecífica, mas como um resumo da importância das várias afirmações proféticas,
tais como: SI 22.6-8; 69.11-19; Is 53.2-4.
Capítulo 3
D eserto (τη ερήμψ). Não sugerindo uma esterilidade absoluta, mas um ter
ritório impróprio que, apesar de tudo, permitia o aproveitamento por parte dos
pastores com os seus rebanhos. Hepworth Dixon afirma:
Nem mesmo no deserto, a natureza não é tão rígida quanto o homem. Aqui e acolá, em
sulcos e depressões, e nas encostas de montes, de degrau em degrau, pode-se observar
uma faixa de cereais, uma aglomerado de oliveiras, ou uma palmeira solitária13.
O Reino dos céus. (ή βασιλεία των ουρανών). Uma expressão peculiar a Ma
teus. A mais comum é o Reino de Deus. Trata-se de um reino dos céus em função
da sua origem, do seu fim, do seu rei, do caráter e destino dos seus súditos, das
suas leis, instituições e privilégios - tudo isto é celestial. Nos ensinamentos de
Cristo e nos escritos apostólicos, o reino do Messias representa a consumação
real da ideia profética da regência de Deus, sem qualquer limitação nacional, de
18
M ateus —C ap . 3
Qual seria a obrigação de um mero mestre humano da mais elevada estirpe, digno
da mais elevada missão espiritual em benefício da humanidade? O exemplo de João
Batista é uma resposta a esta pergunta. Um mestre deste calibre representaria nada
mais que uma simples “voz”, que clama no deserto da moral em sua volta, ansiosa,
acima de tudo, para ocultar a sua própria insignificância atrás da majestade da sua
mensagem1*.
9. Estas pedras. Apontando, segundo ele mesmo disse, para os seixos à margem
do Jordão.
10. Está posto (κβΐται). Não está colocado, como em “Ela estende [Toloca^ as
mãos ao fuso” (Pv 31.19), mas está sobre.
11. Levar. Compare com desatar em Mc 1.7. João se coloca na posição do mais
humilde dos servos. O ato de levar as sandálias dos mestres, ou seja, carregá-las
por toda a parte, bem como apertá-las, ou removê-las, entre os judeus, gregos e
romanos, era função de escravos da mais baixa estirpe.
19
M ateus - C ap. 3
joeiramento estava em mãos, e com ela, se atira ao alto a mistura de cereal e palha
contra o vento a fim de separar o cereal15.
15. A eira, αλωνα, propriamente traduzida como um local circular. Utilizada também para se
referir ao disco do sol ou da lua, ou a um halo, que nada mais é que uma forma de transcrição
desta palavra grega.
20
M ateus - C ap. 4
Se, logo, a ilustração rabínica da descida do Espírito Santo com a aparência visível de
uma pomba for objeto de investigação, esta investigação recairía sobre o reconheci
mento de Jesus como o israelita ideal típico: um representante do seu povo16.
Capítulo 4
do lado sul da área, foi erigido um “pórtico real”, uma magnífica área de colunas,
que consistia de uma nave e dois corredores, que corriam através de todo espaço
que separava os muros orientais dos ocidentais. Josefo, ainda, acrescenta:
Apesar da grande profundidade do vale, e de que seu interior mal pudesse ser vis
to de cima para baixo, a grandiosa elevação adicional do pórtico foi colocada sobre
essa altura, de tal modo que, se alguém olhasse para baixo, a partir do cume do
telhado, combinando as duas alturas em um só olhar, teria uma visão vertiginosa,
já que não seria capaz de alcançar uma profundidade tão grande.
Esta ala era considerada, em comparação com a ala norte, de forma tão enfáti
ca, a ala (ou, a asa) do Templo. Por ser um lugar altamente conhecido, justifica-se
o uso do artigo neste ponto. O cenário da tentação pode ter sido (afinal tudo o
que se fala é, essencialmente, em forma de conjectura), o telhado deste pórtico,
no canto sudeste, onde ele se ligava ao alpendre de Salomão, e do qual poderia ser
visto o Vale do Cedrom, logo abaixo, com a profundidade de quase 140 metros.
A palavra templo (Upóv, literalmente, lugar sagrado) significa o perímetro com
pleto do lugar santo, incluindo os seus pórticos, seus pátios e outras edificações
secundárias. Este lexema deve ser cuidadosamente distinto de outro termo, ναός,
também traduzido como Templo, e que significa o Templo em si - o “Lugar San
to” e o “Santo dos Santos”. Quando lemos, por exemplo, que Cristo ensinava no
Templo (Upóv) devemos ter em mente um dos alpendres do Templo. Portanto,
é do Upóv, do pátio dos gentios, que Cristo expulsa os cambistas e mercadores
de animais. Em Mt 27.51, é o véu do ναός que é rasgado; o véu que separava o
lugar santo do santo dos santos. No relato em que Zacarias entrou no Templo do
Senhor para queimar incenso (Lc 1.9), o termo ναός se refere ao lugar santo no
qual ficava o altar de incenso. O povo ficava “de fora”, no pátio externo. Em Jo
2.21, o templo do seu corpo, Upóv seria, obviamente, inadequado.
6. Nas mãos (4irl). Na b p , nas palmas das mãos. A e c p e n v i trazem, com as mãos;
n a b j , pelas mãos. A r v traz: Sobre as suas mãos. Seria mais correto e daria uma
7. Também (πάλιν). Termo enfático, que significa por outro lado, com refe
rência à expressão está escrito utilizada por Satanás (v. 6). É como se Cristo
dissesse: “a promessa que mencionaste deve ser explicada por outra passagem
da Escritura”.
O arcebispo Trench observa, com propriedade:
Nesta expressão “está escrito” utilizada por Cristo, encontramos uma grande lição,
deveras independente daquela passagem específica que, naquela ocasião, Ele cita, ou
23
M ateus - Cap. 4
do uso que se faz dela. Nela encontramos o segredo da nossa segurança e a nossa de
fesa contra todos os usos distorcidos de passagens isoladas das Sagradas Escrituras.
Somente quando passamos a conhecer a unidade das Escrituras, a forma como ela se
equilibra, como se completa, e como se explica a si mesma, somos alertados acerca do
erro e da ilusão, dos excessos e das falhas neste lado ou no outro. Portanto, a réplica
“mas também está escrito", deve ter uma aplicação contínua, pois, na verdade, as heresias
normalmente não passam de verdades exageradamente enfatizadas em somente um
dos seus aspectos e separadas do conjunto completo que forma a verdade como um
todo. São também desprovidas do equilíbrio da contraverdade, que as deveria man
ter no seu devido lugar, coordenadas com outras verdades ou subordinadas a elas. E
assim, em função da ausência destas verificações, deixam de ser verdades e passam a
ser erros.
12. Estava p re s o (παρεδόθη). Na ep e nvi , tinha sido preso-, na ara e bp,fora preso.
O verbo significa, em primeira acepção, dar, ou entregar para outra pessoa. Assim
como entregar uma cidade ou pessoa com a inerente conotação de traição. A teb
apresenta com propriedade, fora entregue \]à prisão],
16. O povo que estava (ό καθήμβνος). A bp traz a leitura: que habitava. A bj, teb e
ecp trazem: quejazia. O artigo com o particípio (literalmente, o povo, o que estava)
significa alguma coisa característica ou habitual: o povo cuja característica era es
tar nas trevas. Esta ideia é enfatizada pela repetição em um formato mais robus
to: os que estavam assentados na região e sombra da morte. A morte é personificada.
Esta terra, cujos habitantes estão espiritualmente mortos, pertence à Morte. A
terra é o reino onde ela domina.
Cristo (Lc 8.45). Compare também com as expressões “como me angustio (Lc
12.50); e “estou em aperto" (Fp 1.23). Depois disso, vemos as formas específicas de
sofrimento, a lista volta a ser encabeçada pelo vocábulo inclusivo νόσοις, doenças,
seguida de και, que transmite a força e a particularidade. Observe o lexema
tormentos (βασάνοις). Βάσανος, originalmente, significava ‘‘pedra de Lídia”, ou
pedra de toque, sobre a qual o ouro puro, ao ser esfregado, deixava uma marca
peculiar. Portanto, a conotação natural era a de teste, ou seja, um teste ou provação
por meio de tortura. A maioria dos termos, segundo o professor Campbell “era,
originalmente, de uso metafórico e as metáforas continuam a passar para o
mundo das palavras”19utilizadas pelo escritor como meros veículos da expressão,
desprovidos de qualquer sentimento que relembre o elemento metafórico ou
pitoresco que está contido no seu âmago. Assim, o conceito de um teste, de forma
gradual, foi totalmente removido de βάσανος, restando-lhe meramente a ideia de
sofrimento ou tortura. Isto é peculiarmente notado no uso deste vocábulo e dos
seus cognatos e derivados ao longo do Novo Testamento. Apesar de o sofrimento
como teste ser uma verdade familiar ao Novo Testamento, estes vocábulos
invariavelmente expressam nada mais que o tormento ou a dor. A w y c l i f f e
traduz: “Ele lhes ofereceu todos os homens que tinham males, apanhados por
diversos sofrimentos e tormentos”; e a t y n d a l e lê: “Todas as pessoas doentes
que haviam sido apanhadas por diversas doenças e opressões”. O termo lunáticos
(σίληνιαζομένους) é traduzido pela n t l h como epiléticos, como uma referência às
influências - reais ou supostas - que as mudanças na lua poderíam ter sobre as
pessoas acometidas pela epilepsia.
Capítulo 5
De lá a lição aprendemos
A não considerar nenhum homem bem-aventurado enquanto não testemunharmos
O dia final; até que ele atravesse a fronteira
Que divide a vida e a morte, incólume pela dor*1.
E, novamente:
27
M ateus - Cap. 5
28
M ateus - C ap. 6
5. Os mansos (oi. irpaeXç). Outra palavra que, embora jamais tenha sido utilizada
num sentido negativo, foi elevada pelo Cristianismo a um plano superior e se
tornou o símbolo de um bem superior. O sentido primário é meigo, gentil. Ele era
aplicado às coisas inanimadas, como a luz, o vento, o som ou as doenças. Também
foi utilizado para descrever o comportamento meigo de um cavalo.
Como atributo humano, Aristóteles define-o como o meio entre a ira teimosa
e o negativismo de caráter que é incapaz de assumir até mesmo uma justa indignação,
equivalente à equanimidade. Platão o coloca em contraponto à fúria e à cruel
dade e o emprega para descrever a humanidade dos condenados; mas também
para descrever o comportamento conciliatório de um demagogo em busca de
popularidade e poder. Pindar aplica-o a um rei, meigo ou gentil para com os seus
cidadãos, enquanto Heródoto utiliza-o em contraponto à ira.
Estes sentidos pré-cristãos do vocábulo apresentam duas características ge
rais: (1) Eles expressam meramente uma conduta exterior, (2) Eles contemplam
somente os relacionamentos entre os seres humanos. A palavra no contexto cris
tão, ao contrário, descreve uma qualidade interior relacionada a Deus. A equa
nimidade, a meiguice, ou gentileza representada pelo termo clássico, verifica-se
no autocontrole ou em uma disposição natural. A mansidão cristã é baseada na
humildade, que não é uma qualidade natural, mas um resultado de uma natureza
renovada. Para os pagãos, o vocábulo implicava condescendência, para os cristãos,
implica submissão. A qualidade cristã, na sua manifestação, revela tudo o que de
melhor havia na virtude pagã - a meiguice, a gentileza e a equanimidade - to
davia, estas manifestações para com os homens são enfatizadas como resultado
de uma relação especial com Deus. A meiguice, ou gentileza de Platão ou Pin
dar não implicam um sentimento de inferioridade nas pessoas que a exibem,
às vezes ocorre o contrário. O demagogo de Platão é gentil a partir dos seus
interesses pessoais e como meio de perpetrar a tirania. O rei de Pindar é condes
cendentemente gentil. A mansidão do cristão surge a partir de um sentimento
de inferioridade da criatura em relação ao Criador e, especialmente, da criatura
pecadora diante de um Deus santo. Dessa forma, enquanto a qualidade pagã tem
um tom abertamente voltado à autoaflrmação, a qualidade cristã assume o tom
de auto-humilhação. Portanto, no que se refere a Deus, a mansidão aceita as suas
intervenções sem murmurações ou resistências como sendo absolutamente boas
e sábias. No que se refere aos homens, ela aceita oposição, o insulto e a provoca-
30
M ateus - C ap. 5
9. Os pacificadores (οί είρηνοποιοί). Este termo deve ser tomado no seu sig
n i f i c a d o l i t e r a l , pacificadores, e não como traduz w y c l i f f e : homens pacíficos. Os
fundadores e promotores da paz é que estão sendo mencionados; pessoas que além
d e m a n t e r a paz, também procuram trazer os homens a uma vida de harmonia
13. For insípido (μωρανθή). Na bj, insosso; na nvi e teb , perder o seu sabor. O
substantivo correlato (μωρός) significa sombrio, lento; aplicado à mente, estúpido
ou tolo; aplicado ao paladar, insípido, choco. O verbo aqui utilizado para se referir
ao sal, tornar-se insípido, também significa bancar o tolo. O nosso Senhor se re
fere aqui ao fato familiar do sal perder a sua pungência e se tornar inútil. O Dr.
Thompson cita o seguinte caso:
31
M ateus —C ap. 5
casas eram de chão batido e o sal que ficou perto do solo, em poucos anos, estragou-se por
completo. Eu vi enormes quantidades daquele sal deteriorado ser, literalmente, lançadas
na rua e pisoteadas por homens e animais. Ele não servia para mais nada-3.
de todas as casas e, normalmente, cada casa tinha somente uma destas peças: por
isso o artigo. A palavra, que ocorre quatro vezes nos Evangelhos e oito vezes
em outras partes, significa, em todas as suas ocorrências, não um candeeiro (um
suporte para uma única vela), mas um candelabro (um suporte para várias velas).
Em Hb 9.2, o “candeeiro” de ouro do Tabernáculo é chamado de λυχνία, entre
tanto, na descrição deste item (Ex 25.31-39), lemos: “Também lhe farás sete
lâmpadas’. Em Zc 4.2, onde a ilustração é feita a partir do Santuário, temos um
“castiçal” com um vaso de azeite colocado no seu cimo, “com as suas sete lâmpa
das-, e cada lâmpada posta no cimo tinha sete canudos (para o azeite)”.
18. Jota, til (ιώτα, Kepaía). O termo jota significa a jod, a menor letra do alfabeto
hebraico. O tüé um pequeno sinal gráfico de pontuação de forma curva que ser
ve para diferenciar certas letras hebraicas de aparência semelhante. A tradição
judaica menciona a letra jod como sendo irremovível; acrescentando que, mesmo
que todos os homens do mundo se reunissem com o intuito de abolir a menor
das letras da Lei, eles não teriam êxito. A culpa pela modificação destes pequenos
sinais que fazem a diferenciação entre as letras no hebraico é considerada tão
grande que, caso isto fosse feito, o mundo inteiro seria destruído.
2 2 . 0 fogo do inferno (την yéevvav τού πυρός). A teb trad u z m ais c o rretam en
te como: da geena defogo. O term o Geenna, trad u zid o com o inferno, o co rre fora
32
M ateus - Cap. 5
25. Concilia-te (ισθι εύνοών). Literalmente: tenha uma atitude positiva para com;
esteja inclinado a satisfazê-lo mediante um pagamento ou concessão. A t e b lê:
Põe-te de acordo.
σκανδάλου; e w y c liffe traduz: “Se o teu olho direito te calunia”. A teb traz: Se
o teu olho direito te leva à queda-, enquanto ecp lê: se o teu olhofor para ti origem de
pecado. Compare com Esquilo24.
40. Vestimenta, capa (χιτώνα, ίμάτιον). O primeiro termo designava uma roupa
ou túnica que se utilizava por baixo das demais; o segundo, um manto, sobretudo
maior, que servia de cobertura para a noite e que, segundo a legislação levítica,
deveria ser devolvido antes do pôr do sol quando fosse recebido em penhor (Êx
22.26-27). Dessa forma, entregar esta peça de roupa sem impor resistência im
plicava um grau ainda maior de desprendimento.
43. O próximo (τον πλησίον). Outro termo para o qual o Evangelho transmitiu
um sentido mais amplo e mais profundo. Líteralmente, a palavra significa uma
pessoa que está perto, indicando meramente uma proximidade exterior. Dessa for
ma, o próximo poderia ser um inimigo. Sócrates nos mostra como dois estados
adjacentes podem chegar a desejar um pedaço do território do estado próximo
(των πλησίον), de forma que haja uma guerra entre ambos25; e, novamente, afir
ma que um filósofo não tem qualquer contato com o vizinho ao lado da sua casa,
nem sabe se ele é um homem ou mesmo um animal26.
O Antigo Testamento expande o significado a ponto de abranger a comunhão
nacional ou tribal—sentido utilizado nesta citação feita pelo nosso Senhor. O con
ceito cristão é exposto por Jesus na parábola do Bom Samaritano (Lc 10.29ss.),
34
M ateus - Cap. 6
Capítulo 6
2 . Tocar trom beta (σαλπίσης). A n v i traz: não anuncie isso com trombetas. Não
parece haver qualquer resquício deste tipo de costume por parte das pessoas que
entregavam as esmolas, de tal forma que a expressão deve ser tomada de forma
figurada significando uma pessoa que deseja alardear o seu ato de bondade. E igual
mente possível que a figura possa ter sido sugerida pelas “trombetas” do tesouro
do Templo —treze baús, ou arcas, em formato de trombeta onde as pessoas depo
sitavam as suas contribuições (vide Lc 21.2)
35
M ateus - C ap. 6
considera que aquele que ora pela remissão das suas próprias dívidas, já perdoou
aqueles que lhe deviam28.
14. Ofensas (παραπτώματα). Na te b ,faltas-, na bj, delitos. O Senhor faz uso de ou
tro vocábulo para designar os pecados, e outro, ainda (αμαρτίας) aparece na versão
que Lucas apresenta para esta oração, embora ele também diga: “a todos que
estão em débito conosco”. Cristo, ao contemplar os pecados em geral, usou va-
riegados termos para designar diferentes aspectos da impiedade [videlsAt 1.21).
Este vocábulo é derivado de παραπίπτω, cair ou atirar-se para o lado. Logo, ele
tem um sentido um tanto aproximado de αμαρτία, que significa atingir o lado de
um alvo, ou errar um alvo. No grego clássico, o verbo é, de modo geral, utilizado
para designar uma queda intencional, como no caso em que uma pessoa se lança
sobre um inimigo. Este é o sentido predominante no grego bíblico, indicando um
pecado voluntário e despreocupado (vide lCr 5.25; 10.13; 2Cr 26.18; 29.6-19; Ez
14.13; 18.26). Contudo, παράπτωμα não implica paliação ou desculpa. Trata-se de
uma violação consciente do direito, que envolve culpa e ocorre em conexão com
a menção do perdão (Rm 4.25; 5.16; Cl 2.13; Ef 2.1-5). Ao contrário de παράβασις
[transgressão), que contempla meramente a violação objetiva da Lei, ele carrega a
ideia de pecado como algo que afeta o pecador e, por isso, encontra-se associado
com expressões que indicam as consequências e o remédio do pecado (Rm 4.25;
5.15,17; Ef 2.1).
16. Jejuardes (νηστβύητ^). Observe a força do tempo presente grego como indi
cativo de ação em progresso: Sempre que vós puderdes estarjejuando.
28. O tempo verbal é o aoristo, denotando uma ação completada em um tempo passado indefinido,
e, assim, estritamente, perdoamos; entretanto; onde permanece qualquer efeito da ação expres
sa pelo aoristo, estamos justificados na tradução pelo uso do tempo perfeito.
36
M ateus - C ap . 6
19. Não ajunteis tesouros (μή θησαυρίζετε). Literalmente: Não entesoureis tesou
ros. Por isso, w y c l iffe : Não entesoureis tesouros para vós. A bela lenda de Tomé e
Gondoforo é contada pela senhora Jameson:
Quando o apóstolo Tomé estava em Cesareia, o nosso Senhor lhe apareceu e lhe disse:
Ό rei das índias, Gondoforo, enviou o seu oficial, Abanes, para procurar trabalhado
res bem versados na Ciência da Arquitetura, que lhe haverão de construir um palácio
mais belo do que o do Imperador de Roma. Eis que agora te enviarei a ele”. E Tomé
foi, e Gondoforo lhe ordenou que ele lhe construísse um palácio magnífico, e lhe en
tregou uma grande quantidade de ouro e prata para este fim. O rei, então, seguiu para
uma terra longínqua e esteve ausente por dois anos; e Tomé, neste ínterim, em vez de
lhe construir um palácio, distribuiu todos os tesouros entre os pobres e os enfermos;
e, ao retornar o rei, ficou tomado de fúria e ordenou que Tomé fosse pego e lançado
na prisão, e meditava como lhe executar de forma horrível. Enquanto isso, o irmão
do rei morreu, e o rei resolveu construir para ele o mais belo dos túmulos; só que o
seu irmão falecido, depois de estar morto havia quatro dias, subitamente, levantou-se
e ficou sentado, e disse ao rei: “O homem que desejaste torturar é um servo de Deus;
eis que estive no Paraíso, e os anjos me mostraram um palácio maravilhoso feito de
ouro e prata e pedras preciosas; e me disseram: ‘Este é o palácio que Tomé, o arquiteto,
construiu para o teu irmão, o rei Gondoforo’”. E, ouvindo o rei estas palavras, correu
para a prisão e libertou o apóstolo; e Tomé lhe disse: “Sabias tu que aqueles que pos
suem as coisas do alto não se preocupam tanto com as deste mundo? No céu há um
número incontável de palácios exuberantes, que foram preparados desde o princípio
do mundo para aqueles que comprarem a sua posse por meio da fé e da caridade. As
tuas riquezas, ó rei, podem preparar o teu caminho para a construção deste palácio,
mas não poderão seguir contigo para o alto”30.
Ferrugem (βρώσις). Aquilo que come-, do verbo βιβρώσκω, comer. Compare com
corroer, do latim rodo, roer. A teb traz a leitura: as traças e os vermes-, e a bj: a traça
e o caruncho.
22. Bons (απλούς). A imagem por trás deste adjetivo é a de um pedaço de tecido
ou outro material qualquer, com uma dobra bem feita e sem muitas dobras com
plicadas. Daí, a ideia de simplicidade ou singularidade (cp. a palavra simplicidade
oriunda do latim simplex: semel, uma vez; plicare, dobrar). Portanto, num sentido
moral·, puro, objetivo, sem devaneios. Neste caso, sãos ou bons, como antônimo de
maus ou adoentados. Possivelmente, com referência à duplicidade e indecisão con
denadas no versículo 24.
Terá luz (φωτεινόν). Bengel afirma: “Como se ele fosse todo olho”.
23. Em ti - trevas. Sêneca, em uma das suas cartas, conta sobre uma escrava da
sua casa que ficou subitamente cega:
Agora, por mais inacreditável que esta história possa parecer, é mesmo verdade que
ela ainda não se apercebeu da sua cegueira e, consequentemente, pede à sua ajudante
para que vá a todas as partes da casa por ser a residência muito escura. Mas tu podes
estar certo de que o que ocorreu com aquela mulher, e que nos faz rir, acontece com
todos nós; ninguém percebe que é avarento ou mesquinho. O cego procura um guia;
nós perambulamos pela vida sem um guia.
E Ruskin registra:
O olhar distorcido é pior do que a cegueira. O homem que tem a visão demasiadamen
te turva para discernir a rua de uma vala, é capaz de, com o seu tato, diferenciar uma
38
M ateus - C ap. 6
coisa da outra; mas se, para ele, a vala tem aparência de rua, e a rua aparenta ser uma
vala, o que haverá de lhe suceder? A visão distorcida é o mesmo que não enxergar, no
lado negativo da cegueira31.
24. O outro (ετερον). Implica uma distinção mais de qualidade do que de quantidade
(άλλος). Por exemplo, “se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a
outra’ (την άλλην); isto ê, a outra dentre as duas faces existentes (Mt 5.39). No dia de
Pentecostes, os discípulos começaram a falar com outras (ετέραις) línguas; ou seja, di
ferentes das suas línguas nativas. Nessa perícope, a palavra transmite a ideia de dois
mestres de caráter e interesses distintos ou opostos, tal como Deus e Mamom.
25. Não andeis cuidadosos (μή μεριμνάτε). O substantivo cognato é μέριμνα, cui
dado, que deriva-se de μερίς, uma parte, e μερίζω, dividir. Era igualmente explicado
como um cuidado dividido que distraía o coração do objetivo real da vida. Contu
do, esta acepção foi abandonada e a palavra foi incluída em um grupo que carrega
a noção comum de séria consideração. Pode incluir os conceitos de preocupação e
ansiedade, ou enfatizar estas duas, embora isto não ocorra necessariamente. Veja,
por exemplo: “cuida das coisas do Senhor” ( lCo 7.32); “Tenham os membros igual
cuidado uns dos outros” (lCo 12.25); “... Que sinceramente cuide do vosso estado”
(Fp 2.20b). Em todos estes casos, o sentido de preocupação estaria completamente
fora de contexto. Em outros, essa ideia é predominante como “os cuidados deste
mundo”, que sufocam a boa semente (Mt 13.22; cp. Lc 8.14), como na passagem
acerca de Marta: “estás ansiosa” (Lc 10.41).
Na época da preparação da kjv, a expressão grega μή μεριμνάτε, traduzida nesta
passagem por ocupar opensamento, representava uma tradução fiel, já que o subs
tantivo pensamento era utilizado como um equivalente a ansiedade ou solicitude.
Por isso, Shakespeare escreve:
39
M ateus - C ap. 7
Ouvi um economista político citando esta passagem como uma objeção ao ensina
mento moral do Sermão do Monte, baseando-se no fato de ela incentivar, ou melhor,
ordenar, uma negligência despreocupada com o futuro33.
Capítulo 7
3. Reparas (βλέπεις). Olhar defora, como quem não enxerga com clareza.
Vês (κατανοείς). Uma palavra mais forte, compreenderpor dentro, o que já está lá.
Trave (δοκόν). Na bp, viga. Um barrote, uma viga; indicando uma grande f a
lh a .
mente, não somente a falha em si, mas também como poderías ajudá-lo a se livrar
da sua.
6. As coisas santas (tò άγιον). Na teb , nvi e bj, o que ê sagrado. Aquilo que é
comumente reconhecido como sagrado. A referência feita é à carne oferecida em
sacrifício. A imagem é a de um sacerdote lançando um pedaço de carne do altar do
holocausto para um dos vários cães que infestavam as ruas das cidades do Oriente.
9. Pão, uma pedra (άρτον, λίθον). Acerca da semelhança de certas pedras com
pães ou bolos de pão, vide Mt 4.3.
22. Não (ού). Esta forma de negativa é utilizada quando se espera uma resposta
afirmativa. Logo, retrata tanto a presunção, quanto a autoilusão nas quais viviam
estas pessoas: “Certamente profetizamos”.
23. Direi (ομολογήσω). O termo que é utilizado em outras porções das Escrituras
para descrever: a confissão aberta de Cristo diante dos homens (Mt 10.32; Rm
10.9); a declaração pública de João Batista de que ele não era o Cristo (Jo 1.20); a
promessa de Herodes a Salomé na presença dos seus convidados (Mt 14.7). Por
tanto, aqui ela descreve a declaração pública e aberta de Cristo de que Ele era o
Juiz do mundo. Bengel diz que “há muita autoridade nesta afirmativa”.
24. Assemelhá-lo-ei etc. A ilustração não se refere a dois homens que escolhem
deliberadamente dois fundamentos, mas contrasta um homem que escolheu com
prudência e preparou o seu alicerce, com outro que edificou a sua casa com des
leixo. O contraste fica ainda mais evidente em Lc 6.48a: “É semelhante ao ho
mem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os alicerces sobre
rocha”. Kitto descreve:
Bem naqueles dias, o modo de construção que existia na cidade onde habitou o próprio
Jesus - Nazaré - sugere a fonte desta ilustração. O Dr. Robinson, certa vez, passou um
tempo conhecendo a casa de um árabe grego. A casa tinha acabado de ser construída
e ainda não estava terminada. Para lançar o fundamento ele cavou até encontrar rocha
firme, como é comum aqui em todo o nosso país, até a profundidade de cerca de 9
metros e, depois disso, levantou arcos35.
27. E foi grande a sua queda. A conclusão do Seníião do Monte. Bengel obser
va: “Portanto, não é necessário que todos os sermões terminem com consolos”.
29. Os ensinava (ήν διδάσκων). Ele os estava ensinando. Na e p e t e b , com o seu en
sinamento. Esta união do verbo com o gerúndio (ou particípio presente) enfatiza
mais a ideia de duração ou hábito do que o pretérito comum.
42
M ateus - C ap . 8
C a pítu lo 8
9. Também (καί). “Também eu sou homem sob autoridade”, assim como tu o és;
a b j traz: também eu estou. O centurião compara a posição do Senhor com a sua
própria. Cristo tinha autoridade sobre as enfermidades. O centurião também pos
suía autoridade sobre os seus soldados. Assim como bastava ao centurião dizer
“vai-te!” e o soldado ia, também bastava a Cristo dizer à doença “vai-te!” que ela
também obedecería.
12. Exteriores (το εξώτερον). A ordem das palavras no grego não dá margem
a dúvidas. Eles serão lançados nas trevas, no exterior (onde é escuro). A imagem
é de um salão iluminado onde ocorre um banquete, em cuja parte externa reina a
mais absoluta escuridão da noite.
13. Sarou (ίάθη). Observe que a palavra mais forte do centurião (v. 8) é utilizada
aqui. Onde Cristo cuida, ele sara.
17. Levou (εβάστασεν). Esta tradução não é exata. O termo não significa ele le
vou, mas ele suportou, como se uma carga tivesse sido colocada sobre Cristo. Esta
passagem é uma pedra de esquina da teoria da cura pela fé, segundo a qual a
expiação de Cristo inclui tanto a provisão da cura do corpo, quanto do espírito.
Logo, insiste na tradução levou. Presume-se que Mateus havia compreendido o
sentido da perícope que ele citava do livro de Isaías, e, assim, caso a sua intenção
fosse a de afirmar que Cristo levou as nossas enfermidades, poder ia ter utilizado
um termo mais adequado para se expressar.
Este tipo de ventania, além de ser violenta, desce subitamente e, normalmente, quan
do o céu está perfeitamente limpo... Para compreender as causas destas tempestades
repentinas e violentas, precisamos lembrar que este lado está numa depressão geo
gráfica - a mais de 200 m etros abaixo do nível do mar; que o platô montanhoso do
Jaulân se eleva a uma altitude considerável, estendendo a sua retaguarda para os lu
gares ermos de Haurân, e, para cima, rumo ao pico nevado do Hermom; que os cursos
d’água cavaram desfiladeiros e gargantas profundas, que convergem, todos, para o
início deste lago; e que estes funcionam como grandes funis para a atração dos ventos
frios que sopram nas montanhas86.
28. Os sepulcros (μνημείων). Eram câmaras escavadas nos montes, as quais pro
porcionariam um abrigo para o endemoniado. Chandler descreve os sepulcros
com dois recintos quadrados, um na parte inferior que continha as cinzas, e outro
na parte superior, onde os amigos do falecido executavam ritos fúnebres, e derra
mavam libações por intermédio de um furo no chão37. O Dr. Thomson descreve
dessa forma os sepulcros de pedra na região entre Tiro e Sidom:
Eles são quase todos do mesmo formato, com uma câmara menor na parte frontal, e
uma porta que dava acesso dali para o sepulcro, que tem cerca de 1,80 metros quadra
dos, com vãos nos três lados para os m ortos88.
44
M ateus —C ap. 9
quebrado por gritos e uivos agudos que, descobri, vinham da confusão entre um ma
níaco, que andava sem roupas, e alguns cães selvagens que brigavam entre si por um
pedaço de osso. No momento em que percebeu a minha presença, ele abandonou os
seus camaradas caninos e, saltando a passos largos e rápidos, agarrou a rédea do meu
cavalo e quase o lançou para trás, no desfiladeiro59.
“Mais ao sul, a planície se tornava tão ampla que a manada poderia ter se recuperado
e saído do lago”. O artigo posiciona o despenhadeiro como um local que ficava nos
arredores da pastagem” .
Capítulo 9
16. Novo (άγνάφου). Derivado de ά, não, e γνάπτω, cardar ou pentear a lã, daí vestir ou
vestimenta completa. Portanto, a r v traduz mais corretamente como: pano ainda não ves
tido, o qual encolhería assim que fosse molhado e se desprendería completamente da
peça de tecido mais velha. A w y c l i f f e traduz como: rude. Jesus ilustra a combinação
39. Warburton, The Crescent and the Cross apud Trench, Notes on the Miracles.
40. Thomson, hand and Book.
45
M ateus - C ap . 9
das velhas formas de piedade pessoal peculiares a João Batista e aos seus discípulos com
a nova vida religiosa que emanava da sua pessoa, como sendo equivalentes ao conserto
de uma roupa velha com um pedaço de tecido não franzido, o qual esticaria e se soltaria
completamente do pano velho e provocaria um rasgo ainda maior do que o anterior.
18. Faleceu agora mesmo (άρτι. έτ^λβίτησρν). A força literal do tempo verbal
aoristo é mais ilustrativa: Acabou de morrer.
20. Orla (κρασπέδου). A franja usada na borda da roupa de fora, segundo o man
damento prescrito em Nm 15.38. O Dr. Edersheim afirma que, de acordo com a
tradição, cada uma das listras brancas deveria ser composta por oito fios, sendo
que um deles era costurado ao redor dos demais. Primeiro sete vezes, com um
nó duplo; depois oito vezes, com um nó duplo; depois onze vezes, com um nó
duplo; e, por último, treze vezes. Os caracteres hebraicos que representam estes
números formavam as palavras Jeová Um*'.
32. Mudo (κωφόν). Este vocábulo também é usado para designar a surdez (Mt
11.5; Mc 7.32; Lc 7.22), mas também significa triste ou áspero. Por isso, Homero
utiliza-o com relação à terra: a terra triste, insensível. Também para falar de
um dardo áspero*3. Os autores clássicos empregaram a palavra para falar da per
cepção vocal, auditiva, visual e mental. No texto do Novo Testamento, κωφόν
refere-se somente à audição e à fala, sendo o seu sentido determinado segundo o
contexto em que se encontra.
4·6
M a t e u s - C ap . 10
Capítulo 10
47
M ateus - C ap . 10
cas. Palavra oriunda do hebraico qãna' (V.1j5), zelo (zeloso); compare com o termo
aramaico qãnãn, a partir do qual esta seita foi denominada.
10. Bordão (ράβδους). Contudo, uma interpretação correta seria vara, (ράβδον). A
e c p traduz, bastão-, b j verte, cajado.
E todo apóstolo que vos vier, seja recebido como se fosse o próprio Senhor; mas não
ficará na vossa companhia mais de um dia; se, entretanto, houver necessidade, então que
fique por mais um dia; mas se ficar por três dias, será um falso profeta. E, quando o após
tolo partir, não permitais que leve nada além da quantidade de pão suficiente até que ele
chegue ao próximo alojamento, mas se vos pedir dinheiro, será um falso profeta.
48
M ateus — C a p. 10
quando vós entrardes. O mesmo ocorrendo com a partida, enquanto estiveres saindo
(εξερχόμενοι, v. 1 4).
Até mesmo a poeira de uma terra pagã era imunda e o contato com ela tornava a pes
soa imunda. Ela era considerada como um sepulcro, ou como a podridão da morte. Se
uma mancha de poeira pagã atingisse uma oferta, ela deveria ser imediatamente quei
mada. Mais do que isso, se por um infortúnio, um mínimo de poeira pagã tivesse sido
trazido para a Palestina, ela, de forma alguma iria, ou poderia, misturar-se à poeira da
“T erra”, mas, até o final, continuava a ser o que sempre fora —imunda, contaminada e
contaminando tudo ao que aderisse.
mas também considerá-la e tratá-la como se fosse pagã, tal como o caso mencionado
em M t 18.17. Todo tipo de contato semelhante deveria ser evitado, todo vestígio de
veria ser sacudido46.
49
M ateus - C ap. 10
17. Dos homens (τώυ ά^θρώττων). Literalmente: “os homens”, já aludidos sob o
uso do termo lobos.
19. Não vos dê cuidado (μή μεριμνήσητ?). Na r v : Não estejais ansiosos. Na teb ,
Naquela mesma hora (4v εκείνη τή ώρα). Muito preciso. Bengel observa:
“Mesmo que isto não tenha ocorrido anteriormente, muitos sentem um aumento
do seu poder espiritual quando chega o momento de transmiti-lo aos outros”.
50
M ateus - C ap . ίο
poderia estar fazendo referência às duas aves que, segundo a tradição rabínica,
eram utilizadas na purificação cerimonial da lepra (Lv 14.49-54).
Nenhum deles cairá. Uma lenda rabínica relata como certo rabino estivera,
por treze anos, escondendo-se dos seus perseguidores em uma caverna, onde
ele era milagrosamente alimentado. Ali, ele observou que quando o caçador de
pássaros armava o seu alçapão, o pássaro escapava ou era apanhado, segundo a
ordem de uma voz que vinha dos céus que dizia: "Misericórdia" ou “Destruição”.
O argumento apresentado era de que, se nem mesmo um pequeno pássaro pode
ria ser apanhado sem o consentimento divino, quanto mais seguro estaria a vida
dos filhos dos homens sob os cuidados célicos.
32. Me confessar (ομολογήσει εν εμοι). Uma expressão peculiar, porém muito sig
nificativa. Literalmente: confessar em mim. A ideia é a de confessarmos Cristo a par
tir de um estado de unidade com Ele. “Permanecei em mim, e ao estarem comigo,
confessai-me”. Ela implica identificação do confessor com o confessado e, logo, retira
a confissão da categoria de um mero reconhecimento formal ou verbal: “Nem todo o
que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus”. O verdadeiro confessor de
Cristo é aquele cuja fé está nele fundamentada. Observe que isto proporciona uma
grande força à oração correspondente, na qual Cristo coloca-se a si mesmo em uma
relação similar àqueles a quem Ele mesmo confessará: “Eu confessarei [[em + ele[]
nele'. Será como se eu falasse habitando dentro dele: “Eu neles, e tu em mim, para que
eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a
mim e que tens amado a eles como me tens amado a mim” (Jo 17.23).
34. Trazer (βαλεΐν). Literalmente: lançar ou arremessar. Com esta palavra a ex
pectativa dos discípulos é dramaticamente ilustrada como se ele os representasse
como pessoas que procuravam uma paz que pudesse ser lançada dos céus para a
terra. O Dr. Morison, ilustra desta maneira:
Todos estão pisando em ovos. O que estaria prestes a acontecer? É o reino da paz que
está em vias de ser inaugurado e consumado? Será que, doravante, teremos somente
unidade e harmonia? Enquanto eles analisam e debatem, vejam só! Uma espada é
lançada no meio deles.
38. Sua cruz (τον σταυρόν αυτού). A n t l h lê: pron to p a ra morrer. Este não era um
provérbio judeu, já que a crucificação não era um tipo de castigo utilizado pelos
judeus; de tal forma que Jesus faz um uso antecipado desta expressão, em vista da
morte que Ele mesmo padecería. Este era um daqueles ditados descritos em Jo 12.16,
os quais não foram compreendidos pelos discípulos num primeiro momento, mas
que tiveram o seu significado revelado à luz de eventos posteriores. A imagem foi
emprestada do costume que se tinha de fazer com que os criminosos carregassem as
suas próprias cruzes até o local da sua execução. A sua cruz: sua própria. Nenhuma
é igual à outra. Existem cruzes diferentes, para discípulos diferentes. Um provérbio
diz: “Cada cruz carrega um nome” - o nome da pessoa para a qual ela foi preparada.
39. Achar (ευρών). A t e b lê: aquele que tiv e r achado (nota). A palavra é, de fato, um
particípio passado, achado. O nosso Senhor olhou em retrospectiva para o passa
do de todos os homens e, adiante, para a sua consumação apropriada no futuro.
De modo semelhante, quem p erd er (άπολέσας). Platão parece ter prenunciado esta
ideia maravilhosa.
Ó meu amigo! Quero que entendas que os nobres e os bons podem, talvez, ser algo
diferente do salvar-se e do ser salvo, e que aquele que é, verdadeiramente um homem
não deve se preocupar com o tempo da sua vida: ele sabe, como dizem as mulheres,
que todos morreremos e que, logo, ele não é um aficcionado pela vida; ele deixa tudo
isso para Deus, e medita acerca do caminho no qual despenderá da melhor maneira o
tempo que lhe for determinado51.
C a p ít u l o 1 1
52
M ateus - C a p . 11
2. Dois dos seus discípulos (δύο). A leitura correta, porém, é but,por. João enviou
por seus discípulos, como afirma a t e b ; ou ainda, pelos seus ( t b , e c p ) , significando
por meio de ( b p ).
3. Tu. Enfático. Es tu “aquele que havia de vir”? - uma expressão comum para
designar o Messias.
Pela força se apoderam dele (βιασταί άρπάζουσιν αύτήν). Isto se provou por
intermédio das multidões que seguiam Cristo e invadiam os locais para onde Ele
ia. A multidão teria se apoderado dele pelaforça (a mesma palavra) e o feito rei (Jo
6.15). A expressão apoderar-se pela força significa, literalmente, arrancarfora, re
tirar. A expressão é, normalmente, utilizada nas obras clássicas para descrever o
ato de pilhar. Meyer traduz: Aqueles quefazem esforços violentos, arrastam-no para si
mesmos. A e c p traz: ê arrebatado àforça e são os violentos que o conquistam, e em nota
de margem: O Reino dos Céus é maltratado e os violentos o aviltam. Cristo fala dos
crentes. Eles se apoderam do reino e fazem dele algo de sua posse. A tradução
d a rv, homens de ciência, é demasiadamente forte, pois descreve uma classe de ho
mens habitual e caractensticamente violentos; ao passo que violência, neste caso é o
53
M ateus - C ap. 11
22. Por isso (πλήν). Melhor traduzido pela k j n t a : entretanto, ou como a n v i : mas.
Corazim e Betsaida não se arrependeram; logo, são dignas de pesar; entretanto,
elas estarão mais desculpadas do que vós que viram estes prodígios, pois eles não
foram feitos entre elas.
sábio (σοφών) e instruído, normalmente aparecem juntas, como neste caso. A dis
tinção geral ocorre entre a sabedoria produtiva e a reflexiva, porém tal aspecto
nem sempre é reconhecida pelo escritor.
27. Foram entregues (παρεδόθη). Como em ato único, num determinado mo
mento, como neste caso, onde o Filho foi enviado pelo Pai, e foi revestido de
autoridade. Compare com 28.18.
Estas palavras, segundo estão registradas por Mateus, o evangelista dos judeus, devem
ter tocado o fundo do coração dos ouvintes israelitas de Cristo, por terem chegado à
velha forma familiar de expressão, contudo em contraste marcante de espírito. Uma
das expressões figuradas mais comuns daquela época era a do jugo da submissão,
quando se desejava falar de uma ocupação ou obrigação. Muito instrutiva para a com
preensão desta ilustração é esta paráfrase de Ct 1.10: “Quão belo é o pescoço daqueles
que carregam o jugo dos teus estatutos; pois, sobre eles, ele será como o jugo no pes
coço do boi que ara o campo e proporciona alimento para si e para o seu senhor”.
O culto público da sinagoga antiga começava com uma bênção, seguida de um Shema
(Ouve, ó Israel) ou credo, composto de três passagens das Escrituras: D t 6.4-9; 11.13-
21; Nm 15.37-41. Dizia-se que a primeira passagem (Dt 6.4-9) antecedia D t 11.13-21
para que nós pudéssemos tomar sobre nós mesmos o jugo do reino dos céus e, so
mente depois disso, tomar o jugo dos mandamentos. As palavras do Salvador devem
ter tido um significado especial àqueles que se lembravam desta lição; e, agora, eles
passariam a compreender como, pela chegada do Salvador, eles tomariam sobre si, pri
meiramente, o jugo do reino dos céus e, depois, o jugo dos mandamentos, e sentiríam
como este jugo era suave e o fardo leve54.
56
M ateus - C ap. 11
Aquele que se apega firmemente àquela Lei (de Deus) e a segue com toda humildade e
ordem seria feliz; mas aquele que é altivo no seu orgulho, ou no dinheiro, ou em honra,
ou em beleza, que tem a alma ardendo em insensatez, na juventude, na insolência, e
pensa não ter necessidade de um guia ou regente, mas considera-se capaz de guiar a si
mesmo e a outros, este, declaro-vos, será abandonado por Deus55.
De acordo com Aristóteles: “Aquele que se mostra digno nas pequenas coisas,
e assim também se considera, é sábio”56. Na melhor das hipóteses, contudo, o
conceito clássico é somente de modéstia ou ausência de presunção. Assim, ταπεινός
é um elemento da sabedoria e, de forma alguma se opõe à justiça própria [vide
a citação acima de Aristóteles). O termo ταπεινοφροσύνη, que designa a virtude
cristã da humildade, não era utilizado antes da era cristã. O emprego como conhe
cemos no Cristianismo é um resultado do Evangelho. Esta virtude está baseada
em uma percepção correta da nossa real pequenez e ligada a um sentimento de
pecaminosidade. A grandeza real é a santidade. Somos pequenos, porque somos
pecadores. Compare com Lc 8.14. Pergunta-se como, nesta perspectiva, o vocá
bulo pôde ser aplicado a si mesmo pelo nosso Senhor que jamais pecou? Segundo
o arcebispo Trench:
A resposta é, que para o pecador, a humildade envolve a confissão dos pecados, visto
que abrange a confissão da sua real condição; ao passo que, para a criatura não deca
ída, a própria graça, na sua existência real, inclui o reconhecimento, não da pecami
nosidade, o que não seria algo verdadeiro, mas da sua condição de criatura, da absoluta
dependência, de nada possuir, mas de todas as coisas receber da parte de Deus. E,
destarte, a graça da humildade pertence ao mais elevado dentre os anjos que se coloca
diante do trono, por ser, diante do próprio Senhor da Glória, nada mais do que uma
criatura. Na sua natureza humana, ele precisaria ser o modelo de toda humildade, de
toda a dependência inerente às criaturas; e somente como homem que Cristo, dessa
forma, reivindica ser humilde-, a sua vida humana foi um constante desfrutar da pleni
tude do amor do Pai; como homem, Ele sempre assumiu o lugar que convinha a uma
criatura na presença do seu Criador57.
A virtude cristã não diz respeito somente à relação do homem com Deus,
mas também à relação dos homens entre si. Mas por humildade-, cada um considere
os outros superiores a si mesmo (Fp 2.3). Só que isto se opõe ao conceito grego de
justiça ou retidão, que era simplesmente, “a sua própria justiça sobre todos os de
mais”. E notório que nem a lxx nem os Apócrifos, tampouco o Novo Testamento,
reconhecem o ignóbil sentido clássico da palavra.
30. Suave (χρηστός). Esta tradução não é satisfatória. A teb traduz: fácil de car
regar. O jugo de Cristo não é suave, no sentido comum da palavra. O termo origi
nalmente significa bom, proveitoso. O substantivo correlato χρηστότης, que ocorre
somente nos escritos paulinos, é traduzido como benignidadeem 2Co 6.6; T t 3.4;
G1 5.22; Ef 2.7 e Rm 2.4. Em Lc 5.39, χρηστότης é utilizado para descrever o
vinho velho, onde a leitura correta, em vez de melhor é bom (χρηστός), sazonado
pelo passar do tempo. Platão aplica o vocábulo à educação:
A boa criação e a tea educação (τροφή γάρ καί παί&υσις χρηστή) implantam boas (αγαθός)
constituições; e estas boas (χρησταί) constituições geram melhorias cada vez maiores”*'.
Capítulo 12
58
M ateus - C ap . 12
Em qualquer outro dia aquilo não seria ilícito, mas no sábado envolvia, segundo os
estatutos rabínicos, pelo menos dois pecados, a saber: o arrancar das espigas, o que
representava a sua colheita e a limpeza delas pelas mãos de quem as colhia (Lc 6.1), o
que era o mesmo que o joeiramento, a moagem e o assopramento das palhas. O Tal-
mude afirma: “Caso uma mulher moa o trigo para remover as suas cascas, isto será
considerado joeiramento; se ela limpar os ramos de trigo, isto será considerado como
debulha; se ela retirar as aderências laterais, será o mesmo que peneirar o fruto; se
ela esmagar as espigas, será o mesmo que a moagem; se ela jogá-los para cima, na sua
própria mão, será um peneiramento’’80.
20. Morrão. No hebraico, literalmente lemos: nem a pagará o p a v io q u efu m ega (Is
42.3). A citação termina no final do terceiro versículo da profecia, entretanto,
o versículo seguinte é belamente sugestivo na descrição do Servo de Jeová, por
intermédio das mesmas imagens que ele retrata os seus servos sofredores —um
p a v io e um caniço. "Ele não arderá sem vigor, nem será esmagado o seu espírito”.
Ele mesmo, compartilhando da natureza da nossa frágil humanidade, é tanto
lâmpada, quanto caniço, humilde, mas inquebrável, e a “luz do mundo”. Compare
com a bela passagem de Dante, na qual Cato instrui Virgílio a lavar as manchas
do mundo inferior que ficaram no rosto de Dante, a fim de prepará-lo para subir
o monte Purgatório, ao cingir-lhe com um junco, o emblema da humildade:
59
M ateus - C a p. 12
26. Está dividido (έμφίσθη). Literalmente: ele estava dividido. Se ele está expul
sando a si mesmo, deve ter havido uma divisão prévia.
28. É chegado a vós (£φθασεν 4φ’ υμάς). O verbo é utilizado no sentido simples
de chegar a (2Co 10. 14; Fp 3. 16), e, por vezes, preceder (1Ts 4.15). Nesta perícope,
com uma sugestão do segundo sentido, o qual também é transmitido pela k j n t a :
chegado... sobre. Ele chegou sobre vós antes que por eles esperásseis.
29. Do homem valente (τού Ισχυρού). Observe a força do artigo, o homem valente.
Cristo não está fazendo uma ilustração geral, mas apontando para um inimigo espe
cífico - Satanás. Como poderei espoliar Satanás sem primeiro tê-lo conquistado?
82. O Espírito Santo (τού πλύματος τού άγιου). Ο Espírito - ο Santo. Estes ter
mos definem mais claramente a blasfimia contra o Espírito, versículo 31.
35. T ira (έκβάλλει). Porém esta tradução é fraca. O termo significa lançar ou
arremessar. As coisas boas ou ruins saem do tesouro do coração (v. 34). “Do que há
em abundância no coração, disso fala a boca”. As coisas do coração são lançadas
fora, como se sofressem pressão do excesso de coisas nele contido.
60
M a t e u s - C ap. 13
36. Ociosa (άργόυ). Uma boa tradução. A palavra é composta de ά, não, e ’έργου,
trabalho. Um vocábulo ocioso que não se presta a nenhum trabalho, um termo im
produtivo, inoperante. Ele não tem nenhuma função e propósito, muito menos ser
ventia, mas é moralmente inútil e in aproveitável.
40. A baleia (τοϋ κήτους). Um termo geral para designar os monstros marinhos.
A TB, n v i , ara e n tlh preferem a tradução grande peixe, a bj, bp e teb traduzem
por monstro marinho-, a ecp, por peixe.
49. Discípulos (μαθητάς). Não somente os apóstolos, mas todos que o seguiam na
posição de aprendizes.
Capítulo 13
2. Praia (αίγιαλόν). Na ecp consta: à margem. O lugar sobre o qual o mar (αλς) se
precipita (άΐσσει). Vocábulo correspondente à costa, ακτή, como sendo o lugar sobre
o qual o mar se quebra (άγνυμι), jamais é utilizado no texto do Novo Testamento.
mundo natural, quanto no Reino de Deus. As grandes forças nos dois reinos são
germinais, encapsuladas em pequenas sementes que irrompem a partir do seu
interior por meio de um poder de crescimento inerente.
5. Uma parábola também é um exemplo ou uma tipificação·, proporcionando um
modelo ou uma advertência-, como é o caso do Bom Samaritano, do Rico Insensato,
da parábola do Fariseu e do Publicano. O elemento de comparação se interpõe
aqui entre os incidentes específicos imaginados ou relatados e todos os casos de
natureza semelhante.
O termo parábola, todavia, conforme a aplicação encontrada na fraseologia
cristã costumeira é limitado às declarações de Cristo que são marcadas por his
tórias ou narrativas completamente figurativas. A palavra é assim definida por
Goebel:
Uma narrativa centrada na esfera da vida humana ou física, que não tem a intenção
de apresentar um acontecimento real, mas expressamente idealizada com o propósito
de representar, por meio de imagens figuradas, verdades que pertencem à esfera da
religião e, logo, referem-se à relação do homem, ou da humanidade, com Deus83.
A parábola difere da alegoria pelo fato de nesta última haver uma “interpre
tação do objeto simbolizado e do objeto simbolizador; de forma que as qua
lidades e propriedades do primeiro são atribuídas ao segundo”, e por haver
63
M ateus - C a p. 13
Segundo as autoridades, dentre os judeus havia uma dupla semeadura, pois a semente
era lançada ou pelas mãos, ou por meio de animais. No segundo caso, um saco com
furos era cheio de cereais e colocado no lombo do animal, de forma que, com o seu
movimento para frente, as sementes eram grosseiramente espalhadas66.
11. M istérios (μυστήρια). Derivado de μύω, fechado. No grego clássico, este vo
cábulo é aplicado a certas celebrações religiosas às quais as pessoas somente
eram admitidas mediante uma iniciação formal, e cujo caráter exato é desco
nhecido. Algumas pessoas supõem que nestas celebrações se fazia a revelação
de segredos religiosos; outras pensam se tratar de doutrinas político-religiosas
secretas; outras, por sua vez, pensam ser representações cênicas de lendas míti
cas. Neste último sentido, o termo foi utilizado na Idade Média nas encenações
dos milagres - que eram peças de teatro que representavam, de forma grosseira,
cenas das Escrituras, bem como de evangelhos apócrifos. Estas peças continuam
sendo encenadas pelos habitantes das montanhas no País Basco70.
Um mistério não denota algo que não p o ssa ser conhecido, mas algo que foi
retirado do conhecimento ou da manifestação, e que não pode ser conhecido
sem a sua manifestação especial. Por conseguinte, o termo era apropriado
às coisas do reino dos céus, as quais somente poderiam ser conhecidas por
Ouviu de mau grado (τοΐς ώσΐυ βαρέως ήκουσαν). Literalmente: Eles ouviram
pesadamente com os seus ouvidos.
19. Ouvindo alguém. Esta tradução ficaria ainda mais representativa caso fosse
preservada a força contínua do tempo presente, como a apresentação de uma ação
em andamento, e a simultaneidade da obra de Satanás com a do instrutor evan
gélico. “Enquanto alguém está ouvindo, o maligno está vindo e arrebatando, assim
como as aves não esperam que o semeador saia do seu caminho, mas entram em
ação enquanto este ainda trabalha”.
66
M ateu s - C ap. 13
E (δέ). Bem traduzido, pois a oração seguinte não apresenta um motivo para
pouca duração acima mencionada, porém acrescenta algo mais à descrição do
ouvinte.
24. Propôs-lhes (παρέθηκεν). Esta tradução seria mais adequada para o vocábulo
προβάλλω, do qual deriva πρόβλημα, problem a, ao passo que a palavra aqui utiliza
da significa mais colocar dian te de ou oferecer. É um termo normalmente utilizado
nas refeições, servir alguém. Por isso, melhor segundo nos apresenta a rv : colocou
d ian te deles. Vide Lc 9.16.
25. Semeou (έπέσπειρεν). A preposição έπί, sobre, indica que a semeadura foi
feita em cima de a lg o q u e havia sido semeado anteriormente. Na rv consta: semeou
também.
47. Rede (σαγήνη). Vide Mt 4.18. Somente aqui no texto do Novo Testamento.
Uma longa rede de arrasto, cujas extremidades são espalhadas e depois juntadas.
Pela transcrição deste termo ao latim, sagena, chegamos à palavra rede de arrasto.
Pelo fato de esta rede fazer uma grande área de varredura, os gregos formaram um
verbo a partir da palavra: σαγηνεύω, rodear ou apan h ar com rede d e arrasto. Assim,
Heródoto afirma: “Os persas enredaram Samos”77. E, novamente:
68
M ateus - C ap. 14
Que (όστις). O pronome marca o pai de família como sendo uma pessoa per
tencente a uma classe que apresenta as características desta: um pai de família
- uma daquelas pessoas que tiram.
T ira (έκβαλλε t). Literalmente: lançafora. Vide Mt 12.35. Indicando o seu zelo
na comunicação da instrução e &plenitude de onde a sua mensagem se origina.
Capítulo 14
69
M a t e u s - C ap. 14
M as quando
Chega o dia de Herodes, sobre a chapa ardente
As lâmpadas alinhadas, enfeitadas com violetas, derram am
A ungida nuvem, enquanto a g rossa cauda de atum
Esparram ada sobre o prato verm elho ainda pulula, e os jarro s brancos
Quase explodem de tão cheios de vinho81.
70
M ateus - C ap . 14
traduz, de forma acertada, sendo colocada adiante. Compare com At 19.33, onde o
significado correto é: eles empurraram Alexandre parafrente, retirando-lhe da multi
dão e não puxaram parafora como mostra a a r c . A tradução correta livra Salomé,
ligeiramente, da acusação de requintada crueldade, e lança a culpa totalmente
sobre Herodias. A n t l h diz, Seguindo o conselho de sua mãe.
Aqui (ώδε). Ela exigiu que o seu pedido fosse atendido naquele lugar, antes
que Herodes tivesse tempo de refletir e abrandar os ânimos; principalmente,
porque estava cônscia do respeito que ele tinha por João (cp. a expressão afligiu-
se, v. 9). As circunstâncias parecem apontar para o próprio Macaero como sendo
o cenário do banquete; isto explicaria como o ato foi tão rápido e a cabeça do
Batista entregue enquanto a festa estava, ainda, em andamento.
traz, bandeja.
9. Por causa do juram ento (διά τούς όρκους). Contudo, o termo juramento está
no plural, e a t b traduz corretamente como: por causa dos seusjuramentos. Está
implícito que Herodes, na sua fúria demente, havia confirmado a sua promessa
com repetidos juramentos.
11. À jovem (τώ κορασίω). Diminutivo, uma senhorita ou donzela. Lutero traduz
como mãgdlein, pequena criada.
13. A pé (πεζή). Na t b consta:por term, seguindo a margem, que é mais apropriado; pois o
contraste é feito entre o deslocamento de Jesus num barco e o da multidão por terra
15. D eserto (έρημός). No grego, este vocábulo aparece em primeiro lugar, o que
lhe confere ênfase. O pensamento predominante nos discípulos é a distância dos
locais de abastecimento de alimentos. O sentido básico da palavra é solitário·, da
qual se desenvolve a ideia de vazio, desolado, estéril.
Os dois sentidos podem ser, satisfatoriamente, incluídos neste caso. Observe
os dois pontos de ênfase. Os discípulos dizem: Estéril é o lugar. Cristo responde:
Nenhuma necessidade tem eles de partir.
16. Dai-lhes (δότε). Os discípulos haviam dito: “despede a multidão, para que
vão pelas aldeias e comprem comida por si mesma’. Cristo responde: Dai-lhes vós.
19. Partindo. Como os pães dos judeus eram bolos finos, com a grossura de um
polegar, era mais fácil quebrá-los do que cortá-los.
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M ateus - C ap . 14
Quem podería duvidar que o cesto da narrativa do Evangelho era do formato aqui
representado, e que a denominação deste cesto foi preservada exclusivamente em uma
colônia grega, onde os judeus (que, outrora, carregavam o cophinus como um equipa
mento individual) antigamente viviam em grande número?83
22. Ordenou. Implicando uma relutância dos discípulos em deixá-lo para trás.
29. Para ir te r com (έλθ^ίν προς). Contudo, alguns dos melhores textos apre
sentam και ήλθεν προς, e seguiu adiante.
30. Teve medo. “Apesar de”, nas palavras de Bengel, “ser um pescador e bom
nadador” (João 21.7).
36. Ficavam sãos (διεσώθησαν). A preposição διά, através de ou por completo, in
dica uma restauração total.
72
M ateus - C a p. 15
Capítulo 15
8. Também (καί). O significado deste pequenino vocábulo não deve ser despre
zado. Cristo admite que os discípulos haviam transgredido uma prescrição hum a
na, mas acrescenta: “Vós também transgredis de forma ainda maior”. Bengel diz:
“Se os meus discípulos transgridem ou não, vós sois os maiores transgressores”.
Uma questão é adequada à outra, seguindo o mesmo estilo. Lutero declarou:
“Ele coloca uma cunha exatamente na ponta da outra e, com isso, faz com que a
primeira cunha seja arremessada para fora”.
84?. Vide nota sobre Mc 7.S, em Edersheim, Ufe and Times o f Jesus.
73
M a t e u s - C ap. 15
7. Bem(καλώς). Admiravelmente.
8. Está longe (απέχει). Literalmente: mantém distância de mim.
22. Daquelas cercanias (άιτό των ορίων εκείνων). Em sentido literal: daqueles
limites-, isto ê, ela havia atravessado da Fenícia para a Galileia.
74
M ateus - C ap. 16
23. Despede-a. Depois de atender ao seu pedido; como Bengel afirma, de forma
extraordinária: “Pois era assim que Cristo costumava despedir as pessoas que
vinha a Ele”.
26. Dos filhos (τών τέκνων). Bengel observa que, apesar de Cristo falar aspe
ramente aos judeus, Ele falava deles de forma honorável aos de fora. Compare
com Jo 4.22.
27. Seus senhores. Os filhos são os senhores dos cachorrinhos. Compare com
Mc 7.28: “as migalhas dos filhos”.
32. Não quero (ού θέλω). Tradução literal. No grego, a ordem é: e despedi-la em
jejum eu não estou querendo. Eu não desejaria, é uma tradução melhor.
35. No chão (éiri την γην). Compare com Mc 8.6. Na ocasião da provisão para os
cinco mil, a multidão se assentou sobre a erva (èirl του χόρτου), Mt 14.19. Naquela
ocasião, era o mês das flores. Compare com Mc 6.39, a erva verde, e Jo 6.10, muita
relva. Na ocasião citada por este versículo, ocorrida várias semanas depois, a erva já
fora incinerada, de forma que a multidão se assentava mesmo sobre o chão.
C a pítu lo 16
2. Bom tempo (eóôía). Coloquial. Ao olhar para o céu vespertino, um homem diz
ao seu companheiro: “Bom tempo”, e pela manhã (v. 3): “Hoje haverá tempestade”
(oqpepov χβι,μών).
75
M a t e u s - C ap . 16
9-10. Observe o uso preciso das duas palavras que descrevem um cesto (cf. nota
sobre 14.20).
Sobre esta pedra (έττ'ι ταυτη τη πέτρα:). A palavra é feminina, e significa uma
rocha, em distinção de uma pedra ou pedregulho (πέτρος, discutido anteriormente).
Utilizada para descrever uma saliência de rochas ou pico rochoso. Em Homero, a
rocha (πέτρην) que Polífemo coloca na entrada da sua caverna, é de volume tão
grande que nem vinte e dois carros puxados a cavalo foram capazes de removê-
la88; e a rocha que ele arremessou ao navios de Ulisses em retirada, com a sua
queda, criou uma onda no mar que trouxe os navios de volta à terra89. O vocábulo
não se refere a Cristo como uma rocha, distintamente de Simão, uma pedra, nem à
confissão de Pedro, mas ao próprio Pedro, em um sentido definido pela sua con
fissão prévia, e como uma pessoa iluminada pelo “Pai do Céu”.
A referência a πέτρα a Cristo é forçada e artificial. A referência óbvia da pala
vra é a Pedro. O pronome demonstrativo esta refere-se, naturalmente, ao termo
anterior mais próximo; e, além disso, a metáfora perde a sua força, já que Cristo
aparece aqui, não como o fundamento, mas como o arquiteto: “Sobre esta rocha
edificarei”. Como já vimos, Cristo é o grande fundamento, a “principal pedra da
esquina”, mas os escritores do Novo Testamento não reconhecem qualquer im-
propriedade na aplicação de certos termos que são aplicados a Cristo também aos
membros de sua Igreja. Por exemplo, o próprio Pedro (lPe 2.4·), chama Cristo
de pedra viva, e, no versículo 5, dirige-se à Igreja como sendo as pedras vivas. Em
Ap 21.14, os nomes dos doze apóstolos aparecem nas doze pedras que servem
de fundamento para a cidade celestial; e em Ef 2.20, lemos: “edificados sobre o
fundamento dos apóstolos e dos profetas (isto é, queforam lançados pelos apóstolos
e profetas), de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina”.
Igualmente insustentável é a explicação que atribui πέτρα à confissão de Si-
mão. Tanto o jogo de palavras, quanto a leitura natural da passagem se mostram
contrários a este ponto de vista e, além disso, ela não se conforma ao fato, já que
a Igreja é edificada, não sobre confissões, mas sobre confessores —homens viventes.
Edersheim declara:
era uma condição temporária. Por isso, os patriarcas são descritos (Hb 11.16) como
pessoas que estão em busca de uma terra melhor, uma terra celestial; e os márti
res, como pessoas que perseveram na esperança de “uma melhor ressurreição”. A
profecia declarava que os mortos deveríam ressuscitar e cantar, quando o próprio
Sheol deveria ser destruído, e os seus habitantes, libertos: alguns para a vida eterna
e outros para a vergonha e opróbrio (Is 26.19; Os 13.14; Dn 12.2). Paulo apresenta
esta promessa, como feita por Deus aos pais e como a esperança de seus compa
triotas (At 26.7). Deus era tanto o Deus dos mortos, quanto dos vivos; presente
nas câmaras sombrias do Sheol e no céu (SI 139.8; 16.10). Esta é a ideia por trás
da declaração mais marcante e patética de Jó (14.13-15), na qual ele expressa o
desejo de que Deus o esconda amorosamente no Hades, um lugar de ocultação
temporária, onde ele aguardará pacientemente, posicionado como uma sentinela
no seu posto, o comando da voz divina que o chamará para uma vida nova e mais
feliz. Esta também é o conceito de uma passagem familiar, mas que gera muita
controvérsia: Jó 19.23-27. O seu redentor, justiceiro, vingador, levantar-se-á depois
dele ter atravessado o reino sombrio do Sheol.
79
M ateus - C ap. 16
e v id e n t e m e n t e r e p r e s e n t a m a s v is õ e s p r e d o m in a n te s n a q u e la é p o c a e n tr e o s
ju d e u s . S e g u n d o e le s , o J a r d im d o É d e n e a A r v o r e d a V id a e r a m a m o r a d a d o s
b e m -a v e n tu r a d o s . Q..j] L e m o s q u e o s j u s t o s n o É d e n o b s e r v a m o s ím p io s n o
G e e n a e s e a le g r a m ; e, d e m a n e ir a s e m e lh a n te , o s ím p io s n o G e e n a o b s e r v a m o s
j u s t o s b e a tific a d o s a s s e n t a d o s n o É d e n , e n q u a n to a s su a s a lm a s s ã o a to r m e n
ta d a s 93.
E sta autoridade leg isla tiv a conferida a P edro só p o d e ser revestid a d e um asp ecto ofen
sivo q u an d o for con ceb id a c o m o d eten to ra d e um caráter arbitrário e, de form a algum a,
for d eterm in ad a p elas in flu ên cias éticas d o E sp írito Santo, além d e ser con sid erad a de
um a n atu reza ab soluta, in d ep en d en te d e qualquer co n e x ã o com o s dem ais ap óstolos.
C o m o o p od er d e ligar e desligar, que é aqui con ferid o a Pedro, é atribuído (M t 18.18)
aos a p ó sto lo s em g era l, o p od er con ferid o ao p rim eiro é co rreta m en te com preendido, e
v is to n ecessariam en te c o m o um p o d er d e n atu reza colegiad a, d e form a q u e P edro não
d ev e ser con sid erad o c o m o o ú n ico a p ó sto lo a ser d ota d o c o m ele, n o to d o o u em parte,
m as, sim p lesm en te, d eve ser con sid erad o c o m o o p rim eiro d en tre o u tro s iguais.
21. Desde então, começou (οπτό τότε ήρξατο). Até então, Ele ainda não lhes
havia revelado estes detalhes.
Padecer. Este primeiro anúncio menciona a sua paixão e a sua morte, num
sentido geral; o segundo ( 1 7 .2 2 - 2 3 ) , acrescenta a sua traição e a sua entrega nas
mãos de pecadores; o terceiro (20.17-19), por fim, expressa os açoites e a cruz.
Começou. Pois Jesus não tolerou que ele continuasse com aquilo.
95. Vide nota sobre Jo 20.23, em E dersheim , Life and Times of Jesus.
81
M a t e u s - C a p . 17
T u n ã o é m a is, c o m o a n te s , u m a p e d r a n o b r e , c o lo c a d a n o lu g a r c e r to c o m o u m a
p e d r a m a c iç a d e fu n d a m e n to . M a s, a o c o n tr á r io , a g o r a é s c o m o u m a p e d r a d e s lo
c a d a d o se u lu g a r a p ro p ria d o , e q u e s e c o lo c o u e x a ta m e n te n o m e io d o c a m in h o
p o r o n d e e u d e v o p a ssa r — t o r n a n d o - s e u m a p e d r a d e tr o p e ç o .
26. Ganhar - perder (κερδήση - (ημιωθή). Observe que as duas palavras estão
no tempo pretérito (aoristo): “se ele puder ter ganhado ou perdido . O Senhor re
passa os detalhes de cada vida como fatores da soma final de ganhos ou perdas.
O verbo na voz ativa significa causar perda ou dano. Normalmente, nos clássicos,
refere-se a multas que devem ser pagas com uma quantia em dinheiro (Compare
com 2Co 7 .9 ). Em lugar de perder, a t e b apresenta se o pagar com a.
Alma (ψυχήν). A tb traduz: vida, com alma. Isto será considerado d e maneira
especial na análise dos termos psicológicos das Epístolas.
C a pítu lo 17
82
M a t e u s - C ap. 17
11. Virá. Elias virá primeiro. Uma afirmação sucinta que expressava o fato de
que a vinda de Elias antecedería no tempo a vinda do Messias. Este é um ponto
da cronologia judaica; assim como um professor de história poderia dizer aos
seus alunos: “Os saxões e os dinamarqueses antecedem os normandos na Ingla
terra”. Elias já havia vindo na pessoa de João Batista.
25. Sim (uai). Indicando que Jesus já havia pagado o imposto em ocasiões ante
riores.
C a pítu lo 18
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M ateus - C ap . 18
Quem, enquanto as coisas seguem. Como uma das pessoas do nosso grupo recebeu
dupla honra ao ser chamado de “rocha”, e ser designado para tomar parte em um
milagre especial, quem então é o maior de todos?
4. Como esta criança. Não no sentido de se hum ilhar como esta criança, mas de
fazer-se humilde como esta criança é despretensiosa. Tornar-se voluntariamen
te, por meio de um processo espiritual, o que uma criança é por natureza.
5. Em meu nome (èirl τω όνόματί μου). Literalmente em cim a do meu nome; com
base no, ou p o r consideração do-, p o r causa de mim.
12. Não irá pelos montes, deixando. O texto aqui gera controvérsias. A arc se
gue um texto que apresenta: “Não irá pelos montes, deixando as noventa e nove”.
Porém junte o d e ix a r com os montes, e leia: "Não deixará ele as noventa e nove
sobre (èffl, espalhadas) os montes, e irá...”. Isto também corresponde ao vocábulo
άφήσίΐ, deixar, abandonar ou soltar.
13. E, se, porventura (4àv γένηται). Caso isto viesse a ocorrer. A graça de Deus
não é irresistível.
14. Vontade de vosso Pai (θέλημα έμπροσθβζ του πατρός υμών). Embora al
guns leiam meu Pai (μου). Literalmente: N ã o existe von tade d ia n te d o vosso (meu)
P ai. Assim também wycliffe : N ã o há von tade d ia n te do vosso P a i. Meyer faz uma
paráfrase: N ã o há, dia n te d a fa c e de D eus, qualquer determ inação que tenha p o r objeto
um destes etc.
15. Vai (wraye). Não espere que ele venha até você.
16. Pela boca (êitl στόματος). Mais adequadamente traduzido pela bj: pela pala
vra de. A kjnta traz: para que pelo depoimento de.
20. Em meu nome (elç το έμον όνομα). Literalmente “dentro do meu nome”.
Quando duas ou três pessoas são, juntamente, atraídas para dentro (εις) de Cristo
como o centro comum do seu desejo e da sua fé.
lu gar principal.
97. N ão se sabe ao certo se isto significa quatrocentos e noventa vezes, ou setenta e sete vezes.
O s defensores deste ú ltim o num eral alegam que a expressão é derivada da lx x , G ên esis 4 .2 4 .
A utoridades, entretanto, não concordam com a tradução feita do hebraico naquela passagem .
M eyer afirma que ela, p ossivelm ente, não pode significar nada diferente de “setenta e sete”,
ao passo que Bunsen traduz com o “sete vezes seten ta”, e G rotius nos apresenta septuagies et
id ipsum septies, “setenta vezes e aquelas sete vezes mais". E ste ponto, no entanto, não é assim
tão im portante, pois, com o coloca o Dr. M orison: “D esd e que o espírito da resposta do n osso
Salvador seja m antido, as duas form as de enum eração estarão corretas”.
87
M ateus - C ap. 18
Fazer contas com os seus servos (συνάραι λόγον petà των δούλων αύτού).
O verbo συνάραι é composto por σύν, com, e αίρω, levantar, e significa fazer um
levantamento em conjunto, isto é, ajustar as contas. A t b , mais adequadamente, tra
duz como ajustar contas com os seus servos.
24. Que lhe devia (οφειλέτης). Literalmente, um devedor de dez mil talentos.
25. Que fossem vendidos. De acordo com a Lei de Moisés: Ê x 22.3; Lv 25.39-47.
28. Encontrou. Ou saiu à procura dele, já que ele mesmo havia sido procurado
pelo seu Senhor, ou chegou acidentalmente até ele na rua.
88
M ateus - C ap. 19
29. Rogava-lhe (παρεκάλει). O imperfeito reforça a ideia de que ele rogou fervo
rosamente.
30. Foi (άπ^λθών). Literalmente foi-se para longe-, arrastando o outro consigo
para o tribunal.
Seu senhor (τω κυρίω έαυτών). Literalmente, “seu próprio Senhor”; como
convinha à sua posição e como marca da sua confiança nele.
34. Aos atorm entadores (βασανισταις). Tito Lívio descreve um velho cen-
turião se queixando de ter sido levado pelo seu credor, não à escravidão, mas
para uma casa de correção e tortura, e que mostra as suas costas marcadas por
ferimentos recentes100.
C a pítu lo 19
Serão... numa só carne (eoovtai eu; σάρκα μίαν). Literalmente, “em uma carne”.
6. O que (δ). Não aqueles que. Cristo não tem em mente os indivíduos, mas a
unidade consolidada por Deus. O tempo aoristo (que denota a ocorrência de um
acontecimento há certa distância no passado, considerada como um ato momen
tâneo) parece remeter à ordem original de Deus na criação (v. 4).
9. Não sendo por causa de prostituição (μή επί πορνεία). Literalmente, não
em conta defornicação.
10. A condição (αίτια). Não a relação do homem com a sua esposa, nem as cir
cunstâncias, o estado da condição. Αιτία se refere à causa (v. 3), e o significado é,
se a questão permanece assim com referência à causa que o homem deve ter para
repudiar a esposa.
17. Por que me chamas bom? (τί με λέγεις αγαθόν;). Porém, a leitura correta
é, τί με έρωτας περί τοΰ άγαθοΰ; Porque me perguntas acerca do bom?
24. Camelo pelo fundo de uma agulha (κάμηλον διά τρυπήματος ραφίδος) (cf. Mc
10.25; Lc 18.25). Compare com o provérbio judeu o qual dizia que "nem em sonho
um homem conseguiría ver um elefante passar pelo furo de uma agulha”. A razão
que levou o camelo a ser substituído pelo elefante era porque este provérbio pro
vinha do Talmude babilônico, e em Babilônia o elefante era um animal comum, ao
90
M ateus - Cap. 20
26. Isso (τοΰτο). Não a salvação do homem rico, mas a salvação em geral. Trata-
se de uma resposta à pergunta: Quempoderá, pois, salvar-se? O homem não é capaz
de salvar nem a si mesmo, tampouco ao seu próximo. Somente Deus pode salvá-
lo.
Vos assentareis (καθίση). Ou terão tomado o seu assento, o que traz à tona, de
forma mais viva, a solene instauração do juízo de Cristo.
29. Todo aquele (πας). Compare com 2Tm 4.8: “mas também a todos os que
amarem a sua vinda”. De acordo com Bengel: “Não somente os apóstolos, tam
pouco Pedro deveria ter perguntado somente acerca deles”. A promessa, até en
tão restrita aos apóstolos, agora, torna-se geral.
C a pítu lo 20
A qui (em H am adan, no Irã), o b serv a m o s tod as as m anhãs, a n tes de o s o l nascer, que
um g r a n d e n ú m ero de c a m p o n eses se reunia, co m as suas pás, aguard an d o a co n tra
tação para um dia d e trab alh o n o s cam p os d o s arredores. E ste c o stu m e m e ch am ou a
91
M ateus - C ap. 20
aten ção c o m o a m ais feliz ilu stra çã o da parábola do n o s s o Salvador, esp ecific a m en te
quando, ao p a ssa r p elo m e sm o lu g a r a lg u m a s h oras dep ois, en co n tra m o s o u tro s cam
p o n e se s ali o c io s o s e n os lem b ram os d as su as palavras: “P or q u e esta is o c io so s to d o o
dia?”, co m o se n d o as m ais adequadas para aquela situação; pois, ao fazerm os e sta m e s
m a p erg u n ta para aq u ele g r u p o de h o m en s, e le s n o s responderam : “P orq u e n in g u ém
ainda n os co n tra to u ”101.
10. Um dinheiro cada um (το άνά δηνάριον). Literalmente, em cada caso o m on
tante correspondente a um dinheiro·, ou um dinheiro p o r peça. O vocábulo άνά é distri
butive. A TB traz: um denário cada um.
14. Toma (άρον). Literalmente, levanta, como se o dinheiro tivesse sido deposi
tado para ele sobre uma mesa ou balcão.
92
M ateus - C ap . 21
21. Dize (euiè). Literalmente, fala-, isto é, com autoridade. Compare com a ex
pressão “manda que estas pedras”, Mt 4.3; “praticai tudo o que vos disserem”, Mt
23.3. A TB lê: Manda.
26. Quiser... fazer-se grande (θέλη eivai). Vide nota sobre o versículo 14.
30. Que Jesus passava (δτι Ιησούς παράγει). O vocábulo δτι é equivalente às
aspas de uma declaração. Eles ouviram a multidão gritar: Jesus está passando!
C a pítu lo 21
2. Um jum entinho com ela. O Senhor não separou o jumentinho da sua mãe.
93
M a t e u s - C a p . 21
Na lxx , o vocábulo é utilizado por Sara para se dirigir ao seu marido (Gn
18.12; cp. lPe 3.6). José é chamado de senhor da terra (Gn 42.33), além de ser
tratado pelos seus irmãos como meu senhor (42.10). Este vocábulo também é apli
cado a Deus (Gn 18.27; Êx 4.10). No texto do Novo Testamento, ele é um dos
nomes de Deus (Mt 1.20,22,24; 2.15; At 11.16; 12.11,17; Ap 1.8). Na sua apli
cação a Cristo, não expressa a sua natureza e poder divinos. Estes atributos são
indicados por alguma palavra ou expressão adjacente, como meu Deus (Jo 20.28);
de todos (At 10.36); para a glória de Deus Pai (Fp 2.11); da glória (1 Co 2.8); de for
ma que, como título de Cristo, Senhor é utilizado no sentido de Mestre ou Regente,
ou mesmo como um forma respeitosa de tratamento (Mt 22.43-45; Lc 2.11; 6.46;
Jo 13.13-14; lCo 8.6). A expressão ό κύριος, o Senhor, é utilizada por Mateus
para se referir a Cristo somente uma vez (21.3), antes da ressurreição (28.6). Nos
outros Evangelhos e no livro de Atos, ela ocorre com frequência muito maior.
Contudo, no curso do pensamento cristão dentro do Novo Testamento, o signi
ficado evolui em direção a uma designação específica do divino Salvador, como
pode ser visto nas expressões Jesus Cristo nosso Senhor, Nosso Senhor Jesus Cristo,
Nosso Senhor, Jesus nosso Senhor.
A variação dos tempos verbais não é visível na a r c . Estendia as suas vestes está
no tempo aoristo, denotando um ato definido; cortavam e espalhavampelo caminho,
no tempo imperfeito, denotando ação contínua. Conforme Jesus avançava, eles
continuavam cortando os ramos e espalhando-os pelo caminho, enquanto a multi
dão continuava clamando.
9. Hosana. Ó, salva!
10. Se alvoroçou (èoe ίσθη). A cidade ficou abalada, como que por um terremoto.
Na rv, consta: tumultuou-se. Como Morison observa, acertadamente: “um senti
mento profundamente avassalador”.
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M ateus - C ap. 21
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M ateus - C ap. 21
Construiu nela um lagar (ώρυξεν ληνόν). Em Is 5.1-2, passagem que esta pa
rábola prontamente evoca, a palavra traduzida pela lxx como cavar, e aqui como
construir, é cortar, lavrar, isto é, a partir de uma rocha sólida. Thomson afirma:
Uma torre (πύργον). Para vigias. Stanley descreve as ruínas das vinhas na
Judeia como sendo lugares cercados por pedras soltas, com uma torre quadrada e
cinza em cada um dos cantos105. Alusões a estes locais de vigilância, temporários
ou permanentes, são frequentes nas Sagradas Escrituras. Assim, temos a “cabana
na vinha” (Is 1.8). Cheyne, sobre Isaías, diz: “A terra se movia de um lado para
o outro como rede de descanso" (arc : choça), uma rede de descanso abandonada
por um vigia de vinha balançava de um lado para o outro por causa de uma
tempestade (Is 24.20). Jó também fala de uma cabana construída por um vigia
(27.18), uma choupana feita de varas e erguida com baraços, erigida somente
para o tempo da colheita do campo ou da vinha, para que o vigia, que estendia a
sua cama simples sobre a sua plataforma alta, montasse guarda contra ladrões
e animais. Sobre a Espanha, onde, especialmente na parte sul, os orientais dei
xaram as suas marcas, não somente na arquitetura, mas também nos métodos
97
M a t e u s - C a p . 21
H avia três m o d o s de lidar co m a terra. N o prim eiro, os trab alh ad ores em p reg a d o s
receb iam c e r ta porção da produção, d igam os, um te r ç o ou um quarto. N o s o u tr o s d o is
m od os, ou o a g r ic u lto r pagava um a lu g u e l em d in h eiro ao p rop rietário, o u e le c o n co r
dava em e n tr e g a r àq u ele um a q u an tid ad e d efin id a da produção, in d e p e n d e n te m e n te
de e sta te r sid o boa ou ruim . E ste s arren d a m en to s eram fe ito s p o r p erío d o v ita líc io
ou anual; às v e z e s, o a rren d am en to c h e g a v a a se r h ered itário, p a ssa n d o d e pai para
filho. D ific ilm e n te p od eriam os d u vid ar d e q u e e s te ú ltim o tip o fo s se o tratado n esta
parábola, já q u e o s arren d atários esta v a m o b rig a d o s a e n tr e g a r a o p rop rietário certa
q u an tid ad e da produção, n o tem p o d e v id o '06.
Compare com o versículo 34, e Mc 12.2: “para que recebesse, dos lavradores,
do fruto da vinha” (από των καρπών).
41. Dará afrontosa m orte aos maus (κακούς κακώς άπολίσα. αύτούς). Há um
jogo com as palavras que se perde na arc e noutras versões brasileiras, com
exceção de umas poucas, como a teb , que, com mestria, traduz: Fará perecer mise
ravelmente esses miseráveis. A ordem das palavras gregas também é notável: Mise
ráveis homens, miseravelmente ele destruirá a eles.
Que (o Ítivcç ). O pronome composto grego marca o caráter dos novos lavradores de
forma mais distinta que o simples “que”; eles são lavradores de tal caráter, ou pertencentes
a tal classe de homens honestos, que certamente pagarão o que lhe era devido.
98
M ateus - C ap. 22
C a pítu lo 22
4. Jan tar (αριστον). Não a principal refeição do dia, mas uma espécie de desjejum
noturno·, um lanche.
Seu campo (ίδιον αγρόν). A rv lê: o seu próprio campo; trazendo à luz o con
traste entre o interesse egoísta e o respeito devido ao seu rei. Compare com 2Cr
30.10.
11. Ver (θεάσασθαι). Na rv, de forma um tanto rebuscada, contemplar, mas a ideia
é correta, à medida que o verbo denota uma observação cuidadosa, um olhar inten
cional, uma inspeção. Vide nota sobre Mt 11.7. A teb traz, observar, a bj, examinar,
e a bv, conhecer.
99
M ateus - Cap . 22
12. Não tendo (μή εχων). É muito difícil transmitir o significado sutil da par
tícula negativa (μή) para quem lê esta expressão no nosso idioma. Uma palavra
diferente para designar o advérbio de negação não (ούκ) é utilizada no versículo
anterior, expressando um fato externo, objetivo que chamou a atenção do rei. O
homem não (ούκ) tinha uma veste nupcial. Quando o rei se dirige ao convidado,
ele não está pensando tanto no sinal exterior de desrespeito, mas principalmen
te na atitude mental do convidado para com as prioridades daquela ocasião. É
como se ele tivesse dito: “O que você tem na cabeça? Onde está o seu respeito
por mim e pelos meus convidados, quando decidiu entrar aqui não (μή) tendo o
traje adequado para esse momento, sabendo o que deveria estar vestindo?” Isto
implica, como observou o Dr. Morison, que o homem estava consciente da sua
omissão quando adentrou o recinto e, logo, era intencionalmente culpado pela
negligência. Esta distinção entre as duas partículas negativas se baseia nas re
gras da língua grega, segundo a qual ού e os seus compostos são colocados onde
algo deve ser negado por ser umfato, e μή e os seus compostos onde algo deve ser
negado por ser um pensamento.
19. Moeda do tributo (νόμισμα του κηνσου). Literalmente: a moeda corrente do tribu
to, o qual não era pago em moeda judia, mas romana. Vide nota sobre 17.25, tributo.
20. Esta efígie e esta inscrição (είκών και επιγραφή). As imagens cunhadas
nas moedas desagradavam os judeus. Por respeito a esta predisposição dos judeus,
nenhum dos Herodes anteriores havia cunhado a sua própria imagem sobre as
moedas. Herodes Agripa I, que assassinou Tiago e prendeu Pedro, foi o introdutor
desta prática. A moeda apresentada a Cristo deve ter sido cunhada em Roma, ou
era uma das moedas emitidas pelo Tetrarca Filipe, que foi o primeiro a introduzir
a imagem de César em moedas com circulação restrita entre os judeus.
34. Fizera emudecer (έφίμωσεν). Existe uma espécie de humor negro no uso
desta palavra: ele havia amordaçado os saduceus. Compare com o versículo 12.
36. Qual é o grande mandamento (ποία εντολή μεγάλη). Tanto a arc, quanto
a t b fogem do ponto desta questão, que é: que tipo de mandamento ê grande na Lei?
Ou seja, de que tipo um mandamento deve ser para ser considerado grande?
E não, que mandamento é o maior quando comparado aos outros? Os escribas
declaravam haver 248 preceitos afirmativos, num número igual aos membros do
corpo humano; e 365 preceitos negativos, num número igual aos dias do ano; to
talizando 613, o número exato de letras contidas no Decálogo. Dentre estes eles
chamavam alguns de leves e outros de pesados. Alguns consideravam que a lei que
tratava das franjas das vestes era a maior; outros que a omissão nos banhos era
tão grave quanto o homicídio; e alguns que o terceiro mandamento era o maior.
Foi diante deste tipo de distinção que o escriba colocou a sua pergunta; não com
o objetivo de arrancar de Jesus uma declaração acerca de qual mandamento era
o maior, mas desejando saber o princípio sobre o qual um mandamento deveria
ser considerado grande.
um segundo.
Capítulo 23
5. Serem vistos (προς το θεαθήναι.). Vide 6.1, onde as mesmas palavras ocorrem.
Os escribas e fariseus comportam-se como pessoas que desejam ser contempladas,
como atores em um teatro; para que os homens possam observá-los com admi
ração.
consistia de uma caixa com quatro compartimentos, cada um contendo uma tira
de manuscrito inscrita com uma destas quatro passagens. Cada uma destas tiras
deveria ser fechada com um pelo bem lavado do rabo de um bezerro; para que
não fosse atingido por algum tipo de fungo ao ser amarrado com lã ou barbante e
ficasse contaminado. O filactério do braço deveria conter somente uma tira, com
as mesmas quatro passagens escritas em quatro colunas de sete linhas cada uma.
As tiras de couro preto com as quais ele era amarrado eram enleadas sete vezes
em torno do braço e três vezes em torno da mão. Eles eram tão reverenciados
pelos rabinos, quanto às próprias Escrituras e, a exemplo destas últimas, tam
bém poderiam ser resgatados das chamas no dia de sábado. Eles imaginavam, de
maneira profana, que o próprio Deus usava os tejüins.
A palavra grega transcrita como fila ctério s nas nossas versões é derivada de
φυλάσσω, v ig ia r ou gu ardar. Ela significa, originalmente, um p o sto vig ia d o , um
fo r te , daí, geralmente, um a salvagu arda ou proteção, um amuleto. J. Cheke traduz
como guardas. Eles eram assim tratados pelos rabinos. Conta-se, por exemplo,
que os cortesãos de certo rei, desejando assassinar certo rabino, foram impedidos
ao fitarem as tiras do seu filactério brilharem como laços de fogo. Também se
contava que os filactérios impediam todos os demônios hostis de causarem mal a
qualquer israelita. Sobre as fra n ja s, v id e nota sobre M t 9.20.
13. Hipócritas (ύποκριταί). Oriundo de ύποκρίνω, sep a ra r gradu alm en te, logo re
ferindo-se à separação d a verdade d e um emaranhado de falsidades. Daí assumindo
o sentido de sujeito a investigação, e, como resultado disso, expor ou in terp reta r o
que é extraído. Depois, responder à investigação, e então responder sobre um palco,
f a l a r em diálogo, atuar. A partir disso a transição é tranquila para usurpar, fin g ir,
in terp retar um papel. O hipócrita é, etimologicamente, um ator.
Hortelã (ηδύοσμου), ήδύς, doce, οσμή, cheiro, aroma. Uma das plantas favoritas no
Oriente, com a qual as paredes das habitações e sinagogas eram, por vezes, cobertas.
24. Coais (διϋλίζοντας). Διά, inteiramente ou através de, e ύλίζω, filtrar ou coar. Os
insetos eram cerimonialmente imundos (Lv 11.20,23,41-42), de tal forma que os
judeus coavam o vinho que bebiam para não correrem o risco de engolir qualquer
coisa impura. Além disso, havia certos insetos que proliferavam no vinho. Aristó
teles utilizava a palavra mosquito (κώνωπα) para se referir a um verme ou larva que
era encontrada em sedimentos de vinho azedo. Segundo Trench:
E m um a cavalgad a d e T a n g ie r até T e tu a n , o b se r v e i q u e um so ld a d o m o u ro q u e m e
acom panhava, ao beber, sem p re d ob rava a e x tr e m id a d e d o seu tu rb an te e o colocava
so b re a boca do seu odre, b eb en d o através da m u sselin a para coar o s m o sq u ito s d o
vin h o, cujas la rv a s fervilh avam na águ a daqu ela r e g iã o 107.
25. Prato (παροψίδος). Παρά, ao lado de, δψον, carne. Um prato de acompanha
mento, com o sentido colateral de uma iguaria-, posteriormente, como é o caso
aqui, o recipiente em si passou a ser distinto da refeição nele servida.
Iniquidade (άκρασίας). Ά, não, κράτος, poder. Por isso, uma conduta que de
monstra a ausência de poder, ou controle, sobre si mesmo: incontinência ou in-
temperança.
27. Sepulcros caiados (τάφοις κακόν ίαμά vo ις). Referindo-se não aos túmu
los lavrados em rocha, que eram utilizados principalmente pelas pessoas
29. Sepulcros dos profetas. Quatro monumentos são denominados por este
título na base do monte das Oliveiras, no vale de Josafá; chamados de sepulcros
de Zacarias, de Absalão, de Josafé e de Tiago. Dois deles são monólitos lavrados
em rocha sólida; os outros são meramente escavações, com portais ornamentais.
Acerca deste assunto Dr. Thompson comenta:
35. Santuário (vetou). Corretamente traduzido pela arc . Vide nota sobre Mt 4.5.
Zacarias foi morto entre a parte principal do Templo e o altar dos holocaustos,
no pátio dos sacerdotes.
104
M ateus - Cap. 24
Capítulo 24
5. Em meu nome (επί τω όνόματί μου). Literalmente, sobre o meu nome, isto é, na
força do; lançando o fundamento das suas alegações em cima do nome do Messias.
tamentário do termo. Compare com Lc 16.15; Ap 17.4-5; 21.27. Ele não indica
uma repugnância física e estética. A referência que ocorre aqui, provavelmente, é
feita à ocupação dos recintos do Templo pelos romanos idólatras sob o comando
de Tito, com os seus estandartes e insígnias. Flávio Josefo afirma que, depois
do incêndio do Templo, os romanos trouxeram as suas insígnias e as colocaram
sobre a porta oriental e ali lhes ofereceram sacrifícios e proclamaram Tito como
o seu imperador.
17. Quem estiver sobre o telhado (ò επί τοΰ δώματος). De telhado a telhado
poderia haver um tipo de ligação regular chamado pelos rabinos de “caminho dos
telhados”. Assim, uma pessoa poderia fugir passando de um telhado para outro
até que, na última casa, descesse pelos degraus que ficavam na parte de fora
dela, mas dentro do pátio exterior. A urgência da fuga é aumentada pelo fato de
os degraus levarem justamente a este pátio. “Embora você tenha de passar pela
própria porta do seu quarto, não entre para apanhar coisa alguma. Fuja para
salvar a sua vida.”
24. Sinais e prodígios (σημεία και τέρατα). Vide nota sobre M t 11.20. As duas
palavras normalmente aparecem juntas no texto do Novo Testamento. Vide Jo
4.48; At 2.22; 4.30; 2 C0 12.12. Os termos não descrevem classes diferentes de
manifestações sobrenaturais, mas as mesmas manifestações consideradas de di
ferentes perspectivas. O mesmo milagre pode ser uma obra poderosa, ou uma
obra gloriosa, no que diz respeito ao seu poder, ou glória; ou um sinal do poder
sobrenatural do seu executor; ou um prodígio, no seu apelo ao espectador. Τέρας
(derivação incerta) é um milagre considerado como um prodígio, que desper
ta assombro. O vocábulo, provavelmente, corresponde ao sentido etimológico
da palavra milagre (latim miraculum, uma coisa maravilhosa, oriundo de mirari,
admirar^-se]).
28. Cadáver (πτώμα). Oriundo de πίπτω, cair. Originalmente, uma queda e, por
isso, um corpo caído-, um cadáver. Compare com o latim, cadaver, oriundo de cado,
cair. Vide Mc 6 .2 9 ; Ap 11.8. Sobre o adágio em si, compare com Jó 3 9 .3 0 .
Águias (άετοί). A tb coloca corvos; a teb, nvi, bj e bp, abutres. A intenção é re
presentar o abutre grifo, que é superior à águia em tamanho e força. Aristóteles
descreve como esta ave sente o cheiro de uma carcaça a grande distância, e se
reúne a outras espreitando pelas vítimas de um exército. Na guerra da Rússia,
um grande número delas foi apanhado na Crimeia, e ali permaneceu até o fim
do conflito, nas cercanias do acampamento, embora a ave raramente fosse vista
naquela região anteriormente.
31. Com rijo clamor de trombeta (μετά σάλπιγγος φωνής μεγάλης). Alguns textos
apresentam com uma grande trombeta. O toque das trombetas era, na antiguidade, o
sinal dado ao exército de Israel na sua marcha pelo deserto. Ele convocava para a
guerra, e proclamava as festas públicas, além de marcar o início dos meses (Nm 10. Ι -
ΙΟ; SI 81 .3). Por isso, o simbolismo no texto do Novo Testamento. O povo de Jeová
será convocado diante do seu rei pelo som da trombeta. Compare com a proclamação
de Cristo como rei mediante o toque da trombeta do sétimo anjo, Ap 1 1 .1 5 .
32. Esta parábola (την παραβολήν). Mais especificamente, a parábola que ele
tem a ensinar.
Ramos (κλάδος). Oriundo de κλάω, quebrar. Por isso, um broto ou rebento novo,
tal como o ramo que se retira para se fazer um enxerto. Assim também os “ra
mos” que eram cortados e espalhados no caminho do Senhor pelas multidões
(Mt 21.8).
40. Será levado —deixado. Ambos os verbos estão no tempo presente, o que
torna a declaração mais viva. Um é levado e um é deixado.
41. No moinho (τφ μύλψ). O triturador manual com um cabo fixo próximo à
borda da pedra superior, que era girado por duas mulheres.
42.A que hora [ποια ώρα]. Textos posteriores, entretanto, apresentam o vo
cábulo ημέρα, dia. Ποια ήμερα, em que tipo de dia, se num dia próximo ou remoto.
107
M a t eu s - C ap. 2 5
De modo semelhante, vide versículo 43: kv ποια φυλακή, em que tipo de vigília, se
numa vigília noturna ou matinal.
45. A seu tempo (έν καιρφ). Nas horas regulares que o seu Senhor vem observar
quando está em casa; e não se atrasando por pensar que o seu Senhor está demo
rando a voltar (v. 48), mas cumprindo com as suas obrigações nas horas devidas.
Capítulo 25
3. As loucas (aíxiveç μωραί). Leia αί γάρ μωραί, pois as loucas. A conjunção pois
justifica o epíteto loucas, no versículo anterior.
Depois de esperar duas ou três horas, por fim, perto da meia-noite, foi anunciado, exa
tamente como nas palavras das Escrituras: “Eis que vem o noivo, sai tu ao encontro
dele”. Todas as pessoas envolvidas, nesse instante, acenderam as suas lamparinas, e
correram com elas em mãos, para assumir o seu lugar na procissão. Algumas delas
haviam perdido as suas luzes e estavam despreparadas, mas era tarde para sair em
busca de outra lamparina, e a cavalgada prosseguiu108.
9. Não seja caso que (μήποτε ού μή άρκέστ)). Ο grego não apresenta uma ne
gativa tão direta quando a a r c . Trata-se de uma forma mais cortês de recusa,
fazendo com que o motivo dela ocupe o lugar da negativa. Dá-nos do vosso azeite,
dizem as loucas. As prudentes respondem: Para que, talvez, não nosfalte de nenhu
ma forma (ού μή, a negativa dupla) o suficiente. A tb afortunadamente o traduz:
Talvez não haja bastante para nós.
Para as bodas (γάμους). A ntlh tra z c o rretam en te Festa de casam ento, com o
em Mt 22.2-4; assim com o na bj, banquete de núpcias.
11. Senhor, senhor. Aplicado diretamente ao noivo, cuja vontade será suprema,
agora que ele já chegou à residência da noiva.
109
M ateus —C ap. 25
Logo (ευθέως). Fazendo a ligação com o início do versículo 16, e não tão
conectado ao versículo 15: Logo que ele recebeu, indicando prontidão por parte
do servo.
16. Negociou com eles (ήργάσατο kv αύτοΐς). Literalmente: trabalhou com eles.
As virgens esperam, os servos trabalham.
24. D uro (σκληρός). Mais forte que o vocábulo austero (αυστηρός) encontrado
em Lc 19.21, que é, por vezes, utilizado num bom sentido, enquanto aquele
jamais é. Ele é um epíteto dado a uma superfície que é, simultaneamente, seca
e dura.
26. Negligente. Com menos esforço do que o que empregaria ao cavar, ele po
dería ter ido até os banqueiros ou cambistas. O versículo pode ser lido de forma
interrogativa: Tu sabias mesmo isto de mim? Deverias, então, ter agido com a rapi
dez e cautela comuns às pessoas que lidam com patrões severos. Ao omitirmos
a interrogação estaremos fazendo com que o Senhor admita que Ele mesmo era
um senhor austero .
27. Dado (βαλεΐν). Literalmente: atirar ou lançar ao chão, como quem joga um
saco de moedas sobre a mesa de um cambista.
110
M ateus - C ap . 25
Juros (τόκφ). Uma palavra muito ilustrativa, cujo significado primitivo é nas
cimento de umfilho, e, depois, prole. Por isso, o vocábulo é utilizado para se referir
aos juros que são o produto, aquilo que é gerado pelo capital. Originalmente, eles
eram apenas o que era pago pelo uso do dinheiro, daí a conotação de usura, mas
tornou-se sinônimo de interesse extorsivo. A tb traduziu adequadamente como,
comjuros. A lei dos judeus fazia distinção entre juros e acréscimos. Em Roma, juros
excessivamente altos parecem ter sido cobrados nos tempos antigos. Na prática,
o exercício da usura era ilimitado. Bem cedo surgiu o costume de se cobrar juros
mensais à taxa de um por cento ao mês. Durante o primeiro império, os juros
legais permaneceram à taxa de oito por cento, mas em transações usurárias ele
poderia chegar a doze, vinte e quatro e até quarenta e oito por cento. Os banquei
ros judeus da Palestina e de outros lugares também faziam parte deste tipo de
negócio. A lei de Moisés denunciava a usura nas transações entre hebreus, mas
permitia que fossem cobrados juros a estrangeiros (Dt 23.19-20; SI 15.5).
Apartará [a eles^ uns dos outros (αυτούς). Masculino, ao passo que a pa
lavra nações assume o gênero neutro. As nações são consideradas como reu
nidas em uma coletividade-, mas, ao contemplar o ato da separação, o Senhor
considera os indivíduos.
A divisão aberta dos homens em bodes e ovelhas é, num certo sentido, tão fácil quanto
inválida; e, num outro sentido, tão difícil que somente poderia ser executada por al
gum agente com uma percepção sobrenatural109.
S3. À sua direita (εκ δεξιών). Literalmente: a partir do lado ou das partes da direita.
A ideia, para o leitor grego, é a de uma fileira que começa ao lado direito do juiz.
Ill
M ateus - C a p. 2 6
C a p ít u l o 2 6
2. Será entregue (τταραδίδοται). O tempo presente expressa aqui algo que, em
bora ocorra no futuro, é tão bom quanto o presente, porque já está determinado,
ou porque precisa ocorrer em virtude de alguma lei inalterável. Assim, a páscoa
é (γίνεται). Ela deve chegar numa época mais ou menos específica. O Filho do
Homem é traído, segundo o decreto divino. Compare com o versículo 24.
3. Sala (αυλήν). A palavra significa tribunal ou salão. Um recinto que formava a parte
central de uma construção oriental e, normalmente, era utilizado como sala de reuni
ões. Na TB consta: p á tio da casa. A ara , entre outras versões brasileiras, lê: palácio.
112
M a t e u s - C ap. 2 6
Boa ação (καλόν). Literalmente: bela, mas em sentido moral: um ato moral
mente belo e louvável.
15. Que me quereis dar? (τί θέλετε μοι. δούναι;) Preferencialmente, ο que vós estais
querendo me dar? Esta tradução revela mais a pechincha envolvida na transação.
18. Certo homem (τον δείνα). A indefinição vem da parte do evangelista, e não
de nosso Senhor. Ele, sem dúvida, descreveu a pessoa e o local onde ela seria
encontrada.
20. Assentou-se à mesa (άνέκειτο). Porém, esta tradução dilui a ênfase do tem
po imperfeito, que denota uma ação em andamento. O evangelista diz que ele con
tinuava assentado ou reclinado, introduzindo-nos a algo que já estava ocorrendo
há algum tempo.
Sou eu? (μήτι εγώ είμι;). A forma da negativa pressupõe uma resposta nega
tiva. “Certamente, não sou esta pessoa’.
29. D e novo (καινόν). Outro adjetivo, veóv, é empregado para denotar o vinho
novo com o sentido de ser recentementefeito (Mt 9.17; Mc 2.22; Lc 5.37-39). A
diferença está entre esta novidade ser considerada do ponto de vista do tempo ou
da qualidade. O jovem, por exemplo, aquele que veio por último, é descrito pelos
adjetivos νέοι ou veokepoi (Lc 15.12-13). A veste nova (Lc 5.36) se contrasta
qualitativamente com uma veste usada e surrada. Por isso καινού. Também o
novo céu (2Pe 3.13) é καινός, em contraste com aquele que mostra sinais de dis
solução. O sepulcro no qual o corpo de Jesus foi colocado era καινόν (Mt 27.60),
pois nenhum outro corpo havia sido colocado naquele local, o que o tornaria
cerimonialmente imundo. Trench cita uma passagem de Políbio, que descreve
um estratagema pelo qual uma cidade foi quase tomada, onde se lia “ainda so
mos novos (καινοί) e jovens (νέοι) a respeito deste tipo de truque”111. Neste caso,
καινοί expressa a inexperiência dos homens; νέοι, a sua juventude. Mesmo assim,
a distinção não pode ser forçada em todos os casos. Assim, em lCo 5.7, “Alimpai-
-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova (νέον) massa”; e Cl 3.10,
“e vos vestistes do novo (νέον) [homem]”, claramente expressam o sentido de
qualidade. Na expressão utilizada pelo nosso Senhor, “até àquele Dia em que o
beba de novo”, predomina a ideia de qualidade. Todos os elementos de festividade
no reino celestial serão de uma nova e superior qualidade. No texto do Novo
i l l . Trench, Synonyms.
114
M a teu s - C ap. 2 6
Testamento, além dos dois casos citados, νέος é aplicado ao vinho, aojovens e uma
vez a uma aliança.
32. Irei adiante de vós. O pensamento se une com o que Cristo havia acabado
de dizer acerca do pastor e das ovelhas. Compare com Jo 10.4. Eu irei adiante de
vós, como um pastor segue adiante do seu rebanho.
34. Antes que o galo cante. Esta expressão se torna um pouco mais ilustrativa
se o artigo for omitido, como ocorre no grego. Antes que um único galo seja ou
vido, no início da noite, já terás me negado. Sobre as aves de porta de celeiro, o
Dr. Thomson afirma:
Q...]] enchiam todas as portas, com partilhavam da comida dos seus donos, ficavam
à vontade no meio das crianças em todos os ambientes, empoleiravam-se no alto
das construções à noite, e com o seu canto incessante formavam o relógio do vila
rejo, bem como o sino m atinal que acordava as pessoas tão logo o sol raiava112.
Apesar de todas as dúvidas que podem ser levantadas acerca da sua antiguidade, as
três velhas oliveiras, no mínimo pela sua clara diferença de todas as outras encontra
das naquele monte, sempre chamaram a atenção dos observadores mais indiferentes.
Elas permanecerão, enquanto a sua extensa vida continuar, as mais vulneráveis da sua
espécie na superfície da terra. O tronco sulcado e a folhagem parca sempre serão con
siderados como os mais marcantes de todos os memoriais de Jerusalém; os que mais se
aproximam dos próprios montes eternos na força com que nos transportam de volta
para os acontecimentos da história dos evangelhos113.
115
M ateus - C a p. 2 6
45. É chegada a hora. Ele provavelmente ouvira o ruído dos passos e viu as
lamparinas de Judas e do seu bando.
47. Um dos doze. A expressão é repetida por três evangelistas, tanto na descri
ção da traição, quanto na da prisão. Na época em que o Evangelho de Mateus foi
escrito, a expressão havia se tornado uma designação estereotipada do traidor,
como aquele que o traiu.
50. A que vieste? (4φ’ o irápci). A interrogação que vemos na arc é inadequada.
A expressão é elíptica e condensada. Literalmente, ela diz: aquilo por que tu estás
aqui-, e a mente deve incluir o para fazer. O Senhor rejeita o abraço do traidor e
diz, com efeito: “Chega desta bajulação hipócrita. Faz o que vieste aqui fazer”.
Assim coloca a e p :faça logo o que tem afazer.
51. O servo (τον δοϋλον). O artigo marca este servo especial; um guarda-costas.
53. Doze legiões de anjos. Compare com a história de Eliseu em Dotã (2Rs 6.17).
55. Um salteador (ληστήν). Traduzido pela teb como: um bandido. Vide Jo 10.1-8;
e Lc 23.39-43. Muito mais do que um pequeno ladrão; mas um com associados,
116
M a t eu s - C ap. 2 7
que somente poderia ser apanhado por um grande pelotão de homens. Por isso a
propriedade da referência às espadas e aos porretes.
63. Conjuro-te. Eu exijo que jures. O sumo sacerdote insistiu que Cristo fizesse
um juramento.
Que (ϊνα). Com o objetivo de que-, significando o desígnio pelo qual ele exigia
aquele posicionamento do Senhor.
66. Réu de m orte (ένοχος θανάτου). Na e c p : Merece morrer. Vide nota sobre Mt
23.18. Procedente de èv, em, έχω, segurar. A ideia é literalmente, segurado pela
morte-, nas garras da morte.
69. Uma criada (μία παιδίσκη). Literalmente: uma criada, porque o escritor tem
em mente outra criada (v. 71).
Capítulo 27
5. Para o templo [eu τφ ναώΐ. Porém, a melhor leitura seria εις τον vaòv, para
dentro do Santuário. Ele jogou as moedas por cima de uma barreira que prote
gia o Santuário, ou o Templo propriamente dito, no recinto em que somente os
sacerdotes tinham permissão para entrar, por isso as moedas fora atiradas para
dentro do Santuário.
6. Não é lícito. Em tais casos a lei judaica previa que o dinheiro tinha de ser
devolvido ao doador; e se ele insistisse em doá-lo, deveria ser induzido a gastá-lo
em algo para o bem estar da coletividade. Isto explica a aparente discrepância
entre o relato de Mateus e o apresentado no livro de Atos (1.18). Por uma alego
ria da lei, o dinheiro continuava sendo considerado de Judas, e seria como se ele
o tivera aplicado na compra do campo de um oleiro.
28. Capa (χλαμύδα). O pequeno manto militar que os reis, imperadores e solda
dos usavam.
34. Vinho (otvov). Os textos mais antigos apresentam όζος, vinagre. Esta bebida
composta de vinho e fel tinha por objetivo provocar o entorpecimento do sofredor.
36. Guardavam (έτήρουν). Ou, para colocar a força do modo imperativo, man
tinham guarda. O objetivo era evitar a aplicação de crueldades extremas, bem
118
M a t eu s - C ap. 27
42. Salvou os outros. A ordem no grego é: Outros ele salvou; a si mesmo não
pode salvar.
43. Se o ama (εί θέλει αύτόν). Tradução literal, Se ele o quer (ou deseja). A bj se
aproxima muito do sentido original: se ê que se interessa por ele! A tradução corres
ponde ao texto da lxx. Compare com SI 18.19 (lxx: Sl. 17.19); porque tinha prazer
em mim (ήθέλησέ με), SI 4 l.l l (lxx: 40.11) (τεθεληκάς με).
48. Vinagre (δξους). Vinho azedo; a posca ou bebida comum dos soldados
romanos.
54. O Filho de Deus. Porém, sem o artigo. As palavras não devem ser agru
padas a fim de se reconhecer a filiação divina de Cristo. Elas são expressas por
um soldado pagão no seu sentido próprio de um semideus ou herói. Contudo,
elas podem ter assumido certo matiz em função de os soldados terem ouvido
dos principais sacerdotes, e de outros, que Cristo havia reivindicado para si a
filiação divina.
55. Que tinham seguido (aíxiveç). Designando uma classe·, as que formavam o
grupo de mulheres que o haviam seguido.
60. Sepulcro novo (καινω). Vide nota sobre Mt 26.29. Não recentemente aberto na
rocha (ou, lavrado), mas intocado, ainda não contaminado por cadáver.
Grande pedra. Embora nos sepulcros dos judeus, em geral, existissem portas
presas a engates, cujos entalhes e perfurações ainda podiam ser vistos, o sepul
cro de José pode ter sido construído de outra forma ou, ainda, poderia não estar
completamente concluído.
64. Erro (πλάνη). Não, como muitos traduzem, engano ou embuste, numa alusão
ao vocábulo πλάνος acima; mas um erro da parte das pessoas. O último erro, a
saber, a falsa impressão de que ele havia ressuscitado dos mortos, seria pior do
que o primeiro - a impressão causada pela sua postura fraudulenta ao alegar ser
o Messias.
65. Tendes (εχετε). Ou, como alguns traduzem, no modo imperativo: Tendes a
guarda!
C a p ít u l o 2 8
7. Ele vai adiante de vós (προάγω). Ele está no ato de ir (cf. Mt 26.32).
na [em + a) sua morte”; isto é, pelo batismo fomos trazidos à comunhão com a
sua morte. O batismo em nome da Santa Trindade implica uma união espiritual
e mística com ela. Εις, para dentro, é a preposição normalmente utilizada com o
verbo batizar (cf. At 8 .1 6 ; 1 9 .3 -5 ; lCo 1 .1 3 -1 5 ; 1 0 .2 ; G1 3 .2 7 ). Em At 2 .3 8 , en
tretanto, Pedro diz: “seja batizado em (έπΐ, sobre) nome de Jesus Cristo; e em At
1 0 .4 8 , ele ordena que Cornélio e seus amigos sejam batizados em [kv, dentro) o
nome do Senhor. Ser batizado sobre o nome é ser batizado mediante a confissão
que aquele nome implica, tendo por base aquele nome, de modo que o nome de
Jesus, como sendo o conteúdo da fé e da confissão, forme a base sobre a qual
o batizando esteja fundamentado. Em o nome [kv) faz referência à única esfera
dentro da qual o batismo verdadeiro é ministrado. O nome não é uma mera desig
nação, um sentido que daria à fórmula batismal nada mais do que a força de um
encantamento. O nome, como vemos na Oração do Senhor (“Santificado seja o teu
nome”), é a expressão da soma total do Ser Divino e não a sua designação como
Deus ou Senhor, mas a fórmula na qual todos os seus atributos e características
são reunidos. Ele é equivalente a sua pessoa. A mente finita somente consegue se
relacionar com Ele por intermédio do seu nome; entretanto, desvinculado de sua
natureza, ele não tem qualquer utilidade. Quando alguém é batizado em o nome
da Trindade, está professando o reconhecimento e a apropriação de Deus em
tudo aquilo que Ele é e em tudo o que o Senhor faz pelos homens. Reconhecemos
e dependemos de Deus-Pai, como nosso Criador e Preservador. Recebemos Jesus
Cristo, o seu único Mediador e Redentor, e nosso modelo de vida. Confessamos
o Espírito Santo, como nosso Santificador e Consolador.
20. Todos os dias (πάσας τάς ημέρας). Tradução literal: em todos os dias.
A mente do Salvador não vai mais adiante; pois depois disso, a obra de evangelização
cessará. Daquele momento em diante, nenhum homem precisará ensinar ao seu pró
ximo dizendo: “Conhecei ao Senhor” (Jr S1.34)1'6.
123
L ista d e P alavras G regas E mpregadas so m en te po r M ateus
124
L is t a d e Palavras G regas E m pr eg a d a s so m en te po r M ateus
125
M arcos
I ntrodução
muito mais um homem de observação e ação do que de reflexão; ele era impulsi
vo e impetuoso. O Dr. Morison afirma:
2. M orison, C o m m e n ta r y o n M a r k .
128
M arcos — I ntrodução
Este tipo de narrativa podería ter sido esperada por parte de Pedro, com a sua
perspicácia, com o seu hábito de observar as coisas e o seu poder de descrever
graficamente o que percebia com tanta rapidez. Existe, obviamente, menos espa
ço para a exibição destes traços nas suas epístolas, apesar de elas se mostrarem
até mesmo em certos termos pitorescas e características, bem como em expres
sões que refletem incidentes do seu relacionamento pessoal com Cristo.
Estas breves epístolas contêm mais de cem vocábulos que não aparecem em
outras partes do Novo Testamento. Certas narrativas do livro de Atos regis
tram incidentes, nos quais Pedro foi o principal ou o único ator apostólico, e
cujo relato deve ter vindo dos seus próprios lábios; e carregam as marcas da sua
arguta observação e são caracterizadas pela sua ênfase. Assim, temos os relatos
da cura do coxo à porta do Templo (3); de Ananias e Safira (5); do livramento de
Pedro da prisão (12); da ressurreição de Dorcas (9); a da visão do grande lençol
(10). Nestes, especialmente se compararmos com as narrativas que Lucas, de
certa forma, recebeu de outras fontes, ficamos impressionados com a vivacidade
pitoresca da história; as anotações precisas relativas a tempo, local e número; as
expressões ilustrativas, e as rápidas transições; o uso frequente dos vocábulos
como prontamente, imediatamente; a substituição do diálogo pela narrativa, e a
plenitude geral dos detalhes.
Todas estas características aparecem no Evangelho de Marcos e são, justa
mente, consideradas como um indicativo da influência de Pedro, apesar de, com
parativamente, poucos destes termos serem empregados pelos dois; fato que pode
ser, em grande parte, explicado pela diferença entre uma epístola de exortação
e uma narrativa. Os traços da rápida percepção de Pedro e da ênfase dramática
e pitoresca se mostram visíveis ao longo de todo o livro de Marcos. Enquanto
Mateus registra a totalidade dos discursos do Senhor, Marcos retrata as suas
obras. Por isso, enquanto Mateus nos apresenta quinze das suas parábolas, ele
reproduz somente quatro, e estas, ainda, em um formato condensado. “Marcos
não usa a roupagem viva de Mateus. A sua vestimenta é ‘sucinta e prima pela agi
lidade’. Com um ritmo rápido, incisivo, a sua narrativa avança diretamente rumo
ao objetivo, tal qual um soldado romano na sua marcha em direção à batalha.” O
seu Evangelho é o Evangelho do presente, não do passado. As suas referências
ao Antigo Testamento, à exceção de 1.2-3, são citações feitas nos discursos de
Cristo, ou por outras pessoas. Como observou o cônego Farrar: “Elas pertencem
à narrativa e não à pessoa que as registrou” (15.28 é um caso de interpolação). O
vocábulo νόμος, lei, jamais ocorre em Marcos ou Pedro.
Marcos é, por conseguinte, majoritariamente o evangelho ilustrativo: o evan
gelho das minúcias. Segundo afirma o cônego Westcott: “Talvez não exista ne
nhuma narrativa que ele apresente em comum com Mateus e Lucas, à qual ele
não contribua com alguma característica especial". Assim, ele acrescenta ao re-
129
M arcos - I ntrodução
trato de João Batista ser indigno de desatar as correias das sandálias de Jesus um
toque a mais, representado pelo gerúndio do verbo abaixar-se (1.7). Marcos uti
liza um termo mais ilustrativo para descrever o momento em que o céu se abriu
no batismo de Cristo. Segundo Mateus e Lucas, os céus se abriram (άνεώχθησαν);
de acordo com o relato do apóstolo se rasgaram em duas partes (σχιζόμενους; 1.10).
Mateus e Lucas representam Jesus como tendo sido levado (άνηχθη) ao deserto
para ser tentado; Marcos como tendo sido conduzido (εκβάλλει); acrescentando
que Ele vivia entre asferas-, na qual algumas pessoas entendem ser uma referên
cia à comparação que Pedro faz entre o Diabo e um leão que ruge (1 Pe 5.8). Ele
impinge um toque realista à história de Tiago e João que abandonaram a sua
ocupação para atender ao chamado de Jesus, ao acrescentar que eles deixaram o
seu pai Zebedeu no barco com os empregados (1.20). Depois do discurso feito a partir
de um barco para a multidão na praia, Marcos é o único a nos relatar que os dis
cípulos despediram a multidão, e o faz nos mínimos detalhes: o levaram consigo,
assim como estava, no barco-, e havia também com ele outros barquinhos (4.36). A sua
descrição da tempestade que se seguiu é mais vivido do que o feito por Mateus
ou Lucas. Ele retrata as ondas subindo por cima do barco, e o barco começando
a se encher de água; observa a almofada do timoneiro na popa do barco sobre a
qual Jesus reclinava a sua cabeça (4.37-38); e descreve o despertar do Mestre por
parte dos discípulos, bem como o controle da tempestade de maneira dramática,
por meio de uma pergunta aflita: Mestre, não te importa que pereçamos?, bem como
por meio da ordem dada ao mar como se ele fosse um monstro feroz: Cala-te,
aquieta-te! (4.38-39).
Na descrição da provisão de alimento para os cinco mil, somente Marcos relata
a pergunta feita pelo Salvador: Q uantos p ã e s tendes? Ide v e r (6.3 8). Uma multidão
oriental é sempre abundante em cores, e é Marcos que nos proporciona a alegre
descrição do cenário com a multidão disposta sobre erva verde, em grupos, como
se fossem canteiros deflores, nas mais variadas matizes de cores. Somente ele espe
cifica a divisão dos dois peixes entre todos (6.39-41). Marcos descreve como Jesus,
ao caminhar sobre o mar, teria passa d o pelo barco dos discípulos; ele expressa o
seu grito de terror diante da aparição de Cristo fazendo uso de um termo mais
forte do que Mateus, o verbo composto άνεκραξαν, onde o apóstolo usa o verbo
simples έκραξαν. Ele acrescenta, todos o vira m (6.48-50). Quando Jesus desce do
monte da transfiguração, é Marcos que completa o incidente da controvérsia dos
discípulos com os espectadores curiosos ao relatar que os escribas estavam junto
deles questionando. Ele nota a surpresa que, por alguma razão, sobreveio ao
povo diante da aparição de Jesus, a corrida do povo para saudá-lo, e sua pergunta
aos escribas: Que é que discutis com eles? (9.14-16). Marcos nos apresenta o incen
tivo dos espectadores a Bartimeu, quando este foi chamado por Jesus, bem como
a forma como ele lançou de s i a sua capa e deu um salto (10.49-50). Somente ele
130
M arcos - I ntrodução
descreve a quebra do vaso de alabastro por uma mulher (14.3), e Cristo tomando
a criancinha nos braços depois de recebê-la no seu meio (9.36).
No relato dos dois endemoninhados gadarenos, Mateus (8) relata que eles
foram encontrados quando saíam dos sepulcros, que estes dois homens eram ex
cessivamente agressivos, de tal forma que ninguém conseguia seguir por aquele
caminho. Marcos menciona somente um endemoninhado, mas acrescenta que ele
tinha a sua morada nos sepulcros (κατοίκησιν είχεν, uma expressão mais enfática
do que o verbo habitavam, εμενεν, utilizado por Lucas); que já haviam tentado
acorrentá-lo, mas que ele rompera as correntes (cadeias); e que permanecia dia
e noite nos sepulcros e nos montes, gritando e se cortando com pedras (5.3-6).
Na conversa com o doutor da lei, que desejava conhecer qual era o maior manda
mento da lei, Mateus (22.34-40) termina o diálogo com a resposta de Jesus a esta
pergunta. Marcos apresenta a resposta do doutor da lei e a expansão que ele faz
à resposta de Jesus, o fato do Salvador ter observado que ele respondeu de forma
sábia, e das suas palavras significativas: Não estás longe do Reino de Deus.
É interessante compararmos o relato da festa de Herodes com o assassinato de
João Batista, conforme este é mostrado por Mateus e Marcos, respectivamente.
Somente Marcos menciona o grande banquete e a posição social dos convidados.
Ele acrescenta os detalhes da entrada de Salomé e do seu esforço para alegrar os
convidados. Ele lança a promessa de Herodes e o pedido de Salomé em forma de
diálogo. Onde Mateus simplesmente diz: pelo que prometeu, comjuramento, dar-lhe
tudo o que pedisse, Marcos apresenta: Pede-me o que quiseres, e eu to darei. E jurou-
lhe, dizendo: Tudo o que me pedires te darei, até metade do meu reino. A sua narrativa,
como um todo, é mais dramática do que a de Mateus. Ele informa que Salomé foi
colocada àfrente pela sua mãe. Marcos retrata-a saindo, e detalha a conversa que
ela teve com Herodias, e a sua volta apressada ao recinto, exigindo que a proposta
feita fosse imediatamente cumprida. Marcos também amplia o remorso que so
breveio a Herodes: ele entristeceu-se muito-, e onde Mateus observa somente a sua
aceitação do pedido daquela jovem moça, Marcos nos deixa claro o seu descon
forto em não recusar o seu pedido. Além disso, enfatiza a rapidez com que tudo
se deu. Salomé exigiu a cabeça de João Batista imediatamente e Herodes envia
o executor, o carrasco, para cumprir a ordem naquele exato momento. Somente
Marcos menciona o executor. Apesar de os diálogos não fazerem parte do estilo
peculiar de Marcos, deve-se notar que ele é característico do estilo de Pedro, até
aqui, pelo menos, como pode ser inferido a partir das histórias do livro de Atos,
a saber: Ananias e Safira (5.3-9), Cornélio (10), e do livramento de Pedro do
cárcere (12).
Marcos é peculiarmente minucioso e específico quanto aos detalhes relativos
às pessoas, a cronologia, a números e a lugares; um aspecto no qual ele, também,
lembra Pedro (cp. At 2.15; 6.3; 4.22; 5.7,23; 12.4). Por isso, com relação às pessoas·.
131
M arcos - Introdução
“foram à casa de Simão e de André, com Tiago e João” (1.29); Έ seguiram-no Si-
mão e os que com ele estavam (1.36); “no tempo de Abiatar, sumo sacerdote” (2.26);
“os fariseus, tomaram logo conselho com os herodianos” (3.6); “a mulher era grega,
siro-fenícia de nação” (7.26). Compare também 11.11; 13.3; 15.21. Com relação aos
lugares: “uma grande multidão da Galileia, e da Judeia etc. (3.7-8); O endemoni-
nhado —agora liberto —passou a anunciar a sua libertação em Decápolis (5.20);
Jesus partiu “dos territórios de Tiro e de Sidom, foi até ao mar da Galileia, pelos
confins de Decápolis” (7.31). Compare com 8.10; 1 l.l; 12.41; 14.68. Com relação a
números·, o paralítico foi “trazido por quatro” (2.3); os porcos eram em número de
dois mil (5.13); os doze foram enviados de dois em dois (6.7); as pessoas estavam
sentadas em grupos de cem e cinquenta (6.40); “antes que o galo cante duas vezes,
três vezes me negarás” (14.30). Com relação ao tempo·. Jesus se levantou de manhã
muito cedo, estando ainda escuro (1.35); naquele dia, sendojá tarde (4.35). Compare
com 11.11; 14.68; 15.25.
Contudo, Marcos não se atém aos meros detalhes exteriores. Ele é prolixo em
relances que revelam os sentimentos das suas personagens. Ele utiliza seis vocábulos
diferentes para expressar os sentimentos de temor, maravilhamento, perturbação,
espanto, e extrema perplexidade. O composto έκθαμβέισθαι, que significa muitís
simo perplexo, aterrorizado (9.15; 16.5-6), não aparece em nenhuma outra parte do
Novo Testamento. Assim, tanto a aparência, quanto as emoções do nosso Senhor
são retratadas: “olhando para eles em redor com indignação, condoendo-se da dureza do
seu coração” (3.5); “olhando em redor para os que estavam assentados junto dele dis
se: Eis aqui minha mãe” etc. (3.34); “E ele olhava em redor, para ver quem lhe havia
tocado na multidão” (5.32); “estava admirado da incredulidade deles” (6.6); E Jesus,
olhando para \jo jovem rico] o amou (10.21); Ele ficou movido de grande compaixão
para com o leproso (1.41); E, suspirando profundamente em seu espírito (8.12).
De forma similar, Marcos retrata a terna compaixão do Senhor. Um belo sinal
da sua sensibilidade delicada e amorosa, de uma necessidade corriqueira, encerra
a história da cura da filha do líder (principal) da Sinagoga. Na alegria e espanto
diante da sua maravilhosa restauração, os amigos, naturalmente, esquecer-se-
iam da necessidade prática de alimento, que é prontamente lembrada pelo Se
nhor por meio do mandamento que se trouxesse algo para que ela comesse (5.43).
Lucas percebe as mesmas circunstâncias. A sua sensibilidade pela exaustão dos
discípulos aparece nas palavras: "Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e
repousai um pouco” (6.31). Ele teve compaixão da multidão, porque ela era como
uma manada de ovelhas sem pastor (6.34); ficou comovido com a necessidade e
fadiga das várias pessoas que vieram de longe (8.3); Ele mostra o seu interesse
na situação do rapaz epilético ao lhe fazer perguntas acerca do histórico da sua
doença (9.21); e fica indignado diante da intromissão dos discípulos no sentido de
impedir que as criancinhas chegassem até si (10.14).
132
M arcos - Introdução
Marcos descreve o estado mental e emocional das pessoas que foram levadas
a ter contato com Cristo. Os que testemunharam o milagre da multiplicação dos
pães não compreenderam, e o seu coração permanecia endurecido (6.52); os discípulos
estavam perplexos, perguntando uns aos outros que seria aquilo, ressuscitar dos mortos
(9.10); eles ficaram espantados com as suas palavras de que um homem rico pode
ría entrar no reino dos céus (10.24); um temor súbito e misterioso lhes sobreveio
na viagem a Jerusalém (10.32); Pilatos se admirou ao saber que Jesus já morrera
e chamando o centurião, perguntou-lhe sejá havia muito que tinha morrido (15.44).
Compare com 1.22,27; 5.20,42; 6.20; 7.37; 11.18. Ele retrata o interesse desper
tado pelas palavras e pelas obras de Cristo ao descrever a multidão que vinha até
Ele e a forma como ela espalhava a fama do seu poder (1.28,45; 2.13; 3.20-21; 4.1;
5.20-21,24; 6.31; 7.36).
Em Marcos, encontramos certas expressões peculiarmente marcantes da lin
guagem do nosso Senhor, tais como: aos que estão defora (4 .1 1); deixando o man
damento de Deus, retendes a tradição dos homens (7.8); esta geração adúltera e
pecadora (8.38); ser aviltado (9.12); logo falar mal de mim (9.39); que não receba...
irmãos, e irmãs, e mães etc., com perseguições {10.30).
A sua narrativa flui, o seu estilo é cheio de transições repentinas. O vocábulo
εύθέως, imediatamente, ocorre cerca de quarenta vezes no seu evangelho. Ele
transmite um brilho à sua narrativa por intermédio do uso do tempo presente
em vez do histórico (1.40,44; 2.3ss.; 9.1-2,7; 14.43,66). Ele costuma esclare
cer as suas idéias ao associar vocábulos ou expressões semelhantes. Belzebu é
designado por dois nomes (3.22), e por um terceiro (3.30); os enfermos eram
trazidos à tarde, quandojá estava sepondo osol{ 1.32); a pessoa que blasfemar con
tra o Espírito Santo, nunca obterá perdão, mas será réu do eternojuízo (3.29); Ele
falava com muitas parábolas, e sem parábolas nunca lhesfalava (4.33-34). Compare
com 3.5,27; 5.26; 6.25; 7.21. Ele emprega cerca de setenta vocábulos que não
são encontrados em nenhuma outra parte do Novo Testamento. Somente no
Evangelho de Marcos encontramos preservados termos aramaicos, tais como
eles foram pronunciados pelos lábios do nosso Senhor: Boanerges {3.17); Talitá
cumi (5.41); Corbã (7.11); Efatá (7.34); e Aba (14.36). Ao escrever para os roma
nos, vemo-lo fazendo a transferência de certos termos latinos para o grego, tais
como: legio, legião (5.9); centurio, κεντυρίωιζ, centurião, que, em outras partes, é
έκατόνταρχος-χης (15.39); quadrans, ceitil (réis) (12.42); fiagellare, açoitar, flage
lar (15.15); speculator, executor (6.27); census, tributo ( 12.14); sextarius, jarro (7.4);
praetorium(\5A6). Três destes vocábulos —centurio, speculator e sextarius - ocor
rem apenas no seu evangelho. Ele sempre acrescenta uma nota explicativa às
palavras e aos usos judeus.
O seu estilo é brusco, conciso e marcante; sua forma de expressão é menos
pura que a de Lucas e João. Além de irregularidades de construções que não
133
M arcos - Cap. 1
podem ser explicadas para um leitor ocidental, Marcos faz uso de muitos termos
que são expressamente censurados pelos gramáticos, sendo que alguns deles são,
até mesmo, condenados como gíria! Ei-los: εσχάτως εχει, está moribunda (5.23);
κράββατος, leito (2.4,9, 11-12); μονόφθαλμος, com um só olho (9.47); κολλυβισταί,
cambistas (11.15); κοράσιον, menina (5.41); ορκίζω, conjuro-te (5.7); ράπισμα, bofe
tada (14.65); ραφίδος, agulha {10.25).
Meu objetivo aqui foi fazer uma descrição um tanto ampla de Marcos, junta
mente com o propósito deste livro, que trata de maneira primária, de palavras e
expressões específicas, bem como das peculiaridades do falar, e não tanto da exe
gese das passagens. Ainda no que diz respeito a este Evangelho, é especialmente
verdade que o seu sabor e a sua qualidade característicos não podem ser perce
bidos sem um estudo verbal minucioso. Ele é uma galeria de imagens-verbais.
Ao lê-lo, até mesmo em versões familiares, podemos descobrir que ele é - como
bem observou o cônego Westcott - “essencialmente, a transcrição da vida”; mas
nada menos que uma compreensão dos termos originais, na sua especificidade,
revelar-nos-á que esta transcrição é, por si mesma, viva.
C a p ít u l o l
3. Voz (φωνή). Sem artigo, conforme vemos na arc . Na ecp, “a voz”. Este vocá
bulo apresenta uma espécie de força exclamativa. Para despertar a audiência, os
profetas exclamavam: Eis... uma voz!
5. Iam ter (εξεπορεύετο). O tempo imperfeito significa: continuavam indo ter [[com ele}.
6. De pelos de camelo (τρίχας καμηλού). Não com couro de camelo, mas com
uma veste costurada a partir de pelo de camelo. Compare com 2Rs 1.8.
11. Tu és o meu Filho amado. Os três autores sinóticos apresentam esta frase
no mesmo formato: Tu és o meufilho, o amado.
12. O impeliu (εκβάλλει). Mais enfático do que o vocábulo άνήχθη expresso por
M ateus,^/ guiado a, e ήγετο,fioiguiado, preferido por Lucas. Vide Mt 9.38. E o
termo utilizado pelo nosso Senhor para designar a expulsão de demônios, Mc
1.34,39.
13. Entre as feras. Peculiar a Marcos. A região aqui citada é rica em animais,
tais como javalis, lobos, raposas, leopardos, hienas etc.
3. T ristra m , h a n d o f Israel.
135
M arcos — C a p. 1
20. Com os empregados. Expressão peculiar a Marcos. Pode implicar que Ze-
bedeu possuía negócios que excediam a função de um simples pescador.
22. Ensinava (ήν διδάσκων). O verbo finito acompanhado do particípio que de
nota ação contínua: estava ensinando.
24. Que temos Qnós]] contigo [[ήμΐν]]. Eu e as demais pessoas como eu. Segundo
Bengel: O s demônios fazem daquilo uma causa da sua coletividade". A t b traduz
corretamente o pronome: Que temos nós contigo.
27. Perguntarem entre si (συνζητάν προς εαυτούς). Mais enfático do que Lucas,
que apresenta: elesfalaramjuntos. Na b j consta perguntando uns aos outros.
30. Estava deitada, com febre (κατεκειτο πυρέσσουσα). Κατά., prostrada. Mar
cos acrescenta: lhefalaram dela. Lucas: rogaram-lhe por ela. Marcos: chegando-se a
136
M arcos - C ap. 1
137
M arcos - C a p. 1
habitantes invisíveis da terra, remanescentes de uma raça que, outrora, foi bem-aven
turada e áurea e que foi, inicialmente, criada pelos deuses do Olimpo —a polícia invisí
vel dos deuses, que tinha por objetivo reprimir o comportamento ímpio no mundo*.
No grego tardio, este vocábulo passou a ser utilizado para designar qualquer
alma falecida.
Em Homero, δαίμων é utilizado como sinônimo de 9eóç e Oeá, deus e deusa, e a
qualidade moral da divindade é determinada pelo contexto; todavia, o mais comum
é que opoder ou a agência divina, que se assemelha ao conceito latino de numen, era
considerado como um poder e não como uma pessoa. Homero não utiliza o vocábulo
δαιμόνιον na sua forma substantiva, mas como adjetivo, sempre no caso vocativo,
e com um sentido pesaroso e vergonhoso, indicando que a pessoa referenciada
está em alguma situação surpreendente ou estranha. Portanto, como um termo de
reprovação - Miserável! Louco! e. Ocasionalmente, o uso se revela em um sentido
de admiração e respeito: Primoroso desconhecido! Nobre senhor! 7. Homero também
utiliza δαίμων para designar o gênio ou espírito auxiliador de uma pessoa e, daí, a
nossa porção no destino. Por esta forma, no belo sorriso do pai enfermo: “Algum
gênio maligno o atacou”8. Por isso, posteriormente, a expressão κατά δαίμονα é um
equivalente aproximado de por obra do acaso.
Já vimos que, em Homero, o sentido negativo de δαιμόνιος é o que prevalece.
Nos autores de tragédias, também, δαίμων, embora utilizado para designar tanto
o bom, quanto o mau destino, ocorre, com mais frequência, no segundo sentido
e em direção a este significado o termo geralmente gravita. O conceito do pen
samento grego, que tendia a não considerar nenhum homem feliz, enquanto ele
não escapasse desta vida (vide Mt 5.3, bem-aventurado), naturalmente transmitia
um caráter obscuro e proibitivo àqueles que, supostamente, repartiam entre si o
destino dos seres humanos.
No grego clássico, é notório que a forma abstrata tò δαιμόνιον estava por
detrás de δαίμων, sendo que a segunda forma desenvolveu a noção de um destino
ou gênio ligado a cada indivíduo, tal qual o demônio, na concepção socrática; ao
passo que no grego bíblico o processo é invertido, já que neste caso esta doutrina
4. Platão, Crátilo.
5. Grote, History o f Greece.
6. Homero, llíada, 2.190,200; 4.31; 9.40.
7. Id., Odisséia, 14.443; 23.174.
8. Ibid., 5.396. Compare com Odisséia, 10.64; 11.61.
138
M a r c o s — C ap. 1
Contudo, apesar de terem sido imaginadas com o objetivo de satisfazer uma sensibili
dade religiosa mais escrupulosa, mais tarde, ela foi considerada inconveniente, quando
os invasores se levantaram contra o Paganismo de modo geral. Pois, apesar de ela ter
abandonado uma larga porção indefensável daquilo que uma vez fora a fé, continuava
retendo o mesmo vocábulo demônios com um significado completamente alterado. Os
escritores cristãos, nas suas controvérsias, encontraram ampla justificação entre os
autores pagãos mais primitivos para tratar todos os deuses como demônios; e uma
justificação não menos ampla entre os pagãos do período posterior para denunciar os
demônios, de maneira geral, como seres malignos0.
Este sentido maligno dos termos sempre aparece tanto no texto do Novo Tes
tamento como também na l x x . O s demônios são sinônimos de espíritos imun
dos (M c 5.12,15; 3.22,30; Lc 4 .33). Eles aparecem em conexão com Satanás (Lc
10.17-18; 11.18-19); são mostrados em oposição ao Senhor (lCo 10.20-21); à fé
(lTm 4.1). Eles estão ligados à idolatria (Ap 9.20; 16.13-14), representam pode
res malignos especiais, que influenciam e perturbam o nosso ser físico, mental e
moral (Lc 13.11, 16; Mc 5.2-5; 7.25; Mt 12.45).
35. De manhã m uito eedo, estando ainda escuro (αννυχα). Literalmente, en
quanto era noite. O termo é característico de Marcos.
indica que eles o seguiram d e fo rm a ansiosa ; que o persegu iram como se Ele esti
vesse fugindo deles. Simão, fiel à sua natureza, foi quem encabeçou a “persegui
ção”: S im ã o e os que com ele estavam .
37. Todos. Todo o povo de Cafarnaum, todos estão te buscando. No tempo presen
te contínuo. O vocábulo todos é peculiar a Marcos.
Capítulo 2
Que estava em casa (ότι elç οίκόν έστί). O termo ότι, que, é recitativo, e
introduz o discurso na sua forma direta. F o i anunciado — ele está em casa! A pre
posição em (elç) é, literalmente, p a ra dentro, e transmite a ideia de um movimento
que antecedeu a permanência na casa. “E le f o i p a r a dentro da casa, e ali está”. Os
melhores textos, contudo, apresentam kv οΐκω, na casa. O relato deste rumor é
peculiar a Marcos.
O k 'hãwah era uma sala comprida e retangular com cerca de 6 metros de altura, 15 de
comprimento, e por volta dos cinco metros de largura. As paredes eram recobertas de uma
decoração austera, com abluções marrons e brancas, e com pequenos rebaixos triangulares
aqui e acolá, destinados para a acomodação de livros, lamparinas e outros objetos simila
res. O teto era de madeira e liso; o chão era areia fina e limpa espalhada, e coberto de faixas
de tapetes ao longo das paredes, sobre os quais almofadas, cobertas com seda desbotada,
eram colocadas com espaçamento adequado. Nas casas mais simples, pequenos tapetes de
tecido, normalmente, substituíam as grandes faixas de tapete fino10.
17. Os sãos (ol ίσχύοντες). Literalmente, aqueles que estão fo rte s. Vide Lc 14.30:
não pôde-, e 2Pe 2.1 \ , força.
19. Os filhos das bodas (υίοι τού νυμφώνος). Adequadamente traduzido pela
É digno de nota que Cristo, em duas ocasiões, faz uso de uma ilustra-
a r c , f ilh o s .
ção tirada da cerimônia do casamento nas suas alusões a João Batista, um asceta.
Compare com Jo 3.29. Os filhos das bodas são diferentes dos padrinhos. Eles
eram as pessoas convidadas para o casamento. A cena ocorre na Galileia, onde
a figura dos padrinhos não era costumeira, tal como na Judeia. Por isso, não há
menção deles no relato das bodas de Caná. Na Judeia, em cada casamento, havia
dois padrinhos ou amigos do noivo. Vide So 3.29.
20. Então - naqueles dias [εν εκείναις ταις ήμέραις]]. A leitura adequada éèv
εκείνη τη ήμερα, naquele dia, como na teb . Trata-se de mais uma das expressões
duplas de Marcos: então —naquele dia.
143
M arcos - C ap. 3
farinha, que era ungida, na parte de dentro, com óleo, em formato de cruz.
Segundo a tradição, cada bolo tinha cinco mãos (cerca de 35 cm) de largura e
dez (aprox. 70 cm) de comprimento, mas arcava-se para o alto nas duas pontas,
quatorze centímetros de cada lado, para que o seu formato ficasse parecido com
o da arca da aliança. Os pães da proposição eram preparados na sexta-feira, a
menos que este dia viesse a ser um dia de festa que exigisse o repouso sabático;
em cujo caso, eles eram preparados na tarde da quinta-feira. A substituição dos
pães da proposição era a primeira das tarefas sacerdotais no início do sábado.
O pão que era retirado era colocado na mesa de ouro que ficava no pórtico do
Santuário, e distribuído os turnos de sacerdotes que se revezavam no serviço
(cp. a expressão senão aos sacerdotes). Eles eram comidos durante o sábado, e
dentro do próprio Templo, mas somente pelos sacerdotes que estivessem levi-
ticamente puros. Foi este pão envelhecido, retirado no sábado pela manhã, que
Davi comeu.
27. Por causa do homem (διά). Por conta do, ou por causa do. Esta expressão
somente é apresentada por Marcos.
Capítulo 3
1. Uma das mãos mirrada (έξηραμμένην την χαιρα). Mais corretamente tradu
zido pela r v , sua mão mirrada, ou ressecada. O particípio indica que o ressecamento
não era congênito, mas resultava de algum acidente ou doença. Lucas fala que se
tratava da mão direita do homem.
144
M arcos - C ap. 3
Dureza (πωρώσει). Derivado de πώρος, um tipo de m árm ore, e por isso utiliza
do para descrever um calo em um osso fraturado. Πώρωσις é, originalmente, o
processo pelo qual as extremidades de ossos fraturados são unidas por um calo.
Por isso a referência à calosidade ou d u reza em sentido geral. O vocábulo ocorre
em duas outras passagens do Novo Testamento, Rm 1 1 .2 5 , onde a ecp, erronea
mente, traduz por cegueira, seguindo o vocábulo caecitas da v u l g a t a , e Ef 4 .1 8 . É
um tanto estranho que a ecp não adote esta mesma tradução aqui e no texto de
Ef 4 .1 8 (caecitate , na v u l g a t a ). A rv, em todas as passagens, apresenta acertada-
mente que se endurece, que é uma tradução melhor que du reza, porque descreve
melhor o processo em andamento. Apenas Marcos registra o sentimento de Cristo
naquela ocasião.
7. Retirou-se. Somente Marcos percebe não menos que onze ocasiões, nas
quais Jesus se retirou: para se afastar dos seus afazeres com os discípulos, para
escapar dos inimigos ou para orar de forma solitária, para descansar, ou para
uma reunião privativa com os discípulos. V ide 1.12; 3.7; 6.31,46; 7.24,31; 9.2;
10.1; 14.34.
145
M a r c o s - C ap . 3
metafórico. Assim, Sófocles diz: “Temo que uma calamidade (πληγή) realmente
tenha vindo dos céus (θεού, deus)”12. Também as guerras. Esquilo afirma: “Ó terra
da Pérsia, como a tua prosperidade abundante foi destruída por um único golpe
(kv μια πληγή)”13. O vocábulo flagelos transmite aqui a mesma ideia.
11. Os espíritos imundos (τα). O artigo indica aqueles espíritos específicos que partici
param da cena. A precisão de Marcos pode ser vista no emprego dos dois artigos e
na disposição dadas ao substantivo e ao adjetivo: os espíritos, os imundos.
13. Os que ele quis (ους ήθελαν αύτός). Na t b , de forma mais rígida, os que ele
mesmo quis, sem permitir que qualquer pessoa se oferecesse a si mesma para
aquela tarefa especial. Do grande número de pessoas chamadas, ele escolheu
para si doze. Vide versículo 14.
15. Tivessem o poder (€χ«ιν εξουσίαν). Observe que ele não diz para pregarem
e expelirem , mas p a ra pregarem e tivessem au toridad e p a r a ex p elir demônios. O poder
para pregar e para exorcizar eram tão diferentes, que é feita uma menção especial
à autoridade divina com a qual ela precisara ser revestida. O poder de expulsar
demônios foi dado para que eles pudessem exercê-lo a fim de confirmar o seu
ensino. Compare com 16.20.
16. Simão, a quem pôs o nome de Pedro £Σίμωνι Πέτρον)]. Marcos relata so
mente este nome a trib u íd o a Pedro e não a sua indicação, ficando esta última su
bentendida.
18. André (Άνδρέαν). Um nome de origem grega, apesar do uso entre os judeus,
derivado de άνήρ, homem, e com o significado de varonil. Ele foi um dos dois que
primeiro se agregaram a Cristo (Mt 4.18,20; cp. Jo 1.40-41); e, por isso, é sempre
tratado pelos pais gregos como πρωτόκλητος, o p rim e iro a ser chamado.
Filipe (Φίλιππον). Mais um nome grego, que significa a m igo dos cavalos. Na
lenda eclesiástica, conta-se que ele teria sido um cocheiro.
147
M arcos - C ap. 3
Nenhum nome é mais marcante nesta lista do que o de Simão, o zelote, pois para
nenhum dos doze o contraste poderia ser tão grande entre a posição anterior e a
atual. Que revolução de pensamento e de coração poderia ser maior do que aquela
que transforma em seguidor de Jesus um membro de uma das seitas mais belicosas
daquela época, a qual considerava a presença dos romanos na Terra Santa como uma
traição contra a majestade de Jeová, um seguimento que agia de forma fanática em
temas como a rigidez e exclusividade dos judeus"?
21. Os seus parentes (ol trap’ αύτού). Literalmente, aqueles que estavam do seu
lado, isto é, pela origem ou por nascimento. A sua mãe e os seus irmãos. Com
pare com os versículos 31-32. Na bp consta Seusfamiliares. Na ep , os parentes-,
na t e b , sua parentela. Não os discípulos, pois estes já se encontravam na casa
com ele.
E [jcaiJ . Não fazendo a ligação das duas partes de uma mesma acusação, mas
denotando duas acusações, como fica evidente a partir das duas ocorrências de
ότι, que é um vocábulo equivalente a um ponto de interrogação.
24. E. Observe a maneira pela qual estas afirmativas estão ligadas por intermé
dio desta conjunção: uma progressão retórica impressionante.
27. Roubar (διαριτάσαι). Marcos utiliza um verbo composto mais enfático e mais
vivido, onde Mateus emprega simplesmente άρπάσαι. O verbo significa, prima
riamente, rasgar em pedaços·, carregar consigo, tal como faz o vento; apagar, como
ocorre com as pegadas. Por conseguinte, de modo geral, tomar como espólio, agar
rar o que se vê na direita e na esquerda.
29. Réu (ένοχός). Derivado de èv, em ou dentro de, εχω, segurar ou ter. Literalmen
te, está sob o domínio de, ou está apanhado por. Compare com lCo 11.27; T g 2.10.
Capítulo 4
1. Outra vez. Ele já havia ensinado anteriormente naquele local. Vide 3.7-9.
Ajuntou-se (συνάγεται). A arc dilui o uso ilustrativo que Marcos faz do tempo
presente: Ajunta-se. Contudo, a teb acertadamente traduz: Uma multidãojunta-se
perto dele.
11. Mas aos que estão de fora (εκείvoις τοις εξω). Os dois últimos vocábulos
são peculiares a Marcos. A expressão significa aqueles do lado de fora do nosso
círculo. O seu sentido é sempre determinado pelo contraste a ela. Dessa forma,
em lCo 5 .1 2 - 1 3 , temos os não-cristãos em contraste comigo. Em Cl 4 .5 , os cristãos
são contrastados com as pessoas do mundo. Compare com lTs 4 .1 2 ; lTm 3 .7 . Mt
1 3 .1 1 , com menor precisão, utiliza simplesmente εκείνοις (a eles), o pronome de
referência remota. Lc 8.10, τοις λοιποις (aos demais).
Parábolas (τάς παραβολάς). As parábolas que foram contadas por mim ou que,
doravante, posso contar.
14. O que semeia semeia a palavra. Mais preciso que Mateus ou Lucas. Com
pare com Mt 1 3 .1 9 ; Lc 8 .1 1 .
20. Os que. Uma boa tradução do pronome ο'ίτινες, que indica a classe dos ou
vintes.
Cama (κλίνην). Uma espécie de sofá para a acomodação diante de uma mesa.
22. Que não haja de ser manifesto (èàv μή ΐνα φανερωθή). A arc faz Cristo
afirmar que tudo o que está escondido será revelado. Esta tradução não está ade
quada. Ele afirma que as coisas estão escondidas a f i m d e qu e se ja m m a n ifesta s. O
segredo é um meio para se chegar à revelação.
Semente (τον σπόρον). A semente; aquela semente específica que ele deveria
semear. Tamanha é a força do artigo.
Não sabendo ele como (ώς ούκ oíôev αυτός). A ordem do texto grego é de
veras intensa: com o sab en d o n ão ele.
28. Por si mesma (αύτομάτη). Literalmente, a u to a g ir. Este verbo ocorre somen
te em outra passagem do Novo Testamento, At 12.10; para designar a porta da
cidade que se abriu para Pedro p o r s i m esm a.
151
M a r co s - C ap. 4
29. Se m ostra (παραδοΐ). Esta tradução não pode estar correta, pois o verbo é
ativo, e não passivo, com o significado de entregar. Por isso, ele é, normalmente,
explicado da seguinte forma: terá se entregado a si mesmo até a colheita-, que é formal
e artificial. A bp apresenta está maduro. Uma melhor explicação, talvez, seja a de
Meyer, cuja tradução é adotada pela rv : Quando ofruto terá permitido, isto é, terá
admitido a sua colheita. Xenofonte e Heródoto utilizam o termo no sentido de
permitir, e um exato paralelo a isto ocorre no historiador Políbio: “Quando a épo
ca permitia'5” (παραδιδούσης). A bj se aproxima da tradução de Meyer ao verter:
Quando ofruto está no ponto.
31. Quando se semeia (όταν σπαρή). Esta expressão é repetida no versículo 32.
Aqui a ênfase recai sobre όταν, quando. Ela é pequena, quando é semeada. No ver
sículo 32, a ênfase recai sobre σπαρή, ela é semeada. A semente começa a crescer a
partir do tempo em que ela é semeada.
152
M arcos — C ap. 4
33. Tais. Implicando que Marcos conhecia ainda outras parábolas que foram
contadas naquela época.
36. Assim como estava, no barco. Assim como ele estava, no barco, no qual
estava sentado. Marcos acrescenta o detalhe sobre as embarcações que o acom
panhavam.
No mar da Galileia o vento tem uma força e subitaneidade; e isto ocorre, sem dúvida,
porque aquele lago fica a uma profundidade tal que o sol rarefica enormemente o seu
ar e o vento que sopra em altas velocidades em cima de um platô longo e plano, reúne
muita força ao varrer por completo as terras planas do deserto, até que, repentina
mente, encontra aquela enorme lacuna no meio do seu caminho, e nela, irresistivel
mente, precipita-se16.
38. Uma almofada (το προσκ^φάλαιον). O artigo definido indica uma parte bem
conhecida do equipamento do barco —a almofada de couro cru que ficava na popa
da embarcação para uso do timoneiro. A t b e bj traduzem literal e adequadamen
te: o travesseiro.
Mas quem é este (τις αρα οΰτός έοτιν;). A kjv considera melhor a tradução
do termo τιοταπός de Mateus, que tipo de (8.27), que a do pronome interrogativo
τις, quem, de Marcos. A tb apresenta, acertadamente: Quem, porventura, é este? O
vocábulo porventura (αρα) é argumentativo. Já que estas coisas acontecem, quem,
então, é este homem?
Capítulo 5
Em lugares imundos, imundos em função dos ossos dos mortos que ali estavam. Para
aqueles que não sentiam repulsa destes lugares, os sepulcros dos judeus proporciona
vam um grande abrigo, por se tratarem de cavernas naturais ou de cortes esculpidos
por arte nas rochas, normalmente, tão grandes a ponto de necessitarem de colunas,
e composto de celas nas suas laterais, para a acomodação dos cadáveres. Por serem,
também, na parte externa das cidades e, frequentemente, em lugares remotos e soli
tários, eles atrairíam aqueles que buscavam fugir de toda forma de comunhão com os
seus pares18.
154
M a r co s - C ap. 5
a pes, um pé. O plural anglo-saxão de fot (pé) é fet; de forma que grilhão (fetter) é
o mesmo que pisador feeter). Assim também Chaucer:
5. Clamando (κράζων). A teb traduz soltando gritos, mas t b : gritando em alta voz.
O verbo denota um grito inarticulado; um som agudo, um guincho. Aristófanes
utiliza este vocábulo para se referir às rãs19, e aos berros de um camponês20.
Que tenho eu contigo? (τί έμοί και σοί;). Literalmente, ο que existe para mim
epara ti? O que temos em comum?
Conjuro-te por Deus. Expressão mais forte do que a utilizada por Lucas:
rogo-te. O verbo ορκίζω, conjuro-te, é censurado pelos gramáticos como expres
são deselegante.
8. Porque lhe dizia (ελεγεν). No tempo imperfeito, ele estava dizendo-, cuja força
é dissipada pela arc e outras versões brasileiras. O imperfeito nos fornece o
motivo para esta estranha súplica do espírito imundo. Jesus estava lhe dando uma
ordem, estava dizendo saia daí; e, como no caso, do jovem epilético no monte da
Transfiguração, o espírito aturdido descarregava a sua maldade sobre o homem.
A tradução literal do imperfeito revela a simultaneidade do exorcismo de Cristo,
o irromper da maldade demoníaca vem com o grito: Não me atormentes.
Dois mil. Como de costume, somente Marcos nos fornece o detalhe dos números.
Vestido. Compare com Lc 8.27. Desde muito tempo, não andava vestido.
18. Entrando ele (έμβαίνοντος αυτού). O particípio está no tempo presente. Não
depois dele haver embarcado, mas enquanto ele estava no ato de embarcar. Por isso, a
n v i , acertadamente, apresenta: quando Jesus estava entrando. Isto encontra cor
respondência ao imperfeito descritivo ιταρεκάλεΐ: Enquanto ele estava pisando
dentro do barco, o homem restaurado estava suplicando a ele.
23. Minha filha (το θυγάτριόν). No original filhinha). O detalhe afetuoso no uso
do diminutivo é peculiar a Marcos.
24. Foi (άπήλθ^ν). Literalmente, foi embora. O tempo aoristo, denotando uma
ação que ocorre de uma vez por todas, está em contraste com os imperfeitos,
ήκολούθ^ί, continuou seguindo, e συνέθλιβον, continuou atropelando. A multidão
continuou seguindo e atropelando à medida que Jesus caminhava. A preposição
σύν, junto, no último verbo, indica a pressão conjunta de uma multidão unida. Cp.
n tlh , v. 3 1: apertando de todos os lados.
Se estas coisas não adiantarem, outras doses, cerca de dez ao todo, são pres
critas, dentre elas;
Sejam cavados sete valas, nas quais serão queimados alguns cortes de vinhas, que não
tenham ainda quatro anos de idade. Que a mulher tenha em mãos uma taça de vinho,
e que seja guiada para longe desta vala e faça-se com que ela se sente sobre aquela. E
que ela seja removida daquela cova, e se sente sobre outra, dizendo a ela, a cada movi
mento: “Levanta-te do teu fluxo!”*1.
Com muitos médicos (υπό). Literalmente, debaixo de, sob; isto é, debaixo das
mãos de.
28. Porque dizia (ελεγεν). Tempo imperfeito. Ela estava ou continuava dizendo,
enquanto se apertava por entre a multidão, seja para si mesma ou para as demais
pessoas.
29. Sentiu - estar já curada. Observe a alteração ilustrativa nos tempos ver
bais: εγνω, ela soube, ίάται, ela está curada.
157
M arcos — C ap. 5
lugar, o seu poder, em segundo lugar, que o seu poder havia saído. Esta frase e a
seguinte são peculiares a Marcos.
32. Ele olhava em redor (περιεβλεπετο). Tempo imperfeito. Ele continuou olhan
do em redor para avistar a mulher que havia se escondido em meio à multidão.
34. Em paz (elç εΐρήμην). Literalmente, dentro da paz. Contemplando a paz que
lhe estava reservada. Somente Marcos acrescenta: e sê curada deste teu mal.
35. Do principal da sinagoga. Da casa dele; pois ele mesmo (o principal ou,
líder da sinagoga) está sendo interpelado.
Enfadas (σκύλλας). Vide Mt 9.36. Compare com Lc 11.22, onde vemos o cog-
n a to σκύλα, espólios, coisas rasgadas o u arrancadas de um inimigo. A nvi e arc
trazem incomodar, a n tlh , aborreça.
36. Tendo ouvido. Esta tradução é feita a partir da leitura άκούσας (Lc 8.50),
porém, a correta é παρακούσας, que pode ser vertida como não prestar atenção
(cp. Mt 18.17), ou como ouvir por acaso, sendo que esta última opção, de maneira
geral, parece a mais natural. Desconsiderar seria mais apropriado se a mensagem
tivesse sido dirigida ao próprio Jesus; ela, porém, tinha por destinatário o princi
pal da sinagoga. Jesus a teria ouvido por acaso. O particípio presente λαλούμεvou,
sendofalado, parece se encaixar nesta situação.
40. Tendo-os feito sair. Bengel afirma que: “Uma autoridade maravilhosa na casa
de um estranho. Ele era, verdadeiramente, o senhor da casa”. Somente Marcos relata
a ida dos pais, junto com três dos discípulos, ao aposento onde estava a menina.
41. Menina (κοράσιον). Não se trata de um termo clássico. Mateus também uti
liza o vocábulo.
Capítulo 6
3. O carpinteiro. Este termo, segundo Farrar: “lança o único feixe de luz que
brilha sobre o teor contínuo dos primeiros trinta anos da vida de Cristo, desde a
infância, até a sua vida adulta”22.
14. Se tom ara notório. Bengel afirma que: “Mas, no que diz respeito ao boato,
Herodes não teria tido conhecimento dele. O palácio, geralmente, é um lugar
onde as novidades espirituais não têm muito espaço”.
159
M arcos - C ap . 6
25. A narrativa de Marcos enfatiza a forma incrivelmente rápida como este as
sassinato se deu. Ela entrou apressadamente e exigiu o cumprimento do seu
desejo naquele exato momento.
160
M arcos - C ap . 6
Prato. V id e Mt 14.8.
27. Um dos termos favoritos de Marcos: logo. O rei foi rápido na sua resposta.
Este homem, cuja vida interior estava exaurida; que era feito de contradições, que
falava do seu reino como Assuero, mas também era escravo da sua Jezabel; ouvindo de
boa vontade ao profeta, e assassinando-o de má vontade; que é saduceu, mas considera
a ressurreição do corpo; que tem um temor supersticioso ao Senhor Jesus, mas, mesmo
assim, tem curiosidade de conhecê-lo*3.
dos servos que abasteciam as mesas. Isto explica a disposição da multidão aqui
descrita por Marcos. As pessoas se sentaram, literalmente, em grupos de mesas, e
se reuniram como convidados à mesa; alguns grupos com cem, ou pouco mais,
pessoas, outros grupos com cinquenta, em formação de quadrados ou retângulos
com um dos lados abertos, para que os discípulos pudessem chegar a todos e
distribuir os pães.
44. Homens (ávôpeç). Não um termo genérico, mas um vocábulo que inclui ho
mens e mulheres; mas, literalmente, homens. Compare com Mt 14.21, além das
mulheres e crianças·, um detalhe que se poderia esperar de um texto de Marcos.
Falou com eles (έλάλησεν μετ’ αυτών). Mateus e João apresentam o dativo
simples, αύτοΐς, a eles. A forma com eles de Marcos é mais familiar, e passa a ideia
de uma conversa mais amistosa e incentivadora. É significativo notarmos, diante
da relação de Pedro com este Evangelho, que Marcos omite o incidente da cami
nhada de Pedro sobre as águas (Mt 14.28-31).
O milagre dos pães (έπ ί τοΐς αρτοις). Na bj consta a respeito dos pães. Literal
mente, sobre, na questão dos. Eles não argumentavam a partir da multiplicação dos
pães a fim de explicar o domínio das águas.
53. Ali atracaram (προσωρμίσθησαν). Peculiar a Marcos. Άνεβη, ele subiu (v. 51),
parece indicar uma embarcação de porte considerável, que se elevava a uma al
tura bem grande em relação ao nível da água. Eles podem ter ancorado longe
da praia.
Trazer (περιφερειν). Περί, para perto, um cá e outro lá, onde quer que Cristo
pudesse estar naquele momento.
Orla. Vide Mt 9 .2 0 .
Capítulo 7
Pois quando a água era derram ada so b re as m ãos, e la s p recisavam ser erguidas, d e form a
que a água não co rresse n em acim a do pulso, n em de v o lta para a mão; o m elhor, logo,
era dobrar o s d ed os em form a de punho. P or isso (com o L ig h tfo o t a certad am en te o b ser
va), M arcos 7.3, d everia se r trad u zid o co m o salvo se eles lavarem as mãos com opunhxfs.
164
M arcos - C ap . 7
Na lxx, o verbo ocorre quatro vezes: Is 2 1 .4, o horror apavom-me. Na lxx , a iniqui
dade me batiza (βαπτιζβ.); 2Rs 5.15, para descrever os mergulhos de Naamã no Jordão
(φαπτίσατο); Jt 12.7, o banho que Judite tomou (φαπτίζετο) na fonte; Sr 31.25, descreve
o ato de uma pessoa ser batizada (βατιζόμενος) por ter encostado em um cadáver.
O uso que o Novo Testamento faz do termo para descrever a submersão para
fins religiosos, pode remontar aos banhos levíticos. Vide Lv 11.32 (referindo-se
a vasos); 11.40 (a roupas); Nm 8.6-7 (ao espargimento de água purificadora); Ex
30.19,21 (referindo-se às lavagens das mãos e dos pés). O vocábulo parece ter
sido, naquela época, um termo técnico que designava este tipo de banho (cp. Lc
11.38; Hb 9.10; Mc 7.4) e, logo, não poderia estar limitado ao significado de imer
so. Assim, a lavagem dos potes e vasos para fins de purificação cerimonial não
pode ter sido feito por meio do mergulho dessas peças na água, o que tornaria
impuro toda a água utilizada para a purificação. A palavra pode ser entendida no
sentido de lavar ou aspergir.
O Didaquê ou “Ensino dos Apóstolos” (vide nota sobre Mt 10.10) lança luz
sobre a elasticidade da interpretação do lexema, nas instruções que passa para
a cerimônia de batismo. “Batiza - em água viva (isto é, corrente). Mas, se não
tiveres água viva, batiza em outra água; e se não consegues em água fria, batiza
em água morna. Mas se não tiveres nenhuma, nem outra, derrama água sobre a
cabeça três vezes em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (cap. 7).
Jarros (ξεστών). Mais uma das palavras latinas de Marcos, adaptada do latim
sextarius, a medida da capacidade cúbica de um cesto.
10. Honra. A w y c liffe apresenta: adora. Compare com a tradução feita por ele
para Mt 6.2: “para serem adorados pelos homens”; 13.57: “Não há profeta sem
adoração, a não ser na sua pátria”; e especialmente Jo 12.26: “E, se alguém me
servir, meu Pai o adorara’. A bp traz: sustenta.
11. Corbã. Somente Marcos apresenta o termo original para, a seguir, fornecer-
nos a sua tradução. Vide nota sobre Mt 15.5.
165
M arcos - C ap . 7
17. Os discípulos. Mateus diz que foi Pedro. Não temos aí nenhuma discrepân
cia. Pedro falava pelo grupo.
18. Assim. Tão faltos em inteligência a ponto de não compreenderem aquilo que
transmiti à multidão.
19. Fora (άφεδρώνα). Liddell e Scott apresentam uma única definição - uma la
trina, cloaca·, e derivam este vocábulo de έδρα, assento, nádegas,fundamento.
166
M arcos - Cap. 7
167
M arcos - C ap . 7
24. Foi. Vide nota sobre 6.31. A entrada na casa e o desejo de ficar isolado são
notas peculiares a Marcos.
168
M arcos - C ap. 8
Falar (λαλεΐν). Vide nota sobre M t 28.18. A ênfase não recai sobre o conteúdo,
mas sobre o fato deles falarem.
Capítulo 8
9. Quatro mil. Mateus (15.38) menciona um detalhe que seria típico do estilo de
Marcos: além de mulheres e crianças.
24. Vejo os homens, pois os vejo como árvores que andam (seguindo a leitu
ra: Βλέπω τους ανθρώπους δτι ώς δένδρα όρω πφιπατοΰντας). A t b traz: Vejo os
homens, porque, como árvores, ospercebo andando. Uma leitura apurada, em relação
à da k j v (Βλέπω τους άνθρώπους ώς δένδρα περιπατοΰντας): Vejo homens como
árvores que andam. Ele os via de forma embaçada. Eles se pareciam com árvores,
grandes e disformes; porém, sabia que se tratavam de homens, pois caminhavam
de um lado para o outro.
29. Ele lhes disse (έπηρώτα). Mais exatamente, ele questionou on perguntou, como
vemos na rv. Marcos omite o elogio a Pedro. Vide Introdução.
32. Dizia abertam ente estas palavras. Exclusividade de Marcos. Não como
um segredo ou mistério como vemos nas suas palavras acerca da ascensão ou da
edificação do templo em três dias. Não de forma ambígua, mas explicitamente. Na
TB consta dizia claramente.
34. Jesus agora faz uma pausa, pois as suas palavras seriam dirigidas a todos os
que o seguiam. Por isso, ele chama a multidão, juntamente com os discípulos.
Detalhe também próprio de Marcos.
Quiser (θέλει). A t b traz a leitura quer vir. Vide nota sobre Mt 1.19. Mais en
fático do que estar com vontade defazer algo.
A sua cruz [jòv σταυρόν aircoüj. O pronome αύτοΰ, seu/sua, está em uma
posição que denota ênfase.
38. Das minhas palavras. Bengel observa que é possível a uma pessoa confessar
Cristo, porém se envergonhar de uma ou outra afirmação feita por Ele.
Capítulo 9
5. Tomando a palavra. Mesmo sem ter sido interpelado Pedro toma a palavra;
a transfiguração do Senhor foi um apelo a ele e o apóstolo desejava externar a
sua resposta.
7. Filho amado. Na t b consta Filho dileto, en quanto ecp traduz p o r Filho muito amado.
14. Alguns escribas. A particularização dos escribas como o grupo dos questio-
nadores, e os versículos 15-16, são aspectos característicos de Marcos.
Despedaça-o (ρήσσει). A t b traz a leitura lança por terra. O verbo é uma das
formas de ρήγνυμι, quebrar. A forma ρήσσω é utilizada no grego clássico para
descrever dançarinos que golpeiam o chão, assim como para narrar as batidas em
tambores. Posteriormente, na forma de ράσσειι», um termo utilizado por lutado
res: derrubar, ou pôr abaixo, lançarpor terra, que é o conceito adotado pela maioria
das versões brasileiras.
Range os dentes. Esta expressão, juntamente com vai-se secando são caracte
rísticas de Marcos.
172
M arcos - C ap . 9
23. Se tu podes crer (το el δύνη). Literalmente, o se tu p o d es. O vocábulo crer está
ausente dos melhores textos. É difícil explicar a um leitor da língua portuguesa
a força do artigo definido neste caso. A esse respeito, Meyer comenta: “Ele pega
substancialmente a palavra proferida pelo Pai, e a coloca com uma ênfase viva,
sem ligá-la à construção posterior, a fim de relacionar o seu cumprimento à fé da
própria pessoa que pede”. Podemos parafrasear isto. Jesus disse: “que se tu p o d e s
de ti - como consideras isso, todas as coisas são possíveis”. Existe um jogo entre
os vocábulos δύνη, p o d e s, e δ υ ν α τ ά , p o ssív e l, que não foi traduzido com nitidez. “Se
tu o p o d e s - todas as coisas p o d e m ser.”
24. Clamando - disse (κράξας - eÀeyei'). O primeiro termo denota o grito desar
ticu la d o , uma exclam ação, seguido pelos vocábulos: “Senhor, eu creio”.
37. Em meu nome. Literalmente, “sobre (επί) o meu nome”. VideM.t 18.5.
38. Em teu nome. A consciência de João foi despertada pelas palavras do Se
nhor. Eles não haviam recebido o homem que expulsava demônios em nome de
Cristo.
42. Grande pedra de moinho. Vide Mt 18.6. Na e p consta apenas pedra de moi
nho. Observe o presente e o perfeito ilustrativos; a pedra de moinho é erguida, e
ele fo i lançado.
50. Se tom ar insulso (άναλον γενηται). Literalmente, possa ter se tornado insulso.
Compare com Mt 5.13.
Capítulo io
8. Serão uma só carne (εσονται εις σάρκα piau). Literalmente, “estarão sobre
uma carne”. A preposição expressa, de forma mais elucidativa que a a r c , como se
dará a transformação de ambos em um.
25. Agulha (ραφίδος). Um termo estigmatizado pelos gramáticos como não clás
sico. Um deles, Frínico, afirmou: “Quanto a ραφίς, ninguém sabe do que se trata”.
Mateus também faz uso deste vocábulo, vide Mt 19.24. Lucas utiliza βελόνης, a
agulha cirúrgica, vide Lc 18.25.
80. Casas. Estes detalhes são peculiares a Marcos. Observe, de forma especial, a
expressão com persegu ições, e v id e In tro d u çã o a este livro. Com doce delicadeza, o
175
M arcos - C ap. 11
Senhor omite o termo esposas; de forma que o escárnio de Juliano, ao dizer que o
cristão teria a promessa de receber cem esposas, não tem fundamento.
Capítulo ll
176
M arcos - C a p . 11
4. E n tre dois cam inhos (έπι του άμφόδου). ’Άμφοδον é, literalmente, qual
quer rua que passe ao redor (άμφί) de um lugar ou de um agrupamento de
edificações. Por isso, o caminho tortuoso. O vocábulo ocorre apenas nesta
passagem do Novo Testamento. Na r v consta na rua aberta, o que, em uma
cidade do Oriente é, normalmente, tortuosa. Talvez, em contraste com a
tortuosidade costumeira, a rua de Damasco, onde Paulo se alojou, era cha
mada Direita (At 9.11). “Trata-se de uma nota topográfica”, afirma o Dr.
Morison, “que somente poderia ser feita por uma testemunha ocular”. O
detalhe do versículo 4 é característico de Marcos. De acordo com Lucas
(32.8), Pedro era um dos enviados e a narrativa provavelmente tem a sua
marca.
8. Pelo caminho. Tanto Mateus quanto Lucas apresentam èv, em-, mas Marcos
apresenta elç, para dentro. Eles lançaram as suas vestes dentro do caminho e nele
as espalharam.
11. Tendo visto tudo ao redor. Peculiar a Marcos. Como o senhor da casa, inspeciona
va. Meyer observa: “Um olhar sério, pesaroso, judicial”. Compare com 3.5,34.
Foi ver (ei άρα). Se, por acaso, isto é, caso a árvore tivesse folhas - ele pudesse
encontrar ali algum fruto que, no caso da figueira, antecede a folhagem. Somente
Marcos relata que ainda não havia chegado à época dos figos.
15. Cambistas (κολλυβιστών). Outro vocábulo não clássico, mas utilizado por
Mateus. Ezra Abott afirma: “Este tipo de termo, naturalmente, encontrava es-
177
M a r c o s - C ap. 12
paço no grego mestiço falado por escravos e homens libertos que formaram as
primeiras congregações da Igreja em Roma”34. Videnota sobre Mt 21.12.
Templo (ιερού). Vide nota sobre Mt 4.5. O recinto do Templo, não ο ναός, ou
santuário. O povo seria tentado a transportar vasos e outros utensílios através
dele, a fim de poupar um longo percurso. Além disso, os judeus não conside
ravam o pátio dos gentios como digno do respeito devido às outras partes do
recinto. Isto, nosso Senhor reprova.
17. Por todas as nações. A tradução implica que ela será chamada por parte
de todas as nações. Mas prefira a versão da t b ·. uma casa de oração para todas as
nações (πάσιν τοις εθνεσιν).
19. E, sendo já tarde (όταν). Literalmente, toda vez que a tarde caísse; não como
referência à tarde da purificação do Templo, mas às tardes de todos os dias.
C a pítu lo 12
178
M ar c o s- C ap . 12
10. Escritura (γραφήν). Uma passagem das Escrituras. Por isso, frequentemente
mencionada como esta escritura; outra escritura; a mesma escritura. Lc 4.21; Jo
19.37; At 1.16.
18. Que (oÍTiveç). Este pronome marca os saduceus como uma classe: o ra m o d o
ju d a ís m o caracterizado pela negação da ressurreição.
24. Porventura (διά τοΰτο). Uma tradução que obscurece o significado. Os ter
mos apontam à frente, em direção às duas orações seguintes. A razão do vosso
erro é a vossa ig n o râ n c ia acerca d a s E s c ritu ra s e d o p o d e r d e D eu s.
26. Como Deus lhe falou na sarça. Uma tradução inadequada. A expressão
na sa rç a (έττ'ι του βάτου), refere-se a uma seção específica do Pentateuco, Ex
3.2-6. Os judeus estavam acostumados a designar porções das Escrituras,
em função daquilo que consideravam mais notável no seu conteúdo. Por isso,
a TB, acertadamente, apresenta: n a p a s s a g e m c o n c e rn e n te à sa rç a . A bj traz a
leitura no liv r o d e M o is é s , no trech o so b re a sa rç a . O artigo (του) se refere a isto
como algo familiar. Compare com Rm 11.2, k v Ή λι^; isto é, na Escritura que
fala sobre Elias.
30. De todo o teu coração (έξ όλης τής καρδίας σου). Literalmente, d o te u cora
ção todo. O coração, não somente como a sede das emoções, mas também como o
centro do nosso ser complexo - físico, moral, espiritual e intelectual.
32. M uito bem, M estre, e com verdade disseste que há um só Deus Γκαλώς,
διδάσκαλβ, έπ’ άληθΕΐας ίΐπας ότι €ίς έστι 9eóç]]. Todos os melhores textos
omitem o vocábulo D eu s, Oeóç.
Bem (καλώς). Termo exclamatório, como se diz “bom V ao ouvirmos algo que
aprovamos.
Que ( ό τ ι ) . Traduzido corretamente pela a r c , que traduz o termo como que, e faz
da afirmação toda uma frase contínua: T u verd a d e ira m e n te disseste que E le é um.
34. Sabiamente (νουν^χώς). Derivado de νους, m ente, e ’έχω, ter. Estar de posse da
própria mente: “te r o seu j u í z o sobre ele”. Ocorrência única dessa palavra no texto
do Novo Testamento.
37. A grande multidão (ò πολύς όχλος). Não fazendo distinção social, mas a
a multidão como um todo.
g r a n d e m a ssa d o povo·,
40. As casas das viúvas. As pessoas normalmente deixavam toda a sua fortuna
para o Templo, e uma boa parcela do dinheiro era destinada, no fim das contas,
181
M arcos - C ap. 12
Dinheiro (χαλκόν). Literalmente, cobre, que era o que a maioria das pessoas
entregava como oferta.
43. Esta pobre viúva (ή χήρα αυτή ή πτωχή). A ordem dos termos no grego
é muito sugestiva, formando uma espécie de clímax: esta viúva, a pobre, ou e ela
pobre.
182
M arcos - C ap. 13
Capítulo 13
1. Pedras. As que formavam o arco da ponte que cobria o Vale de Tiropeão (ou
dos produtores de queijo), ligavam a antiga cidade de Davi ao pórtico real do Tem
plo, e mediam 7,3 metros de comprimento por 1,8 metros de largura. Contudo,
estas, de forma alguma, eram as maiores utilizadas na construção do Templo. As
pedras angulares das extremidades sudeste e sudoeste mediam de 6 a 12 metros
de comprimento e pesavam mais de cem toneladas36.
Fomes. Durante o reinado de Cláudio, entre os anos 41-54 d.C., quatro pe
ríodos de escassez alimentar estão registrados: um em Roma, nos anos 41-42;
um na Judeia, no ano 44; um na Grécia, no ano 50; e, novamente, em Roma, no
ano 52 d.C., quando o povo se insurgiu numa rebelião e ameaçou a vida do im
perador. Tácito afirmou que esses períodos foram acompanhados de frequentes
Este ano, desgraçado por tantos atos de horror, foi também distinto pelos deuses com
tempestades e doenças. Campania foi devastada por um furacão que destruiu as edifi
cações, as árvores e os frutos da terra em todas as direções, até mesmo os portões da
cidade, dentro da qual uma pestilência dizimou todas as camadas da população, sem
qualquer perturbação atmosférica que pudesse ser enxergada pelos olhos. As casas
ficaram entupidas com os mortos, as estradas com os funerais: não houve distinção
nem de sexo, nem de faixa etária. Escravos e homens livres pereceram de igual forma
em meio aos lamentos das suas mulheres e crianças que, normalmente, eram levados
até a pira funerária ao lado da qual eles se sentavam aos prantos e eram, junto com ela,
consumidos. As mortes dos cavaleiros e senadores, em função da promiscuidade da
quela gente, não mereciam tanto lamento, visto que, ao sucumbirem diante da morte
tal quais as pessoas comuns, eles pareciam prenunciar a crueldade do príncipe37.
Não estejais solícitos de antemão (μή upopepipvâxe). Vide nota sobre Mt 6.25.
19. A criação, que Deus criou. Observe a ampliação específica, e compare com
o versículo 20: os escolhidos ou eleitos, que Ele escolheu.
184
M arcos - C ap. 13
25. As estrelas cairão do céu. Uma tradução que está bem aquém dos con
tornos ilustrativos do original: oi άστέρρς ’έσονται έκ του ουρανού πίπτοντας:
as estrelas estarão caindo do céu. Assim também a r v , trazendo um significado de
continuidade, como de uma chuva de estrelas cadentes.
27. D a extremidade da terra até a extremidade do céu (απ’ άκρου γης 'έως
άκρου ουρανού). Dos limites mais remotos da terra, concebida como uma super
fície, até onde as extremidades mais remotas dos céus fixam o limite da terra.
Compare com Mt 24.31. A expressão de Marcos é mais poética.
35. Vigiai (γρηγορ^ΐτε). Um termo diferente do que ocorre no versículo 33. Vide
também versículo 34. O sentido, nesse caso, é o de um homem adormecido que se
levanta, ao passo que o anterior transmite o significado de mera vigilância. Aqui,
o autor acrescenta o juízo de prontidão. Compare com Mt 14.38; Lc 12.37; lPe
5.8. Os apóstolos são, assim, comparados com os porteiros, versículo 34; o perío
do noturno simboliza bem a figura. No Templo, durante a noite, o comandante
fazia as suas rondas e os guardas precisavam se levantar, com a sua aproxima
ção, e saudá-lo de um modo específico. Todo guarda que fosse achado dormindo
em horário de trabalho era punido com uma surra, e os seus uniformes eram
lançados ao fogo. Compare com Ap 16.15: “Bem-aventurado aquele que vigia e
185
Marcos - Cap. 14
guarda as suas vestes”. Os preparativos para o serviço matinal exigiam que todos
estivessem atentos bem cedo. O sacerdote que comandava podería bater à porta a
qualquer momento. Os rabinos utilizam quase os mesmos termos das Escrituras
para descrever a vinda inesperada do Mestre. Segundo Edersheim, “às vezes,
ele vinha na hora do canto do galo, às vezes um pouco antes, às vezes um pouco
depois. Ele veio e bateu e a porta foi-lhe aberta”38.
37. Vigiai. O vocábulo que encerra e resume a sua mensagem é também o mais
enfático do versículo 35: Fiquem acordados e alertas.
C a p ít u l o 1 4
l. A Páscoa e a Festa dos Pães Asmos (το πάσχα καί τα άζυμα). Literalmente,
a páscoa e os asmos. Tratava-se mesmo de apenas uma festividade.
8. Esta fez o que podia (ô €σχεν 4ποίησ€ν). Literalmente, o que ela tinha, elafez.
Peculiar a Marcos.
14. Aposento (κατάλυμά μου). Vide Lc 22.11. Este não é um termo clássico, e,
ao ser utilizado por um oriental, ele designa um príncipe tártaro ou uma hospe
daria para caravanas. Por isso, temos o vocábulo estalagem em Lc 2.7. Meu (μου)
aposento: era uma prática comum que mais de um grupo compartilhasse da ceia
pascal no mesmo ambiente; mas Cristo terá seu aposento, para uso exclusivo dele
e dos seus discípulos.
15. E ele (αυτός). O grego é mais enfático. “Ele mesmo vos mostrará”. Assim ve
mos também na rv provavelmente o dono da casa era um discípulo.
30. Que o galo cante. Vide nota sobre Mt 26.34. Somente Marcos acrescenta
duas vezes este detalhe.
187
M arcos - C ap. 14
41. Basta (απέχει). Peculiar a Marcos. Neste sentido impessoal, o termo não
ocorre em nenhuma outra parte do Novo Testamento. Os expositores estão
completamente à deriva no que diz respeito ao seu significado.
43. Um dos doze. V id e nota sobre Mt 26.47; como também o vocábulo m u lti
dão.
44. Sinal (σύσσημον). Um composto grego tardio usado somente por Marcos
nesta passagem. Compare com σημεΐον, Mt 26.48. O prefixo συν, com , denota a
força de um sinal mútuo·, um sinal a co rd a d o entre partes.
54. Pátio (αυλήν). Adequadamente traduzido pela arc como p á tio : o quadrilátero
em cujos lados eram edificadas as câmaras. V id e Mt 26.3.
188
M arcos - C a p. 14
Servidores. A ara traz serventuários, a ntlh e nví, guardas. Vide nota sobre
Mt 5.25.
58. Construído por mãos. Marcos acrescenta este detalhe; também construído
sem mãos, e a frase seguinte.
72. Retirando-se dali (Ιιτιβαλών). Derivado de éiú, sobre, e βάλλω, lançar. Quan
do ele lançou daquele lugar a sua mente.
189
M a rcos- C ap. 15
Capítulo 15
Num motim [τη στάσεις. Na teb, a rebelião. Observe o artigo: o motim por
que Barrabás e os seus comparsas haviam sido presos. A ara traduz por um tu
multo, e a ntlh, como uma rebelião.
8. Dando gritos (άναβοήσας). Mas os melhores textos leem άναβάς, tendo subido,
como atesta a bj. Na teb, consta subiu, enquanto a ecp traz: opovo que tinha subido
começou a pedir-lhe.
11. Incitaram (άνεσεισαν). Σείω significa, abalar, sacudir. Por isso σεισμός, é um
abalo de terra, um terremoto. Vide nota sobre M t 13.8. Uma tradução igualmente
adequada é apresentada pela tb : instigaram.
15. Satisfazer (το ικανόν ποιήσαι). Literalmente, fazer a coisa suficiente. Compa
re com a expressão popular: fazer a coisa certa. Trata-se de um latinismo utilizado
somente por Marcos. A tb traduz contentar a multidão.
190
M arcos - C a p . 15
17. Purpura. Vide nota sobre Mt 27.28. Mateus acrescenta uma palavra que se
refere à capa de um soldado, segundo a versão kjv ; a arc registra somente capa.
Marcos simplesmente fala de púrpura.
24. O que cada um levaria (τις τί άρη). Literalmente, quem podería levar o quê.
Um acréscimo de Marcos.
26. Por cima dele, estava escrita a sua acusação. Mateus diz simplesmente
acusação; Lucas, um título por cima dele; João, título. Vide nota sobre Mt 27.37.
3 2 .0 Cristo. Vide nota sobre M t 2.1. Uma referência à confissão diante do Sumo
Sacerdote (14.62).
191
M arcos —C ap . 16
45. Corpo (πτώμα). Mais adequadamente traduzido por cadáver, já que o vocábulo
somente é utilizado em referência a um corpo morto. Vide nota sobre Mt 24.28.
Capítulo 16
2. Ao nascer do sol (άνατε ίλαρχος τού ήλιου). Traduzido de forma mais correta
como quando o sol estava alto.
3. Peculiar a Marcos.
De acordo com um grande número dos mais renomados críticos do texto bí
blico, o restante deste capítulo é considerado como produto da redação de outra
mão, e não de Marcos. Esta parte é omitida nos dois manuscritos mais antigos,
chamados “X” (Sinaítico) e “b” (Vaticano).
9. O prim eiro dia da semana (πρώτη σαββάτου). Uma expressão não utilizada
por Marcos. No versículo 2 deste capítulo, lemos μιας σαββάτων.
10. Ela (εκείνη). Uso absoluto do pronome sem precedente em Marcos. Vide
também os versículos 11,13. Isto implicaria uma ênfase não tencionada. Compa
re com 4.11; 12.4-5,7; 14.21.
Partindo (πορευθεΐσα). Também nos versículos 12,15. Foi, ir. Este verbo com
o significado de ir não tem nenhuma outra ocorrência neste Evangelho, salvo em
compostos.
Àqueles que tinham estado com ele (τοίς μετ’ αυτού γενομενοις). Um cir-
cunlóquio estranho aos evangelhos.
12. E, depois, (μετά ταύτα). Uma expressão que jamais foi utilizada por Marcos.
Outra forma (έτερ$ μορφή). Mais adequadamente traduzido como: uma forma
diferente.
194
L is t a d e P a l a v r a s G r e g a s E m p r e g a d a s s o m e n t e p o r M a r c o s
196
L ucas
I n t r o d u ç ã o a o s E s c r it o s d e L u c a s
Algumas pessoas consideram que Lucas era um homem livre, dentre o grande
número de médicos que pertenciam àquela classe de cidadãos, pois os gregos e os
romanos estavam acostumados a educar alguns dos seus empregados na ciência
da medicina e a conceder-lhes a liberdade em troca dos seus préstimos. Os mé
dicos, de modo geral, não eram considerados uma classe superior à dos escravos,
e percebe-se que contrações como o as, que ocorre no final do nome de Lucas em
lugar da forma original e expandida , Lucanus, eram, peculiarmente, comuns em
nomes de escravos.
A sua ligação com Paulo fez surgir, logo num período muito primitivo, a opi
nião de que ele tenha escrito o seu Evangelho sob a supervisão daquele apóstolo.
Apesar de o seu prefácio não fazer qualquer menção à sanção paulina ao seu
Evangelho, a obra, contudo, apresenta coincidências marcantes com as epístolas
de Paulo, tanto em termos de linguagem quanto de idéias e no seu espírito. O
próprio Evangelho lança a concepção da vida e da obra de Cristo que eram a
base dos ensinamentos de Paulo. Ele representa as posições de Paulo, tal qual o
Evangelho de Marcos o faz com as posições de Pedro. “Existe uma semelhança
marcante entre o estilo de Lucas e o de Paulo, que corresponde tanto à simpatia
espiritual, quanto à grande intimidade existente entre ambos”. Cerca de duas
centenas de expressões de uso comum entre Lucas e Paulo podem ser encon
tradas, e são, em maior ou menor grau, forâneas aos outros autores do Novo
Testamento. Vejamos, aqui, alguns exemplos delas:
L ucas Paulo
άθετάν, rejeitar, 7.30; 10.16 G1 2.21; 3.15; lTs 4.8
αιχμαλώτιζαν, levar cativo, 21.24 Rm 7.23; 2Co 10.5
ανάγκη, 14.18; na expressão εχω
ανάγκην, [eu] preciso 1 Co 7.37
no sentido de aflição, 21.23 lCo 7.26; 2Co 6.4; 12.10; lTs 3.7, e
em nenhuma outra parte
άνακρίνειν, examinar judicialmente, lCo 2.15; 4.3; 9.3; dez vezes ao lon
23.14; At 12.19; 28.18 go da epístola
από toü νυν, desde agora, 1.48; 5.10; 2Co 5.16
12.52; 22.69
άιτ’ αΐώνος, desde oprincípio do mun Cl 1.26; Ef 3.9
do, 1.70; At 3.21; 15.18
έγκακεΐν, desfalecer, 18.1 2Co 4.1,16; G1 6.9; EfS.13; 2 Ts 3.13
διερμήνευαν, expor ou interpretar, lCo 12.30; 14.5,13,27
24.27; At 9.36
198
I ntrodução aos E scritos de L ucas
L ucas Paulo
ένδύσασθαι, revestir, vestir, 24.49, no Rm 13.12,14; lCo 15.53; 2Co 5.3 etc.
sentido moral
d μήτι, salvo se, 9.13. lCo 7.5; 2Co 13.5.
έπιφαίνειν, irradiar luz, resplande T t 2.11; 3.4.
cer, brilhar, 1.79; At 27.20.
καταργειν, estorvar, ocupar inutilmen Rm 3.3, tornar sem efeito; tornar nulo;
te, 13.7. destruir, aniquilar, anular, vinte e
seis vezes nos escritos paulinos.
μεγαλύνειν, exaltar, magnificar, 2Co 10.15; Fp 1.20.
1.46,58; At 5.13; 10.46; 19.17
L ucas Paulo
4.22 Cl 4.6; Ef 4.29
4.32 lCo 2.4
6.36 2Co 1.3; Rm 12.1
6.39 Rm 2.19
6.48 lCo 3.10
8.15 Cl í.io - ii
9.56 2 C0 10.8
10.8 lCo 10.27
10.20 Fp 4.3
10.21 lCo 1.19,27
11.41 T t 1.15
12.35 E f 6.14
20.17-18 Rm 9.33
199
I ntrodução aos E scritos de L ucas
O longo período em que Lucas viveu na Grécia, torna provável que ele tenha
em mente, de maneira especial, os leitores gregos. O mesmo caráter humanitário
e gentio dos seus escritos, em oposição aos escritos judaicos, mostra-se tanto
em Atos quanto no seu Evangelho. No que diz respeito a Atos, embora existam
tentativas de se associar a sua composição a Timóteo e a Silas, e de se identificar
Silas com Lucas, o testemunho universal da igreja antiga, não menos signifi
cativo do que a identidade de estilo, declara que Lucas é o seu autor. Cerca de
cinquenta termos que não ocorrem em outras partes do Novo Testamento são
comuns a estes dois livros.
De um ponto de vista puramente literário, o Evangelho de Lucas já foi de
clarado, até mesmo por Renan, como o mais belo livro que já foi escrito. Ele
afirmou:
O E v a n g e lh o d e L u c a s é o m a is lite r á r io d e n tr e o s e v a n g e lh o s . E m to d a s as
su a s p a r te s é r e v e la d o um e s p ír ito g r a n d io s o e d ó c il; sá b io , b r a n d o , s ó b r io e
r a z o á v e l n o ir r a c io n a l. O s s e u s e x a g e r o s , in c o n s is t ê n c ia s , im p r o b a b ilid a d e s sã o
v e r d a d e ir o s n o q u e d iz r e s p e ito à p r ó p r ia n a tu r e z a d a s p a r á b o la s e c o n s t itu e m
o se u c h a r m e . M a te u s ó r b ita um p o u c o o e s b o ç o r ú s t ic o d e M a r c o s, m a s L u c a s
faz m e lh o r : e le e s c r e v e . E le d e m o n s tr a u m a h a b ilid a d e g e n u ín a na c o m p o s iç ã o
de t e x t o s . O seu liv r o é u m a b e la n a r r a tiv a , b em e la b o r a d a , s im u lta n e a m e n te
h e b r a ic a e h e lê n ic a , u n in d o a e m o ç ã o d o d ra m a c o m a s e r e n id a d e d o id ílio ... U m
e s p ír ito d a s a g r a d a in fâ n c ia , d e a le g r ia , d e ferv o r, o s e n t im e n t o e v a n g é lic o n o
seu fr e s c o r m a is p r im itiv o , q u e d ifu n d e s o b r e to d a a le n d a u m a c o lo r a ç ã o in c o m
p a r a v e lm e n te d o c e .
200
I ntrodução aos E scritos de L ucas
202
Introdução aos E scritos de L ucas
descobrimos que Augusto, apesar de, num primeiro momento, haver reservado
Chipre para si mesmo e, por isso, ter governado aquela ilha por meio de um
p ropraetor, posterior mente, restaurou-a ao senado e a governou por intermédio
de um procônsul - fato este confirmado por moedas da época exata da visita de
Paulo a Chipre, que levavam o nome do imperador Cláudio, e do governador
provincial, com o título de ανθύπατος. Dessa maneira, Lucas está se referindo
a Gálio (At 18.12) como o procônsul ( kjv , dep u ta d o ) da Acaia, que era uma
província senatorial. Quando ele chega a Félix ou Festo, que não passavam de
governadores-deputados do p ro p ra eto r da Síria, ele os trata pelo termo geral
ήγ^μών, g o v e rn a d o r (At 23.24; 26.30). De modo semelhante, ocorre a precisão
na designação de Filipos com sendo uma colôn ia (At 16.12), e do tratamento
dispensado aos seus magistrados como στρατηγοί ou pra eto rs, um título que
eles gostavam de atribuir a si mesmos. Assim, as autoridades da cidade de
Tessalônica são chamadas de πολιτάρχαι, g o vern a n tes d a cid a d e (At 17.8), pois
Tessalônica era uma cidade livre, detentora do direito do autogoverno, e onde
os magistrados locais tinham o poder sobre a vida e a morte dos seus cidadãos.
A precisão de Lucas neste ponto encontra apoio em uma inscrição no portal em
forma de arco visto em Tessalônica, que dá este título aos magistrados daquela
cidade, juntamente com o seu número - sete - bem como, até mesmo, os nomes
de alguns que exerceram este cargo pouco tempo antes da época de Paulo. Esta
pequena inscrição contém seis nomes que são mencionados no texto do Novo
Testamento. Podemos, também, notar os asiarcas, ou p rin c ip a is d a A sia , em Éfe-
so (At 19.31), que, a exemplo dos aediles de Roma, arcavam com as despesas
das diversões públicas e, como presidentes dos jogos, estavam investidos com
o caráter de sacerdotes.
Uma precisão similar aparece no seu Evangelho, no que diz respeito às datas
dos acontecimentos mais importantes, e na descrição de lugares, como na che
gada do Senhor a Jerusalém através do monte das Oliveiras (19.37-41). Aqui, ele
revela duas visões distintas de Jerusalém nesta rota, uma irregularidade no solo
que escondia a cidade durante um tempo, depois dela já ter sido avistada pelo
viajante. O versículo 37 registra o primeiro momento em que a cidade é avistada,
e o 41 o segundo.
Na narrativa da viagem e do naufrágio, a precisão dos detalhes é impres
sionante. Ali, temos quatorze verbos que denotam o movimento de um navio,
com uma distinção que indica as circunstâncias peculiares do navio naquele
momento. Sete destes verbos são compostos de πλέω, velejar, ou n avegar. As
sim, temos άπύπλευσαυ, n a veg a r (13.4); βραδυπλοοΰντ^ς, navegar vagarosam en te
(27.7); ύπ^πλίύσαμευ, navegar a sotavento. Deste modo, também, παραλ^γόμενοι,
costear com dificu ldade (27.8); εύθυδρομήσαμ^ν, co rrer em cam inho d ire ito (16.11)
etc. Observe também os termos técnicos utilizados para descrever o esvazia-
204
I ntrodução aos E scritos de L ucas
Ele descreve o pobre Lázaro no seio de Abraão, e o chamado dos pobres, alei
jados, mancos e cegos para a Grande Ceia. Este é o evangelho do publicano, da
prostituta, do pródigo e do ladrão penitente.
Lucas é o evangelho da feminilidade. As mulheres sempre assumem um
papel de destaque quanto o assunto é o discernimento das promessas de
Deus. Os hinos de Maria e Isabel, bem como o testemunho de Ana, estão re
pletos de uma percepção espiritual cristalina, e de uma dose equivalente de
uma fé simples e vivaz. Ela aparece ministrando ao Senhor e como o tema
do seu ministério. Maria Madalena, Joana, Susana, Maria e M arta, junto
com outras, eram profundamente generosas no seu cuidado com Jesus; ao
passo que a filha de Abraão que fora aprisionada por Satanás, a triste mãe
de Nairn, aquela que tocou na orla da sua veste, e as pesarosas filhas de
Jerusalém à beira do caminho do Calvário conheciam o conforto das suas
palavras e a cura proporcionada pela virtude do seu toque que restaurava
a vida às pessoas. O termo γυνή, mulher, ocorre quarenta e nove vezes em
Mateus e Marcos, quando analisamos os dois livros de forma conjunta; já,
quando se considera somente o livro de Lucas, temos quarenta e três ocor
rências dele. Farrar expressa:
206
L ucas - C a p. 1
no Templo, da sua obediência aos pais e dos questionamentos que o menino fez
aos doutores da Lei no Templo. O Evangelho de Lucas, segundo Schaff;
Capítulo 1
PRÓLOGO
Pois (èweiófprep). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Uma conjunção com
posta; eireí, desde que, δη, como é bem sabido, e πφ, que transmite um sentido de certeza.
207
L ucas - Cap. l
com 2Tm 4.5,17. Referindo-se, também, a plena certeza. Aplicado a pessoas (Rm
4.21; Hb 10.22). Na sua aplicação a coisas, é melhor traduzido como: têm sido cum
pridas. O termo é escolhido para indicar que estes eventos ocorreram de acordo
com u m desígnio pré-concebido. A e c p traz a leitura que se realizaram entre nós.
Entre nós. Explicado pelas palavras na próxima frase: os mesmos que os presen
ciaram desde oprincípio eforam ministros da palavra.
4. Que conheças (εττιγνφς). Vide nota sobre Mt 7.16. Com a ideia de pleno co
nhecimento, ou, conforme diz respeito a Teófilo, com o máximo de conhecimento
possível a partir dos muitos que tentaram fazer esta mesma narrativa.
208
L ucas - C ap. 1
NARRATIVA
5. Rei. Um título dado a Herodes pelo senado romano por recomendação de An
tônio e Otávio. O estilo grego, agora, cede lugar ao hebraizado. Vide Introdução.
equipes. Cada uma destas ordens, executava as suas tarefas ao longo de oito
dias, de um sábado a outro, uma vez a cada seis meses. O serviço semanal era
subdividido entre as várias famílias que compunham a equipe. No sábado, a
ordem inteira estava trabalhando. Nas datas festivas, qualquer sacerdote po-
deria assumir o ministério do Santuário, e na Festa dos Tabernáculos, todas
as vinte e quatro ordens tinham obrigação de se apresentarem e assumirem
os seus ofícios. A ordem de Abias era a oitava dentre as vinte e quatro. Vide
lCr 24.10.
Templo (ναόν). O santuário, como corretam ente traduz a tb . Vide nota sobre
Mt 4.5.
13. Foi ouvida («ασηκούσθη). Com esta tradução literal do aoristo, evitamos a
questão quanto ao que se refere a oração. A referência é à oração por sua descen
dência, que, em função da sua idade avançada, Zacarias deixara de fazer, e que
ele, de certa forma, não desejava fazer naquele culto público e solene. Por isso,
o aoristo é apropriado, fazendo menção a orações feitas anteriormente. “Aquela
oração que tu não fazes mais foi ouvida’.
João. Que significa: Deus mostra o seufavor ou Jeová demonstra a sua graça.
210
L ucas - Cap. l
14. Prazer e alegria (χαρά καί άγαλλίασις). Ο segundo termo expressa uma
alegria exultante. Vide nota sobre lPe 1.6.
Já desde o ventre de sua mãe. Έ τ ι, ainda, significa enquanto ainda não havia
nascido. Compare com o versículo 41.
18. Como (κατά τι). Literalmente, de acordo com o quê? Faz-se necessário um
padrão de conhecimento, um sinal.
Não poderás falar. Numa demonstração de que o silêncio não seria voluntário.
A seu tempo (είς τον καιρόν). A preposição implica exatidão: ao final do tem
po determinado. O processo do cumprimento, que se inicia agora, continuará, είς,
até, o tempo determinado, e naquele tempo será consumado. Καιρόν, tempo, é mais
211
L ucas - C a p. 1
específico que o outro vocábulo que também designa tempo, χρόνος, pois refere-
se a um tempo determinado, um tempo adequado·, o momento certo do tempo, no
qual as circunstâncias se darão.
21. Estava esperando (ήν προσδοκών). O verbo na sua forma finita e o particí-
pio, denotando uma espera prolongada. Por isso, a tradução “esperava” da bj, nvi
e teb é preferível à arc , tb e ecp, estava esperando.
Falava por acenos (ήν διανεύων). Mais adequadamente traduzido como con
tinuava afazer sinais. Uma vez mais, o particípio acompanhado de um verbo na
forma finita, denotando as sucessivas repetições dos mesmos gestos. A n v i traz
a leitura fazia sinais.
Quando a igreja cristã estava formando a sua terminologia, o que ela fez, em parte,
criando novos termos, e, em parte, elevando-os do seu uso anterior. Deste segundo
grupo, a igreja adotou mais rapidamente os termos de uso civil e político, do que os
que eram utilizados para fins religiosos.
Por esta razão, ela adotou esta palavra, que já era utilizada pela lxx , como
o termo fixo que designaria a execução das funções sacerdotais e ministeriais, bem
como no texto do Novo Testamento para a designação do ministério dos apósto
los, profetas e mestres.
24. Concebeu (συνέλαβεν). Hobart afirma que o número de vocábulos que se re
fere à gravidez, esterilidade etc., utilizado por Lucas é quase tão grande, quanto
àquele utilizado por Hipocrates2. Compare com 1.31; 1.24; 2.5; 1.7; 20.28. Todos
estes, salvo 1.24, são peculiares a ele mesmo e, obviamente, eram de uso comum
por parte dos autores da área médica.
26. Gabriel. A anunciação e o anjo Gabriel são os temas favoritos de Dante, e ele
os descreve com uma rara beleza. Dessa maneira, ambos aparecem na muralha
esculpida que protege o lado interno da subida para o Purgatório.
213
L ucas - C ap. 1
SO. G raça (χάριν). Da mesma raiz que χαίρω, r e g o z ija r , (l) Aquilo que nos
proporciona alegria e prazer, logo, a b e le z a e a a m a b ih d a d e e x te rio re s, algo que
dá prazer à pessoa que olh a. Homero utiliza este termo para se referir à ida de
Ulisses à assembléia: “Atena lançou sobre ele a sua g r a ç a h u m a n a ou b e le z a ”5·,
e na lxx , SI 45.3: “a graça é derramada nos teus lábios”. V id e também Pv 1.9;
3.22. A mesma ideia, a da a g r a d a b ilid a d e , é transmitida em Lc 4.22, acerca das
p a la v r a s g ra c io sa s, literalmente, p a la v r a s d e g r a ç a , ditas por Cristo (Ef 4.29). (2)
C o m a u m se n tim e n to belo e a g r a d á v e l n u tr id o e ex p resso p a r a co m o p róxim o-, b o n
(2Co 8.6-7,9; 9.8; Lc 1.30; 2.40; At 2.47). Também em
d a d e , f a v o r , b o a - v o n ta d e
referência ao sentimento de g r a ti d ã o retributiva ( v i d e L c 6.32-34; 17.9), porém,
principalmente, na fórmula g r a ç a s a D e u s (Rm 6.17; lCo 15.57; 2Co 2.14; 2Tm
1.3). (3) A ex p ressã o su p rem a d a b o a vontade-, u m a bênção, u m f a v o r , u m presente-,
mas não no texto do Novo Testamento. V id e Rm 5.15, onde é feita uma dis
tinção entre χ ά ρ ις , g ra ç a , e ôcopeà £ v χάριτι, o d o m p e la g ra ç a . Uma g r a tific a ç ã o
ou deleite, somente no grego clássico, como se fala no deleite em uma batalha,
no sono etc. (4) O significado cristão mais elevado, baseado na ênfase sobre a
lib e r a lid a d e do dom ou favor, como é comum observar no texto do Novo Testa
mento, denotando a livre, espontânea e absoluta bondade de Deus para com os
homens, contrastando com a d ív id a , a L e i, a s o b ra s e o p ec a d o . Este vocábulo não
ocorre em Mateus e Marcos.
35. Cobrirá com a sua sombra. Bengel afirma: “Denotando a mais terna e
gentil operação do poder divino, para que o fogo divino não consumisse Maria,
mas a tornasse fecunda". V id e Ex 33.22; Mc 9.7. Compare com a clássica lenda
de Sêmele, que, sendo amada por Júpiter, suplicou-lhe que lhe aparecesse, tal
como ele aparecia no céu e, com todos os terrores dos trovões, foi consumida por
seus raios. A metáfora na palavra é tomada a partir de uma nuvem, na qual Deus
apareceu (Êx 40.34; lRs 8.10).
S7. Para Deus nada é impossível (ούκ αδυνατήσει παρά του Θεού παν ρήμα).
' Ρήμα, p a la v r a , diferentemente de λόγος, no grego clássico, significa uma parte
constituinte de um discurso ou de um texto, em distinção do seu conteúdo como
um todo. Ela pode ser tanto u m a p a la v r a , quanto u m a declaração. Às vezes, um a
expressão, em oposição a όνομα, u m a p a la v r a única. Ao longo do Novo Testamen
to, esta distinção não é tão clara. Postula-se que ρήμα, a exemplo do vocábulo
hebraico g a b a r, representa, por vezes, o a ssu n to -te m a do vocábulo, a coisa em si,
como no caso nesta passagem. Contudo, existem somente outras duas passagens
do Novo Testamento nas quais este significado pode ser admitido (Lc 2.15; At
5.32). Embora o vocábulo ocorra setenta vezes. A citação "guardava todas essas
coisas” (Lc 2.19), refere-se claramente a declarações. Em Lc 2.15, o significado é,
evidentemente, declaração, como pode ser observado a partir da conexão c o m a
mensagem angelical e das seguintes palavras: qu e aconteceu —ou seja, a declara
ção havia se transformado em fato. A a r c erra ao juntar ούκ e παν, n em to d a , e
traduzir como n a d a . Estas duas palavras não estão juntas. A afirmação é: T o d a
(παν) p a la v r a d e D e u s n ão (ούκ) será d e s titu íd a d e p o d e r . Algumas versões seguem
a leitura, παρά tq> 0eqi, co m D eu s, mas todos os textos posteriores apresentam
παρά τού θεού, d e D eu s, que fixa o significado além de qualquer questionamento.
42. Exclamou com grande voz (άνεφώνησε φωνή μεγάλη). No lugar de φωνή,
v o z , leia κραυγή. Mais adequadamente traduzido como: E l a ergu eu su a v o z com
u m g r a n d e clam or, atribuindo ao verbo a força de άνα, p a r a cim a , além de ilustrar
o fato de forma mais natural. A emoção súbita e repentina de Isabel diante da
chegada de Maria, e o movimento do bebê, geraram uma exclamação que foi
seguida pelas palavras (εΐπεν, disse). O verbo άναφωνέω ocorre somente aqui no
texto do Novo Testamento. Tratava-se de um termo médico que designava um
uso específico da voz.
44. De alegria (εν αγαλλιάσω.). Literalmente, em aleg ria . V ide nota do versículo 14.
45. Pois (ότι). Muitos preferem que, referindo-se ao conteúdo da sua fé: "Ela
creu que o cumprimento se daria” etc. Perceba que a concepção, que era o princi
pal ponto de fé, já ocorrera, de tal forma que o cumprimento não e s ta v a mais no
215
L ucas - C ap . l
futuro. Por outro lado, o anúncio do anjo a Maria ia além do fato da concepção;
e Isabel, no espírito da profecia, podería estar se referindo àquilo que foi predito
nos versículos 32-33.
46. Disse (εΐπεν). De forma simples. Compare com o versículo 42. Godet expressa:
‘Ά saudação de Isabel está cheia de emoção, contudo, o cântico de Maria exprime um
sentimento de profundo repouso interior”. Compare-o com o cântico de Ana (lSm
2). O cântico de Ana se diferencia do hino de Maria por ter um sentido de indignação
e de triunfo pessoal, ao passo que o de Maria expressa a sua calma e humildade.
47. Deus, meu Salvador (τφ θεω τώ σωτήρί μου). Observe os dois artigos. “ O
Deus que é o ou m eu S a lv a d o r ”. O título Salvador é, normalmente, aplicado a
Deus no Antigo Testamento. V id e lxx , Dt 32.15; SI 24.5; 25.5; 95.1.
48. Atentou (επέβλεψεν). V id e nota sobre Tg 2.3. Compare com lSm 1.11; SI
31.7; 119.132, LXX.
guns preferem traduzir “pela imaginação”, fazendo, assim, com que os soberbos
se tornem o instrumento da sua própria destruição. Compare com 2Co 10.5.
Servo (παιδός). Muitas vezes cria n ça , filho ou filha, mas neste caso, servo , em
alusão a Is 41.8. Meyer, verdadeiramente, afirma que a noção teocrática defilia ç ã o
jamais é expressada por παΐς.
58. Tinha usado para com ela de grande misericórdia (έμεγάλυνεν το ελεος
αύτοΰ μετ’ αύτοΰ μετ’ αυτής). Literalmente, m a g n ifico u a su a m is e ric ó rd ia com ela.
Uma expressão hebraica. V id e lSm 12.14, lxx .
64. Logo (τταραχρήμα). Este vocábulo ocorre dezenove vezes no texto do Novo
Testamento, sendo que destes, dezessete estão em Lucas. Treze dos dezessete
estão ligados a milagres de cura, ou a aflições oriundas de enfermidades ou mor
te. Ele é utilizado de maneira semelhante por autores da área médica.
217
L ucas - C ap. l
70. Desde o princípio do mundo (άιτ' αίώνος). Uma tradução verbosa desne
cessária.
Por conseguinte, όσιότης se refere às leis eternas de Deus, pois trata, como
observa Meyer da “co n sa g ra çã o d iv in a e d a v e rd a d e in te r io r d a ju stiç a " . A o longo
do Novo Testamento, a sua visão está direcionada a Deus. Este vocábulo jamais
é utilizado para designar a excelência moral como algo relacionado aos homens,
apesar da necessidade de observar que δ ικ α ιο σ ύ ν η , ju s tiç a , não se restringe à j u s
tiça p a r a com os hom ens. Compare com Ef 4.24, a v e rd a d e ira santidade-, literalmente,
a s a n tid a d e d a verd a d e.
218
L ucas - C ap . 2
Nos visitou (έπεσκέψατο). V ide nota sobre Mt 25.36; lPe 2.12. Alguns manus
critos, contudo, apresentam έπισκεψεται, v isita rá .
80. Nos desertos (ταίς ερήμοις). O artigo indica um lugar bem conhecido.
C a p ít u l o 2
2. Este prim eiro alistamento foi feito (αϋτη ή άπογραφή πρώτη έγενετο). Pre
fira, isto ocorreu com o o p r im e ir o alistam ento·, ou este f o i o p r im e ir o a rro la m e n to f e i t o ;
com referência a um seg u n d o arrolamento que ocorreu cerca de onze anos mais
tarde, e é mencionado em At 5.37.
219
L ucas - C ap . 2
4. Casa e família. De acordo com o sistema judeu de registro, o povo seria arrola
do conforme as suas tribos,famílias, clãs ou casas. Compare com Js 7.16-18.
5. A fim de alistar-se com Maria. Podemos fazer duas leituras: subiu com
Maria, denotando meramente o fato dela estar lhe acompanhando; ou, para
alistar a si mesmo com Maria, implicando que os nomes dos dois deveríam ser
registrados.
Estava grávida (έγκύω). Vide 1.24. Somente aqui no texto do Novo Testamento.
Numa manjedoura (èv φάτντ)). Termo utilizado somente por Lucas, aqui e em
13.15. A e c p traduz presépio. Compare com o francês crèche, uma manjedoura, ou
cocho onde se coloca a comida dos animais num estábulo. Muito possivelmente
uma gruta em uma rocha. Thomson afirma: “Já vi muitas delas, formadas por
um ou mais ambientes, um em frente ao outro, incluindo uma caverna onde os
animais eram abrigados”8.
220
L ucas - C ap. 2
221
L ucas - Cap. 2
Seu rebanho (την ποίμνην). Ο uso do singular não poderia se encaixar perfei-
tamente com aquilo que acabamos de dizer? - o rebanho, o rebanho do Templo,
especialmente dedicado ao sacrifício. O pronome seu removería qualquer tipo
de objeção, já que é comum falarmos do rebanho como algo que pertence a um
pastor. Compare com Jo 10.3-4.
pode ser bem observado em At 17.5, onde o termo é traduzido pelo verbo
a s s a lta r .
Povo (τώ λαώ). Melhor traduzido como “o povo;” sendo que o artigo indica, de
maneira especial, o povo de Israel.
13. Uma multidão dos exércitos celestiais. O termo ex ército s (στρατιάς) é uma
tradução literal. Bengel afirma: “Aqui o exército anuncia a paz”. Na ep consta
g r a n d e m u ltid ã o d e anjos.
222
L ucas - C ap. 2
14. Paz na terra, boa vontade para com os homens (Ειρήνη èv άνθρώποις
Ευδοκία). Na bj e bp, aos homens que ele ama; na teb , para os seus bem-amados, na ecp,
aos homens objetos da benevolência (divina) . Para conhecer uma construção similar,
vide At 9.15; Cl 1.13.Tanto Tischendorf, quanto Westcott e Hort apresentam
εύδοκίας. Segundo esta interpretação, a tradução é, aos homens de boa vontade, ou,
entre os homens nos quais ele muito se agrada.
Isso (ρήμα). Vide 1.37. A afirmação dos pastores tem um clímax: "Vamos e
vejamos esta palavra, que se tornou realidade; a qual o Senhor deu por conhecer”.
Maria, e José, e o menino. Cada uma das pessoas recebe o artigo, no texto
grego, indicando os diversos partícipes já mencionados.
17. Divulgaram. Fzde versículo 8. Naquele momento, estes pastores, que cuida
vam dos rebanhos dedicados ao sacrifício, estariam no Templo e se encontrariam
com as pessoas que vieram para adorar e sacrificar e, por conseguinte, proclamar
o Messias no Templo.
19. Guardava (συνετήρΕί). Veja mais sobre o verbo básico τηρεί»), em lPe 1.4. O
termo não significa um simples guardar, mas proteger, como o resultado deste
guardar. Dessa maneira, o verbo composto é deveras expressivo: protegeu, σύν,
com ou dentro dela mesma: intimamente. Observe o tempo imperfeito: estava guar
dando o tempo todo.
É D I P O - M eu s filh os, o fim da vid a ord en ad o p e lo s céu s veio sob re aq u ele q u e e stá
aqui, e d e le n ão há co m o escapar.
A N T I G O N A —C om o tu o sabes, e com q u e (fato) co m p araste (συμβαλών) a tua op in ião
para is to afirm ares?11.
223
L ucas —C ap. 2
22. Os dias da purificação (αl ήμέραι toO καθαρισμού αυτής). A arc omite o
pronome. A e c p segue a leitura αύΐής, su a , ou d e la (o s d i a s d a su a p u rific a ç ã o )·,
mas todos os melhores textos apresentam αύτών, se u s o u deles-, sendo que este
plural inclui José e Maria, como partícipes da contaminação cerimonial. A
mãe de um bebê estava, leviticamente, impura por um período de quarenta
dias depois do nascimento de um menino, e oitenta dias depois do nascimen
to de uma menina. As mulheres, nestas situações, de modo geral, vinham ao
Templo montadas sobre o lombo de bois, para que o corpo do animal com um
porte tão grande ficasse entre elas e o solo, e dessa forma se evitaria qualquer
possibilidade de contaminação em função da passagem sobre algum sepulcro
no caminho12.
23. Na lei do Senhor. O vocábulo le i aparece cinco vezes neste capítulo, com
maior frequência do que no restante deste Evangelho, quando analisado de for
ma conjunta. Lucas enfatiza o fato de que Jesus era “nascido sob a Lei” (G1 4.4), e,
dessa forma, elabora os detalhes do cumprimento da Lei por parte dos seus pais,
bem como pelos pais de João.
24. Um par de rolas ou dois pombinhos. A oferta feita por pessoas pobres. O
cordeiro a ser oferecido pelas pessoas mais abastadas custava cerca de 11 vezes
mais que a oferta dos pobres. A mulher não trazia os animais propriamente di
tos, mas depositava o valor equivalente em um dos treze gazofilácios, que eram
caixas em forma de trombeta, localizados no Pátio das Mulheres. P om binhos·,
Literalmente, filh o te s d e p o m b o s (νοσσους περιστερών). Spencer cita:
12. Para m aiores detalhes, Edersheim , Life and Times o f Jesus, 1.195; The Temple, p. 302; G ei-
kie, Life and Words o f Christ, 1.127.
224
L ucas - C ap . 2
26. Fora-lhe revelado (ήν κεχρηματισμενον). Literalmente, estava tendo sido re
velado, isto é, permaneceu revelado, enquanto ele aguardava pelo cumprimento
da revelação. O verbo significa fazer negócios com, por isso, consultar ou debater
acerca de assuntos comerciais, e, referindo-se a um oráculo, dar uma resposta a
uma pessoa que o consulta. O termo implica que a revelação feita a Simeão fora
em resposta a uma oração. Vide nota sobre Mt 2.12.
27. Pelo Espírito (èv τώ πνεύματι). Literalmente, “no Espírito”; o Espírito Santo
o impeliu. Indicando, mais a sua condição espiritual, como alguém que caminhava
com Deus, do que um impulso divino especial.
Segundo o uso (κατά το ε’ιθισμενον). Literalmente, segundo aquilo que era costu
meiro serfeito. Somente aqui no texto do Novo Testamento. Além disso, os vocábulos
correlatos, έθος, costume, e εθω, estar acostumado, ocorrem com maior frequência em
Lucas do que em outros livros. Termo muito comum em escritos médicos.
Podes despedir... o teu servo (απολύεις τον δούλοι» σου). Literalmente, libera tu.
O termo é utilizado para descrever a concessão da alforria ou a libertação, mediante o
pagamento da redenção de um escravo, e como Simeão utiliza o vocábulo em referên
cia a um servo, é evidente que sua morte é concebida por meio da figura da libertação
do trabalho. Godet expressa: “a liberação da sentinela das suas obrigações”.
31. De todos os povos (πάντων των λαών). Na bv, mundo. O substantivo está
mesmo no plural, os povos, e não no singular , e se refere igualmente aos gentios.
Vide Introdução, acerca da universalidade do Evangelho de Lucas.
32. Luz (φως). A luz em si mesma, em distinção a λύχνος, uma lâmpada ou lampa
rina. Vide nota sobre Mc 14.54.
Nações (εθνών). Na bp e teb, pagãos. Atribuído à mesma raiz que εθω, estar
acostumado, e logo, referindo-se a um povo unido por hábitos e costumes se-
225
L ucas - C ap. 2
É posto (καίται). O verbo significa ser colocado e, logo, colocar, lançar, portanto,
serproposto ou promulgado, tal como se diz que a lei é colocada em efeito, ou seja,
indicada ou destinada, como vemos aqui.
rodes, bem como ao longo de todo o seu ministério terreno e na morte de cruz.
Assim, também será até o fim, até que Ele ponha todos os seus inimigos debaixo
dos seus pés. Compare com Hb 12.3.
85. Uma espada (ρομφαία). Estritamente falando, uma espada comprida e larga
originária da Trácia. Termo utilizado na l x x para designar a espada de Golias
(lSm 17.51). Uma ilustração da suprema angústia sentida por Maria ao ver o seu
Filho pregado à cruz.
Aser. Esta tribo era celebrada na tradição pela beleza das suas mulheres, e a
sua aptidão para se casarem com os sumo sacerdotes ou reis.
37. De quase oitenta e quatro anos (ώς ετών όγδοήκοντα τεσσάρων). Pode-se
supor que a arc esteja apresentando a sua idade, contudo, os melhores textos
apresentam 'έως, até, em vez de ώς, por volta de, e a declaração diz respeito ao seu
tempo de viuvez; uma viúva já há oitenta e quatro anos. A ecp acrescenta: desde a
sua virgindade.
Falava. Não uma afirmação em público, para a qual as palavras, os que espera
vam etc., seria imprópria, mas aos fiéis que estavam com ela no Templo, esperan
do pelo Messias.
criança desmamada (Is 28.9); a criança que se agarra à mãe (Jr 40.7); a criança
que fica firme e forte (Is 7.14, a respeito da mãe-virgem); o jovem, literalmente,
aquele que se agita para ficar livre; o amadurecido, ou guerreiro (Is 31.8).
42. Doze anos. Idade na qual o menino passava a ser conhecido como o f ilh o da
lei, e passava a ter obrigação de observar pessoalmente as suas ordenanças.
43. Terminados aqueles dias. Não necessariamente os sete dias da festa. Com
o terceiro dia, começavam os, assim chamados, m eio s d ia s san tos, nos quais já era
permitido a volta para casa.
Lemos no T alm ude que os m em bros do Sinédrio, no Tem plo, os quais, em dias co
muns, assentavam -se com o uma corte de apelação desde o fim d a m anhã até a h o ra do
sacrifício vespertino, costum avam , nos sábados e nos dias festivos, subir até o terraço
do T em plo para, ali, ensinar as pessoas. N este tipo de instrução popular, as pessoas
tinham total liberdade para lhes questionarem . E neste público, que se assentava no
chão, que rodeava e se m isturava com os doutores da Lei e, portanto, durante, e não
depois da festa, que devemos procurar o jovem Jesus15.
228
L ucas - Cap. 2
Teu pai. Alford afirma: “Até este momento, José era assim chamado pelo pró
prio santo menino; mas isto jamais voltaria a ocorrer”.
Dos negócios de meu Pai (èv τοΐς του πατρός). Literalmente, n a s co isa s d o
m eu P a i. Os termos comportam esta tradução, mas a tb se mostra melhor, n a casa
de m eu P a i. A pergunta de Maria não se referia ao que o seu filho estava fazendo,
mas a onde ele estivera. Jesus, logo, responde: O nde um filho deve ser encontra
do senão na casa do seu Pai?”
M esmo antes deste acontecimento ele já lhes era sujeito; mas isto é mencionado a esta al
tura, por parecer uma época em que ele já podería se esquivar da obediência aos pais. Nem
mesmo os anjos tiveram tamanha honra como a que foi prestada aos pais de Jesus.
circunstâncias que pudessem ter enfraquecido a sua impressão acerca dos acon
tecimentos. Compare com Gn 37.11.
52. Estatura (ηλικία). O vocábulo pode ser traduzido como idade, o que, neste
caso, seria supérfluo.
C a pítu lo 3
3. Ao redor do Jordão. Mateus e Marcos chamam de deserto. Vide nota sobre Mt 3.1.
Perdão (αφεσιν). Vide nota sobre T g 5.15. O termo ocorre em Lucas com
maior frequência do que em todos os outros autores do Novo Testamento com
binados. Trata-se de um vocábulo utilizado na linguagem médica para descrever
o relaxamento de uma enfermidade. Lucas e João utilizam o verbo da mesma raiz
άφίημι, no mesmo sentido (Lc 4.39; Jo 4.52).
4. Isaías. Nesta citação profética Marcos acrescenta Ml 3.1a Isaías, o que não
aparece nem em Mateus, nem em Lucas. Lucas acrescenta os versículos 4-5 de
Isaías 40, os quais não aparecem nos outros.
Veredas (τρίβους). Derivado de τρίβω, raspar ou desgastar. Por isso, trilhas pisadas.
230
L ucas - C ap. 3
tação de Isaías, para que todos os habitantes se reunissem ao longo de uma certa es
trada e preparassem o caminho pelo qual ele passaria. O mesmo foi feito em 1845, em
g rande escala, quando o sultão visitou Brusa. As pedras foram retiradas, os lugares
curvos foram endireitados, e os locais com piso irre g u la r foram nivelados e afofados.
Eu m esm o senti o beneficio destas obras alguns dias após a visita de sua M ajestade. A
exortação para se “lim par a estrada das pedras” (Is 62.10) é peculiarm ente apropriada.
E stes fazendeiros fazem exatam ente o contrário - pegam as pedras dos seus campos
e as atiram na estrada; é este costum e bárbaro que, em m uitos lugares, to rn a os cami
nhos difíceis e, até mesmo, perigosos1'*.
Pai. Este é o termo que encabeça a frase: “Temos Abraão como nosso Pai”,
e ele, dessa maneira, assume um caráter enfático, não sem razão, pois era sobre
231
L ucas - C ap. 3
Se um judeu mal podia convencer-se que era correto o pagamento de impostos, imagine
quão abominável parecería aos seus olhos, o crim e de se to rn a r um instrum ento duvi
doso ao se cobrar impostos. Se um publicano era odiado, quão m aior seria a decepção
ao se saber que além de publicano, o homem também era ju d e u 15.
14. Soldados (στρατευόμ^νοι). Estritamente, soldados em serviço. Por esta razão, o uso
do particípio, os que servem como soldados, em vez do termo mais genérico στρατιώται,
soldadospor profissão. Alguns explicam tratar-se de soldados engajados em inspeções
da polícia ligadas à alfândega e, assim, naturalmente associados aos publicanos.
232
L ucas - C ap . 3
Sei que ele, certa vez, ouviu de C rito que a vida em A tenas era d ura para um homem
que desejasse se preocupar com os seus próprios negócios. “Pois” —disse ele —“eles se
levantam contra mim, não porque são por mim contrariados, mas porque pensam que
eu preferiría pagar do meu dinheiro do que me incom odar”18.
Para descrever este processo de chantagem, o vocábulo σείω, sacudir, era uti
lizado. Assim também vemos em Aristófanes:
E no que diz respeito aos seus aliados, eles acusam falsam ente (ejetou) os ricos e os
poderosos18.
falsa. Esta é a antiga explicação que atualmente é rejeitada pelos eruditos, apesar
de a explicação real não passar de uma conjectura. A figueira era o orgulho da
Atica, ocupando, junto com o mel e as azeitonas, o papel de principais produtos
e e não há nenhuma autoridade para a afirmação de que houve uma época em
que os figos eram escassos e precisavam de proteção legal contra a exportação.
Também não se pode provar que havia um tipo sagrado de figo. Rettig, em um
interessante ensaio19, explica que o tributo na Ática era pago tanto na forma de
produtos quanto na de dinheiro, e como os figos representavam grande parte de
uma propriedade havia a tentação de não recolher a quantidade correta de figos
para os assessores, por esta razão uma classe de informantes surgiu, detectou
e relatou estes falsos recolhimentos, e recebia uma porcentagem da multa que
era imposta aos cidadãos. Estes homens eram conhecidos como os denunciantes
defigos. Outro escritor já sugeriu que a referência se dá a uma pessoa que faz
aparecer os figos por meio de sacudidas na árvore; e, assim, de forma metafórica,
faz com que os ricos entreguem os frutos do seu trabalho ou logro por meio de
falsas acusações. Qualquer que seja a explicação que aceitemos, fica evidente que
o verbo, na sua origem, tinha alguma ligação com os figos, e que ele passou a
significar caluniar ou acusarfalsamente, como traduz a t b : nem deis denúnciafalsa.
E dele que se origina o nosso termo sicofanta (adulador). Os sicofantas, como
uma classe de pessoas, eram incentivados em Atenas e os seus préstimos eram
recompensados. Xenofonte informa que Sócrates alertou Crito a contratar um
sicofanta às suas custas, a fim de se opor a outro que estava lhe incomodando; e
esta pessoa, segundo Xenofonte:
D escob riu rap id am en te m u ito s atos ile g a is da p arte d o s acu sad ores d e C rito, e m u itas
p esso a s q u e eram in im ig a s d aq u eles acusadores; um d o s quais foi p or e le c o n v o ca d o a
um desafio público, n o q u al seria d efin id o o que ele deveria sofrer ou pagar, e e le não
o d eixaria p artir en q u a n to não d e ix a sse d e p ertu rb ar C rito e, além d isso, p a g a sse um a
q u an tia em dinheiro.
234
L ucas - C a r 3
16. Aquele que é mais poderoso (ò ισχυρότερος). O artigo definido aponta para
uma personagem esperada.
20. Acrescentou (προσεθηκεν). Utilizado duas vezes por Lucas, igualando o nú
mero de ocorrências deste vocábulo no restante do Novo Testamento. Um termo
médico muito comum, utilizado para descrever a aplicação de remédios ao corpo,
tal qual utilizamos o verbo a p lic a r ou a d m in istra r. Utilizado também por Hipo
crates: “aplique esponjas úmidas à cabeça;” e Galeno: “aplique uma decocção de
bolotas” etc.
23. Começava a ser de quase trinta anos (ήν άρχόμενος ώσεί ετών τριάκοντα).
Peculiar a Lucas. Melhor: quando ele começou (a ensinar) tinha quase trin ta anos. A
tb lê: ao começar o seu m inistério.
Capítulo 4
2. Quarenta dias. Esta expressão deve ser unida as palavras anteriores, indican
do a duração da sua permanência no deserto, e não da sua tentação, como nos
mostra a arc : quarenta d ia s f o i tentado. Leia conforme a t b : \j io d eserto \ durante
quarenta dias, sendo tentado.
Não comeu coisa alguma. Marcos não faz menção do jejum. Mateus utili
za o termo νηστεύσας, tendo jeju a d o , que, ao longo de todo o Novo Testamento,
é utilizado para designar a abstinência para fins religiosos; um ato ritual que
acompanha um tempo de oração.
Pão (άρτος). Literalmente, um bolo de massa. V ide nota sobre Mt 4.3. Mateus
apresenta este termo na forma plural, bolos.
2 36
L uc a s - C ap. 4
De pão (επ’ άρτω). Literalmente, “em cim a do pão”, implicando uma dependên
cia. Compare com de toda a p a la v ra (έιτί παντί ρήματι, Mt 4.4).
11. Nas mãos (επί χειρών). Mais corretamente, sobre. Vide nota sobre M t 4.6.
12. D ito está. Mateus coloca como: está escrito, M t 4.7. Lucas omite o vocábulo
tam bém de Mateus. Vide nota sobre Mt 4.7.
Por algum tempo (άχρι καιρού). Peculiar a Lucas. De forma mais estrita,
até um a hora conveniente, já que Satanás intentava investir contra ele novamente,
237
L u c a s - C ap. 4
e fez isso na pessoa de Pedro (Me 8.33); por meio dos fariseus (Jo 8.40ss.); e no
Getsêmani. V ide 22.53.
16. Nazaré [(την Na(apé9j. Acompanhado do artigo; a q u ela Nazaré onde ele
fora criado.
Levantou-se. Não como sinal de que ele desejava se expor, mas por ter sido
convocado pelo superintendente da sinagoga.
Abriu (άναπτύξας). Literalmente, desen rolou . Tanto este termo quanto o verbo
simples π τύ σ σ ω , f e c h a r (v. 30), ocorrem somente uma vez no texto do Novo Tes
tamento. A primeira palavra era utilizada, em linguagem médica, para designar
a abertura de várias partes do corpo; e a segunda, para designar o enrolamento
de curativos. O uso destes termos por Lucas, como médico, é mais significativo
a partir do fato de que em outras porções do Novo Testamento ανοίγω é utiliza
do para designar a a b e rtu ra d e u m liv r o (Ap 5.2-5; 10.2,8; 20.12); e ίίλίσσω, para
mostrar o seu en ro la m en to (Ap 6.14).
20. No grego pós-clássico, por vezes, ele indica a leitura em voz alta acompanhada de comentários.
Isto pode explicar o parêntese de M t 24.15.
21. Para um relato detalhado sobre oculto na sinagoga, vide Edersheim, Life and Times of Jesus, 1.4S0ss.
238
L u c a s - C a p. 4
Achou. Como que por acaso, passando a ler no lugar onde o rolo se abriu por
si mesmo, e confiando na direção divina.
Estava escrito (ήν γεγραμμενον). Literalmente, estava tendo sid o escrito; isto é,
perm anecia escrito.
19. A apregoar (κηρύξαι). Mais adequadamente traduzido como na rv, pro cla
22. Lhe davam testemunho. Compare com o versículo 14. Eles confirmavam os
relatos que estavam circulando a seu respeito. Observe o tempo imperfeito. Ha
via um fluir contínuo de comentários admirados. De forma similar, na sequência,
as pessoas estavam se m aravilhando.
25. Em toda a terra houve grande fome (èyévçTO λιμός μέγας έπ ί πάσαν την
γην). De forma mais literal, e correta, como nos mostra a rv, veio (ou surgiu ) uma
g ra n d e fo m e sobre to d a a terra.
240
L ucas - C ap. 4
A maioria dos leitores, a partir destas palavras, imagina uma cidade construída sobre
o cume de uma montanha, do qual a precipitação intencionada deveria ocorrer. Mas,
esta não é a situação de Nazaré; embora sua posição continue de acordo com a des
crição da narrativa. Ela foi edificada sobre, isto é, no lado de uma montanha, e o cume
não fica abaixo, mas acima da cidade, e um rochedo tão íngreme como o que fica aqui
implícito pode ser encontrado na face íngreme de uma rocha calcária com cerca de 9 a
14 metros de altura, que fica situada acima do convento Maronita, no canto sudoeste
da cidade22.
34. Que temos nós contigo? (τί ήμΐν κα'ι σοί) Literalmente, ο que há para nós e
para ti? Isto é, o que temos em comum?
241
L ucas - C ap. 4
Sem lhe fazer mal (μηδέν βλάψαν αυτόν). Literalmente, em nenhuma forma
possível. Marcos omite este detalhe, que um médico seria cuidadoso em anotar.
Βλάπτε lv, machucar, ocorre somente duas vezes no texto do Novo Testamento
- aqui e em Mc 16.18. É um termo comum na linguagem médica, antônimo de
ώφελειν, beneficiar, é utilizado para descrever medicamentos ou dietas que ma
chucam ou trazem benefício às pessoas.
36. Veio espanto sobre todos (έγενετο θάμβος επί πάντας). Literalmente. Ο ter
mo θάμβος, espanto, é utilizado somente por Lucas. O verbo correlato, θαμβεομαι,
ficar espantado, ocorre somente uma vez em Lucas (At 9.6), e três vezes em Mar
cos; ao passo que somente Marcos apresenta o componente enfático έκθαμβεω,
ficar grandemente espantado (Mc 9.15).
37. Fama (ήχος). Literalmente, barulho. Este vocábulo ocorre somente aqui, no
capítulo 21.25, onde a leitura correta é ήχους, o rugido, e em At 2.2. Hb 12.19 é
uma citação feita a partir da lxx . Este é o termo utilizado em At 2.2, para des
crever o vento poderoso que ocorreu em Pentecoste. Marcos utiliza άκοή, na sua
acepção primitiva de relatório. O mesmo vocábulo ocorre em Lucas, mas sempre
no significado aplicado pelos autores médicos —audição ou os ouvidos. Vide 7.1;
At 17.20; 28.26. Ήχος era o termo médico utilizado para designar um som nos
ouvidos ou na cabeça. Hipocrates utiliza os dois termos em conjunto: “os ouvidos
(άκοαί) estão cheios de som (ήχου);” e Areteu para descrever o barulho do mar, tal
como faz Lucas em 21.25.
39. Inclinando-se para ela. Tal como faria um médico. Estilo peculiar a Lucas.
242
L ucas - C a p. 5
40. Ao pôr-do-sol. O povo trouxe os seus enfermos àquela hora, não somente
por causa do frescor da temperatura, mas porque era o fim do sábado e o trans
porte de uma pessoa enferma era considerado um trabalho. Vide So 5.10.
Dizendo. Agora, uma mensagem articulada. Hobart observa que a inclinação mé
dica de Lucas pode ser vista tanto nos vocábulos que ele se abstém de usar, quanto nos
que usa para se referir às enfermidades23. Isto posto, ele jamais usa μαλακία, para doen
ça, como o faz Mateus (4.23; 9.35; 10.1), já que este jamais era utilizado na linguagem
médica, mas tem o seu significado restrito a delicadeza ou efeminação. Assim, da mesma
forma, ele nunca utiliza βασανίζωiv, atormentar, com relação a doenças, como também
o faz Mateus (8.6), pois ele jamais recebe este uso na linguagem médica, o vocábulo ali
significa examinar alguma parte do corpo ou alguma questão médica.
Chegou junto dele (ήλθον έως αύτοΰ). Mais enfático do que veio a ele, pois
'έως significa mesmo até, mostrando que o povo não deixou de procurá-lo até o
momento do encontro. A narrativa de Marcos, neste ponto, é mais completa e
mais ilustrativa.
Capítulo 5
Para ouvir. A arc está correta, seguindo a leitura τού ακούεip . Assim também a nvi,
bp, ep, ecp, teb. Porém, a leitura verdadeira é και ακούεiv, e ouvir. Assim na rv.
23. H obart, M e d ic a l L a n g u a g e o f S t. L u k e .
L ucas - C a p. 5
A rede (δίκτυον). Um termo geral para designar uma rede, seja para a captura
de peixes ou pássaros. Vide nota sobre Mt 4.18. Algumas versões, como a tb ,
seguem a leitura tà δίκτυα, as redes.
Quase iam a pique (βυθίζεσθαι). Este termo ocorre somente aqui e em iTm
6.9, em referência aos homens que se afogam na destruição. Derivado de βυθός, as
profundezas. Na tb consta aponto de começarem elas afundar.
245
L ucas - C ap . 5
Pesca (tf\ άγρα). Este termo é utilizado para descrever o a to d a coleta dos
peixes e o p ro d u to d a coleta. No versículo 4, ele assume o primeiro significado:
“lançai as vossas redes para a pesca;” neste caso, o segundo, a saber, os p e ix e s
apanhados.
17. Estava ensinando. O pronome tem certa força enfática: ele, em distinção dos
fariseus e mestres da Lei.
Somente uma pessoa intimamente familiarizada com a situação reinante naquela épo
ca, teria, junto com os rabinos, distinguido Jerusalém como um distrito separado de
todas as demais regiões da Judeia, como Lucas faz, de forma marcante, em várias
ocasiões (At 1 .8; 10.39)*7.
Estava com ele para curar. A kjv segue a leitura αύτούς, eles, isto é, os sofre
dores que estavam presentes, numa alusão ao versículo 15. Os melhores textos,
entretanto, trazem a leitura αυτόν, ele, referindo-se a Cristo, com o sentido de
que estava presente p a r a que Ele pudesse curar, isto é, como auxílio para sua cura.
Assim ocorre na a r c .
Cama (κλινιδίω). Lucas utiliza quatro termos para descrever as macas dos doen
tes: κλίνη, como vemos no versículo 18, o vocábulo geral para uma cama; κράββατος
(At 5.15; 9.33), uma maca rudimentar {vide Mc 2.4); κλινίδιον, uma maca pequena
248
Lucas - Cap. 5
ou padiola, como esta aqui, tão leve que uma mulher poderia erguê-la e levá-la
consigo. Assim, na obra de Aristófanes, Mirrina afirma: “Vem agora, deixe-me car
regar a nossa maca” (κλινίδιον)28. O quarto termo, κλιναριού (At 5.15), não pode
ser exatamente distinto do último. Estes dois últimos são peculiares a Lucas.
27. Viu (έθεάσατο). Mais adequadamente traduzido como o bservou , já que o verbo
denota um olhar atento. V id e nota sobre Mt 11.7.
Um publicano. V id e 3.12.
29. Banquete (δοχήν). Este vocábulo ocorre somente aqui e no capítulo 14.13.
Derivado da mesma raiz que δέχομαι, uma recepção.
31. Os que estão sãos (ol ΰγιαίνοντ^ς). Mateus e Marcos utilizam, ίσχύοντες, os
Este uso do verbo no seu significado primário, e s ta r em boa saú de, é encon
fo r te s .
trado em Lc 7.10; 15.27; e uma vez em 3Jo 2, pois esta acepção é a apresentada
pela palavra comumente encontrada nos escritos médicos. Paulo utiliza este ter
mo somente no sentido metafórico: sã doutrina, sã s palavras, são na fé etc. V ide
lTm 1.10; 6.3; T t 1.13.
Orações (ôeqoeu;). Este vocábulo não é utilizado por nenhum dos outros
evangelistas. Deriva de δέομαι, carecer, é utilizado de forma distinta, em referên
cia às orações d e p etiçã o . No grego clássico, o vocábulo não fica restrito aos usos
sagrados, mas também é aplicado aos pedidos prediletos dos homens. Na rv , de
forma mais correta, súplicas.
35. Dias virão, porém, em que etc. (έλεύσονται δέ ήμέραι, και όταν). A a r c
segue uma leitura que omite a preposição καί, e, a qual está inserida em todos
os melhores textos. A ideia geral perde a sua sequência, se a preposição corres
pondente não é traduzida: “Dias virão —e quando o noivo for tomado, então eles
jejuarão”. Assim traduz a rv .
36. Uma parábola. Bengel afirma: “Proposta a partir das vestes e do vinho, itens
especialmente apropriados para a ocasião de um banquete”.
T ira um pedaço de uma veste nova para o coser em veste velha (έπίβλημα
Ιματίου καινού έπιβάλλ^ι έπί Ιμάτιον παλαιόν). Os melhores textos, toda
via, inserem σχίσας, te n d o ra sg a d o , que rege diretamente έπίβλημα, p e d a ç o ;
de forma que a tradução fica: N in g u é m , te n d o ra sg a d o , u m p e d a ç o d e u m a v e ste
n o va , c o lo c a -o etc. Mateus e Marcos apresentam p a n o , em vez de veste, pelo
uso de qualquer um dos termos posteriores Meyer afirma: “a incongruência
do proceder ganha uma proeminência mais marcante”. O termo έπίβλημα,
u m p e d a ç o , é, literalmente, u m re m e n d o , derivado de έπί, so b re, e βάλλω, la n ç a r,
250
L ucas - C ap. 6
Romperá a nova (το καινού σχίζει). A arc segue os melhores textos que
apresentam σχίσει,
rom perá, regendo a expressão a n ova, em vez do seu uso na
form a intransitiva.
C a p ít u l o 6
6. A mão direita (ή χε'ιρ αυτού ή δεξιά). Uma forma muito precisa de se expres
sar. Literalmente, a sua m ã o a d ire ita . Somente Lucas especifica qual das mãos
tinha a atrofia. Esta precisão é oriundo da sua vivência profissional. Os autores
antigos da área da medicina sempre informam se a mão afetada por algum mal
era a direita ou a esquerda.
14. Para saber mais sobre a ordem dos nomes, vide nota sobre Mc 3.17.
Simão. Distinto por Mateus e Marcos como, o cananeu. Vide nota sobre Mt
10.4; Mc 3.18.
17. Num lugar plano (ètrl τόπου πχδιοοΰ). A a r c traduz corretamente o texto,
principalmente quando não usa o artigo. De forma literal, e mais adequada: em
uma planície ou em um lugar plano, assim como faz a a r c . Existe uma discre
pância entre as duas narrativas. Mateus informa que ele “subiu a um monte, e,
assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos”. Os versículos 17-19 são
peculiares a Lucas.
Curava (lâto). Compare com Mt 14.36; Mc 6.56, onde διεσώθησαν, foram com
pletamente salvos, e έσώζοντο, j ò r a m sa lv o s, são usados. Lucas é mais técnico e
utiliza o termo estritamente médico, o qual ocorre vinte e oito vezes no texto do
Novo Testamento, das quais dezessete somente em Lucas. Lucas também utiliza
os dois termos empregados por Mateus e Marcos, mas sempre com algum acrés
cimo que denote a natureza desta salvação. Assim, Lc 7.3, onde διάσωση (cu rar,
na arc ) é explicado pelo versículo 7, ίαθήσεται, o termo técnico, sarará, pelo ver
sículo 10, “acharam são (ύγιαίνοντα —outro termo de uso profissional; v id e 5.31)
o servo”. Compare, também, com Lc 8.35-36,44,47,48. Os autores da área médica
não utilizam ogÍCciv ou διασώζωiv, sa lv a r, como equivalente de ίάσθαι, cu rar, mas
na concepção de escapar de uma doença severa ou de alguma forma de calamida
de. Lucas emprega o termo nessa concepção - At 27.44; 28.1.
o SERMÃO DA MONTANHA
20. Levantando ele os olhos. Expressão peculiar a Lucas. Compare com a b rin d o
a boca (Mt 5.1). As duas passagens indicam uma introdução solene e marcante a
um discurso.
Bem-aventurados. V ide nota sobre Mt 5.3.
Vós, os pobres. V ide nota sobre Mt 5.3. Lucas adota o estilo do discurso dire
to e Mateus prefere as afirmações abstratas.
maior frequência, pelo próprio Cristo para descrever o reino, embora Mateus
também utilize reino d e D eu s. As duas são expressões equivalentes, ainda que
a designação p re d o m in a n te seja mesmo reino d e D eu s, já que se esperava que ele
fosse completamente percebido na era messiânica, na qual Deus tomaria sobre
si mesmo o reino por meio de um representante visível. Compare com Is 40.9,
“Eis aqui está o vosso Deus”. A expressão rein o de D e u s era comum nos escritos
rabínicos e tinha um sentido duplo: de um lado, o reino histórico·, de outro o reino
e s p ir itu a l e m oral. Eles, de modo geral, compreendiam que o reino se tratava de
uma a d o ra çã o d iv in a a Deus-, do con ju n to d a s o b rig a çõ es relig io sa s, mas também do
reino do Messias.
O reino de Deus é, essencialmente, o domínio absoluto de Deus no universo,
num sentido físico e espiritual. De acordo com Tholuck trata-se de “uma comu
nidade orgânica que tem o princípio da sua existência na vontade de Deus”. Ele
foi prenunciado pela teocracia judaica. A ideia de reino avançou até alcançar uma
definição mais clara a partir da profecia de Jacó acerca do Príncipe de Judá (Gn
49.10), através da profecia de Davi acerca do reino eterno e do rei da justiça e da
paz (SI 22,72), por meio de Isaías, até que, em Daniel, sua eternidade e superio
ridade sobre os reinos do mundo surgissem com todo vigor. Israel esperava an
siosamente por este reino, e pelo seu cumprimento na vinda do Messias, embora
a ideia comum entre as pessoas fosse obtusa, sectária, judaica e política. Tholuck
expressa: “havia, entre o povo, uma certa consciência de que o princípio, em si
mesmo, era de aplicação universal”. Em Daniel, esta concepção é expressa de
forma distinta (7.14-27; 4.25; 2.44). Foi neste sentido que o reino foi apreendido
por João Batista.
O reino ideal deve ser percebido no domínio absoluto do Filho eterno, Jesus
Cristo, por quem todas as coisas foram criadas e coexistem (Jo 1.3; Cl 1.16-20),
cuja vida de obediência perfeita a Deus e oferta sacrifical de amor, na cruz, revela
aos homens a sua verdadeira relação com Deus, e cujo espírito opera a fim de trazê-
los para esta relação. O significado derradeiro do reino é o de “uma humanidade
remida, com o seu destino divinamente revelado manifestando-se em uma comu
nhão religiosa, ou seja, a igreja-, em uma comunhão social, portanto, o Estado; e uma
comunhão estética, que se expressa em formas de conhecimento e de arte”.
Este reino é tanto p re se n te (Mt 11.12; 12.28; 16.19;Lc 11.20; 16.16; 17.21; v id e
também as parábolas do Semeador, do Joio e do Trigo, do Fermento, da Rede; e
compare a expressão “deles, ou vosso, é o reino”, Mt 5.3; Lc 6.20); quanto f u tu r o
(Dn 7.27; Mt 13.43; 19.28; 25.34; 26.29; Mc 9.47; 2Pe 1.11; lCo 6.9; Ap 20ss).
Como reino presente, ele é incompleto e está em processo de desenvolvimento.
Ele está se expandindo na sociedade, tal como faz o grão de mostarda (Mt 13.31-
32), operando com o fim de permear a sociedade, como faz o fermento com a
massa (Mt 13.33). Em Cristo, Deus está reconciliando o mundo consigo mesmo
255
L u c a s - C ap. 6
Deus”, quando a Ele dirigido, Cristo, por vezes, imediatamente o substituía por
“Filho do Homem” (Jo 1.50,52; Mt 26.63-64).
Este título afirma a humanidade de Cristo - a sua total identificação conosco:
“o fato dele possuir uma humanidade genuína que jamais podería considerar es
tranha qualquer coisa do gênero humano, e podería se comover nos sentimentos
em função das enfermidades da humanidade que havería se julgar”30. Ele também
o exalta como o representante ideal dos homens.
Só que este título representa ainda mais. Como Filho do Homem, afirma a au
toridade para exercer o juízo sobre toda a carne. Em função do que Ele é, como
Filho do Homem, ele precisa ser mais. Luthardt observa: ‘Ά relação absoluta com
o mundo que ele atribui a si mesmo exige uma relação absoluta com Deus £...)]
Ele é o Filho do Homem, o Senhor do mundo, o Juiz, somente porque é o Filho de
Deus”. A humanidade de Cristo somente pode ser explicada por meio da sua di
vindade. Uma humanidade assim tão singular exige uma solução. Despido de tudo
aquilo que é, popularmente, chamado de miraculoso, visto simplesmente como um
homem, sob as condições históricas da sua vida, ele é um milagre ainda maior do
que todos os milagres combinados. Esta solução está expressa em Hb 1.
25. Vos lamentareis e chorareis (πενθήσετε καί κλαύσετε). Vide nota sobre Mt 5.4.
27. Que ouvis. Com o sentido de ouvir afim de atentar, prestar atenção. Compare
com Mt 11.15.
30. Qualquer. Peculiar a Lucas. Agostinho observa: “omni petenti, non omnia
petenti”, ou seja, “Ele dá a qualquer um que pedir, mas não qualquer coisa que a
pessoa pedir”.
32. Que recompensa (ποια)? Que tipo de graça? Não qual é a sua recompensa,
mas qual é a sua qualidade? Sobre graça (χάρις), vide 1.30.
35. Amai. Não o termo φιλοϋσι, que implica uma ligação instintiva e apaixona
da, mas άγαπώσιν, que descreve um sentimento baseado em juízo e análise, que
seleciona o objeto por uma razão. Vide So 21.15-17.
37. Soltai (απολύετε). Tradução literal do grego. Cristo exorta as pessoas a fa
zerem o oposto daquilo que Ele acabara de perdoar: “não condenem, mas soltem’.
Compare com o capítulo 22.68; 23.16-17.
Vos darão (τον κόλπον). A dobra reunida da veste larga superior, unida
por meio de um cinto, formando, assim, uma bolsa. Nos mercados orientais,
ainda nos dias de hoje, os vendedores podem ser vistos colocando o conteúdo
de uma medida dentro de um peitilho de um comprador. Em Rt 3.15, Boaz diz
a Rute: “Dá cá o roupão que tens sobre ti e segura-o (aberto); e ele mediu seis
medidas de cevada e lhas pôs em cima”. Compare com Is 65.7: “lhes tornarei a
medir as suas obras antigas no seu seio’·, também Jr 32.18. Em At 27.39, o ter
mo é utilizado para descrever uma baía em uma praia, que formava uma curva
na terra, que se assemelhava a um vazio em um manto. De maneira similar, o
vocábulo latino sinus significa o peitilho alto em forma de bolsa de um manto
e uma baía.
Guiar (οδηγείv). Tradução adequada pela arc , guiar, pois o termo combina as
idéias de direcionar e instruir.
Não cairão? (ούχί;) Outra partícula interrogativa, desta vez esperando uma
resposta afirmativa.
40. Perfeito (κατηρτισμενος). De modo mais literal, o particípio deveria ser tra
duzido como, aperfeiçoado. Vide Mt 4.21. O termo significa reajustar, restaurar,
corrigir, no sentido físico e no moral. Vide lCo 1.10, onde Paulo exorta os fiéis a
260
L ucas - C ap . 6
Deixa-me tirar (άφες εκβάλω) com uma cortesia calculada: permita-me tirar.
43. Não há boa árvore que dê mau fruto (ού εστιν δένδρον καλόν, ποιοϋν
καρπόν σαπρόν). Tradução adequada. Ο termo σαπρόν, corrupto, ou mau, é etimo-
logicamente ligado a σήπω, em Tg 5.2: “As vossas riquezas estão apodrecidas’. O
vocábulo significa estragado, rançoso.
Nem. Na rv, nem mais uma vez. A arc omite mais uma vez (πάλιν, por outro
Na tb , consta nem tampouco.
la do).
47. Eu vos m ostrarei a quem é semelhante. Peculiar a Lucas. Vide nota sobre
Mt 7.24.
fundo), mas a acepção é dupla: ele cavou (na areia), e abriu bem fundo para dentro
da rocha sólida. Por esta razão, a arc apresenta, ele cavou, e abriu bemfundo.
49. Sobre terra, sem alicerces. Mateus, apresenta a areia. O significado é que
os dois homens selecionaram um local onde a areia cobre a rocha. Um deles
construiu diretamente sobre a areia, o outro cavou através da areia e perfurou o
seu alicerce na rocha.
Capítulo 7
Perante (είς τάς άκοάς). Literalmente, nos ouvidos, ou como traduz a b j : aos
ouvidos do povo. Saiba mais sobre ouvidos, Lc 4.37.
por cem elementos. Em linguagem militar, significava uma divisão das tro
pas, uma companhia, não necessariamente composta por cem homens, cujo
capitão era chamado de centurio. Os números de uma centúria variavam de
cinquenta a cem homens. A legião romana era composta por dez coortes ou
ouetpou, bandos, como vemos em At 10.1, onde Cornélio era o centurião da
coorte italiana. Os capitães destas coortes eram chamados de tribunos, ou
capitães-chefes (Jo 18.12, Ap). Cada coorte continha seis centúrias, ou com
panhias, das quais os capitães eram chamados de centuriões. As obrigações
dos centuriões estavam, principalmente, restritas ao controle das suas pró
prias tropas e ao cuidado com a vigilância. O distintivo do seu posto era
uma vitis, ou um ramo de parreira. Ele usava uma túnica curta, e também
era conhecido pelas letras da parte superior do seu elmo. Deão Howson
fala sobre a impressão positiva deixada pelos oficiais do exército romano
mencionados no texto do Novo Testamento e cita, afora o centurião desta
passagem, o soldado ao pé da cruz e Júlio, que escoltou Paulo até Roma38.
Para saber mais, vide At 10.1.
É digno de que (ότι άξιός έστιν). A kjnta traduz ό τι como uma conjunção,
que. A arc , de forma mais correta, considera-o como um marcador de citação.
As versões brasileiras traduzem corretamente kaxiv como é, em vez de era, no
entanto, a bp traduz άξιός έστιν no passado, merecia, como se entendesse έστιν
como era. Outras versões, teb e ecp, por exemplo, traduzem άξιός έστιν, como
263
L ucas - C ap. 7
merece. Traduza como a arc : Ele é digno de que lhe concedas isso; pois os melhores
textos apresentam ΤΓαρέξτ], na segunda pessoa, que tu lhe concedas, em vez da ter
ceira pessoa, παρεξει, ele lhe conceda.
5. Ele mesmo nos edificou (αυτός φκοδόμησεν). O pronome Ele é enfático; ele
mesmo, por conta própria.
6. Foi (έιτορεύετο). O tempo imperfeito é explicado pelo que se segue. Ele estava
indo, estava a caminho, quando foi abordado pelo segundo mensageiro enviado
pelo centurião.
O meu criado sarará (ίαθητω ό παίς μοΰ). A tradução literal é a que fica mais
ilustrativa: Seja curado o meu servo, ou como apresenta corretamente a t e b : seja o
meu servo curada. Observe o termo profissional utilizado por Lucas que dá origem
à palavra sarará. Vide nota sobre 6.19.
autoridade superior”. O centurião fala por intermédio de uma figura que é bem
explicada por Alford:
A exatidão da estima que estes vocábulos faziam de Jesus é coisa que não podemos
afirmar. Parece evidente, pelo menos, que o centurião o considerava como alguém
que era mais do que um simples homem. Se este for o caso, fica a questão: o termo
homem, (άνθρωπός) não pode implicar mais do que o significado lhe é, normalmente,
atribuído? Ao analisar as palavras no grego, na sua ordem, elas podem ser lidas:
“Pois eu também, um homem (em comparação a ti), estou colocado debaixo de autori
dade, pois tenho soldados colocados debaixo de mim mesmo”. Vide nota sobre Mt 8.9.
Naim. Esta cidade não é mencionada em nenhuma outra parte da Bíblia. Stan
ley afirma:
265
L ucas - Cap. 7
14. Tocou. Sem temer a contaminação cerimonial gerada pelo contato com os
mortos.
16. De todos se apoderou o temor (έλαβα* Se φόβος άτταντας). Tradução literal da arc.
17. Esta fama. A tb traduz n o tícia , isto é, sobre um grande profeta que confir
mava as suas afirmações por meio da ressurreição de mortos.
19. Dois (δύο τ ι ν ά ς ) . Literalmente, duas certas p esso a s. Na rv, anotado na mar
gem, certos dois.
/
266
Lucas - Cap. 7
Deu (έχαρίσατο). O verbo expressa mais do que o simples ato de dar. Ele con
cedeu um dom livre, gracioso e alentador. V ide χάρις, g ra ça ou fa v o r , no capítulo
1.30; e compare com a expressão d a r livrem ente todas as coisas, Rm 8.32. Além
disso, v id e lCo 2.12.
22. Os cegos veem. Mais adequadamente traduzido como estão vendo, estão an
dando, até mesmo enquanto Jesus está falando e João permanece na dúvida.
267
Lucas - Cap. 7
d ia n te d e outra e, dessa forma, constitui-se em meio entre o emissor e o ouvinte.
Este significado se encaixa, naturalmente, àquele de em lu g a r de alguém. Dessa
maneira, este é o termo técnico que designa um intérprete de um a m ensagem divin a.
Assim também vemos em Platão·.
P or e sta razão é d e c o stu m e in d ica rm o s ad ivin h ad ores ou in térp retes para a fu n ção d e
ju iz e s da verd ad eira in spiração. A lg u m a s p e sso a s lh e s cham am d e adivinhadores, vi
dentes (μάντεις); e le s n ão sabem q u e não p assam de rep etid o res de d ecla ra ç õ es e v is õ e s
o b scu ras e n ão d everíam , d e form a alg u m a , se r e m ch am ad os d e ad ivin h ad ores, m as,
tã o so m en te, d e in té r p r e te s (προφήται) das c o isa s d iv in a s36.
30. Doutores (νομικοί). Não os p ratican tes da lei, mas os intérpretes e doutores
da Lei Mosaica.
268
Lucas - Cap. 7
Nós vos tocamos flauta. Tocando em uma cerimônia de casamento.
37. Uma mulher que era (ητις). Daquela classe que era etc. Na ecp consta: Uma
m ulher pecadora.
Uma pecadora. A sua presença ali se explica pelo costume oriental dos es
trangeiros e andarilhos poderem ter acesso às casas durante as refeições para
observar e conversar com os visitantes. Trench cita a descrição de um jantar na
casa de um cônsul em Damietta:
M u ito s e n tr a r a m e to m a r a o s se u s lu g a r e s n o s b a n c o s la te r a is, se m se r e m c o n v i
d a d o s, m as ta m b é m se m se r e m im p o r tu n a d o s. E le s c o n v e r sa v a m co m as p e s s o a s
da m e sa s o b r e n e g ó c io s ou so b r e as n o tíc ia s do dia e o n o s s o a n fitr iã o falava li
v r e m e n te c o m e le s 37.
38. Estando por detrás, aos seus pés. O corpo do visitante estava apoiado
sobre um assento, os pés ficavam virados da mesa, em direção às paredes, e o
cotovelo esquerdo ficava apoiado sobre a mesa.
269
L ucas - C ap . 8
46. Óleo (έλαίω). Nos versículos 37-38, o vocábulo μύρον, unguento, é utilizado.
Este era o mais fino e mais caro dos dois. O objetivo de Cristo é dizer a Simão:
“Tu não ungiste nem a minha cabeça, a parte mais nobre do meu corpo, com azei
te comum. Mas ela ungiu os meus pés com um unguento caríssimo”.
50. Em paz (εις ειρήνην). Literalmente, dentro da paz. Vide nota sobre Mc 5.34.
C a p ít u l o 8
E os doze iam com ele. Mais adequadamente traduzido como “ele mesmo
seguia”, etc, “e os doze (iam) com ele”, ou e com ele os doze.
Foi pisada. Traduza como, pisoteada debaixo dos pés. Expressão peculiar a
Lucas.
7. Entre (4v μέσψ). No meio. Mais enfático que o termo simples kv, em, dentro, por
dar um maior destaque ao fator perigo.
271
L ucas - C ap . 8
13. Creem por algum tempo. V ide nota sobre Mt 13.21. Mateus e Marcos apre
sentam é de pouca duração.
Sufocados com (Í íttÒ). Implicando o impulso sob o qual eles seguem o seu rumo.
15. Esses são os que (ουτοί eioiv ouiveç). A expressão os que designa as pesso
as pertencentes a uma classe. Por isso, mais acertadamente, ta is que.
18. Como ouvis (πώς). A maneira de ouvir. Marcos apresenta τί, o qu e ouvis; a
questão.
19. Foram ter com ele (συυτυχεΐι/). Somente aqui no texto do Novo Testa
mento. O vocábulo, por si mesmo, carrega consigo a concepção de um encontro
a cid en ta l, o que também é sugerido neste caso. Jesus estava perdido no meio da
multidão, e os seus amigos não conseguiam se a p r o x im a r dele.
Que, desde muito tempo, estava possesso de demônios [ος ιίχ{ δαιμόνια
€Κ χρόνων 'ικανών]]. Os melhores textos inserem καί, e, depois de demônios, e
apresentam a seguinte redação: “que tinha demônios, e há muito tempo ele tinha
usado” etc. Desde muito ( ικανφ) tempo. Vide nota sobre 7.16.
30. Tinham entrado nele muitos demônios etc. Compare com Mc 5.9.
38. Rogou-lhe (έδεΐτο). No tempo imperfeito: estava im plorando. Vide nota sobre
orações, no capítulo 5.33. R o g a r é utilizado como a tradução de παρακαλέω (Mc
5.10). Vide nota sobre consolação, em 6.24. Παρακαλέω, orar, é utilizado para se
referir à oração a D eus num único caso, 2Co 12.8, onde Paulo implora a Deus que
retire dele o espinho posto na sua carne. Este termo é, com frequência, utilizado
para se referir a pedidos a Cristo, enquanto Ele esteve neste mundo. Δέομαι, orar,
normalmente em referência à oração a Deus (Mt 9.38; Lc 10.2; At 8.22). É notá
vel que no versículo 28, onde os demônios se dirigem a Cristo tratando-lhe como
o Filho do Altíssimo Deus, eles dizem δέομαι, rogo-te. Nos versículos 31-32, onde
eles pedem para não serem enviados para longe, e para terem a permissão para
entrarem nos porcos, eles dizem παρακαλέω, eu te im ploro. O homem restaurado,
ao reconhecer o poder divino de Jesus, rogou-lhe (έδειτο) para ficar junto dele. A
distinção, todavia, não deve ser excessivamente imposta em todos os casos. Os
dois termos parecem ser, com frequência, utilizados de forma intercambiável no
texto do Novo Testamento.
39. Conta (διηγοΰ). Preferivelmente, relatar, narrar, com a ideia de contar ahis-
tória p o r completo (ôlcc). V ide nota sobre narração, em 1.1.
41. Jairo. O nome de um dos chefes israelitas, Ja ir, que conquistou e estabeleceu
Basã (Nm 32.41; Js 13.30). Stanley expressa: “O seu nome continuou famoso até
o advento da era cristã, pois, na mesma região conquistada por ele na antiguida
de, encontramos, ainda, um dos líderes da sinagoga com o nome de Jair”40.
42. Apertava-o (συνέπνιγον). Com a ideia de com p rim ir em conjunto (συν): sufb-
cando-o. Este verbo, na sua forma simples, é o mesmo traduzido por sufocar ou
afogar-se, nos versículos 7 e 33, respectivamente.
276
L ucas - C ap . 8
46. Tocou (ηψατό) - conhecí (εγνωυ). A arc traduz os dois aoristos de forma
objetiva: tocou e conhecí, com referência ao conhecimento que Jesus teve do toque
no momento em que ele foi feito.
47. Prostrando-se. Não em adoração, mas por terror. Vide nota sobre prostrou-
se, Lc 8.28.
Morta. No texto grego, este termo vem por primeiro na ordem da frase para
fins de ênfase. “M o r ta está a tua filha”.
277
L ucas - C ap. 9
54. Menina (ή παΐς). Em vez do termo não clássico κορασιού, jovem, utilizado
por Mateus e Marcos.
C a pítu lo 9
Duas vestes (άνά δύο χιτώνας). Literalmente, duas por peça. Mostrando a
ênfase de άνά, como em Jo 2.6.
9. Procurava (εζήτει). Na ara consta se esforçava. Ele fazia mais do que simples
mente desejar ver a criança.
1 0 -1 7 . Compare com Mc 6 . 3 0 - 4 4 .
20. Vós. Enfático: “mas vós, quem dizeis que sou eu?”.
23. Quer vir após (θέλει). V id e nota sobre Mt 1.19; e Mc 8.34. Mais corretamen
te, desejasse vir.
Perdendo-se (άπολέσας). Bengel afirma: “Quando ele poderia ter sido salvo”.
Este vocábulo, no grego clássico, é utilizado nos seguintes casos: (l) em relação
à m o rte em uma batalha ou em outro lugar. (2) Em relação à d estru içã o , como se
diz de uma cidade ou de uma herança. (3) Em relação à perda da vida, de bens
280
Lucas - Cap. 9
4 2 . T rench, S o u th.
281
L ucas - C ap. 9
Sua glória. Uma glória tripla. Dele mesmo, como o Messias exaltado; a glória
de Deus, que o tem com o seu Filho querido e amado e entrega a Ele o poder para
encabeçar o juízo; e a glória dos anjos que o assistem.
28. O monte. A tradição de que este monte era o Tabor, de modo geral, foi
abandonada, o monte Hermom passou a ser a suposição mais comum acerca do
cenário da transfiguração.
282
L u ca s - C ap. 9
nas quais as divindades pagãs assumiam outras formas. Veja, por exemplo, a história da
captura de Proteu por Menelau, no quarto livro de Homero14. Vide nota sobre Mt 17.2.
31. Falavam (έλεγον). No imperfeito, estavam falan do. Este versículo é peculiar a Lucas.
Tendas. Vide nota sobre Mt 17.4. Farrar afirma: “Jesus poderia ter sorrido
diante da proposta ingênua do apóstolo ávido para que os seis habitassem para
sempre no pequeno succôth de ramos trançados nas encostas do Hermom”.
Não sabendo o que dizia. Sem implicar qualquer tipo de reprovação a Pedro,
mas meramente como um sinal da sua confusão naquele momento de êxtase.
36. Tendo soado aquela voz (év τώ γενεσθαι την φωνήν). Literalmente, na vin
da da voz. Na t b , Tendo cessado a voz-, e na t e b , no momento em que a voz ressoou.
37. Descendo eles (κατελθόντων). Muito frequente em Lucas, com uma única
ocorrência no restante do Novo Testamento: Tg 3.15.
De repente (έξαίφνης). Utilizado somente uma vez fora dos escritos de Lucas:
Mc 13.36. Naturalmente, um termo utilizado pelos escritores médicos, para de
signar os ataques súbitos de uma doença. Lucas apresenta mais detalhes médicos
284
L ucas - C ap . 9
no seu relato do que os outros evangelistas. Ele menciona a ocorrência súbita dos
ataques, e a sua duração por longos períodos. Hobart observa que Areteu, um
médico contemporâneo de Lucas, ao tratar a epilepsia, admitia a possibilidade
da sua causa ser mesmo demoníaca. A epilepsia era chamada pelos médicos de
“sacra enfermidade”.
285
L ucas - C ap . 9
A figura é a de um homem que, enquanto está nos seus afazeres, em vez de m anter os
olhos no sulco que está abrindo, olha para trás, em direção a algum objeto que chama
a sua atenção. Ele tem a m etade de sua concentração voltado ao trabalho, e como re
sultado obterá, a m etado do trabalho executado.
C a pítulo 10
Outros setenta. Tradução inadequada, pois Ele não havia escolhido outros
setenta anteriormente. Mais corretamente, seten ta ou tros , com referência à esco
lha prévia do grupo de doze. Na teb , seten ta e d o is outros.
Sandálias. Não que eles devessem seguir descalços, mas eles não deveriam
levar um par sobressalente de sandálias. Vide D t 29.5; 33.25.
288
L u c a s - C ap. 10
(Ap 6.12), e era de um material semelhante àquele utilizado por Paulo na confec
ção de tendas. A mesma palavra, no hebraico, é utilizada para descrever um saco
de grãos, bem como o tecido rústico com o qual ele era confeccionado (Gn 42.25;
Js 9.4). Desta forma, o vocábulo grego σαγή significa um p a c o te ou ba g a g em . A
mesma raiz, segundo alguns etimologistas, aparece em σαγήνη, em referência a
uma rede de pesca ( v id e M t 13.47), e σάγος, sa g u m em latim, uma ca p a g ro sse ira
u tiliz a d a p e lo s so ld a d o s. Este tecido era empregado para o feitio de simples ves
timentas utilizadas pelas pessoas de luto (Et 4.1; lRs 21.27), sendo que, nesta
segunda passagem aqui citada, o pano grosseiro é colocado próximo à carne em
sinal de tristeza extrema. Compare com 2Rs 6.30; Jó 16.15.
V id e lSm 4.12; 2Sm 1.2; 13.19; Jó 2.12; Ez 17.30; Ap 18.19. No livro de Jt 4.14-
15, no lamento sobre as ruínas dos assírios, os sacerdotes ministraram no altar,
cingidos com pano de saco, e com cinzas sobre as suas mitras. Gardner Wilkin
son, ao descrever um funeral em Tebas, afirmou: “Homens, mulheres e crianças,
com o corpo exposto na parte superior da cintura, lançam cinzas sobre as suas
cabeças, ou cobrem o rosto com lama”48. A asfixia com cinzas era uma forma de
castigo utilizada na Pérsia. Compare com o livro apócrifo de 2Mc 13.5-7. Heró-
doto relata que Nitócre, uma rainha egípcia, depois de afogar os assassinos do
seu irmão, lançou-se a si mesma em um compartimento cheio de cinzas, a fim de
escapar da vingança dos amigos daqueles homens.
15. Serás levantada até ao céu? £ή €ως τοΰ ούρανοΰ ύψωθεΐσα]]. Para ή,
artigo, os melhores textos apresentam μή, partícula interrogativa; e para o
particípio, te n d o s id o l e v a n ta d a , apresentam o futuro, se rá s le v a n ta d a , como
na a r c .
16. Rejeita (αθετεί). V id e nota sobre Lc 7.30, e compare com G1 2.21; 3.15.
A plena consumação da nova dispensação começa com a missão dos setenta, e não
com a missão dos apóstolos. A sua tarefa básica, segundo a perspectiva de Lucas, é a
evangelização simbólica de todas as nações sobre a terra, e não a restauração das doze
tribos de Israel. Segundo a tradição judaica, havia setenta, ou setenta e duas, nações
e idiomas diferentes no mundo. No capítulo 10.1, alguns m anuscritos apresentam
setenta e dois em vez de setenta™.
290
L u c a s - C ap. 10
Graças. V id e nota sobre Mt 11.25. Deste ponto até o versículo 25, compare
com Mt 11.25-27 e 13.16-17.
29. Querendo (θΐλων). V id e nota sobre Mt 1.19. Considero este vocábulo mais
enfático do que um simples desejo ; trata-se de uma d eterm in a çã o .
A rua que liga Jerusalém a Jerico passava pelo meio de um deserto (Js 16.1), que
era tão temido pelos ladrões e assassinos que ali se escondiam a ponto de parte
de seu percurso ser chamada de “caminho vermelho ou de sangue”, além de ser
protegido por uma fortaleza e uma guarnição romana.
O despojaram. Não somente das suas roupas, mas de tudo o que possuía.
32. Chegando e vendo-o. A teb traduz viu . Parecendo sugerir que o levita foi
mais longe do que o sacerdote na aproximação com o homem ferido, e, depois de
observar o seu estado, seguiu adiante.
S3. Chegou ao pé dele (ήλθ€ν κατ’ αυτόν). Existe um constraste marcante com
os outros casos e uma sensibilidade clara nas palavras, κατ’ αύτόν, a o p é dele. O
levita chegara κατά τόπον, somente “ao lugar”.
37. O que usou de misericórdia para com ele. De acordo com a preposição
μβτά. Tratou dele como se cuida de um irmão. O doutor da lei evita fazer uso do
odioso vocábulo sa m a rita n o .
da sua casa. Ela recebeu o visitante, e estava completamente envolvida nos pre
parativos que lhe proporcionariam uma boa acolhida (v. 40).
Me deixe (κατέλιπεν). No aoristo, deixou-me, indicando que ela estava lhe aju
dando antes da chegada de Jesus. Alguns manuscritos apresentam κατέλειπεν, no
imperfeito, estava me deixando.
C a pítulo l i
3. Pão cotidiano (τον άρτον ημών τον έπιούσιον). Existem grandes diferenças
de opinião entre os comentaristas acerca do significado específico do vocábulo
aqui traduzido como cotidiano. As principais explicações são:
294
L ucas - C ap . 11
c. C on tín uo.
d. A in d a p o r vir, aplicado a Cristo, o Pão da Vida, que deveria vir no
futuro.
A trad u ção fam iliar, diário — ou, de cada dia, q u e p revalece, d e form a in in terru p ta na
igreja o c id e n ta l d e sd e o s p rim ó rd io s é um a rep resen ta çã o d everas adequada d o ori
g in a l, ta m p o u co a lín g u a in g le sa , p od ería n o s fo rn ecer q u alq u er palavra q u e p u d esse
aten d er d e form a tã o adeq u ad a a e s te fim 54.
N ão perm itas que sejam os desviad os pelas n o ssa s próprias concupiscências, m as guar
d a-n os d o p od er dos n o ss o s próprios corações m align os. T u sab es c o m o so m o s co n sti
tu íd os e te lem b ras que não passam os de pó. L em b ra-te das n o ssa s fraquezas. N ã o n os
esq u ivarem os daquilo que n os im puseres. G u ard a-n os d e buscar aquilo que n ão n o s im
puseres. P roíb e que os n o ss o s d esejos m a lig n o s con v erta m o n o sso esta d o d e p rop en são
à ten tação em ten tação real. G u ard a-n os lo n g e d e situ ações n as quais, até o lim ite do
n o sso ju ízo, estaríam os além d as n o ssa s forças atuais para resistir ao pecado.
Esta não é a oração de um covarde. Não existe homem covarde por ter medo
do seu próprio coração. Ela define o mais alto grau de coragem por sabermos o
que deve ser temido e do que devemos fugir. A oração pedindo para que Deus não
nos deixe entrar nos limites da p o s s ib ilid a d e de cairmos em tentação, seria o des
prezo à nossa própria humanidade, ou seria equivalente a uma oração para que
fôssemos retirados deste mundo. Só que podemos orar, e, certamente, oraremos,
à medida que nos tornarmos cada vez mais conscientes das fraquezas da nossa
natureza, para que Deus não permita que as provações da vida se transformem
em tentações do Diabo.
296
L u c a s - C ap. 11
Pedi, buscai, batei. Trench afirma: “As três menções do mandamento são
mais do que mera repetição, pois buscar é mais do que pedir, e bater é mais do
que buscar”56.
A casa dividida contra si mesma cairá (οίκος επί οίκον πίπτει). Alguns
entendem que esta expressão é uma expansão da frase anterior - uma descrição
mais detalhada da afirmativa geral será assolado, e traduzem casa cai sobre casa;
assim a ara : casa sobre casa cairá (tb , teb , ep etc.). Ela pode ser entendida de modo
metafórico: o reino dividido é levado à assolação, e as suas famílias e casas nas
suas intrigas internas também serão levados à ruína.
Despojos (τα σκϋλα). Vide nota sobre Mc 5.35. Compare com bens, Mt 12.29.
24. Lugares secos (άνύδρων τόπων). Tradução literal, sem á g u a . O abrigo dos
espíritos malignos (Is 13.21-22; 34.14). Como s á tir o s nestas duas passagens são
representados os gnomos com formato de cabra, que eram sacrificados por al
guns israelitas (Lv 17.7; 2Cr 11.15), um remanescente do culto egípcio a Mendes
ou Pan, que, na figura de uma cabra, era adorado pelos egípcios como o princípio
fertilizador da natureza. Na arc, em Is 34.14, lemos que “os a n im a is n o tu rn o s
ali pousarão”. A teb, ep e bj leem Lilit (no hebraico, lilith ); e Cheyne como f a d a
n otu rn a. A referência feita é a uma superstição popular segundo a qual Lilith, a
primeira mulher de Adão, abandonou-o e se transformou em um demônio que
assassinava criancinhas e assombrava lugares desertos.
Habitam (κατοικεί). Assentam-se (κατά) para ali fazerem a sua habitação (οίκος).
Quem é maior (πλίΐον). Literalmente, algo mais. Vide nota sobre Mt 12.6.
Oculto (κρυπτήν). Prefira, um porão ou cripta, que, por fim, é uma transcrição
do vocábulo grego.
35. A luz que em ti há. Literalmente, a luz, que, a saber, a qual está em ti, enfati
zando, assim a natureza interior desta luz. Vide nota sobre Mt 6.23.
36. A candeia ... com o seu resplandor (ò λύχνος tf) αστραπή). Mais correta
mente traduzido como a lamparina com o seu brilho resplandecente. ’Αστραπή sig
nifica raio, vide capítulo 10.18. Este é-o significado normal encontrado no grego
clássico, embora, raras vezes, este termo também possa se referir à luz de uma
lamparina. E utilizado aqui para enfatizar a ideia de uma iluminação moral.
Jantar (άριστήση). Vide nota sobre jantar em Mt 22.4. A refeição matinal, ime
diatamente após o retorno das orações matinais na sinagoga.
39. Prato (ιτίνακος). Compare com παροψίς, também traduzida como prato, em
Mt 23.25.
41. Do que tiverdes (τα kvóvza). Somente aqui no texto do Novo Testamento.
Os comentaristas divergem quanto ao significado deste vocábulo, todavia, no
geral, rejeitam o apresentado pela arc. Na teb, o que está dentro; na bp, o interior
em esmola; e na, t b , mais corretamente: o que está no copo e no prato. O significado
é, deem esmolas do conteúdo dos copos e pratos. Jesus está insistindo na justiça
interior em detrimento da superficialidade dos fariseus, dizendo:
Godet afirma: “Vocês pensam que basta a lavagem das mãos antes das refei
ções? Existe uma maneira mais eficaz. Deixe que algum pobre partilhe da carne
e do vinho que você consome”. Este também é o entendimento de Bengel, Meyer,
Alford. Compare com Mt 9.13; Os 6.6.
42. D izim ais (άιτοδεκατοΰτε). Dizimar é doar um décimo. Vide nota sobre
M t 23.23.
44. Sepulturas que não aparecem (τα μνημεία τα άδηλα). Literalmente, as se
pulturas, as invisíveis. O vocábulo άδηλος, não aparente, ocorre somente nesta pas
sagem e em lCo 14.8, em referência à trombeta que transmite sinais indefinidos.
300
L ucas - C ap. 11
45. Também a nós (και ημάς). Ou, talvez, mais adequadamente traduzido como,
até nós, os instruídos.
46. Também (καί). Enfático: “Ai até ou também de vocês doutores da lei”. Ob
serve o uso do artigo, tal como se via no momento em que Jesus se dirigia aos
fariseus (v. 43): Vós, os doutores da lei.
47. Vós que ediíicais. Ou estais edificando, dando continuidade à obra neste mo
mento. Vide nota sobre Mt 23.29.
48. Testificais, pois, que consentis (μάρτυρες εστε καί συνευδοκείτε). Tradu
zido corretamente por: vós sois testemunhas e consentis. O verbo composto significa
“dais a vossa total aprovação”. Vós pensais (δοκelzc); favoravelmente (εΰ); junto com
eles (σύν).
51. O a lta r e o tem plo (του θυσιαστηρίου καί του ο’ίκου). Οίκου, tem
plo, literalm ente, casa, é equivalente a ναοϋ, santuário, em M t 23.35. O
altar em questão é o altar do holocausto. Vide M t 4.5; e compare com 2Cr
24.18-21.
C a pítu lo 12
Primeiramente. Muitos fazem a ligação desta expressão com o que lhe suce
de na frase: ‘!Acautelai-vos, primeiramente”.
S. Gabinete (ταμείοις). Este vocábulo apresenta a mesma raiz que τέμνω, cortar
ou dividir, significa uma divisão onde os suprimentos são divididos e distribuí
dos: um tesouro, um armazém e, portanto, um lugar secreto e bem guardado. Ali o
mordomo (ταμίας), o distribuidor, tem o seu assento.
4. Digo-vos amigos meus (ύμΐν τοις φίλοις μου). Videfariseus e doutores da lei,
em 11.43,46. Não se tratando de uma abordagem a eles, “Ó meus amigos”, mas, “a
vós, os amigos meus”.
Não temais (μή φοβηθητ€ από). Literalmente, “não temais de” isto é, das mãos de.
O que tens preparado para quem será? A ordem do texto grego coloca
em primeiro lugar aquilo que era mais importante para aquele homem - as
coisas que ele havia acumulado·, “e as coisas que tu tens provido, de quem serão?”
Deus não diz: “as coisas que tu tens ou possuis”. A totalidade da questão do
direito de posse dos seus bens é aberta diante daquele homem rico. Ele dis-
303
L ucas - C a p. 12
27. Como eles crescem. Alguns textos omitem eles crescem , e assumem a seguin
te redação: com o eles n ã o la b u ta m .
304
L ucas - C ap. 12
28. Que hoje está no campo. Faça a junção da expressão no campo com a erva e
traduza o verbo estar na forma absoluta: existe, vive.
29. Não pergunteis, pois, que vós haveis de etc. O pronome vós é enfático: “e
vós, não pergunteis o que haveis de” etc.
Se cingirá. Como um servo cinge as suas vestes soltas à mesa, enquanto es
pera o alimento.
A tempo. Na hora determinada para a distribuição das rações. V ide nota sobre
Mt 2 4 .4 5 .
49. Fogo. Um impulso espiritual que resultará nas divisões descritas nos versí
culos seguintes.
53. O pai estará dividido. Só que o verbo está no plural. Mais corretamente
traduzido como, “E le s estarão divididos, o pai contra o filho”.
54. A nuvem. No grego, também com o artigo definido, a nuvem, a qual estais
acostumados a ver.
306
L ucas — C a p. 13
56. Discernir (δοκίμαζε iv). Verifique os termos provação e provado em lPe 1.7.
Neste caso, o significado é testar ou provar. Vós podeis testar ou provar o clima
por meio dos seus sinais, mas não sois capazes de aplicar a prova que está nos
sinais dos tempos.
57. Por vós mesmos. No exercício dos vossos hábitos comuns de observação
que vós aplicais para o céu.
58. Quando, pois, vais (ώς γάρ υπάγεις). A k jv não traduz o termo γάρ, pois.
Melhor traduzido como pois, à medida que tu estás indo. O seu próprio juízo deve
ria mostrá-los a necessidade do arrependimento diante de Deus. Esta obrigação
nos é transmitida por meio da figura de um devedor que encontra o seu credor
no caminho, o qual considera que fazer um acerto ali mesmo, no meio do cami
nho, como a sua melhor tática.
C a pítu lo 13
7. Há três anos venho [(τρία ετη έρχομαι]. Os melhores textos inserem άφ’ ου, do
qual, ou desde. “Há três anos desde o tempo em que vim”. Na tb: Há três anos que venho.
Por que ela ocupa ainda inutilmente [[ίνατί καί την γην καταργεί]. A arc
traduz como ainda a preposição καί, também, que é muito importante, e, segundo
307
L ucas - C ap. 13
Trench, é a palavra-chave da frase; a nvi a omite. Além de ser estéril por si mesma,
a figueira ta m b ém prejudica o solo. Bengel afirma: “Além de ser improdutiva, ela
afasta os sucos que as videiras extraem da terra, intercepta a luz solar, e ocupa o
espaço”. O verbo representado pela expressão ocupa in u tilm en te (καταργεί) significa
to r n a r sem efeito. Como vemos em Rm 3.3,31; G1 3.17. O cu p a r in u tilm en te expressa
este significado de uma maneira muito genérica e ampla. Os elementos específicos
nesta expressão são mostrados por Bengel acima. Segundo De Wette: to rn a a terra
im p ro d u tiva . V ide nota sobre os adjetivos ociosos e estéreis, em 2Pe 1.8.
9. E, se der fruto, ficará; e, se não, depois [kâv μεν ποίηση καρπόν οίς το
μέλλον εί δε μή γε^. Junte d e p o is com d e r f r u to . “Se ela der fruto no f u tu r o (εις το
μέλλον, como na tb; na rv, d esd e en tã o ), ficará; mas, se não, tu a cortarás.” Tren
ch cita a receita passada por um escritor árabe para curar uma palmeira de sua
esterilidade:
Trench acrescenta que esta história parece ser largamente conhecida em todo
o Oriente.
12. Estás livre (άπολελυσαι). Na τ ε β , estás lib erta . A única passagem do Novo
Testamento onde este termo é utilizado para se referir a uma enfermidade. Os
autores da área médica a utilizam para falar do livramento de uma doença, do
relaxamento dos tendões e da retirada de bandagens.
15. Desprende (λύει). Na teb, d esa ta . Compare com estás livre, no versículo 12.
Manjedoura. V id e 2.7.
16. Satanás. Abbot expressa: “Fiel ao seu princípio de contraste, este livro
atribui a Satanás um papel proeminente”. V id e 4.13; 10.18; 22.3,31. V id e
I n tr o d u ç ã o .
19. Sua horta. Mais especificamente, na sua própria (εαυτού), onde ele podia cui
dar e observá-la pessoalmente.
24. Porfiai Γάγων ίζεσθεΤ Termo utilizado somente por Lucas e Paulo, salvo Jo
18.36. Originalmente, lutar por um prêmio nos jogos públicos, transmitindo a ideia
de disputa. Um substantivo correlato, αγωνία, agonia, é utilizado para descrever a
agonia de Cristo no Getsêmani (22.44). Compare com lTm 6.12; 2Tm 4.7.
25. Quando (άφ’ ου). Literalmente, d esd e o te m p o que. Compare com o versículo 7.
Alguns editores fazem a ligação desta expressão, no grego, com a frase anterior:
“não poderão q u a n d o o p a i..." etc.
26. Na tua presença (ενώπιον σου). Não como convidados amados e conhecidos.
Compare com convosco (μεθ’ υμών), em Mt 26.29.
27. Não sei de onde. Bengel afirma: “A frase é fixa, mas repetida com ênfase”.
33. Que não suceda (ούκ ενδέχεται). O verbo significa a c e ita r ou a d m itir , de
forma que o significado é: “não é admissível que”. Esta expressão é irônica e
hiperbólica, ao sugerir que Jerusalém teria o monopólio sobre este tipo de mar
tírio. Godet afirma: “Seria contrário ao uso e aos costumes, e, de certa forma, ao
decoro teocrático, que um profeta como eu perecesse em qualquer outro lugar
diferente de Jerusalém”.
Capítulo 14
12. Jantar - ceia Γάριστόν - δείπνον]. V id e nota sobre Mt 22.4. A ceia (δεΐπον)
era a principal refeição noturna, correspondente ao jantar feito tarde da noite,
nos tempos modernos.
E, em geral, quando fizerdes um a festa, não convides o teu amigo, mas o m endigo e a
alma vazia, pois eles te am arão, atender-te-ão, e virão até a sua porta, e serão os mais
felizes, bem como os mais agradecidos, e invocarão bênçãos sobre a tu a cabeça"4.
311
L ucas- C ap. 14
13. Convite (δοχήν). Ou, uma recepção. Termo de uso exclusivo de Lucas.
Vide 5.29.
16. Fez (èrroíei). No tempo imperfeito, estava fazendo. Os seus preparativos es
tavam em andamento. Um ato específico no meio destes preparativos é descrito
pelo tempo aoristo, ele convidou (έκάλ^σεν), o termo técnico utilizado para descre
ver um convite feito para uma festividade. Vide Mt 22.3; Jo 2.2.
Se um xeque, um bei ou um em ir lhe convidar para algum evento, ele sem pre enviará
um servo para lhe cham ar na hora certa. E ste servo de modo frequente repete a mes
m a fórm ula mencionada em Lc 14.17: “ Venha, porque a ceia está preparada’. O fato deste
costum e ficar restrito aos ricos e à nobreza está com pletam ente de acordo com a pará
bola, na qual o homem que preparou a ceia, supostam ente, pertence a esta categoria de
pessoas. É verdade, ta n to naquela época, quanto hoje, que recusar um convite destes é
considerado um grave insulto ao anfitrião'*6.
20. Não posso. Um homem recém-casado tinha alguns privilégios que lhe eram
atribuídos. V id e Dt 24.5. Heródoto relata como Creso recusou em lugar do seu
filho um convite para uma caçada com base neste costume. “Mas Creso respon
deu: ‘Não me fales mais na ida do meu filho contigo; para que não pareças falta
de entendimento. Ele acaba de contrair matrimônio e está bastante ocupado com
312
L ucas - C ap. 14
isso.’”67 O homem que tinha a desculpa mais plausível dava a resposta mais rude
e peremptória. Compare com lCo 7.33.
21. Ruas (πλατείας) - bairros (ρύμας). O primeiro termo deriva de πλατύς, largo-,
as ruas largas contrastadas com as ruas estreitas. A ara e tb traduzem ruas e becos,
enquanto teb e bj : praças e ruas.
22. Como mandaste [ως έπεταξαςΊ. Segundo a leitura ώς, como. Os melhores
textos substituem por ó, o que. Traduza, como a tb : “feito está o que ordenaste”.
23. Atalhos (φραγμούς). Vide nota sobre Mt 21.33. O significado pode ser uma
cerca, ou um lugarfechado por uma cerca. Neste caso, a cerca lateral, ao lado da qual,
os desocupados descansam.
27. A sua cruz. Mais exatamente, a sua própria. Uma instrução importante. Todos
precisam carregar a cruz, mas nem todos a mesma cruz: cada um leva a sua.
28. Uma torre. O tema da parábola é a vida de um discípulo cristão, que é repre
sentada por uma torre, uma estrutura imponente, como algo que se distingue do
mundo e atrai atenções.
6 7 . H e r ó d o to , 1.36.
6 8 . Id ., 2 .3 6 .
6 9 . A r is tó f a n e s , As Vespas, 6 5 6 .
313
L ucas - C ap. 14
tomavam a s cédu las (τάς ψήφους) com as quais eles deveriam entregar os seus
votos”. Platão expressa: “E vós, votareis (άν ψήφον Gelo, la n ça re is a vo ssa p e d r a )
comigo ou contra mim?”70 V id e At 26.10.
31. Indo à guerra a pelejar contra outro rei (έτέρω βασιλεύ συμβαλειν εις
πόλεμον). Literalmente, v i r ju n to d e o u tro re i p a r a g u e rre a r.
Com dez mil (εν δέκα χιλιάσιν). Literalmente, em dez milhares; isto é, no
m eio de-, ro d e a d o p o r. Compare com Jd 14.
32. Pede (έρωτά). Em pé de igualdade: rei tratando com rei. V ide 11.9.
Condições de paz (τα προς ειρήνην). Literalmente, coisas que olh em em direçã o
Compare com Rm 14.19, a s coisas que se rv e m p a r a a p a z (τα τής
à p a z : p relim in a re s.
ειρήνης, a s coisas d a p a z ) .
33. Renuncia (αποτάσσεται). Dá adeus a. Vide 9.61. Trench afirma: “Nesta renún
cia está a chave para toda a passagem”. O discipulado cristão está fundamentado
na autorrenúncia.
C a pítulo 15
Existem, na verdade, alguns trechos amaldiçoados, nos quais por vários quilômetros
somente se avista algo como um grande oceano Atlântico, só que com uma cor ama
rela tostada, no qual se levantam ondas amareladas, uma após a outra. Mas é bem
comum haver regiões com fertilidade selvagem, onde a terra produz uma selva de
arbustos aromáticos72.
Não se pode andar por qualquer parte das catacumbas, nem se folhear as páginas de
qualquer coleção de monumentos cristãos antigos, sem que se depare com esta figura,
de forma seguida. Sabemos, a partir de Tertuliano, que ele era, normalmente, dese
nhado em cima de cálices. Nós mesmos o encontramos pintado em um afresco que
fica no teto e nas paredes das câmaras funerárias, rusticamente entalhados na parte
superior das pedras dos túmulos, ou mais cuidadosamente esculpidos nos sarcófagos;
desenhado com ouro sobre o vidro, moldado em lamparinas, gravado em anéis; e, para
resumir, representado em todas as formas de monumentos cristãos que chegaram
até a nossa época £...] Ele foi escolhido por expressar a totalidade e a substância da
dispensação cristã £...]] Ele é, às vezes, representado de forma solitária com o seu
rebanho; outras, acompanhado pelos apóstolos, cada um na companhia de uma ovelha
ou mais. As vezes ele aparece no meio de muitas ovelhas; às vezes, ele acaricia somente
uma delas, todavia, o mais comum —tão comum a ponto de representar, praticamente,
315
L ucas - Cap. 15
uma regra à qual as outras cenas poderíam ser consideradas as exceções —é ver o
pastor carregando a ovelha perdida, ou mesmo uma cabra, sobre os ombros71.
Uma bela peça pode ser encontrada no mausoléu de Galla Placidia, em Raven
na, construído por volta do ano 450 d.C. Trata-se de um mosaico nas cores verde
e dourada. A figura é de um homem bonito, jovial de rosto e de formas, como é
comum nos mosaicos do período primitivo da igreja, rodeado pelas suas ovelhas.
Olhando para esta peça vemos, sobre um altar, a forma de Cristo sentado ao lado
de uma espécie de fornalha, a qual tem, do seu lado oposto um pequeno armário
aberto para livros. A sua tarefa é lançar os livros heréticos no fogo. Será que eles,
na verdade, são a mesma coisa - Cristo, o Pastor dos Evangelhos, e o polêmico
Cristo dos homens do clero?
6. Comigo. Trench citando Gregório: “Não com as ovelhas. A nossa vida é a sua
alegria”.
12. A parte. Segundo Edersheim, de acordo com as leis judaicas que regulam
as heranças, no caso de haver dois filhos, o mais velho recebería duas partes, e o
mais moço, a terceira parte de todos os bens móveis. Um homem podería, duran
te o seu tempo de vida, entregar todos os seus bens em forma de doação, se assim
o desejasse. Se a parte do filho mais moço fosse diminuída em função de alguma
doação ou fosse retirada, a distribuição deveria ser feita por uma pessoa, supos
tamente, próxima da morte. Ninguém em boa saúde podería retirar, exceto por
doação, a porção legal de ura filho mais moço. O filho mais moço, assim, tinha por
direito legal a garantia da sua porção, embora não tivesse o direito de reclamá-la,
enquanto o pai estivesse vivo. O pedido poderia ser considerado como um favor
por parte do pai.
Por eles. Até mesmo com o filho mais velho, que não lhe havia solicitado.
317
L ucas - C a p. 15
17. Caindo em si. Uma expressão forte, que coloca o estado de rebelião contra Deus
como uma espécie de loucura. Ela é um magnífico toque de arte, pois representa
o início do arrependimento, como sendo o retorno a um estado de sã consciência.
Ackermann observa que Platão considera a redenção como u m c a ir em s i mesmo, uma
apreensão da existência de nós mesmos; como uma separação do nosso ser mais ín
timo do elemento que o envolve75. Várias passagens de Platão são muito sugestivas
neste ponto. Segundo Alcebíades: “Quem insiste com um homem para que ele se
conheça a si mesmo, deveria fazer com que ele conhecesse a sua alma”76.
- Para vê-la (a alma) como ela realmente é, não como agora a vemos, desfigurada pela
comunhão com o corpo e por outras misérias, vós devíeis olhar para ela com os olhos
da razão, na sua pureza original e, então, a sua beleza seria descoberta e, na sua ima
gem, a justiça seria vista de modo mais claro e a injustiça, e todas as coisas que descre
vemos. Até aqui falamos da verdade no que diz respeito a ela, segundo a sua aparência
no presente; só que precisamos lembrar também que somente a vimos em uma con
dição que pode ser comparada àquela de Glauco, o deus do mar, cuja imagem original
318
L ucas —Cap. 15
dificilmente pode ser discernida, porque os seus membros naturais foram decepados
e esmagados e, de muitas formas, deteriorados pelas ondas; bem como foram tomados
por incrustações de algas marinhas, de conchas e de pedregulhos, de tal forma que ele
se assemelha mais a um m onstro marinho do que à sua forma natural. A alma, desse
modo, está numa situação semelhante, desfigurada por dez mil enfermidades: mas não
é para lá, Glauco, não é para lá que devemos olhar.
—Para onde, então?
- Para o seu amor pela sabedoria. Vejamos a quem ela se inclina, e que tipo de con
versa ela busca, em virtude do seu parentesco próximo com o imortal, com o eterno
e com o divino; além disso, como ela seria diferente, case seguisse completamente
este princípio superior e saísse, por um impulso divino, do oceano no qual ela agora
se encontra mergulhada, e dela fossem retirados os pedregulhos, as conchas e as coi
sas da terra e a rocha que, em variedades bravias, cresceram ao seu redor, porque ela
se alimenta da terra e se encontra incrustada pelas boas coisas desta vida segundo
as suas designações. Só então, vê-la-eis como ela realmente é;;.
20. Seu pai. Com um toque de afeto no grego: o seu próprio pai.
21. De ser chamado teu filho. Ele omite faze-me como um dos teus trabalhadores.
O espírito de servidão se dissipa, quando é envolvido pelos braços do pai. Bengel
sugere que o pai não toleraria ouvir aquelas palavras. Certa vez ouvi Norman
McLeod dizer em um sermão:
Antes do filho pródigo chegar em casa, ele ficou pensando no que podería fazer para
ser merecedor da restauração. Ele decidiu que seria um dos trabalhadores contratados
pelo pai. Só que quando o pai saiu ao seu encontro e o envolveu com os seus braços, e
o pobre menino estava começando a pronunciar aquelas palavras, ele, simplesmente,
fechou a boca e disse: “Recebo-te no meu coração e isto me basta”.
22. Aos seus servos. Escravos. Este um toque sutil ao se colocar em cena os
escravos imediatamente após a expressão te u f ilh o (v. 21).
23. O bezerro cevado. O artigo indica que um animal fora separado para aquela
ocasião festiva.
24. Reviveu - foi achado (àvéCqoev - εύρέθη). Ambos no tempo aoristo e indi
cando um tempo definido no passado, indubitavelmente o momento no qual ele
“caiu em si”.
27. Veio - são e salvo. Compare com R e v i v e u —f o i ach ado. Trench expressa:
28. Ele se indignou (ώργίσθη). Não com ataque de paixão temporária, todavia,
como a palavra bem mostra, com uma profundamente arraigada.
321
L u ca s - C ap. 16
30. Vindo (ήλθεν). Ele usou o verbo v ir, como se falasse de um estranho.
Este teu filho. Não o meu irmão, mas uma dose amarga de sarcasmo.
C a p ít u l o 1 6
2. Que é isso que ouço? (Tí τούτο ακούω σου;). Tradução adequada.
Presta contas (άποδος τον λόγον). Literalmente, “dá de volta (άπό). A (τον)
conta que é devida. Aristófanes apresenta um paralelo impressionante: Έ agora
me devolve o meu sinete, pois não és mais o meu mordomo”79.
3. Tira. Ou, está tirando. Ele ainda não havia perdido os poderes, como se vê na
sequência dos acontecimentos.
Não posso (ούκ Ισχύω). Vide 14.30: “Não tenho forças”. A sua vida de luxúria
acabara lhe deixando incapacitado para o trabalho pesado. Em Aristófanes, um
Toma a tua conta (δέξοα σου τα γράμματα). Literalmente, tom a de v o lta os teus
escritos. A bv traduz por contrato. O plural é utilizado para apenas um documento. O
docum ento representava o título que o comprador entregava, e que ficava de posse do
mordomo. Ele o devolve ao devedor para que este proceda à alteração dos números.
Assentando-te já. Tratava-se de uma transação secreta, que deveria ser feita
às pressas.
7. A outro (ετέρψ). Uma pessoa diferen te, com uma dívida diferente e em circuns
tâncias que demandavam uma taxa diferente de desconto.
Alqueires (κόρους). Coros. Um coro era composto por dez batos, sendo utiliza
do tanto para secos, quanto para fluidos, com a mesma medida.
8. Louvou. Admirando a sua astúcia, mesmo que ele mesmo fora vítima da
uma fraude.
80. A r is tó f a n e s , Birds, 1 4 3 1 .
323
L u c a s - C a p. 16
graça, Lc 4.22; com o juiz injusto, Lc 18.6; Filho do seu amor, Cl 1.13; concupiscências
de imundicia, 2Pe 2.10. A expressão tem sua origem no hebraico. Ela transmite
a ideia do juízo de Jesus que será feito sobre aquilo que o senhor do mordomo
havia elogiado.
Trata-se de um termo médio, que não realça em excesso as características morais, se
jam elas boas ou ruins, da ação à qual ele é aplicado, mas reconhece nela a hábil adap
tação dos meios aos fins - nada afirmando no caminho da aprovação ou desaprovação
moral, nem em termos de meios, nem de fins, mas deixando com que o seu valor seja
determinado por outras considerações11'.
Com as riquezas da injustiça (έκ του μαμωνά τής αδικίας). A mesma expres
são utilizada no versículo 8, mordomo da injustiça. Compare com riquezas injustas,
ou Mamom injusto, no versículo 11. O termo Mamom trata-se de um vocábulo
3 24
L ucas — C a p . 16
12. No alheio. Naquilo que é de Deus. As riquezas não são nossas, mas nos são
entregues em confiança.
Ao outro. Vide n o t a so b re Mt 6 .2 4 .
16. Emprega força. A ecp traduz como: fa z violência para entrar, e a n v i por ten
tamforçar sua entrada. Vide nota sobre Mt 11.12.
326
L ucas - C ap. 16
Os próprios (άλλα καί). Literalmente, mas até. “Mas (em vez de encontrar
compaixão), até os cães” etc.
22. Seio de Abraão. Uma expressão rabínica, equivalente a estar com Abraão
no Paraíso. Goebel observa: “Para o israelita, Abraão parece o centro pessoal e o
ponto de encontro do Paraíso”.
23. Hades. Onde Lázaro também estava, porém em um local diferente. Videnota
sobre Mt 16.18.
328
L ucas - C ap . 17
do sentiram a falta do menino Jesus (2.48); e a dor dos anciãos de Éfeso com a
partida de Paulo (At 20.38).
27. O mandes à casa de meu pai. Compare com Dante, onde Ciaco, o glutão, diz:
Dos mortos (εκ νεκρών). O rico dissera d o s mortos, contudo fazendo uso de
uma preposição diferente (άπό). É quase impossível mostrar ao leitor da língua
portuguesa o belo jogo de palavras que ocorre entre as preposições. A distinção
geral é άπό, a p a r t i r d o exterior, εκ, a p a r t i r d o in terior. Assim, a exemplo do que
ocorre com Lc 2.4, José subiu a p a r t i r d a (άπό) Galileia, a província, saindo (έκ) da
c id a d e d e Nazaré. A preposição de Abraão (ρκ, p a r a f o r a de, a p a r t i r d o in terior) impli
ca uma identificação mais completa com os mortos do que a utilizada pelo rico, άπό,
a p a r t i r do exterior. Uma ressurreição a p a r t i r d o m eio dos mortos era mais relevante
do que um mensageiro que surgisse a p a r t i r d o s mortos. Alford registra:
C a pítulo 17
329
L ucas - C ap . 17
Escândalos. V ide nota sobre esca n d a liza r , em Mt 5.29 e compare com Mt 16.23.
10. Inúteis (άχρβ,οί). Derivado de xpeía, necessidade-, algo que o senhor p re c isa
pagar. Não um in ú til, mas uma pessoa que não fez nada além do que d e v ia . Meyer
afirma: Ό lucro não começa enquanto o servo não vai além das suas obrigações”.
Bengel observa: “Um servo é devedor de to d a s a s coisas”.
11. Pelo meio de. O significado também pode ser en tre ou n os lim ite s de.
25. Reprovado. Vide nota sobre reprovada, em lPe 2.4; e provado, em lPe 1.7.
C a pítu lo 18
5. Para que enfim não volte e me importune muito (ινα μή εις τέλος ερχόμενη
ύπωπι,άζη με). Εις τέλος, literalmente, até οfim, pode significar continuamente, mas
importunarem lugar de ύπωπι,άζη é mais do que duvidoso. O vocábulo é derivado
de ύπώπιον, a parte do rosto que fica debaixo dos olhos, e significa bater debaixo
do olho; dar uma bofetada. Este termo é utilizado em uma única outra perícope,
por Paulo, lCo 9.27, e no seu sentido literal: “Eu subjugo o meu corpo”; ou seja,
trato-o como um boxeador faz com o seu oponente. O sentido mais literal deste
termo, εις τέλος, nofim, ou porfim, apresenta um significado mais correto e mais
vivo a este versículo. “Para que ela, por fim, não volte e me ataque”. O juiz teme
que a importunação possa culminar em violência pessoal. Além disso, talvez,
como sugere Goebel, ela exagera os seus temores de forma intencional.
7. E Deus não fará. A ênfase está posta em Deus. Na ordem do texto grego: “e
Deus, não fará ele”.
Ainda que tardio para com eles Γκαί μακροθυμών επ’ αύτοιςΓ]. Uma períco
pe muito difícil, e suas interpretações variam sobremaneira:
331
L ucas - C ap . 18
332
L ucas - Cap. 18
8. Porém. Apesar de tudo, é certo que Deus fará justiça, mas será que o Filho
do Homem encontrará na terra uma fé perseverante correspondente a daquela
mulher?
10. O outro (ετφος). Com a implicação de que ele seria um homem diferente. Vide
nota sobre Mt 6.24.
Os demais homens (οί λοιποί των ανθρώπων). Literalmente, o resto dos ho
mens. Vide o versículo 9. Conta-se que havia um ditado judaico no qual um verda
deiro rabino deveria agradecer a Deus, todos os dias da sua vida: (l) por não ser
gentio; (2) por não ser plebeu, e (3) por não ser mulher.
12. D uas vezes na semana. A lei exigia somente um jejum por ano, que
ocorria no grande dia da Expiação (Lv 16.29; Nm 29.7). Contudo, alguns
jejuns memoriais públicos foram acrescentados durante o período do ca
tiveiro, nos aniversários das calamidades nacionais. Os fariseus jejuavam
todas as segundas e quintas-feiras durante as semanas entre a Páscoa e
Pentecoste e, novamente, entre a Festa dos Tabernáculos e a Dedicação do
Templo.
13. Estando em pé («πώς). Em uma atitude que denotava certa timidez. Simples
mente parado ali de pé, sem a postura assumida pelo fariseu. Vide o versículo 11.
16. Deixai. Vide nota sobre Mt 19.14. Somente Marcos registra que ele as pe
gava nos braços.
22. Ainda te falta uma coisa (eu eu σοι λείπει). Literalmente, ainda uma coisa
estáfaltando para ti. Somente Marcos acrescenta que Jesus, fitando-o, amou-o.
23. Ficou muito triste [(περίλυπος εγενέτο]. A rv, mais acertadamente, verte
έγενήθη, ele veio a estar. Vide nota sobre Mc 10.22.
31. Pelos profetas (διά). Literalmente, através dos-, a preposição expressa uma
função secundária.
Se lhes dizia (λεγάμενα). Ou, mais corretamente, que estavam sendo ditas a eles
naquele momento.
39. Clamava (εκραζεν). Uma palavra mais enfática que εβόησεν, clamou, no versí
culo anterior, que é meramente um grito, ao passo que, neste caso, trata-se de um
grito de clamor, um som agudo alto. Compare com Mt 15.23; Mc 5.5; At 19.28-34.
40. Que lho trouxessem (άχθήναι προς). Utilizado exclusivamente por Lucas
no sentido de trazer os doentes até Cristo. Ele também utiliza o verbo composto
προσάγω, que era um termo comum da medicina para descrever o transporte de
um doente até a presença de um médico, tanto nesse quanto em outros sentidos.
Vide 9.41; At 16.20; 27.27.
C a pítu lo 19
1. Jerico. Esta cidade ficava próxima aos vaus do Jordão, nos limites de Pereia,
na planície mais rica da Palestina. A produção dos melhores vegetais era farta,
com destaque para o bálsamo. Por conseguinte, constituía-se em um lugar apro
priado para um oficial de patente superior comandar a cobrança de impostos.
Vide nota sobre Mt 9.9; Lc 3.12.
335
L ucas - C ap . 19
Quem era. Literalmente, é. Não para ver que tipo de pessoa ele era, mas quem
era ele no meio da multidão.
5. Me convém pousar. “Adotando o estilo nobre que lhe era familiar, que elogia
a lealdade de um vassalo da forma mais gentil ao fazer uso dos seus préstimos
de forma gratuita”99.
8. Levantando-se (σταθείς). Vide nota sobre 18.11. Descrevendo um ato formal, como
quem está prestes a fazer uma declaração solene. Ele era como um fariseu, nas suas
atitudes, mas não no seu espírito. O vocábulo mais formal para descrever o ato de levan
tar-se, aplicado aofariseu no Templo, é aqui usado em referência ao publicano.
Eu dou. Não que a doação seja a minha prática. A afirmação de Zaqueu não é
uma justificativa, mas um voto. “Dou, agora, como forma de restauração”.
93. E c ce H o m o .
336
L ucas —Cap. 19
13. Dez servos seus (δέκα δούλους έαυτοϋ). O pronome possessivo seu é enfático.
Literalmente, seus próprios. Seria absurdo se supor que este homem nobre, com
totais condições de ser elevado à dignidade real, tinha somente dez servos. O
número de escravos em uma casa romana era enorme, por vezes chegando à casa
das centenas. No período final da república, era considerado reprovável não se
ter um escravo para cada tipo de atividade.
A pequena soma de dinheiro nos espanta. Compare, por outro lado, com os talentos
(Mt 25). Só que em Mateus o senhor transfere ao seu servo o cuidado de toda a proprie
dade-, neste caso ele somente dedicou uma quantia definida de dinheiro com o objetivo
de colocar os seus servos à prova. A pequena quantidade corresponde justamente
àquilo que está sendo cuidadosamente enfatizado na parábola, ou seja, a relação entre
a fidelidade no pouco e a muita recompensa dela advinda (v. 17); relação esta que não
é muito relevante para a parábola de Mateus94.
337
L ucas —C ap. 19
17. Cidades. Bengel registra: “Uma cidade por uma mina; nem uma cabana po
dería ser comprada por uma mina”.
Lenço (σουδαρίψ). O termo latino sudarium, derivado de sudor, suor. um pano para
se limpar o suor. Trench observa que o lenço do qual o servo indolente não necessi
tava para o uso adequado (Gn 3.19) é utilizado por ele para embrulhar as suas minas.
21. Rigoroso (αυστηρός). Derivado de αΰω, secar. Seco, e por isso, duro. Vide nota
sobre duro, em Mt 25.24.
22. Sabias. Para ser lido interrogativamente. “Sabias que? Então, por essa razão,
deverías ter sido o mais fiel”.
23. Banco (τράπεζαν). Literalmente, uma mesa ou banca utilizada pelos cambis
tas. Vide nota sobre banqueiros, em Mt 25.27.
27. E (πλήν). Na rv, não obstante. Entretanto, isto pode ocorrer com o servo infiel.
338
L u c a s - C ap . 19
37. Da descida. As duas vistas distintas de Jerusalém podem ser vislumbradas nes
te caminho; um acidente geográfico que tira a cidade da vista do viajante, durante
certo tempo, depois dele já tê-la avistado pela primeira vez. O versículo 37 marca o
momento da primeira visão; o versículo 41 da segunda, mais de perto (vide Introdução,
na seção que trata da precisão topográfica de Lucas). Segundo Stanley:
339
L u c a s — C ap. 2 0
48. Pendia para ele (έξεκρέματο). Somente aqui no texto do Novo Testamento.
Literalmente, dependuravam-se sobre ele. Na bp, mas claro: pendente de suaspalavras. A
teb traduz: suspenso dos seus lábios, enquanto a nvi e e p :fascinado pelas suaspalavras.
C a p ít u l o 2 0
Têm por certo (ΐΓ€ΤΤ€ΐσμένος). Literalmente, ele (o povo) está tendo sido persua
dido. Denotando uma persuasão embasada e que demorou a ocorrer.
12. Ferindo (τραυματ ίσαvreς). Este termo ocorre somente aqui e em At 19.16.
Não seja assim (μή γέΐΌΐ,το). Literalmente, possa isso não ser.
À jurisdição e poder (τή άρχί) καί tfj έξουσία). O segundo, o poder romano
em geral; o primeiro, a autoridade específica do oficial regional.
22. Tributo (φόρον). Derivado de φέ^ω, trazer. Por conseguinte, algo que é trazi
do para dentro por forma de pagamento. Lucas utiliza o termo grego κήνσον, em
vez do vocábulo latino encontrado em Mateus e Marcos.
Astúcia (πανουργίαν). Derivado de παν, todo, eepyov, ato. Prontidão para exe
cutar todo e qualquer ato. Por esta razão, falta de escrúpulos, em sentido geral,
desonestidade, logro.
26. Em palavra (ρήματος). No singular. Corretamente: dizendo. Vide nota sobre 1.37.
36. Iguais aos anjos (ίσάγγελοι). Somente aqui no texto do Novo Testamento.
37. M ostrou (εμήυυσερ). Originalmente, revelar algo secreto. Por isso, tornar co
nhecido.
C a pítu lo 21
1. Ricos. Este termo está posicionado de forma enfática na parte final da frase:
“Viu aqueles que estavam lançando —os ricos’. Mas não na concepção de que so
mente os ricos estavam lançando as moedas. Compare com 12.41.
Não vos assusteis (μή πτοηθήτε). Este termo só ocorre aqui e em 24.37.
Angústia (συνοχή). Somente aqui e em 2Co 2.4. Da mesma raiz que συνεχόμενη,
enferma (4.38), verifique a respectiva nota. O significado original do vocábulo é ser
tomado por umforte aperto.
E le lan ça o s seu s b raços ao red or d o seu filh o querido. O ro b u sto com an d an te, U lisse s,
p u x o u -o en q u an to d esfalecia (άποψ ύχουτα)96.
344
L u c a s - C a p . 21
28. Olhai para cima. Vide nota sobre 13.11. Expressão ilustrativa, como que im
plicando uma prostração prévia por parte das pessoas em função do sofrimento.
34. Se carregue (βαρηθώσιν). Seja oprimido. Compare com 9.32; 2Co 5.4.
da vida-, e assim também sucede nas outras passagens onde este vocábulo ocorre,
lCo 6 .3 -4 . Um trecho paralelo pode ser encontrado em Mt 6 .3 1 .
35. Como um laço. Junte com a sentença anterior: “Venha de improviso como
um laço”. Compare com surpreender, em M t 22.15.
38. Ia ter com ele ao templo, de manhã cedo (ώρθριζεν). Somente aqui no
texto do Novo Testamento.
Capítulo 22
1 -6 . Compare com Mt 2 6 .1 7 -1 9 . Mc 1 4 .1 2 -1 6 .
346
L u c a s - C ap. 2 2
15. Desejei muito. No grego, com desejo eu desejo. Expressando um desejo intenso.
Compare com Jo 3.29, alegra-se com alegria-, At 4.17, ameacemo-los com ameaças.
19. Pão (άρτον). Mais adequadamente traduzido como, um bolo, ou pão deforma.
Comigo. Bengel registra: “Ele não diz convosco: separando, assim, o traidor
dos demais discípulos, e demonstrando que, agora, o assunto era somente entre
ele e aquele miserável homem, como quem trata com um inimigo”.
347
L uc a s — C ap. 2 2
Confirma (στήρισον). Vide nota sobre 16.25 e lPe 5.10. Estabelece é uma tradu
ção muito mais adequada. O termo implica a concepção de.fixação.
36. O que não tem espada. Só que o substantivo espada não é regido pelo verbo
ter. Ele fica demasiadamente isolado na frase. O significado é: aquele que não tem
uma bolsa ou documento (e está, portanto, sem dinheiro) que venda a sua veste e
compre uma espada.
41. Apartou-se (άπ€σπάσθη). A vulgata apresenta avulsus est-. “ele foi destacado”,
como que por uma urgência interior. Godet adota esta posição, e Meyer tem uma
inclinação para isso; De Wette, definitivamente, rejeita esta posição. Compare
com At 21.1.
Tom ou-se (εγενετο). Tradução adequada. Vide nota sobre γενόμενος, posto,
neste mesmo versículo.
A orelha direita. Literalmente, sua orelha, a direita. Vide nota sobre Mt. 26.51;
e compare com Mc 14.47. Mateus e Marcos usam diminutivos.
63. Ferindo-o (δέροντες). Originalmente, esfolar, por esta razão ferir com porrete.
Compare com o nosso uso informal curtir ou encobrir.
Capítulo 23
5. Insistiam cada vez mais (έπίσχυον). Na tb, instavam ainda mais. Somente
aqui no texto do Novo Testamento. O verbo significa, literalmente, crescerforte.
Vide nota sobre 14.30; 16.3. Neste caso, o significado é, eles estavam mais enérgicos
e enfáticos.
10. Com grande veemência (^ύτόνως). Este vocábulo ocorre somente aqui e
em At 18.28, em referência à pregação de Apoio. Originalmente, a expressão
significa bem tenso; dessa maneira, em linguagem médica, refere-se a um corpo
fisicamente saudável.
Fora daqui (aípe). Literalmente, tirem daqui. Compare com At 21.36; 22.22.
19. Que (οστις). Conforme a kjv . Classificando-o. Alguém de tal natureza, que
fora preso. A arc substitui pelo nome Barrabás.
351
L ucas - C ap . 23
23. Eles instavam (enticeluto). Instavam, no sentido de urgência, pressa. Vide nota
sobre 7.4. Compare com Rm 12.12; 2Tm 4.2; Lc 7.4; At 26.7. O verbo significa
jazer sobre, estar colocado sobre, e corresponde à nossa expressão popular, lançar-se
ao trabalho. Compare com Aristófanes: κάττικείμενος βόα, rugir com toda aforçcts.
Literalmente, rugiam, lançando-se nisso.
27- 32. Termo peculiar a Lucas. Vide Introdução, na seção que trata do Evangelho
da feminilidade.
352
Lucas —Cap. 23
42. No teu Reino £4v xq βασιλέα σου]. Alguns textos trocam a leitura elç, para
dentro, por kv, em, como na arc . Nesse caso, precisamos compreender da seguinte
forma: “em tua glória real”.
E, também:
Expirou (έξεπνευσεν). Tradução literal, expirou (a sua vida). Vide nota sobre
Mt 27.50.
354
L ucas - C ap . 24
50. Senador. Vide nota sobre Mc 15.43. Mateus o chama de rica, Marcos, honra
da, Lucas, de homem de bem ejusto.
53. Lençol (σινδόνι). Vide nota sobre Mc 14.51; e compare com Lc 16.19.
56. Voltando (ίπτοστρέψασαι). Este termo ocorre trinta e duas vezes em Lucas, e
somente três vezes no restante do Novo Testamento. Constitui-se um fato signi
ficativo que, considerando-se o espeço agregado ocupado pelos quatro Evange
lhos, aproximadamente um sexto de todo o seu conteúdo é ocupado pelo relato
das vinte e quatro horas que começam com a última Ceia e terminam com o
sepultamento de Jesus. Nenhum outro dia, em todo o relato bíblico, é narrado
com tanta riqueza de detalhes. Se tivéssemos a vida completa de Cristo narrada
com o mesmo nível de detalhamento, o relato ocuparia cento e oitenta volumes tão
grandes quanto a Bíblia completa.
Capítulo 24
355
Lucas - Cap. 24
12. Abaixando-se. Vide nota sobre atenta, em Tg 1.25. Os melhores textos omi
tem este versículo.
Lenços. Não as suas vestes, mas as faixas de linho que envolviam o corpo. Tal
como vemos na tb , panos.
Que remisse. Mais corretamente, deveria remir (λυτροϋσθαι). Vide nota sobre
lPe 1.18.
Com tudo isso (συν πάσιν τούτοις). Literalmente, com todas estas coisas·, a sua
traição e crucificação etc.
23. Que também tinham visto - que dizem. Cleopas, absorto pelo seu relato,
lança-se de volta ao momento do seu encontro com a mulher. Literalmente, "Elas
vieram dizendo que elas viram uma visão de anjos que dizem (λεγουσιν).
26. Não convinha que (ούχί εδει). Era essencialmente apropriado que Cristo
sofresse como cumprimento do eterno conselho de Deus, segundo expresso nas
profecias.
357
L ucas - C ap. 24
SO. E lho deu (έπεδίδου). Um uso muito belo do imperfeito, indicando que en
quanto ele estava no ato da distribuição, eles o reconheceram. Ele abençoou o
pão e depois de parti-lo, estava-o entregando a eles, quando, num piscar de olhos,
os seus olhos foram abertos (no tempo aoristo).
32. Não ardia em nós o nosso coração quando - nos falava - e nos abria
(ούχ'ι ή καρδία ημών καιομένη ήν - ώ ς έλάλίΐ - διήνοιγ^ν). Muitas traduções,
como de costume, não levam em consideração os imperfeitos ilustrativos desta
perícope. Eles estão falando de algo que estava em andamento: “não estava o nos
so coração ardendo (verbo finito e particípio) enquanto ele estavafalando, e estava
abrindo as Escrituras?”
106. A expressão não é άφαντος αύτοΐς, tornou-se in visível p a ra eles, o que implicaria que o seu corpo
teria continuado no recinto, só que de forma invisível; mas άπ’ αύτών, afastado deles, implican
do uma remoção.
358
Lucas - Cap. 24
35. Eles lhes contaram (εξηγούντο). Relataram com detalhes é mais apropriado,
porque o verbo significa contar deforma exaustiva ou relatar por completo.
36. O mesmo Jesus. Os melhores manuscritos omitem Jesus. Traduza “ele mes
mo se apresentou”.
39. Tocai-me (ψηλαφήσατε). Compare com lJo 1.1.0 vocábulo ocorre também
em At 17.27; Hb 12.18.
Ele jamais expressa este sentido no manuseio de um objeto com objetivo de exercer sobre
alguma influência em termos de moldá-lo ou modificá-lo, mas, principalmente, quando se
deseja sentir a sua superfície; isto pode ocorrer, com a intenção de conhecer a sua compo
sição (Gn 27.12,21-22); ao passo que, não raramente, ele não signifique nada mais que um
sentimento pelo objeto, sem a necessidade de qualquer contato real com ele108.
41. Coisa que comer (βρώσιμον). Somente aqui no texto do Novo Testamento.
Literalmente, algo comestível.
Convinha que (δει). Vide nota sobre não convinha, no versículo 26.
45. Entendimento (voOv). Que, até então, continuava cerrado. Vide nota sobre
néscios, no versículo 25.
107. Discussões, dúvidas, receios estão mais ou menos distintamente implícitos em toda ocorrência
deste termo no texto do Novo Testamento. Em Fp 2.14, o vocábulo contendas é, como obser
va Meyer, inadequado à referência feita às murmurações a Deus, e significa, em lugar disso,
considerações reticentes ou hesitações, indicando incerteza na consciência das obrigações. Dessa
maneira, em Rm 14.1, a ar c apresenta sobre dúvidas. Assim também vemos em Meyer, Godet,
Lange, Beet, Shedd, Hodge, Tholuck, Alford e De Wette.
108. Trench, Synonyms.
359
L ucas - Cap. 24
46. E assim convinha [και ούτως eôei]. Os melhores textos omitem estas pala
vras. Traduza, como na t b : Assim está escrito que o Cristo padecesse.
47. Em seu nome. Sobre o fundamento de (επί). Vide nota sobre Mt 24.5.
49. Envio (εγώ αποστέλλω). Na rv, de forma mais adequada, envio adiante, consi
derando a força de εξ. O pronome eu é enfático.
109. A 8.“ edição do texto de Tischendorf e o de Westcott e Hort apresentam άρξάμίυοι, em refe
rência aos discípulos. A antiga leitura άρξάμίνου é explicada como a forma impessoal acusati-
va neutra, referindo-se a κηρυχθήοαι.
360
A tos dos A póstolos
C a pítu lo l
Começou (ήρξατο). Isto é interpretado de duas maneiras. (l) Como uma simples
declaração histórica, equivalente a “tudo o que Jesus fez e ensinou”. Em favor
desta interpretação, está o fato de que os Evangelhos Sinóticos frequentemente
registram aquilo que foi feito ou dito de acordo com o momento do princípio da ação,
desta maneira conferindo vivacidade à narrativa. VideMt 11.20; 26.22,37; Mc 6.7;
14.19; Lc 7.38 etc. Segundo esta explicação, Meyer afirma que a palavra serve
“para trazer à lembrança todos os vários incidentes e eventos do Evangelho, até
a ascensão, em que Jesus havia aparecido como realizador e professor”. Ou (2)
como indicação de que o Evangelho contém o princípio, e o livro de Atos dos
Apóstolos contém a continuação das obras e ensinamentos de Jesus. De acordo
com Baumgarten e Gloag:
A v id a terren a d e Jesus, q u e foi con clu íd a co m a ascen são, tem seu fru to e su a con tín u a
eficácia; e a su a vid a c e le stia l, q u e co m eço u c o m a ascen são, tem a sua m an ifestação
e p rova n o s a to s e nas ex p e r iê n c ia s d o s a p ó sto lo s e d as prim eiras igrejas. A h istória
da ig r e ja esta v a sob o c o n tr o le im ed iato do R ed en to r ex a lta d o , e pode, co m razão, ser
co n sid era d a co m o a con tin u ação, n o céu , da ob ra que E le in iciou na terra.
indicada, e não seria deixada para ser deduzida a partir de uma única expressão
duvidosa. Com respeito à intenção de Lucas, creio que é mais provável que a pri
meira explicação seja a correta. A segunda, no entanto, declara uma verdade,
cujo valor e importância não podem ser superestimados, e que deveriamos ter
em mente constantemente no estudo do livro de Atos. Isto fica bem explicado
por Bernard:
Pelo Espírito Santo. Interpretar com ter dado mandamentos: por intermédio
do Espírito Santo, que o inspirava. Não como afirmam alguns intérpretes, pelos
apóstolos que escolhera.
362
A tos - Cap. 1
a derivação de σύν, juntos, e αλς, sal; comendo sal juntos, e, portanto, de modo
geral, com respeito à associação à mesa.
5. Não muito depois destes dias (ού μετά πολλάς ταύτας ημέρας). Literalmente,
não depois de muitos destes dias. Não depois de muitos, mas depois de poucos.
Seu próprio (τη ιδία). Mais forte que o pronome possessivo simples. O adjeti
vo significa privado, pessoal. Frequentemente usado como advérbio na expressão
κατ’ ιδίαν, separadamente, privadamente. Vide Mt 17.1; 24.3.
8. Me (μοι). Os melhores textos trazem μου, de mim; ou, como na tb, minhas
testemunhas.
10. Estando com os olhos fitos (άτενίζοντες ήσαν). Vide nota sobre Lc 4.20.
IS. O cenáculo (τό ímepcôov). Com o artigo, indicando algum lugar conhecido de
refúgio ou proteção. Era o nome dado à câmara imediatamente abaixo do telhado
plano. Essas câmaras normalmente eram salas para reuniões. Em um ambiente
como esse Paulo fez seu discurso de despedida em Trôade (At 20.8), e em um
ambiente como esse também foi depositado o corpo de Dorcas (At 9.37). Palavra
usada apenas por Lucas.
15. Dos discípulos (των μαθητών). Os melhores textos dizem αδελφών, irmãos.
A multidão junta era de quase (ήν τε όχλος όνομάτων επί το αυτό). Muito
m elhor ο que diz a rv, e havia uma multidão de pessoas reunida, de quase etc. ’Όχλος,
multidão, não seria usada com um número prestes a ser declarado.
A Escritura. Os melhores textos substituem esta por a. Vide nota sobre Mc 12.10.
Alcançou féλάχε). A rigor, “recebeu por sorte”. Na rv, melhor, recebeu. Compare
com Lc 1.9. No grego clássico, a palavra é usada com respeito ao recebimento de
magistraturas públicas.
364
At o s - C ap. 1
Sorte (τον κλήρον). A versão arc não traz a força do artigo, a sorte que era dele.
campo, mas os sacerdotes fizeram isso, com o dinheiro que ele lhes devolvera
(Mt 17.7). A expressão significa meramente que o campo foi comprado com o
dinheiro de Judas.
21. Entrou e saiu. Uma expressão para comunicação constante. Compare com
Dt 18.19; SI 121.8; Jo 10.9; At 9.28.
y
2. Homero, Ilíada, xiii., 616.
3. Aristófanes, Nuvens, 410.
4. Heródoto, i., 111.
365
Atos - C ap. 2
C a pítu lo 2
367
A tos - C ap. 2
Galileus. Não considerados como uma s e i t a , pois essa palavra não foi atribuída
aos cristãos até algum tempo mais tarde, mas com referência à sua n a c i o n a l i d a
d e . Eles usavam um dialeto peculiar, que os distinguia dos habitantes da Judeia.
Ásia. Não o continente asiático, nem a Ásia Menor. Na época dos apóstolos, esta
palavra era usada com referência à província proconsular da Ásia, principalmente
o reino de Pérgamo, deixado por Átalo 111 aos romanos, e incluindo a Lídia,
Mísia, Cária, e, em algumas ocasiões, partes da Frigia. O nome Ásia Menor não
veio a ser usado antes do século IV da nossa era.
10. Egito. Onde os judeus eram numerosos. Dizia-se que dois quintos da popu
lação de Alexandria eram de judeus.
v in d o s d e R o m a .
11. Árabes. Aqueles cuja nação era vizinha à Judeia, e que deve ter contido mui
tos judeus.
368
A tos - C ap. 2
12. Estavam suspensos (διηπόρουν). Palavra usada apenas por Lucas. V id e nota
sobre Lc 9.7. Melhor, como a teb, p e r p l e x o s .
15. Terceira hora. Nove horas da manhã: o horário da oração matinal. Compare
com lTs 5.7.
369
Atos - C ap. 2
24. Ânsias (ωδίνας). O significado é discutido. Alguns afirmam que Pedro se
guiu a tradução equivocada que a lxx apresenta de SI 18.5, onde a palavra
hebraica para la ç o s é explicada pela palavra aqui usada, â n s ia s - , e que, portanto,
deve ser traduzida como â n s i a s de morte; a imagem é a da fuga da armadilha
de um caçador. Outros supõem que a morte é representada n a s d o r e s d o p a r t o ,
que cessam com o parto; i s t o ê , com a ressurreição. Isto parece ser ilógico, em
bora seja verdade que, no grego clássico, a palavra é usada normalmente com
respeito aos espasmos do parto. É melhor, talvez, de modo geral, interpretar
a expressão no sentido da kjv , e fazer com que os la ç o s d a m o r t e representem a
morte, de modo geral.
m e s m o , como em SI 16.8.
370
Atos - C ap. 2
29. Seja-me lícito dizer (εξόν είπειν). Literalmente, seja-me permitido. E admis
sível que ele fale, porque os fatos são notórios.
Ele morreu e foi sepultado (έτελεύτησε καί έτώφη). Aoristo, indicando o que
aconteceu em um tempo passado definido.
Entre nós está até hoje a sua sepultura. Ou dentre nós (εν ήμΐν). No Monte
Sião, onde muitos dos reis judeus eram enterrados na mesma sepultura.
34. Não subiu aos céus (ού άνεβη). Aoristo, não subiu.
35. Escabelo de teus pés. A kjv omite de teus pés. A bv traduz: em completa sub
missão.
36. Com certeza (άσφαλώς). De dc, não, e σφάλλω, fazer cair. Portanto,firmemente,
constantemente.
duzida pelas palavras de Pedro. Cícero, falando sobre a oratória de Péricles, diz que
as suas palavras deixavam p i c a d a s nas mentes de seus ouvintes5.
E s e e la fo r re b e ld e ,
E n tã o e n s in a s te H o r t e n s io a se r perverse?.
A piedade, a justiça, é vida, é salvação. E não é necessário dizer que o divórcio en
tre moralidade e religião deva ser encorajado, deixando de perceber isto, e assim
colocando toda a ênfase no passado ou no futuro - no primeiro chamado, ou na
mudança final. É, portanto, importante que a ideia de salvação como um resgate
do pecado, por meio do conhecimento de Deus em Cristo, e, portanto, uma condi
ção progressiva, um estado atual, não deva ser obscurecida. Assim, consideramos
como uma tradução de At 2.47: “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja
aqueles que se deveríam salvar”, mesmo que alguns pensem que o texto grego
indique uma ideia diferente10.
C a pítu lo 3
Era trazido (έβαστάζετο). Imperfeito: “estava sendo trazido, enquanto eles su
biam” (v. 1).
4. Fitando os olhos (άτβήσας). Vide nota sobre Lc 4.20; e compare com At 1.10.
374
A tos - Cap. 3
6 . Prata nem ouro (άργύριον και χρυσίου). A rigor, d in h e iro em prata e ouro.
V i d e nota sobre lPe 1.18.
Pés (βάσεις). Uma palavra peculiar e técnica, usada apenas por Lucas, e des
crita por Galeno como a parte do pé que está debaixo da perna, sobre a qual ela
se apoia diretamente, em distinção a ταρσός, a p l a n t a d o pé, entre os artelhos e o
calcanhar, e πεδίοΐ', a p a r t e i m e d i a t a m e n t e p r ó x i m a a o s a r t e l h o s .
quirida.
As observações médicas do caso são de que a enfermidade era congênita, havia
durado mais de quarenta anos (At 4.22), e os passos progressivos da recuperação
- saltou, pôr-se em pé, andou.
Pasmo (θάμβους). Palavra usada apenas por Lucas. V id e nota sobre Lc 4.36.
11. O coxo que havia sido curado. Conforme a kjv. Os melhores textos omi
tem. Tradução: a p e g a n d o - s e e le .
(v. 10).
375
A to s - C ap . 3
Ser descendentes de Abraão, esta honra eles devem compartilhar com os ismaeli-
tas; de Abraão e Isaque, com os edomitas; mas ninguém, senão eles, era a semente
de Jacó, como foram declarados, neste nome “israelitas”. Mas isto não era tudo,
e de maneira ainda mais gloriosa, os seus descendentes foram, desta maneira,
rastreados até ele, não como Jacó, mas como Israel, que, como um príncipe, lutou
com Deus e com os homens, e prevaleceu11.
Assim Paulo, ao enumerar aos filipenses as suas declarações de que podería ter
confiança na carne, diz que era “da linhagem de Israel’. Acredita-se que os judeus
modernos, no oriente, ainda sentem satisfação com este título.
13. Seu Filho (τταΐδα). A rigor, Servo, como na t b . Vide nota sobre Lc 1.54·.
A versão arc traduz, em M t 1 2 .1 8 , servo, em citação a Is 4 2 .1 ; mas em ou
tras passagens, onde se aplicada a Jesus, o termo usado é filho, que a t b ,
em certos casos, alterou para servo. O term o é usado continuamente, como
a palavra puer, em latim, com o sentido de servo, e na lxx como o servo de
Deus. Vide 2Sm 7 .5 ,8 ,1 9 - 2 1 ,2 5 - 2 6 . Compare com Lc 1 .6 9 . A expressão servo
de Jeová, ou servo do Senhor, é aplicada, no Antigo Testamento, (1) a um ado
rador de Deus, Ne 1.10; Dn 6.21; também a Abraão, SI 1 0 5 .6 ,4 2 ; a Josué, Js
2 4 .2 9 ; a Jó, Jó 1.8. (2) A um ministro ou embaixador de Deus, chamado para
qualquer serviço, Is 4 9 .6 ; a Nabucodonosor, Jr 2 7 6; aos profetas, Am 3 .7 ; a
Moisés, D t 3 4 .5 . (3 ) Peculiarmente, sobre o Messias, Is 4 2 .1 ; 5 2 .1 3 ; como o
servo escolhido de Deus para realizar a obra de redenção. Trench afirma:
A menos que traduzamos servo nas passagens onde a expressão παίς OeoC aparece no
texto do Novo Testamento, não haverá nenhuma alusão, em todo esse livro, àquele
grupo de profecias que designam o Messias como o servo de Jeová, que aprendeu
obediência com as coisas que sofreu12.
11 . Trench, Synonyms.
12. Id., On the Authorized Version o f the New Testament.
376
A to s - C a p. 3
h o m ic id a .
15. O Príncipe da vida (άρχηγόν τής ζωής). O texto grego ressalta, pela posição
destas palavras, o que Bengel chama de “a magnífica antítese” entre um h o m i c i d a
e o P r í n c i p e d e v i d a . “Pedistes um h o m i c i d a , mas o P r í n c i p e d a v i d a , matastes”.
Esta é a única passagem onde ocorre esta expressão. ’Αρχηγός, embora, às vezes,
traduzida como p r í n c i p e , significa originalmente, p r i n c í p i o e, posteriormente, o r i -
g i n a d o r , a u t o r . Melhor aqui e na t b , a u t o r {Hb 2 .1 0 ; 1 2 .2 ).
377
A to s - C ap . 4
20. Que já dantes foi pregado (tòv ιτροκεκηρυγμένον). Mas os melhores textos
trazem προκ^χειρισμένον, a p o n t a d o . Compare com At 22.14. Usada apenas por
Lucas, At 22.14; 26.16. Originalmente, o verbo quer dizer t o m a r na m ã o .
Capítulo 4
1. Capitão do templo. Era dever dos levitas montar guarda às portas do Templo,
para impedir a entrada dos impuros. A eles eram confiados os deveres da polícia do
Templo, sob o comando de um oficial conhecido, dentro do Novo Testamento, como
"capitão do Templo”, mas nos textos judaicos, principalmente como "o homem do
monte do Templo”. Josefo se refere a ele como uma pessoa de tal importância, a
ponto de ser enviado, juntamente com o sumo sacerdote, prisioneiro para Roma.
378
A to s - C ap. 4
7. Que poder - em nome de quem. Literalmente, que tipo de poder; que tipo
de nome.
Fizestes. O verbo conjugado como vós conclui a sentença em grego com uma
ênfase desdenhosa: vós, opovo.
379
A tos - C ap. 4
33. Davam (αποδίδουν). Literalmente, devolviam, como alguma coisa que eles
eram obrigados a dar.
Capítulo 5
4. Guardando-a, não ficava para ti (οΰχί μένον σοί ’έμενε;). Um jogo de pala
vras. Literalmente, permanecendo, não permanecia contigo? Na rv , felizmente, en
quanto permanecia, não continuava contigo?
5. Expirou (έξέψυξεν). Palavra usada apenas por Lucas. Uma palavra rara, que
ocorre na lxx e em textos médicos. Vide Ez 21.7, “todo espírito se angustiará’.
Vide também a nota sobre desmaiar, Lc 2 \ .26.
8. Disse. Bengel declara: “A mulher, cuja entrada na congregação dos santos foi
como um sermão”.
Portanto (τοσούτου). Talvez apontando para o dinheiro, que ainda estava aos
seus pés.
T entar (ιτειράσαι). Colocar o Espírito Santo à prova para ver se, mesmo go
vernando os apóstolos, podería ser enganado. Vide nota sobre v. 3.
12. Eram feitos (έγένετο). Os melhores textos trazem εγίνετο, o imperfeito, es
tavam sendofeitos de tempos em tempos.
18. Na prisão pública (ευ τηρήσει δημοσία). Há uma expressão melhor. Τήρησις
não é usada com o sentido de prisão, mas é uma palavra abstrata que significa
guardião ou guardar, como em At 4.3. Não há artigo, além disso. Observe, tam
bém, que outra palavra é usada para a prisão no versículo seguinte (τής φυλακής).
A TEB lê: publicamente na cadeia.
19. De noite (διά τής υυκτός). Mais corretamente, durante a noite: διά, no decorrer
do(a). Compare com At 16.9.
16. A construção é claramente o genitivo absoluto, «ρχομΑου Πέτρου, com o passar de Pedro.
382
Atos - Cap. 5
20. Apresentai-vos. Compare com At 2.14; e v i d e nota sobre Lc 18.11; 19.8.
D esta vida. A vida eterna que Cristo revelou. É um uso peculiar da expressão
que é empregada comumente, em contraste com a v i d a q u e h á d e v i r , como lCo
15.19. Compare com Jo 6.63,68. Não equivalente a e s t a s p a l a v r a s d e v i d a .
Na b j : a o r a i a r d o d i a .
Cárcere (δεσμωτηρίου). Outra palavra para prisão. Compare com vv. 18 e 19.
Na b p , p r i s ã o , cadeia. As palavras diferentes enfatizam aspectos diferentes do
confinamento. Τήρησις é p r o t e g e r , como o resultado de guardar. V i d e nota sobre
v. 18. Φυλακή enfatiza o fato de ser colocado sob v i g i l â n c i a , e δεσμωτηρίου, o fato
de ser a m a r r a d o o u a l g e m a d o .
28. Não vos admoestamos. Os melhores textos omitem ού, não, e a pergunta.
17. Nessa referência, no entanto, os melhores textos trazem o verbo simples άπορεισθαι, estavam
perplexos, em lugar de διαπορείσθαι, “estavam profundamente perplexos”.
383
Atos - Cap. 5
deliberado.
ho m e n s.
m e n to - , e a bj, por um in s t a n t e .
n a r a m , isto é, s e a l i a r a m a .
c o n tra D e u s.
C a pítu lo 6
1. Ora (δέ). Melhor m a s , uma vez que é introduzido um contraste com a condição
próspera da igreja, indicada no encerramento do último capítulo.
385
Atos —Cap. 6
n h o s d a d o s e m se u fa v o r.
5. Estêvão etc. Todos os nomes são gregos. Não há nenhuma razão para deduzir,
com base nisto, que fossem todos helênicos. Era costumeiro, entre os judeus, ter
dois nomes, um deles hebreu e o outro, grego. Provavelmente eles seriam par
cialmente hebreus e parcialmente helênicos.
1.23 são a favor da segunda perspectiva, mas o uso geral do Novo Testamento,
combinado com o fato de que nessas duas passagens o primeiro significado tem
um bom sentido, inteligível e perfeitamente consistente, confirmam a primeira
interpretação.
1. Na grande maioria das passagens do Novo Testamento, f i é claramente
usada no sentido de f é e m J e s u s C r i s t o . Segundo Meyer: “A convicção e a confiança
a respeito de Jesus Cristo como o único e perfeito mediador da graça divina e da
vida eterna, por meio de sua obra expiatória”.
2. Esta interpretação está de acordo com a analogia de expressões como o b e
d i ê n c ia d e C r i s t o (2Co 10.5), onde o significado é, claramente, obediência a Cristo:
12. Excitaram o povo (συν€κίνησαν τον λαοί/). O verbo aparece apenas aqui no
texto do Novo Testamento. O significado é incitar, como u m a m a s s a , movê-los
j u n t o s (συν). Este é o primeiro registro da hostilidade do p o v o para com os discí
pulos. V i d e At 2.47.
C a pítu lo 7
sobre s e r ã o f a r t o s , Mt 5.6.
12. No Egito (ev Αίγύπτω). Mas os melhores textos trazem elç Αίγυπτον, a o E g i t o ,
e interpretam a expressão utilizando o termo e n v io u ·, “enviou nossos pais a o E g i t o ’ .
14. Setenta e cinco. Literalmente, “de (èv) setenta e cinco”; a expressão indica o
valor completo e m q u e todos os indivíduos estavam incluídos.
Não conhecia. Uma vez que haviam se passado sessenta anos desde a morte
de José e uma nova dinastia subia ao trono, isto pode ser interpretado de forma
389
Atos - Cap. 7
literal: não conhecia a sua história e os seus trabalhos. Alguns explicam, não
reconhecia os seus m éritos.
Crianças (βρέφη). Tradução inadequada; melhor: bebês. V ide nota sobre 2Pe
2.2. Na teb e nvi consta a leitura: recém-nascidos.
20. Tempo (καιρφ). Melhor, época ou ocasião. Bengel: “Triste, oportuno”. Vide
nota sobre At 1.7.
21. Tomou (áveíXeTo). Usada entre autores gregos, com o significado de tomar
crianças expostas; também de ter filhos recém nascidos. Assim, em Aristófanes:
“Expus (o bebê) e alguma outra mulher, tendo-o tomado, adotou (áveítexo) o
bebê”18. Não há nenhuma razão pela qual o significado deva se limitar a tirou -o
d a água (como Gloag).
23. Veio-lhe ao coração (άνέβη éiu τήη καρδίαν). Literalmente, “surgiu em seu
coração". Bengel declara: “Pode haver alguma coisa, nas profundezas da alma,
390
A tos - C ap. 7
que posteriormente emerge e sobe, daquele mar, até o coração, como uma ilha”.
A expressão é imitação do hebraico, e aparece na lxx : “A arca nem lhes v i r á a o
c o r a ç ã o ’ ·, literalmente, s u b i r á a o c o ra ç ã o (Jr 3.16). V i d e também Jr 32.35; Is 65.17.
26. Foi... visto (ώφθη). Com a sugestão de uma aparição s ú b i t a como em uma
visão; possivelmente com a noção subjacente de um mensageiro de Deus. V i d e
nota sobre Lc 22.43.
p a z -, c o n v id o u - o s .
31. A visão (το όραμα). No texto do Novo Testamento, sempre a respeito de uma
v i s ã o . V i d e nota sobre Mt 17.9.
Pela mão (èv χβ,ρΐ). Os melhores textos trazem συν χίΐρ'ι “com a mão”, i.e.,
e m a s s o c ia ç ã o c o m o poder protetor e auxiliador do anjo.
39. Rejeitaram em seu coração. Não desejando voltar, mas ansiando pelas ido
latrias do Egito.
40. Vão adiante de nós. Como símbolos a serem conduzidos diante deles, na
marcha. Compare com Ne 9.18.
391
A tos - C ap . 7
Este Ápis, ou Epaphus, é o bezerro de uma vaca que nunca mais poderá ter filho
tes. Os egípcios dizem que desce do céu um fogo sobre a vaca, que por isso concebe
Ápis. O bezerro que tem esse nome apresenta as seguintes características: é preto,
com uma mancha quadrada e branca na testa, e nas costas, a imagem de uma
águia. Os pelos de sua cauda são duplos, e há um escaravelho em sua língua20.
392
A tos - C ap . 7
à Síria, embora a religião dos caldeus estivesse longe de ser a simples adoração
do exército do céu; os corpos celestes sendo considerados como pessoas reais, e
não meras representações metafóricas de fenômenos astronômicos. É à adoração
sabeísta que Jó se refere quando, ao declarar a pureza da sua vida (31.26-27), diz:
“se olhei para o sol, quando resplandecia, ou para a lua, caminhando gloriosa; e
o meu coração se deixou enganar em oculto, e a minha boca beijou a minha mão,
também isto seria delito pertencente ao juiz; pois assim negaria a Deus, que está
em cima”. Embora não seja parte da religião dos egípcios, Rawlinson acredita
que pode ter tido conexão com a sua crença anterior, uma vez que a oração é
representada em hieróglifos por um homem erguendo suas mãos, acompanhado
por uma estrela28.
43. T abem áculo de M oloque. A tenda portátil que era o templo do deus,
carregada em procissão. Moloque era um ídolo amonita a quem as crianci
nhas eram sacrificadas. De acordo com a tradição rabínica, a sua imagem
era oca, aquecida por baixo, com a cabeça de um boi e braços estendidos,
sobre os quais eram colocados os bebês, com seus gritos abafados pelo rufar
de tambores.
Renfã. Os textos variam entre R enfa, R eja, e R a if i. Supõe-se ser o nome cópti-
co para Saturno, a quem os árabes, egípcios e fenícios prestavam honras divinas.
45. Que vieram depois (δια&ξάμβζοι). Somente aqui no texto do Novo Testa
mento. Originalmente, o verbo significa receber uns dos outros, sucessivamente, o
que parece ser a tradução mais natural e simples nesta passagem: recebendo-o (de
Moisés). Na rv, de maneira muito organizada, p o r sua vez.
Jesus. Josué. É o mesmo nome, e as duas formas significam S alvador. Vide nota
sobre Mt 1.21.
393
A tos - C ap. 7
46. Pediu (ήτήσατο). Mais corretamente, s o lic it o u : por meio de Natã. V id e 2Sm 7.2.
53. Que (οΐτινες). Mais forte que o simples pronome relativo, q u e , e enfatizando
os seus pecados, em contraste com os seus privilégios: v i s t o q u e v ó s f o s t e s o s q u e
re c e b e s te s etc.
394
Atos - Cap. 7
54. Enfureciam. Vide nota sobre At 5.33. Nos dois casos, o sentido é de ira. Uma
palavra diferente é usada para expressar remorso , At 2.37.
Fixando os olhos no céu. Compare com Lc 1.10; 3.4,12; 6.15; e vid e nota
sobre Lc 4.20.
60. Não lhes imputes este pecado (μή στήσης αύτοίς την αμαρτίαν ταύτην).
Literalmente, n ã o fix e s sobre eles este pecado.
395
Atos - Cap. 8
C a pítu lo 8
Estêvão (Στέφανον). Significando coroa. Ele foi o primeiro que recebeu a coroa
de mártir.
O papel que ele desempenhava nesta época da tern vel obra de perseguição, eu temo, sempre
foi subestimado. Somente quando reunimos as passagens separadas —são pelo menos oito
396
Atos —C ap. 8
delas —em que se fez alusão a este triste período, e somente quando avaliamos o terrível
significado das expressões usadas, é que podemos sentir o peso do remorso que deve ter
se abatido sobre ele e os insultos aos quais esteve sujeito por parte de inimigos malignos24.
5. Filipe. O diácono (At 6.5). Não o apóstolo. Com respeito ao nome, vid e nota
sobre Mc 3.18.
Cristo (τον Χριστόν). Observe o artigo, “o Cristo”, e vid e nota sobre Mt 1.1.
24. Farrar, Life and Work o f St. Paul. Quanto às passagens mencionadas por Farrar, vide At 8.8;
9.2; 22.3-4; 26.9-10.
397
Atos - Cap. 8
Estava atônito. Depois de ter assom brado o povo com seus truques. Vide v. 9.
A mesma palavra é empregada.
16. Eram (ύπήρχον). Vide nota sobre T g 2.15. Mais literalmente, h a via m sido.
20. Seja contigo para perdição (συν σοί εΐη εις απώλειαν). Literalmente, em
lugar de “perecer contigo”. Que a destruição sobrevenha ao teu dinheiro e a ti
mesmo.
21. Parte nem sorte. S o rte expressa a mesma ideia, como p a rte , mas em sentido
figurado.
23. Em fel (είς χολήν). Literalmente, no. Caíste nele e a í continuas. Fel, somente
aqui e em Mt 27.34. F el de am argura é a amarga inimizade contra o Evangelho.
27. Dos etíopes. O nome das terras ao sul do Egito, incluindo as modernas Nú-
bia, Cordofan, e o norte da Abissínia. Rawlinson menciona súditos das rainhas
398
Atos - Cap. 8
etíopes, vivendo em uma ilha, perto de Meroe, na parte norte deste distrito. Ele
observa também:
Tesouros (γάζης). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Uma palavra persa.
C a pítulo 9
4. Dizia. Na sua própria narrativa, Paulo diz que as palavras foram pronunciadas
em hebraico (At 26.14).
11. Rua (ρύμην). Vide nota sobre Lc 14.21. Uma rua estreita o u alam eda.
Direita. Assim chamada por percorrer uma linha reta, da porta ocidental até
a oriental da cidade.
V i d e Lv 10_11; Jz 13.8.
dando,dia e noite.
Cesto (σιτυρίδι). Vide nota sobre Mt 14.20. Na narrativa que Paulo apresenta
sobre este episódio, ele usa σαργάνη, um cesto de vime, f r a n z id o ou trançado; ou,
como alguns pensam, de cordas.
Ediíicadas. Ou construídas.
33. Oito anos. A duração da enfermidade, e o fato de que ele havia estado acama
do todo esse tempo, são características da narrativa de um médico.
34. Jesus Cristo. Mas observe o artigo: Jesus o Cristo; o Ungido; M essias.
402
Atos - Cap. 10
35. Sarona. A rigor, S a r o m . Sempre com o artigo definido: a p l a n í c i e , que se
estende por 48 quilômetros junto ao mar, desde Jope até Cesareia.
36. Discípula (μαθήτρια). Uma forma feminina, somente aqui no texto do Novo
Testamento.
38. Que não se demorasse (μή όκνήσαι). Os melhores textos trazem όκνήσης,
colocando o pedido na forma de uma instrução direta, N ã o tardes.
C a pítu lo 10
403
A t o s - C a p. 10
m e n te , em oposição a uma i l u s ã o .
se um c u rtid o r se casasse sem m encionar a sua profissão, a sua esposa tinha per
missão de o b ter o divórcio. A lei do m atrim ônio levirático podia ser ignorada,
se o cunhado da viúva sem filhos fosse um curtidor. O terren o de um cu rtid o r
devia e sta r a pelo m enos cinquenta côvados de qualquer cidade26.
Junto do mar. Do lado de fora dos muros, tanto para proximidade pelos negó
cios, e por causa da exigência cerimonial mencionada acima. William C. Prime,
descrevendo uma visita a Jope, diz:
7. Dos que estavam ao seu serviço (προσκαρτερούντων αύτώ). Vide nota sobre
At 1.14.
404
A tos - C a p. 10
11. Viu (θεωρεί). Mais literalmente, contempla. Vide nota sobre Lc 10.18. O tem
po presente do verbo é introduzido na narrativa de maneira clara.
14. D e modo nenhum (μηδαμώς). Mais forte: absolutamente não. Farrar diz:
Com a simples e audaciosa autoconfiança que, em seu caráter (de Pedro) estava tâo
singularmente mesclada com ataques de timidez e depressão, ousadamente ele corrige
a voz que lhe ordena, e lembra ao Interlocutor divino que ele deve, de certa forma, ter
se equivocado3'.
15, Não faças tu comum (σΰ μή κοίνου). O pensamento vai mais longe do que mera
mente chamar de “comum”. Literalmente, nãoprofanes, não corrompas. Não profanesessas
coisas considerando-as e chamando-as de comuns. Na tb : “nãofaças tu impuro’.
406
A tos - C ap. 10
Me. Enfático, contrastando com vós. “Vós sabeis” etc., “mas Deus mostrou- me”.
29. Por que razão (τίνι λόγω). Mais corretamente, em lugar de com que intenção.
30. Há quatro dias (άιτό τέταρτης ημέρας). Literalmente, desde o quarto dia, cal
culando para trás, a partir do dia em que a pessoa estava falando.
407
A tos - C ap. 10
33. Bem (καλώς). Fizeste uma coisa cortês e agradável ao vir. Compare com 3Jo 5-6.
40. Fez que se manifestasse (εδωκεν αυτόν φφανή γενεσθαι). Literalmente, em lugar
de m o s t r o u - o a b e r ta m e n te . Para a construção da sentença, compare com At 2.27.
408
Atos - C ap. 11
43. Seu nome. Como na oração do Senhor: não simplesmente o t í t u l o , mas tudo
o que o nome abrange e expressa. Segundo Meyer: “toda a perfeição de Cristo,
como o objeto revelado ao crente para a sua apreensão, confissão e adoração”.
47. Água (το ύδωρ). Observe o artigo: a água; coordenando a água com o Espí
rito (cf. lJo 5.8) e designando a água como o elemento de batismo, reconhecido
e costumeiro.
C a p ít u l o 11
Seis irmãos. Os homens de Jope, que haviam ido com Pedro até Cornélio, e o
tinham acompanhado também a Jerusalém, seja como testemunha em favor dele
ou para sua própria justificação, uma vez que haviam cometido o mesmo crime.
19. Os que foram dispersos (oi διασπαρέντες). Com respeito à expressão técnica
a dispersão, vide nota sobre 1Pe 1.1. Aqui, não é usada desta maneira.
24. Bem (αγαθός). Mais do que estritamente reto. Compare com Rm 5.7, onde é
diferente de δίκαιος, justo ou íntegro. Gloag diz: “A sua benevolência realmente o
impediu de censurar qualquer coisa que pudesse ser nova ou estranha nestes que
pregavam aos gentios, e fez com que ele se alegrasse com o sucesso deles”.
25. Buscar (άναζηττραι). A rigor, procurar com empenho, como se procura uma “caça”.
36. A aplicação, pelo reverendo Samuel Cox, da palavra aos cristãos como fazendo do cristianismo
a atividade diária de suas vidas é forçada (Biblical Expositions, p. 841).
410
Atos —Cap. 11
29. Cada um conforme o que pudesse (καθώς ηύπορίΐτό τις). Literalmente, con
forme aquilo que aprosperidade de qualquer um delespermitisse. A tb traduz: conforme
as suas posses, enquanto a teb: segundo os recursos. O verbo se origina de εύπορος,
fácil depassarpor, e a ideia de prosperidade é, portanto, transmitida sob a imagem
de uma jornada tranquila e favorável. A mesma ideia aparece em nossas palavras
de despedida: adeus! passar bem, com o significando original relacionado a uma
viagem. Assim, dizer adeus! a alguém quer dizer desejar-lhe uma viagem próspera.
Compare com vá com Deus, ou boa viagem. Assim a ideia pode ser traduzida aqui:
conforme cada um passar bem, ou tiver sorte.
C a p ít u l o 1 2
1. Aquele mesmo tempo (εκείνον τον καιρόν). Mais corretamente, aquele mo
m ento crítico. Vide nota sobre At 1.7. A data é 4 4 d.C.
Guardavam (έτήρουν). Vide nota sobre guardada, lPe 1.4. O imperfeito, esta
vam guardando.
412
Atos - C ap. 12
7. Sobreveio (επέστη). Melhor, ficou ao lado. Vide nota sobre At 4.1; e compare
com Lc 2.9.
Prisão (οίκήματι). Não a prisão, mas a cela onde Pedro estava confinado. Cor
retamente na ep. A bj traduz: cubículo.
13. Porta do pátio. A pequena porta externa, que formava a entrada da rua, e
dava para ο πυλών, ou a passagem da rua para o pátio. Outros explicam como sen
do a portinhola, uma pequena porta no meio de uma porta maior, o que é menos
provável.
37. Esta força do verbo é exemplificada por Xenofonte: “Pois aquele que dirigisse a sua atenção a
isso [i.e., às muitas evidências de poder de um grande império]] podería ver [συνιδίΧν, em um
olhar abrangente] que o rei era poderoso” (Anabasis, i., 5, 9). Também Platão, falando a respei
to de Deus, diz: “Quando ele viu que as nossas ações tinham vida” etc., passando a enumerar
vários detalhes, “Ele, vendo tudo isto (ταϋτα πάντα συνιδών) (Laws, 904)”. Compare, também,
com At 14.6.
413
Atos —C ap. 12
Anjo. O anjo da guarda, segundo a crença popular entre os judeus de que cada
indivíduo tem o seu anjo guardião, que pode, havendo ocasião para isso, assumir
uma aparição visível, parecida com a da pessoa cujo destino lhe está confiado.
19. Inquirição (άνακρίνας). V ide nota sobre Lc 23.14; e compare com At 4.9.
Vestes reais. Josefo diz que ele vestia um manto inteiramente feito de prata.
Trono. Vide nota sobre At 7.5.0 assento elevado, ou trono, como um camarote
no teatro, designado para o rei, de onde ele podia ver os jogos ou se dirigir ao
público.
Em Jerusalém Agripa agia como judeu, com modo de andar solene e fisionomia
trágica, em meio à aclamação geral; mas em Cesareia ele permitia que a parte
mais genial do grego lhe fosse imposta. Era uma festa nesta capital helênica, de
pois de um discurso que ele havia dirigido ao povo, em que eles gritaram “Voz de
Deus, e não de homem”38.
O príncipe turco, ao morrer, deixou uma última admoestação à soberba dos reis.
“Na minha mocidade”, disse Ale Arslan, "eu fui aconselhado, por um sábio, a me
humilhar diante de Deus; a não confiar na minha própria força; e nunca desprezar
nem mesmo o mais desprezível inimigo. Eu negligenciei esses ensinamentos, e a
minha negligência foi merecidamente punida. Ontem, como de um alto posto, eu
contemplei o número, a disciplina e o espírito dos meus exércitos; a terra pareceu
tremer debaixo de meus pés, e eu disse em meu coração, certamente és o rei do
mundo, o maior, mais excelente e mais invencível dos guerreiros. Esses exércitos
não me pertencem mais; e, na confiança de minha força pessoal, agora caio, pela
mão de um assassino"39.
Nem a própria Feretima terminou os seus dias com felicidade. Pois ao retornar
ao Egito, vinda da Líbia, imediatamente depois de se vingar do povo de Barca,
sofreu uma morte horrenda. O seu corpo se inchou, por vermes, que comeram a
sua carne enquanto ela ainda estava viva40.
C a pítu lo i s
Lúcio, cireneu. Foram feitos esforços para identificá-lo com Lucas, o evan
gelista; mas o nome L u c a s é uma abreviatura de L u c a n u s , e não de L ú c i o . Con
tudo, é digno de nota o fato de que, de acordo com Heródoto41, os médicos de
Cirene tinham a reputação de serem os segundos melhores da Grécia, sendo os
de Crotona os melhores; e que Galeno, o médico, diz que Lúcio era, em sua opi
nião, um médico de boa reputação em Tarso, da Cilicia. Com base nisto, alguns
conjecturam que Lucas nasceu e foi instruído em medicina em Cirene, e deixara
esse lugar para ir a Tarso, onde conheceu Paulo e, talvez, ali tenha se convertido
através de sua pregação42. Mas, além da questão da forma do nome (cf. acima), a
menção ao nome do evangelista aqui não está de acordo com a sua prática usu-
416
Atos - C ap. 13
al, uma vez que ele não menciona o seu próprio nome em nenhuma passagem,
seja no Evangelho ou no livro de Atos; e se esta passagem fosse uma exceção,
deveriamos esperar encontrar o seu nome em último lugar, na lista das pessoas
dignas de Antioquia. Dos cinco aqui mencionados, sabe-se que quatro são judeus:
e, portanto, provavelmente Lúcio também era um judeu de Cirene, lugar em que
havia grande número de judeus. Lucas, o evangelista, ao contrário, era um gen
tio. Nada se pode deduzir ao certo com base em Rm 16.21, onde Lúcio é citado
por Paulo, entre os seus parentes. Se o significado de συγγ€ν€ΐς, parentes, nesta
passagem, é, como afirmam alguns, compatriota, isto provaria que Lúcio era ju
deu, mas a palavra é comumente usada com respeito a parentes, dentro do Novo
Testamento. Em Rm 9.3, Paulo aplica esta palavra a seus compatriotas, “meus
irmãos, meus parentes segundo a carne, que são israelitas”.
Que fora criado com (σύντροφος). Alguns traduzem como irmão adotivo
ou colaço como encontramos na t b ; outros, camarada. A palavra tem os dois
significados. A bj e a ecp traduzem como: companheiro de infância.
Apartai. O texto grego acrescenta δή, agora, um termo que não é traduzido
pela arc nem pela maioria das versões brasileiras, mas confere precisão e ênfase
à ordem, indicando que isto tem um propósito especial e deve ser obedecido ime
diatamente. Compare com Lc 2.15; At 15.36; lCo 6.20.
Sérgio Paulo. Di Cesnola narra uma descoberta em Soli, que, depois de Sala-
mina, era a cidade mais importante na ilha; trata-se de uma rocha (ou laje) com
uma inscrição em grego, que continha o nome de Paulo, o procônsul.
8. Elimas. Uma palavra árabe, que significa o sábio, e é equivalente a M ago. Vide
nota sobre v. 6.
Paulo e os que estavam com ele (ol περί τον Παύλον). Literalmente, os
que estavam ao redor de P aulo. Em autores posteriores, a expressão é usada para
indicar apenas a pessoa principal, como em Jo 11.19, ido a consolar a M a r ta e a
M a ria ; onde o texto em grego diz, literalmente, id o a consolar as mulheres ao redor
d e M a r ia e M a rta . Paulo aparece como a pessoa principal, e não Barnabé.
24. Antes da vinda dele (προ προσώπου τής εΙσόδου αύτοΰ). Literalmente, antes
que o vissem chegar. Uma forma hebraica de falar.
34. As fiéis bênçãos (τα óma τα πιστά). Literalmente, as coisas santas, certas. Na
TB, santas efirmes coisas prometidas, e a ecp , as coisas sagradas prometidas.
36. Foi posto junto a (προσετεθη). Literalmente, foi adicionado a. Compare com
At 2.47; 5.14.
46. Rejeitais (άπωθεισθε). Não tem força suficiente. Melhor, lançaisfora, indican
do violenta rejeição.
420
Atos - C a p. 14
Limites (ορίων). Não é uma boa tradução, porque sugere meramente uma c o s
ta m a r í t i m a , ao passo que a palavra é um termo genérico para l i m i t e s , f r o n t e i r a s .
C a pítu lo 14
Apedrejarem. Paulo diz que foi apedrejado um a vez (2Co 11.25). Isto aconte
ceu em Listra (cf. v. 19).
10. D ireito (ορθός). Somente aqui e em Hb 12.13. Compare com e n d ire ito u , Lc
13.13, e v i d e nota sobre essa passagem.
e B arnabé não interferiram, até que viram os preparativos para o sacrifício. Eles
não entenderam o que as pessoas diziam sobre o seu caráter divino. Era natural
que a surpresa dos de Listra se expressasse em sua própria língua, e não em uma
língua estrangeira.
os deuses visitavam a terra em forma humana. Homero, por exemplo, está cheio
de incidentes deste tipo. Assim, quando Ulisses atraca em sua praia nativa, Palas
o encontra,
£...] na forma
De um jovem pastor, delicadamente formado,
Como o são os filhos dos reis. Uma capa pousa
Sobre o seu ombro, em ricas dobras; os seus pés
Brilham em suas sandálias; em suas mãos ele traz
Uma lança15.
422
A to s — C a p. 14
Ele representa, por assim dizer, o lado utilitário da mente humana... Na limitação de
suas faculdades e poderes, no baixo padrão de seus costumes morais, na abundante ati
vidade de seus apetites, na sua indiferença, na sua tranquilidade, na sua boa natureza,
na sua exibição plena do que a teologia cristã chamaria de conformidade com o mun
do, ele é, tão estritamente como admite a natureza do caso, um produto da invenção
do homem. Ele é o deus das relações na terra51.
A porta (πυλώνας). Não se sabe ao certo qual porta é mencionada. Dizem al
guns, as p o r t a s d a c id a d e , outros, as p o r t a s d o te m p lo - , e outros, as p o r t a s d a c a s a em
que estavam residindo Paulo e Barnabé. V i d e nota sobre At 12.13.
15. As mesmas paixões (ομοιοπαθείς). Somente aqui e em T g 5.17 (cf. nota so
bre esta passagem). Melhor, d e n a t u r e z a s e m e lh a n t e .
423
A tos —C ap. 14
17. Chuvas. Júpiter era o senhor do ar. Ele distribuía o trovão e o relâmpago, a
chuva e o granizo, os rios e as tempestades. “Todos os tipos de sinais e portentos,
tudo o que aparece no ar, pertencem, primariamente, a ele, como o sinal genial
do arco-íris”53. A menção à chuva é apropriada, uma vez que a água era escassa
em Licaônia.
Não é possível ler as palavras sem perceber, uma vez mais, a sua sutil e inimitável
coincidência com os pensamentos e as expressões (de Paulo). A conclusão rítmica não
está em desacordo com o estilo de seus mais elevados estados de espírito. E além do
apelo apropriado aos dons naturais de Deus, em uma cidade não situada de maneira
feliz, mas cercada por uma planície sem água ou árvores, podemos, naturalmente,
supor que “encher de mantimento e de alegria o nosso coração” foi algo sugerido
pelas guirlandas e pela pompa festiva que acompanhava os touros dos quais o povo,
posteriormente, faria o seu banquete51.
23. Eleito (χεψοτοι/ησαντες). Somente aqui e em 2Co 8.19. Na bv, mais correta
mente, n o m e a d o . A bj e a teb trazem d e s i g n a r a m , enquanto a bp lê, n o m e a v a m . O
significado e l e i t o é posterior. V i d e nota sobre At 10.41.
424
A tos - C a p. 15
27. Por eles (μετ’ αύτών). Em conexão com eles; em auxílio a eles.
E como (και ότι). Melhor, que a palavra e tem uma força inclusiva e particula-
rizadora: “e em particular, acima de tudo .
Capítulo 15
Anunciaram. Vide nota sobre At 13.41. Nas várias cidades pelas quais passa
ram, em seu caminho.
7. A palavra do evangelho (τον λόγον του ευαγγελίου). Esta expressão não apa
rece em nenhuma outra passagem, e ευαγγελίου, evangelho, é encontrada apenas
em mais uma passagem no livro de Atos (20.24).
18. Conhecidas etc. Os melhores textos unem estas palavras ao versículo an
terior, do qual omitem to d a s ·, traduzindo, O S e n h o r , q u e f a z e s t a s c o is a s c o n h e c id a s
d e sd e to d a a e te rn id a d e .
mido pelos adoradores nas festas nos templos, ou entregue aos sacerdotes, era
vendido nos mercados e comido em casa. V i d e lCo 10.25-28; e Êx 34.15.
a associação de prostituição com três coisas, indiferentes em si mesmas, deve ser expli
cada a partir da corrupção moral do paganismo da época, segundo a qual a prostitui
ção, considerada com indulgência por muito tempo, e sempre com benevolência, ou
melhor, praticada sem nenhuma vergonha, até mesmo por filósofos, e rodeada pelos
poetas com todos os adornos da lascívia, tinha se tornado, para a opinião pública, uma
coisa realmente indiferente.
V id e Dollinger".
23. Saúde (χαίρεα*). A forma grega usual de saudação. Esta palavra não aparece
em nenhuma outra passagem, na saudação de uma epístola do Novo Testamento,
exceto na epístola de Tiago (1. l). V i d e nota nessa passagem. Ela aparece na carta
de Cláudio Lísias (At 23.26).
426
A tos - C ap. 15
25. Barnabé e Paulo. Aqui, como no versículo 12, Barnabé é citado em primei
ro lugar, de modo contrário ao costume de Lucas, desde At 13.9. Barnabé era o
mais velho, e mais conhecido, e na igreja de Jerusalém o seu nome precedería
naturalmente o de Paulo. O uso da saudação grega, e esta ordem nos nomes, são
duas coincidências não intencionais, que atestam a autenticidade deste primeiro
documento que nos foi preservado, dos Atos da igreja primitiva.
29. Sangue. Porque no sangue estava a vida do animal, e era o sangue que era
consagrado para fazer a expiação. Vide Gn 9.6; Lv 17.10-14; Dt 12.23-24. Os
gentios não tinham nenhum escrúpulo quanto a comer sangue; ao contrário,
para eles, o sangue era uma iguaria especial. Assim diz Homero:
No fogo,
já e stã o o s v e n tr e s d e d o is b odes,
sen d o p rep arad os para a n o ssa refeição da n o ite , e am b os
estã o c h e io s d e g o rd u ra e san gu e. Q u em m o stra r q u e é
o m e lh o r h o m em n e sta d isp u ta
e co n q u ista , tom ará d e ss e s v e n tr e s aq u ilo q u e
e le e sc o lh e r 57.
427
A tos - C a p. 16
Exortaram. Ou consolaram. Vide nota sobre v. 31. A última é a que melhor está
de acordo com exortação ali.
Por todas as cidades (κατά πάσαν πόλιν). Κατά tem a força de cidade por
cidade.
38. Aquele (τούτον). Literalmente, aquele homem. Isto o marca de maneira muito
intensa, e é uma posição enfática no final da sentença.
39. Tal contenda houve (éyéveio παροξυσμός). Mais corretamente, surgiu uma
grave contenda. Somente aqui e em Hb 10.24. A nossa palavra paroxismo é uma
transcrição de παροξυσμός. Uma disputa acirrada é indicada.
40. Encomendado. O que não foi o caso com Barnabé, levando à dedução de que
a igreja de Antioquia tomou o lado de Paulo na disputa.
C a pítulo 16
428
A tos - C a p. 16
8. Tendo passado por Mísia. Não evitando, uma vez que eles não poderíam che
gar a Trôade sem passar por Mísia, mas omitindo-a como um lugar de pregação.
A colônia foi usada com três propósitos diferentes no curso da história ro
mana: como um posto fortificado em uma nação conquistada; como um meio de
cuidar dos pobres de Roma; e como um assentamento para veteranos que ha
viam cumprido o seu tempo de serviço. E com a terceira classe, estabelecida por
Augusto, que estamos relacionados aqui. Os romanos dividiam a humanidade
em cidadãos e estrangeiros. Um habitante da Itália era um cidadão; um habitante
de qualquer outra parte do império era um peregrinas, ou estrangeiro. A política
colonial aboliu esta distinção, no que dizia respeito aos privilégios. A ideia de
uma colônia era o fato de que havia outra Roma transferida para o solo de outra
nação. No seu estabelecimento de colônias, Augusto, em alguns casos, expulsou
os habitantes que havia ali antes, e fundou cidades inteiramente novas, com seus
colonos; em outras situações, ele simplesmente adicionou os seus colonos à po
pulação já existente na cidade, que então recebia a classe e o título de colônia. Em
5 8 . G ib b o n , D e c lin e a n d F a li.
429
A to s - C a p. 16
alguns casos, um lugar recebia esse título, sem receber nenhum novo cidadão.
As duas classes de cidadãos tinham os mesmos privilégios, sendo os principais a
isenção do açoitamento, a liberdade da prisão, exceto em casos extremos, e, em
todos os casos, o direito de apelar do magistrado ao imperador. Os nomes dos
colonos ainda eram incluídos em uma das tribos romanas. O viajante ouvia o
idioma latim, e era receptivo à lei romana. A cunhagem da cidade tinha inscri
ções em latim. Os assuntos da colônia eram regulamentados pelos seus próprios
magistrados, chamados Duumviri, que se orgulhavam por se chamar pelo título
romano de pretores (cf. nota sobre v. 20).
13. Fora das portas. A kjv segue a leitura εξω τής πόλεως, e traduz: fora da ci
dade (cp. a r a e n v i ). Porém, os melhores textos trazem πύλης, das portas. A t e b
traz aporta.
14. Lídia. Um adjetivo, uma mulher lídia; mas como Lídia era um nome comum
entre os gregos e romanos, ela pode não ter trazido esse nome, necessariamente,
da nação em que nasceu.
59. Homero, Ilíada, iv, 141. Cária era a província vizinha à Lídia, ao sul; Meonia, o nome antigo
da Lídia.
430
A tos - C a p. 16
15. Constrangeu (παρεβι,άσατο). Somente aqui e em Lc 24.29 (cf. nota sobre essa
passagem). O constrangimento era por ardente gratidão.
431
A t o s — C a p. 16
Judeus. Que, nesta época, estavam em meio a uma desgraça especial, tendo
sido recentemente banidos de Roma por Cláudio (cf. At 18.2). Os filipenses não
parecem ter reconhecido a distinção entre cristãos e judeus.
Q u ã o fr e q u e n te m e n te , n a é p o c a d e n o s s o s p a is, o s m a g is tr a d o s tiv e r a m q u e p r o i
b ir a r e a liz a ç ã o d e q u a is q u e r r it o s r e lig io s o s e s t r a n g e ir o s ; b a n ir a sa íd a d e p e s s o
a s q u e o fe r e c e s s e m s a c r ifíc io s e ta m b é m a d iv in h o s d o fó r u m , d o c ir c o e da cid ad e;
p r o c u r a r e q u e im a r liv r o s s o b r e a d iv in h a ç ã o ; e a b o lir to d o m o d o d e sa c r ifíc io q u e
n ã o e s t iv e s s e e m c o n fo r m id a d e c o m o c o s t u m e r o m a n o * 1.
Era contrário às leis rígidas romanas que os judeus propagassem suas opini
ões entre os romanos, embora pudessem fazer prosélitos de outras nações.
432
A t o s - C a p . 16
24. O cárcere interior. Alguns supuseram que esta seria a prisão in fe rio r, con
fundidos pelos restos da prisão Mamertina, em Roma, na descida do Capito-
lino, e perto do Arco de Sétimo Severo. Esta prisão consiste de duas câmaras,
uma sobre a outra, escavadas na rocha sólida. No centro da câmara inferior há
uma abertura circular, pela qual se supõe que os prisioneiros eram lançados na
masmorra. Escavações modernas, no entanto, mostraram que estas duas câma
ras estavam conectadas com uma série de grandes câmaras, agora separadas da
prisão de Pedro por uma alameda. A abertura para a passagem que conduzia
a essas câmaras foi descoberta na masmorra inferior. Debaixo desta passagem
corria um dreno, que formava uma ramificação da Cloaca Máxima, ou o sistema
principal de esgoto. Seis destas câmaras foram descobertas, evidentemente como
ambientes de uma grande prisão, no tempo dos reis romanos. O Sr. John Henry
Parker, de cuja detalhada obra sobre as fortificações primitivas de Roma foram
obtidas essas informações, acredita que a prisão de Pedro, que agora é visitada
por turistas, formava o vestíbulo e a sala de guardas da grande prisão. Era cos
tumeiro que houvesse um vestíbulo, ou uma casa de guardas, à pequena distância
da prisão principal. Desta maneira, o Sr. Parker distingue a prisão in te r io r deste
vestíbulo. A descrição apresentada pelo Rev. John Henry Newman, está de acor
do com isto:
62. J o h n H e n r y N e w m a n , Callista.
433
A t o s - C a p . 16
27. Quis matar-se (’έμελλαν άναιρειν). Mais corretamente, estava prestes a matar-
se. Sabendo que deveria receber a morte pela fuga dos seus prisioneiros.
29. Uma luz (φώτα). Mais corretamente, luzes. Na ep : tochas. Várias luminárias,
para ver de todos os lados.
Eles precediam os magistrados, um por um, em uma fila. E tinham que infligir
punição ao condenado, especialmente aos cidadãos romanos. Eles também or
denavam que o povo prestasse o devido respeito a um magistrado que passasse,
descobrindo a cabeça, desmontando do cavalo e colocando-se em pé à beira do
caminho. O símbolo de seu cargo era ofasces, um machado preso em um conjunto
de varas; mas nas colônias, eles carregavam varas.
434
A t o s - C a p . 17
40. Saindo. Observe que aqui Lucas retoma a terceira pessoa, indicando que ele
não os acompanhou.
C a p ít u l o 17
436
Atos - C a p. 17
16. Se comovia (παρωξύν^το). Melhor, era provocado. Vide nota sobre a palavra
correlata, contenda (παροξυσμός), At 15.39. Na t b revoltava-se, enquanto na bj,
inflamava-se.
P lín io nos informa que, na época de N ero, A tenas continha m ais de três mil estátuas públi
cas, além de um núm ero incontável de im agens m enores, no interior d e casas particulares.
D e ste núm ero, a gran d e m aioria eram estátuas de deuses, sem ideuses ou heróis. E m uma
rua, havia, diante d e cada casa, um a coluna quadrada, que sustentava um b usto do deus
H erm es. O utra rua, chamada d e Rua dos T rípodes, era m argeada por trípodes, dedicados
a vencedores dos jo g o s nacionais g reg o s, e ostentando, cada um a delas, uma inscrição a
uma divindade. Cada porta e cada pórtico tinha o seu deus protetor. Cada rua, cada praça,
ou melhor, cada can to da cidade tinha o s seus santuários, e um poeta rom ano n otou amar
gam ente que era mais fácil encontrar d euses em A tenas do que h om en s65.
Estoicos. Panteístas. Deus era a alma do mundo, ou o mundo era Deus. Tudo
era governado pelo destino, ao qual o próprio Deus estava sujeito. Eles negavam
a imortalidade universal e perpétua da alma; alguns supõem que ela era engolida
pela divindade; outros, que ela sobrevivia apenas até a conflagração final; outros,
ainda, que a imortalidade estava restrita aos sábios e bons. A virtude era a sua
própria recompensa, e a maldade, a sua própria punição. O prazer não era bem, e a
dor não era mal. O nome estoico era derivado de stoa, um pórtico. Zeno, o fundador
da seita dos estoicos, tinha a sua escola em Stoa Poecile, ou pórtico pintado, assim
chamado porque era adornado com pinturas feitas pelos melhores mestres.
Pregador (καταγγελευς). Vide nota sobre anunciar, v. 23. Compare com lPe 4.4,12.
Estranhos. Estrangeiros.
Era um a cena com q u e as ter r ív e is lem b ran ças d e sé c u lo s estavam associad as. O s que
fu giam ao A reó p a g o v in d o s da A g o r a , de certa form a, en travam na p resen ça de um
p od er maior. N en h u m lu g a r e m A te n a s era tão adeq u ad o para um serm ã o sob re os
m isté r io s da relig iã o 6'.
Alguma novidade (τι καινότεροι1). Literalmente, mais novo: mais novo do que
aquilo que era considerado novo. A forma comparativa era usada regularmente
pelos gregos, na pergunta qual novidade? Eles contrastavam o que era novo com
66. Shakespeare, Love’s Labor’s Lost, v., 2 apud T rench, Authorized Version of the Xeu· Testament.
67. Para descrições mais detalhadas, vide Lewin, IJfe and Epistles o f St. Paulo; D avies, St. Paul in
Greece, Sm ith, “A th en s”, in: Dictionary o f Greek and Roman Geography.
438
Atos - C ap. 17
o que havia sido novo, até o momento da pergunta. A expressão caracteriza vivi-
damente a condição da mente do ateniense. Bengel diz, apropriadamente: “Novas
coisas imediatamente se tornam sem importância; coisas mais novas estão sendo
buscadas”. Os seus próprios oradores e poetas a fustigavam pela sua peculiarida
de. Aristófanes descreve Atenas como a c id a d e d o s q u e b o c e ja m 1i8. Demades disse
que o cume de Atenas devia ser uma grande língua. Demóstenes lhes pergunta:
“Esse é todo o seu interesse, ir de um lado a outro no mercado, perguntando uns
aos outros ‘Há alguma novidade?’” Nas palavras de Cleon aos atenienses, citadas
por Tucídides, ele diz:
Nenhum homem deveria ser tão ingênuo a ponto de ser enganado com a maior ra
pidez possível por noções modernas, ou lento demais para seguir os conselhos apro
vados. Vocês desprezam o que é familiar, enquanto adoram cada nova extravagância.
Vocês estão sempre desejando um estado ideal, mas não dedicam as suas mentes nem
mesmo ao que está diante de si. Em uma palavra, vocês estão à mercê de seus próprios
ouvidos”9.
seu sermão com uma acusação que teria despertado a ira de seus ouvintes. O que
ele quer dizer é, V o c ê s s ã o m a i s t e m e n t e s d e d i v i n d a d e s q u e o s d e m a i s g r e g o s . Esta pro
pensão a reverenciar os poderes mais elevados é uma boa coisa em si mesma, mas,
como ele lhes mostra, é mal dirigida, não é devidamente consciente de seu objeto e
objetivo. Paulo se propõe a orientar o sentimento corretamente, revelando aquele a
quem eles, de um modo ignorante, adoravam. Os revisores americanos insistem na
leitura, m u i t o r e l i g i o s o s . A palavra correlata (δεισιδαιμονία) aparece em At 25.19, e
com o sentido de r e l i g i ã o , embora traduzida como s u p e r s t i ç ã o na arc. Festo não de
sejava chamar a religião judaica de superstição diante de Agripa, que era um judeu.
Há o testemunho do escrivão da cidade de Éfeso, de que Paulo, durante os três anos
da sua residência na região, não atacou rudemente e grosseiramente a adoração da
deusa Diana. "Nem blasfemam da vossa deusa” (At 19.37).
439
Atos —C ap. 17
440
Atos - C ap. 17
Compare também com Pv 17.6, e v i d e nota sobre Tg 3.6. Nos livros apócrifos,
refere-se ao universo, e principalmente em sua relação com Deus, originada da
criação. Assim, o r e i d o m u n d o (2Mc 7.9); o c r i a d o r o u f u n d a d o r d o m u n d o (2Mc
7.23); o g r a n d e p o t e n t a d o d o m u n d o (2Mc 7.15). Dentro do Novo Testamento: (l)
No sentido clássico e físico, o u n i v e r s o (Jo 17.5; 21.25; Rm 1.20; Ef 1.4 etc.). (2)
Como a o r d e m d a s c o is a s d e q u e o h o m e m é o c e n t r o (Mt 13.38; Mc 16.15; Lc 9.25; Jo
16.21; Ef 2.12; lTm 6.7). (3) A h u m a n i d a d e c o m o s e m a n i f e s t a e p o r e s s a o r d e m (Mt
18.7; 2Pe 2.5; 3.6; Rm 3.19). A ocasião em que o pecado entrou e perturbou a or
dem das coisas, e criou uma brecha entre a ordem celeste e a terrena, que são uma
só, no ideal divino —(4) A o r d e m d a s c o is a s q u e ê s e p a r a d a d e D e u s , c o m o m a n i f e s t a d a
n a r a ç a h u m a n a , e p o r e la : a humanidade como alienada de Deus, e agindo em opo
sição a Ele (Jo Í.IO; 12.31; 15.18-19; lCo 1.21; iJo 2.15 etc.). A palavra é usada
aqui no sentido clássico da criação visível, que apelaria aos atenienses. Stanley,
falando sobre o nome pelo qual a Divindade é conhecida na era patriarcal, o plu
ral ’el õ h i m , observa que Abraão, ao perceber que todos os ’‘ l õ h i m adorados pelos
numerosos clãs da sua raça significavam u m ú n i c o D e u s , antecipou a declaração de
Paulo nesta passagem70. A declaração de Paulo atinge a crença dos epicureus, de
que o mundo foi criado por “uma reunião de átomos, ao acaso”, e a dos estoicos,
que negavam a criação do mundo por Deus, sustentando que Deus animava o
mundo ou que o próprio mundo era Deus.
441
Atos - Cap. 17
28. Somos também sua geração. Uma linha de Arato, um poeta da província
do próprio Paulo, a Cilicia. O mesmo sentimento, quase com as mesmas pa
lavras, aparece no belo hino de Cleantes a Jove. Daí, as palavras, “alguns dos
vossos poetas”.
Semelhante ao ouro etc. Estas palavras devem ter causado uma impressão
profunda em seus ouvintes, quando olharam para a multidão de estátuas de di
vindades que os rodeavam.
30. Não tendo em conta (ύπερίδώη). Somente aqui no texto do Novo Testa
mento. Originalmente, i g n o r a r , n e g l i g e n c i a r , p e r m i t i r q u e p a s s e d e s p e r c e b id o . A tb
lê: D i s s i m u l a n d o , enquanto a bv, D e u s t o l e r o u .
32. Ressurreição. Esta palavra foi o sinal para uma explosão de zombaria da
multidão.
442
A tos - Cap. 18
explosão da zombaria.
No notável sermão de Paulo, devemos observar: a sua prudência e o seu tato,
ao não ofender desnecessariamente os seus ouvintes; a sua cortesia e o seu espíri
to de conciliação, ao reconhecer a piedade dos seus ouvintes com relação aos seus
deuses; a sua sabedoria e prontidão no uso da inscrição “ao Deus desconhecido”,
e ao citar os seus próprios poetas; a sua capacidade de encontrar os erros radicais
de cada tipo dos seus ouvintes, ao passo que ele parece se demorar apenas sobre
pontos de concordância; a sua visão sublime da natureza de Deus e o grande
princípio da unidade da raça humana; a sua ousadia ao proclamar Jesus e a res
surreição entre aqueles para quem estas verdades eram tolices; a maravilhosa
concisão e condensação do todo, e o movimento do pensamento, rápido, mas
poderoso e assegurado.
Capítulo 18
1. Achando.
Uma associação comercial judaica sempre se mantinha unida, seja na rua ou na si
nagoga. Em Alexandria os diferentes ramos de comércio se sentavam na sinagoga,
arranjados conforme as suas associações; e o apóstolo Paulo não podería ter nenhuma
dificuldade em se encontrar, no seu ramo de atividades, com Aquila e Priscila, que
tinham idéias similares às suas73.
443
Atos - Cap. 18
14. Crime (ραδιούργημα). Vide nota sobre malícia At 13.10. Na bp, ação perversa,
enquanto na ep, ação criminosa.
15. Questão. Os melhores textos trazem a forma plural, questões, como consta na
TB. Vide nota sobre At 15.2.
17. Nada destas coisas o incomodava. Não é uma frase com o intuito de indicar
a sua indiferença quanto à religião, mas simplesmente informar que ele decidira
não interferir neste caso.
Priscila e Áquila. Eles são mencionados na mesma ordem, Rm 16.3; 2Tm 4.19.
Tinha voto. Um voto particular, do tipo que era frequentemente assumido pe
los judeus como resultado de alguma graça recebida ou de algum livramento de
algum perigo. Não o voto nazireu, embora similar em suas obrigações; pois, no
caso de tal voto, o corte do cabelo, que assinalava o fim do período de obrigação,
só poderia acontecer em Jerusalém.
21. Devo, de qualquer maneira, guardar esta festa que acontecerá em Jeru
salém [Ael pe πάντως την έορτήν την έρχομένην ποιήσαι είς Ίφοσόλυμα]. Os
melhores textos omitem estas palavras.
Pela graça. Graça tem o artigo, a graça especial de Deus, distribuída. Os ex
positores diferem quanto à conexão: alguns associam pela graça com os que criam,
insistindo na ordem das palavras no idioma grego; e outros, com aproveitou/
auxiliou, referindo-se à graça concedida a Apoio. Eu prefiro esta última opção,
principalmente pela razão apresentada por Meyer, de que “a intenção do texto é
caracterizar Apoio e a sua obra, e não os que criam.”
Capítulo 19
Alguns discípulos. Discípulos de João Batista, que, como Apoio, haviam sido
instruídos e batizados pelos seguidores de João Batista, e haviam se unido à comu
nidade dos cristãos. Alguns acreditavam que os discípulos haviam sido instruídos
pelo próprio Apoio; mas não há evidências suficientes disto. Plumptre destaca:
Nós nem ainda ouvimos. Também a forma aorista. Não ouvimos-, referindo-se
à ocasião em que começaram a crer.
Que haja Espírito Santo. Como observa Bengel: “Eles não poderíam ter segui
do Moisés nem João Batista, sem ter ouvido sobre o Espírito Santo”. As palavras,
portanto, devem ser explicadas, não como se eles não tivessem o conhecimento da
existência do Espírito Santo, mas da sua presença e do seu batismo na terra. O vo
cábulo «mu, haja, deve ser interpretado com o sentido de estarpresente, ou ser dado,
como em Jo 7.39, onde está escrito: “o Espírito Santo ainda nãofora dado (ουπω
ήν)”, e onde os tradutores, acertadamente, traduzem como, “ainda não fora dado.
3. Em que (elç τί). Mais corretamente, dentro de que. Vide nota em Mt 28.19.
João. A última menção a João Batista no Novo Testamento. Bengel diz: ‘Aqui,
por fim, ele deu lugar completamente a Cristo”.
447
A tos —C ap . 19
Pôde mais que eles (ισχυσ€). Vide nota sobre Lc 14.30; 16.3.
19. Artes mágicas (τα ιτφίεργα). Na bp: praticado a magia, e na teb , entregue à
magia. A palavra significa, literalmente, aprimoradas, e, portanto, recônditas ou
curiosas, como práticas de magia. Somente aqui e em lTm 5.13, em seu sentido
448
Atos - Cap. 19
original como uma referência aos que se ocupam excessivammte (περί): curiosas. O
artigo indica as práticas mencionadas no contexto.
24. Ourives de prata (άργυροκόπος). Literalmente, uma pessoa que trabalha com
prata.
25. Prosperidade (ευπορία). Vide nota sobre cada um conforme o que pudesse, At
1 1.29. Literalmente, bem estar. O termo prosperidade é usado pela arc no senti
do mais antigo e mais geral de ventura, ou bem estar. Compare com a litania da
Igreja Inglesa: “Em todo o tempo da nossa tribulação, em todo o tempo da nossa
prosperidade”.
75. Para descrições do templo, vide Conybeare e Howson; e Lewin, Life and Epistles of St Paul-,
Farrar, Life and Work of St. Paul-, e Wood, Ephesus.
449
A t o s - C a p . 19
M u ita s v e z e s , P a u lo d e v e t e r o u v id o , d o d is t r it o ju d e u , o s o m e s t r id e n t e e p e r fu -
r a n te d e s u a s fla u ta s, e o r u íd o á sp e r o e m e tá lic o d e s e u s a d u fes; m u ita s v e z e s , e le
d e v e te r v is t o s u a s d a n ç a s d e te s tá v e is e as p r o c is s õ e s c o r ib â n tic a s, q u a n d o , c o m
c a b e lo s e sv o a ç a n te s , e g r it o s s e lv a g e n s , e to c h a s d e p in h o a g ita d a s, p r o c u r a v a m
e n lo u q u e c e r as m u ltid õ e s e to r n á -la s sim p a tiz a n te s c o m a q u ela a d o r a ç ã o e o r g ia
q u e e sta v a in tim a m e n te c o n e c ta d a c o m a s m a is in fa m e s d e p r a v a ç õ e s 7".
76. Farrar, L if e a n d W o rk o f P a u l.
450
Atos - C ap. 19
29. O teatro. Ainda se pode examinar o local onde ele se situava. Diz-se que ele
podia acomodar cinquenta e seis mil pessoas sentadas.
31. Dos principais da Ásia (των Άσιαρχών). Os asiarcas. Eram pessoas escolhi
das da província da Ásia, por causa de sua influência e riqueza, para presidir os
jogos públicos e custear as suas despesas.
33. Tiraram (προβίβασαν). Mais corretamente, fizeram sair. Vide nota sobre ins
truída previamente, Mt 14.8.
36. Aplaqueis (κατεσταλμένους). Compare com apaziguado (v. 35). O verbo sig
nifica derrubar ou diminuir, e assim é aplicado, de maneira metafórica, a manter
controlada apropria voz, reprimir.
77. Vide obra do bispo Lightfoot, Essays on Supernatural Religion, pág. 297, e Euripides, Iphigenia
in Tauris, pág. 87.
451
A to s - C ap. 2 0
m a n t i d o s . Na t b ,
o s t r i b u n a i s e s t ã o a b e r t o s . Compare com At 17.5.
C a pítu lo 2 0
Falava (διτλέγετο). Melhor, discursava com eles. A t b traz discutia. Era uma mis
tura de pregação e conferência. A nossa palavra diálogo é derivada do verbo.
8. M uitas luzes. Um detalhe que mostra a vivida impressão que a cena provocou
em uma testemunha ocular. Foi enfatizado que a abundância de luzes mostra a
pouca discrição ou desordem associadas a essas reuniões.
9. A janela. Vide nota sobre At 9.25. As janelas de uma casa oriental são fecha
das com venezianas ou treliças, e normalmente chegam até o chão, parecendo-se
mais com uma porta e não uma janela. Elas se abrem, na grande maioria, para o
átrio interno, e não para a rua, e normalmente são mantidas abertas, por causa
do calor.
M orto (ueKpóç). Realmente morto. Não como morto, ou dado por morto.
A sua alma nele está. No mesmo sentido em que Cristo disse, “não está mor
ta, mas dorme” (Lc 8.52).
13. Indo por terra (iTeCeuetv). Somente aqui no texto do Novo Testamento.
Não há uma boa razão para substituir “indo a pé” pela expressão por terra,
como na a rc . A distância era de 32 quilômetros; menos que a metade da dis
tância por mar.
24. Mas em nada tenho a minha vida por preciosa etc. Vários textos omitem
a expressão e m n a d a t e n h o e traduzem, N ã o l e v o a m i n h a v i d a e m c o n s id e r a ç ã o , c o m o
se f o s s e p r e c io s a p a r a m im .
25. Sei. O vocábulo e u é enfático; eu sei, por estas revelações especiais que me
foram concedidas (v. 23).
26. No dia de hoje (τή σήμερον ήμερα). Muito convincente. Expressão literal;
este nosso dia de despedida.
a n u n c ia r .
28. Por vós e por todo o rebanho. Por v ó s , em primeiro lugar, para que possais
cuidar devidamente do r e b a n h o . Compare com lTm 4.16.
Bispos (επισκόπους). Indicando a função oficial dos anciãos, mas não no sen
tido eclesiástico mais recente, de b is p o s , como sugerindo uma ordem distinta de
p r e s b í t e r o s ou anciãos. Os dois termos são sinônimos. Os a n c iã o s , em virtude de
79. Vide obra do bispo Lightfoot, Commentary on Philippians, pág. 98; e a obra Essay on the Christian
Ministry, no mesmo volume, pág. 179ss.; vide também Conyheare e Howson, vol. i., cap. xiii.
455
A tos - C ap . 20
ou a d q u i r i r .
declara que “a sua ideia fundamental é a seriedade bem intencionada com que
uma pessoa influencia a mente e a disposição de outra, por meio de conselho,
admoestação, advertência, correção, segundo as circunstâncias”.
em um pequeno campo,
foi edificado um templo sagrado80.
33. Veste. Mencionada juntamente com ouro e prata, porque formavam uma
grande parte da riqueza dos orientais. Eles negociavam vestes caras, ou as con
servavam guardadas para uso futuro. V i d e nota sobre p ú r p u r a , Lc 16.19; e compa
re com Ed 2.69; Ne 7.70; Jó 27.16. Este fato explica as alusões ao poder destrui
dor da traça (Mt 6.19; Tg 5.2).
35. Tenho-vos mostrado em tudo (πάντα υπέδειξα ύμΐν). O verbo quer dizer
m o s t r a r c o m o e x e m p lo . Assim, Lc 6.47, “eu vos m o s t r a r e i a quem é semelhante”, é
seguida pela comparação com o homem que edificou sobre a rocha. Também At
9.16. Deus mostrará a Paulo, por experiência prática, as grandes coisas que ele
deveria padecer. O substantivo correlato, υπόδειγμα, é sempre traduzido como
e x e m p lo ou p a d r ã o , m o d e lo . V i d e Jo 13.15; Tg 5.10 etc.; e v i d e nota sobre 2Pe 2.6.
Na TB, corretamente, E m t u d o v o s d e i o e x e m p lo .
C a pítu lo 21
se refere aos discípulos que viviam ali e eram membros reconhecidos dessa
igreja. A arc omite tanto a preposição quanto o artigo. O verbo pode ser tra
duzido, a rigor, pela nossa expressão comum, “tendo p r o c u r a d o os discípulos”.
V i d e nota sobre Lc 2.16. Um número pequeno de discípulos é sugerido no
versículo 5.
5. Passado (εξαρτίσαι). Somente aqui e em 2Tm 3.17, onde é usada com o senti
do de e q u i p a r ou d o t a r .
8. Nós que com ele estávamos. Os melhores textos omitem esta perícope.
11. ligando-se os seus próprios pés e mãos. Imitando os atos simbólicos dos
profetas do Antigo Testamento. V i d e lRs 22.11; Is 20.1-3; Jr 13.1-7; Ez 4.1-6.
Compare com Jo 21.18.
14. Rogamos-lhe que não subisse. Isto sugere o caso de Lutero, quando, em
sua jornada à D i e t a d e W o r m s , e a história de Regulo, o romano. Este último, ten
do permissão de retornar a Roma com uma mensagem dos cartagineses, incenti
vou os seus compatriotas a rejeitarem os termos de paz e a continuarem a guerra;
e então, contra os protestos de seus amigos, insistiu em cumprir a promessa que
havia feito aos cartagineses, de retornar no caso de fracasso das negociações, e
voltou, para enfrentar a tortura e a morte certas.
16. Levando consign etc. Isto sugeriría que Mnasom estava em Cesareia, e
acompanhou Paulo e os seus companheiros a Jerusalém. Parece melhor supor
que os discípulos acompanharam o apóstolo, para apresentá-lo a Mnasom, a
quem conheciam. Este texto pode ser traduzido como l e v a n d o - n o s a t é M n a s o m ,
c o m q u e m h a v ía m o s d e n o s h o s p e d a r.
sobre i n f o r m a d o , Lc 1.4.
22. Que faremos, pois? Como fica a questão? O que deve ser feito?
“p o r eles”. A pessoa que pagasse assim as despesas de devotos pobres que não
Ele também deveria permanecer entre os nazireus durante a oferta dos sacrifí
cios, e observar enquanto as suas cabeças eram raspadas, e quando tomassem seus
cabelos para queimá-los, no fogo debaixo das ofertas pacíficas. Farrar declara:
28. Este lugar. O Templo. Compare com a acusação contra Estêvão, At 6.13.
29. Trófimo. V i d e nota sobre At 20.4. Sendo um efésio, ele devia ser conhecido
dos judeus asiáticos.
34. Fortaleza (παρεμβολήν). Melhor, quartel. A torre principal tinha uma torre
menor em cada extremidade; a torre no canto sudeste era a maior, e tinha vista
para o templo. Nesta torre estavam os alojamentos dos soldados. A palavra é
derivada do verbo παρεμβάλλω, colocarjunto, usada em linguagem militar, com
o significado de distribuir auxiliares entre soldados regulares e, de modo geral,
de se organizar em ordem de batalha. Portanto, o substantivo significa um corpo
organizado em ordem de batalha, e passa a ter, então o significado de um acampa
mento, de alojamentos de soldados, de quartel. Em Hb 11.34, o vocábulo aparece com
o sentido antigo de um exército, e em Hb 13.11,13; Ap 20.9, com o sentido de um
acampamento. Na fraseologia gramatical, significa um parênteses, de acordo com o
seu sentido original de inserção ou interpolação.
35. Escadas. Que levavam do átrio do Templo até a torre. Havia dois lances,
um que levava ao claustro norte, e outro ao claustro ocidental, de modo que a
guarda podia seguir diferentes caminhos entre os claustros, para vigiar o povo,
nas festas judaicas.
38. Não és tu (ούκ άρα σύ εΐ;). Indicando ο reconhecimento surpreso, por parte
do oficial, do seu próprio engano. “Não és, então, como eu supunha”. A ecp cor
retamente adiciona portanto (άρα): Não és tu, portanto.
Aquele egípcio. Um falso profeta que, no reinado de Nero, quando Félix era
governador da Judeia, reuniu uma multidão de trinta mil pessoas, que conduziu
do deserto até o monte das Oliveiras, dizendo que os muros de Jerusalém cairíam
ao seu comando e dariam às pessoas o livre acesso à cidade. Félix, com um exér
cito, dispersou a multidão, e o próprio egípcio escapou. Existe uma discrepância
com respeito ao número de seguidores declarado por Josefo (30.000) e o número
declarado aqui pelo comandante (4.000). Contudo, é bastante possível que Josefo
se refira a todo o grupo, ao passo que Lísias pode estar se referindo apenas aos
seguidores armados.
461
A tos - C ap . 22
seu s m an tos, esfaq u eavam a q u eles c o m q uem tiv e sse m algu m a d iv erg ên cia . Q uan d o
e le s caíam m o rto s, o s a ssa ssin o s se uniam às e x p r e s s õ e s g e r a is d e in d ign ação, p erm a
n ecen d o in c ó g n ito s e n ão d e te c ta d o s co m e s te p ro ced im en to p la u s ív e l83.
C a pítu lo 22
462
A tos - C ap. 22
3. Aos pés. Uma referência ao costume dos judeus, de que os alunos se sentavam
em bancos ou no chão, ao passo que o professor ocupava uma plataforma elevada.
V id e 5.34ss.
Fui. O imperfeito: e s ta v a v ia ja n d o .
9. Não ouviram (ούκ ήκουσαν). O verbo deve ser interpretado com o sentido de
c o m p r e e n d e r como em Mc 4.33; lCo 14.2, o que explica a aparente discrepância
com At 9.7.
11. Por causa do esplendor daquela luz. A causa da sua cegueira não é decla
rada no capítulo 9.
13. Vindo ter comigo (έττιστκς). Mais corretamente, como “ficando a o la d o (errí)”.
A TB traz: re c e b e n d o a v i s t a , o l h e i p a r a e le .
14. O Deus de nossos pais - aquele Justo. Um toque conciliador nas pala
vras de Paulo, mencionando tanto Deus quanto Cristo, pelos seus nomes judeus.
Compare com At 3.14; 7.52.
21. Gentios. “O termo fatal, que até aqui Paulo havia cuidadosamente evitado,
mas que era impossível que ele a continuasse evitando, foi suficiente... A palavra
‘gentios’, confirmando todas as piores suspeitas do povo, caiu como uma fagulha
sobre a massa inflamável do seu fanatismo.”84
E n tã o teve início um dos m ais odiosos e d esp rezív eis esp etácu lo s q u e o m u n d o pode
testem u n h ar, o esp etácu lo de u m a m u ltid ã o o rie n ta l, hed io n d a com fúria im p o ten te,
uivando, g rita n d o , am aldiçoando, ra n g e n d o os d en tes, a g ita n d o os braços, sacudindo
seus m an to s azuis e v erm elh o s, lan ça n d o p u n h ad o s de te r r a ao ar, com todos os g e sto s
furiosos de um fanatism o d esco n tro la d o .
Hackett8,5 cita Sir John Chardin, dizendo ser comum que os camponeses da
Pérsia, quando têm uma reclamação para apresentar aos seus governantes, di-
rijam-se a eles em grupos compostos de centenas de pessoas, ou até mesmo de
mil pessoas de uma vez. Eles se posicionam próximos à porta do palácio, onde
supõem que têm mais probabilidade de ser vistos e ouvidos, e ali iniciam um hor
rível clamor, rasgam suas vestes e lançam terra ao ar, ao mesmo tempo exigindo
justiça. Compare com 2Sm 16.13.
25. Atando com correias (προέτε w a v αυτόν τοις Ιμάσιν). Contra a tradução da
arc, está o termo προέτειναν, e s t i c a r a m p a r a f r e n t e , uma referência à posição da ví
tima para o açoitamento, e o artigo com a ç o ite s -, “ a s correias”, com referência a al
gum instrumento bastante conhecido. Se as palavras se referissem simplesmente
a atá-lo, a expressão c o m c o r r e i a s seria supérflua. É melhor, portanto, interpretar
c o r r e i a s como se referindo ao açoite, que consistia de um ou mais chicotes ou
465
A to s - C ap. 2 3
C a p ít u l o 2 3
1. Pondo os olhos. V i d e nota sobre Lc 4.20. Alguns, que afirmam que Paulo
tinha problemas de visão, explicam este olhar firme em conexão com a sua visão
imperfeita.
9. Contendiam. O desvio de atenção foi bem sucedido. O ódio dos fariseus pelos
saduceus era maior do que o seu ódio pelo cristianismo.
Se algum espírito etc. A arc não fornece a forma precisa desta expressão. Os
vocábulos formam uma sentença incompleta, seguida por outra significativa, que
deixa os ouvintes completarem sozinhos quanto à omissão: “se algum espírito ou
anjo lhe falou —” As palavras com que a arc completa a sentença, n ã o c o m b a t a m o s
c o n t r a D e u s , foram emprestadas de At 5.39.
seu juramento.
e le .Na tb , melhor, a s u a c a u s a .
18. O preso (ό δέσμιος). De δέω, a t a r . Paulo, sendo cidadão romano, foi mantido
sob c u s t o d i a m i l i t a r i s , “custódia militar”. A lei romana reconhecia três tipos de
custódia: (l) C u s t o d i a p u b l i c a (custódia pública); confinamento na prisão pública.
Este era o pior tipo, pois as prisões comuns eram masmorras lamentáveis. Este
467
Ato s - C ap. 2 3
soldado, que devia zelar, com a sua própria vida, pela segurança do prisioneiro,
e cuja mão esquerda ficava algemada à mão direita do prisioneiro. Normalmente
o prisioneiro era mantido no quartel, mas algumas vezes ele tinha permissão de
residir em uma casa particular sob os cuidados de guardas.
23. Soldados (στρατ ιώτας). Soldados de infantaria com armas pesadas: legionários.
Aqui são mencionados de maneira distinta dos legionários com armas pesadas e
da cavalaria. Provavelmente eram soldados com armas leves, atiradores de lan
ças ou fundas. Um dos principais manuscritos diz δεξιοβόλους, “os que a t i r a m
com a mão direita”.
468
A tos - C ap . 23
25. Que continha isto (πφΐέχουσαν τον τύπον τούτον). Literalmente, q u e c o n ti
27. Livrei. Bengel diz: “uma mentira”. Lísias deseja dar a impressão de que a
cidadania de Paulo foi o motivo da sua libertação, mas ele não soube disso então,
somente posteriormente. Ele nada diz sobre o açoitamento proposto.
Capítulo 24
Nazarenos. Na bj, nazareus. A única passagem nas Escrituras, onde este termo
é usado para se referir aos cristãos. Vide nota sobre Mt 2.23.
470
A t o s - C ap. 2 4
8. Dele. Paulo. Seria uma referência a Lísias, se o termo omitido acima fosse retido.
m e n t e a c u s a r a m . Na teb : r e q u i s i t ó r i o .
10. Com tanto melhor ânimo (εύθυμότφορ). Os melhores textos trazem a for
ma positiva do advérbio, εύθύμως, a le g r e m e n t e .
O Deus de nossos pais (τω πατρώω θεω). Uma expressão familiar clássica, e por
isso bastante conhecida por Félix. Assim Demóstenes chama Apoio de ο πατρώος
(deus ancestral) de Atenas. Perguntam a Sócrates, “Tens um Zeus a n c e s t r a l (Zeuç
πατρώος)?”88. Assim, frequentemente, nos clássicos. Similarmente, a expressão ro
mana D i p a t r i i , “os deuses dos a n t e p a s s a d o s . Sobre a reverência romana pela religião
ancestral, v i d e nota sobre At 16.21. O sentimento do romano o prepararia para res
peitar o de Paulo.
471
A to s - C ap. 2 4
22. Pôs dilação (άνεβάλετο). Adiou o caso. Somente aqui no texto do Novo Tes
tamento.
25. Ju stiça, tem perança, o Juízo vindouro. Três tópicos que se aplicam
diretamente ao caráter de Félix. A respeito dele, Tácito diz que “exercia
a autoridade de um rei com o espírito de um escravo”, e que, em razão da
poderosa influência do seu comando, “supôs que podería cometer impune
mente todo tipo de torpeza”. Ele havia persuadido a sua esposa Drusila a
abandonar seu esposo e se casar com ele. Ele havia empregado assassinos
para matar Jônatas, o sumo sacerdote, e bem podería trem er com a pregação
do juízo vindouro. T e m p e r a n ç a (εγκράτεια) é, a rigor, a u t o c o n t r o l e - , controlar
as paixões.
a c o n te c e a g o r a .
26. Esperando, também (άμα δε καί έλπίζων). Deveria haver uma vírgula de
pois de t e c h a m a r e i (v. 25), e o particípio έλπίζων, e s p e r a n d o , estar unido a r e s p o n
deu-. “Félix respondeu: ‘Vai-te’, esperando que Paulo lhe desse dinheiro”.
27. Félix teve por sucessor a Pórcio Festo (ελαβε διάδοχοι1 ò Φήλιξ Πόρκιον
Φήστον). Preferível: P ó r c i o F e s t o e n t r o u n a s a l a d e F é l i x . A expressão grega é, F é l i x
re c e b e u P ó r c i o F e s t o c o m o s u c e s s o r .
ju d e u s .
472
A t o s - C a p. 2 5
Capítulo 25
Perante mim (επ’ εμοΰ). Não com ele, como juiz, mas pelo Sinédrio, na sua
presença.
10. M uito bem (κάλλιοα). A força do comparativo deve ser preservada: “sabes
melhor do que sugere a tua pergunta”.
13. O rei Agripa. Herodes Agripa II, filho do Herodes cuja morte está registra
da em At 12.20-23.
474
A to s - C ap. 2 6
Capítulo 26
f a m i l i r i a r i z a d o . Literalmente, u m c o n h e c e d o r .
Que por Deus foi feita. O artigo claramente define qual promessa, “ e s p e c if i
c a m e n te , a q u e l a f e i t a p o r D e u s . ”
14.28. Alguns supõem que Paulo se refere, aqui, a dar o seu voto, como
membro do Sinédrio; neste caso, ele deve ter sido casado e chefe de uma
família. Mas não há razão para crer nisto (cp. lCo 7.7-8); e a frase pode
ser interpretada como expressando meramente concordância moral e
aprovação.
91. Assim, embora o sacerdote seja Upeúç, o Santuário é το άγιον, e o Lugar Santíssimo, τα αγία
τώ ν άγιω ν, 'Iepóv nunca é usada na lxx com respeito ao Templo, exceto em lC r 29.4; Ez 45. 19;
e nos dois casos a menção ao Templo refere-se ao seu aspecto exterior. Em Ez 27.6; 28.18,
τά íepó é usada com respeito aos santuários pagãos de Tiro. No texto do Novo Testamento,
iepóç nunca indica excelência moral. Com exceção da forma neutra, το Upóv, o tem p lo , aparece
apenas duas vezes (lC o 9.13; 2Tm 3.15), e nunca é usado com respeito a uma pessoa. Σίμνός
é reverend o . 'Αγνός é p u ro , no sentido de c a s tid a d e , a u sên cia d e m istu r a com o m a l, e é aplicada
apenas uma vez ao próprio Deus (ijo 3.3). 'Ό σιος é santo p o r sanção. Trench destaca a grande
distinção mantida pelos tradutores da lxx entre esta palavra e άγιος, sendo os dois termos
usados para traduzir dois vocábulos hebraicos diferentes, e nunca interligados. O estudante de
grego encontrará um interessante comentário sobre este tema em Zeschwitz (P r o f a n g r ã c ità t
u n d B ib lisch er S p ra ch g eist).
476
Atos - C ap. 26
Ministro e testemunha. Vide nota sobre Mt 5.25; At 1.22. 17. O povo. Os judeus.
22. Socorro de Deus (επικουρίας τής παρά του Θεοΰ). Literalmente, “socorro
que éde Deus”. O artigo define a natureza do socorro mais profundamente do que
a a r c . A palavra para socorro originalmente significava aliança.
23. Que o Cristo devia padecer (εί παθητός ό Χριστός). Ou melhor, se o Messias
está sujeito ao sofrimento. Ele se expressa de uma forma problemática, porque este
era o motivo do debate entre os judeus, se um Messias sofredor era digno de
crédito. Eles criam em um Messias triunfante, e a doutrina dos seus sofrimentos
era um obstáculo para que o recebessem como o Messias. Observe o artigo, “o
Cristo”, e vide nota sobre Mt 1.1.
24. As muitas letras te fazem delirar (τα πολλά σε γράμματα εις μαρίνα
περιτρέπει). A kjv omite ο artigo com muitas letras·, “as muitas letras”, ou “o muito
conhecimento” com que te ocupas. Tefazem delirar, literalmente, te estão levando
à loucura, como traduz a n v i .
477
A tos - C ap . 27
29. Por pouco e por muito (kv όλίγω και kv μεγάλη). Como consta nos
melhores textos, em lugar de ττολλω, muito. Literalmente, em pouco e em muito, i.e.,
com pouco ou muito esforço.
C a pítu lo 27
95. Outros exemplos estão em Jo 10.32: “Por qual dessas obras me quereis apedrejar (λιθάζετε)?”· Jo
13.6: “Queres lavar (víirteLç) os meus pés?”. Lc 1.59: “Queriam dar-lhe (kκαλούν) o nome de seu
pai, Zacarias”. Mt 3.14: “João tentava se opor(hιεκώλυευ)”.
478
A tos - C ap . 27
Apenas (μόλις). Penso que seria correto traduzir este termo como na tb , com
dificuldade. Assim, também, dificilmente, no versículo 8. O significado não é que
eles mal haviam chegado a Cnido quando o vento se fez contrário, nem que
haviam chegado somente até Cnido depois de muitos dias, mas que sofreram
um atraso, devido aos ventos contrários, entre Mirra e Cnido, que estão a uma
distância de aproximadamente 208 quilômetros, e que, com vento favorável,
teriam percorrido em um dia. Este vento contrário deve ter sido o noroeste, que
predomina durante os meses de verão nesta parte do arquipélago.
10. Vejo (θεωρώ). Como o resultado de cuidadosa observação. Vide nota sobre Lc 10.18.
12. Não cômodo (άνευθετου). Literalmente, não bem situado. Na tb , não próprio;
e na bp, não apto.
Olha para a banda do vento da África e do Coro (βλεποντα κατά Λίβα και
κατά Χώρον). Na bp, voltado para ο noroeste e sudoeste. Em vez de voltado para, a
arc , literal e corretamente, traduz por olha para. A diferença entre as versões,
quanto aos ponteiros da bússola, varia com a tradução da preposição κατά. As
palavras sudoeste e noroeste significam, literalmente, os ventos sudoeste e noroeste.
De acordo com a bp, κατά significa em direção a [voltado parã^ e se refere à região
479
A tos - C ap. 27
a partir de onde estes ventos sopram. De acordo com a arc, κατά significa para
baixo·, “olhando para baixo, para os ventos sudoeste e noroeste”, isto é, na direção
em que eles sopram, a saber, nordeste e sudeste. Esta última interpretação
pressupõe que Fenícia e Lutro são a mesma coisa, o que é incerto96.
14. Deu nela (εβαλε κατ’ αύτής). Nela quem? Alguns dizem, a ilha de Creta-, e
neste caso, eles teriam sido jogados em direção à terra, ao passo que lemos que
foram lançados para longe dela. Outros dizem que a expressão se refere ao navio.
Há objeções de que o pronome αύτής, ela, é feminino, ao passo que o substantivo
feminino para navio (ναύς) não é comumente usado por Lucas, que emprega a
forma neutra (πλοΐον). Eu não creio que esta objeção seja muito importante.
Lucas é o único autor do Novo Testamento que usa ναΰς (cf. v. 41), embora o faça
apenas uma vez; e, como observa Hackett, “seria acidental que algum dos termos
moldasse o pronome neste momento, uma vez que ambos eram tão familiares”.
Uma terceira explicação relaciona o pronome à ilha de Creta, e traduz, “afastaram
dela”. Isto é gramatical, e está de acordo com um emprego bastante conhecido
da preposição. O verbo βάλλω é também usado de modo intransitivo, com o
sentido de cair, em Homero97, sobre um rio caindo no mar. Compare com Mc
4.37: “subiam (επέβαλλεν) as ondas por cima do barco”, e Lc 15.12: “a parte da
fazenda que rne pertence (επιβάλλον)”. A tradução preferível é:foram afastados dela.
Isto está também de acordo com a analogia da expressão de Lc 8.23, sobreveio
uma tempestade. Vide nota sobre essa passagem, e sobre Mt 8.24.
96. Para um comentário abrangente sobre o tema, vide Smith, Voyage and Shipwreck of St. Paul,
Hackett, Commentary on Acts·, Conybeare e Howson, Eife and Epistles o f St. Paul.
97. Homero, lliada, xi., 722
480
A tos - C ap. 27
16. Apenas pudemos ganhar o batei (μόλις ίσχύσαμεν περικρατεΐς γενεσθαι τής
σκάφης). Literalmente, Com dificuldade conseguimos dominar o barco·, i.e., conservar
a bordo o pequeno barco que, em clima calmo, estava ligado por uma corda ao
leme da embarcação. Na n v i , com dificuldade que conseguimos recolher o barco salva-
vidas. Sobre com dificuldade, vide nota sobre apenas, v. 7.
17. Meios (βοηθείαις). Qualquer aparato à mão com esse propósito: cordas,
correntes etc.
Um pedaço do cabo foi passado sob o fundo do navio, quatro pés antes do mastro
traseiro, puxado pelo cabrestante e finalmente imobilizado e preso a seis cavilhas
sobre o convés. O resultado se manifestou imediatamente por uma grande diminuição
no movimento das partes já mencionadas, e, de uma maneira menos agradável,
impedindo a sua navegação98.
Todos os navios situados como este, ao se p rep arar para uma tempestade, desce
sobre o convés o “cesto superior”, ou os aparatos relacionados com as velas de
bom tempo, como as velas de mezena. Um navio m oderno desce m astros e vergas;
um veleiro amaina a sua vela m aior ao se p rep arar para uma tem pestade99.
27. Adriático. O mar Adriático, que abrange toda aquela parte do Mediterrâneo
ao sul da Itália, a leste da Sicilia, e a oeste da Grécia.
C a pítulo 28
A chuva que caía (ύετόν τον έφεστώτα). Literalmente, que estava sobre nós,
ou que havia aparecido. Não há nenhuma menção até este ponto na narrativa do
naufrágio. A tempestade pode até agora ter estado sem a companhia de chuva,
mas isto é muito improvável.
483
A to s - C ap. 28
Não o deixa (ούκ e’iaoev). O tempo aoristo: não deixou. A sua morte é
considerada fixada pelo decreto divino.
7. O principal (τφ πρώτες). Título oficial, sem referência à sua posição ou posses.
Embora não ocorrendo como a designação oficial do governador de Malta
em nenhum autor antigo, esta expressão foi encontrada em duas inscrições
descobertas na ilha.
d ific u ld a d e p a r a o u v ir .
486
L ista de P alavras G regas E mpregadas som ente por L ucas
(A. = Atos)
άντικαλεω, tornar a convidar (em re άπτω, acender, 8.16; 11.33; 15.8; 22.55
tribuição, 14.12 άπωθέομαι, rejeitar, A. 13.46
αντίκρυ, defronte de, A. 20.15 ’Άραψ, árabe, A. 2.11
άντιπαρερχομαι, passar de largo, άργυροκόπος, ourives de prata, A.
10.31-32 19.24
αντίπεραν, defronte de, 8.26 ’Άρειος Πάγος, Areópago, A. 17.19,22
άντιπίπτω, resistir, A. 7.51 ’Αρεοπαγίτης, areopagita, A. 17.34
άντοφθαλμέω, navegar contra o vento, άρήν (άρνός, αμνός), cordeiro, 10.3
A. 27.15 άροτρον, arado, 9.62
άνωτερικός, superior, A. 19.1 άρτέμων, vela maior, A. 27.40
άπαιτεω, pedir, tornar a pedir, 6.30; αρχιερατικός, do sumo sacerdote, A. 4.6
12.20 άρχιτελώνης, chefe dos publicanos, 19.2
άπαρτισμός, acabar, 14.28 άσημος, pouco célebre, insignificante (cf.
άπεΐμι, ir, A. 17.10 ara), A. 21.39
απελαύνω, expulsar, A. 18.16 ’Ασιανός, da Ásia, A. 20.4
άπελεγμός, descrédito, ato de estimar Άσιάρχης, asiarca, A. 19.31 (cf. ara)
em nada, A. 19.27 ασιτία, muito (tempo) sem comer, A.
απελπίζω, esperar (em retribuição), 27.21
6.35 άσιτος, (tempo) sem comer, A. 27.33
απερίτμητος, incircunciso, A. 7.51 άσκεω, procurar, A. 24.16
άπογραφή, alistamento (para cobrança ασμένως, de bom grado, de boa vonta
de impostos), 2.2; A. 5.37 de, A. 2.41; 21.17
άποδεκατεύω, dar dízimo, 18.12 άσσον, de muito perto, A. 27.13
αποδέχομαι, receber, 8.40; A 2.41; 15.4; αστράπτω, iluminar, resplandecente (de
18.27; 24.3; 28.30 relâmpago), 17.24; 24.4
άποθλίβω, oprimir, 8.45 άσύμφωνος, discordes, A. 28.25
άποκατάστασις, restauração, A. 3.21 άσώτως, dissolutamente, 15.13
αποκλείω, cerrar, 13.25 άτεκνος, sem filhos, 20.28-30
άπομάσσομαι, sacudir, 10.11 άτερ, sem, 22.6,35
άποπίπτω, cair de, A. 9.18 αύγή, alvorada, A. 20.11
άποπλέω, navegar (com o sentido de Αύγουστος, Augusto, 2.1
zarpar), A. 13.4; 14.26; 20.15; 27.1 αυστηρός, rigoroso, 19.21-22
απορία, perplexidade, 21.25 αύτόπτης, testemunhas oculares (cf.
απορρίπτω, lançar(-se), A. 27.43 ara), os que presenciaram, 1.2
άποστοματίζω, fazer falar, 11.53 αύτόχείρ, com as próprias mãos, A.
άποτινάσσω, sacudir, 9.5; A. 28.5 27.19
άποφθεγγομαι, falar, dizer, A. 2.4,14; άφαντος, desaparecer, 24.31
26.25 άφελότης, singeleza, A. 2.46
αποφορτίζομαι, descarregar A. 21.3 άφιξις, partida, A. 20.29
άποψύχω, desmaiar, 21.26 άφνω, de repente, A. 2.2; 16.26; 28.6
488
Lista de Palavras G regas Empregadas somente por Lucas
πανοικί, com toda a sua (própria) casa, περικρατής, ganhar (o batei), A. 27.16
A. 16.34 περικρύπτω, ocultar (-se), 1.24
πανταχή, por todas as partes, A. 21.28 περικυκλόω, cercar, 19.43
πάντη, sempre, A. 24.3 περιλάμπω, cercar de resplendor 2.9;
παραβάλλω, chegar, A. 20.15 A. 26.18
παραβιάζομαι, constranger, 24.29; A. περιμένω, esperar, A. 1.4
16.15 πέριξ, circunvizinho, A. 5.16
•παράδοξος, prodígio, 5.26 περιοικέω, morar nas vizinhanças de,
παραθεωρέω, desprezar, A. 6.1 nas proximidades de, 1.65
παραινέω, admoestar, A. 27.9,22 περίοικος, vizinho, 1.58
παρακαθέζομαι, assentar-se aos pés de, περιοχή, lugar da Escritura (conteú
10.39 do), A. 8.32
παρακαλύπτω, encobrir, 9.45 περιρρήγνυμι, rasgar, A. 16.22
παραλέγομαι, costear, A. 27.8,13 περισπάομαι, andar distraída, 10.40
παράλιος, na beira do mar (cf. ntlh), 6.17 περιτρέπω, delirar, A. 26.24
παρανομέω, ser contra a lei, A. 23.3 πήγανον, arruda, 11.42
παραπλέω, passar adiante de, não apor πιέζω, recalcar, 6.38
tar (cf. ara ), A. 20.16 πίμπραμαι, inchar, A. 28.6
παράσημος, insígnia, A. 28.11 πινακίδιον, tabuinha de escrever, 1.63
παρατείνω, alargar, A. 20.7 πλημμύρα, enchente, 6.48
παρατήρησις, aparência exterior, 17.20 πλόος, navegação, A. 21.7; 27.9-10
παρατυγχάνω, apresentar-se, A. 17.17 πνικτός, sufocado, A. 15.20,29; 21.25
παραχειμασία, invernar em, A. 27.12 πνοή, vento, A. 2.2; 17.25
παρεμβάλλω, cercar, 19.43 πολιτάρχης, magistrado da cidade, A.
παρενοχλέω, perturbar, A. 15.19 17.6,8
παρθενία, virgindade, 2.36 πορφυρόπωλις, vendedora de púrpura,
παροίχομαι, andar (também com o sen A. 16.14
tido de morrer), A. 14.16 πραγματεύομαι, negociar, 19.13
παροτρύνω, incitar, A. 13.50 πράκτωρ, meirinho, 12.58
πατρώος, dos pais, A. 22.3; 24.14; 28.17 πρεσβεία, embaixador, 14.32; 19.14
πεδινός, lugar plano, 6.17 πρηνής, precipitar-se, A. 1.18
πεζεύω, ir por terra, A. 20.13 προβάλλω, brotar, impelir para diante,
πειράω, procurar, A. 9.26; 26.21 21.30; A. 19.33
πενιχρός, pobre, 21.2 προκηρύσσω, pregar antes (no tempo),
πεντεκα ιδέκατος, décimo quinto (cf. A. 3.20; 13.24
ara ), 3.1 προμελετάω, premeditar, 21.14
περαιτέρω, alguma outra coisa, A. 19.39 προοράω, ver diante de, A. 2.25;
περιάπτω, acender, 22.55 21.29
περιαστράπτω, resplendor, uma grande προπορεύομαι, ir antes, preceder (cf
luz do céu (que rodeia) A. 9.3; 22.6 ara ), ir adiante, 1.76; A. 7.40
495
L ista de Palavras G regas E mpregadas somente por L ucas
498
Introdução às E pístolas de
T iago, P edro e Judas
T iago
Quando lhe perguntaram : “O que é a p o rta de Jesus?”, Ele respondeu que era o
Salvador; e por isso alguns creram que Jesus é o Cristo. Os judeus, escribas e fa
riseus, alarm ados, vieram até T iago e lhe im ploraram que impedisse que o povo
seguisse Jesus, que persuadisse a todos os que viessem naquela Páscoa a serem
contrários a Ele, e, com esta intenção, que se colocasse sobre o pináculo do Tem
plo, onde podería ser visto e ouvido por todo o povo. C onsequentem ente, eles o
colocaram ali e disseram : “Ó, Justo, a quem todos damos ouvidos, considerando
que o povo segue Jesus, que foi crucificado, dize-nos, o que é a p o rta de Jesus?”
Ele respondeu, elevando a voz: “Por que me perguntais a respeito de Jesus, o
Filho do homem? Ele está assentado no céu, à mão direita do Todo-Poderoso,
e também está prestes a descer nas nuvens do céu”. M uitos se convenceram e
disseram : “Hosana ao Filho de Davi!”, mas os escribas e fariseus disseram: “F i
zemos mal ao facilitarm os que se desse tão excelente testem unho a respeito de
Jesus. Vamos derrubá-lo de lá”. Eles subiram e o jogaram , e, como não m orreu
devido à queda, com eçaram a apedrejá-lo. E ele, virando-se, ajoelhou-se e dis
se: "Eu te suplico, Senhor Deus e Pai, perdoa-os, porque eles não sabem o que
fazem”. Mas, enquanto o estavam apedrejando, um dos sacerdotes, dos filhos de
Recabe, clamou, dizendo: “Parai! Que fazeis? O Justo ora por vós!” E um deles,
um dos lavandeiros, tom ou o bastão com que costumava apertar os tecidos e
500
T iago - I ntrodução
golpeou com ele a cabeça do Justo. E assim T iago deu testem unho, e eles o se
pultaram no local ju n to ao Templo.
Presume-se que a epístola tenha sido escrita em Jerusalém, onde Tiago pro
vavelmente teria se familiarizado com a condição dos judeus, por intermédio
dos que vinham para as festas. Certas referências na epístola confirmam isto. A
comparação do homem que duvidava com uma onda do mar (1.6) e a imagem
das naus (3.4) poderíam ter sido escritas por alguém que morasse perto do mar
e estivesse familiarizado com ele. As ilustrações de 3.11-12 —os figos, o azeite,
o vinho, os mananciais doces e amargos —são fornecidas pela Palestina, como
também as imagens da seca (5.17-18), da chuva temporã e serôdia (5.7) e do
vento quente e escaldante (1.11), por que o nome καύσων era particularmente
conhecido na Palestina.
A epístola foi escrita a partir de um ponto de vista judaico. Sobre isto, Stanley afirma:
O cristianismo aparece nela, não como uma nova dispensação, mas como um desenvol
vimento e aperfeiçoamento da antiga. A maior honra do cristão não é o fato de que ele
é um membro da igreja universal, mas o de que ele é a genuína tipificação do antigo
israelita. Ela não revela nenhum novo princípio de vida espiritual, como aqueles que
virariam o mundo de cabeça para baixo, os quais estavam contidos nos ensinamentos
de Paulo ou de João, mas somente aquela moralidade pura e perfeita que era o verda
deiro cumprimento da lei.
O nome de Cristo aparece apenas duas vezes (1.1; 2.1); a palavra “evange
lho” não aparece nenhuma vez; e não há nenhuma alusão à Redenção, Encar
nação, Ressurreição ou Ascensão. As regras de moralidade que ele apresenta
são respaldadas por motivos e sanções judaicas, e não cristãs. A infração da
“lei real" é ameaçada com a sentença da lei (2.8,13); e o juízo não caridoso é
reprovado com base na condenação da lei, e não como algo alheio ao espírito
de Cristo.
Ao mesmo tempo, o próprio legalismo da epístola é a consequência na
tural do Sermão da Montanha, cuja linguagem reflete mais do que qual
quer outro livro do Novo Testamento. Ela opõe-se ao formalismo, fatalis
mo, hipocrisia, arrogância, insolência e opressão engendrada pelas agudas
distinções sociais da época, com um ensinamento concebido no espírito e
frequentemente expresso nas formas do código moral do Grande Mestre.
Diz o Dr. Scott:
501
1 E 2 P edro - I ntrodução
M ateus T iago
5.3 1.9; 2.5
5.4 4.9
5.7,9 2.13; 3.17
5.8 4.8
5.9 3.18
5.11-12 1.2; 5.10-11
5.19 1.19ss.,25; 2.10-11
5.22 1.20
5.27 2.10-11
5.34SS. 5.12
5.48 1.4
6.15 2.13
6.19 5.2SS.
6.24 4.4
6.25 4.13-16
7. lss. 3.1; 4.1 lss.
7.2 2.13
7.7,11 1.5,17
7.8 4.3
7.12 2.8
7.16 3.12
7.21-26 1.22; 2.14; 5.7-9
1 e 2 P edro
é dominante aqui, mas, seja como for, seria estranho se as epístolas não exibissem
indícios de abrandamento com os anos e de amadurecimento do espírito de Cristo
neste discípulo, outrora apaixonado e obstinado. O segundo capítulo da segunda
epístola não é uma débil lembrança do Pedro que cortou a orelha de Malco.
O caráter vivido e pitoresco destas cartas é notável. Nas duas epístolas, que
contêm oito capítulos, dos quais o mais extenso consiste de apenas vinte e cinco
versículos, há cento e dezenove palavras que não aparecem em nenhuma outra
passagem do Novo Testamento. Há abundância de palavras descritivas, como
ωρυόμενος, bramar (lPe 5.8); όπλίσασθε, armai-vos ( lPe 4.1); επικάλυμμα, cober-
tura( lPe 2.16); φιμοΰν, tapar a boca, literalmente, amordaçar (1 Pe 2.15); σκολιός,
mau, literalmente, torto ou deformado (lPe 2.18); εκχενώς, ardentemente, literal
mente, até o limite (1 Pe 1.22); άπόθεσις, deixar (2Pe 1.14); έξοδος, morte (2Pe 1.15);
διαυγάζειν, estrela da alva (2Pe 1.19); αυχμηρός, escuro ou seco (2Pe ΐ.19);έπίλυαις,
interpretação, literalmente, desatar (2Pe 1.20); σχρεβλοϋσιν, torcer, como com um
molinete (2Pe 3.16), e muitos outros casos.
A mesma característica vivida e ilustrativa aparece nas palavras ou expressões
que poderíam ser chamadas recordatórias, nas quais se espelha a experiência pessoal
anterior do autor. Assim, revesti-vos de humildade (1 Pe 5.5, vide nota sobre este ver
sículo) relembram a imagem do Senhor cingido-se com uma toalha e lavando os pés
dos discípulos. Atentar (lPe 1.12) expressa um curvar-se para baixo, para examinar
atentamente, e nos conduz de volta à visita que Pedro e João fizeram ao sepulcro,
na manhã da ressurreição, quando se curvaram e olharam o interior do sepulcro. Em
apascentar o rebanho (na tb , pastoreai, e na ep, cuidem, lPe 5.2), está refletida a incum
bência que Cristo dá a Pedro, no lago. A repetição da palavra άπροσωπολήμπτως, sem
acepção depessoas (1 Pe 1.17), usada por Pedro em uma forma similar, At 10.34, parece
indicar que ele tinha na mente a cena na casa de Cornélio; e vigiai( lPe 5.8) pode ter
sido sugerida pela lembrança de sua própria sonolência no Getsêmani, como pela
exortação de Cristo para que vigiassem. Assim, também, é interessante ler as pala
vras esbofeteado {lPe 2.20), o madeiro (τό ξύλον, uma palavra incomum, usada por ele
em At 5.30; 10.39) eferida ouferimento (1 Pe 2.24) à luz das narrativas dos sofrimen
tos de Cristo nos Evangelhos. Cristo havia chamado Simão de rocha e, pouco depois,
de pedra de tropeço. Pedro combina as duas expressões em uma única frase, rocha de
escândalo (1 Pe 2.8). Um exemplo notável aparece na referência à Transfiguração (2Pe
1.17-18), onde Pedro usa a peculiar palavra έξοδος, morte, literalmente, saída, partida,
a qual aparece em Lc 9.31, como também em Hb 11.22. Compare também tabemácu-
lo, em 2Pe 1.13-14, comfaçamos aqui três tabemáculos.
As duas epístolas estão impregnadas de uma atmosfera veterotestamentária.
Enfatiza-se o testemunho da profecia, do ensinamento e da história do Antigo
Testamento (lPe 1.10-12; 3.5-6,20; 2Pe 1.19-21; 2.1,4-8,15-16; 3.2,5-6). Citações
e referências a ele são incluídas no texto, embora as fórmulas de introdução, por-
504
1 E 2 P edro - I ntrodução
quanto está escrito, e pelo que também na Escritura se contêm, não apareçam na segun
da epístola; e a conexão, quanto a expressões familiares, não é tão evidente como
na primeira epístola (vide lPe 1.16,24-25; 2.6-7,9-10,23-24; 3.6,10,14; 4.8,18;
5.5,7; 2Pe 1.19-21; 2.5-7,15,21; 3.5-6,8,13). A igreja de Cristo é representada
como a igreja de Israel aperfeiçoada e espiritualizada (lPe 2.4-10); a exortação à
santidade (1 Pe 1.15-16) é feita na linguagem de Lv 11.44; Cristo é descrito (lPe
2.6) nos termos de Isaías 28.16 e SI 118.22; e a declaração profética de Isaías a
respeito do servo de Jeová (52.13—53.12) reaparece em lPe 2.23-24.
As epístolas são, evidentemente, obra de um judeu. Encontramos, como seria
de esperar, o autor ilustrando as suas posições com base na história e tradição
judaicas, como em suas referências a Noé, Sara, Balaão, e em seu uso da palavra
ραυτι,σμός, aspersão (1 Pe 1.2), um termo peculiarmente levítico. Ele mostra como
o espírito de Cristo habitava nos profetas do Antigo Testamento, e como os cris
tãos são um sacerdócio real.
A semelhança, tanto em idéias como em expressões, com passagens nas epís
tolas de Paulo e Tiago é notável, especialmente na primeira epístola. Será instru
tivo comparar as seguintes:
T iago 1 P edro
1.2-3 1.6-7
1.10-11 1.24
1.18 1.23
4.6,10 5.5-6
5.20 4.8
Paulo 1 P edro
Rm 12.2 1.14
Rm 4.24 1.21
Rm 12.1 2.5
Rm 9.33 2.6-8
Rm 9.25-26 2.10
Rm 13.1-4 2.13-14
G1 5.13 2.16
Rm 6.18 2.24
Rm 12.17 3.9
Rm 12.6-7 4.10-11
Rm 8.18 5.1
Rm 2.7,10 1.7
Rm 8.17 4.13
Rm 12.13 4.9
Rm 13.13 4.3
Rm 13.14 4.1
lTs 5.6 5.8
lCo 16.20 5.14
505
1 E 2 P edro - I ntrodução
Estas semelhanças não estão ausentes na segunda epístola, embora sejam se
melhanças em tom, assunto e espírito, não de palavras. É nesta epístola que Pe
dro designa os textos de Paulo como Escrituras (3.16). Compare:
Paulo 2 P edro
Rm 1.28; 3.20 1.2
lTm 1.4; 4.7 1.16
lTm 6.5; T t 1.11 2.3
lCo 10.29; G1 5.18 2.19
Rm 2.4; 9.22 3 15
G1 2.4 2.1
J udas
notas sobre os versículos 9, 14). Seu estilo é conciso e pitoresco. “É grego apren
dido por um estrangeiro e parcialmente a partir de livros, e está mesclado com
expressões hebraicas.” A epístola contém pelo menos quinze palavras que não
são encontradas em nenhuma outra passagem do Novo Testamento. Diz o deão
Alford:
E uma invectiva ardente, em que o autor acumula epíteto após epíteto, e imagem so
bre imagem, e retorna repetidas vezes aos apóstatas desenfreados contra os quais ele
adverte a igreja, como se toda a linguagem fosse insuficiente para fornecer uma ideia
adequada de sua depravação e da abominação que ele mesmo sente devido à perversão
que tentam fazer da graça e das doutrinas do evangelho.
508
T iago
C a p ít u l o l
Quando (όταν). Literalmente, sempre que, tradução melhor, porque sugere que
a tentação pode ser esperada em toda a caminhada cristã.
T iago - Cap. 1
Várias (ποικίλους). Na tb , diversas-, e na ep, todo tipo. Vide nota sobre lPe 1.6.
3. Prova (δοκίμιον). Mas uma tradução mais acertada é provação. Vide nota sobre
lPe 1.7.
5. E [(δε]. Omitido nas versões teb , bp, bj. A tb traduz corretamente, mas. Ao
buscar esta perfeição, percebereis que vos falta sabedoria. Alguém poderia dizer:
“Eu não sei como tornar-me perfeito”, mas, se algum de vós etc.
510
T iag o - C ap. 1
A Deus que... dá (τοδ διδοντος 0eoü). A construção do texto grego é tal, que
darè enfatizado como um atributo de Deus. Literalmente, “Peça ao Deus que da
ou “Deus doador”.
9. Mas. Assim também na tb . Omitida nas versões teb , bp, bj, n v i , ara .
Introduzindo um contraste com a palavra inconstante.
11. Porque sai o sol etc. (άνετε ιλεν γάρ ό ήλιος). Com ο uso do tempo aoristo,
Tiago lança graficamente a sua ilustração na forma narrativa: “Porque sai o sol
- e seca etc.
Novo Testamento.
ara, acertadamente, d e p o i s d e t e r s i d o a p r o v a d o .
H á um d itad o an tigo,
P ron u n ciad o em tem p os a n tig o s,
D e que a b em -aven tu ran ça h um ana, d ep o is d e crescida,
D á à luz, e n ão m orre sem filhos:
E, para a raça vindoura,
N a sc e a lam en tação n ão saciada da prosperidade.
M a s so m e n te eu
A lim e n to em m eu p e ito o u tr o p en sam en to.
A obra ím pia
G era um a prole n u m erosa e sem elh a n te a ela;
E n q u a n to as casas go v ern a d a s p ela in fle x ív e l ju stiç a
F lo r e sc e m com um a prole ju sta. A an tiga in so lên cia
514
Τ ι a g o - C ap . 1
Toda boa dádiva e todo dom perfeito ( v i d e texto grego acima). A declara
ção de que esses dons vêm de Deus é uma consequência da ideia de que Ele não
tenta os homens ao mal. Os dons de Deus são contrastados com o mal que é ge
rado da concupiscência do homem. Duas palavras são usadas para d o m / d á d i v a .
Δόσις aparece apenas aqui e em Fp 4.15; nesta última passagem, no sentido ati
vo; aqui, no entanto, no passivo, como em Pv 2 1 .1 4 (lxx ). Δώρημα é encontrada
em Rm 5.16. Ela sobrepõe-se ligeiramente à outra palavra, ao enfatizar o dom
como a b u n d a n t e , g r a n d e , c o m p le t o , uma ideia que é desenvolvida no versículo 18,
s e g u n d o a s u a v o n t a d e . A rv, de forma bem deselegante, empenha-se em apre
1. E s q u ilo , Agamenom, 7 5 1 -7 7 1 .
2. M ilto n , Paradise Lost, ii., 7 6 0 -8 0 1 .
515
T ia g o — Cap. l
18. Gerou (άπεκύησ^ν). V id e nota sobre o versículo 15, e compare com lJo 3.9;
lPe 1.23.
3. P la tã o , República , vii., 53 0 .
516
T ia g o - C a p . 1
19. Sabeis. A acf segue a tradução de ώστε, portanto. Porém, a leitura correta
é ιστέ, sabeis, como na arc . Outros traduzem a palavra como imperativo, sabei,
como chamando a atenção para o que vem a seguir.
A qual pode salvar (τον δυνάμενον σώσαι). Compare com Rm 1.16, “o poder
de Deus para a salvação’.
O seu rosto natural (το πρόσωπον τής Yevéoecoç). Literalmente, o rosto de seu
nascimento; o rosto com que ele nasceu.
25. Aquele, porém, que atenta (ό παρακύψας). A rigor, aquele que olha. Vide
nota sobre lPe 1.12. O verbo é usado a respeito de alguém que se curva para o
lado (παρά) para olhar atentamente. O espelho é concebido como colocado sobre
uma mesa ou o chão. Bengel cita Sr 14.23: “Aquele que bisbilhota por suas (da
Sabedoria) janelas também ouvirá em suas portas”. Coleridge observa:
Uma palavra mais feliz ou eficaz não podería ter sido escolhida para expressar a
natureza e o objetivo supremo da reflexão, e para indicar a necessidade dela, a fim de
revelar a fonte viva da evidência da fé cristã no próprio crente, e, ao mesmo tempo,
apontar o único local e região onde ela será encontrada*.
4. Coleridge, Aphorismos.
518
T íago - C ap. 1
Fazedor da obra. Literalmente, de obra, uma vez que o substantivo não tem
artigo. Na rv, umfazedor que trabalha.
Refreia (χαλιναγωγών). Usada apenas por Tiago. Vide 3.2. Literalmente, guiar
com um freio. Assim, Platão: “Creio que o argumento tem de ser retomado de
tempos em tempos, e não deve poder fugir ou desaparecer, mas ser controlado e
retido com rédea e freio”6.
27, Imaculada (αμίαντος). Vide nota sobre lPe 1.4. Os dois adjetivos, pura e
imaculada, apresentam os lados positivo e negativo da pureza.
Visitar (επισκέπτεσθαι). Vide nota sobre Mt 25.36. Tia go aqui desfere um golpe
direto ao ministério por procuração, ou por meras contribuições de dinheiro. A
519
T ia g o - Cap. 2
O homem rico, esbanjador de dinheiro, que para ele tem pouco valor, mas é
completamente incapaz de dedicar qualquer atenção pessoal ao objeto de suas esmolas,
frequentemente ofende a sociedade com as suas doações. Porém, este raramente é o
caso com aquela caridade muito mais nobre, que faz com que os homens se familiarizem
com as visitas da infelicidade, e acompanha o objeto de seu cuidado durante todas as
fases de sua vida7.
C a p ít u l o 2
520
T iago —C ap . 2
521
T iago - C ap. 2
Sórdida (ρυπαρά). Compare com 1.21; e vide nota sobre lPe 3.21.
5. Ouvi, meus amados irmãos. Alford cita esta expressão como um dos poucos
elos que conectam esta epístola com o sermão de Tiago, em At 15.13.
Aos pobres deste mundo (τούς πτωχούς τού κόσμου). Mas a leitura correta é τώ
κόσμω, para o mundo, e a expressão deve ser explicada da mesma maneira que αστείος
τώ 0&ò,jòrmoso aos olhos de Deus, At 7.20 (ara ), e δυνατά τώ θεώ, poderosas em (kjv, por
522
T ia g o - C a p . 2
meio de, rv, diante de) Deus, 2 C0 10.4. Assim na teb : os que sãopobres aos olhos do mundo,
isto é, segundo a avaliação do mundo. Para pobres, vide nota sobre Mt 5.3.
Ricos na fé . A arc adequadamente insere para serem, uma vez que as palavras
não estão em aposição com pobres, mas expressam o objetivo para o qual Deus
os escolheu. A fé não é a qualidade em que eles devem ser ricos, mas a esfera ou
elemento; ricos em sua posição como crentes. Como diz Wiesinger, citado por
Alford: “Não é a medida de fé, em virtude de que um homem é mais rico do que
outro, que está na mente do autor, mas a substância da fé, pela virtude da qual
cada crente é rico”.
Bom (καλόρ). Na teb e ecp , belo; na bj, sublime; e na bp, ilustre. Por meio deste
epíteto, a desgraça da blasfêmia é enfatizada.
Que sobre vós foi invocado (τό έπικληθερ έφ’ ΰμάς). Tradução literal; o nome
de Cristo, invocado no batismo. A expressão é do Antigo Testamento. Vide Dt
28.10, onde a lxx traduz: que o nome do Senhorfoi invocado sobre vós. Também 2Cr
7.14; Is 4.1. Compare com At 15.17.
Não foi antes que as idéias e até mesmo o idioma dos romanos tivessem sido corrompidos
que uma lei real {lex regia) e um irrevogável direito do povo foram criados £...] O
desejo do imperador, de acordo com Justiniano, tem o vigor e o efeito de lei, uma vez
que o povo romano, pela lei real, transferiu ao seu príncipe a extensão plena de seu
próprio poder e soberania. A vontade de um único homem, talvez de uma criança,
podia prevalecer sobre a sabedoria de séculos e as tendências de milhões de pessoas; e
os gregos degenerados orgulhavam-se em declarar que apenas nas mãos desse homem
o exercício arbitrário da legislação podia ser depositado com segurança3.
524
T ia g o — C a p . 2
13. O juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia
(ή γάρ κρίσις άνίλεως τω μή ποιήσαντι ελεος). Literalmente, ο juízo é sem
misericórdia para com aquele que não tem mostrado misericórdia. A n v i omite o
artigo: “o juízo”, aquele, especificamente, que está próximo. Tem mostrado, ou,
literalmente, mostrou (tempo aoristo). O autor coloca-se no ponto de vista do
juízo, e olha para trás.
16. Ide em paz (υπάγετε εν ειρήνη). Compare com ύπαγε ou πορευου εις είρηνήν,
vai em paz, Mc 5.34; Lc 7.50.
não apenas com referência a alguma coisa, mas de maneira absoluta e completa.
M orta (νεκρά). Mas os melhores textos trazem αργή, ociosa; como sobre o
dinheiro que não rende juros, ou a terra que está inativa.
22. Cooperou com as suas obras (συνήργει τοΐς έργοις). No grego, há um jogo
de palavras: trabalhou com seus trabalhos.
Raabe veio a ser esposa de Salmom, e ancestral de Boaz, o avô de Jessé. Alguns
supõem que Salmom era um dos espias cuja vida ela salvou. Seja como for, ela
veio a ser a mãe na linhagem de Davi e de Cristo, e assim está registrada na
genealogia de nosso Senhor, apresentada por Mateus, em que são mencionadas
apenas quatro mulheres. Há um significado peculiar nesta escolha que Tiago, o
irmão do Senhor, faz de Raabe, com Abraão, como um exemplo de fé.
Outro caminho. Diferente daquele por que entraram. Pela janela. Vide Js 2.15.
10. D a n te , Paradise , ix ., 1 1 2 -1 2 5 .
527
T ia g o - C a p . 3
26. Obras (τών ’έργων). Observe ο artigo: as obras, omitido pela arc , t b , n v i , ara ,
teb . Mas na bj e bp : as obras, pertencentes ou correspondentes à fé; suas obras.
C a pítu lo 3
3. Ora. Conforme todos os melhores textos, que trazem a leitura eí ôè, ora, se.
Assim também a tb e a r a . A kjv traz eis, seguindo a leitura antiga, lÔe.
Freio (χαλινούς). Somente aqui e em Ap 14.20. Pode ser traduzida por bocado,
mas freio é preferível, porque corresponde ao verbo refrear, v.2, que é composto
desse substantivo.
Tão grandes. Como a nau que transportou Paulo a Malta, o qual comportou
duzentas e setenta e seis pessoas (At 27.87).
Leme (πηδαλίου). Melhor, leme do navio. O leme do navio era um remo operado
por uma alavanca. Por essa razão, as duas palavras indicam a mesma coisa. A
palavra aparece apenas aqui e em At 27.40.
528
T ia g o - C a p . 3
Quão grande bosque um pequeno fogo incendeia (ήλίκον πϋρ ήλίκην ύλην
άνάπτβι). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A palavra υλη quer dizer
madeira ou um bosque, e, consequentemente, a matéria-prima de que algo é feito.
Posteriormente, a palavra é usada com o sentido filosófico de matéria - “a fun
dação do multiforme” -, em oposição ao princípio inteligente ou formativo, νους,
mente. A tradução da vulgata também corresponde ao sentido original: quam
magnam silvam. A kjv traduz o vocábulo ϋλη como matéria, assumindo um sentido
secundário do termo, dificilmente no sentido filosófico. Porém, qualquer sepa
ração do sentido mais antigo não era somente desnecessária, mas prejudicava
a vivacidade da imagem, a imagem familiar e natural de um bosque em chamas.
Em Homero:
6. Mundo de iniquidade (κόσμος τής αδικίας). Na teb, mundo do mal-, na bp, mundo
de injustiça. Κόσμος, primariamente, significa ordem, e é aplicada ao mundo ou
universo como um sistema ordenado. Um mundo de iniquidade é um organismo
que contém dentro de si mesmo toda a essência de maldade, que a partir dele
permeia o homem inteiro. A palavra mundo é usada com o mesmo sentido que na
parte final de Pv 17.6 (lxx ), a qual a arc não traz: O s fiéis têm o mundo inteiro
de coisas; mas os infiéis, nem um centavo”.
529
T iago —C ap . 3
Que não se pode refrear (άκατάσχετον). Literalmente, que não pode ser
contido. A leitura apropriada é, no entanto, ακατάστατοι», inquieto. Vide nota sobre
καθίσταται, está posta, v. 6. Na tb , corretamente, irrequieto.
9. Deus e Pai (τον θεόν καί πατέρα). A leitura apropriada é τον Κύριον, o Senhor,
e και, e, é simplesmente um conectivo. Portanto, traduza, como a tb : o Senhor e
Pai. Esta combinação de palavras para Deus é incomum. Vide 1.27.
Que. Conforme a kjv: que sãofeitos. Não quem, que designaria pessoalmente cer
tos homens; ao passo que Tiago os designa genericamente.
11. Porventura, deita alguma fonte etc. A partícula interrogativa μήτι, que
inicia a sentença, espera uma resposta negativa. “Fonte” tem o artigo, “a fonte”,
A Palestina era o único país onde um oriental podería estar familiarizado com a lin
guagem do salmista: “Tu, que nos vales fazes rebentar nascentes que correm entre
os montes”. Estas nascentes, também, embora de vida breve, são notáveis pela sua
copiosidade e beleza. Não apenas no Oriente, mas também no Ocidente, seria difícil
ver quaisquer fontes e mananciais tão claros, tão cheios mesmo na sua nascente, como
os que deságuam no Jordão e seus lagos, por todo o seu curso, de norte a sul13.
12. Assim, tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce. Na tb , mais
corretamente, f o n t e d e á g u a s a l g a d a d a r á g u a d o c e . Os melhores textos omitem
a s s i m , t a m p o u c o p o d e u m a f o n t e , e a conjunção e entre s a l g a d a e d o c e . Desta manei
ra, o texto lê: oike άλυκόν γλυκυ ποίησαt ύδωρ. Outra das referências locais de
Tiago, águas s a l g a d a s . O grande mar de Sal estava a apenas 25,6 quilômetros de
Jerusalém. Nas suas margens, alinhavam-se poços de sal, que se enchiam quando
as inundações da primavera faziam subir as águas do lago. Também havia um
pântano salgado na extremidade do vale através do qual o Jordão corre, do lago
de Tiberíades até o mar Morto, e a planície vizinha era coberta com correntezas
e nascentes salgadas. Fontes de água morna impregnadas com enxofre abundam
no vale vulcânico do Jordão. 'Αλυκόν, sal, aparece somente aqui no texto do Novo
Testamento.
533
T ia g o — C a p . 3
que servem em posições oficiais para os seus próprios interesses egoístas, e que,
com essa finalidade, promovem e s p í r i t o p a r t i d á r i o e f a c ç ã o . Assim, em Rm 2.8: o s
q u e s ã o c o n t e n c io s o s (ίξ έριθίίας), literalmente, de f a c ç ã o .
534
T ia g o — C a p . 4
C a pítu lo 4
535
Τ ιago - C ap . 4
s id o p e r s u a d id o a s e r.
Tu, porém, quem és? (σΰ ôè τις eí). De acordo com a ordem das palavras
gregas: m a s t u , q u e m é s ?
13. Eia, agora (aye νϋν). E i a é uma expressão obsoleta, embora conservada
na TB. E uma fórmula usada para chamar a atenção: o r a , v a m o s . Na ara consta,
A te n d e i a g o ra .
14. Que não sabeis (ο'ίτινες ούκ έπίστασθε). O pronome marca uma classe, c o m o
d a q u e le s q u e n ã o s a b e m .
É um vapor (άτμ'ις γάρ εστιν). Mas todos os melhores textos trazem έστε, s o is .
se d e sv a n e c e n d o .
15. Em lugar do que devíeis dizer (αντί του λέγειν ύμάς). O versículo 14 era
parentético, de modo que neste ponto a ideia é tomada do versículo 13: V ó s q u e
d i z e i s : I r e m o s etc. —e m l u g a r d o q u e d e v í e i s d i z e r .
537
T ia g o - C ap. 5
C a pítu lo 5
Terras (χώρας). O termo mais genérico para lugar, em vez de αγρός, a palavra
usual para um campo. Apesar disso, o uso é autorizado pelo grego clássico, e aparece
em Lc 12.16; Jo 4.35, os dois únicos casos, além desse, do Novo Testamento.
Indica uma extensão de terra maior que αγρός, como fica evidente em todas as
passagens neotestamentárias citadas. Em dois casos, refere-se às propriedades de
um homem rico; e em Jo 4.35, o Senhor chama a atenção dos discípulos para uma
área ampla ou uma série de campos.
Como num dia de matança (ώς ku ήμερα σφαγής). Todos os melhores textos
rejeitam ώς, como. O significado da passagem é alvo de discussões. Alguns
encontram a chave para ele nas palavras últimos dias (v. 3). A expressão dia de
matança é usada com o sentido de dia dejuízo, Jr 12.3; 25.34 (lxx ). De acordo com
esta passagem, o significado é o dia de juízo, na vinda de Cristo, supostamente
próxima. Outros explicam que estes homens são como animais que, no mesmo
dia de sua matança, se empanturram, em uma segurança inconsciente.
539
T ia g o - C ap. 5
não resistiu.
Pois. Uma vez que as coisas são assim. Uma referência ao estado de cosias
descrito na passagem anterior.
9. Não vos queixeis (μή oteváÇexe). Na bj, não murmureis. O verbo quer dizer
suspirar ou gemer.
11. Sofreram (ΰπομένονχας). De acordo com os textos mais recentes que trazem
ύπομείναντας, o particípio aoristo, que sofreram, em referência aos profetas dos
séculos passados. Com respeito a sofreram e paciência, vide nota sobre o versículo
7. Na bp, resistiram, na t e b , aguentam; e na bj, perseverampacientemente.
O fim que o Senhor lhe deu (xò τέλος κυρ ίου). N a bv, oplano do Senhorfinalmente
terminou em bem. A feliz conclusão a que Deus trouxe as provações de Jó.
12. Qualquer outro juramento. Vide fórmulas comuns para votos, Mt 5.35-36.
13. Está alguém entre vós aflito (κακοπαθόί). Vide nota sobre a palavra correlata,
κακοπάθει,α, sofrimento, v. 10. Somente aqui e em 2Tm 2.3,9; 4.5.
16. Confessai (έξομολογεισθε). A preposição έξ, para fora, indica uma confissão
plena, franca, aberta, e assim é em todas as suas ocorrências no texto do Novo
Testamento. Vide nota sobre M t 3.6.
A oração feita por um ju sto pode muito em seus efeitos (πολύ Ισχύει
δεησις δικαίου ενεργουμενη). Literalmente, muito pode (ισχύει, éforte) a oração
de um homemjusto em operação ou ação. A tradução da kjv , a oraçãofervorosa, eficaz
de um homemjusto pode muito, além de não ser respaldada pelo texto, é quase um
truísmo. Uma oração eficaz é uma oração que pode. A da arc é, ao mesmo tempo,
mais apropriada e mais natural.
17. Homem (άνθρωπος). A palavra genérica: humano como nós mesmos, sendo
esta ideia enfatizada pelo epíteto que acompanha a palavra, sujeito às mesmas
paixões. Vide a mesma expressão, At 14.15.
20. Cobrirá - pecados. Uma expressão hebraica familiar. Vide SI 32. l ; 85.2; Pv 10.12.
542
L i s t a d e P a l a v r a s G r e g a s E m p r e g a d a s s o m e n t e p o r T ia g o
543
1 P edro
C a pítu lo 1
3. Bendito (ευλογητός). Ευ, bem, λόγος, uma palavra. De boa reputação, louvado, hon
rado. No texto do Novo Testamento, usada somente a respeito de Deus. O verbo
correlato é aplicado a seres humanos, como Maria (Lc 1.28): “bendita (ευλογημένη) és
tu”. Compare com a palavra diferente para bem-aventurado, em Mt 5.3 etc. (μακάριοι),
e vide notas sobre essa passagem. O estilo desta expressão doxológica é paulino.
Compare com 2Co 1.3; Ef 1.3.
Nos gerou de novo (άναγεννήσας). O verbo é usado apenas por Pedro, e somente
aqui e no versículo 23. Está no tempo aoristo, e deve ser traduzido por, como na
arc, gerou-, porque a regeneração é considerada como um ato histórico definido
realizado de uma vez por todas, ou possivelmente porque Pedro considera o ato
histórico da ressurreição de Cristo como praticamente realizando a regeneração.
Este último sentimento seria paulino, uma vez que Paulo está acostumado a falar
dos cristãos como morrendo e ressuscitando com Cristo, Rm 7.4; 6.8-11.
Esperança (ελπίδα). Pedro também gosta desta palavra (vide l . 13,21; 3.5,15),
que, no grego clássico, tem o significado geral de expectativa, relativa ao mal,
como também ao bem. Assim, Platão fala de viver em má esperança1, i.e., na apre
ensão do mal; e Tucídides refere-se à esperança de malesfuturos, i.e., a expectativa
ou apreensão. No texto do Novo Testamento, a palavra sempre se refere a um
bem futuro.
547
1 P edro - Cap. 1
Para vós (εις). O uso desta preposição, em lugar do dativo mais simples, é
ilustrativo: com referência a vós; com “vós” como objeto direto.
Mediante (διά) a fé; na (èv) virtude; para (elç) a salvação. Mediante, indicando
o agente secundário; na {em), a causa eficiente; para, o resultado.
Por um pouco (ολίγον). Mais literal e corretamente, por pouco tempo. Compare
com 5.10. Em nenhuma outra passagem do Novo Testamento a palavra é usada
neste sentido.
Com (4v). Melhor, em. A preposição não é instrumental, mas indica a esfera ou
ambiente em que opera a tristeza.
Do que o ouro. Na kjv, do que do ouro; a arc acerta em omitir do e ler do que
o ouro. A comparação é entre a fé aprovada e o ouro, e não entre a fé e a prova do
ouro, como também sugere a ep: como o ouro.
Louvor, e honra, e glória [έπαινον και τιμήν κα'ι δόξανζ], Nos melhores tex
tos, a ordem é louvor, glória, honra, como aparece na tb. Glória e honra aparecem
juntas com muita frequência no texto do Novo Testamento, como em Rm 2.7,10;
lTm 1.11. Com louvor, somente aqui. Compare com Espírito da glória, 4.14.
11. Indagando. Esta palavra não aparece em nenhuma outra passagem do Novo
Testamento. Compare com a lxx, 1 Sm 23.23, sobre a busca de Saul por Davi.
Aqui, a palavra indica alguém que se curva e estica o pescoço para examinar alguma
vista maravilhosa. A palavra aparece em Tg 1.25, descrevendo aquele que atenta
para a lei perfeita da liberdade como para um espelho; e em Lc 24.12; Jo 20.5,11,
sobre Pedro, João e Maria c u r v a n d o - s e e olhando para o interior do sepulcro vazio.
551
1 P edro - C ap. 1
Que se vos ofereceu (την φερομενην). Literalmente, que está sendo oferecida.
O objeto da esperança já está a caminho.
15. Como é santo aquele que vos chamou (κατά τον καλέσαντα υμάς άγιον).
Como, na arc , significa de acordo com, ou conforme o exemplo de-, e santo deve ser
interpretada como um nome pessoal; a expressão que vos chamou é acrescentada
como definição, e para fortalecer a exortação. Portanto, traduza: conforme o
exemplo do Santo que vos chamou. Uma construção similar aparece em 2Pe 2.1: o
Senhor que os resgatou.
552
1 P edro - C ap . 1
17. Se invocais por Pai - julga. Mais corretamente: Se o invocais como Pai. A
questão é que Deus deve ser invocado, não somente como Pai, mas como Juiz.
uma expressão neutra, que não envolve nenhuma noção auxiliar de parcialidade, e é
encontrada muito mais frequentemente em um bom sentido do que em um mau. Con
tudo, quando se torna uma expressão grega independente, adquire o mau sentido, que
se deve ao significado secundário de ιτρόσωττον, uma máscara, de modo que προσώπου
λαμβάνω ιυ significa considerar as circunstâncias externas de um homem, sua posição,
riqueza etc., em oposição ao seu caráter intrínseco, verdadeiro.
2. Latimer, Sermons.
3. Shakespeare, 2 Hen. IV, v., 5.
553
1 P edro - Cap. 1
18. Como prata ou ouro (άργυρίω ή χρυσίω). Literalmente, com moeda de prata
ou ouro; com as palavras significando, respectivamente, uma pequena moeda de
prata ou de ouro.
Que, por tradição, recebestes dos vossos pais (πατροπαραδότου). Uma tradução
aprimorada pela n v i , transmitida por seus antepassados. A palavra é peculiar a Pedro.
19. Mas com o precioso sangue de Cristo. A palavra Χριστού, de Cristo, está
no fim da sentença, e é enfática. Traduza por com o sangue precioso como de um
cordeiro etc., o sangue de Cristo.
554
l P edro - C ap . l
555
1 P edro - C ap . 2
e alma, e para ( c ) a Palavra, que, sendo Deus, não somente se revela, mas se doa a nós,
e, por meio disso, é formada em nós\
24. D o homem. Seguindo a leitura ανθρώπου, na lxx , Is 40.6, que Pedro cita
aqui. Mas os melhores textos trazem αυτής, d e la , ou, como na tb , bj e te b , s u a
g ló r ia .
a força de έκ.
25. Palavra do Senhor (ρήμα κυρίου). Compare com o versículo 23, e observe
que ρήμα é usada com o significado de p a l a v r a , em vez de λόγος; e Κύριος, S e n h o r ,
em vez de Θεός, D e u s , que é a palavra usada no texto hebraico, e em muitas cópias
da lxx . A substituição indica que Pedro identificava Jesus com Deus. Nenhuma
razão muito satisfatória pode ser apresentada para a mudança de λόγος para ρήμα.
Pode ser devido à tradução grega, que Pedro segue.
C a p ít u l o 2
Compare com Fp 2 . 26 .
O leite racional, não falsificado (tò λογικόν άδολον γάλα). A teb verteu
λογικόν por d a p a l a v r a - , porém, indevidamente. A expressão descreve a qualidade
do l e i t e como e s p i r i t u a l ou r a c i o n a l , em oposição a l i t e r a l e c e r i m o n i a l . Na única
outra passagem em que aparece (Rm 12.1), a palavra é traduzida como r a c i o n a l .
A bp e nvi leem: e s p i r i t u a l .
556
] P edro —C ap . 2
Para que, por ele, vades crescendo. Os melhores textos acrescentam: para
a salvação.
A pedra viva (λίθον ζώντα). As palavras estão em aposição com ele (Cristo).
Compare com o uso de Pedro da mesma palavra, pedra, em At 4.11, e Mt 21.42.
Não é a mesma palavra que Cristo usa como um nome pessoal para Pedro
(Πέτρος), de modo que não é necessário deduzir que Pedro estava pensando no
seu próprio nome novo.
Com Deus (παρά 9ecô). Παρά tem um significado forte, sugerindo o poder
absoluto de escolha decisiva que está coot Deus; isto é, com Deus sendo o juiz; e
compare com Mt 19.26; Rm 2.11.
9. Geração (γένος). Melhor, como na ara e teb, r a ç a : um grupo com uma vida e
origem em comum.
Nação (έθνος). Povo (λαός). A distinção entre essas três palavras não pode ser
expressa rigorosamente. R a ç a enfatiza a ideia de o r i g e m ; n a ç ã o , de c o m u n i d a d e .
Λαός, p o v o , que aparece muito frequentemente na l x x , é usada principalmente
a respeito dos israelitas, o povo escolhido. O mesmo uso também é frequente
no texto do Novo Testamento, mas empregado em um sentido mais genérico,
como em Lc 2.10. Parece que esta ideia, no entanto, em sua aplicação metafórica
e cristã, o I s r a e l e l e i t o de Deus, orientou a escolha da palavra por Pedro, uma vez
que ele acrescenta: o p o v o a d q u i r i d o .
558
1 P edro - C ap . 2
10. Povo (λαός). nota sobre o versículo 9, e observe a escolha do termo aqui.
V id e
11. Amados (αγαπητοί). Uma palavra predileta de Pedro, a qual aparece oito
vezes em suas epístolas. V i d e a expressão o s n o s s o s a m a d o s B a r n a b é e P a u l o , At
15.25, na carta enviada pelo conselho de Jerusalém aos cristãos gentios, uma
inclusão que, sem dúvida, veio de Pedro. Compare com o n o s s o a m a d o i r m ã o P a u l o ,
2Pe 3.15.
Dos que fazem o bem (αγαθοποιών). Somente aqui no texto do Novo Testa
mento.
Dos homens loucos (των αφρόνων ανθρώπων). Do5 homens loucos; com o
artigo referindo-se aos que acabaram de ser mencionados, que falam contra eles
como malfeitores.
560
1 P edro - C ap. 2
direito legal, mas a consideração que um tem pelo outro, é a regra”. Compare
com Fp 4.5, onde, em lugar de m o d e r a ç ã o (το èiueiKèç), a arc traz e q u i d a d e .
De acordo com Aristóteles, a palavra está em contraste com ακριβοδίκαιος,
a l g u é m q u e ê j u s t o c o m e x a t i d ã o , como a l g u é m q u e s e s a t i s f a z c o m m e n o s d o q u e
lh e é d e v id o .
2.15 { c o r r o m p i d o ) .
cientemente, não por um senso consciente de dever, mas por uma consciência
interior do seu relacionamento com Deus, como um filho, e com Cristo, como
um co-herdeiro, o que envolve o seu sofrimento com Ele, tanto quanto a sua
glorificação com Ele.
22. Achou (εύρέθη). Mais forte do que o simples termo e s t a v a , e indicando uma
falta de culpa que havia passado pelo teste do e s c r u t í n i o . Compare com Mt 26.60;
Jo 18.38; 19.4,6. A ausência de pecado em Cristo também suportou o teste da
intimidade de Pedro.
23. Injuriava Qem resposta] (άντελοιδόρει). Assim na kjv, que traduz o verbo
de forma completa; a arc não traz o acréscimo e m r e s p o s t a . Somente aqui no texto
do Novo Testamento.
Entregava-se (παρεδίδου). Mas isto confere uma força reflexiva ao verbo que
não tem paralelo. Os comentaristas dividem-se, alguns deles acrescentando s u a
c a u s a , com o a rv, à margem; outros, s e u j u í z a , e outros, s e u s o f e n s o r e s . Melhor, o m o
25. Porque éreis como ovelhas desgarradas (ήτε γάρ ώς πρόβατα πλανώμενοι).
Isto é, como se entende comumente, éreis como ovelhas que se desgarram. Mas
é r e i s deveria ser construído com o particípio d e s g a r r a d a s , com o verbo e o particí-
C a pítulo 3
a teu irmão”.
O cabelo era tingido, e preso com grampos caros e com redes de fios dourados.
As mulheres usavam cabelos postiços e perucas loiras.
Precioso (πολυτελές). A palavra usada para descrever vestes caras, lTm 2.9.
A mulher (χω γυναικείω). Contudo, não um substantivo, como pode parecer pela
tradução comum, mas um adjetivo, concordando com OKeúet, v a s o , como também com
άσθβ^στέρω, m a i s f r o m . Ambas são atributos de v a s a , o v a s o f e m i n i n o c o m o m a i s f r a c o .
Vaso (oKeúei). Compare com lTs 4.4. A ideia original de v a s o , que é formada
a partir da palavra latina v a s e l l u m , o diminutivo de v a s , um v a s o , é a do receptá
culo que contém ou cobre algo; o recipiente ou a tampa protetora. Portanto, está
conectada, etimologicamente, com v e s t e , v e s t i m e n t a , e v e s t i r . E usada no texto do
Novo Testamento: (l) com o sentido de um c á lic e ou p r a t o (Lc 8.16; Jo 19.29; 2Tm
2.20; Ap 2.27; 18.12). (2) Sobre o homem, como contendo a força divina, ou como
um sujeito da misericórdia ou da ira divina; e, consequentemente, tornando-se
um instrumento divino. Deste modo, Paulo é um v a s o e s c o lh id o para levar o nome
â 1
de Deus (At 9.15). Vasos d a i r a (Rm 9.22); d e m i s e r i c ó r d i a (Rm 9.23). Também so-
bre a mulher, como um instrumento de Deus, juntamente com o homem, para o
seu serviço na família e na sociedade. (3) Coletivamente, no plural, sobre todos os
implementos de qualquer administração particular, como uma casa ou um barco.
Mt 12.29, b e n s ; At 27.17, o p a r a r ou m o v i m e n t a r de um barco.
564
1 P ed ro - C ap. 3
9. Tomando mal e tc . V id e R m 1 2 .1 7 .
11. Aparte-se (εκκλινάτω). A palavra grega usada aqui aparece apenas em duas
outras passagens (Rm 3.12; 16.17). Ela é composta de εκ, f o r a d e , e κ λ ί ν ω , f a z e r
c u r v a r ou i n c l i n a r , de modo que a imagem transmitida pela palavra é de c u r v a r - s e d e
15. Santificai a Cristo, como Senhor. A acf segue o t r , lendo τον Θεόν, D e u s ,
em vez de τον Χρι.στόν, C r i s t o , que é a leitura dos melhores textos. O artigo
ligado a C r i s t o mostra que κύριον, S e n h o r , deve ser interpretado de forma predi-
cativa. Portanto, traduza como a arc , s a n t i f i c a i a C r i s t o (o Cristo) c o m o S e n h o r .
565
1 P edro - C ap . 3
A c o n sc iê n c ia n à o so m e n te s e o fe r e c e para n o s m o s tr a r o c a m in h o e m q u e d e v e m o s
andar, m as, d e ig u a l m an eira, tr a z c o n s ig o a su a p róp ria a u to rid a d e, q u e é o n o s s o
g u ia n a tu ra l, o g u ia q u e n o s é d e s ig n a d o p e lo A u to r da n o s s a n atu reza; lo g o , e la
p e r te n c e à n o ss a c o n d iç ã o d e ser; é n o s s o d e v e r a n d ar n e s s e c a m in h o e se g u ir e ss a
o rien tação.
E novamente:
E s s e p r in c íp io p e lo q u a l e x a m in a m o s e a p r o v a m o s o u r e p r o v a m o s n o s s o p r ó p r io
c o r a ç ã o , n o s s o te m p e r a m e n to , e n o s s o s a to s, n ã o s o m e n te d e v e s e r c o n s id e r a d o
p e lo q u e é, c o m o te n d o a lg u m a in flu ê n c ia , o q u e p o d e se r d it o d e ca d a p a ix ã o ,
d o s m a is in fe r io r e s a p e tite s, m a s c o m o s e n d o su p e r io r , um a v e z q u e a su a p róp ria
n a tu r e z a d e c la r a su p e r io r id a d e s o b r e to d a s a s o u tr a s; d e m o d o q u e n ã o é p o s s ív e l
te r u m a n o ç ã o d e s ta fa cu ld a d e, a c o n s c iê n c ia , se m in c lu ir o juízo, a orientação,
a superintendência. I s to é u m a p a r te c o n s t itu in te da id eia , is t o é, da fa c u ld a d e
p r o p r ia m e n te d ita , e p r e sid ir e g o v e r n a r , p e la p ró p ria c o n s titu iç ã o d o h o m e m ,
566
1 P edro - C ap. 3
pertence a ela. Se tivesse a força como tem o direito, se tivesse poder como tem
autoridade manifesta, governaria o mundo0.
possuir razão e distinguir entre o verdadeiro e o falso, e ainda assim ser incapaz
de distinguir a virtude do vício. Portanto, nós podemos afirmar que a definição de
distinções morais não é compreendida pelo simples exercício da razão. A consciência
é, em resumo, uma faculdade mental diferente do mero entendimento. Nós devemos
considerá-la simples e insolúvel até que consigamos decompô-la em seus elementos.
Na ausência de tal decomposição, afirmamos que não existem elementos mais simples
na mente humana que nos forneçam as idéias do que é moralmente bom e mau, de
obrigação moral e culpa, de mérito e demérito. Componha e decomponha todas as
outras idéias como quiser, associe-as da maneira como desejar, mas elas nunca nos
darão as idéias mencionadas, tão peculiares e tão cheias de significado, sem uma
faculdade implantada na mente com este exato propósito7.
567
1 P edro - C ap . 3
17. Se a vontade de Deus assim o quer (el θέλοι το θέλημα του θεοΰ).
Traduzindo mais literalmente, a arc preserva o jogo de palavras com vontade
e querer.
18. O justo pelos injustos. Mas a expressão grega sem o artigo é mais vivida:
justo por injustos.
Pelo Espírito. Também sem o artigo, em espírita, não como na , pelo Espírito,
a k c
indicando o Espírito Santo, mas referindo-se à sua vida espiritual e não corpórea.
A ecp traduz: ao espírito, e a ara : no espírito. As palavras conectam-se com o grito
de morte na cruz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. Huther observa:
A carne é aquele lado da existência do homem segundo o qual ele pertence à terra,
sendo, por essa razão, uma criatura da terra, e consequentemente perecível, como tudo
o que é da terra. O espírito, em contrapartida, é aquele lado da sua existência segundo
o qual ele pertence à esfera celestial de existência, e, por essa razão, não é meramente
uma criatura da terra, e está destinado a uma existência imortal.
Assim, devemos ter cuidado e não interpretar espírito aqui como o Espírito
de Deus, distinto da carne de Cristo, mas como a natureza espiritual de Cristo.
Segundo Cook, “a mais elevada natureza espiritual que pertencia à integridade
de sua humanidade”.
O que é pedido pode ser concebido da seguinte maneira: “Como me livrarei de uma má
consciência? Tu, Deus santíssimo, poderás me aceitar outra vez, a mim, um pecador?
Senhor Jesus, tu me concederás a comunhão de tua morte e vida? Tu, ó Espírito Santo,
me assegurarás da graça e da adoção, e habitarás em meu coração?” A estas perguntas,
o Jeová triuno responde no batismo: “Sim!” Aqui é lançada a sólida fundação para uma
boa consciência. A consciência não somente é purificada de sua culpa, mas recebe novo
poder vital por meio da ressurreição de Jesus Cristo.
22. Tendo subido ao céu. Talvez com a cena da ascensão na mente de Pedro.
Capítulo 4
No tempo que vos resta (έπίλοιπον). Somente aqui no texto do Novo Testa
mento.
Vontade (βούλημα, a melhor leitura para θέλημα). Desejo, inclinação. Vide nota
sobre Mt 1.19.
571
1 P ed ro - C a p. 4
A tira m , e m re trib u iç ã o , s u a p r a ta e se u b ro n z e ,
E n c h e n d o as ru a s co m p r e s e n te s , e o fu sc a m
A f o r m a c e le s tia l; e t o d o s o s q u e c o m p õ e m o c o r t e j o ,
C o m d o c e s p e rfu m e s d e ro sa s , a r ra n c a d a s e m p ro fu sã o ,
U m g r u p o s e l e t o d i a n t e d e le s , c h a m a d o s p e lo s g r e g o s
C u r e t e s , n a s c i d o s d e p a is f r íg io s ,
D iv e r te m -s e c o m f a n tá s tic a s c o r re n te s , n a u n ifo rm e d a n ç a ,
C o n to rc e n d o -s e fu rio s a m e n te , e n fe itiç a d o s p o r s a n g u e h u m a n o ,
E a g i t a n d o , e n l o u q u e c i d o s , o s s e u s t r e m e n d o s p e n a c h o s ln.
4. Não correrdes com eles. “Em um bando”, conforme Bengel; como um grupo
de bêbados. Vide nota anteriormente. Compare com a descrição de Ovídio dos
ritos de Baco:
E is q u e v e m B a co ! e c o m o s g r i t o s f e s tiv o s
E c o a m o s ca m p o s; e m is tu r a d o s e m u m a co n fu são ,
H o m e n s , m a tro n a s , d o n z e la s , m e n d ig o s e n o b r e s o rg u lh o s o s
572
1 P ed ro - C ap. 4
Vigiai (νήψατε). Vide nota sobre 1.13. A arc acompanha a vulgata, vigilate
[vigiai). A tradução da tb é melhor: sóbrios. A bj traz: sobriedade.
10.0 dom (χάρισμα). Originalmente, algo dado livremente·, um dom de graça (χάρις).
Usada no texto do Novo Testamento: (l) sobre uma bênção de Deus graciosamente
concedida, como sobre os pecadores (Rm 5.15-16; 11.29); (2) sobre um dom divino e
gracioso, um dom extraordinário do Espírito Santo, residindo e trabalhando de um
m odo especial no indivíduo ( lTm 4.14; 2Tm 1.6; Rm 12.6,8). Também aqui.
12. Não estranheis (μή ξενίζεσθε), isto é, divergente de vós e de vossa condição
como cristãos. Compare com 5.4.
Que vem sobre vós, para vos tentar (ύμΐν γινόμενη). Na kjv, que está para vos
tentar, o que faz da tentação algo do futuro e constitui uma tradução equivocada
573
1 P edro - C ap. 4
O Espírito da glória de Deus (το τής δόξης και το του θεού πνεύμα).
Literalmente, ο E s p í r i t o d a g l ó r i a e d e D e u s . A repetição do artigo identifica o
Espírito de Deus com o Espírito de glória: o Espírito de glória, e , p o r t a n t o , o Espírito
de Deus, que não é outro senão o Espírito do próprio Deus. Consequentemente,
na TB, melhor, o E s p í r i t o d a g l ó r i a e d e D e u s - , ou ainda, como na n v i , teb e bj, o
E s p ír it o de g ló ria , o E s p í r it o de D e u s.
de sua alçada. Compare com Lc 12.13-14; lTs 4.11; 2Ts 3.1 1. A palavra pode
referir-se à interferência intrusa dos cristãos nos assuntos de seus vizinhos
gentios, por excesso de zelo, para colocá-los em conformidade com o padrão
cristão.
16. Cristão. Ocorre somente três vezes no texto do Novo Testamento, e jamais
como um nome usado pelos próprios cristãos, mas como um apelido ou uma
palavra de reprovação. V i d e nota sobre At 11.26. Portanto, a ideia de Pedro é: se
alguém sofrer devido à ofensa daqueles que, desdenhosamente, o chamam c r i s t ã o .
C a p ít u l o 5
t r i b u n a l (Mt 26.65; Mc 14.63). (4) Alguém que justifica o seu testemunho pelo
576
1 P edro - C ap. 5
os exércitos de Deus em ação. Portanto, não é de admirar que ela “vá adiante da
destruição”.
577
1 P edro - C ap. 5
a soberba humana, é humilhante lançar tudo sobre outra pessoa e ser cuidado
por ela. V i d e T g 4.6-7.
Leão. Agostinho afirma: “Cristo é chamado ‘o Leão’ (Ap 5 . 5 ) por causa de sua
coragem; o diabo, por causa de sua ferocidade. O primeiro vem para conquistar, e
o segundo, para ferir”. Sete palavras hebraicas são usadas para esse animal: seis
delas descrevem os seus movimentos, e quatro, o seu rugido. O leão é mencionado
na Bíblia aproximadamente cento e trinta vezes. Em Jó 4 . 1 0 - 1 1, cinco palavras
diferentes são usadas para ele. Em Jz 1 4 .5 ; SI 2 1 . 1 3 ; 1 0 3 .2 1 ( l x x ), a mesma
palavra usada aqui é usada para o rugido do leão, como uma tradução da palavra
hebraica para o t r o v ã o , em Jó 3 7 .4 .
s ó l i d a ; mas, ao mesmo tempo, uma erva flexível, com suas raízes persistentes,
579
1 P edro - C a p. 5
Fiel irmão. I r m ã o tem o artigo definido, o irmão fiel, o qual o designa como
alguém bastante conhecido por sua fidelidade.
Como cuido (ώς λογίζομαι). Fraco demais, uma vez que o verbo indica u m a p e r s u a s ã o
e s ta b e le c id a ou c e rte z a . V id e Rm 3 .2 8 , “ c o n c lu ím o s ou a v a lia m o s , como resultado do nosso
13. Igreja. A palavra não está no texto grego, mas é indicada com o artigo
definido feminino ή. Há, no entanto, uma divergência de opinião quanto ao
significado desse artigo. Alguns supõem que seja uma referência à esposa do
próprio Pedro; outros, a alguma mulher cristã proeminente na igreja. Compare
com 2Jo 1. Porém, a maioria dos intérpretes considera uma referência à igreja.
12. Cook, S p e a k e r ’s C o m m e n ta ry .
581
l P e d r o - C ap. 5
582
2 P edro
C a pítulo l
Conosco. Muito provavelmente, os cristãos judeus, dos quais Pedro era um.
O professor Salmond observa: “Há muitas evidências de como era estranho ao
pensamento cristão primitivo considerar os cristãos gentios como ocupando
em graça a mesma plataforma com os cristãos congregados da antiga igreja de
Deus”. V i d e At 1 1 .1 7 ; 1 5 .9 - 1 1 .
2 P edro - Cap. 1
Salvador. De modo geral, aplicada a Cristo nesta epístola, mas nunca na pri
meira.
Piedade (eóoé|kuxv). Termo usado apenas por Pedro (At 3.12), e nas epísto
las pastorais. Ele se origina de eu, b e m , e σέβομαι, a d o r a r , de modo que a ideia
da raiz é a d o r a r c o r r e t a m e n t e o r i e n t a d o . Adoração, contudo, deve ser entendida
em seu significado etimológico, ou a reverência prestada ao que é digno, seja a
Deus, seja ao homem. Daí a tradução da arc de Mt 6.2: “para serem g l o r i f i c a d o s
pelos homens”, e “ h o n r a teu pai e tua mãe”, em Mt 19.19. No grego clássico, o
termo não é limitado à religião, mas também significa p i e d a d e na satisfação das
relações humanas, como a palavra do latim, p i e t a s . Mesmo no grego clássico,
é um vocábulo constante para p i e d a d e na concepção religiosa, mostrar-se na
reverência correta; e é oposta a δυσσέβεια, i m p i e d a d e , e άυοσιότης, p r o f a n a ç ã o .
Nágelsbach, citado por Cremer:
Esta definição pode ser quase que literalmente transferida à palavra cristã.
Ela abrange a confissão do único Deus vivo e verdadeiro, e a vida que correspon
de a este conhecimento. V i d e n ota sobre o versículo 2.
584
2 P edro - Cap. l
Sua (ιδία). Em Pedro, de modo geral e não necessariamente com uma força
enfática, uma vez que às vezes o adjetivo é usado meramente como um pronome
possessivo, e principalmente desta maneira, em Pedro (lPe 3.1,5; 2Pe 2.16,22).
Virtude. V i d e nota sobre lPe 2.9. Vocábulo usado apenas por Pedro, com a
exceção de Fp 4.8. O sentido clássico e original do termo não tinha nenhuma
importância moral especial, mas indicava excelência de qualquer tipo —valen
tia, posição, nobreza; além disso, excelência de terra, animais, coisas, classes de
pessoas. Paulo parece evitar esse termo, usando-o uma única vez. Sobre g l ó r i a e
v i r t u d e , Bengel diz: “A primeira indica os seus atributos n a t u r a i s , a outra, os seus
atributos m o r a i s ” .
4. Pelas quais (δι’ ών). Literalmente, a sua glória e virtude. Observe as três
ocorrências de δ ι ά , p o r , nos versículos 3-4.
Nos tem d a d o (δεδώρηται). Voz média, não passiva, como na arc. Portanto,
na bj, corretamente, d e u . V i d e nota sobre o versículo 3.
585
2 P edro - Cap. l
5. E vós tam b ém (αυτό τοϋτο). Entendo que seria melhor traduzir a expressão
como p o r e s te m e s m o m o t i v o . Mais literalmente como a teb: p o r e s t a m e s m a ra z ã o - ,
ou a TB: p o r i s s o m e s m o . Literalmente, e s te m e s m o m o t i v o . Da mesma maneira como
τ ί , ο q u e ? passou a significar p o r q u ê ? Também o demonstrativo fortalecido adqui
re o significado de p o r i s t o , p o r e s te m e s m o m o t i v o .
a p lic a n d o d a v o s s a p a r t e .
Virtude. V i d e nota sobre o versículo 3 e lPe 2.9. Não com o significado de ex
celência moral, mas da e n e r g i a que os cristãos devem exibir, quando Deus exerce
a sua energia sobre eles. Da mesma maneira como Deus nos chama pela sua
própria v i r t u d e (v. 3), também os cristãos devem exibir virtude ou e n e r g i a no
exercício da sua fé, traduzindo-a em ações vigorosas.
que um cristão não apenas suporta, mas contende. Falando a respeito da paciência
de Cristo, Barrow observa:
Ele se comportava assim não por uma insensibilidade estúpida ou por uma resolução
obstinada, pois tinha uma percepção muito vigorosa de todas essas aflições, e uma
aversão forte (e natural) a se submeter a elas £...]] mas demonstrava uma perfeita sub
missão à vontade divina, e um controle completo sobre as suas paixões, uma caridade
excessiva para com a humanidade. Foi daí que brotou este comportamento paciente
e manso.
Essa virtude que nos qualifica a suportar todas as condições e todos os eventos, pela
disposição de Deus para conosco, com tais apreensões e persuasões mentais, tais dis
posições e afetos do coração, tal comportamento externo e tais práticas de vida, como
Deus exige e a razão aconselha1.
587
2 P edro - Cap. 1
9. Pois (γάρ). Penso que não se deve traduzir este termo por m a s, como faz a ep,
e, sim, como está na arc, p o i s .
no texto do Novo Testamento. Compare com uma expressão similar, 2Tm 1.5,
ύπόμνησιν λαβών, t r a z e n d o à m e m ó r i a , na arc, e l e m b r a n d o - m e , na tb . Alguns ex
positores encontram na expressão uma sugestão de uma a c e it a ç ã o v o l u n t á r i a de
uma condição de falta de esclarecimento. Contudo, isto é duvidoso. Lumby opina
que a expressão assinala a idade avançada do autor, uma vez que ele acrescenta
à deficiência de visão a falha de m e m ó r i a , a faculdade que nos idosos permanece
mais do que a visão.
588
2 P edro - C ap. 1
12. Não deixarei. A arc acompanha a leitura ούκ αμελήσω, traduzindo a ex
pressão corretamente. A melhor leitura, contudo, é μελλήσω, pretendo, ou, como
é frequente no grego clássico, com uma concepção de certeza - eu me certificarei.
A fórmula aparece apenas em outra perícope, em Mt 24.6, onde é traduzida pelo
futuro simples, ouvireis, com um sentido implícito, como certam ente ouvireis.
guração, “Façamos três tabernáculos” (Mt 17.4). O termo, como toda a frase, traz
a ideia de breve duração —uma tenda frágil, erigida para uma noite. Compare com
o versículo 14.
14. Brevemente hei de deixar este meu tabem áculo (ταχινή k a x iv ή άπόθβης
του σκηνώματος μου). Literalmente, rápida é a partida do meu tabemáculo. Na rv,
a partida do meu tabemáculo vem velozmente. Possivelmente uma alusão à sua
idade avançada. Partir é uma metáfora, derivada de tirar uma veste. Assim, Pau
lo, 2Co 5.3-4, estando vestidos, despidos, revestidos. O vocábulo também apare
ce em lPe 3.21, sendo usado apenas por Pedro. Brevemente, indicando a rápida
aproximação da morte, embora outros o entendam como em referência à morte
rápida, violenta que Cristo profetizou que teria. “Como também nosso Senhor
Jesus Cristo já mo tem revelado”. Vide 3o 21.18-19. Compare, também, Jo 13.36,
e observe o termo seguir nas duas passagens. Segundo Lumby: “Pedro agora
aprendera a plena força das palavras de Cristo, e qual seria o resultado de seguir
Jesus.”
15. M orte (έξοδον). Êxodo é uma transcrição literal do vocábulo, é o termo usa
do por Lucas em sua narrativa da Transfiguração. “Falavam da sua morte”. Ele
ocorre apenas em outra perícope, em Hb 11.22, na concepção literal, a partida ou
o êxodo dos filhos de Israel. Deão Alford afirma:
Tenhais (exeiv ύμάς). Literalmente, que possais ter. Um emprego similar de ter,
com o sentido de poder, aparece em Mc 14.8. O mesmo significado também é pre
nunciado em Mt 18.25, não tendo com que pagar, e Jo 8.6, tivessem de que acusar.
Fábulas (μύθοις). Este vocábulo, que aparece apenas aqui e nas epístolas pasto
rais, é transcrito no vocábulo mito. Aqui a referência pode ser aos mitos dos judeus,
embelezamentos na história do Antigo Testamento, feitos pelos rabinos; ou aos
mitos pagãos, sobre a descida dos deuses à Terra, o que podería ser sugerido pela
sua recordação da Transfiguração; ou às especulações gnósticas sobre aeon s ou
emanações, que subiram do abismo eterno, a fonte de toda a existência espiritual,
e foram chamadas Pensamento, S a b e d o r ia , Poder, Verdade etc.
Nós mesmos vimos (έπόπται). V ide nota sobre observar, em lPe 2.12. Somente
aqui no texto do Novo Testamento. Compare com o vocábulo diferente em Lc
1 .2 , α ύ τόπτα ι, os que presenciaram .
18. Voz (φωνήν). Observe o mesmo vocábulo no relato do Pentecostes (At 2.6),
onde a ntlh obscurece o significado, com a tradução, q u a n d o o u v ir a m a q u e le b a r u
lh o, quando a tradução deveria ser q u a n d o se o u v iu e s ta v o z .
591
2 P edro - C ap . 1
Dirigida do céu (έαεχθεΐσαν). Literalmente, tendo vin do. V ide nota sobre o
versículo 17. Na ep, E s ta v o z veio do céu, e nós p ró p rio s (ημείς, nós, enfático) a
ouvim os.
19. E temos, mui firme, a palavra dos profetas (καί εχομεν βεβαιότεροι τον
προφητικόν λόγον). Penso que a tradução da arc não é a melhor, uma vez que m u i
fir m e é usada como predicado, e p a la v ra tem o artigo definido. Podemos explicar :
(l) tem os a p a la v ra dos profetas torn ada m u i firm e , isto é, estamos mais assegurados
do que antes quanto à palavra dos profetas, por causa desta voz; ou (2) temos a
palavra dos profetas como uma confirmação mais firme da verdade de Deus do
que nós mesmos vimos, ou seja, o testemunho do Antigo Testamento é mais con
vincente até mesmo do que a voz ouvida na Transfiguração. Esta última parece
estar mais de acordo com as palavras que vêm a seguir. Lumby afirma:
Para apreciar isto, d ev em o s n o s colocar, d e certa m an eira, n o lu gar d a q u eles aos quais
escrev eu o a p ó sto lo Pedro. O N o v o T e sta m e n to , c o m o o te m o s agora, n ão e x istia
naqu ela época. Por isso , p o d em o s im ed ia ta m en te c o m p reen d er co m o a lo n g a fila de
escritu ra s p roféticas, cum pridas, d e ta n ta s m aneiras, na vid a d e Jesus, seria um a form a
m ais p od erosa de evid ên cia do q u e a narrativa d e um ú n ico e v e n to na vid a d e Pedro.
592
2 P edro - C ap . 2
Particular (ιδίας). Vide nota sobre o versículo 3 . P ró p ria . Na teb e nvi, inter
pretação pessoal-, na bp, interpretação p riv a d a .
21. Foi produzida (ήνεχθη). Literalmente, f o i g e ra d a ou com prada. Vide nota so
bre os versículos 17-18.
C a pítu lo 2
593
2 P edro - C ap . 2
Haverá. Observe que Pedro fala sobre eles no fu tu ro , e Judas (v. 4) no presente.
Repentina (ταχινήν). Vocábulo usado apenas por Pedro. Vide nota sobre 1.14.
594
2 P edro - C ap . 2
Dormita (νυστάζει). Vide nota sobre Mt 25.5, a única outra perícope onde esse
termo ocorre.
Quando Ulisses encontra sua mãe nas sombras, ela diz a ele:
E Dante:
5. Guardou (έφύλαξεν). Na t b , preservou. Vide nota sobre lPe 1.4, e compare com
“O Senhor afechou porford’ (Gn 7.16).
Se algum arauto ou embaixador levar uma falsa mensagem a alguma outra cidade, ou
trouxer uma mensagem falsa da cidade à qual é enviado, ou se ficar provado que ele
trouxe, da parte de amigos ou inimigos, em sua qualidade de arauto ou embaixador,
uma mensagem que eles nunca proferiram —que seja acusado de ter cometido uma
transgressão, contrária à lei, no ofício sagrado de Hermes e Zeus, e que seja fixada
uma punição que ele deverá sofrer ou pagar, se condenado”.
Ao trazer (έπάξας). Pode-se dizer que o verbo é usado apenas por Pedro. Além
desta passagem, e no versículo 1, o vocábulo aparece apenas em At 5.28, onde
provavelmente Lucas recebera a narrativa de Pedro, como o principal ator: “que
reis lançar sobre nós (4παγαγεΐν) o sangue desse homem”.
597
2 P ed r o - C ap. 2
Da vida dissoluta dos homens abomináveis (υπό τής των άθεσμων έν άσελ
γεια άναστροφής). Literalmente, com ο comportamento dos corruptos libertinos. Na
n v i , procedimento libertino dos que não tinham os princípios morais. Vida ou compor
tamento (άναστροφής). Vide nota sobre lPe 1.15. Homens abomináveis (άθεσμων), li
teralmente, corruptos, fora da lei. Somente aqui e em 3.17. Abomináveis (άσελγεία),
vide nota sobre Mc 7.22.
Pelo que via (βλεμματι). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Nor
malmente, com respeito ao olhar de um homem de fora, pelo qual vem a aflição à
alma. “Afligia a sua alma justa”.
Piedosos (εύσεβεΐς). Termo usado apenas por Pedro. Compare com At 10.2,7.
A leitura de At 22.12 é ευλαβής, piedosos. Vide nota sobre 1.3.
Reservar (τηρειν). Vide nota sobre lPe 1.4. Na n v i , manter, não é um aprimoramento.
Compare com Jd 8.
11. Força e poder (ίσχύϊ καί δυνάμα). Na bv, em poder e em força. A ideia ra
dical de ισχύς, poder, é a de força interior especialmente personificada: o poder
que é inerente a forças físicas organizadas e trabalhando sob direção individual,
como um exército, que aparece na resistência de organismos físicos, como a terra,
contra alguém que se arroja em vão, que habita em pessoas ou coisas, e lhes dá
influência ou importância, que reside em leis ou punições, para fazer com que
sejam irresistíveis. Este significado aparece claramente no texto do Novo Tes
tamento no uso da palavra e de seus cognatos. Assim, “Amarás ao Senhor teu
Deus... de todas as tuas forças” (Mc 12.30); “segundo a operação Αά força do seu
poder” (Ef 1.19). Também o adjetivo correlato, ισχυρός: “Um homem valente”(Mt
12.29); uma grande fome (Lc 15.14); as suas cartas são fortes (2Co 10.10); a firme
consolação (Hb 6.18); um forte anjo (Ap 18.21). Também o verbo ισχύω: “Para
nada mais presta” (Mt 5.13); “não poderão (Lc 13.24); “Posso todas as coisas” (Fp
4.13); “pode muito” (Tg 5.16).
Δύναμις é, na realidade, h a b i l i d a d e , f a c u ld a d e - , não necessariamente m a n i f e s t a ,
como ισχύς: o poder que reside em alguém, por natureza. Assim c a p a c id a d e (Mt
25.15): v i r t u d e (Mc 5.30), p o d e r (Lc 24.29; At 1.8; lCo 2.4): “f o r ç a do pecado”
(lCo 15.56). Também sobre vigor m o r a l . “Corroborados em p o d e r no homem
in te r io r (Ef 3.16): “em toda a f o r t a l e z d ’ (Cl 1.11). Contudo, é, principalmente,
poder e m a ç ã o , como no uso frequente de δυνάμας como m i l a g r e s , p r o d í g i o s , sendo
exibições de virtude divina. Assim “p o d e r para salvação” (Rm 1.16): “chegado o
Reino c o m p o d e r ” (Mc 9.1): O próprio Deus se chamou p o d e r - “a direita do T o d o -
p o d e r o s o ” (Mt 26.64), e assim no grego clássico, para indicar os m a g i s t r a d o s ou
599
2 P ed ro - C ap. 2
as autoridades. Também sobre poderes angelicais (Ef 1.21; Rm 8.38; lPe 3.22).
De modo geral, então, pode-se dizer que, embora os dois termos incluam a ideia
de manifestação ou de poder em ação, ισχύς enfatiza as manifestações externas,
físicas, e δύναμις, a virtude interior, espiritual ou moral. Platão faz a distinção da
seguinte maneira:
Eu não teria admitido que os capazes (δυνατούς) são fortes (ισχυρούς), embora eu tenha
admitido que os fortes são capazes. Pois há uma diferença entre capacidade (δύναμιν)
e força (ίσχύν). A primeira vem com o conhecimento, bem como pela loucura ou pela
raiva; mas a força vem da natureza e de uma condição saudável do corpo".
Aristóteles diz:
Força (ισχύς) é o poder de mover algo como se quiser; e esta coisa deve ser movida, pu
xando, empurrando, carregando, pressionando, apertando ou comprimindo; de modo
que o forte (ό Ισχυρός) é fo rte para todas estas coisas, ou para algumas12.
12. Como animais irracionais, que seguem a natureza, feitos para serem
presos e mortos. Este acúmulo de epítetos é característico de Pedro. A ex
pressão que seguem a natureza (φυσικά) (kjv , naturais-, rv, meros animais) deveria
ser construída com o uso de feitos, ou nascidos (γεγεννημένα). Irracionais (αλόγα),
literalmente, em pensamento lógico. Compare com At 23.27. Animais (ζώα). Lite
ralmente, criaturas vivas, de ζάω, viver. Mais genérica e inclusiva do que animais,
uma vez que indica, a rigor, todas as criaturas que vivem, incluindo o homem.
Platão até mesmo a aplica ao próprio Deus. Por conseguinte, na n v i , a rigor, cria
turas. Para serem presos e mortos (εις άλωσιν και φθοράν). Literalmente, para cap
tura e destruição, ou como traz a n v i : capturadas e destruídas. Destruição duas vezes
neste versículo, e com um verbo cognato. A teb apresenta: armadilhas epodridão.
600
2 P e d r o - C a p. 2
Pois que têm prazer nos deleites cotidianos (ηδονήν ηγούμενοι τρυφήν).
A expressão p o i s q u e da arc é desnecessária. O discurso prossegue, a partir do
versículo 13 com uma série de particípios, até s e g u i n d o (v. 15). Literalmente, a
perícope diz: c o n s i d e r a n d o c o m o p r a z e r a s u a l u x ú r i a c a r n a l .
Em seus enganos (έν ταΐς άπάταις αύτών). A bv, por conseguinte, acompanha
outra leitura, que aparece na perícope paralela, Jd 12: άγάπαιζ , f e s t a s f r a t e r n a i s , os
banquetes públicos instituídos pelos primeiros cristãos e conectados com a co
memoração da Ceia do Senhor. Sobre os excessos nessas festas, v i d e lCo 11.20-
22. Em lugar de αύτών, seus p r ó p r i o s , os melhores textos trazem αύτών, s e u s .
601
2 P edro —C ap . 2
palavra.
17. Fontes (πηγα'ι). Melhor do que a n tlh , poços. Todavia, ntlh conservou fonte
em Jo 4.14, onde conferiu mais vivacidade à metáfora de Cristo, que é a de uma
fonte que sempre jorra água viva.
13. Schmidt, S y n o n y m ik .
603
2 P ed r o - C a p. 2
Pela força do vento (υπό λαίλαπος). Na t b , por uma tempestade. O termo apa
rece apenas duas vezes, em outras passagens (Mc 4.37; Lc 7.23) nos relatos pa
ralelos da tempestade no lago, que Jesus aplacou com a sua palavra. Ali, no lago,
Pedro se sentia “em casa”, bem como com o Senhor naquela ocasião; e o vocábulo
peculiar que descreve um redemoinho ou temporal - uma daquelas tempestades
repentinas tão frequentes naquele lago {vide nota sobre essa palavra, Mc 4.37) -
seria a primeira a vir à sua mente. Compare a imagem similar de Paulo, Ef 4.14.
Se reserva (τ€τήρηται). Literalmente, foi reservado, como na rv. Vide nota so
bre lPe 1.4; 2Pe 2.4.
18. Falando (φθ^γγόμενοι). Na tb, melhor, proferindo. Vide nota sobre o versí
culo 16.
C a pítulo 3
605
2 P ed ro - C ap. 3
Desde o princípio da criação (άπ’ αρχής κτίσεως). Não é uma expressão co
mum. Ela aparece apenas em Mc 10.6; 13.19; Ap 3.14.
Existiram os céus. Mas o texto grego não traz artigo. Traduza, havia céus.
No meio da água (δι’ υδατος). Omita o artigo. Διά tem o seu sentido usual
aqui, não como na arc , no meio de, mas por meio de. Bengel: “A água servia para
que a terra subsistisse”. Os intérpretes estão muito divididos quanto ao signifi
cado. Este é o ponto de vista de Huther, Salmond e, substancialmente, Alford.
7. Os céus - que agora existem (oi νυν ουρανοί). Uma construção similar a o
mundo de então (v. 6). Os céus de agora ou os céus do presente.
606
2 P ed r o - C ap. 3
9. Não retarda (ού βραδύνέΐ). Somente aqui e em lTm 3.15. O termo sig
nifica literalmente a t r a s a r ou d e m o r a r . Também a l x x , Gn 43.10, “se não nos
t i v é s s e m o s d e t i d o ” . A tradução de Alford, n ã o ê l e n t o , seria um aperfeiçoamento.
Como o ladrão. Omita d e n o it e . Compare com Mt 24.43; lTs 5.2,4; Ap 3.3; 16.15.
quatro elementos —fogo, ar, terra, água; e recentemente aos planetas e signos
do zodíaco. E usado em um sentido ético em outras passagens; como em G1 4.3,
“ e le m e n t o s ou r u d i m e n t o s do mundo”. Também com referência ao ensinamento
elementar, como a lei, que era adequado para um estágio anterior na história
do mundo; e sobre os primeiros princípios de conhecimento religioso entre os
homens. Em Cl 2.8, sobre ordenanças formais. Compare com Hb 5.12. O verbo
correlato, στοιχέω, a n d a r , transmite a ideia de m a n t e r - s e e m f i l a , de acordo com
o sentido da raiz. Assim, andar c o n f o r m e a r e g r a (G1 6.16); a n d a r g u a r d a n d o a l e i
(At 21.24). Assim, também, o termo composto συστοίχέω, somente em G1 4.25,
c o r r e s p o n d e r a , literalmente, p e r t e n c e à m e s m a f i l a o u c o lu n a q u e . Os gramáticos
607
2 P edro - C ap. 3
transitórios.
Piedade (εύσεβείαις). V id e nota sobre lPe 1.3. As duas palavras estão no plu
ral: s a n t o t r a t o e p ie d a d e .
608
2 P e d r o - C ap. 3
Se fundirão (τήκεται). Literal. Mais forte que o termo dos versículos 10-11.
Não apenas a d e c o m p o s iç ã o , mas a d e s t r u i ç ã o da natureza. Somente aqui no texto
do Novo Testamento.
13. Aguardamos. O mesmo verbo que no versículo 12. Ele aparece três vezes
em 12-14.
609
L is t a d e P a la v r a s G r e g a s E m p r e g a d a s s o m e n t e p o r P e d r o
611
Judas
1. Judas. Um dos irmãos de Jesus; não o irmão do apóstolo Tiago, filho de Alfeu,
mas o irmão de Tiago, superintendente da igreja de Jerusalém. Ele é citado entre
os irmãos do Senhor. Vide Mt 13.55; Mc 6.3.
Servo. Ele não se diz apóstolo, como Pedro e Paulo, em suas introduções, e
parece distinguir-se dos apóstolos, nos versículos 17-18: “Os apóstolos de nosso
Senhor Jesus Cristo, os quais vos diziam” etc. Nós lemos que os irmãos de Cristo
não criam nele (Jo 7.5); e em Atos 1, os irmãos de Jesus (v. 14) são mencionados
de uma maneira que parece separá-los dos apóstolos. Δούλος, servo, aparece nas
Introduções a Romanos, Filipenses, Tito, Tiago e 2 Pedro.
Irmão de Tiago. O fato de que Judas não se refere ao seu relacionamento com
o Senhor pode ser explicado pelo fato de que o relacionamento natural em sua
mente seria subordinado ao espiritual {videljc, 11.27-28), e esta designação, como
observa o deão Alford: “está em harmonia com os sentimentos posteriores e su
persticiosos com que as gerações seguintes consideraram os parentes terrenos
do Senhor”. Ele evita enfatizar uma distinção que nenhum dos outros discípulos
ou apóstolos podería refutar, ainda mais por causa de sua descrença anterior na
autoridade e na missão de Cristo. É digno de nota que Tiago também evita esta
designação.
Por Jesus Cristo (Ιησού Χριστώ). O dativo simples, sem preposição. Por con
seguinte, para Jesus Cristo ou em Jesus Cristo; pelo Pai a quem Cristo os confiou
(Jo 17.11). Compare com lTs 5.23; Fp 1.6, 10.
Judas
Pela fé. A soma daquilo em que os cristãos creem. Vide nota sobre At 6.7.
Uma vez (άπαξ). Não anteriormente, mas de uma vez por todas. Bengel diz: “Ne
nhuma outra fé será dada”.
Deus. Omitida nos melhores textos. Sobre Senhor (δεσπότην), vide nota sobre
2Pe 2.1.
614
Judas
Eternas (άϊδίοις). Somente aqui e em Rm 1.20. Para uma forma mais longa,
άείδιος, de àeí, sempre.
Na escuridão (υπο ζόφον). A bj traduz sob trevas, em que sob transmite a ideia
de as trevas estendendo-se sobre os espíritos caídos. Vide nota sobre trevas, em
2Pe 2.4. Compare com Hesíodo.·
U m a d estru içã o tão co m p leta e tão p erm a n en te co m o a d elas é a com p aração m ais
p róxim a q u e p od e ser en con trad a, n e ste m u n d o, para a d estru içã o q u e e stá à esp era
d o s q u e e stã o g u ard ad os sob trevas, até o ju íz o d o g r a n d e dia.
Miguel. Os anjos são descritos, nas Escrituras, como formando uma socie
dade com diferentes ordens e dignidades. Este conceito é desenvolvido nos
livros escritos durante o exílio, e depois dele, especialmente Daniel e Zacarias.
Miguel (Quem ê como Deus?) é um dos sete arcanjos, e era considerado o pro
tetor especial da nação dos hebreus. Ele é mencionado três vezes no texto do
Antigo Testamento (Dn 10.13,21; 12.1), e duas vezes no do Novo Testamento
(Jd 9; Ap 12.7)3.
11. Ai (ούαι). Usada de modo geral pelo nosso Senhor, mas não ocorre em ne
nhuma outra perícope exceto aqui e no livro do Apocalipse. A expressão em lCo
9.16 é diferente. Ali o vocábulo não é usado como uma imprecação, senão quase
como um substantivo: "Ai de mim”. Também Os 9. 12 (lxx ).
3. Com respeito a lendas, vide obra da Sra. Jameson, Sacred and Legendary Art, i., 94ss.
617
Judas
Corá. Que falou contra Moisés (Nm 16.3). A água que Moisés extraiu da rocha,
em Cades, foi chamada água de Meribâ (contenda), ou, na lxx, ύδωρ αντιλογίας, a
água da contradição.
Sem temor (άφόβως). Dos juízos como os que acometeram a Ananias e Safira.
Possivelmente, como sugere Lumby, implicando uma repreensão às congrega
ções cristãs, por terem permitido tais práticas.
Nuvens sem água. Compare com 2Pe 2.17, fontes sem água. Como nu
vens que parecem estar carregadas com chuvas refrescantes, mas são levadas
(παραφ6ρόμ€ναι) e não produzem chuva.
618
Judas
Duas vezes mortas. Não apenas a aparente morte do inverno, mas uma morte
real·, de modo que somente falta arrancá-las pelas raízes.
Estrelas errantes. Na teb, astros errantes. Compare com 2Pe 2.17. Possivel
mente, uma referência a cometas, que brilham durante algum tempo, e então
passam à escuridão. De acordo com Lumby: “Não pertencem ao sistema: vagam
ao acaso, e sem lei, e devem, por fim, ser separados das luzes que governam, ao
passo que eles são governados”.
Negrura (ζόφος). Na teb, consta profundidade. Vide nota sobre 2Pe 2.4.
Das trevas (του σκότους). Literalmente, “as trevas”, com o artigo se referindo
à escuridão já mencionada, versículo 6.
O livro de Enoque, que era conhecido pelos pais do século II, esteve perdido
durante alguns séculos, com a exceção de poucos fragmentos, e foi encontra
do inteiro, em uma cópia da Bíblia Etíope, em 1773, por Bruce. Os estudantes
modernos o conhecem por meio de uma tradução feita ao inglês pelo arcebispo
Lawrence, em 1821. O livro de Enoque provavelmente foi escrito em hebraico,
e consiste de revelações feitas a Enoque e Noé, e o seu objetivo é justificar os
caminhos da providência divina, apresentar a retribuição reservada para os peca
dores, angelicais ou humanos, e “repetir, de todas as maneiras, o grande princípio
de que o mundo - natural, moral e espiritual - está sob o governo imediato de
Deus”. Além de uma introdução, ele contém cinco partes: (l) Uma narrativa da
queda dos anjos, e de uma viagem de Enoque, em companhia de um anjo, pelo
619
J udas
céu e pela terra, e dos mistérios vistos por ele; (2) Parábolas a respeito do reino
de Deus, o Messias e o futuro messiânico; (3) Assuntos de física e astronomia,
tentando reduzir as imagens do Antigo Testamento a um sistema físico; (4) Duas
visões que representam simbolicamente a história do mundo, até a conclusão
messiânica; (5) Exortações de Enoque a Metusalém, e seus descendentes. O livro
não mostra nenhuma influência cristã, tem tom altamente moral e imita os mitos
do Antigo Testamento.
19. Causam divisões (άποδ ιορ í ζοντες). Somente aqui no texto do Novo Testa
mento. A expressão eles mesmos é desnecessária. Melhor, como na ara, promovem
divisões. O verbo é composto de avó, fora; διά, através; όρος, uma linha de limite.
A respeito dos que traçam uma linha através da igreja, e separam um lado do
outro.
Sensuais (ψυχικοί). Vide nota sobre Mc 12.30. Assim como ψυχή indica vida,
na qualidade peculiar da existência individual, “o centro da existência pessoal, o
Eu de cada indivíduo”, também este adjetivo derivado desse termo indica aquilo
que pertence ao homem, como homem, a personalidade naturale distinta do ho
mem renovado. Assim em 1Co 2.14; 15.44. A tradução sensuais, aqui e em Tg 3.15,
é por dedução; sensual porque é natural e não renovado.
Manchada (έσπιλωμένον). Somente aqui e em Tg 3.6. Vide nota sobre 2Pe 2.13.
25. Agora e para todo o sempre (καί νϋν καί εις πάντας τους αιώνας). Lite
ralmente, agora epor todos os séculos. Os melhores textos acrescentam προ παντός
του αίώνος, antes de todos os séculos.
621
L ista de P alavras G regas E mpregadas som ente por J udas
622
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629
Índice T emático
Fruto, 150, 179, 261, 308; -s, 231, Grupos, 161, 279
303, 340 Guarda, 6, 121, 413
Fundo, 90 Guardadora, 451
Fúria, 274 Guerra, 341; -s, 183
Furor, 252 Guia, 364
G 302
a b in e t e , H abitação, 365, 486, 615
Gabriel, 2 1 1 , 213 Hades, 328
Gadarenos, 274 Hebreus, 386
Gaio, 452 Herança, 389, 547, 576
Galardão, 35, 601 Heresias, 506, 594
Galileia, 350 Herodes, rei, 412, 469
Galileus, 368 Herodias, 160
Galinha, 104, 310 Hino, 115, 1 8 7 ; -s, 434
Gálio, 444 Hipocrisia, 302
Galo, 115, 187, 348 Hipócritas, 102
Gamaliel, 463 Homem, 60, 113, 117, 144, 185,
Ganância, 576 187, 314, 336, 346, 377, 384,
Gangrena, 203 512, 531, 542, 556; -ns, 50, 162,
Gastos, 314, 459 170, 223, 333, 385, 422, 435,
General, 485 464, 560, 593, 598
Gente, 94 Homicida, 377
Gentio, 5; -s, 464 Honra, 50, 165, 522; -s, 485
Geração, 171,216,324,399,442, 558 Hora, 50, 107, 116, 119, 306, 354,
Getsêmani, 115, 188 369, 374, 407
Glória, 282, 389, 550, 551, 561, 585 Horta, 309
Glutonaria, 345; -s, 571 Hortaliça, 300; -s, 152
Gólgota, 118, 191 Hortelã, 103
Gotas, 349 Hosana, 95, 177
Governador, 203, 478 Hóspede, 336
Governantes, 204 Humanidade, 483
Gozo, 509 Humildade, 577
Graça, 214, 240, 446, 546 Humilhação, 399
Graças, 55, 75, 227, 291
Grandezas, 368 227
Id a d e,
Grécia, 452 Idolatria, 437
Gregos, 386, 402, 410, 460 Ignorância, 560
Grilhões, 154, 275 Igreja, 77, 374, 581; -s, 402
Gritos, 190, 352 Imagem, 179, 341
638
Í ndice T emático
Pedro, 76, 128, 147, 348, 382, 545 Posse, 389, 393
Peixinhos, 75 Povo, 222, 385, 388, 415, 419, 436,
Pena, 616 558, 559; -s, 225
Pensamento, 216, 398, 570; -s, 74, Praça, 268; -s, 54, 163
167, 252, 297, 359, 522 Pmetorium, 133
Pentecostes, 366 Praia, 61, 458, 482
Pequeninos, 112 Pranto, 396
Perdão, 230, 372 Prata, 113, 375, 554
Perdição, 398, 506, 594, 595 Prato, 71, 103, 113, 161, 187, 300
Peregrinação, 554 Prazer, 211
Peregrino, 356 Preço, 380
Perfeição, 272 Pregação, 299
Pérolas, 41 Pregador, 438
Perplexidade, 344 Pregoeiro, 597
Perseverança, 273 Prêmio, 602
Perturbação, 534 Preparativos, 458
Pesca, 246 Presbítero, 575
Pescador, 246 Presciência, 546
Pessoas, 302, 597, 620 Presença, 310, 378, 393
Peste, 470 Preso, 467; -s, 485
Pestilências, 343 Presunções, 538
Piedade, 503, 506, 584, 587, 608 Pretório, 469
Pináculo, 22, 237 Prim a, 214
Pó, 98, 288, 421 Primícias, 516
Pobres, 29, 239, 254, 522 Primogênito, 220
Pobreza, 342 Principado, 615
Poço, 311 Principais da Ásia, 451
Poder, 122, 141, 146, 341, 360, 379, Principais dos sacerdotes, 81
599 Principal, 204, 485
Pólux, 485 Principal da sinagoga, 158
Pomba, 20 Príncipe, 334, 384; -s, 176
Pombinhos, 224 Príncipe da sinagoga, 277
Pôncio Pilatos, 230 Príncipe da vida, 377
Pontas, 405 Príncipes dos sacerdotes, 15
Pôr do sol, 243 Princípio, 134, 208, 218, 378, 606
Pórcio Festo, 472 Prisão, 379, 382, 413, 433, 469, 568
Porcos, 41, 317 Priscila, 445
Porta, 41, 137, 309, 327, 413, 423; Procônsul, 418, 444; -es, 452
-S, 78, 430, 4 6 0 Procurador, 271
643
Í ndice T emático
Rua, 400; -s, 313 Senhor, 89, 93, 109, 179, 222, 224,
Ruína, 262 225, 252, 266, 323, 338, 380, 421,
475, 541, 565, 584, 594; -es, 75
SÁBADO, 192, 252; -s, 241 Senhor da glória, 520
Sabedoria, 533, 534 Senhor dos Exércitos, 539
Sacerdote, 292 Sentença, 595
Saco, 288 Sentimento, 534
Saduceus, 466 Sepulcro, 6, 121; -S, 44, 103, 104,
Sala, 112 154, 274, 301
Sala da audiência, 190 Sepultura, 371; -s, 300
Salteador, 116, 188, 350; -es, 119, Sérgio Paulo, 418
191, 291, 340, 462 Serviçal, 93, 176
Salvação, 218, 379, 549, 614 Serviços, 470
Salvador, 216, 222, 584 Servidores, 189, 383
Samaria, 363, 398 Servo, 93, 116, 174, 188, 217, 225,
Sandálias, 288, 320 262, 312, 325, 349, 380, 509,
Sangue, 427, 459, 554 605, 613; -s, 88, 306, 320, 337,
Santidade, 218 560
Santificação, 546 Sete, os, 458
Santo de Deus, 136 Setenta, os, 290
Santos, 476, 620 Silêncio, 419, 463
Santuário, 104; -s, 440 Silvano, 581
Sãos, 142 Simão, cananeu, 253
Sarça, 180, 342 Simão, Pedro, 147
Sarona, 403 Simão, zelote, 148
Satanás, 290, 298, 309, 346 Simão Pedro, 583
Satisfação, 436 Sinagoga, 264, 388; -s, 417
Saúde, 43, 377, 426, 469, 509 Sinal, 170, 188, 222, 245, 297, 299,
Saulo, 395, 418 350; -is, 106, 344, 369, 397, 426
Seara, 287; -s, 59, 251 Singeleza, 373
Séculos, 123 Sirte, 481
Sedição, 462; -ões, 343, 470 Soberba, 168
Segurança, 122 Socorro, 4 1 1 , 477
Seio de Abraão, 328 Sol, 137, 476, 512
Seita, 400, 425, 470, 471, 485 Soldados, 232, 468
Semana, 193, 333, 453 Soldo, 235
Semeador, 64 Som, 366
Semente, 151, 271, 555 Soma, 465
Senador, 192, 355 Sombra, 214, 382, 516
645
Í ndice T emático
Sonho, 6, 15; -s, 369 Tesouro, 182, 342; -s, 37, 399
Sono, 453 Testam ento, 114, 187, 347
Sópatro, 452 Testem unha, 365, 464, 477, 503,
Sorte, 210, 365, 420 575; -s, 384
Sucessor, 472 Testemunho, 240; -s, 189
Sul, 398 Tetrarca, 69, 230, 278
Sumo Pastor, 577 Tiago, 253, 426, 613
Sumo sacerdote, 388 Tiatira, 430
Superintendente, 399 Til, 32, 326
Superstição, 474 Timeu, 176
Tíquico, 452
T abern Áculo , 3 9 3 , 3 9 4 , 5 0 4 , 5 0 7 , Título, 353
589, 5 9 0 ; -s, 84, 3 2 5 Tomé, 148, 253
Tabita, 4 0 3 Torm entos, 25
Tabuinha, 2 1 7 Tornozelos, 375
Tadeu, 148 Torre, 97, 313
Talentos, 88 Traça, 305, 538
Talitá, 133 Tradição, 554
Tarde, 120, 137, 192 T ransgressão, 603
Teatro, 4 5 1 Transgressor, 525
Telhado, 106, 184, 331; -s, 302 Tratado, 361
Telhas, 248 T rato, 503, 533, 608
Temor, 154, 222, 266, 373, 563, Trave, 40, 261
618, 621 Trevas, 38, 100, 604, 619
Temperança, 4 7 2 , 5 8 6 Tribos, 475
Tempestade, 4 4 , 2 7 3 Tribulações, 389
Templo, 22, 105, 118, 120, 178, Tribunal, 444, 473; -is, 523
2 1 0 , 2 2 8 , 2 3 7 , 3 0 1 , 3 4 6 , 4 6 0 ; -S, Tribuno, 460; -s, 160
394 Tributo, 6, 100, 133, 179, 200, 341;
Tempo, 17, 5 8, 75, 108, 136, 2 1 1 , -s, 85
2 3 7 , 2 3 7 , 2 7 2 , 3 0 6 , 3 4 0 , 390, Trigo, 347
4 1 2 , 5 7 0 ; -s, 3 6 3 , 3 7 8 , 4 2 3 , 5 5 4 Trincheiras, 339
Temporal, 153 T risteza, 349, 536
Tendas, 2 8 4 , 4 4 4 Trófimo, 452, 460
Tentação, 36, 2 3 7 , 2 7 2 , 2 9 6 , 598, Trom beta, 35, 107
-ões, 51 0 , 5 4 9 Tronco, 433
Terra, 16, 152, 179, 185, 2 2 3 , 2 4 0 , Trono, 415
2 6 2 , 3 1 7 , 3 4 0 , 4 5 4 , 4 8 2 ; -s, 5 3 9 Tropas, 460
Terrem otos, 183, 3 4 3 Túnica, 259; -s, 232, 403
646
Í ndice T emático
647
Índice de Palavras G regas