Vincent, Estudo No Vocabulario Grego Do Novo Testamento, Vol.1

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M a r v in R.

V in cen t

V olume I
Evangelhos Sinópticos
Atos dos Apóstolos
Epístolas de Tiago, Pedro e Judas

Tradução:
D egm ar Ribas Júnior e M arcelo Siqueira Gonçalves
A missão primordial e intransferível da CPAD é proclamar, por meio da página impressa, o
Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo no Brasil e no exterior; edificar a Igreja de Cristo por
intermédio de literaturas ortodoxas, que auxiliem os obreiros cristãos no desenvolvimento
de suas múltiplas tarefas no Reino de Deus; e educara sociedade e a Igreja através da Escola
CBO Dominical, que evangeliza enquanto ensina. Nosso maior presente é pensar no futuro.

VINCENT - ESTUDO NO VOCABULÁRIO GREGO DO NOVO TESTAMENTO


Traduzido do original Vincent’s Word Studies in the New Testament
Edição em língua portuguesa © 2012 por Casa Publicadora das Assembléias de Deus.
Todos os direitos reservados.

Vincent, Marvin Richardson.


Vincent - Estudo no Vocabulário Grego do Novo Testamento. / Marvin Richardson
Vincent. Tradução Degmar Ribas Júnior e Marcelo Siqueira Gonçalves. - Rio de Janeiro;
CPAD, 2012. v. 1.
704 p.; 15,5 x 22,7 cm.
Título original: Vincent's Word Studies in the New Testament
Bibliografia; p. 623.
ISBN 978-85-263-0250-7.
1. Bíblia. Novo Testamento - Estudos. 2. Bíblia. Novo Testamento - Introduções. I. Título.
CDD 225.6

Presidente da CGADB José Wellington Bezerra da Costa


Presidente Cons. Adm. CPAD José Wellington da Costa Júnior
Diretor Executivo Ronaldo Rodrigues de Souza
Gerência de Publicações Alexandre Coelho
Tradução Degmar Ribas Júnior
Marcelo Siqueira Gonçalves
Coordenação editorial Anderson Gflíngeão da Costa
Revisão Tatiana da Costa
Caroline Tuler
Gerência de Comunicação Rodrigo Sobral Fernandes
Projeto gráfico e editoração Fagner Machado
Capa Wagner de Almeida

Impressão CPAD (1. ed., nov./2012; tiragem: 5.000)

CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS


Avenida Brasil, 34.401, Bangu, Rio de Janeiro - Caixa Postal 331, CEP 21.852-001
SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente): 0800-021-7373
P l a n o d a O bra

Volume I Evangelhos Sinópticos


Atos dos Apóstolos
Epístolas de Tiago, Pedro e Judas
Volume II Evangelho de João
Epístolas de João
Apocalipse

Volume III Romanos


Filipenses
1 e 2 Coríntios
Colossenses
Efésios
Filemom
Volume IV 1 e 2 Tessalonicenses
Gálatas
Epístolas Pastorais
Hebreus
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO............................................................................................. ix
PREFÁCIO.......................................................................................................... xi
PREFÁCIO À 2.a EDIÇÃO...............................................................................xix
MARVIN R. VINCENT - VIDA E OBRA..................................................... xxi
LISTÁ DE REDUÇÕES................................................ XXV

MATEUS.............................................................................................................. 1
Introdução............................................................................................................. 1
Comentário............................................................................................................ 7
Lista de palavras gregas empregadas somente por Mateus............................124
MARCOS........................................................................................................... 127
Introdução......................................................................................................... 127
Comentário.........................................................................................................134
Lista de palavras gregas empregadas somente por Marcos............................195
LUCAS...............................................................................................................197
Introdução aos escritos de Lucas......................................................................197
Comentário........................................................................................................ 207
ATOS DOS APÓSTOLOS............................................................................... 361
Comentário........................................................................................................ 361
Lista de palavras gregas empregadas somente por Lucas..............................487
V incent - E studo no V ocabulário G rego NT

INTRODUÇÃO ÀS EPÍSTOLAS DE TIAGO,PEDRO E JUDAS.............. 499


Tiago................................................................................................................. 499
1 e 2 Pedro......................................................................................................... 502
Judas.................................................................................................................. 507
TIAGO...............................................................................................................509
Comentário........................................................................................................ 509
Lista de palavras gregas empregadas somentepor Tiago............................... 543
1 PEDRO........................................................................................................... 545
Comentário........................................................................................................ 545
2 PEDRO........................................................................................................... 583
Comentário........................................................................................................ 583
Lista de palavras gregas empregadas somentepor Pedro............................... 610
JUDAS............................................................................................................... 613
Comentário........................................................................................................ 613
Lista de palavras gregas empregadas somentepor Judas................................ 622
REFERÊNCIAS..... ..........................................................................................623
ÍNDICE TEMÁTICO...................................................................................... 631
ÍNDICE DE PALAVRAS GREGAS............................................................... 649

viii
A presentação

A obra de Vincent caracteriza-se por uma singular clareza e profundidade,


visto que a sua proposta era produzir um comentário exegético que se situasse
entre o especialista e o leigo em língua grega. Seu método específico é a aborda­
gem dos textos originais a partir de suas palavras e expressões, para então apli­
car os resultados desse exame primário às construções mais amplas. Ao explorar
as possibilidades semânticas e gramaticais das palavras, sua análise do texto vai
além das construções sintéticas comumente definidas pelo trabalho de tradução.
Os estudos de Vincent concentram-se em duas etapas principais: a crítica tex­
tual, que faz o confronto entre as tradições manuscritas do Novo Testamento e
suas variações textuais; e a análise gramatical, que estabelece o papel linguístico
das palavras, tanto individualmente como em conjunto. Essas tarefas fornecem a
base para as muitas propostas de tradução e os comentários gramaticais, históri­
cos e teológicos que se seguem.
A obra estrutura-se em quatro volumes: o primeiro ocupa-se dos Evangelhos
Sinópticos, Atos dos Apóstolos e epístolas de Tiago, Pedro e Judas; o segundo,
dos escritos de João; o terceiro e o quarto, dos escritos de Paulo. O tratamento de
cada livro, ou grupo de livros, obedece à organização seguinte: introdução, que
inclui questões de origem e características literárias dos escritos; comentário, a
partir de palavras e expressões selecionadas, segundo a ordem de versículos da
versão utilizada (originalmente, a k j v ; nesta edição, a a r c ); listas suplementares
de palavras gregas exclusivas de certos autores ou escritos (sinópticos e Atos,
epístolas gerais, escritos joaninos, espístolas pastorais, Hebreus).
Vale então discriminar algumas decisões tomadas para a edição em português.
Em primeiro, está a opção pela manutenção do texto grego usado por Vincent
( t r , o u Textus Receptus, a base da k j v ) , considerando que hoje os textos críticos de
V incent - E studo no Vocabulário G rego NT

nestle - aland (27.® ed.) e gnt (4.® ed.) detêm a preeminência em matéria de tra­
dução e exegese. Em segundo, o uso da arc como texto-padrão para os trechos
bíblicos que abrem os parágrafos de comentário. Esses trechos aparecem grifa­
dos. Em casos de divergência entre a kjv e a arc, indicamos a diferença de leitu­
ras de forma que a coerência e integridade de todo o comentário sejam mantidas.
Em terceiro, a ampliação da comparação de versões. Vincent geralmente con­
fronta os textos originais com traduções em língua inglesa (wycliffe , tyndale,
coverdale, cranmer ), sobretudo com a kjv e a Revised Version. A versão kjv,
ou Authorized Version (1611), à época de Vincent, era a versão-padrão da Bíblia
entre os protestantes de fala inglesa. A Revised Version (NT, 1881), por sua vez,
constitui o resultado do trabalho de revisão da kjv. Para esta edição, acrescen­
tamos no confronto de versões as principais traduções em língua portuguesa.
Nesse cruzamento, naturalmente se expõem imprecisões e limitações variadas
inerentes às muitas versões, mas daí também surgem propostas de leitura mais
depuradas. Em quarto, a inserção do texto grego ao lado de trechos bíblicos que
abrem os comentários, em casos em que o original não os traz, mas que julgamos
importantes para a discussão subsequente. Essa inserção é marcada com colche­
tes. Em quinto, a reorganização da obra original quanto às citações e referências.
Procuramos adaptá-las, quanto possível, aos padrões atuais, com destaque das
citações e indicações bibliográficas em notas. Finalmente, em sexto, a atualização
das listas de palavras gregas. Transportamos para as listas que acompanham os
livros as correções indicadas pelo próprio Vincent ao final do volume.
Nosso principal objetivo, com mais esta obra de erudição bíblica, é levar a
Igreja de Cristo a estudar, com mais eficiência, a Palavra de Deus.

Os editores.

x
P refácio

Os comentários do Novo Testamento são tão numerosos, e muitos deles tão


bons, que uma nova obra demanda certa explicação. O presente trabalho é uma
experiência em área que, até onde sei, não foi abrangida por outros livros, apesar
de ter sido, hábil e minuciosamente, trabalhada por muitos eruditos.
Assumindo uma posição mediana entre um comentário exegético e um estudo
léxico-gramatical, o seu objetivo é levar o leitor das Escrituras Sagradas mais
perto do ponto de vista de um estudioso da língua grega, ao desvendar-lhe a
força nativa dos vocábulos neotestamentários em seu sentido léxico, etimologia,
história, flexões, e nas peculiaridades do seu uso por parte dos diferentes evan­
gelistas e apóstolos.
Portanto, o estudioso crítico do Novo Testamento Grego encontrar-se-á em
território familiar e frequentemente elementar. Ele compreenderá que este livro
não foi preparado com a intenção ou expectativa de instruir-lhe. A obra visa pri­
mariamente aos leitores que, por não serem familiarizados com a língua grega,
ficam impedidos do estimulante contato com os termos originais, os quais desco­
nhecem a própria existência de caminhos que o helenista trilha com tranquilida­
de inconsciente e clareza de percepção.
Nenhum erudito consideraria supérfluo este trabalho de leitura, nem mesmo
em uma versão mais idiomática e precisa. O tradutor mais cuidadoso e compe­
tente está limitado pelas dificuldades inerentes à própria natureza da tradução.
Algo sempre se perde na passagem de uma língua para outra; alguma coisa que
é caracteristicamente proporcional à sua sutileza.
A leitura de um autor por intermédio de uma versão é comparável a ouvir uma
pessoa pelo telefone. As palavras podem chegar aos nossos ouvidos de forma
distinta, porém a qualidade da mais familiar das vozes se perde. Na tradução,
como ocorre no câmbio de moedas, a transferência normalmente presume o des-
V incent - E studo no Vocabulário G rego NT

monte - a destruição da simbologia original para incorporar o seu conteúdo na


simbologia do outro idioma. A moeda de um país pode não ter uma equivalência
exata na moeda de outro; e a diferença deve ser composta por um pequeno troco.
Uma simples palavra grega normalmente requer duas ou três palavras para ser
representada em nosso idioma, e até mesmo os equivalentes parciais devem ser
aperfeiçoados por meio de comentários e paráfrases. Ademais, existem certos
traços em cada idioma, e mais especificamente nas línguas ditas “mortas”, que
representam um desafio na transferência por qualquer processo —incorporações
de jogos sutis de percepções ou de idéias que se perderam, como a expressão que
caracteriza o rosto de um cadáver e que, mesmo transmitindo alguns indícios à
nossa mente, foge à compreensão de uma fórmula em nosso vernáculo.
Dificuldades desta sorte somente podem ser encontradas no estudo individual
das palavras. O tradutor é forçado a lidar primariamente com o conteúdo das
frases e orações, a fim de que as formas das idéias estejam subordinadas à sua
substância. Uma tradução que reproduzisse literalmente a estrutura idiomática
da língua original seria uma aberração. Se as idéias devem circular de forma livre
e familiar na sociedade, e promover sua melhor obra em nossas mentes, elas pre­
cisam assumir uma vestimenta que seja reconhecível em nosso vernáculo. Elas
devem modificar ou abandonar os hábitos nativos. Não podem continuamente
trazer à consideração os seus antecedentes originais, nem as formas da vida que
as fizeram evoluir. Devem ser completamente naturalizadas. Destarte, o tradutor
é forçado a ter em mente primeiramente o seu público; a expor a mensagem e
não adular a nacionalidade do mensageiro. Ele não pode parar para mostrar aos
leitores a forma como cada palavra existente na frase original pulsa com vida
própria e brilha com o fascínio de uma história específica. Esta tarefa cabe ao
comentarista; e não ao comentarista que explica o significado e a relação dos
versículos e dos capítulos, mas especificamente daquele que trata das palavras
com minúcia e conta a história de cada uma delas.
Afinal, um idioma não é criado em ordem e lapidado à mão. Ele surge da vida
das pessoas, e os seus vocábulos não são símbolos arbitrariamente determinados
por decreto ou voto, mas moldados, na medida da necessidade, por incidentes
e crises. Eles são as fórmulas em que as novas necessidades e as primeiras im­
pressões de fatos externos espontaneamente se expressam e nas quais os cos­
tumes sociais correm. Portanto, a língua torna-se mais pitoresca à medida que
retrocedemos às suas formas mais antigas. O discurso primitivo é largamente
figurativo; os termos primevos são imagens. À medida que o idioma se torna a
expressão de uma vida mais convencional e artificial, e de um pensamento mais
profundo e complexo, são cunhadas novas palavras para representar coisas mais
sutis e subjetivas; e os velhos termos, à medida que são forçados a novas aplica­
ções e expandidos a fim de abranger um leque maior de significados, perdem a

xii
P refácio

sua nitidez de representação. Eles transformam-se em símbolos convencionais


nos usos multiformes da linguagem quotidiana; tornam-se fatores triviais de
um presente corriqueiro, e guardam o seu aspecto histórico somente para os le­
xicógrafos e filólogos. Contudo, estas palavras carregarão para sempre, ocultas
em seu seio, as suas imagens originais e a marca do sopro que às trouxe à vida;
e elas as revelarão a todo aquele que lhes fizer perguntas amáveis acerca do seu
nascimento e da sua história.
Estes comentários aplicam-se, de forma peculiar, ao vernáculo grego, que foi o
desenvolvimento de um caráter nacional, outrora poético e apaixonado, lógico e
especulativo, e que foi moldado por uma história romântica e agitada, bem como
por uma literatura rica e influente.
Os vocábulos de um idioma que atravessaram o período de Homero a Aristó­
teles, de Maratona a Leuctra, que contaram as histórias de Heródoto, que carre­
garam a combinação de fogo e lógica do imortal Demóstenes, que expressaram a
paixão ardente de Édipo, e que formularam tanto a dialética de Platão quanto o
raciocínio de Aristóteles, devem esconder tesouros raros. E tanto mais conforme
seguirmos este idioma nos seus desenvolvimentos posteriores, sob o seu contato
com o pensamento oriental, que o amalgamou na caldeira de Alexandria, despe­
jou a nova combinação no molde da Septuaginta, e acrescentou o elemento final
necessário para fazer dele o portador da mensagem do evangelho.
O testemunho mais sublime dos recursos deste idioma magnífico está expres­
so em sua incrível sensibilidade ao toque de uma nova fé, e em sua pronta adapta­
ção à expressão desta nova verdade. O seu contato com o frescor e o estímulo das
idéias do evangelho parecer ter evocado certa qualidade oculta em suas profun­
dezas, até então esmagada por conceitos morais vis expressos pelo paganismo,
mas que haveríam de eclodir numa pronta resposta ao chamado do pensamento
e sentimento cristãos.
Todavia, mesmo os termos que se prestaram tão prontamente à mensagem
mais nova e mais elevada do Cristianismo não poderíam abjurar a sua linhagem
na história. Eles continuavam com as marcas das cargas mais antigas e menos
sacras que haviam recebido anteriormente. Nas histórias de suas palavras predi­
letas, o Cristianismo declara-se como um redentor da linguagem humana. A lista
de vocábulos do Novo Testamento salvos das associações e dos usos ignóbeis, e
que receberam a mitra como ministros da sacra verdade, é longa e representati­
va; e, além delas, existem materiais ainda mais fascinantes de estudo, os quais o
arcebispo Trench há muito tempo já recomendou aos leitores de língua inglesa,
em suas obras Study of Words e New Testament Synonyms.
O estudioso da Bíblia poderá, por conseguinte, combinar proveitosamente
duas linhas distintas de estudo: uma dirigida à verdade escriturística no sentido
geral, e a outra ao meio, ou veículo, dessa verdade em seus detalhes.

xiii
Vincent - E studo no Vocabulário G rego NT

O completo entendimento das Escrituras Sagradas incorpora tanto a urdidu­


ra quanto a trama dos fios. O labor dispensado às etimologias, aos sinônimos e
aos segredos e particularidades dos tempos verbais, à vasta gama de figuras, alu­
sões e histórias que estão por baixo das palavras separadas e das expressões do
Novo Testamento, não é em vão, e produz um resultado mais significativo do que
o mero acúmulo curioso de conhecimento. Como a natureza preenche os espaços
entre o primeiro e o segundo plano das suas paisagens com incontáveis detalhes
de forma e cor, de luz e sombras, também os ricos detalhes dos vocábulos neotes-
tamentários, uma vez apreendidos, transmitem uma profundidade de tom e uma
justa relação e perspectiva às massas salientes de doutrina, narrativa e profecia.
Quanto se perde normalmente com o uso de apenas um termo para tradu­
zir duas palavras que o autor escolheu com uma clara compreensão da distin­
ção entre as duas? Quantas características distintas de um escritor são perdidas
em uma tradução? Com que frequência o maravilhoso jogo dos tempos verbais
gregos e a força belamente calculada daquele poderoso instrumento singelo, o
artigo, foram completamente desprezados? A medida que o leitor pisa confiante­
mente no pavimento que lhe foi preparado pelos revisores modernos, nem ima­
gina as coisas raras e belas que jazem por baixo de quase todos os blocos, vistos
separadamente.
Será que o leitor que não tem conhecimento do grego poderia ter acesso a es­
tes tesouros? Talvez não todos; mas certamente uma boa parcela deles. A minha
impressão é que os seguintes resultados podem ser alcançados:
1. Onde houver uma palavra com uma história, o leitor poderá conhecê-la,
junto com um vislumbre dos diferentes estágios que ela atravessou até chegar
ao seu significado atual. Também poderá saber como as suas variantes desen­
volveram-se sucessivamente, uma a partir da outra. Termos como “humildade,”
“mansidão” e “bem-aventurado” fornecem ilustrações disso.
2. Ele poderá conhecer, pelo menos em parte, a forma peculiar em que uma
deia se introduz na mente grega; ou, em outras palavras, poderá atingir certa
familiaridade com as expressões do idioma grego. Desta forma, para tomarmos
alguns exemplos simples, o leitor observará facilmente que, enquanto o homem
moderno percebe a comida como algo que é posto diante de si na mesa, um indi­
víduo grego do tempo do Novo Testamento a percebe como algo que é colocado
ao lado dele e, por essa razão, se expressa segundo sua própria percepção. Ou
perceberá que a sua ideia de assentar-se à mesa equivale ao reclinar-se do grego.
Ele poderá compreender também que, quando Lucas diz: “chegamos no segundo
dia”, ou “no dia seguinte” (At 28.13), a ideia do segundo dia ( arc), ou do dia se­
guinte (ara ), chega ao autor na forma de um adjetivo que qualifica o pronome nós,
de forma que ele vê a si mesmo, bem como os seus companheiros, como homens
do dia seguinte. Por vezes, quando dois idiomas desenvolvem uma diferença de

xiv
P refácio

expressão em seu uso clássico, a terminologia clássica de um ressurge no dialeto


vulgar do outro. O espírito dos numerosos termos ou expressões gregas, até
mesmo em o Novo Testamento, podería ser reproduzido com maior fidelidade
em algumas expressões que foram banidas da língua culta.
S. Poderá conhecer a ilustração ou a figura que permanece oculta em um vocá­
bulo. Veja, por exemplo, a nota acerca do termo obrigar, em Mt 5.41.
4. Poderá aprender algo acerca dos sinônimos gregos. Saberá como duas pa­
lavras diferentes, traduzidas por um mesmo vocábulo em língua portuguesa, re­
presentam fases distintas do mesmo conceito, e a razão por que cada uma delas
é posicionada especificamente naquele lugar. Assim, o termo “rede” ocorre tanto
em Mt 4.18 quanto no capítulo 13.47; só que o vocábulo grego é diferente nes­
ses dois versículos, e a substituição de um pelo outro seria inapropriado em seu
contexto original.
5. Poderá conhecer como dois termos que aparentemente não têm conexão um
com o outro são frequentemente expressos pelo mesmo vocábulo grego; e assim
poderá ter acesso à ideia que faz a conexão entre ambos. Às vezes, o leitor não
suspeita de que a palavra “regaço” (tb ), em Lc 6.38, e “enseada,” em At 27.39, no
original, são representadas pela mesma palavra; ou de que exista uma conexão
entre o “cobrir” do corpo de Ananias, depois de sua morte (At 5.6), e a afirmação
de Paulo de que o tempo “se abrevia (lCo 7.29).
6. Poderá chegar ao entendimento das razões por que ocorrem muitas mu­
danças na tradução de uma versão mais antiga que, em sua aparência, lhe parece
arbitrária e inútil.
7. Poderá aprender acerca do uso característico de palavras e expressões por
parte de diferentes autores, e também como detectar, até mesmo por meio das nos­
sas traduções, certas diferenças de estilo. (Vide Introduções aos diferentes livros.)
8. Poderá conhecer as distinções mais básicas entre os tempos verbais gregos,
e a força do artigo grego; além disso, como a observação dessas distinções impri­
me vigor e vivacidade à tradução.
Muitos temas semelhantes são contemplados em vários comentários. E, em al­
guns comentários populares, eles recebem um destaque considerável, como, por
exemplo, nas duas obras magníficas do Dr. Morrison sobre Mateus e Marcos.
Contudo, eles mostram-se espalhados em uma vasta gama de trabalhos, em sua
maioria, confinados aos comentários preparados para estudiosos mais críticos;
ao passo que muitos deles permanecem ocultos em léxicos e estudos etimológi-
cos, bem como em obras especiais distribuídas por meio de periódicos volumosos.
Reuni e separei uma grande quantidade dessas obras a partir de fontes múltiplas
e fidedignas, e as apliquei ao tratamento dos vocábulos na forma como eles ocor­
rem, versículo por versículo, despindo-os dos seus aspectos técnicos e tentando
colocá-los em um formato adequado aos estudantes da Bíblia.

xv
V incent - E studo no Vocabulário G rego NT

Estava tão determinado a fazer isso, que, no início, pensei seriamente em omi­
tir por completo as palavras em grego. Porém, ao considerar mais a fundo a
questão, percebi que o meu plano podería, sem prejuízo da proposta inicial, ser
expandido a ponto de incluir os novatos no estudo do Testamento grego e certos
leitores de origem acadêmica que guardaram ainda, um pouco de grego do que
restou dos seus estudos clássicos. Para tornar isso possível, inseri as palavras
originais onde elas me pareceram necessárias, mas sempre entre parênteses e
acompanhadas de tradução. Portanto, o leitor poderá estar seguro de que qual­
quer valor atribuído a esta obra por ele não será diminuído pela presença de ca­
racteres que lhe são estranhos. Neste caso, ele poderá simplesmente passar-lhes
os olhos e concentrar a sua atenção no texto em português.
É óbvio que o meu objetivo me desobriga a realizar a exegese das passagens,
salvo nos casos onde o vocábulo em questão é o ponto de que depende o significado
inteiro da passagem. A tentação de ultrapassar este limite foi algo constantemente
presente, não sendo impossível que tenha ocasionalmente cedido a isso. Todavia,
o prazer e o valor do estudo especial de palavras serão, em minha opinião, intensi­
ficados para o estudante, se ele os separar do emaranhado gerado pelas questões
exegéticas em que, em comentários comuns, se perde quase por completo.
Algumas palavras devem ser ditas a respeito de um nome que o título deste
livro instantaneamente sugerirá aos estudiosos do Novo Testamento. Refiro-me
ao Dr. Bengel. A dívida e gratidão que todos os trabalhadores desta área devem
ao Dr. Johann Albrecht Bengel é, sem dúvida, inestimável. A sua conhecida obra
Gnomon, que continua sendo digna da mais alta reputação entre os comentários,
mesmo depois de passados quase cento e cinquenta anos do seu lançamento,
foi a pioneira neste método de tratamento do texto das Escrituras Sagradas. A
minha dívida pessoal para com ele é muito grande em função do impulso a esta
linha de pesquisa que recebi da tradução de Gnomon, há mais de vinte e cinco
anos atrás; mais por isso, sem sombra de dúvida, do que por todo o apoio re­
cebido no presente trabalho. Isto, porque o seu labor pessoal contribuiu para o
desenvolvimento desta linha de pesquisa especial, desde a aparição de Gnomon,
em 1742‘. Toda a base da filologia do Novo Testamento e da crítica textual tem
sido alterada e ampliada, e, portanto, muitas de suas conclusões críticas precisam
ser modificadas ou rejeitadas. A sua obra continua mantendo o seu valor para
o pregador. Ele deve permanecer sempre em lugar de destaque por causa da
sua perspectiva arguta e profundamente espiritual, bem como pela expressivi-

Notas do editor:
i. Johann Albrecht Bengel (1687-1752) é considerado o patrono da pesquisa bíblica moderna. Foi
um aluno notável da Universidade de Tübingen, professor e pedagogo eficiente, e pesquisador
piedoso das Escrituras. Os objetivos de Bengel na erudita obra Gnomon era determinar a majes­
tade. a simplicidade, a profundidade, a concisão, a extensão e o uso prático da Palavra de Deus.

XVI
P refácio

dade maravilhosamente sucinta e vigorosa pela qual, como quem faz uso de uma
chave-mestra, costuma abrir na primeira tentativa as câmaras secretas de um
vocábulo; entretanto, para resultados críticos, o estudioso deve consultar guias
mais recentes e exatos.
Quanto às fontes, é suficiente mencionar que utilizei, de forma liberal, tudo o
que me pareceu útil. O livro, entretanto, não é uma compilação. O meu plano me
forçou a fugir das análises e dos processos demasiadamente prolixos, e a ater-me
principalmente à postulação dos resultados. A fim de evitar o excesso de referên­
cias nas páginas, anexei uma lista das fontes utilizadas; e os nomes dos demais
autores não mencionados ali serão encontrados junto às citações.
Não procedi com os exercícios de critica textual. Segui principalmente o tex­
to de Westcott e Hort, comparando-o com a oitava edição de Tischendorf, e
normalmente adotando qualquer redação com que ambos concordassem. Talvez
seja de pouca importância mencionar que as traduções muito literais e frequen­
temente grosseiras que amiúde ocorrem são apresentadas meramente com o ob­
jetivo de lançar as frases ou expressões o mais próximo possível das suas formas
gregas, e não são recomendadas para adoção como versões".
Minha tarefa foi um labor amoroso, mesmo tendo sido implementada em meio
a muitas distrações e várias obrigações de um pastorado urbano. Espero com­
pletá-la, no tempo devido, por um volume adicional que contemple os escritos de
João e de Paulo1".
Conta-se que, há alguns anos atrás, foi descoberta, em um de nossos estados
do oeste, um geodo que, ao ser quebrado, revelou um grupo de cristais dispostos
no formato de uma cruz. Ser-me-á de grande alegria se, com esta tentativa de
quebrar a casca dessas palavras da vida e de desvendar as suas joias secretas,
puder auxiliar o estudioso da Bíblia, aqui e acolá, a atingir uma visão mais clara
acerca da cruz, que é o centro e a glória do evangelho.

Marvin R. Vincent
Covenant Parsonage, Nova York, 30 de outubro de 1886.

ii. Brooke Foss Westcott e Fenton John Anthony Hort (Westcott-Hort) publicaram, em 1881,
The New Testament in the Original Greek, obra crítica em dois volumes, contendo, além do texto
grego do Novo Testamento, a fundamentação teórica e metodológica usada na preparação do
texto original. Lobegott Friedrich Constantin von Tischendorf (1815-1874) foi o estudioso ale­
mão responsável pela tradução do Code.r Ephraemi Rescriptus, manuscrito do Novo Testamento
do século V, e pela descoberta do famoso Codex Sinaiticus. A tradução a que Vincent se refere é
conhecida como Novum Testamentum Graece, editio viii, de 1862-1872.
iii. Este labor foi executado primorosamente por Vincent. Os escritos de João compõem o volume
II desta obra, e os de Paulo, os volumes III e IV

XVII
P refácio à 2.a E dição

Nesta segunda edição, corrigimos alguns erros nas citações bíblicas, junto
com diversas falhas tipográficas no texto grego, como acentos fora do seu lugar,
omissão de aspirações etc. Algumas modificações também foram feitas segundo
as sugestões dos meus revisores. Em muitas das correções do texto grego, estou
em grande dívida com meu velho amigo, Dr. Henry Drisler, do Columbia Col­
lege, cuja ajuda inestimável jamais teria ousado solicitar, no caso de uma tarefa
literária assim tão penosa, mas que, de forma voluntária e gentil, me apresentou
uma lista dos erros percebidos por ele anotados em sua leitura atenta da obra.

Nova York, 10 de dezembro de 1888.


M arvin R. V incent —
V ida e O bra

O pastor e teólogo presbiteriano Marvin Richardson Vincent (1834-1922) é,


sem dúvida, um dos maiores especialistas do texto grego do Novo Testamento
em todos os tempos. Já em sua época, Vincent era assim considerado, e toda a
fama que o antecedeu, e que atravessou décadas, chegando aos nossos dias, é
mais do que justificada. A obra que o leitor tem em mãos é um forte testemu­
nho dessa verdade. Trata-se de sua obra magna, publicada em 1886 e que, mais
de cem anos depois, ainda é referência para os estudantes da Bíblia.
Marvin R. Vincent nasceu em 11 de setembro de 1834, na cidade de Pou­
ghkeepsie, no estado de Nova York, EUA. Filho de um pastor metodista, seus
primeiros anos de fé foram como membro da Igreja Metodista Episcopal de
Nova York. Formou-se no Columbia College (hoje, Universidade de Colum­
bia), em 1854, graduando-se com honras e como o primeiro aluno da sua tur­
ma. Nos quatro anos seguintes, dirigiría, ao lado do professor Charles Anthon,
o Liceu do College Columbia, até aceitar o convite para assumir a cadeira de
professor de latim na Troy University, fundada em Nova York, em 1858, pela
Igreja Metodista Episcopal. Nesse período, estudou Teologia privativamente,
e, depois de passar por testes que comprovaram seu conhecimento teológico,
foi ordenado ao ministério pela Igreja Metodista Episcopal, em 1860.
O jovem pastor lecionaria em Troy até 1861, quando a instituição teve de
fechar as portas. Em 1862, segundo ano da Guerra Civil Americana, Vincent
seria pastor da Igreja Metodista Episcopal do bairro do Brooklyn, na Pacific
Street, em Nova York; mas, no ano seguinte, deixaria a sua denominação, aten­
dendo a um convite para liderar a Primeira Igreja Presbiteriana de Troy. Ele
assumiu o pastorado dela em 23 de junho de 1863. Foi a partir dessa época que
seu ministério ganhou notoriedade.
V incent - E studo no Vocabulário G rego NT

Vincent pastorearia essa igreja por dez anos, desenvolvendo um ministé­


rio relevante em sua geração, com repercussões até mesmo no meio secular.
Nesse período, ele ficaria famoso, por exemplo, pela sua defesa intransigente
em favor da causa abolicionista, pregando, com base nas Escrituras, contra o
pecado da escravatura na América. Igualmente célebre foi o seu “Sermão sobre
o assassinato de Abraham Lincoln”, de abril de 1865, usando como base de sua
mensagem o texto de 2Sm 3.38: “Não sabeis que hoje caiu em Israel um prínci­
pe e um grande homem?”. Vincent não foi o único pastor de seu país a pregar
um sermão, refletindo sobre o assassinato de Lincoln, mas o seu sermão foi um
dos mais célebres e marcantes de sua época. Em 1868, ele recebería o título de
Doutor em Teologia pelo Union Theological Seminary, em Nova York.
Quando deixou o pastorado da Primeira Igreja Presbiteriana de Troy para
assumir, em abril de 1873, a liderança da jovem Igreja Presbiteriana da Alian­
ça, em Nova York, Vincent já era uma celebridade. Com apenas 13 anos de fun­
dação, a Igreja da Aliança já contava com um belíssimo templo com capacidade
para mil pessoas, o qual muitas vezes ficava repleto para ouvir os sermões do
seu erudito pastor, admirado pela sua vasta cultura e dedicação. Era bastante
comum encontrar nos jornais nova-iorquinos da época informações sobre o
ministério de Vincent. Quando ele assumiu a liderança da Igreja da Aliança,
por exemplo, foi matéria no jornal The New Tork Times. E quando a deixou,
para passar quatro meses na Europa, e depois assumir uma cadeira no Union
Theological Seminary (UTS), mais uma vez o Times publicou, em 26 de maio
de 1888, uma matéria, noticiando as mudanças ministeriais na vida do reveren­
do Vincent.
Também por essa época, Vincent já havia se notabilizado pela publicação
de sermões, como “Amusement: A Force in Christian Training” (1867), “The
Two Prodigals” (1876) e “God and Bread” (1884), dentre tantos outros; por
obras teológicas de sua autoria, como Faith and Character (1880), The Minister’s
Handbook (1882) e Cristo como Ensinador (1886); e pela tradução, do alemão
para o inglês, de Gnomon o f the New Testament, do pastor e teólogo luterano
pietista Johann Albrecht Bengel (1687-1752), o qual traduziu era parceria com
o professor Charlton T. Lewis. Essa tradução, publicada em 1863 (dois volu­
mes de 900 páginas cada), foi citada pelo jornal The New Tork Times de 21 de
setembro de 1874 como sendo, em apenas 11 anos, já de grande popularidade
na América.
Porém, a maior das obras de Vincent ainda viria ao lume. Foi apenas em
1886, aos 52 anos de idade e mais de 30 anos de magistério e ministério, quan­
do era professor de literatura sacra no Union Theological Seminary, que o
reverendo Marvin Vincent lançou a obra de sua vida, a mais madura e rica de

xxii
M arvin R. V incent - V ida e O bra

todas as suas produções: Word Studies in the New Testament, um comentário


linguístico do Novo Testamento em três volumes, com o último lançado em
1889. Desde o seu falecimento, em 1922, nenhuma outra obra de Vincent foi
mais citada e admirada como esta.

Silas Daniel
Editor-chefe do Depto. de Jornalismo da CPAD

XXlll
L ista de R eduções

L iv r o s d a B íb l ia

Antigo Testamento Is Isaías


Gn Gênesis Jr Jeremias
Êx Êxodo Lm Lamentações
Lv Levítico Ez Ezequiel
Nra Números Dn Daniel
Dt Deuteronômio Os Oseias
Js Josué J1 Joel
Jz Juizes Am Amós
Rt Rute Ob Obadias
lSm 1 Samuel Jn Jonas
2Sm 2 Samuel Mq Miqueias
lRs 1 Reis Na Naum
2Rs 2 Reis Hc Habacuque
lCr 1 Crônicas Sf Sofonias
2Cr 2 Crônicas Ag Ageu
Ed Esdras Zc Zacarias
Ne Neemias Ml Malaquias
Et Ester
Jó Jó Novo Testamento
SI Salmos Mt Mateus
Pv Provérbios Mc Marcos
Ec Eclesiastes Lc Lucas
Ct Cantares Jo João
V in c e n t - E stu do no V o c a b u l á r io G rego NT
At Atos dos Apóstolos Tt Tito
Rm Romanos Fm Filemom
lCo 1 Coríntios Hb Hebreus
2Co 2 Coríntios Tg Tiago
G1 Gálatas lPe 1 Pedro
Ef Efésios 2Pe 2 Pedro
Fp Filipenses lJo 1 João
Cl Colossenses 2Jo 2 João
lTs 1 Tessalonicenses 3Jo 3 João
2Ts 2 Tessalonicenses Jd Judas
lTm 1 Timóteo Ap Apocalipse
2Tm 2 Timóteo

L i t e r a t u r a A p ó c r if a

Sb Sabedoria lMc 1 Macabeus


Sr Sirácida, ou Eclesiástico 2Mc 2 Macabeus
Jt Judite Br Baruque
Tb Tobias

T exto s e T raduções

a 2 1 Almeida Século 21 (2010)


ACF Almeida Corrigida e Revisada Fiel, SBTB (1994)
AEC Almeida Edição Contemporânea (1990)
ARA Almeida Revista e Atualizada (1993)
ARC Almeida Revista e Corrigida (2009)
BJ Bíblia de Jerusalém (2002) i
BP ■Bíblia do Peregrino (2006)
BV Bíblia Viva (1999)
COVERDALE ^Bíblia de Coverdale
CRANM ER Bíblia de Cranmer
ECP Bíblia Sagrada Edição Catequética Popular (2009)
EP Bíblia Sagrada Edição Pastoral (1990)
KJNTA King James Nova Tradução Atualizada (2005)
KJV King James Version, ou Versão Autorizada (1611)
LXX Septuaginta, ou Versão dos Setenta
NCL Nova Chave Linguística do Novo Testamento Grego
N T IA Novo Testamento Interlinear Analítico Grego-Português: Texto
Majoritário com Aparato Crítico
xxvi
L ista de R eduções

NTLH Nova Tradução na Linguagem de Hoje (2008)


NVI Nova Versão Internacional
RV Revised Version of the New Testament
RV-OT Revised Version of the Old Testament
TB Tradução Brasileira (2010)
ΤΕΒ Tradução Ecumênica da Bíblia (1994)
TM The Greek New Testament according to the Majority Text (2.a ed.)
TR Texto Recebido, ou Textus Receptus
TYNDALE Versão do Novo Testawmento, de Tyndale
VULGATA Tradução latina do Novo Testamento
WYCLIFFE Versão do Novo Testamento, de Wycliffe

G e r a is

cap., caps. capítulo, capítulos i.e. lat. id est, isto é


cp· compare, confronte ss. seguintes
ibid. lat. ibidem, na mesma obra v., vv. versículo, versículos
id. lat. idem, do mesmo autor

xxvii
M ateus

Introdução

Sabemos muito pouco acerca da pessoa de Mateus. Ele era filho de Alfeu, ir­
mão de Tiago, o Pequeno, e possivelmente de Tomé Dídimo. Os únicos fatos que
os evangelhos registram a respeito dele são o chamado e a festa de despedida. Ele
havia sido um publicano, ou cobrador de impostos, a serviço do governo romano;
um ofício desprezado pelos judeus em função das extorsões que normalmente
eram cometidas por tais funcionários, e porque se tratava de um sinal irritante
de sujeição a um poder estrangeiro. Ao ser chamado por Cristo, Mateus abdicou
imediatamente à sua função e ao seu antigo nome de Levi. Os registros da tradi­
ção ao seu respeito dão conta de que ele teria levado uma vida ascética, à base de
ervas e água. Existe uma lenda segundo a qual, depois da dispersão dos apósto­
los, ele teria viajado ao Egito e à Etiópia para proclamar o Evangelho; que teria
ficado ocupado na capital da Etiópia, na casa do eunuco batizado por Filipe, e que
também teria superado dois mágicos que estavam afligindo o povo com doenças.
Relatos posteriores informariam que ele teria ressuscitado o filho do rei do Egito
dentre os mortos, curado a sua filha Efigênia de lepra e a elevado à liderança de
uma comunidade de virgens dedicadas ao serviço de Deus; e que um rei pagão,
na sua tentativa de removê-la da sua clausura, fora acometido de lepra, e o seu
palácio destruído por um incêndio.
Segundo a lenda grega, Mateus teria morrido em paz; entretanto, segundo a
tradição da Igreja Ocidental, ele teria sofrido martírio. Jameson afirma:

Poucas igrejas são dedicadas a São Mateus, ao que me consta ele não é patrono de
nenhum país, comércio, ou profissão, exceção feita aos cobradores de impostos ou fun­
cionários da receita; e esta, talvez, seja a razão pela qual, salvo quando ele é represen-
M ateus —I ntrodução

tado entre as séries de autores de evangelhos, ou de apóstolos, Mateus, normalmente,


é retratado de forma solitária, ou em figuras devocionais. Quando ele é retratado como
um evangelista, ele está segurando um livro, ou uma pena de escrita; e o anjo, seu
ajudante fiel, está ao seu lado, ora apontando para os céus, ora ditando palavras, ora
segurando o tinteiro, ora servindo de apoio para o livro. Na sua caracterização como
apóstolo, São Mateus normalmente está segurando uma bolsa, ou um saco para carre­
gar dinheiro, como lembrete significativo da sua antiga vocação1.

Mateus escreveu, provavelmente na Palestina e, evidentemente, para os cris­


tãos judeus. Existem dos pontos de vista acerca da língua na qual o seu evan­
gelho teria, originalmente, sido redigido; (l) ele teria escrito em hebraico ou
siro-caldeu, o dialeto falado na Palestina pelos cristãos judeus; (2) Ele teria sido
escrito em grego. A primeira teoria é apoiada pelo testemunho unânime da igre­
ja primitiva; e os pais eclesiásticos que afirmam isto, também declaram que a sua
obra foi traduzida para o grego. Nesse caso, a tradução, muito provavelmente,
não teria sido feita pelo próprio Mateus, nem sob a sua supervisão. A tendência
do academicismo moderno, entretanto, é a favor de um original grego. Uma
grande incerteza paira acerca da época da sua composição. Segundo o testemu­
nho dos pais eclesiásticos mais antigos, o Evangelho de Mateus é o primeiro em
ordem, apesar de as evidências internas favorecerem a prioridade de Marcos.
Evidentemente, ele foi escrito antes da destruição de Jerusalém (ano 70 d.C.).
Segundo Farrar:

Caso este acontecimento tivesse antecedido a composição dos evangelhos sinópticos e


das epístolas paulinas, nada é mais seguro do que uma menção direta deste fato nestes
documentos, além de que este episódio —caso fosse anterior —, teria exercido uma
influência imensa nos pensamentos e nos sentimentos dos apóstolos e evangelistas.
Nenhum escritor que tratasse dos temas, dos argumentos e das profecias com os quais
estão constantemente ocupados, podería, talvez, deixado de apelar para a tremenda
sanção que foi dada a todos os seus pontos de vista por parte do próprio Deus que,
daquela forma, manifestava a sua providência na história humana e revelava todas as
coisas por intermédio da tranquila luz das inevitáveis circunstâncias2.

O objetivo de Mateus era apresentar o Evangelho como o cumprimento da Lei


e das Profecias, fazer a ligação entre passado e presente, mostrar que Jesus era o
Messias dos judeus, e que no Antigo Testamento o Novo era prefigurado, assim
como no Novo Testamento o Antigo era revelado. Por isso, o seu evangelho tem
um sabor mais definidamente judaico do que os demais sinópticos. O sentimento
da nacionalidade judaica aparece no registro das palavras de Cristo a respeito das

1. Jameson, Sacred and Legendary Art.


2. Farrar, Messages o f the Books.

2
M ateus —I ntrodução

“às ovelhas perdidas da casa de Israel” (15.24); no mandamento para que os discí­
pulos não tomassem o caminho dos gentios, nem entrassem nas cidades dos sama-
ritanos (10.5); na profecia de que os apóstolos estariam assentados como juizes na
“regeneração” (19.28). Além disso, é notória a genealogia do Senhor retrocedendo
somente a Abraão; a ênfase posta nas palavras da Lei (10.19; 12.33,37); e a profecia
que equipara o fim de Israel ao “fim do mundo” (24.3,22; 10.23).
Por outro lado, um caráter mais abrangente aparece na adoração do menino
Jesus por parte dos magos procedentes do mundo gentílico; na profecia da prega­
ção do Evangelho do reino para todo o mundo (24.14), e na comissão apostólica
que os enviava a todas as nações (28.19); no elogio à fé de um gentio como sendo
superior à dos israelitás (8.10-12; compare com a história da mulher siro-fenícia,
15.28); no uso da palavra "judeu”, como se referisse a pessoas de fora da nacionali­
dade judaica; nas parábolas dos trabalhadores da vinha (20.1-16), e das Bodas que
comemoravam o casamento do filho de um rei (22.1-14); na ameaça de que o reino
seria retirado de Israel (21.43); e no valor atribuído ao elemento moral e religioso
da Lei (22.40; 23.23). A genealogia de Jesus contém os nomes gentis de Raabe,
uma cananeia, e de Rute, uma moabita. Para Mateus Jesus é, simultaneamente, o
Messias dos judeus, e o Salvador de toda a humanidade.
Como a sua tarefa era aprésentar como a Lei e os Profetas tiveram o seu cum­
primento em Cristo, é comum encontrar alusões a passagens do Antigo Testa­
mento. As suas citações correspondem a duas classes: (l) as mencionadas por ele
mesmo como tendo sido cumpridas nos acontecimentos da vida de Cristo, tais
como 1.23; 2.15,18; 4.15,16; e (2) quanto as que fazem parte do discurso de seus
diferentes personagens, como em 3.3; 4.4,4,7,10; 15.4,8,9. Ele apresenta a lei de
Cristo, não somente como o cumprimento da lei mosaica, mas em contraste com
aquela, tal como é ilustrado no Sermão do Monte. Contudo, mesmo representan­
do a nova lei como mais suave do que a antiga, ele a descreve, ao mesmo tempo,
como a mais rigorosa (vide 5.28,32,34,39,44). O seu evangelho tem um caráter
mais austero do que o de Lucas, que tem sido, apropriadamente, classificado
como “o Evangelho da universalidade e da tolerância”. Nele o elemento punitivo
recebe um maior destaque. Para ele, o pecado tem, primariamente, um apelo de
violação da Lei e, logo, a sua palavra para iniquidade é ανομία (anomia: iniqui­
dade ou ausência de lei), que não ocorre em nenhuma outra parte dos Evange­
lhos. Somente ele registra o dito: “Muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”
(22.14), e, como observou argutamente o professor Abbot, a distinção entre os
chamados (κλητοί) e os escolhidos (ΙκλΕκτοί) se mostra a mais impressionante, já
que Paulo utiliza estas duas palavras de forma praticamente indiferente, e Lucas,
apesar de também registrar a parábola dos convidados indignos, não se arriscou
a utilizar κλητοί com o sentido aviltante empregado por Mateus3. Para ele, igual-

3. Abbot, “Gospels”, in: Encyclopaedia Brittanica.


3
M ateus - I ntrodução

mente, é peculiar o registro da declaração: “Qualquer, pois, que violar um destes


menores mandamentos e assim ensinar aos homens será chamado o menor no
Reino dos céus” (5.19). Continuando a citação de Abbot:

Mateus, mais do que o restante dos evangelistas, parece te r atravessado dias ruins
e, em meio a uma geração desviada, em meio a cães e porcos, que eram indignos
das pérolas da verdade; entre o joio semeado pelo inimigo; entre pescadores que
devolveram ao mar muitos dos peixes apanhados nas redes do Evangelho. O cami­
nho largo está sempre na sua mente, bem como a multidão daqueles que seguem
por ele, o convidado inadequadamente vestido para a festa de casamento, as virgens
tolas, as ovelhas e os bodes, e até pessoas que, mesmo tendo expulsado demônios em
nome do Senhor foram, ainda assim, rejeitadas em função de viverem iniquamente
(ou, na “ausência de lei”). Onde Lucas fala com júbilo da alegria que ocorre nos céus
com o arrependim ento de um único pecador, Mateus, com expressões mais sóbrias e
negativas, declara não ser a vontade do Pai que nenhum destes pequeninos se perca;
e como motivo para não nos distrairm os acerca do futuro, ele informa que “a cada
dia basta o seu mal”. A situação dos judeus, a sua hostilidade crescente para com
os cristãos, bem como o vacilo ou retrocesso de muitos convertidos judeus diante
do aumento das hostilidades pouco antes e durante o cerco a Jerusalém —tudo isto
pode muito bem explicar um lado do Evangelho de Mateus; e o outro lado (a con­
denação da “ausência de lei”) poderia ser explicado como uma referência aos judeus
helenizadores, que (a exemplo de alguns dos coríntios) consideravam que a nova
Lei os libertava de todo tipo de restrição e que, ao lançar mão de todo e qualquer
vestígio da sua nacionalidade, desejavam também lançar mão da sua moralidade.
Na perspectiva da aproximação da queda de Jerusalém, e do retrocesso de grandes
porções da nação, a inserção das palavras “Livra-nos do mal” na Oração do Senhor
e a profecia de que "pela multiplicação da iniquidade, o amor de muitos se esfriaria"
(cf. 24.12), além de adequadas, parecerão também típicas do caráter do conjunto da
obra do primeiro Evangelho*.

Com relação aos outros evangelhos sinópticos, Mateus contém quatorze


seções completas que lhe são exclusivamente peculiares. Dentre elas estão
dez parábolas: a do Joio e do Trigo; a do Tesouro Escondido; a da Pérola;
a da Rede; a do Credor Incompassivo; a dos Trabalhadores da Vinha; a dos
Dois Filhos; a das Bodas; a das Dez Virgens e a dos Talentos. Dois mila­
gres: a cura de dois cegos, e o da moeda encontrada na boca de um peixe.
Quatro acontecimentos da infância de Jesus: a visita dos magos; o massacre
dos infantes; a fuga para o Egito; e o retorno a Nazaré. Sete incidentes liga­
dos à Paixão e à Ressurreição: a negociação e o suicido de Judas; o sonho da

4. Abbot, “Gospels", in: Encyclopaedia Brittanica.


4
M ateus - I ntrodução

mulher de Pilatos; a ressurreição de santos falecidos; a vigília no sepulcro;


o relato do Sinédrio e o terremoto na manhã da ressurreição. Dez grandes
passagens dos discursos do nosso Senhor: partes do Sermão do Monte (5—7);
da revelação aos pequeninos; do convite aos cansados e oprimidos (11.25-30);
das palavras ociosas ou torpes (12.36-37); da profecia a Pedro (16.17-19); da
humildade e do perdão (18.15-35); da rejeição dos judeus (21.43); da grande
denúncia (cap. 23); do discurso escatológico (25.31-46); da Grande Comissão
e Promessa (28.18-20).
Portanto, Mateus é, proeminentemente, um Evangelho didático, sendo que
um quarto do seu conteúdo é ocupado por palavras e discursos oriundos do
próprio Senhor.
Mateus se caracteriza menos pelo estilo, do que pelos seus temas e arranjos.
Os traços ordenados em estilo comercial, que foram reforçados pela sua vivên­
cia como cobrador de impostos, aparecem na ordenaçãoe no agrupamento me­
tódico dos assuntos. A sua narrativa é mais sóbria e menos gráfica do que a fei­
ta por Marcos e Lucas. O retrato da vida, do caráter, e da obra do nosso Senhor
como Mestre, Salvador e Rei Messiânico é pintado de forma simples, ampla e
ousada, porém sem os detalhes mínimos, tais como se pode observar abundan­
temente em Marcos. A sua forma de expressão e de construção de idéias é a
mais hebraica de todos os sinóticos, embora não atinja o nível de hebraísmo
encontrado no Evangelho de João. As seguintes peculiaridades hebraicas po­
dem ser aqui notadas: (l) A expressão Reino dos céus (βασιλεία των ουρανών),
que ocorre trinta e duas vezes e não é encontrada nos outros evangelistas, que
utilizam Reino de Deus. (2) Pai nos céus, ou Pai celestial (ό πατήρ ό év ούρανοις;
ό πατήρ ό ούράνιος). Estas ocorrem quinze vezes em Mateus, somente duas
em Marcos e nenhuma em Lucas, sendo que em 11.2 trata-se de uma falsa
leitura. (3) Filho de Davi, sete vezes em Mateus, três em Marcos, e três em
Lucas. (4) A Cidade Santa (Jerusalém), somente em Mateus. (5) O fim do mundo,
ou Consumação dos Séculos (ή συντέλεια του αίώνος), em Mateus somente. (6)
Para que se cumprisse o quefo i dito (iva ou όπως πληρωθη το ρηθεν), oito vezes
em Mateus, e não registrada em nenhuma outra parte, neste formato. Esta é
uma fórmula característica de Mateus. (7) 0 quefo i dito (το ρηθεν), doze vezes;
fo i falado (έρρήθη), seis vezes; não utilizada em outra parte das Escrituras, pois
em Mc 13.14 trata-se de uma falsa leitura. Mateus sempre utiliza o quefo i dito
(το ρηθεν) quando cita as Escrituras por conta própria. Em outras citações ele
apresenta a forma está escrito (γέγραπται), como os demais evangelistas. Ele
jamais utiliza o singular γραφή (que significa, propriamente, uma passagem da
Escritura). (8) E eis que (καί Ιδού), em narrativas, vinte e três vezes; em Lucas,
dezesseis. (9) Gentio (εθνικός ), somente em Mateus. (10) Jurar em (όμνύειν èv,
isto é, pelo), treze vezes, em Mateus e Ap 10.6.

5
M ateus — I ntrodução

Um número de palavras condenadas pelos gramáticos como não clássicas ou


como populares é empregado por Marcos, e algumas delas podem ser encontradas
em Mateus, tal como μονόφθαλμος, ter um olho-, κολλυβι,σταί., cambistas/ banqueiros,
κοράσιον, criada/menina; ραφίς, agulha. Ele também faz uso de alguns latinismos,
três, pelo menos, em comum com Marcos: ιτραιτώριον, praetorium; κήνσος, tributo;
φραγ^λλόω,flagelar/ açoitar, bem como κουστωδία, guarda, peculiares a ele somente.
Ele frequentemente utiliza as palavras chegar/aproximar-se ou ir (προσέρχομαι,
πορέυω) segundo o costume oriental, para expandir a narrativa; como vemos em
chegando-se a ele o tentador, disse (4.3); chegoujunto dele um centurião (8.5); aproxi-
mando-se dele um escriba, disse (8.19); chegaram aopê dele os discípulos de João, dizendo
(9.14). O primeiro destes dois verbos (προσέρχομαι) ocorre cinquenta e uma vezes,
ao passo que em Marcos se registra somente seis ocorrências dele, e em Lucas, dez.
A palavra óvap, um sonho, é utilizada somente por ele no texto do Novo Testamen­
to, e sempre na expressão κατ’ óvap, em um sonho. Ela ocorre seis vezes. Τάφος, um
sepulcro, é também um vocábulo peculiar a Mateus; os outros evangelistas utiliza­
ram μνήμα ou μνημέιον, sendo que este último também ocorre em Mateus. A frase
ò λεγόμενος, que se chama, é uma expressão predileta quando o apóstolo desejava
anunciar nomes ou sobrenomes (1.16; 10.2; 26.3,14). Mateus acrescenta do povo
junto aos vocábulos escribas e anciãos (2.4; 21.23; 26.3,47; 27.1). Ele escreve em nome
(elç το όνομα), onde os outros evangelistas trazem 4v, em, ou έπί, sobre (10.41,42;
18.20; 28.19). Sua partícula favorita de transição é tóxe, então, que ocorre noventa
vezes, contra seis em Marcos e quatorze em Lucas (2.7; 3.5; 8.26; 11.20). Há cerca
de cento e vinte palavras de uso exclusivo de Mateus no texto do Novo Testamen­
to. Dois exemplos ocorrem em um jogo de palavras: άφανίζουσι φανώσι, eles fa­
zem o seu rosto desaparecer, para que eles possam aparecer (cf. 6.16); κακούς κακώς,
ele destruirá maldosamente os lavradores maus (cf. 21.41).
O escritor está completamente imerso em sua narrativa. A própria falta de
individualidade no seu estilo corresponde ao fato de que, à exceção do momen­
to de seu chamado e da festa por ele patrocinada, Mateus não aparece no Evan­
gelho que leva o seu nome, nem mesmo como alguém que faz uma pergunta. Já
foi sugerido que traços da sua antiga ocupação aparecem no uso da expressão
moeda do tributo, em vez de ceitil, e no registro do milagre da moeda (um es-
táter) que foi encontrada na boca de um peixe; entretanto, o nome “Mateus, o
publícano” tem, primordialmente, a função de enfatizar a sua obscuridade. O
judeu que recebia o Messias retratado pelo evangelista jamais conseguia se
livrar da aversão pelo ofício ou classe que representava, Um evangelho escrito
por um publicano dificilmente parecería adaptado para alcançar justamente o
povo a quem ele era dirigido.
Tenha ou não a percepção deste fato se unido para produzir esta reticência,
com a humildade engendrada pela contemplação do seu Senhor, é certo que o
6
M ateus - T ítulo

próprio evangelista está completamente escondido por trás da massa utilizada


no quadro onde foi pintado o Messias da esperança judaica, o Salvador da huma­
nidade, a flor definitiva da antiga Lei, a vida perfeita e o ensinamento inigualável
do Filho de Davi.

T ítu lo

O Evangelho (ευαγγελίου). Esta expressão significa, originalmente, um pre­


sente dado em troca de uma boa notícia. Assim, Homero faz Ulisses dizer a Eumeu:
“Seja esta recompensa (ευαγγελίου) entregue em troca destas boas novas”5. No
grego ático ela significava (no plural) um sacrifício por boas notícias. Posterior­
mente, veio assumir o sentido único de boas novas - as alegres notícias do reino
do Messias. Apesar de a expressão ser naturalmente utilizada como título dos
livros que continham a história das boas novas, no texto do Novo Testamento
em si, ela jamais é aplicada no sentido de um livro escrito, mas sempre significa
a palavra proclamada.

Segundo (κατά). O uso deste termo difere da expressão Evangelho de Mateus.


O Evangelho é de Deus, não de Mateus, nem de Lucas; sendo, substancialmente,
um e o mesmo em todos os escritos dos evangelistas. Logo, o vocábulo “segun­
do”, implica um elemento genérico no Evangelho que Mateus passa adiante no
seu estilo peculiar. O significado é. as boas novas do reino, conforme entregues ou
representadas por Mateus.

Mateus (Ματθαίον). Mateus e Levi designam a mesma pessoa (Mt 9.9; Mc


2.14; Lc 5.27). O nome Levi não aparece em nenhuma lista que apresenta os
apóstolos de Jesus, Mateus, entretanto, é mencionado em todas. Os judeus mar­
cavam mudanças decisivas nas suas vidas por meio da troca de nome (cp. com
os nomes Simão e Pedro; Saulo e Paulo); de forma que fica evidente que Levi,
depois do seu chamado ao apostoladq, passou a se nomear Mateus. Este último
é uma forma contraída do nome hebraico Mattathias e significa presente de Deus,
que corresponde ao nome grego Teodoro (θεός, Deus; δώρου, um presente). O
nome Mateus desbancou de forma tão completa o antigo, Levi, que é antecipado
pelo próprio evangelista, no capítulo 9 e versículo 9, onde o autor é chamado de
Mateus. Marcos e Lucas, ao narrarem o chamado de Mateus, e de forma mais
precisa, tratam-no, ainda, de Levi (Mc 2.14; Lc 5.27). Todavia, nas listas apresen­
tadas dos apóstolos (Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13), eles o elencaram corretamente
na forma de Mateus.

5. Homero, Od., xiv. 152.


7
M a t e u s - C ap . 1

C a pítulo l

1. Cristo (Xptotóç). Este vocábulo é um adjetivo e não um substantivo, e signi­


fica ungido (χρίω, ungir). Trata-se de uma tradução do hebraico ntãshiak (rroa),
o rei e governante espiritual da linhagem de Davi, prometido com este nome no
Antigo Testamento (SI 2.2; Dn 9.25-26). Assim, André disse a Simão: “Achamos o
Messias (que, traduzido, é o Cristo)” (Jo 1.41; cp. At 4.27; 10.38; 19.28). Todavia,
para nós, o vocábulo “Cristo” se transformou em um nome próprio sendo escrito
sem o artigo definido. Porém, no corpo das narrativas evangélicas, a identidade
de Jesus como o Messias prometido, continuava sob questão por parte do povo.
O artigo é habitualmente empregado e o nome, logo, deve ser traduzido como
“o Cristo”. Depois dà ressurreição, quando o reconhecimento de Jesus como o
Messias se generalizou, encontramos o termo já começando a ser utilizado como
um nome próprio, com ou sem o artigo. Nesta passagem, o artigo é omitido em
função do seu posicionamento no cabeçalho de um capítulo e por ser a expressão
da fé que o próprio evangelista tinha de què Jesus era, de fato, o Messias.
A unção era aplicada aos j-eis (lSm 9.16; 10. l), aos profetas (lRs 19.16), e aos
sacerdotes (Êx 29.29; 40.15; Lv 16.32), no momento da sua investidura nos cargos.
“O ungido do Senhor” era um título comum dado aos reis (lSm 12.3,5; 2Sm 1.14-
16). Os profetas são chamados de “Messias" (no plural) ou ungidos (lCr 16.22; SI
105.15). Ciro também é chamado de “ungido do'Senhor”, em função de ter sido
chamado ao trono para libertar os judeus do cativeiro (Is 14.1). Assim, o vocábulo
“Cristo” era uma representação do nosso Senhor, que uniu em si mesmo as funções
de rei, profeta e sacerdote.
É interessante notarmos como a unção guarda relação com o nosso Senhor
em outras e menores particularidades. Era um ato de hospitalidade e um sinal
de festividade e alegria. Jesus foi ungido por uma mulher, quando foi convidado
à casa de Simão, o fariseu, e repreendeu o seu anfitrião por desprezar esta marca
de respeito para consigo (Lc 7.35-46). Na epístola aos Hb 1.8-9, os vocábulos do
salmo messiânico 45.7 são aplicados a Jesus: “Deus, o teu Deus, te ungiu com
óleo de alegria, mais do que a teus companheiros”.
A unção também era feita em pessoas enfermas (Mc 6.13; Lc 10.34; Tg 5.14).
Jesus, “o Grande Médico”, é descrito por Isaías (61.1-2; cp. Lc 4.18), como ungi­
do por Deus para restaurar os contritos de coração, e para dar aos tristes o óleo
da alegria. Ele mesmo ungiu os olhos de um cego (Jo 9.6-11); e os Doze, no seu
nome, “ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam” (Mc 6.13).
A unção ainda era feita sobre os mortos. Jesus declarou acerca da mulher que
quebrou um vaso de alabastro sobre a sua cabeça em Betânia: “[Ela^ antecipou-
se a ungir o meu corpo para a sepultura” (Mc 14.8; vide Lc 23.56).

8
M ateus - Cap. 1

O Filho (υιός). Ο vocábulo τέκνου (criança) é, normalmente, utilizado de for­


ma intercambiável com υιός {filho), mas jamais é aplicado a Cristo. (Para saber
mais sobre τέκνου, vide lJo 3.1.) Enquanto em τέκνου normalmente esteja im­
plícita a relação passiva ou dependente dos filhos aos seus pais, υ'ιός concentra
o nosso pensamento na pessoa em si e não na dependência dela perante os pais.
Este termo sugere individualidade em vez de descendência; ou, se expressa des­
cendência, faze-o, principalmente, para trazer à luz o fato do filho ser digno do
seu pai. Dessa forma, o vocábulo marca a relação filial como transmissora de
privilégio, dignidade e liberdade. E o único termo apropriado para expressar
a filiação de Cristo {vide 3o 1.18; 3.16; Rm 8.29; Cl 1.13,15). Por intermédio de
Jesus, a dignidade dos filhos é conferida aos crentes, de forma que o mesmo vo­
cábulo é adequado para designar os cristãos: osfilhos de Deus. Vide Rm 8.14; 9.26;
G1 3.26; 4.5-7.

6. O rei Davi (τον Δαικίδ τον βασιλέα, “ο Davi, ο rei”). Os dois vocábulos são,
assim, enfatizados: o Davi de quem Cristo, se Ele era o Messias, devia descen­
der; o rei com quem a genealogia do Messias alcançou a dignidade real. Nesta
genealogia, onde as gerações são simetricamente divididas em três grupos de
quatorze, o evangelista parece conectar o último nome de cada grupo com uma
época crítica da história de Israel: o primeiro, indo da origem da raça até o início
da monarquia (“Davi o rei’); o segundo, do início da monarquia até o cativeiro
babilônico; e o terceiro, e último, do cativeiro até a vinda de “o Cristo”. O mes­
mo uso enfático ou demonstrativo do artigo ocorre com o nome de José (v. 16),
marcando a sua relação peculiar com Jesus, como o marido de Maria: o José, o
marido de Maria.

18. Desposada (μνηστευθ^ίσης). A nvi e teb trazem a leitura: prometida em casa­


mento; enquanto a bj, comprometida em casamento. A ecp, t b e a ra concordam com
arc . A narrativa implica uma distinção entre noivado e casamento. A partir do
momento do noivado (ou, contrato de casamento), a mulher já era tratada como
se estivesse casada de fato. A união somente poderia ser dissolvida por um divór­
cio regular. A violação da fidelidade era considerada como adultério e passível de
pena de morte (Dt 22.23-24), e os bens da mulher passavam a pertencer ao noivo,
a menos que ele renunciasse expressamente a esta prerrogativa; contudo, mesmo
nestes casos, ele era o seu herdeiro natural.

19. Não queria (μή θέλων) - intentou (έβουλήθη). Na bj, a ra e t b , não querendo
- resolveu. Estes dois vocábulos descrevem a atitude mental de José com intuito
de expressar diferentes etapas do seu pensamento. Os dois termos abrem a
questão de seus distintos significados no texto do Novo Testamento. Eles, de
modo geral, ocorrem nas formas θέλω, este mais frequentemente, e βούλομαι,
9
M ateus - C ap . l

e onde a tradução, em tantos casos feita com as mesmas palavras, não nos dá
qualquer pista de diferenciação. Os verbos originais são usados de forma sinô­
nima nos casos onde não existe qualquer distinção. Contudo, o seu emprego
em certos textos revela uma diferença radical e reconhecida. A substituição é
inadmissível quando a força maior da expressão exigir θελειι/. Por exemplo, a
forma βούλεσθαι seria completamente inadequada em Mateus 8.3: “Quero; sê
limpo”; ou em Rm 7.15.
A distinção, que é amplamente ilustrada em Homero, é substancialmente susten­
tada pelos autores clássicos em geral, bem como pelos textos do Novo Testamento.
Θέλει!1 é o vocábulo mais forte e designa um propósito ou determinação, ou
ainda um decreto, cuja execução está, ou se acredita estar, no poder da pessoa que
assim o quer. Βούλεσθαι exprimi desejo, inclinação ou disposição, caso desejemos
fazer uma coisa por nós mesmos ou queiramos que outra pessoa a faça. Θελειν,
por conseguinte, denota a resolução ativa, a vontade que impele à ação. Βούλεσθαι é
ter uma mente, um desejo, às vezes um pouco mais forte, já entrando no sentido de
propósito. Isto posto, θελειν indica um impulso da vontade, enquanto βούλεσθαι,
uma tendência dela. Βούλεσθαι sempre pode ser traduzida por θέλειν, mas θέλειι>
nem sempre pode ser expressada por βούλεσθαι.
Dessa forma, Agamenon declara: “Eu não quis (ούκ έθελον) receber a redenção
pela criada (isto é, Eu me recusei a receber), porque desejo (βούλομαι) muitíssi­
mo tê-la em casa"6. Além dele, vejamos Demóstenes: “É conveniente que desejes
(έθέλειν) ouvir àqueles que desejam (βουλομένων) dar conselhos”7. Quer dizer:
Está ao seu alcance determinar se ouvirá ou não aqueles que desejam lhe dar
conselhos, só que o poder para fazer isto depende do seu consentimento. Nova­
mente: “Se os deuses quiserem (θέλωσι) e você o desejar (βούλησθε)”8.
No texto do Novo Testamento, como observamos acima, apesar de os verbos
ocorrerem com frequência intercambiáveis, a mesma distinção é reconhecida.
Assim em Mt 2.18: "era Raquel chorando os seus filhos e não querendo (ήθελε)
ser consolada”; ela se recusava de forma firme e obstinada. José, tendo o di­
reito e o poder, sob aquelas (supostas) circunstâncias, para fazer de Maria um
exemplo público, resolveu (θελων) poupá-la desta exposição. Então, levantou-se
a pergunta - O que José deveria fazer? Ele pensou a respeito, e, depois de pensar
(ει/θυμηθεντος), a sua mente se inclinou (tendência), e José intentou (εβουλήθη) se
afastar secretamente dela.

6. Homero, Ilíada 1.112.


7. Demóstenes, Olynth., 1.1.
8. Ibid., 2.20. Uma análise completa do uso clássico demandaria um ensaio literário. O estudante
crítico deve recorrer ao verbete βούλεσθαι, na obra Synonymik der Griechischen Sprache, de Sch­
midt, vol. III, p. 602. Fide também o verbete θέλω, na obra Claris Nov. Test, de Grimm. A sua
classificação de significados, todavia, necessita de uma minuciosa revisão.
10
M ateus - C ap. l

Alguns exemplos do uso intercambiável desses vocábulos podem ser aqui en­
contrados. Mc 15.15: “Pilatos querendo’ (βουλόμβΌς); compare com Lc 23.20: “Pi-
latos querendo” (θέλων). At 27.43: “o centurião querendo (βουλόμ€νος); Mt 27.17:
“Qual quereis que vos solte?” (θέλατε); vide versículo 21. Jo 18.39: “Quereis, pois,
que vos solte” (βούλ€σθε); M t 14.5: “querendo matá-lo” (θέλων). Mc 6.48: “queria
passar adiante deles” (ήθίλε); At 19.30: “querendo Paulo apresentar-se ao povo”
(βουλομένου). At 18.27: “Querendo ele passar à Acaia” (βουλομένου). T t 3.8: “isto
quero que deveras afirmes” (βούλομαι). Mc 6.25: “Quero que, imediatamente, me
dês” (θέλω), etc.
No texto do Novo Testamento, θέλω ocorre nos seguintes sentidos:
1. Decreto ou determinação da vontade, (a) Do Senhor Deus (Mt 12.7; Rm 9.16-
18; At 18.21; lCo 4.19; 12.18; 15.38). (b) De Cristo (Mt 8.3; Jo 17.24; 5.21;
21.22). (c) Dos homens (At 25.9). Festo, tendo o poder para gratificar os judeus,
e determinado a fazer isto, diz a Paulo, que tem o direito para decidir: “Queres tu
subir a Jerusalém?” (At 25.9). Em Jo 6.67, quando outros discípulos decidiram
abandonar o Mestre, Cristo se dirige aos doze, indagando: “Quereis vós também
retirar-vos?” É esta a vossa determinação? Em Jo 7.17, lê-se: “Se alguém quiser
fazer a vontade £de Deus], ou, estiver determinado a fazer a vontade de Deus”;
enquanto em Jo 8.44: “quereis satisfazer os desejos de vosso pai”. Leia também
At 24.6.
2. Desejo. Muitíssimas passagens citadas neste item, segundo Grimm, podem
ser corretamente interpretadas como casos em que se implica algo mais forte que
um desejo; notadamente em Mc 14.36, que se refere a Cristo no Getsêmani. O
nosso Senhor dificilmente teria feito uso da expressão o que tu queres num senti­
do tão débil de modo a implicar somente um desejo da parte de Deus. Mc 10.43:
“qualquer que, entre vós, quiser ser grande”, expressa mais do que um desejo por
grandeza, mas um objetivo de vida. Em Mt 27.15, vemos que os judeus receberam
a prerrogativa para decidir qual prisioneiro seria solto. Em Lc 1.62, o nome do
infante João foi tido como decisão tomada por Zacarias. Em Jo 12.24, segura­
mente, Cristo expressa mais do que um desejo de que aqueles que lhe foram dados
pelo Pai estejam com Ele. Em Lc 9.54, Jesus é quem deveria ordenar que o fogo
descesse sobre as aldeias de Samaria, se assim o quisesse (vide também Jo 15.7;
lCo 4.21; M t 16.25; 19.17; Jo 21.22; Mt 13.28; 17.12). Nesse mesmo sentido
podemos citar apropriadamente 2Co 11.12; Mt 12.38; Lc 8.20; 23.8; Jol2.21; G1
4.20; Mt 7.12; Mc 10.35.
3. Gosto (Mc 12.38; Lc 20.46; Mt 27.43). Vide respectivas notas.
Βούλομαι ocorre com as seguintes acepções:
1. Inclinação ou disposição (At 18.27,19.30; 25.22; 28.18; 2Co 1.15).
2. Mais acentuado, com a ideia de objetivo (lTm 6.9; Tg 1.18; 3.4; lCo 12.11;
Hb 6.17).
11
M ateus - C ap. 1

Na maioria, senão em todos os casos mencionados, poderiamos ter expectativa


do uso de θέλειν; só que neste uso de βούλομαι existe uma ênfase ampliada no
elemento da livre decisão ou autodeterminação, que transmite ao desejo ou inclinação
uma força decretória. Esta característica está na vontade humana por dom e con­
sentimento. Na vontade divina ele é inerente. Neste ponto, o uso que Homero faz
pode servir de termo de comparação, pois o autor emprega a palavra βούλομαι,
ocasionalmente, para expressar determinação, mas somente com referência
aos deuses, nos quais o desejar é o mesmo que o querer. Assim: “Se Apoio quiser
(βούλεται) impedir a praga”". “Apoio desejava (βούλετο) vitória aos troianos”10.

Infamar (δειγματίσαι). Na bj, denunciá-la publicamente·, na teb , difamá-la publi­


camente. O termo aqui mencionado vem do mesmo ramo de δείκυυμι, que significa
exibir, mostrar, indicar. Neste caso, contudo, significa expor Maria à execração pú­
blica (A nvi traz: expô-la à desonra pública-, na ntlh consta: difamar Maria). Q termo
ocorre em Cl 2.15, como referência ao Salvador vitorioso que mostra os poderes
subjugados do mal, tal qual um general mostra os seus troféus, ou os seus cativos
em uma parada militar triunfal. "... Os expôs publicamente”. Um composto deste
mesmo vocábulo (παραδειγματίζω) aparece em Hb 6.6: “de novo crucificam o Filho
de Deus e o expõem ao vitupério”.

21. Lhe porás o nome. Dessa forma, transmitindo as responsabilidades de um pai


a José. O nome do Messias ainda por nascer deveria corresponder aos anseios popu­
lares. Os rabinos tinham um provérbio acerca dos seis homens que receberam nome
antes de nascerem: “Isaque, Ismael, Moisés, Salomão, Josias e o nome do Messias, a
quem o Santo, louvado seja o seu nome, em breve fará saber nestes nossos dias”.

Jesus (Ίησοϋν). A forma grega de um nome hebraico, que havia designado duas
pessoas ilustres da história de Israel no Antigo Testamento - Josué, o sucessor
de Moisés; e Jesua, o sumo sacerdote que, em conjunto com Zorobabel, assumiu
um papel ativo no restabelecimento dos sistemas civil e religioso dos judeus no
retorno de Babilônia. A sua forma original e completa é Jehoshua, tornando-se,
por contração, Joshua (Josué) ou Jeshua (Jesua). Josué, o filho de Num, é um tipo de
Cristo no seu ofício de capitão e libertador do seu povo, ao considerarmos o aspecto
militar da obra salvífica (Ap 19.11-16). Na revelação a Moisés, Deus assumiu um
caráter de Legislador; mas na revelação a Josué, assume o de Senhor dos Exércitos
(Js 5.13-14). Sob o comando de Josué, os inimigos de Israel foram conquistados e o
povo estabelecido na Terra Prometida. De modo semelhante, Jesus guia o seu povo
na luta contra o pecado e a tentação. Ele é o líder da fé que vence o mundo (Hb
12.2). Ao segui-lo, entramos no descanso.

9. Homero, Ilíada, 1.67.


10. Ibid., 7.21.

12
M a t e u s - C ap. 1

O oficio sacerdotal de Jesus é prenunciado no sumo sacerdote Jesua que, na


visão de Zacarias (cap. 3; cp. Ed 2.2), comparece no tribunal diante de Deus, sob
acusação de Satanás, vestido de trajes imundos. Josua representa não somente a
si mesmo, mas assume a defesa do Israel pecador e sofredor. Satanás é derrotado.
O Senhor o repreende e declara que ele remirá e restaurará o seu povo trans­
gressor; e como sinal disso, Deus ordena que o sacerdote acusado seja vestido de
roupas limpas e coroado com a mitra sacerdotal.
Assim, neste sacerdote Jesua, temos uma tipificação do nosso Grande Sumo
Sacerdote, que se compadece das nossas fraquezas, e que, como nós, em tudo foi
tentado. Ele confronta Satanás no deserto; discute com ele acerca das vítimas
da sua malícia —os enfermos, os pecadores e os endemoninhados. As suas vestes
reais são deixadas para trás. Ele não considerou “a igualdade com Deus como
algo a que agarrar-se”, mas “aniquilou-se a si mesmo”, tomando a “forma de um
servo”, humilhando-se a si mesmo e sendo “obediente até a morte” (Fp 2.6-7).
Ele assume as roupas manchadas da nossa condição humana: “Aquele que não co­
nheceu pecado, foi feito pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de
Deus” (2 C0 5.2l), afirma Paulo. Jesus é, ao mesmo tempo, o sacerdote e a vítima.
Ele intercede pelo homem pecador diante do trono de Deus, e o remirá. Cristo
repreenderá toda a malícia e lançará por terra o poder de Satanás, e o verá cair
“como raio do céu” (Lc 10.18). O Senhor ressuscitou para salvar e purificar os
homens da sua frágil natureza, da sua vontade rebelde e das suas paixões incon-
troláveis —pessoas covardemente arrogantes e hipócritas como Pedro, persegui­
dores como Saulo de Tarso, na sua fúria - e fazer deles testemunhas da sua graça
e pregadores do seu amor e poder. O reino de Cristo será um reino sacerdotal,
e o cântico da sua Igreja redimida será: “Aquele que nos ama, e em seu sangue
nos lavou dos nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai, a ele,
glória e poder para todo o sempre. Amém!” (Ap 1.5b-6).
Não se trata de fantasia o reconhecimento e a prefiguração da obra profética
de Jesus na economia da salvação em um terceiro nome intimamente relacionado
ao primeiro. Hoshea, que na Bíblia conhecemos por Oseias, era o nome original de
Josué (Rm 9.25) e significa “aquele que salva”. Ele é, em um sentido bem peculiar, o
profeta da graça e da salvação, que coloca a sua esperança na vinda pessoal de Deus
como refúgio e força da humanidade; e na purificação da vida humana pelo seu
contato com o divino. A grande verdade que este profeta tem a ensinar é o amor
de Jeová para com Israel, conforme expresso no seu relacionamento como marido
—uma ideia que permeia a sua profecia, e que é gerada pela sua própria experiência
pessoal com a tristeza. Oseias prefigure Jesus nas suas advertências específicas
contra o pecado, nas suas repetidas ofertas da misericórdia divina e no seu amor
paciente e longânimo, conforme manifesto no seu relacionamento com uma esposa
infiel e dissoluta, cuja alma ele consegue resgatar do pecado e da morte (Os 1—3).
13
M ateus - C ap . 1

Enquanto o profeta vivesse, seria uma profecia contínua e viva acerca da ternura
de Deus para com os pecadores e uma imagem do amor divino para conosco en­
quanto estávamos afastados dele e não tendo em nós nada digno deste seu amor. A
fidelidade do mestre profético amalgama-se em Oseias, tal como em nosso Senhor,
com a compaixão, solidariedade e sacrifício do sacerdote.

Ele (αυτός). Enfático; corretamente posto na arc e nas demais versões brasi­
leiras: “porque ele salvará o seu povo”.

Seus pecados (αμαρτιών). Da mesma raiz que αμαρτάνω, errar o alvo; como
um guerreiro que atira a sua lança e não acerta no adversário, ou como um via­
jante que erra o seu caminho". Portanto, por esta palavra, uma de um grande
grupo que representa o pecado sob diferentes fases, o pecado é concebido como
umafalha eperda do verdadeirofim e objetivo das nossas vidas, que é Deus.

22. Pelo profeta (διά). Na a ra , por intermédio-,


na ep, por meio. Em citações do An- -
tigo Testamento, os autores habitualmente utilizam a preposição διά (através de,
por intermédio de) para denotar a instrumentalidade por meio da qual Deus opera
ou fala, ao passo que reservam mrò {por) para expressar o agenciamento primário
por parte do próprio Senhor. Portanto, aqui a profecia no versículo 23 foi falada
pelo Senhor, mas foi comunicada através, ou por intermédio, do seu profeta.

23. A virgem (ή "παρθένος). Na ecp, uma virgem. Observe a força demonstrativa do


artigo, indicando uma pessoa especial e não simplesmente uma virgem qualquer.

Será chamado (καλέσουσιν). No versículo 21, encontramos tu chamarás. O original


de Isaías (7.14) apresenta, ela chamará; mas Mateus generaliza o singular em plural e
cita a profecia de forma a se enquadrar ao seu cumprimento final e mais abrangente:
os homens chamarão o seu nome de Emanuel quando chegarem ao conhecimento prá­
tico de que Deus, verdadeiramente, habitará entre eles neste mundo.

Emanuel (no hebraico, Deus éconosco). Para proteger e salvar. Podemos encon­
trar um comentário em Is 8.10: “Tomai juntamente conselho, e ele será dissipado;
dizei a palavra, e ela não subsistirá, porque Deus é conosco”. Algumas pessoas
supõem que Isaías incorporou o teor da sua mensagem aos nomes dos seus filhos:
Maher-shalal-hash-baz (pilhagem rápida), um alerta acerca da vinda dos selvagens
assírios; Shear-Jashub (um remanescente retornará), um lembrete da misericórdia
de Deus para com Israel no cativeiro e Immanuel (Deus ê conosco), uma promessa
da presença edo socorro divino. Contudo, pode ser que a promessa do nome seja
cumprida em Jesus (cp. Mt 28.20: “eis que eu estou convosco todos os dias, até à

11. Vide Homero, Ilíada, 9.501; Sófocles, Édipo Tirano, 621.


14
M ateus - C ap. 2

consumação dos séculos”) por meio da sua companhia proveitosa e salvífica com
o seu povo na angústia, no conflito com o pecado e na sua luta com a morte.

24. D o sonho (τοδ uttpou). A força do artigo definido; o sonho em que José teve
a visão. Por isso, a bj, a ra e tb traduzem, do sono.

Capítulo 2

1. Belém. No hebraico, Casa de Pão, provavelmente em função da sua fer­


tilidade. O local de nascimento daquele que se autodenomina o Pão da Vida
(Jo 6.35). Belém é identificada com a história de Rute, uma das antepassadas
terrenas de Jesus e esposa de Boaz. Ela tornou-se ascendente de Davi (1.5-
6), que nasceu e foi ungido rei por Samuel nesta cidade (cp. Lc 2.11, cidade
de Davi).

' M agos (μάγοι). A n tlh traduz por homens que estudavam as estrelas-, en­
quanto w y c l if f e verte esta palavra como reis. Uma casta sacerdotal entre os
persas e medos, que se ocupava, principalmente, dos segredos da natureza, da
astrologia e da medicina. Daniel se tornou o líder desta ordem em Babilônia
(Dn 2.48). O vocábulo foi transferido, sem distinção de nacionalidade, a todos
os homens que se dedicavam às ciências que, por outro lado, eram, normal­
mente, acompanhadas de práticas de magia e ilusionismo. O termo, com o
sentido de mágico, foi acomodado a muitas línguas da Europa. Variegadas
tradições absurdas e palpites acerca destes visitantes à manjedoura do nosso
Senhor acabaram encontrando lugar nas crendices populares, bem como na
arte cristã. Segundo estas crenças, os visitantes seriam reis, e três em núme­
ro; representantes das famílias de Sem, Cam e Jafé e, um deles, é representado
como um etíope. Os seus nomes são tidos como Gaspar, Baltazar e Melquior
e, segundo a lenda, os seus crânios teriam sido descobertos no século XII
pelo bispo Reinaldo de Colônia e estão expostos em um esquife caríssimo na
grandiosa catedral daquela cidade.

2. O Oriente (άν»ατολή). Literalmente: o nascente, o levantar. Alguns comentaris­


tas preferem traduzir como no seu nascente, ou quando se ergueu. Na ara , em Lc
1.78, este termo é traduzido como sol nascente. O verbo correspondente ocorre
em Mt 6.16: “a luz raiou” (άνετε iÀev).

4. Todos os príncipes dos sacerdotes. A nossa expectativa seria de que so­


mente um líder dentre os sacerdotes fosse mencionado, contudo, este posto
havia se transformado em algo lucrativo e, de modo geral, eram feitas subs­
tituições. Um rabino é citado como tendo declarado que o primeiro Templo,
que permaneceu de pé por volta de quatrocentos e dez anos, teve somente
15
M ateus - C ap. 2

dezoito sumos sacerdotes, do primeiro ao último; ao passo que o segundo, que


existiu por cerca quatrocentos e vinte anos, teve mais de trezentos sacerdotes.
A referência feita nesta perícope não é a uma reunião do Sinédrio, já que os
anciãos, que não são aqui mencionados, pertenciam a este último grupo, mas
a uma convocação extraordinária de todos os sumos sacerdotes e sábios. Além
do sumo sacerdote empossado, poderia haver outros que teriam sido os seus
antecessores e que continuavam a levar este nome e, em parte, a dignidade da­
quele cargo. A expressão também poderia incluir os líderes das vinte e quatro
ordens de sacerdotes.

6. Terra de Judá. Para distinguir esta cidade da Belém que fica no território de
Zebulom.

Que há de apascentar (ποιμανεΐ), oriundo de πο\.\ir\v, pastor. A ecp traduz


ττοιμανεί por governará, enquanto a tb por pastorear. O termo envolve o cargo
completo de um pastor - guiar, guardar, recolher em aprisco, bem como dar
alimento. Portanto, um vocábulo apropriado e de modo geral aplicado para
designar os guias e guardiães de outras pessoas. Homero chama aos reis de
“pastores do povo”. O povo dizia a Davi: “o SENHOR te disse: Tu apascenta­
rás o meu povo de Israel” (2Sm 5.2; cp. SI 78.70-72). Deus é, com frequência,
chamado de pastor (Gn 48.15; SI 23.1; 77.20; 80.1; Is 40.11; Ez 34.11-31).
Jesus se autodenomina o bom pastor (Jo 10. ll). Pedro, que é incumbido por
Jesus de apascentar as suas ovelhas (Jo 21.16, ποίμαινε), chama-o de Pastor
das Almas (lPe 2.25), e de Sumo Pastor (lPe 5.4); e na epístola aos Hebreus
(13.20), ele é apresentado como o grande Pastor das ovelhas. Em Ap 2.27, reger
é, literalmente, apascentar (cp. 19.15); só que Cristo apascentará os inimigos,
não com o cajado de pastor, mas com uma vara de ferro. Por fim, Jesus perpe­
tuará o seu nome e ofício nos céus entre os remidos, “porque o Cordeiro que
está no meio do trono os apascentará’ (Ap 7.17). Neste versículo, a palavra
regente está em harmonia com a ideia de pastoreio, já que o termo ηγούμενος
originalmente significa aquele que vai adiante, ou abre caminho, e sugere as pa­
lavras de Cristo acerca do bom pastor em Jo 10.3b-4: "... e chama pelo nome
às suas ovelhas e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas,
vai adiante delas, e as ovelhas o seguem”.

7. Inquiriu exatam ente (ήκρίβωσεν). Melhor traduzido como aprendeu pre­


cisamente. O verbo é formado pela partícula ακρος, na ponta ou extremidade. A
ideia é, ele esgotou a sua busca, ou investigou até a última informação possível^ com
ênfase maior na exatidão da informação do que na diligência da sua pesquisa.
Compare com o versículo 8: “perguntai diligentemente” (ακριβώς), traduzido
corretamente pela arc .
16
M ateus - C ap. 3

Do tempo em que a estrela lhes aparecera (τον χρόνον του φαινομένου


àorépoç).Literalmente: ο tempo da estrela que surge. Herodes pergunta: A quanto a
estrela sefaz visível desde o seu surgimento no Oriente? E não: A que koras ela apareceu?

12. Sendo por divina revelação avisados (χρηματισθέντ^ς). O verbo significa


dar uma resposta a alguém que lhe pergunta ou lhe consulta·, por isso, na voz passiva,
como aqui, ser respondido, ou receber uma resposta. Logo, o termo implica que os
magos haviam pedido o conselho d e Deus; razão pela qual w y c l i f f e traduz a
expressão como: Έ a resposta foi recebida durante o sono”.

16. Os meninos (τους παΐδας). Os bebês do sexo masculino, conforme indicado


pela forma masculina do artigo.

23. Os profetas. Observe o plural não como indicativo de qualquer predição es­
pecífica, mas como um resumo da importância das várias afirmações proféticas,
tais como: SI 22.6-8; 69.11-19; Is 53.2-4.

Nazareno. Um termo controvertido (Jo 1.46, e 7.52). O próprio nome de Nazaré


sugere insignificância. No hebraico, o vocábulo significava broto ou rebento. O nome
é profeticamente dado ao Messias (Is 11.1). Em Is 10.33-34, o destino da Assíria é
descrito em termos da perda das folhas de uma mata de cedros. A figura da árvore
tem sua continuidade na abertura do capítulo 11, como uma referência ao estado
judeu. O cedro não produz fruto aprazível, já o carvalho é uma árvore que “depois
de se desfolharem, ainda ficam firmes” (Is 6.13; cp. Jó 14.9). Logo, há um futuro para
Israel, representado pelo carvalho. “Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e
das suas raízes um renovo frutificará” (Is 1l.l). Assim como Davi surgiu de uma fa­
mília humilde, a de Jessé, também o Messias, o segundo Davi, surgirá de uma grande
humilhação. O fato de Jesus ter sido criado em Nazaré era motivo suficiente para que
Ele fosse objeto de falta de apreço. Ele não representava um ramo altivo da copa da
árvore da realeza; tampouco era um filho reconhecido e honrado da casa de Davi, a
qual j á havia caído na obscuridade; mas um rebento insignificante das raízes de Jessé;
um nazareno, de uma cidadezinha tão pequenina quanto um broto recém surgido.

Capítulo 3

1. Naqueles dias. Esta expressão é indefinida, mas sempre indica a existência


de uma data que a antecedeu; neste caso, a data do estabelecimento da família
de Jesus em Nazaré. “Naqueles dias”, isto é, em alguma época durante os quase
trinta anos desde o seu estabelecimento.

Apareceu (παραγίρεται). Verbo empregado no tempo conhecido como presente


histórico, o qual confere vida à narrativa, como o fez Carlyle: “Mas agora também
17
M ateus - Cap. 3

os deputados nacionais de todos os cantos da França estão em Paris acompanha­


dos das suas comitivas”12. Έ , naqueles dias, apareceu João Batista”.

João. No hebraico, Deus procedeu graciosamente.

Pregando (κηρύσσων). Na teb , proclamando. Vide 2Pe 2.5.

D eserto (τη ερήμψ). Não sugerindo uma esterilidade absoluta, mas um ter­
ritório impróprio que, apesar de tudo, permitia o aproveitamento por parte dos
pastores com os seus rebanhos. Hepworth Dixon afirma:

Nem mesmo no deserto, a natureza não é tão rígida quanto o homem. Aqui e acolá, em
sulcos e depressões, e nas encostas de montes, de degrau em degrau, pode-se observar
uma faixa de cereais, uma aglomerado de oliveiras, ou uma palmeira solitária13.

2. Arrependei-vos (μετανοείτε). Na teb , Convertei-vos·, mas na ecp, equivocada­


mente, Fazei penitência. Originalmente, uma palavra composta pela preposição
μετά, depois, com, e pelo verbo νοέω, perceber, e pensar, como resultado de uma
percepção ou observação. Neste composto, a preposição combina os dois signi­
ficados de tempo e mudança, que podem ser denotados por depois e diferente, de
forma que o composto completo venha a significar pensar diferentemente depois.
Μετάνοια (arrependimento) é, conseguinte, e num sentido primário, um pensa­
mentoposterior que difere de um pensamento anterior. Logo, uma mudança de mente
que resulta em tristeza e mudança de conduta. Estas idéias resultantes, contudo,
foram importadas ao mundo por meio do uso das Escrituras, e não se baseiam no
significado etimológico. Portanto, o arrependimento, tem sido definido, com pro­
priedade, como sendo “uma alteração virtuosa da mente e dos objetivos que gera
uma mudança virtuosa semelhante no viver e no agir". A tristeza não é, como
popularmente se entende, a noção primária ou principal do termo. Paulo faz
distinção entre a tristeza (λύτη) e o arrependimento (μετάνοια), e coloca um como
consequência do outro: “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento
(2Co 7.10).

O Reino dos céus. (ή βασιλεία των ουρανών). Uma expressão peculiar a Ma­
teus. A mais comum é o Reino de Deus. Trata-se de um reino dos céus em função
da sua origem, do seu fim, do seu rei, do caráter e destino dos seus súditos, das
suas leis, instituições e privilégios - tudo isto é celestial. Nos ensinamentos de
Cristo e nos escritos apostólicos, o reino do Messias representa a consumação
real da ideia profética da regência de Deus, sem qualquer limitação nacional, de

12. Carlyle, French Revolution.


IS. Hepworth Dixon, The Holy Land.

18
M ateus —C ap . 3

forma que a participação neste reino depende somente da fé em Jesus Cristo, e da


renovação moral que é condicionada também por ele. Ele é a combinação de to­
dos os direitos da cidadania cristã neste mundo, com a bênção eterna do mundo
porvir. Todas as suas percepções não passam de diferentes lados da mesma ideia
magnífica - a sujeição de todas as coisas a Deus, por meio de Cristo.

Voz. Na t e b , b p e e c p , Uma voz. A personalidade de João é lançada na obscu­


ridade, atrás de Cristo.

Qual seria a obrigação de um mero mestre humano da mais elevada estirpe, digno
da mais elevada missão espiritual em benefício da humanidade? O exemplo de João
Batista é uma resposta a esta pergunta. Um mestre deste calibre representaria nada
mais que uma simples “voz”, que clama no deserto da moral em sua volta, ansiosa,
acima de tudo, para ocultar a sua própria insignificância atrás da majestade da sua
mensagem1*.

6. Eram batizados (έβαπτίζοντο). Vide Mc 7.4.

Confessando os seus pecados (έξομολογούμ^Όΐ τάς αμαρτίας αύτών). Os


vocábulos implicam: (1) que a confissão estava ligada ao batismo. Eles eram bati­
zados enquanto estavam executando o ato de confessar. (2) Uma confissão aberta, não
uma particular feita a João (£ξ, cp. At 19.18; T g 5.16). (3) Uma confissão indivi­
dual, possivelmente específica (vide Lc 3.10-15.)

9. Estas pedras. Apontando, segundo ele mesmo disse, para os seixos à margem
do Jordão.

10. Está posto (κβΐται). Não está colocado, como em “Ela estende [Toloca^ as
mãos ao fuso” (Pv 31.19), mas está sobre.

É cortada e lançada. O tempo presente é gráfico, denotando o que deve ocor­


rer de forma súbita e certa.

11. Levar. Compare com desatar em Mc 1.7. João se coloca na posição do mais
humilde dos servos. O ato de levar as sandálias dos mestres, ou seja, carregá-las
por toda a parte, bem como apertá-las, ou removê-las, entre os judeus, gregos e
romanos, era função de escravos da mais baixa estirpe.

12. Pá, eira. A w y c l i f f e traduz: pá de cereais. A ilustração nos remete a um


agricultor na sua eira, um local de chão batido no qual os feixes de cereal eram
espalhados e os grãos pisoteados por animais. A pá, ou seja, a sua pá ou garfo de

14. Liddon, Our Lord's Divinity.

19
M ateus - C ap. 3

joeiramento estava em mãos, e com ela, se atira ao alto a mistura de cereal e palha
contra o vento a fim de separar o cereal15.

Limpará (διακαθαριεΐ). Na t e b ,joeirar. A preposição διά, através de, reforça a


ideia de uma limpeza completa. Esta preposição transmite a ideia do fazendeiro
que começa em um lado da eira e trabalha ao longo de toda a sua extensão (isto
é, através dela), fazendo a sua limpeza completa.
A metáfora completa representa o Messias como o separador do bem e do mal,
segundo as provações do seu reino e do Evangelho, recebendo os dignos no seu
reino e destinando os indignos para a danação (cp. M t 13.30; 39-43; 48-50).

14. Opunha-se-lhe ( δ ι ε κ ώ λ υ ε ν ) . Na t b , objetava-lhe; na e c p , recusava-se, na a r a ,


o dissuadia, na n v i , tentou impedi-lo. A k j v não transmite o sentido correto do
verbo. Em vários casos, ela desconsidera a força do tempo imperfeito, o qual ex­
pressa ação passada, esteja ele em andamento ou em processo de concepção, na
mente do seu agente. João não proibiu Jesus, mas tinha em mente impedi-lo: estava
lhe obstruindo. Por isso, uma tradução mais adequada é: o teria impedido. Nova­
mente, a preposição (διά) intensifica o verbo e representa um forte sentimento da
parte de João. Ele estava propenso a um protesto solene contra o ato de assumir
a execução do batismo de Jesus.

16. Como pomba (ώσει Na e c p , emforma de pomba. Na forma de


π ε ρ ισ τ ε ρ ά ν ).

uma pomba e não, como interpretam muitos, referindo-se, meramente, à forma


de descida - rápida e suave como uma pomba (cp. Lc 3.22 “em forma corpórea,
como uma pomba”). A pomba era um símbolo antigo da pureza e inocência, ado­
tado pelo nosso Senhor em Mt 10.16. Era a única ave aceita como oferta sacri­
fical pela legislação levítica. Na arte cristã, simboliza o Espírito Santo, nas suas
manifestações ocorridas tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Desde
uma época muito antiga, a representação da pomba sobre as águas era uma tipi­
ficação das palavras iniciais do Gênesis. Um afresco ímpar feito na parede onde
se apresenta o coro da catedral de Monreale, próximo a Palermo, representa um
derramamento de água, sendo que Cristo está acima dele, inclinado para frente
a partir do círculo celeste com os braços estendidos. De trás dele brotam os
divinos raios junto dos quais uma pomba desce sobre as águas. Donde vêm as
palavras de Milton:

Tu, que desde os primeiros


Jatos d’água, e com as tuas asas magníficas abertas,

15. A eira, αλωνα, propriamente traduzida como um local circular. Utilizada também para se
referir ao disco do sol ou da lua, ou a um halo, que nada mais é que uma forma de transcrição
desta palavra grega.

20
M ateus - C ap. 4

Em forma de pomba, repousaste sobre a vastidão do abismo,


E engravidaste-o com a vida.

Na arte, a pomba com duas cabeças é o atributo peculiar do profeta Eliseu.


Uma janela no Colégio Lincoln, em Oxford, representa-o com a pomba de duas
cabeças pousada sobre o seu ombro. O símbolo é explicado a partir da oração
de Eliseu que desejou receber uma porção dobrada do poder espiritual de Elias
sobre si.
Tem-se afirmado que, entre os judeus, o Espírito Santo era representado
com o símbolo de uma pomba, e uma passagem do Talmude é apresentada
como prova: “O Espírito de Deus se movia sobre a face das águas como uma
pomba”. O Dr. Edersheim contradiz veementemente esta afirmação, dizen­
do que a passagem trata da suposta distância entre as águas superiores e as
inferiores, que não passava de largura de três dedos. Isto é provado em Gn
1.2, onde o Espírito de Deus é descrito como algo que pairava sobre a face
das águas, “assim como uma pomba paira sobre os seus filhotes sem tocá-
los”. “Assim, a comparação não se dá entre o Espírito e a pomba, mas entre
a proximidade com a qual a pomba paira sobre os seus filhotes sem tocá-los
e a suposta proximidade do Espírito com as águas inferiores, sem tocá-las”.
Ele prossegue afirmando que a pomba não era um símbolo do Espírito Santo,
mas de Israel.

Se, logo, a ilustração rabínica da descida do Espírito Santo com a aparência visível de
uma pomba for objeto de investigação, esta investigação recairía sobre o reconheci­
mento de Jesus como o israelita ideal típico: um representante do seu povo16.

Capítulo 4

1. O diabo (τού διαβόλου). Na ecp , equivocadamente, demônio. As versões tb , nvi


e bp grafam Diabo. Este termo significa caluniador, difamador. Ele é, por vezes,
aplicado a homens, como Judas (Jo 6.70); em lTm 3.11 aos maldizentes; em 2Tm
3.3, e T t 2.3 aos caluniadores. Nestes casos, o uso jamais ocorre com o artigo. O
Diabo, Satanás, o deus deste mundo (ó διάβολος), recebe sempre o artigo e jamais
se mostra no plural. Deve-se fazer distinção de outro termo, também traduzido
erroneamente como Diabo nalgumas versões —δαίμων, e a sua forma neutra
mais comum δαιμόνιου, que deveríam, nos dois casos, ser traduzidos como demô­
nio. Esta palavra descreve os espíritos imundos que possuíam os seres humanos,
e que eram expelidos por Cristo e os seus apóstolos.

16. Edersheim, Life and Times o f Jesus the Messiah.


21
M ateus - C ap. 4·

S. O Filho de Deus. Pelo seu posicionamento na frase, o vocábulo Filho é enfáti­


co. “Se Tu manténs diante de Deus a relação de Filho’.

Pão (άρτοι). Literalmente: pães ou bolos. Pães, segundo as versões n v i , tb , ep,


teb , ara . Aquelas pedras eram, talvez, aqueles “torrões de silica” que assumem
o formato exato de pequenos pães de forma que eram representados nas lendas
como os frutos petrificados das cidades das planícies. Na imaginação popular,
certas cristalizações do monte Carmelo e alguns locais próximos de Belém são
chamados de “melões de Elias”, e de “ervilhas de Maria”. As pedras negras e
brancas encontradas ao longo da costa do mar da Galileia foram transformadas
em vestígios das lágrimas de Jacó na sua procura por José. A simples aparência
destas pedras, assim como o pão pelo qual o corpo debilitado ansiava, já poderia
ter acrescentado força àquela tentação. Esta imagem poderia estar presente na
mente de Cristo, quando proferiu as palavras registradas em M t 7.9.

4. Está escrito (γέγραπται). Na A Escritura diz. O tempo perfeito. “Foi es­


ep,
crito e permanece escrito”. As primeiras palavras de Jesus registradas depois da
inauguração do seu ministério são uma afirmação a respeito da autoridade das
Escrituras e de que a plenitude do Espírito estava sobre Ele. Quando se dirigia
aos homens, o nosso Senhor normalmente citava as Escrituras, mas fazendo uso
da expressão: vos digo. Quando respondeu a Satanás ele disse: Está escrito.

5. Transportou (παραλαμβάυει). Na tb , ara , nvi, bp, bj e ep, o levou. A preposição


παρά (com, ao lado de), implica que Cristo foi transportadojunto com ele, ou que fo i
conduzido. E o mesmo termo utilizado pelos três evangelistas para descrever o
momento em que o Senhor leva os seus três apóstolos escolhidos para o monte
da Transfiguração (Mt 17.1; Mc 9.2; Lc 9.28).

A Cidade Santa. Somente Mateus chama Jerusalém desta forma, dentro do


padrão geral do seu evangelho de ligar a velha economia com a nova.

Pináculo do Templo (το πτερύγιου του ίεροϋ). Na teb , a cumeeira; na bp, no


beirai\ na ecp, no ponto mais alto. A palavra pináculo, oriunda do latim pinnaculum,
um diminutivo de pinna ou penna (asa), é uma tradução literal de πτερύγιου, que
também é um diminutivo (pequena asa ou asinha). Nenhum aspecto do vocábulo
nos força a inferir que Cristo tenha sido colocado no cume pontiagudo de uma
torre, que é o significado popular de pináculo. O termo pode ser usado no sentido
da ala de uma construção. O Templo de Herodes tinha duas alas, a norte e a sul,
das quais a segunda era maior e mais alta. Foi na direção desta última ala que
Herodes realizou a maior ampliação do Templo.
Segundo Flávio Josefo, essa reforma foi realizada por meio do levantamento de
sólidos muros de pedra a partir do vale que ficava logo abaixo. Na extremidade
22
M ateus - C ap . 4

do lado sul da área, foi erigido um “pórtico real”, uma magnífica área de colunas,
que consistia de uma nave e dois corredores, que corriam através de todo espaço
que separava os muros orientais dos ocidentais. Josefo, ainda, acrescenta:

Apesar da grande profundidade do vale, e de que seu interior mal pudesse ser vis­
to de cima para baixo, a grandiosa elevação adicional do pórtico foi colocada sobre
essa altura, de tal modo que, se alguém olhasse para baixo, a partir do cume do
telhado, combinando as duas alturas em um só olhar, teria uma visão vertiginosa,
já que não seria capaz de alcançar uma profundidade tão grande.

Esta ala era considerada, em comparação com a ala norte, de forma tão enfáti­
ca, a ala (ou, a asa) do Templo. Por ser um lugar altamente conhecido, justifica-se
o uso do artigo neste ponto. O cenário da tentação pode ter sido (afinal tudo o
que se fala é, essencialmente, em forma de conjectura), o telhado deste pórtico,
no canto sudeste, onde ele se ligava ao alpendre de Salomão, e do qual poderia ser
visto o Vale do Cedrom, logo abaixo, com a profundidade de quase 140 metros.
A palavra templo (Upóv, literalmente, lugar sagrado) significa o perímetro com­
pleto do lugar santo, incluindo os seus pórticos, seus pátios e outras edificações
secundárias. Este lexema deve ser cuidadosamente distinto de outro termo, ναός,
também traduzido como Templo, e que significa o Templo em si - o “Lugar San­
to” e o “Santo dos Santos”. Quando lemos, por exemplo, que Cristo ensinava no
Templo (Upóv) devemos ter em mente um dos alpendres do Templo. Portanto,
é do Upóv, do pátio dos gentios, que Cristo expulsa os cambistas e mercadores
de animais. Em Mt 27.51, é o véu do ναός que é rasgado; o véu que separava o
lugar santo do santo dos santos. No relato em que Zacarias entrou no Templo do
Senhor para queimar incenso (Lc 1.9), o termo ναός se refere ao lugar santo no
qual ficava o altar de incenso. O povo ficava “de fora”, no pátio externo. Em Jo
2.21, o templo do seu corpo, Upóv seria, obviamente, inadequado.

6. Nas mãos (4irl). Na b p , nas palmas das mãos. A e c p e n v i trazem, com as mãos;
n a b j , pelas mãos. A r v traz: Sobre as suas mãos. Seria mais correto e daria uma

imagem diferente da tradução que temos com a preposição em na a r c : serão er­


guidos sobre as suas mãos, tal como sobre uma padiola ou plataforma.

7. Também (πάλιν). Termo enfático, que significa por outro lado, com refe­
rência à expressão está escrito utilizada por Satanás (v. 6). É como se Cristo
dissesse: “a promessa que mencionaste deve ser explicada por outra passagem
da Escritura”.
O arcebispo Trench observa, com propriedade:

Nesta expressão “está escrito” utilizada por Cristo, encontramos uma grande lição,
deveras independente daquela passagem específica que, naquela ocasião, Ele cita, ou

23
M ateus - Cap. 4

do uso que se faz dela. Nela encontramos o segredo da nossa segurança e a nossa de­
fesa contra todos os usos distorcidos de passagens isoladas das Sagradas Escrituras.
Somente quando passamos a conhecer a unidade das Escrituras, a forma como ela se
equilibra, como se completa, e como se explica a si mesma, somos alertados acerca do
erro e da ilusão, dos excessos e das falhas neste lado ou no outro. Portanto, a réplica
“mas também está escrito", deve ter uma aplicação contínua, pois, na verdade, as heresias
normalmente não passam de verdades exageradamente enfatizadas em somente um
dos seus aspectos e separadas do conjunto completo que forma a verdade como um
todo. São também desprovidas do equilíbrio da contraverdade, que as deveria man­
ter no seu devido lugar, coordenadas com outras verdades ou subordinadas a elas. E
assim, em função da ausência destas verificações, deixam de ser verdades e passam a
ser erros.

12. Estava p re s o (παρεδόθη). Na ep e nvi , tinha sido preso-, na ara e bp,fora preso.
O verbo significa, em primeira acepção, dar, ou entregar para outra pessoa. Assim
como entregar uma cidade ou pessoa com a inerente conotação de traição. A teb
apresenta com propriedade, fora entregue \]à prisão],

16. O povo que estava (ό καθήμβνος). A bp traz a leitura: que habitava. A bj, teb e
ecp trazem: quejazia. O artigo com o particípio (literalmente, o povo, o que estava)

significa alguma coisa característica ou habitual: o povo cuja característica era es­
tar nas trevas. Esta ideia é enfatizada pela repetição em um formato mais robus­
to: os que estavam assentados na região e sombra da morte. A morte é personificada.
Esta terra, cujos habitantes estão espiritualmente mortos, pertence à Morte. A
terra é o reino onde ela domina.

17. Pregar (κήρυσσαν). Na teb e bp, proclamar. Originalmente, exercer afunção


de um arauto (κήρυξ). Por conseguinte, proclamar, propagar (vide 2Pe 2.5). A ex­
pressão preferida no texto do Novo Testamento para se referir à proclamação do
Evangelho, no entanto, restrita ao anúncio primário da mensagem e dos fatos da
salvação, a qual não incluía as instruções contínuas nos conteúdos e nas conexões da
mensagem, que são expressas pelo vocábulo δι_δάσκ€ΐν {ensinar). Estes dois termos
são utilizados em M t 5.23; 9.35; 11.1.

18. Ao m ar (την θάλασσαν). O pequeno lago de Genesaré, com 21 quilômetros


de comprimento e 9,5 na sua parte mais larga. E chamado de o mar pela mesma
razão mediante a qual os lagos suíços e alemães assim também são chamados,
como se pode obervar no Kõnigsee ou no Trauensee. Da mesma forma, na Ho­
landa, temos o Zuyder Zee. O vocábulo latino mare {mar), de modo semelhante,
transforma-se em meer na Holanda, sendo utilizado para se referir a um lago,
como no caso do Haarlemmer Meer, e na Inglaterra transforma-se em mere, tal
qual se verifica nos vocábulos Windermere, Grasmere etc.
24
M ateus - Cap. 4

As redes (άμφίβληστρον). Derivado de άμφί, ao redor de, e βάλλω, lançar. Daí


a rede de lance que, ao ser lançada acima dos ombros, espalha-se para formar um
círculo (άμφι). Este termo é, por vezes, utilizado nos escritos clássicos da língua
grega para descrever uma vestimenta que envolve uma pessoa por completo. No
versículo 20, o vocábulo rede volta a ocorrer, só que representando outra palavra
helênica (δίκτυον) - o nome genérico para todos os tipos de redes, tanto para
apanhar peixes, quanto pássaros. Outro termo ocorre em Mt 13.47, σαγήνη, a
rede utilizada para o arrasto.

21. Consertando (καταρτίζοντας). Na n v i , mais corretamente, preparando. Não


necessariamente fazendo reparos; o termo significa ajustar, acertar. Ele pode signi­
ficar, neste caso, preparando as redes para a próxima pescaria.

23-24. Enfermidades, moléstias, torm entos, acometidos, lunáticos. A des­


crição dos males sobre os quais o poder do nosso Senhor se sobrepunha recebe
luz ao estudarmos estas palavras de maneira mais detalhada. No versículo 23,
a a r c traduz, corretamente, enfermidades e moléstias-, pois νόσος (na t e b : doença)
traz consigo a noção de algo severo, perigoso e, até mesmo, violento (cp. o vo­
cábulo latino noceo, ferir, cuja raiz é a mesma). Homero sempre representa νόσος
como sendo a visitação de uma divindade irada, por isso esta é a palavra utilizada
para descrever a praga que Apoio enviou sobre os gregos17. Sófocles também
chama um furacão de θείαν νόσον (visitação divina)'*. Portanto, Moléstia é uma
forma mais correta de tradução quando se deseja expressar algo mais violento
do que uma doença ou uma debilidade. Doença, contudo, enquadra-se melhor com
outro termo, μαλακίαν. O adjetivo correlato, μαλακός, significa suave ou fresco,
como um tecido suave ou sulco fresco que acaba de ser aberto por um arado e,
dessa forma, facilmente se enquadra no sentido moralmente hostil de “frescura”,
ou seja, de caráter efeminado ou covarde, e no sentido físico defraqueza, doença. Por
isso, o termo enfatiza mais o conceito de debilidade do que a de um sofrimento
ou perigo violento.
No versículo 24 temos, em primeiro lugar, uma expressão geral de males de
todas as sortes: todos os quepadeciam (literalmente, todos os que tinham em si mesmos
uma condição ruim; πάντας τούς κακώς έχοντας). A seguir, a ideia de sofrimento
é enfatizada pela palavra acometidos (συνεχομένους), que significa, literalmente,
reunido ou comprimido; e, por isso, a r v traduz como: tomados —que acaba sendo
um aperfeiçoamento de apanhado, verbo que é utilizado pela k j v , com base em
w y c l i f f e e t y n d a l e . O termo é utilizado para descrever a multidão que apertava

Cristo (Lc 8.45). Compare também com as expressões “como me angustio (Lc

17. Homero, Ilíadã, 1.10.


1 8. Sófocles, Antígona, 42 1 .
25
M ateus - C ap. 5

12.50); e “estou em aperto" (Fp 1.23). Depois disso, vemos as formas específicas de
sofrimento, a lista volta a ser encabeçada pelo vocábulo inclusivo νόσοις, doenças,
seguida de και, que transmite a força e a particularidade. Observe o lexema
tormentos (βασάνοις). Βάσανος, originalmente, significava ‘‘pedra de Lídia”, ou
pedra de toque, sobre a qual o ouro puro, ao ser esfregado, deixava uma marca
peculiar. Portanto, a conotação natural era a de teste, ou seja, um teste ou provação
por meio de tortura. A maioria dos termos, segundo o professor Campbell “era,
originalmente, de uso metafórico e as metáforas continuam a passar para o
mundo das palavras”19utilizadas pelo escritor como meros veículos da expressão,
desprovidos de qualquer sentimento que relembre o elemento metafórico ou
pitoresco que está contido no seu âmago. Assim, o conceito de um teste, de forma
gradual, foi totalmente removido de βάσανος, restando-lhe meramente a ideia de
sofrimento ou tortura. Isto é peculiarmente notado no uso deste vocábulo e dos
seus cognatos e derivados ao longo do Novo Testamento. Apesar de o sofrimento
como teste ser uma verdade familiar ao Novo Testamento, estes vocábulos
invariavelmente expressam nada mais que o tormento ou a dor. A w y c l i f f e
traduz: “Ele lhes ofereceu todos os homens que tinham males, apanhados por
diversos sofrimentos e tormentos”; e a t y n d a l e lê: “Todas as pessoas doentes
que haviam sido apanhadas por diversas doenças e opressões”. O termo lunáticos
(σίληνιαζομένους) é traduzido pela n t l h como epiléticos, como uma referência às
influências - reais ou supostas - que as mudanças na lua poderíam ter sobre as
pessoas acometidas pela epilepsia.

Capítulo 5

1. Um m onte ( t ò δρος). A t e b reconhece a força do artigo definido e traduz


“à montanha”. Trata-se daquele monte específico no local onde Jesus avistou a
multidão. O monte em si não pode ser identificado. Delitzsch chama o monte das
Beatitudes de “O Sinai do Novo Testamento”.

Assentando-se (καθίσαντος). Segundo o costume dos rabinos, ele se assentou


antes de começar a ensinar.

2. Ensinava (Ιδίδασκ^ν). O imperfeito significa começou a ensinar, com o se encon­


tra nas versões n v i, e p e tb .

3. Bem-aventurados (μακάριοι). As versões t e b , b j , b p , e p , n t l h trazem Felizes.


Essa tradução não explicita toda gama de sentido empregado por Jesus. Como
este vocábulo e os seus cognatos ocorrem, pelo menos, cinquenta e cinco vezes

19. Campbell, On the Language of Sophocles.


26
M ateus - C ap. 5

no texto do Novo Testamento, é importante compreendermos a sua história, que


é interessante em função dele ser um daqueles numerosos termos que apresen­
tam a influência da associação e do uso dos cristãos na ampliação e dignificação
de seu significado. Μακάριοι é traduzido como bem-aventurados —tradução ade­
quada em vários os casos.
A sua origem, ao que se supõe, está em uma palavra que significa grande, e o
significado mais antigo parece estar limitado à prosperidade exterior, de forma
que é utilizado, por vezes, como sinônimo de rico. Raramente varia deste sentido
e da sua frequente aplicação aos deuses gregos, já que o ideal popular grego de
bem-aventurança divina não era, essencialmente, moral. Os deuses eram bem-
aventurados em função do seu poder e da sua dignidade, não por causa da sua
santidade. Gladstone declara:

Em geral, a principal observação da divindade com Homero é a emancipação das restri­


ções da lei moral. Apesar de os deuses homéricos não terem deixado de ser os vingadores
da moralidade sobre o mundo, eles deixaram de observar as suas regras pessoalmente, por
si mesmos ou entre eles. Em comparação com os homens, na conduta eles são, geralmente,
caracterizados por força e intelecto superiores, mas com uma moralidade inferior*0.

Na sua aplicação específica aos mortos, μακάριοι estaria indicando o desespero


da felicidade terrena oculto no pensamento do mais alegre dos gregos mercuria-
nos. Por isso, este termo foi empregado como sinônimo de morto(s). Somente os
mortos poderíam, verdadeiramente, ser chamados de bem-aventurados. Dessa
forma, vejamos as palavras de Sófocles:

De lá a lição aprendemos
A não considerar nenhum homem bem-aventurado enquanto não testemunharmos
O dia final; até que ele atravesse a fronteira
Que divide a vida e a morte, incólume pela dor*1.

E, novamente:

Mais bem-aventurado além das comparações


Jamais ao gosto da vida:
O mais bem-aventurado na ordem futura,
Por nascer, mais rápido em velocidade
Para lá, novamente, regressar
De onde viemos nós**.

20. Gladstone, Homer and the Homeric Age.


21. Sófocles, Édipo Tirano.
22. Id., Édipo em Colono.

27
M ateus - Cap. 5

Contudo, mesmo no seu emprego pagão, a palavra não se despia completa­


mente de certa conotação moral no segundo plano. Os gregos reconheciam uma
prosperidade como fruto da observância das leis da moralidade natural e um
destino vingador que perseguia e punia os transgressores destas leis. Esta con­
cepção aparece, com frequência, nas tragédias gregas, como por exemplo, em
Sófocles na obra Edipo Tirano, onde o tema principal é o juízo resultante das
violações involuntárias dos laços naturais. Mesmo assim, esta prosperidade é
externa, consistindo de riqueza, ou poder, ou livramento de calamidades.
Com os filósofos, um elemento moral é, definitivamente, agregado à palavra.
O conceito se eleva da propriedade exterior para a correção interior como sendo
a essência da bem-aventurança. Só que em todos eles, partindo de Sócrates, a
virtude depende, primariamente, do conhecimento; de forma que ser bem-aven­
turado é, acima de tudo, conhecer. Portanto, fica aparente que a filosofia grega
não tinha uma conceituação de pecado no sentido bíblico. Como a virtude depen­
dia do conhecimento, o pecado era o resultado da ignorância, e a virtude e a sua
consequente bem-aventurança eram, logo, a prerrogativa de um pequeno grupo
de homens instruídos.
O uso bíblico do termo o projetou para as regiões espirituais, em distinção ao
seu emprego meramente intelectual e, além disso, confiou somente a μακάριοι a
tarefa de representar este conceito mais elevado. O termo pagão que designava
a bem-aventurança (εύδαιμοιήα, sob a proteção de um bom gênio ou daemon) não
ocorre em parte alguma do Novo Testamento, tampouco no restante das Sagra­
das Escrituras, tendo caído em descrédito em função do vocábulo daemon, o qual,
originalmente, representava uma divindade boa ou má, e passou a adquirir entre
os judeus o significado negativo que ligamos à palavra demônio. A felicidade, ou
melhor, a bem-aventurança, era representada tanto no Antigo quanto no Novo
Testamento pela palavra μακάριος. No Antigo Testamento, a ideia envolve mais
a prosperidade exterior do que no texto do Novo Testamento, contudo, ela ocor­
re quase que universalmente em conexões que enfatizam, como seu elemento
principal, o sentido da aprovação divina fundamentada na justiça que se baseia,
em última instância, no amor de Deus.
Assim, o termo ascendeu às regiões mais elevadas do pensamento cristão e re­
cebeu a chancela do Evangelho e incorporou toda a rica significação da bem-aven­
turança evangélica. Hoje, μακάριος agrega uma série de idéias que são alheias a
melhor das moralidades pagãs, e são contraditórias às posições fundamentais. Ao
despir o vocábulo de todas as idéias de bem exterior, μακάριος se transforma no
símbolo expresso de uma felicidade identificada com o caráter puro. Por trás dis­
so, está a clara noção do pecado como a fonte principal de todas as misérias, e da
santidade como a cura final e efetiva para todas as aflições. Em lugar do conheci­
mento como a base da virtude e, logo, da bem-aventurança, ele assumiu a fé e o

28
M ateus - C ap. 6

amor. Em lugar da aristocracia de uma virtude restrita aos instruídos, μακάρ ως


incorporou a verdade da paternidade de Deus e o corolário da família dos cren­
tes. Enquanto o vocábulo pagão carrega o isolamento dos virtuosos e a contração
da simpatia humana, o Evangelho expande-o com um ideal e simpatia universais
por meio de uma bem-aventurança percebida no serviço. Os traços vagos de um
bem abstrato desaparecem e dão lugar à visão divina do coração puro, e a sua
comunhão pessoal com o Pai do céu. Onde ele falava da autossuficiência estoica,
ele agora fala da pobreza de espírito e da mansidão do cristão. Onde μακάριος
sugeria a autorrepressão e a repressão emocional dos estoicos, agora pulsa com
uma sensibilidade santa, e com a admoestação para que nos alegremos com os
que se alegram e pranteemos com os que pranteiam. No termo pagão, o sabor
da imortalidade inexiste. Nenhuma visão de um repouso duradouro transmite
paciência e coragem em meio à amargura e às lutas da vida; nenhuma ameaça de
um destino maligno é capaz de controlar as cobiças humanas. O vocábulo cristão
bem-aventurado está cheio da luz celestial. Ele, implacavelmente, lança fora de si
todo resquício do direito reivindicado pelo estoico ao suicídio como refúgio dos
males humanos e enfatiza algo que viceja em tempos de provações e persegui­
ções, algo que se gloria nas tribulações, algo que, além de suportar, acaba por
conquistar o mundo e gera a expectativa de uma coroa nos céus.

Os pobres (οί πτωχοί). Na e c p , coraçãopobre-, na b j , pobres de coração. Três pa­


lavras que expressam a pobreza são encontradas no texto do Novo Testamen­
to. Duas delas, πενης e πενιχρός, são termos cognatos, sendo que o último não
passa de uma forma poética do primeiro, e nenhum deles ocorre mais de uma
vez (Lc 21.2; 2Co 9.9). O vocábulo utilizado neste versículo é o termo corrente
para designar uma pessoa pobre. Ocorre trinta e quatro vezes e abrange toda
espécie de carência. Fica evidente que os autores do Novo Testamento não
reconheciam qualquer distinção maior no seu significado que exigisse deles o
emprego de outras palavras. Lucas, por exemplo (21.2-3), chama a viúva que
entregou as suas duas pequenas moedas tanto de πενιχράν, quanto de πτωχή.
Contudo, existe uma distinção reconhecida tanto pelos autores clássicos, quan­
to pelos eclesiásticos. Enquanto ό πενης é mais restrito e significa “aquele
que recebe uma escassa ninharia”, πτωχός está relacionado ao verbo πτώσσειν
[rastejar ou encolher-se) e, logo, transmite o conceito de distinção completa, que
implora e vive abjetamente à base de esmolas. Por isso, ele se aplica a Lázaro
(Lc 16.20-22) e se traduz como mendigo. Feita esta diferença, πτωχός é muito
ilustrativo e apropriado nesta passagem, denotando uma carência espiritual com­
pleta, o estado de consciência que antecede a entrada no reino de Deus e que
não pode ser mitigado pelos esforços humanos, mas somente pela misericórdia
gratuita do Senhor (2 C0 6.10; 8.9).
29
M ateus - C ap. 5

4. Os que choram (π^νθοΰντες). Na e p e bj, os aflitos-, na bp, os afligidos. Com


o sentido de uma aflição manifesta-, demasiadamente profunda para ser contida.
Esta é a razão pela qual o termo se associa com κλαίειυ, chorar audivelmente (Mc
16.20; Tg 4.9).

Serão consolados. Vide Jo 4.16.

5. Os mansos (oi. irpaeXç). Outra palavra que, embora jamais tenha sido utilizada
num sentido negativo, foi elevada pelo Cristianismo a um plano superior e se
tornou o símbolo de um bem superior. O sentido primário é meigo, gentil. Ele era
aplicado às coisas inanimadas, como a luz, o vento, o som ou as doenças. Também
foi utilizado para descrever o comportamento meigo de um cavalo.
Como atributo humano, Aristóteles define-o como o meio entre a ira teimosa
e o negativismo de caráter que é incapaz de assumir até mesmo uma justa indignação,
equivalente à equanimidade. Platão o coloca em contraponto à fúria e à cruel­
dade e o emprega para descrever a humanidade dos condenados; mas também
para descrever o comportamento conciliatório de um demagogo em busca de
popularidade e poder. Pindar aplica-o a um rei, meigo ou gentil para com os seus
cidadãos, enquanto Heródoto utiliza-o em contraponto à ira.
Estes sentidos pré-cristãos do vocábulo apresentam duas características ge­
rais: (1) Eles expressam meramente uma conduta exterior, (2) Eles contemplam
somente os relacionamentos entre os seres humanos. A palavra no contexto cris­
tão, ao contrário, descreve uma qualidade interior relacionada a Deus. A equa­
nimidade, a meiguice, ou gentileza representada pelo termo clássico, verifica-se
no autocontrole ou em uma disposição natural. A mansidão cristã é baseada na
humildade, que não é uma qualidade natural, mas um resultado de uma natureza
renovada. Para os pagãos, o vocábulo implicava condescendência, para os cristãos,
implica submissão. A qualidade cristã, na sua manifestação, revela tudo o que de
melhor havia na virtude pagã - a meiguice, a gentileza e a equanimidade - to­
davia, estas manifestações para com os homens são enfatizadas como resultado
de uma relação especial com Deus. A meiguice, ou gentileza de Platão ou Pin­
dar não implicam um sentimento de inferioridade nas pessoas que a exibem,
às vezes ocorre o contrário. O demagogo de Platão é gentil a partir dos seus
interesses pessoais e como meio de perpetrar a tirania. O rei de Pindar é condes­
cendentemente gentil. A mansidão do cristão surge a partir de um sentimento
de inferioridade da criatura em relação ao Criador e, especialmente, da criatura
pecadora diante de um Deus santo. Dessa forma, enquanto a qualidade pagã tem
um tom abertamente voltado à autoaflrmação, a qualidade cristã assume o tom
de auto-humilhação. Portanto, no que se refere a Deus, a mansidão aceita as suas
intervenções sem murmurações ou resistências como sendo absolutamente boas
e sábias. No que se refere aos homens, ela aceita oposição, o insulto e a provoca-
30
M ateus - C ap. 5

ção, corno se fossem ministros divinos de um castigo exigido pela enfermidade e


corrupção do pecado; ao passo que, neste sentido da sua própria pecaminosidade,
o manso suporta pacientemente “a contradição dos pecadores sobre si mesmo”,
perdoando e restaurando os que erram em um espírito de mansidão, levando em
consideração a si mesmo, para que ele também não venha a ser tentado {vide G1
6.1-5). As idéias de perdão e restauração em parte alguma encontram correspon­
dência ao vocábulo clássico. Elas pertencem exclusivamente à mansidão cristã,
a qual, dessa forma, mostra-se uma aliada do amor, segundo a atribuição que o
próprio Senhor faz dela a si mesmo {vide Mt 11.29). A wycliffe traduz como:
“Bem-aventurados são os homens meigos". A nvi e ntlh traduzem como humildes
e pessoas humildes, respectivamente.

6. Serão fartos (χορτασθήσουται). Na teb , ecp, ep e b j , serão saciados. Um vocábu­


lo muito forte e ilustrativo, originalmente aplicado ao trato e à engorda de ani­
mais em um estábulo. Em Ap 19.21, χορτασθήσοντοα é utilizado para descrever a
fartura que as aves teriam com a carne dos inimigos do Senhor. O termo foi uti­
lizado também para descrever a multidão alimentada com os pães e peixes (Mt
19.20; Mc 8.8; Lc 9.17). Manifestamente, a palavra é apropriada neste caso como
expressão da completa satisfação da fome e da sede espirituais. Por isso, a tradução
da ntlh completamente satisfeitas, reflete positivamente o texto original.

7. Misericordiosos [έλεημοοίς]. Vide Lc 1.50.

9. Os pacificadores (οί είρηνοποιοί). Este termo deve ser tomado no seu sig­
n i f i c a d o l i t e r a l , pacificadores, e não como traduz w y c l i f f e : homens pacíficos. Os

fundadores e promotores da paz é que estão sendo mencionados; pessoas que além
d e m a n t e r a paz, também procuram trazer os homens a uma vida de harmonia

m ú t u a . A t e b traduz como: agem em prol da paz.

13. For insípido (μωρανθή). Na bj, insosso; na nvi e teb , perder o seu sabor. O
substantivo correlato (μωρός) significa sombrio, lento; aplicado à mente, estúpido
ou tolo; aplicado ao paladar, insípido, choco. O verbo aqui utilizado para se referir
ao sal, tornar-se insípido, também significa bancar o tolo. O nosso Senhor se re­
fere aqui ao fato familiar do sal perder a sua pungência e se tornar inútil. O Dr.
Thompson cita o seguinte caso:

Um comerciante de Sidom, depois de conseguir safar-se de pagar ao governo o imposto


pela importação do sal, trouxe uma grande quantidade deste produto dos charcos de Chi­
pre - na verdade, uma quantidade suficiente para abastecer a província toda por muitos
anos. Ele transferiu este sal todo para as regiões altas, a fim de ludibriar as autoridades
governamentais e se livrar do pagamento de uma pequena porcentagem do seu valor em
forma de impostos. Sessenta e cinco casas foram alugadas e enchidas com sal. Mas, as

31
M ateus —C ap. 5

casas eram de chão batido e o sal que ficou perto do solo, em poucos anos, estragou-se por
completo. Eu vi enormes quantidades daquele sal deteriorado ser, literalmente, lançadas
na rua e pisoteadas por homens e animais. Ele não servia para mais nada-3.

15. O alqueire (του μοδιού). Na t e b , e p , bj, lâmpada; na n v i e t b , candeia. O obje­


tivo do artigo definido é indicar um objeto familiar —o medidor de grãos, que é
encontrado em todas as casas.

O velador (την λυχνίαν). A a e c traz: no candelabro, enquanto a tradução da


n v i é muito vaga, no lugar apropriado. Também designava uma peça de mobília

de todas as casas e, normalmente, cada casa tinha somente uma destas peças: por
isso o artigo. A palavra, que ocorre quatro vezes nos Evangelhos e oito vezes
em outras partes, significa, em todas as suas ocorrências, não um candeeiro (um
suporte para uma única vela), mas um candelabro (um suporte para várias velas).
Em Hb 9.2, o “candeeiro” de ouro do Tabernáculo é chamado de λυχνία, entre­
tanto, na descrição deste item (Ex 25.31-39), lemos: “Também lhe farás sete
lâmpadas’. Em Zc 4.2, onde a ilustração é feita a partir do Santuário, temos um
“castiçal” com um vaso de azeite colocado no seu cimo, “com as suas sete lâmpa­
das-, e cada lâmpada posta no cimo tinha sete canudos (para o azeite)”.

16. Assim resplandeça (ούτως). Normalmente mal interpretada, como se disses­


se “que a sua luz brilhe de tal maneira que os homens possam ver”. Posicionada no
início da frase, ούτως aponta retrospectivamente para a ilustração que acabou de
ser feita no versículo anterior. “Assim”, tal qual o velador (ou, candelabro) acima
mencionado, deixem com que a vossa luz brilhe. A a r c , aparentemente, percebeu
o sentido correto: Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens.

17. D estruir (καταλΰσαι). Literalmente: derrubar, dissolver, a ntlh traz: acabar


com a Lei de Moisés.

18. Jota, til (ιώτα, Kepaía). O termo jota significa a jod, a menor letra do alfabeto
hebraico. O tüé um pequeno sinal gráfico de pontuação de forma curva que ser­
ve para diferenciar certas letras hebraicas de aparência semelhante. A tradição
judaica menciona a letra jod como sendo irremovível; acrescentando que, mesmo
que todos os homens do mundo se reunissem com o intuito de abolir a menor
das letras da Lei, eles não teriam êxito. A culpa pela modificação destes pequenos
sinais que fazem a diferenciação entre as letras no hebraico é considerada tão
grande que, caso isto fosse feito, o mundo inteiro seria destruído.

2 2 . 0 fogo do inferno (την yéevvav τού πυρός). A teb trad u z m ais c o rretam en ­
te como: da geena defogo. O term o Geenna, trad u zid o com o inferno, o co rre fora

23. Thompson, The Land and the Book

32
M ateus - Cap. 5

dos Evangelhos somente em T g 3.6. Ele é a equivalência grega do hebraico Gê’


Hinnom (can ίο?), ou Vale de Hinom. Trata-se do desfiladeiro estreito ao sul de
Jerusalém, onde depois da introdução da adoração dos deuses do fogo por Acaz,
os judeus idólatras sacrificavam os seus filhos a Moloque. Josias repudiou for­
malmente esta prática: “para que ninguém fizesse passar a seu filho ou sua filha
pelo fogo a Moloque” (2Rs 23.10). Depois disso, o lugar se transformou em local
de despejo dos rejeitos da cidade, no qual os corpos de criminosos, carcaças de
animais e toda sorte de sujeira eram lançados. Em função da sua profundidade e
estreiteza, e do fogo e da fumaça que daquele local subia, Gê’ Hinnom se trans­
formou no símbolo do lugar do castigo futuro que sobrevirá aos ímpios. Por isso,
Milton declara: “O aprazível vale de Hinom, portanto chamado de Tofete E de
negro Geena: uma tipificação do inferno”.
Como o fogo era a característica do lugar, ele foi chamado de Geena defogo.
Uma distinção cuidadosa há de ser feita da palavra Hades ($δης), que nunca é
usada para descrever o lugar de castigo, mas sim o lugar dos espíritos que partiram,
sem referência à sua condição moral.

25. Concilia-te (ισθι εύνοών). Literalmente: tenha uma atitude positiva para com;
esteja inclinado a satisfazê-lo mediante um pagamento ou concessão. A t e b lê:
Põe-te de acordo.

Oficial (υπηρέτη). Denota um oficial subordinado, como um arauto ou um as­


sistente e, neste sentido, aplicado a Marcos como o “ministro” ou auxiliar de
Paulo e Barnabé (At 13.5). Este vocábulo nos fornece um exemplo interessante
da expansão de uma palavra, desde um significado limitado e singular, até um
significado mais abrangente. Mostra também a influência do Evangelho em ele­
var as palavras a associações mais nobres e puras. Formado a partir do verbo
έρέσσω, remar, originalmente, ύπηρέτης significava um remador, em distinção a
um soldado, em uma galera de guerra. Este termo que definia um escravo de gale­
ra, ao final, chega até Lucas e Paulo e passa a representar a mais nobre de todas
as funções, a de ministro do Senhor Jesus (Lc 1.2; At 26.16; lCo 4.1).

29. Escandalizar (σκανδαλίζει). O substantivo correlato é σκάνδαλον, uma for­


ma tardia de σκανδάληθρον, a vara onde a isca é colocada em uma armadilha, e
que salta e fecha a armadilha com o toque do animal. Portanto, geralmente, um
laço, uma armadilha, ou pedra de tropeço. O significado que Cristo desejou passar
aqui foi: “Se o seu olho ou a sua mão serve de obstáculo ou de armadilha para lhe
apanhar ou fazer com que você tropece na sua caminhada moral”. No versículo
anterior podemos ver como o olho pode fazer isto. Bengel observa: “Aquele que
enxerga uma pedra de tropeço com o olho e cuida para não vê-lo, na realidade,
cega-se a si mesmo”. Os termos escândalo e caluniador são ambos derivados de
33
M ateus - C ap. 5

σκανδάλου; e w y c liffe traduz: “Se o teu olho direito te calunia”. A teb traz: Se
o teu olho direito te leva à queda-, enquanto ecp lê: se o teu olhofor para ti origem de
pecado. Compare com Esquilo24.

40. Vestimenta, capa (χιτώνα, ίμάτιον). O primeiro termo designava uma roupa
ou túnica que se utilizava por baixo das demais; o segundo, um manto, sobretudo
maior, que servia de cobertura para a noite e que, segundo a legislação levítica,
deveria ser devolvido antes do pôr do sol quando fosse recebido em penhor (Êx
22.26-27). Dessa forma, entregar esta peça de roupa sem impor resistência im­
plicava um grau ainda maior de desprendimento.

41. Te obrigar a caminhar (άγγαρεύσα). Esta palavra projeta sobre todo o


mandamento uma imagem que é completamente perdida pelo leitor ocidental.
Na antiguidade, um homem que estivesse viajando e passando próximo a uma
agência do correio - onde cavalos e mensageiros são mantidos para encaminhar
correspondências reais da forma mais rápida possível - podería ser interceptado
por um oficial que estivesse na agência e obrigado a retornar e levar uma carta
até a agência de correio mais próxima, talvez trazendo um prejuízo enorme aos
seus negócios. O vocábulo tem origem persa e denota a pressão para que uma ta­
refa fosse executada, uma prerrogativa que os oficiais tinham sobre toda pessoa
ou animal nas grandes rotas comerciais do mundo antigo, onde as correspondên­
cias reais eram levadas por revezamento de montadores.

42. Quiser que lhe empreste (δανίσασθαι). Propriamente, pedir emprestado


mediante o pagamento de juros.

43. O próximo (τον πλησίον). Outro termo para o qual o Evangelho transmitiu
um sentido mais amplo e mais profundo. Líteralmente, a palavra significa uma
pessoa que está perto, indicando meramente uma proximidade exterior. Dessa for­
ma, o próximo poderia ser um inimigo. Sócrates nos mostra como dois estados
adjacentes podem chegar a desejar um pedaço do território do estado próximo
(των πλησίον), de forma que haja uma guerra entre ambos25; e, novamente, afir­
ma que um filósofo não tem qualquer contato com o vizinho ao lado da sua casa,
nem sabe se ele é um homem ou mesmo um animal26.
O Antigo Testamento expande o significado a ponto de abranger a comunhão
nacional ou tribal—sentido utilizado nesta citação feita pelo nosso Senhor. O con­
ceito cristão é exposto por Jesus na parábola do Bom Samaritano (Lc 10.29ss.),

24. Esquilo, Choephori, SOI, 372.


25. Platão, A República, 2.373.
26. Id., Teeteto, 174.

34
M ateus - Cap. 6

incluindo toda a fraternidade dos homens, fundamentada no amor em todos os


lugares.

Capítulo 6

1. Junto de vosso Pai (παρά). A t e b implica a fonte do galardão, da parte de vosso


Pai·, mas a preposição significa com, junto de-, de forma que o sentido real é: reser­
vado para vós e vos esperandojunto do vosso Pai, como aparece na a r c .

2 . Tocar trom beta (σαλπίσης). A n v i traz: não anuncie isso com trombetas. Não

parece haver qualquer resquício deste tipo de costume por parte das pessoas que
entregavam as esmolas, de tal forma que a expressão deve ser tomada de forma
figurada significando uma pessoa que deseja alardear o seu ato de bondade. E igual­
mente possível que a figura possa ter sido sugerida pelas “trombetas” do tesouro
do Templo —treze baús, ou arcas, em formato de trombeta onde as pessoas depo­
sitavam as suas contribuições (vide Lc 21.2)

Receberam o seu galardão (άπΙχουσιν). A preposição άπό indica o recebi­


mento completo. A a r c traduz como: receberam, de forma que nada mais há para
ser recebido. Por isso, t e b traduz como: já receberam a sua recompensa.

6. Aposento (ταμιΛον). Vide he 12.3.

7. Useis de vãs repetições (βατταλογήσητί). Na teb , multipliqueis palavras, en­


quanto na b p , não sejaisfaladores. Um termo formado pela imitação do som, bat-
talogeim notadamente, gaguejar, depois balbuciar ou tagarelar, repetir a mesma
fórmula muitas vezes, como faziam os adoradores de Baal e de Diana de Éfeso
(lRs 18.26; At 19.34), ou como ainda fazem os romanistas com as suas rezas
intermináveis.

12. Dívidas (όφ€ίλήματα). Acertadamente traduzido pela maioria das versões


brasileiras (cp. Lc 11.4). A teb traduz por faltas, ntlh e ecp, por ofensas. O pecado
é descrito como uma dívida, e o pecador como um devedor (cp. Mt 18.28-30). De
modo semelhante, a palavra representa o pecado tanto como erro, quanto como
algo que exige satisfação. Em contraste com a oração: “Perdoa-nos as nossas dívi­
das”, Tholuck cita a oração de Apolônio de Tiana: “Ó vós deuses, concedei-me as
coisas que me são devidas”27.

Perdoamos (άφήκαμβ;). Literalmente: enviar para longe, ou descartar. A a r c


aplica corretamente uma ênfase ao tempo pretérito: nós perdoamos-, já que Cristo

27. Tholuck, Sermon on the Mount.

35
M ateus - C ap. 6

considera que aquele que ora pela remissão das suas próprias dívidas, já perdoou
aqueles que lhe deviam28.

13. Tentação (πβ.ρασμόυ). E um erro definirmos este vocábulo como somente


uma instigação ao mal Ele significa provação de qualquer espécie, sem referência
à sua qualidade moral. Assim, Gênesis 22.1 (lxx ): "tentou Deus a Abraão”; João
6.6: “Mas dizia isso para o experimentar ; Paulo e Timóteo intentavam ir para
Bitínia (At 16.7); 2 Coríntios 13.5: “Examinai-vos a vós mesmos”. Nesta perí-
cope, πειρασμός se refere, geralmente, a todas as situações e circunstâncias que
propiciam ocasião para o pecado. Não se pode orar a Deus pedindo para que Ele
não nos tente rumo ao pecado, já que “Deus não pode ser tentado pelo mal e a
ninguém tenta” (Tg 1.13).

14. Ofensas (παραπτώματα). Na te b ,faltas-, na bj, delitos. O Senhor faz uso de ou­
tro vocábulo para designar os pecados, e outro, ainda (αμαρτίας) aparece na versão
que Lucas apresenta para esta oração, embora ele também diga: “a todos que
estão em débito conosco”. Cristo, ao contemplar os pecados em geral, usou va-
riegados termos para designar diferentes aspectos da impiedade [videlsAt 1.21).
Este vocábulo é derivado de παραπίπτω, cair ou atirar-se para o lado. Logo, ele
tem um sentido um tanto aproximado de αμαρτία, que significa atingir o lado de
um alvo, ou errar um alvo. No grego clássico, o verbo é, de modo geral, utilizado
para designar uma queda intencional, como no caso em que uma pessoa se lança
sobre um inimigo. Este é o sentido predominante no grego bíblico, indicando um
pecado voluntário e despreocupado (vide lCr 5.25; 10.13; 2Cr 26.18; 29.6-19; Ez
14.13; 18.26). Contudo, παράπτωμα não implica paliação ou desculpa. Trata-se de
uma violação consciente do direito, que envolve culpa e ocorre em conexão com
a menção do perdão (Rm 4.25; 5.16; Cl 2.13; Ef 2.1-5). Ao contrário de παράβασις
[transgressão), que contempla meramente a violação objetiva da Lei, ele carrega a
ideia de pecado como algo que afeta o pecador e, por isso, encontra-se associado
com expressões que indicam as consequências e o remédio do pecado (Rm 4.25;
5.15,17; Ef 2.1).

16. Jejuardes (νηστβύητ^). Observe a força do tempo presente grego como indi­
cativo de ação em progresso: Sempre que vós puderdes estarjejuando.

Contristados (σκυθρωποί). Na tb , ar triste, na teb , ar sombrio. Um vocábulo in-


comum no texto do Novo Testamento, que ocorre somente aqui e em Lc 24.17.
Trench explica-o por intermédio do velho sentido da palavra inglesa dreary (abor­
recido), como uma pessoa que apresenta um semblante caído em função de um

28. O tempo verbal é o aoristo, denotando uma ação completada em um tempo passado indefinido,
e, assim, estritamente, perdoamos; entretanto; onde permanece qualquer efeito da ação expres­
sa pelo aoristo, estamos justificados na tradução pelo uso do tempo perfeito.
36
M ateus - C ap . 6

estado de aflição, tristeza ou descontentamento29. No grego clássico, este termo


também significa rabugice e seriedade afetada. Lutero a traduz como: Não aparenteis
estar azedos.

Desfiguram (άφανίζουσιρ). Na te b , assumem umafisionomia; na n v i , mudam a


aparência. A tradução de w y c liffe é peculiar: E^s mostram rostos gentis. A ideia
é mais de ocultar do que desfigurar. Existe um jogo entre este termo e φανώσιν
(para que pareça) que é intraduzível para o nosso idioma: eles ocultam ou masca­
ram a sua aparência real para que possam aparecer diante dos homens. A alusão é
aos sinais externos de humilhação que, normalmente, acompanham o jejum, tais
como ficar sem tomar banho, deixar de tirar a barba, ou deixar de passar o azeite
da unção. “Evitem”, diz Cristo, “a miséria de não ter o rosto lavado e não ter o
cabelo e a barba bem cuidados, mas unjam a sua cabeça e lavem o rosto, de forma
a não se mostrarem (φανης) para os homens, mas para Deus ao jejuarem”.

19. Não ajunteis tesouros (μή θησαυρίζετε). Literalmente: Não entesoureis tesou­
ros. Por isso, w y c l iffe : Não entesoureis tesouros para vós. A bela lenda de Tomé e
Gondoforo é contada pela senhora Jameson:

Quando o apóstolo Tomé estava em Cesareia, o nosso Senhor lhe apareceu e lhe disse:
Ό rei das índias, Gondoforo, enviou o seu oficial, Abanes, para procurar trabalhado­
res bem versados na Ciência da Arquitetura, que lhe haverão de construir um palácio
mais belo do que o do Imperador de Roma. Eis que agora te enviarei a ele”. E Tomé
foi, e Gondoforo lhe ordenou que ele lhe construísse um palácio magnífico, e lhe en­
tregou uma grande quantidade de ouro e prata para este fim. O rei, então, seguiu para
uma terra longínqua e esteve ausente por dois anos; e Tomé, neste ínterim, em vez de
lhe construir um palácio, distribuiu todos os tesouros entre os pobres e os enfermos;
e, ao retornar o rei, ficou tomado de fúria e ordenou que Tomé fosse pego e lançado
na prisão, e meditava como lhe executar de forma horrível. Enquanto isso, o irmão
do rei morreu, e o rei resolveu construir para ele o mais belo dos túmulos; só que o
seu irmão falecido, depois de estar morto havia quatro dias, subitamente, levantou-se
e ficou sentado, e disse ao rei: “O homem que desejaste torturar é um servo de Deus;
eis que estive no Paraíso, e os anjos me mostraram um palácio maravilhoso feito de
ouro e prata e pedras preciosas; e me disseram: ‘Este é o palácio que Tomé, o arquiteto,
construiu para o teu irmão, o rei Gondoforo’”. E, ouvindo o rei estas palavras, correu
para a prisão e libertou o apóstolo; e Tomé lhe disse: “Sabias tu que aqueles que pos­
suem as coisas do alto não se preocupam tanto com as deste mundo? No céu há um
número incontável de palácios exuberantes, que foram preparados desde o princípio
do mundo para aqueles que comprarem a sua posse por meio da fé e da caridade. As

29. Tholuck, Sermon on the Mount.


37
M ateus - C ap . 6

tuas riquezas, ó rei, podem preparar o teu caminho para a construção deste palácio,
mas não poderão seguir contigo para o alto”30.

Ferrugem (βρώσις). Aquilo que come-, do verbo βιβρώσκω, comer. Compare com
corroer, do latim rodo, roer. A teb traz a leitura: as traças e os vermes-, e a bj: a traça
e o caruncho.

Consomem (αφανίζει). O mesmo termo que é utilizado acima para se referir


aos hipócritas que desfiguram, ou ocultam, o seu rosto. A ferrugem consome e,
logo, provoca o desaparecimento. Por isso, ntlh e nvi traduzem destroem; e a teb ,
arruinam.

Minam (διορύσσουσιν). Literalmente: cavam através. Na teb , arrombam as pare­


des. Um ladrão podería facilmente cavar as paredes de uma casa oriental comum
feita de barro. O substantivo grego que designa um arrombador é τοίχωρύχος,
ou cavador de paredes. Compare com Jó 24.16: “nas trevas minam as casas”. Tam­
bém Ez 12.5, segundo n tlh , abra um buraco na parede da sua casa.

22. Bons (απλούς). A imagem por trás deste adjetivo é a de um pedaço de tecido
ou outro material qualquer, com uma dobra bem feita e sem muitas dobras com­
plicadas. Daí, a ideia de simplicidade ou singularidade (cp. a palavra simplicidade
oriunda do latim simplex: semel, uma vez; plicare, dobrar). Portanto, num sentido
moral·, puro, objetivo, sem devaneios. Neste caso, sãos ou bons, como antônimo de
maus ou adoentados. Possivelmente, com referência à duplicidade e indecisão con­
denadas no versículo 24.

Terá luz (φωτεινόν). Bengel afirma: “Como se ele fosse todo olho”.

23. Em ti - trevas. Sêneca, em uma das suas cartas, conta sobre uma escrava da
sua casa que ficou subitamente cega:

Agora, por mais inacreditável que esta história possa parecer, é mesmo verdade que
ela ainda não se apercebeu da sua cegueira e, consequentemente, pede à sua ajudante
para que vá a todas as partes da casa por ser a residência muito escura. Mas tu podes
estar certo de que o que ocorreu com aquela mulher, e que nos faz rir, acontece com
todos nós; ninguém percebe que é avarento ou mesquinho. O cego procura um guia;
nós perambulamos pela vida sem um guia.

E Ruskin registra:

O olhar distorcido é pior do que a cegueira. O homem que tem a visão demasiadamen­
te turva para discernir a rua de uma vala, é capaz de, com o seu tato, diferenciar uma

SO. Jameson, Sacred and Legendary Art.

38
M ateus - C ap. 6

coisa da outra; mas se, para ele, a vala tem aparência de rua, e a rua aparenta ser uma
vala, o que haverá de lhe suceder? A visão distorcida é o mesmo que não enxergar, no
lado negativo da cegueira31.

24. O outro (ετερον). Implica uma distinção mais de qualidade do que de quantidade
(άλλος). Por exemplo, “se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a
outra’ (την άλλην); isto ê, a outra dentre as duas faces existentes (Mt 5.39). No dia de
Pentecostes, os discípulos começaram a falar com outras (ετέραις) línguas; ou seja, di­
ferentes das suas línguas nativas. Nessa perícope, a palavra transmite a ideia de dois
mestres de caráter e interesses distintos ou opostos, tal como Deus e Mamom.

Se dedicará (άνθέξεται). A preposição άντί, contra, aponta para a dedicação a um


mestre em oposição ao outro. A pessoa que é por Deus precisa ser contra Mamom.

25. Não andeis cuidadosos (μή μεριμνάτε). O substantivo cognato é μέριμνα, cui­
dado, que deriva-se de μερίς, uma parte, e μερίζω, dividir. Era igualmente explicado
como um cuidado dividido que distraía o coração do objetivo real da vida. Contu­
do, esta acepção foi abandonada e a palavra foi incluída em um grupo que carrega
a noção comum de séria consideração. Pode incluir os conceitos de preocupação e
ansiedade, ou enfatizar estas duas, embora isto não ocorra necessariamente. Veja,
por exemplo: “cuida das coisas do Senhor” ( lCo 7.32); “Tenham os membros igual
cuidado uns dos outros” (lCo 12.25); “... Que sinceramente cuide do vosso estado”
(Fp 2.20b). Em todos estes casos, o sentido de preocupação estaria completamente
fora de contexto. Em outros, essa ideia é predominante como “os cuidados deste
mundo”, que sufocam a boa semente (Mt 13.22; cp. Lc 8.14), como na passagem
acerca de Marta: “estás ansiosa” (Lc 10.41).
Na época da preparação da kjv, a expressão grega μή μεριμνάτε, traduzida nesta
passagem por ocupar opensamento, representava uma tradução fiel, já que o subs­
tantivo pensamento era utilizado como um equivalente a ansiedade ou solicitude.
Por isso, Shakespeare escreve:

A coloração nativa da resolução


Esvai-se com o pálido aspecto do pensamento.

Também Bacon: “Hawis, um conselheiro de Londres, ficou transtornado, e


faleceu de pensamento e angústia”32. Nos folhetos de Somers (no reinado da rai­
nha Elizabete) lê-se: “A rainha Catherine Parr faleceu deveras de pensamento".
O vocábulo perdeu completamente o seu significado. O bispo Lightfoot
afirma:

31. Ruskin, Modem Painters.


32. Bacon, Henry VII.

39
M ateus - C ap. 7

Ouvi um economista político citando esta passagem como uma objeção ao ensina­
mento moral do Sermão do Monte, baseando-se no fato de ela incentivar, ou melhor,
ordenar, uma negligência despreocupada com o futuro33.

É a inquietação e a preocupação acerca do futuro que o nosso Senhor condena


nessa perícope. Por conseguinte, a a e c traduz de forma acertada ao afirmar: não
estejais ansiosos, ou a t e b , e c p e b j quando declaram, Não vos preocupeis. A b p traz
angustiados. A a r c verte corretamente o texto em 1 Pedro 5.7, quando apresenta
ansiedade para μέριμναν e cuidado como opção ao vocábulo μέλει. Já a k j v des­
considera a distinção entre os dois tipos de cuidado: “Lançando todos os vossos
cuidados (μέριμναν) sobre Ele, pois Ele cuida (αύτω μέλει) de vós”, com um cuida­
do paternal, terno e providente.

Capítulo 7

3. Reparas (βλέπεις). Olhar defora, como quem não enxerga com clareza.

Vês (κατανοείς). Uma palavra mais forte, compreenderpor dentro, o que já está lá.

Argueiro (κάρφος). A n v i , t e b , b j traduzem por cisco; a e c p traz palha e a b p ,


felpa. A palavra argueiro, contudo, sugere pó; ao passo que a metáfora se dá a
partir de uma farpa minúscula de cavaco, do mesmo material que é feita a trave. A
w y c l i f f e traduz como: festu, explicando que se trata de um pequeno argueiro. Ao

explicarmos a passagem, fazemos bem em lembrar que a obstrução ocorre com


o mesmo material, em ambos os casos. O homem com uma grande trave no seu
olho e que não conseguia enxergar nada direito, propõe-se a remover a pequena
farpa do olho do seu irmão, uma operação delicada, que exigia visão clara. A fi­
gura de uma farpa como representação de algo doloroso ou incômodo é comum
no mundo oriental. Tholuck cita, do idioma árabe, várias passagens relacionadas,
dentre estas uma é literalmente um ditado do nosso Senhor: “Como enxergas tu
a farpa no olho do irmão, e não enxergas a viga-mestra no seu próprio olho?”34.

Trave (δοκόν). Na bp, viga. Um barrote, uma viga; indicando uma grande f a ­
lh a .

5. Cuidarás (διαβλέψεις). Na t b , verás claramente, na t e b , enxergarás; e na p b , po­


derás distinguir. A preposição διά, através de, dá um sentido de perfeição. Compare
com o verbo isolado βλέπεις (reparar), no versículo 3. Com a trave no teu olho, tu
olhas para a pequena falha do teu irmão. Mas, retires a trave; então verás clara-

33. Lightfoot, On a Fresh Revision o f the New Testament.


34. Tholuck, Sermon on the Mount.
40
M ateus - C ap. 7

mente, não somente a falha em si, mas também como poderías ajudá-lo a se livrar
da sua.

T irar (εκβαλεΐν). As palavras do Senhor presumem que o objeto do escrutínio


não deva somente ser detectado, mas também removido. Por isso, deves enxergar
com clareza, não apenas farpa, mas para teres condição de removê-la.

6. As coisas santas (tò άγιον). Na teb , nvi e bj, o que ê sagrado. Aquilo que é
comumente reconhecido como sagrado. A referência feita é à carne oferecida em
sacrifício. A imagem é a de um sacerdote lançando um pedaço de carne do altar do
holocausto para um dos vários cães que infestavam as ruas das cidades do Oriente.

Aos porcos as vossas pérolas (μαργαρίτας έμπροσθεν των χοίρων). Outra


figura de um homem rico atirando, de forma ultrajante, punhados de pérolas
pequenas aos porcos. Na Palestina, os suínos eram medianamente domesticados,
sendo que o porco era um animal imundo. O porco-do-mato era um animal que
assombrava o vale do Jordão. As pérolas pequenas, chamadas pelos joalheiros
de pérolas-sementes, lembrariam as ervilhas ou o milho dos quais os suínos se
alimentavam. Os porcos correríam para cima do alimento assim que ele era es­
palhado e, ao descobrir a trapaça, pisoteá-lo-ia e voltariam as suas presas afiadas
em direção do homem que o espalhou.

Voltando-se (στραφέντες). O vocábulo nos passa uma ilustração visual da in­


vestida rápida e certeira do porco-do-mato.

Despedacem (ρήξωσιν). Literalmente: quebrem, e bem escolhida para expres­


sar o caráter peculiar do ferimento causado pelas presas de um porco-do-mato,
que não é um corte, mas um rasgo comprido.

9. Pão, uma pedra (άρτον, λίθον). Acerca da semelhança de certas pedras com
pães ou bolos de pão, vide Mt 4.3.

13. Porta estreita (στενής πύλης). Um paralelo impressionante desta passagem


ocorre na “Tabuleta” de Cebes, um escritor contemporâneo de Sócrates. Ali, a
vida humana, com os seus perigos e tentações, é simbolicamente representada
como se passando em cima de uma tabuleta. O texto diz: “Não vês, então, uma
pequena porta e um caminho na sua frente, com pouca gente nele e poucos con­
seguem percorrê-lo? Este é o caminho que conduz à verdadeira cultura”.

Conduz (άπάγουσα). Literalmente: conduz para longe, da morte, ou, talvez, do


caminho largo. Observe que a porta não fica no fim, mas no início do caminho.

16. Conhecereis (επιγνώσεσθε). O verbo composto indica o pleno conhecimento.


O caráter é satisfatoriamente testado pelos frutos que produz.
41
M ateus - C ap . 7

22. Não (ού). Esta forma de negativa é utilizada quando se espera uma resposta
afirmativa. Logo, retrata tanto a presunção, quanto a autoilusão nas quais viviam
estas pessoas: “Certamente profetizamos”.

23. Direi (ομολογήσω). O termo que é utilizado em outras porções das Escrituras
para descrever: a confissão aberta de Cristo diante dos homens (Mt 10.32; Rm
10.9); a declaração pública de João Batista de que ele não era o Cristo (Jo 1.20); a
promessa de Herodes a Salomé na presença dos seus convidados (Mt 14.7). Por­
tanto, aqui ela descreve a declaração pública e aberta de Cristo de que Ele era o
Juiz do mundo. Bengel diz que “há muita autoridade nesta afirmativa”.

24. Assemelhá-lo-ei etc. A ilustração não se refere a dois homens que escolhem
deliberadamente dois fundamentos, mas contrasta um homem que escolheu com
prudência e preparou o seu alicerce, com outro que edificou a sua casa com des­
leixo. O contraste fica ainda mais evidente em Lc 6.48a: “É semelhante ao ho­
mem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os alicerces sobre
rocha”. Kitto descreve:

Bem naqueles dias, o modo de construção que existia na cidade onde habitou o próprio
Jesus - Nazaré - sugere a fonte desta ilustração. O Dr. Robinson, certa vez, passou um
tempo conhecendo a casa de um árabe grego. A casa tinha acabado de ser construída
e ainda não estava terminada. Para lançar o fundamento ele cavou até encontrar rocha
firme, como é comum aqui em todo o nosso país, até a profundidade de cerca de 9
metros e, depois disso, levantou arcos35.

O estilo abrupto do versículo 25 ilustra a súbita chegada de uma tempestade


que varreu a casa construída sobre a areia: Έ desceu a chuva, e correram rios, e
assopraram ventos”.

27. E foi grande a sua queda. A conclusão do Seníião do Monte. Bengel obser­
va: “Portanto, não é necessário que todos os sermões terminem com consolos”.

28. Se admirou (έξ^πλήσσοντο). t e b , impressionadas; a r a , n v i e p b , maravilhadas,


bj, extasiadas. Derivado de eK,fora, e πλήσσω, atingir. Com frequência, tem o sig­
nificado de abalar os sentidos de uma pessoa por intermédio de uma pancada repentina
e, logo, refere-se aqui à perplexidade. Eles ficaram atônitos. Temos uma expressão
semelhante, embora não tão forte: “Fiquei abalado com isto ou com aquilo”.

29. Os ensinava (ήν διδάσκων). Ele os estava ensinando. Na e p e t e b , com o seu en­
sinamento. Esta união do verbo com o gerúndio (ou particípio presente) enfatiza
mais a ideia de duração ou hábito do que o pretérito comum.

35. Kitto, Pictorial Bible.

42
M ateus - C ap . 8

C a pítu lo 8

6. Atormentado ( β α σ α ν ι ζ ό μ ε ν ο ς ) . Na tb , padecendo; na teb e ara , sofrendo. Vide


tormentos, Mt 4.24.

7. Darei saúde (θεραπεύσω). Na t b , a r a , n v i , t e b , irei curá-lo. O vocábulo origi­


nalmente significa atender, ou tratar deforma médica. O centurião utiliza outro
termo ainda mais forte, sarará (ίαθήσεται). Lucas, que é preciso no uso das termi­
nologias médicas, utiliza ambas as palavras em um mesmo versículo (9.11). Jesus
sarou (ίάτο) todos os que tinham necessidade de tratamento (θεραπείας). Além
disso, o próprio Lucas nem sempre observa esta distinção. Videljc, 5.15.

9. Também (καί). “Também eu sou homem sob autoridade”, assim como tu o és;
a b j traz: também eu estou. O centurião compara a posição do Senhor com a sua
própria. Cristo tinha autoridade sobre as enfermidades. O centurião também pos­
suía autoridade sobre os seus soldados. Assim como bastava ao centurião dizer
“vai-te!” e o soldado ia, também bastava a Cristo dizer à doença “vai-te!” que ela
também obedecería.

11. Assentar-se-ão (άνακλιθήσονται). Literalmente: reclinar-se. A imagem é a de


um banquete. Tanto os judeus, quanto os romanos se reclinavam diante da mesa
sobre assentos acolchoados.

12. Exteriores (το εξώτερον). A ordem das palavras no grego não dá margem
a dúvidas. Eles serão lançados nas trevas, no exterior (onde é escuro). A imagem
é de um salão iluminado onde ocorre um banquete, em cuja parte externa reina a
mais absoluta escuridão da noite.

13. Sarou (ίάθη). Observe que a palavra mais forte do centurião (v. 8) é utilizada
aqui. Onde Cristo cuida, ele sara.

14. Com febre (πυρεσσουσαν). Derivada de imp,fogo.

17. Levou (εβάστασεν). Esta tradução não é exata. O termo não significa ele le­
vou, mas ele suportou, como se uma carga tivesse sido colocada sobre Cristo. Esta
passagem é uma pedra de esquina da teoria da cura pela fé, segundo a qual a
expiação de Cristo inclui tanto a provisão da cura do corpo, quanto do espírito.
Logo, insiste na tradução levou. Presume-se que Mateus havia compreendido o
sentido da perícope que ele citava do livro de Isaías, e, assim, caso a sua intenção
fosse a de afirmar que Cristo levou as nossas enfermidades, poder ia ter utilizado
um termo mais adequado para se expressar.

20. Covis (φωλεούς). A b j , n t l h e a t e b apresentam tocas.


43
M ateus — C a p. 8

Ninhos (κατασκηνώσεις). Unicamente aqui e na passagem paralela de Lc 9.58.


O termo ninhos é demasiadamente limitado. O vocábulo, derivado de σκηνή, uma
tenda, tem o significado mais amplo de abrigo ou habitação. No grego clássico,
κατασκηνώσεις é utilizado para descrever um acampamento. Para um pássaro, o
ninho não representa a mesma coisa que uma toca para uma raposa —uma habita­
ção permanente, já que o pássaro frequenta o ninho somente durante o seu período
de incubação.

24. Tempestade (σεισμός). Literalmente, agitação. Termo utilizado para descre­


ver um terremoto, ou abalo ctsmico. A narrativa indica uma tempestade repentina.
O Dr. Thomsom afirma que:

Este tipo de ventania, além de ser violenta, desce subitamente e, normalmente, quan­
do o céu está perfeitamente limpo... Para compreender as causas destas tempestades
repentinas e violentas, precisamos lembrar que este lado está numa depressão geo­
gráfica - a mais de 200 m etros abaixo do nível do mar; que o platô montanhoso do
Jaulân se eleva a uma altitude considerável, estendendo a sua retaguarda para os lu­
gares ermos de Haurân, e, para cima, rumo ao pico nevado do Hermom; que os cursos
d’água cavaram desfiladeiros e gargantas profundas, que convergem, todos, para o
início deste lago; e que estes funcionam como grandes funis para a atração dos ventos
frios que sopram nas montanhas86.

28. Os sepulcros (μνημείων). Eram câmaras escavadas nos montes, as quais pro­
porcionariam um abrigo para o endemoniado. Chandler descreve os sepulcros
com dois recintos quadrados, um na parte inferior que continha as cinzas, e outro
na parte superior, onde os amigos do falecido executavam ritos fúnebres, e derra­
mavam libações por intermédio de um furo no chão37. O Dr. Thomson descreve
dessa forma os sepulcros de pedra na região entre Tiro e Sidom:

Eles são quase todos do mesmo formato, com uma câmara menor na parte frontal, e
uma porta que dava acesso dali para o sepulcro, que tem cerca de 1,80 metros quadra­
dos, com vãos nos três lados para os m ortos88.

A propensão para buscar abrigo nos sepulcros é mencionada pelos médicos da


antiguidade como uma característica das pessoas dementes. A imundícia atribu­
ída pela legislação levítica aos sepulcros assegurava àqueles infelizes a solidão
que procuravam. Trench, a partir de Warburton, cita o seguinte incidente:

Ao descer daquela altura, achei-me em um cemitério cujos turbantes esculpidos me


informavam que o vilarejo ali perto era muçulmano. O silêncio da noite foi, então,

36. Thomsom, Land, and Book.


37. Chandler, Travels in Asia Minor.
38. Thomson, Land and Book.

44
M ateus —C ap. 9

quebrado por gritos e uivos agudos que, descobri, vinham da confusão entre um ma­
níaco, que andava sem roupas, e alguns cães selvagens que brigavam entre si por um
pedaço de osso. No momento em que percebeu a minha presença, ele abandonou os
seus camaradas caninos e, saltando a passos largos e rápidos, agarrou a rédea do meu
cavalo e quase o lançou para trás, no desfiladeiro59.

Ferozes (χαλεποί). A t b , e c p e a r a leem furiosos, enquanto a t e b , perigosos, e a


ep, selvagens. Originalmente, dificil, duro. Por isso, difícil de controlar, intratável.

32. Um despenhadeiro (του κρημνού). Melhor, como na b j , um precipício. Não se


referindo a uma encosta que se prolongava muito, mas a uma encosta íngreme,
quase perpendicular, na qual, praticamente, não havia terreno entre o seu platô e
a água, não havendo espaço para que os suínos se recuperassem da queda abrup­
ta. O Dr. Thomson declarou:

“Mais ao sul, a planície se tornava tão ampla que a manada poderia ter se recuperado
e saído do lago”. O artigo posiciona o despenhadeiro como um local que ficava nos
arredores da pastagem” .

Capítulo 9

9. Alfândega (τ^λώνιον). A b j traz: coletoria de impostos. Na w y c l i f f e consta:


cabine de cobrança, que é uma tradução excelente, embora obsoleta. A expressão
assentado na é, literalmente, assentado sobre a plataforma ou banco elevado, que era
a principal característica do posto de cobrança. Este posto alfandegário localiza­
va-se em Cafarnaum, o local de atracação dos muitos navios que atravessavam o
lago ou viajavam pela costa, de cidade a cidade. Não eram atendidas somente as
pessoas que negociavam nesta cidade, mas também àquelas que dali seguiam até
a grande rota do comércio oriental desde Damasco, até os portos do Ocidente.
Cícero, no seu discurso sobre as Províncias Consulares, acusa Gabínio, o pro-
consul da Síria, de liberar os sírios e os judeus de alguns de seus impostos legal­
mente devidos, bem como de ordenar a destruição das construções de pequeno
porte, que os publicanos haviam erigido nas proximidades das pontes, no fim das
estradas ou nos portos, para a conveniência dos seus escravos e cobradores.

16. Novo (άγνάφου). Derivado de ά, não, e γνάπτω, cardar ou pentear a lã, daí vestir ou
vestimenta completa. Portanto, a r v traduz mais corretamente como: pano ainda não ves­
tido, o qual encolhería assim que fosse molhado e se desprendería completamente da
peça de tecido mais velha. A w y c l i f f e traduz como: rude. Jesus ilustra a combinação

39. Warburton, The Crescent and the Cross apud Trench, Notes on the Miracles.
40. Thomson, hand and Book.
45
M ateus - C ap . 9

das velhas formas de piedade pessoal peculiares a João Batista e aos seus discípulos com
a nova vida religiosa que emanava da sua pessoa, como sendo equivalentes ao conserto
de uma roupa velha com um pedaço de tecido não franzido, o qual esticaria e se soltaria
completamente do pano velho e provocaria um rasgo ainda maior do que o anterior.

17. Odres (ασκούς). A r v traduz corretamente como odre de vinho, apesar de a


nossa palavra garrafa originalmente carregar o mesmo significado real, sendo
uma garrafa de couro. No espanhol, bota significa uma garrafa de couro, uma bota e
uma barrica ou pipa para vinho. Na Espanha, o vinho ainda é levado aos mercados
em peles de suínos. No Oriente, o couro de cabra é comumente utilizado, com
o lado á s p e r o para dentro. Ao envelhecer, ele se rompe com a fermentação do

vinho. A e p t r a d u z , equivocadamente, por barris velhos... barris novos.

18. Faleceu agora mesmo (άρτι. έτ^λβίτησρν). A força literal do tempo verbal
aoristo é mais ilustrativa: Acabou de morrer.

20. Orla (κρασπέδου). A franja usada na borda da roupa de fora, segundo o man­
damento prescrito em Nm 15.38. O Dr. Edersheim afirma que, de acordo com a
tradição, cada uma das listras brancas deveria ser composta por oito fios, sendo
que um deles era costurado ao redor dos demais. Primeiro sete vezes, com um
nó duplo; depois oito vezes, com um nó duplo; depois onze vezes, com um nó
duplo; e, por último, treze vezes. Os caracteres hebraicos que representam estes
números formavam as palavras Jeová Um*'.

23. Instrum entistas (αύλητάς). Mais exatamente, como traduzido pela e c p e


t e b : os tocadores defiauta, que eram pranteadores contratados ou voluntários. A

n t l h traz, tocavam músicafúnebre.

Em alvoroço (θορυβούμ€νον). A t e b lê: agitação da turba. Numa representação


dos gritos e das lamentações feitos pelas mulheres em voz alta. Esta é a palavra
utilizada em At 17.5: “Ajuntando o povo, alvoroçaram a cidade”.

32. Mudo (κωφόν). Este vocábulo também é usado para designar a surdez (Mt
11.5; Mc 7.32; Lc 7.22), mas também significa triste ou áspero. Por isso, Homero
utiliza-o com relação à terra: a terra triste, insensível. Também para falar de
um dardo áspero*3. Os autores clássicos empregaram a palavra para falar da per­
cepção vocal, auditiva, visual e mental. No texto do Novo Testamento, κωφόν
refere-se somente à audição e à fala, sendo o seu sentido determinado segundo o
contexto em que se encontra.

41. Edersheim, Life and Times o f Jesus.


42. Homero, Iliada, 24.25.
43. Ibid., Π.390.

4·6
M a t e u s - C ap . 10

36. Desgarrados (ήσαν έσκυλμέν»οι). A τβ apresenta, de forma mais adequada,


estavam aflitas. Observe o verbo com o particípio, denotando a sua condição ha­
bitual. A palavra, originalmente, significa esfolar, despedaçar ou dilacerar. Esquilo
utiliza-a para se referir ao dilaceramento de cadáveres por parte de peixes44. Por
ser mais apropriado para a figura das ovelhas, o termo poderia ser traduzido
como tosquiadas. A t e b traz a leitura: elas estavam exaustas.

Errantes (έρριμμένοι). Este termo é o particípio passivo perfeito de ρίπτω,


lançar ou atirar, e significa lançado, prostrado. Por isso, t e b e b p traduzem como
prostradas. Não se trata da dispersão das ovelhas entre si, mas de uma descrição
do ato de prostrarem-se, ou lançarem-se ao chão. Elas se lançaram ao chão em
função da exaustão que sentiam.

38. Mande (έκβάλη). A tradução mande ou envie ( t b , n v i , e c p , b j ) é a mais usada


pelas versões bíblicas. Todavia, o vocábulo original é mais forte: expelir, forçã-los
a sair, como que pela urgência da necessidade.

Capítulo 10

1. Os discípulos (τούς μαθητάς). Oi ou seus, referindo-se a eles como pessoas já


escolhidas, embora Cristo, em parte alguma, relate a escolha de seus discípulos.
Vide Mc 3.14; Lc 6.13.

2. Apóstolos (αποστόλων»). Compare com discípulos, no versículo 1. Apóstolo é


um termo oficial utilizado aqui pela primeira vez. Eles eram meramente aprendi­
zes (discípulos, μαθηταί) até que Cristo lhes deu autoridade. O vocábulo απόστολος
é oriundo de αποστέλλω, enviar para longe. Um apóstolo é uma pessoa enviada.
Compare com Jo 13.16: o enviado. Cremer afirma que a ocorrência desta palavra
é rara no grego profano, o que fazia dela mais do que apropriada para transmitir
a posição singular dos Doze45. Compare com Lc 6.13; At 1.2. Vide também Jo
17.18: eu os enviei. Este termo também é usado uma vez para descrever o oficio
apostólico de Jesus (Hb 3.1), e, em vários casos, para designar qualquer pessoa
que fosse enviada (2Co 8.23; Fp 2.25).

4. O Zelote (ό Καναναιος). Na e c p : o cananeu. Apesar de algumas versões apre­


sentarem esta última tradução, a palavra não guarda qualquer relação com Ca-
naã. Em Lc 6.15; At 1.13, o mesmo apóstolo é chamado de zelote. Isto indica a
sua ligação com o movimento zelote da Galileia, uma seita que defendia a recu­
peração da liberdade dos judeus e a manutenção das distintas instituições judai-

44. Esquilo, Persae, 577.


45. Cremer, Biblico-TheologicalLexicon.

47
M ateus - C ap . 10

cas. Palavra oriunda do hebraico qãna' (V.1j5), zelo (zeloso); compare com o termo
aramaico qãnãn, a partir do qual esta seita foi denominada.

5. Judas Iscariotes (ó Ίσκαριώτης). O artigo distingue-o de outras pessoas com


o nome Judas (cp. Jo 14.22). O termo Iscariotes é, normalmente, explicado como
um composto que significa o homem de Queriote, em uma referência à sua terra
natal. Queriote é apresentada em Js 15.25 como uma das últimas cidades de Judá,
quando se caminhava na direção sul, rumo à costa de Edom.
Nas quatro listas de apóstolos, esta, a de Mc 3.16, Lc 6.14 e At 1.13, Simão Pedro
sempre aparece em primeiro lugar. Neste caso, a menção ocorre de forma ex­
pressa: “O primeiro, Simão, chamado Pedro”. Observe que Mateus os nomeia em
pares, e compare com Mc 6.7: “e começou a enviá-los de dois a dois”. A disposição
das diferentes listas varia; mas, invariavelmente, Pedro é o líder dos primeiros
quatro, Filipe do segundo grupo de quatro e Tiago, filho de Alfeu, do terceiro
grupamento de quatro.

6. As ovelhas perdidas (τα πρόβατα τα απολωλότα). A ordem dos termos no


grego lança a ênfase sobre a palavra perdidas: as ovelhas, as perdidas. Bengel ob­
serva que Jesus usa com mais frequência as variantes em gênero e número do
adjetivo perdido, do que as do verbo desgarrar-se. Compare com 18.12,14.

9. Cobre (χαλκού). Em clímax descendente, já que o cobre seria tão necessário


quanto o ouro.

10. Bordão (ράβδους). Contudo, uma interpretação correta seria vara, (ράβδον). A
e c p traduz, bastão-, b j verte, cajado.

Digno é o operário, hospedai-vos aí. “Os Ensinamentos dos Doze Após­


tolos”, é um documento dirigido aos cristãos do mundo gentílico que tem por
objetivo lhes transmitir instruções práticas acerca da vivência cristã, segundo os
ensinamentos dos Doze Apóstolos e do próprio Senhor Jesus Cristo. O manus­
crito foi descoberto em 1873, na biblioteca do Mosteiro do Santíssimo Sepulcro
em Constantinopla, por Bryennios, Cardeal Metropolitano de Nicomédia, mas
escrito provavelmente no ano 120 d.C., embora alguns eruditos o posicione cro­
nologicamente no ano 100 d.C. No capítulo décimo primeiro, lemos as seguintes
palavras:

E todo apóstolo que vos vier, seja recebido como se fosse o próprio Senhor; mas não
ficará na vossa companhia mais de um dia; se, entretanto, houver necessidade, então que
fique por mais um dia; mas se ficar por três dias, será um falso profeta. E, quando o após­
tolo partir, não permitais que leve nada além da quantidade de pão suficiente até que ele
chegue ao próximo alojamento, mas se vos pedir dinheiro, será um falso profeta.

48
M ateus — C a p. 10

E, uma vez mais (cap. 13):

De modo semelhante, o verdadeiro mestre, também é digno, assim como o obreiro,


do vosso apoio. Todas as primícias, logo, os frutos do lagar e da eira, dos bois e das
ovelhas, separarás e darás aos profetas, pois eles sâo os vossos sumos sacerdotes... se
preparardes pão, toma as suas primícias e entregue-lhes, segundo o mandamento. De
modo semelhante, quando abrirdes um jarro de vinho ou de azeite, tome as suas pri­
mícias e entregue aos profetas; e do dinheiro e das roupas, e de todos os vossos bens,
tomai as primícias, como vos parecer certo, e entregai segundo o mandamento.

18. Quando entrardes (εΐοερχόμενοι). O grego indica, de forma mais distinta,


a simultaneidade da entrada e da saudação: enquanto estiveres entrando. Na r v :

quando vós entrardes. O mesmo ocorrendo com a partida, enquanto estiveres saindo
(εξερχόμενοι, v. 1 4).

14. Sacudi (εκτινάξατε).

Até mesmo a poeira de uma terra pagã era imunda e o contato com ela tornava a pes­
soa imunda. Ela era considerada como um sepulcro, ou como a podridão da morte. Se
uma mancha de poeira pagã atingisse uma oferta, ela deveria ser imediatamente quei­
mada. Mais do que isso, se por um infortúnio, um mínimo de poeira pagã tivesse sido
trazido para a Palestina, ela, de forma alguma iria, ou poderia, misturar-se à poeira da
“T erra”, mas, até o final, continuava a ser o que sempre fora —imunda, contaminada e
contaminando tudo ao que aderisse.

Os apóstolos, não deveríam somente deixar a casa ou cidade que se recusasse


a recebê-los,

mas também considerá-la e tratá-la como se fosse pagã, tal como o caso mencionado
em M t 18.17. Todo tipo de contato semelhante deveria ser evitado, todo vestígio de­
veria ser sacudido46.

O ato simbólico indicava que os apóstolos e o seu Senhor consideravam aque­


las pessoas não somente imundas, mas também completamente responsáveis
pela sua própria imundície. Vide At 18.6.

16. Vos envio (εγώ αποστέλλω). Cognata da palavra απόστολος (apóstolo). O eu é


enfático: “Sou eu quem vos envia”. A a r c e b j omitem o pronome. Já a t b , e c p , b p ,
t e b e n t l h traduzem corretamente: Eis que eu vos envio.

Prudentes (φρόνιμοι). Denotando prudência com respeito à sua própria segu­


rança. Na n t l h consta: sejam espertos; enquanto na t e b , astutos.

46. Edersheim, Jewish Social Life in the Days o f Christ.

49
M ateus - C ap. 10

Símplices (ακέραιοι). Na b p , cândidos. Literalmente: sem mistura, sem adultera­


ção. Termo utilizado para designar o vinho sem mistura de água e o metal sem
acréscimo de ligas. Portanto, sincero. Por isso, Lutero traduz: semfalsidade. Com­
pare com Rm 16.19; Fp 2.15. Eles deveríam imitar a cautela da serpente, mas não
a sua astúcia. O Dr. Morison, sobre Mateus, declara: “A presença dos lobos exige
que sejais cuidadosos-, o fato de serdes meus apóstolos (cp. “vos envio”) exige que
sejais sinceros”.

17. Dos homens (τώυ ά^θρώττων). Literalmente: “os homens”, já aludidos sob o
uso do termo lobos.

19. Não vos dê cuidado (μή μεριμνήσητ?). Na r v : Não estejais ansiosos. Na teb ,

e c p e b p : nãos vos preocupeis-, b j , nãofiqueis preocupados. Vide Mt 6.25.

Naquela mesma hora (4v εκείνη τή ώρα). Muito preciso. Bengel observa:
“Mesmo que isto não tenha ocorrido anteriormente, muitos sentem um aumento
do seu poder espiritual quando chega o momento de transmiti-lo aos outros”.

25. Belzebu (Β«λζεβούλ). As versões t e b , e c p e b j grafam Beelzebu. Existe um


gracejo grosseiro na aplicação desta palavra a Cristo. Jesus chama-se a si mes­
mo de "o Senhor da casa”, e os judeus lhe atribuíram o título correspondente de
Diabo, no hebraico, Beelzebul, senhor da habitação. Esta expressão reaparece no
alemão, onde o Diabo é, por vezes, chamado de Herr vom Haus*~. A explicação
do Dr. Edersheim, apesar de habilidosa, parece um tanto forçada. Ele afirma que
o termo szebuhl, na terminologia rabínica, não significa uma habitação comum,
mas, de forma mais específica, o Templo-, de forma que Beelzebul (Belzebu) seria o
Senhor do Templo, uma expressão que faria referência às afirmações de Jesus na
sua primeira purificação do Templo. A seguir, ele imagina um jogo entre esta
palavra e Beelzibbul, que significa Senhor do sacrificio idólatra, e afirma:

O Senhor do templo era, para eles, o líder da adoração idólatra; o representante de


Deus, o pior dentre os demônios. Belzebu seria Beelzibbul. O que, então, esta casa po­
dería esperar em suas mãos?48.

27. Pregai-o (κηρύξατε). Melhor traduzido pela t b : proclamai. Vide Mt 4.17.

29. Passarinhos (στρουθιά). A palavra é um diminutivo, pequenopardal, e carrega


consigo um toque de ternura. Nos dias de hoje, nos mercados de Jerusalém e
Jaffa, longos cordões de pequenos pássaros, pardais e calhandras, são oferecidos
para a venda, fisgados em espetos de madeira. Edersheim considera que Jesus

47. Vide Goethe, Fausto, cena 21.


48. Edersheim, Life and Times of Jesus.

50
M ateus - C ap . ίο

poderia estar fazendo referência às duas aves que, segundo a tradição rabínica,
eram utilizadas na purificação cerimonial da lepra (Lv 14.49-54).

Nenhum deles cairá. Uma lenda rabínica relata como certo rabino estivera,
por treze anos, escondendo-se dos seus perseguidores em uma caverna, onde
ele era milagrosamente alimentado. Ali, ele observou que quando o caçador de
pássaros armava o seu alçapão, o pássaro escapava ou era apanhado, segundo a
ordem de uma voz que vinha dos céus que dizia: "Misericórdia" ou “Destruição”.
O argumento apresentado era de que, se nem mesmo um pequeno pássaro pode­
ria ser apanhado sem o consentimento divino, quanto mais seguro estaria a vida
dos filhos dos homens sob os cuidados célicos.

32. Me confessar (ομολογήσει εν εμοι). Uma expressão peculiar, porém muito sig­
nificativa. Literalmente: confessar em mim. A ideia é a de confessarmos Cristo a par­
tir de um estado de unidade com Ele. “Permanecei em mim, e ao estarem comigo,
confessai-me”. Ela implica identificação do confessor com o confessado e, logo, retira
a confissão da categoria de um mero reconhecimento formal ou verbal: “Nem todo o
que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus”. O verdadeiro confessor de
Cristo é aquele cuja fé está nele fundamentada. Observe que isto proporciona uma
grande força à oração correspondente, na qual Cristo coloca-se a si mesmo em uma
relação similar àqueles a quem Ele mesmo confessará: “Eu confessarei [[em + ele[]
nele'. Será como se eu falasse habitando dentro dele: “Eu neles, e tu em mim, para que
eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a
mim e que tens amado a eles como me tens amado a mim” (Jo 17.23).

34. Trazer (βαλεΐν). Literalmente: lançar ou arremessar. Com esta palavra a ex­
pectativa dos discípulos é dramaticamente ilustrada como se ele os representasse
como pessoas que procuravam uma paz que pudesse ser lançada dos céus para a
terra. O Dr. Morison, ilustra desta maneira:

Todos estão pisando em ovos. O que estaria prestes a acontecer? É o reino da paz que
está em vias de ser inaugurado e consumado? Será que, doravante, teremos somente
unidade e harmonia? Enquanto eles analisam e debatem, vejam só! Uma espada é
lançada no meio deles.

35. Pôr em dissensão (διχάσαι). Literalmente: separar, como traduz correta­


mente a t e b , eu vim separar o.

Nora (νύμφην). Nesta leitura, perde-se a força completa da palavra. O vocábulo


significa noiva, e apesar de ser utilizado algumas vezes no grego clássico para se
referir, de forma geral, a qualquer mulher casada, ela carrega a noção de juventude
comparativa. Assim, em Homero, uma ama idosa, Euricleia, dirige-se a Penélope
(que, certamente, não era uma noiva), fazendo uso do termo νύμφα φίλη (querida
51
M ateus — C a p . 11

noiva), obviamente, como uma expressão que denotava afeição ou estima4®.Compare


com o episódio em que íris se dirige a Helena da mesma maneira50. O caráter radical
e amargo da divisão trazida aos lares por parte do Evangelho é notório pelo fato da
alteração das relações domésticas mesmo quando estas são ainda tenras. A esposa
recém-casada será colocada em dissensão com a sua sogra. A tradução de w y c u f f e é
peculiar: E a mulher dofilho se colocará contra a m ãe do m arido ou d a esposa.

38. Sua cruz (τον σταυρόν αυτού). A n t l h lê: pron to p a ra morrer. Este não era um
provérbio judeu, já que a crucificação não era um tipo de castigo utilizado pelos
judeus; de tal forma que Jesus faz um uso antecipado desta expressão, em vista da
morte que Ele mesmo padecería. Este era um daqueles ditados descritos em Jo 12.16,
os quais não foram compreendidos pelos discípulos num primeiro momento, mas
que tiveram o seu significado revelado à luz de eventos posteriores. A imagem foi
emprestada do costume que se tinha de fazer com que os criminosos carregassem as
suas próprias cruzes até o local da sua execução. A sua cruz: sua própria. Nenhuma
é igual à outra. Existem cruzes diferentes, para discípulos diferentes. Um provérbio
diz: “Cada cruz carrega um nome” - o nome da pessoa para a qual ela foi preparada.

39. Achar (ευρών). A t e b lê: aquele que tiv e r achado (nota). A palavra é, de fato, um
particípio passado, achado. O nosso Senhor olhou em retrospectiva para o passa­
do de todos os homens e, adiante, para a sua consumação apropriada no futuro.
De modo semelhante, quem p erd er (άπολέσας). Platão parece ter prenunciado esta
ideia maravilhosa.

Ó meu amigo! Quero que entendas que os nobres e os bons podem, talvez, ser algo
diferente do salvar-se e do ser salvo, e que aquele que é, verdadeiramente um homem
não deve se preocupar com o tempo da sua vida: ele sabe, como dizem as mulheres,
que todos morreremos e que, logo, ele não é um aficcionado pela vida; ele deixa tudo
isso para Deus, e medita acerca do caminho no qual despenderá da melhor maneira o
tempo que lhe for determinado51.

Um pouco mais ao ponto, vejamos Euripides: "Quem sabe se a vida não é a


morte, e a morte a vida?”

C a p ít u l o 1 1

1. D ar instruções (διατάσσων). Na n t l h , d a r essas ordens. A preposição διά tem


uma força distributiva, propiciando a cada elemento uma ênfase apropriada.

49. Homero, Odisséia, 4.743.


50. Id., Ilíada, 3.130.
51. Platão, Gorgias, 512.

52
M ateus - C a p . 11

Cidades deles (αυτών). A n v i lê, da Galileia; a e c p , daquela região. As cidades


daqueles a quem Ele veio - os galileus. Compare com 4.23.

2. Dois dos seus discípulos (δύο). A leitura correta, porém, é but,por. João enviou
por seus discípulos, como afirma a t e b ; ou ainda, pelos seus ( t b , e c p ) , significando
por meio de ( b p ).

3. Tu. Enfático. Es tu “aquele que havia de vir”? - uma expressão comum para
designar o Messias.

5. Os c o x o s andam. Na t e b , o s c o xo s andam direito. Na n v i , o s mancos andam, mas


na e p : os paralíticos andam.

6. Escandalizar (σκανδαλισθη). Vide capítulo 29. Na t b : não achar em mim motivo


de tropeço. Compare com ec p : para quem eu nãofor motivo de queda!

7. Partindo eles (τούτων δε πορευομενων ). Mais literal e melhor, enquanto estes


seguiam o seu caminho-, ou enquanto eles, os discípulos de João, estavam partindo:
dessa forma, transmitindo a simultaneidade das palavras de Jesus com o ato da
partida. A n t l h traz: Quando os discípulos de Joãoforam embora.

Ver (θεάσασθαι ). Na b p : contemplar. Θεάσθαι, como θεωρειν, expressa a con­


templação calma e contínua de um objeto que permanece diante do espectador.
Compare com Jo 1.14. Outro verbo é utilizado na repetição que Cristo faz da
pergunta, versículos 8-9; ίδεΧν no sentido normal de ver. A expressão mais exata
está contida na primeira pergunta.

12. Se faz violência (βιάζεται). A t e b traduz: ê assaltado com violência. Lite­


ralmente: é forçado, superado, tomado por tempestade. Dessa forma, Cristo retrata
graficamente a empolgação intensa que se seguiu ao ministério de João; a espera
ansiosa, o esforço e a luta da multidão pelo rei prometido.

Pela força se apoderam dele (βιασταί άρπάζουσιν αύτήν). Isto se provou por
intermédio das multidões que seguiam Cristo e invadiam os locais para onde Ele
ia. A multidão teria se apoderado dele pelaforça (a mesma palavra) e o feito rei (Jo
6.15). A expressão apoderar-se pela força significa, literalmente, arrancarfora, re­
tirar. A expressão é, normalmente, utilizada nas obras clássicas para descrever o
ato de pilhar. Meyer traduz: Aqueles quefazem esforços violentos, arrastam-no para si
mesmos. A e c p traz: ê arrebatado àforça e são os violentos que o conquistam, e em nota
de margem: O Reino dos Céus é maltratado e os violentos o aviltam. Cristo fala dos
crentes. Eles se apoderam do reino e fazem dele algo de sua posse. A tradução
d a rv, homens de ciência, é demasiadamente forte, pois descreve uma classe de ho­
mens habitual e caractensticamente violentos; ao passo que violência, neste caso é o
53
M ateus - C ap. 11

resultado de um impulso especial e excepcional. A passagem faz lembrar o velho


provérbio grego citado por Platão contra os sofistas, que haviam corrompido a
juventude ateniense, ao prometer-lhes um fácil acesso à sabedoria: As boas coisas
são dificeis. Dante apreendeu esta ideia:

Dos céus o reino sofre violência


Do ardente amor e da esperança viva
Que triunfam da própria Onipotência
Mas não é, qual vitória humana, esquiva:
Vencido é Deus, por ser assim servido;
Tem, vencido, vitória decisiva52.

14. Se quereis ( e i GéXete). Mais corretamente apresentado pela b p : e, se estais


dispostos. Pois neles haveria, naturalmente, uma indisposição para receber esta
afirmação acerca da alta posição de João, em função da sua condição de encarce­
rado naquele momento.

16. Meninos (παιδίοις). Diminutivo, menininhos. O reverendo Donald Fraser


apresenta esta imagem de forma simples e viva:

Ele retrata um grupo de criancinhas brincando em casamentos e funerais imaginá­


rios. Primeiramente, eles simulam estar em uma procissão de casamento; alguns deles
agindo como se estivessem a tocar instrumentos musicais como flautas, enquanto os
demais deveríam pular e dançar. De forma perversa, entretanto, estes últimos não
responderam, mas ficaram parados e demonstrando certo descontentamento. Assim,
os pequenos flautistas mudaram a brincadeira e propuseram brincar de funeral. Eles,
então, começaram a imitar o longo lamento que fazem as pessoas do Oriente quando
estão em luto. Só que, novamente, eles ficaram frustrados, pois os seus coleguinhas
se recusaram a bater no peito e tom ar parte nos tristes brados do funeral... Assim, as
crianças frustradas reclamaram: “Puxa vida, a gente tocou flauta para vocês e vocês
não dançaram; choramingamos e vocês não se entristeceram. Nada lhes agrada. Se
vocês não querem dançar, por que não se entristecem?... Existe um plano pelo qual
vocês estão mal-humorados e determinados a não se alegrarem”53.

A questão é entre os judeus (esta geração) e os filhos da sabedoria, versículo 9.

Praças (άγοραΐς). Derivado de άγείρω, reunir. O conceito primário no grego


não tem relação com um mercado (como coloca a k j n t a , nas praças do mercado),
nem compra e venda. Αγορά é uma reunião, o local onde as pessoas se reuniam. A
ideia de um lugar de comércio surge posteriormente, de forma natural, já que

52. Dante, A Divina Comédia, Paraíso, Canto 20, versos 94-99.


53. Donald Fraser, Metaphors in the Gospels.
54
M ateus - C ap. 11

o comércio ocorre num local onde as pessoas normalmente se encontram. Por


isso, o Fórum Romano era dedicado, não somente para as assembléias populares
e judiciais, mas também a objetivos comerciais, especialmente dos banqueiros. O
conceito de comércio, gradualmente começa a se tornar dominante sobre este
termo. Nas cidades orientais, os mercados ocorrem em grandes feiras que acon­
tecem nas ruas, e não em praças. Eram nestes lugares públicos que as crianças
seriam encontradas brincando. Compare com Zc 8.5.

17. Cantamo-vos lamentações (εκόψασθε). Na t e b , entoamos um canto fúnebre.


Literalmente: bater ou golpear (o peito), como é de costume nos lamentos dos
povos do Oriente. Essa imagem verbal foi captada com mestria pela e p : cantamos
uma música triste e vocês não bateram no peito.

20. Prodígios (δυνάμεις). As obras sobrenaturais de Cristo e dos seus apóstolos


são designadas por seis palavras diferentes no texto do Novo Testamento. Elas
apresentam os prodígios sob diferentes aspectos e de diferentes pontos de vista.
Todos os vocábulos serão analisados com minúcia, à medida que ocorrerem. De
maneira geral, um milagre pode ser considerado: (l) como um portento ou prodí­
gio (τέρας); como em At 7.36, acerca das maravilhas executadas por Moisés no
Egito; (2) Como um sinal(σημειον), que aponta para algo que vai além de si, uma
marca do poder e da graça do executor, ou da sua conexão com o mundo sobre­
natural, como em Mt 12.38; (3) Como uma exibição da glória de Deus (ένδοξον),
Lc 13.17; coisas gloriosas; (4·) Como algo estranho (παράδοξον), Lc 5.26; (5) Como
algo maravilhoso (θαυμάσιου), Mt 21.15; (6) Como um poder (δύναμις); como neste
caso: uma obra poderosa.

22. Por isso (πλήν). Melhor traduzido pela k j n t a : entretanto, ou como a n v i : mas.
Corazim e Betsaida não se arrependeram; logo, são dignas de pesar; entretanto,
elas estarão mais desculpadas do que vós que viram estes prodígios, pois eles não
foram feitos entre elas.

25. Respondendo [αποκριθεις]. Em resposta a algo que não foi relatado.

Graças t e dou (εξομολογούμαι). Na e c p : eu te bendigo. A b j traz: Eu te louvo.


Compare com Mt 3.6, acerca da confissão dos pecados. Literalmente: eu confesso.
Eu reconheço a justiça e a sabedoria dos teus feitos. Contudo, com o dativo, neste
caso (σοι, a ti), o vocábulo significa louvar, revestido de um tom de reconhecimento-,
confessar, somente no grego tardio, e com uma forma acusativa do objeto.

Instruídos (συνετών). Na bj, bp, e c p e t b : entendidos; a t e b traz: inteligentes.


Termo oriundo do verbo συνίημι, reunir, denotando aquela peculiaridade mental
de agregar traços simples de um objeto a fim de formar um todo. Por isso, com­
preensão, percepção. Compare com Mc 12.33, entendimento (συνέσεως). As palavras
55
M ateus - C ap . 11

sábio (σοφών) e instruído, normalmente aparecem juntas, como neste caso. A dis­
tinção geral ocorre entre a sabedoria produtiva e a reflexiva, porém tal aspecto
nem sempre é reconhecida pelo escritor.

27. Foram entregues (παρεδόθη). Como em ato único, num determinado mo­
mento, como neste caso, onde o Filho foi enviado pelo Pai, e foi revestido de
autoridade. Compare com 28.18.

Conhece (Ιπιγινώσκα). O composto indica conhecimento pleno. Outros olham


somente em parte, “como quem vê por espelho, em enigma”.

28. Que estais cansados e oprimidos (κοπιώνττς και τκφορτισμένοι). O pri­


meiro termo é um particípio ativo, o segundo um particípio passivo, apresentan­
do os lados ativo e passivo da miséria humana. A e p curiosamente traz: cansados
de carregar opeso do seufardo.

Aliviarei (αναπαύσω). Originalmente fazer cessar, a ntlh , teb , bj e nvi leem:


descanso. O conceito básico é o de alívio.

29. Jugo (ζυγόν).

Estas palavras, segundo estão registradas por Mateus, o evangelista dos judeus, devem
ter tocado o fundo do coração dos ouvintes israelitas de Cristo, por terem chegado à
velha forma familiar de expressão, contudo em contraste marcante de espírito. Uma
das expressões figuradas mais comuns daquela época era a do jugo da submissão,
quando se desejava falar de uma ocupação ou obrigação. Muito instrutiva para a com­
preensão desta ilustração é esta paráfrase de Ct 1.10: “Quão belo é o pescoço daqueles
que carregam o jugo dos teus estatutos; pois, sobre eles, ele será como o jugo no pes­
coço do boi que ara o campo e proporciona alimento para si e para o seu senhor”.
O culto público da sinagoga antiga começava com uma bênção, seguida de um Shema
(Ouve, ó Israel) ou credo, composto de três passagens das Escrituras: D t 6.4-9; 11.13-
21; Nm 15.37-41. Dizia-se que a primeira passagem (Dt 6.4-9) antecedia D t 11.13-21
para que nós pudéssemos tomar sobre nós mesmos o jugo do reino dos céus e, so­
mente depois disso, tomar o jugo dos mandamentos. As palavras do Salvador devem
ter tido um significado especial àqueles que se lembravam desta lição; e, agora, eles
passariam a compreender como, pela chegada do Salvador, eles tomariam sobre si, pri­
meiramente, o jugo do reino dos céus e, depois, o jugo dos mandamentos, e sentiríam
como este jugo era suave e o fardo leve54.

Manso (πραΰς). Vide Mt 5.5.

Humilde (ταπεινός). Este vocábulo tem uma história. Na literatura clássica

54. Edersheim, Life and Times o f Jesus, e Jewish Social Life.

56
M ateus - C ap. 11

ele foi utilizado, normalmente, em um sentido ruim e degradante, referindo-se a


uma situação vil, à falta de posição, à miséria lisonjeira e à falta de caráter. Mes­
mo assim, nem mesmo no grego clássico, esta não era a sua aplicação universal.
Ταπεινός, ocasionalmente é usado de forma que prefigura o seu sentido mais
sublime. Platão, por exemplo, declara:

Aquele que se apega firmemente àquela Lei (de Deus) e a segue com toda humildade e
ordem seria feliz; mas aquele que é altivo no seu orgulho, ou no dinheiro, ou em honra,
ou em beleza, que tem a alma ardendo em insensatez, na juventude, na insolência, e
pensa não ter necessidade de um guia ou regente, mas considera-se capaz de guiar a si
mesmo e a outros, este, declaro-vos, será abandonado por Deus55.

De acordo com Aristóteles: “Aquele que se mostra digno nas pequenas coisas,
e assim também se considera, é sábio”56. Na melhor das hipóteses, contudo, o
conceito clássico é somente de modéstia ou ausência de presunção. Assim, ταπεινός
é um elemento da sabedoria e, de forma alguma se opõe à justiça própria [vide
a citação acima de Aristóteles). O termo ταπεινοφροσύνη, que designa a virtude
cristã da humildade, não era utilizado antes da era cristã. O emprego como conhe­
cemos no Cristianismo é um resultado do Evangelho. Esta virtude está baseada
em uma percepção correta da nossa real pequenez e ligada a um sentimento de
pecaminosidade. A grandeza real é a santidade. Somos pequenos, porque somos
pecadores. Compare com Lc 8.14. Pergunta-se como, nesta perspectiva, o vocá­
bulo pôde ser aplicado a si mesmo pelo nosso Senhor que jamais pecou? Segundo
o arcebispo Trench:

A resposta é, que para o pecador, a humildade envolve a confissão dos pecados, visto
que abrange a confissão da sua real condição; ao passo que, para a criatura não deca­
ída, a própria graça, na sua existência real, inclui o reconhecimento, não da pecami­
nosidade, o que não seria algo verdadeiro, mas da sua condição de criatura, da absoluta
dependência, de nada possuir, mas de todas as coisas receber da parte de Deus. E,
destarte, a graça da humildade pertence ao mais elevado dentre os anjos que se coloca
diante do trono, por ser, diante do próprio Senhor da Glória, nada mais do que uma
criatura. Na sua natureza humana, ele precisaria ser o modelo de toda humildade, de
toda a dependência inerente às criaturas; e somente como homem que Cristo, dessa
forma, reivindica ser humilde-, a sua vida humana foi um constante desfrutar da pleni­
tude do amor do Pai; como homem, Ele sempre assumiu o lugar que convinha a uma
criatura na presença do seu Criador57.

55. Platão, Leis, 716.


56. Aristóteles, Ética a Nicômaco, 4.3.
57. Trench, Synonyms, p. 145.
57
M ateus - C ap. 12

A virtude cristã não diz respeito somente à relação do homem com Deus,
mas também à relação dos homens entre si. Mas por humildade-, cada um considere
os outros superiores a si mesmo (Fp 2.3). Só que isto se opõe ao conceito grego de
justiça ou retidão, que era simplesmente, “a sua própria justiça sobre todos os de­
mais”. E notório que nem a lxx nem os Apócrifos, tampouco o Novo Testamento,
reconhecem o ignóbil sentido clássico da palavra.

Encontrareis (eüppoexe). Compare com as expressões eu vos aliviarei e encon­


trareis descanso. O descanso de Cristo tem dois aspectos - ele é dado, mas precisa
ser encontrado. Ele é dado no perdão e na reconciliação. E encontrado sob o jugo
e o fardo; no desenvolvimento da experiência cristã, à medida que, cada vez mais,
a “carga vai passando” de nós para Cristo. Drummond afirmou certa feita que
“nenhum outro mestre, desde a fundação do mundo, ousou associar o aprendizado
com o descanso. “Aprendei de mim”, diz Cristo, “e encontrareis descanso”™.

30. Suave (χρηστός). Esta tradução não é satisfatória. A teb traduz: fácil de car­
regar. O jugo de Cristo não é suave, no sentido comum da palavra. O termo origi­
nalmente significa bom, proveitoso. O substantivo correlato χρηστότης, que ocorre
somente nos escritos paulinos, é traduzido como benignidadeem 2Co 6.6; T t 3.4;
G1 5.22; Ef 2.7 e Rm 2.4. Em Lc 5.39, χρηστότης é utilizado para descrever o
vinho velho, onde a leitura correta, em vez de melhor é bom (χρηστός), sazonado
pelo passar do tempo. Platão aplica o vocábulo à educação:

A boa criação e a tea educação (τροφή γάρ καί παί&υσις χρηστή) implantam boas (αγαθός)
constituições; e estas boas (χρησταί) constituições geram melhorias cada vez maiores”*'.

Utilizando dessa forma χρηστός e αγαθός como sinônimos. Os três significa­


dos se combinam na palavra, apesar de ser impossível encontrar um termo em
nossa língua que faça a combinação dos três. O jugo de Cristo é salutar, proveitoso
e suave. Jeremy Taylor afirma: “O jugo de Cristo é como as penas de um pássaro;
que não lhe são por peso, mas auxiliam no seu movimento”.

Capítulo 12

1. Tempo (καιρώ). A k j n t a traduz: época. A palavra implica uma época específka;


como sendo relacionada a algum evento, uma época conveniente, apropriada-, de
maneira absoluta, um momento específico no tempo, ou uma estação específica,
como a primavera ou o inverno.

58. Drummond, Natural Law in the Spiritual World.


59. Platão, A República, 424.

58
M ateus - C ap . 12

Searas (σποριμωυ). Vocábulo oriundo de σπείρω, semear. Corretamente tradu­


zido pela nvi e kjnta como lavouras de cereal.

2. O que não é lícito. Sobre isto, comenta Edersheim:

Em qualquer outro dia aquilo não seria ilícito, mas no sábado envolvia, segundo os
estatutos rabínicos, pelo menos dois pecados, a saber: o arrancar das espigas, o que
representava a sua colheita e a limpeza delas pelas mãos de quem as colhia (Lc 6.1), o
que era o mesmo que o joeiramento, a moagem e o assopramento das palhas. O Tal-
mude afirma: “Caso uma mulher moa o trigo para remover as suas cascas, isto será
considerado joeiramento; se ela limpar os ramos de trigo, isto será considerado como
debulha; se ela retirar as aderências laterais, será o mesmo que peneirar o fruto; se
ela esmagar as espigas, será o mesmo que a moagem; se ela jogá-los para cima, na sua
própria mão, será um peneiramento’’80.

6. Quem é maior (μΛζων). A melhor leitura torna o adjetivo neutro, de forma


que a tradução correta é algo m aior, assim como encontramos na bj e teb . A
referência se dá, obviamente, ao próprio Cristo. Compare com vv. 41 -4 2 , onde o
neutro πλεΐον é utilizado da mesma forma, e com Jo 2.19, onde Cristo fala do seu
próprio corpo como sendo um templo. A indefinição do gênero neutro proporcio­
na um sentido mais solene e marcante.

10. É lícito? (e i ’έ ξ ε σ τιν ). O te r m o el quase n ã o e n c o n tr a tradução correspon­


dente em nosso idioma. Ele atribui um caráter indeterminado e hesitante à per­
gunta; eu g o sta ria de saber se etc.

13. Estende. O braço não estava mais ressequido.

20. Morrão. No hebraico, literalmente lemos: nem a pagará o p a v io q u efu m ega (Is
42.3). A citação termina no final do terceiro versículo da profecia, entretanto,
o versículo seguinte é belamente sugestivo na descrição do Servo de Jeová, por
intermédio das mesmas imagens que ele retrata os seus servos sofredores —um
p a v io e um caniço. "Ele não arderá sem vigor, nem será esmagado o seu espírito”.
Ele mesmo, compartilhando da natureza da nossa frágil humanidade, é tanto
lâmpada, quanto caniço, humilde, mas inquebrável, e a “luz do mundo”. Compare
com a bela passagem de Dante, na qual Cato instrui Virgílio a lavar as manchas
do mundo inferior que ficaram no rosto de Dante, a fim de prepará-lo para subir
o monte Purgatório, ao cingir-lhe com um junco, o emblema da humildade:

De liso junco, lava-lhe o semblante;


Tôda a impureza seja posta fora.

60. Edersheim, Life and Times o f Jesus.

59
M ateus - C a p. 12

Cumpre que, quando ele estiver perante


O anjo, que do céu vier primeiro,
Névoa nenhuma os olhos lhe quebrante.
Lá onde baixa o ponto derradeiro
Do mar batido, esta ilha tem viçoso
Juncal que alastra todo o seu nateiro.
Não pode vegetal rijo ou frondoso
Ter vida ali; porque não dobraria
Π -]
Ao embate das ondas caprichoso.
Cingido fui, como Catão mandara.
Portento! A humilde planta renascida,
Qual antes vi no solo, onde a arrancara,
Sem diferença, de súbito crescida61.

26. Está dividido (έμφίσθη). Literalmente: ele estava dividido. Se ele está expul­
sando a si mesmo, deve ter havido uma divisão prévia.

28. É chegado a vós (£φθασεν 4φ’ υμάς). O verbo é utilizado no sentido simples
de chegar a (2Co 10. 14; Fp 3. 16), e, por vezes, preceder (1Ts 4.15). Nesta perícope,
com uma sugestão do segundo sentido, o qual também é transmitido pela k j n t a :
chegado... sobre. Ele chegou sobre vós antes que por eles esperásseis.

29. Do homem valente (τού Ισχυρού). Observe a força do artigo, o homem valente.
Cristo não está fazendo uma ilustração geral, mas apontando para um inimigo espe­
cífico - Satanás. Como poderei espoliar Satanás sem primeiro tê-lo conquistado?

Bens (oKtúq). A palavra, originalmente, significa um vaso. Este é o seu sentido


geral no texto do Novo Testamento. Vide Mc 11.16; Jo 19. 29. Porém, σκ^ύη pode
vir a designar todos os equipamentos contidos em uma casa, de forma coletiva:
bens móveis, equipamentos domésticos-, também a bagagem de um exército. Neste
caso, o sentido é de equipamentos domésticos. Compare com Lc 17.3 1; At 27. 17, que
fala das velas de um navio.

82. O Espírito Santo (τού πλύματος τού άγιου). Ο Espírito - ο Santo. Estes ter­
mos definem mais claramente a blasfimia contra o Espírito, versículo 31.

35. T ira (έκβάλλει). Porém esta tradução é fraca. O termo significa lançar ou
arremessar. As coisas boas ou ruins saem do tesouro do coração (v. 34). “Do que há
em abundância no coração, disso fala a boca”. As coisas do coração são lançadas
fora, como se sofressem pressão do excesso de coisas nele contido.

61. Dante, A Divina Comédia, Purgatório, Canto 1, versos 9 4 -1 0 5 ; 1S 3-1S 6.

60
M a t e u s - C ap. 13

36. Ociosa (άργόυ). Uma boa tradução. A palavra é composta de ά, não, e ’έργου,
trabalho. Um vocábulo ocioso que não se presta a nenhum trabalho, um termo im­
produtivo, inoperante. Ele não tem nenhuma função e propósito, muito menos ser­
ventia, mas é moralmente inútil e in aproveitável.

39. Adúltera (μοιχαλίς). Uma expressão muito forte e ilustrativa, fundamentada


na representação hebraica do relacionamento de Deus com o seu povo, simbo­
lizada por um casamento (vide SI 73.27; Is 57.3ss.; 62.5; Ez 23.27). Por isso, a
idolatria e a relação sexual com os gentios eram descritas como adultério; e tam­
bém neste caso, descreve a infidelidade moral a Deus. Compare com T g 4.4; Ap
2.20ss. Vejamos o que diz Dante:

Onde Miguel operou


A vingança sobre o altivo adultério8*.

40. A baleia (τοϋ κήτους). Um termo geral para designar os monstros marinhos.
A TB, n v i , ara e n tlh preferem a tradução grande peixe, a bj, bp e teb traduzem
por monstro marinho-, a ecp, por peixe.

41. Ressurgirão (άναστήσονται). Na teb consta: levantar-se-ão. Virão para frente


como testemunhas. Compare com Jó 16.9, lxx ; M c 14.57. Não há referência à
ressurreição dentre os mortos. De modo semelhante se levantará, versículo 42.
Compare com Mt 11.11; 24.11.

Quem é mais (rrletov). Literalmente: algo mais. Vide versículo 6.

49. Discípulos (μαθητάς). Não somente os apóstolos, mas todos que o seguiam na
posição de aprendizes.

Capítulo 13

2. Praia (αίγιαλόν). Na ecp consta: à margem. O lugar sobre o qual o mar (αλς) se
precipita (άΐσσει). Vocábulo correspondente à costa, ακτή, como sendo o lugar sobre
o qual o mar se quebra (άγνυμι), jamais é utilizado no texto do Novo Testamento.

3. Parábolas (παραβολαις). De παρά, ao lado, e βάλλω, lançar. A parábola é uma


forma de ensinar por meio da qual uma coisa é lançada ao lado de outra. Por isso,
a sua ideia básica é a comparação. John Cheke traduz como provérbio, e o mesmo
conceito é transmitido pelo termo alemão Beispiel, um modelo ou exemplo-, sendo
bei, ao lado de, e o termo spel, discurso ou narração, originário do alto alemão anti­
go (ou alemão clássico antigo).

62. Dante, A Divina Comédia, Inferno, Canto 7, verso 12.


61
M ateus - C ap. 13

O termo é utilizado de várias maneiras nas Escrituras, mas sempre envolve o


sentido de comparação:
1. Para designar um breve adágio, com um caráter oracular ou proverbial. As­
sim Pedro (Mt 15.15), referindo-se às palavras “se um cego guiar outro cego”,
disse: “Explica-nos essa parábola . Compare com Lc 6.39. O mesmo ocorre com a
veste velha remendada com pano novo (Lc 5.36), e o convidado que assume o lu­
gar principal na festa (Lc 14.7,11). Compare também com Mt 24.32; Mc 13.28.
2. Para designar um provérbio. O termo provérbio (παροιμία) tem, na sua raiz, a
mesma ideia de parábola. Ele é composto pelos vocábulos παρά, ao lado, οιμος, ca­
minho ou estrada. E pode ser um adágio trivial, marginal (Trench) ou um caminho
ao lado da estrada principal (Godet). Vide Lc 4.23; lSm 24.13.
3. Para designar um cântico ou poema, no qual um exemplo é apresentado por
meio de uma comparação. Vide Mq 2.4; Hc 2.6.
4. Para designar uma palavra ou discurso que é enigmático ou obscuro até que
o seu significado seja revelado por meio de uma aplicação ou comparação. Neste
caso, o termo ocorre junto aos vocábulos αίνιγμα, enigma, e πρόβλημα, problema,
algo que é apresentado ou proposto (πρό, emfrente de, βάλλω, lançar). Vide SI 49.4
(lxx : 48.4); 78.2 (lxx : 77.2); Pv 1.6, onde temos as palavras παραβολήν, parábola-,
σκοτεινόν λόγον, palavras ocultas, e αινίγματα, estas duas últimas podem ser tra­
duzidas como enigmais). Ela também é utilizada para descrever as parábolas de
Balaão (Nm 23.7,18; 24.3,15).
Neste sentido, Cristo utiliza as parábolas de maneira simbólica, para expor os
mistérios do reino de Deus através de exposições que ocultam de uma classe o
que revelam a outra (Mt 13.11-17). Nas parábolas ensinadas por Jesus, os fa­
tos familiares da vida mundana são figurativamente utilizados para apresentar
verdades da vida do alto. As pessoas não espirituais não fazem a ligação destes
fatos da vida quotidiana com os da vida sobrenatural, pois estes últimos não são
discernidos por elas (lCo 2.14), e, por conseguinte, necessitam de um intérprete
que lhes faça a relação entre as duas coisas. Tais símbolos assumem a existência
de uma lei comum aos mundos natural e espiritual sob a qual o símbolo e o ob­
jeto simbolizado igualmente operam; de forma que um deles não somente faça
lembrar o outro de maneira superficial, mas esteja em real coerência e harmonia
com o outro. Cristo formula uma lei desta espécie em conexão com as parábolas
dos Talentos e do Semeador. “Porque a qualquer que tiver será dado... mas ao
que não tiver, até o que tem ser-lhe-á tirado”. Esta é uma lei da moral e da reli­
gião, e do mundo dos negócios e da agricultura. É preciso ter para produzir. Os
juros exigem o capital prévio. Os frutos exigem não somente a pré-condição das
sementes, como também o solo. A frutificação espiritual exige a pré-condição de
um coração honesto e bom. De maneira semelhante, a lei do crescimento, conforme
ela é apresentada na parábola do Grão de Mostarda, é uma lei comum tanto no
62
M ateus - C ap. 13

mundo natural, quanto no Reino de Deus. As grandes forças nos dois reinos são
germinais, encapsuladas em pequenas sementes que irrompem a partir do seu
interior por meio de um poder de crescimento inerente.
5. Uma parábola também é um exemplo ou uma tipificação·, proporcionando um
modelo ou uma advertência-, como é o caso do Bom Samaritano, do Rico Insensato,
da parábola do Fariseu e do Publicano. O elemento de comparação se interpõe
aqui entre os incidentes específicos imaginados ou relatados e todos os casos de
natureza semelhante.
O termo parábola, todavia, conforme a aplicação encontrada na fraseologia
cristã costumeira é limitado às declarações de Cristo que são marcadas por his­
tórias ou narrativas completamente figurativas. A palavra é assim definida por
Goebel:

Uma narrativa centrada na esfera da vida humana ou física, que não tem a intenção
de apresentar um acontecimento real, mas expressamente idealizada com o propósito
de representar, por meio de imagens figuradas, verdades que pertencem à esfera da
religião e, logo, referem-se à relação do homem, ou da humanidade, com Deus83.

No seu formato, as parábolas do Novo Testamento se parecem com as fábulas.


A distinção entre elas não se dá no uso que ambas fazem da fala e da ação de seres
racionais e irracionais. Existem fábulas onde os atores são humanos. Também
não se pode afirmar que uma fábula sempre descreva o impossível, pois há fábu­
las nas quais um animal, por exemplo, não faz nada contrário à sua natureza. A
distinção se dá no caráter religioso da parábola do Novo Testamento, em contras­
te com o caráter secular da fábula. Enquanto a parábola expõe o relacionamento
do homem com Deus, a fábula ensina lições de política secular ou moralidade e
utilidade naturais. Segundo Goebel:

A parábola é predominantemente simbólica; a fábula, na maior parte doe casos, é típica


e, logo, apresenta o seu ensinamento somente na forma de exemplos, razão pela qual ela
se utiliza preferencialmente de animais, não como simbolismo, mas como figuras típi­
cas; que jamais são simbólicas no sentido predominante nas parábolas, porque o mundo
superior invisível do qual a parábola enxerga e revela o símbolo no mundo visível da
natureza e do ser humano, está muito distante desse. Por isso, a parábola jamais podería
funcionar com figuras fantasiosas, como animais e árvores falantes etc84.

A parábola difere da alegoria pelo fato de nesta última haver uma “interpre­
tação do objeto simbolizado e do objeto simbolizador; de forma que as qua­
lidades e propriedades do primeiro são atribuídas ao segundo”, e por haver

63. Goebel, Parables of Jesus.


64. Ibid, (condensado).

63
M ateus - C a p. 13

uma mistura destes dois objetos em vez de se manter uma distinção e um


paralelismo. Observe, por exemplo, a alegoria da videira e dos seus ramos (Jo
15), na qual Cristo prontamente se identifica com a figura: “Eu sou a videira
verdadeira”. Assim, a alegoria, diferentemente da parábola, carrega consigo a
sua própria interpretação.
Os termos parábola e provérbio são normalmente utilizados de forma inter-
cambiável no texto do Novo Testamento, e o seu conceito fundamental, como já
vimos, é o mesmo nas duas palavras: o mesmo termo hebraico representa as duas
idéias, e ambas carregando uma conotação enigmática. Elas diferem mais em
abrangência do que em essência; a parábola é uma forma expandida de provérbio,
que o expõe de forma detalhada e é, necessariamente, figurativa, o que não é o
caso do provérbio. Contudo, o alcance do provérbio é maior, já que a parábola
expande somente um caso particular de um provérbio65.

O sem eador (ò απείρων). Termo genérico, como representação de uma


classe.

A semear (του σπείρε tv). Sobre isto, comenta Edersheim:

Segundo as autoridades, dentre os judeus havia uma dupla semeadura, pois a semente
era lançada ou pelas mãos, ou por meio de animais. No segundo caso, um saco com
furos era cheio de cereais e colocado no lombo do animal, de forma que, com o seu
movimento para frente, as sementes eram grosseiramente espalhadas66.

4. Ao pé do caminho. O deão Stanley, ao se aproximar da planície de Genesaré,


afirmou:

Uma pequena interrupção na parede lateral da m ontanha encontra-se com a pla­


nície, e revela prontam ente nos seus detalhes e com um a conjunção que não me
recordo de te r visto em o u tra p arte da Palestina, todos os aspectos desta mag­
nífica parábola. Lá estava o cam po de cereais ondulado que descia até a beira da
água. Lá estava o cam inho pisoteado que corria pelo meio do campo, sem cerca
ou biombo que impedisse a sem ente de cair aqui ou acolá, em um dos seus lados,
ou mesmo sobre o caminho; sendo o caminho, em si, de chão firme e batido pelo
trân sito constante de cavalos, mulas e dos seres humanos. Lá estava a te rra “boa”
e fértil que diferencia toda aquela planície e os seus arredores dos m ontes des­
nudos, que descem até o lago, e na qual, sem interrupção, produz-se uma grande
quantidade de cereais. Lá estava o terren o pedregoso, das laterais da m ontanha
que apareciam aqui e ali no solo ao longo dos campos de cereais, e em outras

65. Fide Trench, Notes on the Parables, Introd.


66. Edersheim, lAfe and Times o f Jesus.
64
M a t e u s - C ap. IS

partes, ao longo dos declives cobertos de capim. Lá estavam os grandes arbustos


de espinhos - chamados de nabk, do tipo que, segundo a tradição, tinha coroa de
espinhos entrelaçada - que crescem a exemplo das árvores frutíferas das terras
que ficam mais no interior, bem no meio dos cereais que trem ulam ao vento67.

5. Pedregais. Na t e b , sítios pedregosos. Este vocábulo não designa o solo coberto


com pedras soltas, mas uma superfície rochosa e rígida, coberta com uma fina
camada de solo.

7. Cresceram. Portanto, a semente não caiu no meio de espinheiros crescidos,


mas entre os espinhos que estavam abaixo da superfície, prestes a brotar.
Trench cita um paralelo marcante de Ovídio, que descreve os obstáculos ao
crescimento dos grãos:

Agora o solo demasiadamente ardente, depois os aguaceiros furiosos,


Combina-se com estrelas perniciosas e ventos amargos
Para devastar a plantação; enquanto os pássaros vorazes
Apanham as sementes cobertas com palha; e o capim com suas teimosas raízes,
Os espinheiros e o joio atacam os grãos que brotam68.

8. A cem. Mencionado como algo extraordinário. Compare com Gn 26.12. He-


ródoto nos dá uma descrição de Babilônia: “Nos cereais ela é tão frutífera a ponto
de gerar uma produtividade de 200 por um”69.

11. M istérios (μυστήρια). Derivado de μύω, fechado. No grego clássico, este vo­
cábulo é aplicado a certas celebrações religiosas às quais as pessoas somente
eram admitidas mediante uma iniciação formal, e cujo caráter exato é desco­
nhecido. Algumas pessoas supõem que nestas celebrações se fazia a revelação
de segredos religiosos; outras pensam se tratar de doutrinas político-religiosas
secretas; outras, por sua vez, pensam ser representações cênicas de lendas míti­
cas. Neste último sentido, o termo foi utilizado na Idade Média nas encenações
dos milagres - que eram peças de teatro que representavam, de forma grosseira,
cenas das Escrituras, bem como de evangelhos apócrifos. Estas peças continuam
sendo encenadas pelos habitantes das montanhas no País Basco70.
Um mistério não denota algo que não p o ssa ser conhecido, mas algo que foi
retirado do conhecimento ou da manifestação, e que não pode ser conhecido
sem a sua manifestação especial. Por conseguinte, o termo era apropriado
às coisas do reino dos céus, as quais somente poderiam ser conhecidas por

67. Stanley, Sinai and Palestine.


68. Ovid, Metamorfoses, 5.486 apud Trench, Parables.
69. Heródoto, 1.93.
70. Vide Vincent, In the Shadow of the Pyrenees.
65
M ateus — C a p. 13

intermédio de revelação. Paulo (Fp 4.12) declara: “Estou instruído (μεμύημαι),


tanto a ter fartura como a ter fome”. Todavia, a b p apresenta de forma mais
adequada a força do termo instruído ao traduzi-lo como estou plenamente ini­
ciado, sendo que o verbo μεύω (da mesma raiz que μυστήρια), significa iniciar-
se nos mistérios.

14. Se cumpre (άναπληροΰται). Está sendo cumprido ou em vias de cumprimento.

15. Está endurecido (έπαχύι/θη). Na b p , embotou-, na t e b , e p e b j , insensível-, na t b ,


sefe z pesado. Literalmente: fo i engordado, como consta na w y c l i f f e .

Ouviu de mau grado (τοΐς ώσΐυ βαρέως ήκουσαν). Literalmente: Eles ouviram
pesadamente com os seus ouvidos.

Fechou os olhos (έκάμμυσαν). Κατά, para baixo-, μόω,fechar, como no vocábulo


μυστήρια. Em inglês, fechar os olhos para cima-, em grego, fechá-los para baixo.
O hebraico, em Is 6.10, apresenta o termo cobrir. Esta insensibilidade é descrita
como um castigo. Compare com Is 29.10; 44.18 - nestas duas passagens o fe­
chamento dos olhos é descrito como um juízo divino. A selagem total dos olhos
era uma forma de castigo no Oriente. Cheyne cita o caso de um filho do grande
Mogul, que teve os olhos selados por três anos pelo seu pai como forma de casti­
go71. Dante retrata os invejosos, no segundo compartimento do Purgatório, com
pessoas que têm os olhos costurados:

Fio de ferro às pálpebras prendia


A todas, como ao gavião selvagem
Para domar-lhe a condição bravia72.

Se converta (έπιστρέψωσιυ). A rv traduz: volte a volver-se-, επί, para ou em


direção a, στρέφω, virar-se; com a ideia de voltar-se do seu mal em direção a
Deus.

19. Ouvindo alguém. Esta tradução ficaria ainda mais representativa caso fosse
preservada a força contínua do tempo presente, como a apresentação de uma ação
em andamento, e a simultaneidade da obra de Satanás com a do instrutor evan­
gélico. “Enquanto alguém está ouvindo, o maligno está vindo e arrebatando, assim
como as aves não esperam que o semeador saia do seu caminho, mas entram em
ação enquanto este ainda trabalha”.

O que foi semeado (ò σπάρε ίς). Identificando a semente da ilustração com o


homem que está sendo simbolizado.

71. Cheyne, Isaiah.


72. Dante, A Divina Comédia, Purgatório, Canto IS, versos 70- 72.

66
M ateu s - C ap. 13

21. É de pouca duração (πρόσκαιρος έστιν). A teb traduz: é homem de momento.


Literalmente: é temporária, revelando assim a qualidade do ouvinte. Ele é um
produto das circunstâncias, mudando à medida que estas também mudam. A e c p
lê: é inconstante.

E (δέ). Bem traduzido, pois a oração seguinte não apresenta um motivo para
pouca duração acima mencionada, porém acrescenta algo mais à descrição do
ouvinte.

Angústia (θλίψ€ως). Θλίβω, pressionar ou esmagar. Tribulação talvez seria a tra­


dução mais exata possível, por ser um vocábulo derivado de tribulum, a pedra de
moagem utilizada pelos romanos. Nos dois casos, a ideia de pressão é dominante,
apesar de θλιψις não transmitir a ideia de separação (como no caso do milho e do
bagaço) que está implícita em tribulatio. Trench cita, para ilustrar o termo θλιψις, o
caso da pressão, uma prerrogativa da antiga legislação inglesa, pela qual as pessoas
que deliberadamente abdicassem de se defender, eram mortas por esmagamento
em decorrência de pesos enormes que eram colocados sobre o seu peito73.

23. Compreende (συνιείς). Vide Mt 11.25, instruídos. Os três evangelistas apre­


sentam três características do bom ouvinte. Mateus coloca que ele compreende a
palavra·, Marcos, que ele a recebe, e Lucas que ele a guarda.

24. Propôs-lhes (παρέθηκεν). Esta tradução seria mais adequada para o vocábulo
προβάλλω, do qual deriva πρόβλημα, problem a, ao passo que a palavra aqui utiliza­
da significa mais colocar dian te de ou oferecer. É um termo normalmente utilizado
nas refeições, servir alguém. Por isso, melhor segundo nos apresenta a rv : colocou
d ian te deles. Vide Lc 9.16.

25. Semeou (έπέσπειρεν). A preposição έπί, sobre, indica que a semeadura foi
feita em cima de a lg o q u e havia sido semeado anteriormente. Na rv consta: semeou
também.

S3. Fermento ( ζ ύ μ η ) . A w y c l i f f e traduz: massa azeda, conforme o alemão Sauer-


teig. Oriundo de ζΐω, ferver, como na fermentação. O vocábulo português levedura
é oriundo da palavra latina levare, elevar.

35. Publicarei (έρεΰξομαι). O verbo, cujo som corresponde a ereuxomai, significa


originalmente arrotar, vomitar. Homero faz uso dele para descrever o mar que se
insurge contra a praia7*. Pindar descreve a erupção do Monte Etna75. Aparente-

73. Trench, Synonyms o f the New Testament.


74. Homero, Iliada, 17.265.
75. Pindar, Pyth., 1.40.
67
M ateus - C ap . 13

mente, o termo carrega o sentido de uma comunicação p len a e a p a ix o n a d a , como a


feita por um profeta.

Desde a criação (άπο καταβολής). Sobre isto, comenta Morison·.

O salmista presume (SI 78.2) a existência de um significado oculto no relacionamento de


Deus com o seu povo em tempos remotos. Um elemento típico, arquetípico e prefigurativo
permearia tudo. A história deste relacionamento é uma longa parábola veterotestamentá-
ria. Coisas há muito tempo ocultas, e que estavam escondidas nas profundezas da mente
divina desde antes da fundação do mundo, estariam envolvidas neste relacionamento. E,
por isso, o evangelista sabiamente enxerga, no ensino parabólico do nosso Senhor, o ver­
dadeiro clímax dos velhos ensinamentos parabólicos do salmista. Este clímax era propó­
sito divino e, por isso, é utilizada a expressão para que se cumprisse16.

43. Resplandecerão (έκλάμψουσιν). O verbo composto por 4k, p a ra fo ra , tem


o objetivo de expressar um agente de dissipação da escuridão que permanece
oculto: uma emanação de luz. Os justos resplandecerão como o sol brilha atrás de
uma nuvem. A mistura do mal com o bem em nosso mundo, obscurece o bem e
encobre a verdadeira glória do caráter justo. Compare com Dn 12.3.

47. Rede (σαγήνη). Vide Mt 4.18. Somente aqui no texto do Novo Testamento.
Uma longa rede de arrasto, cujas extremidades são espalhadas e depois juntadas.
Pela transcrição deste termo ao latim, sagena, chegamos à palavra rede de arrasto.
Pelo fato de esta rede fazer uma grande área de varredura, os gregos formaram um
verbo a partir da palavra: σαγηνεύω, rodear ou apan h ar com rede d e arrasto. Assim,
Heródoto afirma: “Os persas enredaram Samos”77. E, novamente:

Sempre que se tornavam senhores de uma ilha, os bárbaros, de forma inequívoca,


enredavam os seus habitantes. Agora, o modo pelo qual eles praticam este arrasto é o
seguinte: os homens juntam as mãos, formando uma linha que atravessa a ilha desde
a costa norte até a costa sul e, depois, marcham através da ilha, de uma ponta a outra,
no encalço dos seus habitantes78.

Compare com Is 19.8b: “e os que estendem rede sobre as águas desfalecerão”.


Igualmente, consulte Hc 1.15-17, onde as conquistas dos caldeus são descritas
por intermédio desta figura.

Apanha toda qualidade. Compare com a passagem ilustrativa de Homero


que descreve os pretendentes mortos nos aposentos de Ulisses.

76. Morison, Mateus.


77. Heródoto, 3.149.
78. Id., 6.31.

68
M ateus - C ap. 14

Viu ele que todos haviam desfalecido no sangue e no pó,


Muitos, como se fossem peixes largados na praia,
Puxados das profundezas por aqueles que
Trabalham com as redes de incontáveis malhas. Lançados longe
Sobre a areia, enquanto ofegavam para retornar
Ao mar salgado, ali jaziam até que o calor do sol
Tirasse deles a vida por completo79.

48. Assentando-se. Implicando a deliberação da seleção.

52. Instruído acerca do Reino dos céus. Instruído (μαθητ^υθείς). Na bj consta:


que se tornou discípulo do Reino. O reino dos céus é personificado. Os discípulos de
Cristo são discípulos do reino representado pelo seu Mestre.

Que (όστις). O pronome marca o pai de família como sendo uma pessoa per­
tencente a uma classe que apresenta as características desta: um pai de família
- uma daquelas pessoas que tiram.

T ira (έκβαλλε t). Literalmente: lançafora. Vide Mt 12.35. Indicando o seu zelo
na comunicação da instrução e &plenitude de onde a sua mensagem se origina.

Capítulo 14

1. Tetrarca. Pessoa responsável pelo comando da quarta parte de um território.


Arquelau havia conseguido dois quartos dos domínios do seu pai, já Antipas
(este Herodes) e Filipe, um quarto cada um.

A fama (ακοήν). Melhor traduzido pela k j n t a : relatos. Literalmente: audição, o


ouvir. A e c p traz, ouviufalar de Jesus.

3. Encerrado no cárcere (eu φυλακή άττέθετο). Literalmente: colocou-o longe, ou


ao lado (από). Esta prisão era a fortaleza de Machaerus, na margem oriental do
mar Morto, quase no mesmo rumo que levava a Belém, acima do desfiladeiro
que dividia as montanhas de Abarim da cordilheira de Pisga. A cidadela ficava
localizada sobre um desfiladeiro isolado, no fim de um espinhaço estreito, rode­
ada por penhascos profundos. Na outra extremidade deste espinhaço Herodes
havia levantado uma grande muralha, com torres que passavam dos sessenta
metros de altura nas suas esquinas; e dentro desta fortaleza, um magnífico palá­
cio com colunas, banheiras, cisternas, paióis —em suma, todo tipo de suprimento
para o luxo e para a defesa contra cercos. As janelas proporcionavam uma visão

79. Homero, Odisséia, 22.384-389.

69
M a t e u s - C ap. 14

grandiosa e ampla que incluía o mar Morto, o curso do Jordão, e Jerusalém. Na


cidadela, que ficava à parte, provavelmente em um dos calabouços subterrâneos,
cujos escombros ainda podem ser vistos, ficava a prisão onde João foi lançado.
Sobre isto, comenta Edersheim:

Voltamos através do que consideramos ser as ruínas do magnífico castelo-palácio de


Herodes, até as maiores e mais bem fortificadas posições de defesa — a masmorra
oriental ou cidadela, no íngreme declive, a quase 140 metros de altura. Os alicerces
das muralhas que tudo rodeavam, a uma altura de 1 a 2 metros acima do solo, conti­
nuam de pé. Ao subirmos neles para examinarmos o interior, notamos como aquelas
masmorras eram pequenas: o seu diâmetro era de exatos 91,4 metros. Quase nada
delas restou. Uma cisterna profunda e um poço muito fundo de cimento, com a abóba­
da do teto ainda inteira, e - o que nos parece mais horripilante - dois calabouços, um
deles muito abaixo da superfície, com as laterais apertadas, "com pequenos furos ainda
visíveis na alvenaria, onde os grampos de madeira e ferro eram, outrora, fixados!” Ao
olharmos para baixo, para dentro daquele local escuro e quente, estremecemos ao per­
ceber que aquele calabouço terrível havia sido, por quase dez meses, a prisão daquele
filho da imensidão do deserto, do intrépido arauto do reino que estava chegando, do
humilde, zeloso e altruísta João Batista80.

6. Dia natalício (γανασίοις). Apesar de algumas pessoas explicarem esta passagem


como uma referência ao aniversário da ascensão de Herodes ao trono, o costume
de se celebrar os aniversários com festividades não era aprovado pelos judeus mais
rígidos. Todavia, argumenta-se que os príncipes herodianos teriam adotado este
costume. O satirista romano, Pérsio, faz uma alusão a um festival conhecido como
“Dia de Herodes”, e retrata um banquete ocorrido naquela ocasião:

M as quando
Chega o dia de Herodes, sobre a chapa ardente
As lâmpadas alinhadas, enfeitadas com violetas, derram am
A ungida nuvem, enquanto a g rossa cauda de atum
Esparram ada sobre o prato verm elho ainda pulula, e os jarro s brancos
Quase explodem de tão cheios de vinho81.

D iante (èv τώ μέσφ). A e c p e b p traduzem literalmente: no meio, enquanto a


bj traz ali.

7. Prometeu ((ομολόγησαν). Literalmente: confessou; transmitindo a ideia de reco­


nhecimento de obrigação para com o seu juramento. Salomé tinha se degradado

80. Edersheim, Life and Times o f Jesus.


81. Pérsio, Sat. 5, 180-183.

70
M ateus - C ap . 14

a ponto de executar o papel de uma almeh ou dançarina comum, e poderia reivin­


dicar um pagamento por isso.

8 . Instruída previamente (προβιβασθεισα). Na t b e e c p consta: instigada. A r v

traduz, de forma acertada, sendo colocada adiante. Compare com At 19.33, onde o
significado correto é: eles empurraram Alexandre parafrente, retirando-lhe da multi­
dão e não puxaram parafora como mostra a a r c . A tradução correta livra Salomé,
ligeiramente, da acusação de requintada crueldade, e lança a culpa totalmente
sobre Herodias. A n t l h diz, Seguindo o conselho de sua mãe.

Aqui (ώδε). Ela exigiu que o seu pedido fosse atendido naquele lugar, antes
que Herodes tivesse tempo de refletir e abrandar os ânimos; principalmente,
porque estava cônscia do respeito que ele tinha por João (cp. a expressão afligiu-
se, v. 9). As circunstâncias parecem apontar para o próprio Macaero como sendo
o cenário do banquete; isto explicaria como o ato foi tão rápido e a cabeça do
Batista entregue enquanto a festa estava, ainda, em andamento.

Num prato (επί ττίυακι). Vocábulo corretamente traduzido pela arc. A bp

traz, bandeja.

9. Por causa do juram ento (διά τούς όρκους). Contudo, o termo juramento está
no plural, e a t b traduz corretamente como: por causa dos seusjuramentos. Está
implícito que Herodes, na sua fúria demente, havia confirmado a sua promessa
com repetidos juramentos.

11. À jovem (τώ κορασίω). Diminutivo, uma senhorita ou donzela. Lutero traduz
como mãgdlein, pequena criada.

13. A pé (πεζή). Na t b consta:por term, seguindo a margem, que é mais apropriado; pois o
contraste é feito entre o deslocamento de Jesus num barco e o da multidão por terra

15. D eserto (έρημός). No grego, este vocábulo aparece em primeiro lugar, o que
lhe confere ênfase. O pensamento predominante nos discípulos é a distância dos
locais de abastecimento de alimentos. O sentido básico da palavra é solitário·, da
qual se desenvolve a ideia de vazio, desolado, estéril.
Os dois sentidos podem ser, satisfatoriamente, incluídos neste caso. Observe
os dois pontos de ênfase. Os discípulos dizem: Estéril é o lugar. Cristo responde:
Nenhuma necessidade tem eles de partir.

16. Dai-lhes (δότε). Os discípulos haviam dito: “despede a multidão, para que
vão pelas aldeias e comprem comida por si mesma’. Cristo responde: Dai-lhes vós.

19. Partindo. Como os pães dos judeus eram bolos finos, com a grossura de um
polegar, era mais fácil quebrá-los do que cortá-los.
71
M ateus - C ap . 14

20. Saciaram-se (έχορτάσθησαν). Vide Mt 5.6.

Cestos (κοφίνους). A w y c l i f f e l ê : coffins ( esquifes), uma transcrição do vocábulo


grego. Juvenal, satirista romano, descreve o bosque de Numa, próximo à Porta
Capena de Roma, como sendo “deixada de lado para os judeus, cuja mobília con­
siste de um cesto (cophinus) e um pouco de feno”82 (para ser utilizado como cama).
Tratava-se de pequenos cestos portáteis, especialmente preparados para que os
judeus carregassem a comida leviticamente purificada ao viajar por Samaria ou
outras regiões pagãs. O termo que designa o cesto no episódio da provisão de co­
mida para os quatro mil homens (Mt 15.37) é σπυρίς, um grande cesto de alimentos,
do tipo usado para descer Paulo pelo muro de Damasco (At 9.25). Em M t 16.9-
10, Cristo, ao fazer uma alusão a estes dois milagres, observa o termo distintivo
em cada uma das narrativas: fazendo uso de κοφίνους no caso dos cinco mil, e
σπυρίδας no outro caso. Burgon faz um desenho de um cesto de vime utilizado
pelos pedreiros na construção da catedral de Sorrento, chamado de cóffano. Ele
acrescenta:

Quem podería duvidar que o cesto da narrativa do Evangelho era do formato aqui
representado, e que a denominação deste cesto foi preservada exclusivamente em uma
colônia grega, onde os judeus (que, outrora, carregavam o cophinus como um equipa­
mento individual) antigamente viviam em grande número?83

22. Ordenou. Implicando uma relutância dos discípulos em deixá-lo para trás.

24. Açoitado (βασανι(όμ€νον). Mais adequadamente traduzido como: afligido.


Vide Mt 4.24.

26. Um fantasma (φάντασμα). Do qual a nossa palavra fantasma é uma transcri­


ção exata.

29. Para ir te r com (έλθ^ίν προς). Contudo, alguns dos melhores textos apre­
sentam και ήλθεν προς, e seguiu adiante.

30. Teve medo. “Apesar de”, nas palavras de Bengel, “ser um pescador e bom
nadador” (João 21.7).

32. Acalmou (έκόπασ6ν). Uma bela palavra. Literalmente: exauriu-se, diminuiu,


ou foi abaixo como uma pessoa exausta.

36. Ficavam sãos (διεσώθησαν). A preposição διά, através de ou por completo, in­
dica uma restauração total.

82. Juvenal, Sat. 3.14.


83. Burgon, Lettersfrom Rome.

72
M ateus - C a p. 15

Capítulo 15

2. Transgridem (παραβαίνουσιν) Literalmente: p isa m em um lado.

Não lavam as mãos. Somente a lavagem que antecedia o consumo de alimentos


era considerada um mandamento-, a lavagem pós-refeição era somente uma obrigação.
Por isso, os mais rigorosos, chegavam ao ponto de lavarem as mãos até mesmo
no intervalo entre os pratos diferentes, apesar de isto ser declarado como um ato
puramente voluntário. A expressão distinta que designava a lavagem pós-refeição
era o erguimento das mãos, apesar de a lavagem que antecedia o consumo de carnes
possuir um termo que significava esfregar. Se os alimentos “santos”, isto é, os sa­
crificados, fossem consumidos, a completa imersão das mãos, e não somente o seu
erguimento, estava prescrito. Como as purificações realizavam-se com frequência, e
era necessário o cuidado de saber se aquela água não fora, anteriormente, utilizada
para outros fins, ou se algum objeto que alterasse a sua coloração ou a conta­
minasse tivesse caído nela, vasos ou jarros grandes eram, geralmente, separados
para este propósito {vide Jo 2.8). A água era despejada sobre ambas as mãos, que
deveríam estar completamente livres de algum tipo de cobertura como cascalho,
argamassa etc. As mãos eram erguidas para fazer com que a água corresse até os
pulsos, a fim de assegurar que a mão toda fosse lavada e que a água contaminada
pela mão não voltasse a correr pelo meio dos dedos. De modo semelhante, as mãos
eram esfregadas uma na outra (os punhos), desde que a mão que esfregasse tives­
se sido, anteriormente, mergulhada na água limpa; do contrário, o esfregamento
poderia ser feito contra a cabeça, ou mesmo contra uma parede. Todavia, havia um
ponto no qual se colocava uma ênfase especial. No “primeiro mergulho” da mão,
que era a exigência original, quando as mãos não estavam leviticamente “conta­
minadas”, a água deveria escorrer até o pulso. Se a água não fosse suficiente para
escorrer até o pulso, as mãos não estariam purificadas84.

8. Também (καί). O significado deste pequenino vocábulo não deve ser despre­
zado. Cristo admite que os discípulos haviam transgredido uma prescrição hum a­
na, mas acrescenta: “Vós também transgredis de forma ainda maior”. Bengel diz:
“Se os meus discípulos transgridem ou não, vós sois os maiores transgressores”.
Uma questão é adequada à outra, seguindo o mesmo estilo. Lutero declarou:
“Ele coloca uma cunha exatamente na ponta da outra e, com isso, faz com que a
primeira cunha seja arremessada para fora”.

4. Morra de morte (θανάτω τελευτάτω). No hebraico, a expressão é: ele será cer­


tam ente executado. No grego, é literalmente: que chegue ao seu fim p o r meio da morte.

84?. Vide nota sobre Mc 7.S, em Edersheim, Ufe and Times o f Jesus.
73
M a t e u s - C ap. 15

5. É oferta (δώρον). Na e c p lê-se: ofereci a Deus. A ilustração feita é de um filho


avarento que foge da sua obrigação de cuidar dos seus pais em necessidade ao
expressar a fórmula: Corbã, isto ê uma oferta ao Senhor. “Tudo o que eu poderia
lhe oferecer como ajuda, não é mais meu, mas foi dedicado a Deus”. Este ho­
mem, contudo, não ficava obrigado, neste caso, a entregar a sua oferta ao Te­
souro do Templo, ao mesmo tempo em que também não era obrigado a ajudar
os pais; porque a expressão não dedicava necessariamente a oferta ao Templo.
Por meio de uma evasiva, a obrigação era considerada como Corbã, como se
fosse posta sobre o altar e ficasse inteiramente fora do alcance das pessoas.
Era expressamente afirmado que este voto gerava compromisso, mesmo que
implicasse uma brecha na Lei.

6. Invalidastes (ήκυρώσατε). A teb traz: anulastes-, ά, não, κύρος, autoridade. Vós


retirastes dele a sua autoridade.

7. Bem(καλώς). Admiravelmente.
8. Está longe (απέχει). Literalmente: mantém distância de mim.

19. Do coração. Compare com Platão.

P ois to d o o b em e o m al, seja n o c o r p o o u n a n atu reza h um ana, o r ig in a -se , c o m o ele


d eclarou , na alm a, e d e lá tran sb ord a, c o m o q u e da cab eça para o s olh os; e, lo g o , s e a
cabeça e o c o r p o p recisam e sta r b em , é p r e c iso c o m eça r p ela cu ra da alm a. E sta é a
p rim eira co isa a fazer85.

Pensamentos (διαλογισμοί). E m s e n tid o litera l: arrazoar (cp. Mc 9.33), ou


d isc u tir (F p 2 .1 4 ), c o m o a s p e r g u n ta s c a p c io sa s d o s fa r ise u s a cerca d a la v a g em
d as m ãos.

21. Partes (μέρη). Literal e corretamente traduzida pela a r c .

22. Daquelas cercanias (άιτό των ορίων εκείνων). Em sentido literal: daqueles
limites-, isto ê, ela havia atravessado da Fenícia para a Galileia.

Clamou (έκραύγασεν). Com um grito alto e incômodo: da sua retaguarda. Com­


pare com a expressão atrás de, no versículo 23.

De mim. Assumindo sobre si mesma o sofrimento da filha.

Miseravelmente endemoninhada (κακώς δαιμονίζεται). Literalmente: está


malvadamente endemoninhada. Conforme traduziu bj: horrivelmente endemoninhada.

85. Platão, Cármide, 157.

74
M ateus - C ap. 16

23. Despede-a. Depois de atender ao seu pedido; como Bengel afirma, de forma
extraordinária: “Pois era assim que Cristo costumava despedir as pessoas que
vinha a Ele”.

26. Dos filhos (τών τέκνων). Bengel observa que, apesar de Cristo falar aspe­
ramente aos judeus, Ele falava deles de forma honorável aos de fora. Compare
com Jo 4.22.

Cachorrinhos (κυναρίοις). Diminutivo: pequenos cachorros. A ideia é de uma re­


feição feita em família, com os cachorrinhos da casa andando ao redor da mesa.

27. Seus senhores. Os filhos são os senhores dos cachorrinhos. Compare com
Mc 7.28: “as migalhas dos filhos”.

30. Os puseram (έρριψαν). Deveras ilustrativo. Literalmente: lançaram abaixo;


não de forma desleixada, mas apressadamente, em função da quantidade de pesso­
as que se aproximava com o mesmo objetivo.

32. Não quero (ού θέλω). Tradução literal. No grego, a ordem é: e despedi-la em
jejum eu não estou querendo. Eu não desejaria, é uma tradução melhor.

Desfaleça (έκλυθώσιν). lÂteralmente: Jiquefrouxa ou semforças.

34. Peixinhos (ίχθύδια). Diminutivo. Os discípulos fazem com que a provisão


obtida pareça o menor possível. No versículo 36, o diminutivo não é utilizado.

35. No chão (éiri την γην). Compare com Mc 8.6. Na ocasião da provisão para os
cinco mil, a multidão se assentou sobre a erva (èirl του χόρτου), Mt 14.19. Naquela
ocasião, era o mês das flores. Compare com Mc 6.39, a erva verde, e Jo 6.10, muita
relva. Na ocasião citada por este versículo, ocorrida várias semanas depois, a erva já
fora incinerada, de forma que a multidão se assentava mesmo sobre o chão.

36. Dando graças. Segundo as diretrizes judaicas, o cabeça da casa somente


pronunciaria a bênção caso ele mesmo tomasse parte na refeição. Contudo se as
pessoas assentadas não fossem meramente visitantes, mas seus filhos ou paren­
tes, ele, então, poderia pronunciá-la, mesmo que não partilhasse dela.

37. Cestos (σπυρίδας). Vide nota sobre Mt 14.20.

C a pítu lo 16

2. Bom tempo (eóôía). Coloquial. Ao olhar para o céu vespertino, um homem diz
ao seu companheiro: “Bom tempo”, e pela manhã (v. 3): “Hoje haverá tempestade”
(oqpepov χβι,μών).
75
M a t e u s - C ap . 16

3. Sombrio (στυγυάζων). O verbo grego significa ter uma aparência obscurecida.


O Dr. Morison faz uma comparação com os vocábulos crespásculo ou escurecer
utilizados por Scotch. C ranm er utiliza: o céu está vermelho-escuro. Esta palavra
somente aparece neste versículo e em Mc 10.22, em referência ao jovem rico, que
virou a sua face de Cristo com a fisionomia obscurecida.

9-10. Observe o uso preciso das duas palavras que descrevem um cesto (cf. nota
sobre 14.20).

15. Tu és o Cristo. Compare com 1.1. Observe a força enfática e definida do


artigo na confissão de Pedro, bem como na posição enfática do pronome (oi), tu):
“Tu és o ungido, o Filho de o Deus, o vivo”.

17. Bem-aventurado (μακάριος). Vide nota sobre 5.3.

18. Tu és Pedro (σύ d Πέτρος). Cristo responde ao tu enfático de Pedro com


outro tu, igualmente enfático. Pedro diz: “Tu és o Cristo”, e Cristo responde:
“Tu és Pedro”. Πέτρος (Pedro) é utilizado como nome próprio, porém a palavra
não perde o seu significado como um substantivo comum. O nome foi concedi­
do a Simão no seu primeiro encontro com Jesus (Jo 1.42) na forma do seu equi­
valente aramaico, Kefá. Nesta passagem a nossa atenção é chamada, não à troca
do nome, mas ao seu significado. No grego clássico, o termo significa um pedaço
de rocha ou pedregulho, como se pode ver no uso que faz Homero, ao descrever
Ajax atirando uma pedra em Heitor86, ou Pátroclo pegando e escondendo em
sua mão uma pedra áspera87.

Sobre esta pedra (έττ'ι ταυτη τη πέτρα:). A palavra é feminina, e significa uma
rocha, em distinção de uma pedra ou pedregulho (πέτρος, discutido anteriormente).
Utilizada para descrever uma saliência de rochas ou pico rochoso. Em Homero, a
rocha (πέτρην) que Polífemo coloca na entrada da sua caverna, é de volume tão
grande que nem vinte e dois carros puxados a cavalo foram capazes de removê-
la88; e a rocha que ele arremessou ao navios de Ulisses em retirada, com a sua
queda, criou uma onda no mar que trouxe os navios de volta à terra89. O vocábulo
não se refere a Cristo como uma rocha, distintamente de Simão, uma pedra, nem à
confissão de Pedro, mas ao próprio Pedro, em um sentido definido pela sua con­
fissão prévia, e como uma pessoa iluminada pelo “Pai do Céu”.
A referência a πέτρα a Cristo é forçada e artificial. A referência óbvia da pala­
vra é a Pedro. O pronome demonstrativo esta refere-se, naturalmente, ao termo

86. Homero, Ilíada, 7.270.


87. Ibid., 16.734.
88. Homero, Odisséia, 9.243.
89. Ibid., 9.484.
76
M a t e u s - C ap. 16

anterior mais próximo; e, além disso, a metáfora perde a sua força, já que Cristo
aparece aqui, não como o fundamento, mas como o arquiteto: “Sobre esta rocha
edificarei”. Como já vimos, Cristo é o grande fundamento, a “principal pedra da
esquina”, mas os escritores do Novo Testamento não reconhecem qualquer im-
propriedade na aplicação de certos termos que são aplicados a Cristo também aos
membros de sua Igreja. Por exemplo, o próprio Pedro (lPe 2.4·), chama Cristo
de pedra viva, e, no versículo 5, dirige-se à Igreja como sendo as pedras vivas. Em
Ap 21.14, os nomes dos doze apóstolos aparecem nas doze pedras que servem
de fundamento para a cidade celestial; e em Ef 2.20, lemos: “edificados sobre o
fundamento dos apóstolos e dos profetas (isto é, queforam lançados pelos apóstolos
e profetas), de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina”.
Igualmente insustentável é a explicação que atribui πέτρα à confissão de Si-
mão. Tanto o jogo de palavras, quanto a leitura natural da passagem se mostram
contrários a este ponto de vista e, além disso, ela não se conforma ao fato, já que
a Igreja é edificada, não sobre confissões, mas sobre confessores —homens viventes.
Edersheim declara:

A palavra πέτρα era u tilizad a n o m e sm o se n tid o n o lin gu ajar rabínico. S e g u n d o os


rabinos, q u a n d o D e u s e sta v a p r e ste s a co n str u ir o seu m u n d o, e le n ã o p od ería fa z ê -lo a
p a rtir d a g e r a ç ã o d e E n os, n em a p artir da g era çã o d o d ilú vio, q u e tr o u x e a d estru ição
para o m undo; m a s q u an d o e le viu q u e A b raão se levan taria n o futuro, e le afirm ou;
“E is q u e en c o n tr e i um a roch a d e o n d e fo ste s lav ra d o s”. O p aralelo e n tr e A braão e Pe­
d ro p od eria se r levad o ain d a m ais lo n g e . Se, p or um a m á co m p reen sã o da p ro m essa do
S e n h o r a P edro, as len d a s cristã s p o ste r io r e s ap resen taram o a p ó sto lo c o m o assen tad o
d ia n te d as p o r ta s d o céu , as le n d a s ju d aicas a p resen tam A braão a ssen ta d o na p o rta d o
G een a , d e form a a e v ita r c o m q u e to d o s o s q u e tiv e sse m o s e lo d a circu n cisão caíssem
n o ab ism o90.

A referência ao próprio Simão é confirmada pela relação real de Pedro com a


Igreja Primitiva, com o segmento hebreu do corpo de Cristo, do qual Pedro era
a pedra de fundamento (cf. At 1.15; 2.14-37; 3.12; 4.18; 5.15-29; 9.34-40; 10.25-
26; G1 1.18).

Igreja (έκκλησίαυ), 4κ,fora, καλέω, chamar ou convocar. Esta é a primeira ocor­


rência desta palavra no texto do Novo Testamento. Originalmente ela significa
uma assembléia de cidadãos, regularmente convocada. Este também é o seu significado
dentro do Novo Testamento, At 19.39. A lxx utiliza o vocábulo para designar a
congregação de Israel, tanto como um grupo convocado para cumprir um propó­
sito específico (lRs 8.65), quanto para designar a comunidade de Israel no sentido

90. Edersheim, Life and Times o f Jesus.


77
M ateus —C ap. 16
coletivo, considerada como congregação (Gn 28.3), onde assembléia é apresentada
como significando m ultidão, nas notas marginais. No texto do Novo Testamento,
para se referir à congregação de Israel (At 7.38), usa-se para este fim, com mais
frequência, o vocábulo συναγωγή, do qual sinagoga é uma transcrição: a w , ju n to ,
άγω, tra ze r (At 13.43). Nas palavras de Cristo a Pedro, o termo εκκλησία adquire
uma ênfase especial a partir do contraste implícito com a sinagoga. A comunidade
cristã no meio de Israel seria designada de εκκλησία, sem ser confundida com a
συναγωγή, a comunidade judaica (cf. At 5.11; 8.1; 12.1; 14.23-27 etc.). Contudo,
συναγωγή é empregado para designar uma assembléia cristã em Tg 2.2, ao passo
que έπισυναγωγή [reunir ou congregai) pode ser encontrado em 2Ts 2.1; Hb 10.25.
Tanto no hebraico como no uso que encontramos no Novo Testamento, εκκλησία
implica mais do que uma unidade coletiva ou nacional. Ela designa uma comunida­
de baseada em uma ideia religiosa especial e estabelecida de uma maneira especial.
No texto do Novo Testamento, o termo é utilizado também em um sentido mais
restrito para designar certas igrejas específicas, como por exemplo, uma igreja
local. Assim, vemos a igreja na casa de Áquila e Priscila (Rm 16.5); a igreja de
Corinto, as igrejas da Judeia, a igreja de Jerusalém etc.

Portas do inferno (πυλαι αδου). Na bj: H ades. H a d es era, originalmente, ο


nome do deus que presidia sobre o reino dos mortos - Plutão ou Dis. Por isso,
a expressão, casa de H ades. O termo é derivado de ά, não, e ίδειν, ver, e significa,
então, a terra invisível, o reino das sombras. E o lugar para onde todos os que
partem desta vida descem, sem referência ao seu caráter moral.
Com esta palavra, a lxx traduziu o termo hebraico Sheol, que tem um significado
geral. O vocábulo clássico H ades envolvia os homens bons e os maus, embora este
lugar fosse dividido em Elísio, a morada dos virtuosos, e o Tártaro, a morada dos per­
versos. Nestas particularidades, este termo corresponde substancialmente à ideia do
Sheol, onde os justos e os ímpios também são reunidos (cf. Gn 42.38; SI 9.17; 139.8;
Is 14.9; 57.2; Ez 32.27; Os 13.14). O Hades e o Sheol eram, igualmente, concebidos
como habitações definitivas localizadas abaixo deste mundo. A passagem dos bons e
dos maus para aquele lugar era considerada uma descida. A concepção hebraica é de
um lugar de escuridão; uma habitação triste, onde a vida era sombria, desagradável e
obscura (cf. SI 6.5; 94.17; 95.17; 88.5-6,10; Jó 10.21; 3.17-19; 14.10-11; Ec 9.5). A in­
certeza é a sua característica. Neste aspecto, a fé dos hebreus se mostra em contraste
aberto com a dos gregos e dos romanos. Os poetas pagãos deram à mente popular
imagens claras acerca do Tártaro e do Elísio, do S tir e do Aquerom, das alegres planí­
cies onde os heróis falecidos faziam discursos elaborados e dos abismos negros onde
os criminosos sofriam torturas estranhas e engenhosas.
Havia, entretanto, uma diferença entre a concepção hebraica e a pagã, pois para
os pagãos, o Hades era a morada final de quem ali chegava, ao passo que o Sheol
78
M a t e u s - C ap. 16

era uma condição temporária. Por isso, os patriarcas são descritos (Hb 11.16) como
pessoas que estão em busca de uma terra melhor, uma terra celestial; e os márti­
res, como pessoas que perseveram na esperança de “uma melhor ressurreição”. A
profecia declarava que os mortos deveríam ressuscitar e cantar, quando o próprio
Sheol deveria ser destruído, e os seus habitantes, libertos: alguns para a vida eterna
e outros para a vergonha e opróbrio (Is 26.19; Os 13.14; Dn 12.2). Paulo apresenta
esta promessa, como feita por Deus aos pais e como a esperança de seus compa­
triotas (At 26.7). Deus era tanto o Deus dos mortos, quanto dos vivos; presente
nas câmaras sombrias do Sheol e no céu (SI 139.8; 16.10). Esta é a ideia por trás
da declaração mais marcante e patética de Jó (14.13-15), na qual ele expressa o
desejo de que Deus o esconda amorosamente no Hades, um lugar de ocultação
temporária, onde ele aguardará pacientemente, posicionado como uma sentinela
no seu posto, o comando da voz divina que o chamará para uma vida nova e mais
feliz. Esta também é o conceito de uma passagem familiar, mas que gera muita
controvérsia: Jó 19.23-27. O seu redentor, justiceiro, vingador, levantar-se-á depois
dele ter atravessado o reino sombrio do Sheol.

U m ju íz o n o H ad es, n o qual o ju iz s e m o stra rá seu am igo, n o qual to d o s o s n ó s em ara­


n h a d o s d e sta v id a serã o d e sfe ito s p o r m ãos sábias e am orosas, e o p rob lem a in so lú v e l
d e sta e x p e r iê n c ia estran h a e au to co n tra d itó ria será, p or fim, re so lv id o —é p o r isso que
Jó an seia p or aq u ele dia feliz e m q u e verá o próp rio D eu s, e en co n tra rá o seu G o e l
(v in g a d o r) n a q u ele T o d o -P o d e r o so L ib ertad or 91.

No texto do Novo Testamento, o Hades é a habitação dos mortos. Não se


pode argumentar com êxito que ele é, especificamente, o lugar dos pecadores92.
As palavras sobre Cafarnaum (Mt 11.23), as quais, surpreendentemente, vemos
Cremer citar em apoio à sua posição, são meramente uma expressão retórica da
queda da altura da glória terrena para a mais profunda degradação e não ser­
vem de sustentação para o caráter moral do Hades, mais do que as palavras de
Zofar (Jó 11.7-8) acerca da perfeição do Todo-poderoso. “Como as alturas dos
céus é a sua sabedoria;... Mais profunda é ela do que o inferno (Sheol)”. O Hades
é, na verdade, associado à morte (Ap 1.18; 6.8; 20.13-14), mas esta associação é
natural e inevitável, independentemente de todas as distinções morais. O Hades
se seguiría naturalmente à morte em todos os casos. Em Ap 20.13-14, o juízo
geral é predito e não somente a morte e o Hades, mas também o mar, entregarão
os seus mortos, e somente os que não estiverem inscritos no livro da vida serão
lançados no lago de fogo (v. 15). O homem rico estava no Hades (Lc 16.23) e pas­
sava por tormentos, mas Lázaro também estava lá, “no seio de Abraão”. Segundo
Edersheim, os detalhes desta história

91. Cox, Comentary on the Book o f Job.


92. Vide Cremer, Biblico-Theological Lexicon.

79
M ateus - C ap. 16

e v id e n t e m e n t e r e p r e s e n t a m a s v is õ e s p r e d o m in a n te s n a q u e la é p o c a e n tr e o s
ju d e u s . S e g u n d o e le s , o J a r d im d o É d e n e a A r v o r e d a V id a e r a m a m o r a d a d o s
b e m -a v e n tu r a d o s . Q..j] L e m o s q u e o s j u s t o s n o É d e n o b s e r v a m o s ím p io s n o
G e e n a e s e a le g r a m ; e, d e m a n e ir a s e m e lh a n te , o s ím p io s n o G e e n a o b s e r v a m o s
j u s t o s b e a tific a d o s a s s e n t a d o s n o É d e n , e n q u a n to a s su a s a lm a s s ã o a to r m e n ­
ta d a s 93.

Cristo também esteve no Hades (At 2 . 2 7 - 3 1 ) . Além disso, a palavra γέεννα,


inferno (veja nota sobre Mt 5 . 2 2 ) é , especialmente, utilizada para denotar o lugar
do castigo futuro.
Portanto, no texto do Novo Testamento, o Hades é um conceito amplo e ge­
ral, que compreende uma ideia de localidade. Ele representa a condição que se
seguirá à morte, que pode ser de bênção, ou o oposto, segundo o caráter moral do
falecido e, por isso, está dividido em partes distintas, representadas pelo P araíso
ou S eio de A braão e o Geena.
A expressão p o rta s do H a d es é um orientalismo que significa o tribunal, o tro­
no, o poder e a dignidade do reino infernal. O Hades é contemplado como uma
cidade poderosa, com portas grandiosas e sombrias. Alguns expositores também
apresentam a ideia dos concílios dos poderes satânicos, com referência ao costume
oriental de tomar este tipo de deliberação nas portas das cidades. Compare com a
expressão Sublim e P orta, aplicada ao tribunal otomano. A ideia de uma edificação
é sustentada por estas duas comparações. O reino ou cidade do Hades confronta
e ataca a Igreja que Cristo edificará sobre a rocha (cf. Jó 3 8 .1 7 ; SI 9 .1 3 ; 1 0 7 .1 8 ;
Is 3 8 . 1 0 ) .

19. Chaves (κλείδας). A similitude correspondente ao edificar. A igreja ou o reino é


concebido como uma casa, da qual Pedro deve ser o ecônomo, portador das chaves.

D o m esm o m od o co m o e le foi o p rim eiro a e x te r n a r a c o n fissã o da Igreja, ele tam ­


bém tev e o p r iv ilé g io d e ser o p rim eiro a abrir as su as portas, até e n tã o fech ad as aos
g e n tio s, q u an d o D e u s o e sc o lh e u , para que, p ela su a b o ca , o s g e n tio s fo ssem o s pri­
m eiro s a o u v ir as p alavras do E v a n g e lh o e, so b o seu com an d o, receb essem o p rim eiro
b a tism o 91.

Ligares - desligares (δήσης - λύσης). Em um sentido comum entre os judeus,


de p r o ib ir ou p erm itir. Não havia termos de uso mais comum na legislação canô­
nica rabínica do que lig a r e desligar. Eles representavam os poderes legisla tivo e
ju d ic iá rio do ofício rabínico. Estes poderes, Cristo agora transferia, não para a
vaidade dos apóstolos, mas como uma realidade que deveria ser exercida por eles.

93. Edersheim , Life and Times o f Jesus.


94. Ibid.
80
M a t e u s - C a p . 16

Em primeiro lugar, a Pedro, como o seu representante; em segundo, depois da


ressurreição, à igreja95. Sobre Mt 1 6 .1 9 ; 1 8 .1 8 , Meyer diz:

E sta autoridade leg isla tiv a conferida a P edro só p o d e ser revestid a d e um asp ecto ofen­
sivo q u an d o for con ceb id a c o m o d eten to ra d e um caráter arbitrário e, de form a algum a,
for d eterm in ad a p elas in flu ên cias éticas d o E sp írito Santo, além d e ser con sid erad a de
um a n atu reza ab soluta, in d ep en d en te d e qualquer co n e x ã o com o s dem ais ap óstolos.
C o m o o p od er d e ligar e desligar, que é aqui con ferid o a Pedro, é atribuído (M t 18.18)
aos a p ó sto lo s em g era l, o p od er con ferid o ao p rim eiro é co rreta m en te com preendido, e
v is to n ecessariam en te c o m o um p o d er d e n atu reza colegiad a, d e form a q u e P edro não
d ev e ser con sid erad o c o m o o ú n ico a p ó sto lo a ser d ota d o c o m ele, n o to d o o u em parte,
m as, sim p lesm en te, d eve ser con sid erad o c o m o o p rim eiro d en tre o u tro s iguais.

21. Desde então, começou (οπτό τότε ήρξατο). Até então, Ele ainda não lhes
havia revelado estes detalhes.

Convinha (δεΊ). Isto era necessário em cumprimento ao propósito divino (cf.


Mt 2 6 .5 4 ; Hb 8 .3 ; Lc 2 4 .2 6 ) .

Padecer. Este primeiro anúncio menciona a sua paixão e a sua morte, num
sentido geral; o segundo ( 1 7 .2 2 - 2 3 ) , acrescenta a sua traição e a sua entrega nas
mãos de pecadores; o terceiro (20.17-19), por fim, expressa os açoites e a cruz.

Anciãos... principais dos sacerdotes, e... escribas. Uma maneira circuns­


tancial de designar o Sinédrio, ou Supremo Concilio da nação judaica.

22. Tomando-o (προσλαβόμενος). Não, mas tom ou-lhe à p a rte


tom ou-lhe p e la mão,
Meyer traduz, de forma correta:
dos dem ais p a ra conversar com ele em p a rticu la r.
depois de to m á -lo p a ra consigo. Bengel afirma: “Como se tivesse direito de assim
fazê-lo. Ele agiu com grande familiaridade depois do sinal de reconhecimento
que recebera. Jesus, entretanto, põe-no, novamente, no seu lugar”.

Começou. Pois Jesus não tolerou que ele continuasse com aquilo.

Tem compaixão de t i (ΐλεώς σοι). Na t e b : D eu s te livre disso, Senhor! No uso


clássico, esta expressão se refere aos deuses como benevolentes e graciosos para
com os homens, em consideração às suas orações e sacrifícios. O significado aqui
é: Que D eus seja gracioso contigo.

De modo nenhum te acontecerá (ού μή εσται). A dupla negativa é bastante


forte: “Não ocorrerá d e fo rm a a lg u m a ’.

95. Vide nota sobre Jo 20.23, em E dersheim , Life and Times of Jesus.

81
M a t e u s - C a p . 17

23. Voltando-se (στραφείς). Não em direção a Pedro, mas na direção oposta.

Para trás de mim. Vide 4 .1 0 .

Escândalo (σκάνδαλον). Na t b e bj , mais adequadamente traduzido como pe­


dra de tropeço (cf. nota sobre 5 .2 9 ). Não: tu és um escândalo, mas: tu estás no meu
caminho. Sobre isso, comenta o Dr. Morison:

T u n ã o é m a is, c o m o a n te s , u m a p e d r a n o b r e , c o lo c a d a n o lu g a r c e r to c o m o u m a
p e d r a m a c iç a d e fu n d a m e n to . M a s, a o c o n tr á r io , a g o r a é s c o m o u m a p e d r a d e s lo ­
c a d a d o se u lu g a r a p ro p ria d o , e q u e s e c o lo c o u e x a ta m e n te n o m e io d o c a m in h o
p o r o n d e e u d e v o p a ssa r — t o r n a n d o - s e u m a p e d r a d e tr o p e ç o .

Não compreendes (ού φρονείς). Na t b , mais adequadamente traduzido


como não cuidas das coisas. Os teus pensamentos e as tuas intenções não são
de Deus, mas de homem. Compreendes segue a tradução da v u l g a t a sapis, de
sapere, que significa tanto saborear, quanto ter sentido ou discernimento, saber.
Por isso é aqui utilizado como uma tradução de φρονεΐν, importar-se. Assim, a
w y c l i f f e em lCo 1 3 .1 1 : “Quando eu era menino eu me importava (εφρόνουν)

como menino”. A ideia é, estritamente, partilhar da qualidade ou da natureza


das coisas.

26. Ganhar - perder (κερδήση - (ημιωθή). Observe que as duas palavras estão
no tempo pretérito (aoristo): “se ele puder ter ganhado ou perdido . O Senhor re­
passa os detalhes de cada vida como fatores da soma final de ganhos ou perdas.
O verbo na voz ativa significa causar perda ou dano. Normalmente, nos clássicos,
refere-se a multas que devem ser pagas com uma quantia em dinheiro (Compare
com 2Co 7 .9 ). Em lugar de perder, a t e b apresenta se o pagar com a.

Alma (ψυχήν). A tb traduz: vida, com alma. Isto será considerado d e maneira
especial na análise dos termos psicológicos das Epístolas.

Em recompensa (αντάλλαγμα). Literalmente, como uma troca.

C a pítu lo 17

1. Tomou consigo (παραλαμβάνει). A a r c repassa a ênfase da preposição παρά,


tomou con-sigo.

Em particular (κατ’ Ιδίαν). Não como uma referência à montanha, como um


lugar isolado, mas esta expressão se refere aos discípulos. Significa que eles de­
veríam ficar a sós com o Mestre. Compare com Mc 9.2, e os levou sós, emparticular
(κατ’ ίδιαν μόνους: literalmente: sozinhos àparte).

82
M a t e u s - C ap. 17

2. Transfigurou-se (μετεμορφώθη). Μετά denota m udança ou transferência, e


μορφή, fo rm a . Este último vocábulo indica af o r m a considerada como a natureza
e o caráter distintos do objeto, e se distingue de σχήμα, a aparência externa mu­
tável —em um homem, por exemplo, os seus gestos, suas roupas, suas palavras
e atos. Ο μορφή compartilha da essência de uma coisa; ο σχήμα é um acidente
que pode se modificar, sem afetar &fo rm a . Compare com Mc 16.12: Cristo
“manifestou-se em outra f o r m a ’ (μορφή), e 1Co 7.31: “a aparên cia (σχήμα) deste
mundo passa”. A distinção é repassada aos verbos compostos com estes dois
substantivos. Assim, em Rm 12.2: “não vo s conform eis com este mundo”, temos
μή συσχηματίζεσθε; isto é, não se amoldem segundo a aparência transitória
deste mundo. Também a e p apresenta, se am oldem , onde as mudanças descri­
tas ocorrem na aparência exterior. Os falsos apóstolos, por fora, também apa­
rentavam ser apóstolos de Cristo; Satanás assume a aparência exterior de um
anjo. Todas estas mudanças ocorrem nos acidentes da vida, e não alteram a sua
q u a lid a d e essencial, ou interior. Por outro lado, uma mudança na vida interior
é descrita como uma mudança de μορφή, e jamais de σχήμα. Compare com Rm
8.29; 2Co 3.1 8; Fp 3.2 1; e vide, além disso, Fp 2.6-7.
Por que, então, poder-se-ia indagar, um composto de μορφή é empregado nesta
descrição do Salvador transfigurado, já que a mudança descrita é uma mudan­
ça na sua aparência exterior? A resposta pode ser que um composto de σχήμα,
que expressasse meramente uma mudança no aspecto da pessoa e das roupas de
Cristo, não descrevería a verdade mais profunda do momento, que é: a mudança
visível recebe o seu caráter e significado verdadeiros a partir daquilo que é es­
sencial em nosso Senhor —a sua natureza divina. Um prenuncio ou profecia da
sua verdadeira f o r m a - o seu caráter distinto —ocorre na sua transfiguração. Ele
assume uma forma identificada, tanto quanto revelada, com a qualidade divina
do seu ser, e que profetiza a sua revelação “como Ele é” (1Jo 3.2), na glória que
Ele tinha com o Pai antes do mundo existir (Jo 17.5). Em verdade, existe um
resquício profundo e sugestivo no uso deste termo que, facilmente foge à nossa
observação e que desafia uma definição precisa. A impressão profunda e mar­
cante sobre os três discípulos foi devida a algo além do resplandecer da face e
das vestes de Cristo, e da presença de Moisés e Elias; e foi mais profunda e mais
sutil do que o efeito de todas estas coisas combinadas. Havia um fato e um poder
naquela cena que o mero resplendor e aparência dos falecidos patriarcas não era
capaz de transmitir: a revelação da divindade que irrompia daquele rosto e da­
quela forma glorificada, que apelava para algo mais profundo que os sentidos, e
que foi confirmado pelas palavras vindas do céu: E ste é o meu F ilh o am ado.
A mesma verdade é ilustrada pelo uso de μορφή em Mc 16.12, onde lemos que
Jesus m anifestou-se em outra f o r m a (εν έτέρα μορφή) depois da sua ressurreição. Os
83
M a t e u s - C a p . 17

acidentes na sua figura, o rosto, as mãos e os pés perfurados, eram os mesmos;


entretanto, uma mudança indefinível lhe havia sobrevindo, cuja característica
era que ela prefigurava a sua passagem a uma condição peculiar e apropriada ao
seu ser essencial que era espiritual e divino.

4. Façamos (ποιήσωμεν). Porém os melhores textos apresentam, ποιήσω, eufarei,


que é mais característico de Pedro. Ele mesmo erguería as tendas.

Três tabem áculos (σκηνάς). Tendas ou barracas, com os galhos da vegetação


daquele mesmo lugar. Pedro percebeu que já era noite, e estava disposto a pre­
parar um abrigo para que os visitantes celestiais pudessem se recolher depois
daquele encontro.

9. Visão (όραμα). O espetáculo.

11. Virá. Elias virá primeiro. Uma afirmação sucinta que expressava o fato de
que a vinda de Elias antecedería no tempo a vinda do Messias. Este é um ponto
da cronologia judaica; assim como um professor de história poderia dizer aos
seus alunos: “Os saxões e os dinamarqueses antecedem os normandos na Ingla­
terra”. Elias já havia vindo na pessoa de João Batista.

15. É lunático (σπληνιάζεται.). A t b traduz: epilético. A a r c preserva a etimo­


logia da palavra (σελήνη, a lua). Todavia, o vocábulo lunático transmite a ideia
de uma pessoa demente, ao passo que a tradução epilético da t b apresenta o ver­
dadeiro caráter da doença, entretanto, não nos fala do fato contido no termo
grego: supunha-se que a epilepsia era afetada pelas mudanças das fases da lua
(cf. M t 4.24).

17. Perversa (διεστραμμένη). A t e b traduz: transviada. A tyndale lê: tortuosa·,


διά, através, ao longo de-, στρέφω, torcer. Torto.

20. Pouca fé (απιστίαν). Os melhores textos apresentam όλιγοπιστίαν, ou peque­


nez defi. Melhor do que a leitura απιστίαν, que a e c p traduz por falta defé. Por
isso, a k j n t a traduz: pequenez da vossafé.

24. Os que cobravam as didracmas (οι τα δίδραχμα λαμβάνοντες). Na r v


consta: aqueles que recebiam os meios-siclos. A t b traz: duas dracmas.Todos os in­
divíduos do sexo masculino, em idade adulta, inclusive os prosélitos e os judeus
alforriados, deveríam pagar anualmente, pelos serviços do Templo, a quantia
de meio siclo ou uma didracma. Esta quantia deveria ser paga na antiga moeda
de Israel, o meio-siclo regular do tesouro; e os cambistas, por essa razão, fica­
vam obrigados a trocar a moeda atual pela moeda do Templo, o que era feito
com uma taxa de desconto fixada por lei. A receita anual dos cambistas que
faziam este tipo de transação foi estimada em uma quantia muitíssimo superior
84
M ateus - C ap. 18

ao pagamento diário de um trabalhador, que era de um dinheiro, e ao valor


de uma hospedaria, à que o samaritano pagou dois dinheiros para abrigar o
homem ferido. Jesus afrontou grandes interesses ao derrubar as mesas destes
cambistas.

25. Sim (uai). Indicando que Jesus já havia pagado o imposto em ocasiões ante­
riores.

Se lhe antecipou (ττροέφθασίν). Na n t l h : antes que fa la sse algum a coisa. O sen­


tido está correto, embora a tradução não seja literal: antecipar, chegar antes. Jesus
não esperou que Pedro lhe falasse acerca da exigência dos cobradores. Ele se
antecipou a ele ao falar no assunto, conforme traz a n v i : J e su sfo i o p rim eiro a fa la r.
Compare com Shakespeare:

A ssim , a m in h a ex p e c ta tiv a antecipará a sua d e sc o b e r ta 96.

A partir deste, surgiu um significado secundário, estorvar, obstruir. Ao chegar


antes de outra pessoa, acabamos lhe obstruindo de atingir os seus propósitos.
Este significado acabou suplantando o outro.

Tributos ou os impostos (τέλη ή κήνσον). A bp apresenta apenas a palavra


im postosno lugar de tributos. Todavia, os im postos eram taxas cobradas sobre
bens; os tributos, as taxas que incidiam sobre os indivíduos. Κήνσος, tributo, é
meramente uma transcrição do termo latino census, que significa, em primeira
acepção, um registro que visa uma taxação e, a seguir, a cobrança da taxa em si.
A teb lê: as ta x a s ou impostos.

Alheios (άλλοτρίων). Não estrangeiros, mas outras pessoas diferentes dos


membros da sua família; os seus súditos. Em outras palavras: Será que um rei
cobra impostos dos seus próprios filhos, ou dos seus súditos?

27. Anzol (άγκιστρου). Única menção no texto do Novo Testamento à pescaria


feita com anzol. Neste caso, o desejo era a captura de apenas um peixe.

Um estáter (στατήρα). A e p traduz de forma deveras inadequada, o dinheiro.


Porque Cristo fala de uma quantia definida: um estáter, que é uma transcrição
literal da palavra grega, e representa duas didracmas, ou um siclo.

C a pítu lo 18

1. A TB insere porven tu ra depois de quem, procurando, assim, restaurar o termo


grego αρα, que é ignorado pela arc , e por várias outras versões. Q uem p o rven tu ra ?

96. Shakespeare, Hamlet, 2. 1 .

85
M ateus - C ap . 18

Quem, enquanto as coisas seguem. Como uma das pessoas do nosso grupo recebeu
dupla honra ao ser chamado de “rocha”, e ser designado para tomar parte em um
milagre especial, quem então é o maior de todos?

3. Vos converterdes (στραφήτ6). A palavra converterdes adquiriu um sentido re­


ligioso convencional que é, fundamentalmente, verdadeiro. Contudo, a sua qua­
lidade essencial ficará mais aparente se a traduzirmos de forma literal: se vos
voltardes. A ideia é a de se fazer a volta em uma rua e seguir na direção oposta. A
teb traz, se não mudardes.

De modo algum entrareis (ού μή άσέλθητβ). A n e g a tiv a d u p la n o g r e g o (ού


μή) é b em m arcan te, e a su a ên fa se a p resen ta d a na ar c : d e m odo algum .

4. Como esta criança. Não no sentido de se hum ilhar como esta criança, mas de
fazer-se humilde como esta criança é despretensiosa. Tornar-se voluntariamen­
te, por meio de um processo espiritual, o que uma criança é por natureza.

5. Em meu nome (èirl τω όνόματί μου). Literalmente em cim a do meu nome; com
base no, ou p o r consideração do-, p o r causa de mim.

6. Mó de azenha (μύλος όνικος ). Dois tipos de pedras de moagem eram utiliza­


das: uma girada à mão e outra, maior, movida por uma mula (όνος). Nesta passa­
gem, Jesus se refere à p ed ra m o vid a p o r mula; ou, como vemos na t b : um a g ra n d e
p ed ra d e moinho. A w y c liffe traz: um a p ed ra de m oagem de mulas.

12. Não irá pelos montes, deixando. O texto aqui gera controvérsias. A arc se­
gue um texto que apresenta: “Não irá pelos montes, deixando as noventa e nove”.
Porém junte o d e ix a r com os montes, e leia: "Não deixará ele as noventa e nove
sobre (èffl, espalhadas) os montes, e irá...”. Isto também corresponde ao vocábulo
άφήσίΐ, deixar, abandonar ou soltar.

13. E, se, porventura (4àv γένηται). Caso isto viesse a ocorrer. A graça de Deus
não é irresistível.

14. Vontade de vosso Pai (θέλημα έμπροσθβζ του πατρός υμών). Embora al­
guns leiam meu Pai (μου). Literalmente: N ã o existe von tade d ia n te d o vosso (meu)
P ai. Assim também wycliffe : N ã o há von tade d ia n te do vosso P a i. Meyer faz uma
paráfrase: N ã o há, dia n te d a fa c e de D eus, qualquer determ inação que tenha p o r objeto
um destes etc.

15. Vai (wraye). Não espere que ele venha até você.

Repreende-o (έλ^γξον). A ntlh traduz: m ostre-lhe. O verbo significa, em pri­


meira acepção, testar, provar, pesquisar, logo, in terro g a r com objetivo de convencer
86
M ateus - C ap. 18

ou refutar; daí, repreender ou admoestar. O verbo mostrar da ntlh é mais adequado


do que conversar (encontrado na kjnta ), que implica meramente mencionar a fa­
lha; já que a instrução é para que a pessoa vá e prove para a outra que ela estava
errada.

16. Pela boca (êitl στόματος). Mais adequadamente traduzido pela bj: pela pala­
vra de. A kjnta traz: para que pelo depoimento de.

19. Concordarem (συμφωνήσουσιν). Oriundo de aw , junto, e φωνή, som ou voz.


Este vocábulo é transcrito pela nossa palavra sinfonia. Em nossos tempos ela já
perdeu o caráter distinto de uma convergência de vozes que visam um acordo no
sentido mais profundo e íntimo.

Acerca de qualquer coisa que pedirem (irepl παντός πράγματος ου èàv


αίτήσωνται). A tradução literal é: se qualquer coisa, mais forte: Tudo o que eles
pedissem, independentemente do quefosse. A palavra πράγμα, coisa, é utilizada como
o termo latino res; uma questão, um assunto, um negócio, com o significado básico
de algo a serfeito, já que é cognata do verbo πράοοω, fazer. Seráfeito, entretanto,
é y€vr\a€xai, virá a ocorrer.

20. Em meu nome (elç το έμον όνομα). Literalmente “dentro do meu nome”.
Quando duas ou três pessoas são, juntamente, atraídas para dentro (εις) de Cristo
como o centro comum do seu desejo e da sua fé.

22. Setenta vezes sete (έβδομηκοντάκις 4πτά)97. Edersheim afirma que:

E ra r e g r a esta b elecid a p elo rab in ism o q u e o perd ão n ão d everia se r fe ito m ais d o q u e


três v e z e s. M e sm o assim , a prática era te r r iv e lm e n te d iferen te. O T a lm u d e relata,
sem culpa, a con d u ta de um rab in o q u e n ã o p erd oava a m e n o r ofen sa à sua d ign id ad e,
m e sm o q u e o seu o fen so r im p lo r a sse o p erd ão p or m ais tr e z e an os su cessiv o s, in d i­
feren tem en te de o perdão ser p ed id o n o dia da exp iação. O m o tiv o seria q u e o rabino
o fen d id o havia d e sc o b e r to p o r m e io d e um so n h o q u e o seu irm ão o fen so r alcançaria
a m ais alta das d ign id ad es. E le se fin giría irre co n ciliá v el para forçar a m ig ra çã o do
o u tro da P a lestin a para a B ab ilôn ia, on d e, lo n g e da sua inveja, e le pod eria ocupar o

lu gar principal.

97. N ão se sabe ao certo se isto significa quatrocentos e noventa vezes, ou setenta e sete vezes.
O s defensores deste ú ltim o num eral alegam que a expressão é derivada da lx x , G ên esis 4 .2 4 .
A utoridades, entretanto, não concordam com a tradução feita do hebraico naquela passagem .
M eyer afirma que ela, p ossivelm ente, não pode significar nada diferente de “setenta e sete”,
ao passo que Bunsen traduz com o “sete vezes seten ta”, e G rotius nos apresenta septuagies et
id ipsum septies, “setenta vezes e aquelas sete vezes mais". E ste ponto, no entanto, não é assim
tão im portante, pois, com o coloca o Dr. M orison: “D esd e que o espírito da resposta do n osso
Salvador seja m antido, as duas form as de enum eração estarão corretas”.

87
M ateus - C ap. 18

Portanto, deve ter parecido a Pedro um prolongamento da caridade es­


tender o perdão de três para sete vezes. Porém, Cristo não está especifi­
cando o número de vezes que o perdão deve exceder ao limite de sete, mas
dizendo que não deve haver limite para o perdão, pois ele é “qualitativo e não
quantitativo".

23. Um certo rei (άνθρώπω βασιλεΐ). Literalmente, um homem, um rei. O reino


dos céus é como um rei humano.

Fazer contas com os seus servos (συνάραι λόγον petà των δούλων αύτού).
O verbo συνάραι é composto por σύν, com, e αίρω, levantar, e significa fazer um
levantamento em conjunto, isto é, ajustar as contas. A t b , mais adequadamente, tra­
duz como ajustar contas com os seus servos.

24. Que lhe devia (οφειλέτης). Literalmente, um devedor de dez mil talentos.

Dez mil talentos. Uma quantia muito grande.

25. Que fossem vendidos. De acordo com a Lei de Moisés: Ê x 22.3; Lv 25.39-47.

28. Encontrou. Ou saiu à procura dele, já que ele mesmo havia sido procurado
pelo seu Senhor, ou chegou acidentalmente até ele na rua.

Cem dinheiros (έκατόν δηνάρια). Menos do que uma milionésima parte da


sua própria dívida.

Sufocava-o (αύτόν eirviyev). Literalmente, esganava-o. A t e b traz: estran­


gulá-lo. Compare com afogou-se, Mc 5.13. Os credores normalmente arras­
tavam os seus devedores até a frente dos juizes, como permitia a lei romana,
agarrando-lhes pela garganta. A bj traduz: e agarrando-o pelo pescoço, pôs-se a
sufocá-lo. Assim, Tito Lívio relata como, depois de surgida uma dificuldade
entre o cônsul Valério e certo Menênio, os tribunais colocaram um ponto
final na disputa e o cônsul ordenou que as poucas pessoas que apelavam
ao tribunal fossem enviadas para o cárcere (collum torsisset, com o pescoço
torcido)98. E Cícero: “Levem-no para o banco dos réus com o pescoço torcido
(collo obtorto)”99.

O que me deves (e’í τι όφίίλίΐς). Literalmente, se tu me deves alguma coisa. Não


que o credor esteja em dúvida acerca do fato da dívida, mesmo que exista certa
incerteza acerca da quantia exata que possa estar implícita. Isto concordaria

98. T ito Lívio, 4.53.


99. Cícero, Pro Cluentio, 21. Compare com Cícero, In C. Ferrem, 4.10.

88
M ateus - C ap. 19

com o encontrou, no sentido de encontrar alguém acidentalmente. Compare com


Mt 13.44. Ele veio subitamente ao seu encontro e o reconheceu como seu deve­
dor, mesmo que não tivesse certeza do valor a ser cobrado. Meyer observa: “a
condicional se é simplesmente a expressão de uma lógica impiedosa. Se tu deves
alguma coisa (como de fato deves), paga!” A palavra pagar (άποδος) é enfática,
nesta posição.

29. Rogava-lhe (παρεκάλει). O imperfeito reforça a ideia de que ele rogou fervo­
rosamente.

30. Foi (άπ^λθών). Literalmente foi-se para longe-, arrastando o outro consigo
para o tribunal.

31. D eclarar (διεσάφησαν). Mais do que meramente relatar. O verbo é composto


por διά, através de, completamente, e σαφέω, explicar. Eles explicaram as circuns­
tâncias por completo.

Seu senhor (τω κυρίω έαυτών). Literalmente, “seu próprio Senhor”; como
convinha à sua posição e como marca da sua confiança nele.

34. Aos atorm entadores (βασανισταις). Tito Lívio descreve um velho cen-
turião se queixando de ter sido levado pelo seu credor, não à escravidão, mas
para uma casa de correção e tortura, e que mostra as suas costas marcadas por
ferimentos recentes100.

C a pítu lo 19

1. Confins (όρια). A e p e a r a traduzem por: território, enquanto outras versões


preferem região ( n v i , n t l h ).

3. Tentando-o. Vide nota sobre M t 6.13.

Por qualquer motivo. A tentação assumiu a forma da controvérsia que dividia


as duas grandes linhas rabínicas, uma delas (a de Hillel) defendia que um homem
podería se divorciar da sua esposa por qualquer motivo que tornasse desagra­
dável para ele; e a outra (a de Shammai) que defendia a permissão do divórcio
somente em caso de falta de castidade. Os indagadores deviam estar ansiosos
para saber de que lado Jesus se posicionaria.

5. Se unirá (κολληθησεται). Literalmente, será colado.

Serão... numa só carne (eoovtai eu; σάρκα μίαν). Literalmente, “em uma carne”.

100. Tito Lívio, 2.23.


89
M a teu s- C ap . 19

6. O que (δ). Não aqueles que. Cristo não tem em mente os indivíduos, mas a
unidade consolidada por Deus. O tempo aoristo (que denota a ocorrência de um
acontecimento há certa distância no passado, considerada como um ato momen­
tâneo) parece remeter à ordem original de Deus na criação (v. 4).

7. Carta (βιβλίου). A b p traduz: ata. A palavra é um diminutivo de βίβλος, que,


originalmente, significa a casca interna do papiro, utilizada para escrever. De­
pois passou a designar um livro, ou rolo feito a partir desta casca. Logo um papel,
uma carta, ata. A t e b traduz: certificado de repúdio.

8. Por causa da (ττρός). A t e b traz: Por vosso caráter irfiexível.

Não foi assim (ού γέγονεν ούτως). Normalmente compreende-se que a a r c


expressa a ideia de que não era assim no princípio. Só que não foi isto o que Cristo
quis dizer. O verbo está no tempo perfeito (denotando a continuidade da ação
passada ou dos seus resultados até o presente). Ele deseja expressar que, apesar
da permissão de Moisés, o caso não tem sido assim desde os primórdios até o pre­
sente. O mandamento original jamais foi ab-rogado, ou suplantado, mas continua
em vigor.

9. Não sendo por causa de prostituição (μή επί πορνεία). Literalmente, não
em conta defornicação.

10. A condição (αίτια). Não a relação do homem com a sua esposa, nem as cir­
cunstâncias, o estado da condição. Αιτία se refere à causa (v. 3), e o significado é,
se a questão permanece assim com referência à causa que o homem deve ter para
repudiar a esposa.

14. Deixai (αφετε). Literalmente, deixai-os sozinhos. Compare com Mc 14.6;


15.36; Lc 13.8.

17. Por que me chamas bom? (τί με λέγεις αγαθόν;). Porém, a leitura correta
é, τί με έρωτας περί τοΰ άγαθοΰ; Porque me perguntas acerca do bom?

Não há bom, senão um só que é Deus (ούδείς αγαθός εί μή εις ò Θεός).


Porém, a leitura deve ser, εις έστιν ò αγαθός, Um há que é bom. O adágio de Cristo
parece especialmente apropriado à luz do provérbio rabínico que dizia: “Não há
nada que seja bom além da Lei”.

24. Camelo pelo fundo de uma agulha (κάμηλον διά τρυπήματος ραφίδος) (cf. Mc
10.25; Lc 18.25). Compare com o provérbio judeu o qual dizia que "nem em sonho
um homem conseguiría ver um elefante passar pelo furo de uma agulha”. A razão
que levou o camelo a ser substituído pelo elefante era porque este provérbio pro­
vinha do Talmude babilônico, e em Babilônia o elefante era um animal comum, ao
90
M ateus - Cap. 20

passo que na Palestina era desconhecido. O Alcorão apresenta a mesma imagem:


“O ímpio encontrará fechadas as portas do céu; tampouco ali entrará senão no dia
em que um camelo passar pelo furo de uma agulha”. Bochart, na sua história dos
animais das Escrituras, cita uma passagem talmúdica: Ό furo de uma agulha não
é tão estreito a ponto de não comportar dois amigos, nem o mundo é tão grande a
ponto de comportar dois inimigos”. A alusão não deve ser explicada sob a alegação
de uma porta estreita que seria chamada de “fundo de agulha”.

26. Isso (τοΰτο). Não a salvação do homem rico, mas a salvação em geral. Trata-
se de uma resposta à pergunta: Quempoderá, pois, salvar-se? O homem não é capaz
de salvar nem a si mesmo, tampouco ao seu próximo. Somente Deus pode salvá-
lo.

27. Nós. Enfático, em contraste com o jovem rico.

28. Seguistes. Segundo Bengel: “Pedro havia dito, conjuntamente, as palavras


deixamos e seguimos. Jesus lhes responde, separadamente-, pois esta última forma
era comum aos apóstolos e a primeira a eles junto com outras pessoas”.

Na regeneração. A restituição final de todas as coisas. Deve ser entendida


junto com a expressão vos assentareis.

Vos assentareis (καθίση). Ou terão tomado o seu assento, o que traz à tona, de
forma mais viva, a solene instauração do juízo de Cristo.

29. Todo aquele (πας). Compare com 2Tm 4.8: “mas também a todos os que
amarem a sua vinda”. De acordo com Bengel: “Não somente os apóstolos, tam­
pouco Pedro deveria ter perguntado somente acerca deles”. A promessa, até en­
tão restrita aos apóstolos, agora, torna-se geral.

Cem vezes (έκατουταπλασίουα). Porém, muitoseruditos leem aqui πολλαπλασίονα,


muitas vezes, como t r a z a t b . A t e b e a r a leem muito mais. Compare com Mc 10.30,
onde há o acréscimo “casas e irmãos” etc. Considere também o provérbio árabe:
“Compre o mundo vindouro com este; assim ganharás a ambos”.

C a pítu lo 20

1. Porque (γάρ). Explicando e confirmando 19.30.

De madrugada (αμα πρωί). Junto com a alvorada.

A qui (em H am adan, no Irã), o b serv a m o s tod as as m anhãs, a n tes de o s o l nascer, que
um g r a n d e n ú m ero de c a m p o n eses se reunia, co m as suas pás, aguard an d o a co n tra ­
tação para um dia d e trab alh o n o s cam p os d o s arredores. E ste c o stu m e m e ch am ou a

91
M ateus - C ap. 20

aten ção c o m o a m ais feliz ilu stra çã o da parábola do n o s s o Salvador, esp ecific a m en te
quando, ao p a ssa r p elo m e sm o lu g a r a lg u m a s h oras dep ois, en co n tra m o s o u tro s cam ­
p o n e se s ali o c io s o s e n os lem b ram os d as su as palavras: “P or q u e esta is o c io so s to d o o
dia?”, co m o se n d o as m ais adequadas para aquela situação; pois, ao fazerm os e sta m e s­
m a p erg u n ta para aq u ele g r u p o de h o m en s, e le s n o s responderam : “P orq u e n in g u ém
ainda n os co n tra to u ”101.

2. Um dinheiro (εκ δηναρίου). Um denarius, a principal moeda de prata dos ro­


manos àquela época. Devemos nos lembrar de fazer o computo segundo a taxa
dos salários da época. Um denário era considerado um bom pagamento por um
dia de trabalho. Este era o pagamento recebido por um soldado romano na época
de Jesus. Em quase todos os casos em que a palavra ocorre no texto do Novo
Testamento, ela está ligada à ideia de uma grande e generosa quantia de dinhei­
ro. Compare com Mt 18.28; Mc 6.37; Lc 7.41; Jo 12.5.
A expressão utilizada significa, literalmente, a p a r t i r d e ou na fo r ç a d e um
dinheiro; sendo que o pagamento seria equivalente à força do que foi acordado
entre as partes. O acordo ocorria a p a r t i r d a exigência de uma parte e da pro­
messa da outra.

10. Um dinheiro cada um (το άνά δηνάριον). Literalmente, em cada caso o m on­
tante correspondente a um dinheiro·, ou um dinheiro p o r peça. O vocábulo άνά é distri­
butive. A TB traz: um denário cada um.

12. Fadiga (καύσωνα). Tradução inadequada da arc . A tb traduz; o calor extremo.


A palavra é oriunda de καίω, queim ar. Ela se refere ao calor seco e ardente trazido
pelo vento oriental. Compare com Jó 27.21; Os 13.15. O vento sopra a partir do
deserto árabe, ressecando a pele, estimulando o sangue e causando inquietação e
insônia. É incomum que traga consigo tempestades, mas, quando isto ocorre, elas
são destrutivas. Durante a sega, o cereal não poderia ser colhido se o vento oriental
estivesse soprando, pois ele arrebataria tanto a palha quanto o próprio cereal. No
sonho de Faraó (Gn 41.6), as espigas eram queimadas pelo vento oriental; a cabeça
de Jonas foi ferida por ele (Jn 4.8); e a videira, na parábola de Ezequiel sobre o ca­
tiveiro babilônico (Ez 17.10), também foi secada por este vento.

13. Um. Representando a coletividade.

Amigo (εταίρε). Literalmente, companheiro, cam arada.

14. Toma (άρον). Literalmente, levanta, como se o dinheiro tivesse sido deposi­
tado para ele sobre uma mesa ou balcão.

101. M orier, Second Journey through Persia apud T rench, Parábolas.

92
M ateus - C ap . 21

Eu quero dar (θέλω δούναι). Na rv, adequadamente: É a minha vontade dar.


Vide nota sobre Mt 15.32.

21. Dize (euiè). Literalmente, fala-, isto é, com autoridade. Compare com a ex­
pressão “manda que estas pedras”, Mt 4.3; “praticai tudo o que vos disserem”, Mt
23.3. A TB lê: Manda.

26. Quiser... fazer-se grande (θέλη eivai). Vide nota sobre o versículo 14.

Serviçal (διάκονος). Servo (δούλος), versículo 27. Δούλος, talvez oriundo


de δέω, prender, é o escravo, representando a permanente relação de servidão.
Διάκονος, provavelmente oriundo da mesma raiz que διώκω, perseguir, represen­
ta um servo, não em sua relação, mas em sua atividade. O termo abrange tanto os
escravos quanto os servos contratados. Os serviçais nas bodas de Caná (Jo 2.5)
são chamados de διάκονοι. Nas epístolas, διάκονος é, com frequência, usado de
maneira especifica para designar um ministro do evangelho {lCo 3.5; 2Co 3.6; Ef
3.7). A palavra diácono é, além disso, uma transcrição do vocábulo grego (Fp 1.1;
lTm 3.8-12). Ela é aplicada a Febe (Rm 16.1).

28. Resgate de muitos. Compare com Sófocles:

P ois um a alm a op eran d o na força d o am or


E m ais fo rte d o q u e d e z m il a e x p ia r 102.

30. Que Jesus passava (δτι Ιησούς παράγει). O vocábulo δτι é equivalente às
aspas de uma declaração. Eles ouviram a multidão gritar: Jesus está passando!

C a pítu lo 21

1. Betfagé. Casa de figos.

2. Um jum entinho com ela. O Senhor não separou o jumentinho da sua mãe.

3. O Senhor (ό κύριος). Oriundo de κύρος, poder supremo, autoridade. Por isso,


κύριος, aquele que detém autoridade, senhor, proprietário, regente. No grego clás­
sico, este vocábulo era utilizado para se referir a diferentes deuses, como Her­
mes, Zeus etc. Era também empregado em referência ao cabeça de uma família,
que era o senhor (κύριος) da mulher e dos filhos (lSm 1.8, lxx ), ao passo que,
para os escravos, ele era ο δεσπότης. Nos escritos paulinos, porém, o senhor dos
escravos é chamado tanto de δίσπότης ( lTm 6.1-2; T t 2.9; 1Pe 2.18) quanto de
κύριος (Ef 6.9; Cl 4.1).

102. Sófocles, Oed. Col, 488.

93
M a t e u s - C a p . 21

Na lxx , o vocábulo é utilizado por Sara para se dirigir ao seu marido (Gn
18.12; cp. lPe 3.6). José é chamado de senhor da terra (Gn 42.33), além de ser
tratado pelos seus irmãos como meu senhor (42.10). Este vocábulo também é apli­
cado a Deus (Gn 18.27; Êx 4.10). No texto do Novo Testamento, ele é um dos
nomes de Deus (Mt 1.20,22,24; 2.15; At 11.16; 12.11,17; Ap 1.8). Na sua apli­
cação a Cristo, não expressa a sua natureza e poder divinos. Estes atributos são
indicados por alguma palavra ou expressão adjacente, como meu Deus (Jo 20.28);
de todos (At 10.36); para a glória de Deus Pai (Fp 2.11); da glória (1 Co 2.8); de for­
ma que, como título de Cristo, Senhor é utilizado no sentido de Mestre ou Regente,
ou mesmo como um forma respeitosa de tratamento (Mt 22.43-45; Lc 2.11; 6.46;
Jo 13.13-14; lCo 8.6). A expressão ό κύριος, o Senhor, é utilizada por Mateus
para se referir a Cristo somente uma vez (21.3), antes da ressurreição (28.6). Nos
outros Evangelhos e no livro de Atos, ela ocorre com frequência muito maior.
Contudo, no curso do pensamento cristão dentro do Novo Testamento, o signi­
ficado evolui em direção a uma designação específica do divino Salvador, como
pode ser visto nas expressões Jesus Cristo nosso Senhor, Nosso Senhor Jesus Cristo,
Nosso Senhor, Jesus nosso Senhor.

5. Filha de Sião. Jerusalém. Compare com a expressão filha de Babilônia, como


referência à cidade de Babilônia (SI 137.8; Is 47.1 )\filha de Tiro, como referência
à cidade ou ao povo de Tiro (SI 45A2);filha do meu povo (Is 22.4).

Assentado (έττιβίβηκώς). Literalmente: subido sobre ou montado. A rv traduz:


montando.

Filho de animal de carga (υιόν υποζυγίου). Ύποζύγιον, de υπό, abaixo, e


ζυγός, um jugo. Na ecp: filho da que leva ojugo, enquanto a te b traduz por filho
de um animal de carga. A expressão enfatiza o estado humilde de Jesus. Ele está
montado, não em um cavalo imponente com arreios bordados e enfeitados com
joias, nem mesmo em um jumento arreado, sendo os jumentos orientais frequen­
temente considerados de grande beleza e ânimo, e ideais para este objetivo. Ele
monta um animal comum de carga, aparelhado com as vestes cotidianas dos seus
discípulos.

7. Vestes (Ιμάτια). Roupas exteriores. Vide nota sobre Mt 5.40.

Fizeram-no assentar em cima [ίεπεκάθισανζ]. Mas a leitura preferível é


4πίκάθισ€ν, ele tomou o seu assento sobre.

8. Muitíssima gente (ό πλειστος όχλος). A tradução da arc está inadequada.


A referência não se dá ao tamanho, mas à parte proporcional da multidão que lhe
seguia. Por isso, a t b corretamente apresenta: A maior parte da multidão.
94
M ateus - C ap . 21

Suas vestes (έαυτών). Literalmente, “as suas próprias vestes”. Os discípulos


estenderam as suas roupas sobre os animais; a multidão estendeu as suas próprias
roupas sobre o caminho. O Dr. Edward Robinson, citado pelo Dr. Morison, ao
descrever os habitantes de Belém que haviam participado da rebelião de 1834,
afirmou:

N a q u e le m o m en to , q u an d o a lg u n s d o s h ab itan tes já esta v a m p resos, e to d o s p erm an e­


ciam em profu n d a a n g ú stia , o Sr. Farrar, n a ép oca, c ô n su l in g lê s em D a m asco, estava
v isita n d o Jerusalém , e havia saíd o em cavalgad a com o Sr. N ic o la y so n até o s tanq u es
de Salom ão. A o retorn arem , à m ed id a q u e galg a v a m a su b id a para en tra r na cidade
de B elém , c en ten a s d e p essoas, h o m en s e m u lh eres, en co n tra ra m -n o s, im p loran d o ao
cô n su l q u e in te r v ie ss e a seu favor e lh e s g a r a n tisse p roteção. E tod os, ao m esm o tem ­
po, n um a esp écie d e m o v im e n to sim u ltân eo, esp alh aram as su as roupas no cam in h o
adian te d o s seu s cavalos.

A variação dos tempos verbais não é visível na a r c . Estendia as suas vestes está
no tempo aoristo, denotando um ato definido; cortavam e espalhavampelo caminho,
no tempo imperfeito, denotando ação contínua. Conforme Jesus avançava, eles
continuavam cortando os ramos e espalhando-os pelo caminho, enquanto a multi­
dão continuava clamando.

9. Hosana. Ó, salva!

10. Se alvoroçou (èoe ίσθη). A cidade ficou abalada, como que por um terremoto.
Na rv, consta: tumultuou-se. Como Morison observa, acertadamente: “um senti­
mento profundamente avassalador”.

12. Cambistas (κολλυβιστών). Oriundo de κόλλυβος, a taxa de câmbio. Estes cam­


bistas assentavam-se no Templo, no átrio dos gentios, com o propósito de trocar
as moedas estrangeiras dos peregrinos pelo siclo do Santuário, para o pagamen­
to do tributo anual. Vide nota sobre M t 17.24.

13. Ladrões (λ τ ρ τ ώ ν ). Vide nota sobre Mt 2 6 .5 5 ; Lc 1 0 .3 0 .

16. Dizem (λέγουσιν). A t b é mais ilustrativa: estão dizendo. Enquanto os cantos


e gritos aumentam, os sacerdotes se voltam furiosamente para Cristo com a per­
gunta: “Ouves tu o que dizem estes?”.

Perfeito (κατηρτίσω). A mesma palavra que consta de Mt 4.21, onde é utili­


zada para descrever o ajuste ou conserto das redes. O seu significado secundário
é guarnecer completamente, equipar, consequentemente, aperfeiçoar. Tu providen­
c iaste a perfeição do louvor. A citação de SI 8.2 segue o padrão da lxx e não o
te x to hebraico, que apresenta: “Tu estabeleceste a força".

95
M ateus - C ap. 21

19. Uma figueira (συκήν μίαν). Literalmente: uma única figueira.

Imediatamente (παραχρήμα). Na tradução da k j v , a palavra preserva o senti­


do de instantaneam ente. Assim, aparece com frequência em Shakespeare:

Próspero: Vai, faz vir a p lebe,


S obre q uem te darei poder, aqui, a e s te lugar.
A riel: In stan tan eam en te?
Próspero: Ah! N u m p iscar de olhos.
A riel: A n te s que p o ssa s d iz e r “vem ” e “va i”,
E resp ires duas v ezes; e g r ite s “assim , a ssim ”,
Cada um , sa lta n d o sob re seu d ed o d o pé,
E sta rá aq u i103.

Compare com o versículo 20: “Como secou im ediatam en te a figueira?”.

29. Arrependendo-se (μεταμεληθε'ις). Esta é uma palavra diferente da que ve­


mos em M t 3.2; 4.17: μετανοείτε, arrepen dei-vos. Apesar de se argumentar cor­
retamente que o vocábulo aqui implica o mesmo que o outro, os escritores do
Novo Testamento evidentemente reconhecem uma distinção, já que o substanti­
vo correspondente ao verbo desta passagem (μεταμέλεια) jamais foi utilizado no
texto do Novo Testamento, e o próprio verbo só foi empregado cinco vezes; e,
em todos os casos, com exceção dos dois desta passagem (cf. v. 32), com um sig­
nificado bem diferente de arrepender-se no sentido evangélico ordinário. Assim,
encontramo-lo utilizado para falar de Judas, quando ele trouxe de volta as trinta
moedas (Mt 27.3); de Paulo, ao não lamentar o envio da carta aos coríntios (2Co
7.8); e de Deus (Hb 7.21). Por outro lado, μετανοεω, arrepender-se, foi empregado
por João e Jesus, nos seus chamados ao arrependimento (Mt 3.2; 4.17), trinta e
quatro vezes, e o substantivo μετάνοια, arrependim ento (Mt 3.8,11), vinte e qua­
tro vezes, e, em todos os casos, com referência àquela transformação do coração
e da vida operada pelo Espírito de Deus, à qual são prometidas a remissão dos
pecados e a salvação. Portanto, não é impossível que a palavra, nesta passagem,
possa ter sido empregada com a intenção de transmitir uma nuança de signifi­
cado diferente, que estaria perdida nesta nossa época. Μεταμελομαι, como indica
a sua etimologia (μετά, depois, e μελω, ser objeto de cuidado), implica um cuidado
posterior, em contraste com a m udança de m ente denotada por μετάνοια. Não uma
tristeza causada por desvio moral ou pecado contra Deus, mas um incômodo pe­
las consequências de um ato ou curso de atos, e pesar por não ter tido um conhe­
cimento mais profundo acerca destas coisas. Como registra Trench: “Pode ser

103. Shakespeare, Tempest, iv, 1.

96
M ateus - C ap. 21

simplesmente aquela expressão que os nossos pais estavam acostumados a usar:


‘Ah, se eu soubesse disso antes!... teria feito tudo diferente’”. Μεταμέλεια se refe­
re, principalmente, a atos únicos; e μετάνοια denota o arrependimento que afeta
a vida como um todo. Por isso, esta última palavra é normalmente encontrada
no imperativo: Arrependei-vos (Mt 3.2; 4.17; At 2.38; 3.19), e a primeira, jamais.
O reconhecimento que Paulo faz desta distinção é notório (2 C0 7.10): “Porque
a tristeza segundo Deus opera arrependimento (μετάνοιαν) para a salvação”, uma
salvação ou arrependimento “que não traz qualquer tipo de remorso ao pensar
nele posteriormente” (άμεταμέλητον). Não há motivo para alguém pensar melhor
de seu arrependimento ou da salvação em que ele resultou.

33. Circundou-a de um vaiado (φραγμόν αύτω περιέθηκεν). Na t b , de forma


mais apropriada: cercou-a com um sebe, possivelmente feita com a babosa brava e
espinhosa, comum no Oriente.

Construiu nela um lagar (ώρυξεν ληνόν). Em Is 5.1-2, passagem que esta pa­
rábola prontamente evoca, a palavra traduzida pela lxx como cavar, e aqui como
construir, é cortar, lavrar, isto é, a partir de uma rocha sólida. Thomson afirma:

A cim a da estrada, à n o ssa esq u erd a, estã o o s esc o m b r o s d e um a cuba d e v in h o , um a


d as m ais c o m p leta s e m ais b em p reservad as da região. A q u i e stá a cavidade superior,
em form a de bacia, o n d e as u vas eram esm agad as e esp rem id as. U m fin o can al cortad o
na rocha tra n sp o rta v a o su co até a cavidade inferior, o n d e e le deveria repousar; dali
era retirad o e p o sto em um a terceira cavidade, e sta um p o u c o m enor. N ã o há erro
q u an to à razão p or q u e e sta s bacias foram en talh ad as em roch a só lid a 101.

Uma torre (πύργον). Para vigias. Stanley descreve as ruínas das vinhas na
Judeia como sendo lugares cercados por pedras soltas, com uma torre quadrada e
cinza em cada um dos cantos105. Alusões a estes locais de vigilância, temporários
ou permanentes, são frequentes nas Sagradas Escrituras. Assim, temos a “cabana
na vinha” (Is 1.8). Cheyne, sobre Isaías, diz: “A terra se movia de um lado para
o outro como rede de descanso" (arc : choça), uma rede de descanso abandonada
por um vigia de vinha balançava de um lado para o outro por causa de uma
tempestade (Is 24.20). Jó também fala de uma cabana construída por um vigia
(27.18), uma choupana feita de varas e erguida com baraços, erigida somente
para o tempo da colheita do campo ou da vinha, para que o vigia, que estendia a
sua cama simples sobre a sua plataforma alta, montasse guarda contra ladrões
e animais. Sobre a Espanha, onde, especialmente na parte sul, os orientais dei­
xaram as suas marcas, não somente na arquitetura, mas também nos métodos

104. Thomson, L a n d a n d B ook.


105. Stanley, S i n a i a n d P a le stin e.

97
M a t e u s - C a p . 21

e implementos agrícolas, o arcebispo Trench declara que observou estruturas


temporárias semelhantes erigidas para que pessoas vigiassem as vinhas. A torre
mencionada nesta passagem parece ter um caráter mais permanente (cf. Stanley,
citado antes), e alguns estudiosos consideram que o seu objetivo não era somente
a vigilância, mas também servir de depósito para a vinha, bem como de aloja­
mento para os seus trabalhadores.

Arrendou-a (έξέδ^το). Edersheim declara:

H avia três m o d o s de lidar co m a terra. N o prim eiro, os trab alh ad ores em p reg a d o s
receb iam c e r ta porção da produção, d igam os, um te r ç o ou um quarto. N o s o u tr o s d o is
m od os, ou o a g r ic u lto r pagava um a lu g u e l em d in h eiro ao p rop rietário, o u e le c o n co r­
dava em e n tr e g a r àq u ele um a q u an tid ad e d efin id a da produção, in d e p e n d e n te m e n te
de e sta te r sid o boa ou ruim . E ste s arren d a m en to s eram fe ito s p o r p erío d o v ita líc io
ou anual; às v e z e s, o a rren d am en to c h e g a v a a se r h ered itário, p a ssa n d o d e pai para
filho. D ific ilm e n te p od eriam os d u vid ar d e q u e e s te ú ltim o tip o fo s se o tratado n esta
parábola, já q u e o s arren d atários esta v a m o b rig a d o s a e n tr e g a r a o p rop rietário certa
q u an tid ad e da produção, n o tem p o d e v id o '06.

Compare com o versículo 34, e Mc 12.2: “para que recebesse, dos lavradores,
do fruto da vinha” (από των καρπών).

37. Terão respeito (έντραπήσονται). O verbo literalmente significa virar-se em


direção a·, por isso, dar atenção, demonstrar respeito.

41. Dará afrontosa m orte aos maus (κακούς κακώς άπολίσα. αύτούς). Há um
jogo com as palavras que se perde na arc e noutras versões brasileiras, com
exceção de umas poucas, como a teb , que, com mestria, traduz: Fará perecer mise­
ravelmente esses miseráveis. A ordem das palavras gregas também é notável: Mise­
ráveis homens, miseravelmente ele destruirá a eles.

Que (o Ítivcç ). O pronome composto grego marca o caráter dos novos lavradores de
forma mais distinta que o simples “que”; eles são lavradores de tal caráter, ou pertencentes
a tal classe de homens honestos, que certamente pagarão o que lhe era devido.

44. Despedaçar-se-á (συνθλασθήσεται). O verbo é contundente: ficará quebrado


em pedaços. A tb traduz por far-se-á em pedaços.

Reduzido a p ó (λικμήσεί αυτόν). Porém, a arc não transmite a ideia da pala­


vra, que é a de um abanador dejoeira que separa o grão da palha. Literalmente, o
que se lê é : ojoeirará. A b v traduz: espalhados como pó.

106. Edersheim , L if e a n d T im e s o f Jesus.

98
M ateus - C ap. 22

C a pítu lo 22

2. Celebrou as bodas (έποίησεν γάμους). Porém a expressão se refere à festa do


casamento e não à cerimônia do casamento. Em Et 9.22, a palavra é utilizada para
se referir à uma festa que não tinha qualquer relação com um casamento. Na e p
consta: festa de casamento.

3. Chamar os convidados (καλέσαι τους κεκλημένους). Talvez um jogo incons­


ciente de palavras, que se perde nas traduções ocidentais, chamar os chamados. Isto
se dava devido ao costume oriental de enviar um mensageiro, depois dos convites
terem sido despachados, a fim de notificar os convidados de que a diversão estava
preparada. Desse modo, Ester convida Hamã para um banquete pela manhã e, na
hora real do banquete, o eunuco chega para levá-lo à festa (Et 5.8; 6.14).

4. Jan tar (αριστον). Não a principal refeição do dia, mas uma espécie de desjejum
noturno·, um lanche.

Cevados (σιτιστά). Oriundo de σίτος, milho, grão, ou comida, no sentido gené­


rico. De maneira mais específica, o vocábulo refere-se a animais especialmente
tratados ou engordados para uma festa.

5. Não fazendo caso (άμελήσαντες). Não no sentido de ridicularizar. Eles sim­


plesmente não deram importância àquilo.

Seu campo (ίδιον αγρόν). A rv lê: o seu próprio campo; trazendo à luz o con­
traste entre o interesse egoísta e o respeito devido ao seu rei. Compare com 2Cr
30.10.

7. Exércitos (στρατεύματα). Não no sentido amplo que damos à palavra exército


hoje em dia, mas a tropas, soldados. Compare com Lc 23.11, onde o termo é tradu­
zido por soldados. A tb, bj e bp traduzem: tropas.

9. Caminhos (διεξόδους). Literalmente, a palavra significa um caminho parafora


que segue através de·, uma passagem, uma saída. A ideia de cruzamento surge da jun­
ção dos pequenos cruzamentos com os entroncamentos das grandes rotas.

10. Ficou cheia (έπλήσθη). O termo grego é contundente; ficou cheia.

11. Ver (θεάσασθαι). Na rv, de forma um tanto rebuscada, contemplar, mas a ideia
é correta, à medida que o verbo denota uma observação cuidadosa, um olhar inten­
cional, uma inspeção. Vide nota sobre Mt 11.7. A teb traz, observar, a bj, examinar,
e a bv, conhecer.

99
M ateus - Cap . 22

12. Não tendo (μή εχων). É muito difícil transmitir o significado sutil da par­
tícula negativa (μή) para quem lê esta expressão no nosso idioma. Uma palavra
diferente para designar o advérbio de negação não (ούκ) é utilizada no versículo
anterior, expressando um fato externo, objetivo que chamou a atenção do rei. O
homem não (ούκ) tinha uma veste nupcial. Quando o rei se dirige ao convidado,
ele não está pensando tanto no sinal exterior de desrespeito, mas principalmen­
te na atitude mental do convidado para com as prioridades daquela ocasião. É
como se ele tivesse dito: “O que você tem na cabeça? Onde está o seu respeito
por mim e pelos meus convidados, quando decidiu entrar aqui não (μή) tendo o
traje adequado para esse momento, sabendo o que deveria estar vestindo?” Isto
implica, como observou o Dr. Morison, que o homem estava consciente da sua
omissão quando adentrou o recinto e, logo, era intencionalmente culpado pela
negligência. Esta distinção entre as duas partículas negativas se baseia nas re­
gras da língua grega, segundo a qual ού e os seus compostos são colocados onde
algo deve ser negado por ser umfato, e μή e os seus compostos onde algo deve ser
negado por ser um pensamento.

Ele emudeceu (έφιμώθη). Literalmente: e\e ficou amordaçado. Este termo é


utilizado para se referir ao amordaçamento de um boi (iTm 5 .1 8 ). Também é
empregado por Cristo para se dirigir a um demônio (Mc 1.25), e ao mar bravio
(Mc 4 .3 9 ). Pedro o utiliza para se referir ao silenciamento dos ignorantes e tolos
(lPe 2 .1 5 ).

13. Trevas exteriores. Videnota sobre Mt 8.12.

15. Surpreenderíam (παγιδεύσωσιν). Oriundo de παγίς, uma armadilha ou laço.


Portanto, melhor traduzido pela t b : apanhariam.

19. Moeda do tributo (νόμισμα του κηνσου). Literalmente: a moeda corrente do tribu­
to, o qual não era pago em moeda judia, mas romana. Vide nota sobre 17.25, tributo.

Um dinheiro. Vide nota sobre Mt 20.2.

20. Esta efígie e esta inscrição (είκών και επιγραφή). As imagens cunhadas
nas moedas desagradavam os judeus. Por respeito a esta predisposição dos judeus,
nenhum dos Herodes anteriores havia cunhado a sua própria imagem sobre as
moedas. Herodes Agripa I, que assassinou Tiago e prendeu Pedro, foi o introdutor
desta prática. A moeda apresentada a Cristo deve ter sido cunhada em Roma, ou
era uma das moedas emitidas pelo Tetrarca Filipe, que foi o primeiro a introduzir
a imagem de César em moedas com circulação restrita entre os judeus.

24·. Casará (επιγαμβρεύσει). Oriundo de γαμβρός, uma palavra utilizada no grego


clássico para descrever qualquer tipo de ligação relacionada a um casamento:
100
M ateus - C ap. 23

um cunhado, um sogro, e até mesmo um noivo. O termo é apropriado neste caso


porque se refere a um casamento entre parentes.

34. Fizera emudecer (έφίμωσεν). Existe uma espécie de humor negro no uso
desta palavra: ele havia amordaçado os saduceus. Compare com o versículo 12.

36. Qual é o grande mandamento (ποία εντολή μεγάλη). Tanto a arc, quanto
a t b fogem do ponto desta questão, que é: que tipo de mandamento ê grande na Lei?
Ou seja, de que tipo um mandamento deve ser para ser considerado grande?
E não, que mandamento é o maior quando comparado aos outros? Os escribas
declaravam haver 248 preceitos afirmativos, num número igual aos membros do
corpo humano; e 365 preceitos negativos, num número igual aos dias do ano; to­
talizando 613, o número exato de letras contidas no Decálogo. Dentre estes eles
chamavam alguns de leves e outros de pesados. Alguns consideravam que a lei que
tratava das franjas das vestes era a maior; outros que a omissão nos banhos era
tão grave quanto o homicídio; e alguns que o terceiro mandamento era o maior.
Foi diante deste tipo de distinção que o escriba colocou a sua pergunta; não com
o objetivo de arrancar de Jesus uma declaração acerca de qual mandamento era
o maior, mas desejando saber o princípio sobre o qual um mandamento deveria
ser considerado grande.

38. O primeiro e grande. Com o artigo definido.

39. O segundo [δεύτερα]. Artigo omitido no grego. A r v segue o texto grego e


t a m b é m o omite. A maioria das versões brasileiras insere o artigo; a t e b traduz:

um segundo.

Capítulo 23

2. Cadeira de Moisés (καθεδρας). Esta tradução alude à prática que os mestres


tinham de se assentarem.

5. Serem vistos (προς το θεαθήναι.). Vide 6.1, onde as mesmas palavras ocorrem.
Os escribas e fariseus comportam-se como pessoas que desejam ser contempladas,
como atores em um teatro; para que os homens possam observá-los com admi­
ração.

Filactérios - as franjas das suas vestes (φυλακτήρια - κράσπεδα). Os filac-


térios, chamados pelos rabinos de tefilins, ou filete/faixa de oração, eram usados
no braço esquerdo, em direção ao coração, bem como na testa. Eles eram cáp­
sulas que continham, num pergaminho, estas quatro passagens das Sagradas
Escrituras: Êx 13.1-10; 13.11-16; Dt 6.4-9; 11.13-21. O filactério usado na testa
101
M ateus —C ap. 23

consistia de uma caixa com quatro compartimentos, cada um contendo uma tira
de manuscrito inscrita com uma destas quatro passagens. Cada uma destas tiras
deveria ser fechada com um pelo bem lavado do rabo de um bezerro; para que
não fosse atingido por algum tipo de fungo ao ser amarrado com lã ou barbante e
ficasse contaminado. O filactério do braço deveria conter somente uma tira, com
as mesmas quatro passagens escritas em quatro colunas de sete linhas cada uma.
As tiras de couro preto com as quais ele era amarrado eram enleadas sete vezes
em torno do braço e três vezes em torno da mão. Eles eram tão reverenciados
pelos rabinos, quanto às próprias Escrituras e, a exemplo destas últimas, tam­
bém poderiam ser resgatados das chamas no dia de sábado. Eles imaginavam, de
maneira profana, que o próprio Deus usava os tejüins.
A palavra grega transcrita como fila ctério s nas nossas versões é derivada de
φυλάσσω, v ig ia r ou gu ardar. Ela significa, originalmente, um p o sto vig ia d o , um
fo r te , daí, geralmente, um a salvagu arda ou proteção, um amuleto. J. Cheke traduz
como guardas. Eles eram assim tratados pelos rabinos. Conta-se, por exemplo,
que os cortesãos de certo rei, desejando assassinar certo rabino, foram impedidos
ao fitarem as tiras do seu filactério brilharem como laços de fogo. Também se
contava que os filactérios impediam todos os demônios hostis de causarem mal a
qualquer israelita. Sobre as fra n ja s, v id e nota sobre M t 9.20.

6. Os primeiros lugares (πρωτοκλισίαν). Na tb, mais adequadamente traduzido


como, o p rim e iro lugar, o assento mais à frente ou o lugar mais alto no divã.

7. Rabi. Meu mestre. Ao se dirigir a Jesus, διδάσκαλος (mestre ) corresponde a


R abi. Compare com Jo 1.38; Lc 2.46.

9. Pai (πατέρα). Dirigido às pessoas que cortejavam o título de A bba, ou P ai.


Compare com o título de P a p a (P ai).

10. M estres (καθηγηταί). Literalmente: líderes.

13. Hipócritas (ύποκριταί). Oriundo de ύποκρίνω, sep a ra r gradu alm en te, logo re­
ferindo-se à separação d a verdade d e um emaranhado de falsidades. Daí assumindo
o sentido de sujeito a investigação, e, como resultado disso, expor ou in terp reta r o
que é extraído. Depois, responder à investigação, e então responder sobre um palco,
f a l a r em diálogo, atuar. A partir disso a transição é tranquila para usurpar, fin g ir,
in terp retar um papel. O hipócrita é, etimologicamente, um ator.

Aos (έμπροσθεν). Muito ilustrativo. A preposição significa antes, ou d ia n te de.


Eles fecham a porta na cara dos homens.

18. Esse é devedor (οφείλει). A tb e bj traduzem: f ic a obrigado. Na bp e kjnta


consta: com prom etido.
102
M ateus - C ap. 23

23. Dais o dízimo (άποδακατοΰτα). Άπό, de ou a partir de, δακατόω, recolher um


décimo. O dízimo significa uma décima parte.

Hortelã (ηδύοσμου), ήδύς, doce, οσμή, cheiro, aroma. Uma das plantas favoritas no
Oriente, com a qual as paredes das habitações e sinagogas eram, por vezes, cobertas.

Endro - cominho (άνηθον - κύμινου). Produtos usados como condimentos. O


dízimo destas plantas seria muito pequeno; porém a sua cobrança indicaria uma
consciência escrupulosa. O Talmude fala de um jumento de certo rabino que foi
tão bem treinado a ponto de rejeitar o milho do qual o dízimo ainda não tivesse
sido entregue.

Fé (πίστιν). Preferencialmente fidelidade, como sugere a leitura em Rm 3.3;


G1 5.22.

24. Coais (διϋλίζοντας). Διά, inteiramente ou através de, e ύλίζω, filtrar ou coar. Os
insetos eram cerimonialmente imundos (Lv 11.20,23,41-42), de tal forma que os
judeus coavam o vinho que bebiam para não correrem o risco de engolir qualquer
coisa impura. Além disso, havia certos insetos que proliferavam no vinho. Aristó­
teles utilizava a palavra mosquito (κώνωπα) para se referir a um verme ou larva que
era encontrada em sedimentos de vinho azedo. Segundo Trench:

E m um a cavalgad a d e T a n g ie r até T e tu a n , o b se r v e i q u e um so ld a d o m o u ro q u e m e
acom panhava, ao beber, sem p re d ob rava a e x tr e m id a d e d o seu tu rb an te e o colocava
so b re a boca do seu odre, b eb en d o através da m u sselin a para coar o s m o sq u ito s d o
vin h o, cujas la rv a s fervilh avam na águ a daqu ela r e g iã o 107.

Engolis (καταπίνοντας). Esta tradução é débil. O verbo fala em beber aos


goles (κατά); tragar. Observe que o camelo também era considerado um animal
imundo (Lv 11.4).

25. Prato (παροψίδος). Παρά, ao lado de, δψον, carne. Um prato de acompanha­
mento, com o sentido colateral de uma iguaria-, posteriormente, como é o caso
aqui, o recipiente em si passou a ser distinto da refeição nele servida.

Iniquidade (άκρασίας). Ά, não, κράτος, poder. Por isso, uma conduta que de­
monstra a ausência de poder, ou controle, sobre si mesmo: incontinência ou in-
temperança.

27. Sepulcros caiados (τάφοις κακόν ίαμά vo ις). Referindo-se não aos túmu­
los lavrados em rocha, que eram utilizados principalmente pelas pessoas

107. Trench, On the Authorized Version.


103
M ateus - C ap . 23

mais abastadas, mas às sepulturas cobertas com estruturas de gesso. Em


geral, os cemitérios ficavam do lado de fora das cidades, porém, todo cadáver
encontrado nos campos deveria ser enterrado no local onde foi encontrado.
Um peregrino que viesse comemorar a Páscoa, por exemplo, poderia, com
facilidade, topar com um destes sepulcros na sua viagem e ficar impuro caso
viesse a ter contato com ele (Nm 19.16). Portanto, ordenava-se que todos os
sepulcros deveriam ser lavados a ponto de brancura um mês antes da Páscoa,
para que ficassem bem visíveis, e diminuíssem o risco de que os viajantes se
contaminassem ao encostarem-se a eles. O fato desta lavagem geral e impe­
cável dos sepulcros estar em andamento na época em que Jesus fez esta re­
preensão aos fariseus deu origem a esta comparação. A palavra κ^κοιααμενοις
(iembranquecido, oriunda de κάνας, pó) transmite a ideia de um branqueamento
feito a partir de um pó, a cal em pó.

29. Sepulcros dos profetas. Quatro monumentos são denominados por este
título na base do monte das Oliveiras, no vale de Josafá; chamados de sepulcros
de Zacarias, de Absalão, de Josafé e de Tiago. Dois deles são monólitos lavrados
em rocha sólida; os outros são meramente escavações, com portais ornamentais.
Acerca deste assunto Dr. Thompson comenta:

E le s p arecem ser b a sta n te co m p r id o s, c o m p o s to s p or g a le r ia s c u r v a s o u se m ic ir ­


cu la res, q u e avan çam p or m ais de 3 m e tr o s p o r b a ix o do m o n te , de le s te a o e s te , e
term in a m em u m a ro tu n d a d e a p r o x im a d a m e n te 2 5 m e tr o s na su a e n tra d a . N ã o há
c o m o s e p recisar s e ela s c o r r e sp o n d e m m e sm o ao n o m e , n o e n ta n to , n o r m a lm e n te ,
e le é atrib u íd o a elas.

Possivelmente, elas estavam ao alcance do olhar do nosso Senhor no momen­


to em que ele pronunciou estas palavras e podem ter sido apontadas por Ele. A
referência seria notoriamente marcante se, como já se conjeturou, os fariseus
estivessem engajados na construção dos sepulcros para Zacarias e Absalão no
momento em que o Senhor se dirigiu a eles, e se os sepulcros com câmaras de
Tiago e Josafá, situados entre estes dois, fossem os sepulcros que tinham suas
entradas por eles guarnecidas.

35. Santuário (vetou). Corretamente traduzido pela arc . Vide nota sobre Mt 4.5.
Zacarias foi morto entre a parte principal do Templo e o altar dos holocaustos,
no pátio dos sacerdotes.

37. Galinha (δρνας). Substantivo genérico: pássaro ou ave. Contudo, o substanti­


vo galinha era utilizado para designar, de forma genérica, a ave-mãe de todas as
espécies de pássaros.

104
M ateus - Cap. 24

Capítulo 24

1. Ia saindo do templo (εξελθών ò Ιησούς άπο τού Ιερού επορεύετο). Na rv,


mais apropriadamente traduzido como: saiu do templo e estava seguindo o seu cami­
nho. O templo, ιερού, não ναού: o conjunto de edificações ligadas ao Templo, todas
elas, incluindo ο ναός, ou santuário, e os pórticos e pátios, constituíam ο 'ιερόν.
Vide nota sobre Mt 4.5.

3. Vinda (παρουσίας). Originalmente, presença, oriundo de παρείναι, estarpresente.


Neste sentido vemos a palavra em Fp 2.12 e 2Co 10.10. Também, chegada, como
em lCo 16.17; 2Co 7.6-7; 2Ts 2.9; 2Pe 3.12. Com referência ao segundo advento
de Cristo: T g 5.8; lJo 2.28; 2Pe 3.4; lTs 4.15.

Do mundo (αίώνος). Preferencialmente, da existência, da era atual. Eles não


perguntam pelos sinais da vinda do Messias no fim de todos os tempos, onde Ele
julgará o mundo.

4. Engane (πλανήση). Literalmente: vos desencaminhe. A ecp traz: vos seduxa.

5. Em meu nome (επί τω όνόματί μου). Literalmente, sobre o meu nome, isto é, na
força do; lançando o fundamento das suas alegações em cima do nome do Messias.

12. Por se m ultiplicar (πληθυνθήναι). Literalmente: será multiplicada. Vide At


6.1-7; 7.17; 9.31; Hb 6.14.

De muitos (των πολλών). Ao omitir o artigo definido, a arc acaba diluindo


a ênfase das palavras de Cristo. Não é somente o amor de muitas pessoas que se
esfriará, mas o amor dos muitos, da maioria avassaladora das pessoas.

Se esfriará (ψυγήσεται). O verbo significa, originalmente, respirar ou soprar,


e a ideia é a de uma energia espiritual frustrada ou arrefecida por um vento ma­
ligno ou venenoso.

14. Mundo (τη ο’ικουμενη). Literalmente: o desabitado. A totalidade do globo


habitável. Na bj, em nota de margem: o mundo habitado.

15. Abominação da desolação (βδελυγμα τής ερημώσεως). O verbo cognato,


βδελύσσομαι, significa sentir náuseas ou aversão à comida: por isso é utilizado para
descrever as repugnâncias no modo geral. Em termos morais, ele denota um
objeto de repugnância moral ou religiosa (cf. 2Cr 15.8; Jr 13.27; Ez 11.21; Dn
9.27; 11.31). É empregado como um equivalente a ídolo em lRs 11.17; Dt 7.26;
2Rs 23.13. Ele denota qualquer coisa na qual se manifesta a alienação de Deus;
como no consumo de animais imundos, Lv 11.11; Dt 14.3; e, no geral, em todas
as formas de paganismo. Este sentido moral deve ser enfatizado no uso neotes-
105
M ateus - C a p. 2 4

tamentário do termo. Compare com Lc 16.15; Ap 17.4-5; 21.27. Ele não indica
uma repugnância física e estética. A referência que ocorre aqui, provavelmente, é
feita à ocupação dos recintos do Templo pelos romanos idólatras sob o comando
de Tito, com os seus estandartes e insígnias. Flávio Josefo afirma que, depois
do incêndio do Templo, os romanos trouxeram as suas insígnias e as colocaram
sobre a porta oriental e ali lhes ofereceram sacrifícios e proclamaram Tito como
o seu imperador.

17. Quem estiver sobre o telhado (ò επί τοΰ δώματος). De telhado a telhado
poderia haver um tipo de ligação regular chamado pelos rabinos de “caminho dos
telhados”. Assim, uma pessoa poderia fugir passando de um telhado para outro
até que, na última casa, descesse pelos degraus que ficavam na parte de fora
dela, mas dentro do pátio exterior. A urgência da fuga é aumentada pelo fato de
os degraus levarem justamente a este pátio. “Embora você tenha de passar pela
própria porta do seu quarto, não entre para apanhar coisa alguma. Fuja para
salvar a sua vida.”

22. Fossem abreviados (έκολοβώθησαν). Na b v : nãoforem encurtados. Uma palavra


bastante pitoresca. O verbo significa, literalmente, cortar, amputar, deixar um toco,
como a um membro. Como fato, várias causas se combinariam para abreviar este
cerco. Herodes Agripa foi impedido, na sua obra de fortalecimento das muralhas,
por ordem do imperador. Os judeus, absortos nas lutas entre as suas facções, ha­
viam negligenciado totalmente os preparativos para enfrentar um cerco. Os arma­
zéns de cereais e as provisões foram queimados antes da chegada súbita de Tito e
os judeus abandonaram voluntariamente porções da fortificação. O próprio Tito
confessou que Deus estava contra os judeus, pois, de outro modo, nem os seus
exércitos, nem os seus implementos teriam prevalecido contra as suas defesas.

24. Sinais e prodígios (σημεία και τέρατα). Vide nota sobre M t 11.20. As duas
palavras normalmente aparecem juntas no texto do Novo Testamento. Vide Jo
4.48; At 2.22; 4.30; 2 C0 12.12. Os termos não descrevem classes diferentes de
manifestações sobrenaturais, mas as mesmas manifestações consideradas de di­
ferentes perspectivas. O mesmo milagre pode ser uma obra poderosa, ou uma
obra gloriosa, no que diz respeito ao seu poder, ou glória; ou um sinal do poder
sobrenatural do seu executor; ou um prodígio, no seu apelo ao espectador. Τέρας
(derivação incerta) é um milagre considerado como um prodígio, que desper­
ta assombro. O vocábulo, provavelmente, corresponde ao sentido etimológico
da palavra milagre (latim miraculum, uma coisa maravilhosa, oriundo de mirari,
admirar^-se]).

26. No deserto —interior da casa. A b j traduz: deserto - lugares retirados. Ambos,


lugares retirados, indicando que os falsos messias fugirão dos escrutínios públicos.
106
M a t eu s - C ap. 2 4

27. Se m ostra (φαίνεται). A vinda do Senhor será um fato manifesto e inequívo­


co, tal como o relâmpago que ilumina, simultaneamente, as duas extremidades
do firmamento e é visto por todos. Ela não estará ligada a nenhum lugar especí­
fico, mas se mostrará e será reconhecida no mundo todo. Compare com Ap 1.7:
“e todo olho o verá”.

28. Cadáver (πτώμα). Oriundo de πίπτω, cair. Originalmente, uma queda e, por
isso, um corpo caído-, um cadáver. Compare com o latim, cadaver, oriundo de cado,
cair. Vide Mc 6 .2 9 ; Ap 11.8. Sobre o adágio em si, compare com Jó 3 9 .3 0 .

Águias (άετοί). A tb coloca corvos; a teb, nvi, bj e bp, abutres. A intenção é re­
presentar o abutre grifo, que é superior à águia em tamanho e força. Aristóteles
descreve como esta ave sente o cheiro de uma carcaça a grande distância, e se
reúne a outras espreitando pelas vítimas de um exército. Na guerra da Rússia,
um grande número delas foi apanhado na Crimeia, e ali permaneceu até o fim
do conflito, nas cercanias do acampamento, embora a ave raramente fosse vista
naquela região anteriormente.

30. Se lam entarão (κόψονται). Mais enfático: baterão no peito em agonia.

31. Com rijo clamor de trombeta (μετά σάλπιγγος φωνής μεγάλης). Alguns textos
apresentam com uma grande trombeta. O toque das trombetas era, na antiguidade, o
sinal dado ao exército de Israel na sua marcha pelo deserto. Ele convocava para a
guerra, e proclamava as festas públicas, além de marcar o início dos meses (Nm 10. Ι -
ΙΟ; SI 81 .3). Por isso, o simbolismo no texto do Novo Testamento. O povo de Jeová
será convocado diante do seu rei pelo som da trombeta. Compare com a proclamação
de Cristo como rei mediante o toque da trombeta do sétimo anjo, Ap 1 1 .1 5 .

32. Esta parábola (την παραβολήν). Mais especificamente, a parábola que ele
tem a ensinar.

Ramos (κλάδος). Oriundo de κλάω, quebrar. Por isso, um broto ou rebento novo,
tal como o ramo que se retira para se fazer um enxerto. Assim também os “ra­
mos” que eram cortados e espalhados no caminho do Senhor pelas multidões
(Mt 21.8).

40. Será levado —deixado. Ambos os verbos estão no tempo presente, o que
torna a declaração mais viva. Um é levado e um é deixado.

41. No moinho (τφ μύλψ). O triturador manual com um cabo fixo próximo à
borda da pedra superior, que era girado por duas mulheres.

42.A que hora [ποια ώρα]. Textos posteriores, entretanto, apresentam o vo­
cábulo ημέρα, dia. Ποια ήμερα, em que tipo de dia, se num dia próximo ou remoto.
107
M a t eu s - C ap. 2 5

De modo semelhante, vide versículo 43: kv ποια φυλακή, em que tipo de vigília, se
numa vigília noturna ou matinal.

43. Havia de vir (’έρχεται). O tempo presente é ilustrativamente apresentado


como nos versículos 40-41: está vindo ou vem.

Arrombada (διορυγήναι). Na r v , invadida. Vide nota sobre M t 6.19. Na


solapada. A bp lê: abram um buraco na parede.
w y c liffe ,

45. A seu tempo (έν καιρφ). Nas horas regulares que o seu Senhor vem observar
quando está em casa; e não se atrasando por pensar que o seu Senhor está demo­
rando a voltar (v. 48), mas cumprindo com as suas obrigações nas horas devidas.

Capítulo 25

1. Lâmpadas (λαμπάδας). Literalmente: tochas. Provavelmente, um pequeno ga­


lho de madeira que era segura na mão, com um prato na sua ponta, sobre o qual
havia um pedaço de tecido embebido em azeite ou piche.

3. As loucas (aíxiveç μωραί). Leia αί γάρ μωραί, pois as loucas. A conjunção pois
justifica o epíteto loucas, no versículo anterior.

5. Tosquenejaram e adormeceram (4νύσταξαν καί 4κάθ€υδον). Tosquenejaram


é, literalmente, deixar cair a cabeça. Observe a variação de tempo verbal. Tosque-
nejar está no aoristo, denotando um ato de transição, o estágio inicial de um co­
chilo. Eles deixaram cair a cabeça. Adormeceram está no imperfeito, descrevendo
um cochilo continuado.

6. Ouviu-se um clamor (κραυγή γέγονεν). Na tb e bj: ouviu-se um grito. O verbo


está no tempo imperfeito, representando um evento passado perpetuado em um
resultado presente, e por isso foi traduzido pelo tempo presente. Uma mudança
grande e decisiva foi o resultado do clamor. Não haveria mais sono, nem espera,
tampouco silêncio. Há um clamor, e observe o despertamento, o alvoroço, a pre­
paração das lâmpadas e a corrida para os vendedores de óleo.

Ao encontro (εις άπάντησιν). A tradução dificilmente é capaz de transmitir


o significado da expressão grega, que implica um costume ou uma cerimôniafam i­
liar. Venha para a reunião.

7. Então, todas aquelas virgens se levantaram (τότί ήγέρθησαν πάσαι ai


παρθένοι έκειναι). A ordem do texto grego é expressiva. Então se levantaram
todas as virgens, aquelas anteriores. Aquelas (4κ6Ϊναι), um pronome que faz a refe­
rência mais remota ao objeto. É enfático pela sua posição no fim da frase.
108
M ateus - C ap. 25

Prepararam (έκόσμησαν). Oriundo de κοσμάς, ordem, e com o significado de


colocarem ordem ou organizar. Trench faz uma citação de Ward, descrevendo uma
cerimônia de casamento na índia:

Depois de esperar duas ou três horas, por fim, perto da meia-noite, foi anunciado, exa­
tamente como nas palavras das Escrituras: “Eis que vem o noivo, sai tu ao encontro
dele”. Todas as pessoas envolvidas, nesse instante, acenderam as suas lamparinas, e
correram com elas em mãos, para assumir o seu lugar na procissão. Algumas delas
haviam perdido as suas luzes e estavam despreparadas, mas era tarde para sair em
busca de outra lamparina, e a cavalgada prosseguiu108.

Suas lâmpadas (εαυτών). Literalmente: “as suas próprias lâmpadas”; enfatizan­


do o preparo pessoal destas em contraste com as loucas, que dependiam das suas
companheiras para abastecimento.

8. Se apagam (σβέννυνται). A arc dissipa a força ilustrativa do presente con­


tínuo, que denota algo em progresso. Elas veem as chamas das suas lâmpadas
minguando e tremulando gritam: As nossas lâmpadas estão se apagando! Assim
lemos na a r a , n tlh e t b .

9. Não seja caso que (μήποτε ού μή άρκέστ)). Ο grego não apresenta uma ne­
gativa tão direta quando a a r c . Trata-se de uma forma mais cortês de recusa,
fazendo com que o motivo dela ocupe o lugar da negativa. Dá-nos do vosso azeite,
dizem as loucas. As prudentes respondem: Para que, talvez, não nosfalte de nenhu­
ma forma (ού μή, a negativa dupla) o suficiente. A tb afortunadamente o traduz:
Talvez não haja bastante para nós.

10. Tendo elas ido (απερχομένων). Um particípio presente e muito ilustrativo:


enquanto elas estavam partindo.

As que estavam preparadas (al έτοιμοι). Literalmente: as prontas ou


preparadas.

Para as bodas (γάμους). A ntlh tra z c o rretam en te Festa de casam ento, com o
em Mt 22.2-4; assim com o na bj, banquete de núpcias.

11. Senhor, senhor. Aplicado diretamente ao noivo, cuja vontade será suprema,
agora que ele já chegou à residência da noiva.

14. Partindo (αποδήμων). O sentido é mais próximo de prestes a partir, como a


nossa expressão ir para o exterior.

108. Ward, View o f the Hindoos apud T rench, Parables.

109
M ateus —C ap. 25

15. Sua capacidade (ιδίαν). Literalmente: a sua própria ou peculiar capacidade


para os negócios.

Logo (ευθέως). Fazendo a ligação com o início do versículo 16, e não tão
conectado ao versículo 15: Logo que ele recebeu, indicando prontidão por parte
do servo.

16. Negociou com eles (ήργάσατο kv αύτοΐς). Literalmente: trabalhou com eles.
As virgens esperam, os servos trabalham.

Granjeou (εποίησεν). A palavra é utilizada no sentido de ganhar dinheiro. A t b ,


entre outras traduções brasileiras, traz: ganhou. Alguns manuscritos apresentam
o vocábulo έκερδησεν, ganhou, o mesmo do versículo 17.

24. D uro (σκληρός). Mais forte que o vocábulo austero (αυστηρός) encontrado
em Lc 19.21, que é, por vezes, utilizado num bom sentido, enquanto aquele
jamais é. Ele é um epíteto dado a uma superfície que é, simultaneamente, seca
e dura.

Espalhaste (διεσκόρπισας). Não como uma referência ao espalhamento da se­


mente, pois isto seria dizer duas vezes a mesma coisa. O espalhamento se refere
ao joeiramento dos feixes soltos que ficavam espalhados pela eira. Sobre isso,
Trench observa:

A palavra dificilmente podería ser aplicada ao espalhamento dimensionado e ordeiro


feito por um semeador. Trata-se, mais, de uma dispersão, de mandar pelos ares em todas
as direções.

Por isso, o vocábulo é utilizado para se referir ao encalço de um inimigo em


fuga (Lc 1.51); ao espalhamento perdulário dos seus bens (lançar o dinheiro pela
janela oujogá-lo para o alto, como dizemos, Lc 15.13); ao lobo que espalha as ove­
lhas (Mt 26.3 1). A tb traz-.joeiraste.

25. O que é teu (το σόν). O grego é conciso.

26. Negligente. Com menos esforço do que o que empregaria ao cavar, ele po­
dería ter ido até os banqueiros ou cambistas. O versículo pode ser lido de forma
interrogativa: Tu sabias mesmo isto de mim? Deverias, então, ter agido com a rapi­
dez e cautela comuns às pessoas que lidam com patrões severos. Ao omitirmos
a interrogação estaremos fazendo com que o Senhor admita que Ele mesmo era
um senhor austero .

27. Dado (βαλεΐν). Literalmente: atirar ou lançar ao chão, como quem joga um
saco de moedas sobre a mesa de um cambista.
110
M ateus - C ap . 25

Banqueiros (τραπεζίταις). O nome destes negociantes é tirado da mesa ou


banca diante da qual eles se assentavam (τράπεζα). Os banqueiros judeus utiliza­
vam, precisamente, o mesmo nome.

Juros (τόκφ). Uma palavra muito ilustrativa, cujo significado primitivo é nas­
cimento de umfilho, e, depois, prole. Por isso, o vocábulo é utilizado para se referir
aos juros que são o produto, aquilo que é gerado pelo capital. Originalmente, eles
eram apenas o que era pago pelo uso do dinheiro, daí a conotação de usura, mas
tornou-se sinônimo de interesse extorsivo. A tb traduziu adequadamente como,
comjuros. A lei dos judeus fazia distinção entre juros e acréscimos. Em Roma, juros
excessivamente altos parecem ter sido cobrados nos tempos antigos. Na prática,
o exercício da usura era ilimitado. Bem cedo surgiu o costume de se cobrar juros
mensais à taxa de um por cento ao mês. Durante o primeiro império, os juros
legais permaneceram à taxa de oito por cento, mas em transações usurárias ele
poderia chegar a doze, vinte e quatro e até quarenta e oito por cento. Os banquei­
ros judeus da Palestina e de outros lugares também faziam parte deste tipo de
negócio. A lei de Moisés denunciava a usura nas transações entre hebreus, mas
permitia que fossem cobrados juros a estrangeiros (Dt 23.19-20; SI 15.5).

32. Todas as nações (πάντα τα ’έθνη). O conjunto da humanidade, apesar de a


palavra geralmente ser aplicada no texto do Novo Testamento para descrever os
gentios como um povo distinto dos judeus.

Apartará [a eles^ uns dos outros (αυτούς). Masculino, ao passo que a pa­
lavra nações assume o gênero neutro. As nações são consideradas como reu­
nidas em uma coletividade-, mas, ao contemplar o ato da separação, o Senhor
considera os indivíduos.

Dos bodes as ovelhas. Johh Morley afirma:

A divisão aberta dos homens em bodes e ovelhas é, num certo sentido, tão fácil quanto
inválida; e, num outro sentido, tão difícil que somente poderia ser executada por al­
gum agente com uma percepção sobrenatural109.

Os “bodes” formam uma ilustração adequada, porque, comparativamente,


este animal era considerado sem valor. Daí a reclamação do filho mais velho na
parábola do filho pródigo: e nunca me deste um cabrito (Lc 15.29). O diminutivo
(ερίφια) expressa desdém.

S3. À sua direita (εκ δεξιών). Literalmente: a partir do lado ou das partes da direita.
A ideia, para o leitor grego, é a de uma fileira que começa ao lado direito do juiz.

109. Johh Morley, Voltaire.

Ill
M ateus - C a p. 2 6

Bodes (ερίφια). Diminutivo. Literalmente: cabritinho. Os bodes e as ovelhas


são representados como animais que, anteriormente, dividiam o mesmo pasto.
Compare com as parábolas do Joio e da Rede.

35. Hospedastes-me (συνηγαγετε με). A t y n d a l e lê: estava desam parado e tu me


alojaste. A preposição συν implica ju n to de. Vós me hospedastes convosco, ju n to do
vosso círculo familiar.

36. Visitastes-me (επεσκέψασθε). Literalmente: m e olhastes com respeito' 10. Com­


pare com Lc 7.16; Hb 2 .6 .
A palavra visita tem a sua origem no latim viso, o lh a rfix a m en te p a ra , visita. Con­
tinuamos guardando o sentido original em expressões populares como vam os ver
fu la n o , e ver como está sicrano.

40. Pequeninos. A palavra é enfática na forma como está posicionada na cons­


trução frasal grega: Um destes meus irmãos, os pequeninos. Por isso a kjnta apre­
senta: mesmo que ao m enor deles.

C a p ít u l o 2 6

2. Será entregue (τταραδίδοται). O tempo presente expressa aqui algo que, em­
bora ocorra no futuro, é tão bom quanto o presente, porque já está determinado,
ou porque precisa ocorrer em virtude de alguma lei inalterável. Assim, a páscoa
é (γίνεται). Ela deve chegar numa época mais ou menos específica. O Filho do
Homem é traído, segundo o decreto divino. Compare com o versículo 24.

3. Sala (αυλήν). A palavra significa tribunal ou salão. Um recinto que formava a parte
central de uma construção oriental e, normalmente, era utilizado como sala de reuni­
ões. Na TB consta: p á tio da casa. A ara , entre outras versões brasileiras, lê: palácio.

7. Um vaso d e alabastro (αλάβαστρον). A s p e teb trazem: frasco. Literalmente: um


alabastro, assim como nós chamamos de vidro o frasco utilizado para se armazenar
perfume, feito de vidro: um vidro de perfume. Lutero traduz como vidro. Era um tipo de
galheta, com formato cilíndrico na sua ponta. Plínio compara estes vasos a um botão de
rosa fechado, e diz que os unguentos ficam mais bem preservados dentro deles.

8. Por que este desperdício? A bv lê: P o r que jo g a r dinheiro fo r a ? Na bj consta:


A troco do que esse desperdício? Vide nota sobre Jo 1 2 .3 .

10. Jesus, porém, conhecendo isso (γνους δε ό Ίησοΰς). A a r c implica certo


lapso de tempo antes de Jesus tomar consciência da queixa dos discípulos. Con-

110. U m hebraísm o que se refere a uma visita bondosa.

112
M a t e u s - C ap. 2 6

tudo, a afirmação é a de que Jesus percebeu prontamente a situação. Na ecp, Jesus


ouviu-os e disse-lhes. A t b corretamente traduz: Jesus percebendo isso.

Boa ação (καλόν). Literalmente: bela, mas em sentido moral: um ato moral­
mente belo e louvável.

15. Que me quereis dar? (τί θέλετε μοι. δούναι;) Preferencialmente, ο que vós estais
querendo me dar? Esta tradução revela mais a pechincha envolvida na transação.

Eles lhe pesaram («Εστησαν αύτω). O sentido é corretamente transmitido pela


arc , entretanto, de forma ainda mais literal, poderiamos dizer, eles colocaram (na
balança) por ele. Apesar de haver siclos cunhados em circulação, a pesagem parece
ter sido praticada, especialmente quando somas consideráveis eram pagas pelo
tesouro do Templo.

T rinta moedas de prata (τριάκοντα άργυρια). Mateus faz uma referência a


Zc 11.12. Estas moedas eram os siclos do Santuário, de peso padronizado e, logo,
mais pesado do que o siclo comum (cf. Mt 1 7 .2 4 ). Este era o preço que, pela lei
mosaica, um homem era condenado a pagar caso o seu boi chifrasse um escravo
(Ex 2 1.3 2 ). O nosso Senhor, que se entregou em sacrifício pela humanidade, foi
pago com dinheiro do Templo, que era justamente a moeda destinada à compra
dos sacrifícios. Aquele que “tomou sobre si a forma de um servo”, foi vendido
pelo preço que a lei estipulava para um escravo.

18. Certo homem (τον δείνα). A indefinição vem da parte do evangelista, e não
de nosso Senhor. Ele, sem dúvida, descreveu a pessoa e o local onde ela seria
encontrada.

20. Assentou-se à mesa (άνέκειτο). Porém, esta tradução dilui a ênfase do tem­
po imperfeito, que denota uma ação em andamento. O evangelista diz que ele con­
tinuava assentado ou reclinado, introduzindo-nos a algo que já estava ocorrendo
há algum tempo.

22. Começaram a dizer-lhe (ήρξαντο). Denotando o início de uma série de per­


guntas; um após o outro (todos) dizendo: Porventura, sou eu?

Sou eu? (μήτι εγώ είμι;). A forma da negativa pressupõe uma resposta nega­
tiva. “Certamente, não sou esta pessoa’.

23. No prato (τρυβλίω). Na b p : travessa. Um prato contendo um caldo feito com


nozes, passas, tâmaras, figos etc., no qual se mergulhavam pedaços de pão.

25. O que o traía (ò παραδιδους). O artigo com o particípio tem a força de um


epíteto: o traidor.
113
M a teu s - C ap. 2 6

28. T estam ento (διαθήκης). Termo oriundo de διατίθημι, distribuir, transmi­


tir a; referindo-se à transmissão de propriedades. No que diz respeito à ideia
de transmitir ou conciliar, διαθήκη se baseia em um pacto ou acordo e, por
conseguinte, uma convenção ou aliança. O vocábulo hebraico que deu origem
a este grego significa, primariamente, uma aliança ou concerto. Origina-se
em um verbo que significa cortar. Logo, a expressão fazer uma aliança, diz
respeito à divisão das vítimas sacrificadas na ratificação das alianças (Gn
15.9-18). Aliança é o sentido veterotestamentário geral desta palavra (lRs
20.34; Is 28.15; lSm 18.3); assim como também ocorre no texto do Novo
Testamento. Compare com Mc 14.24; Lc 1.72; 22.20; At 3.25; 7.8. O bispo
Lightfoot, acerca de G1 3.15, observa que o termo jamais ocorre dentro do
Novo Testamento em um sentido diferente de aliança, com exceção de Hb
9.15-17, onde διαθήκη significa testamento. Não podemos admitir esta exce­
ção, por considerarmos que aquela passagem é uma das melhores ilustrações
do sentido real do vocábulo aliança ou concerto. Veja nota sobre Hb 9.15-17.
Traduza aqui como a bp : aliança.

É derramado (έκχυννόμενον). No particípio presente, está sendo derramado. O


pensamento de Cristo se estende adiante, até a consumação.

29. D e novo (καινόν). Outro adjetivo, veóv, é empregado para denotar o vinho
novo com o sentido de ser recentementefeito (Mt 9.17; Mc 2.22; Lc 5.37-39). A
diferença está entre esta novidade ser considerada do ponto de vista do tempo ou
da qualidade. O jovem, por exemplo, aquele que veio por último, é descrito pelos
adjetivos νέοι ou veokepoi (Lc 15.12-13). A veste nova (Lc 5.36) se contrasta
qualitativamente com uma veste usada e surrada. Por isso καινού. Também o
novo céu (2Pe 3.13) é καινός, em contraste com aquele que mostra sinais de dis­
solução. O sepulcro no qual o corpo de Jesus foi colocado era καινόν (Mt 27.60),
pois nenhum outro corpo havia sido colocado naquele local, o que o tornaria
cerimonialmente imundo. Trench cita uma passagem de Políbio, que descreve
um estratagema pelo qual uma cidade foi quase tomada, onde se lia “ainda so­
mos novos (καινοί) e jovens (νέοι) a respeito deste tipo de truque”111. Neste caso,
καινοί expressa a inexperiência dos homens; νέοι, a sua juventude. Mesmo assim,
a distinção não pode ser forçada em todos os casos. Assim, em lCo 5.7, “Alimpai-
-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova (νέον) massa”; e Cl 3.10,
“e vos vestistes do novo (νέον) [homem]”, claramente expressam o sentido de
qualidade. Na expressão utilizada pelo nosso Senhor, “até àquele Dia em que o
beba de novo”, predomina a ideia de qualidade. Todos os elementos de festividade
no reino celestial serão de uma nova e superior qualidade. No texto do Novo

i l l . Trench, Synonyms.

114
M a teu s - C ap. 2 6

Testamento, além dos dois casos citados, νέος é aplicado ao vinho, aojovens e uma
vez a uma aliança.

30. Cantado um hino. Muito provavelmente, a segunda parte do Hallel ou Hal­


lelujah judaico, que envolve SI 115-118.

Saíram. Na instituição original da Páscoa estava prescrito que ninguém deve­


ria sair de casa até o amanhecer (Êx 12.22). Evidentemente esta prescrição não
era mais considerada compulsória.

32. Irei adiante de vós. O pensamento se une com o que Cristo havia acabado
de dizer acerca do pastor e das ovelhas. Compare com Jo 10.4. Eu irei adiante de
vós, como um pastor segue adiante do seu rebanho.

34. Antes que o galo cante. Esta expressão se torna um pouco mais ilustrativa
se o artigo for omitido, como ocorre no grego. Antes que um único galo seja ou­
vido, no início da noite, já terás me negado. Sobre as aves de porta de celeiro, o
Dr. Thomson afirma:

Q...]] enchiam todas as portas, com partilhavam da comida dos seus donos, ficavam
à vontade no meio das crianças em todos os ambientes, empoleiravam-se no alto
das construções à noite, e com o seu canto incessante formavam o relógio do vila­
rejo, bem como o sino m atinal que acordava as pessoas tão logo o sol raiava112.

35. Ainda que me seja necessário m orrer (καν δέη με άττοθανειν). A a r c t r a ­


d u z a ê n f a s e a p r e s e n t a d a p e l o v o c á b u l o δέη: “ n e c e s s á r i o ” . A t e b l ê : mesmo que seja

preciso que eu morra.

36. Getsêmani. A palavra significa prensa de azeite. Localizado na outra margem


do ribeiro de Cedrom, e distante cerca de 1.200 metros das muralhas de Jerusa­
lém. Stanley nos fala um pouco sobre as oliveiras ali presentes:

Apesar de todas as dúvidas que podem ser levantadas acerca da sua antiguidade, as
três velhas oliveiras, no mínimo pela sua clara diferença de todas as outras encontra­
das naquele monte, sempre chamaram a atenção dos observadores mais indiferentes.
Elas permanecerão, enquanto a sua extensa vida continuar, as mais vulneráveis da sua
espécie na superfície da terra. O tronco sulcado e a folhagem parca sempre serão con­
siderados como os mais marcantes de todos os memoriais de Jerusalém; os que mais se
aproximam dos próprios montes eternos na força com que nos transportam de volta
para os acontecimentos da história dos evangelhos113.

112. T hom son, L a n d a n d Book.


113. Stanley, S i n a i a n d P a le stin e .

115
M ateus - C a p. 2 6

40. Então. Dificilmente se podería transmitir a força exata do vocábulo grego


ούτως, assim ou então. A ideia é, “tu és assim tão incapaz ou tão completamente inca­
paz de vigiar?”

45. É chegada a hora. Ele provavelmente ouvira o ruído dos passos e viu as
lamparinas de Judas e do seu bando.

47. Um dos doze. A expressão é repetida por três evangelistas, tanto na descri­
ção da traição, quanto na da prisão. Na época em que o Evangelho de Mateus foi
escrito, a expressão havia se tornado uma designação estereotipada do traidor,
como aquele que o traiu.

Grande multidão. O Sinédrio não dispunha nem de um corpo de soldados,


nem de um pelotão regularmente armado sob seu comando. Em Jo 18.3, Judas
recebe uma coorte de soldados e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus. Parte
do pelotão seria constituída desta coorte de homens armados, e o restante, de
uma multidão armada com bordões e composta por alguns dos servos dos ho­
mens notáveis do Sinédrio.

49. Beijou-o (κατίφίλησεν). O verbo composto tem a força de uma saudação


enfática e pomposa. Mayer diz que ele o abraçou e o beijou. A mesma palavra é uti­
lizada para descrever o terno afago feito nos pés do Senhor, pela mulher na casa
do fariseu (Lc 7.38), o abraço do pródigo que retornava (Lc 15.20), bem como o
adeus dos irmãos de Éfeso a Paulo (At 20.37).

50. A que vieste? (4φ’ o irápci). A interrogação que vemos na arc é inadequada.
A expressão é elíptica e condensada. Literalmente, ela diz: aquilo por que tu estás
aqui-, e a mente deve incluir o para fazer. O Senhor rejeita o abraço do traidor e
diz, com efeito: “Chega desta bajulação hipócrita. Faz o que vieste aqui fazer”.
Assim coloca a e p :faça logo o que tem afazer.

51. O servo (τον δοϋλον). O artigo marca este servo especial; um guarda-costas.

Orelha (ώτίον). Um diminutivo em forma, mas não em sentido. Uso popular


do grego que expressava as partes do corpo por meio de diminutivos; como
ρίνια, o nariz; όμμάτιον, o olho; σαρκίον, o corpo. Pedro tinha intenção de atingir
com o seu golpe a cabeça do guarda-costas, mas errou.

52. M ete no seu lugar. Pedro continuava com a espada em punho.

53. Doze legiões de anjos. Compare com a história de Eliseu em Dotã (2Rs 6.17).

55. Um salteador (ληστήν). Traduzido pela teb como: um bandido. Vide Jo 10.1-8;
e Lc 23.39-43. Muito mais do que um pequeno ladrão; mas um com associados,
116
M a t eu s - C ap. 2 7

que somente poderia ser apanhado por um grande pelotão de homens. Por isso a
propriedade da referência às espadas e aos porretes.

Me assentava (έκαθίζόμην). Tempo imperfeito, denotando algo habitual Eu


estava acostumado a me assentar junto de vós.

63. Conjuro-te. Eu exijo que jures. O sumo sacerdote insistiu que Cristo fizesse
um juramento.

Que (ϊνα). Com o objetivo de que-, significando o desígnio pelo qual ele exigia
aquele posicionamento do Senhor.

64. Tu o disseste. Uma afirmação. Tu falaste a verdade. O que me perguntaste


é fato. Compare com versículo 25.

Porém (πλήν). Entretanto. Independentemente da minha afirmação, tu o verás


por ti mesmo.

66. Réu de m orte (ένοχος θανάτου). Na e c p : Merece morrer. Vide nota sobre Mt
23.18. Procedente de èv, em, έχω, segurar. A ideia é literalmente, segurado pela
morte-, nas garras da morte.

67. Lhe davam murros (έκολάφισαν). Com os punhos cerrados.

O esbofeteavam. Tudo expresso por apenas uma palavra, 6ράπισαν, oriunda


de ραπίς, uma vara, com o sentido de espancar com varas, e não com a palma das
mãos. O mesmo termo é empregado em Mt 5.39. Mais tarde, έράπισαν veio a
significar bater, em sentido geral.

69. Uma criada (μία παιδίσκη). Literalmente: uma criada, porque o escritor tem
em mente outra criada (v. 71).

71. Saindo. Por medo de ser novamente perguntado.

72. Tal homem. Como se ele não soubesse o nome de Jesus.

74. A praguejar (καταθφατίζαν). Um estágio maior da profanação. Daqui em


diante ele simplesmente jurou não conhecê-lo. Neste momento Pedro acres­
centou o praguejar, invocando maldições sobre si mesmo caso as coisas não
fossem do modo como ele falava. A b p traz lançar maldições, enquanto a t e b lê
imprecações.

Capítulo 27

3. Arrependido (μΕταμεληθΕίς). Vide nota sobre Mt 21.29.


117
M a t e u s - C ap. 2 7

4. Que nos importa? Eles desprezam a questão da inocência de Cristo. Quanto


ao pecado e à consciência de Judas, aquilo era problema dele. Isso é contigo.

5. Para o templo [eu τφ ναώΐ. Porém, a melhor leitura seria εις τον vaòv, para
dentro do Santuário. Ele jogou as moedas por cima de uma barreira que prote­
gia o Santuário, ou o Templo propriamente dito, no recinto em que somente os
sacerdotes tinham permissão para entrar, por isso as moedas fora atiradas para
dentro do Santuário.

6. Não é lícito. Em tais casos a lei judaica previa que o dinheiro tinha de ser
devolvido ao doador; e se ele insistisse em doá-lo, deveria ser induzido a gastá-lo
em algo para o bem estar da coletividade. Isto explica a aparente discrepância
entre o relato de Mateus e o apresentado no livro de Atos (1.18). Por uma alego­
ria da lei, o dinheiro continuava sendo considerado de Judas, e seria como se ele
o tivera aplicado na compra do campo de um oleiro.

28. Capa (χλαμύδα). O pequeno manto militar que os reis, imperadores e solda­
dos usavam.

Escarlate (κοκκίνην). Oriundo de κόκκος, cochonilha, que crescia em diversas


partes da Grécia. As roupas desta cor parecem ter sido raras entre os orientais.
Heródoto relata que a admiração de Dario, na época um oficial do exército, foi
despertada pela capa escarlate de um exilado de Samos. Este, diante da sua pro­
posta de compra, acabou lhe presenteando com ela e foi, mais tarde, ricamente
recompensado quando Dario ascendeu ao trono"4.

32. Constrangeram a (ήγγάρευσαν). Vide nota sobre Mt 5 .4 1 . A bp a p resen ta


forçaram.

33. Gólgota. Uma palavra aramaica Gôlgôltã’ (NnbuSu), equivalente ao termo


hebraico, e traduzida como caveira em Jz 9.53; 2Rs 9.35. O termo Calvário che­
gou a nós por intermédio do latim calvaria, que significa caveira, conforme a
vuLGATA. A narrativa do Novo Testamento não menciona um monte ou morro.
O local ficava, provavelmente, em alguma elevação arredondada. O significado é
simplesmente caveira.

34. Vinho (otvov). Os textos mais antigos apresentam όζος, vinagre. Esta bebida
composta de vinho e fel tinha por objetivo provocar o entorpecimento do sofredor.

36. Guardavam (έτήρουν). Ou, para colocar a força do modo imperativo, man­
tinham guarda. O objetivo era evitar a aplicação de crueldades extremas, bem

114. Heródoto, s.139.

118
M a t eu s - C ap. 27

como evitar o que, por vezes, ocorria: a libertação e a recuperação da saúde da


vítima.

37. Acusação (αιτίαν). Literalmente: causa, e assim traduzido por e c p : o motivo


de sua crucificação. A bj traz motivo da sua condenação. A palavra acusação é com­
posta do radical latino causa, que tem exatamente o mesmo significado no portu­
guês. Trata-se da causa da sua condenação e do seu sofrimento.

38. Salteadores (λησταί). Na b p : bandidos. Vide nota sobre Mt 26.55.

42. Salvou os outros. A ordem no grego é: Outros ele salvou; a si mesmo não
pode salvar.

43. Se o ama (εί θέλει αύτόν). Tradução literal, Se ele o quer (ou deseja). A bj se
aproxima muito do sentido original: se ê que se interessa por ele! A tradução corres­
ponde ao texto da lxx. Compare com SI 18.19 (lxx: Sl. 17.19); porque tinha prazer
em mim (ήθέλησέ με), SI 4 l.l l (lxx: 40.11) (τεθεληκάς με).

46. Hora nona. Edersheim declara:

Na sexta-feira cedo, um grupo de sacerdotes, de Levitas, e de “homens estacionários”


que deveríam representar o conjunto do povo d e Israel, chegava a Jerusalém e, depois
de se prepararem para a temporada festiva, subiam até o Templo. A aproximação do
sábado e, depois, o seu início real, eram anunciados por toques triplos das trombetas
sacerdotais. Os três primeiros toques eram feitos quando um terço do culto de sacri­
fício matutino estava completo, ou, por volta da hora nona; ou seja, por volta das 3 da
tarde na sexta-feira115.

48. Vinagre (δξους). Vinho azedo; a posca ou bebida comum dos soldados
romanos.

Dava-lhe de beber (επότιζεν). O tempo imperfeito implica: estava no ato de


dar-lhe, ou prestes a lhe dar. A esta altura, os judeus que estavam ali próximo in­
tervieram, dizendo: Deixa (αφες)! “Parem! Não lhe deem bebida. Vejamos se Elias
vem mesmo ao seu auxílio”.

50. Entregou o espírito (άφήκε το πνεύμα). Literalmente: despediu o seu espírito.


O fato de os evangelistas, ao descreverem a morte do Senhor, não fazerem uso
do verbo neutro, εθανεν, ele morreu, mas expirou a sua vida (εξεπνευσε, Mc 15.37),
entregou o espírito (παρέδωκε το m^fíma, Jo 19.30), parece implicar uma entrega
voluntária da sua vida. Compare com Jo 10.18. Agostinho escreveu: “Ele entre­
gou a sua vida porque assim o quis, quando o quis e como o quis”.

115. Edersheim , The Temple.


119
M a t e u s - C a p. 2 7

5 1 .0 véu do templo. De acordo com os rabinos, este véu tinha a espessura da


mão de um homem adulto. Era tecido com setenta e duas pregas dobradas, cada
uma delas contendo vinte e quatro fios. O véu possuía 18 metros de comprimen­
to e 9 de largura. Duas peças deste artefato eram confeccionadas todo ano e,
segundo o linguajar exagerado da época, eram necessários cem sacerdotes para
manipulá-lo. Ele cobria a entrada do aposento chamado de Santo dos Santos
(ou, Santíssimo Lugar) e, como já vimos, separava este local da entrada principal
do Santuário. O Santo dos Santos continha somente uma grande pedra, sobre a
qual o Sumo Sacerdote aspergia o sangue no dia da expiação, e ocupava o lugar
anteriormente preenchido pela arca e pelo propiciatório.

54. O Filho de Deus. Porém, sem o artigo. As palavras não devem ser agru­
padas a fim de se reconhecer a filiação divina de Cristo. Elas são expressas por
um soldado pagão no seu sentido próprio de um semideus ou herói. Contudo,
elas podem ter assumido certo matiz em função de os soldados terem ouvido
dos principais sacerdotes, e de outros, que Cristo havia reivindicado para si a
filiação divina.

55. Que tinham seguido (aíxiveç). Designando uma classe·, as que formavam o
grupo de mulheres que o haviam seguido.

56. Madalena (ή Μαγδαληνή). Não se tratava da Maria de Betânia (Mt 26.6-13),


nem da mulher pecadora (Lc 7.37-48). A palavra define meramente a sua cidade
de origem: A de Magdala.

57. E, vinda já a tarde. Os hebreus consideravam a existência de duas noites,


uma mais cedo e outra mais tarde. O primeiro anoitecer começa no meio da
tarde, entre o meio-dia e o pôr do sol, ou às três da tarde. O segundo anoitecer
começava com o pôr do sol, às seis da tarde. A referência feita aqui é ao primeiro
anoitecer, apesar de a hora poder estar bem avançada, já próxima do início do se­
gundo anoitecer. Os preparativos precisavam ser agilizados em função do sábado
que iniciaria com o pôr do sol.

60. Sepulcro novo (καινω). Vide nota sobre Mt 26.29. Não recentemente aberto na
rocha (ou, lavrado), mas intocado, ainda não contaminado por cadáver.

Grande pedra. Embora nos sepulcros dos judeus, em geral, existissem portas
presas a engates, cujos entalhes e perfurações ainda podiam ser vistos, o sepul­
cro de José pode ter sido construído de outra forma ou, ainda, poderia não estar
completamente concluído.

63. Lembramo-nos (έμνήσθημβ;). Literalmente: nós nos lembramos, isto é, ocorreu-


nos que acabamos de lembrar e viemos lhe contar antes que seja tarde demais.
120
M ateus —C ap. 28

Aquele enganador (έκεΐνος ό πλάνος). Ο pronome aquele é muito pitoresco


e utilizado para objetos que estão distantes, apontando aqui para alguém que
está fora do caminho a uma grande distância. Πλάνος, enganador, é semelhante a
πλανάω, vaguear, e, por isso, designa um vagabundo impostor.

64. Erro (πλάνη). Não, como muitos traduzem, engano ou embuste, numa alusão
ao vocábulo πλάνος acima; mas um erro da parte das pessoas. O último erro, a
saber, a falsa impressão de que ele havia ressuscitado dos mortos, seria pior do
que o primeiro - a impressão causada pela sua postura fraudulenta ao alegar ser
o Messias.

65. Tendes (εχετε). Ou, como alguns traduzem, no modo imperativo: Tendes a
guarda!

66. Seguraram o sepulcro com a guarda, selando a pedra (σφραγίσαντες


τον λίθον, μετά τής κουστωδίας). Literalmente: tendo selado a pedra com a
guarda. Na t b : selando a pedra e deixando ali a guarda. Esta tradução corrige
acertadamente a a r c . A ideia é de que eles selaram a pedra na presença da
guarda e, a seguir, deixaram-na de vigia. Seria importante que os guardas
testemunhassem a selagem, que era feita esticando uma corda em volta da
pedra e fixando cada extremidade dela na rocha por meio de argila de se­
lagem. Ou, se a pedra da entrada fosse fixada com uma trave cruzada, essa
trave seria selada na rocha.

C a p ít u l o 2 8

3. Aspecto (είδεα). Na t b , mais adequadamente traduzido como, aparência. Esta


é a única ocorrência desta palavra no texto do Novo Testamento. Είδεα não se
refere simplesmente ao rosto, mas à aparência geral.

Como um relâmpago. Em esplendor. Cada um dos evangelistas enfatiza


diferentes particularidades. Somente Mateus observa a sua glória exterior, o
terremoto, a aparição do anjo, e a impotência dos poderes sacerdotais e milita­
res para reprimir a nova fé. Somente ele nota a adoração do Senhor ressurreto
antes da sua ascensão, e liga à sua origem a calúnia corrente entre os judeus
até os dias de hoje.

7. Ele vai adiante de vós (προάγω). Ele está no ato de ir (cf. Mt 26.32).

9. Eu vos saúdo (χαίρετε). A forma comum de saudação no grego.

12. M uito dinheiro (αργύρια ικανά). Literalmente: dinheiro suficiente. A quantia


suficiente para suborná-los, a fim de inventassem esta mentira.
121
M a t eu s - C ap. 2 8

14. Nós o persuadiremos (πείσομεν). Isto é, satisfaremos ou apaziguaremos. Com­


pare com G1 1.10. “Porque persuado eu agora a homens ou a Deus?”

Vos poremos em segurança (ύμάς αμέριμνους ποιήσομεν). Literalmente:


tornar-lhe sem cuidado, ou preocupação. A palavra segurança, entretanto, é uma tra­
dução etimologicamente correta. Ela vem do latim se = sine, sem, e cura, cuidado.
Popularmente ela passou a significar tornar seguro. Compare com lCo 7.32. “E
bem quisera e u que estivésseis sem cuidado” ( a r c ).

17. Adoraram (προσεκύνησαν). Como no versículo 9. Prostraram-se. A primeira


vez que os discípulos são descritos fazendo este tipo de reverência.

18. Chegando-se. O versículo 1 7 , evidentemente, descreve a impressão que eles


tiveram ao vê-lo de certa distância. Possivelmente, em função de sentimentos de
modéstia, eles não se aventuraram a se aproximar dele. Jesus, agora, aproxima-se
e se dirige a eles.

Falou-lhes —dizendo (έλάλησεν - λέγων). Duas palavras diferentes são uti­


lizadas aqui para expressar o discurso, com uma sutil distinção que dificilmente
poderia ser transmitida sem o uso de uma paráfrase. O verbo λαλειν é utilizado
para o falar, em contraste com o, ou como quebra do silêncio, de forma voluntária
ou imposta. Assim, depois da cura, o mudo falou (ελάλησεν); e Zacarias, depois
de ter a língua liberada, começou afalar (έλάλει). No uso da palavra, o autor con­
templa ofato e não a substância do discurso. Por esta razão, o vocábulo é utilizado
acerca de Deus (Hb 1.1), sendo que a mensagem é, não o que Deus disse, mas
o fato de Ele falar aos homens. Já o vocábulo λεγε in, ao contrário, refere-se ao
conteúdo do discurso. O verbo originalmente significa selecionar, e, consequente­
mente, usar palavras selecionadas como sendo apropriadas para a expressão do
pensamento, e dispor corretamente desses termos em um discurso ordenado.
Portanto, temos nessa perícope, Jesus quebrando o silêncio (ελάλησεν) pela primei­
ra vez e, a seguir, discursando (λέγων).

É-me dado (έδόθη). Literalmente: fo i dado, pelo decreto divino.

Poder (εξουσία). Mais adequadamente traduzido como faz a n v i : autoridade.

19. Ensinai (μαθητεύσατε). Na tb , adequadamente traduzido como:fazei discípulos de.

Em nome (είς το όνομα). A rv, de forma correta, traduz: "dentro do nome”.


O batizar dentro do nome tem um duplo significado, (l) Para, denotando objeti­
vo ou propósito, como είς μετάνοιαν, para arrependimento (Mt 3.11); είς άφεσιν
αμαρτιών, para a remissão dos pecados (At 2.38). (2) Dentro, denotando união ou
comunhão com, como em Rm 6.3, “fomos batizados em Jesus Cristo... batizados
122
M a t e u s - C ap. 2 8

na [em + a) sua morte”; isto é, pelo batismo fomos trazidos à comunhão com a
sua morte. O batismo em nome da Santa Trindade implica uma união espiritual
e mística com ela. Εις, para dentro, é a preposição normalmente utilizada com o
verbo batizar (cf. At 8 .1 6 ; 1 9 .3 -5 ; lCo 1 .1 3 -1 5 ; 1 0 .2 ; G1 3 .2 7 ). Em At 2 .3 8 , en­
tretanto, Pedro diz: “seja batizado em (έπΐ, sobre) nome de Jesus Cristo; e em At
1 0 .4 8 , ele ordena que Cornélio e seus amigos sejam batizados em [kv, dentro) o
nome do Senhor. Ser batizado sobre o nome é ser batizado mediante a confissão
que aquele nome implica, tendo por base aquele nome, de modo que o nome de
Jesus, como sendo o conteúdo da fé e da confissão, forme a base sobre a qual
o batizando esteja fundamentado. Em o nome [kv) faz referência à única esfera
dentro da qual o batismo verdadeiro é ministrado. O nome não é uma mera desig­
nação, um sentido que daria à fórmula batismal nada mais do que a força de um
encantamento. O nome, como vemos na Oração do Senhor (“Santificado seja o teu
nome”), é a expressão da soma total do Ser Divino e não a sua designação como
Deus ou Senhor, mas a fórmula na qual todos os seus atributos e características
são reunidos. Ele é equivalente a sua pessoa. A mente finita somente consegue se
relacionar com Ele por intermédio do seu nome; entretanto, desvinculado de sua
natureza, ele não tem qualquer utilidade. Quando alguém é batizado em o nome
da Trindade, está professando o reconhecimento e a apropriação de Deus em
tudo aquilo que Ele é e em tudo o que o Senhor faz pelos homens. Reconhecemos
e dependemos de Deus-Pai, como nosso Criador e Preservador. Recebemos Jesus
Cristo, o seu único Mediador e Redentor, e nosso modelo de vida. Confessamos
o Espírito Santo, como nosso Santificador e Consolador.

20. Todos os dias (πάσας τάς ημέρας). Tradução literal: em todos os dias.

Consumação dos séculos (συντέλειας του αίώνος). A bv, em nota de margem,


traz: ofim da era, numa referência à era atual. E esta consumação coincide com a
segunda vinda de Cristo, depois de o Evangelho ter sido proclamado ao redor do
mundo inteiro. Segundo Morison:

A mente do Salvador não vai mais adiante; pois depois disso, a obra de evangelização
cessará. Daquele momento em diante, nenhum homem precisará ensinar ao seu pró­
ximo dizendo: “Conhecei ao Senhor” (Jr S1.34)1'6.

116. M orison, O n M a tth e w .

123
L ista d e P alavras G regas E mpregadas so m en te po r M ateus

άγγελον, vaso, recipiente, 25.4· ένθυμεομαι, ponderar, (cf. a r a ) pensar,


αγγος, cesto, 13.48 1.20; 9.4
άγκιστρον, anzol, gancho, έξορκίζω, conjurar [alguém ^, 26.63
αθώος, inocente, 27.4,24 εξώτερος, externo, exterior, 8.12; 22.13;
αίμορροεω, ter um fluxo de sangue, 9.20 25.30
α'ιρετίζω, escolher, 12.18 έπιγαμβρεύω, casar(-se), 22.24
ακμήν, ainda, 15.16 έπικαθίζω, assentar ou colocar em cima, 21.7
άκριβόω, inquirir diligentem ente, 2.7,16 έπιορκέω, perjurar, 5.33
άμφίβληστρον, rede, lançar, 4.18 έπισπείρω, semear, 13.25
αναβιβάζω, puxar, 13.48 έρεύγομαι, publicar, to rn a r público, 13.35
αναίτιος, sem culpa, 12.5,7 ερίζω, contender, 12.19
άνηθον, endro, 23.23 έρίφιον, bode, cabra, 25.33
άπάγχομαι, enforcar-se, 27.5 εταίρος, companheiro, amigo, 11.16;
άπονίπτω, lavar, 27.24 20.13; 22.12; 26.50
βάρ, filho, 16.17 εύνοέω, conciliar-se com alguém, chegar a
βαρύτιμος, preciosíssimo, muito precioso, 26.7 um acordo, 5.25
βασανιστής, atorm entador, 18.34 ευνουχίζω, fazer de alguém um eunuco,
βαττολογεω, usar de vãs repetições, 6.7 19.12
βιαστής, violento, 1 1 . 1 2 ευρύχωρος, largo, 7.13
βροχή, chuva, 7.25,27 ζιζάνια, joio, 13.25-40
δάνειον, dívida, 18.27 Ή λ ί, meu Deus, 27.46
δείνα (ό), um certo homem, 26.18 θαυμάσιος, maravilhoso, 21.15
δέσμη, molhos, 13.30 Θεέ (vocativo), Ó Deus, 27.46
διακωλύω, proibir, 3.14 θεριστής, ceifeiro, 13.30,39
διαλλάττομαι, estar reconciliado, 5.24 θυμόομαι, irritar-se, 2.16
διασαφεω, contar, 18.31 ιώτα, jota (ou til), 5.18
δίδραχμον, meio siclo, 17.24 καθά, como, 27.10
διέξοδος, bifurcação de uma estrada em καθηγητής, Mestre, 23.8,10
dois caminhos, 22.9 καταθεματίζω, praguejar (veementemen­
διετής, com dois anos de idade, 2.16 te), 26.74
διστάζω, dúvida, 14.31; 28.17 καταμανθάνω, considerar, 6.28
διϋλίζω, coar, 23.24 καταναθεματίζω, maldição, 26.74
διχάζω, pôr em dissensão, 10.35 καταποντίζομαι, afundar, afogar-se, ir
εβδομηκοντάκις, setenta vezes, 18.22 para o fundo, 14.30; 18.6
εγερσις, ressurreição, 27.53 κουστωδία, vigiar, guardar, 27.65-66; 28.11
εγκρΰιττω, esconder em, 13.33 (cf. a r a ) κρυφαΐος, secreto, oculto, 6 .18
ειδέα, aspecto, 28.3 κύμινον, cominho, 23.23
ειρηνοποιός, pacificador, 5.9 κώνωψ, m osquito, 23.24
εκλάμπω, resplandecer, 13.43 λαμβάνειν συμβούλων, form ar conselho,
’’Εμμανουήλ, Emanuel, 1.23 deliberar em conselho, 27.1,7; 28.12
εμπορία, negócio, 22.5 μαλακία, doença, enfermidade, 4.23; 9.35;
έμπρήθω, incendiar, queimar, 22.7 10.1

124
L is t a d e Palavras G regas E m pr eg a d a s so m en te po r M ateus

μεταίρω, partir, 13.53; 19.1 σαγήνη, rede, 13.47


μετοικεσία, deportação, 1.11-12,17 σεληνιάζομαι, ser lunático, 4.24; 17.15
μιλίου, milha, 5.41. σιτιστός, cevado, 22.4
μισθόομαι, contratar, assalariar, 20.1,7 στατήρ, estáter, moeda, 17.27
νόμισμα, moeda do tributo, 22.19 συναιρώ , fazer as contas, 18.23-24;
οίκέτεια, casa, 24.45 25.19
οικιακός, pertencente à casa, 10.25,36 συνάντησις, encontrar, 8.34
όλιγοπιστία, pequena fé, 17.20 συναυξάνομαι, crescer junto, 13.30
δναρ, sonho, 1.20; 2.12-13,19,22; 27.19 συντάσσω, ordenar, indicar, 26.19; 27.10
οόδαμώς, de form a algum a, 2.6 τάλαντον, talento, 18.24; 25.15-28
παγιδεύω, surpreender, apanhar, 22.15 ταφή, sepultam ento, 27.7
παραθαλάσσιος, na região litorânea, p erto τελευτή, fim (no sentido de m orte), 2.15
do mar, 4.13 τούνομα, por nome, 27.57
παρακούω, negligenciar, desdenhar, 18.17 τραπεζίτης, banqueiro, cambista, 25.27
παρατιθεναι παραβολήν, propor uma p ará­ τρύπημα, buraco, fundo (de uma agulha),
bola, 13.24,31 19.24
παρομοιάζω, ser sem elhante a, 23.27 τύφω, fumegar, 12.20
παροψίς, prato, 23.25 φράζω, declarar, 13.36; 15.15
πλατύς, largo, 7.13 φυγή, fuga, 24.20
πληρούν το ρηθεν, cum prir o que foi dito, φυλακτήριον, filactério, 23.5
1.22; 2.15,17,28 etc. φυτεία, planta, 15.13
πολυλογία, o m uito falar, 6.7 χλαμύς, capa, 27.28,31
προφθάνω, chegar diante de, entrar, 17.25 ψευδομαρτυρία, falso testem unho, 15.19;
ρακά, raca, 5.22 26.59
ραπίζω, bater, 5.39; 26.67 ψύχομαι, esfriar(-se), 24.12

125
M arcos

I ntrodução

O evangelista Marcos é, pelos maiores eruditos, identificado com João Marcos,


o filho de Maria. O sobrenome Marcos fora adotado para uso no mundo gentíli-
co. Marcos (Marcus), um dos nomes latinos mais comuns (cp. Marcus Tullius Cice­
ro, Marcus Aurelius), assim como João era um dos nomes hebraicos mais comuns.
Marcos era primo de Barnabé e, desde muito cedo, um amigo íntimo e compa­
nheiro de Pedro (At 1 2 .1 1 - 1 7 ) , que se refere a ele, de maneira carinhosa, como
“meu filho” no final da sua primeira epístola. A opinião geral dos Pais da Igreja,
bem como a dos eruditos hodiernos, é que Marcos obteve a sua vasta gama de
informação a partir das exposições orais de Pedro. Esta teoria foi perpetuada
pela arte cristã, nas representações de Pedro sentado em um trono com Marcos
ajoelhado diante dele em posição de quem anotava os termos por ele ditados, ou
com Marcos sentado e escrevendo e Pedro de pé diante dele, com a mão erguida
e ditando palavras; e com Pedro em um púlpito, pregando aos romanos, enquanto
Marcos tomava nota das suas palavras em um livro1.
Esta opinião encontra apoio nas evidências da influência de Pedro sobre o esti­
lo do seu evangelho. A inquietação e impetuosidade da personalidade de Marcos,
das quais encontramos vestígios no abandono que ele faz a Paulo e Barnabé em
Perga (At 1 3 .1 3 ; 1 5 .3 8 ), e da sua posterior prontidão em se juntar a eles em uma
segunda viagem missionária (At 1 5 .3 9 ) e, caso aceitemos a tradição, na sua cor­
rida para a rua na noite em que Cristo foi aprisionado, tendo a sua nudez coberta
somente por um lençol de linho enrolado ao corpo (Mc 1 4 .5 1 - 5 2 ) , naturalmente,
comparar-se-iam com os traços de personalidade de Pedro. O apóstolo Pedro era

1. Vide Sra. Jameson, Sacred and Legendary Art, 1 . 1 49.


M arcos - Introdução

muito mais um homem de observação e ação do que de reflexão; ele era impulsi­
vo e impetuoso. O Dr. Morison afirma:

Q u a n d o c o n sid e r a m o s q u e M a r c o s tem por fo n te d ir e ta o s d is c u r s o s d e P edro, en ­


tão c o m p r e e n d e m o s c o m o é p o s s ív e l e n c o n tr a r m o s n a s su a s p á g in a s o r e la to m ais
e sp e c ífic o da n e g a ç ã o la m e n tá v e l q u e o n o s s o S e n h o r te v e q u e ou vir, fe ita p e lo a p ós­
to lo Pedro. N in g u é m m ais g u a rd a ria na m em ó ria , d e form a tão v iv a , o s d e ta lh e s
e sp e c ífic o s da p red ição, b em c o m o d o se u c u m p r im e n to in esp era d o . V ale ta m b ém
a p en a n o ta r m o s que, apesar d e a se v e r a r e p r e e n sã o q u e o n o s s o S e n h o r fe z a Pe­
d ro n a s cercan ias d e C esa reia d e F ilip e e sta r fie l e c ir c u n s ta n c ia lm e n te r e g istr a d a
n as p á g in a s de M a rco s, o e sp lê n d id o e lo g io e a b ên çã o d is tin ta , q u e h aviam sid o
a n te r io r m e n te p ro n u n cia d a s, são, p o r a ss im d izer, m o d e s ta m e n te ig n o r a d a s. S em
d ú vid a, o g r a n d e a p ó s to lo n ã o seria cu lp a d o d e to r n a r fr e q u e n te s as r eferên cia s a
e sta s m arcas d e d is tin ç ã o 2.

Ao contrário dos outros evangelhos, a narrativa de Marcos não está subor­


dinada ao desenvolvimento de qualquer outra ideia. As memórias de Mateus
giram em torno da relação de Cristo com a Lei e os Profetas. Ele constrói uma
ponte entre a velha e a nova economia. O seu Evangelho guarda uma relação
com o passado, no qual o Cristianismo é considerado como o cumprimento do
judaísmo. Lucas apresenta Jesus como o Salvador, e expõe a liberdade e a univer­
salidade do Evangelho, bem como a sacralidade da vida humana. João escreveu
a fim de que os homens pudessem crer que Jesus é o Cristo, e nele pudessem ter
vida. Enquanto Mateus e Lucas tratam dos seus ofícios, João trata da sua pessoa
e leva adiante os pilares da ponte de Mateus até alcançar a economia celestial
aperfeiçoada, da qual o seu Apocalipse nos dá uma amostra. Em Mateus, Jesus é o
Messias; Ele é aquele que cumpre a Lei; em João, Ele é o Verbo Eterno e prefigura
a parcimônia mais sublime e mais maravilhosa do Espírito.
Marcos, por outro lado, mostra-se muito mais como um cronista do que
como um historiador. A sua narrativa é o registro de um observador, que lida
com os fatos da vida de Cristo sem referências a qualquer concepção dominan­
te da sua pessoa ou ofício. O retrato de Cristo é feito “na clareza da sua energia
presente”; não como o cumprimento do passado, como o faz Mateus, não como
o fundamento do futuro, como o faz João. O seu objetivo é retratar Jesus na sua
vida cotidiana: “na grandeza da sua personalidade que inspirava reverência por
parte das pessoas, como homem que também foi o Filho de Deus Encarnado e
que operava maravilhas”. Por isso, as suas primeiras palavras formam a senha-
chave para o seu Evangelho: “Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho
de Deus”.

2. M orison, C o m m e n ta r y o n M a r k .

128
M arcos — I ntrodução

Este tipo de narrativa podería ter sido esperada por parte de Pedro, com a sua
perspicácia, com o seu hábito de observar as coisas e o seu poder de descrever
graficamente o que percebia com tanta rapidez. Existe, obviamente, menos espa­
ço para a exibição destes traços nas suas epístolas, apesar de elas se mostrarem
até mesmo em certos termos pitorescas e características, bem como em expres­
sões que refletem incidentes do seu relacionamento pessoal com Cristo.
Estas breves epístolas contêm mais de cem vocábulos que não aparecem em
outras partes do Novo Testamento. Certas narrativas do livro de Atos regis­
tram incidentes, nos quais Pedro foi o principal ou o único ator apostólico, e
cujo relato deve ter vindo dos seus próprios lábios; e carregam as marcas da sua
arguta observação e são caracterizadas pela sua ênfase. Assim, temos os relatos
da cura do coxo à porta do Templo (3); de Ananias e Safira (5); do livramento de
Pedro da prisão (12); da ressurreição de Dorcas (9); a da visão do grande lençol
(10). Nestes, especialmente se compararmos com as narrativas que Lucas, de
certa forma, recebeu de outras fontes, ficamos impressionados com a vivacidade
pitoresca da história; as anotações precisas relativas a tempo, local e número; as
expressões ilustrativas, e as rápidas transições; o uso frequente dos vocábulos
como prontamente, imediatamente; a substituição do diálogo pela narrativa, e a
plenitude geral dos detalhes.
Todas estas características aparecem no Evangelho de Marcos e são, justa­
mente, consideradas como um indicativo da influência de Pedro, apesar de, com­
parativamente, poucos destes termos serem empregados pelos dois; fato que pode
ser, em grande parte, explicado pela diferença entre uma epístola de exortação
e uma narrativa. Os traços da rápida percepção de Pedro e da ênfase dramática
e pitoresca se mostram visíveis ao longo de todo o livro de Marcos. Enquanto
Mateus registra a totalidade dos discursos do Senhor, Marcos retrata as suas
obras. Por isso, enquanto Mateus nos apresenta quinze das suas parábolas, ele
reproduz somente quatro, e estas, ainda, em um formato condensado. “Marcos
não usa a roupagem viva de Mateus. A sua vestimenta é ‘sucinta e prima pela agi­
lidade’. Com um ritmo rápido, incisivo, a sua narrativa avança diretamente rumo
ao objetivo, tal qual um soldado romano na sua marcha em direção à batalha.” O
seu Evangelho é o Evangelho do presente, não do passado. As suas referências
ao Antigo Testamento, à exceção de 1.2-3, são citações feitas nos discursos de
Cristo, ou por outras pessoas. Como observou o cônego Farrar: “Elas pertencem
à narrativa e não à pessoa que as registrou” (15.28 é um caso de interpolação). O
vocábulo νόμος, lei, jamais ocorre em Marcos ou Pedro.
Marcos é, por conseguinte, majoritariamente o evangelho ilustrativo: o evan­
gelho das minúcias. Segundo afirma o cônego Westcott: “Talvez não exista ne­
nhuma narrativa que ele apresente em comum com Mateus e Lucas, à qual ele
não contribua com alguma característica especial". Assim, ele acrescenta ao re-
129
M arcos - I ntrodução

trato de João Batista ser indigno de desatar as correias das sandálias de Jesus um
toque a mais, representado pelo gerúndio do verbo abaixar-se (1.7). Marcos uti­
liza um termo mais ilustrativo para descrever o momento em que o céu se abriu
no batismo de Cristo. Segundo Mateus e Lucas, os céus se abriram (άνεώχθησαν);
de acordo com o relato do apóstolo se rasgaram em duas partes (σχιζόμενους; 1.10).
Mateus e Lucas representam Jesus como tendo sido levado (άνηχθη) ao deserto
para ser tentado; Marcos como tendo sido conduzido (εκβάλλει); acrescentando
que Ele vivia entre asferas-, na qual algumas pessoas entendem ser uma referên­
cia à comparação que Pedro faz entre o Diabo e um leão que ruge (1 Pe 5.8). Ele
impinge um toque realista à história de Tiago e João que abandonaram a sua
ocupação para atender ao chamado de Jesus, ao acrescentar que eles deixaram o
seu pai Zebedeu no barco com os empregados (1.20). Depois do discurso feito a partir
de um barco para a multidão na praia, Marcos é o único a nos relatar que os dis­
cípulos despediram a multidão, e o faz nos mínimos detalhes: o levaram consigo,
assim como estava, no barco-, e havia também com ele outros barquinhos (4.36). A sua
descrição da tempestade que se seguiu é mais vivido do que o feito por Mateus
ou Lucas. Ele retrata as ondas subindo por cima do barco, e o barco começando
a se encher de água; observa a almofada do timoneiro na popa do barco sobre a
qual Jesus reclinava a sua cabeça (4.37-38); e descreve o despertar do Mestre por
parte dos discípulos, bem como o controle da tempestade de maneira dramática,
por meio de uma pergunta aflita: Mestre, não te importa que pereçamos?, bem como
por meio da ordem dada ao mar como se ele fosse um monstro feroz: Cala-te,
aquieta-te! (4.38-39).
Na descrição da provisão de alimento para os cinco mil, somente Marcos relata
a pergunta feita pelo Salvador: Q uantos p ã e s tendes? Ide v e r (6.3 8). Uma multidão
oriental é sempre abundante em cores, e é Marcos que nos proporciona a alegre
descrição do cenário com a multidão disposta sobre erva verde, em grupos, como
se fossem canteiros deflores, nas mais variadas matizes de cores. Somente ele espe­
cifica a divisão dos dois peixes entre todos (6.39-41). Marcos descreve como Jesus,
ao caminhar sobre o mar, teria passa d o pelo barco dos discípulos; ele expressa o
seu grito de terror diante da aparição de Cristo fazendo uso de um termo mais
forte do que Mateus, o verbo composto άνεκραξαν, onde o apóstolo usa o verbo
simples έκραξαν. Ele acrescenta, todos o vira m (6.48-50). Quando Jesus desce do
monte da transfiguração, é Marcos que completa o incidente da controvérsia dos
discípulos com os espectadores curiosos ao relatar que os escribas estavam junto
deles questionando. Ele nota a surpresa que, por alguma razão, sobreveio ao
povo diante da aparição de Jesus, a corrida do povo para saudá-lo, e sua pergunta
aos escribas: Que é que discutis com eles? (9.14-16). Marcos nos apresenta o incen­
tivo dos espectadores a Bartimeu, quando este foi chamado por Jesus, bem como
a forma como ele lançou de s i a sua capa e deu um salto (10.49-50). Somente ele
130
M arcos - I ntrodução

descreve a quebra do vaso de alabastro por uma mulher (14.3), e Cristo tomando
a criancinha nos braços depois de recebê-la no seu meio (9.36).
No relato dos dois endemoninhados gadarenos, Mateus (8) relata que eles
foram encontrados quando saíam dos sepulcros, que estes dois homens eram ex­
cessivamente agressivos, de tal forma que ninguém conseguia seguir por aquele
caminho. Marcos menciona somente um endemoninhado, mas acrescenta que ele
tinha a sua morada nos sepulcros (κατοίκησιν είχεν, uma expressão mais enfática
do que o verbo habitavam, εμενεν, utilizado por Lucas); que já haviam tentado
acorrentá-lo, mas que ele rompera as correntes (cadeias); e que permanecia dia
e noite nos sepulcros e nos montes, gritando e se cortando com pedras (5.3-6).
Na conversa com o doutor da lei, que desejava conhecer qual era o maior manda­
mento da lei, Mateus (22.34-40) termina o diálogo com a resposta de Jesus a esta
pergunta. Marcos apresenta a resposta do doutor da lei e a expansão que ele faz
à resposta de Jesus, o fato do Salvador ter observado que ele respondeu de forma
sábia, e das suas palavras significativas: Não estás longe do Reino de Deus.
É interessante compararmos o relato da festa de Herodes com o assassinato de
João Batista, conforme este é mostrado por Mateus e Marcos, respectivamente.
Somente Marcos menciona o grande banquete e a posição social dos convidados.
Ele acrescenta os detalhes da entrada de Salomé e do seu esforço para alegrar os
convidados. Ele lança a promessa de Herodes e o pedido de Salomé em forma de
diálogo. Onde Mateus simplesmente diz: pelo que prometeu, comjuramento, dar-lhe
tudo o que pedisse, Marcos apresenta: Pede-me o que quiseres, e eu to darei. E jurou-
lhe, dizendo: Tudo o que me pedires te darei, até metade do meu reino. A sua narrativa,
como um todo, é mais dramática do que a de Mateus. Ele informa que Salomé foi
colocada àfrente pela sua mãe. Marcos retrata-a saindo, e detalha a conversa que
ela teve com Herodias, e a sua volta apressada ao recinto, exigindo que a proposta
feita fosse imediatamente cumprida. Marcos também amplia o remorso que so­
breveio a Herodes: ele entristeceu-se muito-, e onde Mateus observa somente a sua
aceitação do pedido daquela jovem moça, Marcos nos deixa claro o seu descon­
forto em não recusar o seu pedido. Além disso, enfatiza a rapidez com que tudo
se deu. Salomé exigiu a cabeça de João Batista imediatamente e Herodes envia
o executor, o carrasco, para cumprir a ordem naquele exato momento. Somente
Marcos menciona o executor. Apesar de os diálogos não fazerem parte do estilo
peculiar de Marcos, deve-se notar que ele é característico do estilo de Pedro, até
aqui, pelo menos, como pode ser inferido a partir das histórias do livro de Atos,
a saber: Ananias e Safira (5.3-9), Cornélio (10), e do livramento de Pedro do
cárcere (12).
Marcos é peculiarmente minucioso e específico quanto aos detalhes relativos
às pessoas, a cronologia, a números e a lugares; um aspecto no qual ele, também,
lembra Pedro (cp. At 2.15; 6.3; 4.22; 5.7,23; 12.4). Por isso, com relação às pessoas·.
131
M arcos - Introdução

“foram à casa de Simão e de André, com Tiago e João” (1.29); Έ seguiram-no Si-
mão e os que com ele estavam (1.36); “no tempo de Abiatar, sumo sacerdote” (2.26);
“os fariseus, tomaram logo conselho com os herodianos” (3.6); “a mulher era grega,
siro-fenícia de nação” (7.26). Compare também 11.11; 13.3; 15.21. Com relação aos
lugares: “uma grande multidão da Galileia, e da Judeia etc. (3.7-8); O endemoni-
nhado —agora liberto —passou a anunciar a sua libertação em Decápolis (5.20);
Jesus partiu “dos territórios de Tiro e de Sidom, foi até ao mar da Galileia, pelos
confins de Decápolis” (7.31). Compare com 8.10; 1 l.l; 12.41; 14.68. Com relação a
números·, o paralítico foi “trazido por quatro” (2.3); os porcos eram em número de
dois mil (5.13); os doze foram enviados de dois em dois (6.7); as pessoas estavam
sentadas em grupos de cem e cinquenta (6.40); “antes que o galo cante duas vezes,
três vezes me negarás” (14.30). Com relação ao tempo·. Jesus se levantou de manhã
muito cedo, estando ainda escuro (1.35); naquele dia, sendojá tarde (4.35). Compare
com 11.11; 14.68; 15.25.
Contudo, Marcos não se atém aos meros detalhes exteriores. Ele é prolixo em
relances que revelam os sentimentos das suas personagens. Ele utiliza seis vocábulos
diferentes para expressar os sentimentos de temor, maravilhamento, perturbação,
espanto, e extrema perplexidade. O composto έκθαμβέισθαι, que significa muitís­
simo perplexo, aterrorizado (9.15; 16.5-6), não aparece em nenhuma outra parte do
Novo Testamento. Assim, tanto a aparência, quanto as emoções do nosso Senhor
são retratadas: “olhando para eles em redor com indignação, condoendo-se da dureza do
seu coração” (3.5); “olhando em redor para os que estavam assentados junto dele dis­
se: Eis aqui minha mãe” etc. (3.34); “E ele olhava em redor, para ver quem lhe havia
tocado na multidão” (5.32); “estava admirado da incredulidade deles” (6.6); E Jesus,
olhando para \jo jovem rico] o amou (10.21); Ele ficou movido de grande compaixão
para com o leproso (1.41); E, suspirando profundamente em seu espírito (8.12).
De forma similar, Marcos retrata a terna compaixão do Senhor. Um belo sinal
da sua sensibilidade delicada e amorosa, de uma necessidade corriqueira, encerra
a história da cura da filha do líder (principal) da Sinagoga. Na alegria e espanto
diante da sua maravilhosa restauração, os amigos, naturalmente, esquecer-se-
iam da necessidade prática de alimento, que é prontamente lembrada pelo Se­
nhor por meio do mandamento que se trouxesse algo para que ela comesse (5.43).
Lucas percebe as mesmas circunstâncias. A sua sensibilidade pela exaustão dos
discípulos aparece nas palavras: "Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e
repousai um pouco” (6.31). Ele teve compaixão da multidão, porque ela era como
uma manada de ovelhas sem pastor (6.34); ficou comovido com a necessidade e
fadiga das várias pessoas que vieram de longe (8.3); Ele mostra o seu interesse
na situação do rapaz epilético ao lhe fazer perguntas acerca do histórico da sua
doença (9.21); e fica indignado diante da intromissão dos discípulos no sentido de
impedir que as criancinhas chegassem até si (10.14).
132
M arcos - Introdução

Marcos descreve o estado mental e emocional das pessoas que foram levadas
a ter contato com Cristo. Os que testemunharam o milagre da multiplicação dos
pães não compreenderam, e o seu coração permanecia endurecido (6.52); os discípulos
estavam perplexos, perguntando uns aos outros que seria aquilo, ressuscitar dos mortos
(9.10); eles ficaram espantados com as suas palavras de que um homem rico pode­
ría entrar no reino dos céus (10.24); um temor súbito e misterioso lhes sobreveio
na viagem a Jerusalém (10.32); Pilatos se admirou ao saber que Jesus já morrera
e chamando o centurião, perguntou-lhe sejá havia muito que tinha morrido (15.44).
Compare com 1.22,27; 5.20,42; 6.20; 7.37; 11.18. Ele retrata o interesse desper­
tado pelas palavras e pelas obras de Cristo ao descrever a multidão que vinha até
Ele e a forma como ela espalhava a fama do seu poder (1.28,45; 2.13; 3.20-21; 4.1;
5.20-21,24; 6.31; 7.36).
Em Marcos, encontramos certas expressões peculiarmente marcantes da lin­
guagem do nosso Senhor, tais como: aos que estão defora (4 .1 1); deixando o man­
damento de Deus, retendes a tradição dos homens (7.8); esta geração adúltera e
pecadora (8.38); ser aviltado (9.12); logo falar mal de mim (9.39); que não receba...
irmãos, e irmãs, e mães etc., com perseguições {10.30).
A sua narrativa flui, o seu estilo é cheio de transições repentinas. O vocábulo
εύθέως, imediatamente, ocorre cerca de quarenta vezes no seu evangelho. Ele
transmite um brilho à sua narrativa por intermédio do uso do tempo presente
em vez do histórico (1.40,44; 2.3ss.; 9.1-2,7; 14.43,66). Ele costuma esclare­
cer as suas idéias ao associar vocábulos ou expressões semelhantes. Belzebu é
designado por dois nomes (3.22), e por um terceiro (3.30); os enfermos eram
trazidos à tarde, quandojá estava sepondo osol{ 1.32); a pessoa que blasfemar con­
tra o Espírito Santo, nunca obterá perdão, mas será réu do eternojuízo (3.29); Ele
falava com muitas parábolas, e sem parábolas nunca lhesfalava (4.33-34). Compare
com 3.5,27; 5.26; 6.25; 7.21. Ele emprega cerca de setenta vocábulos que não
são encontrados em nenhuma outra parte do Novo Testamento. Somente no
Evangelho de Marcos encontramos preservados termos aramaicos, tais como
eles foram pronunciados pelos lábios do nosso Senhor: Boanerges {3.17); Talitá
cumi (5.41); Corbã (7.11); Efatá (7.34); e Aba (14.36). Ao escrever para os roma­
nos, vemo-lo fazendo a transferência de certos termos latinos para o grego, tais
como: legio, legião (5.9); centurio, κεντυρίωιζ, centurião, que, em outras partes, é
έκατόνταρχος-χης (15.39); quadrans, ceitil (réis) (12.42); fiagellare, açoitar, flage­
lar (15.15); speculator, executor (6.27); census, tributo ( 12.14); sextarius, jarro (7.4);
praetorium(\5A6). Três destes vocábulos —centurio, speculator e sextarius - ocor­
rem apenas no seu evangelho. Ele sempre acrescenta uma nota explicativa às
palavras e aos usos judeus.
O seu estilo é brusco, conciso e marcante; sua forma de expressão é menos
pura que a de Lucas e João. Além de irregularidades de construções que não
133
M arcos - Cap. 1

podem ser explicadas para um leitor ocidental, Marcos faz uso de muitos termos
que são expressamente censurados pelos gramáticos, sendo que alguns deles são,
até mesmo, condenados como gíria! Ei-los: εσχάτως εχει, está moribunda (5.23);
κράββατος, leito (2.4,9, 11-12); μονόφθαλμος, com um só olho (9.47); κολλυβισταί,
cambistas (11.15); κοράσιον, menina (5.41); ορκίζω, conjuro-te (5.7); ράπισμα, bofe­
tada (14.65); ραφίδος, agulha {10.25).
Meu objetivo aqui foi fazer uma descrição um tanto ampla de Marcos, junta­
mente com o propósito deste livro, que trata de maneira primária, de palavras e
expressões específicas, bem como das peculiaridades do falar, e não tanto da exe­
gese das passagens. Ainda no que diz respeito a este Evangelho, é especialmente
verdade que o seu sabor e a sua qualidade característicos não podem ser perce­
bidos sem um estudo verbal minucioso. Ele é uma galeria de imagens-verbais.
Ao lê-lo, até mesmo em versões familiares, podemos descobrir que ele é - como
bem observou o cônego Westcott - “essencialmente, a transcrição da vida”; mas
nada menos que uma compreensão dos termos originais, na sua especificidade,
revelar-nos-á que esta transcrição é, por si mesma, viva.

C a p ít u l o l

1. Princípio (άρχή), sem o artigo, denotando que a expressão é uma espécie de


título. Trata-se do começo, não do seu livro, mas dos fatos do Evangelho. Ele
mostra, a partir dos profetas, que o Evangelho deveria começar pelo envio de
um precursor.

3. Voz (φωνή). Sem artigo, conforme vemos na arc . Na ecp, “a voz”. Este vocá­
bulo apresenta uma espécie de força exclamativa. Para despertar a audiência, os
profetas exclamavam: Eis... uma voz!

4. Apareceu João batizando (εγενετο ’Ιωάννης ό βαπτίζων). Literalmente, João


apareceu ou surgiu quem batizava. Na tb consta João Batista, mas na te b : João, o
Batizador.

Batismo de arrependimento (βάπτισμα μετάνοιας). Um batismo cuja caracte­


rística era o arrependimento; que envolvia uma obrigação. Era de se esperar que
Marcos se servisse de vocábulos mais contundentes, tais como os utilizados por
Mateus: Dizendo: Arrependei-vos!

5. Iam ter (εξεπορεύετο). O tempo imperfeito significa: continuavam indo ter [[com ele}.

No rio. Peculiar a Marcos.

Confessando. Vide Mt 3.6


134
M arcos - C a p. 1

6. De pelos de camelo (τρίχας καμηλού). Não com couro de camelo, mas com
uma veste costurada a partir de pelo de camelo. Compare com 2Rs 1.8.

Mel silvestre. Tristram registra:

A s in u m e r á v e is fissu r a s e ra ch a d u ra s d as ro c h a s calcárias, q u e la d eia m o s v a le s


em to d a s a s p a rtes, p e r m ite m , n o s se u s r e c ô n d ito s, o ab rig o s e g u r o para q u alq u er
q u a n tid a d e d e e n x a m e s de a b elh as silv e str e s; e m u ito s d o s b ed u ín os, m a is e sp e c i­
fica m en te o s q u e v iv e m na r e g iã o d e sé r tic a da Judeia, g a r a n te m a su a su b sistê n c ia
da ap icu ltu ra , tr a z e n d o a Jeru sa lém v a so s d e m e l silv e str e , d o q u al João B atista se
a lim en ta v a n o d e s e r to 3.

Na bv consta a leitura de mel do campo.

7. Abaixando-me. Um detalhe específico do Evangelho de Marcos.

Desatar. Compare com levarem M t 3.11.

10. Logo. Um dos termos prediletos de Marcos. Vide Introdução.

Abertos (σχιζόμενους). Literalmente, rasgado de cima abaixo: muito mais enfá­


tico do que o vocábulo escolhido por Mateus e Lucas, άνεωχθησαν, abertos.

11. Tu és o meu Filho amado. Os três autores sinóticos apresentam esta frase
no mesmo formato: Tu és o meufilho, o amado.

12. O impeliu (εκβάλλει). Mais enfático do que o vocábulo άνήχθη expresso por
M ateus,^/ guiado a, e ήγετο,fioiguiado, preferido por Lucas. Vide Mt 9.38. E o
termo utilizado pelo nosso Senhor para designar a expulsão de demônios, Mc
1.34,39.

O deserto. A localização deste lugar é incógnita. A tradição o situa pró­


ximo a Jerico, nas cercanias do monte Quarantânia, cuja face em precipício é
ponteada por antigas celas e capelas, e que guarda, na sua parte mais elevada,
as ruínas de uma antiga igreja. O Dr. Tristram afirma que, em todas as pri­
maveras, alguns cristãos devotos da Abissínia têm o hábito de ir àquele lugar
e lá permanecer pelo período de quarenta dias, a fim de guardar a Quaresma
no lugar exato onde, segundo entendem eles, o nosso Senhor jejuou e foi
tentado.

13. Entre as feras. Peculiar a Marcos. A região aqui citada é rica em animais,
tais como javalis, lobos, raposas, leopardos, hienas etc.

3. T ristra m , h a n d o f Israel.

135
M arcos — C a p. 1

15. O tempo (6 καιρός). Ou seja, o período completado para o estabelecimento


do reino do Messias. Compare com a expressão plenitude dos tempos em G1 4.4.

Arrependei-vos. Vide Mt 3.2; 21.29. Marcos acrescenta, e crede no evangelho.

16. Lançavam a rede (αμφιβάλλοντας). Vide Mt 4.18. Marcos, aqui, utiliza, de


maneira mais ilustrativa, somente o verbo, sem acrescentar o vocábulo rede. Li­
teralmente, lançando ao largo no mar. Uma expressão típica do círculo dos pesca­
dores, provavelmente, como um lance, um arrasto.

17. Que sejais (γενεσθαι). Um acréscimo de Marcos.

19. Um pouco mais adiante. Acrescentado por Marcos.

Consertando. Vide M t 4.21.

20. Com os empregados. Expressão peculiar a Marcos. Pode implicar que Ze-
bedeu possuía negócios que excediam a função de um simples pescador.

22. Ensinava (ήν διδάσκων). O verbo finito acompanhado do particípio que de­
nota ação contínua: estava ensinando.

23. Imediatamente [ευθύς]]. Na conclusão do seu ensinamento.

Com um espírito imundo (èv πνεύματι άκαθάρτω). Literalmente, em um espí­


rito imundo. Έν {em, dentro de) tem a força de empoder de. O Dr. Morison compara
com as expressões na bebida, no amor.

24. Que temos Qnós]] contigo [[ήμΐν]]. Eu e as demais pessoas como eu. Segundo
Bengel: O s demônios fazem daquilo uma causa da sua coletividade". A t b traduz
corretamente o pronome: Que temos nós contigo.

O Santo de Deus. O demônio o trata de forma a passar a impressão de que a


destruição é inexoravelmente certa.

25. Cala-te (φιμώθητι). Literalmente, fique amordaçado ou ponha esta focinheira.


Vide Mt 22.12.

26. Agitando-o (σπαράξαν). Na r v consta rasgar, convulsões. Lucas apresenta lan­


çando-o por terra no meio do povo. Marcos acrescenta clamando com grande voz.

27. Perguntarem entre si (συνζητάν προς εαυτούς). Mais enfático do que Lucas,
que apresenta: elesfalaramjuntos. Na b j consta perguntando uns aos outros.

30. Estava deitada, com febre (κατεκειτο πυρέσσουσα). Κατά., prostrada. Mar­
cos acrescenta: lhefalaram dela. Lucas: rogaram-lhe por ela. Marcos: chegando-se a
136
M arcos - C ap. 1

ela. Lucas: in c lin a n d o -se p a r a ela. Somente Marcos apresenta: to m o u -a p e la m ã o e


le va n to u -a .

32. E, tendo chegado à tarde, quando já estava se pondo o sol. Um exemplo


do hábito que Marcos tinha de associar termos ou expressões similares.

Que se achavam enfermos. V id e Mt 4.23-24.

33. E toda a cidade se ajuntou à porta. Peculiar a Marcos.

34. Demônios (δαιμόνια). O Novo Testamento utiliza dois vocábulos similares


para designar os espíritos malignos que se apossam dos homens, e que, com fre­
quência, eram expulsos por Cristo: δαίμων, da qual o nosso vocábulo d em ô n io é
uma transcrição, e que ocorre, segundo os melhores textos, somente em Mt 8.31;
e δαιμόνιον, que não é um diminutivo, mas a forma neutra do adjetivo δαιμόνιος,
de, ou p erten ce n te a u m dem ô n io . O verbo cognato é δαιμονίζομαι, e sta r p o ssu íd o p o r
um dem ônio, como se vê em Mc 1.32.
A derivação do vocábulo é incerta. Talvez δαίω, d is t r ib u ir , já que as divin­
dades repartiam entre si o destino dos homens. Platão determina a origem
deste termo a partir do vocábulo δαήμων, sá b io . Em Hesíodo, bem como em
Pitágoras, Tales e Plutarco, o termo δαίμων é utilizado em referência aos
homens da era dourada, que atuavam como divindades tutelares, e forma­
vam o elo entre os deuses e os homens. Sócrates faz uma citação de Hesío­
do, a saber:

Sócrates·. S abes co m o H e s ío d o faz u so da palavra?


Hermógenes·. N a verdade, não sei.
Sócrates·. N ã o te lem b ras q u e e le fala d e um a raça áurea d e h o m e n s q u e e x is tiu n o
princípio?
Hermógenes·. Sim , sei d isso.
Sócrates. E le fala a r e sp e ito deles:

“M a s a g ora que o d e stin o so b rev eio a esta raça,


E le s se torn aram d e m ô n io s sa g r a d o s sob re a terra,
B en eficen tes, im p ed id o res d o s m ales, g u a r d iõ e s d o s h o m en s m o rta is”.

Depois de um pouco mais de conversa, Sócrates prossegue:

E, lo g o , te n h o a m ais p len a c o n v ic ç ã o de q u e e le o cham ou d e demônios, porq u e e le s


eram δαήμον€ς (sábios). A g o r a , e le e o u tr o s p o eta s afirm am , verd ad eiram en te, que,
q u an d o m o rre um h o m em bom , receb e h onra e um a p o rçã o g e n e r o sa e n tr e o s m ortos,
e to r n a -se um d em ôn io, q u e é um n o m e q u e lh e é co n ced id o e q u e rep resen ta a sabe­
doria. A firm o, tam b ém , q u e to d o sáb io que, p orven tu ra, m o s tr a -se b om é m ais d o que

137
M arcos - C a p. 1

humano (δαιμόνιοι') tanto na vida, quanto na morte e é, de maneira justa, chamado


de demônio1.

Grote observa que, em Hesíodo, os demônios são:

habitantes invisíveis da terra, remanescentes de uma raça que, outrora, foi bem-aven­
turada e áurea e que foi, inicialmente, criada pelos deuses do Olimpo —a polícia invisí­
vel dos deuses, que tinha por objetivo reprimir o comportamento ímpio no mundo*.

No grego tardio, este vocábulo passou a ser utilizado para designar qualquer
alma falecida.
Em Homero, δαίμων é utilizado como sinônimo de 9eóç e Oeá, deus e deusa, e a
qualidade moral da divindade é determinada pelo contexto; todavia, o mais comum
é que opoder ou a agência divina, que se assemelha ao conceito latino de numen, era
considerado como um poder e não como uma pessoa. Homero não utiliza o vocábulo
δαιμόνιον na sua forma substantiva, mas como adjetivo, sempre no caso vocativo,
e com um sentido pesaroso e vergonhoso, indicando que a pessoa referenciada
está em alguma situação surpreendente ou estranha. Portanto, como um termo de
reprovação - Miserável! Louco! e. Ocasionalmente, o uso se revela em um sentido
de admiração e respeito: Primoroso desconhecido! Nobre senhor! 7. Homero também
utiliza δαίμων para designar o gênio ou espírito auxiliador de uma pessoa e, daí, a
nossa porção no destino. Por esta forma, no belo sorriso do pai enfermo: “Algum
gênio maligno o atacou”8. Por isso, posteriormente, a expressão κατά δαίμονα é um
equivalente aproximado de por obra do acaso.
Já vimos que, em Homero, o sentido negativo de δαιμόνιος é o que prevalece.
Nos autores de tragédias, também, δαίμων, embora utilizado para designar tanto
o bom, quanto o mau destino, ocorre, com mais frequência, no segundo sentido
e em direção a este significado o termo geralmente gravita. O conceito do pen­
samento grego, que tendia a não considerar nenhum homem feliz, enquanto ele
não escapasse desta vida (vide Mt 5.3, bem-aventurado), naturalmente transmitia
um caráter obscuro e proibitivo àqueles que, supostamente, repartiam entre si o
destino dos seres humanos.
No grego clássico, é notório que a forma abstrata tò δαιμόνιον estava por
detrás de δαίμων, sendo que a segunda forma desenvolveu a noção de um destino
ou gênio ligado a cada indivíduo, tal qual o demônio, na concepção socrática; ao
passo que no grego bíblico o processo é invertido, já que neste caso esta doutrina

4. Platão, Crátilo.
5. Grote, History o f Greece.
6. Homero, llíada, 2.190,200; 4.31; 9.40.
7. Id., Odisséia, 14.443; 23.174.
8. Ibid., 5.396. Compare com Odisséia, 10.64; 11.61.
138
M a r c o s — C ap. 1

é rejeitada pela que postula o domínio de uma providência pessoal, e os deuses


estranhos, “obscuros ao conhecimento humano e alheios à vida humana”, apos­
sam-se do termo abstrato, de maneira uniforme, em um sentido negativo.
Empedocles, um filósofo grego, natural da Sicilia, desenvolveu a distinção
de Hesíodo; fazendo dos demônios seres de natureza mista entre os deuses e
os homens, não somente seres que faziam a intermediação entre estas duas
categorias, mas que tinham agência e disposição próprias; não imortais, mas de
vida longa e sujeitos às paixões e inclinações da natureza humana. Enquanto
em Hesíodo, os demônios eram bons, com Empedocles eles são, simultanea­
mente, bons e ruins. Esta concepção descarregava dos deuses a responsabilida­
de pelos comportamentos inadequados à natureza divina. As enormidades que
os mitos mais antigos atribuíam diretamente aos deuses —roubos, estupros e
sequestros —eram obras dos demônios. Ela também salvava o crédito das ve­
lhas lendas, tornando óbvia a necessidade de se declarar que os deuses eram
indignos, ou que as lendas eram falsas.

Contudo, apesar de terem sido imaginadas com o objetivo de satisfazer uma sensibili­
dade religiosa mais escrupulosa, mais tarde, ela foi considerada inconveniente, quando
os invasores se levantaram contra o Paganismo de modo geral. Pois, apesar de ela ter
abandonado uma larga porção indefensável daquilo que uma vez fora a fé, continuava
retendo o mesmo vocábulo demônios com um significado completamente alterado. Os
escritores cristãos, nas suas controvérsias, encontraram ampla justificação entre os
autores pagãos mais primitivos para tratar todos os deuses como demônios; e uma
justificação não menos ampla entre os pagãos do período posterior para denunciar os
demônios, de maneira geral, como seres malignos0.

Este sentido maligno dos termos sempre aparece tanto no texto do Novo Tes­
tamento como também na l x x . O s demônios são sinônimos de espíritos imun­
dos (M c 5.12,15; 3.22,30; Lc 4 .33). Eles aparecem em conexão com Satanás (Lc
10.17-18; 11.18-19); são mostrados em oposição ao Senhor (lCo 10.20-21); à fé
(lTm 4.1). Eles estão ligados à idolatria (Ap 9.20; 16.13-14), representam pode­
res malignos especiais, que influenciam e perturbam o nosso ser físico, mental e
moral (Lc 13.11, 16; Mc 5.2-5; 7.25; Mt 12.45).

35. De manhã m uito eedo, estando ainda escuro (αννυχα). Literalmente, en­
quanto era noite. O termo é característico de Marcos.

36. Seguiram-no (καταδίωξαν). Este termo somente é encontrado em Marcos.


Simão e os seus companheiros, bem como o povo da cidade, parece ter ficado com
medo de que Jesus os deixasse de forma permanente. Por isso, o verbo composto

9. Grote, History o f Greece.


139
M arco s - C ap. 2

indica que eles o seguiram d e fo rm a ansiosa ; que o persegu iram como se Ele esti­
vesse fugindo deles. Simão, fiel à sua natureza, foi quem encabeçou a “persegui­
ção”: S im ã o e os que com ele estavam .

37. Todos. Todo o povo de Cafarnaum, todos estão te buscando. No tempo presen­
te contínuo. O vocábulo todos é peculiar a Marcos.

38. Aldeias (κωμοπόλης). Literalmente, as aldeias, os vilarejos suburbanos.

41. Movido de grande compaixão. Expressão exclusiva do texto de Marcos.

43. Advertindo-o severam ente (έμβριμησάμη/ος). A palavra significa ori­


ginalmente bufar, como fazem os cavalos impetuosos. Consequentemente,
esfregar, ou fr ic c io n a r , ou ser, de outro modo, fortemente deslocado; e então,
como resultado deste sentido, a d v e r tir ou repreen d er in sisten tem en te. Fica evi­
dente que o Senhor falou-lhe p erem p to ria m en te. Compare com m a n d o u -lh e s a ir
(έξέβαλέν); literalmente, fe z -W \e s a ir ou expu lsou -o. A razão para esta exorta­
ção e despedida baseia-se no desejo de Jesus de não frustrar seu ministério,
ao despertar a violência prematura de seus inimigos. Se eles vissem o leproso
e ouvissem sua história antes de ser oficialmente declarado limpo pelo sacer­
dote, poderiam negar que ele fosse um leproso, ou que tenha sido realmente
purificado.

45. Na cidade. Propriamente, como na tb , num a cidade, qualquer cidade.

Capítulo 2

1. Soube-se (ήκούσθη). Literalmente, ouviu-se.

Que estava em casa (ότι elç οίκόν έστί). O termo ότι, que, é recitativo, e
introduz o discurso na sua forma direta. F o i anunciado — ele está em casa! A pre­
posição em (elç) é, literalmente, p a ra dentro, e transmite a ideia de um movimento
que antecedeu a permanência na casa. “E le f o i p a r a dentro da casa, e ali está”. Os
melhores textos, contudo, apresentam kv οΐκω, na casa. O relato deste rumor é
peculiar a Marcos.

2. Anunciava-lhes (έλάλ^ι). Literalmente, fa lo u . Tempo imperfeito. Ele estava


falando, quando se deu a ocorrência seguinte. A bp traz, expunha a mensagem.

3. Trazido por quatro. Um detalhe peculiar a Marcos.

4. Aproximar-se dele (προσεγγίσοα). O vocábulo não ocorre em nenhuma


outra parte do Novo Testamento. Contudo, alguns manuscritos apresentam
προσεοέγκαι, tra zê -lo até ele.
140
M ar co s - C ap. 2

Descobriram (άττΕστΙγασαρ). O único uso deste termo no texto do Novo Tes­


tamento.

Fazendo um buraco (έξορύξαι^τίς). Literalmente, irrom peram . Muito ilustra­


tivo e verdadeiro no que diz respeito ao fato. Um telhado moderno não seria co­
berto por telhas de cerâmica ou madeira-, mas a cobertura de uma casa do Oriente
teria que ser escavado para que uma abertura deste tipo fosse feita. Uma mistura
de argamassa, alcatrão, cinzas e areia era espalhada sobre o telhado das constru­
ções, e posteriormente compactada com um rolo, de modo que o capim crescia
nas fendas. Na casa das famílias pobres do interior, o capim crescia de forma mais
solta, de forma que até mesmo as cabras poderiam ser vistas pastando na cober­
tura das casas. Em alguns casos, como neste, lajes de pedra eram colocadas ao
longo das vigas de madeira. Vide Lc 5.19, onde vemos que eles o abaixaram p o r
entre as telhas-, de forma que teriam sido obrigados, não somente a cavar o capim e
a terra do telhado, mas também levantar as telhas. Compare com SI 129.6

O leito (κράβαττορ). Um dos termos latinos utilizados por Marcos, grabatus.


Geralmente o vocábulo é condenado pelos gramáticos como forma deselegante.
Uma maca rude, nada mais que uma colcha grosseiramente acolchoada, segurada
pelas pontas e que dispensava o uso de cordas para a operação de abaixamento.
Eles poderiam alcançar facilmente a parte superior por meio de escadarias na parte
exterior da construção, já que o teto era baixo; ou poderiam ter ido até uma cons­
trução anexa e passado de um telhado para o outro. Algumas pessoas supõem que
a multidão estava reunida em uma câmara superior, que, às vezes, estendia-se por
cima de uma seção completa da casa. Não é possível se reproduzir com exatidão os
detalhes da cena. O Dr. Thomson afirma que Jesus provavelmente estava na lewan
ou sala de recepção da casa, uma ante-sala pela qual se chega do pátio ou da rua
atravessando-se por baixo de um arco aberto; ou ele pode ter permanecido na parte
coberta do pátio, na frente da própria casa, que normalmente apresentava arcos
abertos nos três lados, e a multidão estaria ao redor e na sua frente.

6. Arrazoavam (διαλογιζόμ€νοι). O termo diálogo é um derivado deste vocábulo


grego, e o seu significado literal é: eles tiveram um diálogo entre si.

8. Conhecendo (έπιγνούς). A preposição έπί transmite a ênfase de um totalm ente.


Ele não só apercebeu-se imediatamente do pensamento deles, como também o
entendeu de forma clara e plena.

9. Anda (πίριπάτει). Literalmente, cam inhou ao redor.

10. Poder (Εξουσίαν); ou melhor, autoridade, como mostra a t b . O termo é deriva­


do de εξεστι, é p e rm itid o ou lícito. Ele combina as idéias de d ireito e poder. A auto­
ridade ou o direito é o significado predominante no texto do Novo Testamento.
141
M arcos - C a p. 2

13. Ia ter - ensinava (ηρχετο - εδίδασκεν). Os tempos imperfeitos são ilustrati­


vos - continuavam vindo, continuava ensinando.

14. Vide nota sobre Mt 9.9.

15. Casa deste. De Levi. Vide Lc 5 .2 9 .

16. Os escribas e fariseus [οι γραμματείς και οί Φαρισαίοι]. Os melhores


textos apresentam γραμματείς των Φαρισαίων, os escribas dos fa riseu s, traduzido
corretamente pela t b . Assim também na e c p , escribas, do p a r tid o dos fariseu s. Eles
o haviam seguido até a sala onde a comitiva estava assentada. Esta sala corres­
pondia ao k ’h aw ah das casas árabes, que é, dessa forma, descrito por William
Gifford Palgrave:

O k 'hãwah era uma sala comprida e retangular com cerca de 6 metros de altura, 15 de
comprimento, e por volta dos cinco metros de largura. As paredes eram recobertas de uma
decoração austera, com abluções marrons e brancas, e com pequenos rebaixos triangulares
aqui e acolá, destinados para a acomodação de livros, lamparinas e outros objetos simila­
res. O teto era de madeira e liso; o chão era areia fina e limpa espalhada, e coberto de faixas
de tapetes ao longo das paredes, sobre os quais almofadas, cobertas com seda desbotada,
eram colocadas com espaçamento adequado. Nas casas mais simples, pequenos tapetes de
tecido, normalmente, substituíam as grandes faixas de tapete fino10.

17. Os sãos (ol ίσχύοντες). Literalmente, aqueles que estão fo rte s. Vide Lc 14.30:
não pôde-, e 2Pe 2.1 \ , força.

Não necessitam. A o rd e m d o te x to g r e g o colo ca ên fase n e s te s vocábulos:


N enhum a necessidade têm aqueles que são fo r te s de um médico. A bj tra z : N ã o são os
que têm saúde que precisam de médico, m as os doentes.

18. E os fariseus [oi των Φαρισαίων]. A tradução e d o s fa rise u s, encontrada na kjv,


está inadequada. Leia conforme o texto da a r c : O s discípu los d e J o ã o e o s fariseus.

Jejuavam (ήσαν νηστευοντες). A a r c refere-se ao fato como um costume. To­


davia, nesta perícope, mas Marcos deseja transmitir que eles estavam observando
um je ju m naquele momento. Por isso, o uso do particípio, acompanhado do verbo
n a forma finita. A tb , de forma acertada, traduz como, estavam jeju an do. A tripla
menção ao vocábulo je ju m é uma característica de Marcos. Vide Introdução.

19. Os filhos das bodas (υίοι τού νυμφώνος). Adequadamente traduzido pela
É digno de nota que Cristo, em duas ocasiões, faz uso de uma ilustra-
a r c , f ilh o s .

10. Palgrave, Central and Eastern Arabia.


142
M arcos —C ar 2

ção tirada da cerimônia do casamento nas suas alusões a João Batista, um asceta.
Compare com Jo 3.29. Os filhos das bodas são diferentes dos padrinhos. Eles
eram as pessoas convidadas para o casamento. A cena ocorre na Galileia, onde
a figura dos padrinhos não era costumeira, tal como na Judeia. Por isso, não há
menção deles no relato das bodas de Caná. Na Judeia, em cada casamento, havia
dois padrinhos ou amigos do noivo. Vide So 3.29.

20. Então - naqueles dias [εν εκείναις ταις ήμέραις]]. A leitura adequada éèv
εκείνη τη ήμερα, naquele dia, como na teb . Trata-se de mais uma das expressões
duplas de Marcos: então —naquele dia.

21. Costura (επιρράπτει). Um termo somente achado em Marcos. Mateus (9.16)


e Lucas (5.36) utilizam επιβάλλει, lançar, assim como falamos defazer um remendo
rápido em cima de um tecido.

23. Passando ele (αυτόν παραπορεύεσθαι). Literalmente, seguiu ao lado, ao longo


das carreiras de cereais no campo. Mateus e Lucas utilizam διά, através de, como
faz Marcos, mas não παρά.

Começaram a colher (ήρξαντο όδόν ποιειν τίλλοντες). Literalmente, começou


a trilhar o caminho colhendo as espigas. Isto não significa que os discípulos tenham
aberto para si no meio do cereal plantado ao arrancar as espigas, pois neste caso
eles seriam forçados a puxar também o caule das plantas. Eles não poderiam
abrir caminho simplesmente arrancando a parte superior das plantas. Marcos,
que utiliza as formas latinas, provavelmente adotou aqui a expressão iterfacere,
fazer um caminho, que significa simplesmente ir. A mesma expressão ocorre na
lxx , Jz 17.8; ποιήσαι οδόν αυτού, à medida que ele seguia viagem. A ofensa come­
tida contra os fariseus era o preparo da comida no sábado. Mateus fala em comer,
afirmando o motivo, e Lucas fala em esfregar com as mãos, descrevendo o ato. Vide
Mt 12.2.

25. Estava em necessidade. Marcos acrescenta isto à expressão estava comfome,


que está tanto em Mateus, quanto em Lucas. A analogia se baseia na necessidade.
A expressão estava em necessidade é genérica; já estava comfome é específica, pois
descreve o caráter peculiar da necessidade.

26. Os pães da proposição (τούς άρτους τής προθεσεως). Tradução exata e


literal os pães da apresentação, isto é, os pães que eram alçados diante do Senhor.
Os judeus os chamavam de os pães daface, isto é, da presença de Deus. O pão era
feito da mais fina farinha de trigo, que passara por onze peneiras. O núme­
ro total era de doze pães, ou bolos, segundo o número das tribos, agrupados
em doze pilhas de seis. Cada bolo era feito com cerca de 2,3 litros cúbicos de

143
M arcos - C ap. 3

farinha, que era ungida, na parte de dentro, com óleo, em formato de cruz.
Segundo a tradição, cada bolo tinha cinco mãos (cerca de 35 cm) de largura e
dez (aprox. 70 cm) de comprimento, mas arcava-se para o alto nas duas pontas,
quatorze centímetros de cada lado, para que o seu formato ficasse parecido com
o da arca da aliança. Os pães da proposição eram preparados na sexta-feira, a
menos que este dia viesse a ser um dia de festa que exigisse o repouso sabático;
em cujo caso, eles eram preparados na tarde da quinta-feira. A substituição dos
pães da proposição era a primeira das tarefas sacerdotais no início do sábado.
O pão que era retirado era colocado na mesa de ouro que ficava no pórtico do
Santuário, e distribuído os turnos de sacerdotes que se revezavam no serviço
(cp. a expressão senão aos sacerdotes). Eles eram comidos durante o sábado, e
dentro do próprio Templo, mas somente pelos sacerdotes que estivessem levi-
ticamente puros. Foi este pão envelhecido, retirado no sábado pela manhã, que
Davi comeu.

27. Por causa do homem (διά). Por conta do, ou por causa do. Esta expressão
somente é apresentada por Marcos.

Capítulo 3

1. Uma das mãos mirrada (έξηραμμένην την χαιρα). Mais corretamente tradu­
zido pela r v , sua mão mirrada, ou ressecada. O particípio indica que o ressecamento
não era congênito, mas resultava de algum acidente ou doença. Lucas fala que se
tratava da mão direita do homem.

2. Estavam observando-o (παρατηρούν). Tempo imperfeito. Eles continuaram as­


sistindo. O verbo composto, com παρά, ao lado de, significa, vigiar cuidadosamente
ou bem de perto, como quem persegue insistentemente os passos de outra pessoa,
mantendo-se ao lado dele ou muito próximo dele. A b p traz a leitura: Vigiavam-no,
enquanto a e p : algumas pessoas espiando. Para saber mais sobre τηρέω, observar,
videSo 17.12.

Curaria (θεραπεύσει). Tempo futuro: se ele curará, considerando-se que o leitor


fosse um expectador e tivesse que olhar para o futuro.

S. Levanta-te e vem para o meio ( έγειρε εις το μέσον). Literalmente, levanta-


te até o meio. Assim também o traduz e p : Levante-se efique no meio. A b p traz a
leitura: Põe-te no centro.

5. Condoendo-se (συλλυπούμενος). Por que temos aqui o verbo composto, acom­


panhado da preposição συν, junto a? Heródoto (6.39) utiliza a expressão condo-
er-se com o infortúnio alheio. Platão afirma: “Quando qualquer um dos cidadãos

144
M arcos - C ap. 3

experimentar o bem ou o mal, o estado inteiro se alegrará ou sofrerá com ele


(ξυλλυπήσεται)”11. O prefixo συν, logo, implica a condolência de Cristo com o in­
fortúnio moral daquelas pessoas de coração endurecido. Compare a força de com,
em condolência. No latim con, com, dolere, doer, sofrer.

Dureza (πωρώσει). Derivado de πώρος, um tipo de m árm ore, e por isso utiliza­
do para descrever um calo em um osso fraturado. Πώρωσις é, originalmente, o
processo pelo qual as extremidades de ossos fraturados são unidas por um calo.
Por isso a referência à calosidade ou d u reza em sentido geral. O vocábulo ocorre
em duas outras passagens do Novo Testamento, Rm 1 1 .2 5 , onde a ecp, erronea­
mente, traduz por cegueira, seguindo o vocábulo caecitas da v u l g a t a , e Ef 4 .1 8 . É
um tanto estranho que a ecp não adote esta mesma tradução aqui e no texto de
Ef 4 .1 8 (caecitate , na v u l g a t a ). A rv, em todas as passagens, apresenta acertada-
mente que se endurece, que é uma tradução melhor que du reza, porque descreve
melhor o processo em andamento. Apenas Marcos registra o sentimento de Cristo
naquela ocasião.

7. Retirou-se. Somente Marcos percebe não menos que onze ocasiões, nas
quais Jesus se retirou: para se afastar dos seus afazeres com os discípulos, para
escapar dos inimigos ou para orar de forma solitária, para descansar, ou para
uma reunião privativa com os discípulos. V ide 1.12; 3.7; 6.31,46; 7.24,31; 9.2;
10.1; 14.34.

Uma grande m ultidão (πολύ πλήθος). Compare com o versículo 8, onde


a ordem dos vocábulos gregos é invertida. No primeiro caso, a g r a n d io s id a ­
de da massa de pessoas é enfatizada; no segundo, é a m assa em s i que recebe
destaque.

8. Fazia (έποΐ€ΐ). Tempo imperfeito. Outros manuscritos apresentam ποιΛ, ele


está fa ze n d o . Seja qual for o caso, o tempo tem uma força de continuidade: as
coisas que ele estava f a z e n d o ou está fa z e n d o . Observe que nos versículos 7-8, o
detalhe da descrição que Marcos faz dos lugares. V ide Introdução. Os motivos de
Jesus para sair daquele local em um barco, passados com riqueza de detalhes nos
versículos 9-11, também são característicos de Marcos.

10. Se arrojavam (έπιπίπτ6ΐν). Literalmente, caíam sobre.

Mal (μάστιγας). Literalmente, castigos, flagelos. Compare com At 22.24; Hb


1 1 .3 6 . As pestilências ou males eram, desta maneira, considerados como flagelos
perpetrados pelo braço divino. Πληγή é utilizado no grego clássico neste sentido

11. Platão, A R e p ú b lic a , 462.

145
M a r c o s - C ap . 3

metafórico. Assim, Sófocles diz: “Temo que uma calamidade (πληγή) realmente
tenha vindo dos céus (θεού, deus)”12. Também as guerras. Esquilo afirma: “Ó terra
da Pérsia, como a tua prosperidade abundante foi destruída por um único golpe
(kv μια πληγή)”13. O vocábulo flagelos transmite aqui a mesma ideia.

11. Os espíritos imundos (τα). O artigo indica aqueles espíritos específicos que partici­
param da cena. A precisão de Marcos pode ser vista no emprego dos dois artigos e
na disposição dadas ao substantivo e ao adjetivo: os espíritos, os imundos.

Vendo-o (όταν έθεώρουν). A tb traduz de forma mais precisa, quando o viam .


O tempo imperfeito denota uma ação repetida. O sufixo ãv na palavra δταν lha
confere uma força indefinida: tão frequentem ente quanto eles o pudessem ver. A teb
traz, quando o avistavam .

12. Ameaçava (έπετίμα). O vocábulo é, normalmente, traduzido como repreender


no texto do Novo Testamento. No grego clássico, o seu sentido predominante
é o de uma repreensão severa e ardente por atos indignos. Este termo é, muitas
vezes, utilizado no Novo Testamento, como neste caso, no sentido de ameaça.
Neste sentido, o termo carrega, no fundo, a sugestão de uma cobrança feita sob
castigo (τιμή).

Para que (iva). Segundo a arc , bj e a n v i , a expressão p a r a que, fala da con­


sistência da ameaça de Cristo. Contudo, de maneira mais adequada, ela deve ser
um indicativo do objetivo da sua ameaça. Ele os ameaçava a f i m de que eles não o
tornassem conhecido.

13. Os que ele quis (ους ήθελαν αύτός). Na t b , de forma mais rígida, os que ele
mesmo quis, sem permitir que qualquer pessoa se oferecesse a si mesma para
aquela tarefa especial. Do grande número de pessoas chamadas, ele escolheu
para si doze. Vide versículo 14.

14. Nomeou (έποίησ€ν). Literalmente, f e z . Na tb consta d esig n o u ; na b j:


co n stitu iu .

Os mandasse (άποστέλλη). Como apóstolos. Compare com o substantivo asse­


melhado: απόστολοι, apóstolos.

15. Tivessem o poder (€χ«ιν εξουσίαν). Observe que ele não diz para pregarem
e expelirem , mas p a ra pregarem e tivessem au toridad e p a r a ex p elir demônios. O poder
para pregar e para exorcizar eram tão diferentes, que é feita uma menção especial
à autoridade divina com a qual ela precisara ser revestida. O poder de expulsar

12. Sófocles, A ja x , 279.


IS. Ésquilo, Persae, 251.
146
M a r c o s - C ap. 3

demônios foi dado para que eles pudessem exercê-lo a fim de confirmar o seu
ensino. Compare com 16.20.

16. Simão, a quem pôs o nome de Pedro £Σίμωνι Πέτρον)]. Marcos relata so­
mente este nome a trib u íd o a Pedro e não a sua indicação, ficando esta última su­
bentendida.

17. Apesar de Marcos mencionar que os apóstolos foram enviados em duplas


(6.7), ele aqui não os classifica dessa forma. Contudo, somente cita Pedro, Tiago
e João - os três que desfrutavam de uma intimidade particular como um grupo
fechado. Mateus e Lucas inserem André no meio de Pedro e Tiago.

Aos quais pôs o nome de Boanerges (έπέθηκεν αύτοΐς δίτομα Βοανηργές).


Literalmente, ele colocou sobre eles o nome. Algumas incertezas rondam tanto a
origem, quanto a aplicação deste nome. A maioria dos melhores textos apresenta
o vocábulo ονόματα, nomes, em vez de nome. Isto indicaria que cada um deles rece­
beu o sobrenome de filh o d o trovão. Alguns eruditos, contudo, alegam se tratar de
um nome duplo, assim como o nome D io scu ri também foi dado a Castor e Pólux.
Parece que a intenção foi fazer deste nome um título de honra, mesmo que ele
não tenha se perpetuado como o nome Pedro, sendo esta a sua única citação;
possivelmente em função da inconveniência de um sobrenome comum, que não
diferenciaria de modo apropriado qual das duas pessoas estaria sendo designada,
e que pode ter impedido que ele se tornasse algo apelativo. A designação, todavia,
é justificada pela impetuosidade e zelo que caracterizava aqueles dois irmãos, que
os levou a clamar para que descesse fogo dos céus, a fim de que os moradores
de um vilarejo pouco hospitaleiro de Samaria fossem consumidos (Lc 9.54); que
marcou Tiago como vítima de um martírio precoce (At 12.2); e que ressoa nos
trovões do Apocalipse de João. A igreja grega chama João de Βροντόφωνος, ou
seja, J o ã o -v o z-d e -tro v ã o . A expressão, filh o s de, é familiar no idioma hebraico, no
qual a característica distinta do indivíduo ou da coisa designada é considerada
como “o seu pai”. Assim, as fa ísc a s são filh a s do fo g o (Jó 5.7); o trig o refinado é filh o
da eira (Is 21.10). Compare com filh o d a perdição (Jo ΠΛ2); filh o s d a desobediência
(Ef 2.2; 5.6).

18. André (Άνδρέαν). Um nome de origem grega, apesar do uso entre os judeus,
derivado de άνήρ, homem, e com o significado de varonil. Ele foi um dos dois que
primeiro se agregaram a Cristo (Mt 4.18,20; cp. Jo 1.40-41); e, por isso, é sempre
tratado pelos pais gregos como πρωτόκλητος, o p rim e iro a ser chamado.

Filipe (Φίλιππον). Mais um nome grego, que significa a m igo dos cavalos. Na
lenda eclesiástica, conta-se que ele teria sido um cocheiro.
147
M arcos - C ap. 3

Bartolomeu (Βαρθολομαίον). Um nome hebraico —Bar Tolmai,filho de Tolmai.


Quase que certamente idêntico a Natanael. Filipe e Natanael são associados por
João, como o são Filipe e Bartolomeu nas passagens paralelas dos sinóticos. Bar­
tolomeu não é mencionado na lista que João faz dos doze (21.2), mas Natanael é;
ao passo que os sinóticos não mencionam Natanael nas suas listas, e sim Barto­
lomeu. Provavelmente, ele tinha dois nomes.

Mateus (Ματθαίον). Vide Título do Evangelho de Mateus.

Tomé (Θωμάν). Um nome hebraico, com o significado de gêmeo, e traduzido


para o grego como Dídimo (Jo 11.16).

Tadeu ou Lebeu (Θαδδαίον), como em Mt 10.3. Ele é o Judas de Jo 14.22.


Lutero o chama de derfromme Judas (o Judas bom). Os dois sobrenomes, Lebeu e
Tadeu, significam a mesma coisa: filho amado.

Simão, o Zelote (Σίμωνα τον Κανανίτην). Mais adequadamente traduzido


como Simão, o cananeu. Vide Mt 10.4:

Nenhum nome é mais marcante nesta lista do que o de Simão, o zelote, pois para
nenhum dos doze o contraste poderia ser tão grande entre a posição anterior e a
atual. Que revolução de pensamento e de coração poderia ser maior do que aquela
que transforma em seguidor de Jesus um membro de uma das seitas mais belicosas
daquela época, a qual considerava a presença dos romanos na Terra Santa como uma
traição contra a majestade de Jeová, um seguimento que agia de forma fanática em
temas como a rigidez e exclusividade dos judeus"?

19. Judas Iscariotes (Ιούδαν Ίσκαρνύτην). Vide Mt 10.4.

20. O utra vez. Voltando a lançar o olhar às muitas referências às multidões na


descrição anterior. Este reagrupamento da multidão, e da sua interferência nos
momentos de refeição de Cristo e dos discípulos, é peculiar a Marcos.

21. Os seus parentes (ol trap’ αύτού). Literalmente, aqueles que estavam do seu
lado, isto é, pela origem ou por nascimento. A sua mãe e os seus irmãos. Com­
pare com os versículos 31-32. Na bp consta Seusfamiliares. Na ep , os parentes-,
na t e b , sua parentela. Não os discípulos, pois estes já se encontravam na casa
com ele.

Diziam (έλεγον). Tempo imperfeito. Muito ilustrativo, eles continuaram dizendo.

22. Belzebu. Videnota sobre Mt 10.25.

14. Geikie, Life and Words of Christ.


148
M a r co s - C a p. 4

E [jcaiJ . Não fazendo a ligação das duas partes de uma mesma acusação, mas
denotando duas acusações, como fica evidente a partir das duas ocorrências de
ότι, que é um vocábulo equivalente a um ponto de interrogação.

24. E. Observe a maneira pela qual estas afirmativas estão ligadas por intermé­
dio desta conjunção: uma progressão retórica impressionante.

26. Antes, tem fim. Expressão peculiar a Marcos.

27. Roubar (διαριτάσαι). Marcos utiliza um verbo composto mais enfático e mais
vivido, onde Mateus emprega simplesmente άρπάσαι. O verbo significa, prima­
riamente, rasgar em pedaços·, carregar consigo, tal como faz o vento; apagar, como
ocorre com as pegadas. Por conseguinte, de modo geral, tomar como espólio, agar­
rar o que se vê na direita e na esquerda.

Os bens (τα σκεύη). Literalmente, os seus vasos; compare com Mc 11.16; At


9.15; 10.11; 2Tm 2.20. O objetivo principal do roubo pode ter sido colocar as
mãos nos vasos preciosos de ouro ou prata; mas o termo é, provavelmente, utili­
zado no seu sentido geral de utensílios domésticos.

28. Compare com M t 12.31; e observe a precisão superior e a riqueza de detalhes


encontrada em Marcos.

29. Réu (ένοχός). Derivado de èv, em ou dentro de, εχω, segurar ou ter. Literalmen­
te, está sob o domínio de, ou está apanhado por. Compare com lCo 11.27; T g 2.10.

Etem o juízo (αιωνίου αμαρτήματος). Uma tradução completamente inade­


quada. Melhor traduzido pela n v i , depecado eterno. Assim também na bj, que ver­
te por: de pecado eterno. A kjv não traduz adequadamente ao acompanhar o texto
de tyndale , que, por sua vez, seguiu o texto de Erasmo, o qual traduz κρίσεως,
juízo, erroneamente como danação. Vide Mt 23.33.

30. Diziam (ελεγον). Tempo imperfeito. Eles continuavam dizendo ou persistiam


dizendo. Um acréscimo peculiar ao texto de Marcos.

31-32. E mandaram-no chamar. E a multidão estava assentada ao redor


dele. Detalhe descrito por Marcos somente; bem como os seguintes vocábulos
do v. 34: olhando em redor para os que estavam assentados junto dele.

Capítulo 4

1. Outra vez. Ele já havia ensinado anteriormente naquele local. Vide 3.7-9.

Junto ao mar. Somente Marcos informa isto.


149
M arco s - C ap. 4

Ajuntou-se (συνάγεται). A arc dilui o uso ilustrativo que Marcos faz do tempo
presente: Ajunta-se. Contudo, a teb acertadamente traduz: Uma multidãojunta-se
perto dele.

7. Sufocaram (συνέπνιξαν). A preposição σύν, com (junto), transmite a ideia de


com-pressão.

Não deu fruto. Acréscimo atribuído a Marcos.

8. Que vingou e cresceu (άναβαίνοντα καί αύξανόμενον). A teb traduz literal­


mente os particípios, crescendo e desenvolvendo-se, descrevendo, assim, o processo
de forma mais vivida. A tb traduz: brotando e crescendo-, e a b j : subindo e se desenvol­
vendo. Estes dois particípios, além do mais, explicam o uso do tempo imperfeito
de έδίδου (gerava), denotando continuidade. Ela começou a gerar e continuou ge­
rando frutos, à medida que crescia.

T rinta (εις τριάκοντα). Literalmente, até trinta.

10. Quando se achou só. Exclusividade do texto de Marcos.

Os que estavam junto dele com os doze. Somente em Marcos. Mateus e


Lucas apresentam: os discípulos.

11. Mas aos que estão de fora (εκείvoις τοις εξω). Os dois últimos vocábulos
são peculiares a Marcos. A expressão significa aqueles do lado de fora do nosso
círculo. O seu sentido é sempre determinado pelo contraste a ela. Dessa forma,
em lCo 5 .1 2 - 1 3 , temos os não-cristãos em contraste comigo. Em Cl 4 .5 , os cristãos
são contrastados com as pessoas do mundo. Compare com lTs 4 .1 2 ; lTm 3 .7 . Mt
1 3 .1 1 , com menor precisão, utiliza simplesmente εκείνοις (a eles), o pronome de
referência remota. Lc 8.10, τοις λοιποις (aos demais).

13. Peculiar a Marcos.

Parábolas (τάς παραβολάς). As parábolas que foram contadas por mim ou que,
doravante, posso contar.

14. O que semeia semeia a palavra. Mais preciso que Mateus ou Lucas. Com­
pare com Mt 1 3 .1 9 ; Lc 8 .1 1 .

19. As ambições de outras coisas, entrando (αί περί τα λοιπά επιθυμιαι).


Ambição no sentido mais amplo e não com significado limitado de mera cobiça
sexual. O vocábulo também é utilizado para descrever o desejo por coisas boas e
lícitas (Lc 2 2 .1 5 ; Fp 1 .2 3 ).
150
M a r c o s - C ap. 4

20. Os que. Uma boa tradução do pronome ο'ίτινες, que indica a classe dos ou­
vintes.

21. Vem (’έρχεται). Tradução literal na arc . A ca n d eia v e m ? Esta personificação


ou atribuição de movimento à candeia faz parte do estilo vivo da narrativa de
Marcos, bem como é a colocação da passagem em formato interrogativo. Compa­
re com Lc 8.16. A candeia: o artigo indica um utensílio doméstico familiar. Assim
também “a cama” e “o velador”.

Cesto (ρόδιον). Um termo latino: m odiu s. Um dos vocábulos latinos de Mar­


cos. V id e M t 5.15. Como medida de capacidade, o m o d iu s estava mais próximo de
um cela m im , do que de um cesto. A tb traduz literalmente, m ódio.

Cama (κλίνην). Uma espécie de sofá para a acomodação diante de uma mesa.

Velador (λυχνίαν). Na kjnta adequadamente traduzido como candelabro-, isto


é, um castiçal. V ide Mt 5.15. A bj traz: la m p a d á rio .

22. Que não haja de ser manifesto (èàv μή ΐνα φανερωθή). A arc faz Cristo
afirmar que tudo o que está escondido será revelado. Esta tradução não está ade­
quada. Ele afirma que as coisas estão escondidas a f i m d e qu e se ja m m a n ifesta s. O
segredo é um meio para se chegar à revelação.

26-29. A parábola da sem ente que cresce em oculto . Peculiar a Marcos.

26. Lançasse (βάλη). Literalmente, tivesse la n ça d o , no tempo aoristo, seguido pe­


las formas do particípio presente de d o r m ir e le v a n ta r-se {καθεύδη e έγείρηται). De
forma completa: "Como se um homem tiv e sse la n ç a d o semente ao solo, e estivesse
d o r m in d o e se le v a n ta n d o noite e dia”. O tempo aoristo indica o ato único de se
lançar a semente; os particípios presentes indicam o ato repetido e contínuo de
dormir e levantar enquanto a semente está a crescer.

Semente (τον σπόρον). A semente; aquela semente específica que ele deveria
semear. Tamanha é a força do artigo.

27. Crescesse (μηκύνηται). Literalmente, a lo n g a r-se, estender-se com a transfor­


mação da semente em talo e lâmina.

Não sabendo ele como (ώς ούκ oíôev αυτός). A ordem do texto grego é de­
veras intensa: com o sab en d o n ão ele.

28. Por si mesma (αύτομάτη). Literalmente, a u to a g ir. Este verbo ocorre somen­
te em outra passagem do Novo Testamento, At 12.10; para designar a porta da
cidade que se abriu para Pedro p o r s i m esm a.
151
M a r co s - C ap. 4

29. Se m ostra (παραδοΐ). Esta tradução não pode estar correta, pois o verbo é
ativo, e não passivo, com o significado de entregar. Por isso, ele é, normalmente,
explicado da seguinte forma: terá se entregado a si mesmo até a colheita-, que é formal
e artificial. A bp apresenta está maduro. Uma melhor explicação, talvez, seja a de
Meyer, cuja tradução é adotada pela rv : Quando ofruto terá permitido, isto é, terá
admitido a sua colheita. Xenofonte e Heródoto utilizam o termo no sentido de
permitir, e um exato paralelo a isto ocorre no historiador Políbio: “Quando a épo­
ca permitia'5” (παραδιδούσης). A bj se aproxima da tradução de Meyer ao verter:
Quando ofruto está no ponto.

M ete-lhe (αποστέλλει). Literalmente, mandar adiante. A ncl traduz, enviar a


foice. A tradução mete-lhe, dilui a ilustração. O verbo é o mesmo utilizado para
descrever o envio dos apóstolos a fim de fazerem a colheita de almas. Vide espe­
cialmente Jo 4.38: “Eu vos enviei (άπεστειλα) a ceifar”.

30. Peculiar a Marcos.

Com que parábola o representaremos? (έν τίνι αύτήν παραβολή θώμεν;).


Literalmente, em que parábola poderiamos representá-lo? Na bp consta: Com que
parábola o explicaremos? Observe o pronome pessoal nós (subentendido), de forma
sutil, faz uma consulta à opinião dos ouvintes.

31. Quando se semeia (όταν σπαρή). Esta expressão é repetida no versículo 32.
Aqui a ênfase recai sobre όταν, quando. Ela é pequena, quando é semeada. No ver­
sículo 32, a ênfase recai sobre σπαρή, ela é semeada. A semente começa a crescer a
partir do tempo em que ela é semeada.

Que há na terra. Um pequeno detalhe peculiar a Marcos.

32. Cresce. Exclusividade de Marcos.

As hortaliças (των λαχάνων). e p e n tlh lêem como, as plantas. Aquelas que as


pessoas estão acostumadas a plantar em suas hortas. O termo denota hortaliças
típicas de hortas, ou de vasos, em distinção às ervas selvagens.

Cria grandes ram os (ποιεί κλάδους μεγάλους). Literalmente, fa z, produz


etc. Peculiar a Marcos. Mateus apresenta se torna uma árvore. Sobre os ramos,
vide Mt 24.32. Um dos talmudistas descreve a mostarda como uma planta,
cuja madeira era suficiente para cobrir a choupana de um oleiro. Outro diz
que estava acostumado a subir em um pé de mostarda, como um homem sobe
em uma figueira. O professor Hackett afirma que na planície de Aca, em di-

15. Políbio 22,24,9.

152
M arcos — C ap. 4

reção ao Carmelo, ele encontrou um grupo de pés de mostarda que mediam


de 1,80 a 2,70 metros de altura, com ramos que saiam de todos os lados do
tronco com a espessura de 2,5 cm ou mais. O Dr. Thomson relata que nas
proximidades da margem do Jordão, ele encontrou um pé de mostarda com
mais de 3,60 metros.

Aninhar-se (κατασκηνοΰν). Vide Mt 8.20. Literalmente, lançar as suas tendas.

33. Tais. Implicando que Marcos conhecia ainda outras parábolas que foram
contadas naquela época.

Segundo o que podiam compreender. Peculiar a Marcos.

36. Assim como estava, no barco. Assim como ele estava, no barco, no qual
estava sentado. Marcos acrescenta o detalhe sobre as embarcações que o acom­
panhavam.

37. Temporal (λαιλαψ). Assim também no texto de Lucas. De forma distinta,


uma tempestade severa ou furacão. Compare com a lxx , Jó 38.1, com o redemoi­
nho do qual Deus respondia a Jó. Vide também Jó 21.18. Mateus utiliza σεισμός,
um tremor. Vide Mt 8.24. Macgregor afirma que:

No mar da Galileia o vento tem uma força e subitaneidade; e isto ocorre, sem dúvida,
porque aquele lago fica a uma profundidade tal que o sol rarefica enormemente o seu
ar e o vento que sopra em altas velocidades em cima de um platô longo e plano, reúne
muita força ao varrer por completo as terras planas do deserto, até que, repentina­
mente, encontra aquela enorme lacuna no meio do seu caminho, e nela, irresistivel­
mente, precipita-se16.

38. Uma almofada (το προσκ^φάλαιον). O artigo definido indica uma parte bem
conhecida do equipamento do barco —a almofada de couro cru que ficava na popa
da embarcação para uso do timoneiro. A t b e bj traduzem literal e adequadamen­
te: o travesseiro.

39. C ala-te, aq u ieta-te (σιώπα, πεφίμωσο). Literalmente, Fica quieto\


Como é imensamente mais vivida esta forma, diante das narrativas de Ma­
teus e Lucas, ao personificar o mar e repreendê-lo como se fora um monstro
furioso.

Se aquietou (έκόπασ^ι»). Derivado de κόπος, com os significados de: (1) bater,


(2) trabalhar arduamente; (3) exaustão. Um termo belo e pitoresco. O mar caiu em
descanso, como se estivesse exausto das suas próprias batidas.

16. M acgregor, Rob Roy on the Jordan.


153
M a r co s — C ap. 5

Houve (έγένίτο). De forma mais restrita, surgiu ou seguiu-se. O tempo aoristo


indica algo repentino. A ec p apresenta seguiu-se; enquanto a bj traz: sobreveio.

Bonança. Na bp consta calma perfeita.

41. Sentiram um grande tem or (έφοβήθησαυ φόβον μέγαν). Tradução literal.

Mas quem é este (τις αρα οΰτός έοτιν;). A kjv considera melhor a tradução
do termo τιοταπός de Mateus, que tipo de (8.27), que a do pronome interrogativo
τις, quem, de Marcos. A tb apresenta, acertadamente: Quem, porventura, é este? O
vocábulo porventura (αρα) é argumentativo. Já que estas coisas acontecem, quem,
então, é este homem?

Capítulo 5

3. Os detalhes dos versículos 3-5 são peculiares a Marcos. Trench registra:

A descrição daquele homem em situação miserável é tenebrosa; e ao fazê-la, cada


um dos evangelistas dem onstra alguns toques que lhe são peculiares; contudo,
M arcos é o mais ilustrativo de todos ao acrescentar m uitos traços que intensifi­
cam a miserabilidade da situação daquele homem, bem como magnificam a glória
da sua cura17.

Morada (κατοίκησιν). O prefixo κατά, para baixo, dá um sentido de uma habi­


tação já assentada, fixa. Compare com o termo, assentado, ou assentamento. Na bp
consta Habitava.

Os sepulcros (τοίς μνήμασιν).

Em lugares imundos, imundos em função dos ossos dos mortos que ali estavam. Para
aqueles que não sentiam repulsa destes lugares, os sepulcros dos judeus proporciona­
vam um grande abrigo, por se tratarem de cavernas naturais ou de cortes esculpidos
por arte nas rochas, normalmente, tão grandes a ponto de necessitarem de colunas,
e composto de celas nas suas laterais, para a acomodação dos cadáveres. Por serem,
também, na parte externa das cidades e, frequentemente, em lugares remotos e soli­
tários, eles atrairíam aqueles que buscavam fugir de toda forma de comunhão com os
seus pares18.

4. Com grilhões e cadeias (πέδαις καί άλιχκσιν). Πέδη, grilhão, é semelhante a


πέζα, o dorso do pé; assim como o termo latino pedica, uma algema, está relacionada

17. T rench, M ira cles.


18. Ibid.

154
M a r co s - C ap. 5

a pes, um pé. O plural anglo-saxão de fot (pé) é fet; de forma que grilhão (fetter) é
o mesmo que pisador feeter). Assim também Chaucer:

O s p u ro s g rilh õ e s a sua tim id e z c u m p rim e n ta m


E ra m do am arg o sal d as suas úm id as lág rim as.

"Αλυσις (derivação incerta) é uma corrente, um vocábulo genérico, que denota


um elo que podería estar fixo a qualquer parte do corpo.

Feitas em pedaços (συντετρΐφθαι). O verbo συντρίβω significa originalmente


moer ou esmagar. Já se sugeriu que os grilhões eram cordas que poderiam ser
roçadas entre si até se romperem. Na bj consta, estraçalhava as correntes.

5. Clamando (κράζων). A teb traduz soltando gritos, mas t b : gritando em alta voz.
O verbo denota um grito inarticulado; um som agudo, um guincho. Aristófanes
utiliza este vocábulo para se referir às rãs19, e aos berros de um camponês20.

6. Ao longe (άπο μακρόθεν). Expressão peculiar a Marcos, assim como também


é \_elf\ correu.

7. Clamando - disse. O grito inarticulado (v. 5) e, a seguir, uma conversa arti­


culada.

Que tenho eu contigo? (τί έμοί και σοί;). Literalmente, ο que existe para mim
epara ti? O que temos em comum?

Conjuro-te por Deus. Expressão mais forte do que a utilizada por Lucas:
rogo-te. O verbo ορκίζω, conjuro-te, é censurado pelos gramáticos como expres­
são deselegante.

8. Porque lhe dizia (ελεγεν). No tempo imperfeito, ele estava dizendo-, cuja força
é dissipada pela arc e outras versões brasileiras. O imperfeito nos fornece o
motivo para esta estranha súplica do espírito imundo. Jesus estava lhe dando uma
ordem, estava dizendo saia daí; e, como no caso, do jovem epilético no monte da
Transfiguração, o espírito aturdido descarregava a sua maldade sobre o homem.
A tradução literal do imperfeito revela a simultaneidade do exorcismo de Cristo,
o irromper da maldade demoníaca vem com o grito: Não me atormentes.

13. Se precipitou (ώρμησεν). O verbo indica um movimento apressado e para a


frente. A bp apresenta: lançou-se.

Dois mil. Como de costume, somente Marcos nos fornece o detalhe dos números.

19. Aristófanes, Ranae, 258.


20. Idem, Equites, 285.
155
M a r co s — C ap. 5

Um despenhadeiro. O substantivo, porém, apresenta o artigo definido: τού


κρημνού, o despenhadeiro.

15. Viram (OeoopoOoiv). Adequadamente traduzido como: observaram. Pois era


mais do que um simples avistar. O verbo significa olhar atentamente, como quem
está muito interessado no objeto, buscando investigar e compreender o que está
acontecendo: olhar de forma intencional e investigativa.

Vestido. Compare com Lc 8.27. Desde muito tempo, não andava vestido.

18. Entrando ele (έμβαίνοντος αυτού). O particípio está no tempo presente. Não
depois dele haver embarcado, mas enquanto ele estava no ato de embarcar. Por isso, a
n v i , acertadamente, apresenta: quando Jesus estava entrando. Isto encontra cor­
respondência ao imperfeito descritivo ιταρεκάλεΐ: Enquanto ele estava pisando
dentro do barco, o homem restaurado estava suplicando a ele.

Que ('ίνα). A fim de que. Não o tema, mas o propósito da súplica.

23. Minha filha (το θυγάτριόν). No original filhinha). O detalhe afetuoso no uso
do diminutivo é peculiar a Marcos.

Está moribunda (εσχάτως e j c i ) . Uma das expressões desconhecidas e muito


própria ao estilo de Marcos. Alguns citam essas composições para defender uma
data mais antiga para este Evangelho.

Rogo-te (ίνα έλθών). Os termos rogo-te não estão no grego. Literalmente,


as palavras do líder da sinagoga são estas: A minhafilhinha está a ponto de morrer
- que tu venhas (ίνα Ιλθών) etc. Na sua angústia, ele fala de forma imperfeita e
incoerente.

24. Foi (άπήλθ^ν). Literalmente, foi embora. O tempo aoristo, denotando uma
ação que ocorre de uma vez por todas, está em contraste com os imperfeitos,
ήκολούθ^ί, continuou seguindo, e συνέθλιβον, continuou atropelando. A multidão
continuou seguindo e atropelando à medida que Jesus caminhava. A preposição
σύν, junto, no último verbo, indica a pressão conjunta de uma multidão unida. Cp.
n tlh , v. 3 1: apertando de todos os lados.

26. Marcos é mais pleno e mais vivido que Mateus e Lucas.

Havia padecido (παθοΰσα). A ser considerado, como em todas as ocorrências


no texto do Novo Testamento, no sentido de dor persistente, e não meramente
uma dor sujeita a tratamento. O motivo do seu sofrimento pode ser deduzido a
partir da prescrição de um tratamento médico para o caso de uma reclamação
semelhante encontrada no Talmude.
156
M a r c o s - C ap. 5

Tome a goma de Alexandria, o peso de um zu zi (uma moeda de prata fracionária); a


mesma quantidade de alume; e a mesma quantidade de açafrão. Esmague tudo isso
junto e dê de beber para a mulher que tiver um fluxo de sangue. Se isto não funcionar,
pegue três cepos (aprox. 1,7 litros) de cebolas da Pérsia; ferva-os com vinho, e dê-lhe
de beber, dizendo: “Levanta-te do teu fluxo!”. Se isto não a curar, coloque-a em um lu­
gar onde se encontrem dois caminhos, fazendo com que ela segure uma taça de vinho
na mão direita, e com que outra pessoa venha por trás dela e lhe aplique um susto,
dizendo: “Levanta-te do teu fluxo!”. Mas, se isto não adiantar, tome um punhado de co-
minho (um tipo de erva), um punhado de açafrão e um punhado de fenacho (outro tipo
de erva). Ferva-os com vinho e dê-lhe de beber, dizendo: “Levanta-te do teu fluxo!”.

Se estas coisas não adiantarem, outras doses, cerca de dez ao todo, são pres­
critas, dentre elas;

Sejam cavados sete valas, nas quais serão queimados alguns cortes de vinhas, que não
tenham ainda quatro anos de idade. Que a mulher tenha em mãos uma taça de vinho,
e que seja guiada para longe desta vala e faça-se com que ela se sente sobre aquela. E
que ela seja removida daquela cova, e se sente sobre outra, dizendo a ela, a cada movi­
mento: “Levanta-te do teu fluxo!”*1.

Com muitos médicos (υπό). Literalmente, debaixo de, sob; isto é, debaixo das
mãos de.

Nada lhe aproveitando isso, antes indo a pior. O orgulho profissional de


Lucas, como médico, fez com que ele não escrevesse este tipo de afirmação. Com­
pare com Lc 8 .4 3 .

28. Porque dizia (ελεγεν). Tempo imperfeito. Ela estava ou continuava dizendo,
enquanto se apertava por entre a multidão, seja para si mesma ou para as demais
pessoas.

29. Sentiu - estar já curada. Observe a alteração ilustrativa nos tempos ver­
bais: εγνω, ela soube, ίάται, ela está curada.

Mal. Vide 3.10.

30. Conhecendo (επιγνούς). Na a r a consta reconhecendo; enquanto na bp, cons­


ciente. Literalmente, tendo conhecido por completo.

Que a virtude de si mesmo saíra (την εξ αύτοΰ δύναμιν εξελθοϋσαν). Mais


corretamente apresentado na tradução da rv, que o poder que dele procedia havia
saído. O objeto do conhecimento do Salvador era, logo, complexo: em primeiro

21. Lightfoot apud Geikie, I.ife and IVords o f Christ.

157
M arcos — C ap. 5

lugar, o seu poder, em segundo lugar, que o seu poder havia saído. Esta frase e a
seguinte são peculiares a Marcos.

32. Ele olhava em redor (περιεβλεπετο). Tempo imperfeito. Ele continuou olhan­
do em redor para avistar a mulher que havia se escondido em meio à multidão.

34. Em paz (elç εΐρήμην). Literalmente, dentro da paz. Contemplando a paz que
lhe estava reservada. Somente Marcos acrescenta: e sê curada deste teu mal.

35. Do principal da sinagoga. Da casa dele; pois ele mesmo (o principal ou,
líder da sinagoga) está sendo interpelado.

Enfadas (σκύλλας). Vide Mt 9.36. Compare com Lc 11.22, onde vemos o cog-
n a to σκύλα, espólios, coisas rasgadas o u arrancadas de um inimigo. A nvi e arc
trazem incomodar, a n tlh , aborreça.

36. Tendo ouvido. Esta tradução é feita a partir da leitura άκούσας (Lc 8.50),
porém, a correta é παρακούσας, que pode ser vertida como não prestar atenção
(cp. Mt 18.17), ou como ouvir por acaso, sendo que esta última opção, de maneira
geral, parece a mais natural. Desconsiderar seria mais apropriado se a mensagem
tivesse sido dirigida ao próprio Jesus; ela, porém, tinha por destinatário o princi­
pal da sinagoga. Jesus a teria ouvido por acaso. O particípio presente λαλούμεvou,
sendofalado, parece se encaixar nesta situação.

38. Viu (θεωρεί). Na kjnta consta observou. Vide versículo 15.

Pranteavam (άλαλάζοντας). Uma onomatopéia do som feito pelos pranteado-


res contratados, que gritavam: al-a-lai'!.

40. Tendo-os feito sair. Bengel afirma que: “Uma autoridade maravilhosa na casa
de um estranho. Ele era, verdadeiramente, o senhor da casa”. Somente Marcos relata
a ida dos pais, junto com três dos discípulos, ao aposento onde estava a menina.

41. Menina (κοράσιον). Não se trata de um termo clássico. Mateus também uti­
liza o vocábulo.

42. Espanto (έκστάσει). Mais adequadamente traduzido pela b p : assombro, que


transmite a ideia de confusão. Έκστασις, cujo vocábulo português êxtase é uma
transcrição, deriva de εκ ,fora, para fora, e ιστημι, por ou colocar. O seu sentido
primitivo, por conseguinte, é o de remoção-, por isso, o termo descreve um homem
que foi removido dos seus sentidos. No grego bíblico, a palavra é usada com um
sentido modificado, conforme a presente perícope, no entanto, em 16.8; Lc 5.26;
At 3.10, para descrever um assombro, normalmente relacionado ao temor. Em At
10.10; 11.5; 22.17, é vertido como arrebatamento.
158
M arcos - C ap. 6

Capítulo 6

2. Se admiravam. Vide nota sobre M t 8.28.

Maravilhas (δυνάμεις). Literalmente, poderes. Vide Mt 11.20. Na tyndale


consta virtudes. Consequências do poder de Deus: “as virtudes do século futuro”
(Hb 6.5), em ação neste nosso mundo.

3. O carpinteiro. Este termo, segundo Farrar: “lança o único feixe de luz que
brilha sobre o teor contínuo dos primeiros trinta anos da vida de Cristo, desde a
infância, até a sua vida adulta”22.

Escandalizavam-se. Vide Mt 5.29. A bj traz a leitura chocados.

5. Enfermos (άρρώστοις). Derivado de ά, não, e ρώννυμι, fortificar. Doença con­


siderada como uma fraqueza de constituição.

7. De dois a dois. Para se ajudarem e se estimularem mutuamente, bem como


para a plenitude do testemunho.

8-12. Vide Mt 10.

14. Se tom ara notório. Bengel afirma que: “Mas, no que diz respeito ao boato,
Herodes não teria tido conhecimento dele. O palácio, geralmente, é um lugar
onde as novidades espirituais não têm muito espaço”.

E stas m aravilhas operam nele (ενεργοϋσιν αί δυνάμεις εν αύτι^). Na bj


consta os poderes operam através dele. O Dr. Morison afirma: “Um fragmento
da teologia e da filosofia de Herodes”. Ele sabia que João não operara ne­
nhum milagre ao longo da sua vida, mas pensava que a sua morte o colocara
em conexão com o mundo invisível e, com isso, os seus poderes teriam sido
ativados.

16. Ressuscitou. O pronome ele, ουτος (oculto em português) é enfático. Esta


pessoa. Este João, ele mesmo!

17-29. Sobre as peculiaridades de Marcos nesta narrativa, vide Introdução.

19. O espiava (ενεΐχεν αύτω). Há controvérsias acerca desta versão. A bj tra­


duz como Herodias se voltou contra ele. Não vejo problema na tradução tinha
rancor dele ( b p ) ou o odiava ( n v i ), tomando-se ενεΐχεν αύτφ como uma forma
elíptica de χόλον, ira. De forma muito literal, tinha dentro de si mesma (εν) ira
contra ele. Assim também em Heródoto, 1.118. Astíages, ocultando a ira (τόν

22. Farrar, Messages o f the Books.

159
M arcos - C ap . 6

χόλον) qu e se n tia p a r a co m ele { o i ενείχε). 6.119, ενείχε σφΐ δεινόν χόλον, n u tr ia


u m a ira te r r ív e l c o n tra eles. Desta maneira também vemos em Moulton, Grimm
e De Wette.

Queria (ήθελεν). No tempo imperfeito, esteve desejando o tempo inteiro. A exigên­


cia que ela fez do assassinato de João foi o resultado de um desejo d e lon ga data.

20. Guardava-o (συνετήρει). Uma tradução inadequada. A ecp apresenta p r o ­


tegia-o-, enquanto tb traz: o re tin h a e m seguran ça. Peculiar ao texto de Marcos.
Compare com Mt 9.17: se con servam ; Lc 2.19, g u a rd a v a ; συν, p erto ; τηρεΐν, conser­
v a r ou g u a r d a r , como o resultado do ato de se guardar. V id e Jo 17.12, e g u a r d a d a ,
iPe 1.4.

Fazia muitas coisas (πολλά έποίει). A leitura adequada, contudo, é ήπόρει,


derivado deà, não, e πόρος, u m a p a ssa g e m . Por isso, rigidamente falando, significa
estar em circunstâncias das quais alguém não pode encontrar uma saída. Assim
também a bj, acertadamente, apresenta: f ic a v a m u ito confuso.

21. Favorável (εύκαιρον). Exclusividade do texto de Marcos. Favorável ao pro­


pósito de Herodias. Meyer cita Grotius que diz: Oportuno para aquela mulher
pérfida que esperava - por meio do vinho, da concupiscência e da concorrência com
bajuladores -, ser capaz de se impor facilmente à mente instável do seu marido”.

Aniversário. V id e Mt 14.6. A nota sobre o banquete e a condição dos convida­


dos é inerente a Marcos.

Grandes (μεγιστάσιν). Somente aqui e em Ap 6.15; 18.23. Um vocábulo tar­


dio, derivado de μέγας, g ra n d e .

Tribunos (χιλιάρχοις). Literalmente, c o m a n d a n te s d e m il hom ens. Membros de


um tribunal militar romano, no qual tanto autoridades civis, quanto militares
participavam, juntamente com outros homens ilustres da região {líderes).

22. Da mesma Herodias (αύτής την Ήρωδιάδος). A arc dilui o significado do


vocábulo αύτής, com a tradução d a m esm a: o objetivo não era especificar Hero­
dias, que fora acima mencionada, mas, sim, enfatizar o fato de a p r o p r i a f ilh a dela
ter sido enviada à frente para dançar em lugar de uma dançarina profissional.
Por isso, a tb corretamente traduz: “a filha da p r ó p r ia H e r o d ia s ”.

Jovem (κορασίω). V id e Mc 5.41.

25. A narrativa de Marcos enfatiza a forma incrivelmente rápida como este as­
sassinato se deu. Ela entrou apressadamente e exigiu o cumprimento do seu
desejo naquele exato momento.
160
M arcos - C ap . 6

Imediatamente (4ξαυτής). Tradução exata pela versão arc . A arc traduz


ίύθύς: logo, como im ediatam en te-, €ύθ4ως, Mc 4.17, como im ediatam en te·, e o mesmo
vocábulo em Lc 21.9, com a expressão arcaica acima que significa im e d ia ta m en te.
O termo έξαυτής é traduzido como lo g o em At 10.33; 11.11; 23.30; Fp 2.23. A tb
traduz ap ressa d a m en te.

Prato. V id e Mt 14.8.

26. Entristeceu-se muito. Onde Mateus apresenta somente en tristeceu -se.

27. Um dos termos favoritos de Marcos: logo. O rei foi rápido na sua resposta.

Executor (σπεκουλάτορα). Um dos vocábulos latinos utilizados por Marcos,


specu lator. Um sp e cu la to r era um homem da guarda, cuja função era g u a rn e c e r e es­
p io n a r ( sp ecu la ri ). Gradualmente, este termo passou a descrever um dos guarda-
costas do imperador romano. Por isso, Suetônio informa que Cláudio não ousava
comparecer a banquetes se os seus s p e c u la to r s , com as suas lanças, não o rode­
assem. Sêneca utiliza a palavra no sentido de executor. “Ele se encontrou com os
executores [sp ecu la to ribus), declarou não ter nada a declarar contra a execução da
sentença e, a seguir, esticou o seu pescoço”. Herodes imitava os modos da corte
romana e era protegido por um grupo de s p e c u la to r s , mesmo que a sua função
específica não fosse a de agir como executores.

29. Corpo. V ide Mt 24.28.

Stier refere-se a Herodes nas seguintes palavras:

Este homem, cuja vida interior estava exaurida; que era feito de contradições, que
falava do seu reino como Assuero, mas também era escravo da sua Jezabel; ouvindo de
boa vontade ao profeta, e assassinando-o de má vontade; que é saduceu, mas considera
a ressurreição do corpo; que tem um temor supersticioso ao Senhor Jesus, mas, mesmo
assim, tem curiosidade de conhecê-lo*3.

31. Vinde vós, aqui à parte. V id e cap. 3.7.

37. Iremos nós e compraremos. Tanto esta pergunta, quanto a resposta de


Cristo são peculiares a Marcos.

39. Em grupos (συμπόσια συμπόσια). Expressão peculiar a Marcos. A sala de


jantar dos judeus era organizada de forma semelhante à dos romanos: três mesas
formavam três lados de um quadrado, com divãs ou assentos estofados no lado
de fora da linha das mesas. O canto aberto do quadrado servia para a entrada

23. Stier, Words of Jesus.


161
M arcos - C ap . 6

dos servos que abasteciam as mesas. Isto explica a disposição da multidão aqui
descrita por Marcos. As pessoas se sentaram, literalmente, em grupos de mesas, e
se reuniram como convidados à mesa; alguns grupos com cem, ou pouco mais,
pessoas, outros grupos com cinquenta, em formação de quadrados ou retângulos
com um dos lados abertos, para que os discípulos pudessem chegar a todos e
distribuir os pães.

Verde. Exclusividade de Marcos.

40. Repartidos (πρασια! πρασια'ι). Literalmente, como canteiros de umjardim. O


advérbio anterior, em grupos, descreve a disposição; este salienta a cor. As vestes
vermelhas, azuis e amarelas dos habitantes mais pobres do Oriente fazem com
que aquela multidão seja multicolorida; um fato chamaria a atenção do olhar de
Pedro, sugerindo a aparência de canteiros de flores em um jardim.

41. Partiu e deu-os (κατΙκλασβΛ έδίδου). Os verbos estão em tempos diferentes;


o primeiro está no aoristo, o segundo está no imperfeito. O aoristo implica algo
instantâneo, o imperfeito sugere um ato contínuo. Ele quebrou, e continuou dando
às pessoas. Farrar observa que a multiplicação, evidentemente, ocorreu nas mãos
de Cristo, entre os atos de partir e distribuir.

Todos. Peculiar a Marcos.

Ficaram fartos. Vide Mt 5.6.

43. Cestos cheios (κοφίνων πληρώματα). Literalmente, enchimentos de cestos. Vide


Mt 14.20. Somente Marcos acrescenta: e de peixe.

44. Homens (ávôpeç). Não um termo genérico, mas um vocábulo que inclui ho­
mens e mulheres; mas, literalmente, homens. Compare com Mt 14.21, além das
mulheres e crianças·, um detalhe que se poderia esperar de um texto de Marcos.

46. Tendo-os despedido (άποταξάμ^ι/ος). Um vocábulo não-clássico, e utilizado


neste sentido somente no grego tardio. O mesmo ocorre em Lc 9.61; At 18.18;
2Co 2.13.

48. Vendo (ίδών). Particípio. Contudo, mais adequadamente traduzido, no senti­


do literal, como tendo visto. Foi isto que o induziu a ir até eles.

Se fatigavam (βασανιζόμενους). Literalmente, se atormentavam. A bp traduz


cansados. Vide Mt 4 .2 4 . A t e b tr a z a leitura pelejar.

Q uarta vigília. Entre 3 e 6 horas da manhã.

Queria passar adiante deles. Peculiar a Marcos.


162
M arcos — C ap . 7

50. Todos o viram. Peculiar a Marcos.

Falou com eles (έλάλησεν μετ’ αυτών). Mateus e João apresentam o dativo
simples, αύτοΐς, a eles. A forma com eles de Marcos é mais familiar, e passa a ideia
de uma conversa mais amistosa e incentivadora. É significativo notarmos, diante
da relação de Pedro com este Evangelho, que Marcos omite o incidente da cami­
nhada de Pedro sobre as águas (Mt 14.28-31).

51. Se aquietou. Vide Mc 4.38.

Muito assombrados (λίαν έκ περισσού έξίσταντο). Literalmente, excessivamente


além da medida. Uma expressão forte, inerente ao texto de Marcos. Έξίσταντο,
ficaram espantados. Compare com o substantivo cognato εκστασις, e vide Mc 5.42.

52. Peculiar a Marcos.

O milagre dos pães (έπ ί τοΐς αρτοις). Na bj consta a respeito dos pães. Literal­
mente, sobre, na questão dos. Eles não argumentavam a partir da multiplicação dos
pães a fim de explicar o domínio das águas.

53. Ali atracaram (προσωρμίσθησαν). Peculiar a Marcos. Άνεβη, ele subiu (v. 51),
parece indicar uma embarcação de porte considerável, que se elevava a uma al­
tura bem grande em relação ao nível da água. Eles podem ter ancorado longe
da praia.

55. Percorrendo. De lugar em lugar, onde estavam os enfermos, a fim de trazê-


los até Jesus. Mateus apresenta: eles enviaram.

Trazer (περιφερειν). Περί, para perto, um cá e outro lá, onde quer que Cristo
pudesse estar naquele momento.

Leitos (κραβάττοις). Vocábulo censurado como grego inferior, mas utilizado


tanto por Lucas, quanto por João. Vide Mc 2.4.

56. Peculiar a Marcos.

Nas praças (άγοραΐς). De forma acertada, a rv apresenta mercados. Vide


M t 11.16.

Orla. Vide Mt 9 .2 0 .

Capítulo 7

2. Impuras (κοιναΐς). Literalmente, comum. Assim também vemos na b v , que traz


a leitura: deixavam de seguir os rituaisjudaicos comuns antes de comer.
163
M arcos - C ap. 7

Isto é. Acrescentado como forma de explicação destinada aos leitores gentios.

8. M uitas vezes (πυγμή). Literalmente, punho. A n v i traz a leitura cerimonial­


mente. Um termo que já gerou muitas dificuldades aos críticos, e sobre o qual é
impossível se falar de forma conclusiva. A bp apresenta lavar as mãos esfregando-
as, ou seja, esfregando a mão suja com a outra mão fechada. Isto seria satisfatório
caso houvesse algum tipo de evidência de que esta era a forma costumeira de se
lavar as mãos; porém não há qualquer indício nessa direção. A bj lê: sem lavar o
braço até o cotovelo. Edersheim afirma: “o costume está em desacordo com a legis­
lação judaica”24. Em outra das suas obras, Edersheim diz que:

Pois quando a água era derram ada so b re as m ãos, e la s p recisavam ser erguidas, d e form a
que a água não co rresse n em acim a do pulso, n em de v o lta para a mão; o m elhor, logo,
era dobrar o s d ed os em form a de punho. P or isso (com o L ig h tfo o t a certad am en te o b ser­
va), M arcos 7.3, d everia se r trad u zid o co m o salvo se eles lavarem as mãos com opunhxfs.

Tischendorf, na sua oitava edição, retém uma leitura antiga, πυκνά,frequente­


ou d ilig e n te m e n te , que pode ser usada para explicar esta tradução em tantas
m e n te
versões (a g ó t i c a , a v u l g a t a , a s i r í a c a ). Meyer, com o seu típico literalismo
apresenta a tradução com opunho, à qual estou inclinado a adotar.

Conservando (κρατοΰντίς). De forma mais rígida, apegando-se firmemente.


Tal qual Hb 4.14; Ap 2.25; denotando uma adesão obstinada à tradição.

4. Se lavarem (βαπχίσωνχοα). Dois manuscritos entre os mais importantes, contudo,


apresentam ρανχίσωνχαΐ: aspergirem-se a si mesmos. Esta leitura é adotada por Westcott
e Hort. Alguns tradutores insistem em verter o termo por se banharem, em vez de la­
varem, já utilizado como tradução de νίψωνχαι (v. 3). O objetivo deste nosso trabalho
não admite que sigamos as infinitas controvérsias que este vocábulo suscita. Ser-nos-á
suficiente apresentar os fatos principais acerca do seu significado e do seu uso.
No grego clássico, o significado primário é imergir. Assim, Políbio, ao des­
crever uma batalha naval entre os romanos e os cartaginenses, declarou: “Eles
afundaram (έβάπτιζον) muitos dos navios”26. Josefo referiu-se às multidões que lo­
tavam Jerusalém na época do cerco: “Elas transbordavam (έβάπχισαν) a cidade”27.
Em sentido metafórico, Platão também utiliza este vocábulo para se referir à
embriaguez2S: afogado na bebida (βίβαπτισμένοι); para se referir a um jovem esma­
gado pelos argumentos do seu adversário29.

2 4 . Edersheim , L if e and T im e s o f J esus, 2 .1 1 , n o ta .


25. Id., T h e T em ple, 206, nota.
26. Políbio, 1,51,6.
27. Josefo, Guerras dos Judeus, 4 .3 .3 .
28. Platão, Symposium, 176.
29. Id., Euthydemus, 2 7 7 .

164
M arcos - C ap . 7

Na lxx, o verbo ocorre quatro vezes: Is 2 1 .4, o horror apavom-me. Na lxx , a iniqui­
dade me batiza (βαπτιζβ.); 2Rs 5.15, para descrever os mergulhos de Naamã no Jordão
(φαπτίσατο); Jt 12.7, o banho que Judite tomou (φαπτίζετο) na fonte; Sr 31.25, descreve
o ato de uma pessoa ser batizada (βατιζόμενος) por ter encostado em um cadáver.
O uso que o Novo Testamento faz do termo para descrever a submersão para
fins religiosos, pode remontar aos banhos levíticos. Vide Lv 11.32 (referindo-se
a vasos); 11.40 (a roupas); Nm 8.6-7 (ao espargimento de água purificadora); Ex
30.19,21 (referindo-se às lavagens das mãos e dos pés). O vocábulo parece ter
sido, naquela época, um termo técnico que designava este tipo de banho (cp. Lc
11.38; Hb 9.10; Mc 7.4) e, logo, não poderia estar limitado ao significado de imer­
so. Assim, a lavagem dos potes e vasos para fins de purificação cerimonial não
pode ter sido feito por meio do mergulho dessas peças na água, o que tornaria
impuro toda a água utilizada para a purificação. A palavra pode ser entendida no
sentido de lavar ou aspergir.
O Didaquê ou “Ensino dos Apóstolos” (vide nota sobre Mt 10.10) lança luz
sobre a elasticidade da interpretação do lexema, nas instruções que passa para
a cerimônia de batismo. “Batiza - em água viva (isto é, corrente). Mas, se não
tiveres água viva, batiza em outra água; e se não consegues em água fria, batiza
em água morna. Mas se não tiveres nenhuma, nem outra, derrama água sobre a
cabeça três vezes em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (cap. 7).

Jarros (ξεστών). Mais uma das palavras latinas de Marcos, adaptada do latim
sextarius, a medida da capacidade cúbica de um cesto.

Vasos de metal (χαλκίων). De forma mais literal, cobre.

Camas (κλινών). Vocábulo omitido em alguns dos melhores manuscritos e


textos. A arc faz uma tradução errônea, pois o significado da palavra é assentos.
Se este vocábulo pertencer ao texto, nós seguramente não somos capazes de ex­
plicar βαπτισμους como imersão.

6. Bem (καλώς). Finamente, belamente. Expressão irônica.

10. Honra. A w y c liffe apresenta: adora. Compare com a tradução feita por ele
para Mt 6.2: “para serem adorados pelos homens”; 13.57: “Não há profeta sem
adoração, a não ser na sua pátria”; e especialmente Jo 12.26: “E, se alguém me
servir, meu Pai o adorara’. A bp traz: sustenta.

Punido com a morte, (θανάτω τίλ ίυ τ ά τ ω ). Literalmente, chegar ao fim pela


morte. Vide nota sobre M t 15.4.

11. Corbã. Somente Marcos apresenta o termo original para, a seguir, fornecer-
nos a sua tradução. Vide nota sobre Mt 15.5.
165
M arcos - C ap . 7

13. Invalidando. Na n v i , anulam. Vide nota sobre Mt 15.6.

Vós ordenastes. Observe o tempo passado, identificando-os naquele momen­


to com os seus ancestrais. Compare com Mt 23.35: Vós matastes. Cristo enxerga
os perseguidores e os fanáticos judeus, tanto nos tempos antigos, quanto nos dias
de hoje, como pessoas movidas por um espírito, e atribui a uns o que foi praticado
pelos outros.

17. Os discípulos. Mateus diz que foi Pedro. Não temos aí nenhuma discrepân­
cia. Pedro falava pelo grupo.

18. Assim. Tão faltos em inteligência a ponto de não compreenderem aquilo que
transmiti à multidão.

19. Fora (άφεδρώνα). Liddell e Scott apresentam uma única definição - uma la­
trina, cloaca·, e derivam este vocábulo de έδρα, assento, nádegas,fundamento.

Ficando puras todas as comidas? (καθαρίζων πάντα τα βρώματα;). Segundo


a a r c e a kjv , estes termos formam um aposto ao termo “fora” que estaria na
posição de latrina·, a latrina que purifica o corpo todo da contaminação gerada
por alguma coisa ingerida, por ser ela o local designado para receber a excreção
corpórea.
Cristo estava reforçando a verdade de que toda contaminação vem de dentro.
Isto estava na dianteira das distinções rabínicas entre os alimentos que eram pu­
ros e os que eram imundos. Cristo afirma que a contaminação levítica, tal como o
consumo de alimentos sem a lavagem das mãos, é de menor importância, quando
comparada à contaminação moral. Pedro, ainda debaixo da influência das velhas
idéias, não consegue compreender aquela afirmação e pede-lhe uma explicação
(Mt 15.15), que Cristo lhe dá nos versículos 1 8 -2 3 . Os termos ficando puras todas
as comidas não são de Cristo, mas do evangelista, numa tentativa de explicar
o conteúdo das palavras de Jesus; e, por conseguinte, a t b , de forma correta,
apresenta: Isso disse, purificando todos os alimentos. Esta era a interpretação de Cri­
sóstomo, que fala na sua Homília sobre Mateus: “Mas Marcos diz que ele disse
estas coisas tornando todas as comidas puras”. O cônego Farrar se refere a uma
passagem citada a partir de Gregório Taumaturgo: “E o Salvador, que purifica
todas as comidas, diz”. Esta tradução é significativa à luz da visão que Pedro teve
de um grande lençol, acompanhada dos vocábulos “aquilo que Deus purificou”
(εκαθάρισε), na qual Pedro provavelmente percebeu, pela primeira vez, a impor­
tância do dito do Senhor nesta ocasião. Farrar observa:

É , in d u b itavelm en te, d e v id o ao fato d e P edro, o in fo rm a n te d e M a rco s na red ação d o


seu E v a n g elh o , e c o m o a única au torid ad e final n o ca so daqu ela v isã o em A to s, se r a
fo n te das duas narrativas, a tal p o n to de m al p erceb erm os, até aqui, q u e o s d o is verbos,

166
M arcos - Cap. 7

purificar e profanar (ou contaminar), am b os em um se n tid o p e cu lia rm en te rep resen ta ti­


vo, são o s d o is te r m o s m ais im p o rta n tes na narrativa d e sse s d ois e v e n to s30.

21. Maus pensamentos (διαλογισμοί οί κακο'ι). Pensamentos, aqueles que são


maus. O vocábulo διαλογισμοί, pensamentos, por si mesmo, não transmite uma
ideia ruim; por isso a necessidade de se acrescentar adjetivos que denotam o seu
caráter negativo, como ocorre neste caso e em Tg 2.4. Radicalmente falando,
ele carrega a ideia de discussão ou debate, com um caráter subjetivo de suspeita ou
dúvida, seja com relação à nossa própria mente, como em Lc 5.22; 6.8; seja com a
de outra pessoa, Lc 9.46; Fp 2.14; Rm 14.1.

22. As maldades (πονηρίαι). No plural. Na e c p constaperversidades. Derivado de


πονεΐν, labutar. O adjetivo πονηρός significa, em primeira acepção, oprimido pela
labuta, ou pelo trabalho árduo-, depois em situação ou condição ruim, a partir do que
ele assume o sentido de moralmente ruim. Esta concepção parece ter sido associa­
da, pelas pessoas nascidas na elite da sociedade da época, à vida das pessoas mais
simples, da classe trabalhadora e escravocrata; assim como o termo criado que,
originalmente, significava um menino criado por alguém. Como πόνος significa
trabalho ou batalha dificil, árdua, por exemplo, também o adjetivo πονηρός, em
um sentido moral, indica uma maldade ativa. Assim descreve Jeremy Taylor:
“A aptidão para se fazer maquinações sagazes, para se deliciar em maus-feitos e
tragédias; o amor por perturbar o próximo e por lhe praticar o mal”. Πονηρός,
por conseguinte, significa perigoso, destrutivo. Satanás é chamado de ό πονηρός,
o maligno. Κακός, mau (vide maus pensamentos, v. 21) caracteriza o mal mais como
um defeito·. “Aquilo que não é, segundo a sua natureza, destino e ideia, aquilo que
podería, ou deveria, ser” (Cremer). Por isso, refere-se à incapacidade em uma
guerra; à covardia (κακία). Κακός δούλος, o servo mau, em M t 24.48, é um ser­
vo deficiente em termos de uma fidelidade e diligência adequadas para com o
seu mestre. Assim, o pensamento é chamado de mau, por ser aquilo que, na sua
natureza e propósito, ele não deveria ser. Mateus, contudo (15.19), chama estes
pensamentos de πονηροί, os pensamentos em ação, assumindo a sua forma no
propósito. Os dois adjetivos ocorrem em Ap 16.2.

A dissolução (ασέλγεια). De procedência desconhecida, que inclui a lascívia, e


pode muito bem significar isto aqui; o termo, porém, com muita frequência, é uti­
lizado sem esta conotação. No grego clássico, ele é definido como violência come­
tida com tratamento odioso e audácia. Como nesta perícope o seu significado exato
não está implícito pelo seu agrupamento junto a outros termos correlatos, parece
melhor considerá-lo no sentido mais amplo que pudermos - o de uma insolência

30. Farrar, Life and Work o f Paul, 1.276-7.

167
M arcos - C ap . 7

que despreza a lei e de um capricho libertino, e traduzi-lo, segundo Trench, disso­


luções, já que este vocábulo, conforme observa o autor, “está em notável ligação
ética com ασέλγεια, e apresenta a mesma duplicidade de significado”-*1. Em Rm
13.13, onde lascívia parece ser o significado provável, a partir da sua associação
com desonestidades (κοίταις), a palavra é traduzida como dissoluções na k jv e rv ,
bem como em 2Pe 2.18.

A inveja (οφθαλμός πονηρός). Referindo-se ao olho malicioso de uma pessoa que


faz maldades, com o significado de atividade prejudicial e positiva. Vide nota sobre
as maldades.

A blasfêmia (βλασφημία). O termo não necessariamente implica a blasfêmia


contra Deus. Ele é utilizado para descrever uma injúria, uma calúnia, uma difa­
mação em geral. Vide Mt 27.39; Rm 3.8; 14.16; lPe 4.4 etc. Por isso, a b p traduz
como: calúnia.

A soberba (ύπερηφανία). Derivado de υπέρ, acima, e φαίνεσθαι, mostrar-se. A


imagem lançada por este vocábulo é a de um homem com a sua cabeça erguida
acima dos demais. Trata-se do pecado de se ter um coração que se exalta diante
de Deus e dos homens. Compare com Pv 16.5; Rm 12.16 (não ambicioneis coisas
altas)·, lTm 3.6.

24. Foi. Vide nota sobre 6.31. A entrada na casa e o desejo de ficar isolado são
notas peculiares a Marcos.

25. Filha (θυγάτριον). No diminutivo. A b v traz corretamente a leitura filhinha.


Vide nota sobre 5.23.

26. Siro-fenícia. Uma fenícia da Síria, em distinção a uma pessoa líbio-fenícia


originária da Líbia, no norte da África. O termo Líbia frequentemente é utilizado
para designar a África.

27. Deixa primeiro saciar os filhos. Peculiar a Marcos.

Cachorrinhos. Diminutivo também no original. Vide nota sobre Mt 15.26.

28. Marcos acrescenta debaixo da mesa.

29-30. Peculiar a Marcos.

Deitada (βεβλημένοι). Literalmente, lançada. Ela provavelmente sofrerá ter­


ríveis convulsões, quando o demônio partiu. Compare com Mc 9.22, que fala do

S 1. T rench, Synonyms of the New Testament.

168
M arcos - C ap. 8

demônio que se apossou de um menino que havia: “lançado” o menino no fogo


etc. (cpcdev). Vide também Mc 1.26; 9.26.

32-37. Uma narrativa peculiar a Marcos.

32. Surdo (κωφόν). Vide nota sobre Mt 9.32.

Que falava dificilmente (μογιλάλον). Μόγις, com dificuldade-, λάλος,falar. Não


completamente mudo. Compare com efalava pefeitamente, no versículo 35.

33. Pôs-lhe (’έβαλεν). Literalmente, lançou, empurrou.

35. Perfeitam ente (όρθώς). Em sentido literal, corretamente, como traduz a n v i .

36. Ordenou-lhes (ôieoteílato). O verbo significa, em primeira acepção, separar,


depois definir ou distinguir, e como aquilo que está separado e distinto é enfatiza­
do: comandar ou incumbir alguém deforma veemente.

37. Admirando-se. Vide nota sobre Mt 7.28.

Falar (λαλεΐν). Vide nota sobre M t 28.18. A ênfase não recai sobre o conteúdo,
mas sobre o fato deles falarem.

Capítulo 8

2. Tenho compaixão (σπλαγχνίζομαι). Um verbo peculiar, derivado de σπλάγχνα,


as partes internas, especialmente os órgãos mais nobres - o coração, os pulmões,
o fígado e os rins. Estes, gradualmente, vieram a designar o centro das emoções,
exatamente como fazemos hoje com o vocábulo coração. Isto explica o uso fre­
quente da expressão entranhas na k j v no sentido de terna misericórdia, afeição ou
compaixão. Vide Lc 1.78; 2Co 7.15; Fp 1.8; Fm 7.12,20.

Estão comigo (προσμένουσιν). Literalmente, eles continuam. A tb traz está


sempre.

3. D esfalecerão . Vide nota sobre M t 15.32. A n tlh traz a leitura cair de


fraqueza.

Alguns deles vieram de longe. Peculiar a Marcos.

6. Que se assentasse (άναπ€σ€ΐν). Literalmente, que se reclinassem.

Partiu-os e deu-os. Vide nota sobre Mc 6.41.

8. Saciaram-se. Vide Mt 5.6. A n t l h traz a leitura ficaram satisfeitos. Na t b cons­


ta, sefartaram.
169
M arcos - C a p. 8

Cestos. Vide nota sobre Mt 14.20.

9. Quatro mil. Mateus (15.38) menciona um detalhe que seria típico do estilo de
Marcos: além de mulheres e crianças.

10. Com os seus discípulos. Peculiar a Marcos.

11. Começaram. O início dos acontecimentos parece despertar um interesse


particular em Marcos. Vide 1.1,45; 4.1; 5.17,20; 6.2,7,34,55.

Sinal (σημεΐον). Vide nota sobre Mt 1 1 . 2 0 . Na n t l h consta alguma prova. Ter­


mo aplicado aos milagres do nosso Senhor, este vocábulo enfatiza o seu teor éti­
co, ao declarar que o ato miraculoso indica algo que o antecede: a graça e o poder
ou o caráter divino ou, ainda, a autoridade divina do executor.

12. Suspirando profundamente em seu espírito. Peculiar a Marcos.

Não se dará sinal algum (d δοθήσεται σημάον). Literalmente, se um sinal será


dado. A expressão é elíptica: ela tem origem no hebraico e, na verdade, na sua
gênese, trata-se de uma forma de maldição. Se eu nãofizer isto ou aquilo, alguma
forma dejuízo poderá me sobrevir. Compare com Hb 3.11.

14. A existência de um único pão é um detalhe apresentado por Marcos.

22-26. Peculiar a Marcos.

23. Tomando (έπιλαβόμ^νος). Na e c p consta tomou.

Se via (e’í τι βλέπεις). A t b , c o m m a i o r p r e c i s ã o , t r a d u z a p e r g u n t a d i r e t a : Ves


alguma coisa? A m u d a n ç a n o s t e m p o s v e r b a i s é i l u s t r a t i v a : perguntou ( n o i m p e r ­
f e i t o ) , vês alguma coisa? ( n o p r e s e n t e ) .

24. Vejo os homens, pois os vejo como árvores que andam (seguindo a leitu­
ra: Βλέπω τους ανθρώπους δτι ώς δένδρα όρω πφιπατοΰντας). A t b traz: Vejo os
homens, porque, como árvores, ospercebo andando. Uma leitura apurada, em relação
à da k j v (Βλέπω τους άνθρώπους ώς δένδρα περιπατοΰντας): Vejo homens como
árvores que andam. Ele os via de forma embaçada. Eles se pareciam com árvores,
grandes e disformes; porém, sabia que se tratavam de homens, pois caminhavam
de um lado para o outro.

25. Olhando firmemente. A k j v traz a leitura: ofe z recuperar a visão. Porém, os


melhores textos omitem e substituem διέβλεψαν, ele olhou firmemente. Vide nota
sobre Mt 7.5. Em vez de olhar vagamente, ele fixou os olhos em objetos especí­
ficos.
170
M arcos - Cap. 9

E já via (ένέβλεπεν). No tempo imperfeito, denotando uma ação contínua. Ele


viu e continuava a ver, bem traduzido pelo pretérito imperfeito na arc . Compare
com o tempo aoristo acima: Ele olhoufirmemente, fixou os olhos, denotando um ato
único, o primeiro exercício feito pelos seus olhos depois da restauração da visão.

Todos. Seguindo a leitura ατταντας. Todavia, os melhores textos apresentam


απαντα, todas as coisas.

D istintam ente (τηλαυγώς). Derivado de τήλε, longe, αύγή, brilhante, resplan­


decente. Mesmo os objetos mais distantes eram vistos de forma clara.

29. Ele lhes disse (έπηρώτα). Mais exatamente, ele questionou on perguntou, como
vemos na rv. Marcos omite o elogio a Pedro. Vide Introdução.

Sobre os versículos 31-33, compare com as notas de Mt 16.21-28.

32. Dizia abertam ente estas palavras. Exclusividade de Marcos. Não como
um segredo ou mistério como vemos nas suas palavras acerca da ascensão ou da
edificação do templo em três dias. Não de forma ambígua, mas explicitamente. Na
TB consta dizia claramente.

34. Jesus agora faz uma pausa, pois as suas palavras seriam dirigidas a todos os
que o seguiam. Por isso, ele chama a multidão, juntamente com os discípulos.
Detalhe também próprio de Marcos.

Quiser (θέλει). A t b traz a leitura quer vir. Vide nota sobre Mt 1.19. Mais en­
fático do que estar com vontade defazer algo.

A sua cruz [jòv σταυρόν aircoüj. O pronome αύτοΰ, seu/sua, está em uma
posição que denota ênfase.

35. E do evangelho. Peculiar a Marcos.

36. G anhar - perder. Vide nota sobre Mt 16.26.

38. Das minhas palavras. Bengel observa que é possível a uma pessoa confessar
Cristo, porém se envergonhar de uma ou outra afirmação feita por Ele.

Entre esta geração adúltera e pecadora. Peculiar a Marcos.

Capítulo 9

Compare com M t 17.1-13; Lc 9.28-36.

2. Transfigurou-se. Vide Mt 17.2.


171
M arcos — C ap. 9

3. Resplandecentes (στ ίλβοντα). A k j n t a traz a leitura branco reluzente. O termo


é utilizado para descrever o brilho de superfícies lustrosas - como, por exemplo:
armas, o pelo de cavalos, a água em movimento, o brilho das estrelas, um relâm-
pago.

Nenhum lavadeiro. Detalhe peculiar a Marcos.

5. Tomando a palavra. Mesmo sem ter sido interpelado Pedro toma a palavra;
a transfiguração do Senhor foi um apelo a ele e o apóstolo desejava externar a
sua resposta.

6. Assombrados. Na ecp consta so b rem a n eira a te m o riza d o s ; enquanto kjnta traz


aterrorizados.

7. Filho amado. Na t b consta Filho dileto, en quanto ecp traduz p o r Filho muito amado.

8. Subitamente (έξάπινα). Conforme a k jv . Ocorrência única da palavra grega


no texto do Novo Testamento. A a r a traduz: E, de relance; enquanto a t b : Eles,
olhando de repente.

9. Contassem (διηγήσωνται). O vocábulo escolhido por Marcos é mais ilustra­


tivo do que o de Mateus ίΐπητ^. Ele deriva de διά, através de, e ήγέομαι, guiar
pelo caminho. Por isso, o significado é o de guiar uma pessoa através de uma série de
eventos·, narrar.

10. Perguntando. Na t b consta discutindo.

14. Alguns escribas. A particularização dos escribas como o grupo dos questio-
nadores, e os versículos 15-16, são aspectos característicos de Marcos.

15. Ficou espantada (έξρθαμβήθησαν). Um vocábulo peculiar a Marcos. Vide In­


trodução.

18. O apanha (καταλάβη). Literalmente, o segura. O nosso termo catalepsia é de­


rivado deste vocábulo grego.

Despedaça-o (ρήσσει). A t b traz a leitura lança por terra. O verbo é uma das
formas de ρήγνυμι, quebrar. A forma ρήσσω é utilizada no grego clássico para
descrever dançarinos que golpeiam o chão, assim como para narrar as batidas em
tambores. Posteriormente, na forma de ράσσειι», um termo utilizado por lutado­
res: derrubar, ou pôr abaixo, lançarpor terra, que é o conceito adotado pela maioria
das versões brasileiras.

Range os dentes. Esta expressão, juntamente com vai-se secando são caracte­
rísticas de Marcos.
172
M arcos - C ap . 9

19. Incrédula (άπιστος). O adjetivo in cré d u la adquiriu o significado de tra id o ra ,


descrevendo p e sso a s q u e n ã o g u a r d a m a su a fi. Contudo, Cristo está se referindo
à au sên cia d e f i . Esta é a tradução de e p que traz a leitura sem f i . D escren te seria
melhor neste caso.

20. Marcos é mais específico no detalhamento da convulsão que acometeu o


jovem que se dirigia a Jesus. Ele observa que a convulsão era consequência da
visão que o demônio teve do nosso Senhor. “Q u a n d o ele o vvti, imediatamente o
espírito” etc. O jovem caiu ao chão chafurdando e espumando. Seria de se esperar
este nível de detalhamento dos sintomas da parte de um autor como Lucas, um
profissional da área médica.

21-27. Característico de Marcos. Ele apresenta o diálogo entre Jesus e o pai do


menino, e descreve em detalhes o processo de cura do menino de forma muito
ilustrativa.

22. Nos. Profundamente marcante. O pai se identifica a si mesmo com a miséria


do filho. Compare com o que acontece com a mulher cananeia que também faz do
problema da filha algo totalmente seu: “Tem misericórdia de m in i’ (Mt 15.22)

23. Se tu podes crer (το el δύνη). Literalmente, o se tu p o d es. O vocábulo crer está
ausente dos melhores textos. É difícil explicar a um leitor da língua portuguesa
a força do artigo definido neste caso. A esse respeito, Meyer comenta: “Ele pega
substancialmente a palavra proferida pelo Pai, e a coloca com uma ênfase viva,
sem ligá-la à construção posterior, a fim de relacionar o seu cumprimento à fé da
própria pessoa que pede”. Podemos parafrasear isto. Jesus disse: “que se tu p o d e s
de ti - como consideras isso, todas as coisas são possíveis”. Existe um jogo entre
os vocábulos δύνη, p o d e s, e δ υ ν α τ ά , p o ssív e l, que não foi traduzido com nitidez. “Se
tu o p o d e s - todas as coisas p o d e m ser.”

24. Clamando - disse (κράξας - eÀeyei'). O primeiro termo denota o grito desar­
ticu la d o , uma exclam ação, seguido pelos vocábulos: “Senhor, eu creio”.

30. Caminharam pela (παρεπορεύοιζτο). Literalmente, p a ssa ra m a o longo d a (παρά).


Sem ali permanecer. Bengel afirma: “Não p elo m eio das cidades, mas ao largo delas”.

31. Ensinava (èôíõaoKev). A a r c teria sido mais bem-sucedida em reforçar o


tempo imperfeito neste caso: E le e s ta v a en sin an do. Ele procurou reclusão porque,
naquele momento, estava concentrado no ensino. O ensino era a continuação do
“com eçou a ensinar” (8.31).

Será entregue. O tempo presente, no original, é ilustrativo. O futuro é perce­


bido pelo Senhor como algo já consumado. V id e nota sobre Mt 26.2.
173
M arcos - C ap . 10

33-35. Peculiar a Marcos.

35. Servo (διάκονος). Provavelmente, derivado de διώκω, perseguir, ser o seguidor


de uma pessoa; ligar-se a esta pessoa. Em contraste com outras palavras do Novo
Testamento que significam servo, esta demonstra o servo na sua atividade, ao
passo que δούλος, escravo, representa-o na sua condição ou relação como homem
cativo e sujeito a outro. Um διάκονος pode ser tanto um escravo, quanto um ho­
mem livre. O nosso vocábulo diácono é uma transcrição literal do termo grego.
Vide Fp 1.1; lTm 3.8,12. A palavra é, normalmente, utilizada no texto do Novo
Testamento para designar os ministros do Evangelho. Vide lCo 3.5; Ef 3.7; lTs
3.2, assim como em outras perícopes. Marcos utiliza o termo δούλος em 10.44.

36. Pô-la (εστησεν). Como na maioria das versões brasileiras.

Tomando-a nos seus braços (εναγκαλισάμενος). Este verbo ocorre exclusi­


vamente em Marcos, e apenas aqui ele registra este detalhe.

37. Em meu nome. Literalmente, “sobre (επί) o meu nome”. VideM.t 18.5.

38. Em teu nome. A consciência de João foi despertada pelas palavras do Se­
nhor. Eles não haviam recebido o homem que expulsava demônios em nome de
Cristo.

42. Grande pedra de moinho. Vide Mt 18.6. Na e p consta apenas pedra de moi­
nho. Observe o presente e o perfeito ilustrativos; a pedra de moinho é erguida, e
ele fo i lançado.

43. Inferno. Vide Mt 5.22.

47. Com um só olho (μονόφθαλμον). Literalmente, de um só olho. Um dos vo­


cábulos de Marcos que é considerado uma expressão léxica sem elegância. Na
w y c l if f e , estranhamente, traduzido como com o olho esbugalhado.

50. Se tom ar insulso (άναλον γενηται). Literalmente, possa ter se tornado insulso.
Compare com Mt 5.13.

O adubareis (αρτύσετε). Literalmente, o restaurareis. Compare com Cl 4.5.

Capítulo io

2. Tentando-o. Vide nota sobre Mt 6.13.

4. Carta (βιβλίον). Vide nota sobre Mt 19.7. No diminutivo. Literalmente, um pe­


queno livro-, latim, libellus, de onde vem o nosso vocábulo libelo, uma acusação por
174
M a r c o s - C ap . 10

escrito. Nesta linha, a w y c l if f e apresenta um libelo de desistência, e na bp consta


ata de divórcio.

7. Unir-se-á. Vide nota sobre Mt 19.5. Na t y n d a l e : viverá com, na te b : se ligará. A


a r a apresenta o trecho entre colchetes, enquanto outras versões a omitem.

8. Serão uma só carne (εσονται εις σάρκα piau). Literalmente, “estarão sobre
uma carne”. A preposição expressa, de forma mais elucidativa que a a r c , como se
dará a transformação de ambos em um.

9. O que. Já considerando os dois como uma unidade.

13. Traziam-lhe (προσεφερον). No tempo imperfeito; eles estavam trazendo, à me­


dida que seguia pelo seu caminho. De maneira similar, estavam repreendendo, à
medida que as crianças eram, sucessivamente, trazidas.

16. Tomando-as nos seus braços. Vide nota sobre 9.36.

Impondo-lhes as mãos, as abençoou [τι,θείς τάς χεΐρας έπ’ αύτά, ηύλόγει


αύτά^). Os melhores textos apresentam κατευλόγει, τι,θείς τάς χεΐρας επ’ αύιά,
abençoou-as, colocando as suas mãos sobre elas; incluindo a imposição de mãos na
bênção. A expressão composta traduzida como abençoou-as ocorre somente nesta
passagem do Novo Testamento. Ele é mais forte do que a forma simples e ex­
pressa a sinceridade do interesse de Cristo. Alford traduz como abençooufervo­
rosamente.

17. Correu - se ajoelhou. Dois detalhes peculiares a Marcos.

18. Por que me chamas. Compare com Mt 19.17. As traduções da a r c e t b estão


corretas. Não existe mudança de redação como ocorre em Mateus, onde o texto
foi alterado para se conformar ao de Marcos e Lucas.

22. Ele, contrariado (στυγνάσας). Na kjnta, o homem abateu-se profundamente.


Termo aplicado aos céus em M t 16.3; sombrio. O vocábulo descreve de forma
marcante a tristeza que sobreveio ao seu rosto.

25. Agulha (ραφίδος). Um termo estigmatizado pelos gramáticos como não clás­
sico. Um deles, Frínico, afirmou: “Quanto a ραφίς, ninguém sabe do que se trata”.
Mateus também faz uso deste vocábulo, vide Mt 19.24. Lucas utiliza βελόνης, a
agulha cirúrgica, vide Lc 18.25.

80. Casas. Estes detalhes são peculiares a Marcos. Observe, de forma especial, a
expressão com persegu ições, e v id e In tro d u çã o a este livro. Com doce delicadeza, o

175
M arcos - C ap. 11

Senhor omite o termo esposas; de forma que o escárnio de Juliano, ao dizer que o
cristão teria a promessa de receber cem esposas, não tem fundamento.

32. Maravilhavam-se. O temor súbito que sobreveio aos discípulos somente é


notado por Marcos.

42. Os que julgam ser príncipes. A t b t r a z a l e i t u r a os qu e sã o recon hecidos com o


g o v e rn a d o re s d o s gen tio s.

43. Serviçal. V ide nota sobre 9.35.

45. De muitos (άντι πολλών). P or, no sentido de, em lu g a r de.

46. Filho de Timeu. Marcos, como seria de se esperar, é específico a respeito


dos nomes das pessoas.

Cego. As doenças oculares são muito comuns no Oriente Médio. Thomson


afirma, acerca de Ramleh:

Os montes de cinza são extremamente prejudiciais; mesmo diante de um vento fraco,


o ar fica cheio de um pó fino e irritante, que é muito perigoso para os olhos. Certa
vez, ao caminhar pelas ruas, contei todos os que eram cegos ou tinham problemas
nos olhos, e o número de pessoas chegava a cerca da metade da população masculina.
Quanto às mulheres, foi-me impossível fazer esta contagem, já que elas usam um véu,
de forma rígida, sobre a cabeça3*.

Palgrave afirma que a oftalmia é terrivelmente predominante, especialmente


entre as crianças. Segundo ele: “Não seria exagero afirmar que um em cada cinco
adultos apresenta os olhos mais ou menos afetados pelas consequências desta
doença”33.

Mendigando. V id e nota sobre Mt 5.3.

49-50. Peculiar a Marcos, acrescentando muito à vivacidade da narrativa.

50. Levantou-se (άναστάς). Os melhores textos leem: άναπήδησας, p u lo u (ou te n d o


Ou, como a r v : le v a n to u -se d e u m só salto.
p u la d o ).

Capítulo ll

2. Jumentinho. Somente Mateus acrescenta &ju m e n ta . Marcos e Lucas falam


apenas do jumentinho.

32. Thomson, Land and Book.


S3. Palgrave, Central and Eastern Arabia.

176
M arcos - C a p . 11

4. E n tre dois cam inhos (έπι του άμφόδου). ’Άμφοδον é, literalmente, qual­
quer rua que passe ao redor (άμφί) de um lugar ou de um agrupamento de
edificações. Por isso, o caminho tortuoso. O vocábulo ocorre apenas nesta
passagem do Novo Testamento. Na r v consta na rua aberta, o que, em uma
cidade do Oriente é, normalmente, tortuosa. Talvez, em contraste com a
tortuosidade costumeira, a rua de Damasco, onde Paulo se alojou, era cha­
mada Direita (At 9.11). “Trata-se de uma nota topográfica”, afirma o Dr.
Morison, “que somente poderia ser feita por uma testemunha ocular”. O
detalhe do versículo 4 é característico de Marcos. De acordo com Lucas
(32.8), Pedro era um dos enviados e a narrativa provavelmente tem a sua
marca.

8. Pelo caminho. Tanto Mateus quanto Lucas apresentam èv, em-, mas Marcos
apresenta elç, para dentro. Eles lançaram as suas vestes dentro do caminho e nele
as espalharam.

Ramos. Mateus, Marcos e João utilizam cada um deles, um vocábulo diferente


para designar os ramos. Mateus emprega κλάδους, derivado de κλάω, quebrar, por
isso um broto novo, como que cortado para fins de enxerto —um broto derivado
de um ramo. Marcos apresenta, στιβάδας, derivado de στρίβω, pisar ou amassar,
portanto, um monte de palha, junco ou folhas batidas em conjunto ou espalhadas,
com objetivo de formar um tapete sobre o caminho. Uma padiola de ramos e fo­
lhas cortados dos campos (somente em Marcos) próximos. O termo utilizado por
João, βαΐα, trata-se, especificamente, de folhas de palmeiras, da folhagem frondosa
que forma a copa daquela árvore.

9. Hosana. Que significa, ó salvà

11. Tendo visto tudo ao redor. Peculiar a Marcos. Como o senhor da casa, inspeciona­
va. Meyer observa: “Um olhar sério, pesaroso, judicial”. Compare com 3.5,34.

13. De longe. Peculiar a Marcos.

Que tinha folhas. Algo inusitado naquela época do ano.

Foi ver (ei άρα). Se, por acaso, isto é, caso a árvore tivesse folhas - ele pudesse
encontrar ali algum fruto que, no caso da figueira, antecede a folhagem. Somente
Marcos relata que ainda não havia chegado à época dos figos.

14. Os seus discípulos ouviram isso. Peculiar a Marcos.

15. Cambistas (κολλυβιστών). Outro vocábulo não clássico, mas utilizado por
Mateus. Ezra Abott afirma: “Este tipo de termo, naturalmente, encontrava es-
177
M a r c o s - C ap. 12

paço no grego mestiço falado por escravos e homens libertos que formaram as
primeiras congregações da Igreja em Roma”34. Videnota sobre Mt 21.12.

16. Vaso (σκεύος). Vide nota sobre M t 12.29; Mc 3.27.

Templo (ιερού). Vide nota sobre Mt 4.5. O recinto do Templo, não ο ναός, ou
santuário. O povo seria tentado a transportar vasos e outros utensílios através
dele, a fim de poupar um longo percurso. Além disso, os judeus não conside­
ravam o pátio dos gentios como digno do respeito devido às outras partes do
recinto. Isto, nosso Senhor reprova.

17. Por todas as nações. A tradução implica que ela será chamada por parte
de todas as nações. Mas prefira a versão da t b ·. uma casa de oração para todas as
nações (πάσιν τοις εθνεσιν).

Ladrões (ληστών). A bp traduz como bandidos. Vide Mt 21.13; 26.55; Jo 10.1,8.


Derivado de ληίς ou λεία, saque. No uso clássico referindo-se, principalmente,
a animais. O roubador, conduzindo as suas operações em escala grande e siste­
mática, e com a ajuda de bandos deve, dessa forma, ser distinto do κλέπτης, ou
ladrão que furta ou surripia qualquer coisa que lhe venha à mão. Levando-se isto
em consideração, um covil seria apropriado a um bando de roubadores e não de
ladrões. Assim, o viajante que seguia em direção a Jericó, na parábola de Cristo
(Lc 10.30), caiu na mão de roubadores, e não de ladrões.

19. E, sendo já tarde (όταν). Literalmente, toda vez que a tarde caísse; não como
referência à tarde da purificação do Templo, mas às tardes de todos os dias.

20-24. Todos os detalhes são peculiares a Marcos. Compare com M t 21.20-22.

23. Que se fará (γίνεται). Prefira sefaz, como apresenta a tb.

24. Recebereis (έλάβετε). De fo rm a mais literal, recebeu. A t b tr a d u z tendes rece­


bido.

25. Ofensas. Vide nota sobre Mt 6.14.

27. Andando. Um acréscimo de Marcos.

C a pítu lo 12

1-11. Compare com Mt 21.33-46.

34. Ezra Abott, “Gospels”, in: Encyc. Britannica.

178
M ar c o s- C ap . 12

I. Lagar (ύπολήνιον). Na e p consta tanque para pisar. Somente aqui no texto do


Novo Testamento. A prensa de vinho era construída ao lado de uma pedra com
declive e uma cavidade. Debaixo disto era feita mais uma cavidade, com aber­
turas que se comunicavam com outra superior, para a qual corria o suco que
vinha da prensa. Isto era chamado pelos romanos de lacus, ou lago. O termo aqui
utilizado para se referir à estrutura como um todo designa, de forma restrita,
esta cavidade debaixo (ύπό) da prensa (ληνός). Esta é a explicação da tradução de
w y c u f f e : uma cavidade, um lago.

Partiu para fora da terra (άπ€δήμησ6ν). Só que isto também é demasiadamen­


te enfático. O vocábulo significa, simplesmente, fo i para o exterior. Por isso, a e c
t r a d u z como viajou para o estrangeiro-, e a t b traz a leitura partiu para outro país.

Vide nota sobre Mt 25.14.

Do fruto. Ou, de modo literal, a partir de (άπό) os frutos, denotando que o


aluguel deveria ser pago com a produção.

6. Pois [òCv]]. Os melhores textos omitem esta conjunção.

Derradeiro. Exclusividade de Marcos.

7. Aqueles lavradores. Literalmente, eles, os lavradores. Na ecp, c o n sta os vinha-


teiros; enquanto na b j , agricultores.

10. Escritura (γραφήν). Uma passagem das Escrituras. Por isso, frequentemente
mencionada como esta escritura; outra escritura; a mesma escritura. Lc 4.21; Jo
19.37; At 1.16.

II. Feito pelo Senhor (παρά κυρίου). Literalmente, a partir do Senhor.

13-17. Compare com Mt 22.15-22.

13. Apanhassem (άγρ€υσωσιν). Derivado deãypa, caçada,perseguição. Por isso, a ideia


do vocábulo é a de caça, ao passo que o significado do termo utilizado por Mateus,
παγι&υσωσιν, é o de ser apanhado em uma armadilha. Vide nota sobre Mt 22.15.

14. Tributo. Vide nota sobre Mt 22.19.

Aparência (πρόσωπον). Literalmente, rosto.

Pagaremos ou não pagaremos? Um detalhe peculiar de Marcos.

15. Moeda. Vide nota sobre Mt 20.2.

16. Imagem e inscrição. Vide nota sobre Mt 22.20.


179
M arcos —C ap. 12

17. M aravilharam -se (έξεθαύμαζορ). A preposição έξ, p a r a f o r a , indica per­


plexidade. Eles maravilharam-se a lé m d o n o r m a l. Por isso, a r v traduz como:
m a r a v ilh a r a m - s e so b e ja m e n te . A a r c segue outra leitura, de acordo com o ver­
bo simples έθαΰμαζορ. O imperfeito denota c o n tin u id a d e : eles f i c a r a m se m a r a ­
v ilh a n d o .

18. Que (oÍTiveç). Este pronome marca os saduceus como uma classe: o ra m o d o
ju d a ís m o caracterizado pela negação da ressurreição.

Perguntaram-lhe (έπηρώτωρ). Mais enfático. Eles q u estio n a ra m -lh e.

24. Porventura (διά τοΰτο). Uma tradução que obscurece o significado. Os ter­
mos apontam à frente, em direção às duas orações seguintes. A razão do vosso
erro é a vossa ig n o râ n c ia acerca d a s E s c ritu ra s e d o p o d e r d e D eu s.

Errais (ττλαράσθξ). Literalmente, v a g u e a r p a r a f o r a d o ca m in h o . Compare com


o termo latino errare. Referindo-se a uma ovelha extraviada, Mt 1 8 .1 2 ; lPe
2 .2 5 ; ou aos mártires que vagueavam pelos desertos, Hb 1 1 .3 8 . Normalmente
traduzido no Novo Testamento como e n g a n a r. V id e Mc 1 3 .5 -6 . Compare com
αστέρας πλαρήται, estre la s e rra n te s (Jd 1 3 ), de onde deriva a nossa palavra p l a ­
neta.

26. Como Deus lhe falou na sarça. Uma tradução inadequada. A expressão
na sa rç a (έττ'ι του βάτου), refere-se a uma seção específica do Pentateuco, Ex
3.2-6. Os judeus estavam acostumados a designar porções das Escrituras,
em função daquilo que consideravam mais notável no seu conteúdo. Por isso,
a TB, acertadamente, apresenta: n a p a s s a g e m c o n c e rn e n te à sa rç a . A bj traz a
leitura no liv r o d e M o is é s , no trech o so b re a sa rç a . O artigo (του) se refere a isto
como algo familiar. Compare com Rm 11.2, k v Ή λι^; isto é, na Escritura que
fala sobre Elias.

27. Vós errais muito. Um encerramento enfático, peculiar a Marcos.

28. Bem (καλώς). Literalmente, b e la m e n te ,fin a m e n te , a d m ira ve lm en te .

Qual (ποια). Prefira, d e qu e n a tu re za .

30. De todo o teu coração (έξ όλης τής καρδίας σου). Literalmente, d o te u cora­
ção todo. O coração, não somente como a sede das emoções, mas também como o
centro do nosso ser complexo - físico, moral, espiritual e intelectual.

Alma (ψυχής). Este termo é normalmente utilizado no texto do Novo Testa­


mento com o seu significado original, v id a . V id e M t 2.20; 20.28; At 20.10; Rm
11.3; Jo 10.11. Por isso, como uma designação enfática do próprio homem. V ide
180
M arcos —C a p. 12

Mt 12.18; Hb 10.38; Lc 21.19. Dessa forma, o vocábulo denota, segundo Cremer,


a “vida na distinção da existência individual”. Confira mais sobre o vocábulo
ψυχικός, e s p iritu a l, em lCo 15.44.

Entendimento (δLavoíας). A faculdade do pensamento: o entendimento, espe­


cialmente o entendimento m oral.

31. Próximo. V id e nota sobre Mt 5.43.

32-34. Peculiar a Marcos.

32. M uito bem, M estre, e com verdade disseste que há um só Deus Γκαλώς,
διδάσκαλβ, έπ’ άληθΕΐας ίΐπας ότι €ίς έστι 9eóç]]. Todos os melhores textos
omitem o vocábulo D eu s, Oeóç.

Bem (καλώς). Termo exclamatório, como se diz “bom V ao ouvirmos algo que
aprovamos.

Verdade (έπ’ άληθείας). Tradução inadequada. A expressão original no gre­


go é adverbial; em v e rd a d e , v e rd a d e ira m e n te , e qualifica o verbo subsequente, tu
disseste.

Que ( ό τ ι ) . Traduzido corretamente pela a r c , que traduz o termo como que, e faz
da afirmação toda uma frase contínua: T u verd a d e ira m e n te disseste que E le é um.

33. Entendimento (συνέσ^ως). Um termo diferente do utilizado no versículo


30. Nesse caso, ele é derivado de συνίημι, e n v ia r ou tr a z e r em conjunto. Portanto,
σύνεσις designa uma u n iã o ou a g ru p a m e n to entre a mente e um objeto e, logo, é
utilizado para denotar af a c u ld a d e d a rá p id a com preensão, d a in telig ên cia , d a sa g a c i­
d ade. Compare com συνετών, in stru íd o s, Mt 11.25.

34. Sabiamente (νουν^χώς). Derivado de νους, m ente, e ’έχω, ter. Estar de posse da
própria mente: “te r o seu j u í z o sobre ele”. Ocorrência única dessa palavra no texto
do Novo Testamento.

37. A grande multidão (ò πολύς όχλος). Não fazendo distinção social, mas a
a multidão como um todo.
g r a n d e m a ssa d o povo·,

38. Gostam (θέλοντων). V id e nota sobre Mt 1.19.

39. Primeiros assentos (πρωτοκλισίας). Mais precisamente, os p r in c ip a is assen­


tos. A b j traz: lu g a res d e honra.

40. As casas das viúvas. As pessoas normalmente deixavam toda a sua fortuna
para o Templo, e uma boa parcela do dinheiro era destinada, no fim das contas,
181
M arcos - C ap. 12

aos escribas e fariseus. Os escribas estavam universalmente dedicados à lavratu-


ra de testamentos e transferências de propriedades. Eles podem ter abusado da
sua influência sobre as viúvas.

41. O tesouro. No Pátio das Mulheres, que cobria um espaço de 61 metros


quadrados e era cercado de colunas ao redor, havia, defronte ao muro, tre­
ze gazofilácios em forma de “trombetas” para contribuições de caridade.
Estes gazofilácios tinham a ponta fina e o fundo largo, assumindo a forma
de trombetas, daí o seu nome. O objetivo específico estava cuidadosamente
marcado sobre cada um deles. Nove eram para a coleta daquilo legalmente
devido por parte dos adoradores, e os outros quatro eram somente para
ofertas voluntárias35.

Observava (έθεώρει). Observava de forma compenetrada.

Lançava. Examine o uso ilustrativo do presente contínuo: está lançando.

Dinheiro (χαλκόν). Literalmente, cobre, que era o que a maioria das pessoas
entregava como oferta.

Depositavam (εβαλλον). No tempo imperfeito: estavam depositando enquanto


ele observava.

M uito (πολλά). Literalmente, muitas coisas-, possivelmente muitas moedas de


cobre em circulação na época.

42. Uma (μία). Literalmente, uma em distinção à grande quantidade de ricos


que ali estavam. Adequadamente traduzido pelo artigo indefinido, como se vê
na arc.

Pobre (πτωχή). Vide Mt 5.3.

Pequenas moedas (λεπτά). Derivado de λεπτός, descascado, debulhado-, e, por


isso, magro ou fino, designando, logo, uma moeda muito pequena ou fina.

Cinco réis (κοδράυτης). Um vocábulo latino, quadrans, ou um quarto de um


asse romano; quadrante significa um quarto. A a r a traduz por um quadrante-, a n v i ,
por de muito pouco valor, seguida com pequena variação pela n t l h , t b e k j n t a .

43. Esta pobre viúva (ή χήρα αυτή ή πτωχή). A ordem dos termos no grego
é muito sugestiva, formando uma espécie de clímax: esta viúva, a pobre, ou e ela
pobre.

35. Vide Edersheim , The Temple.

182
M arcos - C ap. 13

Capítulo 13

1. Pedras. As que formavam o arco da ponte que cobria o Vale de Tiropeão (ou
dos produtores de queijo), ligavam a antiga cidade de Davi ao pórtico real do Tem­
plo, e mediam 7,3 metros de comprimento por 1,8 metros de largura. Contudo,
estas, de forma alguma, eram as maiores utilizadas na construção do Templo. As
pedras angulares das extremidades sudeste e sudoeste mediam de 6 a 12 metros
de comprimento e pesavam mais de cem toneladas36.

2. D erribada (καταλυθη). Prefira, desprendida. Um termo muito ilustrativo, que


implica uma demolição gradual.

3. Observe a especificidade dos detalhes de Marcos. Ele acrescenta, defronte do


templo, e os nomes dos quatro discípulos que fizeram a pergunta. Com relação ao
discurso seguinte, compare com M t 24.

6. Em meu nome (ètri). Literalmente, sobre. Baseando as suas alegações no uso


do meu nome.

7. Rumores de guerras. Tais como as que seriam motivo de terror para os


cristãos hebreus; como as três ameaças de guerra contra os judeus, feitas por
Caligula, Cláudio e Nero. Houve sérias perturbações em Alexandria no ano 38
d.C., nas quais os judeus foram o grupo perseguido de maneira mais intensa; em
Selêucia, por volta da mesma época, na qual mais de cinquenta mil judeus foram
mortos; e em Jamnia, perto de Jopa.

Vos perturbeis (θρο^ισθί). Θρο^ω é, literalmente, gritar alto.

8. Terremotos. Entre a profecia e a destruição de Jerusalém (70 d.C.) ocorre­


ram: um grande terremoto em Creta, no ano 46 ou 47 d.C; em Roma, no dia em
que Nero conquistou a sua maioria, ano 51 d.C.; em Apameia, na Frigia, no ano
53 d.C.; “por conta do que” - afirmou Tácito - “eles ficaram isentos de tributos
por cinco anos”; em Laodiceia, também na Frigia, no ano 60 d.C.; em Campania,
no ano 63 d.C., com o qual, segundo Tácito, a cidade de Pompeia foi, em grande
parte, destruída.

Fomes. Durante o reinado de Cláudio, entre os anos 41-54 d.C., quatro pe­
ríodos de escassez alimentar estão registrados: um em Roma, nos anos 41-42;
um na Judeia, no ano 44; um na Grécia, no ano 50; e, novamente, em Roma, no
ano 52 d.C., quando o povo se insurgiu numa rebelião e ameaçou a vida do im­
perador. Tácito afirmou que esses períodos foram acompanhados de frequentes

36. Edersheim, T h e Temple.


183
M arcos - C ap. 13

terremotos, que arrasaram as casas. A fome na Judeia foi, provavelmente, aquela


profetizada por Ágabo e que está registrada em At 11.28. A respeito do ano 65
d.C., Tácito disse:

Este ano, desgraçado por tantos atos de horror, foi também distinto pelos deuses com
tempestades e doenças. Campania foi devastada por um furacão que destruiu as edifi­
cações, as árvores e os frutos da terra em todas as direções, até mesmo os portões da
cidade, dentro da qual uma pestilência dizimou todas as camadas da população, sem
qualquer perturbação atmosférica que pudesse ser enxergada pelos olhos. As casas
ficaram entupidas com os mortos, as estradas com os funerais: não houve distinção
nem de sexo, nem de faixa etária. Escravos e homens livres pereceram de igual forma
em meio aos lamentos das suas mulheres e crianças que, normalmente, eram levados
até a pira funerária ao lado da qual eles se sentavam aos prantos e eram, junto com ela,
consumidos. As mortes dos cavaleiros e senadores, em função da promiscuidade da­
quela gente, não mereciam tanto lamento, visto que, ao sucumbirem diante da morte
tal quais as pessoas comuns, eles pareciam prenunciar a crueldade do príncipe37.

Dores (ωδίνων). A b j traduz como dores do parto-, pois o vocábulo é utilizado,


de maneira especial, para designar as contrações de um parto.

9. Sereis açoitados (δαρήθ€σθ€). O verbo, literalmente, significa descascar ou esfo­


lar, e por meio de uma linguagem informal, passou a significar espancar ou surrar.

11. Vos conduzirem (αγωσιν). Presente do subjuntivo; mais adequadamente


traduzido como, talvez, puderem vos conduzir. Enquanto vocês estiverem seguin­
do sob custódia para o tribunal de julgamento, não fiquem se preocupando com
a sua defesa.

Não estejais solícitos de antemão (μή upopepipvâxe). Vide nota sobre Mt 6.25.

14. Abominação. Vide nota sobre Mt 24.15.

15. Telhado. Vide nota sobre Mt 24.17.

19. A criação, que Deus criou. Observe a ampliação específica, e compare com
o versículo 20: os escolhidos ou eleitos, que Ele escolheu.

20. Abreviasse. Vide nota sobre Mt 24.22.

22. Farão (δώσουσιν). Literalmente, darão. Alguns editores, todavia, leem


ttoιήσουσ iv, farão,
como na arc.

37. Tácito, Annals, 16.10-13.

184
M arcos - C ap. 13

24. Luz (φέγγος). O vocábulo é utilizado no texto do Novo Testamento quando


se deseja falar da luz da lua. Compare com M t 24.29, o único outro exemplo com
esse sentido. O termo também ocorre em Lc 11.33, mas, neste caso, designa a luz
de uma lamparina.

25. As estrelas cairão do céu. Uma tradução que está bem aquém dos con­
tornos ilustrativos do original: oi άστέρρς ’έσονται έκ του ουρανού πίπτοντας:
as estrelas estarão caindo do céu. Assim também a r v , trazendo um significado de
continuidade, como de uma chuva de estrelas cadentes.

27. D a extremidade da terra até a extremidade do céu (απ’ άκρου γης 'έως
άκρου ουρανού). Dos limites mais remotos da terra, concebida como uma super­
fície, até onde as extremidades mais remotas dos céus fixam o limite da terra.
Compare com Mt 24.31. A expressão de Marcos é mais poética.

28. Parábola. Vide nota sobre Mt 24.32.

Ramo. Vide nota sobre Mc 11.8.

29. Sucederem (γινόμενα). No particípio presente e, logo, melhor apresentado


pela n v i : acontecendo·, em processo de cumprimento.

3 3 . Vigiai (άγρυπνοιt e ) . O vocábulo é derivado de άγρ6υω, caçar, e ύπνος, sono.


A concepção é de uma pessoa que está à caça do sono e, logo, está alerta, agita­
da. A tradução que w y c l i f f e faz da passagem como um todo é impressionante:
Vede! Levantai-vos e orai! A n v i traduz: Fiquem atentos! Vocês não sabem quando
virá esse tempo.

34. Um homem, partindo para fora da terra (άνθρωπος απόδημος). A tradução


apresentada pela a r c está inadequada, já que a ideia não é a de um homem prestes a
partir, como em Mt 25.14; mas de um homem quejá partiu, como traduz corretamen­
te a TB: um homem em viagem num país estranho. A bj diz: quepartiu de viagem.

35. Vigiai (γρηγορ^ΐτε). Um termo diferente do que ocorre no versículo 33. Vide
também versículo 34. O sentido, nesse caso, é o de um homem adormecido que se
levanta, ao passo que o anterior transmite o significado de mera vigilância. Aqui,
o autor acrescenta o juízo de prontidão. Compare com Mt 14.38; Lc 12.37; lPe
5.8. Os apóstolos são, assim, comparados com os porteiros, versículo 34; o perío­
do noturno simboliza bem a figura. No Templo, durante a noite, o comandante
fazia as suas rondas e os guardas precisavam se levantar, com a sua aproxima­
ção, e saudá-lo de um modo específico. Todo guarda que fosse achado dormindo
em horário de trabalho era punido com uma surra, e os seus uniformes eram
lançados ao fogo. Compare com Ap 16.15: “Bem-aventurado aquele que vigia e
185
Marcos - Cap. 14
guarda as suas vestes”. Os preparativos para o serviço matinal exigiam que todos
estivessem atentos bem cedo. O sacerdote que comandava podería bater à porta a
qualquer momento. Os rabinos utilizam quase os mesmos termos das Escrituras
para descrever a vinda inesperada do Mestre. Segundo Edersheim, “às vezes,
ele vinha na hora do canto do galo, às vezes um pouco antes, às vezes um pouco
depois. Ele veio e bateu e a porta foi-lhe aberta”38.

37. Vigiai. O vocábulo que encerra e resume a sua mensagem é também o mais
enfático do versículo 35: Fiquem acordados e alertas.

C a p ít u l o 1 4

l. A Páscoa e a Festa dos Pães Asmos (το πάσχα καί τα άζυμα). Literalmente,
a páscoa e os asmos. Tratava-se mesmo de apenas uma festividade.

Buscavam (έζήτουν). No tempo imperfeito: estavam todos nisto enquanto busca­


vam.

3-9. Compare com Mt 26.6-13.

3. Vaso de alabastro. Vide nota sobre Mt 26.7.

Nardo puro (νάρδου πιστικής). O significado do vocábulo πιστικής é motivo


de muita controvérsia. Os maiores eruditos o definem como genuíno ou inadulte-
rado, ou seja: nardo puro.

Quebrando. Possivelmente golpeando o frágil gargalo do recipiente. Este é


mais um dos detalhes peculiares à obra de Marcos.

4. Para que. Vide nota sobre Mt 26.8.

5. Bramavam (ένεβριμώντο). Vide nota sobre Mc 1.43.

6. Boa. Vide nota sobre Mt 26.10.

7. Quando quiserdes. Observe a ampliação feita por Marcos.

8. Esta fez o que podia (ô €σχεν 4ποίησ€ν). Literalmente, o que ela tinha, elafez.
Peculiar a Marcos.

Antecipou-se a ungir (προέλαβ^ν μυρίσαι). Tradução literal na arc. Na tb


consta ela... ungiu... antecipadamente. O verbo μυρίζω ocorre somente nesta pas­
sagem.

38. Edersheim, The Temple.


186
M arcos - C ap. 14

11. Dinheiro. Vide nota sobre M t 26.15.

Buscava (Ιζήτει). No tempo imperfeito. Ele continuava buscando: ocupava-se


continuamente disso a partir daquele momento.

Ocasião oportuna (εύκαίρως). Pudesse encontrar uma boa oportunidade


(καιρός).

13. Um homem. Provavelmente um escravo, cuja ocupação era a de carregar


água. Vide Dt 19.11.

Cântaro. Feito de barro: κφάμιον, derivado de κέραμος, o barro do oleiro.

14. Aposento (κατάλυμά μου). Vide Lc 22.11. Este não é um termo clássico, e,
ao ser utilizado por um oriental, ele designa um príncipe tártaro ou uma hospe­
daria para caravanas. Por isso, temos o vocábulo estalagem em Lc 2.7. Meu (μου)
aposento: era uma prática comum que mais de um grupo compartilhasse da ceia
pascal no mesmo ambiente; mas Cristo terá seu aposento, para uso exclusivo dele
e dos seus discípulos.

15. E ele (αυτός). O grego é mais enfático. “Ele mesmo vos mostrará”. Assim ve­
mos também na rv provavelmente o dono da casa era um discípulo.

Mobilado (έστρωμένον). Literalmente, coberto com tapetes, e com assentos


adequadamente distribuídos.

20. Prato (τρυβλίον). Vide nota sobre Mt 26.23.

2 3 .0 cálice. O vinho era o de uso costumeiro naquela terra, somente o vermelho.


Ele era misturado com água, geralmente na proporção de uma parte para duas
de água.

24. Testam ento. Vide nota sobre Mt 26.28.

É derramado (το έκχυνί'όμενοί'). Literalmente, está sendo derramado. Este par-


ticípio presente é significativo. Na mente do Senhor, o sacrifício já está sendo
oferecido.

25. Novo. Vide nota sobre Mt 26.29.

26. Tendo cantado o hino. Vide nota sobre Mt 26.30.

28. Irei adiante. Vide nota sobre Mt 26.32.

30. Que o galo cante. Vide nota sobre Mt 26.34. Somente Marcos acrescenta
duas vezes este detalhe.
187
M arcos - C ap. 14

Negarás (άπαρνήση). O verbo composto significa negar p o r com pleto.

31. Te negarei (ού μή σε άπαρνησομαι). A negativa dupla, acompanhada do


futuro, forma a declaração mais veemente possível.

32. Getsêmani. V id e nota sobre M t 26.36.

33. T er pavor (εκθαμβεισθαι). Um termo peculiar a Marcos. Compare com 9.15;


16.5-6.

35. Orou (προσηύχετο). No tempo imperfeito: com eçou a orar.

40. Carregados (καταβαρυνόμενοι). Literalmente, pesavam: muito pesados.

41. Basta (απέχει). Peculiar a Marcos. Neste sentido impessoal, o termo não
ocorre em nenhuma outra parte do Novo Testamento. Os expositores estão
completamente à deriva no que diz respeito ao seu significado.

43. Um dos doze. V id e nota sobre Mt 26.47; como também o vocábulo m u lti­
dão.

44. Sinal (σύσσημον). Um composto grego tardio usado somente por Marcos
nesta passagem. Compare com σημεΐον, Mt 26.48. O prefixo συν, com , denota a
força de um sinal mútuo·, um sinal a co rd a d o entre partes.

45. Beijou-o. V ide nota sobre Mt 26.51.

47. O servo. V id e nota sobre Mt 26.51.

Orelha (ώτάριον). Termo encontrado aqui e depois somente em Jo 18.10. V ide


nota sobre Mt 26.51.

48. Um salteador. Traduzido pela bj como la drão. V id e Mt 26.55 e Mc 11.17.

51-52. Este incidente somente é relatado por Marcos. Não há meio de se


saber quem teria sido este jovem. Especula-se que poderia ter sido o próprio
Marcos, João, Tiago “o Justo”, Lázaro, irmão de M arta e Maria, e até o após­
tolo Paulo!

51. Lençol (σινδόνα). A derivação provável deste termo é Ινδός, um in d ia n o , já


que a índia seria a fonte de onde vinham os tecidos finos utilizados para envolver
os cadáveres e nos quais o corpo do próprio Cristo foi envolto. V id e M t 27.59; Mc
15.46; Lc 23.53.

54. Pátio (αυλήν). Adequadamente traduzido pela arc como p á tio : o quadrilátero
em cujos lados eram edificadas as câmaras. V id e Mt 26.3.
188
M arcos - C a p. 14

Assentado com (fju συγκαθήμίηος). O verbo acompanhado do particípio de­


notando continuidade. O que aconteceu posterior mente, já ocorreu enquanto ele
estava sentado.

Servidores. A ara traz serventuários, a ntlh e nví, guardas. Vide nota sobre
Mt 5.25.

Ao lume (ττρος το φως). O vocábulo φως jamais é utilizado para designar o


fogo em si, mas sim, a luz por ele emitida. Este é o ponto ao qual o evangelista
dirige a sua atenção: ao fato da luz do fogo, ao brilhar no rosto de Pedro, suscitou
a acusação feita pela criada (v. 66).

56. Os testemunhos não eram coerentes. Peculiar a Marcos. Literalmente, os


seus testemunhos não eram iguais. Por isso, a dificuldade de se cumprir os preceitos
da Lei, que exigiam duas testemunhas. Vide Dt 17.6; e compara com Mt 18.16;
lTm 5.19; Hb 10.28.

58. Construído por mãos. Marcos acrescenta este detalhe; também construído
sem mãos, e a frase seguinte.

62. Eu o sou. Vide nota sobre Mt 26.64.

64. Culpado de morte. Vide nota sobre Mt 26.66.

65. Dar-lhe punhadas. FzJenota sobre Mt 26.67.

Bofetadas (ρατάσμασιν). Um vocábulo não clássico, mas também utilizado por


Jo (19.3), que significa: golpear, esbofetear.

Davam-lhe. Seguindo a leitura mais antiga, €βαλλον. A leitura correta é €λα


fiou, recebiam, como se vê na rv. Recebiam-no em custódia.

66. Embaixo. Em relação às câmaras que circundavam o átrio na parte superior.

68. Alpendre (προαύλιοη). Somente aqui no texto do Novo Testamento. O vesti­


bule, que se estendia da porta exterior até o átrio.

71. Imprecar (àuaOepoaíÇeiv). Compare com Mt 26.74; onde o termo utilizado


é καταθφατίζ^ι^, chamar abaixo (κατά) maldições sobre si mesmo, caso a pessoa
não estivesse falando a verdade. Os vocábulos são sinônimos.

72. Retirando-se dali (Ιιτιβαλών). Derivado de éiú, sobre, e βάλλω, lançar. Quan­
do ele lançou daquele lugar a sua mente.

189
M a rcos- C ap. 15

Capítulo 15

Compare os versículos 1-5 com Mt 27.1-2,11-14.

7. O utros amotinadores (συστασιαστών). Companheiros sediciosos. Porém, os me­


lhores textos trazem στασιαστών, sediciosos, omitindo ο σύν, com (companheiros).
A rv procede dessa forma. As versões arc, tb, bj substituem por outros.

Que (όίτινες). No grego, este vocábulo denota uma classe de criminosos.

Num motim [τη στάσεις. Na teb, a rebelião. Observe o artigo: o motim por
que Barrabás e os seus comparsas haviam sido presos. A ara traduz por um tu­
multo, e a ntlh, como uma rebelião.

8. Dando gritos (άναβοήσας). Mas os melhores textos leem άναβάς, tendo subido,
como atesta a bj. Na teb, consta subiu, enquanto a ecp traz: opovo que tinha subido
começou a pedir-lhe.

Sempre (άεί). Omitido pelos melhores textos.

11. Incitaram (άνεσεισαν). Σείω significa, abalar, sacudir. Por isso σεισμός, é um
abalo de terra, um terremoto. Vide nota sobre M t 13.8. Uma tradução igualmente
adequada é apresentada pela tb : instigaram.

15. Satisfazer (το ικανόν ποιήσαι). Literalmente, fazer a coisa suficiente. Compa­
re com a expressão popular: fazer a coisa certa. Trata-se de um latinismo utilizado
somente por Marcos. A tb traduz contentar a multidão.

16. Para dentro do palácio, à sala da audiência. Marcos, como de costume,


faz uma expansão no seu relato. Mateus apresenta simplesmente o Pretório. O
pátio, ladeado pelas edificações do Pretório, de forma que as pessoas que pas­
savam pelo vestíbulo deste quadrilátero considerassem que estavam dentro do
Pretório.

C oorte (σπείραν). Originalmente, qualquer coisa enrolada ou embrulhada


ao redor; como uma bola, a forma espiralada de uma serpente, um nó de ma­
deira. Por esta razão, um grupo de homens de armas. A mesma concepção
está no cerne do vocábulo latino manipulus, que é, por vezes (como o faz Jose-
fo) utilizado para traduzir σπείρα. Manipulus era, originalmente, um fardo ou
punhado de alguma coisa. Os romanos antigos empregavam um poste com um
punhado de feno ou palha retorcida ao seu redor como o padrão que designa­
va uma companhia de soldados; portanto, um determinado número ou agru­
pamento de soldados que seguiam certo padrão era chamado de manipulus.

190
M arcos - C a p . 15

17. Purpura. Vide nota sobre Mt 27.28. Mateus acrescenta uma palavra que se
refere à capa de um soldado, segundo a versão kjv ; a arc registra somente capa.
Marcos simplesmente fala de púrpura.

21. Constrangeram. Mais adequadamente traduzido comoforçaram. Na tb consta


obrigaram. Vide nota sobre Mt 5.41. Observe a precisão na designação de Simão.

22. Gólgota. Vide nota sobre Mt 27.33.

23. Deram-lhe (έδίδουν). O tempo imperfeito é utilizado no mesmo sentido en­


contrado em Mt 3.14: João opunha-se-lhe. Eles estavam por dar, tentavam dar.

Vinho com mirra (έσμυρνισμένΌν oívou). Literalmente, vinha mirrada. Vide


nota sobre M t 27.34.

24. O que cada um levaria (τις τί άρη). Literalmente, quem podería levar o quê.
Um acréscimo de Marcos.

26. Por cima dele, estava escrita a sua acusação. Mateus diz simplesmente
acusação; Lucas, um título por cima dele; João, título. Vide nota sobre Mt 27.37.

27. Salteadores. Na ara consta ladrões. Vide nota sobre Mt 27.38.

29. Ah! (ούά). Esta expressão em latim é vah\

Derribas. O mesmo vocábulo ocorre em 13.2.

3 2 .0 Cristo. Vide nota sobre M t 2.1. Uma referência à confissão diante do Sumo
Sacerdote (14.62).

Rei de Israel. Uma referência à confissão feita diante de Pilatos (15.2).

36. Vinagre. Vide nota sobre Mt 27.48.

38. O véu. Vide nota sobre Mt 27.51.

39. O Filho d e Deus. Não o Filho de Deus, conforme vemos na a r c , mas um


filho de Deus. A tb traduz: este homem era Filho de Deus. Para o centurião, Cristo
estaria encaixado na categoria dos heróis ou semideuses. Vide nota sobre Mt
27.54.

40. Madalena. Vide nota sobre Mt 27.56.

41. Seguiam - serviam (ήκολούθουν - διηκόΐΌυν). Ambos os verbos no tempo


imperfeito: tinham o hábito de, estavam acostumados a.

191
M arcos —C ap . 16

42. Tarde. Vide nota sobre Mt 27.57.

A véspera do sábado (προσάββατον). Opré-sábado. Expressão peculiar a Mar­


cos, ocorrendo somente neste versículo.

43. José de Arimateia (’Ιωσήφ ò από Άριμαθαίας). Literalmente, José, ele de


Arimateia·. o artigo é um indicativo de que se tratava de um homem muito conhe­
cido naquele lugar.

Honrado (εύσχημων). Um composto de eu, bem, e σχήμα,forma,figura, imagem. So­


bre este último vocábulo, vide nota sobre Mt 17.2. No seu uso primitivo, este adjetivo,
logo, enfatizaria a dignidade da aparência externa e do comportamento da pessoa em
questão. Desta forma, Platão utiliza nobre conduta19. Posteriormente, o termo veio a
ser utilizado no sentido de nobre, honrado na sua posição. Vide At 13.50; 17.12.

Senador. Um membro do Sinédrio, segundo se deduz a partir de Lc 23.51.

Ousadamente foi (τολμήσας είσήλθεν). Literalmente, tendo ousado entrar. En­


frentando todas as possíveis consequências.

44. Perguntou-lhe. Este questionamento, assim como a pergunta do centurião


são peculiares a Marcos.

45. Corpo (πτώμα). Mais adequadamente traduzido por cadáver, já que o vocábulo
somente é utilizado em referência a um corpo morto. Vide nota sobre Mt 24.28.

46. Pedra. Vide nota sobre Mt 27.60.

47. Observavam (έθεώρουν). No tempo imperfeito. Entrementes estavam observan­


do. O verbo também implica uma contemplação deformafixa e atenta. Eles analisa­
vam de forma cuidadosa.

Capítulo 16

2. Ao nascer do sol (άνατε ίλαρχος τού ήλιου). Traduzido de forma mais correta
como quando o sol estava alto.

3. Peculiar a Marcos.

5. Espantadas. Vide 9.15, assim como a Introdução. Mais adequadamente tradu­


zido pela rv como surpreso. Tratava-se mais de uma forma de surpresa do que de
pavor.

39. Platão, A Republica, 413.


192
M arcos - Cap. 16

8. Apressadamente [[ταχύ]]. Omitido pelos melhores textos.

Assombro (εκστασις). Vide nota sobre Mc 5.42.

Temiam (εφοβούντο). A surpresa se transformava em temor.

De acordo com um grande número dos mais renomados críticos do texto bí­
blico, o restante deste capítulo é considerado como produto da redação de outra
mão, e não de Marcos. Esta parte é omitida nos dois manuscritos mais antigos,
chamados “X” (Sinaítico) e “b” (Vaticano).

9. O prim eiro dia da semana (πρώτη σαββάτου). Uma expressão não utilizada
por Marcos. No versículo 2 deste capítulo, lemos μιας σαββάτων.

Da qual tinha expulsado sete demônios. Com o hábito bem conhecido de


Marcos de particularizar, é um tanto singular que esta circunstância não tenha sido
mencionada em nenhuma das três alusões anteriores a Maria (15.40,47; 16.1).

Da qual (άφ’ ής). Uma expressão incomum. Marcos, habitualmente, utiliza


a preposição εκ neste conectivo (1.25-26; 5.8; 7.26,29; 9.25). Além disso, άπό,
de, desde, não é utilizado com εκβάλλει v, lançarfora, expulsar, em nenhuma outra
parte do Novo Testamento. A peculidaridade é igualmente assinalada, se lermos,
como alguns, παρ’ ής.

10. Ela (εκείνη). Uso absoluto do pronome sem precedente em Marcos. Vide
também os versículos 11,13. Isto implicaria uma ênfase não tencionada. Compa­
re com 4.11; 12.4-5,7; 14.21.

Partindo (πορευθεΐσα). Também nos versículos 12,15. Foi, ir. Este verbo com
o significado de ir não tem nenhuma outra ocorrência neste Evangelho, salvo em
compostos.

Àqueles que tinham estado com ele (τοίς μετ’ αυτού γενομενοις). Um cir-
cunlóquio estranho aos evangelhos.

12. E, depois, (μετά ταύτα). Uma expressão que jamais foi utilizada por Marcos.

Outra forma (έτερ$ μορφή). Mais adequadamente traduzido como: uma forma
diferente.

14. Finalmente (ύστερον). Vocábulo inexistente em outras partes do Evangelho


de Marcos, mas muito comum no texto de Mateus.

15. A toda criatura (πάση τή κτίσει). Corretamente traduzido, tal como se vê


na rv : a toda a criação.
193
M arcos - C ap . 16

16. Será condenado (κατακριθήσεται). Tradução correta. A tradução da k j v ,


danado, é muitíssimo inadequada. Esta palavra é um termo jurídico, e, como afir­
mou corretamente o Dr. Morison, “não determina, por si mesma, nada acerca
da natureza, do grau, ou da extensão do castigo a ser enfrentado”. Consulte o
substantivo correlato, κρίμα, juízo ou julgamento (lCo 11.29).

17. Seguirão (παρακολουθήσέΐ). A preposição παρά, junto de, dá um sentido de


acompanhamento.

18. Os enfermos (άρρωστους). Vide nota sobre Mc 6.5.

20. Que se seguiram (επακολουθούντων). Seguir bem de perto; segundo a ênfase


proposta por έπί. Tanto este, quanto o vocábulo que dá origem ao verbo seguir,
no versículo 17, são estranhos à forma de Marcos se expressar, apesar de fazer
uso frequente do verbo na sua forma simples.
Um manuscrito do século VIII ou IX, conhecido como “ l ” (Códice Régio),
apresenta, no final do versículo 8, estas palavras: "Em alguns casos, ocorre um
acréscimo, conforme segue”. A seguir, lemos: “Mas todas as coisas ordenadas fo­
ram por eles anunciadas sem demora àqueles que estavam ao redor de Pedro (isto
é, a Pedro e àqueles que estavam com ele). E, posteriormente, o próprio Jesus,
desde o Oriente até o Ocidente, enviou por meio deles a sagrada e incorruptível
mensagem da salvação eterna”.
Uma análise crítica do assunto dos últimos doze versículos deste Evangelho
pode ser encontrada no segundo volume da obra Wescott and Hort’s Greek New
Testament, e pelos autores: Deão John W Burgon, em sua monografia The Last
Twelve Verses o f the Gospel according to St. Mark Vindicated against Recent Objectors
andEstablishe, Frederick Henry Scrivener, Doutor em Direito, Introduction to the
Criticism of the New Testament; James Morison, Doutor em Divindade, Practical
Commentary on the Gospel according to St. Mark; Samuel Davidson, Doutor em Di­
vindade, Introduction to the Study o f the New Testament, Philip SchafF, Doutor em
Divindade, History o f the Christian Church; Cônego F. C. Cook na obra Speaker’s
Commentary on Mark; Samuel P. Tregelles, Doutor em Direito, On the Printed
Text o f the Greek Testament, bem como nos comentários de Alford e Meyer.

194
L is t a d e P a l a v r a s G r e g a s E m p r e g a d a s s o m e n t e p o r M a r c o s

άγρεύω, pegar, apanhar, 12.13 ηφιεν, tolerou (permitiu), 1.34; 11.16


άλαλος, mudo, 7.37; 9.17,25 θαμβεω, admirar-se, maravilhar-se, 1.27;
άλεκτροφωνία, hora do canto do galo, 10.24,32
13.35 θανάσιμος, mortífero, mortal, 16.18
αλλαχού, outros lugares, 1.38 (cf. ara) θαύμαζεiv διά, maravilhar-se por causa
αμφοδον, um lugar onde dois caminhos se de, 6.6
encontram, 11.4 θυγάτριον, pequena filha, filhinha, 5.23;
αμφιβάλλω, lançar, 1.16 7.25
άνακυλίω, remover, 16.4 (cf. ara) το ικανόν ποιειν, satisfazer, agradar,
αναλος, insulso, insosso, insípido, sem sal, 15.15
9.50 κατάβα, descer, 15.30
αναπηδάω, saltar, 10.50 καταβαρύνω, carregar, 14.40
άναστενάζω, suspirar profundamente, 8.12 καταδιώκω, seguir após, 1.36
άπεχει, basta, é suficiente, 14.41 κατακόπτω, cortar, 5.5
άπόδημος, exterior, 13.34 κατευλογεω, abençoar, 10.16
άποστεγάζω, descobrir, 2.4 κατοίκησις, morada, 5.3
άτιμάω, afrontar, 12.4 κεντυρίων, centurião, 15.39,44-45
άφρίζω, espumar, 9.18,20 κεφαλαιόω, ferir na cabeça, 12.4
Βοανεργες, filhos do trovão, 3.17 κυλίομαι, revolver-se
γναφεύς, lavadeiro, pessoa que faz a lava­ κωμόπολις, aldeia, 1.38
gem de roupas, 9.3 μηκύνομαι, crescer, 4.27
διαρπάζω, roubar, 3.27 μογιλάλος, falar com dificuldade, 7.32
δισχίλιοι, dois mil, 5.13 μυρίζω, ungir, 14.8
δύσκολος, duro, 10.24 νουνεχώς, discretamente, 12.34
εί, se (em caso de juramento), 8.12 ξέστης, jarro, 7.4
είτεν, depois, 4.28 οδόν ποιειν, atravessar (cf. ara), 2.23
έκθαμβεω, ficar perplexo, 9.15; 14.33; ούά, olha só!, 15.29
16.5-6 παιδιόθεν, desde a infância, 9.21
έκθαυμάζω, maravilhar-se, admirar-se παρόμοιος, semelhante, similar, 7.8,13
muito (cf. ara), 12.17 περιτρέχω, percorrer em redor, 6.55
έκπερισσώς, com extrema veemência, πρασιά, divisões que são feitas em hortas
14.31 ou jardins, canteiros, 6.40
έναγκαλίζομαι, pegar nos braços, 9.36; προαύλιον, pórtico ou átrio, 14.68
10.16 προμεριμνάω, estar solícito ou perturbar-
ένειλεω, envolver, 15.46 se de antemão, 13.11
εννυχος, à noite, 1.35 προσάββατον, o dia que antecede ao sába­
έξάτηνα, subitamente, 9.8 do, 15.42
έξουδενόω, ser aviltado, 9.12 προσκέφαλαιον, almofada, 4.38
επιβάλλω (intrans.), surrar, bater, 9.37 προσορμίζομαι, atracar, 6.53
έπιρράπτω, costurar sobre, 2.21 προσπορεύομαι, aproximar-se, vir até, 10.35
έττισυντρέχω, vir correndo junto, 9.25 πυγμή, com o punho, 7.3
εσχάτως, a ponto de morrer, 4.23 σπεκουλάτωρ, executor, 6.27
195
L ista de Palavras G regas E mpregadas somente por marcos

σμυρνίζω, misturado com mirra, 15.23 σύσσημον, sinal, 14.44


στασιαστής, amotinador, 15.7 τηλαυγώς, claramente, 8.25
στίλβω, resplandecente, brilhante, 9.3 τρίζω, ranger, 9.18
στίβας, ramo, ou camada de folhas, 11.8 τρυμαλιά, o fundo de uma agulha, 10.25
συμπόσιον, mesa de festa, 6.39 ύίΓΕρηφανία, soberba, orgulho, 7.22
συνθλίβω, apertar, amontoar-se, aglome­ WTepuepiaotíiç, sobremaneira, além do
rar-se, 5.24,31. normal, 7.37
συλλυπέομαι, condoer-se, 3.5 ΰπολήνιον, lagar ou prensa de vinho, 12.1
Συραφοινίκισσα, mulher siro-fenícia, 7.26 χαλκίον, vasos de metal, 7.4

196
L ucas

I n t r o d u ç ã o a o s E s c r it o s d e L u c a s

Muitas lendas existem em torno do nome de Lucas. A igreja grega, na qual


a pintura é respeitada como arte religiosa, aceitou a tradição que o representa­
va como um pintor, e os artistas gregos transmitiram esta tradição à Europa
ocidental. Um desenho rústico de Maria, descoberto nas catacumbas, com uma
inscrição que dava a entender que ele teria sido uma das sete pinturas feitas por
L u c a , confirmava esta crença popular acerca do evangelista. De acordo com a
lenda, ele trazia consigo dois retratos pintados por ele mesmo - um do Salvador
e outro de Maria —e por meio deles converteu muitos pagãos.
Contudo, quando nos atemos a fontes históricas, descobrimos muito pouco
acerca deste evangelista. Ele jamais faz menção ao seu próprio nome tanto no
Evangelho quanto no livro de Atos, e o seu nome ocorre somente em três perí-
copes do Novo Testamento: Cl 4.14; 2Tm 4.11 e Fm 24.
Pode-se concluir, embora as evidências a respeito não serem conclusivas, que Lu­
cas era um convertido grego-asiático, pois nos forneceu muita informação acerca da
igreja daquela localidade (At 11.19,30; 13.1-3; 15.1-3,22,35), ele atribuiu a origem
do nome “cristão” àquela cidade, e enumerou os sete diáconos de Jerusalém, além
de nos informar das origens de Nicolau em Antioquia (At 6.5), sem referência à
nacionalidade de nenhuma das outras pessoas ali citadas. A sua profissão de médico
e a sua condição de companheiro de viagem de Paulo são fatos atestados pelas Escri­
turas, apesar de a sua ligação com Paulo certamente não aparecer antes da menção
feita em At 16.10, onde ele faz uso da primeira pessoa do plural. Lucas acompanhou
Paulo a partir de Cesareia, enfrentou o naufrágio em Malta, chegou a Roma e ali
permaneceu até a sua libertação. A tradição dá conta de que ele teria falecido na
Grécia, e se cria que os seus restos foram transferidos para Constantinopla.
Introdução aos E scritos de L ucas

Algumas pessoas consideram que Lucas era um homem livre, dentre o grande
número de médicos que pertenciam àquela classe de cidadãos, pois os gregos e os
romanos estavam acostumados a educar alguns dos seus empregados na ciência
da medicina e a conceder-lhes a liberdade em troca dos seus préstimos. Os mé­
dicos, de modo geral, não eram considerados uma classe superior à dos escravos,
e percebe-se que contrações como o as, que ocorre no final do nome de Lucas em
lugar da forma original e expandida , Lucanus, eram, peculiarmente, comuns em
nomes de escravos.
A sua ligação com Paulo fez surgir, logo num período muito primitivo, a opi­
nião de que ele tenha escrito o seu Evangelho sob a supervisão daquele apóstolo.
Apesar de o seu prefácio não fazer qualquer menção à sanção paulina ao seu
Evangelho, a obra, contudo, apresenta coincidências marcantes com as epístolas
de Paulo, tanto em termos de linguagem quanto de idéias e no seu espírito. O
próprio Evangelho lança a concepção da vida e da obra de Cristo que eram a
base dos ensinamentos de Paulo. Ele representa as posições de Paulo, tal qual o
Evangelho de Marcos o faz com as posições de Pedro. “Existe uma semelhança
marcante entre o estilo de Lucas e o de Paulo, que corresponde tanto à simpatia
espiritual, quanto à grande intimidade existente entre ambos”. Cerca de duas
centenas de expressões de uso comum entre Lucas e Paulo podem ser encon­
tradas, e são, em maior ou menor grau, forâneas aos outros autores do Novo
Testamento. Vejamos, aqui, alguns exemplos delas:

L ucas Paulo
άθετάν, rejeitar, 7.30; 10.16 G1 2.21; 3.15; lTs 4.8
αιχμαλώτιζαν, levar cativo, 21.24 Rm 7.23; 2Co 10.5
ανάγκη, 14.18; na expressão εχω
ανάγκην, [eu] preciso 1 Co 7.37
no sentido de aflição, 21.23 lCo 7.26; 2Co 6.4; 12.10; lTs 3.7, e
em nenhuma outra parte
άνακρίνειν, examinar judicialmente, lCo 2.15; 4.3; 9.3; dez vezes ao lon­
23.14; At 12.19; 28.18 go da epístola
από toü νυν, desde agora, 1.48; 5.10; 2Co 5.16
12.52; 22.69
άιτ’ αΐώνος, desde oprincípio do mun­ Cl 1.26; Ef 3.9
do, 1.70; At 3.21; 15.18
έγκακεΐν, desfalecer, 18.1 2Co 4.1,16; G1 6.9; EfS.13; 2 Ts 3.13
διερμήνευαν, expor ou interpretar, lCo 12.30; 14.5,13,27
24.27; At 9.36

198
I ntrodução aos E scritos de L ucas

L ucas Paulo
ένδύσασθαι, revestir, vestir, 24.49, no Rm 13.12,14; lCo 15.53; 2Co 5.3 etc.
sentido moral
d μήτι, salvo se, 9.13. lCo 7.5; 2Co 13.5.
έπιφαίνειν, irradiar luz, resplande­ T t 2.11; 3.4.
cer, brilhar, 1.79; At 27.20.
καταργειν, estorvar, ocupar inutilmen­ Rm 3.3, tornar sem efeito; tornar nulo;
te, 13.7. destruir, aniquilar, anular, vinte e
seis vezes nos escritos paulinos.
μεγαλύνειν, exaltar, magnificar, 2Co 10.15; Fp 1.20.
1.46,58; At 5.13; 10.46; 19.17

Ambos apresentam uma predileção por vocábulos que caracterizam a liber­


dade e a universalidade da salvação do Evangelho. Por exemplo, χάρις, graça,
favor, ocorre oito vezes no Evangelho, dezesseis em Atos e noventa e cinco nos
escritos paulinos.’Έλεος, misericórdia, seis vezes no Evangelho e dez nos escritos
paulinos. Πίστις,^/2, vinte e sete vezes no Evangelho e em Atos, e em todas as
partes dos escritos paulinos. Compare também com δικαιοσύνη, justiça; δίκαιος,
justo; πνεύμα άγιον, Espírito Santo; γνώσις, conhecimento.
Eles convergem no relato da instituição da Ceia do Senhor, ambos apresentan­
do a frase: “Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue”, em vez de: “Porque
isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento”, e também acrescentam: “em
memória de mim”.
Alguns dos vários exemplos de paralelismo de pensamento e expressão tam-
bém podem ser citados:

L ucas Paulo
4.22 Cl 4.6; Ef 4.29
4.32 lCo 2.4
6.36 2Co 1.3; Rm 12.1
6.39 Rm 2.19
6.48 lCo 3.10
8.15 Cl í.io - ii
9.56 2 C0 10.8
10.8 lCo 10.27
10.20 Fp 4.3
10.21 lCo 1.19,27
11.41 T t 1.15
12.35 E f 6.14
20.17-18 Rm 9.33

199
I ntrodução aos E scritos de L ucas

O longo período em que Lucas viveu na Grécia, torna provável que ele tenha
em mente, de maneira especial, os leitores gregos. O mesmo caráter humanitário
e gentio dos seus escritos, em oposição aos escritos judaicos, mostra-se tanto
em Atos quanto no seu Evangelho. No que diz respeito a Atos, embora existam
tentativas de se associar a sua composição a Timóteo e a Silas, e de se identificar
Silas com Lucas, o testemunho universal da igreja antiga, não menos signifi­
cativo do que a identidade de estilo, declara que Lucas é o seu autor. Cerca de
cinquenta termos que não ocorrem em outras partes do Novo Testamento são
comuns a estes dois livros.
De um ponto de vista puramente literário, o Evangelho de Lucas já foi de­
clarado, até mesmo por Renan, como o mais belo livro que já foi escrito. Ele
afirmou:

O E v a n g e lh o d e L u c a s é o m a is lite r á r io d e n tr e o s e v a n g e lh o s . E m to d a s as
su a s p a r te s é r e v e la d o um e s p ír ito g r a n d io s o e d ó c il; sá b io , b r a n d o , s ó b r io e
r a z o á v e l n o ir r a c io n a l. O s s e u s e x a g e r o s , in c o n s is t ê n c ia s , im p r o b a b ilid a d e s sã o
v e r d a d e ir o s n o q u e d iz r e s p e ito à p r ó p r ia n a tu r e z a d a s p a r á b o la s e c o n s t itu e m
o se u c h a r m e . M a te u s ó r b ita um p o u c o o e s b o ç o r ú s t ic o d e M a r c o s, m a s L u c a s
faz m e lh o r : e le e s c r e v e . E le d e m o n s tr a u m a h a b ilid a d e g e n u ín a na c o m p o s iç ã o
de t e x t o s . O seu liv r o é u m a b e la n a r r a tiv a , b em e la b o r a d a , s im u lta n e a m e n te
h e b r a ic a e h e lê n ic a , u n in d o a e m o ç ã o d o d ra m a c o m a s e r e n id a d e d o id ílio ... U m
e s p ír ito d a s a g r a d a in fâ n c ia , d e a le g r ia , d e ferv o r, o s e n t im e n t o e v a n g é lic o n o
seu fr e s c o r m a is p r im itiv o , q u e d ifu n d e s o b r e to d a a le n d a u m a c o lo r a ç ã o in c o m ­
p a r a v e lm e n te d o c e .

Lucas é o melhor escrito em língua grega entre os evangelistas. As suas


construções são ritmadas, o seu vocabulário rico e bem selecionado, exce­
dendo sobremaneira o encontrado nos demais evangelistas. Ele utiliza mais
de setecentas palavras que não ocorrem em nenhuma outra parte do Novo
Testamento. Lucas substitui por vocábulos clássicos muitos dos termos uti­
lizados por Mateus e Marcos, tais como λίμνη, lago, em vez de θάλασσα, mar,
ao descrever o lago da Galileia. Ele utiliza três termos distintos para des­
crever o leito no episódio da cura do paralítico (vv. 18-25), evitando o termo
frequente κράββατος de Marcos. Esta última palavra, é bem verdade, ocorre
também em duas passagens de (At 5.15; 9.33), só que estas duas perícopes
têm origem em Pedro. Dessa forma, também encontramos επιστάτης, mestre,
em vez de Rabi; νομικοί, doutores da lei, em vez de γραμματείς, escritas-, vai,
αληθώς, επ’ άληθείας, sim, verdadeiramente, em vez de αμήν, em verdade-, φόρος,
tributo, em vez da forma latina, κήνσος, censo. Utiliza vários termos latinos,
como δηνάριον, denârio; λεγεών, legião-, σουδάριον, lenço ou pano-, άσσάριον;
ceitil, apesar de evitar κοδράντης, pequena moeda, em 21.2 (cp. Mc 12.42);

200
I ntrodução aos E scritos de L ucas

ρόδιος, alqueire. Lucas é menos hebraico do que os demais evangelistas, salvo


nos dois primeiros capítulos —a história da infância - que extrai, prova­
velmente, de tradições ou de documentos aramaicos e onde o seu linguajar
apresenta uma coloração hebraica mais viva do que qualquer outra porção do
Novo Testamento. SchafF afirma:

O s h in o s d e Z acarias, d e Isab el, d e M aria e d e S im eão, bem c o m o o h in o can tad o pelas


h o ste s an gelicais, rep resen ta m o ú ltim o d o s sa lm o s hebraicos, bem c o m o o s prim eiros
h in o s cristãos. E le s p o d em se r tra d u zid o s lite r a lm e n te para o h eb raico sem perd er a
su a b eleza.

O seu estilo é claro, animado, pitoresco e despretensioso. Onde ele descreve


eventos sob a autoridade de terceiros, a sua redação é puramente histórica, os
eventos que foram observados são tratados com a minúcia e o estilo circuns­
tancial esperados de uma testemunha ocular. Compare, por exemplo, a narra­
tiva detalhada dos acontecimentos em Filipos com as ocorrências em Tessa-
lônica. A mudança de estilo em At 16.10, de uma narrativa histórica para uma
pessoal, coincide com a época do seu encontro com Paulo para, juntos, fazerem
a primeira visita à Macedonia, e uma mudança semelhante pode ser notada em
At 20.4-6.
Contudo, o estilo de Lucas também adquire um sabor peculiar advindo da
sua profissão. O seu linguajar, no Evangelho e em Atos, indica uma familiari­
dade com os termos usados pelas escolas de Medicina da Grécia, e fornece uma
confirmação incidental da autoria comum de ambos os livros. Como já vimos,
Lucas foi, provavelmente, um grego oriundo da Ásia Menor; e, com exceção de
Hipocrates, todos os autores gregos da área médica que nos deixaram o seu le­
gado eram gregos asiáticos. Hipocrates, na verdade, mal pode ser considerado
uma exceção, já que nasceu e viveu na ilha de Cos, no litoral da Cária. Galeno
era de Pérgamo, na Mísia; Dioscórides, de Anazarba, na Cilicia; e Areteu, da
Capadócia.
As peculiaridades médicas do estilo de Lucas aparecem, em vocábulos e ex­
pressões utilizados para descrever doenças ou milagres de cura. Os seus ter­
mos têm um caráter técnico, particulares de um profissional da área médica.
Por isso, no relato da cura da sogra de Simão (Lc 4.38-39), lemos que ela esta­
va enferma (συνεχόμενη) com muita febre (πυρετώ μεγάλω). O vocábulo enferma
é utilizado nove vezes por Lucas, e somente três vezes no restante do Novo
Testamento. Ele ocorre, de modo geral, neste sentido nos escritores da área
médica, tal como ocorre com o verbo simples εχω, ter ou apanhar. Além disso,
segundo Galeno, os médicos da antiguidade estavam acostumados a fazer uma
distinção entre muita febre e pouca febre. Na parábola do rico e de Lázaro (Lc
201
I ntrodução aos E scritos de L ucas

16.19-26), encontramos a palavra είλκωμενος, cheio d e f e r id a s , o termo médico


corriqueiro para designar uma pessoa com úlceras, όδυνώμαι, esta r com dores ,
ocorre quatro vezes nos escritos de Lucas e em nenhuma outra parte do Novo
Testamento, mas, com frequência, em Galeno, Areteu e Hipócrates. Έξεψυξε,
en treg a r o espírito (At 5.5,10), é um termo raro, utilizado somente por Lucas e
com três ocorrências no texto do Novo Testamento. Ele parece estar, pratica­
mente, confinado aos escritores médicos, e, mesmo assim, de forma rara aplica­
do por eles. Na declaração que fala do “camelo e do fundo da agulha”, Mateus e
Marcos utilizam um vocábulo comum, ραφίς, para designar a a gu lh a , ao passo
que Lucas emprega βελόνη, a agu lh a cirú rg ica . Estes termos serão indicados, à
medida que ocorrerem nas notas.
A expressividade comum do evangelista, ao lidar com assuntos profis­
sionais, de modo geral, apresenta um toque da área da medicina, que se
mostra por meio de termos peculiares, ou que sejam mais comuns a ele do
que ao restante do Novo Testamento e, ainda, que eram, sem exceção, de
uso comum entre os médicos da Grécia. Dessa forma, Mateus (23.4) afirma
que os escribas e os fariseus não queriam m o v e r (κινήσαι) nem com o dedo
os pesados fardos que eles mesmos impunham às demais pessoas. Lucas, ao
registrar uma declaração semelhante (11.46), afirmou: "vós mesmos nem
ainda com um dos vossos dedos to ca is (προσψαύετε) essas cargas”, fazendo
uso de um termo técnico que designava a medição suave do pulso de uma
pessoa, ou uma parte ferida ou frágil do corpo. Este vocábulo não ocorre
em nenhuma outra parte do Novo Testamento. O termo célebre , άσημος (At
21.39, “não pouco célebre”), peculiar a esta perícope, é o vocábulo profis­
sional para designar uma doença que não apresenta sintomas distintos. A
palavra é aplicada por Hipócrates para se referir a uma cidade. O verbo
άναδόντες, em At 23.33 (“entregaram a carta”), ocorre somente neste versí­
culo do Novo Testamento. É um vocábulo médico que designa a distribuição
do sangue através das veias, ou a capilarização dos nutrientes para todo o
organismo. Hipócrates utiliza-o para designar um mensageiro que entrega
uma carta. Na parábola do semeador, Mateus e Marcos apresentam ρίζαν,
“não ter nenhum a r a iz ” . Lucas (8.6) apresenta ικμάδα, u m id a d e , o termo mé­
dico para designar os fluidos corporais, das plantas e da terra. Na mesma
parábola, para o vocábulo n a scid a , Mateus e Marcos apresentam εξανετειλε,
ao passo que Lucas apresenta φυεν —συμφυεΐσαι (vv. 6-7), ela cresceu —cres ­
ceu com ela ( rv ). Estes últimos vocábulos são utilizados por autores médicos
para descrever o crescimento de partes do corpo, de doenças, de vegetais etc.
Hipócrates utiliza conjuntamente ίκμάς, u m id a d e , e φύεσθαι, crescer , com­
parando os fluidos corporais com os fluidos da terra. Συμφΰεσθαι, crescer
em con ju n to , era o termo profissional que designa o fechamento de feridas e

202
Introdução aos E scritos de L ucas

úlceras, a ligação de nervos e ossos, e que é utilizado por Dioscórides preci­


samente como ocorre aqui, para se referir a plantas que crescem ao mesmo
tempo, no mesmo lugar.
Estas peculiaridades, longe de serem estranhas e anômalas, são somente aqui­
lo que poderia, naturalmente, ser esperado. É fato cotidiano que o linguajar dos
especialistas, seja no ambiente profissional, seja no ramo da mecânica, quando
trata de assuntos comuns, inconscientemente, assume a forma e a coloração da
vocação que lhe é familiar.
Já se tentou demonstrar que o estilo de Paulo teria sido influenciado por Lu­
cas nesta mesma direção, de forma que a sua interação com o companheiro e
médico teria transparecido no uso de certos t e r m o s c o r r e n te s n a medicina. O
deão Plumptre cita, como exemplos, úyiaíveiv, esta r s a u d á v e l , na sua aplicação
figurada em referência à doutrina como sendo uma coisa íntegra ou sã (1Tm 1.10;
6.3; 2Tm 1.13); γάγγρανα, gan gren a (2Tm 2.17); τυφωθ^ις, levantando-se com or­
gu lh o (kjv ), ensoberbecendo-se (arc) (lTm 3.6; 6.4); κβίαυτηρ iaopéνω v, ca u teriza d a
(arc), m arcada (lTm 4.2); κνηθόμίνοι, comichão (2Tm 4.3); άποκόψονται, cortados
(G1 5.12).
Lucas também é circunstancial, bem como técnico, nas descrições que faz
de enfermidades, observando a sua duração e os seus sintomas. Além disso, ele
também registra os estágios da recuperação do paciente (At 3.1-8; 9.40-41). Os
sucessivos estágios da cegueira de Elimas são notados em At 13.11; e o proces­
so da restauração da visão de Saulo em 9.18. Ele também demonstra traços de
sensibilidade profissional, como na sua omissão da reflexão implícita de Marcos
acerca do tratamento dado pelos médicos à mulher com problema de fluxo de
sangue (Lc 8.43; Mc 5.26).
A observação e a memória precisas de Lucas aparecem, de modo especial,
no livro de Atos, nas suas alusões e descrições de assuntos náuticos e políticos.
Com detalhes náuticos, ele exibe a familiaridade normalmente adquirida por
um “homem da terra” que tem grande experiência e contato com o mar e com
os marinheiros. Já se cogitou que Lucas, talvez, em algum momento da sua vida
profissional, possa ter servido como cirurgião a bordo de um navio. Nas suas
alusões políticas ele é preciso no emprego dos termos. Assim, em At 13.7, sua
precisão ao citar os magistrados civis é notável. Ele fala de Sérgio Paulo como
o procôn su l de Chipre. Os cônsules eram chamados de ύπατοι pelos gregos; e
por esta razão um procônsul era um άνθύπατος, ou seja, uma pessoa que atu­
ava em lu g a r d o (άντ'ι) cônsul. As províncias romanas eram divididas em duas
classes: as sen atoriais e as im periais; e o título adequado do governador de uma
província senatorial era άνθύπατος. O governador de uma província imperial
era chamado de αντιστράτηγος, ou prop ra eto r. Evidentemente, Lucas conside­
rava Chipre como uma província senatorial, governada por um procônsul, e
203
I ntrodução aos E scritos d e L ucas

descobrimos que Augusto, apesar de, num primeiro momento, haver reservado
Chipre para si mesmo e, por isso, ter governado aquela ilha por meio de um
p ropraetor, posterior mente, restaurou-a ao senado e a governou por intermédio
de um procônsul - fato este confirmado por moedas da época exata da visita de
Paulo a Chipre, que levavam o nome do imperador Cláudio, e do governador
provincial, com o título de ανθύπατος. Dessa maneira, Lucas está se referindo
a Gálio (At 18.12) como o procônsul ( kjv , dep u ta d o ) da Acaia, que era uma
província senatorial. Quando ele chega a Félix ou Festo, que não passavam de
governadores-deputados do p ro p ra eto r da Síria, ele os trata pelo termo geral
ήγ^μών, g o v e rn a d o r (At 23.24; 26.30). De modo semelhante, ocorre a precisão
na designação de Filipos com sendo uma colôn ia (At 16.12), e do tratamento
dispensado aos seus magistrados como στρατηγοί ou pra eto rs, um título que
eles gostavam de atribuir a si mesmos. Assim, as autoridades da cidade de
Tessalônica são chamadas de πολιτάρχαι, g o vern a n tes d a cid a d e (At 17.8), pois
Tessalônica era uma cidade livre, detentora do direito do autogoverno, e onde
os magistrados locais tinham o poder sobre a vida e a morte dos seus cidadãos.
A precisão de Lucas neste ponto encontra apoio em uma inscrição no portal em
forma de arco visto em Tessalônica, que dá este título aos magistrados daquela
cidade, juntamente com o seu número - sete - bem como, até mesmo, os nomes
de alguns que exerceram este cargo pouco tempo antes da época de Paulo. Esta
pequena inscrição contém seis nomes que são mencionados no texto do Novo
Testamento. Podemos, também, notar os asiarcas, ou p rin c ip a is d a A sia , em Éfe-
so (At 19.31), que, a exemplo dos aediles de Roma, arcavam com as despesas
das diversões públicas e, como presidentes dos jogos, estavam investidos com
o caráter de sacerdotes.
Uma precisão similar aparece no seu Evangelho, no que diz respeito às datas
dos acontecimentos mais importantes, e na descrição de lugares, como na che­
gada do Senhor a Jerusalém através do monte das Oliveiras (19.37-41). Aqui, ele
revela duas visões distintas de Jerusalém nesta rota, uma irregularidade no solo
que escondia a cidade durante um tempo, depois dela já ter sido avistada pelo
viajante. O versículo 37 registra o primeiro momento em que a cidade é avistada,
e o 41 o segundo.
Na narrativa da viagem e do naufrágio, a precisão dos detalhes é impres­
sionante. Ali, temos quatorze verbos que denotam o movimento de um navio,
com uma distinção que indica as circunstâncias peculiares do navio naquele
momento. Sete destes verbos são compostos de πλέω, velejar, ou n avegar. As­
sim, temos άπύπλευσαυ, n a veg a r (13.4); βραδυπλοοΰντ^ς, navegar vagarosam en te
(27.7); ύπ^πλίύσαμευ, navegar a sotavento. Deste modo, também, παραλ^γόμενοι,
costear com dificu ldade (27.8); εύθυδρομήσαμ^ν, co rrer em cam inho d ire ito (16.11)
etc. Observe também os termos técnicos utilizados para descrever o esvazia-

204
I ntrodução aos E scritos de L ucas

mento do navio ao atirar sua carga ao mar: εκβολήν εττοιοΰντο; literalmente,


fazer o arremesso (27.18); εκουφιζον, aliviar (27.38); e os nomes das várias par­
tes do navio.
O Evangelho de Lucas é o Evangelho dos contrastes. Assim, Satanás é
constantemente enfatizado em oposição a Jesus, como aquele que prendeu
uma filha de Abraão; que foi lançado dos céus numa visão de Jesus; como
aquele entrou em Judas; e que peneiraria Pedro. O evangelista descreve a
incredulidade de Zacarias, bem como a fé de Maria; a rudeza de Simão e o
amável pecador; uma M arta barulhenta e uma Maria tranquila e adoradora;
a gratidão de um leproso e a ingratidão de todos os demais; os “ais” acres­
centados às bênçãos do Sermão da Montanha; o rico e Lázaro; o fariseu e
o publicano; o bom samaritano em contraste com o sacerdote e o levita; o
filho pródigo e o seu irmão mais velho; o ladrão penitente e os demais im-
penitentes.
O Evangelho de Lucas é universal. O uso frequente de palavras que expres­
sam a liberdade e a universalidade do Evangelho já foram mencionados. O
seu evangelho foi escrito para os gentios. A genealogia de Cristo foi traçada
até o pai comum da humanidade, Adão, e não somente até Abraão, o pai da
nação dos judeus, como ocorre com Mateus. Ele registra o alistamento de
Cristo como um cidadão do Império Romano. Simeão o cumprimenta por
ser ele uma luz para a revelação aos gentios. O Batista cita, a seu respeito,
a profecia de Isaías que menciona que toda carne haverá de ver a salvação
de Deus. Somente Lucas registra a missão dos setenta, que representam as
setenta nações gentias, assim como os Doze representam as doze tribos de
Israel. Somente ele menciona a missão de Elias na casa da viúva pagã, bem
como a cura de Naamã por parte de Eliseu. Ele contrasta a gratidão de um
leproso samaritano com a ingratidão de nove leprosos judeus. Somente Lu­
cas registra a recusa de se rogar aos céus que mandassem fogo sobre os
samaritanos pouco hospitaleiros, e a parábola do Bom Samaritano também é
peculiar ao seu evangelho. Ele observa a aceitação do publicano humilde, em
contraste com a justiça própria do fariseu soberbo no Templo, e relata como
Jesus resolveu ficar na casa de Zaqueu. Ele omite todas as referências à Lei
no Sermão da Montanha.
O Evangelho de Lucas é destinado aos pobres e marginalizados. Como uma
fase da sua universalidade, as pessoas mais humildes e mais pecadoras são mos­
tradas como não excluídas do convívio com Jesus. A mais sublime honra celestial
é conferida à humildade de Maria de Nazaré. Somente no Evangelho de Lucas
se ouve o hino angelical que fala em “Paz e Boa-vontade”, e vemos os humildes
pastores recorrendo a uma manjedoura num estábulo em Belém. E Lucas que
nos fornece as informações-chave da doce melodia de Keble:
205
I ntroduç Ao aos E scritos de L ucas

O s e sp írito s p astoris, em prim eira m ão,


D e ti s e ap roxim aram , d iv in o bebê,
P ois h u m ild e era a sua aspiração,
A li te acharam em tão h u m ild e capela:
A n te s q u e e le s se p erd essem na b u sca p elo teu lugar,
O s anjos d o céu d esceram , para o cam in h o m ostrar.

Ele descreve o pobre Lázaro no seio de Abraão, e o chamado dos pobres, alei­
jados, mancos e cegos para a Grande Ceia. Este é o evangelho do publicano, da
prostituta, do pródigo e do ladrão penitente.
Lucas é o evangelho da feminilidade. As mulheres sempre assumem um
papel de destaque quanto o assunto é o discernimento das promessas de
Deus. Os hinos de Maria e Isabel, bem como o testemunho de Ana, estão re­
pletos de uma percepção espiritual cristalina, e de uma dose equivalente de
uma fé simples e vivaz. Ela aparece ministrando ao Senhor e como o tema
do seu ministério. Maria Madalena, Joana, Susana, Maria e M arta, junto
com outras, eram profundamente generosas no seu cuidado com Jesus; ao
passo que a filha de Abraão que fora aprisionada por Satanás, a triste mãe
de Nairn, aquela que tocou na orla da sua veste, e as pesarosas filhas de
Jerusalém à beira do caminho do Calvário conheciam o conforto das suas
palavras e a cura proporcionada pela virtude do seu toque que restaurava
a vida às pessoas. O termo γυνή, mulher, ocorre quarenta e nove vezes em
Mateus e Marcos, quando analisamos os dois livros de forma conjunta; já,
quando se considera somente o livro de Lucas, temos quarenta e três ocor­
rências dele. Farrar expressa:

S o m e n te ele, p reserv a as n arrativas, co m um a d elicad a reserv a e san ta reticên cia ta n to


n o coração da v ir g e m b en d ita, q u a n to n o d e Isabel - n arrativas q u e m ostram , em cada
linha, as co res p u ras e tern a s do m o d o d e p en sa r fem inino.

Lucas é o evangelho da oração. A ele devemos o registro das orações do nosso


Senhor no seu batismo; logo após a purificação do leproso; antes do chamado dos
Doze; no monte da transfiguração, e na cruz, em favor dos seus inimigos. Apenas
Lucas registra as parábolas-orações do Amigo Importuno, e do Juiz Iníquo.
Lucas é o evangelho da música. Ele é, com justiça, apresentado como “o pri­
meiro hinologista cristão”. A ele devemos o Benedictus, o hino de Zacarias; o
Magnificat, o hino de Maria; o Nunc Dimittis, o hino de Simeão; A saudação ange­
lical a Maria·, e o Gloria in Excelsis, o hino entoado pelos anjos.
E, por fim, Lucas é também o evangelho da infância. Somente ele conta a his­
tória do nascimento de João Batista; apresenta as informações mais detalhadas
acerca do nascimento de Cristo, e dos relatos da sua circuncisão e apresentação

206
L ucas - C a p. 1

no Templo, da sua obediência aos pais e dos questionamentos que o menino fez
aos doutores da Lei no Templo. O Evangelho de Lucas, segundo Schaff;

C oloca um a au réola d e sa n tid a d e e um ch a rm e c e le stia l à infância d e Jesus, c o m o q u e


p erp etu an d o o p araíso da in o cên cia em um m u n d o ch e io d e pecado. O s d o is p rim eiros
c a p ítu lo s sem p re se r ã o o s c a p ítu lo s fa v o rito s das crianças, e d e to d o s o s q u e se d e le i­
tam em se reu n ir em v o lta da m anjed ou ra d e B elém , e d e se aleg ra r em c o m o s p astores
n o cam p o e d o s an jos n o s céus.

Capítulo 1
PRÓLOGO

1. Tendo empreendido (έπεχείρησαυ). Utilizado somente por Lucas. O vocábulo


traz a concepção de uma tarefa difícil {videhX 29.13), e implica que tentativas an­
teriores não foram bem sucedidas. Ocorre, de modo geral, na linguagem médica.
Hipocrates começa um dos seus tratados de medicina de maneira muito seme­
lhante. “Tendo, pois, muitos empreendido (ètre/eípr|oau) falar ou escrever acerca da
arte da cura.”

Pois (èweiófprep). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Uma conjunção com­
posta; eireí, desde que, δη, como é bem sabido, e πφ, que transmite um sentido de certeza.

Pôr em ordem (άνατάξασθαι). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A


arc é fiel à raiz da palavra, que é τάσσω, pôr em ordem, ou organizar. A tradução
apresentaria maior fidelidade se conservasse a força da preposição άνά, para cima,
traduzindo como reunir. A t b traduz como narração coordenada; e a ecp, compor
uma história.

A narração (διήγησιν). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Deri­


vado de διά, através de, e ήγέομαι, conduzir pelo ou mostrar o caminho. Por esta
razão, algo que conduz o leitor através de uma grande quantidade de fatos: uma
narração, como vemos na a r c , com a ideia acessória de profundidade. Observe o
número na sua forma singular. Muitos já teriam empreendido fazer isto, não na
forma de várias narrativas, mas uma só narrativa, que compreendesse a totalida­
de da mensagem do Evangelho. O vocábulo era, de modo específico, aplicado a
tratados médicos. Galeno o aplica, pelo menos, setenta e três vezes aos escritos
de Hipócrates.

Que se cumpriram (των πεπληροφορημένων). Derivado de πλήρης, cheio, e


φορέω, a forma frequentativa de φέρω, trazer, com o significado de trazerfrequente­
mente ou habitualmente. Dessa maneira, trazer aplena capacidade, preencher. Compare

207
L ucas - Cap. l

com 2Tm 4.5,17. Referindo-se, também, a plena certeza. Aplicado a pessoas (Rm
4.21; Hb 10.22). Na sua aplicação a coisas, é melhor traduzido como: têm sido cum­
pridas. O termo é escolhido para indicar que estes eventos ocorreram de acordo
com u m desígnio pré-concebido. A e c p traz a leitura que se realizaram entre nós.

Entre nós. Explicado pelas palavras na próxima frase: os mesmos que os presen­
ciaram desde oprincípio eforam ministros da palavra.

2. Segundo. Referindo-se à composição da narrativa.

Nos transm itiram (παρεδοσαν). Não necessariamente excluindo as tradições


escritas, mas referindo-se, sobretudo, à tradição oral. Observe a distinção entre
os muitos que tentaram implementar uma narração e as pessoas que presenciaram e os
ministros que transmitiram os fatos.

Desde o princípio (άτι’ αρχής). O princípio oficial, o início do ministério de


Jesus. Compare com At 1.1,21-22; Jo 15.27.

Os que os presenciaram - ministros. O conhecimento pessoal e a experiência


prática eram elementos necessários para o exercício do apostolado. O vocábulo
que dá origem à expressão os que presenciaram (αύτόπται) ocorre somente aqui
no texto do Novo Testamento. Pedro utiliza outro termo, επόπται (2Pe 1.16). A
palavra escolhida por Lucas é comum nos autores médicos, e designa um exame
pessoal de uma doença ou de partes do corpo. Compare com o termo médico mo­
derno autópsia. Acerca do termo ministros (ύπηρέται), vide nota sobre M t 5.25. No
linguajar médico, ele designa os atendentes ou assistentes do médico principal.

5. Por sua ordem (καθεξής). Utilizado somente por Lucas.

Havendo-me j á informado (ιταρηκολουθηκότι). A n v i traduz, Eu mesmo in-


vestiguei-, e a bj, acurada investigação. O verbo significa seguir de perto, e por isso
rastrear deforma precisa. O termo ocorre, de modo geral, nos escritos médicos e,
como aqui, acompanhado de ακριβώς, minuciosamente.

Minuciosamente (ακριβώς). Derivado de άκριβώς, o ponto mais alto ou mais


distante. Por esta razão, fazer uma investigação que englobe os mínimos detalhes.
A ecp lê, diligentemente·, enquanto a n v i , te b e a t b , cuidadosamente.

Desde o princípio (άνωθεν). Literalmente, desde cima; dentro da concepção de que


os eventos ocorrem em uma série de acontecimentos listados de cima para baixo.

4. Que conheças (εττιγνφς). Vide nota sobre Mt 7.16. Com a ideia de pleno co­
nhecimento, ou, conforme diz respeito a Teófilo, com o máximo de conhecimento
possível a partir dos muitos que tentaram fazer esta mesma narrativa.

208
L ucas - C ap. 1

Certeza (άσφάλίΐαυ). Derivado de ά, não, e σφάλλομαι, cair. Por isso, segurança,


estabilidade, certeza contra o erro, por conseguinte, verdade, como traduz a t b . A
teb e ec p leem como solidez.

Coisas (λόγων). Mais especificamente palavras. A bj e a teb leem ensinamentos.


Se o vocábulo pode significar alguma forma de coisa, é somente na concepção da
coisa que é transmitida emforma de palavra, isto é, o tema ou assunto do discurso.
Nesta acepção, aparece com frequência nos escritos clássicos da língua grega.
Alguns o traduzem como relatos, histórias-, outros, como doutrinas da fé. Godet
o traduz como instrução, e alega que não somente os fatos do Evangelho, mas
também a exposição dos mesmos com objetivo de apresentar o seu significado
evangélico e sua apropriação por meio da fé, estão incluídos no vocábulo. Esta
ideia tem embasamento, e se nos ativermos no significado de histórias, ou mes­
mo de palavras, este significado estará implícito no contexto. Lucas compilou o
seu relato, para que Teófilo tivesse um conhecimento mais pleno a respeito dos
relatos que ele teria ouvido de forma oral e, através deste conhecimento, pudesse
avançar a partir dos fatos, chegando a abraçar a sua importância doutrinária e
evangelista, a fim de que entendesse os fatos da vida e do ministério de Jesus
como a verdadeira base do Evangelho da salvação.

E stás inform ado (κατηχήθης). Na t b , instruído. Derivado de κατηχέω, res­


soar, ensinar oralmente-, e assim, nos autores cristãos, instruir oralmente acer­
ca dos elementos da religião. Este vocábulo implicaria que Teófilo tivesse, até
aquele momento, sido instruído de forma oral. Vide a expressão nos transmiti­
ram, no versículo 2. O termo catecúmeno é derivado deste vocábulo grego.

NARRATIVA

5. Rei. Um título dado a Herodes pelo senado romano por recomendação de An­
tônio e Otávio. O estilo grego, agora, cede lugar ao hebraizado. Vide Introdução.

Ordem (Ιφημερίας). Literalmente, o serviço diário. Na t b , turma; na e c p e


t e b , classe. O grupo dos sacerdotes era dividido em vinte e quatro “ordens” ou

equipes. Cada uma destas ordens, executava as suas tarefas ao longo de oito
dias, de um sábado a outro, uma vez a cada seis meses. O serviço semanal era
subdividido entre as várias famílias que compunham a equipe. No sábado, a
ordem inteira estava trabalhando. Nas datas festivas, qualquer sacerdote po-
deria assumir o ministério do Santuário, e na Festa dos Tabernáculos, todas
as vinte e quatro ordens tinham obrigação de se apresentarem e assumirem
os seus ofícios. A ordem de Abias era a oitava dentre as vinte e quatro. Vide
lCr 24.10.

6. Perante Deus. Uma expressão hebraica. Compare com Gn 7.1; At 8.21.


209
L ucas - C ap . l

7. Avançados (προβφηκότ€ς). Corretamente traduzido pela arc. Na ntlh consta


muito velhos.

9. Coube-lhe em sorte (€λαχ6). Na teb , designado por sorteio. Quatro sorteios


eram feitos para determinar a ordem do ministério do dia: o primeiro, antes
do raiar do dia, designava os sacerdotes que deveríam purificar o altar e pre­
parar os locais com fogos; o segundo, determinava o sacerdote que deveria
oferecer o sacrifício e purificar o candeeiro e o altar do incenso; o terceiro,
designava o sacerdote que deveria fazer a queima do incenso; e o quarto, indi­
cava aqueles que deveriam depositar o sacrifício e a oferta de manjares sobre
o altar, bem como derramar a libação. Diz-se ter havido vinte mil sacerdotes
na época de Cristo, de forma que nenhum sacerdote oferecería o incenso mais
de uma vez.

Templo (ναόν). O santuário, como corretam ente traduz a tb . Vide nota sobre
Mt 4.5.

Oferecer o incenso (θύμιασαl). Na t b , queimar incenso. Somente aqui no texto


do Novo Testamento. O sacerdote encarregado pelo incenso e os seus assisten­
tes seguiam para o altar do holocausto, e enchiam um incensário de ouro com
incensos, em seguida, colocavam brasas ardentes do altar em uma bacia de ouro.
Enquanto passavam do Santo Lugar para o pátio, tocavam um grande instru­
mento chamado de magrefá, o que convocava todos os ministros aos seus postos.
Subindo os degraus rumo ao Santo Lugar, os sacerdotes espalhavam as brasas
sobre o altar de ouro e preparavam o incenso, e o sacerdote que liderava o ofício
era, então, deixado a sós dentro do Santo Lugar, a fim de esperar o sinal do presi­
dente para efetuar a queima do incenso. Foi, provavelmente, neste momento que
o anjo apareceu a Zacarias. Quando o sinal foi dado, toda a multidão se retirou
do pátio interno e caiu prostrada diante do Senhor. O silêncio invadiu o Templo,
ao passo que na sua parte interna, as nuvens de incenso subiam para diante de
Jeová1.

13. Foi ouvida («ασηκούσθη). Com esta tradução literal do aoristo, evitamos a
questão quanto ao que se refere a oração. A referência é à oração por sua descen­
dência, que, em função da sua idade avançada, Zacarias deixara de fazer, e que
ele, de certa forma, não desejava fazer naquele culto público e solene. Por isso,
o aoristo é apropriado, fazendo menção a orações feitas anteriormente. “Aquela
oração que tu não fazes mais foi ouvida’.

João. Que significa: Deus mostra o seufavor ou Jeová demonstra a sua graça.

1. Vide Edersheim, The Temple, its Ministry.

210
L ucas - Cap. l

14. Prazer e alegria (χαρά καί άγαλλίασις). Ο segundo termo expressa uma
alegria exultante. Vide nota sobre lPe 1.6.

15. Bebida forte (σίκερα). Na teb, bebidafermentada. Um vocábulo hebraico que


significa qualquer tipo de licor intoxicante, o qual não é feito a partir de uvas.

Já desde o ventre de sua mãe. Έ τ ι, ainda, significa enquanto ainda não havia
nascido. Compare com o versículo 41.

17. Prudência (φρονήσει). Este é um vocábulo inferior à tradução sabedoria,


σοφία (vide T g 3.13). Trata-se de um atributo ou resultado da sabedoria, e não
necessariamente em um bom sentido, apesar de este ser o uso predominante
no texto do Novo Testamento. Compare, contudo, o uso do vocábulo correlato
φρόνιμος em Rm 11.25; 12.16: sábios nos seus próprios conceitos-, e do advérbio
φρονίμως, sabiamente, utilizado em referência ao mordomo infiel, Lc 16.8. É a
inteligência prática que pode ou não ser aplicada para fins proveitosos. O seu
uso aqui é apropriado, como um termo prático correspondente a desobediente.

Bem disposto (κατεσκε υασμεvov). Ajustado, disposto, levado a um estado de cor­


reção moral.

18. Como (κατά τι). Literalmente, de acordo com o quê? Faz-se necessário um
padrão de conhecimento, um sinal.

Pois. Preciso de um sinal, pois já sou velho.

19. Gabriel. Com o significado de homem de Deus. Na tradição judaica, o guar­


dião do tesouro sagrado. Miguel (vide Jd 9) é o destruidor, o campeão que Deus
levanta para se opor ao mal, o ministro da sua ira. Gabriel é o mensageiro da paz
e da restauração. Vide Dn 8.16; 9.21. Godet expressa: “O primeiro é o precursor
de Jeová como juiz; o segundo de Jeová como Salvador”.

20. Ficarás mudo (εστ) σιωπών). Literalmente, tu estarás estando silencioso. O


verbo na forma finita e o particípio denotam continuidade.

Não poderás falar. Numa demonstração de que o silêncio não seria voluntário.

Minhas palavras, que (οΐτινες). O pronome é qualitativo, denotando uma clas­


se. “As minhas palavras, que, por mais incríveis que te pareçam, são do tipo que se
cumprirão”.

A seu tempo (είς τον καιρόν). A preposição implica exatidão: ao final do tem­
po determinado. O processo do cumprimento, que se inicia agora, continuará, είς,
até, o tempo determinado, e naquele tempo será consumado. Καιρόν, tempo, é mais
211
L ucas - C a p. 1

específico que o outro vocábulo que também designa tempo, χρόνος, pois refere-
se a um tempo determinado, um tempo adequado·, o momento certo do tempo, no
qual as circunstâncias se darão.

21. Estava esperando (ήν προσδοκών). O verbo na sua forma finita e o particí-
pio, denotando uma espera prolongada. Por isso, a tradução “esperava” da bj, nvi
e teb é preferível à arc , tb e ecp, estava esperando.

Maravilhava-se. Segundo o Talmude, os sacerdotes, especialmente, os princi­


pais dentre eles, estavam acostumados a ficar apenas um curto período de tempo
dentro do Santuário, do contrário havería o temor de que eles tivessem sido
mortos por Deus em função de alguma indignidade ou transgressão.

22. Entenderam (έπεγνωσαν). Entenderam claramente. Vide nota sobre M t 7.16,


e o versículo 4.

Falava por acenos (ήν διανεύων). Mais adequadamente traduzido como con­
tinuava afazer sinais. Uma vez mais, o particípio acompanhado de um verbo na
forma finita, denotando as sucessivas repetições dos mesmos gestos. A n v i traz
a leitura fazia sinais.

23. M inistério (λειτουργίας). Derivado de λειτος, aquilo que pertence ao povo,


aquilo que êpúblico, e εργον, um trabalho. Dessa maneira, um serviço do estado em
um ofício público. Trench observa:

Quando a igreja cristã estava formando a sua terminologia, o que ela fez, em parte,
criando novos termos, e, em parte, elevando-os do seu uso anterior. Deste segundo
grupo, a igreja adotou mais rapidamente os termos de uso civil e político, do que os
que eram utilizados para fins religiosos.

Por esta razão, ela adotou esta palavra, que já era utilizada pela lxx , como
o termo fixo que designaria a execução das funções sacerdotais e ministeriais, bem
como no texto do Novo Testamento para a designação do ministério dos apósto­
los, profetas e mestres.

24. Concebeu (συνέλαβεν). Hobart afirma que o número de vocábulos que se re­
fere à gravidez, esterilidade etc., utilizado por Lucas é quase tão grande, quanto
àquele utilizado por Hipocrates2. Compare com 1.31; 1.24; 2.5; 1.7; 20.28. Todos
estes, salvo 1.24, são peculiares a ele mesmo e, obviamente, eram de uso comum
por parte dos autores da área médica.

2. H obart, Medical Language o f Luke.


212
L ucas — C a p. 1

Se ocultou (περιέκρυβεν). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Περί


significa completamente, reclusão total.

25. A a r c não traduz δτι, considerando-o, como de costume, meramente um


vocábulo recitativo ou equivalente às aspas na pontuação moderna. Só que ele
significa porque. Isabel atribui o motivo desta sua reclusão peculiar. A sua gra­
videz era obra de Deus, e ela também deixaria com que Ele a anunciasse e a
retirasse publicamente daquela situação de opróbrio. Por conseguinte, os cinco
meses, depois dos quais a sua condição se tornaria aparente. Na sua totalidade, o
significado seria: Ela se escondeu, dizendo (eu me escondi) porque etc.

A tentou em (έπεΐδεν). Vocábulo de uso exclusivo de Lucas.

26. Gabriel. A anunciação e o anjo Gabriel são os temas favoritos de Dante, e ele
os descreve com uma rara beleza. Dessa maneira, ambos aparecem na muralha
esculpida que protege o lado interno da subida para o Purgatório.

O anjo, que da paz trouxe o decreto,


Tantos sec’los com lágrimas pedido,
Que o céu abriu, donde o homem estava exceto,
Ao vivo ali mostrava-se insculpido
No gesto e no meneio tão suave,
Que em pedra não parece estar fingido.
Quem não jurará que profere o Ave,
Pois justam ente figurada estava
Quem do Supremo amor volvera a chave?
Seu semblante estas vozes expressava
Ecce ancila tão propriamente,
ί-Ύ ·

No Paraíso, Gabriel aparece como uma luz e entoa um cântico:

Sou angélico amor, que, assim movido,


M ostro o prazer, que vem do seio santo,
C -T -
28. Agraciada («^χαριτωμένη). Literalmente, revestida de graça. Somente aqui e
em Ef 1.6. A tradução cheia de graça, na vulgata , na ep , bj e ecp, portanto, está
inadequada. Na te b , tu que tens ofavor de Deus-, e na bp, favorecida. Todos os me­
lhores textos omitem bendita és tu entre as mulheres.

3. Dante Alighieri, A Divina Comédia, Purgatório, 10.34-45.


4. Ibid., Paraíso, 23.103-108.

213
L ucas - C ap. 1

29. Considerava (διχλογίζίτο). V id e nota sobre T g 2.4*. O tempo imperfeito: “co­


m eçou a arrazoar”.

SO. G raça (χάριν). Da mesma raiz que χαίρω, r e g o z ija r , (l) Aquilo que nos
proporciona alegria e prazer, logo, a b e le z a e a a m a b ih d a d e e x te rio re s, algo que
dá prazer à pessoa que olh a. Homero utiliza este termo para se referir à ida de
Ulisses à assembléia: “Atena lançou sobre ele a sua g r a ç a h u m a n a ou b e le z a ”5·,
e na lxx , SI 45.3: “a graça é derramada nos teus lábios”. V id e também Pv 1.9;
3.22. A mesma ideia, a da a g r a d a b ilid a d e , é transmitida em Lc 4.22, acerca das
p a la v r a s g ra c io sa s, literalmente, p a la v r a s d e g r a ç a , ditas por Cristo (Ef 4.29). (2)
C o m a u m se n tim e n to belo e a g r a d á v e l n u tr id o e ex p resso p a r a co m o p róxim o-, b o n ­
(2Co 8.6-7,9; 9.8; Lc 1.30; 2.40; At 2.47). Também em
d a d e , f a v o r , b o a - v o n ta d e
referência ao sentimento de g r a ti d ã o retributiva ( v i d e L c 6.32-34; 17.9), porém,
principalmente, na fórmula g r a ç a s a D e u s (Rm 6.17; lCo 15.57; 2Co 2.14; 2Tm
1.3). (3) A ex p ressã o su p rem a d a b o a vontade-, u m a bênção, u m f a v o r , u m presente-,
mas não no texto do Novo Testamento. V id e Rm 5.15, onde é feita uma dis­
tinção entre χ ά ρ ις , g ra ç a , e ôcopeà £ v χάριτι, o d o m p e la g ra ç a . Uma g r a tific a ç ã o
ou deleite, somente no grego clássico, como se fala no deleite em uma batalha,
no sono etc. (4) O significado cristão mais elevado, baseado na ênfase sobre a
lib e r a lid a d e do dom ou favor, como é comum observar no texto do Novo Testa­
mento, denotando a livre, espontânea e absoluta bondade de Deus para com os
homens, contrastando com a d ív id a , a L e i, a s o b ra s e o p ec a d o . Este vocábulo não
ocorre em Mateus e Marcos.

31. Conceberás. V ide nota sobre versículo 24.

Jesus. V ide nota sobre Mt 1.21.

35. Cobrirá com a sua sombra. Bengel afirma: “Denotando a mais terna e
gentil operação do poder divino, para que o fogo divino não consumisse Maria,
mas a tornasse fecunda". V id e Ex 33.22; Mc 9.7. Compare com a clássica lenda
de Sêmele, que, sendo amada por Júpiter, suplicou-lhe que lhe aparecesse, tal
como ele aparecia no céu e, com todos os terrores dos trovões, foi consumida por
seus raios. A metáfora na palavra é tomada a partir de uma nuvem, na qual Deus
apareceu (Êx 40.34; lRs 8.10).

36. Prima (συγγβ/ης). O grau de parentesco, entretanto, é desconhecido. O vo­


cábulo é um termo genérico que significa d a m e sm a f a m íli a . Os melhores textos
apresentam esta forma feminina, συγγβνίς, que é condenada pelos gramáticos
como não clássica. Mais adequadamente traduzido como p a re n ta .

5. Homero, Odisséia, 2.12.


214
L ucas - C ap . 1

S7. Para Deus nada é impossível (ούκ αδυνατήσει παρά του Θεού παν ρήμα).
' Ρήμα, p a la v r a , diferentemente de λόγος, no grego clássico, significa uma parte
constituinte de um discurso ou de um texto, em distinção do seu conteúdo como
um todo. Ela pode ser tanto u m a p a la v r a , quanto u m a declaração. Às vezes, um a
expressão, em oposição a όνομα, u m a p a la v r a única. Ao longo do Novo Testamen­
to, esta distinção não é tão clara. Postula-se que ρήμα, a exemplo do vocábulo
hebraico g a b a r, representa, por vezes, o a ssu n to -te m a do vocábulo, a coisa em si,
como no caso nesta passagem. Contudo, existem somente outras duas passagens
do Novo Testamento nas quais este significado pode ser admitido (Lc 2.15; At
5.32). Embora o vocábulo ocorra setenta vezes. A citação "guardava todas essas
coisas” (Lc 2.19), refere-se claramente a declarações. Em Lc 2.15, o significado é,
evidentemente, declaração, como pode ser observado a partir da conexão c o m a
mensagem angelical e das seguintes palavras: qu e aconteceu —ou seja, a declara­
ção havia se transformado em fato. A a r c erra ao juntar ούκ e παν, n em to d a , e
traduzir como n a d a . Estas duas palavras não estão juntas. A afirmação é: T o d a
(παν) p a la v r a d e D e u s n ão (ούκ) será d e s titu íd a d e p o d e r . Algumas versões seguem
a leitura, παρά tq> 0eqi, co m D eu s, mas todos os textos posteriores apresentam
παρά τού θεού, d e D eu s, que fixa o significado além de qualquer questionamento.

40. Entrou em casa. Godet afirma:

E ste d e ta lh e se r v e para c o lo c a r o le ito r e m sim p atia c o m a em o çã o d e M aria n o m o­


m en to da sua ch egad a. Já n o p rim eiro o lh a r a Isab el, ela recon h eceu a v erd ad e d o sin al
que o anjo lh e dera e, co m e s te olhar, a p r o m e ssa q u e e la própria recebera se to rn a v a
um a realid ad e su rp reen d en te.

41. A criancinha (το βρέφος). V id e nota sobre lPe 2.2.

42. Exclamou com grande voz (άνεφώνησε φωνή μεγάλη). No lugar de φωνή,
v o z , leia κραυγή. Mais adequadamente traduzido como: E l a ergu eu su a v o z com
u m g r a n d e clam or, atribuindo ao verbo a força de άνα, p a r a cim a , além de ilustrar
o fato de forma mais natural. A emoção súbita e repentina de Isabel diante da
chegada de Maria, e o movimento do bebê, geraram uma exclamação que foi
seguida pelas palavras (εΐπεν, disse). O verbo άναφωνέω ocorre somente aqui no
texto do Novo Testamento. Tratava-se de um termo médico que designava um
uso específico da voz.

44. De alegria (εν αγαλλιάσω.). Literalmente, em aleg ria . V ide nota do versículo 14.

45. Pois (ότι). Muitos preferem que, referindo-se ao conteúdo da sua fé: "Ela
creu que o cumprimento se daria” etc. Perceba que a concepção, que era o princi­
pal ponto de fé, já ocorrera, de tal forma que o cumprimento não e s ta v a mais no
215
L ucas - C ap . l

futuro. Por outro lado, o anúncio do anjo a Maria ia além do fato da concepção;
e Isabel, no espírito da profecia, podería estar se referindo àquilo que foi predito
nos versículos 32-33.

46. Disse (εΐπεν). De forma simples. Compare com o versículo 42. Godet expressa:
‘Ά saudação de Isabel está cheia de emoção, contudo, o cântico de Maria exprime um
sentimento de profundo repouso interior”. Compare-o com o cântico de Ana (lSm
2). O cântico de Ana se diferencia do hino de Maria por ter um sentido de indignação
e de triunfo pessoal, ao passo que o de Maria expressa a sua calma e humildade.

A minha alma - espírito (ψυχή - πνεύμα). V id e nota sobre Mc 12.30. A a lm a


é o princípio da individualidade, a base das impressões pessoais, e possui um lado
em contato com o elemento material do ser humano, bem como com o elemento
espiritual. Ela é, portanto, o órgão mediador entre o espírito e o corpo, que rece­
be impressões externas e internas e as transmite por meio de palavras e sinais.
O esp írito é a parte mais elevada, mais profunda, e mais nobre do ser humano, o
ponto de contato entre Deus e o homem.

47. Deus, meu Salvador (τφ θεω τώ σωτήρί μου). Observe os dois artigos. “ O
Deus que é o ou m eu S a lv a d o r ”. O título Salvador é, normalmente, aplicado a
Deus no Antigo Testamento. V id e lxx , Dt 32.15; SI 24.5; 25.5; 95.1.

48. Atentou (επέβλεψεν). V id e nota sobre Tg 2.3. Compare com lSm 1.11; SI
31.7; 119.132, LXX.

50. Misericórdia (ελεος). O termo enfatiza a m is é ria com a qual a g r a ç a ( v id e v.


30) trata. Dessa maneira, peculiarmente, o sentido da desgraça humana com­
binado com o impulso para aliviá-la, e que se expressa no ministério gracioso.
Bengel observa: “A graça remove a cu lpa, a misericórdia remove a m is é r ia ’.

De geração em geração (εις γενεάς καί γενεάς). Literalmente, p a r a gerações


e gerações.

Temem (φοβούμενος). O vocábulo é utilizado em sentido positivo e negativo


no texto do Novo Testamento. Encontramos aqui neste versículo, o primeiro sig­
nificado que traz a leitura de reverência piedosa (At 10.2,22,35; Cl 3.22; Ap 14.7;
15.4). No sentido negativo, v id e Mt 21.46; Mc 6.20; 11.32; Lc 12.4.

51. Agiu v a lo r o s a m e n te (Έποίησεν κράτος). Literal mente, f e z fo r ç a . Na teb ,


Uma forma hebraica de se expressar. Compare com o SI 118.15,
f o r ç a d o seu braço.
lxx : “A destra do Senhor f a z va len tem en te” (εποίησε h ó v u .\i.w ,fe z fo r ç a ).

No pensamento (ôuxvoíçt). A faculdade do pensar, o entendimento, especial­


mente o m oral. A arc atribue este termo a Deus: n o p e n sa m e n to d e seu coração. Al-
216
L ucas - C ap . l

guns preferem traduzir “pela imaginação”, fazendo, assim, com que os soberbos
se tornem o instrumento da sua própria destruição. Compare com 2Co 10.5.

54. Auxiliou (άντε λάβετο). O verbo significa a p a n h a r a lg o , logo, a g a r r a r com o


o b je tiv o d e so c o rrer ou a ju d a r. Apanhar na acepção de p a r ti lh a r (1 Tm 6.2), remete-
nos ao significado primitivo do termo segundo a sua composição: receber em
lu g a r d e a lgu ém , ou em tro c a (αντί), e sugere a antiga expressão a ssu m ir o lu g a r d e
a lg u ém , p a r ti lh a r d a cau sa d e algu ém .

Servo (παιδός). Muitas vezes cria n ça , filho ou filha, mas neste caso, servo , em
alusão a Is 41.8. Meyer, verdadeiramente, afirma que a noção teocrática defilia ç ã o
jamais é expressada por παΐς.

58. Tinha usado para com ela de grande misericórdia (έμεγάλυνεν το ελεος
αύτοΰ μετ’ αύτοΰ μετ’ αυτής). Literalmente, m a g n ifico u a su a m is e ric ó rd ia com ela.
Uma expressão hebraica. V id e lSm 12.14, lxx .

59. Lhe chamavam (εκάλουν). O tempo imperfeito significa eles o te r ia m ch a m a ­


do-, eles e s ta v a m p re ste s a ch a m á -lo ; ou, como sugeriu, de forma acertada, o bispo
Lightfoot: eles e s ta v a m p o r ch a m a r.

62. Perguntaram, por acenos (ένένευον). Tempo imperfeito. Enquanto o coló-


quio entre Isabel e os seus amigos prosseguia, eles e sta v a m co n su lta n d o Zacarias
por meio de gestos.

63. Tabuinha de escrever (πινακίδων). Ou, ta b u leta d e escrever. Conforme


Shakespeare descreve:

S im , da tabu leta da m inha m em ória,


H ei d e apagar to d a s as caras lem b ra n ça s triviais6.

O significado é de uma pequena tabuleta de escrever, provavelmente re­


vestida de cera. Somente aqui no texto do Novo Testamento. Termo utilizado
pelos escritores da área médica para designar o livro de notas de um mé­
dico.

Escreveu, dizendo. Uma forma hebraica de expressão. V id e 2Rs 10.6.

64. Logo (τταραχρήμα). Este vocábulo ocorre dezenove vezes no texto do Novo
Testamento, sendo que destes, dezessete estão em Lucas. Treze dos dezessete
estão ligados a milagres de cura, ou a aflições oriundas de enfermidades ou mor­
te. Ele é utilizado de maneira semelhante por autores da área médica.

6. Shakespeare, Hamlet, 1.5.

217
L ucas - C ap. l

65. Foram divulgadas (διαλελ^ΐτο). Foram conversadas de forma m ú tu a (διά).

69. Poderosa. Compare com SI 132.17.

70. Desde o princípio do mundo (άιτ' αίώνος). Uma tradução verbosa desne­
cessária.

74. Servíssemos (Àaxpeúeiu). Originalmente servir m e d ia n te p a g a m e n to , derivado


de λάτρου, con tratar. Platão utiliza este vocábulo para se referir ao serviço a Deus.

75. Santidade e justiça (όσιότητι καί δικαιοσύνη]). O adjetivo οσιος, sa n to , ade­


quadamente traduzido, significa a q u ilo qu e é co n firm a d o p o r u m a sa n çã o e u m p re c e i­
to antigo'. Οσια é utilizado no grego clássico para designar os p r in c íp io s etern o s d o
d ire ito , n ã o o c o n stitu íd o p e la s le is ou co stu m es h u m a n o s, m a s a q u eles q u e os an tecedem ,
tais como o cumprimento dos ritos apropriados em um sepultamento. Compare
com a ilustre passagem de Sófocles:

T a m p o u co le v e i su fic ie n te m e n te a sério o s te u s e d ito s,


Para q u e tu, um m o rta l, su p era sses
A s leis n ão e scrita s d e D e u s q u e não c o n h e c e m m udança.
E las não são de hoje ou d e on tem ,
M as têm d u ração etern a , e não se p o d e d eterm in ar
Q u an d o elas p assaram a e x is tir 7.

Por conseguinte, όσιότης se refere às leis eternas de Deus, pois trata, como
observa Meyer da “co n sa g ra çã o d iv in a e d a v e rd a d e in te r io r d a ju stiç a " . A o longo
do Novo Testamento, a sua visão está direcionada a Deus. Este vocábulo jamais
é utilizado para designar a excelência moral como algo relacionado aos homens,
apesar da necessidade de observar que δ ικ α ιο σ ύ ν η , ju s tiç a , não se restringe à j u s ­
tiça p a r a com os hom ens. Compare com Ef 4.24, a v e rd a d e ira santidade-, literalmente,
a s a n tid a d e d a verd a d e.

77. Conhecimento da salvação. Na w y c l iffe , consta a ciên cia d a saúde.

78. Entranhas da misericórdia (σπλάγχνα έλέους). Tradução literal. A nvi tra­


duz te rn a s m isericó rd ia s. V id e iPe 3.8; Tg 5.11. A bj traduz m iseric o rd io so coração.
Na w y c l iffe , espantosamente, consta víscera s d a m iseric ó rd ia .

O o riente do alto (ανατολή 4ξ ύψους). Literalmente, o le v a n ta r , ou n a s ­


cente. O termo ocorre na lxx como uma tradução de ra m o , como algo que se
le v a n ta ou s u r g e em direção ao alto, que descreve, por sua vez, a aparição do

7. Sófocles, Antígona, 45S-55.

218
L ucas - C ap . 2

Messias (Jr 23.5; Zc 6.12). Refere-se, assim, ao le v a n ta r d e urn c o rp o c e le s tia l


(Is 60.19, l x x ). Compare com o verbo correlato le v a n ta r ( -s e ) (άνατελλω) em
Is 60.1; Ml 4.2. Este segundo tem o mesmo significado aplicado aqui. V id e
nota sobre M t 2.2.

Nos visitou (έπεσκέψατο). V ide nota sobre Mt 25.36; lPe 2.12. Alguns manus­
critos, contudo, apresentam έπισκεψεται, v isita rá .

79. D irigir (κατευθΰναι). Derivado de ευθύς, reto.

80. Nos desertos (ταίς ερήμοις). O artigo indica um lugar bem conhecido.

M ostrar-se (άναδείξεως). Este vocábulo era utilizado para designar o anúncio


público de uma nomeação oficial; logo, referia-se ao início público do ministério
de João.

C a p ít u l o 2

1. D ecreto (δόγμα) Derivado de δοκέω, p e n sa r. Por conseguinte, em sentido res­


trito, uma o p in iã o p e s s o a l e, p o r ser uma opinião que se impõe por questão de
autoridade sobre as demais, um decreto. Na bj consta edito.

O mundo (την οικουμένη!'). Literalmente, o h a b ita d o (referindo-se a te r r itó ­


rio ).A expressão era, na origem, utilizada pelos gregos para designar a terra
habitada por eles mesmos, em contraste com os países bárbaros; mais tarde,
quando os gregos passaram a ser dominados pelos romanos, passou a designar
a to ta lid a d e d o m u n d o ro m a n o , posteriormente, to d o o m u n d o h a b ita d o . No texto
do Novo Testamento, este último significado é o mais utilizado, embora, em
alguns casos, o termo possa ser concebido nos moldes do Império Romano,
como nesta passagem, em At 11.28; 19.27. Cristo a utiliza para anunciar que
o Evangelho deverá ser pregado e m to d o o m u n d o (Mt 24.14); e Paulo, na pre­
gação de um juízo geral (At 17.31). Em Hb 2.5, ela é utilizada para designar o
m u n d o p o r vir.

Se alistasse, (άπογράφεσθαι). O vocábulo, corretamente traduzido, significa


re g istra r -se ou e n tr a r em u m a lista . Os comentaristas estão divididos quanto ao
objetivo do alistamento: para fins de cobrança de impostos, ou para a contagem
da população.

2. Este prim eiro alistamento foi feito (αϋτη ή άπογραφή πρώτη έγενετο). Pre­
fira, isto ocorreu com o o p r im e ir o alistam ento·, ou este f o i o p r im e ir o a rro la m e n to f e i t o ;
com referência a um seg u n d o arrolamento que ocorreu cerca de onze anos mais
tarde, e é mencionado em At 5.37.
219
L ucas - C ap . 2

3. Iam (έποραύοντο). As traduções dissipam a força ilustrativa do tempo imper­


feito, estavam indo. A preparação, o alvoroço e a viagem estavam em andamento.

A sua própria cidade. A cidade em que o vilarejo ou o local de nascimento


deles pertencia, e onde a casa e a linhagem de cada um, estavam registradas.

4. Casa e família. De acordo com o sistema judeu de registro, o povo seria arrola­
do conforme as suas tribos,famílias, clãs ou casas. Compare com Js 7.16-18.

5. A fim de alistar-se com Maria. Podemos fazer duas leituras: subiu com
Maria, denotando meramente o fato dela estar lhe acompanhando; ou, para
alistar a si mesmo com Maria, implicando que os nomes dos dois deveríam ser
registrados.

Sua mulher. Não meramente noiva. Vide Mt 1.20,24-25; também Mt 1.18. Na


kjv , esposada. A kjnta traduz por sua esposa prometida; o n t ia , por que estava com­
prometida matrimonialmente.

Estava grávida (έγκύω). Vide 1.24. Somente aqui no texto do Novo Testamento.

7 .0 seu filho primogênito. No grego, lemos, literalmente: seufilho, oprimogênito.

Envolveu-o em panos (έσπαργάνωσαν). Este vocábulo ocorre somente aqui e


no versículo 12. Naturalmente, ele ocorre com frequência nos escritos médicos.

Numa manjedoura (èv φάτντ)). Termo utilizado somente por Lucas, aqui e em
13.15. A e c p traduz presépio. Compare com o francês crèche, uma manjedoura, ou
cocho onde se coloca a comida dos animais num estábulo. Muito possivelmente
uma gruta em uma rocha. Thomson afirma: “Já vi muitas delas, formadas por
um ou mais ambientes, um em frente ao outro, incluindo uma caverna onde os
animais eram abrigados”8.

Na estalagem (èv rqj καταλύματι). Ocorre somente aqui e em 23.11; e também


em Mc 14.14, vide nota. Nestas duas perícopes, em língua inglesa, a expressão
é traduzida como aposento do visitante, que, dificilmente, poderia ser a tradução
neste caso, como alguns têm defendido9. Naquele caso, a expressão seria: eles
não encontraram nenhum κατάλυμα, aposento ou quarto para visitante. O termo
se refere a um khan ou caravanserai comum. Na t b consta hospedaria. Hepworth
Dixon expressa:

Um khan da Síria é ta n to um fo rte, q u a n to um m ercad o, um r e fú g io co n tra la d rõ es,


um ab rigo c o n tr a o c a lo r e a p oeira; um lu g a r o n d e um h o m e m e o seu an im al

8. T h om son , Land and Book.


9. Vide Geikie, Life and Words o f Christ, 1.121.

220
L ucas - C ap. 2

p o d ería m se alojar; o n d e um m erca d o r p od ería v en d er as su as m ercad orias e um


p e r e g r in o p o d ería m atar a su a se d e £.■■]] Q u a n d o era c o n str u íd o p or um fam oso
x eq u e, o a b rig o teria um a e n o r m e m u ralh a, um p átio in te r n o , um a lin h a d e arcos ou
lewans, um a g a leria ab erta n o s se u s q u a tro la d o s, e, em m u ito s casos, um a to r r e da
qual o g u a rd iã o p o d eria a v ista r a a p roxim ação d e b a n d o s d e saq u ead ores. E m um
d o s la d o s da praça, m as fora da m u ralh a, n o r m a lm e n te e x is te um em aran h ad o de
a b rig o s, sep a ra d o s d o p réd io p rin cip a l, q u e form am e stá b u lo para as m u la s e ca m e ­
lo s, para o s b ú falos e para as cabras. N o c e n tr o do khan, jo r r a um a fo n te de água,
o g ê n e r o de p rim eira n e c e ssid a d e da vid a d o s árabes; e atirad o ao red or d os ja to s
e das ca lh a s nas q u a is o lím p id o líq u id o e sco rre, e n c o n tr a m o s o a le g r e e p ito r e sc o
lix o c a r a c te r ístic o d o O rien te. O s c a m e lo s a g u ard am para se r e m d esca rreg a d o s, os
cã es d isp u ta m um p ed a ço d e o sso , o s b e d u ín o s d o d e se r to , o s se u s zan ares c h e io s de
p isto la s, e s tã o em oração. N o s arcos, o s m e rca d o res ficam a g ach ad os co m o s seu s
fard os de b en s [ .. . ] H o m e n s se m in u s e s tã o lav a n d o as m ã o s a n te s de se a sse n ta r e m
para com er. A q u i, um b arb eiro trab alh a na p rep a ração d e um o r n a m e n to para a
cabeça; a colá, um co m p a n h e ir o e stá d eita d o n o ch ão a d o rm ir na som b ra [[...] Cada
h o m e m p r e c isa le v a r c o n s ig o o seu ja n ta r e a su a cam a; lim p a r o seu ca v a lo ou ca­
m elo; fazer o m o lh o para a sua com id a; p u xar a su a água; a cen d er o seu fo g o e ferver
a sua m istu r a d e e r v a s 10.

8. Pastores. O Evangelho de Lucas é o evangelho dos pobres e humildes. Esta re­


velação para os pastores adquire um significado adicional, à medida que lembramos
que os pastores, como uma classe, estavam debaixo da proibição rabínica, em função
do seu isolamento necessário das ordenanças religiosas e da sua forma de viver, que
tornava praticamente impossível uma observação rígida da Lei.

Guardavam durante as vigílias (φυλάσσουτες φύλακας). Φυλακή é, por


vezes, utilizado para descrever uma v ig ília como uma m e d id a d e tem po, como
em M t 14.25; Mc 6.48; Lc 12 .3 8 . Este é o caso aqui. Existe um jogo de pala­
vras: v ig ia n d o v ig ília s. Perto de Belém, no caminho de Jerusalém, havia uma
torre conhecida como M ig d a l E d e r, ou a to rre d e v ig ília do rebanho. Este era
o local, onde os pastores guardavam os rebanhos destinados ao sacrifício no
Templo. Os animais que se desgarravam de Jerusalém, por qualquer um de
seus lados, numa distância que ia de Jerusalém até Migdal Eder, eram ofere­
cidos como sacrifício. Era firme a convicção entre os judeus que o Messias
deveria nascer em Belém e que, da mesma forma, ele deveria ser revelado a
partir de Migdal Eder. O belo significado da revelação do menino Jesus aos
pastores que guardavam os rebanhos destinados ao sacrifício, não necessita
de maiores comentários.

10. Hepworth Dixon, The Holy hand.

221
L ucas - Cap. 2

Seu rebanho (την ποίμνην). Ο uso do singular não poderia se encaixar perfei-
tamente com aquilo que acabamos de dizer? - o rebanho, o rebanho do Templo,
especialmente dedicado ao sacrifício. O pronome seu removería qualquer tipo
de objeção, já que é comum falarmos do rebanho como algo que pertence a um
pastor. Compare com Jo 10.3-4.

9. E eis que. Omitido pelos melhores textos.

Um anjo. Preferível u m a n jo a o anjo, como traduz a a r c . O grego não apre­


senta artigo.

Veio sobre (έπέστη). O termo é utilizado neste sentido no grego clássi­


co, bem como no sentido de f i c a r a o la d o . No versículo 38 deste capítulo, a
arc traduz como s o b r e v in d o . A tradução v e io so b re tem um tom hostil, como

pode ser bem observado em At 17.5, onde o termo é traduzido pelo verbo
a s s a lta r .

Tiveram grande temor. Literalmente, te m era m co m g r a n d e tem o r.

10. Vos tra g o novas de grande alegria (ευαγγελίζομαι ύμΐν χαράν


μεγάλην). Na b j : vos a n u n c io u m a g r a n d e a le g r ia ; e na t e b : eu v e n h o a n u n c ia r -
v o s u m a b o a n o va .

Que (ητις). De uma classe ou caráter que etc.

Povo (τώ λαώ). Melhor traduzido como “o povo;” sendo que o artigo indica, de
maneira especial, o povo de Israel.

11. Nasceu (έτέχθη). Temos um ganho em termos de vivacidade na narrativa,


quando mantemos a tradução estrita do aoristo, f o i n ascido.

O Salvador. V id e nota sobre Mt 1.21.

Cristo. V id e nota sobre M t 1.1.

Senhor. V id e nota sobre M t 21.3.

12. Sinal (σημεΐον). V id e n o t a sobre Mt 11.20.

O menino (βρέφος). V id e nota sobre lPe 2.2. Mais adequadamente traduzido


como “u m menino”. Sem artigo no grego.

13. Uma multidão dos exércitos celestiais. O termo ex ército s (στρατιάς) é uma
tradução literal. Bengel afirma: “Aqui o exército anuncia a paz”. Na ep consta
g r a n d e m u ltid ã o d e anjos.

222
L ucas - C ap. 2

14. Paz na terra, boa vontade para com os homens (Ειρήνη èv άνθρώποις
Ευδοκία). Na bj e bp, aos homens que ele ama; na teb , para os seus bem-amados, na ecp,
aos homens objetos da benevolência (divina) . Para conhecer uma construção similar,
vide At 9.15; Cl 1.13.Tanto Tischendorf, quanto Westcott e Hort apresentam
εύδοκίας. Segundo esta interpretação, a tradução é, aos homens de boa vontade, ou,
entre os homens nos quais ele muito se agrada.

15. Os pastores. Alguns textos apresentam οί άνθρωποι, os homens; mas os tex­


tos posteriores omitem isto.

Vamos, pois (διέλθωμΕν). A preposição διά, através, implica através de um espa­


ço que os separava daquela localidade.

Isso (ρήμα). Vide 1.37. A afirmação dos pastores tem um clímax: "Vamos e
vejamos esta palavra, que se tornou realidade; a qual o Senhor deu por conhecer”.

16. Acharam (âveüpav). Vocábulo encontrado somente aqui e em At 21.4. Άνά


indica a descoberta dos fatos em sucessão.

Maria, e José, e o menino. Cada uma das pessoas recebe o artigo, no texto
grego, indicando os diversos partícipes já mencionados.

17. Divulgaram. Fzde versículo 8. Naquele momento, estes pastores, que cuida­
vam dos rebanhos dedicados ao sacrifício, estariam no Templo e se encontrariam
com as pessoas que vieram para adorar e sacrificar e, por conseguinte, proclamar
o Messias no Templo.

19. Guardava (συνετήρΕί). Veja mais sobre o verbo básico τηρεί»), em lPe 1.4. O
termo não significa um simples guardar, mas proteger, como o resultado deste
guardar. Dessa maneira, o verbo composto é deveras expressivo: protegeu, σύν,
com ou dentro dela mesma: intimamente. Observe o tempo imperfeito: estava guar­
dando o tempo todo.

Conferindo-as (συμβάλλουσα). O particípio presente, conferindo. Literalmente,


trazendo em conjunto; comparando e pesando os fatos. Na vulgata consta conferen-
ciando. Compare com Sófocles.

É D I P O - M eu s filh os, o fim da vid a ord en ad o p e lo s céu s veio sob re aq u ele q u e e stá
aqui, e d e le n ão há co m o escapar.
A N T I G O N A —C om o tu o sabes, e com q u e (fato) co m p araste (συμβαλών) a tua op in ião
para is to afirm ares?11.

11. Sófocles, Édipo em Colono, 1472-4.

223
L ucas —C ap. 2

22. Os dias da purificação (αl ήμέραι toO καθαρισμού αυτής). A arc omite o
pronome. A e c p segue a leitura αύΐής, su a , ou d e la (o s d i a s d a su a p u rific a ç ã o )·,
mas todos os melhores textos apresentam αύτών, se u s o u deles-, sendo que este
plural inclui José e Maria, como partícipes da contaminação cerimonial. A
mãe de um bebê estava, leviticamente, impura por um período de quarenta
dias depois do nascimento de um menino, e oitenta dias depois do nascimen­
to de uma menina. As mulheres, nestas situações, de modo geral, vinham ao
Templo montadas sobre o lombo de bois, para que o corpo do animal com um
porte tão grande ficasse entre elas e o solo, e dessa forma se evitaria qualquer
possibilidade de contaminação em função da passagem sobre algum sepulcro
no caminho12.

Para o apresentarem ao Senhor. O primeiro filho de toda família deveria


ser remido com o sacerdote, mediante o pagamento de cinco ciclos do Santuário
(Nm 18.15-16; Êx 13.2).

23. Na lei do Senhor. O vocábulo le i aparece cinco vezes neste capítulo, com
maior frequência do que no restante deste Evangelho, quando analisado de for­
ma conjunta. Lucas enfatiza o fato de que Jesus era “nascido sob a Lei” (G1 4.4), e,
dessa forma, elabora os detalhes do cumprimento da Lei por parte dos seus pais,
bem como pelos pais de João.

24. Um par de rolas ou dois pombinhos. A oferta feita por pessoas pobres. O
cordeiro a ser oferecido pelas pessoas mais abastadas custava cerca de 11 vezes
mais que a oferta dos pobres. A mulher não trazia os animais propriamente di­
tos, mas depositava o valor equivalente em um dos treze gazofilácios, que eram
caixas em forma de trombeta, localizados no Pátio das Mulheres. P om binhos·,
Literalmente, filh o te s d e p o m b o s (νοσσους περιστερών). Spencer cita:

Mais leve que um pombo nas garras de um falcão.

25. Temente (εύλαβής). Termo utilizado exclusivamente por Lucas. O vocábulo


correlato, εύλάβεια, te m o r d iv in o , ocorre duas vezes: Hb 5.7; 12.28. Derivado de
εύ, bem, e λαμβάνω, seg u ra r algo. Por esta razão, descreve uma pessoa circunspecta
ou cautelosa que segura as coisas de forma cautelosa. Quando aplicado à moral
e à religião, este vocábulo enfatiza o elemento de circunspecção, uma observância
cautelosa e detalhada da Lei de Deus; e, dessa forma, passa a expressar, a piedade
do Antigo Testamento, com a sua atenção minuciosa aos preceitos e às cerimônias.
Compare com At 2.5.

12. Para m aiores detalhes, Edersheim , Life and Times o f Jesus, 1.195; The Temple, p. 302; G ei-
kie, Life and Words o f Christ, 1.127.

224
L ucas - C ap . 2

Consolação de Israel. Compare com a esperança de Israel, em At 28.20, e Is 40.1. A


bênção messiânica da nação. Referindo-se ao próprio Messias, repouso. Vide Is 11.10.
Uma forma comum de súplica entre os judeus era: Que eu tambémpossa ver o consolo.

26. Fora-lhe revelado (ήν κεχρηματισμενον). Literalmente, estava tendo sido re­
velado, isto é, permaneceu revelado, enquanto ele aguardava pelo cumprimento
da revelação. O verbo significa fazer negócios com, por isso, consultar ou debater
acerca de assuntos comerciais, e, referindo-se a um oráculo, dar uma resposta a
uma pessoa que o consulta. O termo implica que a revelação feita a Simeão fora
em resposta a uma oração. Vide nota sobre Mt 2.12.

27. Pelo Espírito (èv τώ πνεύματι). Literalmente, “no Espírito”; o Espírito Santo
o impeliu. Indicando, mais a sua condição espiritual, como alguém que caminhava
com Deus, do que um impulso divino especial.

Segundo o uso (κατά το ε’ιθισμενον). Literalmente, segundo aquilo que era costu­
meiro serfeito. Somente aqui no texto do Novo Testamento. Além disso, os vocábulos
correlatos, έθος, costume, e εθω, estar acostumado, ocorrem com maior frequência em
Lucas do que em outros livros. Termo muito comum em escritos médicos.

29. Senhor (δέσποτα). Vide nota sobre 2Pe 2.11.

Podes despedir... o teu servo (απολύεις τον δούλοι» σου). Literalmente, libera tu.
O termo é utilizado para descrever a concessão da alforria ou a libertação, mediante o
pagamento da redenção de um escravo, e como Simeão utiliza o vocábulo em referên­
cia a um servo, é evidente que sua morte é concebida por meio da figura da libertação
do trabalho. Godet expressa: “a liberação da sentinela das suas obrigações”.

Em paz. Mais corretamente, essa expressão deveria ser colocada em posição


de ênfase, ao final da frase, como fazem a bv e ntlh.

31. De todos os povos (πάντων των λαών). Na bv, mundo. O substantivo está
mesmo no plural, os povos, e não no singular , e se refere igualmente aos gentios.
Vide Introdução, acerca da universalidade do Evangelho de Lucas.

32. Luz (φως). A luz em si mesma, em distinção a λύχνος, uma lâmpada ou lampa­
rina. Vide nota sobre Mc 14.54.

Para alumiar (εις άποκάλυψιν). Tradução inadequada. Melhor traduzido


como faz a teb : para a revelação. A bp lê: luz revelada. Uma possível tradução se­
ria: para desvelar os gentios.

Nações (εθνών). Na bp e teb, pagãos. Atribuído à mesma raiz que εθω, estar
acostumado, e logo, referindo-se a um povo unido por hábitos e costumes se-
225
L ucas - C ap. 2

melhantes. De acordo com o uso bíblico, o termo é compreendido como uma


referência a pessoas que não fazem parte da comunidade de Israel e que ocu­
pam uma posição diferente com relação ao plano de salvação. Por esta razão,
a extensão do evangelho da salvação até eles é tratada como um fato notável
(yidetAt 12.18,21; 24.14; 28.19; At 10.45; 11.18; 18.6). Paulo é chamado, de
forma distinta, de apóstolo e mestre dos gentios, bem como de vaso escolhido para
levar o nome de Cristo a eles. Em At 15.9; Ef 2.11,18; 3.6, vemos esta diferença
aniquilada e a expressão, finalmente, passa a ser uma designação histórica das
nações não-israelitas que, como tal, andaram, anteriormente, sem Deus e sem
salvação {vide At 15.23; Rm 16.4; Ef 3.1). Às vezes, este vocábulo é utilizado
em sentido moral, para denotar os pagãos, em contraste com os cristãos {vide
lCo 5.1; 10.20; lPe 2.12). A luz é aqui prometida aos gentios e a glória a Israel.
Os gentios são considerados como povos que vivem nas trevas e na ignorância.
Alguns traduzem as palavras εις άποκάλυψιν, acima mencionadas, como para
desvelar os gentios, em vez de para revelação. Compare com Is 25.7. Israel, entre­
tanto, já recebeu a luz pela revelação de Deus, por intermédio da Lei e dos pro­
fetas, e esta luz se transformará em glória por meio de Cristo. Por intermédio
do Messias, Israel alcançará a sua glória verdadeira e sublime.

33. José. Os melhores textos apresentam ό πατήρ αύτοΰ, o seu pai.

Se maravilharam (ήν θαυμάζοντας). A construção grega é bem peculiar. O seu


pai estava e sua mãe se maravilhando-, o verbo finito no singular concordando com
o pai, ao passo que o particípio plural concorda com ambos. Como é comum, esta
combinação do verbo finito com o particípio denota continuidade ou progressão:
eles estavam se maravilhando, enquanto Simeão estava falando.

34. Os. Os pais; estando o filho separado e especialmente designado.

É posto (καίται). O verbo significa ser colocado e, logo, colocar, lançar, portanto,
serproposto ou promulgado, tal como se diz que a lei é colocada em efeito, ou seja,
indicada ou destinada, como vemos aqui.

Queda e elevação (πτώσιν καί άνάστασιν). Na bj,para a queda epara o soergui-


mento. Para a queda, porque Ele será uma pedra de tropeço para muitos (Is 8.14;
Mt 21.42,44; At 4.11; Rm 9.33; lCo 1.23). Para a elevação, porque muitos serão
elevados por meio dEle para a vida e para a glória (Rm 6.4, 9; Ef 2.6).

Que é contraditado (άυαλαγόμανον). O particípio está no presente, e a ex­


pressão não anuncia uma profecia, simplesmente descreve uma característica ine­
rente ao sinal: um sinal que no seu caráter deve experimentar as contradições do
mundo. No princípio, como bebê, Jesus experimentou tudo isso nas mãos de He-
226
L ucas - C ap . 2

rodes, bem como ao longo de todo o seu ministério terreno e na morte de cruz.
Assim, também será até o fim, até que Ele ponha todos os seus inimigos debaixo
dos seus pés. Compare com Hb 12.3.

85. Uma espada (ρομφαία). Estritamente falando, uma espada comprida e larga
originária da Trácia. Termo utilizado na l x x para designar a espada de Golias
(lSm 17.51). Uma ilustração da suprema angústia sentida por Maria ao ver o seu
Filho pregado à cruz.

8β. A profetisa (προφήτις). Ocorre somente aqui e em Ap 2.20.

Aser. Esta tribo era celebrada na tradição pela beleza das suas mulheres, e a
sua aptidão para se casarem com os sumo sacerdotes ou reis.

Já avançada em idade (ιτροβεβηκυια έν ήμερα ις πολλαις). Literalmente, avan­


çada em muitos dias.

37. De quase oitenta e quatro anos (ώς ετών όγδοήκοντα τεσσάρων). Pode-se
supor que a arc esteja apresentando a sua idade, contudo, os melhores textos
apresentam 'έως, até, em vez de ώς, por volta de, e a declaração diz respeito ao seu
tempo de viuvez; uma viúva já há oitenta e quatro anos. A ecp acrescenta: desde a
sua virgindade.

Servindo (λατρεύουσα). A arc traduz de forma exata, no particípio presente.


A T B apresenta, adorava; e a t e b , participando do culto. Vide 1 .7 4 .

88. Sobrevindo (έπιστάσα). Vide o versículo 9.

Dava graças (άνθωμολογεΐτο). O verbo, originalmente, significa fazer um acor­


do mútuo; e a ideia de reciprocidade é mantida na expressão “devolver as graças”
por algo recebido. Compare com lxx, SI 79.13.

Falava. Não uma afirmação em público, para a qual as palavras, os que espera­
vam etc., seria imprópria, mas aos fiéis que estavam com ela no Templo, esperan­
do pelo Messias.

Em Jerusalém (εν Ιερουσαλήμ). Todos os melhores textos omitem èv, em.


Traduza, como na tb, a redenção de Jerusalém. Uma equivalência aproximada à
consolação de Israel, versículo 25. Compare com 1.68, e vide Is 40.2.

39. Nazaré. Vide nota sobre Mt 2.23.

40. O menino crescia. Os judeus marcavam os estágios do desenvolvimento de


uma criança fazendo uso de nove termos diferentes: um recém-nascido (Is 9.6);
o lactente (Is 11.8); o lactente que começa a pedir alimento sólido (Lm 4.4); a
227
L ucas - C ap. 2

criança desmamada (Is 28.9); a criança que se agarra à mãe (Jr 40.7); a criança
que fica firme e forte (Is 7.14, a respeito da mãe-virgem); o jovem, literalmente,
aquele que se agita para ficar livre; o amadurecido, ou guerreiro (Is 31.8).

41. Seus pais. Apesar de as mulheres não terem obrigação de apresentar-se


pessoalmente à festa.

42. Doze anos. Idade na qual o menino passava a ser conhecido como o f ilh o da
lei, e passava a ter obrigação de observar pessoalmente as suas ordenanças.

43. Terminados aqueles dias. Não necessariamente os sete dias da festa. Com
o terceiro dia, começavam os, assim chamados, m eio s d ia s san tos, nos quais já era
permitido a volta para casa.

44. Companhia (συνοδίο:). Derivado de o w , com , e όδός, o ca m in h o . O grupo que


seguia fazia a viagem em conjunto.

Andaram caminho de um dia. Antes de sentirem a sua falta.

Procuravam-no (άνεζήτουν). Derivado de άνά, d e p o n ta a cabeça, e ζηχέω, p r o ­


curar. Dessa maneira, implicando uma busca minuciosa·, eles o procuraram p o r
cim a e p o r b a ix o de todas as coisas.

45. Em busca dele (άναζητοΰντ^ς). Ao longo de todo o caminho, à medida que


voltavam. Observe a força do prefixo άνά, no termo acima.

46. Passados três dias. Desde o momento da separação.

No templo. Edersheim observa:

Lemos no T alm ude que os m em bros do Sinédrio, no Tem plo, os quais, em dias co­
muns, assentavam -se com o uma corte de apelação desde o fim d a m anhã até a h o ra do
sacrifício vespertino, costum avam , nos sábados e nos dias festivos, subir até o terraço
do T em plo para, ali, ensinar as pessoas. N este tipo de instrução popular, as pessoas
tinham total liberdade para lhes questionarem . E neste público, que se assentava no
chão, que rodeava e se m isturava com os doutores da Lei e, portanto, durante, e não
depois da festa, que devemos procurar o jovem Jesus15.

A partir disto, Edersheim argumenta que os pais seguiram viagem de volta


antes do término da festa.

Assentado. Não ocupando o lugar de um mestre, mas sentado no círculo, en­


tre os doutores da Lei e os seus ouvintes. Compare com At 22.3.

13. Edersheim, Life and Times, 1.247.

228
L ucas - Cap. 2

47. Inteligência (συνέσει). Derivado de συιήημι, tr a z e r em conjunto, reu n ir. Por


esta razão, a faculdade da mente que combina as coisas, um entendimento não
somente acerca dos fatos, mas dos mesmos nas suas relações mútuas. V id e nota
sobre Mc 12.33; onde a mensagem, segundo Cremer é: “o amor de uma resolução
bem ponderada e devidamente considerada que determina a pessoa como um
todo; o amor que, claramente, entende a si mesmo”.

48. Maravilharam-se (4ξ6πλάγησαν). Um vocábulo muito enfático; o verbo sig­


nifica, literalmente, a tin g ir ou d e s v ia r d o caminho-, ou seja, desviar alguém do seu
juízo. Dessa maneira, no sentido geral de grande perplexidade.

Filho (τεκνον). Literalmente, criança. V id e nota sobre Mt 1.1.

Teu pai. Alford afirma: “Até este momento, José era assim chamado pelo pró­
prio santo menino; mas isto jamais voltaria a ocorrer”.

Te procurávamos (έζητουμέν). No tempo imperfeito: está va m o s te p rocu ran do.


Maria ainda se debatia, na sua mente, com todo o processo da busca pelo menino.

49. E ele lhes disse. A primeira declaração proveniente diretamente de Jesus


que nos foi preservada.

Convém (δεϊ). Literalmente, ê necessário, ou co m p ete-m e. Um vocábulo utilizado


por Jesus em referência à obra que lhe foi atribuída, que expressa tanto o cumpri­
mento inevitável dos conselhos divinos, quanto a obrigação absoluta do princípio
da obrigação ao qual Ele estava submetido ( v id e Mt 16.21; 26.54; Mc 8.31; Lc
4.43; 9.22; 13.33; 24.7,26,46; Jo 3.14; 4.4; 12.34).

Dos negócios de meu Pai (èv τοΐς του πατρός). Literalmente, n a s co isa s d o
m eu P a i. Os termos comportam esta tradução, mas a tb se mostra melhor, n a casa
de m eu P a i. A pergunta de Maria não se referia ao que o seu filho estava fazendo,
mas a onde ele estivera. Jesus, logo, responde: O nde um filho deve ser encontra­
do senão na casa do seu Pai?”

50. As palavras (τ'ο ρήμα). V id e 1.37.

51. Era-lhes sujeito (ήν ύποτασσόμευος). O particípio e o verbo finito, denotan­


do uma sujeição h a b itu a l e co n tín u a . Compare com Hb 1.4-8. Bengel afirma:

M esmo antes deste acontecimento ele já lhes era sujeito; mas isto é mencionado a esta al­
tura, por parecer uma época em que ele já podería se esquivar da obediência aos pais. Nem
mesmo os anjos tiveram tamanha honra como a que foi prestada aos pais de Jesus.

Guardava (δι,ετήρει.). Este termo ocorre somente aqui e em At 15.29. A pre­


posição διά, através, indica uma guarda ín tim a ,f ie le p e r s is te n te , através de todas as
229
L ucas - C ap . 3

circunstâncias que pudessem ter enfraquecido a sua impressão acerca dos acon­
tecimentos. Compare com Gn 37.11.

52. Estatura (ηλικία). O vocábulo pode ser traduzido como idade, o que, neste
caso, seria supérfluo.

C a pítu lo 3

1-18. Compare com Mt 3.1-12; Mc 1.1-8.

1. Pôncio Pilatos. Na wycliffe consta Pilato de Pôncio.

Tetrarca. Vide nota sobre Mt 14.1.

2. Veio (έγέν^το). Literalmente, surgiu, ou veio a ocorrer.

João. Os autores sinópticos o apresentam sob diferentes títulos. Aqui, ele é o


filho de Zacarias-, para Mateus ele é o Batista-, para Marcos, o Batizador.

3. Ao redor do Jordão. Mateus e Marcos chamam de deserto. Vide nota sobre Mt 3.1.

Batismo de arrependimento. A teb traduz batismo de conversão.

Para (eíç). Adequadamente traduzido, pela arc, denotando o objetivo do rito.

Perdão (αφεσιν). Vide nota sobre T g 5.15. O termo ocorre em Lucas com
maior frequência do que em todos os outros autores do Novo Testamento com­
binados. Trata-se de um vocábulo utilizado na linguagem médica para descrever
o relaxamento de uma enfermidade. Lucas e João utilizam o verbo da mesma raiz
άφίημι, no mesmo sentido (Lc 4.39; Jo 4.52).

4. Isaías. Nesta citação profética Marcos acrescenta Ml 3.1a Isaías, o que não
aparece nem em Mateus, nem em Lucas. Lucas acrescenta os versículos 4-5 de
Isaías 40, os quais não aparecem nos outros.

Veredas (τρίβους). Derivado de τρίβω, raspar ou desgastar. Por isso, trilhas pisadas.

5. Vale (φάραγξ). Estritamente falando, uma referência a uma fenda ou desfila­


deiro no lado de uma montanha.

Se enchará —se abaixará. Em alusão à prática dos monarcas orientais. Em


ocasiões do seu progresso, os arautos eram enviados para convocar o povo a lim­
par e melhorar as antigas estradas ou a abrir novas.

Q uando Ibrahim Pacha se propôs a v isitar certas localidades do Líbano, os em ires e os


xeques em itiram um a proclam ação geral que tinha, de certa form a, o estilo da exor-

230
L ucas - C ap. 3

tação de Isaías, para que todos os habitantes se reunissem ao longo de uma certa es­
trada e preparassem o caminho pelo qual ele passaria. O mesmo foi feito em 1845, em
g rande escala, quando o sultão visitou Brusa. As pedras foram retiradas, os lugares
curvos foram endireitados, e os locais com piso irre g u la r foram nivelados e afofados.
Eu m esm o senti o beneficio destas obras alguns dias após a visita de sua M ajestade. A
exortação para se “lim par a estrada das pedras” (Is 62.10) é peculiarm ente apropriada.
E stes fazendeiros fazem exatam ente o contrário - pegam as pedras dos seus campos
e as atiram na estrada; é este costum e bárbaro que, em m uitos lugares, to rn a os cami­
nhos difíceis e, até mesmo, perigosos1'*.

7. Dizia (ελεγεν), pois, João à m ultidão que saía (εκπορευομένοις). O uso


dos tempos verbais é ilustrativo. Ele dizia, no imperfeito, e saía, no particípio
presente, ambos denotam uma ação em andamento, ou um ato costumeiro, de
forma que o significado é: ele continuava dizendo, ou ele costumava dizer àqueles
que estavam saindo, às multidões de pessoas que continuavam a vir, em grande
quantidade, umas após as outras. Compare com εξεπορεύετο, ia ter, também no
imperfeito, em Mt 3.5. Lucas apresenta a substância da pregação do Batista de
forma resumida.

Raça (γεννήματα). Literalmente, nascimentos. Na bp, ninhada, e na teb , cria.


Observa-se que a linguagem figurada de João é, como um todo, uma linguagem
baseada no deserto - ou seja, que remete a elementos do campo. Observe a suces­
são de imagens; Raça de víboras·, osfrutos (do arrependimento); o machado posto à
raiz da árvore-, o menino-escravo que solta as correias ou leva as sandálias, o batismo de
fogo·, a pá dejoeiramento, a eira, o celeiro, e a queima da palha.

Ensinou, (ύπέδειξεν). Derivado de ύπο, embaixo, e δείκνυμι, mostrar. De forma


literal, mostrar em segredo. O vocábulo implica uma dica ou lembrança feita de
forma privada ou confidencial. Compare com o capítulo 12.5; At 9.16; 20.35.

8. Frutos (καρπούς). Mateus os coloca no singular, καρπόν, fruto.

Arrependimento (τής μετάνοιας). Observe o artigo: o arrependimento que


professais ao virem ao meu batismo. Vide nota sobre Mt 3.2.

Comeceis. Com a primeira acusação da vossa consciência. Bengel observa;


“Ele antecipa, até mesmo tenta inventar uma desculpa”. Mateus apresenta não
pensem, indicando uma ideia fantasiosa.

Pai. Este é o termo que encabeça a frase: “Temos Abraão como nosso Pai”,
e ele, dessa maneira, assume um caráter enfático, não sem razão, pois era sobre

14. Thomson, Land and Book.

231
L ucas - C ap. 3

a descendência dele que a resposta destes judeus à exortação de João sobreviría:


“Nosso Pai é Abraão”.

Destas pedras. Vide nota sobre Mt 3.9.

9. Vide nota sobre Mt 3.10.

10. Interrogava (έπηρώτων). No tempo verbal imperfeito, indicando a repetição


frequente destas perguntas.

11. Túnicas (χιτώνας). Vide nota sobre Mt 5.40.

12. Publicanos (τελώναι). Derivado de τέλος, um imposto, e ώνέομαι, comprar.


Os cobradores dos impostos a serviço dos romanos. Os romanos coletavam os
impostos diretos e as taxas alfandegárias para os capitalistas, sobre o pagamento
de certa soma in publicum, ao tesouro público, por esta razão eram chamados de
publicani, publicanos. Às vezes esta soma, por exceder o valor que uma pessoa
poderia pagar, era paga por um grupo. Sob estes grupos, estavam os submagistri,
que moravam nas províncias; e debaixo destes, por sua vez, estavam os portitores,
ou, agentes alfandegários reais, que são mencionados pelo termo τελώναι no tex­
to do Novo Testamento. Eles, de modo geral, eram escolhidos a partir da escória
do povo e seus métodos de extorsão tornaram-se tão conhecidos que os mesmos
foram incluídos na categoria das prostitutas e dos pecadores.

Se um judeu mal podia convencer-se que era correto o pagamento de impostos, imagine
quão abominável parecería aos seus olhos, o crim e de se to rn a r um instrum ento duvi­
doso ao se cobrar impostos. Se um publicano era odiado, quão m aior seria a decepção
ao se saber que além de publicano, o homem também era ju d e u 15.

A palavra “publicano”, como um termo vergonhosamente popular, foi usada


até mesmo pelo nosso Senhor (Mt 18.17). Os publicanos eram objeto do des­
prezo até mesmo por parte dos gentios. Farrar cita um ditado grego: “Todos os
publicanos são ladrões”.

13. Peçais (πράσσετ€). Na tb, cobreis. O vocábulo é utilizado para descrever a


coleta de tributos legais, e a coleta excessiva é expressa pelas seguintes palavras:
João dificilmente teria lhes ordenado a fazer extorsão, deforma alguma.

14. Soldados (στρατευόμ^νοι). Estritamente, soldados em serviço. Por esta razão, o uso
do particípio, os que servem como soldados, em vez do termo mais genérico στρατιώται,
soldadospor profissão. Alguns explicam tratar-se de soldados engajados em inspeções
da polícia ligadas à alfândega e, assim, naturalmente associados aos publicanos.

15. Farrar, Life of Christ.

232
L ucas - C ap . 3

E nós, que faremos? O pronome pessoal nós no grego é enfático, colocado no


final da pergunta. Mais corretamente: e nós, o quefaremos nós?

Trateis mal (δι,ασείσητε). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Li­


teralmente, sacudam violentamente, deste modo, agitar ou aterrorizar. Assim, ex­
torquir dinheiro de alguém por meio de terror ou tortura. O termo latino cor­
respondente é utilizado por escritores posteriores no mesmo sentido. Xenofonte
fala acerca de Sócrates:

Sei que ele, certa vez, ouviu de C rito que a vida em A tenas era d ura para um homem
que desejasse se preocupar com os seus próprios negócios. “Pois” —disse ele —“eles se
levantam contra mim, não porque são por mim contrariados, mas porque pensam que
eu preferiría pagar do meu dinheiro do que me incom odar”18.

Para descrever este processo de chantagem, o vocábulo σείω, sacudir, era uti­
lizado. Assim também vemos em Aristófanes:

T u farás m uito dinheiro po r meio de falsas acusações e intimidações (σείωυ te και


ταράττωυ)'7.

E, uma vez mais:

E no que diz respeito aos seus aliados, eles acusam falsam ente (ejetou) os ricos e os
poderosos18.

A palavra, nesta passagem de Lucas, apresenta o significado posterior de extor­


quir, e, portanto, os revisores americanos, corretamente, insistem em, extorquir de
ninguémpor meio de violência. Ela é utilizada por escritores da área médica como, por
exemplo, Hipocrates, para descrever o tremor dos membros paralisados ou amor­
tecidos de um paciente; ou um agitar por meio do qual o fígado era liberado de uma
obstrução. Lucas também utiliza dois outros compostos do verbo σείω: κατασείω,
acenar, At 12.17 (característico de Lucas); e άνασειω, incitar, que ocorre em Mc
15.1 1 . Estes dois últimos termos também são utilizados por autores da área médica.

Defraudeis (συκοφαντήσητε). A explicação comum deste verbo está baseada


na derivação de σΰκον, umfigo, e φαίνω, tornar conhecido. Assim, ele se refere à
delação de pessoas que exportavam figos da Ática, em desrespeito às leis, ou
que saqueavam figueiras sagradas. Como os informantes eram tentados a acusar
pessoas inocentes em função da recompensa paga, a fim de que eles apontassem
os infratores da lei, o verbo adquiriu o significado de acusar uma pessoa deforma

16. Xenofonte, Memorabilia, 2.9.1.


17. Aristófanes, Knights, 840.
18. Id., Peace, 639.
233
L ucas - C ap . 3

falsa. Esta é a antiga explicação que atualmente é rejeitada pelos eruditos, apesar
de a explicação real não passar de uma conjectura. A figueira era o orgulho da
Atica, ocupando, junto com o mel e as azeitonas, o papel de principais produtos
e e não há nenhuma autoridade para a afirmação de que houve uma época em
que os figos eram escassos e precisavam de proteção legal contra a exportação.
Também não se pode provar que havia um tipo sagrado de figo. Rettig, em um
interessante ensaio19, explica que o tributo na Ática era pago tanto na forma de
produtos quanto na de dinheiro, e como os figos representavam grande parte de
uma propriedade havia a tentação de não recolher a quantidade correta de figos
para os assessores, por esta razão uma classe de informantes surgiu, detectou
e relatou estes falsos recolhimentos, e recebia uma porcentagem da multa que
era imposta aos cidadãos. Estes homens eram conhecidos como os denunciantes
defigos. Outro escritor já sugeriu que a referência se dá a uma pessoa que faz
aparecer os figos por meio de sacudidas na árvore; e, assim, de forma metafórica,
faz com que os ricos entreguem os frutos do seu trabalho ou logro por meio de
falsas acusações. Qualquer que seja a explicação que aceitemos, fica evidente que
o verbo, na sua origem, tinha alguma ligação com os figos, e que ele passou a
significar caluniar ou acusarfalsamente, como traduz a t b : nem deis denúnciafalsa.
E dele que se origina o nosso termo sicofanta (adulador). Os sicofantas, como
uma classe de pessoas, eram incentivados em Atenas e os seus préstimos eram
recompensados. Xenofonte informa que Sócrates alertou Crito a contratar um
sicofanta às suas custas, a fim de se opor a outro que estava lhe incomodando; e
esta pessoa, segundo Xenofonte:

D escob riu rap id am en te m u ito s atos ile g a is da p arte d o s acu sad ores d e C rito, e m u itas
p esso a s q u e eram in im ig a s d aq u eles acusadores; um d o s quais foi p or e le c o n v o ca d o a
um desafio público, n o q u al seria d efin id o o que ele deveria sofrer ou pagar, e e le não
o d eixaria p artir en q u a n to não d e ix a sse d e p ertu rb ar C rito e, além d isso, p a g a sse um a
q u an tia em dinheiro.

Demóstenes descreveu, desta forma um deles:

E le d esliza p elo m ercado c o m o um escorp ião, c o m o seu ferrão v e n e n o so sem p re pron ­


to, esp io n a n d o q uem e le pod ería su rp reen d er e levar o in fo rtú n io e a ruína, e d e q uem
ele podería, de form a m ais fácil, e x to r q u ir d in h eiro, a m eaçan d o-lh e d e co m eter atos
d a n o so s nas su as c o n seq u ên cia s £...]] A ruín a da n o ssa cid ad e é o fato d ela p r o te g e r e
tratar com b en evolên cia e sta raça v en en o sa , e o s usa co m o in form an tes, de form a que
até m esm o os h o m en s h o n e sto s p recisam a d u lá -lo s e co rtejá -lo s, para ficarem liv res
das suas m aquinações.

19. Rettig, Studien und Kritiken, 1838.

234
L ucas - C a r 3

O termo ocorre somente aqui e em 19.8, em referência a Zaqueu, o publicano.


Na lxx , este vocábulo é utilizado no sentido de o p r im ir o u en g a n a r.

Soldo (όψωνίοις). Derivado de δψον, ca rn e co z id a , e posteriormente, em sentido


geral, provisões. Em Atenas, de modo especial, p e ix e . Compare com όψάριον, p eix e,
Jo 21.9-10,13. Por isso όψώνιον é, d in h e iro d e p r o v is ã o e usado para descrever os
suprimentos e o pagamento destinado a um exército. Com esta compreensão, o
uso do vocábulo em Rm 6.23, “o sa lá rio do pecado", torna-se altamente sugestivo.

15. Pensando (διαλογιζομενων). Mais adequadamente traduzido como a rra zo a -


vam . Compare com 1.29; e v id e Tg 2.4.

16. Aquele que é mais poderoso (ò ισχυρότερος). O artigo definido aponta para
uma personagem esperada.

D esatar (λΰσαι). V id e também Marcos, todavia Mateus apresenta βαστάσαι,


levar. V id e nota sobre M t 3.11.

17. Pá - eira - limpará. V id e nota sobre Mt 3.12.

18. Outras (ετερα). Prefira, v á rio s, diferentes.

Anunciava (εύηγγελίζετο). A tb preserva o significado mais completo do ter­


mo, segundo a sua etimologia: a n u n c ia v a o evan gelh o. V id e E v a n g e lh o , no Título
de Mateus.

19-20. Compare com Mt 14.3-5; Mc 6.17-20.

19. Repreendido (ελεγχόμενος). V id e Tg 2.9.

Maldades (πονηρών). De todos os termos do Novo Testamento que descre­


v e m o m a l , este é o único q u e enfatiza o mal em ação. Dessa maneira, Satanás é

ò πονηρός, o m a lig n o . O olh o m a u ( a r c , in veja ) é um olh o q u e m a q u in a o m a l. V ide

nota sobre Mt 7.22.

20. Acrescentou (προσεθηκεν). Utilizado duas vezes por Lucas, igualando o nú­
mero de ocorrências deste vocábulo no restante do Novo Testamento. Um termo
médico muito comum, utilizado para descrever a aplicação de remédios ao corpo,
tal qual utilizamos o verbo a p lic a r ou a d m in istra r. Utilizado também por Hipo­
crates: “aplique esponjas úmidas à cabeça;” e Galeno: “aplique uma decocção de
bolotas” etc.

Num cárcere. V id e nota sobre M t 14.3.

21-23. Compare com M t 3.13-17; Mc 1.9-11.


235
L uc a s - C ap. 4

21. Se abriu (άνεωχθήναι). Assim também descreve Mateus. Marcos, porém,


apresenta σχιζόμενους, rasgou-se.

22. O Espírito Santo. Melhor traduzido como: E sp írito . Mateus apresenta o


E sp írito de Deus; Marcos, o E spírito.

Em forma corpórea. Peculiar a Lucas.

Tu és meu Filho amado. A teb e bj omitem, am ado ; a bp traz, querido, e a tb ,


dileto. Literalmente, Tu és meu filh o, o am ado. Assim também vemos no texto de
Marcos. Mateus, contudo, apresenta: E ste é meu filh o , o amado.

23. Começava a ser de quase trinta anos (ήν άρχόμενος ώσεί ετών τριάκοντα).
Peculiar a Lucas. Melhor: quando ele começou (a ensinar) tinha quase trin ta anos. A
tb lê: ao começar o seu m inistério.

Capítulo 4

1-13. Compare com Mt 4.1-11; Mc 1.12-13.

1. Foi levado. Assim também vemos em Mateus. Marcos afirma: “O Espírito o


gu io u (εκβάλλει), ou, o im pulsionou adiante.

Pelo Espírito (4v τω πνεύματι). Os revisores americanos traduziram como no


Espírito, indicando a esfera e não o im pulso da sua ação.

Ao deserto. Algumas versões seguem a leitura εις, p a ra dentro. Porém, a lei­


tura correta é èv, no. Ele não foi somente impelido p a ra dentro do deserto, mas foi
guiado pelo Espírito no deserto.

2. Quarenta dias. Esta expressão deve ser unida as palavras anteriores, indican­
do a duração da sua permanência no deserto, e não da sua tentação, como nos
mostra a arc : quarenta d ia s f o i tentado. Leia conforme a t b : \j io d eserto \ durante
quarenta dias, sendo tentado.

Diabo. Vide nota sobre Mt 4.1.

Não comeu coisa alguma. Marcos não faz menção do jejum. Mateus utili­
za o termo νηστεύσας, tendo jeju a d o , que, ao longo de todo o Novo Testamento,
é utilizado para designar a abstinência para fins religiosos; um ato ritual que
acompanha um tempo de oração.

3. Esta pedra. Mateus, estas pedras.

Pão (άρτος). Literalmente, um bolo de massa. V ide nota sobre Mt 4.3. Mateus
apresenta este termo na forma plural, bolos.
2 36
L uc a s - C ap. 4

4. Escrito está. Vide nota sobre Mt 4.4.

De pão (επ’ άρτω). Literalmente, “em cim a do pão”, implicando uma dependên­
cia. Compare com de toda a p a la v ra (έιτί παντί ρήματι, Mt 4.4).

5. Num momento de tempo (εν στιγμή χρόνου). Peculiar a Lucas. A tb e nvi


traduzem num relance, a bj e te b , num instante. Στιγμή é, literalmente, uma marca
f e ita p o r um instrum ento p on tiagu do, um ponto, logo, um ponto de tempo. Somente
aqui no texto do Novo Testamento. Compare com στίγματα, marcas, G1 6.17.

Do mundo. Vide 2.1.

6. Observe a posição enfática dos pronomes no texto grego: “A t i darei - porque


a m im isto foi entregue: tu, portanto, se adorares” etc. Lucas, na sua narrativa,
expande o texto de Mateus. Compare com Mt 4.9.

8. Servirás. Vide 1.74.

9. Levou-o (ήγαγεν). Na bp, conduziu. Vide nota sobre παραλαμβάνει, transportou,


Mt 4.5.

Pináculo do templo. Vide nota sobre Mt 4.5.

Daqui abaixo. Mateus apresenta somente abaixo.

10. Guardem (διαφυλάξαι). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Adequa­


damente traduzido pela arc . Vide nota sobre lPe 1.4. A preposição implica uma
guarda p róxim a e cuidadosa. A expressão, que te guardem , não consta de Mateus.

11. Nas mãos (επί χειρών). Mais corretamente, sobre. Vide nota sobre M t 4.6.

12. D ito está. Mateus coloca como: está escrito, M t 4.7. Lucas omite o vocábulo
tam bém de Mateus. Vide nota sobre Mt 4.7.

13. Acabando toda a tentação [συντελεσας ιιάντα πειρασμόν]. Peculiar a Lu­


cas. O verbo συντελεσας, derivado de σύν, ju n to , e τελέω, executar, significa levar
a um f i m d e fo rm a conjunta; por esta razão, leva r a u m fim d e fo rm a completa. Logo,
mais adequadamente traduzido como completou. As tentações formavam um ciclo
completo, de forma que, posteriormente, seria dito que “como nós, Jesus em tudo
foi tentado” (Hb 4.15).

Toda a tentação (πάντα πειρασμόν). Tradução inadequada. Melhor traduzido


como cada tentação.

Por algum tempo (άχρι καιρού). Peculiar a Lucas. De forma mais estrita,
até um a hora conveniente, já que Satanás intentava investir contra ele novamente,

237
L u c a s - C ap. 4

e fez isso na pessoa de Pedro (Me 8.33); por meio dos fariseus (Jo 8.40ss.); e no
Getsêmani. V ide 22.53.

15. E ensinava (αυτός έδίδασκ€ν). Literalmente, ele m esm o en sin a va , confirmando


por si mesmo as opiniões favoráveis a seu respeito. O tempo imperfeito denota
um curso de ensinamentos.

16-31. Peculiar a Lucas.

16. Nazaré [(την Na(apé9j. Acompanhado do artigo; a q u ela Nazaré onde ele
fora criado.

Levantou-se. Não como sinal de que ele desejava se expor, mas por ter sido
convocado pelo superintendente da sinagoga.

Para ler (άναγνώναι). No texto do Novo Testamento, de modo geral, este


termo designa uma leitura pública*0. Depois das cerimônias litúrgicas que ser­
viam de introdução para o culto da sinagoga, o “ministro” tomava em mãos um
rolo da Lei da arca, removia dele os invólucros e, então, convocava algum dos
participantes para fazer a sua leitura. Nos sábados, pelo menos sete pessoas eram
chamadas, de maneira sucessiva, para fazer a leitura de porções da Lei, sendo
que nenhuma delas seria menor do que três versículos. Depois da Lei, havia uma
seção de leitura dos profetas, que era, imediatamente, sucedida, por um discurso.
Foi nesta seção que Jesus leu e fez a sua exposição21. V id e At 13.15; Ne 8.5,8.

17. O livro (βιβλίον). Forma diminutiva de βίβλος, a casca in te r n a d o p a p ir o , utili­


zada para escrita. Por isso, um rolo. O termo também é utilizado para designar a
divisão de uma obra. Neste caso, para demarcar os escritos de um único profeta
em relação ao conjunto completo dos escritos proféticos.

Abriu (άναπτύξας). Literalmente, desen rolou . Tanto este termo quanto o verbo
simples π τύ σ σ ω , f e c h a r (v. 30), ocorrem somente uma vez no texto do Novo Tes­
tamento. A primeira palavra era utilizada, em linguagem médica, para designar
a abertura de várias partes do corpo; e a segunda, para designar o enrolamento
de curativos. O uso destes termos por Lucas, como médico, é mais significativo
a partir do fato de que em outras porções do Novo Testamento ανοίγω é utiliza­
do para designar a a b e rtu ra d e u m liv r o (Ap 5.2-5; 10.2,8; 20.12); e ίίλίσσω, para
mostrar o seu en ro la m en to (Ap 6.14).

20. No grego pós-clássico, por vezes, ele indica a leitura em voz alta acompanhada de comentários.
Isto pode explicar o parêntese de M t 24.15.
21. Para um relato detalhado sobre oculto na sinagoga, vide Edersheim, Life and Times of Jesus, 1.4S0ss.

238
L u c a s - C a p. 4

Achou. Como que por acaso, passando a ler no lugar onde o rolo se abriu por
si mesmo, e confiando na direção divina.

Estava escrito (ήν γεγραμμενον). Literalmente, estava tendo sid o escrito; isto é,
perm anecia escrito.

18. Ungiu. V ide nota sobre C risto, Mt 1.1.

Para evangelizar. V ide nota sobre E vangelho, na seção acerca do T ítu lo do


Evangelho de Mateus.

Os pobres (τττωχοις). Vide nota sobre Mt 5.3.

A curar os quebrantados do coração [συντετριμμένους την καρδίοα/]. Os


melhores textos omitem essa parte. Assim também a t b , n v i , teb , bp etc.

19. A apregoar (κηρύξαι). Mais adequadamente traduzido como na rv, pro cla ­

m ar, como faz um arauto. Vide nota sobre 2Pe 2.5.

Aos cativos (αίχμαλώτοις). Derivado de αιχμή, a p o n ta d e um a lança, βάλίσκομαι,


ser tom ado ou conquistado. Dessa forma, corretamente posto como referência a
prisioneiros de guerra. Compare com Is 42.7: “para tirar da prisão os presos e do
cárcere, os que jazem em trevas”. A alusão feita é a Israel, como povo exilado e
cativo, mas também prisioneiro de Satanás, por meio de cadeias espirituais.

Pôr em liberdade (άποστειλαι). Literalmente, en via r p a ra f o r a como descarga.


Inserido a partir de Is 58.6, lxx . Vide 3.3; e Tg 5.15.

Os oprimidos (τεθραυσμένους). Literalmente, quebrados em pedaços. Somente


aqui no texto do Novo Testamento. A mesma palavra hebraica é utilizada em
Is 4 2 .3 : “A cana trilh a d a não quebrará”, que a lxx traduz como τεθλασμενον, um
termo que não ocorre dentro do Novo Testamento. Na citação desta última pas­
sagem (Mt 12.20), o termo utilizado em lugar de op rim id o s é συντρίβω, o qual é
utilizado pela lxx com o significado de quebrar.

A anunciar o ano aceitável do Senhor. Como no primeiro dia do ano do


Jubileu, quando os sacerdotes de todas as partes do país proclamavam, com som
de trombeta, as bênçãos do ano que começava (Lv 25.8-17). Observe o versículo
10, onde a liberdade deve ser proclamada a todos naquele ano. Uma interpreta­
ção literal do vocábulo ano fez surgir, entre alguns dos Pais da Igreja Cristã, a
teoria de que o ministério do nosso Senhor não teria durado mais do que apenas
um ano.

20. Cerrando (πτύξας). V ide nota sobre versículo 17.


239
L ucas - C ap. 4

Ministro (υπηρέτη). Vide nota sobre Mt 5.25. Literalmente, atendente. O termo


ministro, provavelmente, é fruto de um mal entendido por se pensar que fazia
menção ao presidente da congregação, que, como o ancião responsável pelo ensino,
teria feito o discurso diante do povo, caso Jesus não o tivesse feito. Todavia, neste
caso, trata-se de uma designação do atendente que estava incumbido de guardar os
rolos sagrados. Ele era um oficial assalariado, espécie de assistente-capelão.

Assentou-se. Como que prestes a ensinar; sendo esta a posição habitual de


um mestre judeu.

Estavam fitos (ήσαν ατενίζοντας). O particípio e o verbo finito denotam uma


atenção contínua e fixa. O verbo, derivado de τείνω, esticar, também denota uma
atenção fixa. Na verdade, a própria palavra atenção, quando analisada etimologi-
camente, transmite a mesma ideia.

21. Começou. Não necessariamente denotando as suas primeiras palavras, mas


uma abertura solene e firme da sua pregação.

22. Lhe davam testemunho. Compare com o versículo 14. Eles confirmavam os
relatos que estavam circulando a seu respeito. Observe o tempo imperfeito. Ha­
via um fluir contínuo de comentários admirados. De forma similar, na sequência,
as pessoas estavam se m aravilhando.

Das palavras de graça (λόγοις τής χάριτος). A a r c apresenta de forma l i t e r a l


e c o r re ta . Vide 1 . 3 0 .

Não é (ούχι). Na expectativa de uma resposta afirmativa.

23. Sem dúvida (πάντως). Literalmente, p o r todos os meios.

Provérbio (παραβολήν). Na bp, refrão-, e n tlh , ditado. Literalmente, parábola.


Vide nota sobre M t 13.3.

Médico, cura-te a ti mesmo. Uma declaração que é registrada somente por


Lucas e que, forçosamente, demonstra a sua condição de médico. Galeno fala de
um médico que teria curado a si mesmo, para depois passar a atender os seus
pacientes. O mesmo apelo foi dirigido a Cristo na cruz (Mt 27.40-42).

25. Em toda a terra houve grande fome (èyévçTO λιμός μέγας έπ ί πάσαν την
γην). De forma mais literal, e correta, como nos mostra a rv, veio (ou surgiu ) uma
g ra n d e fo m e sobre to d a a terra.

29. Cume (όφρύος). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Na bj : cim o da


colina. O termo é utilizado na linguagem médica, para designar as sobrancelhas

240
L ucas - C ap. 4

e outras partes sobressalentes do nosso corpo. Ele, naturalmente, ocorreria a um


médico, especialmente, porque os mesmos epítetos eram aplicados para a aparên­
cia da sobrancelha em certas doenças, tal qual eram também aplicados a montes.
Dessa maneira, Hipocrates, ao descrever uma febre mortal, afirma: “A sobran­
celha parece ficar elevada , a mesma palavra que Homero utiliza para descrever
uma rocha. Assim também, Areteu, ao descrever a aparência das sobrancelhas no
caso da elefantíase, descreve-as como προβλήτες, projetando-se, e όχθώδεις, como
montes. Stanley registra:

A maioria dos leitores, a partir destas palavras, imagina uma cidade construída sobre
o cume de uma montanha, do qual a precipitação intencionada deveria ocorrer. Mas,
esta não é a situação de Nazaré; embora sua posição continue de acordo com a des­
crição da narrativa. Ela foi edificada sobre, isto é, no lado de uma montanha, e o cume
não fica abaixo, mas acima da cidade, e um rochedo tão íngreme como o que fica aqui
implícito pode ser encontrado na face íngreme de uma rocha calcária com cerca de 9 a
14 metros de altura, que fica situada acima do convento Maronita, no canto sudoeste
da cidade22.

O precipitarem (κατακρημνίσαι). Somente aqui no texto do Novo Testamen­


to; e na lxx , somente em 2Cr 25.12.

31-37. Compare com Mc 1.21-28.

31. Ensinava (ήν διδάσκων). Corretamente, estava ensinando. O verbo finito e o


particípio denotando continuidade.

Nos sábados (τοις σώββασιν). Na teb , no dia de sábado. O vocábulo é utilizado


na forma plural para designar um único dia, como se vê no versículo 16; pro­
vavelmente, depois da analogia dos nomes plurais das festas, como tà άζυμα, a
festa dos pães asmos-, τα γενεσια, o dia do nascimento-, ou, talvez, seguindo o plural
aramaico.

32. Admiravam-se (εξεπλήσσοντο). Vide nota sobre Mt 7.28.

33. Um espírito de um demônio imundo. Este é o único caso em que Lucas


acrescenta a este vocábulo o epíteto de imundo.

34. Que temos nós contigo? (τί ήμΐν κα'ι σοί) Literalmente, ο que há para nós e
para ti? Isto é, o que temos em comum?

35. Cala-te (φιμώθητι). Literalmente, J u/ mí amordaçado. Vide nota sobre Mt 22.12.

22. Stanley, Sinai and Palestine.

241
L ucas - C ap. 4

Lançando-o (ρίψαν). Utilizado em conexão com a doença, somente por Lucas


e nesta passagem. Em linguagem médica, este vocábulo refere-se a convulsões,
ataques etc.

Sem lhe fazer mal (μηδέν βλάψαν αυτόν). Literalmente, em nenhuma forma
possível. Marcos omite este detalhe, que um médico seria cuidadoso em anotar.
Βλάπτε lv, machucar, ocorre somente duas vezes no texto do Novo Testamento
- aqui e em Mc 16.18. É um termo comum na linguagem médica, antônimo de
ώφελειν, beneficiar, é utilizado para descrever medicamentos ou dietas que ma­
chucam ou trazem benefício às pessoas.

36. Veio espanto sobre todos (έγενετο θάμβος επί πάντας). Literalmente. Ο ter­
mo θάμβος, espanto, é utilizado somente por Lucas. O verbo correlato, θαμβεομαι,
ficar espantado, ocorre somente uma vez em Lucas (At 9.6), e três vezes em Mar­
cos; ao passo que somente Marcos apresenta o componente enfático έκθαμβεω,
ficar grandemente espantado (Mc 9.15).

37. Fama (ήχος). Literalmente, barulho. Este vocábulo ocorre somente aqui, no
capítulo 21.25, onde a leitura correta é ήχους, o rugido, e em At 2.2. Hb 12.19 é
uma citação feita a partir da lxx . Este é o termo utilizado em At 2.2, para des­
crever o vento poderoso que ocorreu em Pentecoste. Marcos utiliza άκοή, na sua
acepção primitiva de relatório. O mesmo vocábulo ocorre em Lucas, mas sempre
no significado aplicado pelos autores médicos —audição ou os ouvidos. Vide 7.1;
At 17.20; 28.26. Ήχος era o termo médico utilizado para designar um som nos
ouvidos ou na cabeça. Hipocrates utiliza os dois termos em conjunto: “os ouvidos
(άκοαί) estão cheios de som (ήχου);” e Areteu para descrever o barulho do mar, tal
como faz Lucas em 21.25.

38-41. Compare com M t 8.14-17; Mc 1.29-34.

38. Enferma (συνεχόμενη). Na t e b , corretamente: acometida. Vide nota sobre Mt


4.24. Este vocábulo é utilizado nove vezes por Lucas, e somente três em outras
partes. Paulo o utiliza para descrever o constrangimento gerado nele pelo amor
de Cristo (2Co 5.14), e de uma situação de aperto que o afligia (Fp 1.23). Em At
28.8, ele aparece ao lado de febre, como aqui, sendo um termo médico comum no
mesmo sentido.

Com m uita febre (πυρετω μεγάλω). Outra expressão própria de médico. O


epíteto muita, ou grande, é peculiar a Lucas. Os médicos antigos classificavam as
febres em grandes e pequenas.

39. Inclinando-se para ela. Tal como faria um médico. Estilo peculiar a Lucas.

242
L ucas - C a p. 5

Repreendeu. Peculiar a Lucas.

40. Ao pôr-do-sol. O povo trouxe os seus enfermos àquela hora, não somente
por causa do frescor da temperatura, mas porque era o fim do sábado e o trans­
porte de uma pessoa enferma era considerado um trabalho. Vide So 5.10.

Doenças (νόσοις). Vide nota sobre Mt 4.23. Na tb, várias moléstias.

Impondo as mãos sobre. Peculiar a Lucas.

Cada um. Meyer afirma: “Implicando a solicitude e a infatigabilidade deste


miraculoso ministro do amor”.

41. Clamando (κραυγάζοντα). O grito desarticulado dos demônios.

Dizendo. Agora, uma mensagem articulada. Hobart observa que a inclinação mé­
dica de Lucas pode ser vista tanto nos vocábulos que ele se abstém de usar, quanto nos
que usa para se referir às enfermidades23. Isto posto, ele jamais usa μαλακία, para doen­
ça, como o faz Mateus (4.23; 9.35; 10.1), já que este jamais era utilizado na linguagem
médica, mas tem o seu significado restrito a delicadeza ou efeminação. Assim, da mesma
forma, ele nunca utiliza βασανίζωiv, atormentar, com relação a doenças, como também
o faz Mateus (8.6), pois ele jamais recebe este uso na linguagem médica, o vocábulo ali
significa examinar alguma parte do corpo ou alguma questão médica.

42-44. Compare com Mc 1.35-39.

42. Procurava (επεζήτουν). Tempo imperfeito: estava procurando.

Chegou junto dele (ήλθον έως αύτοΰ). Mais enfático do que veio a ele, pois
'έως significa mesmo até, mostrando que o povo não deixou de procurá-lo até o
momento do encontro. A narrativa de Marcos, neste ponto, é mais completa e
mais ilustrativa.

Capítulo 5

1-11. Compare com M t 4 .1 8 - 2 2 ; Mc 1 .1 6 -2 0 .

1. Apertando-o. (επικεΐσθαι). Literalmente, punha-se em cima.

Para ouvir. A arc está correta, seguindo a leitura τού ακούεip . Assim também a nvi,
bp, ep, ecp, teb. Porém, a leitura verdadeira é και ακούεiv, e ouvir. Assim na rv.

23. H obart, M e d ic a l L a n g u a g e o f S t. L u k e .
L ucas - C a p. 5

Estava ele (αύτος ήν £στώς). Ο pronome ο diferencia da multidão que o pres­


sionava: ele, na sua p a rte , estava. Traduza o particípio e o verbo finito como o faz
a arc, estava.

Lago (λίμνην). Um exemplo do estilo mais clássico de Lucas, em comparação


com Mateus e Marcos. Ele e João também utilizam θάλασσα, m ar. Vide nota sobre
Mt 4.18.

2. Barcos (πλοία). Utilizado em referência a embarcações em geral. Alguns tex­


tos apresentam πλοιάρια, uma forma diminutiva, que significa barco pequeno ou
barquinho.

Estavam lavando. Retirando a areia e os cascalhos acumulados durante o


trabalho noturno. Lucas utiliza quatro termos diferentes para se referir à la­
vagem ou limpeza: πλύνω, como aqui, v id e também Ap 7.14; άπομάσσω, para
se referir à retirada da poeira dos pés, somente em 10.11; ίκμάσσω, no caso da
mulher que lavou os pés de Cristo com os cabelos, capítulo 7.38,44; άπολούω,
para se referir à purificação dos pecados, At 22.16; λούω, para descrever a lim­
peza dos vergões dos prisioneiros e do corpo de Dorcas, At 16.33; 9.37. A
leitura άποπλύνω, é rejeitada pelos melhores textos, de forma que άπομάσσω é
o único termo peculiar a Lucas. Todos estes vocábulos eram de uso comum na
linguagem médica.

3. Afastasse (έπαναγαγεΐν). Um termo técnico náutico que designa o afastamen­


to mar a dentro.

Ensinava (èôíõaoicev). O imperfeito. Ele continuava o ensino que começara na praia.

4. Faze-te. Na b p , R em a lago a dentro. No singular, dirigido a Pedro, como o mes­


tre da embarcação.

Lançai (χαλάσατε). No plural, dirigido a toda tripulação do barco. Original­


mente, afrouxem ou soltem, como se faz com as cordas de um arco ou com as
rédeas de um cavalo. Por esta razão, d e ix a r afundar, assim como uma rede. Uti­
lizado também para se destravar uma porta. Metaforicamente, ser indulgente,
perdoar. O vocábulo ocorre sete vezes no texto do Novo Testamento, e cinco
destas estão no livro de Lucas. Ele a utiliza para descrever a descida de Paulo em
um cesto em Damasco (At 9.25); ao rebaixamento das velas de um navio, e ao
lançamento de um bote ao mar (At 27.17,30). Mateus, Marcos e João, utilizam
βάλλω ou αμφιβάλλω, para descrever o lançamento de uma rede (Mt 4.18; 13.47;
Mc 1.16; Jo 21.6), que aparece também no substantivo composto rede de lance
(άμφίβληστρον, vide Mt 4.18). O termo utilizado por Lucas era de uso comum dos
escritos médicos e designava o relaxamento dos membros, a soltura de curativos,
244
L ucas - C ap . 5

o abatimento causado por enfermidades e a colocação de ervas em um vaso para


o preparo de chás.

5. M estre (έπιστάτα). Na tb , Senhor. Utilizado exclusivamente por Lucas, e sem­


pre com referência a Jesus. Ele jamais utiliza o termo Rabi, que é uma especiali­
dade de João.

Trabalhado (κοπι.άσαυreç). Derivado de κόπος, sofrimento, exaustão; indicando


um trabalho pesado e exaustivo.

Porque mandas (étu). Confiando em, com base na tua ordem.

A rede (δίκτυον). Um termo geral para designar uma rede, seja para a captura
de peixes ou pássaros. Vide nota sobre Mt 4.18. Algumas versões, como a tb ,
seguem a leitura tà δίκτυα, as redes.

6. Rompia-se-lhes (διφρήγνυτο). Alguns textos apresentam a leitura διχρησοίτο,


derivado de uma forma tardia deste verbo. A diferença não é importante. A arc fa­
lha em não apresentar a ênfase do tempo imperfeito, estavam-se-lhes rompendo; ou,
em uma tradução possivelmente ainda mais exata, começavam a se romper. Trench
sugere: estavam a ponto de se romper. O vocábulo ocorre também no capítulo 8.29;
At 14.14; e somente mais duas vezes no texto do Novo Testamento. Somente
Lucas utiliza os dois compostos π^ριρρήγνυμι, para se referir ao rasgar das vestes
(At 16.22), e προσρήγνυμι, bater com ímpeto (Lc 6.48-49). Confira estas passagens.
Todos estes termos ocorrem em escritos da área médica.

7. Fizeram sinal (κατένευσαυ). O termo, originalmente, significa acenar com a


cabeça em sinal de consentimento, e em sentido geral, fazer um sinal. Eles fizeram
sinais em função da distância entre as embarcações, e, dificilmente, como já se
sugeriu, por estarem de maneira demasiada perplexos e não conseguiam falar.

Ajudar (συλλαβέσθαι). Literalmente, segurar com. Compare com Fp 4.3.

Quase iam a pique (βυθίζεσθαι). Este termo ocorre somente aqui e em iTm
6.9, em referência aos homens que se afogam na destruição. Derivado de βυθός, as
profundezas. Na tb consta aponto de começarem elas afundar.

8. Prostrou-se aos pés de Jesus. Compare com Sófocles:

Z eus, da escu rid ão das p rofu n d ezas, trovejou , e as m en in as


O u viram , e trem en d o, aos p és d o pai delas
P ro str a n d o -se , ch oraram 4*.

24. Sófocles, Édipo em Colono, 160S.

245
L ucas - C ap . 5

9. O espanto se apoderara dele (θαμβός περίεσχεν αυτόν). Literalmente. Vide


nota sobre lPe 2.6.

Pesca (tf\ άγρα). Este termo é utilizado para descrever o a to d a coleta dos
peixes e o p ro d u to d a coleta. No versículo 4, ele assume o primeiro significado:
“lançai as vossas redes para a pesca;” neste caso, o segundo, a saber, os p e ix e s
apanhados.

10. Companheiros (κοινωνοι). No versículo 7, o vocábulo traduzido como compa­


nheiros é μέτοχοι; derivado de μετά, com, e έχω, ter. O
termo, aqui, denota uma associa­
ção mais íntima, um interesse comum. O substantivo correlato κοινωνία, comunhão,
é utilizado para descrever a comunhão dos crentes com Cristo (lCo 1.9); a comunhão
do corpo e sangue de Cristo(lCo 10.16); a comunhão do Espírito Santo (2 C0 13.14).
Os homens mencionados no versículo 7 poderíam ter sido trabalhadores contratados
(Mc 1.20), temporariamente associados aos seus patrões.

Serás pescador de homens (έστ) ζωγρών). Literalmente, tu estarás pescando, o


verbo particípio e finito denota que este deve ser o seu chamado habitual. Mateus
e Marcos apresentam esta promessa direcionada a Pedro e seus companheiros.
Lucas a mostra como sendo somente a Pedro. O verbo ζωγρεω, apanhar, é com­
posto por (ωός, vivo, e άγρεύω, p e g a r ou tom ar. Por isso, literalmente, to m a r com
vida-, em guerras, levar cativo, em vez de matar. Assim vemos em Homero, quando
Menelau ameaça matar Adrasto:

A d r a sto se agarrou aos jo e lh o s d o g u erreiro e disse:


Ó filh o d e A treu , le v a -m e co m o p r isio n e ir o (ζώ γρει)*5.

Segundo Heródoto: O s persas tomaram Sardes, e capturaram ao próprio


Croeso com vida” (εζώγρησαν)26. Existe, seguramente um motivo para o uso des­
te termo, no sentido de indicar que os ministros de Cristo são chamados para
ganharem os homens para a vida. Compare com 2Tm 2.26, onde, segundo as
traduções mais bem atestadas, o servo de Deus é representado como uma pessoa
que toma os homens vivos das garras de Satanás, para serem conservados dentro
da vontade de Deus; isto é, como instrumentos da sua vontade. O vocábulo, dessa
maneira, contém em si mesmo uma resposta a declaração irônica de Juliano, o
apóstata, dando conta que Cristo teria, corretamente, chamado os seus apóstolos
d e pescadores: “Pois, como o pescador retira o peixe da água, onde eles eram livres
e felizes e o colocam em um elemento no qual eles não conseguem respirar, mas
acabam morrendo, assim também o fizeram com estes”.

25. Homero, Ilíada, 6.45.6; compare com Ilíada 10.878.


26. Heródoto, 1.86.
246
Lucas - Cap. 5
12-16. Compare com Mt 8.2-4; Me 1.40-45.

12. Cheio de lepra. Mateus e Marcos apresentam simplesmente u m leproso. A ex­


pressão, cheio de lepra, parece ser usada aqui com uma precisão de profissional. A
lepra era conhecida pelos médicos sob três formas: a branca som bria, a branca clara e
a negra. Lucas tem o objetivo de descrever o caso agravado. O vocábulo cheia nesta
expressão, normalmente, é utilizado por autores médicos em expressões como, cheios
d e enfermidades·, para descrever as veias cheias d e sangue·, e ouvidos cheios d e rugidos.

Limpar-me. (καθαρίσαι). Todos os três evangelistas dizem lim p a r, em vez de


curar, por causa da noção de imundícia que estava ligada, de maneira especial, a
esta enfermidade.

13. Quero (θέλω). V id e nota sobre Mt 1.19.

Sê limpo (καθαρίσθητι). De forma mais precisa, com a força da voz passiva:


S ê tu f e i t o lim po.

14. Ordenou-lhe (τταρήγγίΐλεν). Um termo forte utilizado para descrever ordens no


âmbito militar. Aristóteles a utiliza acerca de um médico: prescrever. Marcos apresen­
ta έμβρίμησάμ^νος, ríg id a ou expressam ente ordenado. V ide nota sobre Mc 1.43.

Ninguém (μηδβΛ). Na negativa condicional: ninguém com q u em ele tiv e sse a


o p o rtu n id a d e d e se encontrar.

Vai, mostra-te. Uma mudança viva da narrativa para o discurso direto.

15. Se propagava (διήρχετο). Διά, a tra v é s d e to d a a região. Na tb consta m a is se


d ivu lgava·, e na teb : F a la v a -s e d e J esu s ca d a v e z m ais.

Ajuntava-se (συνήρχοντο). No imperfeito. C o n tin u a v a se a ju n ta n d o , ou esta va


se a ju n ta n d o .

Para ser... curada (9eponreúeo0ai). Originalmente, se r u m aten d en te, f a z e r o ser­


viço ; portanto, d e u m m édico, a te n d e r à s p e sso a s o u tr a tá - la s m ed ica lm en te. Nos escri­
tos clássicos, este vocábulo pode ter o sentido de cu rar, como ocorre no texto do
Novo Testamento (Lc 13.14; At 4.14 etc). V id e nota sobre Mt 8.7 e compare com
Ιάομαι, curar, no versículo 17.

Enfermidades (άσθβ^ιών). Uma tr a d u ç ã o e s t r i t a m e n t e literal; ά, não, e


σθένος, f o r ç a , correspondente ao latim, in, n ão, ef ir m u s , f ir m e , fo rte .

16. Retirava-se (ήν ύποχωρών). O particípio com o imperfeito do verbo finito


denotando uma ação em andamento correspondente ao imperfeito do versículo
247
Lucas - Cap. 5
15. As multidões e s ta v a m se a ju n ta n d o , mas ele e s ta v a e n v o lv id o no seu re tiro e na
oração, de forma que Ele estava inacessível. Este vocábulo ocorre somente em
Lucas, sendo que o termo normal utilizado pelo Novo Testamento para tra n sm i­
t i r a ideia de re tir o / r e tir a d a é άναχωρέω. V id e M t 2.12; 12.15; Mc 3.7.

17-26. Compare com Mc 2.1-12.

17. Estava ensinando. O pronome tem certa força enfática: ele, em distinção dos
fariseus e mestres da Lei.

D outores da lei (νομοδιδάσκαλοι). Vocábulo utilizado somente por Lc e lTm


1.7. Lucas, de modo geral, utiliza νομικός, con h ecedor d a L e i , mas neste outro
termo o elemento do en sin o é enfatizado, provavelmente em um contraste inten­
cional com o ensino de Cristo.

Judeia, e de Jerusalém. Os escritores rabínicos dividiam a Judeia, como um


todo, em três partes - a região montanhosa, a região costeira e o vale - sendo
que Jerusalém era considerada como um distrito em separado.

Somente uma pessoa intimamente familiarizada com a situação reinante naquela épo­
ca, teria, junto com os rabinos, distinguido Jerusalém como um distrito separado de
todas as demais regiões da Judeia, como Lucas faz, de forma marcante, em várias
ocasiões (At 1 .8; 10.39)*7.

Estava com ele para curar. A kjv segue a leitura αύτούς, eles, isto é, os sofre­
dores que estavam presentes, numa alusão ao versículo 15. Os melhores textos,
entretanto, trazem a leitura αυτόν, ele, referindo-se a Cristo, com o sentido de
que estava presente p a r a que Ele pudesse curar, isto é, como auxílio para sua cura.
Assim ocorre na a r c .

18. Que estava paralítico (παραλίλυμένος). De forma mais exata, paralisado.


Toda vez que Lucas menciona esta enfermidade, ele utiliza o verbo e não o ad­
jetivo παραλυτικός, paralítico (como Mt 4.24; 8.6; Mc 2.3-10; compare com At
8.7; 9.33); o seu uso, neste respeito, está rigidamente de acordo com os escritos
médicos gregos.

19. Telhas. Na tb consta ladrilhos, e na n v i , abertura.

Cama (κλινιδίω). Lucas utiliza quatro termos para descrever as macas dos doen­
tes: κλίνη, como vemos no versículo 18, o vocábulo geral para uma cama; κράββατος
(At 5.15; 9.33), uma maca rudimentar {vide Mc 2.4); κλινίδιον, uma maca pequena

27. Edersheim, Jewish Social Life.

248
Lucas - Cap. 5
ou padiola, como esta aqui, tão leve que uma mulher poderia erguê-la e levá-la
consigo. Assim, na obra de Aristófanes, Mirrina afirma: “Vem agora, deixe-me car­
regar a nossa maca” (κλινίδιον)28. O quarto termo, κλιναριού (At 5.15), não pode
ser exatamente distinto do último. Estes dois últimos são peculiares a Lucas.

Até ao meio, diante de Jesus. V id e nota sobre Mc 2.4.

21. A arrazoar. V id e nota sobre Mc 2.6. As palavras q u em é este qu e d i z b la sflm ia


formam um verso jâmbico no grego.

22. Conhecendo. V id e nota sobre Mc 2.8.

23. Anda (περιπάτε i). Literalmente, a n d a p o r a í.

24. T e (ool). Denotando, em primeiro lugar, ênfase. Lucas enfatiza o vocábulo


dirigido diretamente àquele h om em , a t i eu d ig o , em contraste com a forma, me­
nos direta, os teus p e c a d o s te seja m p erd o a d o s. Na mente de Jesus, a ligação entre
os pecados e a condição pessoal do homem era compreendida, agora ele exterio-
riza o lado pessoal da ligação. Ao perdoar os pecados do homem ele o curara de
maneira radical. O mandamento para se levantar e caminhar também era parte
integrante desta mesma mensagem.

26. Todos ficaram maravilhados (εκστασις ελαβεν άπαντας). Literalmente, o espanto


tom ou conta de todos. Sobre o vocábulo έκστασις, espanto, v id e nota sobre Mc 5.42.

Prodígios (παράδοξα). Derivado de παρά, c o n trá rio a, e δόξα, o p in iã o . Algo con­


trário à opinião recebida, estranho. Compare com o nosso vocábulo p a ra d o x o . So­
mente aqui no texto do Novo Testamento.

27-28. Compare com Mt 9.9; Mc 2.13-14.

27. Viu (έθεάσατο). Mais adequadamente traduzido como o bservou , já que o verbo
denota um olhar atento. V id e nota sobre Mt 11.7.

Um publicano. V id e 3.12.

Recebedoria. V id e nota sobre Mt 9.9.

28. O seguiu (ήκολούθει). No imperfeito. Ele começou a lhe seguir, e co n tin u ou


lhe seguindo.

29-39. Compare com Mt 9.10-17; Mc 2.15-22.

28. Aristófanes, Lisístrata, 916.


249
Lucas - Cap. 5

29. Banquete (δοχήν). Este vocábulo ocorre somente aqui e no capítulo 14.13.
Derivado da mesma raiz que δέχομαι, uma recepção.

31. Os que estão sãos (ol ΰγιαίνοντ^ς). Mateus e Marcos utilizam, ίσχύοντες, os
Este uso do verbo no seu significado primário, e s ta r em boa saú de, é encon­
fo r te s .
trado em Lc 7.10; 15.27; e uma vez em 3Jo 2, pois esta acepção é a apresentada
pela palavra comumente encontrada nos escritos médicos. Paulo utiliza este ter­
mo somente no sentido metafórico: sã doutrina, sã s palavras, são na fé etc. V ide
lTm 1.10; 6.3; T t 1.13.

33. M uitas vezes (πυκνά). Este vocábulo ocorre somente aqui, em At


24.26; e em lTm 5.23. No seu significado literal, o vocábulo quer dizer
f i r m e m e n t e c o m p a c ta d o , como uma grossa toiceira de mato, ou a plumagem
de um pássaro.

Orações (ôeqoeu;). Este vocábulo não é utilizado por nenhum dos outros
evangelistas. Deriva de δέομαι, carecer, é utilizado de forma distinta, em referên­
cia às orações d e p etiçã o . No grego clássico, o vocábulo não fica restrito aos usos
sagrados, mas também é aplicado aos pedidos prediletos dos homens. Na rv , de
forma mais correta, súplicas.

34. Os convidados das bodas. Mais adequadamente traduzido como f ilh o s


(υ'ιους), como na rv . Na e c p e bj , a m ig o s. V id e nota sobre Mc 2 . 19.

35. Dias virão, porém, em que etc. (έλεύσονται δέ ήμέραι, και όταν). A a r c
segue uma leitura que omite a preposição καί, e, a qual está inserida em todos
os melhores textos. A ideia geral perde a sua sequência, se a preposição corres­
pondente não é traduzida: “Dias virão —e quando o noivo for tomado, então eles
jejuarão”. Assim traduz a rv .

36. Uma parábola. Bengel afirma: “Proposta a partir das vestes e do vinho, itens
especialmente apropriados para a ocasião de um banquete”.

T ira um pedaço de uma veste nova para o coser em veste velha (έπίβλημα
Ιματίου καινού έπιβάλλ^ι έπί Ιμάτιον παλαιόν). Os melhores textos, toda­
via, inserem σχίσας, te n d o ra sg a d o , que rege diretamente έπίβλημα, p e d a ç o ;
de forma que a tradução fica: N in g u é m , te n d o ra sg a d o , u m p e d a ç o d e u m a v e ste
n o va , c o lo c a -o etc. Mateus e Marcos apresentam p a n o , em vez de veste, pelo
uso de qualquer um dos termos posteriores Meyer afirma: “a incongruência
do proceder ganha uma proeminência mais marcante”. O termo έπίβλημα,
u m p e d a ç o , é, literalmente, u m re m e n d o , derivado de έπί, so b re, e βάλλω, la n ç a r,

250
L ucas - C ap. 6

ou seja, algo que é c r a v a d o e m a lg u m lu g a r. Compare com o verbo derivado,


επιβάλλει, c o lo c a r sobre.

Romperá a nova (το καινού σχίζει). A arc segue os melhores textos que
apresentam σχίσει,
rom perá, regendo a expressão a n ova, em vez do seu uso na
form a intransitiva.

Não condiz (οΰ συμφωνεί). Os melhores textos apresentam, συμφωνήσει, no


tempo futuro, n ã o condirão. Em Mateus e Marcos existe somente um dano à veste
velha, em cujo defeito ele é aumentado. Em Lucas, o prejuízo é duplo: primeiro,
um defeito na veste nova que ocorre em função do corte de um pedaço; e, o se­
gundo, ao se fazer a veste velha parecer remendada, ao invés de aumentar o rasgo
como ocorre em Mateus e em Marcos.

37. Odres (άσκους). A ep traduz inadequadam ente por b a r r is velhos. V id e nota


sobre Mt 9.17.

39. M elhor (χρηστότερος). Os melhores textos apresentam χρηστός, bom , como


traduz a t b . V id e nota sobre Mt 11.30.

C a p ít u l o 6

1-5. Compare com Mt 12.1-8; Mc 2.23-28.

1. []Segundo]] sábado [clepois do primeiro]] (δευτεροπρώτω). Conforme a kjv .


Somente aqui no texto do Novo Testamento. Muitos eruditos respeitados o omi­
tem, e o seu significado exato não pode ser determinado. A a r c o omite. O n t ia
traduz: N u m seg u n d o d ia d e sábado.

Passou p e l a s (διαιτορεύεσθαι). Na bp, a tra v e ssa v a . Compare com παραπορεύεδ


θαι, p a ssa n d o ele - Mc 2.23.

Searas. V id e nota sobre Mt 12.1.

Iam arrancando (ετιλλον). No imperfeito, e sta v a m a rra n ca n d o , à medida que


caminhavam. No grego clássico, este termo é utilizado, principalmente, para des­
crever o puxar de cabelos ou de penas. V ide nota sobre Mc 2.23.

Comiam (ήσθιον). No tempo imperfeito, e s ta v a m com endo.

Esfregando-as (ψώχοντες). O verbo significa esfre g a r d e f o r m a a p a r t i r em p e ­


quenos pedaços.

2. Não é lícito. V ide nota sobre Mt 12.2.


251
L ucas - C ap. 6

3.Nunca lestes (ο ύ δ ε άνεγνωτε)? A tradução da a r c dilui a ênfase de ο ύ δ ε : “Nun­


ca chegastes a p o n to d e ler?” Na t b melhor·. N em , ao m en os ten des lid o ?

4. Tomou. Peculiar a Lucas.

Os pães da proposição. V id e nota sobre Mc 2.26.

5. Senhor do sábado. V id e nota sobre Mt 12.6.

6-11. Compare com Mt 12.9-14; Mc 3.1-6.

6. A mão direita (ή χε'ιρ αυτού ή δεξιά). Uma forma muito precisa de se expres­
sar. Literalmente, a sua m ã o a d ire ita . Somente Lucas especifica qual das mãos
tinha a atrofia. Esta precisão é oriundo da sua vivência profissional. Os autores
antigos da área da medicina sempre informam se a mão afetada por algum mal
era a direita ou a esquerda.

Mirrada. V ide nota sobre Mc 3.1.

7. Atentavam nele (παρετηροϋντο). No tempo imperfeito. Eles c o n tin u a ra m a te n ­


ta n d o nele. V id e nota sobre Mc 3.2.

O curaria (θεραπεύσει). Algumas autoridades, todavia, preferem θεραπεύει,


“se ele está curan do” . Isto pode significar “se é o seu hábito curar”, o que é uma
tradução forçada, ou “se ele está, na ve rd a d e , cu ran do”.

Acharem. Peculiar a Lucas, e enfatizando a avidez dos fariseus em encontrar


alguma base para fazer as suas acusações.

8. Ele, conhecendo (ήδει). No tempo imperfeito. Ele esteve consciente d u ra n te


to d o o tem po.

Pensamentos (διαλογισμούς). V ide nota sobre Tg 2.4; Mt 15.19.

9. Hei de perguntar (επερωτήσω). Peculiar à narrativa de Lucas. Os melhores textos


apresentam επερωτώ, no tempo presente: Pergunto. Assim na t b , bj, t e b , entre outras.

A vida (ψυχήν). Mais adequadamente traduzido como u m a v id a . Embora


se trate de uma pergunta genérica, ela carrega consigo a ideia de uma vida
esp ecífica , em função do caso especial que está sendo tratado. V id e nota sobre
Mc 12.30.

10. A mão. O braço não estava ressequido.

11. Ficaram cheios de furor [έπλήσθησαν άνοιας)]. Expressão peculiar a Lucas.


A e p traduz como m u ita ra iv a . O vocábulo άνοια, traduzido como f u r o r , significa
252
L u c a s — C ap. 6

apropriadamente^/à/te de entendimento. O termo, logo, implica um furor irracional,


em distinção a uma indignação inteligente.

12-16. Compare com Mt 10.2-4; Mc 3.13-19.

12. Ao M onte (το δρος). O artigo denota um lugar familiar.

Passou a noite (ήν διανυκτφίύων). Somente aqui no texto do Novo Tes­


tamento. Vocábulo utilizado em linguagem médica. A descrição da oração que
durou a noite toda é peculiar à narrativa de Lucas.

13. Escolheu (έκλεξώμενος). Marcos apresenta eiroíqoev, ele fe z ou constituiu.

Deu o nome de apóstolos. Peculiar a Lucas.

14. Para saber mais sobre a ordem dos nomes, vide nota sobre Mc 3.17.

André. Vide nota sobre Mc 3.18.

Tiago e João. Vide nota sobre Mc 3.17.

Filipe e Bartolomeu. Vide nota sobre Mc 3.18.

15. Mateus. Vide nota explicativa no Título de Mateus.

Tomé. Vide nota sobre Mc 3.18.

Simão. Distinto por Mateus e Marcos como, o cananeu. Vide nota sobre Mt
10.4; Mc 3.18.

16. Judas. D e n o ta sobre Tadeu, em Mc 3.18.

Judas Iscariotes. Vide nota sobre Mt 10.4.

17. Num lugar plano (ètrl τόπου πχδιοοΰ). A a r c traduz corretamente o texto,
principalmente quando não usa o artigo. De forma literal, e mais adequada: em
uma planície ou em um lugar plano, assim como faz a a r c . Existe uma discre­
pância entre as duas narrativas. Mateus informa que ele “subiu a um monte, e,
assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos”. Os versículos 17-19 são
peculiares a Lucas.

Judeia, e de Jerusalém. Vide 5.17.

18. Atormentados (όχλούμβυοι). Os melhores textos apresentam Ιυοχλούμενοι,


que ocorre somente nesta passagem e em Hb 12.15. Derivado de όχλος, uma mul­
tidão ou turba, com a ideia de falta de organização e disciplina e, logo, de confusão e
tumulto. Dessa maneira, o vocábulo é aqui aplicado ao barulho e tumulto de uma
253
L ucas - C ap. 6

multidão assumindo o significado do transtorno e perturbação causados por es­


tes e do transtorno em geral, como o termo latino tu rbae. Assim, Heródoto fala
acerca de Croeso, quando, diante da pira funeral, ele expressou o nome de Sólon,
e os intérpretes lhe imploraram para que explicasse o que ele queria dizer com
aquilo, “e enquanto lhe pressionavam para obter uma resposta ef ic a v a m in co m o ­
dados... (δχλον παρβχόιηων)”*9. Termo de uso frequente na linguagem médica.
Assim também Hipócrates faz uso dele: “atormentado (έυοχλουμ^υω) com um
espasmo ou com tétano”.

19. Procurava - saía (έζήτουν — έξήρχ^το). Ambos os verbos estão no imper­


feito. A a r c dilue a vivacidade ao traduzir de forma inadequada. As multidões
e sta v a m o tem p o in teiro p ro c u ra n d o to c á -lo , pois a virtude e s ta v a sa in d o dele.

Curava (lâto). Compare com Mt 14.36; Mc 6.56, onde διεσώθησαν, foram com­
pletamente salvos, e έσώζοντο, j ò r a m sa lv o s, são usados. Lucas é mais técnico e
utiliza o termo estritamente médico, o qual ocorre vinte e oito vezes no texto do
Novo Testamento, das quais dezessete somente em Lucas. Lucas também utiliza
os dois termos empregados por Mateus e Marcos, mas sempre com algum acrés­
cimo que denote a natureza desta salvação. Assim, Lc 7.3, onde διάσωση (cu rar,
na arc ) é explicado pelo versículo 7, ίαθήσεται, o termo técnico, sarará, pelo ver­
sículo 10, “acharam são (ύγιαίνοντα —outro termo de uso profissional; v id e 5.31)
o servo”. Compare, também, com Lc 8.35-36,44,47,48. Os autores da área médica
não utilizam ogÍCciv ou διασώζωiv, sa lv a r, como equivalente de ίάσθαι, cu rar, mas
na concepção de escapar de uma doença severa ou de alguma forma de calamida­
de. Lucas emprega o termo nessa concepção - At 27.44; 28.1.

o SERMÃO DA MONTANHA

20-49. Compare com Mt 5.1-8.1.

20. Levantando ele os olhos. Expressão peculiar a Lucas. Compare com a b rin d o
a boca (Mt 5.1). As duas passagens indicam uma introdução solene e marcante a
um discurso.
Bem-aventurados. V ide nota sobre Mt 5.3.

Vós, os pobres. V ide nota sobre Mt 5.3. Lucas adota o estilo do discurso dire­
to e Mateus prefere as afirmações abstratas.

Reino de Deus (ή βασιλεία τοΟ 0eoô). Mateus apresenta reino d o céu, ou d o s


céus (τώ ούρανών), uma expressão utilizada somente por ele, e empregada, com

29. Heródoto, 1.86.


254
L u c a s - C ap. 6

maior frequência, pelo próprio Cristo para descrever o reino, embora Mateus
também utilize reino d e D eu s. As duas são expressões equivalentes, ainda que
a designação p re d o m in a n te seja mesmo reino d e D eu s, já que se esperava que ele
fosse completamente percebido na era messiânica, na qual Deus tomaria sobre
si mesmo o reino por meio de um representante visível. Compare com Is 40.9,
“Eis aqui está o vosso Deus”. A expressão rein o de D e u s era comum nos escritos
rabínicos e tinha um sentido duplo: de um lado, o reino histórico·, de outro o reino
e s p ir itu a l e m oral. Eles, de modo geral, compreendiam que o reino se tratava de
uma a d o ra çã o d iv in a a Deus-, do con ju n to d a s o b rig a çõ es relig io sa s, mas também do
reino do Messias.
O reino de Deus é, essencialmente, o domínio absoluto de Deus no universo,
num sentido físico e espiritual. De acordo com Tholuck trata-se de “uma comu­
nidade orgânica que tem o princípio da sua existência na vontade de Deus”. Ele
foi prenunciado pela teocracia judaica. A ideia de reino avançou até alcançar uma
definição mais clara a partir da profecia de Jacó acerca do Príncipe de Judá (Gn
49.10), através da profecia de Davi acerca do reino eterno e do rei da justiça e da
paz (SI 22,72), por meio de Isaías, até que, em Daniel, sua eternidade e superio­
ridade sobre os reinos do mundo surgissem com todo vigor. Israel esperava an­
siosamente por este reino, e pelo seu cumprimento na vinda do Messias, embora
a ideia comum entre as pessoas fosse obtusa, sectária, judaica e política. Tholuck
expressa: “havia, entre o povo, uma certa consciência de que o princípio, em si
mesmo, era de aplicação universal”. Em Daniel, esta concepção é expressa de
forma distinta (7.14-27; 4.25; 2.44). Foi neste sentido que o reino foi apreendido
por João Batista.
O reino ideal deve ser percebido no domínio absoluto do Filho eterno, Jesus
Cristo, por quem todas as coisas foram criadas e coexistem (Jo 1.3; Cl 1.16-20),
cuja vida de obediência perfeita a Deus e oferta sacrifical de amor, na cruz, revela
aos homens a sua verdadeira relação com Deus, e cujo espírito opera a fim de trazê-
los para esta relação. O significado derradeiro do reino é o de “uma humanidade
remida, com o seu destino divinamente revelado manifestando-se em uma comu­
nhão religiosa, ou seja, a igreja-, em uma comunhão social, portanto, o Estado; e uma
comunhão estética, que se expressa em formas de conhecimento e de arte”.
Este reino é tanto p re se n te (Mt 11.12; 12.28; 16.19;Lc 11.20; 16.16; 17.21; v id e
também as parábolas do Semeador, do Joio e do Trigo, do Fermento, da Rede; e
compare a expressão “deles, ou vosso, é o reino”, Mt 5.3; Lc 6.20); quanto f u tu r o
(Dn 7.27; Mt 13.43; 19.28; 25.34; 26.29; Mc 9.47; 2Pe 1.11; lCo 6.9; Ap 20ss).
Como reino presente, ele é incompleto e está em processo de desenvolvimento.
Ele está se expandindo na sociedade, tal como faz o grão de mostarda (Mt 13.31-
32), operando com o fim de permear a sociedade, como faz o fermento com a
massa (Mt 13.33). Em Cristo, Deus está reconciliando o mundo consigo mesmo
255
L u c a s - C ap. 6

e o Evangelho de Cristo é o grande instrumento neste processo (2 C0 5.19-20).


O reino se desenvolve de dentro para fora sob o poder da sua força divina essen­
cial e da lei do crescimento, que garante o seu progresso e triunfo final contra
todos os obstáculos. De modo semelhante, a sua obra rumo à reconciliação e à
sujeição do mundo a Deus começa no manancial da vida humana, por meio da
implantação, no seu coração, da sua própria potência divina e, por conseguinte,
dando o impulso e a direção divina para o homem como um todo, em vez de
moldá-lo a partir de fora por meio de um código moral. A Lei está escrita no
seu coração. Assim, o Estado e a igreja são formados, não por pressão externa,
como ocorreu com o Império Romano com a sua hierarquia, mas pela evolução
do caráter santo nos homens. O reino de Deus, no seu desenvolvimento presente,
não é equivalente à igreja. Ele é um movimento mais amplo que a inclui. A igreja
é identificada com o reino, à medida que se põe debaixo do poder do Espírito de
Cristo. Tholuck afirma:

A ssim c o m o o rein o d e D eu s, n o A n tig o T e sta m e n to , foi ap erfeiçoad o e c o m p leta d o


q u an d o d e ix o u d e se r a lg o e x te r io r e s e to r n o u in te r n o ao se r e n tr o n iz a d o n o coração
d o s h om en s; tam bém , p o r o u tr o lado, a p erfeição d o reino, n o te x t o d o N o v o T e sta ­
m en to, co n sistir á da su a c o m p leta en carn ação e e x tern a liza çã o ; ou seja, q u an d o ele
a tin g ir a sua m an ifestação ex terio r, e x p r e ssa n d o , d e m an eira adeq u ad a e c o rresp o n ­
d en d o, d e m aneira e x a ta , ao seu p rin cíp io interior.

A consumação é descrita em Ap 21 e 22.

21. Agora. Peculiar a Lucas.

Sereis fartos. V id e nota sobre M t 5.6.

Chorais (κλαίοντ&ς). De forma rígida, chorar a u d ive lm e n te . V id e θοΰντ^ς, cho­


em Mt 5.4.
ram ,

Rir (yeAáoexe). Mateus, serão con fortados.

22. Compare com Mt 5.11.

Filho do Homem. Esta expressão é utilizada, no Antigo Testamento, como


um circunlóquio para h om em , com uma referência especial à sua fragilidade, em
contraste com Deus (Nm 23.19; SI 8.4; Jó 25.6; 35.8; e oitenta e nove vezes em
Ezequiel). Ela também tinha um significado messiânico (Dn 7.13ss), que foi
mencionado pelo nosso Senhor em Mt 24.30; 26.64. Este era o título que Cristo
aplicou com maior frequência a si mesmo; e existem, pelo menos, dois exemplos
nos quais ele é atribuído a Cristo por parte de outras pessoas: por Estêvão (At
7.56) e por João (Ap 1.13; 14.14); além disso, ao aceitar o título de “Filho de
256
L ucas - C ap. 6

Deus”, quando a Ele dirigido, Cristo, por vezes, imediatamente o substituía por
“Filho do Homem” (Jo 1.50,52; Mt 26.63-64).
Este título afirma a humanidade de Cristo - a sua total identificação conosco:
“o fato dele possuir uma humanidade genuína que jamais podería considerar es­
tranha qualquer coisa do gênero humano, e podería se comover nos sentimentos
em função das enfermidades da humanidade que havería se julgar”30. Ele também
o exalta como o representante ideal dos homens.

T o d a a h istória h u m ana s e in clin a a ele e d e le irradia; ele é o p o n to n o qual a h um a­


nid ad e en co n tra a sua unidade; co m o afirm ou Ireneu: “E le a recap itu la”. E le en cerra
o p eríod o in icial da h istó ra da hum anidade; ele in au gu ra o seu futuro. N ad a que seja
local, tran sitório, in d ivid u alista, n acio n a l ou sectáro é capaz de apequ en ar as propor­
ç õ e s d o seu caráter que e n g lo b a o m u n d o in teiro. E le se eleva acim a d os p aren tescos,
do san gu e, do p eq u en o h o r iz o n te q u e lim itavam , ao q u e parece, a sua v iv ên cia h um a­
na. E le é o arq u étip o do h o m em , em cuja p resen ça as d iferen ças d e raça, d e idade, de
civilização, e o s g ra u s d e cu ltu ra m en tal não são nada31.

Só que este título representa ainda mais. Como Filho do Homem, afirma a au­
toridade para exercer o juízo sobre toda a carne. Em função do que Ele é, como
Filho do Homem, ele precisa ser mais. Luthardt observa: ‘Ά relação absoluta com
o mundo que ele atribui a si mesmo exige uma relação absoluta com Deus £...)]
Ele é o Filho do Homem, o Senhor do mundo, o Juiz, somente porque é o Filho de
Deus”. A humanidade de Cristo somente pode ser explicada por meio da sua di­
vindade. Uma humanidade assim tão singular exige uma solução. Despido de tudo
aquilo que é, popularmente, chamado de miraculoso, visto simplesmente como um
homem, sob as condições históricas da sua vida, ele é um milagre ainda maior do
que todos os milagres combinados. Esta solução está expressa em Hb 1.

23. Exultai (σκιρτήσατε). V id e 1.41,44. Compare com Mateus, a le g r a i-v o s ( à y α λ -


λίάσθί; v id e lPe 1.6).

Os seus pais. Expressão peculiar a Lucas.

24. Ai. Estes ais não são mencionados por Mateus.

Já tendes (απέχετε). Em Mt 6.5,16, a a r c , fez, adequadamente, esta mudança


O verbo, composto de άιτό, lo n g e ou o riu n d o de, e εχω, ter, signifi­
“j á receberam ”.
cando, literalmente, te r n a d a d e ix a d o a desejar. Assim, em Fp 4.18, quando Paulo
diz: “eu tenho todas as coisas (απέχω πάντα)”, ele não se refere, meramente, um

SO. Liddon, Our lo rd ’s Divinity.


31. Ibid.
257
L ucas - C ap. 6

reconhecimento do recebimento do dom da igreja, mas sim do seu pleno recebi­


mento. “Eu tenho todas as coisas de forma plena”.

Consolação (παράκλησις). Derivado de παρά, ao lado de, e καλεω, chamar


ou convocar. Literalmente, um chamado para o lado de alguém com o objetivo de
ajudar, ou seja, uma súplica, assumindo um significado de exortação, por esta
razão a ideia da exortação consoladora. Assim, significando aquilo que ê con­
vocado a dar o consolo a um suplicante. Dessa maneira, o vocábulo incorpora o
chamado ao auxílio e a resposta ao chamado. O seu uso corresponde ao verbo
correlato παρακαλέω, exortar ou consolar. No seu sentido original de chamar
por socorro, o substantivo aparece no texto do Novo Testamento somente em
2Co 8.4: com muitos rogos. O verbo aparece, de modo geral, nesta concepção,
traduzido como rogar, pedir, etc (Mt 8.34; 14.36; Mc 1.40; 5.12 etc). No sen­
tido de consolo ou conforto, o substantivo ocorre em Lc 2.25; 6.24; 2Co 1.3;
7.4; Fm 7. O verbo, em M t 2.18; 5.4; Lc 16.25; 2 C0 1.4. Em alguns casos,
entretanto, o significado oscila entre consolara exortar. Na acepção de exorta­
ção ou conselho, o substantivo pode ser encontrado em At 13.15; Rm 12.8; Hb
13.22. O verbo, em At 2.40; 11.23; 14.22; Rm 12.8; T t 2.15. Nem o substan­
tivo, nem o verbo aparecem nos escritos de João, porém o vocábulo correlato
παράκλητος, o Parácletos, Consolador ou Advogado, é peculiar a ele. Sobre este
termo, vide Jo 14.16.
Devemos notar, entretanto, que a palavra consolo vai além do seu conceito po­
pular de acalmar. Ele deriva do vocábulo confortare, no latim tardio, tornarforte.
Assim, a ep traduz Lc 1.80: “O menino ia crescendo, e ficandoforte de espírito” (a
TB, sefortalecia); e traduz Lc 22.43: “Apareceu-lhe um anjo do céu, que o conforta­
va (fortificava, na teb). O consolo que Cristo concede não é sempre a calma.
O Espírito Santo, o Consolador, tem a função de convencer as pessoas do
pecado e do juízo. Subordinado ao vocábulo está o significado de um sábio
conselho ou admoestação que surge e reforça a natureza moral, bem como a
incentiva e fortalece a agir e a perseverar. Quando, portanto, Cristo afirma
“aqueles que choram serão consolados”, ele fala em reconhecimento ao fato
de que todo sofrimento é resultado do pecado, e que o consolo verdadeiro é
dado, não somente no perdão das coisas passadas, mas no fortalecimento para
se lutar, para se resistir e para se vencer o pecado. A atmosfera do termo, em
suma, não é a do ambiente de um quarto de hospital, mas o sopro tonificante
do mundo exterior, da luta moral e da vitória, a atmosfera daquele que sobe,
esforça-se e peleja.

25. Vos lamentareis e chorareis (πενθήσετε καί κλαύσετε). Vide nota sobre Mt 5.4.

26. Bem (καλώς). De forma bela e justa.


258
L ucas - Cap. 6

27. Que ouvis. Com o sentido de ouvir afim de atentar, prestar atenção. Compare
com Mt 11.15.

29. Face (σιαγόνα). Literalmente, a mandíbula. A face (ou bochecha) é παρειά. O


golpe mencionado não é, logo, um tapa simples, mas uma pancada forte, muito
mais um ato de violência do que um ato de discórdia.

Houver tirado (άίροντός). Literalmente, levantar, erguer.

Capa - túnica. Vide nota sobre Mt 5.40.

30. Qualquer. Peculiar a Lucas. Agostinho observa: “omni petenti, non omnia
petenti”, ou seja, “Ele dá a qualquer um que pedir, mas não qualquer coisa que a
pessoa pedir”.

Pedir (αίτοϋντί). Vide nota sobre M t 15.23. Compare com Mt 5.42.

Tom es a pedir (άπαίτει). Este vocábulo ocorre somente aqui e em 12.20.


Utilizado em linguagem médica em referência a doenças que exigem ou requerem
um tratamento específico.

32. Que recompensa (ποια)? Que tipo de graça? Não qual é a sua recompensa,
mas qual é a sua qualidade? Sobre graça (χάρις), vide 1.30.

34. Emprestardes (δανείζετε). De maneira mais específica, mediantejuros.

Os pecadores (oí αμαρτωλοί). O artigo marca-os como uma classe. Assim


frequentemente no texto do Novo Testamento, como quando são equiparados
aos publicanos.

35. Amai. Não o termo φιλοϋσι, que implica uma ligação instintiva e apaixona­
da, mas άγαπώσιν, que descreve um sentimento baseado em juízo e análise, que
seleciona o objeto por uma razão. Vide So 21.15-17.

Sem nada esperardes (μηδέν άπελπίζοντες). Um termo do grego tardio que


ocorre somente nesta passagem do Novo Testamento com o sentido de entregar
em desespero. Essa concepção é adotada por alguns eruditos de alto gabarito. Lu­
cas estava familiarizado com este sentido na lxx . Assim vemos em Is 29.19: O s
pobres dentre os homens (οί άπηλπισμενοι άνθρώπων) jubilarão”. Também nos
livros apócrifos de 2Mc 9.18: “perdendo assim toda esperança no próprio restabe­
lecimento” (bj); Jt 9. 11: “Tu és... o salvador dos desesperados” (άπηλπισμενων) (bj).
Segundo isto, o significado aqui é “façam o bem como pessoas que consideram
que não têm nada por perdido”. O verbo e o seu adjetivo correlato são utilizados
pelos autores médicos para descrever casos desesperados de enfermidades.
259
L ucas —C ap. 6

Filhos do Altíssimo (υιοί ύψίστου). A arc , corretamente, apresenta: filhos.


Compare com Mt 5.45,48.

Benigno (χρηστός). Vide Mt 11.30.

36. Misericordiosos (οίκτίρμονες). Vide nota sobre T g 5.11.

37. Soltai (απολύετε). Tradução literal do grego. Cristo exorta as pessoas a fa­
zerem o oposto daquilo que Ele acabara de perdoar: “não condenem, mas soltem’.
Compare com o capítulo 22.68; 23.16-17.

38. Recalcada (πεπιεσμένου). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Um


termo médico comum para designar uma pressão forte que é feita em uma parte
do corpo, um antônimo de ψαύειν, tocar de forma suave.

Sacudida e transbordando. Bengel observa: “Recalcada, como artigos secos;


sacudida, como artigos macios; e transbordando como líquidos”. Isto, porém é
fantasioso e incorreto. A alusão, em cada um dos casos, é feita a medidas secas; e
o clímax dos três particípios estaria destruído pela interpretação de Bengel.

Vos darão (τον κόλπον). A dobra reunida da veste larga superior, unida
por meio de um cinto, formando, assim, uma bolsa. Nos mercados orientais,
ainda nos dias de hoje, os vendedores podem ser vistos colocando o conteúdo
de uma medida dentro de um peitilho de um comprador. Em Rt 3.15, Boaz diz
a Rute: “Dá cá o roupão que tens sobre ti e segura-o (aberto); e ele mediu seis
medidas de cevada e lhas pôs em cima”. Compare com Is 65.7: “lhes tornarei a
medir as suas obras antigas no seu seio’·, também Jr 32.18. Em At 27.39, o ter­
mo é utilizado para descrever uma baía em uma praia, que formava uma curva
na terra, que se assemelhava a um vazio em um manto. De maneira similar, o
vocábulo latino sinus significa o peitilho alto em forma de bolsa de um manto
e uma baía.

39. Pode um cego? (μήτι δόναται τυφλός;) A partícula interrogativa transmite


a expectativa de uma resposta negativa. Certamente, um cego não pode etc.

Guiar (οδηγείv). Tradução adequada pela arc , guiar, pois o termo combina as
idéias de direcionar e instruir.

Não cairão? (ούχί;) Outra partícula interrogativa, desta vez esperando uma
resposta afirmativa.

40. Perfeito (κατηρτισμενος). De modo mais literal, o particípio deveria ser tra­
duzido como, aperfeiçoado. Vide Mt 4.21. O termo significa reajustar, restaurar,
corrigir, no sentido físico e no moral. Vide lCo 1.10, onde Paulo exorta os fiéis a
260
L ucas - C ap . 6

serem peifeitamente unidos (κατηρτισμενοι), em oposição a vida em desunião. Em


G1 6.1, este termo é utilizado para descrever a restauração de um irmão que foi
apanhado no erro. Dessa, o significado de aperfeiçoar, como em Ef 4.12, utili­
zado em linguagem médica para descrever a restauração de um osso ou de uma
junta.

41. Atentas (βλέπεις) - reparas (κατανοείς) - argueiro (κάρφος) - trave (δοκόν).


Vide nota sobre Mt 7.3.

42. Irmão. Bengel afirma: “Expressando a pretensão de obrigação fraternal. A


isto se opõe: ‘Hipócrita!’”

Deixa-me tirar (άφες εκβάλω) com uma cortesia calculada: permita-me tirar.

Verás bem para tirar. Vide nota sobre Mt 7.5.

43. Não há boa árvore que dê mau fruto (ού εστιν δένδρον καλόν, ποιοϋν
καρπόν σαπρόν). Tradução adequada. Ο termo σαπρόν, corrupto, ou mau, é etimo-
logicamente ligado a σήπω, em Tg 5.2: “As vossas riquezas estão apodrecidas’. O
vocábulo significa estragado, rançoso.

Nem. Na rv, nem mais uma vez. A arc omite mais uma vez (πάλιν, por outro
Na tb , consta nem tampouco.
la do).

44. Uvas (σταφυλήν). Literalmente, um cacho de uvas.

Abrolhos (βάτου). Mateus apresenta τριβολών, cardos. O vocábulo ocorre


somente uma vez fora dos escritos de Lucas, em Mc 12.26, onde ele é uti­
lizado como o título familiar de uma seção do Pentateuco. Lucas também o
utiliza da mesma forma (20.37). Ele estava, sem dúvida, familiarizado com
ele no mundo da medicina, já que era amplamente usado pelos médicos da
antiguidade. Galeno apresenta um capítulo sobre os seus usos medicinais, e
nos escritos médicos encontramos várias prescrições das quais ele faz parte.
Galeno também apresenta uma declaração semelhante às palavras do nosso
Senhor: “Um agricultor jamais poderá fazer um abrolho gerar uvas”. Este é
o termo empregado pela lx x para descrever o arbusto a partir do qual Deus
falou a Moisés.

45. Mau. Vide nota sobre Lc 3.19.

47. Eu vos m ostrarei a quem é semelhante. Peculiar a Lucas. Vide nota sobre
Mt 7.24.

48. Cavou, e abriu bem fundo (εσκαψεν καί έβάθυνεν). A kjnta c o n s id e ra o s


d o is te rm o s co m o u m a e x p re s s ã o fo rte q u e re p r e s e n ta u m s e n tid o ú n ic o (cavou
261
L ucas —Cap. 7

fundo), mas a acepção é dupla: ele cavou (na areia), e abriu bem fundo para dentro
da rocha sólida. Por esta razão, a arc apresenta, ele cavou, e abriu bemfundo.

A enchente (πλημμύρας). O texto grego não apresenta artigo: uma enchente,


como se lê na tb . Este vocábulo ocorre somente em Lucas, e somente nesta pas­
sagem. Como termo médico, ele é utilizado para descrever o excesso de fluidos
corpóreos: fluxo, inundação.

Bateu com ímpeto (προσερρηξεν). Tradução literal, quebrou. Termo utilizado


pelos médicos para descrever o rompimento das veias. Ele ocorre, somente aqui
e no versículo 49. Mateus apresenta προσεκοψαν, bateu.

49. Sobre terra, sem alicerces. Mateus, apresenta a areia. O significado é que
os dois homens selecionaram um local onde a areia cobre a rocha. Um deles
construiu diretamente sobre a areia, o outro cavou através da areia e perfurou o
seu alicerce na rocha.

Caiu (επεσεν). Os melhores textos apresentam συνέπεσεν, caiu em conjunto, de­


sabou. Na a ra , desabou. Somente aqui no texto do Novo Testamento. Em lingua­
gem médica, este termo é utilizado para descrever a falência das partes do corpo.
Dessa maneira, Hipócrates, escreveu: “ruídos os templos; o membro rapidamente
desaba ou murcha’. Mateus utiliza o verbo simples επεσεν, caiu.

Ruína (ρήγμα). Literalmente, quebra. Somente aqui no texto do Novo Testa­


mento. Um vocábulo médico que descreve uma laceração ou ruptura. Mateus
apresenta τττώσις, a queda.

Capítulo 7

1-10. Compare com Mt 8.5-13.

1. Discursos (ρήματα). Vide capítulo 1.37. Na a ra e bj, palavras.

Perante (είς τάς άκοάς). Literalmente, nos ouvidos, ou como traduz a b j : aos
ouvidos do povo. Saiba mais sobre ouvidos, Lc 4.37.

2. Servo (δούλος). Um escravo. Mateus apresenta παίς, um servo, vocábulo que


ocorre também no versículo 7.

C enturião (εκατόνταρχου). Derivado de εκατόν, uma centena, e άρχω,


comandar. Comandante de uma centena de homens. Marcos apresenta
κεντυρίων, uma forma helenizada da palavra latina centurio. Uma centúria
era, originalmente, uma divisão composta de cem objetos do mesmo tipo;
e, desse modo, veio a designar qualquer divisão, fosse ela ou não composta
262
L ucas - C ap. 7

por cem elementos. Em linguagem militar, significava uma divisão das tro­
pas, uma companhia, não necessariamente composta por cem homens, cujo
capitão era chamado de centurio. Os números de uma centúria variavam de
cinquenta a cem homens. A legião romana era composta por dez coortes ou
ouetpou, bandos, como vemos em At 10.1, onde Cornélio era o centurião da
coorte italiana. Os capitães destas coortes eram chamados de tribunos, ou
capitães-chefes (Jo 18.12, Ap). Cada coorte continha seis centúrias, ou com­
panhias, das quais os capitães eram chamados de centuriões. As obrigações
dos centuriões estavam, principalmente, restritas ao controle das suas pró­
prias tropas e ao cuidado com a vigilância. O distintivo do seu posto era
uma vitis, ou um ramo de parreira. Ele usava uma túnica curta, e também
era conhecido pelas letras da parte superior do seu elmo. Deão Howson
fala sobre a impressão positiva deixada pelos oficiais do exército romano
mencionados no texto do Novo Testamento e cita, afora o centurião desta
passagem, o soldado ao pé da cruz e Júlio, que escoltou Paulo até Roma38.
Para saber mais, vide At 10.1.

M uito estimava (έντιμος). Literalmente, tinha em honra ou estima. Na bj, a


quem prezava. O vocábulo não necessariamente implica uma forte ligação entre
o senhor e o servo, embora possa ser o caso. Ele pode significar, simplesmente,
que ele era um servo de valor. Vide lPe 2.4. Neste caso, Lucas omite a menção à
enfermidade, que é apresentada por Mateus.

3. Rogando-lhe (έρωτώυ). Demasiadamente enfático. Uma melhor tradução se­


ria pedindo-lhe, como nos mostra a rv. O vocábulo rogar (παρακαλίω) ocorre no
próximo versículo. Vide nota sobre Mt 15.23.

Curar (διάσωση). Mais adequadamente traduzido como salvar, como consta na


bj. Vide capítulo 6.19.

4. Rogaram-lhe muito (παρεκάλουν σπουδαίως). Para saber mais sobre o ter­


mo rogar, vide capítulo 6.24. O advérbio transmite a ideia de intensidade. Assim
também vemos em Rm 12.12: “perseverai na oração”. A ara traduz com instância
lhe suplicaram (cf. teb ).

É digno de que (ότι άξιός έστιν). A kjnta traduz ό τι como uma conjunção,
que. A arc , de forma mais correta, considera-o como um marcador de citação.
As versões brasileiras traduzem corretamente kaxiv como é, em vez de era, no
entanto, a bp traduz άξιός έστιν no passado, merecia, como se entendesse έστιν
como era. Outras versões, teb e ecp, por exemplo, traduzem άξιός έστιν, como

32. Howson, Companions of St. Paul.

263
L ucas - C ap. 7

merece. Traduza como a arc : Ele é digno de que lhe concedas isso; pois os melhores
textos apresentam ΤΓαρέξτ], na segunda pessoa, que tu lhe concedas, em vez da ter­
ceira pessoa, παρεξει, ele lhe conceda.

5. Ele mesmo nos edificou (αυτός φκοδόμησεν). O pronome Ele é enfático; ele
mesmo, por conta própria.

A sinagoga (την συναγωγήν). O artigo definido diante do substantivo, “a si­


nagoga”, marca a sinagoga específica que estes anciãos representavam. Por isso,
a TB, corretamente, traduz como “a nossa Sinagoga”. Bengel afirma: “Ele não
apenas deixou de profanar a sinagoga”.

6. Foi (έιτορεύετο). O tempo imperfeito é explicado pelo que se segue. Ele estava
indo, estava a caminho, quando foi abordado pelo segundo mensageiro enviado
pelo centurião.

Amigos. Possivelmente seus parentes, não anciãos, neste caso.

Te incomodes (σκύλλου). Literalmente, tepreocupes. Vide Mt 9.36; Mc 5.35.

Digno (Ικανός). Literalmente, suficiente. Compare com Mt 3.11, “digno de


levar;” e 2Co 3.5, “não que sejamos capazes (Ικανοί), mas a nossa capacidade
(ίκανότης) vem de Deus”. Este vocábulo também é utilizado no sentido de muito,
muito tempo. Vide 7.12; 8.27,32; 20.9; At 9.23.

7. Dize uma palavra. Literalmente, “diga com uma palavra”.

O meu criado sarará (ίαθητω ό παίς μοΰ). A tradução literal é a que fica mais
ilustrativa: Seja curado o meu servo, ou como apresenta corretamente a t e b : seja o
meu servo curada. Observe o termo profissional utilizado por Lucas que dá origem
à palavra sarará. Vide nota sobre 6.19.

8. Também. Vide nota sobre Mt 8.9.

Sujeito à autoridade (ύπό εξουσίαν τασσόμενος). Não é fácil traduzir a ênfase


exata destes termos. O sentido do particípio presente com o verbo είμί, Eu sou,
é muito sutil. O vocábulo sujeito é, normalmente, compreendido como estar colo­
cada em uma posição de subordinação, mas isto seria mais precisamente expresso
pelo particípio perfeito, τεταγμενος. O particípio presente indica algo que opera
diariamente, e o centurião não está descrevendo a sua posição indicada, mas sim
o decurso diário da sua vida. O verbo colocar-se (advindo da expressão colocar-se
debaixo, ou, sujeitar-se) significa organizado, colocado em ordem; de forma que esta
segunda expressão podería ser parafraseada da seguinte forma: “Sou um homem
cujo decurso diário da vida e cuja obrigação é designada e organizada por uma
264
L ucas - C ap. 7

autoridade superior”. O centurião fala por intermédio de uma figura que é bem
explicada por Alford:

Sei co m o obedecer, por estar pessoalm en te colocad o debaixo de um a autoridade; e eu sei


com o o s ou tros obedecem , porque ten h o soldados colocad os sob o m eu com ando. Se, en ­
tão, eu, n o m eu p o sto subordinado d e com ando, sou obedecido, quanto m ais tu, que estás
colocad o sobre todos, e a quem as enferm idades servem com o o seu próprio Senhor!

A exatidão da estima que estes vocábulos faziam de Jesus é coisa que não podemos
afirmar. Parece evidente, pelo menos, que o centurião o considerava como alguém
que era mais do que um simples homem. Se este for o caso, fica a questão: o termo
homem, (άνθρωπός) não pode implicar mais do que o significado lhe é, normalmente,
atribuído? Ao analisar as palavras no grego, na sua ordem, elas podem ser lidas:
“Pois eu também, um homem (em comparação a ti), estou colocado debaixo de autori­
dade, pois tenho soldados colocados debaixo de mim mesmo”. Vide nota sobre Mt 8.9.

10. São (ύγιαίνοντα). Vide 5.31. Os melhores textos omitem enfermo.

11-17. Peculiar a Lucas.

11. Pouco depois (èv τη 4ξής). Na tb : Em dia subsequente. Alguns manuscritos


apresentam no dia seguinte. O uso costumeiro de Lucas favorece a posição da arc .

Naim. Esta cidade não é mencionada em nenhuma outra parte da Bíblia. Stan­
ley afirma:

N a d escid a n o r te d as m on tan h as acid en tad as e e sté r e is d o P eq u en o H erm o m , im ed ia­


ta m en te a e s te d e E n-dor, q u e s e situ a n u m a reen trân cia p o ste r io r da m esm a cadeia de
m on tan h as, e stã o lo ca liza d a s as ruínas do v ila rejo de Nairn. A li n ã o h á co n v en to , e n e­
n h u m a tradição id en tifica aq u ele lugar. M as, n e sta s circu n stâ n cia s, b a sta -n o s o n om e
para g a ra n tir a sua au ten ticid ad e. O vilarejo pod ería te r s o m e n te um a en trad a - aque­
la q u e dá acesso à lad eira q u e le v a das m o n ta n h a s até a p lan ície. D e v e te r sid o n esta
d escid a ín g r e m e que, se g u n d o o c o stu m e o rien tal, e le s “levavam para fora o s m o r to s”,
para que, “p ró x im o d o p o rtã o ” d o vilarejo, o esq u ife era parad o e a lo n g a p r o c issã o d e
e n lu ta d o s p erm an ecia, e "o jo v e m era d e v o lv id o para a su a m ã e’'” .

Thomson observa: “Faz muito sentido com o um incidente bíblico na história


de Naim, e a torna querida ao coração dos cristãos, o fato de no entorno das pou­
cas ruínas serem encontrados sepulcros que eram esculpidos nas rochas e estão
situados na encosta da montanha, a leste do vilarejo”34.

33. Stanley, Sinai and Palestine.


34. Thomson, Land and Book.

265
L ucas - Cap. 7

12. Levavam. Os sepulcros ficavam na parte de fora da cidade.

13. Vendo-a. Edersheim expressa:

Caso is so e stiv e ss e o co rren d o na Judeia, o s p ran tead ores e os m ú s ic o s co n tra ta d o s


e sta ria seguindo n a fren te do esquife; na G a lileia e le s se g u ia atrás. P rim eiro, v in h a m as
m u lh eres, pois, co m o n o s e x p lic a um a n tig o c o m en tá rio ju d eu , a m ulher, q u e tr o u x e a
m o r te para o m undo, d everia to m a r a fr e n te n a p ro cissã o fu n eral35.

O Senhor. V ide nota sobre M t 21.3.

Moveu-se de íntima compaixão (έσπλαγχνίσθη). Derivado de σπλάγχνα, as


vísceras mais nobres, consideradas como o assento das emoções humanas. Vide
nota sobre misericordiosos, em 1Pe 3.8.

14. Tocou. Sem temer a contaminação cerimonial gerada pelo contato com os
mortos.

O esquife (σορός). Na te b , padiola; e na bp, firetro. No grego clássico, origi­


nalmente, este vocábulo referia-se a um recipiente para a colocação de qualquer
coisa: às vezes uma urna funerária. Neste caso um esquife aberto. Edersheim
afirma "feito de vime”.

15. Assentou-se (άν€κάθισεν). Compare com At 9.40. Neste sentido intransitivo


o termo é utilizado, principalmente, por autores da área médica.

Entregou-o (έδωκεν). Na a r a , restituiu. Bengel afirma: “Pois ele havia deixado


de pertencer à sua mãe”. Compare com o capítulo 9.42.

16. De todos se apoderou o temor (έλαβα* Se φόβος άτταντας). Tradução literal da arc.

17. Esta fama. A tb traduz n o tícia , isto é, sobre um grande profeta que confir­
mava as suas afirmações por meio da ressurreição de mortos.

18-35. Compare com M t 11.2-19.

19. Dois (δύο τ ι ν ά ς ) . Literalmente, duas certas p esso a s. Na rv, anotado na mar­
gem, certos dois.
/

Es tu. O pronome tu é enfático. Vide nota sobre Mt 11.3.

21. Enfermidades - males (νόσων - μαστίγων). V id e nota sobre Mt 4.23; Mc


3.10. Demarcando as duas classes de enfermidades reconhecidas nos escritos
médicos, as crônicas e as a g u d a s.

35. Edersheim, Jewish Social Life.

266
Lucas - Cap. 7

Espíritos maus (πνευμάτων πονηρών). Na τβ, espíritos m alignos. Sobre o termo


πονηρός, mau, vide 3.19. Ele é aplicado aos espíritos malignos somente por Lucas,
com a única exceção M t 12.45. De acordo com este significado de um m a l no seu
lado ativo, é usado na medicina para descrever aquilo que espalha destruição e
corrupção, como o veneno de serpentes. Observe que, além disso, Lucas faz aqui
uma distinção entre doença e possessão demoníaca, como de costume. Vide 6.17-
18; 8.2; 13.32.

Deu (έχαρίσατο). O verbo expressa mais do que o simples ato de dar. Ele con­
cedeu um dom livre, gracioso e alentador. V ide χάρις, g ra ça ou fa v o r , no capítulo
1.30; e compare com a expressão d a r livrem ente todas as coisas, Rm 8.32. Além
disso, v id e lCo 2.12.

22. Os cegos veem. Mais adequadamente traduzido como estão vendo, estão an­
dando, até mesmo enquanto Jesus está falando e João permanece na dúvida.

23. Se não escandalizar (μή σκανδαλισθή). Na t b consta não ach ar m o tivo de


tropeço-, e na t e b : quem não c a ir p o r causa de m im . V ide nota sobre Mt 5.29. Ob­
serve também o condicionante não (μή): “não encontrar, independentem ente do
que possa ocorrer .

24. A ver (θεάσασθαι). O verbo implica uma observação f i x a e intencional de um


objeto. V ide nota sobre Mt 11.7.

25. Com vestes preciosas (εν ιματισμό) ένδοξη). Literalmente, em vestes


esp lên d idas.

Em delícias estão (τρυφή υπάρχοντες). Literalmente, estão na luxúria. Sobre


o vocábulo υπάρχοντες, estão, vid e nota sobre T g 2.15. Sobre τρυφή, luxúria, vid e
2Pe 2.13, a única outra ocorrência deste vocábulo. Compare com o verbo corre­
lato τρυφάω, viv e r na luxúria, T g 5.5.

Paços reais (βασιλείοις). Somente aqui no texto do Novo Testamento. De


modo geral, traduzido como palácios. Por vezes, no grego, aplicado a uma cidade
capital ou real, a um tesouro real, ou um diadema real.

26. Um profeta? (προφήτην). A concepção popular de um profeta está limitada à


sua habilidade de antever acontecimentos futuros. Isto, na verdade, está incluso
no termo, mas não abrange por completo o seu significado. O vocábulo é deri­
vado de φτ\μί, f a la r , e πρό, antes, dian te de. Este significado da preposição pode
ser uma referência a tempo, ou seja, antes, de antemão·, ou a lugar, isto é, d ia n te de,
e dessa forma, de f o r m a pública-, e este último significado, por sua vez, facilmente
assume o sentido de em lu g a r de, p o r a lg o /a lg u ém . O profeta é uma pessoa que fala

267
Lucas - Cap. 7
d ia n te d e outra e, dessa forma, constitui-se em meio entre o emissor e o ouvinte.
Este significado se encaixa, naturalmente, àquele de em lu g a r de alguém. Dessa
maneira, este é o termo técnico que designa um intérprete de um a m ensagem divin a.
Assim também vemos em Platão·.

P or e sta razão é d e c o stu m e in d ica rm o s ad ivin h ad ores ou in térp retes para a fu n ção d e
ju iz e s da verd ad eira in spiração. A lg u m a s p e sso a s lh e s cham am d e adivinhadores, vi­
dentes (μάντεις); e le s n ão sabem q u e não p assam de rep etid o res de d ecla ra ç õ es e v is õ e s
o b scu ras e n ão d everíam , d e form a alg u m a , se r e m ch am ad os d e ad ivin h ad ores, m as,
tã o so m en te, d e in té r p r e te s (προφήται) das c o isa s d iv in a s36.

De modo similar, o vocábulo se refere a um advogado que fala p o r alguém , em


lu gar de alguém. A concepção central do termo é descrever uma pessoa a quem
Deus se revela a si mesmo e por meio de quem ele fala. A revelação pode ou não
dizer respeito ao futuro. O profeta é uma pessoa que p ro p a g a pa la vra s, não neces­
sariamente uma pessoa que propaga p a la v ra s de predição. A essência do caráter
profético é a relação direta com Deus. Um dos nomes hebraicos para “profeta”, e,
como defendem alguns, o nome mais antigo, significa, aquele que m ostra ou aquele
que vê. Vide lSm 9.10; e lCo 14.26-30, Paulo mostra que a revelação está neces­
sariamente conectada à profecia.

27. Preparará (κατασκευάσει). V ide 1.17.

28. O menor (μικρότερος). Literalmente, menos-, ou, como poderiamos dizer:


“com parativam ente pequeno”.

29. Justificaram a Deus. Declarando, por meio do batismo, que a vontade de


Deus acerca do batismo de João estava correta.

30. Doutores (νομικοί). Não os p ratican tes da lei, mas os intérpretes e doutores
da Lei Mosaica.

Rejeitaram (ήθέτησαν). D eix a ra m de lado, ou anularam , tornaram-no vão por


causa da sua desobediência.

Contra si mesmos (εις εαυτούς). Mais especificamente, com referência a eles


mesmos.

32. Meninos (παιδίοις). No diminutivo; m eninos pequenos ou menininkos. Vide


nota sobre Mt 11.16.

Praça. Vide nota sobre Mt 11.16.

36. Platão, Timeu, 72.

268
Lucas - Cap. 7
Nós vos tocamos flauta. Tocando em uma cerimônia de casamento.

Cantamos lamentações (έθρηυήσαμβ'). De forma muito mais adequada, p ra n ­


teamos,referindo-se a uma lamentação feita em uma cerimônia fúnebre.

Chorastes (έκλαύσατε). Referindo-se a um choro audível. V ide nota sobre Mt


5.4. Mateus apresenta έκόψασθε, batestes no peito. Vide nota sobre Mt 11.17.

33. Pão e vinho. Vocabulário peculiar a Lucas.

37. Uma mulher que era (ητις). Daquela classe que era etc. Na ecp consta: Uma
m ulher pecadora.

Uma pecadora. A sua presença ali se explica pelo costume oriental dos es­
trangeiros e andarilhos poderem ter acesso às casas durante as refeições para
observar e conversar com os visitantes. Trench cita a descrição de um jantar na
casa de um cônsul em Damietta:

M u ito s e n tr a r a m e to m a r a o s se u s lu g a r e s n o s b a n c o s la te r a is, se m se r e m c o n v i­
d a d o s, m as ta m b é m se m se r e m im p o r tu n a d o s. E le s c o n v e r sa v a m co m as p e s s o a s
da m e sa s o b r e n e g ó c io s ou so b r e as n o tíc ia s do dia e o n o s s o a n fitr iã o falava li­
v r e m e n te c o m e le s 37.

Bernard afirma, de forma bela:

O b rigad o a ti, a m ais b en d ita d e n tr e as pecadoras, p ois m o str a sse s ao m u n d o um lu g a r


su fic ie n te m e n te se g u r o para o s p ecad ores - os p és d e Jesus, q u e n ão dá p on tap és em
n in g u ém , que a n in g u ém rejeitam , a n in g u é m rep elem , e a to d o s receb em e acolhem .
O n d e n em o fariseu pod e e x p ressa r a sua arrogância, on d e, se g u r a m e n te , o e tío p e
m u d a d e pele, e o leo p a rd o p erd e as su as m an ch as38.

Estava à mesa (κατάκ^ιται). Literalmente, está se reclinando d ian te d a carne,


uma mudança viva para o tempo presente.

Alabastro. Vide nota sobre Mt 26.7.

38. Estando por detrás, aos seus pés. O corpo do visitante estava apoiado
sobre um assento, os pés ficavam virados da mesa, em direção às paredes, e o
cotovelo esquerdo ficava apoiado sobre a mesa.

Regar-lhe (βρέχβ,υ). Melhor traduzido pela a r c , semelhante ao que faz a chuva.

37. T rench, Parables.


38. T rench apud Bernard, Parables.

269
L ucas - C ap . 8

Enxugava-lhos (έξεμασσεν). V ide 5.2.

41. Credor (δανειστή). Derivado de δάνειον, um empréstimo. Adequadamente tra­


duzido como “pessoa que empresta dinheiro a ju r o s . Vide 6.34.

Dinheiros (δηνάρια). Vide nota sobre Mt 20.2.

42. Perdoou-lhes (έχαρίσατο). A a r c o m ite o a d v é rb io francam ente, q u e e s t á i m ­


p l í c i t o n o v e r b o . Vide v e r s í c u l o 2 1.

43. Tenho para mim (υπολαμβάνω). O verbo, literalmente, significa erguer p o r


baixo. Ele podería ser traduzido, apropriadamente, como eu tom o p a ra mim.

45. Cessado (διελιπεν). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Termo


comum na linguagem médica, com o sentido de ser intermitente, e descontinuando
mediante a administração de remédios por certo período.

Beijar (καταφιλοϋσα). O verbo composto apresenta a ênfase de beijos que eram


feitos com ternura, com carinho.

46. Óleo (έλαίω). Nos versículos 37-38, o vocábulo μύρον, unguento, é utilizado.
Este era o mais fino e mais caro dos dois. O objetivo de Cristo é dizer a Simão:
“Tu não ungiste nem a minha cabeça, a parte mais nobre do meu corpo, com azei­
te comum. Mas ela ungiu os meus pés com um unguento caríssimo”.

49. E os que estavam à mesa começaram. Na teb : Os convivas. Lucas observa


a primeira reação das pessoas.

Entre si (εν εαυτοις). Na tb e teb, consigo mesmos.

Até (και). Tradução correta, melhor que também.

50. Em paz (εις ειρήνην). Literalmente, dentro da paz. Vide nota sobre Mc 5.34.

C a p ít u l o 8

1-3. Peculiar a Lucas.

1. Depois disso (εν τω καθεξής). Na tb consta logo depois. Vide 7.11.

De cidade em cidade e de aldeia em aldeia (κατά πόλιν καί κώμην). Lite­


ralmente, p o r cidade e aldeia. Vide versículo 4.

Pregando (κηρύσσων). Ou proclam ando, como faz um arauto. Compare com


4.18, e vide lPe 2.5.
270
L ucas - C ap . 8

E os doze iam com ele. Mais adequadamente traduzido como “ele mesmo
seguia”, etc, “e os doze (iam) com ele”, ou e com ele os doze.

S. Procurador (έπιτρόπου). Na te b , intendente; e na ep, altofuncionário. Derivado


de έπιτρέιτω, virar em direção a; por isso, passar para, tranferir, e, portanto, entre­
gar ou confiar a alguém. O vocábulo, dessa maneira, significa, “a pessoa a quem o
gerenciamento dos negócios é transferido’.

4-18. Compare com M t 13.1-23; Mc 4.1-25.

4. De todas as cidades (κατά πόλιν). Cidade por cidade.

Vindo (έπιπορ^υομένων). O particípio presente para denotar uma ação em an­


damento. Eles continuaram vindo.

5. A semear. Vide nota sobre Mt 13.3.

A sua semente. Peculiar a Lucas.

Junto do caminho. Vide nota sobre Mt 13.4.

Foi pisada. Traduza como, pisoteada debaixo dos pés. Expressão peculiar a
Lucas.

6. Pedra (την πέτραν). Mateus apresenta lugares pedregosos, e Marcos, solo


pedregoso.

Nascida (φυέν). Literalmente, tendo brotado. De forma mais apropriada, cres­


ceu. Brotado é a tradução do vocábulo έξανέτειλ^ν de Mateus. O termo ocorre
somente aqui e em Hb 12.15, onde ele é uma citação feita a partir da lxx . Vide
nota sobre M t 13.7.

Umidade (Ικμάδα). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Mateus e


Marcos apresentam profundezas da terra. O vocábulo é o termo médico para de­
signar os sucos corpóreos, das plantas, e da terra. Aristófanes, de maneira meta­
fórica, fala do suco do pensamento*9. Hipocrates utiliza este e o vocábulo anterior
de forma conjunta, comparando os sucos corpóreos com os da terra.

7. Entre (4v μέσψ). No meio. Mais enfático que o termo simples kv, em, dentro, por
dar um maior destaque ao fator perigo.

Crescendo com (συμφυό.σαι). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Vide versículo 6, e M t 13.7. O termo técnico entre os médicos para designar o

39. A ristófanes, C lo u d s, 233.

271
L ucas - C ap . 8

fecham ento de feridas e úlceras, e a ligação de nervos e ossos. Dioscórides o utiliza,


como aqui, para falar de plantas que crescem no mesmo lugar: “O heléboro cresce
ju n to com as vinhas".

Sufocaram (άιτέπναξαυ). Literalmente, trancaram . Mateus apresenta a forma


simples έπνιξαν, asfixiaram , e Marcos apresenta συνίττναξαν; sendo que o prefixo
συν, ju n to , enfatiza a ideia de compressão. Lucas tem uma predileção por termos
compostos e sonoros. Vide 2 3 .5 1 .

8. Cento por um. Omitindo os numerais trin ta e sessenta de Mateus e Marcos.


V ide nota sobre Mt 13.8.

10. M istérios. Vide nota sobre Mt 13.11.

Entendam (σ υ ν ιώ σ ιν ). Vide n o ta so b r e entendim ento, o s u b sta n tiv o da m esm a


raiz, em Mc 12.33.

11. Esta é a parábola. Segundo a sua interpretação.

13. Creem por algum tempo. V ide nota sobre Mt 13.21. Mateus e Marcos apre­
sentam é de pouca duração.

No tempo da tentação. Mateus e Marcos apresentam: chegada a an gú stia e a


perseguição.

Se desviam. Literalmente, retiram -se ou ficam d e fo ra . Mateus e Marcos apre­


sentam tropeçam.

14. Indo por diante (iropeuópevoi). No particípio presente. A tradução: “à m ed i­


são sufocados”, é muito melhor.
da que seguem o seu cam inho

Sufocados com (Í íttÒ). Implicando o impulso sob o qual eles seguem o seu rumo.

Não dão fruto com perfeição (τελεσφοροΰσιν). Somente aqui no texto do


Novo Testamento. Mateus e Marcos apresentam, ela se to m a infrutífera. O verbo,
literalmente, significa leva r a cabo ou a um cum prim ento.

15. Esses são os que (ουτοί eioiv ouiveç). A expressão os que designa as pesso­
as pertencentes a uma classe. Por isso, mais acertadamente, ta is que.

Conservam (κατέχουσιν). Melhor traduzido como a g a rra m -n a com fir m e z a ,


apresentando a força de um verbo composto.

Num coração honesto e bom. Expressão peculiar a Lucas. H onesto. Literal­


mente, ju sto , nobre. Honesto, não no sentido popular, mas no significado latino do
termo honestus; nobre, virtuoso, digno.
272
L ucas - C ap . 8

Com perseverança. Ou, era paciência. Expressão também peculiar a Lucas.


Em contraste com se d e s v ia m , do versículo 13.

16. Candeia (λύχυου). V id e nota sobre Mc 4.21.

Velador ( λ υ χ ν ία ς ) . V id e nota sobre M t 5.15.

17. Não bá coisa oculta —manifestar-se. V id e nota sobre Mc 4.22.

18. Como ouvis (πώς). A maneira de ouvir. Marcos apresenta τί, o qu e ouvis; a
questão.

Parece (õoicéi). Peculiar a Lucas. A e p tra d u z como “q u e p e n sa ter”, como Tg


1.26, sobre o qual, v id e nota. Na teb consta acredita-, e na a r a , ju lg a .

19-21. Compare com Mt 12.46-50; Mc 3.S1-35.

19. Foram ter com ele (συυτυχεΐι/). Somente aqui no texto do Novo Testa­
mento. O vocábulo, por si mesmo, carrega consigo a concepção de um encontro
a cid en ta l, o que também é sugerido neste caso. Jesus estava perdido no meio da
multidão, e os seus amigos não conseguiam se a p r o x im a r dele.

22-25; 9.57-62. Compare com M t 8.18-27; Mc 4.35-41..

22. Passemos para a outra banda do lago. V id e nota sobre la g o , em 5.1.

Partiram (άυήχθησαυ). V id e 5.3. O verbo, literalmente, significa c o n d u zir(-se )


por isso, s e g u ir p a r a o a lto m a r, ou ru m o a o m a r, la n ça r-se a o m a r. Este
p a r a cim a;
é o termo utilizado para descrever a condução de Jesus para o deserto e para o
monte da tentação (Mt 4.1; Lc 2.22); bem como para descrever a apresentação de
um sacrifício a um altar pagão em At 7.41. Em Atos, normalmente, consta dos
relatos das viagens de Paulo.

23. Adormeceu (αφύττι/ωσεν). A tradução da kjv (c a iu n o sono ) é muito ilustrati­


va. Ele caiu d e slig a d o (άπό) no sono.

Sobreveio (κατέβη). Um termo mais vivido do que o utilizado por Mateus ou


por Marcos, que apresentam su rg iu . O vocábulo descreve a ação de tormentas
repentinas que, literalmente, d e sa b a m das regiões altas que rodeiam o lago. V id e
nota sobre Mt 8.24.

Tempestade (λαϊλαψ). V id e Mc 4.37. Mateus apresenta σεισμός, u m abalo. V id e


nota sobre Mt 8.24.

Enchia-se de água (συι^πληροϋντο). Termo utilizado exclusivamente por Lu­


cas. Marcos, como de costume, apresenta os detalhes e descreve a forma como as
273
L ucas - C ap . 8

ondas batiam no barco. Observe as construções feitas com os tempos imperfeitos:


eles estavam sendo enchidos·, eles estavam começando aficar emperigo, em contraste com
a descida instantânea da tempestade expressa pelo aoristo sobreveio.

24. M estre. Vide 5.5.

Repreendeu. Compare com a narrativa mais detalhada de Mc 4.39, e vide


notas. Na teb , bp e ep , ameaçou; e na ecp, ordenou.

A fúria (κλύδωνι). Vide nota sobre Tg 1.6.

Levantando-se (ÔLeyepGeiç). Tradução inadequada. De forma mais correta, ele


despertou. Na teb , Ele acordou, e na t b , Despertado. Este é o termo utilizado logo
antes de despertaram. Literalmente, tendo sido completamente despertado. Lucas tem
uma predileção especial por verbos compostos com o prefixo διά.

Bonança. Mateus e Marcos apresentam “grande bonança”.

25. Manda. Peculiar a Lucas.

26. Navegaram para (κατέπλευσαν). O verbo significa, literalmente, velejar abai­


xo, do alto mar até a costa. Compare com a expressão partiram (conduzir-se para
cima), no versículo 22. Somente aqui no texto do Novo Testamento. As duas
preposições com o significado de em cima e embaixo, são utilizadas nas nossas
expressões náuticas subir a bordo, descer de bordo. Vide Introdução, na parte que
trata da variedade de palavras que Lucas utiliza para descrever o velejar de uma
embarcação. Mateus e Marcos apresentam vieram (έλθόντος, ήλθον).

Gadarenos. Alguns textos apresentam gerasenos, outros, gergesenos.

Defronte da (άντιπέρα). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

27. Saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade. Os vocábulos vindo da cidade per­


tencem mais à porção do texto que fala um homem que.

Que, desde muito tempo, estava possesso de demônios [ος ιίχ{ δαιμόνια
€Κ χρόνων 'ικανών]]. Os melhores textos inserem καί, e, depois de demônios, e
apresentam a seguinte redação: “que tinha demônios, e há muito tempo ele tinha
usado” etc. Desde muito ( ικανφ) tempo. Vide nota sobre 7.16.

Sepulcros. Vide nota sobre Mt 8.28. Compare com Mc 5.4-6.

28. Prostrou-se (προσέπεσεν). Marcos apresenta προσεκύνησεν, que, normal­


mente, implica um sentimento religioso ou supersticioso, como vemos em Mt
4.9-10. Esta é uma prostração que denota um profundo terror.
274
L ucas - C ap . 8

Exclamando (άνακράξας). O verbo composto com άνά, p a r a c im a ou e m cim a,


implica o que é transmitido pela nossa expressão, o e rg u im e n to da voz. V id e nota
sobre Mc 5.5.

Que tenho eu contigo? V id e nota sobre Mc 5.7.

Atormentes (βασανίσης). V id e nota sobre Mt 4.24. Lucas jamais utiliza este


termo para se referir a uma doen ça, como vemos em Mt 8.6. V id e capítulo 4.41.

29. Tinha ordenado (παρήγγειλΕν). No tempo imperfeito. O imperfeito expressa


a simultaneidade do exorcismo com o grito: n ão m e a to rm en tes. Mais adequada­
mente traduzido como, p o is ele e s ta v a orden an do.

O arrebatava (συνηρπάκει). Utilizado somente por Lucas. V id e A t 6.12; 27.15.


O verbo, literalmente, significa a g a r r a r e c a r r e g a r co n sig o (σύν).

Guardavam-no preso (èôeopeúeTO φυλασσόμβνος). Literalmente, ele esta v a


p re so , sen do g u a r d a d o . Na t b , era p o s to sob g u a r d a e p re so . A a r c não expressa de
forma adequada a vigilância sob a qual ele era mantido.

Grilhões e cadeias. V id e Mc 5.4.

Q uebrando (διαρρήσσων). Compare com Mc 4.4, e v id e nota naquela


passagem.

Era impelido. Peculiar a Lucas.

30. Tinham entrado nele muitos demônios etc. Compare com Mc 5.9.

31. Os mandasse. No plural, referindo-se à legião.

O abismo (άβυσσον). Literalmente, o lu g a r sem f u n d o . Transcrito pelo nosso


termo abism o, como vemos na a r c . Marcos apresenta um pedido completamente
diferente: que ele não lhes enviasse para fora daquela província (5.10). Em Rm
10.7, este termo é utilizado para descrever o Hades, ao qual Cristo desceu; em
Apocalipse sempre o p o ço d o abism o. Os demônios se referem a ele como o seu
lugar de habitação e tormento.

33. Precipitou-se (ώρμησεν). De forma mais precisa, apressou-se. A n v i traduz:


a tir o u -s e precipício abaixo. Somente Marcos apresenta o número total dos suínos,
d o is m il.

Um despenhadeiro. V ide nota sobre Mt 9.32.

36. Fora salvo (έσώθη). V id e 6.19.


275
L ucas - C ap. 8

Aquele endemoninhado. Expresso no grego por duas palavras, ό δαιμον ισθείς,


o endem oninhado.

37. Estavam possuídos (συνείχοντο). V ide 4.38. O mesmo vocábulo utilizado


para designar uma febre.

38. Rogou-lhe (έδεΐτο). No tempo imperfeito: estava im plorando. Vide nota sobre
orações, no capítulo 5.33. R o g a r é utilizado como a tradução de παρακαλέω (Mc
5.10). Vide nota sobre consolação, em 6.24. Παρακαλέω, orar, é utilizado para se
referir à oração a D eus num único caso, 2Co 12.8, onde Paulo implora a Deus que
retire dele o espinho posto na sua carne. Este termo é, com frequência, utilizado
para se referir a pedidos a Cristo, enquanto Ele esteve neste mundo. Δέομαι, orar,
normalmente em referência à oração a Deus (Mt 9.38; Lc 10.2; At 8.22). É notá­
vel que no versículo 28, onde os demônios se dirigem a Cristo tratando-lhe como
o Filho do Altíssimo Deus, eles dizem δέομαι, rogo-te. Nos versículos 31-32, onde
eles pedem para não serem enviados para longe, e para terem a permissão para
entrarem nos porcos, eles dizem παρακαλέω, eu te im ploro. O homem restaurado,
ao reconhecer o poder divino de Jesus, rogou-lhe (έδειτο) para ficar junto dele. A
distinção, todavia, não deve ser excessivamente imposta em todos os casos. Os
dois termos parecem ser, com frequência, utilizados de forma intercambiável no
texto do Novo Testamento.

39. Conta (διηγοΰ). Preferivelmente, relatar, narrar, com a ideia de contar ahis-
tória p o r completo (ôlcc). V ide nota sobre narração, em 1.1.

Por toda a cidade. Marcos afirma que isto se deu em D ecápolis.

Quão grandes coisas (όσα). Literalmente, qu an tas coisas, e, portanto, de acor­


do com o relato que lhe foi solicitado: declarar todas as coisas, d e fo rm a completa,
ta n ta s quantas Jesus fizera.

41-56. Compare com M t 9.18-26; Mc 5.22-43.

41. Jairo. O nome de um dos chefes israelitas, Ja ir, que conquistou e estabeleceu
Basã (Nm 32.41; Js 13.30). Stanley expressa: “O seu nome continuou famoso até
o advento da era cristã, pois, na mesma região conquistada por ele na antiguida­
de, encontramos, ainda, um dos líderes da sinagoga com o nome de Jair”40.

42. Apertava-o (συνέπνιγον). Com a ideia de com p rim ir em conjunto (συν): sufb-
cando-o. Este verbo, na sua forma simples, é o mesmo traduzido por sufocar ou
afogar-se, nos versículos 7 e 33, respectivamente.

40. Stanley, Jewish Church.

276
L ucas - C ap . 8

43. Gastara (προσαναλωσασα). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Al­


guns textos omitem e g a s ta r a com os m éd ico s to d o s os seus haveres. Lucas, com a sua
sensibilidade profissional, omite esta frase de Marcos que dá a entender que a
mulher teria sofrido muitas coisas nas mãos de muitos médicos, e não melhorara,
mas somente piorara.

44. Orla. V ide nota sobre Mt 9.20.

Estancou (εστη). Um termo comum no mundo da medicina.

45. Quem tocou (τις ò άψαμενός). Literalmente, q u em é ele que tocou?

Aperta e oprime (συνέχουσίν - άποθλίβουσιν). Para saber mais sobre o se­


gundo termo, v id e versículo 37 e capítulo 4.38. Tradução literal, esm a g a r. O sig­
nificado é esprem er, tal como se faz com as uvas para o preparo do vinho. V id e
nota sobre trib u ta çã o , em Mt 13.21.

46. Tocou (ηψατό) - conhecí (εγνωυ). A arc traduz os dois aoristos de forma
objetiva: tocou e conhecí, com referência ao conhecimento que Jesus teve do toque
no momento em que ele foi feito.

Virtude (δύναμι.ΐ'). Na ara consta poder. Os evangelistas utilizam este vocá­


bulo, com frequência, para se referir aos milagres —ou, obras poderosas. Aqui ele
é utilizado no sentido de virtude, segundo o seu uso por parte dos naturalistas e
médicos. Contudo, não se deve superenfatizar este termo como marca da preci­
são profissional de Lucas, como faz o deão Plumptre na sua obra41;já que Marcos
também a utiliza na sua narrativa do mesmo incidente, e no mesmo significado
(Mc 5.30).

47. Prostrando-se. Não em adoração, mas por terror. Vide nota sobre prostrou-
se, Lc 8.28.

48. Em paz. V id e capítulo 7.50.

49. Da casa do príncipe da sinagoga. A arc corretamente, apresenta a palavra


casa, já que o próprio príncipe está na presença de Jesus.

Morta. No texto grego, este termo vem por primeiro na ordem da frase para
fins de ênfase. “M o r ta está a tua filha”.

Incomodes. V ide nota sobre Mt 9.36; Mc 5.35. A bj traduz n ão p ertu rb es.

4Ί. Plumptre, The Expositor, 4·. 139.

277
L ucas - C ap. 9

52. Choravam e pranteavam. Ambas as formas no imperfeito, estavam chorando


epranteando. Compare com pranteavam em Mc 5.38.

54. Menina (ή παΐς). Em vez do termo não clássico κορασιού, jovem, utilizado
por Mateus e Marcos.

C a pítu lo 9

1-6. Compare com Mt 10.1,7,9-11,14; Mc 6.7-13.

1. Convocando. Mateus e Marcos apresentam chamando.

3. Leveis (αίρετε). Literalmente, levantem, com o significado de levar consigo.

Bordões. A a r c segue a leitura ράβδους, mas prefira ράβδον, bordão.

Duas vestes (άνά δύο χιτώνας). Literalmente, duas por peça. Mostrando a
ênfase de άνά, como em Jo 2.6.

4. Ficai ali. Vide nota sobre M t 10.10.

5. Sacudi. Vide nota sobre Mt 10.14.

6. Todas as aldeias (κατά τάς κώμας). Na ep consta povoados. A preposição é


distributiva, razão pela qual a bj traduz de povoado em povoado-, e a teb, de cidade
em cidade.

7-9. Compare com M t 14.1-2; 6-12. Mc 6.14-16,21-29.

7. O t e t r a r c a . Vide nota sobre M t 1 4 .1 .

O que se passava (τα γινόμενα). No particípio presente. Literalmente, tudo o


que está sendofeito.

Estava em dúvida (διηπόρει). Outro termo utilizado exclusivamente por Lucas.


Derivado de διά, através de, e άπορεω, estar sem saída. O conceito básico do verbo
composto parece ser o de uma pessoa que analisa todos os caminhos possíveis, mas
não descobre nenhuma saída para o seu problema. Por esta razão, estarperplexo.

9. Procurava (εζήτει). Na ara consta se esforçava. Ele fazia mais do que simples­
mente desejar ver a criança.

1 0 -1 7 . Compare com Mc 6 . 3 0 - 4 4 .

10. Contaram-lhe (διηγήσαντο). Relataram-lhe tudo o que havia ocorrido ao


longo da viagem (διά). Vide versículo 3 9 ; capítulo l.
278
L ucas - C ap. 9

Betsaida. Peculiar a Lucas. Este nome significa lugar de pesca.

11. Sarava (Ιάτο) os que necessitavam de cura (θεραπείας). Vide 5.15.

12. Já o dia começava a declinar [ή δε ήμερα ήρξατο κλίνεivj. Traduza como:


e o dia começava etc. Declinar (κλίνειν), literalmente, como apresenta a arc. Na
wycliffe, muito literalmente: curvar-se. Na ep, consta: vinha chegando.

Se agasalhem (καταλυσωσιν). Expressão peculiar a Lucas. Numa primeira


acepção, o verbo significa quebrar ou dissolver. Por esta razão, de modo geral, no
texto do Novo Testamento, assume o significado de destruir (Mt 5.17; Mc 13.2).
De modo intransitivo, assumir os aposentos de alguém, alojar-se; seja por causa
do arreio dos cavalos estar solto, ou porque as prendeduras das suas vestes esta­
vam desatadas. O termo correlato κατάλυμα, como aposento, ocorre em Mc 14.14;
ou estalagem em Lc 2.7.

O que comer (επισιτισμόν). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Mais especificamente, um estoque de provisões, de víveres. Assim, Xenofonte, tam­
bém utiliza este vocábulo: “Ciro apressou toda a sua viagem, salvo quando parou
a fim de fornecer a si mesmo algumas provisões” (επισιτισμού ενεκα).

D eserto (έρήμω). Vide nota sobre M t 14.15.

13. Dai-lhes vós. O vós em posição enfática, encerrando a sentença, na ordem do


texto grego. Vide nota sobre Mt 14.15.

Comprar comida. Compare com Mc 6.37.

14. Em grupos (κλισίας). Corretamente traduzido no plural. Literalmente, gru-


pos-mesa. O vocábulo também é utilizado no grego clássico para designar um as­
sento onde as pessoas se reclinavam diante de uma mesa. Somente aqui no texto
do Novo Testamento. Vide nota sobre Mc 6.39.

16. Partiu-os, e deu-os (κατεκλασεν —εδίδου). Observe os dois tempos verbais,


como também vemos em Mc 6.41 {vide nota).

Para os porem diante (παραθεΐναι). Literalmente, para colocá-los ao lado, já


que a cama ficava ao lado dos convidados. Um termo comum utilizado no ser­
viço às mesas. Compare com Lc 10.8; At 16.34. A partir do sentido de colocar
ao lado surge o de confiar, designar (Lc 12.48; 23.46; lTm 1.18). Por esta razão,
o substantivo correlato παραθηκη (2Tm 1.12), um depósito-, ou seja, aquilo que eu
corfiou a outrem.

17. Saciaram-se. Vide nota sobre M t 5.6.


279
L u cas - C ap. 9

Levantaram, do que lhes sobejou, doze cestos de pedaços (και ήρθη το


περισσέυσαν αύτοις κλασμάτων κόφινοι δώδεκα). A arc é precisa, ao colocar a
vírgula depois de περισσέυσαν αύτοις, lhes sobejou, em vez de κλασμάτων, pedaços;
fazendo, dessa forma, com que este último termo dependa de κόφινοι, cestos. Tra­
duza, portanto: E f o r a m le va n ta d o s d a q u ilo qu e lh es sobrou, d e ped a ço s, d o z e cestos (rv).

Cestos. V id e nota sobre Mt 14.20.

18-21. Compare com Mt 16.13-20 e Mc 8.27-30.

18. Estando ele orando. Expressão peculiar a Lucas.

20. Vós. Enfático: “mas vós, quem dizeis que sou eu?”.

O Cristo de Deus. Cada evangelista apresenta a confissão de Pedro de uma


forma diferente. Mateus, o C risto , o F ilh o d o D e u s v ivo . Marcos, o C risto . V id e nota
sobre Mt 16.13. Sobre C risto , v id e nota em Mt 1.1.

21. Admoestando-os (επιτιμήσας). O vocábulo implica uma ordem enfática e


solene, sendo o seu significado, estritamente, co lo ca r u m a p e n a lid a d e so b re a lg u ém ,
e assim, c o m a n d a r m e d ia n te p u n iç ã o .

Ninguém (μηδενι). Na negativa condicional: ninguém, quem quer que fosse.

22-27. Compare com Mt 16.21-28; Mc 8.31-38; 9.1.

22. Seja rejeitado (άποδοκιμασθηναι). O verbo significa rejeitar mediante escru ­


tín io ou p r o v a , isto é, implica uma rejeição p ro p o sita l.

Dos anciãos (άπό). Literalmente, d o la d o dos, por parte dos.

23. Quer vir após (θέλει). V id e nota sobre Mt 1.19; e Mc 8.34. Mais corretamen­
te, desejasse vir.

Cada dia. Peculiar a Lucas.

Vida (ψυχήν). V id e nota sobre a lm a , em Mc 12.30.

25. G ranjear (κερδήσας). Um termo típico de um comerciante. Jesus está apre­


sentando o caso como uma questão de bom senso, que diz respeito a perdas e
ganhos.

Perdendo-se (άπολέσας). Bengel afirma: “Quando ele poderia ter sido salvo”.
Este vocábulo, no grego clássico, é utilizado nos seguintes casos: (l) em relação
à m o rte em uma batalha ou em outro lugar. (2) Em relação à d estru içã o , como se
diz de uma cidade ou de uma herança. (3) Em relação à perda da vida, de bens
280
Lucas - Cap. 9

ou de outros objetos. Como um verbo ativo, matar ou demolir. ( 4 ) Em relação à


desmoralização, ao ser moralmente abandonado ou arruinado, como se diz de fi­
lhos que sofrem más influências. No texto do Novo Testamento, referindo-se ao
assassinato (Mt 2.13; 12.14). À destruição e ao aniquilamento, não somente da vida
humana, mas também de recursos materiais e intelectuais (lCo 1.19; Jo 6.27; Mc
2.22; lPe 1.7; Tg 1.11; Hb 1.11). Em relação kperda (Mt 10.6,42; Lc 15.4,6,8). Ao
abandono moral (Lc 15.24,32). Ao fim dos impenitentes (Mt 10.28; Lc 13.3; Jo 3.15;
Jo 10.28; 2Pe 3.9; Rm 2.12).

Prejudicando-se a si mesmo (ζημιωθείς). Mais um termo derivado do mun­


do dos negócios. O vocábulo significa m u lta r, punir mediante a cobrança de uma
quantia monetária. De forma mais adequada, p r iv a r - s e a s i m esm o. V id e nota sobre
p o s s u í a vossa a lm a , Lc 21.19. Também Mt 16.26.

26. Se envergonhar (έιταισχυνθη). O sentimento expresso por este termo faz


uma referência à desonra ou vergonha de uma pessoa aos olhos dos outros. De
acordo com Trench, trata-se: “da aflição que um homem concebe a partir das
suas próprias imperfeições consideradas em relação à percepção que o mundo
tem delas, aflição no sentido de falta de estima”42. Dessa maneira, não se trata
de algo que surge a partir da reverência pelo direito em si mesmo, mas a par­
tir do temor do conhecimento e da opinião dos homens. Assim, pelo uso do
substantivo correlato αισχύνη, ve rg o n h a , no texto do Novo Testamento. Em
Lc 14.9, o homem que, de forma impudente, coloca-se no lugar de destaque na
festa, e é convidado pelo anfitrião a se colocar em um local inferior, começa com
v e rg o n h a a se dirigir para este lugar inferior, e não faz isto a partir de uma com­
preensão correta da sua tolice e presunção, mas por ter sido humilhado diante
dos olhos dos outros convidados. Por esta razão, em Hb 12.2, Cristo é descrito
com alguém que “enfrentou a v e rg o n h a , isto é, a execração pública gerada pela
crucificação. Isto também ocorre no uso do verbo, Rm 1 .1 6 : “não me envergo­
nho do evangelho”, mesmo que a exposição da sua causa me sujeite ao desdém
por parte de judeus e gregos, para os quais o evangelho é pedra de tropeço e
loucura. Onesíforo não teve vergonha de ser conhecido como o amigo de um
prisioneiro (2Tm 1.16). Compare com Hb 2.11; 11.16. O termo é utilizado em
relação ao Filho do Homem aqui, por meio de uma metáfora marcante. L ite r a l­
m ente, é claro, o Cristo glorificado não pode experimentar a sensação de vergo­
nha, mas a ideia básica é a mesma. Será como se Ele se sentisse um desonrado
diante do Pai e dos santos anjos por manter qualquer tipo de comunhão com
aqueles que tiveram vergonha dele.

4 2 . T rench, S o u th.

281
L ucas - C ap. 9

Sua glória. Uma glória tripla. Dele mesmo, como o Messias exaltado; a glória
de Deus, que o tem com o seu Filho querido e amado e entrega a Ele o poder para
encabeçar o juízo; e a glória dos anjos que o assistem.

27. Provarão a morte. O vocábulo provar, no significado de experimentar é, nor­


malmente, utilizado no grego clássico para designar a experiência do trabalho
árduo, do sofrimento, da liberdade, mas jamais da morte. A expressão provar da
morte é comum nos escritos rabínicos. No texto do Novo Testamento, ocorre so­
mente aqui e em Hb 2.9, em referência a Cristo. Crisóstomo (citado por Alford)
compare Cristo com um médico que, experimenta os seus remédios para, depois,
estimular os seus pacientes a experimentá-los.

O reino de Deus. Vide 6.20.

28-36. Compare com Mt 17.1-13; Mc 9.2-13.

28. O monte. A tradição de que este monte era o Tabor, de modo geral, foi
abandonada, o monte Hermom passou a ser a suposição mais comum acerca do
cenário da transfiguração.

H erm om , que é, v erd ad eiram en te, o c e n tr o d e to d a T e r r a P rom etid a, d esd e a en trad a


d e H am ate até o R io d o E g ito ; o m o n te da fecu n d id ad e, d o q u al as n a sc e n te s d o Jordão
d escem até o s v a les d e Israel. A o lo n g o d as su as aven id as d e m ata fechada, até q u e o
m ato cresça v iç o s o ju n to aos lír io s m o n te se s, se u s p és trilh aram e m m e io a o o r v a lh o
do H erm o m , E le d eve te r id o fazer a su a p rim eira ora çã o re g istr a d a so b re a m o rte,
e d o seu p recip ício, a n tes d e se ajoelhar, e le c o n se g u ia en xergar, em d ireção a o sul,
to d o s o s p o v o a m en to s d o p o v o andou p ela s trevas, m as viu a g r a n d e lu z - a terra de
Z eb u lom e N a fta li, G a lileia d as nações; c o n se g u ia en xergar, m e sm o c o m a lim ita çã o
da sua v isã o hum ana, o cin tila r d o la g o que banhava C afarnaum e C orazim , e m u ito s
lu g a res p or e le am ad os e, em vão, p o r e le m in istrad os, e cuja habitação fora-lh es,
agora, d eixad a na desolação; e, acim a d e tudo, n o azu l lo n g ín q u o , o s m o n te s acim a de
N aza ré, d escen d o até o seu v e lh o lar: o s m o n te s so b re o s quais as p ed ras q u e havia
sid o apanhadas para serem atiradas n e le ainda estavam so lta s, p o is d ali e le partira
para n e le s n u n ca m ais pisar43.

A orar. Peculiar a Lucas.

29. Transfigurou-se (éyéueTO - ecepov). Literalmente, tomou-se diferente. Lucas evita


o termo empregado por Mateus, μεταμορφωθη, entrou em metamorfose. Ele estava escre­
vendo para leitores gregos, para os quais aquele termo representava as transformações,

43. Ruskin, Modem Painters, 4.374.

282
L u ca s - C ap. 9

nas quais as divindades pagãs assumiam outras formas. Veja, por exemplo, a história da
captura de Proteu por Menelau, no quarto livro de Homero14. Vide nota sobre Mt 17.2.

Brancas (λευκός). No grego clássico, um termo muito indefinido, como uma


expressão de cor, sendo usado, não somente para descrever a brancura da neve,
mas também para o acinzentado do pó. O seu significado original é claro. Todos
os três evangelistas fazem uso deste termo, mas combinado com vocábulos di­
ferentes. Assim, Mateus associa a esta palavra a expressão com o a lu z. Marcos,
ατίλβοντα, resplan decen te [ v id e Mc 9.3). Lucas, έξαστράπτων (somente aqui no tex­
to do Novo Testamento), re lu z e n te com o o b rilh o d o relâ m p a g o .

30. Eis que estavam falando (συνελάλουν). O imperfeito é ilustrativo, como a


visão revelava-se a si mesma, os dois e s ta v a m no a to da conversa.

31. Falavam (έλεγον). No imperfeito, estavam falan do. Este versículo é peculiar a Lucas.

M orte (έξοδον). Nenhum vocábulo poderia representar o original, que é com­


posto por έξ, p a r a f o r a , e οδός, u m a v ia g e m , correspondendo ao termo latino d eces-
sus, u m a p a r tid a . O vocábulo grego nos é familiar a partir do termo êx odo, aplica­
do à migração do povo hebreu do Egito e utilizado em Hb 11.22, s a íd a . Dita por
Cristo, a palavra abrange a ideia de morte e ascensão. Pedro a utiliza para falar
da sua própria morte (2Pe 1.15, v id e nota sobre esta perícope).

Havia de cumprir-se (έμελλεν πληρούν). Mais adequadamente traduzido


como ele esta va p re stes a cu m p rir. “Cumprir” ou “realizar” é um termo muito signi­
ficativo em referência à morte de Cristo. Moisés e Josué iniciaram um êxodo do
E g ito , mas ainda não haviam realizado a retirada do povo de Deus deste mundo
presente. V id e Hb 3 . 1 8 ; 4 .8 .

32. Carregados (βεβαρημένοι). No particípio perfeito. Literalmente, c a rre g a d o s


ou o p rim id o s. Edersheim registra:

E ra to ta lm e n te natu ral para e ste s h o m en s d e h áb itos sim p les, à n oite, e d ep o is d e


um a lo n g a subida, e no ar p esa d o da m on tan h a, estarem co m m u ito son o; e tam b ém
sabem os, c o m o fato p sic o ló g ic o , que, n as reações rápidas, d ep o is da in flu ên cia arre­
batadora das e m o ç õ e s m ais fortes, o to rp o r tom a co n ta d o s n o ss o s m em b ro s e d os
n o ss o s sen tid os.

33. Quando aqueles se apartaram (έν τω διαχωρίζεσθαι αύτους). Literalmente,


n a su a p a r ti d a . Este verbo ocorre somente aqui no texto do Novo Testamento. A
frase como um todp é peculiar à narrativa de Lucas.

44. H om ero, Odisséia.


283
L u c a s - C ap. 9

Mestre. Fide 5.5.

Façamos. Vide nota sobre Mt 17.4.

Tendas. Vide nota sobre Mt 17.4. Farrar afirma: “Jesus poderia ter sorrido
diante da proposta ingênua do apóstolo ávido para que os seis habitassem para
sempre no pequeno succôth de ramos trançados nas encostas do Hermom”.

Não sabendo o que dizia. Sem implicar qualquer tipo de reprovação a Pedro,
mas meramente como um sinal da sua confusão naquele momento de êxtase.

34. Uma nuvem. Edersheim expressa:

U m a estran h a p ecu liarid ad e foi n ota d a n o m o n te H erm o m n o q u e d iz r e sp e ito à e x ­


trem a rap id ez com q u e as n u ven s se form am n o seu cu m e. E m a lg u n s m in u to s, um a
g r o ss a cam ada se form a n o to p o d o m o n te e, tã o rap id am en te q u a n to s e form ou , e sta
g r o s s a cam ada se d isp ersa e d esap arece p o r c o m p leto .

Os cobriu (έττεσκίαζεν). Uma bela colocação do imperfeito: “começou a os co­


brir;” harmonizando-se, assim, com os vocábulos, “entrando eles”. O pronome
oblíquo os (αύτους) precisa, ao meu ver, estar restrito a Moisés, Elias e Jesus.
Gramaticalmente, ele poderia incluir todos os seis, mas os discípulos ouvem
a voz a partir da nuvem, e a nuvem, como símbolo da divina presença, pairou
sobre estes três como um sinal para os discípulos. Vide Êx 14.19; 19.16; lRs
8.10; SI 104.3.

36. Tendo soado aquela voz (év τώ γενεσθαι την φωνήν). Literalmente, na vin­
da da voz. Na t b , Tendo cessado a voz-, e na t e b , no momento em que a voz ressoou.

37-43. Compare com Mt 17.14-21; Mc 9.14-29.

37. Descendo eles (κατελθόντων). Muito frequente em Lucas, com uma única
ocorrência no restante do Novo Testamento: Tg 3.15.

38. M estre (διδάσκαλε). Professor.

Olhes (έπιβλέψαι). Somente aqui e em Tg 2.3. Olhar com uma preocupação


piedosa.Termo utilizado pelos autores médicos para designar o exame de um
paciente.

39. Toma (λαμβάνει). Videnota sobre Mc 9.18.

De repente (έξαίφνης). Utilizado somente uma vez fora dos escritos de Lucas:
Mc 13.36. Naturalmente, um termo utilizado pelos escritores médicos, para de­
signar os ataques súbitos de uma doença. Lucas apresenta mais detalhes médicos
284
L ucas - C ap . 9

no seu relato do que os outros evangelistas. Ele menciona a ocorrência súbita dos
ataques, e a sua duração por longos períodos. Hobart observa que Areteu, um
médico contemporâneo de Lucas, ao tratar a epilepsia, admitia a possibilidade
da sua causa ser mesmo demoníaca. A epilepsia era chamada pelos médicos de
“sacra enfermidade”.

Quebrantado (συι/τρϊβον). Na bj, d ila cera d o ; e na teb , alq u eb ra d o . V id e nota


sobre os qu eb ra n ta d o s, em 4.18. O vocábulo, literalmente, significa e s m a g a r j u n ­
to. Compare os detalhes em Marcos, ra n g e os d en tes, e v a i- s e secan do (9.18). Os
detalhes apresentados em Mc 9.21-22 seriam de se esperar por parte de Lucas,
especialmente a transcrição da pergunta feita por Cristo acerca de quanto tempo
ele sofria daqueles ataques. V id e nota sobre Mc 9.20.

41. Incrédula. Fide nota sobre Mc 9.19.

Perversa. V id e nota sobre Mt 17.17.

Até quando (εως πότε). Tradução literal.

Sofrerei (άνεξομαι). Tradução melhor, como na rv : su p o rta re i. V id e At 18.14;


2Co ll.l.O significado literal é “sustentar (àuá) por baixo”.

42. O derribou (ερρηξεν). V id e nota sobre d esp ed a ç a -o , em Mc 9.18.

Convulsionou (συνεσπάραξεο). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


O termo equivale ao latim convulse. O substantivo correlato σπαραγμός, é o termo
que designa um g ra m p o .

43-45. Compare com M t 17.22-23 e Mc 9.30-32.

43. Pasmavam (εξεπλήσσοντο). V id e nota sobre M t 7.28.

Majestade (μεγαλειότητι). Termo utilizado somente por Lucas e em 2Pe 1.16.

Fazia (εποίει). No imperfeito. Mais adequadamente traduzido como e s ta v a


fa zen d o .

44. Ponde vós estas palavras em vossos ouvidos. Tradução literal.

Será entregue (μελλει παραδίδοσθαι). Prefira: está p re ste s a se r entregue.

46-50. Compare com Mt 18.1-35; Mc 9.33-50.

46. Uma discussão (διαλογισμός). Ou um debate. Fide 24.38 e Tg 1.22; 2.4.

47. Tomou uma criança (επιλαβόμευος uaiôíou). Mais exatamente, tendo p eg a d o um a.

285
L ucas - C ap . 9

Junto a si (παρ’ έαυτώ). Literalmente, p e r to d e s i m esm o. Somente Marcos re­


gistra que ele a ergueu nos braços.

48. Em meu nome. V id e nota sobre M t 18.5.

51-56. Peculiar a Lucas.

51. Completando-se os dias (εν τ ώ συμπληρούσθαι τάς ημέρας). Literalmente,


no cu m p rim en to d o s d ia s. Isto significa quando os dias e s ta v a m sen d o cumpridos,
não quando eles f o r a m cumpridos: quando o tempo e s ta v a se aproximando. Lucas
se refere a um período que se iniciava com o primeiro anúncio de seu sofrimento
e se estendia até o momento da sua ascensão.

Para a sua assunção (τής άναλήμψεως αυτού). Literalmente, o s d i a s


d a su a assunção·, a sua ascensão aos céus. O termo άνάλημψις, não ocor­
re em nenhuma outra parte do Novo Testamento, mas o verbo correlato,
αναλαμβάνω, é o vocábulo comum para designar a ascensão aos céus. V id e
At 1.2,1 1,22; lTm 3.16.

57-62. Compare com Mt 8.19-27; Mc 4.35-41.

57. Um. Mateus apresenta: um escriba.

Fores (άπέρχη). Literalmente “fores p a r a lo n g e (άπό). Eu te seguirei em qual­


quer lugar longínquo que fores.

58. Covis. V id e nota sobre M t 8.20.

Aves (πετεινά). Mais especificamente, a v e v o a d o ra . Termo comum para desig­


nar p á ssa ro no texto do Novo Testamento. ’Όρνις ocorre em Mt 23.37; Lc 13.34;
porém, nos dois casos, no sentido de g a lin h a . V id e nota sobre Mt 23.37. ’Όρνεον
é encontrado em Ap 18.2; 19.17-21; e τττηνόν, uma outra forma para a palavra
contida nesta passagem, ocorre em lCo 15.39.

Ninhos. V id e nota sobre M t 8.20.

60. Os seus mortos (τούς εαυτών νεκρούς). Mais corretamente, os seus p r ó p r io s


mortos.

Anuncia (διάγγελλε). P u b lic a p a r a fora-, διά, a tra v é s d e todas as regiões.

61-62. Peculiar a Lucas.

61. Despedir (άποτάξασθαι). Neste sentido, o termo é utilizado somente no gre­


go posterior. No grego clássico, significa co lo ca r d e la d o ou a trib u ir , como se diz
de um soldado no seu posto, ou de um oficial no seu cargo e, posteriormente,
286
L ucas - C ap. 10

os soldados. Dessa maneira, desperdir uma pessoa mediante ordem. Este


se p a ra r
significado pode, como sugere Kypke, ser incluso no sentido do vocábulo nesta
perícope, o homem estaria desejando retornar ao lar, não apenas para fazer uma
partida formal, mas também para passar as instruções finais para os seus amigos
e servos. De modo similar, At 18.18, refere-se a Paulo se d esp ed in d o dos irmãos
de Corinto, dando-lhes instruções ao partir. No texto do Novo Testamento, o
termo é utilizado na acepção de despedida. V id e nota de Mc 6.46, e compare com
Lc 14.33; 2Co 2.13.

62. Lança mão do (έπιβαλώυ έπί). Literalmente, ten d o la n ça d o a su a m ã o sobre.

Para trás (elç τά όπίσω). Literalmente, p a r a as coisas detrás. Godet observa:

A figura é a de um homem que, enquanto está nos seus afazeres, em vez de m anter os
olhos no sulco que está abrindo, olha para trás, em direção a algum objeto que chama
a sua atenção. Ele tem a m etade de sua concentração voltado ao trabalho, e como re­
sultado obterá, a m etado do trabalho executado.

Apto (eufieioç). Literalmente, bem colocado: ajustado.

C a pítulo 10

1-16. Peculiar a Lucas.

1. Designou (άνέδ^ιξεν). Utilizado somente por Lucas. Literalmente, e rg u e r e


m o stra r, como em At 1.24: “mostra qual destes dois tens escolhido”. Dessa ma­
neira, p r o c la m a r q u a lq u e r p esso a esco lh id a p a r a u m ofício. Para saber mais sobre o
substantivo correlato, v id e n o ta . sobre m o stra r-se, no capítulo 1.80.

Outros setenta. Tradução inadequada, pois Ele não havia escolhido outros
setenta anteriormente. Mais corretamente, seten ta ou tros , com referência à esco­
lha prévia do grupo de doze. Na teb , seten ta e d o is outros.

2. A seara (θερισμός). Derivado de fiepóç, verão (compare com θέρομαι, to rn a r-se


m orn o). A colheita, ou seja, aquilo que é colhido no verão.

Rogai. V ide 8.38.

Envie (έκβάλη). Literalmente, c o n d u za ou im p u lsio n e a d ia n te , implicando a ur­


gência da missão. V i d e n ota sobre Mc 1.12.

3. Mando (αποστέλλω). V id e nota sobre M t 10.2.

4. Bolsa (βαλλάντιον). Termo utilizado somente por Lucas. Para o transporte


de dinheiro.
287
L u c a s - C ap. 10

Alfoije (πήραν). Para o transporte de víveres. Na bv consta sacola.

Sandálias. Não que eles devessem seguir descalços, mas eles não deveriam
levar um par sobressalente de sandálias. Vide D t 29.5; 33.25.

A ninguém saudeis. As saudações orientais são tediosas e complicadas. A


ordem dada é para uma missão rápida e temporária. Compare com 2Rs 4.29.
Thomson observa:

Estas instruções tam bém tinha a intenção de rep ro v ar um a propensão à qual um


oriental dificilmente resistiría, independentem ente da urgência da sua tarefa. Q uando
ele se encontra com um conhecido, ele precisa p ara r e fazer um g ran d e núm ero de
perguntas, bem como responder às várias perguntas feitas pelo outro. Q uando ele
encontra hom ens no meio de uma negociação, ou discutindo acerca de qualquer ou tra
questão, eles precisam in terrom per e colocar as suas próprias idéias, bem como en tra r
sutilm ente no assunto, mesmo que a conversa em nada lhes diga respeito; e, de modo
ainda mais específico, um oriental jam ais resistiría à tentação de assistir uma presta­
ção de contas ou mesmo a contagem de dinheiro. O tilin tar das moedas exerce uma
fascinação positiva sobre ele15.

5. Paz seja nesta casa. A saudação oriental comum. Vide 3z 19.20.

6. Se ali houver algum filho de paz. Um hebraísmo que alude ao caráter do


chefe da família e ao temperamento da família como um todo. Compare com Jó
21.9.

7. Digno é o obreiro. Vide nota sobre Mt 10.10.

11. Pó (κονιορτόν). Derivado de κόνις, pó e δρνυμι, agitar. Mais especificamente,


a poeira que é levantada pelo ato de caminhar.

Se nos pegou. Vide Mt 19.5. Termo frequente na linguagem médica para se


referir à cicatrização de feridas.

Sacudimos (άπομασσόμεθα). Vide nota sobre Lc 5.2. Somente aqui no texto do


Novo Testamento.

IS. Maravilhas. Vide nota sobre Mt 11.20.

Saco d e pano grosseiro (σάκκψ). Na ep , vestindo-se de silício. Derivado do


hebraico saq (ρώ), aquilo que é unido por meio de nós-, que temformato de rede-, que é
grosseiramente tecido. Tratava-se de um tecido feito de pelo de cabras ou carneiros

45. Thomson, Land and Book.

288
L u c a s - C ap. 10

(Ap 6.12), e era de um material semelhante àquele utilizado por Paulo na confec­
ção de tendas. A mesma palavra, no hebraico, é utilizada para descrever um saco
de grãos, bem como o tecido rústico com o qual ele era confeccionado (Gn 42.25;
Js 9.4). Desta forma, o vocábulo grego σαγή significa um p a c o te ou ba g a g em . A
mesma raiz, segundo alguns etimologistas, aparece em σαγήνη, em referência a
uma rede de pesca ( v id e M t 13.47), e σάγος, sa g u m em latim, uma ca p a g ro sse ira
u tiliz a d a p e lo s so ld a d o s. Este tecido era empregado para o feitio de simples ves­
timentas utilizadas pelas pessoas de luto (Et 4.1; lRs 21.27), sendo que, nesta
segunda passagem aqui citada, o pano grosseiro é colocado próximo à carne em
sinal de tristeza extrema. Compare com 2Rs 6.30; Jó 16.15.

Cinza (σιτοδφ). Como sinal de luto. A contaminação de si próprio com “coisas


mortas”, como cinzas ou pó, como sinal de tristeza, era comum entre os orientais
e os gregos. Veja as palavras de Homero, ao descrever o momento em que Aqui­
les ouviu acerca da morte de Pátroclo:

A panhando com as duas mãos,


As cinzas da lareira, ele as lançou para o alto
Sobre a sua cabeça, e sujou com elas a sua nobre face4*.

E Príamo, ao lamentar a morte de Heitor:

N o meio, o homem idoso.


A ssentou-se com um a capa em brulhada no corpo, e m uito pó
Espalhado sobre a sua cabeça e pescoço, o qual, quando ele rolou
Sobre a terra, apanhou com as mãos4'.

V id e lSm 4.12; 2Sm 1.2; 13.19; Jó 2.12; Ez 17.30; Ap 18.19. No livro de Jt 4.14-
15, no lamento sobre as ruínas dos assírios, os sacerdotes ministraram no altar,
cingidos com pano de saco, e com cinzas sobre as suas mitras. Gardner Wilkin­
son, ao descrever um funeral em Tebas, afirmou: “Homens, mulheres e crianças,
com o corpo exposto na parte superior da cintura, lançam cinzas sobre as suas
cabeças, ou cobrem o rosto com lama”48. A asfixia com cinzas era uma forma de
castigo utilizada na Pérsia. Compare com o livro apócrifo de 2Mc 13.5-7. Heró-
doto relata que Nitócre, uma rainha egípcia, depois de afogar os assassinos do
seu irmão, lançou-se a si mesma em um compartimento cheio de cinzas, a fim de
escapar da vingança dos amigos daqueles homens.

14. Portanto (ττλήν). V id e nota sobre Mt 11.22.

46. Homero, Ilíada, 18.23.


47. Ibid., 24.162-5.
48. Gardner Wilkinson, Modem Egypt and Thebes.
289
L u c a s - C ap. 10

15. Serás levantada até ao céu? £ή €ως τοΰ ούρανοΰ ύψωθεΐσα]]. Para ή,
artigo, os melhores textos apresentam μή, partícula interrogativa; e para o
particípio, te n d o s id o l e v a n ta d a , apresentam o futuro, se rá s le v a n ta d a , como
na a r c .

Inferno. V ide nota sobre M t 16.18.

16. Rejeita (αθετεί). V id e nota sobre Lc 7.30, e compare com G1 2.21; 3.15.

17. Os setenta. Westcott expressa:

A plena consumação da nova dispensação começa com a missão dos setenta, e não
com a missão dos apóstolos. A sua tarefa básica, segundo a perspectiva de Lucas, é a
evangelização simbólica de todas as nações sobre a terra, e não a restauração das doze
tribos de Israel. Segundo a tradição judaica, havia setenta, ou setenta e duas, nações
e idiomas diferentes no mundo. No capítulo 10.1, alguns m anuscritos apresentam
setenta e dois em vez de setenta™.

18. Eu via (έθεώρουν). O verbo denota uma contemplação calma, intencional e


contínua de um objeto que permanece diante do espectador. Desta forma, vemos
também em Jo 1.14·, no verbo v im o s, o qual implica que a permanência de Jesus
neste mundo, embora breve, foi de tal sorte que os seus seguidores puderam, de
forma calma e tranquila, contemplar a sua glória. Compare com Jo 2.23: “v e n d o
o s sinais”, de forma a te n ta e co m p en etra d a . Aqui, ele denota a contemplação ab­
sorta de uma visão. O imperfeito, e s ta v a ven d o , refere-se tanto à época em que
os setenta foram enviados, quanto à dos triunfos que eles aqui relatam. Godet
interpreta: “Enquanto vocês estavam expulsando os su b a ltern o s, Eu e s ta v a v e n d o
o M e stre deles cair”. Os revisores não parecem ter se valido de qualquer princípio
estabelecido na tradução desta palavra ao longo de todo o Novo Testamento50.

Satanás. Praticamente uma transcrição do termo grego, derivada de um ver­


bo colocar-se d e ca m p a n a ou opor-se. Por isso, um a d v e rsá rio . Neste significado,
referindo-se a Davi, lSm 29.4, e ao anjo que se encontrou com Balaão, Nm 22.22.
Compare com Zc 3.1-2; Jó 1,2. Διάβολος, d ia b o , é o termo mais comum no texto
do Novo Testamento. Em Ap 12.9, ambos os vocábulos são aplicados a ele.

Como raio. Descrevendo, de forma vivida, um brilho intenso que rapidamen­


te desaparece.

49. Westcott, Introduction to the Study of the Gospels.


50. Vide artigo de Vincent acerca do Novo Testamento Revisado, Presbyterian Review, outubro de
1881, p. 646ss.

290
L u c a s - C ap. 10

Cair (π^σοντα). Literalmente, te n d o ca íd o . O tempo aoristo marca a in s ta n ta n e i-


da queda, como um raio.
dade

21. Os melhores textos omitem Jesus.

Se alegrou. V ide nota sobre 1Pe 1.6.

No Espirito Qcqt πνίύματι]]. Os melhores textos acrescentam τω άγίω, o sa n ­


to, e traduzem como n o E s p ír ito S a n to .

Graças. V id e nota sobre Mt 11.25. Deste ponto até o versículo 25, compare
com Mt 11.25-27 e 13.16-17.

Inteligentes. V id e nota sobre Mt 11.25.

22. Me foi entregue (παρεδόθη). V id e nota sobre Mt 11.27.

25. D outor da lei. V id e 7.30.

Tentando-o. V id e nota sobre ten ta çã o , em Mt 6.13.

Para herdar. V id e nota sobre herança, em lPe 1.4.

Eterna (αιώνιον). Este termo será analisado de forma completa no segundo


volume.

26. Lês. V id e 4.16.

27. Amarás. V id e nota sobre Mc 12.30. Lucas acrescenta f o r ç a .

29-37. A parábola do bom SAMARiTANO. Peculiar a Lucas.

29. Querendo (θΐλων). V id e nota sobre Mt 1.19. Considero este vocábulo mais
enfático do que um simples desejo ; trata-se de uma d eterm in a çã o .

Próximo (πλησίον). V id e nota sobre Mt 5.43.

30. Respondendo (ύπολαβων). Utilizado por Lucas. Somente nesta passagem


assume este significado. V id e 7.43. Estritamente, este vocábulo significa, p e g a r,
le va n ta r, portanto, referindo-se a uma conversa, pegar o discurso feito por outra
pessoa e respondê-lo.

Caiu nas mãos. V id e nota sobre Tg 1.2.

Salteadores (λησταις). Na ep, a ssaltan tes; e na te b , b a n d id o s. V id e nota sobre


Mt 26.55; e Lc 23.39-43. Não se tratavam de ladrões insignificantes, mas de
homens violentos, como fica patente a partir do tratamento que dão ao viajante.
291
L ucas - C ap. 10

A rua que liga Jerusalém a Jerico passava pelo meio de um deserto (Js 16.1), que
era tão temido pelos ladrões e assassinos que ali se escondiam a ponto de parte
de seu percurso ser chamada de “caminho vermelho ou de sangue”, além de ser
protegido por uma fortaleza e uma guarnição romana.

O despojaram. Não somente das suas roupas, mas de tudo o que possuía.

Espancando-o (ττληγάς liuGévxeç). Literalmente, te n d o lh e la n ç a d o p a n c a d a s.


P a n c a d a s ou ch ico ta d a s é o significado corriqueiro deste termo no texto do Novo
Testamento. V id e capítulo 12.48; At 16.23. Ele apresenta o sentido metafórico de
p r a g a s em Ap 15.1,6,8.

Meio m orto (ημιθανή τυγχάνοντα). A ênfase completa desta expressão não


pode ser traduzida para os idiomas ocidentais. O termo τυγχάνοντα lança um
elemento de acaso na questão. Literalmente, acon tecen do d e f ic a r ele m eio morto-, ou
d e ix a n d o -lh e m eio m orto, ao acaso, sendo que o seu estado pouco importou para os
ladrões. O vocábulo ημιθανή, m eio m o rto , não ocorre em nenhuma outra parte do
Novo Testamento. Os melhores textos, entretanto, omitem τυγχάνοντα.

31. Ocasionalmente (κατά συγκυρίαν). Somente aqui no texto do Novo Testa­


mento. O vocábulo significa, literalmente, uma coin cidên cia. Por coincidência das
circunstâncias.

Descia pelo mesmo caminho. No tempo imperfeito, esta v a descendo.

Sacerdote. Os talmudistas afirmam que Jerico tinha quase o mesmo número


de sacerdotes que Jerusalém.

Passou de largo (άντιτταρήλθ^ν). O verbo ocorre somente aqui e no versículo 32.

32. Chegando e vendo-o. A teb traduz viu . Parecendo sugerir que o levita foi
mais longe do que o sacerdote na aproximação com o homem ferido, e, depois de
observar o seu estado, seguiu adiante.

S3. Chegou ao pé dele (ήλθ€ν κατ’ αυτόν). Existe um constraste marcante com
os outros casos e uma sensibilidade clara nas palavras, κατ’ αύτόν, a o p é dele. O
levita chegara κατά τόπον, somente “ao lugar”.

34. Atou-lhe (κατύδησ€ν). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

Feridas (τραύματα). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

Aplicando-lhes (έπιχύων). Melhor traduzido como sobre (4πί). Vinho para


limpar e azeite para aliviar. V id e Is 1.6.
292
L ucas - C ap. 10

Azeite e vinho. Remédios comuns para dores, ferimentos. Hipocrates os pres­


creve para úlceras: “Amarre com lã macia, e salpique com vinho e azeite”.

Cavalgadura (κτήνος). Termo, talvez, correlato a κτήμα, uma posse, já que,


no mundo antigo, os animais eram símbolo de riqueza, de forma que um bem -
como uma propriedade - e um animal eram vocábulos sinônimos.

Estalagem (πανδοχειον). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Deriva­


do de πάν, todos, e δέχομαι, receber, um local para recepção em geral. V ide nota sobre
a expressão n a estalagem , no capítulo 2.7. Restos de dois khans, ou estalagens, na
estrada entre Jerico e Jerusalém são mencionados por viajantes contemporâneos.
Porter fala de uma estalagem a cerca de 1,5 km de Betânia, e outra mais adiante, na
parte mais perigosa da estrada, uma grande ruína que, outrora, servira de ponto de
encontro de caravanas, chamada de K h a n e l A lm a h , situada no cume de uma cadeia
de montanhas ermas ’1. Acerca deste último local, Hepworth Dixon expressa:

Por volta da metade do caminho, na descida de Betânia a Jericó, em um local onde se


pode observar a estrada na parte de cima e de baixo, no local exato onde as pes­
soas procurariam, caso não se suspeitasse da existência destas ruínas, existe uma pilha
de pedras, arcos, pedaços de muro, que os árabes erran tes chamam de Khan Houdjar,
e ainda utilizam como local de repouso noturno. E stas ruínas são de uma estalagem
nobre; a fonte e o pátio ainda podem ser claram ente vistos nestas ruínas52.

35. Dois dinheiros. V id e nota sobre Mt 20.2.

Eu to pagarei. O pronome eu assume a forma expressa, (έγώ) e é enfático. Não


lhe incomodes com a conta; eu pagarei a ti qualquer despesa adicional.

36. Foi o próximo (πλησίον γ^γονέναι). De forma mais correta, to m o u -s e o p r ó ­


x im o .Jesus se l a n ç a de volta à época da história. Na t e b , m o stro u -se p ró x im o . Al­
ford afirma: “Os próximos judeus se to rn a ra m estranhos. O estranho samaritano
se to rn o u o próximo do viajante ferido”.

37. O que usou de misericórdia para com ele. De acordo com a preposição
μβτά. Tratou dele como se cuida de um irmão. O doutor da lei evita fazer uso do
odioso vocábulo sa m a rita n o .

3 8 -4 2 . M arta e M aria . Peculiar a Lucas.

38. Recebeu (ύπ^δέξατο). Derivado de υπο, em b a ix o , e δέχομαι, receber. Recebeu-o


d e b a ix o do seu teto. Marta é apontada como a chefe daquela família. Tratava-se

51. Porte, Handbook o f Syria and Palestine.


52. Hepworth Dixon, Holy hand.
293
L ucas - C ap . 1 1

da sua casa. Ela recebeu o visitante, e estava completamente envolvida nos pre­
parativos que lhe proporcionariam uma boa acolhida (v. 40).

39. Assentando-se (παρακαθεσθεΐσα). Somente aqui no texto do Novo Testa­


mento. Literalmente, sentou-se ao lado (παρά).

40. Andava distraída (περιεσπάτο). Somente aqui no texto do Novo Testamen­


to. O verbo significa, literalmente, algo que atrai ao redor (περί). A atenção de
Marta, em vez de se concentrar ao redor de Jesus, estava sendo atraída pelos
afazeres daqui e de acolá. Περί, ao redor, em composição com o verbo, é seguido
imediatamente por outro περί, “ocupada com muitos serviços”.

Aproximando-se (Ιπιστάσα). Veio até ele, em uma pausa súbita na sua


agitação.

Me deixe (κατέλιπεν). No aoristo, deixou-me, indicando que ela estava lhe aju­
dando antes da chegada de Jesus. Alguns manuscritos apresentam κατέλειπεν, no
imperfeito, estava me deixando.

Me ajude (συναντιλάβηται). Este verbo é composto por três elementos:


λαμβάνω, segurar, pegar, συν, junto com-, άντί, reciprocamente - fazer a sua parte
assim como Marta fazia a dela. Dessa maneira, ele podería ser parafraseado da
seguinte forma: pegar efazer a sua parte junto comigo. Ele ocorre somente nesta
passagem e em Rm 8.26, referindo-se à ajuda do Espírito nas nossas enfermida­
des, onde todos os elementos do verbo são exemplificados de forma marcante.

41. Estás ansiosa (μεριμνάς). Vide nota sobre Mt 6.25.

Afadigada (θορυβάζτ)). Derivado de θόρυβος, tumulto. O adjetivo ansiosa deno­


ta uma inquietação interior, afadigada, indica um estado de confusão e alvoroço
exterior.

C a pítulo l i

2-4. Compare com Mt 6.9-13.

3. Pão cotidiano (τον άρτον ημών τον έπιούσιον). Existem grandes diferenças
de opinião entre os comentaristas acerca do significado específico do vocábulo
aqui traduzido como cotidiano. As principais explicações são:

1. Derivado de έπιέναι, vir sobre. Dessa maneira,


a. O pão vindouro, ou pão de amanhã.
b. Diário, de cada dia-, referindo-se aos dias na sua sucessão futura.

294
L ucas - C ap . 11

c. C on tín uo.
d. A in d a p o r vir, aplicado a Cristo, o Pão da Vida, que deveria vir no
futuro.

2. Derivado de êrrí e ουσία, ser. Por isso,


a. P a r a o nosso su sten to (físico), e, portanto, necessário.
b. P a r a a nossa v i d a essen cial (espiritual).
c. A c im a d e to d o ser, logo, p ro e m in e n te , excelente.
d. A b u n d a n te .

Seria improdutivo que o leitor ocidental se engajasse neste debate. Conta-se


que um dos eruditos teria dito que este termo seria “o cabide dos teólogos e dos
gramáticos”. Uma análise satisfatória deve pressupor um conhecimento da lín­
gua grega por parte do leitor. As pessoas interessadas na questão poderão vê-la
tratada por Tholuck53, bem como, de forma exaustiva, por Lightfoot. Este último
adota a derivação de éiuévat, v i r sobre, e conclui afirmando:

A trad u ção fam iliar, diário — ou, de cada dia, q u e p revalece, d e form a in in terru p ta na
igreja o c id e n ta l d e sd e o s p rim ó rd io s é um a rep resen ta çã o d everas adequada d o ori­
g in a l, ta m p o u co a lín g u a in g le sa , p od ería n o s fo rn ecer q u alq u er palavra q u e p u d esse
aten d er d e form a tã o adeq u ad a a e s te fim 54.

A tradução marginal da rv é o nosso p ã o d o d ia v in d o u ro . Esta tradução, con­


tudo, é contestada por contradizer o preceito do Senhor em Mt 6.34, de que não
devemos ficar ansiosos pelo a m a n h ã . “Caso a oração tivesse sido feita à noite, ela,
sem dúvida estaria fazendo uma referência ao d ia segu in te, mas se supusermos
que ela fosse feita antes do nascer do sol, ela estaria fazendo uma referência ao
dia que estaria por raiar” (o dia v in d o u ro , ou segu in te). Lightfoot (passagem resu­
mida) afirma:

E , além d isso, se o m a n d a m en to para não ficarm os a n sio so s é eq u iv a le n te a um a proi­


b ição co n tra a oração p e lo o b jeto p e lo q u al e sta m o s p ro ib id o s d e ficar a n sio so s, então,
além de n ão d ev erm o s orar p e lo a lim e n to d e am anhã, tam b ém n ão d everiam os orar,
d e form a algu m a, por a lim en to , já q u e o S en h or in s iste para q u e n ão a n d em os a n sio so s
p ela n o ssa vida (M t 6.25).

4. Perdoa-nos. V id e 3.3; Tg 5.15.

Pecados (αμαρτίας). V ide nota sobre Mt 1.21. Compare com d ív id a s, em Mt 6.12.

53. Tholuck, Sermon on the Mount.


54. Lightfoot, On a Fresh Revision of the New Testament.
295
L ucas - C ap . 1 1

Que nos deve. Em Mateus, o vocábulo d ív id a s aparece aqui.

Conduzas (6ίσεντγκΐ]ς). Melhor, “não nos tr a g a ”, que, além de uma tradu­


ção mais precisa do termo (eiς, p a r a den tro·, tjiépu), c a r r e g a r ou tr a z e r ) , dissipa
a sugestão nefasta de se d u ç ã o ou in c ita m e n to que se conectaria ao c o n d u z ir .
Tiago nos diz que Deus a nenhum homem tenta (1.13), contudo, as circuns­
tâncias da vida de um homem, sempre envolvem possibilidades de tentação.
Até na ombreira da casa do próprio Deus existia um alerta (Ec 5.1). Deus
também envia provações a fim de nos provar e nos castigar, mas algo pode
transformar o poder salutar da provação em um poder corrompido do mau
pedido. Deus a ninguém tentou, todavia “todo homem é tentado, quando
é atraído para fora das suas próprias paixões e seduzido”. Dessa maneira,
oramos:

N ão perm itas que sejam os desviad os pelas n o ssa s próprias concupiscências, m as guar­
d a-n os d o p od er dos n o ss o s próprios corações m align os. T u sab es c o m o so m o s co n sti­
tu íd os e te lem b ras que não passam os de pó. L em b ra-te das n o ssa s fraquezas. N ã o n os
esq u ivarem os daquilo que n os im puseres. G u ard a-n os d e buscar aquilo que n ão n o s im ­
puseres. P roíb e que os n o ss o s d esejos m a lig n o s con v erta m o n o sso esta d o d e p rop en são
à ten tação em ten tação real. G u ard a-n os lo n g e d e situ ações n as quais, até o lim ite do
n o sso ju ízo, estaríam os além d as n o ssa s forças atuais para resistir ao pecado.

Esta não é a oração de um covarde. Não existe homem covarde por ter medo
do seu próprio coração. Ela define o mais alto grau de coragem por sabermos o
que deve ser temido e do que devemos fugir. A oração pedindo para que Deus não
nos deixe entrar nos limites da p o s s ib ilid a d e de cairmos em tentação, seria o des­
prezo à nossa própria humanidade, ou seria equivalente a uma oração para que
fôssemos retirados deste mundo. Só que podemos orar, e, certamente, oraremos,
à medida que nos tornarmos cada vez mais conscientes das fraquezas da nossa
natureza, para que Deus não permita que as provações da vida se transformem
em tentações do Diabo.

Tentação. V id e nota sobre Mt 6.13.

5-9. A parábola do amigo importuno . Peculiar a Lucas.

6. Apresentar-lhe. V id e capítulo 9.16.

7. Os meus filhos estão comigo na cama. Thomson observa·. “Uma família


inteira - pais, filhos e servos —dormem no mesmo ambiente”55.

55. Thomson, Land and Book.

296
L u c a s - C ap. 11

8. Im portunação (αναίδειαν). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Um vocábulo muito marcante para descrever a persistência. Literalmente,
falta de vergonha. Com relação à oração, ela é ilustrada no caso da inter-
cessâo de Abraão por Sodoma (Gn 18.23-33), e da mulher cananeia (Mt
15.22-28).

9. Pedi (αιτείτε). O termo utilizado quando um subalterno faz um pedido a um


superior (At 12.20; 3.2), e, dessa maneira, o vocábulo apropriado para um ho­
mem de Deus (Mt 7.7; T g 1.5). Cristo jamais utiliza este termo ao fazer os seus
próprios pedidos ao Pai, mas sempre ερωτώ, que representa um pedido realizado
entre agentes do mesmo nível.

Pedi, buscai, batei. Trench afirma: “As três menções do mandamento são
mais do que mera repetição, pois buscar é mais do que pedir, e bater é mais do
que buscar”56.

11. Qual dentre vós (τίνα). O pronome grego é interrogativo e representa o


início da frase.

13. Sendo (υπάρχοντες). Vide nota sobre Tg 2.15.

Pai celestial. Literalmente, o Pai, aquele que é do céu.

14-15,17-23. Compare com Mt 12.22-37.

14. Mudo (κωφόν). Vide nota sobre Mt 9.32.

15. Belzebu. Vide nota sobre Mt 10.25.

16. Tentando-o. Vide tentação, Mt 6.13.

Sinal. Vide nota sobre Mt 11.20.

17. Pensamentos (διανοήματα). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Com o significado de intento, propósito.

A casa dividida contra si mesma cairá (οίκος επί οίκον πίπτει). Alguns
entendem que esta expressão é uma expansão da frase anterior - uma descrição
mais detalhada da afirmativa geral será assolado, e traduzem casa cai sobre casa;
assim a ara : casa sobre casa cairá (tb , teb , ep etc.). Ela pode ser entendida de modo
metafórico: o reino dividido é levado à assolação, e as suas famílias e casas nas
suas intrigas internas também serão levados à ruína.

56. Trench, Parables.


297
L ucas - C ap. 11

18. Satanás. Vide 10.18.

Está dividido. Vide nota sobre Mt 12.26.

20. A vós é chegado. V id e nota sobre Mt 12.28.

21. O valente (ό Ισχυρός). V id e nota sobre Mt 12.29.

Armado (καθωπλισμένος). C o m p leta m en te armado, ou seja, vestido com u m a a r­


da cabeça abaixo (κατά) até os calcanhares.
m a d u ra ,

A sua casa (εαυτού αυλήν). Literalmente, o qu e lh e ê p r ó p r io . ’Αυλή é, de ma­


neira específica, o pátio aberto defronte a uma residência, e passou a designar o
terreno em torno do qual a casa é construída e aplicado a uma casa em geral,
assim como falamos que temos “um te to para morar”.

22. Outro mais valente. Também com o artigo: o m a is va len te.

Toda a armadura (την πανοπλίαν). Tradução inadequada, pois a armadura é


considerada uma peça só - a p a n ó p lia - o que é, na verdade, uma transcrição deste
termo grego. Melhor traduzido por a su a a rm a d u r a to d a , ou então a a rm a d u ra ,
como leem a ara , bj, ep.

Despojos (τα σκϋλα). Vide nota sobre Mc 5.35. Compare com bens, Mt 12.29.

24. Lugares secos (άνύδρων τόπων). Tradução literal, sem á g u a . O abrigo dos
espíritos malignos (Is 13.21-22; 34.14). Como s á tir o s nestas duas passagens são
representados os gnomos com formato de cabra, que eram sacrificados por al­
guns israelitas (Lv 17.7; 2Cr 11.15), um remanescente do culto egípcio a Mendes
ou Pan, que, na figura de uma cabra, era adorado pelos egípcios como o princípio
fertilizador da natureza. Na arc, em Is 34.14, lemos que “os a n im a is n o tu rn o s
ali pousarão”. A teb, ep e bj leem Lilit (no hebraico, lilith ); e Cheyne como f a d a
n otu rn a. A referência feita é a uma superstição popular segundo a qual Lilith, a
primeira mulher de Adão, abandonou-o e se transformou em um demônio que
assassinava criancinhas e assombrava lugares desertos.

Repouso. V id e nota sobre Mt 11.28.

26. Leva consigo (παραλαμβάνει). V ide nota sobre Mt 4.5.

Sete. Enfático: “leva espíritos, sete deles”.

Piores. Vide capítulo 3.19; Mc 7.21.

Habitam (κατοικεί). Assentam-se (κατά) para ali fazerem a sua habitação (οίκος).

27. Bem-aventurado. Bengel afirma: “Ela fala bem, mas humanamente”.


298
L ucas - C ap. 11

29-36. Compare com Mt 12.38-45.

29. Ajuntando-se (έπαθροι(ομένων). Noparticípio presente: estavam se ajuntando


a ele, ou em cima dele (έπί). Somete aqui no texto do Novo Testamento.

Maligna. Vide nota sobre adúltero em Mt 12.39.

30. Sinal para os ninivitas. Compare com Mt 12.40.

31. Se levantará (έγφθήσίται). Dentre os mortos.

Quem é maior (πλίΐον). Literalmente, algo mais. Vide nota sobre Mt 12.6.

32. Se levantarão (άναστήσονται). Este verbo também é utilizado para se referir


à ressurreição dos mortos, que está implícita aqui nesta passagem, todavia, o
significado é: aparecerão como testemunhas. Vide nota sobre Mt 12.41.

Pregação (κήρυγμα). A proclamação. Vide nota sobre 2Pe 2.5.

33. Candeia. Mais especificamente, uma lamparina.

Oculto (κρυπτήν). Prefira, um porão ou cripta, que, por fim, é uma transcrição
do vocábulo grego.

Alqueire. Vide nota sobre M t 5.15.

Velador. Mais especificamente, um suporte. Vide nota sobre Mt 5.15.

Os que entram (^ίσπορ^υόμ^νοι). Melhor se tiver a força contínua do particí-


pio presente, estão entrando de tempos em tempos.

Luz (φέγγος). O vocábulo ocorre somente em duas outras passagens: Mt 24.29


e Mc 13.24. Vide suas respectivas notas.

34. Simples - luminoso. Vide nota sobre Mt 6.22.

35. A luz que em ti há. Literalmente, a luz, que, a saber, a qual está em ti, enfati­
zando, assim a natureza interior desta luz. Vide nota sobre Mt 6.23.

36. A candeia ... com o seu resplandor (ò λύχνος tf) αστραπή). Mais correta­
mente traduzido como a lamparina com o seu brilho resplandecente. ’Αστραπή sig­
nifica raio, vide capítulo 10.18. Este é-o significado normal encontrado no grego
clássico, embora, raras vezes, este termo também possa se referir à luz de uma
lamparina. E utilizado aqui para enfatizar a ideia de uma iluminação moral.

37. Rogou-lhe (έρωτα). Demasiadamente enfático. Mais corretamente traduzido


como pergunta-lhe, no tempo presente.
299
L ucas - Cap. 11

Jantar (άριστήση). Vide nota sobre jantar em Mt 22.4. A refeição matinal, ime­
diatamente após o retorno das orações matinais na sinagoga.

38. Lavara (έβαπτίσθη). Vide nota sobre Mc 7.4.

39. Prato (ιτίνακος). Compare com παροψίς, também traduzida como prato, em
Mt 23.25.

41. Do que tiverdes (τα kvóvza). Somente aqui no texto do Novo Testamento.
Os comentaristas divergem quanto ao significado deste vocábulo, todavia, no
geral, rejeitam o apresentado pela arc. Na teb, o que está dentro; na bp, o interior
em esmola; e na, t b , mais corretamente: o que está no copo e no prato. O significado
é, deem esmolas do conteúdo dos copos e pratos. Jesus está insistindo na justiça
interior em detrimento da superficialidade dos fariseus, dizendo:

A vo ssa v irtu d e c o n siste na lim p eza das c o isa s e x te r n a s e e m cu ltiv a r um a aparência


resp eitável. C u ltivem , p orém , o esp írito a m o ro so e fratern o da ju stiça in terior, que
lh e s levará a d arem da com id a co n tid a n e ste s r ecip ien tes (aq u ilo q u e está n o seu in te ­
rior) para o s v o ss o s ir m ã o s q u e sofrem .

Godet afirma: “Vocês pensam que basta a lavagem das mãos antes das refei­
ções? Existe uma maneira mais eficaz. Deixe que algum pobre partilhe da carne
e do vinho que você consome”. Este também é o entendimento de Bengel, Meyer,
Alford. Compare com Mt 9.13; Os 6.6.

42. D izim ais (άιτοδεκατοΰτε). Dizimar é doar um décimo. Vide nota sobre
M t 23.23.

Arruda (ιτήγανον). Provavelmente derivado de πήγνυμι, tornar rápido, em fun­


ção das suas folhas espessas e carnudas. Mateus apresenta endro. Vide nota sobre
Mt 23.23.

Hortaliça (λάχανου). Vide nota sobre Mc 4.32.

43. Fariseus (τοις φαρισαίοις). A forma de expressão de Lucas difere do texto de


Mateus, que diz: “vós fariseus”; ao passo que Lucas apresenta “ai de vós, os fariseus”,
marcando-os, por intermédio do artigo, como um grupo religioso bem conhecido.

44. Sepulturas que não aparecem (τα μνημεία τα άδηλα). Literalmente, as se­
pulturas, as invisíveis. O vocábulo άδηλος, não aparente, ocorre somente nesta pas­
sagem e em lCo 14.8, em referência à trombeta que transmite sinais indefinidos.

Sobre elas andam (περιπατοΰυτες). O particípio, sem o artigo, melhor tra­


duzido como à medida que andam; andam perto (περί) nos seus afazeres diários.

300
L ucas - C ap. 11

Em Mateus, as sepulturas são caiadas de branco, para que os homens possam


enxergá-las e evitar a contaminação cerimonial. Aqui elas não são vistas, e os
homens que caminham sobre elas são, inconscientemente, contaminados. Vide
nota sobre Mt 23.27.

45. Também a nós (και ημάς). Ou, talvez, mais adequadamente traduzido como,
até nós, os instruídos.

Afrontas (υβρίζεις). O doutor da lei transforma a censura (vide Mc 16.14, lan­


çou-lhes em rosto) de Jesus em insulta, como este vocábulo que significa afronta ou
ultraje.

46. Também (καί). Enfático: “Ai até ou também de vocês doutores da lei”. Ob­
serve o uso do artigo, tal como se via no momento em que Jesus se dirigia aos
fariseus (v. 43): Vós, os doutores da lei.

Carregais. Compare com oprimidos, em Mt 11.28.

Difíceis de transportar (δυσβάστακτα). Este termo ocorre somente aqui e em


Mt 23.4.

Tocais (προσψαύετε). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Um termo


técnico da Medicina para designar o toque suave de uma parte ferida do corpo,
ou do pulso. Mt 23.4, apresenta κιυήσαι, mexer.

47. Vós que ediíicais. Ou estais edificando, dando continuidade à obra neste mo­
mento. Vide nota sobre Mt 23.29.

Sepulcros dos profetas. Vide nota sobre Mt 23.29.

48. Testificais, pois, que consentis (μάρτυρες εστε καί συνευδοκείτε). Tradu­
zido corretamente por: vós sois testemunhas e consentis. O verbo composto significa
“dais a vossa total aprovação”. Vós pensais (δοκelzc); favoravelmente (εΰ); junto com
eles (σύν).

51. O a lta r e o tem plo (του θυσιαστηρίου καί του ο’ίκου). Οίκου, tem­
plo, literalm ente, casa, é equivalente a ναοϋ, santuário, em M t 23.35. O
altar em questão é o altar do holocausto. Vide M t 4.5; e compare com 2Cr
24.18-21.

53. A apertá-lo fortemente (δεινώς ένεχειυ). Vide nota sobre Mc 6.19.

Fazê-lo falar (άποστοματίζειν). Somente aqui no texto do Novo Testamen­


to. Derivado de άπό, desde, e στόμα, a boca. Originalmente, ditar a um aluno
aquilo que ele deveria memorizar. Assim, vemos em Platão: “Quando o mestre
301
L u c a s - C ap. 12

da gramática ditou-lhe (άποστοματίζοι)”57. Por isso, catequizar, com a ideia de


colocar palavras na boca de Cristo, e fazê-lo dizer o que eles queriam que ele
dissesse.

54-. Armando-lhe ciladas —a fim de apanharem (êveôpeúovte; - θηρ^ΰσαί).


Metáforas relativas à caça.

C a pítu lo 12

1. M uitos milhares de pessoas (των μυριάδων toO όχλου). O vocábulo μυρίας,


especificamente, significa um número de dez mil Ele é o nosso termo miríade. Por
isso, no geral, ele descreve qualquer número incontável.

Primeiramente. Muitos fazem a ligação desta expressão com o que lhe suce­
de na frase: ‘!Acautelai-vos, primeiramente”.

Fermento. Vide nota sobre Mt 13.33.

Que (ήτις). Classificando o fermento: aquele que pertence à categoria da hi­


pocrisia.

Hipocrisia. Vide nota sobre hipócritas, em Mt 23.13.

2. Encoberto (συγκβαχλυμμένον). Somente aqui no texto do Novo Testamento,


implicando uma ocultação total.

S. Gabinete (ταμείοις). Este vocábulo apresenta a mesma raiz que τέμνω, cortar
ou dividir, significa uma divisão onde os suprimentos são divididos e distribuí­
dos: um tesouro, um armazém e, portanto, um lugar secreto e bem guardado. Ali o
mordomo (ταμίας), o distribuidor, tem o seu assento.

Telhados. Vide nota sobre M t 24.17.

4. Digo-vos amigos meus (ύμΐν τοις φίλοις μου). Videfariseus e doutores da lei,
em 11.43,46. Não se tratando de uma abordagem a eles, “Ó meus amigos”, mas, “a
vós, os amigos meus”.

Não temais (μή φοβηθητ€ από). Literalmente, “não temais de” isto é, das mãos de.

5. Eu mostrarei (υποδείξω). Na bp consta indicarei Vide nota sobre ensinou, em 3.7.

Inferno. Vide nota sobre Mt 5.22.

57. Platão, Euthydem us, 276.


302
L ucas —C ap. 12

6. Passarinhos. Vide nota sobre Mt 10.29.

8. Me confessar. Literalmente, “confessar em mim”. Vide nota sobre Mt 10.32.

10. Uma palavra (λόγον). Distinto de blasfêmia, que se segue. Um palavra


contra o pobre e o humilde Filho do Homem poderia, como observa Godet, ter
procedido de um judeu sinceramente piedoso, sob a influência da sua instrução
inicial, que o ensinava a considerar Jesus como um entusiasta ou mesmo um
impostor. O pecado dos judeus estava na rejeição e na resistência ao poder
do Espírito de Pentecoste. O perdão lhes foi oferecido naquele momento pelo
pecado da crucificação do Senhor (vide At 2.38-4Ό, compare também com At
3.17-19).

11. Responder (άπολογήσησθε). Vide nota sobre lPe 3.15.

14. Pôs (κατέστησεν). Indicou ou constituiu.

15. Guardai-vos (φυλάσσ€σθ€ dtirò). Literalmente, guardai-vos a vós mesmos da.

17. Recolher (συνάξω). Literalmente, reunir, amontoar.

18. Frutos (γενήματα). Alguns manuscritos, entretanto, apresentam τον σίτον,


o meu cereal.

19. Alma (ψυχή). Vide nota sobre Mc 12.30.

Descansa. Vide nota sobre M t 11.28.

20. Louco (άφρων). Insensato. Na obra de Xenofonte, Sócrates, ao se dirigir a


Aristódemo, diz: “Quais pessoas vós considerais mais dignas de admiração: aque­
las que fazem imagens sem sentido (άφρονα) ou movimento, ou aquelas que fa­
zem criações inteligentes e ativas?”58. As vezes, também na concepção de ensande-
cido, desvairado, mas jamais no texto do Novo Testamento.

Te pedirão (άπαιτοΟσιν). Literalmente, eles pedem, isto é, os mensageiros de


Deus. A indefinição é impressionante.

O que tens preparado para quem será? A ordem do texto grego coloca
em primeiro lugar aquilo que era mais importante para aquele homem - as
coisas que ele havia acumulado·, “e as coisas que tu tens provido, de quem serão?”
Deus não diz: “as coisas que tu tens ou possuis”. A totalidade da questão do
direito de posse dos seus bens é aberta diante daquele homem rico. Ele dis-

58. Xenofonte, M e m o ra b ilia , I.4.4.

303
L ucas - C a p. 12

sera os m eu s frutos e os m en s bens. Agora a sua condição de proprietário


é ignorada. Os bens não lhe pertencem. De quem eles passarão a ser? Ele
será totalmente despojado deles de forma súbita. Platão relata a forma como
Plutão reclamou para Zeus que as almas dos mortos seguiam para lugares
errados, por julgar que ainda possuíam a roupa do corpo, e que as almas más
estavam revestidas de formosos corpos, de forma que os juizes, que também
estavam vestidos e tinham as almas cobertas pela parte mortal, acabavam
sendo enganados. Zeus respondeu-lhe:

E m p rim eiro lugar, privarei o s h o m en s do c o n h ecim en to p révio da m o r te q u e agora

p ossu em . E m se g u n d o lugar, e le s serão c o m p le ta m e n te d esp id o s a n tes de serem ju lg a ­


dos, p o is serão ju lg a d o s q u an d o estiv erem m ortos; e o ju iz estará, ig u a lm en te, nu; isto
sig n ifica dizer: m orto. E le, com a sua alm a nua, p en etrará na o u tra alm a n u a, e am b os

m orrerão su b ita m en te e serão p rivad os de to d o s o s seu s p aren tes, e d eix a rã o toda a


sua v e stim e n ta esp alh ad a sob re a terra5'*.

22. Não estejais apreensivos. V ide nota sobre Mt 6.25.

24. Considerai. V ide nota sobre Mt 7.3.

Despensa (ταμεΐον). V id e versículo 3.

25. Estatura (ηλικίαν). O significado original do termo é te m p o d e v id a , id a d e.


Assim o encontramos, comumente, no grego clássico. V id e também Jo 9.21,23;
Hb 11.11. O outro significado de, esta tu ra , também ocorre. Heródoto fala de
uma pessoa que tinha a mesma a ltu ra (ήλικιήν) que outra60. Todavia, tanto o uso
quanto a conexão favorecem mais o sentido de id a d e . Uma medida de tempo é,
às vezes, representada por uma medida de comprimento, como vemos no SI 39.5.
Porém, o acréscimo de um côvado (46 cm) à esta tu ra de uma pessoa não seria con­
siderado algo simples, como sugere o texto, mas algo muito complicado. Além
disso, Cristo está falando de alimento e roupas, que têm por objetivo sustentar e
prolongar a v id a .

27. Como eles crescem. Alguns textos omitem eles crescem , e assumem a seguin­
te redação: com o eles n ã o la b u ta m .

Trabalham - fiam (κόπια —νήθίΐ). Alguns apresentam, em vez de tra b a lh a m ,


ύφαίν€ΐ, tecem.

59. Platão, Gorgias, 523.


60. Heródoto, 3.16.

304
L ucas - C ap. 12

28. Que hoje está no campo. Faça a junção da expressão no campo com a erva e
traduza o verbo estar na forma absoluta: existe, vive.

Forno (κλίβανον). Mais especificamente, um vaso de barro coberto, com o


fundo mais largo do que a parte superior, no qual o pão era assado por meio da
colocação de brasas quentes ao seu redor. O forno ou fornalha comum é desig­
nado pelo vocábulo ίπνός. Heródoto, ao se referir à planta do papiro (byblus), cuja
porção inferior é utilizada como alimento, afirmou: “Os que desejam desfrutar
o byblus com total perfeição, assam-no, primeiramente, em um vaso fechado (eu
κλιβάυω), aquecido até ficar incandescente”61.

29. Não pergunteis, pois, que vós haveis de etc. O pronome vós é enfático: “e
vós, não pergunteis o que haveis de” etc.

Andeis inquietos (μετεωρίζεσθε). Somente aqui no texto do Novo Testamen­


to. O verbo significa principalmente erguer até uma certa altura-, boiar, como ali­
mentando falsas esperanças, portanto, agitar-se, ou empolgar-se, ou manter-se em
flutuação. Dessa maneira, Tucídides descreve a guerra entre Atenas e Esparta:
“Toda a Grécia estava agitada (μετέωρος) com o conflito entre as suas duas prin­
cipais cidades que estava prestes a eclodir”62.

33. Bolsas (βαλλάντια). Derivado de βάλλω, lançar, atirar. Um objeto dentro do


qual dinheiro e outras coisas eram lançados. Vide 10.4.

Traça. Compare com Tg 5.2.

36. Houver de voltar (άναλύσρ). O verbo significa, originalmente, soltar, desa­


marrar. Por esta razão, era utilizado a respeito de embarcações: soltar as cordas e
seguir rumo ao mar. Refere-se ao ato departir, de um modo geral. Este é o sentido
na única outra perícope em que ocorre, Fp 1.23: “tendo o desejo de partir ou romper,
sendo que a metáfora é extraída do encerramento de um acampamento”. Compare
com partida (άναλύσεως), 2Tm 4.6. A tradução houver de voltar é uma espécie de
inferência a partir disto: quando ele se ausentar das bodas e houver de voltar.

Bodas (των γάμων). Mais especificamente, άfesta de casamento. Vide Mt 22.2.

37. Vigiando. Vide nota sobre Mc 13.35.

Se cingirá. Como um servo cinge as suas vestes soltas à mesa, enquanto es­
pera o alimento.

61. Heródoto, 2.92.


62. Tucídides, 2.8.
305
L ucas —C ap. 12

Servirá. Vide nota sobre se rv iç a l, em Mt 20.26.

38. Segunda vigília. V id e nota sobre Mc 13.35.

39. A que hora (ποια ώρα). V id e nota sobre Mt 24.42.

Havia de vir. Literalmente, vem . V id e nota sobre M t 24.43.

Minar. V id e nota sobre Mt 6.19.

42. O mordomo fiel e prudente. Literalmente, a q u ele f i e l m o rd o m o , o h om em


p ru d en te.

Os seus servos (θεραπείας). A partir do seu significado original de se rv ir, a te n ­


der(Lc 9.11), este vocábulo veio a significar a c o m itiv a dos serviçais; o conjunto
dos servos de uma casa.

A tempo. Na hora determinada para a distribuição das rações. V ide nota sobre
Mt 2 4 .4 5 .

A ração (oLiopétpiov). Literalmente, m e d id a d e comida.

45. Tarda. Um termo enfático, já que a ideia da demora do senhor e da posterga­


ção da prestação de contas é a que predomina na mente do servo.

46. Infiéis (άπιστων). Adequadamente traduzido pela arc , os infiéis-, pois é de


e não def i que Cristo está falando.
f id e l id a d e

48. Fez. V id e a expressão p a r a os p o r e m diante, em 9.16.

Açoites. Vide 10.30.

49. Fogo. Um impulso espiritual que resultará nas divisões descritas nos versí­
culos seguintes.

50. Me angustio. V id e 4.38, e compare com 2Co 5.14; Fp 1.23.

53. O pai estará dividido. Só que o verbo está no plural. Mais corretamente
traduzido como, “E le s estarão divididos, o pai contra o filho”.

Nora. V id e nota sobre Mt 10.35.

54. A nuvem. No grego, também com o artigo definido, a nuvem, a qual estais
acostumados a ver.

Lá vem chuva. Ou, u m a ch u va está v in d o . V id e nota sobre Tg 5.7.

Sucede (γίνεται). Melhor traduzido como ve m a ocorrer.

306
L ucas — C a p. 13

55. Calma (καΰσων). Vide nota sobre Tg 1.10; Mt 20.12.

56. Discernir (δοκίμαζε iv). Verifique os termos provação e provado em lPe 1.7.
Neste caso, o significado é testar ou provar. Vós podeis testar ou provar o clima
por meio dos seus sinais, mas não sois capazes de aplicar a prova que está nos
sinais dos tempos.

57. Por vós mesmos. No exercício dos vossos hábitos comuns de observação
que vós aplicais para o céu.

58. Quando, pois, vais (ώς γάρ υπάγεις). A k jv não traduz o termo γάρ, pois.
Melhor traduzido como pois, à medida que tu estás indo. O seu próprio juízo deve­
ria mostrá-los a necessidade do arrependimento diante de Deus. Esta obrigação
nos é transmitida por meio da figura de um devedor que encontra o seu credor
no caminho, o qual considera que fazer um acerto ali mesmo, no meio do cami­
nho, como a sua melhor tática.

No caminho. Enfático, aparecendo em primeiro lugar, na ordem do texto gre­


go: “No caminho, procura livrar-te dele”.

Conduza (κατασύρτ)). Arraste. Compare com puxar. Somente aqui no texto do


Novo Testamento.

Meirinho (πράκτορι). Derivado de πράσσω, efetuar ou executar, levar as coi­


sas a um termo e, por isso, exigir, cobrar. A designação de praktor era dada, em
Atenas, a um oficial encarregado da cobrança dos impostos. Desta maneira, um
cobrador. Somente aqui no texto do Novo Testamento.

59. Ceitil (λεπτόν). Vide nota sobre Mc 12.42.

C a pítu lo 13

2. Pecadores, (οφείλεται). Literalmente, devedores. Possivelmente com referên­


cia à imagem passada no final do último capítulo. Compare com Mt 5.25; 6.12;
18.24; Lc 11.4.

7. Há três anos venho [(τρία ετη έρχομαι]. Os melhores textos inserem άφ’ ου, do
qual, ou desde. “Há três anos desde o tempo em que vim”. Na tb: Há três anos que venho.

Corta-a (εκκοψον). Prefira: “corta-a fora” (εκ) dentre as outras árvores e


vinhas.

Por que ela ocupa ainda inutilmente [[ίνατί καί την γην καταργεί]. A arc
traduz como ainda a preposição καί, também, que é muito importante, e, segundo
307
L ucas - C ap. 13

Trench, é a palavra-chave da frase; a nvi a omite. Além de ser estéril por si mesma,
a figueira ta m b ém prejudica o solo. Bengel afirma: “Além de ser improdutiva, ela
afasta os sucos que as videiras extraem da terra, intercepta a luz solar, e ocupa o
espaço”. O verbo representado pela expressão ocupa in u tilm en te (καταργεί) significa
to r n a r sem efeito. Como vemos em Rm 3.3,31; G1 3.17. O cu p a r in u tilm en te expressa
este significado de uma maneira muito genérica e ampla. Os elementos específicos
nesta expressão são mostrados por Bengel acima. Segundo De Wette: to rn a a terra
im p ro d u tiva . V ide nota sobre os adjetivos ociosos e estéreis, em 2Pe 1.8.

9. E, se der fruto, ficará; e, se não, depois [kâv μεν ποίηση καρπόν οίς το
μέλλον εί δε μή γε^. Junte d e p o is com d e r f r u to . “Se ela der fruto no f u tu r o (εις το
μέλλον, como na tb; na rv, d esd e en tã o ), ficará; mas, se não, tu a cortarás.” Tren­
ch cita a receita passada por um escritor árabe para curar uma palmeira de sua
esterilidade:

Deves pegar um m achadinho e ir até a árvore acom panhado de um amigo, a quem


dirás: “Vou cortar esta árvore porque ela é improdutiva". O am igo responde: “Nào
faças isto, este ano ela, certam ente, dará os seus frutos”. E o outro diz: “É preciso que
assim seja —ela precisa ser derrubada”; e desfere três golpes no tronco da árvore com
a p arte de trás do machado. Só que o outro o censura, dizendo: “Não, não faças isso,
certam ente terás os teus frutos ainda este ano, basta que tenhas paciência com ela e
não te apresses em cortá-la; se, m esm o assim, ela se recusar a te d ar os frutos, então,
põe-na abaixo”. Assim, seguram ente, aquela árvore d ará m uitos frutos naquele ano63.

Trench acrescenta que esta história parece ser largamente conhecida em todo
o Oriente.

A mandarás cortar. O trabalhador da vinha não diz: “Eu a cortarei”, todavia


atribui esta ação ao seu senhor.

11. Espírito de enfermidade. Um espírito que causava enfermidade. Um demônio,


vid e versículo 16, embora não se possa ter certeza de que aquele fosse um caso de
possessão. Os detalhes da enfermidade, e a observação da sua duração e continuida­
de, são características de um texto escrito por um profissional da área médica.

Andava curvada (συγκύπτουσα). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Na bj, in teira m e n te recu rva d a .

Endireitar-se (άνακύψαι). Somente aqui no texto do Novo Testamento, a me­


nos que a passagem de Jo 8.7-10, seja aceita como genuína. Termo utilizado por
Galeno para se referir ao fortalecimento das vértebras da espinha.

63. Trench, Parables.


308
L u c a s - C ap. 13

12. Estás livre (άπολελυσαι). Na τ ε β , estás lib erta . A única passagem do Novo
Testamento onde este termo é utilizado para se referir a uma enfermidade. Os
autores da área médica a utilizam para falar do livramento de uma doença, do
relaxamento dos tendões e da retirada de bandagens.

13. Se endireitou (άνωρθώθη). Na t e b ,ficou ereta. Este verbo ocorre em At 15.16,


para se referir à construção do Tabernáculo de Davi, e em Hb 12.12, para se refe­
rir ao erguer de mãos que estavam abaixadas.

15. Desprende (λύει). Na teb, d esa ta . Compare com estás livre, no versículo 12.

Manjedoura. V id e 2.7.

16. Satanás. Abbot expressa: “Fiel ao seu princípio de contraste, este livro
atribui a Satanás um papel proeminente”. V id e 4.13; 10.18; 22.3,31. V id e
I n tr o d u ç ã o .

17. Ficaram envergonhados. Melhor traduzido como foram levados à vergonha.


Na teb, cobertos de vergonha·, enquanto a bp, sentiam-se confundidos.

Coisas gloriosas. V ide nota sobre Mt 11.10.

Eram feitas (γινομενοις). Literalmente, estão sendo f e ita s , numa indicação de


que elas estavam ainda em andamento.

19. Sua horta. Mais especificamente, na sua própria (εαυτού), onde ele podia cui­
dar e observá-la pessoalmente.

Grande árvore. Os melhores textos omitem o adjetivo g ra n d e .

Aves. Vide 9.58.

Ramos (κλάδοις). V ide nota sobre Mc 11.8.

21. Fermento. V id e nota sobre Mt 12.33.

24. Porfiai Γάγων ίζεσθεΤ Termo utilizado somente por Lucas e Paulo, salvo Jo
18.36. Originalmente, lutar por um prêmio nos jogos públicos, transmitindo a ideia
de disputa. Um substantivo correlato, αγωνία, agonia, é utilizado para descrever a
agonia de Cristo no Getsêmani (22.44). Compare com lTm 6.12; 2Tm 4.7.

P o rta estreita (στενής θιίρας). A k j v apresenta p o r tã o e s tre ito . V id e Mt


7.13. Ali se fala da p o r t a d a ca sa e não do seu p o r tã o (v. 25). Em Mt 7.13, onde
a figura de um portão que dá acesso a um caminho, o vocábulo πύλη, p o r tã o ,
é utilizado.
309
L u c a s - C ap. 13

25. Quando (άφ’ ου). Literalmente, d esd e o te m p o que. Compare com o versículo 7.
Alguns editores fazem a ligação desta expressão, no grego, com a frase anterior:
“não poderão q u a n d o o p a i..." etc.

De onde (ττόθεν). De qual família. Vós não pertenceis à minha família. V id e Jo


7.27: “Sabemos de onde Ele (Jesus) é;” isto é, conhecemos o seu local de nasci­
mento e a sua família.

26. Na tua presença (ενώπιον σου). Não como convidados amados e conhecidos.
Compare com convosco (μεθ’ υμών), em Mt 26.29.

27. Não sei de onde. Bengel afirma: “A frase é fixa, mas repetida com ênfase”.

29. Assentar-se-ão (άνακλιθήσονται). Na bp, se reclin arão à m esa. Jesus lança o


seu pensamento em uma imagem familiar para os judeus. Segundo a concepção
judaica, um dos principais elementos da bem-aventurança do reino messiânico
será o privilégio de se tomar parte nos festejos esplêndidos que ocorrerão na
presença dos patriarcas da nação. O versículo 30 corrobora com esta concepção,
em uma alusão aos lugares naquele banquete, por isso a teb traz: to m a r lu g a r no
fe s tim . Compare com 14.7-9; Mt 23.6.

31. Dia. Os melhores manuscritos apresentam hora, como traduz a tb.

32. Àquela raposa. Herodes. Em uma descrição da sua astúcia e covardia.

Curas (ίάσεις). Utilizado somente por Lucas.

Sou consum ado (τελειοΰμαι). No tempo presente, Meyer afirma: “O pre­


sente do futuro definido”. O significado é: c h e g a r a o f i m , te r m in a r : eu t e r m i ­
n ei. Os expositores divergem enormemente a respeito deste termo, alguns
interpretam: “Eu terminei a m in h a ta r e fa de curar" etc.; outros, a m in h a
v id a .

33. Que não suceda (ούκ ενδέχεται). O verbo significa a c e ita r ou a d m itir , de
forma que o significado é: “não é admissível que”. Esta expressão é irônica e
hiperbólica, ao sugerir que Jerusalém teria o monopólio sobre este tipo de mar­
tírio. Godet afirma: “Seria contrário ao uso e aos costumes, e, de certa forma, ao
decoro teocrático, que um profeta como eu perecesse em qualquer outro lugar
diferente de Jerusalém”.

34. Quis eu ajuntar (ήθέλησα έπισυνάξαι). Literalmente, “Eu d eseje i reunir”. Na


n v i , q u is reunir.

Galinha. V id e nota sobre Mt 23.37.


310
L u ca s —C a p. 14

Capítulo 14

1. Observando (ήσαν παρατηρούμενοι). Ο particípio e ο verbo finito, estavam empenha­


dos em observar. Intim am ente, de p e rto (παρά). Na rj: o espiavam . Vide nota sobre Mc 3.2.

2. Hidrópico (ΰδρωπικός). Literalmente, u m h o m em h id ró p ico . A forma comum de


se falar de um paciente, em linguagem médica.

4. Tomando-o. Dominou-o. Lc 20.20; lTm 6.12..

5. Poço (φρέαρ). O significado primário é mesmo o de um poço, distintivamente


de uma fo n te .

Tire. Mais exatamente, p u x e - o p a r a c im a (άνά).

7. Escolhiam. No imperfeito: e s ta v a m escolhendo. Na bv, e s ta v a m p ro c u ra n d o . Algo


que estava ocorrendo diante dos seus olhos.

Os primeiros assentos [πρωτοκλισίας], Na bp, lugares d e honra. O s autores gre­


gos mencionam as disputas absurdas que, por vezes, ocorriam entre as pessoas por
causa dos principais lugares à mesa. Teoffasto chama a pessoa que se lança rapida­
mente ao lado do anfitrião de μικροφιλότιμος, aquele que busca distinções trivia is.

8. Bodas. Mais especificamente, a f e s t a d e casam en to.

9. Tenhas de. Enfatizando a vergonha dos movimentos relutantes em direção


ao lugar menos nobre.

O derradeiro. Já que os outros lugares intermediários estavam todos reservados.

10. Assenta-te (άνάπεσε). Literalmente, reclin a -te.

11. Se humilhar. V ide nota sobre h u m ild e, em Mt 11.29.

12. Jantar - ceia Γάριστόν - δείπνον]. V id e nota sobre Mt 22.4. A ceia (δεΐπον)
era a principal refeição noturna, correspondente ao jantar feito tarde da noite,
nos tempos modernos.

Não chames os teus amigos. Um paralelismo marcante ocorre na obra de Platão:

E, em geral, quando fizerdes um a festa, não convides o teu amigo, mas o m endigo e a
alma vazia, pois eles te am arão, atender-te-ão, e virão até a sua porta, e serão os mais
felizes, bem como os mais agradecidos, e invocarão bênçãos sobre a tu a cabeça"4.

64. Platão, Fedro, 233.

311
L ucas- C ap. 14

13. Convite (δοχήν). Ou, uma recepção. Termo de uso exclusivo de Lucas.
Vide 5.29.

15. Bem-aventurado. Vide nota sobre Mt 5.3.

16. Fez (èrroíei). No tempo imperfeito, estava fazendo. Os seus preparativos es­
tavam em andamento. Um ato específico no meio destes preparativos é descrito
pelo tempo aoristo, ele convidou (έκάλ^σεν), o termo técnico utilizado para descre­
ver um convite feito para uma festividade. Vide Mt 22.3; Jo 2.2.

17. Mandou o seu servo. Thomson observa:

Se um xeque, um bei ou um em ir lhe convidar para algum evento, ele sem pre enviará
um servo para lhe cham ar na hora certa. E ste servo de modo frequente repete a mes­
m a fórm ula mencionada em Lc 14.17: “ Venha, porque a ceia está preparada’. O fato deste
costum e ficar restrito aos ricos e à nobreza está com pletam ente de acordo com a pará­
bola, na qual o homem que preparou a ceia, supostam ente, pertence a esta categoria de
pessoas. É verdade, ta n to naquela época, quanto hoje, que recusar um convite destes é
considerado um grave insulto ao anfitrião'*6.

Palgrave menciona uma fórmula similar de convite entre os beduínos da Ará­


bia. Thomson afirma: “O chefe, ou outro jovem - do tipo que não veste calção
- da sua família vem até nós com a costumeira expressão te fa d d a h o , o u : f a ç a - n o s
u m f a v o r ”66.

18. Escusar-se (παροατΤισθαι). Também traduzido dentro do Novo Testamento


como recusar, Hb 12.19,25, onde ocorrem os dois significados. V id e também 2Tm
2.23. A nossa expressão, d e c lin a r d e um convite, representa, com um certo grau
de equivalência, a mesma ideia.

Preciso (£χω άυάγκην). Literalmente, eu ten h o necessidade-, uma expressão


enfática.

Ir (έξ^λθόίυ). Ir para f o r a (έξ) da cidade.

20. Não posso. Um homem recém-casado tinha alguns privilégios que lhe eram
atribuídos. V id e Dt 24.5. Heródoto relata como Creso recusou em lugar do seu
filho um convite para uma caçada com base neste costume. “Mas Creso respon­
deu: ‘Não me fales mais na ida do meu filho contigo; para que não pareças falta
de entendimento. Ele acaba de contrair matrimônio e está bastante ocupado com

65. Thomson, Land and Book.


66. Id., Central and Eastern Arabia.

312
L ucas - C ap. 14

isso.’”67 O homem que tinha a desculpa mais plausível dava a resposta mais rude
e peremptória. Compare com lCo 7.33.

21. Ruas (πλατείας) - bairros (ρύμας). O primeiro termo deriva de πλατύς, largo-,
as ruas largas contrastadas com as ruas estreitas. A ara e tb traduzem ruas e becos,
enquanto teb e bj : praças e ruas.

22. Como mandaste [ως έπεταξαςΊ. Segundo a leitura ώς, como. Os melhores
textos substituem por ó, o que. Traduza, como a tb : “feito está o que ordenaste”.

23. Atalhos (φραγμούς). Vide nota sobre Mt 21.33. O significado pode ser uma
cerca, ou um lugarfechado por uma cerca. Neste caso, a cerca lateral, ao lado da qual,
os desocupados descansam.

Força-os. Compare com ordenar, obrigar, em M t 14.22; At 26.11; G1 6.12.


Não fazendo uso de força, mas constrangendo-os a superar a relutância, que
este tipo de gente simples sente ao receber um convite de uma pessoa im­
portante.

Se encha (γεμισθή). Um termo muito enfático, utilizado, de maneira mais es­


pecífica, para descrever o carregamento de um navio. Bengel afirma: “Tanto a
natureza, quanto a graça detestam o vácuo”.

27. A sua cruz. Mais exatamente, a sua própria. Uma instrução importante. Todos
precisam carregar a cruz, mas nem todos a mesma cruz: cada um leva a sua.

28. Uma torre. O tema da parábola é a vida de um discípulo cristão, que é repre­
sentada por uma torre, uma estrutura imponente, como algo que se distingue do
mundo e atrai atenções.

A fazer as contas (ψηφίζει). Este termo ocorre somente aqui e em Ap 13.18.


Derivado de ψήφος, um pedaço depedra [vide Ap 2.17), utilizado para se fazer con­
tas. Na b p : calcularas gastos. Assim, Heródoto afirma que os egípcios, ao fazer
os seus cálculos (λογίζονται tyvfooiç, fazem os seus cômputos utilizando pedras), e
mexem a mão da direita para a esquerda66. Assim também vemos em Aristófanes:
“Calcule de modo grosseiro, não fazendo uso de pedras (ψήφοις), mas da própria
mão”65*. De modo semelhante, o verbo calcular deriva do latim calculus, que sig­
nifica uma pedra. Termo utilizado também em referência a votos religiosos. Desse
modo, Heródoto observa: “Os gregos se reuniam diante do altar de Netuno e

6 7 . H e r ó d o to , 1.36.
6 8 . Id ., 2 .3 6 .
6 9 . A r is tó f a n e s , As Vespas, 6 5 6 .

313
L ucas - C ap. 14

tomavam a s cédu las (τάς ψήφους) com as quais eles deveriam entregar os seus
votos”. Platão expressa: “E vós, votareis (άν ψήφον Gelo, la n ça re is a vo ssa p e d r a )
comigo ou contra mim?”70 V id e At 26.10.

Gastos (την δαπάνην). Relacionado a δάπτω, d e v o ra r. Dessa maneira, g a s ta r ,


com o sentido de algo que consome os nossos recursos.

Com que a acabar?(e ίς άπαρτισμόν). Literalmente, a té o en cerram ento. O verbo


correlato απαρτίζω, que não é utilizado no texto do Novo Testamento, significa
to r n a r p la n o ou q u a d ra d o , co m p leta r.

29. Acabar (έκτελεσαι). Literalmente, “acabar p o r f o r a ’ (εκ).

Virem (θεωρούντες). Observando atentamente o progresso da construção. Vide 10.18.

Comecem a escarnecer. Quando os seus recursos acabarem.

80. Este homem (ουτος ò άνθρωπος). Com uma ênfase sarcástica.

Não pôde (ούκ ΐσχυσεν). Derivado de ισχύς, fo r ç a . V ide nota sobre f o r ç a , em


2Pe 2.11. Ser forte em termos de força física ou de recursos e, assim, te r v a lo r,
dignidade-, v id e latim valere. “Este homem não era suficientemente digno, ou não
era suficientemente bom para dar cabo àquela construção”. Neste último sentido,
Mt 5.13: “Para nada mais p re ste i’.

31. Indo à guerra a pelejar contra outro rei (έτέρω βασιλεύ συμβαλειν εις
πόλεμον). Literalmente, v i r ju n to d e o u tro re i p a r a g u e rre a r.

Lá fora ele brilhou,


E naquele cântico, numa chama tamanha pela fama,
O toque das trombetas descia
A uma proximidade implacável, onde os ferros se tocavam,
De tal forma que quando ele parou, ansiamos fo r atirarmos juntos1' .

Com dez mil (εν δέκα χιλιάσιν). Literalmente, em dez milhares; isto é, no
m eio de-, ro d e a d o p o r. Compare com Jd 14.

32. Pede (έρωτά). Em pé de igualdade: rei tratando com rei. V ide 11.9.

Condições de paz (τα προς ειρήνην). Literalmente, coisas que olh em em direçã o
Compare com Rm 14.19, a s coisas que se rv e m p a r a a p a z (τα τής
à p a z : p relim in a re s.
ειρήνης, a s coisas d a p a z ) .

70. Platão, Protágoras, 330.


71. Tennyson, Idyls of the King.
314
L ucas - C ap. 15

33. Renuncia (αποτάσσεται). Dá adeus a. Vide 9.61. Trench afirma: “Nesta renún­
cia está a chave para toda a passagem”. O discipulado cristão está fundamentado
na autorrenúncia.

34. Se ele degenerar. Vide nota sobre Mt 5.34.

Se adubará. Vide n o ta sobre Mc 9.50.

C a pítulo 15

4. No deserto. Não se referindo a um lugar deserto, mas a planícies não cultiva­


das; a pastagens. Observe que as ovelhas estão sendo pastoreadas no deserto. Um
viajante, citado, de forma anônima, por Trench teria afirmado:

Existem, na verdade, alguns trechos amaldiçoados, nos quais por vários quilômetros
somente se avista algo como um grande oceano Atlântico, só que com uma cor ama­
rela tostada, no qual se levantam ondas amareladas, uma após a outra. Mas é bem
comum haver regiões com fertilidade selvagem, onde a terra produz uma selva de
arbustos aromáticos72.

5. Achando-a. Mateus, Se assim ocorre dele achá-la.

Sobre seus ombros. Literalmente, os seus próprios ombros. Bengel expressa:


“Ele podería ter utilizado a ajuda de um servo, mas o amor e a alegria tornam
o trabalho doce para ele”. O “Bom Pastor” é um dos temas favoritos da arte na
igreja primitiva:

Não se pode andar por qualquer parte das catacumbas, nem se folhear as páginas de
qualquer coleção de monumentos cristãos antigos, sem que se depare com esta figura,
de forma seguida. Sabemos, a partir de Tertuliano, que ele era, normalmente, dese­
nhado em cima de cálices. Nós mesmos o encontramos pintado em um afresco que
fica no teto e nas paredes das câmaras funerárias, rusticamente entalhados na parte
superior das pedras dos túmulos, ou mais cuidadosamente esculpidos nos sarcófagos;
desenhado com ouro sobre o vidro, moldado em lamparinas, gravado em anéis; e, para
resumir, representado em todas as formas de monumentos cristãos que chegaram
até a nossa época £...] Ele foi escolhido por expressar a totalidade e a substância da
dispensação cristã £...]] Ele é, às vezes, representado de forma solitária com o seu
rebanho; outras, acompanhado pelos apóstolos, cada um na companhia de uma ovelha
ou mais. As vezes ele aparece no meio de muitas ovelhas; às vezes, ele acaricia somente
uma delas, todavia, o mais comum —tão comum a ponto de representar, praticamente,

72. Trench, Parables.

315
L ucas - Cap. 15

uma regra à qual as outras cenas poderíam ser consideradas as exceções —é ver o
pastor carregando a ovelha perdida, ou mesmo uma cabra, sobre os ombros71.

Uma bela peça pode ser encontrada no mausoléu de Galla Placidia, em Raven­
na, construído por volta do ano 450 d.C. Trata-se de um mosaico nas cores verde
e dourada. A figura é de um homem bonito, jovial de rosto e de formas, como é
comum nos mosaicos do período primitivo da igreja, rodeado pelas suas ovelhas.
Olhando para esta peça vemos, sobre um altar, a forma de Cristo sentado ao lado
de uma espécie de fornalha, a qual tem, do seu lado oposto um pequeno armário
aberto para livros. A sua tarefa é lançar os livros heréticos no fogo. Será que eles,
na verdade, são a mesma coisa - Cristo, o Pastor dos Evangelhos, e o polêmico
Cristo dos homens do clero?

6. Comigo. Trench citando Gregório: “Não com as ovelhas. A nossa vida é a sua
alegria”.

7. Se arrepende. V ide nota sobre Mt 3.2.

8-32. As parábolas da dracma perd id a E do filho pródigo . Peculiares a Lucas.

8. Dracmas (δραχμάς). Na teb , m o e d a s d e p r a ta . Utilizado exclusivamente por


Lucas. Uma moeda que, normalmente, mostrava a imagem de uma coruja, de
uma tartaruga, ou uma cabeça de Pallas, com peso de aproximadamente 4 gra­
mas. Uma medida comum usada no preparo de medicamentos e na prescrição de
receitas.

9. As amigas. Substantivo no gênero feminino.

Perdida. Em função da sua própria negligência. A respeito das ovelhas, Jesus


afirma: “se perdeu”. Trench observa: “Uma ovelha extravia-se a si mesma, mas
uma moeda somente pode ser perdida em caso de negligência por parte do seu
portador”. No primeiro caso, a atenção se volta para a condição do objeto perdi­
do; no segundo, para a angústia da pessoa que o perdeu.

12. A parte. Segundo Edersheim, de acordo com as leis judaicas que regulam
as heranças, no caso de haver dois filhos, o mais velho recebería duas partes, e o
mais moço, a terceira parte de todos os bens móveis. Um homem podería, duran­
te o seu tempo de vida, entregar todos os seus bens em forma de doação, se assim
o desejasse. Se a parte do filho mais moço fosse diminuída em função de alguma
doação ou fosse retirada, a distribuição deveria ser feita por uma pessoa, supos­
tamente, próxima da morte. Ninguém em boa saúde podería retirar, exceto por

73. N o r th c o te a n d B ro w n lo w , Roma Sotteranea.


316
L ucas - C ap. 15

doação, a porção legal de ura filho mais moço. O filho mais moço, assim, tinha por
direito legal a garantia da sua porção, embora não tivesse o direito de reclamá-la,
enquanto o pai estivesse vivo. O pedido poderia ser considerado como um favor
por parte do pai.

Por eles. Até mesmo com o filho mais velho, que não lhe havia solicitado.

13. Tudo. Tudo foi retirado das mãos do pai.

Partiu (άττεδήμησεν). Correspondendo à nossa expressão f o i p a r a o ex terio r.

Desperdiçou (ôieuKÓpiuoev'), O term o utilizado para descrever o joeiram ento


dos grãos. V ide nota sobre Mt 25.24.

Vivendo dissolutamente (ζώυ άσώτως). Literalmente, v iv e n d o p ro d ig a m e n te .


A bp traduz·, v iv e n d o com o u m lib e rtin o . Somente aqui no texto do Novo Testa­
mento. O substantivo correlato, άσωτία, é traduzido pela arc , em todas as três
passagens onde ocorre, como co n te n d a (Ef 5.18); e d isso lu ç ã o (Tt 1.6; lPe 4.4).
V ide nota sobre lPe 4.4.

14. Gastado. V ide nota sobre g a sto s, em 14.28.

Naquela terra. A escassez é uma característica daquela “terra longínqua”. O


pródigo passou a sentir o mal daquele lugar. “E le (com um certo grau de ênfase)
começou a provar da privação”.

A padecer necessidades (ύστ^ρεΐοθαι). Derivado de ύστερος, atrás. Compare


com a nossa expressão que fala de uma pessoa que passa por circunstâncias difí­
ceis, sofreu u m revés.

15. Chegou-se (έκολλήθη). Na tb consta en costar-se. O verbo significa c o la r o u ce-


m en ta r. Muito expressivo nesta posição, implicando que ele forçou a sua presença
diante deste cidadão, que não estava disposto a acolhê-lo, e que somente aceitou
os seus préstimos depois de súplicas insistentes. Godet afirma: “O miserável in­
feliz é uma espécie de complemento a uma personalidade estranha”. Compare
com At 9.26. V id e também At 5.13.

A apascentar porcos. Por ter admitido o jovem de forma relutante, também


lhe deu a função mais simplória possível. Uma tarefa infame, especialmente aos
olhos de um judeu: a criação de porcos era proibida aos israelitas e punida com
maldição.

16. Desejava (έπίθύμΕί). Um desejo co m p u lsivo . No tempo imperfeito, ele esta va


durante todo o tempo em que cuidou dos porcos.
desejan do,

317
L ucas - C a p. 15

Encher o seu estômago (γφίσαι την κοιλίαν). Os textos variam. A leitura


χορτασθήναι, “Ele desejaria te r sid o en ch ido”, ê o mesmo termo utilizado para
descrever o preen ch im en to daquelas pessoas que têm fome e sede de justiça em Mt
5.6 ( v id e nota respectiva), e dos cinco mil (Mt 14.20). Ele havia desejado a coisa
errada o tempo todo, e não estava em situação melhor, agora, tudo o que ele mais
queria era encher o seu estômago.

Bolotas (κερατίων). Vagem da alfarroba. O termo é um diminutivo de κέρας,


u m chifre, e significa, literalmente, u m ch ifrin ho, a partir do formato da vagem.
A árvore é, às vezes, chamada, na língua alemã, de B o ck sh o rn b a u m , ou á r v o r e d o
ch ifre d e cabra. Thomson registra:

As vagens carnudas têm cerca d e 15 a 2 5 cm de comprimento e um interior amplo e


alinhado que contém uma substância gelatinosa, de gosto não totalmente desagradá­
vel, d e s d e q u e e s te ja m completamente maduras7*.

Somente a casca ou a vagem é comestível. A alfarroba cresce nas regiões meri­


dional da Itália e Espanha e, conta-se, que na Guerra da Península, os cavalos da
cavalaria britânica, de modo geral, eram alimentados com estas vagens. Ela tam­
bém é chamada d e p ã o d e S ã o Jo ã o , a partir de uma tradição de que João Batista
teria se alimentado do seu fruto no deserto. Edersheim cita um ditado judeu que
diz: “Quando Israel for reduzido a uma alfarrobeira, por fim, arrepender-se-á”.

17. Caindo em si. Uma expressão forte, que coloca o estado de rebelião contra Deus
como uma espécie de loucura. Ela é um magnífico toque de arte, pois representa
o início do arrependimento, como sendo o retorno a um estado de sã consciência.
Ackermann observa que Platão considera a redenção como u m c a ir em s i mesmo, uma
apreensão da existência de nós mesmos; como uma separação do nosso ser mais ín­
timo do elemento que o envolve75. Várias passagens de Platão são muito sugestivas
neste ponto. Segundo Alcebíades: “Quem insiste com um homem para que ele se
conheça a si mesmo, deveria fazer com que ele conhecesse a sua alma”76.

- Para vê-la (a alma) como ela realmente é, não como agora a vemos, desfigurada pela
comunhão com o corpo e por outras misérias, vós devíeis olhar para ela com os olhos
da razão, na sua pureza original e, então, a sua beleza seria descoberta e, na sua ima­
gem, a justiça seria vista de modo mais claro e a injustiça, e todas as coisas que descre­
vemos. Até aqui falamos da verdade no que diz respeito a ela, segundo a sua aparência
no presente; só que precisamos lembrar também que somente a vimos em uma con­
dição que pode ser comparada àquela de Glauco, o deus do mar, cuja imagem original

7 4 . Thomson, Land and Book.


75. A c k e r m a n n , Christian Element in Plato.
7 6 . P la tã o , Alcebíades, 1.130.

318
L ucas —Cap. 15

dificilmente pode ser discernida, porque os seus membros naturais foram decepados
e esmagados e, de muitas formas, deteriorados pelas ondas; bem como foram tomados
por incrustações de algas marinhas, de conchas e de pedregulhos, de tal forma que ele
se assemelha mais a um m onstro marinho do que à sua forma natural. A alma, desse
modo, está numa situação semelhante, desfigurada por dez mil enfermidades: mas não
é para lá, Glauco, não é para lá que devemos olhar.
—Para onde, então?
- Para o seu amor pela sabedoria. Vejamos a quem ela se inclina, e que tipo de con­
versa ela busca, em virtude do seu parentesco próximo com o imortal, com o eterno
e com o divino; além disso, como ela seria diferente, case seguisse completamente
este princípio superior e saísse, por um impulso divino, do oceano no qual ela agora
se encontra mergulhada, e dela fossem retirados os pedregulhos, as conchas e as coi­
sas da terra e a rocha que, em variedades bravias, cresceram ao seu redor, porque ela
se alimenta da terra e se encontra incrustada pelas boas coisas desta vida segundo
as suas designações. Só então, vê-la-eis como ela realmente é;;.

Têm abundância de pão (περισσεύονται άρτων). Literalmente, abundam em


pães. Na tb consta pão comfartura.

Pereço (άπόλλυμαι). Mais adequadamente traduzido como: eu estou perecendo.


Os melhores manuscritos inserem ώδε, aqui (incluído pela arc ), em contraste
com a casa do pai, sugerido pelos trabalhadores do pai.

20. Seu pai. Com um toque de afeto no grego: o seu próprio pai.

Correndo. Trench cita um provérbio oriental: “Quem se achegar a mim (Deus)


em um centímetro, a ele me achegarei em cem, e quem caminhar em minha direção,
me verá saltando para encontrá-lo”.

Beijou. Vide n o ta so bre Mt 26.49.

21. De ser chamado teu filho. Ele omite faze-me como um dos teus trabalhadores.
O espírito de servidão se dissipa, quando é envolvido pelos braços do pai. Bengel
sugere que o pai não toleraria ouvir aquelas palavras. Certa vez ouvi Norman
McLeod dizer em um sermão:

Antes do filho pródigo chegar em casa, ele ficou pensando no que podería fazer para
ser merecedor da restauração. Ele decidiu que seria um dos trabalhadores contratados
pelo pai. Só que quando o pai saiu ao seu encontro e o envolveu com os seus braços, e
o pobre menino estava começando a pronunciar aquelas palavras, ele, simplesmente,
fechou a boca e disse: “Recebo-te no meu coração e isto me basta”.

77. Platão, A República, 611.


319
L ucas —C ap. 15

22. Aos seus servos. Escravos. Este um toque sutil ao se colocar em cena os
escravos imediatamente após a expressão te u f ilh o (v. 21).

Trazei depressa. Somente alguns manuscritos acrescentam d ep ressa (ταχύ).

A melhor roupa (στολήν την πρώτην). Literalmente, u m m a n to , o p r im e ir o .


Mais especificamente, um manto longo e ondulado, um traje f e s tiv o . V id e Mc
16.5; Lc 20.46.

Anel. V id e nota sobre Tg 2.2. Compare com Gn 41.42.

Sandálias. O anel e as sandálias são marcas de um homem livre. Os escravos


andavam descalços.

23. O bezerro cevado. O artigo indica que um animal fora separado para aquela
ocasião festiva.

24. Reviveu - foi achado (àvéCqoev - εύρέθη). Ambos no tempo aoristo e indi­
cando um tempo definido no passado, indubitavelmente o momento no qual ele
“caiu em si”.

O Filho Pródigo é um tema favorito na arte cristã. O retorno do penitente é o


ponto mais frequentemente escolhido, contudo a sua devassidão na terra longín­
qua e a sua degradação no meio dos porcos também são abordados. A devassidão
é o tema de uma pintura interessante pelo jovem Teniers, localizada na galeria
do Louvre. O pródigo está festejando em uma mesa com duas cortesãs, em frente
de uma estalagem, na janela aberta que ostenta o nome da taverna. Uma mulher
idosa, apoiada em uma bengala, pede esmolas, possivelmente prenunciando o
destino das duas mulheres sentadas com o pródigo à mesa. O jovem está com o
copo afastado do corpo, e um dos servos lhe serve com vinho. No canto direito,
vemos um chiqueiro onde um serviçal está alimentando os porcos, mas com o
rosto virado para a mesa, como que a invejar os alegres fanfarrões ali à mesa.
Todos os trajes e outros detalhes da pintura são holandeses. Holbein também o
representa em festas com uma jovem, e jogando a dinheiro com um vigarista que
está arrastando o seu dinheiro para fora da mesa. Os outros pontos da história
são apresentados no fundo da pintura. Jan Steen o pinta à mesa em um jardim
diante de uma estalagem. Um homem toca um violão, e duas crianças fazem
bolhas de sabão - “uma alegoria que faz alusão aos prazeres passageiros dos
esbanjadores”. Jameson observa que a vida dissoluta é tratada, principalmente,
pelos pintores holandeses. A vida entre os porcos é tratada por Jordaens na gale­
ria de Dresden. O jovem, que exibe somente um pedaço de tecido sobre os qua­
dris, aproxima-se do cocho onde os porcos estão se alimentando, estende a mão
e parece pedir comida a um porqueiro carrancudo, que lhe mostra o cocho. No
320
L ucas - C a p. 15

canto esquerdo, um jovem camponês está tocando flauta, em um triste contraste


com a música deliciosa das salas de prazer. Salvator Rosa o retrata em uma pai­
sagem, ajoelhado com as mãos unidas em posição de súplica no meio de rebanho
de ovelhas, bois, cabras e porcos. Rubens, em um estábulo de fazenda, ajoelhado
próximo a um cocho, onde uma mulher está dando comida a alguns porcos. Ele
parece estar implorando por um pouco daquela comida à mulher. Um dos mais
belos exemplos da representação dada ao retorno é o feito por Murillo, no es­
plêndido quadro localizado na galeria do Duque de Sutherland. Ele foi descrito
da seguinte forma por Stirling:

O jovem arrependido, preso no abraço do pai é, obviamente, a figura principal; a sua


aparência pálida e delgada evidencia as agruras do seu tempo, em que foi dominado
pela cobiça exterior, e o bordado nas suas vestes esfarrapadas, mostram o esplendor
de outrora, na sua vida de devassidão. Um pequeno cão branco, saltando para lhe
acariciar, ajuda a contar a história. Em um lado deste grupo, um homem e um menino
trazem o bezerro cevado para dentro; no outro, aparecem três servos carregando as
roupas de seda azul clara de modelo espanhol, e o anel de ouro; e um deles parece estar
murmurando diante das honrarias preparadas para o jovem perdido7".

25. Música (συμφωιήας). Uma sinfonia: um concerto de música.

26. Perguntou-lhe (έιτυνθάν^το). No tempo imperfeito. C om eçou a p e r g u n ta r.

27. Veio - são e salvo. Compare com R e v i v e u —f o i ach ado. Trench expressa:

Como é agradável observarmos todos os detalhes pequenos da narrativa. O pai, em


meio a todo o seu amor natural, continua cheio do significado moral do retorno do seu
filho - por ele ter voltado uma pessoa diferente daquela que partiu, ou daquela que es­
teve naquela terra longínqua; ele consegue enxergar, nas profundezas da sua alegria,
que lhe está recebendo, verdadeiramente, como um filho, que outrora esteve morto,
mas agora voltou a viver; outrora morto para ele e para Deus, mas agora achado, de
igual modo, por ambos. Contudo, o servo se restringe às características mais exterio­
res do caso, ao fato de, depois de tudo o que ele enfrentou em termos de excessos e
dificuldades, o seu pai ainda o recebe são e salvo.

28. Ele se indignou (ώργίσθη). Não com ataque de paixão temporária, todavia,
como a palavra bem mostra, com uma profundamente arraigada.

29. Cabrito (φίφου). Alguns manuscritos apresentam o diminutivo, φΐφιον,


“um ca b ritin k o ”. De qualquer forma, a intenção é fazer um contraste entre o ca­
brito e o bezerro cevado.

78. Stirling, Anais of the Artists o f Spain.

321
L u ca s - C ap. 16

30. Vindo (ήλθεν). Ele usou o verbo v ir, como se falasse de um estranho.

Este teu filho. Não o meu irmão, mas uma dose amarga de sarcasmo.

Desperdiçou (καταφαγών). No grego, consumiu abaixo (κατά). O vocábulo é


sugerido, sem dúvida, pela menção ao bezerro, ao cabrito e à festa.

C a p ít u l o 1 6

1-8. A párabola do mordomo in fie l . Peculiar a Lucas.

1. Mordomo (οικονόμου). Derivado de οϊκος, uma casa, e νέμω, distribuir ou dis­


pensar. Por esta razão, aquele que atribui as tarefas entre os membros de uma
casa, e paga a cada um o seu salário. O responsável pelos pagamentos. Ele man­
tinha os estoques da casa fechados e dava às pessoas aquilo que elas solicitavam;
e, para este fim, recebia um anel de sinete do seu senhor.

Foi acusado (δΐ€βλήθη). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Deriva­


do de διά, a tra v é s de, e βάλλω, lan çar, a tira r. C a r r e g a r a tra v é s de, e, dessa maneira,
le v a r relatos, de uma pessoa para outra; levar f a l s o s relatos e, assim, c a lu n ia r ou
d ifa m a r. V id e nota sobre D ia b o , em M t 4.1. O vocábulo implica a malícia, porém
não necessariamente af a ls id a d e . Compare com o termo latino tra d u ce re (tra , atra­
vés de, sobre; ducere, levar).

Dissipar (ως διασκορπίζων). Literalmente, com o d esp erd iç a n d o . Na e p e bp


consta p o r e s ta r esban ja n d o , não meramente como um crime antigo, porém como
algo que estava ocorrendo no momento da acusação. V id e 15.13.

2. Que é isso que ouço? (Tí τούτο ακούω σου;). Tradução adequada.

Presta contas (άποδος τον λόγον). Literalmente, “dá de volta (άπό). A (τον)
conta que é devida. Aristófanes apresenta um paralelo impressionante: Έ agora
me devolve o meu sinete, pois não és mais o meu mordomo”79.

Poderás (δυνήση). Tradução adequada.

3. Tira. Ou, está tirando. Ele ainda não havia perdido os poderes, como se vê na
sequência dos acontecimentos.

Não posso (ούκ Ισχύω). Vide 14.30: “Não tenho forças”. A sua vida de luxúria
acabara lhe deixando incapacitado para o trabalho pesado. Em Aristófanes, um

79. Aristófanes, Knights, 947.


322
L ucas - C a p. 16

sicofanta é perguntado: “Diga-me, sendo tu um jovem, guardas informações con­


tra estrangeiros?” Ao que ele respondeu: “Sim; porque havería de sofrer, se não
sei nem como se faz um buraco?”80

M endigar (èncuTelv). V id e nota sobre ro g a ra m -lh e, em Mt 15.23.

4. Me recebam. Os devedores do seu senhor (v. 5).

5. Chamando. Alford e Trench consideram que os devedores estavam juntos, mas


as palavras parecem indicar que ele tratara com eles em separado. Ele chamou até
si cada um deles, e disse para o p r im e ir o ; dep o is disso (eireixa) chamou o outro.

6. Medidas (βάτους). Literalmente, batos. Na e p e bj, barris·, na t b , cados. O b a to


era uma medida utilizada pelos judeus, porém a sua capacidade real é incerta. Já
que, segundo Edersheim, havia três tipos de medidas em uso na Palestina: as ori­
ginais deixadas por Moisés, que correspondiam ao sistema romano; as de Jerusa­
lém, que eram maiores na razão de um quinto; e as medidas comuns da Galileia,
que, por sua vez, eram maiores que as de Jerusalém em um quinto. Considerando
o primeiro padrão, o bato seria de, aproximadamente, 32 litros, e a dívida, deste
modo, era grande.

Toma a tua conta (δέξοα σου τα γράμματα). Literalmente, tom a de v o lta os teus
escritos. A bv traduz por contrato. O plural é utilizado para apenas um documento. O
docum ento representava o título que o comprador entregava, e que ficava de posse do
mordomo. Ele o devolve ao devedor para que este proceda à alteração dos números.

Assentando-te já. Tratava-se de uma transação secreta, que deveria ser feita
às pressas.

7. A outro (ετέρψ). Uma pessoa diferen te, com uma dívida diferente e em circuns­
tâncias que demandavam uma taxa diferente de desconto.

Alqueires (κόρους). Coros. Um coro era composto por dez batos, sendo utiliza­
do tanto para secos, quanto para fluidos, com a mesma medida.

8. Louvou. Admirando a sua astúcia, mesmo que ele mesmo fora vítima da
uma fraude.

Aquele senhor. Do mordomo. Melhor traduzido como: “o seu senhor”.

Injusto mordomo. Literalmente, m o rd o m o d a in ju stiça . Na t b , a d m in is tr a d o r


expressão o u v in te esquecido, em T g 1.25; e compare com p a la v r a s d e
in íqu o. V ide

80. A r is tó f a n e s , Birds, 1 4 3 1 .

323
L u c a s - C a p. 16

graça, Lc 4.22; com o juiz injusto, Lc 18.6; Filho do seu amor, Cl 1.13; concupiscências
de imundicia, 2Pe 2.10. A expressão tem sua origem no hebraico. Ela transmite
a ideia do juízo de Jesus que será feito sobre aquilo que o senhor do mordomo
havia elogiado.

Prudentemente (φρονίμως). Vide nota sobre Mt 10.16. Sugiro astutamente,


mesmo que no sentido moderno de sagazmente, já que o significado mais pri­
mitivo de astuto era malicioso, ou mau. Platão declarou: “Todo o conhecimento,
quando separado da justiça e de outras virtudes, parecem ser esperteza e não
sabedoria . Em Mt 7 .2 4-2 6 , este termo é aplicado ao homem sagaz que edificou a
sua casa sobre a rocha, em contraste com o incauto (μωρός) que edificou sobre a
areia. De acordo com Trench:

Trata-se de um termo médio, que não realça em excesso as características morais, se­
jam elas boas ou ruins, da ação à qual ele é aplicado, mas reconhece nela a hábil adap­
tação dos meios aos fins - nada afirmando no caminho da aprovação ou desaprovação
moral, nem em termos de meios, nem de fins, mas deixando com que o seu valor seja
determinado por outras considerações11'.

Na sua geração («ίς την γ«ν«άν την «αυτών). Literalmente, em referência


à sua própria geração, isto é, à coletividade dos filhos deste mundo ao qual eles
pertencem e são parentes. Na tb, para com a sua geração. Eles são astutos ao
tratarem dos assuntos dentro da sua classe de pessoas, como mostra a parábola,
onde os devedores se tornaram cúmplices do mordomo, todos são, igualmente,
inescrupulosos.

D o que os filhos da luz. Literalmente, filhos da luz. Os homens do mundo


fazem com que as suas relações mútuas sejam mais produtivas do que as relações
que ocorrem entre os filhos da luz. Estes últimos, segundo Godet: “se esquecem
de fazer uso dos bens divinos para formar laços de amor com os seus contempo­
râneos que compartilham do mesmo caráter”; esquecem-se de “granjeai amigos
com as riquezas” etc.

9. Granjeais amigos. Compare com Virgílio. Dentre os moradores do Elísio ele


vê “aqueles que, por méritos próprios, fizeram com que os demais se importas­
sem com eles”8!\

Com as riquezas da injustiça (έκ του μαμωνά τής αδικίας). A mesma expres­
são utilizada no versículo 8, mordomo da injustiça. Compare com riquezas injustas,
ou Mamom injusto, no versículo 11. O termo Mamom trata-se de um vocábulo

81. T rench, Parables.


82. Virgílio, Eneida, 6.664.

3 24
L ucas — C a p . 16

caldeu, que significa riquezas. Ele ocorre somente neste capítulo e em Mt 6 .2 4 .


A expressão “com as riquezas” ou “com o Mamom” é, literalmente, por meio de.
Na expressão da injustiça (de Mamom), não está implícita nenhuma condenação
aos bens em si mesmos, todavia o seu caráter injusto, ou pertencente à injustiça,
porque este é o objetivo característico e representativo, bem como o prazer e
o desejo deste nosso mundo egoísta e injusto: sendo que o amor às riquezas se
apresenta, como a raiz de todos os males (lTm 6 . 1 0 ) . Na t b consta as riquezas
da iniquidade.

Vos faltarem (έκλίττητε). Todavia, todos os melhores textos apresentam


έκλίττη, “quando ífe(Mamom) falhar”.

Vos recebam. Os amigos.

Tabemáculos (σκηνάς). Literalmente, tendas ou tabernáculos.

10. No mínimo. Uma proposição geral, porém fazendo referência a Mamom,


como a menor das coisas.

11. Fiéis. A fidelidade é, portanto, possível para com as coisas de Mamom.

12. No alheio. Naquilo que é de Deus. As riquezas não são nossas, mas nos são
entregues em confiança.

Vosso. Equivalente às verdadeiras riquezas. Aquilo que forma a porção eterna


do nosso ser - o nosso ser redimido. Compare com a parábola do rico insensato
(12.20), onde a vida ou a alma é distinta das posses. "Esta noite te pedirão a tua
alma, e o que tens preparado para quem será?” Compare, também, com o ser rico
para com Deus (vide 12.21). Crisóstomo, citado por Trench, fala a respeito de
Abraão e Jó: “Eles não serviam Mamom, mas possuíam e governavam a si mesmos,
e eram senhores, e não escravos”.

13. Servo (οίκέτης). Mais especificamente, um servo dafamília.

Servir. Vide nota sobre serviçal, em Mt 2 0 . 2 6 .

Ao outro. Vide n o t a so b re Mt 6 .2 4 .

Chegar a. Vide nota sobre Mt 6 . 2 4 .

14. Avarentos (φιλάργυροι). Tradução literal, segundo a composição da palavra,


amantes do dinheiro. Este termo ocorre somente aqui e em 2Tm 3 .2 . Compare
com o substantivo correlato, lTm 6 . 1 0 . Vocábulo utilizado para descrever uma
pessoa avarenta é τιλβονέκτης (lCo 5 . 1 0 - 1 1 ; 6 . 1 0 ) .
325
L ucas — C a p . 16

Zombavam (έξρμυκτήριζον). Somente aqui e em 23.35. Literalmente, erguer o


nariz diante de. Os romanos tinham uma expressão correspondente, naso adunco
suspendere, suspender no nariz curvo. Quer dizer, curvar o nariz para cima forman­
do um gancho, sobre o qual (de modo figurado) o objeto a ser ridicularizado seria
pendurado. Assim, Horácio, em uma das suas sátiras, ao fazer o relato de um
banquete pretensioso na casa de um rico avarento, descreve um dos convidados
suspendendo tudo no seu nariz, ou seja, fazendo gracejos com tudo o que ocorria.
O verbo, na sua forma simples, ocorre em G1 6.7, em referência à zombaria feita
a Deus.

15. Abominação. Vide nota sobre Mt 24.15.

16. Emprega força. A ecp traduz como: fa z violência para entrar, e a n v i por ten­
tamforçar sua entrada. Vide nota sobre Mt 11.12.

17. Til. Vide nota sobre Mt 5.18.

19-31. A parábola do rico E L ázaro. Peculiar a Lucas.

19. Vestia-se. No tempo imperfeito e frequentativo; denotando que aquele era o


seu traje habitual.

Púrpura (πορφύραν). Originalmente, o peixe-púrpura, do qual a cor foi tirada


e, depois, o termo passou a ser aplicado à cor em si mesma. Várias espécies deste
peixe eram encontradas no Mediterrâneo. A cor estava contida em uma das veias
do peixe, perto do seu pescoço. No vocábulo púrpura, os antigos incluíam aqui
três cores distintas: (1) um violeta forte, com um tom negro ou escuro, a cor
que Homero tinha em mente ao descrever uma onda do oceano: “Assim como o
grande mar se torna em cor púrpura com a silenciosa elevação”83. (2) O escarlate
forte ou carmesim - a púrpura de Tiro. (3) O azul-marinho do Mediterrâneo.
Esta tinta era permanente. Plutarco escreveu que Alexandre encontrara no pa­
lácio real de Susa, roupas que preservavam a vivacidade das cores, mesmo tendo
ficadas ali há 200 anos; e St.-John escreve que um pequeno recipiente de tinta foi
descoberto em Pompeia, o qual preservava o tom e a riqueza atribuídos ao povo
de Tiro. Este tom de cor é aludido em Is 1.18 - ainda que os vossos pecados sejam
como a escarlata, termo este que é traduzido pela lxx como φοινικοΰν, que, por
sua vez, junto com os seus termos correlatos, denotava os tons mais escuros do
vermelho. Uma descrição completa e interessante da cor púrpura pode ser vista
na obra de J. A. St.-John84.

83. Homero, tlíada, 14.16.


84. St.-John. Manners and Customs o f Ancient Greece, cap. 3, p. 224ss.

326
L ucas - C ap. 16

Linho finíssimo (βύσσον). Bisso. Uma fibra de linha amarelada, e o linho


feito a partir dela. Heródoto afirmou que ela era utilizada para enrolar as mú­
mias, uma afirmação confirmada por exames microscópicos85. Ele também a
descreveu como sendo utilizada para bandagens de ferimentos86. Este é o ter­
mo utilizado pela lxx para falar do linho (Ex 25.4; 28.5; 35.6). Alguns dos
linhos do Egito eram tão finos que eram chamados de ar em forma de tecido.
Gardner Wilkinson informou que alguns pedaços que estavam sob sua posse
eram, ao toque, comparáveis à seda, e não inferiores em textura à mais fina
das cambraias. Ele era, normalmente, tão transparente quanto o algodão ou o
linho, fato este ilustrado pelas esculturas pintadas, nas quais a forma completa
tornava-se distintamente visível através da roupa de fora. Escritores gregos
posteriores passaram a utilizar este vocábulo para se referir ao algodão ou à
sedcP1. Os gregos usavam um bisso amarelo, o material que cresceu ao redor de
Élis, e que era caríssimo88.

Vivia regalada e esplendidamente (ευφραινόμενος λαμπρώς). Literalmente,


divertindo-se no esplendor. Na ep consta dava banquete todos os dias; e na teb: bri­
lhantesfestins. Compare com o capítulo 15.23,24,29,32.

SO. Mendigo. Vide a expressão os pobres, em Mt 5.3.

Lázaro. Forma abreviada de Έλεάζαρος, Eleazar, cujo significado é: Dem é


um socorro. Trench afirma: “Uma grande evidência da profunda impressão que
esta parábola deixou na mentalidade da Cristandade, o fato do termo lázaro ter
passado a tantas línguas, como, de fato, ocorreu, perdendo completamente o seu
significado como um nome próprio”.

Jazia (έβεβλητο). Literalmente, foi lançado; jogado desleixadamente pelos que


o carregavam e ali deixado.

Cheio de chagas (ε'ιλκωμένος). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


O termo médico regular utilizado para descrever uma pessoa com úlceras. João
utiliza o substantivo correlato έλκος, uma úlcera (Ap 16.2). Vide o versículo 21.

Porta (πυλώνα). No caminho de acesso que, normalmente, ficava separado da


casa ou do Templo. Em Mt 26.71, este termo é traduzido como vestíbulo.

85. Heródoto, 2.86.


86. Id., 7.181.
87. Vide Wilkinson, Ancient Egyptians, primeira série, 3.114ss.; e Rawlinson, History o f Ancient
Egypt, 1.487,512.
88. Vide Ésquilo, Persae, 127.
327
L ucas - C a p. 16

21. Desejava (έπιθυμών). Ansiosamente, todavia não recebia o que desejava. O


mesmo está implícito na história do pródigo, onde o mesmo termo é utilizado:
“desejava encher o seu estômago” (15.16), porém as bolotas (ou vagens) não sa­
tisfaziam a sua fome.

As migalhas que caíam (των ιτι/ητόντων). Literalmente, as coisas que caíam.


Os melhores manuscritos omitem ψιχίων, migalhas, como fazem a n v i , teb e bp,
por exemplo.

Os próprios (άλλα καί). Literalmente, mas até. “Mas (em vez de encontrar
compaixão), até os cães” etc.

Lamber-lhe (έπέλβ,χον). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Cirilo, cita­


do por Hobart, afirmou: ‘A única atenção e, por assim dizer, a única cobertura médica
que as suas chagas receberam, veio da parte dos cães que vieram e as lamberam”.

22. Seio de Abraão. Uma expressão rabínica, equivalente a estar com Abraão
no Paraíso. Goebel observa: “Para o israelita, Abraão parece o centro pessoal e o
ponto de encontro do Paraíso”.

23. Hades. Onde Lázaro também estava, porém em um local diferente. Videnota
sobre Mt 16.18.

24. Refresque (καταψύχωlv). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Ter­


mo comum na linguagem da medicina. Vide 21.26. Compare com a magnífica
passagem de Dante, onde mestre Adão, o falso cunhador de moedas, horrivel­
mente mutilado, e dentro do círculo mais baixo de Malebolge, diz:

De mestre Adão miséria e sofrimentos


Tive abastança; agora, ai! Desejando
De água uma gota, passo mil tormentos,
Dos ribeiros, que ao Arno, m urm urando
Do Casentino lá na verde encosta
Se vão, por moles álveos inclinando,
Na mente a imagem sempre tenho posta.
Não em vão: mais me seca e me fustiga
Que o mal, de que esta face é decomposta*.

Atormentado (όδυνώμαι). Na bp consta torturam; e na teb, suplício.Termo gre­


go utilizado exclusivamente por Lucas. Atormentado é um termo excessivamente
forte. O vocábulo original é utilizado para descrever a dor de José e Maria, quan-

89. Dante Alighieri, A Divina Comédia, Inferno, Canto A, vv. 61-69.

328
L ucas - C ap . 17

do sentiram a falta do menino Jesus (2.48); e a dor dos anciãos de Éfeso com a
partida de Paulo (At 20.38).

25. Filho (τέκνου). Literalmente, criança.

Recebeste (άπελαβες). Recebeu d e v o lta (άπό) como retribuição ou desforra.


Compare com 6.34; 18.30; 23.41.

26. Está posto (εστήρικται). Compare com 22.32; e v id e lPe 5.10.

Abismo (χάσμα). Derivado de χάσκω, bocejo, a b ertu ra d a boca. Em linguagem


médica, refere-se às cavidades de uma ferida ou úlcera.

27. O mandes à casa de meu pai. Compare com Dante, onde Ciaco, o glutão, diz:

Quando tornares ao saudoso mundo,


De mim aviva aos meus o pensamento00.

31. Acreditarão. O rico dissera: “eles se arrependerão”. Todavia, Abraão res­


pondeu: “eles nem, ao menos, deixar-se-ão p e r su a d ir.

Ainda que algum ressuscite. O rico disse: “se um fo s s e ”.

Dos mortos (εκ νεκρών). O rico dissera d o s mortos, contudo fazendo uso de
uma preposição diferente (άπό). É quase impossível mostrar ao leitor da língua
portuguesa o belo jogo de palavras que ocorre entre as preposições. A distinção
geral é άπό, a p a r t i r d o exterior, εκ, a p a r t i r d o in terior. Assim, a exemplo do que
ocorre com Lc 2.4, José subiu a p a r t i r d a (άπό) Galileia, a província, saindo (έκ) da
c id a d e d e Nazaré. A preposição de Abraão (ρκ, p a r a f o r a de, a p a r t i r d o in terior) impli­
ca uma identificação mais completa com os mortos do que a utilizada pelo rico, άπό,
a p a r t i r do exterior. Uma ressurreição a p a r t i r d o m eio dos mortos era mais relevante
do que um mensageiro que surgisse a p a r t i r d o s mortos. Alford registra:

Dificilmente poderiamos ignorar a identidade do nome Lázaro em função daquele


que, em verdade, foi chamado de volta dentre os mortos; mas, cujo retorno, longe de
persuadir os fariseus, foi a causa imediata e empolgante do ato derradeiro de incredu­
lidade por eles cometido.

C a pítulo 17

1. Impossível (άνένδεκτόν). I n a d m is s ív e l Somente aqui no texto do Novo Testa­


mento. V id e a expressão q u e n ã o suceda, em 13.33.

90. Dante Alighieri, A Divina Comédia, Inferno, Canto VI, v. 88.

329
L ucas - C ap . 17

Escândalos. V ide nota sobre esca n d a liza r , em Mt 5.29 e compare com Mt 16.23.

2. M elhor lhe fora (λυσιτελεΐ). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


O verbo significa p a g a r o q u e é d e v id o , equivalente a nossa expressão, v a le a
p en a .

Pedra de moinho [μύλοςj ■Compare com Mt 18.6. A leitura correta aqui é


λίθος μυλικός, uma p e d r a d e moinho-, não uma m ó d e a ze n h a (ou g r a n d e p e d r a d e
m oinho), conforme vemos em Mateus.

Lançado (eppunrai.). A rrem essado·, com a ideia subjacente de violência, lançado


fora por ter cometido um ultraje tão infame.

3. Repreende-o. V ide a expressão a d m o e sta n d o -o s, em 9.21.

6. Am oreira. Lucas faz uma distinção entre esta planta, συκομορέα, e a


f i g u e i r a b r a v a ( v i d e 19.4). Os nomes eram, por vezes, confundidos, só que
um médico faria a distinção, já que ambas eram utilizadas para fins medi­
cinais.

9. Creio que não. Omitido pelos melhores manuscritos.

10. Inúteis (άχρβ,οί). Derivado de xpeía, necessidade-, algo que o senhor p re c isa
pagar. Não um in ú til, mas uma pessoa que não fez nada além do que d e v ia . Meyer
afirma: Ό lucro não começa enquanto o servo não vai além das suas obrigações”.
Bengel observa: “Um servo é devedor de to d a s a s coisas”.

11. Pelo meio de. O significado também pode ser en tre ou n os lim ite s de.

12. Leprosos. V id e 5.12.

20. Com aparência exterior (μ^τά παρατηρήσ€ως). Somente aqui no texto do


Novo Testamento. O progresso do reino não pode ser definido pelas suas marcas
visíveis, como a de um reino terreno. O seu crescimento no mundo é um processo
de in filtração, igual à ação do fermento em uma massa.

21. Entre. Mais adequadamente traduzido como na t b : no m e io de. Meyer ob­


serva, com perspicácia, que “o pronome v ó s se refere aos fariseus, em cujos
corações nada, certamente, encontrou lugar tão claro como o reino ético de
Deus”. Além disso, Jesus não estava falando do c a r á te r ín tim o do reino, mas
da sua p re sen ça . Trench, segundo Meyer diz: “Todo o linguajar do reino dos
céus estarem dentro dos homens, em vez dos homens estarem dentro do reino,
tratava-se de uma novidade”.

24. Ilumina (άστράπτουσα). Somente aqui e em 24.4.


330
L ucas - C ap. 18

25. Reprovado. Vide nota sobre reprovada, em lPe 2.4; e provado, em lPe 1.7.

31. Telhado. Vide nota sobre Mt 24.17.

Utensílios. Vide nota sobre M t 12.29.

33. Salvá-la-á (ζωογονήσει). Este termo ocorre aqui e em At 7.19. Originalmen­


te, significava engendrar. Por isso, produzir vida ou dotar de vida e preservar vivo.
Na TB consta conservá-la-á.

37. Águias. Vide nota sobre Mt 24.28.

C a pítu lo 18

1-14. As parábolas do juiz iníquo E do fariseu Eo publicano . Peculiares a


Lucas.

1. Sobre o dever de (προς τό δεΐν). Literalmente, com referência ao ser necessário


sempre orar.

Desfalecer (εγκακειν). Acovardar-se ou perder o ânimo.

2. Respeitava (εντρεπόμενος). Vide nota sobre M t 21.37.

3. Faze-me justiça (εκδικήσου). Tradução adequada. Vide nota sobre Rm 12.19.

5. Para que enfim não volte e me importune muito (ινα μή εις τέλος ερχόμενη
ύπωπι,άζη με). Εις τέλος, literalmente, até οfim, pode significar continuamente, mas
importunarem lugar de ύπωπι,άζη é mais do que duvidoso. O vocábulo é derivado
de ύπώπιον, a parte do rosto que fica debaixo dos olhos, e significa bater debaixo
do olho; dar uma bofetada. Este termo é utilizado em uma única outra perícope,
por Paulo, lCo 9.27, e no seu sentido literal: “Eu subjugo o meu corpo”; ou seja,
trato-o como um boxeador faz com o seu oponente. O sentido mais literal deste
termo, εις τέλος, nofim, ou porfim, apresenta um significado mais correto e mais
vivo a este versículo. “Para que ela, por fim, não volte e me ataque”. O juiz teme
que a importunação possa culminar em violência pessoal. Além disso, talvez,
como sugere Goebel, ela exagera os seus temores de forma intencional.

6. O injusto juiz. Literalmente, oju iz da injustiça. Vide 16.8.

7. E Deus não fará. A ênfase está posta em Deus. Na ordem do texto grego: “e
Deus, não fará ele”.

Ainda que tardio para com eles Γκαί μακροθυμών επ’ αύτοιςΓ]. Uma períco­
pe muito difícil, e suas interpretações variam sobremaneira:
331
L ucas - C ap . 18

(1) O verbo μακροθυμέω tem o sentido de ser longânimo, ou suportar compaciên­


cia. Este é o seu significado normativo dentro do Novo Testamento.
(2) O pronome eles (αύτοις) não se refere aos perseguidores dos eleitos de
Deus, mas aos próprios eleitos;
(3) O significado secundário de restringir ou postergar pode, muito bem, ser
deduzido a partir do verbo e explicado: (a) como uma referência à postergação
do castigo, ou (b) como uma postergação da compaixão ou do socorro.
Aventuro-me a sugerir o seguinte: Καί, em muitos casos, tem o signifi­
cado de contudo ou e contudo (como conjunção adversativa). Dessa maneira,
vemos Euripides: “Tu és nascido de Júpiter, contudo (καί) a tua afirmação é
injusta”91. Aristófanes: “Ó coroa, aparta-te, e contigo irá a alegria: contudo
(καί) é com relutância que me aparto de ti”92. Assim também vemos em Jo
9 .3 0 : “que vós não saibais de onde ele é e no entanto me abrisse os olhos”. Jo
16.32: “e me deixareis só, mas (καί) não estou só”. Por conseguinte, tradu­
za: “Deus não fará justiça pelos seus próprios eleitos, que clamam a Ele dia
e noite; contudo, ele posterga o socorro por causa deles”; da mesma forma
como o juiz injusto foi relutante em fazer justiça por aquela viúva. Mas
Ele certamente fará, e não tardará em agir. Esta tradução, em vez de fazer
um contraste entre Deus e o juiz, leva adiante o paralelo. O juiz posterga
em função da sua indiferença. Deus também posterga as coisas, ou parece
postergá-las, a fim de provar a fé dos seus filhos ou porque o seu propósito
ainda não amadureceu; mas ele, igualmente, fará justiça a todo aquele que
suplicar. Faber registra:

Ele se esconde de forma tão tremenda,


Como se não existisse um Deus;
Ele se mostra menos quando todos os poderes
Do mal estão mais à solta.

Ó existe coisa menor para provar a nossa fé,


No nosso credo misterioso,
Do que na aparência ímpia deste mundo
Nestas horas de necessidade que passamos.

Não é assim, mas assim se parece;


E, então, perdemos a coragem;
E, chegar-nos-ão as dúvidas sobre se Deus cumpriu ou não
As suas promessas feitas aos homens.

91. E u rip id e s , Helena, 1147.


92. A ris tó fa n e s , Knights, 1249.

332
L ucas - Cap. 18

8. Porém. Apesar de tudo, é certo que Deus fará justiça, mas será que o Filho
do Homem encontrará na terra uma fé perseverante correspondente a daquela
mulher?

9. Desprezavam (4ξουθ€νοϊ>ντας). Literalmente, faziam nada de.

Outros (τους λοιπούς). A expressão é mais enfática. Literalmente, o resto. Ela


agrupava todas as outras pessoas do seu lado em uma única categoria. A t e b , de
forma correta, apresenta: todos os outros.

10. O outro (ετφος). Com a implicação de que ele seria um homem diferente. Vide
nota sobre Mt 6.24.

Publicano. Vide 3.12.

11. Estando em pé (σταθείς). Literalmente, tendo sido colocado. Assumiu o seu


lugar. Isto implica que ele assumiu a sua posição com pose de ostentação; demons­
trando atitude, mas não necessariamente em um sentido negativo. Vide 19.8; e
compare com At 5.20. A posição normal para um judeu orar era mesmo de pé.
Compare com Mt 6.5; Mc 11.25.

Orava (ροσηύχ^το). No imperfeito: começou a orar, ou continuou a orar.

Os demais homens (οί λοιποί των ανθρώπων). Literalmente, o resto dos ho­
mens. Vide o versículo 9. Conta-se que havia um ditado judaico no qual um verda­
deiro rabino deveria agradecer a Deus, todos os dias da sua vida: (l) por não ser
gentio; (2) por não ser plebeu, e (3) por não ser mulher.

Roubadores. Como os publicanos.

Este publicano. Literalmente, este {homem), o publicano. Este publicano aqui.


Goebel declara: “Ele nos deixa ver, até mesmo na citação generalizada, que está
pensando no publicano, deste modo, mais no final da frase, ele não se omite em
fazer uma menção direta a ele”.

12. D uas vezes na semana. A lei exigia somente um jejum por ano, que
ocorria no grande dia da Expiação (Lv 16.29; Nm 29.7). Contudo, alguns
jejuns memoriais públicos foram acrescentados durante o período do ca­
tiveiro, nos aniversários das calamidades nacionais. Os fariseus jejuavam
todas as segundas e quintas-feiras durante as semanas entre a Páscoa e
Pentecoste e, novamente, entre a Festa dos Tabernáculos e a Dedicação do
Templo.

Dou os dízimos (άποδεκατώ). Vide nota sobre Mt 23.23.


33 3
L ucas - C ap. 18

Possuo, (κτώμαι). Tradução inadequada. Melhor da tb : ganho. O israelita não


pagava o dízimo sobre as suas posses, mas somente sobre os seus ganhos —da sua
renda anual. Vide Gn 2 8 . 2 2 ; Dt 1 4 .2 2 . Além disso, o verbo, no tempo presente,
não significa possuo, mas adquiro-, sendo que o significado de possuo fica confinado
ao tempo perfeito e ao mais-que-perfeito.

13. Estando em pé («πώς). Em uma atitude que denotava certa timidez. Simples­
mente parado ali de pé, sem a postura assumida pelo fariseu. Vide o versículo 11.

De longe. Alguns explicam que a distância tomada era do Santuário; outros,


do fariseu.

Levantar os olhos. Como costumam fazer os que adoram.

Tem misericórdia (ίλάσθητί). Literalmente, seja propício.

Pecador (τώ άμαρτωλώ). Acompanhado do artigo definido, “o pecador”. Ben-


gel afirma: “Ele não está pensando em outra pessoa”.

15-17. Compare com M t 19.13-15; Mc 10.13-16.

15. Crianças (τα βρέφη). Vide nota sobre lPe 2.2.

Tocasse. Como vemos também em Marcos. Mateus apresenta: lhes impusesse


as mãos e orasse.

16. Deixai. Vide nota sobre Mt 19.14. Somente Marcos registra que ele as pe­
gava nos braços.

18-30. Compare com M t 19.16-30; 20.1-16; Mc 10.17-31.

18. Príncipe. Peculiar a Lucas.

19. Por que me chamas bom? Vide nota sobre Mt 19.17.

20. Não adulterarás. Compare a forma diferente de apresentar os mandamentos


nos outros três autores sinópticos.

22. Ainda te falta uma coisa (eu eu σοι λείπει). Literalmente, ainda uma coisa
estáfaltando para ti. Somente Marcos acrescenta que Jesus, fitando-o, amou-o.

Vem (δεύρο). Literalmente, mais perto, junto.

23. Ficou muito triste [(περίλυπος εγενέτο]. A rv, mais acertadamente, verte
έγενήθη, ele veio a estar. Vide nota sobre Mc 10.22.

M uito rico. A ordem do texto grego forma um clímax: “rico excessivamente”.


334
Lucas- C ap. 19
25. Camelo. Vide nota sobre Mt 19.24.

E ntrar um camelo pelo fundo de uma agulha (διά τρήματος βελόνης


είσελθεΐν). Mateus e Marcos utilizam outro termo para designar a agulha
(ραφις); vide nota sobre Mc 10.25. Só Lucas apresenta βελόνη, que, além de
ser um vocábulo mais antigo, é o termo específico para designar uma agulha
cirúrgica. A outra palavra é condenada pelos gramáticos da língua grega como
sendo barbarismos.

28. Tudo (πάντα). Os melhores manuscritos apresentam τα Ιδια, as coisas pró­


prias. Na kjnta traz: família e bens.

31-34. Compare com Mt 20.17-19; Mc 10.32-34.

31. Pelos profetas (διά). Literalmente, através dos-, a preposição expressa uma
função secundária.

34. Palavra (ρήμα). Vide nota sobre 1.37.

Se lhes dizia (λεγάμενα). Ou, mais corretamente, que estavam sendo ditas a eles
naquele momento.

35-43; 19.1. Compare com Mt 20.29-34; Mc 10.46-52.

39. Clamava (εκραζεν). Uma palavra mais enfática que εβόησεν, clamou, no versí­
culo anterior, que é meramente um grito, ao passo que, neste caso, trata-se de um
grito de clamor, um som agudo alto. Compare com Mt 15.23; Mc 5.5; At 19.28-34.

40. Que lho trouxessem (άχθήναι προς). Utilizado exclusivamente por Lucas
no sentido de trazer os doentes até Cristo. Ele também utiliza o verbo composto
προσάγω, que era um termo comum da medicina para descrever o transporte de
um doente até a presença de um médico, tanto nesse quanto em outros sentidos.
Vide 9.41; At 16.20; 27.27.

C a pítu lo 19

1-10. Z aqueu, o publicano . Peculiar a Lucas.

1. Jerico. Esta cidade ficava próxima aos vaus do Jordão, nos limites de Pereia,
na planície mais rica da Palestina. A produção dos melhores vegetais era farta,
com destaque para o bálsamo. Por conseguinte, constituía-se em um lugar apro­
priado para um oficial de patente superior comandar a cobrança de impostos.
Vide nota sobre Mt 9.9; Lc 3.12.
335
L ucas - C ap . 19

2. Chamado (όνόματι. καλούμενος). Literalmente, chamado pelo nome de. Compare


com 1.61.

Zaqueu. Saccai, “o justo”.

3. Procurava (εζήτει). No imperfeito. Ele estava ocupado procurando vê-lo, en­


quanto Jesus passava.

Quem era. Literalmente, é. Não para ver que tipo de pessoa ele era, mas quem
era ele no meio da multidão.

Estatura (ηλικία). Vide 12.25.

4. Figueira brava (συκομορέαν). Derivado de omkx\,figueira, e μύρον, a amoreira. A


amoreira-figo, cujo fruto lembra o figo, e suas folhas, a amoreira. Alguns escritos
da antiguidade derivavam o seu nome do vocábulo μωρός, tolo, por ela produzir
figos imprestáveis. Thomson afirma que ela produz várias vezes no ano e os
seus frutos crescem em pequenos talos ao longo do tronco e dos galhos maiores.
Os frutos são bastante insípidos e ninguém os consome, salvo as classes mais
pobres. Dessa maneira, Amós expressa o fato de esta árvore pertencer à classe
mais humilde da comunidade, ao chamar a si mesmo de apanhador de frutos do
sicômoro (outro vocábulo para a figueira-brava), Am 7.14. A árvore cresce com
os seus galhos fartos que ficam bem baixos e largos, de forma que não foi difícil
para Zaqueu nela subir. Uma das anedotas favoritas e mais atraentes dos velhos
comentaristas consistia em se dizer que naquele dia, a figueira brava de Zaqueu
gerou um fruto precioso!

5. Me convém pousar. “Adotando o estilo nobre que lhe era familiar, que elogia
a lealdade de um vassalo da forma mais gentil ao fazer uso dos seus préstimos
de forma gratuita”99.

7. Ser hóspede (καταλΟσαι). Vide nota sobre 9.12.

Um homem pecador. Vide nota sobre 3.12.

8. Levantando-se (σταθείς). Vide nota sobre 18.11. Descrevendo um ato formal, como
quem está prestes a fazer uma declaração solene. Ele era como um fariseu, nas suas
atitudes, mas não no seu espírito. O vocábulo mais formal para descrever o ato de levan­
tar-se, aplicado aofariseu no Templo, é aqui usado em referência ao publicano.

Eu dou. Não que a doação seja a minha prática. A afirmação de Zaqueu não é
uma justificativa, mas um voto. “Dou, agora, como forma de restauração”.

93. E c ce H o m o .

336
L ucas —Cap. 19

Se em alguma coisa tenho defraudado (e’i τι έσυκοφαυτησα). A constru­


ção se—alguma coisa não afirma meramente um possível caso, como se Zaqueu
estivesse inconsciente de alguma extorsão feita, contudo é uma forma mais
amena de se dizer “o que quer que eu tenha tomado”. Vide nota sobre 3.14. É
uma curiosa coincidência, nada mais, o fato de &figueira brava (sicômoro) apa­
recer em conexão com o defraudador, ou denunciante de tráfico defigos {sicofan­
ta). Era comum aos publicanos atribuir um valor fictício às propriedades ou à
renda de uma pessoa, ou ainda aumentar o valor dos impostos dos incapazes
de pagá-los, para depois cobrar juros usurários sobre as dívidas privadas.
Para saber mais sobre a cobrança cruel deste tipo de dívida, vide Mt 18.28;
Lc 12.58.

Quadruplicado. A restauração exigida da parte de um ladrão (Ex 22.1).

11. M anifestar (άυαφαίυεσθαι). Este termo ocorre somente aqui e em At 21.3.


O seu significado é ser trazido à luz; ser anunciado.

13. Dez servos seus (δέκα δούλους έαυτοϋ). O pronome possessivo seu é enfático.
Literalmente, seus próprios. Seria absurdo se supor que este homem nobre, com
totais condições de ser elevado à dignidade real, tinha somente dez servos. O
número de escravos em uma casa romana era enorme, por vezes chegando à casa
das centenas. No período final da república, era considerado reprovável não se
ter um escravo para cada tipo de atividade.

Minas (μνας). Minas. Meyer, com muita propriedade, afirmou:

A pequena soma de dinheiro nos espanta. Compare, por outro lado, com os talentos
(Mt 25). Só que em Mateus o senhor transfere ao seu servo o cuidado de toda a proprie­
dade-, neste caso ele somente dedicou uma quantia definida de dinheiro com o objetivo
de colocar os seus servos à prova. A pequena quantidade corresponde justamente
àquilo que está sendo cuidadosamente enfatizado na parábola, ou seja, a relação entre
a fidelidade no pouco e a muita recompensa dela advinda (v. 17); relação esta que não
é muito relevante para a parábola de Mateus94.

Negociai (πραγματβίσασθ^). A nvi traz: Façam esse dinheiro render. Na kjnta


consta: produza lucro. Vide nota sobre negociou, em Mt 25.16.

A té que eu venha (έως ’έρχομαι). É estranho que a maioria das versões


brasileiras que adotam os textos críticos siga a presente leitura sem qualquer
comentário. Essas traduções ignoram a leitura de quatro dos principais ma­
nuscritos, a qual é adotada tanto por Tischendorf quanto por Westcott e Hort:

94. Meyer, Commentary on Luke.

337
L ucas —C ap. 19

έν ώ ’έρχομαι, “enquanto eu venho”, uma forma condensada para a expressão


enquanto eufo r e retornar.

15. Tinha ganhado, negociando (διεπραγματεύσατο). Somente aqui no texto do


Novo Testamento. Vide nota sobre o versículo 13.

16. Rendeu (προσηργάσατο). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Literal­


mente, operou ao lado (προς) da quantia original. Na bp, produziu; e na bv, lucro enorme.

17. Cidades. Bengel registra: “Uma cidade por uma mina; nem uma cabana po­
dería ser comprada por uma mina”.

Terás a autoridade (ΐσθι εξουσίαν εχων). Literalmente: Estejas tendo autori­


dade.

18. Rendeu (εποίησεν). Vide nota sobre Mt 25.16.

20. Guardei (είχον). No imperfeito. Eu estava guardando enquanto tu estavas


ausente.

Lenço (σουδαρίψ). O termo latino sudarium, derivado de sudor, suor. um pano para
se limpar o suor. Trench observa que o lenço do qual o servo indolente não necessi­
tava para o uso adequado (Gn 3.19) é utilizado por ele para embrulhar as suas minas.

21. Rigoroso (αυστηρός). Derivado de αΰω, secar. Seco, e por isso, duro. Vide nota
sobre duro, em Mt 25.24.

Semeaste (εσπειρας). Vide nota sobre espalhaste, em Mt 25.24.

22. Sabias. Para ser lido interrogativamente. “Sabias que? Então, por essa razão,
deverías ter sido o mais fiel”.

23. Banco (τράπεζαν). Literalmente, uma mesa ou banca utilizada pelos cambis­
tas. Vide nota sobre banqueiros, em Mt 25.27.

Juros (τόκω). Tradução adequada. Vide nota sobre juros, em Mt 25.27.

27. E (πλήν). Na rv, não obstante. Entretanto, isto pode ocorrer com o servo infiel.

Matai-os (κατασφάξατε). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Um


termo enfático: massacrai-os; fazei-os tombar (κατά).

29-44. Compare com Mt 21.1-11 ; Mc l l.l- i l.

29. Betfagé. Vide nota sobre Mt 21.1.

3 1 .0 Senhor. Vide nota sobre Mt 21.3.

338
L u c a s - C ap . 19

35. Vestes. Mais especificamente, as suas próprias vestes (εαυτών), em sinal de


reverência e amor para com o Senhor. Vide nota sobre Mt 25.7.

36. Estendiam (ύιτεστρώνυυον). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

37. Da descida. As duas vistas distintas de Jerusalém podem ser vislumbradas nes­
te caminho; um acidente geográfico que tira a cidade da vista do viajante, durante
certo tempo, depois dele já tê-la avistado pela primeira vez. O versículo 37 marca o
momento da primeira visão; o versículo 41 da segunda, mais de perto (vide Introdução,
na seção que trata da precisão topográfica de Lucas). Segundo Stanley:

N e s te p o n to (o prim eiro), a v isã o que te m o s é a da ex trem id a d e su d e ste da cidade.


O T e m p lo e as p o r ç õ e s m ais ao n o r te e stã o esco n d id a s pela elevação d o m o n te das
O liv eira s à d ireita. A m aior parte do q u e se v ê é so m e n te o m o n te Sião, um cam p o
acidentado, co ro a d o pela m esq u ita de D a v i e o ca n to d os m u ros ocid en tais, só que co ­
b e r to s de casas até a sua base, te n d o o c a ste lo d e H ero d es por cim a, no su p o sto local
on d e, ou trora, fora o p alácio de D avi. F oi n e s te p o n to q u e o brado de triu n fo irrom peu
na m u ltid ão95.

41. Ia chegando. Stanley registra:

U m a v e z m ais, a p ro cissã o avançava. A estrad a faz um le v e d ecliv e e a v ista da cidade


é, n o v a m en te, escon d id a p e lo m o n te das O liveiras. E m a lg u n s m o m e n to s o cam in h o
co m eça n o v a m e n te a subir; d esta v e z em um a subida ín g r e m e , alcan çan d o a borda de
um a roch a lisa e, n u m in sta n te, a cid ad e aparece in teira d ia n te d os n o ss o s o lh o s [[...]]
D ific ilm e n te s e p od ería d u vid ar que e sta subida e esta cu rva da estrad a fora o p o n to
e x a to o n d e a m u ltid ã o ten h a parado n o v a m en te, e de q u e fora aqui q u e E le co n te m ­
plou a cid ad e e ch o rou sob re ela.

Chorou (εκλαυσεν). Com um choro audível.

43. Trincheiras (χάρακα). Somente aqui no texto do Novo Testamento. O vocá­


bulo, literalmente, significa uma estaca afiada, utilizada na fortificação de defesas
de um campo e, por esta razão, designa a fortificação como um todo. Para a de­
fesa de um campo ou para o cerco a uma cidade, um fosso era cavado ao redor de
toda a área e a terra retirada era lançada dentro de um muro, sobre o qual esta­
cas afiadas eram fixadas. Cada soldado romano carregava três ou quatro destas
estacas na sua marcha.

T e estreitarão (συνεξουσιυ). Vide nota sobre 4.38.

95. Stanley, Sinai and Palestine.

339
L u c a s — C ap. 2 0

44. Te derribarão (έδαφιουσίν). Somente aqui no texto do Novo Testamento. De


modo primário, bater o nível, como se faz com uma eira ou pavimento. A lxx utiliza
este vocábulo no sentido de lançar abaixo no chão (SI 137.9, e em outras perícopes).

Visitação. Vide nota sobre iPe 2.12.

45-48. Compare com Mt 21.12-19; Mc 11.12-19.

46. Salteadores (ληστών). Vide nota sobre M t 26.55; Lc 10.30; Mc 11.17.

48. Pendia para ele (έξεκρέματο). Somente aqui no texto do Novo Testamento.
Literalmente, dependuravam-se sobre ele. Na bp, mas claro: pendente de suaspalavras. A
teb traduz: suspenso dos seus lábios, enquanto a nvi e e p :fascinado pelas suaspalavras.

C a p ít u l o 2 0

1-8. Compare com Mt 21.23-32; Mc 11.27-33.

5. Arrazoavam (συνελογίσαντο). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A


preposição aw Junto, e o complemento entre si, denotam uma conferência muito íntima.

6. Apedrejará (καταλιθάσβ.). Somente aqui no texto do Novo Testamento. “Nos


apedrejará até nos colocar abaixo’ (κατά); isto é, nos apedrejará até a morte.

Têm por certo (ΐΓ€ΤΤ€ΐσμένος). Literalmente, ele (o povo) está tendo sido persua­
dido. Denotando uma persuasão embasada e que demorou a ocorrer.

9-19. Compare com M t 21.33-46; Mc 12.1-12.

9. Arrendou-a. Vide nota sobre Mt 21.33.

Partiu para fora da terra. Não necessariamente distante, como sugere a t b :


outro país. Vide nota sobre Mc 13.34.

Por muito tempo (ικανούς). Vide nota sobre 7.6.

10. Dos frutos. Vide nota sobre Mc 12.2.

11. Tom ou ainda a mandar (προσέθετο ττίμψαι). Literalmente, ele acrescentou a


mandar. Uma forma hebraica de se expressar.

12. Ferindo (τραυματ ίσαvreς). Este termo ocorre somente aqui e em At 19.16.

13. Talvez (’ίσως). Somente aqui no texto do Novo Testamento. O advérbio de


’ίσος, igual. Ele expressa mais do que um talvez, implicando uma forte probabi­
lidade. Compare com a expressão, as chances são reais de isto ou de aquilo ocorrer.
340
L u c a s - C ap. 2 0

Respeitem. Vide nota sobre Mt 21.37.

16. Destruirá. Vide nota. sobre Mt 21.37.

Não seja assim (μή γέΐΌΐ,το). Literalmente, possa isso não ser.

17. A pedra. Vide nota sobre lPe 2.4-7.

18. Ficará em pedaços (συνθλασθήσ€ται). Acertadamente: quebrado em pedaços.


Vide nota sobre Mt 21.44.

Será feito em pó (λικμήσει). Vide nota sobre Mt 21.44.

20-26. Compare com Mt 22.15-22; Mc 12.13-17.

20. Trazendo-o debaixo de olho. Vide nota sobre Mc 3.2.

Espias (έγκαθίτους). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Derivado


de Ιγκαθίημι, enviar para dentro, como quem envia uma guarnição a uma cidade.
Por esta razão, refere-se a pessoas infiltradas em algum lugar para fins de
espionagem.

Ôue se fingiam (ΰποκρινομίνους). Literalmente, fingindo-se. Somente aqui no


texto do Novo Testamento. Vide nota sobre hipócritas, em M t 23.13.

À jurisdição e poder (τή άρχί) καί tfj έξουσία). O segundo, o poder romano
em geral; o primeiro, a autoridade específica do oficial regional.

21. Consideras a aparência da pessoa. Vide nota sobre T g 2.1.

22. Tributo (φόρον). Derivado de φέ^ω, trazer. Por conseguinte, algo que é trazi­
do para dentro por forma de pagamento. Lucas utiliza o termo grego κήνσον, em
vez do vocábulo latino encontrado em Mateus e Marcos.

23. Entendendo. Vide nota sobre vês, em Mt 7.3.

Astúcia (πανουργίαν). Derivado de παν, todo, eepyov, ato. Prontidão para exe­
cutar todo e qualquer ato. Por esta razão, falta de escrúpulos, em sentido geral,
desonestidade, logro.

24. Moeda. Vide nota sobre Mt 20.2.

Imagem e a inscrição. Vide nota sobre Mt 22.20.

26. Em palavra (ρήματος). No singular. Corretamente: dizendo. Vide nota sobre 1.37.

27-40. Compare com Mt 22.23-33; Mc 12.18-27.


341
L u c a s — C a p . 21

27. Perguntaram-lhe. Vide nota sobre Mc 12.18.

36. Iguais aos anjos (ίσάγγελοι). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

37. M ostrou (εμήυυσερ). Originalmente, revelar algo secreto. Por isso, tornar co­
nhecido.

Junto da sarça (έττί τής βάτου). Tradução inadequada. Na tb, corretamente


traduzido como: na passagem a respeito da sarça. A teb lê: no relato da sarça ardente.
Vide nota sobre Mc 12.26.

41-44. Compare com Mt 2 2 .4 1 -4 6 ; Mc 1 2 .3 5 -3 7 .

43. De teus pés (των ποδών σου). A k j v o m ite is to .

46. Primeiros lugares. Vide nota sobre Mc 12.39.

47. Casas das viúvas. Vide nota sobre Mc 12.40.

C a pítu lo 21

1-4. Compare com Mc 12.41-44.

1. Ricos. Este termo está posicionado de forma enfática na parte final da frase:
“Viu aqueles que estavam lançando —os ricos’. Mas não na concepção de que so­
mente os ricos estavam lançando as moedas. Compare com 12.41.

Tesouro. Videnota sobre Mc 12.41.

2. Pobre. Vide nota sobre Mt 5.3.

Moedas. Vide nota sobre Mc 12.42.

3. Esta pobre viúva. Vide nota sobre Mc 12.43.

4. Ofertas de Deus. Os melhores textos omitem de Deus.

Pobreza (υστερήματος). Literalmente, falta.

5-19. Compare com Mt 24.1-14; Mc 13.1-13.

5. Pedras. Vide nota sobre Mc 13.1.

Dádivas (άναθήμασιν). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Deriva­


do de άνατιθημι., colocar. Por esta razão, algo colocado no Templo como oferta
votiva. Assim eram as vinhas de ouro apresentadas por Herodes, o Grande, com
cachos de uvas que chegavam ao tamanho de um homem, as quais ficavam posi-
342
L uc a s - Cap. 2 1

cionadas acima da entrada do Santo Lugar. O magnífico pórtico do Templo era


adornado com muitas dessas dádivas, tal como um guirlanda de ouro que Sósio
ofereceu depois de tomar Jerusalém em conjunto com Herodes; e jarros que Au­
gusto e a sua esposa entregaram ao Santuário. Doações eram feitas por príncipes
aliados de Israel, no Templo e nas sinagogas das províncias. ’Ανάθεμα (G1 1.8) é
o mesmo vocábulo, algo dedicado, e assim oferecido ao mal e amaldiçoado. Lucas
utiliza a forma clássica. O outro é a forma comum ou helenística. As duas formas
desenvolveram, gradualmente, uma divergência no significado; uma significan­
do dedicado em um bom sentido, e a outra, em um mau. O mesmo processo pode
ser observado em outras línguas.

6. Vedes (θεωρείτε). Vide nota sobre 10.18.

Derribada. Vide nota sobre Mc 13.2.

8. Enganem. De forma acertada-, desviados. Vide nota sobre Mt 24.4.

Em meu nome. Vide nota sobre Mt 18.5.

9. Sedições (ακαταστασίας). Derivado de ά, não, e καθίστημι, estabelecer. Dessa


maneira, um desestabelecimento; uma desestabilização.

Não vos assusteis (μή πτοηθήτε). Este termo só ocorre aqui e em 24.37.

Logo (εύθεως). Mais adequadamente traduzido como imediatamente.

11. Terrem otos. Vide nota sobre M t 13.8.

Fomes e pestilências (λιμο'ι και λοιμο'ι). Alguns textos invertem a ordem


das palavras. Uma paronomásia ou combinação de sons correlates em palavras:
limoi, loimoi. Especialmente comum nas epístolas de Paulo.

Coisas espantosas (φόβητρά). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


O termo é raro no grego clássico. Na l x x , em Is 19.17. Não restrito a visões, mas
coisas espantosas. Uma tradução alternativa é o termo terrores. Este vocábulo é
utilizado na linguagem médica por Hipocrates para se referir a objetos horríveis
imaginados pelas pessoas enfermas.

13. Acontecerá isso (άποβήσεται). Literalmente, sobrevirá, sobressaltara.

14. Responder. Vide nota sobre responder, em lPe 3.15.

19. Possuí (κτήσασθε). Tradução inadequada. Vide nota sobre 18.12.

20-36. Compare com Mt 24.15-42 e Mc 13.14-37.


343
L uc a s — Cap. 2 1

22. Vingança (έκδι,κήσεως). De se fazer a plena justiça, ou satisfação. Vide nota


sobre faze-mejustiça, em 18.3.

23. Aflição (ανάγκη). Originalmente constrangimento, necessidade-, deste modo,


força ou violência. Nos poetas clássicos: aflição, angústia.

24. Fio (στόματι). Literalmente, a boca. No sentido da parte mais exterior e na


concepção figurativa da espada como um monstro devorador. Em Hb 11.33-34,
o termo é utilizado nestes dois sentidos: “as bocas dos leões”; “o fio da espada”.

Levados cativos. Vide nota sobre cativos, em 4.18.

Pisada. Denotando a opressão e o desdém que se seguirá à conquista.

25. Sinais (σημεία). Vide nota sobre Mt 24.24.

Angústia (συνοχή). Somente aqui e em 2Co 2.4. Da mesma raiz que συνεχόμενη,
enferma (4.38), verifique a respectiva nota. O significado original do vocábulo é ser
tomado por umforte aperto.

Em perplexidade pelo bramido do m a r e das ondas. A kjv segue a leitura


ήχοΰσης, particípio, bramindo. A leitura apropriada é ήχους, substantivo, o brami­
do, conforme a arc. Traduza dessa forma. ’Ηχώ, bramido, é mais exatamente um
som de retorno, um eco. Em sentido geral, um som ressoante, como das pancadas
sobre uma bigorna.

Ondas (σάλου). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Mais adequa­


damente traduzido como vagalhões. A noção básica do termo é um movimento
irregular, especialmente o sobe e desce do mar.

26. Desmaiando (άττοψυχόντων). Somente aqui no texto do Novo Testamento. O


vocábulo, originalmente, significa perder ofilego, desmaiar. Assim, Homero faz uso
dele para descrever o momento em que Laerte reconhece Ulisses:

E le lan ça o s seu s b raços ao red or d o seu filh o querido. O ro b u sto com an d an te, U lisse s,
p u x o u -o en q u an to d esfalecia (άποψ ύχουτα)96.

Do mesmo modo, Sófocles, ao descrever o momento em que Heitor é arrasta­


do para trás da carruagem de Aquiles:

E le ex p iro u a sua vid a (άπέψυξεν β ίο υ )97.

96. Homero, Odisséia, 24.346.


97. Sófocles, Ajax, 1031.

344
L u c a s - C a p . 21

Somente Mateus utiliza a forma simples do verbo, ψύχω, respirar ou soprar.


Vide nota sobre se esfriará, em Mt 24.12. Lucas utiliza quatro compostos deste
verbo simples, todos peculiares a si. Compare com o verbo refrescar, em 16.24;
refrigério em At 3.19 e expirarem At 5.5,10.

Expectação (προσδοκίας). Este termo ocorre somente aqui e em At 12.11.

Ao mundo. Vide nota sobre 2.1.

Serão abalados (σαλευθήσονται). Compare com Mt 11.7; Lc 6.38; At 4.31; Hb


12.26-27. A raiz do verbo é a mesma do vocábulo ondas, no versículo 25.

28. Olhai para cima. Vide nota sobre 13.11. Expressão ilustrativa, como que im­
plicando uma prostração prévia por parte das pessoas em função do sofrimento.

Redenção (άπολύτρωσις). Vide nota sobre podes despedir, em 2.29.

29. Parábola. Vide nota sobre Mt 24.32.

30. Sabeis (γινώσκετε). Percebeis, seria mais adequado.

Vendo-as (βλεποντες). Literalmente, "olhando, vós sabeis”. Implicando uma ob­


servação cuidadosa, com objetivo de determinar a chegada da nova estação.

31. Acontecer (γινόμενα). No particípio presente. De forma mais correta: “vindo


a ocorrer”; em processo de cumprimento. Compare com Mc 13.29.

34. Se carregue (βαρηθώσιν). Seja oprimido. Compare com 9.32; 2Co 5.4.

Glutonaria (κραιπάλη). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A de­


rivação é incerta: o termo é correlato ao latim crapula, intoxicação. Nos escritos
médicos, este termo é utilizado para descrever a náusea ou a dor de cabeça causada
pela embriaguez.

Embriaguez (μέθη). Compare com a expressão têm bebido bem, em Jo 2.10.


Este termo e outros correlates, dentro do Novo Testamento, sempre se referem
à intoxicação ou àquilo que provoca a intoxicação. Vide nota sobre Jo 2.10.

Cuidados (μερίμναις). Vide nota sobre Mt 6.25.

Da vida (βιωτικαΐς). A t e b traduz: preocupações da vida. A tradução é demasia­


damente genérica; embora nos seja difícil apresentarmos uma opção mais ade­
quada. Βίος, vida, significa a vida considerada do ponto de vista da sua duração
(lPe 4.3); ou do seu meio de sustento (Mc 12.44; Lc 8.43; 21.4; iJo 3.17); ou da
maneira de levá-la (lTm 2.2). O significado aqui é relativo ao sustento ou às luxúrias
345
L u c a s - C ap. 2 2

da vida-, e assim também sucede nas outras passagens onde este vocábulo ocorre,
lCo 6 .3 -4 . Um trecho paralelo pode ser encontrado em Mt 6 .3 1 .

De improviso (αίφυίδιος). Este termo ocorre somente aqui e em lTs 5.3.

35. Como um laço. Junte com a sentença anterior: “Venha de improviso como
um laço”. Compare com surpreender, em M t 22.15.

36. Vigiai. Vide nota sobre Mc 13.33.

37. Ficava (ηύλίζετο). Este termo ocorre somente aqui e em Mt 21.17.

38. Ia ter com ele ao templo, de manhã cedo (ώρθριζεν). Somente aqui no
texto do Novo Testamento.

Capítulo 22

1 -6 . Compare com Mt 2 6 .1 7 -1 9 . Mc 1 4 .1 2 -1 6 .

1. Perto. No imperfeito: “estava se aproximando”, ou, “estava chegando perto”.

Festa (εορτή). Mais especificamente, um festival. Vide nota sobre Mc 14.1.

2. Andavam procurando. No imperfeito, estavam procurando, concomitantemen­


te com a aproximação da festa.

Matariam (άνίλωοιν). Literalmente, apanhar e carregar parafora, e, logo, dar


um destino a.

3. Satanás. Vide nota sobre 13.16.

Iscariotes. Vide nota sobre Mt 10.5.

4. Capitães (στρατηγοις). Os chefes da guarda do Templo. Compare com At 4 . 1.

6. Concordou (4ξωμολόγησο>). Vide nota sobre Mt 3.6; 11.25. A acepção é a de


um consentimento ou compromisso aberto ejusto.

10. Um homem - cântaro. Vide nota sobre Mc 14.13.

11. Aposento. Vide nota sobre Mc 14.14.

12. Então, ele (κάκχίνος). Videnota sobre Mc 14.15.

Mobilado. Vide n o ta so b r e Mc 14.15. Na e p con sta : arrumada com almofadas.

1 4 -1 8 ; 2 4 -3 0 . Compare c o m Mt 2 6.20; Mc 14.17.

346
L u c a s - C ap. 2 2

14. Os doze apóstolos. Mateus e Marcos também apresentam o numeral doze.

15. Desejei muito. No grego, com desejo eu desejo. Expressando um desejo intenso.
Compare com Jo 3.29, alegra-se com alegria-, At 4.17, ameacemo-los com ameaças.

19-20. Compare com Mt 26.26-29. Mc 14.22-25. lCo 11.23-25.

19. Pão (άρτον). Mais adequadamente traduzido como, um bolo, ou pão deforma.

20. O cálice. Vide nota sobre Mc 14.23.

Testam ento (διαθήκη) - derramado. Vide nota sobre Mt 26.28.

21. T rai (παραδιδόντος). No particípio presente: está, neste momento, envolvido


na traição.

Comigo. Bengel registra: “Ele não diz convosco: separando, assim, o traidor
dos demais discípulos, e demonstrando que, agora, o assunto era somente entre
ele e aquele miserável homem, como quem trata com um inimigo”.

24. Contenda (φιλονεικία). Mais especificamente, “umaforte contenda”. Somen­


te aqui no texto do Novo Testamento.

O maior. Mais especificamente, maior.

26. Serve. Vide nota sobre serviçal, em Mt 20.26.

28. Permanecido (διο^μενηκστες). Literalmente, “têm permanecido ao longo dè' (διά).

29. Eu vos destino (διατίθεμαι). Implicando uma divisão empartes: atribuindo no


decurso da distribuição (διά). Lucas, de modo especial, demonstra uma predileção
por compostos feitos com o prefixo διά.

31. Vos pediu (εξητήσατο). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Este termo, às vezes, significa obter por meio de pedido, ou conseguir auto­
rização para fazer algo. Assim, vemos em Xenofonte98. A mãe de Ciro, que é
acusado de tentar assassinar o seu irmão, deu-lhe autorização para se retirar
(έξαιτησαμενη). O resultado provou que Satanás teve essa permissão durante
certo período.

Cirandar (σινιάσαι). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

T rigo (σίτον). Um termo genérico, grãos.

98. Xenofonte, A n a b a s is , 1.1,3.

347
L uc a s — C ap. 2 2

32. Roguei (έδεήθην). Vide nota sobre orações, em 5.33.

Te converteres (έπιστρέψας). Converteres é, simplesmente, a versão lati—


nizada da expressão virar em torno (convertere). O aoristo particípio (uma vez
que) denota um ato específico: “quando tu uma vez que tiveres te convertido
novamente”.

Confirma (στήρισον). Vide nota sobre 16.25 e lPe 5.10. Estabelece é uma tradu­
ção muito mais adequada. O termo implica a concepção de.fixação.

34. Pedro. O único exemplo em que Cristo é descrito se dirigindo direta­


mente a ele fazendo uso do nome Pedro. Ele se refere a ele por este nome
em Mc 16.7.

O galo. Vide nota sobre Mt 26.34.

Negues. Vide nota sobre Mc 14.30.

36. O que não tem espada. Só que o substantivo espada não é regido pelo verbo
ter. Ele fica demasiadamente isolado na frase. O significado é: aquele que não tem
uma bolsa ou documento (e está, portanto, sem dinheiro) que venda a sua veste e
compre uma espada.

37. Terá cumprimento (τέλος ’έ χίΐ). A expressão é sinônima de ser cumprido


(τβλίσθήυαι). No grego clássico, este segundo termo é, de modo geral, utilizado
para descrever o cumprimento de um oráculo; também com referências a coisas
que são estabelecidas além das controvérsias. As duas expressões aqui compor­
tam os dois significados. A profecia está cumprida-, as coisas ao meu respeito
estão, finalmente, estabelecidas.

39-46. Compare com Mt. 26.30,36-46; Mc 14.26,32-42.

40. Lugar. Vide nota sobre Getsêmani, em Mt 26.36.

41. Apartou-se (άπ€σπάσθη). A vulgata apresenta avulsus est-. “ele foi destacado”,
como que por uma urgência interior. Godet adota esta posição, e Meyer tem uma
inclinação para isso; De Wette, definitivamente, rejeita esta posição. Compare
com At 21.1.

Orava. No imperfeito, começou a orar.

43. Apareceu-lhe (ώφθη). O vocábulo mais comumente utilizado no texto do


Novo Testamento para descrever as visões (Mt 17.3; Mc 9.4; Lc 1.11; 22.43; At
2.17; 7.35). O substantivo correlato όιττασία, sempre que ocorre no Novo Testa­
mento, significa uma visão. Vide Lc 1.22; 24.23.
348
L u c a s - C ap . 2 2

Confortava (έιησχύωυ). Somente aqui e em At 9.19. Vide a expressão não


pôde, em 14.30; e não posso, em 16.3. De modo geral, na forma intransitiva; pre­
dominar sobre ou entre. Usado de forma transitiva somente por Hipócrates e
Lucas.

44. Posto em agonia (γ^υόμ^νος èv άγωναα). No particípio aoristo existe a


sugestão de uma intensidade crescente na luta, que não é expressa simplesmente
pelo verbo ser (estando em agonia). Literalmente, apesar de ser muito dese­
legante, temos, tendo-se tornado em uma agonia; tendo avançado da primeira
oração (começou a orar, v. 41) até uma luta intensa de oração e sofrimento. O
termo agonia ocorre somente nessa perícope. Ele é utilizado pelos autores da
área médica, e fato do suor que acompanhou esta agonia também é mencionado
por eles.

Mais intensamente (Εκτενέστερου). Vide nota sobre ardentemente, em lPe 1.22.

Tom ou-se (εγενετο). Tradução adequada. Vide nota sobre γενόμενος, posto,
neste mesmo versículo.

Grandes gotas (θρόμβοι). Somente aqui no texto do Novo Testamento: gotas


ou coágulos. Termo muito comum na linguagem médica. Aristóteles menciona
um suor ensanguentado que surgia a partir de condições ruins do sangue; e Teo-
frasto menciona um médico que comparou um tipo de suor com o sangue.

45. De tristeza. A menção da causa da sonolência é característica do autor.

47-53. Compare com Mt 27.47-56; Mc 14.43-52.

47. M ultidão - um dos doze. Vide nota sobre Mt 26.47.

Beijar. Vide nota sobre Mt 26.47.

50. O servo. Vide nota sobre Mt 26.51.

A orelha direita. Literalmente, sua orelha, a direita. Vide nota sobre Mt. 26.51;
e compare com Mc 14.47. Mateus e Marcos usam diminutivos.

51. Deixai-os; basta. Esta expressão é interpretada de várias maneiras. Penso


que o texto requer que as palavras devam ser dirigidas aos discípulos, e tomadas
como a resposta à pergunta -.feriremos à espada? O significado, então, é, permitam-
nos que venham até a me prender. A expressão, portanto, corresponde a Mt 26.52.

Orelha (ώτίου). Desta vez Lucas utiliza o diminutivo.

Curou. Somente Lucas registra esta cura.


349
L ucas - C ap . 2 3

52. Salteador (ληστήυ). Vide nota sobre Mt 26.55; Lc 10.30; Mc 11.17.

54-62. Compare com M t 26.57,58,69-75; Mc 14.53,54,66-72.

55. Acendido (περιαψάντων). Literalmente, acendido tudo ao redor (ntpí): fazendo


um fogo intenso.

Pátio. Vide nota sobre Mc 14.54.

56. Ao fogo (προς το φως). Vide nota sobre Mc 14.54.

63. Ferindo-o (δέροντες). Originalmente, esfolar, por esta razão ferir com porrete.
Compare com o nosso uso informal curtir ou encobrir.

66. Anciãos (πρεσβυτέριου). Mais corretamente, a assembléia dos anciãos.

Capítulo 23

1-5. Compare com Mt 27.1-2; 11,14; Mc 15.1-5.

3. Havemos achado. Em sentido jurídico: como o resultado da audiência diante


do conselho.

5. Insistiam cada vez mais (έπίσχυον). Na tb, instavam ainda mais. Somente
aqui no texto do Novo Testamento. O verbo significa, literalmente, crescerforte.
Vide nota sobre 14.30; 16.3. Neste caso, o significado é, eles estavam mais enérgicos
e enfáticos.

Alvoroça (άνασείει). Vide nota sobre Mc 15.11. A urgência crescente é mos­


trada pelo uso de um termo mais enfático do que pervertendo (v. 2).

6. Da Galileia. Os melhores textos omitem esta expressão.

7. Remeteu-o (άνέπεμψεν). Literalmente, enviou-o para cima (άνά). Utilizado


para designar o envio de um caso para uma corte superior. Compare com At
25.21, sobre o recurso que Paulo faz a César. Este vocábulo também significa
enviar de volta, como vemos no versículo 11, e em Fm 11 .

8. Havia muito (έξ ίκαρων). Vide nota sobre 7.6.

Esperava (ήλπιζέν). No tempo imperfeito; estava esperando- durante todo este


longo período.

Sinal (σημεΐον). Vide nota sobre Mt 11.20; e compare com At 2.22.

9. M uitas (ίκανοΐς). Compare com havia muito no versículo 8.


350
L ucas - C ap . 23

10. Com grande veemência (^ύτόνως). Este vocábulo ocorre somente aqui e
em At 18.28, em referência à pregação de Apoio. Originalmente, a expressão
significa bem tenso; dessa maneira, em linguagem médica, refere-se a um corpo
fisicamente saudável.

11. Resplandecente (λαμπράν). Literalmente, brühosa ou brilhante. NaECP, bran­


ca; na bp, esplêndida. Compare com At 10.30; Ap 15.6. Marcos apresenta púrpura
(πορφύραν) e Mateus escarlate (κοκκίνην).

Roupa (έσθήτα). O termo geral para designar um traje. Mateus especifica o


tipo de roupa (27.28). Marcos apresenta, simplesmente, púrpura (15.17).

13-25. Compare com M t 27.15-26; Mc 15.6-15.

14. Pervertedor (άποστρέφοντα). A t e b l ê sublevasse o povo; a bp , agita o povo; e


a n v i , incitando o povo à rebelião.Outro composto de στρέφω, virar, διαστρέφοντα
é traduzido pelo mesmo termo do versículo 2. Os vocábulos são utilizados sem
qualquer distinção intencional de significado. Διαστρέφοντα implica mais a con­
cepção de distração; virar para caminhos diferentes; ao passo que άποστρέφοντα
enfatiza o desvio (άπό) do povo da sua aliança civil e religiosa.

Examinando-o (άνακρίνας). Este termo implica um exame detalhado-, άνά,


para cima, de baixo a alto. Tecnicamente, refere-se a um exame legal.

16. Castigá-lo-ei (παι&ύσας). Originalmente, criar um filho (παις). Deste modo,


instruir, como vemos em At 7.22, referindo-se a Moisés como homem instruído na
sabedoria do Egito; e em At 22.3, referindo-se a Paulo como sendo homem instru­
ído na Lei. Disciplinar ou corrigir, como em Hb 12.6-7.0 vocábulo não é sinônimo
de punir, já que sempre implica uma penalização que visa à correção do infrator;
e, dessa maneira, corresponde a castigar. Assim vemos em Hb 12.10; Ap 3.19. Na
linguagem popular castigar &punir, de modo geral, são confundidos. Castigar deriva
do latim castus, “puro”, “casto”; e tem o significado original de purificar. Este con­
ceito forma a base até mesmo do uso feito por Pilatos deste vocábulo, e que, prova­
velmente, não tinha nenhuma intenção de ser brando na escolha das palavras. Em
vez de puni-h com morte, o seu desejo é castigá-lo, a fim de ensiná-lo uma lição.

18. À uma (παμπληθή,). A totalidade da multidão (πλήθος). Somente aqui no


texto do Novo Testamento.

Fora daqui (aípe). Literalmente, tirem daqui. Compare com At 21.36; 22.22.

19. Que (οστις). Conforme a kjv . Classificando-o. Alguém de tal natureza, que
fora preso. A arc substitui pelo nome Barrabás.
351
L ucas - C ap . 23

20. Falou (προσεφώνησεν). Dirigiu-se. Compare com At 21.40; 22.2. No texto do


Novo Testamento, este termo sempre assume o significado de abordar, tanto uma
pessoa quanto uma multidão.

21. Clamavam (έπεφώνουν). No tempo imperfeito. Continuavam clamando. Ter­


mo utilizado exclusivamente por Lucas. Compare com At 12.22; 22.24.

22. Disse (είιτεν). Abandonando o tom de discurso e passando a fazer, simplesmen­


te, uma pergunta.

23. Eles instavam (enticeluto). Instavam, no sentido de urgência, pressa. Vide nota
sobre 7.4. Compare com Rm 12.12; 2Tm 4.2; Lc 7.4; At 26.7. O verbo significa
jazer sobre, estar colocado sobre, e corresponde à nossa expressão popular, lançar-se
ao trabalho. Compare com Aristófanes: κάττικείμενος βόα, rugir com toda aforçcts.
Literalmente, rugiam, lançando-se nisso.

Os seus gritos. Omita e os dos principais dos sacerdotes.

Redobravam (κατίσχυον). Tiveram o poder (ισχύς) de se sobrepor (κατά) às


objeções de Pilatos. Este termo ocorre somente aqui e em Mt 16.18.

24. Julgou (επέκρινεν). Pronunciou a sentença final. Somente aqui no texto do


Novo Testamento.

26- 33. Compare com Mt 27.31-34; Mc 15.20-23.

26. Tomaram (επιλαβόμενοι). Compare com o vocábulo peculiar utilizado por


Mateus e Marcos. Vide nota sobre M t 5.41.

27- 32. Termo peculiar a Lucas. Vide Introdução, na seção que trata do Evangelho
da feminilidade.

30. Outeiros (βουνοΐς). Este vocábulo ocorre somente aqui e em 3.5.

31. Madeiro (ξύλω). Originalmente, madeira. No grego posterior, urna árvore.


Utilizado em referência à cruz por Pedro, At 5.30; 10.39; e em 1Pe 2.24. Compare
em G1 3.13.

32. Outros dois. A posição da vírgula depois da palavra criminosos na e p pode


gerar uma afirmação bastante inadequada e desagradável: Levavam também ou­
tros dois criminosos,junto com ele, para serem mortos. Mais adequadamente traduzi­
do pela a r c : outros dois, malfeitores.

99. Aristófanes, Knights, 253.

352
Lucas —Cap. 23

Serem mortos, (άναιρεθήναι). Literalmente, pegar e carregar para fora; de


forma que a expressão grega corresponde à nossa expressão fulano fo i retirado
desta vida. Assim também, vemos em Shakespeare:

A profu n d a d an ação da sua retir a d a 10".

g u e aquela que d esejava d ele se livrar, plan eje


A sua rápida retirad a101.

33. Caveira (Κρανίον). O vocábulo grego é a tradução do termo aramaico


Gôlgôltã’ (íínbniSu). Vide nota sobre Mt 27.33.

35-43. Compare com M t 27.39-44; Mc 15.29-32.

35. Olhando. Vide nota sobre 10.18.

Zombavam. Vide nota sobre 16.14.

Se este. Perceba a ênfase desdenhosa em ούτος, este companheiro.

36. Chegando-se a ele. Aproximando-se da cruz.

Vinagre. Vide nota sobre Mt 27.34.

38. Título. Vide nota sobre Mc 15.26.

39. Blasfemava (έβλασφήμει). No imperfeito: mantinha-se blasfemando.

41. Recebemos. Estamos recebendo, seria mais adequado.

Mal (ατοπον). Literalmente^òra de lugar, e, por conseguinte, estranho, excêntri­


co, perverso-, como em 2Ts 3.2, onde este vocábulo é traduzido como dissolutos. A
expressão aqui corresponde, aproximadamente, a uma que nos é familiar “não fez
nada fora dos conformes”. Compare com At 28.6; nenhum incômodo.

42. No teu Reino £4v xq βασιλέα σου]. Alguns textos trocam a leitura elç, para
dentro, por kv, em, como na arc . Nesse caso, precisamos compreender da seguinte
forma: “em tua glória real”.

43. No Paraíso (παραδ6ΐσω). Originalmente, um parquefechado, ou lugar de pra­


zer. Xenofonte utiliza este vocábulo para designar os parques dos reis e nobres
da Pérsia.

100. Shakespeare, M acbeth, 1.7.


101. Id., b e a r, 5.1.
353
Lucas - Cap. 23
A li (em C elen e) C iro tin h a um p alácio com um g r a n d e parque (παράδεισος), ch eio d e
anim ais se lv a g e n s, aos quais caçava m o n ta d o e m cavalos... P elo m eio d o parq u e corre
o R io M e a n d r o 102.

E, também:

O s g r e g o s aca m p a ra m p e r to d e u m g r a n d e e b e lo parque, c h e io d e to d o s o s tip o s


d e árvores'™ .

Na l x x , em Gn 2 .8 , ele descreve o jardim do Éden. Na Teologia judaica, o


compartimento do Hades no qual as almas benditas aguardam pela ressurreição;
e, logo, como equivalente ao seio de Abraão (16.22-23). Ocorre três vezes no texto
do Novo Testamento: nessa perícope, em 2Co 12.4 e em Ap 2.7; e sempre desig­
nando a morada dos justos.

Por o n d e quer que v agu es, alm a b endita, sab em os,


V im o s ao teu lad o em aflição,
A gu ard a n o teu triunfo - a ssim co m o to d o s o s ju s to s
C om e le e c o n tig o to d o s repousarão.
C ada um na sua cru z, p e r to de T i ficam os e r g u id o s p or a lg u n s in sta n tes,
V en d o o teu so rriso p aciente,
A té q u e ap ren d am os a dizer: “T u d o está ju s to e certo.
S o m e n te à tua g ló ria , Senhor, r e n d e -se o teu s e r v o pecador"101.

44-46. Compare com Mt 27.45-50; Mc 15.33-37.

44. Hora sexta. Ao meio-dia.

Hora nona. Vide nota sobre Mt 27.46.

45. Véu. Vide nota sobre Mt 27.51.

46. Entrego (παρατίθεμαι.). Vide nota sobre 9.16.

Expirou (έξεπνευσεν). Tradução literal, expirou (a sua vida). Vide nota sobre
Mt 27.50.

47-49. Compare com Mt 27.51-56; Mc 15.38-41.

49. O haviam seguido (συνακολουθούσα l). Literalmente, seguido da preposição


com (συν). Vide nota sobre Mt 27.55.

102. X enofonte, Anabans, 1.2.7.


103. Ibid., 2.4,14.
104. Keble, Christian Tear.

354
L ucas - C ap . 24
50. Senador. Vide nota sobre Mc 15.43. Mateus o chama de rica, Marcos, honra­
da, Lucas, de homem de bem ejusto.

51. Consentido (συγκατατ^θειμένος). Somente aqui no texto do Novo Testa­


mento. Mais um dos numerosos compostos com Lucas. O estudante do grego
ficará espantado com a gama de compostos, desde o versículo 49 ao 56, inclusive.
O verbo significa colocar (τίθημι) abaixo (κατά), junto com (συν). Por esta razão,
colocar abaixo o mesmo voto ou opinião, junto com outra pessoa: concordar ou
consentir.

53. Lençol (σινδόνι). Vide nota sobre Mc 14.51; e compare com Lc 16.19.

Escavado numa penha (λαξευτώ). Somente aqui no texto do Novo Testamen­


to, e não aparece, de forma alguma, nas obras do grego clássico.

56. Voltando (ίπτοστρέψασαι). Este termo ocorre trinta e duas vezes em Lucas, e
somente três vezes no restante do Novo Testamento. Constitui-se um fato signi­
ficativo que, considerando-se o espeço agregado ocupado pelos quatro Evange­
lhos, aproximadamente um sexto de todo o seu conteúdo é ocupado pelo relato
das vinte e quatro horas que começam com a última Ceia e terminam com o
sepultamento de Jesus. Nenhum outro dia, em todo o relato bíblico, é narrado
com tanta riqueza de detalhes. Se tivéssemos a vida completa de Cristo narrada
com o mesmo nível de detalhamento, o relato ocuparia cento e oitenta volumes tão
grandes quanto a Bíblia completa.

Capítulo 24

1-3. Compare com Mt 28.1; Mc 16.2-4.

1. M uito de m adrugada (δρθρου βαθέως). Literalmente, na alvorada profun­


da, ou sendo a alvorada profunda. No grego, não é incomum encontrarmos
βαθύς, profundo, em referência ao tempo; como à noite profunda ou às altas
horas da madrugada. Plutarco nos relata que Alexandre ceava “na noite pro­
funda”·, isto é, tarde da noite. Filo afirma que os hebreus atravessaram o mar
Vermelho “perto da alvorada profunda (como vemos aqui), enquanto os outros
estavam, ainda, na cama”. Diante disso, Sócrates, no cárcere, perguntou a
Crito a hora do dia, que o respondeu: ορθρος βαθύς, a alvorada está profunda,
isto é, está irrompendo10'5.

4-8. Compare com Mt 28.5-7; Mc 16.5-7.

105. Platão, Crito, 43.

355
Lucas - Cap. 24

4. Resplandecentes (άστραπτούσαις). Este termo ocorre somente aqui e em 17.24.


Correlato a άστράπη, raio. Vide nota sobre resplendor, 11.36 e compare com 17.24.

11. Lhes pareciam (ενώπιον αυτών). Literalmente, na sua visão.

Desvario (λήρος). Literalmente, conversa tola; absurdo. Na t b , bp e teb , consta


delírio-, na ep , tolices. Somente aqui no texto do Novo Testamento. Termo utili­
zado em linguagem médica para designar as falas desencontradas de momentos
de delírio.

12. Abaixando-se. Vide nota sobre atenta, em Tg 1.25. Os melhores textos omi­
tem este versículo.

Lenços. Não as suas vestes, mas as faixas de linho que envolviam o corpo. Tal
como vemos na tb , panos.

13. Sessenta estádios. Cerca de 11 quilômetros.

15. Ia com (συνεπορεύετο). O uso do imperfeito, neste caso, proporciona uma


beleza ao texto. Jesus se aproximou enquanto eles estavam absortos na sua con­
versa, ejá estava caminhando com eles quando eles o notaram.

17. Trocais (άντιβάλλετε). Literalmente, lançais de um lado para o outro; trocais.


Tennyson cita:

Discutiam acerca de uma dúvida e a lançavam de um lado para o outro.

E estais tristes? (σκυθρωποί). Somente aqui e em Mt 6.16, sobre a qual


vide nota. Os melhores textos colocam o ponto de interrogação depois de
caminhando, e καί έστάθησαν, e traduzem: elesficaram parados, aparentando tris­
teza.

18. És tu só peregrino em Jerusalém (σύ μόνος παροικείς ’Ιερουσαλήμ). Ο


vocábulo παροικεΐν, habitar como estrangeiro, é utilizado no grego posterior
para se referir a estrangeiros que não tinham os direitos advindos da cida­
dania, nem residência fixa. Compare com Hb 11.9. Vide nota sobre estrangei­
ros, em lPe l.l e compare com peregrinação, em lPe 1.17. O termo da arc é,
normalmente, entendido de modo adverbial: “Não és tu nada mais do que um
estrangeiro?” Mas a ênfase da pergunta recai naquele ponto e o termo é um
adjetivo. Traduza assim: “Somente tu habitas como um estrangeiro em Jeru­
salém?” Es tu o único que permaneces como estrangeiro em Jerusalém, e que
não sabe destas coisas etc.

As coisas (ποια). Literalmente, “que tipo de coisas”.


356
Lucas - C ap. 24

21. Esperávamos (ήλπίζομεν). Tradução adequada, todavia no imperfeito: está­


vamos esperando o tempo todo.

Que remisse. Mais corretamente, deveria remir (λυτροϋσθαι). Vide nota sobre
lPe 1.18.

Com tudo isso (συν πάσιν τούτοις). Literalmente, com todas estas coisas·, a sua
traição e crucificação etc.

É já hoje o terceiro dia [Τρίτην ταύτην ημέραν άγει σήμερον]. Os melhores


textos omitem o vocábulo hoje. A frase forma uma expressão que não pode ser ade­
quadamente traduzida. Literalmente teríamos: “Ele (Cristo) está passando (άγει) este
dia como o terceiro”. Na rv: É agora o terceiro dia desde etc.

22. Nos maravilharam (έξέστησαν). Literalmente, o verbo significa colocarfora


do lugar, e, dessa forma, alterar a percepção de alguém. A tb traduz com maior
propriedade, nos encheram de pasmo.

De madrugada (όρθριναι). Literalmente, adiantadas. Este vocábulo ocorre


somente aqui e em Ap 22.16. Compare com δρθρος, madrugada, no versículo 1.

23. Que também tinham visto - que dizem. Cleopas, absorto pelo seu relato,
lança-se de volta ao momento do seu encontro com a mulher. Literalmente, "Elas
vieram dizendo que elas viram uma visão de anjos que dizem (λεγουσιν).

25. Ó néscios e tardos de coração (ανόητοι καί βραδείς τή καρδία). Esta é


uma tradução inadequada, à luz do uso comum do termo néscio. Jesus jamais
teria chamado aqueles discípulos tristonhos de néscios neste sentido. O vocábulo
é composto de ά, não, e νοέω, que implica, além da ideia de ver, uma percepção
da mente como consequência dessa visão. Ele é, portanto, equivalente a dizermos
pesados de percepção. Eles leram o que os profetas haviam falado, mas falharam
em perceber a aplicação daquelas palavras a Cristo. Enquanto esta repreensão
relaciona-se ao entendimento, a seguinte, tardos de coração, vai mais a fundo, e con­
templa a esfera dos sentimentos e da suscetibilidade moral. O vosso coração é pesado
e lento para responder aos testemunhos dos vossos próprios profetas. Compare
com a dureza de coração, em Mc 16.14.

Tudo (επί πάσιν). A bp apresenta, de forma adequada, em tudo·, confiando em


(επί) todas as afirmações dos profetas.

26. Não convinha que (ούχί εδει). Era essencialmente apropriado que Cristo
sofresse como cumprimento do eterno conselho de Deus, segundo expresso nas
profecias.
357
L ucas - C ap. 24

27. Explicava-lhes (õieppqveuoev). Ou interpretava-lhes, deforma completa (διά).


Na bj, interpretou-lhes-, e na kjnta , explanou-lhes. Preferencialmente no imperfeito,
ele seguiu interpretando de passagem a passagem.

28. Onde iam (έπορεύοντο). No imperfeito, estavam indo.

Fez como quem (προσ€ποιήσατο). O verbo significa, originalmente, acres­


centar ou anexar a\ dessa forma, tomar para si o que não lhe pertence; e, assim,
fingir, embora um fingimento que implicasse qualquer tipo de falsidade não es­
tivesse ligado a este ato de Jesus. Ele estava, de fato, prosseguindo, e teria pros­
seguido, não fosse o convite daqueles homens. Somente aqui no texto do Novo
Testamento.

29. Constrangeram (παρφιάσαντο). Contrariaram a (παρά) sua aparente inten­


ção de seguir viagem. Somente aqui e em At 16.15.

Já declinou (kÉkàikcv). Literalmente, tem declinado. A nvi traduz está quase


findando.

SO. E lho deu (έπεδίδου). Um uso muito belo do imperfeito, indicando que en­
quanto ele estava no ato da distribuição, eles o reconheceram. Ele abençoou o
pão e depois de parti-lo, estava-o entregando a eles, quando, num piscar de olhos,
os seus olhos foram abertos (no tempo aoristo).

31. Conheceram (επέγνωσαν). Claramente o reconheceram.

E ele desapareceu-lhes (αυτός άφαντος έγέν^το άπ’ αυτών). Literalmente,


ele, invisível, tornou-se afastado deles. Não é o caso de ele simplesmente ter partido
da presença deles, saiu da presença deles tornando-se invisível. O termo έγένετο,
tornou-se, é construído com απ’ αύτών, deles'™.

32. Não ardia em nós o nosso coração quando - nos falava - e nos abria
(ούχ'ι ή καρδία ημών καιομένη ήν - ώ ς έλάλίΐ - διήνοιγ^ν). Muitas traduções,
como de costume, não levam em consideração os imperfeitos ilustrativos desta
perícope. Eles estão falando de algo que estava em andamento: “não estava o nos­
so coração ardendo (verbo finito e particípio) enquanto ele estavafalando, e estava
abrindo as Escrituras?”

34. Ressuscitou (ήγέρθη) - apareceu (ώφθη). Os dois nos aoristos. O Senhor


levantou-se e apareceu. Vide nota sobre apareceu-lhe, em 22.43.

106. A expressão não é άφαντος αύτοΐς, tornou-se in visível p a ra eles, o que implicaria que o seu corpo
teria continuado no recinto, só que de forma invisível; mas άπ’ αύτών, afastado deles, implican­
do uma remoção.
358
Lucas - Cap. 24
35. Eles lhes contaram (εξηγούντο). Relataram com detalhes é mais apropriado,
porque o verbo significa contar deforma exaustiva ou relatar por completo.

36. O mesmo Jesus. Os melhores manuscritos omitem Jesus. Traduza “ele mes­
mo se apresentou”.

E disse-lhes: Paz seja convosco. Os melhores textos omitem esta parte.

38. Pensamentos (διαλογισμοί). Vide nota sobre Tg 2.4, e enganando-vos, em


T g 1.22. Na TB, nvi e bj dúvidas-, na teb , objeções. Como se ele tivesse dito: “Por
que vós discutis acerca de uma questão que a vossa percepção espiritual deveria
discernir de forma imediata”. Vide nota sobre o termo néscio, no versículo 25107.

39. Tocai-me (ψηλαφήσατε). Compare com lJo 1.1.0 vocábulo ocorre também
em At 17.27; Hb 12.18.

Ele jamais expressa este sentido no manuseio de um objeto com objetivo de exercer sobre
alguma influência em termos de moldá-lo ou modificá-lo, mas, principalmente, quando se
deseja sentir a sua superfície; isto pode ocorrer, com a intenção de conhecer a sua compo­
sição (Gn 27.12,21-22); ao passo que, não raramente, ele não signifique nada mais que um
sentimento pelo objeto, sem a necessidade de qualquer contato real com ele108.

Compare com At 17.27. Vocábulo utilizado para descrever o andar às apalpa­


delas no escuro, Jó 5.14; em referência aos cegos, Is 59.10; Dt 28.29; Jz 16.26.
Vide nota sobre Hb 12.18.

41. Coisa que comer (βρώσιμον). Somente aqui no texto do Novo Testamento.
Literalmente, algo comestível.

42. Assado. Somente aqui no texto do Novo Testamento.

Um favo de mel. Os melhores textos omitem esta parte.

44. As palavras. Os melhores textos acrescentam minhas.

Convinha que (δει). Vide nota sobre não convinha, no versículo 26.

45. Entendimento (voOv). Que, até então, continuava cerrado. Vide nota sobre
néscios, no versículo 25.

107. Discussões, dúvidas, receios estão mais ou menos distintamente implícitos em toda ocorrência
deste termo no texto do Novo Testamento. Em Fp 2.14, o vocábulo contendas é, como obser­
va Meyer, inadequado à referência feita às murmurações a Deus, e significa, em lugar disso,
considerações reticentes ou hesitações, indicando incerteza na consciência das obrigações. Dessa
maneira, em Rm 14.1, a ar c apresenta sobre dúvidas. Assim também vemos em Meyer, Godet,
Lange, Beet, Shedd, Hodge, Tholuck, Alford e De Wette.
108. Trench, Synonyms.

359
L ucas - Cap. 24

46. E assim convinha [και ούτως eôei]. Os melhores textos omitem estas pala­
vras. Traduza, como na t b : Assim está escrito que o Cristo padecesse.

O Cristo (του Χρίστου). Observe o emprego do artigo, o Cristo, e vide Mt 1.1.

47. Em seu nome. Sobre o fundamento de (επί). Vide nota sobre Mt 24.5.

Se pregasse. Vide n o ta sobre pregoeiro, 2Pe 2.5.

Remissão. Vide n o ta sobre 3.3 e perdoados, em Tg 5.15.

Começando por Jerusalém [άρξάμευου άπο ’Ιερουσαλήμς. Alguns editores


colocam um ponto final depois do termo nações, e juntam estes vocábulos com a
próxima frase, omitindo a preposição e. “começando por Jerusalém... sois vós
testemunhas"109.

49. Envio (εγώ αποστέλλω). Na rv, de forma mais adequada, envio adiante, consi­
derando a força de εξ. O pronome eu é enfático.

Revestidos de poder. A tradução vestidos transmite mais adequadamente a fi­


gura contida neste termo, proporcionando ao leitor ocidental melhor compreensão.
Este significado metafórico de vestido é encontrado no grego clássico. Aristófanes
se vestiu de audácia; Homero, vestido deforça-, Plutarco, vestido de nobreza e riqueza.

51. E foi elevado ao céu. Alguns textos omitem esta parte.

109. A 8.“ edição do texto de Tischendorf e o de Westcott e Hort apresentam άρξάμίυοι, em refe­
rência aos discípulos. A antiga leitura άρξάμίνου é explicada como a forma impessoal acusati-
va neutra, referindo-se a κηρυχθήοαι.
360
A tos dos A póstolos

C a pítu lo l

1. O primeiro (τον πρώτον). Literalmente, o primeiro. Lucas se refere ao seu


Evangelho.

T ratado (λόγον). Ou narrativa.

Começou (ήρξατο). Isto é interpretado de duas maneiras. (l) Como uma simples
declaração histórica, equivalente a “tudo o que Jesus fez e ensinou”. Em favor
desta interpretação, está o fato de que os Evangelhos Sinóticos frequentemente
registram aquilo que foi feito ou dito de acordo com o momento do princípio da ação,
desta maneira conferindo vivacidade à narrativa. VideMt 11.20; 26.22,37; Mc 6.7;
14.19; Lc 7.38 etc. Segundo esta explicação, Meyer afirma que a palavra serve
“para trazer à lembrança todos os vários incidentes e eventos do Evangelho, até
a ascensão, em que Jesus havia aparecido como realizador e professor”. Ou (2)
como indicação de que o Evangelho contém o princípio, e o livro de Atos dos
Apóstolos contém a continuação das obras e ensinamentos de Jesus. De acordo
com Baumgarten e Gloag:

A v id a terren a d e Jesus, q u e foi con clu íd a co m a ascen são, tem seu fru to e su a con tín u a
eficácia; e a su a vid a c e le stia l, q u e co m eço u c o m a ascen são, tem a sua m an ifestação
e p rova n o s a to s e nas ex p e r iê n c ia s d o s a p ó sto lo s e d as prim eiras igrejas. A h istória
da ig r e ja esta v a sob o c o n tr o le im ed iato do R ed en to r ex a lta d o , e pode, co m razão, ser
co n sid era d a co m o a con tin u ação, n o céu , da ob ra que E le in iciou na terra.

Embora sejam admitidas a verdade e a importância desta declaração, há


objeções de que tal intenção, por parte de Lucas, teria sido mais claramente
A tos —C ap . 1

indicada, e não seria deixada para ser deduzida a partir de uma única expressão
duvidosa. Com respeito à intenção de Lucas, creio que é mais provável que a pri­
meira explicação seja a correta. A segunda, no entanto, declara uma verdade,
cujo valor e importância não podem ser superestimados, e que deveriamos ter
em mente constantemente no estudo do livro de Atos. Isto fica bem explicado
por Bernard:

D e s ta m aneira, a h istória q u e vem a se g u ir está conectada com o passado, ou (ta lv ez


fo sse m elh o r d izer) soldada ao passado; e a fu ndação da ig reja na terra é apresen tad a
co m o um a obra co n tín u a , iniciad a p e sso a lm e n te p elo Senhor, e aperfeiçoada e c o n c lu í­
da p e lo m esm o Senhor, p or m eio do m in istério dos h om en s... Ό p rim eiro tratado" n os
tran sm itiu , não tu d o o q u e Jesu s fe z e en sin o u , m as “tu d o o q u e Jesu s começou a fazer
e a ensinar, até o dia em q u e foi receb id o em cim a”. O s te x to s que o se g u ir a m parecem
te r o ob jetivo d e n o s dar, e, na realidade, declaram que n o s dão, aq u ilo q u e Jesus conti­
nuou a fazer e a ensinar, depois d o dia e m q u e fo i receb id o e m cim a'.

2. T er dado mandamentos (εντειλάμενος). Ordens ou instruções especiais.


Compare com Mt 4.6; Mc 13.34; Hb 11.22.

Pelo Espírito Santo. Interpretar com ter dado mandamentos: por intermédio
do Espírito Santo, que o inspirava. Não como afirmam alguns intérpretes, pelos
apóstolos que escolhera.

3. Se apresentou (τταρεστησεν). Este verbo é traduzido dentro do Novo Tes­


tamento de variadas maneiras, como dar ou fornecer, apresentar, suprir, auxiliar,
elogiar. O significado original é colocar ao lado, e assim recomendar a atenção. Con­
sequentemente, colocar diante da mente: apresentar, mostrar, exibir.

Infalíveis provas (τεκμηρίοι,ς). A palavra é similar a τέκμαρ, um limite fixo,


objetivo, fim; e, portanto, um sinalfixo ou certo ou simbólico. A tb om ite infalíveis,
provavelmente supondo que uma prova sugere certeza.

Sendo visto (όπτανόμενος). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A tb


traduz: aparecendo-lhes.

Quarenta dias (δι’ ημερών τεσσεράκοντα). Literalmente, “do princípio aofim


de quarenta dias”. A tb lê: espaço de. A única passagem em que é mencionado o
intervalo entre a ressurreição e a ascensão.

4. Estando com eles (συναλιζόμενος). De συν, juntos, e άλής, amontoados ou api­


nhados. Tanto a kjv quanto a rv trazem à margem comendojuntos, acompanhando

1. Bernard, Progress of Doctrine in the New Testament, Lect. IV

362
A tos - Cap. 1

a derivação de σύν, juntos, e αλς, sal; comendo sal juntos, e, portanto, de modo
geral, com respeito à associação à mesa.

Determinou (παρήγγειλεν). Originalmente repassar ou transmitir, portanto, como


um termo militar, transmitir um lema ou uma ordem; e assim, de modo geral, ordenar.

Esperar por (περιμένειν). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

A promessa (επαγγελίαν). Significa uma promessa livre e espontânea, feita sem


solicitação. Este é o sentido invariável da palavra, por todo o Novo Testamento,
e esta palavra, bem como as palavras dela compostas e a ela afins são as únicas
palavras para promessa usadas no texto do Novo Testamento. Ύπισχνέομαι, que
significa prometer em resposta a um pedido, não aparece, e όμολογέω, Mt 14.7, na
promessa de Herodes a Salomão, na realidade significa reconhecer a sua obrigação
pelo seu comportamento lascivo.

5. Não muito depois destes dias (ού μετά πολλάς ταύτας ημέρας). Literalmente,
não depois de muitos destes dias. Não depois de muitos, mas depois de poucos.

6. Perguntaram (έπηρώτων). O imperfeito, indicando a repetição e a insistência


da pergunta.

7. Os tempos - as estações (χρόνους - καιρούς). A rv omite apropriadamente


o artigo. A primeira das duas expressões, tempo, absolutamente, sem considerar as
circunstâncias; a segunda, períodos definidos, com a ideia de adequação.

Seu próprio (τη ιδία). Mais forte que o pronome possessivo simples. O adjeti­
vo significa privado, pessoal. Frequentemente usado como advérbio na expressão
κατ’ ιδίαν, separadamente, privadamente. Vide Mt 17.1; 24.3.

8. Me (μοι). Os melhores textos trazem μου, de mim; ou, como na tb, minhas
testemunhas.

Samaria, Anteriormente, eles haviam recebido a instrução de não entrar nas


cidades dos samaritanos (Mt 10.5).

10. Estando com os olhos fitos (άτενίζοντες ήσαν). Vide nota sobre Lc 4.20.

12. A distância do caminho de um sábado (σαββάτου έχον οδόν). Literalmente,


com o caminho de um sábado. O caminho concebido como pertencente ao monte,
conectado a ele, com referência aos arredores de Jerusalém. A distância do ca­
minho de um sábado, conforme a tradição judaica, era de aproximadamente três
quartos de uma milha. Era a distância que deveria haver entre o acampamento e
o Tabernáculo no deserto (Js 3.4).
363
Atos - C ap. 1

IS. O cenáculo (τό ímepcôov). Com o artigo, indicando algum lugar conhecido de
refúgio ou proteção. Era o nome dado à câmara imediatamente abaixo do telhado
plano. Essas câmaras normalmente eram salas para reuniões. Em um ambiente
como esse Paulo fez seu discurso de despedida em Trôade (At 20.8), e em um
ambiente como esse também foi depositado o corpo de Dorcas (At 9.37). Palavra
usada apenas por Lucas.

Habitavam (ήσαν καταμενοντες). Verbo finito e particípio, indicando conti­


nuidade ou residência habitual. Portanto, mais corretamente, como a ntlh traduz:
“onde estavam hospedados”.

14. Perseveravam (ήσαν προσκαρτερούντες). Verbo finito e particípio, como


acima. O verbo deriva de καρτεράς, forte, fiel, e significa, originalmente, persistir
obstinadamente em. Neste sentido, aqui e em Rm 12.12; 13.6. Portanto, aderirfir­
memente a. Assim em Mc 3.9: “que lhe tivessem semprepronto um barquinho”, i.e.,
mantido próximo.

Unanimemente (όμοθυμαδόν). Vide nota sobre concordar, Mt 18.19.

Em oração. Os melhores textos omitem e súplicas.

Maria. Mencionada aqui pela última vez no Novo Testamento.

15. Dos discípulos (των μαθητών). Os melhores textos dizem αδελφών, irmãos.

A multidão junta era de quase (ήν τε όχλος όνομάτων επί το αυτό). Muito
m elhor ο que diz a rv, e havia uma multidão de pessoas reunida, de quase etc. ’Όχλος,
multidão, não seria usada com um número prestes a ser declarado.

16. Varões e irmãos (ανδρες αδελφοί). Literalmente, homens, irmãos. Homens


irmãos. Expressão mais dignificada e solene que a simples palavra irmãos.

A Escritura. Os melhores textos substituem esta por a. Vide nota sobre Mc 12.10.

O Espírito Santo (το Πνεύμα το "Αγιον). Literalmente, Ο E sp írito , ο Santo.

Guia. Vide nota sobre guiar, Lc 6.39.

17. Contado (κατηριθμημένος). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

Com (συν). Os melhores textos dizem έν, entre. Assim também a tb .

Alcançou féλάχε). A rigor, “recebeu por sorte”. Na rv, melhor, recebeu. Compare
com Lc 1.9. No grego clássico, a palavra é usada com respeito ao recebimento de
magistraturas públicas.
364
At o s - C ap. 1

Sorte (τον κλήρον). A versão arc não traz a força do artigo, a sorte que era dele.

Ministério. V id e nota sobre s e rv ir, Mt 20.26 (ara ). Compare com b is p a d o , v. 20.

18. Adquiriu (έκτήσατο). V i d e nota sobre p o s s u i r , Lc 18.12. Melhor como, o b ­


A teb traduz: c o m o s a l á r i o d a i n i q u i d a d e , c o m p r o u . Judas não adquiriu o
te v e .

campo, mas os sacerdotes fizeram isso, com o dinheiro que ele lhes devolvera
(Mt 17.7). A expressão significa meramente que o campo foi comprado com o
dinheiro de Judas.

Precipitando-se (πρηνής γενόμενος). Literalmente , f i c a r d e p o n t a cabeça.

Rebentou (έλάκησ6). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Literalmente,


q u e b r a r , explodir com ruído. Assim também Homero, falando sobre os ossos se

quebrando sob um golpe2. Compare com Aristófanes3.

19. Aceldama (Άκελδαμά). Ou, mais apropriadamente, I f q ê l i m ã ’ (χοη Spn). A


palavra é aramaica, o idioma que era falado na época na Palestina.

20. Habitação (’έπαυλις). Somente aqui no texto do Novo Testamento. No grego


clássico, a palavra é usada para indicar um lugar para o gado. Assim é usado o
termo por Heródoto: “O vaqueiro tomou a criança em seus braços, e voltou pelo
caminho que havia percorrido, até chegar ao c u r r a l ’4 (επαυλιν). Também sobre
uma c o n s t r u ç ã o d e f a z e n d a , uma c a s a d e c a m p o .

Bispado (έπισκοπήν). V id e nota sobre lPe 2.12. Na ara e ecp, melhor, e n c a rg o .

Compare com Lc 14.44.

O utro (etepoç). Uma pessoa d ife r e n te . V id e nota em Lc 2.4.

21. Entrou e saiu. Uma expressão para comunicação constante. Compare com
Dt 18.19; SI 121.8; Jo 10.9; At 9.28.

D entre nós. (έφ’ ημάς). S o b r e n ó s , i.e., c o m o n o s s o l í d e r . E uma tradução legí­


tima, corroborada por Mt 25.21,23; Lc 9.1. A tradução d i a n t e d e , n a p r e s e n ç a d e ,
aparece em M t 1 0 . 1 8 ; Lc 21.12.

22. Testem unha (μάρτυρα). Aquele que dá testemunho; não um e s p e c t a d o r , um


equívoco frequentemente cometido em Hb 12.1. Compare com At 2.32.

y
2. Homero, Ilíada, xiii., 616.
3. Aristófanes, Nuvens, 410.
4. Heródoto, i., 111.
365
Atos - C ap. 2

23. Barsabás. Patronímico, f i l h o de S a ia : como Barjonas, Mt 16.17.

24. Conhecedor do coração de todos (καρδι,ογνώστα). Aparece apenas aqui e


em Lc 15.8. Literalmente, c o n h e c e d o r d e c o ra ç õ e s .

25. Para que tome parte (λαβάν top κλήροι/). Literalmente, q u e re c e b a p a r t e .


Mas os melhores textos dizem top τόπον, a v a g a , como traduzido pela a ra .

Se desviou (παρέβη). V i d e nota sobre o f e n s a s , Mt 6.14. A tradução da arc é


explicativa. A bj, a b a n d o n o u ; enquanto a a r a , t r a n s v i o u .

O seu próprio lugar. Compare com “ a v a g a neste ministério”. Τον ιδιορ, o


se u p r ó p rio , é mais forte do que o pronome possessivo simples. É o lugar que era
p e c u l ia r m e n t e seu, como adequado e correspondente ao seu terrível pecado - Geena.

26. Foi contado (συγκατεψηφίσθη). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


V i d e nota sobre c o n t a s , Lc 14.28.

C a pítu lo 2

1. Cumprindo-se (συμπληροϋσθαί). Palavra usada apenas por Lucas. V i d e nota


sobre Lc 9.51. Literalmente, s e c u m p r i a . Segundo o costume hebraico, o dia é
concebido como uma m e d i d a a ser cheia ou cumprida. Enquanto o dia ainda não
houvesse chegado, a medida não estaria cheia (ou cumprida). As palavras indi­
cam e m p r o c e s s o d e c u m p r i m e n t o .

Pentecostes. Com o significado de q u i n q u a g é s i m o , porque aconteceu no quin-


quagésimo dia, calculado a partir do segundo dia dos Pães Asmos. No Antigo
Testamento, esta ocasião é chamada de F e s t a d a s S e m a n a s , e F e s t a d a S e g a . O seu
propósito principal era dar graças a Deus pelas bênçãos da colheita. V i d e Dt
16.10-11.

Reunidos (όμοθυμαδόν). Os melhores textos substituem por όμοô , j u n t o s .

2. Um som (ήχος). V id e n o t a sobre Lc 4.37.

D e um vento veemente e im petuoso (φψομένης πνοής βιαίας). Literalmen­


te, de u m v e n t o f o r t e e c o n t í n u o . Πνοή é um s o p r o , um g o l p e d e v e n t o . Somente aqui e
em At 17.25. Na teb , u m r u í d o c o m o d e v i o l e n t o v e n d a v a l .

A casa. Não apenas a s a l a . Compare com Lc 1.13.

Estavam assentados. Esperando a hora da oração. V id e v. 15.

3. Foram vistas. V id e nota sobre Lc 22.43.


366
Atos - C ap. 2

Línguas repartidas (δι,αμεριζόμεναι γλώσσαι). Muitos preferem traduzir


como l í n g u a s q u e s e d i s t r i b u í a m , ou d i s t r i b u í d a s entre os discípulos, em vez de se
referir à aparência repartida de cada língua. A t b traduz: como línguas de fogo,
a s q u a is se d is t r ib u ír a m .

Como que de fogo. Não c o n s is tin d o d e fo g o , mas s e m e lh a n te s (ώσά).

Pousaram. Observe o singular. U m a dessas visões luminosas pousou sobre


cada pessoa.

4. Começaram. Trazendo à proeminência o p r i m e iro im p u ls o do ato. V id e nota


sobre c o m e ç o u , At 1.1.

Em outras línguas (έτέραις γλώσσαις). A rigor, d i f e r e n t e s , de suas línguas


nativas, e também línguas diferentes faladas pelos diferentes apóstolos. V i d e nota
sobre Mt 6.24.
J

Concedia (Ιδίδου). Um imperfeito ilustrativo: c o n t i n u a v a d a n d o a eles o idioma


e as palavras apropriadas, conforme o caso requeresse, de tempos em tempos.
Parecia que cada apóstolo estava falando a um grupo ou a indivíduos. O discurso
g e r a l à multidão veio dos lábios de Pedro.

Que falassem (άποφθέγγ^σθαι). Expressão usada apenas por Lucas e no livro


de Atos. Literalmente, p r o f e r i r , f a l a r . Uma palavra peculiar e escolhida proposi-
tadamente para indicar a expressão e m t o m a l t o e c l a r o sob o impulso milagroso.
Foi usada por autores gregos posteriores, com respeito às palavras proferidas
por oráculos e videntes. Assim, na lxx , sobre profetizar. V i d e lCr 25.1; D t 32.2;
Zc 10.2; Ez 13.19.

5. Habitando (κατοι,κοΰντες). Indicação de uma m o ra d a - , mas aqui a palavra deve


ser interpretada em um sentido mais amplo, uma vez que entre eles são menciona­
dos aqueles cuja residência permanente era na Mesopotâmia etc. V i d e v. 9.

Religiosos. V id e nota sobre Lc 2.25.

6. Correndo aquela voz (γενομένης òc τής φωνής ταυτης). Tradução inadequa­


da. Literalmente: E t e n d o o c o r r i d o e s te s o m . Melhor: d e p o i s d e o u v i d o e s te s o m . O
som do vento forte. Na t b : q u a n d o s e o u v i u e s te r u í d o .

Estava confusa (συνεχύθη). Literalmente, a j u n t a d a ; de modo que c o n f u s a (la­


tim, c o n f u n d e r e ) é a tradução mais literal possível. Expressão usada apenas por
Lucas e no livro de Atos. Compare com 19.32; 21.31.

Ouvia (ήκουον). Imperfeito, e s ta v a o u v in d o .

367
A tos - C ap. 2

Língua (διαλέκτω). Ou melhor, d ia le t o - , uma vez que os estrangeiros presentes


não falavam apenas idiomas diferentes, mas d i a l e t o s diferentes do mesmo idioma.
Os frígios e panfflios, por exemplo, falavam grego, mas em diferentes idiomas;
os partos, medos e elamitas, todos falavam persa, mas em diferentes formas
provinciais.

7. Pasmavam e se maravilhavam (έξίσταντο και έθαυμαζον). A primeira palavra


indica a primeira surpresa assombrosa. O verbo significa, literalmente, t i r a r d o
l u g a r , portanto, fora dos p r ó p r i o s s e n t i d o s . Compare com Mc 3.21: “ E s t á f o r a d e s i ' .

A segunda expressão, s e m a r a v i l h a v a m , indica o espanto contínuo; com o signi­


ficado de c o n s i d e r a r com assombro, e com uma sugestão de começar a especular
sobre o assunto.

Galileus. Não considerados como uma s e i t a , pois essa palavra não foi atribuída
aos cristãos até algum tempo mais tarde, mas com referência à sua n a c i o n a l i d a ­
d e . Eles usavam um dialeto peculiar, que os distinguia dos habitantes da Judeia.

Compare com Mc 14.70. Eles eram culpados de negligenciar o estudo de seu


idioma, e acusados de erros de gramática e pronúncia inapropriada e ridícula.

9. Partos, medos e elamitas. Porções representativas do Império persa.

Judeia. O dialeto da Galileia é diferente do da Judeia.

Ásia. Não o continente asiático, nem a Ásia Menor. Na época dos apóstolos, esta
palavra era usada com referência à província proconsular da Ásia, principalmente
o reino de Pérgamo, deixado por Átalo 111 aos romanos, e incluindo a Lídia,
Mísia, Cária, e, em algumas ocasiões, partes da Frigia. O nome Ásia Menor não
veio a ser usado antes do século IV da nossa era.

10. Egito. Onde os judeus eram numerosos. Dizia-se que dois quintos da popu­
lação de Alexandria eram de judeus.

Cirene. Na Líbia, a oeste do Egito.

Forasteiros (έτηδημοϋνττς). F id e n ota sobre lPe 1.1. A nvi trad u z, v is ita n te s

v in d o s d e R o m a .

11. Árabes. Aqueles cuja nação era vizinha à Judeia, e que deve ter contido mui­
tos judeus.

Falar (λαλούντων). A bv , corretamente, indica a força do particípio,f a l a n d o .

Grandezas (μ^γαλόία). V i d e nota sobre m a j e s t a d e , 2Pe l . 16. De μέγας, g r a n d e . A


r v , o b r a s p r o d i g i o s a s . Palavra usada apenas por Lucas.

368
A tos - C ap. 2

12. Estavam suspensos (διηπόρουν). Palavra usada apenas por Lucas. V id e nota
sobre Lc 9.7. Melhor, como a teb, p e r p l e x o s .

18. Outros (ετεροι). De uma classe d i f e r e n t e . Os primeiros que comentaram so­


bre os prodígios o fizeram c o m c u r i o s i d a d e , mas sem preconceito. Os que agora
falavam o faziam com um espírito hostil. V i d e nota sobre v. 4.

Zombando (διαχλευάζοντες; também nos melhores textos). De χλεύη, um a

p i a d a . Somente aqui no texto do Novo Testamento.

M osto (γλεύκους). Literalmente, “ doce suíno”. Naturalmente, intoxicante.

14. Pondo-se em pé (σταθείς). V id e nota sobre Lc 18.11; 19.8.

D isse (άπεφθέγξατο). V i d e nota sobre v. 4. Melhor, p r o f e r i u . Bengel declara:


“Este discurso extremamente solene, fervoroso, mas também sóbrio”.

Escutai (ένωτίσασθε). Somente aqui no texto do Novo Testamento. De k v , em·,

e (ούς), o ouvido. A rv, d a r o u v i d o s .

Palavras (ρήματα). V id e nota sobre Lc 1.37.

15. Terceira hora. Nove horas da manhã: o horário da oração matinal. Compare
com lTs 5.7.

17. Toda a carne. Sem distinção de idade, sexo ou condição.

Visões (οράσεις). Terão visões, despertos.

Sonharão sonhos (ενύπνια ενυπνιασθήσονται). Os melhores textos dizem


ενύπνιοις, c o m s o n h o s . O verbo aparece apenas aqui e em Jd 8. A referência é às
visões durante o s o n o .

19. Farei aparecer (δώσω). Literalmente, d a r e i.

Prodígios (τέρατα). Ou p o r t e n t o s . V id e nota sobre M t 11.20.

Sinais. V id e nota sobre Mt 11.20.

20. Antes de chegar o grande e glorioso Dia do Senhor. A teb acentua a


ênfase, seguindo a ordem grega, o d i a d o S e n h o r , g r a n d e e g l o r i o s o d i a . G l o r i o s o
(επιφανή) ocorre somente aqui no texto do Novo Testamento. O substantivo
relacionado, επιφάνεια, a p a r i ç ã o (cp. nossa palavra e p i f a n i a ), é frequentemente
usada com respeito à segunda vinda do Senhor. V i d e lTm 6.14; 2Tm 4.1; T t
2.13.

369
Atos - C ap. 2

22. Aprovado (άττοδεδειγμένον). O verbo significa a p o n ta r, m o s tr a r ou a p re s e n ta r.

Que m o s t r o u ser aquilo que afirmava ser.

Prodígios (δυνάμεσι). Melhor, o b ra s p r o d ig io s a s . Literalmente, p o d e re s . V id e

nota sobre Mt 11.20.

23. Foi entregue (’έκδοτον). Um adjetivo: e n tre g u e , t r a íd o .

Tomando-o vós. Os melhores textos omitem.

Mãos de injustos. Os melhores textos dizem p e l a s m ã o s d e h o m e n s s e m le i.

Crucificastes (προσιτήξαντες). Somente aqui no texto do Novo Testamento. O


verbo significa simplesmentef i x a r a alguma coisa, ou sobre alguma coisa. A ideia
da cruz é implícita.

M atastes (άνείλετε). nota sobre Lc 23.32. A arc procurou traduzir mais


V id e

apropriadam ente a forma aorista, m a t a s t e s .

24. Ânsias (ωδίνας). O significado é discutido. Alguns afirmam que Pedro se­
guiu a tradução equivocada que a lxx apresenta de SI 18.5, onde a palavra
hebraica para la ç o s é explicada pela palavra aqui usada, â n s ia s - , e que, portanto,
deve ser traduzida como â n s i a s de morte; a imagem é a da fuga da armadilha
de um caçador. Outros supõem que a morte é representada n a s d o r e s d o p a r t o ,
que cessam com o parto; i s t o ê , com a ressurreição. Isto parece ser ilógico, em­
bora seja verdade que, no grego clássico, a palavra é usada normalmente com
respeito aos espasmos do parto. É melhor, talvez, de modo geral, interpretar
a expressão no sentido da kjv , e fazer com que os la ç o s d a m o r t e representem a
morte, de modo geral.

25. Via diante de mim (ττροωρώμην). Não v e r p r e v ia m e n t e , mas v e r d ia n te de s i

m e s m o , como em SI 16.8.

Para que eu não seja comovido (μή σαλευθώ). Ou a b a la d o . De modo geral, a


palavra recebe esta tradução no texto do Novo Testamento. V i d e Mt 11.7; 24.29;
Hb 12.26 etc.

26. Alegrou (ήγαλλιάσατο). Na t e b - . j u b i l o u . V id e n o t a sobre lPe 1.6.

Há de repousar (κατασκηνώσει). V i d e nota sobre n i n h o s , Mt 8.20. Melhor,


h a b i t a r . Literalmente, h a b i t a r e m u m a t e n d a ou t a b e r n á c u lo . Traduzida como s e

a n i n h a m , Mt 13.32; Mc 4.32; Lc 13.19. E uma bela metáfora. A minha carne

a c a m p a r á e m e s p e ra n ç a - , armar a sua tenda ali, para descansar durante a noite da

morte, até a manhã da ressurreição.

370
Atos - C ap. 2

Em esperança (επ' έλπίδι). Literalmente, sobre esperança: descansando sobre


a esperança da ressurreição; o seu corpo poeticamente concebido como tendo
esperança.

27. Deixar (εγκαταλείψεις). Literalmente, deixar para trás.

Permitir (δώσεις). Literalmente, dar.

29. Seja-me lícito dizer (εξόν είπειν). Literalmente, seja-me permitido. E admis­
sível que ele fale, porque os fatos são notórios.

Livremente (μετά παρρησίας). Literalmente, com liberdade. A segunda palavra pro­


cede de παν, todas, e ρησις, palavras, discurso,falar tudo·, portanto, falar sem reservas.

O patriarca (πατριάρχου). De (άρχω), começar, e πατρία, uma linhagem, uma


dinastia. Aplicada a Davi, como o pai da família real, de que veio o Messias. A
palavra é usada, dentro do Novo Testamento, sobre Abraão (Hb 7.4), e sobre os
filhos de Jacó (At 7.8).

Ele morreu e foi sepultado (έτελεύτησε καί έτώφη). Aoristo, indicando o que
aconteceu em um tempo passado definido.

Entre nós está até hoje a sua sepultura. Ou dentre nós (εν ήμΐν). No Monte
Sião, onde muitos dos reis judeus eram enterrados na mesma sepultura.

30. Segundo a carne, levantaria o Cristo. Os melhores textos omitem. A tb


traduz: um dos seus descendentes seria colocado sobre o seu trono.

34. Não subiu aos céus (ού άνεβη). Aoristo, não subiu.

35. Escabelo de teus pés. A kjv omite de teus pés. A bv traduz: em completa sub­
missão.

36. Com certeza (άσφαλώς). De dc, não, e σφάλλω, fazer cair. Portanto,firmemente,
constantemente.

37. Compungiram-se (κατενύγησαν). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


A palavra não aparece no grego profano. Ela é encontrada na lxx , como em Gn
34.7, sobre a tristeza dos filhos de Jacó, devido à desonra de Diná. Vide também SI
109.16 (lxx : 108.16): “quebrantado de coração”. O substantivo relacionado, κατάνυξις,
aparece em Rm 11.8, com o sentido de profundo sono. Compare com Is 29.10. Vide
também SI 60.3 (lxx : 59.3), 3: οίνον κατανύξεως, o vinho daperturbação. A ideia radical
da palavra é dada pelo verbo simples νύσσω, perfurar com uma extremidadepontiaguda.
Também em Homero, a perfuração de uma lança; sobre cavalos, golpeando a terra
com seus cascos etc. Aqui, portanto, sobre a aguda e dolorosa emoção, ά picada pro-
371
A to s - C a p. 2

duzida pelas palavras de Pedro. Cícero, falando sobre a oratória de Péricles, diz que
as suas palavras deixavam p i c a d a s nas mentes de seus ouvintes5.

38. Arrepender. V id e nota sobre Mt 3.2.

Em nome de (èirl τω όυόματι). Literalmente, so b o nome de. V id e n ota sobre


Mt 28.19.

Perdão. V id e nota sobre Lc 3.3; T g 5.15.

39. Longe (eΙς μακράν). Literalmente, a u m l o n g o c a m i n h o . Uma referência, pro­


vavelmente, aos gentios, que são descritos por esta expressão, no Antigo e Novo
Testamentos. V i d e Zc 6.15; Ef 2.11-13. Pedro conhecia o f a t o de que os gentios
deviam ser recebidos na igreja, mas não o m o d o c o m o i s t o a c o n t e c e r ia . Ele esperava
que eles se tornassem cristãos, por meio da religião judaica. Já fora revelado, no
Antigo Testamento, que eles deviam ser recebidos, e o próprio Cristo havia or­
denado que os apóstolos pregassem a t o d a s a s n a ç õ e s .

Chamar (προσκαλέσηται). A rv indica a força de ιτρός, a: “cham ar a E le ” . A ecp


lê : o a p e lo d o S e n h o r .

40. Outras (έτέροις). E variadas.

Testificava (διεμαρτίρετο). A preposição διά indica a força de so le n e m e n te , s e ria m e n te .

Salvai-vos (οώθητε). A rigor, se d e s a lv o s .

Perversa (σκολιάς). Literalmente, d e f o r m a d a . A palavra o b e d ie n t e , em inglês


antigo, significava d ó c i l, d is p o s t o - , r e b e ld e ou i n s u b o r d i n a d o era seu antônimo.
Assim, em Shakespeare:

É um som agrad ável q u an d o o s filh os são obedientes,


M as um so m ásp ero q uando as m u lh eres são rebeldef.

F alou co m o um p rín cip e obediente1.

Portanto, p e r v e r s o significava in t r a t á v e l, o b s tin a d o . Assim, em Shakespeare:

Q u e s ig n ific a e s t e e sc á r n io , tu , o m a is perverso d o s p a tife s? 8

E s e e la fo r re b e ld e ,
E n tã o e n s in a s te H o r t e n s io a se r perverse?.

5. Cícero, De Oratore, iii., 34.


6. Shakespeare, A Megera Domada, v., 2.
7. Id., 3 Henrique VI, ii., 2.
8. Id., K. John, i., 1.
9. Id., A Megera Domada, iv., 5.
372
Atos —Cap. 2

Compare com Dt 32.5.


42. Perseveravam. Vide nota sobre At 1.14.
D outrina (διδαχή). Melhor, ensinamento.
Comunhão (κοινωνία). De κοινός, comum. Um relacionamento entre indivíduos
que envolve um interesse em comum, além de uma participação mútua e ativa. A
palavra corresponde ao termo communio, do latim, de communis, comum. Portanto,
às vezes é traduzida por comunhão, como em lCo 10.16; 2Co 13.14. Comunhão
é a tradução mais comum. Assim, em Fp 1.5: “vossa cooperação no Evangelho”,
indicando cooperação no sentido mais amplo; participação em simpatia, sofrimento
e trabalho. Compare com lJo 1.3,6-7. Ocasionalmente, a palavra é usada para
expressar a forma particular que assume o espírito de cooperação; como em Rm
15.26; Hb 13.16, onde significa a doação de recursos ou esmolas, mas sempre com
uma ênfase sobre o princípio da comunhão e da cooperação cristã que sustentam
a doação.
Partir (κλάσει). Usada apenas por Lucas, e somente na expressão partir dopão.
O verbo relacionado, κλάζω, ou κλάω,partir, é usado com frequência, mas, como o
substantivo, somente com respeito ao partir do pão. Consequentemente é usado
para designar a celebração da Ceia do Senhor.
Orações (προσευχαΐς). Sempre com respeito às orações a Deus. Compare com
δεήσεις, orações, Lc 5.33; e rogou, Lc 8.38.
43. Tem or (φόβος). Não terror, mas respeito reverente, como em Mc 4.41; Lc 7.16;
lPe 1.17 etc.
44. Comum (κοινά). Compare com comunhão, v. 42.
45. Propriedades (κτήματα). Propriedades de terra.
Fazendas (ΰιτάρξεις). Bens, de modo geral, móveis.
46. Unânimes (όμοθυμαδόν). Videnota sobre M t 18.19.
Em casa (κατ’ οίκον). Melhor tradução do que de “de casa em casa”, em con­
traste com no templo. Compare com Fm 2; Cl 4.15; lCo 16.19.

Comiam (μετελάμβανον τροφής). Na bp, compartilhavam a comida. Repartiamseria


melhor, considerando a força de μετά, com. Observe o imperfeito: “perseveravam
na divisão”.

Singeleza (άφελότητι). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Deriva­


da de ά, não, e φελλεύς, terreno pedregoso. Portanto, sobre alguma coisa simples ou
comum.
373
Atos - C ap. 3

47. Acrescentava (προσ€τίθίΐ). Imperfeito: continuava acrescentando.

Aqueles que se haviam de salvar (τους σωζομένους). Literalmente, os que


eram salvos. Aqui se usa o particípio presente. Compare com iCo 1.18. A tb tra­
duz: os que se iam salvando. A salvação é uma coisa do presente, bem como do
passado e do futuro. O verbo é usado em todos esses sentidos dentro do Novo
Testamento. Assim, fomos salvos (e não somos, como na k j v ), Rm 8 .2 4 ; serás salvo,
Rm 10.9,13; sois salvos, lCo 15.2. Lightfoot declara:

A piedade, a justiça, é vida, é salvação. E não é necessário dizer que o divórcio en­
tre moralidade e religião deva ser encorajado, deixando de perceber isto, e assim
colocando toda a ênfase no passado ou no futuro - no primeiro chamado, ou na
mudança final. É, portanto, importante que a ideia de salvação como um resgate
do pecado, por meio do conhecimento de Deus em Cristo, e, portanto, uma condi­
ção progressiva, um estado atual, não deva ser obscurecida. Assim, consideramos
como uma tradução de At 2.47: “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja
aqueles que se deveríam salvar”, mesmo que alguns pensem que o texto grego
indique uma ideia diferente10.

À igreja. Vide n o ta sobre Mt 16.18.

C a pítu lo 3

1. Subiam (àuépaivou). O imperfeito: estavam subindo. A ecp traduz: iam subindo.


A rv verte como: subiam aos terraços, sendo que o templo estava situado no mais
alto deles.

A nona hora. A hora do sacrifício da tarde, ou, como indicam as palavras


da oração, meia hora mais tarde, para a oração que acompanhava a oferta de
incenso.

2. Que era (ύπάρχωυ). Literalmente, sendo. Vide nota sobre Tg 2.15.

Era trazido (έβαστάζετο). Imperfeito: “estava sendo trazido, enquanto eles su­
biam” (v. 1).

Punham (έτίθουν). Imperfeito: “estavam acostumados a pôr”.

4. Fitando os olhos (άτβήσας). Vide nota sobre Lc 4.20; e compare com At 1.10.

Olha (βλέψοί'). Com atenção. Vide nota sobre Mt 7.3.

10. Lightfoot, On a Fresh Revision o f the New Testament

374
A tos - Cap. 3

6 . Prata nem ouro (άργύριον και χρυσίου). A rigor, d in h e iro em prata e ouro.
V i d e nota sobre lPe 1.18.

7. Tomando (πιάσας). O verbo significa originalmente a p e rta r o u e s p re m e r, por­


tanto, indica apoderar-se ou segurar, com f i r m e z a .

Pés (βάσεις). Uma palavra peculiar e técnica, usada apenas por Lucas, e des­
crita por Galeno como a parte do pé que está debaixo da perna, sobre a qual ela
se apoia diretamente, em distinção a ταρσός, a p l a n t a d o pé, entre os artelhos e o
calcanhar, e πεδίοΐ', a p a r t e i m e d i a t a m e n t e p r ó x i m a a o s a r t e l h o s .

Tornozelos (σφυρά). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Alguns dos


melhores textos trazem σφυδρά, mas o significado é o mesmo.

Se firmaram (έστερεώθησαυ). Palavra usada apenas por Lucas. Compare com


“as igrejas eram c o n f i r m a d a s ’ (At 16.5), e com o substantivo relacionado, στερέωμα,
f i r m e z a (Cl 2.5). Em linguajar médico, aplicada aos ossos, em particular.

8. Saltando pôs-se em pé (έξαλλόμενος). A rigor, s a l t a n d o à f r e n t e . Somente aqui


no texto do Novo Testamento. Palavra usada no linguajar médico, com respeito
ao mover de um osso do seu encaixe, ao despertar do sono, ou ao súbito salto da
pulsação.

Andou (περιεττάτει). O imperfeito. Corretamente, como na tb, c o m e ç o u a a n ­


ou, talvez, c o n t i n u o u a andar, testando a sua habilidade recentemente ad­
d a r,

quirida.
As observações médicas do caso são de que a enfermidade era congênita, havia
durado mais de quarenta anos (At 4.22), e os passos progressivos da recuperação
- saltou, pôr-se em pé, andou.

10. Conheciam (4ττεγίνωσκον). Ou re c o n h e c e ra m .

Pasmo (θάμβους). Palavra usada apenas por Lucas. V id e nota sobre Lc 4.36.

Assombro (εκστάσεως). V id e nota sobre Mc 5.43; e compare com Lc 5.26.

11. O coxo que havia sido curado. Conforme a kjv. Os melhores textos omi­
tem. Tradução: a p e g a n d o - s e e le .

Apegar-se (κρατοΰντος). Segurou-os f i r m e m e n t e , pegou com f i r m e za . O verbo


derivado de κράτος, f o r ç a .

Atônito (έκθαμβοι). Com um espanto se m medidas (4k). Compare com a s s o m b ro

(v. 10).
375
A to s - C ap . 3

12. Disse. A pergunta expressa nas explicações de surpresa do povo.

Varões israelitas. Literalmente, homens, israelitas. Uma forma de tratamento


honorável e conciliadora. A forma israelita gradualmente deu lugar à forma ju ­
deu; mas Israel era o nome sagrado dos judeus, como a nação da teocracia; o povo
sob o concerto de Deus, e por isto era, para o judeu, seu distintivo especial, e um
título de honra. Trench declara:

Ser descendentes de Abraão, esta honra eles devem compartilhar com os ismaeli-
tas; de Abraão e Isaque, com os edomitas; mas ninguém, senão eles, era a semente
de Jacó, como foram declarados, neste nome “israelitas”. Mas isto não era tudo,
e de maneira ainda mais gloriosa, os seus descendentes foram, desta maneira,
rastreados até ele, não como Jacó, mas como Israel, que, como um príncipe, lutou
com Deus e com os homens, e prevaleceu11.

Assim Paulo, ao enumerar aos filipenses as suas declarações de que podería ter
confiança na carne, diz que era “da linhagem de Israel’. Acredita-se que os judeus
modernos, no oriente, ainda sentem satisfação com este título.

Nossa própria (ίδΰχ). Vide nota so b re At 1.7.

13. Seu Filho (τταΐδα). A rigor, Servo, como na t b . Vide nota sobre Lc 1.54·.
A versão arc traduz, em M t 1 2 .1 8 , servo, em citação a Is 4 2 .1 ; mas em ou­
tras passagens, onde se aplicada a Jesus, o termo usado é filho, que a t b ,
em certos casos, alterou para servo. O term o é usado continuamente, como
a palavra puer, em latim, com o sentido de servo, e na lxx como o servo de
Deus. Vide 2Sm 7 .5 ,8 ,1 9 - 2 1 ,2 5 - 2 6 . Compare com Lc 1 .6 9 . A expressão servo
de Jeová, ou servo do Senhor, é aplicada, no Antigo Testamento, (1) a um ado­
rador de Deus, Ne 1.10; Dn 6.21; também a Abraão, SI 1 0 5 .6 ,4 2 ; a Josué, Js
2 4 .2 9 ; a Jó, Jó 1.8. (2) A um ministro ou embaixador de Deus, chamado para
qualquer serviço, Is 4 9 .6 ; a Nabucodonosor, Jr 2 7 6; aos profetas, Am 3 .7 ; a
Moisés, D t 3 4 .5 . (3 ) Peculiarmente, sobre o Messias, Is 4 2 .1 ; 5 2 .1 3 ; como o
servo escolhido de Deus para realizar a obra de redenção. Trench afirma:

A menos que traduzamos servo nas passagens onde a expressão παίς OeoC aparece no
texto do Novo Testamento, não haverá nenhuma alusão, em todo esse livro, àquele
grupo de profecias que designam o Messias como o servo de Jeová, que aprendeu
obediência com as coisas que sofreu12.

11 . Trench, Synonyms.
12. Id., On the Authorized Version o f the New Testament.

376
A to s - C a p. 3

Tendo ele.E l e é εκείνου, o pronome de referência mais definida e enfática, o

“para estabelecer o contraste entre o que P i l a t o s julgou e o que e le s


ú ltim o , P ila t o s ,

fizeram”. Isto é ainda mais enfatizado no versículo seguinte.

14. Pedistes (ήτήσασθε). Ou e x ig is te s . V id e nota sobre Lc 11.9.

Um homem homicida (άνδρα φονέα). Literalmente, um hom em q u e e ra um

h o m ic id a .

Que se vos desse (χαρισθήναι). Como favor ou benevolência (χάρις).

15. O Príncipe da vida (άρχηγόν τής ζωής). O texto grego ressalta, pela posição
destas palavras, o que Bengel chama de “a magnífica antítese” entre um h o m i c i d a
e o P r í n c i p e d e v i d a . “Pedistes um h o m i c i d a , mas o P r í n c i p e d a v i d a , matastes”.
Esta é a única passagem onde ocorre esta expressão. ’Αρχηγός, embora, às vezes,
traduzida como p r í n c i p e , significa originalmente, p r i n c í p i o e, posteriormente, o r i -
g i n a d o r , a u t o r . Melhor aqui e na t b , a u t o r {Hb 2 .1 0 ; 1 2 .2 ).

16. Pela fé (επί τή πίστει). Observe o artigo: a fé que n ó s tínhamos; não a fé do


coxo, que não era exigida, como uma condição para a sua cura. P e l a fé (επί) sig­
nifica, na verdade, p o r c a u s a d e , ou c o m b a s e n a . Na bj : à f i . Compare com At 2.38;
e v i d e nota sobre M t 28.19.

Fortalecer (έστερέωσε). V id e nota sobre v. 7.

Vedes (θεωρείτε). V id e n ota sobre Lc 10.18.

Perfeita saúde (ολοκληρίαν). Somente aqui no texto do Novo Testamento. De


όλος, i n t e i r o , e κλήρος, u m a q u o t a . Indicando, portanto, a condição de alguém que
tem t o d a a s u a q u o t a .

19. Convertei-vos (έπιστρέψατε). Penso que não é a melhor tradução, porque o


verbo está na voz ativa. Melhor como, v o l t a i . V i d e nota sobre Lc 22.32. Na b v :
m u d e m d e id é ia e d e a titu d e s .

Apagados (έξαλει,φθήναι). O perdão dos pecados, sob a imagem do apagar


do texto manuscrito. A palavra é usada desta maneira em SI 51.1 ( l x x : 50.1);
Is 43.25. Também em Cl 2.14. No grego clássico, o verbo é oposto a έγγραφε tv,
a c e i t a r u m n o m e . Assim, em Aristófanes: “Eles fazem coisas que não devem ser su­

portadas, a c e i t a n d o (έγγράφοντες) alguns de nós, e outros, a p a g a n d o (έξαλείφοντες)


para cima e para baixo, duas ou três vezes”13. Mais especialmente com referência
a um item em uma relação.

IS. Aristófanes, Peace, 1180.

377
A to s - C ap . 4

E (δπως αν). Tradução inadequada. Traduza por a f i m de que , ou p a r a que (en­


tão possam vir), como na r v .

Tempos (καιροί). Melhor, é p o c a s. V id e nota sobre At 1.7.

De refrigério (άναψύξεως). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A


palavra quer dizer r e f r e s c a r , ou r e v i v e r , r e v i g o r a r , c o m a r f r e s c o . Compare com o
verbo correlato, e s f r i a r , M t 24.12, e v i d e nota.

Presença (προσώπου). Literalmente, o r o s t o , a fa c e .

20. Que já dantes foi pregado (tòv ιτροκεκηρυγμένον). Mas os melhores textos
trazem προκ^χειρισμένον, a p o n t a d o . Compare com At 22.14. Usada apenas por
Lucas, At 22.14; 26.16. Originalmente, o verbo quer dizer t o m a r na m ã o .

21. Da restauração (άποκαταστάσεως). Somente aqui no texto do Novo Testa­


mento. O verbo correlato, r e s t a u r a r , aparece em Mt 17.11; At 1.6 etc. Como um
termo médico técnico, indica a c o m p le t a r e s t a u r a ç ã o d a s a ú d e , a r e s t a u r a ç ã o d e u m a
j u n t a d e s lo c a d a a o s e u l u g a r etc.

Desde o princípio (απ’ αίώνος). Os revisores americanos insistem na expres­


são d e s d e a n t i g a m e n t e .

23. Será exterminada (έξολοθρ^υθήσεταi). Somente aqui no texto do Novo Tes­


tamento. Na b v : “ c o m p le t a m e n t e destruído”, indicando a força de k ^ , f i o r a .

25. Concerto (διαθήκης). V id e nota sobre Mt 26.28. Na t b : a l i a n ç a .

Fez (διέθετο). A r v diz c o n c e r t o u na anotação de margem. A t e b traz: D e u s c o n ­


enquanto na bj, D e u s e s ta b e le c e u . O substantivo c o n c e r t o é derivado do verbo
c lu iu - ,

διατίθημι, originalmente d i s t r i b u i r ou a r r a n j a r . Portanto, organizar ou arranjar


m u tu a m e n te , f a z e r u m c o n c e rto c o m .

26. Seu Filho Jesus. Os melhores textos omitem o nome Je su s. Traduza s e rv o

como F i l h o , e v i d e nota sobre v. 18.

Capítulo 4
1. Capitão do templo. Era dever dos levitas montar guarda às portas do Templo,
para impedir a entrada dos impuros. A eles eram confiados os deveres da polícia do
Templo, sob o comando de um oficial conhecido, dentro do Novo Testamento, como
"capitão do Templo”, mas nos textos judaicos, principalmente como "o homem do
monte do Templo”. Josefo se refere a ele como uma pessoa de tal importância, a
ponto de ser enviado, juntamente com o sumo sacerdote, prisioneiro para Roma.
378
A to s - C ap. 4

Sobrevieram (έπέστησαν). Ou vieram junto a eles, repentinamente. Compare


com Lc 24.4; At 22.20; 23.11. Sobre sonhos ou visões, aparecer a.

2. Doendo-se (διαποι/ούμενοι). Somente aqui e em At 16.18. A bv traduz a força


de διά como “muito incomodados”; perturbados profundamente.

A ressurreição. Os saduceus negavam a ressurreição e também uma condição


futura.

Nos Evangelhos, os fariseus eram representados como os grandes oponentes


de Cristo; no livro de Atos, são os saduceus os mais violentos oponentes dos
apóstolos. A razão para isto parece ser o fato de que, nos Evangelhos, Jesus
Cristo entrou em colisão direta com eles, desmascarando as suas hipocrisias
e colocando em perigo a influência que exerciam entre o povo; ao passo que
os apóstolos, ao testificar a ressurreição de Cristo, se opuseram ao credo dos
saduceus. Talvez, além disso, ao atacar os apóstolos, que ensinavam a ressur­
reição daquele Jesus a quem os fariseus haviam perseguido e crucificado, os
saduceus tivessem a intenção de desferir um golpe indireto ao dogma favorito
da sua seita rival1'*.

3. Na prisão (είς τήρησα»). Uma tradução relativamente antiquada. Melhor,


como na r v , sob vigilância. Vide nota sobre lPe 1.4.

4. Chegou o número a quase cinco mil. Tradução de (4γβι»ήθη), chegou a ser,


indicando a soma, ao número original, dos muitos que creram.

7. Que poder - em nome de quem. Literalmente, que tipo de poder; que tipo
de nome.

Fizestes. O verbo conjugado como vós conclui a sentença em grego com uma
ênfase desdenhosa: vós, opovo.

12. Salvação (ή σωτηρία). Observe o artigo: a salvação; a libertação messiânica.

13. Ousadia. Vide nota sobre livremente, At 2.29.

Informados (καταλΛβόμενοι). A palavra, que significa originalmente apoderar-


se de ou segurar, prender, aparece frequentemente no texto do Novo Testamento,
em diferentes fases derivadas deste sentido original. Assim, apreender ou compre­
ender, Ef 3.18; Fp 3.12-13; Rm 9.30: sobre a possessão de um demônio, Mc 9.18:
sobre alguma coisa que sobrevêm ou domina, Jo 12.35; lTs 5.4; sobre compreender,
captar mentalmente, como aqui, At 10.34; 25.25.

14. Gloag, Commentary on Acts.

379
A tos - C ap. 4

Sem letras (αγράμματοι). Ou, literalmente, iletrados. Com referência especial à


cultura rabínica, cuja ausência era evidente nas palavras de Pedro.

Indoutos (ίδ ιώτα ι). Originalmente, alguém em um cargo particular, em oposição


a alguém em um cargo público. Portanto, alguém sem conhecimento profissional,
um leigo; consequentemente, de modo geral, ignorante, mal informado-, às vezes,
plebeu, pessoa comum. Na ausência de certeza, é bom reter o significado atribuído
pela arc , talvez com uma ligeira ênfase na falta de conhecimento profissional.
Compare com lCo 14.16,23-24; 2 C0 11.6.

Tinham conhecimento (έττεγίνωσκον). Ou reconheceram. Vide nota sobre At 3.10.

15. Conferenciaram (συνέβαλον). Vide nota sobre conferir, Lc 2.19.

17. Divulgue (διανφηθή). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Literal­


mente, seja distribuído. Em 2Tm 2.17, “a palavra desses roerá como gangrena”,
é, literalmente, terá distribuição ou disseminação (νομήν 6ξ6ΐ). Bengel vai longe
demais quando representa os membros do conselho falando através da figura de
uma gangrena: “Eles consideram o conjunto como uma gangrena”.

18. Falassem (φθέγγεσθαι). Vide nota sobre 2Pe 2.16.

21. Castigar (κολάσωνται). Originalmente, restringir ou diminuir, podar como


árvores: depois, controlar, limitar, punir.

24. Senhor (δέσποτα). Vide nota sobre 2Pe 2.1.

25. Servo (παιδός). Vide nota sobre At 3.13.

Bramar (έφρύαξαν). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Original­


mente, relinchar ou resfolegar como um cavalo. Com respeito aos homens, de­
monstrar um ar de insolência, e agir e falar com insolência. Filo descreve um
homem soberbo como “andando na ponta dos pés, e mantendo (φρυαττόμενος) o
pescoço ereto, como um cavalo”.

27. Que tu ungiste (εχρισας). Vide nota sobre Cristo, Mt 1.1.

28. Tua mão. Teu poder de dispor.

32. O coração e a alma. Vide nota sobre Mc 12.30.

33. Davam (αποδίδουν). Literalmente, devolviam, como alguma coisa que eles
eram obrigados a dar.

37. O preço (το χρήμα). A soma de dinheiro.


380
A to s - C ap . 5

Capítulo 5

2. Reteve (ένοσφίσατο). Somente aqui, versículo 3, e em T t 2.10, onde é traduzi­


da como defraudando. De νόσφι, afastado, separado. O verbo significa separar para
si mesmo-, portanto apropriar-se indevidamente.

3. Mentisses (ψεύσασθαι.). Ou melhor, enganasses. A intenção de Satanás era en­


ganar o Espírito Santo. Mentir requerería um caso diferente do substantivo, que
aparece no versículo 4, onde o mesmo verbo é, corretamente, traduzido como
mentir (a Deus). Satanás enche o coração para enganar. O resultado do esforço é
meramente mentir.

4. Guardando-a, não ficava para ti (οΰχί μένον σοί ’έμενε;). Um jogo de pala­
vras. Literalmente, permanecendo, não permanecia contigo? Na rv , felizmente, en­
quanto permanecia, não continuava contigo?

Formaste (εθου). Literalmente, colocaste ou fixaste. Por queformaste este desígnio


em teu coração?—i.e., te decidiste por ele.

5. Expirou (έξέψυξεν). Palavra usada apenas por Lucas. Uma palavra rara, que
ocorre na lxx e em textos médicos. Vide Ez 21.7, “todo espírito se angustiará’.
Vide também a nota sobre desmaiar, Lc 2 \ .26.

6. Cobriram o morto (συνέστειλαν). Melhor, como na bj, envolveram o corpo. O


verbo significa unir, ou envolver, consequentemente usado para baixar velas, reduzir
despesas, diminuir ou humilhar uma pessoa. Na t b consta: amortaUiaram-no. Em lCo
7.29, aparece na expressão “o tempo se abrevia (συνεσταλμένος)”; i.e., é resumido,
contraído. Com o sentido de envolver, é encontrado em Aristófanes, sobre envolver
alguém com mantos ou vestes; também sobre colocar vestes sobre as costas, como uma
preparação para o serviço. Com o sentido de envolver para o sepultamento, apare­
ce em Euripides: “Não foram amortalhados (συνεπεστάλησαν) pelas mãos de uma
esposa”15. Em linguajar médico, com respeito a enfaixar um membro; à contração de
tumores, e de órgãos do corpo etc. Alguns, no entanto como Meyer, relacionam a
palavra aqui ao pressionar e unir os membros do cadáver.

8. Disse. Bengel declara: “A mulher, cuja entrada na congregação dos santos foi
como um sermão”.

Portanto (τοσούτου). Talvez apontando para o dinheiro, que ainda estava aos
seus pés.

15. Euripides, Troades, 382.


381
Atos - C ap . 5

9. Vós concertastes (συνεφωνήθη ίμιν). Ο verbo é passivo. Literalmente,fo i concertado


por vós. A imagem da palavra é a de concordância de sons. Vossas almas estavam em únto-
nia, umas com as outras, a respeito deste engano. Vide nota sobre música, Lc 15.25.

T entar (ιτειράσαι). Colocar o Espírito Santo à prova para ver se, mesmo go­
vernando os apóstolos, podería ser enganado. Vide nota sobre v. 3.

Os pés. Ilustrativo. Os passos dos jovens que retornavam do sepultamento


foram ouvidos à porta.

12. Eram feitos (έγένετο). Os melhores textos trazem εγίνετο, o imperfeito, es­
tavam sendofeitos de tempos em tempos.

Todos. Toda a congregação de crentes.

13. Os outros. Descrentes, desencorajados pelo destino de Ananias de se unir à


igreja sob falsos pretextos.

Ajuntar-se (κολλάσθαι). Vide nota sobre Lc 15.15; 10.11 . Em quase todos os


casos, exceto dois (Rm 12.9; lCo 6.17), a palavra sugere uma união forçada, não
natural ou inesperada. Assim Filipe não teria, sem ter recebido uma instrução
especial, “se ajuntado” ao carro do príncipe etíope (At 8.29). O esforço de Saulo
para ajuntar-se aos apóstolos foi considerado com suspeitas por eles (At 9.26);
e o fato de que certas pessoas “se apegassem” a Paulo em Atenas está expressa­
mente em contraste com a atitude geral dos cidadãos. A sensação de uma união
não natural aparece claramente em lCo 6.16.

14. Crescia (προσετίθευτο). Imperfeito: Continuava crescendo.

15. Leitos (κραββάτωυ). Vide nota sobre Mc 2.4.

A sombra de Pedro, quando este passasse. Mas a tradução apropriada é:


conforme Pedro passasse, a sua sombrapudesse etc16.

18. Na prisão pública (ευ τηρήσει δημοσία). Há uma expressão melhor. Τήρησις
não é usada com o sentido de prisão, mas é uma palavra abstrata que significa
guardião ou guardar, como em At 4.3. Não há artigo, além disso. Observe, tam­
bém, que outra palavra é usada para a prisão no versículo seguinte (τής φυλακής).
A TEB lê: publicamente na cadeia.

19. De noite (διά τής υυκτός). Mais corretamente, durante a noite: διά, no decorrer
do(a). Compare com At 16.9.

16. A construção é claramente o genitivo absoluto, «ρχομΑου Πέτρου, com o passar de Pedro.

382
Atos - Cap. 5
20. Apresentai-vos. Compare com At 2.14; e v i d e nota sobre Lc 18.11; 19.8.

D esta vida. A vida eterna que Cristo revelou. É um uso peculiar da expressão
que é empregada comumente, em contraste com a v i d a q u e h á d e v i r , como lCo
15.19. Compare com Jo 6.63,68. Não equivalente a e s t a s p a l a v r a s d e v i d a .

21. De manhã cedo (υπό τον ορθρον). 'Υπό, d e b a i x o , é usada frequentemente


com o sentido de n a s p r o x i m i d a d e s , ou p e r t o . Όρθρον deriva de o p v \ > \ u , f a z e r s u r ­
g i r : o a m a n h e c e r . V i d e nota sobre Lc 24.1. Melhor tradução, p e r t o d o n a s c e r d o d i a .

Na b j : a o r a i a r d o d i a .

Ensinavam (έδίδασκον). Imperfeito: c o m e ç a ra m a e n s in a r .

O conselho (συνέδριου). O Sinédrio.

Os anciãos (γερουσίαν) ou o s e n a d o . De γέρων, u m h o m e m v e lh o , como a


palavra s e n a t u s , do latim, de s e n e x , v e lh o . Assumindo, desde antigamente, a noção
de id a d e e passando a ter o sentido de d i g n i d a d e . Assim, em Homero, γέροντες
são os chefes que formam o conselho do rei. Compare com a palavra do latim
p a t r e s , p a i s , o título usado para se dirigir ao senado romano. Nesta passagem, a

palavra é o nome da congregação de Esparta, G e r o u s i a , a a s s e m b lé ia d e a n c iã o s , que


consistia de trinta membros, com os dois reis. ‘Ά palavra bem conhecida”, como
observa Meyer, “é adequadamente transferida do conselho de g e r o n t e s g rego ao dos
presbíteros judeus". Eles convocaram, não apenas os anciãos do povo, que eram
de igual maneira, membros do Sinédrio, mas todo o conselho (t o d o o s e n a d o ) dos
representantes do povo.

Cárcere (δεσμωτηρίου). Outra palavra para prisão. Compare com vv. 18 e 19.
Na b p , p r i s ã o , cadeia. As palavras diferentes enfatizam aspectos diferentes do
confinamento. Τήρησις é p r o t e g e r , como o resultado de guardar. V i d e nota sobre
v. 18. Φυλακή enfatiza o fato de ser colocado sob v i g i l â n c i a , e δεσμωτηρίου, o fato
de ser a m a r r a d o o u a l g e m a d o .

22. Servidores (ύπηρέται). V id e nota sobre Mt 5.25.

24. Estavam perplexos (διηπόρουν). V i d e nota sobre Lc 9.6. Melhor tradução:


e s t a v a m m u i t o p e r p l e x o s , destacando a força de διά, c o m p le t a m e n t e confusos. Com­

pare com Lc 24.417.

28. Não vos admoestamos. Os melhores textos omitem ού, não, e a pergunta.

17. Nessa referência, no entanto, os melhores textos trazem o verbo simples άπορεισθαι, estavam
perplexos, em lugar de διαπορείσθαι, “estavam profundamente perplexos”.

383
Atos - Cap. 5

Nós vos adm oestam os expressam ente (παραγγελία παρηγγείλαμεα).


Literalmente, n ó s v o s d e m o s u m a r e c o m e n d a ç ã o . V i d e nota sobre Lc 22.15,
D e s e je i m u ito .

Quereis (βούλεσθε). O u p r e te n d e is . V id e nota sobre in te n ta r, M t 1.19.

Desse homem. A expressão é notável, por fornecer a primeira situação em


que se evitou o nome de Cristo que faz com que o Talmude, nos mesmos termos,
se refira a Ele mais frequentemente como P e l o n i , “esse”.

29. Mais importa (δει). Forma mais forte, d e v e m o s.

O bedecer (πειθαρχεία). Usada com pouca frequência dentro do Novo


Testamento para expressar obediência, sendo ύπακούω a p a l a v r a m a i s c o m u m .
Às vezes, é usada πείθω. Mas este termo, por si só, é o único entre vários em
uso, que expressa o conceito de o b e d i ê n c i a exclusivamente. Ύπακούειν sig­
nifica obedecer como o resultado de o u v i r outra pessoa; πείθεσθαι significa
obedecer como o resultado de p e r s u a s ã o . Esta é a palavra especial para a obe­
diência que se deve ter à autoridade (αρχή). Ela ocorre quatro vezes no texto
do Novo Testamento. At 5.29,32; 27.21; T t 3.1; e, em todos os casos, com
respeito à obediência à autoridade estabelecida, seja de Deus ou de magis­
trados. Em At 27.21, onde é usada com respeito aos oficiais do barco, d a n d o
o u v i d o s à admoestação de Paulo para que não deixassem Creta, Paulo fala de

sua admoestação como sendo divinamente inspirada; compare com 27.10.


Em At 4.19, Pedro e João dizem o u v i r ( à koÚclv). Isto significa meramente
o u v i r ou c o n s i d e r a r a proposta que lhes foi feita. Este é um procedimento

deliberado.

30. M atastes (διεχειρίσασθε). Somente aqui e em At 26.21. Matar com as pró­


prias mãos.

Madeiro. V id e nota sobre Lc 23.31.

31. Príncipe. V id e nota sobre At 3.15.

Arrependimento - remissão. V id e nota sobre Mt 3.2; Tg 5.15; Lc 3.3.

32. Testemunhas. V id e nota sobre At 1.22.

Obedecem. V id e nota sobre v. 29.

33. Se enfureceram (διεπρίοατο). Somente aqui e em At 7.54. Originalmente, o


verbo significa s e r r a r , s e p a r a r . Uma imagem forte para exasperação.

Matar. V id e nota sobre Lc 23.32.


384
Atos —Cap. 6

34. Os apóstolos. Os melhores textos substituem por τους άνθρώπους, os

ho m e n s.

Por um pouco (βραχύ). Melhor, d u r a n t e p o u c o te m p o . A ecp traduz por um m o­

m e n to - , e a bj, por um in s t a n t e .

36. Se ajuntou (προσεκολλήθη). Os melhores textos trazem προσεκλίθη, se in c li­

n a r a m , isto é, s e a l i a r a m a .

37. Deram ouvidos. Observe a expressão para d a r o u v i d o s (επείθοντο), indican­


do o poder p e r s u a s i v o da vangloria de Teudas. V i d e nota sobre v. 29.

Alistamento (άιτογραφής). V id e nota sobre Lc 2.1-2.

M uito povo. Os melhores textos omitem m u ito .

Foram dispersos (διεσκορπίσθησαv). V i d e nota em Mt 25.24.

38. Dai de mão (άπόστητε). Literalmente, s a i r d e p e rto .

Estes homens (εξ ανθρώπων). D e homens, que resulta de sua imaginação.

Se desfará (καταλυθήσεται). Literalmente, ser d e s t r u í d o . Palavra usada a


respeito da dilapidação do templo (Lc 21.6), e da dissolução do corpo, sob a
imagem da destruição de uma tenda (2 C0 5.1). V i d e nota sobre Mc 13.2.

39. C om batendo contra Deus (θεομάχοι). Literalmente, ser c o m b a te n te s

c o n tra D e u s.

41. Terem sido julgados dignos de padecer afronta (κατηξιώθησαν άτιμασθή-


ναι). Este é um exemplo do que os retóricos chamam p a r a d o x o , de οξύς, a g u d o ,
e μωρός, to lo ·, uma expressão e x p l i c i t a m e n t e t o l a , que é inteligente ou impressio­
nante por pura contradição ou paradoxo, como o c io s i d a d e l a b o r i o s a , s u b l i m e i n d i ­
f e r e n ç a . Neste caso, os apóstolos são descritos como d i g n i f i c a d o s p e l a i n d i g n i d a d e .

C a pítu lo 6

1. Ora (δέ). Melhor m a s , uma vez que é introduzido um contraste com a condição
próspera da igreja, indicada no encerramento do último capítulo.

Crescendo (πληθυνόντων). Literalmente, “quando o número de discípulos e s­

t a v a crescendo”, com o particípio presente indicando alguma coisa em curso.

Uma murmuração (γογγυσμός). V id e nota sobre a palavra correlata,


m u r m u r a d o r e s , Jd 16.

385
Atos —Cap. 6

Gregos (Ελληνιστών). Na tb , muito melhor, helenistas. A expressão “gregos”


(ou “grecianos”) pode facilmente ser interpretada como se referindo aos gre­
gos, de modo geral. O termo helênicos indica judeus, não gregos, mas judeus que
falavam grego, como atesta a bv : aqueles que sófalavam grego. O contato de judeus
com gregos se realizou, pela primeira vez, pelas conquistas de Alexandre. Ele
estabeleceu oito mil judeus em Tebas, e os judeus constituíram uma terça parte
da população de sua nova cidade de Alexandria. Do Egito, gradualmente se es­
palharam por toda a costa mediterrânea da África. Foram levados por Seleuco
Nicator da Babilônia, aos milhares, a Antioquia e Seleucia, e sob as perseguições
de Antíoco Epifanio se dispersaram pela Ásia Menor, Grécia, Macedonia, e as
ilhas do mar Egeu. A grande maioria deles adotou a língua grega, e esqueceu
o dialeto aramaico que havia sido o seu idioma desde o cativeiro. A palavra é
usada apenas duas vezes no texto do Novo Testamento - aqui e em At 9.29 -,
e nos dois casos se refere a judeus que haviam adotado o cristianismo, mas que
falavam grego e usavam a versão lxx da Bíblia, em vez do original em hebraico
ou o targum caldeu, ou paráfrase. A palavra Έλλην, gregos, que é muito comum
no Novo Testamento, é usada em antítese, seja a “bárbaros” seja a “judeus”. No
primeiro caso, ela significa todas as nações que falavam a língua grega (cf. At
18.17; Rm 1.14; lCo 1.22-23). No segundo, é equivalente a gentios (cf. Rm 1.16;
2.9; lCo 10.32; G1 2.3). Consequentemente, nos dois casos, é completamente
diferente de helênico.
Hebreus. Hebreu é a antítese de helenista. Um homem era ’Ιουδαίος, um judeu,
quando descendia de Jacó e vivia de acordo com a religião de seus pais. Esse
homem podia falar grego e ser um helênico. Ele era Εβραίος, um hebreu, somen­
te por falar hebraico e conservar costumes hebraicos, como consta na bv : que
falavam hebraico. A distinção entre hebreu e helênico era uma distinção na nação
judaica, e não entre ela e outras nações. Assim Paulo se refere a si mesmo como
um hebreu de hebreus-, isto é, um hebreu e de pais hebreus (Fp 3.5; cp. 2Co 11.22).

Eram desprezadas (παρεθεωρουντο). Somente aqui no texto do Novo Testa­


mento. Literalmente, eram ignoradas. O imperfeito indica alguma coisa habitual.

Cotidiano (καθημερινή). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

M inistério (διακονία). Ou serviço. Vide nota sobre ministro, Mt 20.26. A refe­


rência é à distribuição de alimentos.

2. Razoável (αρεστόν). Literalmente, agradável ou amável.

Deixemos (καταλείψαντας). Na verdade desamparar ou abandonar, deixar no


abandono.
386
Atos —Cap. 6
Sirvamos às mesas. Supervisionar a distribuição de alimentos.

3. D e boa reputação (μαρτυρουμένους). Literalmente, c o n fir m a d o s , te n d o te s te m u ­

n h o s d a d o s e m se u fa v o r.

4. Nós perseveraremos na oração (προσκαρτερήσομεν). V id e nota sobre At 1.14.


Na bj : a s s í d u o s à o ra ç ã o -, e na tb : d e c o n t í n u o , à o ra ç ã o .

5. Estêvão etc. Todos os nomes são gregos. Não há nenhuma razão para deduzir,
com base nisto, que fossem todos helênicos. Era costumeiro, entre os judeus, ter
dois nomes, um deles hebreu e o outro, grego. Provavelmente eles seriam par­
cialmente hebreus e parcialmente helênicos.

7. À fé (τή πίστα.). Há grande divergência de opinião quanto a se isto deve ser


interpretado como significando a f i e m J e s u s C r i s t o , ou f é considerada como ά

d o u t r i n a c r i s t ã —o e v a n g e lh o - , a f i n o sentido eclesiástico. Esta passagem e a de G1

1.23 são a favor da segunda perspectiva, mas o uso geral do Novo Testamento,
combinado com o fato de que nessas duas passagens o primeiro significado tem
um bom sentido, inteligível e perfeitamente consistente, confirmam a primeira
interpretação.
1. Na grande maioria das passagens do Novo Testamento, f i é claramente
usada no sentido de f é e m J e s u s C r i s t o . Segundo Meyer: “A convicção e a confiança
a respeito de Jesus Cristo como o único e perfeito mediador da graça divina e da
vida eterna, por meio de sua obra expiatória”.
2. Esta interpretação está de acordo com a analogia de expressões como o b e ­
d i ê n c ia d e C r i s t o (2Co 10.5), onde o significado é, claramente, obediência a Cristo:

o b e d iê n c ia à v e r d a d e (lPe 1.22). Portanto, a fé, embora se torne, no homem, o

poder s u b j e t i v o e moral da nova vida, regenerada pelo poder do Espírito, é consi­


derada o b j e t i v a m e n t e como um p o d e r - a autoridade que ordena a submissão.
3. Esta interpretação está de acordo com a analogia da expressão p r e g a ç ã o d a
f i (G1 3.2), que deve ser traduzida, não como equivalente à re c e p ç ã o d o e v a n g e lh o ,
mas como a n a r r a t i v a ou m e n s a g e m da fé, isto é, q u e t r a t a d a fé, άκοή, a u d i ç ã o sendo
sempre usada no texto do Novo Testamento em um sentido passivo e frequen­
temente traduzida como f a m a , r u m o r , b o a t o , n o t í c i a (cf. Mt 4.24; 14.1; Mc 1.28; Jo
12.38; Rm 10.16). Compare, também, com o b e d iê n c ia d a j?(R m 1.5; 16.26), onde
a fé deve ser considerada o o b je t o , e não como a f o n t e , da obediência; e por isso
não deve ser explicada como a obediência que b r o t a d a f i , mas como a obediência
d e d ic a d a à fi, como o impulso genuíno de sua nova vida em Cristo.

A grande maioria dos melhores comentaristas modernos sustenta que a


fé deve ser interpretada como o p r i n c í p i o s u b j e t i v o da vida cristã (embora fre­
quentemente considerada de forma objetiva como um poder espiritual), e não
como d o u t r i n a c r i s t ã .
387
Atos —Cap. 7

8. Fazia (έποίει). Imperfeito: e s t a v a f a z e n d o p r o d íg io s durante o progresso dos


eventos descritos no versículo anterior.

9. Sinagoga. V id e nota sobre ig r e ja , Mt 16.18.

Dos libertos. Em Jerusalém, e provavelmente em outras grandes cidades, as vá­


rias sinagogas eram arranjadas segundo nacionalidades, e até mesmo habilidades ou
profissões. Assim, temos, neste versículo, a menção à sinagoga dos cireneus, alexan­
drinos, cilícios e asiáticos. L i b e r t o s é uma palavra em latim ( l i b e r t i n i , l i b e r t o ), e significa
aqui os judeus ou os seus descendentes que haviam sido levados como escravos a
Roma, e haviam ali recebido a sua liberdade; e que, como consequência do decreto de
Tibério, aproximadamente em 19 a.C., que os expulsou de Roma, haviam retornado,
em grandes números, a Jerusalém. Provavelmente eles eram os principais oponentes
de Estêvão, porque supunham que, como resultado da pregação dele, a sua religião,
pela qual haviam sofrido em Roma, corria riscos em Jerusalém.

10. Não podiam (ούκ ισχυον). V id e nota sobre Lc 14.30; 16.3.

11. Subornaram (ΰττέβαλον). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Ori­


ginalmente, o verbo significa c o lo c a r d e b a i x o , como tapetes debaixo dos próprios
pés. Portanto, c o lo c a r u m a p e s s o a n o l u g a r d e o u t r a ; s u b s t i t u i r , como o filho de outra
pessoa pelo próprio filho; e m p r e g a r u m a g e n t e s e c r e t o n o p r ó p n o l u g a r , e i n s t i g a r ou
in s tr u í- lo s e c r e ta m e n te .

12. Excitaram o povo (συν€κίνησαν τον λαοί/). O verbo aparece apenas aqui no
texto do Novo Testamento. O significado é incitar, como u m a m a s s a , movê-los
j u n t o s (συν). Este é o primeiro registro da hostilidade do p o v o para com os discí­

pulos. V i d e At 2.47.

Arrebataram (συνήρπασαν). Palavra usada apenas por Lucas. Melhor como na


rv, p r e n d e r a m . V i d e nota sobre Lc 8.29.

14. Este Jesus Nazareno. Desdenhoso.

C a pítu lo 7

1. E disse o sumo sacerdote. De acordo Gloag: “O rosto glorificado de Estêvão


provocou uma pausa de surpresa e admiração, que o sumo sacerdote interrompe,
convocando o acusado para sua defesa”.

2. Irmãos. Dirigindo-se ao público, de modo geral.

Pais. Dirigindo-se aos membros do Sinédrio.


388
Atos - Cap. 7
Da glória. A glória e x te rn a , v is ív e l, como a shekiná e a coluna de fogo.

Apareceu (ώφθη). V id e nota sobre Lc 22.43.

5. Herança (κληρονομιάν). V id e nota sobre lPe 1.4.

Nem ainda o espaço de um pé (ouóè βήμα ποδός). Literalmente, n e m m e s m o


o l u g a r d e u m p é . Com base no sentido original, um p a s s o ou p é , que aparece ape­

nas aqui no texto do Novo Testamento, com o sentido de um p a s s o considerado


como um l u g a r e le v a d o ou a s s e n t o , e, portanto, uma t r i b u n a ou t r i b u n a l , que é o seu
significado nas outras passagens do Novo Testamento.

Posse (κατάσχεσιν). Somente aqui, e no versículo 45. V id e nota sobre c o n s e r v a r ,


Lc 8.15. Indica uma posse p e r m a n e n t e .

8. O pacto da circuncisão. Não há artigo, e é melhor omiti-lo na tradução. Ele


lhe deu um p a c t o , c o n c e r t o , cujo caráter peculiar é definido pela palavra seguinte
- d a c ir c u n c is ã o , isto é, sendo a perfeição e o selo da circuncisão.

9. Movidos de inveja (ζηλώσαντ^ς). Compare com T g 4.1; e v id e nota sobre


i n v e j a , Tg 3.14.

10. Tribulações (θλίψεων). V id e nota sobre Mt 13.21.

11. Alimentos (χορτάσματα). Para o gado: p a s t o , f e n o , p a l h a , f o r r a g e m . V id e n o t a

sobre s e r ã o f a r t o s , Mt 5.6.

12. No Egito (ev Αίγύπτω). Mas os melhores textos trazem elç Αίγυπτον, a o E g i t o ,
e interpretam a expressão utilizando o termo e n v io u ·, “enviou nossos pais a o E g i t o ’ .

13. A linhagem de José. Observe a repetição do nome. “Está implícito certo


sentido de orgulho patriótico”.

14. Setenta e cinco. Literalmente, “de (èv) setenta e cinco”; a expressão indica o
valor completo e m q u e todos os indivíduos estavam incluídos.

17. Aproximando-se (καθώς). Mais corretamente, a o a p r o x i m a r - s e , a palavra não


é uma partícula de t e m p o , mas significa à m e d i d a q u e . Na tb consta: A p r o p o r ç ã o
q u e se a p r o x im a v a .

18. O utro (étepoç). Não meramente um s u c e s s o r , mas um monarca de um caráter


d ife r e n te .

Não conhecia. Uma vez que haviam se passado sessenta anos desde a morte
de José e uma nova dinastia subia ao trono, isto pode ser interpretado de forma
389
Atos - Cap. 7
literal: não conhecia a sua história e os seus trabalhos. Alguns explicam, não
reconhecia os seus m éritos.

19. Usando de astúcia contra (κατασοφ ισάμίηος). Somente aqui no texto do


Novo Testamento. Literalmente, usando sagacidade contra. V ide nota sobre σοφός,
sábio, T g 3.13.

Ao ponto de os fazer enjeitar (του mneii' έκ&τα). Literalmente, expor. O


verbo έκτίθημι, expor, ou colocar fo r a , não é incomum, no grego clássico, para a
exposição de um bebê recém nascido. Assim Heródoto se refere a Ciro, expos­
to quando bebê: “A esposa do vaqueiro lhe pediu que não expusesse (έκθβ.ΐ'αι) o
bebê”18. A tradução da arc, “ao p o n to de os fazer enjeitar”, é correta e expressa o
resultado, e não o desejo do Faraó.

Crianças (βρέφη). Tradução inadequada; melhor: bebês. V ide nota sobre 2Pe
2.2. Na teb e nvi consta a leitura: recém-nascidos.

Multiplicassem (ζωογον'εΐσθαι). O m, fo ssem preservados vivos. V ide nota sobre


Lc 17.33.

20. Tempo (καιρφ). Melhor, época ou ocasião. Bengel: “Triste, oportuno”. Vide
nota sobre At 1.7.

Mui formoso (άστειος tq> 0eqi). Literalmente,^/õrmoso em Deus: um superlativo


hebraico. Compare com Jn 3.3: gran de em Deus. Gn 10.9, a respeito de Ninrode: p o ­
deroso caçador dian te do Senhor. 2Co 10.4: poderosas em Deus; isto é, aos olhos de Deus.
Α σ τ ε ίο ς , form oso (somente aqui e em Hb 11.23), se origina de άστυ, uma cidade, e
significa, originalmente, criado na cidade, portanto refinado, elegante, belo. A palavra
é usada na lxx sobre Moisés (Ê x 2.2), e é traduzida c o m o form oso. A tradição judai­
ca exalta a beleza de Moisés. Josefo diz que quem o visse, enquanto ele era carre­
gado pelas ruas, se esquecia de suas atividades e ficava imóvel, para olhar para ele.

21. Tomou (áveíXeTo). Usada entre autores gregos, com o significado de tomar
crianças expostas; também de ter filhos recém nascidos. Assim, em Aristófanes:
“Expus (o bebê) e alguma outra mulher, tendo-o tomado, adotou (áveítexo) o
bebê”18. Não há nenhuma razão pela qual o significado deva se limitar a tirou -o
d a água (como Gloag).

23. Veio-lhe ao coração (άνέβη éiu τήη καρδίαν). Literalmente, “surgiu em seu
coração". Bengel declara: “Pode haver alguma coisa, nas profundezas da alma,

18. Heródoto, i., 112.


19. Aristófanes, Clouds, 6S 1 .

390
A tos - C ap. 7

que posteriormente emerge e sobe, daquele mar, até o coração, como uma ilha”.
A expressão é imitação do hebraico, e aparece na lxx : “A arca nem lhes v i r á a o
c o r a ç ã o ’ ·, literalmente, s u b i r á a o c o ra ç ã o (Jr 3.16). V i d e também Jr 32.35; Is 65.17.

24. Defendeu (ήμύνατο). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A palavra


significa originalmente repelir de si mesmo, com uma noção colateral de c o m p e n ­
s a ç ã o ou v i n g a n ç a .

25. Entenderíam (συνιέναι). V id e nota sobre e n te n d im e n to , Mc 12.33.

26. Foi... visto (ώφθη). Com a sugestão de uma aparição s ú b i t a como em uma
visão; possivelmente com a noção subjacente de um mensageiro de Deus. V i d e
nota sobre Lc 22.43.

Quis levá-los à (συνηλασεν αύτους elç ειρήνην). Literalmente, o s c o n d u z iu à

p a z -, c o n v id o u - o s .

31. A visão (το όραμα). No texto do Novo Testamento, sempre a respeito de uma
v i s ã o . V i d e nota sobre Mt 17.9.

Para observar (κατανοήσαι). V id e nota sobre M t 7.3. Compare com


Lc 12.24,27.

32. Trêmulo (έντρομος yevópevoç). Literalmente, t e n d o s e t o r n a d o t r ê m u lo · , tendo


sido acometido de um tremor.

34. Tenho visto atentamente (ίδων eíôov). Literalmente, e u v i , como consta


n a bj. Um hebraísmo. V i d e Ê x 3.7 ( lxx ). Compare com Jz 1.28: o s e x p e l i u d e t o d o ;
literalmente, a o r e m o v e r , n ã o r e m o v e u c o m p le t a m e n t e . Jz 4.9: i r e i ; isto é, c e r t a m e n t e
i r e i . Gn 37.8: r e i n a r á s i.e., d e v e r a s r e i n a r á s . A tb traz: V i , c o m e f e it o .

35. Libertador (λυτρωτήν). A rigor, um r e s g a t a d o r ou r e d e n t o r . Somente aqui


no texto do Novo Testamento. V i d e nota sobre r e s g a t e , Mt 2 0.28; e r e s g a t a d o s ,
lPe 1.18.

Pela mão (èv χβ,ρΐ). Os melhores textos trazem συν χίΐρ'ι “com a mão”, i.e.,
e m a s s o c ia ç ã o c o m o poder protetor e auxiliador do anjo.

38. D e vida. Melhor, v iv a s . A bv traz: a P a la v ra V iv a . Compare com lPe 2.4-5.

39. Rejeitaram em seu coração. Não desejando voltar, mas ansiando pelas ido­
latrias do Egito.

40. Vão adiante de nós. Como símbolos a serem conduzidos diante deles, na
marcha. Compare com Ne 9.18.
391
A tos - C ap . 7

41. Fizeram o bezerro (Ιμοσχοποίησαν»). Somente aqui no texto do Novo Tes­


tamento, e não na lxx . Bengel diz: “Um crime muito notório é indicado por uma
palavra recém cunhada, e extraordinária”. Isto foi uma imitação do touro egípcio
para adoração. Vários desses animais eram adorados, em lugares diferentes do
Egito. A p i s era adorado em Mênfis. Heródoto diz:

Este Ápis, ou Epaphus, é o bezerro de uma vaca que nunca mais poderá ter filho­
tes. Os egípcios dizem que desce do céu um fogo sobre a vaca, que por isso concebe
Ápis. O bezerro que tem esse nome apresenta as seguintes características: é preto,
com uma mancha quadrada e branca na testa, e nas costas, a imagem de uma
águia. Os pelos de sua cauda são duplos, e há um escaravelho em sua língua20.

Os egípcios o consideravam não meramente como um emblema, mas como


um deus. Ele se alojava em um átrio magnífico, ornamentado com imagens de
vinte côvados de altura. Ele nunca deixava o átrio, exceto em dias determinados,
quando era conduzido em procissão pelas ruas. O seu festival durava sete dias, e
todos saíam de suas casas para recebê-lo quando ele passava. Não permitiam que
ele chegasse ao fim natural de sua vida. Se uma morte natural não o removesse
antes, eles o afogavam, quando chegasse à idade de vinte e cinco anos, e então
o embalsamavam, e o sepultavam em uma das câmaras sepulcrais do Serapeum,
um tempo dedicado expressamente ao sepultamento desses animais.
Outro touro sagrado era mantido em Heliopolis, no grande Templo do Sol,
sob o nome de M n e v i s , e era honrado com reverência somente inferior à de Ápis.
Wilkinson acredita que foi deste touro, e não de Ápis, que os israelitas tomaram
emprestadas as suas noções do bezerro de ouro. “As ofertas, danças e celebrações
praticadas na ocasião eram, sem dúvida, imitação de uma cerimônia que haviam
testemunhado em honra a Mnevis, durante a sua permanência no Egito.”21 Um
terceiro touro sagrado, de nome B a c i s , era mantido em Hermonthis, perto de
Tebas. Era um animal grande e negro, e dizia-se que os seus pelos cresciam no
sentido contrário ao usual. Outros touros e vacas não tinham a condição de deu­
ses, mas eram apenas sagrados.

Ofereceram (άνήγαγον). Literalmente, e rg u e r a m . V id e nota sobre Tg 2.21.

42. Servissem (ÀatpeútLv). Melhor tradução do que a d o ra s se m , como consta na


ep . A TB lê: c u lt o . V i d e nota sobre Lc 1.74.

O exército do céu. A adoração de estrelas, ou sabeísmo, o resíduo do antigo


paganismo da Ásia ocidental, que consistia da adoração de estrelas, e se espalhou

20. Heródoto, iii., 28.


21. Wilkinson, Ancient Egyptians, 2 se r., v o l. ii., p á g . 197.

392
A tos - C ap . 7

à Síria, embora a religião dos caldeus estivesse longe de ser a simples adoração
do exército do céu; os corpos celestes sendo considerados como pessoas reais, e
não meras representações metafóricas de fenômenos astronômicos. É à adoração
sabeísta que Jó se refere quando, ao declarar a pureza da sua vida (31.26-27), diz:
“se olhei para o sol, quando resplandecia, ou para a lua, caminhando gloriosa; e
o meu coração se deixou enganar em oculto, e a minha boca beijou a minha mão,
também isto seria delito pertencente ao juiz; pois assim negaria a Deus, que está
em cima”. Embora não seja parte da religião dos egípcios, Rawlinson acredita
que pode ter tido conexão com a sua crença anterior, uma vez que a oração é
representada em hieróglifos por um homem erguendo suas mãos, acompanhado
por uma estrela28.

43. T abem áculo de M oloque. A tenda portátil que era o templo do deus,
carregada em procissão. Moloque era um ídolo amonita a quem as crianci­
nhas eram sacrificadas. De acordo com a tradição rabínica, a sua imagem
era oca, aquecida por baixo, com a cabeça de um boi e braços estendidos,
sobre os quais eram colocados os bebês, com seus gritos abafados pelo rufar
de tambores.

Renfã. Os textos variam entre R enfa, R eja, e R a if i. Supõe-se ser o nome cópti-
co para Saturno, a quem os árabes, egípcios e fenícios prestavam honras divinas.

45. Que vieram depois (δια&ξάμβζοι). Somente aqui no texto do Novo Testa­
mento. Originalmente, o verbo significa receber uns dos outros, sucessivamente, o
que parece ser a tradução mais natural e simples nesta passagem: recebendo-o (de
Moisés). Na rv, de maneira muito organizada, p o r sua vez.

Jesus. Josué. É o mesmo nome, e as duas formas significam S alvador. Vide nota
sobre Mt 1.21.

Na p o s s e (èv τη κατασχέσβ.). Na kjv, p a ra dentro da posse2*.

A presença (àirò προσώπου). A rigor, “longe da face”. A mesma expressão


aparece na lxx , Dt 11.23.

22. Heródoto, vol. ii., pág. 291.


23. Aparentemente, a kjv supõe que kv, em, representa eíç, dentro, o que é inadmissível. Podemos
explicar a preposição como uma combinação das idéias de entrada em e repouso subsequente. A
tradução de Alford, em sua tomada de posse das nações, é condenada pelo fato de que κατάσχίσις
não quer dizer tomar posse, mas ter a posse, que claramente é o significado no versículo 5, a
única outra passagem do Novo Testamento em que ela aparece. Meyer, em seu esforço para
preservar a força e intensidade de èv, traduz durante a posse das nações, ou enquanto as nações
mantinham a condição de posse, que, embora seja gramaticamente defensível, eu não posso deixar
de julgar forçada e artificial.

393
A tos - C ap. 7

46. Pediu (ήτήσατο). Mais corretamente, s o lic it o u : por meio de Natã. V id e 2Sm 7.2.

Tabemáculo (σκήνωμα). Não era um t a b e r n á c u l o ou t e n d a que Davi se propôs


a construir, mas uma c a s a . V i d e 2Sm 7.2. Na n v i , a rigor, h a b it a ç ã o . Compare com
οίκον, uma c a s a , v. 47, e 2Cr 6.18.

48. O Altíssimo. Em contraste com os deuses pagãos, que estavam confinados


em seus templos.

Templos feitos por mãos (χειροποιήτοις ναοις). Os melhores textos omitem


ναοις, t e m p lo s . O significado é mais geral: e m c o is a s f e i t a s p o r m ã o s . A expressão, no
entanto, é usada com respeito a um santuário, em Is 16.12: quando “Moabe... entrar
no seu s a n t u á r i o (τά χειροποίητα)”. A expressão o b r a , ou o b r a d e m ã o s d e h o m e n s , é
comum, no Antigo Testamento, a respeito de í d o l o s . V i d e Dt 4.28; 2Rs 19.18; 2Cr
32.19; SI 115.4. Compare com Mc 14.58; Ef 2.11; Hb 9.11,24; 2Co5.1.

49. Que casa. Na n tlh , mais corretamente, “ Q u e t ip o de casa” (ποιον).

51. D e dura cerviz e incircuncisos (σκληροτράχηλοι καί απερίτμητοι). Ambas


aparecem apenas aqui no texto do Novo Testamento.

Resistis (άντιπίπτετε). E uma expressão muito forte, e indica resistência a t i v a .


Literalmente, c a i r c o n t r a ou s o b re . Usada com o significado de c a i r s o b r e o u atacar
um inimigo. Somente aqui no texto do Novo Testamento.

Vós sois (γεγενησθε). Mais corretamente, v o s to rn a s te s .

53. Que (οΐτινες). Mais forte que o simples pronome relativo, q u e , e enfatizando
os seus pecados, em contraste com os seus privilégios: v i s t o q u e v ó s f o s t e s o s q u e
re c e b e s te s etc.

Por ordenação dos anjos (εις διαταγάς αγγέλων). Literalmente, p o r o r d e ­


Εις significa c o m r e f e r ê n c i a a . D i s p o s i ç ã o (διαταγή) é usada pela
n a n ç a s d e a n jo s .

arc com o sentido de a r r a n j o , da mesma maneira como dizemos que um general

d i s p ô s suas tropas. A palavra aparece apenas aqui e em Rm 13.2, onde é tra­

duzida como o r d e n a ç ã o . O verbo correlato, διατάσσω, aparece frequentemente,


e principalmente com o sentido de o r d e n a r ou i n d i c a r . V i d e Mt 11.1; Lc 3.13.
Em lCo 11.34, é traduzida como o r d e n a r . Muito provavelmente, a referência é
à tradição judaica, de que a lei foi entregue por intermédio de anjos. V i d e Dt
33.2. Compare com SI 68.17. Paulo diz expressamente que a lei foi p o s t a p e l o s
a n j o s n a m ã o d e u m m e d i a n e i r o (G1 3.19). Compare com a p a l a v r a u s a d a p e l o s a n j o s

(Hb 2.2). A teb traz, p r o m u l g a d a p o r a n j o s ; a bp, m i n i s t é r i o d e a n j o s ; e a nvi e a b j ,


in t e r m é d io d e a n jo s .

394
Atos - Cap. 7
54. Enfureciam. Vide nota sobre At 5.33. Nos dois casos, o sentido é de ira. Uma
palavra diferente é usada para expressar remorso , At 2.37.

Rangiam (Ιβρυχον). Originalmente, com er com a v id e z, com um ruído, como


animais selvagens: portanto, ran ger ou trincar os dentes.

55. Estando (υπάρχων). V ide nota sobre T g 2.15.

Fixando os olhos no céu. Compare com Lc 1.10; 3.4,12; 6.15; e vid e nota
sobre Lc 4.20.

Estava. Levantando-se do trono, para proteger e receber seu servo. Normal­


mente Jesus é representado, no texto do Novo Testamento, como assentado à
direita do Pai. V ide E f 1.20; Cl 3.1; Hb 1.3.

56. Vejo (θίωρώ). V ide nafta sobre Lc 10.18.

O Filho do Homem. Um título jamais aplicado a Cristo por nenhum dos


apóstolos ou evangelistas, exceto aqui, por Estêvão. Vide nota sobre Lc 6.22.

57. Taparam (συνέσχον). Literalmente, fecharam .

58. Apedrejavam. De acordo com os rabinos, o cadafalso ao qual o criminoso


devia ser conduzido, com suas mãos atadas, precisava ter o dobro do tamanho
de um homem. Uma das testemunhas devia feri-lo no peito com uma pedra, de
modo a derrubá-lo. Se ele não morresse, a segunda testemunha devia atirar outra
pedra a ele. A seguir, se ainda estivesse vivo, todas as pessoas deviam apedrejá-lo,
até que estivesse morto. O corpo devia, então, ficar suspenso até o pôr-do-sol.

Um jovem (νβαιήου). Esta expressão, no entanto, não fornece nenhuma indi­


cação de sua idade, uma vez que é aplicada até a idade de quarenta e cinco anos.
Trinta anos depois do martírio de Estêvão, Paulo falou de si mesmo, como o velho
(Fm 9).

Saulo. A primeira menção ao apóstolo dos gentios.

59. Em invocação; A k jv insere Deus·, em invocação a Deus. Todavia, a palavra


não aparece no texto grego. Com base na visão que acaba de ser descrita e com
base na oração que se segue, é evidente que a referência é &Jesus. As traduções
brasileiras não acrescentam o termo.

Jesus. Uma oração inquestionável a Cristo.

60. Não lhes imputes este pecado (μή στήσης αύτοίς την αμαρτίαν ταύτην).
Literalmente, n ã o fix e s sobre eles este pecado.
395
Atos - Cap. 8

Adormeceu (έκοιμήθη). Indicando a sua morte calma e pacífica. Embora os


autores pagãos usassem, às vezes, sono, ou dormir com o significado de morte,
era apenas uma figura poética. Quando Cristo, por outro lado, disse: “Lázaro,
o nosso amigo, dorme (κτκοίμηται)”, usou a palavra, não como uma figura, mas
como a expressão de um fato. Nesse mistério da morte, em que os pagãos viam
apenas o vazio, ou o nada, Jesus via a continuidade da vida, do descanso, do
andar - os elementos que dormem. E assim, nas palavras e na mentalidade dos
cristãos, à medida que a doutrina da ressurreição aprofundava as suas raízes, a
palavra morto, sem esperanças, deu lugar à palavra mais graciosa e esperançosa,
sono, ou dormir. O sepulcro pagão não trazia, em seu nome, nenhuma sugestão
de esperança ou consolação; era um sepulcro, um esconderijo, um monumento, um
mero memorial de algo que havia terminado, que se havia ido; um pombal, com
suas pequenas aberturas, como para pombos, para urnas funerárias; mas a ideia
cristã da morte como um sono trazia consigo a noção correlata de uma câmara
de descanso, e a personificou na palavra cemitério (κοιμητήριον) —o lugar onde se
deitar para dormir.

C a pítu lo 8

1. M orte (αναιρέσω). Literalmente, destruir. Vide nota sobre Lc 23.32.

2. Piedosos. Vide nota sobre Lc 2.25.

Foram enterrar (συγκόμισαν). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Literalmente, levar consigo·, portanto, ou auxiliar no sepultamento, ou, melhor, trazer
o morto ao grupo (συν) dos outros mortos. A palavra é usada com referência a
produzir a colheita.

Estêvão (Στέφανον). Significando coroa. Ele foi o primeiro que recebeu a coroa
de mártir.

Grande pranto (κοπ€τόν). Literalmente, bater (no peito). Somente aqui no


texto do Novo Testamento.

3. Assolava (έλυμαίν€το). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Na lxx , em


SI 79.13, é usada a respeito da destruição de uma vinha pelo javali selvagem. Com­
pare com At 9.21, onde kjv diz perseguia, mas onde o texto grego diz πορθήσας,
destruiu. O cônego Farrar observa:

O papel que ele desempenhava nesta época da tern vel obra de perseguição, eu temo, sempre
foi subestimado. Somente quando reunimos as passagens separadas —são pelo menos oito

396
Atos —C ap. 8

delas —em que se fez alusão a este triste período, e somente quando avaliamos o terrível
significado das expressões usadas, é que podemos sentir o peso do remorso que deve ter
se abatido sobre ele e os insultos aos quais esteve sujeito por parte de inimigos malignos24.

Observe o imperfeito, de ação continuada.

5. Filipe. O diácono (At 6.5). Não o apóstolo. Com respeito ao nome, vid e nota
sobre Mc 3.18.

Cristo (τον Χριστόν). Observe o artigo, “o Cristo”, e vid e nota sobre Mt 1.1.

6. Ele fazia (èuoíei). Imperfeito. C ontinuava pregan do de tempos em tempos,


como descreve o versículo seguinte.

7. Paralíticos (παραλελυμενοι). Mais adequadamente, acom etidos d e p a ra lisia . Vide


nota sobre Lc 5.18.

Eram curados. Vide nota sobre Lc 5.15.

9. Exercera a arte mágica (μαγεύων). Somente aqui no texto do Novo Testa­


mento. Um dos magos, tão numerosos no Oriente naquela época, e multiplicados
pela expectativa geral de um grande libertador e a transmissão das noções mes­
siânicas aos judeus, que se aproveitavam da credulidade das pessoas, realizando
mágicas, falsificando e profetizando.

Iludido (εξιστών). Literalmente, p ro v o c a r adm iração. A e c p traz: m aravilhando


o povo-, ou como traduz a t b , pasm ar. Vide nota sobre At 2.7.

10. A grande virtude de Deus. Os melhores textos acrescentam ή καλούμενη,


que ê chamado, e traduzem aquela virtu d e de D eus, que é cham ada grande. Eles acre­
ditavam que Simão era uma virtude de Deus personificada, que, como a mais su­
prema das virtudes, designaram como a grande.

11. Iludido. A ssom brado, como no versículo 9.

13. Ficou, de contínuo, com. Vide nota sobre At 1.14.

Sinais e grandes maravilhas (σημεία καί δυνάμεις). Literalmente, sin ais e


p ro d íg io s. Vid£ nota sobre Mt 11.20; At 2.22.

Que se faziam (γινομένας). O particípio presente. Literalmente, que aconteciam.

24. Farrar, Life and Work o f St. Paul. Quanto às passagens mencionadas por Farrar, vide At 8.8;
9.2; 22.3-4; 26.9-10.

397
Atos - Cap. 8
Estava atônito. Depois de ter assom brado o povo com seus truques. Vide v. 9.
A mesma palavra é empregada.

14. Samaria. A nação, não a cidade. V ide w . 5 e 9.

16. Eram (ύπήρχον). Vide nota sobre T g 2.15. Mais literalmente, h a via m sido.

Em nom e (εις το δνομα). Literalm ente, “no nome”. V id e nota sobre


M t 28.19.

20. Seja contigo para perdição (συν σοί εΐη εις απώλειαν). Literalmente, em
lugar de “perecer contigo”. Que a destruição sobrevenha ao teu dinheiro e a ti
mesmo.

21. Parte nem sorte. S o rte expressa a mesma ideia, como p a rte , mas em sentido
figurado.

Palavra (λόγψ). A palavra de que estamos falando: o assunto do discurso,


como Lc 1.4; At 15.6.

Reto (ευθεία). Literalmente, direito.

22. Porventura. A dúvida sugerida pela qualidade hedionda do crime.

Pensamento (επίνοια). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Literal­


mente, um p en sa r ou plan ejar, e, portanto, indicando um p la n o ou desígnio.

23. Em fel (είς χολήν). Literalmente, no. Caíste nele e a í continuas. Fel, somente
aqui e em Mt 27.34. F el de am argura é a amarga inimizade contra o Evangelho.

Laço de iniquidade (σύνδεσμον αδικίας). Caíste na iniquidade como em al­


gemas. A palavra σύνδεσμον indica um laço firm e , a p erta d o (σύν, ju n to ). É usada
com respeito ao vínculo da paz cristã (Ef 4.3); com respeito à união da igreja,
representada como um corpo (Cl 2.19); e com respeito ao amor, como o vínculo
da perfeição (Cl 3.14). V ide Is 58.6.

26. O sul (μεσημβρίαν). Uma forma contraída de μεσημέρια, m eio-dia, que é a


tradução de At 22.6, a única outra passagem em que aparece a palavra.

Deserto. Com referência à rota. Sobre a palavra deserto, v id e nota sobre Lc


15.4. Havia várias estradas que ligavam Jerusalém a Gaza. Uma delas é mencio­
nada como o caminho de Belém a Hebrom; portanto, passando por uma região
que é chamada de deserto.

27. Dos etíopes. O nome das terras ao sul do Egito, incluindo as modernas Nú-
bia, Cordofan, e o norte da Abissínia. Rawlinson menciona súditos das rainhas
398
Atos - Cap. 8
etíopes, vivendo em uma ilha, perto de Meroe, na parte norte deste distrito. Ele
observa também:

Os monumentos provam, de maneira inquestionável, que os etíopes tomaram em­


prestados do Egito a sua religião e os seus hábitos de civilização. Eles até mesmo
adotaram o egípcio como a língua da religião e da corte, e continuou a ser até que
tivesse diminuído o poder dos Faraós, e o seu domínio estivesse novamente confinado
às fronteiras da Etiópia. Foi pelo Egito, também, que o cristianismo entrou na Etiópia,
já na época dos apóstolos, como é demonstrado pelo eunuco da rainha Candace.

Superintendente (δυνάστης). Um termo geral, para um potentado.

Candace. O nome comum das rainhas de Meroe: um título de distinção, como


Faraó, no Egito, ou César, em Roma.

Tesouros (γάζης). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Uma palavra persa.

29. Ajunta-te (κολλήθητι). V id e nota sobre Lc 15.15; 10.11; At 5.12.

SO. Entendes tu o que lês (άρά γ€ γινώσκεις α άναγινωσκεις). Ο jogo de pala­


vras é impossível de traduzir. As partículas interrogativas que iniciam a pergun­
ta indicam uma dúvida, por parte de Filipe.

31. Como poderei (πώς γάρ αν δυναίμην)? Literalmente, p o i s c o m o s e r i a e u c a ­


p a z ? A . palavra p o i s conecta a pergunta a uma negação implícita: “Não; pois como

poderei eu entender, a menos que” etc.

82. O lugar da Escritura (ή περιοχή τής γραφής). A rigor, o c o n te ú d o d a p a s s a ­

g e m . V i d e nota sobre Mc 12.10; lPe2.6.

Lia. Na TB consta, corretamente, estava lendo; imperfeito.

38. Humilhação. V id e nota sobre Mt 11.29.

Geração: Os seus contemporâneos. Quem declarará a iniquidade deles?

35. Abrindo a boca. Indicando um anúncio solene. Compare com Mt 5.2.

37. Os melhores textos omitem este versículo.

39. Arrebatou. Repentinamente e milagrosamente.

E continuou etc. (4πορ€υ€το γάρ). Em minha opinião, há uma tradução me­


lhor. A rv traz a expressão “p o i s continuou”. Uma razão é apresentada para o fato
de que o eunuco não viu mais Filipe. Ele não parou nem tomou outra estrada
para procurá-lo, mas prosseguiu em seu caminho.
399
A tos - C ap . 9

C a pítulo 9

1. Respirando (έμπνέων). Literalmente, respirando sobre ou em, e, portanto, cor­


respondente a contra os discípulos.

Ameaças e mortes (απειλής καί φόνου). Na construção grega, o caso em que


estão estas palavras as marca como a causa ou fo n te da “respiração”; respiração
forte, p e la ameaça e pelo desejo assassino.

2. Daquela seita (τής όδοΰ). Na tb , mais corretamente, “d o Caminho”. Uma


expressão comum no livro de Atos para a religião cristã. Nas palavras de
Meyer, “a direção característica de vida, como determinada pela fé em Jesus
Cristo”. Vide Pit 19.9; 22.4; 24.22. Para a expressão mais completa da ideia, v id e
At 16.17; 18.25.

Mulheres. Paulo se referiu três vezes à perseguição às mulheres, como um


agravamento de sua crueldade (At 8.3; 9.2; 22.4).

3. O cercou um resplendor de luz (περιήστραψβν). Somente aqui e em At 22.6.


R esflen dor. Vide nota sobre Lc 11.36; 24.4.

Luz. Compare com At 22.6; 26.13.

4. Dizia. Na sua própria narrativa, Paulo diz que as palavras foram pronunciadas
em hebraico (At 26.14).

5. Duro é para ti etc. Transferida de At 26.14, e omitida pelos melhores tex­


tos.

6. Tremendo e atônito. Omitida pelos melhores textos.

7. Espantados (èveoí). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

11. Rua (ρύμην). Vide nota sobre Lc 14.21. Uma rua estreita o u alam eda.

Direita. Assim chamada por percorrer uma linha reta, da porta ocidental até
a oriental da cidade.

15. Vaso escolhido (σκ€ϋος Ικλογής). Literalmente, um instrum ento excelente. A


respeito de vaso, vid e nota sobre M t 12.29; e com respeito à imagem, compare
com 2Co 4.7.

16. Quanto (όσα). Próximo da tradução literal, quantas.

17. Irmão. Em Cristo.


400
A tos —C ap. 9

18. Caíram —escamas. (άπεπεσου —λεπίδες). As duas palavras aparecem apenas


aqui no texto do Novo Testamento. Na narrativa que o próprio Paulo apresenta
sobre a sua conversão, no capítulo 26, ele não menciona a sua cegueira. Já no
capítulo 22, ele cita tanto a cegueira como a recuperação da visão, mas não as
circunstâncias particulares que Lucas registra. A menção de e s c a m a s , ou incrus-
tações, como as que são incidentals à oftalmia, é característica de um médico, e
άποπίπτειυ, c a i r , foi usada como termo técnico, por autores médicos, sobre o cair
de escamas da pele, e partículas de partes enfermas do corpo. Hackett declara:
“Podemos supor que Lucas tivesse ouvido muitas vezes Paulo narrar como havia
se sentido naquele momento”.

20. Jesus. É a leitura correta, o nome individual ou pessoal do Senhor, e não


C r i s t o , como na kjv , o qual ainda não estava tão em voga. O objetivo de Paulo era

estabelecer a identidade de Jesus, o Nazareno, com o Messias.

21. Perseguia (πορθήσας). Exatamente, d e v a s t a v a , a s s o la v a . Compare com At 8.3.


Paulo usa a mesma palavra em G1 1.13.

22. Confundia. V id e nota sobre At 2.6.

Provando (συμβιβά(ων). O verbo significa r e u n i r ou a g r u p a r , portanto, c o m p a ­


ra r e e x a m i n a r , como e v i d ê n c ia , e, assim, p r o v a r . Usada no sentido literal e físico,
em Ef 4.16. Em Cl 2.2, como sendo c o s t u r a d o em amor. Em lCo 2.16, sobre i n s ­
t r u i r , e d i f i c a r , ao a j u n t a r o u a r r e c a d a r . Neste sentido, a palavra aparece na lxx .

V i d e Lv 10_11; Jz 13.8.

O Cristo. Observe o artigo. Não um n o m e p r ó p rio , mas um a p e la tiv o . V id e nota


sobre v. 20.

2 3 . Matar. V id e nota sobre Lc 23.32.

2 4 . Ciladas (επιβουλή). Esta é a tradução da a rc sempre que a palavra aparece,


como, por exemplo, em At 20.3,19; 23.30. “Armar ciladas” se refere, na realidade,
à e x e c u ç ã o da trama, e não à trama propriamente dita.

Guardavam. V i d e nota sobre Mc 3.2. Imperfeito: e s ta v a m ou c o n t i n u a v a m g u a r­

dando,dia e noite.

2 5 . Pelomuro (διά του τείχους). Mais exatamente, a t r a v é s d o muro, como expli­


ca 2Co 11.33. Ou por uma janela de uma casa sobre o muro, ou por uma janela
no próprio muro, que dava para uma casa no seu lado interior. Hackett diz que
ele observou esse tipo de janela no muro em Damasco. Com referência ao modo
de fuga, compare com Js 2.15; lSm 19.12.
401
A tos —C ap. 9

Cesto (σιτυρίδι). Vide nota sobre Mt 14.20. Na narrativa que Paulo apresenta
sobre este episódio, ele usa σαργάνη, um cesto de vime, f r a n z id o ou trançado; ou,
como alguns pensam, de cordas.

26. Ajuntar-se. Vide nota sobre At 5.13; Lc 15.15; 10.11.

27. Contou (διηγήσατο). Narrou detalhadamente. Vide nota sobre Lc 8.39; e


compare, a respeito de narração, com Lc 1.1.

Falara ousadamente (έπαρρησιάσατο). V ide nota sobre livrem ente, At 2.29.

29. Gregos. Na t b , corretamente, helenistas. Vide nota sobre At 6.1.

Procuravam (erreχαίρουν). Melhor, tentavam ; literalmente, cu id a va m de.

31. As igrejas. Os melhores textos dizem a igreja; abrangendo todas as diferen­


tes igrejas pelas três províncias da Palestina.

Ediíicadas. Ou construídas.

Consolação (παράκλησή i). De παρακαλώ, chamar para ou pa ra o lado para auxiliar


ou socorrer. O termo é traduzido dentro do Novo Testamento como exortação, e
também como consolação. Compare com At 13.15; Rm 12.8; 2Co 8.17; Hb 12.5; e
Lc 2.25 (cf. nota); 2Ts 2.16; Mt 5.4. Em algumas passagens, o significado é alvo de
discussão, como Fp 2.1, onde, como em lCo 14.3, está acompanhada de ττοφαμύθιον
ou παραμυθία, cujo significado também varia entre incentivo e consolação, ou pacificação.
Aqui exortação é a tradução aprovada pelas melhores autoridades, a ser interpretada
com a expressão se m ultiplicavam se m ultiplicavam pela exortação do E spírito Santo, isto é,
pelo Espírito Santo, que inspirava os pregadores e comovia os corações dos ouvintes.

32. Lida. A L o d e do Antigo Testamento (Ed 2.33); aproximadamente a um dia


de viagem de Jerusalém.

33. Oito anos. A duração da enfermidade, e o fato de que ele havia estado acama­
do todo esse tempo, são características da narrativa de um médico.

Cama. Vide nota sobre Mc 2.14.

Paralítico. Vide nota sobre Lc 5.18.

34. Jesus Cristo. Mas observe o artigo: Jesus o Cristo; o Ungido; M essias.

Te dá saúde (ίάταί oe). Na t b , te sara. V ide nota sobre Lc 6.19.

Faze a tua cama (στρώσου σεαυτφ). Literalmente, cobre-a, não, d e agora em


mas im ediatam ente, como uma evidência de restauração.
diante,

402
Atos - Cap. 10
35. Sarona. A rigor, S a r o m . Sempre com o artigo definido: a p l a n í c i e , que se
estende por 48 quilômetros junto ao mar, desde Jope até Cesareia.

36. Discípula (μαθήτρια). Uma forma feminina, somente aqui no texto do Novo
Testamento.

Tabita - Dorcas. A segunda palavra é a equivalente grega da primeira, que é


aramaica, e significa g a ze la , que, no Oriente, era um tipo favorito de beleza. Vide
Ct 2.9,17; 4.5; 7.3. Nessa época, era costumeiro, entre os judeus, ter dois nomes,
um hebreu e o outro em grego ou latim, e este seria o caso, especialmente em
um porto marítimo, como Jope, que era uma cidade gentia e judaica, ao mesmo
tempo. A jovem pode ter sido conhecida pelos dois nomes.

37. Quarto alto. V ide n o ta sobre At 1.13.

38. Que não se demorasse (μή όκνήσαι). Os melhores textos trazem όκνήσης,
colocando o pedido na forma de uma instrução direta, N ã o tardes.

Vir (διελθεΐν). Literalmente, v i r a tra v é s .

39. Túnicas e vestes. Vide nota sobre Mt 5.40.

Que (boa). Literalmente, ta n ta s q u a n ta s .

Fizera (εποίει). O imperfeito, e s ta v a a c o s tu m a d a a f a z e r .

C a pítu lo 10

1. Centurião. Vide nota sobre Lc 7.2.

Coorte (άπειρης). Vide nota sobre Mc 15.16.

Italiana. Provavelmente porque consistia de soldados romanos, e não de


homens nativos da região.

2. Piedoso (ευσεβής). V ide nota sobre pied a d e, 2Pe 1.3.

Orava (δεόμενος). V ide nota sobre orações, Lc 5.33.

Sem ser ouvido por ninguém, exceto por ouvidos de anjos,


O bom Cornélio se ajoelhou, sozinho,
Sem esperar que as suas orações e lágrimas
Pudessem auxiliar um mundo destruído.
Enquanto estava sobre o seu terraço, no telhado,
O apóstolo amado de seu Senhor,

403
A t o s - C a p. 10

Em silêncio tinha pensamentos distantes,


Pois a visão celestial subia ao céu25.

3. Uma visão. V id e nota sobre At 7.S1.

Claramente (φανερώς). Melhor, d is tin ta m e n te ou c la ra m e n te , que está, e v id e n te ­

m e n te , em oposição a uma i l u s ã o .

4. Fixando os olhos (daeváoaç). Compare com At 7.55; e v i d e nota sobre Lc 4.20.

6. Um curtidor. Mostrando que Pedro estava abandonando a rigidez da lei ju­


daica, uma vez que o trabalho de curtidor era considerado impuro por judeus
rígidos, além do fato de que eles tinham que residir isolados dos demais. Farrar
declara que

se um c u rtid o r se casasse sem m encionar a sua profissão, a sua esposa tinha per­
missão de o b ter o divórcio. A lei do m atrim ônio levirático podia ser ignorada,
se o cunhado da viúva sem filhos fosse um curtidor. O terren o de um cu rtid o r
devia e sta r a pelo m enos cinquenta côvados de qualquer cidade26.

Junto do mar. Do lado de fora dos muros, tanto para proximidade pelos negó­
cios, e por causa da exigência cerimonial mencionada acima. William C. Prime,
descrevendo uma visita a Jope, diz:

Eu estava caminhando pela praia, procurando conchas, e aproximadamente a um


quarto de milha da cidade, para o sul, encontrei dois curtum es diretam ente ju nto ao
mar. Eu observei que as rochas diante deles estavam cobertas com a água, apenas
com algumas polegadas de profundidade e eles molhavam suas peles sobre essas
rochas e também as submetiam a algum processo na água, que eu não me detive
para entender27.

7. Dos que estavam ao seu serviço (προσκαρτερούντων αύτώ). Vide nota sobre
At 1.14.

8. Contado (έξηγησάμ€νος). A b p e bj trazem: e x p lic o u - lh e s . V id e nota sobre Lc 24.35.

9. Eles (έκ^ίνων). O s mensageiros, os servos e o soldado. O pronome tem uma


referência mais específica que a palavra e le s .

10. Fome (πρόσττειρος). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

25. K eb le, Christian Tear.


26. F a r r a r , L ife and W ork o f St. Paul.
27. W illia m C . P rim e , A vida nas tendas na Terra Santa.

404
A tos - C a p. 10

Quis comer (ήθελε γεύσασθαι). Corretamente, desejava comer, ou desejava de­


Γευεσθαι é traduzida por com er e também saborear, mais frequentemente
gu sta r.
pelo segundo sentido. V ide M t 27.34; Jo 2.9; lPe 2.3; e compare com At 20.11.

Sobreveio-lhe um arrebatamento de sentidos (επεπεσεν επ’αύτόν εκστασις).


Literalmente, um êxtase caiu sobre ele. Os melhores textos, no entanto, trazem
εγενετο, veio sobre ele, ou aconteceu a ele. Vide nota sobre espanto, Mc 5.42. Apenas
Lucas emprega esta palavra neste sentido de êxtase ou arrebatam ento.

11. Viu (θεωρεί). Mais literalmente, contempla. Vide nota sobre Lc 10.18. O tem­
po presente do verbo é introduzido na narrativa de maneira clara.

Sobre ele. Os melhores textos omitem.

Lençol (όθόι/ηΐ'). Somente aqui, eem A111.5. Originalmente linhofino; posteriormente,


tecido de vela ouuma vela. J. Rawson Lumby sugere que a palavra, “aplicada às velas de
barcos, soltas e inchadas pelo vento”, pode indicar que a forma do vaso que apareceu
a Pedro “trouxe à mente uma imagem muito familiar à sua vida anterior - o tecido
esticado pelo vento da vela na embarcação no Lago da Galileia”28.

Atado (δεδεμένον). Se esta palavra for mantida, devemos traduzi-la como


am arrado,ou ligado-, mas os melhores textos omitem o vocábulo, juntamente com
o termo seguinte, “ e” . Compare com At 11.5.

Pontas (άρχαΐς). Literalmente, princípios; a extrem idade ou ponta, indicando o


princípio do lençol. “Devemos imaginar o vaso, como um tecido de linho gigantesco, e
de quatro pontas, que descia, enquanto as pontas se conectavam ao céu para sustentar
o conjunto”. O termo é usado neste sentido por Heródoto, descrevendo os sacrifícios
dos citas. As patas dianteiras da vítima são amarradas com uma corda, “e a pessoa que
vai oferecer o sacrifício, tomando sua posição atrás do animal, puxa a p o n ta (αρχήν/)
da corda, desta maneira derrubando o animal”29. A sugestão de cordas sustentando
as pontas do lençol (Alford, e, cautelosamente, Farrar) não é justificável pelo uso
da palavra. Esta era a expressão técnica, no linguajar médico, para as pontas das
ataduras. O termo para lençol nesta passagem também era a palavra técnica para uma
atadura, assim como o vocábulo correlato, όθόνιοι/, usado a respeito das ataduras de
linho em que o corpo do Senhor foi envolvido. Vide Lc 24.12; Jo 19.40; 20.5-7. Hobart
diz: “Temos, assim, nesta passagem, uma expressão técnica médica - as pontas de
uma atadura - usada representando as pontas de um lençol, que dificilmente alguma
pessoa, que não fosse ligada à medicina, pensaria em empregar ”3".

28. J. Rawson Lumby, Expositor, iii., 272.


29. H eródoto, iv., 60.
30. Hobart, Medical Language o f St. Luke.
405
Atos —Cap. 10

12. D e todos os animais quadrúpedes (πάντα τα τετράποδα). Literalmente, todos


os animais de quatro patas. Sem exceção, limpos e imundos. Não, de muitos tipos.

Animais selvagens. Os melhores textos omitem.

14. D e modo nenhum (μηδαμώς). Mais forte: absolutamente não. Farrar diz:

Com a simples e audaciosa autoconfiança que, em seu caráter (de Pedro) estava tâo
singularmente mesclada com ataques de timidez e depressão, ousadamente ele corrige
a voz que lhe ordena, e lembra ao Interlocutor divino que ele deve, de certa forma, ter
se equivocado3'.

Compare com Mt 16.22.

Comum (κοινόν). Que não é santo, profano.

15, Não faças tu comum (σΰ μή κοίνου). O pensamento vai mais longe do que mera­
mente chamar de “comum”. Literalmente, nãoprofanes, não corrompas. Não profanesessas
coisas considerando-as e chamando-as de comuns. Na tb : “nãofaças tu impuro’.

17. Duvidando (διηπόρει). Vide nota sobre Lc 9.7.

Entre si. Em reflexão, em comparação com o seu estado de êxtase.

Perguntando (διερωτήσαντες). “Tendo perguntado”; tendo percorrido o seu


caminho pelas (διά) ruas e casas, até que encontraram a morada do curtidor, que
era um homem obscuro, e não fácil de ser encontrado.

18. Chamando. Um chamado geral a quem estivesse dentro, para fazer


perguntas.

19. Pensando (διενθυμουμενου). Estava ponderando fervorosamente (διά.).

22. Foi avisado (έχρηματίσθη). Vide nota sobre Mt 2.12.

24. íntim os (αναγκαίους). O significado original da palavra é necessário-, logo, ela


se refere àqueles que se conectam por laços necessários ou naturais-, parentes de san­
gue. Mas, como parentes ou familiares são expressos por συγγενείς, isto deve ser
interpretado com o sentido de amigos íntimos, um significado que o termo tem,
em autores gregos mais recentes.

25. Adorou (προσεκύνησεν). Uma tradução que me parece inadequada, de acordo


com o uso moderno da palavra, mas justificado pelo uso mais antigo, segundo o

3 1 . F a r r a r , L ife and Works o f Paul.

406
A tos - C ap. 10

qual adorar significava simplesmente honrar. Adoração é valorização, ou a honra


prestada à dignidade ou valor. Este uso sobrevive nas expressões Venerável e Vossa
Excelência. Aqui, o significado é de que Cornélio prestou reverência, prostrando-
se, à maneira oriental usual. A bp traduz por, fe z uma reverência.
28. Não é lícito (αθέμιτον). O termo é peculiar a Pedro, sendo usado apenas
aqui e em 1Pe 4.3. Vide nota ali. Ele enfatiza a violação da ordem estabelecida,
sendo da mesma raiz que τίθημι, depositar ou estabelecer. Os judeus professavam
fundamentar esta proibição na lei de Moisés; mas na lei Mosaica não existe ne­
nhuma ordem direta que proíba que os judeus se associem com as pessoas de
outras nações. Mas a declaração de Pedro é geral, referindo-se ao costume dos
judeus de se separar, na vida comum, de pessoas incircuncisas. Juvenal diz que
os judeus foram ensinados por Moisés “a não mostrar o caminho, exceto para
aquele que pratica os mesmos ritos, e a guiar apenas os circuncidados ao poço
que eles buscam”32. Tácito também diz, sobre os judeus, que “entre eles, são infle­
xivelmente fiéis, e dispostos com auxílio caridoso, mas odeiam todos os demais,
considerando-os inimigos. Eles se mantêm separados de todos os estrangeiros,
em suas convicções no comer, no beber e nas relações matrimoniais”33.

Estrangeiro (άλλοφύλω). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Em­


pregado a respeito dos filisteus, lSm 13.3-5 (lxx).

Me. Enfático, contrastando com vós. “Vós sabeis” etc., “mas Deus mostrou- me”.

29. Por que razão (τίνι λόγω). Mais corretamente, em lugar de com que intenção.

30. Há quatro dias (άιτό τέταρτης ημέρας). Literalmente, desde o quarto dia, cal­
culando para trás, a partir do dia em que a pessoa estava falando.

Estava eu em jejum. Os melhores textos omitem.

Orando à hora nona (την έννάτην προσευχόμενος). Literalmente, orando


durante a nona hora. Com a omissão de estava eu emjejum, a tradução é como na tb,
Faz agora quatro dias que eu estava orando à hora nona em minha casa*4.

31. Disse (φησί). Diz. O presente histórico, dando vivacidade à narrativa.

32. Juvenal, Sat, xiv., 104, 105.


33. Tácito, Histories, v., 5.
34. Deve-se confessar que esta declaração, com estas correções, é obscura, e que a tradução seria
grandemente simplificada, retendo as palavras omitidas, como fazem várias importantes
autoridades, como Meyer, Alford, Hackett, Gloag, De Wette, embora contra fortes evidências
de manuscritos. Eles explicam a omissão nesses manuscritos pelo fato de que não é feita
nenhuma menção a jejum no versículo 3.

407
A tos - C ap. 10

33. Bem (καλώς). Fizeste uma coisa cortês e agradável ao vir. Compare com 3Jo 5-6.

34. Reconheço. V id e nota sobre At 4.13.

Não faz acepção de pessoas (προσωττολήμτττης). V i d e nota sobre acepção de

, Tg 2.1. Somente aqui no texto do Novo Testamento.


p e sso a s

36. A palavra (τον λόγον). A mensagem.

37. Esta palavra (ρήμα). O conteúdo da mensagem: a n a r ra tiv a ou h is tó r ia que a


mensagem proclamava.

38. Ungiu (εχρισεν). V id e nota sobre C ris to , Mt l.l.

Andou (διήλθεν). Literalmente, andou p e l a (região). Compare com At 8.4.

E curando. A palavra e (κα'ι) tem uma força particularizadora: fazendo o bem,


e, e m p a r t i c u l a r , curando.

Oprimidos (καταδυναστευομενους). Somente aqui e em Tg 2.6; v id e nota sobre


esta última.

39. Mataram. Os melhores textos inserem και, t a m b é m : “ao qual t a m b é m mata­


ram”; t a m b é m com uma força i n c l u s i v a . Eles adicionaram esta atrocidade suprema
a outras perseguições.

Madeiro. V id e n o ta . sobre Lc 23.31.

40. Fez que se manifestasse (εδωκεν αυτόν φφανή γενεσθαι). Literalmente, em lugar
de m o s t r o u - o a b e r ta m e n te . Para a construção da sentença, compare com At 2.27.

41. Antes ordenara (προκεχειροτονημένοις). Somente aqui no texto do Novo


Testamento. O verbo simples, χειροτονέω, o r d e n a r , aparece em At 14.23; 2Co
8.19; e originalmente significa e s t e n d e r a m ã o com o propósito de dar um voto.
Portanto e le g e r por votação, levantando as mãos, e, de modo geral, o r d e n a r . Pla­
tão usa a palavra com respeito à escolha dos líderes de coros35. No emprego
eclesiástico posterior, significava o r d e n a r , como bispos ou diáconos.

Que (ο'ίτινες). O pronome composto os destaca mais fortemente, como per­


tencentes à c la s s e de testemunhas oculares.

42. Testificar (διαμαρτύρασθαι). V id e nota sobre At 2.40. Remissão. V id e nota


sobre Lv 3.3; Tg 5.15.

35. Platão, Laws, 765.

408
Atos - C ap. 11

43. Seu nome. Como na oração do Senhor: não simplesmente o t í t u l o , mas tudo
o que o nome abrange e expressa. Segundo Meyer: “toda a perfeição de Cristo,
como o objeto revelado ao crente para a sua apreensão, confissão e adoração”.

44. Caiu o Espírito Santo. O único exemplo da concessão do Espírito antes do


batismo.

45. Os que eram da circuncisão. A partir deste ponto, Lucas categoriza os


cristãos em duas classes - os da circuncisão e os da incircuncisão; chamando os
primeiros de j u d e u s , e os outros, g e n t i o s ou g r e g o s .

Maravilharam-se. V id e nota sobre At 2.7.

47. Água (το ύδωρ). Observe o artigo: a água; coordenando a água com o Espí­
rito (cf. lJo 5.8) e designando a água como o elemento de batismo, reconhecido
e costumeiro.

C a p ít u l o 11

1. Na Judeia (κατά την Ίουδαίαν). Mais corretamente, “p o r t o d a a Judeia”.

2. Os que eram da circuncisão. V id e nota sobre At 10.45.

3. Varões incircuncisos (ανδρας ακροβυστίαν ’έχοντας). Uma expressão indig­


nada. V i d e Ef 2.11.

4. Começou. Indicando vividamente o solene propósito do sermão (cp. Lc 12.1),


ou, talvez, em conexão com e x p o s iç ã o , o seu princípio, com as primeiras circuns­
tâncias, passando por toda a lista de incidentes.

6. Considerei. V id e nota sobre Mt 7.5; Lc 22.24,27.

12. Nada duvidando (μηδέν διακρινόμενον). A rv verte: n ã o f a z e n d o d i s t i n ç ã o ,


tomando o verbo em seu sentido original, que é s e p a r a r o u d i s t i n g u i r . Essa leitura
parece estranha; d u v i d a n d o é uma tradução comum no texto do Novo Testamen­
to, e cabe perfeitamente nessa perícope. A t b traduz: s e m e s c r ú p u l o , enquanto a
bj : s e m h e s it a ç ã o . V i d e M t 21.21; Mc 11.23, e a nota sobre T g 1.6. Era natural que
Pedro hesitasse.

Seis irmãos. Os homens de Jope, que haviam ido com Pedro até Cornélio, e o
tinham acompanhado também a Jerusalém, seja como testemunha em favor dele
ou para sua própria justificação, uma vez que haviam cometido o mesmo crime.

13. Um anjo. A expressão tem o artigo definido: “o anjo”, mencionado no capí­


tulo 10, conforme traduz a t b : o a trjo .
409
A tos - C ap. 11

17. Portanto, se (el). Uma boa tradução.

O mesmo (ΐσην). Literalmente, igual·, tornando-os, igualmente conosco, reci­


pientes do Espírito Santo.

19. Os que foram dispersos (oi διασπαρέντες). Com respeito à expressão técnica
a dispersão, vide nota sobre 1Pe 1.1. Aqui, não é usada desta maneira.

20. Os gregos ('Έλληνας). Alguns, no entanto, leem Έλληνιστάς, osjudeus gre­


gos. A ntlh traduz: não-judeus.Vide nota sobre At 6.1. O objetivo expresso da
narrativa fora descrever a admissão dos gentios à igreja. Não havia nada notável
nesses homens que pregavam aos gregos e que foram recebidos na igreja há
muito tempo, os quais formavam uma grande parte da igreja em Jerusalém. É
melhor acompanhar a tradução da arc, embora a outra leitura tenha a evidência
mais forte dos manuscritos. Observe, também, o contraste com a declaração do
versículo 19, somente aosjudeus. Não há contraste entre judeus e helênicos, uma
vez que estes gregos são incluídos no termo genérico, judeus.

23. Firmeza (TrpoQéoei). Originalmente, apresentação em público. Consequente­


mente, sobre os pães da proposição, os pães apresentados diante do Senhor (cf. nota
sobre Mc 2.26). Alguma coisa apresentada diante de alguém, como um objeto de
realização. Um propósito.

24. Bem (αγαθός). Mais do que estritamente reto. Compare com Rm 5.7, onde é
diferente de δίκαιος, justo ou íntegro. Gloag diz: “A sua benevolência realmente o
impediu de censurar qualquer coisa que pudesse ser nova ou estranha nestes que
pregavam aos gentios, e fez com que ele se alegrasse com o sucesso deles”.

25. Buscar (άναζηττραι). A rigor, procurar com empenho, como se procura uma “caça”.

26. Foram chamados cristãos (χρηματίσαι Χριστιανούς). A primeira dessas


duas palavras, traduzida como foram chamados, significava, originalmente, reali­
zar negócios, ter negócios com; consequentemente, no curso dos negócios, dar au­
diência a, responder, de onde se origina o seu uso para indicar a resposta de um orá­
culo; um conselho ou aviso divino. Vide At 10.22; e compare com M t 2.12; Hb 11.7.
Posteriormente, o termo adquire o significado de ter um nome, ser chamado, com
a sugestão de um nome usado em transações comuns e nas relações dos homens;
o nome pelo qual alguém é conhecido36. Esse processo de transição aparece no
costume de dar nomes aos homens, de acordo com suas profissões, como “João, o
Ferreiro”, “Felipe, o Armeiro”; um costume que dá origem a muitos nomes de fa-

36. A aplicação, pelo reverendo Samuel Cox, da palavra aos cristãos como fazendo do cristianismo
a atividade diária de suas vidas é forçada (Biblical Expositions, p. 841).

410
Atos —Cap. 11

mília conhecidos, como Butler (mordomo), Carpenter (carpinteiro), Smith (ferrei­


ro), Cooper (tanoeiro). Compare, no texto do Novo Testamento, com Alexandre, o
latoeiro (2Tm 4. 14·); Mateus, opublicano (Mt 10.3); Lucas, o médico (Cl 4.14); Erasto,
procurador (Rm 16.23); Raabe, a meretriz (Hb 11.31). Na mesma linha, está o uso
da palavra chamar, para indicar a profissão de alguém. O significado da palavra,
nesta passagem, é ilustrado por Rm 7.3.
Os discípulos foram chamados. Eles não assumem, por si mesmos, o nome.
Isso ocorre em apenas três passagens do Novo Testamento: aqui, em At 26.28,
e em lPe 4.16; e apenas na última passagem é empregada por um cristão sobre
um cristão. Evidentemente, o nome não foi dado pelos judeus de Antioquia,
para quem Cristo era a interpretação do Messias, pois não teriam atribuído este
nome àqueles a quem desprezavam como apóstatas. Os judeus designavam os
cristãos como nazarenos (At 24.5), uma palavra de desprezo, porque um provér­
bio dizia que nada bom sairia de Nazaré (Jo 1.47). Provavelmente o nome não
foi assumido pelos próprios discípulos, pois eles tinham o hábito de se chamar,
uns aos outros, de crentes, discípulos, santos, irmãos, os do caminho. Sem dúvida,
o nome foi dado pelos gentios. Alguns supõem que ele era aplicado como um
termo de ridicularização, e citam o caráter inteligente, astuto e sarcástico do
povo de Antioquia, e a sua notoriedade para inventar nomes escarnecedores;
mas isto é duvidoso. O nome pode ter sido dado simplesmente como um título
distintivo, naturalmente escolhido pela devoção reconhecida e declarada dos
discípulos a Cristo, como o seu líder. Os de Antioquia interpretaram equivo­
cadamente a natureza do nome, sem entender o seu uso entre os discípulos
como um título oficial —o Ungido - mas usando-o como um nome pessoal que
converteram a um nome de grupo.

27. Profetas. Vide nota sobre Lc 7.26.

28. O mundo. Vide nota sobre Lc 2.1.

29. Cada um conforme o que pudesse (καθώς ηύπορίΐτό τις). Literalmente, con­
forme aquilo que aprosperidade de qualquer um delespermitisse. A tb traduz: conforme
as suas posses, enquanto a teb: segundo os recursos. O verbo se origina de εύπορος,
fácil depassarpor, e a ideia de prosperidade é, portanto, transmitida sob a imagem
de uma jornada tranquila e favorável. A mesma ideia aparece em nossas palavras
de despedida: adeus! passar bem, com o significando original relacionado a uma
viagem. Assim, dizer adeus! a alguém quer dizer desejar-lhe uma viagem próspera.
Compare com vá com Deus, ou boa viagem. Assim a ideia pode ser traduzida aqui:
conforme cada um passar bem, ou tiver sorte.

M andar socorro (εις διακονίαν πέμψαι). Literalmente, enviar para servir.


411
A tos - C ap. 12

C a p ít u l o 1 2

1. Aquele mesmo tempo (εκείνον τον καιρόν). Mais corretamente, aquele mo­
m ento crítico. Vide nota sobre At 1.7. A data é 4 4 d.C.

O rei Herodes. Também chamado Agripa, e comumente conhecido como He-


rodes Agripa I, o neto de Herodes, o Grande.

Estendeu as mãos (επεβαλεν τάς χειρας). Literalmente, impôs as suas mãos


fo b rej. Excelente tradução da arc. A t b traz mandou prender alguns da igreja.

M altratar (κακώσαι). Maltratar. O termo é usado no sentido mais antigo


A
e mais forte de atormentar ou oprimir. VideEx 2 2 .2 1 ; Nm 2 5 . 1 7 ; M t 1 5 .2 2 . O
seu uso moderno se refere mais a pequenos aborrecimentos. Na rv, melhor,
afligir.

2. M atou - à espada. Enquanto o martírio de Estêvão é descrito detalhada­


mente, o de Tiago, o primeiro mártir entre os apóstolos, é narrado em duas
palavras.

3. Continuou, mandando prender. (προσεθετο συλλαβεΐν). Literalmente, conti­


nuou aprender. Uma forma de expressão hebraica. Compare com Lc 19.11, pros­
seguiu e contou; Lc 20.12, tornou a mandar um terceiro; literalmente, continuou a
mandar. A teb traz: mandou proceder a uma nova detenção.

4. Quatemos. Um quaterno era um grupo de quatro soldados; de modo que ha­


via dezesseis guardas, quatro para cada um dos quatro turnos da noite.

A Páscoa. Todo o período de sete dias da festa.

Apresentá-lo (άναγαγειν αύτόν). Literalmente, levá-lo, i.e., ao lugar elevado, onde


ficava o tribunal, para proferir a sentença de morte diante do povo. Vide Jo 19.13.

5. Contínua (εκτενής). Tradução inadequada. A palavra quer dizer intenso, fer­


voroso. Vide nota sobre ardentemente, lPe 1.22; e compare com fervorosamente, At
26.7 ( a r a ); mais intensamente, Lc 2 2 .4 4 ; ardente, lPe 4.8. Contudo, a ideia de conti­
nuidade é expressa aqui pelo verbo finito com o particípio. De forma bem literal,
a oração era elevadafervorosamente. A tb traduz: orava com insistência; mas a teb ,
mais literal: oração ardente.

6. Estava para o fazer comparecer. Mais corretamente, estava prestes a trazer.

Guardavam (έτήρουν). Vide nota sobre guardada, lPe 1.4. O imperfeito, esta­
vam guardando.
412
Atos - C ap. 12

7. Sobreveio (επέστη). Melhor, ficou ao lado. Vide nota sobre At 4.1; e compare
com Lc 2.9.

Prisão (οίκήματι). Não a prisão, mas a cela onde Pedro estava confinado. Cor­
retamente na ep. A bj traduz: cubículo.

8. Capa (Ιμάτιον). A veste externa ou manto. Vide nota sobre Mt 5.40.

10. Guarda (φυλακήν). Melhor, vigia: os soldados em guarda. As explicações


sobre a primeira e a segunda guardas diferem, alguns supõem que a primeira era
um único soldado de guarda à porta da cela de Pedro, e a segunda, outro soldado,
à porta que levava à rua. Outros supõem que havia dois soldados em cada um
desses postos, sem incluir os dois junto à cela de Pedro no grupo de quatro que
faziam a vigília.

12. Considerando ele (ουναδών). O verbo significa, a rigor, verjunto, ou ao mesmo


tempo. Portanto, ver com um olhar, em um relance. A condição mental de Pedro é
descrita por duas expressões: Em primeiro lugar, ele caiu em si (v. 12), ou, literal­
mente, depois que ele passou a estar presente em si mesnwr, indicando o seu despertar,
da condição aturdida, devido ao fato de ter sido subitamente despertado do sono
e confrontado com uma aparição sobrenatural (cf. v. 9). Em segundo lugar, depois
que ele se deu conta da situação (συνιδών); indicando que tomou consciência da situação,
segundo a expressão popular. Eu não acredito que nenhum dos comentaristas te­
nha enfatizado suficientemente a força de σύν,junto, como indicando a sua percepção
abrangente de todos os elementos do caso. Todos se referem ao termo como o pró­
prio reconhecimento da sua libertação da prisão, o que, no entanto, já fora men­
cionado no versículo 11. Embora a palavra possa incluir este sentido, ela se refere
também a todas as circunstâncias do caso presentes naquele momento. Ele havia
sido libertado; ele estava ali, na rua, e sozinho; ele devia ir a algum lugar; estava ali
a casa de Maria, onde certamente encontraria amigos. Tendo obtido consciência de
tudo isso, tendo percebido tudo isso, ele foi à casa de Maria37.

13. Porta do pátio. A pequena porta externa, que formava a entrada da rua, e
dava para ο πυλών, ou a passagem da rua para o pátio. Outros explicam como sen­
do a portinhola, uma pequena porta no meio de uma porta maior, o que é menos
provável.

37. Esta força do verbo é exemplificada por Xenofonte: “Pois aquele que dirigisse a sua atenção a
isso [i.e., às muitas evidências de poder de um grande império]] podería ver [συνιδίΧν, em um
olhar abrangente] que o rei era poderoso” (Anabasis, i., 5, 9). Também Platão, falando a respei­
to de Deus, diz: “Quando ele viu que as nossas ações tinham vida” etc., passando a enumerar
vários detalhes, “Ele, vendo tudo isto (ταϋτα πάντα συνιδών) (Laws, 904)”. Compare, também,
com At 14.6.

413
Atos —C ap. 12

Uma m a m a (παιδίσκη). Ou criada. O termo era usado com respeito a uma


jovem escrava, bem como uma menina ou donzela, de modo geral. A narrativa
indica que ela era mais que uma mera serviçal, se é que era criada. O fato de ela
ter reconhecido imediatamente a voz de Pedro e a alegria na sua pressa, bem
como o registro do seu nome, indicam que ela era um dos que estavam reunidos
para orar.

Rode. Rosa. Frequentemente os judeus davam a suas filhas nomes de plantas e


flores, como: Susana (lírio); E s te r (murta); T a m a r (palmeira). Quesnel diz: “Deus,
que omite nomes de poderosos conquistadores, valoriza o de uma pobre menina,
perante a sua igreja, em todos os tempos”.

14. Conhecendo. Ou reconhecendo.

15. Afirmava (διϊσχυρίζ€το). Melhor, a firm ava confiantemente, constantem ente é


usada no sentido mais antigo de consistente. O verbo contém duas idéias: vigorosa
declaração (Ισχύς), e insistência na declaração, apesar d e toda contradição (διά);
portanto, ela afirmava vigorosam ente e consistentemente.

Anjo. O anjo da guarda, segundo a crença popular entre os judeus de que cada
indivíduo tem o seu anjo guardião, que pode, havendo ocasião para isso, assumir
uma aparição visível, parecida com a da pessoa cujo destino lhe está confiado.

17. Acenando (κατασείσας). Literalmente, m ovendo a m ão p a ra b a ix o para pedir


silêncio e atenção. Era um gesto peculiar de Paulo. Vide At 21.40; 26.1.

19. Inquirição (άνακρίνας). V ide nota sobre Lc 23.14; e compare com At 4.9.

Justiçar (άπαχθήναι). Literalmente, leva r embora, isto é, executar. Uma ex­


pressão técnica, como a palavra do latim, ducere. Compare com Mt 27.31.

Ficou (ôiéxpipev). Originalmente, a p a g a r ou consumir, portanto, sobre tempo,


ga sta r, perder.

80. Irritado (θυμομαχών). Originalmente, lu ta r desesperadam ente, mas, como não


há nenhum registro de uma guerra de Herodes contra os tírios e os sidônios,
a palavra deve ser interpretada no sentido d a ahc . Somente aqui no texto do
Novo Testamento.

Camarista (xòv 4πι τού κοιτώνος). Literalmente, aquele responsável p e lo quarto


d e dorm ir.

81. D esignado (τακτή). Indicado. Somente aqui no texto do Novo Testamen­


to. Não se sabe ao certo qual era a festividade. De acordo com alguns, era em
414
A tos - C ap . 12

honra ao retorno do imperador da Bretanha em segurança. Outros pensam


que era uma celebração pelo aniversário de Cláudio; outros, ainda, que era
a festa de Quinquennalia, observada em honra a Augusto, e que datava da
tomada de Alexandria, quando o mês sextilis recebeu o nome do imperador
- agosto.

Vestindo (ένδυσάμ^νος). Mais literalmente, tendo se vestido.

Vestes reais. Josefo diz que ele vestia um manto inteiramente feito de prata.

Trono. Vide nota sobre At 7.5.0 assento elevado, ou trono, como um camarote
no teatro, designado para o rei, de onde ele podia ver os jogos ou se dirigir ao
público.

E lhes dirigiu a palavra (έδημηγόρβ.). Somente aqui no texto do Novo


Testamento. A palavra é usada especialmente com respeito a um discurso popular
(δήμος, o povo).

Em Jerusalém Agripa agia como judeu, com modo de andar solene e fisionomia
trágica, em meio à aclamação geral; mas em Cesareia ele permitia que a parte
mais genial do grego lhe fosse imposta. Era uma festa nesta capital helênica, de­
pois de um discurso que ele havia dirigido ao povo, em que eles gritaram “Voz de
Deus, e não de homem”38.

22. O povo (δήμος). O povo reunido.

Um deus. Como a maior parte da assembléia era constituída de pagãos, a pa­


lavra não se refere ao Ser Supremo, mas deve ser interpretada no sentido pagão
- um deus.

23. Feriu-o o anjo do Senhor. Um interessante paralelo é fornecido pela histó­


ria de Alp Arslan, um príncipe turco do século XI.

O príncipe turco, ao morrer, deixou uma última admoestação à soberba dos reis.
“Na minha mocidade”, disse Ale Arslan, "eu fui aconselhado, por um sábio, a me
humilhar diante de Deus; a não confiar na minha própria força; e nunca desprezar
nem mesmo o mais desprezível inimigo. Eu negligenciei esses ensinamentos, e a
minha negligência foi merecidamente punida. Ontem, como de um alto posto, eu
contemplei o número, a disciplina e o espírito dos meus exércitos; a terra pareceu
tremer debaixo de meus pés, e eu disse em meu coração, certamente és o rei do
mundo, o maior, mais excelente e mais invencível dos guerreiros. Esses exércitos

38. Merivale, History o f the Romans under the Empire.


415
A tos - C ap. 1θ

não me pertencem mais; e, na confiança de minha força pessoal, agora caio, pela
mão de um assassino"39.

Comido de bichos (σκωληκόβρωτος). Somente aqui no texto do Novo Tes­


tamento. Sobre Feretima, a rainha de Cirene, famosa por sua crueldade, diz
Heródoto:

Nem a própria Feretima terminou os seus dias com felicidade. Pois ao retornar
ao Egito, vinda da Líbia, imediatamente depois de se vingar do povo de Barca,
sofreu uma morte horrenda. O seu corpo se inchou, por vermes, que comeram a
sua carne enquanto ela ainda estava viva40.

O termo, aplicado à doença no corpo humano, não aparece em nenhum dos


autores médicos cujas obras ainda existem. Todavia, Theophrastus a usa a res­
peito de uma enfermidade em plantas. A palavra σκώληζ é usada por autores
médicos, com respeito a vermes intestinais. Compare com o relato da morte de
Antíoco Epifânio, o grande perseguidor dos judeus. “De modo que os vermes
surgiram no corpo deste homem ímpio, e enquanto ele vivia em sofrimento e dor,
a sua carne desapareceu, e a repugnância do seu odor era abominável a todo o
seu exército” (âMc 9.9). Também se diz que Sila, o ditador romano, sofreu uma
doença similar.

Expirou. V id e nota sobre At 5.5.

C a pítu lo i s

1. Profetas. V id e nota sobre Lc 7.26.

Lúcio, cireneu. Foram feitos esforços para identificá-lo com Lucas, o evan­
gelista; mas o nome L u c a s é uma abreviatura de L u c a n u s , e não de L ú c i o . Con­
tudo, é digno de nota o fato de que, de acordo com Heródoto41, os médicos de
Cirene tinham a reputação de serem os segundos melhores da Grécia, sendo os
de Crotona os melhores; e que Galeno, o médico, diz que Lúcio era, em sua opi­
nião, um médico de boa reputação em Tarso, da Cilicia. Com base nisto, alguns
conjecturam que Lucas nasceu e foi instruído em medicina em Cirene, e deixara
esse lugar para ir a Tarso, onde conheceu Paulo e, talvez, ali tenha se convertido
através de sua pregação42. Mas, além da questão da forma do nome (cf. acima), a
menção ao nome do evangelista aqui não está de acordo com a sua prática usu-

39. Gibbon, Decline and Fali.


40. Heródoto, iv., 205.
41. Id., iii., 131.
42. Howard Crosby, The New Testament, Old and New Version.

416
Atos - C ap. 13

al, uma vez que ele não menciona o seu próprio nome em nenhuma passagem,
seja no Evangelho ou no livro de Atos; e se esta passagem fosse uma exceção,
deveriamos esperar encontrar o seu nome em último lugar, na lista das pessoas
dignas de Antioquia. Dos cinco aqui mencionados, sabe-se que quatro são judeus:
e, portanto, provavelmente Lúcio também era um judeu de Cirene, lugar em que
havia grande número de judeus. Lucas, o evangelista, ao contrário, era um gen­
tio. Nada se pode deduzir ao certo com base em Rm 16.21, onde Lúcio é citado
por Paulo, entre os seus parentes. Se o significado de συγγ€ν€ΐς, parentes, nesta
passagem, é, como afirmam alguns, compatriota, isto provaria que Lúcio era ju­
deu, mas a palavra é comumente usada com respeito a parentes, dentro do Novo
Testamento. Em Rm 9.3, Paulo aplica esta palavra a seus compatriotas, “meus
irmãos, meus parentes segundo a carne, que são israelitas”.

Que fora criado com (σύντροφος). Alguns traduzem como irmão adotivo
ou colaço como encontramos na t b ; outros, camarada. A palavra tem os dois
significados. A bj e a ecp traduzem como: companheiro de infância.

2. Servindo (λ€ΐτουργούντων). Vide substantivo correlato ministério, Lc 1.23.


Com o passar do tempo, este substantivo teve os seguintes significados: 1. Um
serviço civil, especialmente no linguajar técnico do Direito de Atenas. 2. Uma
função ou oficio de qualquer tipo, como dos órgãos do corpo. 3. Ministério sacerdo­
tal, tanto entre os judeus como entre os pagãos (cf. Hb 8.6; 9.21). 4. Os serviços
eucarísticos. 5. Formas definidaspara a adoração divina*3. Aqui, sobre o desempenho
da adoração cristã. Dessa palavra deriva a nossa liturgia.

Apartai. O texto grego acrescenta δή, agora, um termo que não é traduzido
pela arc nem pela maioria das versões brasileiras, mas confere precisão e ênfase
à ordem, indicando que isto tem um propósito especial e deve ser obedecido ime­
diatamente. Compare com Lc 2.15; At 15.36; lCo 6.20.

4. Navegaram. A respeito do emprego, por Lucas, de palavras para navegar, vide


Introdução.

5. Sinagogas. O plural indica que os judeus eram numerosos em Salamina. De


acordo com Josefo, Augusto deu a Herodes, o Grande, de presente, a metade
da produção das minas de cobre de Chipre, de modo que numerosas famílias
judias puderam se instalar na ilha. No período do reinado de Trajano, houve
por parte dos judeus uma insurreição e toda a ilha caiu em suas mãos, e esta se
tornou um ponto central para a revolta. Dizem que duzentas e quarenta mil
pessoas, da população nativa, foram sacrificadas pela fúria dos insurgentes.

43. Lightfoot, On Philippians, ii., 17.


417
A tos —C ap. 13

Aplacada a rebelião, os judeus foram proibidos, sob pena de morte, de colocar


os pés na ilha.

Cooperador (ύπηρέτηυ). Melhor, como na rv , em lugar de a u xiliar. Vide nota


sobre Mt 5.25.

6. M ágico (μάγου). O fato de que o homem era um impostor nos é informado


pela palavra seguinte, mas não nesta expressão. A palavra também é usada sobre
os m agos que vieram ao berço do Salvador. Vide Mt 2.1,7,16. Elimas era um m á ­
gico, ou encantador, do tipo que é descrito como um f a ls o p r o f eta. V ide nota sobre
Mt 2.1.

Barjesus. Filho de Jesus ou Josué.

7. O procônsul (άυθυπάτψ). V ide Introdução ao Evangelho de Lucas, sobre a exa­


tidão de Lucas ao designar cargos públicos.

Sérgio Paulo. Di Cesnola narra uma descoberta em Soli, que, depois de Sala-
mina, era a cidade mais importante na ilha; trata-se de uma rocha (ou laje) com
uma inscrição em grego, que continha o nome de Paulo, o procônsul.

Prudente (συυετφ). Melhor, como na b p e t e b , homem inteligente. A n t l h traz,


homem m uito inteligente, enquanto a n v i , homem culto. Vide nota sobre Mt 1 1 .2 5 .

8. Elimas. Uma palavra árabe, que significa o sábio, e é equivalente a M ago. Vide
nota sobre v. 6.

Resistia. Farrar declara que “a posição de profeta ou adivinho para um pro­


cônsul romano, embora pudesse apenas durar um ano, era lucrativa demais e
distinta demais para que alguém a abandonasse sem travar uma luta”44.

9. Saulo - Paulo. A primeira ocorrência do nome de Paulo se dá no livro de


Atos. A partir deste ponto, ele é chamado constantemente por esse nome, exceto
quando há uma referência ao período anterior de sua vida. Várias explicações
foram apresentadas para a mudança de nome. A mais satisfatória parece ser o
fato de que era costumeiro que os judeus gregos tivessem dois nomes, um deles
hebreu e o outro grego ou em latim. Assim, João também era chamado Marcos-,
Simeão, N ig e r, Barsabás, Justo. À medida que Paulo aparece proeminentemente
como o apóstolo dos gentios, Lucas agora preserva o seu nome gentio, como ha­
via preservado o seu nome judeu, durante o seu ministério entre os judeus. A co­
nexão do nome de Paulo com o do procônsul me parece ser puramente acidental.
Era muito improvável que Paulo assumisse o nome de outro homem, convertido

44. Farrar, Life and Work of Paul.


418
Atos - Cap. 13
pela sua utilidade e serventia, por respeito a ele ou como um lembrete da sua
conversão. Farrar observa, com razão, que nisto teria havido um “elemento de
vulgaridade impossível para o apóstolo Paulo”.

Fixando os olhos nele. V ide nota sobre Lc 4.20.

10. Malícia (ραδιουργίας). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Origi­


nalmente, f a c ilid a d e ao agir, portanto, prontidão em fazer qualquer coisa, boa ou
má; e assim im prudência, f a l t a d e escrúpulos, perversidade. Uma palavra correlata
(ραδιούργημα, grosseria, bru talidade) aparece em At 18.14.

Retos caminhos. Ou diretos, possivelmente com alusão aos caminhos tortuosos


de Elimas.

11. Escuridão (άχλύς). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A palavra


é usada por autores médicos como um nome para uma doença dos olhos. A men­
ção aos estágios sucessivos, primeiro uma escuridão, e a seguir trevas completas, é
característica do médico. Gloag diz que "o primeiro milagre que Paulo realizou
foi a imposição de uma punição; e essa punição foi a mesma que lhe sobreveio,
quando estava a caminho de Damasco”.

12. Maravilhado (εκπλησσόμενος). V ide nota sobre M t 7.28.

IS. Partindo (άναχθεντες). V ide nota sobre Lc 8.22.

Paulo e os que estavam com ele (ol περί τον Παύλον). Literalmente, os
que estavam ao redor de P aulo. Em autores posteriores, a expressão é usada para
indicar apenas a pessoa principal, como em Jo 11.19, ido a consolar a M a r ta e a
M a ria ; onde o texto em grego diz, literalmente, id o a consolar as mulheres ao redor
d e M a r ia e M a rta . Paulo aparece como a pessoa principal, e não Barnabé.

15. Consolação. V ide nota sobre At 9.31.

16. Pedindo silêncio com a mão. V ide nota sobre At 12.17.

Varões israelitas. Vide nota sobre At 3.12.

17. Povo (λαού). Restrita, no livro de Atos, ao povo de Israel.

18. Suportou os seus costumes (έτροποφόρησεν). De τρόπος, m odo ou maneira,


e φορεω, tolerar ou suportar. Todavia, a leitura preferível é ετροφοφόρησεν; de
τροφός, um a ama; e a imagem é explicada por Dt 1.31, e provavelmente foi obtida
dessa passagem. Os revisores norteamericanos insistem, apropriadamente, na
tradução, como um p a i ele os suportou.
419
A tos —C ap. 13

19. Deu-lhes por sorte (κατεκληρονόμησεν). A arc fornece a tradução literal. A


TB, deu-Uies esta terra por herança, está correta, no que diz respeito ao significado
herança (cf. nota sobre lPe 1.4), mas não tem o sentido de distribuição que a pa­
lavra contém.

24. Antes da vinda dele (προ προσώπου τής εΙσόδου αύτοΰ). Literalmente, antes
que o vissem chegar. Uma forma hebraica de falar.

25. Pensais vós (υπονοείτε). Originalmente, pensar secretamente, consequente­


mente, suspeitar, conjeturar.

26. A vós. Os melhores textos trazem a nós.

33. Cumpriu (εκπεπλήρωκε). Cumpriu completamente, força de εκ, de maneira com­


pleta.

34. As fiéis bênçãos (τα óma τα πιστά). Literalmente, as coisas santas, certas. Na
TB, santas efirmes coisas prometidas, e a ecp , as coisas sagradas prometidas.

35. Permitirás (δώσεις). Literalmente, darás.

36. Foi posto junto a (προσετεθη). Literalmente, foi adicionado a. Compare com
At 2.47; 5.14.

41. Desaparecei (άφανίσθητε). Literalmente, deixai de existir.

Contar (εκδιηγήται). Somente aqui e em At 15.3. Vide nota sobre conta, Lc


8.39. A palavra é uma forte expressão da declaração mais completa e clara: de­
clarar completamente.

42. Seguinte (μεταξύ). Normalmente, o termo quer dizer intermediário, e por


isto é explicado, por alguns, como referindo-se à semana intermediária. Mas o
significado é determinado pelo versículo 44; e embora a palavra não apareça em
nenhuma outra passagem do Novo Testamento, com o sentido de seguinte, assu­
me esse significado, algumas vezes, no grego mais recente.

43. Prosélitos (προσήλυτων). Originalmente, um prosélito é alguém que chega a


um lugar; um estranha, posteriormente, alguém que vem de outra fé.

Religiosos (σεβόμενων). Literalmente, adoradores. Compare com v. 50 e At 16.14.

45. Inveja (ζήλου). Na teb , furor. Vide nota sobre T g 3.14.

46. Rejeitais (άπωθεισθε). Não tem força suficiente. Melhor, lançaisfora, indican­
do violenta rejeição.
420
Atos - C a p. 14

Eis que (ιδού). Indicando uma c r is e .

50. Honestas (^ύσχήμονας). V id e n o ta sobre Mc 15.43. Mulheres de c la s s e , ou,


com o na rv, de c o n d iç ã o h o n o r á v e l .

Limites (ορίων). Não é uma boa tradução, porque sugere meramente uma c o s ­
ta m a r í t i m a , ao passo que a palavra é um termo genérico para l i m i t e s , f r o n t e i r a s .

51. Sacudindo. V id e nota sobre Mt 10.14.

Pó. V id e nota sobre Lc 10.11.

C a pítu lo 14

3. M uito tempo (ικανόν). V id e nota sobre Lc 7.6.

Detiveram-se. V id e nota sobre At 12.19.

Do Senhor. Literalmente, no (éiú) Senhor: c o n fia n d o nele.

5. M otim (όρμή). Não houve um ataque real. É, na verdade, o p r o p ó s i t o e a i n t e n ­


ç ã o de um ataque que começava a assumir uma característica de um m o v i m e n t o . A

n v i traduz por c o n s p ir a ç ã o , enquanto a b j traz c o n j u r a ç ã o . V i d e nota sobre Tg 3.4.

Apedrejarem. Paulo diz que foi apedrejado um a vez (2Co 11.25). Isto aconte­
ceu em Listra (cf. v. 19).

6. Sabendo-o (συνιδόντες). V id e nota sobre c o n s id e r a n d o , At 12.12.

7. Pregavam o evangelho (ήσαν euavyeAiCopevoi). O verbo finito com o particí-


pio, indicando c o n t i n u i d a d e . Prolongaram a sua pregação durante algum tempo.

8. Leso (αδύνατος). O significado quase que universal da palavra dentro do Novo


Testamento é i m p o s s í v e l (cf. Mt 19.26; Hb 6.4 etc.). O sentido def r a c o ou le s o apa­
rece apenas aqui e em Rin 15.1.

9. Ouviu (ήκου6). A força do imperfeito deve ser incluída aqui. Ele e s ta v a o u v in d o

enquanto Paulo pregava.

10. D ireito (ορθός). Somente aqui e em Hb 12.13. Compare com e n d ire ito u , Lc
13.13, e v i d e nota sobre essa passagem.

Saltou (ηλατο). Melhor, S a l t o u p a r a o a lto . Perceba o tempo aoristo, indicando


um ú n i c o ato, ao passo que o imperfeito, andou, indica ação c o n t í n u a .

11. Em língua licaônica. Os apóstolos estiveram conversando com eles em gre­


go. O fato de que o povo agora falava em sua língua natal explica por que Paulo
421
A tos - C ap. 14

e B arnabé não interferiram, até que viram os preparativos para o sacrifício. Eles
não entenderam o que as pessoas diziam sobre o seu caráter divino. Era natural
que a surpresa dos de Listra se expressasse em sua própria língua, e não em uma
língua estrangeira.

Semelhantes aos homens (òpotcoGévteç άνθρωποις). Literalmente, t e n d o s e


Um remanescente da antiga crença pagã de que
t o r n a d o s e m e lh a n te s a o s h o m e n s .

os deuses visitavam a terra em forma humana. Homero, por exemplo, está cheio
de incidentes deste tipo. Assim, quando Ulisses atraca em sua praia nativa, Palas
o encontra,

£...] na forma
De um jovem pastor, delicadamente formado,
Como o são os filhos dos reis. Uma capa pousa
Sobre o seu ombro, em ricas dobras; os seus pés
Brilham em suas sandálias; em suas mãos ele traz
Uma lança15.

Novamente, alguém censura um litigante, por maltratar Ulisses:

Q...] Louco! E se ele


Descesse do céu e fosse um deus! Os deuses
Assumem a forma de pessoas estranhas, distantes,
E andam em nossas cidades, em muitas formas diferentes,
Para assinalar as obras dos homens, boas e más·1®.

12. Chamavam Júpiter a Barnabé, e Mercúrio, a Paulo. Os nomes gregos


dessas divindades eram Z e u s e H e r m e s . Como o arauto dos deuses, Mercúrio é
o deus da habilidade no uso da fala e da eloquência, mas de modo geral, pois os
arautos são os oradores públicos nas assembléias e em outras ocasiões. Por isso,
ele é enviado para transmitir mensagens onde é necessária a persuasão ou a ar­
gumentação, como a Calypso, para assegurar a libertação de Ulisses de Ogygia47;
e a Priam, para adverti-lo do perigo e escoltá-lo até a armada grega48. Horácio
se refere a ele como o neto “eloquente” de Atlas, que astutamente formou, pela
oratória, os modos selvagens de uma raça primitiva49. Por isso, as línguas de
animais sacrificados lhe eram oferecidas. Como o deus da fala pronta e habili-

45. H o m e r o , Odisséia, x iii., 2 2 1 -2 2 5 .


46. Ib id ., x v ii., 4 8 5 ss.
47. Ib id ., i., 84.
48. H o m e r o , Ilíada, x xiv., 3 9 0 .
49. Odes, i., 10.

422
A to s — C a p. 14

dosa, o seu ofício naturalmente se estendia às negociações comerciais. Ele era o


deus da prudência e da habilidade em todas as relações sociais, e o patrono do
negócio e do ganho. Uma associação comercial em Roma foi estabelecida sob a
sua proteção. E como, pela sua natureza, o comércio tem propensão a degenerar
em fraude, também ele aparece como o deus da bandidagem, exibindo esperteza,
fraude e perjúrio50.

Ele representa, por assim dizer, o lado utilitário da mente humana... Na limitação de
suas faculdades e poderes, no baixo padrão de seus costumes morais, na abundante ati­
vidade de seus apetites, na sua indiferença, na sua tranquilidade, na sua boa natureza,
na sua exibição plena do que a teologia cristã chamaria de conformidade com o mun­
do, ele é, tão estritamente como admite a natureza do caso, um produto da invenção
do homem. Ele é o deus das relações na terra51.

O que falava (ò ηγούμενος του λόγου). Literalmente, o l í d e r n o d i s c u r s o . Barnabé


foi chamado J ú p i t e r , possivelmente porque a sua aparência pessoal era mais im­
ponente do que a de Paulo (cf. 2 C0 10.1,10), e também porque Júpiter e Mercúrio
eram normalmente representados como companheiros em suas visitas à terra"*.

13. De Júpiter (του Διός). A rigor, o Júpiter, a divindade protetora de Listra.


E desnecessário acrescentar t e m p l o , como na rv O próprio deus era considerado
presente em seu templo.

A porta (πυλώνας). Não se sabe ao certo qual porta é mencionada. Dizem al­
guns, as p o r t a s d a c id a d e , outros, as p o r t a s d o te m p lo - , e outros, as p o r t a s d a c a s a em
que estavam residindo Paulo e Barnabé. V i d e nota sobre At 12.13.

14. Saltaram (είσεπήδησαν). O verbo significa s a l t a r o u p u l a r . Os melhores tex­


tos trazem έξεπήδησαν, a t i r a r a m - s e , provavelmente da porta de sua casa, ou da
porta da cidade, se o sacrifício estivesse preparado diante dela.

Clamando (κρά(οντες). Gritos inarticulados, para atrair atenção.

15. As mesmas paixões (ομοιοπαθείς). Somente aqui e em T g 5.17 (cf. nota so­
bre esta passagem). Melhor, d e n a t u r e z a s e m e lh a n t e .

Convertais (έπιστρέφειν). Compare com lTs 1.9, onde é usado o mesmo


verbo.

16. Tempos (γενεαΐς). Mais c o r re ta m e n te , g e ra ç õ e s , com o na bp.

5 0 . Vide H in o d e H o m e r o a H e r m e s , e H o rá c io , Odes, B. i., O d e x.; Ilíada, v., 890; x xiv., 24.


51. G la d s to n e , H om er and the H om eric Age.
5 2 . C o m o , p o r e x e m p lo , n a b e la h is tó r ia d e B a u c is e F ile m o m , r e la ta d a p o r O v íd io ( Metamorphoses ,
viii., 6 2 6 -7 2 4 ).

423
A tos —C ap. 14

17. Chuvas. Júpiter era o senhor do ar. Ele distribuía o trovão e o relâmpago, a
chuva e o granizo, os rios e as tempestades. “Todos os tipos de sinais e portentos,
tudo o que aparece no ar, pertencem, primariamente, a ele, como o sinal genial
do arco-íris”53. A menção à chuva é apropriada, uma vez que a água era escassa
em Licaônia.

Mantimento. Mercúrio, sendo o deus do comércio, era também quem repartia


o alimento.

Não é possível ler as palavras sem perceber, uma vez mais, a sua sutil e inimitável
coincidência com os pensamentos e as expressões (de Paulo). A conclusão rítmica não
está em desacordo com o estilo de seus mais elevados estados de espírito. E além do
apelo apropriado aos dons naturais de Deus, em uma cidade não situada de maneira
feliz, mas cercada por uma planície sem água ou árvores, podemos, naturalmente,
supor que “encher de mantimento e de alegria o nosso coração” foi algo sugerido
pelas guirlandas e pela pompa festiva que acompanhava os touros dos quais o povo,
posteriormente, faria o seu banquete51.

Com respeito às coincidências entre este discurso e outros discursos de Paulo,


compare v. 15 com lTs 1.9; v. 16 com Rm 3.25; At 17.30; v. 17 com Rm 1.19-20.

19. Apedrejaram. V id e nota sobre v. 5.

20. Para Derbe. Uma jornada de apenas algumas poucas horas.

21. Feito muitos discípulos (μαθητεύσαντες). V id e nota sobre Mt 13.52.

M uitos. V id e nota sobre Lc 7.6.

22. Confirmando. V id e nota sobre c o n f i r m a r á , lPe 5.10.

23. Eleito (χεψοτοι/ησαντες). Somente aqui e em 2Co 8.19. Na bv, mais correta­
mente, n o m e a d o . A bj e a teb trazem d e s i g n a r a m , enquanto a bp lê, n o m e a v a m . O
significado e l e i t o é posterior. V i d e nota sobre At 10.41.

Anciãos (πρεσβυτερους). Para a superintendência geral da igreja. A palavra


é sinônima de επίσκοποι, s u p e r v i s o r e s o u b i s p o s ( cf. nota sobre v i s i t a ç ã o , lPe 2.12,
a ra ). O s que são chamados de a n c iã o s , com respeito às comunidades de judeus,

são chamados de b is p o s , com respeito a comunidade de gentios. Portanto, o termo


mais recente predomina nas epístolas de Paulo.

53. Gladstone, Homer and the Homeric Age.


54. Farrar, Life and Work of Paul

424
A tos - C a p. 15

Encomendaram (παρεθεντο). Vide ηota sobre por diante, Lc 9.16; e encomendar,


lPe 4.19.

27. Por eles (μετ’ αύτών). Em conexão com eles; em auxílio a eles.

E como (και ότι). Melhor, que a palavra e tem uma força inclusiva e particula-
rizadora: “e em particular, acima de tudo .

Capítulo 15

1. Ensinavam. Na realidade, o imperfeito, estavam ensinando. Eles não se limita­


vam a mencionar o erro, mas o estavam inculcando.

Uso (εθει). Melhor, costume, como na nvi e bp . A tb traz rito, enquanto a


bj norma.

2. Questão (ζητήματος). Encontrada apenas no livro de Atos, e sempre com re­


lação a uma questão em disputa.

3. Sendo acompanhados (προπεμφθεντες). Literalmente, tendo sido enviados sob


escolta, como um sinal de honra.

Anunciaram. Vide nota sobre At 13.41. Nas várias cidades pelas quais passa­
ram, em seu caminho.

4. Foram recebidos (άπεδέχθησαν). A palavra sugere uma acolhida cordial, a qual


eles não estavam completamente seguros de receber.

5. Alguns se levantaram. Na assembléia.

Seita. Vide nota sobre heresias, 2Pe 2.1.

7. A palavra do evangelho (τον λόγον του ευαγγελίου). Esta expressão não apa­
rece em nenhuma outra passagem, e ευαγγελίου, evangelho, é encontrada apenas
em mais uma passagem no livro de Atos (20.24).

8. Que conhece os corações (καρδιογνώστης). Aparece apenas aqui e em


At 1.24.

10. Podemos (Ισχύσαμεν). Vide nota sobre Lc 14.30; 16.8.

12. Escutava. O imperfeito (ήκουον) indica atenção a uma narrativa contínua.

Contavam (εξηγούμενων). Melhor, repetiam. A nvi lê falando e a bj narrando.


Vide nota sobre Lc 24.35.
425
Atos - C ap . 15

Quão grandes sinais etc. Literalmente, q u a n to s (δσα).

13. Tiago. V id e I n t r o d u ç ã o às Epístolas Gerais.

18. Conhecidas etc. Os melhores textos unem estas palavras ao versículo an­
terior, do qual omitem to d a s ·, traduzindo, O S e n h o r , q u e f a z e s t a s c o is a s c o n h e c id a s
d e sd e to d a a e te rn id a d e .

19. Perturbar (τταρ^νοχλεΐν). Somente aqui no texto do Novo Testamento. V id e

nota sobre a t o r m e n t a d o s , Lc 6.18.

20. Escrever (Ιπιστείλαι). Originalmente, e n v i a r a como uma mensagem; conse­


quentemente, por c a r t a . O substantivo correlato, επιστολή, de onde se origina a
nossa palavra e p í s t o l a , significa, originalmente, a l g u m a c o is a e n v i a d a p o r u m m e n ­
s a g e i r o . C a r t a é um significado secundário.

Contaminações (άλισγημάτων). Uma palavra não encontrada no grego clás­


sico, e apenas aqui no texto do Novo Testamento. O verbo correlato, άλισγεΐν,
c o n t a m i n a r , aparece na lxx , em Dn 1.8; Ml 1.7, e nas duas ocasiões, com o sentido

de contaminar pelo alimento. Aqui, o termo é definido por c o is a s s a c r i f i c a d a s a o s


í d o l o s (v. 29); a carne dos sacrifícios aos ídolos, dos quais o que não fosse consu­

mido pelos adoradores nas festas nos templos, ou entregue aos sacerdotes, era
vendido nos mercados e comido em casa. V i d e lCo 10.25-28; e Êx 34.15.

Prostituição. Em seu sentido literal. Meyer declara que

a associação de prostituição com três coisas, indiferentes em si mesmas, deve ser expli­
cada a partir da corrupção moral do paganismo da época, segundo a qual a prostitui­
ção, considerada com indulgência por muito tempo, e sempre com benevolência, ou
melhor, praticada sem nenhuma vergonha, até mesmo por filósofos, e rodeada pelos
poetas com todos os adornos da lascívia, tinha se tornado, para a opinião pública, uma
coisa realmente indiferente.

V id e Dollinger".

Sufocado. A carne de animais mortos em armadilhas, e cujo sangue não havia


sido derramado, era proibida aos israelitas.

23. Saúde (χαίρεα*). A forma grega usual de saudação. Esta palavra não aparece
em nenhuma outra passagem, na saudação de uma epístola do Novo Testamento,
exceto na epístola de Tiago (1. l). V i d e nota nessa passagem. Ela aparece na carta
de Cláudio Lísias (At 23.26).

5 5 . D o llin g e r , The Gentile and the Jew , ii., <237ss.

426
A tos - C ap. 15

24. Transtornaram (άνασκαιάζοντίς). Somente aqui no texto do Novo Testa­


mento, e não encontrada nem na lxx nem nos textos apócrifos. Originalmente,
a palavra significa empacotar bagagens, e, portanto, levar embora-, consequente­
mente, desmantelar ou privar. Assim Tucídides'56 narra que Brasidas capturou
Lecythus, e então a derrubou e desmantelou (άηασκευάσας). Disto deriva o signi­
ficado mais genérico, de devastar, ou destruir. A ideia aqui é a de virar de cabeça
para baixo as mentes dos convertidos gentios; jogá-los em confusão, como uma
casa desmantelada.

Não lhes tendo nós dado mandamento (ôieoieLlápeBa). O termo signi­


fica, originalmente, separar, portanto, distinguir, e assim, com respeito a um
mandamento ou ordem, distingui-lo e enfatizá-lo. Portanto, indicando ordens
expressas, sempre usado desta maneira dentro do Novo Testamento, onde é
traduzido, de maneira quase que uniforme, como ordem. A ideia aqui é, então,
“não lhes demos nenhuma ordem expressa sobre os pontos que esses judaizan-
tes suscitaram.”

25. Barnabé e Paulo. Aqui, como no versículo 12, Barnabé é citado em primei­
ro lugar, de modo contrário ao costume de Lucas, desde At 13.9. Barnabé era o
mais velho, e mais conhecido, e na igreja de Jerusalém o seu nome precedería
naturalmente o de Paulo. O uso da saudação grega, e esta ordem nos nomes, são
duas coincidências não intencionais, que atestam a autenticidade deste primeiro
documento que nos foi preservado, dos Atos da igreja primitiva.

29. Sangue. Porque no sangue estava a vida do animal, e era o sangue que era
consagrado para fazer a expiação. Vide Gn 9.6; Lv 17.10-14; Dt 12.23-24. Os
gentios não tinham nenhum escrúpulo quanto a comer sangue; ao contrário,
para eles, o sangue era uma iguaria especial. Assim diz Homero:

No fogo,
já e stã o o s v e n tr e s d e d o is b odes,
sen d o p rep arad os para a n o ssa refeição da n o ite , e am b os
estã o c h e io s d e g o rd u ra e san gu e. Q u em m o stra r q u e é
o m e lh o r h o m em n e sta d isp u ta
e co n q u ista , tom ará d e ss e s v e n tr e s aq u ilo q u e
e le e sc o lh e r 57.

Os pagãos estavam acostumados a beber sangue, misturado com vinho, em


seus sacrifícios.

56. Tucídides, iv., 116.


57. Homero, Odisséia, xviii, 44 aq.

427
A tos - C a p. 16

Bem vos vá (ερρωσθε). Literalmente, sejaforte, como a palavra do latim, valete.


Compare com o final da carta de Cláudio Lísias a Festo (At 23.30).

31. Exortação. Vide nota sobre At 9.31.

32. Muitas palavras. Ou, literalmente, muito discursa, acrescentando a consola­


ção falada à escrita.

Exortaram. Ou consolaram. Vide nota sobre v. 31. A última é a que melhor está
de acordo com exortação ali.

Confirmaram. Videnota sobre At 14.22.

36. Tomemos a visitar (έπιστρέψαντες δή έπι,σκεψώμεθα). Literalmente, Tendo


retornado, vamos agora visitar. A arc omite agora (δή), todavia, a tb traduz corre­
tamente.· Voltemos agora (δή) para visitar. Vide nota sobre At 13.2.

Por todas as cidades (κατά πάσαν πόλιν). Κατά tem a força de cidade por
cidade.

38. Aquele (τούτον). Literalmente, aquele homem. Isto o marca de maneira muito
intensa, e é uma posição enfática no final da sentença.

Apartado (άποστάντα). Na t b deixado e na bp abandonado. A palavra grega


fornece a derivação de nosso termo apostatar.

39. Tal contenda houve (éyéveio παροξυσμός). Mais corretamente, surgiu uma
grave contenda. Somente aqui e em Hb 10.24. A nossa palavra paroxismo é uma
transcrição de παροξυσμός. Uma disputa acirrada é indicada.

Bamabé. A última menção feita a ele no livro de Atos.

40. Encomendado. O que não foi o caso com Barnabé, levando à dedução de que
a igreja de Antioquia tomou o lado de Paulo na disputa.

C a pítulo 16

3. Chegou (έξελθεΐν). A palavra é usada com o sentido de partir como um missio­


nário em Lc 9.6; 3Jo 7.

5. Eram confirmadas (εστερεοϋντο). Ou melhor, eram fortalecidas. Outro termo é


usado em lugar de confirmadas. Vide At 14.22; 15.32,41; 18.23. Além disso, existe
uma diferença entre ser fortalecido e confirmado. Vide lPe 5.10.

6. Ásia. Vide nota sobre At 2.9.

428
A tos - C a p. 16

8. Tendo passado por Mísia. Não evitando, uma vez que eles não poderíam che­
gar a Trôade sem passar por Mísia, mas omitindo-a como um lugar de pregação.

Desceram. Das montanhas à costa.

10. Procuramos. Observe a introdução, pela primeira vez, da primeira pessoa,


indicando a presença do autor com Paulo.

Concluindo (συμβιβάζοντες). Vide nota sobre provando, At 9.22.

11. Fomos correndo em caminho direito (^ύθυδρομήσαμεν). Literalmente.


Uma expressão náutica para navegar com vento afavor.

12. Primeira (πρώτη). Alguns explicam, a primeira cidade à qual chegaram, na


Macedonia.

Uma colônia (κολωιήα). As cidades romanas eram de dois tipos: municipia, ou


cidades livres, e colônias. A distinção, no entanto, não era mantida rigidamente, de
modo que, em alguns casos, encontramos a mesma cidade com os dois nomes.
Os dois nomes não envolviam nenhuma diferença de direitos ou privilégios. A
diferença histórica entre uma colônia e uma cidade livre é que as cidades livres
eram formadas de fora para dentro, ao passo que as colônias eram formadas de
dentro para fora.

A s cidades m unicipais igualaram , in conscientem ente, a classe e o esplen d or das colônias; e


no reinado de Adriano, havia d iscu ssões sobre qual seria a condição preferível, a d as socie­
dades que haviam su rgid o do seio d e Rom a, ou as que haviam sido recebidas n e le 5'.

A colônia foi usada com três propósitos diferentes no curso da história ro­
mana: como um posto fortificado em uma nação conquistada; como um meio de
cuidar dos pobres de Roma; e como um assentamento para veteranos que ha­
viam cumprido o seu tempo de serviço. E com a terceira classe, estabelecida por
Augusto, que estamos relacionados aqui. Os romanos dividiam a humanidade
em cidadãos e estrangeiros. Um habitante da Itália era um cidadão; um habitante
de qualquer outra parte do império era um peregrinas, ou estrangeiro. A política
colonial aboliu esta distinção, no que dizia respeito aos privilégios. A ideia de
uma colônia era o fato de que havia outra Roma transferida para o solo de outra
nação. No seu estabelecimento de colônias, Augusto, em alguns casos, expulsou
os habitantes que havia ali antes, e fundou cidades inteiramente novas, com seus
colonos; em outras situações, ele simplesmente adicionou os seus colonos à po­
pulação já existente na cidade, que então recebia a classe e o título de colônia. Em

5 8 . G ib b o n , D e c lin e a n d F a li.

429
A to s - C a p. 16

alguns casos, um lugar recebia esse título, sem receber nenhum novo cidadão.
As duas classes de cidadãos tinham os mesmos privilégios, sendo os principais a
isenção do açoitamento, a liberdade da prisão, exceto em casos extremos, e, em
todos os casos, o direito de apelar do magistrado ao imperador. Os nomes dos
colonos ainda eram incluídos em uma das tribos romanas. O viajante ouvia o
idioma latim, e era receptivo à lei romana. A cunhagem da cidade tinha inscri­
ções em latim. Os assuntos da colônia eram regulamentados pelos seus próprios
magistrados, chamados Duumviri, que se orgulhavam por se chamar pelo título
romano de pretores (cf. nota sobre v. 20).

13. Fora das portas. A kjv segue a leitura εξω τής πόλεως, e traduz: fora da ci­
dade (cp. a r a e n v i ). Porém, os melhores textos trazem πύλης, das portas. A t e b
traz aporta.

Rio. Provavelmente, o Gangas ou Gangites.

Onde julgávamos haver um lugar para oração (ου ένομίζομεν προσευχήν


eivai). E o que trazem os melhores textos, em lugar de ενομίζετο προσευχή, onde
costumeiramente sefaziam orações. O número de judeus em Filipos era pequeno,
uma vez que era uma cidade militar, e não mercantil; consequentemente, não ha­
via nenhuma sinagoga, mas apenas uma proseucha, ou um lugar para oração, uma
ligeira estrutura, e frequentemente a céu aberto. Ela se situava fora das portas,
pelo isolamento, e perto de água corrente, por causa das abluções conectadas
com a adoração.

14. Lídia. Um adjetivo, uma mulher lídia; mas como Lídia era um nome comum
entre os gregos e romanos, ela pode não ter trazido esse nome, necessariamente,
da nação em que nasceu.

Vendedora de púrpura. Sobre púrpura, videnota sobre Lc 16.19.

Tiatira. O distrito de Lídia e a cidade de Tiatira, em particular, eram famosos


pelas tinturas de cor púrpura. Diz Homero:

C om o q u an d o a lgu m a dam a cária ou m eon ian a


T in g e co m púrpura o b ran co m arfim ,
Para form ar um a arm adilha para as faces d o s a la z õ e s5".

Uma inscrição encontrada nas ruínas de Tiatira diz respeito à associação de


pessoas que trabalhavam com tinturas.

59. Homero, Ilíada, iv, 141. Cária era a província vizinha à Lídia, ao sul; Meonia, o nome antigo
da Lídia.

430
A tos - C a p. 16

Ouvia (ήκουεν). Imperfeito, estava ouvindo enquanto pregávamos.

15. Constrangeu (παρεβι,άσατο). Somente aqui e em Lc 24.29 (cf. nota sobre essa
passagem). O constrangimento era por ardente gratidão.

16. Jovem. Vide nota sobre At 12.13.

Espírito de adivinhação (πνεύμα Πύθωνα). Literalmente, um espírito, uma


Píton. A Píton, na mitologia grega, era a serpente que guardava Delfos. Segun­
do a lenda, narrada no hino de Homero, Apoio desceu do Olimpo para escolher
um lugar para o seu santuário e oráculo. Tendo se fixado em um local no lado
sul do Monte Parnasso, ele encontrou o local protegido por uma gigantesca
e assustadora serpente, à qual ele feriu com uma flecha, e permitiu que o seu
corpo apodrecesse (πυθεΐν) ao sol. Daí, o nome da serpente ser Píton (apodrecer).
Tanto Pytho, o nome do local, quanto Pythiano, se aplicavam a Apoio. O nome
Python foi usado posteriormente para indicar um demônio profético, e também foi
usado com respeito a adivinhos que praticavam ventriloquismo, ou que falavam do
ventre. O termo εγγαστρίμυθος, ventríloquo, aparece na lxx , e é traduzido como
adivinhador (cí. Lv 19.31; 20.6,27; lSm 28.7-8). Os habitantes pagãos de Filipos
consideravam a mulher inspirada por Apoio; e Lucas, ao registrar este caso, que
aconteceu sob a sua própria observação, usa a palavra que naturalmente ocorre­
ría a um médico grego, um espírito de adivinhação, espírito de Píton, apresentando
fenômenos idênticos aos movimentos convulsivos e gritos selvagens das sacer­
dotisas Pythianas, ou pitonisas, em Delphi.

Adivinhando (μαντευομενη). Similar a μαίνομαι, enfurecer-se, em uma alusão à


loucura temporária que se apossava da sacerdotisa ou sibila, quando sob a influ­
ência do deus. Compare com a descrição que Virgílio faz da Sibila Cumana:

E com a palavra q u e ela proferiu


D o lad o de d en tro da p orta, su b ita m en te a sua aparência e a sua cor
S e m od ificaram , co m seu cab elo liso e sua respiração ofegan te,
e com a fúria, seu coração se in ch ou , e ela pareceu crescer,
com voz não m ortal; p ois o sop ro do deu s veio sob re o seu coração
quan d o e le se aproximou™1.

18. Perturbado (διαπονηθείς). Não tem força suficiente. Ou melhor, desgastado.


Ao mesmo tempo, entristecido, pela infeliz condição da mulher, e profundamente
aborrecido e indignado pelas contínuas demonstrações do mau espírito que a
possuía. Compare com At 4.2.

60. V irg ílio , Eneida, vi., 46’ss.

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A t o s — C a p. 16

19. Perdida (έξήλθ^ν); partiu, tendo em si o espírito maligno.

20. Magistrados (στρατηγοις). O seu nome usual era d u u m v i r i , respondendo aos


cônsules de Roma; mas eles se orgulhavam de se chamar στρατηγοί, ou p r e t o r e s ,
considerando-o um título mais honroso. Esta é a única passagem no livro de
Atos onde Lucas aplica a palavra aos governantes de uma cidade. V i d e I n t r o d u ç ã o
ao Evangelho de Lucas.

Judeus. Que, nesta época, estavam em meio a uma desgraça especial, tendo
sido recentemente banidos de Roma por Cláudio (cf. At 18.2). Os filipenses não
parecem ter reconhecido a distinção entre cristãos e judeus.

21. Visto que somos romanos. Os romanos concediam absoluta tolerância às


nações conquistadas, para que seguissem os seus próprios costumes religiosos, e
tomavam os deuses dessas nações sob sua proteção. Oto, Domiciano, Cômodo, e
Caracala foram zelosos partidários da adoração de ísis; Serápis e Cibele tiveram a
condescendência de Roma; e durante o reinado de Nero, o diletante religioso em
Roma fingiu-se influenciado pelo judaísmo, e professou honrar o nome de Moisés e
os livros sagrados. Popeia, a esposa de Nero, era a protetora do judaísmo; e Sêneca
disse, “A fé judaica agora é recebida em todos os lados. Os conquistados deram leis
aos conquistadores”. Por outro lado, havia leis que proibiam a introdução de divin­
dades estranhas entre os próprios romanos. Em 186 a.C., quando foram tomadas
medidas rigorosas pelo governo para a repressão de bacanais e orgias em Roma,
um dos cônsules, dirigindo-se a uma assembléia do povo, disse:

Q u ã o fr e q u e n te m e n te , n a é p o c a d e n o s s o s p a is, o s m a g is tr a d o s tiv e r a m q u e p r o i­
b ir a r e a liz a ç ã o d e q u a is q u e r r it o s r e lig io s o s e s t r a n g e ir o s ; b a n ir a sa íd a d e p e s s o ­
a s q u e o fe r e c e s s e m s a c r ifíc io s e ta m b é m a d iv in h o s d o fó r u m , d o c ir c o e da cid ad e;
p r o c u r a r e q u e im a r liv r o s s o b r e a d iv in h a ç ã o ; e a b o lir to d o m o d o d e sa c r ifíc io q u e
n ã o e s t iv e s s e e m c o n fo r m id a d e c o m o c o s t u m e r o m a n o * 1.

Era contrário às leis rígidas romanas que os judeus propagassem suas opini­
ões entre os romanos, embora pudessem fazer prosélitos de outras nações.

22. Rasgando-lhes as vestes (π^ριρρήξαντ^ς). Somente aqui no texto do Novo


Testamento. Pela fórmula usual, de ordem aos litores: V ã o , l i t o r e s ; d i s p a m - n o s d e
s u a s v e ste s-, q u e s e j a m a ç o i t a d o s !

Açoitá-los com varas (ραβδίζειν). De ράβδος, uma v a ra . A arc adiciona, apro­


priadamente, c o m v a r a s .

61. Lívio, xxxix.,16.

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A t o s - C a p . 16

28. Prisão. V ide nota sobre At 5.21.

24. O cárcere interior. Alguns supuseram que esta seria a prisão in fe rio r, con­
fundidos pelos restos da prisão Mamertina, em Roma, na descida do Capito-
lino, e perto do Arco de Sétimo Severo. Esta prisão consiste de duas câmaras,
uma sobre a outra, escavadas na rocha sólida. No centro da câmara inferior há
uma abertura circular, pela qual se supõe que os prisioneiros eram lançados na
masmorra. Escavações modernas, no entanto, mostraram que estas duas câma­
ras estavam conectadas com uma série de grandes câmaras, agora separadas da
prisão de Pedro por uma alameda. A abertura para a passagem que conduzia
a essas câmaras foi descoberta na masmorra inferior. Debaixo desta passagem
corria um dreno, que formava uma ramificação da Cloaca Máxima, ou o sistema
principal de esgoto. Seis destas câmaras foram descobertas, evidentemente como
ambientes de uma grande prisão, no tempo dos reis romanos. O Sr. John Henry
Parker, de cuja detalhada obra sobre as fortificações primitivas de Roma foram
obtidas essas informações, acredita que a prisão de Pedro, que agora é visitada
por turistas, formava o vestíbulo e a sala de guardas da grande prisão. Era cos­
tumeiro que houvesse um vestíbulo, ou uma casa de guardas, à pequena distância
da prisão principal. Desta maneira, o Sr. Parker distingue a prisão in te r io r deste
vestíbulo. A descrição apresentada pelo Rev. John Henry Newman, está de acor­
do com isto:

A p risã o d o e sta d o e sta v a situ a d a n o m e s m o p la n o d e to d o o im p ério rom an o, ou


m elh or, p o d e m o s d izer, d e to d o o m u n d o a n tig o . E la esta v a c o n e c ta d a a o s ed ifício s
do g o v e r n o , e c o n sistia de du as p artes. A p rim eira era o vestíbulo, ou p risã o exterior,
à qual se ch e g a v a d e sd e o p retó rio , e q u e esta v a cerca d a p o r c e la s q u e s e abriam para
ela. O s p r is io n e ir o s q u e esta v a m c o n fin a d o s n e sta s c e la s tin h a m o b e n e fíc io d o ar
e da lu z q u e o v e stíb u lo ad m itia. D o v estíb u lo , h avia u m a p a ssa g e m para a p risão
interior, ch am ad a Robur ou Lignum, p e la s v ig a s de m ad eira q u e eram o in str u m e n to
de c o n fin a m e n to , ou p ela c a r a c te r ístic a do seu piso. E la n ã o tin h a n en h u m a jan ela
ou ab ertu ra, e x c e to e sta p o rta , q u e, q u an d o fech ad a, d eix a v a d o lad o de fora tod a a
lu z e o ar. E s te a m b ie n te era o lu g a r o n d e P au lo e S ila s foram la n ça d o s em F ilip o s. A
esc u r id ã o to ta l, o ca lo r e o fo rte o d o r d e ste lu g a r m iserá v el, em q u e o s p r isio n e ir o s
ficavam co n fin a d o s dia e n o ite , são fr e q u e n te m e n te m e n c io n a d o s p e lo s m á rtires e
seu s b iógrafos" 2.

Tronco (ξύλον). Literalmente, a m a d e ira . Um instrumento de tortura com cin­


co orifícios, quatro para os pulsos e os tornozelos, e um para o pescoço. A mesma
palavra é usada para se referir à C r u z , At 5.30; 10.39; G1 3.13; lPe 2.24.

62. J o h n H e n r y N e w m a n , Callista.

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A t o s - C a p . 16

25. Oravam e cantavam hinos (προσευχόμενοι ϋμνουν). Literalmente, orando,


cantavam hinos. A oração e o louvor não são descritos como atos distintos. Os
hinos que cantavam eram suas orações, provavelmente Salmos.

27. Quis matar-se (’έμελλαν άναιρειν). Mais corretamente, estava prestes a matar-
se. Sabendo que deveria receber a morte pela fuga dos seus prisioneiros.

29. Uma luz (φώτα). Mais corretamente, luzes. Na ep : tochas. Várias luminárias,
para ver de todos os lados.

Saltou dentro. Vide nota sobre saltaram para o meio, At 14.14.

33. Tomando (παραλαβών). A rigor, “tomando-os consigo (παρά)”: para levá-los


a outra parte da prisão.

Lavou-lhes os vergões (ελουσεν άπό των πληγών). Literalmente, “lavou-os de


(από) seus vergões”. O verbo λούε lv expressa o banhar At todo o corpo (Hb 10.23;
At 9.37; 2Pe 2.22); ao passo que νίπτείν significa, normalmente, o lavar de uma
parte do corpo (Mt 6.17; Mc 7.3; Jo 13.5). O carcereiro os banhou-, limpando-os do
sangue com que foram borrifados, pelos açoites.

34. Levando (άναγαγών). Literalmente, “conduzindo para cima (άνά)”. A sua


casa parece ter estado acima do átrio da prisão em que eles estavam. Vide nota
sobre tomando, v. 33.

Crença (πεπιστευκώς). Mais corretamente, tendo a crença-, identificando a razão


para a sua alegria: “naquilo que ele cria”.

35. Quadrilheiros (ραβδούχους). Literalmente, os que seguravam a vara. Os lictores


de Roma. Eram os auxiliares dos magistrados de Roma.

O, trom b etas, so e m um a n o ta d e guerra!


O, licto res, lim p em o cam inho!
O s ca valeiros cavalgarão co m to d o o seu o rg u lh o ,
P elas ruas, até h oje63.

Eles precediam os magistrados, um por um, em uma fila. E tinham que infligir
punição ao condenado, especialmente aos cidadãos romanos. Eles também or­
denavam que o povo prestasse o devido respeito a um magistrado que passasse,
descobrindo a cabeça, desmontando do cavalo e colocando-se em pé à beira do
caminho. O símbolo de seu cargo era ofasces, um machado preso em um conjunto
de varas; mas nas colônias, eles carregavam varas.

6'S. Macaulay, Lays o f Ancient Rome.

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A t o s - C a p . 17

Aqueles homens. Desprezíveis.

37. Açoitaram-nos publicamente, e, sem sermos condenados, sendo homens


romanos. Hackett observa que “quase todas as palavras nesta resposta contêm
uma alegação distinta. Seria difícil encontrar ou formar uma sentença superior
a ela, em termos de brevidade energética”. Cícero, em sua oração contra Verres,
narra que houve um cidadão romano açoitado em Messina; e que, em meio ao ru­
ído das varas, nada se ouviu dele, exceto as palavras “eu sou um cidadão romano”.
Ele diz: “É realmente uma obra terrível prender um cidadão romano; é um crime
açoitá-lo; é praticamente parricídio condená-lo à morte”.

40. Saindo. Observe que aqui Lucas retoma a terceira pessoa, indicando que ele
não os acompanhou.

C a p ít u l o 17

3. Expondo e demonstrando. A segunda palavra é, na realidade, propondo, ou


apresentando (παρατιθέμενος). Vide nota sobre pôr diante, Lc 9.16; e encomendar,
lPe 4 .19. Bengel observa, “Dois passos, como se fossem um, tendo rompido a
casca, deviam revelar e exibir o núcleo”.

4. Ajuntaram-se com (προσεκληρώθησαν). Somente aqui no texto do Novo Tes­


tamento. De modo literal, “foram adicionados a ou distribuídos em.

Mulheres distintas. A posição das mulheres na Macedonia parece ter sido


excepcional. O preconceito popular e o veredicto da sabedoria grega, em sua
melhor época, afirmavam a sua inferioridade natural. A lei ateniense determi­
nava que tudo o que um homem pudesse fazer, pelo conselho ou pedido de uma
mulher, deveria ser legalmente anulado. A mulher era apenas pouco melhor que
um escravo. Educá-la era anunciá-la como uma prostituta. As suas companhias
eram, principalmente, as crianças e os escravos. Na Macedonia, no entanto, fo­
ram erigidos monumentos a mulheres por órgãos públicos; e em inscrições ma-
cedônias são encontrados registros de nomes próprios masculinos, formados
pelo nome da mãe, e não o do pai. As mulheres macedônias tinham permissão
de ter propriedades, e eram tratadas como donas de suas casas. Esses fatos são
confirmados pelo relato dos trabalhos de Paulo na Macedonia. Em Tessalônica,
Bereia e Filipos, observamos a inclusão de mulheres de classe na igreja; e a sua
proeminência nas questões eclesiásticas é indicada pelo apelo especial de Paulo a
duas mulheres na igreja de Filipos, para conciliar as suas diferenças, que haviam
provocado distúrbios entre os crentes, e pelo elogio que ele faz a elas, aos seus
colegas, como mulheres que haviam trabalhado com ele, no Senhor (Fp 4.2-3).
435
Atos — C a p. 17

5. Dentre os vadios (αγοραίων). De αγορά, ο m ercado; portanto ociosos no m er­


cado; a ralé. Cícero os chama de su b ro stra n i, os que ficam em volta da rostra, ou
plataforma para oradores no fórum; e Plautus, su b b a silica n i, os vadios em volta do
tr ib u n a l ou do á tr io d e câm bio. A palavra aparece apenas aqui e em At 19.38; v id e
nota sobre esta última passagem.

Ajuntando o povo (όχλοποιήσαντ€ς). Melhor, u m a m u ltid ã o . Somente aqui no


texto d o Novo Testamento. A t b traduz por tu rb a .

6. M agistrados da cidade (πολιτάρχας). Outro exemplo da exatidão de Lucas.


Observe que os magistrados são chamados por um nome diferente dos de Fili-
pos. Tessalônica não era uma colôn ia, mas uma c id a d e liv r e (cf. nota sobre colônia,
A t 16.12), e tinha seus próprios governantes, cujos títulos, de igual maneira,
não seguiam os dos magistrados romanos. A palavra aparece somente aqui e no
versículo 8, e foi encontrada em uma inscrição de um arco em Tessalônica, onde
são mencionados os nomes dos sete p o lita rc o s. Antiquários acreditam que o arco
existia nos tempos de Paulo.

7. Contra os decretos de César. A acusação em Filipos era a introdução de


novos costumes; mas como Tessalônica não era uma colônia, esta acusação não
podia ter força ali. A nova acusação é a de traição ao imperador; a mesma da qual
Jesus foi acusado perante Pilatos.

A le i d e tra içã o , p e la q u a l o s a n tig o s le g is la d o r e s da r e p ú b lic a h a v ia m p r o c u r a d o


p r o te g e r a lib e r d a d e p o p u la r d a s in t r u s õ e s da tira n ia ... aca b o u , g r a d u a lm e n te ,
c o n c e n tr a d a a p e n a s n o im p era d o r, a ú n ic a p e r s o n ific a ç ã o d o p o v o so b e r a n o . A
d e fin iç ã o d o c r im e , p r o p r ia m e n te d ito , e r a fr o u x a e e lá s tic a , c o m o o z e lo d e um a
re p ú b lic a lib e r tin a , o u d e u m u s u r p a d o r d e s p ó t ic o 04.

9. Satisfação (το ικανόν). V id e nota sobre Lc 7 . 6 . F ia n ç a , seja pessoal, ou


através de um depósito em dinheiro. Um termo de direito. Eles exigiram que
a paz pública não fosse violada, e que os autores dos distúrbios deixassem a
cidade.

11. Examinando. Ou in v e stig a ra m . V id e nota sobre Lc 23.14.

12. Mulheres da classe nobre. V id e nota sobre v. 4, e também sobre Mc 15.43.

15. Os que acompanhavam (καθιστώντες). Literalmente, tr a z ia m a té o local. Ob­


serve a palavra diferente empregada, At 15.3 (cf. nota sobre essa passagem).

64. Merivale, History o f the Romans under the Empire.

436
Atos - C a p. 17

16. Se comovia (παρωξύν^το). Melhor, era provocado. Vide nota sobre a palavra
correlata, contenda (παροξυσμός), At 15.39. Na t b revoltava-se, enquanto na bj,
inflamava-se.

Vendo (θ^ωροϋντι). Melhor, contemplando. Vide nota sobre Lc 10.18.

Tão entregue à idolatria (κατ6ίδωλον). Tradução inadequada. A palavra sig­


nifica cheio de ídolos. Não aparece em nenhum texto do grego clássico, e somente
aqui no texto do Novo Testamento. O termo se aplica à cidade, e não aos habitantes.

P lín io nos informa que, na época de N ero, A tenas continha m ais de três mil estátuas públi­
cas, além de um núm ero incontável de im agens m enores, no interior d e casas particulares.
D e ste núm ero, a gran d e m aioria eram estátuas de deuses, sem ideuses ou heróis. E m uma
rua, havia, diante d e cada casa, um a coluna quadrada, que sustentava um b usto do deus
H erm es. O utra rua, chamada d e Rua dos T rípodes, era m argeada por trípodes, dedicados
a vencedores dos jo g o s nacionais g reg o s, e ostentando, cada um a delas, uma inscrição a
uma divindade. Cada porta e cada pórtico tinha o seu deus protetor. Cada rua, cada praça,
ou melhor, cada can to da cidade tinha o s seus santuários, e um poeta rom ano n otou amar­
gam ente que era mais fácil encontrar d euses em A tenas do que h om en s65.

18. Epicureus. Discípulos de Epicuro, e ateus. Eles reconheciam Deus em pa­


lavras, mas negavam a sua providência e superintendência sobre o mundo. De
acordo com eles, a alma era material e era aniquilada na morte. O prazer era o
seu bem principal; e a despeito de qualquer sentido maior que o seu fundador
possa ter tentado conectar à sua doutrina, os seus seguidores, nos dias do após­
tolo, se dedicavam à sensualidade flagrante.

Estoicos. Panteístas. Deus era a alma do mundo, ou o mundo era Deus. Tudo
era governado pelo destino, ao qual o próprio Deus estava sujeito. Eles negavam
a imortalidade universal e perpétua da alma; alguns supõem que ela era engolida
pela divindade; outros, que ela sobrevivia apenas até a conflagração final; outros,
ainda, que a imortalidade estava restrita aos sábios e bons. A virtude era a sua
própria recompensa, e a maldade, a sua própria punição. O prazer não era bem, e a
dor não era mal. O nome estoico era derivado de stoa, um pórtico. Zeno, o fundador
da seita dos estoicos, tinha a sua escola em Stoa Poecile, ou pórtico pintado, assim
chamado porque era adornado com pinturas feitas pelos melhores mestres.

Paroleiro (σπερμολόγος). Literalmente, apanhador de sementes, um pássaro que


apanha sementes nas ruas e mercados; portanto, alguém que recebe e transmite
fragmentos de notícias. Trench cita um paralelo de Shakespeare:

65. G. S. D avies, St. Paul in Greece.


437
A tos - C a p . 17

E ste su jeito apanha co n h e c im e n to co m o o s p o rco s apanham ervilhas,


e o rep ete q uando Jove a ssim o quer.
E le é um ven d ed or de co n h ecim en to , e reven d e as suas m ercadorias
em v elórios, e orgias, en co n tro s, m ercad os, feiras66.

Pregador (καταγγελευς). Vide nota sobre anunciar, v. 23. Compare com lPe 4.4,12.

Estranhos. Estrangeiros.

19. Areópago. A colina de Marte: a sede do antigo e venerável tribunal de Ate­


nas, que decidia as mais solenes questões relacionadas à religião. Sócrates foi
processado e condenado ali, pela acusação de inovar a religião do estado. O Are­
ópago recebeu esse nome pela lenda do julgamento de Marte pelo assassinato do
filho de Netuno. Os juizes se sentavam ao ar livre, sobre assentos escavados na
rocha, em cima de uma plataforma à qual se chegava por um lance de degraus de
pedra que saíam diretamente do mercado. Um templo de Marte estava situado
diante do edifício, e o santuário das Fúrias estava em uma fenda da rocha, imedia­
tamente abaixo dos assentos dos juizes. A Acrópole se erguia acima dele, com o
Partenon e a colossal estátua de Atenas. Assim relatam Conybeare e Howson:

Era um a cena com q u e as ter r ív e is lem b ran ças d e sé c u lo s estavam associad as. O s que
fu giam ao A reó p a g o v in d o s da A g o r a , de certa form a, en travam na p resen ça de um
p od er maior. N en h u m lu g a r e m A te n a s era tão adeq u ad o para um serm ã o sob re os
m isté r io s da relig iã o 6'.

80. Estranhas (ξενίζοντα). Um particípio: surpreendentes. Compare com lPe 4.4,12.

21. Todos os atenienses. Sem artigo. Literalmente, “atenienses, todos eles”. O


povo de Atenas, coletivamente.

Estrangeiros residentes (οί έπιδημοΰντες ξένοι.). Na tb, mais corretamente,


os estrangeiros que ali moravam. Vide nota sobre 1Pe 1. l .

Se ocupavam (εύκαίρουν). A palavra significa ter uma boa oportunidade, ter


descanso , também, dedicar o seu tempo a alguma coisa-, passar o tempo. Compare com
Mc 6.31; lCo 16.12.

Alguma novidade (τι καινότεροι1). Literalmente, mais novo: mais novo do que
aquilo que era considerado novo. A forma comparativa era usada regularmente
pelos gregos, na pergunta qual novidade? Eles contrastavam o que era novo com

66. Shakespeare, Love’s Labor’s Lost, v., 2 apud T rench, Authorized Version of the Xeu· Testament.
67. Para descrições mais detalhadas, vide Lewin, IJfe and Epistles o f St. Paulo; D avies, St. Paul in
Greece, Sm ith, “A th en s”, in: Dictionary o f Greek and Roman Geography.

438
Atos - C ap. 17

o que havia sido novo, até o momento da pergunta. A expressão caracteriza vivi-
damente a condição da mente do ateniense. Bengel diz, apropriadamente: “Novas
coisas imediatamente se tornam sem importância; coisas mais novas estão sendo
buscadas”. Os seus próprios oradores e poetas a fustigavam pela sua peculiarida­
de. Aristófanes descreve Atenas como a c id a d e d o s q u e b o c e ja m 1i8. Demades disse
que o cume de Atenas devia ser uma grande língua. Demóstenes lhes pergunta:
“Esse é todo o seu interesse, ir de um lado a outro no mercado, perguntando uns
aos outros ‘Há alguma novidade?’” Nas palavras de Cleon aos atenienses, citadas
por Tucídides, ele diz:

Nenhum homem deveria ser tão ingênuo a ponto de ser enganado com a maior ra­
pidez possível por noções modernas, ou lento demais para seguir os conselhos apro­
vados. Vocês desprezam o que é familiar, enquanto adoram cada nova extravagância.
Vocês estão sempre desejando um estado ideal, mas não dedicam as suas mentes nem
mesmo ao que está diante de si. Em uma palavra, vocês estão à mercê de seus próprios
ouvidos”9.

22. Vejo (θεωρώ). Eu vos c o n s id e r o , na cuidadosa observação que faço de vós. V id e

nota sobre Lc 10.18.

Um tanto supersticiosos (δε ισ ιδα ιμονεστέρους). Tradução inadequada. A tb


traduz corretamente: t e m e n t e s a o s d e u s e s , enquanto a nvi lê, r e l i g i o s o s . A palavra se
compõe de δείδω, t e m e r , e δαίμων, u m a d i v i n d a d e . Ela significa um sentimento r e l i ­
g i o s o ou s u p e r s t i c io s o conforme o contexto. Seria improvável que Paulo começasse o

seu sermão com uma acusação que teria despertado a ira de seus ouvintes. O que
ele quer dizer é, V o c ê s s ã o m a i s t e m e n t e s d e d i v i n d a d e s q u e o s d e m a i s g r e g o s . Esta pro­
pensão a reverenciar os poderes mais elevados é uma boa coisa em si mesma, mas,
como ele lhes mostra, é mal dirigida, não é devidamente consciente de seu objeto e
objetivo. Paulo se propõe a orientar o sentimento corretamente, revelando aquele a
quem eles, de um modo ignorante, adoravam. Os revisores americanos insistem na
leitura, m u i t o r e l i g i o s o s . A palavra correlata (δεισιδαιμονία) aparece em At 25.19, e
com o sentido de r e l i g i ã o , embora traduzida como s u p e r s t i ç ã o na arc. Festo não de­
sejava chamar a religião judaica de superstição diante de Agripa, que era um judeu.
Há o testemunho do escrivão da cidade de Éfeso, de que Paulo, durante os três anos
da sua residência na região, não atacou rudemente e grosseiramente a adoração da
deusa Diana. "Nem blasfemam da vossa deusa” (At 19.37).

23. Passando eu (διερχόμενος). Mais corretamente, “passando p o r (διά)” vossa


cidade, ou vossas ruas.

68. Aristófanes, Knights, 1262.


69. T u c íd id e s , iii., 38.

439
Atos —C ap. 17

Achei (άναθ^ωρών). Somente aqui e em Hb 13.7. Um termo que considero


melhor: observei. O verbo composto indica uma consideração muito atenta (άνά,
para cima epüra baixo, completamente). A bj e a nvi leem: encontrei

Santuários (σββάσματα). O termo significa, literalmente, os objetos da sua ado­


ração —templos, altares, estátuas etc.

Um altar (βωμόν). Somente aqui no texto do Novo Testamento, e o único caso


em que um altar pagão é mencionado. Em todos os outros casos, é usada a pala­
vra θυσιαστήριον, significando um altar do Deus verdadeiro. Os tradutores da lxx
observam normalmente esta distinção, sendo, a este respeito, mais detalhistas e
particulares do que as próprias escrituras hebraicas, que, às vezes, usam alterna-
damente o termo para o altar pagão e para o altar de Deus. Vide, particularmente,
Js 22, onde o altar erigido pelas tribos da Transjordânia é chamado de βωμός,
como não sendo um verdadeiro altar de Deus (vv. 10-11,16,19,23,26,34); e o altar
legítimo, θυσιαστήριον (vv. 19,28-29).

Ao Deus desconhecido (άγνώστω 9eq>). Não consta artigo no texto grego,


daí a melhor tradução é a da ecp , a um Deus desconhecido. A origem destes altares,
que existiam em grande quantidade em Atenas, é motivo de conjecturas. As ob­
servações de Hackett a este respeito são sensatas, confirmadas pelas seguintes
palavras: “esse, pois” etc.

A explicação mais racional é inquestionavelmente a dos que supõem que esses


altares tiveram a sua origem no sentimento de incerteza, inerente, afinal, à men­
te dos pagãos, e dependia do seu reconhecimento dos poderes superiores ter sido
suficientemente pleno e abrangente. Também é im portante levarmos em consi­
deração a sua distinta consciência da limitação e da imperfeição de suas perspec­
tivas religiosas, e seu consequente desejo de evitar a ira de algum deus ainda não
reconhecido, que pudesse ser desconhecido deles. Para que nenhuma divindade
pudesse puni-los por negligenciar a sua adoração, ou permanecesse sem ser in­
vocada nas súplicas por bênçãos, eles não somente erigiram altares a todos os
deuses que conheciam, mas, receando que não compreendessem plenamente a
extensão de sua sujeição e dependência, erigiram altares também a qualquer
outro deus ou poder que pudesse existir, ainda que não lhes tivesse sido revela­
do... Sob estas circunstâncias, uma alusão do apóstolo a um desses altares seria
equivalente a dizer o seguinte aos atenienses: “Estais corretos ao reconhecerdes
uma existência divina além de qualquer outra que os ritos comuns de vossa
adoração reconheçam; existe tal Divindade. Estais corretos ao confessardes que
esse Ser é desconhecido por vós, e que não tendes justos conceitos a respeito de
sua natureza e perfeições”.

440
Atos - C ap. 17

Não conhecendo (άγνοοΰντ€ς). Ou melhor, i n c o n s c ie n t e m e n t e , s e m s a b ê - lo . Há


um tipo de jogo nas palavras d e s c o n h e c id o , n ã o c o n h e c e n d o . N ã o c o n h e c e n d o trans­
mite uma repreensão maior do que a tencionada por Paulo.

Anuncio (καταγγέλλω). Compare com καταγγ€λ€υς, p r e g a d o r , no versículo 18.


Aqui, novamente, há um jogo com as palavras. Paulo toma o nome deles, p r e g a d o ­
r e s , e o devolve a eles, como um verbo. “Dizeis que eu sou um p r e g a d o r de deuses

estranhos: agora eu vos a n u n c i o o Deus verdadeiro”.

24. Deus. Com o artigo: “o Deus”.

O mundo (τον κόσμον). Originalmente, o r d e m , e posteriormente a o r d e m d o


m u n d o - , o u n i v e r s o o r d e n a d o . Assim, no grego clássico. Na lxx , nunca o m u n d o , mas

o t o t a l o r d e n a d o d o s c o r p o s c e le ste s-, o e x é r c i t o d o s c é u s (Dt 4.19; 17.3; Is 24.21; 40.26).

Compare também com Pv 17.6, e v i d e nota sobre Tg 3.6. Nos livros apócrifos,
refere-se ao universo, e principalmente em sua relação com Deus, originada da
criação. Assim, o r e i d o m u n d o (2Mc 7.9); o c r i a d o r o u f u n d a d o r d o m u n d o (2Mc
7.23); o g r a n d e p o t e n t a d o d o m u n d o (2Mc 7.15). Dentro do Novo Testamento: (l)
No sentido clássico e físico, o u n i v e r s o (Jo 17.5; 21.25; Rm 1.20; Ef 1.4 etc.). (2)
Como a o r d e m d a s c o is a s d e q u e o h o m e m é o c e n t r o (Mt 13.38; Mc 16.15; Lc 9.25; Jo
16.21; Ef 2.12; lTm 6.7). (3) A h u m a n i d a d e c o m o s e m a n i f e s t a e p o r e s s a o r d e m (Mt
18.7; 2Pe 2.5; 3.6; Rm 3.19). A ocasião em que o pecado entrou e perturbou a or­
dem das coisas, e criou uma brecha entre a ordem celeste e a terrena, que são uma
só, no ideal divino —(4) A o r d e m d a s c o is a s q u e ê s e p a r a d a d e D e u s , c o m o m a n i f e s t a d a
n a r a ç a h u m a n a , e p o r e la : a humanidade como alienada de Deus, e agindo em opo­

sição a Ele (Jo Í.IO; 12.31; 15.18-19; lCo 1.21; iJo 2.15 etc.). A palavra é usada
aqui no sentido clássico da criação visível, que apelaria aos atenienses. Stanley,
falando sobre o nome pelo qual a Divindade é conhecida na era patriarcal, o plu­
ral ’el õ h i m , observa que Abraão, ao perceber que todos os ’‘ l õ h i m adorados pelos
numerosos clãs da sua raça significavam u m ú n i c o D e u s , antecipou a declaração de
Paulo nesta passagem70. A declaração de Paulo atinge a crença dos epicureus, de
que o mundo foi criado por “uma reunião de átomos, ao acaso”, e a dos estoicos,
que negavam a criação do mundo por Deus, sustentando que Deus animava o
mundo ou que o próprio mundo era Deus.

Feitos por mãos (χειροποιήτοι,ς). Provavelmente apontando para os templos


magníficos, acima dele, e ao seu redor. As epístolas de Paulo abundam em metá­
foras arquitetônicas. Aqui ele emprega as mesmas palavras que Estêvão, em seu
discurso ao Sinédrio, que provavelmente havia ouvido. V i d e At 7.48.

70. Stanley, Jewish Church, i., 25.

441
Atos - Cap. 17

25. É adorado (θεραπεύεται.). Prefiro a tradução da tb , ê s e r v i d o . Lucas usa a


palavra frequentemente com o sentido de c u r a r ou s a r a r , mas este é o seu sentido
primário. V i d e nota sobre Lc 5.15. A palavra se refere ao costume de vestir as
imagens dos deuses com vestes esplêndidas, e trazer-lhes presentes caros e ofer­
tas de comida e bebida.

Como que necessitando (προσδεόμενος). A rigor, “necessitado de alguma coi­


sa a l é m (πρός) do que já possui”.

26. Dantes ordenados (προτεταγμέηους). A t b , adequadamente, omite d a n t e s ,


acompanhando a leitura dos melhores textos, προστεταγμενους, d e s i g n a d o s .

Limites (οροθεσίας). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A palavra,


no singular, significa a d e t e r m i n a ç ã o de limites, e assim é transferida aos próprios
limites fixos.

27. O pudessem achar. V id e nota sobre to c a i, Lc 24.39. Compare com Tennyson:

Eu estendo mãos aleijadas de fé, e tateio


e ajunto pó e palha, e chamo
Aquele que eu sinto que é Senhor de tudo71.

28. Somos também sua geração. Uma linha de Arato, um poeta da província
do próprio Paulo, a Cilicia. O mesmo sentimento, quase com as mesmas pa­
lavras, aparece no belo hino de Cleantes a Jove. Daí, as palavras, “alguns dos
vossos poetas”.

29. A divindade (xò θεΐοη). Literalmente, a q u ilo q u e é d iv in o .

Semelhante ao ouro etc. Estas palavras devem ter causado uma impressão
profunda em seus ouvintes, quando olharam para a multidão de estátuas de di­
vindades que os rodeavam.

Esculpida (χαράγματι). Não um particípio, como na arc , mas um substantivo,


em aposição a o u r o , p r a t a , e p e d r a · , “uma obra de arte c re s c e n t e ou e s c u l p i d a ’ etc.

30. Não tendo em conta (ύπερίδώη). Somente aqui no texto do Novo Testa­
mento. Originalmente, i g n o r a r , n e g l i g e n c i a r , p e r m i t i r q u e p a s s e d e s p e r c e b id o . A tb
lê: D i s s i m u l a n d o , enquanto a bv, D e u s t o l e r o u .

32. Ressurreição. Esta palavra foi o sinal para uma explosão de zombaria da
multidão.

71. T e n n y s o n , In M emoriam, lv.

442
A tos - Cap. 18

Escarneciam (έχλεύαζορ). De χλεύη, u m a z o m b a r i a . Somente aqui no texto


do Novo Testamento, embora uma palavra composta, διαχλευάζω, e s c a r n e c e r ,
apareça, de acordo com os melhores textos, em At 2.13. A força do imperfeito,
c o m e ç a r a m a e s c a r n e c e r , deve ser expressa aqui, na tradução, como assinalando a

explosão da zombaria.
No notável sermão de Paulo, devemos observar: a sua prudência e o seu tato,
ao não ofender desnecessariamente os seus ouvintes; a sua cortesia e o seu espíri­
to de conciliação, ao reconhecer a piedade dos seus ouvintes com relação aos seus
deuses; a sua sabedoria e prontidão no uso da inscrição “ao Deus desconhecido”,
e ao citar os seus próprios poetas; a sua capacidade de encontrar os erros radicais
de cada tipo dos seus ouvintes, ao passo que ele parece se demorar apenas sobre
pontos de concordância; a sua visão sublime da natureza de Deus e o grande
princípio da unidade da raça humana; a sua ousadia ao proclamar Jesus e a res­
surreição entre aqueles para quem estas verdades eram tolices; a maravilhosa
concisão e condensação do todo, e o movimento do pensamento, rápido, mas
poderoso e assegurado.

34. Chegando. V id e nota sobre Lc 10.11; 15.15; At 5.13.

O areopagita. Um dos juizes do tribunal de Areópago. Sobre este tribunal,


Curtio observa:

Aqui, em lugar de um único juiz, um colégio de doze homens de integridade compro­


vada conduzia o julgamento. Se o acusado tivesse um número igual de votos em seu
favor e contra ele, seria absolvido. O tribunal da colina de Ares é uma das mais antigas
instituições de Atenas, e ninguém conseguiu para a cidade um reconhecimento ante­
rior ou mais amplamente disseminado. O código penal areopagita foi adotado como
norma por todos os legisladores posteriores72.

Capítulo 18

1. Achando.

Uma associação comercial judaica sempre se mantinha unida, seja na rua ou na si­
nagoga. Em Alexandria os diferentes ramos de comércio se sentavam na sinagoga,
arranjados conforme as suas associações; e o apóstolo Paulo não podería ter nenhuma
dificuldade em se encontrar, no seu ramo de atividades, com Aquila e Priscila, que
tinham idéias similares às suas73.

72. Curtio, History o f Greece, i., 3 0 7 .


73. E d e rs h e im , Jewish Social Life.

443
Atos - Cap. 18

2. Havia pouco (προσφάτως). Somente aqui no texto do Novo Testamento, embora


o adjetivo correlato, traduzido como novo, seja encontrado em Hb 10.20. A palavra
é derivada de φέι^ω, matar, e o adjetivo significa, originalmente, morto recentemente,

\ogp,fresco, novo, recente. Neste sentido, é muito comum em textos médicos.

3. Do mesmo ofício (ομότεχνον). Dizia um princípio rabínico que aquele que


não ensina um oficio a seu filho age como se o criasse para ser um ladrão. Todas
as autoridades rabínicas na época de Cristo e posterior estavam trabalhando em
algum oficio. Hilel, o professor de Paulo, era lenhador, e seu rival, Samai, era
carpinteiro. A respeito de um dos renomados rabinos, sabe-se que tinha o hábito
de discursar para seus alunos sobre um barril que ele mesmo havia fabricado, e
que ele carregava todos os dias à academia.

Fazer tendas (σκηνοττοιοί). Não os tecelões do tecido de pelo de cabras, de


que eram feitas as tendas, e que podiam ser encontrados facilmente em todas as
grandes cidades da costa leste do mar Mediterrâneo, mas fazedores de tendas
usadas por pastores e viajantes. Era um trabalho menosprezado e mal pago.

5. Impulsionado pela palavra. A kjv segue a leitura συνείχετο τω τινεύματι, e


traduz: compelido no espírito. Porém, em lugar de no espírito, os melhores textos
trazem λόγω, pela palavra. A respeito de impulsionar ou compelir, vide nota sobre
acometido, estar enfermo, Lc 4.38. O significado é: Paulofo i abarcado pela palavra.
Ele foi aliviado da ansiedade pela chegada de seus amigos, e estimulado a uma
atividade maior na obra da pregação da palavra.

6.Resistindo (αντιτασσόμενων). Sugere uma resistência organizada ou coordena­


da. Vide nota sobre resiste, lPe 5.5.

12 . Gálio. Irmão do filósofo Sêneca (o tutor de Nero) e tio do poeta Lucano, o


autor de Farsália. Sêneca o descreve como amistoso e muito amado.

Proconsul. Vide nota sobre At 13.7. O verbo da expressão sendo procônsul,


aparece apenas aqui.

Tribunal. Vide nota sobre At 7.5.

14. Crime (ραδιούργημα). Vide nota sobre malícia At 13.10. Na bp, ação perversa,
enquanto na ep, ação criminosa.

15. Questão. Os melhores textos trazem a forma plural, questões, como consta na
TB. Vide nota sobre At 15.2.

Juiz. No texto em grego, a posição desta palavra é enfática, no princípio da


sentença: "Juiz dessas coisas não quero ser”.
444
Atos —Cap. 18

17. Nada destas coisas o incomodava. Não é uma frase com o intuito de indicar
a sua indiferença quanto à religião, mas simplesmente informar que ele decidira
não interferir neste caso.

18. Despediu-se (άποταξάμενος). Vide nota sobre Lc 9.61; Mc 6.46.

Priscila e Áquila. Eles são mencionados na mesma ordem, Rm 16.3; 2Tm 4.19.

Tendo rapado a cabeça. Expressão aplicada com referência a Paulo, e não a


Áquila.

Tinha voto. Um voto particular, do tipo que era frequentemente assumido pe­
los judeus como resultado de alguma graça recebida ou de algum livramento de
algum perigo. Não o voto nazireu, embora similar em suas obrigações; pois, no
caso de tal voto, o corte do cabelo, que assinalava o fim do período de obrigação,
só poderia acontecer em Jerusalém.

21. Devo, de qualquer maneira, guardar esta festa que acontecerá em Jeru­
salém [Ael pe πάντως την έορτήν την έρχομένην ποιήσαι είς Ίφοσόλυμα]. Os
melhores textos omitem estas palavras.

24. Eloquente (λόγιος). Somente aqui no texto do Novo Testamento. O termo


é usado na literatura grega com vários sentidos. Como λόγος significa argu­
mentação ou discurso, de modo que esta palavra derivada pode significar alguém
que pensou muito e tem muito a dizer, ou alguém que tem a habilidade de
falar bem. Portanto é usada: (l) Com respeito a alguém versado em história.
Heródoto, por exemplo, afirma que os habitantes de Heliopolis eram os mais
versados em história (λογιώτατοι) de todos os egípcios. (2) Com respeito a uma
pessoa eloquente. Um epíteto de Hermes ou Mercúrio, como o deus do discurso
e da eloquência. (3) De modo geral, sobre uma pessoa instruída. Parece haver
poucas razões suficientes para alterar a tradução da a r c , especialmente pelo
fato de o conhecimento de Apoio acerca das Escrituras ser especificado com as
palavras poderoso nas Escrituras, e a sua eloquência excepcional parece ter sido
o motivo pelo qual alguns dos coríntios o preferiam, em lugar de Paulo. Vide
lCo 1.12; 2.4; 2Co 10.10.

25. Instruído. Vide nota sobre Lc 1.4.

Fervoroso (ζέων). Fervoroso, que é formada a partir do particípio da palavra


do latim ferveo, ferver ou fermentar, é uma tradução exata deste termo, que quer
dizer ferver ou borbulhar, e por isso é usado, em sentido figurado, com respeito a
estados mentais e emoções. Vide nota sobre fermento, Mt 13.33. A b p lê : cheio de
fervor, omitindo a palavra espírito-, enquanto a t e b diz espírito cheio defervor.
445
A t o s - C a p . 19

Diligentemente (ακριβώς). Ou melhor, primorosamente, com exatidão; na medida


de seu conhecimento. A limitação é indicada pelas palavras que se seguem: conhe­
cendo somente o batismo de João. Vide nota sobre Lc 1.3; e compare com o verbo cor­
relato, inquiriu exatamente, Mt 2.7, onde a t b traduz como indagou comprecisão.

26. Mais pontualmente (ακριβέστεροι;). O comparativo da mesma palavra. Com


mais exatidão.

27. Animaram (προτρεψάμενοι). Originalmente, virar, enviar, como em uma fuga.


Consequentemente, impelir ou incentivar. A palavra pode se aplicar aos discípulos de
Corinto, e neste caso a tradução deve ser como a da arc, ou ao próprio Apoio, como
na t b , animaram-no. Eu prefiro a primeira opção. Com muita sensatez, Hackett ob­
serva que Apoio não precisava de incentivo, uma vez que estava disposto a ir.

Aproveitou (συνεβάλετο). O sentido radical da palavra é preparar, portanto,


contribuir, auxiliar, ser útil para. A ara lê: auxiliou. Ele se lançou no trabalho jun­
tamente com eles. Sobre sentidos diferentes da palavra, vide notas sobre Lc 2 .1 9 ;
14.31 ; e compare com At 4 .1 5 ; 1 7 .1 8 ; 1 8 .2 7 ; 2 0 .1 4 .

Pela graça. Graça tem o artigo, a graça especial de Deus, distribuída. Os ex­
positores diferem quanto à conexão: alguns associam pela graça com os que criam,
insistindo na ordem das palavras no idioma grego; e outros, com aproveitou/
auxiliou, referindo-se à graça concedida a Apoio. Eu prefiro esta última opção,
principalmente pela razão apresentada por Meyer, de que “a intenção do texto é
caracterizar Apoio e a sua obra, e não os que criam.”

28. Com grande veemência (εύτόνως). Vide nota sobre Lc 23.10.

Convencia (διακατηλέγχετο). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


V i d e nota sobre repreende-o, M t 18.15. A palavra composta aqui é uma expressão

muito forte, que significa veemente repreensão. A tradução repreender é melhor


que convencer. Observe as preposições. Ele os repreendeu veementemente (διά),
contra (κατά) todos os seus argumentos. A t e b traz a leitura: aforça de seus argu­
mentos prevalecia.

Capítulo 19

1. Regiões superiores (τα άνωτερικά μέρη). Costas é uma tradução inadequada.


Melhor, como na rv, “as regiões superiores”, literalmente, partes ou distritos. A
referência é a distritos, como a Galácia e a Frigia, que estão mais alto na costa
marítima, e mais no interior do que Efeso. Por isso, a expedição de Ciro, a partir
da costa marítima em direção à Ásia central se chamou Anabasis, uma subida.
446
A t o s - C a p . 19

Alguns discípulos. Discípulos de João Batista, que, como Apoio, haviam sido
instruídos e batizados pelos seguidores de João Batista, e haviam se unido à comu­
nidade dos cristãos. Alguns acreditavam que os discípulos haviam sido instruídos
pelo próprio Apoio; mas não há evidências suficientes disto. Plumptre destaca:

A li esta v a m e le s, u m a com u n id ad e p eq u en a e d istin ta , de ap roxim ad am en te d o z e p es­


soas, q u e ainda se prep aravam , à m an eira d e Joâo B atista, para a vinda d o Senhor.
A lg u m a co isa ch am ou a aten ção d o a p ó sto lo , im ed ia ta m en te d ep o is da sua chegada.
A p a ren tem en te, lh e s faltavam a lg u n s d o s sin a is da vid a m ais elevad a q u e perm eava a
ig reja q u e esta v a nascen d o; e le s eram d ev o to s, r ig o r o so s, au steros, m as não tin h am a
a leg ria , o brilho e o en tu sia sm o q u e eram e v id e n te s em o u tr o s d isc íp u lo s7*.

2. Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? Os dois verbos estão


no tempo aoristo, e por isso indicam atos instantâneos. Não há dúvidas sobre
o que aconteceu depois que creram; mas a dúvida diz respeito ao que aconteceu
quando eles creram. Portanto, na arc lemos corretamente: Recebestes o Espírito
Santo quando crestes?

Nós nem ainda ouvimos. Também a forma aorista. Não ouvimos-, referindo-se
à ocasião em que começaram a crer.

Que haja Espírito Santo. Como observa Bengel: “Eles não poderíam ter segui­
do Moisés nem João Batista, sem ter ouvido sobre o Espírito Santo”. As palavras,
portanto, devem ser explicadas, não como se eles não tivessem o conhecimento da
existência do Espírito Santo, mas da sua presença e do seu batismo na terra. O vo­
cábulo «mu, haja, deve ser interpretado com o sentido de estarpresente, ou ser dado,
como em Jo 7.39, onde está escrito: “o Espírito Santo ainda nãofora dado (ουπω
ήν)”, e onde os tradutores, acertadamente, traduzem como, “ainda não fora dado.

3. Em que (elç τί). Mais corretamente, dentro de que. Vide nota em Mt 28.19.

João. A última menção a João Batista no Novo Testamento. Bengel diz: ‘Aqui,
por fim, ele deu lugar completamente a Cristo”.

10. Ásia. Vide nota sobre At 2.9.

11. Extraordinárias (ού τάς τυχούσας). Uma expressão peculiar. Literalmente,


não usuais ou comuns, como podería acontecer a alguém com frequência.

12. Corpo (χρωτος). A rigor, a superfície do corpo, a pele-, mas, em linguagem


médica, do corpo.

74. Plumptre, St. Paul in Asia Minor.

447
A tos —C ap . 19

Lenços (σουδάρια). Vide nota sobre Lc 19.20.

Aventais (σιμικίνθια). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Uma pa­


lavra do latim, semicinctia. Literalmente, alguma coisa que envolve o corpo na sua
metade, um avental ou faixa na cintura. Talvez as vestes usadas por Paulo, quando
atuava em seu ofício.

13. Ambulantes (πφιφχομίνων). Literalmente, viajantes. Na bp e teb, itinerantes.

Exorcistas (έξορκιστών). Somente aqui no texto do Novo Testamento. O ver­


bo correlato, conjurar, aparece em Mateus 26.63, e significa, originalmente, invo­
car umjuramento. Estes exorcistas judeus fingiam ter o poder de expulsar espíri­
tos malignos, por meio de artes mágicas alegadamente derivadas de Salomão.

14. Faziam (ττοιοϋντες). O particípio indica um costume.

15. Conheço - sei (γινώσκω - έπίσταμαι). Há um propósito no uso de duas


palavras diferentes para indicar o reconhecimento, por parte do Diabo, do
Mestre Divino e do agente humano, embora não seja fácil indicar a diferença
em uma tradução. É a diferença entre uma percepção instintiva ou um reco­
nhecimento de um poder supremo e o conhecimento mais íntimo e profundo de
um agente humano. Jesus estava investido de um poder divino, que o Diabo
podería sentir, ainda que não pudesse detê-lo. O seu conhecimento de um
homem seria maior, pelo menos na sua própria avaliação. A diferença pode ser
expressa de maneira aproximada, desta maneira: “Jesus eu reconheço, e Paulo
conheço comfamiliaridade".

16. Assenhorando-se de dois (κατακυρίέύσας). Os melhores textos dizem am­


bos, o que indicaria que apenas dois dos sete homens estavam envolvidos na situ­
ação. Em minha opinião, a rv traz um termo melhor, dominando, desta maneira
indicando a força de κύριος, mestre, amo, na composição do verbo.

Pôde mais que eles (ισχυσ€). Vide nota sobre Lc 14.30; 16.3.

17. Foi notório (èyéveto γνωστόν). Mais corretamente, tornou-se conhecido.

18. Confessando e publicando (έξομολογούμΕνοι και άναγγέλλοντες). As duas


palavras indicam a mais completa e declarada confissão. Eles confessaram aber­
tamente (έξ) e declararam completamente (άνά, de cima para baixo) as suas obras.
Vide nota em Mt 3.6.

19. Artes mágicas (τα ιτφίεργα). Na bp: praticado a magia, e na teb , entregue à
magia. A palavra significa, literalmente, aprimoradas, e, portanto, recônditas ou
curiosas, como práticas de magia. Somente aqui e em lTm 5.13, em seu sentido
448
Atos - Cap. 19

original como uma referência aos que se ocupam excessivammte (περί): curiosas. O
artigo indica as práticas mencionadas no contexto.

Livros. Que continham fórmulas mágicas. Autores pagãos frequentemente


aludem às cartas de Éfeso. Eram símbolos, ou sentenças mágicas, escritas em frag­
mentos de papiros, e carregadas como amuletos, às vezes gravadas em selos.

Queimaram (κατέκαι,ον). Destruíram-nos (κατά) pelo fogo. O imperfeito é vivi­


do, descrevendo essas pessoas como atirando um livro depois de outro na pilha.

Feita a conta (συνεψήφισαν). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Vide nota sobre Lc 14.28. A preposição συν, juntos, no verbo composto, indica o
cálculo da soma total.

23. O Caminho. Vide nota sobre At 9.2.

24. Ourives de prata (άργυροκόπος). Literalmente, uma pessoa que trabalha com
prata.

Nichos de Diana. A tb lê, santuários de Diana, mas a bj em vez de Diana traz


Ártemis. Pequenos modelos do templo de Diana, contendo uma imagem da deu­
sa. Esses nichos eram comprados no templo por peregrinos, da mesma maneira
como rosários e imagens de Maria são compradas por peregrinos em Lurdes, ou
modelos de bronze da coluna de Trajano ou da Colonne Vendôme são compra­
dos por turistas em Roma ou Paris75.

Artífices (τεχνίταις). No versículo seguinte, ele menciona os oficiais (έργάτας),


as duas palavras indicando, respectivamente, os artesãos, que faziam o trabalho
mais delicado, e os operários, que faziam o trabalho mais grosseiro.

25. Prosperidade (ευπορία). Vide nota sobre cada um conforme o que pudesse, At
1 1.29. Literalmente, bem estar. O termo prosperidade é usado pela arc no senti­
do mais antigo e mais geral de ventura, ou bem estar. Compare com a litania da
Igreja Inglesa: “Em todo o tempo da nossa tribulação, em todo o tempo da nossa
prosperidade”.

27. Profissão (μέρος). Literalmente, parte ou departamento de atividade.

Caia em descrédito (είς άπελεγμόν ελθεΐν). Literalmente, venha a sofrer re­


futação ou exposição-, portanto, má reputação. A teb lê: menosprezado, enquanto a

75. Para descrições do templo, vide Conybeare e Howson; e Lewin, Life and Epistles of St Paul-,
Farrar, Life and Work of St. Paul-, e Wood, Ephesus.

449
A t o s - C a p . 19

bpdiz: v a i p e r d e r t o d a a s u a g r a n d e z a . Compare com At 18.28 e a nota respectiva.


Άπ€λ€γμός, r e f u t a ç ã o , aparece somente aqui no texto do Novo Testamento.

Diana. Ou A r t e m i s . Devemos fazer a distinção entre a deusa grega Ártemis,


conhecida pelos romanos como Diana, e a deusa efésia. Diz a lenda que a primei­
ra era filha de Zeus (Jove), e irmã de Apoio. Era a patrona da caça, a caçadora
entre os imortais, representada com arco, aljava e lança, trajando vestes de caça,
e acompanhada por cães e veados. Ela era, ao mesmo tempo, uma destruidora e
uma preservadora. Atirava suas flechas de morte especialmente contra mulhe­
res, mas também as curava e protegia no momento do trabalho de parto. Era a
deusa da lua, uma divindade solteira e virginal, cujas ministras se comprome­
tiam com a castidade.
A Ártemis efésia é totalmente diferente da grega, e tem o caráter asiático
e os atributos da Cibele da Lídia, a grande mãe dos deuses. A sua adoração,
perto de Efeso deve ter existido entre a população asiática nativa antes mes­
mo da fundação da cidade, e parece ter sido adotada pelos imigrantes gregos,
que gradualmente transferiram a ela características peculiares da deusa grega.
Ela era a personificação dos poderes frutíferos e nutritivos da natureza, e a
sua imagem, representada em moedas da época, é a de uma figura envolta por
uma faixa, coberta de seios, tendo em uma das mãos um tridente e na outra,
uma clava. Esta figura estranha, envolta por um manto e coberta com aparatos
místicos, permanecia no santuário do grande templo, oculta por uma cortina
de cor púrpura, e acreditava-se que ela tivesse caído do céu (v. 35). Na sua
adoração era predominante a influência oriental. Os sacerdotes eram eunucos,
e a eles estava associado um grupo de sacerdotisas virgens, e alguns escravos,
dos quais os mais inferiores eram conhecidos como n e o c o r i, ou varredores do
templo (v. 35).

M u ita s v e z e s , P a u lo d e v e t e r o u v id o , d o d is t r it o ju d e u , o s o m e s t r id e n t e e p e r fu -
r a n te d e s u a s fla u ta s, e o r u íd o á sp e r o e m e tá lic o d e s e u s a d u fes; m u ita s v e z e s , e le
d e v e te r v is t o s u a s d a n ç a s d e te s tá v e is e as p r o c is s õ e s c o r ib â n tic a s, q u a n d o , c o m
c a b e lo s e sv o a ç a n te s , e g r it o s s e lv a g e n s , e to c h a s d e p in h o a g ita d a s, p r o c u r a v a m
e n lo u q u e c e r as m u ltid õ e s e to r n á -la s sim p a tiz a n te s c o m a q u ela a d o r a ç ã o e o r g ia
q u e e sta v a in tim a m e n te c o n e c ta d a c o m a s m a is in fa m e s d e p r a v a ç õ e s 7".

Majestade. V id e nota sobre 2Pe 1.16.

28. Clamaram («κραζοη). O imperfeito é vivido: c o n t i n u a v a m clamando. Esta rei­


teração é uma característica dos ritos orientais de orgia.

76. Farrar, L if e a n d W o rk o f P a u l.

450
Atos - C ap. 19

29. O teatro. Ainda se pode examinar o local onde ele se situava. Diz-se que ele
podia acomodar cinquenta e seis mil pessoas sentadas.

Arrebatando (συναρπάσαντες). Literalmente, “tendo levado consigo (σύν)”:


levando-os consigo no tumulto.

Companheiros na viagem (συνεκδήμους). Somente aqui e em 2 C0 8.19. A


palavra é composta de ow , juntamente com, εκ, parafora, e δήμος, região ou terra, e
significa, portanto, alguém que saiu com outra pessoa de sua região.

31. Dos principais da Ásia (των Άσιαρχών). Os asiarcas. Eram pessoas escolhi­
das da província da Ásia, por causa de sua influência e riqueza, para presidir os
jogos públicos e custear as suas despesas.

33. Tiraram (προβίβασαν). Mais corretamente, fizeram sair. Vide nota sobre ins­
truída previamente, Mt 14.8.

34. Unanimemente levantaram a voz. As reverberações de suas vozes, da rocha


íngreme que formava um dos lados do teatro, devem ter tornado os seus gritos
frenéticos ainda mais atemorizantes.

35. O escrivão da cidade. Ou encarregado dos registros, a quem eram confiados


os arquivos da cidade e cujo dever era redigir decretos oficiais e apresentá-los às
congregações do povo. Depois do comandante, era o mais importante persona­
gem nas cidades livres gregas.

Guardadora (νεωκόρον). Literalmente, uma varredora do templo. Vide nota so­


bre v. 27. Este título, originalmente aplicado aos mais inferiores dos serviçais
do templo, se tornou um título de honra e foi avidamente adotado pelas mais
famosas cidades. Diz Alexandre: “A cidade de Éfeso é a sacristã da grande deusa
Ártemis”77.

36. Aplaqueis (κατεσταλμένους). Compare com apaziguado (v. 35). O verbo sig­
nifica derrubar ou diminuir, e assim é aplicado, de maneira metafórica, a manter
controlada apropria voz, reprimir.

Temerariamente (προπετες). Literalmente, precipitadamente.

37. Sacrílegos (Ιερόσυλους). A versão a r c coloca um anacronismo jocoso nos


lábios do escrivão de uma cidade grega. Melhor, na verdade, como ladrões de
templos, como trazem a n t l h e n v i .

77. Vide obra do bispo Lightfoot, Essays on Supernatural Religion, pág. 297, e Euripides, Iphigenia
in Tauris, pág. 87.
451
A to s - C ap. 2 0

38. Há audiências (αγοραίοι αγονται). Literalmente, o s d i a s d e t r i b u n a l e s tã o

m a n t i d o s . Na t b ,
o s t r i b u n a i s e s t ã o a b e r t o s . Compare com At 17.5.

Procônsules (ανθύπατοι), ou representantes, que governavam a Ásia, como


uma província senatorial. V i d e I n t r o d u ç ã o ao Evangelho de Lucas.

40. Concurso (συστροφής). Literalmente, um e n t r e la ç a m e n t o · , portanto, sobre


qualquer coisa que seja enrolada ou entrelaçada em uma massa; e consequen­
temente sobre uma massa de pessoas, um grupo de pessoas, com a ideia subja­
cente de c o n f u s ã o ; uma multidão, uma aglomeração de pessoas. Compare com
At 23.12.

C a pítu lo 2 0

1. Abraçando-os (άσπασάμενος). Melhor, como na t b , d e s p e d i u - s e . O termo


é usado como saudação, seja em um encontro, seja em uma despedida. V i d e
At 2 1.6-7.

2. Grécia. A província romana de Acaia, que abrangia a Grécia propriamente


dita e o Peloponeso. Lucas usa A c a i a (At 19.21) e G r é c i a como sinônimos, como
diferentes da Macedonia.

3. Navegar (άνάγεσθαι). Melhor, z a r p a r . A tb e nvi traduzem: e m b a rc a r. V id e

nota sobre Lc 8.22; e compare com Lc 5.3.

4. Sópatro. Os melhores textos acrescentam, o f i l h o de P ir r o . Compare com


Rm 16.21.

Aristarco. Compare com At 19.29.

Gaio. Não o mencionado em At 19.29, que era macedônio.

Tíquico e Trófimo. V id e Cl 4.7-8; Ef 6.21-22; 2Tm 4.12; Tt 3.12; At 21.29;


2Tm 4.20.

5. Nos. A primeira pessoa é retomada, indicando que Lucas havia se unido a


Paulo.

6. Em cinco dias (αχρις ήμερων πέντε). Literalmente, “ e m a té cinco dias”, indi­


cando a duração d a viagem a Filipos. A b p lê: d e n t r o d e c in c o d ia s .

7. Primeiro (τή μια). Literalmente, “o dia u m . O número cardinal aqui usado


em lugar do ordinal.
452
A tos - C ap. 20

Semana (σαββάτωιζ). O plural usado em lugar do singular, imitando a forma


hebraica. O substantivo sábado é frequentemente usado depois de numerais, com
o significado de uma semana. Vide Mt 28.1; Mc 16.2; Jo 20.19.

Partir o pão. A celebração da Santa Ceia, combinada com o Agape, ou ban­


quete do amor.

Falava (διτλέγετο). Melhor, discursava com eles. A t b traz discutia. Era uma mis­
tura de pregação e conferência. A nossa palavra diálogo é derivada do verbo.

8. M uitas luzes. Um detalhe que mostra a vivida impressão que a cena provocou
em uma testemunha ocular. Foi enfatizado que a abundância de luzes mostra a
pouca discrição ou desordem associadas a essas reuniões.

O cenáculo. Video,ota sobre At 1.13.

9. A janela. Vide nota sobre At 9.25. As janelas de uma casa oriental são fecha­
das com venezianas ou treliças, e normalmente chegam até o chão, parecendo-se
mais com uma porta e não uma janela. Elas se abrem, na grande maioria, para o
átrio interno, e não para a rua, e normalmente são mantidas abertas, por causa
do calor.

Tomado de um sono profundo (καταφφόμτνος υπνω βαθύ.). Literalmente, der­


rubado por etc. Uma expressão grega comum que significa ser dominado pelo sono.
Em linguagem médica, o verbo era mais frequentemente usado neste sentido, abso­
lutamente, do que com o acréscimo de dormir. Neste sentido, a palavra é usada duas
vezes: no primeiro caso, no particípio presente, indicando a vinda do torpor —ador­
mecer, e no segundo caso, no particípio aoristo, indicando o fato de estar completamente
dominado pelo sono. O Sr. Hobart crê que a menção às causas do torpor de Eutico - o
calor e o odor emitido pelas várias luminárias, a extensão do discurso, e o horário
tardio - são características da narrativa de um médico. Compare com Lc 22.45.

M orto (ueKpóç). Realmente morto. Não como morto, ou dado por morto.

10. Inclinou-se sobre ele. Compare lRs 17.21; 2Rs 4.34.

Não vos perturbeis (μή θορυβτΙσθ&). Na t b , mais apropriadamente, nãofaçais


alvoroço. Eles estavam começando a proferir clamores inflamados. Vide Mt 9.23;
Mc 5.39.

A sua alma nele está. No mesmo sentido em que Cristo disse, “não está mor­
ta, mas dorme” (Lc 8.52).

11. Subindo. Do átrio até o cenáculo.


453
A tos - C ap . 20

Falou (όμιλήσας). Ou melhor, conversar. Indica um relacionamento mais fami­


liar e confiante do que discursou, no versículo 7.

13. Indo por terra (iTeCeuetv). Somente aqui no texto do Novo Testamento.
Não há uma boa razão para substituir “indo a pé” pela expressão por terra,
como na a rc . A distância era de 32 quilômetros; menos que a metade da dis­
tância por mar.

15. Chegamos (παρ6βάλομ€ν). Somente aqui e em Mc 4.30, onde é usada com


um sentido mais próximo do original, lançar de lado-, colocar uma coisa ao lado
de outra, em comparação. Aqui, com respeito a trazer a embarcação próximo à
ilha. A narrativa indica que apenas tocaram o local, mas não necessariamente a
palavra.

16. G astar tempo (χρονοτρίβησα!). Somente aqui no texto do Novo Testamen­


to. A palavra traz a sugestão de uma perda de tempo, composta com τρίβω, es­
fregar, desgastar ao esfregar. O sentido é aproximadamente equivalente à nossa
expressão, jogar tempofora.

17. Mandou chamar a Efeso. Cerca de 48 quilômetros.

Anciãos. Chamados supervisores ou bispos no versículo 28.

20. Deixei de vos anunciar (ύπ^στειλάμην). Um termo pitoresco. Original­


mente, envolver ou contratar. Usado a respeito de recolher velas, e de fechar
os dedos; de recuar, em busca de abrigo; de reter os próprios pensamentos;
por médicos, com o sentido de reter alimento de pacientes. Na verdade, é
exagerado dizer, como o cônego Farrar, que Paulo está usando uma metáfora
náutica, sugerida pelo fato de que ele ouvia constantemente a palavra para
recolher velas, usada durante a sua viagem. As metáforas de Paulo se concen­
tram principalmente nas linhas da vida militar, da arquitetura, agricultura e
dos jogos gregos. A declaração do cônego Farrar, de que ele “constantemente
constrói as suas metáforas a partir das cenas, visões e circunstâncias ao seu
redor” diverge, na realidade, da sua observação de que, com uma única exce­
ção, ele “não consegue encontrar uma única palavra que mostre que Paulo ti­
nha a mais ligeira suscetibilidade para as obras da natureza”78. As metáforas
náuticas são, para dizer o mínimo, incomuns nos textos de Paulo. Eu acredito
que haja apenas três casos: Ef 4.14; lTm 1.19; 6.9. Paulo quer dizer que ele
não suprimia nada da verdade por medo de ofender os outros. Compare com
G1 2.12; Hb 10.38.

78. Farrar, Paul, L, 19.


454
A to s - C ap. 2 0

21. A conversão a Deus. C o n v e r s ã o com o artigo, a conversão que é devida a Deus.


Assim, t a m b é m , f é , a fé que é devida a Cristo, como o advogado e mediador.

22. Ligado pelo espírito. Em s e u p r ó p r i o espírito. Coagido por um invencível


senso de dever. Não p e l o E s p í r i t o S a n t o , que é mencionado no versículo seguinte,
e distinto pelo epíteto S a n t o .

23. Revela (διαμαρτύρεται). O verbo composto significa um testemunho c o m p le ­


t o , c l a r o . Não por sugestões internas do Espírito, mas por declarações proféticas

“de cidade em cidade”. Duas delas são mencionadas subsequentemente, em Tiro


e Cesareia (At 2 1.4,11).

24. Mas em nada tenho a minha vida por preciosa etc. Vários textos omitem
a expressão e m n a d a t e n h o e traduzem, N ã o l e v o a m i n h a v i d a e m c o n s id e r a ç ã o , c o m o
se f o s s e p r e c io s a p a r a m im .

Preciosa (τιμίαν). De valor; de importância.

Carreira (δρόμον). Uma metáfora favorita de Paulo, extraída das corridas. V id e

lCo 9.24-27; Fp 3.14; 2Tm 4.7.

25. Sei. O vocábulo e u é enfático; eu sei, por estas revelações especiais que me
foram concedidas (v. 23).

26. No dia de hoje (τή σήμερον ήμερα). Muito convincente. Expressão literal;
este nosso dia de despedida.

27. D eixei de anunciar. As mesmas palavras usadas no versículo 20: d e ix e i d e

a n u n c ia r .

28. Por vós e por todo o rebanho. Por v ó s , em primeiro lugar, para que possais
cuidar devidamente do r e b a n h o . Compare com lTm 4.16.

Bispos (επισκόπους). Indicando a função oficial dos anciãos, mas não no sen­
tido eclesiástico mais recente, de b is p o s , como sugerindo uma ordem distinta de
p r e s b í t e r o s ou anciãos. Os dois termos são sinônimos. Os a n c iã o s , em virtude de

seu ofício, eram s u p e r v i s o r e s ou b is p o s 79.

Apascentardes (ποιμαίνειν). V i d e nota sobre Mt 2.6. O termo abrange mais


do que d a r d e c o m e r , significa tudo o que está incluído no ofício de um pastor:
c u i d a r d e ou g u a r d a r e c o n d u z i r .

79. Vide obra do bispo Lightfoot, Commentary on Philippians, pág. 98; e a obra Essay on the Christian
Ministry, no mesmo volume, pág. 179ss.; vide também Conyheare e Howson, vol. i., cap. xiii.

455
A tos - C ap . 20

Resgatou (περιεποιήσατο). Somente aqui e em lTm 3.13. V i d e nota sobre p o v o


a d q u ir id o , lPe 2.9. O verbo significa, originalmente, f a z e r (ποιέω) p e r m a n e c e r s o ­
b r e e a c im a (περί): consequentemente, g u a r d a r ou c o n s e r v a r p a r a s i m e sm o -, a b r a n g e r

ou a d q u i r i r .

29. Cruéis (βαρείς). Literalmente, m a u s, violentos, opressores, vorazes.

31. Vigiai (γρήγορε ιτε). V id e n o ta sobre Mc 13.35.

Admoestar (νουθετών). De νους, a m e n t e , e τιθημι, c o lo c a r . Literalmente, c o ­


l o c a r n a m e n t e , i s t o é, a d m o e s t a r (também na rv , melhor do que a d v e r t i r ) . Cremer

declara que “a sua ideia fundamental é a seriedade bem intencionada com que
uma pessoa influencia a mente e a disposição de outra, por meio de conselho,
admoestação, advertência, correção, segundo as circunstâncias”.

32. Encomendo. V id e nota sobre lPe 4.19.

Vos edificar. Uma metáfora constantemente usada por Paulo. As palavras


(latim, a e d e s , “uma casa”, e f a c e r e , “fazer”) frequentemente tra­
e d i f i c a r , e d ific a ç ã o

duzem οίκοδομέω e suas correlatas. No uso antigo, o vocábulo e d i f i c a r retinha o


seu sentido original de c o n s t r u i r . Assim a w y c u f f e traduz Gn 2.22: “O Senhor
Deus e d ifiic o u uma mulher da costela que tirou de Adão”. Assim, também, Spen­
ser declara:

em um pequeno campo,
foi edificado um templo sagrado80.

33. Veste. Mencionada juntamente com ouro e prata, porque formavam uma
grande parte da riqueza dos orientais. Eles negociavam vestes caras, ou as con­
servavam guardadas para uso futuro. V i d e nota sobre p ú r p u r a , Lc 16.19; e compa­
re com Ed 2.69; Ne 7.70; Jó 27.16. Este fato explica as alusões ao poder destrui­
dor da traça (Mt 6.19; Tg 5.2).

35. Tenho-vos mostrado em tudo (πάντα υπέδειξα ύμΐν). O verbo quer dizer
m o s t r a r c o m o e x e m p lo . Assim, Lc 6.47, “eu vos m o s t r a r e i a quem é semelhante”, é

seguida pela comparação com o homem que edificou sobre a rocha. Também At
9.16. Deus mostrará a Paulo, por experiência prática, as grandes coisas que ele
deveria padecer. O substantivo correlato, υπόδειγμα, é sempre traduzido como
e x e m p lo ou p a d r ã o , m o d e lo . V i d e Jo 13.15; Tg 5.10 etc.; e v i d e nota sobre 2Pe 2.6.

Na TB, corretamente, E m t u d o v o s d e i o e x e m p lo .

Assim. Como eu fiz.

80. Spenser, Faeris Querns, i., 1, 34.


4 56
A tos —C ap. 21

Auxiliar (άντιλαμβαιζεσθαι). V id e nota sobre Lc 1.54.

Que disse (αυτός ειιτεί/’). Na t b , a rigor, “ e le m e s m o disse”. Estas palavras de


Jesus não estão registradas pelos evangelistas, e foram recebidas por Paulo atra­
vés da tradição oral.
De acordo com Gloag, as palavras de Paulo aos anciãos efésios “trazem a marca
da mente de Paulo, as suas idéias, as suas expressões, e até mesmo as próprias pa­
lavras são de Paulo; de modo a levar Alford a observar que provavelmente temos
aqui o registro literal das palavras proferidas por Paulo. ‘Isto e observa ele, uma
tesouraria de palavras, expressões e sentenças, peculiares do próprio apóstolo’”.

37. Beijavam (κατεφίλουν). V id e nota sobre Mt 26.49.

38. Veriam (θεωρείν). V i d e nota sobre Lc 10.18. O termo para contemplação


c o n s t a n t e , s é r i a , a r d e n t e sugere o interesse e o afeto com que eles contemplavam o

seu semblante pela última vez.

C a pítu lo 21

1. Separando (άποσπασθέντας). Retirando. Alguns veem na palavra uma expres­


são da tristeza e relutância com que eles se separaram, e traduzem a r r a n c a d o s u n s
d o s o u t r o s . V i d e nota sobre Lc 22.41.

Caminho direito. V id e nota sobre At 16.11.

2. Partimos (άνήχθημεν). Ou z a rp a m o s. V id e nota sobre Lc 8.22; 5.3.

3. À vista de (άναφάναντες). Melhor que descobrindo, a v i s t a n d o . Uma expressão


náutica. O verbo significa, literalmente, t r a z e r à lu z · , e o seu uso aqui é análogo à
expressão da Marinha Inglesa, e n c o n t r a r a t e r r a .

4. Achando discípulos (άνευρόντες τούς μαθητάς). Na t b consta: a c h a d o o s


d i s c í p u l o s . O verbo significa descobrir d e p o i s d e b u s c a r , e o artigo, o s discípulos,

se refere aos discípulos que viviam ali e eram membros reconhecidos dessa
igreja. A arc omite tanto a preposição quanto o artigo. O verbo pode ser tra­
duzido, a rigor, pela nossa expressão comum, “tendo p r o c u r a d o os discípulos”.
V i d e nota sobre Lc 2.16. Um número pequeno de discípulos é sugerido no

versículo 5.

5. Passado (εξαρτίσαι). Somente aqui e em 2Tm 3.17, onde é usada com o senti­
do de e q u i p a r ou d o t a r .

Filhos. A primeira vez em que são mencionados filhos no comentário de uma


igreja cristã.
457
A tos - C ap. 21

Praia (αίγιαλον). V id e nota sobre Mt 13.2.

6. Saudando-nos. V id e nota sobre At 20.1.

7. Concluída (διανύσαντβς). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

Saudado. O termo traduzido como sa u d a n d o no versículo 6. V id e nota sobre


At 20.1.

8. Nós que com ele estávamos. Os melhores textos omitem esta perícope.

Filipe. V id e nota sobre At 8.

Os sete. Os primeiros diáconos. V id e nota sobre At 6.5.

11. ligando-se os seus próprios pés e mãos. Imitando os atos simbólicos dos
profetas do Antigo Testamento. V i d e lRs 22.11; Is 20.1-3; Jr 13.1-7; Ez 4.1-6.
Compare com Jo 21.18.

14. Rogamos-lhe que não subisse. Isto sugere o caso de Lutero, quando, em
sua jornada à D i e t a d e W o r m s , e a história de Regulo, o romano. Este último, ten­
do permissão de retornar a Roma com uma mensagem dos cartagineses, incenti­
vou os seus compatriotas a rejeitarem os termos de paz e a continuarem a guerra;
e então, contra os protestos de seus amigos, insistiu em cumprir a promessa que
havia feito aos cartagineses, de retornar no caso de fracasso das negociações, e
voltou, para enfrentar a tortura e a morte certas.

15. Eu estou pronto (έτοίμως εχω). Literalmente, e s to u e m p r o n t id ã o .

15. Havendo feito os nossos preparativos (άποσκευασάμενοι). O verbo signi­


fica f a z e r a s m a l a s e p a r t i r , ou simplesmente f a z e r a s m a l a s ou g u a r d a r as suas
coisas. Consequentemente, alguns explicam que Paulo empacotou e guardou a
maior parte de sua bagagem em Cesareia. Os melhores textos, no entanto, tra­
zem έπισκευασάμενοι, h a v e n d o - n o s e q u ip a d o . V i d e lSm 17.22.

16. Levando consign etc. Isto sugeriría que Mnasom estava em Cesareia, e
acompanhou Paulo e os seus companheiros a Jerusalém. Parece melhor supor
que os discípulos acompanharam o apóstolo, para apresentá-lo a Mnasom, a
quem conheciam. Este texto pode ser traduzido como l e v a n d o - n o s a t é M n a s o m ,
c o m q u e m h a v ía m o s d e n o s h o s p e d a r.

Antigo (άρχαίω). Melhor, p i o n e i r o . A tradução a n t i g o pode ser interpretada


como significando id o s o - , ao passo que o termo quer dizer c o n s a g r a d o . A t e b tra­
duz, u m d i s c í p u l o d o s p r i m e i r o s te m p o s-, a n t l h , f a z i a m u i t o t e m p o q u e e le e r a c r is t ã o - ,
e a n v i , u m d o s p r i m e i r o s d is c íp u lo s .
458
A tos - C ap . 21

21. Foram informados (κατηχήθησαν). Mais do que i n f o r m a d o s . Eles foram c u i ­


d a d o s a m e n t e i n s t r u í d o s , provavelmente pelos professores judaizantes. V i d e nota

sobre i n f o r m a d o , Lc 1.4.

Apartarem-se de M oisés (αποστασίαν από Μωσέως). Literalmente, a p o s ta ta r

Compare com 2Ts 2.3.


d e M o is é s .

22. Que faremos, pois? Como fica a questão? O que deve ser feito?

E necessário que a multidão se ajunte. Alguns textos omitem a expressão.


Se a palavra for mantida, deve ser interpretada como u m a multidão.

23. Um voto. Um voto nazireu. V id e nota sobre Nm 6.1-21.

24. Faze por eles os gastos (δαπάνησον 4π’ αύτοις). Literalmente, g a s t a r p o r


e le s . Pagar os custos necessários, em lugar deles. Portanto, na arc , corretamente,

“p o r eles”. A pessoa que pagasse assim as despesas de devotos pobres que não

pudessem arcar com os custos necessários compartilhavam do voto, a ponto de


ser necessário que ela permanecesse com os nazireus até a ocasião em que o voto
houvesse expirado.

D u r a n te um a sem ana, en tão, o a p ó sto lo P aulo, s e aceita sse o c o n se lh o de T ia g o e d os


p resb íteros, teria q u e v iv e r com q u atro h o m en s p ob res na câm ara d o tem p lo, q u e fora
c o n sa g ra d a para e s te p rop ósito, e en tã o teria q u e pagar por d e z e ss e is anim ais de sa­
crifício e pelas ofertas d e m anjares q u e acom p an h assem esse s sacrifícios81.

Ele também deveria permanecer entre os nazireus durante a oferta dos sacrifí­
cios, e observar enquanto as suas cabeças eram raspadas, e quando tomassem seus
cabelos para queimá-los, no fogo debaixo das ofertas pacíficas. Farrar declara:

e en q u a n to o sa cerd o te to m a sse q u atro esp ád u as co zid a s de carn eiros, e q u atro b olos


asm o s d o s qu atro c e sto s, e qu atro c o sc o r õ e s astnos, u n g id o s com óleo, e o s c o lo c a sse
n as m ã o s d o s nazireu s, e o s le v a n ta sse , co m o um a o ferta alçada d ian te d o Senhor.

Andas guardando a lei (στοιχεις). V id e nota sobre e le m e n t o s , 2Pe 3.10.

25. Sangue. V id e nota sobre At 15.29.

26. Santificado (άγνισθβΐς). V id e nota sobre lPe 1.22; Tg 4.8.

Anunciando (διαγγέλλων). Aos sacerdotes que conduziam e orientavam os


sacrifícios, e proferiam a liberação do voto.

81. Farrar, Life and Work of Paul.


459
A tos - C ap . 21

Cumpridos - até etc. Há algumas divergências e confusões quanto ao signifi­


cado exato nesta passagem. O sentido geral é de que, tendo entrado no Templo
já perto do final do período requerido para o cumprimento do voto destes ho­
mens, Paulo observou que o número dos dias nazireus havia expirado, e depois
disso somente a oferta de conclusão era necessária.

27. Ásia. V id e nota sobre At 2.9.

Alvoroçaram (συνέχεοη). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Li­


teralmente, l a n ç a r a m e m c o n f u s ã o . V i d e nota sobre c o n f u s a , At 2.6; e c o n f u s ã o , At
19.29.

28. Este lugar. O Templo. Compare com a acusação contra Estêvão, At 6.13.

Gregos. V id e nota sobre At 6.1.

Templo (Upòv). V i d e nota sobre Mt 4.5. Evidentemente, os judeus preten­


diam criar a impressão de que Paulo havia introduzido gentios no átrio interior,
que era restrito aos judeus. O Templo propriamente dito estava no mais alto de
uma série de terraços, que se erguiam do átrio exterior, ou átrio dos gentios.
Neste átrio exterior qualquer estrangeiro podería adorar. Entre este átrio e os
terraços, havia uma balaustrada de pedra, com algumas colunas, sobre as quais
inscrições em grego e latim advertiam todos os gentios para que não prosseguis­
sem, sob pena de morte. Além desta balaustrada, se erguia um lance de catorze
degraus, até a primeira plataforma, sobre a qual estava o átrio das mulheres,
rodeado por um muro. Neste átrio, estava o tesouro, e várias câmaras, e em uma
delas os narizeus realizavam os seus votos. Foi aqui que os judeus asiáticos des­
cobriram Paulo.

29. Trófimo. V i d e nota sobre At 20.4. Sendo um efésio, ele devia ser conhecido
dos judeus asiáticos.

30. Eles o arrastaram para fora do templo. Melhor, a r r a n c a r a m (Τιλκον). Para


fora do local sagrado, e descendo os degraus para o átrio interior, uma vez que
não profanariam com sangue o Templo propriamente dito.

As portas se fecharam. Entre o átrio interior e o exterior.

31. Tribuno (χιλιάρχω). Um comandante de mil homens. V id e nota sobre Mc


6.21; e v i d e nota sobre c e n t u r i ã o , Lc 7.2.

Tropas (σττΗρης). Ou c o o r t e . V i d e nota sobre Mc 15.16. Estas tropas se aquar­


telavam na torre Antônia, que ficava na extremidade noroeste da área do Tem­
plo, e se comunicava com os claustros por meio de escadarias.
460
A tos - C ap. 21

32. Centuriões. Vide nota sobre Lv 7.2.

Para eles (επ’ αυτούς). Ou ainda, sobre eles.

33. Cadeias (άλύσεσι.). Videnota sobre Mc 5.4.

34. Fortaleza (παρεμβολήν). Melhor, quartel. A torre principal tinha uma torre
menor em cada extremidade; a torre no canto sudeste era a maior, e tinha vista
para o templo. Nesta torre estavam os alojamentos dos soldados. A palavra é
derivada do verbo παρεμβάλλω, colocarjunto, usada em linguagem militar, com
o significado de distribuir auxiliares entre soldados regulares e, de modo geral,
de se organizar em ordem de batalha. Portanto, o substantivo significa um corpo
organizado em ordem de batalha, e passa a ter, então o significado de um acampa­
mento, de alojamentos de soldados, de quartel. Em Hb 11.34, o vocábulo aparece com
o sentido antigo de um exército, e em Hb 13.11,13; Ap 20.9, com o sentido de um
acampamento. Na fraseologia gramatical, significa um parênteses, de acordo com o
seu sentido original de inserção ou interpolação.

35. Escadas. Que levavam do átrio do Templo até a torre. Havia dois lances,
um que levava ao claustro norte, e outro ao claustro ocidental, de modo que a
guarda podia seguir diferentes caminhos entre os claustros, para vigiar o povo,
nas festas judaicas.

E sucedeu que (συνέβη). Literalmente, aconteceu. O verbo significa reunir-se,


logo, com respeito a uma coincidência de eventos. O termo é introduzido aqui pro-
positadamente para expressar, de maneira mais vivida, o fato da peculiar emer­
gência, e do perigo da situação de Paulo. As coisas chegaram a tal situação que ele
teve que ser carregado para o alto das escadas.

37. Sabes (γινώσκεις;). Literalmente, sabes?

38. Não és tu (ούκ άρα σύ εΐ;). Indicando ο reconhecimento surpreso, por parte
do oficial, do seu próprio engano. “Não és, então, como eu supunha”. A ecp cor­
retamente adiciona portanto (άρα): Não és tu, portanto.

Aquele egípcio. Um falso profeta que, no reinado de Nero, quando Félix era
governador da Judeia, reuniu uma multidão de trinta mil pessoas, que conduziu
do deserto até o monte das Oliveiras, dizendo que os muros de Jerusalém cairíam
ao seu comando e dariam às pessoas o livre acesso à cidade. Félix, com um exér­
cito, dispersou a multidão, e o próprio egípcio escapou. Existe uma discrepância
com respeito ao número de seguidores declarado por Josefo (30.000) e o número
declarado aqui pelo comandante (4.000). Contudo, é bastante possível que Josefo
se refira a todo o grupo, ao passo que Lísias pode estar se referindo apenas aos
seguidores armados.
461
A tos - C ap . 22

Fez uma sedição. Melhor, i n c i t o u u m a r e v o l t a . O verbo significa p r e o c u p a r


ou i n q u i e t a r . Compare com G1 5.12, e com as palavras correlatas em Mc 15.7;
Lc 23.19.

Salteadores (των σικαρίων). A arc é geral demais, e ignora a força do ar­


tigo, que mostra o termo se referindo a uma classe. Na bj, b a n d i d o s , enquanto
na TB, mais literal: s i c á r i o s . A palavra, que aparece apenas aqui, e notavelmen­
te nos lábios de um oficial romano, é uma daquelas expressões do latim que
“seguiram a dominação romana até mesmo àquelas províncias orientais do
império que, diferentemente das do ocidente, haviam se recusado a se latini-
zar, mas ainda conservavam o seu próprio idioma ”Sli. Os sicários eram assim
chamados por causa da arma que usavam - a s i c a , uma adaga de lâmina curta
e curvada. Josefo diz:

A pareceu em Jerusalém o u tra d escriçã o d e sa ltea d o res, ch am ad os sicários, que, e m p le ­


n a lu z d o dia, e n o p róp rio coração da cidade, assassin avam h om en s; p rin cip alm en te,

n o e n t a n t o , n o s festivais, quando, m istu rad os n a m u ltid ão, co m ad agas esco n d id a s sob

seu s m an tos, esfaq u eavam a q u eles c o m q uem tiv e sse m algu m a d iv erg ên cia . Q uan d o
e le s caíam m o rto s, o s a ssa ssin o s se uniam às e x p r e s s õ e s g e r a is d e in d ign ação, p erm a­
n ecen d o in c ó g n ito s e n ão d e te c ta d o s co m e s te p ro ced im en to p la u s ív e l83.

O termo genérico do Novo Testamento para a s s a s s in o é φονέύς (cf. Mt 22.7;


At 3.14; 28.4 etc.).

39. Pouco célebre (άσημου). Literalmente, s e m u m a c a r a c t e r í s t i c a ou s í m b o l o


(σήμα). Consequentemente, usada com respeito a ouro ou prata não cunhados,
a oráculos que não dão nenhuma resposta inteligível, a vozes inarticuladas, a
doenças sem sintomas característicos e distintivos. De modo geral, como aqui,
i n d i s t in t o , h u m i l d e , c o m u m . Existe um sentimento consciente de patriotismo na
expressão de Paulo.

40. Fez sinal com a mão. Compare com At 26.1.

Língua (διαλ4κτω). Literalmente, d i a l e t o ·. o idioma falado pelos judeus da Pa­


lestina - uma mistura de sírio com caldeu.

C a pítu lo 22

1. Defesa (άπολογίας). V id e nota sobre re s p o n d e r, lPe 3.15.

82. Trench, Synonyms.


83. Josefo, Jewish Jfáir, c. xiii.

462
A tos - C ap. 22

2. Silêncio —guardaram (παρέσχον ησυχίαν). Literalmente, f i z e r a m s i lê n c i o .

3. Aos pés. Uma referência ao costume dos judeus, de que os alunos se sentavam
em bancos ou no chão, ao passo que o professor ocupava uma plataforma elevada.

Gamaliel. Um dos sete rabinos a quem os judeus deram o título de R a b b a n .


R o b , “professor”, era o nível inferior; R a b b i , “meu professor”, o nível imediata­

mente superior; e R a b b a n , “nosso professor”, o mais alto. Gamaliel era um fariseu


liberal. Conybeare e Howson declaram que

da mesma maneira co m o A q u in o, en tr e o s acad êm icos, era ch am ad o D o c to r A n gelicas,


e Bonaventura D o c to r S eraph icu s, tam b ém G a m a liel era ch am ad o a B e le z a d a l^et. E le
não tinha antipatia p e lo e stu d o g r e g o . S in cerid ad e e sab ed oria p arecem ter sid o os
tra ço s d o seu caráter.

V id e 5.34ss.

Instruído (TTemuôeupévoç). V id e nota sobre c a s tig a r, Lc 23.16.

Conforme a verdade (κατά ακρίβειαν). Literalmente, e m c o n fo r m id a d e com

a V i d e nota sobre i n f o r m a d o m i n u c i o s a m e n t e , Lc 1.3; e


rig id e z . d ilig e n te m e n te , At
18.25. Compare também com At 18.26; 26.5.

Zeloso (ζηλωτής). Ou um z e lo te . Com respeito à palavra como um título, v id e

nota sobre Mc 3.18.

4. Caminho. V id e nota sobre At 9.2.

5. Conselho dos anciãos (πρ6σβυτέριον). Os anciãos ou o Sinédrio.

Fui. O imperfeito: e s ta v a v ia ja n d o .

6. Quase ao meio-dia. Não mencionado no capítulo 9.

8. O Nazareno (ò Ναζωραίος). Literalmente, de N a z a ré . Não mencionado no


capítulo 9.

9. Não ouviram (ούκ ήκουσαν). O verbo deve ser interpretado com o sentido de
c o m p r e e n d e r como em Mc 4.33; lCo 14.2, o que explica a aparente discrepância

com At 9.7.

11. Por causa do esplendor daquela luz. A causa da sua cegueira não é decla­
rada no capítulo 9.

12. Varão piedoso etc. Em At 9.10, ele é chamado de d i s c í p u l o . Gloag declara


que aqui, Paulo “afirma que não foi apresentado ao cristianismo por um oponente
do judaísmo, mas por um judeu rígido”
463
A tos - C ap. 22

13. Vindo ter comigo (έττιστκς). Mais corretamente, como “ficando a o la d o (errí)”.

Recobra a vista (άνάβλ6ψοη). Melhor, e r g u e o s o l h o s . Veja as palavras que


se seguem: \ΊΕλ Γ\ o v i . O vocábulo admite as duas traduções, e r g u e r o s o l h o s e
re c o b ra r a v is ta .

Eu o vi. Alguns unem aqui os dois significados: E u o v i , c o m a v is ã o re c o b ra d a .

A TB traz: re c e b e n d o a v i s t a , o l h e i p a r a e le .

14. O Deus de nossos pais - aquele Justo. Um toque conciliador nas pala­
vras de Paulo, mencionando tanto Deus quanto Cristo, pelos seus nomes judeus.
Compare com At 3.14; 7.52.

Designou (προ^χαρίσατο). V id e nota sobre At 3.20. Melhor, nom eou. A bj:


a teb , d e s t i n o u .
p r e d e s t in o u - ,

15. Todos os homens. Ele refreia a palavra ofensiva g e n t i o s (At 9.15).

16. Lava (άττόλουσοα). V id e nota sobre At 16.33.

17. Fui arrebatado (γίνέσθαι pe k v Ι κ σ τ ά σ ( ΐ ) . Mais corretamente, c a í e m u m


a r r e b a t a m e n t o . A tb traduz por: v e i o - m e u m ê x t a s e , e a teb , c a i r e m ê x t a s e . O verbo

significa t o r n a r - s e , em lugar de simplesmente s e r . Referente ao a r r e b a t a m e n t o , v i d e


nota sobre e s p a n t o , Mc 5.42; e compare com a nota sobre At 10.10.

20. Testemunha. O significado especial da palavra provavelmente não foi usado


nesta ocasião. V i d e nota sobre At 1.22. Esse significado aparece, no entanto, em
Ap 2.13; 17.6.

Eu estava presente. V id e n ota sobre v. 13.

Consentia (συν^υδοκών). V id e nota sobre c o n s e n tir, Lc 11.48; e compare com


At 8.1.

Matavam. V id e nota sobre Lc 23.32.

21. Gentios. “O termo fatal, que até aqui Paulo havia cuidadosamente evitado,
mas que era impossível que ele a continuasse evitando, foi suficiente... A palavra
‘gentios’, confirmando todas as piores suspeitas do povo, caiu como uma fagulha
sobre a massa inflamável do seu fanatismo.”84

22. Ouviram-no (ήκουον). O imperfeito. Até esta palavra e s ta v a m o u v in d o .

84. Farrar, Life and Work o f Paul.


464
A to s - Cap. 2 2

Levantaram a voz etc. Farrar declara:

E n tã o teve início um dos m ais odiosos e d esp rezív eis esp etácu lo s q u e o m u n d o pode
testem u n h ar, o esp etácu lo de u m a m u ltid ã o o rie n ta l, hed io n d a com fúria im p o ten te,
uivando, g rita n d o , am aldiçoando, ra n g e n d o os d en tes, a g ita n d o os braços, sacudindo
seus m an to s azuis e v erm elh o s, lan ça n d o p u n h ad o s de te r r a ao ar, com todos os g e sto s
furiosos de um fanatism o d esco n tro la d o .

Hackett8,5 cita Sir John Chardin, dizendo ser comum que os camponeses da
Pérsia, quando têm uma reclamação para apresentar aos seus governantes, di-
rijam-se a eles em grupos compostos de centenas de pessoas, ou até mesmo de
mil pessoas de uma vez. Eles se posicionam próximos à porta do palácio, onde
supõem que têm mais probabilidade de ser vistos e ouvidos, e ali iniciam um hor­
rível clamor, rasgam suas vestes e lançam terra ao ar, ao mesmo tempo exigindo
justiça. Compare com 2Sm 16.13.

24. Examinassem (άνετάζεσθαι). Somente aqui e no versículo 29. Não encontra­


da no grego clássico. Apócrifo Susana, versículo 14.

Com açoites (μάστιξιν). Literalmente.

25. Atando com correias (προέτε w a v αυτόν τοις Ιμάσιν). Contra a tradução da
arc, está o termo προέτειναν, e s t i c a r a m p a r a f r e n t e , uma referência à posição da ví­
tima para o açoitamento, e o artigo com a ç o ite s -, “ a s correias”, com referência a al­
gum instrumento bastante conhecido. Se as palavras se referissem simplesmente
a atá-lo, a expressão c o m c o r r e i a s seria supérflua. É melhor, portanto, interpretar
c o r r e i a s como se referindo ao açoite, que consistia de um ou mais chicotes ou

cordas, um sentido em que ocorre no grego clássico, e traduzir como e s t ic a r a m


a s c o r r e i a s . O vocábulo é usado em outras passagens do Novo Testamento, com

respeito a uma c o r r e i a d e s a n d á l i a s (Mc 1.7; Lc 3.16; Jo 1.27).

Romano. V id e nota sobre At 16.37.

28. Soma (κεφαλαίου). Literalmente, c a p i t a l . A compra da cidadania romana era


um investimento. Durante o reinado dos primeiros imperadores romanos, era
obtida somente com grande custo e dificuldade; posteriormente, era vendida por
uma ninharia.

Eu sou-o de nascimento (εγώ καί γεγέννημαι). Literalmente, n a s c í a s s i m ,


deixando que a mente complemente com l i v r e ou r o m a n o . Melhor, s o u r o m a n o d e
n a s c im e n to .

85. H a c k e tt, Travels into Persia and the E a st Indies.

465
A to s - C ap. 2 3

30. Trazendo Paulo. Ao local de reunião do Sinédrio: provavelmente não o seu


lugar usual de reunião, que estava localizado no interior do muro, onde havia a
parede de separação, em que Lísias e seus soldados não teriam tido permissão
para entrar.

C a p ít u l o 2 3

1. Pondo os olhos. V i d e nota sobre Lc 4.20. Alguns, que afirmam que Paulo
tinha problemas de visão, explicam este olhar firme em conexão com a sua visão
imperfeita.

Varões irmãos. Ele se dirigiu ao Sinédrio como se fosse um deles.

Tenho andado (πεπολίτευμαι). Literalmente, t e n h o v i v i d o c o m o u m c i d a d ã o ,


com especial referência à acusação feita contra ele, de que ele ensinava os ho­
mens contra a lei e o Templo. Ele quer dizer que vivia como um judeu verda­
deiro, fiel e leal.

Consciência (συναδησίΐ.). V id e nota sobre lPe 3.16.

2. Ananias. Ele é descrito como um tirano ganancioso, vingativo e opressor. Sa­


bemos que reduziu os sacerdotes inferiores quase a morrerem de fome, privando-
os de seus dízimos, e enviou seus subordinados às eiras, armados, para que os
confiscassem à força.

3. Te ferirá (lúirceiu oe μέλλει). Mais apropriadamente, e s t á p r e s t e s a f e r i r . As


palavras não são uma maldição, mas uma profecia de punição pelas suas vio­
lentas atitudes. Segundo Josefo, no ataque dos sicários a Jerusalém, Ananias foi
arrancado de seu esconderijo, em um túnel de esgoto do palácio, e foi morto por
assassinos.

Parede branqueada. Compare com Mt 23.27.

Contra a lei (παρανομώ!/). Um verbo. Literalmente, t r a n s g r e d i n d o a l e i.

4. Injurias (λοιδορείς). O termo significa i n s u l t o v e e m e n te , re p r e e n s ã o , r e p r im e n d a .

6. Uma parte era de saduceus etc. Percebendo a impossibilidade de obter uma


audiência justa, Paulo, com grande tato, procurou fazer com que os dois grupos
do conselho entrassem em atrito.

A ressurreição. Um ponto principal de discórdia entre os fariseus e os sadu­


ceus, pois estes últimos negavam a doutrina da ressurreição, de um estado futuro,
e de qualquer existência espiritual, separada do corpo.
466
A t o s - C ap. 2 3

8. Uma e outra coisa. Mostrando que a referência é a d u a s classes de doutrinas


peculiares aos saduceus, e não t r ê s : (l) A ressurreição. (2) A existência de espíri­
tos, sejam anjos ou almas de homens; “nem anjo nem espírito”.

9. Contendiam. O desvio de atenção foi bem sucedido. O ódio dos fariseus pelos
saduceus era maior do que o seu ódio pelo cristianismo.

Se algum espírito etc. A arc não fornece a forma precisa desta expressão. Os
vocábulos formam uma sentença incompleta, seguida por outra significativa, que
deixa os ouvintes completarem sozinhos quanto à omissão: “se algum espírito ou
anjo lhe falou —” As palavras com que a arc completa a sentença, n ã o c o m b a t a m o s
c o n t r a D e u s , foram emprestadas de At 5.39.

12. Fizeram uma conspiração (ποι.ήσαντ€ς συστροφήν). Literalmente, te n d o f e i t o

nota sobre c o n c u r s o , At 19.40.


u m a c o n s p ir a ç ã o . V i d e

Juraram (άν60€μάτισαν έαυτούς). Literalmente, a m a l d i ç o a r a m ou m a l d i s s e r a m


a s i m e sm o s. Invocaram a maldição de Deus sobre si mesmos, caso violassem o
seu voto. Sobre o substantivo correlato, ανάθεμα, u m a m a l d i ç ã o , v i d e nota sobre
o f e r t a s , Lc 21.4. Caso falhassem, poderiam buscar com os rabinos a absolvição de

seu juramento.

13. Conjuração (συνωμοσίαν'). Literalmente, j u r a m e n t o c o n j u n t o . De acordo com


a sua etimologia, c o n s p ir a ç ã o é um r e s p i r a r ou s o p r a r j u n t o s (latim, c o n s p ir a r e ) . Ou
seja, de pensamento e ação de comum acordo.

14. Conjuramo-nos, sob pena de maldição (άναθέματι άν€0€ματίσαμ€ν ίαυτους).


Literalmente, n ó s n o s a m a l d i ç o a m o s c o m u m a n á t e m a . Uma expressão muito forte.
V i d e expressões similares em Lc 22.15; Jo 3.29; At 4.17.

15. Saber (διαγινώσκΈΐν). Mais corretamente, j u l g a r . Somente aqui e em At


24.22. Originalmente, d i s t i n g u i r ou d i s c e r n i r , portanto, d e c i d i r , como uma ação
legal. Na teb , ntlh e ep, e x a m i n a r .

Mais alguma coisa (άκριβέστφον). Melhor, c o m m a i s e x a t id ã o - , ou como a tb :


c o m m a i s p r e c i s ã o . V i d e nota sobre Lc 1.3; At 18.25-26.

De seus negócios (τα π φ ί αύτοΰ). Literalmente, a s c o is a s q u e d i z e m re s p e ito a

e le .Na tb , melhor, a s u a c a u s a .

18. O preso (ό δέσμιος). De δέω, a t a r . Paulo, sendo cidadão romano, foi mantido
sob c u s t o d i a m i l i t a r i s , “custódia militar”. A lei romana reconhecia três tipos de
custódia: (l) C u s t o d i a p u b l i c a (custódia pública); confinamento na prisão pública.
Este era o pior tipo, pois as prisões comuns eram masmorras lamentáveis. Este
467
Ato s - C ap. 2 3

foi o tipo de confinamento a que foram submetidos Paulo e Silas em Filipos. ( 2 )


C u s t o d i a l i b e r a (custódia livre), o confinamento sob os cuidados de homens de alta

posição. O acusado era entregue aos cuidados de um magistrado ou senador, que


se tornava responsável pelo seu comparecimento no dia do julgamento. (3 ) C u s ­
t o d i a m i l i t a r i s (custódia militar). O acusado era colocado sob a vigilância de um

soldado, que devia zelar, com a sua própria vida, pela segurança do prisioneiro,
e cuja mão esquerda ficava algemada à mão direita do prisioneiro. Normalmente
o prisioneiro era mantido no quartel, mas algumas vezes ele tinha permissão de
residir em uma casa particular sob os cuidados de guardas.

21. Os quais se obrigaram.

Se nos p e rg u n ta rm o s como, tão cedo pela m an h ã, depois da lo n g a d iscu ssão no Siné-


drio, que deve te r co n su m id o um a p a rte considerável d o dia, m ais de q u a re n ta h o m en s
co n sp iraram , sob anátem a, a não c o m er nem beber, a té que tivessem assassin ad o a
Paulo, e, ainda mais, com o ta l conspiração, ou m elhor, conjuração, que, pela sua p ró ­
p ria n a tu reza, seria c o n serv ad a em p ro fu n d o seg red o , acabou se to rn a n d o do co n h e­
cim ento do filho da irm ã de P aulo — as circ u n stâ n c ia s do caso fo rn ecem explicações
suficientes. O s fariseus e ra m co n fessad am en te um a f r a te r n id a d e ou associação-, e eles,
ou alg u m as de suas fra te rn id a d e s co rre la ta s, fo rn e c e ría m o p ro n to m aterial p a ra tal
conspiração e tal gru p o , p a ra q uem e ste v o to ad icional não seria n a d a novo ou e s tra ­
nho, ainda qu e parecesse assassino; estes so m en te p arecem e x e c u ta r e p ô r em p rática
os princípios de sua o rdem . N o v am en te , u m a vez q u e a esposa e to d o s os filhos de um
m em bro e ra m ip so f a c t o m em b ro s d a associação, e o pai de Paulo fo ra um fariseu (v. 6),
a irm ã de Paulo tam b ém , p o r v irtu d e de seu nascim ento, p e rte n c e ría à frate rn id a d e ,
m esm o sem co n sid e ra r a p ro b ab ilid ad e de que, em co n fo rm id a d e com os p rin cíp io s do
g ru p o , ela tivesse se casado co m um h o m em de fam ília farisaica86.

23. Soldados (στρατ ιώτας). Soldados de infantaria com armas pesadas: legionários.

Lanceiros (δεξιολάβους). Somente aqui no texto do Novo Testamento, mas


presente no grego clássico. De δεξιός, d i r e i t o , e λαμβάηω, t o m a r . Não se sabe ao
certo o significado. Alguns explicam como sendo o s q u e t o m a m o l a d o d i r e i t o dos
prisioneiros que estão sob seus cuidados; outros, aqueles que t o m a m ( a s u a a r m a )
c o m a m ã o d ir e it a - , outros, ainda, o s q u e l e v a m ( u m s e g u n d o c a v a lo ) c o m a m ã o d i r e i t a .

Aqui são mencionados de maneira distinta dos legionários com armas pesadas e
da cavalaria. Provavelmente eram soldados com armas leves, atiradores de lan­
ças ou fundas. Um dos principais manuscritos diz δεξιοβόλους, “os que a t i r a m
com a mão direita”.

86. Edersheim, J e w i s h S o c i a l IA fe.

468
A tos - C ap . 23

24. Cavalgaduras (κτήνη). V id e nota sobre Lc 10.34.

25. Que continha isto (πφΐέχουσαν τον τύπον τούτον). Literalmente, q u e c o n ti­

n h a e s t a f o r m a o u t i p o . V i d e nota sobre s e c o n t ê m , lPe 2.6.

26. Potentíssimo (τώ κρατίστω). “Sua excelência”: um título oficial. Compare


com At 24.3; 26.2.5.

Saúde (χαίρβ,ν). V id e nota sobre At 15.23.

27. Livrei. Bengel diz: “uma mentira”. Lísias deseja dar a impressão de que a
cidadania de Paulo foi o motivo da sua libertação, mas ele não soube disso então,
somente posteriormente. Ele nada diz sobre o açoitamento proposto.

29. Questões. V id e nota sobre At 15.2.

Nenhum crime —digno de m orte ou de prisão. Cada magistrado romano


diante do qual o apóstolo é trazido o declara inocente.

30. Sendo-me notificado (μηνυθείσης). Literalmente, r e s s a l t a d o , ou m o s t r a d o . Na


bp, A o t o m a r c o n h e c im e n t o , e na tb , S e n d o e u i n f o r m a d o . V i d e nota sobre Lc 20.37.

Passa bem. Os melhores textos omitem. V id e nota sobre At 15.29.

31. Tomando (άναλαβόντ6ς). Literalmente, “tendo tomado”. Compare com p o n d o


n e l a s a P a u l o , v. 24.

A Antipátride. Uma noite de dura cavalgada: 64 quilômetros.

32. No dia seguinte. Depois de chegar a Antipátride.

33. Cesareia. A 41,6 quilômetros de Antipátride.

34. De que província (έκ ποιας Ιπαρχίας). Ou melhor, “ d e q u e t i p o de província”,


se senatorial ou imperial. V i d e I n t r o d u ç ã o ao Evangelho de Lucas. A Cilicia era
uma província imperial.

35. Ouvir-te-ei (δι,ακούσομαι.). Melhor, como na bp : O u v i r e i t u a c a u s a . A palavra


significa “ouvir d e m a n e i r a a b r a n g e n t e ( δ ι ά ) em um sentido judicial”. Este interro­
gatório era meramente preliminar.

O pretório de Herodes. Construído por Herodes, o Grande. Como a Judeia


era nesta época uma província romana, o palácio de seus antigos reis tinha se
tornado a residência oficial do governador. Parece, portanto, que Paulo foi trata­
do com brandura, e não foi lançado na masmorra comum.
469
A t o s - C ap. 2 4

Capítulo 24

1. Orador (ρήτορος). Um advogado. Os judeus, pouco familiarizados com os cos­


tumes e as leis dos romanos, tinham que empregar advogados de Roma.

3. Prudência (προνοίας). Previdência. Providentia Augusti (aprovidência do impe­


rador) era um título comum nas moedas dos imperadores.

Louváveis serviços (κατορθωμάτων). De κατορθόω, endireitar. Consequente­


mente, um sucesso resultante de uma avaliação correta-, uma ação correta. Os melhores
textos, no entanto, trazem διορθωμάτων, reformas, correções. Assim a sentença
diz, literalmente: tendo obtido muita paz por teu intermédio, e tendo ocorrido reformas
nesta nação pela tua providência, reconhecemos etc.

4. Te detenha (έγκόπτω). Vide nota sobre impedido, lPe 3.7. O significado é,


“para que eu não te impeça, ou detenha’.

Equidade (έπΐ€ΐκ6ΐα). Vide nota sobre humano, lPe 2.18.

Por pouco tempo (συντόμως). Literalmente, concisamente. De συντέμνω, redu­


zir ou encurtar.

5. Peste (λοιμόν). Literalmente, uma praga ou pestilência, como traduz a t b : pestífero.

P rom otor de sedições (πρωτοστάτην). Mais corretamente na b j : um dos da


linha-de-frente. Na e c p : fomenta discórdia-, na bj, conflitos; na t e b , motins. Origi­
nalmente, alguém que é oprimeiro à direita de uma linha, um líder. Assim Tucídi-
des diz que todos os exércitos, quando preparados, podem lançar o seu flanco
direito; e acrescenta: “O primeiro homem nafileira dafrente (ò πρωτοστάτης) do
flanco direito é originalmente responsável pelo desvio”BT. Aqui, naturalmente,
a palavra é usada metaforicamente. Somente aqui no texto do Novo Testa­
mento.

Seita (α'ιρέσεως). Vide nota sobre heresias, 2Pe 2.1.

Nazarenos. Na bj, nazareus. A única passagem nas Escrituras, onde este termo
é usado para se referir aos cristãos. Vide nota sobre Mt 2.23.

6. Profanar (βφηλώσαι). O termo é similar a βηλός, limiar, e βαίνω, pisar, e a sua


ideia fundamental, portanto, é a de passar pelo limiar de lugares sagrados. A
palavra profano é proveniente do latim, profanum, diante do santuário; aquilo que
é deixado do lado de fora do templo por não ser santo.

87. Tucídides, v., 71.

470
A t o s - C ap. 2 4

Prendemos. Os melhores textos omitem todas as palavras a partir dessa, até


q u is e m o s j u l g a r .

8. Dele. Paulo. Seria uma referência a Lísias, se o termo omitido acima fosse retido.

9. Acusavam (συνέθ^ντο). Mas os melhores textos dizem συι^πέθβζτο, u n a n im e ­

m e n t e a c u s a r a m . Na teb : r e q u i s i t ó r i o .

10. Com tanto melhor ânimo (εύθυμότφορ). Os melhores textos trazem a for­
ma positiva do advérbio, εύθύμως, a le g r e m e n t e .

14. O Caminho. V id e nota sobre At 9 .2 .

Uma seita. V i d e nota sobre v. 5. A palavra é comumente usada em um sentido


indiferente, como significando meramente uma e s c o la ou um g r u p o . Assim tam­
bém At 15.5; 28.22. Aqui, no entanto, o termo aparece em um mau sentido - a
seita h e r e g e e c i s m á t i c a como em lCo 11.19.

Sirvo (λατρεύω). V id e nota sobre Lc 1.74.

O Deus de nossos pais (τω πατρώω θεω). Uma expressão familiar clássica, e por
isso bastante conhecida por Félix. Assim Demóstenes chama Apoio de ο πατρώος
(deus ancestral) de Atenas. Perguntam a Sócrates, “Tens um Zeus a n c e s t r a l (Zeuç
πατρώος)?”88. Assim, frequentemente, nos clássicos. Similarmente, a expressão ro­
mana D i p a t r i i , “os deuses dos a n t e p a s s a d o s . Sobre a reverência romana pela religião
ancestral, v i d e nota sobre At 16.21. O sentimento do romano o prepararia para res­
peitar o de Paulo.

15. Admitindo (προσδέχονται). Ou, como na tb, t e n d o e s p e ra n ç a . O vocábulo ad­


mite os dois sentidos.

16. Procuro (άσκώ). Originalmente, t r a b a l h a r c o m a m a t é r i a p n m a , f o r m a r . conse­


quentemente, p r a t i c a r , e x e rc e r, d i s c i p l i n a r , e assim, em linguajar eclesiástico, m o r t i f i c a r
o c o rp o . Do adjetivo correlato, ασκητικός, a nossa palavra a s c é tic o é uma transcrição.

Sem ofensa (άπρόσκοπον). Literalmente, s e m t r o p e ç a r , i n a b a l á v e l . O termo é


usado no sentido p a s s i v o aqui, como em Fp 1.10. Em lCo 10.32, aparece no sen­
tido a t i v o de o f e n d e r os outros, ou fazê-los tropeçar.

18. Nisto ( k v οις). Mais corretamente, e m q u e (ocupação); e n q u a n t o e n v o l v i d o s


Os melhores textos, no entanto, trazem k v αις, n a s q u a i s , com o pronome
n is to .

concordando, em gênero, com o f e r t a s .

88. Platão, Euthydemus, 302.

471
A to s - C ap. 2 4

22. Pôs dilação (άνεβάλετο). Adiou o caso. Somente aqui no texto do Novo Tes­
tamento.

Tomarei inteiro conhecimento (διαγνώσομαι). Melhor, d e t e r m i n a r e i , como


se apresenta na t b : d e c i d i r e i a v o s s a q u e s t ã o . Na v s , j u l g a r e i a v o s s a q u e s tã o - , e na bp,
r e s o l v e r e i v o s s o p l e i t o . V i d e nota sobre At 23.15.

23. Brandura (άνεσιν). Na bp e teb mais corretamente, l i b e r d a d e . De άιήημι,


d e i x a r , consequentemente, d e s p r e n d e r , l i b e r t a r . O vocábulo é expresso de maneira

quase exata pela nossa expressão vulgar d a r u m a t r é g u a . Em todas as outras pas­


sagens do Novo Testamento, o vocábulo é traduzido como d e s c a n s o , t r a n q u i l i d a d e ,
ou a l í v i o . V i d e 2Co 2.13; 7.5; 8.13; 2Ts 1.7. A bj lê: b o m t r a t a m e n t o .

Servir (ύτηρετειν). V id e nota sobre o fic ia l, Mt 5.25.

25. Ju stiça, tem perança, o Juízo vindouro. Três tópicos que se aplicam
diretamente ao caráter de Félix. A respeito dele, Tácito diz que “exercia
a autoridade de um rei com o espírito de um escravo”, e que, em razão da
poderosa influência do seu comando, “supôs que podería cometer impune­
mente todo tipo de torpeza”. Ele havia persuadido a sua esposa Drusila a
abandonar seu esposo e se casar com ele. Ele havia empregado assassinos
para matar Jônatas, o sumo sacerdote, e bem podería trem er com a pregação
do juízo vindouro. T e m p e r a n ç a (εγκράτεια) é, a rigor, a u t o c o n t r o l e - , controlar
as paixões.

Espavorido (έμφοβος γενόμενος). Literalmente, t e n d o s e n t i d o t e m o r . Na tb , me­


lhor traduzido p o r , f i c o u a t e m o r i z a d o . A nvi traz m e d o -, e a teb , p e r t u r b a ç ã o .

Por agora (το v w εχον). Ou, p o r e n q u a n to . Muito literalmente, q u a n to a o q u e

a c o n te c e a g o r a .

26. Esperando, também (άμα δε καί έλπίζων). Deveria haver uma vírgula de­
pois de t e c h a m a r e i (v. 25), e o particípio έλπίζων, e s p e r a n d o , estar unido a r e s p o n ­
deu-. “Félix respondeu: ‘Vai-te’, esperando que Paulo lhe desse dinheiro”.

Falava (ώμίλει). V id e nota sobre f a l o u , At 20.11.

27. Félix teve por sucessor a Pórcio Festo (ελαβε διάδοχοι1 ò Φήλιξ Πόρκιον
Φήστον). Preferível: P ó r c i o F e s t o e n t r o u n a s a l a d e F é l i x . A expressão grega é, F é l i x
re c e b e u P ó r c i o F e s t o c o m o s u c e s s o r .

Comprazer aos judeus (χάριτας καταθέσθαι τοΐς Ίουδαίοις). Literalmente,


a o s j u d e u s . Na tb : a l c a n ç a r o f a v o r d o s
a c u m u la r a g r a d e c im e n to s p a r a s i m e s m o j u n t o

ju d e u s .

472
A t o s - C a p. 2 5

Capítulo 25

1. Entrando na província (fττιβάς τη επαρχία). Literalmente, tendo entrado na


província.

2. Rogaram. O imperfeito indica a sua persistência: continuavam rogando. Na t b :


deram-lhe informações contra Paulo.

5. Armando ciladas (ένεδραν ποιοΰντες). Literalmente, preparando ou organi­


zando emboscadas.

4. Estava guardado (τηρεισθαι). Isto é apresentado como uma negação peremp­


tória, por parte de Festo, ao pedido dos judeus; ao passo que é apenas a sua ver­
são de um fato. O texto pode ser traduzido como, que Paulo estava mantido sob cus­
tódia. A resposta de Festo é conciliadora, e fornecida por razões convenientes.

6. Tribunal. Vide nota sobre At 7.5.

8. Pequei (ήμαρτον). Vide nota sobre o substantivo correlato, αμαρτία, pecado,


Mt 1.21.

9. Comprazer. Vide nota sobre At 2 4 .2 7 . Na tb , melhor, alcançar ofavor.

Perante mim (επ’ εμοΰ). Não com ele, como juiz, mas pelo Sinédrio, na sua
presença.

10. M uito bem (κάλλιοα). A força do comparativo deve ser preservada: “sabes
melhor do que sugere a tua pergunta”.

11. Entregar (χαρίσασθαι). Com o sentido implícito de entregá-lo como umfavor


aos judeus.

Apelo (επικαλούμαι). A expressão técnica para submeter um apelo. A tradu­


ção grega da fórmula do latim, appello.

12. O conselho. Um grupo de homens escolhidos pelo próprio governador,


dentre os principais romanos da província. Eram chamados assessores, às vezes
amigos, às vezes capitães. Embora um cidadão romano tivesse o direito de apelar
ao imperador, os governadores das províncias podiam ter certos critérios para
admitir o apelo. Este podería ser recusado se a questão não admitisse demora ou
atraso, ou se o acusado fosse um ladrão ou pirata conhecido. Em casos duvidosos,
o governador era obrigado a consultar o seu conselho, pois, se não o fizesse, po­
dería se expor a censuras. Cícero, quando destitui Verres, o brutal governador da
Sicilia, diz: “Negas que dissolveste o teu conselho, os excelentes homens a quem
473
A tos - C ap . 25

o teu predecessor e tu mesmo estavas acostumado a consultar, e decidiste o caso


sozinho?”’9. O fato de que Festo pôs em prática este costume no caso de Paulo
fica claro pela consulta que ele faz ao conselho.

13. O rei Agripa. Herodes Agripa II, filho do Herodes cuja morte está registra­
da em At 12.20-23.

Berenice. Irmã de Drusila, a esposa de Félix. Há informações de que ela tinha


um relacionamento incestuoso com seu irmão. Juvenal se refere a isto em sua
sexta sátira: “Um diamante extremamente notável, ainda mais precioso por ter
sido usado no dedo de Berenice. Isto um rei bárbaro deu, certa vez, a seu inces­
tuoso amor. Isto Agripa deu à sua irmã”.

16. Oportunidade (τόπον). Conforme a kjv. Literalmente, l u g a r . Um emprego


não convencional do vocábulo. A arc omite essa palavra; a ntlh a inclui: d a n d o a
e s te a o p o r t u n i d a d e d e s e d e f e n d e r .

18. Presentes (σταθεντες). V id e nota sobre Lc 18.11; 19.8.

19. Superstição (δεισιδαιμονίας). V i d e nota sobre At 17.22. Melhor, r e l i g i ã o ,


como na rv. Como Agripa era judeu por religião, Festo não o teria insultado ao
aplicar a palavra s u p e r s t i ç ã o para descrever a sua fé. Observe, no entanto, que ele
se refere a ela como a religião d e le s , sem identificar Agripa com eles. Era uma ex­
pressão neutra, uma vez que o termo significava r e l i g i ã o ou s u p e r s t i ç ã o conforme
as circunstâncias. De acordo com Meyer, ele permitiu que Agripa “interpretasse
a palavra em um bom sentido, mas reservou a sua própria interpretação, que
certamente seria a romana”. Existe, na realidade, um tato similar no emprego da
palavra por Paulo, ao dirigir-se aos atenienses. Trench declara que ele escolheu
“uma palavra cujo significado variava quase que imperceptivelmente do louvor
à repreensão”90.

Afirmava (εφασκεν). O imperfeito indica algo habitual. “Paulo c o n t in u a v a a firm a n d o ’ .

21. Augusto (τοΰ Σεβαστού). Literalmente, significando o a u g u s t o - , portanto, uma


tradução de A u g u s t o , que não era um nome próprio, mas um título dos impera­
dores romanos.

89. Cícero, ii., S3.


90. Sobre isso, acrescenta Zeschwits: “B ernhardy observa, m uito apropriadam ente, que a in tro ­
dução da palavra δεισιδαιμονία assinala um ponto crucial na história da vida do povo grego.
E a oscilação entre o ceticismo e o desânimo. Com este vocábulo, o conceito do objeto da re­
verência religiosa oscila e n tre D eus e o diabo, e p o r isso te m o r se to rn a a noção predom inante.
Consequentem ente, a palavra tran sm ite mais censura que crédito” ( P r o f a n g r ã c itã t u n d B ib lis c h e r
S p ra ch g eist).

474
A to s - C ap. 2 6

26. Senhor (κυρίω). Um exemplo da exatidão de Lucas. O título “senhor” foi


recusado pelos dois primeiros imperadores, Augusto e Tibério. Os imperadores
que os sucederam aceitaram o título. Na época de Domiciano, era um título reco­
nhecido. Antonino Pio foi o primeiro que o incluiu em suas moedas.

27. Acusações (αιτίας). Tradução adequada e literal. A teb traz: in c r im in a ç õ e s .

Capítulo 26

2. Venturoso (μακάριον). V id e nota sobre b e m - a v e n tu ra d o s , Mt 5.3.

Defender (άπολογεισθαι). V id e nota sobre lPe 3.15.

3. Que tens conhecimento (γνώστην). Na bp, p e r it o - , na tb , v e rs a d o - , na n v i, bem

f a m i l i r i a r i z a d o . Literalmente, u m c o n h e c e d o r .

Questões (ζητημάτων). V id e nota sobre At 15.2.

4. A minha vida etc. Os artigos repetidos conferem precisão adicional à declara­


ção: “ a minha vida, a que tem sido desde a m i n h a mocidade; a q u e tem sido desde
o princípio”.

6. Pela esperança (επ’ έλπίδι). Literalmente, “p o r c a u s a d a esperança”.

Que por Deus foi feita. O artigo claramente define qual promessa, “ e s p e c if i­

c a m e n te , a q u e l a f e i t a p o r D e u s . ”

7. Doze tribos (δωδεκάφυλον). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Um


termo coletivo, abrangendo as tribos como um todo. Meyer traduz: a d i n a s t i a d a s
n o s s a s d o z e trib o s .

Continuamente (èv εκτενεία). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Literalmente, i n t e n s a m e n t e . V i d e nota sobre a r d e n t e m e n t e , lPe 1.22. Compare com
m a i s i n t e n s a m e n t e , Lc 22.44; s e m c e s s a r , At 12.5; a r d e n t e , lPe 4.8. V i d e também a

nota sobre c o m i n s t â n c i a e i n s t a r , Lc 7.4 ( ara ); 23.23.

Servindo. Compare com At 24.14; e v i d e nota sobre Lc 1.74.

Chegar (καταντήσαι). Literalmente, c h e g a r a , como se a uma meta. Compare


com At 16.1; 18.19; 24.13 etc. Na tb , a lc a n ç a r , e bp, a g u a r d a m im p a c ie n t e s .

8. Que Deus ressuscite os m ortos (ò θεός νεκρούς εγείρει). Muito melhor,


como na s e D e u s r e s s u s c i t a o s m o r t o s . Ele não expressa como uma suposição, mas
como um fato: s e D e u s r e s s u s c i t a o s m o r t o s , como admites que Ele tem o poder para
fazer, e como os teus próprios textos te dizem que Ele fez.
475
A tos - C ap. 2 6

IO. Santos (των άγίωιζ). Literalmente, o s s a n t o s . A bp lê: c o n s a g r a d o s . Paulo


não chamava os cristãos por este nome quando falava com os judeus, pois isto
os teria enfurecido; mas diante de Agripa ele usa esta palavra sem temor de
ofender a ninguém. Sobre esta palavra, άγιος, s a n t o , que aparece mais de du-
zentas vezes no texto do Novo Testamento, deve-se observar como os autores
das Escrituras em grego, tanto no Novo Testamento quanto, o que é mais
notável, na lxx , a tiram do papel secundário em que havia sido deixada pelos
autores clássicos. Eles a preferem, empregando-a em lugar de palavras que, no
uso pagão, representavam conceitos de mera exterioridade em religião. Mesmo
no Antigo Testamento, quando a exterioridade é enfatizada, άγιος é a palavra
padrão para santo91.

Dava o meu voto (κατηΡ6γκα ψήφορ). Literalmente, d e p o s i t a v a o m e u


v o t o . Na bj : c o n t r i b u í a c o m m e u v o t o . V i d e nota sobre f a z e r a s c o n t a s , Lc

14.28. Alguns supõem que Paulo se refere, aqui, a dar o seu voto, como
membro do Sinédrio; neste caso, ele deve ter sido casado e chefe de uma
família. Mas não há razão para crer nisto (cp. lCo 7.7-8); e a frase pode
ser interpretada como expressando meramente concordância moral e
aprovação.

12. Sobre o que (έυ ο ίς). V i d e nota sobre At 2 4 .1 8 . Melhor, c o m e s s a m is s ã o · , com


essa questão de perseguição.

13. Excedia o esplendor do sol. Peculiar a este terceiro relato da conversão


de Paulo. As outras peculiaridades são: a queda de seus companheiros ao chão,
juntamente com ele mesmo; a voz que se dirigiu a ele, em língua hebraica; e as
palavras "Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões”.

14. Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões. O aguilhão pontiagudo


que é levado na mão do agricultor, e contra o qual os bois escoiceiam,
quando cutucados. A metáfora, embora não encontrada em textos judaicos,

91. Assim, embora o sacerdote seja Upeúç, o Santuário é το άγιον, e o Lugar Santíssimo, τα αγία
τώ ν άγιω ν, 'Iepóv nunca é usada na lxx com respeito ao Templo, exceto em lC r 29.4; Ez 45. 19;
e nos dois casos a menção ao Templo refere-se ao seu aspecto exterior. Em Ez 27.6; 28.18,
τά íepó é usada com respeito aos santuários pagãos de Tiro. No texto do Novo Testamento,
iepóç nunca indica excelência moral. Com exceção da forma neutra, το Upóv, o tem p lo , aparece
apenas duas vezes (lC o 9.13; 2Tm 3.15), e nunca é usado com respeito a uma pessoa. Σίμνός
é reverend o . 'Αγνός é p u ro , no sentido de c a s tid a d e , a u sên cia d e m istu r a com o m a l, e é aplicada
apenas uma vez ao próprio Deus (ijo 3.3). 'Ό σιος é santo p o r sanção. Trench destaca a grande
distinção mantida pelos tradutores da lxx entre esta palavra e άγιος, sendo os dois termos
usados para traduzir dois vocábulos hebraicos diferentes, e nunca interligados. O estudante de
grego encontrará um interessante comentário sobre este tema em Zeschwitz (P r o f a n g r ã c ità t
u n d B ib lisch er S p ra ch g eist).

476
Atos - C ap. 26

era comum em textos gregos e romanos. Assim, Euripides: “Enfurecido,


eu chutaria os aguilhões, um mortal contra um deus”92. Plautus: “Se você
atacar os aguilhões com os seus pulsos ferirá mais as suas mãos do que os
aguilhões”1'3. Howson: “Quem sabe se naquele momento a operação de arar
não podia estar acontecendo em um ponto visível da estrada pela qual viajava
o perseguidor?”9*.

16. Aparecí (ώφθηρ). Vide nota sobre Lc 22.43.

Pôr por (προχειρίσασθαι). Melhor como na b v , nomear, se g u id o pela bp, nomear-


te. Vide nota sobre 3.20. Na t e b , Oestinei-te.

Ministro e testemunha. Vide nota sobre Mt 5.25; At 1.22. 17. O povo. Os judeus.

22. Socorro de Deus (επικουρίας τής παρά του Θεοΰ). Literalmente, “socorro
que éde Deus”. O artigo define a natureza do socorro mais profundamente do que
a a r c . A palavra para socorro originalmente significava aliança.

23. Que o Cristo devia padecer (εί παθητός ό Χριστός). Ou melhor, se o Messias
está sujeito ao sofrimento. Ele se expressa de uma forma problemática, porque este
era o motivo do debate entre os judeus, se um Messias sofredor era digno de
crédito. Eles criam em um Messias triunfante, e a doutrina dos seus sofrimentos
era um obstáculo para que o recebessem como o Messias. Observe o artigo, “o
Cristo”, e vide nota sobre Mt 1.1.

24. As muitas letras te fazem delirar (τα πολλά σε γράμματα εις μαρίνα
περιτρέπει). A kjv omite ο artigo com muitas letras·, “as muitas letras”, ou “o muito
conhecimento” com que te ocupas. Tefazem delirar, literalmente, te estão levando
à loucura, como traduz a n v i .

25. Digo (άποφθέγγομαι). Vide nota sobre At 2.4.

28. Por pouco me queres persuadir (èv όλίγω με πείθεις). Literalmente,


em um pouco persuades. Em minha opinião, a tradução por pouco quase deve ser
rejeitada, pois entendo que ela não tem uma autoridade suficiente. A expressão
em um pouco é adverbial e significa de maneira sucinta, sumariamente. Podemos
incluir o termo esforço ou conversa. “Com pouco esforço, ou com pouca conversa”.
As palavras são irônicas, e o sentido é: “Estás tentando persuadir-me de improviso

92. Euripides, Bacchae, 791.


93. Plautus, Truculetitus, 4, 2, 55.
94. Howson, Metaphors o f St. Paul.

477
A tos - C ap . 27

a ser um cristão". Me queres persuadir (πείθεις) é, na verdade, me tentas persuadir,


uma força que tanto o presente como o imperfeito têm, às vezes95.

29. Por pouco e por muito (kv όλίγω και kv μεγάλη). Como consta nos
melhores textos, em lugar de ττολλω, muito. Literalmente, em pouco e em muito, i.e.,
com pouco ou muito esforço.

Tomassem (γενεσθαι). Melhor, pudessem tornar-se. A expressão de Agripa,


“tornar-se um cristão”, é repetida.

Exceto estas cadeias. Um toque extravagante de cortesia cristã.

30. O rei, e o governador, e Berenice. Mencionados em ordem de sua importância.

31. Fez. Referindo-se, não ao comportamento passado de Paulo, mas ao caráter


geral de sua vida.

C a pítu lo 27

1. Navegar (άποπλεΐν). Literalmente, zarpar.

Coorte. Vide nota sobre Mc 15.16.

2. Partimos navegando (μέλλοντες πλεΐν). Isto se refere à intenção dos viajantes;


mas os melhores textos trazem μέλλοντι, concordando com πλοίω, navio; de
modo que a tradução correta é, como na n v i , num navio —que estava de partida.

3. Chegamos (κατήχθημεν). De κατά, para baixo, e άγω, conduzir ou levar. Levar o


navio para baixo, das águas profundas à terra. Em oposição a άνήχθημεν, zarpar
(v. 2); que significa levar o navio para cima (άνά), da terra às águas profundas. Vide
nota sobre Lc 8.22. Chegamos é uma tradução dedutiva. Atracamos seria igualmente
boa. A distância de Cesareia a Sidom era de aproximadamente 112 quilômetros.

Humanamente (φιλανθρώπως). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Literalmente, de uma maneira humana e amorosa; humanamente, gentilmente,
cortesmente. Na tb , usando de bondade. Cortês, de corte, expressa mais polidez de
maneira que bondade verdadeira.

Cuidassem dele (έπιμελείας τυχεΐν). Literalmente, receber cuidado ou atenção.

95. Outros exemplos estão em Jo 10.32: “Por qual dessas obras me quereis apedrejar (λιθάζετε)?”· Jo
13.6: “Queres lavar (víirteLç) os meus pés?”. Lc 1.59: “Queriam dar-lhe (kκαλούν) o nome de seu
pai, Zacarias”. Mt 3.14: “João tentava se opor(hιεκώλυευ)”.

478
A tos - C ap . 27

4. Fomos navegando abaixo (ΰπεπλεύσαμεν). Na tb , navegando a sotavento.

6. Um navio de Alexandria. Empregado no imenso comércio de grãos entre


a Itália e o Egito. Vide v. 38. O tamanho da embarcação pode ser deduzido com
base no versículo 37.

7. Muitos (ίκαναις). Vide nota sobre Lc 7.6.

Apenas (μόλις). Penso que seria correto traduzir este termo como na tb , com
dificuldade. Assim, também, dificilmente, no versículo 8. O significado não é que
eles mal haviam chegado a Cnido quando o vento se fez contrário, nem que
haviam chegado somente até Cnido depois de muitos dias, mas que sofreram
um atraso, devido aos ventos contrários, entre Mirra e Cnido, que estão a uma
distância de aproximadamente 208 quilômetros, e que, com vento favorável,
teriam percorrido em um dia. Este vento contrário deve ter sido o noroeste, que
predomina durante os meses de verão nesta parte do arquipélago.

9. O jejum. O grande dia da expiação, chamado de “o jejum” com sentido de


eminência. Ele era realizado no fim de setembro. A navegação era considerada
perigosa ou pouco segura, desde o princípio de novembro até meados de março.

10. Vejo (θεωρώ). Como o resultado de cuidadosa observação. Vide nota sobre Lc 10.18.

Incômoda (ύβρεως). A palavra significa literalmente insolência, injustiça, e


aqui é usada metaforicamente: insolência dos ventos e ondas. Segundo Hackett:
“como a nossa ‘diversão’ ou ‘revolta’ dos elementos”. Alguns interpretam isto
literalmente, com presunção, como indicando a tolice de empreender uma viagem
nessa época; mas o uso do termo no versículo 21 é decisivo contra isto.

Dano (ζημίας). Melhor, como na teb e tb ,perda; ou como traduz a nvi,prejuízo.


Incômoda e com muito dano ( arc) é tautológico. A bp lê: perigos eperdas. Vide notas
sobre o verbo correlato, perder, Mt 16.26, e prejudicar-se, Lc 9.25.

11. M estre (κυβερνήτη). Somente aqui e em Ap 18.17. Literalmente, timoneiro,


como corretamente traduz a bp.

12. Não cômodo (άνευθετου). Literalmente, não bem situado. Na tb , não próprio;
e na bp, não apto.

Olha para a banda do vento da África e do Coro (βλεποντα κατά Λίβα και
κατά Χώρον). Na bp, voltado para ο noroeste e sudoeste. Em vez de voltado para, a
arc , literal e corretamente, traduz por olha para. A diferença entre as versões,
quanto aos ponteiros da bússola, varia com a tradução da preposição κατά. As
palavras sudoeste e noroeste significam, literalmente, os ventos sudoeste e noroeste.
De acordo com a bp, κατά significa em direção a [voltado parã^ e se refere à região
479
A tos - C ap. 27

a partir de onde estes ventos sopram. De acordo com a arc, κατά significa para
baixo·, “olhando para baixo, para os ventos sudoeste e noroeste”, isto é, na direção
em que eles sopram, a saber, nordeste e sudeste. Esta última interpretação
pressupõe que Fenícia e Lutro são a mesma coisa, o que é incerto96.

13. Fazendo-se de vela (άραντες). Literalmente, tendo zarpado. E a expressão


náutica para levantar âncora, conforme traduz a tb e bp, por exemplo.

14. Deu nela (εβαλε κατ’ αύτής). Nela quem? Alguns dizem, a ilha de Creta-, e
neste caso, eles teriam sido jogados em direção à terra, ao passo que lemos que
foram lançados para longe dela. Outros dizem que a expressão se refere ao navio.
Há objeções de que o pronome αύτής, ela, é feminino, ao passo que o substantivo
feminino para navio (ναύς) não é comumente usado por Lucas, que emprega a
forma neutra (πλοΐον). Eu não creio que esta objeção seja muito importante.
Lucas é o único autor do Novo Testamento que usa ναΰς (cf. v. 41), embora o faça
apenas uma vez; e, como observa Hackett, “seria acidental que algum dos termos
moldasse o pronome neste momento, uma vez que ambos eram tão familiares”.
Uma terceira explicação relaciona o pronome à ilha de Creta, e traduz, “afastaram
dela”. Isto é gramatical, e está de acordo com um emprego bastante conhecido
da preposição. O verbo βάλλω é também usado de modo intransitivo, com o
sentido de cair, em Homero97, sobre um rio caindo no mar. Compare com Mc
4.37: “subiam (επέβαλλεν) as ondas por cima do barco”, e Lc 15.12: “a parte da
fazenda que rne pertence (επιβάλλον)”. A tradução preferível é:foram afastados dela.
Isto está também de acordo com a analogia da expressão de Lc 8.23, sobreveio
uma tempestade. Vide nota sobre essa passagem, e sobre Mt 8.24.

Um pé de vento (άνεμος τυφωνικός). Literalmente, um tufão, um vento


tempestuoso. A palavra τυφών significa um tufão, e o adjetivo derivado dela significa
com as características de um tufão.

Euroaquilão (Εύροκλΰδων). Os melhores textos dizem Εύρακύλων, Euraquilão·.


i.e., entre Eurus, “o vento E.S.E.”, e Aquilo, “o vento norte, ou, a rigor, N. 1/3 E.”.
Consequentemente, E. N. E.

15. Navegar contra (άντοφθαλμειν). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


De άντί, diante de, e οφθαλμός, o olho. Literalmente, olhar o vento no olho. Os navios
antigos frequentemente tinham um olho pintado em cada lado da proa. Navegar
“no olho do vento” é uma expressão náutica moderna.

96. Para um comentário abrangente sobre o tema, vide Smith, Voyage and Shipwreck of St. Paul,
Hackett, Commentary on Acts·, Conybeare e Howson, Eife and Epistles o f St. Paul.
97. Homero, lliada, xi., 722

480
A tos - C ap. 27

Nos deixamos ir à toa (Ιπιδόντες έφερόμεθα). Literalmente, tendo nos entregue


a ela,fomos levados.

16. Apenas pudemos ganhar o batei (μόλις ίσχύσαμεν περικρατεΐς γενεσθαι τής
σκάφης). Literalmente, Com dificuldade conseguimos dominar o barco·, i.e., conservar
a bordo o pequeno barco que, em clima calmo, estava ligado por uma corda ao
leme da embarcação. Na n v i , com dificuldade que conseguimos recolher o barco salva-
vidas. Sobre com dificuldade, vide nota sobre apenas, v. 7.

17. Meios (βοηθείαις). Qualquer aparato à mão com esse propósito: cordas,
correntes etc.

Cingindo (ύποζωννύντες). Em linguagem náutica moderna, atando·, passando


cabos ou correntes em volta do casco do navio, para sustentá-lo em uma
tempestade. O Sr. Smith cita o seguinte, do relato da viagem do Capitão George
Back, vindo das regiões do Ártico, em 1837:

Um pedaço do cabo foi passado sob o fundo do navio, quatro pés antes do mastro
traseiro, puxado pelo cabrestante e finalmente imobilizado e preso a seis cavilhas
sobre o convés. O resultado se manifestou imediatamente por uma grande diminuição
no movimento das partes já mencionadas, e, de uma maneira menos agradável,
impedindo a sua navegação98.

Na Sirte (την σύρτιν). A tradução da n th l , banco de areia, é genérica demais.


O termo é um nome próprio e tem o artigo. Havia dois bancos de areia com
este nome - a “Sirte maior” (Syrtis Major) e a “Sirte menor” (Syrtis Minor). Era
à primeira que eles corriam risco de serem levados; uma parte rasa na costa da
África, entre Tripoli e Barca, a sudoeste da ilha de Creta.

Amainadas as velas (χαλάσαντες το σκεύος). Literalmente, como na t b ,


arrearam os aparelhos. Vide nota sobre bens, Mt 12.29. Não se sabe ao certo qual
é a referência aqui. Amainar as velas, diz-se, seria uma maneira garantida de
acabar nas Sirtes, que tentavam evitar. Provavelmente é melhor interpretar
a expressão como se referindo aos aparelhos relacionados com as velas em
condição de bom tempo.

Todos os navios situados como este, ao se p rep arar para uma tempestade, desce
sobre o convés o “cesto superior”, ou os aparatos relacionados com as velas de
bom tempo, como as velas de mezena. Um navio m oderno desce m astros e vergas;
um veleiro amaina a sua vela m aior ao se p rep arar para uma tem pestade99.

98. Smith, Voyage and Shipwreck o f St. Paul.


99. Ibid.
481
A tos - C ap. 27

As velas para tempestade provavelmente estavam montadas.

18. Aliviaram (έκβολήν έποιοϋντο). Literalmente, lançaramfora a sua carga. Na


ntlh , começaram a lançar a carga no mar. Observe o imperfeito, começamos a lançar.
Não foi lançada toda a carga: o trigo foi reservado, como último recurso (v. 38).

19. Armação (σκευήν). A palavra significa equipamento, mobília. Não se sabe


ao certo qual é o significado exato. Alguns supõem que é uma referência à
verga principal; uma verga imensa que exigiría os esforços conjuntos dos
passageiros e da tribulação para ser lançada do convés. Parece improvável,
no entanto, que eles tivessem sacrificado uma verga tão grande, que, no caso
de um naufrágio, serviría para resgatar trinta ou quarenta homens na água.
A opinião mais aceita é a de que a referência é à mobília do navio - camas,
mesas, cômodas etc.

21. Ouvido (ttçιθαρχήσαντας). Vide nota sobre obedecer, At 5.29.

Partir (άνάγεσθαι). Vide nota sobre Lc 8.22.

Incômodo (υβριν). Vide nota sobre v. 10.

23. O anjo. n v i, corretamente, um anjo. Não há artigo.

D e D eus (του 0eoü). A tb lê corretamente “do Deus”, porque Paulo estava


se dirigindo a pagãos, que teriam interpretado anjo como um mensageiro dos
deuses.

27. Adriático. O mar Adriático, que abrange toda aquela parte do Mediterrâneo
ao sul da Itália, a leste da Sicilia, e a oeste da Grécia.

Suspeitaram (imevóouv). Tradução adequada.

Que estavam próximos de alguma terra. Literalmente, que alguma terra se


aproximava deles.

30. Como querendo (προφάσ6ΐ). Literalmente, com o pretexto de.

Lançar (èxteíveiv). Literalmente, esticar. O significado é, t e r u m a âncora até


uma distância da proa, por meio do barco pequeno. Na tb , largar.

33. Enquanto o dia vinha (αχρι. ôè ού φελλοί ημέρα γίνεσθαι). Literalmente,


até que chegasse o dia·, no intervalo entre meia-noite e a manhã.

39. Enseada (κόλπον). Vide nota sobre peito, Lc 6.38.

Praia (αίγιαλόν). Vide nota sobre Mt 13.2.


482
A tos - C ap . 28

Consultaram-se (^Ιουλεύσαντο). Melhor, aconselharam-se. Vide nota sobre Mt 1.19.

40. Levantando (περιελόντες). O termo significa, literalmente, remover, e se re­


fere aqui a cortar os cabos da âncora, ou lançar. Na tb (cf. bj), Desprendendo; bp,
Soltaram.

Deixaram (εΐων). A referência é, literalmente, às âncoras. Penso que a tb traz


a melhor tradução, abandonaram-nas no mar.

Amarras do leme (ζευκτηρίας των πηδαλίων). Literalmente, as amarras


dos lemes. Os barcos maiores tinham dois lemes, como grandes remos, unidos
por uma haste, e controlados por um timoneiro. Eles podiam ser puxados e
amarrados com cordas ao barco; como foi feito neste caso, provavelmente para
evitar obstruções às âncoras quando lançadas da popa. Agora as amarras foram
afrouxadas, para que o barco pudesse seguir em frente.

Vela m aior (άρτέμωνα). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Provavelmente a vela de traquete, como faz a t b . Na bj, vela da proa; teb ,
cevadeira.

Dirigiram-se (κατειχον). Literalmente, controlaram, seguiram àfrente.

C a pítulo 28

1. Souberam. Os melhores textos dizem soubemos: verificamos ou reconhecemos·.


com uma referência ao versículo 39.

2. Os bárbaros. A tb traduz por indígenas; e a bj, nativos. Do ponto de vista


romano, considerando como bárbaros todos os que não falavam nem grego
nem latim. Não necessariamente não civilizados. E equivalente a estrangeiros.
Compare com Rm 1.14; lCo 14.1 1. Os habitantes de Malta eram descendentes
de cartagineses. Gloag declara que “até a atualidade, os nativos de Malta têm
uma linguagem peculiar, chamada maltes, que se comprovou ser basicamente um
dialeto árabe, com uma mistura de italiano”.

Não pouca (ού τυχοΰσαν). Na bj, extraordinária. Vide nota em At 19.11.

Humanidade (φιλανθρωπίαν). Na bp, inusitada amabilidadt, na teb , benevolência.


Vide nota sobre o advérbio correlato humanamente, At 27.3.

A chuva que caía (ύετόν τον έφεστώτα). Literalmente, que estava sobre nós,
ou que havia aparecido. Não há nenhuma menção até este ponto na narrativa do
naufrágio. A tempestade pode até agora ter estado sem a companhia de chuva,
mas isto é muito improvável.
483
A to s - C ap. 28

3. De vides (φρύγανων). Somente aqui no texto do Novo Testamento. De φρύγω,


assar ou secar. Portanto, vides secas.

Do (gc ). Os melhores textos dizem από, por causa do, conforme a t b .

4. Justiça (δίκη). Personificada.

Não o deixa (ούκ e’iaoev). O tempo aoristo: não deixou. A sua morte é
considerada fixada pelo decreto divino.

5. A víbora (το θηρίον). Lucas usa a palavra da mesma maneira que os


autores médicos, que a empregavam para se referir a serpentes venenosas, em
particular à víbora; a tal ponto que um antídoto, fabricado principalmente da
carne de víboras, recebeu o nome de θηριακή. Uma parcela curiosa de história
etimológica se conecta a este último termo. Dele se originou o vocábulo do
latim, theriaca, da qual a nossa palavra melado (ou melaço) é uma corruptela.
Melado, portanto, é originalmente um preparado a partir da carne de víbora,
e esta palavra foi usada, posteriormente, com respeito a qualquer antídoto.
Assim a tradução de coverdale de Jr 8.22 diz: “Não há melado em Gileade”.
Gurnall diz:

As experiências dos santos os socorrem com um melado soberano, feito da própria


carne do escorpião (que eles, p o r interm édio de Cristo, m ataram), e que tem
uma capacidade, acima de todos os outros, de expelir do coração o veneno das
tentações de Satanás100.

Segundo Jeremy Taylor: “Matamos a víbora e dela fazemos melado .

6. Inchado (πίμπρασθαι). Somente aqui no texto do Novo Testamento. O termo


médico usual para inflamação.

Vendo (προσδοκώντων). A palavra aparece onze vezes no Evangelho de Lucas,


e apenas cinco vezes no resto do Novo Testamento. Frequente em autores
médicos para indicar a expectativa do resultado fatal da doença.

Nenhum incômodo (μηδ^ν ατοπον). Literalmente, nada inadequado. O


vocábulo άτοπος aparece três vezes no Evangelho de Lucas, e apenas uma vez em
outra passagem do Novo Testamento (2Ts 3.2). Usada por médicos, para indicar
alguma coisa incomum nos sintomas da doença e também algo fatal ou mortal,
como aqui. Na t b , nada de anormal. Compare com Lc 23.41; e At 25.5, onde os
melhores textos inserem a palavra.

100. Gurnall, Christian in Complete Armor.


484
A tos - Cap. 28

Diziam (ελεγον). O imperfeito, indicando conv ersa corrente.

Um deus. Bengei diz·. “Observe, a inconstância do raciocínio humano. Ele é


um a s s a s s in o , dizem eles, ou um d e u s . Assim, em certa ocasião, t o u r o s , em outra,
p e d r a s ” (At 14.13,19).

7. O principal (τφ πρώτες). Título oficial, sem referência à sua posição ou posses.
Embora não ocorrendo como a designação oficial do governador de Malta
em nenhum autor antigo, esta expressão foi encontrada em duas inscrições
descobertas na ilha.

8. Enfermo (συνεχόμενον). Literalmente, to m a d o ou d o m in a d o . V id e nota sobre


t o m a d o , Lc 4.38.

Febre (πυρετοΐς). Literalmente, f e b r e s . Este uso peculiarmente médico do plu­


ral está limitado a Lucas, no texto do Novo Testamento. Indica sucessivos e
variados ataques de febre.

Fluxo de sangue (δυσεντερία). Na tb e bp, d i s e n t e r i a . Somente aqui no texto do


Novo Testamento. A nossa palavra d i s e n t e r i a é uma transcrição desta expressão.
Hipocrates frequentemente fala das duas queixas combinadas.

Curou (ίάσατο). V id e nota sobre Lc 6.19.

10. Honras (τιμαΐς). O termo era aplicado a pagamentos por serviços


profissionais, e este fato pode ter influenciado Lucas na escolha desta palavra,
mas evidentemente não é usada neste sentido aqui.

11. Insígnia. Que corresponde ao n o m e do barco, nos tempos modernos.


Era a imagem de um deus, um homem, um animal ou algum outro objeto,
esculpido ou pintado na proa. A figura de uma divindade guardiã estava
afixada à popa.

Castor e Pólux. Conhecidos como os i r m ã o s g ê m e o s e D i o s c u r i , ou filhos de


Jove. Eram considerados como divindades tutelares de marinheiros.

16. O centurião entregou os presos ao general dos exércitos. Os melhores


textos omitem esta frase.

20. Estou com esta cadeia (περίκειμαι). Literalmente, e n v o lto .

22. Quisêram os (άξιοΰμεν). Ou melhor, j u l g a m o s a p r o p ria d o . Compare com


At 15.38.

Seita. V id e n ota sobre h e re s ia s , 2Pe 2.1.


485
Atos - C ap. 28

25. Discordes. V id e nota sobre c o n c e rta s te s , At 5.9. 27.

Endurecido. F/áf nota sobre Mt 13.15.

Com os ouvidos ouviram pesadamente. Literalmente, se u s o u v id o s tê m

d ific u ld a d e p a r a o u v ir .

Fecharam. V id e n o ta sobre Mt 13.15.

30. Habitação que alugara (μισθώματι.). Provavelmente diferente de ξενία,


ou a l o j a m e n t o , onde residiu nos primeiros poucos dias talvez como hóspede de
amigos, embora sob custódia, e onde recebeu os judeus (v. 23).

486
L ista de P alavras G regas E mpregadas som ente por L ucas

(A. = Atos)

αγκάλη, braço, 2.28 άναδείκνυμι, designar, 10.1; A. 1.24


άγνισμός, purificação, A. 21.26 άνάδειξις, mostrar, 1.80
άγνωστος, desconhecido, A. 17.23 άναδίδωμι, entregar, A. 23.33
αγοραίος, pertencente ao mercado, va­ άναζητεω, procurar, 2.44; A. 11.25
dio, A. 17.5 ανάθημα, dádiva, 21.5
αγοραίοι, audiência, A. 19.38 άναίδεια, importunação, 11.8
άγρα, pesca, 5.4,9 άναίρεσις, morte, A. 8.1; 22.20
αγράμματος, sem letras, A. 4.13 άνακαθίζω, assentar-se, 7.15; A. 9.40
άγραυλέω, estar no campo, 2.8 άνάκρισις, interrogatório, A. 25.26
άγωνία, agonia, 22.44 άνάλημψις, manifestar o propósito, 9.51
’Αθηναίος, ateniense, A. 17.21-22 άναντίρρητος, não poder ser contradi­
αθροίζω, congregar, 24.33 to, A. 19.36
αίνος, louvor, 18.43 άναντιρρήτως, sem contradizer, A. 10.29
αισθάνομαι, compreender, 9.45 άναπείθω, persuadir, A. 18.13
αίτίαμα, acusação, A. 25.7 άνάπηρος, aleijado, 14.13,21
αίτιον, culpa, 23.4,14,22; A. 19.40 άναπτύσσω, abrir, desenrolar, 4.17
αιχμάλωτος, cativo, 4.18-19 άνασκευάζω, transtornar, A. 15.24
άκατάκριτος, sem ser condenado, A. άνασιτάω, tirar, puxar, recolher, 14.5;
16.37; 22.25 A. 11.10
άκρίβεια, verdade, A. 22.3 άνατάσσομαι, pôr em ordem, 1.1
άκριβεστατος, mais severo, A. 26.5 άνατρέφω, criar, A. 7.20-21; 22.3
άκριβεστερον, mais pontualmente, A. άναφαίνω, manifestar, 19.11; A. 21.3
18.26; 23.15,20; 24.22 άναφωνεω, exclamar, 1.42
άκροατήριον, auditório, A. 25.23 άνάψυξις, refrigério, A. 3.19
άκωλύτως, sem impedimento, A. 28.31 άνεκλειπτος, que não acaba, 12.33
άλίσγημα, contaminação, A. 15.20 άνενδεκτον, impossível, 17.1
άλλογενής, estranho, 17.18 άνετάζω, examinar, A. 22.24,29
άλλόφυλας, estrangeiro, A. 10.28 άνεύθετος, não cômodo, A. 27.12
άμάρτυρας, sem testemunho, A. 14.17 άνευρίσκω, achar, 2.16; A. 21.4
άμπελουργός, vinhateiro, 13.7 άνθομολογεομαι, dar graças, 2.38
άμύναμαι, defender, A. 7.24 άνθύπατος, proconsul, A. 13.7-8,12;
άμφιά(έ)ζω, vestir, 12.28 19.38
άναβαθμός, escada, A. 21.35,40 άνοικοδομεω, reedificar, A. 15.16
άναβάλλομαι, pôr dilação, A. 24.22 άντειιτον, contradizer, dizer em con­
άνάβλεψις, dar vista, 4.18 trário, 21.15; A. 4.14
άναβολή, dilação, A. 25.17 άντιβάλλω, trocar, 24.17
487
Lista de Palavras Gregas Empregadas somente por Lucas

άντικαλεω, tornar a convidar (em re­ άπτω, acender, 8.16; 11.33; 15.8; 22.55
tribuição, 14.12 άπωθέομαι, rejeitar, A. 13.46
αντίκρυ, defronte de, A. 20.15 ’Άραψ, árabe, A. 2.11
άντιπαρερχομαι, passar de largo, άργυροκόπος, ourives de prata, A.
10.31-32 19.24
αντίπεραν, defronte de, 8.26 ’Άρειος Πάγος, Areópago, A. 17.19,22
άντιπίπτω, resistir, A. 7.51 ’Αρεοπαγίτης, areopagita, A. 17.34
άντοφθαλμέω, navegar contra o vento, άρήν (άρνός, αμνός), cordeiro, 10.3
A. 27.15 άροτρον, arado, 9.62
άνωτερικός, superior, A. 19.1 άρτέμων, vela maior, A. 27.40
άπαιτεω, pedir, tornar a pedir, 6.30; αρχιερατικός, do sumo sacerdote, A. 4.6
12.20 άρχιτελώνης, chefe dos publicanos, 19.2
άπαρτισμός, acabar, 14.28 άσημος, pouco célebre, insignificante (cf.
άπεΐμι, ir, A. 17.10 ara), A. 21.39
απελαύνω, expulsar, A. 18.16 ’Ασιανός, da Ásia, A. 20.4
άπελεγμός, descrédito, ato de estimar Άσιάρχης, asiarca, A. 19.31 (cf. ara)
em nada, A. 19.27 ασιτία, muito (tempo) sem comer, A.
απελπίζω, esperar (em retribuição), 27.21
6.35 άσιτος, (tempo) sem comer, A. 27.33
απερίτμητος, incircunciso, A. 7.51 άσκεω, procurar, A. 24.16
άπογραφή, alistamento (para cobrança ασμένως, de bom grado, de boa vonta­
de impostos), 2.2; A. 5.37 de, A. 2.41; 21.17
άποδεκατεύω, dar dízimo, 18.12 άσσον, de muito perto, A. 27.13
αποδέχομαι, receber, 8.40; A 2.41; 15.4; αστράπτω, iluminar, resplandecente (de
18.27; 24.3; 28.30 relâmpago), 17.24; 24.4
άποθλίβω, oprimir, 8.45 άσύμφωνος, discordes, A. 28.25
άποκατάστασις, restauração, A. 3.21 άσώτως, dissolutamente, 15.13
αποκλείω, cerrar, 13.25 άτεκνος, sem filhos, 20.28-30
άπομάσσομαι, sacudir, 10.11 άτερ, sem, 22.6,35
άποπίπτω, cair de, A. 9.18 αύγή, alvorada, A. 20.11
άποπλέω, navegar (com o sentido de Αύγουστος, Augusto, 2.1
zarpar), A. 13.4; 14.26; 20.15; 27.1 αυστηρός, rigoroso, 19.21-22
απορία, perplexidade, 21.25 αύτόπτης, testemunhas oculares (cf.
απορρίπτω, lançar(-se), A. 27.43 ara), os que presenciaram, 1.2
άποστοματίζω, fazer falar, 11.53 αύτόχείρ, com as próprias mãos, A.
άποτινάσσω, sacudir, 9.5; A. 28.5 27.19
άποφθεγγομαι, falar, dizer, A. 2.4,14; άφαντος, desaparecer, 24.31
26.25 άφελότης, singeleza, A. 2.46
αποφορτίζομαι, descarregar A. 21.3 άφιξις, partida, A. 20.29
άποψύχω, desmaiar, 21.26 άφνω, de repente, A. 2.2; 16.26; 28.6
488
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άφρός, espumar, 9.39 δεισιδαιμονία, religião (cf. ara), su­


άφυπνόω, adormecer, 8.23 perstição, A. 25.19
άχλύς, escuridão, A. 13.11 δεξιολάβος, lanceiro, A. 23.23
δεσμεω, guardar preso, 8.29
βαθύνω, abrir bem fundo, 6.48 δεσμοφύλαξ, carcereiro, A. 16.23,27,36
βαλάντίον, bolsa, 10.4; 12.33; 22.35-36 δεσμώτης, preso, A. 27.1,42
βασίλεια, paços reais, 7.25 δευτεραιος, no segundo dia, A. 28.13
βάσις, pé, A. 3.7 δευτερόπρωτος, o segundo depois do
βάτος, medida, 16.6 primeiro, 6.1
βελόνη, agulha, 18.25 δημηγορεω, dirigir a palavra, A. 12.21
Βεροιαΐος, de Bereia, A. 20.4 δήμος, povo, A. 12.22; 17.5; 19.30,33
βία, violência, A. 5.26; 21.35; 24.7; 27.41 δημόσιος, público, A. 5.18; 16.37; 1 8 .28 ;
βίαιος, veemente, impetuoso, A. 2.2 20.20
βίωσις, vida, A. 26.4 διαβάλλομαι, ser acusado, 16.1
βολή, tiro, 22.41 διαγγελλω, anunciar, 9.60; A. 21.26
βολίζω, lançar o prumo, A. 27.28 διαγινώσκω, tomar conhecimento,
βουνός, outeiro, 3.5; 23.30 querer saber, A. 23.15; 24.22
βραδυπλοεω, navegar vagarosamente, διάγνωσις, conhecimento, A. 25.21
A. 27.7 διαγογγύζω, murmurar, 15.2; 19.7
βρύχω, ranger, A. 7.54 διαγρηγορεω, despertar, 9.32
βρώσιμος, (alguma) coisa de comer, διαδέχομαι, receber (por sucessão), A.
24.41 7.45
βυρσεύς, curtidor, A. 9.43; 10.6,32 διάδοχος, sucessor, A. 24.27
βωμός, altar, A. 17.22 διακαθαίρω, limpar, 3.17
διακατελεγχομαι, convencer, A. 18.28
γάζα, tesouro, A. 8.27 διακούομαι, ouvir (uma causa), A.
Γαλατικός, gálata, A. 16.6; 18.23 (cf. ara) 23.35
γελάω, rir, 6.21,25 διαλαλεω, divulgar, conferenciar, 1.65;
γερουσία, senado (cf. ara), anciãos, A. 6.11
5.21 διαλείπω, cessar, 7.45
γήρας, velhice, 1.36 διάλεκτος, língua, dialeto, A. 1.19;
γλεύκος, mosto, A. 2.13 2.6,8; 21.40; 22. 2; 26.14
γνώστης, versado (cf. ara), A. 26.3 διαλύομαι, ser disperso, A. 5.36
διαμάχομαι, contender, A. 23.9
δακτύλιος, anel, 15.22 διαμερισμός, dissensão, 12.51
δανειστής, credor, 7.41 διανέμομαι, divulgar, A. 4.17
δαπάνη, gasto, 14.28 διανεύω, falar por acenos, 1.21
δε ισ ιδα ιμονέστερος, acentuadamente διανόημα, pensamento, 11.17
religiosos (cf. ara), supersticiosos, διανυκτερεύω, passar a noite, 6.12
A. 17.22 διανύω, concluir, A. 21.7
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διαπλέω, atravessar (por barco), A. δοχή, banquete, 5.29; 14.13


27.5 δραχμή, dracma, 15.8-9
διαπονέομαι, doer-se, perturbar-se, A. δυσεντερία, disenteria, A. 28.8
4.2; 16.18 δωδεκάφυλον, as doze tribos (coletivo),
διαπορέω, estar em dúvida, estar per­ A. 26.7
plexo, estar suspenso, duvidar, 9.7;
24.4; A. 2.12; 5.24; 10.17 έα, deixar em paz, 4.34
διαπραγματεύομαι, ganhar negociando, έβδομήκοντα, setenta, 10.1,17; A. 7.14;
19.15 23.23; 27.37
διαπρίομαι, enfurecer-se; literalmente, εβραϊκός, hebraico, 23.38
serrado, A. 5.33; 7.54 εβραίς, hebraica (língua), A. 21.40;
διασείω, tratar mal, 3.14 22.2; 26.14
διασπείρω, dispersar (-se), A. 8.1,4; 9.19 εγκάθετος, espia (espião), 20.20
διάστημα, espaço, A. 5.7 έγκλημα, crime, acusação, A. 23.29;
διαταράττω, turbar-se, 1.29 25.16
διατελέω, permanecer (com a ideia de έγκυος, grávida, 2.5
continuar), A. 27.33 έδαφίζω, derrubar, 19.44
διατηρέω, guardar, 2.51; A. 15.29 έδαφος, terra, A. 22.7
διαφεύγω, escapar, A. 27.42 εθίζω, proceder, 2.27
διαφθορά, corrupção, A. 2.27,31; 13.34-37 είσκαλεω, ajuntar-se, A. 10.28
διαφυλάττω, guardar, 4.1 o είσπηδάω, saltar para dentro, saltar
διαχειρίζομαι, matar, A. 5.30; 26.21 para o meio, A. 16.29
διαχλευάζω, zombar, A. 2.13 είστρεχω, correr para dentro, A. 12.14
διαχωρίζομαι, apartar-se, 9.33 εκβολή, aliviar, A. 27.18
διερωτάω, perguntar, A. 10.17 εκγαμίσκομαι, ser dado em casamento,
διετία, dois anos, A. 24.27; 28.30 20.34-35
διήγησις, narração, l.l εκδιηγεομαι, contar, A. 13.41; 15.3
διθάλασσος, um lugar onde duas correntes έκδοτος, entregue, A. 2.23
Qnarídmas^j se encontravam (cf. ara), έκεϊσε, ali, A. 21.3; 22.5
um lugar de dois mares, A. 27.41 έκθαμβος, atônito, A. 3.11
διΐστημι, apartar-se, 22.59; 24.51; A. ’έκθετος, enjeitar, A. 7.19
27.28 έκκολυμβάω, escapar a nado, A. 27.42
διϊσχυρίζομαι, afirmar, 22.59; A. εκκομίζομαι, levar (para fora da cida­
12.15 de), 7.12
διοδεύω, andar por, passar por, 8.1; A. έκκρέμαμαι, pender para alguém, escu­
17.1 tar alguém, 19.48
διοπετής, desceu de Júpiter, A. 19.35 έκλαλέω, contar, A. 23.22
διόρθωμα, louváveis serviços, A. 24.3 εκμυκτηρίζω, zombar, 16.14; 23.35
Διόσκουροι, Castor e Pólux, A. 28.11 εκπέμπω, enviar, A. 13.4; 17.10
δούλη, serva, 1.38,48; A. 2.18 έκπηδάω, A. 14.14
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εκπλέω, navegar (zarpar), A. 15.39; έξαστράπτω, ser resplandecente, 9.29


18 . 18 ; 2 0.6 έξειμι, sair, partir, A. 13.42; 17.15; 20.7;
έκπληρόω, cumprir, A. 13.32 27.43
έκπλήρωσι.ς, cumprimento, A. 21.26 έξης, pouco depois, no dia seguinte,
έκταράσσω, perturbar, A. 16.20 7.11; 9.37; A. 21.1; 25.17; 27.18
έκτελέω, acabar, 14.29-30 εξολοθρεύομαι, ser exterminado, A. 3.23
εκτένεια, continuamente, A. 26.7 έξορκιστής, exorcista, A. 19.13
εκτενέστερον, mais intensamente, 22.44 εξοχή, aparato, A. 25.23
έκτίθημι, enjeitar, expor, declarar, A. έξυπνος, acordar, A. 16.27
7.21; 11.4; 18.26; 28.23 έξωθέω, lançar para fora, A. 7.45; 27.39
έκχωρέω, apartar-se, 21.21 επαθροίζομαι, ajuntar-se, 11.29
έκψύχω, expirar, A. 5.5,10; 12.23 επαιτέω, mendigar, 16.3
έλαιών, das Oliveiras, 19.29 ; 21.37; A. έπακροάομαι, escutar, A. 16.25
1.12 επάναγκες, necessário, A. 15.28
Έλαμίτης, elamita, A. 2.9 επανέρχομαι, voltar, 10.35; 19.15
έλευσις, vinda, A. 7.52 επαρχία, província, A. 23.34; 25.1
έλκόομαι, estar cheio de chagas, 16.20 έπαυλις, habitação, A. 1.20
Ελληνιστής, grego, A. 6.1; 9.29 έπεγείρω, incitar, A. 13.50; 14.2
εμβάλλω, lançar em, 12.5 έπειδήπερ, visto que (cf. ara), 1.1
εμβιβάζω, fazer embarcar, A. 27.6 έπεΐδον, atentar em, olhar para, 1.25;
έμμαίνομαι, estar enfurecido, A. 26.11 A. 4.29
εμπνέω, respirar, A. 9.1 επιβιβάζω, pôr sobre, 10.34; 19.35; A.
εμφανής, manifestar-se, A. 10.40 23.24
έναντι, diante de, 1.8 έπιβοάω, clamar, A. 25.24
ενδεής, necessitado, A. 4.34 επιβουλή, cilada, A. 9.24; 20.3,19;
ενδέχεται, para que não suceda, 13.33 23.30
ένδιδύσκομαι, estar vestido, 8.27; έπιγίνομαι, soprar, A. 28.13
16.19 έπιδημέω, ser um forasteiro, ser um es­
ένέδρα, cilada, A. 23.16; 25.3 trangeiro residente, A. 2.10; 17.21
ενεδρεύω, armar ciladas, 11.54; 23.21 έπικέλλω, encalhar, A. 27.41
ένειμι, entrar, estar do lado de dentro, επικουρία, socorro, A. 26.22
11.3 Έπικούριος, epicureu, A. 17.18
ενισχύω, confortar, 22.43; A. 9.19 επικρίνω, decidir (cf. ara ), 23.24
εννέα, nove, 17.17 έπιλείχω, lamber, 16.21
ενεός, espantado, A. 9.7 επιμέλεια, assistência (cf. ara ), A. 27.3
έννεύω, perguntar por acenos, 1.62 επιμελώς, com diligência, 15.8
εντόπιος, ser de um lugar, A. 21.12 επινεύω, convir, A. 18.20
ενωτίζομαι, escutar, A. 2.14 επίνοια, pensamento, A. 8.22
έξαιτέομαι, pedir, 22.31 επιούσα, (dia) seguinte, A. 7.26; 16.11;
έξάλλομαι, saltar, A. 3.8 20.15; 21.18; 23.11
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επιρρίπτω, lançar sobre, 19.35 εφάλλομαι, saltar em, A. 19.16


επισιτισμός, o que comer, alimento (cf. Έφέσιος, efésio, A. 19.28,34-35; 21.29
ara ), 9.12 εφημερία, ordem (de sacerdotes), 1.5,8
επισκευάζω, fazer preparativos, A.
21.15 ζεύγος, par, junta, 2.24; 14.19
επιστάτης, Mestre, 5.5; 8.24,45; 9.33,49; ζευκτηρία, amarras, A. 27.40
17.13 ζήτημα, questão, A. 15.2; 18.15; 23.29;
έπιστηρίζω, confirmar, A. 14.22; 25.19; 26.3
15.32,41; 18.23
επιστροφή, conversão, A. 15.3 ηγεμονία, reinado (cf. ara), império, 3.1
επισφαλής, perigoso, A. 27.9 ηγεμονεύω, ser governador, 2.2; 3.1
επισχύω, insistir cada vez mais, 23.5 ημιθανής, meio-morto, 10.30
επιτροπή, comissão, A. 26.12
επιφανής, glorioso, A. 2.20 θάμβος, espanto, 4.36; 5.9; 3.10
έπιφωνέω, clamar em contrário, 23.21; θάρσος, ânimo, A. 28.15
A. 12.22; 22.24 θεά, deusa, A. 19.27,35,37
έπιχειρέω, empreender, 1. l; A. 9.29; 19.13 θεομάχος, combater contra Deus, A.
έπεχέω, aplicar, 10.34 5.39
έρείδω, fixar, A. 27.41 θέρμη, calor, A. 28.3
’έσβησες, veste, 24.4 θεωρία, espetáculo, 23.48
εσπέρα, tarde, 24.29; A. 4.3; 28.23 θηρεύω, apanhar (como um caçador),
εύγε, bom, bem está, 19.17 11.54
εύεργετέω, fazer o bem, A. 10.38 θορυβάζομαι, estar afadigada, 10.41
ευεργέτης, benfeitor, 22.25 θρόμβος, grande gota, 22.44
εύθυδρομέω, correr em caminho direi­ θυμιάω, oferecer incenso, 1.9
to, A. 16.11; 21.1 θυμομαχέω, estar irritado, A. 12.20
εύθυμος, bom ânimo, A. 27.36
εΰθυμως, com melhor ânimo, A. 24.10 ΐασις, cura, milagre de saúde, curar,
ευλαβής, temente a Deus, religioso, pie­ 13.32; A. 4.22,30
doso, 2.25; A. 2.5; 8.2 Ιδρώς, suor, 22.44
εύπορέομαι, conforme as suas posses, con­ ιερατεύω, exercer o sacerdócio, 1.8
forme a sua prosperidade, A. 11.29 Ιερόσυλος, sacrílego, A. 19.37
ευπορία, prosperidade, A. 19.25 Ικμάς, umidade, 8.6
Εύρακύλων, o vento, chamado Euroa- ιππεύς, homem a cavalo, A. 23.23,32
quilão, A. 27.14 ίσάγγελος, iguais aos anjos, 20.36
εύτόνως, com grande veemência, 23.10; ’ίσως, talvez, 20.13
A. 18.28
εύφορέω, produzir com abundância, καθάπτω, prender (cf. ara ), A. 28.3
12.16 καθεξής, em ordem (de sucessão), 1.3;
ευφροσύνη, júbilo, alegria, A. 2.28; 14.17 8.1; A. 3.24; 11.4; 18.23
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καθημερινός, cotidiano, A. 6.1 καταφέρω, sobrevir, vencer (cf. a r a ), A.


καθίημι, baixar, descer 5.19; A. 9.25; 20.9; 26.10
10.11; 11.5 καταψύχω, refrescar, 16.24
καθόλου, absolutamente, A. 4.18 κατείδωλος, entregue à idolatria,
καθοπλίζομαι, estar com a mão do Senhor, A. 17.16
estar completamente armado, 11.21 κατεφίστημι, levantar-se contra, A.
καθάτι, porque, pois, 1.7; 19.9; A. 18.12
2.24,45; 4.35 κατοικία, habitação, A. 17.26
κάκωσις, aflição, A. 7.34 κέραμος, telha, 5.19
καρδιογνώστης, conhecedor do cora­ κεράτιον, bolota, 15.16
ção, que conhece os corações, A. κηρίον, favo (de mel), 24.42
1.24; 15.8 κίχρημι, emprestar, 11.5
καριτοφόρος, frutífero, A. 14.17 κλάσις, partir, 24.35; A. 2.42
κατάβασις, descida, 19.37 κλινάριον, camilha, A. 5.15
καταγγελεύς, pregador, A. 17.18 κλινίδιον, cama, 5.19,24
καταδέω, atar, 10.34 κλισία, grupo (à mesa), 9.14
καταδίκη, sentença, A. 25.15 κοιτών, camarista, A. 12.20
κατακλείω, encerrar, 3.20; A. 26.10 κολυμβάω, nadar, A. 27.43
κατακλίνω, fazer assentar, 9.14; 14.8; κολωνία, colônia, A. 16.12
24.30 κοπετός, grande pranto, A. 8.2
κατακολουθέω, seguir 23.55; A. 16.17 κοπρία, esterco, monturo, 13.8; 14.35
κατακρημνίζω, precipitar, 4.29 κόραξ, corvo, 12.24
καταλιθάζω, apedrejar, 20.6 κόρος, alqueire, 16.7
καταμένω, não temer, 1.13 κουφίζω, aliviar (um navio), A. 27.38
κατανεύω, fazer sinal, 5.7 κραιπάλη, glutonaria, 21.34
κατανύσσω, compungir-se, A. 2.37 κράτιστός, excelentíssimo, potentíssi-
καταπίπτω, cair por terra, A. 26.14; mo, 1.3; A. 23.26; 24.3; 26.25
28.6 κτήτωρ, pessoa que possui herdades ou
καταπλέω, navegar (para), 8.26 casas, A. 4.34
καταριθμέομαι, ser contado com, A.
1.17 λάσκω, rebentar pelo meio, A. 1.18
κατασείω, acenar com a mão, (pedin­ λακτίζω, recalcitrar, A. 26.14
do silêncio), A. 12.17; 13.16; 19.33; λαμπρότης, esplendor, A. 26.13
21.40 λαμπρώς, esplendidamente, 16.19
καταστέλλω, apaziguar, aplacar, A. λαξευτός, escavado em uma penha,
19.35-36 23.53
κατασύρω, conduzir, 12.58 λείος, aplainar, 3.5
κατασφάττω, matar, 19.27 λεπίς, uma escama, A. 9.18
κατάσχεσις, posse, A. 7.5,45 λήρος, desvario, 24.11
κατατρέχω, correr para, A. 21.32 Λιβερτινος, de um Liberto, A. 6.9
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λιμήν, um porto, A. 27.8,12 νεανίας, (um) jovem, A. 7.58; 20.9;


λίψ, vento que vem da direção sudoes­ 23.17-18,22
te, A. 27.12 νεοσσός, jovem (especialmente ave), 2.24
λόγιος, eloquente, A. 18.24 νεωκόρος, guardador(a) do templo, 19.35
Λυκαονιστί, em língua licaônica, A. νησίον, ilha, A. 27.16
14.11 νοσσ ux, pintos, 13.34
λυμαίνομαι, assolar, A. 8.3
λυσιτελεΐ, melhor lhe fora, 17.2 όγδοήκοντα, oitenta, 2.37; 16.7
λυτρωτής, libertador, A. 7.35 οδεύω, ir de viagem, 10.33
όδοιπορεω, ir (por) seu caminho, A. 10.9
μαγεία, artes mágicas, A. 8.11 όδυνάομαι, estar ansioso, estar ator­
μαγεύω, exercer arte mágica, A. 8.9 mentado, entristecer-se 2.48; 16.24-
μαθήτρια, discípula, A. 9.36 25; A. 20.38
μακροθύμως, com paciência, A. 26.3 οθόνη, lençol, A. 10.11; 11.5
μανία, loucura, delírio, A. 26.24 οίκημα, prisão, A. 12.7
μαντεύομαι, adivinhar, A. 16.16 οίκονομεω, ser mordomo, 16.2
μαστίζω, açoitar, A. 26.25 όκνεω, demorar, A. 9.38
μεγαλεία, grandes coisas, A. 2.11 ολοκληρία, perfeita saúde, A. 3.16
μεριστής, repartidor, 12.14 όμβρος, chuva, 12.54
μεσημβρία, sul, A. 8.26; 22.6 όμιλεω, falar (entre si), 24.14-15; A.
μεστόω, estar cheio de, A. 2.13 20.11; 24.26
μεταβάλλομαι, mudar de parecer, A. 28.6 ομότεχνος, do mesmo ofício, A. 18.3
μετακαλεομαι, mandar chamar, A. 7.14; όνειδος, opróbrio, 1.25
10.32; 20.17; 24.25 οπότε, quando, 6.3
μεταπεμπω, mandar chamar, A. όπτάνομαι, ser visto, A. 1.3
10.5,22,29; 11.13; 24.24,26; 25.3 οπτός, assado, 24.42
μετεωρίζομαι, estar inquieto, 12.29 όργυιά, braça, A. 27.28
μετοικίζω, trazer para (outra) terra, ορεινός, montanhas, 1.39,65
transportar (-se), A. 7.4,43 όρθρίζω, madrugar (cf. ara ), 21.88
μετρίως, não pouco, A. 20.12 οροθεσία, limite, A. 17.26
μηδαμώς, de modo nenhum, de maneira ούρανόθεν, do céu, A. 14.17; 26.13
nenhuma, A. 10.14; 11.8 ουσία, fazenda, 15.12-13
μίσθιος, trabalhador, 15.17,19 όφρύς, cume, 4.29
μίσθωμα, habitação (alugada), A. 28.30 όχλοποιεω, ajuntar o povo, A. 17.5
μνά, mina, 19.13,16,18,20,24-25
μόγις, dificilmente (cf. ara), 9.39 παθητός, dever padecer A. 26.23
μοσχοποιεω, fazer um bezerro, A. 7.41 παΐς (ή), menina, 8.51,54
παμπληθεί, à uma, 23.18
ναύκληρος, mestre (do navio), A. 27.11 πανδοχεΐον, estalagem, 10.34
ναυς, navio, A. 27.41 πανδοχεύς, hospedeiro, 10.35
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πανοικί, com toda a sua (própria) casa, περικρατής, ganhar (o batei), A. 27.16
A. 16.34 περικρύπτω, ocultar (-se), 1.24
πανταχή, por todas as partes, A. 21.28 περικυκλόω, cercar, 19.43
πάντη, sempre, A. 24.3 περιλάμπω, cercar de resplendor 2.9;
παραβάλλω, chegar, A. 20.15 A. 26.18
παραβιάζομαι, constranger, 24.29; A. περιμένω, esperar, A. 1.4
16.15 πέριξ, circunvizinho, A. 5.16
•παράδοξος, prodígio, 5.26 περιοικέω, morar nas vizinhanças de,
παραθεωρέω, desprezar, A. 6.1 nas proximidades de, 1.65
παραινέω, admoestar, A. 27.9,22 περίοικος, vizinho, 1.58
παρακαθέζομαι, assentar-se aos pés de, περιοχή, lugar da Escritura (conteú­
10.39 do), A. 8.32
παρακαλύπτω, encobrir, 9.45 περιρρήγνυμι, rasgar, A. 16.22
παραλέγομαι, costear, A. 27.8,13 περισπάομαι, andar distraída, 10.40
παράλιος, na beira do mar (cf. ntlh), 6.17 περιτρέπω, delirar, A. 26.24
παρανομέω, ser contra a lei, A. 23.3 πήγανον, arruda, 11.42
παραπλέω, passar adiante de, não apor­ πιέζω, recalcar, 6.38
tar (cf. ara ), A. 20.16 πίμπραμαι, inchar, A. 28.6
παράσημος, insígnia, A. 28.11 πινακίδιον, tabuinha de escrever, 1.63
παρατείνω, alargar, A. 20.7 πλημμύρα, enchente, 6.48
παρατήρησις, aparência exterior, 17.20 πλόος, navegação, A. 21.7; 27.9-10
παρατυγχάνω, apresentar-se, A. 17.17 πνικτός, sufocado, A. 15.20,29; 21.25
παραχειμασία, invernar em, A. 27.12 πνοή, vento, A. 2.2; 17.25
παρεμβάλλω, cercar, 19.43 πολιτάρχης, magistrado da cidade, A.
παρενοχλέω, perturbar, A. 15.19 17.6,8
παρθενία, virgindade, 2.36 πορφυρόπωλις, vendedora de púrpura,
παροίχομαι, andar (também com o sen­ A. 16.14
tido de morrer), A. 14.16 πραγματεύομαι, negociar, 19.13
παροτρύνω, incitar, A. 13.50 πράκτωρ, meirinho, 12.58
πατρώος, dos pais, A. 22.3; 24.14; 28.17 πρεσβεία, embaixador, 14.32; 19.14
πεδινός, lugar plano, 6.17 πρηνής, precipitar-se, A. 1.18
πεζεύω, ir por terra, A. 20.13 προβάλλω, brotar, impelir para diante,
πειράω, procurar, A. 9.26; 26.21 21.30; A. 19.33
πενιχρός, pobre, 21.2 προκηρύσσω, pregar antes (no tempo),
πεντεκα ιδέκατος, décimo quinto (cf. A. 3.20; 13.24
ara ), 3.1 προμελετάω, premeditar, 21.14
περαιτέρω, alguma outra coisa, A. 19.39 προοράω, ver diante de, A. 2.25;
περιάπτω, acender, 22.55 21.29
περιαστράπτω, resplendor, uma grande προπορεύομαι, ir antes, preceder (cf
luz do céu (que rodeia) A. 9.3; 22.6 ara ), ir adiante, 1.76; A. 7.40

495
L ista de Palavras G regas E mpregadas somente por L ucas

προσαναβαίνω, assentar-se mais para πυρά, fogueira, fogo, A. 28.2-3


cima, 14.10
προσαναλίσκω, gastar, 8.43 ραβδούχος, quadrilheiro, A. 16.35,38
προσαπειλέομαι, ameaçar ainda mais, ραδιούργημα, agravo, crime, A. 18.14
A. 4.21 ραδιουργία, malícia, A. 13.10
προσδαπανάω, gastar mais, 10.35 ρήγμα, ruína, 6.49
προσδέομαι, convir que, 17.25 ρήτωρ, orador, A. 24.1
προσδοκία, expectação, 21.26; A. 12.11 ρώννυμαι, “bem vos vá”, A. 15.29; 23.30
προσεάω, permitir, A. 27.7
προσεργάζομαι, render, 19.16 σάλος, ondas (do mar), 21.25
προσκληρόομαι, ajuntar-se com, A. 17.4 σανίς, tábua, A. 27.44
προσκλίνω, dar atenção a, inclinar-se, σεβαστός, Augusta, A. 27.1
A. 5.36 Σιδώνιος, de Sidom, A. 12.20
προσλαλέω, falar a, A. 13.43; 28.20 σικάριος, salteador, A. 21.38
προσιτέ ινος, ter fome A. 10.10 σίκερα, bebida forte, 1.15
προσιτηγρυμί, crucificar, A. 2.23 σιμικίνθιον, avental, A. 19.12
προσιτοιέομαι, fazer como, 24.28 σινιάζω, cirandar, 22.31
προαρήγνυμι, bater com ímpeto, 6.48-49 σιτευτός, cevado, 15.23,27,30
προσφάτως, havia pouco, A. 18.2 σιτομέτριον, ração, 12.42
προσψαύω, tocar, 11.46 σκάπτω, cavar, escavar, 6.48; 13.8; 16.3
προσωπολήμπτης, acepção de pessoas, σκάφη, batei, A. 27.16,30,32
A. 10.34 σκευή, armação, A. 27.19
προτάσσομαι, ser já dantes ordenado, σκηνοποιός, fazedor de tendas, A. 18.3
A. 17.26 σκιρτάω, saltar, exultar, 1.41,44; 6.23
προτείνω, atar, A. 22.25 σκληροτράχηλος, de dura cerviz, A. 7.51
προχρέπομαι, animar, A. 18.27 σκΰλα, despojos, 11.22
προϋπάρχω, ser dantes, 23.12; A. 8.9 σκωληκόβρωτος, comido de bichos, A.
προφέρω, tirar, 6.45 12.23
προχειρίζομαι, designar, A. 22.14; 26.16 σορός, esquife, 7.14
προχειροτονέομαι, ser ordenado antes, σπαργανόω, envolver em panos, 2.7,12
A. 10.41 σπερμολόγος, paroleiro, A. 17.18
πρώρα, proa, A. 27.30,41 στέμμα, grinalda, A. 14.13
πρωτοστάτης, promotor de sedições, A. στερεόω, firmar, fortalecer, confirmar,
24.5 A. 3.7,16; 16.5
πρώτως, primeiro, A. 11.26 στιγμή, momento de tempo, 4.5
πτοέομαι, assustar-se, atemorizar-se, στρατηγός, capitão, magistrado, 22.4,52;
21.9; 24.37 A. 4.1; 5.24,26; 16.20-38
πτύσσω, cerrar (um livro), 4.20 στρατία, exército, 2.13; A. 7.42
Πύθων, uma jovem que tinha espírito στρατοπεδάρχης, general dos exércitos,
de adivinhação, A. 16.16 A. 28.16
496
L ista de Palavras G regas E mpregadas somente por L ucas

στρατοπέδου, exército, 21.20 συναλλάσσω, levar à paz, A. 7.26


Στωϊκός, estóico, A. 17.18 συναρπάζω, arrebatar, 8.29; A. 6.12;
συγγένεια, da parentela, 1 .6 1 ; A. 7.3,14 19.29; 27.15
συγγενίς, prima, 1.36 συνδρομή, concurso A. 21.30
συγκαλύπτομαι, estar encoberto, 12.2 σύνειμι, estar com (alguém), estar reu­
συγκαταβαίνω, descer com, A. 25.5 nido com, 9.18; A. 22.11
συγκατατίθεμαι, consentir, 23.51 σύνειμι, (είμι, ir), ajuntando-se, 8.4
συγκαταψηφίζομαι, ser contado com, συνελαύνω, agravar, A. 7.26
A. 1.26 συνεπιτίθημι, também acusar, A. 24.9
συγκινέω, excitar, A. 6.12 συνέπομαι, acompanhar, A. 20.4
συγκομίζω, enterrar, A. 8.2 συνεφίστημι, levantar-se unidos con­
συγκύπτω, andar curvada, 13.11 tra, A. 16.22
συγκυρία, ocasionalmente, 10.31 συνζήτησις, contenda, A. 15.2,7; 28.29
συγχέω, alvoroçar, A. 21.27 συνθρύπτω, magoar o coração, A.
συγχύνω, estar confuso, confundir, A. 21.13
2.6; 9.22; 19.32; 21.81 συνοδεύω, ir (viajar) com, A. 9.7
σύγχυσις, confusão, A. 19.29 συνοδία, com panhia (de viajantes),
συκάμινος, amoreira, 17.6 2.44
συκομωραία, figueira brava, 19.4 συνομιλέω, falar com, A. 10.27
συκοφαντέω, defraudar, 3.14; 19.8 συνομορέω, e sta r ju n to de, ser contígua
συλλογίζομαι, arrazoar entre si, 20.5 a (cf. ara ), A. 18.7
συμβάλλω, conferir no coração, tomar con­ συντόμως, (falar) por pouco tempo, A.
selho, conferenciar entre si, contender 24.4
com, aproveitar, ajuntar com, 2.19; σύντροφος, criado com, A. 13.1
14.31; A. 4.15; 17.18; 18.27; 20.14 συντυγχάνω, ir ter com, 8.19
συμπαραγίνομαι, ajuntar, 23.48 συνωμοσία, conjuração, A. 23.13
συμπάρειμι, estar presente com, A. Σύρος, siro (sírio), 4.27
25.24 σύρτις, bancos de areia (cf. n t l h ), A.
συμπεριλαμβάνω, abraçar, A. 20.10 27.17
συμπίνω, beber com, A. 10.41 συστρέφω, ajuntar, A. 28.3
συμπίπτω, cair, 6.49 συστροφή, concurso, A. 19.40; 23.12
συμπληρόω, encher-se; sobre o tem­ σφάγιον, vítimas, sacrifícios (animais
po, completar-se, cumprir-se, 8.23; mortos), A. 7.42
9.51; A.2.1 σφοδρώς, veemente, A. 27.18
συμφύομαι, crescer com, 8.7 σφυδρόν, tornozelo, A. 3.7
συμφωνία, música, 15.25 σχολή, escola, A. 19.9
συμψηφίζω, fazer a conta, A. 19.19
συναθροίζω, congregar, estar reunidos, τακτός, designado, A. 12.21
ajuntados, A. 12.12; 19.25 τανΰν, agora, A. 4.29; 5.38; 17.80;
συναλίζομαι, estar com (alguém), A. 1.4 20.32; 27.22
497
L ista de Palavras G regas E mpregadas somente por L ucas

τάραχος, alvoroço, A. 12.18; 19.23 ύποτρέχω, correr abaixo, A. 27.16


τάχιστα, alvoroçar com rapidez, A. 17.5 ύποχωρέω, retirar-se, 5.16; 9.10
τεκμήριου, prova, A. 1.3
τελεσφορώ, dar fruto com perfeição, 8.14 φαντασία, aparato, A. 25.23
τεσσαροκονταετής, idade de quarenta φάραγξ, vale, 3.5
anos, A. 7.23 φάσις, aviso, A. 21.31
τεσσαρεσκα ιδέκατος, décima quarta, A. φάτνη, manjedoura, 2.7,12,16; 13.15
27.27,33 φιλανθρώπως, humanamente, A. 27.3
τετραδίου, quaterno, A. 12.4 φίλη (ή), amiga, 15.9
τετραπλόος, quadruplicado, 19.8 φιλονεικία, contenda, 22.24
τετραρχέω, ser tetrarca, 3.1 φιλόσοφος, filósofo, A. 17.18
τιμωρεω, castigar, A. 22.5; 26.11 φιλοφρόνως, benignamente, A. 28.7
τοίχος, parede, A. 23.3 φόβητρου, grandes sinais, 21.11
τραύμα, ferida, 10.34 φρονίμως, de modo prudente, 16.8
τραυματίζω, ferir, 20.12; A. 19.16 φρύγανου, vide, A. 28.3
τραχύς, escabroso, 3.5; A. 27.29 φυλακίζω, lançar na prisão, A. 22.19
τρήμα, fundo (de uma agulha), 18.25 φύλαξ, guarda, A. 5.23; 12.6,19
τριετία, durante três anos, A. 20.31
τρίστεγον, terceiro andar, A. 20.9 Χαλδαιος, A. 7.4
τρισχίλιοι, três mil, A. 2.41 χάραξ, trincheira, 19.43
τυφωνικός, pé de vento, A. 27.14 χάσμα, golfo, abismo (noção de profun­
didade), 16.26
υγρός, verde, 23.31 χειμάζομαι, agitado por tempestade, A.
ύδρωπικός, homem hidrópico, 14.2 27.18
ΰπερείδω, ignorar, A. 17.30 χειραγωγέω, guiar pela mão, A. 9.8; 22.11
ύιερεκχύνομαι, transbordar, 6.38 χειραγωγός, quem guia pela mão, A.
υπερώον, cenáculo, A. 1.13; 9.37,39; 20.8 13.11
ύπηρετεω, servir, A. 13.36; 20.34; 24.23 χλευάζω, escarnecer, A. 17.32
ύιτοβάλλω, subornar, A. 6.11 χορός, danças, 15.25
ύποζώννυμι, cingir, A. 27.17 χόρτασμα, alimento, A. 7.11
υποκρίνομαι, fingir, 20.20 χρεωφειλέτης, devedor, 7.41; 16.5
ύπολαμβάνω, ter para si, supor (cf. ara ), χρονοτριβεω, gastar tempo, A. 20.16
pensar, receber, responder, 7.43; χρως, corpo, A. 19.12
10.30; A. 1.9; 2.15 χώρος, noroeste (cf. ntlh ), A. 27.12
ύπονοέω, pensar, suspeitar, A. 13.25;
25.18; 27.27 ψώχω, esfregar, 6.1
ύποπλέω, navegar abaixo de, A. 27.4,7
ύποπνέω, soprar brandamente, A. 27.13 ώνέομαι, comprar, A. 7.16
ύποστρώννυμι, estender, 19.36 ώόν, ovo, 11.12

498
Introdução às E pístolas de
T iago, P edro e Judas

O título “universal” é aplicado à epístola de Tiago, às duas epístolas de Pedro, às


três de João e à epístola de Judas. O termo é explicado de várias maneiras. Alguns o
consideram equivalente a canônica, outros, como oposto a herege, e aplicado a textos
que estão em conformidade com as doutrinas da igreja universal. Outros, ainda,
supõem que este grupo de epístolas recebia esta designação como distinção de ou­
tros dois grupos, formados pelos Evangelhos e o livro de Atos e pelas epístolas de
Paulo, como uma coletânea geral dos textos dos outros apóstolos.
A melhor explicação é de que são chamadas “universais”, ou gerais, porque não
se dirigem a nenhuma igreja ou indivíduo em particular, mas a várias igrejas ou
pessoas dispersas (vide lPe 1.1, e Tg 1.1). Neste sentido, a palavra não se aplica,
a rigor, à segunda e terceira epístolas de João, que são dirigidas a indivíduos,
e as inclui apenas quando consideradas na qualidade de apêndices da primeira
epístola. Nesta Introdução, falaremos somente sobre as epístolas de Tiago, Pedro
e Judas, reservando as observações sobre as epístolas de João para a Introdução
geral aos escritos joaninos, no segundo volume.

T iago

De acordo com a mais antiga organização do Novo Testamento, a epístola de


Tiago é a primeira de todas as epístolas apostólicas. Os críticos mais competentes, de
modo geral, concordam em designar como seu autor o apóstolo Tiago, o presidente
da igreja de Jerusalém, e conhecido como o irmão do Senhor. Diz o deão Stanley:

Sem dúvida, se examinarmos a influência e a autoridade de Tiago, do ponto de vista


mais genérico, quer sobre todo o mundo cristão judeu, quer sobre todo o mundo cris­
tão gentio, elas se reduzem a nada, diante da majestade de Pedro e Paulo.
T iago —I ntrodução

Mas, no círculo dos cristãos puramente palestinos, como em Jerusalém,


Tiago é o principal representante da sociedade cristã. As tradições pos­
teriores dos cristãos judeus o investem de uma santidade sacerdotal. Sua
austeridade e devoções são descritas em termos extravagantes. Diz-se que,
como resultado de ajoelhar-se, seus joelhos ficaram tão endurecidos como
os de camelos, e que ele vivia em constante oração no Templo. Ele andava
descalço, praticava a abstinência do vinho, e usava o cabelo comprido, o
éfode de linho e a barba sem raspar dos nazireus, inclusive se abstinha do
banho regular. Era conhecido como “O Justo”. As pessoas disputavam entre
si para tocar a bainha de sua veste, e considera-se que ele tenha chamado
a chuva na seca, como Elias. Sua cadeira foi preservada como uma relíquia
até o século IV, e uma coluna no vale de Josafá assinalava o local onde ele
morreu.
A narrativa de seu martírio é apresentada por Eusébio, a partir da obra
perdida de Hegésipo, por Josefo e nas Clementine Recognitions. Em Hegésipo
e nas Recognitions, a história é dramática e profundamente misturada com
romance. A narrativa da primeira, diz o Dr. Schaff, “é uma imagem exagerada
da metade do século II, deturpada por aspectos judaizantes, que podem ter
derivado de A Ascensão de Tiago’ e outras fontes apócrifas”. Ela diz, basica­
mente, o seguinte:

Quando lhe perguntaram : “O que é a p o rta de Jesus?”, Ele respondeu que era o
Salvador; e por isso alguns creram que Jesus é o Cristo. Os judeus, escribas e fa­
riseus, alarm ados, vieram até T iago e lhe im ploraram que impedisse que o povo
seguisse Jesus, que persuadisse a todos os que viessem naquela Páscoa a serem
contrários a Ele, e, com esta intenção, que se colocasse sobre o pináculo do Tem ­
plo, onde podería ser visto e ouvido por todo o povo. C onsequentem ente, eles o
colocaram ali e disseram : “Ó, Justo, a quem todos damos ouvidos, considerando
que o povo segue Jesus, que foi crucificado, dize-nos, o que é a p o rta de Jesus?”
Ele respondeu, elevando a voz: “Por que me perguntais a respeito de Jesus, o
Filho do homem? Ele está assentado no céu, à mão direita do Todo-Poderoso,
e também está prestes a descer nas nuvens do céu”. M uitos se convenceram e
disseram : “Hosana ao Filho de Davi!”, mas os escribas e fariseus disseram: “F i­
zemos mal ao facilitarm os que se desse tão excelente testem unho a respeito de
Jesus. Vamos derrubá-lo de lá”. Eles subiram e o jogaram , e, como não m orreu
devido à queda, com eçaram a apedrejá-lo. E ele, virando-se, ajoelhou-se e dis­
se: "Eu te suplico, Senhor Deus e Pai, perdoa-os, porque eles não sabem o que
fazem”. Mas, enquanto o estavam apedrejando, um dos sacerdotes, dos filhos de
Recabe, clamou, dizendo: “Parai! Que fazeis? O Justo ora por vós!” E um deles,
um dos lavandeiros, tom ou o bastão com que costumava apertar os tecidos e

500
T iago - I ntrodução

golpeou com ele a cabeça do Justo. E assim T iago deu testem unho, e eles o se­
pultaram no local ju n to ao Templo.

Presume-se que a epístola tenha sido escrita em Jerusalém, onde Tiago pro­
vavelmente teria se familiarizado com a condição dos judeus, por intermédio
dos que vinham para as festas. Certas referências na epístola confirmam isto. A
comparação do homem que duvidava com uma onda do mar (1.6) e a imagem
das naus (3.4) poderíam ter sido escritas por alguém que morasse perto do mar
e estivesse familiarizado com ele. As ilustrações de 3.11-12 —os figos, o azeite,
o vinho, os mananciais doces e amargos —são fornecidas pela Palestina, como
também as imagens da seca (5.17-18), da chuva temporã e serôdia (5.7) e do
vento quente e escaldante (1.11), por que o nome καύσων era particularmente
conhecido na Palestina.
A epístola foi escrita a partir de um ponto de vista judaico. Sobre isto, Stanley afirma:

O cristianismo aparece nela, não como uma nova dispensação, mas como um desenvol­
vimento e aperfeiçoamento da antiga. A maior honra do cristão não é o fato de que ele
é um membro da igreja universal, mas o de que ele é a genuína tipificação do antigo
israelita. Ela não revela nenhum novo princípio de vida espiritual, como aqueles que
virariam o mundo de cabeça para baixo, os quais estavam contidos nos ensinamentos
de Paulo ou de João, mas somente aquela moralidade pura e perfeita que era o verda­
deiro cumprimento da lei.

O nome de Cristo aparece apenas duas vezes (1.1; 2.1); a palavra “evange­
lho” não aparece nenhuma vez; e não há nenhuma alusão à Redenção, Encar­
nação, Ressurreição ou Ascensão. As regras de moralidade que ele apresenta
são respaldadas por motivos e sanções judaicas, e não cristãs. A infração da
“lei real" é ameaçada com a sentença da lei (2.8,13); e o juízo não caridoso é
reprovado com base na condenação da lei, e não como algo alheio ao espírito
de Cristo.
Ao mesmo tempo, o próprio legalismo da epístola é a consequência na­
tural do Sermão da Montanha, cuja linguagem reflete mais do que qual­
quer outro livro do Novo Testamento. Ela opõe-se ao formalismo, fatalis­
mo, hipocrisia, arrogância, insolência e opressão engendrada pelas agudas
distinções sociais da época, com um ensinamento concebido no espírito e
frequentemente expresso nas formas do código moral do Grande Mestre.
Diz o Dr. Scott:

A epístola soa no ouvido, do princípio ao fim, como um eco do ensinamento moral de


nosso Senhor. Dificilmente se encontra nela um pensamento que não possa ser rastre-
ado ao ensinamento pessoal de Cristo. Se João tinha se reclinado no seio do Salvador,
Tiago havia se sentado aos seus pés.

501
1 E 2 P edro - I ntrodução

Pode-se observar as seguintes correspondências:

M ateus T iago
5.3 1.9; 2.5
5.4 4.9
5.7,9 2.13; 3.17
5.8 4.8
5.9 3.18
5.11-12 1.2; 5.10-11
5.19 1.19ss.,25; 2.10-11
5.22 1.20
5.27 2.10-11
5.34SS. 5.12
5.48 1.4
6.15 2.13
6.19 5.2SS.
6.24 4.4
6.25 4.13-16
7. lss. 3.1; 4.1 lss.
7.2 2.13
7.7,11 1.5,17
7.8 4.3
7.12 2.8
7.16 3.12
7.21-26 1.22; 2.14; 5.7-9

O estilo e os termos da epístola são fortemente marcados.


sência quase completa de conexões com a individualidade histórica do autor, as
quais, no caso de Pedro, são tão numerosas. As palavras “Ouvi, meus amados
irmãos” (2.5) sugerem a expressão similar de At 15.13; e a saudação grega usu­
al, χαψα,υ, saúde (At 15.23), é repetida em T g 1.1, os dois únicos lugares onde
ela aparece em uma epístola cristã. A pureza do idioma grego e sua liberdade
comparativa a partir de hebraísmos são difíceis de explicar em um autor que
havia passado a sua vida em Jerusalém. O estilo é sentencioso e antitético; os
pensamentos não estão conectados de modo lógico, mas reunidos em grupos
de sentenças curtas, como os ditados proverbiais dos judeus; e com este tipo de
literatura o autor, evidentemente, estava familiarizado. Seu discurso brilha com o
fervor de seu espírito; ele é rápido, exclamativo, vivido, abrupto, às vezes poético
na forma, e se move com uma cadência rítmica. “Ele combina um grego puro,
eloquente e rítmico com a intensidade de expressão hebraica.”

1 e 2 P edro

A vida e o caráter do apóstolo Pedro são familiares a todos os leitores dos


Evangelhos e do livro de Atos. Na Introdução ao Evangelho de Marcos, já foi
502
1 E 2 P edro - I ntrodução

demonstrado como o estilo e a terminologia desse Evangelho exibem a influên­


cia de Pedro, e como as características que aparecem no livro de Atos, naquelas
cenas em que Pedro era o único ou principal ator, reaparecem no segundo Evan­
gelho. Se estas epístolas foram escritas por ele, podemos esperar encontrar nelas
indícios da perspicácia, da pronta aplicação do que é observado, e da impulsivi­
dade e prontidão que aparecem nos outros dois livros, admitindo sempre uma
diferença entre o estilo narrativo e o exortatório.
Alguns observaram que “a visão, e o que ela deve fazer e obter, ocupa um
grande espaço nas cartas de Pedro”. Consequentemente, lemos que a salvação
de Deus está prestes a ser revelada pela última vez (lPe 1.5); os anjos desejam
atentar para os mistérios do evangelho (lPe 1.12); Cristo foi manifestado no fim
dos tempos (lPe 1.20); os gentios observarão as suas boas obras (lPe 2.12); os
maridos descrentes serão convencidos, considerando o comportamento casto de
suas esposas (lPe 3.2); o apóstolo era uma testemunha dos sofrimentos de Cristo
(lPe 5.1), e uma testemunha ocular de sua majestade (2Pe 1.16); os anciãos devem
apascentar o rebanho (lPe 5.2). Semelhantemente, ele fala sobre o dia da visitação,
ou, literalmente, o dia da negligência (lPe 2.12); Cristo é o bispo, literalmente,
supervisor das almas (lPe 2.25); aquele a quem faltam as graças cristãs é cego, e
vê apenas o que está perto (2Pe 1.9); Ló afligia-se ao ver as obras injustas de seus
vizinhos (2Pe 2.8); os ímpios têm olhos cheios de adultério (2Pe 2.14·).
Igualmente visível é a sua prontidão para aplicar o que vê e ouve. Diz o cônego
Cook:

Nenhum pensamento conectado com o mistério da salvação é apresentado sem uma


referência imediata e enfática ao que um cristão deveria sentir e ao que ele deveria
fazer. Nenhum lugar no templo espiritual é tão humilde, a ponto de que aquele que o
ocupa não tenha diante de si a mais sublime esfera de ação e pensamento espirituais.
As instruções que comovem o coração mais poderosamente são inculcadas em nós
conforme contemplamos a glória eterna, as manifestações do amor de Cristo.

Assim, temos a santificação do espírito para a obediência ( l Pe 1.2); a ordem para


ser santos na maneira de viver (1 Pe 1.15). A primeira epístola sobeja em exortações
à religião pessoal (2.10-18; 3.1-16; 4.1-11; 5.1-9). As graças cristãs farão com que
os crentes não sejam ociosos nem estéreis (2Pe 1.8); eles não tropeçarão, se fizerem
isto (2Pe 1.10); o apóstolo nos exorta ao santo trato e à piedade (2Pe 3.11).
Em exortações penetrantes e práticas como estas, é que o caráter imediato e
enérgico do apóstolo reaparece. O Dr. Davidson observa que o autor é “zeloso, po­
rém manso; fervoroso, mas não ardente”, uma declaração apropriada para provocar
um sorriso de alguém que sentiu o apelo nervoso da primeira epístola, e que se tor­
na flagrantemente absurda, se admitirmos, o que naturalmente não é o caso do Dr.
Davidson, a autenticidade da segunda epístola. O “tom manso” seguramente não
503
1 E 2 P edro —I ntrodução

é dominante aqui, mas, seja como for, seria estranho se as epístolas não exibissem
indícios de abrandamento com os anos e de amadurecimento do espírito de Cristo
neste discípulo, outrora apaixonado e obstinado. O segundo capítulo da segunda
epístola não é uma débil lembrança do Pedro que cortou a orelha de Malco.
O caráter vivido e pitoresco destas cartas é notável. Nas duas epístolas, que
contêm oito capítulos, dos quais o mais extenso consiste de apenas vinte e cinco
versículos, há cento e dezenove palavras que não aparecem em nenhuma outra
passagem do Novo Testamento. Há abundância de palavras descritivas, como
ωρυόμενος, bramar (lPe 5.8); όπλίσασθε, armai-vos ( lPe 4.1); επικάλυμμα, cober-
tura( lPe 2.16); φιμοΰν, tapar a boca, literalmente, amordaçar (1 Pe 2.15); σκολιός,
mau, literalmente, torto ou deformado (lPe 2.18); εκχενώς, ardentemente, literal­
mente, até o limite (1 Pe 1.22); άπόθεσις, deixar (2Pe 1.14); έξοδος, morte (2Pe 1.15);
διαυγάζειν, estrela da alva (2Pe 1.19); αυχμηρός, escuro ou seco (2Pe ΐ.19);έπίλυαις,
interpretação, literalmente, desatar (2Pe 1.20); σχρεβλοϋσιν, torcer, como com um
molinete (2Pe 3.16), e muitos outros casos.
A mesma característica vivida e ilustrativa aparece nas palavras ou expressões
que poderíam ser chamadas recordatórias, nas quais se espelha a experiência pessoal
anterior do autor. Assim, revesti-vos de humildade (1 Pe 5.5, vide nota sobre este ver­
sículo) relembram a imagem do Senhor cingido-se com uma toalha e lavando os pés
dos discípulos. Atentar (lPe 1.12) expressa um curvar-se para baixo, para examinar
atentamente, e nos conduz de volta à visita que Pedro e João fizeram ao sepulcro,
na manhã da ressurreição, quando se curvaram e olharam o interior do sepulcro. Em
apascentar o rebanho (na tb , pastoreai, e na ep, cuidem, lPe 5.2), está refletida a incum­
bência que Cristo dá a Pedro, no lago. A repetição da palavra άπροσωπολήμπτως, sem
acepção depessoas (1 Pe 1.17), usada por Pedro em uma forma similar, At 10.34, parece
indicar que ele tinha na mente a cena na casa de Cornélio; e vigiai( lPe 5.8) pode ter
sido sugerida pela lembrança de sua própria sonolência no Getsêmani, como pela
exortação de Cristo para que vigiassem. Assim, também, é interessante ler as pala­
vras esbofeteado {lPe 2.20), o madeiro (τό ξύλον, uma palavra incomum, usada por ele
em At 5.30; 10.39) eferida ouferimento (1 Pe 2.24) à luz das narrativas dos sofrimen­
tos de Cristo nos Evangelhos. Cristo havia chamado Simão de rocha e, pouco depois,
de pedra de tropeço. Pedro combina as duas expressões em uma única frase, rocha de
escândalo (1 Pe 2.8). Um exemplo notável aparece na referência à Transfiguração (2Pe
1.17-18), onde Pedro usa a peculiar palavra έξοδος, morte, literalmente, saída, partida,
a qual aparece em Lc 9.31, como também em Hb 11.22. Compare também tabemácu-
lo, em 2Pe 1.13-14, comfaçamos aqui três tabemáculos.
As duas epístolas estão impregnadas de uma atmosfera veterotestamentária.
Enfatiza-se o testemunho da profecia, do ensinamento e da história do Antigo
Testamento (lPe 1.10-12; 3.5-6,20; 2Pe 1.19-21; 2.1,4-8,15-16; 3.2,5-6). Citações
e referências a ele são incluídas no texto, embora as fórmulas de introdução, por-
504
1 E 2 P edro - I ntrodução

quanto está escrito, e pelo que também na Escritura se contêm, não apareçam na segun­
da epístola; e a conexão, quanto a expressões familiares, não é tão evidente como
na primeira epístola (vide lPe 1.16,24-25; 2.6-7,9-10,23-24; 3.6,10,14; 4.8,18;
5.5,7; 2Pe 1.19-21; 2.5-7,15,21; 3.5-6,8,13). A igreja de Cristo é representada
como a igreja de Israel aperfeiçoada e espiritualizada (lPe 2.4-10); a exortação à
santidade (1 Pe 1.15-16) é feita na linguagem de Lv 11.44; Cristo é descrito (lPe
2.6) nos termos de Isaías 28.16 e SI 118.22; e a declaração profética de Isaías a
respeito do servo de Jeová (52.13—53.12) reaparece em lPe 2.23-24.
As epístolas são, evidentemente, obra de um judeu. Encontramos, como seria
de esperar, o autor ilustrando as suas posições com base na história e tradição
judaicas, como em suas referências a Noé, Sara, Balaão, e em seu uso da palavra
ραυτι,σμός, aspersão (1 Pe 1.2), um termo peculiarmente levítico. Ele mostra como
o espírito de Cristo habitava nos profetas do Antigo Testamento, e como os cris­
tãos são um sacerdócio real.
A semelhança, tanto em idéias como em expressões, com passagens nas epís­
tolas de Paulo e Tiago é notável, especialmente na primeira epístola. Será instru­
tivo comparar as seguintes:

T iago 1 P edro
1.2-3 1.6-7
1.10-11 1.24
1.18 1.23
4.6,10 5.5-6
5.20 4.8

Paulo 1 P edro
Rm 12.2 1.14
Rm 4.24 1.21
Rm 12.1 2.5
Rm 9.33 2.6-8
Rm 9.25-26 2.10
Rm 13.1-4 2.13-14
G1 5.13 2.16
Rm 6.18 2.24
Rm 12.17 3.9
Rm 12.6-7 4.10-11
Rm 8.18 5.1
Rm 2.7,10 1.7
Rm 8.17 4.13
Rm 12.13 4.9
Rm 13.13 4.3
Rm 13.14 4.1
lTs 5.6 5.8
lCo 16.20 5.14

505
1 E 2 P edro - I ntrodução

Estas semelhanças não estão ausentes na segunda epístola, embora sejam se­
melhanças em tom, assunto e espírito, não de palavras. É nesta epístola que Pe­
dro designa os textos de Paulo como Escrituras (3.16). Compare:

Paulo 2 P edro
Rm 1.28; 3.20 1.2
lTm 1.4; 4.7 1.16
lTm 6.5; T t 1.11 2.3
lCo 10.29; G1 5.18 2.19
Rm 2.4; 9.22 3 15
G1 2.4 2.1

Não abordaremos a tão polêmica questão da autenticidade da segunda epís­


tola. O caso das diferenças de estilo entre as duas epístolas é legítimo. Existem
estas diferenças, e são muito decisivas, embora talvez não sejam tantas nem tão
grandes que não possam ser explicadas pela diversidade de assunto e circuns­
tâncias, e pela diferença na idade do autor. Algumas das expressões peculiares à
segunda epístola são: nos deu tudo o que diz respeito à vida epiedade (l.S); grandís­
simas e preciosas (1.4); pondo nisto mesmo toda a diligência e acrescentai à vossaf i a
virtude (1.5); amplamente concedida a entrada (1.11); esquecido da purificação (1.9);
heresias de perdição (2.1); lançado no inferno (2.4); tirada da água e no meio da água
subsiste (3.5) etc.
Mas, embora admitindo estas diferenças e reconhecendo as fraquezas da
evidência externa em favor da autenticidade da epístola, a evidência interna
do estilo e do tom nos parece ser superior às diferenças, e mostrar que as duas
epístolas são produto da mesma mão. Há a mesma peculiaridade de vocabulá­
rio e uma fertilidade similar de palavras incomuns. Das cento e vinte palavras
que aparecem apenas nos textos de Pedro, cinquenta e sete são peculiares à
segunda epístola; e, o que é ainda mais digno de nota, somente uma destas pa­
lavras, άπόθεσις, deixar, é comum às duas epístolas - um fato que é fortemente
contrário à hipótese de uma falsificação. Esta hipótese, pode-se observar, é
extremamente improvável. A sinceridade cristã, o protesto contra os enganos,
a lembrança terna e adorável de Cristo, a ênfase sobre a pessoa e a doutrina do
Senhor Jesus que caracterizam esta epístola, sugerem um padrão moral bas­
tante inconsistente com a perpetração de uma falsificação deliberada.
As comparações entre as expressões desta epístola e as usadas por Pedro, ou
inspiradas por ele, em Atos dos Apóstolos, exibem uma íntima correspondên­
cia; e uma correspondência (que, embora não deva ser tão firmemente forçada)
aparece em uma comparação com certas passagens dos Evangelhos. Assim, o
verbo δωρέομοα, dar, aparece apenas em Mc 15.45 e 2Pe 1.3-4 (vide Introdução ao
Evangelho de Marcos, sobre a relação entre Marcos e Pedro); e a recorrência das
506
J udas - I ntrodução

palavras êxodo, ou morte, e tabernáculo na mesma conexão (2Pe 1.13-15,17-18) é


muito impressionante, vinda da pena daquele que, na Transfiguração, ouviu os
visitantes celestiais conversando sobre a morte de Cristo, e que propôs a cons­
trução de tabernáculos para a morada deles. O uso repetido da palavra στηρίζω,
confirmar, e suas derivadas (1.12; 3.17; 2.14; 3.16), também é sugestivo, conside­
rando a admoestação de Jesus a Pedro pela mesma palavra - confirma teus irmãos
(Lc 22.32).
Há o mesmo caráter retrospectivo nas duas epístolas. Em ambas, o autor ensi­
na que a profecia não traz a sua própria interpretação; em ambas, ele refere-se ao
pequeno número de pessoas salvas do dilúvio; ambas têm os mesmos sentimen­
tos com relação à natureza e ao uso correto da liberdade cristã, e com relação à
importância da profecia; em ambas, άρίτή, virtude, é atribuída a Deus, um uso da
palavra que não reaparece em nenhuma outra passagem do Novo Testamento.
O estilo das duas epístolas é mais vigoroso que elegante, forte, e às vezes rude
e grosseiro, a obra de um homem simples e prático, e de um observador, em lu­
gar de um argumentador, cujos pensamentos não têm uma sequência lógica. O
espírito ardente do autor aparece no seu hábito de reunir epítetos, e de repetir os
seus pensamentos quase que com as mesmas palavras e formas (veja, por exem­
plo, lPe 1.4; 2.4,11; 1.19; 2.9. Também, 1.7, e 4.12; 1.13, e 4.7; 5.8; 1.14, e 2.11;
4.2; 2.15, e 3.1,16; 2.19, e 3.14; 4.14. 2Pe 1.4,8,17; 2.10-15; 3.15). O professor
Ezra Abbot apresentou algumas correspondências notáveis entre esta epístola
e os textos de Josefo, e afirma que o autor da epístola é muito dependente do
historiador judeu1. A segunda epístola de Pedro não pode ser estudada indepen­
dentemente da epístola de Judas.

J udas

Este breve carta é atribuída ao Judas de Mt 13.55, um dos irmãos de Jesus, e


de Tiago, o autor da epístola universal. Há um acalorado debate quanto a qual
epístola é a mais antiga, se a segunda epístola de Pedro ou a epístola de Judas, e,
consequentemente, qual autor se baseou no outro. E bastante evidente que um
usou a epístola do outro, ou que ambos se basearam em uma fonte comum. Uma
decisão satisfatória é impossível no estado atual das evidências. O assunto que é
comum às duas epístolas, além de várias semelhanças dispersas, está principal­
mente em Jd 3-18; 2Pe 2.1-18; 3.1-4*.
Além da semelhança com a segunda epístola de Pedro, a epístola de Judas
é marcada por suas referências apócrifas, em especial ao livro de Enoque (vide

1. Ezra Abbot, Expositor, 2.a série, iii., 49.


2. Vide Ezra Abbot, Expositor, 2.a série, iii., 139.
507
J udas — I n t r o d u ç Ao

notas sobre os versículos 9, 14). Seu estilo é conciso e pitoresco. “É grego apren­
dido por um estrangeiro e parcialmente a partir de livros, e está mesclado com
expressões hebraicas.” A epístola contém pelo menos quinze palavras que não
são encontradas em nenhuma outra passagem do Novo Testamento. Diz o deão
Alford:

E uma invectiva ardente, em que o autor acumula epíteto após epíteto, e imagem so­
bre imagem, e retorna repetidas vezes aos apóstatas desenfreados contra os quais ele
adverte a igreja, como se toda a linguagem fosse insuficiente para fornecer uma ideia
adequada de sua depravação e da abominação que ele mesmo sente devido à perversão
que tentam fazer da graça e das doutrinas do evangelho.

508
T iago

C a p ít u l o l

1. Jesus Cristo. Somente aqui e em 2.1; em nenhuma passagem nos sermões


de Tiago (At 15.14-15; 21.20ss.). Se ele tivesse usado o nome de Jesus, isto
podería ter sido considerado como resultante de vaidade, porque Tiago era
irmão do Senhor. Em todas as saudações das epístolas, usa-se o nome com­
pleto, Jesus Cristo.

Servo (δούλος). A rigor, servo contratado. Compare com Fp l.l; Jd 1.

Que andam dispersas (4v tf) διασττορά). Literalmente, na dispersão, como


traduzem a teb e a bp ; a este respeito, vide nota sobre lPe 1.1. Na t b , da
dispersão.

Saúde (χαίρβ,ν). Literalmente, regozijai. A saudação grega usual, salve! bem-


vindos! Também usada em despedidas: que a alegria esteja convosco. Compare com
a mesma expressão na carta da igreja de Jerusalém, At 15.23; uma das poucas
peculiaridades de estilo que conectam esta epístola ao Tiago do livro de Atos.
Ela não aparece na saudação de nenhuma outra das epístolas apostólicas.

2. Grande gozo (πάσαν χαράν). Gozo acompanha o regozijai, da saudação.


Grande tem o sentido de integral. Considere que é algo integralmente exultante,
sem nenhuma mistura de tristeza. Talvez, como sugere Bengel, a palavra grande
se aplique aos vários tipos de tentações.

Quando (όταν). Literalmente, sempre que, tradução melhor, porque sugere que
a tentação pode ser esperada em toda a caminhada cristã.
T iago - Cap. 1

Cairdes em (περιπέσητε). A preposição περί, ao redor, sugere a queda em alguma


coisa que está ao redor. Assim Tucídides, ao falar sobre a praga em Atenas, diz: O s
atenienses, tendo caído em (περιπεσόντες) tal aflição, foram oprimidos por ela”.

Várias (ποικίλους). Na tb , diversas-, e na ep, todo tipo. Vide nota sobre lPe 1.6.

Tentações (πειρασμοΐς). No sentido geral de provações. Vide nota sobre Mt


6.13; lPe 1.6.

3. Prova (δοκίμιον). Mas uma tradução mais acertada é provação. Vide nota sobre
lPe 1.7.

Produz (κατεργάζεται). O verbo, composto com κατά, completamente, indica


realização. A prova será bem sucedida e completa. Isto está de acordo com obra
perfeita, v. 4.

Paciência (υπομονήν). Vide nota sobre 2Pe 1.6, e Tg 5.7.

4. Obra perfeita (έργον τέλειον). Segundo Bengel: “Isto é exercido por um


homem perfeito. O próprio homem é caracterizado por sua condição e trabalho”.
Obra (έργον) é a palavra de que κατεργάζεται, produzir, é composta. É o resultado
consumado da paciência na purificação moral e enobrecimento. Compare com
obra dafé, lTs 1.3.

Perfeitos e completos (τέλειοι κα'ι ολόκληροι). Na bj, pefeitos e íntegros. As


duas palavras expressam noções diferentes. Τέλειοι,perfeito, deτέλoς, cumprimento
ou perfeição {perfeito, de perfectus, per factus, completo), indica aquilo que alcançou
sua maturidade ou cumpriu ofim desejado. 'Ολόκληροι, de όλος, inteiro, e κλήρος,
uma sorte ou porção: aquilo que tem tudo o que, a rigor, pertence a ele; sua porção
inteira, e, por essa razão, intacta em todas as suas partes. Assim, Pedro (At 3.16)
diz, sobre o aleijado restaurado: “a fé deu a este... perfeita saúde (ολοκληρίαν)”.
Compare com a expressão familiar, um homem perfeito. Observe também que
Tiago repete as palavras-chave de seu sermão: saúde, alegria, paciência, perfeito.

Sem faltar em coisa alguma (εν μηδενί λειπόμενοι). Mais literalmente, em


nada deficientes. Observe a corroboração característica de Tiago de uma declaração
positiva por uma sentença negativa: completos, semfaltar em coisa alguma; Deus,
que dá e não o lança em rosto; comfé, não duvidando. A negativa condicional μηδέν!,
coisa alguma, é usada em lugar da negativa absoluta ούδενι, como indicando nada
que sepodería supor, nenhuma coisa possível.

5. E [(δε]. Omitido nas versões teb , bp, bj. A tb traduz corretamente, mas. Ao
buscar esta perfeição, percebereis que vos falta sabedoria. Alguém poderia dizer:
“Eu não sei como tornar-me perfeito”, mas, se algum de vós etc.
510
T iag o - C ap. 1

Falta. Observe a repetição.

A Deus que... dá (τοδ διδοντος 0eoü). A construção do texto grego é tal, que
darè enfatizado como um atributo de Deus. Literalmente, “Peça ao Deus que da
ou “Deus doador”.

Liberalmente (απλώς). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Na teb ,


com simplicidade-, na n v i , livremente, e na bp, generosamente. Em termos literais, a
palavra significa simplesmente, e isto está de acordo com a sentença negativa a
seguir, não o lança em rosto. E a ação de dar o bem pura, simples, sem mistura de
maldade ou amargura. Compare com Rm 12.8, onde é usado um substantivo
correlato: “o que reparte, faça-o com liberalidade (kv άπλότητι)”. Compare,
também, com Pv 10.22. Os homens frequentemente complicam e estragam sua
doação, com críticas ou acusações, ou por uma suposição de superioridade.

6. Duvidando (διακρινόμβ/ος). Compare com Mt 21.21. Não equivalente a


descrença ou incredulidade, mas expressando a hesitação que oscila entre a fé e a
incredulidade, e se inclina para esta última. A ideia é apresentada na sentença a
seguir.

Onda (κλυδωνι). Na tb , vaga. Somente aqui e em Lc 8.24, embora em Ef 4.14


apareça o verbo correlato. A palavra é admiravelmente bem escolhida, como por
um autor que vivia perto do mar e estava familiarizado com os seus aspectos.
A distinção geral entre ela e a mais comum, κύμα, onda, está no fato de que
κλύδων descreve as longas cadeias de água, impelidas em linhas horizontais sobre
a vasta superfície do mar, ao passo que κΰμα indica as massas pontiagudas que se
arrojam a partir das que estão sob a ação do vento. Por isso, a palavra κλυδων é
aqui explicada, e o quadro é completado pelo que se segue: um vagalhão ou vaga,
levado pelo vento em linhas, e lançado em ondas. Tanto aqui como na passagem
em Lucas, a palavra é usada em conexão com o vento. Ela enfatiza a ideia de
extensão, ao passo que a outra lança a ideia de concentração em uma crista ou
cume, em determinado ponto. Consequentemente, na imagem, a ênfase está sobre
o lançar de um lado a outro; não apenas se movendo pelo impulso do vento, mas
nem mesmo se movendo em linhas regulares; lançadas em picos que se elevam
e caem.

Levada pelo vento (άν€μιζομδνω). Somente aqui no texto do Novo Testa­


mento.

Lançada (pm(opévq)). Somente aqui no texto do Novo Testamento. De ριπίς,


um abano. Quem quer que tenha visto a grande massa do oceano lançando-se em
ondas pontiagudas, cujos cumes são capturados pelo vento e dissipados em um
espargir, apreciará a imagem vivida.
511
Τ ι ago - C a p . 1

7. Tal homem (εκείνος). Enfático, e com uma força ligeiramente desdenhosa.

Alguma coisa, i.e., o que ele pediu.

8. O homem de coração dobre é inconstante etc. A arc insere isto como um


aforismo independente, o que não é apropriado. Esta sentença é um comentário
e um detalhamento sobre ta l h o m em . “Não pense tal homem” etc., “um homem de
coração dobre, inconstante em todos os seus caminhos”.

De coração dobre (δίψυχος). Na tb , irre so lu te , e na teb , d iv id id o . Peculiar a


Tiago, aqui e em 4.8. Não e n g a n a d o r , mas d ú b io e in d eciso .

Inconstante (ακατάστατος). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A


palavra correlata, ακαταστασία, p e rtu rb a ç ã o , é encontrada em 3.16, e em outras
passagens.

9. Mas. Assim também na tb . Omitida nas versões teb , bp, bj, n v i , ara .
Introduzindo um contraste com a palavra inconstante.

Glorie-se (καυχάσθω). Não suficientemente forte. Na verdade, é vanglorie-se.


Compare com Rm 5.3; Fp 3.3.

O irmão abatido (ò αδελφός ò ταπεινός). Literalmente, o irmão, o abatido. Não


no sentido cristão e mais elevado de ταπεινός (vide nota sobre Mt 11.29), mas
pobre e afligido, em contraste com rico.

Na sua exaltação (εν τψ ϋψ ει αύτοΰ). Literalmente. Na a r a , na sua dignidade-,


e na n v i , em elevada posição.

10. Em seu abatimento (εν τη ταπεινώσει αύτοΰ). Uma forma de expressão


similar à anterior. Literalmente, na sua humilhação. A arc corretamente preserva
a relação entre ταπεινός e ταπεινώσει, pelas palavras abatido/abatimento. A a r a
faz um contraste entre dignidade e insignificância. Outras versões omitem o jogo
linguístico.

Flor (άνθος). Somente aqui, no versículo 11, e em lPe 1.24.

11. Porque sai o sol etc. (άνετε ιλεν γάρ ό ήλιος). Com ο uso do tempo aoristo,
Tiago lança graficamente a sua ilustração na forma narrativa: “Porque sai o sol
- e seca etc.

Com ardor (τώ κ α ύ σ ω ν ι ) . A t b traduz, v e n to a b ra sa d o r , e a t e b , com o siroco .


O artigo indica algo familiar; e a referência pode ser ao escaldante vento leste
(Jó 1.19, lxx ; Ez 17.10), que seca a vegetação. Contudo, algumas das maiores
autoridades preferem a tradução da kjv.
512
Τ ι ago —C ap. l

Cai (Ιξέπ€σ€ν). Tempo aoristo. Literalmente, d e s p re n d e u - s e .

A formosa aparência do seu aspecto («ύπρέπ^ια χοΰ προσώπου). Literalmente,


a b e l e z a d e s u a f a c e o u a p a r ê n c ia . Εύπρέπ6 ια aparece somente aqui no texto do

Novo Testamento.

Murchará (μαρανθήσ^ται). V id e nota sobre l Pe 1.4.

Caminhos (πορ6ΐαις). Na bj, n e g ó c io s - , e na ecp, e m p r e s a s . Somente aqui e em Lc


13.22. Os seus caminhos, para cá e para lá, ao adquirir riquezas.

12. Quando for provado (δόκιμος yenópevoç). Literalmente, v i n d o a s e r a p r o v a d o .


V i d e nota sobre p r o v a , lPe 1.7. O significado não é, como sugere a arc, d e p o i s d e

c o n c l u í d a a s u a p r o v a ç ã o , mas depois que ele tiver s i d o a p r o v a d o p e l a p r o v a ç ã o . Na

ara, acertadamente, d e p o i s d e t e r s i d o a p r o v a d o .

A coroa (στέφανον). V id e nota sobre lPe 5.4.

D a vida (τής ζωής). Literalmente. O artigo aponta para a bem conhecida


vida eterna. A imagem não é a da coroa dos a t l e t a s , pois uma imagem dos jogos
gregos, que os judeus desprezavam, seria estranha ao pensamento de Tiago e
desagradável para os seus leitores. Significa, na realidade, a coroa d a r e a l e z a , e
a palavra apropriada para ela é διάδημα, d i a d e m a . Em SI 20.3 (lxx), στέφανος é
usada a respeito da coroa r e a l . Em Zc 6.11,14, a referência parece ser a uma coroa
sacerdotal, que faz parte da mitra do sumo sacerdote.

13. D e Deus (άπό 0eoO). Literalmente, d a p a r t e d e D e u s . Não p o r Deus, como o


agente direto, mas pelo agente que procede de Deus. Compare com Mt 4.1, onde
o agente direto, “p e l o Espírito”, “p e l o diabo”, é expresso por ύπό.

Não pode ser tentado (άπείραστος έστιν). Literalmente, é i n c a p a z d e s e r t e n ­


t a d o . Mas alguns dos melhores expositores traduzem: n ã o c o n h e c e a s c o is a s m á s ,

como em maior conformidade com o emprego da palavra e com o contexto, uma


vez que a questão não é sobre Deus ser tentado, mas sobre a tentação de Deus.
Άπώραστος aparece somente aqui no texto do Novo Testamento.

A ninguém tenta (πειράζει δέ αυτός). A arc, assim como várias versões


brasileiras, falha por não traduzir αυτός: “ e le m e s m o a ninguém tenta”.

14. Atraído (έξΕλκόμβνος). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Esta palavra e a seguinte são metáforas extraídas da caça e da pesca. A t r a í ­
d o , como os animais são atraídos de um lugar seguro a um cheio de ciladas.

Perceba o particípio presente, indicando o p r o g r e s s o da tentação: “está s e n d o


atraído”.
513
T iago —C ap. 1

Engodado (δίλβαζόμ^ρος). Como um peixe pela isca. Também no particípio


presente. Vide nota sobre 2Pe 2.14.

15. A concupiscência. Note o artigo, substituído pelo pronome esse, na ara. A


sua própria concupiscência peculiar.

Havendo... concebido (σύλλαβοDoa). Literalmente. Ao passo que a ep traz:


concebe.

Dá à luz (utctei). Metáfora da mãe.

Sendo consumado (άττοτελ^σθΕΐσα). Melhor, depois de completamente crescido.


Não quando o curso de uma vida pecadora é concluído, mas quando o pecado
atingiu a totalidade de seu desenvolvimento.

Gera (átroiciki). Um verbo diferente do anterior, dá à luz. O verbo é usado


apenas por Tiago, aqui e no versículo 18. A imagem é interpretada de duas
maneiras, (l) O pecado, representado como mulher, já está grávido da morte, e,
quando plenamente crescida, dá-lhe à luz (conforme a maioria dos comentaristas).
Como escreve Alford:

A p ro stitu ta , a L uxúria, atrai e sed u z o h om em . A u nião culpada é c o m etid a pela


vo n ta d e que aceita a tentadora: a co n seq u ên cia é que ela dá à luz o p ecad o £...] E n tã o
o pecado, e ss e pecado em particular, d ep o is d e crescid o, e le m esm o, c o m o se e stiv e ss e
tod o o tem p o grá v id o , g era a m orte.

Ou: (2) O pecado, representado como homem, depois de atingir a maturidade,


torna-se o genitor da morte. Assim a vulgata, generat. Estou inclinado a preferir
esta, uma vez que a outra parece um pouco forçada. Ela tem o apoio do bispo
Lightfoot. Há uma sugestiva passagem paralela em Esquilo:

H á um d itad o an tigo,
P ron u n ciad o em tem p os a n tig o s,
D e que a b em -aven tu ran ça h um ana, d ep o is d e crescida,
D á à luz, e n ão m orre sem filhos:
E, para a raça vindoura,
N a sc e a lam en tação n ão saciada da prosperidade.
M a s so m e n te eu
A lim e n to em m eu p e ito o u tr o p en sam en to.
A obra ím pia
G era um a prole n u m erosa e sem elh a n te a ela;
E n q u a n to as casas go v ern a d a s p ela in fle x ív e l ju stiç a
F lo r e sc e m com um a prole ju sta. A an tiga in so lên cia

514
Τ ι a g o - C ap . 1

E m h o m en s dep ravad os g e r a in so lên cia ,


Q u e se ren ova de tem p os em tem p os
C om o vem o dia da perdição, e cria n o v a m en te
N o s sa lõ es lú g u b r e s d e A te
A ira v io le n ta da luz,
C oragem n ão santificada, d em ô n io in ven cível,
Invicto, co m a sem elh an ça d e seu s p ais estam p ad a em s i 1.

A magnífica passagem na obra de Milton^ deriva desses versículos de Tiago.

17. As primeiras palavras deste versículo formam um hexâmetro, desta


maneira:

Πάσα δό | σις άγα | θή καί | ττάν δώ | ρήμα τ ί | λαόν.

Versículos, ou partes de versículos, deste tipo aparecem ocasionalmente no


texto do Novo Testamento. Algumas vezes, trata-se de citações dos poetas
gregos; outras, as palavras do autor enquadram-se inconscientemente na for­
ma métrica. As citações poéticas estão limitadas a Paulo, em At 17.28; lCo
15.33; T t 1.12.

Toda boa dádiva e todo dom perfeito ( v i d e texto grego acima). A declara­
ção de que esses dons vêm de Deus é uma consequência da ideia de que Ele não
tenta os homens ao mal. Os dons de Deus são contrastados com o mal que é ge­
rado da concupiscência do homem. Duas palavras são usadas para d o m / d á d i v a .
Δόσις aparece apenas aqui e em Fp 4.15; nesta última passagem, no sentido ati­
vo; aqui, no entanto, no passivo, como em Pv 2 1 .1 4 (lxx ). Δώρημα é encontrada
em Rm 5.16. Ela sobrepõe-se ligeiramente à outra palavra, ao enfatizar o dom
como a b u n d a n t e , g r a n d e , c o m p le t o , uma ideia que é desenvolvida no versículo 18,
s e g u n d o a s u a v o n t a d e . A rv, de forma bem deselegante, empenha-se em apre­

sentar a distinção pelo emprego da palavra b e n e f i c i o , para a qual os revisores


americanos insistem em reter a tradução d o m . B e n e f i c i o significa originalmente
u m a s ú p lic a - , f a v o r , por sua vez, é um sentido secundário e posterior, como algo

concedido em resposta a uma súplica. A palavra tem origem escandinava, e o


significadoyàiw parece indicar uma confusão com a palavra latina b o n u s , bem;
em francês, b o n .

Perfeito. A palavra amplia a ideia de bem , indicando mais distintamente a


qualidade m o r a l do dom.

1. E s q u ilo , Agamenom, 7 5 1 -7 7 1 .
2. M ilto n , Paradise Lost, ii., 7 6 0 -8 0 1 .

515
T ia g o — Cap. l

Descendo (καταβαΐνον). Um particípio presente, a ser construído com άνωθεν


kruv, é d o a l t o . Literalmente, e s t á d e s c e n d o d o a l t o . Como é usual, esta união do
particípio com o verbo finito indica algo h a b i t u a l . Traduza por d e s c e d o a l t o .
Compare com 3.15.

O Pai das luzes (του πατρός των φώτων). A tradução d a s l u z e s é literal,


indicando os corpos celestes. Compare com SI 135.7 ( lxx ); e Jr 4.23 ( lxx ). Deus
é chamado “o Pai das luzes”, como sendo o seu criador e mantenedor. Compare
com Jó 38.28; SI 8.3; Am 5.8.

Não há mudança (evt). Forma abreviada de eveou, e x i s t e e m . Mais forte que a


simples forma h á , e indicando i n e r ê n c i a ou p e r m a n ê n c i a i n t e r i o r . Na tb , p o d e h a v e r ,
e na teb , n ã o e x is t e .

Mudança (παραλλαγή). Melhor, como na tb , v a r i a ç ã o . A palavra não é usada,


como supõem alguns, em um sentido técnico, astronômico, que os leitores de
Tiago não teriam compreendido, mas no sentido simples, de m u d a n ç a no grau ou
intensidade da luz, como acontece com os corpos celestes. Compare Platão:

E le (o a strôn om o) não p en sará q u e o céu e as coisas no céu foram form ad as p elo


C riador da m aneira m ais perfeita? M as, q u an d o e le reflete q u e as p ro p o rçõ es de n o ite
e dia, ou de am bos, em com p aração com o m ês, ou do m ês em com p aração com o ano,
ou d o s o u tr o s astros em com p aração com e ste s, e u n s em com p aração com o s ou tros,
são v isív eis e m ateriais, n u n ca cairá no erro de supor que são e te r n o s e não su jeito s a
nen h u m a variação (oòôèv πα ρα λλά ττειν) - isto seria m o n s tr u o so 3.

Sombra de variação (τροπής άποσκίασμα). Popularmente, entende-se que


isto significa que não há, em Deus, sequer a mais tênue s u g e s t ã o ou s o m b r a de
mudança, como na expressão s o m b r a d e s u s p e it a . Mas o idioma grego não tem essa
expressão idiomática, e isto não é o que Tiago quer dizer. A teb , acertadamente,
traduz: s o m b r a d e v i d a a o m o v i m e n t o , referindo-se até aos corpos celestes, que
lançam sombras em suas revoluções, como quando a lua nos mostra a sua face
escura, ou o sol é eclipsado pelo corpo da lua.

18. Gerou (άπεκύησ^ν). V id e nota sobre o versículo 15, e compare com lJo 3.9;
lPe 1.23.

Como primícias (απαρχήν τινα). A ep lê: asprimeiras dentre as suas criaturas. Na


k jv , uma espécie d e primícias. Uma espécie de indica a natureza figurada do termo. A

imagem é extraída da exigência da lei judaica de que o primogênito dos homens

3. P la tã o , República , vii., 53 0 .

516
T ia g o - C a p . 1

e do gado e a primeira colheita de frutos e grãos fossem consagrados ao Senhor.


O significado é de que os cristãos, como primícias, devem ser consagrados a
Deus. A expressão “primícias” é comum no texto do Novo Testamento. Vide Rm
8.23; 16.5; lCo 15.20,23; Ap 14.4.

19. Sabeis. A acf segue a tradução de ώστε, portanto. Porém, a leitura correta
é ιστέ, sabeis, como na arc . Outros traduzem a palavra como imperativo, sabei,
como chamando a atenção para o que vem a seguir.

21. Imundícia (ρυπαρίαν). Somente aqui no texto do Novo Testamento, mas


Tiago usa o adjetivo correlato (2.2), “sórdida vestimenta”. 'Ρύπος, imundícia, está
presente em 1Pe 3.21 (vide notas sobre esse versículo); e o verbo ρυπόω, estar sujo,
é encontrado em Ap 22.11.

Acúmulo de malícia (περίσσειαν κακίας). Na t b , excesso de malícia, na teb ,


transbordamento de maldade. Περίσσεια é uma palavra não clássica, e aparece em
três outras passagens do Novo Testamento —Rm 5.17; 2Co 8.2; 10.15. Em todas
elas, é traduzida como abundância/abundantemente, pela arc . Não parece haver
necessidade de modificar este significado aqui. O sentido é de maldade abundante
ou em abundância. Aqui, a teb traz maldade, como em lPe 2.1,16, onde substitui
malícia por maldade. A tradução é principalmente malícia, tanto na arc como na
tb . Malícia é uma tradução adequada, indicando uma disposição maléfica para
com o próximo. Consequentemente, não é um termo geral para o mal moral, mas
uma forma especial de vício. Compare com a ira do homem, v. 20.

Com mansidão (εν πραότητι). Literalmente, “em mansidão”; em oposição a


malícia.

Enxertada (έμφυτον). Na ep, bp, plantada. Somente aqui no texto do Novo


Testamento. Melhor, e mais literalmente, como na n v i , implantada. O termo as­
sinala uma característica da palavra da verdade (v. 18). Ela é implantada·, dada
divinamente, em contraste com algo adquirido pelo estudo. Compare com Mt
13.19, “a palavra do Reino - semeada em seu coração”. Enxertado ou transplantado
é expresso por uma palavra peculiar, empregada apenas por Paulo, εγκεντρίζω,
de κεντρον, uma ponta afiada, enfatizando assim a ideia da incisão necessária no
enxerto. Vide Rm 11.17,19,23-24.

A qual pode salvar (τον δυνάμενον σώσαι). Compare com Rm 1.16, “o poder
de Deus para a salvação’.

22. Ouvintes (άκροαταί). Palavra usada apenas por Tiago.

Enganando (παραλογιζόμενοι). De παρά, fora de, contrário a, e λογίζομαι,


considerar, e, consequentemente, concluir com raciocínio. Portanto, o engano em
517
Τιago - Cap. 1

questão é aquele em que alguém se trai, por falso raciocínio - raciocinando^ora


da verdade.

23. Contempla (κατανοοϋντι). Com a noção de considerar atentamente (κατά, no


interior, ou através; cp. ύς, dentro, v. 25). Compare com Lc 12.24,27; Hb 3.1. Logo,
o contraste não é entre um olhar precipitado e uma contemplação cuidadosa (v. 25,
atenta) . Tiago não censura a audição meramente desatenta, mas a negligência em
colocar em prática o que é ouvido. E possível ser um ouvinte atento e crítico da
palavra, mas não um cumpridor.

Ao espelho (év έσόιττρω). Melhor, um espelho metálico. A palavra aparece


apenas aqui e em lCo 13.12.

O seu rosto natural (το πρόσωπον τής Yevéoecoç). Literalmente, o rosto de seu
nascimento; o rosto com que ele nasceu.

24. Se contempla (κατενόησβ;). O tempo aoristo, lançando a sentença em uma


forma narrativa vivida: se contemplou a si mesmo e se esqueceu. Compare com o
versículo 11.

25. Aquele, porém, que atenta (ό παρακύψας). A rigor, aquele que olha. Vide
nota sobre lPe 1.12. O verbo é usado a respeito de alguém que se curva para o
lado (παρά) para olhar atentamente. O espelho é concebido como colocado sobre
uma mesa ou o chão. Bengel cita Sr 14.23: “Aquele que bisbilhota por suas (da
Sabedoria) janelas também ouvirá em suas portas”. Coleridge observa:

Uma palavra mais feliz ou eficaz não podería ter sido escolhida para expressar a
natureza e o objetivo supremo da reflexão, e para indicar a necessidade dela, a fim de
revelar a fonte viva da evidência da fé cristã no próprio crente, e, ao mesmo tempo,
apontar o único local e região onde ela será encontrada*.

Para (cΙς). Indicando a penetração do olhar na própria essência da lei.

A lei perfeita da liberdade (uópov xkXciov τον τής έλ^υθφίας). Literalmente,


a lei perfeita, a lei da liberdade. A lei da liberdade é acrescentada como definindo
a lei perfeita.

N isso persevera. Melhor, assim persevera; i.e., continua atentando.

Ouvinte esquecido (ακροατής έταλησμονής). Na tb, ouvidor esquecidiço-, na teb,


ouvinte distraído. A segunda palavra aparece somente aqui no texto do Novo Tes-

4. Coleridge, Aphorismos.

518
T íago - C ap. 1

tamento. Literalmente, um ouvinte de esquecimento; isto é, quem se caracteriza pelo


esquecimento. A tradução, um ouvinte que esquece, transmite o sentido apropriado
de esquecimento como uma característica, além de ser uma versão melhor do que
a da arc .

Fazedor da obra. Literalmente, de obra, uma vez que o substantivo não tem
artigo. Na rv, umfazedor que trabalha.

No seu feito (εν τή ποιήσει αύτοϋ). Mais corretamente, em seu realizar.


Somente aqui no texto do Novo Testamento. A preposição εν (em) assinala a
conexão interior entre o fazer e a bem-aventurança. Conforme Alford: “A vida
de obediência é o elemento em que a bem-aventurança é encontrada, e em que
consiste”.

26. Cuida ser (δοκεΐ). Na n v i , se considera-, na a r a , se supõe-, na bj, pensa ser.


Dificilmente um homem pode parecer ser religioso, quando, como observa Trench,
“as suas pretensões religiosas são desacreditadas e refutadas pela liberdade de
uma língua sem restrições”.

Religioso (θρήσκος). Somente aqui no texto do Novo Testamento, e comple­


tamente ausente no grego clássico. O substantivo correlato, θρησκεία, religião,
aparece em At 26.5; Cl 2.18; Tg 1.26-27, e significa o serviço cerimonial da reli­
gião. Heródoto o emprega com respeito a várias observâncias praticadas pelos
sacerdotes egípcios, como o uso de linho, a circuncisão, o raspar dos cabelos etc5.
A origem é incerta. Θρεομαι, pronunciar formas de oração, foi sugerida, uma vez
que os seguidores de Wycliffe foram chamados de lolardos, do antigo teutônico
lullen ou lollen, cantar. Consequentemente, o adjetivo aqui se refere ao desempe­
nho zeloso e diligente dos serviços religiosos.

Refreia (χαλιναγωγών). Usada apenas por Tiago. Vide 3.2. Literalmente, guiar
com um freio. Assim, Platão: “Creio que o argumento tem de ser retomado de
tempos em tempos, e não deve poder fugir ou desaparecer, mas ser controlado e
retido com rédea e freio”6.

27, Imaculada (αμίαντος). Vide nota sobre lPe 1.4. Os dois adjetivos, pura e
imaculada, apresentam os lados positivo e negativo da pureza.

Visitar (επισκέπτεσθαι). Vide nota sobre Mt 25.36. Tia go aqui desfere um golpe
direto ao ministério por procuração, ou por meras contribuições de dinheiro. A

5. Heródoto, ii., 37.


6. Platão, Laws, 701.

519
T ia g o - Cap. 2

religião pura e imaculada exige o c o n t a t o p e s s o a l com a tristeza do mundo: v is ita r

os aflitos, e visitá-los e m s u a t r i b u t a ç ã o . Como diz Lecky:

O homem rico, esbanjador de dinheiro, que para ele tem pouco valor, mas é
completamente incapaz de dedicar qualquer atenção pessoal ao objeto de suas esmolas,
frequentemente ofende a sociedade com as suas doações. Porém, este raramente é o
caso com aquela caridade muito mais nobre, que faz com que os homens se familiarizem
com as visitas da infelicidade, e acompanha o objeto de seu cuidado durante todas as
fases de sua vida7.

Guardar (τηρεΐν). V id e nota sobre iPe 1.4.

Guardar-se da corrupção (άσπιλον). Na ara , in c o n t a m in a d o . V id e nota sobre


lPe 1.19.

C a p ít u l o 2

1. Tenhais (e'xexe). Na rv , m a n t e r , não no sentido de a p e g a r - s e a , mas de p o s ­


s u ir, o c u p a re p r a t i c a r , como um hábito. Assim, dizemos que um homem m a n ­
t é m a sua propriedade com certa estabilidade. Uma propriedade alugada é

uma r e t e n ç ã o . Também se refere a uma opinião, ou conjunto de opiniões, com


que alguém se identifica abertamente. Dizemos que essa pessoa m a n t é m isto
ou aquilo.

Senhor da glória. Compare com lCo 2.8; At 7.2; Ef 1.17.

Em acepção de pessoas (èv προσωπολημψίαις). De πρόσωπον, a f a c e , e


λαμβάνω, re c e b e r. R e c e b e r a f a c e é uma expressão hebraica. Assim em Lv 19.15
(lxx ): Οΰ λήψη πρόσωπον πτωχού - N ã o r e s p e i t a r á s a p e s s o a ( n ã o r e c e b e r á s a f a c e )
d o p o b r e . Compare com Lc 20.21; Rm 2.11; e Jd 16.

2. A juntam ento (συναγωγήν). A palavra s i n a g o g a é uma transcrição do vo­


cábulo grego. De συν, j u n t o s , e άγω, t r a z e r . Daí, literalmente, u m a j u n t a m e n t o
ou c o n g r e g a ç ã o , sentido que é comum à palavra na lx x , não somente com
respeito a assembléias para adoração, mas também a reuniões com outros
propósitos públicos. Da reunião, propriamente dita, é fácil a transição para
o l o c a l de reunião, a sinagoga, e, neste sentido, o termo é usado em todo o
Novo Testamento, com as seguintes exceções: em At 1 3 . 4 3 , é traduzido como
c o n g r e g a ç ã o pela n v i , embora a a r c traga s i n a g o g a ; e em Ap 2 . 9 ; 3 . 9 , os judeus

descrentes, como um todo, são chamados s i n a g o g a d e S a t a n á s . Como designa-

7. Lecky, History o f European Morals, ü., 98.

520
T iago —C ap . 2

ção de uma congregação distintamente de judeus ou um lugar de adoração,


foi mais enfatizado pela adoção da palavra έκκλησία, igreja, para indicar a
igreja cristã. Somente nesta passagem a palavra é aplicada distintamente a
uma congregação cristã ou lugar de adoração de cristãos. A explicação mais
simples parece ser que ela designa o local de adoração do grupo cristão, e
Tiago usa a palavra mais familiar aos cristãos judeus, uma explicação que
recebe apoio do fato de que, como observa Huther, “os cristãos judeus ainda
se consideravam uma parte integral da nação judaica, como o povo escolhido
de Deus”. Como esta porção, eles tinham sua sinagoga especial. A partir de
At 6.9, somos informados de que havia inúmeras sinagogas em Jerusalém,
representando diferentes grupos, como os descendentes de judeus libertos
em Roma, e os judeus alexandrinos ou helênicos. Entre elas, estaria a sina­
goga dos cristãos, e este seria o caso em todas as grandes cidades onde se
congregavam os judeus da Dispersão. Alford cita uma frase dos Testaments of
the Twelve Patriarchs: a sinagoga dos gentios. Compare com Hb 10.25, “a nossa
congregação (έιασυναγωγήν)”.

Com anel de ouro (χρυσοδακτυλιος). Somente aqui no texto do Novo Testa­


mento. Não um homem usando um único anel de ouro (como na arc ), o qual não
atrairía atenção em uma congregação onde a maioria das pessoas usava um anel,
mas um homem com anéis de ouro, com as mãos visivelmente cobertas de anéis e
joias. O anel era considerado um artigo indispensável no vestuário de um hebreu,
uma vez que continha o seu sinete; e o nome do anel, tabba'ath (naaç), derivava
de uma raiz que significava gravar um selo. Era uma expressão conhecida para um
objeto extremamente valioso. Vide Is 22.24; Ag 2.23. Os gregos e romanos usa­
vam anéis em grande profusão. Hannibal, depois da batalha de Cannae, enviou
a Cartago, como um troféu, três cestos com anéis de ouro tirados dos dedos dos
cavaleiros romanos que haviam sido mortos em batalha. O uso de anéis na mão
direita era considerado um sinal de efeminação, mas eles eram usados profusa­
mente na mão esquerda. Marcial fala sobre certo Carino, que usava seis em cada
dedo, e nunca os tirava, nem à noite ou para o banho. Os almofadinhas tinham
anéis de diferentes tamanhos, para o verão e o inverno. Aristófanes faz uma dis­
tinção entre a população, de modo geral, e os que usam anéis, e emprega a formi­
dável palavra σφραγιδονυχαργοκομήται, almofadinhas preguiçosos, de cabelos longos,
com anéis e unhas bem cortadas8. Demóstenes era tão extravagante com este tipo de
ornamento, que, em uma ocasião de desastre público, ficou estigmatizado como
tendo uma vaidade inapropriada. Menção frequente é feita ao seu enorme custo.

8. Aristófanes, The Clouds.

521
T iago - C ap. 2

Eram de ouro e prata, às vezes da combinação de ambos; outras vezes, de ferro


coberto de ouro. A possível beleza destes últimos será apreciada por aqueles que
virem as elegantes joias de ouro e ferro fabricadas em Toledo, na Espanha. Oca­
sionalmente, eram de âmbar, marfim ou porcelana. O costume de usar anéis foi
adotado pelos primeiros cristãos. Muitos deles eram adornados com os símbolos
da fé —a cruz, a âncora, o monograma de Cristo etc. Entre os anéis encontrados
nas catacumbas, há alguns com uma chave, e alguns com uma chave e um selo,
para fechar e selar um caixão.

Vestes preciosas (εσθήτι λαμπρά). Literalmente, vestes brilhantes ou reluzen­


tes. Na rv, trajes de luxo.

Sórdida (ρυπαρά). Compare com 1.21; e vide nota sobre lPe 3.21.

3. Atentardes (επιβλεψητε). Literalmente, olhardes com respeito, com a ideia de


consideração respeitosa; considerardes. Compare com Lc 1.48; 9.38.

Num lugar de honra (καλώς). Literalmente, honoravelmente, em um assento


de honra.

Abaixo. Não literalmente debaixo, mas no chão, ao lado. Compare com Mt


23.6, sobre o apreço dos judeus pelos principais lugares na sinagoga.

4. Não fizestes distinção dentro de vós mesmos? (ού διεκρίθητε εν εαυτοις).


Tradução inadequada. O sentido constante do verbo no texto do Novo Testa­
mento é duvidar, exceto em At 11.2; Jd 9, onde significa disputar. Compare com
1.6. Portanto, o significado aqui é que, ao fazerem uma distinção entre os ricos e
os pobres, eles expressavam uma dúvida a respeito da fé que professavam, a qual
abolia tais distinções. Por isso, a rv traduz, acertadamente: Não estais divididos
em vosso próprio pensamento?

Juizes de maus pensamentos (κριταί διαλογισμών πονηρών). Melhor, como


na rv, “juizes tomados de maus pensamentos”. A forma de expressão é a mesma
de Lc 18.6, κριτής τής αδικίας, ojuiz de injustiça, i.e., o juiz injusto. Também em
1.23, um ouvinte de esquecimento. A palavra pensamentos é, na verdade, argumentos,
raciocínios. Vide nota sobre enganando-os (1.22). Compare com Lc 5.21. Seus maus
processos de pensamento levam a estas injustas discriminações.

5. Ouvi, meus amados irmãos. Alford cita esta expressão como um dos poucos
elos que conectam esta epístola com o sermão de Tiago, em At 15.13.

Aos pobres deste mundo (τούς πτωχούς τού κόσμου). Mas a leitura correta é τώ
κόσμω, para o mundo, e a expressão deve ser explicada da mesma maneira que αστείος
τώ 0&ò,jòrmoso aos olhos de Deus, At 7.20 (ara ), e δυνατά τώ θεώ, poderosas em (kjv, por
522
T ia g o - C a p . 2

meio de, rv, diante de) Deus, 2 C0 10.4. Assim na teb : os que sãopobres aos olhos do mundo,
isto é, segundo a avaliação do mundo. Para pobres, vide nota sobre Mt 5.3.

Ricos na fé . A arc adequadamente insere para serem, uma vez que as palavras
não estão em aposição com pobres, mas expressam o objetivo para o qual Deus
os escolheu. A fé não é a qualidade em que eles devem ser ricos, mas a esfera ou
elemento; ricos em sua posição como crentes. Como diz Wiesinger, citado por
Alford: “Não é a medida de fé, em virtude de que um homem é mais rico do que
outro, que está na mente do autor, mas a substância da fé, pela virtude da qual
cada crente é rico”.

6. Desonrastes (ήτιμάσατε). Mais corretamente, “tendes desonrado”. A tradução


da TB, ep e ecp, “desprezastes”, não é suficientemente forte. Eles haviam manifes­
tado o seu desprezo, haviam agido com menosprezo (cf. ara ) para com eles. Pelo
uso do aoristo, desonrastes, que a rv traduzem pela forma “tendes desonrado”, a
referência parece ser a um ato específico, como o descrito nos versículos 2, 3.

Oprimem (καταδυραστεύουσιρ). Somente aqui, e em At 10.38. A preposição


κατά, contra, sugere um poder exercido para o mal. Compare com ter domínio
sobre, lPe 5.3, e exercer autoridade sobre, Mt 20.25, ambos compostos com esta
preposição.

Arrastam (ελκουσιρ). A palavra indica violência. Consequentemente, arrastam


é uma excelente tradução. Compare com a expressão de Livy, “a lictoribus trahi,
ser arrastado pelos líctores ao julgamento”; At 8.3, sobre Saulo arrastar ou puxar
homens e mulheres à prisão; e Lc 12.58.

Tribunais (κριτήρια). Somente aqui, e em lCo 6.24.

7. Eles (αύτο'ι). Enfático. “Não são eles que blasfemam?”

Bom (καλόρ). Na teb e ecp , belo; na bj, sublime; e na bp, ilustre. Por meio deste
epíteto, a desgraça da blasfêmia é enfatizada.

Que sobre vós foi invocado (τό έπικληθερ έφ’ ΰμάς). Tradução literal; o nome
de Cristo, invocado no batismo. A expressão é do Antigo Testamento. Vide Dt
28.10, onde a lxx traduz: que o nome do Senhorfoi invocado sobre vós. Também 2Cr
7.14; Is 4.1. Compare com At 15.17.

8. Cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real (ρόμορ τελείτε βασιλικόρ). A


expressão ocorre apenas aqui e em Rm 2.27. ΤελεΙρ, cumprir, é mais forte que
a palavra mais usual, τηρεΐρ, observar ou guardar, a qual aparece no versículo
10. Compare também com Mt 19.17; 23.3; Jo 14.15 etc. Tiago fala aqui de um
único mandamento, sendo que a palavra adequada para ele é έρτολή, ao passo que
523
T ia g o — C ap . 2

νόμος é ο corpo de mandamentos. Aqui, no entanto, é apropriado, uma vez que


este mandamento especial resume toda a lei. Vide Rm 13.10; G1 5.14. E a lei real;
a rainha de todas as leis.
A expressão lei real tem origem romana (lex regia). No período da realeza
da história romana, não significava uma lei promulgada pela autoridade
absoluta do rei, mas aprovada por uma assembléia popular, sob a presidência
do rei. Posteriormente, a expressão passou a ser aplicada a todas as leis cuja
origem era atribuída à época dos reis. Gradualmente, veio a representar
menos a vontade popular, e passou a incluir todos os direitos e poderes que
o povo romano havia possuído anteriormente, de modo que o imperador se
tornou o que anteriormente o povo havia sido, soberano. Como diz Gibbon;

Não foi antes que as idéias e até mesmo o idioma dos romanos tivessem sido corrompidos
que uma lei real {lex regia) e um irrevogável direito do povo foram criados £...] O
desejo do imperador, de acordo com Justiniano, tem o vigor e o efeito de lei, uma vez
que o povo romano, pela lei real, transferiu ao seu príncipe a extensão plena de seu
próprio poder e soberania. A vontade de um único homem, talvez de uma criança,
podia prevalecer sobre a sabedoria de séculos e as tendências de milhões de pessoas; e
os gregos degenerados orgulhavam-se em declarar que apenas nas mãos desse homem
o exercício arbitrário da legislação podia ser depositado com segurança3.

9. Fazeis acepção de pessoas (ιτροσωπολημπτεΐτε). Somente aqui no texto do


Novo Testamento. Vide nota sobre o versículo 1.

Cometeis pecado (αμαρτίαν èpvá(eo9e). Literalmente, “realizais pecado”.


Compare com Mt 7.23; At 10.35; Hb 11.33. A expressão é muito mais forte do
que a mais usual, αμαρτίαν noieív, cometer pecado, Jo 8.34; Tg 5.15; lPe 2.22. A
posição de pecado é enfática: “é o pecado que estais realizando”.

E sois redarguidos (έλεγχόμ^νοι). Melhor, condenados. Esta palavra, que é


traduzida de várias maneiras, denunciar, reprovar, censurar, condenar, convencer,
ao mesmo tempo em que transmite a ideia de repreensão, sugere também uma
repreensão que produz a condenação do erro ou pecado. Vide nota sobre Jo 8.46.
Compare com Jo 3.20; 8.9; lCo 14.24-25.

10. Guardar (τηρήση). Vide nota sobre o versículo 8.

Tropeçar (πταίση). Literalmente, ao passo que a b p traz transgride.

Tornou-se culpado (γέγονεν ένοχος). Literalmente; enquanto a b p traz é réu.


’Ένοχος, culpado, é, a rigor, retido; dentro do poder condenatório de. Compare com

9. Gibbon, Decline and Fall, cap. xliv.

524
T ia g o — C a p . 2

Mt 26.66; Mc 3.29; lCo 11.27. Huther cita um paralelo do Talmude: “Porém, se


realizar todos, e omitir apenas um, será culpado de todos”.

11. Transgressor (παραβάτης). De παρά, além, e βαίνω, ir. Portanto, um


transgressor é aquele que ultrapassa, ou vai além, da linha. Assim, também,
transgredir, que é transpassar, derivado do latim, trans, através, e passus, um passo.
Uma palavra similar é usada por Homero, υπερβασία, uma transgressão ou violação,
de υπέρ, para o outro lado, e βαίνω, ir.

12. Assim. Com referência ao que vem a seguir, falai e procedei.

13. O juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia
(ή γάρ κρίσις άνίλεως τω μή ποιήσαντι ελεος). Literalmente, ο juízo é sem
misericórdia para com aquele que não tem mostrado misericórdia. A n v i omite o
artigo: “o juízo”, aquele, especificamente, que está próximo. Tem mostrado, ou,
literalmente, mostrou (tempo aoristo). O autor coloca-se no ponto de vista do
juízo, e olha para trás.

Triunfa (κατακαυχάται). Na teb e bj, desdenha. O verbo simples, καυχάομαι,


significa falar em voz alta; consequentemente, vangloriar-se. Melhor, por essa
razão, gloria-se. Juízo e misericórdia são personificados. Enquanto o juízo ameaça
com condenação, a misericórdia interpõe-se e prevalece acima do juízo. Conforme
Crisóstomo, citado por Gloag: “A misericórdia é revestida da glória divina, e está
ao lado do trono de Deus. Quando corremos o perigo de ser condenados, ela
levanta-se e implora por nós, e nos cobre com a sua defesa, e nos envolve com as
suas asas”.

14. Que aproveita? (τί το όφελος). Literalmente, qual ê o beneficio? Όφελος,


beneficio ou lucro, somente aqui, no versículo 16, e em lCo 15.32.

15. Estiverem (ύπάρχωσιν). A diferença entre esta palavra e a simples, είναι,


ser, é muito sutil. O verbo ύπάρχω originalmente significa fazer um começo;
consequentemente, começar ou vir a existir, e, embora usada substancialmente
como sinônimo de είναι, sobre uma coisa que já existe e está à mão, tem um
sentido retrospectivo, referente a uma condição antecedente que foi prolongada
até o presente. Assim, poderiamos parafrasear aqui: “Se um irmão ou uma irmã,
tendo estado em uma condição desamparada, forem encontrados por vós nessa
condição”. Είναι, por outro lado, simplesmente declararia o fato presente do
desamparo. Vide nota sobre 2Pe 1.8.

Tiverem falta (λειπόμενοι). Literalmente, deixados para trás; e,


consequentemente, necessitados, como consta na tb . Compare com 1.4-5. Este
emprego da palavra ocorre apenas em Tiago.
525
T ia g o - C ap . 2

Cotidiano (έφημέρου). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

16. Ide em paz (υπάγετε εν ειρήνη). Compare com ύπαγε ou πορευου εις είρηνήν,
vai em paz, Mc 5.34; Lc 7.50.

Fartai-vos (χορτάζεσθε). Vide nota sobre Mt 5.6.

As coisas necessárias (τα επιτήδεια). Somente aqui no texto do Novo Tes­


tamento.

17. Em si mesma (καθ’ εαυτήν). Corretamente, assim como na t b ; ao passo que a


n v i traz se nãofor acompanhada. A expressão diz respeito à morte. Ela está morta,

não apenas com referência a alguma coisa, mas de maneira absoluta e completa.

18. Sem (χωρίς). Mais literalmente, separada de.

E eu te mostrarei etc. A antítese seria apresentada de modo mais contundente


se a tradução seguisse mais rigorosamente a ordem grega: Eu, por minhas obras,
mostrarei etc.

19. Estremecem (φρίσσουσιν). Somente aqui no texto do Novo Testamento. O


significado é, originalmente, ser áspero na supeificie, eriçar-se. Consequentemente,
usada a respeito dos campos com espigas de milho; de uma linha de batalha, cheia
de escudos e lanças; de um vaso de prata ou ouro áspero, com ouro em relevo.
Esquilo, ao descrever uma multidão que levantava as mãos para votar, diz: o ar
encheu-se de mãos direitas. Consequentemente, refere-se a um pavor que faz com
que o cabelo fique em pé e contrai a superfície da pele, criando “pele de ganso”.

20. Vão (κενέ). Literalmente, vazio, sem vida espiritual.

M orta (νεκρά). Mas os melhores textos trazem αργή, ociosa; como sobre o
dinheiro que não rende juros, ou a terra que está inativa.

21. Quando ofereceu (άνενέγκας). Tradução inadequada. O particípio declara


a base da sua justificação. Pelas obras indica a base geral; ofereceu etc., a obra
específica. Compare com Gn 22.16-17. A palavra άνενέγκας significa, literalmente,
apresentou a; e significa, não realmente oferecer em sacrifício (embora Isaque
fosse moralmente sacrificado na vontade de Abraão), mas trazer ao altar como uma
oferta. Vide nota sobre lPe 2.5.

22. Cooperou com as suas obras (συνήργει τοΐς έργοις). No grego, há um jogo
de palavras: trabalhou com seus trabalhos.

23. Cumpriu-se (έπληρώθη). Não no sentido de confirmou-se, que não é o


significado da palavra, nem no texto do Novo Testamento nem no uso clássico,
526
T iago - Cap. 2
mas realizou-se verdadeira e completamente. Aqui Tiago usa a fórmula que, no Antigo
Testamento, é empregada sobre a concretização de algo que foi pronunciado
anteriormente. Vide ]Rs 2.27; 2Cr 36.22 (lxx ).

Imputado (έλογίσθη). Literalmente. Na ep, creditado.

Foi chamado o am igo de Deus. Contudo, a expressão não aparece nem


no texto hebraico nem na lxx . Em 2Cr 20.7 ( lxx ), teu amigo é τώ ήγαπημένω
σου, teu amado. Em Is 41.8 (lxx ), meu amigo é óv ήγάπησα, aquele a quem amei.
“O amigo de Deus” ainda é o título favorito de Abraão entre os judeus e
muçulmanos.

25. Raabe. Também mencionada em Hb 11.31, entre os exemplos de fé. Dante


a coloca no terceiro céu:

De bom grado deves saber quem está nesta luz


Que aqui, ao meu lado, cintila de tal maneira,
Exatamente como um raio de sol na água límpida.
Então sabe que, no interior desse lugar, está em descanso
Raabe, e sendo à nossa ordem unida,
Com ela, em seu mais supremo grau, está selada.
[- :
Antes do Triunfo de Cristo, ela foi tomada.
Encontrar isso completamente significava deixá-la em algum céu,
Exatamente como uma palma da suprema vitória
Que ele adquiriu com uma palma e a outra,
Porque ela favoreceu a primeira obra gloriosa
De Josué, na T erra Santa11’.

Raabe veio a ser esposa de Salmom, e ancestral de Boaz, o avô de Jessé. Alguns
supõem que Salmom era um dos espias cuja vida ela salvou. Seja como for, ela
veio a ser a mãe na linhagem de Davi e de Cristo, e assim está registrada na
genealogia de nosso Senhor, apresentada por Mateus, em que são mencionadas
apenas quatro mulheres. Há um significado peculiar nesta escolha que Tiago, o
irmão do Senhor, faz de Raabe, com Abraão, como um exemplo de fé.

Os despediu (έκβαλοΰσα). Melhor, os lançou, indicando pressa e temor. Compare


com Mc 1.12; Lc 4.29; At 16.37.

Outro caminho. Diferente daquele por que entraram. Pela janela. Vide Js 2.15.

10. D a n te , Paradise , ix ., 1 1 2 -1 2 5 .

527
T ia g o - C a p . 3

26. Obras (τών ’έργων). Observe ο artigo: as obras, omitido pela arc , t b , n v i , ara ,
teb . Mas na bj e bp : as obras, pertencentes ou correspondentes à fé; suas obras.

C a pítu lo 3

1. Mestres (διδάσκαλοι). Literalmente, e melhor, professores, com referência à


exortação a ser tardio para falar (1.19). Compare com lCo 14.26-34. Tiago está
advertindo contra a suposição, genérica e fervorosa demais, do privilégio do en­
sino, que não estava limitado a uma classe em particular, mas era exercido de
modo geral pelos crentes.

2. Tropeçamos (irraíopev). Literalmente. Compare com 2.10.

Refrear. Vide nota sobre 1.26.

3. Ora. Conforme todos os melhores textos, que trazem a leitura eí ôè, ora, se.
Assim também a tb e a r a . A kjv traz eis, seguindo a leitura antiga, lÔe.

Freio (χαλινούς). Somente aqui e em Ap 14.20. Pode ser traduzida por bocado,
mas freio é preferível, porque corresponde ao verbo refrear, v.2, que é composto
desse substantivo.

Cavalos. A posição na sentença é enfática.

Dirigir (pexáyopev). Palavra usada apenas por Tiago.

4.As naus. Na tb , navios. Vide Introdução, sobre as referências locais de Tiago. O


deão Howson observa que “há mais comparações extraídas de simples fenômenos
naturais na única e curta epístola de Tiago do que em todas as epístolas de Paulo
juntas”.

Tão grandes. Como a nau que transportou Paulo a Malta, o qual comportou
duzentas e setenta e seis pessoas (At 27.87).

Impetuosos (σκληρών). Mais literalmente, e melhor, rijos. Na teb , violentos. A


palavra significa primariamente duro, áspero.

Leme (πηδαλίου). Melhor, leme do navio. O leme do navio era um remo operado
por uma alavanca. Por essa razão, as duas palavras indicam a mesma coisa. A
palavra aparece apenas aqui e em At 27.40.

A vontade daquele que as governa (ή ορμή του ιθύνοντος βούλεται).


Literalmente, ο impulso ou desejo do timoneiro. Όρμή, impulso, aparece somente
aqui e em At 14.5, sobre um ataque.

528
T ia g o - C a p . 3

Daquele que as governa (τού 6ύθύνοντος). Na τβ, timoneiro. Literalmente,


daquele que éguia, condutor. Somente aqui e em Jo 1.23. De €ύθύς, reto.

5, Gloria-se de grandes coisas (μ€γαλαυχεΐ). Os melhores textos separam a


palavra composta, e trazem μεγάλα αύχΗ, que, naturalmente, tem o mesmo sig­
nificado. Αύχει, gloria-se, aparece somente aqui no texto do Novo Testamento.

Quão grande bosque um pequeno fogo incendeia (ήλίκον πϋρ ήλίκην ύλην
άνάπτβι). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A palavra υλη quer dizer
madeira ou um bosque, e, consequentemente, a matéria-prima de que algo é feito.
Posteriormente, a palavra é usada com o sentido filosófico de matéria - “a fun­
dação do multiforme” -, em oposição ao princípio inteligente ou formativo, νους,
mente. A tradução da vulgata também corresponde ao sentido original: quam
magnam silvam. A kjv traduz o vocábulo ϋλη como matéria, assumindo um sentido
secundário do termo, dificilmente no sentido filosófico. Porém, qualquer sepa­
ração do sentido mais antigo não era somente desnecessária, mas prejudicava
a vivacidade da imagem, a imagem familiar e natural de um bosque em chamas.
Em Homero:

Como quando um fogo


Atinge um bosque espesso, e o vento
O conduz em turbilhões, enquanto os troncos
Caem com os ramos, em meio às chamas devoradoras” .

6. Mundo de iniquidade (κόσμος τής αδικίας). Na teb, mundo do mal-, na bp, mundo
de injustiça. Κόσμος, primariamente, significa ordem, e é aplicada ao mundo ou
universo como um sistema ordenado. Um mundo de iniquidade é um organismo
que contém dentro de si mesmo toda a essência de maldade, que a partir dele
permeia o homem inteiro. A palavra mundo é usada com o mesmo sentido que na
parte final de Pv 17.6 (lxx ), a qual a arc não traz: O s fiéis têm o mundo inteiro
de coisas; mas os infiéis, nem um centavo”.

A língua está posta (καθίσταται). Esta palavra difere, um pouco, da simples


está, embora não seja fácil traduzi-la com exatidão. O verbo significa nomear,
estabelecer, instituir, e é usado a respeito da língua como tendo um lugar
estabelecido e definido em um sistema (entre os nossos membros). A tradução
podería ser: tem o seu lugar.

Contamina (σττιλοΰσα). Literalmente, contaminando. Somente aqui, e em Jd


23. Vide nota sobre 2Pe 2.13.

11. Homero, Ilíada, xi., 155.

529
T iago —C ap . 3

Inflama (φλογίζουσα). Literalmente, in fla m a n d o . Na tb e n v i , incendeia; na teb ,


abrasa. Somente neste versículo, no texto do Novo Testamento.

O curso da natureza (τροχόν τής γενεσεως). Uma passagem muito obscura.


Τροχός (somente aqui no texto do Novo Testamento), de τρέχω, co rrer ; aplica-se,
de modo geral, a algo redondo ou circular que corre ou rola, como uma roda ou
esfera. Por isso, frequentemente, uma roda. Usada sobre o circuito de fortificações
e os círculos ou zonas de terra ou mar. A partir de seu sentido original, co rrer , vem
o significado de curso , como o curso do sol, e desse, um lu g a r para correr, uma p is ta
d e co rrid a . Γενέσεως, traduzida como n a tu re za , significa o rig em , p rin c íp io , n a scim en ­
to, m o d o d e nascim ento, p ro d u ç ã o , e é usada por Platão em referência à criação, ou a
soma das coisas criadas. Também significa uma raça, e uma g e ra ç ã o ou era, século.
No texto do Novo Testamento, é usada apenas duas vezes fora desta epístola, uma
delas em Mt 1.1, “Livro da g era çã o de Jesus Cristo”, onde o significado é o rig e m
ou nascim ento; o liv r o d e n ascim en to de Jesus Cristo. A outra passagem é Mt 1.18,
de acordo com os melhores textos, também com o significado de nascim ento. Em
1.23, como vimos, πρόσωπον τής γενεσεως é o ro sto de seu nascim ento. Podemos
então traduzir, com segurança, τροχός por roda; e, como n ascim en to é o significado
de γενεσις em todas as passagens do Novo Testamento em que ocorre, podemos
dar-lhe a preferência aqui e traduzir: a ro d a do n ascim en to - i.e., a roda que é colo­
cada em movimento no nascimento e corre até o final da vida. Dessa forma, é uma
descrição figurada da vida humana. Assim, em Anacreonte:

A roda do carro, como a vida, segue rolando.

Diz Tertuliano: “Toda a ro d a g ir a tó r ia d a ex istên cia dá testemunho da


ressurreição dos mortos”. Esta roda que gira é acesa pela língua, e rola em um
fogo destruidor. A imagem é justificada pelo fato. A língua opera a principal
perversidade, acende os mais malignos fogos no curso da vida.

7. Natureza (φύσις). A tb , teb , ep, nvi e bj trazem espécie, o que é inadequado.


Tiago não está falando da relação entre homens in d iv id u a is e animais individuais,
mas da relação entre a n a tu r e z a do homem e a dos animais, que pode ser diferente
em diferentes animais. Por isso, a arc, corretamente traduz φύσις por n a tu re za .
A bp lê, to d o tipo.

Bestas-feras (θηρίων). Animais quadrúpedes. Não animais de modo geral,


nem somente animais selvagens. Em At 28.4-5, a palavra é usada com relação à
v íb o ra que se prendeu à mão de Paulo. Na visão de Pedro (At 10.12; 11.6), há uma
classificação diferente dessa; os quadrúpedes são mencionados por uma palavra
específica, τετράποδα, a n im a is d e q u a tro p a ta s . Ali, θηρία inclui os peixes, que nesta
passagem são classificados como έναλίων, a n im a is d o m ar.
53 0
T ia g o - C a p . 3

Pela natureza humana (τη φύσει τη ανθρώπινη). Em lugar de pela espécie


humana, como, por exemplo, na tb e teb , com φύσις, como antes, indicando o
caráter genérico. Toda natureza de animais é domada pela natureza do homem.
Compare com o elegante coro, em Sófocles·.

A descuidada tribo das aves,


Os animais que vagam pelos campos,
Os que nascem nas profundezas do mar,
Ele os captura, a todos, em redes,
Atados em ciladas de malha,
O homem, maravilhoso em habilidade.
E com suas artes sutis
Ele domina os animais
Que vagam pelos campos ou pisam as alturas dos montes,
E traz o jugo que aprisiona
Ao pescoço de cavalos com crina despenteada,
Ou de touros sobre o cume do monte,
Indomáveis em força'2.

8. Nenhum homem (ούδείς ανθρώπων). Uma expressão forte. Literalmente,


nenhum dos homens.

Que não se pode refrear (άκατάσχετον). Literalmente, que não pode ser
contido. A leitura apropriada é, no entanto, ακατάστατοι», inquieto. Vide nota sobre
καθίσταται, está posta, v. 6. Na tb , corretamente, irrequieto.

Peçonha (íoO). Traduzida comoferrugemem 5.3; e encontrada somente nestas


duas passagens e em Rm 3.13, na citação de SI 140.3.

Mortal (θανατηφόρου). Literalmente, que traz a morte, ou trazendo a morte.


Somente aqui no texto do Novo Testamento.

9. Deus e Pai (τον θεόν καί πατέρα). A leitura apropriada é τον Κύριον, o Senhor,
e και, e, é simplesmente um conectivo. Portanto, traduza, como a tb : o Senhor e
Pai. Esta combinação de palavras para Deus é incomum. Vide 1.27.

Que. Conforme a kjv: que sãofeitos. Não quem, que designaria pessoalmente cer­
tos homens; ao passo que Tiago os designa genericamente.

11. Porventura, deita alguma fonte etc. A partícula interrogativa μήτι, que
inicia a sentença, espera uma resposta negativa. “Fonte” tem o artigo, “a fonte”,

12. Sófocles, Antígona, 34S-S52.


531
Τ ιago - Cap. 3
genérico. V i d e I n t r o d u ç ã o , sobre as referências locais de Tiago. A Terra da Pro­
messa foi descrita aos hebreus como uma terra de fontes (Dt 8.7; 11.11). Diz o
deão Stanley:

A Palestina era o único país onde um oriental podería estar familiarizado com a lin­
guagem do salmista: “Tu, que nos vales fazes rebentar nascentes que correm entre
os montes”. Estas nascentes, também, embora de vida breve, são notáveis pela sua
copiosidade e beleza. Não apenas no Oriente, mas também no Ocidente, seria difícil
ver quaisquer fontes e mananciais tão claros, tão cheios mesmo na sua nascente, como
os que deságuam no Jordão e seus lagos, por todo o seu curso, de norte a sul13.

A palavra hebraica para uma fonte ou manancial é ‘a y i n (pj·), que significa u m o lh o .


O mesmo autor diz: “A fonte é o manancial aberto e brilhante, o o l h o da paisagem”'f

Deita (Ppúet). Uma palavra expressiva, não encontrada em nenhuma outra


passagem do Novo Testamento, a qual indica um escoamento c h e io , c o p io s o . Pri­
mariamente, significa e s t a r c h e io a t ê e x p l o d i r , e, por essa razão, é usada em referên­
cia a plantas que florescem, solo abundante etc., como na encantadora imagem
do bosque sagrado, em Sófocles: “ c h e io (βρυωιζ) de árvores, azeitonas e vinho”1”.
Consequentemente, i r r o m p e r ou j o r r a r . Embora intransitivo, de modo geral, é
usado aqui como transitivo.

Manancial (οπής). Preferivelmente, a b e r t u r a ou b u r a c o na terra ou em uma ro­


cha. Compare com c a v e r n a s , em Hb 11.38. A palavra é agradavelmente sugestiva
em conexão com a imagem do o l h o da paisagem. V i d e anteriormente.

Água doce e água amargosa. Os leitores da epístola recordariam das águas


amargas de Mara (Ex 15.23), e da fonte de águas más de Jerico (2Rs 2.19-21).

12. Assim, tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce. Na tb , mais
corretamente, f o n t e d e á g u a s a l g a d a d a r á g u a d o c e . Os melhores textos omitem
a s s i m , t a m p o u c o p o d e u m a f o n t e , e a conjunção e entre s a l g a d a e d o c e . Desta manei­

ra, o texto lê: oike άλυκόν γλυκυ ποίησαt ύδωρ. Outra das referências locais de
Tiago, águas s a l g a d a s . O grande mar de Sal estava a apenas 25,6 quilômetros de
Jerusalém. Nas suas margens, alinhavam-se poços de sal, que se enchiam quando
as inundações da primavera faziam subir as águas do lago. Também havia um
pântano salgado na extremidade do vale através do qual o Jordão corre, do lago
de Tiberíades até o mar Morto, e a planície vizinha era coberta com correntezas
e nascentes salgadas. Fontes de água morna impregnadas com enxofre abundam

18. Stanley, Sinai e Palestina.


Vide Scott, Castle Dangerous, cap.
14. Ib id . i.
15. Sófocles, Edipo em Colona.
532
Τ ιa g o - C a p. 3

no vale vulcânico do Jordão. 'Αλυκόν, sal, aparece somente aqui no texto do Novo
Testamento.

13. Sábio e inteligente (σοφός καί έπιστήμων). Na κ,ιν, sábio e dotado de


conhecimento, uma tradução desnecessariamente prolixa, mas substancialmente
correta. Provavelmente, o autor não pretendia expressar nenhuma distinção
muito detalhada. É um pouco difícil fixar o significado exato de σοφός, uma
vez que não há uniformidade no seu emprego no texto do Novo Testamento.
No grego clássico, significa primariamente habilidoso em um trabalho manual ou
arte. Consequentemente, aproxima-se do sentido de engenhoso, em assuntos da
vida comum, sábio em termos seculares. Posteriormente, nas mãos dos filósofos,
adquire o sentido de versado em ciências-, e, ironicamente, oculto, sutil, obscuro, como
a palavra inglesa cunning, ardiloso, a qual originalmente queria dizer conhecedor
ou habilidoso.
No texto do Novo Testamento, σοφός é usada: (1) No sentido clássico e origi­
nal, habilidoso em trabalhos manuais (l Co 3.10); (2) Versado em letras, instruído (Rm
1.14,22; lCo 1.19,26; 3.18). Assim, em referência a teólogos e doutores judeus
(Mt 11.25), e a professores cristãos (Mt 23.34). (3) Em um sentido prático, sobre
a prática da lei com piedade e honestidade; assim, em Ef 5.15, onde a palavra é
ligada a andar circunspectamente, e 1Co 6.5, onde é representada como a qualidade
adaptada para ajustar as diferenças na igreja; (4) Em um sentido mais elevado
e filosófico, sobre a maneira de discernir os melhores conselhos e empregar os
melhores meios para executá-los. Assim, em relação a Deus, Rm 16.27; lTm
1.17; Jd 25; lCo 1.25. Nesta passagem, a palavra parece ser usada no sentido de
3: sabedoria prática no modo de vida piedoso.
Επιστήμων aparece somente aqui no texto do Novo Testamento. No grego
clássico, é frequentemente usada como σοφός, com o sentido de perito, versado, e
pelos filósofos, no sentido mais elevado de versado cientificamente, ao qual Platão
opõe a palavra δοξαστής, um mero conjeturador. Nesta passagem, σοφός parece ser
a palavra mais ampla, mais genérica e talvez mais digna das duas, indicando o
hábito ou a qualidade, ao passo que έπιστήμων indica a evolução especial e aplica­
ção inteligente da qualidade a coisas em particular. A arc , com sábio e inteligente,
apresenta a diferença, no conjunto, tão exata quanto seja necessário.

Trato (αναστροφής). Vide nota sobre lPe 1.15.

Mansidão de sabedoria. Sobre mansidão, vide nota sobre Mt 5.5. A mansidão


que é o atributo apropriado da sabedoria.

O co n h ecim en to o rg u lh a -se d e q u e tem a p ren d id o tan to ,


A sabedoria é h u m ild e p o r n âo c o n h e c e r mais.

533
T ia g o — C a p . 3

14. Inveja (ζήλον). No texto do Novo Testamento, a palavra é usada em um


sentido tanto mau quanto bom. Quanto ao último, v i d e Jo 2.17; Rm 10.2; 2Co
9.2. Dela deriva a nossa palavra z e l o , que pode ser bom ou mau, sábio ou tolo.
O mau sentido é predominante no Novo Testamento. V i d e At 5.17; Rm 13.13;
G1 5.20, e este versículo, onde o mau sentido é definido e enfatizado pelo epí-
teto a m a r g a . A palavra está frequentemente acompanhada de ίρις, l u t a , como
aqui, com ίρίθίΐα, i n t r i g a o u f a c ç ã o . A tradução i n v e j a , como na arc, diz respeito
mais propriamente a φθόνος, que nunca é usada em um bom sentido. E m u l a ç ã o
é a tradução genérica e melhor, o que não necessariamente inclui a inveja, mas
pode estar cheio do espírito de devoção própria. A tb traduz por z e l o ; e na ep
e ecp, c iú m e .

Sentimento faccioso (ίριθίΐαν). Na tb , e s p í r i t o d e c o n t e n d a , de r i v a l i d a d e na


teb e ep . Na kjv , l u t a , uma tradução inadequada, baseada na derivação equivocada

de ίρις, l u t a . A palavra deriva de ίριθος, um s e r v o c o n t r a t a d o , e significa,


primariamente, t r a b a l h o p o r c o n t r a t o . Compare com Tb 2.11: M i n h a e s p o s a a c e it a v a
f a z e r o t r a b a l h o d a s m u l h e r e s (ήριθίύίτο). Desta maneira, veio a ser aplicada aos

que servem em posições oficiais para os seus próprios interesses egoístas, e que,
com essa finalidade, promovem e s p í r i t o p a r t i d á r i o e f a c ç ã o . Assim, em Rm 2.8: o s
q u e s ã o c o n t e n c io s o s (ίξ έριθίίας), literalmente, de f a c ç ã o .

15. Sabedoria (σοφία). V id e nota sobre σοφός, v. 13.

D o alto. Compare com 1.17.

Animal (ψυχική). V id e nota sobre Jd 19.

Diabólica (δαιμονιώδης). Ou d e m o n ía c a , como leem a ep, bp e nvi ; de acordo


com a tradução apropriada de δαίμων ( v i d e nota sobre M t 4.1). Somente aqui no
texto do Novo Testamento. Diabólica, como diz Bengel: “tal como até mesmo os
diabos têm”. Compare com 2.19.

16. Perturbação (ακαταστασία). V id e nota sobre q u e n ã o se p o d e re fre a r , v. 8.

Perversa (φαΰλον). Uma tradução inadequada, porque não evidencia o aspecto


particular de mal que é dominante na palavra: i n u t i l i d a d e , a l g o q u e n ã o s e r v e p a r a
n a d a . No grego clássico, a palavra tem os significados de s e m v a l o r , t r i v i a l , i n s i g ­

n i f i c a n t e , que resultam em m a u . No texto do Novo Testamento, a palavra aparece

em seu estágio mais recente, e é colocada em oposição a b o m . V i d e Jo 3.20; 5.29;


T t 2.8. Na rv, v i l , que, de acordo com a sua etimologia, do latim v i l i s , segue o
mesmo processo de evolução, de b a r a t o , v u l g a r , ou i n s i g n i f i c a n t e , até m a u . A tb lê,
m á (cf. n v i , ep, bj ); a ecp , v í c i o s , a te b , d e p l o r á v e i s .

534
T ia g o — C a p . 4

17. Primeiramente. Enfatizando a sua qualidade interior, p u r o , como distinta


de suas expressões externas. A ideia não é de primeiro n u m e r i c a m e n t e , mas de
primeiro e s s e n c ia lm e n t e . As outras qualidades são secundárias, como derivadas
desta qualidade primária.

Moderada (επιεικής). V id e nota sobre lPe 2.18.

Tratável (ευπειθής). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

Sem parcialidade (αδιάκριτος). Somente aqui no texto do Novo Testamento,


e muito raramente no grego clássico. V i d e nota sobre 1.6.

C a pítu lo 4

1. Deleites (ηδονών). Literalmente, p r a z e r e s , como na bp, teb , bj. A rigor, prazeres


d o s s e n t id o s . Os prazeres pecaminosos são os resultados dos deleites, v. 2.

Que nos vossos membros guerreiam (στρατευομένων). A noção de guerras e


combates é transportada para a descrição figurada da sensualidade que organiza
suas forças e desfere sua campanha contra os membros. O verbo não indica o
mero combate, mas tudo o que está incluído no serviço militar. Um paralelo
notável é encontrado em Platão: “Pois de onde vêm as guerras e as lutas e as
facções? De onde, se não do corpo e dos desejos do corpo?”1*. Compare com lPe
2.11; Rm 7.23.

2. Cobiçais. V id e nota sobre d e s e ja r, lPe 1.12; Mc 4.19.

Sois invejosos e cobiçosos (ζηλοΰτε). V id e nota sobre 3.14.

3. Pedis (αιτείτε). V id e nota sobre ήρώτων, ro g a ra m , Mt 15.23.

Mal (κακώς). Literalmente, c o m m a ld a d e · , com más intenções, como explica a


sentença seguinte.

Gastardes em (δαπανησήτε ev). Mais corretamente, e s b a n j a r d e s e m . O sentido


não é d e d i c a r g a s t o s a o s s e u s p r a z e r e s , mas g a s t a r n o e x e r c íc io d e , s o b o d o m í n i o d e .

4. Adúlteros (μοιχοί). Um termo omitido em todos os melhores textos.

Adúlteras (μοιχαλίδες). Na teb , m u l h e r e s i n f i é i s , enquanto na ara apenas, I n f i é i s .


A palavra feminina é a designação geral de todos a quem Tiago repreende aqui.
Por essa razão, a tb , bp, bj, n v i , por exemplo, traduzem no masculino, A d ú l t e r o s .

16. Platão, P h a e d o , 66.

535
Τ ιago - C ap . 4

Os membros apóstatas da igreja são considerados, de maneira figurada, como


esposas infiéis, de acordo com a imagem comum do Antigo Testamento, em que
Deus é o esposo ou marido com quem o seu povo está casado. Vide Sr 3; Os 2—4; Is
54.5; 62.4-5. Também Mt 12.39; 2Co 11.2; Ap 19.7; 21.9.

Quiser ser (βουληθή είναι). Mais corretamente, s e ja . Literalmente, pode te r

s id o p e r s u a d id o a s e r.

Constitui-se inimigo (καθίσταται). Na teb , to rn a - s e , na n v i, f a z-se . V id e nota


sobre 3.6.

5. Cuidais (δοκεΐτε). V id e nota sobre 1.26.

Em vão (κενώς). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

A Escritura (ή γραφή). V id e nota sobre Mc 12.10. A rigor, uma p a s s a g e m das


Escrituras.

6. Resiste. V id e nota sobre lPe 5.5.

Soberbos. V id e nota sobre Mc 7.22.

Humildes. V id e nota sobre Mt 7.29.

7. Sujeitai-vos (ύποτάγητε). Na teb , s u b m e t e i - v o s . A e p lê, s e j a m s u b m i s s o s . O verbo


significa c o lo c a r ou o r g a n i z a r s o b , como r e s i s t i r (v. 6) significa o r g a n i z a r c o n t r a .
Deus coloca-se organizado contra os soberbos; por isso, organizai-vos sob a
liderança de Deus, para que possais resistir ao mal.

8. De duplo ânimo (δίψυχοι). Compare com 1.8.

Purificai (άγνίσατε). Um dos três casos do Novo Testamento em que a palavra


não é usada no sentido de purificação cerimonial. Os outros são lPe 1.22; lJo 3.3.

9. Senti as vossas misérias (ταλαιπωρήσατε). Somente aqui no texto do Novo


Testamento. O substantivo correlato, ταλαιπωρία, m i s é r i a , é usado em 5.1.

Lamentai (πενθήσατε). Palavra usada a respeito do pesar que é m a n i f e s t a d o .


Assim, aparece frequentemente no texto do Novo Testamento, e muito
comumente acompanhada, como aqui, de c h o r a r . Assim também em Mc 16.10; Lc
6.25 etc. Na sentença a seguir, aparece o substantivo correlato, πένθος, p r a n t o , em
que o r i s o , algo também manifestado, deve ser convertido.

Tristeza (κατήφειαν). A rigor, um a b a i x a r d o s o lh o s . Compare com Lc 18.13.


Somente aqui no texto do Novo Testamento.
536
T ia g o - C a p . 4

12. Há só um Legislador (εις 4στίν ò νομοθΙτης). A arc não observa a posição


enfática de u m . Melhor, como na rv, u m s ó é o l e g i s l a d o r . Νομοθέτης, l e g i s l a d o r ,
aparece somente aqui no texto do Novo Testamento.

Tu, porém, quem és? (σΰ ôè τις eí). De acordo com a ordem das palavras
gregas: m a s t u , q u e m é s ?

13. Eia, agora (aye νϋν). E i a é uma expressão obsoleta, embora conservada
na TB. E uma fórmula usada para chamar a atenção: o r a , v a m o s . Na ara consta,
A te n d e i a g o ra .

Tal cidade (τήνδε την πόλιν). Mais exatamente, e s t a c id a d e .

Lá passarem os um ano (ποιήσομ6ν ckci ενιαυτόν). Na bv, f i c a r e m o s l á u m


ano.Literalmente, f a r e m o s u m a n o . V i d e , quanto à mesma forma de expressão,
At 15.33; 18.23; 2 C0 11.25. Melhor como na a r c . A palavra ποιήσομεν sugere
mais do que a mera p e r m a n ê n c i a - , na verdade, refere-se a f a z e r a l g u m a c o is a
com o ano.

E. O uso frequente da conjunção copulativa confere um tom vivo à passagem,


expressando a leveza e desatenção de um espírito descuidado.

Contrataremos (έμπορευσόμεθα). Somente aqui e em 2Pe 2.3.

14. Que não sabeis (ο'ίτινες ούκ έπίστασθε). O pronome marca uma classe, c o m o
d a q u e le s q u e n ã o s a b e m .

O que acontecerá amanhã (xò τής αίίριον). Literalmente, a c o is a d o a m a n h ã .


Os textos variam. Westcott e Hort trazem: N ã o s a b e i s o q u e v o s s a v i d a s e r á n o
a m a n h ã , p o i s s o i s u m v a p o r , eliminando deste modo a pergunta.

Que é a vossa vida? (ποια). Literalmente, d e q u e tip o o u n a tu r e z a .

É um vapor (άτμ'ις γάρ εστιν). Mas todos os melhores textos trazem έστε, s o is .

Aparece —se desvanece. Os dois verbos na forma do particípio, a p a re c e n d o ,

se d e sv a n e c e n d o .

E depois (επειτα και). A palavra και colocada depois do advérbio d e p o i s não


é c o p u l a t i v a , mas expressa que o vapor se desvanece n o m e s m o m o m e n t o e m q u e
aparece.

15. Em lugar do que devíeis dizer (αντί του λέγειν ύμάς). O versículo 14 era
parentético, de modo que neste ponto a ideia é tomada do versículo 13: V ó s q u e
d i z e i s : I r e m o s etc. —e m l u g a r d o q u e d e v í e i s d i z e r .

537
T ia g o - C ap. 5

16. Vos gloriais (καυχάσθ€). Vide n o t a s o b r e 2 .1 3 .

Presunções (άλαζοι^ίαις). Somente aqui e em lJo 2.16. Na t e r ,fanfar ronadas.


A palav ra correlata, άλαζών, um ostentador, deriva de άλη, um viajante ou vagante-,
por consequência, primariamente, um vagabundo, um charlatão, um saltimbanco.
Das vanglorias vazias a respeito das curas e prodígios que eles podiam realizar, a
palavra passou a ter o sentido de ostentador. Alguém pode vangloriar-se honesta e
sinceramente, mas αλαζονεία é uma vangloria falsa e arrogante. Na bp, encontra-se,
jactância, cujo correspondente inglês é o vocábulo vauntings, jactâncias; derivado
de vaunt que por sua vez procede do latim vanus, vazio, e, por essa razão, expressa
uma vanglória inútil ou vã.

C a pítu lo 5

1. Eia. Vide n o ta sobre 4.13.

Chorai e pranteai (κλαύσατ^ όλολύ(οντ€ς). Literalmente, chorai, pranteando.


A segunda palavra é descritiva, ol-ol-uz-o. Somente aqui no texto do Novo
Testamento, e indicando uma expressão de pesar mais demonstrativa e
apaixonada do que o choro.

Misérias (ταλαιπωρίοας). Somente aqui e em Rm 3.16. Vide nota sobre senti as


vossas misérias, 4.9.

Que sobre vós hão de vir (έπίρχομ^ναις). Particípio presente. Mais


corretamente, que estão vindo.

2. Estão apodrecidas (σεσηπβ/). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

Estão comidas da traça (σητόβρωτα γέγονεν). Literalmente, foram comidas


por traças. Somente aqui no texto do Novo Testamento, mas compare com
σκωληκόβρωτος, comido de bichos, At 12.23; e vide Mt 6.19-20.

3 . Se enferrujaram (κατίωται). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


De ιός, ferrugem, como na sentença seguinte. Também peçonha, como em 3.8. A
preposição κατά indica completitude, completamente enferrujados.

Carne (τάς σάρκας). O substantivo é plural: as partes de carne do corpo.


Assim, na lxx (2R s 9.36): “a carne (τάς σάρκας) de Jezabel”. Assim também em
Ap 19.18.

4. Ceifaram (άμησάντων). Somente aqui no texto do Novo Testamento. O


significado primário é colher trigo-, também no grego clássico, sobre dizimar em
538
T iag o - C ap . 5

batalha. O sentido secundário, que alguns confundem com o primário, é ajuntar,


como na colheita.

Terras (χώρας). O termo mais genérico para lugar, em vez de αγρός, a palavra
usual para um campo. Apesar disso, o uso é autorizado pelo grego clássico, e aparece
em Lc 12.16; Jo 4.35, os dois únicos casos, além desse, do Novo Testamento.
Indica uma extensão de terra maior que αγρός, como fica evidente em todas as
passagens neotestamentárias citadas. Em dois casos, refere-se às propriedades de
um homem rico; e em Jo 4.35, o Senhor chama a atenção dos discípulos para uma
área ampla ou uma série de campos.

Clama (κράζει). Um clamor inarticulado. Compare com Gn 4.10.

Senhor dos Exércitos. A única ocasião em que a expressão é usada por um


autor do Novo Testamento. Rm 9.29 é uma citação de Is 1.9.

5. Deliciosamente, vivestes (έτρυφήσατε). Somente aqui no texto do Novo


Testamento. Vide nota sobre 2Pe 2.13, sobre o substantivo correlato, τρυφή,
tumulto ou alegria.

Vos deleitastes (έσπαταλήσατε). Somente aqui e em lTm 5.6. Έτρυφήσατε


indica modo de vida deleitável; a palavra em questão, modo de vida luxurioso ou
esbanjador.

Como num dia de matança (ώς ku ήμερα σφαγής). Todos os melhores textos
rejeitam ώς, como. O significado da passagem é alvo de discussões. Alguns
encontram a chave para ele nas palavras últimos dias (v. 3). A expressão dia de
matança é usada com o sentido de dia dejuízo, Jr 12.3; 25.34 (lxx ). De acordo com
esta passagem, o significado é o dia de juízo, na vinda de Cristo, supostamente
próxima. Outros explicam que estes homens são como animais que, no mesmo
dia de sua matança, se empanturram, em uma segurança inconsciente.

7. Sede, pois, irmãos, pacientes (μακροθυμήσατε). De μακρός, anseio, e θυμός,


alma ou espírito, mas com o sentido de uma forte paixão, mais forte que οργή,
ira, como sustenta Schmidt, que descreve θυμός como um assomar tumultuado
de todo o espírito-, uma forte emoção que domina e impulsiona todo o homem
interior17. Por isso, a restrição implícita em μακροθυμία é mais corretamente
expressa por longanimidade, que é a sua tradução usual em passagens do Novo
Testamento. É uma resistência paciente, sob tentações ou provações; uma res­
trição prolongada da alma para evitar que ceda à paixão, em particular a paixão

17. Schmidt, Synonymik.

539
T ia g o - C ap. 5

da ira. No texto do Novo Testamento, a palavra e seus cognatos são, às vezes,


traduzidos como paciente ou paciência, o que oculta a distinção de υπομονή, uni­
formemente traduzida com o paciência, e com significado de resistência persisten­
te, em ação ou em sofrimento. Como observa Trench: “υπομονή é perseverantia
e patientia ao mesmo tempo”. Dessa forma, diz o bispo Ellicott: “A paciência
corajosa com que o cristão contende contra os vários obstáculos, perseguições
e tentações que podem acontecer a ele em seu conflito com o mundo interior
e o exterior”. Υπομονή contém um elemento de virilidade. Assim, Platão jun-
ta-lhe o advérbio άνδρικώς, de uma maneira viril, e o contrasta com άνάνδρως,
covardemente. Μακροθυμία é exercido em relação a. pessoas-, υπομονή, em relação
a coisas. A primeira palavra é atribuída a Deus como um atributo (Lc 18.7; iPe
8.20; 2Pe 3.9,15), a segunda, jamais; pois o Deus de paciência (Rm 15.5) é o Deus
que distribui paciência aos seus filhos. Segundo Trench: “Não pode haver ne­
nhuma resistência a Deus, nem opressão sobre ele, o Todo-Poderoso, por parte
de coisas. Portanto, υπομονή não pode encontrar um lugar nele”. A tradução da
a r c , sede pacientes, conecta-se naturalmente com a do versículo anterior: ojusto

não resistiu.

Pois. Uma vez que as coisas são assim. Uma referência ao estado de cosias
descrito na passagem anterior.

Irmãos. Em contraste com o justo rico mencionado.

Espera (έκδέχεται). Com expectativa. Compare com Mt 13.30; Mc 4.27.

A chuva temporã e serôdia (úetòv πρώιμον καί δψιμον). Os dois adjetivos


aparecem somente aqui no texto do Novo Testamento. 'Yecòv, chuva, é rejeitada
por todos os melhores textos. A chuva temporã caía em outubro, novembro e
dezembro, e prolongava-se até janeiro e fevereiro. Estas chuvas não vêm repen­
tinamente, mas gradualmente, de modo que o agricultor pode semear seu trigo
ou sua cevada. As chuvas vêm principalmente do oeste ou sudoeste (Lc 12.54),
duram dois ou três dias a cada vez, e caem principalmente à noite. Então, o vento
muda para o norte ou leste, e vem o bom tempo (Pv 25.23). A chuva serôdia, que
é muito menos intensa, caí em março e abril. A chuva na ocasião da colheita era
considerada um milagre (lSm 12.16-18). Vide Introdução, sobre as referências
locais de Tiago.

9. Não vos queixeis (μή oteváÇexe). Na bj, não murmureis. O verbo quer dizer
suspirar ou gemer.

Está à porta. No ato de entrar.

10. Exemplo (ύπόδη,γμα). Fide nota sobre 2Pe 2.6.


540
T iago - C a p . 5

De aflição (κακοπαθείας). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A


palavra não se refere à resistência na aflição, mas à aflição propriamente dita. Por
isso, na TB, acertadamente, sofrimento.

Os profetas. Compare com Mt 5.12.

11. Sofreram (ΰπομένονχας). De acordo com os textos mais recentes que trazem
ύπομείναντας, o particípio aoristo, que sofreram, em referência aos profetas dos
séculos passados. Com respeito a sofreram e paciência, vide nota sobre o versículo
7. Na bp, resistiram, na t e b , aguentam; e na bj, perseverampacientemente.

O fim que o Senhor lhe deu (xò τέλος κυρ ίου). N a bv, oplano do Senhorfinalmente
terminou em bem. A feliz conclusão a que Deus trouxe as provações de Jó.

M uito misericordioso e piedoso (πολυσπλαγχνός καί οίκτίρμων). O primei­


ro adjetivo aparece somente aqui no texto do Novo Testamento; o segundo, aqui
e em Lc 6.36. Na rv, cheio de compaixão e misericordioso. Πολυσπλαγχνός origina-se
de πολύς, muito, e σπλάγχνα, as mais nobres entranhas, usada como a nossa palavra
coração, como a sede das emoções. Daí os termos entranhas/ entranhável (Fp 1.8;
Cl 3.12 etc.). Compare com εύσπλαγχνοι, benignos, Ef 4.32. A distinção entre esta
palavra e οίκτίρμων, misericordioso, parece ser que a primeira indica a qualidade
geral da compaixão, ao passo que a segunda enfatiza a solidariedade requerida
por casos especiais, como o sentimento de dor diante do sofrimento de outra
pessoa.

12. Qualquer outro juramento. Vide fórmulas comuns para votos, Mt 5.35-36.

13. Está alguém entre vós aflito (κακοπαθόί). Vide nota sobre a palavra correlata,
κακοπάθει,α, sofrimento, v. 10. Somente aqui e em 2Tm 2.3,9; 4.5.

Cante louvores (ψαλλέχω). A palavra significa, primariamente, arrancar ou


estremecer. Consequentemente, refere-se ao som agudo na corda de um arco ou
harpa, e, por isso, tocar um instrumento de cordas. Nossa palavra salmo, derivada
desta, é, a rigor, uma melodia tocada em um instrumento de cordas. Contudo,
o verbo é usado no texto do Novo Testamento com o significado de cantar
louvores, de modo geral. Vide lCo 14.15; Rm 15.9.

1 5 .0 doente (xòv κάμνοντα). Na t e b ,paciente; na ec p , enfermo. Melhor se as versões


indicassem a força do particípio, aquele que está enfermo. A palavra originalmente
significa trabalhar. Consequentemente, “aquele que está trabalhando sob doença”.

E, se houver cometido pecados (καν αμαρτίας fj πεποιηκώς). Ο texto grego


indica uma matiz de significado que dificilmente pode ser transferida de forma
apropriada para nosso idioma, representando não apenas o fato de que o homem
541
T ia g o - C ap. 5

pecou, mas a sua condição como um pecador. Literalmente, as palavras querem


dizer: se ele tem cometido pecados, isto é, em uma condição de ter cometido, e sob as
consequências morais ou físicas da transgressão.

Ser-lhe-ão perdoados (άφεθήσεται). Melhor, “ser-lhe-á perdoado”, inserindo a


comissão como um sujeito. O verbo significa enviar ou liberar, e é a palavra padrão
do Novo Testamento para perdão. Perdão (αφεσις) é uma remoção de pecados, com
a consequente liberação do pecador, e desta maneira difere de πάρεσις (Rm 3.25),
que é um desprezo pelo pecado, uma pretermissão, distinta de uma remissão. Veja,
além disso, nota sobre Rm 3.25.

16. Confessai (έξομολογεισθε). A preposição έξ, para fora, indica uma confissão
plena, franca, aberta, e assim é em todas as suas ocorrências no texto do Novo
Testamento. Vide nota sobre M t 3.6.

Culpas (παραπτώματα). Vide nota sobre Mt 6.14.

A oração feita por um ju sto pode muito em seus efeitos (πολύ Ισχύει
δεησις δικαίου ενεργουμενη). Literalmente, muito pode (ισχύει, éforte) a oração
de um homemjusto em operação ou ação. A tradução da kjv , a oraçãofervorosa, eficaz
de um homemjusto pode muito, além de não ser respaldada pelo texto, é quase um
truísmo. Uma oração eficaz é uma oração que pode. A da arc é, ao mesmo tempo,
mais apropriada e mais natural.

17. Homem (άνθρωπος). A palavra genérica: humano como nós mesmos, sendo
esta ideia enfatizada pelo epíteto que acompanha a palavra, sujeito às mesmas
paixões. Vide a mesma expressão, At 14.15.

Sujeito às mesmas paixões (ομοιοπαθής). Somente aqui e em At 14.15. Há


certo perigo de má interpretação desta tradução, devido ao sentido limitado e, de
modo geral, mau, em que a palavra paixões é popularmente usada. O significado
é, na verdade, de mesma natureza e constituição.

Orando (προσευχή προσηύξατο). Literalmente, orou com oração. Vide uma


expressão similar, Gn 2.17 (lxx), certamente morrerás (θανάτω άποθανεΐσθε),
literalmente, morrerás com morte. Compare com Lc 22.15; Jo 3.29; At 4.17. A
adição do substantivo cognato confere intensidade ao verbo.

20. Cobrirá - pecados. Uma expressão hebraica familiar. Vide SI 32. l ; 85.2; Pv 10.12.

542
L i s t a d e P a l a v r a s G r e g a s E m p r e g a d a s s o m e n t e p o r T ia g o

άγε, ir a, 4.13; 5.1 ιός, peçonha, ferrugem, 3.8; 5.3


άδιάκριτος, sem dúvida, 3.17 κακοπάθεια, aflição, 5.10
άκατάστατος, que não se pode refrear, κατήφεια, tristeza, 4.9
1.18; 3.8 Kauóü), enferrujar, 5.3
άλυκός, salgada, 3.12 κατοικίζω, fazer habitar, 4.5
άμάω, ceifar, 5.4 κενώς, em vão, 4.5
άνέλεος, sem misericórdias, 2.13 μαραίνω, murchar, 1.11
άνεμίζω, ser levado pelo vento, 1.6 μετάγω, dirigir, 3.3-4
άπείραστος, que não pode ser tentado, νομοθετης, legislador, 4.12
1.13 ολολύζω, pranteador, 5.1
απλώς, liberalmente, simplesmente, 1.5 όψιμος, serôdia, 5.7
άποκυέω, dar à luz, gerar, 1.15,18 παραλλαγή, mudança, 1.17
άποσκίασμα, sombra, 1.17 πικρός, amargo, 3.11,14
αύχεω, gloriar-se, 3.5 ποίησις, fazedor, 1.25
άφυστερέω, ser retido com fraude, 5.4 πολύσπλαγχνος, misericordioso, 5.11
(cf. ara) προσωπολημπτέω, fazer acepção de
βοή, clamor, 5.4 pessoas, 2.9
βρύω, deitar, jorrar (cf. ara), 3.11 πρώιμος, temporã, 5.7
γέλως, riso, 4.9 ριπίζω, lançar, 1.6
δίψυχος, de coração dobre, de duplo ρυπαρίο, imundícia, 1.21
ânimo, 1.8; 4.8 σήπω, apodrecer, 5.2
ε’ίκω, ser semelhante a, 1.6,23 σητόβρωτος, comida da traça, 5.2
έμφυτος, enxertado, 1.21 ταλαιπωρεω, sentir misérias, 4.9
ένάλιος, do mar, 3.7 ταχύς, pronto, 1.19
έξέλκω, atrair, 1.14 τροπή, variação, 1.17
επιλησμονή, esquecimento, 1.25 τροχός, curso, 3.6
επιστήμων, inteligente, 3.13 πρυφάω, viver deliciosamente, 5.5
επιτήδειος, necessário, 2.16 ύλη, bosque, 3.5
ό ευθυνών, o que opera o leme, 3.4 φιλία, amizade, 4.4
εύπειθής, tratável, 3.17 φλογίζω, inflamar, 3.6
εύπρεπεια, formosa aparência, 1.11 φρίσσω, estremecer, 2.19
εφήμερος, cotidiano, 2.15 χαλιναγωγέω, refrear, 1.26; 3.2
θανατηφόρος, mortal, 3.8 χρή, convir, 3.10
θρήσκος, religioso, 1.26 χρυσοδακτύλιος, com anel de ouro, 2.2

543
1 P edro

C a pítu lo 1

1. Pedro (Πέτρος). Videnota sobre Mt 16.18. Da mesma maneira como Paulo,


em suas cartas, não se refere a si mesmo pelo seu nome original, Saulo, também
Pedro refere-se a si mesmo não pelo nome Simão, mas Pedro, o nome mais sig­
nificativo e mais precioso, tanto para ele mesmo quanto para os seus leitores,
porque foi dado pelo seu Senhor. No início da segunda epístola, Pedro usa os
dois nomes.

Apóstolo. De todas as epístolas universais, somente a de Pedro expressa sua


marca apostólica na introdução. Ele dirige-se a igrejas com as quais não tinha
uma conexão imediata, e que eram distintamente paulinas. Por isso, apela ao seu
apostolado como explicação do fato de escrever a elas, e como sua justificativa
por tomar o lugar de Paulo.

Aos estrangeiros - eleitos (v . 2 , έκλεκτοΐς παρΕίτιδήμοις). A t e b , a p r o p r i a ­


damente, u n e a s d u a s p a l a v r a s , s e g u i n d o a o r d e m d o t e x t o g r e g o : eleitos q u e
vivem como estrangeiros, e m v e z d e , e m c o n t i n u a ç ã o a eleitos, a c r e s c e n t a r : segundo
a presciência etc.

Estrangeiros (παρίπιδήμοι,ς). Pessoas que habitam durante um breve perí­


odo em uma nação estrangeira. Embora aplicada primariamente aos hebreus
dispersos por todo o mundo (Gn 23.4; SI 39.12), tem aqui um sentido mais
amplo e espiritual, contemplando os cristãos como tendo a sua cidadania no
céu. Compare com Hb 11.13. A preposição παρά, na composição, sugere um
sentido de transitoriedade, como no caso de alguém que passa por, dirigindo-
se a algo mais além.
1 P edro - C ap. 1

Dispersos (διασιτοράς). Literalmente, da dispersão. De διαστκίρω, dispersar ou


espalhar, com σπείρω significando, originalmente, semear. A palavra era familiar a
todo o corpo de judeus fora da Terra Santa, dispersos entre os pagãos.

2. Eleitos. Considerando todos aqueles a quem ele se dirige como recebedores


da graça da salvação. A palavra corresponde ao título do Antigo Testamento
para o povo do Senhor: Is 65.9,15,22; SI 105.43. Compare com Mt 20.16; 22.14;
Rm 8.33.

Segundo (κατά). Em virtude de; em conformidade com.

Presciência (ιτρόγνωσιν). Somente aqui e em At 2.23, no sermão de Pedro no


Pentecostes. Ali, ele faz uma distinção entre presciência e determinado conselho.

Pai. Indicando que a relação contemplada pela presciência divina é um novo


relacionamento de filiação.

Em santificação (!v άγιασμώ). Compare com 2Ts 2.13. O estado espiritual


em que o ser eleito para a salvação é confirmado. A palavra é peculiarmente
paulina, e aparece oito vezes nas epístolas de Paulo; além dessas ocorrências, ela
só aparece aqui e em Hb 12.14.

Para a obediência (elç). Observe as três preposições: segundo (κατά) a


presciência; emifiv) santificação; para (elç) a obediência. A base, esfera e finalidade
da santificação espiritual.

Aspersão (ραητισμόν). Aqui, em um sentido passivo —ser aspergido. A rigor,


o ato ritual de aspergir sangue ou água. Vide Nm 19.19,21. Compare com Hb
9.13; 12.24; Nm 19.9,13, onde a água em que estavam as cinzas da bezerra ruiva
é chamada ϋδωρ ραντισμοϋ, água da aspersão ( lxx ), que a arc traduz por água
da separação. A palavra e o seu verbo correlato aparecem apenas em Hebreus e
Pedro.

Jesus Cristo. A presciência do Pai, a santificação do Espírito, a obediência e


aspersão do sangue de Jesus Cristo, o Filho. O Pai sabendo de antemão, o Filho
expiando, o Espírito aplicando a obra do Filho, na santificação. Como diz Bengel:
“O mistério da Trindade e a economia da nossa salvação estão indicados neste
versículo”.

Graça e paz (χάρις - ειρήνη). Palavras de Paulo. Vide Rm 1.7. A saudação


é peculiar pela adição de sejam multiplicadas, que aparece em 2Pe 1.2; Jd 2, e
em nenhuma outra passagem nas saudações das epístolas. Ela é encontrada, no
entanto, na lxx , em Dn 4.1 ( lxx : 3.1) e 6.25. O professor Salmond observa:
546
1 Pedro - Cap. 1
Se a Babilônia de onde Pedro escreve pode ser interpretada como a Babilônia literal ['vide
nota sobre 5.13], pode ser interessante lembrar as epístolas iniciadas por saudações tão
similares às de Pedro, as quais foram escritas da mesma capital por dois reis, Nabucodonosor
e Dario, de duas grandes dinastias, e dirigidas a todas as suas províncias.

3. Bendito (ευλογητός). Ευ, bem, λόγος, uma palavra. De boa reputação, louvado, hon­
rado. No texto do Novo Testamento, usada somente a respeito de Deus. O verbo
correlato é aplicado a seres humanos, como Maria (Lc 1.28): “bendita (ευλογημένη) és
tu”. Compare com a palavra diferente para bem-aventurado, em Mt 5.3 etc. (μακάριοι),
e vide notas sobre essa passagem. O estilo desta expressão doxológica é paulino.
Compare com 2Co 1.3; Ef 1.3.

Nos gerou de novo (άναγεννήσας). O verbo é usado apenas por Pedro, e somente
aqui e no versículo 23. Está no tempo aoristo, e deve ser traduzido por, como na
arc, gerou-, porque a regeneração é considerada como um ato histórico definido
realizado de uma vez por todas, ou possivelmente porque Pedro considera o ato
histórico da ressurreição de Cristo como praticamente realizando a regeneração.
Este último sentimento seria paulino, uma vez que Paulo está acostumado a falar
dos cristãos como morrendo e ressuscitando com Cristo, Rm 7.4; 6.8-11.

Viva (ζώσαν). Tradução literal do particípio, viva, uma palavra predileta de


Pedro. Vide 1.23; 2.4-5,24; 4.5-6; e compare com At 9.41, onde Pedro é o agente
principal, e 10.42, onde ele é o orador.

Esperança (ελπίδα). Pedro também gosta desta palavra (vide l . 13,21; 3.5,15),
que, no grego clássico, tem o significado geral de expectativa, relativa ao mal,
como também ao bem. Assim, Platão fala de viver em má esperança1, i.e., na apre­
ensão do mal; e Tucídides refere-se à esperança de malesfuturos, i.e., a expectativa
ou apreensão. No texto do Novo Testamento, a palavra sempre se refere a um
bem futuro.

4. Uma herança (κληρονομιάν). Uma palavra paulina, de κλήρος, divisão, e νέμομαι,


distribuir entre eles mesmos. Portanto, uma herança é originalmente uma porção que
alguém recebe por divisão ou sorte, em uma distribuição geral. No texto do Novo
Testamento, a ideia de acaso relacionada à divisão é eliminada. É a porção ou he­
rança que alguém recebe, em virtude de nascimento ou como uma dádiva especial.
Assim, a respeito da vinha confiscada pelos lavradores ímpios: “apoderemo-nos da
sua herança” (Mt 21.38); a respeito de Abraão, em Canaã: “[(Deus] não lhe deu nela
herança (At 7.5); “a herança eterna” (Hb 9.15).

1. Platão, Republic, i., 330.

547
1 P edro - Cap. 1

Incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar. Observe a mul­


tiplicação de epítetos característica de Pedro. Incorruptível (άφθαρτον). De ά, não,
e φθείρω, destruir ou corromper. Incontaminável (αμίαντον). De ά, não, e μιαίνω,
contaminar, embora o verbo signifique especialmente contaminar por mancha,
como com cor; ao passo que μολύνω, também traduzida como contaminar (lCo
8.7), significa sujar, como com lodo. Podemos traduzir por não manchado, embora
a palavra não seja usada com qualquer referência consciente à sua etimologia.
Que se não pode murchar (άμάραντον). Usada apenas por Pedro, e apenas uma vez.
Dea, não, e μαραίνομαι, murchar. A grande beleza da herança celestial é descrita
como isenta da ferrugem que se prende à flor terrena. Quanto à diferença entre
άφθαρτον, incorruptível, e άμάραντον, que se não pode murchar, a primeira enfatiza
a indestrutibilidade da substância, e a segunda, a da graça e da beleza. O adjetivo
correlato da segunda palavra aparece no nome botânico familiar, amaranto. Vere­
mos que todos os três epítetos são compostos com a partícula negativa ά, não. O
arcebispo Trench observa corretamente que

é um testemunho notável para o reino do pecado, e, portanto, da imperfeição, da


decadência, da m orte por todo este mundo caído, o fato de que, com a mesma frequência
com que desejamos exibir a glória, a pureza e a perfeição daquele outro mundo mais
elevado, em direção ao qual nos empenhamos, somos compelidos, de maneira quase
inevitável, a fazer isto com a ajuda de negativas, negando em relação àquela ordem
mais elevada de coisas as principais estruturas e características desta.

Compare com Ap 21.1,4,22-23,27; 22.3,5.

Guardada (τετηρημενην). Literalmente, que fo i guardada, um particípio


perfeito, indicando a herança como algo reservado pelos cuidados de Deus
pelos seus, desde o princípio até o presente. Armazenada e guardada é a ideia.
O verbo significa preservar como o resultado de guardar. Assim, em Jo 17.11,
Cristo diz: “conserva (τήρησον)... aqueles que tens me dado”; no versículo 12: “eu
conservava-os” (ετήρουν), isto é, preservava-os, guardando-os. “Aqueles que tu me
deste, eu conservei (έφύλαξα).” Similarmente, Jo 14.15: “conservareis (τηρήσατε) os
meus mandamentos”; preservá-los-eis sem infringi-los, com cuidadosa vigilância.
Assim, Pedro foi entregue aos soldados, que deviam guardá-lo (φύλασσε iv), mas
ele foi mantido (ετηρεΐτο) na prisão (At 12.4-5). Compare com Cl 1.5, onde é
usada uma palavra diferente: άποκειμένην, literalmente, posto de lado.

Para vós (εις). O uso desta preposição, em lugar do dativo mais simples, é
ilustrativo: com referência a vós; com “vós” como objeto direto.

5. Guardados (φρουρούμενους). Um termo militar. Literalmente, guarnecidos.


Compare com 2Co 11.32, e o belo uso metafórico da palavra em Fp 4.7, “guardará
548
1 P edro - C ap. 1

os vossos corações”. O particípio presente indica alguma coisa em andamento,


um princípio contínuo de proteção. Consequentemente, literalmente, que estão
sendo guardados. Segundo Bengel: “A herança está mantida-, os herdeiros estão
guardados’.

Mediante (διά) a fé; na (èv) virtude; para (elç) a salvação. Mediante, indicando
o agente secundário; na {em), a causa eficiente; para, o resultado.

Salvação. Observe a ocorrência frequente desta palavra, nos versículos 9, 10.

Prestes (έτοιμην). Mais forte do que quase a, ou destinada a, indicando um


estado de espera ou prontidão, e harmonizando assim com guardada.

6. Grandemente vos alegrais (άγαλλιάσθ^). No texto do Novo Testamento, esta


palavra é sempre empregada como uma alegria grande ou viva. Vide Mt 5.12; Lc
1.47; 10.21.

Por um pouco (ολίγον). Mais literal e corretamente, por pouco tempo. Compare
com 5.10. Em nenhuma outra passagem do Novo Testamento a palavra é usada
neste sentido.

Contristados (λυπηθέντες). Literalmente, tendo sido entristecidos. Na t b , haveis


sido entristecidos.

Com (4v). Melhor, em. A preposição não é instrumental, mas indica a esfera ou
ambiente em que opera a tristeza.

Várias (ποικίλοις). A palavra significa, literalmente, variadas. É usada para


descrever a pele de um leopardo, os desenhos de diferentes cores do mármore,
ou um manto bordado; e passa a ter o significado de variado, diversificado, quando
aplicada aos meses mutáveis ou às variações na melodia de uma música. Pedro
a emprega outra vez, em 4.10, em relação à graça de Deus, e Tiago a emprega
em relação às tentações, como aqui (1.2). Compare com πολυποίκιλος, multiforme,
em Ef 3.10, aplicada à sabedoria de Deus. A palavra fornece uma ideia vivida da
diversidade das tentações, enfatizando esta ideia, e não a sua quantidade, que deve
ser deduzida.

Tentações (πηρασμοις). Melhor, provações ou provas, como se lê na t b , bj e


bp,uma vez que a palavra indica mais do que a solicitação direta para o mal. Ela
abrange tudo o que produz um teste para o caráter. Compare com Tg 1.2.

7. Prova (δοκίμιον). Somente aqui e em Tg 1.3. A palavra significa um teste.


Como o significado de prova, no entanto, refere-se não só à pedra de toque
propriamente dita, mas aos restos do metal deixados sobre ela, o sentido aqui é
549
l P edro - Cap. l

de resultado do contato da fé com a tentação, e consequentemente a verificação da


fé. A palavra é equivalente a vossafé aprovada. Compare com Rm 2.7,10.

Do que o ouro. Na kjv, do que do ouro; a arc acerta em omitir do e ler do que
o ouro. A comparação é entre a fé aprovada e o ouro, e não entre a fé e a prova do
ouro, como também sugere a ep: como o ouro.

É provado (δοκιμαζόμενου). Palavra correlata a δοκιμίου, prova. O verbo é


usado no grego clássico, em referência à análise ou teste de metais, e significa,
de modo geral, aprovar ou sancionar após teste. E radicalmente similar a δεχεσθαί,
receber, e, consequentemente, indica uma prova, com o objetivo de determinar se
uma coisa é digna de ser recebida. Compare com 1Co 3.13; G1 6.4; 1Jo 4.1. Desta
maneira, é diferente de πειράζειν, testar ou tentar {vide nota sobre πειρασμοίς, v.
6), pelo fato de que esse verbo indica simplesmente um teste para descobrir qual
bem ou mal existe em uma pessoa; e com base no fato de que este escrutínio
frequentemente desenvolve a existência e a energia do mal, a palavra adquiriu
um sentido predominante de submeter à prova com a intenção ou esperança de
arruinar o objeto submetido ao teste - em outras palavras, refere-se à tentação no
sentido usual. Consequentemente, Satanás é chamado de ò πειράζων, o tentador,
Mt 4.3; lTs 3.5. Vide nota sobre Mt 6.13. O arcebispo Trench observa que
“δοκίμαζεiv não podería ser usada a respeito de Satanás, uma vez que ele nunca
prova para poder aprovar, nem testa para poder aceitar”.

Se ache (εύρεθτ)). De acordo com as expressões antecedentes, e indicando a


descoberta como o resultado do escrutínio.

Louvor, e honra, e glória [έπαινον και τιμήν κα'ι δόξανζ], Nos melhores tex­
tos, a ordem é louvor, glória, honra, como aparece na tb. Glória e honra aparecem
juntas com muita frequência no texto do Novo Testamento, como em Rm 2.7,10;
lTm 1.11. Com louvor, somente aqui. Compare com Espírito da glória, 4.14.

8. Glorioso (δεδοξασμένη). Literalmente, glorificado.

9. Alcançando (κομιζόμενοι). O verbo originalmente significa cuidar de, ou


prover para; consequentemente, receber com hospitalidade ou acolher, levarpara casa
com intenção de entreter ou cuidar de. Portanto, levar embora de modo a preservar,
salvar, resgatar, e, por isso, levar como um prêmio ou saque. De modo geral, receber
ou adquirir. Paulo usa a palavra com o significado de receber as recompensas do
juízo (2Co 5.10; Ef 6.8; Cl 3.25). Na epístola aos Hebreus, é usada a respeito do
recebimento da promessa (10.36; 11.39), e de Abraão, recebendo Isaque de volta
(11.19). Pedro usa a palavra três vezes, em todas elas com o sentido de receber as
recompensas da justiça ou da iniquidade. Vide lPe 5.4; 2Pe 2.13.
550
l Pedro - Cap. 1

10. Inquiriram e trataram diligentemente (4ξ€ζήτησαν - 4ξηρεύνησαν). Os


aoristos foram traduzidos apropriadamente: i n q u i r i r a m e t r a t a r a m . A preposição
4ξ, em composição, tem a força de e m , e n t r e , investigar e m , e é traduzida por
d ilig e n te m e n te .

Trataram . Usada a respeito da busca cuidadosa de Esaú por um lugar de


arrependimento, em Hb 12.17.

11. Indagando. Esta palavra não aparece em nenhuma outra passagem do Novo
Testamento. Compare com a lxx, 1 Sm 23.23, sobre a busca de Saul por Davi.

Indicava (έδήλου). Tempo imperfeito: melhor, e s t a v a i n d i c a n d o , todo o tempo,


durante a era profética, por meio de sucessivos profetas. V i d e o mesmo verbo em
lCo 3.13; 2Pe 1.14.

Anteriormente testificando (προμαρτυρόμενον). Somente aqui no texto do


Novo Testamento.

Que a Cristo haviam de vir (elç Χριστόν). Literalmente, p a r a C r i s t o . Os


sofrimentos d e s t i n a d o s p a r a Cristo, pois no versículo 10 ele fala da graça, elç ύμάς,
p a r a vós-, isto é, destinada a vir para vós. Pedro estava particularmente interessado

em demonstrar que os sofrimentos de Cristo cumpriam a profecia, porque havia


uma controvérsia entre os judeus quanto ao fato de o Cristo precisar sofrer ou
não (At 3.18; 26.22-23).

A glória (τάς δόξας). Na tb, corretamente, a s g l ó r i a s . O plural é usado para


indicar os sucessivos estágios da sua glorificação: a glória da sua ressurreição e
ascensão, do juízo final, e do reino do céu.

12. Ministravam (διηκόνουν). Tempo imperfeito, e s t a v a m m i n i s t r a n d o . V i d e nota


sobre Mc 9.35. A palavra é aplicável a qualquer tipo de serviço, oficial ou não.
Compare com 2Co 3.3.

Desejam (4πιθυμοΰσιν). A palavra normalmente indica um desejo i n t e n s o . Ela


é usada por Cristo, ao expressar o seu desejo de comer a Páscoa (Lc 22.15); sobre
o desejo do filho pródigo de satisfazer a sua fome com as bolotas (Lc 15.16); e
sobre a cobiça da carne contra o Espírito (G1 5.17).

Atentar (παρακύψαι). Uma palavra bastante descritiva, com significado de c u r v a r -


(παρά). Usada por Aristófanes para retratar a atitude de um mau harpista.
se p a r a o l a d o

Aqui, a palavra indica alguém que se curva e estica o pescoço para examinar alguma
vista maravilhosa. A palavra aparece em Tg 1.25, descrevendo aquele que atenta
para a lei perfeita da liberdade como para um espelho; e em Lc 24.12; Jo 20.5,11,
sobre Pedro, João e Maria c u r v a n d o - s e e olhando para o interior do sepulcro vazio.
551
1 P edro - C ap. 1

É possível que a lembrança deste incidente tenha sugerido inconscientemente a


palavra a Pedro. A expressão ilustra a ênfase habitual dele sobre o testemunho da
visão [vide Introdução). Bengel observa, com precisão, a indicação em παρά, ao lado
de, de que os anjos contemplam a obra da salvação defora, como espectadores, e não
como participantes. Compare com Hb 2.16; Ef 3.10.

13. Cingindo (άναζωσάμενοι). Literalmente, tendo cingido. Palavra usada


somente aqui. A metáfora é sugerida pelo cingir dos mantos soltos orientais,
em preparação para correr ou outra atividade. Talvez relembrando as
palavras de Cristo, Lc 12.35. O chamado de Cristo é para o serviço ativo. Há
uma adequação na imagem, uma vez que se dirige a hóspedes e peregrinos (1 Pe
1.1; 2.11), que sempre devem estar preparados para deslocar-se e mudar de
lugar.

Entendimento (διάνοιας). Vide nota sobre Mc 12.30.

Sede sóbrios (νήφοντες). Literalmente, sendo sóbrios. Originalmente, em um


sentido físico, em oposição ao excesso de bebida, mas passando ao sentido geral
de autocontrole e equanimidade.

Esperai inteiram ente (τελείως ελπίσατε). Melhor, dedicai vossa esperança


completamente, integral e imutavelmente; sem dúvida ou desânimo.

Que se vos ofereceu (την φερομενην). Literalmente, que está sendo oferecida.
O objeto da esperança já está a caminho.

14. Filhos obedientes (τέκνα ύπακοής). Literal, e mais corretamente, como na


TB,filhos da obediência. Vide nota sobre Mc 3.17.0 relacionamento do cristão com
o princípio impulsionador de sua vida é descrito como o relacionamento de um
filho com um pai.

Vos conformando (συσχηματιζόμενοι). Vide nota sobre Mt 17.2; e compare


com Rm 12.2, a única outra passagem onde aparece a palavra. Como σχήμα é
a forma externa, mutável, em contraste com o que é intrínseco, a palavra, na
realidade, traz uma advertência contra a conformidade com algo mutável, e, por
conseguinte, ilusório.

15. Como é santo aquele que vos chamou (κατά τον καλέσαντα υμάς άγιον).
Como, na arc , significa de acordo com, ou conforme o exemplo de-, e santo deve ser
interpretada como um nome pessoal; a expressão que vos chamou é acrescentada
como definição, e para fortalecer a exortação. Portanto, traduza: conforme o
exemplo do Santo que vos chamou. Uma construção similar aparece em 2Pe 2.1: o
Senhor que os resgatou.
552
1 P edro - C ap . 1

M aneira de viver (αναστροφή). Uma palavra favorita de Pedro, usada oito


vezes nas duas epístolas. De άνά, para cima, e στρέφω, virar. O processo de de­
senvolvimento do significado da palavra é interessante, (l) Ação de virar de
cabeça para baixo. (2) Ação de virar ou girar, mudar de direção. (3) Aparição
em um lugar, indo de um lado a outro, cuidando de suas atividades, e, por isso:
(4) O modo de vida ou comportamento de uma pessoa. Esta é precisamente a
ideia presente na palavra inglesa conversation (do latim conversare, virar-se), que
foi usada quando da preparação da kjv , como a expressão comum para compor­
tamento geral ou procedimento, e era, por essa razão, uma tradução correta de
αναστροφή. Segundo Latimer: “Não somos obrigados a seguir os modos de vida
ou as obras dos santos”2. E Shakespeare:

Mas todos estão banidos, até que seu modo de vida


Pareça mais sábio e modesto para o mundo8.

Nossa recente limitação do significado da palavra ao intercâmbio de falas


torna adequado mudar a tradução para maneira de viver, como consta na arc .

17. Se invocais por Pai - julga. Mais corretamente: Se o invocais como Pai. A
questão é que Deus deve ser invocado, não somente como Pai, mas como Juiz.

Sem acepção de pessoas (άπροσωπολήμπτως). Somente aqui. Pedro, no


entanto, usa προσωπολήμπτης, alguém que fa z acepção de pessoas, At 10.34, e
toda a passagem deve ser comparada com essa referência. Paulo e Tiago tam­
bém usam a palavra correlata, προσωπολημψία, acepção de pessoas. Vide Rm
2.11; Tg 2.1. Tiago traz o verbo προσωπολημπτέω, fazer acepção de pessoas.
Os componentes da palavra, πρόσωπον, a aparência, e λαμβάνω, aceitar, são
encontrados em G1 2.6; e a palavra corresponde à fórmula veterotestamen-
tária aceitar ou levantar o rosto de outra pessoa, em oposição a abater o rosto
(Jó 2 9.24; Gn 4 .5 ). Consequentemente, aceitar generosamente, ou olharfavora­
velmente para alguém (Gn 19.21; 3 2 .2 0 etc.). No Antigo Testamento, é, como
observa o bispo Lightfoot,

uma expressão neutra, que não envolve nenhuma noção auxiliar de parcialidade, e é
encontrada muito mais frequentemente em um bom sentido do que em um mau. Con­
tudo, quando se torna uma expressão grega independente, adquire o mau sentido, que
se deve ao significado secundário de ιτρόσωττον, uma máscara, de modo que προσώπου
λαμβάνω ιυ significa considerar as circunstâncias externas de um homem, sua posição,
riqueza etc., em oposição ao seu caráter intrínseco, verdadeiro.

2. Latimer, Sermons.
3. Shakespeare, 2 Hen. IV, v., 5.
553
1 P edro - Cap. 1

Peregrinação (παροικίας). Compare com estrangeiros, v. l.

18. Como prata ou ouro (άργυρίω ή χρυσίω). Literalmente, com moeda de prata
ou ouro; com as palavras significando, respectivamente, uma pequena moeda de
prata ou de ouro.

Fostes resgatados (έλυτρώθητ^). O verbo aparece apenas em outras duas


passagens, Lc 24.21; T t 2.14. Ele transmite a ideia de um preço pago por um
resgate (λύτρον, de λύω, soltar).

Maneira de viver. A t b traduz por práticas vãs-, a b p , vã conduta, a t e b , maneira


vã de viver, e a b j , vidafútil. Vide nota sobre o versículo 15.

Que, por tradição, recebestes dos vossos pais (πατροπαραδότου). Uma tradução
aprimorada pela n v i , transmitida por seus antepassados. A palavra é peculiar a Pedro.

19. Mas com o precioso sangue de Cristo. A palavra Χριστού, de Cristo, está
no fim da sentença, e é enfática. Traduza por com o sangue precioso como de um
cordeiro etc., o sangue de Cristo.

Cordeiro. Peculiarmente apropriado por parte de Pedro. Vide 5o 1.35-42. A


referência é a um cordeiro sacrifical.

Imaculado (άμώμου). Representando a expressão veterotestamentária para a


ausência de defeito físico (Êx 12.5; Lv 22.20; compare com Hb 9.14).

Incontaminado (άσπιλου). Compare com lTm 6.14; Tg 1 27; 2Pe 3.14. Em


todos os casos, em um sentido moral.

20. Conhecido, ainda antes (προεγνωσμένου). Tradução literal. A teb e bp

trazem predestinado antes.

Manifestado (φανφωθέντος). Observe a diferença no tempo verbal. Conhecido


antes, ou de antemão, é o particípio perfeito, que tem sido conhecido desde toda a
eternidade até opresente. Como acrescenta Salmond: “com referência ao lugar que
foi ocupado e continua sendo ocupado por Cristo na mente divina”. Manifestado é o
particípio aoristo, apontando para um ato definido em determinada ocasião.

Nestes últimos tempos (έπ’ έσχατου των χρόνων). Literalmente, como na t b ,


nofim dos tempos.

21. Que o ressuscitou. Compare com Rm 4.24.

Para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus. Alguns traduzem:


para que a vossaf i também seja uma esperança em Deus.

554
l P edro - C ap . l

22. Purificando (ήγνικότες). A tradução da lxx do termo técnico do Antigo


Testamento para a purificação do povo e dos sacerdotes (Js 3.5; lCr 15.12; 1 Sm
16.5). Também, em referência à abstinência de vinho e bebida forte por parte dos
nazireus (Nm 6.2-6). Neste sentido cerimonial, Jo 11.55; At 21.24,26; 24.18. No
sentido moral, como aqui, Tg 4.8; lJo 3.3. Compare com καθαρίσας, purificando,
At 15.9.

Obediência (ύπακοή). Uma palavra peculiar do Novo Testamento, desconhe­


cida no grego clássico. Na lxx , apenas em 2 Sm 22.36; traduzida na arc por
brandura.

Não fingido (άνυπόκριτον). De ά, não, e υποκριτής, ator. Na e teb , sem bj

hipocrisia. A última palavra origina-se de ύποκρίνεσθαι, responder no palco, e,


consequentemente, interpretar um papel ou atuar. Portanto, um hipócrita é um ator.

Ardentemente (εκτενώς). Usada apenas por Pedro, e somente nesta passagem.


Ele usa o adjetivo correlato, εκτενής, contínuo, ou incessante, em At 12.5, onde
a narrativa provavelmente era feita por ele, e também em lPe 4.8, “ardente
caridade”. As palavras formam uma composição com o verbo τείνω, esticar, e
significam tensão intensa-, sentimento torturante.

Com um coração puro (εκ καθαράς καρδίας). Os melhores textos rejeitam


καθαράς, puro. Portanto, traduza, como na tb , d e coração.

23. Sendo de novo gerados (άναγεγεννημένοι). Na t e k , fostes novamente gerados.


Compare com Tg 1.18.

De (εκ) semente —pela (διά) palavra. Note a diferença entre as preposições:


a primeira indica a origem ou fonte da vida; a segunda, o meio por que ela se
distribui para a natureza.

Semente (σποράς). Esta palavra não aparece em nenhuma outra passagem do


Novo Testamento. Originalmente, a semeadura da semente.

Palavra de Deus (λόγου θεοΰ). O evangelho de Cristo. Compare com o


versículo 25, e as palavras de Pedro em At 10.36. Também Ef 1.13; Cl 1.5; Tg
1.18. Não a Palavra pessoal, como o termo é empregado por João. Contudo, a
conexão e relação da palavra pessoal com a palavra revelada são reconhecidas
distintamente. Scott, sobre T g 1.18, registra:

N o te x t o d o N o v o T e sta m e n to , p erceb em o s u m a a scen sã o g ra d u a l da (a) mensagem


concreta tra n sm itid a ao h om em p o r a gên cia p e sso a l p ela ( b) Palavra, a revelação de
D e u s ao h om em , a qual a m e n sa g e m p erson ifica, form ando, d e ce r ta form a, a sua vida

555
1 P edro - C ap . 2

e alma, e para ( c ) a Palavra, que, sendo Deus, não somente se revela, mas se doa a nós,
e, por meio disso, é formada em nós\

24. D o homem. Seguindo a leitura ανθρώπου, na lxx , Is 40.6, que Pedro cita
aqui. Mas os melhores textos trazem αυτής, d e la , ou, como na tb , bj e te b , s u a
g ló r ia .

Secou (έξηράνθη). Literalmente, o autor descreve isso como em uma nar­


rativa de algum evento rápido e assombroso, pelo uso do tempo aoristo: s e c a
f i c o u a erva. Similarmente, c a i u a f o r (έξεπεσεν). Literalmente, caiu f o r a , com

a força de έκ.

25. Palavra do Senhor (ρήμα κυρίου). Compare com o versículo 23, e observe
que ρήμα é usada com o significado de p a l a v r a , em vez de λόγος; e Κύριος, S e n h o r ,
em vez de Θεός, D e u s , que é a palavra usada no texto hebraico, e em muitas cópias
da lxx . A substituição indica que Pedro identificava Jesus com Deus. Nenhuma
razão muito satisfatória pode ser apresentada para a mudança de λόγος para ρήμα.
Pode ser devido à tradução grega, que Pedro segue.

C a p ít u l o 2

1. Toda - todo (πάσαν - πάντα). Literalmente, c a d a , ou to d o tip o de.

Murmurações (καταλαλιάς). Literalmente, p a l a v r a s p r o fe r id a s c o n tra . Uma


palavra rara, que aparece apenas aqui e em 2Co 12.20.

2. Desejai (επιποθήσατε). A palavra composta é intensiva: desejai a fe tu o s a m e n te .

Compare com Fp 2 . 26 .

Meninos (βρέφη). A palavra significa peculiarmente uma criança n o n a s c im e n t o , ou


de poucos anos de idade. V i d e Lc 18.15; At 7.19. Sobre o menino Jesus, Lc 2.12,16.
Aqui, marcando a novidade da vida cristã nos convertidos a quem Pedro se dirige.

Novamente nascidos (άρτιγεννητα). Peculiar a Pedro, e apenas nesta passa­


gem. Literalmente, nascidos h á p o u c o (άρτι).

O leite racional, não falsificado (tò λογικόν άδολον γάλα). A teb verteu
λογικόν por d a p a l a v r a - , porém, indevidamente. A expressão descreve a qualidade
do l e i t e como e s p i r i t u a l ou r a c i o n a l , em oposição a l i t e r a l e c e r i m o n i a l . Na única
outra passagem em que aparece (Rm 12.1), a palavra é traduzida como r a c i o n a l .
A bp e nvi leem: e s p i r i t u a l .

4. Scott, Speaker’s Commentary.

556
] P edro —C ap . 2

Não falsificado (άδολοv) é outro epíteto para o leite. Literalmente, semfraude,


não adulterado, como faz a tb , sem dolo. Compare com engano, no versículo 1.
Deixando de lado o engano, desejai o leite sem engano, como atesta a nvi e teb .

Para que, por ele, vades crescendo. Os melhores textos acrescentam: para
a salvação.

3. Já provastes (έγ^υσασθΕ). Tempo aoristo. Conforme Bengel, “o provar desperta


o apetite”. Compare com desejar, v. 2, e SI 34.8.

Benigno (χρηστός). Ativamente benigno. Segundo Salmond, “como distinto


de outros adjetivos que descrevem a bondade pelo lado de seu excelente valor e de
sua gentileza’. Vide nota sobre Mt 11.30.

4. Chegando (προσφχόμ^νοι). Indicando uma aproximação familiar (ττρός) e


habitual (particípio presente) e uma associação íntima.

A pedra viva (λίθον ζώντα). As palavras estão em aposição com ele (Cristo).
Compare com o uso de Pedro da mesma palavra, pedra, em At 4.11, e Mt 21.42.
Não é a mesma palavra que Cristo usa como um nome pessoal para Pedro
(Πέτρος), de modo que não é necessário deduzir que Pedro estava pensando no
seu próprio nome novo.

Reprovada (άποδ^δοκ ιμασμέv o v ). Na tb , rejeitada. Vide nota sobre o verbo


simples, 1.7. A palavra significa rejeição depois dejulgamento ou avaliação.

Com Deus (παρά 9ecô). Παρά tem um significado forte, sugerindo o poder
absoluto de escolha decisiva que está coot Deus; isto é, com Deus sendo o juiz; e
compare com Mt 19.26; Rm 2.11.

Preciosa (έντιμον). Em 1.19 {precioso sangue), outra palavra é usada (τίμιος),


indicando uma preciosidade essencial. Aqui, a palavra indica a preciosidade como
reconhecida ou honrada.

5. Pedras vivas - edificados - casa espiritual. É como se Pedro tivesse em mente


o conceito corporificado na comissão que Cristo fez a ele, de uma edificação erigida
sobre uma pedra. A metáfora de uma casa edificada sobre pedras vivas é muito
forte, e suficientemente característica de Pedro, mas retrata, de uma maneira
muito impressionante, a união de estabilidade, crescimento e atividade na igreja
ideal. Observe a transição de meninos crescendo (v. 2) para pedras edificadas. Porém,
como observa Salmond: “Em Paulo, temos casos ainda mais ousados de aparente
confusão de metáforas, como quando, em um só fôlego, ele descreve os crentes
como, ao mesmo tempo, andando, arraigados e edificados em Cristo” (Cl 2.6-7).
557
1 P edro - C ap. 2

Oferecerdes (άνενεγκαι). O termo usual do Antigo Testamento ( lxx) para


a oferta de sacrifício. Literalmente, t r a z e r até o altar. Compare com Hb 13.15.
A força de άνά, p a r a c i m a , aparece no fato de o altar ser e le v a d o . A palavra é
usada frequentemente com o significado de levar de um lugar inferior para um
mais elevado. Assim, em Mt 17.1; Lc 24.51. Neste sentido, o versículo 24 deste
capítulo é sugestivo, onde está escrito que Cristo l e v o u (άνήνεγκεν) os nossos
pecados: Ele o s c a r r e g o u até a cruz. V i d e nota sobre essa passagem.

6. Na Escritura (εν γραφή). Os melhores textos rejeitam o artigo. Γραφή quer


dizer uma p a s s a g e m da Escritura. V i d e nota sobre Mc 12.10.

Se contém (περιεχει). De περί, e m v o l t a , e έχω, c o n s e r v a r . Consequentemente,


ou c o m p r e e n d e r , a b r a n g e r . Assim, em Lc 5.9, o e s p a n t o s e a p o d e r a r a d e le (θαμβός
c o n te r

αυτόν ττεριέσχεν); literalmente, o e s p a n t o o e n v o l v e u . Também, em At 23.25:


“Escreveu uma carta d e s t a m a n e i r a (περι,εχουσαν τον τύπον τούτον)”; literalmente,
q u e c o n t i n h a e s t a f o r m a . Aqui, o verbo é impessoal. A palavra correlata, περιοχή,

aparece apenas em At 8.32, traduzida como l u g a r , isto é, a passagem da Escritura,


seja o c o n t e ú d o da passagem, seja a seção do livro a b r a n g i d a ou d e s t a c a d a .

Eis que ponho etc. V id e Rm 9.33.

Preciosa. V id e nota sobre o versículo 4.

7. É preciosa (ή τιμή). Traduza como na tb : P a r a v ó s , p o r t a n t o , q u e c re d e s é h o n r a .

Assim também na teb e ecp.

Foi a principal da esquina (έγενήθη εις κεφαλήν γωνίας). Mais corretamente, “f o i


feita”. A preposição εις, p a r a , que transmite a ideia de v i n d a p a r a o lugar de honra, não
é traduzida na arc. Literalmente, s e r i a : f o i f e i t a o u t o m o u - s e a p r i n c i p a l etc.

9. Geração (γένος). Melhor, como na ara e teb, r a ç a : um grupo com uma vida e
origem em comum.

Nação (έθνος). Povo (λαός). A distinção entre essas três palavras não pode ser
expressa rigorosamente. R a ç a enfatiza a ideia de o r i g e m ; n a ç ã o , de c o m u n i d a d e .
Λαός, p o v o , que aparece muito frequentemente na l x x , é usada principalmente
a respeito dos israelitas, o povo escolhido. O mesmo uso também é frequente
no texto do Novo Testamento, mas empregado em um sentido mais genérico,
como em Lc 2.10. Parece que esta ideia, no entanto, em sua aplicação metafórica
e cristã, o I s r a e l e l e i t o de Deus, orientou a escolha da palavra por Pedro, uma vez
que ele acrescenta: o p o v o a d q u i r i d o .

Adquirido (εις περιποίησιν). Literalmente, u m p o v o p o r a q u is iç ã o . Na ara,


p o v o d e p r o p r ie d a d e e x c lu s iv a ; tb , o p o v o to d o se u ; nvi, p o v o e x c lu s iv o d e D e u s ; teb ,

558
1 P edro - C ap . 2

povo q u e D e u s c o n q u is t o u - , bj, A palavra aparece em lTs


p a r t i c u l a r p ro p rie d a d e .

5.9, traduzida como a q u i s i ç ã o (arc); Ef 1.14, p o s s e s s ã o d e D e u s (arc). V i d e Is


43.21 (lxx), onde aparece o verbo correlato: “Este povo que f o r m e i p a r a m i m
(περιεποιησάμην)”.

Anuncieis (εξαγγείλητε). Somente aqui no texto do Novo Testamento. P r o c l a ­


m e is , d i v u l g u e i s .

As virtudes (τάς άρετάς). Literalmente. Assim na bj, e x c e lê n c ia s . A teb lê: a l t o s


fe ito s . A palavra aparece em Is 43.21 (lxx, v i d e anteriormente), traduzida como
l o u v o r . V i d e também Is 42.12 (lxx), “anunciem o seu l o u v o r ( ά ρετάς) nas ilhas”.

10. Povo (λαός). nota sobre o versículo 9, e observe a escolha do termo aqui.
V id e

U m p o vo de D e u s. Compare com Rm 9.25-26.

11. Amados (αγαπητοί). Uma palavra predileta de Pedro, a qual aparece oito
vezes em suas epístolas. V i d e a expressão o s n o s s o s a m a d o s B a r n a b é e P a u l o , At
15.25, na carta enviada pelo conselho de Jerusalém aos cristãos gentios, uma
inclusão que, sem dúvida, veio de Pedro. Compare com o n o s s o a m a d o i r m ã o P a u l o ,
2Pe 3.15.

Peregrinos (παροίκους). Compare com 1.17, “o tempo da vossa p e r e g r i n a ç ã o


(παροικίας)”.

Que (αΐτινες). O pronome composto indica uma classe, d a q u e le tip o que,

classificando todos os desejos carnais em uma única categoria.

12. Viver. Na tb, p r o c e d i m e n t o . V id e nota sobre 1.15.

Naquilo (εν ω). Mais corretamente, em que, na matéria em que.

Falam mal (καταλαλούσιν). Compare com m u rm u ra ç õ e s , v. 1, e At 28.22.

M alfeitores (κακοποιών). A palavra aparece quatro vezes em Pedro, e


em nenhuma outra passagem do Novo Testamento, exceto Jo 18.30, onde os
sacerdotes a aplicam ao próprio Cristo.

Visitação (επισκοπής). A ideia original da palavra é a de o b s e r v a ç ã o ou in s p e ç ã o .


Consequentemente, επίσκοπος, u m s u p e r v i s o r ou b is p o . O termo v i s i t a ç ã o origina-se
naturalmente desse, como v i s i t a r e de v i s e r e , e x a m i n a r a t e n t a m e n t e . V i d e I n t r o d u ç ã o ,
sobre a ênfase de Pedro na visão; e compare com o b s e r v a r , neste versículo. O
“dia da visitação” é o dia da in s p e ç ã o . Sobre isso, Lumby afirma: “Quando Deus
inspecionará esses peregrinos, como um pastor inspeciona o seu rebanho, e se
tornará o s u p e r v i s o r ou b i s p o de suas almas” (v. 25).
559
1 P edro - Cap. 2

Que em vós observem (èTroirteúovra;). Usada apenas por Pedro, aqui e em


3.2. O substantivo correlato, Επόπτης, u m a t e s t e m u n h a o c u l a r , aparece apenas em
2Pe 1.16. É uma palavra técnica, e significa aquele que foi admitido ao mais alto
nível de iniciação nos Mistérios de Elêusis. Aqui, a palavra transmite a ideia de
t e s t e m u n h o p e s s o a l- , observar c o m o s s e u s p r ó p r i o s o l h o s .

IS. Sujeitai-vos (ΰποτάγητε). Na t e b , se d e s u b m is s o s . V id e Rm I3.1ss.

Ordenação humana (ανθρώπινη letíoei). Literalmente, a cada c ria ç ã o ou


i n s t i t u i ç ã o h u m a n a . Na ara e bj, i n s t i t u i ç ã o .

Rei. O imperador, intitulado re i pelos autores gregos.

14. Por ele. O rei, não o Senhor.

Enviados (πεμπομένοις). O particípio presente. No hábito de ser enviados:


enviados regularmente.

Castigo (Εκδίκησιν). Não suficientemente forte. Melhor, v in g a n ç a . Compare


com Lc 18.7; Rm 12.19.

Dos que fazem o bem (αγαθοποιών). Somente aqui no texto do Novo Testa­
mento.

15. Tapeis a boca (φιμοϋν). Uma palavra bastante descritiva, significando a m o r d a ç a r


ouf a z e r c a la r . Compare com lCo 9.9; lTm 5.18 . V i d e nota sobre Mt 22.12.

Ignorância (αγνωσίαν). No grego clássico, é uma ignorância que resulta de


não estar em contato com a pessoa ou coisa a ser conhecida. A palavra aparece em
uma única outra passagem do Novo Testamento, lCo 15.34. Aqui, não significa
f a l t a d e c o n h e c im e n t o , mas de e n t e n d im e n t o - , um estado de ignorância.

Dos homens loucos (των αφρόνων ανθρώπων). Do5 homens loucos; com o
artigo referindo-se aos que acabaram de ser mencionados, que falam contra eles
como malfeitores.

16. Tendo (Εχοντας). Literalmente, d e te n d o ou re te n d o .

Cobertura (Επικάλυμμα). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Literalmente, u m v é u . A ideia é a de usar a liberdade cristã como um disfarce
para a permissividade profana. Paulo usa o verbo correlato (Rm 4.7) a respeito
do encobrimento de pecados. Sobre o sentimento, compare com G1 5.13.

18. Servos (οίκΕται). Servos d o m é s t i c o s . Não é uma palavra comum no tex­


to do Novo Testamento, aparecendo apenas em três outras perícopes: Lc

560
1 P edro - C ap. 2

16.13; At 10.7; Rm 14.4. Alguns supõem que Pedro pretendia incluir os


homens libertados e outros dependentes da casa, ou que ele usa a palavra
com um propósito conciliador, apresentando o escravo em conexão mais
íntima com a família.

Humano (έπιεικέσιν). A tb traz: m o d e r a d o . Uma origem comum desta pa­


lavra é €Ϊκω, c e d e r . Daí o significado, m a n s o , s u b m i s s o , i n d u l g e n t e . Mas a deri­
vação correta é de €ίκός, r a z o á v e l , e a palavra indica, na verdade, a atitude de
n ã o s e r i n d e v i d a m e n t e r i g o r o s o . Como afirma Alford: “Nisto, não a rigidez do

direito legal, mas a consideração que um tem pelo outro, é a regra”. Compare
com Fp 4.5, onde, em lugar de m o d e r a ç ã o (το èiueiKèç), a arc traz e q u i d a d e .
De acordo com Aristóteles, a palavra está em contraste com ακριβοδίκαιος,
a l g u é m q u e ê j u s t o c o m e x a t i d ã o , como a l g u é m q u e s e s a t i s f a z c o m m e n o s d o q u e

lh e é d e v id o .

Mau (σκολιοις). Na kjv, r e b e ld e , ou i n t r a t á v e l . Literalmente, d e s o n e s t o , f a l s o , t r a ­


V i d e Lc 3.5. Pedro usa a palavra em At 2.40 { p e r v e r s o ); e Paulo, em Fp
p a c e iro .

2.15 { c o r r o m p i d o ) .

19. Consciência para com Deus (συνζίδησιν 9eoô). Na t b , c ô n s c i o d e D e u s .


A ideia não é de c o n s c i ê n c ia no sentido normal, mas o s e n t i d o c o n s c i e n t e d o
r e l a c i o n a m e n t o c o m D e u s , a sua c o n s c i ê n c ia d e D e u s . Assim, a pessoa sofre pa­

cientemente, não por um senso consciente de dever, mas por uma consciência
interior do seu relacionamento com Deus, como um filho, e com Cristo, como
um co-herdeiro, o que envolve o seu sofrimento com Ele, tanto quanto a sua
glorificação com Ele.

20. Q ue g l ó r i a (ποιον KÃéoç). Literalmente, q u e t i p o d e g l ó r i a . Esta pala­


vra para g l ó r i a não aparece em nenhuma outra passagem do Novo Testa­
mento.

Esbofeteados (κολαφιζόμ^νοι). V i d e Mt 26.67: golpearam com socos.


Toda a passagem, versículos 19-24, traz a marca das lembranças de Pedro
da cena dos últimos sofrimentos de Cristo { v i d e I n t r o d u ç ã o ) —os golpes dos
servos, o escárnio do sumo sacerdote, a submissão silenciosa de Jesus, a cruz,
as feridas.

21. Deixando (ύπολιμπάνων). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

Exemplo (υπογραμμόν). Somente nessa passagem. Uma palavra descritiva,


com significado de u m a c ó p ia apresentada pelos mestres de escrita para seus alu­
nos. Alguns a explicam como uma cópia de caracteres s o b r e o que o estudante
deve t r a ç a r as linhas.
561
1 P edro —Cap. 2

Sigais (έπακολουθησητε). Literalmente, s e g u i r s o b r e . O verbo composto indica


seguir r i g o r o s a m e n t e . De a u t o r e s e p i n t o r e s , a metáfora agora muda para um g u i a .

22. Achou (εύρέθη). Mais forte do que o simples termo e s t a v a , e indicando uma
falta de culpa que havia passado pelo teste do e s c r u t í n i o . Compare com Mt 26.60;
Jo 18.38; 19.4,6. A ausência de pecado em Cristo também suportou o teste da
intimidade de Pedro.

23. Injuriava Qem resposta] (άντελοιδόρει). Assim na kjv, que traduz o verbo
de forma completa; a arc não traz o acréscimo e m r e s p o s t a . Somente aqui no texto
do Novo Testamento.

Entregava-se (παρεδίδου). Mas isto confere uma força reflexiva ao verbo que
não tem paralelo. Os comentaristas dividem-se, alguns deles acrescentando s u a
c a u s a , com o a rv, à margem; outros, s e u j u í z a , e outros, s e u s o f e n s o r e s . Melhor, o m o ­

t i v o do protesto —os seus i n s u l t o s e o fe n s a s . Salmond traduz: m a s d e i x o u a e le etc.

Julga justam ente. Compare com s e m acepção de p e sso a s, 1.17.

24. Levando (άνήνεγκεν). V i d e nota sobre o versículo 5. Levou a té a cruz, como a


um altar, e ofereceu a si mesmo sobre ele.

O madeiro (ξύλοι>). Literalmente. Pedro usa a mesma palavra peculiar para a


cruz, At 5.30; 10.39.

M ortos (άπογενόμεηοι). A rigor, t e n d o m o r r i d o . Usada somente aqui no texto


do Novo Testamento. A tradução do verbo pode ser feita apenas de uma maneira
desajeitada, t e n d o n o s t o r n a d o m o r t o s p a r a o s p e c a d o s -, não nos t o r n a d o s e p a r a d o s dos
pecados, mas tendo d e i x a d o d e e x i s t i r no que diz respeito a eles. Compare com
Rm 4.18.

Feridas (μώλωπι). Literalmente, f e r i m e n t o . Somente aqui no texto do Novo


Testamento, significando uma m a r c a e n s a g u e n t a d a que surge de um golpe. A ecp
traz: chagas. Conforme Lumby: “Esta visão, temos certeza, ao ler esta passagem
descritiva, os olhos do apóstolo Pedro contemplaram no corpo de seu Mestre, e
a carne tão terrivelmente ferida fez com que a forma desfigurada parecesse, aos
seus olhos, como uma única ferida”.

25. Porque éreis como ovelhas desgarradas (ήτε γάρ ώς πρόβατα πλανώμενοι).
Isto é, como se entende comumente, éreis como ovelhas que se desgarram. Mas
é r e i s deveria ser construído com o particípio d e s g a r r a d a s , com o verbo e o particí-

pio juntos indicando uma ação ou condição h a b i t u a l . V i d e nota sobre Mc 12.24.

Bispo. V id e nota sobre o versículo 12.


562
1 P edro —C ap . 3

C a pítulo 3

1.Semelhantemente (ομοίως). Na bj, D a m e s m a m a n e ir a - , melhor, porque s e m e ­


no linguajar popular, tem, equivocadamente, o sentido de t a m b é m .
lh a n te m e n te ,

Pedro quer dizer de igual maneira com os s e r v o s (lPe 2.18).

Sede sujeitas (υποτάσσομεvoa). Literalmente, e s t a i e m s u je iç ã o , ou s u b m e t e i- v o s - ,


a mesma palavra que é usada com respeito à submissão dos servos (lPe 2.18).

Seja ganho (κερδηθήσοντοα). A palavra usada por Cristo, M t 18.15: “g a n h a s t e

a teu irmão”.

2. Considerando (έποπτεύσαντες). V id e nota sobre 2.12.

Vida. V id e nota sobre 1.15. Na t b , p r o c e d i m e n t o .

Em tem or (Iv φόβω). Literalmente.

S. No frisado (ψ,πλοκής). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Compare com


lTm 2.9. As mulheres romanas da época estavam acostumadas à ridícula extravagân­
cia nos adornos dos cabelos. Juvenal satiriza esses costumes. Ele diz:

A s serv a s vo ta rã o so b re o arranjo d o s ca b elo s c o m o s e e s tiv e s s e em risco um a


q u estã o d e rep u tação o u d e vid a, tã o g r a n d e é a p reocu p ação q u e ela tem na b usca da
form osura; ta n ta s são as fitas c o m q u e ela p ren d e o s cab elos, ta n to s são o s andares q u e
ela co n str ó i so b re a sua cabeça. E la é alta c o m o A n d rôm aca p ela fren te, p or trás é m ais
baixa. P en sarias q u e é o u tra p e sso a 5.

O cabelo era tingido, e preso com grampos caros e com redes de fios dourados.
As mulheres usavam cabelos postiços e perucas loiras.

Vestes (ενδύσεως). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A extrava­


gância feminina nas vestes, nos dias do império, atingira um nível alarmante.

4. Manso (πραέος). V id e nota sobre M t 5.5.

Precioso (πολυτελές). A palavra usada para descrever vestes caras, lTm 2.9.

5. Adornavam (έκόσμουν). Tempo imperfeito. E s ta v a m a c o s tu m a d a s a adornar.

6 . Espanto (πτόησιν). Na t b e ara , p e r t u r b a ç ã o . Compare com o verbo correlato,


πτοηθήτε, a s s u s t a r - s e , Lc 21.9; 24.37; v i d e nota sobre essa passagem. A palavra
significa u m s u s t o , ou e x c it a ç ã o n e r v o s a .

5. Juvenal, Satire, vi.


563
1 P edro - C ap. 3

7. Com entendimento. Com um reconhecimento inteligente da natureza da


relação do casamento.

Dando (άττονέμοντ€ς). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A palavra


significa, literalmente, d i s t r i b u i r , e é apropriada para o marido como c o n t r o l a d o r
do que deve ser distribuído à esposa.

A mulher (χω γυναικείω). Contudo, não um substantivo, como pode parecer pela
tradução comum, mas um adjetivo, concordando com OKeúet, v a s o , como também com
άσθβ^στέρω, m a i s f r o m . Ambas são atributos de v a s a , o v a s o f e m i n i n o c o m o m a i s f r a c o .

Vaso (oKeúei). Compare com lTs 4.4. A ideia original de v a s o , que é formada
a partir da palavra latina v a s e l l u m , o diminutivo de v a s , um v a s o , é a do receptá­
culo que contém ou cobre algo; o recipiente ou a tampa protetora. Portanto, está
conectada, etimologicamente, com v e s t e , v e s t i m e n t a , e v e s t i r . E usada no texto do
Novo Testamento: (l) com o sentido de um c á lic e ou p r a t o (Lc 8.16; Jo 19.29; 2Tm
2.20; Ap 2.27; 18.12). (2) Sobre o homem, como contendo a força divina, ou como
um sujeito da misericórdia ou da ira divina; e, consequentemente, tornando-se
um instrumento divino. Deste modo, Paulo é um v a s o e s c o lh id o para levar o nome
â 1
de Deus (At 9.15). Vasos d a i r a (Rm 9.22); d e m i s e r i c ó r d i a (Rm 9.23). Também so-
bre a mulher, como um instrumento de Deus, juntamente com o homem, para o
seu serviço na família e na sociedade. (3) Coletivamente, no plural, sobre todos os
implementos de qualquer administração particular, como uma casa ou um barco.
Mt 12.29, b e n s ; At 27.17, o p a r a r ou m o v i m e n t a r de um barco.

Impedidas (έγκόπτεσθαι). A te b lê: e s t o r v e . Assim nos melhores textos, e


segundo a maioria dos comentaristas. A palavra significa, literalmente, c r a v a r ,
f a z e r u m a i n c i s ã o e m , e, consequentemente, de modo geral, i m p e d i r ou f r u s t r a r

(G1 5.7; lTs 2.18). Contudo, alguns interpretam como έκκόπτ^σθαι, e x t i r p a r o u


d e s t r u i r . A bj lê: s e m r e s p o s t a ; e a a ra : i n t e r r o m p a m .

8. De um mesmo sentimento (όμόφρον^ς). Na ecp , t e n d e s t o d o s u m s ó c o ra ç ã o e


um a s ó a l m a . Somente aqui no texto do Novo Testamento. Compare com Rm

12.16; 15.5; Fp 2.2 etc. Indicando unidade de pensamento e sentimento. De ομός,


u m s ó e o m e s m o , e φρήη, a m e n t e .

Compassivos (συμπαθές). Somente aqui no texto do Novo Testamento, em­


bora o verbo correlato seja encontrado em Hb 4.15; 10.34. Intercâmbio do senti­
mento de fraternidade, com alegria ou tristeza. Nosso uso popular equivoca-se,
ao limitar a s o l i d a r i e d a d e à tristeza.

Amando os irmaõs (φιλάδίλφοι). Na tb , a rigor, a m a n d o c o m o irm ã o s ; e na bj,


Somente aqui no texto do Novo Testamento.
a m o rfra te rn o .

564
1 P ed ro - C ap. 3

Misericordiosos (εύσπλαγχνοι). Somente aqui e em Ef 4.32. De eu, b e m , e


σπλάγχνο:, a s m a i s n o b r e s e n t r a n h a s , que são consideradas como a sede dos
sentimentos, e, por consequência, equivalentes ao nosso uso popular de c o ra ç ã o .
O sentido original gerou a inadequada tradução i n t e s t i n o s , na k jv , que aparece em
seu sentido literal apenas em At 1.18.

Afáveis. A arc segue aqui a leitura do t r , φιλόφρονες. Mas os melhores textos


trazem ταπε ινόφρονες, h u m i l d e s . Assim na t b . Esta palavra não aparece em
nenhuma outra passagem do Novo Testamento, embora o substantivo correlato,
ταπεινοφροσύνη, h u m i l d a d e , seja encontrado frequentemente. V i d e nota sobre
ταπεινός, h u m i l d e , Mt 11.29.

9. Tomando mal e tc . V id e R m 1 2 .1 7 .

Bendizendo (εύλογοϋντες). Na k jv , b ê nção-, porém, não é um substantivo regido


por t o r n a n d o , mas um particípio. Não tornando mal por mal, mas a b e n ç o a n d o , à
semelhança da a r c .

10. Quer amar (θελων αγαπάν). Aquele que d e s e ja ou te m a in te n ç ã o d e a m a r . Na


ecp , q u i s e r a m a r .

11. Aparte-se (εκκλινάτω). A palavra grega usada aqui aparece apenas em duas
outras passagens (Rm 3.12; 16.17). Ela é composta de εκ, f o r a d e , e κ λ ί ν ω , f a z e r
c u r v a r ou i n c l i n a r , de modo que a imagem transmitida pela palavra é de c u r v a r - s e d e

la d o , desviando-se do seu curso n a s proximidade do mal. Na t e b , d e s v i a r - s e d o .

13. Zelosos (μιμηταί). Literalmente, i m i t a d o r e s . Mas os melhores textos trazem


ζηλωτα'ι, z e l o t e s . Assim na t b , d i l i g e n t e s .

14. Bem-aventurados. V id e nota sobre Mt 5.3.

Turbeis (ταραχθήτε). A palavra usada a respeito da perturbação de Herodes


(Mt 2.3); da agitação no tanque de Betesda (Jo 5.4); da aflição enfrentada pelo
Senhor Jesus Cristo (Jo 12.27).

15. Santificai a Cristo, como Senhor. A acf segue o t r , lendo τον Θεόν, D e u s ,
em vez de τον Χρι.στόν, C r i s t o , que é a leitura dos melhores textos. O artigo
ligado a C r i s t o mostra que κύριον, S e n h o r , deve ser interpretado de forma predi-
cativa. Portanto, traduza como a arc , s a n t i f i c a i a C r i s t o (o Cristo) c o m o S e n h o r .

Preparados para responder (έτοιμοι προς απολογίαν). Literalmente,


p re p a ra d o s p a ra u m a r e s p o s t a . R e s p o s t a , no texto grego, corresponde à nossa

palavra a p o l o g i a , no sentido mais radical de d e fe s a . Assim é a tradução em 2Co


7 .1 1 -, d e f e s a , At 2 2 .1 ; Fp 1 .7 ,1 6 .

565
1 P edro - C ap . 3

Mansidão. V id e nota sobre Mt 5.5.

16. Tendo uma boa consciência (συνείδησιν έχοντας αγαθήν). A posição do


adjetivo mostra que ele é usado como predicado: t e n d o u m a c o n s c i ê n c ia b o a ou
i n t a c t a . Compare com Hb 13.18, “Temos b o a c o n s c i ê n c ia (καλήν συνέίδησιν)”.

Συνείδησις, c o n s c i ê n c ia , não aparece nos Evangelhos, a menos que a passagem


de Jo 8.1-11 seja admitida no texto. Tampouco é uma palavra familiar ao
grego clássico. Ela é composta de σύν, j u n t a m e n t e c o m , e eiôévai, s a b e r , e a
sua ideia fundamental é s a b e r c o n s i g o m e s m o . Consequentemente, denota a
consciência que uma pessoa tem, dentro de si mesma, de sua própria conduta,
no que diz respeito à obrigação moral; essa consciência exerce uma função
judicial, determinando o que é certo ou errado, aprovando ou condenando,
motivando ao desempenho ou à abstinência. Por essa razão, não é apenas a
consciência intelectual dirigida ao comportamento, mas a consciência moral
contemplando o d e v e r , atestando a obrigação moral, mesmo onde Deus não
é conhecido; e, onde há conhecimento de Deus e familiaridade com Ele, a
pessoa torna-se inspirada e orientada por esse fato. Uma pessoa não pode ter
consciência de si mesma sem se conhecer como uma criatura m o r a l . Cremer,
adequadamente, define a palavra como “a consciência que o homem tem de si
mesmo, em seu relacionamento com Deus, manifestando-se sob a forma de um
autotestemunho, o resultado da ação do espírito no coração”. E acrescenta:
“a consciência é, essencialmente, a determinação da autoconsciência pelo
espírito como o princípio essencial da vida. Na consciência, o homem fica
face a face consigo mesmo”. Portanto, a consciência é uma l e i . Desta forma,
diz o bispo Butler:

A c o n sc iê n c ia n à o so m e n te s e o fe r e c e para n o s m o s tr a r o c a m in h o e m q u e d e v e m o s
andar, m as, d e ig u a l m an eira, tr a z c o n s ig o a su a p róp ria a u to rid a d e, q u e é o n o s s o
g u ia n a tu ra l, o g u ia q u e n o s é d e s ig n a d o p e lo A u to r da n o s s a n atu reza; lo g o , e la
p e r te n c e à n o ss a c o n d iç ã o d e ser; é n o s s o d e v e r a n d ar n e s s e c a m in h o e se g u ir e ss a
o rien tação.

E novamente:

E s s e p r in c íp io p e lo q u a l e x a m in a m o s e a p r o v a m o s o u r e p r o v a m o s n o s s o p r ó p r io
c o r a ç ã o , n o s s o te m p e r a m e n to , e n o s s o s a to s, n ã o s o m e n te d e v e s e r c o n s id e r a d o
p e lo q u e é, c o m o te n d o a lg u m a in flu ê n c ia , o q u e p o d e se r d it o d e ca d a p a ix ã o ,
d o s m a is in fe r io r e s a p e tite s, m a s c o m o s e n d o su p e r io r , um a v e z q u e a su a p róp ria
n a tu r e z a d e c la r a su p e r io r id a d e s o b r e to d a s a s o u tr a s; d e m o d o q u e n ã o é p o s s ív e l
te r u m a n o ç ã o d e s ta fa cu ld a d e, a c o n s c iê n c ia , se m in c lu ir o juízo, a orientação,
a superintendência. I s to é u m a p a r te c o n s t itu in te da id eia , is t o é, da fa c u ld a d e
p r o p r ia m e n te d ita , e p r e sid ir e g o v e r n a r , p e la p ró p ria c o n s titu iç ã o d o h o m e m ,

566
1 P edro - C ap. 3

pertence a ela. Se tivesse a força como tem o direito, se tivesse poder como tem
autoridade manifesta, governaria o mundo0.

A consciência é uma faculdade. A mente pode, segundo McCosh,

possuir razão e distinguir entre o verdadeiro e o falso, e ainda assim ser incapaz
de distinguir a virtude do vício. Portanto, nós podemos afirmar que a definição de
distinções morais não é compreendida pelo simples exercício da razão. A consciência
é, em resumo, uma faculdade mental diferente do mero entendimento. Nós devemos
considerá-la simples e insolúvel até que consigamos decompô-la em seus elementos.
Na ausência de tal decomposição, afirmamos que não existem elementos mais simples
na mente humana que nos forneçam as idéias do que é moralmente bom e mau, de
obrigação moral e culpa, de mérito e demérito. Componha e decomponha todas as
outras idéias como quiser, associe-as da maneira como desejar, mas elas nunca nos
darão as idéias mencionadas, tão peculiares e tão cheias de significado, sem uma
faculdade implantada na mente com este exato propósito7.

A consciência é um sentimento: isto é, ela contém e sugere emoções conscientes


que se originam do discernimento de um objeto como sendo bom ou mau. O
juízo formado pela consciência desperta a sensibilidade. Quando a faculdade
judicial declara que uma coisa é adorável, desperta amor. Quando declara que
é nobre ou honorável, desperta respeito e admiração. Quando declara que é
cruel ou infame, desperta desgosto e repugnância. Nas Escrituras, devemos
considerar a consciência, como observa o bispo Ellicott, não em sua natureza
abstrata, mas em suas manifestações práticas. Consequentemente, ela pode ser
fraca (lCo 8.7,12), sem autoridade, e despertando apenas a mais débil emoção.
Ela pode ser má ou contaminada (Hb 10.22; T t 1.15), pela consciência dos maus
atos. Ela pode ser cauterizada (lT m 4.2), marcada pelo seu próprio testemunho
de maus atos, endurecida e insensibilizada aos apelos do bem. Por outro lado,
ela pode ser pura (2Tm 1.3), desvelada, e fornecendo testemunho moral claro e
honesto. Ela pode ser sem ofensa (At 24.16), sem consciência de más intenções
ou maus atos; boa, como aqui, ou honrada (Hb 13.18). A expressão e a ideia,
no sentido plenamente cristão, são estranhas ao Antigo Testamento, onde o
testemunho do caráter de ação moral é dado por revelação externa, e não pela
consciência moral interna.

Blasfemam (έπηρ€αζοντ6ς). Compare com Lc 6.28; a única outra passagem


onde esta palavra aparece, Mt 5.44, é rejeitada pelos melhores textos. A palavra
significa maltratar, agir deforma maldosa. Na tb , vituperam.

6. B u tle r, S e r m o n s II. e III., On H u m an Nature.


7. M c C o s h , D ivine Government, P hysical and Moral.

567
1 P edro - C ap . 3

17. Se a vontade de Deus assim o quer (el θέλοι το θέλημα του θεοΰ).
Traduzindo mais literalmente, a arc preserva o jogo de palavras com vontade
e querer.

18. O justo pelos injustos. Mas a expressão grega sem o artigo é mais vivida:
justo por injustos.

Na carne. O texto grego omite o artigo. Leia em carne, a forma material


assumida em sua encarnação.

Pelo Espírito. Também sem o artigo, em espírita, não como na , pelo Espírito,
a k c

indicando o Espírito Santo, mas referindo-se à sua vida espiritual e não corpórea.
A ecp traduz: ao espírito, e a ara : no espírito. As palavras conectam-se com o grito
de morte na cruz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. Huther observa:

A carne é aquele lado da existência do homem segundo o qual ele pertence à terra,
sendo, por essa razão, uma criatura da terra, e consequentemente perecível, como tudo
o que é da terra. O espírito, em contrapartida, é aquele lado da sua existência segundo
o qual ele pertence à esfera celestial de existência, e, por essa razão, não é meramente
uma criatura da terra, e está destinado a uma existência imortal.

Assim, devemos ter cuidado e não interpretar espírito aqui como o Espírito
de Deus, distinto da carne de Cristo, mas como a natureza espiritual de Cristo.
Segundo Cook, “a mais elevada natureza espiritual que pertencia à integridade
de sua humanidade”.

19. No qual (4u ω). Corretamente traduzido: na forma espiritual de vida; no


espírito desligado do corpo.

Foi e pregou (tTopeuGeiç έκήρυξβ/). A palavra foi, empregada de modo usual


como um ato pessoal·, e pregou, em seu sentido neotestamentário comum, de
proclamar o evangelho.

Aos espíritos (in/eúpaoiv). Como em Hb 12.23, sobre espíritos desligados


do corpo, embora a palavra ψυχα'ι, almas, seja usada em outras passagens
(Ap 6.9; 20.4).

Em prisão (έυ φυλακή). As autoridades divergem; algumas explicam esta


frase de acordo com 2Pe 2.4; Jd 6; Ap 20.7, como a morada final dos perdidos.
Excetuando a última passagem, a palavra não aparece em nenhuma outra parte
do Novo Testamento em um sentido metafórico. Ela é frequentemente traduzida
como vigília (Mt 14.25; Lc 2.8); abrigo e refúgio (Ap 18.2). Outros a explicam
como Hades, ou o inferno, o reino dos mortos, de modo geral.
568
1 P edro - Cap. 3

20. Na qual (είς ήν). Literalmente, d e n tr o d a q u a l. Uma construção sugestiva:


d e n tr o d a q u a l se reuniram, e n a q u a l foram salvos.

Pela água (διά). Na t b , a tr a v é s d a s á g u a s , ou, mais corretamente, p o r m eio ,


como na bj. Alguns interpretam esta expressão como instrumental, p o r m e io d a
água-, outros, como local, p a s s a n d o p e l a água, ou sendo conduzidos a salvo pela
água, dentro da arca.

21. Como uma verdadeira figura. A k jv , a f i g u r a s e m e lh a n te a q u e , segue uma


leitura rejeitada, ω, a q u e, de modo que a tradução literal seria o a n t í t i p o a o
q u a l. Leia S άντίτυπον, q u e , o a n t í t i p o ou c o m o u m a n t í t i p o , isto é, que a á g u a ,
sendo o antítipo daquela água do dilúvio, agora vos salva, o batismo. Na b j ,
a q u i l o q u e lh e c o r r e s p o n d e é. ’Αντίτυπο v , f i g u r a , ou antítipo, deriva de άντί,
c o n tr a , e τΰπος, u m g o lp e . Portanto, originalmente, r e p e l i r u m g o lp e·, um golpe
contra um golpe; um contragolpe. Também sobre um ec o ou sobre o r e fle x o
da luz; então, uma c o r r e s p o n d ê n c ia , como de um selo para a cera, como aqui.
A palavra aparece apenas em uma única outra passagem, Hb 9.24: “f i g u r a do
verdadeiro”.

Despojamento (άπόθεσις). Peculiar a Pedro. Aparece apenas aqui e em 2Pe


1 .1 4 .

Imundícia (ρύπου). Somente aqui no texto do Novo Testamento. No grego


clássico, significa especialmente sujeira seca, como sobre a pessoa.

Indagação (επφώτημα). Somente aqui no texto do Novo Testamento. No grego


clássico, a palavra significa uma p e r g u n t a , e nada além disso. O significado aqui
é muito discutido, e dificilmente pode ser determinado de maneira satisfatória.
A tradução in d a g a ç ã o não tem confirmação. O significado parece ser, segundo
Alford, “a busca que uma consciência boa e pura faz de Deus, que é o objetivo e a
finalidade da vida batismal cristã”. Assim, Lange:

O que é pedido pode ser concebido da seguinte maneira: “Como me livrarei de uma má
consciência? Tu, Deus santíssimo, poderás me aceitar outra vez, a mim, um pecador?
Senhor Jesus, tu me concederás a comunhão de tua morte e vida? Tu, ó Espírito Santo,
me assegurarás da graça e da adoção, e habitarás em meu coração?” A estas perguntas,
o Jeová triuno responde no batismo: “Sim!” Aqui é lançada a sólida fundação para uma
boa consciência. A consciência não somente é purificada de sua culpa, mas recebe novo
poder vital por meio da ressurreição de Jesus Cristo.

Este é o sentido de επφωτάν εις, na única passagem em que aparece nas


Escrituras, 2 Sm 11.7 ( l x x ): “ P e r g u n to u Davi como ficava Joabe (επφώτησεν f ίς
ειρήνην Ίωάβ)”. Literalmente, c o m r e fe rê n c ia à p a z d e J o a b e .
569
1 P edro - C ap. 4

22. Tendo subido ao céu. Talvez com a cena da ascensão na mente de Pedro.

Capítulo 4

1. Armai-vos (όπλίσασθε). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A ideia


é paulina. Vide Rm 13.12; 2Co 6.7; Ef 6.10,17; lTs 5.8; Co 3.12.

Pensamento (ewoiav). Somente aqui e em Hb 4.12. Pensamento é o significado


literal, e assim alguns o traduzem aqui. A bj, teb e ep dizem: convicção. As
traduções intenção, resolução suscitam muitas dúvidas. Parece, na verdade, ser o
pensamento que determina a resolução. Como Cristo sofreu na carne, também vós
deveis estar dispostos a sofrer na carne.

2. Vivais (βιώσαι). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

No tempo que vos resta (έπίλοιπον). Somente aqui no texto do Novo Testa­
mento.

3. No tempo passado etc. Compare com Rm 13.13.

Da vida (τοΰ βίου). Os melhores textos omitem. Assim na tb , teb e bj.

CNÓs] fi zéssemos (ήμιν). Os melhores textos omitem o pronome, que a arc

traz implícito no verbo.

Vontade (βούλημα, a melhor leitura para θέλημα). Desejo, inclinação. Vide nota
sobre Mt 1.19.

Andando (ττ€πορ€υμένους). A rigor, vós andáveis. Faça a construção com tivésseis


realizado. O tempo passado pode ser suficiente para que vós tivésseis realizado
a vontade etc., andando como andáveis·, o particípio perfeito com uma referência
dedutiva a respeito de um curso de vida agora concluído.

Dissoluções (άσ6λγ€ίαις). A lista de vícios a seguir é característica do estilo de


Pedro, em sua abrangência e condensação. Ele lista seis formas de sensualidade,
três pessoais e três sociais: (1) Άσελγείαις, dissoluções. Vide nota sobre Mc 7.22.
Excessos de todos os tipos, com possível ênfase nos pecados de impureza. (2)
Έπιθυμίαις, concupiscências. Vide nota sobre Mc 4.19. Apontando, em particular,
para desejos carnais, “os princípios internos da imoralidade sexual”, segundo Cook.
(3) Ο’ινοφλυγίαις, excesso de vinho. Somente aqui no texto do Novo Testamento.
O verbo correlato aparece na lxx, D t 21.20; Is 56.12. De οίνος, vinho, e φλέω ou
φλύω, despejar com abundância-, consequentemente^rwrou borbulhar, transbordar.
É o desejo excessivo, insaciável de beber, de que se origina o uso da palavra para
570
1 P edro - C ap. 4

a indulgência do desejo — perverter. Os três vícios remanescentes são glutonarias,


bebedices e idolatrias.

G lutonarias (κώμοις). A palavra originalmente significa apenas um festejo,


muito provavelmente uma festividade em uma aldeia, de κώμη, uma aldeia.
Nas cidades, estas diversões convertiam-se em festividades com grande con­
sumo de bebidas fortes, em que o grupo dos que festejavam desfilava pelas
ruas com tochas, cantando, dançando, e com brincadeiras de todos os tipos.
Eles também observavam adorações religiosas, em particular de Baco, De-
métrio e do Zeus Idaeano, em Creta. Os ritos fanáticos e as orgias do Egito,
da Ásia Menor e da Trácia foram enxertados na religião antiga. Sócrates
descreve-se como tendo descido a Pireu para ver a celebração da festa de
Bendis, a Ártemis da Trácia (Diana), e como tendo sido informado, por um
de seus companheiros, de que, à noite, haveria uma corrida de tochas com
cavalos, em honra à deusa8. Os ritos tornavam-se cada vez mais furiosos e
empolgados. Conforme registra Grote:

Multidões de mulheres, vestidas com peles de corças e trazendo o tirso santificado


(um bordão adornado com folhas de vinha) dirigiam-se aos desertos de Parnasso, Ki-
thaeron, ou Taígeto, durante o período consagrado, a cada três anos, e entregavam-se
a demonstrações de frenética excitação, com danças e clamorosas invocações do deus.
Dizia-se que elas rasgavam os animais, membro a membro, para devorar a carne crua,
e que se cortavam sem sentir as feridas. Os homens rendiam-se a um impulso similar,
com ruidosas comemorações pelas ruas, tocando címbalos e tamborins, e carregando
em procissão a imagem do deus9.

Em sua introdução, Pedro dirige-se aos estrangeiros na Galácia, onde a adora­


ção frigia de Cibele, a grande mãe dos deuses, era predominante, com suas orgias
selvagens e mutilações hediondas. Lucrécio descreve os ritos desta maneira:

Com mãos vigorosas tocam o clamoroso tambor,


E despertam o som do címbalo; a trombeta de som áspero
Derrama a sua música ameaçadora, e a flauta,
Com melodias frigias, distrai a mente enlouquecida,
Enquanto braços de sangue influenciam os entusiastas e violentos
A combater as multidões de injustos, e curvar profundamente
Suas ímpias almas diante do poder divino.
Assim o pomposo ídolo percorre as ruas,
Distribuindo bênçãos mudas, enquanto os devotos

8. Sócrates, The Republic, introdução.


9. Grote, H istory o f Greece.

571
1 P ed ro - C a p. 4

A tira m , e m re trib u iç ã o , s u a p r a ta e se u b ro n z e ,

E n c h e n d o as ru a s co m p r e s e n te s , e o fu sc a m

A f o r m a c e le s tia l; e t o d o s o s q u e c o m p õ e m o c o r t e j o ,

C o m d o c e s p e rfu m e s d e ro sa s , a r ra n c a d a s e m p ro fu sã o ,

U m g r u p o s e l e t o d i a n t e d e le s , c h a m a d o s p e lo s g r e g o s

C u r e t e s , n a s c i d o s d e p a is f r íg io s ,

D iv e r te m -s e c o m f a n tá s tic a s c o r re n te s , n a u n ifo rm e d a n ç a ,

C o n to rc e n d o -s e fu rio s a m e n te , e n fe itiç a d o s p o r s a n g u e h u m a n o ,

E a g i t a n d o , e n l o u q u e c i d o s , o s s e u s t r e m e n d o s p e n a c h o s ln.

Bebedices (πότοις). Literalmente, sessões de bebedeira.

Abomináveis (άθεμίτοις). Somente aqui, e também usada por Pedro em At


10.28. Mais literalmente, ilícitas, enfatizando as idolatrias como infrações à lei di­
vina.

4. Não correrdes com eles. “Em um bando”, conforme Bengel; como um grupo
de bêbados. Vide nota anteriormente. Compare com a descrição de Ovídio dos
ritos de Baco:

E is q u e v e m B a co ! e c o m o s g r i t o s f e s tiv o s

E c o a m o s ca m p o s; e m is tu r a d o s e m u m a co n fu são ,

H o m e n s , m a tro n a s , d o n z e la s , m e n d ig o s e n o b r e s o rg u lh o s o s

D irig e m -s e j u n to s a o s r ito s m is te r io s o s " .

Desenfreamento (άνάχυσιν). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Literalmente, derramamento. A tb traz excesso, enquanto a ep, mais corretamen­
te, torrente. A palavra é usada no grego clássico sobre as marés que ocupam os
espaços.

Dissolução (άσωτίας). De ά, não, e σώζω, economizar. Literalmente, desper­


dício, prodigalidade, esbanjamento; e, consequentemente, refere-se à dissipação
em apetites degradantes, de onde assume o sentido de dissolução ou libertinagem.
Em Lc 15.13, é usado o advérbio correlato, άσώτως. O filho pródigo é descrito
como desperdiçando a sua fazenda, a que se acrescenta: vivendo dissolutamente (ζών
άσώτως). Compare com Ef 5.18; T t 1.6.

5. Que está preparado (έτοίμως «χοντι). Literalmente, tendo a si mesmo em pron­


tidão-, ali, à destra de Deus, no céu, para onde Ele foi (lPe 3.22). Sugerindo, tam­
bém, um juízo próximo. Compare com o versículo 7.

10. Lucrécio, De Rerum Natura, ii, 618-681.


11. Ovídio, Metamorphoses, iii., 528-580.

572
1 P ed ro - C ap. 4

7. Está próximo (ήγγικεν). Literalmente, é chegado. A palavra que é


constantemente usada a respeito da vinda de Cristo e do seu reino. Vide Mt 8.2;
Mc 1.15; Lc 10.9; Hb 10.25.

Sede sóbrios (σωφρονήσατε). A palavra deriva de σώς, sadia, e φρήν, mente.


Compare com Mc 5.15. Na tb , prudentes.

Vigiai (νήψατε). Vide nota sobre 1.13. A arc acompanha a vulgata, vigilate
[vigiai). A tradução da tb é melhor: sóbrios. A bj traz: sobriedade.

Em oração (είς προσευχάς). Literalmente, orações. O plural é usado


propositadamente: orações de todos os tipos, privativas ou públicas. Compare
com Ef 6.18, “com toda oração... e vigiando nisso”.

8. Ardente (εκτενή). Vide nota sobre o advérbio correlato, ardentemente, 1.22.

O amor cobrirá etc. Compare com T g 5.20; Pv 10 . 1 2 .

9. Sendo hospitaleiros. Compare com Rm 13.13.

10.0 dom (χάρισμα). Originalmente, algo dado livremente·, um dom de graça (χάρις).
Usada no texto do Novo Testamento: (l) sobre uma bênção de Deus graciosamente
concedida, como sobre os pecadores (Rm 5.15-16; 11.29); (2) sobre um dom divino e
gracioso, um dom extraordinário do Espírito Santo, residindo e trabalhando de um
m odo especial no indivíduo ( lTm 4.14; 2Tm 1.6; Rm 12.6,8). Também aqui.

Multiforme. Vide nota sobre 1.6.

11. Palavras (λόγια). No grego clássico, refere-se às respostas das divindades


pagãs em forma de oráculos. Aqui, a declarações ou revelações divinas. Compare
com At 7.38; Rm 3.2; Hb 5.12.

Dá (χορηγεί). Somente aqui e em 2 C0 9.10. Pedro usa a palavra composta


επιχορr\ykw, fornecer, em 2Pe 1.5; veja nota sobre essa passagem.

12. Não estranheis (μή ξενίζεσθε), isto é, divergente de vós e de vossa condição
como cristãos. Compare com 5.4.

Ardente prova (πυρώσει). A palavra significa combustão. A bj traduz: o incêndio-,


e a teb :fornalha. Em Pv 27.21 (lxx ), ela é traduzida por forno. Em SI 65 (lxx ), 66
(arc ), lem os: “Pois tu, ó Deus, nos provaste; tu nos afinaste como se afina a prata”
(v. 10). Compare com Zc 13.9.

Que vem sobre vós, para vos tentar (ύμΐν γινόμενη). Na kjv, que está para vos
tentar, o que faz da tentação algo do futuro e constitui uma tradução equivocada
573
1 P edro - C ap. 4

do particípio presente grego, q u e e s t á t o m a n d o l u g a r . Portanto, este particípio


representa a tentação como e m a n d a m e n t o . A arc não transmite esta força por
sua tradução.

Para vos tentar (ττρός πειρασμόν). Literalmente, c o m o te n ta ç ã o ou teste.

Coisa estranha (ξένον). Compare com n ã o e s tra n h e is , anteriormente.

Acontecesse (συμβαίνοντος). Novamente, o particípio presente. Melhor,


talvez, e s t iv e s s e a c o n te c e n d o - , por acaso, em vez do propósito definido indicado por
“acontecendo c o m o o b j e t i v o d e t e s t e ” . V i d e anteriormente.

13. No fato de serdes participantes. Compare com Rm 8.17.

Vos regozijeis e alegreis (χαρήτε άγαλλιώμενοι). Literalmente, p o s s a is te r

r e g o z i j o e a l e g r i a . V i d e nota sobre 1.6.

14. Repousa (αναπαύεται). Compare com Is 11.2; Lc 10.6; Nm 11.25-26; Mc


6.31; Mt 26.45; Ap 14.13. Também Mt 11.28, onde a palavra é usada na voz
ativa, a l i v i a r ou revigorar.

O Espírito da glória de Deus (το τής δόξης και το του θεού πνεύμα).
Literalmente, ο E s p í r i t o d a g l ó r i a e d e D e u s . A repetição do artigo identifica o
Espírito de Deus com o Espírito de glória: o Espírito de glória, e , p o r t a n t o , o Espírito
de Deus, que não é outro senão o Espírito do próprio Deus. Consequentemente,
na TB, melhor, o E s p í r i t o d a g l ó r i a e d e D e u s - , ou ainda, como na n v i , teb e bj, o

E s p ír it o de g ló ria , o E s p í r it o de D e u s.

15. Como o que se entrem ete em negócios alheios (άλλοτριεπίσκοπος).


Somente aqui no texto do Novo Testamento. Literalmente, o s u p e r v i s o r d o s
a s s u n t o s d e o u t r a p e s s o a . Alguém que usurpa autoridade em assuntos que não são

de sua alçada. Compare com Lc 12.13-14; lTs 4.11; 2Ts 3.1 1. A palavra pode
referir-se à interferência intrusa dos cristãos nos assuntos de seus vizinhos
gentios, por excesso de zelo, para colocá-los em conformidade com o padrão
cristão.

16. Cristão. Ocorre somente três vezes no texto do Novo Testamento, e jamais
como um nome usado pelos próprios cristãos, mas como um apelido ou uma
palavra de reprovação. V i d e nota sobre At 11.26. Portanto, a ideia de Pedro é: se
alguém sofrer devido à ofensa daqueles que, desdenhosamente, o chamam c r i s t ã o .

19. Encomendem-lhe (παρατιθεσθωσαν). Entregar em responsabilidade como


um depósito. Compare com Lc 12.48; At 20.32; lTm 1.18. A palavra é usada por
Cristo, ao entregar o seu espírito a Deus (Lc 23.46).
574
1 P edro - C ap. 5

Fazendo o bem (άγαθοποίΐα). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Compare com 2 . 1 4 . A entrega a Deus deve ser combinada com a prática ativa
do bem.

C a p ít u l o 5

1. Também presbítero (συμπρεσβύτερος). Somente aqui no texto do Novo


Testamento. Melhor, p r e s b í t e r o c o m e le s . A expressão é decisiva contra a primazia
de Pedro. Em outras versões brasileiras, a n c iã o .

Testem unha (μάρτυς). A palavra é usada no texto do Novo Testamento para


indicar: (l) um e s p e c t a d o r ou t e s t e m u n h a o c u l a r (At 10.39; 6.13). (l) Aquele que
t e s t i f i c a o que viu (At 1.8; 5.32). (3) Em um sentido judicial, uma t e s t e m u n h a n o

t r i b u n a l (Mt 26.65; Mc 14.63). (4) Alguém que justifica o seu testemunho pelo

sofrimento: um m á r t i r (At 22.20; Hb 12.1; Ap 2.13; 17.6). Os três primeiros


significados colidem entre si. A testemunha ocular, como um espectador, sempre o
será, com o objetivo de dar testemunho. Portanto, esta expressão usada por Pedro
não pode limitar-se ao mero fato de ele ter v i s t o o que pregava, particularmente
porque, quando deseja enfatizar este fato, emprega outra palavra, επόπτης (2Pe
1.16). Por isso, ele refere-se a si mesmo como uma testemunha, especialmente no
sentido de ser convocado a testificar o que viu.

Participante (κοινωνός). Este uso da palavra, expressando uma percepção


atual de algo que ainda não se alcançou, não é feito por nenhum outro autor do
Novo Testamento. V i d e nota sobre 2Pe 1.4.

2. Apascentai (ποιμάνατε). Melhor, como na uma vez que o verbo


tb , p a s t o r e a i ,
indica tudo o que está incluído no trabalho de um pastor - guiar, vigiar, recolher
ao curral, tanto quanto apascentar ou dar de comer, o que posteriormente é
expresso por βόσκω. Existe, sem dúvida, uma reminiscência à palavra que Cristo
emprega na incumbência dada a Pedro (Jo 21.15-17). Nessa passagem, são
usadas as duas palavras: “ A p a s c e n t a (βόσκε) os meus cordeiros” (v. 15); “p a s t o r e i a
(ποίμαινε) as minhas ovelhas” (v. 16, ara); “ a p a s c e n t a (βόσκε) as minhas ovelhas” (v.
17). A arc ignora a distinção, traduzindo todas as três palavras como a p a s c e n t a r .
Bengel observa, apropriadamente: “Apascentar é uma parte do pastorear”. V i d e
nota sobre Mt 2.6.

Tendo cuidado. Os melhores textos omitem essa parte da perícope.

Por força (άναγκαστώς). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

Voluntariamente (εκουσίως). Somente aqui e em Hb 10.26.


575
1 P edro - C a p. 5

Por torpe ganância (αίσχροκφδώς). De αισχρός, v e r g o n h o s o , e κέρδος, g a n h o .


Somente aqui no texto do Novo Testamento. A palavra t o r p e pretende transmitir
a ideia que existe em αισχρός, i n f a m e ou d e s o n r o s o , algo no que se torna, se for a
motivação do serviço do ministro. Compare com 2 C0 12.14.

De ânimo pronto (προθύμως). Não é suficientemente forte. A palavra é


composta de πρό, p a r a a f r e n t e , e θυμός, c o ra ç ã o ou e s p í r i t o . Portanto, c o m u m a
m e n t e p r o n t a , um espírito disposto, indicando não a mera e s p o n t a n e id a d e , mas z e l o .

Somente aqui no texto do Novo Testamento. Compare com o adjetivo correlato,


πρόθυμος, p r o n t o (Rm 1.15; Mt 26.41; Mc 14.38), e o substantivo correlato,
προθυμία, p r o n t i d ã o (2Co 8.11-12,19; 9.2).

3. Como tendo domínio sobre (κατακυριεύοντες). V i d e M t 20.25; At 19.16.


Outras palavras são usadas a respeito do exercício de l e g í t i m a autoridade na
igreja: προΐσταμαι, p r e s i d i r , g o v e r n a r {lTs 5.12; lTm 5.17); ποιμαίνω, como no
versículo 2, a p a s c e n t a r . Mas esta palavra traz consigo a ideia de um domínio
a rro g a n te .

Herança (κλήρων). Plural. Κλήρος significa g r a n d e q u a n t i d a d e . A tb traz: o s q u e


v o s f o r a m c o n f i a d o s (como na nvi e ep ); a teb , a q u e le s q u e v o s c o u b e r a m p o r p a r t i l h a

(p o r s o r t e , na bj). V i d e nota sobre h e r a n ç a , 1.4. Do adjetivo correlato, κληρικός,

vem a palavra c lé r ig o , que em textos eclesiásticos originalmente significava um


ministro, quer escolhido p o r s o r t e s , como Matias, quer sendo a herança de Deus.
Consequentemente, a wycliffe traduz a passagem: “nem tendo domínio sobre o
c l e r o ’ . Como, na Idade Média, os clérigos eram praticamente as únicas pessoas que

sabiam escrever, a palavra s e c r e t á r i o veio a ser um de seus significados modernos.


Embora a interpretação da palavra seja alvo de algumas discussões, ela aqui parece
referir-se às várias c o n g re g a ç õ e s — a s p o r ç õ e s o u i n e u m b ê n c i a s a t r i b u í d a s aos presbíteros.
Compare com προσεκληρώθησαν, a j u n t a r a m - s e c o m o d i s c í p u l o s (At 17.4).

Exemplo (τύποι). Pedro usa três palavras diferentes para um p a d r ã o ou m o d e lo :


υπογραμμός, u m a c ó p ia p o r e s c r i t o (lPe 2.21); υπόδειγμα, para a qual os autores
clássicos preferem παράδειγμα, u m a p l a n t a d e a r q u i t e t o ou u m m o d e lo p a r a u m
p i n t o r (2Pe 2.6); τύπος ( v i d e nota sobre 3.21), da qual a nossa palavra t i p o é quase

uma transcrição. A palavra significa, primariamente, a impressão deixada por


uma pancada (τύπτω, b a t e r , g o l p e a r ) . Assim, Jo 20.25, “o s i n a l dos cravos”. Usada
sobre a impressão em moedas; a impressão de qualquer gravação ou obra de arte
esculpida; um monumento ou estátua; as f i g u r a s do tabernáculo de Moloque e da
estrela Renfa (At 7.43). De modo geral, uma i m a g e m ou f o r m a , sempre com uma
declaração sobre o objeto; e, consequentemente, o significado correlato de um
p a d r ã o ou m o d e lo . V i d e At 23.25; Rm 5.14; Fp 3.17; Hb 8.5.

576
1 P edro - C ap. 5

4. O Sumo Pastor (άρχιποίμενος). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Em harmonia com o versículo 2. Como afirma Cook: “A última coisa que Pedro
poderia ter imaginado ser possível seria a aplicação equivocada disto a si mesmo
ou a seus assim chamados sucessores”. Compare com Hb 13.20, g r a n d e P a s t o r , e
Jo 10.11,14, b o m P a s t o r . Também, Ez 34.15-16,23.

Alcançareis. V id e nota sobre a lc a n ç a n d o , 1.9.

Coroa (στέφανον). De στέφω, e n v o l v e r , c o lo c a r e m v o l t a . E a coroa da vitória


nos jogos; da coragem militar; a grinalda de casamento, ou a guirlanda de
festas, com folhas entrelaçadas, ou feita de ouro, imitando folhas. Portanto, é
distinta da coroa r e a l , que é διάδημα, de que d i a d e m a é uma transcrição. Nos
escritos de Paulo, στέφανος é sempre usada a respeito da coroa do c o n q u i s t a d o r ,
e não da do r e i (lCo 9.24-26; 2Tm 2.5). Embora haja sugestões de que Pedro
não poderia ter empregado uma referência à coroa dos vitoriosos nos jogos, por
causa da repugnância dos judeus palestinos aos espetáculos pagãos, ainda assim a
referência à coroa de folhas parece ser determinada pelo epíteto i n c o r r u p t í v e l , em
comparação com guirlandas de folhas da terra. A coroa de espinhos entrelaçados
para Jesus é chamada στέφανος, com referência mais ao fato de ser e n t r e l a ç a d a do
que ao de ser uma caricatura de uma coroa real.

5. Revesti-vos de humildade (την ταπεινοφροσύνην έγκομβώσασθε). A última


palavra é muito peculiar, e aparece apenas aqui. Ela deriva de κόμβος, um r o l o ,
f a i x a , ou c in t u r ã o · , um n ó ou r o l o de tecido, feito atando ou dobrando alguma parte

da veste. A palavra correlata, έγκόμβωμα, de que é formado diretamente o verbo,


significa um a v e n t a l d e e s c r a v o , sob o que as vestes soltas eram cingidas. Compare
com o “puer alte cinctus”, u m c i n t u r ã o a l t o d e u m e s c r a v o , de Horácio. Portanto,
a imagem traz uma exortação para que a pessoa se revista de humildade como
uma v i r t u d e a t i v a , empregada no m i n i s t é r i o . Isto se mostra evidente pela clara
recordação daquela cena em que Pedro teve um papel tão predominante —
a lavagem dos pés dos discípulos pelo Senhor, quando Ele s e c i n g i u com uma
toalha, como um servo, e lhes deu a lição do ministério, tanto em palavras como
em atos. Bengel parafraseia: “Revesti-vos e envolvei-vos com humildade, para
que a cobertura de humildade não possa ser tirada de vós”.

Resiste (αντιτάσσεται). Uma palavra forte e vivida. Literalmente, c o lo c a - s e


c o n t r a , como alguém que organiza um exército para a batalha. A soberba coloca

os exércitos de Deus em ação. Portanto, não é de admirar que ela “vá adiante da
destruição”.

Os soberbos (ύπερηφάνοις). V id e nota sobre s o b e rb a , Mc 7.22. Compare com


T g 4.6.

577
1 P edro - C ap. 5

Aos humildes. V id e nota sobre Mt 11.29.

6. Potente mão (κραταιάν χεΐρα). Uma expressão não encontrada em nenhuma


outra passagem do Novo Testamento, mas aparece na l x x , E x 3 . 1 9 ; Dt 3 . 2 4 ; Jó
3 0 . 2 1 . O adjetivo κραταιάν, p o t e n t e , é também usado apenas aqui. Compare com
Lc 1 . 5 1 - 5 2 .

7. Lançando (έπιρρίψαντ^ς). O particípio aoristo indica um ato que acontece


uma única vez: lançando toda a vida, com sua ansiedade, sobre Ele.

Toda a vossa ansiedade (πάσαν την μέριμναν). A t o t a l i d a d e d e vossa


ansiedade. “Não cada ansiedade que aparecer, pois não haverá nenhuma, se esta
transferência for feita de maneira eficaz”. A n s i e d a d e . V i d e nota sobre Mt 6.25, n ã o
a n d e i s c u id a d o s o s .

Ele tem cuidado (μέλ€ΐ). Significando o cuidado v i g i l a n t e de interesse e afeto.


Os versículos 6 e 7 devem ser interpretados em conjunto: H u m i l h a i - v o s e l a n ç a i
t o d a a v o s s a a n s ie d a d e . A soberba é a raiz de grande parte da nossa ansiedade. Para

a soberba humana, é humilhante lançar tudo sobre outra pessoa e ser cuidado
por ela. V i d e T g 4.6-7.

8. Sede sóbrios (νήψατί). V id e nota sobre 4.7.

Vigiai (γρηγορήσατε). Na b j , s e d e sóbrios e v i g i l a n t e s . V i d e nota sobre Mc 1 3 .3 5 ;


e lTs 5 .6 , onde aparecem os dois verbos: v i g i a r e s e r s ó b r i o s . Uma reminiscência
da cena no Getsêmani: N e m u m a h o r a p u d e s t e v i g i a r c o m i g o ? (Mt 2 6 . 4 0 - 4 1 ) .

O diabo. V id e nota sobre Mt 4. 1.

Adversário (ό άντίδικος). O artigo indica um adversário bastante conhe­


cido. De αντί, c o n t r a , e δίκη, u m p r o c e s s o j u d i c i a l . A rigor, um adversário em
um processo judicial. Aqui, um adversário, de modo geral. Compare com
Zc 3 . 1 - 5 . Em referência a Satanás, ocorre somente aqui no texto do Novo
Testamento.

Anda em derredor (περίπατοί). Compare com Jó 1 .7 ; 2.2. Esta palavra deu


nome àquela seita de filósofos gregos, conhecidos como p e r i p a t ê t i c o s , porque
andavam enquanto ensinavam ou discutiam. Cox, comentando sobre Jó, declara:
“O apóstolo Pedro chama Satanás o P e r i p a t é t i c o ’ . Os árabes o chamam o O c u p a d o .
Foi a Pedro que Cristo disse: “Satanás vos pediu” etc. (Lc 2 2 . 3 1).

Bramando (còpuópevoç). Somente aqui no texto do Novo Testamento. A palavra


carrega um pouco do sentido pelo som (o r u o m e n o s ). Ela indica particularmente o
rugir de uma fera terrivelmente faminta.
578
1 P edro - C ap. 5

Leão. Agostinho afirma: “Cristo é chamado ‘o Leão’ (Ap 5 . 5 ) por causa de sua
coragem; o diabo, por causa de sua ferocidade. O primeiro vem para conquistar, e
o segundo, para ferir”. Sete palavras hebraicas são usadas para esse animal: seis
delas descrevem os seus movimentos, e quatro, o seu rugido. O leão é mencionado
na Bíblia aproximadamente cento e trinta vezes. Em Jó 4 . 1 0 - 1 1, cinco palavras
diferentes são usadas para ele. Em Jz 1 4 .5 ; SI 2 1 . 1 3 ; 1 0 3 .2 1 ( l x x ), a mesma
palavra usada aqui é usada para o rugido do leão, como uma tradução da palavra
hebraica para o t r o v ã o , em Jó 3 7 .4 .

T ragar (καταπίη). Literalmente, e n g o lir . V id e nota sobre Mt 13.24.

9. Resisti (άντίστητε). Tradução mais ponderada: a g u e n t a i- , com r e s i s t i r tendo


sido já usada, no versículo 5, para traduzir αντιτάσσεται. A g u e n t a r é, além disso,
uma tradução mais acurada, uma vez que o verbo significa mais f i c a r f i r m e c o n t r a
u m a t a q u e do que e s f o r ç a r - s e contra ele.

Firmes (στερεοί). Compare com 2Tm 2 . 1 9 ; e o verbo correlato, στερεόω,


fir m a r (At 3 . 7 ,1 6 ; 1 6 .5 ). Em Cl 2 .5 , Paulo usa um substantivo cognato, στερέωμα,
evidentemente como uma metáfora militar: “Vendo a vossa o r d e m (τάξιν; cp.
αντιτάσσεται, v. 5 ) e a f i r m e z a d a v o s s a f r e n t e d e b a t a lh a , ou l e g i ã o c o m p a c t a
(στερέωμα). Στερεοί também carrega o sentido de c o m p a c t a ç ã o , s o l i d e z c o m p a c t a , e
é apropriada, uma vez que muitos indivíduos são exortados a resistir aos ataques
de Satanás como um conjunto compacto. Στερεός sugere solidez n a m e s m a m a s s a e
c o r p o d a p r ó p r i a c o isa -, firmeza, manter o próprio lugar. Uma rocha é Ó ,f i r m e ,
oxcçc q

s ó l i d a ; mas, ao mesmo tempo, uma erva flexível, com suas raízes persistentes,

que resistem a todos os esforços para arrancá-la, pode ser f i r m e . A exortação é


apropriada, vinda de Pedro, a Pedra.

As mesmas aflições (τα αύτά των παθημάτων). Na τβ , melhor, s o f r i m e n t o s .


Uma construção muito peculiar, que não aparece em nenhuma outra passagem
do Novo Testamento. Literalmente, c o is a s q u e s ã o i g u a i s a o s o f r i m e n t o , enfatizando
a ideia de i d e n t i d a d e .

Se cumprem (επιτελεισθαι). Mais corretamente, e s t ã o s e n d o c u m p r i d a s . O


infinitivo presente indica alguma coisa e m p r o c e s s o de cumprimento.

Irmãos (άδελφότητι). Literalmente, f r a t e r n i d a d e . Apenas aqui e em 2.17.

10. Que em Cristo Jesus vos chamou (ò καλέσας ήμάς). Na kjv, q u e n o s te m

Mas o tempo do verbo é aoristo, e a leitura verdadeira é ύμάς, v o s , em


cham ado.

vez de Portanto, traduza como a arc: q u e v o s c h a m o u , antes da fundação


n o s.

do mundo. V i d e Rm 8.29-30, e compare com à s u a e t e r n a g l ó r i a e a e s s e s t a m b é m


g lo r if ic o u .

579
1 P edro - C a p. 5

Em Cristo Jesus (εν Χριστώ Ίησοΰ). Os melhores textos omitem J e s u s ; assim


na TB. A tradução e m Cristo ( nvi , acf, tb , teb etc.) é melhor do que p o r Cristo,
como faz a bp. A preposição e m indica a e s f e r a ou e le m e n t o em que o chamado e
os seus resultados acontecem. Conforme Cook: “Cristo como a vida, cabeça e o
princípio de toda a existência para o cristão”.

Um pouco (ολίγον). Mais literalmente, u m p o u q u in h o . V id e n o ta . sobre 1.6.

Vos aperfeiçoará etc. O t r coloca este verbo e os três seguintes no modo


optativo, expressando um d e s e jo . Mas os melhores textos trazem todos eles no
futuro do indicativo, e assim convertem o desejo ou oração em uma certeza.

Ele mesmo vos aperfeiçoará (αύτός καταρτίσει). A tb , n v i , bj, ecp etc.


ignoram a expressão αύτός, e le m e s m o , corretamente traduzida pela arc, a qual é
muito significativa, por indicar o interesse p e s s o a l de Deus e a sua atividade na
obra que consiste em confirmar os seus filhos.
A p e r f e i ç o a r á . A raiz desta palavra aparece em αρω ou άραρίσκω, e n c a i x a r

ou u n i r . Assim, αρθρον quer dizer uma j u n t a . Portanto, a noção principal do


verbo é a j u s t e —a colocação de todas as partes no relacionamento e conexão
corretos. Encontramos esta palavra usada a respeito dos reparos nas redes de
pesca (Mt 4.21), e da restauração de um irmão desgarrado (G1 6.1); de criar
o corpo e os mundos (Hb 10.5; 11.3); da união dos membros na igreja (lCo
1.10; 2Co 13.11). Disto se origina o significado geral de p e r f e i t o (Mt 21.16;
Lc 6.40; lTs 3.10).

Confirmará (στηρίξει). A palavra é correlata, na raiz, a στερί ό ς , f i r m e (v. 9), e


é a mesma usada por Cristo na sua exortação a Pedro, “ c o n f i r m a teus irmãos” (Lc
22.32). Possivelmente, há uma reminiscência desta ocasião no uso que Pedro faz
aqui da palavra. Compare com lTs 3.13; 2Ts 2.17; T g 5.8; Ap 3.2.

Fortificará (σθενώσει). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Compare


com Ef 3.16.

Fortalecerá (θεμελιώσει). Omitida em alguns textos gregos. De θεμέλιος, uma


fu n d a ç ã o . Portanto, a noção radical da palavra é f u n d a m e n t a r d e m a n e i r a s e g u r a . A
palavra aparece em Mt 7.25, relacionada à c a s a e d i j i c a d a sobre uma rocha; em
Hb 1.10, ao ato de lançar os fundamentos da terra. Em Ef 3.18, é acompanhada
de a r r a i g a d o . O acúmulo dessas expressões unidas por conjunções indica forte
sentimento. Bengel resume o conjunto desta maneira: “ A p e r f e i ç o a r á , para que
nenhum d e f e i t o permaneça em vós; c o n f i r m a r á , para que nada possa vos a b a l a r ,
f o r t i f i c a r á , para que possais superar qualquer força adversa. Palavras dignas de

Pedro. Ele está confirmando seus irmãos”.


580
1 P ed r o - C ap. 5

12. Silvano. Provavelmente, o companheiro de Paulo, conhecido no livro de Atos


como S i l a s ( 1 5 . 2 2 , 2 7 , 3 2 , 3 4 , 4 0 etc.), e chamado S i l v a n o por Paulo em 2Co 1 .1 9 ;
lTs 1.1; 2Ts 1.1.

Vosso. Interprete, não como a arc, v o s s o . . . ir m ã o , m as e u v o s e s c r e v í, com o n a tb .

Fiel irmão. I r m ã o tem o artigo definido, o irmão fiel, o qual o designa como
alguém bastante conhecido por sua fidelidade.

Como cuido (ώς λογίζομαι). Fraco demais, uma vez que o verbo indica u m a p e r s u a s ã o
e s ta b e le c id a ou c e rte z a . V id e Rm 3 .2 8 , “ c o n c lu ím o s ou a v a lia m o s , como resultado do nosso

do raciocínio. Compare com Rm 8 .1 8 ; Hb 1 1 . 19. Na t b , c o m o e n te n d o .

Escrevi (έγραψα). Literalmente. Um exemplo do que é conhecido como o


a o r i s t o e p i s t o l á r i o . O autor considera o momento da escrita como o seu destinatário

fará, quando tiver recebido a carta. Dizemos em uma carta: e s c re v o . Escrevendo a


Filemom, Paulo diz: άνεπεμψα, e n v i e i, uma vez que para Filemom o ato de enviar
já seria passado. Portanto, ao usar esta forma de expressão, Pedro não se refere à
segunda epístola, nem a outra epístola agora perdida, mas a esta mesma epístola.

Abreviadamente (ôl’ ο λ ίγω ν). Literalmente, c o m p o u c a s (palavras). Compare


com H b 1 3 .2 2 , onde a expressão é δ ι ά β ρ α χ έ ω ν , a b r e v i a d a m e n t e .

Testificando (έπιμαρτυρών). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


V i d e nota sobre o versículo 1.

Na qual estais firmes (εις ήν εστήκατε). Os melhores textos trazem στήτε,


imperativo. Literalmente, “ d e n t r o d e que estais firmes”, tendo a preposição com o
verbo a força sugestiva de entrar e m e permanecer firme e m .

13. Igreja. A palavra não está no texto grego, mas é indicada com o artigo
definido feminino ή. Há, no entanto, uma divergência de opinião quanto ao
significado desse artigo. Alguns supõem que seja uma referência à esposa do
próprio Pedro; outros, a alguma mulher cristã proeminente na igreja. Compare
com 2Jo 1. Porém, a maioria dos intérpretes considera uma referência à igreja.

Babilônia. Alguns entendem em um sentido figurado, significando Roma;


outros, literalmente, em relação à Babilônia junto ao Eufrates. A favor da
primeira interpretação, estão a corrente da opinião antiga e os intérpretes
católicos romanos, com Lutero e vários expositores modernos famosos, como
Ewald e Hoffman. Este também é o ponto de vista do cônego Cook12. A favor

12. Cook, S p e a k e r ’s C o m m e n ta ry .

581
l P e d r o - C ap. 5

da interpretação literal, estão os importantes nomes de Alford, Huther, Calvino,


Neandro, Weiss e Reuss. O professor Salmond, em seu admirável comentário
sobre esta epístola, resumiu o testemunho de maneira tão convincente, que não
podemos fazer nada melhor do que fornecer seu comentário integral:

A favor desta interpretação alegórica, está a observação de que há outras ocorrências


de B abilôn ia no texto do Novo Testamento como um nome místico para Roma (Ap
14.8; 18.2,10); de que é altamente improvável que Pedro tivesse feito da Babilônia as­
síria a sua residência ou centro missionário, especialmente em vista de uma declaração
de Josefo, que indica que o imperador Cláudio havia expelido os judeus daquela cidade
e suas redondezas; e de que a tradição conecta Pedro com Roma, mas não com Babi­
lônia. O fato, no entanto, de que a palavra é misticamente usada em um livro místico
como o do Apocalipse —um livro, além do mais, que está impregnado do espírito e
da terminologia do Antigo Testamento - não representa nenhum argumento a favor
do uso místico da palavra em textos de um tipo diferente. A interpretação alegórica
torna-se ainda menos provável quando se observa que outras designações geográficas
nesta epístola (lPe l.l) têm, sem dúvida, o significado literal. A própria tradição tam­
bém é incerta. A declaração de Josefo não sustenta tudo o que parece sustentar. Não
há razão para supor que, na época em que esta epístola foi escrita, a cidade de Roma
fosse conhecida entre os cristãos como Babilônia. Ao contrário, sempre que é mencio­
nada no Novo Testamento, com a única exceção do livro do Apocalipse (e mesmo ali,
é distinguida como "a gran de Babilônia”), ela recebe o seu nome usual, Roma. Por estar
tão longe, também, da Babilônia assíria, que estava praticamente em uma condição
deserta nesta época, há muitos bons motivos para crer que a população de judeus (sem
falar dos pagãos) da cidade e suas redondezas fosse bastante considerável. Por estas
e outras razões, uma sucessão de distintos e famosos intérpretes e historiadores, de
Erasmo e Calvino a Neandro, Weiss, Reuss, Huther etc., defenderam corretamente o
sentido literal.

Meu filho. Provavelmente, em um sentido espiritual, embora alguns, como


Bengel, pensem que estas palavras se refiram ao filho do próprio Pedro.

Marcos. João Marcos, o autor do Evangelho. V id e I n t r o d u ç ã o ao Evangelho de


Marcos, a respeito de suas relações com Pedro.

14. Ó s c u lo de a m o r. Compare com lCo 1 6 .2 0 .

582
2 P edro

C a pítulo l

1. Simão Pedro. Observe a adição de S i m ã o , e v i d e nota sobre lPe 1.1. A orto­


grafia mais confirmada é S y m e o n , que é a forma do seu nome em At 15.14, onde
a narrativa provavelmente foi feita por ele. Esta também é a forma hebraica do
nome encontrado na l x x , Gn 29.33, e em outras passagens. Compare com Ap
7 .7 ; Lc 2 . 2 5 ,3 4 ; 3 .3 0 ; At 1 3 . 1 . O nome combinado, Simão Pedro, é encontrado em
Lc 5 .8 ; Jo 1 3 .6 ; 2 0 . 2 ; 2 1 . 1 5 , e em outras perícopes, embora nesses casos o nome
seja apresentado como S i m ã o . Symeon aparece apenas em At 1 5 .1 4 . Embora o
seu nome seja apresentado com maior familiaridade do que na primeira epístola,
o seu título oficial, s e r v o e a p ó s t o l o , é mais completo. Esta combinação, servo e
apóstolo, não ocorre em nenhuma outra saudação apostólica. O que há de mais
próximo a ela é T t 1.1.

De Jesus Cristo. O termo C r i s t o nunca aparece na segunda epístola sem J e s u s


e apenas neste caso sem algum predicado, como S e n h o r , S a l v a d o r .

Aos que alcançaram (τοΐς λαχοΰσιν). Literalmente, alcançaram e m s o r t e .


Como e m L c 1 .9 ; Jo 1 9 .2 4 . Na acepção que está aqui, o vocábulo é usado por
Pedro (At 1 .1 7 ) sobre Judas, que tinha a lc a n ç a d o parte de seu ministério. Neste
sentido, ocorre somente naquela perícope e aqui.

Conosco. Muito provavelmente, os cristãos judeus, dos quais Pedro era um.
O professor Salmond observa: “Há muitas evidências de como era estranho ao
pensamento cristão primitivo considerar os cristãos gentios como ocupando
em graça a mesma plataforma com os cristãos congregados da antiga igreja de
Deus”. V i d e At 1 1 .1 7 ; 1 5 .9 - 1 1 .
2 P edro - Cap. 1

Igualmente preciosa (ισότιμου). Somente aqui no texto do Novo Testamen­


to. O vocábulo deveria ser escrito c o m o p r e c i o s a . Compare com p r e c i o s a , em 1Pe
1.7,19; 2.4,6-7. Não a mesma em medida para todos, mas com igual valor e honra
aos que a recebem, representando a aceitação deles, para que desfrutem os mes­
mos privilégios cristãos.

Salvador. De modo geral, aplicada a Cristo nesta epístola, mas nunca na pri­
meira.

2. Pelo conhecimento (έυ έπιγυώση). O termo composto expressando to ta l

conhecimento, e comum nos textos de Paulo.

Nosso Senhor (κυρίου ημών). O vocábulo S e n h o r na segunda epístola é sem­


pre usado a respeito de Deus, a menos que seja acrescentado C r i s t o ou S a l v a d o r .

3. D eu (δ6δωρημέυης). Este é o único termo que Pedro e Marcos, e s o m e n t e


e le s , têm em comum no texto do Novo Testamento; um fato relativamente

singular, considerando as suas relações íntimas, e a influência de Pedro no


Evangelho de Marcos, mas é uma declaração muito forte contra a teoria de
uma falsificação desta epístola. O vocábulo é mais forte do que o simples
δίδωμι, d a r , com o significado de c o n c e d e r ou c o n f e r i r como um d o m . Compare
com Mc 15.45.

Piedade (eóoé|kuxv). Termo usado apenas por Pedro (At 3.12), e nas epísto­
las pastorais. Ele se origina de eu, b e m , e σέβομαι, a d o r a r , de modo que a ideia
da raiz é a d o r a r c o r r e t a m e n t e o r i e n t a d o . Adoração, contudo, deve ser entendida
em seu significado etimológico, ou a reverência prestada ao que é digno, seja a
Deus, seja ao homem. Daí a tradução da arc de Mt 6.2: “para serem g l o r i f i c a d o s
pelos homens”, e “ h o n r a teu pai e tua mãe”, em Mt 19.19. No grego clássico, o
termo não é limitado à religião, mas também significa p i e d a d e na satisfação das
relações humanas, como a palavra do latim, p i e t a s . Mesmo no grego clássico,
é um vocábulo constante para p i e d a d e na concepção religiosa, mostrar-se na
reverência correta; e é oposta a δυσσέβεια, i m p i e d a d e , e άυοσιότης, p r o f a n a ç ã o .
Nágelsbach, citado por Cremer:

O reconhecimento da dependência dos deuses, a confissão da dependência humana, o


tributo de homenagem que o homem presta na certeza de que precisa da benevolência
dos deuses - tudo isto é eboéfkia, manifesto no comportamento e no modo de vida, no
sacrifício e na oração.

Esta definição pode ser quase que literalmente transferida à palavra cristã.
Ela abrange a confissão do único Deus vivo e verdadeiro, e a vida que correspon­
de a este conhecimento. V i d e n ota sobre o versículo 2.
584
2 P edro - Cap. l

Chamou (καλεσαντος). Também usada a respeito do convite divino, em lPe


2.9,21; 3.9; 5.10.

Por sua glória e virtude (Ιδία δόξτ) κα'ι αρετή). Literalmente, p o r s u a p r ó p r i a


e v i r t u d e , embora alguns leem διά δόξης και αρετής, p o r g l ó r i a e v i r t u d e . O
g ló ria

significado é basicamente o mesmo, em todos os casos.

Sua (ιδία). Em Pedro, de modo geral e não necessariamente com uma força
enfática, uma vez que às vezes o adjetivo é usado meramente como um pronome
possessivo, e principalmente desta maneira, em Pedro (lPe 3.1,5; 2Pe 2.16,22).

Virtude. V i d e nota sobre lPe 2.9. Vocábulo usado apenas por Pedro, com a
exceção de Fp 4.8. O sentido clássico e original do termo não tinha nenhuma
importância moral especial, mas indicava excelência de qualquer tipo —valen­
tia, posição, nobreza; além disso, excelência de terra, animais, coisas, classes de
pessoas. Paulo parece evitar esse termo, usando-o uma única vez. Sobre g l ó r i a e
v i r t u d e , Bengel diz: “A primeira indica os seus atributos n a t u r a i s , a outra, os seus

atributos m o r a i s ” .

4. Pelas quais (δι’ ών). Literalmente, a sua glória e virtude. Observe as três
ocorrências de δ ι ά , p o r , nos versículos 3-4.

Nos tem d a d o (δεδώρηται). Voz média, não passiva, como na arc. Portanto,
na bj, corretamente, d e u . V i d e nota sobre o versículo 3.

Grandíssimas e preciosas promessas. Na tb, a s sua s preciosas e mui gran­


des, pelo modo de traduzir o artigo definido τα.

Preciosas (τίμια). O vocábulo aparece catorze vezes no texto do Novo Tes­


tamento. Em oito delas, é usado com respeito a coisas materiais, como pedras,
frutas, madeira. Em Pedro, aparece três vezes: lPe 1.7, sobre a fé provada; lPe
1.19, sobre o sangue de Cristo; e aqui, sobre as promessas de Deus.

Promessas (επαγγέλματα). Somente nesta epístola. No grego clássico, há uma


distinção entre επαγγέλματα, promessas feitas v o l u n t a r i a m e n t e ou e s p o n t a n e a m e n t e ,
e υποσχέσεις, e m r e s p o s t a a u m p e d i d o .

Fiqueis participantes (γένησθε κοινωνοι). Mais corretamente, p o s s a i s t o r n a r -


v o s ; transmitindo a ideia de um c r e s c im e n t o . V i d e nota sobre κοινωνός, p a r t i c i p a n t e ,

lPe 5.1; e compare com Hb 12.10.

Havendo escapado (άποφυγόντες), Somente nesta epístola. Escapar p o r f u g a .

Pela concupiscência (εν επιθυμία). P e la concupiscência, como o in s tru m e n to

585
2 P edro - Cap. l

da corrupção. Certas versões, e m concupiscência, como a e s fe ra da corrupção, ou


como aquilo em que ela se fundamenta.

5. E vós tam b ém (αυτό τοϋτο). Entendo que seria melhor traduzir a expressão
como p o r e s te m e s m o m o t i v o . Mais literalmente como a teb: p o r e s t a m e s m a ra z ã o - ,
ou a TB: p o r i s s o m e s m o . Literalmente, e s te m e s m o m o t i v o . Da mesma maneira como
τ ί , ο q u e ? passou a significar p o r q u ê ? Também o demonstrativo fortalecido adqui­

re o significado de p o r i s t o , p o r e s te m e s m o m o t i v o .

Pondo toda a diligência (σπουδήν πάσαν παρβ,σ^νέγκαντές). O verbo aparece


somente aqui no texto do Novo Testamento, e significa, literalmente, a p r e s e n ­
t a n d o , a o l a d o d e : a d i c i o n a n d o vossa diligência às promessas divinas. Assim na tb,

a p lic a n d o d a v o s s a p a r t e .

Acrescentai à vossa fé etc. Penso que a tradução da arc não é a melhor. O


verbo traduzido como a c r e s c e n t a r (έπιχορηγήσατ^) deriva de χορός, um c o r o , como
o que era empregado na representação das tragédias gregas. O verbo significa
originalmente a r c a r c o m a s d e s p e s a s d e u m c o r o , o que era feito por uma pessoa
escolhida pelo estado, que era obrigada a custear todas as despesas de treinamen­
to e sustento. No texto do Novo Testamento, o vocábulo perdeu o seu sentido
técnico, sendo usado com o sentido geral de s u p r i r ou p r o v e r . O verbo é usado
por Paulo (2 C0 9.10; G1 3.5; Cl 2.19), e pode ser traduzido como d a r , f o r n e c e r , e o
verbo simples, χορηγέω, d a r , aparece em 1Pe 4.11; 2 C0 9.10. Aqui a rv, adequada­
mente, traduz comof o r n e c e r . Outras versões empregam os verbos u n i r ( p e r , teb),
ju n ta r (bj, tb ), a s s o c ia r (ara).

À vossa fé (èv τή τ ίσ τ ε ι) . A arc exorta a a c r e s c e n t a r uma virtude a outra, mas


o texto grego, a d e s e n v o l v e r u m a v i r t u d e n o e x e r c í c io d e o u t ra - , “um aumento ou
acréscimo por crescimento, não por adição externa, com cada nova graça brotan­
do de outra, promovendo e aperfeiçoando a outra”.

Virtude. V i d e nota sobre o versículo 3 e lPe 2.9. Não com o significado de ex­
celência moral, mas da e n e r g i a que os cristãos devem exibir, quando Deus exerce
a sua energia sobre eles. Da mesma maneira como Deus nos chama pela sua
própria v i r t u d e (v. 3), também os cristãos devem exibir virtude ou e n e r g i a no
exercício da sua fé, traduzindo-a em ações vigorosas.

6. Temperança (έγκρατεία). Autocontrole; o controle das paixões e dos desejos.


V i d e lCo 9.25.

Paciência (υπομονήν). L i t e r a l m e n t e , f i c a r a t r á s o u p e r m a n e c e r , de μένω, e s p e r a r .


Não meramente suportar o inevitável, pois Cristo poderia ter se aliviado de seus
sofrimentos (Hb 12.2-3; cp. Mt 26.53); mas a heróica e corajosa paciência com
586
2 P edro - Cap. 1

que um cristão não apenas suporta, mas contende. Falando a respeito da paciência
de Cristo, Barrow observa:

Ele se comportava assim não por uma insensibilidade estúpida ou por uma resolução
obstinada, pois tinha uma percepção muito vigorosa de todas essas aflições, e uma
aversão forte (e natural) a se submeter a elas £...]] mas demonstrava uma perfeita sub­
missão à vontade divina, e um controle completo sobre as suas paixões, uma caridade
excessiva para com a humanidade. Foi daí que brotou este comportamento paciente
e manso.

O mesmo autor define paciência da seguinte maneira:

Essa virtude que nos qualifica a suportar todas as condições e todos os eventos, pela
disposição de Deus para conosco, com tais apreensões e persuasões mentais, tais dis­
posições e afetos do coração, tal comportamento externo e tais práticas de vida, como
Deus exige e a razão aconselha1.

7. Piedade. Vide nota sobre o versículo 3. A qualidade nunca é atribuída a


Deus.

Fraternidade (φιλαδελφίαν). Na tb , literalmente, amor dos irmãos.

Amor (αγάπην). A princípio, a tradução da tb , o amor dos irmãos, pode parecer


inadequada. Mas isto é apenas aparente. Na primeira palavra, Pedro contempla
os cristãos e colegas de fé como ocupando, natural e apropriadamente, o primeiro
lugar em nossos afetos (cp. G1 6.10: “Principalmente aos domésticos daje’). Mas
ele prossegue com a afeição mais ampla que deve caracterizar os cristãos, e que
Paulo elogia em lCo 13, o amor pelos homens, como homens. Aqui, deve-se obser­
var que toda a rejeição de caridade como tradução de αγάπη, pela arc, é benéfica
e defensável. O termo caridade adquiriu dois significados peculiares, ambos, na
realidade, incluídos ou implícitos em amor, mas nenhum deles expressa mais do
que uma única fase do amor - tolerância e beneficência. A arc, na grande maioria
dos casos, traduz o termo grego como amor, sempre nos Evangelhos, e quase em
todas as outras perícopes. Não há mais razões para dizer “A caridade é sofredora”
ou, “a caridade de Deus está derramada em nosso coração” ou “Deus é caridade’.
A t b e a bj, nessa perícope, traduzem αγάπην por caridade.

8. Se em vó s houver (υπάρχοντα). Na tb, vos pertencem-, seguindo o sentido de


possessão que legitimamente pertence ao verbo, como Mt 19.21, o que tens-, lCo
13.3, fortuna. Com o significado de existir, o verbo é mais forte do que o simples

1. Barrow, On Patience, Sermon XLII.

587
2 P edro - Cap. 1

eivai, s e r , indicando a existência d e s d e o p r i n c í p i o , e, por essa razão, ligada a uma


pessoa como uma característica própria, algo que p e r t e n c e à pessoa, e, dessa ma­
neira, incluindo a ideia de p o s s e s s ã o l e g í t i m a , como acima.

Estéreis (άργούς). De ά, n ã o , e Ιργον, t r a b a l h o . Na ara , teb e ecp, i n a t i v o s - , na


n v i , in o p e r a n t e s . Mais corretamente, como na tb , o c io s o s . Compare com “palavra
o c i o s d ’ (Mt 12.36); “estavam o c i o s o í ’ (Mt 20.3,6); também, lTm 5.13. A repetição

desnecessária, e s t é r e is e i m p r o d u t i v o s , é assim evitada.

No conhecimento (elç). Mais corretamente, p a r a , como na teb . A ideia não


é ociosidade n o conhecimento, mas na busca e no desenvolvimento e m d i r e ç ã o a
e finalmente a lc a n ç a n d o o conhecimento. Com isto, concorda o termo composto
έττίγνωσιν, o conhecimento que c re s c e c o n s t a n t e m e n t e e finalmente é c o m p le t o .

9. Pois (γάρ). Penso que não se deve traduzir este termo por m a s, como faz a ep,
e, sim, como está na arc, p o i s .

Aquele em quem não há estas coisas (ώ μή πάρ6στιν ταΰτα). Literalmente,


e m q u e m e s t a s c o is a s n ã o e s t ã o p r e s e n t e s . Observe que aqui é usada uma palavra

diferente da do versículo 8, e m v ó s , para transmitir a ideia de possessão. Em vez


de falar sobre os dons como p e r t e n c e n t e s ao cristão, por possessão habitual, ele as
indica agora como meramente p r e s e n t e s nele.

Cego (τυφλός). Ilustrando a ênfase de Pedro na v is ã o como um meio de instru­


ção. V i d e I n t r o d u ç ã o .

Nada vendo ao longe (μυωπάζων). A tb traduz, v e n d o s ó o q u e e s t á p e r t o , mas a


teb : c e g o q u e t a t e i a (cf. bp ), enquanto a ecp, m ío p e , c e g o . Somente aqui no texto do

Novo Testamento. De μ ύ ω , f e c h a r , e ώψ, o o l h o . Fechar, ou apertar os olhos, como


pessoas míopes. Por conseguinte, s e r m ío p e . O particípio n a d a v e n d o a o l o n g e , é
acrescentado ao adjetivo c e g o , definindo-o, como se ele tivesse dito, é c e g o , isto
é, m í o p e espiritualmente; vendo apenas as coisas presentes, e não as celestiais.
Compare com Jo 9.41.

Havendo-se esquecido (λήθην λαβών). Literalmente, h a v e n d o t i d o e s q u e c i­


m e n t o . Uma expressão singular, com o substantivo aparecendo somente aqui

no texto do Novo Testamento. Compare com uma expressão similar, 2Tm 1.5,
ύπόμνησιν λαβών, t r a z e n d o à m e m ó r i a , na arc, e l e m b r a n d o - m e , na tb . Alguns ex­
positores encontram na expressão uma sugestão de uma a c e it a ç ã o v o l u n t á r i a de
uma condição de falta de esclarecimento. Contudo, isto é duvidoso. Lumby opina
que a expressão assinala a idade avançada do autor, uma vez que ele acrescenta
à deficiência de visão a falha de m e m ó r i a , a faculdade que nos idosos permanece
mais do que a visão.
588
2 P edro - C ap. 1

Purificação (του καθαρισμού). Mais literalmente, a lim peza.

10. Irmãos (αδελφοί). O único exemplo desta forma de tratamento em Pedro,


que comumente usa a m a d o s .

Mais (μάλλον). O advérbio deve acompanhar o verbo p ro c u ra rfa ze r. Traduza,


p ro cu ra i f a z e r a in d a mais.

Tropeçareis (πταισητε). Literalmente. Compare com Tg 3.2.

11. Será amplamente concedida (πλουσίως επιχορηγηθήσεται). Sobre o verbo,


o versículo 5. Nós devemos alimentar a nossa fé, a recompensa nos será
v id e
fornecida. A m plam en te, indicando a plenitude da bem-aventurança futura. O
professor Salmond observa que é o oposto de “salvo, todavia como pelo fogo”
(lCo 3.15).

Reino eterno (αιώνιον βασιλείαν). Na primeira epístola, Pedro designou o


futuro do crente como uma herança; aqui, ele a chama de R eino E tern o, como apre­
senta a arc , é melhor do que interm inável, uma vez que o vocábulo inclui mais do
que a duração do tempo.

12. Não deixarei. A arc acompanha a leitura ούκ αμελήσω, traduzindo a ex­
pressão corretamente. A melhor leitura, contudo, é μελλήσω, pretendo, ou, como
é frequente no grego clássico, com uma concepção de certeza - eu me certificarei.
A fórmula aparece apenas em outra perícope, em Mt 24.6, onde é traduzida pelo
futuro simples, ouvireis, com um sentido implícito, como certam ente ouvireis.

Saibais (είδότας). Literalmente, sabendo. Compare com lPe 1.18.

Confirmados (εστηριγμένους). V ide nota sobre lPe 5.10. Talvez a exorta­


ção, “co n firm a teus irmãos”, possa explicar o uso repetido que Pedro faz desta
palavra e suas derivadas. Daí, in con stan tes (αστήρικτοι) ; f i r m e z a (στηριγμοΰ),
2Pe 3.16-17.

Na presente verdade (èv τή παρούση αλήθεια). A verdade que está presente


em vós, pela instrução de vossos professores; não a verdade imediata, sob consi­
deração. Vide nota sobre o versículo 9, e compare com a mesma expressão em Cl
4.6, traduzida da seguinte forma: como vos convém.

13. Tabemáculo (σκηνώματι). A expressão figurada para o corpo, usada também


por Paulo, 2Co 5.1,4, embora ele empregue o vocábulo correlato mais curto,
σκήνος. Pedro também tem a mesma mistura de metáforas que Paulo emprega
naquela perícope, ou seja, casa e vestes. Vide versículo seguinte. O uso que Pedro
faz de tabernáculo é significativo, em conexão com as suas palavras na Transfi-
589
2 P edro - C ap . 1

guração, “Façamos três tabernáculos” (Mt 17.4). O termo, como toda a frase, traz
a ideia de breve duração —uma tenda frágil, erigida para uma noite. Compare com
o versículo 14.

Despertar-vos com admoestações (õieveípeiv υμάς év υπομνήσ^ι). Literal­


mente, despertar-vos com lembranças. Vide a mesma expressão em 3.1.

14. Brevemente hei de deixar este meu tabem áculo (ταχινή k a x iv ή άπόθβης
του σκηνώματος μου). Literalmente, rápida é a partida do meu tabemáculo. Na rv,
a partida do meu tabemáculo vem velozmente. Possivelmente uma alusão à sua
idade avançada. Partir é uma metáfora, derivada de tirar uma veste. Assim, Pau­
lo, 2Co 5.3-4, estando vestidos, despidos, revestidos. O vocábulo também apare­
ce em lPe 3.21, sendo usado apenas por Pedro. Brevemente, indicando a rápida
aproximação da morte, embora outros o entendam como em referência à morte
rápida, violenta que Cristo profetizou que teria. “Como também nosso Senhor
Jesus Cristo já mo tem revelado”. Vide 3o 21.18-19. Compare, também, Jo 13.36,
e observe o termo seguir nas duas passagens. Segundo Lumby: “Pedro agora
aprendera a plena força das palavras de Cristo, e qual seria o resultado de seguir
Jesus.”

Tem revelado (έδήλωσεν). Mas o tempo do verbo é aoristo, apontando para


um ato definido em uma época passada (Jo 21.18). Portanto, me revelou, como
na bj. Compare com lPe 1.11, indicava. Na teb, mefe z saber, mas na tb, me deu a
entender.

15. M orte (έξοδον). Êxodo é uma transcrição literal do vocábulo, é o termo usa­
do por Lucas em sua narrativa da Transfiguração. “Falavam da sua morte”. Ele
ocorre apenas em outra perícope, em Hb 11.22, na concepção literal, a partida ou
o êxodo dos filhos de Israel. Deão Alford afirma:

E, no mínimo, notável que, com a lembrança da cena no monte da Transfiguração


flutuando em sua mente, o apóstolo usasse tão próximas as palavras que também eram
associadas, tabemáculo e morte. A coincidência não deve ser esquecida, ao se tratar da
questão da autenticidade da epístola.

Tenhais (exeiv ύμάς). Literalmente, que possais ter. Um emprego similar de ter,
com o sentido de poder, aparece em Mc 14.8. O mesmo significado também é pre­
nunciado em Mt 18.25, não tendo com que pagar, e Jo 8.6, tivessem de que acusar.

Tenhais lembrança (μνήμην ποΐ€ΐσθαι). Na teb, conservar a lembrança. A ex­


pressão não ocorre em nenhuma outra passagem do Novo Testamento. No gre­
go clássico, fazer menção a. Uma expressão análoga é encontrada em Rm 1.9,
μνείαν ποιούμαι, faço menção. Vide também Ef 1.16; lTs 1.2; Fm 4. Alguns usam
590
2 P edro - C ap. l

esta tradução aqui, expressando o desejo de Pedro de possibilitar que os seus


leitores narrassem estas coisas a outras pessoas.

16. Vinda (π α ρου σ ία ν). Ou p r e s e n ç a . Compare com 3 .4 . Outro termo, άποκάλυψι,ς,


re v e la ç ã o , é usado em lPe 1.7,13; 4.13, para descrever a manifestação de Cristo.

Seguindo (ού έξακολουθήσαντες). Uma forte palavra composta, usada apenas


aqui e em 2.3,15. A preposição εξ expressa a força de seguir, buscar, de perto.

Fábulas (μύθοις). Este vocábulo, que aparece apenas aqui e nas epístolas pasto­
rais, é transcrito no vocábulo mito. Aqui a referência pode ser aos mitos dos judeus,
embelezamentos na história do Antigo Testamento, feitos pelos rabinos; ou aos
mitos pagãos, sobre a descida dos deuses à Terra, o que podería ser sugerido pela
sua recordação da Transfiguração; ou às especulações gnósticas sobre aeon s ou
emanações, que subiram do abismo eterno, a fonte de toda a existência espiritual,
e foram chamadas Pensamento, S a b e d o r ia , Poder, Verdade etc.

Artificialmente compostas (σεσοφισμενοις). Somente aqui e em 2Tm 3.15,


sendo que nessa perícope tem um bom significado, f a z e r - te sábio. Aqui, em um
mau sentido, astuciosam ente fo r m a d a s pela inteligência humana (σοφία). Compare
com p a la v ra s fin g id a s, em 2.3.

Nós mesmos vimos (έπόπται). V ide nota sobre observar, em lPe 2.12. Somente
aqui no texto do Novo Testamento. Compare com o vocábulo diferente em Lc
1 .2 , α ύ τόπτα ι, os que presenciaram .

M ajestade (μεγάλειότητος). Usada em apenas duas perícopes, além desta: Lc


9.43, sobre o g r a n d e p o d e r d e Deus, como manifestado na cura da criança epilép­
tica; e At 19.27, sobre a m a g n ific ê n c ia de Diana.

17. De (ύπο). Literalmente, ju n t o .

Quando lhe foi dirigida (ενεχθείσης). Literalmente, tendo surgido. Compare


com d i r i g i d a (v. 18); inspirados (v. 21); e vento im p e tu o s o , literalmente, um vento
q u e a c o m p a n h a v a (At 2.2).

Magnífica (μεγαλοπρεπούς). Ou su b lim e . Somente aqui no texto do Novo Tes­


tamento. Na lxx (Dt 33.26), como um epíteto de Deus, e x c e lê n c ia . A expressão
m a g n ífic a g l ó r i a se refere à nuvem brilhante que cobriu o grupo no monte da
Transfiguração, como a Shekiná sobre o propiciatório.

18. Voz (φωνήν). Observe o mesmo vocábulo no relato do Pentecostes (At 2.6),
onde a ntlh obscurece o significado, com a tradução, q u a n d o o u v ir a m a q u e le b a r u ­
lh o, quando a tradução deveria ser q u a n d o se o u v iu e s ta v o z .

591
2 P edro - C ap . 1

Dirigida do céu (έαεχθεΐσαν). Literalmente, tendo vin do. V ide nota sobre o
versículo 17. Na ep, E s ta v o z veio do céu, e nós p ró p rio s (ημείς, nós, enfático) a
ouvim os.

Monte santo. Não é necessário ressaltar a observação de Davidson de que


esta expressão aponta para uma época em que a reverência supersticiosa por
lugares havia surgido na Palestina. Lumby registra:

D e to d o s o s lu g a r e s aos quais um a san tid ad e esp ecia l seria atribuída p e lo s s e g u i­


d o res d e C risto, cer ta m e n te o p rim eiro a se r a ssim assin a la d o seria o lu g a r o n d e o
m ais so le n e te ste m u n h o foi d ad o so b re a d ivin d ad e d e Jesus. Para o c r istã o ju d eu , is to
eq u ivalería ao Sinai, e n en h u m n o m e seria m ais ad eq u ad am en te ap licad o a e le do que
aq u ele q u e tão c o n sta n te m e n te havia sid o d ad o a um lu g a r em q u e D e u s s e revelou
p ela p rim eira v e z n a su a g ló r ia . O “m o n te sa n to d e D e u s ” (E z 28.14) a gora receb ería
ou tra aplicação, e p ou co veria da verdad eira co n tin u id a d e d a revelação d e D e u s aq u ele
q u e n ão c o n e c ta sse p r o n ta m en te o a n tig o c o n c e r to e o n ovo, e d e sse ao lu g a r o n d e a
g ló r ia d e C risto foi exib id a de m an eira m ais em in e n te o m e sm o n o m e q u e era atribu­
íd o tão freq u e n te m e n te ao Sinai.

19. E temos, mui firme, a palavra dos profetas (καί εχομεν βεβαιότεροι τον
προφητικόν λόγον). Penso que a tradução da arc não é a melhor, uma vez que m u i
fir m e é usada como predicado, e p a la v ra tem o artigo definido. Podemos explicar :
(l) tem os a p a la v ra dos profetas torn ada m u i firm e , isto é, estamos mais assegurados
do que antes quanto à palavra dos profetas, por causa desta voz; ou (2) temos a
palavra dos profetas como uma confirmação mais firme da verdade de Deus do
que nós mesmos vimos, ou seja, o testemunho do Antigo Testamento é mais con­
vincente até mesmo do que a voz ouvida na Transfiguração. Esta última parece
estar mais de acordo com as palavras que vêm a seguir. Lumby afirma:

Para apreciar isto, d ev em o s n o s colocar, d e certa m an eira, n o lu gar d a q u eles aos quais
escrev eu o a p ó sto lo Pedro. O N o v o T e sta m e n to , c o m o o te m o s agora, n ão e x istia
naqu ela época. Por isso , p o d em o s im ed ia ta m en te c o m p reen d er co m o a lo n g a fila de
escritu ra s p roféticas, cum pridas, d e ta n ta s m aneiras, na vid a d e Jesus, seria um a form a
m ais p od erosa de evid ên cia do q u e a narrativa d e um ú n ico e v e n to na vid a d e Pedro.

Samuel Cox registra:

P edro co n h ecia u m a b ase m ais só lid a para a fé do q u e a d e sin ais e p ro d íg io s. E le h avia


v is to o n o ss o S en h o r Jesus C risto receb er h on ra e g ló r ia de D e u s Pai, so b re o m on te
santo; e le havia ficado a tô n ito e m aravilhado, e havia sid o arrebatado por v is õ e s e
v o z e s d o céu; ainda assim , m e sm o q u an d o a sua m em ó ria e o seu coração e s tã o palpi­
ta n d o co m record ações d aq u ela cen a su b lim e, P ed ro diz: “te m o s a lg o m ais firm e na

592
2 P edro - C ap . 2

palavra d o s p rofetas” Q ..] N ã o o s m ila g r e s d e C risto , p e lo s q u ais e le v ie r a a co n h ecer


Jesus, m as a palavra d e C risto, in terp retad a p e lo esp irito d e C risto.

A uma luz (λύχνω). Mais corretamente, uma lum inária.

Em lugar escuro (εν αύχμηρφ τόττω). Uma expressão peculiar. Literalmente,


um lugar seco. Somente aqui no texto do Novo Testamento. A arc diz tenebroso.
Aristóteles opõe a isto brilhante ou cintilante. É uma sutil associação da ideia de
escuridão com esqualidez, aridez e negligência geral.

Esclareça (διαυγάση). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Compare


com a palavra diferente, em Mt 2 8 . 1 , e Lc 2 3 . 5 4 , επιφώσκω. O verbo é composto
de διά, através, e αυγή, lu z do sol, desta maneira dando a ideia da luz atravessando
a escuridão.

A estrela da alva (φώσφορος). Expressão da qual o nosso vocábulofis fo r o é uma


transcrição. Literalmente, o que tra z a luz, como Lúcifer, de lux, luz, efero , trazer*.

20. É (γίνεται). Mais literalmente, surge o u se origina.

Particular (ιδίας). Vide nota sobre o versículo 3 . P ró p ria . Na teb e nvi, inter­
pretação pessoal-, na bp, interpretação p riv a d a .

Interpretação (έπιλύσεως). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Compare com o verbo cognato declarava (Mc 4 . 3 4 ) e a verig u a r (At 1 9 .3 9 ) . O
termo usual é ερμηνεία (iCo 1 2 .1 0 ; 1 4 .2 6 ) . O significado literal é soltar, desatar,
como de nós dificeis de Escrituras.

21. Foi produzida (ήνεχθη). Literalmente, f o i g e ra d a ou com prada. Vide nota so­
bre os versículos 17-18.

Homens santos de D eus (ά γ ιο ι θεοΰ ά νθ ρ ω π οι). Os melhores textos omitem


e dizem άπό θεοΰ, de Deus. Traduza, como na t b , homens d a p a r te d e Deus.
santos,

Inspirados (φερόμενοι). O mesmo verbo q u e produzido. Literalmente, sendo gerado.


Parece ser um vocábulo favorito de Pedro, aparecendo seis vezes nas duas epístolas.

C a pítu lo 2

1. E. Introduzindo um contraste com aqueles que falavam inspirados pelo Espí­


rito Santo (2Pe 1.21).

2. Vide Esquilo, Agamenon, 245.

593
2 P edro - C ap . 2

Houve (έγένοντο). Melhor, surgiram .

Haverá. Observe que Pedro fala sobre eles no fu tu ro , e Judas (v. 4) no presente.

Falsos doutores (ψευδοδιδάσκαλοι). Somente aqui no texto do Novo Tes­


tamento.

Que (όίτινες). Do tipo ou da classe que etc.

Introduzirão encobertam ente (παρεισάξουσιν). Somente aqui no texto


do Novo Testamento. O adjetivo correlato aparece em G1 2.4, “falsos irmãos
secretam ente en traram (παρεισάκτους). A metáfora é de espiões o u tra id o re s pe­
netrando no campo de um inimigo. Compare com Jd 4, se in tr o d u z ir a m a l­
guns. O verbo significa, literalmente, tr a z e r (άγειν) p a r a d en tro (eíç) ao la d o
d e (παρά).

Heresias de perdição (αιρέσεις απώλειας). Literalmente, heresias de d estru i­


ção. Na TB, heresias destruidoras. H eresia é uma transcrição de άίρεσις, cujo sig­
nificado original é escolha; de modo que uma heresia é, a rigor, a escolha de uma
opinião contrária àquela que é normalmente recebida. Por conseguinte, trans­
ferida ao conjunto dos que professam tais opiniões, e, por essa razão, uma seita.
Assim na ecp e bp, seitas perniciosas. Comumente neste sentido no texto do Novo
Testamento (At 5.17; 15.5; 28.22). V ide At 24.14; lCo 11.19; G1 5.20. A tradução
d ou trin as hereges parece ser a que mais está de acordo com o contexto, penso que
a tradução “falsos doutores introduzindo se ita s’ não é a melhor. A te b traz: dou­
trin a s perniciosas.

Negarão. Uma palavra significativa de Pedro.

O Senhor (δεσπότην). Na maioria dos casos do Novo Testamento, o ter­


mo é traduzido como m estre, com a rv mudando sen h o r para m estre em todos
os casos, exceto dois —Lc 2.29; At 4.24; e nesses dois casos colocando m estre
à margem, e reservando sen h or para a tradução de κύριος. Em três desses
casos, o vocábulo é usado dirigindo-se diretamente a Deus; e poderiamos
perguntar por que a rv muda S e n h o r para M e s tr e no texto de Ap 6.10, e con­
serva S e n h o r em Lc 2.29; At 4.24. Em cinco das dez ocorrências da palavra
no texto do Novo Testamento, ela significa don o d a casa. Originalmente, o
termo indica a b so lu ta e ir r e s tr ita autoridade, de modo que os gregos recu­
savam o título a qualquer pessoa, exceto aos deuses. No Novo Testamento,
δεσπότης e κύριος são usadas alternadamente sobre Deus, e sobre os senho­
res de escravos.

Repentina (ταχινήν). Vocábulo usado apenas por Pedro. Vide nota sobre 1.14.
594
2 P edro - C ap . 2

2. Seguirão. V ide nota sobre 1.16.

D issoluções (άπωλείαις). A leitura correta é áoeÀyeíaLÇ, obras lascivas. Vide


nota sobre 4.3. O uso do plural é raro. Compare com Jd 4.

3. Por avareza (kv πλεον^ξήχ). Literalmente, em cobiça; indicando o elemento ou


a esfera em que opera o mal.

Farão negócio (Ιμπορέυσοηται). Somente aqui e em Tg 4.13. Compare com


Jd 16, p o r causa do interesse, a sua glória consistindo em ter uma multidão de se­
guidores.

Fingidas (πλαστοις). Somente aqui no texto do Novo Testamento. De πλάσσω,


m oldar, como em barro ou cera. Portanto, a ideia é de palavras moldadas confor­
me a vontade dos falsos doutores, para se adequar às suas vãs imaginações.

Já de largo tempo (έκπαλαι). F a z m uito tempo, mostra mais vividamente a


força de Ik. Somente aqui e em 3.5. Interprete com tarda.

Tardia (àpyet). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Compare com o


adjetivo correlato, ocioso, em 1.8. Há uma imagem vivida na sentença. O juízo não
é ocioso. Ele é, segundo Salmond e Lillie.·

R ep resen ta d o co m o um a co isa viva, d esp erta e ex p e c ta n te . H á m u ito tem p o e s s e ju íz o


in icio u o seu cam in h o d estru tiv o , e a ruín a d o s an jos pecadores, e o d ilú vio, e a d e str u i­
ção de S od om a e G o m o rra foram apenas e x e m p lo s in cid en ta ls d o seu poder; e o ju íz o
n ã o tarda d esd e então... E le ainda p ro g rid e, forte e v ig ila n te , da m esm a m an eira co m o
q u an d o su rg iu pela p rim eira v e z do se io d e D eu s, e n ão d eixará d e alcançar a m eta à
q u al se d estin o u há m u ito tem po.

Sentença (κρίμα). Assim, comumente, no texto do Novo Testamento; sendo o


ou ato de julgar expresso por κρίσις.
processo

Perdição (απώλεια). Mais literalmente, na tb , destruição. O vocábulo aparece


três vezes nos versículos 1-3.

Dormita (νυστάζει). Vide nota sobre Mt 25.5, a única outra perícope onde esse
termo ocorre.

4. Os anjos. Sem artigo. Anjos. Compare com Jd 6.

Lançado no inferno (ταρταρώσας). Somente aqui no texto do Novo Testa­


mento. De Τάρταρος, T artarus. E estranho encontrar Pedro usando este termo
pagão, que representa o inferno grego, ainda que não seja considerado aqui equi­
valente a Geena, mas o lugar de detenção até o juízo.
595
2 P edro - Cap. 2

Cadeias da escuridão (σεψαΐς ζόφου). Σειρά é um cordão ou uma faixa, às


vezes de metal. Compare com a lxx, P v 5.22; Sabedoria de Salomão 17.2,18. Os
melhores textos, contudo, substituem por σιροΐς ou σειροΐς, covas ou cavernas.
Σιρός, originalmente, é um lugar para armazenamento de grãos. Na teb, antros
tenebrosos.

D a escuridão (ζόφου). Peculiar a Pedro e a Judas. Originalmente, sobre a es­


curidão do submundo. Veja Homero:

E sta s salas e stã o ch eias de


som b ras q u e s e p recip itam n o E rebus
em m e io à escuridão (ύπό ζό φ ο ν )3.

Quando Ulisses encontra sua mãe nas sombras, ela diz a ele:

C om o v ie ste , m eu filho, um h om em vivo,


a e s te lu gar d e escu rid ão? (υπό ζόφον)*.

Compare com Jd 13. Veja Milton:

A q u i a sua p risão ord en ad a


e m co m p leta escuridão, e a sua porção esta b elecid a
tão d ista n te d e D e u s e da lu z d o céu
co m o três v e z e s a d istân cia do c e n tr o até o p o lo m ais d is ta n te 5.

E Dante:

A q u ele ar, n e g r o , para sem p re6.


E m e en c o n tr e i so b re a borda
D o va le d o ab ism o d o lo r o so
Q u e c o le ta tr o v õ e s d e in fin ito s uivos.
E ra ob scu ro, profu n d o e n eb u loso
D e m o d o q u e fix a n d o o s o lh o s em su as p rofu n d ezas,
N ad a c o n se g u ia d iscern ir ali7.
C h eg u ei a um lu ga r va zio d e tod a luz".

Ficando reservados (τηρούμενους). Literalmente, sendo reservados. Vide nota


sobre lPe 1.4, “guardada nos céus”.

S. Homero, Odisséia, xx., 355.


4. Ibid., xi., 155.
5. Milton, Paradise Lost, i., 71-74.
6. Dante, A D ivin a Comédia, Inferno, iii., 329.
7. Ibid., Inferno, iv., 7,12.
8. Ibid., Inferno, v., 28.
596
2 P ed ro - C ap. 2

5. Guardou (έφύλαξεν). Na t b , preservou. Vide nota sobre lPe 1.4, e compare com
“O Senhor afechou porford’ (Gn 7.16).

Pregoeiro (κήρυκα). Literalmente, um arauto. Compare com o verbo correlato,


κηρύσσω, pregar, em todas as passagens do Novo Testamento. O vocábulo arauto
é sugestivo, em muitos pontos, sobre o ofício de um ministro do Evangelho. Na
era de Homero, o arauto tinha o caráter de um embaixador. Ele convocava a
assembléia e mantinha a ordem nela, e estava incumbido dos arranjos em sacri­
fícios e festividades. O ofício dos arautos era sagrado, e a pessoa deles era into­
cável,· logo, eram empregados para levar mensagens entre inimigos. O símbolo
de seu ofício era o bordão do arauto, ou caduceu, que Mercúrio, o deus-arauto,
segurava. Era, originalmente, um ramo de oliveira, com filetes, que se converte­
ram em serpentes, segundo a lenda de que Mercúrio encontrou duas serpentes
brigando e as separou com seu bordão, e a partir desta circunstância elas foram
usadas como emblema de paz. Platão diz o seguinte sobre a fidelidade transmi­
tida pela posição:

Se algum arauto ou embaixador levar uma falsa mensagem a alguma outra cidade, ou
trouxer uma mensagem falsa da cidade à qual é enviado, ou se ficar provado que ele
trouxe, da parte de amigos ou inimigos, em sua qualidade de arauto ou embaixador,
uma mensagem que eles nunca proferiram —que seja acusado de ter cometido uma
transgressão, contrária à lei, no ofício sagrado de Hermes e Zeus, e que seja fixada
uma punição que ele deverá sofrer ou pagar, se condenado”.

Posteriormente, a sua posição como mensageiros entre nações em guerra foi


enfatizada. Em Heródoto, o termo arauto é usado como sinônimo de apóstolo10.
Alyattes enviou um arauto (κήρυκα) a Mileto esperando poder celebrar uma tré­
gua etc”. O arauto (απόστολος) seguiu para Mileto”. Uma casa sacerdotal em Ate­
nas tinha o nome de κήρυκίς, arautos.

Noé com mais sete pessoas. Compare com lPe 3.20.

Ao trazer (έπάξας). Pode-se dizer que o verbo é usado apenas por Pedro. Além
desta passagem, e no versículo 1, o vocábulo aparece apenas em At 5.28, onde
provavelmente Lucas recebera a narrativa de Pedro, como o principal ator: “que­
reis lançar sobre nós (4παγαγεΐν) o sangue desse homem”.

6. Reduzindo-as a cinza (τεφρώσας). Somente aqui no texto do Novo Tes­


tamento.

9. Platão, Laws, xii., 94Ί.


10. Heródoto, i., 21.

597
2 P ed r o - C ap. 2

Pondo-as para exemplo (υπόδειγμα τεθεικώς). Compare com lPe 2 .2 1 . O


termo para exemplo é condenado como não clássico pelos gramáticos da Ática e
substituído por παράδειγμα, que significa, a rigor, um modelo de um escultor ou de
um pintor, ou uma planta arquitetônica.

7. Justo (δίκαιον). Aparece três vezes nos versículos 7-8.

Enfadado (καταπονούμεvov). Somente aqui e em At 7.24. Κατά tem a força de


desgastado. Assim, na n v i , se afligia. Na t b , atribulado, e na te b , deprimido.

Da vida dissoluta dos homens abomináveis (υπό τής των άθεσμων έν άσελ
γεια άναστροφής). Literalmente, com ο comportamento dos corruptos libertinos. Na
n v i , procedimento libertino dos que não tinham os princípios morais. Vida ou compor­
tamento (άναστροφής). Vide nota sobre lPe 1.15. Homens abomináveis (άθεσμων), li­
teralmente, corruptos, fora da lei. Somente aqui e em 3.17. Abomináveis (άσελγεία),
vide nota sobre Mc 7.22.

8. Habitando (έγκατοικών). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Habi­


tando, e, por essa razão, sofrendo continuamente, diariamente.

Afligia (εβασανίζεν). Vide nota sobre Mt 4.24, tormentos. O significado original


é testar, com pedra de toque, ou por tortura. Vide nota sobre fatigar, em Mc 6.48. A
n v i e ecp trazem, atormentava, e a bp, torturava.

Pelo que via (βλεμματι). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Nor­
malmente, com respeito ao olhar de um homem de fora, pelo qual vem a aflição à
alma. “Afligia a sua alma justa”.

Injustas (άνόμοις). Na tb , iníquas. Somente aqui no texto do Novo Testamen­


to, com coisas. Em todos os outros casos, o vocábulo é aplicado a pessoas.

9. Tentação (πειρασμού). Vide nota sobre lPe 1.6.

Piedosos (εύσεβεΐς). Termo usado apenas por Pedro. Compare com At 10.2,7.
A leitura de At 22.12 é ευλαβής, piedosos. Vide nota sobre 1.3.

Reservar (τηρειν). Vide nota sobre lPe 1.4. Na n v i , manter, não é um aprimoramento.

Para serem castigados (κολαζομενους). Somente aqui e em At 4.21, onde a


narrativa provavelmente veio de Pedro. Aqui o particípio é, literalmente, sendo
castigados. Portanto, a tradução da kjv poderia ser melhorada. Na t b , lemos, cor­
retamente, sob castigo. Compare com Mt 25.46.

10. Que segundo a carne andam. Compare com Jd 7.


598
2 P e d r o - C ap. 2

De imundícia (μιασμοΰ). Somente aqui no texto do Novo Testamento. V id e

nota sobre c o r r u p ç õ e s , versículo 20. Compare com Jd 8.

Desprezam as dominações. Na n v i , a u to rid a d e s , mas na t e b : S o b e r a n i a d iv in a .

Compare com Jd 8.

Atrevidos (τολμηταί). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Literal­


mente, desafiadores. Na teb , audaciosos.

Obstinados (αυθάδας). Somente aqui, e em T t 1.7. De αυτός, a si mesmo, e


ηδομαι, deleitar-se em. Portanto, um espírito que ama a si mesmo.

Receiam (τρφουσιυ). Compare com Mc 5.33. Um termo incomum no texto


do Novo Testamento. V i d e Lc 8.47; At 9.6.

Autoridades (δόξας). Literalmente, g l ó r i a s . Compare com Jd 8. Forças angeli­


cais: observe a referência aos anjos, imediatamente depois, como em Jd 9, a refe­
rência a Miguel. Desafiam os poderes espirituais, embora conhecendo o seu poder.

11. Força e poder (ίσχύϊ καί δυνάμα). Na bv, em poder e em força. A ideia ra­
dical de ισχύς, poder, é a de força interior especialmente personificada: o poder
que é inerente a forças físicas organizadas e trabalhando sob direção individual,
como um exército, que aparece na resistência de organismos físicos, como a terra,
contra alguém que se arroja em vão, que habita em pessoas ou coisas, e lhes dá
influência ou importância, que reside em leis ou punições, para fazer com que
sejam irresistíveis. Este significado aparece claramente no texto do Novo Tes­
tamento no uso da palavra e de seus cognatos. Assim, “Amarás ao Senhor teu
Deus... de todas as tuas forças” (Mc 12.30); “segundo a operação Αά força do seu
poder” (Ef 1.19). Também o adjetivo correlato, ισχυρός: “Um homem valente”(Mt
12.29); uma grande fome (Lc 15.14); as suas cartas são fortes (2Co 10.10); a firme
consolação (Hb 6.18); um forte anjo (Ap 18.21). Também o verbo ισχύω: “Para
nada mais presta” (Mt 5.13); “não poderão (Lc 13.24); “Posso todas as coisas” (Fp
4.13); “pode muito” (Tg 5.16).
Δύναμις é, na realidade, h a b i l i d a d e , f a c u ld a d e - , não necessariamente m a n i f e s t a ,
como ισχύς: o poder que reside em alguém, por natureza. Assim c a p a c id a d e (Mt
25.15): v i r t u d e (Mc 5.30), p o d e r (Lc 24.29; At 1.8; lCo 2.4): “f o r ç a do pecado”
(lCo 15.56). Também sobre vigor m o r a l . “Corroborados em p o d e r no homem
in te r io r (Ef 3.16): “em toda a f o r t a l e z d ’ (Cl 1.11). Contudo, é, principalmente,
poder e m a ç ã o , como no uso frequente de δυνάμας como m i l a g r e s , p r o d í g i o s , sendo
exibições de virtude divina. Assim “p o d e r para salvação” (Rm 1.16): “chegado o
Reino c o m p o d e r ” (Mc 9.1): O próprio Deus se chamou p o d e r - “a direita do T o d o -
p o d e r o s o ” (Mt 26.64), e assim no grego clássico, para indicar os m a g i s t r a d o s ou

599
2 P ed ro - C ap. 2

as autoridades. Também sobre poderes angelicais (Ef 1.21; Rm 8.38; lPe 3.22).
De modo geral, então, pode-se dizer que, embora os dois termos incluam a ideia
de manifestação ou de poder em ação, ισχύς enfatiza as manifestações externas,
físicas, e δύναμις, a virtude interior, espiritual ou moral. Platão faz a distinção da
seguinte maneira:

Eu não teria admitido que os capazes (δυνατούς) são fortes (ισχυρούς), embora eu tenha
admitido que os fortes são capazes. Pois há uma diferença entre capacidade (δύναμιν)
e força (ίσχύν). A primeira vem com o conhecimento, bem como pela loucura ou pela
raiva; mas a força vem da natureza e de uma condição saudável do corpo".

Aristóteles diz:

Força (ισχύς) é o poder de mover algo como se quiser; e esta coisa deve ser movida, pu­
xando, empurrando, carregando, pressionando, apertando ou comprimindo; de modo
que o forte (ό Ισχυρός) é fo rte para todas estas coisas, ou para algumas12.

Juízo blasfemo. Compare com Jd 9; Zc 3.1-2.

12. Como animais irracionais, que seguem a natureza, feitos para serem
presos e mortos. Este acúmulo de epítetos é característico de Pedro. A ex­
pressão que seguem a natureza (φυσικά) (kjv , naturais-, rv, meros animais) deveria
ser construída com o uso de feitos, ou nascidos (γεγεννημένα). Irracionais (αλόγα),
literalmente, em pensamento lógico. Compare com At 23.27. Animais (ζώα). Lite­
ralmente, criaturas vivas, de ζάω, viver. Mais genérica e inclusiva do que animais,
uma vez que indica, a rigor, todas as criaturas que vivem, incluindo o homem.
Platão até mesmo a aplica ao próprio Deus. Por conseguinte, na n v i , a rigor, cria­
turas. Para serem presos e mortos (εις άλωσιν και φθοράν). Literalmente, para cap­
tura e destruição, ou como traz a n v i : capturadas e destruídas. Destruição duas vezes
neste versículo, e com um verbo cognato. A teb apresenta: armadilhas epodridão.

Blasfemando (βλασφημούντες). Particípio. Na tb , caluniando. Compare com os


versículos 10—11.

Perecerão na sua corrupção (εν ττ) φθορά αυτών και φθαρήσονται). Há um


jogo de palavras, que a tb reproduz, traduzindo “na destruição. . . serão destruídos”.
A teb traz: apodrecerão como apodrecem. Compare Jd 10 (todo o versículo).

13. Recebendo (κομιούμενοι). Literalmente, estando prestes a receber ou destinados


a receber. Vide nota sobre lPe 1.9, e compare com lPe 5.4. Alguns bons textos

11. Platão, P r o ta g o r a s , 350.


12. A ristóteles, R h et., i., 5.

600
2 P e d r o - C a p. 2

trazem αδικούμενοι, s u p o r t a n d o i n j u s t i ç a . Assim na bj, s o f r e n d o i n j u s t i ç a c o m o s a lá ­

r i o d a s u a in j u s t i ç a - , a ara traz nesta última parte: i n j u s t i ç a q u e p r a t i c a m .

Galardão da injustiça (μισθόν αδικίας). Μισθός é s a l á r i o , e assim é traduzi­


da na a ra , bj e t e b . Compare com M t 20.8; Lc 10.7; Jo 4.36. No grego clássico,
também tem o sentido geral de r e c o m p e n s a , e com frequência no texto do Novo
Testamento, em passagens onde o termo salário seria inapropriado. Assim Mt
5.12; 6.1; 10.41. Na bp : p a g a m e n t o . S a l á r i o parecería melhor aqui, por causa da
referência a Balaão, no versículo 15, onde o termo aparece outra vez, e exige essa
tradução. A expressão μισθός άδικίας, g a l a r d ã o o u s a l á r i o d e i n i q u i d a d e , aparece
apenas aqui e nas palavras de Pedro a respeito de Judas (At 1.18). I n i q u i d a d e e i n ­
j u s t i ç a são usadas, quase como sinônimos: embora, etimologicamente, i n i q u i d a d e

enfatize a ideia de i n j u s t i ç a ( i n a e q u u s ), ao passo que i n j u s t i ç a (não justiça) é mais


geral, indicando t o d o desvio do que é correto, quer envolva os interesses de outra
pessoa, quer não. Esta distinção, contudo, não é observada em algumas versões,
onde a tradução de αδικία, e do adjetivo correlato, άδικος, varia inexplicavelmen­
te, senão, entre i n j u s t o e i n í q u o .

Pois que têm prazer nos deleites cotidianos (ηδονήν ηγούμενοι τρυφήν).
A expressão p o i s q u e da arc é desnecessária. O discurso prossegue, a partir do
versículo 13 com uma série de particípios, até s e g u i n d o (v. 15). Literalmente, a
perícope diz: c o n s i d e r a n d o c o m o p r a z e r a s u a l u x ú r i a c a r n a l .

Deleites (τρυφήν). A bp traduz como, o r g i a ; a ara , l u x ú r i a ; e a n v i , d e v a s s i d ã o .


O significado é, na realidade, d e l i c a d e z a s , l u x ú r i a s . Compare com Lc 7.25, a única
outra perícope em que o termo aparece, sendo traduzido como d e l i c a d a s . Assim
também a arc traduz em T g 5.5: d e l i c i o s a m e n t e v i v e s t e s . . . e v o s d e l e it a s t e s .

Cotidianos. Compare com as palavras de Pedro em At 2.15; também, lTs 5.7.

Nódoas (σπίλοι). Somente aqui e em Ef 5.27. Compare com o particípio cor­


relato, m a n c h a d a (Jd 23), e c o n t a m i n a (Tg 3.6).

Máculas (μώμοι). Somente aqui no texto do Novo Testamento. As formas


negativas dos dois vocábulos, n ó d o a s e m á c u l a s aparecem em lPe 1.19.

Deleitando-se (εντρυφώντες). De τρυφή, lib e r tin a g e m . V id e nota sobre d e le it e s .

Em seus enganos (έν ταΐς άπάταις αύτών). A bv, por conseguinte, acompanha
outra leitura, que aparece na perícope paralela, Jd 12: άγάπαιζ , f e s t a s f r a t e r n a i s , os
banquetes públicos instituídos pelos primeiros cristãos e conectados com a co­
memoração da Ceia do Senhor. Sobre os excessos nessas festas, v i d e lCo 11.20-
22. Em lugar de αύτών, seus p r ó p r i o s , os melhores textos trazem αύτών, s e u s .
601
2 P edro —C ap . 2

Quando se banqueteiam convosco (συνευωχούμενοι). Originalmente, o vo­


cábulo transmite a ideia de banquete s u n t u o s o e é apropriado, considerando o fato
ao qual Pedro alude, que estes sensualistas converteram a festa de caridade em
um deleite. Compare com as palavras de Paulo, lCo 11.21, “assim um tem fome,
e outro e m b r i a g a - s e ” . Isto parece favorecer a leitura άγάπαις. O termo é usado
apenas aqui e em Jd 12.

14. Olhos. Outro exemplo da ênfase de Pedro na v is ã o . É o instrumento de mal,


tanto quanto de bem. Compare com Mt 5.28.

Adultério (μοιχαλίδος). Literalmente, em lugar de um a a d ú lte ra , mas usada


como adjetivo, Mt 12.39; 16.4.

Não cessando (άκαταπαύστους). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Compare c e s s o u (1 Pe 4.1).

Engodando (δελεάζοντες). Somente aqui, no versículo 18, e em T g 1.14. De


δέλεαρ, u m a is c a . Um termo apropriado de Pedro, que era um pescador.

Inconstantes (άστηρίκτους). Um composto do vocábulo em lPe 5.10, c o n fir­

nota sobre 1.12.


m a rá . V id e

Tendo o coração exercitado (καρδίαν γεγυμνασμένην έχοντες). E x e r c i ­


t a d o é o vocábulo usado para a prática de g i n á s t i c a , e é dele que deriva essa

palavra.

Na avareza Οτλεονεξίαις]]. Os melhores textos trazem πλεονεξίας, c o b iç a . A bj


traz a m b iç ã o - , a n v i , a m b iç ã o - , e a teb , c u p i d e z .

Filhos de maldição (κατάρας τέκνα). Literalmente. V id e nota sobre Mc 3.17,


e lPe 1.14.

15. D ireito (ευθείαν). Literalmente, re to , com o significado raiz de c o rre to .

Erraram (έπλανηθησαν). V id e nota sobre Mc 12.24.

Seguindo (έξακολουθήσαντες). V id e nota sobre 1 . 16 ; 2.2. Compare com Jd 11.

O caminho. Observe a presença frequente da palavra c a m i n h o na história de


Balaão (Nm 22), e no uso que Pedro faz da mesma expressão, como aqui, o s r e t o s
c a m i n h o s do Senhor, em At 13.10.

Beor. A forma d o nome no Antigo Testamento. Na teb , B o s o r .

O prêmio da injustiça. V id e nota sobre o versículo 13.


602
2 P ed r o - C ap. 2

16. Teve a repreensão (€λεγξιρ caycv). Literalmente. O vocábulo para repreensão


aparece somente aqui no texto do Novo Testamento.

Da sua transgressão (Ιδίας παρανομίας). Melhor, sua própria transgressão.


Sua própria, vide nota sobre 1.3. Transgressão, de παρά, contrário a, e νόμος, lei.
Somente aqui no texto do Novo Testamento. Compare com o verbo correlato,
παρανομέω, que também ocorre apenas mais uma vez, At 23.3; observe ali a nota
sobre o tema contra a lei.

O mudo jumento. Inserindo um artigo ausente no texto. Na tb , umjumento mudo.

Jum ento (ύποζύγιον). Literalmente, animal de carga. Um animal sujeito ao


jugo. De ύπό, debaixo, e ζυγόν, um jugo. Vide nota sobre Mt 21.5.

Falando (φθεγξάμενον). O verbo é encontrado apenas em Pedro, aqui e no ver­


sículo 18 , e em At 4.18 , uma narrativa petrina. Ainda assim, o termo é bem esco­
lhido. O verbo indica a emissão de um som ou uma voz, não somente pelo homem,
mas por qualquer animal que tenha pulmões. Portanto, não somente a respeito dos
gritos articulados dos homens, como um grito de batalha, mas sobre o relinchar
do cavalo, o grito da águia, o grasnido do corvo. O vocábulo também é aplicado
a sons feitos por coisas inanimadas, como trovão, um trompete, uma lira, o toque
de um vaso de barro, que mostra se está rachado ou não. Schmidt diz que o termo
não indica nenhuma capacidade física por parte do homem, mas descreve o som
somente do ponto de vista do ouvinte13. Em vista deste sentido geral do verbo, a
propriedade é aparente, com base na frase de definição, com voz humana.

Impediu (έκώλυσεν). Em lugar de proibiu, ou, como na tb , refreou. Compare


com At 8.36; Rm 1.13.

Loucura (παραφρονίαν). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Mas


compare com o verbo correlato, παραφρονέω (2Co 11.23), na expressão “Falo
comofora de mim. De παρά, além, e φρήν, a mente, e, por isso, equivalente à ex­
pressão transtornado.

17. Fontes (πηγα'ι). Melhor do que a n tlh , poços. Todavia, ntlh conservou fonte
em Jo 4.14, onde conferiu mais vivacidade à metáfora de Cristo, que é a de uma
fonte que sempre jorra água viva.

Sem água. Como é frequente no Oriente, onde a vegetação estimula a espe­


rança que o viajante tem de encontrar água. Compare com Jr 2.13, e o contraste
apresentado em Is58.11;Pv 10.11; 13.14.

13. Schmidt, S y n o n y m ik .

603
2 P ed r o - C a p. 2

Nuvens. A arc acompanha o t r , ν€φ€λαι, como em Jd 12. A leitura correta


é όμίχλαι, névoas, encontrada somente aqui no texto do Novo Testamento.
Assim na t b .

Pela força do vento (υπό λαίλαπος). Na t b , por uma tempestade. O termo apa­
rece apenas duas vezes, em outras passagens (Mc 4.37; Lc 7.23) nos relatos pa­
ralelos da tempestade no lago, que Jesus aplacou com a sua palavra. Ali, no lago,
Pedro se sentia “em casa”, bem como com o Senhor naquela ocasião; e o vocábulo
peculiar que descreve um redemoinho ou temporal - uma daquelas tempestades
repentinas tão frequentes naquele lago {vide nota sobre essa palavra, Mc 4.37) -
seria a primeira a vir à sua mente. Compare a imagem similar de Paulo, Ef 4.14.

Escuridão (ζόφος). Vide nota sobre o versículo 4, e compare com Jd 13.

Das trevas (του σκότους). Literalmente, as trevas, indicando uma perdição


bem compreendida.

Etemamente. Os melhores textos omitem.

Se reserva (τ€τήρηται). Literalmente, foi reservado, como na rv. Vide nota so­
bre lPe 1.4; 2Pe 2.4.

18. Falando (φθ^γγόμενοι). Na tb, melhor, proferindo. Vide nota sobre o versí­
culo 16.

Coisas mui arrogantes (υπέρογκα). Somente aqui e em Jd 16. O vocábulo sig­


nifica de vulto excessivo. Ele está em perfeito acordo com o termo peculiar profe­
rindo, uma vez que indica um tipo de discurso de verbosidade de som altissonan-
te, porém sem substância. Φθ€γγόμ€νοι, proferindo, é aplicado, de maneira similar,
ao animal de Balaão e a estas expressões vazias.

Engodam. Video versículo 14.

Que se estavam afastando. A arc acompanha o t r e t m , όντως άποφυγόντας;


όντως significando realmente, verdadeiramente, como em Lc 24.34; com o particí-
pio no aoristo, e, por isso, significando haviam escapado. Mas todos os melhores
textos trazem όλίγως, um pouco, ou apenas, ou mal, e άποφίύγοντας, o particípio
presente, estão escapando-, e indicando aqueles que estão nos estágios iniciais de
sua fuga do erro, e não estão a salvo dele nem confirmados na verdade. Daí, na
t b , que apenas estão escapando-, ou na t e b : que mal acabam de desprender-se. Όλίγως,
somente aqui.

19. É vencido (ηττηται). Literalmente, ê derrotado-, de ήσσων, inferior. Somente


aqui, no versículo 20, e em 2Co 12.13.
604
2 P ed r o - C ap. 3

Faz-se servo (δ€δούλωται). E s c r a v i z a d o . Compare com Rm 6.16.

20. Corrupções (μιάσματα). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Com­


pare com o versículo 10. O termo é transcrito em m i a s m a .

Envolvidos (4μπλακέντ€ς). Somente aqui e em 2Tm 2.4. A mesma metáfora


está presente em Esquilo: "Pois não será de repente, nem na ignorância, que
sereis e n v o l v i d o s (έμττλεχθησ€σθ€) pela vossa tolice em uma rede impermeável de
Ate (d e s t r u i ç ã o )”H.

22. Por um verdadeiro provérbio (το τής αληθούς παροιμίας). Literalmente,


c o m o n o v e r d a d e i r o p r o v é r b i o , ou o a s s u n t o d o provérbio. V i d e em Mt 21.21 uma

construção similar, o q u e f o i f e i t o à f i g u e i r a - , Mt 8.33, o q u e a c o n t e c e r a a o s e n d e m o n i -


n h a d o s . Sobre p r o v é r b i o , v i d e notas sobre Mt 13.3.

Vômito (έξέραμα). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

Espojadouro (κυλισμόν). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

Lama (βορβόρου). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Este uso de


c ã o e p o r c o juntos relembra Mt 7 .6 .

C a pítulo 3

1. Amados. Este termo aparece quatro vezes neste capítulo.

Escrevo - segunda. Um testemunho incidental da autoria da segunda epístola.

Ânimo sincero (ειλικρινή διάνοιαν). A b j traduz por p e n s a m e n t o s a d i o . O pri­


meiro vocábulo é singular, não plural. O termo traduzido como s i n c e r o ou s a d i o é,
com frequência, explicado como t e s t a d o p e l a l u z d o so l-, mas isto é duvidoso, uma
vez que έ'ίλη, a que este significado é atribuído, significa o c a l o r , e não a l u z do
sol. Outros atribuem a origem do termo à raiz do verbo ίίλίσσω, r o l a r , e expli­
cam o vocábulo como aquilo que é s e p a r a d o ou p e n e i r a d o r o l a n d o , como em uma
peneira. Em favor desta etimologia, está a sua associação, no grego clássico, com
diferentes palavras, com o significado de n ã o m i s t u r a d o . O termo aparece apenas
aqui e em Fp 1.10. O substantivo correlato, eUucpíveia, s i n c e r id a d e , é encontrado
em lCo 5.8; 2Co 1.12; 2.17.

Ânimo (διάνοιαν). Compare com lPe 1.13; e v id e nota sobre Mc 12.30.

14. Ésquilo, P ro m eth eu s.

605
2 P ed ro - C ap. 3

3. Escamecedores andando (έμπαικται πορευόμενοι). Esta é a leitura seguida


pela arc . Mas os textos mais recentes acrescentaram εμπαιγμονή, com escárnios,
que aparece apenas aqui, embora um termo correlato para escárnios (έμπαιγμών)
seja encontrado em Hb 11.36. Este acréscimo forma um jogo de palavras; e por
isto, na bj, “virão escamecedores com os seus escárnios, levando” etc. A tb traz:
virão escamecedores com zombarias, andando.

4. Dormiram (έκοιμήθησαν). Uma tradução literal e correta da palavra, que


ocorre de modo geral no texto do Novo Testamento, porém em Pedro somente
aqui. Alguns supõem que o significado peculiarmente cristão do termo é enfa­
tizado ironicamente por esses escamecedores. Ele é usado, contudo, no grego
clássico para indicar morte. A diferença entre o uso pagão e o cristão está no fato
de que, no cristão, ele era definido pela esperança da ressurreição, e por isto era
usado literalmente com o sentido de um sono, que, embora longo, deveria ter um
despertar. Vide nota sobre At 7.60.

Desde o princípio da criação (άπ’ αρχής κτίσεως). Não é uma expressão co­
mum. Ela aparece apenas em Mc 10.6; 13.19; Ap 3.14.

5. Eles voluntariamente ignoram isto (λανθάνει αύτους τούτο θέλοντας). Literal­


mente, isto lhes escapa, por sua própria vontade. Na tb , Isto depropósito esquecem.

Existiram os céus. Mas o texto grego não traz artigo. Traduza, havia céus.

Tirada da água. Novamente, sem artigo. Traduza tirada de água, indicando


não a posição da terra, mas o elemento material ou mediador na criação; as águas
reunidas em um lugar, e a terra seca aparecendo. Ou, possivelmente, com refe­
rência à condição original e líquida da terra —semforma e vazia.

No meio da água (δι’ υδατος). Omita o artigo. Διά tem o seu sentido usual
aqui, não como na arc , no meio de, mas por meio de. Bengel: “A água servia para
que a terra subsistisse”. Os intérpretes estão muito divididos quanto ao signifi­
cado. Este é o ponto de vista de Huther, Salmond e, substancialmente, Alford.

Subsiste (συνεστώσα). Entendo que o termo significa, literalmente, associar-se,


i.e., consolidados ou formados. Compare com Cl 1.17, subsistir.

6. O mundo de então (ò τότε κόσμος). Literalmente. O vocábulo para mundo é,


literalmente, ordem, e indica o sistema perfeito do universo material.

Coberto (κατακλυσθείς). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Cata­


clismo deriva deste termo.

7. Os céus - que agora existem (oi νυν ουρανοί). Uma construção similar a o
mundo de então (v. 6). Os céus de agora ou os céus do presente.
606
2 P ed r o - C ap. 3

Se reservam (τίθη σ α υ ρισ μ ένο ι). Na t b , r e s e r v a d o s . Literalmente, g u a r d a d o s . O


mesmo vocábulo que é usado em Lc 12 . 2 1 , a j u n t a r t e s o u r o s . Em algumas ocasiões,
com o substantivo correlato, θησαυρούς, t e s o u r o s , como em Mt 6.19; literalmente,
e n te s o u r a r te s o u ro s .

Para o fo g o . Alguns associam esta expressão com se r e s e r v a m , como na teb, se


r e s e r v a m p a r a o fo g o - , outros, como t e s o u r o , como na a r c ; outros, ainda, são adeptos

do sentido a r m a z e n a d o s c o m f o g o , indicando que o agente para a destruição final


já está preparado.

9. Não retarda (ού βραδύνέΐ). Somente aqui e em lTm 3.15. O termo sig­
nifica literalmente a t r a s a r ou d e m o r a r . Também a l x x , Gn 43.10, “se não nos
t i v é s s e m o s d e t i d o ” . A tradução de Alford, n ã o ê l e n t o , seria um aperfeiçoamento.

O vocábulo significa, além de l e n t i d ã o , a ideia de atraso, com referência a um


momento indicado.

Venham (χωρήσαι). Continuar ou progredir.

10. O Dia do Senhor. Compare com a mesma expressão no sermão de Pedro,


At 2.20. Ela está presente apenas nessas duas perícopes, e em iTs 5.2. V i d e lCo
1.8; 2Co 1.14.

Como o ladrão. Omita d e n o it e . Compare com Mt 24.43; lTs 5.2,4; Ap 3.3; 16.15.

Com grande estrondo (ροιζηδόυ). Um advérbio peculiar a Pedro, e presente


apenas aqui. E um vocábulo cujo significado é sugerido por seu som (r h o i z e d o n ) ;
e o substantivo correlato, ροΐζος, é usado no grego clássico com o significado do
assobio de uma flecha; o som da flauta de um pastor; o bater de asas; o respingar
de água; o silvo de uma serpente; e o som do limar.

Os elementos (στοιχεία). Termo derivado de στοίχος, u m a β ί α , e significando,


originalmente, u m d e u m a f i l a ou s é r i e , por conseguinte, um c o m p o n e n t e ou e le m e n ­
t o . O nome das letras do alfabeto, como colocadas em fila. Vocábulo aplicado aos

quatro elementos —fogo, ar, terra, água; e recentemente aos planetas e signos
do zodíaco. E usado em um sentido ético em outras passagens; como em G1 4.3,
“ e le m e n t o s ou r u d i m e n t o s do mundo”. Também com referência ao ensinamento

elementar, como a lei, que era adequado para um estágio anterior na história
do mundo; e sobre os primeiros princípios de conhecimento religioso entre os
homens. Em Cl 2.8, sobre ordenanças formais. Compare com Hb 5.12. O verbo
correlato, στοιχέω, a n d a r , transmite a ideia de m a n t e r - s e e m f i l a , de acordo com
o sentido da raiz. Assim, andar c o n f o r m e a r e g r a (G1 6.16); a n d a r g u a r d a n d o a l e i
(At 21.24). Assim, também, o termo composto συστοίχέω, somente em G1 4.25,
c o r r e s p o n d e r a , literalmente, p e r t e n c e à m e s m a f i l a o u c o lu n a q u e . Os gramáticos

607
2 P edro - C ap. 3

gregos organizaram as categorias das letras de acordo com os órgãos da fala


(συστοιχίαι). Aqui o vocábulo é usado, naturalmente, em um sentido físico, sig­
nificando a s f a r t e s de que este sistema de coisas é composto. Alguns interpretam
com referência aos corpos celestes, mas o termo é recente demais e técnico nesse
sentido. Compare com Mt 24.29, a s p o t ê n c i a s d o s c é u s.

Ardendo (καυσούμενα). Literalmente, q u e im a n d o .

Se desfarão (λυθήσονται). Mais literalmente, se d is s o lv e r ã o .

11. Perecer (λυόμενων). Mas o particípio é presente; e a ideia é, na verdade,


e s t ã o e m p r o c e s s o d e d i s s o l u ç ã o . O mundo e tudo o que há nele são essencialmente

transitórios.

Vos convém ser (ύπάρχειν). V id e nota sobre 1.8.

Trato (άναστροφαΐς). V id e nota sobre lPe 1.15. Na tb , p r o c e d i m e n t o .

Piedade (εύσεβείαις). V id e nota sobre lPe 1.3. As duas palavras estão no plu­
ral: s a n t o t r a t o e p ie d a d e .

12. Aguardando (προσδοκώντας). O mesmo verbo que é usado em Lc 1.21, sobre


Zacarias. Cornélio estava e s p e r a n d o (At 10.24); o aleijado e s p e r a n d o rece­
e s p e ra ra

ber alguma coisa (At 3.5).

Apressando (σπεύδοντας). Penso que a tradução da tb, d e s e j a n d o a r d e n t e m e n t e ,


mereça maior confiabilidade. Eu estou propenso a adotar, com Alford, Huther,
Salmond, e Trench, o significado transitivo, a p r e s s a n d o , isto é:

F azendo com q ue o dia do S e n h o r v enha m ais ra p id am en te, a ju d an d o a satisfazer


aquelas condições sem as quais ele não p ode vir; um a vez que esse dia não e stá in ex o ­
rav elm en te fixado, m as é um dia cuja ch eg ad a é livre, p a ra q u e a ig re ja a apresse, pela
fé e pela o ra ç ã o 15.

V i d e Mt 24.14; o Evangelho será pregado em todo o mundo, “e e n t ã o virá o

fim”. Compare as palavras de Pedro, At 3.19: “Arrependei-vos, pois, e convertei-


vos” etc., “p a r a q u e venham, assim, os tempos do refrigério”; e a oração, “Venha o
teu Reino”. Salmond cita uma frase rabínica: “Se guardares este preceito, apres­
sarás o dia do Messias”.

Em que (δι’ ήν). Penso que a tradução da tb é a melhor: p e l o q u a l.

15. Trench, sobre The Authorized Version o f the New Testament

608
2 P e d r o - C ap. 3

Se fundirão (τήκεται). Literal. Mais forte que o termo dos versículos 10-11.
Não apenas a d e c o m p o s iç ã o , mas a d e s t r u i ç ã o da natureza. Somente aqui no texto
do Novo Testamento.

13. Aguardamos. O mesmo verbo que no versículo 12. Ele aparece três vezes
em 12-14.

Novos (καινούς). V id e nota sobre Mt 26.29.

14. Imaculados e irrepreensíveis. V id e nota sobre 2.13.

16. Difíceis de entender (δυσνόητα). Somente aqui no texto do Novo Testa­


mento.

Os indoutos e inconstantes (oi αμαθείς και αστήρικτοι). Ambos os vocábu­


los são peculiares a Pedro. Com respeito ao segundo, v i d e nota sobre 2.14.

Torcem (στρεβλοϋσιν). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Signifi­


cando, originalmente, g u i n c h a r c o m o a u x í l i o d e u m a g r u a ou também usando uma
manivela ou tarracha; torcer ou deslocar os membros em um instrumento de
tortura. É um termo singularmente vivido aplicado à perversão que é atribuído
às Escrituras.

As outras Escrituras (τάς λοιπάς γραφάς). Mostrando que as epístolas de


Paulo eram consideradas Escrituras. V i d e nota sobre Mc 12.10.

17. Abomináveis (άθέσμων). V id e nota sobre 2.7.

Sejais arrebatados (συναιταχθεντες). Melhor, na t b , l e v a d o s . É o vocábulo que


Paulo usou a respeito de Barnabé, quando dissimulou com Pedro em Antioquia.
“Barnabé se deixou l e v a r pela sua dissimulação” (G1 2.13).

Descaiais (εκπέσητε). Literalmente, “cair d e ". Compare com G1 5.4.

Firmeza (στηριγμοϋ). Somente aqui no texto do Novo Testamento. V id e nota


sobre 1.12.

609
L is t a d e P a la v r a s G r e g a s E m p r e g a d a s s o m e n t e p o r P e d r o

άγαθοποι'ία, fazendo o bem, I, 4.19 βλέμμα, via, 2, 2.8


άγαθοποίος, os que fazem o bem, 1, βόρβορος, lama, 2, 2.22
2.14 βραδυτής, tardio, 2, 3.9
αδελφότης, fraternidade, 1, 2.17; 5.9 γυναικείος, mulher (adj.), 1, 3.7
άδολος, não falsificado, 1, 2.2 διαυγάζω, esclarecer (o dia), 2, 1.19
άθεσμας, abomináveis, 2, 2.7; 3.17 δυσνόητος, difícil de entender, 2, 3.16
αίσχροκερδώς, por torpe ganância, 1, έγκατοικεω, habitar entre, 2, 2.8
5.2 έγκομβόομαι, revestir, l, 5.5
άκατάπαστος, não cessar, 2, 2.14 εκάστοτε, em toda a ocasião, 2, 1.15
άλλοτρ ιοεπ ίσκοπος, o que se entreme­ έκπαλαι, de largo tempo, desde a anti­
ie em negócios alheios, 1, 4.15 guidade, 2, 2.3; 3.5
άλωσις, ser preso, 2, 2.12 εκτενής, ardente, 1, 4.8
άμαθής, indouto, 2, 3.16 ελεγξις, repreensão, 2, 2.16
άμάραντινος, incorruptível, 1, 5.4 έμπαιγμονή, escárnio (cf. a r a ), 2, 3.3
άμαράντος, que se não pode murchar, εμπλοκή, frisado, 1, 3.3
1, 1.4 ενδυσις, vestes, 1, 3.3
άμώμητος, irrepreensível, 2, 3.14 ’έντρυφάω, deleite, 2, 2.13
αναγεννάω, gerar de novo, 1, 1.3,23 έξακολουθέω, seguir, 2, 1.16; 2.2,15
άναγκαστώς, por força, 1, 5.2 έξέραμα, vômito, 2, 2.22
άναζώννυμι, cingindo, l, l.is έξεραυνάω, tratar diligentemente,
άνάχυσις, desenfreamento, 1, 4.4 1, 1.10
ανεκλάλητος, inefável, 1, 1.8 επάγγελμα, promessa, 2, 1.4; 3.13
άντιλοιδορέω, injuriar [em resposta[j, επερώτημα, indagação, 1, 3.21
1, 2.23 επικάλυμμα, cobertura, 1, 2.16
απογίνομαι, £estar[] morto, 1, 2.24 επίλοιπος, restar, 1, 4.2
άπόθεσις, despojamento, 1, 3.21; 2, 1.14 έπίλυσις, interpretação, 2, 1.20
απονέμω, dar, 1, 3.7 έπιμαρτυρέω, testificar, 1, 5.12
αποφεύγω, escapar, 2, 1.4; 2.18,20 επόπτης, nós mesmos vimos, 2, 1.16
άπροσωπολήμπτως, sem acepção de εποπτεύω, observar, 1, 2.12; 3.2
pessoas, 1, 1.17 ιεράτευμα, sacerdócio, l, 2.5,9
άργεω, ser tardio, 2, 2.3 Ισότιμος, igualmente precioso, 2, 1.1
άρτιγεννητος, novamente nascido, 1,2.2 κατακλύζομαι, coberto, 2, 3.6
άρχιποίμην, Sumo Pastor, 1, 5.4 καυσόω, ardendo, queimar-se [fundir-
αστήρικτος, inconstante, 2, 2.14; 3.16 se], 2, 3.10,12
αυχμηρός, escuro, 2, 1.19 κλέος, glória, l, 2.20
βιόω, viver, 1, 4.2 κραταιάς, potente, l, 5.6
610
L ista de Palavras Gregas Empregadas somente por P edro

κτιστής, Criador, 1, 4.19 ροιζηδόν, com grande estrondo, 2,


κυλισμός, espojadouro, 2, 2.22 3.10
λήθη, esquecido, 2, 1.9 ρύπος, imundícia, 1, 3.21
μεγαλοπρεπής, magnífica, 2, 1.17 σθενόω, fortificar, 1, 5.10
μίασμα "i σειρός, inferno, 2, 2.4
, > corrupção, 2, 2.20; 2.10
μιασμος) σπορά, semente, l, 1.23
μνήμη, lembrança, 2, 1.15 στηριγμός, firmeza, 2, 3.17
μυωπάζω, nada ver ao longe, 2, 1.9 στρεβλόω, torcer, 2, 3.16
μώλωψ, ferida, 1, 2.24 συμπαθής, compassivo, l, 3.8
μώμος, mácula, 2, 2.13 συμπρεσβύτερος, presbítero com eles,
οίνοφλυγία, borracheira, l, 4.3 1, 5.1
όλίγως, um pouco, apenas, 2, 2.18 συνεκλεκτός, coeleita, 1, 5.13
ομίχλη, trevas, 2, 2.17 συνοικεω, coabitar, l, 3.7
όμόφρων, de um mesmo sentimento, ταπεινόφρων, afável, l, 3.8
1, 3.8 ταρταρόω, lançar no inferno, 2, 2.4
οπλίζομαι, armar-se, 1, 4.1 ταχινός, brevemente, 2, 1.14 ; 2.1
παρανομία, transgressão, 2, 2.16 τελείως, inteiramente, 1, 1.13
παραφρονία, loucura, 2, 2.16 τεφρόω, reduzir a cinza, 2, 2.6
παρεισάγω, introduzir encobertamen­ τήκομαι, fundir-se, 2, 3.12
te, 2, 2.1 τοιόσδε, seguinte, 2, l . 17
παρεισφερω, acrescentar, 2, 1.5 τολμητής, firme, 2, 2.10
πατροπαράδοτος, receber dos pais, 1, 1.18 υπογραμμός, exemplo, 1, 2.21
περίθεσις, uso, l, 3.3 ύποζύγιον, jumento, 2, 2.16
πλαστός, fingido, 2, 2.3 ύπολεμπάνω, deixar, 1, 2.21
πότος, bebedice, l, 4.3 ύς, porca, 2, 2.22
προθύμως, voluntariamente, 1, 5.2 φιλάδελφος, amar os irmãos, 1, 3.8
προμαρτύραμαι, testificar anterior­ φώσφορος, estrela da alva, 2, 1.19
mente, l , l. ll ψευδοδιδάσκαλος, falso doutor, 2, 2.1
πτόησις, espanto, l, 3.6 ωρύομαι, bramar, 1, 5.8

Destas palavras, cinquenta e cinco são peculiares à segunda epístola, e apenas


uma, άπόθεσις, deixar, é comum às duas epístolas.

611
Judas

1. Judas. Um dos irmãos de Jesus; não o irmão do apóstolo Tiago, filho de Alfeu,
mas o irmão de Tiago, superintendente da igreja de Jerusalém. Ele é citado entre
os irmãos do Senhor. Vide Mt 13.55; Mc 6.3.

Servo. Ele não se diz apóstolo, como Pedro e Paulo, em suas introduções, e
parece distinguir-se dos apóstolos, nos versículos 17-18: “Os apóstolos de nosso
Senhor Jesus Cristo, os quais vos diziam” etc. Nós lemos que os irmãos de Cristo
não criam nele (Jo 7.5); e em Atos 1, os irmãos de Jesus (v. 14) são mencionados
de uma maneira que parece separá-los dos apóstolos. Δούλος, servo, aparece nas
Introduções a Romanos, Filipenses, Tito, Tiago e 2 Pedro.

Irmão de Tiago. O fato de que Judas não se refere ao seu relacionamento com
o Senhor pode ser explicado pelo fato de que o relacionamento natural em sua
mente seria subordinado ao espiritual {videljc, 11.27-28), e esta designação, como
observa o deão Alford: “está em harmonia com os sentimentos posteriores e su­
persticiosos com que as gerações seguintes consideraram os parentes terrenos
do Senhor”. Ele evita enfatizar uma distinção que nenhum dos outros discípulos
ou apóstolos podería refutar, ainda mais por causa de sua descrença anterior na
autoridade e na missão de Cristo. É digno de nota que Tiago também evita esta
designação.

Chamados (κλητοίς). No final do versículo, como ênfase.

Conservados. Vide nota sobre lPe l .4. Compare com Jo 17.6,12.

Por Jesus Cristo (Ιησού Χριστώ). O dativo simples, sem preposição. Por con­
seguinte, para Jesus Cristo ou em Jesus Cristo; pelo Pai a quem Cristo os confiou
(Jo 17.11). Compare com lTs 5.23; Fp 1.6, 10.
Judas

2. Amor. Peculiar a Judas, na saudação.

3. Amados. Aparece no princípio de uma epístola somente aqui e em 3Jo 2.

Com toda a diligência (πάσαν σπουδήν ποιούμενος). Literalmente, fazendo


toda a diligência-, expressão encontrada apenas aqui. Em Hb 6.11, encontramos:
“mostrar cuidado” (ένδείκνυσθαι); e em 2Pe 1.5: “pôr diligência”. Vide nota sobre
essa passagem.

Acerca da comum salvação. Os melhores textos acrescentam ημών, nossa.


Assim na tb, “a nossa comum salvação”.

Tive por necessidade (ανάγκην εσχον). Literalmente. Alford, julguei necessá­


rio. Na n v i consta me senti obrigado.

Batalhar (έπαγωνίζεσθαι). Somente aqui no texto do Novo Testamento.

Pela fé. A soma daquilo em que os cristãos creem. Vide nota sobre At 6.7.

Uma vez (άπαξ). Não anteriormente, mas de uma vez por todas. Bengel diz: “Ne­
nhuma outra fé será dada”.

4. Compare todo o versículo com 2Pe 2.1.

Se introduziram (παρεισεδυσαν). Na teb consta se infiltraram. Vide nota sobre


2Pe 2 .1 .0 verbo quer dizer entrarpela lateral (παρά), esgueirar-se por uma porta
lateral. Somente aqui no texto do Novo Testamento.

Escritos (προγεγραμμένοι). O significado está em discussão. O vocábulo apa­


rece quatro vezes no texto do Novo Testamento. Em dois desses casos, πρό tem
claramente o sentido temporal de antes (Rm 15.4; Ef 3.3). Em G1 3.1, alguns o
interpretam com o significado de abertamente, publicamente (vide nota sobre essa
passagem). Parece melhor, de modo geral, interpretar o termo aqui no sentido
temporal, e traduzir antes escritos, isto é, em profecia, conforme a alusão nos ver­
sículos 14-15.

Dissolução. Vide nota sobre 1Pe 4.3.

Deus. Omitida nos melhores textos. Sobre Senhor (δεσπότην), vide nota sobre
2Pe 2.1.

5. Já uma vez soube (ε’ιδότας άπαξ). Completamente inadequado. Deve-se inter­


pretar como particípio presente, e a expressão uma vez não significa anteriormen­
te, mas de uma vez por todas, como no versículo 3. Assim na tb, acertadamente, se
bem que sabeis tudo uma vez para sempre.

614
Judas

6. Principado (αρχήν). Originalmente, o termo significa princípio, e com frequên­


cia é usado com este significado no texto do Novo Testamento, de modo geral nos
Evangelhos, no livro de Atos, em Hebreus, nas epístolas universais e no livro do
Apocalipse. Daí resulta o significado secundário, de soberania, domínio, magistratura,
como sendo o princípio ou o primeiro lugar de poder. Assim é usado, principalmen­
te, por Paulo, como principados (Rm 8.38); império (lCo 1.5.24). Compare com Lc
12.11, magistrado, e Lc 20.20 , poder. Um uso peculiar do termo ocorre em At 10.11:
“um grande lençol atado pelas quatro pontas (άρχαΐς)” sendo as pontas os princípios
do lençol. Nesta perícope, a ara adotou o primeiro significado, princípio, na sua
tradução, estado original. A arc adota o segundo, traduzindo como principado. Os
judeus consideravam que os anjos tinham domínio sobre as criaturas terrenas; e
os anjos são com frequência mencionados no Novo Testamento como άρχαί, prin­
cipados-, como Rm 8.38; Ef 1.21; de modo que este vocábulo seria apropriado para
designar a sua dignidade, que eles abandonaram.

Habitação (οίκητήριον). Somente aqui e em 2Co 5.2; na tb: domicílio.

Eternas (άϊδίοις). Somente aqui e em Rm 1.20. Para uma forma mais longa,
άείδιος, de àeí, sempre.

Na escuridão (υπο ζόφον). A bj traduz sob trevas, em que sob transmite a ideia
de as trevas estendendo-se sobre os espíritos caídos. Vide nota sobre trevas, em
2Pe 2.4. Compare com Hesíodo.·

A li o s d e u se s T ita n ia n o s, às trevas m ela n có lica s


co n d en a d o s p ela v o n ta d e d e Júpiter, o q u e ju n ta n u ven s,
se e sco n d em na região a sq u e r o sa 1.

7. As cidades circunvizinhas. Admá e Zeboim. Dt 29.23; Os 11.8.

Havendo-se corrompido (έκιτορνευσασαι). A rigor, havendo-se entregado etc.


Somente aqui no texto do Novo Testamento. A força de 4k é perfeitamente, entre-
gando-se completamente. Vide nota. sobre seguindo, em 2Pe 1.16.

Ido a p ó s (άττ6λθοΰσαι όπίσω). O particípio aoristo. Na a r a , seguindo após. A


expressão aparece em Mc 1.20; Tiago e João deixaram seu pai eforam após Jesus.
“Eis aí vaio mundo após ele” (Jo 12.19). Aqui, metaforicamente. A força de άπό é
para longe, afastando-se da pureza, e buscando outra carne (estranha).

Outra carne. Compare com 2Pe 2.10; e vide Rm 1.27; Lc 18.22-232.

1. Hesíodo,Theogony, v., 729.


2. Também a introdução de Jowett a Symposium, de Platão; haws, de Platão, viii., 836,841; Dollinger,
The Gentile and the Jew, tradução de Darnell, ii., 238ss.
615
Judas

Foram postas (πρόκεινται). O verbo significa, literalmente, estar exposto. Usa­


do sobre alimentos dispostos sobre a mesa, prontos para convidados; sobre um
cadáver exposto para o sepultamento; sobre uma questão em discussão. Assim a
corrupção e a punição das cidades da planície estão expostas diante dos olhos.

Por exemplo (δείγμα). Somente aqui no texto do Novo Testamento. De


δείκνυμι, exibir ou apresentar, por isso, alguma coisa que é apresentada diante dos
olhos, como um aviso.

Sofrendo a pena do fogo eterno (ττυρός αιωνίου δίκην ύπέχουσαι). A ara


substitui, corretamente, pena por punição, uma vez que δίκη transmite a ideia
subjacente de direito ou justiça que não está implícita em pena. Alguns dos me­
lhores intérpretes modernos traduzem são postas para exemplo dofogo eterno, so­
frendo punição. Este significado parece, de modo geral, mais natural, embora a
construção grega favoreça os outros, uma vez que fogo eterno é a expressão de
forma constante usada para os condenados, por fim, no juízo final, e dificilmente
podería ser usada a respeito de Sodoma e Gomorra. Estas cidades são um exemplo
de fogo eterno. Lumby registra:

U m a d estru içã o tão co m p leta e tão p erm a n en te co m o a d elas é a com p aração m ais
p róxim a q u e p od e ser en con trad a, n e ste m u n d o, para a d estru içã o q u e e stá à esp era
d o s q u e e stã o g u ard ad os sob trevas, até o ju íz o d o g r a n d e dia.

Sofrendo (ύπέχουσαι). Somente aqui no texto do Novo Testamento. O particí-


pio é presente, indica que estão sofrendo até hoje a punição que lhes foi enviada
nos tempos de Ló. O verbo significa, literalmente, manter sob, por conseguinte,
sustentar ou apoiar, e, dessa maneira, sofrer ou submeter-se a.

8. E, contudo (μέντοι). Embora tenham esses terríveis exemplos diante de si, e,


contudo persistem em seus pecados.

Dominação - autoridades (κυριότητα —δόξας). Não é fácil determinar o sig­


nificado exato destes dois vocábulos. Κυριότης, dominação, aparece em três ou­
tras passagens, Ef 1.21; Cl 1.16; 2Pe 2.10. Nas duas primeiras, e provavelmente
na terceira, a referência é a autoridades angelicais. Alguns explicam esta períco-
pe, bem como a de 2 Pe, como se referindo a anjos malignos. Em Colossenses, o
vocábulo é usado com tronos, principados, e potestades, com referência às ordens da
hierarquia celestial, como concebida por professores gnósticos, e com a finalida­
de de exaltar a Cristo acima de todas essas palavras. Glórias ou dignidadesé usada
neste sentido concreto apenas aqui e em 2Pe 2.10.

9. O arcanjo Miguel. Aqui chegamos a uma peculiaridade desta epístola, que


fez com que a sua autoridade fosse impugnada em uma época muito antiga, e
616
Judas
esta característica é a aparente citação de textos apócrifos. As passagens são
os versículos 9,14-15. Esta referência a Miguel foi considerada, por Orígenes,
como fundamentada em uma obra judaica chamada A ascensão de Moisés, da qual
a primeira parte foi, posteriormente, encontrada em uma antiga tradução ao la­
tim, em Milão; e esta é a opinião de Davidson, pelo menos no que diz respeito
às palavras “O Senhor te repreenda”. Outros consideram a perícope uma citação
de Zc 8.1, mas nessa passagem não há nada sobre o corpo de Moisés, ou Miguel,
ou uma disputa sobre o corpo. Outros, ainda, a atribuem a um comentário rabí-
nico sobre Dt 34.6, onde está escrito que Miguel foi feito guardião da sepultura
de Moisés. Sem dúvida, Judas estava se referindo a alguma história ou tradição
bastante aceita, provavelmente baseada em Dt 34.6. Para uma referência similar
à tradição, compare com 2Tm 3.8; At 7.22.

Miguel. Os anjos são descritos, nas Escrituras, como formando uma socie­
dade com diferentes ordens e dignidades. Este conceito é desenvolvido nos
livros escritos durante o exílio, e depois dele, especialmente Daniel e Zacarias.
Miguel (Quem ê como Deus?) é um dos sete arcanjos, e era considerado o pro­
tetor especial da nação dos hebreus. Ele é mencionado três vezes no texto do
Antigo Testamento (Dn 10.13,21; 12.1), e duas vezes no do Novo Testamento
(Jd 9; Ap 12.7)3.

Um juízo de maldição (κρίσιν βλασφημίας). Literalmente, umjuízo de ofensas-,


uma sentença que contesta a sua dignidade. Miguel se lembrou da elevada posi­
ção de que caiu, e deixou a sua sentença a cargo de Deus.

10. Compare com 2Pe 2.12.

Não sabem (ούκ οΐδασιν). Compreensão mental e conhecimento, referindo-se


a toda a gama de coisas invisíveis; ao passo que o outro verbo deste versículo,
traduzido como conhecer (4πίστανται, originalmente de habilidade em trabalhos
manuais), refere-se a coisas palpáveis; objetos dos sentidos; as circunstâncias dos
prazeres dos sentidos.

Naturalm ente (φυσικώς). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Com­


pare com φυσικά, que seguem a natureza, em 2Pe 2.12.

11. Ai (ούαι). Usada de modo geral pelo nosso Senhor, mas não ocorre em ne­
nhuma outra perícope exceto aqui e no livro do Apocalipse. A expressão em lCo
9.16 é diferente. Ali o vocábulo não é usado como uma imprecação, senão quase
como um substantivo: "Ai de mim”. Também Os 9. 12 (lxx ).

3. Com respeito a lendas, vide obra da Sra. Jameson, Sacred and Legendary Art, i., 94ss.

617
Judas

Foram levados (έξεχυθησαν). Literalmente,yòram despejados. Na ara, sepre­


cipitaram. Uma expressão forte, que indica uma devoção impulsiva e dissoluta
das energias, como o termo latino efifundi. Isto Tácito diz sobre Mecenas: “ele
estava entregue ao amor por Bathyllus"; literalmente, derramado em amor.

Pelo. Tradução adequada. O engano era a sua esfera de ação.

Na contradição (τί) αντιλογία). No costume de contradizer, como o de Corá.


’Αντιλογία vem de αντί, contra, e λέγω, falar. Portanto, literalmente, contradição.

Corá. Que falou contra Moisés (Nm 16.3). A água que Moisés extraiu da rocha,
em Cades, foi chamada água de Meribâ (contenda), ou, na lxx, ύδωρ αντιλογίας, a
água da contradição.

12. Manchas (σπιλάδ^ς). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Traduzi­


do desta maneira por ter sido interpretado como similar a σπίλοι (2Pe 2.13); mas,
corretamente, como na ara, rochas submersas. Também em Homero: “as ondas ar­
remessaram o barco contra as rochas (σπιλάδεσσιν)”*. Vide nota sobre enganos, em
2Pe 2.13. Estes homens não mais eram meras manchas, mas elementos de perigo
e destruição. A tb traduz como cachopos.

Banqueteando-se convosco. Vide nota sobre 2Pe 2.13.

Apascentando-se (ποιμαίνοντ^ς). Vide nota sobre lPe 5.2. Literalmente. E


também na tb, pastores que se apascentam a si mesmos-, que promovem os seus pró­
prios esquemas e desejos, em vez de apascentar o rebanho de Deus. Compare
com Is 56.11.

Sem temor (άφόβως). Dos juízos como os que acometeram a Ananias e Safira.
Possivelmente, como sugere Lumby, implicando uma repreensão às congrega­
ções cristãs, por terem permitido tais práticas.

Nuvens sem água. Compare com 2Pe 2.17, fontes sem água. Como nu­
vens que parecem estar carregadas com chuvas refrescantes, mas são levadas
(παραφ6ρόμ€ναι) e não produzem chuva.

Murchas (φθινοπωρινά). Literalmente, pertencente aofim do outono. De φθίνω


ou φθίω, definhar, consumir-se, e οπώρα, outono. A teb corretamente traduz por
árvores defim de outono. Na ara: árvores em plena estação dosfrutos. Entendo que a
tradução da arc não é a melhor.

4-, Homero, Odisséia, iii., 298.

618
Judas

Duas vezes mortas. Não apenas a aparente morte do inverno, mas uma morte
real·, de modo que somente falta arrancá-las pelas raízes.

IS. Impetuosas (αγρια). Na ara, bravias, que é um vocábulo melhor, sugerindo


qualidade e não ato. Ondas, por natureza indomadas. O ato ou expressão da nature­
za é indicado pelo vocábulo seguinte.

Escumam (έπαφρίζοντα). Somente aqui no texto do Novo Testamento. Com­


pare com Is 57.20.

Abominações (αίσχύυας). Literalmente, desgraças. Na ara, consta sujidades-,


na TB, torpezas-, na teb, ignomínia.

Estrelas errantes. Na teb, astros errantes. Compare com 2Pe 2.17. Possivel­
mente, uma referência a cometas, que brilham durante algum tempo, e então
passam à escuridão. De acordo com Lumby: “Não pertencem ao sistema: vagam
ao acaso, e sem lei, e devem, por fim, ser separados das luzes que governam, ao
passo que eles são governados”.

Negrura (ζόφος). Na teb, consta profundidade. Vide nota sobre 2Pe 2.4.

Das trevas (του σκότους). Literalmente, “as trevas”, com o artigo se referindo
à escuridão já mencionada, versículo 6.

14. Profetizou Enoque. Esta é a segunda das passagens apócrifas mencionadas


em notas sobre o versículo 9. É uma citação do livro apócrifo de Enoque, ou de
uma tradição nele baseada. A passagem no livro de Enoque é a seguinte:

E is que é vin d o o S en h o r c o m m ilh a res de se u s sa n to s, para fazer ju íz o c o n tr a to d o s


e co n d en a r d en tre e le s to d o s o s ím p ios, p o r to d a s as su as o b ras d e im p ied ad e q u e
im p ia m en te co m etera m e p or tod as as d u ras p alavras q u e ím p io s p ecad ores d isseram
con tra ele.

O livro de Enoque, que era conhecido pelos pais do século II, esteve perdido
durante alguns séculos, com a exceção de poucos fragmentos, e foi encontra­
do inteiro, em uma cópia da Bíblia Etíope, em 1773, por Bruce. Os estudantes
modernos o conhecem por meio de uma tradução feita ao inglês pelo arcebispo
Lawrence, em 1821. O livro de Enoque provavelmente foi escrito em hebraico,
e consiste de revelações feitas a Enoque e Noé, e o seu objetivo é justificar os
caminhos da providência divina, apresentar a retribuição reservada para os peca­
dores, angelicais ou humanos, e “repetir, de todas as maneiras, o grande princípio
de que o mundo - natural, moral e espiritual - está sob o governo imediato de
Deus”. Além de uma introdução, ele contém cinco partes: (l) Uma narrativa da
queda dos anjos, e de uma viagem de Enoque, em companhia de um anjo, pelo
619
J udas

céu e pela terra, e dos mistérios vistos por ele; (2) Parábolas a respeito do reino
de Deus, o Messias e o futuro messiânico; (3) Assuntos de física e astronomia,
tentando reduzir as imagens do Antigo Testamento a um sistema físico; (4) Duas
visões que representam simbolicamente a história do mundo, até a conclusão
messiânica; (5) Exortações de Enoque a Metusalém, e seus descendentes. O livro
não mostra nenhuma influência cristã, tem tom altamente moral e imita os mitos
do Antigo Testamento.

Com milhares de seus santos (εν άγίαις μυριάσιν). Literalmente, « o u entre


santas miríades. Compare com D t 33.2; Zc 14.5.

15. ímpios (ασεβείς) - obras de impiedade (έργων άσεβείας, literalmente) que


impiamente cometeram (ήσεβησαν), e por todas as duras palavras que ímpios
(άσεβεις) pecadores etc. As palavras ímpios pecadores estão colocadas em uma
posição pouco usual, no final da sentença, com o propósito de ênfase, sendo a
impiedade o essencial no pensamento do autor.

Duras (των σκληρών). O termo palavras está incluído. Literalmente, coisas


duras. Ojuízo de maldição, a contradição; osfalatórios profanos {2Tm 2.16). Compa­
re com Jo 6.60, um discurso duro, onde o vocábulo não significa cruel, mas difícil.
Em Tg 3.4, impetuosos, vocábulo usado a respeito dos ventos. Em At 26.14, sobre
Saulo de Tarso: “dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões”.

16. Murmuradores (γογγυσταί). Somente aqui no texto do Novo Testamento.


Sem dúvida, originalmente, com alguma adaptação de som aos sentidos, gongus-
tai. Vocábulo usado a respeito do arrulhar das pombas.

Queixosos (μεμψίμοιροι). De μεμφομαι, encontrarfalha em, e μοίρα, uma parte


ou porção. Literalmente, que culpam a sua sorte.

Coisas mui arrogantes. Vide nota sobre 2Pe 2.18.

Admirando as pessoas (θαυμάζοντες πρόσωπα). Na a r a , são aduladores dos ou­


tros, é mais próxima, entretanto, mais literal ainda: admirando asfisionomias. Com­
pare com Gn 1 9 .2 1 (lxx ): “Tenho-te aceitado”; literalmente, admirei a tuaface.

Por causa do interesse. Vide 2Pe 2.3,14.

17. Amados. Compare com o versículo 3.

18. Escamecedores. Vide nota sobre 2Pe 3.3.

ímpias concupiscências (επιθυμίας των ασεβειών). Literalmente, desejos de


impiedade.
620
Judas

19. Causam divisões (άποδ ιορ í ζοντες). Somente aqui no texto do Novo Testa­
mento. A expressão eles mesmos é desnecessária. Melhor, como na ara, promovem
divisões. O verbo é composto de avó, fora; διά, através; όρος, uma linha de limite.
A respeito dos que traçam uma linha através da igreja, e separam um lado do
outro.

Sensuais (ψυχικοί). Vide nota sobre Mc 12.30. Assim como ψυχή indica vida,
na qualidade peculiar da existência individual, “o centro da existência pessoal, o
Eu de cada indivíduo”, também este adjetivo derivado desse termo indica aquilo
que pertence ao homem, como homem, a personalidade naturale distinta do ho­
mem renovado. Assim em 1Co 2.14; 15.44. A tradução sensuais, aqui e em Tg 3.15,
é por dedução; sensual porque é natural e não renovado.

O Espírito. A vida espiritual mais elevada e mais sublime. Assim, o adjetivo


πνευματικός, espiritual, aparece em todas as partes do Novo Testamento em opo­
sição a ψυχικός, natural. Vide lCo 15.44,46.

22. E apiedai-vos de alguns que estão duvidosos. Tradução adequada. De


acordo com a leitura: καί ους μεν ελεείτε (έλεάτε) διακρινόμενοι. Os melhores
textos, contudo, trazem διακρινομενους, que exigiría: “Apiedai-vos de alguns que
estão duvidosos. Outros, ainda, em lugar de ελεείτε, apiedai-vos, leem έλεγχετε,
reprovai, e traduzem διακρινομενους por que são contenciosos; “A alguns que são
contenciosos reprovai”.

23. Arrebatando-os do fogo. O autor tem em mente Zc 3.2, um tição tirado do


fogo. Compare com Am 4.11.

Com tem or (εν φόβφ). Literalmente, em temor, isto é, do contágio do pecado,


enquanto o resgate é feito.

Manchada (έσπιλωμένον). Somente aqui e em Tg 3.6. Vide nota sobre 2Pe 2.13.

24. Para vos guardar de tropeçar (φυλάξαι υμάς απταίστους). Literalmente,


“para vos guardar sem tropeçar. Somente aqui no texto do Novo Testamento. Vide
o termo correlato transgredir, em T g 2.10; 3.2.

Com alegria (αγαλλιάσει). Vide nota sobre lPe 1.6.

25. Agora e para todo o sempre (καί νϋν καί εις πάντας τους αιώνας). Lite­
ralmente, agora epor todos os séculos. Os melhores textos acrescentam προ παντός
του αίώνος, antes de todos os séculos.

621
L ista de P alavras G regas E mpregadas som ente por J udas

άποδιορίζω, causar divisões, 19 επαφρίζω, escumar, 13


άπταιστος, irrepreensíveis, 24 μεμψίμοιρος, queixoso, 16
γογγυστής, murmurador, 16 παρεισδύω, introduzir-se, 4
δείγμα, exemplo, 7 πλανήτης, errante, 13
εκπορνεύω, haver-se σπιλάς, desarraigada, 12
corrompido, 7 ύπεχω, sofrer, 7
ένυπνιάζω, adormecer, 8 φθινοπωρινός, do outono, 12
επαγωνίζομαι, batalhar, 3 φυσικώς, natural, 10

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629
Índice T emático

A ba , 133 Água, 273, 409, 506, 532, 569, 603,


Abatimento, 512 606, 618
Abismo, 275, 329 Águias, 107, 331
Abominação, 184, 326; -ões, 619 Aguilhões, 476
Abominação da desolação, 105 Agulha, 6, 90, 175, 202, 335
Abrolhos, 261 Ajuntamento, 520
Abundância, 319 Alabastro, 112, 186, 269
Aceldama, 365 Aldeia, 270; -s, 140, 278
Acenos, 212, 217 Alegria, 21 1 , 215, 222, 621
A cepção, 408, 504, 520, 524, Alexandria, 479
553 Alfândega, 45
Açoites, 306, 465 Alforje, 288
Acúmulo, 517 Alicerces, 262
Acusação, 119, 191;-ões, 475 Alimentos, 389
Admoestações, 590 Alistamento, 219, 385
Adriático, 482 Alma, 82, 180, 216, 303, 380, 453
Adúltera, 61; -s, 535 Almofada, 153
Adultério, 602 Alpendre, 189
Adúlteros, 535 Alqueire, 32, 201, 299; -s, 323
Adversário, 578 Altar, 301, 440
Aflição, 344, 541; -ões, 579 Altíssimo, 394
África, 479 Alto, 218
Afronta, 385; -s, 301 Alvoroço, 46
Agonia, 349 Amarras, 483
Agripa, rei, 474 Ambições, 150
Í ndice T emático

Ameaças, 400 Arrependimento, 134, 230, 231,


Amigas, 316 384
Amigo, 92, 527; -s, 264, 502, 311, A rruda, 300
324 A rte mágica, 397; -s, 448
Amor, 573, 582, 587, 614 Artífices, 449
Amoreira, 330 Árvore, 261, 309; -s, 170
Amotinadores, 190 Aser, 227
Ananias, 466 Ásia, 368, 428, 447, 460
Anciãos, 81, 350, 383, 424, 454 Aspecto, 121,513
André, 147, 253 Aspersão, 505, 546
Anel, 320, 521 Assentos, 181,311
Angústia, 67, 344 Assombro, 193, 375
Animais, 406, 600 Assunção, 286
Animal de carga, 94 Astúcia, 341, 390
Ânimo, 471, 536, 576, 605 Atalhos, 313
Aniversário, 160 Atenienses, 438
Anjo, 222, 409, 414, 482; -s, 116, Atorm entadores, 89
342, 394, 595 Audiências, 452
Anjo do Senhor, 415 Augusto, 474
Ano, 537; -s, 227, 228, 236, 307, 402 Autoridade, 264, 338; -s, 599, 616
Ano aceitável, 239 Avarentos, 325
Ânsias, 370 Avareza, 595, 602
Ansiedade, 578 Aventais, 448
Antipátride, 469 Aves, 286, 309
Anzol, 85 Azeite, 293
Aparência, 179, 330, 341, 513 Azenha, 86
Aposento, 35, 187, 346
Apóstolo, 545; -S, 47, 253, 347, 385 581
B a b il ô n ia ,
Áquila, 445 Bairros, 313
Árabes, 368 Baleia, 61
Arcanjo, 616 Banco, 338
Ardor, 512 Banqueiros, 111
Areopagita, 443 Banquete, 250
Areópago, 438 Bárbaros, 483
Argueiro, 40, 261 Barco, 153; -s, 244
Aristarco, 452 Barjesus, 418
Armação, 482 Barnabé, 422, 427, 428
Armadura, 298 Barsabás, 366
Arrebatam ento, 405 Bartolomeu, 148, 253
632
Í ndice T emático

Batei, 481 Cadeia, 485; -s, 154, 275, 461, 478,


Batismo, 134, 230 596
Bebedices, 572 Cadeira, 101
Bebida, 211 Cálice, 187, 347
Belém, 15 Calma, 307
Belzebu, 50, 133, 148, 297 Cama, 151, 296, 402; -s, 165
Bem, 560, 575 Camarista, 414
Bênçãos, 420 Cambistas, 6, 95, 177
Bens, 60, 149 Camelo, 90, 135, 335
Beor, 602 Caminho, 64, 177, 228, 271, 292,
Berenice, 474, 478 307, 449, 457, 463, 471, 527,
Bestas-feras, 530 602; -s, 99, 177, 419, 513
Betfagé, 93, 338 Caminho de um sábado, 363
Betsaida, 279 Campo, 99, 305
Bezerro, 320, 392 Candace, 399
Bichos, 416 Candeia, 273, 299
Bispado, 365 Cântaro, 187, 346
Bispo, 503, 562; -s, 455 Capa, 34, 118, 259, 413
Blasfêmia, 168 Capacidade, 110
Boa vontade, 223 Capitães, 346
Boanerges, 133, 147 Capitão do templo, 378
Boca, 87, 399, 560 Cárcere, 69, 235, 383, 433
Bodas, 99, 109, 250, 305, 311 Carne, 89, 175, 369, 371, 538, 568,
Bodes, 111, 112 598,615
Bofetadas, 189 Carpinteiro, 159
Bolotas, 318 Carreira, 455
Bolsa, 287; -s, 305 Carta, 90, 174
Bom, o, 90 Casa, 106, 140, 142, 215, 220, 288,
Bonança, 154, 274 297, 298, 329, 366, 373, 394,
Bordão, 48; -ões, 278 557; -s, 175
Bosque, 529 Castigo, 560
Braços, 174, 175 Castor, 485
Brandura, 472 Cativos, 239
Buraco, 141 Cavalgadura, 293; -s, 469
Cavalos, 528
Cabeça , 445 Caveira, 353
Cabrito, 321 Cego, 176, 260, 503, 588; -S, 267
Cachorrinhos, 168, 75 Ceia, 311
Cadáver, 107 Ceitil, 133, 200, 307
633
Í ndice T emático

Cenáculo, 364, 453 Companhia, 228


Cento, 272 Comunhão, 373
Centurião, 133, 262, 403, 485; -ões, Concerto, 378
461 Concupiscência, 514, 585; -s, 620
Cercanias, 74 Concurso, 452
Certeza, 209 Condição, 90
César, 436 Confins, 89
Cesareia, 469 Conhecedor, 366
Cesto, 151, 402; -s, 72, 75, 162, 170, Conhecimento, 218, 472, 475, 584,
280 588
Céu, 185, 290, 360, 570, 592; -s, Conjuração, 467
371, 606 Consciência, 466, 561, 566
Cevados, 99 Conselho, 383, 473
Chagas, 327 Conselho dos anciãos, 463
Chamados, 3 Consolação, 258, 402, 419
Chão, 75 Consolação de Israel, 225
Chaves, 80 Conspiração, 467
Chuva, 306, 483, 540; -s, 424 Consumação, 123
Cidade, 137, 140, 220, 270, 274, 276, Conta, 323; -s, 88, 313, 322, 449
451, 537; -S, 271, 338, 428, 615 Contaminações, 426
Cidade Santa, 5, 22 Contenda, 347, 428
Ciladas, 302, 401, 473 Contradição, 618
Cinza, 289, 597 Conversão, 455
Circuncisão, 389, 409 Convidados, 99, 250
Cirene, 368 Convite, 312
Clamor, 107, 108 Cooperador, 418
Cobertura, 504, 560 Coorte, 190, 403, 478
Cobiçais, 535 Corá, 618
Cobre, 48 Coração, 74, 180, 272, 357, 358,
Coisa, 87; -s, 209 366, 380, 390, 391, 512, 555,
Coisas espantosas, 343 602; -ões, 425
Coisas santas, 41 Corbã, 133, 165
Colônia, 204, 429 Cordeiro, 554
Comichão, 203 Coro, 479
Comida, 279; -s, 166 Coroa, 513, 577
Cominho, 103 Corpo, 161, 192, 447
Compaixão, 81, 140, 169, 266 Correias, 465
Companheiros, 246 Corrupção, 520, 600; -ões, 605
Companheiros de viagem, 451 Costumes, 419
634
Í ndice T emático

Costura, 143 Despenhadeiro, 45, 156, 275


Covis, 43, 286 Despensa, 304
Credor, 270 Desperdício, 112
Crença, 434 Despojamento, 569
Criação, 68, 184, 606 Despojos, 298
Criada, 6 ,1 1 7 Desvario, 356
Criado, 264 Deus, 90, 155, 180, 181, 184, 209,
Criança, 86, 285; -s, 334, 390 215, 216, 331, 385, 397, 415,
Criancinha, 215 440, 441, 455, 464, 471, 475,
Criatura, 193 477, 482, 485, 511, 513, 527,
Crime, 444, 469 531, 554, 557, 561, 568, 593, 614
Cristão, 574; -s, 410 Devedor, 102
Cristo, 8, 76, 191, 222, 280, 360, Dia, 70, 228, 279, 310, 357, 482,
371, 397, 401, 477, 551, 554, 565 539; -s, 17, 123, 143, 228, 236,
Cristo Jesus, 580 250, 286, 362, 363, 407, 452
Cruz, 52, 171, 313 Dia do Senhor, 369, 607
Cuidado, 50; -s, 345 Diabo, 20, 236, 578
Culpas, 542 Diana, 4 5 0
Cume, 240 Didracmas, 84
Cura, 279; -s, 310 Dilação, 472
Curso, 530 Diligência, 586, 614
Curtidor, 404 Dinheiro, 92, 100, 121, 182, 1 87;-s,
88, 270, 293
D ádiva , 515; -s, 342 Direita, 111
Dano, 479 Direita, rua, 400
Davi, rei, 9 Discípula, 403
Decreto, 219; -s, 436 Discípulos, 47, 61, 166, 170, 177,
Defesa, 462 364, 424, 447, 457
Deleites, 535, 601 Discursos, 262
Delícias, 267 Discussão, 285, 51
Demônio, 2 4 1 ; -s, 137, 1 9 3 ,2 7 4 ,2 7 5 Dissolução, 167, 572, 614; -ões,
Dentes, 172 570, 595
Deputado, 204 Distinção, 522
Derbe, 424 Dívidas, 35
Descida, 339 Divindade, 442
Descrédito, 449 Divisões, 621
Desenfreamento, 572 Dízimo, 103; -S, 333
Deserto, 18, 71, 106, 135, 236, 279, Doenças, 243
315, 398; -s, 219 Dom, 515, 573
635
Í ndice T emático

Dominação, 616; -ões, 599 Equidade, 470


Domínio, 576 Erro, 121
Dorcas, 403 Escabelo, 371
Dores, 184, 202 Escadas, 461
D outor da lei, 291; -s, 248 Escamas, 401
Doutores, 268, 594 Escândalo, 82, 504; -s, 330
Doutrina, 373 Escarnecedores, 606, 620
Doze, os, 116, 150, 188, 271 Escolhidos, 3
Dracmas, 316 Escribas, 81, 142, 172, 200
Duração, 67 Escritura, 179, 364, 399, 536, 558;
D ureza, 145 -s, 609
Dúvida, 278 Escrivão, 451
Escuridão, 419, 596, 604, 615
E fatá, 133 Espaço, 389
Efeitos, 542 Espada, 227, 348, 412
Efeso, 454 Espanto, 158, 242, 246, 563
Efígie, 100 Espelho, 518
Egípcio, 461 Esperança, 371, 475, 547, 554
Egito, 368, 389 Espias, 341
Eira, 19, 235 Espírito, 119, 136, 170, 202, 216,
Elamitas, 368 225, 236, 241, 291, 455, 467,
Elementos, 607 568, 621;-s, 267, 568
Elevação, 226 Espírito da glória de Deus, 574
Elimas, 418 Espírito de adivinhação, 431
Emanuel, 14 Espírito de enfermidade, 308
Embriaguez, 345 Espírito Santo, 60, 199, 236, 362,
Empregados, 136 364, 409, 447
Enchente, 262 Esplendor, 476
Encontro, 108 Espojadouro, 605
Endro, 103 Esquife, 266
Enfermidades, 25, 247, 266 Esquina, 558
Enganador, 121 Estações, 363
Enganos, 601 Estádios, 356
Enoque, 619 Estalagem, 220, 293
Enseada, 482 Estáter, 85
Entendimento, 181, 181, 359, 552, Estatura, 230, 304, 336
564 Estêvão, 387, 396
Entranhas, 218 Estoicos, 437
Epicureus, 437 Estômago, 318
636
Í ndice T em ático

Estrangeiros, 438 Figueira, 96


Estrela, 17;-s, 185, 619 Figueira-brava, 336
E strela da alva, 504, 593 Figura, 569
Estrondo, 607 Filactérios, 101
Esvaziamento, 204 Filha, 156, 168
Etíopes, 398 Filha de Sião, 94
Euroaquilão, 480 Filho, 9, 22, 135, 378, 220, 229,
Evangelho, 7, 171,421,425 236, 319, 322, 329, 376, 582; -s,
Exaltação, 512 75, 168, 296, 457, 552
Executor, 133, 161 Filho de Davi, 5
Exemplo, 540, 561, 576, 598, 616 Filho de Deus, 120, 191
Exército do céu, 392 Filho de paz, 288
Exércitos, 99, 222, 485 Filho do Homem, 256, 395
Exorcistas, 448 Filhos da luz, 324
Exortação, 428 Filhos das bodas, 142
Expectação, 345 Filhos de maldição, 602
Filhos do Altíssimo, 260
Fábulas, 591 Filipe, 147, 253, 397, 458
Face, 259 Fim, 149, 541
Fadiga, 92 Fim do mundo, 5
Falta, 511 Fio, 344
Fama, 69, 242, 266 Firm eza, 410, 609
Família, 220 Flauta, 269
Fantasm a, 72 Flor, 512
Fariseus, 142, 300 Fluxo de sangue, 485
Fazedor, 519 Fogo, 32, 306, 350, 367, 529, 607,
Fazendas, 373 616, 621
Fé, 84, 103, 199, 377, 387, 523, 554, Folhas, 177
586, 614 Fome, 240, 404; -s, 183, 343
Febre, 43, 136, 201, 242, 485 Fonte, 531, 532; -s, 603
Feito, 519 Forasteiros, 368
Fel, 398 Força, 53, 326, 599
Félix, 472 Forma, 193, 236
Feras, 130, 135 Forno, 305
Ferida, 504; -s, 202, 292, 562 Fortaleza, 461
Fermento, 67, 302, 309 Fraternidade, 587
Ferrugem , 38 Franjas, 101
Festa, 346, 445 Freio, 528
Festa dos Pães Asmos, 186 Frisado, 563
637
Í ndice T emático

Fruto, 150, 179, 261, 308; -s, 231, Grupos, 161, 279
303, 340 Guarda, 6, 121, 413
Fundo, 90 Guardadora, 451
Fúria, 274 Guerra, 341; -s, 183
Furor, 252 Guia, 364

G 302
a b in e t e , H abitação, 365, 486, 615
Gabriel, 2 1 1 , 213 Hades, 328
Gadarenos, 274 Hebreus, 386
Gaio, 452 Herança, 389, 547, 576
Galardão, 35, 601 Heresias, 506, 594
Galileia, 350 Herodes, rei, 412, 469
Galileus, 368 Herodias, 160
Galinha, 104, 310 Hino, 115, 1 8 7 ; -s, 434
Gálio, 444 Hipocrisia, 302
Galo, 115, 187, 348 Hipócritas, 102
Gamaliel, 463 Homem, 60, 113, 117, 144, 185,
Ganância, 576 187, 314, 336, 346, 377, 384,
Gangrena, 203 512, 531, 542, 556; -ns, 50, 162,
Gastos, 314, 459 170, 223, 333, 385, 422, 435,
General, 485 464, 560, 593, 598
Gente, 94 Homicida, 377
Gentio, 5; -s, 464 Honra, 50, 165, 522; -s, 485
Geração, 171,216,324,399,442, 558 Hora, 50, 107, 116, 119, 306, 354,
Getsêmani, 115, 188 369, 374, 407
Glória, 282, 389, 550, 551, 561, 585 Horta, 309
Glutonaria, 345; -s, 571 Hortaliça, 300; -s, 152
Gólgota, 118, 191 Hortelã, 103
Gotas, 349 Hosana, 95, 177
Governador, 203, 478 Hóspede, 336
Governantes, 204 Humanidade, 483
Gozo, 509 Humildade, 577
Graça, 214, 240, 446, 546 Humilhação, 399
Graças, 55, 75, 227, 291
Grandezas, 368 227
Id a d e,
Grécia, 452 Idolatria, 437
Gregos, 386, 402, 410, 460 Ignorância, 560
Grilhões, 154, 275 Igreja, 77, 374, 581; -s, 402
Gritos, 190, 352 Imagem, 179, 341
638
Í ndice T emático

Impiedade, 620 Jesus Cristo, 402, 509, 546, 583, 613


ímpios, 620 Jesus Nazareno, 388
Importunação, 297 João, 18, 128, 134, 210, 230, 231,
Impostos, 85 253, 447
Imundícia, 517, 569, 599 Jordão, 230
Incenso, 210 José, 223, 226, 389
Incômodo, 482, 484 José de Arimateia, 192
Indagação, 569 Jota, 32
Indoutos, 380 Jovem, 71, 160, 395, 431
Inferno, 32, 78, 174, 290, 302, 506, Judá, 16
595 Judas, 253, 613
Iniquidade, 103, 398, 529 Judas Iscariotes, 48, 148, 253
Injustiça, 324, 601, 602 Judeia, 248, 253, 368, 409
Inquirição, 414 Judeus, 432, 472
Inscrição, 100, 179, 341 Jugo, 56
Insígnia, 485 Juiz, 331, 444; -es, 522
Instruções, 52 Juízo, 149, 472, 525, 600, 617
Instrumentistas, 46 Jumentinho, 93, 176
Inteligência, 229 Jumento, 603
Interesse, 620 Júpiter, 422, 423
Interpretação, 504, 593 Juramento, 71, 541
Inveja, 168, 389, 420, 534 Jurisdição, 341
Invocação, 395 Juros, 11 1 , 338
Irmão, 261, 400, 512, 581, 613; -s, Justiça, 218, 331, 472, 484
364, 388, 409, 466, 522, 540, Justo, 199, 464
564, 579, 589
Isaías, 230 L aço, 346, 398
Iscariotes, 346 Ladrão, 607; -ões, 95, 178
Lagar, 97, 179
276
J a ir o , Lago, 244, 273
Janela, 453 Lama, 605
Jantar, 99, 300, 311 Lamentações, 55, 269
Jarro, 133; -s, 165 Lâmpadas, 108
Jejum, 407, 479 Lanceiros, 468
Jerico, 335 Lavadeiro, 172
Jerusalém, 227, 248, 253, 356, 360, Lavradores, 179
445 Lázaro, 327
Jesus, 12, 93, 112, 214, 245, 249, Leão, 130, 579
359, 378, 393, 395, 401 Lebeu, 148
639
Í ndice T emático

Legião, 133;-ões, 116 M agistrados, 432


Legislador, 537 M agistrados da cidade, 436
Lei, 466, 518, 523 Magos, 15
Lei do Senhor, 224 M ajestade, 285, 450, 591
Leite, 556 Mal, 145, 157, 242, 353, 565; -es, 266
Leito, 141, 200; -s, 163 Maldades, 167, 235
Lembrança, 590 Maldição, 467, 617
Leme, 483, 528 Malfeitores, 559
Lenço, 200, 338; -s, 356, 448 Malícia, 419, 517
Lençol, 188, 355, 405 Manancial, 532
Lepra, 247 Manchas, 618
Leprosos, 330 M andamento, 101, 427; -s, 362
Letras, 477 M aneira de viver, 553, 554
Liberdade, 518 M anjedoura, 220, 309
Libertador, 391 Mansidão, 517, 533, 566
Libertos, 388 Mansos, 30
Lida, 402 M antim ento, 424
Lídia, 430 Mão, 252, 380, 391, 462, 578; -s,
Limites, 421, 442 73, 144, 175, 189, 237, 243, 291,
Língua, 368, 421, 462; -S, 367 370, 412, 441, 458
Linhagem, 389 Mar, 24, 149, 344, 404
Linho, 327 Maravilhas, 159, 288, 397
Livro, 238; -s, 449 Marcos, 127, 582
Louco, 303 M aria, 220, 223, 364
Loucura, 603 Matança, 539
Louvor, 550; -es, 541 Mateus, 7, 128, 148, 253
Lucas, 128 Médico, 240; -s, 157
Lúcio, 416 Medidas, 323
Lugar, 116, 253, 348, 366, 399, 460, Medo, 72
593; -es, 102, 298, 342 Medos, 368
Lume, 189 Meio, 144
Luz, 38, 185, 225, 299, 400, 434, Meio-dia, 463
463, 514, 593; -es, 453, 516 Meios, 481
Meirinho, 307
M áculas, 601 Mel, 135, 359
Madalena, 120, 191 Mendigo, 327
Madeiro, 352, 384, 408, 504, 562 Menina, 158, 278, 414
Mãe, 211 Menino, 222, 223, 227; -s, 17, 54,
Mágico, 418 268, 556
640
Í ndice T emático

Mercúrio, 422 M urm uradores, 620


M esa, 113, 269, 270; -s, 387 M uro, 401
M estre, 181, 200, 245, 274, 284, M urros, 117
479; -S, 102, 528 Música, 321
Migalhas, 328
M iguel, 616, 617 N 558; -ões, 1 11, 178, 225
ação,

Milhares, 302, 620 Nairn, 265


Minas, 337 Nardo, 186
M inistério, 212, 365, 386 Narração, 207
Ministro, 240, 477; -s, 208 Natureza, 530, 531, 600
Mirra, 191 Naus, 528
Misérias, 536, 538 Navio, 479
Misericórdia, 199, 216, 217, 218, Nazaré, 227, 238
293, 334, 525 Nazareno, 17, 463
Mísia, 429 Nazarenos, 470
M istérios, 65, 272 Necessidade, 143, 614; -s, 317
Moeda, 100, 179, 341; -s, 113, 182, Negócios, 229, 574
342 N egrura, 619
Moinho, 107, 174, 330 Nichos, 449
M oisés, 459 Ninhos, 44, 286
M oléstias, 25 Ninivitas, 299
Moloque, 393 Nódoas, 601
Momento, 237 Noé, 597
M onte, 26, 253, 282, 592; -s, 86 Noite, 253
Morada, 131, 154 Nome, 6, 12, 86, 87, 105, 122, 147,
Mordomo, 306, 322, 323 174, 253, 286, 343, 360, 372,
Morrão, 59 379, 398, 409
Morte, 73,98, 117, 165, 189,282, 283, Nora, 51, 306
396, 469, 504, 507, 590; -s, 400 Novas, 222
Mosto, 369 Novidade, 438
M otim, 190, 421 Número, 379
Motivo, 89 Nuvem, 284, 306; -ns, 604, 618
Mudança, 516
Mulher, 220, 564; -es, 400, 435, 436 O 503, 555
b e d iê n c ia ,
Multidão, 116, 145, 149, 181, 222, Obra, 510; -s, 525, 528, 620
231, 349, 364, 459 Obreiro, 288
Mundo, 105, 219, 237, 345, 411, Ocasião, 187
441, 522, 529, 606 Odres, 46, 251
Murmuração, 385; -ões, 556 Ofensas, 36, 178
641
Í ndice T emático

Oferta, 74; -s, 342 Palácio, 190


Oficial, 33 Palavra, 150, 172, 264, 303, 335,
Ofício, 444 341, 398, 408, 415, 425, 444,
Óleo, 270 592; -s, 171, 229, 240, 285, 359,
Olho, 174; -s, 66, 254, 334, 363, 369, 428, 573
374, 466, 503, 602 Palavra de Deus, 555
Ombros, 315 Palavra do Senhor, 556
Onda, 511; -s, 344 Panos, 220
Operário, 48 Par, 224
Oportunidade, 474 Parábola, 107, 152, 185, 250, 272,
Oprimidos, 239 345; -s, 61, 150
Oração, 364, 387, 430, 542, 573; Paraíso, 353
-ões, 250, 373 Parede, 466
Orador, 470 Parentes, 148
Ordem, 209 Paroleiro, 437
Ordenação, 394, 560 Parte, 366, 466; -s, 74
Orelha, 116, 188, 349 Participante, 575; -s, 574, 585
Oriente, 15, 218 Partos, 368
Orla, 46, 163, 277 Páscoa, 186, 412
Ósculo, 582 Pasmo, 375
Ourives, 449 Passarinhos, 50, 303
Ouro, 375, 442, 550, 554 Pastores, 221, 223
Ousadia, 379 Pátio, 188, 350
Outeiros, 352 Patriarca, 371
Ouvidos, 285, 486 Paulo, 418, 419, 422, 427, 466
Ouvinte, 518; -s, 517 Paz, 223, 225, 270, 288, 314, 359,
Ovelhas, 48, 111, 562 525, 546
Pé, 389; -s, 245, 269, 342, 371, 375,
PÁ, 19, 235 382, 458, 463
Paciência, 510, 586 Pé de vento, 480
Pacificadores, 31 Pecado, 395, 524; -s, 14, 19, 295,
Paços, 267 541, 542
Pão, 22, 41, 236, 237, 269, 294, 319, Pecador, 334; -es, 259, 307, 620
347, 453; -es, 163 Pecadora, 269
Pães da proposição, 143, 252 Peçonha, 531
Pai, 5, 86, 102, 229, 231, 297, 306, Pedaço, 250; -s, 280
319, 329, 516, 531, 546, 553; -s, Pedra, 41,76, 120, 121, 192,236,271,
228, 257, 388, 464, 471, 554 341, 557; -s, 19, 183, 232, 342, 557
Paixões, 423, 542 Pedregais, 65
642
Í ndice T emático

Pedro, 76, 128, 147, 348, 382, 545 Posse, 389, 393
Peixinhos, 75 Povo, 222, 385, 388, 415, 419, 436,
Pena, 616 558, 559; -s, 225
Pensamento, 216, 398, 570; -s, 74, Praça, 268; -s, 54, 163
167, 252, 297, 359, 522 Pmetorium, 133
Pentecostes, 366 Praia, 61, 458, 482
Pequeninos, 112 Pranto, 396
Perdão, 230, 372 Prata, 113, 375, 554
Perdição, 398, 506, 594, 595 Prato, 71, 103, 113, 161, 187, 300
Peregrinação, 554 Prazer, 211
Peregrino, 356 Preço, 380
Perfeição, 272 Pregação, 299
Pérolas, 41 Pregador, 438
Perplexidade, 344 Pregoeiro, 597
Perseverança, 273 Prêmio, 602
Perturbação, 534 Preparativos, 458
Pesca, 246 Presbítero, 575
Pescador, 246 Presciência, 546
Pessoas, 302, 597, 620 Presença, 310, 378, 393
Peste, 470 Preso, 467; -s, 485
Pestilências, 343 Presunções, 538
Piedade, 503, 506, 584, 587, 608 Pretório, 469
Pináculo, 22, 237 Prim a, 214
Pó, 98, 288, 421 Primícias, 516
Pobres, 29, 239, 254, 522 Primogênito, 220
Pobreza, 342 Principado, 615
Poço, 311 Principais da Ásia, 451
Poder, 122, 141, 146, 341, 360, 379, Principais dos sacerdotes, 81
599 Principal, 204, 485
Pólux, 485 Principal da sinagoga, 158
Pomba, 20 Príncipe, 334, 384; -s, 176
Pombinhos, 224 Príncipe da sinagoga, 277
Pôncio Pilatos, 230 Príncipe da vida, 377
Pontas, 405 Príncipes dos sacerdotes, 15
Pôr do sol, 243 Princípio, 134, 208, 218, 378, 606
Pórcio Festo, 472 Prisão, 379, 382, 413, 433, 469, 568
Porcos, 41, 317 Priscila, 445
Porta, 41, 137, 309, 327, 413, 423; Procônsul, 418, 444; -es, 452
-S, 78, 430, 4 6 0 Procurador, 271
643
Í ndice T emático

Prodígios, 55, 106, 249, 369, 370 Recebedoria, 249


Profeta, 267; -s, 17, 104, 301, 411 Recompensa, 82
416, 541, 592 Rede, 68, 136, 245; -s, 25
Profetisa, 227 Redenção, 345
Profissão, 449 Refrigério, 378
Promessa, 363; -s, 585 Regeneração, 91
Promotor, 470 Regiões, 446
Propriedades, 373 Rei, 88, 209, 314, 478, 560
Prosélitos, 420 Rei de Israel, 191
Prosperidade, 449 Reino, 353, 589
Prostituição, 90, 426 Reino de Deus, 254, 282
Prova, 510, 549, 573; -s, 362 Reino dos céus, 5, 18, 69
Provérbio, 240, 605 Réis, 182
Província, 469, 473 Relâmpago, 121
Próximo, 34, 181, 291, 293 Religioso, 519
Prudência, 2 1 1 , 470 Remissão, 360, 384
Publicano, 249, 333; -s, 232 Renfa, 393
Punhadas, 189 Repetições, 35
Purificação, 224, 589 Repouso, 298
Púrpura, 191, 326, 4 3 0 Repreensão, 603
Reputação, 387
Q u a d r il h e ir o s , 434 Resgate, 93
Qualidade, 68 Respeito, 98
Quarto, 403 Resplandor, 299
Quaternos, 412 Resplendor, 400
Quebrantados, 239 Resposta, 562
Queda, 42, 226 Ressurreição, 379, 442, 466
Questão, 425, 444; -ões, 469, 475 Restauração, 378
Réu, 149
R aabe , 527 Ricos, 342
Rabi, 102 Rio, 134, 430
Raça, 2 3 1 Riquezas, 324
Ração, 306 Rocha, 504
Raio, 290 Rode, 414
Raiz, 202 Rolas, 224
Ramo, 185; -s, 107, 152, 177, 309 Romano, 465; -s, 432, 435
Raposa, 310 Rosto, 518
Razão, 407 Roubadores, 333
Rebanho, 222, 455 Roupa, 320, 351
644
Índice T emático

Rua, 400; -s, 313 Senhor, 89, 93, 109, 179, 222, 224,
Ruína, 262 225, 252, 266, 323, 338, 380, 421,
475, 541, 565, 584, 594; -es, 75
SÁBADO, 192, 252; -s, 241 Senhor da glória, 520
Sabedoria, 533, 534 Senhor dos Exércitos, 539
Sacerdote, 292 Sentença, 595
Saco, 288 Sentimento, 534
Saduceus, 466 Sepulcro, 6, 121; -S, 44, 103, 104,
Sala, 112 154, 274, 301
Sala da audiência, 190 Sepultura, 371; -s, 300
Salteador, 116, 188, 350; -es, 119, Sérgio Paulo, 418
191, 291, 340, 462 Serviçal, 93, 176
Salvação, 218, 379, 549, 614 Serviços, 470
Salvador, 216, 222, 584 Servidores, 189, 383
Samaria, 363, 398 Servo, 93, 116, 174, 188, 217, 225,
Sandálias, 288, 320 262, 312, 325, 349, 380, 509,
Sangue, 427, 459, 554 605, 613; -s, 88, 306, 320, 337,
Santidade, 218 560
Santificação, 546 Sete, os, 458
Santo de Deus, 136 Setenta, os, 290
Santos, 476, 620 Silêncio, 419, 463
Santuário, 104; -s, 440 Silvano, 581
Sãos, 142 Simão, cananeu, 253
Sarça, 180, 342 Simão, Pedro, 147
Sarona, 403 Simão, zelote, 148
Satanás, 290, 298, 309, 346 Simão Pedro, 583
Satisfação, 436 Sinagoga, 264, 388; -s, 417
Saúde, 43, 377, 426, 469, 509 Sinal, 170, 188, 222, 245, 297, 299,
Saulo, 395, 418 350; -is, 106, 344, 369, 397, 426
Seara, 287; -s, 59, 251 Singeleza, 373
Séculos, 123 Sirte, 481
Sedição, 462; -ões, 343, 470 Soberba, 168
Segurança, 122 Socorro, 4 1 1 , 477
Seio de Abraão, 328 Sol, 137, 476, 512
Seita, 400, 425, 470, 471, 485 Soldados, 232, 468
Semana, 193, 333, 453 Soldo, 235
Semeador, 64 Som, 366
Semente, 151, 271, 555 Soma, 465
Senador, 192, 355 Sombra, 214, 382, 516
645
Í ndice T emático

Sonho, 6, 15; -s, 369 Tesouro, 182, 342; -s, 37, 399
Sono, 453 Testam ento, 114, 187, 347
Sópatro, 452 Testem unha, 365, 464, 477, 503,
Sorte, 210, 365, 420 575; -s, 384
Sucessor, 472 Testemunho, 240; -s, 189
Sul, 398 Tetrarca, 69, 230, 278
Sumo Pastor, 577 Tiago, 253, 426, 613
Sumo sacerdote, 388 Tiatira, 430
Superintendente, 399 Til, 32, 326
Superstição, 474 Timeu, 176
Tíquico, 452
T abern Áculo , 3 9 3 , 3 9 4 , 5 0 4 , 5 0 7 , Título, 353
589, 5 9 0 ; -s, 84, 3 2 5 Tomé, 148, 253
Tabita, 4 0 3 Torm entos, 25
Tabuinha, 2 1 7 Tornozelos, 375
Tadeu, 148 Torre, 97, 313
Talentos, 88 Traça, 305, 538
Talitá, 133 Tradição, 554
Tarde, 120, 137, 192 T ransgressão, 603
Teatro, 4 5 1 Transgressor, 525
Telhado, 106, 184, 331; -s, 302 Tratado, 361
Telhas, 248 T rato, 503, 533, 608
Temor, 154, 222, 266, 373, 563, Trave, 40, 261
618, 621 Trevas, 38, 100, 604, 619
Temperança, 4 7 2 , 5 8 6 Tribos, 475
Tempestade, 4 4 , 2 7 3 Tribulações, 389
Templo, 22, 105, 118, 120, 178, Tribunal, 444, 473; -is, 523
2 1 0 , 2 2 8 , 2 3 7 , 3 0 1 , 3 4 6 , 4 6 0 ; -S, Tribuno, 460; -s, 160
394 Tributo, 6, 100, 133, 179, 200, 341;
Tempo, 17, 5 8, 75, 108, 136, 2 1 1 , -s, 85
2 3 7 , 2 3 7 , 2 7 2 , 3 0 6 , 3 4 0 , 390, Trigo, 347
4 1 2 , 5 7 0 ; -s, 3 6 3 , 3 7 8 , 4 2 3 , 5 5 4 Trincheiras, 339
Temporal, 153 T risteza, 349, 536
Tendas, 2 8 4 , 4 4 4 Trófimo, 452, 460
Tentação, 36, 2 3 7 , 2 7 2 , 2 9 6 , 598, Trom beta, 35, 107
-ões, 51 0 , 5 4 9 Tronco, 433
Terra, 16, 152, 179, 185, 2 2 3 , 2 4 0 , Trono, 415
2 6 2 , 3 1 7 , 3 4 0 , 4 5 4 , 4 8 2 ; -s, 5 3 9 Tropas, 460
Terrem otos, 183, 3 4 3 Túnica, 259; -s, 232, 403
646
Í ndice T emático

Um i d a d e , 202, 271 Vestimenta, 34


Uso, 225, 425 Véu, 120, 191, 354
Utensílios, 3 3 1 Víbora, 484
Uvas, 261 Vida, 252, 280, 345, 383, 455, 475,
513, 563, 570, 598
Vadios, 436 Vides, 484
Vaiado, 97 Vigília, 162, 306; -s, 221
Vale, 230 Vinagre, 119, 1 9 1 ,3 5 3
Valente, 298 Vinda, 105, 420, 591
Vapor, 537 Vingança, 344
Varão, 463; -ões, 364, 376, 409, 419, Vinho, 118, 191, 269, 293
466 Violência, 53
Variação, 516 Virgem, 14;-ns, 108
Vaso, 178, 400, 564; -s, 165 Virtude, 157, 277, 397, 507, 585,
Vela, 480, 4 8 3 ;-s, 481 586; -S, 559
Velador, 32, 151, 273, 299 Visão, 84, 391, 404; -ões, 369
Vendedora, 430 Visitação, 340, 503, 559
Vento, 366, 479, 511, 604 Vista, 464
Ventre, 211 Viúva, 182, 342; -s, 181, 342
Verdade, 181, 463, 589 Vômito, 605
Veredas, 230 Vontade, 86, 528, 568, 570
Vergões, 434 Voto, 445, 459, 476
Véspera, 192 Voz, 19, 134, 215, 284, 367, 451,
Veste, 250, 456; -s, 94, 101, 267, 465, 591
278, 339, 403, 415, 432, 522,
563 Z aqueu, 336
Vestido, 156 Zelote, 47, 148

647
Índice de Palavras G regas

άβυσσος, 275 άγρ^ύω, 179


άγαθοποιΐα, 575 άγριος, 619
αγαθοποιός, 560 άγρυπνέω, 185
αγαθός, 410 άγω, 184, 237, 357, 452
άγαλλίασις, 211 αγωνία, 349
άγαλλιάω, 549 αδελφός, 364, 589
αγαπάω, 259 άδ€λφότης, 579
αγάπη, 587, 601 άδηλος, 300
αγαπητός, 559 αδης, 78
αγγαρεύω, 34, 118 αδιάκριτος, 535
άγγελος, 394 αδικία, 529, 601
άγ€, 537 άδολος, 557
αγιασμός, 546 αδύνατος, 421
άγιος, 41, 476, 552 ά^τός, 107
άγκιατρόν», 85 άζυμος, 186
άγραφος, 45 αθέμιτος, 407, 572
αγιάζω, 536, 555 άθ6σμος, 598
άγνοέω, 441 άθ^τέω, 268
αγνωσία, 560 αίγιαλός, 61, 458, 482
άγνωστος, 440 άίδιος, 615
αγορά, 54, 163 αίνιγμα, 62
αγοραίος, 436, 452 α'ίρεσις, 594
άγρα, 246 α’ίρω, 92, 259, 278, 351, 480
αγράμματος, 380 αίσχροκ^ρδώς, 576
Í ndice de Palavras G regas

αισχύνη, 619 άμαράντος, 548


αίτέω, 297, 377, 394 αμαρτάνω, 14, 473
αιτία, 90, 119, 475 αμάρτημα,149
αιφνίδιος, 346 αμαρτία, 14, 36
αιχμάλωτος, 238 αμαρτωλός, 259, 334
αιών, 105, 123, 218, 378, 621 άμάω, 538
αιώνιος, 589 άμελέω, 99
άκατάιταυστος, 602 αμέριμνος, 122
ακαταστασία, 343, 534 αμήν, 200
ακατάστατος, 512, 531 αμίαντος, 519, 548
ακατάσχετος, 531 αμύνομαι, 391
Άκελδαμά, 365 αμφιβάλλω, 136, 244
ακέραιος, 50 άμφίβληστρον, 25, 244
άκοή, 69, 242, 262 άμφοδον, 177
άκούω, 140, 425, 463 άμωμος, 554
άκρασία, 103 άνά, 92
ακρίβεια, 463 άναβα ίνω, 374, 390
άκριβέστερον, 446, 467 αναβάλλομαι, 472
άκριβόω, 16 άναβλέπω, 464
ακριβώς, 16, 208, 446 αναγγέλλω, 448
ακροατής, 517, 518 αναγεννάω, 547, 555
άκρον, 185 άναγινώσκω, 238, 399
άκυρόω, 74 αναγκαίος, 406
αλάβαστρον, 1 1 2 άναγκαστώς, 575
αλαζονεία, 538 ανάγκη, 312, 344, 614
άλαλάζω, 158 ανάγω, 130, 273, 392, 412, 434, 452,
αλήθεια, 181, 200 478, 482
αληθώς, 200 άναδείκνυμι, 287
άλίσγημα, 426 άνάδειξις, 219
άλλομαι, 421 άναδίδωμι, 20 2
άλλος, 39 άναζητέω, 228, 410
άλλοτριοεπίσκσπος, 574 άναζώννυμι, 552
άλλότριος, 85 ανάθεμα, 343
αλλόφυλος, 407 αναθεματίζω, 189, 467
άλογος, 600 άναθεωρέω, 440
άλυκός, 532 ανάθημα, 342
άλυσις, 154, 461 αναίδεια, 297
άλωσις, 600 άναίρεσις, 396
άμαθής, 609 άναιρέω, 346, 353, 390
650
Í ndice de Palavras G regas

ανακαθίζω, 266 άνθίστημι, 579


άνάκειμαι, 113 άνθομολογέομαι, 227
άνακλίνω, 43, 310 άνθος, 512
ανακράζω, 130, 275 ανθρώπινος, 531, 560
ανακρίνω, 3 5 1 άνθρωπος, 88, 265, 542
ανακύπτω, 308 ανθύπατος, 203, 418, 452
αναλαμβάνω, 469 άνίλΕως, 525
άνάλημψις, 286 άνίστημι, 61, 176, 299
αναλύω, 305 ανόητος, 357
αναπαύω,56, 574 άνοια, 252
άναπέμπω, 350 ανοίγω, 130, 238
αναπηδάω, 176 άνομος, 598
άναπίπτω, 169, 311 άνορθόω, 309
άναπληρόω, 66 αντάλλαγμα, 82
αναπτύσσω, 238 άντέχομαι, 39
άνάπτω ,529 άντί, 176, 537
άνασ€ΐω, 190, 233, 350 άντιβάλλω, 356
άνασκ^υάζω, 427 άντίδικος, 578
άνάστασις, 226 αντιλαμβάνομαι, 217
αναστροφή, 553, 598 αντιλέγω, 226
ανατάσσομαι,, 207 αντιλογία, 618
άνατέλλω, 192, 512 άντιλοιδορέω, 562
ανατολή, 15,218 άντιπαρέρχομαι, 292
αναφαίνομαι, 337, 457 άντιπίπτω, 394
αναφέρω, 526, 558, 562 αντιτάσσομαι, 444, 577
άναφωνέω, 215 άντί τύπον, 569
άνάχυσις, 572 άντοφθαλμέω, 480
άναχωρέω, 248 άνυδρος, 298
άνάψυξις, 378 ανυπόκριτος, 555
Άνδρέας, 147 άνωθεν, 208
άν€μίζομαι, 511 άνωτ^ρικός, 446
ανένδοτον, 329 άξιόω, 484
άν€σις, 472 άπάγω, 41, 414
άν€τάζω, 465 άπαιτέω, 259, 303
άνΕύθ6τος, 479 άπάντησις, 108
άν€υρίσκω, 223, 457 άπαξ, 614
ανέχομαι, 285 άπαρνέομαι, 188
άνηθον, 103 άπαρτισμός, 314
άνήρ, 162 απαρχή, 516
651
Í ndice de P alavras G regas

α πά τη , 601 απονέμω, 564


άπΕ ίλή, 4 0 0 άποπίπτω, 401
άπΕ ίραστος, 513 άποπλέω, 204, 478
άπΕλΕγμός, 4 4 9 άποπνίγω, 272
ά πΕ λπ ίζω , 2 5 9 άπορέω, 160
άπΕρί τμ η τός, 3 9 4 άποσκΕυάζομαι, 458
α π έ ρ χ ο μ α ι, 89, 109, 156, 615 άποσκίασμα, 516
άπέχΕ ί, 188 αποσπάω, 348, 457
α πέχω , 35, 74, 25 7 αποστασία, 459
ά π ισ το ς, 173, 3 06 άποστΕγάζω, 1 4 1
ά πλοϋς, 38 αποστέλλω, 49, 146, 152, 239
α πλώ ς, 511 απόστολος, 47
άπό, 179, 193, 3 2 9 , 513 άποστοματίζω, 301
αποβαίνω, 343 άποστρέφω, 351
άπογενόμΕνος, 562 αποτάσσομαι, 162, 286, 315
άπογραφη, 219 άποτΕλέω, 514
άπογράφω, 2 19 άποτίθημι, 69
άποδΕίκνυμι, 3 7 0 άποφΕυγω, 585, 604
άποδΕκατόω, 103 άποφθέγγομαι, 367, 369, 477
αποδέχομαι, 4 2 5 άποψύχω, 344
άποδημέω, 109, 1 7 9 ,3 1 7 άπρόσκοπος, 471
απόδημος, 185 άπροσωπολήμπτως, 504, 553
άποδίδωμι, 3 2 2 , 3 8 0 άπταιστος, 6 2 1
άποδιορίζω, 621 άπωθέομαι, 420
άποδοκιμάζω, 28 0 , 557 άπώλΕΐα, 398, 594, 595
άπόθΕσις, 5 0 4 , 5 6 9 , 5 9 0 άρα, 177
άποθλίβω, 27 7 άργέω, 595
άποκάλυψις, 22 5 άργός, 61, 588
άποκατάστασις, 3 7 8 άργύριον, 113, 375, 554
άποκόπτω, 20 3 άργυροκόπος, 449
άποκυέω, 51 4 , 5 1 6 άρΕστός, 386
απολαμβάνω, 3 2 9 άρΕτή, 507, 559, 585
άπόλλυμι, 48, 2 8 0 άριστάω, 300
άπολογέομαι, 4 7 5 άριστόν, 99
απολογία, 4 6 2 , 56 5 αρπάζω, 53
άπολούω, 2 4 4 άρρωστος, 159
άπολύτρωσις, 34 5 άρτέμων, 483
απολύω, 2 2 5 , 2 6 0 , 309 άρτι, 46
άπομάσσω, 2 4 4 άρτιγέννητος, 556
652
Í ndice de Palavras G regas

άρτος, 22, 41, 236, 347 αυχμηρός, 504, 593


άρτύω, 174 αφανίζω, 37, 38, 420
αρχαίος, 458 άφαντος, 358
αρχή, 134, 208, 341, 405, 606, 615 άφεδρών, 166
αρχηγός, 377 άφελότης, 373
άρχιποίμην, 577 άφεσις, 230, 542
άρχομαι, 113, 236, 361 άφθαρτος, 548
ασέβεια, 620 άφίημι, 35, 86, 90, 119, 261, 542
ασεβής, 620 άφίστημι, 385, 428
ασέλγεια, 167, 570, 595, 598 άφόβως, 618
άσημος, 202, 462 άφρων, 303, 560
ασθένεια, 247 άφυπνόω,273
Άσιάρχης, 451 άχλύς, 419
άσκέω, 471 αχρείος, 330
ασκός, 46 ά χρι,άχρις, 452, 482
άσπάζομαι, 452
άσπιλος, 554 βαθύνω, 261
άσσάριον, 200 βαθύς, 355
αστείος, 390 βαΐον, 177
άστήρ, 185 βαλλάντιον, 287, 305
αστήρικτος, 602, 609 βάλλω, 51, 110, 151, 168, 327,480
αστραπή, 299 βαπτίζω, 134, 164
αστράπτω, 356 βάπτισμα, 134
ασφάλεια, 209 βαρέω, 283, 345
ασφαλώς, 371 βαρέως, 66
άσωτία, 572 Βαρσαβάς, 366
άσώτως, 317 βαρύς, 456
ατενίζω, 240, 374, 404 βασανίζω, 162, 243, 275, 598
ατιμάζω, 385, 523 βασανιστής, 89
άτοπος, 353, 484 βάσανος, 26
αυθάδης, 599 βασιλεία, 5, 18, 254
αυλή, 112, 188, 298 βασίλειον, 267
αύλητής, 46 βασιλεύς, 88
αύλίζομαι, 346 βασιλικός, 523
αυστηρός, 338 βάσις, 375
αύτόματος, 151 βαστάζω, 43, 374
αύτόπτης, 208 βάτος, ή, 180, 261, 342
αυτός, 160, 513, 580, 586 βάτος, ό, 323
(Ò) αυτός, 579 βατταλογέω, 35
653
Í ndice de Palavras G regas

βδέλυγμα, 105 γάρ, 91


βέβαιος, 592 γέεννα, 32, 80
βεβηλόω, 470 γεμίζω , 313, 318
Βεελζεβούλ, 50 γενεά, 324, 423
βελόνη, 202, 335 γενέσια, 70
Βηθφαγή, 93 γένεσις, 518, 530
βήμα, 389 γεννάω , 465, 600
βιάζομαι, 53 γέννημα, 231
βίβλίον, 90, 174, 238 γένος, 558
βιόω, 570 γερουσία, 383
βιωτικός, 345 γεύομαι, 405, 557
βλάπτω, 242 γη, 75
βλασφημέω, 600 γίνομ α ι, 90, 154, 193, 240, 293,
βλασφημία, 168, 617 306, 334, 341, 349, 379, 464,
βλέμμα, 598 482, 524, 558, 573, 585, 593
βλέπω, 40, 170, 345, 374, 479 γίνώσκω, 112, 345, 399, 448, 461
Βοανηργές, 147 γλεΰκος, 369
βοήθεια, 481 γνώ σις, 199
βόρβορος, 605 γνώστης, 475
βουλεύομαι, 483 γογγυσμός, 385
βούλομαι, 9, 384 γογγυστής, 620
βουνός, 352 Γολγοθά, 118
βραδύνω, 607 γράμμα, 323, 477
βραδυπλοέω, 204 γραμματεύς, 200
βραδύς, 357 γραφή, 5, 179, 558
βραχύς, 385 γράφω, 5, 22, 581
βρέφος, 390, 556 γρηγορέω, 185, 578
βρέχω, 269 γυμνάζω, 602
βρύχω, 395 γυναικείος, 564
βρύω, 532
βρώσιμος, 359 δαιμονίζομαι, 74, 276
βρώσις, 38 δαιμόνων, 137
βυθίζω, 245 δαιμονιώδης, 534
βύσσος, 327 δαίμων, 137
βωμός, 440 δανείζω, 34, 259
δανειστής, 270
γάγγραινα, 203 δαπανάω, 459, 535
γάζα, 399 δαπάνη, 314
γάμος, 99, 109, 305 Δαυείδ, 9
654
Í ndice d e Palavras G regas

δέησις, 250 διακονία, 386, 411


δεί, 8 1 , 1 1 5 , 229, 331, 357, 384 διάκονος, 93, 174
δείγμα, 616 διακούομαι, 469
δ ογμ α τίζω , ΐ2 διακρίνω, 409, 511, 522, 621
δείνα, 113 διακωλύω, 20
δεΐπνον, 311 διαλαλέω, 217
δεισιδαιμονέστερος, 439 διαλέγομαι, 453
δεισιδαιμονία, 4 7 4 διαλείπω, 270
δέκα, 337 διάλεκτος, 368, 462
δελεάζω, 514, 602 διαλογίζομαι, 141, 235
δένδρον, 170 διαλογισμός, 74, 167, 285, 359, 522
δεξιολάβος, 468 διαμαρτύρομαι, 372, 455
δεξιός, 111, 252 διαμένω, 347
δέομαι, 276 διαμερίζω, 367
δέρω, 184, 350 διανέμομαι, 380
δεσμεύω, 275 διανεύω, 212
δέσμιος, 467 διανόημα, 297
δεσμωτήριον, 383 διάνοια, 18 1, 216 , 605
δεσπότης, 594 διανοίγω , 358
δεύρο, 334 διανυκτερεύω, 253
δευτερόπρωτος, 251 διανύω, 458
δέω, 80, 405 διαπονέομαι, 379, 431
δή, 417 διαπορέω, 278, 369, 383
δηλόω, 551, 590 διαπραγματεύομαι, 338
δημηγορέω, 415 διαπρίομαι, 384
δήμος, 415 διαρπάζω, 149
δηνάριον, 88, 92, 200 διαρρήσσω, διαρρήγνυμι, 245
διά, 14, 180, 335, 549, 555, 569, 606 διασαφέω, 89
διαβάλλομαι, 322 διασείω, 233
διαβλέπω, 40, 170 διασκορπίζω, 110, 317, 322
διάβολος, 21 διασπείρω, 410
διαγγελλω, 286 διασπορά, 509, 546
διαγινώσκω, 467, 472 διαστέλλομαι, 169, 427
διαδέχομαι, 393 διαστρέφω, 84, 351
διάδοχος, 472 διασώζω, 72, 254
διαθήκη, 114 διαταγή, 394
διακαθαρίζω, 20 διατάσσω, 52
διακατελέγχομαι, 446 διατηρέω, 229
διακονέω, 551 διατίθεμαι, 347, 378
655
Í ndice de Palavras G regas

διατρίβω, 414 δοχή, 250, 312


διαυγάζω, 504, 593 δραχμή, 316
διαφυλάττω, 237 δρόμος, 455
διαχωρίζομαι, 384 δύναμαι, 173, 322
διαχλευάζω, 369 δύναμις, 55, 157, 159, 277, 370, 599
διαχωρίζομαι, 283 δυνάστης, 399
διδάσκαλος, 528 δυσεντερία, 485
διδάσκω, 26, 42, 173 δυσνόητος, 609
δίδραχμον, 84 δωδεκάφυλον, 475
δίδωμί, 184, 266, 367, 369, 371, δώμα, 106
408, 420, 511 δωρέω, 584, 585
διεγείρω, 274 δώρημα, 515
διενθυμέομαι, 406 δώρον, 74
διέξοδος, 99
διερμηνεύω, 358 εαυτού, 89, 337, 339, 526
διέρχομαι, 223, 247, 403, 408, 439 έάω, 483, 484
διερωτάω, 406 έβδομηκοντάκις, 87
δΐηγέομαΐ, 172, 276, 278, 402 Εβραίος, 386
διήγησις, 207 έγγίζω, 573
διϊσχυρίζομαι, 414 εγείρω, 144, 299, 358, 475
δίκαιος, 199, 598 εγκάθετος, 341
δικαιοσύνη, 199, 218 έγκακέω, 331
δίκη, 484, 616 εγκαταλείπω, 3 7 1
δίκτυον, 245 έγκατοικέω, 598
διορύσσω, 38, 108 έγκομβόομαι, 577
διϋλίζω, 103 έγκόπτω, 470,564
διχάζω, 51 εγκράτεια, 586
δίψυχος, 512 έγκυος, 220
δόγμα, 219 εδαφίζω, 340
δοκέω, 273, 519 εθίζω, 225
δοκιμάζω, 307, 550 εθνικός, 5
δοκίμιον, 510, 549 έθνος, 111, 178, 225, 558
δόκιμος, 513 έθος, 225, 425
δοκός, 40 έθω, 225
δόξα, 551, 574, 599, 616 εί, 410, 477
δοξάζω, 550 είδέα, 121
δόσις, 515 ειδω, 391, 617
δούλος, 93, 174, 262, 337, 509, 613 είκών, ιοο
δουλόω, 605 ειλικρίνεια, 605
656
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ειλικρινής, 605 έκμάσσω, 244


είλίσσω, 238 έκμυκτηρίζω, 326
ειπον, 93, 352 έκουσίως, 575
ειρήνη, 158, 526, 546 έκπαλαι, 595
είρηνοποιός, 31 εκπίπτω, 513, 609
είς, 87, 89, 150, 175, 230, 270, 518, εκπληρόω, 420
548, 549, 551, 569, 581, 588 εκπλήσσω, 42, 229
εις, 182 εκπνέω, 354
εισακούω, 210 εκπορνεύω, 615
εισέρχομαι, 49 έκστασις, 158, 249, 405, 464
είσπηδάω, 423 εκτείνω, 482
εισφέρω, 296 έκτελέω, 314
έκ, εξ, 92, 329, 555 έκτένεια, 475
εκατονταπλάσιων, 91 έκτενέστερον, 349
έκατοντάρχης, 133, 262 εκτενής, 412, 573
εκβάλλω, 41, 47, 60, 69, 130, 135, έκτενώς, 504, 555
287, 527 εκτινάσσω, 49
εκβολή, 205, 482 εκχύνω, 114, 187,618
έκδέχομαι, 540 εκψύχω, 202, 381
εκδίδωμι, 98 έλαιον, 270
έκδιηγέομαι, 420 έλεγξις, 603
εκδικεω, 331 ελέγχω, 86, 524
έκδίκησις, 344, 560 έλεέω, 621
έκδοτος, 370 έλεος, 199, 216
εκείνος, 50, 108, 193, 377, 404, 512 έλκόομαι, 202, 327
έκζητέω, 551 έλκω,460, 523
έκθαμβέω, 132, 172, 242 'Έλλην, 410
έκθαμβος, 375 Ελληνιστής, 386
έκθαυμάζω, 180 ελπίζω, 357, 472, 552
έκθετος, 390 ελπίς, 371, 547
εκκλησία, 77 έμβαίνω, 156
έκκλίνω, 565 έμβλέπω, 171
έκκόπτω, 307 έμβριμάομαι, 140, 247
έκκρέμαμαι, 340 ’Εμμανουήλ, 14
έκλάμπω, 68 έμπαιγμονή, 606
εκλείπω, 325 έμπαικται, 606
εκλεκτός, 545 εμπλέκω, 605
εκλογή, 400 εμπλοκή, 563
εκλύω, 75 εμπνέω, 400
657
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εμπορεύομαι, 537, 595 έξάλλομαι, 375


έμπροσθεν, 102 έξανατέλλω, 202
εμφανής, 408 έξάπινα, 172
έμφοβος, 472 έξαποστέλλω, 360
έμφυτος, 517 έξαρτίζω, 457
έν, 136, 389, 549, 585, 586 έξαυτής, 161
εν οΐς, 471, 476 έξέλκομαι, 513
έναγκαλίζομαι, 174 έξέραμα, 605
ενδέχεται, 310 έξέρχομαι, 428
ένδυσις, 563 έξεστι, 371
ενδύω, 415 έξηγέομαι, 359, 404, 425
ένέδρα, 473 έξίστημι, 163, 357, 368, 397
ενεδρεύω, 302 έξοδος, 283, 504, 590
ενειμι, 300 έξολοθρεύομαι, 378
ένεός, 400 έξομολογέομαι, 19, 55, 346,448, 542
ενεργεω, 159, 542 έξορκιστής, 448
ενέχω, 159 έξορύττω, 141
ένι, em lugar de ένεστι, 516 έξουθενέω, 333
ενιαυτός, 537 έξουσία, 122, 141, 341
ενισχύω, 349 έξω, 150
έννατος, 407 έξώτερος, 43
εννεύω, 217 εορτή, 346
έννοια, 570 έπαγγελία, 363
έννυχα, 139 έπάγγελμα, 585
ένοχος, 117, 149, 524 έπάγω, 597
εντέλλομαι, 362 έπαγωνίζομαι, 614
έντιμος, 263, 557 έπαθροίζομαι, 299
έντολή, 523 έπαισχύνομαι, 281
έντρέπω, 98 έπακολουθεω, 194, 562
έντρομος, 391 έπανάγω, 244
έντρυφάω, 601 έπαυλις, 365
ένύπνιον, 369 έπαφρίζω, 619
ένώπιον, 310, 356 έπειδήπερ, 207
ένωτίζομαι, 369 έπέρχομαι, 538
έξαγγέλλω, 559 έπερωτάω, 171, 180
έξαιτέομαι, 347 έπερώτημα, 569
έξαίφνης, 284 έπηρεάξω, 567
έξακολουθέω, 591, 602 έπί, 23, 90, 105, 163, 183, 245, 357,
έξαλείφω, 377 365, 421, 473
658
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επιβαίνω, 94, 473 επίσκοπος, 455


επιβάλλω, 143, 189, 287, 412 έπισπείρω, 67
επιβλέπω, 284, 522 επίσταμαι, 448
έπίβλημα, 250 επιστάτης, 200, 245
επιβουλή, 4 0 1 έπιστέλλω, 426
έπιγαμβρεύω, ΐοο επιστήμων, 533
έπιγινώσκω, 41, 56, 141, 157, 208, επιστρέφω, 66, 348, 377, 423, 428
358, 380 έπισχύω, 350
έπίγνωσις, 584 έπιτελέω, 579
επιγραφή, 100 επιτήδειος, 526
έπιδημέω, 368, 438 έπιτίθημι, 147, 292
έπιδίδωμι, 358, 481 έπιτιμάω, 146, 280
επιείκεια, 470 επίτροπος, 271
επιεικής, 561 επιφανής, 369
έπιθυμέω, 317, 328, 551 έπτφωνέω, 352
επιθυμία, 150, 620 επιχειρέω, 207, 402
έπικαθίζω, 94 έπιχέω, 292
έπικαλέομαι, 473, 523 έπιχορηγέω, 586, 589
επικάλυμμα, 504, 560 εποπτεύω, 560
έπίκειμαι, 243, 352 επόπτης, 208, 591
επικουρία, 477 εργάζομαι, 524
επικρίνω, 352 έργον, 510, 528
επιλαμβάνομαι, 170, 285, 352 έρεύγομαι, 67
έπιλείχω, 328 έρημος (substantivo), 18
έπιλησμονή, 518 έρημος (adjetivo), 71
επίλοιπος, 570 έρήμωσις, 105
έπίλυσις, 504, 593 έριθεία, 537
έπιμαρτυρέω, 581 έρίφιον, i l l , 112
επιμέλεια, 478 έριφος, 321
επίνοια, 398 έρχομαι, 151
επιούσιος, 294 ερωτάω, 263, 299
επιπίπτω, 145, 405 έσθής, 351, 522
έπιποθέω, 556 έσοπτρον, 518
επιρράπτω, 143 έσχατος, 554
επιρρίπτω, 578 εσχάτως, 134, 156
επισιτισμός, 279 εταίρος, 92
επισκέπτομαι, 112, 519 έτερος, 39, 193, 235, 282, 323, 333,
επισκιάζω, 284 365, 367, 369, 389
επισκοπή, 365, 559 έτι, 211
659
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'έτοιμος, 109, 549 ζάω , 547


ετοίμως, 458, 572 ζευκτηρία, 483
εύαγγελίζω, 222, 235 Ζευς, 422
εύαγγέλιον, 7, 425 ζέω, 445
Ευδαιμονία, 28 ζήλος, 420, 534
Εύδία, 75 ζηλόω, 535
Ευδοκία, 223 ζηλωτής, 463
εύθετος, 287 ζημία, 479
Ευθέως, lio , 133 ζημιόω, 82, 281
εύθυδρομέω, 204, 429 ζητέω, 186, 278, 336
εύθυμότερον, 471 ζήτημα, 425
εύθύνω, 529 ζόφος, 596, 604
Ευθύς, 398, 602 ζυγός, 56
εύκαιρέω, 438 ζύμη, 67
Εύκαιρος, 160 ζωγρέω, 246
Εύκαίρως, 187 ζωογονέω, 331, 390
Ευλαβής, 224 ζώον, 600
εύλογέω, 565
Εύλογητός, 547 ήγεμών, 204
εύνοέω, 33 ήγέομαι, 423
εύπειθής, 535 ηδονή, 535
εύπορέομαι, 411 ήδύοσμον, 103
Εύπορία, 449 ηλικία, 230, 304
εύπρέττεια, 513 ημέρα, 123, 357
Έυρακύλων, 480 ημιθανής, 292
Ευρίσκω, 52, 58, 550, 562 ήσυχία, 463
Ευσέβεια, 584 ήττάομαι, 604
ΕύσΕβής, 598 ήχέω, 344
εύσπλαγχνος, 565 ήχος, 242
Ευσχήμων, 192, 421
εύτόνως, 351 θάλασσα, 24
εύφραίνω, 327 θαμβέομαι, 242
εφημερία, 209 θαμβός, 242
εφήμερος, 526 θανατηφόρος, 531
έφίστημι, 222, 294, 379, 413, 464, θάνατος, 73, 165
483 θαυμάζω, 368, 620
έφοράω, 213 θεάομαι, 53, 99, 101, 249, 267
έχω, 472, 520, 560, 590 θειος, 442
έως, 227, 243, 337 θέλημα, 86, 568
660
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θέλω, 9, 54, 75, 93, 113, 119, 280, 'ίλεως, 81


291, 565, 568, 606 ίμάς, 465
θεμελιόω, 580 'ιμάτιον, 34, 94, 413
θεομάχος, 385 ΐνα, 117, 146, 156
Θεός, 390, 482 Ιός, 531
θεραπεία, 306 ίσάγγελος, 342
θεραπεύω, 43, 247, 252, 442 Ίσκαριώτης, 48
θερισμός, 287 ίσος, 410
θεωρέω, 156, 182, 192, 290, 314, ισότιμος, 584
405, 439, 457, 479 'ίστημΐ, 113, 277, 333, 334, 336, 395
θηρεύω, 302 Ισχυρός, 60
θηρίον, 484, 530 Ισχύς, 599
θησαυρίζω, 37, 607 Ισχύω, 142,250,314,322,425,481,542
θλίψις, 67 ίσως, 340
θορυβάζω, 294 ίχθύδιον, 75
θορυβεομαι, 46, 453 ιώτα, 32
θραύω, 239
θρηνέω, 269 καθαρίζω, 166, 247
θρήσκος, 519 καθαρισμός, 224, 589
θρίξ, 135 καθέδρα, ίο 1
θροέομαι, 183 καθεξής, 208
θρόμβος, 349 καθεύδω, 108
θυγάτριον, 156 καθηγητής, 102
θυμιάω, 210 κάθημαι, 24
θυμομαχέω, 414 καθημερινός, 386
θύρα, 309 καθίζω, 26, 91
καθιστάω, 436, 529, 536
ίάομαί, 43, 254, 264, 402 καθοπλίζομαι, 298
ϊασις, 310 καθώς, 389
ίδιος, 99, 110, 363, 585, 593 καί, 43, 73, 301, 307, 425, 537
ιδιώτης, 380 καινός, 114, 120
ιδού, 5, 421 καινότερος, 438
ιερόν, 23, 105, 178, 460 καιρός, 58, 108, 136, 211, 237, 363,
ιερόσυλος, 451 390,412
Ιησούς, 12, 393 καίω ,358
'ικανός, 121, 190, 264, 350, 421, κακία, 517
436, 479 κακοπάθεια, 541
ίκμάς, 202, 271 κακοπαθεω, 541
ίλάσκομαι, 334 κακοποιός, 559
661
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κακός, 98 καταναθεματιζω, 117


κακόω, 412 κατανεύω, 245
κακώς, 74, 535 κατανοέω, 40, 518
καλέω, 14,99,217, 312, 336, 552, 585 καταντάω, 475
κάλλιον, 473 κατανύσσω, 371
καλός, 113, 523 καταξιόομαι, 385
καλώς, 74, 165, 180, 181, 408, 522 καταπίνω, 103, 579
κάμηλος, 90, 135 καταπλέω, 274
καμμύω, 66 καταπονέομαι, 598
κάμνω, 541 κατάρα, 602
ΚαναναΙος, 47 καταργέω, 307
καρδία, 180, 390, 555 καταριθμέομαι, 364
καρδιογνώστης, 366, 425 καταρτίζω, 25, 95, 260, 580
κάρφος, 40 κατασείω, 233, 414
κατά, 7, 428, 479 κατασκευάζω, 211
καταβαίνω, 273, 516 κατασκηνόω, 153, 370
καταβαρύνω, 188 κατασκήνωσις, 44
καταβολή, 68 κατασοφίζομαι, 390
καταγγελεύς, 438, 441 καταστέλλω, 4 5 1
καταγγέλλω, 441 κατασύρω, 307
κατάγω, 478 κατασφάττω, 338
καταδιώκω, 139 κατάσχεσις, 389, 393
καταδυναστεύω, 408, 523 κατατίθημι, 472
κατακαίω, 449 καταφέρω, 453, 476
κατακαυχάομαι, 525 καταφιλέω, 116, 270
κατάκειμαι, 136, 269 καταψύχω, 328
κατακλάω, 162 κατείδωλος, 437
κατακλύζομαι, 606 κατεργάζομαι, 510
κατακρημνίζω, 241 κατέρχομαι, 284
κατακρίνω, 194 κατεσθίω, 322
κατακυριεύω, 448, 576 κατευθύνω, 219
καταλαλεω, 559 κατευλογέω, 175
καταλαλία, 556 κατέχω, 272, 483
καταλαμβάνω, 172, 379 κατήφεια, 536
καταλείπω, 294, 386 κατηχέω, 209,459
καταλιθάζω, 340 κατ’ ιδίαν, 82
κατάλυμα, 187, 220 κατιόομαι, 538
καταλύω, 32, 183, 279, 336, 385 κατισχύω, 352
καταμένω, 364 κατοικέω, 298, 367
662
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κατοίκησις, 131, 154 κοινόω, 406


κατόρθωμα, 470 κοινωνία, 246, 373
καυσόω, 608 κοινωνός, 246, 575
καύσων, 92, 512 κοιτών, 414
καυτηριάζομαι, 203 κόκκινος, 118
καυχάομαι, 512, 538 κολάζομαι, 380, 598
κείμαι, 19, 226 κολαφίζω, 117, 561
κ^νός, 526 κολλάω, 89, 317, 382, 399
κ^ντυρίων, 133 κολλυβιστής, 6, 95, 134, 177
κ^νώς, 536 κολοβόω, 106
Kepaía, 32 κόλπος, 260, 482
κ^ράμιον, 187 κολωυία, 429
Kepáuov, 318 κομίζω, 550, 600
ΚΕρδαίνω, 82, 280, 563 κονιάω, 103
κεφάλα ιον, 465 κονιορτός, 288
κήνσος, 6 , 85, 200 κοπάζω, 72, 153
κήρυξ, 597 κοπετός, 396
κηρύσσω, 24, 50, 239, 568 κοπιάω, 56, 245
κήτος, 61 κόπτω, 55, 107
κινέω, 202 κοράσιον, 6, 71, 134, 158
κλάδος, 107, 152, 177 κορβάν, 165
κλαίω, 30, 258, 269, 339 κόρος, 323
κλάσις, 373 κοσμέω, 109
κλ^ίς, 80 κόσμος, 441, 522, 529, 606
κλέπτης, 178 κουστωδία, 6, 121
κληρονομέω, 420 κουφίζω, 205
κληρονομιά, 547 κόφινος, 72
κλήρος, 365, 366, 576 κράββατος, 134, 141, 163, 200, 248
κλίβανος, 305 κράζω, 155, 173, 335, 423, 450, 539
κλινάριον, 249 κραιπάλη, 345
κλίνη, 151, 165, 248 κρανίον, 353
κλίνίδίον, 248 κράσπίδον, 46
κλίνω, 279, 358 κραταιός, 578
κλισία, 279 κρατέω, 164, 375
κλύδων, 511 κράτιστός, 469
κνήθω, 203 κραυγάζω, 74, 243
κοδράντης, 182, 200 κραυγή, 108, 215
κοιμάομαι, 396, 606 κρημνός, 45, 156
κοινός, 163, 373, 406 κρίμα, 595
663
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κρίσις, 617 λεπτόν, 182


κριτήριον, 523 λευκός, 283
κριτής, 522 λήθη, 588
κρυπτή, 299 ληνός, 97
κτάομαι, 334, 343, 365 λήρος, 356
κτήμα, 373 ληστής, 95, 116, 178, 291
κτήνος, 293, 469 λίθος, 41, 557
κτίσις, 193, 560, 606 λικμάω, 98
κυβερνήτης, 479 λίμνη, 200, 244
κυλισμός, 605 λίψ, 479
κϋμα, 511 λογίζομαι, 527, 581
κύμινον, 103 λογικός, 556
κυνάριον, 75 λόγιον, 573
κύριος, 93, 109, 475, 584 λόγιος, 445
κυριότης, 616 λόγος, 88, 209, 215, 361, 398, 407,
κωλύω, 603 408, 425, 555
κωμόπολις, 140 λοιδορεω, 466
κώμος, 571 λοιμός, 470
κωφός, 46 λοιπός, 333
λούω, 244, 434
λαγχάνω, 210, 364, 583 λυμαίνομαι, 396
λαΐ,λαψ, 153, 604 λυπεω, 549
λακεω, 365 λυσιτελεΐ, 330
λαλεω, 122, 140, 358 λυτρόω, 357
λαμβάνω, 588 λυτρωτής, 391
λαμπάς, 108 λυχνία, 32, 151
λαμπρός, 351, 522 λύχνος, 593
λαμπρώς, 327 λύω, 80, 608
λανθάνω, 606
λαξευτός, 355 Μαγδαληνή, 120
λαός, 222, 225, 419, 558 μαγεύω, 397
λατρεύω, 2 18, 392, 471 μάγος, 15, 418
λάχανον, 152, 300 μαθητεύω, 69, 122, 424
λεγεών, 200 μαθητής, 61
λέγω, 6, 95, 122, 173 μαθήτρια, 403
λείπω, 334, 510, 525 μακάριος, 26, 475
λειτουργεω, 417 μακρόθεν, 155
λειτουργία, 212 μακροθυμεω, 331, 539
λεπίς, 401 μακρός, 372
664
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μαλακία, 25, 243 μέτοχος, 246


μάλλον, 589 μη, 100
μαμωνάς, 324 μηδαμώς, 406
μανία, 477 μηδείς, 247, 280, 510
μαντεύομαι, 431 μήποτε, 109
μαργαρίτης, 41 μήτι, 113, 260
μάρτυρ, μάρτυς, 365, 575 (ού) μη, 81, 86
μαρτυρέω, 387 μηκύνομαι, 151
μάστιξ, 145, 266, 465 μηνύω, 342, 469
Ματθαίος, 7 μία, 452
μεγαλαυχέω, 529 μίασμα, 605
μεγαλειος, 368 μιασμός, 599
μεγάλειότης, 285, 591 μικρός, -ότερος, 268
μεγαλοπρεπής, 591 μιμητής, 565
μεγαλύνω, 217 μισθός, 601
μέγας, 201, 242, 478 μίσθωμα, 486
μεγιστάνες, 160 μνά, 337
μέθη, 345 μνάομαι, 120
μείζων, 59 μνήμα, 154
μέλει, 40, 578 μνημειον, 44
μέλλω, 434, 466, 482, 589 μνήμη, 590
μεμψίμοιρος, 620 μνηστεύομαι, 9
μέντοι, 616 μογιλάλος, 169
μένω, 131, 381 μόδιος, 32, 151, 201
μερίζω, 60 μοιχαλίς, 61, 535, 602
μέριμνα, 578 μόλις, 479, 481
μεριμνάω, 39 μολύνω, 548
μέρος, 74, 446, 449 μονόφθαλμος, 6, 134, 174
μεσημβρία, 398 μορφή, 83
μέσος, 70, 271 μοσχοπο ιέω, 392
μετά, 193, 293 μύθος, 591
μετάγω, 528 μύλος, 86, 107
μεταλαμβάνω, 373 μυριάς, 302, 620
μεταμέλομαι, 96 μυρίζω, 186
μεταμορφόομαι, 83 μύρον, 270
μετανοέω, 18, 96 μυστήριον, 65
μετάνοια, 96, 134 μυωπάζω, 588
μεταξύ, 420 μώλωψ, 562
μετεωρίζομαι, 305 μώμος, 601
665
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μωραίνω, 31 όδυνάομαι, 202, 328


μωρός, 31 οθόνη, 405
όθόνιον, 405
Ναζωραίος, 463 οίκετης, 325, 560
ναι, 85, 200 οίκημα, 413
ναός, 23, 104, 118 οίκητήριον, 615
νάρδος, 186 οίκοδομέω, 456
νεανίας, 395 οικονόμος, 322
νεκρός, 453 οίκος, 301, 373
νέος, 114 οικουμένη, 105, 219
νεωκόρος, 451 οίκτίρμων, 541
νηστεύω, 36, 142, 236 όκνεω, 403
νήφω, 552, 573 ολίγος, 477, 478, 549, 580, 581
νίπτω, 434 όλίγως, 604
νομίζω, 430 ολοκληρία, 377, 510
νομικός, 200, 248, 268 ολόκληρος, 510
νόμισμα, 100 ολολύζω, 538
νομοδιδάσκαλος, 248 όμιλέω, 454, 472
νομοθέτης, 537 ομίχλη, 604
νόμος, 129 όμνύω, 5
νόσος, 25, 266 όμοθυμαδόν, 366
νοσσός, 224 ομοιοπαθής, 423, 542
νοσφίζομαι, 381 ομοιόω, 422
νουθετέω, 456 ομοίως, 563
νουνεχώς, 181 όμολογεω, 42, 51, 70
νούς, 359 ομότεχνος, 444
νύμφη, 51 όμόφρων, 564
νυμφών, 142 όναρ,6
νϋν, 472, 606 όνικός, 86
νυστάζω, 108, 595 όνομα, 86, 87, 122
όντως, 604
ξενίζω, 438, 573 όξος, 119
ξένος, 574 όπή, 532
ξεστης, 165 όπίσω, 287, 615
ξηραίνω, 144, 556 οπλίζομαι, 504, 570
ξύλον, 352, 433, 504, 562 όπτάνομαι, 362
όπτομαι, 348, 358, 391
όδηγεω, 260 όπως, 378
οδός, 363, 400 όραμα, 84, 391
666
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opaoLÇ, 369 όχλοπο ιέω, 436


οργίζομαι, 321 όχλος, 181, 364
όρθός, 421 όψάριον, 235
όρθρίζω, 346 όψιμος, 540
ορθρινός, 357 όψώνιον, 235
όρθρος, 355, 383
όρθώς, 169 παγιδεύω, 100
όριον, 89, 421 παθητός, 477
ορκίζω, 134, 155 παιδεύω, 351, 463
όρκος, 71 παιδίον, 54
όρμάω, 155, 275 παιδίσκη, 414
όρμή, 421, 528 παις, 17, 217, 278, 376
όρνις, 104 πάλιν, 23
οροθεσία, 442 παμπληθεί, 351
όρος, 26 πανδοχειον, 293
ορύσσω, 97 πανοπλία, 298
ός, 90 πανουργία, 341
όσιότης, 218 πάντως, 240
όσος, 276, 403, 426 παρά, 35, 557
όστις, 69, 98, 151, 180, 302, 351, παραβαίνω, 73, 366
394, 408, 537, 559, 594 παραβάλλω, 454
όταν, 178, 509 παράβασις, 36
ότι, 93, 140, 181, 213, 215, 263 παραβάτης, 525
θύ, 42, 100 παραβιάζομαι, 358
ούά, 191 παραβολή, 61
ούαί, 617 παραγγελία, 384
ούδείς, 531 παραγγέλλω, 247, 363, 384
ούράνιος, 5 παραγίνομαι, 17
ούρανός, 18 παράδεισος, 353
ουτος, 428 παραδίδωμι, 24, 56, 112, 113, 152,
ούτως, 32, 116 208, 562
ούχί, 240, 260 παράδοξος, 249
οφειλέτης, 88, 307 παραθεωρέω, 386
όφείλημα, 35 παραιτέομαι, 312
οφείλω, 88, 102 παρακαθέζομαι, 294
όφελος, 525 παρακαλέω,89
οφθαλμός, 168 παράκλησις, 258, 402
όφρύς, 240 παράκλητος, 258
όχλέομαι, 253 παρακολουθέω, 194, 208
667
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παρακούω, 158 πάσχω, 156


παρακύπτω, 518, 551 πατήρ, 102, 229, 531
παραλαμβάνω, 22, 82,434 πατριάρχης, 371
παραλέγομαι, 204 πατροπαράδοτος, 554
παραλλαγή, 516 πατρώος, 471
παραλογίζομαι, 517 παχύνομαι, 66
παραλύομαι, 248, 397 πέδη, 154
παραλυτικός, 248 πεδινός, 253
παρανομέω, 466 πεζεύω, 454
παρανομία, 603 π6ζή, 71
παραπορεύομαι, 143, 173 πειθαρχέω, 384, 482
παράπτωμα, 36 πείθω, 122, 340, 385, 477
παρατηρέω, 144 πειράζω, 382
παρατήρησις, 330 πειρασμός, 36, 510, 549, 574
παρατίθημι, 279, 425, 435, 574 πέμπω, 560
παραφρονία, 603 πένης, 29
παραχρήμα, 96,217 πενθέω, 30, 536
πάρειμι, 116, 588, 589 πενιχρός, 29
παρεισάγω, 594 περί, 419, 467
παρείσακτος, 594 περιαιρέω, 483
παρεισδύνω, 614 περιάπτω, 350
παρεισφέρω, 586 περιαστράπτω, 400
παρεμβολή, 461 περιβλέπω, 158
παρενοχλέω, 426 περίεργος, 448
παρεπί δήμος, 545 περιέρχομαι, 448
πάρεσις, 542 περιέχω, 246, 469, 558
παρέχω, 463 περίκειμαι, 485
παρθένος, 14 περικρατής, 481
παρίστημι, 362 περικρύπτω, 213
παροικέω, 356 περιμένω, 363
πάροικος, 559 περιοχή, 399
παροιμία, 62 περιπατέω, 141, 249, 300, 375, 578
παροξύνομαι, 437 περιπίπτω, 510
παροξυσμός, 428 περιποιέομαι, 456
παρουσία, 105, 591 περιποίησις, 558
παροψίς, 103 περιρρήγνυμι, 245, 432
παρρησία, 371 περισπάομαι, 294
πας, 237, 556 περίσσεια, 517
πάσχα, 186 περισσεύω, 319
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περισσός, 163 πλοιον, 244


περιστερά, 20, 224 πλουσίως, 589
περιτίθημι, 97 πλύνω, 244
περιτρέπω, 477 πνεύμα, 199, 216, 568, 574
περιφέρω, 163 πνίγω, 88
πετεινόν, 286 πνοή, 366
πέτρα, 76 πόθεν, 310
Πέτρος, 76, 545 ποιεω, 110, 143, 146, 152, 186, 216,
πήγανον, 300 525, 537, 541, 614
πηγή, 603 ποίησις, 519
πηδάλιον, 528 ποικίλος, 5 ίο, 549
πήρα, 288 ποιμαίνω, 16, 455, 575, 618
πιάζω, 375 ποίμνη, 222
πιέζω, 260 ποιος, 101, 107, 180, 259, 356, 394,
πίμπραμαι, 484 469, 537, 561
πινακίδων, 217 πολιτάρχης, 204, 436
πίναξ, 71, 300 πολιτεύομαι, 466
πίπτω, 185, 262, 291, 297, 328 πολλοί (oi), 105
πιστεύω, 434 πολύς, 181
πιστικός, 186 πολύσπλαγχνος, 541
πίστις, 103, 199, 377, 387, 586 πολυτελής, 563
πλανάω, 105, 180, 562, 602 πονηριά, 167
πλάνη, 121 πονηρός, 235, 267
πλάνος, 121 πορεία, 513
πλαστός, 595 πορεύομαι, 6, 53, 193, 568, 570
πλατεία, 313 πορθεω, 401
πλεΐστος, 94 πορφύρα, 326
πλείων, 61, 299 ποτίζω, 119
πλεονεξία, 595, 602 πότος, 572
πληγή, 145, 292 πράγμα, 87
πληθύνω, 105, 385 πραγματεύομαι, 337
πλήθω, 99 πραιτώριον, 6
πλημμύρα, 262 πράκτωρ, 307
πλήν, 55, 117, 338 πρασιά, 162
πληροφορεω, 207 πράσσω, 232
πληρόω, 5, 283, 526 πραύς, 30
πλήρωμα, 162 πρεσβυτέρων, 350, 463
πλησίον, 34 πρεσβύτερος, 424
πλοιάριον, 244 πρηνής, 365
669
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προάγω, 121 προσλαμβάνω, 81


προαύλιον, 189 προσμένω, 169
προβαίνω, 210, 227 προσορμίζομαι, 163
πρόβατον, 48 πρόσπεινος, 404
προβιβάζω, 71, 451 προσπήγνυμμ 370
πρόβλημα, 62 προσπίπτω, 274
προγινώσκω, 554 προσποιέομαι, 358
πρόγνωσις, 546 προσρήγνυμι, 245, 262
προγράφω, 614 προστίθημι, 235, 340, 412, 420
πρόθεσις, 143, 410 προσφάτως, 444
προθύμως, 576 προσφωνέω, 352
πρόκβιμα ι, 616 πρόσψαύω, 202, 301
προκηρύσσω, 378 προσωπολημπτέω, 524
προλαμβάνω, 186 προσωπολήμπτης, 408
προμαρτύρομαι, 551 προσωποληψία, 520
πρόνοια, 470 πρόσωπον, 179, 378, 393, 420, 513,
προοράω, 370 518, 620
προπέμπω, 425 προτάσσομαι, 442
προπετής, 451 προτείνω, 465
πρός, 90 προτρέπομαι, 446
προσάββατον, 192 πρόφασις, 482
προσάγω, 335 προφήτης, 267
προσαναλίσκω, 277 προφητικός, 592
προσδέομαι, 442 προφήτις, 227
προσδέχομαι, 471 προφθάνω, 85
προσδοκάω, 484, 608 προχειρίζομαι, 464, 477
προσδοκία, 345 προχειροτονέομαι, 408
προσεγγίζω, 140 πρωί, 91
προσεργάζομαι, 338 πρώιμος, 540
προσέρχομαι, 6, 557 πρωτοκλισία, 102, 181
προσευχή, 373, 430, 542, 573 πρώτος, 193, 361, 429, 485
προσεύχομαι, 434, 542 πρωτοστάτης, 470
προσήλυτος, 420 πταίω, 528, 589
πρόσκαιρος, 67 πτερύγιον, 22
προσκαλέομαι, 372 πτηνόν, 286
προσκαρτερέω, 364, 387 πτοέομαι, 343
προσκεφάλαιον, 153 πτόησις, 563
προσκληρόομαι, 435 πτύσσω, 238
προσκυνέω, 122, 406 πτώμα, 107, 192
670
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πτώσις, 226 ρύπος, 569


πτωχός, 29, 182, 522 ρώννυμαι, 428
πυγμή, 164
Πόθων, 431 σάββατον, σάββατα, 241, 363, 453
πυκνός, 250 σαγήνη, 68
πύλη, 41 σάκκος, 288
πυλών, 327, 423 σαλεύω, 345, 370
πυρ, 529 σάλος, 344
πύργος, 97 σάλπιγξ, 107
πυρέσσω, 43 σαλπίζω, 35
πυρετός, 242, 485 σαπρός, 261
πύρωσις, 573 σάρξ, 538
πώρωσις, 145 σβέννυμι, 109
σέβασμα, 440
ραββί, 102 Σ€βαστός, 474
ραβδίζω, 432 σέβομαι, 420
ράβδος, 48 σ^ιρός, 596
ραβδούχος, 434 σ€ΐσμός, 44
ραδιουργία, 419 σ^ίω, 95, 233
ραντισμός, 505, 546 σ6ληνιάζομαι, 26, 84
ραπίζω, 117 σημώ,ον, 106, 170
ράπισμα, 134, 189 σήμερον, 75, 455
ραφίς, 6, 90, 134, 175, 202 σήπω, 2 6 1, 538
Ρψφάν, 393 σητόβρωτος, 538
ρέω, 5 σθβώω, 580
ρήγμα, 262 σιαγών, 259
ρήγνυμι, 41 σικάριος, 462
ρήμα, 215, 223, 341, 408, 556 σίκ€ρα, 211
ρήσσω, 172 Σιλουανός, 581
ρήτωρ, 470 σιμικίνθιον, 448
ρίζα, 202 σινδων, 188, 355
ριπίζομαι, 511 σινιάζω, 347
ρίπτω, 47, 75, 242, 330 σιτ ιστός, 99
'Ρόδη, 414 σιτομέτριον, 306
ροιζηδόν, 607 σίτος, 347
ρομφαία, 227 σιωπάω, 153
ρύμη, 313, 400 σκανδαλίζω, 33, 53
ρυπαρία, 517 σκάνδαλον, 33, 82
ρυπαρός, 522 σκάπτω,261
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σκάφη, 481 στατήρ, 85


σκευή, 482 σταυρός, 52
σκεύος, 60, 149, 400, 481, 564 σταφυλή, 261
σκηνή, 84, 325 στενάζω, 540
σκηνοπο ιός, 444 στενός, 41
σκήνωμα, 394, 589 στερεός, 579
σκληρός, 110, 528, 620 στερεόω, 375, 428
σκληροτράχηλος, 394 στέφανος, 513, 577
σκολιός, 372, 504, 561 Στέφανος, 396
σκοτεινός, 62 στηριγμός, 609
σκυθρωπός, 36, 356 στηρίζω, 348, 507, 580, 589
σκΰλλω, 47, 158 στιβάς, 177
σκωληκόβρωτος, 416 στιγμή, 237
σμυρνίζομαι, 191 στίλβω, 172
σορός, 266 στοιχειον, 607
σός, l i o στοιχέω, 459
σουδάριον, 200, 338 στολή, 320
σοφίζω, 591 στόμα, 87, 344
σοφός, 533 στράτευμα, 99
σπαράσσω, 136 στρατεύομαι, 232, 535
σπαργανόω, 220 στρατηγός, 204, 346, 432
σπαταλάω, 539 στρατιά, 222
σπείρα, 190, 263, 460 στρατιώτης, 468
σπείρω, 64, 66 στρεβλόω, 504, 609
σπεκουλάτωρ, 161 στρέφω, 41, 86
σπερμολόγος, 437 στρουθίον, 50
σπεύδω, 608 στρώννυμι, 187, 402
σπιλάς, 618 στυγνάζω, 76, 175
σπίλος, 601 συγγενής, 214
σπιλόω, 529, 621 συγκάθημαι, 189
σπλαγχνίζομαι, 169, 266 συγκαλύπτομαι, 302
σπλάγχνον, 218 συγκατατίθεμαι, 355
σποδός, 289 συγκαταψηφίζομαι, 366
σπορά, 555 συγκινέω, 388
σπόριμος, 59 συγκομίζω, 396
σπόρος, 151 συγκύπτω, 308
σπουδαίως, 263 συγκυρία, 292
σπουδή, 614 συγχέω, 460
σπυρίς, 72, 402 συγχύνω, 367
672
συζητέω, 136 συνευωχέομαι, 602
συκομορέα, 330, 336 συνέχω, 25,201,242,276,395,444,485
συκοφαντέω, 233, 337 συνθλάομαι, 98, 341
συλλαμβάνω, 212, 245 συνίημι, 67
συλλογίζομαι, 340 συνίστημι, 606
συλλυπέομαι, 144 συνοδία, 228
συμβαίνω, 461, 574 συνοχή, 344
συμβάλλω, 223, 314, 446 συντέλεια, 5, 123
συμβιβάζω, 401 συντελέω, 237
συμπαθής, 564 συντηρέω, 160, 223
συμπίπτω, 262 συντίθημι, 471
συμπληρόω, 273, 286, 366 συντόμως, 470
συμπνίγω, 150, 276 συντρίβω, 155, 239, 285
συμπορεύομαι, 356 σύντροφος, 417
συμπόσιον, 161 συντυγχάνω, 273
συμπρεσβύτερος, 575 συνωμοσία, 467
συμφύομαι, 202, 271 σύρτις, 481
συμφωνέω, 87, 382 συσπαράσσω, 285
συμφωνία, 321 σύσσημον, 188
συμψηφίζω, 449 συστασιαστής, 190
συν, 357, 391 συστέλλω, 381
συνάγω, 112, 150, 303 συστροφή, 452, 467
συναγωγή, 264, 520 συσχηματίζομαι, 83, 552
συναιρώ, 88 σφαγή, 539
συνακολουθέω, 354 σφραγίζω, 121
συναλίζομαι, 362 σφυράν, 375
συναντιλαμβάνομαι, 294 σχήμα, 83
συναπάγομαι, 609 σχίζω, 130, 135, 251
συναρπάζω,275,388,451 σώζω, 254, 374
σύνδεσμος, 398 σωτηρία, 379
συνέδριον, 383 σωφρονέω, 573
συνείδησις, 561, 566
συνεΐδον, 413 τακτός, 414
συνέκδημος, 451 ταλαιπωρέω, 536
συνελαύνω, 391 ταλαιπωρία, 538
συνεργέω, 526 ταμειον, 35, 302
σύνεσις, 181, 229 ταπεινός, 56, 512
συνετός, 55, 418 ταπεινοφροσύνη, 57
συνευδοκέω, 301, 464 ταπεινόφρων, 565
Í ndice de Palavras G regas

ταπείνωσις, 512 τότε, 606


ταράσσω, 565 τράπεζα, 338
ταρταρόω, 595 τραπεζίτης, i l l
τάσσω, 264 τραυματίζω, 340
τάφος, 6, 103 τρέμω, 599
ταχινός, 590, 594 τρίβος, 230
τείχος, 401 τροπή, 516
τεκμήριον, 362 τροποφορέω, 419
τέκνον, 552 τροχός, 530
τέλειος, 510, 518 τρύβλιον, 113, 187
τελεΐόω, 310 τρύπημα, 90
τελείως, 552 τρυφάω, 539
τελεσφορέω, 272 τρυφή, 267, 601
τελευτάω, 46, 73, 165 τυγχάνω, 292, 447, 478, 483
τελέω, 523 τύπος, 469, 576
τέλος, 85, 331, 348, 541 τύπτω, 466
τελώνης, 232 τυφλός, 588
τελών ιον, 45 τυφόομαι, 203
τέρας, 106, 369 τυφωνικός, 480
τεσσαράκοντα, 362
τέταρτος, 407 υβρίζω, 301
τετράπους, 406, 530 ύβρις, 479, 482
τεφρόω, 597 υγιαίνω, 203, 250
τεχνίτης, 449 ύδρωπικός, 311
τήκομαι, 609 ύδωρ, 409
τηλαυγώς, 171 ύετός, 483, 540
τηρέω, 118, 473, 548, 596, 598 υ'ιός, 9, 142
τήρησις, 379, 382 ύλη, 529
τίθημι., 152, 381 ύμνέω, 434
τίκτω, 514 υπάγω, 526
τίλλω, 143, 251 υπακοή, 552, 555
τιμή, 485, 558 ύπαρξις, 373
τίμιος, 455, 585 υπάρχω, 267, 374, 395, 525, 587
τις, 516 ύπερε ίδω, 442
τόκος, i l l , 338 ύπερηφανία, 168
τολμάω, 192 υπέρογκος, 604
τολμητής, 599 ύπερωον, 364
τόπος, 474 υπέχω, 616
τοσοϋτος, 381 ύπηρετέω, 472
674
υπηρέτης, 33, 208, 240, 418 Φήστος, 472
ύπό, 157, 272, 591, 615 φθάνω, 60
υποβάλλω, 388 φθέγγομαι, 603, 604
ύπογραμμός, 561 φθ6ΐρω, 600
ύπόδ^ιγμα, 598 φθινοπωρινός, 618
ΰποδ6Ϊκνυμι, 231, 456 φθορά, 600
υποδέχομαι-, 293 φιλαδβλφία, 587
υποζυγίου, 94, 603 φιλάδελφος, 564
ύποζώννυμι, 481 φιλανθρωπία, 483
υποκρίνομαι, 341 φιλάνθρωπος, 478
υποκριτής, 102 φιλάργυρος, 325
ύπολαμβάνω, 270, 291 φιλέω, 259
ύπολήνιον, 179 Φίλιππος, 147
ύπολιμπάνω, 561 φιλονικία, 347
υπομένω, 541 φιμόω, 100, 101, 136, 153, 241,
υπομονή, 540, 586 504, 560
ύπονοέω, 420, 482 φ λογίζω , 530
ύποπλέω, 204, 479 φοβέομαι, 216
υποστέλλω, 454 φόβητρου, 343
υποστρέφω, 355 φόβος, 373, 563
ύποστρώννυμι, 339 φον^ύς, 377, 462
υποτάσσω, 229, 536, 560, 563 φόνος, 400
ύποχωρέω, 247 φόρος, 200, 341
ύπωπιάζω, 331 φορτίζω, 56
ύστερέω, 317 φραγ^λλόω, 6
ύστέρημα, 342 φραγμός, 97, 313
im ep ov, 193 φρέαρ, 311
ύψος, 512 φρίσσω, 526
φρονέω, 82
φαίνω, 17, 107 φρόνησις, 211
φαν^ρόω, 151, 554 φρόνιμος, 49
φαν^ρώς, 404 φρονίμως, 324
φάντασμα, 72 φρουρέω, 548
φάραγξ, 230 φρυάσσω, 380
φάτνη, 220 φρύγανου, 484
φαύλος, 534 φυλακή, 69, 221, 413, 568
φέγγος, 185, 299 φυλακτήριον, 101
φέρω, 366, 481, 552, 593 φυλάσσω, 221, 275, 597
Φήλιξ, 472 φυσικός, 600
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φυσικώς, 617 χόρτασμα, 389


φύσις, 530, 5 3 1 χρήμα, 380
φύω, 202 , 271 χρηματίζω, 17, 225, 410
φωλ€0ς, 43 χρηστός, 58, 557
φωνή, 134, 367, 591 χρηστότης, 58
φώς, 189, 225, 434, 516 Χριστιανός, 410
φώσφορος, 593 Χριστός, 8, 360
φωτεινός, 38 χρόνος, 363
χρονοτριβύω, 454
χαΐρ€, χαίρετε, χαίρ€ΐν, 121, 426, χρυσίον, 375, 554
502, 509 χρυσοδακτύλιος, 521
χαλάω, 244, 481 χρως, 447
χαλεπός, 45 χώρα, 539
χαλιναγωγέω, 519 χωρέω, 607
χαλινός, 528 χωρίς, 526
χαλκίον, 165 χώρος, 479
χαλκός, 48, 182
χαρά, 509 ψάλλω, 541
χάραγμα, 442 ψευδοδιδάσκαλος, 594
χαρίζομαι, 267, 270, 377, 473 ψεύδομαι, 381
χάρις, 199, 214, 240, 472, 546 ψηλαφάω, 359
χάρισμα, 573 ψηφίζω, 313
χαριτόω, 213 ψήφος, 476
χάσμα, 329 ψυχή, 82, 180, 216, 252
χ^ιμών, 75 ψυχικός, 621
χ€ΐροποίητος, 394, 441 ψύχομαι, 105
χ^ιροτονύω, 424 ψώχω, 251
χήρα, 182
χιλίαρχος, 160, 460 ώδ€, 71
χιλιάς, 314 ώδίν, 184, 370
χιτών, 34 ωρύομαι, 504, 578
χλαμύς, 118 ώσαννά, 95
χλ€υά(ω, 443 ώσ6ΐ, 20, 367
χοίρος, 41 ώστε, 517
χολή, 398 ώτάριον, 188
χορηγέω, 573 ώτίον, 116, 349
χορτάζω, 31 ώφ^λέω, 242

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