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Lizzi Lemos Colla

Sistemas de Captação e
Aproveitamento de Água de Chuva

Junho de 2008
Sorocaba/SP

Lizzi Lemos Colla

Sistemas de Captação e
Aproveitamento de Água de Chuva

Trabalho de Conclusão de Curso


de Graduação apresentado como
parte dos pré-requisitos para
a obtenção do título de
Engenheiro Ambiental, à
Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”,

Orientador: Prof. Dr. Galdenoro Botura Junior

Sorocaba/SP

Junho de 2008
Lizzi Lemos Colla

Sistemas de Captação e
Aproveitamento de Água de Chuva

Trabalho de Conclusão de Curso


de Graduação apresentado como
parte dos pré-requisitos para
a obtenção do título de
Engenheiro Ambiental, à
Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”,

Sorocaba, 16 de Junho de 2003

________________________
Orientador

________________________
Banca examinadora

_________________________
Banca examinadora

Sorocaba

Junho de 2008
DEDICATÓRIA

Primeiramente, dedico este trabalho à minha mãe, Heloisa, ao meu pai, Colla, e às
minhas irmãs Lívia e Laís. Agradeço de coração, por todo suporte, paciência,
dedicação e amor ao longo destes felizes cinco anos...

Ao meu namorado, Caio, por toda a grande colaboração, cumplicidade e motivação.

À minha turma, fiel companheira nos bons e maus momentos. Obrigado pelas
risadas, pelas festas, pelas conquistas e, principalmente, pelas lutas... Vou sentir
muita falta da maneira singular que cada um de vocês encara a vida. Obrigado por
tornarem a vida acadêmica divertida e repleta de boas recordações que guardarem
eternamente na memória.

Ao meu amigo Alex, pela colaboração na etapa final do trabalho, por toda a
paciência e tempo dispensado.

Ao meu orientador, por toda a colaboração, empenho e grande credibilidade.

Aos Professores, em especial ao Professor Sandro Mancini, pela sincera dedicação


à turma ao longo dos cinco anos.

Em especial, às meninas que fizeram parte do meu dia-a-dia... Que moraram no


apartamento 111!

Inicialmente, à Kell, que apesar de longe, estará sempre presente... Obrigado pelas
longas conversas nas madrugadas e por toda força.

À Gabi, a minha amiga inseparável! Companheira nos estudos, companheira no


vôlei, nos inesquecíveis inter-unesps, nos brigadeiros e até nas viagens de volta
para casa...

À Pri, que chegou por último, mas logo conquistou uma amizade verdadeira e muita
admiração formando a eterna e unida “Rep” Lista Feita.

Lizzi

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SUMÁRIO

RESUMO ....................................................................................................................2
ABSTRACT .................................................................................................................4
INTRODUÇÃO ..............................................................................................................6
OBJETIVOS ................................................................................................................9
A1) Objetivo Geral ................................................................................................9
A2) Objetivos específicos .....................................................................................9
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...........................................................................................10
B) A História do Aproveitamento de Água Pluvial...............................................10
C) Casos Recentes.............................................................................................16
D) Legislação......................................................................................................20
E) Tecnologias de Aproveitamento de Água Pluvial ...........................................28
E1) Tipos Reservatórios de Água Pluvial..................................................36
E2) Dimensionamento do Reservatório ....................................................49
E3) Qualidade da água pluvial ..................................................................58
E4) Instrumentos e procedimentos para a manutenção da qualidade da
água ..........................................................................................................61
E5) Viabilidade da Implantação de Sistemas de Aproveitamento de Água
Pluvial .......................................................................................................65
F) Pontos Relevantes .........................................................................................68
F1) Poços Artesianos................................................................................68
F2) Preservação dos mananciais..............................................................68
F3) Redução de custos .............................................................................69
MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................................70
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................71
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .....................................................................................73

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RESUMO

COLLA, L.L. Sistemas de captação e aproveitamento de água de chuva. 2008.


Trabalho de Graduação (Graduação em Engenharia Ambiental). Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Sorocaba, 2008.

Levando-se em consideração o aumento progressivo da demanda dos recursos


hídricos - em função da elevação dos níveis de consumo e crescimento populacional
- a procura por fontes alternativas vem desempenhando papel fundamental na
estratégia de gestão ambiental a fim de impedir um provável cenário de escassez.

A captação e o aproveitamento de água de chuva como recurso complementar, além


de ser uma prática que favorece o crescimento sócio-econômico da população, se
apresenta como uma alternativa de diversificação da fonte de consumo, diminuindo
significativamente a dependência em relação aos mananciais superficiais, cada vez
mais atingidos pela poluição.

Nos centros urbanos observa-se um relevante aumento dos investimentos


financeiros com tratamento e transporte da água, devido, principalmente, a dois
fatores: a significativa distância entre a região de coleta e o destino final do recurso e
ao esgotamento das melhores fontes, que resulta na utilização de águas mais
poluídas. Além disso, as redes de distribuição dos centros urbanos, normalmente,
são muito longas e antigas, o que propicia consideráveis perdas. Sendo os
pequenos sistemas de captação de águas pluviais instalados próximos às regiões de
consumo, as perdas seriam reduzidas consideravelmente.

Visando-se não só a implantação, mas também a consolidação das técnicas de


aproveitamento de águas de chuva é imprescindível que tanto as vantagens como a
descrição operacional da técnica seja acessível a todos os envolvidos. Ou seja, são
fundamentais tanto o consentimento moral da técnica como a determinação política
para consolidá-las.

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O presente trabalho tem por objetivo determinar a relevância e a viabilidade da


utilização de sistemas de aproveitamento de água pluviais para fins não-potáveis,
através de uma revisão bibliográfica sobre os maiores obstáculos e as grandes
vantagens da adoção e consolidação desta prática.

Com a recente cobrança pelo uso da água, grandes consumidores deste recurso,
como as indústrias alimentícias, já estão buscando fontes alternativas para
minimizar os gastos nos processos. Conseqüentemente, os grandes benefícios da
redução dos custos nas atividades domésticas despertarão a atenção da sociedade
em breve para a relevância dos sistemas de captação e aproveitamento de água de
chuva. Uma das finalidades da cobrança pelo uso da água é instituir um
comportamento adequado em temos de racionalização do uso desse recurso público
tão valioso.

Palavras-Chave: Sistemas de captação de água de chuva. Cisternas. Filtros.


Desenvolvimento sustentável. Redução de custos. Escassez.

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ABSTRACT

COLLA, L.L. Rainwater caption and reuse systems. 2008. Monograph (Graduation
in Environmental Engineering). São Paulo Estate University, Sorocaba, 2008.

Taking into account the gradual increase in demand of water resources - in terms of
raising levels of consumption and population growth - the search for alternative
sources has played key role in environmental management strategy to prevent a
likely scenario of scarcity.

The capture and exploitation of water from rain as additional resource and is a
practice that promotes the socio-economic growth of the population, presents itself
as an alternative to diversify the source of consumption, significantly reducing the
dependence on water surface, each increasingly affected by pollution.

In urban centers there is an important increase in financial investments with


treatment and transportation of water, mainly due to two factors: the significant
distance between the region of collection and the final destination of the appeal and
the exhaustion of the best sources, which results in use of water more polluted. In
addition, distribution networks of the urban centres, usually, are very long and old,
which provides considerable losses. As the small collection systems installed
rainwater next to the regions of consumption, the losses would be reduced
considerably

Aiming to not only the deployment but also the consolidation of techniques for use of
waters of rain is essential that both the advantages and the description of the
operational technique is accessible to all involved. That is, are fundamental moral
consent of both the technical and political determination to consolidate them .

This study aims to determine the relevance and viability of the use of systems for use
of rain water for not drinking purposes, through a literature review on the major
obstacles and the major advantages of consolidation and adoption of this practice.

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With the recent recovery of the use of water, large consumers of this resource, such
as food industries, are already seeking alternative sources to minimize spending in
the processes. Consequently, the major benefits of cost reduction activities in the
domestic will awakening the attention of the society soon to the relevance of systems
to capture and use of water from rain.

Keywords: Rainwater caption systems. Cistern. Filters. Sustainable development.


Costs minimization. Scarcity.

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Introdução

Ainda que a sobrevivência da espécie humana dependa da água, só


recentemente a Humanidade começou a refletir sobre o desenvolvimento e o
destino da água no planeta.

Assim sendo, atualmente, observa-se uma maior preocupação da sociedade em


relação à preservação dos recursos naturais. Dentre estes, a água representa um
dos mais valiosos recursos, sendo imprescindível para a vida na Terra. Além de
ser um recurso vital insubstituível, a água é um importante fator de produção para
muitas atividades, sendo primordial para que haja também crescimento
econômico e tecnológico.

Segundo Selborne (2001, pág.17) “A água, o símbolo comum da humanidade,


respeitada e valorizada em todas as religiões e culturas, tornou-se também um
símbolo da eqüidade social, pois a crise da água é, sobretudo, de distribuição,
conhecimento e recursos, e não de escassez absoluta”.

Os oceanos estão presentes em aproximadamente 2/3 da superfície do planeta


Terra. Cerca de 97,5% do volume total de água na Terra é de água salgada,
distribuída entre mares e oceanos. Apenas os 2,5% restantes são compostos por
água doce. Todavia, destes 2,5%, apenas 0, 007% encontra-se em locais de fácil
acesso para o consumo, como lagos, rios e na atmosfera (UNIÁGUA, 2006 apud
MARINOSK, 2007, pág.12). A maior parte de água doce existente no planeta se
distribui em áreas de difícil acesso, tais como aqüíferos (águas subterrâneas) e
geleiras. Entretanto, esta pequena porcentagem de água doce de fácil acesso
ainda representa um enorme volume de água o qual vem sendo utilizado a
milhares de anos para o consumo da maior parte da humanidade.Mesmo que o
planeta ainda disponha de uma grande quantidade de água doce, os recursos
hídricos já estão se tornando escassos em algumas regiões do mundo, nas quais
suprir a demanda de água já está se transformando uma dificuldade em função do
acelerado crescimento populacional.

De acordo com Selborne, (2001, pág.19) “A estatística mundial sobre a água está
se tornando familiar. Segundo o Conselho de Suprimento de Água e Serviços
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Sanitários, cerca de 1,4 bilhões de pessoas (25% da população mundial) ainda


não têm acesso ao fornecimento regular de água [...]”.

Embora toda a humanidade necessite de água, o acesso irrestrito e irracional a


água desejada não é um direito dos indivíduos. Diante da atual situação mundial,
é necessário que a sociedade comece garantindo uma priorização adequada do
acesso à água, que possibilite suprir às principais necessidades da humanidade,
assim como dos ecossistemas.

Visando exatamente esta urgente necessidade de priorização adequada do uso


da água, é que o tema captação de água pluvial voltou a ser discutido e
considerado nos dias atuais.

Diante deste cenário, o aproveitamento de água da chuva, um recurso natural


amplamente disponível na maioria das regiões do Brasil, se apresenta como uma
excelente alternativa que tem como objetivo prover a demanda da população em
relação ao uso de água para fins inicialmente não potáveis.

De fato, a captação de água de pluvial é uma ferramenta descoberta e


desenvolvida há muito tempo atrás que, todavia, foi sendo gradativamente
esquecida à medida que o sistema de água encanada se consolidou e expandiu-
se.

Usufruindo-se de recentes tecnologias que viabilizam a implantação do sistema,


atualmente vem-se tentando consolidar a prática de captação de água de chuva.
Sendo a água um recurso natural de valor econômico, estratégico e social, sujeito
à escassez, torna-se incoerente a destinação de água tratada para fins menos
nobres como lavar calçadas e carros, regar plantas e jardins, descarga de vasos
sanitários entre outros. Estas práticas comuns no país e muitas outras poderiam
ser facilmente realizadas com a água pluvial coletada dos telhados das
residências de cada indivíduo.

Em alguns casos, como na irrigação de jardins e em certos processos industriais,


esta substituição é realizada com vantagens, em função da composição química
da água de chuva.

Em função, principalmente, do representativo crescimento populacional, do


aumento e do padrão de consumo da população, a procura e o investimento em

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fontes alternativas de recursos naturais é considerada hoje uma necessidade


mundial.

Não há vida sem água, e àqueles a quem se nega a água nega-se a vida. De
acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), hoje, aproximadamente,
70 milhões de pessoas em 43 países sofrem com falta d´água e em 2025 estima-
se que cerca de 3 bilhões de pessoas. Entretanto, cada vez mais os padrões de
consumo estabelecem novas necessidades e, a maioria delas, está diretamente
relacionada com a utilização de água.

Outra questão significativa se refere à má distribuição populacional em função dos


recursos hídricos. De acordo com Ghisi (2006, apud MARINOSK, 2007, pág.12),
as regiões mais populosas são justamente as que possuem pouca água, por outro
lado onde há muita água ocorre baixo índice populacional. A título de
exemplificação, pode-se citar a Região Sudeste do Brasil, que apresenta um
potencial hídrico de apenas 6% do total do país, entretanto conta com 43% do
total de habitantes da nação, enquanto a Região Norte, que abrange a Bacia
Amazônica, possui aproximadamente 69% de água disponível, contando com
apenas 8% da população brasileira.

Outra questão relevante relacionada à captação das águas pluviais em cisternas


se refere à problemática das enchentes nos grandes núcleos urbanos. A
captação das águas pluviais em cisternas poderia diminuir consideravelmente o
volume de água lançado na rede pluvial e, desta forma, contribuiria para a
minimização das enchentes e suas graves conseqüências sócio-ambientais.
Existe também o grande índice de desperdício de água potável, resultante da falta
de conscientização de uma representativa parcela da população, do mau uso dos
aparelhos sanitários, bem como vazamentos nas instalações.

Diante deste panorama, é necessário conscientizar a humanidade que o uso


sustentável deste recurso natural é um dos alicerces para o desenvolvimento
humano.

Assim sendo, este estudo teve como objetivo o levantamento e o agrupamento de


práticas e tecnologias que viabilizam a eficaz utilização da água pluvial como
fonte alternativa deste recurso natural em áreas urbanas, através de estudos e de
práticas de gestão ambiental que aperfeiçoem o uso racional da água.
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Este levantamento, futuramente, poderá ser utilizado como base para a


elaboração e implementação de projetos voltados à gestão ambiental,
beneficiando não só a atual população, mas também as futuras gerações.

As metodologias utilizadas para a captação e armazenagem das águas de chuva


podem apresentar algumas variações, dependendo das características do local
onde são implantadas. Tais características incluem desde índices físicos, como o
potencial pluviométrico, até índices sócio-culturais, tais como formação cultural e
poder aquisitivo das pessoas envolvidas no processo.

É imprescindível que os fins da água resultante da captação, também estejam


coerentes com a qualidade e quantidade do recurso captado. Desta forma,
buscou-se a identificação das tecnologias de captação e aproveitamento de
águas de chuva mais próximas à realidade do país.

Objetivos

A1) Objetivo Geral

O objetivo geral do presente Trabalho de Graduação foi determinar a


relevância e a viabilidade da utilização de sistemas de aproveitamento de água
pluviais para fins não-potáveis.

A2) Objetivos específicos

Os objetivos específicos deste trabalho foram:

Realizar uma revisão bibliográfica do desenvolvimento e utilização dos


sistemas de captação e aproveitamento de água pluvial.

Levantar importantes legislações existentes no país sobre sistemas de


captação e aproveitamento de água de chuva.

Analisar a viabilidade das significativas variações nos sistemas de captação e


aproveitamento de água pluvial.

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Revisão Bibliográfica

B) A História do Aproveitamento de Água Pluvial

Dados históricos comprovam que, há muito tempo, técnicas de captação e o


aproveitamento de águas pluviais em sistemas particulares vêm sendo
empregados pela humanidade. Segundo Tomaz (2003 apud CARLON, 2005,
p.29) existe reservatórios escavados há 3.600 a.C. e a Pedra Moabita, uma das
inscrições mais antigas do mundo, encontrada no Oriente Médio e datada de
850 a.C., sugere que as casas tenham captação de água de chuva.

No palácio de Knossos, na Ilha de Creta, a aproximadamente 2000 a.C., a


água de chuva era aproveitada para descarga em bacias sanitárias (TOMAZ,
2005). A famosa fortaleza de Masada, em Israel, tem dez reservatórios
cavados nas rochas com capacidade total de 40 milhões de litros (TOMAZ,
2005). Já no Brasil, a primeira obra, localizada na ilha de Fernando de
Noronha, foi estabelecida pelos norte-americanos apenas no século XX, mas
precisamente em 1943 (NETTO, 1991, pág.44-48 aput CARLON, 2005,
pág.29).

De acordo com estudiosos, de maneira geral ao longo da história, destacam-se


duas grandes circunstâncias de aplicação para a captação e o aproveitamento
de água de chuva: regiões de significativa pluviosidade (prevenção para
minimização de cheias), e regiões de grande escassez, onde o objetivo é
reservar a água das estações chuvosas para garantir a sobrevivência durante a
estiagem. Assim sendo, de acordo com Gnadlinger (2000 apud CARLON,
1999, pág.29) a coleta e o aproveitamento da água de chuva tem sido uma
técnica muito comum em diversas regiões do mundo, principalmente em
regiões áridas e semi-áridas (Figura 1).

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Figura 1 – Regiões áridas do globo. Aproximadamente 30% da superfície da terra


(Gnadlinger, 2000).

Modelos de captação e aproveitamento de águas pluviais surgiram de maneira


independente há milhares de anos e estão espalhados pelo mundo inteiro. A
China, por exemplo, utilizando técnicas de aproveitamento de água de chuva,
além de acabar com os obstáculos de abastecimento de água para a região,
trouxe benefícios sócio-econômicos para a população.

Nas últimas décadas do século XX, foi à vez da Índia descobrir e usufruir dos
benefícios das técnicas de captação de água de chuva. Foi através da
captação das águas pluviais que diversas cidades indianas deixaram de ser
meras importadoras de alimentos para se tornarem exportadoras. O centro
urbano indiano Gopalpura, situado em uma área propensa a secas, se
destacou nas práticas de captação de escoamento superficial e
progressivamente incentivou outras 650 cidades próximas a desenvolver
empenhos similares, resultando na elevação do nível do lençol freático,
rendimentos mais expressivos e mais estáveis provenientes das atividades
agrícolas, e redução das taxas de migração. Admirado com o sucesso da
experiência do uso de técnicas de captação de águas de chuva, o ministro
chefe do estado de Madhya Pradesh, ainda na Índia, repetiu a iniciativa em
7.827 cidades. O projeto atendia a quase 3,4 milhões de hectares de terra
entre 1995 e 1998 (WORLD WATER COUNCIL, 2000 apud CARLON, 2005).
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Em alguns países árabes - Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes, Iêmen,


Omã e Tunísia - onde a escassez de água é uma realidade, a captação e o
aproveitamento de águas pluviais são amplamente difundidos há milênios.
Nestes países utiliza-se o sistema de recarga de águas subterrâneas através
da construção de barragens que fazem parte de planos nacionais de
desenvolvimento (PETRY e BOERIU, 1998 apud CARLON, 2005).

Como demonstra a figura 2 abaixo, os Abanbars - tradicional sistema de


captação de água de chuva comunitário – podem ser facilmente localizados no
Irã. Há 2.000 anos existiu um sistema integrado de manejo de água de chuva e
agricultura de escoamento de água de chuva no deserto de Negev, hoje
território de Israel e Jordânia (GNADLINGER, 2000 apud CARLON, 2005).

Figura 2 – Abanbars, tradicional sistema de captação de água comunitário do Irã


(Gnadlinger, 2000 apud Carlon, 2005)

Em algumas regiões do Sri Lanka, embora exista um alto índice de precipitação


média no país, em função da sua variabilidade espacial, uma considerável
parcela da população sofre com a falta de água. Tradicionalmente, técnicas de
colheita de água de águas pluviais vêm sendo utilizadas por estas populações
para atender a usos domésticos, porém, a água não podia ser armazenada por
um longo período em função da deterioração de sua qualidade. A partir de
1995, um programa do governo federal foi iniciado para promover a construção

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de tanques de armazenamento de capacidade de 5.000 litros, providos de um


sistema de filtro, que garantia a qualidade adequada da água (ARIYABANDU
apud PALMIER apud CARLON, 2005).

Mais próximo do Brasil, destaca-se o México, considerado um país muito


abastado em antigas e tradicionais tecnologias de coleta de água da chuva,
datadas da época dos Astecas e Mayas. Ainda é possível verificar, as obras da
sociedade Maya, estabelecidas ao sul da cidade de Oxkutzcab. Nesta região,
no século X, realizava-se agricultura fundamentada no aproveitamento da água
de chuva. A água potável era fornecida por cisternas - com capacidade de
20.000 a 45.000 litros, chamadas Chultuns - aos habitantes que viviam nas
encostas (Figura 3 e 4).

Figura 3: Chultuns, cisternas em encostas com capacidade para 20.000 a 45.000 litros.
(Gnadlinger, 2000 apud Carlon, 2005) e Figura 4: Chultuns, cisternas para
abastecimento subterrâneo. Fonte: http://www.islc.net/%7Elesleyl/chultun.html

Com um raio de quase 2,5 metros, estas cisternas eram escavadas no subsolo
calcário, revestidas com reboco impermeável. Acima delas havia uma área de
captação de 100 a 200 m2. Nos vales usavam-se outros sistemas de captação
de água pluvial, como aguadas (reservatórios de água de chuva cavados
artificialmente com capacidade de 10 a 150 milhões de litros) e aquaditas
(pequenos reservatórios artificiais para 100 a 50.000 litros). Estas aguadas e
aquaditas eram utilizadas para irrigar árvores frutíferas e bosques além de
fornecer água para o plantio de verduras e milho em pequenas áreas. Grande
quantidade de água era armazenada, garantindo-se água até para períodos de
seca inesperados (GNADLINGER, 2000 apud CARLON, 2005).

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De acordo com Gnadliger (2000 apud CARLON, 2005, pág. 31), uma das
causas do desaparecimento dos sistemas de coleta de pluvial na península de
Yucatan, hoje México, foram as lutas entre os variados povos indígenas,
principalmente a invasão espanhola no Séc. XVI.

Os colonizadores espanhóis introduziram outro sistema de agricultura, vários


animais domésticos, plantas e métodos de construção europeus, que não eram
adaptados à realidade cultural e ambiental de Yucatan (CARLON, 2005).
Acontecimentos similares causaram também o abandono da coleta e
aproveitamento de água pluvial na Índia. O excessivo interesse por tributos do
sistema colonial britânico obrigou a população a abandonar o sistema de coleta
de água comunitário dos vilarejos, resultando assim na falência de um sistema
centenário.

Durante os séculos XIX e XX, o progresso técnico atingiu os países


desenvolvidos em zonas climáticas moderadas e úmidas, extinguindo deste
modo a necessidade de captação e aproveitamento de água de pluvial.
Práticas de agricultura de zonas climáticas moderadas foram expandidas paras
as zonas climáticas mais secas em decorrência da colonização. Existiu
também uma ênfase na construção de grandes barragens, no desenvolvimento
do aproveitamento de águas subterrâneas, e em projetos de irrigação
encanada, com altos custos (CARLON, 2005). Estas são apenas alguns
motivos da abdicação das tecnologias de captação e aproveitamento de água
pluvial no decorrer dos anos. A relevância da retomada desta pratica pode ser
observada através de alguns acontecimentos internacionais.

Em 1994, na cidade americana de Austin, Texas, foi formada a Associação


Americana de Captação de Água da Chuva e em abril de 1998 foi criada a
Associação Japonesa (GONDIM, 2001 apud CARLON, 2005). Em 1999, por
ocasião da “9º Conferência Internacional de Sistemas de Captação de Água da
Chuva” e do “2º Simpósio Brasileiro sobre Sistemas de Captação de Água de
Chuva” realizados simultaneamente em Petrolina, foi criada a Associação
Brasileira de Captação e Manejo de Água da Chuva (ABMAC) (SICKERMANN,
2002 apud CARLON, 2005). O 6º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de
Água de Chuva, cujo tema foi “Água de Chuva: Pesquisas, Políticas e
Desenvolvimento Sustentável”, foi realizado de 09 a 12 de julho de 2007, na
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cidade de Belo Horizonte, MG, e contou com a presença de mais de 160 (cento
e sessenta) participantes, dentre eles um palestrante e seis profissionais
estrangeiros, representantes de instituições governamentais, professores
universitários, pesquisadores, técnicos, empresários, estudantes e agricultores
e agricultoras, de diversos estados da Federação das regiões Nordeste,
Sudeste, Sul e Centro Oeste. O evento constou de mini-cursos, mesas
redondas, palestras e apresentação de artigos técnicos e científicos, além de
resultados de experiências práticas realizadas em todo país. Todas as
modalidades de apresentação foram seguidas de um extensivo debate. A partir
dos resultados apresentados e discutidos foi constatado significativo avanço no
conhecimento das potencialidades dos usos das técnicas de captação de água
de chuva no país, em geral, e, no Semi-Árido brasileiro, em particular.

De 21 a 23 de agosto de 2007 aconteceu em Sydney na Austrália a 13ª


Conferência Internacional sobre Sistemas de Captação e Manejo de Água de
Chuva. A entidade organizadora IRCSA - Associação Internacional de
Sistemas de Captação e Manejo de Água de Chuva - comemorou 25 anos de
atividade na promoção de água de chuva e escolheu a Austrália, o continente
mais seco, onde é difícil de conseguir água para beber. Por causa disso, a
água de chuva é usada desde os tempos da chegada do ser humano, 50 mil
anos atrás neste continente. Hoje, quatro milhões dos 20 milhões dos
habitantes tomam água de chuva diariamente e no estado da Austrália do Sul
são dois terços da população. Os sistemas de captação de água de chuva
normalmente são pequenos, descentralizados e possuídos pelos usuários.
Água de chuva é considerada como água de baixo risco de contaminação. O
tratamento, se necessário, é simples e deve ser aplicado não para o tanque
todo, mas antes de usar a água. O enfoque da conferência era a captação de
água de chuva em cidades. De 25 a 60 % da área das cidades é pavimentado,
o que leva a um rebaixamento do lençol freático contínuo e a uma elevação de
até seis graus de temperatura nas cidades. Nas cidades deve-se utilizar a água
de chuva, captando-a de telhados, para a recarga do lençol freático, aumento
da umidade do solo e para o manejo de enchentes. Em Sydney, por exemplo,
capta-se água de chuva de uma estação de estacionamento de carros em 30
cisternas de 20 mil litros e irriga-se o Jardim Chinês. A irrigação usa água

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demais dos rios. A indústria devia usar somente água reciclada. É preferível a
água de chuva à água de dessalinizadores, devido ao custo e por razões
ambientais (João Gnadlinger, ABCMAC).

C) Casos Recentes

Inúmeros modelos de aplicação de novas técnicas de captação e


aproveitamento de água pluvial podem ser encontrados em zonas urbanas no
continente europeu, principalmente na Alemanha. Inicialmente, estes sistemas
tinham como principal objetivo a minimização das freqüentes enchentes
urbanas, ocasionadas principalmente pela impermeabilização do solo.

Cerca de cinqüenta empresas européias são especializadas na fabricação de


equipamentos para coleta, filtragem e armazenamento da água pluvial. Só na
Alemanha, cerca de 100 mil sistemas de captação são instalados por ano,
sendo que a grande parte das novas construções adota o sistema e em alguns
municípios há incentivos por parte dos órgãos municipais (SICKERMANN,
2000 apud CARLON, 2005).

A Volkswagen AG, por exemplo, utiliza a água pluvial nas torres de


resfriamento em diversas unidades de produção na Alemanha e na Polônia,
suprindo 10% da demanda total. O Centro de Manutenção da Lufthansa-
Technik AG, em Hamburgo, na Alemanha, utiliza a água de pluvial
especialmente em serviços de lavagem de aeronaves e na seção de pinturas,
substituindo até 60% da demanda anteriormente suprida por água canalizada
(SICKERMANN, 2002 apud CARLON, 2005).

No ano de 2003, o projeto “Gol Verde” divulgado pela Alemanha, anfitriã da


Copa Mundial de Futebol em 2006, resultou em grandes esforços e
investimentos para minimizar ao máximo os impactos sobre o meio ambiente. A
captação da água de chuva foi apenas uma das ferramentas utilizadas no
grande evento esportivo, que objetivou suprir aproximadamente 20% do total
da demanda de água (CARLON, 2005).

Hoje, no Brasil, algumas empresas já perceberam a grande relevância que as


políticas sócio-ambientais exercem na manutenção e na expansão dos lucros
financeiros. Dentre estas políticas sócio-ambientais, destaca-se a captação e o
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aproveitamento de água pluvial, prática já adotada pela Ford do Brasil que em


alguns de seus processos internos.

Mais ao sul do país, em Ponta Grossa (PR), outra iniciativa chama a atenção.
Trata-se da maior produtora latino-americana de painéis de madeira, a
empresa chilena Masisa que com mais de um milhão de reais gastos em
investimentos, possui hoje um grande projeto de reutilização de águas pluviais.
Através do projeto, adota-se o aproveitamento da água em processos como
geração de vapor, diluição de resinas e limpeza de madeiras usadas no
processo de produção. Desta maneira, a água oriunda dos poços artesianos,
de melhor qualidade, seria destinada apenas para suprir o consumo humano
(GAZETA MERCANTIL, 2003 apud CARLON, 2005).

Figura 4 – Masisa, empresa chilena com reutilização de águas pluviais.

Integrando o Projeto Ecológico do plano de gestão ambiental da rede, a rede


Accor Hotéis desenvolveu no Hotel Íbis Paulínia, em São Paulo, técnicas de
aproveitamento de águas pluviais. O aproveitamento da água pluvial é
realizado paralelamente ao reuso da água de chuveiros e lavatórios nas
descargas dos vasos sanitários das unidades habitacionais, após ser
submetida a um tratamento de purificação. De acordo com os responsáveis, o
retorno do investimento para a reutilização das águas é de aproximadamente
um ano (HOTELNEWS, 2002 apud CARLON, 2005).

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O IPEC – Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado - é uma organização


estabelecida em Pirenópolis, Goiás, para desenvolver oportunidades de
educação e referências em sustentabilidade para o Brasil. O Ecocentro IPEC
mantém um centro de referência em que desenvolve soluções práticas para os
problemas atuais das populações brasileiras, incluindo estratégias de habitação
ecológica, saneamento responsável, energia renovável, segurança alimentar,
cuidado com a água e processos de educação de forma vivenciada
(ECOCENTRO, 2008).

O Ecocentro IPEC é totalmente responsável por toda a água que consome e


toda a água utilizada para o consumo humano vem da chuva. A água é
coletada dos telhados através das calhas, e, depois de filtrada, é armazenada
em tanques de ferrocimento onde fica estocada para o consumo por todo o
período da seca (ECOCENTRO, 2008).

Há cerca de seis anos, a instituição Escola Viva, que atende crianças da


Educação Infantil ao Ensino Fundamental, localizada na zona sul da capital,
colocou em prática os princípios ambientais e inaugurou o primeiro prédio
ecológico do Brasil. O edifício, situado no Itaim, foi construído de maneira que
os recursos naturais fossem aproveitados sem causar impacto ambiental. O
projeto engloba um grande coletor de água pluvial no telhado (KERR, 2003,
apud CARLON, 2005). A água de chuva, depois de passar por um pequeno
tratamento é usada nas descargas dos banheiros, na lavagem do pátio e para
regar o jardim (CAMPANILI, 2003 apud CARLON, 2005). A iniciativa foi
destaque nacional, ganhou o Prêmio Máster Imobiliário de 2001 e foi baseada
em processos ecológicos auto-sustentáveis (NA VERDE, 2003 apud CARLON,
2005).

O atual surgimento de Leis que tratam da captação de água da chuva para a


minimização de cheias em várias regiões do país, vem difundindo e valorizando
os sistemas de captação e aproveitamento de água de chuva.

É cada vez mais amplo o número de iniciativas e projetos voltados à captação


e aproveitamento de águas pluviais, visando, não só as reduções dos custos,
mas também a valorização dos recursos naturais.

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Desde 2001, uma idéia simples, implantada no Centro de Técnicas de


Construção Civil (CTCC) da Escola Politécnica da USP (Universidade de São
Paulo), vem mostrando resultados eficientes na conservação de água potável.
Trata-se de um sistema de coleta e aproveitamento de água de chuva para
consumo não potável em edificações. O objetivo é coletar e armazenar água
para ser utilizada na limpeza de vasos sanitários, irrigação de jardins, limpeza
de calçadas e pátios, lavagem de veículos, etc.

O sistema é composto, basicamente, por um coletor automático de amostras


seqüenciais de água de chuva e por três caixas d'água com capacidade para
500 litros cada uma. Após obter a água das chuvas com o coletor automático,
as amostras são levadas ao Instituto Adolfo Lutz onde são analisadas. A água
armazenada nos reservatórios destina-se a fazer a alimentação de dois vasos
sanitários do CTCC. De acordo com especialistas, estima-se que em uma
residência, por exemplo, cerca 35% do consumo total é utilizado em um único
vaso sanitário (Luiz Rafael Palmier, UFMG/Agência USP).

O aproveitamento da água de chuva também já é reconhecido um componente


importante para uma nova vertente da construção civil brasileira, o edifício que
engloba conceitos ecológicos. De acordo com a arquiteta Cláudia Andrade, da
empresa Saturno - Planejamento, Arquitetura e Consultoria, “Ao contrário do
que se imagina, a arquitetura ecológica não é um retorno às soluções
primitivas, mas sim a conjugação de recursos tecnológicos e naturais
admirados, sem ferir o ambiente e sem desperdiçar materiais, visando sempre
à otimização da qualidade de vida”. Assim sendo, o edifício ecológico é aquele
com projeto de arquitetura inteligente, que contempla um posicionamento
correto do edifício no terreno, tratamento das fachadas para controle do nível
de insolação e tratamento de materiais, utilizando sempre os recursos
tecnológicos quando os naturais não forem suficientes. Um dos fatores que
podem tornar um edifício ''verde'' é a gestão das águas que possibilite a
reutilização ou captação das águas das chuvas para uso em irrigação de
jardins e limpeza dos pisos. No Brasil, um exemplo recente é a nova sede do
BankBoston - projeto da Skidmore, Owings & Merrill LLP (SOM) e do escritório
do arquiteto Júlio Neves - é o primeiro edifício brasileiro a se encaixar
totalmente nos conceitos de “green building” (prédio verde). Proporcionando
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total conforto aos seus usuários, o empreendimento conta com sistema de ar-
condicionado que opera com gás de refrigeração; sistema de filtragem dupla
para renovação do ar interno; estação de tratamento que recupera as águas
residuais encontradas no solo; sistema de captação das águas pluviais,
amenizando os picos de cheias na região; lâmpadas de baixo consumo e
menor emissão de calor sem prejuízo do rendimento luminotécnico; fachadas
com vidros duplos de baixa emissividade; além de outros programas ainda em
fase de instalação, como reciclagem de lâmpadas, pilhas e baterias.

D) Legislação

Em algumas regiões do Globo, observa-se uma realidade bem diferente da


atual situação vivida no Brasil. Incentivos financeiros, como financiamentos, já
são oferecidos na Califórnia, Alemanha e Japão para a construção de sistemas
de captação de água pluvial. A pioneira cidade-estado alemã a instalar
sistemas de aproveitamento de água pluvial, foi Hamburgo, onde o governo
concedia cerca de US$ 1.500,00 a US$ 2.000,00 aos indivíduos que
aproveitasse a água pluvial. Segundo Tomaz (2003) em alguns centros
urbanos da Alemanha os usuários de águas de chuva são obrigados a
comunicar ao serviço de água municipal a quantidade estimada de água de
chuva que está sendo utilizada e os fins a que se destina. Em alguns casos
poderá ser cobrada a tarifa de esgoto sanitário.

Yamagata et al, (2002 apud CARLON, 2005) cita que no Japão o consumo de
água não potável em um edifício é de aproximadamente 30%. O regulamento
do governo metropolitano de Tokyo de 1984 obriga que todo prédio com área
construída maior que 30.000m2 ou quando o consumo do prédio for maior que
100m3/dia de água potável, que seja feito o aproveitamento da água de chuva
e/ou reuso dos esgotos sanitários (TOMAZ, 2005).

No Brasil, na cidade de São Paulo, a Lei Municipal nº13. 276, aprovada em 04


de janeiro de 2002, torna obrigatória a construção de reservatório para as
águas coletadas por coberturas e pavimentos nos lotes, edificados ou não, que
tenham área impermeabilizada superior a 500m2, como medida para a
diminuição de enchentes. A lei obriga a construção dos reservatórios para o
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armazenamento de águas de chuvas como condição para o Certificado de


Conclusão da Obra. A Lei municipal empregar como fórmula para o cálculo da
capacidade do reservatório a seguinte equação:

V = 0,15 × Ai × IP × t

Onde:

V = volume do reservatório (m3)

Ai = área impermeabilizada (m2)

IP = índice pluviométrico igual a 0,06 m/h

t = tempo de duração da chuva (em horas)

De acordo com a legislação, também é permitido, que a água do reservatório


seja despejada na rede pública de drenagem após uma hora de chuva, infiltrar-
se no solo ou ser conduzida para outro reservatório para ser utilizada para
finalidades não potáveis (SÃO PAULO, 2002 apud CARLON, 2005).

Já a nível estadual, desde 2 de janeiro de 2007, tornou-se obrigatória a


implantação de sistema para captação e retenção de águas pluviais coletadas
por telhados, coberturas, terraços e pavimentos descobertos, em lotes
edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a 500 m² no
Estado de São Paulo. É o que determina a Lei estadual 12.526/2007,
promulgada pela Assembléia Legislativa para a prevenção de enchentes. Para
obrigar à implantação do sistema, as aprovações e licenças para os
parcelamentos e desmembramentos do solo urbano, os projetos de habitação,
as instalações, as obras e outros empreendimentos ficam condicionados à
obediência ao disposto na lei.

O sistema de captação deve ser constituído de condutores e reservatório, com


a capacidade aferida de acordo com o cálculo fixado no artigo 2º da lei. No
caso de estacionamentos, 30% da área devem ser reservados para drenagem,
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seja sem piso, seja com o uso de pisos drenantes. A lei permite três destinos
para a água reservada: infiltração no solo; despejo na rede pública depois de
uma hora de chuva; e utilização para finalidades não potáveis, em edificações
que tenham instalações desse tipo (água de reuso, para regar jardins ou lavar
pisos, por exemplo) (Adriano Diogo, UNIAGUA).

Em 1997, através de um Projeto de Lei apresentado pelo vereador Adriano


Diogo, com a consultoria técnica do matemático Elair Antônio Padin, surgiu a
Lei nº 13.276 de São Paulo, a qual só vale para as edificações erguidas depois
da aprovação da mesma (MAGALHÃES, 2001 apud CARLON, 2005). Esta Lei
ficou conhecida como “Lei das Piscininhas”, em analogia aos reservatórios de
detenção já existentes na cidade, chamados de piscinões. Piscinão é uma
barragem utilizada para conter as enxurradas na época das chuvas fortes, o
qual funciona como um freio onde a água da chuva entra por uma abertura
maior e sai por uma menor, diminuindo a vazão (CARLON, 2005).

Já uma iniciativa diferente, surgiu no centro urbano de Santo André (SP). Neste
município a Lei Municipal nº 7.606, de 23 de dezembro de 1997 regulamenta a
cobrança de taxa referente ao volume de água lançado na rede de coleta de
água de chuva do município. Através do índice pluviométrico médio mensal do
município e da área coberta de cada imóvel, calcula-se o volume, de acordo
com a expressão numérica abaixo:

TD = p × V

Onde:

TD = taxa de drenagem (em unidade monetária vigente)

P = custo médio mensal, por m3 do sistema de drenagem


(em unidade monetária vigente)

V = volume lançado pelo imóvel (m3)

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O valor de “V” é calculado com base no coeficiente de impermeabilização, do


índice pluviométrico e da área coberta do imóvel (SANTO ANDRÉ, 1997 apud
CARLON, 2005).

No Código de Obras do Município de Guarulhos, a Lei nº 5617/97, traz no seu


“Apêndice A” a Lei referente aos reservatórios de detenção, definindo o
dimensionamento do reservatório de acordo da área do lote e possibilitando a
reutilização da água pluvial armazenada nestes reservatórios para a irrigação
de jardins, lavagens de passeio ou a sua utilização como água industrial. Já o
“Apêndice B” desta mesma Lei regulamenta o método não tradicional de
detenção em lotes exibindo uma planilha para o cálculo do dimensionamento
destes reservatórios (GUARULHOS, 2001 apud CARLON, 2005).

Cerca de 100 km da capital, na cidade de Campinas, existe o Projeto de Lei nº


204/02 que obriga a execução de reservatório para as águas coletadas por
coberturas e pavimentos nos lotes, edificados ou não, que possuam área
impermeabilizada superior a 500 m2. Neste caso, a fórmula adotada para o
dimensionamento da cisterna é a seguinte:

V = Ai × IP

Onde:

V = volume do reservatório (m3)

Ai = área impermeabilizada (m2)

IP = índice pluviométrico igual a 80 mm.

Esta iniciativa previa um prazo de até dois anos para que as edificações ou
lotes construídos ingressem no modo de captação proposto. Mais uma vez,
este projeto de Lei também foi orientado com base na proposta de Elair Antônio
Padin, que certificou o registro do projeto em Marcas e Patentes sob nº PI
9705539-5 (CAMPINAS, 2003 apud CARLON, 2005).
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Também na região sudeste, no município do Rio de Janeiro foi publicado no


Diário Oficial do Município o Decreto nº 23.940 que condiciona o recebimento
do habite-se à construção de reservatórios para captar água pluvial, requisição
que se aplica a prédios residenciais que tenham mais de 50 apartamentos e
também para imóveis com mais de 500 m2 de área impermeabilizada (SECOVI,
2004 apud CARLON, 2005). Um diferencial importante é que o decreto proíbe
qualquer comunicação entre o sistema de água pluvial com o de água potável
para evitar contaminação. Os locais descobertos para estacionamento ou
guarda de veículos para fins comerciais deverão ter 30% de sua área com piso
drenante ou área naturalmente permeável (GAZETA MERCANTIL, 2004 apud
CARLON, 2005).

A Lei nº 1620 de 23 de dezembro de 1997, do município de Niterói-RJ, que


determina as disposições relativas à aprovação de edificações residenciais
unifamiliares, institui no seu Artigo 19 a taxa de impermeabilização máxima de
90% para as edificações localizadas na Zona Urbana. De acordo com o § 2º,
estão liberadas da exigência de taxa de impermeabilização as edificações que
oferecerem soluções de acumulação e/ou aproveitamento de águas pluviais
(NITERÓI, 1997 apud CARLON, 2005).

No Plano Diretor de Praia Grande-SP, de 26 de dezembro de 1996, no Art. 79


que trata da drenagem urbana está definido que deverá ser dada especial
atenção “à proposição de medidas não estruturais que garantam a redução dos
picos de cheia, entre as quais se destaca a criação de incentivos, no caso de
obras particulares, e a adoção no caso de obras públicas, de maiores índices
de permeabilidade do solo e/ou de implantação de cisternas para retenção das
águas de chuva passíveis de utilização para rego e lavagem de pisos e
calçadas” (PRAIA GRANDE, 1996).

Outro Plano Diretor de destaque foi o Plano Diretor de Drenagem para a


Região de Curitiba da Superintendência de Desenvolvimento de Recursos
Hídricos e Saneamento Ambiental do Paraná (SUDERHSA), que introduziu um
novo conceito em matéria de drenagem, partindo do princípio de que as
grandes galerias pluviais não comportam todo o volume de água das chuvas
torrenciais, e transformou em Leis municipais as propostas de implantação de

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sistemas para captação de águas de chuva (RANGEL, 2001 apud CARLON,


2005).

No Brasil, a cidade de Curitiba, é reconhecida como a precursora das soluções


que buscam o equilíbrio entre o desenvolvimento urbano adequado e a
conservação e preservação do meio ambiente. Inicialmente, em 11/07/95,
editou a Lei 8681, a qual dispõe sobre a instalação de Postos de
Abastecimento de Combustível e Serviços e determina a obrigatoriedade em
executar medidas preventivas de proteção ao meio ambiente, especialmente
no sistema de armazenamento de combustíveis, e em seu Art. 9 º estabelece
que: "Os estabelecimentos que executarem lavagem de veículos, deverão
possuir uma cisterna para captação das águas pluviais, as quais deverão ser
utilizadas nos serviços de lavagem, ficando seus prazos e parâmetros a serem
definidos em legislação específica" (CURITIBA, 1995). Já, há
aproximadamente cinco anos, o município de Curitiba-PR, através da Lei nº
10.785/03 de 18 de setembro de 2003, criou também o reconhecido Programa
de Conservação e Uso Racional de Água nas Edificações – PURAE, o qual
visava incentivar à conservação, uso racional e utilização de fontes alternativas
para captação de água nas novas edificações, bem como a conscientização
dos usuários sobre a importância da conservação da água. O Art. 7º se destina
às praticas de captação e aproveitamento de água pluvial, determinando que
as águas das chuvas sejam captadas nas coberturas das edificações e
direcionadas a uma cisterna ou tanque, a fim de serem destinadas a atividades
que não exijam o uso de água tratada, proveniente da rede pública de
abastecimento, tais como: a) rega de jardins e hortas; b) lavagem de roupa; c)
lavagem de veículos; d) lavagem de vidros, calçadas e pisos.

Também inspirado pela aprovação do projeto de Lei de Curitiba, foi


apresentado em 25 de setembro de 2003 o Projeto de Lei nº 2003000158 de
autoria do vereador Clécio Alves, em Goiânia - GO, que estabelece um
programa de reaproveitamento de águas provenientes de lavatórios, banheiros,
chuvas e dá outras providências (GOIÂNIA, 2003 apud CARLON, 2005). O
projeto defende que as águas de reuso sejam utilizadas em descargas de
vasos sanitários e mictórios e que a própria prefeitura de Goiânia ofereça

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orientação técnica e que conceda incentivos aos donos de habitações que se


inscreverem no programa para realizar as adaptações de seus imóveis.

Existem espalhados por todo o Brasil, diversos estudos e até minutas de Lei
que almejam obrigar condomínios residenciais, industriais e comerciais a
armazenar a água pluvial a fim de conter as freqüentes e dispendiosas
enchentes nos centros urbanos. Observa-se também o empenho na
elaboração de eficientes normas referentes à quantia do terreno que deverá
não deverá ser impermeabilizada, a fim de favorecer a infiltração da água no
solo e a conseqüente recarga dos reservatórios subterrâneos.

A ausência de uma legislação técnica especifica para o reuso de água pluvial


no país se apresenta com um dos maiores obstáculos para a aprovação dos
projetos de Lei relacionados ao aproveitamento de água de chuva, pois resulta
em um cenário de grande dificuldade em relação ao estabelecimento dos
parâmetros para a sua regulamentação.

No momento, os estudiosos do assunto se encontram divididos. Uma parcela


dos pesquisadores defende que os parâmetros exigidos para fins não potáveis
para os quais a água pluvial seria empregada poderiam ser os mesmos
empregados para os testes de balneabilidade. Entretanto, existe uma outra
vertente de pesquisadores que afirmam que poderiam ser seguidas as normas
estabelecidas para reuso de esgoto doméstico ou com características similares
estabelecidas na NBR (Norma Brasileira) 13969:1997 que abordam do reuso
local. Esta norma determina que o esgoto tratado deva ser reutilizado para fins
que exigem qualidade de água não potável, mas sanitariamente segura, tais
como irrigação dos jardins, lavagem dos pisos e de veículos automotivos,
descarga de vasos sanitários, manutenção paisagística dos lagos e canais com
água, irrigação dos campos agrícolas e pastagens (ABNT, 1997).

A tabela a seguir, define, de acordo com a NBR 13969:1997, as seguintes


classificações e respectivos valores de parâmetros exigidos, conforme o reuso:

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Tabela 1 – Classificação das águas de reuso

USOS PARÂMETROS TRATAMENTO

Turbidez inferior a cinco;


Lavagem de carros e outros coliforme fecal inferior a São geralmente
usos que requerem o 200 NMP/100mL; necessários
contato direto do usuário
Sólidos dissolvidos totais tratamento aeróbio
Classe 1 com a água, com possível
inferior a 200mg/L; pH seguido por filtração
aspiração de aerossóis pelo
entre 6,0 e 8,0; cloro convencional e
operador, incluindo
residual entre 0,5 mg/L e cloração
chafarizes.
1,5 mg/L.

É satisfatório um
Lavagem de pisos, calçadas Turbidez inferior a cinco; tratamento biológico
e irrigação de jardins, aeróbio seguido de
Coliforme fecal inferior a
manutenção de lagos e filtração de areia e
Classe 2 500NMP/100mL;
canais para fins desinfecção. Pode-se
paisagísticos, exceto Cloro residual superior a também substituir a
chafarizes. 0,5mg/L. filtração por
membranas filtrantes.

Turbidez inferior a 10;


Tratamento aeróbio
Reuso nas descargas dos coliformes fecais
Classe 3 seguido de filtração e
vasos sanitários. inferiores a 500
desinfecção.
NMP*/100mL.

Irrigação de pomares,
cereais, forragens,
Coliforme fecal inferior a
pastagens para gados e
5000 NMP/100mL e
Classe 4 outros cultivos através de
oxigênio dissolvido acima
escoamento superficial ou
de 2,0 mg/L
por sistema de irrigação
pontual.

• NMP: Número Mais Provável. Técnica de quantificação de coliformes totais e fecais.

De acordo com o Ministério da Saúde, a Portaria nº 1.469, de 29 de dezembro


de 2000, estipula os procedimentos e responsabilidades relativas ao controle e
vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de
potabilidade. Esta Portaria dispõe também sobre as soluções alternativas de
abastecimento de água para consumo humano no item III, do Capítulo II de seu
Anexo: norma de qualidade da água para consumo humano. Todavia, no o uso
da água pluvial para consumo humano só deve ser uma opção a ser
considerada em casos onde o fornecimento de água tratada não supre a

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demanda, como ocorre na região do semi-árido nordestino (BRASIL, 2001


apud CARLON, 2005).

A coleta e aproveitamento da água de chuva também estão sendo tema de


normatização da Associação Brasileira de Normas Técnicas, que está em fase
de elaboração das normas para Captação e Uso Local de águas Pluviais, a
qual está sendo feita em conjunto com as normas de Uso Racional de Águas –
Métodos e Processo Educativo e com as normas de Reuso de Efluentes do
Sistema de Tratamento Local de Esgotos. A Comissão de Estudos da ABNT
está utilizando como referência o a norma alemã DIN 1989-1 do Deutsches
Institut für Normung e.V, aprovada em abril de 2002 e que trata de sistemas de
aproveitamento de águas pluviais: parte 1 – planejamento, execução, operação
e manutenção (DIN, 2002).

E) Tecnologias de Aproveitamento de Água Pluvial

A atual realidade dos recursos naturais no mundo, especialmente dos recursos


hídricos, varia consideravelmente de região para região. Entretanto, diversos
países já se vivem uma situação desafiadora, onde o consumo supera a
quantidade de água disponível. Mesmo em algumas regiões, onde a
disponibilidade de água é ampla, a ausência de um manejo adequado destes
recursos pode resultar em escassez no período de estiagem.

A ampliação do consumo doméstico e industrial de água, segundo Petry apud


Palmier apud Carlon (2005), sugere que os recursos hídricos superficiais e
subterrâneos deverão ser aproveitados de um modo mais efetivo e as soluções
exigem uma visão mais integrada da gestão de recursos hídricos. Este autor
acredita que o aumento da água disponível por ampliação da capacidade de
armazenamento seja um recurso indispensável para a problemática da
escassez. Uma alternativa utilizada em diversos locais baseia-se na
implantação de grandes barragens que, todavia, gera altos investimentos
econômicos e relevantes impactos ambientais, fato que vem acarretando na
diminuição na taxa de construção dessas obras. Assim sendo, pequenas
barragens, armazenamento de água em regiões pantanosas, recarga de
aqüíferos, tecnologias tradicionais de armazenamento em pequena escala e
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métodos de colheita de precipitações e vazões de água em cursos


intermitentes são algumas opções recomendadas.

Obviamente, existem hoje, diversas maneiras de superar os problemas


relacionados com a escassez de água, entretanto, grande parte destas
ferramentas ainda exige um elevado grau de investimento técnico-financeiro e
resulta em grandes conseqüências ambientais. Desta maneira, aparentemente,
apenas as nações mais desenvolvidas possuem condições de enfrentar a
problemática da escassez, usufruindo-se de métodos como a transposição de
bacias e construção de grandes reservatórios. Logo, os países em
desenvolvimento, ainda se apresentam como os mais vulneráveis ao problema
de falta de água, uma vez que raramente dispõem de condições econômicas
para mudar suas características de desenvolvimento.

Devido aos grandes obstáculos enfrentados para suprir o consumo humano de


água, os estudos e os investimentos nas técnicas de captação e
aproveitamento de água pluvial foram retomados e conseqüentemente as
técnicas de captação de água de chuva se diversificaram. Desta maneira, tanto
as nações desenvolvidas, como as nações em desenvolvimento, hoje, podem
utilizar técnicas alternativas de aproveitamento de água. Os princípios,
procedimento de construção, uso e manutenção estão disponíveis e existem
muitas opções distintas, podendo ser adequados às diferentes necessidades e
disponibilidade econômica.

Conhecidas atualmente com técnicas de gestão de águas de chuva, as


tradicionais técnicas de aproveitamento de água pluvial evoluíram em muitos
aspectos através, por exemplo, da utilização de recentes tecnologias e
materiais modernos. De acordo com Petry apud Palmier apud Carlon (2005) as
técnicas mais representativas da gestão das águas de chuva são: aumento da
precipitação, redução de evaporação, captação de água da chuva, captação de
água de escoamento superficial, recarga artificial de águas subterrâneas,
conservação da umidade em solos e gestão da água de chuva para a
agricultura; sendo que as duas primeiras técnicas têm aplicação muito limitada.
(CARLON, 2005)

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De acordo com Barros (2000, apud CARLON, 2005) e com o depoimento dos
usuários da unidade demonstrativa instalada no município de Sete Lagoas, de
fato, a construção de pequenas barragens superficiais de até 2,5 metros, de
forma sucessiva em encostas, de forma a conter enxurradas e elevar a recarga
das reservas subterrâneas assegura a elevação do nível d’água verificado nas
cisternas (PALMIER, 2001 apud CARLON, 2005). Para que um sistema de
captação de água de chuva funcione, é necessário um planejamento do
mesmo, o qual envolve uma relação entre a área de captação e o volume a
armazenar. Através desta relação, é possível reservar um suprimento viável
que possibilita ao usuário desenhar a opção menos cara.

Basicamente, a viabilidade da implantação de sistema de captação e


aproveitamento de água de chuva depende do índice de precipitação do local,
da área de captação e da demanda de água. Entretanto, as condições
ambientais locais, clima, fatores econômicos, finalidade e usos da água,
também devem ser considerados para a elaboração de um eficiente projeto.

Dependendo da quantidade de água que se deseja drenar, a área de captação


pose ser o próprio solo (macro-drenagem) ou a área de telhado nos sistemas
particulares (GONDIM, 2001 apud CARLON, 2005). Na macro-drenagem
observa-se uma retenção de um grande volume de água quando o fluxo se
apresenta bastante intenso. Entretanto, apresenta três grandes desvantagens:
exige prévio tratamento da água, sua implantação exige altos investimentos
financeiros e ocupa uma considerável área urbana. O lago do Parque Barigüi, o
qual derrama a água no rio Barigüi, em Curitiba, e se apresenta como um
grande acumulador de água é um exemplo de macro-drenagem envolvendo
grandes bacias de retenção (RANGEL, 2001 apud CARLON, 2005).

Tanto o sistema de abastecimento de água pluvial pode ser complementado


por sistemas de aproveitamento de diferentes fontes, como ele mesmo pode
complementar estes diferentes sistemas, evitando desta maneira, a
dependência de uma única fonte. A utilização de água pluvial diminui não só o
gasto com energia, mas também os gastos relativos ao tratamento em
sistemas com dupla fonte (NETTO, 1991 apud CARLON, 2005).

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Desta maneira, as águas pluviais podem ser utilizadas como manancial


abastecedor, sendo armazenada em cisternas, as quais são definidas como
reservatórios, que acumulam a água pluvial coletada na superfície dos telhados
das edificações, ou a que escoa pelo terreno. De maneira geral, as cisternas
possuem grande aplicação em regiões de grande pluviosidade ou em caso de
relevante escassez para consumo humano, como o sertão nordestino. Outra
técnica de captação e aproveitamento de água de chuva se baseia na captação
em pátios ou em áreas inclinadas guarnecidas com lajes de concreto e o
armazenamento em tanques subterrâneos, como ocorre na nação Chinesa. Na
China, esta água se destina à irrigação de culturas comercializáveis como
verduras, ervas medicinais, flores e árvores frutíferas (GNADLINGER, 2000
apud CARLON, 2005).

Represas cavadas manualmente na rocha são encontradas em certas regiões


semi-áridas, onde a água é geralmente usada para os animais. As paredes das
barragens subterrâneas - armazenam a água do escoamento para uso
posterior - são construídas para baixo da superfície do chão em solo raso, em
direção ao subsolo cristalino impermeável. Desta maneira estas represas
captam a água de escoamento de uma grande área natural de captação
superficial (GNADLINGER, 2000 apud CARLON, 2005).

Segundo May (2004 apud CARLON, 2005), os sistemas de coleta e


aproveitamento de água de chuva em edificações são formados por quatro
componentes básicos: áreas de coleta; condutores; armazenamento e
tratamento. Na figura abaixo, tem-se um sistema de captação e aproveitamento
de água pluvial, no qual a água é coletada pela superfície do telhado e
armazenada em uma cisterna após passar por um processo de filtragem.

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Figura 5 – Esquema de funcionamento de sistema aproveitamento de água de chuva


(BELLA CALHA, 2007).

O funcionamento de um sistema de coleta e aproveitamento de água de pluvial


consiste de maneira geral, na captação da água da chuva que cai sobre os
telhados ou lajes da edificação. A água é conduzida até o local de
armazenamento através de calhas, condutores horizontais e verticais,
passando por equipamentos de filtragem e descarte de impurezas. Em alguns
sistemas é utilizado dispositivo desviador das primeiras águas de chuva. Após
passar pelo filtro, a água é armazenada geralmente em reservatório enterrado
(cisterna), e bombeada a um segundo reservatório (elevado), do qual as
tubulações específicas de água pluvial irão distribuí-la para o consumo não
potável, tais como nos vasos sanitários, máquina de lavar roupas e torneira do
jardim. A água da chuva é armazenada separadamente da água da rede de
distribuição (CARLON, 2005).

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Figura 6 - Desviador das águas das primeiras chuvas com válvula de desvio horizontal
(SAFERAIN, 2007 apud MARINOSKI, 2007).

Figura 7– Desviador das águas das primeiras chuvas com válvula de desvio vertical
(SAFERAIN, 2007 apud MARINOSKI, 2007).

Como já foi citado anteriormente, existem muitas variações técnicas e


financeiras para os sistemas de captação e aproveitamento de água de chuva.
Sistemas mais simples podem ser elaborados a fim de minimizar os custos de
implantação. Cada sistema e cada material utilizado devem ser adaptados para
cada situação.

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As calhas utilizadas para captar a água do telhado variam muito no tipo de


material, desde os mais específicos até materiais alternativos comumente
usados no semi-árido como canos de PVC cortados ao meio, folhas de zinco,
como mostra a figura 9, dobradas em forma de “L”, até latas de óleo ou
madeira (GNADLINGER, 1999 apud CARLON, 2005).

Figura 8 – calha de concreto foi demolida e substituída por uma calha de zinco apoiada em
suportes apropriados nas respectivas lajes. Fonte: PICASA, 2008.

Calhas de alumínio, metal galvanizado (pintado ou esmaltado com tintas não


tóxicas) ou de plástico (PVC), que possuem uma tela fina cobrindo a sua
abertura para separar as folhas, gravetos e outros materiais depositados no
telhado no período entre chuvas, já são utilizadas em sistemas mais
elaborados e dispendiosos. Alumínio e metal galvanizado são recomendados
por sua resistência à corrosão, sendo as calhas de plástico mais baratas e com
bom desempenho para áreas de telhado pequenas (GONÇALVEZ, 2001 apud
CARLON, 2005). É recomendado que as calhas sejam fabricadas com
materiais inertes, como PVC ou outros tipos de plásticos, evitando assim, que
partículas tóxicas provenientes destes dispositivos venham a ser levadas para
os tanques de armazenagem (MACOMBER, 2001 apud CARLON, 2005).
Outros exemplos de materiais utilizados em áreas de captação de água de
chuva são: superfícies de concreto, cerâmicas, policarbonato e fibra de vidro.

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É importante ressaltar que, de acordo com o Projeto de Norma Brasileira de


“Aproveitamento de água de chuva para fins não potáveis em áreas urbanas”,
as calhas e os condutores horizontais e verticais devem atender a ABNT NBR
10844. Também deve ser instalado no sistema, um dispositivo para descarte
da água de escoamento inicial, de preferência, automático, o qual na falta de
dados, recomenda-se uma dimensão de no mínimo 2 mm. Conforme ABNT
NBR 12213, o Projeto da Norma também exige a instalação de dispositivos
para remoção de detritos, como por exemplo, grades e telas.

Já existe no mercado materiais específicos para a prática da captação de água


de chuva. O sistema de aproveitamento de água Acqua Save, por exemplo,
consiste em substituir o uso de água tratada para fins não potáveis. O Acqua
Save é fabricado no Brasil também pela Bella Calha, que utiliza tecnologia
alemã desenvolvida pela 3P Technik, tradicional empresa européia no setor. O
sistema é constituído por cinco peças básicas, e pode ser encontrado nas
versões industrial ou residencial. O Kit Residencial, por exemplo, prevê a
utilização do telhado e calhas como captadores da água de chuva, que é
dirigida para um filtro autolimpante e levada para uma cisterna ou tanque
subterrâneo. Para essa finalidade, tem-se modelo exclusivo de cisterna que
forma com o filtro um conjunto eficiente e simples de instalar, mesmo sob a
terra. Para evitar que a sedimentação do fundo da cisterna se misture com a
água, esta é canalizada até o fundo, onde por meio de um "freio d'água" ela
brota sem causar ondulações. Estocada ao abrigo da luz e do calor, a água se
mantém livre de bactérias e algas. Uma outra parte do sistema cuida de sugar
a água armazenada de pontos logo abaixo da superfície, para não movimentar
eventuais resíduos.

O sistema pode ser aplicado tanto em residências em construção - pode ser


feito um sistema paralelo ao da água da rua - e incluir o uso em descarga de
banheiros, lavagem de roupa e torneiras externas, como em casas já
construídas. Onde não se quer ou não for possível mexer nas instalações
existentes, é possível aproveitar a água de chuva para jardins, piscina, limpeza
de calçadas, para lavar carros, entre outros usos. De acordo com o website da
empresa, os itens do kit para residência são: filtro VF1, Bóia-Mangueira, Sifão-
ladrão e Freio d´Água.
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E1) Tipos Reservatórios de Água Pluvial

Sendo o reservatório um elemento essencial de um sistema de captação e


aproveitamento de água de chuva, no seu dimensionamento devem constar
alguns importantes critérios, tais como: custos totais de implantação, demanda
de água, áreas de captação, regime pluviométrico e confiabilidade requerida
para o sistema. Ressalta-se que, a distribuição temporal anual das chuvas é
uma importante variável a ser considerada no dimensionamento do reservatório
(CASA EFICIENTE, 2007).

Os critérios acima citados são relevantes, pois, geralmente, o reservatório de


armazenamento é o elemento que exige maiores investimentos financeiros.
Assim sendo, o dimensionamento incorreto do reservatório poderia facilmente
inviabilizar toda a implantação do sistema de aproveitamento de água pluvial.
De acordo com o volume obtido no cálculo e das condições do local, o
armazenamento da água de chuva poderá ser realizado para atender a
demanda em períodos curtos, médios ou longos de estiagem (MAY et al., 2004
apud CARLON, 2005).

O volume de água de chuva que pode ser armazenada depende do tamanho


da área de captação, da precipitação pluviométrica do local e do coeficiente de
escoamento superficial, também chamado de coeficiente de runoff. Como a
quantidade de água de chuva que pode ser aproveitada não é a mesma que
precipitada, o coeficiente de escoamento superficial indica o percentual de
água de chuva que será armazenada, considerando a água que será perdida
devido à limpeza do telhado, evaporação e outros (TOMAZ, 2003 apud
CARLON, 2005).

De acordo com as características locais e de acordo com as especificidades de


uso, o reservatório de armazenamento pode ser elevado, enterrado ou sobre o
solo. Uma grande vantagem do reservatório elevado é a inexistência de um
sistema de bombeamento de água para o abastecimento da edificação,
entretanto, exige uma estrutura para sustentação. Já nos outros dois tipos de
reservatórios, sobre ou sob o solo, acontece o inverso, ou seja, não é neces-
sária estrutura de sustentação, porém o abastecimento exige bombeamento ou
acesso facilitado à água (MANO, 2004 apud CARLON, 2005).

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Normalmente, concreto, madeira, fibra de vidro, aço inoxidável e polietileno são


os materiais utilizados na construção dos reservatórios. Todavia, a seleção do
material adequado depende, principalmente, da finalidade do uso da água, pois
os mesmos apresentam grandes variações em relação à durabilidade, à
segurança e ao custo.

Os reservatórios freqüentemente utilizados para o armazenamento de água


pluvial são as cisternas, as quais se caracterizam por apresentarem: poço de
inspeção, tubo de ventilação, dispositivo para limpeza e um tubo de descarga.
Através de investimentos em tecnologias modernas, é possível automatizar o
sistema utilizando-se bóias eletrônicas. Uma bomba de pressurização
dimensionada conforme a edificação é necessária para a alimentação do
reservatório superior de água pluvial, que deve ser separado do
armazenamento da água potável, a fim de evitar contaminação (MARINOSKI,
2007)

SIMIONI et al. (2004 apud MARINOSKI, 2007) ressaltam a importância de se


manter o reservatório superior de água pluvial fechado, evitando-se a
contaminação da água por pássaros, insetos e outros animais, e, além disso,
devem receber limpeza periódica. A tubulação de saída para consumo deve
estar aproximadamente 10 cm acima da base do reservatório. Recomenda-se
também utilizar na edificação uma tubulação com cor diferente para consumo
de água pluvial, separando-a da tubulação de água potável (MARINOSKI,
2007).

A ausência de luz e de calor retarda a ação de microorganismos, como as


bactérias, que podem ser prejudicial à qualidade da água armazenada. Assim
sendo, a cisterna subterrânea geralmente se apresenta como a melhor forma
de armazenamento. Normalmente, qualquer material impermeável e não tóxico
como, tanques de polietileno, fibra de vidro, aço inox ou concreto pode ser
usado. As cisternas maiores são geralmente construídas de concreto que
ainda apresentam o benefício de neutralizar a acidez da água da chuva
(GONÇALVEZ, 2001 caput CARLON, 2005).

Entretanto, de acordo com Carlon (2005), apesar das cisternas enterradas


serem consideradas as mais apropriadas e apresentarem um investimento

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financeiro consideravelmente mais baixo (cerca de 50%) a maioria dos


usuários (aproximadamente 80%) preferem as cisternas apoiadas. Através da
tabela abaixo, é possível comparar as principais vantagens e as desvantagens
das cisternas enterradas em relação às cisternas apoiadas:

Tabela 2 Adaptada: Vantagens e Desvantagens dos diferentes tipos de cisternas. Fonte


DTU, 2003 apud CARLON, 2005.

Vantagens Desvantagens

a) Facilita a verificação de a) Necessita de espaço


rachaduras e vazamentos b) Normalmente é mais cara
Cisternas b) À retirada de água pode ser feita c) É danificada mais facilmente
Apoiadas pela gravidade d) Está sujeita ao ataque de
c) Pode ser elevada para aumentar intempéries e)
a pressão de água Uma falha pode ser perigosa

a) A retirada de água é mais difícil


requerendo bombas e encanamentos
b) Rachaduras e vazamentos são de
difícil detecção
a) As paredes podem ser mais
c) É maior a possibilidade de
finas, diminuindo os custos
contaminação pela água proveniente
b) É mais difícil deixar esvaziar por
do solo ou de inundações
descuido, deixando a torneira
d) A estrutura pode ser danificada por
Cisternas aberta
raízes e árvores
Enterradas c) Não requer muito espaço
e) Se o tanque não for devidamente
d) A água se mantém a uma
coberto pode apresentar riscos de
temperatura mais baixa
acidentes com crianças, ou ser
e) Alguns usuários preferem porque
contaminada por pequenos animais
se assemelha a um poço
f) Pode acontecer de veículos pesados
danificarem a cisterna
g) É mais difícil ser esvaziada para
limpeza

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Em áreas rurais, do nordeste brasileiro, existem mais de um tipo de


reservatório sendo utilizado visando resolver e/ou minimizar a falta de água
potável para a população. De acordo com Gnadlinger (2000 apud CARLON,
2005), a cisterna de placa de concreto com tela de arame, fortificada com
arame galvanizado e rebocada por dentro e por fora, tem sido a mais
construída.

Figura 9- Etapas de Construção de uma cisterna de placas de concreto.

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social, 2008.

Todavia, a cisterna de placas de concreto, possui algumas limitações. A


aderência entre as placas de concreto algumas vezes pode ser fraca
resultando em rachaduras e conseqüentemente vazamento de água. Visando
esta limitação, a cisterna de concreto com tela de arame, que utiliza uma fôrma
durante a primeira fase de construção, pode vir a ser o modelo mais apropriado
para a região. Este tipo de cisterna, além de apresentar grande facilidade de
reparação, raramente apresenta vazamentos e é também apropriada para
programas de construção de cisternas.

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Figura 10 - Cisterna de concreto com tela de arame. Fonte: Defesa Civil, 2008.

A cisterna enterrada feita de tijolos e argamassa de cal, segundo Gnadlinger


(1999 apud CARLON, 2005), também é uma alternativa viável para o semi-
árido brasileiro. Uma grande vantagem deste modelo de reservatório é que,
exceto alguns quilos de cimento, todo o material de construção pode ser
produzido pelo próprio agricultor.

Figura 11: Cisterna enterrada de tijolo e cal. (GNADLIGER,1999 apud CARLON, 2005).

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Outro tipo de reservatório, bastante difundidos em várias regiões do globo, são


os tanques metálicos, que apresentam o grande diferencial de poderem ser
transportados até o local desejado e de serem armados rapidamente por um
indivíduo especialista. Além do mais, este tipo de reservatório não exige uma
fundação extremamente firme, pois a estrutura metálica já oferece o suporte
necessário.

Figura 12: Grande Tanque Metálico em área rural da Austrália.

(DTU, 2003 apud CARLON, 2005)

Problemas com corrosão no fundo do tanque, depois de certo período, são


observados geralmente em países em desenvolvimento. A construção de um
reforço de metal ao redor da base do tanque pode resolver este problema, mas
isso já faz com que a aceitação dos tanques de metal seja menor. Este
problema dificilmente aparece nos tanques fabricados nos países
desenvolvidos já que os mesmos normalmente recebem uma camada plástica
no seu interior (DTU, 2003 apud CARLON, 2005).

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Figura 13 - Detalhe de corrosão em tanque metálico de parede simples.

Confeccionadas em uma única peça, as cisternas modernas além de se


apresentam mais estanques e higiênicas, possuem uma função dupla: uma
parte da água fica armazenada para ser utilizada posteriormente e outra parte
da cisterna funciona como “buffer”, liberando a água da chuva em uma vazão
controlada após o término da precipitação. Na entrada da cisterna sugere-se a
colocação de um “freio d’água”, para não agitar a água armazenada, prejudi-
cando o processo de sedimentação (3P Technik, 2002 apud CARLON, 2005).

Figura 14: Cisterna com reservatório duplo, para armazenamento temporário da chuva.
Em detalhe, mecanismo desenvolvido para garantir um fluxo de abastecimento
contínuo, independente do volume acumulado na cisterna. (3PTechnik, 2002 apud
CARLON, 2005)

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Depois de desenvolvidas e utilizadas há mais de 20 anos na Alemanha, uma


empresa brasileira, a Metalúrgica Cacupé, de Florianópolis distribui e
providencia a instalação de sistemas de coleta, filtragem e armazenamento da
água de chuva. A empresa lançou no mercado um novo modelo de cisterna
enterrável, feita em polietileno, com grande resistência e baixo peso. O modelo
para cinco mil litros pesa apenas 230 quilos e pode ser assentado diretamente
no solo (CACUPÉ, 2003 apud CARLON, 2005).

Figura 15: Cisterna enterrável. (CACUPÉ, 2003 apud CARLON, 2005)

A empresa AcquaSave também dispõe de cisterna enterrável, sem


necessidade caixa de alvenaria para suportar pressão, com capacidade para
5000 litros feita em polietileno.

Figura 16 - Cisterna Enterrável, AcquaSave.


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Em 2006, a Prefeitura e a Defesa Civil de Montes Claros, município localizado


no estado de Minas Gerais, instalou cisternas plásticas de vinil em dez
comunidades rurais do município. Cada cisterna plástica de vinil, que faz a
captação de água de chuva através de calhas, tem capacidade para oito mil
litros.

Figura 17: Cisternas plásticas de vinil. Fonte: Montes Claros, 2008.

Também em Oregon, província localizada no oeste dos Estados Unidos, são


utilizadas cisternas plásticas para armazenamento de água pluvial. O método
utilizado para a desinfecção da água é através de luz ultravioleta com
capacidade para esterilizar cerca de 38 L/min. O sistema também conta com
filtros, bomba para elevar a água e um equipamento redutor de pressão para
evitar que a água de chuva entre em contato com a rede de distribuição
(EXPERIMENTS...,2003 apud CARLON, 2005).

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Figura 18: Cisterna plástica utilizada em Oregon. (EXPERIMENTS...,2003 apud


CARLON, 2005)

A linha de cisternas Acqualimp contempla os lançamentos Cisterna Água de


Chuva e Cisterna para Água Rede Pública. Produzidas em polietileno de alta
densidade, as cisternas foram projetadas para suportar as pressões do solo.
Possuem placas planas para instalação de flanges de entrada e saída, além de
prever placas intermediárias que permitem a formação de reservas de incêndio
e consumo geral no mesmo reservatório. O produto tem tampa click, com
vedação total, e camada antibacteriana que não permite a proliferação de
bactérias. As cisternas têm capacidade de armazenamento de 2.800, 5.000 e
10.000 litros de água.

Figura 19: Cisternas Acqualimp, Produzidas em polietileno de alta densidade


Fonte: http://www.informativosbc.com.br/novidades/acqualimp.htm

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Os tanques de plástico são comuns em países desenvolvidos, com a


Alemanha, e estão em crescente desenvolvimento, disputando o mercado com
materiais mais tradicionais como o cimento ou metal (CARLON, 2005).

Nos países em desenvolvimento este material não é muito empregado pelo seu
alto custo, no entanto esta situação está se modificando. No Sri Lanka e na
África do Sul, por exemplo, já se encontram os tanques de plástico com preços
acessíveis (DTU, 2003 apud CARLON, 2005).

Outro método de aproveitamento de água pluvial consiste basicamente na


simples na colocação de um barril, que pode ser plástico ou metálico, na
descida das calhas que coletam a água do telhado. Este barril fica apoiado
sobre o solo e possui uma torneira por onde é retirada a água (CARLON,
2005).

Os reservatórios para o armazenamento da água da chuva também podem ser


construídos enterrados ou a nível do solo, revestidos com lona de PVC
(policloreto de vinila) ou PEAD ( polietileno de alta densidade). Na figura
abaixo, observa-se a construção do reservatório de água em PVC.

Figura 20 – Cisternas construídas em PVC. Fonte: UNC, SC.

Outra alternativa são os reservatórios de fibra de vidro, para o armazenamento


da água da chuva, que também podem ser enterrados ou a nível do solo. Na
Figura 21, observa-se um reservatório construído em fibra de vidro, para o
armazenamento da água da chuva.

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Figura 21 – Reservatórios de Fibra de Vidro. Fonte: UNC, SC.

A título de exemplificação, tem-se a cidade de Vancouver, na costa oeste do


Canadá, que possui um programa piloto para a conservação da água que
subsidia a compra de barris para armazenar a água pluvial. Esta água é
aproveitada somente para a rega de gramados e jardins onde, segundo os
dados do projeto, é consumida cerca de 40% de toda a água de uso doméstico
durante o verão. O barril é de fácil instalação e já vem com saídas para
regadores, mangueiras, e sistema que impede a abertura por crianças (WATER
CONSERVATION HOTLINE, 2003 apud CARLON, 2005).

Ainda hoje, os reservatórios mais largamente empregados em todo o mundo


são os barris de óleo. Todavia, é necessário realizar alguns procedimentos
para a utilização segura destes barris. Alguns deles eram utilizados
anteriormente para transportar produtos químicos, muitas vezes tóxicos; outros
não possuem condições de serem devidamente tampados, oferecendo riscos
para a qualidade da água e favorecendo o desenvolvimento de mosquitos; a
retirada da água pode ser um problema caso não sejam feitas as adaptações
para instalação das saídas para torneira, mangueira e extravasor. (CARLON,
2005)

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Figura 22: Barril para captação de água da chuva através das caleiras.
Fonte: http://nelson-avelar.planetaclix.pt/permacultura/agua/p_exe_ag_ch.htm

Se forem tomados os devidos cuidados referentes a estes aspectos, os barris


podem ser uma alternativa de baixo custo para o armazenamento de pequenos
volumes de água de chuva (DTU, 2003 apud CARLON, 2005).

Figura 23: Barril utilizado para armazenamento de água de chuva.


Fonte:<http://www.aquahobby.com/phpBB2/viewtopic.php?t=45065&postdays=0&post
order=asc&start=10>.

De acordo com o Projeto de Norma Brasileira de “Aproveitamento de água de


chuva para fins não potáveis em áreas urbanas”, os reservatórios devem
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atender a ABNT NBR 12217 e devem ser considerados no projeto extravasor,


descarga de fundo, cobertura, inspeção, ventilação e segurança. É
recomendado também que, se o reservatório for alimentado com água de outra
fonte de suprimento de água, deve possuir dispositivos que impeçam a
conexão cruzada.

E2) Dimensionamento do Reservatório

Para o adequado dimensionamento de uma cisterna, deve-se considerar, antes


de qualquer coisa, a finalidade de cada reservatório. Existem grandes
diferenças no dimensionamento de um reservatório que visa o uso da água de
chuva e de um reservatório que apenas pretende minimizar os efeitos adversos
das inundações.

Reservatórios que visam à minimização de enchentes, para cumprir com


eficiência a sua função, devem ficar vazios para a próxima chuva. Já
reservatórios que visem à captação da água pluvial para aproveitamento, têm
sempre que reter um pouco de água para uso (TOMAZ, 2003 apud CARLON,
2005). Assim sendo, uma alternativa a ser considerada é a implantação
simultânea dos dois tipos de reservatórios, sendo um para aproveitamento e
outro para controle de enchentes.

Em várias regiões do mundo, como nos Estados Unidos e alguns países da


Ásia, é comum o sistema de abastecimento individual de casas com água
pluvial, utilizando-se os telhados como área de coleta (CARLON, 2005).

O Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos recomenda que seja feito o
cálculo para o dimensionamento da cisterna, em função da área disponível de
telhado e considerando o aproveitamento total de precipitações de 760 mm/ano
(Tabela 3).

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Tabela 3 – Dimensionamento do Filtro e reserva em função da área de telhado. Fonte:


AZEVEDO NETTO, 1991.

Área de telhado (m2) Filtro (m) Reserva (m3)

37 1,00 X 1,00 28,4

56 1,20 X 1,65 42,6

74 1,45 X 1,20 57,3

93 1,45 X 1,80 71,2

112 1,80 X 1,80 85,5

Segundo Netto (1991 apud CARLON, 2005) “Em condições mais favoráveis de
pluviosidade poder-se-ia reduzir o volume de reserva”.

No dimensionamento de sistemas de coleta e armazenamento de água de


chuva, de acordo com Yuri (2003 apud CARLON, 2005), devem-se efetuar,
basicamente, três cálculos:

1) Definição da área de captação;

2) Definição de consumo diário;

3) Definição do volume do reservatório.

Outra informação relevante consiste na determinação dos períodos de


estiagem na região de estudo, que podem ser obtidos através de uma análise
estatística dos períodos diários consecutivos sem precipitações (YURI, 2003
apud CARLON, 2005).

Desta forma, segundo Yuri (2003 apud CARLON, 2005), para o


dimensionamento do volume total de água necessário, pode-se empregar a
seguinte fórmula:

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Vt = (((N × S) × U) × 1,1) × 10-3

Onde:

Vt = volume total do reservatório (L)

N = nº de consumidores

S = consumo per capita (L)

U = período de estiagem (dias)

Já, outra fórmula utilizada pelo Eng. Plínio Tomaz em seu livro “Conservação
da Água” e mencionada por Sickermann (2002 apud CARLON, 2005) para
calcular qual o volume de água que poderia ser captado de acordo com a
pluviosidade local e a área de captação:

Q=P×A×C

Onde:

Q = volume anual de água (m3)

P = precipitação anual (mm ou L/m2)

A = área projetada da cobertura (m2)

C = coeficiente de escoamento superficial (runoff)

É importante ressaltar que a distribuição pluvial não é constante ao longo do


ano, o que exige o cálculo da precipitação separado para cada mês, utilizando
como valores de precipitação o histórico de anos anteriores.
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O coeficiente de escoamento superficial (C) é utilizado porque, para efeito de


cálculo, o volume de água de chuva que pode ser aproveitado não é o mesmo
que o precipitado. O coeficiente de escoamento superficial pode variar de 0,90
a 0,67. O valor de perda de água de chuva que irá ser considerado é devido à
limpeza do telhado, perda por evaporação, material do qual o telhado é
confeccionado e outras (TOMAZ, 2003 apud CARLON, 2005).

De acordo com Plínio Tomaz (2003 apud CARLON, 2005) o valor adotado para
o coeficiente de runoff varia consideravelmente nas diferentes regiões,
entretanto indica que o melhor valor a ser adotado como coeficiente de runoff é
C = 0,80, que significa uma perda de 20%. Plínio Tomaz (2003 apud CARLON,
2005) também sugere em seu livro “Aproveitamento de Água de Chuva” uma
série de cálculos que possibilitam o dimensionamento da cisterna envolvendo
vários aspectos, como o número médio de dias sem chuvas, as precipitações
médias mensais, o consumo mensal máximo e sugere que também seja levado
em consideração o custo de instalação do sistema.

MÉTODOS DE CÁLCULOS PARA DIMENSIONAMENTO DOS RESERVATÓRIOS

De acordo com o Projeto de Brasileira de “Aproveitamento de água de chuva


para fins não potáveis em áreas urbanas – Diretrizes”, para o cálculo do
dimensionamento do reservatório de água de chuva, pode-se utilizar um dos
seguintes métodos:

M1) Método de Rippl

Neste método podem-se usar as séries históricas mensais ou diárias.

S (t) = D (t) – Q (t)

Q (t) = C x precipitação da chuva (t) x área de captação

V = Σ S (t), somente para valores S (t) > 0

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Sendo que: Σ D (t) < Σ Q (t)

Onde:

S (t) é o volume de água no reservatório no tempo t;

Q (t) é o volume de chuva aproveitável no tempo t;

D (t) é a demanda ou consumo no tempo t;

V é o volume do reservatório;

C é o coeficiente de escoamento superficial.

M2) Método da simulação

Neste método a evaporação da água não deve ser levada em conta. Para um
determinado mês, aplica-se a equação da continuidade a um reservatório finito:

S (t) = Q (t) + S (t-1) – D (t)

Q (t) = C x precipitação da chuva (t) x área de captação

Sendo que: 0 ≤ S (t) ≤ V

Onde:

S (t) é o volume de água no reservatório no tempo t;

S (t-1) é o volume de água no reservatório no tempo t – 1;

Q (t) é o volume de chuva no tempo t;

D (t) é o consumo ou demanda no tempo t;

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V é o volume do reservatório fixado;

C é o coeficiente de escoamento superficial.

NOTA: Para este método duas hipóteses devem ser feitas, o reservatório está
cheio no início da contagem do tempo “t”, os dados históricos são
representativos para as condições futuras.

M3) Método Azevedo Neto

O volume de chuva é obtido pela seguinte equação:

V = 0,042 x P x A x T

Onde:

P é o valor numérico da precipitação média anual, expresso em

milímetros (mm);

T é o valor numérico do número de meses de pouca chuva ou

seca;

A é o valor numérico da área de coleta em projeção, expresso

em metros quadrados (m2);

V é o valor numérico do volume de água aproveitável e o volume

de água do reservatório, expresso em litros (L).

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M4) Método Prático Alemão

Trata-se de um método empírico onde se toma o menor valor do volume do


reservatório; 6 % do volume anual de consumo ou 6 % do volume anual de
precipitação aproveitável.

Vadotado = mínimo de (volume anual precipitado aproveitável e volume anual de


consumo) x 0,06 (6 %)

Vadotado= mín (V; D) x 0,06

Onde:

V é o valor numérico do volume aproveitável de água de chuva

anual, expresso em litros (L);

D é o valor numérico da demanda anual da água não potável,

expresso em litros (L);

Vadotado é o valor numérico do volume de água do reservatório,

expresso em litros (L).

M5) Método prático inglês

O volume de chuva é obtido pela seguinte equação:

V = 0,05 x P x A

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Onde:

P é o valor numérico da precipitação média anual, expresso em

milímetros (mm);

A é o valor numérico da área de coleta em projeção, expresso

em metros quadrados (m2);

V é o valor numérico do volume de água aproveitável e o volume

de água da cisterna, expresso em litros (L).

M6) Método prático australiano

O volume de chuva é obtido pela seguinte equação:

Q = A x C x (P – I)

Onde:

C é o coeficiente de escoamento superficial, geralmente 0,80;

P é a precipitação média mensal;

I é a interceptação da água que molha as superfícies e perdas

por evaporação, geralmente 2 mm;

A é a área de coleta;

Q é o volume mensal produzido pela chuva.

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O cálculo do volume do reservatório é realizado por tentativas, até que sejam


utilizados valores otimizados de confiança e volume do reservatório.

Vt = Vt-1 + Qt – Dt

Onde:

Qt é o volume mensal produzido pela chuva no mês t;

Vt é o volume de água que está no tanque no fim do mês t;

Vt-1 é o volume de água que está no tanque no início do mês t;

Dt é a demanda mensal;

Quando (Vt-1 + Qt – D) < 0, então o Vt = 0

O volume do tanque escolhido será T.

Confiança: Pr = Nr / N

Onde:

Pr é a falha;

Nr é o número de meses em que o reservatório não atendeu à

demanda, isto é, quando Vt = 0;

N é o número de meses considerado, geralmente 12 meses;

Confiança = (1 - Pr)

NOTA: Para o primeiro mês considera-se o reservatório vazio.

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Recomenda-se que os valores de confiança estejam entre 90 % e 99 %.

O mesmo Projeto de Norma Brasileira, recomenda que, os reservatórios sejam


limpos e desinfetados com solução hipoclorito de sódio, no mínimo uma vez
por ano de acordo com a ABNT NBR 5626.

E3) Qualidade da água pluvial

Considerando-se a área de captação o telhado, deve-se inicialmente, ter o


cuidado de verificar qual o material de que este telhado é confeccionado. Este
cuidado é importante para não propiciar a contaminação da água a ser
captada, pois segundo Plínio Tomaz (2003 apud CARLON, 2005) as fezes de
passarinhos e outras aves e animais depositadas sobre os telhados e
carregadas com a chuva, podem trazer problemas de contaminação por
bactérias e de parasitas gastro-intestinais e, dependendo dos materiais
utilizados na confecção dos telhados, a contaminação poderá ser ainda maior.
(CARLON, 2005) Os fatores de contaminação podem ser além das fezes de
passarinhos e pombas, as fezes de ratos e outros pequenos animais, poeiras,
folhas de árvores, o revestimento do telhado, tintas, etc (TOMAZ, 2003 apud
CARLON, 2005).

As concentrações de certos elementos na água, também podem variar de


acordo com a localização geográfica da área em questão. Em zonas costeiras,
por exemplo, a água pluvial apresenta elementos como o sódio, potássio,
magnésio, cloro e cálcio cem concentrações proporcionais às encontradas na
água do mar. Em áreas urbanas e pólos industriais passam a ser encontradas
alterações nas concentrações naturais da água de chuva devido a poluentes do
ar, como o dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NOx) ou ainda
chumbo, zinco e outros. Já o pH da água de chuva é normalmente ácido,
variando entre 5,0 até 3,5, quando há o fenômeno da “chuva ácida” (TOMAZ,
2003 apud CARLON, 2005).

O tratamento da água de chuva varia de acordo com a qualidade da água


coletada e de seu uso final. A captação de água para fins não potáveis não

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exige amplos cuidados de purificação, embora certo grau de filtragem, muitas


vezes, seja indispensável. Para um tratamento simples, podem-se usar
processos de sedimentação natural, filtração simples e cloração. Em caso de
uso da água de chuva para consumo humano, é recomendado utilizar
tratamentos mais complexos, como desinfecção por ultravioleta ou osmose
reversa (MAY & PRADO, 2004 apud MARINOSKI, 2007).

A qualidade da água pluvial está diretamente relacionada ao local onde é


coletada. De acordo com MARINOSKI, a Tabela abaixo apresenta variações
da qualidade da água pluvial em função do local de coleta.

Tabela 4 - Variações da qualidade da água de chuva devido ao sistema de coleta


(GROUP RAINDROPS, 2002 apud MARINOSKI, 2007).

Grau de purificação Área de coleta de chuva Observações

Telhados (lugares não


Se a água for
A freqüentados por pessoas
purificada, é potável
ou animais)

Telhados (lugares
Apenas usos não
B freqüentados por pessoas
potáveis
ou animais)

Necessita de
C Pisos e estacionamentos tratamento mesmo
para usos não potáveis

Necessita de
D Estradas tratamento mesmo
para usos não potáveis

De acordo com o Projeto da Norma Brasileira do “Aproveitamento de água de


chuva para fins não potáveis em áreas urbanas” os padrões de qualidade do
sistema de água de chuva para água não potável no ponto de uso,
independente do tipo de uso devem atender aos parâmetros da tabela abaixo:

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Tabela 5 — Parâmetros de qualidade de água de chuva para usos restritivos não


potáveis. Fonte: Projeto da Norma Brasileira de “Aproveitamento de água de chuva
para fins não potáveis em áreas urbanas”.

Parâmetro Análise Valor

Coliformes totais Semestral Ausência em 100 mL

Coliformes termotolerantes Semestral Ausência em 100 mL

Cloro residual livre a Mensal 0,5 a 3,0 mg/L

< 2,0 uTb, para usos menos


Turbidez Mensal
restritivos < 5,0 uT

Cor aparente (caso não seja


utilizado nenhum corante, ou Mensal < 15 uH c
antes, da sua utilização)

Deve prever ajuste de pH pH de 6,0 a 8,0 no caso de


para proteção das redes de Mensal tubulação de aço carbono
distribuição, caso necessário ou galvanizado

NOTA 1: Podem ser usados outros processos além do cloro, com a


aplicação de raio ultravioleta e aplicação de ozônio.
a
No caso de serem utilizados compostos de cloro para desinfecção.
b
uT é a unidade de turbidez.
c
uH é a unidade de Hazen.

Ainda de acordo com o mesmo Projeto de Norma, para desinfecção, a critério


do projetista, pode-se utilizar derivado clorado, raios ultravioleta, ozônio e
outros. Em aplicações onde é necessário um residual desinfetante deve ser
usado derivado clorado. Quando utilizado o cloro residual livre deve estar entre
0,5 mg/L e 3,0 mg/L.

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E4) Instrumentos e procedimentos para a manutenção da qualidade da água

A qualidade da água de chuva pode ser alterada devido a vários fatores e em


diferentes etapas do sistema de captação. Segundo Plínio Tomaz (2003 apud
CARLON, 2005) a qualidade da água de chuva pode ser encarada em quatro
etapas: a) antes de atingir o solo; b) após escorrer pelo telhado; c) dentro do
reservatório; 4) no ponto de uso.

É recomendado, de acordo com o Manual de Saneamento divulgado pela


Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), descartar as águas das primeiras
chuvas, pois lavam os telhados onde se depositam a sujeira proveniente de
pássaros animais e poeira. A fim de evitar que essas águas caiam na cisterna,
o manual sugere que desconectem os tubos condutores de descida, que
normalmente devem permanecer desligados para serem religados
manualmente, pouco depois de iniciada a chuva. Existem dispositivos
automáticos que permitem o desvio, para fora das cisternas, das águas das
primeiras chuvas e das chuvas fracas, aproveitando-se, unicamente, as das
chuvas fortes (FUNASA, 1999). Para eliminar-se água de lavagem do telhado
devido às impurezas – autolimpeza - é utilizada uma regra em função da
precipitação e da área de captação, e os valores adotados também variam de
uma região para outra (TOMAZ, 2003 apud CARLON, 2005).

Felizmente, com as recentes inovações tecnologias muitos equipamentos têm


sido desenvolvidos especialmente para o adequado aproveitamento da água
de chuva. Com exemplificação, tem-se um equipamento, desenvolvido por uma
equipe multidisciplinar, que permite a seleção da água, deixando passar o
primeiro volume de água para a rede de drenagem, sendo o restante conduzido
para o reservatório (Figura 22). O aparelho E’lfer, como é chamado, mede
continuamente o fluxo de água captado do telhado. Quando este fluxo estiver
livre do material particulado será desviado para o reservatório. Para cada
região e característica do telhado, corresponderá um volume para o dispositivo
desviar o fluxo (ÁGUA ON LINE, 2002 apud CARLON, 2005).

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Figura 22: Aparelho E’lfer, mede continuamente o fluxo de água captado do telhado
(ÁGUA ON LINE, 2002 apud CARLON, 2005).

Outro modo de evitar a contaminação da água coletada e preservar a sua


qualidade é a utilização de filtros. O filtro por onde a água escoa antes de ser
armazenada na cisterna usa, geralmente, como meio filtrante areia e pedra
calcária britada, material que neutraliza a acidez natural da chuva. O carvão
ativado é usado para fins de desinfecção (GONÇALVEZ, 2001 apud CARLON,
2005).

Atualmente, existem também filtros específicos para o sistema de captação de


água de chuva (Figura 24 e 275).

Figura 23: Filtro comercial pequeno para limpeza de água da chuva, recolhida de áreas
cobertas com 200 m2 (3P Technik, 2008).

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De acordo com o sistema acima, pode-se observar que basicamente a água


bruta entra pelas aberturas superiores (1) e é direcionada, passando entre os
vãos da cascata (2). A sujeira mais grossa, como folhas e gravetos, passa por
cima dos vão e vai direto para a galeria pluvial (3). A água de chuva, já livre
das impurezas maiores, passa então por uma tela de aço-inox com malha de
0,26 mm. Entretanto, cada equipamento possui suas restrições. Este filtro, por
exemplo, é recomendado apenas para telhados até 300 m2, existindo outros
modelos para grandes telhados ou para instalação no próprio tubo de descida.
(3P TECHNIK, 2002 apud CARLON, 2005).

A figura abaixo representa modernos modelos de filtros que podem


simplesmente ser inserido no tubo vertical sem que influencie o fluxo d'água.
Impurezas são jogadas para fora no frente do filtro.

Figura 24– Filtros comerciais para limpeza de água da chuva, recolhida de áreas cobertas.
Fonte: 3P Technik, 2008.

Recomenda-se a instalação de um “by-pass” ligando a canalização de água de


chuva antes do filtro diretamente à canalização da galeria pluvial, garantindo
que caso haja excesso de água de chuva no sistema, este excesso corra
diretamente para a galeria pluvial, evitando um possível colapso do sistema
(CACUPÉ, 2003 apud CARLON, 2005).

É necessário que faça um armazenamento separado para a água captada e


para a água tratada, proveniente da rede de distribuição. Além do mais, o

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sistema de aproveitamento de água da chuva deve ser sempre identificado


quando for utilizado em complementação a outros sistemas de abastecimento.

De acordo com Carlon (2005) “As torneiras do sistema de água de chuva


devem ser preferencialmente do tipo com acionamento restrito, para que
pessoas não a utilizem inadvertidamente para fins não adequados”.

Já o sistema de realimentação, que abastece a cisterna em longos períodos de


estiagem com a água tratada, deve tornar impossível o refluxo de água da
cisterna da chuva para a tubulação de água da rede de distribuição. Para
garantir a qualidade da água devem ser feitas limpezas periódicas nos
reservatórios e filtros (SICKERMANN, 2002 apud CARLON, 2005).

Em hipótese alguma, de acordo com Plínio Tomaz (2003 apud CARLON, 2005)
a água potável municipal deve estar interligada com a água de chuva, evitando-
se assim a possível contaminação da rede pública com uma conexão cruzada
ou cross conection. Entende-se por conexão cruzada o ponto de contato entre
a água potável e a água não potável, permitindo o fluxo da água de um sistema
para o outro, simplesmente havendo uma pressão diferencial entre os dois
(TOMAZ, 2003 apud CARLON, 2005).

Outras precauções que devem ser tomadas a fim de garantir a qualidade da


água dentro da cisterna são segundo Plínio Tomaz (2003 apud CARLON,
2005), evitar a entrada da luz do sol no reservatório para impedir o crescimento
de algas. A tampa de inspeção deverá ser hermeticamente fechada e a saída
do extravasor deverá conter grade para impedir a entrada de pequenos
animais. Existem extravasores vendidos no país que apresentam um
sifonamento para manter sempre um selo hídrico. A limpeza do reservatório
enterrado deve ser feita, pelo menos, uma vez por ano e havendo a suspeita
de que a água do reservatório está contaminada, deve-se adicionar hipoclorito
de sódio a 10% ou água sanitária (TOMAZ, 2003 apud CARLON, 2005).

O estado de conservação do reservatório é importante para a manutenção da


qualidade da água armazenada, pois cisternas mal conservadas, com
rachaduras, com tampas mal vedadas, onde são utilizados baldes deixados no
chão para retirar a água, com filtros e peneiras sem uma limpeza periódica e
danificados, certamente apresentarão uma água de péssima qualidade. Do
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mesmo modo calhas e telhados que não são limpos periodicamente e onde há
muitas árvores próximas, o que resulta em muita matéria orgânica levada para
a cisterna juntamente com a água (CARLON, 2005).

E5) Viabilidade da Implantação de Sistemas de Aproveitamento de Água


Pluvial

O recente ressurgimento do interesse em técnicas de aproveitamento de água


pluvial como fonte alternativa é resultado do desenvolvimento de um grande
número de tecnologias, e da legalização destas tecnologias pelos órgãos
regulamentadores (DTU, 2003 apud CARLON, 2005).

A Alemanha e outros países desenvolvidos consideram o aproveitamento da


água de chuva como uma solução para o problema da superexploração das
fontes de água e vêm estabelecendo parcerias para o incentivo e implantação
de sistemas confiáveis e de alta qualidade, com uma relação custo-benefício
apropriada. Entretanto, a realidade dos países em desenvolvimento é diferente.
Os países em desenvolvimento carecem de técnicas sustentáveis e de baixo
custo para o aproveitamento de água da chuva. Isto requer, na maioria dos
casos, uma participação institucional na difusão das tecnologias existentes e na
implementação de projetos em larga escala (DTU, 2003 apud CARLON, 2005).

Um sistema de aproveitamento de água de chuva pode ser exemplificado


através do diagrama abaixo, em quatro processos primários e três processos
de tratamento (Figura 26).

Figura 25: Diagrama do processo de sistemas domésticos de aproveitamento de água


pluvial. (adaptado de DTU, 2003 apud CARLON, 2005)

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Em cada etapa do processo, dentro do diagrama, há uma enorme gama de


técnicas e materiais que podem ser utilizados, desde os mais simples até os
mais sofisticados, possibilitando uma adequação do sistema de acordo com a
disponibilidade financeira (DTU, 2003 apud CARLON, 2005).

Em se tratando da implantação dos sistemas de captação de água de chuva,


segundo Sickermann (2002 apud CARLON, 2005), devem-se analisar as
peculiaridades de cada caso, estudando-se, desta forma, a viabilidade ou não
da implantação dos sistemas. Todavia, de uma maneira geral, tal análise pode
ser realizada da seguinte maneira:

• Condomínios verticais: o custo de implantação é baixo, mas a economia


de água é menor uma vez que a superfície de coleta é relativamente
pequena em relação ao número de habitantes. Por outro lado, a
instalação é simples, mesmo em prédios já construídos, podendo em
alguns casos até dispensar a utilização de bombas se as caixas de água
forem mantidas em nível intermediário entre a área de captação e o local
onde a água for utilizada, geralmente pátios e jardins (CARLON, 2005).

• Condomínios horizontais e casas: nestes casos o custo de implantação


é significativamente mais baixo se o sistema for planejado antes da
construção, mas a economia de água pode ser maior do que em
condomínios verticais, dependendo do dimensionamento da cisterna. A
área de captação é relativamente grande em relação ao número de
habitantes, o que permite aproveitar a chuva disponível em maior
porcentagem (CARLON, 2005).

• Galpões, supermercados e shopping centers: o custo de implantação,


nestes casos, tem retorno bem aceitável e a economia depende do tipo
de atividade e do consumo de água que esta atividade exige. Como
estas obras geralmente têm um impacto significativo sobre o sistema de
drenagem e, em alguns locais, já é obrigada por Lei a prever a
instalação de caixas retenção, o aproveitamento da água de chuva pode
ser viável já que o custo adicional torna-se pequeno. Esta água pode ser
utilizada para a limpeza de pisos o que não exigiria instalações extras
(CARLON, 2005).

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De acordo com Palmier (2001 apud CARLON, 2005) “As técnicas alternativas
de captação de água de chuva são socialmente atraentes quando comparadas
aos grandes projetos, e podem representar soluções inteiramente adequadas
para mitigar escassez de água em um grande número de regiões”. Todavia, as
técnicas disponíveis vêm sendo aplicadas em diferentes partes do mundo, mas
também há circunstâncias em que a falta de uma manutenção adequada dos
sistemas de captação de água de pluvial resulta no seu abandono, parcial ou
total.

De acordo com o Projeto de Norma brasileira de “Aproveitamento de água de


chuva para fins não potáveis em áreas urbanas”, deve-se realizar manutenção
em todo o sistema de aproveitamento de água de chuva de acordo com a
Tabela abaixo:

Tabela 6 — Freqüência de manutenção. Fonte: Projeto de Norma brasileira de


“Aproveitamento de água de chuva para fins não potáveis em áreas urbanas

Componente Freqüência de manutenção

Inspeção mensal
Dispositivo de descarte de detritos
Limpeza trimestral

Dispositivo de descarte do escoamento inicial Limpeza mensal

Calhas, condutores verticais e horizontais 2 vezes por ano

Dispositivos de desinfecção Mensal

Bombas Mensal

Reservatório Limpeza e desinfecção anual

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F) Pontos Relevantes

F1) Poços Artesianos


A prática de se perfurar poços profundos não é nova. Sabe-se que desde os
primórdios da história as civilizações já utilizavam as águas subterrâneas
através de poços escavados.

De acordo com Carlon (2005), nas grandes áreas metropolitanas, com


população de 1-16 milhões de habitantes, os poços artesianos e semi-
artesianos complementam o abastecimento baseado em águas superficiais (de
rios, lagos, represas, açudes) e ajudam a reduzir o gasto mensal com água de
hotéis, hospitais, prédios residenciais e empresas. Não há estatísticas
completas sobre a quantidade de poços existentes no mundo. Mas, para se ter
uma idéia, somente nos últimos 25 anos, foram perfurados cerca de 12 milhões
de poços no Planeta. No Brasil, sabe-se que cerca de 250 mil poços profundos
foram escavados nos últimos 30 anos, por municipalidades e pela indústria. No
entanto, a maior parte desses poços é particular e não tem qualquer controle, o
que pode acarretar sérios problemas num futuro próximo. Com a difusão da
tecnologia de escavação e exploração das águas subterrâneas, torna-se
urgente à formulação de políticas de longo prazo para garantir níveis
econômicos, sociais e ambientais sustentáveis (VOGT, 2000 apud CARLON,
2005).

Além do risco de contaminação, a perfuração de poços artesianos também tem


um custo elevado e necessita de aprovação do órgão ambiental. Os poços
artesianos costumam ter, em média, uma vida útil de 40 anos, mas podem
secar antes, dependo do volume de água explorado (TOMASINI, 2000 apud
CARLON, 2005).

F2) Preservação dos mananciais

A preservação dos recursos hídricos pelo uso responsável é uma das


discussões mais relevantes, atualmente, quando considerada a sobrevivência
da vida na terra em um futuro próximo.
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A utilização responsável dos recursos hídricos pode ser caracterizada


basicamente de duas maneiras: (1) pelo uso somente da quantidade que for
necessária, sem excesso ou desperdícios. (2) pela não poluição ou degradação
do meio ambiente, com a adoção de posturas responsáveis, tais como não
jogar lixo aleatoriamente, mas apenas nos recipientes próprios ou não
derramar óleo de cozinha na pia.

A preservação destes mananciais, como forma de garantir o abastecimento,


deve ser uma prioridade de toda a comunidade, pois a qualidade dos recursos
hídricos é fundamental para o equilíbrio ambiental.

Com o crescente aumento do consumo de água a preocupação com o


abastecimento é generalizada e vários projetos têm sido desenvolvidos com o
objetivo de conscientizar a população para a importância da preservação dos
recursos hídricos. A retirada das matas ciliares e a falta de conservação do
solo têm levado à diminuição das vazões na estação seca, ou seja, ampliam-se
as diferenças entre vazões máximas e mínimas de um manancial. Com menos
água boa, menor será a diminuição da poluição lançada nos mananciais.

É preciso consciência ecológica para adotar procedimentos responsáveis, mas


que implicam em gastos, tais como: (a) tratamento deficiente dos efluentes
antes do lançamento nos mananciais; (b) recomposição das nossas matas; (c)
conservação do solo pela construção de terraços. Nos ciclos da natureza, a
harmonia é um dos fatores essenciais.

F3) Redução de custos

Em relação aos gastos com a água tratada, devem-se considerar dois


importantes aspectos: a despesa particular que cada pessoa possui de acordo
com o seu consumo e as despesas da administração pública no que se refere à
captação, tratamento e distribuição da água no município (CARLON, 2005).

Segundo estudos de vários autores, a economia de água tratada com a


complementação com água da chuva pode ultrapassar 30%, dependendo dos
usos aos qual esta água for destinada e também das instalações. Como regra

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geral, as adaptações realizadas em edificações antigas não são tão eficientes


quanto àquelas que são projetadas e implantadas durante a construção.

Assim sendo, a própria companhia de distribuição a principal poderia abastecer


uma maior quantidade de moradias em virtude da redução do consumo das
edificações que adotassem a utilização das águas de chuva.

Materiais e Métodos

O trabalhou baseou-se em um abrangente levantamento bibliográfico do tema


abordado. Realizou-se a atualização do material existente na literatura,
envolvendo a área de captação de água de chuva, sistemas de racionamento,
reuso de água industrial e conscientização ambiental. Realizou-se também
consultas à artigos e livros de diversas bibliotecas, dentre as quais pode-se
citar a da UNICAMP e USP que são próximas à Sorocaba, além da própria
UNESP. Pesquisa utilizando outros meios, como a Internet, por exemplo,
também foi realizada a fim de atender os objetivos do mesmo.

A recente experiência profissional, através de um estágio realizado na área em


questão, também foi muito relevante para o desenvolvimento do trabalho.

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Considerações Finais

O objetivo deste trabalho foi determinar a relevância e a viabilidade da utili-


zação de sistemas de aproveitamento de água pluviais para fins não-potáveis.

Os problemas de escassez de água no Brasil e no mundo, por diminuição da


quantidade e qualidade da água, está levando a população mundial a se
preocupar com o assunto e a realizar estudos de fontes alternativas para o
abastecimento de uma residência ou mesmo de uma indústria. O aproveita-
mento da água de chuva se apresenta com uma promissora alternativa, que
deve ser explorada adequadamente para reduzir os riscos de escassez e a
dependência exclusiva das fontes superficiais de abastecimento, evitando-se, o
grande desperdício da utilização de água tratada para fins menos nobres.

Hoje a conservação da água, a busca de medidas e soluções sustentáveis que


venham contribuir com o uso racional da água é uma necessidade. Entre essas
soluções sustentáveis, destacam-se as técnicas de aproveitamento de água
pluvial. No Brasil, até aproximadamente 20 anos atrás existiam poucas
experiências de aproveitamento de água pluvial. Hoje, já existe no país a
Associação Brasileira de Manejo e Captação de Água de Chuva, que é
responsável por divulgar estudos e pesquisas, reunir equipamentos,
instrumentos e serviços sobre o assunto (ACBMAC, 2007).

A reação à maior parte dos problemas relacionados com a água é muito


diferente de região para região, exigindo desta maneira um equilíbrio entre
vários usos e entre soluções tecnológicas e tradicionais. A informação é
essencial: mais dados sobre a água, melhor uso desses dados e o acesso
público a eles são imperativos éticos. De acordo com Selborne (2001) “A maior
parte da superfície terrestre foi construída e reconstruída, e hoje a necessidade
fundamental que sentem os responsáveis pela administração da água é de
uma ética com base ecológica, e não só de preservação”.

A aceitação da utilização da água de chuva como fonte alternativa de abaste-


cimento de água é bem vista pela maior parte da população, mas para que
possa ser aplicada com sucesso, deve ser acompanhada de um amplo projeto
de educação ambiental e não apenas através da criação de legislação

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específica, com a imposição por parte do poder público para que a coleta e
aproveitamento da água de chuva sejam realizados, sem que seja considerada
a percepção da comunidade em relação ao tema (CARLON, 2005). Precisamos
garantir que, uma vez desenvolvidos com êxito essas práticas e sistemas
inovadores, eles se difundam amplamente, e que se tornem uma prática
comum da sociedade. Hoje, a nossa tecnologia afirma que se cooperarmos a
água que existe é suficiente.

Há diversos aspectos positivos na utilização de sistemas de captação e


aproveitamento de água de chuva. Estes aspectos possibilitam, por exemplo,
diminuir a demanda de água potável reduzindo os custos de água fornecida
pelas companhias de abastecimento, conter as enchentes e preservar o meio
ambiente reduzindo a escassez de recursos hídricos. Vantagens como a boa
qualidade da água de chuva para vários fins com pouco ou nenhum tratamento
não podem ser descartadas nas atuais circunstâncias no planeta.

Um sistema de captação e aproveitamento de água de chuva possui


consideráveis variações físico-financeiras, atendendo desta maneira as mais
diversas limitações, como por exemplo, as grandes limitações financeiras de
países em desenvolvimento. Objetivando-se a consolidação dos sistemas de
aproveitamento de águas de chuva todas as informações técnicas/operacionais
devem estar acessíveis à população, assim com deve existir integração e
determinação política para a implantação dos mesmos.

Junho de 2008
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Referência Bibliográfica

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