Você está na página 1de 1

Minha primeira experiência foi o apartamento do último andar, em frente ao cemitério da

Consolação.

Gostava de paisagem, falando sério. O apartamento de baixo tinha uma varanda, tipo
cobertura. Quando eu dava alguma reunião, meu tormento era impedir que os fumantes
atirassem focos de cigarro na janela. Invariavelmente tinha que pedir desculpa, os vizinhos de
abaixo – um jovem casal americano- e oferecer minha faxineira para a limpeza. Se eu fosse
alguma mãe moralista de filhos adolescentes, quem iria aguentar a reclamação era uma
americana, que costumava tomar banho de sol na varanda. Como eu disse, gostava da
paisagem.... Minha mulher de então resolveu criar um cão. Em nosso favor, devo dizer que o
escolhemos uma raça que late raramente afghan hound. O nome dele era Assur, um nome
pretensioso, reconheço. Ninguém no prédio desconfiou que havia cão na casa. Mas filhote é
um problema. Tem de aprender a força e a necessidades do lugar, a não roer sofás ou móveis.
Dona o educava como lhe ensinaram: ela enrolou um jornal, levava bicho até o lugar da
travessura e fazia um escândalo, batendo jornal no chão e gritando: “Não Assur!” Epá! “Não
Assur!” E pá! “Não Assur!” Pá! Que pensaria vizinhança daquele barreiro? A reposta veio do
vizinho de baixo, ao encontrar-me no elevador: “- Boa tarde, seu Assur”.

Você também pode gostar