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NOVOS OLHARES DE JANUS

SÉRGIO MASCARENHAS
Novos Olhares
de Janus
Novos Olhares
de Janus
Sérgio Mascarenhas

São Paulo
Ribeirão Preto
2018
Novos Olhares
de Janus

Contato com autor: Sérgio Mascarenhas


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Sérgio Mascarenhas

Dedicatória

À minha família, colaboradores,


alunos e instituições nacionais
e internacionais que me apoiaram.

v
Sérgio Mascarenhas

Sumário

Prólogo ix

Da bomba atômica, dosimetria, Sambaquís,


arqueologia e muito mais 1

Fé, forma e fantasia grandes pilares da evolução humana 7

Engenharia de sistemas complexos para o séc. XXI 11

Metamatemática e seus paradoxos 15

Ciência básica e a cura do câncer com


o vácuo e antimatéria?! 19

A nova mulher pensadora do séc. XXI 23

O peixe elétrico e a ciência brasileira 25

Do genoma ao conectoma: a nova revolução


(fronteira) na biologia (genética) 29

Cérebro e biomúsica e a terceira cultura 33

Cibernética: encontro de gênios


Neumann, Turing e Shannon 37

Geografia da fome do conhecimento 39

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Novos Olhares de Janus

As duas idades do homem e a origem da vida 43

“Paradoxos: surpresa, beleza ou ignorância?


Paradoxos não existem! Ignorância sim!” 45

De Aratuba ao BigBang 49

A queima cognitiva das crianças brasileiras:


pior que a da Amazônia! 53

Bonsai e a busca de Spinoza: uma história


de prêmios acadêmicos 55

Centenário da Academia Brasileira de Ciências


e desafios da ciência, tecnologia e inovação no Séc. XXI 59

Saudades do Futuro 63

Cérebro, sono e sonho: Doutrina NPP 65

Nós humanos Homo Sapiens Sapiens 69

Encontros I 71

Encontros II 75

Encontros III 79

Encontros IV 83

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Sérgio Mascarenhas

Prólogo

Desde a Grécia antiga os eventos culturais começam com


um Prologo, origem do grego PRO ( antes)+ LOGO (discurso).
Em geral, anunciando um evento por um monólogo com ex-
plicações para melhor entendimento dos leitores ou espec-
tadores. Este meu prólogo é uma espécie de memórias sob
a forma de Crônicas das minhas experiências vividas como
pesquisador, professor e membro da comunidade científica
atuante para que a Ciência,Tecnologia, Inovação, Empreende-
dorismo e Educação possam se tornar parte da sociedade em
geral, como uma verdadeira transformação social virtuosa que
possa trazer Políticas de Estado e não apenas de Governos
Transitórios invadidos por corrupção e ambições normais do
capitalismo selvagem que ainda domina o Séc. XXI. Essa obra
OS NOVOS OLHARES DE JANUS é continuação de livro ante-
rior OS OLHARES DE JANUS, publicação EMBRAPA (2009), no
qual contei com prefácios de dois grandes brasileiros Alfredo
Bosi da Academia Brasileira de Letras e Silvio Crestana, então
Presidente Nacional da EMBRAPA. Devo confessar também
que decidi publicar esta obra como uma espécie de Canto do
Cisne ao completar meus noventa anos, de um cientista num
Brasil em crise permanente como um apelo para mudança so-
ciocultural de um país e América Latina, colonizados pelos
países centrais e mantendo a mais triste desigualdade, fruto
de uma herança maldita de 500 anos de colonização racista,
escravista e machista e que culmina agora com crise destrui-
dora da Ciência, Tecnologia e Inovação e Educação nesse séc.
XXI. No qual o caminho, a meu ver, é por essa nova cultura

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Novos Olhares de Janus

já antevista por grandes brasileiros como Anísio Teixeira, Jo-


aquim da Costa Ribeiro, Carlos Chagas Filho meus antigos
mestres e amigos da época de minha formação na saudosa
Faculdade Nacional de Filosofia, da antiga Universidade do
Brasil, atual UFRJ.
Internacionalmente devo a outro grande amigo, o físico e
Prêmio Nobel Abdus Salam, com quem trabalhei por mais de
12 anos como diretor de Física Médica e Biofísica Molecular
no ICTP- International Centre for Theoretical Physics, na cida-
de Trieste na Itália e na Academia de Ciências para o Terceiro
Mundo (TWAS) aos quais dedico a presente obra .

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Sérgio Mascarenhas

Mandíbula coletada em Kusatsu Cho


(3km do hipocentro da bomba.(Hiroshima- Japão)

Da bomba atômica, dosimetria,


sambaquís, arqueologia
e muito mais
A beleza da ciência está na sua transdisciplinaridade. É
como uma viagem com múltiplos destinos. Quem faz o trans-
porte é a cognição, o cérebro e seus bilhões de neurônio
capazes de adquirir, sensoriando a natureza, armazenar e
processar conhecimentos. Uma vez processado este conhe-
cimento apresenta um fenômeno espetacular de inovar e,
mais ainda, essas inovações passam a um processo evolutivo
cuja melhor conceituação talvez seja a emergência de ordem
a partir da desordem ! Fenômeno que necessita para sua me-
lhor conceituação da Teoria dos Sistemas Complexos. O me-

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Novos Olhares de Janus

lhor que posso fazer é aconselhar o leitor a ler “A Tour in Com-


plexity” de M. Mitchell (https://www.goodreads.com/book/
show/5597902-complexity e http://web.cecs.pdx.edu/~mm/
EncycOfEvolution.pdf.)
Vou agora passar a contar uma dessas “viagens” que tive 
a fortuna de realizar. Na minha USP, São Carlos trabalhando
em Física Aplicada à Biologia e Medicina, descobri que irra-
diando ossos, esses se tornam levemente magnéticos  ou na
linguagem mais precisa PARAMAGNÉTICOS. Por exemplo, a
parte inorgânica dos ossos (hidroxiapatita) atingida por radia-
ção ionizante, passa a conter radicais livres com eletrons de-
semparelhados. A vida desses centros paramagnéticos pode
ser muito longa, chegando ao milhão de anos na dependên-
cia é claro das condições ambientais. Essa medida quantitati-
va do paramagnetismo é feita com um Espectrômetro de Res-
sonância Paramagnética (ESR na sigla em inglês). No Instituto
de Física da USP, em São Carlos, já tínhamos não apenas um
moderno equipamento, mas uma equipe de alto nível chefia-
da pelo saudoso H. Panepucci. Nessa altura procurei também
o Dep. de Ortopedia da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto-USP e interessei o Prof. G. Koberle a estudar o novo fe-
nômeno como tese para sua Livre-Docência. Armado com es-
sas equipes transdisciplinares e mais contatos internacionais 
que já possuía no Japão e EE.UU. passei a “viajar e inovar”.
Minha primeira ideia foi com equipe de Panepucci estudar
mais profundamente o fenômeno com ESR. Depois domina-
da a técnica quantitativa essa se transformou em inovações
para várias aplicações, tais como: dosimetria de radiações
(em radioterapia,dosimetria industrial de alimentos e fárma-

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Sérgio Mascarenhas

cos), datação arqueológica (em sambaquis ou shell-mounds


existentes no mundo todo), datação geológica em cavernas
(espeleologia), ortopedia e propriedades como crescimento
ósseo. Acabei por fim sendo convidado como Prof. Visitante
na Harvard Medical School pelo importante grupo do Prof. M.
Glimcher. Mas antes de ir para Harvard resolvi dar vida a uma
ideia. Ir a Hiroshima no Japão tentar obter amostras de ossos
de vitimas da Bomba Atômica e fazer a dosimetria daquele
evento transformador da História da Humanidade. Os ame-
ricanos além de jogarem a Bomba em Hiroshima e Nagasaki
criaram um Atomic Bomb Research Center em Hiroshima para
estudar com as “cobaias” humanas os efeitos da Bomba. Com
a Guerra Fria, outros países se armaram com a Bomba e era
de interesse estratégico conhecer os efeitos biológicos da
radiação. Fui a esse Centro e propus a minha pesquisa em
colaboração. Inicialmente ficaram desconfiados de um brasi-
leiro latino-americano subdesenvolvido que dizia ter desco-
berto um efeito novo nos ossos irradiados. E não aceitaram
a proposta! Mas, depois que eu disse que estava indo para
a Harvard Medical School como Professor visitante mudaram
de atitude e me forneceram amostras. Foi um momento ines-
quecível quando abriram um grande cofre cheio de amostras
como maxilares, dentes, crânios humanos, frutos macabros da
explosão. Então com minha ansiedade natural resolvi propor
que poderíamos fazer medidas ali mesmo na Universidade de
Hiroshima onde havia um instrumento de ESR. Aí outra emo-
ção achei os sinais dosimétricos no espectro das amostras.
Então outra decisão apresentar o trabalho em New York no
mais famoso Meeting da American Physical Society o  March

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Novos Olhares de Janus

Meeting .E foi  muito difundido e publicado no Bulletin of The


American Physics Society (vide ilustração acima).
Com apoio da Embaixada do Brasil em Tokyo pude ofi-
cialmente trazer amostras para o Brasil, em especial, um ma-
xilar cuja origem e posição no momento da explosão eram
conhecidos, pois a Bomba foi explodida no ar  para maior
devastação espacial. Não apenas a radiação nuclear, mas a
poderosa onda de choque causou incêndios e até evapora-
ção de corpos humanos! Numa parede pude ver horrorizado
uma sombra do acontecimento na fotografia de uma vitima.
Não sei por que, mas pensei como Darwin, na sua viagem a
bordo do Beagle, ficara extasiado dessa vez felizmente com a
riqueza da evolução biológica e não com desastres militares,
embora no Brasil ficasse horrorizado com a barbaridade do
tratamento dado aos escravos africanos a ponto de dizer que
nunca mais queria voltar ao Brasil.
Eu, entretanto, voltei mais quatro vezes ao Japão e até
ajudei a criar com auxilio de meu fraterno amigo e físico Shi-
gueo Watanabe os Simpósios Brazil-Japão em Ciencia e Tec-
nologia, com o qual comemoramos em 2008 os Cem Anos da
Imigração Japonesa ao Brasil.
Vejam como a Ciência amplia horizontes, cria um verda-
deiro CONECTOMA SÓCIO-CULTURAL! Infelizmente o Brasil
não trata a Ciência, Tecnologia e Inovação na Educação com
Políticas de Estado, a médio e longo prazo,  resultando na co-
lonização e destruição dos cérebros jovens que permitiriam
um  desenvolvimento social mais virtuoso . Agora chego ao
gran-finale desta crônica, graças ao meu brilhante ex-aluno
Prof. Osvaldo Baffa da Faculdade de Filosofia Ciências e Le-

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Sérgio Mascarenhas

tras-USP de Ribeirão Preto e sua orientanda  Angela Kinoshita,


que foi possível, agora em 2018, publicar um novo trabalho
com técnicas mais avançadas  de ESR e dosimetria numa re-
vista de larga circulação internacional (https://www.ncbi.nlm.
nih.gov/pmc/articles/PMC5800652)  e que ganhou renovado
interesse sobretudo pelo atual terror de um Desastre Nuclear
mundial ! Reforçando o meu clichê “ Professor bom é aquele
que tem alunos melhores que ele, para construir equipes e
escolas, verdadeiras cadeias de progresso social “  .

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Sérgio Mascarenhas

G. Galilei A. Kekulê R. Penrose


1564-1642 1829-1896 1931-

Fé, forma e fantasia


grandes pilares da evolução humana

Roger Penrose, cientista, filósofo, escritor e professor


em Oxford-UK é um desses raros polimatas inter e trans-
disciplinares, transitando da matemática para a física e
filosofia da ciência. Seu ultimo livro Faith, Fashion and
Fanthasy, que imperfeitamente traduzo como Fė, Forma
e Fantasia num esforço para manter a sonoridade e os 3
Fs,   ė uma delicia, embora as vezes um pouco indigesto
para o leitor não habituado a esses passeios transdisci-
plinares e até transculturais. O próprio autor oferece ca-
pítulos de ajudas conceituais para o leitor leigo. Mas va-

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Novos Olhares de Janus

mos aos assuntos com minha interpretação dos temas de


enorme atualidade na Era Digital do sėc. XXI.
Fė (Faith) essa ė uma componente indissolúvel da cultura
humana, não apenas as religiões, mas uma necessidade evo-
lutiva fora do misticismo elementar ou das estruturas teoló-
gicas do judaísmo, cristianismo ou islamismo em suas múlti-
plas variantes. Pessoalmente, penso que o agnosticismo ou
ateísmo se comunicam com esse ingrediente da Fė, de modo
que a origem desse comportamento resulta do fenômeno so-
ciológico da auto alienação.
Forma (Fashion) esse termo foi que mais se aproxima do
termo MODA que seria a tradução justa, usando FORMA li-
gado a MODA como tendência e formação de valores de
julgamento estéticos nas artes, consumo, literatura, ciência,
tecnologia, inovação e filosofia. Não há como negar o efeito
manada quando tratamos da moda em todos esses campos
rapidamente instrumentalizado pelo comércio, indústria, or-
ganizações políticas e religiosas. A meu ver, o enorme poder
de formação de opinião da mídia globalizada e da força do
capitalismo selvagem são os elementos básicos para se en-
tender este fator. Mas, insistindo como Penrose, que as ati-
vidades das áreas científicas, tecnológicas ou humanísticas
também apresentam esse aspėcto, visto que o sucesso, em-
pregabilidade, salários reforçam esses comportamentos com
sistemas de avaliações, prêmios, índices classificatórios, deli-
mitação de territórios e tribalismos.
Fantasia (Phantasy) essa é a mais pessoal das categorias
analisadas em comparação com as duas anteriores e eu diria
não menos importante! Estando ligada à intuição, autocons-

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Sérgio Mascarenhas

ciência e ambiente sócio cultural do indivíduo esta variável


constrói heróis e heroínas pelo fato paradoxal de não ter base
científica sólida atė o presente. A fantasia, os sonhos gran-
des  e pequenos portam uma certa mágica nas descobertas
e inovações nas ciências e nas artes. Quem não conhece as
fantasias de Kekulê sonhando com uma serpente mordendo a
própria cauda e propondo a estrutura do benzeno! Uma frase
talvez exagerada, mas adequada é: A ciência e tecnologia re-
sultante é a transformação de sonhos em realidades ou “Life
is but a dream (Shakespeare).”

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Sérgio Mascarenhas

M. Gell Mann J. Piqueira


1929 - (p.Nobel)

Engenharia de sistemas complexos


para o séc. XXI

Em 2010 comemorou-se 40 anos da criação da Engenha-


ria de Materiais na Universidade Federal de São Carlos, a pri-
meira no Brasil e na A.Latina. Plena empregabilidade, inserção
nacional e internacional, formou cerca de 2000 engenheiros
e mais de 1500 mestres e doutores e induziu a criação de
mais de uma dezena de cursos semelhantes no Brasil e A.La-
tina. Tendo sido responsável pela proposta e coordenado a
implantação do curso, aproveitando a ocasião das comemora-
ções, proponho agora um novo tipo de engenharia para o sé-
culo XXI: A Engenharia de Sistemas Complexos. A teoria dos

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Novos Olhares de Janus

sistemas complexos ganhou enorme relevância nas últimas


décadas, com aplicações em química, física, teoria dos jogos,
robótica e mesmo em áreas como finanças, macroeconomia,
neurociências, energias alternativas como o caso da chamada
bateria de hidrogênio (fuel-cells), inteligência estratégica, etc.
A base matemática e computacional para sistemas complexos
leva em conta não- linearidades, enorme numero de compo-
nentes dos sistemas levando a efeitos chamados emergentes
como transições de fase na física e na química quânticas Em
suma, um novo cenário se descortina para a humanidade. Po-
rém para o desenvolvimento de um País precisamos de aplica-
ções para a sociedade, gerando empregos, produtos, serviços
e estas vêm pela aplicação das ciências básicas através das
engenharias. As engenharias nacionais é que fazem a dife-
rença na inovação empresarial, na competitividade essencial
para inserção do país na globalização.Mas quais as diferenças
entre essa nova engenharia de sistemas complexos (ESC) e
as engenharias tradicionais(ET)? Toda engenharia se aplica a
sistemas, sistemas de transporte, de construção, elétricos, nu-
cleares, etc. Agora podemos entender com mais clareza o que
é a ESC : é a engenharia de sistemas de sistemas! Em geral
esses sistemas interagentes são incoerentes ou competitivos
e possuem enorme número de elementos e variáveis. Como
ocorre historicamente, os primeiros a desenvolverem ESC fo-
ram os militares, já que guerras envolvem enorme número de
sistemas interagentes. Grandes empresas se aproveitaram des-
se tremendo nicho e criaram dentro de seus quadros as bases
operacionais da Engenharia, de Sistemas Complexos com os
enormes recursos alocados para as guerras. A internet também

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Sérgio Mascarenhas

começou assim depois se derramou para a sociedade e causou


esta enorme revolução digital multimidiática na qual vivemos.
Agora é o momento da sociedade se apossar dos destroços be-
néficos, uma espécie de reciclagem dos conhecimentos gera-
dos pela violência humana em seu benefício mais ético: para
a educação, inovação, emprego, mudanças climáticas e toda a
lista de patologias sociais que nos afligem. Mas como a ESC faz
isso? Sua primeira função é sistematizar os sistemas de siste-
mas e suas incoerências conflitantes mapeando a TRANSDISCI-
PLINARIDADE e a segunda, até que foge aos conceitos comuns
da tecnologia, vai mais para o lado humanista e social que é en-
contrar um AMBIENTE para o estudo dos sistemas de sistemas.
Vou dar um exemplo: a internet é antes de tudo um AMBIENTE
(ALGUNS PREFEREM O TERMO AMBIÊNCIA), onde interagem os
mais diferentes sistemas sendo a maioria conflitantes: comér-
cio, pornografia, fraudes financeiras, propaganda, redes sociais
de diversas tendências! Portanto, o primeiro objetivo da ESC é
estruturar essa ambiência para poder realizar seu objetivo de
melhor entendê-los, modelá-los e obter os melhores resultados
Já temos uma proposta inicial para a difícil estruturação de um
currículo para essa engenharia de sistemas complexos. Certa-
mente não será o melhor nem perfeito, será uma semente que
através de uma seleção natural evolucionária criará várias outras
propostas pelo Brasil afora, numa adaptação também típica de
um verdadeiro sistema complexo inteligente adaptativo.
Observação: Graças aos esforços de J. Piqueira, na dire-
toria da escola politécnica da USP-SP, foi criada em 2017 o
curso de Engenharia da Complexidade.

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Sérgio Mascarenhas

A. Turing K. Gödel B. Russell


1912-1954 1906-1978 1872-1970

Metamatemática e seus paradoxos

A Matemática, desde os gregos, sempre foi considerada a


rainha das ciências, absoluta e sem erros ou dúvidas. Tanto na
geometria, com Euclides, como na Teoria dos Números com
Pitágoras enriqueceu extraordinariamente as outras ciências,
dando-lhes aspectos quantitativos, expressando as leis físicas,
astronômicas e até biológicas. Frases famosas chegaram até
nós: “Na Natureza tudo são números”- disse o grego Pitágoras,
em 450 A.C.! Ou “Para ler o livro da Natureza precisamos da
linguagem matemática”- disse o fundador da ciência moderna
Galileu, no séc. XVI! Mas as coisas começaram a se complicar

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Novos Olhares de Janus

desde o início com uma sucessão de paradoxos (do grego para


contra, doxos: opinião). Os paradoxos não são de todos inú-
teis, servem para alertar contra o excesso em uma crença e aí
dá-se um efeito espetacular a análise do paradoxo pode levar
ao progresso! Ou mesmo ao entendimento mais profundo da
própria Matemática! Vou expor dois exemplos, um dos tempos
primordiais da história dos números e outro moderno do séc.
XX. O dos tempos antigos era o seguinte: Pitágoras tinha des-
coberto seu famoso teorema dos triângulos retângulos: a soma
do quadrado dos catetos (lados que formam o ângulo reto de
90 graus) é igual ao quadrado da hipotenusa (lado que une
os catetos). Mas Pitágoras e sua escola para a qual tudo são
números, somente conhecia os chamados números inteiros:
1,2,3, etc De repente, em um triângulo retângulo de catetos
unitários ( por ex: de 1 cm) a hipotenusa teria um comprimen-
to somente obtido pela raiz quadrada de 2 ! Este número não
existia como inteiro e era, portanto, para Pitágoras e sua esco-
la paradoxal! Virou até segredo para os que participavam da
Escola Pitagórica. Mas é claro que este paradoxo era aparente
e levou à descoberta dos números não inteiros que passaram
até a ser chamados de irracionais, pois não podiam ser expres-
sos exatamente pela razão (fração) de dois inteiros. Ai o pa-
radoxo enriqueceu conceitualmente a matemática. Não posso
continuar contando todos os paradoxos que foram resolvidos,
por assim dizer, por quebra de conceitos como aconteceu com
os números ditos complexos e outros chamados transfinitos.
Mas vou contar um paradoxo moderno (séc. XIX e XX), também
muito profundo que levou a um enriquecimento fabuloso da
conceituação e dos métodos matemáticos, que passou até

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Sérgio Mascarenhas

a merecer o título de Meta matemática (meta do grego além


de...). Tudo começou com um matemático russo-alemão Georg
Cantor que no séc. XIX introduziu a noção de conjuntos de
números (depois o conceito de conjuntos seria estendido por
outros cientistas como Giuseppe Peano, da Itália e G. Frege,
da Alemanha, e mostrar-se-ia muito rico para o entendimento
da Metamatemática ou matemática moderna). Mas a explosão
conceitual veio da mente de uma das figuras mais notáveis da
Matemática, o inglês Bertrand Russell que começou a ligar a
matemática não apenas à teoria dos conjuntos mas à Lógica!
Matemática, Conjuntos, Lógica dão uma mistura explosiva con-
ceitualmente, vão juntas aos fundamentos do conhecimento e
hoje fazem parte até da Filosofia do Conhecimento, a chamada
Epistemologia (Episteme do grego-conhecimento e logia-es-
tudo). Para encurtar a história, Russell descobriu um paradoxo
na teoria dos números, na teoria dos conjuntos em geral, en-
volvendo a lógica. Na lógica clássica, que veio de Aristóteles
(cerca de 450 A.C.) uma coisa pode ser certa ou errada, se for
certa não pode ser errada, se for errada não pode ser certa. É a
chamada dualidade lógica ou principio do Terço Excluso. Esse
princípio constituía forte segurança para a Ética , pois levava ao
problema moral e, portanto, teológico do Bem e do Mal! Que ri-
queza tremenda, que encadeamento filosófico, científico, teo-
lógico! Já pensaram se houver dúvida entre Bem e Mal? Para
onde vão os pecados e a santidade? Bem, mas por enquanto
a confusão da qual estávamos falando, refere-se à Matemáti-
ca ou como ela ultrapassou os limites antigos a qual chama-
mos Meta matemática. Russell levantou o seguinte: Cantor e
Frege afirmavam que os subconjuntos de todos os conjuntos

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Novos Olhares de Janus

são em maior número que todos os conjuntos! Russell viu o


paradoxo pense no conjunto de todos os objetos, o que ele
chamou de conjunto Universal, que contém todas as coisas
pensáveis como números, objetos quaisquer. O conjunto de
todos os subconjuntos do conjunto universal não pode ser
maior que o conjunto universal pois como novo conjunto
não pertenceria ao conjunto universal e se não pertences-
se não seria subconjunto do conjunto universal. Ou uma ou
outra conclusão, mas não as duas simultaneamente: explo-
são lógica, paradoxo. Para os leigos foi descrito por Russell
outra versão popular chamada do Barbeiro: Há um conjunto
de pessoas e um barbeiro que faz a barba de todos que não
façam a própria barba. Mas e o pobre barbeiro? Se ele não
faz a própria barba não pode ser subconjunto dos que não
o fazem, mas se ele faz a própria barba então não é par-
te do conjunto original! Um paradoxo lógico ser ou não ser
ao mesmo tempo. Houve grandes discussões nesse tempo
entre os maiores matemáticos do mundo: Henri Poincaré,
francês, disse que a teoria dos conjuntos era uma doença
que invadiu a matemática e origem dos problemas, já outro
grande o alemão David Hilbert, apoiou os conjuntos e disse
Ninguém nos afastará do Paraiso da Teoria dos Conjuntos.
Mas a situação iria se complicar ainda mais na agora ple-
namente estabelecida Metamatemática com duas grandes
figuras Kurt Goedel e Alan Turing, mas isso deixo para a pró-
xima crônica. Aguardem o Tsunami que vai ser divertido!

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Sérgio Mascarenhas

Paul Dirac Enrico Fermi


1902 -1984 Janus 1901-1954
(P. Nobel) (P. Nobel)

Ciência básica e a cura do câncer com


o vácuo e antimatéria?!

Há uma grande confusão causada pela ignorância


pública e dos políticos responsáveis por políticas de
Ciência Tecnologia e Inovação no Brasil. Maior prova dis-
so foi a recente degradação do MCTI a um órgão secun-
dário  agregando-o ao Ministério de Comunicações sem
qualquer consulta à comunidade científica e pior cortan-
do drasticamente verbas e órgãos de sua estrutura. E isso
justamente quando a Academia Brasileira de Ciências
comemora seu Centenário! Outra face da ignorância: não
reconhecer a importância central da Ciência Básica para

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Novos Olhares de Janus

o desenvolvimento da Inovação e, consequentemente, do


próprio desenvolvimento econômico e social incluindo, é
claro, o desenvolvimento do tripé: Industrial, do Agro e dos
Serviços. É tal a ignorância vergonhosa e destruidora que
decidi usar nesta crônica um Título Bizarro : Cura do Câncer
com Vácuo e Antimatéria?
Será que os políticos e burocratas de plantão, inclu-
sive os responsáveis pelo atual MCTI sabem a resposta?
E a maioria dos leitores, incluindo os muitos que não são
leitores e até jovens que passaram no ENEM? Quando
digo resposta não é apenas buscar no google ou na en-
ciclopédia: é saber o conteúdo histórico e até conceitual
no seu mais alto sentido o Epistemológico. Vou esclare-
cer: por volta de 1930 a Física estava em ebulição con-
ceitual com a quebra de paradigmas da Física Clássica
e a entrada da Relatividade e da Física Quântica. Essa
época talvez só possa ser comparada ao da revolução do
conhecimento humano na Grécia ou ao alto Renascimen-
to que desembocou na Revolução Científica com Galileu,
Newton e Leibniz, Descartes e culminando no século XIX
com Faraday, Maxwell e Boltzman .Pois bem, um jovem
físico por nome Paul Adrien Maurice Dirac , inglês, da
Universidade de Cambridage entra na discussão com
mentes brilhantes como Bohr, Pauli, Heisenberg, Schro-
dinger, Born sobre problema de uma partícula fantasma
proposta por Pauli, inicialmente chamada por ele de
nêutron, mas com a descoberta do verdadeiro nêutron
por Chadwick em 1932. O grande Enrico Fermi , sugeriu
que a tal partícula de Pauli fosse italianizada para neu-

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Sérgio Mascarenhas

trino. Dirac, essencialmente físico teórico e matemático


propõe um cenário radical, até para os físicos acostuma-
dos a viajarem em hipóteses surrealistas: o vácuo não
é vazio! Ao contrário é cheio de partículas com energia
negativa, partículas essas que seriam a antimatéria das
existentes no mundo externo ao vácuo!
Essa foi uma dose muito forte de intoxicação teórica até
para o próprio Dirac, que disse: -se as equações têm tal beleza
o que elas nos dizem devem ser verdades. Parece incrível
para um capitalista de Wall Street ou um corrupto praticante
poder acreditar que tudo isso é coisa séria, transformável no
Deus dinheiro sonante.
Mas os fatos mostraram que Dirac estava correto, e que
sua aparente ingenuidade teve bases profundas, da tal bele-
za formal nasceram verdades práticas, reais, sonantes como
ouro, não de Wall Street mas da Casa da Moeda da Natureza:
- a realidade experimental. Dirac ganhou o Prêmio Nobel em
1933, na época foi o mais jovem até então ganhador de um
Nobel. E a pergunta inicial da cura do câncer? Explicação: se
acelerarmos uma partícula, por exemplo um elétron negativo,
com energia suficiente para ela arrancar do vácuo sua anti-
-partícula, ela formará com a anti-particula pósitron um ver-
dadeiro átomo tipo hidrogênio nomeado como positronium.
Porém esse positronium é super instável, os dois se ani-
quilam e é criado um raio gama de alta energia.
Esses raios gama podem matar as células cancerígenas
e curar o câncer! A máquina que acelera os elétrons é um
acelerador de elétrons já fabricados por várias empresas e há
muitos já instalados no mundo e no Brasil.

21
Novos Olhares de Janus

Se você então disser que um acelerador para cura radio-


terápica do câncer funciona com o vácuo e anti-matéria, esta-
rá absolutamente certo!
E viva a Ciência básica!

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Sérgio Mascarenhas

Hipatia de Janus Simone de


Alexandria Beauvoir
351-415 1908-1986

A nova mulher pensadora do séc. XXI

“Crônica escrita no dia das mães e dedicada à todas as ma-


ravilhosas mulheres do Mundo “

A saga da “femina-sapiens-sapiens” é de luta e sofrimen-


to para a libertação do jugo do “homo-sapiens-sapiens”. Be-
neficiado por uma estrutura corporal de maior força física,
além de outras causas sociais mais complexas, o macho ao
assumir o seu papel de provedor, transformou a nucleação da
família em território de poder e dominação. Paradoxalmente
a mulher, na sua função biológica de geradora, é muito mais

23
Novos Olhares de Janus

complexa que o homem! Todos nascemos fêmeas, o macho


é uma variante tardia na evolução embriológica como é pa-
tente nos seus bicos dos seios inúteis remanescentes. Essa
unidade macho-fêmea com sua relação de poder assimétrica,
propagou-se sociologicamente para a família, clã, tribo até
alcançar a complexidade maior do Estado-Nação onde atra-
vés de séculos a mulher foi mantida como geradora, objeto
de uso sexual, excluída do poder em todos os seus mais im-
portantes aspectos. Excluída do direito político e do direito
de compartilhar da maior fonte de poder potencial, que é o
do conhecimento pela educação. Ainda em pleno século XX
o voto feminino era interditado em países ditos avançados,
como a Suíça! No século XXI felizmente as mulheres estão
gradualmente assumindo sua mais ampla potencialidade, não
apenas de geradoras de vida, mas da função mais essencial
da própria vida, de geradoras de conhecimento. Da mulher
objeto representada pela figura de Eva da maçã, do pecado
original, passa na minha ilustração-metafórica à antítese da
famosa escultura de Rodin, a Mulher-Pensadora. Na ilustra-
ção, contrastam nos dois olhares do Deus Janus-bifronte, o
do passado: Eva da maçã e do futuro Mulher-Pensadora do
século XXI, significativamente sentada na maçã, indicativa da
nova linguagem global e democratizante da internet da era
do conhecimento.

24
Sérgio Mascarenhas

Carlos Chagas Oswaldo Baffa


Filho 1954
Janus
1910-2000

O peixe elétrico e a ciência brasileira

A ciência pode ser emocionante desde que se conheça a


história do seu desenrolar, seus desafios, suas descobertas às
vezes curiosas e até espetaculares. Mas para isso ,sobretudo
para os não cientistas, como nas novelas da TV, ela tem que
envolver pessoas, seres humanos de carne e osso, para que
o drama e os conflitos que permeiam as descobertas tenham
ressonância nos próprios leitores capazes de sentir na pró-
pria-pele as emoções. Isso transforma o leitor no mínimo em
um ator coadjuvante e sensível. Vou tentar contar a história
do peixe-elétrico como num roteiro de teatro ou TV:

25
Novos Olhares de Janus

Tudo começou quando o grande Lineu, encontrou e classi-


ficou um peixe elétrico tropical ,comum no Brasil e outros-
paises tropicais. Há muitas espécies desses peixes, mas há
básicamente dois tipos: os que dão uma descarga elétrica de
baixa voltagem (da ordem de 5 Volts, como encontramos em
baterias de rádios-portateis, lanternas e relógios ) e outros
que dão descargas de alta voltagem que podem chegar a
1000 Volts e até mais! Os de baixa voltagem não dão choque,
mas os de alta voltagem podem até matar uma pessoa dentro
d´água. Os de baixa voltagem usam os sinais elétricos para
navegar e explorar o ambiente, semelhante ao que fazem
os morcegos com pulsos sonoros. Então esses peixes têm
um SEXTO SENTIDO além dos outros 5 (visão, audição, tato,
olfato, paladar)! Através de milhares de anos de evolução a
natureza e suas pressões para a melhor sobrevivência, segun-
do Darwin e Mendel, acabou selecionando peixes que têm
duas “eletrônicas”: uma para produzir os sinais elétricos e en-
via-los ao ambiente a ser monitorado, uma espécie de placa
eletrogênica e outra para receber os sinais de volta “sistema
receptor”. Esses dois sistemas são o “hardware”, todo mon-
tado com moléculas biológicas, água e átomos como zinco,
magnésio e outros. Mas como ler e interpretar esses sinais?!
Esta é uma verdadeira linguagem, um software para calcular,
organizar e traduzir em imagens e sinais nervosos (também
elétricos!) e isto precisa de um “Centro de Informática”que é
o cérebro do peixe. Quem tiver fascínio por evolução pode ler
um fabuloso livro “O Relojoeiro Cego” de Richard Dawkins já
traduzido em português. Um dos maiores cientistas de todos
os tempos, um inglez, Michael Faraday( 1791-1867)por volta

26
Sérgio Mascarenhas

de 1860 em Londres, estava envolvido com baterias, motores


elétricos, e queria entender como o peixe-elétrico apresen-
tava estes fenômenos. Foi o primeiro a experimentar com um
peixe elétrico de baixa tensão, provavelmente trazido do Bra-
sil. Não tenho espaço para contar a maravilhosa história de
Faraday e passo logo para um brasileiro Carlos Chagas Filho,
neuro-fisiologista, que pesquisou o outro tipos de peixe-e-
létrico, o de alta voltagem, chamado Poraquê, da Amazônia.
Com seus estudos, ficou tão famoso, que ganhou prestígio
mundial, criou o Instituto de Biofísica no Rio de Janeiro, um
dos melhores Centros do País e chegou até a ser Presidente da
Academia de Ciências do Vaticano, companheiro de cerca de
40 Nobelistas. Foi ele que convenceu o papa a abrir o famoso
processo de pedido de perdão da Igreja a Galileu condenado
injustamente pela Inquisição! Depois em Ribeirão Preto, um
jovem e brilhante cientista, Oswaldo Baffa, um dos criadores
da Física Médica na USP-RP, resolveu retomar as pesquisas
do peixe elétrico de baixa voltagem e seu “sexto sentido”.
Com uma sua aluna de Mestrado, Sonia usou técnicas espe-
taculares de física quântica e mostrou que o peixe-eletrico
poderia até modular as característictas de seu sinal otimizan-
do-o de acordo com o meio aquoso mais ou menos condutor
de forma a otimizar o seu “sexto sentido”. Incrivelmente, o
peixe conhece um teorema de circuitos elétricos que diz que
a máxima transferência de potência ocorre quando a resis-
tencia interna da fonte (peixe) iguala à do circuito exterior
(água). Este resultado surpreendente deu impacto mundial
ao trabalho de Baffa e Sônia. Sônia fez doutorado com a Pro-
fa. A. Hoffman da Medicina de RP, especialista em etologia

27
Novos Olhares de Janus

(comportamento) e depois passou a orientar Terence Duarte


que foi convidada a ir para um pos-doutoramento no famoso
Centro Rockefeller de NY com seus estudos. Observem como
a Ciência une gerações! Isto sem fronteiras e guerras, Terence
é pois brilhante bisneta científica do Baffa, filha da Sônia e
neta da A. Hoffman. Como eu fui prof. do Baffa posso me or-
gulhar de ser tataravô de Terence! Alfonso o Deus Janus mira
o passado com Faraday e o presente e futuro com Baffa, numa
bela cadeia de gerações ligada pelo peixe elétrico. Salve a
Ciência unificadora!

28
Sérgio Mascarenhas

Randy Schekman James Rothman


1948- (P. Nobel) 1950-(P. Nobel)
Janus

Do genoma ao conectoma: a nova revolução


(fronteira) na biologia (genética)

Desde a revolução iniciada pela descoberta do DNA por


Watson e Crick em 1953 a Biologia tomou novos e explosivos
rumos. Em todos os grandes centros de pesquisa os projetos
se multiplicaram e a própria Teoria da Evolução foi ampliada
com novos paradigmas.
O imenso significado da descoberta prometia novas con-
quistas na saúde humana, animal e vegetal. Surgiu um grande
projeto estilo HOMEM NA LUA, que foi O GENOMA HUMANO
altamente financiado tanto por governos como por empresas
privadas. Estas últimas interessadas sobretudo nas aplicações

29
Novos Olhares de Janus

em saúde com os fármacos cujas industrias movimentam tri-


lhões de dólares em saúde e evolução humana, animal e ve-
getal. A ideia do DNA como a molécula da vida contendo os
planos detalhados de tudo na Biologia, verdadeira chave para
o entendimento da própria vida no seu mais amplo sentido
atingiu todas as grandes forças sociais, economia, finanças,
políticas públicas e privadas, ideologias e suas éticas associa-
das e até teologias. As forças da Ciência, Tecnologia e Inovação
(CTI) impactaram os destinos e projetos de toda a Humanidade.
Abro um parêntese para ressaltar o absurdo da atual política do
governo de plantão minando até a própria estrutura do Minis-
tério de CTI. No Brasil a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesqui-
sas do Estado de SP) sob a direção cientifica de um brilhante
cientista J. F. Perez iniciou um Projeto Genoma que mobilizou
a comunidade científica, não apenas de SP mas do Brasil, in-
clusive com fortes colaborações internacionais como deve ser
feito nas boas políticas em CTI. No início da grande revolução
pensava-se que o Genoma Humano seria da ordem de cen-
tenas de milhares de genes, mais um reflexo antropocêntrico
do Homo Sapiens Sapiens, mas agora sabe-se que é da ordem
de 22 mil. Porém, como em toda revolução científica a própria
inovação é autodestrutiva, um conceito claramente expresso
por J. Schumpeter no famoso livro Capitalismo, Socialismo e
Democracia, ainda em 1942! A ignorância dos cientistas existe
sim, mas é auto corrigível pelo próprio Método Científico, mas
parece que a ignorância dos políticos é auto sustentável pela
presença de um sistema de corrupção inerente ao sistema de
poder- como discutido por Machiavel ainda em 1532. no seu
livro “O Príncipe” . Volto agora ao Projeto Genoma exatamente

30
Sérgio Mascarenhas

para ilustrar essa magnifica e salvadora dinâmica de autocor-


reção: com o passar do tempo e muitas evoluções, não apenas
das tecnologias de investigação do genoma, cujo projeto atingiu
suas metas em 13 anos, antes do prazo esperado de 15 anos!
Novas surpresas explosivas, mesmo no reduzido número de 22
mil genes a grande maioria parecia ser lixo genético. O geno-
ma humano obtido de um mosaico de genes de várias origens
continha apenas 1% dos genes ativos! Mas um consórcio inter-
nacional cognominado ENCODE mostrou que o” lixo deveria ir
para o lixo” pois interagia com os outros ligando e desligando
suas funções. Essa é a beleza da CTI ser auto corretiva. Esse novo
campo vem sendo chamado de Modelo do CONECTOMA, PAS-
SAMOS DO GENOMA AO CONECTOMA. Mais recentemente ain-
da (2016), os mecanismos de ação do CONECTOMA vem sendo
analisados e sabe-se que quase 47% dependem não apenas do
DNA mas do RNA (outro polinucleotídeo menor), mas de proteí-
nas (poliaminoácidos). Peço desculpas pelo uso destes termos,
que na realidade são conhecidos de quaisquer jovens que pas-
saram no ENEM. Os idosos podem consultar seus netos e bis-
netos para ajuda ou irem para a democrática WEB. Resumindo,
estamos em plena época da outra revolução do CONECTOMA. A
boa notícia é que poderemos editar o genoma de uma pessoa se
nos apossarmos dos tecnologias do CONECTOMA. Ou mais dis-
ruptivo ainda, lembrando o livro 1984, de Geoge Orwell, editar
o próprio Homo sapiens-sapiens! Paro por aqui, esperando não
ter perturbado o sono dos leitores.
- PS: aos leitores curiosos, não lembra o problema da
matéria escura na Cosmologia?
Prometo discutir isso em outra crônica.

31
Sérgio Mascarenhas

John S.Bach Heitor Villa Lobos C.P.Snow


1685-1750 1887-1959 1905-1980

Cérebro e biomúsica e a terceira cultura

O futuro da humanidade depende da união virtuosa da


Ciência e Tecnologia com as Humanidades (Artes, Literatu-
ra,História,Filosofia). C.P.Snow denominou essa utopia de Ter-
ceira Cultura. Uma realização efetiva dessa transdisciplinari-
dade já ocorre com o uso de sofisticadas tecnologias, como as
áreas de Matemática, Física, Bioinformática com Música, Artes
Plásticas e Linguística . Uma das tentativas mais interessantes
nas quais estou envolvido é o que podemos chamar de Bio-
música, com três vertentes: 1-A partir da estrutura molecular
de biomoléculas como proteínas, polinucleotídeos, lipídios,

33
Novos Olhares de Janus

glicídios; 2-a partir de técnicas de imagens ou de análise es-


pectroscópica de funções biológicas como Ressonância Nu-
clear Magnética Funcional; 3- a partir da Bioinformática com
o uso de técnicas de análise de sinais biológicos com redes
neurais, autômatos celulares, envolvendo o que se chama de
machine-learning e/ou métodos de sistemas complexos . Em
todas essas áreas aparece imediatamente uma necessidade
fundamental: as técnicas de ciências básicas como matemá-
tica e suas vertentes modernas como topologia, teoria de nú-
meros, fractais ou na biofísica e bioengenharia, com suas po-
derosas técnicas de imageologia espectroscopias, hardwares
e softwares associados, que não podem expressar sozinhos
valores da estética ligados tanto à expressão musical ligada
à estrutura das composições, como com o próprio psiquismo
da percepção musical, por exemplo na psicoacústica ou na
musicofilia, tão bem analisada por Oliver Sacks. No meu caso,
tomei a estrutura primária de uma proteína ligada ao vene-
no de serpente usada em cardiologia ou da insulina ligada
ao diabetes. Criei uma planilha de correspondência entre os
aminoácidos e as notas de uma dada escala musical. Para o
ritmo essencial para a expressão musical utilizei frequências
biológicas como batimentos cardíacos, frequências respirató-
rias. Naturalmente deixei a cargo dos músicos profissionais,
co-autores a expressão final das composições. Esses traba-
lhos foram registrados no Estudio Berimbau em Sao Carlos
SP, onde podem ser obtidos por solicitação no site www.estu-
dioberimbau.com.br. Um excelente número de composições,
tipo terceira cultura, tem sido realizadas pioneiramente pelo
Prof. Norberto Cairasco neuro-cientista da Faculdade de Me-

34
Sérgio Mascarenhas

dicina da USP de Ribeirão Preto, nas quais ele associa a músi-


ca executada por grupo musicais com sua própria inspiração
ao ouvi-la executando maravilhosas ilustrações por meio de
aplicativos digitais.
 

35
Sérgio Mascarenhas

J. Von Neumann
Golem
1872-1970

Cibernética: Encontro de Gênios


Neumann, Turing e Shannon

A mais famosa narrativa com um golem envolve o rabi-


no Judá Loew ben Betzalel, de Praga, durante o século XVI.
Diz-se que ele teria criado um golem para defender o gueto
de Josefov em Praga contra ataques antissemitas. A primeira
publicação da história do golem apareceu em 1847 em uma
coleção de contos judaicos intitulada Galerie der Sippurim,
publicada por Wolf Pascheles,de Praga.
Cerca de 60 anos mais tarde, um conto de ficção foi pu-
blicado por Yudl Rosenberg (1909). De acordo com a lenda, o
golem teria sido feito com a argila do rio Moldava que banha

37
Novos Olhares de Janus

Praga. Seguindo rituais específicos, o rabino construiu o go-


lem e fez com que ele ganhasse vida recitando um encanto
especial em hebreu e escrevendo na sua testa a palavra Emet,
que em hebraico significa “verdade”. O golem deveria obede-
cer ao rabino, ajudando e protegendo o gueto judaico.
Durante o dia, o rabino escondia o golem no sótão da
Antiga-Nova Sinagoga. Porém, o golem cresceu e se tornou
violento e começou a matar pessoas espalhando o medo. Foi
então prometido ao rabino Judá Loew ben Betzalel que a vio-
lência contra os judeus pararia se o golem fosse destruído.
O rabino concordou e destruiu o golem apagando a primeira
letra da palavra Emet que formaria a palavra Met que significa
“morto” em hebraico.
O conto nos remete à cibernética, a robótica e a inteli-
gência artificial. J.von Neumann foi pioneiro da cibernética,
A.Turing e C.Shanon os precursores do computador, na busca
pela linguagem de programação que permite uma melhor co-
municação homem-máquina, máquina-máquina e máquina-
-homem.

38
Sérgio Mascarenhas

Josué de Castro Organização das


1908-1973 Nações Unidas para
Janus
a Alimentação e a
Agricultura (FAO-
Food and Agriculture
Organization)

Geografia da fome do conhecimento

O grande brasileiro Josué de Castro, em sua histórica obra


A Geografia da Fome demonstrou pioneiramente o ciclo cau-
sal Fome-Subdesenvolvimento.
No presente século XXI presenciamos um outro ciclo
conhecimento sub desenvolvimento também com a sua Geo-
grafia ou melhor, como diria Castro, mais tarde, com a sua
Geopolítica, termo mais apropriado.
Façamos alguns comentários e paralelos comparati-
vos necessários envolvendo parâmetros essenciais para
tal análise :

39
Novos Olhares de Janus

1- A Fome biológica , essencialmente nutricional , segun-


do Castro é causa básica da baixa produtividade e de outros
danos ao ser humano levando-o necessåriamente à pobreza
e dependencia moral e cívica .
2-Podemos agora concluir que a Fome de Conhecimen-
tos é ainda mais danosa pois priva do ser humano as suas
duas mais fundamentais posses: Autoconsciencia e Livre-
Arbítrio. Segundo a visão do grande pensador Edward O.
Wilson na sua obra “The Meaning of Existence“ essas são
as caracteristicas primordiais que levaram ao presente Ho-
mo-Sapiens-Sapiens, condenando o ser humano à Fome do
Conhecimento estaria assim pois fazendo verdadeira RE-
GRESSÃO EVOLUTIVA! Outro grande pensador e cientista
nobelista Abdus Salam, com quem tive a honra de colaborar
no International Center for Theoretical Physics, em Trieste, já
previa: “Paises sub-desenvolvidos sem conhecimentos es-
tão condenados a serem meros produtores de commodities
e mão- de-obra barata para os paises ricos“ .
3-A tremenda taxa de crescimento do volume de conhe-
cimentos de todas as disciplinas cientificas, tecnológicas e
culturais, mais que dobrando a cada década, traz patentes
os grande dilemas atuais da humanidade: desnutrição de
conhecimentos frente ao paradoxal excesso de produção do
próprio conhecimento ! Fenômeno absolutamente único na
história das civilizações e que constitui o grande desafio do
século XXI.
O desafio traz perguntas também únicas: - Estaremos en-
frentando algo como um fenomeno Néo-Malthusiano , não de
crescimento explosivo da população mas do próprio Conhe-

40
Sérgio Mascarenhas

cimento ? E a enorme assimetria que resulta de regiões-fa-


velas do Conhecimento ? E o papel do Estado em contrapo-
sição á tal deterioração social , será como simples regulador
ou obrigatóriamente como um novo provedor ainda mais
sofisticado que o de simples educador? E o papel da mídia,
como ao mesmo tempo provedora e indutora do marketing
consumista desse super produto Conhecimento? E com que
critérios de segurança para o consumo saudavel e virtuoso?
Cairemos no falso dilema dos mercadores das dúvidas como
ocorreu com a defesa do tabagismo ou do controle sutil da
bigdata e espionagem individual? E estaremos entrando na
segunda era evolutiva onde alteraremos nossos próprios
genomas? Onde estarão os autores do 2084 do nosso novo
Século? Serão robos inteligentes ou super-cérebros homem-
-máquina mais potentes que o Deep Blue grande mestre do
xadrez ? Quem viver verá !

41
Sérgio Mascarenhas

James Watson 1928 Francis Crick


Prêmio Nobel 1916-2004
Janus

As duas idades do homem


e a origem da vida

As grandes perguntas existenciais para todos nós huma-


nos podem ser agrupadas em duas categorias:
1- De onde viemos, como aparecemos na Natureza?
2- Quem somos e para que somos na Natureza?
A primeira questão é mais simples que a segunda , pois é
um problema científico capaz de ser investigado pelos méto-
dos da Ciência dita normal construida por:a) hipóteses teóri-
cas e modelagem; b) acompanhadas e seguidas pela experi-
mentação estruturada capaz de comprovar ou negar a teoria
( critérios de Popper/Kuhn). No séc. XXI as respostas aceitas

43
Novos Olhares de Janus

pela maioria dos cientistas e pesquisadores do primeiro tema


é que somos feitos de átomos e moléculas, que é a nossa
base material constitutiva.
Esses átomos teriam sido produzidos na fornalha cósmi-
ca, segundo Modelo do Chamado BigBang nos seus primeiros
instantes. Continuaram a ser produzidos por explosões de
alta temperatura resultantes da evolução estelar e até hoje
essa produção ocorre e é observada experimentalmente, e
até modelada matematicamente, porém é claro com nossas
observações sempre correspondentes a eons no passado,
visto que tudo que detectamos depende da chegada de in-
formações pela radiação eletromagnética luz, raios gama e e
partículas como protons, neutrons, neutrinos e toda uma ex-
tensa família de partículas elementares. Além disso, tem-se
que considerar outros fenômenos cósmicos como buracos-
-negros, matéria escura (ainda não entendida completamen-
te) e mais a complexo ainda, a possível existência de Multi-
versos ou Universos Paralelos.

44
Sérgio Mascarenhas

E.Schoeredinger S.Banach Tarski


1887-1961 1892-1945 1901-1983

“Paradoxos: surpresa, beleza ou ignorância?


Paradoxos não existem! Ignorância sim!”

O termo paradoxo vem do grego Paradoxos (contrario à ex-


pectativa, incrível). Na literatura, ciência, história especialmente
na filosofia e matemática há uma enorme lista de paradoxos . Den-
tre os mais famosos cito Paradoxo de Banach-Tarski na Matemá-
tica ,do barbeiro de B.Russell na filosofia , o de Kurt Godel na ló-
gica matemática e o do Gato de Schoeredinger na física quântica.
Vou me restringir ao de Banach-Tarski nesta crônica para con-
cluir de maneira também paradoxal, como verão !
Existem na matemática vários tipos de Infinitos : os Infini-
tos Contáveis, como o conjunto dos números inteiros 1,2,3...

45
Novos Olhares de Janus

ad infinitum, mas existem também os infinitos NÃO CONTA-


VEIS, como os pontos de um intervalo de uma reta em uma
dimensão ou o conjunto dos chamados números reais. São
infinitos de ordem diferentes denominados TRANSFINITOS .
O famoso paradoxo da flecha e da tartaruga vem dos gre-
gos e é baseado neste paradoxo da infinita quantidade de
pontos numa trajetória unidimensional . Mas voltando ao
paradoxo de Banach-Tarski válido para espaços com dimen-
sões 3 ou maior: ele afirma que decompondo-se uma esfera
a partir de seus pontos pode-se construir 2 esferas iguais à
original ! Ou mais surpreendente ainda, de uma pequena es-
fera construir uma esfera maior ! Esse ultimo lembrado meta-
foricamente como Paradoxo de como de um grão de ervilha
construir o Sol!
Todos esses paradoxos provêm dos diferentes conceitos
de Transfinitos. A mente humana DESEDUCADA para os trans-
finitos não aceita essas conclusões porque não conhece suas
propriedades matemáticas estudadas na chamada TOPOLO-
GIA. É uma surpresa CULTURAL!
Poderíamos continuar eternamente ( OUTRO PARADOXO)
citando outros paradoxos como o do HOTEL COM NUMERO
INFINITO DE QUARTOS QUE SEMPRE ACEITA UM NOVO HÓS-
PEDE RETARDATÁRIO!!
O objetivo desta crônica está cumprido! Os paradoxos não
são paradoxos! São fruto da IGNORÂNCIA TRANSCULTURAL!
PS - vale a pena consultar a biografia de Stephan Banach
e de Kurt Godel. Esse ultimo acabou indo para o famoso Inst.
Advanced Study de Princeton que abrigou A. Einstein na sua
fuga do nazismo anti-semita. Einstein respeitava tudo sobre

46
Sérgio Mascarenhas

que Godel opinava inclusive sobre o convite a outro gênio


universal  John Von Neumann para vir para o IAS construir
o primeiro computador digital! Quando fui Fellow no IAS em
1996 ouvi historias interessantes como de que Einstein pa-
trocinando a cidadania americana para Godel teve que con-
vencê-lo a não levantar uma inconsistência lógica na Consti-
tuição Americana, pela qual tinha que jurar aceitação plena!
São aspectos humanísticos na ciência mencionados por C. P.
SNOW sob o título da TERCEIRA CULTURA - quando for rom-
pida a barreira atual entre Ciência, Tecnologia, Humanidades
e Artes .

47
Sérgio Mascarenhas

Prof. Sérgio e Marcela Alves S. Hawking


1942-2018

De Aratuba ao BigBang

Aratuba é uma pequena cidade no interior do Ceará.


Lá nasceu um grande talento da Ciência no Brasil: Marcela
Alves, ganhadora de medalhas da Olimpíada Brasileira
de Matemática das Escolas Públicas, escolhida com bolsa
para ir para os Estados Unidos, escolhida para estágio
com um dos gênios do séc.XXI, Stephen Wolfram, en-
tre centenas de candidatos de todo o mundo, escolhi-
da para representar jovens mulheres em evento em
Nairóbi no Quênia, agora fazendo seu mestrado na USP – São
Carlos, em uma das áreas mais importantes da Ciência: Siste-

49
Novos Olhares de Janus

mas Complexos - transdisciplinar entre Física, Matemática e


Computação. É, além disso, apaixonada por história e filoso-
fia da ciência com todo o entusiasmo que seu jovem coração
pode criar. Conto um episódio maravilhoso de sua vida nos
Estados Unidos. Marcela sempre amou a Astrofísica e, sobre-
tudo, a história de como foi descoberta a chamada radiação
de fundo devida ao Big Bang na explosão inicial do Universo
em expansão. Nos laboratórios Bell foi construída uma
grande antena para receber sinais das galáxias, estrelas em
explosão mortal criando buracos negros e sinais provindos
desse mundo da Astrofísica. Dois cientistas do famoso
Laboratório Bell, Arno Penzias e Robert Wilson, construíram
uma antena para investigar a tal radiação de fundo originária
da explosão inicial, prevista teoricamente por dois cientistas
da Universidade de Princeton.
Mas este eco do BigBang só seria detectado como um fra-
quíssimo fundo dentro do sinal maior de várias fontes. Após
várias tentativas eles sempre achavam um sinal, mas como
todos bons cientistas, eles desconfiaram que seria sujeira na
antena porque perceberam que um casal de pombos tinha
feito um ninho na antena e até feito cocô. Mas, mesmo tirando
os pombos com uma gaiola e limpando a antena, viram que
o tal sinal fraco continuava. E acabaram mostrando que o si-
nal era real. E até ganharam o Premio Nobel pela descoberta!
Marcela, tremendamente curiosa, resolveu que teria que visi-
tar a tal antena. E com suas parcas economias partiu para New
Jersey. Chegando lá foi interrogada por policiais sobre o que
estaria fazendo e proibiram que ela continuasse a busca, pois
nem eles sabiam da antena e muito menos do tal BigBang.

50
Sérgio Mascarenhas

Nisso Marcela caiu em prantos e no fim os policiais resolveram


ajudá-la e até fizeram uma foto dela na antena! Agora Marcela
pretende ir a Cambridge na Inglaterra visitar a casa de seu
outro herói Isaac Newton, cuja imagem ela usa na sua camise-
ta. Viva o exemplo de Marcela e sua paixão pela ciência que
quem sabe dará ao Brasil seu primeiro Prêmio Nobel! 

51
Sérgio Mascarenhas

R.Cajal Anísio Teixeira


1852-1934 1900-1971
Janus

A queima cognitiva das crianças brasileiras:


pior que a da Amazônia!

Há uma preocupação mundial com queima da Floresta


Amazônica e os índices de desflorestamento são acompa-
nhados e anunciados na grande mídia mundial, entretan-
to o mesmo não ocorre com uma devastação mais terrível
ainda que é a queima cognitiva das crianças brasileiras.
Mas vamos entender primeiramente o que é cogni-
ção. Começamos pelo conceito de conhecimento - que
é conteúdo que se obtém lendo uma enciclopédia ou
modernamente pelo Google, por ex, mas cognição é o em-
poderamenro do conhecimento pelo cérebro humano ou

53
Novos Olhares de Janus

de qualquer ser vivo para dar-lhe auto consciência, livre


arbítrio e participar do mecanismo, mais importante da na-
tureza biológica, que é a evolução - esse processo evoluti-
vo que levou de organismos unicelulares ao homo sapiens
através dos 4.3 bilhões de anos da vida no planeta Terra.
Em suma: conhecimento, cognição, evolução é a cadeia natu-
ral que sendo quebrada no seu elo mais fraco, que é a cogni-
ção equivale à tal queima das gerações que usei como metá-
fora. Infelizmente o Brasil queima cognitivamente as nossas
crianças, o nosso mais precioso “ bônus demográfico” num
país que está envelhecendo rapidamente e que não apenas
corta despudoradamente verbas de investimento na educa-
ção, ciência, tecnologia e inovação, chamando-as de econo-
mia de gastos para satisfazer os ditames do deus mercado. In-
felizmente é um suicídio não apenas financeiro, mas cultural.
A falta de visão atual de políticas de estado a médio e longo
prazos representa o maior erro da recente história do Brasil
com uma agravante: mantém-se 500 anos de uma herança
maldita que perpetua essa verdadeira desgraça histórica.
como disse Abdus Salam , prêmio Nobel da física com quem
trabalhei por mais de 12 anos : “ países sem educação, ciência
e tecnologia estão condenados a serem meros exportadores
de comodities e mão de obra barata para os países centrais”.
Acorda Brasil!

54
Sérgio Mascarenhas

Baruch Spinoza Kaliandra Spinosa


1632-1677

Bonsai e a busca de Spinoza:


uma história de prêmios acadêmicos

A entrada de jovens estudantes na Universidade, principal-


mente aqueles vindos de escolas públicas  pelo mérito  alcança-
do no ENEM (EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO) é um aconte-
cimento marcante nas suas vidas e das suas famílias. Assim tendo
sido convidado para dar a aula inaugural (2018) para o prestigioso
Curso de Física Médica da FFCLUSP de Rib.Preto, decidi  oferecer
dois prêmios: para a aluna e aluno com as melhores notas no ves-
tibular. Sempre ajo assim, pois o machismo inerente na suposta
sociedade cordial de Sergio Buarque de Holanda,  daria  sempre
aos homens maior probabilidade de serem premiados !

55
Novos Olhares de Janus

A minha ideia do prêmio tinha surgido com bonsai de ma-


cieira para lembrar o grande Isaac Newton e sua suposta len-
da da queda da maçã, em sua casa em Woolsthorpe, fugindo
da peste que assolou a Inglaterra. A maçã desde então pas-
sou a ser um forte símbolo de inovação cientifica chegando a
nós até hoje, por exemplo com a criação da famosa empresa
Apple, pelo genial Steve Jobs. Porque Bonsai (planta na ban-
deja)? Primeiramente é uma técnica milenar introduzida pe-
los chineses e absorvida pelos japoneses de uma maneira
profunda: cuidar da pequena planta é uma atividade cultural
especial de aprendizagem e interação com a Natureza, onde
o ser humano cuida da planta diariamente e a planta cuida
do aperfeiçoamento do comportamento do ser humano! Uma
relação de um precioso sinergismo e até mutualismo.
Mas surgiu um problema! A macieira é uma planta de cli-
ma frio e dificilmente floresceria e frutificaria no clima tropi-
cal quente de Rib.Preto! Surgiu-me então uma nova ideia a
partir da literatura do Bonsai: achei então referencias sobre
a Caliandra Spinosa, adequada ao clima tropical e de linda
florescência rosa. Lembrando, pois o grande Baruch Spinoza
(1632-1677), genial polimata, cientista, filosofo, polidor de
lentes , figura impar do Renascimento.
E ainda por cima português de origem judaica sefardita.
Vejam na ilustração o pequeno bonsai ainda verde, e em sua
esplendorosa florescência cercando o vulto de Spinoza. Fiquei
mais tranquilo, pois em termos de divulgação cientifica e cul-
tural Newton já possui grande fama ao passo que o grande gê-
nio de Spinoza é relativamente menos conhecido. Cito aqui,
entretanto, outro grande neurocientista também  português

56
Sérgio Mascarenhas

Antonio Damásio, que escreveu um imperdível livro “ Em bus-


ca de Spinoza”, no qual o leitor desta pequena crônica poderá
completar e se deliciar com a historia da vida e lutas do genial
Spinoza. E também o que propus aos premiados alémde que,
se ao fim de um ano apresentassem o Bonsai florido, terão gan-
ho então o verdadeiro premio, porém da Natureza !

57
Sérgio Mascarenhas

C.P.Snow Eric Hobsbawn


1905-1980 1917-2012
Janus

Centenário da Academia Brasileira de


Ciências e desafios da ciência,
tecnologia e inovação no Séc. XXI
Em 2017 comemorou-se o Centenário da Academia Brasi-
leira de Ciências que foi devidamente festejado com excelen-
tes atividades e publicações. www.abc.org.br
Nesta crônica lembro alguns pontos que me parecem
fundamentais para pensar no próximo centenário da ABC
e sua responsabilidade como arauto dos destinos do Brasil
num mundo globalizado pela própria ciência tecnologia e
inovação, em tremenda interação evolutiva e complexa. Não
creio que se possa duvidar que a COMPLEXIDADE E A NÃO
LINEARIDADE são as características estruturais dos eventos

59
Novos Olhares de Janus

futuros e, portanto, elementos essenciais para construção de


UTOPIAS e, talvez igualmente importante, para a PREVENÇÃO 
DE DISTOPIAS FUTURAS ! Comparando essa missão talvez não
completamente similar com a área da saúde, devemos inicial-
mente reconhecer que há duas linhas de ação: CURATIVA E
PREVENTIVA.
A humanidade sempre em contínuas batalhas com as dis-
topias tem inúmeros ferimentos e patologias na sua estrutu-
ra: estes são preliminares para atividades CURATIVAS. A maior
dessas feridas é a tremenda desigualdade de direitos sociais
que pode ser facilmente mensurada pela concentração da ri-
queza onde menos de 1% de pessoas possuem 99% da ri-
queza de todas as nações. Essa variável é real e quantitativa-
mente reconhecida. Mas não conhecemos a terapia curativa
e, muito menos, as sequelas da própria cronificação das mes-
mas: que seria correspondente ao prognóstico! Pior ainda é a
permanente ameaça da subsequente epidemia! Sem querer
ser radical devo reconhecer que já temos provas claras disso
como a obra recente de Eric Hobsbawn sobre o Breve Século
XX, onde se deu o mais trágico holocausto de toda a histo-
ria da Humanidade, com mais de 700 milhões de mortos em
guerras locais e mundiais num relativamente curto período.
da Historia!! A principal e mais eficiente missão da comuni-
dade cientifica será pois mostrar caminhos preventivos em
associação com terapias curativas para a sociedade no Brasil
e no Mundo Globalizado, pois não existe mais nenhum futuro
isolado das nações!
Assim como a famosa frase “ No man is an island”, tam-
bém na complexidade não linear do século.XXI “NO NATION

60
Sérgio Mascarenhas

IS AN ISLAND“ !! Outro paralelo com a Saúde : CONECTOMA É


O CONCEITO DOMINANTE E NÃO O GENOMA !!”
Uma dos fatores conflitantes para uma escolha adequada
nessa visão de futuro é uma configuração de fatores conflitan-
tes entre ideologias, teologias e nacionalismos. Há, entretanto,
uma variável, um parâmetro histórico inconfundível que nos
foi dado pela própria historia da humanidade: O princípio da
evolução social na natureza das formigas ao Homo-Sapiens-
-Sapiens indica-nos o caminho do investimento na Educação
para uma Terceira Cultura (seguindo C. P. SNOW) ciência tecno-
logia e inovação se ligarem as HUMANIDADES!

61
Sérgio Mascarenhas

Escola de
Atenas (Rafael)

Saudades do Futuro

Os grandes movimentos do futuro da evolução da hu-


manidade sempre foram utopias de construção de grandes
pensadores e pensadoras. A famosa Pax Filosófica entre as
posições de Platão (Abstração e Teoria) e Aristóteles (Empiris-
mo e Experimentação) é o histórico exemplo vindo dos gre-
gos e artisticamente universalizado no Alto Renascimento pela
fabulosa obra a Escola de Atenas, de Rafael no sec XVI. Com
Galileu pensador e cientista abriu-se uma ampla porta para o
novo futuro: Reducionista, Determinista, com Newton e Leibniz
este ultimo pensando e construindo conceitos como o Código

63
Novos Olhares de Janus

Binário que antecederam por 3 séculos a era futura da compu-


tação eletrônica do século XX! Adam Smith pensando no futuro
das Nações previu um futuro que até hoje nos surpreende com
suas bolhas, crises financeiras e políticas, R. Descartes embora
dualista não apenas previu, mas construiu novos caminhos na
Matemática e outras Ciências. Incrivelmente, pensadores como
Tom Paine e Karl Marx deram fundamentos para os dois gran-
des impérios de hoje:
O Capitalista e o Socialista .
Dando um salto para o sec XX na America Latina gran-
des pensadores do futuro como Raul Prebisch com a CEPAL,
Josué de Castro com a FAO deixam marcas fundamentais de
construção do futuro. No caso do Brasil mais recente, pensa-
dores como Anísio Teixeira, Monteiro Lobato, José Reis, Cel-
so Furtado estruturaram suas Utopias futuras . Movimentos
democráticos atuais todos têm seus fundamentos em visões
do futuro que desejamos e com bases lançadas por grandes
pensadores do passado. Como ultimo exemplo histórico cito
o Movimento Feminista para a igualdade de direitos da Mu-
lher com HYPATHIA, de Alexandria trucidada pelos cristãos de
então, até as mais recentes pensadoras e ativistas como Mary
Wollastone, Lou Salomé, E.Hodging apoiadas subsequente-
mente por filósofos como B.Russell e S.Beauvoir .
Uso o titulo metafórico Saudades do Futuro para lembrar
que esta ânsia pela UTOPIAS em luta contra as frequentes
DISTOPIAS das guerras, machismo, racismo, escravagismo,
colonialismo, militarismo e outros ismos sempre nasce dos
sonhos de filósofos e outros pensadores que compõem os
Virtuosos Olhares de Janus para o Futuro .

64
Sérgio Mascarenhas

Alexandre o S. Freud
Grande 1856-1939
Janus
303 aC

Cérebro, sono e sonho:


Doutrina NPP

O século XXI será o século do cérebro, assim como o séc.


XX foi o século do coração que foi transplantado, tratado com
várias pontes, monitorizado e controlado por marca-passos
alguns se comunicando com telefones celulares para aten-
dimento de urgência. Uma verdadeira revolução homem-
-máquina. Mas o cérebro como o mais complexo centro vital,
verdadeira fortaleza de complexidade, de adaptabilidade,
multifuncionalidade é ainda o grande desafio da ciência. Do
coração perdemos o medo, confiamos até na possibilidade de
um coração artificial, mas do Cérebro, temos aquele medo que

65
Novos Olhares de Janus

a ignorância desperta: sua falha destrói o sentido do sujeito,


sua memória, sua própria razão de estruturar seu universo so-
cial e desvendar a própria Natureza que nos rodeia. Sede do
pensamento, consciente e inconsciente, superestrutura dos
sentidos, sentimentos, alta cognição e, ao mesmo tempo, de
comandos selvagens e animalescos, resgata tudo que a exis-
tência pode oferecer ao homo-sapiens-sapiens. Se Descartes
lançou seu cogito “penso, logo existo “podemos inferir “se
não penso não existo“? Mas há facetas maravilhosas nessa
verdadeira floresta de desafios do cérebro com seus bilhões
de neurônios, como o sono e o sonho. Hoje, da neurociências,
da biologia celular, da biofísica molecular da bioengenharia
informatizada e até da metamatemática atual surgem tenta-
tivas de entender esses fenômenos complexos. Sob o ponto
de vista histórico-cultural os sonhos tiveram e têm grande
influência no desenvolvimento da humanidade desde seus
albores: Alexandre, o Grande, tinha o seu sonhador-adivi-
nho antes das grandes batalhas. Dando-se um grande salto
no tempo S. Freud escreveu obra fundamental na psicanáli-
se sobre interpretação dos sonhos. Desde o século XX com
a descoberta da eletroencefalografía, magnetoencefalografia,
ressonância magnética, funcional, tomografia por emissão de
positrons, organizaram-se laboratórios para estudar o sono e
os sonhos. Assim se descobriu dois tipos de sono: rem e não-
-rem (do inglês-rapid eye motion). Segundo os neurologistas
o sono rem é associado à intensa atividade da circuitaria neu-
ronal. Neonatos podem ter até 95% de sono rem, o que é
interpretado como um possível processo de auto-aprendize-
gem durante o sono pela reorganização da circuitaria cere-

66
Sérgio Mascarenhas

bral. Mais recentemente os estudos do sono vêm sendo asso-


ciados à saúde humana importante como causa ou efeito de
várias patologias como depressão, fadiga crônica e até doen-
ças degenerativas como Alzheimer e Parkinson . Hoje crê-se
na doutrina NPP, o sono é No Cérebro, Pelo cérebro e Para o
cérebro.

67
Sérgio Mascarenhas

E.Schoeredinger J. Onuchic
1887-1961 1958 -
Janus

Nós humanos Homo Sapiens Sapiens

Nós humanos Homo Sapiens Sapiens somos supostamen-


te o topo da cadeia biológica(pelo menos na Terra!). Chega-
mos  a essa posição através de longa jornada evolutiva a cerca
de 4 bilhões de anos . A base da cadeia é a questão da Origem
da Vida, ainda não totalmente esclarecida em seus detalhes.
Mas sabemos desde que E.Schoeredinger, um físico, publicou
seu livro ORIGINS OF LIFE , que provavelmente começou com
macromoléculas com capacidade de replicar-se.
Em resumo simplificado: das moléculas passando-se a
membranas e destas já a organismos unicelulares constituiria

69
Novos Olhares de Janus

a cadeia da origem da vida. Há mais duas hipóteses conflitan-


tes nessa história: 1-a primeira seria da origem extra terrestre
pela qual um meteorito colidindo com a Terra já traria vida
organizada que a partir de adaptação evolutiva no ambiente
terrestre chegaria ao Homo-Sapiens-Sapiens! Seríamos um
presente cósmico vindos do desastre inicial! 2- a segunda hi-
pótese é a teológica do criacionismo: seriamos criados, junta-
mente com todos os seres vivos, todos como pronta-entrega,
sem evolução alguma por uma divindade onipotente.
Deixo ao leitor a opção advertindo, entretanto, que após criar
Adão e Eva inteirinhos, resolveu expulsá-los do Paraíso na com-
panhia do Diabo. Nas hipóteses não teológicas tudo se reduz a
energia, átomos e moléculas, células, organismos, tudo em evolu-
ção criativa! Essa é a hipótese reducionista materialista, científica:
em suma não religiosa. Num momento dessa história ainda inicial
chegou-se a organismos unicelulares: as bactérias. Maravilho-
samente essas bactérias em evolução e reprodução passaram a
exibir comportamento interativo com o ambiente, incluindo com-
portamento social, outras bactérias. Uma dessas foi a BACILLUS
SUBTILLIS, muito comum, existente em solos, plantas, animais em
grande quantidade e fáceis de serem cultivadas. É sobre elas que
quero contar intrigante história de pesquisas teóricas feitas por
um ex-aluno meu José Onuchic, grande biofísico hoje Membro da
American Academy of Sciences dos EE. UU e Prof. da Rice Univer-
sity no Texas. Onuchic recalls. “I had a sense the physics was going
to take me toward the physics of complex systems, and biological
physics was going to be one of the big items inside the physics
of complex systems, emergent phenomena, self-assembly, and
physical network problems.”

70
Sérgio Mascarenhas

Abdus Salam - (1926-1996) Prof. Sérgio Mascarenhas com Prof.


Premio Nobel da Física-1979 Abdus Salam na China

Encontros I

Abdus Salam Nobel (1926-1996) foi um grande físico, líder


cientifico mundial, político da Ciência, que alem de ter dado
contribuições fundamentais no campo da Física de Partículas
e da chamada Teoria das Forças Fundamentais da Natureza,
dedicou enorme esforço em prol do desenvolvimento cienti-
fico, tecnológico e social para o chamado Terceiro Mundo e
dos países em desenvolvimento em todo o globo.
Com o enorme prestigio cientifico mundial que o seu gran-
de talento lhe permitiu, tomou a iniciativa de criar um grande
Centro de Pesquisas e Formação de Recursos Humanos na ci-

71
Novos Olhares de Janus

dade de Trieste, na Italia . Com    o apoio das Nações Unidas,


através da Comissão Internacional de Energia Atômica, situa-
da em Viena, ele criou o (International Center for Theoretical
Physics), no ano de 1964, com a missão de abrigar, dar apoio e
recursos a talentos da Física Teórica para nuclearem em seus
países outros centros de pesquisas e formação. Tendo eu  sido
convidado pela Academia de Ciências da Suécia para reunião
de criação de uma Sociedade Internacional de Ciências encon-
trei Salam em Estocolmo. Foi nessa ocasião que sugeri a ele 
que o ICTP ampliasse suas missões não apenas para Física Teó-
rica de Partículas e Campos, mas também para Física Médica
e Biofísica Molecular, áreas fundamentais para os países em
desenvolvimento e nas quais eu vinha pesquisando no Brasil
em São Carlos e com fortes relações internacionais nos EE.UU
e Europa . Salam não apenas aceitou minhas sugestões, mas
convidou-me para ser Diretor destas novas áreas em Trieste.
Com isso trabalhei com Salam por cerca de 12 anos até seu
falecimento. Indo passar períodos de alguns meses na Itália e
retornando ao Brasil para São Carlos , já agora estruturado com
mais amplas possibilidades tanto locais como internacionais
. Salam propôs então a criação de uma Academia de Ciências
para os países em desenvolvimento, sigla TWAS, Third World
Academy of Sciences , com sede em Trieste. Tive a fortuna de
ser escolhido para essa Academia o que ampliou extraordina-
riamente meus contactos internacionais com praticamente to-
dos os continentes. Ainda com esse apoio de Salam propus a
criação de duas outras estruturas o PIEPAL - PROGRAMA INTER-
NACIONAL DE ESTUDOS PARA A AMERICA LATINA E A TWAMP
- THIRD WORLD ASSOCIATION OF MEDICAL PHYSICS .

72
Sérgio Mascarenhas

Tive o apoio da prestigiosa Ford Foundation para o PIE-


PAL, mas infelizmente a TWAMP não decolou por motivos
políticos dentro da própria comunidade da área na América
Latina. Mas a TWAS cresceu em praticamente todos os conti-
nentes formando uma estrutura em rede incluindo a própria
China. Foi nessa ocasião que acompanhei Salam a China, no
ano de 1987, quando ele recebeu o título de honoris causa
da Universidade de Beijing, onde implantou fortes ações de
políticas em Ciência,Tecnologia e Inovação (CTI) após a cha-
mada Revolução Cultural . Essa nova era do gigante chinês
prossegue até hoje em grande parte devido a essa opção es-
tratégica em que o Socialismo se hibridiza com o Empreen-
dedorismo da CTI capitalista numa experiência única para os
destinos da própria humanidade.
Na foto acima com Salam, o Ministro da Ciência e o Presi-
dente da Academia Chinesa de Ciências ilustra um dos  frutos
que colhi do meu fundamental encontro com meu inesquecí-
vel Abdus Salam. 

73
Sérgio Mascarenhas

J. Costa Ribeiro Lars Onsager


(1906-1960)

Encontros II

Devido a ter tido como orientador na Faculdade de Filosofia


Ciências e Letras, na antiga Universidade do Brasil, hoje UFRJ , o
Prof. Joaquim da Costa Ribeiro , um dos fundadores da Física no
Brasil juntamente com Bernardo Gross , passei a pesquisar um
efeito físico descoberto por ele que hoje é conhecido na litera-
tura internacional como Efeito Costa Ribeiro. Resumidamente o
efeito consiste na criação de campos elétricos durante mudan-
ças de fase como na solidificação de um dielétrico.
Consegui após minha vinda para a USP na cidade de São
Carlos ampliar a existência do fenômeno para outras transi-

75
Novos Olhares de Janus

ções,  como na sublimação do naftaleno e mesmo na transi-


ção água a gelo.
Nesse ultimo caso, o efeito ganhou enorme interesse in-
ternacional em face da sua possível importância para a origem
da eletricidade atmosférica nas nuvens . Um dos mais impor-
tantes cientistas que se interessou pelos meus trabalhos foi
o grande Lars Onsager físico-quimico norueguês, ganhador
do Prêmio Nobel em Química em 1968. Onsager radicou-se
nos EE.UU. na Universidade de Yale, mas era um conferencis-
ta requisitado em todos os grandes centros mundiais devido
a sua excepcional criatividade e sua transdisciplinaridade. 
Com efeito,era o que se chama um polimata com contribui-
ções na Matemática, Física, Química e Biologia . Em Yale pas-
sou-se um caso histórico: a direção da Universidade de Yale
ao saber que Onsager não tinha um titulo formal de Doutor
(PhD) sugeriu que ele apresentasse algum de seus trabalhos
ao Departamento de Química para ter seu PhD formalizado
na Yale. Entretanto, o Dep. de Química alegou que o trabalho
era de grande complexidade física e assim foi enviado para o
famoso Dep. de Física da Yale. Surpreendentemente, o Dep.
de Física alegou que o trabalho era de grande complexidade
Matemática, cujo departamento finalmente sentiu-se honra-
do em atribuir o PhD a Onsager. Quando eu fui Professor visi-
tante na Universidade de Princeton fui assistir uma conferen-
cia de Onsager e fiquei surpreendido quando ele citou meus
trabalhos sobre física da transição água-gelo . Dai começou
uma profunda ligação científica e uma amizade que conside-
ro uma das mais emocionantes da minha vida. Onsager convi-
dou-me a Yale e, mais tarde, quando se aposentou foi para a

76
Sérgio Mascarenhas

Universidade da Flórida onde estava também outro ícone da


Física, o físico Paul Dirac. O Estado da Flórida é conhecido por
atrair esses grandes nomes já idosos que se beneficiam do
seu clima tropical. Lá, Onsager, cuja dedicada esposa também
me acolheu e convidou para sua residência.
Há certos momentos especiais na vida que se tornam,
apesar de simples, inesquecíveis: Onsager foi receber-me no
Aeroporto e me levou para sua casa e então sentados no jar-
dim Lars tomou uma laranja e descascou-a para mim!
Impossível para eu esquecer esse gesto e essa ocasião lu-
minosa! Mas depois houve mais: o famoso instituto ETH( Insti-
tuto Federal de Tecnologia), na cidade de Zurich, Suiça, onde se
formou Einstein, lá foi organizada a Conferencia Mundial sobre
a Física do Gelo e Onsager foi naturalmente convidado. Essa
Conferencia levou à publicação de um livro Physics of Ice(L.
Onsager edited by N.Riehl et AL-Plenun,New York,1969,p.363),
pela prestigiosa editora Springer e tendo eu sido participante
tive também meu trabalho publicado. Nessa fase, Onsager ti-
nha dado outra de suas brilhantes contribuições com as hoje
chamadas Equações de Onsager, em que pela primeira vez se 
trata de fenômenos fora do Equilíbrio. Outra coincidência na
minha vida cientifica. Eu havia descoberto em São Carlos um
fenômeno de transporte de calor em mudanças de fase sob
ação de um campo elétrico externo para o qual apliquei as
Equações de Onsager com excelentes resultados. Novamente,
Onsager se interessou e eis que num intervalo com ele, me
surpreendi explicando as Equações de Onsager ao próprio! Fo-
lias de um cientista ainda jovem tomado de entusiasmo pela
ocasião desse encontro notável.

77
Novos Olhares de Janus

Assim posso dizer que tive a excepcional oportunidade


de ter tido esse grande encontro com Onsager.
Mas ainda não foi o ultimo capítulo.
Em São Carlos continuei a investigar a transição água-
gelo, porém em outra fase do gelo amorfo e me corres-
pondi com Onsager, já então residindo na Flórida. Ele me
escreveu dizendo que já havia previsto a existência da-
quele efeito e assim acabamos sendo co-autores com um
outro pesquisador americano que me visitava em São Car-
los de um artigo numa prestigiosa revista internacional
(OLIVEIRA, S. M.; ONSAGER, L. ; STAEBLER, D.L. Electrical effects
during condensation and phase transitions of ice. Journal of Chemical Phy-
sics, new york, v. 68, n.8, p. 3823-3828, 1978.).
Salve a Ciência global que dá essas oportunidades de
grandes encontros inesquecíveis mesmo a cientistas de paí-
ses menos desenvolvidos com grandes gênios da Ciência
mundial.

78
Sérgio Mascarenhas

Encontro com Szent Gyorgy – Prêmio nobel descobridor da Vitamina C.

Encontros III

Uma outra das minhas memórias inesquecíveis foi com A.


Szent-Györgyi(1893-1986), Premio Nobel em 1937, que iso-
lou e descobriu a Vitamina C e demonstrou suas principais
ações na saúde e na doença.
Tendo sido convidado a expor minhas pesquisas em Bio-
física Molecular num famoso Simpósio, tradicionalmente re-
alizado em Sanibel Island na Florida, para onde convergiam
cientistas da área de todos os mais importantes centros  mun-
diais, me senti preocupado: minhas ideias sobre bioeletretos 
e biofísica da água eram no mínimo fora dos cenários con-

79
Novos Olhares de Janus

ceituais vigentes.  Minhas credenciais era que vinha de ser


Fellow no Harvard-MIT Health Program e, certamente, não por
ser um simples biofísico brasileiro em uma cidade do interior
São Carlos, em São Paulo. Mas, aí se deu um momento mági-
co: Szent-Györgyi saiu de seu retiro, onde estava romantica-
mente ocupado com uma jovem bailarina e veio assistir mi-
nha palestra! E para inflar meu ego me disse que seria a única
novidade que o interessou no programa. E mais, convidou-me
para discutirmos mais na sua cabana onde me apresentou a
sua linda companheira. Depois continuamos na praia nossa
conversa ( vide foto na ilustração ) . Como esquecer esse en-
contro  ? ! O que isso me deu de dose de autoconfiança foi
central para minha carreira na ciência.
Szent-Györgyi tinha enorme numero de “causos” lendá-
rios como a famosa lei Szent-Györgyi  - que a soma das idades
de um casal teria que ser no máximo 100 ! Outra porem ver-
dadeira: depois de separar algumas poucas gramas da Vitami-
na C de toneladas de pimentões foi apresentar seus resulta-
dos na Royal Society na Inglaterra . Mas era o pós guerra e por
falta de recursos resolveu ir de motocicleta para a Inglaterra,
porém acidentou-se no caminho e não teve dúvida: pegou a
preciosa amostra e  a ingeriu, era tanta a confiança que tinha
nos efeitos anti-infecciosos do seu achado !
Mas aí cometi um grave engano: ao voltar a São Carlos
eis que me chega um oficio da Fundação Szent-Györgyi ofe-
recendo apoio para minhas pesquisas. Incrivelmente, cheio
de mil compromissos, não dei continuidade à correspondên-
cia! Arrependo-me até hoje dessa falta. Hoje, ao escrever esta
crônica, com meus 90 anos, olhando a foto na praia me vem

80
Sérgio Mascarenhas

aquela saudade e o sentimento profundo de gratidão ao gran-


de Szent-Györgyi não somente ao cientista nobelista, mas ao
generoso ser humano .

81
Sérgio Mascarenhas

Einstein Sergio Machado


1879-1955 Rezende - 1940
Prêmio Nobel

Encontros IV

Meu encontro com Sérgio Machado Rezende foi um dos


eventos mais relevantes que tive na minha vida como cientista
e gestor de ciência, tecnologia inovação e educação . Ele em
importante entrevista quando recebeu o Premio Conrado Wes-
sell também prefere se classificar profissionalmente da mesma
maneira. A diferença entre político e gestor é muito relevante.
Ha políticos que fazem gestão estratégica e há gestores que
fazem política no sentido eleitoral, mas não pelas mesmas vias
e ideais. Rezende sempre foi brilhante como estudante, acadê-
mico, líder cientifico e gestor da ciência tecnologia, inovação

83
Novos Olhares de Janus

e Educação. Quando membro do CNPq propus  a criação de


um Programa Nacional de Centros Emergentes para atender
a enorme desigualdade que concentra o desenvolvimento na
região Sudeste. Tive apoio inclusive da CAPES e FINEP através
do então Ministro João Paulo dos Reis Velloso e de J.Pellucio,
ambos grandes visionários do desenvolvimento nacional pela
via da Ci.Tec. Inovação e Educação .Um dos meus focos prefe-
renciais era Recife de onde tinham emigrado grandes cientis-
tas brasileiros como M.Schemberg e J.Leite Lopes. Na busca de
um líder para o projeto com que eu já contava com brilhantes
jovens do próprio Recife e decidido apoio do então  Reitor da
Universidade Federal de Pernambuco, Marcionilo Lins, convidei
Sérgio Rezende então recentemente retornado do MIT-Boston/
USA, onde terminara brilhantemente seu doutorado em enge-
nharia elétrica e de materiais magnéticos . Rezende é o modelo
ideal de transdisciplinaridade entre física e engenharia, entre
ciência fundamental e aplicada. Tudo aliado a uma personali-
dade vibrante e criativa.
Ele já tinha posição garantida na PUC-RJ e na UNICAMP .
Apesar dessa zona do conforto ele aceitou o desafio e foi para
a UFPe onde em pouco tempo mostrou a sua enorme lideran-
ça de formador de novos lideres e gestor.
À convite do então governador Miguel Arraes tornou-se o pri-
meiro Secretario de Estado de Ciência e Tecnologia e criou a FA-
CEPE-Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de
Pernambuco, nos moldes da FAPESP . Em pouco tempo o Depar-
tamento de Física tornou-se um dos melhores centros de Física
do Brasil e da America Latina. Ainda levou à criação do Dep. de
Química com Ricardo  Ferreira e equipe em moldes semelhantes.

84
Sérgio Mascarenhas

Em suma, um florescimento espetacular da Ciência no


Nordeste brasileiro. Agora mais recentemente uma contribui-
ção de altíssima relevância mundial de Rezende e sua equi-
pe: na Nature Physics, uma das principais revistas científicas
globais, anuncia a descoberta experimental de que fonons
podem ter spins magnéticos. Uma explicação detalhada da
descoberta exige conhecimentos avançados de Física Quân-
tica e magnetismo, mas vou tentar simplificar: - Einstein e de
Haas tinham demonstrado, com o efeito que leva seus nomes,
que um material macroscópico magnético pode interagir com
um campo externo através de seus momentos magnéticos.
Mas nunca havia sido provada a origem atômica molecular
dessas interações. Na estrutura microscópica com eletrons
e átomos em vibração (fonons na linguagem da física) sur-
gem interações nas quais os átomos em vibração se acoplam
aos spins magnéticos e levam aos conceitos de magnons e
de fenômenos da chamada spintronics, fundamentais para
memórias de computadores e outras aplicações, inclusive na
ótica quântica com os lasers. Rezende e equipe mostraram
experimentalmente pela primeira vez que o acoplamento dos
fonons com os spins pode dar origem a existência de fonons
com spins - conceito anteriormente não existente na ciência!
A descoberta coloca o Brasil na longa e acidentada história do
desenvolvimento cientifico mundial, considerando que des-
de o experimento Einstein-deHaas em 1915 até o que passo
a chamar o Efeito Rezende em 2018 passaram-se um século
e 3 anos, o que ilustra a dificuldade e importância da desco-
berta .

85
Sérgio Mascarenhas

Títulos e atividades

Físico, Professor Titular da Universidade de São Paulo


- IFSC;Prof. visitante nas Univ. de Princeton, Harvard, MIT
(EUA); Prof. visitante na Univ. Nacional Autônoma e Centro
de Estudios Avanzados (México); Prof. visitante no Institute
of Physical and Chemical Research (Japan); Prof. visitante
na London University (UK); Prof. visitante no Inst.Center for
Theoretical Physics - Trieste e Univ.de Roma (Itália)
Fundou e dirigiu o Centro Nacional de Pesquisa
e Desenvolvimento de Instrumentação Agropecuária
(EMBRAPA); Cooperou na fundação da Universidade Federal

87
Novos Olhares de Janus

de São Carlos primeiro reitor Pró-Tempore e na criação do


curso de Engenharia de Materiais; Fundou e dirigiu o Fórum
Unicamp (Universidade de Campinas); Fundação de Pesquisas
Adib Jatene (Instituto Cardiologia Dante Pazzanese-SP).
Implantou e dirigiu cursos de biofísica e física médica no ICTP
(Trieste, Itália).
Coordenador do Instituto de Estudos Avançados de São
Carlos – USP criou o Programa Internacional de Estudos e
Projetos para a América Latina-PIEPAL no Instituto de Estudos
Avançados da USP - São Carlos. Fellow no Institute for
Advanced Study-Princeton (EUA); Pesquisador/Conferencista
na Bell Labs., RCA Labs., Brookhaven Nat. Labs., Univ. California,
Berkeley, Naval Res. Labs. Washington DC, University of Tokyo,
Univ. Paris, University Grenoble, Oxford University, India
Institute of Technology, Chinese Academy of Sciences, Acad.
Ciencias da Suécia e outras academias ou Universidades;
Membro do Conselho Universitário da UNICAMP; Diretor do
Programa “Educação e Ensino de Ciências para a América
Latina - Ford Foundation”.

TÍTULOS E PRÊMIOS ACADÊMICOS


Presidente de Honra da SBPC

- Membro da Academia Brasileira de Ciências; Membro


Fundador e Presidente da Academia de Ciências do Estado
de São Paulo Membro e Vice-Presidente da SBPC - Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência; Membro Fundador
da Sociedade Brasileira de Física Membro da Associação
Brasileira de Físicos em Medicina; Membro da Sociedade

88
Sérgio Mascarenhas

Brasileira de Cristalografia; Membro Honorário do Conselho


Tecnológico do SEESP (Sindicato dos Engenheiros no Estado
de São Paulo); Presidente da Third World Association of
Medical Physics; Prof. Emérito, Conferido pela Congregação
do Instituto de Física USP - São Carlos; ; Member International
Advisory Board, Pace University N.Y, USA (Brazil Universites
project on Environmental Law)- Oct/2000, Pesquisador
Emérito do CNPq (26-04-2006);Voto de Aplauso pelo prêmio
de “Pesquisador Emérito do CNPq, pelo seu trabalho e pelo
pioneirismo em favor da ciência brasileira, outorgado pelo
Senado Federal. Doutor Honoris Causa da UFSCar (23/11/12).
Doutor Honoris Causa – UFPE – 19/07/2013
-
- ACADEMIAS INTERNACIONAIS

Membro da Academia de Ciências do Terceiro Mundo


(Trieste), Fellow American Physics Society, New York Academy
of Sciences, Academia de Ciências da América Latina.

PRÊMIOS E HONRARIAS

Gugemheim Award (EUA); Fullbright Award (EUA); Yamada


Foundation Award (Japão); Professor Emérito do Instituto de
Física e Química de São Carlos (IFQSC/USP); Professor Emérito
da Universidade Nacional (México); Cátedra Honorária M.
Vallarta (México - Univ. Nac. Autonoma); Patrono Biblioteca
Sérgio Mascarenhas - Instituto de Física da Universidade
Federal de Pernambuco; Laboratório de Biomagnetismo

89
Novos Olhares de Janus

Sérgio Mascarenhas USP - Ribeirão Preto; Cidadão Honorário


da cidade de São Carlos; Personalidade do Ano (Sindicato
dos Engenheiros de São Paulo); Medalha comemorativa da
SBPC; Medalha comemorativa do CNPq; Comenda e Medalha
da Ordem do Marquês de Olinda (Pernambuco); Prêmio e
Medalha de Ouro Associgás; Comendador da Ordem Nacional
do Mérito Científico (Presidência da República); Patrono do
Auditório Sérgio Mascarenhas, Centro Nacional de Pesquisa
e Desenvolvimento de Instrumentação Agropecuária
(EMBRAPA); Medalha Dr. Ernesto Pereira Lopes do Mérito
Científico (Câmara Municipal de São Carlos); Prêmio Fundação
Conrado Wessel de Ciência e Cultura 2006, premiado na
modalidade de Ciência Geral (04-06-07); Simpósio em
homenagem aos 80 Anos do Prof.Dr. Sérgio Mascarenhas,
intitulado: “A Educação em Ciência para o Brasil”, realizada em
30/04/2008 no Auditório Sérgio Mascarenhas do IFSC-USP;
60a. Reunião Anual da SBPC –(Homenagem especial aos Profs.
Drs. Sérgio Mascarenhas e Crodowaldo Pavan)- Conferência
proferida pelo homenageado Sérgio Mascarenhas: “Os
primórdios da divulgação científica no Brasil”, UNICAMP, 13 a
18 de julho de 2008.

PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES
CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS

Introdutor do Conceito e Descoberta dos Bioeletretos em


Moléculas Biológicas; Descoberta do efeito de magnetismo
ósseo induzido por radiação; Introdutor da Cirurgia
Criogênica no Brasil; Novo método de Datação arqueológica,

90
Sérgio Mascarenhas

utilizando ressonância eletrônica paramagnética; Introdutor


da Tomografia Computadorizada em Física dos Solos e
Ciências dos Materiais; Co-descobridor (com o Prêmio Nobel
L. Onsager) do Efeito de Carregamento Elétrico do Gelo
Amorfo; Consolidação de fraturas ósseas com correntes
elétricas; Dosimetria dos ossos das vítimas de Hiroshima, com
novo método de dosimetria com ressonância paramagnética
eletrônica; Dosimetria de radiações com eletretos e
piezoeléctricos. Criação de empresas de inovação Tecnológica.
Desenvolvimento de um equipamento minimamente invasivo
para monitoramento da pressão intracraniana minimamente
invasivo e não invasivo.

ÁREAS DE INTERESSE CIENTÍFICO

Física da Matéria Condensada; Biofísica Molecular;


Física Médica; Física e Dosimetria das Radiações; Ciência
e engenharia de materiais; Tomografia Computadorizada
aplicada a pólos e agropecuária; Educação para Ciência;
Ciência e arte em Arqueologia e restauro. Novo método em
Neurociência e Neurocirurgia – Método não invasivo para
medida da Pressão Intracraniana.

ÁREAS DE INTERESSE CULTURAL


E EDUCACIONAL

Informática na Educação; Ciência e Arte e sua relações;


Bio-música: música com moléculas biológicas; Dirigiu para

91
Novos Olhares de Janus

a TV- Cultura 12 programas sobre “Fronteiras da Ciência”;


Projeto sobre Escola de Atenas de Rafael; Membro da
Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos.
LINK – RIO + 20 – UNESCO - http://eventos.unesco.org.
br/20ideias/index.php#conteudo

92
Editor Chefe
Prof. Dr. Francisco A. Moura Duarte

Editor Associado
Prof. Dr. David De Jong

Coordenador de Produção Gráfica


Edmundo Cruz Canado

Coodernação Editorial
Maria Vicentini

Ilustração Capa
Antonio Alfonso Luciano

Revisão
Maria Vicentini

R. Floriano Peixoto, 2444 - Alto da Boa Vista


14025-220 - Ribeirão Preto, SP
Tel.: (16) 3620-1251 - Fax: (16) 3621-1991
http://www.funpeceditora.com.br
livros@funpecrp.com.br - editoracao@funpecrp.com.br

Este livro foi impresso pela Paym Gráfica e Editora Ltda. para
FUNPEC-Editora em Abril de 2018.
A fonte utilizada no texto foi Aller no corpo 11
e o papel do miolo é Avena 80g/m2.
Dando continuidade ao primeiro livro Os Olhares de Janus -
nesse, intitulado Novos Olhares De Janus, o Autor percorre a
mesma trajetória, nesse sentido recolocamos aqui as palavras
que tão bem definiram o primeiro Janus.

As crônicas OLHARES DE JANUS revelam uma nova faceta do


nosso cientista-pensador: o gosto de exprimir de modo ameno,
às vezes jocoso, as suas paixões e inquietações que de ora em
diante desejaríamos compartilhar como cidadãos brasileiros e
habitantes da mesma casa, que é o planeta onde nos foi dado
viver. Ou, para lembrar a metáfora de Pascal, nosso destino sobre
a Terra é comum, pois “nela estamos embarcados”. Que
solidariedade seja a palavra final, ética e afetiva, inspirada
nestas páginas de Sérgio Mascarenhas.
ALFREDO BOSI, Membro da Academia Brasileira de Letras.

Numa linguagem factual e em estilo fluente, conciso e direto,


como se conversasse com o leitor, o autor nos incita a avaliar o
passado e a refletir sobre o presente e o futuro em OLHARES DE
JANUS. Com a maestria de quem sabe muito bem organizar ideias
e palavras, o físico Sérgio Mascarenhas mostra em suas crônicas
uma nova maneira de ver as coisas, a vida, o mundo.
Silvio Crestana, ex-presidente da EMBRAPA.

ISBN 9788577471485

funpeceditora.com.br

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