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História Mundial
do Teatro
MARGOT BERTHOLD

Equi pe d e Reali::-arüo
Sup crvis úa edí tor íul J. Guinshurg
A sxt'H oria ed itoriui Plínio Martins Filh o
Revis ão Ingrid Basílio c Ol ga C afa lcc hio
Tra dução M ar-ia Paula V. Z uraw ski.
J . G uins h urg , Sé rgio Coe lho c C lovi s Garcia
j"dic t' Sand ra M a rth a D of in vky ~\\I/~
Cap a c Proj rt o Gráfico Ad r ian a Garcia ~ 1@ EDITO RA PERSPE CTIVA
Pr Ol/ll çci" Ric ar do \\'. Neves. Ad rianu Ga rc ia to: Hcd n M ar ia Lo pe s
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T ítulo do original cm a le mã o
JI'L'II.~cschicl1f(' dcs Thco ters
Sumário
© 1968 hy A lfrcd Kr õne r Ver la g iII S tut tgart

Dad os lnternac iona is de Cmalogaç âo na Publi ca ção (C IP)


(C âma ra Hrasilcira do Livro, S Il, Bras il)

Bcrthol d. Margot
História Mundial do Teatro / 1\1argot Berthold: SO BRE ESf.\ EDlç Ao - J, G lI i I/ S I)[ II~g ... [X Kag u ra . 76
[traduç ão Mar ia Paula V. Zuraws k i, J. Guinsburg. Gi gak u . 78
Sérgio Coelh o c C lóvis Garcia ], -- Sã o Paulo: PREFAcIO . XI 78
Bu gaku .
I'crsp cctiva, 200 I.
o T EATRO PRI ~lI TI \'O . Saru gaku e Denga ku. Precursor es do
Nô .. . . . . .. .. ... . . -.. 80
Tít ulo or iginal: \\\:Itgcsc.: h ichh: dcs Thca tc rs
E G ITO E A NTI GO OR IEJ'T E . 7 Nô _ . 81
Bibliografia,
ISAN 85·273 -0nX- 4 In trodução - . 7 Kyo gen _ -- - . 87
EgiI O . 8 O Teatro de Bonecos . - -.- 87
I. Tea tro - História I. Tit ulo
Mesopot âmia _ . [6 Ka buki . 90
0 1· 36 50 C D D-792.0 'J Shimpu -.- . 99
- - - -- - - _._- _ . - -- As O \' It.l ZAÇÕES I S I. ·\ ~ lI C A S _ . 19 Sh ingcki _.. _ -- 99
índ ices para catálogo sistemático: 19
Introdução _ - . G RÉCI A . 103
I. Teatro mundia l; Arte dr amá ti ca : H ist ória
Pérsia . 20
79".09
23 l ntro d u ção .. . . . 103
Tur quia .
Tragédia . . . . . . . 104
As Ct v II.IZ ·\ Ç() ES [1'- [)o · P..K iFll·,-\S . 29 Comé d ia . 118
O Teatro Helen ístico . 13()
Introdu ção _ . 29
I~ edição - I' reimpre ss ão O M imo . 136
Índia _ _. _ . 32
Indonésia _. _. . _ - . 44 R O \ I.-\ __ _ .. _ .. , 139
Int rod ução _. . _. . 139
CH I N A _ _ _ - ' " 53
O s Lu di Rornani, o Teatro da Res
Introdu ção -- . 53 Publi ca _. . 140
Ori gen s c os "C cru Jogos" . 54 Comédia Romana 144
Os E studantcs do J ardim das Peras 58 Do Tabl ado de Madeira ao Ed ifício
O Caminho par a o Drama . 61 Cê nico " 148
Drama do Nort e c Dram a do Sul . 6[ O Teatro na Roma Imperial 15 1
A Peça Mu sical do Período Ming (,6 O An titea tro: Pão e Circo. . . 155
Direitos reser vados em língu a portuguesa à A Concep ção Art ística da Ópera de A F ábula Atelana [ (,I
ED ITORA PERSPECT IVA S.A. Pequ im . 66 Mi mo e Panto mima. . . . . . . 162
Av. llr igode iro Luis A ntô n io , 3025 O Teat ro Ch inês Hoje ., . 70 Mimo Cristológico 167
0140 1-000 - São Paul o - S I' - B rasil
Tele rax: ( I I) J 8ôS -83ôS l w Ao _." _ - - - _. 75 B Iz..\ NC IO _ _ . _ - . . . . •. 171
www.cditorapcrspcctiva x om .h r
200 1 Introd ução . 75 In trod ução . _. _ __. _. _. - . ... 171
H i s t o rí u M' u n dí a í d o Tea t r o .

Teatro sem Dra ma 172 Co mmedia dcl lartc e Teat ro


Teatro na Arena . . . . . . . . . . . . . . . . . 177 Popular 353 Sobre esta Edição
O Teatro na Igrej a ln O Teat ro Barroco Es pa nho l 367
O Teatro na Co rte . . . . . . . . . . . . . . . . 18 I O s Ate res Ambul ante s 374
A I D.·\IJE Mrrn-, 185 A EI{ A DA CtrJA DA NI A BUR G UES A . .. . •.. . 38]
Introduçã o I R5 Int rodu ção 3RI
Repre sent ações Rel igiosas . . . . . . . . . 186 O Ilumini sm o 3R2
Autos Profanos 242 Cl ass icismo Alem ão 413
R omantism o 429
A R ENA SCENÇA . . . • • . . . • . . . • • . . . . . . . 269
R eal ism o 440
Introduçã o 269
O Teatro dos Humanistas 270 Do N ATUR AI.IS~lO AO PI{[' SENTE 451
Os Festi vais da Cor te 292 Introdu ção 451
O Drama Escolar 300 O Na turalismo C éni co 452
As Rcderij kers 304 A Exp erimentação de
Os Meistersinger 30R Novas Formas 462
O Teat ro Elizabetano 3 [2 O Teat ro En gajad o 494
O B A RR(X'O 323
Sh ow Business na Broadway __. 51 3 Em princípio, uma Históri a do Teat ro pod e e na s ci ên c ia s . S ob e s te â ng ulo , M arg ot
O Teat ro Como Experiment o 519 ter a amplitude da pesquisa e da redução qu e Berthold realizou um trabalh o not ável co m sua
Introdu ção 323 O Tea tro c m C rise '} 52 1 se u a uto r lhe der. Co mpor um a cr ônic a e um a História Mundial do Teatro, inte grando , de
Óp era e Sin gsp iel 324 O Tea tro e os M eio s de Comuni cação an ál ise do qu e foi o desen vol vim ento da art e um a man eira que se pod eri a dize r primorosa,
O Ballet de COI/ r 330 de Massa 523 dram ática atr avé s do tempo, de se us momen- a busca documental , o regi stro oco rre nc ial e o
Bastid ores Desli zantes e Maquinaria O Tea tro do Diretor _ 529 tos mais sign ificati vos e de suas realizações pod er de síntese esc ritural. Na verdade, est e
de Palc o 335
mai s di gn as de perm anência co mo memóri a volume é de um a a bra ngê nc ia surpree nde nte
O Teat ro Jesu íta _ 338 I3 I BU O( õI{ A I I.-\ - 54 1
de um pa ssad o, o u co mo a tualid ade de um a qu e faz um j o go m u ito be m eq uilibrado entre
França : Tragédi a Clássica e Comédia
fun ção, poderia oc u pa r uma biblioteca de estética e hi stória, indivíduo criador e soc ie-
de Ca rac teres 344 í NDIC E 553 Al ex andria o u, co mo oc orre também, um dad e co nd ic io na nte e recep cion ant e, de mod o
resuminho na Intern et. O difícil é re unir nu m qu e, com a sua ri quíssi ma icon ografia , ela po-
só co n junto de algum as centenas de páginas, der á atende r, so bre tudo co m respeito aos perío-
port anto , ao alcance de qu alquer leit or int e- do s mai s represen tativ os da evolução d o te a-
ressa do o u estud ioso do terna um ap anh ado qu e tro. às necessida de s de info rmação e dis cu s-
dê co nta, c rítica e historicament e, deste vasto são de se u leitor. Isto por si pareceu à Ed itora
uni verso de realizaçõe s e cri açõe s que se ins- Per spe cti va , q ue já ser ia um fator a recomen-
cr e ve no históric o e no se ntido do ex istir d o dar plen amente sua publicaç ão em língua por -
homem nest e mund o e de sua tr an scendên cia tu gu esa e, apesar d as d ificul dad es de sua tra-
em rela ção às co ndições e os requi sit o s ma is du çã o e dos c uidados ex igidos por sua edição,
primári os para o seu viver , isto é, o da sua ca - o qu e import ou em um lon go trab alho de nos-
pa cidad c de c riar objetos inexistentes na natu- sa eq uipe , é co m g ra nde prazer que nos é per,
reza bruta e ela bo rar o se u espírito em fe ições mitido di zer : A q ui está um a obra de import ân -
cada vez mais novas, como é o caso do pap el cia para a biblioteca te atral brasil eira .
de s uas vári as expressões na c ultur a, na s a rtes 1. Gu insbur g

• 1'111
1
!

Prefácio

Num a das trad ic io nais ce nas da Comm c - so me a si mesm o no próprio at o de c riar a luz.
dia dcll 'arte, um bufão aparece em cen a e ten- Enquanto um quadro ou estátua po ssuem ex is-
ta ve nder um a cas a, el ogi ando- a g rande me nte , tên ci a conc re ta um a vez terminado o ato de
descrevend o-a com brilho e. par a prov ar seu sua c riação . um e spe t ácu lo teatral qu e termina
ponto de vista. apre senta uma única pedra da de sap arece imediatament e no pa ssado .
con strução. Embora o te atro não sej a um museu. as
Da mesma forma , falar do teatro do mund o múltiplas formas co nte mporâ neas de teatro
é apresentar um a úni ca pedr a c esperar que o co ns titue m algo como um /11/1."" ,. inm g inai re:
leitor visualiz e a estrutura total a partir dela . O um musce irnag jnai rc ca pa z de se r tran s-
sucesso de um a tentati va como essa depende da form ado em exp eriênci a im ediata. Todas as
capacidade de persuadir do bufã o, da força ex- noites o fe rec e m-se ao hom em mod erno dra-
pressiva da pedra e da im agin ação do leitor. m as, e nce naç ões e mét od os de d ire ção qu e
Escrever um livr o so bre o teatro do mun- foram de sen vol vid os ao lon go dos séc ulos.
do é uma tarefa ousada. O es for ço par a desc o- E s ses elem ent os são ad a p tad o s ao gos to
brir , dent ro do panorama hetcrog ênco , os den o- contemporâneo: são estilizado s. o bje tifica dos.
min adores comuns que carac terizam o fenô me- e stilhaçados, retrab alh ado s. D iret or es e ato-
no do "t eatro' a tra vé s do s tempos represent a res recriam-nos: os aur or es reformulam tema s
um grande de safio. A estrutura necessariamen - tradi cionais em adaptaçõ es modernas. Deter-
te re strita de um estudo co mo esse impõe minados reformadores quase de stroem o tex-
sele tividade , o missõe s. co nc isão , col ocando to de ce rtas peças, int roduzindo efeito s ag res-
assim fatores subje tivos em jogo . A própria sivos e criando o teatro talai . imp ro visado.
natureza íntima do assunto torn a a obj ctivida- Um e sfor ço bem- suc ed ido e nfeitiça o es pec-
de difícil. Os problemas surge m tão logo é fei- tador, cria resistência, provoca di scu ssões e
ta uma tentativa de se ir a lé m do que é pur a- faz pen sar.
mente fatual e apreender os traços qu e ca rac- Nenhuma forma teat ral, nenhum antiteatro
terizam uma época. C o ntudo, é preci samente é tão novo que não tenh a analogia no pa ssado.
nesse ponto qu e a fascinação pel o pro ce sso ar- O teatro como provocador') O teatro e m cri se')
tísti co do teat ro co meç a: o leitor é e ntão co lo - Nenhum a dessas qu e st ões o u problemas são
cado face a face co m a ex igê ncia não ex pres sa es pec ifica me nte mod ern os: tod os surg ira m no
de pross eguir, por co nta própria. nos as sunt os pas sado. O teatro pul sa de vida e se m pre foi
merament e tocados. v ulnerável às enfermidades da vid a, M as não
O mi stéri o do teatro resid e num a ap aren- há raz ão pa ra se preocu par. o u pa ra previ sões
te contradição. Co mo um a vela, o teatro co n- co mo as de Cassan d ra. Enq ua nto o teat ro for
H íst úr i a Afull ri i a / d o T va t ro •

comentado, combatido - e as ment es crít icas


têm feit o isso sempre - , guardará seu signi fi-
cado. Um teatro de nã o- controvérsia pod eri a
pl acente . Mas um teatro que mo vimenta a
mente é uma membrana sen sível, prop ensa à o Teatro Primitivo
febr e , um organismo vivo . E é as sim qu e ele
ser um museu, um a institu ição repet itiva, co m- deve ser.

o teat ro é tão velho qu ant o a humanida- tri ste nulidade da incapacidade h umana . O sé-
de . Ex iste m formas primitivas desde os pri- culo XX pratica a art e da redução. Qu alquer
mó rdi os do homem. A tran sf ormação numa coisa além de um a ges tualização des ampa rada
o utra pe ssoa é um a das formas arq uetípic as da ou um po nto de luz te nde a parecer excessiva .
ex pressão human a. O rai o de ação do teatr o, O s esp et ácul os so lo do m ími co M ar cel
porta nto, inclui a pant omima de caça d os po- M arceau são um exemplo soberbo d o teatr o
vo s da id ad e do gelo e as ca tego rias dramáti- atem por al. Fornece m-nos vislu mb res de pes-
cas diferenciadas dos tempos modernos . soa s de todos os tempo s e lug ar es, da dan ça e
O enc ant o má gi co do teatr o. num se ntido do dra ma de cu ltur as a ntig as, da pant omima
mais a m plo, es t á na ca pacidade inexaurível de das c ulturas altame nte desen vol vid as da Ás ia,
apresentar-se aos o lhos do públ ico se m reve- da m ími ca da An tig üi dade , d a Com media
lar se u seg redo pessoal. O xamã qu e é o port a- del l'arte , Num trabalh o intitulado "Juventu-
voz d o deu s, o dançarino mascar ado q ue afas- de, Maturidad e . Velh ice , Mort e" , alguns pou-
ta os demón ios. o atol' ljue tra z a vid a à obra cos minutos é tudo de qu e Marceau ne cessita
do poeta - todos ob edecem ao mesm o co ma n- par a um retr ato e m ali a ve loc idade da vida do
do , q ue é a co nj uração de um a o utra realida- hom em , e nele atinge um a inten sid ade ava s-
de , mai s verdadei ra . Co nvert er essa co nj ur a- sa lado ra de expres siv ida de dram áti ca ele me n-
ção e m " tea tro" pressupõe du as co isa s: a ele - tar. Co mo o pr óprio M ar cel di z, a pant omima
vação do a rtista aci ma da s leis que governa m é a " arte de identificar o hom em co m a nature-
a vida cotidi ana, sua transform ação no media- za e co m os e le me ntos pró ximos de nós" . Ele
dor de um vislumbre mai s alto ; e a pr esença continua, not ando que a mími ca pode " criar a
de e sp ecta d ores pr eparad os par a rec eber a ilusão do tempo" , O c0 11'0do a to r torn a-se um
men sagem de sse vislumbre . instrument o qu e subs titui uma orq ues tra int ei-
Do ponto de vista da evo lução c ult ura l, a ra, um a mod alid ade pa ra ex pres sar a mai s pes-
d ifer ença ess e ncial e ntre formas de teatro pri- soa l e, ao me sm o tempo , a mai s uni versal men -
m itivas e mais avan çadas é o número de aces- sag em .
sóri o s cén ico s à di sposição do ator par a ex - O artista qu e ne cessita apen as de seu cor-
pr essar sua men sa gem . O arti sta de c ulturas po para e vocar mundos intei ros e per corre a
pr imi tiv as e pr ime vas arr anja- se co m um c ho - escala co m ple ta das emoções é repr esent at ivo
ca lho de ca haça e uma pele de a nima l; a ó pe ra da arte de expres são pr imitiva do teatro . O pré-
ba rroca mohili za toda a par afern ál ia c énica de hi st órico e o mod e rn o ma nifes tam-se e m sua
sua época. lon esco des orde na o palc o co m ca- pe ssoa . Di scut indo o teatro da s tribos primiti-
deiras e faz uma proclamação surda-m uda da vas e m seu livro Cen ul ora, Oskar EberI e d iz:
• XII
Híssórí a Mundial do Teatro. • O Teatro Prí mt t ivo

o teatro primitivo real é arte incorporada na forma religião, a etnologia c o folclore oferecem um 2. Pintura de caverna no sul da l-rança: o "Feiticei-
humana C' abrangendo todas as possibilidades do corpo material abundante sobre danças rituais e fes- ro" de Troi s Frõrcs. Período Paleolítico. segundo H.
informado pelo espírito: ele é. simultaneamente. a mais Breuil.
primitiva e a mais multiforme, e de qualquer maneira a
tivais das mais diversas formas que carregam
mais velha arte da humanidade. Por essa razão é ainda a em si as sementes do teatro. Mas o dcsenvol-
mais humana, a mais comovente arte. Arte imortal. vimento e a harmonização do drama c do tea-
tro demandam forças criativas que fomentem go dourada, celebrado anualmente em Elêusis
Podemos aprender sobre o teatro primitivo seu crescimento; é também necessária uma pelas mulheres da Grécia.
pesquisando três fontes: as tribos aborígines, que auto-afirmação urbana por parte do indivíduo, Os mistérios de Elêusis são um caso limi-
têm pouco contato com o resto do mundo e cujo junto a uma superestrutura metafísica. Sem- te significativo. São a expressão de urna fase
estilo de vida e pantomimas mágicas devem por- pre que essas condições foram preenchidas final altamente desenvolvida, que, embora po-
tanto ser próximos daquilo que nós presumimos seguiu-se um florescimento do teatro. Quanto tencialmente teatral, não leva ao teatro. Corno
ser o estágio primordial da humanidade; as pin- ao teatro primitivo, o reverso do seu desen- os ritos secretos de iniciação masculinos, eles
turas das cavernas pré-históricas e entalhes, em volvimento implica que a satisfação do vis- carecem do segundo componente do teatro -
rochas e ossos; e a inesgotável riqueza de dan- lumbre superior, em cada estágio, era conquis- os espectadores. O drama da Antigüidade nas-
ças rrúmicas e costumes populares que sobrevi- tada às custas de alguma parte de sua força ceria da ampla arena do Teatro de Dioniso em
veram pelo mundo afora. original. Atenas, totalmente it vista dos cidadãos reuni-
O teatro dos povos primitivos assenta-se É fascinante traçar esse desenvolvimento dos, não no crepúsculo místico do santuário
no amplo alicerce dos impulsos vitais, primá- pelas várias regiões do mundo c ver como, de Deméter em Elêusis.
rios, retirando deles seus misteriosos poderes quando e sob que auspícios ele se deu. Há cla- O teatro primitivo utilizava acessórios
de magia, conjuração, metamorfose ~ dos en- ra evidência de que o processo sempre seguiu exteriores, exatamente como seu sucessor al-
cantamentos de caça dos nômades da Idade da o mesmo curso. Hoje está completo em quase tamente desenvolvido o faz. Máscaras e figu-
Pedra, das danças de fertilidade e colheita dos rinos, acessórios de conrra-regragern. cenários simbolicamente morta - ou o subseqüente rito
toda parte, c os resultados são contraditórios.
primeiros lavradores dos campos, dos ritos de e orquestras eram comuns, embora na mais de expiação e as práticas dos xamãs. Medita-
Nas poucas áreas intocadas. onde as tribos
iniciação, totemismo e xamanismo e dos vários simples forma concebível. Os caçadores da ção, drogas, dança, música e ruídos ensurde-
aborígines têm ainda de levar a cabo o proces-
cultos divinos. Idade do Gelo que se reuniam na caverna de cedores causam o estado de transe no qual o
so, a civilização moderna provoca saltos er- xamã estabelece um diálogo com deuses e de-
A forma e o conteúdo da expressão tea- ráticos, mais do que um desenvolvimento equi- Montespan em torno de urna figura estática de
um urso estavam eles próprios mascarados mônios. Seu contato visionário com o outro
tral são condicionados pelas necessidades da librado.
como ursos. Em um ritual alegórico-mágico, mundo lhe confere poder "mágico" para cu-
vida e pelas concepções religiosas. Dessas con- Para o historiador de teatro, um estudo das
matavam a imagem do urso para assegurar seu rar doenças, fazer chover, destruir o inimigo
cepções um indivíduo extrai as forças elemen- formas pré-históricas revela paralelos sinó-
sucesso na caçada. e fazer nascer o amor. Essa convicção do
tares que transformam o homem em um meio tieos que o seduzem a traçar o desenvolvimento
A dança do urso da Idade da Pedra nas xamã, de que ele pode fazer com que os espí-
capaz de transcender-se e a seus semelhantes. da humanidade mediante o fenômeno do "tea-
cavernas rochosas da França, em Montespan ritos venham em seu auxílio induzem-no a
O homem personificou os poderes da na- tro". Conquanto nenhuma outra forma de arte
ou Lascaux, tem seu paralelo nas festas do tro- jogar com eles.
tureza. Transformou o Sol e a Lua, o vento e o possa fazer essa reivindicação com mais pro-
mar em criaturas vivas que brigam, disputam féu do urso da tribo Ainu do Japão pré-históri-
priedade, é também verdade que nenhuma
e lutam entre si e que podem ser influenciadas co. Em nossa própria época, é encontrado en- Além do transe. o xamã utiliza-se de todo tipo de
outra forma de arte é tão vulnerável à contes- meios de representação artísticos: ele é freqücnlclIlente
a favorecer o homem por meio de sacrifícios, tre algumas tribos indígenas da J:mérica do
tação dessa reivindicação. muito mais um artista, e deve ter sido ainda mais em tem-
orações, cerimônias e danças. Norte e também nas florestas da Africa e da
A forma de arte começa com a epifania Austrália, por exemplo, nas danças do búfalo
pos ancestrais (Andreas Lommel).
Não somente os festivais de Dioniso da do deus e, cm termos puramente utilitários, dos índios Mandan, nas danças corroborce aus-
antiga Atenas, mas a Pré-história, a história da com o esforço humano para angariar o favore- tralianas e nos rituais pantomímicos do can- As raízes do xamanismo como uma
cimento e a ajuda do deus. Os ritos de fertili- guru, do emu ou da foca de várias tribos nati- "técnica" psicológica particular das culturas
dade que hoje são comuns entre os índios vas. Em cada nova versão e variadas roupagens caçadoras podem ser remontadas ao período
Cherokees quando semeiam e colhem seu mi- mitológicas, o primitivo ritual de caça sobrevi- Magdaleniano no sul da França, ou seja, apro-
lho têm seu contraponto nas festividades da ve na Europa Central; nas danças guerreiras ri- ximadamente entre 15.000 e 800 a.c., e por-
corte japonesa, mímica c musicalmente mais tuais gennãnicas, na dança da luta de Odin com tanto aos exemplos de pantomimas de magia
sofisticadas, em honra do arroz: assemelham- o lobo Fenris (como aparece na insígnia de de caça retratadas nas pinturas em cavernas.
se também ao antigo festival da espiga de tri- Torslunda do século VI), e em todas as personi- Concebido e representado em termos
ficações da "caçada selvagem" da baixa Idade zoomórficos, o panteão de espíritos das civili-
Média, indo desde o niesnie Hcllequin francês zações da caça sobrevive na máscara: naquela
ao Arlecchino da Commedia dcll 'arte. do "espírito mensageiro" em forma de animal,
1 Pintura na rocha na área de Cogul. sul de Lérida,
Existe uma estreita correlação entre a má- no toternismo e nas máscaras de demônios-bes-
Espanha: cena de dança ritual. Período Paleolítico, se
gundo H. Brcuil. gica que antecede a caçada ~ onde a presa é tas dos povos da Ásia Central e Setentrional, e

• 2 • 3
Hí t á ri
s ct M'u n d iu l d o Teatro.

das tribos da Indonésia, Micronésia e Polinésia, Norte realizam sua dança da Grande Serpente
dos Lapps e dos índios norte-americanos. numa procissão cuidadosamente organizada de
Aquele que usa a máscara perde a identi- acordo com modelo determinado. Com troncos
dade. Ele está preso - literalmente "possuído" e galhos constroem seis ou sete salões cerimo-
- pelo espírito daquilo que personifica, e os niais (kivass para as fases distintas da dança. Exis-
espectadores participam dessa transfiguração. te até mesmo um "diretor de iluminação", que
O dançarino javanês do Djaram-képang, que apaga a pilha de lenha ardente cm cada kiva tão
usa a máscara de um cavalo e pula de forma logo a procissão de dançarinos passa.
grotesca, cavalgando uma vara de bambu, é Diversas cerimônias místicas e magicas
alimentado com palha. estão envolvidas nos ritos de iniciação de mui-
Aromas inebriantes e ritmos estimulan- tos povos primitivos, nos costumes que "ro-
tes reforçam os efeitos do teatro primitivo, uma deiam" a entrada da criança no convívio dos
arte em que tanto aquele que atua como os adultos. Máscaras ancestrais são usadas numa
espectadores escapam de dentro de si mesmos. peça com mímica. Em sua primeira participa-
Oskar Eberle escreve: "O teatro primitivo é ção no cerimonial, o neófito aprende o signifi-
uma grande ópera". Uma grande ópera ao ar cado das máscaras, dos costumes, dos textos
livre, deveríamos acrescentar, que em muitos rituais e dos instrumentos musicais. Contam-
casos é intensificada pela cena noturna irreal, lhe que negligenciar o mais ínfimo detalhe
na qual a luz das fogueiras bruxuleia nos ros- pode trazer incalculáveis desgraças à tribo in-
tos dos "dernônios" dançarinos. O palco do teira. Na ilha de Gaua, nas Novas Hébridas, os
teatro primitivo é uma área aberta de terra anciãos assistem criticamente à primeira dan-
batida. Seus equipamentos de palco podem in- ça dos jovens iniciados. Se um deles comete
cluir um totem fixo no centro, um feixe de lan- um erro, é punido com uma flechada. 3. Pintura na parede de um túmulo tebano: jovens musicistas com
ças espetadas no chão, um animal abatido, um Por outro lado, em todos os lugares e épo- charamela dupla. alaúde longo e harpa. Da época de Amenhotep II, c.
monte de trigo, milho, arroz ou cana-de-açúcar. cas o teatro incorporou tanto a bufonaria gro- 1430 a.c.
Da mesma forma, as nove mulheres da tesca quanto a severidade ritual. Podemos en-
pintura rupestre paleolítica de Cogul dançam contrar elementos farsescos nas formas mais
em torno da figura de um homem; ou o povo primitivas. Danças e pantomimas de animais
de Israel dançava em torno de bezerro de ouro; possuem urna tendência a priori para o gro-
ou os índios mexicanos faziam sacrifícios, jo- tesco. No momento em que o nó do culto afrou-
gos e dançavam, invocando seus deuses: ou, xa, o instinto da mímica passa a provocar o
atualmente, os dançarinos totêrnicos australia- riso. Situações e material são tirados da vida 4. Dançarino - "pássaro" maia. com chocalho e estandarte. Pintura
nos se reúnem quando o espírito ancestral faz cotidiana. Quando o buscador de mel na peça na parede do templo de Bonarnpak. México, c. 800 d.e.
sentir sua presença (quando soam os mugidos homônima das Filipinas se mete nos mais va-
do touro). Assim, também, vestígios do teatro riados infortúnios, é recompensado com gar-
primitivo sobrevivem nos costumes populares, galhadas tão persistentes quanto o são, tam-
na dança em volta do mastro de maio ou da bém, os atores da pantomima parodística "O
fogueira de São João. É assim que o teatro oci- Encontro com o Homem Branco", no bosque
dental começou, nas danças do templo de australiano. O nativo pinta seu rosto de ocre
Dioniso aos pés da Acrópole. brilhante, põe um chapéu de palha amarelo,
Além da dança coral e do teatro de arena, enrola juncos ao redor das pernas - e a ima-
o teatro primitivo também fez Uso de procis- gem do colono branco, calçado com polainas,
sões para suas celebrações rituais de magia. está completa. O traje dá a chave para a im-
As visitas dos deuses egípcios envolviam cor- provisação - uma remota, mas talvez nem tan-
tejos - os sacerdotes que realizavam o sacrifí- to, pré-figuração da Commcdiu deli 'arte.
cio guiavam procissões que incluíam cantores, À medida que as sociedades tribais torna-
bailarinas e músicos; a estátua de Osíris era trans- vam-se cada vez mais organizadas, uma espé-
portada a Abidos numa barca. Os xiitas persas cie de atuação profissional desenvolveu-se
começavam a representação da paixão de entre várias sociedades primitivas. Entre os
Hussein com procissões de exorcismo. Todos os Areoi da Polinésia c os nativos da Nova
anos, em março , os índios Hopi da América do Pomerânia, existiam troupes itinerantes que

• 4
H i st ó r i a M un d ía l d o T eu t r u •

viajav am de aldeia em aldeia e de ilha em ilha.


O teatro, enq uanto co mpensação para a rotin a
sacrifício ronda o palco do séc ulo XX . Como
se aflorasse do tron co da árvore, o curande iro,
Egito e Antigo Oriente
da vida , pod e ser encontrado onde qu er qu e as de acord o co m as instru ções de O ' Ne ill, bat e os
pe ssoas se reúnam na esperança da magia q ue pés e inicia um a ca nção monótona.
as tran sport ará para uma realidade mais eleva -
da. Isso é verda de independentemente de a ma- Gradual men te sua da n ça S~ transforma numa nar-
rativa de pantomi m a. sua c ançã o é um e nc anta men to . um a
gia aco ntec er num pedaço de terr a nu a, numa
fórmu la mágica pa ra apazi gu ar a fúri a de alguma d ivin-
cabana de bambu , numa plataform a o u num dade que exige sacr ifício . Ele escapa. est á possuído pn r
modern o palácio rnultimídia de con creto e vi- dem ônio s, ele S ~ esconde... salta para a ma rgem do rio .
dro . É verda de, mesmo se o efeit o final for de Ele estira os braços e chama por algum Deus de ntro ele
uma desilusão brutal. sua prof undeza . Então. co meç a a recuar vaga rosamente,
co m os braço s ai nda para [ 0 1";1. A cabeça e no rme de um
A máscara mais altiva e a mais impressio- crocod ilo aparece na margem . e seus o lhos verd es c bri-
nant e pompa não podem sal var o Imp erad or lhantes fixa m-se so bre Jorre s.
Jones, de O 'Neill, do pesadelo da autodestrui-
ção . Os antigos poderes xarnânicos es magam- Numa montagem de 1933, o ce nó grafo
no num a lúgebr e noite de luar ao som de tam- america no lo Mi el zin er utili zou uma enorme
bores africa nos. Nesta peça expressioni sta, cabeç a de Olmeca par a o primitivo alta r de
O 'Neill exa lta os "pequenos medos sem forma", pedra requerido pelo texto. Figurinos africa-
transform and o-os no ameaçador frenesi do cu- nos, caribenhos e pré -col ombi an o s combi- INTRODUÇÃO própri o C iro havia prestado homenagen s nas
randeiro do Co ngo, cujo chocalho de osso s mar- nam-se num pesadelo do passad o, O teatro tumbas dos grandes reis da Babilônia .
ca o tempo par a o ribombar selvagem do s tam- primitivo ressurge e age sobr e nossos medos A história do Egi to e do Antigo Oriente D ura nte muitos séculos, as font e s das
bores. Um eco estridente de ritos primitivos de existen ciais modernos. Próximo nos proporcion a o registro dos povos qu ai s emergi u a im agem do antigo Ori ent e
que , nos três mil êni os anteriores a Cristo, lan- Pr óxim o estivera m limitadas a algun s poucos
ça ram as bases da civilização ocide ntal. Eram document os: o Antigo Testamento, que fala da
povos atuante s nas regiões qu e iam desde o sabedor ia e da vida luxuosa do Egito , e das
rio Nilo aos rios Ti gre e Eu fra tes e ao plan alto narrati vas de a lguns e scritor e s da Antig üida-
irani ano , desde o B ósfor o at é o Go lfo Pérsi co . de, qu e culpavam uns ao s outros por sua "orien-
Nes ta criativa época da human idade, o Egito tação notavelm ente pobre" . Me smo Her ód oto,
instituiu as artes pl ásti cas, a Mesopot âmia, a o "pai da h istória" , que visito u o Eg ito e a
ciência e Israel, um a religi ão mundi al. M esop ot âm ia no séc ulo V a .C; é fre q üente-
A leste e a oes te do mar Ver me lho, o rei- mente vago . Seu silê nc io so bre os "j ard ins
deu s do Egito era o único e todo-poderoso le- suspe nsos de Se m írumis" d im in ui o no sso co -
gislador, a mais a lta autoridade e j uiz na terr a. nhecimento de uma das Se te M aravilhas do
A ele rendiam-se hom en agen s em múltiplas mundo, e o fato de o pavilhã o do fes tiva l do
formas de música , dança e di álogo dram ático . An o No vo de Nabucodo nosor perm anec er des-
Nas ce lebraçõ es dos festi vai s, em glorificaçã o conhec ido para ele pri va os pesqui sad ores do
à vida neste mundo ou no além -mundo. era teat ro de va liosas c haves.
e le a figura centra l. e não se econo mizava pom- Ne sse meio tempo, arqueólogos escava -
pa no que co nce rnia sua pessoa. Esta era a
à ram as ruína s de vastos pal áci os, de ed ifícios
posição dos dinast as do Eg ito. do s grandes le- e ncrustado s de mosaicos para o festival do Ano
g isladores su mér ios , dos imperadore s do s Novo, e até mesmo cidades inteiras. H istori a-
acádios, dos reis-deu ses de UI', dos governantes dore s da lei e da religião decifraram o enge-
do império hitit a e tamb ém dos rei s da Síria e nh oso có digo das tabuinhas cuneiformes, que
da Palestina. também prop or cionaram algumas indicações
No Egito e por tod o o anti go Oriente Pró- sobre os csperáculos teatrais de anti gam ent e .
ximo, a religi ão e mist érios, lodo pensamento S ab em o s do ritual mágico -míti co do
e ação eram determ inad os pela reale za, o úni- "ca sa me nto sagrado" dos mc sopot ãrni os e te-
co princípi o o rde nador. A lex andre, sabiamen- m os fra g mentos descobertos das disp uta s di-
te respeitoso. subme te u-se a e la em se u triun- vi na s dos s umé rins: so rna s agora ca paze s de
fant e progresso. Visitou o t úm ulo de Ciro e lhe re c on strui r a o rige m do di álogo na dan ça
prestou hom en agem , da mesm a forma qu e o eg ípci a de Halor c a orga n iz ação da pai xão

. (;
H ísr ór í a Mn n d í a l do Te a t ro·

de Osír is em Abid os. Sa be mo s que o mimo o solo pobre e castigado pelo sol do Egi-
e a farsa, tamb ém, tinham seu lugar reser va- to e do Or iente Próximo, irrigado errati camente
do. Havia o anão do far aó, qu e lançava se us por seu s rios, assistiu à asce nsão e à queda de
trocadilh os diant e do tron o e também repr c- muit as c ivilizações, Conheceu o pod er dos
se ntava o deu s/gnom o Be s nas ce rimô nias faraós e testemunhou as invocaç ões do culto
reli giosas. Havia os ate res masc arados que de M arduk e Mitra. Treme u sob a mar cha pe-
div ertiam as cort es prin cipescas do Ori ente sada dos arqueiros assírios cm suas procissões
Próximo antigo, parodiando os gen erais ini- cerimoniais e sob os pés dos guerreiros mace-
migos e, mais tard e, na época do crepúsc ulo dóni os. Viu a prince sa aq uern ênida Rox an a,
dos deu ses, zomb avam até mesmo dos seres adornada co m os traje s nup ciai s e escoltada
sobrenaturais. por trinta jovens dançar inas, ao lado de Ale- .
Ao lado dos textos qu e sobrevivem, as xa ndre, e ouviu os tamb ores, flautas e sinos
artes plásticas nos fornece m algumas evidên- dos mú sicos partas e sass ânidas, Sup ortou os
cias - que devem, entr etanto , se r interpretadas mastr os de madeira que prendi am as cordas
com cuidado - a respeito das origens do tea- par a os acrobatas e dançari nos, e silencio u so-
tro. As "másca ras" orna men tais do pal ác io bre as artes praticadas pela heter a quando o
pátr io em Hatra, as máscara s grotescas nas rei a co nvocava para dançar em se us aposen-
casas dos colonos fen ícios em Tharr os ou as to s íntimos.
representações das cabeças dos inimigos der-
rotados, pendend o de broches dourad os e com
relevos de pedra - tudo isso dá testemunh o de EGI T O
concepções intim amen te relaci onadas: o po-
der primitivo da máscara co ntinua a exercer Na história da human idade , nad a deu ori-
seu efeito mesmo quand o ela se torna deco ra- ge m a monumentos mais durad ouros do que a
tiva. Os motivos das máscaras antigas - a des- dem on stração da transitoriedad e do homem -
peito de algum as interp retações contraditórias o culto aos mortos. Ele está ma nife stado tanto
- não imped em, fundame ntal mente, especu- nos túmulos pré-históricos como nas pirâmi-
lações a respeito de conexões teatrais, mas mais des e câmaras mortuárias do Egit o. Os músi-
necessariam ente per manecem como suposi- cos e dançar inas, banqu etes e procissões e as
ções no enigmático panor ama do terceiro mi- ofere ndas sacrificiais retratados nos mur ais dos
lênio a.C. tem plos dedicado s aos mortos testemunham a
2. Estandarte-mosaico cm UI': banqu ete da vitória com cantores e harpistas, pro vavelmente uma sequ ência de cenas
das "Núpcias Sagradas" , Figuras de conchas c fragmento s de calcário, cm fundo de lapis-l uzúli. c. 2700 a.C. (Londres.
British Mu seum).

3. Másca ras no palácio de Hatra, na plan ície da Me-


sopotâmia setentrio nal. Hatra fo i fundada pelos pan as, cuj o
último rei. Art abano. o Ars ácida, foi derrotad o cm 12 6
I. Dança dram ática de Hathor. Pintura 11;1 tu mba de Intef. cm Te bas. Terceiro mit ênio a.C . d.e . pe lo sass ânidu An axcrxcs.
8
• I:'X ; IO " Anr i g o t rr i vn t c

6. Dança cxt ática acro bática. Pintu ra no túmulo de Ankhr u ah or, e m Sakkara. Terceiro rnilênio a.C .

preocupação dos eg ípc ios co m um além- mun- antigas sug eriram, enga nosa mente , um suposto
do o nde nenhu m praze r terren o poder ia faltar. "d iálogo" , de form a nenhuma e ndo ssa do pe -
Ao poderoso ped ido aos deu ses, expresso las pe squisas mais recentes. A lé m d is so, às
nas ima gen s pintad as e es culp idas, adiciona- ofe re ndas sacerdotais e aos ap el os ao s deu ses
va- se a magia da palavra : invocações a Rá, o nas c âma ras mortu árias falta o co mpone n te de-
deu s d o paraíso, o u a O síris , o se nho r dos c is ivo d o teatro : se u indi spens ável parceiro
mort os, suplica ndo para qu e aqu ele qu e parti a cr iativo, o p úblico.
fosse receb ido em se us reinos e qu e os deuses El e exis te nas dança s dram áticas ce rimo -
o elevassem co mo se u se me lha nte . niai s, nas lament ações e choros pantom ímieos,
A form a dialogada dessas inscrições se- e nas apresentações dos mistérios de Os íris em
pulcrais, os assim cha mados text os das pirâ- Ab ido s, que são rerniniscentes da peça de pai-
mides, deu origem a exc itantes especulações . xão . Todos os anos , dezenas de milh ar es de
Permitiriam -nos OS hieróglifos de ci nco mil peregrin os viajava m a Abidos, para pa rt icipar
anos , co m seus fasc ina ntes pict ograma s, fazer dos grandes festivais rel igio sos. Aqu i ac redi-
~ . Relevo em calcário da tumba de Patenemhab: cena com um sacerdot e oferecendo sacrifício. um harpista cego . um
infe rências a respeito do estad o do teatro no tuva- se e st ar ente rrada a cabeça de O síris ;
tocador de alaúde e dois flautistas. L 1350 a.C . (Lciden, Rijksmuseum). Egi to antigo ? A que stão foi resp ondida afir- Abid os era a Meca dos egípci o s. No mis tério
ma tivame nte desde q ue o bril han te egi pto lo- do de us qu e se torn ou homem - sobre a e ntra-
gi sta Gaston M usper o . e m I Xl::2 , chamo u a da da emoção hu mana no rein o do sobre natu-
atenção para o ca ráter "dranuirico" dos textos ra l, o u a descid a do deus às reg iões de so fri-
das pirâmid es. Parec e ce rto q ue as rec itaçõ es ment o terreno - exi ste o contl ito dr am át ico e,
nas cerimôni as de coroação e j ubil eus (H eb assi m, a ra iz do teatro.
se d s ) eram ex press as em form a dra m átic a . Osíris é o mais humano de tod os os deu ses
M esmo a apresenta ção da deu sa Ísis, pronun- no panteão egíp cio. A lenda final mente trans-
ci ando um a fórm ula mágica para pro teger seu formou o deu s da fertilid ade num ser de ca rne e
filhinho H órus dos efe itos fala is da picada de osso. Co mo o Cristo dos mistéri os medi evais,
um esco rpião. parece ter sido dr amaticament e Osíris sofre traição e morte - um destin o huma-
co nce bida . no . Dep o is de terminado II seu mart írio. as lá-
Um encantament o de ca ráter di ferente foi gr imas e lament os dos prante ad or es são sua
decifrado na es teja de M etterni ch (as sim cha - ju stificati va di ante dos deu ses. O síris ress usci-
mad a por encontrar-se preser vad a no Cas telo ta e se toma II gove rnador do reino dos mon os.
de Metterni ch na Boêmia). É um enca ntame n- Os es t ágios do des tino de O síris co nxri-
to popular simples, co rno os qu e as mãe s egíp - ruem as esta ções do grande mist ério de Ahidos .
cias pronunciam até hoje quando seus filho s O s sacerdo tes organizavam a pe~'a e atua vam
são picados pelo escorpião : " Vene no de Tefen, nela. O clero percebia quão vast as possibilida-
qu e se derrame no chão, que não avance para des de sugestão das massas o mist ério ofe recia.
dentro dest e corpo...', Achados como esse e Te stemunho de sua perspicácia é o fato de que,
insc rições de ca ntos fu nerai s e rec ita ções não mesmo com toda e ca da vez mai or popularida-
nos dão chaves para as art es teatrais do Eg ito, de do culto a Osfris, co m os cresce ntes recurs os
mas, ao con trário , levam a a lg uma co nfusão . das fund aç ões princ ipescas e com a riq ueza de
A mistura entre a ap resen taçã o na prime i- suas tumbas e capelas. contin uavam a levar em
5. Joven s musicistas c dançarinas. Pintura cm pared e de Shckh abd el Kurna, Te bas. 1W Dinastia. c. 1400 a.C. (Lo n- ra pessoa e a forma invocat iva em tra d uções co nta o hom em do povo. Qu alquer u m q ue
dres, Briti sh Museum).
0 /1
I
i
II
• E g i rn e An ti go Üri e n t c

dei xasse uma pedra ou estela mem ori al e m do governo e favorito do rei, se m dúvida esta-
Abid os poderia est ar seguro das bênçãos de va entre esses privilegi ados, porqu e lemos em
Osíris e de que, após a morte, participaria , "trans- sua inscriçã o: "Repudiei aque les que se rebe-
figurado", das cerimô nias sagradas e dos ritos laram co ntra a barca Ne schme t e combati os
no templ o, co m sua família, exatamente co mo inimigos de Os íris".
havia feito em vida . Após est e prelúdi o, seg uia-se a "g rande
Ex iste uma estet a de ped ra, do ofi cial da partida" do deu s, terminando com sua mort e.
corte Ikhern ofr et , que viveu durant e o reinado A cena da mort e provavelm ent e não acontecia
de Sesóstris III , na época da décima segunda às vista s do públi co com um, co mo a crucifix ão
dinastia . A estela traz gravadas as tarefas de no Gólgo ta, mas em seg redo. Porém, tod os os
seu do na tário, Ikh ern ofret, co nce rne ntes ao part icipante s uniam- se em alta voz às lamen -
templ o em A bid os. A parte superior da ped ra rações da esposa de Osíris, Ísis. Heródoto co n-
come mo ra tiva fal a da obra de restauração e ta, a respeito da cerimônia de Osíris em Busíris,
reform a do templo , levada a cabo por Ikherno- que "muitas deze nas de milh ares de pessoas
fret ; a part e de bai xo (linha s 17-23) refer em- erguiam suas voze s em lam ent os" ; em Abid os,
se à ce leb ração dos mistérios de Os íris. Não é deveria haver muit as mais.
possível saber, a partir da inscrição , se as fa ses Na cena seguinte, II deu s Tot chega num
7. Rele vo em calcário de Sakke ra: à esque rda, joven s dançando e toc and o música; à direita, ho men s c am inhando co m distintas do mistério, retratando a vida, a mor - navio para buscar o ca dáve r. Então são feitos os
braços erguidos, 19' Oinaslia. c. 1300 a.c. (Cairo, !'> t usell). te e a ressurei ção do deus, eram ence nadas em preparativos para o enterro . Morto, Osíris é en-
suces são imediata, a interval os de dia s, ou até terrado em Peker, a pou co mais de um quilô-
mesmo de se mana s. Heinrich Sch ãfer, o pri - metro de distânci a do templ o de Osíris, contra
mei ro a interpre ta r os hieróglifos da pe d ra , o pano de fun do da larga planície em forma de
conjectu rou que os mistério s de Osíris "s e es- crescente de Abidos. Numa grande batalha , os
tendi am dura nte uma parte do ano reli gio so , inimigos de Os íris são mort os por se u filho
como os nossos próp rios festivais, indo de sde Hórus, agora um j ovem. Osíris, erguido para
o período do Adve nto até o Pe nteco stes, co ns- uma nova existênc ia no reino da morte, reentra
tituindo um gra nde drama " . no tem plo como o govern ador dos mortos.
A pedra, e ntre tanto, esclarece as princi - Nada se co nhece sobre a parte final dos
pai s ca racter ísticas dos mistérios de Osíris na mist érios, qu e aco nte cia entre "iniciados" , na
époc a do Méd io Imp ério (2000- 1700 a.C .). O part e intern a do templ o de Abidos. Como os
relat o co meça co m as pa lavras: "E u organi zei mistérios de Elêusis, esses ritos perman eceram
a pa rtida de Wep wawet qua ndo el e fo i re sga- secretos para o público .
tar seu pai" . Parec e c laro, port ant o , que o deu s Os fes tivai s do c ulto a Osíris tamb ém
Wepwawet , na forma de um chaca l, ab ria as aconte ciam nos gra nde s templo s das cidades
cer imônias. Im edi atam ent e após a figura de de Bus ín s. Heli ópoli s, Letópolis e Sais. O fes-
Wepwawe t "apar ecia o deus Os íris, em tod a a tival de Upuaur, deu s dos mortos, em Siut, deve
sua maj esta de, e cm seg uida a e le, os nove ter tido um proce sso de procissão similar. Aqui.
deu ses de se u séq uito. Wepwaw et ia na fren - também , a imagem ricamente coberta do deu s
te, cla reando o caminho para ele..." . Em triun - era acompanhada num a procissão solene até
fo , Osí ris naveg a e m seu navio, a bar ca de se u túmul o.
Neschm et, acompanhad o dos parti cipantes das A cerimônia do erguimenta da coluna de
ce rimô nias do s mi stéri os. São os seus co m pa - Ded, instituída por Am en ófis III e sempre ob-
nhei ros de ar mas em sua luta co ntra seu in i- ser vada solenemente nos aniversários de co -
migo Set . ro ação , po ssuía também el e men tos teatrai s
Se devemos co nceber o navio de O s íris definid os. O túmulo de Kh eriu f em Assas i
como harca ca rr ega da por terr a, então presu- (Tebas) forn ece um a rep resenta ção gráfica da
mivelm ent e os g uerre iros marchavam ao lon - ce na: Am en ófi s e sua espo sa estão se ntados
go dela. Se a jornada era repr e sent ad a num em tron os no local do levantamento da colu -
barco real sobre o Nilo, um núm ero de pes- na. Suas filh as, as deze sse is princesas, tocam
8. Ostracon (frag mentos de ce râmica) com ce na de UI11<..t proci ssão eg ípcia: a barca de Amon. c arreg ada por sace rdotes, soas privilegi ad as subiriam a bordo para "lu- música co m choca lhos e sistros. enq uanto se is
c. 1200 a.C .'; encontrada em Der cl -M cdfnc (Berlim, Staatlichc M us cen) . tar" ao lado de Os íris. lkhernofret, alto o ficia l ca ntore s lo uvam a Pt á, II de us guard ião do

• 13
• E g i t o e A n t i g o Oriente

imp ério. A parte inferior tio rel evo de Kheriuf tos dos deu ses. Esse paciente apego à tradição
descreve a conclusão da ceri mô nia do festival: s ufo c o u as se me ntes do d ram a. Par a um
participantes lutando co m ba stões, num a cena florescim ent o das artes dram áticas teria sido
simbó lica de com bate ritual, no qual os habi- necessário o de senvolvimento de um indi ví-
ta ntes da cidade também tomavam parte. duo livr em ent e respon sável qu e tivesse parti -
Heródoto, no seg undo livro de sua histó- cipação na vida da comunidade, tal com o en-
ria, desc reve uma ce rimônia simi lar, observada corajado na democrát ica Ate nas . O c idadão
em homenagem ao deus Ares , embora, a jul gar da po lis grega, que possuía voz em seu gover-
pelo contexto, o deus em questão deva ter sido no, possuía também a possibilidade de um co n-
Hórus. Essa observaç ão , conservada em Pa- fronto pessoal com o Estado , co m a históri a,
premi s, envolve tamb ém o co mbate ritual: co m os de use s.
Falt ava ao egípcio o impu lso para a rebe-
Em Paprern is, ce leb ra m -se sa cri fíc ios co mo em lião; não conhecia o co nflito entre a vontade
q ua lqu er lugar, ma s qua ndo O so l c o meça a se pô r, a l- do hom em e a vontade dos deuses, de o nde
gun s sacerdotes ocu pam-se da imagem do deu s; todos os
brota a semente do dram a. E, por isso , no anti-
o utr o s sacerdotes. armad os com ba stões de madeira , fi-
cam à port a do templo. Diante deles se co loca uma mul- go Eg ito, a dança, a música e as origens do
tidão de home ns, mais de mil d el es , també m armad os teat ro per manece ram amarradas às tradições
co m ba stões, que tenham algum va lo a cu mprir. A ima- do ce rimonial religioso e da corte. Por mais de
ge m do deu s perm anece num peque no re licár io de madei- três mil anos as artes plástica s do Egit o flores-
ra adornado. e na véspera do festival é, conforme dize m,
ceram, mas o pleno poder do d rama j amais foi
transportada para outro templ o. Os poucos sace rdotes que
a inda se oc upam da ima ge m co loc am-na. j unta me nte com desp ert ado. (O teatro de sombras, que surg iu
o reli cári o, num carro com qu atr o rodas e a levam para o no Eg ito durante o século XII d.e., pro porc io-
tem plo . Os outros sace rdotes. q ue permanecem à porta. nou estím ulos para a represe ntação de lend as
impe dem-nos de entrar, mas os devotos lutam ao lado do populares e eventos históricos. Sua forma e téc-
d eus e atacam os ad versário s. Há uma luta feroz, onde
cabeç as são que bradas e não são pou co s os qu e, ac redito,
nica for am inspirada s pelo Ori ente. )
m orre m em conseqüência dos fer imentos . O s eg ípc ios. Foi es ta co mpulsão herd ada para a obe-
por é m , negavam que: ocorres sem q ua isq uer mortes. diê ncia que finalmente subj ugou Sinuhe, um
oficia l do governo de Ses óstri s I que ousara
o fanatis mo ritual que es sa ce na sugere fugi r pa ra o Oriente Próximo. "Uma procis-
recorda os ferim entos au to-infligidos das pe- são fun er al ser á organizada para ti no dia do
ças xiitas de Hussein, na Pér sia, e os flagelantes tCII e nterro" , o faraó o inform ou : "o cé u estará
d a Europa medieval. so bre ti qua ndo fores colocado so bre o esqu ife
A través das épocas do esplendo r e dec línio e os bois te levarem , e os cantores irão à tua
dos faraós, o eg ípcio permaneceu um vassa lo frente quand o a dança /lUlU for executada em
dócil. Aceitou as leis impostas pelo rei e os teu túmu lo..." . Sinuhe regres sou. A lei que ha-
prece itos do seu sace rdócio co mo mandarnen- via governado o desem penh o do seu o fíc io foi

9 . Ce na dram ática do mito de Hdrus: o deu s-falcão Hórus . retratad o na barca, como vitor ioso sobre se u irmão
SeI. Rele vo e m calcário em Edfu . Época dos Pto lom eu.'> , c. 200 a.C.
lO. Bonecos de teatr o de so m bras eg ípcio do séc ulo XIV a .C . (O ffenbac h aIO Main, Deut sch es Lederm useum).

• 15
História MUI/dia! do Teatro. • Egito e Antigo Ori cn t c

mais forte que a rebelião: o poder da tradição brado uma vez por ano nos maiores templos de dos pretensos bons conselhos e a relativi- plexas do que, por exemplo, aquelas existen-
esmagou a vontade do indivíduo. do império sumeriano. Sacerdotes e sacerdo- dade das decisões "bem consideradas". Recen- tes entre os conceitos mitológicos da Antigüi-
tisas faziam os papéis de rei e rainha, do deus temente, mais exemplos do teatro secular da dade e os do cristianismo primitivo.
Assim não há indício, e na verdade é contra qual- e da deusa da cidade. Não se sabe onde foi Mesopotâmia vieram à luz. O erudito alemão No início do século XX, o erudito Peter
quer probabilidade. que desde esse ponto pudesse seguir- Hartmut Schmõkel, por exemplo, interpretou
traçada a linha divisória entre o ritual e a reali- Jensen procurou estabelecer uma conexão en-
se lima trilha mesmo aproximadamente parecida com
dade, mas é certo que o rei Hamurabi (1728- a assim chamada Carta de um Deus como uma tre Marduk e Cristo, mas não teve sucesso. A
aquela que , na Hélade, a partir de uma origem similar na
religião, levou ao desenvolvimento da tragédia ática. Para 1686 a.c.), o grande reformador da lei sume- brincadeira de um escriba, um outro texto que assim chamada controvérsia Bíblia-Babel fun-
chegar a isso, o primeiro degrau precisaria ter sido uma riana, riscou o festival do "casamento sagra- soava como religioso como um tipo de sátira e damentou-se na suposta existência de um dra-
extensão do mito de modo que contivesse o homem e, do" do calendário de sua corte. Hamurabi es- um poema heróico como uma paródia grotesca. ma ritual que celebrava a morte e a ressurrei-
depois. um modo particular de ser humano; nenhuma das As disputas divinas dos sumérios possuem
tabeleceu um novo ideal de realeza: descreveu ção de Marduk. Porém, as últimas pesquisas
duas coisas foi encontrada no Egito (5. Morenz),
a si mesmo como um "príncipe humilde, te- um carát~r definitivamente teatral. Até agora provaram que a interpretação textual em que
mente aos deuses", como um "pastor do povo" foram descobertos sete diálogos desse tipo. To- se assentava esta suposição é insustentável.
e "rei da justiça". Hamurabi nomeou Marduk, dos eles foram compostos durante o período em No reino de Nabucodonosor, o famoso
MESOPOT ÂMIA até então o deus da cidade da Babilónia, deus que a imagem dos deuses sumérios tomou-se festival do Ano Novo, em homenagem ao deus
universal do império. Um diálogo surnério, que humanizada, não tanto em sua aparência exter- da cidade da Babilónia, Marduk, era celebra-
No segundo milênio a.C.; enquanto os fiéis se acredita ter sido uma peça e intitulado A na quanto em suas supostas emoções. Este cri- do com pompa espetacular. O clímax da ceri-
do Egito faziam peregrinações a Abidos e as- Conversa de Hamurabi com uma Mulher, é de- tério é crucial numa civilização: é a bifurcação mônia sacrificial de doze dias era a grande pro-
seguravam-se das graças divinas erigindo mo- votado ao criador do Código de Hamurabi e é na estrada de onde se ramifica o caminho para cissão, onde o cortejo colorido de Marduk era
numentos comemorativos, o povo da Meso- considerado pelos orientalistas um drama cor- o teatro - pois o drama se desenvolve a partir seguido pelas muitas imagens cultuais dos
potâmia descobria que o perfil de seus deuses tesão. Retrata a astúcia feminina triunfando do conflito simbolizado na idéia dos deuses grandes templos do país, simbolizando "uma
severos e despóticos estava ficando mais sua- sobre um homem brilhante, apaixonado, ain- transposta para a psicologia humana. visita dos deuses", e pela longa fila de sacer-
ve. Os homens começavam a creditar a eles da que envergue os esplêndidos trajes de um Em forma e conteúdo, os diálogos sumé- dotes e fiéis. Em pontos predeterminados no
justiça e a si mesmos, a capacidade de obter a rei. É possível que o diálogo tenha sido ence- rios consistem na apresentação de cada perso- caminho pavimentado de vermelho e branco
benevolência dos deuses. Estes estavam des- nado em alguma corte real rival, ou, após a nagem, a seu turno, exaltando seus próprios da procissão, até a sede do festival do Ano
cendo à terra, tornando-se participantes dos ri- morte de Harnurabi, até mesmo no palácio na méritos e subestimando os do outro. Novo, a comitiva se detinha para as recitações
tuais. E, com a descida dos deuses, vem o co- Babilônia. Outro famoso documento sumério, Em um dos diálogos, a deusa do trigo, do epos da Criação e para as pantomimas. Este
meço do teatro. o poema épico cm forma de diálogo, Ennterkar Aschnan, e seu irmão, o deus pastor Lahar, dis- grande espetáculo cerimonial homenageava os
Um dos mais antigos mistérios da Meso- e o Senhor de A rata, pode também ter sido um cutem a respeito de qual dos dois é mais útil à deuses e o soberano, além de assombrar e emo-
potâmia é baseado na lenda ritual do "matri- drama secular, apresentado na corte real do humanidade. Em outro, o abrasador verão da cionar o povo. "Era teatro no ambiente e no
mônio sagrado" - a união do deus ao homem. período de lsin-Larsa. Mesopotâmia tenta sobrepujar o brando inver- garbo do culto religioso, e demonstra que os
Nos templos da Suméria, pantomima, encan- É certo que na Mesopotâmia os músicos no da Babilônia. Num terceiro, o deus Enki bri- antigos mesopotâmios possuíam, pelo menos,
tamento e música converteram a tradicional da corte, tanto homens quanto mulheres, des- ga com a deusa mãe Ninmah, mas mostra ser um senso de poesia dramática; é preciso que
representação do banquete para o par divino e frutavam dos favores especiais dos soberanos. um salvador no grande tema fundamental da se façam pesquisas mais amplas sobre o cul-
humano num grande drama religioso. Os Nos templos, sacerdotes vocalistas, jovens can- mitologia, o retorno d~fero. Num quarto diá- to" (H. Schmõkel).
governantes de Ur e Isin fizeram derivar sua toras e instrumentistas de ambos os sexos exe- logo, Inana, a deusa da fertilidade, banida para Durante o terceiro e o segundo milénios
realeza divina deste "casamento sagrado", que curavam a música ritual nas cerimônias e eram o mundo das sombras, poderá retornar à terra a.c., outras divindades do Oriente Próximo
o rei e a rainha (ou uma grã sacerdotisa dele- tratados com grande respeito. Uma filha do se puder encontrar um substituto. Ela escolhe foram homenageadas de forma semelhante em
gada por comando divino) solenizavam após imperador acádio Naram-Sin é referida como para este propósito o seu amor, o pastor real Ur, Uruk e Nippur; em Assur, Dilbat e Harran;
um banquete ritual simbólico. "harpista da deusa lua". As artes plásticas da Dumuzi, que assim é apontado príncipe do in- em Mari, Umma e Lagash. Persépolis, a anti-
De acordo Com pesquisas recentes, o fa- Mesopotâmia dão testemunho da riqueza mu- ferno. Com a lenda de Inana e Dumuzi, o ciclo ga necrópole e cidade palaciana persa, foi fun-
moso estandarte-mosaico de Ur, do terceiro sical que exaltava "a majestade dos deuses" se encerra e termina no "casamento sagrado". dada especialmente para a celebração do fes-
milênio a.C,, é uma das mais antigas repre- nos grandes festivais. O fato de os artistas do Inana e Dumuzi são o par sagrado original, tival do Ano Novo. Aqui, no final do século VI
sentações do "casamento sagrado". Essa mag- templo serem investidos de uma significação Mesmo os sacerdotes mais bem instruí- a.C., Dario ergueu o mais esplêndido dos palá-
nífica obra, com suas figuras compostas por mitológica especial é sugerido pelos musicistas dos do período não eram capazes de fazer um cios reais persas. E aqui Alexandre, sacrificou
fragmentos de conchas e calcário incrustados com cabeças de animais sempre vistos em re- conspecto do vasto panteão do antigo Oriente, a idéia ocidental dc humanitas à sua'ebriedade
num fundo de lápis-lazúli, data de aproxima- levos, selos cilíndricos e mosaicos. Os meso- com seus inumeráveis deuses principais e sub- com a vitória; após a batalha de Arbela, dei -
damente 2700 a.c. e provavelmente foi parte potâmios possuíam um senso de humor desen- sidiários das muitas cidades-Estado separadas. xou que o palácio de Dario se consumisse nas
da caixa de ressonância de algum instrumento volvido. Um diálogo acádio, intitulado O Mes- As relações mitológicas são muito mais com- chamas.

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musical, mais do que um estand.u te de guerra, tre e o Escravo, assemelha-se ao mimo e às
Do segundo milénio em diante, o "casa- farsas atelanas, a Plauto e à Conuncdia dell'ar- ... J a~ 1J. 1 /){-). Jo «v s «,» ; I!Y'\ 1\1'11\. {)
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mento sagrado" foi quase com certeza cele- te. Os trocadilhos do servo expõem a vacuida-
• 16 J ""~ I\. ',c. I..
t b 11\/lrl\... D S~·""'''''. ""," d, .l",~.'L/" I:> • 17
As Civilizações Islâmicas

INTRODUÇÃO A divisão do Islã entre sunitas e xiitas,


como resultado da controvertida sucessão de
Nenhuma outra região na terra experimen- Maomé, deu origem à tarivé, forma persa de
tou tantas metamorfoses políticas, espirituais paixão, uma das mais impressionantes mani-
c intelectuais no curso da ascensão e queda de festações teatrais do mundo. A taziyé nunca
impérios poderosos quanto o Oriente Próxi- viajou além do Irã. Não seguiu a marcha vito-
mo. Ele foi, alternadamente, o centro ou ponte riosa do Islã através da costa do Norte da Áfri-
entre civilizações, sementeira ou campo de ca para a Espanha, nem se propagou através
batalha de grandes cont1itos históricos. No ano de Anatólia, junto com as mesquitas e minare-
de 610, quando Maomé, mercador a serviço tcs, ao Bósforo e aos Bálcãs.
da rica viúva Khadija, recebeu a rcvclaçao do Contrariando os mandamentos do profe-
Islã no monte Hira, perto de Meca, alvoreceu ta, entretanto, além do Monte Ararat desen-
uma nova era para o Oriente Próximo. volveram-se tanto espetáculos populares quan-
A fé comum do Islã trouxe pela primeira to de sombras, de tipo folclórico, baseados no
vez aos povos do Oriente Próximo um senti- mimo. Mediante o uso dos heróis-bonecos tur-
mento de solidariedade. O Islã reformulou a cos Karugüz e Hadjeivat no teatro de sombras,
história dos povos do Oriente Próximo. do a proibição do Islã à representação das ima-
Norte da África e até mesmo da Península Ibé- gens de seres humanos era astuciosamente lu-
rica. Talhou um novo estilo cultural. segundo dibriada. Esses heróis, corporificados em bo-
os precei tos do Alcorão. necos maravilhosos, eram feitos de couro de
O desenvolvimento do teatro e do drama camelo. Eram movimentados por meio de va-
foi asfixiado sob a proibição maometana de ras e possuíam buracos em suas articuluçôex
qualquer personificação de Deus, o que signifi- através dos quais a luz brilhava - quem pode-
cou o sufocamento dos antigos germes do dra- ria acusá-los de serem imagens de seres hu-
ma no Oriente Próximo. Todavia, escavações manos') Karagõz c Hadjeivat aproveitavam o
de teatros greco-romanos, como por exemplo privilégio para apimentar mais ainda suas pi-
cm Aspendus, mostram restaurações feitas na lhérias e deixar suas sombras abrir descarada-
época dos seldjúcidas - uma indicação de que mente o caminho, através da tela de pano, para
os seguidores do Islã reviveram c apreciaram o o coração de seu público.
circo e o combate de gladiadores. Evidencia-se A paixão e a farsa, associadas em contra-
que eles preservaram e restauraram edifícios tea- ditória união nos mistcrios europeus, penna-
trais da Antiguidade. e que apresentações como ncccram como irmãos hostis sob a lei do Al-
essas devem ter sido toleradas. corão. Todavia, ambas cncontruram seu c.uui-
História A1111ldiai do Tc at ro •
[
nho para o coração das pessoas. Ambas torna- Dramatizações desse evento, muito enfei-
ram-se teatro, encontrando uma platéia entre tadas por lendas, ainda são levadas no último
a gente comum. dia do festival do Muharram. Elas duram do
meio-dia até bem tarde da noite, e constituem
o clímax e a finalização de dez dias de procis-
PÉRSIA sões religiosas (deste') iniciados ao alvorecer do
primeiro dia do mês maometano do Muharram.
Sir Lewis Pelly, que acompanhou a mis- Os fiéis, vestidos de branco como os flage-
são diplomática inglesa à Pérsia e foi aí Resi- lantes da Europa medieval, seguem pelas ruas
dente (agente diplomático) de 1862 a 1873, com altos gritos de lamentações. Dois dias an-
não era dado a exageros. Entretanto, escreveu tes, no oitavo do festival, bonecos de palha, re-
a respeito da tariyé que "se o sucesso de um presentando os cadáveres dos mártires de Ker-
drama pode ser medido pelo efeito que pro- bela, são deitados em esquifes de madeira e
duz sobre as pessoas para quem é feito, ou so- carregados de um lado para outro entre lamen-
bre as platéias diante das quais é apresentado, tações intermináveis e extáticas. Os homens
nenhuma peça jamais ultrapassou a tragédia flagelam a si mesmos com os punhos e espe-
conhecida no mundo muçulmano como a de tam-se com espadas, fazendo sangrar o pró-
Hassan e Hussein". As apresentações anuais prio peito e cabeça. Aqueles que valorizam a
da taziye vieram a ser de duradouro interesse própria pele mais do que o fervor da fé sem
para Pelly; graças à ajuda de um antigo pro- dúvida dão um jeito com uma enganosa simu-
1. Bonecos turcos de teatro de sombras: o cantor Hasan (à esquerda), e os dois personagens principais Karagõz e
fessor e ponto dos atores, ele coletou 52 peças lação. Em 1812, o francês Ouscley, que viajou Hadjeivat, aos quais incumbem as falas no diálogo tosco e grotesco (Offenbach am Main, Deutsches Ledermuseum e
e, em 1878, publicou 37 delas. através da Pérsia, observou ambos - ferimentos coleção particular).
O enredo da taziyé é composto de fatos his- auto-infligidos por fanatismo genuíno, e ou-
tóricos adornados pela lenda. Quando Maomé tros, pintados habilidosamente na pele.
morreu em 632, deixou um harém de doze es- Na manhã do décimo dia do Muharram.
posas, mas nenhum filho . De acordo com um os espectadores dirigem-se às pressas para o
pretenso testamento deixado pelo Profeta, a pátio da mesquita ou para a tekie (monastério),
sucessão passaria à sua filha Fátima, esposa de onde um palco ao ar livre é montado para a
Ali. Acendeu-se uma disputa sangrenta entre tariye. Se chove, ou se o sol está muito quen-
seus filhos Hassan e Hussein. Em 680, o imã te, é estendido um toldo. O sekkon, platafor-
Hussein recebeu dos habitantes de Kufa, na ma redonda ou quadrada, serve como palco.
Mesopotâmia, que supostamente eram dedica- Uma tina d'água representa o Eufrates, uma
dos a ele, um apelo para que se juntasse a eles e tenda, o acampamento em Kerbela, um esca-
assumisse, com sua ajuda, a liderança do Islã belo os céus, de onde desce o anjo Gabriel.
como o legítimo sucessor do Profeta. Hussein, Os intérpretes são amadores. Dão o texto
acompanhado de sua família e de setenta segui- a partir de um roteiro, embora a maior parte
dores, viajou para a Mesopotâmia. Mas, em vez seja representada em pantomima, enquanto um
da entronização, ele recebeu a ordem de sub- sacerdote (moliah), que é ao mesmo tempo
meter-se incondicionalmente ao califa Yazid e organizador e diretor, comenta a ação. Ele se
renunciar a todos os seus direitos. Hussein ten- coloca num pódio, acima dos atores, e recita
tou resistir a esta traição; porém, privado de toda também a introdução e os textos de conexão.
a ajuda e sem acesso às águas do Eufrates, ele e Papéis femininos são executados por ho-
seus fiéis seguidores pereceram na planície de mens. Os figurinos são feitos de qualquer ma-
Kerbela. Enfraquecidos pela sede, caíram víti- terial disponível. Em 1860, quando a legação
mas das tropas do califa Yazid. As mulheres fo- da Prússia se encarregou de custear as despe-
ram levadas como prisioneiras. O único sobre- sas da apresentação de uma taziye, foram for-
vivente do massacre de Kerbela foi o filho de necidos uniformes e armas prussianos. Hoje,
Hussein, Zain al-Abidin, reconhecido pelos o anjo pode perfeitamente descer do teto de
xiitas (em contraste à rejeição sunita à sucessão um indisfarçado automóvel c dirigir-se para o
de Fátima-Ali) como o quarto imã e sucessor palco, sem que os participantes fiquem pertur- 2. Grupo de figuras de teatro de sombras turcas. A esquerda, cena de diálogo; à direita, um comerciante atrás de seu
legítimo do profeta Maomé. bados por tais anacronismos. O que importa é balcão (Istambul, colcção particular) .

• 20
. ..\ s C í ví í zoç cs Is l â m i c a s
í ó

o co nte údo simbó lico . Andar em to rno do pal- na s cida de s um festival popul ar ca da vez mai s
co significa um a longa jornada. Int roduzir um dispe ndioso desen vol veu-se a part ir da tazivé.
cava lo ou camelo ca rrega do de fard os de ba- Bagdá, Teerã e Isfaan competia m um as co m
gage m e uten sílios de cozinha ind ica a chega- as o utras na apresent a ção e na riqu eza narr ati -
da de Hu ssein à planície de Kcrbel a. U m atar, va de suas peça s. Até 1904 , os espetácul os de
logo apó s ser mono, levanta-se e dirige-se si- taú yé no grande teatro de aren a Teki e-i Da -
len ciosamente para um lado do palc o . Cada laut i em Teerã for am subsidiados pelo gov er-
um dos participante s mantém pront o um pu- no. " De po is da revolução, porém", es cre ve
nhado de palha qu e, no s momento s de gra nde Medj id Rezvani , "es te teatro enfrent ou uma
tri st eza ou desespero, despeja sobre a pró pria crise , porque os fund os necessári os proveni en-
c abe ç a . (De acord o co m o antigo costume tes previamente de fontes particul ares não era m
aq ue m ênida, os pais de D ario derramaram mais obte n íve is" . E ele cita a o bse rvaçã o de
are ia sobre a própr ia ca beça qu and o a notícia seu co lega ru sso Sm im off:
da m ort e do " Rei dos Rei s" lhe s fo i dad a.) A
pai xão de Hu ssein é sempre precedida de uma Os m isté rio s persas são não menos mer eced ore s de
representação da históri a de José e se us irmãos, interesse d o q ue a pa ixão de Obe ramm e rgcu . na Ba vriria ,
visitada po r tu ristas de tod as as parles da Euro pa c da
qu e é aprese ntada no A lco rão po r Maomé América. É um a g ra nde pe na que. num a époc a e m qu e as
como a "sura (ca pítulo) de José" . ligações ferroviá rias estarão disponí veis não ape na s pa ra
Em Zefer Jinn , outra tari yé, o rei dos jinn hom en s de neg ó cio , mas também par a turi stas. a Pérsia
aparece e oferece a Hussein o aux ílio do seu deva perde r esta c uriosidade ímpar.
ex ército . Entretant o, o imã, pronto para sofrer
3. Taziye ao ar livre, encenada por dervixes errantes, século XIX. o m artírio , recu sa a assistência ofereci da e des- Hoje Teerã possui um modemo teatro es ta-
pede o rei dos ji nn co m a adjuração de "cho- dual, co m tod o tipo de eq uipamento técnico . Se u
rar" . O re i dos ji nn e seus g ue rre iros vestem program a inclui obras clá ssicas e de vangua rda
máscar a ; este é o ún ico caso o nde a máscara é do repertó rio intern acional. O mérit o de ter tra-
usada na tradição da taziye per sa. zido Shakespeare para o palco persa pe la pri-
A pai xão taziy« é part e intrínseca da tra - meira vez pert en ce ao Teatro Zoroastriano de
dição xii ta. Desenvol veu -se a part ir da s lam en - Tee rã, fundad o em 1927 e com capacida de para
taçõ e s épica s e líricas das assembléi a s de luto algo como qu atrocen tos espectadores.
pela morte de Hu ssein . Este s ca nto s de lamen- O povo d o ca mpo, entretant o, apega -se
taçõe s foram apre se ntados pel a prime ira vez como se mpre ao s espetác ulos de dan ça s tra-
em forma dramática no século IX, quando um dici o nais , a apresent ações de guerras acrobá-
sultão xii ta da dinastia Buáiida assumiu o cali- ticas e mitológicas e aos personagens folcló-
fato . Dos palc os móveis, er guid os em ca rre- ricos. Ele confirma qu e aquilo qu e Her ódoto
tas. re ssoa va o cha ma do à pen itên ci a: "Arran- disse ainda permanece verdade, quan do o b-
ca i os cabelos, tor cei vossas mãos, redu zi vos- servo u que o s irani an os possu em "em tod as
sas ro upa s a tra pos, golpeai vo sso peit o !" as é po cas uma pred ileção not ável pe la da n-
É pr ovável que a designação fin al de taziv é ça". Essa predileção pod e ser tra çad a a part ir
seja deri vad a da palavra equivalent e ao to ldo da s repre sentações das taças de prata sas sâ -
(ta 'kieh) , estendido sobre os p áti os das me s- nidas da A ntig üid ad e até os dervixes rod o-
q uitas e pra ças de mercad o . Testemunhos oc u- piantes do sécul o XX.
lare s da ta ziyé - de Oleariu s , Tave r nie r,
Thé venot e os de Gobineau e Pell y - fal am do
o pre ssivo fanati sm o do s espet ácul os, não so- TURQUIA
bre"' fIlologia.
Conquanto os es petác ulos da taziyé nas Para o estudi oso da história da cu ltura se-
rem ot a s re gi ões mo nta nhosa s d o mundo ria ao mesmo tem po ave nturoso e revel ad or
isl âmi co e no Cáuca so lenham perman ecid o, tra çar um paralelo entre Alexandre, o G ra nde
até hoj e, um a oc orrê ncia pr im itiva - algumas e G êng is Khan . A man eira imedi ata e d ireta
4. Apresentação da taii vé persa de Husain. no pátio da mesquita cm Rustcmabad . 1860 (extraído de H. Brugsch . Rei sc veze s rep resent ada por um der vixe a func io- co m a qu al A lex and re tran smiti u o es pí rito do
der konigíichr n Prrus sichen Gesandtschu]t fl(lel ! Pvrsie n, Leipzig. 1863). . I~ar c~ mo um tipo de o fl e - II /m ,' SI IOW eX~;ítico -r-. Ocid ente ao qriente é ba lancea da pela influ êI
L ·L I"l ,,1 1~ ' ' 7" ~ ~ I~ eh ' j; , I"1 E.. :>L/liL..:> , Pf ~J~ a 4
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i • As Cí vií i ra ç õ es Islâmicas

cia indireta de Gêngis Khan sobre o mapa da tes inexauríveis e vitais dc motivos e inspira-
Europa, Foi por causa da violenta investida dos ção na comédia improvisada turca.
mongóis contra o Extremo Oriente e suas leis Ao lado dos dançarinos e músicos, os
rígidas que o chefe Suleimã, em 1219, guiou mímicos ambulantes, que foram sempre cha-
seu povo do Turquestão à região do Eufrates, mados "personificadores", nunca estavam au-
O neto de Suleimã, Osman, tornou-se amigo sentes das ocasiões festivas, Eram abundantes
do sultão de Konya e, sucedendo-o no trono nas cortes e nos mercados, nos trens de baga-
em 1288, Osman tomou-se o fundador da di- gem das campanhas militares e entre as mis-
nastia Osmanli (Otomana), Criou o império dos sões diplomáticas. Quando o imperador de
povos turcos, que se expandiu e cujos guerrei- Bizâncio, Manuel II Paleólogo, visitou o sul-
ros conquistaram os Bálcãs e avançaram atra- tão otomano Bayezid, admirou sua versátil
vés do Norte da África para a Espanha, levan- tre;lIpe de músicos, dançarinos e atores.
do consigo sua cultura de minaretes e mesqui- Os principais personagens da comédia
tas, A Europa exaurira-se em sua luta contra turca, Pischekar e Kavuklu, c os dois persona-
uma avalancha que se iniciara com Gêngis gens do teatro de sombras, Karagoz e Had-
Khan. Em 1922, com a extinção do sultanato, jeivat, viajaram com as missões diplomáticas
o império otomano oficialmente chegou ao fim, otomanas através da Grécia, e também a luga-
e um ano mais tarde foi proclamada a Repú- res mais distantes como a Hungria e a Áustria,
5. Cerimônia teatral de recepção em palácio turco. À esquerda, músicos com instrumentos tradicionais; no centro, blica da Turquia. Na Moldávia e Valáquia, tornaram-se os an-
mulher com véu. Miniatura do período otomano (Istambul, Museu do Palácio de Topkapi).
Quatro fatos principais influenciaram o cestrais de uma nova e independente forma na-
desenvolvimento histórico e cultural da Tur- tiva de teatro, Havia mímicos turcos, judeus,
quia e, portanto, também do teatro turco. Fo- armênios e gregos nessas trempes, mas predo-
ram eles: primeiramente, os rituais xamânicos e minantemente os ciganos, bem versados em
da vegetação trazidos da Ásia Central, que todo tipo de malabarismo e magia, danças e
eram, até certo ponto, misturados com o culto jogos acrobáticos,
frígio a Dioniso e que ainda permanecem vi- Os que não conseguiam chegar à corte
vos nas danças e jogos anatólios; em segundo apresentavam-se diante da gente simples, e
lugar, a influência da Antiguidade, mais fre- assim desenvolveram o orla oyunu, forma tur-
qüentemente negada que francamente admiti- ca característica de teatro, que ainda pode ser
da; em terceiro, a rivalidade com Bizâncio: c, encontrada em partes remotas de Anatólia,
em quarto, iniciando-se com o século X, a in- Orta oyunu significa "jogo do meio", ou "jogo
fluência decisiva do Islã. do círculo", ou "jogo do anel", Não requer ne-
Konya, Bursa e, após 1453, a cidade con- nhum equipamento particular, nem cenário ou
quistada de Bizâncio, hoje Istambul, foram as figurino. (O historiador do teatro turco Metin
capitais do império otomano e, dessa forma, And aponta que, na Ásia Central, a palavra
os centros do mundo islâmico a leste e a oeste oyun designa também o ritual xamanista do
do Bósforo. Na corte de Seljuk em Konya, pa- exorcismo.)
ródias eram encenadas e muito apreciadas. Uma marca oval traçada sobre a terra pla-
Anna Comnena, filha de um imperador bizan- na é a área de atuação do orta oyunu. Os aces-
tino, dá provas disto em sua obra histórica so- sórios necessários são nada menos que um
bre Aléxio Comneno I (1069-1118 a.c.). cscabelo triangular e um biombo duplo, aos
Quando o imperador Aléxio, já idoso, foi aco- quais se pode juntar um barril, uma cesta de
metido pela gota, e dessa forma impedido de mercado e alguns guarda-chuvas coloridos, Os

,ia participar de suas campanhas contra os turcos,


eram representadas farsas na corte do sultão
em Konya, conforme relata francamente sua
filha, nas quais Aléxio era satirizado como um
músicos, com oboé e tímpano, ficam acocora-
dos no limite da área de atuação, e o público
permanece em pé à volta . O administrador, di-
retor, ator improvisado e protagonista é o per-
. -,---,~ ,ft velhote covarde e chorão. sonagem Pischekar, Com eloqüência floreada
6. Ce~a de teatro popular turco. Velho corcunda, de tamancos e dançando num tablado diante de um grupo de cinco Essa informação é valiosa. Indica a e uma matraca de madeira ele abre a apresen-
pessoas. A esquerda, músicos com instrumentos de sopro c percussão. Miniatura do período otomano (Istambul, Museu do lopicidade e a orientação temática da farsa tur- tação. A ação e o elemento cómico da peça
Palácio de Topkapi).
ca, A personificação e o ridículo eram as fon- baseiam-se na variedade de tipos étnicos re-

• 25
Hís t ú ri a Mwn d iuí do Trut ro •

present ados, tod os mal faland o o turco, ca da Istambul e c ha mo u-o de "orta O)'W lll co m um a
um em seu mod o parti cul ar - o mercador pe rsa , co rtina" , O cí rc ulo no c hão , que havia come-
o our ives arrnê nio , o mendi go ára be , o guar- ça do co mo improvi sação, ch egara ao teat ro
da-n oturno c urdo . o presunçoso coronel j aní- com um palc o e um auditóri o. Gül ü Agop
zaro, o Ievantino eur opeizado exi bindo -se, a atraiu talentosos atores e escrit ores locais.
mercadora bri gu ent a (inte rpretada por um ho- O orta 0)'/11111de Gedik Paxá tomou-se um
mem), o bêbado e a inequívoca preferênci a da ce ntro de um mo vimento nacional de teat ro
plat éia rú stica, o palh aço Kavuklu com suas turco . Em abril de I R73, apresentou a prim ei-
pi adas e pas pa lhices. par ente pr ó ximo de ra mont agem do dr ama Vala ll (Torrão Natal )
Kar ag õz. de Namik Kem al. A peça teve a mais entusiás-
A ori gem e anti guidade do o r ta o)'UJlU é tica das recepçõe s . O sultão, pressentindo pe-
di scutida, Sua relação com o mim o da Antigüi- rigo, baniu o autor. Mas, após a revolução de
dade é tão óbvia qu anto um a certa similarida- julho de 1908, a estrel a de Namik Kemal bri -
de co m a Co mme dia dell 'a rte , O mai s ext raor- lhou mais int en sament e: Vcltan esteve dur an te
din ário de tud o, quer cm relação aos tip os dos se manas em tod os os teatros do país.
personagens quer ao humor grotesc o result ante, Hoje, nas cidades principais e especial-
é o par alelo com Karag õz, Um manu scrito de ment e em Anca ra, os teat ro s oferecem um re-
1675 afirm a que um grupo de atare s, vestidos pertório qu e, so mado aos dramaturgos e com -
com o os person agen s do teatro de so mbras, fez positores tur cos, é ve rda deiramente interna-
um a apre sentaç ão na corte . cio nal em seu s espetáculos de ópera, co méd ia
Até o séc ulo XIX o centro do orta O)' W IlI musical, bal é e drama.
foi Kadik õy. um a pequena cidade na costa les-
te do mar de M ãrmara, no setor asiático de Is- o T eatro de S o mb r as de
tambul. Aqui também se situava a famo sa tekk e Ka ra g ô ;

(mo nas tério der vixe) onde, em eertos di as da


sema na, os "dervixes uivadores" exec utav am Karag õz é o her ói do teatro de so mbras
seu ritu al ex t ático . Se us primos, os der vixes turco e árabe e d ti nome ao cspet ácul o de so m-
dançarinos, preferiam vagar através do país, pois bras. O espirituoso Karag õz, com sua retóri ca
era se mpre fácil reunir um pequ eno cí rculo de rápida e en genhosa, tro cadilhos ásperos e jo-
curiosos e, após a dança sagrada, co letar algu- gos de pal avras rú sti cos. viajou par a mu ito
mas moed as co mo recompensa. Hoje as danças além de sua terra natal ; se nte-se em casa na
dervixes tornaram- se um negó cio e surge m G récia e nos Bal c ãs, e e m lugares longínquos
co mo atração turística em niglu-clubs de Istam- da Ásia . Tod o um fei xe de lendas circunda a
bul, do Ca iro, Áde n ou Teerã. sua orige m. Um a das ma is populares afirma
O primeiro teatro turco com um fosso par a que Karag õz - o nome sig nifica "olho negr o"
a orques tra e um cen ário mecani camente op e- - e seu companheiro Hadjeivat realm ente exis-
rado surgi u na prim eira metade do sécu lo XIX. tiram no século XIV, na época em qu e a gr an-
O rganizad o segundo o padr ão franc ês e itali a- de mesqu ita de Bursa es tava sendo erguid a.
no. apr esent ava peç as de Moliêre e Gold oni , e Seus du elos ve rbais vivos e grotescos par ali -
também o Fausto de Goethe e Natan, () Sábio, sa ram as obras de co nstru ção da mesquita. Em
de Les sing . Malabarista s, mágic os. cir cen se s. vez de trabalhar, os pedreiros punham se us ins-
entretanto , co ntinuavam a reunir suas platéias trum ent os de lado e ou viam os longos e diver -
e m galpões de mad eira e tenda s. Mas nos ca - tid os discursos de Karag õz e Hadjei vat. O sul-
fés e ca sas de chá, a centenária arte do nieddha, tão soube de suas fa çanha s e ord enou que
o contador de hist órias, co ntinuava com su a ambos foss em enforcados. Mais tarde , qu an-
velha popul aridade. Duran te o mês do Ramad ã, do rep rova va am ar gamente a si mesm o por
porém , ele se reti rava e deixava o cam po aber- isso . um dos cortesãos do sultão teve a idéia
to para Karag üz. de trazer Kar ag õz e Hadj civat novamente à vida
Em novembro de 1~ 6 7 , durante o Ram a- na form a de figur as de couro brilh antemente
d ã, um armênio de nome Giillü Ago p inaugu - co loridas e translúc ida s e sombras num a tela
7 . Kar ag õz com roupas de mulher. Co mo cm qua lqu er lupnr, cenas li", d isfar ce eram pop ulare s no teatro de so m bras
rou um tea tro turco no bairro Ged ik Paxá de de linho : Kar agü z co m se u nariz adu nco. bar- turc o (da co leção de Ci . J;u.:ob . /)a.\ Sc/ W ll clIll ll' o t4'r iII sein rr H h ll 4/(' rtOJg vcnnMo rgen lnnd ; um A.!Jl'I1IJ/o ll(/ . Berl im . 1')(11•.

• 26
ba negra , olhos astutos de botão e a mão direi-
ta gestic ulando violentamente; e Hadjeivat
ves tido de mercador, cauteloso e meditativo,
de boa índole e sempre sendo enro lado. Uma
H i s t ó r ia Mu n di a l do T eat ro .

O s que ma nipula m os bonecos ta mb ém o s faze m


falar . ou me lhor. fala m atravé s deles. mant endo -se es-
con di dov e im ita ndo vá rias línguas co m todo ripo de pia-
das . Suas uprc sc ruaçõcs nada mais são do q ue fa rsas indc -
ce nrcs e oco rrê nc ias obsce nas e ntre hom e m e mul he r co m
1
i
I
As Ci vilizações Indo-Pacíficas

rel ação de tipos pitoresco s co mp letavam o gc srua lida dc Ião gross e ira ao imitar essas s u uações de
e lenco do teatro de sombras : CcJebi , o jovem luxúria. qu e não pod eri am ser piore s na tre ça -fe ira go rda
de ca rnava l do que são num prostíbulo na te rça- fe ira gor-
d ândi; a linda Messalina Zenne: Beb eruhi,
da d urante o seu jejum.
anão ingênuo; o persa com sua pip a d' água, o
albanês, e outros personagens region ais; o vi-
ciado em ópio; o bêbad o. Apesa r de suas piadas gross e iras e fran-
Geo rg Jacob , um co lec io nador e estudio- ca s ob sce nidades, Karag õz ludibriava os g ri-
so do teatro de sombras orienta l, atribui um lhões das auto ridades religiosas. O s bon ecos,
alegado epitáfio de Kara g õz em Bursa ao mes- movidos por varas e recortad os em couro ou
tre de bonecos Mustafá Tevfik, qu e se supõe pergami nh o nos quais eram perfurad os bura-
ter trabalhad o nesse período. cos aqu i e ali a fim de permitir qu e a luz pas-
O teatro de sombras era a diver são predi- sasse atravé s deles, não poderiam ser faci lmen-
leta tanto do povo quant o da curte do sultão. te descritos co mo imagens de entes human os,
Era apresentado em casamentos e circuncisões. e assim davam a volta na proibição do Alco-
rão . O uso de tipo s fixos oferecia ca mpo para I NTRODU Ç ÃO da mentalidade a-histórica dos hindu s que a
Porém, o grande momento de Karag õz chega
a sát ira e polêmica, num disfarce de apa rente preci são dos asp ect os mitológicos do drama
com o início do Ramadã, o mês sagrado do
in ocên cia . Não havi a fraqueza human a, vai- Na Índia clás sica a dança e o drama eram não tenham equiv alente em sua práti ca de atua-
jejum, quand o, ao entardecer, todos acorrem
dad e de class e ou abuso tópi co qu e Kar agoz dois compo nen tes igualmente important es de ção . O que se preser vava não era a rea lidade
aos cafés . O viajante itali ano Piet ro delIa Valle,
não co nvertesse em moti vo de riso. um só e grande c redo: ambos serviam para ex - terrestre, mas o es pírito . E, por co nsegu inte, o
que chegou a Istambul e m 1614 , fez uma nar-
Do Bósforo, Karagõz em igrou para o nor- pressar hom en agem aos deu ses. Shiva, o se- pesquisador do teatro prec isa procurar pelas
rat iva detalhada da peça de teat ro de sombras
te ; estava em ca sa em qualqu er parte do mun- nhor da mort e e do ren asciment o terren os. er a chaves abr ind o ca m inho lab ori osam ente atra-
turca. Diz Della Valle em Viaggi , publicada em
do islâmico. Ele sempre deu no me ao s bois, e representado co mo o Rei dos Dançarinos. Na vés do embrenhado dos ritos sacrificiais védi-
1650-16 58,
era ap laudido mesmo qua ndo o púb lico mal tradição da Índ ia. o próprio Brahma, criador co s e invocações aos de use s, através dos ca n-
Na verdade. IICSh: S a lbergue s onde se bebe existem, co nseg uia ente nder as suas pa lavras, porque o do universo, crio u tamb ém a arte do dra ma , e tos rituais dos brâman es e atra vés dos ritos das
mesmo durante a époc a de seu grande j ej um. certos bufões sig nific ado do hum or gro tesco da aç ão não se us estre ito s laços co m a religião foram ex- rel igiões j ainista e bud ista, frut os do bram a-
e -anni que divertem os convidados com roda a sorte de pressos dur ant e muit os séculos na cerimônia n ism o que se desen vol veram durante o primei-
podi a lhe escapar.
pi lhé rias c tolices. Entre as co isas qu e faze m. confor me
Quando Kar ag õz certa vez alud iu de modo inicial de bên ção e purificação que precedia ro m ilênio a.e.
cu mesmo vi. estão as represen taç ões de fan tasm as e es -
píri tos por detrá s de um tec ido ou de pap el pintado, ü luz claro dema is à corrup ção da cort e , em 1870, sob qualquer apr esen tação teatral. Desde a vir ada do milênio, os velhos deu-
de rochas. os qu ais se mov e m, andam . eles fazem roda o sultão Abdülaziz. foi proibido de se envolver As três grandes religiões da Índia - brama- ses védicos havi am sido eclipsados por Shiva,
lima variedade de gestos exaturnente da me sma fonna que em qu alquer outra sátira política, mas então os nismo, jainism o c budismo emprestaram suas o príncipe do s dança rinos, pantom ími co s e
se fuz e m algumas apresentações 110 nO<.; 50 país. Mas estas formas especí fica s ao culto e sacrifício, à dan- m úsicos, e por Vishnu e sua esp osa Lakshmi ,
jorn alistas passaram a imitar seu esp íri to ag res-
figuras c bonecos não são mudos CO ll 10 os nossos: ~10 fei-
sivo. E mesm o hoje um semanário polít ico po- ça, à pant omima exorcís tica e à recitação dra- c uja beleza se assem elh a à da flor de lótu s. A
tos pa l<tfal ar tal e qual os char latães fazem nos castelos de
N ápoles ou na Piazza Navona e m Roma... pular na Turqu ia é chamado Karag õz : mática. arividade religiosa fo i determ inad a pel o culto
Nem as ca m pa nhas vito riosas de Alex an- dos templ os e ídolos. O Ramaya na . qu e relata
dre. o Grande, nem os ensinamentos de Maom é as aventuras do pr ínci pe rea l Rama e sua es-
co nseg uiram m in ar a vigoros a força intern a do posa Sita, e o seg undo grande épico hin du. o
hinduísmo. Seu s deu ses e heróis dom inam o M ah ahbarata , co m sua riqueza de sa bedoria
palc o do pant eão ce lestial tan to qu anto o pal - mit ológica e moral, torn aram -se a grande he-
co da real ida de terren a. ran ç a co mum de todas as civilizações indo-pa-
A conceitua ção antropomórfica dos deu- cíficas. O deu s-m ac aco Hanuman estabelece
ses proporcionou o primeiro impul so para o a co nexão entr e o budi smo e a Chin a e final-
drama . Sua ori gem e princípios estão reg istra- mente com as peças \\'ay ang da s ilhas indo-
dos nos máxim os detalhes e com esmerada eru- nési as.
dição pelo sábio Bh ar ata e m seu Natyasas tra , So b a din astia G upta , no séc ulo IV, o nor-
um manual da s artes da da nça e do teatro. Ma s te da Índ ia desfrutou de um hreve per íodo de
a trad ição não no s oferece fatos relacion ados unidade polí tica, o q ue result ou nu m floresci-
co m a prática dos e spetáculos. É carac terística mento das artes. Nes te per íodo, Kalidasa es-

• 28
1. Joven s d ança rina s e musicistas hindu s. Relevo c m pedra do Templ o de Pura na Mah ad eo . Harsh ngiri , Rej asthan .
96 1-973.

2. Sal a de danç a c teatro do Tem plo de Vitthal a. din astia Vijavauagar«. 115{)-1 365 . O " sal ão da cel e braç ão' tmandupcú
fica separado do te mplo c é ricamente decorado com esc ulturas. J . l io ll'.(.' d e sa lthu bau cos nu ma c ida de h indu , Homen s e muthe rc-, mostram su a arte de ac roba tas, mal aha rista s 1.'

eq uilibris tas , À esq uerda. mú sico S; ;1 dir ei ta . cxpcc tndorev. 1·:"' i1 o lllogul. ~ü~l' l lin XV III (Hcrli m . St n.u fichc ~l11St',C I1) .
H i st ó r ia Mu ndi a l d o Tea t r o .
T
I • A _~ Cí ví í i z a ç õcs t n d o - Pu cifi c os

creveu seu drama Shakuntala . (O mu ndo lite- co m o culto, dent ro dos dom ínios do te mplo .
II te o estranho: "Se solicitares descanso. diversão, o N at yasa str a d e Bh a rat a
rári o da Europ a tomou co nhec im ento de Os jardins dos templos, sempre imensos e dis- prazer I A todas as voss as ord ens eu atenderei" .
Shakll ll tala em 1789, numa versã o inglesa e, postos em terraços sobre enco stas inteiras, in- Patanjal i, o gramá tico hindu do séc ulo I! Tudo o que sabe mos a re speito do teatro
dois anos mais tarde, numa tradução alemã.) cl uíam locai s tradicionais para as dan ças e a a.Ci. fala sobre um a dan çar ina (nat i) que, em clá ssico da índi a é der ivado de um a única obra
Durante o reinado de Harsha, que gover- música religiosa. Havia uma assemblé ia e sala ce na, ao se r indagada "A qu em perte nces? " , funda mental: o Natya sastra de Bharata. Todas
nou o grand e império indiano de 606 a 647 de dança espec ial (natanulIl d i ra) e, para objeti- respo nde "Per tenço a vós" . as trilh as do passado co nvergem para ele, e tudo
a.c. , a cultura hindu e a doutrina budista espa- vos mais gerais, uma "sala de celebração" (ma l1- Os Dharmasastras, livros métricos da lei, o qu e vem depois é co nstruído a partir dele.
lharam-se por toda a Ásia Orient al e as ilhas dapa ) onde as dançarinas, músicos e recit ad ores pr oclamam explic ita me nte qu e o marido de Estudiosos do sân scrito acreditam que o autor
indonésias, influenciando a arquitetura de tem- apr esent avam-se em homenagem aos deu ses. um a dançarina não p recisa pagar as dívidas Bh arara, figura meio legendária, meio históri-
plos e palácios, a épica e o drama. Em alguns templ os no sul da Índia, co mo o tem - de sta, porq ue esta possui "rendiment os" pró- ca, vive u numa época entre 200 a.c. e 200 d.e.
A irrupção do Islã e, no séc ulo XIV, a plo Jagannath em Puri , ainda hoje existe o cos- pr ios, e qu e ela não preci sa se r tratada co m o É característico da falt a de se nso histórico dos
asce nsã o do império mongol , co m seu forte tume de as devada sis, as jovens bail arinas do mes mo respeito que a es posa de outro hom em . hin du s que Bharata, um de seus maiores e mais'
poder central islãmico, mudaram apenas a apa- templ o, da nçare m no cerimonial do culto ves- No Ka masutra, o " livro do amor" , a dançarina in fluent es sábios, não po ssa ser datado. Sua
rência extern a da Índia, não seu espírito con- pert ino. (nati) deve ace itar a posição mais baixa entre re lação mitológica co m os deu ses está fo ra de
servador. Os hindus apegaram-se firmemente Os hi storiadores do teatro hin du cunha- as cortesãs . dúvida , mas, até agora, os eru ditos podem ape-
às suas crenças, caráter e modo de pensar. Sem- ram o termo " tea tro tem plo" , qu e pode se r Por ém , eve ntua lmente, e la adentra o dra- nas co njec turar sobre os fatos de sua vida. Os
pre ex istiu um co ntraste entre a passividade acompa nhado arquiteturalme nte atrav és dos ma clássico at rav és de um a por ta trase ira - es tudiosos boje aceitam, de man ei ra gera l, que
política dos hindus e seu fort e vínculo interno séculos. Entre os templ os do século IX recor - co mo repr esent ant e de Vidu saka, o ar lequim Bharata tenha escri to numa época em qu e as
co m a tradição religiosa. Eles se agarra ram for- tados nas cavernas de Ellora dest aca -se o lin - indiano. No s pr ólogos teatrais par a três pes- formas primitivas de da nç a ritual , mimo e en-
temente às suas convicções reli giosas. Shiva, do teatro do templo Kailasantha. E há primo- soas, a dançarin a, ge ralmente a esp osa do em- trete nimento popul ar começavam a amalga-
Vishnu, Krishna e Rama nunca foram destro- ros as salas de festival e teatros nos j ardins do presário, pod e ocasionalmente fazer as vezes m ar -se na nova fo rma de arte do dram a.
nados no drama hindu. Quand o, cm 30 de janei- tem p lo G anthai , do séc ulo Xl , pr ó x im o a do Vidusak a. Tod av ia, a arte da da nça desen- Bh arata assent ou a pedra fund am en tal da arte
ro de 1948, Gandhi foi atingido pela bala do re- Khaju rah o . Out ros podem ser en contrados no volveu-se independ ent em ent e do dra ma, e so- do teat ro hindu ; dispôs todas as suas regras
vólver de seu assassino Natur am Godse, caiu co mplexo do templ o de Girnar, do séc ulo XI!, breviveu até hoje e m suas qu atro for mas ca - artística s, sua lingu agem e sua s técnicas.
no chão chamando pelo deus: "He, Rama" . e no templo Vitthala, dos governantes Vijaya- ra c te rí s tic a s: bh arata natyam; kath akal i, Conforme a históri a po r e le relatada no
nagar do séc ulo XlV. kath ak: e mani pu ri. pr im e iro capítul o do Na tyu sa s tra, o drama
Ao lad o do "teatro templo" , o teatr o teve A bha rata natyam é um a de scend ente di- deve a sua origem ao de us Br ahrn a, o c riador
Í NDI A um outro precur sor na altamente desen vol vi- reta da arte g rac iosa e flexí vel das dançarinas do universo. Bharata co nta q ue um dia o deu s
. da forma de entretenime nto pop ul a r h indu . do templ o. É praticada es pec ialment e no sul Ind ra pediu a Brahm a qu e inve ntasse um a for-
A origem do teatro hindu está na ligação co m suas dan ças e acrobacias . O bail arin o era da Índi a, e m Mad ras, e tant o suas posições de ma de arte visível e audível e qu e pudesse ser
estre ita entre a dança e o cult o no tem plo. A sempre mími co e ator, simultaneame nte. Ain- dança quanto se u nome são der ivados do ma- co mpreendida por hom ens de qu alquer con-
arte da dança agrada aos deu ses: é uma ex- da é chamado de nata, que é a pala vra "prakri t" , nua l da arte da dança e do teat ro escrito por d ição ou posiç ão socia l. Então, Brahrna con-
pressão visível da homenagem dos homens aos ve rn ac ular, para atar (que procede d a ra iz Bharata, o Na tyasastra. A da nça dramá tica e side rou o cont eúdo dos quatro Vedas, os li-
deuses e de seu pode r sobre os homens. Ne- sã nsc rita nrtv. Enquanto os natas são , por um pa nto mímica ka thaka li, qu e se desenvol veu vros sagrados da sab edo ria hindu , e tom ou um
nhuma outra religião glorificou a dança ritual lado, aparentados co m os dançarinos e dan ça- até sua atual form a e m Malab ar, é de caráter co mponente de cada - a palavra falada do Rig
de form a tão magnífica (e erótica). Imagens rin as ritu ai s (nrtu), menci on ados já no R ig defi nitivamente mascul ino . Se us traços ca rac- Veda . o ca nto do Santa ~'éda , o mim o do Yajur
de pedra de deuses e deusas da nçando abraça- Veda , a forma vernacular prakrit , nat a , indica terísticos são máscara s exagera damen te pin - Veda . e a emoção do Athar va Veda . Tod os es-
dos. músicos celestiais, ninfas e tamborinistas se u car áte r popul ar. tadas, figuri nos suntuosos e cheios de ond u- ses ele combinou num q uinto Veda, o Natya
em poses pro voca ntes adorn am as paredes, Pois, enquanto os dançarino s rituais hon - lações, e o estilo gro tes co de dan ça de suas Veda, q ue co m u n ico u ao s á b io h um an o ,
co lunas, arestas e portões dos templ os hindus. ravam os de uses, houve em todas as épocas can- personage ns-de uses, heróis, macacos e mon s- Bhar ata. E Bharata, para o bem de toda a hu-
Representações da dança podem ser encontra- tores, dançarin os e mímicos ambulantes qu e en- tro s. A kat hak é uma for ma men os severa c manidade, esc reveu as regras di vinas da arte
das ao longo de 3.500 anos de esc ultura hindu , tretinh am o povo com suas apresentaçõ es po r mais variada de da nça , onde a força mascu li- da dramaturgia no Natyasastra, o manu al da
des de a famosa estatueta de bronze da "Dan- um a gra tificação modesta. O Rama ya na men- na e a gra ça feminin a cntrernesc lam-se: desen- dan ça e do teatro .
ça rina" , nas ruínas da cidade de Moh enjo- ciona na ta , nartaka , nataka - ou seja, dan ças e volveu-se no norte da Índia, sob a influ ência De acordo com Bharata, o prim eiro dra-
Daro, no baixo Indo, aos relevo s nas co lunas cspet áculos teatrai s - nas cidades e pal ácios. dos governantes mo ngóis. A manipuri, popu- ma foi montado nu ma celebração celes tial em
do templo hindu em Citambaram , exibem to- Fala de festas e reuniões nas quai s a diversão lar principalme nte nas montanhas de Assa m, honra do deus lndra. Quando a peça se apro-
das as 108 pos ições da da nça cláss ica indiana era oferecida por atores e dançarin as. é um a dan ça de mov ime nto s lent os, qu ase xima va de seu cl ímax, a vitó ria dos deu ses
de acord o com o Natya sastra de Bhara ta. A nati . dançarina da literatur a hi ndu , es- serpentinos. Tem origem no mund o m ítico do s so bre os dem ônios, espíri tos do mal não co n-
As dançarinas eram subord inadas ii auto- tava a li pa ra tod os. Era ela a bayad êrc , qu e deuses: a ntan ipuri era. segundo a len da, a da n- vida dos paralisaram subitame nte os gestos, a
ridade dos sace rdotes do templo e exerciam Goethe descreveu numa balada, a " ado ráve l ça que as pastoras exec utava m ao som da flau- m ími ca, o discurso e a m em ória dos artistas.
sua arte, na medida em que esta tinha a ver cria nça perdida" que convidava hospitalciramen- ta de Kri shna. M uito irritado. o deus lndra ergue u o mastro
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1

4. Figuras da Kathakali ricam ente vestida s (de K.


Bha rata lycr . Kuthaku íi, A Do nça S ag rada d e Muíahor,
Lo ndres. I(JS5).

5. Dança de Kr ishna c das d on /d as pastoras (g OfJü) : um dos ternas prcdilctos do f\ tanip uri. No alto, à esq uerda . do is
nuisicos co m máscaras de animais, Miniatura da seg und a met ade do século XV III (No va Dcl hi, Academia Lalil Kahn.
H ís t ú r í a M uruí íaí do Tc at ro • • A .\" C í vi l íza çô es l n d a -Pu cifí cax

incrustado de sua bandeira tjorjarai e atacou sobrancelhas. sei s de nariz, seis das bochechas , ed uc ad as, o prakrit para os incultos - pela de- A famo sa caverna Sitabenga em Sirguja,
os demônios. Os at e res voltaram novamente à nove do pescoço, se te do queixo. cinco do tó- fini ção do s vários pap éis típi cos , figurinos e na part e nordeste de Madhya Pradesh, sugere
vida . E o deu s Brahma prom eteu à sua art e rax e 36 do s olhos. Bharata não deixa lugar m áscaras, co mo também regr as para a tonali - uma o utra expli cação para a co rtina de Bh ar ata ;
validade et erna, qu e resistiria a qualquer riva - para a es po nta ne id ade intuitiva nesta arte ; suas dad e da palavra fal ada e pa ra o acompanh a- el a pod e deri var de um outro tip o de a rte tea-
lidade: " Porq ue não há saber. habilidade, ciê n- regras assemelham-se a uma som a de valores mento mu sical. Dessa forma , se u có d igo cul- tral : o teatro d e so mbras. A cavern a de Sit ab cn-
cia o u qualquer da s belas-arte s. nenhuma me- matemáticos. Para os pés do atol', ele list a 16 min a na cl assificação cie nt ífica da s es péc ies ga tem seu lu gar na história do teatro hindu . A
dit ação religiosa e nenhuma ação sagrada que posições sobre o so lo e 16 no ar - e um sem- do drama. hip ót ese de quc ela era uma espécie de cas a de
não possa ser encontrada no drama" . De sde número de maneiras específicas de andar. de s- No segundo e no terceiro capítulos do espet âculos " e m forma de urna cave rna nas
ent ão. os atores hindus têm carregado o es ta n- tinadas a retratar vá rios tipos de per son alida- Na tya sastra , Bharata di scut e os problemas da mont anhas " parece ser amparad a por passa-
darte de Indra em suas bagagen s com o um de : a passo lar go. miudinho. cox eando. arras- técnica do teatro . El e levanta a qu estão dos gen s do Natyasa stra. As dimensões internas da
tali smã, Ele os tem acompanhado atra vés dos tando os pés. Uma co rtesã caminha com passo edi fícios teatrai s, suas dimen sõe s e or ganiz a- caverna são de aproximadament e 13 m x 3 m,
tempos na forma de um modesto ba stão de ondulante . um a d ama da corte com passinhos ção . Bharata declara que , embora os espe t ácu- com capac idade para mai s o u menos trinta es-
bambu decorado com fitas coloridas. Mas o miúdos; um bob o caminha com os dedões dos los geralmente aconteçam nos templos c pal á- pectadores . Foram encontrados e ntalhes e ra-
deu s Indra, o ousado domador de demôn ios e pés apontados para cima. um cortesão com pas- ci os, as seguintes regr as deveri am, tod avia, ser nhuras na entrada, qu e podem ter servido para
mat ador de dragões, foi redu zid o a um sujeito sos solenes, e um mendigo, arrastando os pés. o be dec id as ao projet ar- se um tea tro . Um ter - prender um a co rtina de pano . Isto sig nifica ria
co rado e bem alimentado, o equi valente hindu Aqui, a pen a do teórico erudito Bhar ata reno retangular de ver á se r di vidido e m du as que a platéia - um pequ en o numero d e ini cia-
ao Orfeu no Inferno de Off enbach . foi clarament e guiad a pel o mimo postad o por áreas: um auditório e um pal co . Qu at ro colu- do s, m ais propri amente do qu e uma corte prin-
A prev alên cia avassalad ora atribuída à for - trás dele - an ônimo e desconhecido, mas et er- nas suste ntarão as vigas do tet o . O esq ue ma cipe sca. no e nte nde r de Bharata - se ntav a-se
ma externa em todo o teatro do Extremo Ori- namente presente e seguro de sua arte da imi- d as cores deve seguir estritamente o sim bo lis- no inte rior da gruta apinhada de gente, e nquan-
ente, à rigidamente definida arte expre ssiva do tação se m a necessidade de dogmática erudi- m o tradicional: a co luna bran ca simboliza os to o tit ereiro utilizava a luz do di a, lá fora. para
corpo humano, é a mplamente documentada no ta. O mim o, sempre e e m qualquer lugar, apre n- br âm an es; a ve rme lha , o rei e a nobr eza: a proj e tar o mundo mit ológico de se us bonecos
Na tyasas tra . Dança e at uação teatral são deu se us truques co m a própria vida; utilizou- amarela, os cida dãos; as az uis -neg ras. a casta recort ados em co uro. Entr et an to, a cave rna de
con ceituai mente um a só coisa. Bharat a requer, os sem adornos, se m so fisticação literári a e, dos arte sãos, ladrões e ope r ários . (E estas são Sirguj a não era um teatro . de aco rdo co m as
tant o do dan çarin o qu anto do ator, con centra- especi almente no Karag õz do Oriente Pró xi - as mesm as cores do bastão d e Indra.) pre scri ç ões de Bharuta.
ção extrema até as ponta s dos dedos, de acor- mo, co m deli ci osa obscen idade. Na ex trem idade o rien tal do auditório em E m bora o erud ito tratad o e m ve rso de
do co m um a lista precisamente detalhad a. Seu O estrito có d igo de gestos de Bharata é degraus senta-se o rei em seu trono, rodeado Bharuta não se refira ex pressa me nte ao teatro
manual ar rola 24 variantes de posiç ões para emparelh ado por regras co rrespo nde ntes para por ministros, poet as e sáb ios, co m as dam as de so mbras , isto não imp ede qu e o conheça e
os ded os, 13 movim ent os de cabeça, sete d as a lin gu agem - o sânsc rito par a as classe s da corte à sua esqu erda. O palc o, assim co mo ut ili ze - d ad o q ue a import ância de sse teatro
tod o o edifício, é ricam ent e de cor ad o co m en - par a toda a cultura do Extre mo O rie nte é um
talh es de madeira e rel evo s d e ce râ mica. Um a fat o pro vado . É bastant e co nce b íve l qu e tenha
co rti na d ivid e o palco e m prosc énio e bastido - sido usad o co rno Ulll efeito c énico no teatro
res. Os atores e dan çarinos atuam no p ro scénio, cl ássico hindu.
e nq ua n to se us cam arin s oc u pa m os basti - N o sécul o II, o gra mático Patanj al i, e m
d o res , ocult os pela co rtina divi sória. As font es se u come n tário so bre Panini . fal a de pe ssoas
de efe ito s sonoro s repr e sent an d o voz es divi- qu e d ava m rec ita is de históri as d iante de fi-
nas, o rumor d e multid ão e d e bat alh as, fi- g ura s pinta d as qu e " m o st r av n rn os fat os" .
ca m também nos bastidores, inv isív e is para o P re sumi velment e estava se referindo ao ripo
p úblico. de teatro d e so mbras que se tornou car acte-
2 3 4 5 6 Bharata cham a a cortina divi sória d e rísti co do Si ão , Java, Bali e da China . Num
ya vanik u , e es te lermo de sen cadeou um a tor- comentári o posteri or so bre o termo utili za-
rente de teori as sobre a infl u ência gr ega no tea- d o por Patanjali par a designa r o ato l'. o escri-
tro indiano. Fil ol ogicamente é tent ad or esta - tor So m adevas ur i e xpli ca. no sé c ulo X. em
belecer um a cone xão co m a palavra jal'llllika, se u Ni tivnkycunrta, qu e o saubhika era UI11
que signifi ca " gre go" ou " dó rico", ma s com homem qu e " à noit e tornava visí ve is vá rios
referênci a ã cortina do palco. é puram ente hi- personagen s co m a aj uda de um a cort inu de
pot éti co . Do pont o de vista d a hist ória da cul - pano" . A co me çar da seg unda met ad e d o pri-
tu ra , se ria intere ssa nte inve stigar até qu e pon - meiro mil ê ni o, encontramo s tamb ém o te r-
to os teat ros gre gos da Ás ia M en or, co mo e m m o CIW."l/1I1ITak" para o teatro de so m bras ;
7 8 9 10 P érgamo, Priene ou As pe nd us . foram usad os e le ap a rece primeiro no séc ulo " " num poe-
por troup es não-hel ênicas de atores e procurar ma didátic o suk i, pro vavelm ent e basea do em
6. ~ .ingll a gcm dos dedos (lIIl1ân HI d a arte da dança e da interpret aç ão hindu s: I. separação, morte ; 2. meditaçã o : 3.
detcrnun aç ào : 4. alegria : 5. co ncc u traç âo ; 6 . rcje i,'J o ; 7. veneraç ão : X. pro posta ; 9. ini ta ç ão. afl ição; 10, a mo r. possíveis influência s des sa fonte na Índia. font es anti gas.

• 36 • 37
H i .\ I ,; r ; O M'u nd í o l do T rn t ro •

Qu al surgiu prime iro , o teat ro de sombras mimo g reg o - de bo m co ração, mas se faze n- 7. Palco de teat ro hi ndu para o drama c l ássico. etc
india no ou o chinês? Ess a é ai nda uma qu es- do d e boho - , um arleq uim ind ia no qu e go sta aCOI'J u co m o Natva... a. HnI de nh ar ~ll " .

tão controvertida, na med ida e m que exist em de co nforto e com e muito, com óbv io prazer.
tão pou cas fonte s. A re ivind ica ção da prim a- Em ob ras dramáti cas posteri o re s, ele se tran s-
zia hindu é sustentada pe la evidê ncia de um form a num serviça l obseq uio so e a m igo fiel , Na cc na d e in tro d uçã o ipu rvuranga) , que
teatro de sombras j á na ca ve rna de Sitabenga e q ue a plica a dose ce rta de desca ramento e se n- co m sua so le n id ade reli giosa remon ta :1S ori-
pe lo fato de que a infl uência cultural do teatro so pr átic o ao retirar se u a mo de e nr ascadas, ge ns ritua is, o d ire to r vo lta ao passad o , ao
de so mb ras espa lhou-se através do Extremo to d as as vezes em qu e po ssa tirar d a situação mund o d o mit o , q ua ndo , seg uido po r d o is
Oriente. É muit o possí vel ljue e la tenha seg ui- a lg u ma vantagem para s i. co mpa nhe iros c a rrega ndo um câ ntaro d ' águ a
do o avanço do budi smo atra vés da Ásia Cen - O drama cl ássico ind ia no tra z Vid usaka e o bas tão de Indra, faz sua e ntrada no pa lco e
tral, ou da Indochi na para a Ch ina. O Impér io para a a ção. Ele j á não é m a is um sim p les pa- nel e es parr a m a flores, c rava o bastão num dos
Cent ral chinês, por outro lado, reivindica, num a lhaço improvisador, mas um per sonagem na lad os e lava a si mesmo co m a água do c ân -
de suas mais belas e mel an cóli cas lenda s, q ue pe ça, e, co mo tal, é defin id o pel o autor co m taro .
a co nju ração dos es píritos sobre a tela de li- pre ci são. Prim eiram ent e e le so be ao pa lco na No triál o go q ue se segue. Vidu sak a pu la
nh o seja sua inven ção parti cul ar. ce na intro d utória. a tra di c io na l pllrl 'a rll1l g a . sob re o pal co . Le m bra o d iretor e se u assis te n-
Pa rt ic ipa da sub seqii ente co nve rs a e ntre três te de qu e a lo ucura deve ter seu lug ar na v id a e
o D ra m a Clá s s i co pe rso nagens (trigalll), ao lad o do e m p res ário ta mbém no pa lco , qu e tenc iona se r o esp e lho
e d e se u primeiro assisten te . (O e m p resário, da vida.
O drama cl ássico ind iano engloba tod a a qu e é também o pro du tor, d ire tor e ator prin ci- ii. cen a int ro d utó ria e ao triálogo se gue-se
extensão da vida, na terra como no céu. Con - pal, é cha mado sutradhara , qu e sig n ific a, lite - a ação , qu e é e ntre meada com cenas da vida
forme di sse ce rta ve z o poet a do século V, ral m ent e, "o qu e se gura as co rd as ". É te ntad or comu m o u d a co rte contemporânea s ii é po ca
Kalidasa, e le " sa tisfaz sim ulta neamente as tra çar aq ui, também , um a liga ção a nterior co m do auto r (p ra ka rana ), ret ratand o as a tiv idudc s m ai s libe ral d a prime ir a forma do b ud is mo
mais d iver sas pessoas c o m os mais diversos o teat ro de bonecos ou so m b ra s. ) dos br âm a nes. mercadores. o ficiai s da corte, mah aya na. Na ve rdade . e le põe no palc o o pró-
go stos". O dra ma clássico da Índi a é co nte mplativo . sace rdo tes, minis tro s ou do nos de ca ravanas prio Bud a, " rodead o por u m radi ante c írculo
A linhage m es piri tua l do drama clássico O a uto r situa suas perso nagen s num a atmo s- num e nre do livremen te imagi nado . Aq ui ta m - d e luz" , e num do s fra gment o s qu e chegaram
hindu pode se r traçad a nos di álogos do Rig fera de e moção , não na are na d as pa ixões co mo bém Vid usaka faz sua ap ar ição - nos traj es de até nós. até mesm o d á fa la s a e le - natural-
Veda, expressos em forma de baladas, ljue era m o faz e m . dig am os, E ur ípe d c s o u R acin e. O u m h r âmu n e que, e n tre ta nto . nã o fala o ment e, e m s ânsc rito . E ste tip o de per so nifi ca-
recitados antifonicamente nos ritos sacrificiais dram aturgo indi an o não im pel e os conflit os sânsc rito lit erário como deveria , ma s o prakrit ção teri a sido inconceb ível num período m ais
sagr ado s. Seu co nte údo dram ático - o amor esp iritu ai s até o ponto da a utod estru ição . nem vernac ula r. E le de cai de sua alta posição e tor- primitivo do budi sm o . N os pri meiros sécul os
do rei hum ano Pu ruravas pela ninfa celest ial é se u o bj etivo a cata rse, no se n tido a risto té lico. na- se um pa rasit a m ise r ável c maltratad o, e é da s artes pl ás ticas indiana s. um úni co símbo lo
Urva si, e o conlli to co m se us oponentes, os E le est á preoc upado co m o refin ament o es ti- o alvo de iro n ia s c alusões . À med id a ljue o - a Roda da Lei o u a Á rvo re da Ilum inaçã o -
pod eres obsc uros e mít icos , forn ecer am mate- lizad o dos se ntime ntos. co m a esté tica do so - papel esp iritu a l do s b r âm anes se det e rio rava e indicava a pre sença do B uda .
rial infin ito para o tra ta mento teatral, e na ve r- fr im en to . Nes te pla no , sã o po st o s em j o go deca ía na co nve nção , e les tiveram de supo rtar O rec urso do tca tro d e so mb ras ve m lem -
à

dad e para a grande ó pe ra. Os diá logo s do Rig o s do is as pectos da poesia indi an a a nt iga : ra sa , muita zo m ba ria. Mas, para Vidusak a , o pap el bran ç a q uan d o co ns id e ra m o s as o b ras de
Veda , e mbora eles próprios não consistissem a d isposição o u atmo sfe ra q ue a o bra, e nq ua n- de um surrado brâ m ane lhe da va pret e xto pa ra Bha sa, qu e pro vavelme nt e d at am do séc ulo II
aind a nu m drama, torna ra m-se os mais popu - to pra zer estético puro, despert ar á no es pec ta- palhaçada s numa paródi a de auto compaixão. ao III. Em duas de s uas peças, Dutavakva e
lares tem as de todo o drama indiano e por e le dor; e bha va, o estado afetivo e e m o ção - sej a O teat ro cl áss ico indiano der iva seus efei - Baiacanta, o autor ex ige qu e as armas mil a-
influenc iado . Na form a tran smitida a nós, re- s im pa tia ou ant ipat ia - c riados e tran sm itidos tos reali st as d as va riações do discu rso , co m o . g ro sas de Vis hnu, s ua m ont ari a e mesm o ()
presentam um estágio alta me nte desenvol vi- pel o ato r compe tente . Enco nt ra mo s um a defi- por exe m plo , e ntre o nobre e o vulgar. o sâ ns- mi tológi co pássa ro g ig a nte Ga rud a a par eçam
do de so fisticada poesia, mas não textos ce ri- ni ção si m ilar na obra de Zeam i, o gra nde dr a- cr ito e o prakri t, pessoas de posição e me m - na peça co mo ato rc s co m fa la s. Sob as pro ibi -
moni ais visando a efe itos teatrai s. m aturgo, ator e te órico do tea tro l1Ô j ap on ês bros das castas mai s bai xas. Mas este é um rea- çõ es rel igi o sas da Índ ia. co mo isso teri a a pos-
Partindo da reci taç ão épica na época dos d o séc ulo X V. Zea mi defin e )'1II;C /l , um co n- lism o alt amente es ti lizado . A vida real refl et e - sibilidade de se r fe ito , a nã o se r por c ima da
Veda s, do s primeiros manipul adores de bone- ce ito de r ivado da doutrina budi s ta, co mo o se ape nas no m od e lo , não na sua ap lica ção no cor tina de pan o ? É tent ado r pe nsar nas apa ri-
cos ou sombras, aos quais eram creditados po- poder sec reto qu e faz nasce r a beleza, a be lez a palco. ções do teat ro de sombr as.
dere s mágicos , e do s mimos, que forne ci am da feli cidade como também a heleza do de- Os fr a g m entos m a is a ntigo s d o drama O dr am a mai s fa m oso de Bhasa é Cl ui-
um elemento vivifica nte, um longo ca minho sespe ro. s ânsc rito hi ndu for am e nco ntrados no T urq uc s- rudata. u ma peça c uj a ambicntução pod ería-
teve de ser pe rco rrido até o dram a feito para Tan to na Índi a co mo no Ja pão , a art e do tão. Foram es c rito s pel o grande poet a bn di sta mos cha ma r de bu rg ue sa. El a nos co nta so bre
ser encen ado . atar c ulm ina na per feição d a da nça . No Na tva- Asvag hos ha (por vo lta do an o I (0) , auto r ta m - Ca rudata. um mercado r e mpo b rec ido por causa
O bufã o Vidusa ka j :í pregava suas peças sastra de Bh ara ta, o co nce ito de nataka (re - bém do fa m oso poema épico Budhacuritu, qu e d a próp ria ge neros id ade e de seu amor pel a
entre os atore s itine rant es. Com sua gra nde p rese nta ção pel a da nça ) pe rten ce ig ualme n- é a hist ória da v ida de Buda. As ru bricas d e nobre co rte sã Vasa n tase na . O s do is pe rson a-
barriga e ea beça ca rec a, ele é um paren te do te ao dr am a lite rário. As vaghosa sã o ca rac te rís ticas da abo rd age m ge ns vol ta m a apare cer na ma is bem co nhec i-
• 38 • 39
• .-\.\ C ivi t z.o ç õc s l n do- Prn -ifícax
í

d a , A Currocinhu d e Terracota, peça pos- reunidos nu ma úni ca palavra : pensai no nome


teri or ba seada no me sm o lema . Seu manus- de Shakunrala : nada mais há a di zer" .
c rito foi encont rado em Tr avancore , um luga- Qu ando, por vo lta do final do século XI X.
rej o perdido no sudoeste da Índia. C om suas os simbolistas retiraram-se para os seus bosques
g rad aç ões ef etiva s de sân scrito e de prakrit, sua simbólicos . quando Maererlinck esc reveu se u
c uida do sa ca rac teriz a ção e ex u be râ nc ia e mo- dr ama d e amor lírico Pelicas ct Melisandc,
ci on al - Vasa ntase na e m pilha todas as suas Sha kuntala fez um breve retom o ao palc o oci-
j ó ias na ca rroci nha de brinqued o do filhinho dental, A peça de Kalida sa foi produ zida em
d e Caru data -r-, o dram a ofe rece um retrato co- Berlim, Pari s e Nova York. Por ém , ao lad o da
lorido da vida e dos costume s do passad o da poesia sim bo lista, ela logo desapareceu mais uma
Ín d ia . A peça é atribuída ao rei Sudraka, que vez no tesou ro da literatura de tod os os tempos.
rein ou no terc eiro e quarto séculos. Se a supo- Não sabe mos com que recursos externos
siç ão for correta , A Ca rrocinha de Terracota e com qu e meios teatrais os dramas de Kalidasa
pod eria dar testemunho não apenas d o gê nio foram m ontados na Índia na é poca e m que vi-
d e se u autor, mas também da alta qu alid ade da ve u. A int en sa im agem poéti ca do d iá log o su-
art e dr am ática na co rte real - nã o import and o ge re um ce ná rio apo iado princip alm ente na
se fo i esc rita pe lo própri o rei ou se fo i mera - pal avr a fal ad a, no qu al, co mo no dram a in gl ês
8. Cen a de Sho kunt aía , de Kalida sa: o prim e iro e nc ontro ent re o re i Dushya nla e Sha kunta la, Miniatura de um manu s- mente dedi cad a a ele. elisa be ta no o u no drama cl ássic o espa nho l, e ra
crito hind i, 1789 (No va Délhi, Museu Nacio nal). Kalidasa, o mais bem co nhecido d rama- a palavra qu e criava o ce ná rio. O texto dranui-
turg o indiano e autor de Sh akuntala, foi tam- tico em si pr escreve os adereços a sere m utili-
bém um poeta da corte. Viveu no séc ulo V, na zados, com o o m ant o que Shakuntala deve
é poca d a d inastia G upta. Sua s peças vo lta m aos ves tir ap re ssad am ent e , persuadi da por s ua s
mit os sagrado s; co ntam sobre pod er es misteri o- du as co m pa n he iras de qu e é hora de partir:
sos , sobre como Urvasi é libertado pelo valor " Cubra- se agora co m o mant o, Sh akunt al a,
her ó ico e co mo Shakuntala é sa lva, rec o nheci- poi s esta mos pront as" . A mesm a enunc iação
d a po r ca usa de um anel. M as. e sse nc ia lme nte. pl ãsti cu é usada po r Sha kes pea re, quand o
Kal idasa co ncebe as pe rson age ns d as lendas C leó pa tra , na sua g ra nde ce na de morte, d iz :
védic as em term os da próp ria manei ra de viver "Dai-me meu manto. co loc ai minh a coroa; sin-
d a cor te de sua época. Sh akuntala é apres enta- to cm mim d esejos de imortal idad e".
da co mo uma da ma refinada e aristoc rática , mai s Em Slrakumala , são s ug e ridas também
d o qu e uma desini bida filha d a na tur eza; a a pa riç õe s d e teat ro de so m b ras, co mo por
lege nd ária companheira d as gaze las e irm ã vi- exe mp lo no qu art o ato , qua ndo a ninfa Sanu -
gi la nte das árvores e flores to rna-se a criatura mati surge numa carr uage m de nuve ns. Em-
se nsíve l de uma " naturalidade artifi cial" , asse- hora o d iret or de va te r confi ad o bast ant e na
melha ndo-se às per son age ns da s peças pasto- imagin ação da platéi a, tal vez lenh a tamb ém
ra is da Eur opa do sécul o X IX. ut ilizado re cursos vi suais. Tai s interlúdi o s ,
A entusiástica resposta despertada pela provavelmente, não e ra m incornuns. A pe ça
líri ca hist ória de amo r de K alidasa e m H erder, dentro d a peça er a muit o popul ar no dram a
Go e the e nos rom ânti cos é ex p lica da pel a su - c l áss ico. e não raro co m a pre sen ça do própri o
posta inocê ncia e inge nuida de d a vida e re rn í- autor. Na pcça Privadur sika , por exe mplo . e ste
ti ca, uma inocê nci a que , seg und o julga vam , é um lem a cent ral. Esta peça é at rib uíd a ao im-
Sh akuntal a e nca rna va - um es ta do ideal há pe rador Har sha, que na primeira met ade do
mu ito tempo perdido para a Europa, e que séc u lo V II propor cion ou ao Império hindu
Herd er supunha sobreviver ape nas no Oriente. unificado um bre ve perí odo de gl ó ria.
Os românti cos saudavam Kalidasa co mo seu Os di retores teatr ais hindu s eram muit o
irm ão es piritual. qne " graci o sament e adorna- co nscie nc io sos na m ontagem de suas pe ça s,
9 , Esta tue ta de barro re pres e ntando um da nçarino
ra a ve rdade co m o vé u m ági c o da poesia" . co nfo rme po de mo s dedu zir de um fragmento
Tscha m: Hoshan g. o Buda ba rri gudo. era urna fig ura c ô- Hcrd c r co m para va o es ti lo dram rir ic o d e de cá lc ulo s referent es ii produ ç ão de Ratna val i,
mica favorita do dr am a-d ança tibet a no. Seg undo a len da, Kalidasa com as reg ras a risto té licas. Goethe o utra peça d e H ar sh a. Estes c álcul os datam do
Hosb ang. co m suas dout rina s her éticas. co mprome tia a lou vou a pastora indi an a num e nlevado d ísti co rei nad o d e Ja yapid a de Ka sluui r, no séc ulo
ob ra de co nvers ão . m as fo i ban ido a p ós se r derrot ad o na
e m D a lIIestiist/i.-JIl' Divuu: " 0 cé u e a temi V III . S ua s e sti ma tiva s de cu st os para um a
d isputa rcl ig il)sa (V ie na , ~ll1 S C UIlI für V õtkcrkunde).

• .JI
H ís t úrí u Mu n d i uí do Tra t ra •

montagem de Rutnaval i listam todos os itens nada lhe ficando a dever e m mat é ria de dOI/Me
necessári os para execut ar as indicações c êni- cn tcndre.
cas do aut or. A fa rsa e o burlesco (pra lutsana) também
Nos rnonast érios bud istas do Tibet e, o dra- oc up a ra m um es paço próprio no p alc o ind ia-
ma clássico indiano evo luiu em peças did áti- no. Pr ovavelment e desen vol veram-se b ast un-
ca s, tran sm itindo lições de mor al. Ao lado dos te cedo , ao lado do dr am a clássic o . E nq ua nto
bardos xamânicos, q ue g lor ifica vam os gran- e m Ca rl/data e A Carrocinha d e Terracot a os
des feitos de Kesar, o herói de um poem a épi- brâmane s recebiam um bom quinhã o de zo m-
co tibetano, enco ntramo s os d ramas tibetan os ba rias, o s a utores de far sas sa tirizava m o fin-
seg uindo de pert o o mod e lo ind iano, O dra ma g ime nto dos ascetas siva ítas e bud ista s, qu e di s-
Zugi nirna serve de ex em plo , Ele tran smite a s im ulava m sua vida di ssol vid a s ob um m ant o
h istória da rainh a Zugiii ima , q ue é expul sa do de pied ade. A mais antiga o b ra de st e tip o qu e
palá cio por causa de fa lsa s ac usações e entre- se conhece é Mata vilasa-prahasa na , atribu í-
gue nas mãos de seu s exec utores . No final, ela da ao re i Mahendra-Vikramavarman , do sécu-
é salva, mediante sua fé , dos tor mentos da alm a lo VII . C o m sátira gro tesca e c ort an te, el a ata-
e do corp o. Zugiii ima re fle te a influência dos ca os ex ce ssos do fal so a sc e tis mo e mo st ra,
m issionár ios budistas no T ibe t. O dr ama foi como p romete o título, " a s br incade ira s do s
es crito no séc ulo XI, mas sua s raízes parece m bêbad os" . Algumas outras fa rsas so b rev ive ra m
estender-se a Shaku ntala. T rad içõ es e temas do período entre o sécul o XII e o XV I; satiri-
do teatro indiano, há muito enfraquec idos e zam os co m po rtamentos do s bordéi s, os casos
ult rap assados na própri a Índ ia , sobreviveram e ntre os a scet as e seus di scíp ulo s e o sec tar is-
no Tibete, onde d ram as co mo Zugi ii imu for am m o da s cofies pri ncip escas. O s dra mas po ste -
montados em Lh asa até nu séc ulo XX. rio res e m sâ nscrito , e ntre ta nto . foram exerc i-
Por volta do ano 700 . u dr amaturgo india- c io s acadê m icos de estilo , pá lid os c se m vida,
no Bhavabhuti re ssusc itou as ve lhas lendas de se m re laçã o co m o pa lco e se m q ua lq uer m éri-
Ra ma e levou-as a uma nova glória. A riqueza to lit erá rio. com valor apenas para os fil ólogos.
e inte nsidade de seu es pec tro de cara cteriza - Fo i some nte no iníci o do séc u lo XX , gra-
ç ão, "até os derr adei ros lim ites do amo r" , o ç a s a R abi ndran ath Tago rc, q ue o d ra ma indi a-
co locam ao lado de Kali d as a, a qu em na ver- no ga nho u ma is um a ve z re nome m und ial. O
dad e ultrapassa e m espo nta ne ida de emoc ional, p oeta Tago re foi també m um v ig oro so d ram a-
mesmo qu e não co nsiga co mp etir co m as suas tu rgo . a to r e prod utor. E le p ro vo cou, tant o na
sublimes elocuções, Bhavabh uti põe a for ça antiga tradição sânscrita q ua nto no mode rno
do des tino à frent e da g raça ex pressiva. A j ul- d rama ideológ ico, o desen vol vimento de um
ga r pelo ce rimonia l de suas ce nas de introdu- e stilo india no no vo e e spec ífi c o. q ue pod e se r
ção, os dr am as de Bh avab h uti foram co ncebi - de sc rito co mo de enre do tec id o livr emen te.
dos para es petác ulos e m dias d e festas religio- ca rrega do de simbolis mo e expresso numa lin -
sa s es pecí ficas . g uage m lirica e ro mâ ntic a. E le revive u o pa -
Brâmane de uma fam ília o rtodoxa, Bhava - pel do rapsodo , que c omenta a ação rcpre sen-
hh uti eliminou o bu fão dc su as peças . Poré m. tad a n a pantom ima. A obra de T agore conv ida
no final, seu ze lo re for mador foi red uzid o a 11 com paraçã o co m o teatro ép ic o d e Be rtolt
nada, porqu e, ne sse ínte rim . Vidusaka tom ara Brecht c Thorn ton Wil de r. A s per sonagen s de
relevo independ en te. E m Bha na , um mon ólo- Tagor e são se mp re vag a s e irreai s . c riaturas de
go hum or ístico de um alo , e spec ialmente po - uma re gi ão int erm edi ári a e ntre a fa nta sia e a
pular no sul da Ín d ia , ele apa rece no palco reali dade , tomadas ainda mais int an gí vei s por
como atar solo . En controu um segundo carn- su as melanc ólicas can ç ões. Su a s peç as, e le
1'0 de ação nos vithis (de vitu , " homem do um a ve z di sse , podem se r co m preend idas so -
mundo" ), que cram um tipo de cabaré para um me nte se as ouv irmos co m o se o uv iria a m úsi-
ator só. tratan do de ind iscriç ôes entre co rte - c a de um a flau ta.
sãos c cortesãs, de hrigas de galo e do mai s Nã o necessitam de nenhu m apa rato ex rer-
eterno dos vícios. o amor vena l. Vidusak a as- no , rara mente de um ace ssó rio, e de um ce na- 10. A gra nde carr uagem de Mahcudran ath na proci ssâo do festival religioso teatral cru Katm and u. 1953 (de Toni
sumiu a natur eza de seu irm ão turco. Kurug ôz. rio m ínimo . Co mo ba rq ueiros d e um o utro Hagcn . Nq )(J / - Kónig rrirh im Himalaia , 1960. Cortesia do s editores. Künuuc rty e Frey. Berna).

• -12
H ls t o rí a õâu n dí a! d o T r u t ra •

mundo, apelam à imaginação da platéia, que sombra (e , mai s tarde , também cspetáculo ,
tanto pode ser o púhli co da Bengala natal de num sentido mai s amplo); purba, ou purwa,
Tagore quanto a audi ência européia do Fes ti- significa anti go , pertencente a uma antig üida-
val Interna cionul de Teatro de Nova Délhi. No de rem ota. O \I'il yallg purwa nunca se torn ou
iní cio de sua peça O Ciclo da Prim avera , mero entretenimento profano ; até hoje nã o
Tagore diz , com poética auto-suficiência: " Não perdeu sua fun ção mágica de mediador entre
necessitamos de cenário. O único pano de fun- o homem e o mundo metafísico,
do do qual precisamos é o da imaginaç ão , so- Nos primórdios do século XI, a literatura
bre o qual pintaremos um quadro com o pin- javanesa menciona pela primeira vez o lI'ayallg
cel da música" . punl'a co mo uma forma de arte muito difun-
dida. Por volta da met ade do século XI, era
popul ar nas cortes de Kediri , Shingasari e
INDONÉSIA Majapahit. Apó s as convulsões políticas dos
séculos XV e XVI, encontrou um novo lar no
Quando o hinduísmo, vindo da Índi a na famos o Kraton, o paláci o em Mataram, que se
esteira dos marinhei ros, mercadore s e sacer- transformou no centro cultural da ilha de Java.
dotes indianos, estendeu seu domínio sobre os Os primeir os regi stra s das figura s ind o-
impéri os das ilhas da Indonésia, desen vol veu - nésias waYilllg feitas de co uro datam do perío-
se cm Jav a a mais hela e fam osa da s formas do do sultão Dernak (c erca de 1430). Aqui,
teatrais do sudeste da Ásia, o teatro de so mbra também, se en contra a origem do termo lI' a-
ou lI'ayang . Até hoje, suas qu atro va riantes Yil llg kulit (kulit quer di zer couro ). As figur as
carac terísticas podem ser encontradas por to- habilmente cortadas e perfuradas são geral -
das as ilhas. Seu s grac iosos atores - as figura s ment e feita s de co uro de búfalo , O rosto é sem-
plana s, recortadas em co uro transparent e, e os pre mostrad o de perfil . o corpo geralmente cm
bonecos esc ulpidos em mad eira , em rele vo posição meio frontal : os pés apont am pa ra os
inteiro ou semi-relevo, com seus olho s es trei- lado s. seguindo a direç ão do rosto. A figu ra é
tos e enigmáticos - são hoje altamente valori- firmemente mont ada so bre varetas feita s de
zados pelo s c uradores de museus e co lec iona- chifre de búfal o ; se us ombros e cotovelos são
dores part icul ares. m óveis e podem ser guiados com a ajud a de
As origen s do ll'aYl1lzgsem dúvid a remon- duas vareta s fina s. Desd e épocas rem ota s, o
tam à ép oca pré-hindu dos cultos ancestrai s contorno e o de senho das figura s lI'a yallg têm
jav anescs. Algumas regras cer imoniai s, corn o sido rigidamente codificados. Cad a linha, cada
a exclusão inicial de mulhere s da platéia e, mais traço decorativo, cada ca racterística do corpo,
tarde e com freq üência ainda hoje, sua separa- cada variação ornam ental possui seu signifi -
ção do s e spectadore s mascul inos, suge re m cad o definido, sim bólico . Na verdade, o bon e-
uma es treita conexão com os ritos de inici a- qu eir o preci sa se r tant o o mestre da s regr as
ção - conex ão que , incid entalmente , ex iste iconogr áficas qu anto do es tilete e do cinzel qu e
também no teatro de sombras turco. O \\,{/yanR utiliz a para confeccioná-los. Em primeiro lu-
adquiriu seu s aspectos caract erísticos durante gar, sua personagem d eve conformar-se às
o período áure o da civilizaçã o indiano-java- especificaç ões iconogr áfi cas . Então, com o
nesa. Abso rveu os velhos mitos védi cos dos estilet e e o cin zel , o bon equeiro produ z a deli -
deuses, o Rotna yana e o Maha bharata, e ab- cada treliça do s fig urinos e toucados, o capa-
sorveu a riqUl:za da s persona gen s desses dois cete ou a coroa . A beleza estranha e sobren a-
grandes épicos ind ianos e se us conflitos na tural das figura s é en carecida pelo uso orna-
guerra e na paz. O \\'i/ yallg é tão rico em repre- mental de folh as de ouro, turque sa brilhante,
sentaçã o descritiva quanto o são as figura s nas verm elho profundo e preto.
frisas dos templos hindus-javaneses, os rele - O lI'a yallg ku lit é em ger al encenado à
vos nas paredes e pórticos de Pramb anan. Lar a noite (ex ceto na ngru wat lakon, uma cerim ô-
Jan g-grang, Borobod ur ou Panataran . nia es pec ial qu e s imbo liza o exorcismo dos
O term o 11"l1.\·(/ II R 1'"1"1l'{/ test emunh a a demónios). É projetado numa tela feit a de
grande ép oca do teatro. lVilY{//Zg qu er dizer II. Cabeças de terrac ota da com édia hindu : tipos feminin o c masculi no, como e ra costume na Bhana. peça cm UIII ato
linha ço estend ida sobre uma moldura de ma-
de estilo satírico e cabarctfstico, sé culo XIX (P oona, Museu Arqueo lóg ico do Deccun Coll ege).
• 44
T
Híst or i a M'u nd i aí do 1'('(/(1'0 • • As (Ôi vi l i t a çà cs Indo Prnifi cos

de ira e iluminada pelo lume brando de uma com a ajuda de pequenos discos de madeira da peça. A habilidade técnica necessária re- de couro, mas é mais recente do que o \I'oy"ng
lâmpada a óleo. A peça é apresentada pelo ou metal e presos às caixas onde ele guarda quer muitos anos de treinamento. O dalang kulit e originou-se, segundo se crê, na época
dalang (narrador), que habilmente traz à vida seus bonecos. Se suas mãos não estiverem li- deve trazer à vida dúzias de figuras diferentes. da invasão de Java pelo Islã. Seus temas ba-
seu numeroso elenco. vres, ele bate nos discos com os pés. cada uma individualmente caracterizada em seiam-se naquele período, e sua origem é atri-
Numa caixa à sua esquerda, os represen- A ação da peça é determinada pelo lakon, cadência e entonação. Na peça sobre a lenda buída ao santo muçulmano Sunan ing Giri.
tantes do mal aguardam a deixa para entrar: os uma espécie de exposição dos fatos, que esta- Bharatayuddha dos pândavas e káuravas, por A forma wa\'llllg mais habitual hoje, e
demónios. traidores, espiões e animais selva- belece um enredo específico, baseado cm mo- exemplo, temos trinta e sete papéis principais. muito difundida, especialmente no centro e no
gens e, em outra caixa à sua direita, rainhas e delos tradicionais de natureza estrutural. Após sem mencionar as figuras secundárias. os ani- oeste de Java, é o \I'(IWlIlg golck (go/ek quer
damas da nobreza, os fiéis ajudantes e irmãos a música gamelan introdutória, o dalang pro- mais e o gunuugan, a foliforme árvore do pa- dizer redondo, plástico), com seus bonecos
de armas dos heróis esperam a sua vez de en- fere o tradicional encantamento: "Silêncio e raíso ou (em Bali) em forma de guarda-chuva. tridimensionais habilmente esculpidos em
trar. Há os cinco Pandavas, os belicosos her- fora, seres diabólicos - sutuh rep data pitana!" Uma velha norma diz que as maiores possibi- madeira e ricamente pintados. Seu repertório
deiros do reino de Astinapura; seu bem-inten- Antes do início da peça, o dalang apre- lidades de êxito do dalang dar-se-ão se usar deriva principalmente da história do príncipe
cionado conselheiro Kresna e o tirânico senta uma descrição detalhada do lugar e das exatamente 144 figuras em suas montagens; este Menak, um precursor do profeta Maomé. Os
Werkudara, com seu característico polegar em personagens, e introduz a ação da peça como número é considerado pelos nústicos javaneses vitoriosos exércitos de Menak prepararam o
garra; há Arjuna, o belo filho do rei, e seu her- tal; as fases sucessivas durarão a noite toda. como correspondente aos 144 caracteres e pai- mundo para o advento do Profeta, de acordo
deiro Abimanyu, ambos com predileção por Das nove até a meia-noite o enredo se confi- xões humanos. com a lenda que remonta a fontes persas mas
andar à procura de esposa e com freqüência gura; da meia-noite às três da manhã ele se As peças I\'ayang são apresentadas nos que, estranhamente, nunca se constituiu num
acompanhados pelo velho e gordo Semar e intensifica; entre três e seis horas da madruga- palácios dos nobres javaneses. Entre o pórtico tema para o drama na Pérsia. Na sua forma
seus filhos, os bufões do wayang kulit. Mas da é resolvido. A peça termina ao amanhecer. frontal e os aposentos internos COITe uma pas- xiita na Pérsia, o Islã glorifica não os triunfos
temos também o filho bastardo do rei Pandu, Geralmente, um espetáculo wayang é de- sagem coberta (prringgitan. lugar de sombra), dos que vieram antes do Profeta, mas o martí-
Adipati Karna, e o perigoso maquinador, o votado a um lakon do ciclo completo da len- e é neste espaço que armam, para o jogo de rio de seus sucessores, dramaticamente reence-
primeiro-ministro Patih Sengkuni, os dois da. Às vezes, contudo, em grandes festivais teatro de sombra, a sua tela. envolta por uma nados a cada ano como um testemunho reno-
aguardando o momento da vingança. que duram muitos dias, todo um ciclo é exe- moldura amiúde ricamente adornada e habili- vado de fé.
De que forma o dalang consegue movi- cutado. Porém, o público javanês está tão fa- dosamente entalhada. Como o W(IWl11g tradi- Os bonecos do H'(I\"ang go/ek são esculpi-
mentar essa grande quantidade de figuras com miliarizado com as personagens e episódios cionalmente tem sido sempre uma atividade dos com o tronco curto e vestidos suntuosa-
apenas duas mãos é seu segredo. Além do mais. do Raniavana e do Maliabliarata . que uma masculina, os homens ainda sentam-se do lado mente. ricamente bordados ou adornados com
ele também rege os músicos, dando-lhes as parte pode facilmente tomar o lugar do todo. "bom" da tela - ou seja. atrás do dalang, de ornamentos de bcuik . Os figurinos escondem
deixas tamborilando-as com uma espécie de A tarefa de ator, narrador e comentarista modo que possam ver os próprios bonecos. O com habilidade a mão com a qual o titereiro
martelinho feito de madeira ou chifre. Se for do dalang exige o mais alto grau de concen- lado do jogo das sombras é considerado como segura seus bonecos. Os braços são articula-
preciso, o próprio dalang pode acompanhar tração. Por horas a fio, ele permanece devota- de segunda ordem e, pela tradição, por toda dos nos ombros e cotovelos e. como todos os
sua narrativa com efeitos sonoros produzidos damente absorto na proposta e na atmosfera Java. onde se sentam as mulheres. bonecos woyang. S;lO movimentados por meio
Em Bali, o protocolo artístico do teatro de tinas varetas de madeira. Em 1931, a graça
H'ayang, e talvez ainda mais o social, é menos misteriosa das bonecas H'a."llng gole]: inspira-
estrito. O dalang arma sua tela ao ar livre, e a ram o titereiro vienense R. Teschner a consti-
platéia senta-se informalmente no chão. To- tuir seu Figurcnspicgcl Thcatcr, que trouxe o
davia, é em Buli que o caráter ritual permane- wayang golek e os conceitos do teatro de som-
ceu mais forte. Bali. a "Ilha dos Mil Templos". bras da Indonésia a entusiastas do teatro de
manteve-se mais fiel ao hinduísmo que Java, bonecos de toda a Europa.
onde o Islã ganhou terreno quando invadiu a Ainda outra forma de wayolIg é o H'aVang
ilha, avançando a partir de Sumatra durante o kruchil ou klittik (kenujil, klitik significa pe-
século XV. Até hoje, os dalang de Bali apre- queno, delgado). Suas figuras são também fei-
sentam-se nos recintos do templo, e especial- tas de madeira, porém mais planas e equipa-
mente na entrada do primeiro pátio do tem- das com braços de couro. Tira seus temas do
plo, o assim chamado tja ndi-b cntar, ou período entre o declínio de Majapahit (1520)
"portão dividido". (No primeiro desses três e a ascensão do império islâmico de Dernak.
pátios, ocorrem as popularíssimas brigas de Hoje está quase extinto. Apenas seu nome,
galo de Bali.) wayang bebêr, sobreviveu. Fazia uso de um
Outras formas do teatro wawl11g desen- grande rolo de papel fibroso ou tecido de al-
volveram-se posteriormente, ao lado do 1\"0- godão. onde os personagens eram pintados. O
12. Os bufõcs do teatro lI"OHlI1g de Java. Da esquerda para a direita: Scmar, Carenp. Petruk e Bagollg. R. L. Mellema, yang kulit, Uma subespécie, o wavcnn; gedok, dalang movimentava o rolo pcla tela pintada,
Titrn:s HlJrWlg. Amsterdã. 19),:\. também lançou mão dos costumeiros bonecos da mesma forma que um filme. O Museu

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T
-
\ 3. Bo neca do Wtl )"Oll g golek do IcatrOde sombras da Indonési a. Java.
fmal do século XIX (Mu nique. Slad unu s eum . Coleção de Tealro de Bo -

neco s) .

14. O deus lndra. Bonee<> do teatro de 50mb"" javanês feito de per gam inho pint ado. co m três varetas para manipula-

ç âo tOf fenbaeh arn Main. Deul seb es Lelk nll useum ).


T • As Cí víí zoç cs l n d o Pcn-Fficns
í ó

Etnológico de Leiden e o Museu Pahemon nhadas tanto pela orquestra gamelan quanto
Radyapustaka de Surakarta possuem cada qual por coros de homens e mulheres, atingiram
um bem-conservado rolo pintado wayang seu maior desenvolvimento nas cortes de Java
I beber.
Hoje, nas cidades da Indonésia, o teatro
central.
Essas danças cerimoniais eram estritamen-
wayang é tão comercializado quanto as danças te reservadas para apresentações na corte. Ain-
indígenas, as danças com máscaras do wayang da no século XIX bastante adentrado a dança
topeng, a famosa Dança das Ninfas (bedaja), a bedaja, com seu acompanhamento de canções
kiprah, dança acrobática de solo, ou a djaran- melancólicas, só podia ser dançada nas cortes
kepang, dançada em pares com bambus entre- dos sultões de Java, diante de um público se-
laçados representando cavalos - e todas as nu- leto. Ela é executada por um grupo de nove
merosas formas de wayang wOllg (wong quer moças muito jovens envergando preciosos
dizer humano), o teatro do humano. mantos tecidos com relevos dourados e mo-
A música gamelan é um ingrediente es- vendo-se com a graça perfeita da tradição da
sencial em todos os espetáculos wayang da dança oriental. Cada gesto possui um signifi-
Indonésia. A orquestra consiste predominan- cado ritual, mágico, de acordo com o niudras
temente em instrumentos de percussão (gamei hindu. Hoje a bedaja é dançada na cerimônia
é a palavra para martelo), gongos, tambores e que celebra o Garabeg, um festival muçulma-
xilofone, com alguns poucos instrumentos de no de sacrifício.
corda e sopro. O sistema de escalas gamelan é Pode-se julgar quão fortemente os indo-
construído sobre intervalos; suas melodias ba- nésios ainda respondem ao encanto mágico do
seiam-se tanto na escala de cinco notas i slen- teatro wayang por um poema escrito na déca-
15. Máscara de demónio para a dança barong indonésia. O barong, um animal mítico, é carregado por dois dançarinos. dro) quanto na de sete (pelog), que recordam da de 20 pelo escritor javanês Noto Suroto:
A máscara é esculpida cm madeira e decorada com elementos ornamentais feitos de pergaminho de búfalo dourado. Da
os tons maiores e menores da música ociden-
ilha de Bali (Offenbach am Main, Dcutschcs Ledermuseum). Senhor, deixai-me ser um ll'({.\'{/ng em vossas mãos.
tal. Pode ser considerada uma regra prática que Posso ser um herói ou um demónio. um rei ou um ho-
a slendro gamelan esteja geralmente associa- mem humilde, uma árvore, urna planta, um animal... mas
da com o wayang purwa e a pelog gamelan, deixai-me ser um wavang em vossas mãos... Ainda não
com seu tom menor, wayang gedok. lutei minha batalha até o fim, e logo vós me levareis: eu
Uma orquestra gamelan também acom- poderei descansar com os outros cuja peça esteja acaba-
da. Estarei na escuridão com as rnirfadcs... E então, após
panha as danças cerimoniais apresentadas na centenas ou milhares de anos, vossa mão mais uma vez
corte. Estas danças da corte, que são introdu- me concederá o dom da vida c do movimento... e eu,
zidas pelo dalang com recitações e acompa- novamente. poderei falar c lutar ;l boa luta.

16. Friso em relevo com ninfas dançantes (Apsaras). no tcmplo-rnonastério de Prcahkhan no Camboja. Construída por
Jayavarman VII, o último dos grandes reis do Khmer, c. 1190.

• 51
China

I NTRODUÇ ÃO na Ópera de Pequim, numa das mais alta me n-


te co nsumadas form as de teatro do mundo, a
Cinco mil anos de história med eiam nos- arte dos ac robatas possui seu lugar de honra.
so tempo e as fon tes do teatro ch inê s. Imp é- No teatro ch inês, a ac robacia, em sua nobre
rios e dinast ias vie ram e se fora m desde os dia s trad ição, classifica-se co mo par da m úsic a .
pri mit ivos das danças rituais da ferti lida de e A lógica matem át ica de notas musica is re-
dos exorc is mo s xa mâ nico s dos esp íritos do present a a orde m do mu ndo, as lei s que gover-
m al, desd e o s primórdios da pant o mi ma da nam o curso das estre las e da vida na te rra. A
co rte e dos trocadilh os dos bufõe s. M ilénios, intera ção entre cost um e e música culmi na na
impérios e dinastias inteiros separa m os dias forte trad ição cerimonial sobre a qua l o po-
do prim e iro co nservatório impe ria l de música der e a autor ida de abso luta do maior Estado
daq ue les qu e testemunharam . eve ntua lme nte. do mundo for am e rig idos durant e milh ares de
a legitimação do drama chinês. Esse ama dure - anos. Exatamente da mesma forma co mo as
cime nto foi levad o a cabo pelo col apso do só- pessoas comuns es ta vam sujeitas aos se nho-
lido edifício do poder de um im péri o. it som- res feudais e os se nho res feudais ao impera-
bra de Gêngis Khan. dor, também o imp erador, por sua vez. es tava
A mol a propulsora íntima desse drama foi sujei to ao Senhor do Cé u, a quem adorava e m
o prot e sto, a reb eli ão ca muflada co ntra o do- sua co ndição de Fi lho do Cé u. Essa ado ração
míni o mon góli co . Ass im, nos séculos X III e exp ressa va-se nas pantomimas sacras e nos ri-
X IV. o drama chinês celebro u se us triunfos tos sacrific iais. bem co mo nos so ns da mú sica
não no palco, ma s nas co lunas dos livros im - radi cad a nos pod ere s cós micos, m úsica qu e,
pressos. O s dram aturgos er am eruditos, mé - mediant e sua s lei s. atrelava o sobre natura l a
d icos. literatos, cujos discípul o s se reun iam um dever neste mundo . "Quem qu er q ue en-
e m torn o do mestre ao abrigo das sa las parti- tend a o sig ni ficado dos grandes sac rifíc ios" .
cu lares de rec itais. Sua mensage m sedic iosa disse um a vez Con fúcio. "compreende r á a or-
er a passada de mão em mão em livro s de im- dem do mundo com o se o estivesse segura ndo
pre ssão artesan al, e leg ante me n te e nc ade r- na palma da mão" .
nad os. A conseq üê nc ia dessa ordem do uni ver so
O aplauso do povo, entrement e s, perten- é qu e a virtude é recompensa da e o mal, pun i-
c ia aos malabaristas. acro ba tas e mimos. Pel o do. A arte e a vida movem- se dentro desses
precári o bal an ço dos funambuli s tas, eq uili- dois postul ad os. Se us funda mentos reli g iosos
brist as e prestidi gitad ore s a her ança teatra l se mpre es tive ra m liga dos ao culto do s ance s-
chi ne sa atravesso u os mi!ên io s. Ai nda hoj e. trais e dos heróis - n ão obs tante a intervenção
do m isticismo tao ísta da naturcza de Lao-ts é,
a filoso fia moral de Co nfúc io , o adve nto do
budi sm o e do c ristia nismo ne stori ano.
H íss árí a M u nd í oí l lo 1"('(/11'0

da ções, eclipses solares, os deu se s da c huva e


do ve nto , doença s e desgraças.
Essa s dan ça s xamâ nicas 11'11. so bre as quai s

T • Ch na
í

O heroísm o é a mais alt a perfeição da vida


humana e, no palc o, ce le bro u seus mais im-
o filósofo Mo Ti esc reve u por volta de 40 0 a .C;
for am de vital relevância durant e o período
I
pression ant es triunfos tant o na form a de su- S hang (a té mais ou men os 1000 a .C r). No pe-
prem o valor qu ant o na de humilde paciência. ríod o Chou que se seg uiu, aparece ra m os pri-
Poet as e dr am aturgos m odernos de vem meiros elementos profanos. M im os e bufões
mu ito à tradição chines a. Bert olt Brecht in- propor cionavam diversão nos ba nq ue tes im-
corpo ro u, em sua nova forma de dram a épico, peri ai s . Bal ada s e ca nções folc lóricas eram
aqui lo que c hamou de "a spe cto de exi bição interpretadas numa " dança de louvor " paut o-
do antigo teatr o as iá tico". Thornton Wild er, mímica (su lIg ,,"u).
qu e passou os anos de sua juventud e e m Hong- C onta- se que certa vez Co nfúc io ficou tão
Kon g e Xangai , derivou a técni ca de seu tea- irri tado co m as mom ices desre sp eit osa s dos
tro pri mordi al, se m qu alquer tipo de ilusão, anões da co rte, qu e orde no u ao gov e rnado r
da arte da atuação chines a. P aul Claude l, que de Lu que exec utasse meia d úzi a dos piores
vive u qu inze anos na China co mo dipl om ata ofe nsore s. Sécul os mais ta rde, isso ainda era
fra ncês , recolheu os frutos de suas ex peri ên- a po n tad o contra ele pe lo croni sta Ssu-rna
cias no Extremo Oriente em Le Souli er de Sa- Ch 'ien, cujo famoso Registro H istórico (Shih
tin. Estud ou o teatro, o caráter e a filosofia da Chi) contém um capítulo int ei ro sobre a pro-
1. Cena de A Est ratégia da Cidade Desprotegida, peça do pe ríod o C ho u.
China e chegou à conclusão de que o eni gma fissão de ator. Em co ntraste co m o ensina-
da fo rça e do poder deste populoso e gigan- mento confuciano e su a rígida recomendação
tesco Esta do po de r ia ser so l uc io na do em de moderação e autod isciplin a, Ss u- ma Ch'ien Esse pode se r um ep isód io tri vial para o u o ca mi nho inverso' ) Ssu-rna Chien é um a
c inco palavra s: "O ind iv íd uo nun ca es tá soo de cl a ra: " Ma s eu di go o se g uinte : os cam i- contar o princípi o da históri a do teat ro chi- import ant e testemunha de sua ex istê nc ia, mas
z inho " , nho s do mais ele vado par aíso são por demais nês, mas sua mo ral é sugestiva. A virtude pr e- nã o ár b itro nessa q ue stão .
incom pree ns ivelme nte sublimes: ao co ntrá rio valece, o qu e o u qu em q uer que seja res po n- Conforme a históri a co ntada por Ssu-ma
do qu e se pen sa. é possíve l. mesm o falando sá vel por sua vit ória. S su-ma Ch "ien, ca mpeão Chie n, um hom em c ha mado Shao Wong , do
O R IGENS E OS ' 'C E M J O G O S " so bre co isas triviais, qu e a lguém encontre o da a rte do mimo. perte nce u à corte do impe- estado de T 'si. veio d iant e do imper ad or \Vu-ti
ca m inho a través do caos das confusões hu- rad or Wu-t i (140 -87 a.C v) e desfrut ou . junta - e m 121 a.c. para ex ibir sua hab il idad e cm co -
É natural para o se nso ina to de orde m dos ma na s". mente co m numerosos e ru d itos e poetas, os mun icar- se com os fantasma s e esp íri tos dos
chi neses subordinar tod as as co isas, deste e do Gra ças a esse veto. Ssu-ma C hien co nver- favo res deste governa nte am ante das artes. Foi m ort os . A co nso rte fa vo rit a d o imp er ador,
o utr o mundo, ao princípio utilit ár io, seja 110 teu -se no advogado de todos os bu fõe s e atores ele qu em , e m 104. fundo u aq uilo qu.: é co- \Vang. havia aca bado de morrer. Com o au xí-
do mínio das idéias ou no da prática . Assim a da C0l1e. ex plicitamente nomeados por ele, que nhe cido co mo Gabi ne te Imp eri al de M úsica . lio de sua arte. Shao \Vong fe z com q ue as
música, o mediador que co nci lia o cé u e a ter- estava m entre a vanguarda do teatro c hinês . Ele incorporou os nov o s instrument os mu si- im agen s dos mo nos c do deu s d os lares apar e-
ra, também possu i uma legít ima missão edu- Em prim eiro luga r e ntre e les estava Yu- ca is, tra zid os ao país por equ ipe s de co ns tru- ce sse m à no ite. O im perador a viu a uma certa
cac ional. A perce pção da util idade da música, Men g, m úsico, bufão e mim o da cor te do rei tor es da Ásia Ce nt ra l, q ue haviam chegado à di stâ nci a, atrás de uma co rt ina . Co nferiu , eu-
segundo dize m, levou o mítico impera dor ama- C h ua ng (6 13-60 1 a.c.) no rei nado C ho u. Esse China para aj uda r na cons trução da Grande tão, a Shao Won g, o títul o de " Marec hal do
relo Huang Ti, fund ador da nação chinesa (cer- es pi ri tuos o anão não hesi ta va e m at acar não Muralha. e a uto rizo u a com po sição de nova s Sabe r Perfeito". c um ulou-o de prese ntes c co n-
ca de 2700 a.C i) , a injet ar a magia dos sons ape nas os exc essos da vida da corte, mas tam- mel odias para esses instrument os. Desd e en - ce de u-lhe os ritos dest inad os aos co nvi da dos
1I0 S propósitos da alta políti ca . Acredit ando que bém as injusti ças do se u gove rna nte. Certa vez , tão o ala úde de quatro cordas (1' ' j .l' 'a) co m da co rte . Qua ndo, por fi m , Shao \Von g torn ou-
a música serve para mant er a pa z e a orde m, e le aparece u di ante do rei nas ve st es de um sua exten são de três o itav as , e a did;c, uma se a m bic ioso dem ais e falhou repetid as veles
ele saudava seus visitantes ofi ciai s co m apre- ministro recentement e falec ido e lembrou-o flauta com se is buracos e um a cha ve, torna- ao invocar os espíritos desejados , o Imp erador
sentações mu sicais. de sua dívida de gr atid ão par a com a família ram-se compon ent e s bem-e stab elecidos da torn ou- se cético, e dois anos mais tard e o pró-
Mágicos e exorcistas eram responsáveis e m pobrecida do mini st ro : " Leal até a morte orquestra chinesa de palco . pri o Sh ao \Von g foi secretamente despa chado
pelo transcorrer seguro da vida rural , pelas boas foi o ministro Sun Shu-ao e m C hou . Agora, De acordo com S su -rn a Ch' ien, os primór- para o mu ndo do s espíritos.
co lheitas e pela boa sorte na guerra. O xama- sua família desamparada pr eci sa ca rregar ma- dios do teatro de so m bras ch inês remontam ao O teat ro de som bras, entretanto - o qu al,
nism o era gra nde me nte de senv ol vid o no norte deira para sobreviver. Ah , não va le a pena ser período do imperador Wu-ti . Mas css a infor- de al guma fo rma, Shao \Vong parece ter Usa-
e no ce ntro da Ásia, onde seus praticantes for- mini stro em Chou !" O ape lo m ími co de Yu- mação ainda nã o decid e a co ntrové rsia corre nte d o - perm aneceu uma forma fav or ita do teat ro
maram um grupo profi ssion al distin to. Dan- M en g foi um suce sso co m pleto. O filh o do e ntre estudi osos do séc ulo XX qu ant o à ori- c hi nês . Os honecos de Pequ im e de Szechu an,
ças rituais ( 11'// \\'//) era m apre se ntad as num falecid o fo i co nvoca do 11 co rte e inves tido de ge m do teatro de so mb ras : ter ia ele via jado da fe itos de couro tran sp a rent e de bu rro o u bufa -
estado de êxtase co ntra desastr es naturais, inun- um alt o ca rgo . Chi na, via Índ ia e Indo nésia, até a Tu'rqui a - lo , trau sm item uma impress ão da imag inativa
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2. Bonecos de teatro de sombras chinês da lend ária "Viage m à Índiâ....qu e o mon ge peregrino Huan-Tsang empree n-
deu a fim de adq uirir escri tos budistas. Ele caminha à frente com feixos de livros, seg uido por seu cava lo branco, o rei
macaco Sun Wu-k'ung, Chu Pa-tsie, o cabeça de porco, e o mo nge Sha Wu-tsin g (Chicago, Field Mu seum of Natur e
History).

4 . Ce na de teat ro de so mbras: a princesa Kuan Yin no trono de l ótus durant e uma rece pção (Munique. Stadtmu seum,
Co leção de Tít eres de Teatro).

3. Fig ura s de teatro de sombras de Szechwan: princesa no lombo do cava lo faz prision eiro o jovem co m q uem desej a 5. Cena d e teatro de sombras : encontro no parqu e de animais do pagod e (M unique. Stadtmuseum, Co leção de Tít eres
se casar, século XV III (Offenbach am Main , Deut sches Leder museum) . de Te atr o) .
H ís t ó ria Xí u nd i a l d o Tra t r o • • C hi na

6 'I' üerc de te atro de so m b ras s iam ê s : (I ma ca co noite Min g Huang co nvido u sua be m-a mada
um interesse pessoal e m j u lga r seu desem-
An gk ut .
penho. par a um a taça de vinh o no Pavilhão das Cem
No "Jardim da Primav era Perp étu a", uma Flores. El a espera por ele, vestida com sua s
esco la paral ela ao Jardim da s Peras , um grupo mais deslumbrantes roupas, quando fica saben-
ya ng : porém, podemos apena s supor como ele de trezentas moça s. es colhidas a ded o por Su a do que o Imp erador foi para o s braços de ou-
deve ter sido . Posto que os "Cem Jogos" en- Majest ade, eram treinadas para alc ançar a per- tra mulher. Ela se embriaga para afo gar sua
volviam prin cip almente pantomimas, dança e feit a graça e elegâ nc ia do movimento e da dan- tristeza, vergonha e ciúme.
aprese nta ções acrobáticas, talvez esteja mos cer- ça . Conta-se que , para ag radar à sua linda Na dir eção dada a est a cena - tratada com
tos ao ima ginar uma plataforma simples, ele- co ncubina Yang Kuei-fci , o próprio imp erad or muita habilidade e co m co nsc iê nc ia dos pro-
vada , pos sivelm ente coberta por um telhado e oca sio nalme nte ve stia uma roupa de bobo e blemas es téticos que a representação da em-
limitada por uma parede de fundo. Os co nvida- improvisava pequenas ce nas com os ata res. O briaguez pode trazer para o atol' - os estudio-
dos provavelmente assisti am ao espet áculo "palco" podi a ser uma varanda aberta num dos sos da cultura chinesa enco ntram uma ponte
se ntados em se us palanquins, como era ainda edif íc ios do pal ácio, um pavilhão ou algum qu e une o passado ao presente. No terna e no
o co stume da s platéias do século XVII da s dan- local prep arado no jardim do palácio . Para um a es tilo desta ce na virt uos ística do per íodo T' ang,
ça s gig aku (originalmente coreanas) do Japã o. locação pitoresc a. pod er ia se r escolhido um e em sua harmon iosa co mbinação de mú sica
grupo de árvores, o u um tanque co m lírios, um a voc al e co reog rafia, os estudio sos vê em um
ponte. uma ca sa de c há . Havia canções, dan ça paralelo ao estilo da Ópe ra de Pequim atual .
Os E STUDANTES D O J ARDIlIl e música onde e qu and o o Imp erador assim O e stilo, aq ui, acentu a o senso conceituaI e
ordenasse - nas refeições, nas recepções ofe - artísti co da apresent ação, a aç ão "íntima" ,
DAS PERAS
recidas a convidados de honra, como diversão mais do qu e as técni ca s específicas de repre -
durante um jogo de xadre z, ou dur ant e acon- se ntaçã o. O historiador do teatro chinês Huan g-
O períod o da dina sti a T'ang (6 18-9 06) tecim ento s cerimonia is da corte, qu e se mpre hung ex plica que , " para c heg ar a um a aprecia-
assis tiu ao na scimento do livro imp resso e da duravam hor as. ção corre ra do teat ro chinê s, o euro peu pre ci-
manu fatura da porcelan a, a um grande flore s- A história de Ming Hu an g e sua "Madarne sa estar co nsc iente de qu e o m ai or interesse
riqu eza de aç ão e dos person agen s épicos dos ci mento da pintura e da poesia lírica e ii intensi- não é tant o sublinhar a a ção co mo tal , ma s
Pompadour", Yang Ku ei -Iei, torn ou-se um dos
mitos folclóricos. fica ção do co mé rcio com a A r áb ia e a Pér sia . temas favorit os da arte . m úsica. poesia c dra- dei xar o públ ico sentir a história . O acento es tá
A evocação visual do s "esp íritos dos mor- Foi também durante este perí odo qu e teve lu- na s po ssib ilidade s es p irituais, m ai s do que nas
ma chineses. Uma da s mai s comovente s de
tos", na época do imperador Wu-ti, reflete-se gar o mais fam oso evento da história do teatro suas versões para o palco é o drama O Palácio físicas " .
hoje na terminol ogia do teat ro chinês, onde as na China - a fundação do cha mado Jardim das da Vida Eterna , do fin al do século XVII. As Es sa circunstânc ia ex plica também o po r-
duas porta s - de entrada e de sa ída - , à direita Per us, a acad emia teatral impe rial da qu al os falas de sta peça. im ort ali zando o juramento qu ê de. no decorrer de lon go s pe ríodos, não
e à esquerda do palco, sempre for am co nheci- ate res de hoje ainda tiram sua designa ção poé- trocado entre o imp er ad or e sua bem -am ada - terem s ido int rodu zid as maiore s inovaç õe s
das co rno as "portas das so mbras" ou "portas tica de "estuda ntes do Jardim das Per us". "sempre voar lad o a lado . co mo os pássar os cé nica s no teatro chinê s: tud o o q ue aco ntece u
das almas". Ming Hu ang. conheci do na hi st ória co mo no céu e sobre a terra, un idos co mo o ga lho é foi um a a mpliação dos meio s teatrais, do al-
Ao lado da música da co rte c das danças o imp er ad or Hsuan -tsun g 0 12-75 5). foi o roi canc e da ex pressão mu sical , do núm ero de ato-
unid o à árvore" são tão bem co nhec idos na
xarnânicas com máscara s de an ima is. os en- solei l chinê s. Am ava o esp lendo r e a fama, C hina qu anto o são, na E uro pa, as palavra s da res a faz er parte do cspet ácu lo.
tret enimentos teatrai s da ép oca do imperador lindas mulhere s, cavalos pu ro-sangue, ca çar e Jul ieta de Sh ake speare: "Foi o rouxinol , e não Durante o períod o das Cin co Dinastias
Wu-ti incluíam também a ale gre diver são dos jogar pólo, bal é e música. Co nta-se qu e foi ele a cotovia..", (907 -960 ). com sua agitação e instabilidade
"Cem Jogos" das feiras e mercados. Fora do o primeiro a "colctar as flores dispersas da poe - políti ca , o teatro não e nco ntro u co ndiçõ es pro-
As cróni cas, romances e peça s de teatro
port ão oc idental da ca pital, Lo- yang , havia um sia, m úsica e dança e e ntre la ç á-Ia s na grinalda testemunham que Min g Huan g mant eve o seu pícias para um desen vol vimento ulterior. Os
recint o de feiras, onde mágicos e malabaris- do drama". Em 714 , Ming Huang fund ou um juramento. Quando Yan g Kuci-fei foi vitima da es tudantes do Jard im das Peras tiveram de es-
tas, engo lidores de espadas e fo go, exibiam gabine te imp erial para o desen volviment o da por um golpe revoluci on ário, seu Rom eu im- peral' que a dinasti a S ung (960-1 276 ) resta-
suas habilidad es. mu sic a instrument al e da co mpo siçao (Chiao- perial apressou- se a seg ui-Ia ao Palácio da Lua . belecesse a paz e a prosperidade ante s que tam -
Ao longo do período Su y (220-6 18 d.C) Fallg ) e organizo u o chamado Jardim das Peras, onde habitam as almas abe nçoadas. Co nta -se bém e le s pudessem ade ntra r um a nova era
elementos ocid entai s vieram na esteira dos a primeira esc ola de arte dr amática da C hina. que, nos bon s tempos, ce rta vez Ming Huang dourada.
merc adores através da Ásia Central. até o Mar No Jardim das Peras do imperador trezentos rompeu com sua bela con cubina. Este episódio Sob o imperador Chen-tsun g (998- 1022)
Cá spio. Mercadores e embaix adores persas e joven s recebi am cuida dos o treinament o e m é o tema da peça , \ Bele:a Em briagada . obra- a s c a n ç ões e danç as tradi ciona is , emhor a j á
hindu s chegaram ao país e, em 6 10, o impera- dan ça , mú sica instrumental e canto . O s mais prima de virtuosismo histri ônico, que dur ant e variadame nte marcad as e co reografa das , foram
dor Van-ti con stru iu o prim eiro teat ro com a talent osos pod iam esperar por um a brilhante muit os ano s fez part e do intern acion alm ente pel a pr imeir a vez inte rcaladas co m represen-
prop osta específica de entreter embaixadores carre ira na co rte. Todos os dias , Min g Hu ang aclamado repert ório d a Ó pera de Pequim. tações de eve ntos históri cos, tai s co mo cenas
de países estran geiro s. Sab em os que o teatro co mpa rec ia pessoalm ent e para veri fi car que A peça pod e se r descrita co mo um mu si - co rtes ãs, batalhas e cercos proveni ent es da his-
fica va do lado de fora do portão sul de Lo- pro gr es sos os jove ns esta vam fazendo: tinha cal de ato ún ico. Seu e nredo co nta CO l1\O certa rór iu do fam oso per íod o do s ' T rês Reinados"
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Hist ó ri a M'n n d i al do Te a t ro .
f
!, • Clí i n u

do século III. Estes "shows de variedades" (ts« ao redor dos funambulistas, adivinhos e mala- e levado para Hang-chow, a alguns quilômc- tistas e intelectuais chineses lhe dessem uma
chii), com sua trama livre, mas com seqüên- baristas, ou visitavam as embarcações festiva- tros ao sul de Kaifeng. Durante o século XVIII, visão íntima das idéias e da mentalidade do
cias de ação cada vez mais ricas, tomaram-se por mente decoradas. Perto do rio, no campo aber- artistas chineses o copiaram em infinitas, no- povo conquistado. Porém, na China sob o do-
fim os precursores diretos do drama chinês. to, se erguia o teatro. Seu telhado de madeira, vas e individuais variações. Em 1736, por mínio dos mongóis, como tantas vezes na sua
Numa descrição de um banquete imperial decorado com bandeiras coloridas, podia ser exemplo, cinco dos pintores da corte do Im- história, o drama tornou-se um centro de re-
no início do século XI, encontramos listados visto de longe, pois o tablado do palco, supor- perador Ch ien Lung estavam trabalhando em sistência subterrânea.
no programa dezenove números, incluindo tado por duas dúzias de sólidas colunas, fica- tais cópias. Nos séculos XIII e XIV, tanto no Norte,
dois "shows de variedades". Cada um deles va a uma distância maior do que a altura de A dinastia Sung do Sul, exilada em Hang- que estava nas mãos dos mongóis, quanto no
geralmente tinha três personagens: um vene- um homem acima da multidâo. O chão do pal- chow, sobreviveu por mais um século e fez to- Sul, que ainda desfrutava de uma vida cultural
rável homem barbado, um robusto e determi- co era coberto por um tapete de grama. Um dos os esforços para proporcionar ao povo um desagrilhoada, as duas formas características
nado "cara-pintada" - um tipo clownesco - e barracão de madeira adjacente servia de ca- sentimento de prosperidade e segurança, a do drama chinês desenvolveram-se mais ou
uma figura de imperioso comandante. Esses marim para os atores. Durante o espetáculo, o despeito da perda do Norte. Em Hang-chow, menos simultaneamente: o drama do Norte 'e
"shows de variedades" incluíam danças, poe- público ficava em pé, ao redor do palco, num como no passado no festival Ch'ing Ming em o drama do Sul.
sia e música, e cenas de farsa e récitas. Os semicírculo. Kaifeng, as barracas de espetáculo prolifera- Os chineses comparam o drama do Norte
"shows de variedades" eram representados no O imperador Hui-tsung (1101-1125) in- ram novamente, talvez mais numerosas do ao esplendor da pcônia, e o drama do Sul ao
palácio ou no parque imperial. nas salas de cumbiu o mais famoso pintor de sua época, que nunca. brilho sereno da flor da ameixeira. Estas en-
recepção e cerimoniais dos senhores feudais, Chang Tse-tuan, de pintar o festival Ching Quando Marco Polo atingiu a China na cantadoras metáforas, sugerindo uma exten-
e nas feiras, por ocasião dos grandes festivais Ming num magnífico pergaminho, que che- última parte do século XIII, deu ao país o nome são que vai da força fulgurante à tênue flores-
populares. gou até nós - precioso legado de uma dinastia pelo qual ele era conhecido pelos governantes cência, caracterizam tanto a escolha do mate-
O mais famoso pela variedade de suas condenada à ruína. Pouco tempo depois, turcos e mongóis: Catai. As descrições de rial dramático quanto o tipo de tema. A escola
atrações era o festival anual da primavera Gêngis Khan e seus mongóis invadiram o país. Cambalu, a "cidade de Khan", por Marco Polo, do Norte escreve sobre o valor e os deveres,
(eh 'ing Ming) em Kaifeng, a capital da dinas- Tornaram o imperador e seu filho prisionei- fizeram com que ela fosse vista durante muito na guerra como nos assuntos amorosos - temas
tia Sung do Norte. Milhares e milhares de pes- ros e incendiaram a capital Kaifeng, reduzin- tempo na Europa como a quintessência do es- ditados pela ética confuciana com sua insis-
soas chegavam ao local do evento, às margens do-a a cinzas. Mas o pergaminho pintado, de plendor principesco - na verdade, muito em tência no dever público e na piedade filial -,
do rio Pien, ao norte de Kaifeng. Multidões aproximadamente onze metros de comprimen- função de seu cerimonial teatral da corte. como a "origem de toda virtude".
agrupavam-se nas longas fileiras de barracas. to por trinta centímetros de largura, foi salvo A escola do Sul é mais complacente. Deli-
cia-se com os sentimentos e aquelas pequenas
o CAl\llNHO PARA O DRAMA indiscrições, como uma olhadela furtiva na
alcova de uma mulher, ou até mesmo num per-
Ao lidarmos com a emergência do drama fumado decote. Na Escola do Sul, uma moral
chinês enquanto forma literária, temos de per- mais flexível combina-se com um estilo mais
guntar por que a invasão mongol provocou informal.
nessa civilização milenar a crise cultural fun- No drama do Norte. tudo .- da rígida nor-
damental que levaria a formas artísticas e cul- ma dos quatro aros à meticulosamente segui-
turais inteiramente novas. da nomenclatura da rima e da música - vai de
Existe uma explicação bastante plausível: encontro à clareza de estilo. No drama do Sul,
o fim dos grandes exames estatais, sem os quais com sua vida alegre e turbulenta e música mais
nenhum estudioso seria previamente admitido ruidosa, predominam os efeitos poéticos.
ao gabinete imperial, libertou forças intelec- Foi em Hang-chow, a capital da dinastia
tuais que agora se concentravam na tentativa Sung do Sul, que se desenvolveu, em contras-
de estimular a resistência interna às leis te com o "rígido" drama do Norte do período
mongóis, no aspecto aparentemente inofensi- mongol, uma forma operística do drama (lWI1
vo da poesia. eh 'u). Este foi um avanço importante no tea-
Na atmosfera de liberdade intelectual sob tro chinês.
o domínio de Gêngis Khan, os protestos eram
expressos contra a COITUpção c venalidade dos
próprios chineses, contra os oportunistas e vira- DRAMA DO NORTE E DRAMA
casacas que concordavam C 111 servir aos arnan- DO SUL
tes da música mongóis.
Gêngis Khan promovia as artes, porque Cronologicamente, o drama do Norte es-
esperava que o contato com os principais ar- tava cerca de duas gerações ii frente do teatro
60 • 61
• China

do Sul. Ele pode reivindicar a descendência mínio mongol, sob Gêngis Khan e Kublai Khan
de Kuang Han-King (nascido em 1214, em - foram alguma vez representadas no palco.
Tatsu), o "pai do drama chinês". Kuang Han- Quando Kao Ming, um oficial influente de abas-
King foi um alto oficial de Estado da dinastia tada ascendência, publicou sua famosa peça O
Kin antes de sua destruição e mais tarde, em Conto do Alaúde em 1367, o Sul também esta-
Pequim, um médico e experiente especialista va ameaçado pelos mongóis. Como a maioria
». em psicologia feminina. Escreveu sessenta e dos membros da classe culta de sua época, Kao
cinco peças - comédias de amor, peças cor- Ming era um seguidor de Confúcio. Ele era con-
tesãs e dramas heróicos. Catorze dessas obras tra a corrupção c contra a desigualdade social,
chegaram até nós. Hoje, os chineses gostam e a lamentava quando sentimentos humanos
de colocá-lo ao lado do grande dramaturgo eram desconsiderados ao se deixar que as dife-
da Grécia clássica Ésquilo c do moderno es- renças entre os ricos e os pobres prevalecessem
critor de abordagem psicanalítica americano contra a voz do coração. Ao lado do Conto do
Tennessee Williams - uma demonstração per- Alaúde, as obras mais conhecidas das dinastias
feita de quão fúteis tais comparações podem Yuan e Ming que chegaram até nós são O Pavi-
ser. Um de seus mais tristes enredos, uma peça lhão do Culto à Lua, O Grampo, O Coelho
chamada A Permuta entre o Vento e a Lua - a Branco e O Ardil dos Cachorros Mortos. É de
história de uma jovem escrava que precisa ves- se presumir que sua disseminação se deva
tir sua senhora, que está prestes a se casar com grandemente ao livro impresso.
o homem que ela própria ama - demonstra que Enquanto as multidões de pessoas comuns
Kuang Han-King não necessita de compara- aplaudiam as peças musicais com conteúdo
ções. A fama de Kuang Han-King se iguala à histórico, representadas por trempes ambulan-
de seu contemporâneo Wang Shih-fu, para cujo tes num palco improvisado. () drama se desen-
famoso Romance da Câmara Ocidental ele volvia numa forma de arte separada e tornou-
escreveu um quinto ato após a morte do autor. se matéria de crítica literária. Alguns desses
Esta peça, aliás, não apenas nos fascina pelo ensaios críticos nos foram transmitidos pelos
lirismo com o qual apresenta o romance entre eruditos e considerados dignos de serem lega-
o estudante Chang Chün-jui c Ying-ying, a fi- dos. Mas, embora falem do valor literário de
lha de um ministro da dinastia T'ang, como uma determinada peça, tais críticas não nos
também nos dá um vislumbre da importância contam nada a respeito do teatro como um lu-
dos exames oficiais, que claramente eram não gar onde o drama é trazido ii vida. Este fato foi
apenas a chave para o privilegiado status de destacado duzentos anos mais tarde pelo críti-
funcionário público, mas, como em A Câma- co Ku Chu-lu, na época do renomado drama-
ra Ocidental, também um requisito para obter turgo T'ang Hsien-tsu. Ku Chulu escreveu a
a mão da mulher amada. extraordinária sentença que se segue, numa
Outra peça, escrita poucas gerações mais recensão da famosa O Pavilhâo das PCÔllÚIS,
tarde por Ki Kiun-siang de Pequim, teve seu de T' ang Hsien-tsu: "Logo que O Pavilhão das
caminho aberto para os palcos ocidentais gra- Pcônias surgiu, todos se apressaram a lê-la e
~.~ ças à livre adaptação de Voltaire. É O Órfão falar sobre ela, o que tornou possível reduzir o
"'.l. da China, encenada pela primeira vez em Pa- valor de A Câmara Ocidental",
ris em 1755 com a atriz Clairon no papel de O Pavilhão das Peônius, ao que parece,
Idarné, num desempenho entusiasticamente não foi uma sensação teatral, mas literária.
aplaudido por Diderot. Goethe retomou o mes- T' ang Hsien-tsu. um contemporâneo de
mo tema em 1781, com seu fragmento Elpenor; Shakespeare, era um erudito, não um ator. Sua
mas o Extremo Oriente o derrotou: nesse caso, residência, conhecida como a Sala Yu-Ming,
ao contrário de sua experiência com Ifigênia, onde seus alunos se reuniam, sugere sem dú-
ele não conseguiu reajustar o antigo modelo viela uma conexão com o teatro pela inclusão
ao espírito da humanitas e, assim, absorvê-lo da palavra )'11, "ator", mas, a julgar pelos re-
~( Palco chinês til) século XII. Detalhe de um rolo de seda pintado, retratando o festival Ching-Ming cm Kaifcnp. a
no drama clássico alemão. gistros históricos, as ambições do mestre como
capital da dinastia Sung do N011c ({}(}()-112h). Cópia do original de Chang Tsc-tuun. feita cm 17~6 por cinco pintores da Não se sabe se, e como, as obras-primas as elos discípulos eram de um tipo puramente
corte do imperador eh "ien I .lIll!; (Taipci. Museu). dramáticas do período Yuan -- na época do do- literário. Os "estudantes da Sala Yu-Ming" es-

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Desenho em giz vermelho de A. Jacovlev (tirado de IR The/ure

II. Finura em terracota de urna dançarina chinesa da


dinastia T~ang (618-90{J): um exemplo primitivo da "lin-
guagem das mangas" (Frankfurt am Main, Lichighaus).
H ís t ár iu M u nd ial do Tra t ro • • (Óh i nu

ta vam interessado s na críti ca do dr am a. não haviam levad o a linguagem dos movim ent o s das .c h inês: a perfe içã o un iforme do conj unto e O a to r atua num palc o vaz io . Não co nta
do es pet áculo, Quando foi propo sto a T ' ang man ga s à perfe içã o da bele za tran scendent e . também o desempenho ind ivid ual singular do com nenhum acessório externo para aj udá- lo .
Hsien-tsu que oferece sse leituras dr am áticas, Co mo um mei o de expressão teatr al , a " ling ua- a to r prin cipal. Mei Lan -fan g. deli cado homen- Tem d e cria r tud o un icamente por mei o de se us
ele resp ond eu co m a inescrut ah ilidade da sa- ge m das man gas" vai da alegre co nce ssão de zi nho com um a gra ça se m id ade, qu e por mui - m o vimen to s - a ação sim b ólica, co mo uuu-
be do ria c hinesa: "Estais faland o da ment e, mas um de sej o às profundezas do desespe ro . to s a nos retratou a be leza e o fascínio fem ini- h ém a ilusão es pac ia l. É e le qu em s ugere o
eu es tou falando do amor". no s, tomou-se o ído lo internacionalme nte acl a- ce ná rio e torn a visívei s o s acessóri o s cê nicos
Man gas brancas podem parecer tão lum inosas quan - mado do teatr o chi nês . Se u ment or Ch' i lu- inexi ste ntes .
to borb o le tas c tão dep ressivas quanto morcegos; a s mãos O pa lco chinês é o mesmo de séc ulos atrás,
sha n esc reve u ou ad apto u pert o de quarenta
podem parece r co mo sendo de alab astro . As palm as po -
A P EÇ A MUSIC AL DO peças para ele . Me i Lan -f an g es tre lou tod as uma si mples plataforma co m um fundo neu-
dem ser pint ada s de cu r de rosa para as mulh ere s e o s jo-
PERÍ ODO MI NG ven s he ró is. fle xíve is c male ãveis co mo se não po ssuísse m e las, exibindo sua a rte única e sutil. O text o tro por detr ás . Nenhum bastidor , nem palc o
ju ntas. Ca usa m impressão mesmo à di stância. Podem e mo- literário era a te la qu e Me i Lan -fan g ado rnava gi ra tó rio , pra ticável o u alça pão aj uda o ata r;
Enquanto os estudantes de propensão li- c iona.", enc he r de med o. cativar... (Ka lvodo vá -Sfs- Van is) . co m os intr inc ados e sutis o rnamentos de sua s e le pr óp rio precisa cr ia r todo o ce ná rio .
terári a reuni am- se em torno do dr am aturgo va riaçõ es histri ônicas. O s ú n icos ace ss órios c ên icos sã o um a
T'' nng Hsien-t su na Sal a Yu-Ming , o músico Os mo viment os das mangas são os re s- Sup ond o-se qu e um a me sma peça fosse m esa, um a ca deira, um divã cobert o com um
Wei Liang-fu desenvolvia , a partir d os elemen- pon sá vei s pel a gra nde cen a de lou cura da jo- ap rese ntada e m Peq uim , Szechan, Cantã o ou preci oso bro cado ou co m um tecido cinza. Mas
tos da mú sica do Norte e do Sul , um novo es- ve m Yen-jung e m A Beleza Resiste ti Tirani a. X a ngai, isto resultar ia e m q uatro result ad o s esse s ohje tos podem representa r qu alquer co i-
tilo mu sical baseado em siste mas ton ais e rit- Para escapar d a ord em im peri al , ela sim ula ha stante d ifer en tes não ape nas no qu e d iz res- sa : u m tr on o , uma m ontanha, um a caverna ,
m os fix os. Ele criou uma nova forma teatral, a rep entina loucura (este é também um tema fa- peito à produçã o co mo ta l, m as também por- uma co rte d e ju stiça, uma fonte, um pa vilh ão.
pe ça mu sical (k 'un-ch 'ii), Wei Liang-fu era vorito das peças nó j aponesas). Ela arremessa que o texto é trat ad o mu ito livr emente, poden- Se o ator sobe na mesa ou cadeira e cobre a
professor de música na cidade de Sooch ow, suas longas mangas bran cas numa movimen- do ser alterado à vontade, às ve zes até virando c abeça, significa que ele se tornou invi sível,
q ue se torn ou a capital cultural do pe ríodo tação agitada e febril e as dei xa c air abrupta- a ação às avessas para agradar o astro do espe- qu e esca po u de se us perseguidores. Se tom a
M ing e atraiu uma multidão de poetas, mú si- mente, estremece de ter ror, destr ói se u precio- táculo. Da mesma forma. a co mpos ição da or- um ch ico te de montaria que lh e é e n treg ue,
cos, es tudiosos e troupes teatrais. so diadema de coral, IÍ insan arnente por trás questra varia mui to , po is o s mús icos aderem sig n ifica q ue ele es tá montando um cava lo; ele
As reform as musicais de Wei Liang-f u e de um lon g o vé u de ca belos negros - e as sim fortement e à trad ição mu sica l local. desmonta ao devo lve r o chico te a um servo, e
os dramas lírico s e poétic o s do mestre da Yu- Yen-j ung destrói a imagem de sua bel ez a e,
M ing , cujas quatro peças mai s fam osa s são co m el a, o de sejo do imp erador. O g ra nd e in-
co nhec idas pelo título co nj unto de Qua tro So- térpret e de papé is femininos da Ópe ra de Pe-
nhos da Sala YII-Ming, est ab elecer am os fun- quim, Mei Lan -fang, costumava interpret ar esta
dam ent os para a alta pe rfei ção do estilo mo- ce na com força ex pres siva e pungen te at é a
dern o da Ópera de Pequim. Seus figurinos sun- ve lh ice (e le morreu em 1961 ).
tuo sos, seu cerimon ial elegan te. s ua fascin an-
te p rec isão de linguagem ges tua l e seu co ntro-
le a rtístico do corpo - tud o isso rem ont a à era A CON CE PÇÃO ARTÍ STI C A D A
do ura da da ópera da dinas tia Ming. ÓP ERA D E PEQUIM
Num palco nu, destituído de cen ário ou ele-
ment os decorativos. o ator - que era ao mesmo Por vo lta da metade do séc ulo XV III. du-
tem po ca ntor, recitador e dançarino - dava vida rant e a dinast ia Chi ng, a peça mu s ical líri ca e
a um mund o mágico, perfumado por peônias, poéti ca começou a se desenv ol ver na di rcç ão
flores de pêssego e roseira s; um mundo no qual de um no vo estil o, ace ntua ndo um se ntido de
a ma ntes infel izes unem-se co mo borboletas, rea lid ade e ex igindo um palco maior, " públi-
mas em que a espada flam ejante da vingança co". O imperad or Chien Lun g ( 1736- 1795 )
tam bém cobra seu tributo. A expr essiva lingua- tinha um grande intere sse pel as trem pe s tea-
gem dos gestos, os graciosos movimentos de trais da China e encontrava tempo , em suas
bra ços e mãos sob a fluida seda branca - tudo viagens, para visitar os teatro s das províncias.
isso foi aperfeiçoado no período Ming. Assistia atentamente à atua ção, ca nto e dança
Um a das prescrições morai s de Confú cio dos artistas. Os melhores del es e ra m então
diz qu e o corpo precisa estar o m ai s cobert o cha mad os a Pequim.
pos sí vel. Este era um de seu s pr eceit os mo- O nome, aliás, refere- se merame nte à ori-
ra is, q ue ele pretend ia qu e fo sse oh edec ido ge m d o novo estil o, não à s ua local iza ção sub-
es pec ialmente pela s cla sses mai s bai xas. Mui- seqü c nte. O estilo da Ópera de Peq uim c o m -
to tempo antes, no período r ang, as dançarinas bin a os d oi s el em ent os dominante s d o teat ro 12. Cl' na de- d Ut."h l 1111 p"h 'I). \ 'i L'lll :i . tIL- um 11I;t lll h l T I! t l <in o . victu.un u u

· 66 · 67
14 . Teatro chinê s em Xanga i. O palco é ergu ido nu m espaço semelhante a um salão , co m galerias laterais para os
espectado res e mesa s que ocupam o rés-tio -chão d iant e d o palco - o equ ivalen te ao snus ic " ali do Extremo O riente .
Desenho de M . Kocn ing (do L' íllus tratíon de 2 1 de novembro de l X74. Paris).

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13. O Ge nera l Ma -S ou. per sona gem da pc(,;'a hi vt órica A Retira da de Kiai- Ting , Fi ~t1ri no , m.isca ra c gc..~ S ( (lS cor rcspo n-
dcm ao es tilo da Óper a de Peq uim [cf ilustração 17 lia seq uê nc ia ). Estamp a co lor ida de A. Jac o vlev (tirado til' Lc l1u :ám:
15. Pint ura de m áscara bifr on te da Ásia Orie nta l (Co-
Chinois , Paris. 1922).
lônia . Mu scum IÜ I" o Slasiat isc hc.' Kun st j .
História MUI/dial do Tra t ro •

quando o servo sai do palco com o chicote, está atar sobre o rosto uma máscara marcial para
levando o cavalo embora. Uma paisagem ha- amedrontar seus inimigos. Seus súdiros, o povo
bilmente pintada numa tcla suspensa represen- de Ch i, não demoraram a tirar partido desse
ta o muro de uma cidade com seu portão. Uma bicho-papão militar numa pantomima burlesca
bandeira com linhas horizontais negras signifi- muito popular sobre a "falsa cara" de seu go-
ca tempestade, um guerreiro agitando bandei- vernante, chamada O Rei de Lan-ling Vai Li
ras, um exército inteiro. Duas flâmulas com ro- Guerra.
das pintadas, carregadas tanto pelo próprio he- Mas, fosse o papel de um guerreiro ou de
rói como por dois coadjuvantes, indicam que uma linda e jovem concubina, seria sempre in-
ele viajou de carruagem. Um ator segurando um terpretado por um homem, até o século XX.
remo é um barqueiro - ajuda sua dama a entrar Embora não houvesse nenhuma exclusão ca-
no barco, desatraca, rema contra a corrente, sal- tegórica da atriz na China, como havia no Ja-
ta, com um grande pulo, para a outra margem. pão, até perto do fim da dinastia Ch'ing, no
A ilusão é completa, graças ao alcance expres- início do século XX, era considerado incon-
sivo do corpo e dos movimentos do atar. Suas veniente para as mulheres aparecer no palco
mãos e gestos, o ritmo de seus movimentos, con- juntamente com homens.
tam histórias completas, criam uma realidade O privilégio de interpretar papéis femini-
que outros podem vivencial'. nos, da "feminilidade" masculina altamente
Da mesma forma que Marcel Marceau estilizada, devia ser adquirido ao longo de anos
sobe numa escada de navio num palco nu, da de rigoroso treinamento, e isso era mais aprecia-
mesma forma que seu Monsieur Bip atravessa do que a própria condição natural. Durante o
todos os paraísos de êxtase e todos os infernos domínio mongol e sob o governo do imperador
do desespero com nada além de um chapéu de Ming Huang, as mulheres foram admitidas tem-
palha amarelo e um cravo vermelho, assim o porariamente no palco como parceiras iguais.
ator chinês pode mover montanhas, sondar as Mas Kublai Khan, igualando arte c venalidade .-.
j{)l
distâncias do espaço e do tempo com um úni- num decreto datado de 1263, relegou as atrizes
co passo. Ele abre portas que não existem, atra- indiscriminadamente ao nível de cortesãs. Isto
vessa soleiras invisíveis; ele aperta sua amada as colocava na quinta e mais baixa classe da
junto ao coração quando pára diante dela com população. junto com os escravos, servidores

I
os braços estendidos. pagos, trapaceiros e mendigos.
Para ajudá-lo, possui apenas sua másca- Nem o Gabinete Imperial de Música. nem
ra, seu figurino. Ambos falam a herdada lin- as refinadas damas que escreviam dramas no
guagem dos símbolos: cada cor está ancorada período Yuan puderam mudar essa lei. Yan
na tradição cerimonial. O vermelho simboliza Kuei -fei estava suficientemente segura de seus
valor, lealdade e rctidào; o preto simboliza a encantos c dos favores do seu senhor imperial

I
paixão; a maquiagem azul no rosto revela bru- para não se prcocupar com prohlemas sociais,
talidade e crueldade; o branco de giz é a cor c as companheiras menos favorecidas de sua
dos trapaceiros e impostores. Uma mancha profissão sabiam como ser compensadas no
branca na ponta do nariz, talvez juntamente palco ou na alcova - pela humilhação de se-
com o desenho de uma borboleta nas boche- rem chamadas de "cintos-verdes". Elas usa- l
chas, faz o palhaço, o truão, o bufão. Ele pode vam o cinto verde das cortesãs, de onde vi-
perfeitamente chamar-se Grock, Oleg Popov, nham seus apelidos, com uma segurança não 1

ou Charlie Rivel - a máscara do palhaço, seu menor do que a das damas letradas da Europa ~_"""""'==='-=""''''''''''''''__'''''''-=>RVTZ""" _"", "",,=.,.,..-====---1
riso e suas lágrimas, não conhecem fronteiras. ao usar mais tarde suas meias azuis.
De acordo com a lenda chinesa, foi no pe-
ríodo T' ang que as máscaras foram usadas pela
primeira vez para transformar, disfarçar ou o TEATRO CHINÊS HOJE
metamorfosear o rosto humano. O rei de Lan-
ling, diz a lenda, era um herói na arte da guer- Comparados com a primazia da tradição
16. Gravuras chinesas de Ano Novo com cenas teatrais. Estampas coloridas desse tipo são vendidas cm grandes quan-
ra, mas sua face era suave C' feminina. Por essa artística local, os estilos teatrais do Ocidente tidades no Mercado da Rua das Flores cm Pequim antes da festa; são tão populares na China quanto. por exemplo, as
razão ele costumava, durante suas campanhas, tiveram pequeno impacto na China. Os nntsic- imugcs d'Épinal o são na França. Os dois exemplos procedem de uma impressão feita c. 1920.

• 70
• Chino

17. Encenação da Ópera de Pequim em 1956: o halls e o teat ro de va riedades do s gra ndes por- no co meço da décad a de 30 e qu e. devido ao
ator \\' ang Chcng-pin na peça histó rica A Fona íe: a
tos não constitu ía m padrão para a cultura tea- incid ent e na Pont e de Ma rco Pol o e m 7 de j u-
d e Yentanshan, basea da num tema da dina stia Suy.
tral chinesa. O es tilo da Ópera de Pequ im rc- lho de 1937. le vara ü gue rra co m o Japão . Jo-
vela mais da essê nc ia da arte c hi nesa de re- vens entusias tas pat ri ótico s funda ram um g ran-
presentar do qu e q ualquer das espe tac ula res de número de gru pos de teatro co m repert ó-
revi stas de Hon g-K ong. rios propagandísticos.
O drama falad o de estilo ocidental surgiu Depois de 1945 . a tradição da Ópe ra de
pela primeira vez durante a revolu ção de 1907, Pequim foi mantida ao lado do dram a falado
qu ando os propa gandi stas políti cos co nse gu i- mo derno e atual . M ei Lan-Iaug. qu e havia re-
ram se ap oderar do palco. Os mártires da re vo- cusa do as ofe rtas jap on esas para interp re tar
lução, a revolt a do p.0 vo e o orgulho nacional pap éi s fem ininos de ixa ndo c rescer a barba,
era m os temas t ópicos do novo dram a falado volto u ao palco no papel da dam a de be leza
(hua ch i i). Di álogos improvisados na lingu a- atemporal. Não obsta nte os co nfl itos político s,
gem co tidiana e a atuação realística, igu alm ente a Ó pera de Pequim preser var a seu esti lo e spe -
imp rovisad a. pr een chi am a tram a da ação pr e- cificame nte c hinê s . m u ndi al men te fa mo so .
via me nte es boç ada - num co ntras te ev idente Hoje. cerca de qu at ro cent o s es tuda ntes passam
co m a arti st icam ente es tilizada Ó pe ra de Pe - por intensivo tre inam ento na Esco la Nac ional
qu im. Ap ó s 191 9 um " re nascime nto liter ário" e m Pequim, embor a recentemente tenh a havi-
brotou em círcul os estudantis. A s pe ssoa s es- do urna tendênci a cla ra de renovação do es tilo
tudavam drarnaturgia, direção, cen ogra fia, ilu- tradi cional.
minação e es ti lo s de interpretação do teatro Em Taiwan. nesse meio tempo , o gove rno
ocide ntal. Tradu zid os para o ch inês co loq uial, da China Nacionali sta também passou a in cen-
Nana . de Zol a. e O Inimigo do P O I'{) . de Ibsen , tivar a velha tradição da Ó pera de Peq uim co n-
foram apr esentados na Uni ver sidade de Na ka i junt am ente co m o d ra ma fa lado modern o .
e m Ti ent si n e em Pequim. A Dam a das Ca mé- D uas esco las de teatro e um de partame nto de
lias. de Alexandre Dum as. e O Lequ e de La ti)" Tea tro e Cine ma na Ac ademia Na ciona l de
lI'in<fcl"mcre. de Osca r Wild e, fora m a precia- A rte e m Panch iao, pert o da ca p ital Taipe i, ofc -
dos por se u trat am ent o dos proble ma s hu ma- recem c ursos de hist{,ri a e prát ica teatral. Des -
nos e socia is. No vos clubes e agê nc ias teatrai s de 196 2, o ent ão rec ém- funda do Com itê de
surgira m, con vidando companhias es trangeiras. Prod uções Dr am át icas par a Aprecia ção te m se
e foi fundada uma ac ade mia nacion al de tea- es força do par a desen vol ver o dr am a falad o e m
tro. Os jovens au to res do paí s in spiraram-se algo que vá além de sua função de entre teni-
na revo lução políti ca e literária qu e se iniciara ment o. numa for ma de urre.

18. Kuc n S u-sh uang na peça lendária O Roub o


ela Erva Milagrosa , Ópera de Peq uim. 1956.

• 73
Jap ão

I NTRODUÇÃ O são ii h istóri a) dete rmina seu som. M a s e ntre


as cordas há o silênc io, silêncio como con -
"É a poe sia que movime nt a se m es forço tr aente do pinhos e sua culm inação últi m a.
o cé u e a terra , e despe rt a a co mpaixão dos " C o ns ide ro qu e o pat hos sej a inteiram e nte uma
deu ses e demón ios invisíve is. e é na dança q ue q uest ão de co ntenção" . escreveu o dr amatur-
a po esia assum e fo rma visíve l" , Essas pa la- go japon ê s C h ika ma tsu por volt a de 172 0 :
vras con stam da introd ução d a pr im eir a co le- "q u and o IOdos os co mpo ne n te s da a rte são
tânea japonesa de poemas. Kokinshu, pub licada do minados pela co ntenç ão . o result ado é mui-
no a no de 9 22. O teat ro j ap on ê s pod e se r de s- lo co mov e nte ..",
crit o co mo uma ce lebração so le ne, es tritamente Os es tilos distint os do teatro j apo nês co ns-
forma liza da , de em oções e se ntime ntos , indo tituern ao m esm o te mpo um marco ru ili ário.
d a in vocaçã o pantom ími ca d o s pod er es da na- Cada um deles reflete as c ircunst âncias hi stóri -
tur eza às mais sutis d ife ren c ia ções d a form a cas. socio lóg icas e artísticas de sua or ige m . As
dram ática aristocr ática . S ua m ol a propu lsora dan ça s kugura do primei ro mil ên io tesrcm u-
e stá no poder sugestivo do m o vim en to. do ge s- nha m o pode r de exorc ismo do s ritos má gicos
to e da pa lavra falada . Dentro desses meio s de prim ord iai s. O s gig a!.:1Ic IJ1lga!.:II , peça s de más-
ex p ressão . o s j apo neses desen vol ver am um a ca ras . refl e tem a influ ência do s con cei to s rel i-
arte teatra l tão ori ginal e rínica q ue desafia com- g ios os budi stas. emprestado s da C hi na no s sé-
pa rações. poi s q ua lqu e r co m paração será in- c ulos V II c V III. As peças ,ui do s séc ulo s X IV e
va riave lmen te re levante pa ra u m s ó de se us XV g lor ilicam o etho s do sam ura i. A s far sas
mui tos aspe cto s. kyogc n, a presentadas como intcrhi dios g rotes-
À primeir a vis ta, a coe xist ê nc ia de mui - co s c có m icos en tre as peças "';. anu nciam a
tos gê neros e formas comple tame nte di stintos crítica soc ia l pop ular. O kabuki do in íci o do sé-
de teatro parece co nfusa . A arte teat ral do Ja- cu lo X V II fo i encoraja do pelo pod er c re scent e
pão moderno não é resultado d e u ma síntese; do s merc adore s. No final do sécul o X IX , o
resulta de um plural is m o mult ifacctado, de sh intpa , sob a influ ência ocidental, trou xe pela
séc ulo s de de se nvol vime nto . S ua hi stória não primeira ve z tema s atua is com uma tendência
é uma cadeia de es tágios e vo lutivos que se su- m a rc a d a m ent e se n ti m e n ta l ao pal c o . No
peram ; ass emelha-se ma is a um ins trume nto sltingcki do séc ulo XX. os jo ven s inte lectuais
ao q ual são ac re scentadas no vas corda s. em japo nes es finalmen te tom aram a pa lavra.
interva los, cada uma para lel a ils ou tra s. O com- Toda s essas forma s b ásica s do teatro ja -
pri me nto de cada corda <par a evoca r um a a lu- po nês - inc luindo tamb ém o lnntraku, teatro
Híst úria MUI/dia/ do Teatro.

de bonecos de Osaka - permanecem vivas até mundo. O significado mitológico da dança de


hoje, simultaneamente c lado a lado. Cada qual U Lume, que provoca o retorno do sol, sobre-
tem seu público próprio e específico, seu pró- vive até hoje no costume de executar as peças
prio teatro, seu valor atemporal. kagura durante toda a noite até a aurora, até o
primeiro canto do galo.
O segundo mito diz respeito à rixa entre
KAGURA dois irmãos e a intervenção do deus do Mar. O
rei das marés concede ao irmão mais novo,
No universo insular do Japão, como em Yamahiko, que a princípio é derrotado, poder
qualquer outro lugar, o teatro eomeçou com os sobre as cheias e vazantes. O irmão mais vc-
deuses, com o conflito OOS poderes sobrenatu- lho, Umihiko, percebe o perigo que isso signi-
rais. Os dois grandes mitos das divindades do fica para si e decide propiciar Yamahiko. Para
mar e do sol contêm não apenas o germe da tal fim, espalha terra vermelha sobre o rosto e
dança sagrada primitiva do Japão, mas, mais as mãos e executa uma pantomima de afoga-
do que isso, os primeiros elementos da trans- mento, representando, por meio da dança,
formação dramática, que é a essência da for- corno as ondas lambem primeiramente apenas
ma teatral. As duas mais antigas crônicas japo- seus pés, como a água aumenta mais e mais
nesas, Kojiki e Nihongi, foram ambas escritas até quase atingir seu pescoço. Com as pala-
em ideogramas chineses no início do século vras "De agora em diante e até o final dos tem-
VIII para a corte imperial japonesa. Relatam pos eu serei o seu bufão e criado", Umihiko
as representações pantomímicas dos dois mi- submete-se ao mando do irmão. E destarte o
tos que nos dias de hoje são urna fonte impor- teatro japonês encontra seu primeiro "ator pro·
tante para as danças da Ásia Oriental. Sobrevi- fissional", embora no domínio da mitologia e
vem no Vietnã, Camboja e Laos, na Tailândia. mais corno ficção do que fato. A esta saga di-
Asam, Birmânia (Mianmar) e no sul da China. vina, que aliás tem largas ramificaçôcs pelo
O primeiro desses mitos baseia-se no cul- Extremo Oriente, prende-se também a lenda-
to ao sol e relata a história da deusa do Sol. ria filiação do primeiro imperador japonês.
Amaterasu. Após uma briga com seu irmão, Jil11l11u, que descenderia de um dragão. A más-
Amaterasu esconde-se numa caverna, inaces- cara do dragão, símbolo da divindade do mar,
sível a qualquer súplica. O céu e a terra ficam ainda possui um papel proeminente nas dano
imersos na escuridão noturna - um dos grano ças kagura.
des terrores da humanidade. que no Japão se Essas duas pantomimas mitológicas são
origina da ocorrência histórica de um ec Iipse importantes para a história do teatro por outra
solar. As "oitocentas miríades de deuses" do razão ainda. Elas inauguram o uso dos dois
panteão japonês concordam em atrair a deusa mais importantes recursos cénicos simbólicos
zangada para fora de seu esconderijo por meio que permaneceram característicos do teatro
de uma dança. A deusa virgem Ama no Uzume japonês: a cana de bambu, ornamento para a
cabeça e espelho na dança de Uzume; e a terra
[...] fixou em sua mão uma pulseira feita de licopódio vermelha no rosto e nas mãos de Umihiko, prc-
celestial da montanha divina Kagu. coroou sua cabeça nunciando o tipo de maquilagem que, por toda
com um toucado de folhas do evônirno celestial e alou
a Ásia Oriental, é ainda um meio essencial de
um ramalhete com folhas de bambu da montanha divina
Kagu. Então, colocou uma prancha acústica na entrada
transformação teatral.
da habitação rochosa da deusa e golpeou-a COI11 os pés Todas as diversas danças e ritos sacrificiais
parafazer um grande barulho. simulando o êxtase da ins- representados com o propósito de ganhar os
piração divina [...).
favores dos poderes sobrenaturais, por meio
da magia da pantomima e da máscara, são tra-
E assim, Uzume desperta a curiosidade da dicionalmente incluídas na categoria de
deusa do Sol. Amaterasu eaminha para fora kagura. O significado etirnológico da palavra
da caverna, e, num espelho que os deuses se- 1. Xi logra vura de Utashige: o Teatro Bunraku de Osaka, c. IX80. Cada um dos três bonecos no palco é manipulado por
é controvertido- é variadamente interpretada dois titerciros: cm cada par, UIlI deles está vestindo roupas pretas. À direita, o recitador; perto dele, () tocador de samiscn,
guram para ela, vê sua própria imagem radiano como "morada dos deuses" ou "divertimento cuja presença é indicada meramente pOI sua mão e pc!o instrumento (Munique, Staduuuscurn, Colcçüo de Teatro de
te refletida. Os galos cantam. A luz volta ao dos deuses" -. mas o concei to certamente é Bonecos, .

• 76
Hi s t o rin Mundial do Fr n t ro •

anterior aos ideogramas chineses que o repre- de Estado. Era apresentado diante dos templos 2. Máscara gigaku, período Nara, século VII
sentam ainda hoje. Para o estudioso isso prova por todo o país, a cada ano nas duas grandes (Tóquio}.

que o kagura remonta à época dos habitantes festividades religiosas, o aniversário de Buda
originais do Japão e, com certeza, precede a e o dia dos mortos. Então, o palco ainda não
introdução da escrita e da língua chinesas no era conhecido no Japão; os dançarinos se mo-
Japão. vimentavam ao nível do solo, acompanhados
O termo kagura descreve não somente as por tambores, címbalos e flautas.
danças rituais mitológicas, mas também as in- Uma descrição do gigaku, que logo foi
vocações xamânicas de demónios e animais. absorvido por uma nova forma de dança da
originariamente pré-históricas, tais como os corte, o buguku, pode ser colhida num tratado
encantamentos de mágica de caça que se ex- muito posterior, o Kyokunsho, escrito de for-
pressam nas danças do veado e do javali e so- ma retrospectiva em 1233 pelo dançarino
brevivem na dança do leão (shishimaií, Da Koma no Chikazane. À procissão inicial de
mesma forma são também consideradas bailarinos e músicos seguiam-se pantomimas,
kagura as cerimônias da corte que celebram representadas com grotescas máscaras de elmo
Mikagura, um festival de inverno (datado de com grandes narizes de rapina, poderosas man-
1002) derivado da dança da deusa U zume, e díbulas e globos oculares salientes.
todas as farsas populares pró e antimitológi- O fato de as peças dançadas por Mimashi
cas, informalmente improvisadas, apresenta- e seu grupo conterem originalmente cenas
das por comediantes, truões e acrobatas em ho- fálicas leva à suposição de uma conexão com
menagem às divindades xintoístas. o posterior mimus romano. Muito mais con-
O conceito moderno kagura de aldeia vincente, entretanto, é a suposição de que o
(sato-kaguray originou-se no século XVII. Sua ritual fálico não se originou na Grécia, mas
conexão com a mitologia e o ritual xamânico. nas terras montanhosas da Ásia Central, e que
a invocação dos espíritos benevolentes e o exor- sua influência fluiu na direção contrária.
cismo dos maus espíritos sobreviveu até o sé- Às máscaras gigaku demonstram que for-
culo XX em ritos supersticiosos. Em 1916. tes correntes de antigos conceitos xamânicos
durante a epidemia de cólera que devastou o atingiram o Japão vindas do Tibete e do norte
Japão, organizaram-se apresentações de da China, via Coreia. Às máscaras gigakll re-
kagura na esperança de banir a praga. manescentes (ainda existem em torno de du-
zentas) estão entre os mais antigos e valiosos
registres dos cultos primitivos da Asia Orien-
GIGAKU tal. Muitas dessas máscaras estão em Nara. na
casa do tesouro (shoso-ini do imperador Tcnji,
Quando a teologia do budismo alcançou e algumas outras em poucos templos.
as ilhas do Japão, proveniente da China, em
meados do século VI, trouxe consigo as pri-
meiras danças e canções budistas. Sua intro- BUGAKU
dução é creditada a um imigrante coreano,
Mimashi de Kudara, que chegou com uma No decorrer do século VIII, a nova dança
troupe ambulante à antiga capital de Nara, em eh amada bugaku ganhou predominância. A
612. O príncipe regente Shotoku Taishi (572- música era a ponte entre o bugaku e o gigakll
621), um patrono das artes e zeloso pioneiro primitivo - a música instrumental da corte co- .Ao' .
do budismo no Japão, deleitou-se com as dan- nhecida como gagaku, que era intimamente '\~ .
ças e peças dos artistas estrangeiros. Ele per- aparentada com a música chinesa do período \-
\
suadiu Mimashi a estabelecer-se em Sakurai, Tang. O nome bugaku, "dança e música". dá
não longe de Nara, e ali instruir jovens alunos uma idéia do seu carárer. O bugaku exigia dois
selecionados na arte da nova dança. Conta-se grupos de bailarinos: "os Dançarinos da Mú-
que o próprio imperador escolheu o nome da sica à Direita" e "os Dançarinos da Música à
dança; chamou-a gigaku - "música arteira". E Esquerda". Os Dançarinos da Música à Direi-
logo o gigaku tornou-se parte do ceri monial ta entravam no palco pela direita. e seus músi- :lo Máscara bngal:n, período Heinn. II RS (Nara} .

• 71!
H ís t orí a Afll/I/li nl d o Te a tro .

cos ficavam postados no lado direit o do pa l- gagaku, numa gran de variedade de d an ças fol - fun ções ao maca co, d esde o j ulga me nto do s classe a ristocrá tic a c uj o patrocíni o faria do tea-
co . De fo rma co rre s po nde nte, os Da nçari nos clóricas j apon esas. mo rtos no Eg ito à ópe ra O Pequ en o Lorde, de tro IIá a epíto me e o es pe lho da sua época. A
da Música à Esq ue rda faziam sua entrada pe la Hans We rne r Hen ze . cas ta ari stocr át ic a g ue rre ira do s samurais ti-
esque rda, e seu s músi co s ficavam post ado s it Tant o o sa rugaku quanto o dcngaku asse- nha orgulh o d e descender das grandes famí-
es querda . SA RUGA KU E D EN G A K U , melh am-se aos di verti m entos populare s de Car- lias de heró is, trazendo nomes co mo Ge nji ,
O palco bugaku era um a pl ataforma q ua· P R E C UR SOR E S D O Nó naval do O cidente. Na c rô nica Rakuyo de nga - Heike ou [se. O pod er do s princ ipais c hefes
drada suspensa, rodeada de gra des , com esca - ku-ki, de Oe-no -Masafusa ( 1096), enco ntra mos feudais, os da iruios, cr is talizou-se no ca rgo
das de acesso do lad o direit o e esquerdo . O O s mo vimentos m aje sto so s e co ntro lados men ção de danç as e pr oci ssõe s de senfread as, de x ógum, pel o t ítul o " reg e nte", mas, na ver-
co nj unto musical à esquerd a co nsis tia predo- de d a nça, os passos ceri mon iai s, o sig nifica ti- nas quai s tod a a populaç ão da capita l tomava d ad e, o autocrata do Jap ão . D a m esm a fo rma
mi nantemente em instrument os de so pro. No vo erg ue r e ab aix ar da ca beça, o sú bi to imobi- parte - os velh os e os jovens, os ricos e o s po - qu e o ideal euro pe u d a Cavalaria foi exalt ad o
co nju nto da direit a, os instrumentos de perc us- lizar-se cm pose silent e, a pós um v io lento ar- bres; até me sm o os funcionários do Est ad o par- na poe sia co rtesã d a Idade M édi a , na Ca n ção
são dom inavam e marc avam o padr ão rítm ico remet e r-se - todos es ses e le me ntos b ásico s da ticip avam , usando m áscar as e figurinos c ôrni- de Rolando , net c iclo a rtu ria no e no Cid , ta m -
para OS dançarin os da d ireita. O espe t áculo era a rte teatral cl ássic a japone sa pod em se r rem e- cos e carregando en ormes lequ es. bém os épicos japone ses e xa lta ra m o mundo
precedido pelo embu, uma dança ce rimonial tid os às dua s formas de " peç a" -d a nç a da qual, O den ga ku tem s ua orige m nas dança s do sa murai. Se u cód igo não es c rito de hon ra
de puri ficação de o rig em c u ltual. (A ce na por fim , a gra nde a rte do III? se desenvo lveu : o rur ai s da colheita, e no decorrer do séc u lo XI V exig ia deles as vi rtudes d o he roísm o , magn a-
introd utória do drama cl ássico hindu , a pu rva- sa rug ak u e o deng aku . desen vol veu-se e m a lgo que ia mu ito além do nim idade, lealdad e até a morte a o senho r fe u-
ranga. co meça co m um rito es treitamente apa- Na s grandes c ida des de Nara , Kyoto e me ro entretenimento po pul ar. Ab sorv eu e le- d ai , defesa ab negada d os direitos dos frac os e
rentado co m o emb u. i Então, os grupos da es- Yedo (depois Tóquio), on de hav ia templos, as mentos cortesãos do g iga ku e , levad a, por es- o men osprez o à co va rd ia, avareza e traiç ão.
querd a e da direita começam a dançar, parte artes da mímica, dan ça, acrobacia e canto sem- colas dengaku de Nara e Kyot o, foi elaborada Esses ideai s deri vavam das doutrinas do ze n-
em ritm os imp onentes e parte em ritm os vi- pre haviam prosperado. A s <'1I11<'II -m a i , peças na sofisticada forma de arte co nhec ida como budismo, a bu sc a da "iluminação" e da ex pe -
vos. Os dois gru pos eram tão rigorosamente ori ginalmente represent ad as por monges bu- dengaku-no-no . riên ci a es pir it ua l intuitiva do absolut o . A
distint os quanto os "Azu is" e os "Verdes" na d istas, vieram a ser dive rsifi c ad as por atra çõcs Existem no Japão famíli as ou guildas de forç a para do m ina r a s tarefas de ste mund o
enigmática pe ça de Natal dos "Bárbaros " , qu e secu lares . Acrobatas, ma la ba ris ta s, anda dores art istas , os ch amado s za, qu e remonta m ao iní- e ra proven ient e d a o bse rv aç ã o de períod o s
era encenada na co rte imperi al de Bizâncio. de pe rn as de pau e titere iros d irig iam-se e m cio do períod o M u ro rnachi ( 1392 - 1568). (l i l di ári os de inte nsa meditaç ão qu e, fora da es -
Os da nçar inos entram no palco altern adament e ba ndos aos templ o s. e o po vo os acla mava, é, ainda, a palavra j ap on esa para reatro .) O s za fe ra pu ra ment e relig io sa , se torn ou a m ol a
pela esquerda e pela d ireit a. e se mpre e m pa - grato pela opor tunida de de c o m bina r o ce ri- desfrutavam da pr ot e ção dos te mp los budi s- p rop ul sora d e tod a a r te c r iat iva . " N a d a é
res; os que da nça m a mú sica da esq uerda. ins- mon iai so lene e m hon ra do s de use s com um tas. Se us membro s e ra m di spen sad os da s ta- re al " , d iz o coro fa la ndo pela poet isa Kom a -
pirada por font es c hines as e hindu s, usam fi- es pe t áculo agrad ável ao s o lho s e o uv idos. No xas pes adas c de o b rigações de trab alh o , e po s- c hi, a protagon ist a de 5010ba Komachi ( Ko rna-
gurinos nos quais predomin a o vermelho, en- período Heian (794- 1185), a pa lavra sarugaku suíam o mo nopól io d as a pres entações no dis- c h i no Sepu lcro), um a das m ai or es peç as II(j
q uan to o verde di stingu e o s Dançarinos da havi a sido usad a par a de fin ir tod a a ric a varie- trit o espe cífi c o d o se u templo . in sp irad as pel o ze n- bu d is mo : " E ntre Buda e
Música ii Dire ita. Esta. por sua vez. é de ori gem dade de e ntre te nim en to s po pu lare s. O termo O ano n ima to ge ra l dos ate res profi ssi o- o Hom em I Não h á di sti nç ão , m as um a apa -
coreana e da Man chúr ia c ada ptada ao gosto de rivava da antiga for m a de a rte sa ng ak u (q ue nais ja po ne se s c he go u ao fim no início do sé - rê nc ia de d ist inç ão I es ti p u la da I para o bem
ja ponês. O bugaku termi na atualmenre . com o provavelmen te sign ific ava " m ús ic a de so rde - culo X IV, qu ando os nomes de intérpret es in- d o s humi ldes, dos inc u ltos. I a qu e m e le pro -
sempre o fize ra, com a co mpos ição chogc ishi nad a" ), que teve um a lon g a e utiva hi stóri a na dividu ais foram reg ist ra do s pel a pr ime ira vez. m et eu sa lva r" ,
de M inamoto no Hiromasa (9 19-980). C hina a ntes de c hega r ao Ja p ão. ma is o u me- Entre e les estava o n om e d o ato l' sa rugaku Como a de lica da int en sid ad e da aq ua rela
Durant e o per íod o He ia n (por vo lta de !l O S ao mes mo tempo qu e o Imgak« da co rte. Kwanarni e d e se u filho Zea m i, a qu em o tea - ou a imagística co ntida do verso ha icai , a ar te
820) , o buga ku foi a dança cer imonia l exc lu- O id eo g ram a c hi nê s " m ac ac o " , usad o para tro japo nês d eve s ua forma de art e mai s fasci- toda do II á é cnforma da pel o m ístico ch iaras-
siva da cor te imp erial. Até hoj e. o bugaku é sarll. levo u os erud itos a de finir sarug aku co mo na nte e profunda. Tanto Kwa na m i quanto Ze a- ('11m do zcn -bud ismo .

apresentado na co rte. e o pri vilég io de atuar " m úsica de macaco" . e m con tras te co m o ideo - mi inau gu raram e int erpret a ram o nov o estilo Co m o s re li nad o s dcngaku e sa rugak u, os
nele é passad o de geração a ger açã o nas fam í- g ra ma nativo dcngak u , " m ús ica de c a mpos de que cri ara m . a to res e os o fic ia is do templ o respo nsávei s pe -
lias de artis tas bugaku . Um a ou dua, veze s ao a rroz" . A deri va ção de saru teri a impl ica çõe s lo s es peuic ulos havi am sa tis feito os padrõe s
ano, geralmen te em homenag em a algum visi- intere ssantes para o hi stori ad or da c ultura. Na el evad os e ob tido os favores da exi gente no -
tante importante, as danças bugaku são apre- C hina, o "macaco co m o ba rret e de ofic ia l" Nó brez a; mas agora, co m a ascensão da s peç as
sentadas na cor te imperial diante de um a pla- havia conquistado seu lugar no palco como um III?, a convergê nc ia da arte e do patronato anun -
téia exclusiva. O caráter tradicional do bug aku c r ítico dos aconteciment os con te mpo râneos Enquanto na Europa a era dos ca va le iro s ciavam a e ra d ourada do teatro japonês. Em
foi preservado inalterado na dança e na mú si- e m trajes de c/0I1'1l, e no Ranut vana hindu c no - quando imperador e prín cip es se reuniam 1374 , o x õg um Yoshimitsu assistiu a uma apre-
ca , em bora os fig ur inos e má scar as tenh am tea tro de sombra s da Indon ésia o rei-macaco para as Cruzadas - c hega va ao fim , floresceu sentaç ão do at ar de sa rug u ku Kwanami e Seu
mudado. Versões populare s e folclóri cas do 1>11- Hanuman ajuda Ram a, o filho do s deu ses, a no Japão a c ivili za ç ão c ort esã dos sa mura is. filh o Ze ami . O jovem gove rn ante ficou tão iln-
gaku, independen tes do ce rimo nial da corte, ve nce r o rei dcm ônio d o Cei lão . () c u lto. a len- li. atmo sfe ra de esp lendor na res idênc ia pr essionado co m a atuaç ão do pai e co m a he -
sobrevivem e m muitos peq ue nos te mplos xin- da , o con to fulcl órico , a teo ria m o ral c. da mes- imp erial. os pnl ácio s d o s nobres e o c u lto es- le za d e Zc a m i, e ntão c o m I I an os de ida de,
to ístas, j untamen te co m e lementos da mú sica m a man eir a. o tea tro , atribu em importantes tet ica me nte refinad o do s tem plos c rio u um a '1ut' vinculou a mbos il s ua corte .
• 80 81 •
• .l n p o
â

4 . Mulher com rede de pescar, pr óxima da lo uc u- Kwa nami (sob O nom e de Ki yotsu gu. que tragédia g reg a. Exi stCI11 rea lmen te alg umas
~~ ~<~~
_'<: :~~;. "= ..'3: ra por c ausa da mo rte de sua única filha, yue aparece usava q ua ndo jovem ) traço u par a se u filho ana log ias , e m aspec tos tai s co mo o rig e m
:i direi ta. ao fundo. se ntada à direita de um bon zo.
com um manto com capuz. Cena de uma peç a "ó .
Zea mi o ca minho para o enr iqu ece r co ns tante cultua l, partici pação de um coro e d istinção
Gravura co lorida . c. 1900 . de suas próprias for mas de expressão c ênico- nítid a entre o pro tagon ista e os per sonage ns
dram áticas, e assim remo de lar o padrão dra- sec und.irios . Mas nada disso co nta diante do
mático na peça nô. O trabalh o de Zeami foi espírito e da abordagem inteirament e dife ren-
grandemente influenciado pela fa mosa peça de tes das duas espécie s dramáti cas. Enquanto
seu pai, Kwanami , sobre o destino da poetisa Ant ígonu se op õe à ordem de Cr eonte e dcsa-
Soto ba (Sotoba Kom achi) . E Zeam i M otokiyo tia o des tino e os deuses, Kom ach i prat ica a
sabia co mo tirar parti do da pro te ção do xógum pa ciênc ia silenc iosa, c os sacerdotes, "curvan-
pa ra prom over a causa do teat ro . Se u o bjetivo do a cabeça a t é o chão, prestam homen agem
era 'dltpl o; queria ser reco nhecido tant o pe la três ve zes dia nte del a" co m as pal avra s, " Uma
arte de atuar como pelo dr ama enq uanto tal. sa nta , esta al ma frági l c proscrita é a de uma
Torn uu- se um consumado ator, dra ma turgo c sant a."
diretor. Com seu senso infalí vel do q ue pod ia O sig n ific ado profundo do co nte údo do
tocar uma platéia, obse rvava os gra nde s intér- nô não é a reb eld ia mas a afirmaç ão , a afi rma-
pretes de sua época. Es tud o u as técnicas do s ção de um a bel eza qu e culm ina na afl ição .
famosos atures de dengaku Itch u e Zoami , do Zeami pro c uro u ilustrar esta " beleza tão fasci-
ba ilarino de kuse-mai Otsuro, do a tor de omi- nant e e sur preende nte em sua co ntra d ição"
sa rug aku Keno e do ator Kot aro , da escola media nte a comparação poética, como em seu
Komperu. Assim Zearni aperfei çoou seu esti- tra tado Kyui: "Em Sh iragi, o sol é brilh ant e à
lo próprio. Escreve u o text o e a m úsica para me ia -n o ite ". Ta lve z seja e m te rm os de sse
aprox imadamente ce m peça s nô nas qu ais ele exem plo qu e po ssamos melhor ex plicar o sig-
A~::~ pr óprio interpretava o papel princi pal. Um dos nificad o do ter mo y figl'll que. de ac or do com
,~~:-
pont os altos de sua carreira foi sua famosa atua- Zeam i, constitu i a culminação da aprec iação

5 . Másc ara nó de uma mulher j ovem , pe ríodo


Muromachi, século XV (Tóqu io).
• ção em A Estrela de Ze am i di an te do impera-
dor G o-Kornatsu em 14 08.
A pós a morte de seu patro no Yoshim itsu
cstétiea da peça Il Ô. YlÍ g ('lI. or igina lme nte o
co nte údo oc ulto da dout rina budista. é u m po -
der secr e to e m qu e a beleza est.i envo lvida
c a perd a de seu tilh o M otom asa. Zearni reli - co mo a se mente da qu al a tl or ( 11(1/1(/) h;í de
rou -se da corte. Ele se esforço u c m ex por por flor esce r em seg uida .
meio da escrita o esp írito e o significado do O firm e fun damento espiritu al das peças
l U) , que quer dizer, literalmente, " ta lento" . Gra- I l tI corr e sp onde a se u padrão dr amatú rgico
ças a seus três gra nde s tratados teóricos, Hana- pre fixa do . Exi ste m cinco categori as de peças
kaga mi, Kwadensho e KYlIi , Zea mi torn ou- se /li) , todas representadas até hoje no program a
o A ristóteles do teatro j ap o nês. M as esse tes- de qualquer esp et áculo 1It1. O pr imei ro gru po
ta men to artístico pe rma neceu de sco nhecido tru ta dos d eu se s: o seg undo . da s bata lha s
para sua própria época. Nã o foi es crito para (mais freqiienteme nte da glor ifica ção de al-
pub licação , mas excl usivame nte para a trans- g um sa mur ai he ró ico); o tercei ro gr upo é co-
mi ssão secreta de sua arte den tro de sua pró- nhec ido co mo o das " peças das pe ruc as" o u
pria fa mília. " peça s de mulh eres" , porq ue o ato r pri nc ip al
Em 1434, Zeami foi exilado por razões que usa um a pe ruca e interp reta o papel de um a
desco nhecemos - talvez por ler se recusado a mul her ; a qu arta ca tegoria, dra ma tic a men te
pas sar seu código secreto da arte II Ô a seu sobri- mai s for te. re trata o destino de uma mulher
nho Onami, que era o favorito do novo xógum. co m o co ração part ido, amiúde levada à lou-
A história silencia sobre este pon to. Ap ós a mor- cura pe la perda de seu amante ou filho ; a quin-
te de sse xógum, Zeami retomo u do exílio e en- ta categoria, qu e encerra o progr ama , co nta
tão tran smitiu sua herança art ística, não a seu uma le nda .
sobrinho Onami. mas a seu genro Ze nchiku , com O pro tago nisla e líder U CIII " /() de um a
qu em passou os últimos anos de sua vida . co mpanhia JI( ) é 11 shitc: seu parceiro e pr inci -
6 . A nciã ajoe lhada. lendo um escrito : provavel -
mente . a poeti sa Kom achi. Cena de uma peça II Ô . fi ra- A peça ll ii , por sua model ar co nstruçã o pal ator sec u nd ário é o waki. Cada um de les é
vura co lorida. r, I(KM) . dra m ática, foi frcqiiente me nte co mparada :1 ac o mpa nh ado por um cortejo - ato re s qu e

83 •
H ís u i r iu AI II I/ d i ll/ d o lc a sro •

representam servos o u aco mpanhantes - e h.i A arte do nô exige concentração ex tre ma .


um coro, normalment e de o ito homen s, que Por horas a fio o ato r, e m se u fi gurino de des-
cantam. Todos os membros do coro usam rou - lumbrante broc ado, prec isa cond uzi r a si mes-
pas escuras e se nta m-se no c hão no iníc io da mo de mod o que se us ge stos e m ovimentos
peça. Eles co me ntam a ação , mas não inter- nun ca co ntradiga m sua máscara. Seu raio de
vê m nela, d a mesm a fo rma que o coro da tra- a ção é pre cisam ent e m ed ido e m passos, cada
gé dia grega. O shite usa uma máscara qu e, de passo qu e ele dá para a fre nte ou par a os lado s
aco rdo co m o se u papel. pod e represent ar um tem s ua pre scrita med id a.
valente herói, um ve lho barbado, uma jo vem O palco nô trad ic ion a l é uma plataforma
noiva ou uma anciã ator me ntada. qu adrada d e cedro , pol ida e brilha nte, de apro-
Os j apon eses não vêe m nad a de es tranho xi ma d ame nte 5,5 m de largura, co m três lado s
no fato de um homem ex pressar os sentime n- abertos. Po ssui ~m tel had~ se me lhante ao do s
to s de uma mulh er, s ua feli cid ade ou desespe- templ os, s ustentado por q uat ro pi lares . O pIa- • •• !

ro. Ao co ntrá rio, co nside ra m a máscara como no de fund o é sempre o mes m o : um grande e
a expressão liter al de um a verda de superior. nod o so pinh eiro pintad o nas táb uas da parede
A máscara co nfere ao ato l' um a forma de vida de trás co mo sí mbo lo da vida e terna . Tr ês de-
mai s elevada e quintessen ci al. As m áscaras
enta lhadas dos ateres n õ são, por si próprias,
gra us levam ao pa lco , que se ergue a mai s ou
menos 90 cm do so lo; geralmente ele se en-
-, .
~. '
ob ras de arte de alta qualidade, simboliza m a
per son agem em sua forma mai s pura, limp a
contra no pátio de um templ o. A peça nô ainda
está estreitamente co nec ta da co m a cerimônia :";'~.:~~;j1;'; -~
de qu alqu er imperfeição. O poet a Yeats ob- religiosa e as festividades d os templos santos. ~# .~

se rvou que "uma máscara [...] não importa a Um dos mais antigos palc o s nô ex istentes lo-
di stân c ia de onde seja contemplada, é ainda ca liza-se no recinto do templo de Kyoto . É de-
urna obra de arte" . Quando , em 191 5, em sua d icad o a Shinran Sh orun , fu nda do r d a seita
procura por " uma fo rma de dram a di sti nta , Sh in. De ac ordo com u ma insc rição, data do
ind ireta e simbó lica" , el e e nco ntro u as peça s a no de 1591 . Todo s o s a no s, no d ia 2 1 de maio
nô , acre dito u ter ac hado um a forma de insu - _. a n ivers ário de S h inra n -, é o ce ná rio de so-
flar vida no va às lendas irl and esas; eh: sentia lenes es pe t áculos ,ui.
que nada era pe rd ido "a o d eter-se o movimen - Por su a vita lida d e c ria tiva e harmoni a in-
to da s feiçõ es do ros to, poi s o se ntimento pro- tr ín seca com os tra ço s fu ndamen ta is d o cur á-
fun do é express o por um moviment o do cor - te r j a pon ês, as peças mi so b rev ive ra m int act as
po todo" . de sde o século X lV. A lguma s mod ificações

, .,.'

8. Palco nú no recin to t io tem plo de 1\.)010 , co n.... lru ítlo cm I ) 9 1 C dedic ado ~I O Iu uda dor da .... c ita S hiu, S luuru n Shonin.
cu joauivc rs ãno c ru 2 1 d e 111a il ) ~ co memorado anua lmcut,- '''I HII cspt.' I:íí.: ull )S tU; . O pi:-.t. ..k ce-d ro é mantido cuidudosmncn -
te polido, como II brilho de um c... pclho .

• 114
• J(/l'tlO

na ênfase podem ter causado pequenas mu- para evitar que trapaceiem, Porém, a des-
danças na estrutura dramática, mas nenhuma peito da precaução, conseguem roubar vinho
em sua essência. Existem, por exemplo, al- de arroz. Há uma cena parecida na Conunedia
gumas peças mi - como Rasliomon ou FllIlII- deli 'arte, em que dois scrvitori amarrados
Bcnkri - nas quais a figura dominante não é de forma semelhante servem-se do macar-
o shite, mas o waki; isso se explica pelo fato rão que lhes é negado.
de que, por volta de 1500, seu autor, o ator e As farsas kyogen não são amargas, mas
poeta Kwanze Kojiro Nobumitsue, ter inter- alegres. Praticam a crítica social sem mortos
pretado o waki durante muitos anos num gru- nem feridos, Qualquer ambigüidade grosseira
po nô . Bastante compreensivelmente, escre- é rigorosamente excluída, pois, conforme Zea-
veu o melhor papel para o segundo ator - ele mi nos diz, palavras ou gestos vulgares não
próprio. devem ser apresentados em nenhum caso, por
O ritmo atualumtanto mais majestoso das mais cômicos que possam ser.
peças lIá, as sutilezas instrumentais em seu Quase nada se sabe a respeito dos auto-
acompanhamento musieal (flauta, tambores, res dos aproximadamente duzentos textos
tamborins) e o esplendor dos brocados doura- kyogcn ainda em uso hoje. Um dos mais anti-
dos remontam todos à metade do século XVIlI. gos textos transmitidos pela tradição data do
Porém, nada enfraqueceu a validade do que século XIV e é atribuído ao sacerdote Kitaba-
Zenchiku, genro e herdeiro artístico de Zeami. take Gene Honi, do monastério Hieizan. É di-
disse sobre a arte da diferenciação cênico-dra- fícil, porém. encontrar pistas de autorias pos-
mática do l1á: teriores. Urna coisa parece certa: uma suces-
são protegida com muito ciúme deve ter sido
Tudo o que é supérfluo é eliminado. a beleza do a regra no kvogcn. C0I110 era em todo o nó -
evseuci.tl f: totalmente depurada. É a iucxprinuve l beleza os textos foram mantidos rigorosamente em
do 11;\0 fazimcnto [... [. (: como a música da chuva delica-
segredo e legados de pai para filho, exatamcnte
da nos poucos galhos que restam das célebres velhas ce-
rejeiras de Yoshino. Cluu-a e Oshio: cobertas de mll~go. como na tradição do arlequim e do Hanswurst
com algumas poucas flores aqui e ali 1... \. do teatro europeu.
Os atores kvogcn em geral não usam más-
caras, exceto quando interpretam um certo
KYOGEN número de tipos especiais, como o macaquinho
em Utsubot.aru, Da mesma forma que o ná, o
Os kvogcn, componentes tradicionais das kvogeu possui sua hierarquia tradicional de ata-
peças IIÔ. são provavelmente tão antigos quanto res. ou seja. um protagonista e líder (01110), e
estas, se não mais. São farsas que estabelecem um segundo ator (ado). O kvogcn reagrupou
interltídios de contraste cômico com as con- os vestígios esparsos de formas teatrais popu-
venções solenes e formais do nô, Satirizam de lares que foram rejeitadas, da mesma forma
maneira suave e indulgente as fraquezas hu- que o sarugaku foi aprimorado no ná, Várias
manas e serviram outrora para introduzir os gerações mais tarde, essas formas se tornaram
primeiros aspectos da crítica social no auto- a fonte para os elementos realistas do kabuki
confiante mundo do samurai. primitivo.
Criados astutos enganam seu patrão so-
vina, impostores são apanhados em sua pró-
pria armadilha, monges hipócritas são desmas- o TEATRO DE BONECOS
Girados. um macaquinho brincalhão salva a
vida ameaçada e, com ela, o mais precioso A arte dos espeuiculos de bonecos perpas-
bem de seu lamentoso dono. Algumas das sa corno um fio vermelho todo o teatro do
bufonarias e piadas dos kvogen lembram a Extremo Oriente. A marionete manipulada por
Commcdia deli 'arte européia; existe, na ver- tios ou arames; o títere Il'Oyang javanês, sun-
dade. um exemplo de impressionante coin- tuosamente vestido; o boneco rústico, escul-
cidência. No interlúdio kvogen, Bosliibari. pido ii mão. da ilha de Awaji - todos eles. ao
9. Platéia c palco nú vazios: \I Teatro Kwanzc-kui-nô em Tóquio, 1960. dois servos são amarrados juntos pelas mãos, lado do bardo e do contador de histórias, sem-
87 •
• J a p ão

pre encontraram, em toda parte, seu pequeno centro co mercial de Osaka. Mercadores ricos
e grand e público . financiaram um teatro de bonecos e. sob sua
Qua nto ao Japão. os bonecos são men cio- influên cia, a t ónica tem ática deslocou-se do
nados pela primeira vez no século VIII. Quer mund o cortesão dos sam urais para as casas co-
dizer que, nas apr esentações do sangaku (até merciai s e para o universo sentimental da classe
e ntão in fl uenciado pe la Ch in a) també m se dos mercadores .
emp regavam bonecos co mo cc- atuantes. A peça de bonecos foi alçada a um alto
Durante o período Heian (794-11 85), os níve l artístico por ter ob tido acesso às obras-
espe tác ulos de bonecos viajaram através de pr imas do grand e dramaturg o japonês Chika-
todo o país com as trou pes am bulantes . Se u matsu Mo nzaemon (1653- I725). O "Shakes-
" teatro" era uma caix a reta ngular, aberta na pea re do Japão" escreveu se us mais refinados
10. Cena co m macaco executando passos de dan- frente . O titereiro a carregava com a aj uda de trabalhos não par a ateres humano s, mas para
ça . que le mbra a peça ainda hoj e pop ular Kyogen uma correia no pe scoço. Dur ante o espet ácu- títeres escu lpidos em madeira. Q uando as obras
Utsnb oza ru, levada pelo ele nco do Kwa nze -kai -n é de lo, ele movimentava seus bonecos. que eram de Chikamatsu são encenadas com perícia , os
Tóqui o, em 1966. em sua tum ê pe la Europa. Gravura
feitos de pedaços de madeira e trapo, atrav és bon eco s, animado s de forma mi steri osa. tor-
co lo rid a. c. 1900.
de buraco s abertos no fundo e nos lado s da nam- se o veíc ulo de e moções e paixões que
caixa. Esta for ma primi tiva e atempora l de tea- de sconhece m fron teira s. O títer e nunca corre
tro de bonecos é co mum ainda hoje em algu- o risco de sair do s trilhos , e sua ge stualidade
mas regiõ es rem ot as do Japã o. pat ética é sempre esteticamente bela e nunca
Porém, a ar te a lta mente estilizada dos em baraçosa.
bonecos animado s de Osaka deve sua insp ira- A brilhante observação de Kl eist em seu
ção e desenvo lvimento ii fusão da arte dos bo- estudo "Sobre o Teatr o de M ar ionetes" , de
necos com as recitações dos ca ntores e conta- "q ue pod e haver mais g raç a numa articulação
dores de história s. Na época em que os scholars mecâni ca do que no co rpo humano". é apli-
errantes da Europa estavam cantando as proe- cá ve l também aos títer e s de Osak a. Mesm o
zas de Carlos Magno nas cha nsons de geste, na époc a de Chikarn atsu , os boneco s originais,
os mon ges cego s j apone ses sentavam-se dian - qu e era m movimentados com as mãos, foram
J J. Máscara kyoge n de um anci ão. período Mu- te dos portões dos templos e recita vam ce nas ape rfe içoados em figuras de co nstru ção ela-
romachi , séc ulo XV (Tóquio). dos épicos do s sam urais, com o acompanha- borada , que pos suíam notável destre za para
mento do sami sen , um alaúde de três a ci nco andar, dançar e até me smo para mexer os olhos
cordas. Uma da s mais con hecidas baladas co n- e fra nzir a testa. Acredita-se que já em 1727
ta a triste história de Joruri, que procura eter- ex istiss em disp ositivos que conferiam aos tí-
namente o seu amado e, quando o encontra, tere s poss ibilidades enge nhosas. Primeiramen-
perde -o mais uma vez. Perto do final do sécu- te. havia pequeno s alçapões para figura s ind i-
lo XVI. a famosa balada de Joruri terminou vidu ais ou parte s do ce nário e, mai s tarde , o
por dar seu nome a uma recém -surgida forma artifício de plataformas maiores q ue também
de arte. a peça de títeres (n ingyo , que quer di- podiam ser usada s para e levar o chão do pal-
zer "bo neco de mã o" ), que fico u co nhecida co e m trê s níveis diferentes. Ao trabalhar com
como ningyo j orur i. Ela deve sua origem a dois tais inven tos c ênicos do teatro de boneco s,
manipuladores itinera ntes, o mestre titereiro Namiki Shozo , o inventor do palco giratório
Hikita Awaji -no -jo e o cantor de balada s de japon ês para o teatro kabuki, teve, segundo se
joruri e tocador de sam isen Menukiya Choza- rel ata , sua primeira experi ênc ia técnic a. No
buro, que um dia decidiram fazer um traba lho Japão, conta-se que o pa lco gi ra tór io foi usa-
juntos. Hikit a manipulou os bonecos de acor- do de início no teatro de bo necos Kado-za em
do co m a hist ória conta da por seu parcei ro, e Osaka.
ambos foram apla udidos largamente. O im pe- O palco do ningyo j oruri consiste numa
rador convocou-os ii corte, e logo o se u exem- ponte de mad eira so bre a qu al os bone co s
plo era seg uido po r o utros grupos de cantores atuarn, enqua nto o mestre titere iro que os ma-
e titereiros, nipula fica numa espéc ie de fosso. Ele perma-
Em pou co tempo, o ningyo j oruri tornou- nece ii vista dos espectado res , sem destruir com
se grande mente popul ar so bretudo no grande isso a ilusão; se os boneco s são grandes , ele

89 •
H í st á ri a M ú n d ía l ,l n T e atro . • J ap ii o

pod e a té me smo sentar-se ou estar e m pé no temp lo fora da cid ade, incendiou-se em 1926. te na estéti ca samurai baseada no ze n-budis- O k uni e stá pra nteand o seu a mado e. co n-
própri o palc o . Usa roupas escuras e um capu z, Hoje. os famosos bonecos de Osaka têm como mo , urna nova forma de te atro compreendia j urado pe lo fer vor de sua dan ça. seu es pírito
mi sturand o- se assim ao pano de fund o, e n- ab rigo o modern o e dec orado edifício Asahi-za, agora tod a a extensão da real id ad e soc ial. Era a parece d ian te de la. O fanta sm a é int erpreta-
qu anto co m unica aos bonecos. suntuos ame n- qu e faz parte do gra nde co nglome rado teatral o kobuki. Os três car acte res c hi nese s que ex - do po r um a jovem at riz e entra 110 palco vi ndo
te vestid os co m seus figurin os bri lhant es. a ca - pert en cent e à socieda de an ónima S hoc hik u. pressam hoj e a palavr a kab uki sig nifica m mú - do meio do públi co . Co m isso se anuncia um
pacidade de amar e od iar. sofre r e resistir. lu- Nos últimos ce m a nos . o nom e Bunraku pa s- sica. dança e habilid ade art ística. desen vol vimento que se torn ou um pr incípi o
tar e morrer. sou a faze r parte do vocabulário internac ional , A origem do kabuki é atribuída à bailari- da e ncenação do kabu ki, Fant asm as. deu ses e
O narrador senta-se 11dire ita do palco, por evocando c m todos os lugares a arte re matada na O k u ni, a ntiga sa ce rd o ti sa do santuário heró is c m ação faz em sua entrad a por uma pas -
trá s de urna estante de laca ricam ent e deco ra- do tcatro de mari on etes japon ês de Osa ka. xi ntoísta e m lzumo. Por vo lta de 1600. Okuni sare la de mad eira, atr avés da platéia. ru mo ao
da qu e suste nta seu texto; pert o dele senta-se dava rec itais de dança e m úsica em d iver sos palco. isto é. so bre o han amichi, a "estrada de
o tocador de samisen. O número de orado res e locais da ca pital Kyoto, a fim de recol her don a- flores" . C ont a- se que o públi co deposit ava ali
mú sicos depende do tipo e da co mplexidade K A B UKI rivos para a reco nstru ção do se u sa ntu ário em flores aos pés de les - uma bel a. porém não
da peça. Izum o, destruído pelo fogo . E por celta, apre- comprovada interpret ação.
As d ificul dades de provcr os requisitos Os prime iros ano s do séc ulo XVII. mar- sent ava a nem butsuodori, dança ritua l em ho- Em 16 24 , o fund ador da linhagem de ato -
técni cos -- co mo. por exe mplo. a nece ssidade cado na E uroJid ,pelo esple ndor do ba rroco. men agem a Buda . co nhec ida de sde o séc ulo X res cha mada N akarnura, uma da s mais re nom a-
de três tite rei ros para manipular um ún ico bo- trou xe afina l a' paz ao Japão. dep o is de um a e difund ida por mon ges e rra ntes. das das dina sti as ka buk i, co nstrui u o primeiro
neco - ju ntam ente com a co mpetição com o série de co nte nda s de famíl ia e g uerra s civis . O sucesso de sua ca mpa nha pa ra a rreca- teat ro kabuki perma nente em Yedo . Ci nco a nos
teatro kab uki ca usaram o declí nio g radua l do Porém . foi também uma é poca de no vos con - da r fund o s levou Okuni, por in ici ati va pr ópria mais tard e . o ouna- kab uki foi pro ibido. Dora -
joruri no decorrer do século XV III. Entre I n o flitos, ge rados pela primei ra intru são de um ou instigaçã o de algu ém co m faro pa ra neg ó - vante a nen huma mulhe r seria permi tido a pa-
e 1870 não havia um único teatro joru ri artis- mund o exte rno, di stante e es tra nho. Merc ado- cio s, a tro car o ca r áter reli g ioso de sua arte recer no kabuki, Os pa péis das damas banidas
ticam e nte co mpetente e m tod o o Japão. res portugu eses es tava m levand o ao Japã o os por o utro . co mercialme nte mai s útil. Ela trei- for am ass umi dos por atores ad o lescen tes. bem
O joruri veio a ser revivido por um mcs - artigos de sua te rra, e os mission ários jesuí tas nou alg umas jove ns. e nsa io u com el as peque - co mo suas o utras o brigações. E les logo inspi -
Ire titerei ro da ilha de Awaji. berço tra dicio nal de São Frac isco Xavie r propagavam sua fé. Os nas d an ças e cenas de di álogo, e co meçou a rar am rivali dades não menos viol ent as do qu e
de espe rác ulos popul ares de bon eco s. Em ex rratos burg uese s co meçavam a dec id ir se u apa rece r co m seu co nj unto c um a or q uestra as pr o voc ad as pelas dam as da profi ssão. poi s
I P,7 1, Uernura Bunrak uken fundo u o Teatro destino e o dest in o do Estad o. de flaut as, tambores e tam bor in s no parque os prazere s d o palco e do s ba stido res eram
Bunraku de Osaka. que leva seu nome. e foi Enqu anto as sole nes da nças bu gaku ha- de div ers ões de ver ão em Kyot o, no leito sec o ig ual ment e re q uestados pelo s mercadores ri -
ali que a arte do niugvo joruri revi veu em nova via m e nco ntrado se u lugar no ce rimo nial da d o ri o Kam o, ond e numerosos pequen os res- co s. os shonins, e mem bros da c lasse dos sa m u-
gló ria. O edifício. que ficava no recinto de um corte imperia l e o II Ô se e ncaixara inteiramen- taurant e s. casas de c há e troupes de dan ça rai s . E m 165 2, as a uto ridades puser am fim
mon ta vam suas barracas todos os a no s na es- tam bém ao waka-shu -kabuki, int erpret ado por
tação seca. garoto s.
- -- - - ~=""'--~- Em 1607 . Ok uni levou sua s j oven s a Ycdo. Porém. do is anos mais tard e. veio a modi -
hoj e Tóq uio. onde novam ent e atraiu gr andes ficação deci si va. q uand o foi obti da a perm issão
pla téia s . Donos de casa de ch á es pe rtos co me- de se co nti nua r co m as aprese ntações teatrais.
ça ra m a a nexar um ja rd im- tea tro ka buki a se us com a co nd ição de qu e os atorcs amas sem co m
esta be leci me ntos . As jovens dan ça rin as era m a ca beça rasp ada. co nfo rme e ra co stume entre
muit o a trae ntes. cm tod os os se ntid os; porém . os homens. e qu e não fosse m incluí das cenas
co nfo rme seus princ ípios de co nd uta iam re- er óticas o u dan ças provocant es.
laxando, sua reputaç ão rapid amente dec resceu . A partir de ent ão. o des en volviment o do
Vint e anos mais tard e. um edi to impe ria l proi- kabuki tr az a ma rca da en tranhada tend ência
biu o on na- ka buki e o ap ar eciment o de mu- japon esa pa ra a estili zação e para os " astros"
lh ere s (o ll lla) no palco. da ce na. Ass im. logo se delin ea ram qu atro ca-
U m docu ment o da é poca primitiva do tegoria s di st int as de peças. qu e ai nda hoj e co ns-
Okuni kabuki, o Kunij o kabuki cko toba , escri - titu em os pro g ramas kabuki. O pr imeiro tipo é
to a pro xima dame nte e ntre 1604 e 16 30. qu e o dr ama histó rico. jidain iono, que g lor ill ea o
hoj e est;í pre servad o na bibli o teca da unive rsi- sarnurai e sua s virtud es tradi cionais - lealda-
dade de Kyoto, nos o ferece um vív ido quadro de e a mor fili al. O seg undo. é o Sl' II·i/1110110 .
de sse per íodo. Suas ilustraçõe s mostr am co mo um dr ama do mé stico situado no mun do dos
as a ntigas carac terís ticas da da nça ritual co m- mer cad ores. comerciantes e art esãos. A terceira
- -
..... ,
" j
bin a vam -se co m o s e le me n to s do I/(i e d o ca tegoria. aragoto, o dr am a do hom em fort e.
kyogcn. E le registra o seg uinte enred o de uma apresenta um herói sobre-h umano, caracteri-
12 . 'Ic .uro kabut« femin ino da l'P ( )l ' ;t da da nçarina t r-kuni . em Kvot o . c. I () ~ (). das peças-danças de Ok nni: zad o por uma pesada maquiagern e pelo dis-
1)0 91 •
Hist ó ri a M u n d íoí do Teatro .

14 . Duas xi logravu ras em core s de Sharaku, c. 1790 . À e squerda. os ate res kabuki Sawa mum Yodogaro e Bando Zcnji :
à direita, Segawa Tomi sahuro II e Nakam ura Marnyo , dese mpenh ado o papel de ama e criada.

13. Teatro kab uki de me nino s c m Kyoro. c. I~O .

curso melodram ático. A quarta, shosagoto, é Co m profunda co mpree nsão daqui lo que
uma espécie de dram a dançado aco mpanhado moviment ava os se us co ntempo râ neos, Tojuro
por tam borin s, gra ndes tam bores, fla utas e decl arava qu e a própria vida era o grande mes-
shamisen , e também por um coro ca ntando a tre da sua arte. "A arte do m im o" , disse ele
balada relativa à história e aos eventos líricos cer ta vez . "é co mo o borna l de um me ndigo,
da trama. qu e tem de co nter tudo. importan te ou insigni-
Quatro nom es famoso s estão intima men- fica nte. Se encontramos algo <.jue não pode ser
te assoc iados co m o teat ro kabuki da seg unda us ad o im edi atam ent e , a c o is a a fa zer é
me tade do século XV II: os dos três atare s con servá- lo c g ua rd á-lo para um a ocasião fu-
Tojuro, Danj uro e Ayame. e o do grande dra- tura . Um verda deiro atar deveria apre nder o
maturgo Chikamatsu, cujo nome está estrei- ofício do batedor de ca rteira s" .
tamente ligado ao teat ro de bo necos. Sua arte O gra nde rival de Toj uro nos palcos de
e sua vida refletem a si tuação soc ial de sua Yed o foi Ichik aw a Danju ro (1 6 60 -1704 ).
época. Qu and o ado lesce nte, havia s ido memhro de
Sakata Toj uro ( 1647- 1709), famoso pelo um a troupe ambulante. Ao se aprese ntar pela
pape l do terno ama nte nas peças corte sãs, do- primeira vez cm Yedo, em 1673, co briu o ros-
minava o palco em Kyoto e Osaka. Quando to com uma espessa camada de pin tura verme-
menino, no palco IlÔ de seu pai, ajoe lhado ao lha e bra nca para dese mpe nhar o papel de um
fundo da cena, ele havia tocado o tambor. Mais herói arago to. Foi o nascim en to da máscara
tarde, co mo famoso astro kabuki e autor de kab uki . Danju ro ass umiu o estilo declam atório
peças de sucesso, levava a vida de um prínci- do teatro de bonecos, cujo rapsodi sta Izumid ayu,
pe. Tojur o é um repre se nta nte típico do mun- em Yedo, ele admirava gra ndeme nte e tomara
do genroku, no qua l os mercadores se fizeram como mode lo. Danju ro era um homem baixi-
ricos e os samurais empo breceram, no qual as nho c atarracado, de espanto sa força física e
zonas de meretrício floresceram c os cidadãos poder voca l, que, segundo relatam os cro nistas,
eram impelidos por suas amb ições . fazia trem er não apenas o palco, mas tamb ém
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as porcel anas nas lojas próxim as. Q ua ndo abria font es - a estreita co nexão co m o ningyo joruri
tod as as co mpo rtas da e moção ao int erpretar e a influê ncia do a tor Tojuro em Osak a. Tan to
um pape laragoto, sua voz de trovão podia ser a arte de Toj ur o quanto a de Chikam atsu es ta -
o uv ida a qu il ôrnctr o s de dist ânc ia. O ideal de vam en ra izad as no mel odram a dom é st ico
Danjuro era o her ói do mundo sa m ur ai. Co mo ( SelI'OII/Ol/ o) , no co nfli to trágico e se m sa ída

Tojuro, el e próp rio esc reve u pel o men os algu- ent re os im pu lso s do co ração e as leis rígi das
mas de suas peças o u ad ap to u-a s a parti r de da orde m soc ial feudal.
textos Ilel. co mo o fa moso Kaj incho , Por um a Há um a ve lha máxim a teatr al no Jap ão q ue
ironia da hi stóri a, es te heró i inve ncível foi as- diz: " O teatr o é sa bedor ia para () pov o. Cu m-
sa ssi nado pel a espada de um ator rival dur ante pre-lh e e ns inar a trilh a do dever por me io de
um a bri ga no ca ma rim do Teat ro Ichi mura-za exemplos e modelos" . Chik am atsu co loca se us
e m Yedo . heró is e he roínas no co nflito entre a natu reza
O ter ceiro d os astros dos prim órdios do human a e a lei moral. Faz co m qu e eles re sis-
kabuki fo i Yoshi zaw a Ayu me ( na sc ido em tam a tod as as tentaçõe s co m um a cond uta
1673 ). Era um intérpre te de pap éis fe mi ninos exe m p lar e le va-os a enc ontrar a melh o r saída
e levo u o seu es tilo tão a sé rio q ue terminou possível. a ma is j us tificada eti cam ent e ,
de sen vol ven do um narcisismo qu ase hermafro- D ura n te a prime ira meta de do s éc ulo
dita. Mesmo fora do teatro, usava se m pre rou- XV II I, o kabuki e o teatro de bon ecos co m-
pas femininas , bem co mo um a alt íss ima e ela- pet iam co m pro ba b ilidades quase idênti cas
borada peruea e cos m éticos , transpondo sua pel os favore s do público. Graças a ad aptaçõe s
imagem cênica para a sua vida privada. Ale- dos grande s temas épicos e com a ajuda das
ga va que um ator de papéis fe mininos nunca exc el e ntes peças de Chikamatsu, o kabuki ul-
de via - me sm o depoi s do es pe uic ulo, no ca- tra passou se u ri val. Isso incentivou ta mb ém
m arim , ou nas ruas - "sair da personage m" , A o c ulto ao s a st ro s. Ca da cidade tinh a os se us
abs ur da fixação de Aya mc e m tran sformar a ídol os . O s me lhores expoentes da xilograv ura
onnogatu num a co rte sã, a t é mesm o na vida co - co lo rida captara m-no s e tn poses impressi va s*
tid ian a, int rodu ziu um a rigid ez conve ncio nal e estudos de ret rat o. As sér ie s de a te re s de
no kab uk i qu e não aux iliou seu de se nvo lvime n- Sharaku. q ue fo ra an tes um atol' mi a se rviço
to artís tico subscq üe nte. do príncipe de Awa , mos tra os favori to s de
O homem a q uem o kab uk i de ve se u mais Yed o co m um a g ra nd iosidade im pr e ss ion an -
pode ro so im pulso é o gr ande drama turgo ja - te . O s es bo ços de te atr o de Hoku sa i ca ptu-
ponê s Chikamatsu Monzae mo n ( 1653-1725). ra m a g ra ç a ev a ne sce nte do movi men to da
Seu no me ve rdade iro era Sug imo ri No bumo ri, dan ça . Q uando , em 179-1. o emp resá rio tea-
mas era um a prá tica co mum na vida tea tral ja- tral Mi yuko De nna i assu mi u o falido Naka-
ponesa um a ror to ma r, co mo nom e a rtí stico , o mu ra -za e m Yedo, pôs em circ ula ç ão um a
nom e de um a rt ista que reconheci a co mo mo- xilo grav ura de S haraku, mo stra ndo -o nu ma
del o. Ne ste ca m inho. gerações d e Tojuros e pose de co ra ti va no palc o, seg ura ndo um per-
Danjuros sucede ram-se uma s its o utra s (lima gami nho - uma prova um tant o di spen di osa
x ilo gr a vura de Kun isad a . de 18 58 , mostra de sua re pu ta ç ão e m presaria l. Na me sm a é po-
Danjuro V II), sem terem nad a e m co m um com ca , Sharuku fo i e nc a rrega do de fazer de se-
se u an ce stral , além da a mb ição a rtís tica . nhos dos a tore s do s três pr incip ais teatro s de
Ninguém , entretanto. ousou torn ar o nom e Yedo . S ua s gra ndes xilogravur as co lor idas em
artístico de Chikamatsu M o nza emon depois qu e se vê somente a cabeça dos a rtist as sobre
dele. Desde os dezcnovc a nos ele viveu em um fundo de mica cinza-prateada, tod as fei -
Kyoto, a serviço de um nobre da corte chama- ta s en tre 179 3 e 1796, encontram -se hoj e e n-
do Ogimachi, qu c escrev ia peças joruri. Foi tre os mai s prec io sos testemunho s pi ct óric os
ali que Chi kamat su e ntro u e m co mu to pela pri- do tea tro japonês .
meira vez com o teatro de hon ecos. ao qual
devot ou suas mais exce lentes obras. Pert o de c unl uu l, I cm l H..l n U ~ lI ~· ~ pn!" Da rei K' h ,IIH1
Tl' llIlIl

15 . Xi logruvura em cores de S hige haru : doi s atures 16 . X ilograv ura em co res de To rii Kiyonaga: cena de vinte peçls de Chika mat su c hegara m a té os Hunra t;u c: Kab ul:i: l lll Ul \ í sada U {/ r ro C"(/ .
iII (Js Tá l1r o .\
num duelo de samurais. teatro co m rec itadores c um to cad or de samiscn . di as a tua is, e a força de toda s c las brot a de d uas S; IO Paulo. Pcrvp cct iva. I I) t) 3 .

C)j
18. Xilogra vu ra em core s de Kun isada: vista de u m teatro ka buk i, No palco , uma cen a de batalha; à esquerda. no
caminha d as flores. Danjuro V II co m um parcei ro. Im press ão única . 1858.

17. Xilogravura cm Cores de Kunisada: vista geral do Shintumi -za cm Tóq uio. t XXI. À esquerda , () grande caminho das 19. Xilogrnvu rn c m cu res de Hokusai. da série Lug a res Famos os dr Ycdo . Tóquio. 1800 . Palco e platéia co mo \'isIOS
fl ores thunamichi v que leva ao pa lco kahnk r; ii direita. o pequeno caminho das tlorcs (Muniq ue, Muse u do Teatro }. pelos músicos. q ue a parecem se ntados - anônimo s - ao f undo da ce na.
lí í sur r ía 1111lIJJ i a l d o T r u t r o • • J ap o
ã

Um d o s mai s famosos dramas ka buk i . Conforme o núme ro de atores cres cia e o cado s ricament e ad orn ados e gu arne cido s de A tendênci a sliimpa para co ntra bala nçar
Kanahedon Chu-shin gura, de Taked a lzumo pro grama se ex pa nd ia , o teatro kabuki com e- ouro . " O s efei to s sã o purament e e xt ern os". a rigi de z form al ex cessiva das cat egorias teu-
e Namiki Sos ukc, é a inda regularm ent e a pre- ço u a precis ar de um a espéc ie de estrutura in- escreve o e s tud io so do teat ro Benito Ort olani, trai s tradi ci on ai s te ve imp orta nte intluênc ia no
se ntado to do s os anos. por inteiro ou e m a lgu- tema pintad a, eq uipa da c o m um a cort ina cor- " e ist o lev a mu ito s críticos a d uv id ar da vita li- desen vol vim ento d o teatro jap on ês. Result ou
mas ce nas. Ele co nta a históri a dos qu are nta e redi ça e vá ri os tel õ e s de fun d o. No pa lc o dade de ste gê ne ro ; mas quem p rocura pel as nu ma te nd ên ci a par a o d rama de situações ro-
sete nobres (I1mill) que exigem cruel vingança ka buki a mpliad o . al gu ns o bj c tos cê nico s ca- fonte s do mi st erioso fascínio de um a remota e rnânticas, um a es péc ie de Madame Buu crflv
de sangue devido ,I um cr ime de mort e co me- ract erí sticos indi cam a ce na da ação - biom- gran de civili zação en contrará no kabu ki uma barato. de corte burguês. Com isto o sh inipa
tido por fidelidad e de vassal o. Eles ob edecem bos pintados de dourado . por exemplo. faze m ch ave indi sp en sável de co mpr ee nsão e apro - levou a sua força de impulso a um beco se m
ao cód igo de éti ca do s samurais à cu sta de sua parte do ce ná rio do pal ácio nas peça s j ida i- fun damento" . saída, e se u sucesso se co ncentrou por um c ur -
própria vida . O e pisódio histórico subja ce nte m ono; qu e por ess a ra zão são às vezes cham a- to per ío do c m O sa ka e Tóquio, mai s ou men os
a es ta peça. a hi stóri a dos 47 ronin. é um dos da s de peça s do s bi ombo s dourados. de 1904 a 1909 . .
temas ma is populares da literatur a j apo nesa. Já e m 175 3. o d ramaturgo e técni co d e SHIMI' A Ap ó s a Se g unda G uerra Mund ial. B énito
O palco kabuki, originalmente e mprestado ce nogr afia Namiki Sh ozo ha via co nstru ído um Ort ol an i - qu e e ntão er a professor na Un ive r-
do IlÔ , er a uma pl ataforma qu adrada se m de - me cani smo qu e ergui a e aba ixava o ass oalho As rev oltas políticas e so ciais do séc ulo sidade Soph ia d e Tóquio - diz:
coração. No iníci o , era erguido onde fosse con- do palco. Em 1758 , in ventou um palco girató- XI X ta mbé m tiver am seu impact o no teat ro . A
veniente e ao ar livre. mais tarde num rec into rio , operado por um si st e ma de c ilindros. Es te rest auração d o Meij i em 1868 e o trat ad o co- Foram fei ta s ten tat iva s no se ntid o de trn nsforma r
circunscrito e, finalmente, foi transport ado para palco g iratório fo i po st er ior men te aperfeiço a- o ",hi ll/ p u Ill.IIlI d rama popu lar sim ilar ao ícab nk i, c c on-
m erc ia l co m os Estados Unido s acabou co m o
q uis tar uma plat é ia ma io r at ravés de 1I11W selc ç üo ma is
um edi fíc io teat ral penuancntc. A platéi a sen- do em 179 3 por Jukich i, no Nak amura-za de isol ame nto sec ular do Jap ão . Ao me smo tem - c uida d o sa d e peç a s e pela inclusão d e aro res jo ven s c
tava-se em banco s de mad eira. Os gra ndes tea- Yedo . O Jap ão es tava, assi m. um séc ulo intei - po , fo ra m abolid as nu mero sas restri çõ es inter- tale nto so v. Est a m ud a nç a in te lige nte de .tirc ção as se -
tros tinham galerias e fileir as ao longo da s pa - ro à frente d a Euro pa , q ue nã o teve sua pri- na s. e o teatro foi um dos ben eficiári o s. Um gurou um lugar, no teatro j apo nês moderno, par a lima
redes laterais, sempre divididas e m co mparti- meir a experiê ncia prática do pa lco giratório até ce rto número de te atros pud era m se r novame n- espécie q ue sobrevive u cm larga med ida à sua fun ção
ment os - como tam bém e ram orga nizados o s 1896. qu and o Karl Lauten schl ager o utili zou de pont e e ntre a tra d iç ão kabnki e () teat ro m o d e rn o .
te e rg uidos e m qu alqu er lugar. po r ini ci a tiva
t\la s i... so cx p h c u t ~lI l1h ~ 1II po r que a gen te de tc. u ro c
lugares ao n ível do so lo. O preço do ing resso no Na tio na lthea te r e m Munique. (Isso, e ntre- privad a. O s ríg ido s regulame nto s q ue d izi a m c ine ma de hoje . a o rular d o estilo .\" ;1111'(/ ou de uug é-
pago na e ntrada depe ndia da categor ia do lu- tant o. se dei xarm o s d e lado o s esboç os de Le o- re speito ii ind ume ntária do s ato re s fo ra m sua- di as d o tip o slnsnpa, ( C IH c m mente c sp ct ác ul ox sen ti-
gar de sej ad o pel o freq iientador. nard o da Vin ci pa ra um a a legoria qu e se ria viza dos e , pel a p rimeira vez desd e 1629 , pe rmi- me uta iv. rom ân tic o s o u mel od rarn áu c os . e por qLU.~ a
Atu alm ente , o ca minho das flor e s ( l ia n a - apr esentada e m Milão em 1490 . e o palc o g i- tiu -se que as mulheres aparecessem no palco. mai o ria dos espec iali stas n ão vêe m no sh illljJ{/ ne n h u-
mi chi) é um dos componentes mai s ca rac te- rat óri o dupl o qu e Ini g o Joncs desenhou e m ma base para o f ut uro do te atro japon ês .
M as esta no va e lib eral tendê nci a te ve co nse-
rístico s do kabuki . Ele fica à altura d a ca beça 1608 para The Masque ofBcautv, e m Lon dres.) q üê ncias q uesti oná vei s do ponto de vista ar-
do público na pl atéi a. qu e oc upa o pla no d o Du as ve zes . e m 1841 c e m 1855, grand es tístico . O afrouxamento do esti lo kabuk i, co n-
so lo, e va i de um a pequ en a porta na pa rede incên dios devastaram a c id ade de Yedo e des- forme co ncebido pelo ator Ichi kaw a Danjuro S H I N GE K I
do fund o do audi tó rio até um do s lad o s do truíram to dos o s se us te atro s. Eles foram IX ( 18 38 - 1903 ), mo strou- se ma is noci vo do
palco . Teat ro s g ran des fr cq üenrem cn te po s- recon struíd os. e os no vo s teat ros co nsistira m que e n riq uecedo r. Sob a influ ência e ur opé ia, U m outro m ov imen to de refo rm a. c uj a
sue m um a se gund a passarel a de entrad a. me - em versões maiores e m a is espaçosas de se us surg ira m o s g ru pos de entusiastas do teat ro qu e. influ ência con tinuou até os an o s 30 de ste sé-
nor. q ue seg ue par alel a ao hanamichi até o prede cessores. Não importa qu ant as crises in- co m o nome de shimpa ('"Mov im e nto d a Es- culo . fo i iniciado pe lo d ra maturgo e es tudioso
outro lado do pa lco . (Q uando Ma x Rc inh a rdt tern as e ex terna s tenham ce rcado o kabuki, e le co la No va" ). qu eri am refor m ar o teat ro japo- do teat ro T su bou ch i S hoyo ( 1859 - 1935). A lé m
mont ou a panto mima Sumurun e m 19 10 par a é ainda a mais popu lar fo rma de teatro do Ja- nês se g und o mode lo s e urope us . U m de se us de suas próp rias pe ças. como por exe m plo a
o Berl iner Kamrne rspielc . inspirada por mo - pão. Iluminação ultramoderna e técn icas cê - fund adores, S udo Sa da nori , int rod uz iu no pal - po pular Kiri H ito Ha (A Folh a da Árvo re Kiri),
tivos ori ent a is. usou também um caminho da s nicas. poltronas e as se nto s dobráveis. um j i>yer c o a repre sentação politicamente en g aj ada e Tsubou chi Sh oyo apresentou S hakespe are ao
flores.) e cart azes mult il íngües co nferiram. nesse meio pr o vocou ce leu m a em 1888 co m su a estréia palc o j aponês . Ele pa ssou décad as tradu zindo
tempo. um brilho int ernaci on al ao kabuki . no S hi nto m iza, e m O saka . Kawakam i O toj iro , virtua lme nte todas as peças de Sha kespea re .
Atua lme ntc . há no Jap ão cerca de trezen - qu e se a p rese n to u junto co m s u a es po sa Como primei ra amostra. montou a cena d a co r-
tos e cinq üenta a te res kabuki , empregad os pe la Sada ya kko na Feira Mun di al de Pari s em 1900, te de O Mercador de l-ellezo no Kabuki -za e m
grande co rporação de te atro Shoc hik u- Kais ha , tinha e m m ira o sentiment o e a se nsação e ch c- Tóquio. co mo interlúd io e ntre do is aros kabuki,
qu e possui um rico acervo d e vcs timc ntus e gou a serv ir de e pítome da arte dr amática japo- A isto seg uira m -s e logo depoi s peças co mple -
ace ssór ios hi stó ricos. O es ple ndo r de um cs - nesa na Europ a. Ap ós seu retorn o ao Japão. fez tas de Shakesp eare, com o também de Ibsen ,
pet áculo kabuki depen de hoje . co mo antig a- sua mai o r co ntribuição ao palco nipónico . A pre- Stri ndberg , Gerha rt Hau ptmann e o utra s d a
ment e. dos figu ri nos s u ntuosos - pesado s hro- esco la natural ist a e uropéi a. T subouch i S hoyo
se ntou peças e uro péias. traduzida s par a o japo -
nês. e nc enando -as de acordo com conce itos oc i- fund ou um a soc ie d a de de lit er atura e a rte .
de mai s. S ua imagin ação fértil. a liás. levo u-o a Bungci Kvoka i, e tam b ém o mu seu de teatro
fazer Hamlet e ntrar no palc o percorrendo o ca- na U nive rs id ade Wa sed a de T óquio, q ue se
20 . Palco gir at óri o kub uk i , o pe rad o po r culc s, co m o
era costume a part ir de 174 1 no Nak am ura-za d.. .· Ycdo. m inho da s flores (hanamirhiv de bicicl et a. torn ou um d o s cen tros da mod erna pesq uisa

· 98 9Y •
2 1. Cena kabukí: pescadora c ba nzo, perto de um salg ue iro . De sen ho colo rido de Sa buro Kan c ko . Tóq uio , 19 17.

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22. Ator representando um samurai. no drama God a í 23. Xi logravu ra da s érie A to res 1/0 Pa lco . de Toyok uni:
Gcnj i M ítxug í nó Fur ísode, 17 X2. M a sat su ya .
l í is t árí u i\l U1J lJi ll l (lo To urr o •

teatral japon esa. Às mesm as propostas se rve T sukiji -Shoge kijo, por ca usa do bairro T sukiji ,
o In stitut o de Teat ro da Universida de Sophia de Tóquio. Grécia
de T óqui o. c uja s publi cações. conferê ncias e De outra part e, o shingeki ("n ovo teatro ")
mostr as fiz e ram muit o para pro mo ver o co- q ue se separo u do Tsukij i-Shogekijo é inteira -
nhec iment o da a rte teatr al do Japão no Oci- mente internacio nal e m sua co ncepção. Torno u-
dente. se um conceito de co nve rgê nc ia das aspi rações
A Tei geki , ou Sociedade Teatral Imperial. soc iais dos joven s intele ctuais j aponeses. De-
formada em 1911 , teve vida efême ra , Foi ab- poi s de décadas de ad esão exclusiva ao méto-
sorvida pou cos anos mai s tarde pela corpor a- do Stanislávski, passou agora a uti lizar outros
ção Shochiku, qu e po ssui o monopóli o de tod a métodos ind ivid uais de direç ão teatral par a a
a indú stria teatr al j apone sa, incl uindo a ó pe ra, produ ção de mont agen s.
o cinema e o teatro de variedades de estilo inter- Hoje, o shing eki dos g ru pos teatrais mo-
nacion al. Hoje, o Teatro Imperial é um ci ne- dernos é um lugar de experimentação, de critica
ma qu e exibe filme s estra ngei ros. social engajada. de apre sentação de sucessos in-
O últ im o fru to do shinge ki foi o "Peque- tern acionais e de discu ssão co m as grandes co r-
no Teat ro " , fu ndado e m 1924 e c ha mado rent es do teat ro mun di a l.

I NTRODU Ç Ã O Muitas co rre nte s de força s da Mesopo-


tâm ia, Creta e Mi cen as confluíram para a pe-
A hist óri a do teatro europeu c o meç a aos nín sula da Ática, ban ha da pelo mar, e lá en-
pés da Ac ró po le. e m Atenas . sob o luminoso con trara m se u a uge hi stór ico na poli s, a c ida-
céu azu l-v io le ta da G réc ia. A Ática é o berço de-Estado de Atenas. A po lítica de poder e um a
de um a fo rm a de ar te dra máti ca c ujos va lo res del iberada e sagaz me nte conduzida inten sifi-
estét ico s e cria tivo s não perderam nada da sua cação da vida re ligiosa levaram ao pomposo
efi cácia de po is de um período de 2 .500 a nos . pro gra ma fe stivo da Pa natenéia. a glorifi cação
Sua s o rige ns e nco nt ram- se na s aç õcs recípro - da deu sa da c idade. Pal as Atena . Do séc ulo VI
cas de dar c receber q ue, e m todos os tempos a.c. e m di a nte , Ate na pa sso u também a hom c-
e lugar e s, prende m os hom en s ao s de uses c os nagear Dioni so na g ra nde Dion isa citadina. q ue
deu ses ao ho mem : elas estão no s ritu ais de dur ava vários d ias e incl uía rep resen tações dr a-
sac rifíc io , da nça e c ulto . Para a G réc ia ho- maricas.
mérica isso sig nifica va os sagrad os fe stivais O teatro é uma obra de arte social e co m u-
b áquicos. men ádi cos. em hom en age m a Dioni - nal: nun ca iss o fo i mais verdadeiro do que na
so, o deu s do vin ho . da vege tação e do c res ci- Gr écia antiga . Em ne nhum outro luga r. por-
ment o, da procriação e da vida exube ra nte. tan to. pôde a lca nçar lant a import ância co mo
Se u séq ui to é co m posto por Si le no , siitiros e na G récia. A m ult idão reun ida no theatron não
ba ca ntes . O s festivais rurai s da pren sage m do
vinho. em de zembro, e as festas das flo res de
Ate na s, e m fevere iro e março, eram dedi ca-
dos a ele. As org ias desen freadas dos vi nha-
tei ro s áticos ho nr avam -no. assim como as vo-
zes alternadas dos di tirambos e da s ca nções
bá qu ic as at en ien ses. Quando os r ito s dioni -
síacos se des en volv eram e resulta ram na tra-
géd ia e na co médi a. ele se torn ou o deus do
teat ro .

I. Jo v cn ... danç arina.. . d u é poc a ;lI L' ;l i c õl. De um vaso


ãt ico primitivo .

• 102
H i s t óri a M "ndial ( /(1 Tc at r o • • G ré c ;a

era mer amente espectador a. mas participant e. ba rdo cego de Hom ero. Dem ód oco , qu e e ntoa-
no sentido mais literal. O pú blico participava va se us c ânticos sobre os favores e a ira dos
a tiva mente do ritual teatr al. reli gi oso. inseria- deu ses para co m os heróis e m banquete , poi s
se na esfera dos deu ses e co mpa rtilhava o co- "q ua nd o se u ape tite e sede es tavam sa tis fe i-
nhe cimento das grandes co nexões mitol ógicas. tos, a Mu sa inspirava o bard o a ca nta r os fei -
Do mund o co nceptual reli gioso comum e da tos de homen s fam osos" (Odi sseia , VIII) .
célebre herança dos heróis hom éricos surgi- Duas corrente s foram combinadas, dan -
ram os Jogos Olímpicos. Ístmi cos e Nemeanos, do à luz a tragédi a; uma delas prov ém do le-
assim com o as celebrações cultua is do santuá- ge nd ário menestrel da Antig üid ad e re m ota, a
rio de Apolo de Delfos - tod os eventos que outra dos rit os de fertilidade dos sá tiros dan-
preservavam uma so lida rieda de que sobrepu- ça ntes . De acordo co m Her ódot o, os coros de
2. Dançarinos co rü u ios da t:pOl: :1 de Árion, Pintura de U J1I frasc o c o ríntio. século V I a.C .
java as facções políticas. ca nto res com máscara s de bod e ex istia m de s-
A despeit o dessa solida rie dade inerente . de o séc ulo VI a.c. Esses coros origi na lme nte
existi am eon flitos perenes - entre Esparta e ca ntavam em hom ena gem ao her ó i Adrasto , o do coro como solista, e assim c rio u o papel do las on das do mar, de ntro de um a a rca . Enq uanto
Ate nas , e entre todos os ambiciosos pequcnos mui ce lebrado rei de Argos , e S íci on , qu e in s- hypokritcs ("respo ndedor" e, mai s tarde, ato r), eleme nto procri ador qu e abr iga o mi stéri o pri-
ce ntros de poder do continent e, o Peloponeso tigou a ex pedição dos Sete contra Tebas. Por qu e aprese ntava o es pe tác ulo e se e nvolvia num mor d ial da vida . a ág ua se m pre fo i um ing re-
e as ilha s do arquipélago Egeu - co nflitos que razões polít icas, C l íste nes, tir an o de S íci on di álogo co m o co nd uto r do co ro. Essa ino va- d ient e import ante dos c ulto s dc qu alqu er po vo;
podem ser considerados , nas pa lav ras de Jacob des de 59 6 a.c.. transferiu tais co ros de bode s ção , primeir am ent e não mais do qu e um em - são te ste munhos disso o c u lto de O sí ris do
Burckhardt, co mo "uma fe bre interna deste para o culto a D ion iso, o deu s fa vorit o do povo brião dentro do rito do sac rifício. se desen vol- a ntigo Egito, o Moi sé s bíblico e o pescador
organismo altamente privilegiado". As mui da Áti c a. veria mais tarde na tragédia, eti mologicamente, di vin o da danç a kagura japonesa.
citadas palavras de Herácli to, "o conflito é o Dioniso , a encarnação da em briag uez e do tragos ("bode" ) e ode ("canto" ). O deus - ou o atol' - no carro-barca se nta-
pai de todas as coisas", são vál ida s não apenas a rre batame nto , é o espírito se lvage m do co n- Nenhum dos pr esentes na Dionis íaca de se e ntre doi s sátiro s flauti sta s e segura folhas
para a inqu ietação políti ca do final do século traste, a co ntra dição e xt ática da bem -aven tu- 534 a.c. pod eria so nha r com o alca nce da s de vide ira nas mãos, co nforme os pi ntores de
VI a.C; quand o ele as escr eveu em Éfe so, mas ra nça e do horror. Ele é a font e da se ns ualida- impl icações qu e este ac résc imo inovador de vas os do início do séc ulo V I a .c. mo str aram
também para as somb rias emoções do drama, de e da c rue ldade , da vida pro c riador a e da diá logo ao rito Ira ria par a a histó ria da civili- em in úmeras varia nte s. Assim. se m d úv ida,
as paixões do ódio nascidas da "fú ria radical destruição letal. Essa dupl a natu reza do de us, zação e, menos ai nda. o pr óp rio T éspis, At é T é spi s se apre sento u na Dioni síaca de Ate nas ,
do co ração" . Q uando Th assilo vo n Scheffer diz um atri buto mit ológico, en cont rou ex pressão e ntão . ele per ambu lara pel a zona rura l co m usan do uma máscar a de linho co m o s tr aços
que hum anitas é uma pala vra d ificilm ente apli- funda mental na tragéd ia g rega . uma pequ ena tro upc de da nçarino s e ca ntore s de um ros to hu man o, visíve l a d istâ ncia por
cável aos gregos anti go s, não destrói co m isso O caminho qu e vai do bar do ho méri co e, nos festivais rura is di oni síacos, havia ofere- de stacar-se do coro de sátiro s, co m suas tan-
a nossa concepção ideal destes, mas acrescen- Dem ód oco à tragédia nos conduz a um de se us cido aos campon eses da Áti ca apresentações ga s fel pud as e cau da de cav a lo.
ta o tão importa nte rever so, sem o qual seu tea- suc es sor es, Ario n de Lesbos, q ue vive u por de d itirambos e dan ças de sátiros no estilo de O local da D ion is íaca de At en as era a en-
tro - com o ou tro s aspectos da Antigüidad e vo lta de 600 a.C. na corte do ti ran o Periandro Arion. Sup õe-se qu e viaj asse num a ca rroç a de co sta da colina do sa ntu ário de Dion iso, ao sul
grega - escaparia à nossa co mpree nsão. de Corinto. Co m o apoio e a a m iza de desse quatro roda s, o "carro de Téspis" . mas esta é da Ac rópo le . Ali erg uia-se o templ o eo m a ve-
gove rn ante ama nte da s art es, A rio n e nc arre- apenas um a das in errudicávci s e grac iosas ilu- lh a im age m de ma de ira do deu s, trazida de
go u-se de orie ntar para a via po étic a os c u ltos sões que o uso lin g ü ísti co perpetu ou. O c ulpa- E le utera: um pouco mais a ba ixo ficava o cí r-
T RAG ÉDI A à vegetação da po pulação rur al. O rgan izo u os do nesse caso foi Hor áci o, qu e nos co nta qu e c u lo da dança, e e ntão , nu m terraço plano, a
bod e s da nça rinos dos coros de sá tiros para um T éspis " levava seus poemas nu m ca rro". Ma s orchestra. Em seu ce ntro, so bre um pe de stal
Do Cu I to a o T eatro aco m p a n ha me nto mimét ico de se u s d i ti - essa inform ação d iz re spe ito so me nte ii sua ba ixo. e rguia- se o alta r sacri ficia l (ri me/é) . A
ra m bos. Ass im, ele enco ntro u um a forma de participação na Dionisíac a. e não a algo CO Ill O pre se n ça do deu s torn ava-se real para os es-
Para honrar os deu ses, "e m cujas mãos arte qu e, o rig inada na poesia , in corpo rou o uma ca rroça-palco a m bulante. O ritual da dan - pect ad or es; Dion iso es tava ali com tod os eles,
impiedosas estão o céu e o infern o", o povo ca nto e a dança, c que du as ge rações mai s tar - ça coral e do teatr o e ra pr ecedido por um a pro- centro e animador de um a cerimôni a solene,
reunia-se no grande semicírcul o do teatro. Com de levou , e m Ate nas. à tragédi a e ao teatro. c issão solene, que vinha da cidade, e termi na- re lig iosa, teatral. Co mo todas as gra nde s pe-
cantos ritm ados, o coro rod eava a orchcstra : Ps ístrato, o sagaz tiran o de A tenas que pro - va na orquestra, dentro do recin to sag rado de ças c ultua is do mundo, esta começou co m um
"Vem, ó Musa, unir-se ao coro sag rado ! Deixa moveu o comércio e as artes e fo i o fundador Dioniso. O clímax dessa pro ci ssão era o GIITO sacrifíc io de puri fica ção.
nosso cânti co agradar-te e vê a multidão aqui das Panatenéias e das Grandes D ioni síacas, es- fes tivo do deu s pu xado por do is s átiros. uma
sentada!" Estes hinos em forma de verso são forçou-se para emprestar espl endo r a ess as fes- espéc ie de barca so bre roda s (carru s navalisi. T r á gicos Pr e cur sores d e
de As Rãs, de Aristófan es. Preci sam ente ele, o tivid ades públicas. Em ma rço do ano de 534 que ca rregava a imagem do deus ou, cm se u Ésq u i l o
"zombador incorr igí vel" , invocou novamente, a .c.. trou xe de 1cár ia para A tena s o ato r T ésp is. lugar, um ator co roa do de folh as de vide ira . O
em sua últ ima co méd ia, o poder da tragédia e o rde no u qu e ele part ic ip a sse d a G ra nde carro- barca reco rda as ave ntura s marítim as do E ntre a primeira a presen ta ção de T éspi s e
g rega clássica. cuja idade de ouro durou apro- Dionisíaca . T éspi s teve uma nova e criativa de us. po is. de acord o com o mito, Dioni so , o p rimeiro êxi to teatr al de És q uilo passar am-
ximadamente um séc ulo. Seu prec ursor foi o idéia qu e faria história. Ele se co locou :, pa rte q uando cr ian ça . fora de po sitado na praia pe- se sessenta anos. For am anos de viole ntas dis-

• 104 • /05
• Gr écí a

.:::;;------~--~
putas políticas qu e pu ser am um fim ao d omí- d e Dioni sía ca e m SOO a .c. co m te tralogias, a
nio d os Tiranos , lev aram 11 int er ven ç ão d os unidad e o h riga tó ria d e três tra géd ias e um a
:-6~:~;:.":;~.~ gue rre iro s d a M aratona na formul ação do s as - peça satírica co ncl ude nte . O s regi stro s não nos
suntos públ icos e, co m C lístenes . 11 funda çã o co ntam qu e trabalh o s el e insc reveu no co nc ur-
da República de A te nas. Porém. inde pe nd e n- so qu and o fo i derrotado por Pratinas e Co éri lo:
tem ente das revolt as políti ca s, a no va forma toda a sua o bra a nte rior a 47 2 a.C; quando Os
de arte da trago dia ga nho u terreno, aperte i- Per sas foi en cen ad a pel a primeira vez . es tá
çoo u-s e e tornou- se a matéria de um a compe- perdid a. De acordo c om cro nis tas an tigo s,
tição teatral (a gem) nas Dion isíacas. Ésquil o es c reve u ao todo noventa tragéd ias;
Paralelamente, porém talvez mai s remo- dest as, setenta e nove títulos chega ram até nós.
tas e m s uas ori gen s, as peças sa tíricas desen- mas dentre eles co nse rva ra m-se apen as sete
vo lve ra m -se co mo um a es pécie ind ependen- peç as.
te. Vier am d o Pelopon eso, e se u pion eiro lite- Em Os Persas , Ésquilo dedicou-se a um
rário foi Pr atinas de F1eio. A s átira, tida como tem a local qu e havia s ido tratado, quat ro an os

/
"a mai s di fícil ta refa do deco ro" , u ni u-se 11 tra - ant es, por Fr íni co e m sua fam osa As Fenícia s.
gé d ia, a tre ve u-s e a zo mba r dos se ntime n tos Deliber ad amente conv id av a 11 compar ação
... a & .. .- sub limes. dando-lhes um estilo grotesco. Como com a obra ante rio r ao começar Os Persas co m
3. Dioniso cm seu carr o naval. Pintura sob re skypos em vaso ático . c. SOO a.C. (Bo lo nha). part e integrante d as Di onisíacas. rep re sentava o primeiro ve rso de As Fenícias. Com e ssa
o anticlímax . o retorno relaxante 1Is planícies tril o gia. seg uida pela peça satírica Prometeu,
do demasiado humano. Qu ão ab rupta essa des- o Port ad or do Fogo . Ésquilo ganhou o pri-
cida deveria ser, ficava a critério da discrição e meiro pr êmio. A Péricles, então com vint e e
da auto-ironia do poet a trági co, po is ele pró- cinc o anos. co ube a honrosa tarefa de pr emi ar
prio es c revia a sátira como um epílogo para a o coro.
trilogia trági ca qu e in screvia no co nc urs o . Os co mpo ne ntes dr amáticos da tragédi a
Fr ínico d e At en as, qu e fo i di sc ípul o d e arcai ca eram um pró logo qu e explicava a histó-
T ésp is, ampliou a fun ção do " res po ndedor" ria pré via, o câ ntico de e ntrada do coro, o rel ato
thvpokritcs), inve stindo-o de Ulll dupl o papel dos mensageiros na tr ági ca virada do destino e
e faze ndo -o ap ar ecer co m uma m ásca ra m as- o lam e nto d as víti mas . Ésq uilo seg uia essa es-
culina e feminin a, al ternadame nte. Ist o sig ni- rrutura, A princí pio, ele ant epunha ao coro dois
ficava que o a tar devia fazer vár ias e n tra das e ater es e, mai s tar de, co mo Sófocl es, três.
saída s. e a tro ca de figurino e de m áscar a su- O plano d e fundo intelec tua l de Os Persas
blinhava um a orga nizaç ão c énica intro duz ida é a g lorificação da jovem cid ade-Es tado de Ate-
no deco rre r do s câ ntico s. Um o utr o passo 11 nas. tal co mo é vista d a co rte real da Pé rsia,
frent e foi d ad o, d a decl am ação par a a "a ç ão". qu e for a derro ta da e m S alamin a. Q ua ndo
Atossa perg unta ao co rifeu: " Q ue m rege os gre-
És q u i l o gos, q ue m os go ve rna ?" , a resp osta ex pres sa ()
orgulho do a uto r pel a po lis aten iense: " E les
É a Ésquil o qu e a tragéd ia greg a an tig a não são escravo s. n ão têm se nho r" .
deve a perfeiçã o artística e forma l, que pcrrna- O qu e At ossa, A n tíg o na, Orestes ou Pro-
necer ia um padrão para todo o futu ro. Como met e u so fre m não é um de stino indi vidu al.
se u pai pertencesse 11 nobreza proprietária de Su a so rte re pre se nta um a situação excep ci o -
terr as de El êusis , Ésqu ilo tinha aces so direto 11 nal , o co nfl ito e n tre o poder dos deu ses e a
vida cultural de At en as. Em 490 a .c. partici- vont ad e hum an a, a impotência do hom em
pou da batalha de Maraton a. e foi um dos que contra os deu se s, amplificada num aconteci -
abraçaram apaixonadamente o co nce ito demo- mento m onstruo so . Isto irrompe em sua for-
crático da polis. Sua l ápide louva a bravura dele ça m ais ele me n ta r e m Prometeu Acorrentado,
na batalha. mas nad a di z a respeit o de se us mé- O filh o do s Tit ãs, qu e roubou o fogo dos cé us
ritos co rn o dramaturgo. e o trou xe pa ra os m ortais, eleva o se u larn en-
Ésquil o ga nho u os louros d a vitór ia na lo na "abó ba da respl andecente" sobre a ar en a
4. Co rtejo bucânrico : Hcfcstos com o man eio (Ii: ferrei ro. Dioni so c a Musa da Co méd ia com u rso c câ ntaro: Mar siax IIg01/ teatral so m e nte após d ivcr sas tenta tivas. do teat ro: "Eu te invoco, ó ve nenivel Mãe Te r-
co m flauta du pl a. Desenh o de A. L. Mitliu ( IXOX). seg undo 11m vaso figurado. e m ver me lho , do Lou vre , c m Paris. Sa be- se qu e e le começou a co m pe lir na G rau- ra . e invoco a ti, cí rculo de chamas onividcnte:

• 107
7. Dança coral e m é poc a .u cuicu. De um vaso úrico prim itivo .

vê O que eu sofro, e u próprio um deus, nas mão s a m igos . e até o mom ent o e m q ue Ésq u ilo dei-
dos deu ses !" xo u A tenas. d ividiram igu almente os lou ro s da
O grit o de torme nt o pr o fe rid o pel o Pro- tra g éd ia . Sófocle s ga nho u de zoit o pr êm ios
m eteu de Ésqu ilo e rg ue -se ac ima da s forças d ra m át ic os . Do s cen to e vinte trê s dr am as qu e
primordiais da anti g a reli gi ão da natureza: "A esc re veu . e q ue até o século II a.C .; ainda se
mim, que me api ed ei d o s m ortai s, não me foi con servavam na Biblioteca de Alexandri a . co-
mostrada nenhuma pi ed ad e" . Doi s mil e qui- nh ecemo s cento e onze títulos. mas apenas sete
5. M ênade e satiro. Taça do pintor Brigo, c. 480 a.C. (Munique , Staatliche Antik cnsammlung ). nhentos anos m ai s tar de. C arl Orff o conver- tragédi as e os re stos de uma sátira chegara m
teu no herói prin cipal de um drama musical at é nó s.
exótico , qua se ar c a ico, qu e co nfro nta a pai- Sófoc les era um adm irador de Fídi as que.
xã o d ivina co m a pai xão hu m ana . Histori ado- na mesma época. criava em m á rmore . bro nze
res d a rel ig ião es ta be lec e ra m um a co nexão e m arfi m a im agem do hom em se me lha nte a os
e ntre o so frimento pr imord ial do Tit ã c a revol - d euses . Da mesma forma qu e Fíd ias d eu lim a
ta d e L úcifer a té a Red e nç ão do Cristo - u m a lm a iI es ta tuária arca ica, as sim Sófoc les deu
exe m plo qu e mais u ma ve z d em onstra aqui lo a lma às pe rson age ns em s uas tr agédias. E le os
qu e tão frcq üentc mc nte tem sido ex presso no d espiu d a arcaica ves time nta tipi fic ant e c tres-
teatro: "os pressen tim e nto s pagãos mu itas ve- pa sso u a co nc ha de sua ca pa c id ade ind ividual
zes pe ne tram co m esto nte an te pro fundid ade e par a o so frimento. P ôs e m cena per son al id ad es
certeza na realida de h istó r ic a ulte rior" (Jo sep h q ue se atre vem - como a peq ue na A ntígo na.
Be rn ha rt ). c uja fig ura cresce pur for ç a das o brigações as-
s u m id as por vontade pró pri a ~ a d esa fia r o di -
Sofo c l c S tame d os ma is fon es: " Não vi III para e nco n-
tra r-vos no ód io. rua s no a mo r" .
Q ua tro a no s d e po is de te r gan ho o prê - O s deu ses submete m o rebelde ao "so fri-
m io com Os Persas . Ésq u ilo e nfre ntou pela m ento se m sa ída" . A mo ntoa m so b re e le ta -
primeira vez , no con c ur so a nua l de trag édi as. m unha carga que apenas no to rm ento c n nsc -
um riva l c uja fam a es ta va c res ce nd o mct eo - g ue e le preserv ar a sua dignidad e. O home m
ric a me nte : Sófoc le s, en tã o c o m vinte e nove tem c o nsc iê nc ia dessa am eaç a, m as por sua s
a nos de idad e, filh o d e u ma rica família ate- a ç ões for ça os de uses a ir até os extrem o s. Par a
ni ense, qlle ainda m en in o liderara o coro de o ho m e m de Sófo cles. o sofrimento é a dura
jovens nas celebraç õe s d a v itória após a ba- ma s e no hrccedo ra escola do "Conhece-t e a ti
talha de Salamina . m e sm o". E ng a nado por oráculos c r ué is. 11
Os dois rivais inscrevera m suas tetralogias m erc ê de destinos enig máticos. mer gulhad o na
para a Dioni síaca de 46R a .C . A mbas foram lou cura fata l. levado a má s aç ões se m o q ue -
a ce itas c aprese n ta da s . É sq u ilo ob te ve um rer. e n tre ga -se po r s ua s pr óp ri as m ã o , às
h . Figura d e tan agr a (estatueta c m terra co ta ] da époc u
su cccs d'cstirnc, ma s o prê m io co ube a S ófo- E rín ias. as vingadoras dos ínferos. e ii " J us ti-
hele nís tica : ato r c m peça saurica ( Paris. Lo u vre) . eles, trinta anos ma is no vo . O s d ois poetas e ra m ç a" qu e co rrige . o braço da lei . Ajax mor re pela

• I tI'i
História M'n n d i ol do Te a t r o •

própria espada; o rei Édipo cega a si mesmo; xou a providência divina ao poder cego do
Electra, Djanira, Jocasta, Eurídice e Antígona acaso. "Pois sob o manto da noite o nosso
buscam a morte. destino impcndc", lemos em Ifigênia em Tau-
Sófocles, o cético devoto, dá aos deuses a ride.
vitória, o triunfo integral, por sobre o destino Eurípedes, filho de um proprietário de ter-
terrestre, sobre todos os abismos do ódio, ar- ras, nasceu em Salamina e foi instruído pelos
rebatamento, vingança, violência e sacrifício. sofistas de Atenas. Ele era um cético que du-
O significado do sofrimento reside em sua apa- vidava da existência da verdade absoluta, e
rente falta de significado. Pois "em tudo isso como tal se opunha a qualquer idealismo palia-
não existe nada que não venha de Zeus", diz tivo. Estava interessado nas contradições e am-
ele ao final de As Traquinias. bigüidades, no princípio da decepção, na rela-
Foi da natureza inalterável do conceito de tivização dos valores éticos. O pronunciamen-
destino sofocliano que Aristóteles derivou a sua to divino não era a verdade absoluta para ele e
famosa definição de tragédia, cuja interpreta- não lhe oferecia nenhuma solução conciliató-
ção tem sido debatida ao longo dos séculos. O ria final. "A necessidade natural e a mente hu-
crítico e dramaturgo alemão Lessing a enten- mana não são formas representativas de um
de como a purificação das paixões pelo medo único modo de existência. mas de possibilida-
e pela compaixão, ao passo que atualmente é des alternativas: a partir daí, nada mais está
interpretado por Wolfgang Schadewaldt, um além da comparação, o ponto de referência
estudioso contemporâneo, como "o alívio único para todas as coisas tornou-se invisível
prazeroso do horror e da aflição". Na qualida- há muito tempo, a mudança rege o momento"
de de peça cultual, como toda tragédia genuí- (Walter Jens).
na o é, ela também não é feita para melhorar, Em contradição com a doutrina socrática
purificar ou educar. de que o conhecimento é expresso diretamen-
Schadewaldt escreve: te na ação, Eurípedes concede a suas persona-
gens o direito de hesitar, de duvidar. Descorti-
A tragédia comove profundamente o coração, já que na toda a extensão dos instintos e paixões, das
o faz transcender (pelo deleite primevo com o horrível -
intrigas e conspirações. Sua minuciosa explo-
semblante de toda verdade - e com a lamentação) até o
prazer catártico da libertação aliviadora. Tendo a sua es-
ração dos pontos fracos na tradição mitológi-
sência inteiramente orientada para outro objetivo, a tra- ca lhe valeu agudas críticas de seus contem-
gédia logra, por isso mesmo, atingir eventualmente por porâneos. Acusaram-no de ateísmo e da per-
comoção o âmago de lima pessoa. que poderá sair trans- versão sofista dos conceitos morais e éticos.
formada deste contnto com a verdade do real.
"Foi a língua que jurou em falso, não o cora-
ção", diz Hipólito. De suas setenta e oito tra-
Eu r i p e d c s gédias (das quais restam dczessete, e uma sá-
tira) apenas quatro lhe valeram um prêmio en-
Com Eurípedes teve início o teatro psico- quanto estava vivo, sendo a primeira delas As
lógico do Ocidente. "Eu represento os homens Peliades, em 455 a.c.
como devem ser, Eurípedes os representa como Quando, em 408 a.Cr, o rei macedónio
eles são", Sófocles disse uma vez. O terceiro Arquelau o convidou para a sua corte em Pela,
dos grandes poetas trágicos da Antigüidade Eurípedes deu as costas a Atenas sem arrepen-
partiu de 11m nível inteiramente novo de con- dimento. Em Pela, escreveu um drama corte-
flito. Ele exemplificou o dito de Protágoras a são chamado Arquelau, em homenagem a seu
respeito do "homem como a medida de todas real patrono, do qual nada sabemos além do
as coisas". título, bem como duas obras cuja vitória pós-
Enquanto Ésquilo via a tentação do he- tuma foi obtida por seu filho: As Bacantes, um
rói trágico para a hybris como um engano que retorno à sensualidade arcaica e mística sob o
condenava a si mesmo pelos próprios exces- bastão sagrado de Dioniso, o tirso; e Ifigênia
sos, e enquanto Sófocles havia superposto o em Áulis, o elogio do humanismo. (Racine e
destino da malevolência divina à disposição Gerhart Hauptmann, em suas peças homóni- 8. Cena de Os Persas de Ésquilo: o fantasma de Dario aparece a Atossa enquanto ela lhe oferece sacrifício. Pintura em
humana para o sofrimento. Eurípedes rebai- mas, glorificam de maneira similar o huma- vaso (jarro) ático (Roma, Museu do Vaticano) .

• 110
nism o sercno .) Eur íped es morreu em Pela. em local c eram pat rocinada s de per s i pelos dife-
março do ano de 406 a.C . rente s de li/ OS da Ática, Atenas ost entava todo
Quando a notíci a chego u a Sóf ocles , em o brilho rep resentativo de ca pital nas Grandes
Atenas , ele vestiu luto e fez co m que o COTo se Dioni s íacas. de seis dia s de duração. Espe cial -
ap resentasse sem as co stumei ra s co roas de 110- ment e depoi s da fund ação da confed er ação
res na Grande Dioni síaca, ent ão e m plen a ati - naval ática. emba ixadores, co me rcia ntes e tri-
vida de . Pou cos mese s mai s tard e, S ófocle s butários an uíam a Atena s nesta época de Ioda
também morr eu. Ag or a. o trono dos grandes a Ási a menor e das Ilhas do Egeu.
poet as trági cos estava vazio . O s preparativo s dos co nc ursos dr am áti-
A co média As Rã s , de Aristófanes, esc ri- co s era m resp onsabilidade do arco nte ; q ue,
ta nesse perí odo, pode ter fun ci onado co rno as na co nd ição de mai s alt o oficia l do E st ad o.
exéq uias da trag édia átic a . No festiv al das dec id ia tanto as questões artís ticas qu anto as
Len éias de 405 a.C; os juízes deram o premio organiza cionais. As tragéd ias inscr ita s no co n-
a esta peça mordaz, embor a eles próprios fos- curso eram submetidas a ele, qu e selecio na-
sem alvo de algumas das estocada s sar eásti- va trê s tetral ogias qu e competiriam no agou,
cas oEm ih Rã s , Ari st ófan e s pr e sta test emu - co nc u rs o do qu al ap en as uma sa iria co mo
nh o da s tensões art ísti cas e pulíti ca s do fina l ve ncedora. Fina lme nte, o a rcoutc indicava a
do séc ulo V, dos co nfl itos int ern os da polis c ad a p oet a u m corcga , a lg u m ci da d ão a -
fragm entada e do reconh ec imen to de que o pe - teuien xe ric o qu e pudesse fin an ci ar um e spe-
9. O assassinato de Egisto por Ores tes. Vaso da Campânia, c. 4 20 a.C . (Be rlim).
ríod o clássico da arte da trag éd ia havia se con- t.icul o , co brindo não apenas os c ustos de en-
vert ido em história . sa iar e ves tir o co ro, mas també m os hon orá -
Nesta peça, Dioni so, o deu s do teatro, ava- rios do direr o r do coro t co rus di da scalus) e
liar á o s mér itos cu ncern e nte s a É squil o e o s c ustos c om a manu tenção de tod os o s e n-
Eur ípede s. mas ele se revel a tão inde ciso, va- vo lv ido s .
ci lante e susce tível qu ant o o p úblico e os juízes Te r aj udado alguma telral ogi a trági ca a
na co mpetição. Visto no esp elho gro sseiro e vencer co mo seu c"rega era um do s ma is a l-
distor cido da comédia, o deu s. de má vontade, tos méritos qu e um hom em pod eri a co nseg uir
força-se a tom ar uma decisã o: " E foi assim que na co m pe tição das artes . O pre m io co nce dido
eu ac abei pesand o feit o q ue ijo a arte dos gra n- e ra uma coroa de louros e um a q ua ntia e m
des poeta s.;." , d inh ei ro nada despre zível (co mo com pe nsa-
A era de ouro da tragédi a a miga estava Ç;IO pel o s ga stos anteriores). e a imo rta lida de
irrevogav elm ente acah ada. A arte da tragédia nos arq uivos do Estad o. Esses rcg istros (d i-
desint egrou -se como o modo de vid a das ci- dasealiav . q ue o arconte man da va preparar
dades-Estado e o pod er unifi cad or da cultura. apó s .:ada lIgOII dram ático . listam o nom e dos
O no bre ate niense Cr ítias, um inimigo inflcxí- co regas do s d ramaturgos ve ncedores de prê-
vel da dem ocracia e, em 404 a.c., um dos mais mios.ju nta me nte co m os nomes da s tetr alog ias
crué is do s Tr inta Tiranos, escreveu um a sátira ven cedor as do co ncurso final. Ta is regi stre s
na qn al Sísifo descre ve a reli gi ão como a " in- repre sentam a docum ent ação mai s valiosa de
ven ção de um pedagogo convencido". O es pí- uma g lória da qu al apen as pouco s raios re caí -
rito da tragédi a e a dem ocracia aten ien se ha- ram sobre nós - pouco s. de qualquer manei -
viam pe recid o juntos. ra . co mparados com a criativa ab undân ci a do
teat ro da i\ ntigü idade .
As G ra n d e s Di oni sía clIs Ini ci alment e, o poet a era o se u própri o
n/ rega . diret or do coro e atar principal. Tan -
C o m o rigem na époc a d e Péricl es, as to I~ squilo quant o Eur ípcdex apareceram fre-
Gr and es Dioni síac as O U Dioni síaca s Urhanas q ücnr cm cnr c no palco . Só foc le s alUOU e m
co nstituíam um ponto culm ina nte e festivo na suas p ró prias peça s ap enas du as veze s qu an -
vida rel igiosa, intelec tua l e artística da cida - do j ove m . um a como Na usicaa e o utra como
de- Esta do de Aten as. Enq uanto as mais mo- Ta m ira .
dest as Dionisíaca s ru rais, qu e uco ntcc i.un cm Em ho ra ma is tard e, no perí odo he len ís-
lO. A pu rificaç ão de Oreste s. Taça do sul da Itália no esti lo da trag édia cu ripidiana (Pari s, Louvr e). de zembro, possuíam um caráter puramente tico. fosse per feitamente possível que se rc-

· 11.1
l í ís t ár i a M u n dí aí do T e atr o .

montasse uma peça aprese ntada anteriormen- teso Por sua vez, a máscara - gera lmente feita
te, os concurso s dramáticos do século V exi- de linho revestido de estuque, prensada em mol-
giam novas obras a cada festiva!. As Gran des des de terracota - amplificava o poder da voz,
Dionisíacas, em março, era m a princípio re- conferindo tanto ao rosto co mo às palavras um
servadas exclus ivamente para a tragédia, en- efeito distanciador. Graças ao poder das pala-
quanto os escritores de comédias competiam vras, não importava se o ce nário parecesse pe-
nas Lenéias, em janei ro. Porém, na época de queno - por exemplo, as roch as às quais Pro-
Aris tófanes, os d oi s tip os de peças e ra m meteu era acorrentado. O plan o visual era me-
qualificáveis para amb os os festivais. nos importante do que a moldura humana para
Ao entrar no auditório, cada espectador re- os sofrimentos do herói: o coro, que participa-
cebia um pequeno i~esso de metaltsymboloni , va dos acontecimentos como comentador, in-
com o número do asse nto gravado. Não pre- form ante, conselheiro e observador.
cisava pagar nada . Péricles havia assegur ado As exigências cenog ráficas de Ésquilo ain-
com isso o favor do povo, ao fazer com que o da eram bastante modestas. Estruturas simples
erário não só remuner asse a participação nos e rústicas de madeira, decoradas com panos co-
tribunais e nas assembléias populares, como loridos, serviam de montanhas, casas, palácios,
também a frequ ênc ia nos espetáculos teatr ais. aca mpamentos ou muros de cidade. Essas cons-
Nas filei ras mai s baixas, logo na frente, lu- truções de madeira, que tamb ém abrigavam um
gares de honr a (proedria) esperavam o sa- camarim para os atores, são a origem do termo
cerdote de Dioni so , as autoridades e co nvi- skene (cabana ou barraca), que se manteve, des-
dados espec iais . Aqui tamb ém ficavam os de esses expedientes primiti vos, através da sun- II. Rel evo de Eurípc des: à esquerda, o poeta entreg a uma máscara trági ca à perso nificação da sken e; à direita, uma
estátua de Dioni so (Istam bul).
ju ízes, os coregas e os autores. Um a seção tuosa arquitetura da ske ne do teatro helenístico
separada era reser vad a aos homens j ovens e ro mano, até o conceito atu al de cena.
(efe bos) , e as mulh eres sentavam-se nas filei- Porém , não obstante a mod éstia desses
ras mais acima . prim eiros temp os, o pint or dos ce nários era um
Vestid o co m o bran co ritual, o públ ico hom em digno de mençã o, mesm o na época de
chegava em gra nde número às primeiras ho- Ésquilo, com quem , segundo se relata, um "ce-
ras da manh ã e co meç ava a ocupar as fileiras nógrafo" chamado Ag atarco ter ia colaborado .
semicirculares, terr aceadas, do teatro. "U m en- Ele foi, sem dúvida , o respon sável pelo proje-
xame branco", é como o chama Ésquil o. Ao to e pintur a dos ga lpões de mad eira e pela pin-
lado dos cidadãos livres, também era permi ti- tura de suas decorações de pano. Vitrúvio, a
da a presenç a de escravos, na medida em que auto ridade ro ma na em arq uitetura , atribuiu
seus amos lhes dessem licença. A aprovação igualmente a Agatarco um tratado a respeito
era indicada por estre pitosa s salvas de palm as, da skene , que se supõe ter surg ido em 430 a.C,
e o desagrado, por bat idas com os pés ou asso- mas ter se perdid o mais tard e. Outros pintores
bios. A liberdade de expressar sua opinião foi de cenário do teatro grego anti go, cujo s no-
algo de que o antigo freq üentador de teatro mes sobrevive ra m até hoje, são o atenie nse
fez uso amplo e irrestrit o, considerando a si Apo lodoro e seu co ntemporâ neo Temócrito.
próprio, desde o mais remoto início, um dos Aristóteles credita a Sófocles a invenção
elementos cria tivos do teatro. Ortega y Gasse t do cenário pintado. A amizade entre Ésquilo e
lembr a: Só focle s durante os anos de 468 a 456 a.c.
ex plica a coincidência de inovações cênicas e
Não pod em os no s e squecer de que a tragédia anti- histri ôni ca s. Ao lado das possibilidades de
ga e m Atenas era uma ação ritual e, por essa razão , acon- "mascarar" a skene e de int rodu zir acessórios
tec ia não tanto no palc o quanto na mente das pessoas. O
teatro e o público eram circundados por uma atmosfe ra
móveis como os ca rros (pa ra exposição e ba-
extrapo ética. a reli g ião . talh a), os cenógrafos tinham à sua disposição
os chamados "degra us de Ca ronte", uma esca-
A co nd ição necessária para essa ex pe- dar ia subterrânea qu e levava à skene, facilitan-
riência com unitária era a magnífica acústica do as apa riçõe s vindas do mundo inferior de
l 2. Intérprete de tragédia no papel de Cl itemn estr a.
do teatro ao ar livre da Antigüidade, O menor Caro nte. Em Os Persas, por exem plo, Dario é Estatueta de marfim romana do período tardio , pre veni -
sussurro era levado aos assentos mais distan- conj urado pela fumaça do sacrifício e aparece ente de Ri cti (Paris, Louvr e) .

• 114
• Gréc i a

para sua esposa Ato ssa e para o co ro do s anciãos mund o oc identa l: deu s ex machina , o deus
persas. Os mechanopoioi, ou técni cos, eram res- descid o da máquina.
ponsá veis por efeitos co mo o barulho de trovões, Esta " m áquina voadora" era um ele me n-
tumultos ou terrem otos, produ zidos pelo rolar to cê nico de surpresa, um dispo siti vo mecâni-
de ped ras em tamb ores de metal ou madeira. co qu e vinha em auxílio do poeta quando este
Uma troca de m áscara e figurino dava aos pre ci sava re sol ver um conflito human o apa-
três locutores ind ividuais a possibilidade de in- rent ement e insolúvel por intermédi o do pro-
terpretar vários papéi s na mesm a peça. Podiam nunciam ent o divino "vindo de cima". Con sis-
se r um ge neral, um men sagei ro , uma deusa, tia em um guindaste que fazia de scer uma ces-
rainha ou uma ninfa do oceano - e o eram, ta do tet a do te atro. Nesta cesta, senta va-se o
graças à magia da másc ara. deus ou o herói cuja ord em fazia co m que a
Foi Ésquil o qu em intro d uzi u as máscar as ação dr am áti ca voltasse a correr pel as trilh as
de planos largo s e so lenes. A impressão herói- mitológ ica s obrigató rias quando fica va em-
ca era intensificada pel o tou cado alto, de for- perrada. O fato de o deus ex machina ter-se
ma triangular (o nkos) , so bre a testa. O traje do tornad o imprescindível a Eurípedes e xplica -
13. Pintura em laça cs pira leda : Dioniso c Ariadne (ao alto. no centro). rodeados por ate res de peça satírica. c. 420 a .C .
(Nápo les. Mu seo Nazionale).
ator trágico consistia ge ra lme nte no quiton ~ se pel o es pírito de suas tragédias. Suas per so-
túnica j ônica ou dóri ca , usad a na Grécia anti- nagen s agcm com determinação indi vidual e.
ga - e um manto, e do ca rac terístic o cothurnus , de ssa for ma , transgridem os limites traçad os
uma bota alta com cada rço e so la grossa. por um a mit ologia que não mais podia ser acei-
Com Sófocles, a qu alid ade arcaica, linear, ta sem qu esti onamento; Electra, Antígona e
da máscara começou a suavizar-se. Os olhos e Medéi a segu em o comando de seu próprio ódio
a boca, bem como a co r e a es tru tura da peru- e amor, e tod a essa voluntariosa paixão é. ao
ca eram usados para indi car a id ad e e o tipo final , dom ada pelo deus ex machina .
da personagem rep resent ad a. Co m a maior in- P or ém . an tes des se ponto ser atingi do.
dividu alização das m ásca ra s, Eur ípedes exi- out ro di sp ositivo cê nico da antiga mechano-
g ia , também , co ntras te s impact ante s e ntre poioi, e ssen cial par a a tragédi a , entrou e m
vestirnentas e ambi entes. "Se us rei s and am em açã o: o eci cl ern a , um a pequena plataforma
farrapos" , apen as para tocar a co rda sensível ro la nte e qu ase sempre elevada. sobre a qual
do povo, zombava A ristó fanes , seu implacá- um ce nário e ra movido desde as porta s de uma
ve l adve rsário . ca sa o u pal ácio . O eciclema tra z à vista tod as
O qu e parecia part icu lar me nte ridícul o as atro cida des que foram perp etradas por trás
para Aristófa nes. e entrava como ri sonh a pa- da cena: o ass assinato de uma mãe. irmão ou
ródi a em suas co média s. era a predil e ção de crianç a. Exi be o sangue, o terror e o d esesper o
Eurípedes por um exped iente do teat ro antigo de um mundo despedaçad o. como na Orestia-
qu e se tom ou parte do vo cabul ário em tod o o da , em A gameuon, Hip ólito e em Medei a .

J4 . M osaico de Pornp éia: en sa io de um co ro de s:llin )s (N ápol e-s. Mu seu Na zi o na lc ). 15. A c ctn uu ra inicial do teatro de Hréni a. Ilha de Eu b éia, séc ulo V a.C . Reconstrução de E. Fie cht er.

• 117
H i5{Ór ;" M'u n d iaí do T C111 rO •

o
o
o

16. Teat ro de D io ni-o CII1 Arenas. S/..l"nt'. segundo t\ proj eto de P éricl es . Con snuç âo inic iad a c. -1.00 a.C . Reconstru -
ç50 de E. Fiecluer.

Eventua lmente. o teto da própria skcnc e ra econ ômicas ateni en ses e. por fim . desapareceu
usad o. co mo e m Pesa gem da s A/ m a s . de completamente por ce rca d o final do século IV.
Ésquil o. ou em A Paz. de Ar istófanes. Co mo. Nenhum do s trê s gra nd es trá gicos. nem
natu ralmente . er am os deu ses qu e cm geral Aristófanes. viv er am para ve r o no vo edifício
apar eciam em alturas eréreas, essa plat aforma teatral acabado. Na segu nda me tade do sécu -
no teto [ornou-se conhecida na Gr écia corno lo IV, quando Licurgo e ra o e ncarregado das
theologeion , o lugar de onde os deu ses falam . finanças de Atenas (DR -326 a .c. ), a nova e J 7. Máscara de márm or e de um a hero ína da tragédia 18. Máscar a de um jovem, encontrada e m Sa ms un
A " máq uina voadora". o eciclema e o magnífica estrutura finalmente ficou pronta; antiga (Nápoles, Mu sco Na ziona le r. (Arni so), Turq uia. séc ulo III a.C. (Munique, Staat lic hc
tli eol ogcion pre ssupunham um ed ifício teatral mas , nessa época, a g ra nde: e c riativa era da Ant iken samrul ung j .
firmemente co ns truído. como o que se dese n- tragédia anti ga j á ha vi a se tornad o história.
volveu e m Atena s no final do século V a.C ,;
ba sead o e m pr oj et o s qu e rem ont a vam a
Péricl es. Q ua ndo as obr as para o em be leza- COl\IÉDIA
mento de tod a a Ac ró pole se iniciar am . por
volta de 405 a.c.. o teat ro de Dioni so não foi As Ori gen s d a Co m e d i a
esq uec ido . Co nta -se qu e os banco s de made ira
do aud itó rio foram substituído s por assen tos A co mé dia g re ga . ao co ntrá r io da tra gé-
tcrrace ados em ped ra j á em 500 a.C.. qu ando di a. não tem um pon to c ulm ina n te . m as doi s.
~" arqu iba ncadas de madeira lotad as se que- O pr imei ro se deve a A r is tófanes. e aco mpa-
brar am sob o peso da s pessoas. Esta da ta. en- nh a o cimo d a tragéd ia nas últ imas década s
tretanto. é contraditada por biógrafos de Ésqui- do s gra ndes trá gicos Sófocles e Eurípe des ; o
lo. que sustenta m que: um segundo co lapso das seg undo pico da co mé d ia g rega ocorreu no
arq uibanc ad as o levou a deixar Atenas. desgo s- per íod o hel enísti co co m Mcnandro , qu e no -
toso, e a in stalar-se na cor te de Hier on e m va me nte deu a e la import ân cia hist óri ca . A
Siracusa, o nde morreu em 45 6 a.C. co mé d ia se mpre fo i um a fo rma de art e int e-
O proj eto da sken c de P éricles proveu um lectu al e formal ind ep endent e. Deixand o de
palco monumental co m dua s grande s porta s lado as peç as sa tí ricas. nenhum dos poetas
laterais. ou paraskenia. Deve ter sido executa- trágicos da Gr éci a a venturou -se na comédia.
do entre 420 e 400 a.C; na épo ca em que o co mo nenhum do s po et as cómicos escreveu
auditório cre sceu c a orquestra diminuiu de uma tragédia.
tamanho. A razão para esta mudança foi o des- Platão. em seu Banqu ete (S)'1I1I'OSilllll). em
locamento intencional da a ção da orcl icstra vão defendeu uma un ião do s dois grandes ra-
para a skene. Essa inovação mo strou ser ainda mos da arte dramáti ca . El e co nc luiu com a in-
mais j ustifica da posteriormente. qu ando o coro formação de que Sócrates. certa vez, lentou
situado na orchcstra , que ainda co ntava co m at é tarde da noit e pe rs uad ir Ág a ton e Ari stó-
doze a quinze pessoa s na tragédi a clássica. foi fan es de que "o mesmo ho mem podia se r cu- It). Má sca ra de UIH e scr avo , s éc ulo Hl a .C . (M il ão. 20. M áscara na mão de lima e státua de man norc . a
gradativame nte red uzido no curso das medidas pa I. de esc reve r co mé dia e tr agéd ia" , e de que M useu Tcu rra le alia S<.'a la) . qu al se ju lga re pre se ntar Ccrcs ( Pari". Lou vre).

• 1/8
História Mundial do Tcu t ro • • Grécia

um "verdadeiro poeta trágico é também um farrões e aduladores, parasitas e alcoviteiras, agon) e o mesmo Filonides emprestou-lhe o que tinha "ajudado o careca Aristófanes a
poeta cómico". Os dois outros admitiram isso, bêbados e maridos enganados - que sobrevi- nome outra vez, vinte e cinco anos mais tarde, escrevê-la c a havia presenteado a ele".
mas "não seguiram com muita atenção, por veram até a época da Commedia dcll 'arte e para As Rãs. Por sua vez, Cratino, um homem famoso
estarem com sono. Aristófanes foi dormir mesmo até Moliere. Epicarmo gostava particu- A comédia ática "antiga" é um precursor por sua sede e suas copiosas libações em ho-
primeiro e, em seguida, quando o dia estava larmente de ridicularizar os deuses e heróis: brilhante daquilo que viria a ser, muitos anos menagem a Dioniso, também teve a sua vin-
nascendo, também Ágaton". Hércules como um glutão, não mais atraído por depois, caricatura política, charivari e cabaré. gança. Aos noventa e nove anos, mantinha os
É evidente que nem mesmo os famosos feitos heróicos, mas apenas pelo aroma da car- Nenhum politico, funcionário ou colega autor ridentes ao seu lado. Em sua comédia A Gar-
poderes persuasivos de Sócrates poderiam ter ne assada; Ares e Hefestos, disputando com estava a salvo de seus ataques. Até mesmo os rafa, descreve como duas damas competem en-
conseguido tornar palatável para Aristófanes, despeito e malícia a liberação de Hera, presa a esplêndidos novos edifícios de Péricles foram tre si por seus favores - sua esposa legítima,
o irascível avocatus diaboli da tragédia, uma seu próprio trono; ou as sete Musas, que surgem motivo de escárnio. Num fragmento conser- Madame Garrafa, e sua amante, Mademoiselle
união pessoal das duas artes. Houvesse con- como as filhas "rechonchudas e bem alimen- vado de Cratino, um ator entra no palco usan- Frasco. Com uma piscadela, ele se livra do apu-
cordado com Sócrates à noite, com certeza te- tadas" do Pai Pançudo e da Mãe Barriguda. do um molde do Odeon na cabeça, como uma ro com o moita dos artistas dionisíacos: "Aque-
lia mudado de idéia à luz do dia: tal união seria, É uma questão controvertida se a comé- máscara grotesca. Os outros atares o saúdam: le que bebe água não chega a lugar algum".
para ele, como uma ducha fria. Aristófanes dia proveio realmente de Mégara Hyblaia, na "Eis Péricles, o Zeus de Atenas! Onde terá con- Aristófanes teve de engolir a pílula amar-
gostava de dirigir sua habilidade artística para Sicília, ou de Mégara, a antiga cidade dórica seguido esse toucado? Um novo penteado em ga; o "velho beberrão", na verdade, ainda des-
a política corrente; adorava terçar armas com entre Atenas e Corinto, famosa por seus estilo Odeon, terrivelmente descabelado pela frutava dos favores do público e dos juízes.
os grandes homens de sua época, crivando de farsistas. Aristófanes diz em As Vespas: "Não tempestade das críticas!". Em 423 a.c., Cratino ganhou o primeiro prê-
flechas venenosas, como que num show de podeis esperar muito de nós, apenas zomba- Os quatro grandes rivais em polêrnica e mio com A Garrafa, contra As Nuvens, de
gracejos maliciosos num cabaré, seus calca- rias roubadas de Mégara", Aristóteles resolve veneno, da comédia antiga, eram todos Aristófanes, que ficou em terceiro lugar. A res-
nhares de Aquiles. As obscenidades com as a questão citando ambas com salomônica sa- atenienses: Crates, Cratino, Eupólide e, sobre- peito desta mesma obra, As Nuvens - famosa,
quais o "impudente favorito das Graças" em- bedoria: "A comédia é reivindicada pelos luzindo a todos os outros em fama, gênio, pers- ou famigerada, por seus ferozes ataques a
preendia seu trabalho de "castigar o povo e os megarianos, tanto pelos do continente, sob a picácia e malícia, Aristófanes. Sócrates (que foram subseqüentemente suavi-
homens poderosos", as rudes piadas fálicas, alegação de que ela surgiu em sua democra- Crates, no início protagonista das peças zados) - Platão relata que, na opinião de
os coros de pássaros, rãs e nuvens - tudo vale- cia, como pelos da Sicília, porque é dali que de Cratino, começou a escrever suas próprias Sócrates, ela havia influenciado o júri na oca-
se da herança cultual das desenfreadas orgias veio Epicarmo, muito antes de Quiônides e peças em 449 a.C. Suas obras são comédias sião de seu julgamento.
satíricas, das danças animais e das festas de Magnes". agradáveis, adequadas ao desfrute familiar. que O teatro era o fórum onde eram travadas
colheita. tratam de maneira relativamente inofensiva de as mais veementes controvérsias. Aristófanes
A origem da comédia, de acordo com a A Comédia Ant i g a assuntos como o desmascaramento de fanfar- via a si mesmo como o defensor dos deuses -
Poética de Aristóteles, reside nas cerimônias rões ingênuos, amantes brigados e bêbados pro- "pois foram os deuses de nossos pais que lhes
fálicas e canções que, em sua época, eram ain- O escritor Quiônides, citado por Aristó- féticos. Quando seu mestre Cratino, então com deram a fama" - e como o acusador das ten-
da comuns em muitas cidades. A palavra "co- teles. venceu um concurso de comédias em noventa e seis anos. e o jovem Aristófanes. de dências subversivas c demagógicas na políti-
média" é derivada dos konios, orgias noturnas Atenas em 4X6 a.c. Magnes, igualmente men- vinte e um, envolveram-se pela primeira vez em ca c na filosofia de Atenas. Ele acusava os fi-
nas quais os cavalheiros da sociedade ática se cionado. é conhecido por ter ganho o primeiro batalha teatral aberta, Crates já estava m0110. lósofos de "arrogante desprezo pelo povo" e
despojavam de toda a sua dignidade por al- prêmio onze vezes, a primeira delas em 472 Aristófanes, cm Os Cavaleiros (cujo títu- os denunciava corno ateus obscurantistas - to-
guns dias, em nome de Dioniso, e saciavam a.C., provavelmente nas Lenéias atenienses, no lo grego é Hipes, que significa mais precisa- dos eles. e especialmente Sócrates.
toda a sua sede de bebida, dança e amor. O ano em que Os Persas, de Ésquilo, foi apre- mente "tratadores de cavalos"), apresentada em Pouco se sabe sobre a formação e a vida
grande festival dos koniasts era celebrado em sentada em Siracusa. Nenhuma das peças de 424 a.C.; houve por bem implicar com o ve- de Aristófanes. Parece ter nascido por volta de
janeiro (mais tarde a época do concurso de Magnes conseguiu sobreviver, nem sequer até lho Cratino, acusando-o publicamente de se- 445 a.c. e ter vindo do demos ático de Cida-
comédias) nas Lenéias, um tipo ruidoso de a época alexandrina. nilidade e elogiando os méritos do alegre tena. Viveu em Atenas durante toda a sua vida
carnaval que não dispensava a palhaçada gros- O concurso de comédias, que acontecia Crates. Cratino havia provocado este insulto, criativa, ou seja, da época em que escreveu sua
seira e o humor licencioso. em parte no festival das Lenéias e em parte na descrevendo Aristófanes, em cena, como um primeira peça, Os Banqueteadores (427), até
Ao komos ático juntaram-se, no século V, Grande Dionisíaca de Atenas, não era, como o imitador de Eupólide. o ano em que escreveu a última. A Riqucsn
os truões e os comediantes dóricos, com falos concurso trágico, uma prova de força pacífi- Eupólide, que ganhou o primeiro prêmio (Plutus, 3XX). Das quarenta comédias que sa-
e enormes barrigas falsas, que eram mestres ca. Era um tilintante cruzar de espadas, em que sete vezes, tinha a mesma idade de Aristófanes bemos terem sido compostas por ele, conser-
da farsa improvisada. Eles haviam recebido um cada autor afiava a sua lâmina no sucesso do e foi, no início, seu amigo íntimo. Na época varam-se apenas onze. Cada uma de suas pe-
impulso literário, por volta de 500 a.C.; de outro. Atores tornavam-se autores, autores es- de sua amizade, os dois sempre trabalhavam ças é porta-voz de urna idéia apaixonada. pela
Epicarmo de Mégara, na Sicília. Suas cenas condiam-se por trás de atores. Quando Aristó- em conjunto, porém mais tarde ambos acusa- qual o autor batalha com impetuosa militância.
bonachonas e de comicidade grosseira e as fanes inscreveu Os Banqueteadores, em 427 ram-se mutuamente de plágio. Brigas, no do- Na obra de Aristófanes, passagens dc agressivi-
caricaturas dos mitos foram a fontc da comé- a.c., ele o fez sob o pseudónimo de Filonidcs. mínio da comédia, eram um constante ponto de dade crua altemam-se com estrofes corai s da
dia dórica e siciliana. Epicarmo estabeleceu nome de um ator seu amigo (possivelmente partida; falando sobre Os Cavaleiros, Eupólidc mais alta beleza lírica. Subjacente ii sua ironia
uma variada escala de personagens - os fan- porque era muito jovem para competir no declarou mais tarde, em urna de suas comédias. mordaz c ils suas alfinetadas de escárnio havia
• 120 • IJI
• Gr éci a

um a preocu pação premente co m a democ ra- Os Aca mianos, As N U I 'C IIS e e m A Paz. Quan do
cia. Ele suste nta va q ue o seu destino so me nte Trigeu voa até o cé u e m se u be sou ro co m a aju -
poder ia ser co nfiado a pessoa s de inteli gência da do guindaste, ele ped e ansiosamente ao ma-
superior e de int egridade moral. De maneira quinista: " por favor , tenha cuidado comigo". A
simi lar, fe z pr essão para qu e a guerra fra tric ida cena seg uinte. co m Hermes diant e do palácio
entre A tenas e Espa rta c hegas se ao fim. Em A de Zeu s. aco ntece no theo logeion. enqua nto a
Paz, o lavrad or Tr ige u voa a té os cé us no dor- subsequente libert ação da deu sa da paz da ca-
so de um enorme besouro- de-esterco a ti m de verna onde está encerrada é de slocada novamen-
pedi r ao s deu ses qu e libertem a deusa da paz, te para o palco usu al do proskcnion,
pr isionei ra e m uma caverna. Na "te rra -cuco- As máscaras da Comé d ia A ntiga vão des-
nuve m" de Os Pá ssaros , ele parod ia as fra- de as g rotescas cabeç as de animais até os re-
qu ezas da democracia e de uma reli gi ão popu - tratos ca ricaturais. Qu ando houve necessidade
lar utilitári a. Em Lisistrata, apre sent a as mu - de um a máscara de C l éon para Os Cavaleiros,
lhere s de Atenas e Espa rta resol vidas a não se co nta-se que nenhum a rte são qu is fazer um a .
entreg ar aos be licosos mar idos a té qu e e ste s Pela pr imeira vez, ao que pa rec ia, o med o da
finalme nte estejam pront os a fazer a paz. c óle ra da vítima proj et ava a sua so mbra sobre
Não ap en as um ator individu al. mas ta m - a liberdade demo c rática d o teat ro. O ata r qu e
bé m o co ro, pod ia m d irigir -se dir etamente à interpreta va C \éo n surg iu se m máscara, co m o
platéia . Co m ess a fina lidade, a co média a ntiga rosto simp lesme nte p intado de ver melho . Pe n-
desenvolvera a parabasis, um exp ed ient e for - sa-se qu e o próprio Aristófa nes renh a feito o
maI es pecífi co de que Ari stófanes fez uso ma - papel - possivel me nte uma ra zão a mais par a
gist ral. No fina l do pri meiro ato, o coro de ve- a surra que receb eu lo go depo is.
ria tira r suas máscaras e ca m inhar até a fre nte . Figur as gro tesca s de an imai s já ha via m
na extr emidade da o rchestra , para diri g ir- se à sido usadas no palc o pe los co ntempor âneo s
2 1. Flauti sta c coro fantasiad o, representando cavale iros e se us c avalos, motivo que rea parece m a is ta rde cm Os Cm 'a. platéia . " M as v ós, fa stid iosos j uízes de todos mais ant igos de A ris t ófanes. E le próprio me n-
loiros. de Aristófanes . Vaso figurado, cm negro (Berl im. S ta nrlichc M usecn).
os do ns da s M usas, emprestai vossos g rac io- ciona, e m Os Cavalei ros, uma co méd ia sobre
sos o uvidos à nossa festiva e anap éstica ca n- pássaros. de Ma gn os . Bico s, c ristas, tufos de
ção !" Segui a- se , então, uma polé mica ve rsão cabelos e tra nças, ga rra s e penach os de pá ssa -
das o pin iões do a utor a respeito de ac o ntec i- ros, juntamente co m co le tes cobertos de plu -
mentos locais. co ntrovérsias políticas e pessoais mas pro du zia m um efe ito g ro tesco, conforme
e. não meno s imp ortante, um a tentativa de ca p- pode ser visto na s pint uras e m vas os do séc ulo
tar a sim pa tia do púb lico por sua o hra. A V em d iant e , e q ue ainda di vertem as platéias
parabasis pod ia se r igu alment e usada par aj us- do séc ulo XX em mon tagens modernas de Os
tificar, desm en tir o u re tratar algum aco ntec i- Pássaros. Era difíci l. e vide nte me nte. obter plu-
me nto recen te ment e ocorri do . Depo is de C léon magen s sufic iente s para os figur inos do s a to-
co nseguir ving ar-s e por ter sido satirizado em rcs em Os Pássa ros . co mo bem o sabia Ar ist ó.
Os Ca vateiros , fazendo Aristófanes aparecer fanes : "os pás saros es tão na mu da" , explicav a
co mo personagem nu ma peça teat ral e m qu e é ele na peça.
surrado, o poe ta re fer iu- se ao inc ident e na Co mo as másc a ras de animais, tamb ém
parabasis de A s vÍ'.Il'as: "Q uando os go lpes as danças da Co médi a A nti ga tinham o rige m
caíram sobre mi m, bem qu e os espectadore s li- c ultuais. " Des tranq ue m os por tões, po is agora
ram": e le, e ntão. ad mitiu haver tentado um pou - a dança vai co meça r" , e xclama Filocléo n em
co ca pta r a sim patia de C léon, por raz ões dipl o- 1\.1' \ ésl'as, seg uind o-se e ntão o kordax , um a
máticas. mas afirmou tê-lo feito apen as par a barulhen ta dança fáli ca c u jas or igens pos sivel -
atacá- lo tant o mais mor dazmente no fut uro. mente rem ontam ao O rie nte antigo . Mesm o
Os espetáculos da Co média Antiga aco nte- fontes a ntigas descr evem-na co mo tão licen-
ciam no edifíc io teat ral, co m suas paredes de ciosame nte obs ce na q ue dan ç á-Ia se m másca-
madeira pintadas e painéis de tecido. e nq uanto ras era tido co mo ve rg o nhoso . Esta pode te r
o coro. como na tragéd ia clássica. ficava na sido uma das raz ões pe las qu ais as mulher es
22. Ate res ca rac terizados co mo p ãssnros. sobre UI1I vaso figurado. c m negro. de apro ximad am ente setenta anos antes orchcstra. Para ce nas de "transporte aéreo" , usa- foram exc luíd as d ura nte m uito te mpo das re-
da estreia. c m 41 4 a.C .. de (J.\ Pá.v.m ms. lk Aristófa nes (Lo nd res. British Muscum ). va-se o teto da skcnr, como, por exe mplo. c m prese nta çõe s de comé d ias.

• 123
H ís r úr ía Mu n d i a l d o Tea tr o .

Em A Assembléia das Mulh eres. Aristófa- próprio s historiadores da lite ratura na Antigü i-
nes faz seu s atores, que interpret am as mulhe- dade já haviam perceb ido quão grande era o
res de Atenas marchando para a Assem bléia, declive entr e as coméd ias de Ari stófanes e as
"di sfarçarem-se" de hom ens, com barbas fal- de seus sucessores, e traçaram uma nítida li-
sas e pesadas bot as espartanas, para reivindi- nha divisória, atrib uindo tud o o que veio de -
car a entr ega do poder do Estado às mulheres. pois de Aristófan es , até o reinado de Alexan-
Isso é visto co mo o clímax da amb igüidad e dre, o Grand e , a um a nova categoria - a "Co-
descaradamente gro tesca . Efeitos de travesti- média Médi a" (mese) .
mento , co mpleta falta de reservas no tocante a Comprovam-na ce rca de quar enta nomes
gestos, figurin os e im itação e, por fim, a expo - de autores, bem com o um grande número de
sição do falo, são traços característicos do es- títulos e fragmentos. C ont a-se que Antífanes,
tilo de atuaç ão da Comédia Antiga. o mais prolífico de sses "deligentes confec-
Na époc a de Cléon havia uma razão muito cio nadores de peças teatrais " , escreveu duzen -
concreta e política para que as comédias fossem tos e oitent a co méd ias, e se u co ntemporâneo
levadas princip alment e no festival das Lenéias . Anaxandrides de Rod es co mpôs sessenta e cin-
Poucos navios desafiavam o tempestuoso inver- co ; outros esc ritor es, cujo s nom es chegaram
no, e somente cm março traziam um influxo de até nosso s dias são Á ubulo, Aléx is e Timocles.
visitantes estrangeiros a Atenas para as Grandes Anaxandrides, qu e ga nhou o primeiro prê-
Dionisíacas. Como é facilmente compreensível , mio na Dion isíaca de 36 7 a.c., foi co nvidado
Cléon estava ansioso por manter o desmascarante pelo rei Filipe para a corte da Maced ônia, onde
duelo de com édias reservado "aos atenienses co ntribuiu com uma de suas comédias para as
entre si". Aristófanes, por sua vez, co nsiderava celebrações da vitó ria de Olinto. Sua part ida 1.... Mc na ndro : rel evo d o poeta seg urando lIIHa lH:í scar~I : ;1 dire ita. Gli ccra n u talv e z um a personi fi caç ão da stcenc, co mo
no rel evo de Eunpcdc s. século 111 a.C. ( Ro ma . Mu sco Larcr uno
que era um esplêndido bastão para espancar "o de Atenas é uma ind icação do lado para o qual
í .

filho de um curtidor de couro, desencam inhador os ventos político s so pravam então : a Maced ô-
do povo", conforme testemunha a seguinte pas- nia aspirava à hegem on ia na Grécia e a glória
sagem de Os Acarn ianos: de Atenas. se exting uia.
A comédia ago ra re tirava-se das alturas
Nem mesm o Cléon pode repreender-me ago ra da sátira políti ca para o me nos arri scado carn -
Por ter di famado o Estado diante de estrangeiros.
Estamos entre nós nessa ocasião. po da vida co tidiana. Em vez de deu ses. ge-
O s estr ange iros nào vieram até agora, os tribu tários nerais, filósofos e de c hefes de gove rno , e la
Não chegara m. nossos co nfederados não estão aq ui. sa tirizava peq ue nos fun cion ários gabo las, c i-
Somos aqui o mais puro grão ético. da dãos bcm de vida, pe ixeiros, cortes ãs famo-
Não há palha entre nós, ncm colonos escravos.
sas e alcovitei ros. Recorri a ao repertório de
Nestas linhas, Aristófanes escondia também Epicarmo, cujas inofensivas sá tiras dos mitos
um triunfo pessoal. Um ano antes, Cléon havia serviam agora de m od elo para mais uma esp é-
movido uma a ção contra ele, acusand o-o de in- ci e de epí gonos. Por volta de 350 a.C., em
sulto às autorid ades e de denegrir o Estado diante Tarento, na co lônia gr ega de Taras, ao sul da
Itália, Rintão desenvolv eu uma form a de co-
de estrangeiros, por ca usa de Os Babilónios .
média qu e parodiava a tragédia (IIi/aros, qu e
Porém. a dem ocracia ateniense fez justiça ao
demos. a decisão do povo: a queixa de Cléon foi
rejeitada, e a arte da co média triunfou .

A C o médi a Médi a

Com a mort e de Ar istófanes, a era de ouro


da co média política antiga chegou ao fim. O s

25 . Vaso 0 0 gi·IIc..· ro phlyuk cs (e spécie de bulo nan a . PU de par ódi a de peça lrúgi ca ) c om cena de comedia : ...c rvo s
23. A Lo ucu ra de Hércules. Cena no estilo da hilaro - aj uda ndo Quúon a s ub ir :1l1 pa lco . A d ire ila : Aq uil o..... du as nin fa.. . velhas ao a lto . séc ulo IV ~1 . C .. en co ntrado c m A pu tia.
tragédia . Vaso de As tcas . séc ulo IV u.C . (Ma d ri}. h :íl ia (Lon dr c x. Brilish Mu scumj.

• 124
28. A lco viteira, personagem upica tia Co méd ia Nova 2Q. H o m e m c m u lhe r co nve rsando. úUBO . tnl vc z,
( Muniq ue, Staat ficbe Antikc nsammlungj . l'rax úgo ra c Blépiro cm Ao Assembleia da s Mulheres de
Ari stófa ne s (W ürzburg. Martin-von-w agner Mu scum ).

26 . Figura de bufarinheiro , que lem bra X ântias, per- 27. Doi s ve lho s cmbringudo s (Be rl im, Staatlic he
sonagern de As Rãs, de Aristófanes (Munique. Stuatlk hc Muscc n t.
Antik en sammlung) .

Estat uetas c m ter raco ta represen tando persona gens de com édia g reg a , sécu lo IV a .C .
significa ale gr e, engraçado) , mas tudo o q ue ment e, e a ação se dese nro la co m consistên cia
dela sa be mos, base ia-se merament e em frag - plau sível.
ment os e em pinturas em vaso s. Ne m a C o - O gramático A ristófanes de Biz ânc io . do
média Média, nem a hilarotragodia apresenta- século II a.C .. qu e fo i bibliotecário-che fe em
ram q uaisq uer inovações no q ue diz respeito a Alexandri a e qu e nos legou num erosas cita-
técni cas c ênica s e ce nografia. Am bas parec em ções das peças de Me na nd ro, expre sso u sua
ter utilizado o pavim en to super ior do edifíc io profunda e incisiva ad mi ração pelo poe ta : -o
c ênico (cpiskcnionv ; com co ncessões à co nve- Mcn andro, e tu , Vida, q ua l dos dois imit ou o
niênc ia qu e, em sua s máscaras, amo rtece o gro- outro ?"
tesco , elas tr azem a prim eira pin celad a do se n- Ape sar d as m uit as ofe rtas tent ado ras ,
time nta l. Men and ro nun ca deixou Atenas e sua vil/a no
Pi reu , o nde vivia com sua ama nte G licera.
A Co méd ia No va Decl ino u de um co nvite pa ra ir ao Egito, feito
pelo rei Ptolo me u, e mbora não sem sorri r pre -
Das plan ícies artísticas da Co méd ia M é - via me nte an te a idéia da aprovação recebida,
dia , no fin al do século IV a.C i, erg ue u-se de em nom e de " D ioniso e suas folh as de b áqu ica
novo um mestre : M en andro. Ele ass ina la um hera , co m as q ua is pr efi ro ser coroado, em vez
seg undo ápice, da co méd ia da Anti güidade: a de dos diademas de Pt olomeu, na presença de
nca ("nova" coméd ia), cuja força reside na ca- m inha Gliccra, sentada no teatro". Um famo -
racterização, na moti vação das muda nças inter- so relevo de M en andro mostra o poeta se nta -
30. Vaso do gênero phlvakcs com Anfitrião travestido. possivelmente inspirado pel o nas, na avaliação cui dadosa do be m e do mal, do num tamb o rete baixo, com a máscara de
Amfi truo , de Rínton: Hermes ergu e o lume para Ze us soh a ja ne la de Alcmcna, c. 350 a.C . do certo e do errado. Menandro, filho de uma um ado lescen te nas m ãos, e, numa me sa di an-
(Roma, M useu do Vatic ano ). rica família ateni ense, que nasceu por volta de te de si, as máscaras de uma co rtesã e de um
343 a.C .; moldava carátere s, e pa rtia dos ca - ancião . Um tanto des respe itosa mente, o rom a-
r áteres como portadores da ação. A personagem. no Manílio uma vez de screveu o repertó rio de
con for me e le di z em sua comédia A. Arbitra- pe rso nag en s de Me nandro co mo cons tit uído
gem , é o fa tor esse nc ial no de se nvo lvimento de " adolescentes fervorosa me nte apa ixonados,
huma no e po rtan to també m no curso da ação. do nze las raptadas por amor, anciãos rid icula-
De suas ce nto e cinco peça s, apenas o ito rizados e esc ravos qu e e nf rentam quai sq uer
lhe valera m prêmios - três nas Len éias e cinco situações" , Me nandro era bastante co nfiante
na Grande D ioni síaca de Atena s. Esse peq ueno em si mesmo para não se impo rtar quando os
núm ero de vit órias, porém . não diminu iu em volúveis ju íze s do co nc urs o de comédias da -
nada seu reno me em vida, nem sua fama poste- vam prefer ên ci a a se u riva l Fil cm on de Siracu-
rior. Me na ndro viria a exercer grande infl u ên- sa . De acord o co m uma anedota, Me na ndro
cia sobre os comed i ógrafos romanos Plaut o e ce rta vez o c um priment a, encon tra ndo-o na
Terêncio. que vive ram da substância de sua ob ra. rua, com as pa lavras: "Desculpe- me, Fi le rnon,
Ao lado do ace rvo de citações tran smit idas, e s- mas, diga-me , quando você me vence, não fica
ses doi s poe ta s ro ma no s fo ram , até os pri- rubori zado ?"
mórd ios do s écu lo XX , as únicas teste munhas O coro, qu e já na Co méd ia Méd ia havia
dos escrit os de Me na ndro . Só em 1907, sua co - sido posto de lado , desap areceu completa me nte
méd ia A Arbitrage m foi reconsti tuída a part ir nas ob ras de M enandro . Como os ateres não
de papiros e, em 1959, que foram descobertos mais en trav am vindos da orquestra, a form a
Dyscolus (O Mal -humorado). Co m o Dyscolus do palco foi alterada. As cenas mai s imp ort an-
(cujo subtítulo, ntisanthropos, anuncia para além tes eram agora aprese ntadas no logeion, uma pla-
da obra terenciana, o antropófago molieresco), taforma diante da skcn c de dois andares. A co-
Menundro, ent ão co m 24 anos, co nq uista em méd ia de caracteres, co m suas intrigas e nuau ças
3 17 a.C. seu primeiro triunfo tea tral. individuais de diá logo, exigia a atuação conjun-
Me smo neste pr imeiro trabalh o, M cnan - ta mais concentrada dos atorcs, bem como um
dro de monstrava sua índole human a e artísti - co ntato mais estreito entre o palco e a platéia.
ca. Todas as perso nage ns são cui dadosa me nte Mcnandro foi o único dos grandes dra -
3 1. Pint ura c m vas o de autori a de Asstcas: o velho avare nto Carmo. deitado sob re sua ar ca d e dinhe iro. é ameaçado po r
dois ladrõe s. séc ulo IV a.C . (B erlim . S raatlichc t\ h IS(' CH l.
de lineada s: a tcn são vai cre sce ndo gra d ua l- maturgos da Antigii idade que vive u pa ra ver o

• 129
Hís t ó ri a Mundial do Te a t ro •

teatro de Dioniso terminado. Pois, em Atenas, em Atenas, outro teatro era erigido em Epi-
como novamente em Roma trezentos anos mais dauro. Construído pelo arquiteto Policleto, o
tarde, a história pregou uma estranha peça no Jovem, por volta de 350 a .C., no recinto sa-
teatro: a estrutura externa atingiu seu esplcn- grado de Ascléplio, ficou em breve famoso por
dor mais suntuoso apenas numa época em que sua beleza e harmonia. Hoje, é o mais bem
o grande e criativo florescimento da arte dra- preservado teatro da Antiguidade grega. Seu
mática chegava ao fim. A glória da arquitetura auditório assemelha-se a uma concha gigante
teatral antiga foi concluída na época dos incrustada na encosta da colina. Do alto da se-
epígonos; os magníficos teatros somente pu- xagésima fila, tem-se uma vista aberta das ruí-
deram refletir um pálido vislumbre do antigo nas da skene e da planície arborizada que se
esplendor. estende além. Um dia em Epidauro leva à ex-
periência do teatro antigo, sem que seja preci-
so haver um espetáculo; Ésquilo, Sófocles e
o TEATRO HELENÍSTICO Eurípedes voltam à vida. É difícil imaginar que
nenhum deles jamais viu uma de suas tragé-
Quando Licurgo finalizou as obras da dias representadas num desses magníficos lo-
construção do teatro de pedra de Dioniso, eu- cais; nenhum deles chegou a utilizar os gran-
quanto exercia o cargo de administrador das des teatros de Epidauro, Atenas, Delos, Prieno, 32. Apresentação de As Rãs, de Aristófanes, no Teatro de Dioniso, 405 a.C. Na orchestra, Dioniso é transportado
finanças de Atenas (338~327 a.c.), estava cons- Pérgarno ou Éfeso. Na época em que os es~ através do pântano num barco a remo, com rãs coaxando à sua volta. Reconstrução de H. Bulle e H. Wirsing, c. 1950.
ciente de que sua tarefa era a de um epígono. pectadores se reuniam diante da skene, ador-
Ele não apenas mandou reunir as obras dos nada de colunatas, do teatro helenístico, o con-
poetas trágicos clássicos, mas também man- curso de dramaturgos havia há muito se torna-
dou esculpir esplêndidas estátuas de mármore do uma competição de atores. Até mesmo
com suas imagens e as dispôs nofoyerdo novo Aristóteles já se queixava na Poética de que o
teatro, numa colunata aberta junto à parede de virtuosismo regia o palco, "pois os atores têm
fundo da skene. O teatro em si consistia em atualmente mais poder do que os poetas".
um palco espaçoso com três entradas e basti ~ Enquanto no século V, na grande era do
dores (paraskenia) que se projetavam à esquer~ drama clássico, os poetas haviam sido os fa-
da e à direita, oferecendo duas entradas adicio- voritos declarados e confidentes de reis, prín-
nais dos camarins para o palco. Aberturas ao cipes e chefes de Estado, no século IV foram
longo da parede de fundo sugerem que talvez substituídos pelos atores. É verdade que Fili-
tenham sido usadas para fixar postes destina- pe da Macedónia convidou o poeta Anaxan-
dos a sustentar um andar superior temporário drides para a sua corte: ele concedeu, porém,
(episkenion) no alto do proskenion, tal como honras maiores ao ator Aristodemo. Seu filho
exigia sobretudo a encenação das comédias. Alexandre, o Grande, discípulo de Aristóteles,
O auditório se erguia em terraços, e suas incumbiu o ator Tessalo de uma missão di-
três fileiras podiam receber quinze mil ou mcs- plomática: como os ateres, eram não apenas
mo vinte mil espectadores, um número que dispensados do serviço militar, mas, na quali ~
correspondia aproximadamente à população de dade de servidores de Dioniso, possuíam sal-
Atenas na époea helenística. Alguns dos luga- vo-conduto em território inimigo mesmo em
res para os convidados de honra (proedria), época de guerra, sendo pois agentes políticos
feitos de mármore do Pentélico, resistem até especialmente convenientes.
hoje. Entre eles fica a cadeira especial do sa- Durante o século IV, os atores se junta-
cerdote, decorada com relevos, que ostenta a ram em grêmios de "artistas dionisíacos", en-
inscrição: "Propriedade do sacerdote de Dio- cabeçados por um protagonista (ator princi-
niso Eleutério". Os outros assentos oficiais são pal) ou músico, que era ao mesmo tempo um
mais simples, mas também possuem um res- sacerdote de Dioniso. Essas uniões de artistas
paldo curvo: dois ou três deles são talhados também organizavam espetáculos, que em ge-
num único bloco de mármore. ral eram remontagens de tragédias e comédias 33. Teatro de Epidauro. Construído por Policleto. o Jovem, c. 350 a.C. Vista das fileiras de assentos mais altos sobre a
Mais ou menos na mesma época em que clássicas, nos pequenos teatros da Ática e do orchestra circular. Ao fundo. as montanhas Arachnaeon; na extremidade da orchestra, ruínas da skrnc; à esquerda, o
Licurgo completava o novo teatro de Dioniso Peloponeso. portão parados reconstruído.

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34. Planta do teatro de Epidauro. que podia acolher ce rca d e 14.000 espec tadores.

36. Fragm ent o de vaso de Tarcmo. À esquerda, ala d a cena. para skcnion. co m cn tab lamcmo ricamente decorado.
sustentado po r colu nas esguias. séc ulo IV a.C. (Wurzburg . Mart in-von- Wagner Muscum ).

35. Teatro de De lfos. co nstruido no século II a.C . Na ba se . as ruínas do tem plo de Apo lo.
H ís t á rí a M u nd ia l do Tc a t ro •

37. Teatro de Oropo. Ática, séc ulo II a.C. Stcene, Reco nstrução de E. Fiech ter .

As obras mais populares nessa época eram para o "e spe t áculo" . levou-os a remode lar e
as de Eurípedes. Plutarco relat a que os ate- reestr uturar os teatros gregos. Os proscenia,
nien ses aprisionados e escravizado s dur ante a decorados co m relevos e estátuas. salientavam-
desastrosa expediçã o à Sicíli a em 41 3 a.C. se ag ora em frent e à estrutura do palco , a
era m libertad os pelos siracusa nos, se pudes- orehestra foi ce rca da de parapeitos e transfor-
sem recitar passagens dos dramas euripidianos mada em con istra. uma arena para o comb ale
de cor. Pois Eurípedes havia profetizado, na dos gladiadores e as carnificinas das fer as. No
sua ad vert ên c ia em As Troianas , qu e os teatro de Dioni so em Atenas, além dessas in-
atenienses seriam derrotados e que a fortuna dignidades, o imperador Nero profanou o san-
da guerra sorriria para Sir acu sa. Isto talvez tuário, dedi cando-o "conj untamente ao deus e
possa explicar também a predileção que os dra- ao imperador" -conforme testemunha até hoje
maturg os romanos sentiriam, mais tarde, por uma inscr ição na arquitrave.
Eurípede s. No prólogo deAs Troianas, que foi As ruínas do teatro de Dioniso em Ate nas
apresentada com a sátira Sísifo na Dionisíaca refle tem "o desenvo lvimento não apenas da
de Ate nas em 4 15 a.C., Possêidon sai de cena poesia dramática, ma s de toda a cu ltura da
co m estas palavras sinistras: Antig üidade: prim eiro, as dan ças do coro ; ao
lado destas, na área da gr ande orchestra, as
O h, tolo é o homem que arruína a cid ade e o templo.
Devasta a sagrada habitação dos mort os e
cenas dos gr andes dramas e, numa orchestra
seus túmu los, pois está conden ado a perecer no final. menor, cenas de uma variedade de peças. No
proskenion, rep resentações com cená rios típi-
Roma sempre olhou o tea tro grego como cos e permanentes; e finalmente, na con istra,
o seu grande modelo, mesmo dep ois que o cercada por parapeitos. os brut ais jogos do
mund o ro mano irrompeu na Gréc ia após o seu circus" (M arg are te Bieb cr).
3X. Teatro de Dion iso c m Atena s, co mo er a por volta de 1900 , m ostran do o ca na l roma no esca vado e o pa rape ito de
decl ínio. A marcante tendência teatral dos con- As pa lavras dos grandes poetas, pais do m ármor e co nstruído pelos romanos para os jogos co m an ima is. O pede stal à es q ue rda data ta mbém de é poca ro m ana . As
qui stadores romanos para a se nsação verista, tea tro e urope u, podem ser o uvidas todo s os fi leiras de asse ntos de pedra que co m põe m o audit ório são de ori gem g rega , séc u lo IV a.C.
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H íst ori u Mllfl di l/{ ti o Te u t ro •

39. Dc vc-mpc nh a nt c s de reprc ...e utaçô cs c ru "...I I!l U v,


an os em grego cl ássico. no Teat ro Herodes (da qu al existem apenas fragmento s), um ator,
portanto ,-"abt"ças ..h .' a-,no . Fra gu umo de "(I(.' ,," l "O de
Á tico, em Atenas, quando no festival de verão que est á interpretand o o pap el de um hurra, fala
Micena....
com seu pro grama de trag édias e co médias so bre o seu modo de " mastigar cardos".
clássicas - um ec o do qu e outrora, há dois mil Tanto no reino animal quanto na vida hu-
e quinhentos an o s, soava aos pés da Acrópole m ana a parte qu e a so rte reserva a ca da um
em lou vor ao de us Dioniso. não é di stri buíd a seg undo o mérito , e ass im o sobretudo e m cí rc ulo s pri vados. Nu ma hydria
qu inhão prin cip al da zo m ba ria bem-humorada do s éculo IV, or ig i ná ria d e No la (ho je no
foi zel os amente diri gido , j á na A ntig uida de. Museo Na zi onal e d e N áp ol es), pod e- se ve r
o MIMO ao m ais mode sto e fiel co m pa nhe iro do cam- qu atro g ru po s tr einan d o vá r ias faça n h as
pôni o da montanha. D an ças e far sa s grotescas acrobáticas. Um a jovem nua tem o corp o arq ue a-
Desde tem pos imemori ais, bandos de sal- asi na is, pa ssando pel o burlesco romano, che - do em ponte, sus te nta ndo -se nos cot ovelos, ao
timbancos va gavam pelas terras da Grécia e ga m até os gracejos de mimo na Fe sta do Asno me smo tempo q ue empurra um kylix, co m os
do Oriente. D an çarinos , acrobatas e malaba- ifestum asi norunn, com a qual o c lero francê s pés, na direç ão d e sua boca; amarrada e m tor- e, ao lad o de doutor es, c ha rlatães , adiv inhos c
ristas, flauti st as e co nta dores de históri as apre - do séc ulo XII co me mo rava a Fu ga para o Egi - no da s pantu rrilhas , el a traz um a fil a, a ap o- mendigo s, se u a lvo pre d ileto d e zo mba ria e ra
se ntava m-se em meread os e cortes, d iante de to de um a for ma um tanto pa gã e antiga, na tropeion, própria d as artistas de mim os . U ma o bobo d e Abdera , o u Sidon o u alguma o utra
camponeses e prínc ipes, entre ac ampa mentos verdade qu ase indec e nte. ou tra garota é m o strada dança ndo ent re es pa- " c id ade dos tol os".
de guerra e mesas de ban qu et e. À arte pura A arte do mim o não foi impedida por bar- da s finca da s ve rt ic a lm e nte no chão, e nq uan to O s mimi am bos d o poeta H er ondas de Cós
uni a-se o gro tesco , a imitação de tipos e a ca- reiras geográ ficas . Do s ul d a Itál ia , ca minho u um a terceira pra tica o pyrrhic. dan ça de guer- (a p rox ima da me nte 25 0 a .C") cons titue m va-
ricatur a de ho men s e an im ai s, de seus movi- em dire ção ao nort e co m os atores ambulan- ra mitológi ca, usando u m ca pacete e se gur an- riantes poét ic as esp e c ia is d o mimo greg o. São
mentos e gestos. tes, e onde quer que fosse assimil ava todo o do um escudo e uma lan ça. breves text os mími co s, co m po stos e m iambos,
O chiste ve rbal , somad o a essa s proezas tip o de atos hi stri ônic o s populares, furses cos e De acor d o co m uma lenda átic a, a deusa c uj o s enredos tratam d as revel ações secretas
sem palavr as, física s, levou às primeiras e bre- ma is ou menos imp ro vi sad os. Arena inventou o pvrrhic e o dan çou para ce- de garotas pe rd ida s d e amor , d o s ca stigos ao s
ves ce nas improvisa da s. Era o início do mimo O palc o cl ássico da Ant igüida de excl uíra lebra r sua v itó ria so bre o s gigante s. e mbora es tu da ntes malcriad o s, d as art es per sua si vas
primitivo . Seu alvo er a a imi tação "fi el à natu- as mulheres, mas o mimo d eu ampl a opo rtuni- em Es pa n a se c re di te es sa in ven ç ã o a o s d e ca sa me nte iras astu ta s e d e to d a so rte de in-
reza" de tip os aute ntic amente vivos, ou, num d ad e à exibição do c ha rme e d o tal ent o fem i- Dióscuro s. A dan ç a ap arece novam ent e no sé- co nfidê nci as nem se mp re edi fican tes.
se ntido mai s a m plo, a a rte da aut otr an sfor - ni no s. Xe nofo nte, o esc rit or , ag riculto r e es- c ulo II, quando A puleio . e m O ASil O de Ou ro É bem pro vável q ue esses m im iambos de
mação, da mimesis. porti sta ate nien se do séc ulo IV a.c. fala, em descre ve um ba lé mitol ógico que os romano s H erondas, da m esm a forma qu e a bem ma is
Enquanto o épico homérico e o drama se u Symposium, de um ato r de Siracu sa que se mo ntara m em C o r in to. Após o bal é, conta decente poesia líri ca do s mimo s bucólicos de
cl ássico haviam glor ificado os deuses e os he- ap re se n tou num banqu et e na c a sa do rico Ap uleio , o povo tentou fazer com qu e Lúcio , Teócrito, tenham sido co nce bidos para serem
róis, o mim o (m inllls) pre stava atenção no povo Cá lias , em Atenas , com sua troupe da qual fa- vestido de asn o , part ic ipasse de um " mimo obs- lidos o u recitad os por um úni co mimo co m
anônimo, comum, qu e vivia à so mbra dos gran- ziam part e um meni no e du as garotas (u ma cen o" ; Lúci o s. po ré m. fugiu . uma g rande ex te nsão vocal.
des, e no s tr apacei ro s, ve lhacos e ladr ões, flauti sta e uma da nça ri na) . A maiori a do s texto s dos mimo s e ra c m So me nte na época hel en ísti ca o mimo gre -
es talajade iro s. a lco vite iras e cortesãs. Cada pro sa. mas a lg u ns . o s chamado s nu nicidoi, 0::0 teve ace sso ao pa lc o do s grandes teatro s
A ped ido de Sócrates , q ue eslav a en tre os
reg ião supria o m imo de suas própri as figuras co nv ida dos. os mim o s aprese ntara m a histór ia e ram ca ntados - os precursores dos co pias de ;)úb licos. A G réci a n u nca co nc ede u a ele a
cara cterística s e co nce itos locais. Em Esp arta, de Di oni so e A riad ne , na qual o j ovem deu s music-hall. Se u rep e rtório de tipos é o mesmo im po rtâ nc ia qu e ga nha ria so b os impe rador es
o mimo, viaj and o e apresent ando-se soz inho, sa lva a filh a de Mina s, qu e é abandon ada em que Filogclo usou certa vez para su as pilhérias em Roma e Bizânci o ,
era visto como um representante da e mbria- Naxos, e se casa com e la . O pedido de Sócra-
guez dioni sía ca e era ch am ado deikelos (bê- tes pôde se r facilment e a te nd ido. se m nenhu -
bad o ), e assim a far sa rú sti ca primit iva de ma prep aração es peci a l, o qu e d em o nstra qu e
Esp arta se c ha mo u deikelon, Em Teb as, os os mimo s gregos es ta vam tão fam iliarizad os
co mediantes de mimos e far sa s, cujo tem a fa- co m a her ança dos tema s m ítico s qu ant o ha-
vori to era a par ódi a do c ulto beóc io a Cab iro, v iam estad o se us ant ecesso res, nas margens do
eram c hama do s de "voluntá rios ". Eufra tes e do Nil o e es ta ria m tamhém se us
O mimo desenvolveu-se originalmente na sucessores, nas margen s d o Tigre e no B ós-
Sicília. Era um a farsa burle sca rústic a, à qual foro.
Sófron deu forma literári a pela primeira vez por . Nume rosas pinturas em vasos .iticus mo s-
volta de 430 a.C . S uas per son agens são pessoas Iram um a varie dade de acroba tas, co med iantes
co muns e, no se ntido mais amplo da rnirnesc, e eq uilibristas; garo tas fa zendo m al ab arism os
animais antropomórficos . Sófron criou o ances- co m pratos e taças, dançarin as com in strumen -
tral do Bott om de S ha kes peare , no Sonho de to s mu sic a is. A arte dessas jovens era obvia-
Uma Noite de \'<?rão. Numa das pe ças de Sófron ment e mui t ísxim o po pula r entre os g regos,
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Ro m a

INTRODU ÇÃO Os Ludi Rornan i, as mai s primitivas da s


festividades religiosas oficiais onde se apre-
o impéri o romano foi um Estad o militar. senta vam es pe t ác ulos . também eram consagra-
A ntes de Au gu sto , os romanos eram g uerrci- do s ;\ tr íad e Júpiter, Juno e Miner va. O pró-
ros, depoi s de Au gusto, g ov ern aram o mundo . pri o nome indica qu e a ad ora çã o aos deuses
O ca m inho desde a legendária fundação da Ci- tinha de d ividir as honras co m a g lor ific ação
da de da s Set e Colinas em 75 3 a. c. at é o imp é- da cidade desabrochame, a urbs ro mana. Como
rio mundi al romano é uma sucessão d e gue r- di sse Cíce ro , o segredo da dominação romana
ras de conq uista e. ao mesmo tempo , a legiti- resid ia e m " nossa piedad e, nossos cos tu mes
ma ção de um nacionali smo fund amentado, religiosos e em nos sa sábia crença em que o
desd e os primórdios, no pod er da aut oridade. esp írito do s deuse s go ve rna todas as coisas".
Até me sm o os deu se s es tava m s uje itos A reli gi ão do E stado ha via se apossado
ao s dit ame s do Es tado . A lo ca liza çã o de se us da hierarqu ia dos deu ses o límp icos da Gréc ia,
princi pa is sa ntu ários e ra de terminada não pela co m po ucas mudan ças de nom es. mas nenhu -
tradi ç ão. m as pela rcs p ub lica . Ant es da s le- m a modi ficação mai or de ca ráter. Às ma rgen s
g iõcs romanas capturarem uma c id ade inimi - do Tibre. como à so mbra da Ac ró po le e m Ate-
ga, seu s deu ses eram requi sitados numa ceri- nas. T áli a, a mu sa d a co média . c Eutérpia, a
m ônia religiosa, a evocati o (chamado ), para musa da flauta e do co ro trágico, e ra m as d eu-
qu e abandon assem as cidades sitiadas e se sas padroeiras do teat ro .
muda ssem para Roma , o nde poderi am con- Este povo raci onal. técnic a e organizada-
tar co m templos mai s grandioso s e m aior res- mente tão bem dotado, de ve ter achado ba stante
peit o . Desse modo, o sa n tu ário d e Diana foi natural apl icar aos arr anjos de suas ceri mô nias
de sl ocado d a cidade latina de A r íc ia para o reli giosa s a m esma resoluta det erminação qu e
Aventino, c a Juno Regina do s etru scos foi di stingu ia suas expedi ções militares. O teatro
" re co loc ada " no Capitólio, vinda d e Veio . Da de Rom a fundamentava-se no m ote político
m e sma forma, Minerva, uma su ce ssora da panem et circenses - pão e circo - que os e sta-
Palas Atena g reg a venerada na cidade etrusca distas astuto s têm sempre tentado seguir.
de Fal ério, c heg o u a Roma. o nde se juntou a Tant o e m suas car acterísti cas dramáti cas
Júpiter e Jun o co mo o terceiro membro da mai s qu ant o arquiter ônicas, o teatro ro mano é her -
a lta tríade de deu se s romanos na co lina do de iro do greg o . Qu and o Lívio e Horácio de-
C a pitó lio . Roma ainda hoj e a record a, na Igre- cl ar aram qu e as ori gen s do teat ro roman o de-
ja de Sant a Mari a so pra Miner va, ed ifica da via m se r pro curadas nas fesceninas - os sa tíri-
no s éculo VIl! . cos e suge stivos diálogos carnavalesco s com
l í tst orí a õl u n d íal d o Tc u t r o • • Ro mo

origem na cida de etrusc a de Fcsc ênia - esta- to. aos povos conqui stad os , da o por tunidade L ívio Andrôn ico - provavelmente ma is uma co médias. Foi preso e ex ilado, e morr eu por
vam empenh ados, pelo visto. em tomar C0l110 de promover seus talent os e m ant er boa s rela- vez por ord en s ofic iais - es creveu suas primei - vo lta de 201 a.c. em Utica, o vel ho centro co-
ponto de o rie nta ção a s o rige ns do teat ro ç ões co m se us pró pr io s deu ses . Os ro ma nos ras adaptações de pe ças gregas. Um a tragédi a merci al fenício que C ipião Africano Maior ha -
helenístico. E a co mparação é tanto mais v.ili- anex aram a propried ade espiritual. tanto quan- e uma com édia fora m representadas, nas qu ais via sitiado três anos a ntes, se m suce sso .
da quando focaliza a época do florescim ento to a terrena. daquel es qu e co nq uis ta ram, j un- o própr io L ívio Andrôn ico parti cip ou co m o Em 204 a.C; prova velmente na esteira dos
do teatro romano. Co mo ant es, em Atena s. esta tam ente co m o dir eito de exibi-l a e m público, atar, cantor e enc e na do r, na melh or tradição exérc itos de Cipi ão, qu e retornavam, o terceiro
era divide-se em um período de ativid ade dra- para o prazer de todo s e para m aior glória da ateniense. pion eiro do teatro romano surgiu na capital:
mático-literária e em outro. no qual as gera- res publica. Dessa forma, o teatro romano tam- O exemplo de Lívio Andrônico logo trou- Qu into Ênio de Rudi u, na Calábria, então com
ções seguint es es forçaram- se para criar uma bém e ra um instru mento de pod er do Estado, xe à cena o primeiro dramaturgo latin o, Gneu trint a e cineo anos. Co mo soldado na segunda
moldura arq uitct ônica d ig na . No que diz res- dirig ido pel as autorida des . Assim co mo em N évio, da Camp âni a - um escrit or espirituo - G ue rra Púniea, admirou, qu ando da derrota dos
peito ao floresciment o da literatura dramáti ca A te nas a arte da tragédia e da co méd ia desen - so, eo m agudo se nso c rítico, q'!e se apres e n- rom ano s diante de Aníba l, a boa co nduta dos
de Roma , este per íod o co rresponde aos sécu- vol vera-se a part ir do programa da s festiv ida- tou com obras pr ópri as . pela primeira vez, nos legionári os e seus gene ra is, fato cuja ausê ncia
los III e II a.Ci, qu ando prosperara m as peças des das Dion isíacas e das Len éi as, Roma ago- Ludi Rom ani, ci nco an os ma is tarde. Seg undo na vit ória de Névio havia deplorad o tão critica-
históri cas e as co mé di as (cm palco s tempor.i- ra procurou organiza r a art e do drama, co m Theodor M om msen , o grande histor iador cl ás- ment e . Em vez disso, o qu e Êni o viu foi "a ina-
rios de madeira), c, no tocan te ao período áu- ba se no pro gram a de suas fest ividades . sico alemão do século X IX , Névio foi "o pri- bal ável fé do s rom an os em seu Esta do, bem
reo da glorificação a rq uite tura l da idéia de tea- A moldu ra externa dada fora m os Ludi meiro romano qu e mereceu ser cha mado de co mo sua compreensão profunda do eq uilíbrio
tro, os séculos I e II d .C, Ro ma ni, institu ídos em 3R7 a.C . e desde então poeta e, ao q ue tud o indica, um dos mais no- real do poder", que, na denota, so mente forta-
O anfiteatro não pert en cia aos poetas. Ser- ce lebrados anualm ente em setembro, com q ua- t áveis e ex cel en tes talentos da liter atura ro - leceram neles a fé na sua mi ssão mil itar.
via de palco aos jogos de gladiadores e às lu- tro dias de es pet ácu los teatrai s . M ais tarde . mana". Quinto Êni o, qu e também crescera e fora
tas de anim ais. para combates navais. espeta - instituíram-se o utros jogos dedicad os aos deu- Névio também fora soldado. Havia luta- educado na tradi ção c ultur al grega, teve a boa
culos acrob áticos e de vari edades. Quando a ses tludi). tai s co mo os Ludi Pleb eii em no- do na primeira Gu erra Púnica, e conh ecera por sort e de merecer a ami zade dos mai s respeita-
per segui çã o ao s c r is tãos se inicio u co m ve m bro, os Ludi Cereales e M egalcn ses (e m experi ência próp ria , de vida, não ape nas a vi- dos hom ens de Rom a. Obt eve fam a co m sua
Domi ciano. o sangue hum ano co rreu aos bo r- ho me nagem ii mãe dos deuses) e m ahril. e os t ória das legiões ro ma nas mas tamb ém as de- o bra mai s imp ort ant e , um epos nacional inti -
botões no Co liseu. no mesm o local onde mul- Lu d i Apollinares em j ulho . ficiências dos co ma ndos militares. Suas o bras tul ad o Aliais, e tam bém por suas adaptações
tidões de cinqüenra m il pessoas ap laudiam os Es sa s ce lebrações festivas deviam mui to refletem sua fé e ntus iasmada na República, de tragéd ias e co méd ias gregas para o públ ieo
atletas cam peõe s o u os arores de mimos e de à fam ília dos C ip iões, qu e ajudar am a fortale- embora também sua aguda crítica a seus ele- ro ma no . Escreveu, segundo o modelo de Eur í-
pa ntomima s. Se u teau o era o espe lho do ce r o ren om e mu ndial de Rom a nã o apenas mentos corruptos. N évi o foi o criador do drama ped es, peças corn o Aquiles e A lexandre, além
imp erium rontanum - para melh or ou para pior. e m ass untos militare s, ma s tam bém culturais. romano, a [ab ula praetexta (ass im nom ead a de o utra so bre o tern a das Eu m ênida s, Nas
e era muito mais um show busin ess orga niza- No s séc ulos III e II a.c.. os C ip iões pratica- por ca usa da vest ime nta ofi cial dos preteres. Sabina s, dramati za um tema pro veni ent e do
do do que um lugar dedi cado às artes. ra m a espé cie de patr on ato das artes que . mai s os mais alt os fun ci on ár ios e servido res da Re- âm bito da saga ro ma na , no qual o teat ro tem
tarde, na ép oca de Augusto. seri a assoc iada ao pública, qu e era m se us personagen s e heróis d upla participação : durante um festival em
no me do nobr e Mecenas. ce ntrais). No domínio da comédi a, a distinção Ro ma , Rômulo faz co m que as Sabinas presen-
Os LUDI R O !\IANI. O T EATRO A ambic iosa metrópole à s m argens do que se estabelece é e ntre o mod elo grego da tes sejam raptadas, porque na cidade gue rreira
D A RE5 P U/lL/ CA Tibre esmerou -se em prom over os talent os, [ab ula palliata , cuj os intérpre tes vestiam o faltam mulheres. Em c on seqüên ci a, qu ando o
es pec ia lmente os da s regi õe s co nqu ista das, pallium g rego, e a [a bula togara, bro tada d o exérc ito sahino avanço u so bre as Sete Co li-
Durante a mesma década em que Aristó- qu e eram o berço da intel igên c ia e da ed uca- co lorido local rom an o, em que os ata res por- nas, as beldades di sp utadas, so b a lider ança
teles descreveu a então inte iram ente desen - ção gregas. Os rom an os, na verda de, deve m tavam no palco a toga nati va . da própria esposa de R ômulo , empenha ram-
vol vida tragédia g rega. R OlH a assistia a se us se u pr im ei ro d ram aturgo - L ívi o A ndrô nico - A glor ifica ção dramática da história de se em estabe lece r a paz . Foi feito um acordo.
primeiros II/di scac n ici (jogos cén icos) , mo- à c idade de Tarento, um a das m ai ore s e mais Roma por N évio , espe cialmente em R 011l1ltIlS , no qu al Rômul o e Tit o T ácio. o rei dos Sa binos.
destos cspcr úcul os de mi mo de uma troupc rica s das ant iga s co lô nias g rega s no sul da sua peça mai s famosa - qu e retrata a lend ária deveriam gove rna r Roma j untos .
etr usca . Estes inc luí a m dan ça s e c an ç ões. It;ília. Lí vio Andrô nico foi traz ido a Roma. fundação de Roma - trouxe grand es hon rar ias Ênio, o "arauto dos bem-nascid os e heleni -
aco mpanhada s de flauta , e também invoca- co mo e scravo, para a rica ca sa dos L ívios. Gra - ao auto r. Ele , por ém, arri scou todas elas co m zado s" , teve o cuida do de evitar as suntos co n-
ções religiosas dos deu ses no espírito da mis- ças a seu dom da linguagem . o j o vem grego suas comédias, na s qu ais se aventu rava no cam- troversos durante tod a a sua vida. Era popular
teriosa e so hre natur a l fé dos etruscos. que log o foi promovido de professo r part icular a po das polémicas locais e, fiel ao exe mplo de tant o j unto ao povo qu anto aos aristocrata s. Sua
outrora havi am dominado Roma. Nessa épo - con selheiro edu caci onal e cultu ral. Traduziu Aristófanes, ataca va os políticos e nobres de escolha de temas dram.iticos mo stra o quão
ca, a preocu pação dos atores e da platéia era a Od isse ia de Ho mer o para o latim , em ver- sua época. prudentemente ele m anti nha sua posição no
ap laca r os poderes da vida e da mort e, já que sos sa rum inos , para o uso c m e sc olas roma - Mas Ro ma não era Atenas. Os hom en s do ca bo- de-g uerra da ex istência de um favor ito.
se es tava no ano de 3(,4 a.C . e a peste se a las- nas. e co m pô s hin os e m latim a man do do Se nado não eram co mo Cléon , que se co nte n- Se m pre escolh ia assu ntos q ue , em gera l co m
trava pelo país. Se nado. tara em retal iar co m um a boa surra a desres- alg um aspec to didático . pod iam ser suave men-
Desde o mais remo to iníci o. a habilidadr Em 240 a.c.. pelas ce le braçõ es que se se- peitosa franqueza de Aristófanes. N évio teve te tran spostos para a vi são de mundo racional
polít ica de Roma se ex pres sou no ote recimeu- g uiram ii vitória da primei ra G uer ra P únic a, de pagar caro pela milit ância expres sa em suas dos ro ma nos.
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L M áscaras de um a j ovem flautista (um a hetaíra)
e de um escravo usan do uma guirlanda de flore s. Mo-
sa ico e ncon t rad o no Ave ruino, (Ro ma . Mu seo
Ca pitolino) .

3. Rele vo rom ano em terracota, mo strand o um ce na de trag édia. Do pedcstal -e d íc u!a do túmulo de Numi tório Hi íaru s.
séc ulo ] d .C. (Ro ma. Museo Naz io nale Ro man o).

2. Pintura em parede cm Herculano: ator trá gico vitorioso após o término do agem . À direi ta, sua máscara deposta: a 4. Pintura mural rom ana co m uma ce na da M ed eio
mulher ajoel hada procede à inscrição da dedicatória comemor ativa (N ápo les. Museo Na zio nalc). (Náp oles, Mu seu Naz ionalc).
H is t óri a ,\1 1(11 (/ ;0 / l/O Tea t ro .

o sécu lo II a.c. gerou uma rica safra de foram as ob ras da Com éd ia No va ática, espe-
prod uções dr am ática s , ao lon go da linha c ialmente as de Mena ndro , Quem quer que ti-
preestabelecid a da [ab ula praetexta e da a- vesse a si mesmo em alguma conta em Rom a
daptação de temas gregos . No domínio da tra- conhecia não apenas o nome do famoso ate-
gé dia, a corren te de escritores iniciada por niense , mas podia citar pe lo menos alguns de
Quinto Ênio, e que passa por seu sobrinho e se us e legantes epigrama s. E q uão mais pro -
discípulo M. Pacúvio, or iundo de Brindisium mi ssor em exito devia parecer a exibição em
e por Lúcio Ácio - a qu em Brutos favoreceu - toda a sua plenitu de dos teso uros desta come-
vai até Asínio Pólio, o atar considerado "dig- diografia !
no do coturno" (a bota alta da tragédia grega, Plaut o possuía suficiente p rática teatr al
agora possivelme nte co m uma sola que a ele- para selecionar as cen as mais efi cazes de seus
vava algumas polegadas), na época do impe- modelos. Ao fazê-lo , não hesitava em encai-
rador Augusto , chega ndo por fim, na era cris- xar os tem as de várias peças, se isso ajudasse
tã, a Aneu Sêneca - cujas nove tragédias re- a rea lçar o efeito . Trabalho u não meno s co m
rnan escentes, ent reta nto, não foram j amai s pe rícia do que com sort e no princí pio da "con-
encenadas no palco da Roma antiga. tami nação" , em que seria igualado, uma gera-
ção ma is tarde, por Terên cio - o segundo gran-
de poe ta cômi co romano .
COMÉ DIA ROMANA Ma s onde Plauto, o ato r da Úmbria, ad-
quiri u tod o esse conhec imento da literatura
Embora a tragédia e a comédia haj am ini- grega e todas as suas outra s qua lificações , ao
ciado jun tas sua carreira nos palco s de Roma lado de sua inteligên cia natu ra l, para ati ngir
e originalmente tenham sido escritas pelos status mundi al como aut or ? Conta-se que , com
mesmos autor es, T ália logo começou a se o pé -de-meia de mim o na baga gem, ter-se-ia
e mancipar. O primeiro gran de poeta c ôrnico dedi cado aos negócio s de mercad or viajante ;
de Roma alimentou a comédia roman a não ma s no fim leria sofrido um naufrág io finan-
apenas com a sua própri a obra, mas também ce iro com suas especulações co merciais. Sem 6. Relevo em mármore, com lima cena típica da Co média No va: um pai furioso vai ao enco ntro do filho . que retorna de
dúv ida, sua odiss éia comercial ren deu-lhe um um banquete amparado por um es c ravo (Nápoles. Muse u Nazio nale ).
com a influência revigorante do mimo folcló-
rico popular. con heci mento soberano de todas as classes de
Plaut o ( c. 254- 184 a.C.), nascido em pessoas, das baixas , médi as e altas ca madas, e
Sar sina, não era um homem de muito estudo, o aj udo u em sua arte de ca rac ter ização precisa
mas conta-se qu e no dec orr er de uma juve ntu- e em sua hab ilidade de coo rdenar persona gens
de cheia de aventuras ele perambulou pelo país e situações.
com uma troup e ate lana. Seu segundo nome, Plauto transpôs a refinada ur banidade de
Macci us, parece co nfirmar essa experiência, se u mode lo Menand ro par a uma comédia de
pois "Maccus" era um do s tipos fixados da situações rob usta, na qual pre dominavam ele-
farsa atelana - o guloso e ao mesmo tempo mentos farsescos e chi stes bur lescos. Persona-
finório pateta, qu e sempre dá umjeito para que gen s c ôrnicas, identidad es trocadas, intriga e
seus comparsas de jogo tenham no fim de fi- se ntimentalismo burguês a limenta m o meca-
car com o ânu s tanto dos prejuízos quanto do
escárnio.
Deixando para trás o despretensioso re-
pertório de sua experiê ncia teatral ant erior ,
Plauto aterrou com um salto na literatura mun-
dial. Os modelos dra má ticos de suas comédias

7. Cena da Comédia No va: mulheres sentadas cm


5. Oficial fanfarrão e parasita. Pintura em parede (hoje torno de urna me sa . M osa ico da Villa de Cícero.
destru ída] na Casa detln Font ana Grande. Pompeia. sé- Pomp eia: ass inado : Diosc úrid cs de Samos (N ápo les,
culo l. d.e. Mu sco Na z.io nalc }.

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• Rom a

nism o que co nduz harmoniosamen te suas co- Enq uan to Pla uto prestava atenção à con-
médi as. A inse rção de ca nções com aco mpa- versa do povo e se apo iava forte me nte no con-
nham ent o mu sical (calltica) co nfe re a e las um traste entre ricos e pobres para suas situações
toque de opereta. Plauto fez muit o sucesso co m c ôrn icas , Ter ên cio procurava imitar o di scurso
suas pr im eira s três co médias, qu e fo ra m re- cultivado da nobreza ro ma na. "Nessa peça , o
presenta das qu ando ele tinh a aproximadame n- discurso é puro" , diz ele no prólogo de Aque-
te ci nqüenta anos. As datas registr ad as de suas le que Castiga a Si Próprio, ac rescentando ex-
estré ias são 204 a.c. (Miles Gloriosus), 20 1 pressament e que é " uma peça de ca r áter, sem
(Cistel/aria), 200 (Stichusi e 191 (Pscudolusi. muito baru lho" ,
Ao tod o, vinte peça s co mpletas de Plaut o Ter ên c io fico u terrivelm ent e perturbado
subs iste m. Signi ficati vam ent e, refl et em não co m o desafortunado ac idente qu e oco rreu co m
apenas o rep ertório de enredos e personagen s sua H eci ra . Qu and o a peça foi encen ad a pel a
da Co mé dia Nova ática , mas, em se u e ficiente prim eira vez , uma troupe de funâmbulos, ali
engrossa me nto teatral, a ment alid ad e de se u pert o, es tava te ntando ruid osam en te cha mar a
au to r e do pú blico para o qual escrev ia. Elas ate nção do público , e a co média de Terênc io
também se tornaram a fonte inesgotáve l da co- foi um fracasso porque, confo rme o poe ta quei-
média e uropé ia. O Amphitruo de Pl au to sob re- xou-se amargame nte, "n ingué m pôde vê -Ia,
vive no Anfitrião de M ol iêre e no de Klei st, qua nto mais co nhecê-la" .
se m fa la r n as ve rsões mod ern a s d e Je an O refin am ent o urb an o e per feição formal
Ano uilh e Peter Hack s; os M enaechmi (O s de se us di álogos, as per sonagen s cuidadosa-
Gê meos) ganha ram seg unda imortalid ad e na ment e desenhad as e se u desen volvim ent o no
Coméd ia dos Erros de Sha kespeare. O her ói curso da ação - tais eram as co isas que Terên c io
de M iles Gloriosus, Bram arbas, tornou-se o desejava ve r apreciadas co m a devida ate nção.
ep ítome do pseud o-hero ísmo vang lo rioso . Em Seg uia meticul osam ente os modelos gregos e
Aulularia (O Pote de Ouro ou Coméd ia da fazia o má ximo para não exceder a pl au si-
8. M úsicos de rua. Mosaico da Villa de Cícero em Pornpéia; ass inado: Di osc úrides de Sumo s (Nápoles. Museo Nazionale). Pan el a), Plauto crio u um pro tótipo de avareza bi lidade da fábula. Ma s fazê- lo não era de todo
ing én ua , que M oli ére , em O Avarento, mai s fác il. porque Terên ci o. co mo Plaut o. am iúde
tard e e nvo lve u no br ilhant e mant o da ha ute "contaminava" sua obra co m du as ou até trê s
conicd ic francesa. peças j á ex iste ntes. O s hábeis cntrccr uzamc n-
Pu blius Tere ntiu s Afer, hoj e ma is conhe- tos de pessoa s recon hecidas ou co nfu nd ida s.
c ido co mo Terêncio (c . 190 -159 a.C ,}, o se- perdidas e de novo enco ntradas. não torn ava
gu ndo do s grandes poetas cõmicos de Ro ma. fáci l para o es pectador descobrir a intrincada
c hego u à capita l vindo de Cartago. a orgu - tecitura da ação. O Eunu co. por exemplo, ba -
lhosa ci dade batida . Bárbaro de nasciment o, se ia-se em duas co méd ias de Men and ro, e Os
foi trazi do a Rom a co mo esc ravo, da mesm a Adelfos numa co média de Men and ro e numa
form a qu e Lívio Andrôni co. Seu se nho r re- de Dífilos.
co nhece u os talent os do j ovem e o e ma nc i- Os Adelfos es treo u. juntam ent e co m UI]]a
po u. No cí rculo de Ci pião Africa no Men or, rem ont agem de Hecira , por ocas ião dos jogos
e le e nco ntro u a m istoso reco nhec ime nto e f únebres em honra de Lúcio Em ílio Paul o, que
apoio. foram organi zados por Cipião Africano Me-
Suas seis comédias traem já nos títulos nor, filho do homenageado e filho ado tivo da
aqui lo q ue Terê ncio buscava - o estudo de ca- famíl ia Cipião. É bastante possível que haj a
ráte r: o de um auto-atorme ntador e m Aquele uma co nexão entre o con teúdo da peça e a his-
qu e Castiga a Si Próp rio (Hcatnon timoru- tór ia pessoal de Ci pião Afr ica no. Co nta-se até
m en os ), o de um p ar a sita e m o Form ião mesm o qu e es te último teria ajudado a esc re-
(Phonnioi , o de uma sogra em H eci ra (He cyra) ver as comédias de Terêncio - ac usação co m a
e o de um eunuco em ElIIlIIc/lIIS . Todas as seis qual o autor lida basta nte diplomaticame nte no
peça s de Ter ênc io perte ncem ao período entre pró logo de Os Adelfos:
166 a.c. - quando e le es treo u com t\ndria
9. Pintura mural de Pompéi a: um escravo , zom - (Andria) nos Ludi Megal ens es - e 159 a.c.. Quanto ao que d iz essa gente ma l évola,
bando de um casal de amantes. Casa de Casca Long us. ano presu mível de sua mort e. que hom en s ilustres o ajudam

• 147
H is t o rin M u ndial d o Té a t r n •

e assrduamc me escreve m com ele .


te não nas qu estões o rga nizac io na is. te rre no
toma como 101 1\01" supremo
o que esses tais co nsideram l i uc ~ uma injun a rcrn-
e m que os romanos fora m se m pre me str es , mas
vcl., ~: no tocante ao proviment o d o pl an o de fun do
ar q u itet ura l par a o e spet ácu lo .
Pou co tempo depoi s da apresentação dc A re sponsabil idade pe lo teatro em Roma
Os Ade/los, Ter ên cio p artiu par a um a viage m ca bia aos curule aedilcs, dois altos ofic iais, que
à Gré c ia e à Á sia Menor, d a qual nunc a retor- no iní cio er am sempre patríci os, embora mais
nou . Desap areceu cm c ircunstâncias desconhe - tarde o ca rgo tenh a sido abe rto a plebeus. En -
cidas no momento em qu e tent ava rem ontar o carregavam-se do polic iamento , da arquitetura
caminho seg uido pel os dr amatu rgos grego s e da s obras de co nstruç ão, da supe rv isão de edi -
qu e tant o admirava . fíci os e vias púb licas e respondi am pe lo decur-
As co méd ias de Terên cio, entreta nto, vi- so harmoni oso dos jogos, os ludi c os circenses .
vem no teatro do mundo . Suas finezas drama- O s ed is pagavam um s ubs íd io público ao
túrgicas, cena de e scu ta bisbilhoteira, apartes , d iret or do teatro idominus g reg is ) para cobrir
táli cas de ocultação e rev ela ção de person a- a s despe sa s com ate res e indumentári a. Ini -
ge ns e motivo s to rnaram -s e exemp lares . c ia lme nte , o palc o em si dava pou ca s de spe sas.
Hrotsvitha von Gand er sh eim, Sh ak espear e , C onsisti a e m um a pl ata fo rma ret an gular de
Tir so de Molina e Lop e de Vega , c os drama - madeira, cer ca de um met ro aci m a do chão, cujo
turgos clá ssicos fra nceses e alem ães adorara m acesso era feito por escadas de madeira latera is
as técn icas de Terêncio. Em sua Drama/urg ia e co m um a cortina qu e o de limi tava ao fundo .
de Hamburgo, Lessing, o dramaturgo ,t1e ~ão E ra o me smo tipo improvisado de arm ação para
do século XV III, d isc ute , em considerável ex - o jogo de ator qu e os phya kes d o su l da Itáli a e
ten são, os méritos de Terên cio e sua infl uên- os mimos e intérpretes d a farsa at e lana mo nta-
cia no teatro po sterior. va m onde qu er qu e esper assem a tra ir es pec ta-
Em s ua ed ição da obra de Terê ncio , a do res pa ra ganhar algu mas moedas.
hum ani sta fran ce sa Ann e Lefê vre Dac ier, tra - L ívio And rônico e se us co nte m porâneos 10. Estante de máscaras (scr in ;um) pára a comédia Fármío , de Terê ncio . De um ma-
e s uc essores tinha m de a rra njar-se com esses nuscrito de Terênc io. do séc ulo IX. Co drx l ll tÜ'OIlUS Lutinu s , 3868 .
d uto ra e ada p tado ra d os cl á ssicos. declarou
ent us ias tica me nte no fin al do séc ulo XVII: recurso s primiti vos; os a rore s, porém. prec isa -
" Pode-se dizer que em todo o m undo lati no va m se r ta nto mais talent o so s e ve rsáteis . Não
não há nad a co m tant a nob reza e sim plicida- usa vam máscaras e se disting uiam a penas pe-
de , graça e refin am ent o qua nto em Terêncio , e las peruc as. es pecialme nt e em papéi s fem ini-
nada co mparável a se u diál ogo" . . no s. Era im portane qu e suas vo ze s fo sse m cla-
ra s e tivessem bom alca nce. Con ta-se q ue L ívio
A nd r ônico ce rta vez teve s uas fal as d ubl ada s
D o T AB LADO D E M AD EI R A por um lo cut or esco nd id o . fa ze ndo a pe na s a
" m ímica" .
AO E D IFíC IO CÊ N IC O
O públ ico ficava e m se m ic írc u lo ao redo r
da platatorma. A té 150 a .C ,; pc/ o men os, a in-
o teatro ro ma no c resceu so bre o tablado
tia e ra p roibi do sentar- se d ur an te um es pet á-
de madeira dos ate res am bulames da fars:t po -
c u lo teat ral. Qua ndo C ip ião Afr ica no Menor
pu lar. Dur ant e dois séc ulos , o palco não fo i
sug e riu qu e pod er iam se r co loc adas cadeiras
nada ma is do q ue uma e strutura temp oniria.
ergu ida por pouco tempo para urna ocasião c para os senadores c fun ci on ári os do Estado, a
desm ontada de nov o. E m bora os dra mat urgos proposta desse privilégi o irrit ou o povo.
ro ma nos ten ham alcançado rapidam ent e se us Gradu al me nte , o p a lc o primitivo fo i se
modelos gregos, pelo men os em ter mos quan- tornando ma is bem ada ptado às necess idades
tu au vos de sua prod ução, as co ndições exter- da ar te dramática. Primei ramente . a cortina de
nas do teatr o ficavam m uit o atrá s .. obviame n- fundo i sipnriumv deu lug a r a um galpiio de
m ad eira, qu e servia de cama rim pa ra o s ato -
re x. N a frent e do palco , o nd e po r fim a S('(lCI/{/l'
Trad uÇ" ;lO de A go "or ill ho da S i" ";\. in 1)/lI/ fl tI c: [ to ns ro ma na lom ari a o lugar tia skcne g rega , I J. Cena da cour édiu Ândrill . de Terênc io: Simo chama o co z inheiro So sias c manda doi s outros se rvos e ntrare m na
T erêncio - " Comedia lannn, Rio de Juu c iro . l idiour o .
uma estrutu ra de ma de ira coberta . co m pare- casa. Coe/('-, [ .nI ;IIIi.\ . 7R99 (Paris . Bi hlio t hcqUl~ Nario na lc }.
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H ís t ár i u .\1 utr l /i lll do Trat ro • • R om a

des lat er ai s. fo i desen vol vida na época d e cas o de Os Gêmeos, havia treze máscaras. cor- um desenvol vim ento posteri or do proj eto de ra muito com os teatro s gregos durant e suas
Plauto para atender às exigências cênicas. Três res po nde ntes ao número de persona gen s da reconstru ção do pe riaktoi anti go, publ icad o por vária s c am p a n h as marítim as e terr e st re s .
port as davam acesso ao palco fronta l por urna peça, ma s provavelmente algum ator fazia vá- Vigno la e Danti em 1583.) Lcsbo s lhe pa rec ia um modelo ideal qu ando,
parede de madeira - uma ce ntra l (porra regia ) rios pap éi s men ores. Em cert a ocasião, Virgílio descreveu co mo dur ant e se u con sul ado em 55 a.C ,; ob te ve
e outras du as laterais, num nível mai s baixo Cinc o an os ap ós a morte de Terênc io, e m as paredes da scaenae se dividiam e , ao mesmo permissão da s a uto rida des em Rom a par a
iporta e hospitatiaev ; mais tarde, foram acre s- 155 a.c. , o ce nso r Cássio Lon gino construiu o tempo, o periaktoi girava. As port as nas laterais edi fica r um teatro de pedra. Usand o de um
centadas outras duas entrada s. Esse expedien- primeiro te at ro c o m colunas decorando a do periaktoi tinham uma signific ação lixa, com inteli gente estratagem a, ele afast ou o perigo
te permitia aos atores entra r em cena vindos scaenae frons , mas , depois de terminados os a qual todos os espectadores estav am familiari- de o teatro ser dem olido depois dos j og o s:
de cinco "casas", solução esse ncial para as ludi, elas foram derrubadas por ordem do Se - zados; as pes soas que entravam pel a esquerda acim a da última fileira do anfiteatro se m icir-
cenas de ru a de Plaut o e Terên cio . Quanto nado . O mesm o aconteceu com a ca ríssim a vinham do exterior, as que entravam pel a direi- cular, ergueu um templo para Vênus Victrix,
menor er a o palco , mais próxima s uma s da s es trutura de madeira erguida em 145 a.C.; por ta vinham da cid ade. Nos prim órdi os, um altar a deusa da vitó ria. Os ass entos de ped ra - e le
outras ficavam as porta s. (No século XVI , in- Lúcio M úm ia , o co nquistador de Corint o, para era erguido no iado esquerd o do palc o , co m a arg ume ntou - e ra m o lance de esca da s qu e
cl usive, ele atin giu compressão extrem a no suas peças triunfais; este teatro completo foi o estátua do deus em cuja honr a a peça era apre- levavam ao sa ntuá rio.
palco "ca bine de banh o". reconstrução feita pe- primeiro a ter asse ntos para os espectadores, mas sentada, e que, nos jogos fún ebr es, era subs ti- Pomp eu ve nce u, e assim Roma teve o seu
los hum ani stas alemães para uso esco lar.) - conforme relata Tácito nos Anai s (XIV:2 I) - tuíd a pela est átua do falecido. primeiro teatro perm anente, situado na extremi-
Cabe supor que Plauto. co m sua ex periên- foi demo lido após o final dos jogos. O uso do guindaste com o disp osit ivo de dade sul do Campus Martins (ainda é possível
c ia atelana atrás de si, também tom ou part e Mesmo tard iamente, em 58 a.C.; o edil v ôo - que e ntrara em desuso na G réc ia na é po- ver suas ruín as j unto ao Pala zzo Pio). Recon s-
pessoalment e na encen ação de suas co médias. Emílio Scauro teve de curvar-se à lei quc pro i- ca da Comédi a Média - como também de ou - truções mostram que sua planta tom ou -se, sub-
Terên cio , porém . teve bastante sorte de encon- bia a con stru ção de teatros perm anentes. El e tras máquinas de movimentação, era re serva- seqüentemente, carac terística da con strução do
trar um produtor influente . que levou todas as havia construído um grandioso ed ifício, com do em Roma par a os jogos circenses na arena teat ro romano. A parede do palco é decorada
suas peç as: o diretor teatral Lúcio Ambiviu s uma scaena e fro ns organizada plasticamente, e no anfiteatro. Um novo invento, qu e desde co m colunas e o auditó rio, de form ato se m i-
Túrpio. A tro upe dc T úrpio tinh a boa repu- co m trezentos e sessenta colun as e um auditó- então se torn ou parte de qu alqu er teat ro do c ircular, é dividido em fileiras por dois gra n-
tação junto aos curule aedil es, e co mo dominus rio que , seg undo se alega, abrigava oitenta m il mundo, foi di scretamente introdu zid o e m 56 des co rredo res e em seç ões em form a de c u-
g regis sa bia de que maneira co nduz ir ao su- pessoas; por ém , co mo os edificados por se us a.C.; à margem do desenvolvim ent o liter ário e nha po r escada s radiais ascende ntes. No a lto ,
cesso as co médias por ele recomendadas. O predecessores , teve de se r dem olid o. técni ca do tea tro romano: o pan o de boca . o audi tório er a fech ado por uma ga leria co lu-
aco mpanham ento musical de suas pro duções. Obviam ent e, ha via um limit e ao poder do Se u pred ecessor em terras romanas foi o nada e orname ntada com estátuas.
co m arra njo para várias flautas, era co mpo sto edil , sentado em ca de ira curul. Mesmo os po- sipa riutn branco, que os mim os cos tumavam Dominando tod o o teatro co mo uma igre -
pelo escravo Fl áci o, derosos edi s, por um período de dois século s. baixar para esco nder a scaenae frons nos inter- ja med ieval fortifi cad a, erguem-se as íngrem es
Com o o palco era montado próximo ao não pud er am mudar o caráter provisório d o valos das tragédi as e comédias, e diant e do qu al empenas do templo de Vênu s Victrix OpOSIOà
circus e muitas vezes tinha de co mpetir com teatro rom an o antig o. representavam seus diálogos farsescos e bufo s. scaenae [rons. A presen ça dos deuses. qu e no
corrid as d e bi ga s, lutad ore s, dan çarinas e Não se sabe ao certo se e de que maneira Conforme os cenários iam se enr iq uecen- teatro de Dioniso em A tenas havia sido a co n-
gladiador es. isto implicava ami úde pesad as eram utili zad as as decorações pintadas. De do, surgiu a tend ência natural para ap res entá- dição de um cult o reli gio so, tornou- se um pre-
frustraç ões para os poetas - co mo aconteceu acordo com Livy, o edil Caio Cláudio Pulcher los ao público como uma surpresa . Co ntraria- texto diplomáti co no teatro de Pompeu, e m
com Terên cio no caso de Hcci ra. Mesmo quan- foi o primeir o, e m 99 a.Ci , a decorar a parede mente ao costume moderno. a co rtina ca ía no Roma . Para P ompeu , so brepuj ar o curu le
do a peça foi remontada, Terêncio calculou o do palc o co m pinturas natu ralistas. Por mei o início da peça. Os painéis de tec ido móvei s aediles e o Senado fora uma que stão de prestí-
risco de um acidente similar, pois esc reveu al- de reg istros, sabemos qu e essa s paredes foram era m fixad os na beirada diant eir a do tet o da gio; sele an os mais tard e, ele própri o fo i ec lip-
gumas linh as para Túrp io no prólogo: "Haven- pin tadas em painéi s de madeira móveis, co m sc aena e frons , sendo baixados para dentro de sado po r um hom em mais fort e, a qu e m o
do o rum or de que há gladiado res por perto. a urna divisão ce ntral, o qu e possibilitava o seu um fo sso estreito à frente do palc o . Este fosso popul ach o havi a vaia do pouco tem po an tcs.
multidão vem correndo. Gritam . apressa m-se desl ocamento para os doi s lad os da cena. ainda pode ser visto clarame nte nos teatr os de quand o ele ap arecera nos jogos dos gladia do-
e brigam por um lugar". Vitniv io. o fam oso teóric o da arquitetura, co nta pedra roma nos, como por exempl o e m O range, res: Júli o Cé sar.
Contrariam ente ao costume da época, pa- que as pinturas laterai s foram introduzidas e m no sul da Fran ça. O teatro europeu ado to u esse Ness a época , as ce lebrações do s Ludi
rece qu e Túrpio, ao encenar Os Gêmeos e m 79 a.C; pelos irm ãos Lúcio e Ma rco L úcul o , siste m a do pan o de boca (aulaeum) na época Rom ani estendiam -se por quinze ou deze ssei s
160 a.C., pôs máscaras nos ateres, a julgar por de senvolvend o- se mai s tard e no sistema do Renascim ent o, dias. Por ordem de Cés ar, Bruto s viajo u a Ná-
um testemunho do gram ático Donato. Os imi- periaktoi, um co nj unto de bastidores em for- poles a fim de recrut ar "artistas dioni síaco s"
tadores medi evais de Terêncio não nutriam ma de prisma triangular, orden ados em seqüên- para os espetáculos teatrais grcco-romano s que
dúvidas a ess e respeito ; possuíam um estoqu e cia persp ectiva e qu e giravam em torno de um o TEATRO NA ROMA IMP E RIAL aco ntece riam em tod os os distritos urban os dc
completo de máscaras para cada pcça (prova- eixo, de mod o que, co m um terço de rotação, Roma . Ante s de ser mort o aos pés da está tua
vel me nte baseadas em algum model o co mum, as decorações harm onizavam- se num ce ná r io O prim eiro teatro de pedra ro mano de ve de Pom peu, e m 15 de março do an o de 44 a .C",
hoje per dido ), e mantinham-nas c uidado sa - diferent e. (O mesmo sistema foi novam ente uti- sua so brev ivê ncia a um ardil. Foi co nstru ído Júlio Césa r auto rizara a co nstrução de Ulll no vo
me nte arr uma da s em pr atele iras. na ordem lizad o no século X V II pel o arqui teto de teatro por Po mpeu, aliado e posteri orment e adve r- teatro de pedra, abaixo do Capitólio. nas pr o-
exa ta da entrada em cena de seus usuários. No alemão Joseph Furt ten bac h em seu palco tclari, sário de Júlio Cé sar. Pomp eu se imp ression a- ximidades do Tib re.
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-.
"

14 . Teat ro romano na Ásia Me nor : Gcrasa (Je ras h. Jordânia ), co nstruído no séc ulo II d .C ,; no re inado de Adri ano .

l2. o prime iro teatro perm ane nte de Roma, co nstruído e m 55 a .C . por Pompeu como um ed ifíc io de múlti plas
serventias, que incluía um templo de Vênu s (reconstru ção de Li mo ngelli) .

13. Água- fo rre de Pira nesi ( c. 1750): vista exter ior do Tea tro de Marcelo em Roma , ter m inado em 13 a.C., no 15. Teat ro romano ed ificado nas roc has de Potra, a a ntiga capital uo s Naba tcus, no sécu lo II d.C Acima da s file iras de
reinado de Augu sto. asse ntos, tal hadas no pe nh a sco , encon tram-se as ruí na s de túmu los es cavad os nas roc has.
H ís t o rí a M" "d i al d o T o u t r o •

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o edifício foi term inado no reinado de em Aten as fo i enriquecido, dur ante o reinado gama de terr aços, ja nela s e balc ões para as de honra ape na s alg uns anos antes de as sisti r
Augus to e, em 13 a.C, dedicado à memóri a de Nero , com um a sc aenae [rons em estilo ro - entrada s dos atores. ao incênd io da c idade do alto de seu pal ácio .
de seu jovem so brinho, Marcelo. Pouco tem - mano, decorad a co m rele vos. Alguns metros A fusão de elementos heleníst ica s e ro-
po ant es, os ro ma nos haviam testem unh ado a além, na enco sta sudoeste da Ac rópo le, o rico manos , tant o no sul da Itália qu ant o na Grécia,
inau guração de mai s um teatro de pedra, cons- orador Herod es Á lico co nstruiu um ode um no d urant e muito tempo fez com q ue espaços tea- o AN F ITEATRO : P Ã O E CIR C O
truído por Lúcio Cornélio Balb o, amigo de estilo romano em 161 d.C .; em mem ória de trais separa do s por grandes distânci as geográ -
Pompeu. Desta obra rest am apenas algumas sua falecid a es pos a , Regil a. O auditório fica s e temporais usassem ao mesmo te mpo os Os dois traços carac terísticos do Imp ério
poucas ruín as dispersas, preservad as na Via dei (cavea) é de form ato tipicamente semicircu- doi s tipos de siste mas cenográficos - as deco- Romano, tanto e m qu e stões de arte qu anto de
Pianto, perto do Palazzo Cenci. lar, como são igua lmente típi cas as pilastras rações pintad as e as puramente arqu ite tur ais. orga nização, eram a síntese e o exage ro , que
No entanto , as paredes externas do Teatro nas paredes do palc o , cujas alas lat erais se Enq ua nto no grande teatro de Pompei a. em podem também se r e nc o ntrados nas for ma s
de Ma rcelo - capaz de abrigar ce rca de vinte projetam, fo rma ndo uma conexão co m a cavea Rom a. o fund o de ce na orna me ntado , esculpi- específicas do teat ro ro ma no. O dram a sozi-
mil espectador es e, por isso, o maior dos três - e criando, assim, uma unidade fechada e har- do e a rq ui te tura l pro vavelm ent e dom ino u su- nho não ofere cia ca mpo suficie nte para a ex i-
ainda resistem . Embora não tenha sido usad o moniosa. O teatro foi ori ginalm ent e cha ma do premo mesmo depois do início da era cri stã, bição do pod er e es ple ndor. O teat ro da Rom a
para a sua prop osta original dura nte séc ulo s, odeum por ser usado princip alm ente par a es- os direto res de teatro rom ano em Co rinto , no imperi al qu eri a impressionar. Na verdad e, ele
ainda hoje o edifício transmite a imp ressão do petácul os mu sicais: ma is rece nteme nte, tem sé culo II d.C; ainda estava m trab alh an do com preci sa va imp re ssi on ar num imp éri o qu e
majestoso esplendor de sua arquitetura. A pre- sediado o Festival de Verão de Aten as. cenários de madeira praticá veis e mecani sm os abrangia desd e o ex tre mo nort e da Ge rm ânia
dominância do "class icismo augustiano" refl e- Um dos mais bem pre serv ados teatros ro- de fosso . até as cos tas da Áfr ica e a Ásia Menor. O nde
te- se na seqüê nc ia did ática das fo rmas estilís - manos fora da Eu rop a é o de Aspendus, na Ásia Apuleio, o autor de O Asno d e Ouro c um q uer q ue as le giões ro ma nas pisassem . eram
ticas empresta da s da Grécia, um modelo qu e Menor, que foi de se nhado pelo arquiteto Zeno ho mem tão apa ixo nado por viag e ns quanto seg uidas por "jogos" q ue forneci am div er sões
seria rep etid o numa escala ainda maior oiten- durante o reinad o de Marco Aurélio (161-180 pe lo ridículo, nos deixou a descrição de uma e sensações de tod o tipo, para manter o moral
ta an o s mai s tarde , no Coli seu . Aqui as ar- d.C "). O auditório, parte do qu al é edificado aprese ntação do balé Pirrica em Corinto : o nas fileiras rom anas e entre os povos co nquis-
cadas altas , abo badadas, são articuladas por sobre a encos ta da co lina, form a um a unidade cenário. de madeira, mostrava todo o Mont e Ida , tad os .
co lunas emb utidas de estilo dóri co no prim e i- fechada co m o palco , atr ás do qu al há um cor- cheio de anima is, plantas e fontes - fo ntes reais, Dent ro dos terr itó rios periféricos da c ivi-
ro pavimen to e de es tilo j ônico no segundo, ao redor estreito de o nde c inco port as permi tem da s qu ai s jorrava água . Árvores e ar bu stos vi- lização helen ísti ca, os ro manos aderir am co m-
passo que as co lunas de estilo coríntio do tercei- o ace sso a ele (p ulp ituni s; duas outras en tra da s vos também faziam parte do ce ná rio. Contra pletam ent e à trad ição do teatro skene. simples-
ro pavimento não se preservaram. Ao esboço in - levam ao palco a pa rtir das pa raskenia , em essc fun do, o Julga mento de Páris era da nça - mente ada pta ndo- a às ex igê ncias do s açula-
terno do Co lise u correspondia a estru tura da ambos os lados. A suntuosa fachada da sca enae do por um bel o adolescente e mulheres " divi- ment os de an imais , jogos de gladiador es e
fachada. Prim eiramente, havia o semicírc ulo frons era pro tegida por um teta , como o q ue nas" . V êuus surgia nua, salvo por uma es tre ita nau mach iai (bata lha s navais); no co ração do
inferi or de asse ntos , subdividido em seis se - existia tamb ém no odeum de Herodes Ático e faixa de se da em torn o dos qu adris. rodea da impér io, ao co ntrário, construí ram o anfi tea -
ções ; ac ima , o semicírculo supe rior, subdivi- no teatro do século I de Orange, de C upi dos da nçari nos, Hora s e G raç as. tro es pec ifica mente rom ano , desenh ado para
dido proporcionalmente em doze seções; e, so - Os rom a n o s a c re sce n tara m no va s e Mi ne rva era aco mpanhada por horrí vei s de- espe tác ulos de massa . Este comb inava os re-
bre a fileira mais alta de assentos, havia um a magnificente s fac ha das, ou pelo menos pedes- mónios. Juno por Cás tor e Pólu x. e Pá ris por quis itos da aren a do ci rcus com o princ ípio da
galeria cobe rta, sustentada por colunas coríntias. tais de proskcnium com decor ações em rele - se u rebanho . Ao final do balé , um a fo nte emer- unid ad e teatral co ntida em si mesm a, numa
Esse modelo básic o reaparece, com mu i- vo, a muit os teatro s gregos da Ásia Menor - gia do c ume do Mon te Ida e perfum ava o ar, e solução de im ponen te grandeza.
tas variantes, em todas as casas teatrais rom a- co mo por exe mp lo em P érgam o, Prien a, Éfe so , de po is dessa ce na a mo ntanh a era aba ixada A predil eçã o pelo c irco . qu e o satirista e
nas, tal co mo nas bem menores de Herculan o, Terme sso, Sagalasso, Parara , Mira e lasso. Isso co m a aj uda de lima máquina. Tu do isso so a poe ta Ju ven al at ri bu iu tão inso lente me nte a
Aosta , Falér io e Ferent o, que mostram, sem serv ia também pa ra baixar a posição do pal - co mo a descri ção da época do teat ro barroco, se us co ntem po râ neo s no poço de iniq üid ades
exceção, influ ência romana direta . Os mesm os co, de acordo co m a pr ática ro mana. O teatro COIl1 seus aparatos mec ânico s. que era Roma re mo nta , na ver dade, ao s pri-
prin cíp ios se apli cam, em menor esc ala, ao s de Mil eto foi reco nstru ído a parti r do final do Montanhas que exp lode m, erup ções vul- meiros co lo nos às m argen s do T ibre. A enor -
teat ro s da costa norte da África , co mo por século I e co mpletado na época do re inado de c ânic as e palácios que desabam se mpre foram me arena do Circus M aximu s dat ava, ao que
exemplo em Djemila (EI Djem ), Lepti s Mag- Adriano. As co nstruções em Mil eto devem ter efe itos cê nico s pop ulares. (Q uando a Ó pe ra de se di zia. j á da época de Tarquínio. Os etruscos,
na o u T irn gad , urna cidad e co nstruída p or si do ma g n ífi c as , a julgar pel o impon ente Paris aprese ntou , em 1952, a recon stru ção das em se us jogos fun er ai s, haviam desen vol vid o
Trajano pa ra veterano s de gue rra. Quas e to- portão do mercad o, hoje recon struído no Mu- ÍI/d ia s Golantcs, de Ram eau , c o m toda a lutas de gladiadores e co mpetiçõe s muito tem-
dos es ses foram construídos durante o século seu de Pérgam o, e m Berlim. A nova scaenac parafernália cênica do barroco e co m ce nários po antes de os ro man os as terem introduzido.
II d.e. e usado s largamente para o entreteni- [rons do te at ro fo i, sem dúv ida, erig ida na de Wakhcvit ch . Carcov, Moul en e e Fost c O C irc us Max imu s fo i repetidamente aumen-
mento das guarnições rom anas. mesma magn ífi ca es cala. Nos dias imperiais. C ha pc luin- Midy, teve ca sa lota da durante tado e melhorad o sob () governo de Jú lio César,
Com a expansão do Im pério Romano, o bastidores pint ados , de madeira ou pano , pr o- anos.) Numa [ab ula togata de Lúc io Afrâni o . Aug us to , Ves pa s iano , Tit o, Trajan o e Cons-
princípio dos co nquistadore s sempre foi este n- vavelmente não mai s eram usados, por ém a chamada Casa em Chama s. um a casa realmen - tantino, de o nde j am ais pode se co ncl uir que
der às novas terra s não apenas Ulll sistema de combinação de vários pisos, sustentados por te foi incen diad a no palco. O espe tác ulo rece - pe rde ra sua im portân cia em todos esses sécu-
gove rno ce ntra l, mas tam bém as realizações co luna s e co m re levo em per spectiva. pro por- heu apl au sos entusiásticos, e, ironicamente. o los, ne m mes mo na é poca em que os cida dão s
de sua civilização imperial. O tea tro de Dion iso cio na va ao palc o d a coméd ia uma variad a imperador Nero assistiu sentado em se u lugar da res publica afl uía m, em mais de ce m dias
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• Ro ma

. -"r--.
. .._.' ec-,
do ano, ao mais gra ndioso teatro dos impera-
dores flavianos - o Co liseu .
O Coliseu teve doi s pred ecessore s bastante
dili/I! elevado. na primei ra ga leria ficavam os
lugare s de honra dos senadore s e ofici ais, sa -
ce rdo te s e vestais. A segunda ga leria aco mo-
dí spares. Um deles fo i o anfiteatro de Pom péia, dava a nob reza e os oficiais . a te rce ira os patrí-
construído por vo lta de 80 a.C,; ju stamente ao c ios ro ma nos, e a quart a ga leria. os plebeu s.
lado da palaestra, mas que ainda não di spu- Parece tamb ém ter havido um a co lunata reser-
nha de nenhuma sa la subterrânea para abri gar vada às mulh eres.
as jaulas de animais ou a maquinaria nece ssá- O auditório podi a ser cob ert o por toldos
ria para erguer feras . ce ná rios e ace ssórios . O de linh o, a fim de protegê-l o co ntra o sol e a
segundo foi um a cur io sidade teatr al. erig ida chuva. Ao longo da co rnija superior dos mu-
por Escr ib ônio C úrio em Rom a, em 52 a.C; ro s ex ternos encontram-se, a intervalos breves
para os funera is de se u pai, presumivelmente e reg ulares, suportes nos qu ais se enca ixava m
por ordem de César. Co nsistia em dois teatros os duzentos e quarenta mastros qu e sustenta-
semic irculares de madeira, situados de costas va m os told os, içados por mar inh eiros da es-
um para o outro . Pel a ma nhã , era apre sent ada qu ad ra impe rial. Emba ixo da aren a ficavam os
urna peça diferent e em ca da palco ; à tarde, os tú nei s co m as celas para as j aulas dos animais,
dois teatro s era m virado s para que, juntos, for- maqu inari a para o manejo de decorac õe s e mu-
ma ssem um anfit eatro . Em sua arena fechada, danças de cenário, como também os encanamen-
apresentavam-se lutas de gladiadores, como se- tos necessários para inundar a arena quand o os
gunda parte do esp er ác ulo. O mil agre técnico, espet ácul os de batalhas navais (l1all -ma chiae)
segundo se conta, era reali zad o sem que os es- es tava m no programa.
16. Po rtão do mercado de Mile to, provavelmente UI11 exe m plo do estilo arquit ct ônico da casa -pal co do teatro de Mileto. pectadores do s doi s auditó rios precisassem C o m tod a a certeza, nenhum dram a de
c uja rec o nstruç ão foi terminada no rei nad o de Adriano (Be rlim , Staatlic he Mu scen . l' crgamo nm useum ).
deixar seu s lugar es. qu alqu er mérito literário foi jamais apre senta-
O C oli seu. pri m ei ram ent e co nhe c ido do no Co liseu. Seus mur os abri garam tudo o
co mo Anfiteatro Flavian o, foi erg uido no 10- qu e co rrespondia ao S/IOW e ao espetáculo no
ca l qu e Nero incendiara , no decli ve que ele se ntido mais amplo da palavra. Na época de
havia ench ido co m ág ua, a fim de formar o A ug usto, a ênfase na program ação teatral já
lago em cuja margem co nstruíra seu paláci o, a havia passado tão radi calm ent e do dram a fa-
Ca sa Dourada. A co nstruç ão do Co liseu foi ini- lado par a o sltow de varied ades qu e atores
ciada em 72 d .C. , pelo sucessor de Nero, o im- ate lan os, mimos e ato res de pant omim a tinham
perador fluvian o Vespasiano , e termi nada em pou co a tem er na co mpetição co m atore s dra-
80 d.C. Na s cerimônias inaugurai s do novo máticos. Esquetes curtos , palh açadas, ca nções
Anfiteatro Flavi ano . que se e stende ram por do tip o music-hall, revistas, acrobacias, inter-
cem dias. aprox imadam en te c inquenta mil pes- 111 e;:;:i aquáticos, números equestres e espetácu-
so as lotaram o audit ório pa ra as lutas de gla- los co m an imais eram mont ad os para divertir
diadores e o açula mento e matança de animais. UIII público que vinha ao teat ro co m nenhuma
C inco mil a nimai s se lvage ns foram mortos o utra q ualificaçã o qu e não foss e a de ser con -
ne ssa oc as ião . sum idor.
A mem ória de Ne ro, indiretamentc, sobre- So b o govemo de Domician o, o sangue
vive no nom e pop ular pelo qu al a maje stosa c rist ão COITeu no anfiteatro . Sua tentativa de
con strução ficou conhecida desde a Idade Mé- inst itui r as Capitolia co mo um co ntra po nto aos
dia . É chamada de Co lise u (Co los seunú por l ogos O límpicos gregos não limpa a sua figu-
causa da colos sal estát ua de Nero , de 25 metros ra. As co mpetições nacionais de esp ort e s e rea-
de altura, fundida por Ze nodo ro em bronze lizaçõe s intelectuais de Domiciano esco rre ram
dourado. represent and o o im perador como o na are ia da arena.
deus do sol. Ne ssa época. os romanos não qu eri am ter
A con stru ção extern a se ergue em quatro nenhum a experiência intelectual marcante no
pod eroso s paviment os. com colunas de estil o teatro. Queriam o show. Aplaudiam aqueles que
d órico. j ónico e coríntio. alte rn adamente; den - tent ava m ganhar po pularida de no anti tea tro
tro. quat ro ga lerias aco moda vam os espec ta- co m g rupos espetac ulares de ar tistas , be los
17. Ág ua -forte de Piran cxi (c. 1750): tl Co liseu 1.·I II I~olll ;l. co nstruido xo b o reinado do im perador Iluvian o, ve sp a siano .
termi nado cm XO d .C. dores. Além do ca marot e imperial, num p o- anim ais, solistas espirituoso s, músicos e bu-

157
,

19. Rel evo de um sarcó fago em mármore: co rrida d e biga no Círco Máx imo. cm Rom a. Final d o século 111 d .C.
(Fo ligno, Mu seo Civi co) .

. 1.8 . Pintura c m parede de Pompeia: o anfi teatro (co ns tru ido ~ 1l1 80 a.C .) c o cspet ácul o de uma co m petiç ão em seu 20 . Rel evo em marfi m: açulamcnto de an imais na arena. De um díptico do côn sul An astácio, 517 d.e. {Paris, Ca binet
interi o r c m 59 a.C . (N ápo les. Musco Naz.ion ulc).
des M édai lle s. Bi blioth êquc Natio nalc ).
• Roma

fões, A popularidade de um novo cônsul cres- dade está cheia de inimigos. Não acontece mais na famo-
sa cidade de Trier, porque ela jaz em ruínas, depois de
cia ou decaía com os espetáculos teatrais que
quádrupla destruição. Não acontece mais em muitas das
organizava ao tomar posse do cargo na época cidades da Gália c da Espanha.
do Ano Novo. Numeriano e Carino, em 284
a.C., ainda se contentaram em contrapor um Salviano, ele próprio provavelmente nas-
urso como comparsa do mimo - ou possivel- cido em Trier, acusava seus conterrâneos de
mente um homem disfarçado de urso, já que o haver pedido ao imperador que restabelecesse
Ano Novo romano era celebrado por todo o os jogos de circo "como o melhor remédio para
povo com mascaradas de animais, mesmo fora a cidade arruinada": "Eu acreditava que, na
da arena. Mânlio Teodoro, porém, em 399 d.Ci, derro ta, havíeis perdido apenas vossos bens e
Clflpnizou um programa bem mais ambicioso posses, mas eu não sabia que havíeis perdido
para os jogos que financiou a fim de celebrar a também vosso juízo e bom senso. É teatro que
inauguração do seu mandato oficial. Nessa oca- quereis, é circo que exigis do governo?" Como
sião, a parte grandiosa do espetáculo consistia teriam sido gratificantes essas palavras para
em lutas entre homens e animais selvagens, Juvenal!
que sofriam ou causavam derramamento de
sangue. O cenário do espetáculo era o Coliseu.
Não existia mais uma linguagem comum A FÁBULA ATELANA
para o heterogêneo mosaico do Império. O dra-
ma romano exaurira sua eficácia teatral com o declínio do drama romano e a extinção
Plauto e Terêncio. As comédias e tragédias de da comédia abriram as portas do teatro estatal
seus sucessores eram artigos válidos apenas romano para uma espécie rústica de farsa co-
para o dia, ou, como nas obras de Sêneca, se nhecida como fábula atelana. Já no século II
achavam a quilómetros de distância do gosto a.C.; os atores da farsa popular da cidade os-
de um público inteiramente sintonizado com cana de AteIa, na Campânia, haviam se enca-
corridas de bigas, jogos na arena, incitamento minhado em bandos, para o norte, na direção
21. Relevo em terracota: cena de gladiadores e leões. À esquerda, espectadores em seus camarotes; à direita, a estátua de animais e bufões. de Roma, pela Via Appia. À rusticidade de suas
de um deus (Roma, colcção do antigo Museo Kircheriano). O que o teatro romano do período impe- máscaras grotescas correspondia a robusta
rial ganhou em extensão geográfica precisou irreverência de seus diálogos improvisados.
ser pago com a perda total do caráter nacio- Seu repertório modesto se apoiava em meia
nal. Converteu-se num instrumento a ser toca- dúzia de tipos, como o malicioso Maccus, que
do em qualquer partitura, com qualquer par- compensava seu desajeitamento com uma afia-
ceiro. Quando Teodorico, o Grande, tornou-se da argúcia; o roliço e simplório Bucco. sempre
senhor da Itália, no início do século VI, pen- derrotado; o bondoso Velho Pappus, cuja senili -
sou que não poderia oferecer nada melhor para dade era objeto das mais cruéis mordacidades; e
reconciliar os orgulhosos romanos com um rei o filósofo glutão e corcunda Dossenus, alvo fa-
germânico do que a mais variada seleção de vorito das gozações dos camponeses iletrados.
jogos de circo e pantomimas. Os atores atelanos, aos quais se juntaram
Mas o declínio do poder imperial romano mais tarde também os intérpretes romanos pro-
havia diminuído o brilho do seu teatro. Embo- fissionais, tinham sua própria fuução nos fes-
ra a Igreja cristã tivesse repetidamente repro- tivais de teatro estatais. Como as peças satíricas
vado o povo por "negligenciar os altares e ado- da Grécia, davam um final cómico, grotesco
rar o teatro", Salviano, por volta do século V, (exodiunn às apresentações de peças históri-
escrevendo de Marselha. pôde acrescentar com cas sérias e às tragédias nos Ludi Romani, uma
razão uma reserva: retaguarda alegre, conforme coloca Ulll dos
escol ias tas de Juvenal, "para ajudar os espec-
Mas a resposta a essa acusação é talvez que tal fato tadores a secar as lágrimas". As atelanas tive-
não acontece em todas as cidades romanas. Isto é verda- ram seu período áureo no século I a.C.; quan-
de. Eu poderia ir ainda mais longe e dizer que isso não
22. Máscara da atclana romana, período tardio, com o do os dramaturgos romanos Pompônio e Nóvio
acontece agora onde acontecia sempn: no passado. Não
nariz torto c a típica verruga na testa, aqui exagerada. Em acontece mais cm Mainz., porque a cidade está arruinada resolveram dar forma métrica à farsa rústica e
terracota (Tarento, Museo Nazionale ). e destruída. Não acontece mais cm Colônia, porque a ci- repleta de obscenidades. Não obstante. conscr-
• 161
H i .\·' /' I"; (J M'u n d i a! do T eat r o . • R OJ// o

23 . Xà n tiu s (cm Osco. S a ll l i~ l ' ao lad o d e III l1a nos pés . q ue d ife ria do cothurnus do atol' trá- efígie s e es tá tuas erguidas em praças púb lic as,
estat ueta d e Hé rc u les. Figura de \'~I:'-O l\ ~CP da é po\,:a d a
gico e do SO CC I/S do comed iante ; essa sandá lia no circo e no anti tea tro, mas que tratá- los em
farsa atc laua. scc u lo II a.C .
lhe va le u. em Roma. a alc unh a de planipedes . pé de igu ald ad e só podia se r perd oad o a um
O gra má tico Donato. porém . tem uma exp li- imperador. nun ca porém a Ulll nobre.
cação men os bo ndosa: de aco rdo co m e le . o O dirctor e a ror principal de uma tro upe
varam o di aleto d os ca mponeses latinos, ju n- mimus era cha mado de planipcdia por qu e se us de atere s e utrizes de mimos era chamado de
tamente co m sua exp ressividade rús tica - com o temas e ram tão vis e seus ater es tã o baixos, archiminius . Era e le quem supervisionava a
por exe mp lo, q uando algué m pergunta: "O que qu e só podia agradar a libertinos e ad últe ros . peça e deter min ava se u de senvolvimento. se
é o di nhei ro '!" e rece be a pitoresca resposta: Cé sar pe nsava de outra forma. Em sua é po - ela seg uiria um texto liter ário ou se seria im-
"U ma felic idade pa ssagei ra, um q ueijo da Sar - ca, o mim o e a pantomim a, seguros da prote ção provisada. No séc ulo V I d .C; Corício de Gaza
denha (ou sej a. que se derrete rap idame nte I" . imperial. su perara m todas as outra s forma s tea- esc reveu q ue o mimo precisava ter uma boa
Embor a haj a sobrevivido à tragéd ia e II co - trais. Doi s homens de classes e orige ns comple- mem ória para não es q uecer seu papel e co n-
médi a, a farsa a telana perdeu terr eno para o tamen te diferente s sa lie ntara m-se e m Ro m a fundir- se no palco. ti. improvisação exigia um
mintus na é poca dos últimos imper adore s. como escri tores dc " textos" para o mi mo : o no- equilíbr io muito pre c iso no fio afiado da pala -
bre Décimo Lab ério e o atol' Públio Siro. vra, es pec ialme nte na é po ca do s imp eradores
Ma s da pen etrou Iod as as pro víncias do I mpéri o lio incont este de apresent ação. A partir de 173 Um in cident e tragic ómico que ocorre u a e das co mpe tiç ões po r se us favore s.
Rom a no c provavc hu cn tc co nservo u os prio c ipni- li po s a .e., os Ludi F lor ales, um festival de pri mave- La bé rio exemplifi ca tant o a glória quanto a m i- O arquim imo Fa vor sabia qu e teria o pú -
fixo s da fa r:ia da C am pâuia Isso é suge rido , cm primei - blico ao seu lado quando, nos funerais do im-
ra que dura va vários d ias. to rnaram-s e uma séria do mim o. Lab ério er a um ho mem de es-
ro lugar. pe la c irc un stân c ia de que a s m áscara s de: toda s
as part e ... do mun do . de Creta. por e-xempl o. ~ l T .II 'l' IH O e ocasião para a art e tea tral " íntima" . Enquanto pír ito e educação, que se divertia escreve ndo perad or Vespasiano em 79 d.C. ; arris cou uma
:l Gcrmáu ia .... ;10 ex truord inarinruc ntc par eci da s. Em se - no Circus Maxi m us, bem pr óx imo ao templo textos para os atores do mim o; nunca teria so- piada q ue parodiava um dos mai s bem conhe-
gundo lugar. há o detalhe de que c m tod as ess as masca- de Flora. bod es e lebr es era m incit ados em hon- nhado. porém. em sub ir. ele próprio, no palco. cidos traços do fa lec id o : a prudente e calc ula -
ras se re pete se mp re uma verruga na testa. Ta l cxcrcs- ra da deusa . em ve z de fera s, o mim o a honra- M as ele vivia soh o governo de César, e C é sa r da ec onomi a, qu e havia lhe valido a reputação
c ência (Orno u-s e co nhec ida, na Anti g ui d ad e . CO II IO a
va a seu mod o, co m bufonar ias fálicas e gro- en tende u certa vez q ue devi a obriga r o vel ho de mesquinho . Como era cos tume nas ccrirn ô-
doe nça da Ca mpâ n ia. .. O falo de' as uuiscaru s f;ll"'l'~ ca s
romanas repr oduz irem e SS<l an ormal idade. tida com o tescas. e com o a trae nte en canto femin ino - Lab ério, então co m sesse nta anos, a tomar parte nias fúne bre s. Fa vor interpre tou o papel do
c ómica. pro va ao mesmo tem po que u farsa romana ha i- porq ue o mi mo foi , de sd e o princíp io, o único num concurso de interpreta ção co nt ra Públio mort o, qu er endo sa be r quanto havia cu stado o
\ .1 fo i in flue nc iada pel o m imo unive rsalm e nte po pular gê nero teat ral em qu e a participação da mu- Siro. Para o an ciã o, isso co nstituía uma ve rgo- fun er al. A re sposta foi : " Dez milh õe s de
(~ l. Bicb crr .
lher não era um ta bu. ti. mima e dançari na qu e nha pú bl ica . ma s César di vertiu -se ve ndo o ses t ércios". Diante di sso. Favo r. no pape l do
exi bia sua flexibi lid ad e ac ro bática na FIorá Iia, co nceituado nobre supo rt ar as piadas grosse i- falecid o Vcsp asiano, g racejou qu e seria me lhor
q ue podia - e tinha de pod er - atrever- se a ho- ras, à man eira dos mimos. eco no miza r toda essa quantia. dar-lhe ce m mil
MI M O E P A N T O MI M A me nagear a de usa da nat ureza em flor desp in- Nã o fo i de g ra nde aj uda para Lab ério , no sest érc ios e j ogá- lo no T ibre .
do suas vestes, é a irm ã de todas aque las q ue pape l de um esc ravo ca stigado . ter ex clamado A a rte do teatro havia se transformado na
Ao co ntrá rio dos atores atela nos. os mi- têm exercido o ate m po ral ofício de agradar aos reprovad orament e "Ai de n ús, ro man os !. no s- habil idade do int érprete . Divorciada da o bra
mos rom anos não usavam m áscara s. O mimo home ns. Ela é a irmã da dançari na hindu que sa liberdad e se foi !" e, aponta ndo aind a mai s dram .irica d o poeta , foi deixada ao cr ité rio do
não nece ssitava de nada mais do que de si pró - respo nde à per gunta do es tra nho : "A quem pe r- di retamente para Cés ar: "Q ue m é tem ido po r ata r indi vidu al. A proximav a-se a gra nde era
prio, sua versa ti lidade e sua arte da im itação - tenccs?" com a seg uinte fra nq ueza: "Pe rtenço muitos. há de te mer a mui tos !" César riu mui- das panromi mas, quc se mpre florescem l.i ond e
em resum o, de sua mimesis. Me sm o o discu r- a ti" . E ela é, ta m bé m, um a irm ã da atriz do to e deu o prêmio a Públio Siro. as front ei ras da lin gu agem e os desert os da co -
so era apenas um acessório. Sanniones, carctc i- mi mo de Bizâ nci o , co m q uem o imperador Quando Libéri o, após o a ma rgo e spetá- muni cação verba l precisam ser tran sposto s, e
ros, er a como os romanos chamavam os m i- J ust in iano di vidi u se u trono e a q uem fez cu lo, qui s to mar de novo o se u lugar ent re os eleme ntos nativos, rcconci liados co m el em en-
mos, um ape lido qu e parece te r so bre vivido impe ratrix de todo o Imp é rio Ro ma no. nobres, nen hum deles se mexeu para dar- lhe tos estrangeiros. A pan to mi ma foi a est rela tea -
no Za nni, o fol gazão da Commedia de/l'a rtc. Os mim os rep rese ntavam à beira da est ra- espaço. nem me sm o Cíce ro. "Eu ficaria feli z tral das resplandecentes festividades do Egito
" Po de ha ve r a lgo ma is ridíc ulo do q ue o da, na arena , nu m a p lataforma de tábuas ou na se pudesse oferecer -te UI11 lugar junto de m im . sob o go vern o d os Pto lornc us, e a favori ta dos
Sanni o", d isse Cíc e ro depreciativa ment e, "q ue scaenae [rons do tea tro , Usava m as roupas se e u mesm o não es tives se tão ap ertado aq ui" , Césares e do povo ro ma no .
li co m a boca, o rosto , os gestos zombet eiro s, comuns do s ho men s e mul heres das ruas - far- tent ou de sculp a r-se . Por ém , se a honra de Quand o o imperador Au gu sto ba niu de
com a voz , e até mesmo com todo o seu COJ]lo?" rapos, como os da s pes soas que represe ntavam, Lab ério ha via sofrido, o mesmo não aconte - Roma o pantomi mo Piladcx, ho uve tamanho
Era a essa arte de rir e provocar o riso qu e como eles pr óprios o e ra m - ou seda e broca- ce ra a sua pr esen ça de espírito: ass im . ele re- protesto popu la r qu e ele foi obri gado a logo
o mimo de via a sua popularidade em Roma. dos , quando conseguiam os favores de algum plicou: '"É es tra nho qu e estejas se ntado numa revog ar a sen ten ça e c ha má-lo de volta do ex í-
Nos Lud i Romani, ele tinha permissão para patrono rico. O bob o ves tia uma ro upa de re - pos içã o tão ape rtada. já que se m pre consegues lio . Pilad es e ra grego, o riundo da Al ícia. na
estende r sua cort ina branca tsip ariunn atrav és talhos colori dos (ccntunculusr; como a usada se ntar-te em duas cad ei ras de uma vez". Ásia Men or. Es pec ializo u-se na pantomim a
da ce na e apresentar suas pilhé ria s nos intcr- ainda hoje pe lo Arlequim. e um chapéu po n- Esse incide nte é indica tivo da s di stinçõe s trági ca. e fo i ex a ltado por se us co utc m po-
vala s ent re as tragédia s e as comédi as. Na ver - tudo (apex ; daí a ex press ão posterior, apicio- soc iais den tro do teatro. Ele ca racte riza um a râneus co mo " suh lime , pat ético. m u ltiface-
dade, na s Flor ália s, d ispunh a de um monop ó- .\"IIs ) . O mimo usava apena s uma sa ndá lia leve class e de a rtistas qu e são hom en agead os co m tudo" . Sen pap el mai s brilhant e era o de Aga -
• t62 • 1{'3
H is t ó r ia M u n d ía í (/ 0 T r a t ro •

men on . Foi graças a Pilados que, a partir de 22 nament o do teatro romano", teve de pagar pe- 24. A lriz da pantom ima romana tardi a segurando
a.C., as pantomimas passaram regula rmente a los favores da jo vem imperatiz co m a própria uma máscara trifacial , Rel evo em m arfim de Trier;
ter o aco mpanhamento musical de uma orques-
tra de muito s instrument os. Ele fund ou uma
vida, quando o enc iumado imperador Domi-
ciano um dia o desafiou na rua, esfaqueando -o
!
.r
século I V d.e . ( Berl im. Staatlichc Musecu ).

escol a de dança e pantomima e supõe -se que com as próprias mãos.


tenh a escr ito os princípio s de sua arte num Ira- Quintilian o, o gra nde orado r da época de
tado teórico que, entretant o, se perd eu . Dorniciano, escreveu a apologia artística da
Não menos popular qu e Pilades foi seu pantomima. Os pantornimos, disse Quintiliano,
co ntemporâneo Batil o, a quem Me cen as, o podiam fal ar com os braços e mãos:
patr ono roman o das artes, auxiliou em seu ca-
minho para a fam a na pantomima. Batil o Eles pod e m falar, suplicar, pro meter. cla mar. rec u-
tambcm era grego, nascido em Alexandria, e sar, a mea çar e implo rar: ex pressam aversão. me do, d úvi-
veio para a casa de Mecenas com o escravo. da. rec usa. al eg ria , afl ição . hesitaç ão . reco nhec im e nto.
remorso , ruod eraç ào c exc es so . número e te mpo . N ão são
Tornou-se o ídolo das dama s romanas - um
eles ca paz es de exci tar, acalmar. suplicar, ap ro var. admi-
jo vem sensível, de graça fem inina, cujo nú- rar. m ostra r verg o nha? Não servem. como o... pro nome s e
mer o so lo "Leda e o Cisne" era entusiastica- advérb ios. para dc xignnr lugares e pessoa s?
mente aplaudido por sua extasiada platéia fe-
minina. Essas sentenças poderiam muito bem ter
S êneca - que viu a pantomima prosperar sido tiradas do Nat yasastru, o manual didáti-
so b trê s imperadores, Augusto, Tib ér io e co da dança e do teatro hindu s, de um comen-
Calígula, e que certa vez mandou açoitar al- tário de Mei Lan-fang, o astro da Ópera de
gun s espectadores por perturbarem uma apre- Pequim, ou de um a resenh a do pantomima
sentação do pantomimo Mnester - descreveu moderno fran cês , Marcel Marceau . A arte da
desd enh osamente os jovens nobr es romanos pant omima é un iversal. Suas leis são as me s-
como escravos particulare s dos pantomim as. mas em todos os lugares e cm qualqu er époc a.
A situação geral do teatro romano nessa épo- Sua lingu agem sem palavras fala aos o lhos. É
ca talvez sej a a melhor expli cação para a cir- por isso qu e a arte da pantomima se espa lho u
c u ns tâ nc ia et ern amente intrigan te de q ue de Roma para todas as regiões do imp ério.
S êneca, famoso na posterid ade co mo o dra- Uma for ma de entretenimento que goz ou
matu rgo da tragédia romana, nun ca lenh a vis- de popul ar idade part icular entre os roman os.
to nenhuma de suas obras encenadas. Erudito tanto no Império Ocidental quanto mais tarde
e moralista, S éneca não poderia ter nenhum a no Império Bizantin o do Oriente, foi a dos balés
relação com o show business brut o, barato e e jogos aquáticos. Esses sho ws aconteciam em
artificial. como lhe pareci a o teatro romano. piscinas ou em teatros gregos no Orie nte, refor -
Mas na mesma cidade de Roma, onde o teatro mados de modo a comportar a água. Marc ial
o desdenh ara na época em que era vivo - ou, (c. 40 -102 d.Ci ) menciona um espetác ulo aq uá-
de acordo co m as pesquisas mais recentes, fora tico e m seu LiIJe/lIlS spcctaculo nun, descre -
por e le desdenhado - , S êneca ressuscitou para vendo-o com o um balé aquático com nereid as
a glóri a no linal do século XV, graça s aos es- e um mim o, no qu al Leandro literalm en te atra-
forços do humanista Pomp ônio Laetu s (G iulio vessava as águ as a nado até Hero.
Pomponio Leto). O fam oso piso de mosaicos da vil la ro-
Um aSlro da pantomima podia, entretan- mana tardia na PiazzaArmerina, na Sicília, ofe-
to, perder SUa popularidade da noit e para o dia. rece uma imagem muitas vezes reproduzida
A rolet a do aplauso e da fama podi a trazer o do encanto das ninfa s aquáticas. O mosaico,
triunfo ou o aniquilamento. Quando Nero se elaborado provavelmente por volta de 300 d.e..
deu co nta de que o pantomimo c dan çarino para o imperador Maximinian o Hércules, mos-
Pári s, o Velho, seu favorito e co nfidente ínti- tra dez jovens de biquíni s vermelho-azu is, pu-
mo, era mais popular junto ao público do que lando, correndo e tocando tam bor ins no es tilo
ele própri o, mandou decapitá-lo sem cerimô- dos espetáculos de variedades co muns por todo
nias. O filho da vítima de Nero, Páris, o Jovem. o Impér io Rom ano. O Guildhall MII.H '/l/II de 25 . Mimo no papel de e nca ntador de se rpe ntes .
não teve melhor sorte. Ele, "o esplêndido 0 1'- Londres exibiu, em 1956. urna parle de um dcs- com guizos na roupa. M arfi m romano ta rd io .
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• /( () lIla

ses biquínis antigos ; eram feitos de couro, cor- de forma vi sível a co nversão ao cristi ani smo,
tados num a só peça e guarnec idos com tirinhas era um tema . Parodi ava-se aquil o que não se
de co uro par a amarrá- los dos dois lados do s consegui a ent end er. Zo mbava-se daquil o que ,
qu adri s. Foi e nco ntrado num poço rom an o em outro s aspec tos, es tava além da compree n-
descob ert o dura nte escavações em Londr es, na são da massa.
hoje Qu een ' s Str eet . Entr etanto , outros obj e - Hermann Reich, es pec ialista em mimus,
tos descob ertos no mesmo local, co mo um a sugere até mesmo qu e o martíri o de C risto, a
taça de porcelana sig ilata, um a grande chave fla gelação e o Ecce homo sejam uma deriva-
de ferro, uma co lhe r e um fuso de madeira çã o dir et a do minius , Os sold ados que co lo-
suge rem que esta excit ante pecinha íntima do ca m a co roa de es pi nhos na cabeç a do Rei
século I d.C ,; pert en ceu mais prov ave lme nte a dos Judeus, diz el e , estava m repre sentando
uma es crava do qu e a uma co rtesã . uma ce na típi ca de derrisão do repertório do
Atores e atriz es de mim o foram ce lebrados mim o, popular entre os exérc itos romanos e
e co rtej ados . Mais tarde, porém, também ele s qu e incluía tanto o rei quanto os judeus co mo
ficaram suj eitos ao an átem a da Igreja Cri stã tip os fixos. U m papi ro eg ípc io, encontrad o ,
nascent e . O presb ítero cartaginês Tertul ian o, parece ap oi ar es ta co nsi deração , assi m co mo
o co mba tivo opo ne nte "de tod as as pe rve rsi- uma vista d'ol hos sobre os hálit os do s auto s
dad cs pagãs do mundo corrompido" . negou da Paixão me dievai s. Ta mbé m aqui o mimo ,
tant o ao m imo qu ant o à pantomima qualquer o ioculator e m alefi cu s ambul ante, tem a fun-
direito à re d e nção cristã e m seu livro D e ção dc col ab orar co m element os rú sti cos c
26 . De talhe de um mosaic o representando um jogo de gladiado res: pri sioneiro líhi o a tacado por uma pa ntera. c. 200 spc ctaculis. E em 305 d.e., dez an os antes do grotescos, e sobreiud o de assumir o pap el do s
d.e .; encontrado em Z litan . Líbia (M useu de Tr ípoli ).
reco nhecime nto do cristian ismo como a rel i- so ldados, ap res e nta do num padrão de ás pe ro
gião oficia l do Estad o rom ano. o Sínodo pro - reali sm o .
vincial de lIíber is (E lvira) , em Gr an ada , d e- So b o re inad o do imperador Flá vio 0 0 -
clarou: "Se os mi mos e pant omimas deseja m miciano, o pri me iro a derram ar sangue cristão
se tornar cristãos, deverão primeiramente aban- no Co liseu, ocorreu o seguinte incident e: o im-
don ar sua profis são" . perador jul gou que a costumeira representa ção
do mimo do che fe do s band idos, Laur eolu s,
que era crucificado no final, estava fraca de-
MII\IO CR IST O LÓ G ICO mais. Ele orde nou então que o papel título fosse
dado a um crimi noso co nde nado . A peça ter-
A severidade co m a qu al a Igr ej a C ristã se minou em horrível ser iedade ; Domi ci an o fez
op ô-, a todas as formas de spcctaculum por mil com que o cr ucificad o fosse despedaçad o por
anos - até criar uma nova form a de teatr o pró- animais se lvagens .
pri a -- baseou -se em circunstância s hi stór icas Um sing ular registro pictórico, descoberto
bastante re ai s. Desde seus prim ei ros di as, o nas paredes de uma casa na Colina Palatina, for-
cr istian ismo não havia sido apenas persegui - nece provas das co nexões entre o mimo e o mar-
do pelos imperadores rom anos, ma s ridicul a- tírio, o rid ícul o e a fé. Essa garatuja primitiva,
riza do pel o s mim os, no palco. que data do séc ulo II ou III, representa a paródia
Uma rel igião c ujo Red ent or sofrera , sem de uma cruc ificação . Uma figura com máscara
recla ma r, a mort e mai s ignominiosa , destin a- de asno está na cru z, à esquerda um hom em er-
da aos criminosos co muns, estava de qu alqu er gue seu braço num a sa udação, e abaixo lê-se a
manei ra des tinada ao escárn io da popul ação , inscrição: "Alexa me nos adora seu Deu s" .
jti que não era prot egida pelo Estado. O mim o Cabe co njectura r que Alcx arneno s era um
ad ulava igualmente os governanr cs e o pov o . esc ravo a qu em os outro s ridi cularizavam por
O que podi a se r mais tent ador do qu e incorpo- ser cristão . A máscara do as no, símbo lo da sá-
rar a figura do "c ristão" à lista de tipo s trad i- tira cô mica desde a mais primit iva A ntigüida-
c iona is" O m im o não fazia diferen ça entre pa- de, suge re qu e o g raff ito seja baseado num
rodi ar os deu ses an tigos e ex por ao ridícul o os mimo cristol ógico, no qual o intérprete de Cris-
27. A crobata dando sa ltos mort ais, de uma hvdrí u seguidor es de um a nova fé. O bat ismo, com to lenha tido que usar uma máscara com o sím-
da Cam p:inia (Lond re s, Briti sh M uscumt. seu cerimon ial caracterí sticu, quc ex pre ssava bolo ev ide nte de e sc árnio.

• 16 7
• Ra ma

J I. C n wificaç ão parodiada. Grafi te na pared e til' uma


ca sa na C ol ina Palatina. século II ou III d.C . (cú pia do
(lri gina l em Roma . Museo Nazionalc R omano ).

tarde. ta mbém em alguma cidade da Ásia Me-


nor. O ca so ma is famoso dessas co nversões foi
o do ator Ge n ésio, que se co nverte u em Rom a
no ano de 303. no reinado de Di ocl ecian o e na
época das mais severas e cruéis persegu ições
aos cris tão s. Gen ésio foi vítim a dessa perse-
Nor guição. e a Igreja fez dele o sa nto padroe iro
dos ata res.

T~
M as os mim os se a ferrava m obstinada -
28 . Ac robatas aquáticas. Mosaico na Piazzu Armerina. Sicüia . c. 30B d.e .
ment e a te rnas cristológicos, co mo compro vam

O decisões dos co ncílios da Igreja qu e. já no de-


correr do segundo mil énio apó s a expansão do
cr istia nismo no mundo ocidental , proibi a que
Este desenh o pri m itivo é a primeira re- os m im os e ntrasse m no palco corno padr es.
presentação subsi st ent e da cruc ificação. Há monges ou fre iras.
boas razões para cre r que tenh a sido inspira- O niin tus é como uma linha que vai dos
da pelo mimus. A adoraç ão apaixonada e os primó rdios da Antigüidade, atra vés de Rom a
grito s de "Crucifiquem- no !" sem pre foram vi- e Bi z ãnci o, até a Idade Média . Era tão fa mi liar
zi nhos próximos. Fo i ass im que o efe ito tea- ao ho mem da rua qu anto ao e rudi to e m sua
tral do mimo cristo lógico se transform ou de mesa de estudo . O esc ritor cri stão lat ino Lac-
súbito em martíri o del iberad am ente esco lhi- tânci o o j ulgo u digno de urna sublime com pa-
do . Mim os troci stas co nvertia m -se à nova fé. ração: a do utri na de Pitágoras. de aco rdo co m
29 . Ce na de rua co m saltimbancos . Columbério (destru ido) da Villa Do ria Pamp hili . Ro ma. a qua l as a lma s dos homen s tran smigram para
E m 27 5. o mim o Po rfíri o to rn ou -se cristão
co nve rtido em Ce sá re ia. na Ca padóc ia, e o corpos de anima is - ele escre ve u - era ridícu la
mesm o se diz do mim o Ardálio . um ano mais e lembrava as invenções do mim o.

30 . Jo g o s c om a n imai s . D o d tpu co tio cô ns u l


An-ohiru lo, 50 6 <1.( ' . (Le ningrado. Hc rm itagc ),

• /fJq
Bizâncio

..f,

I NT ROD U Ç ÃO mcntas esplêndid as, sua s aclamações e cân-


tico s antifonais" .
Q ua ndo em 330 Co nstan tino , o Grande, As radiaçõe s da magnifi cência imperial,
tornou a cid ade de Bizâ ncio , no Bósforo , a tran smitidas para o Oc idente nos séc ulos se-
nova capita l do im pério rom an o e lhe deu o guintes, portavam o se lo de Bi zâncio. A seve-
se u nom e , o e splendor de Rom a em pa lide- rid ade hi er át ic a. o e s p le ndo r purpúreo . a
cia. As co ntín uas batalhas nas front e iras ha- estil ização so len e qu e fo ram as marcas do ce-
viam min ado a for ç a da urb s romana . Ne ssa rim on ial da corte e d a arte reli giosa de Bi-
época, deu-se o tri unfo do cris tia nismo. O z ânci o, tornara m-se um mod elo para o mundo
Ed ito de M ilão assegurou liberdade de c u lto oci de ntal. Por tod o o Oc idente, eram so licita-
à nova reli gi ão. Com a transfer ên cia da resi - dos artistas bizantinos , o luxo b izantino era o
dê nc ia impe rial par a Bi z ânc io , surg iria um padrão de gosto e cultura , prin cesas bizan tinas
segun do centro do c ristianismo, tão fasci na nte eram trazida s por se us pretenden tes princ ipes-
qu anto ex óti co. cos para as cort es do Oci dente .
Já não seria o Ca pitólio, mas a Igr ej a de O patriarca de Co nstantinopl a teve o atre-
Hagia So ph ia, qu e resplandeceria nos séc ulos vime nto de c ha mar o pap a romano de herege.
vindouro s como o símbolo do poder divino e e desse modo veio a inic iar-se o decisivo cis-
terren o. Para a sua reco nstrução , o im per ador ma que termin aria por levar ao trágico co nflito
Ju stiniano fez com qn e os mais prec iosos ma- ent re as Igreja s orienta l e oc idental. As Cr uza-
teriais fos sem pro curados por todas as pro vín- da s terminaram no saqu e de Co nstantinopla.
cias do imp ério bi zantino. Co lunas e outro s Os "latinos" , liderados pelo velh o doge Dand o-
e lementos arq uitetô nicos de Éfeso, Baa lbek , lo, haviam exig ido o reconh ecim ento do papa-
Eg ito, Ate nas e da ilha de Delos foram reun i- do como a força ce ntral do cristi anismo . Bizân-
dos para a glóri a da "Sabedoria Divin a" . cio rec usou. E m 9 de maio, o Co nde Baldwin
O im perador e a Igreja era m os doi s pila- de Flandres foi coroado imp e rador latin o de
res do Imp ério Rom ano do Oriente. Era m o Bi z ãncio pelo legad o pap al.
tema e o veí culo de toda ativid ade de es tilo A seq u ênc ia ininterrupta de confl ito s mi-
teat ral qu e se desen vol veu em Biz ânci o . Co n- litares a que se e ntregaram os posteriores im -
form e escreve u Fran z Dolger, "as necessida- per adores da d inas tia gr ega do s Pa leól ogos
des teat ra is da popul ação da ca pital era m sa - minou os poderes de resi stên ci a internos e ex-
tisfe itas pe la s de slu mbrantes ce rimônia s da tern os da cidad e. Em 1391 , o sultão otom ano
corte imp er ial c pel a rica e elaborada liturgia Ba yzeid obri gou a cidad e a pagar nm trib uto.
da Hagia Sop h ia, co m suas proc issões, vesti- Sessenta anos ma is tarde, em 29 de maio de
H ís t ár iu Mu n di aí tio Teat ro . • fJi ;úJlI"/ ()

1453, ela sucu mbiu aos exé rci to s do Sultão del e s ficava próximo ao pa lácio imperial , per-
M oh ammed II. O imp ér io bizantino deixara to da Ig reja de Sant a Iren e (hoje part e do rc -
de ex istir. Se u últim o imp erad or , o décim o pri- c into d e Saray) . E m Bizâncio, como e m o u-
m ei ro a levar o cé lebre no me de Constanti no, tra s c idade s im port an tes do im pé rio ro m a no
perdeu a vida na bata lha . Da s ru ínas da capital d o Orient e. ha via teat ros espaçosos, que e m
devastad a de Constantino na sceu Istam bul, a part e remont avam ao s temp os hel enísti c o s e
capita l do impér io otomano . e m parte ao s prime iros tempos da do minaç ão
Duran te mil anos, Bizân ci o havia sido o ro ma na . A c ida de de Anti oquia .- se de do go-
ce ntro de trocas cultura is e ntre o O rie nte e o verno ro mano d a Síri a, resid ên ci a do patriarca
Ocide nte, a pont e, em que st õe s de fé, entre a e sede de um a un iversidade teol ógi c a - p os-
A ntig üidade e a Idade M édi a , e, em questões suía qu atro amplos teatr os de pe d ra . De acor-
de teatr o. a pont e entre o coração d ionisía~ó do co m Paládio , as co mé dias de M en andro ain -
do dra ma ático e o Te Deum da rep rese ntação da e ram e ncena das ali no séc ulo V d .C ., a té
cri stã na igr eja . qu e o rei per sa Cosroes destru iu a a n tiga c id a-
de, em 538 d .C.
O g ra nde e nig ma do teatro bi zan tin o resi -
T E A T R O SE M DRAM A de no fat o d e nun ca ter produ zid o um drama
próprio. Contentava-se com o ca le ido scó p io
Um do s primeiros atos ofi ci ais im periais colorido das vari edade s, da revi sta, e com es-
co m o qual Constantino cativou o s biza ntinos petáculos de solistas que j á vinham prontos e
fo i a inau guração do Hipódromo . O ed ifício com extratos de diálog os e pe ças líricas que
re montava à época de Septirn o Seve ro, que o eram recitados no pa lco por de cl a m ador e s em
co ns truiu em 124 d.C. , seg undo o modelo do "atitude trá gi c a" . I () Hipód rom o de Co nsnuu i uop l u. Xilogra vu ra de Onupluí uv Panviniu - . Verona. 1..l 50.

Ci rcu s M aximu s de Roma. Era um campo de O s e stud ioso s de Bizâncio têm se ocupa-
corridas lon go e estreito. co m um mu ro divisor do c u idadosa me nte de sse fenôme no sing ular. Um dos co m po ne nte s e fica ze s j us tapo s- tipo de c sp e t ác ulo , qu e o ferecia d ivers ão tc a -
baixo tspina'; entre as dua s pista s, sobre o q ua l Franz D õlge r comenta: to s 110 Christos Pase/IOII, é a imi tação de um tral n ão a pe na s nas festi vidad e s o fic ia is d o Es -
e ram co loca dos es tá tuas, o be liscos, placa s hin o de Sexta -Fe ira Sa nta do poet a g rego reli - tad o :
memoriais e monumentos aos corredores vi- Freq ue nte ment e tem se estabe lec ido uniu com pa fa ~ gioso Roman o. qu e v ive u e m Constantino pla
tori osos. ,,";10 acertad a co m as artes pl ásticas. isto ~ . que a un e E III p h-nll d ia . corti na -, sã o pe nd uradas e su rg e 11111
no sé c u lo V I - ao p as so qu e G regório de
bizamina ta m b ém lião produ ziu nenhuma escul tura d i ~ll a ~ ra ll d ~ nú uu -ro d e-nton- -,ma ,- curad o .... l h u d ~ le :-. fa z o ti lú-
O Hipód rom o, co m seus asse ntos de már- Naz ia nzo . o alegado aut or d a Paschou, mor-
til: menç ão e <-lUt ' rant o nas art es plástica . . q ua nto na lu cra - '01"0. ":'- ' l h l ll ~ II l{1I
l.'h..' 11I1.·. -,1110 c..,tl.'.i'l bciu 1 ( ' llg~ d isso : o utro
m or e para oitenta mil espectadores. era deco - nu-ados b izunt ino -, fa lta. port an to. lima ·'Ji Ill CI1..;IU·'. A ra - re u e m 390 d .C. i ll l erl'l"l..'l a II I l ' i : u m rcn..-c-iro. (I mé d i.-:-o. e mb ora rcco uh c -
rad o co m ricos entalh es e as mais ce leb radas 1 ..10 di ... -,o é bav tamc cl ara. J~i por vo lta do "éc ulo 111 d .t '. () q ue é fasc inant e no es tranho co ng lo- l"!H' 1 "'I.HII l·lIll" p l'l o tt';IJl·. 11 m i glw r;1I1ll" L" (I prn fl· ......nr.
obras de arte de todo o m undo . Durant e um tr;lgéd ias e (,, (1I110tha ." co mpleta, c:r' L111 ra rament e rc pre:-'l' ll - me ra do do Christ os Pase/II>1I é a co nj ug:H;ão Ele -, rcpr v -vtü .u n t I Oplh lP do 4 ue . . ao I . I O fil ú . . o !ú ... ú
ladas nu Imp ério Rom ano. 0., pautom imo s rec itavam ain - ,) é p or v au ...;l d o, It>n:;ll'" c.rl-clo - dl' 'll; \ lll ;·h L~ l ra : :I...... i in .
mil êni o. seria o palc o de a ma rgo s contl ito s da Pa ixão cr istã supe rpo sta ; U l drama grego .
da al gun s frag me ntos líril.·o'\ e princip alm ent e trec hos ex- uuu bém . II :-'Illd ad n n ~l o l; IIIll ~ 1, l d a d il rea l. 111;,... llId o lf
hi stóri cos. mais do qu e o es p lê nd ido local de lrai do s do s c ânuco ... cora is. De resto. () 11I;1111I.\' . lim a c:-. (XÕ - Uma boa terça pa rte dos 2.6-10 ve rsos , qn e co - l í ll g il1l ~' 1l1 ' 1 l· lll ;i "' L" ~ l r a -,
espe t áculos de teatro e ci rco a q ue havia s ido cic d e csq uc rc de opereta com lima gran de quant id ad e de meçam co m o cami nho até o G ólgota e ten n i-
destinado. Ne le tiveram lugar corri das de biga l ipo~ cspe tacu lares. geralmente de co nteúdo m a is p ican te . na m co m a ressur re iç ão d e Cri sto , são pa rá - O pró pri o to m de ssa d e s c ri ç ã o mu it o
e com ba tes entre gladiadores, nel e a impera - l inha d e há m u ito capt urado o gosto d, e, m a......as e. a <!L':-. fra se s de verso s de' Eur íped e s. Ta nto a Christos s im p lific ad a ind ica o ag lldo declín io . A a lta -
pei to d a s pr oihi çõ e s d o s unpera dorc -, A na s tá c io I c
triz E ud óxia viu ser eri gida a s ua próp ria está- Pa sch on qu an to as trez e ntos e vi nte e c inco me n te d e se nvo lvida a rte do dr ama an tig o ha -
J ust inia no (c m 5~ 6 d.C.) , deve ter pro sseguido clande st i-
tua de prat a, aco mpanhada por festi vid ades tão na me nte atrav és de lodo o pe ríod o biza ntino . c itações d as tragédi as d e Eurípcdes qu e se en - via se c o nve rt ido nessa pr im itiva ve rsã o di a -
pr ov ocat ivas que Cris óstomo, pr edi cand o na con tram na obra do A rce b isp o E nst:ício de Sa- lo ga d a de " u m a ve lha hi stóri a" . S ua deg ra -
I-Iagia So phia, empalidece u de raiva. Nele era m o drama da paixão Christos Paschon , com lonica (fal ecid o e m 1194) d em on stram quão da ç ã o nüo deve se r atribuída ii m alé vola de-
de scarregada s as paixões da s du as facções de frequência c itado, qu e durant e muito tempo foi int enso era o int ere sse devotado e m Biz âncio pre ci aç ão de um C risós to mo bclig erunt c. q ue
co rre do res de bigas, os "Verdes " e os "Azu is" , incorretarnente atribuído ao bi spo São Gregó- aos dramaturgos da i\nt igii id ade - no tocante e m ou tros lugares troveja violentament e co n-
co mo também o entusiasmo do povo. Nele, o rio de Nazianzo, não dat a do séc u lo IV. mas. ao estudo. tra a " im ora lidade ' do teatro: cla é um fal o
sa ng ue de trinta mil pessoas ma nch ou a areia sim, do século XI ou XII. Isso é o que se cha- Em contraste co m o c u lt ivo eru d ito da he- hi st óri c o .
q ua ndo Beli sário, em 532 d.C. , es mago u a re- ma de um cento, um a reuni ão erud ita de v árias ra nç a cultural gn:ga . a pni tica te atral e ra tão li m a de sc ri ção "do que acontec e no rca-
vo lta de Nika e reduziu a c inz as grande s par- citaç õe s se m nenhuma co nexão prová vel com ing énua quant o a da s p ri u u-iras trou pcs ate- I ro " . q ue con co rda q uas e lit er al mentc co m
te s da cidade. o teatro a tua nte - um co mp lemen lo intelectu - luna s ro ma na s. São João Cri sós tomo (3 47 --107 C ris ósto mo, foi feita no fina l do s écu lo IV pe lo
C Ollta · se que Co n stan t ino , o Gra nde , al ii a legre c o lch a de reta lhos do ("(,lI tlllleu /us d .C .). pat riarca de C o nsta n lillo p la. e m certa an lign profe ssor de re ló rica São Gregório de
constr uiu muil os teatro s. Acred ita -se q ue um dos mi mo s. o casião fa lo u ex ten sa me nte a re s pei tn de sse N issa :
• 172
• li3
Bí tà n ci o

Um mito ou uma velha lenda serve de tema para a Oriente e outras que prenunciavam a Alta Ida-
representação. e é reproduzido por imitação diante dos de Média ocidental. Crisóstomo fala das man-
nossos olhos. () que corresponde à história é representa-
do da seguinte maneira: os mores usam figurinos e más-
gas exageradamente longas dos trágicos, por
caras. Na orquestra, penduram-se cortinas quc represcn- meio das quais eles enfatizavam os movimen-
tam uma cidade c a coisa toda é tão fiei à natureza que o tos de seus braços e mãos, e critica a vaidade
público pensa tratar-se de um milagre. das damas, que não tiveram dúvida em colocá-
Ias em moda.
Nesse nível, o drama clássico da Anti- Por trás da manga "dramática" do trágico
güidade não poderia ser uma fonte de inspira- bizantino vislumbramos imagens remotas, mas
ção para Bizâncio, tal como a tragédia grega o sem dúvida com ela aparentadas: a dançarina
para o drama nacional dos romanos, ou Menan- sassãnida, a aristocrática dama chinesa do pe-
dro para Plauto e Terêncio. Além disso, como ríodo T'ang, as jovens estudantes do Jardim
poderiam o governo e a Igreja adequar as di- das Peras e, no âmbito da arte cristã, a bailari-
vindades do Olimpo ao povo, como poderiam na Salomé, epítome de todos os vícios. Todas
Zeus ou Júpiter, Atena ou Juno e, principal- essas imagens tinham o seu "jogo" baseado
mente, como poderia Dioniso, a quem os pa- no poder expressivo das longas mangas que
dres da Igreja consideravam uma abominação, pendiam sobre as mãos hábeis do ator.
o demónio encarnado, se reconciliar com a Os monges dos scriptoria medievais de-
doutrina cristã da salvação? A sabedoria com vem algo ao furioso desprezo que os Padres
que os homens da Igreja apreciavam o espírito da igreja bizantina vertiam sobre as sedutoras
e o juízo da literatura antiga não era algo a se artes das dançarinas e mimos femininos: a vi-
pressupor no grande público. vacidade eom que eram capazes de retratar a
A conseqüência desse ponto de vista vie- pecadora Salomé.
ram a sentir de maneira bastante precisa os "Elas surgem com a cabeça descoberta e
mimos e pantomimas, "os últimos saeerdotes não se incomodam com o que deixam à mos-
do paganismo", como os chamou Hermann tra. Penteiam-se com a maior extravagância
Reieh. Eles pagaram sua fidelidade ao antigo possível, pintam o rosto, seus olhos brilham
e comprovado repertório, transmitido de ge- de volúpia." Assim eram descritas as mimas
ração em geração, com a exclusão da salva- do teatro bizantino, e é como Salomé dança
ção trazida pela nova fé, porque no teatro no Códice Otomano de Aachen, do século X -
bizantino mimus e pantoniimus recorriam ao com os seios e braços nus, os cabelos louros
espírito e ao "antiespírito" da Antigüidade. O soltos até os joelhos.
repertório de seu programa teatral era forma- "Elas brilham em ouro e pérolas, e usam
do de temas das mitologias grega e romana, os mais suntuosos trajes. Dançam, riem e can-
de fragmentos de fontes feníeias, assírias e tam com vozes doces, sedutoras", assim pros-
egípcias - na verdade, de tudo o que havia segue a descrição das mimas. Essa imagem
sido tratado pelos poetas trágicos desde também foi preservada na dança de Salomé
Homero e Hesíodo. no Evangelho de Oto III, que está entre os te-
Em tudo isso, o mimo e a pantomima eram souros da catedral de Bamberg.
acompanhados - mesmo no período bizantino Crisóstomo nunca esqueceu de realçar
primitivo - pelo trágieo, um solista que, cal- perante sua congregação, com insistência sem-
çado com um alto coturno de madeira, tentava pre renovada, o fato de que certa vez teve su-
alcançar o esplendor da antiga arte dramática cesso em resgatar das garras do demônio uma
com extravagantes solos deelamatórios. Libâ- dessas "filhas corruptas do homem", uma
nio, o sofista e orador do século IV, cujas vá- mima que se exibia diante de todo mundo em
rias ocupações o levaram a numerosas cidades trajes excitantes e que havia arruinado a mais
do Império Romano do Oriente, encontrou de um rico e enganado a mais de um sábio ...
esses trágicos em Antioquia, Atenas, Constan- Essa predileção por dançarinos e mimos, que
tinopla e Nicomédia. Crisóstomo criticava furiosamente na impera-
2. Poeta cómico c musa com uma máscara representando Tália. Fragmento de um sarcófago do nordeste do império A figura e a indumentária do trágico con- triz Eudóxia, levaria Justiniano a busear sua
bizantino, c. 250 d.C. tinha características que cvoeavam o Extremo consorte imperial na arena, cento e cinqüenta

• 175
• B i z nc io
ã

anos mais tard e. Os encanto s que Teo dora ha- rozes tais como leões e panteras, qu e satisfa-
via exibido co m lanta liberal idad e e m seus dias ziam o de sejo de sangue do públi co .
de mim a foram meta morfo seado s, qu an do A doc umentação pictórica desses jogos na
co nvert ida em imper atriz em qu al idad es im- arena é e ncontrada nos d ípticos con sulares e m
periais não menos es pantosas. M as mesmo marfim, mu ito s dos quai s estão co nserva do s.
Te odora nã o poderi a mu dar o desprezo geral A pr im eira amos tra remonta a 406 d .e. , e a
por sua oc upação anterior. Co nfo rme e stabe- últim a, a 54 1, Eram um presente de Ano No vo
lece o Có d ice Teodo sia no, os ateres fo ram in- obriga tório do cônsul a seus a mi go s. ind i-
cl uído s entre as perso ua e inh on estae, aqu ela s vid ua lme ntc aut ograf ad o, co mo os bri nd e s
que não po ssuíam honra nem direitos, que anuais dos industriais modernos. O relevo fron-
era m ex cl uídas tant o dos direito s ci vis qu anto tal mo stra o doa dor em toda a glória de sua
da salvação da Igreja. Aque le qu e se atreves- nova dig nidade , po r exemplo co mei patron o
se a desposar um mim o, ator ou iocula to r; era dos jogos. Sent a-se num trono ricam ente esc ul-
ex pulso da co munidade cristã. So me nte um pido. lend o o ce tro na mão esquerda e o ma ppa ,
imp erador podia atrever-se a ignorar esse man- um pano bran co , na direita, com o qual é dada a
damen to . largada da s co mpet ições. Sob esse rele vo apa-
rece sempre gravada uma cena teatral, co m ata-
res e an ima is. Atores, no traje da tragédia, com
T E A T RO NA A RENA m áscara s e penteado s altos ionko s r. grupo s de
com ediante s e mi mos carecas testemunham
Mi mos , pantomimos, ca ntores, dançarin os que os descendent es do teatro antigo tinham

--
3. M ini atura com uma cena de Salo mé bailante. Retra to de uma mima bizantina. co m os cabelos so ltos e o torso nu.
Evage lho do imperador Oto , séc ulo X {A uche n, Te souro da C ated ral) .
e trágicos part icipavam igual me nte dos espe-
táculos do teatro bizantino . ma s não era m seus
repre sentantes prim ord iais. A princ ipa l atra-
seu qui nhão no festivo program a circe nse .
O s pequ en os e prático s dípti cos de m ar -
fi m , cuj a supe rfície interior era recoberta co m
ção nos "deleites para os olh o s e ou vidos" ofe- cer a e serv ia de tablete para escrit a, viaj aram
reci dos no Hipódrom o e nos an fitea tros do para tão longe qu anto os mimos. Um dí pt ico
Impér io co nsistia em co mbates de ani mais e do cô nsul Ar eo bindo chegou à Espanha, o nde
j ogos de gladia dore s. es pec ia lmc nte nas festi - um enta lhador do século IX to mou- o co m o
vidade s oficiais de Ano Nov o, q uc dur avam mod elo pa ra o fronti sp ício da igrej a da vila de
muitos dia s. Seus orga nizado res eram os côn- San M igu el de Lill o. Desd e então , os olh os dos
sules recém -eleitos, qu e preci savam ce lebra r fié is que en tra m nesta casa de Deus dep aram -
seu ing resso na função de maneir a di spend iosa, se com um a ce na do circo bizantin o . Sob uma
Esse j ,i era o costume em Rom a, ma s e m Bizân- figura primiti va e estilizada do cô ns ul em seu
cio. a c idadela do cerimonia l cortesão, tais jo- tron o, que apenas erg ue a mão para que o s j o-
go s se tran sformaram num a aparatos a celebra- go s comecem , um acrobata se equilibra com
ção, cuj o curso era minu ciosam ente defini do as mãos sobre uma barra cm cuj a dire ção um
pel a ordem imperial. leão salta, mas é ma ntido preso por um ho-
Uma da s novellae dc Ju stiniano, escrita me m bran dind o um chico te,
e m 536, exp õe a seq ü ênc ia precisa da s cer i- O qu e ter ia impelid o o enta lhador a e sco-
mônias com que o novo cô nsul deveria se apre- lher es se motivo de origem tão remota? E qu e
se ntar ao imp erad or e ao povo, desde a procis- co nsidera ções poderiam ter levado o fun dad or
são ceri mo nial na cor te (p roccs susi aos vários da igrej a a permi tir qu e ele o fizesse? Seria
lu di c irce nse s na a re na. A a be rt u ra era a uma última ad ve rtê ncia à co ngregaçã o para qu e
"vcnatio domesticad o" (açu la me nto de ani- dei x a sse a trás de si tod os os pen sam entos
mai s). jogos de hab ilidades co m animais en- mu ndano s, para que pen sasse em sua entrada
graç ados, não necessari am ent e peri gosos. tais na igr eja co mo uma libert ação da farsa terrena ?
com o art istas c ursos perseg uindo un s aos ou- A art e românica é notável pelo fato de qu e sua s
tro s sobre uma barr a, atr ás de g rades móve is, mu itas im agen s em ped ra, da dan ça e da mú -
como num carrossel. Essas brin cad eir as avi- sica, dos mimos e atores, resulta m da interpre-
vam a excitação da platéia . Em seg uida vinha m tação do portal da igreja como um muro sep a-
4 . A Dança de Salomé. Evangelh o do imperador 010 III (Munique . Staa tsbiblio thc k) . as " vcnatio selvagens" , lutas co m an ima is fe- rando o cé u e a terra.

• 17 7
H íst o ri u M 'un d i u l l/ O Fcu rro •

o TE AT R O N A I GR EJ A c ri to por um dos últimos ucopl at ônico s sig ni- ,


fica tivos, o bi spo Procl o , que na sce u em Co ns- s.
Ape sar da dec isão do im perador Teod ósio tan tin o pla em 410 e foi educ ado e m Ate nas .
II . no Conc ílio de Ca rtago. de qu e lod os os O s fra gm ent os reunido s de sse manuscrit o pro -
espet ácul os teatr ai s deveri am se r proibidos nos por ci on am o esq ue ma de uma pe ça co mp leta.
feriado s sa nto s, a in strument ação da liturgia A um hino glorificando a v irgindade da M ãe
dentro da pr ópria Igreja Bi zantin a ga nhou cad a d e Deus segue- se um a conversa e ntre o Anjo
vez mais res son ância. G abriel e Maria. int errompida p or um monó-
O espl en dor da liturgi a na Hagia Sophia, lo go em que a Virge m expõe su as d úvidas, ter-
as aclamações dramá tica s, evocaçõe s dos pro- minando com a voz de Deus pr ocl am ando o
feta s e cantos a ntifo na is, a riqu eza co lorida das mi st ér io da Encarn aç ão.
ves timentas ec lesi ástica s. as procissões so le- Depois dessa repre sentação do sobrenatu-
nes - todos esse s e le mentos procu ravam, por ra lo vem um diálogo do m ais cru natu ralism o.
meios inteirament e teatrai s, satisfazer a neces- José ac usa Ma ria de ter se comportado co rno
sidade de esp etácu lo da mas sa. uma pro stituta e de o ha ve r " traído co m um
A Ce leb ração da Pá scoa, que cinco sécu- ama nte" . Maria declara não le r possibilidade de
los mais tarde se tornou o e mbrião do drama j ustificar-se. Propõe a José qu e lei a os Profetas
cris tão da Igrej a. e ra e m Bizâncio a ocas ião de p ara co mpree nde r qu e e la re ceb e u sua cria nça
um cerimoni al que. de um a igrej a a outra, ser - de Deus. Esse co ntras te entre o decreto divino c
penteava pelas ruas da cidade num cortejo so - a realidade terrena não poderia ser mais teatral.
lene. Os hin os pascais Chri stus aneste, que os O ciument o marido de cabel os brancos e
ca ntores começava m a c antar no púlpito da a s upo sta infi deli dad e de s u a jovem es pos a
Hagi a Sop hia . era repet ido nas o utras igr ejas: cons tituía m um a receit a hem co m p rova da de
a proci ssão pe las rua s era e ncabeçada pelo s uc e ss o , re tirada do repert óri o de tip o s do
mestre imperia l de ce ri mo nias , que serv ia ao ntimus, qu e man teve a sua po pu lari dade por
5. Relevo e m marlim represe ntando uma arena c cen as teatrais. Ac ima. cavalos co ndu zido s por amazonas; abaixo.
mesmo tem po de e ntoa dor. séc u los , até a repres e ntaçã o do s m istérios da cena de snimus (evide nteme nte urna paródi a da c ura de um cego ) e grup» trágico . De ta lhe de um d iptico co nsular de
Desde o início . a litur gia da Igrej a Orien - B ai xa Id ad e Médi a. O tema re ap arece num Anastácio. Con staru iuopla. 5 17 d.C. I Paris. Ca bine: dcs M édai llcs ).
tal assumiu um carátcr dr amático . com suas fra g me nto de d iálogo atr ibuíd o ao patriarca
rec itaçõe s a lte rna das. h inos ca ntados por um Germ a no de Co nsta ntino p la (c. 634- 733 d .C ,].
so lista e coros res po nde ntes . serm ões dos dias É e nc o ntrado nova ment e num m anuscrito co m
festivos e di álo gos intercalados. J,í no século iluminuras de um a co le ç ão d e homili as do
IV. os grand es oradore s fazi am de suas prédicus monge Tiago de Kokkinobapho s, da primeira
um exer cíci o da arte retóri c a. Aplicavam as m etade do séc ulo XII. As imagen s desta cole-
regras dos oradore s e dramaturgos grego s e de - çã o foram ac e itas co mo provas d o teatro reli-
senvolviam sua exege se da Bíb lia pel o uso do g ioso em Bi zânc io mesmo por um crítico tão
diál ogo e uma inte nsa di alética de prós e con - cé tico quanto o cardeal Gi o vanni Mer cati , bi-
tras em suas in te rpret aç ões. b lio tecário do Vatica no fal ecido em 1957 . O
A tradição de B iz âncio não s ignifica sim- le ma surge o utra vez. de forma qu ase idêntica
ple sm ent e a co nc e n t ra d a se re nid a d e do s à do fragm ent o de G ermano. numa eena da s
Ícones. Signifi ca também a riqueza narrativa Covcntrv Plays inglesa s do séc u lo XV: o l.udu s
de um incsgot .ivc l tc so uro de lendas. c uja abun- Co vcn triac (O Ret orno d e J o sé ). Por tod a a
dân cia se aprox ima a pe nas rem otamen te d o s ua v ivac idade retó ric a , 11 di ál o go teatral in-
drama da paixão da Bai xa Idade Médi a, qu e cluído no se rv iço da Igreja Biz antina não ca-
durava vár ios d ias. rec ia da dign idad e ap ro p riad a. O s epi sódio s
Os textos dialocudos dos sermões (homi - livremente tratados e sta va m dent ro do padrão
lias) . que for am pre servado s e m diversos ma- de e stilo ponderado de repre sent ação co ntem-
nuscritos, prin c ipal mente de origem síria. co n- po râ nea , co nforme no s fa z c re r o manu scrit o
têm uma vas ta e flnre scê nc ia de d et alh e s de Ti ago de Kokk inobapho s, d o qu al se co n-
ep is ód icos , so bre tudo re lacionados il Virgem se rva m duas c ópias .
Mari a. Um desses manuscri tos co nser vados, É por culpa do s ic on ocl asta s q ue fa ltam 6. Relevo em ped ra no porta l de Su n M iguel dc l
uma "G lori fica ção da Virge m Mari a" , fu i es- evi dê nc ias pictóri ca s do períod o pri m itivo do Lil lo. Espanha. s éc ulo IX .

• 178
• Ií i t dn ci o

teatro bizantino. Milhares de ícones c manus- as chamadas máquinas voadoras, não haviam
critos com iluminuras foram perdidos como sido inteiramente esquecidos em Bizâncio.
resultado da destruição oficial de imagens na
época do imperador Leão III, que simpatizava
com a civilização árabe e com o Islã. o TEATRO NA CORTE
Não se sabe até que ponto o movimento
iconoclasta (726-843) afetou a dramatização Dezenove anos mais tarde, em 968,
do Evangelho dentro da estrutura do serviço Liutprando de Cremona escreveu sobre sua se-
da Igreja. Durante esse período de crise, a pró- gunda visita a Constantinopla. Esse segundo
pria Igreja esteve dividida, particularmente no registro trata dos espetáculos teatrais que ocor-
Concílio de Nicéia em 787, entre iconódulos e riam na corte em ocasiões festivas. Em 7 de
iconoclastas. Ambos os grupos se justificavam junho de 968, o imperador ofereceu um gran-
a partir de argumentos bíblicos e da tradição. de banquete oficial. A refeição foi seguida por
Já em 370, São Basílio, o Grande, sábio pre- números de dança e acrobacias c por um es-
gador e bispo de Cesaréia, havia dito que o petáculo aguardado com especial interesse:
respeito demonstrado pelo fiel à imagem não homens usando máscaras terríveis e vestidos
se referia à obra das mãos humanas, mas àquilo com peles de animais representaram o cha-
que ela representava - a imagem primordial mado gotliikon, um tipo de pantomima cul-
tcikon, o ícone). São Teodoro, o Erudito, de- tual, acompanhada de gestos selvagens e gritos
clarara que "se o sobrenatural não pode tam- bárbaros.
hém se tornar visível ao olho dos sentidos, pela A descrição de Liutprando corresponde ao
representação pictórica, então ele permanece enigmático "Auto Gótico de Natal", que é in-
escondido para o olho do espírito". cluído pelo imperador Constantino Porfirogê-
7. Relevo no obelisco de Teodósio no Hipódromo, Constantinopla: o imperador Teodósio, patrono dos jogos circenses, Ao lado da imagem pintada, essa declara- nito (912-959) no LiI"J"O das Cerunônias, entre
entre seus dois filhos, Honório e Arcádio. no camarote real. c. 390 d.e ção justifica a imagem viva, isto é, a represen- os espetáculos que se organizavam em home-
tação teatral da história sagrada, indicando o nagem ao nascimento de Cristo. Somente a
que a Igreja em Bizâncio já considerava tarefa data da representação é diferente: Liutprando
do teatro cristão: ser urna Biblict Paupcruni assistiu ao gotlukon cm junho. Como ao ban-
(Bíblia dos Pohres) viva, exatamente como as quete estiveram prescntes muitos outros convi-
grandes séries de afrcscos c miniaturas medie- dados dc países que mantinham relações amis-
vais viriam a sê-lo. tosas com Bizáncio - e, na verdade, Liutprando
Mas para a cristandade do Ocidente no se queixa de seu lugar à mesa -r-, parece natural
século X esse sentimento pela imagem viva do que o imperador tenha querido honrar ocasião
espetáculo teatral era ainda estranho, a julgar tão especial com uma diversão especial.
por um dos mais perspicazes observadores do Os ateres do gotliikon eram soldados da
teatro hizantino, o arcebispo Liutprando de Guarda Gótica de Constantinopla, composta
Cremona, que veio a Constantinopla como por sete mil homens. que estavam a serviço
enviado de Oto I e registrou suas impressões particular do imperador. Tais atores eram es-
em dois relatos. Em 949, ele testemunhou com colhidos pelas delegações dos "Verdes" e dos
assombro e desprazer duas representações na "Azuis", as duas celebradas e famosas facções
Hagia Sophia, que culminavam com a subida do circo. Usando máscaras e peles de animais,
do profeta Elias ao céu. os homens entravam em cena aos pares, cor-
A ascensão de Elias na carruagem de fogo rendo. Gritando "Tu II, TuI!''' golpeavam os
é um tema comum nas pinturas murais bizan- escudos com suas lanças. Depois de entoar
tinas, executadas com grande imajrinação e ri- diversos cânticos para celebrar a data, com os
queza de colorido. O fato de Liutprando ter "Azuis" it esquerda e os "Verdes" à direita,
assistido a sua representação teatral prova a num semicírculo, e depois da ex altucão de
persistência dos sermões dramáticos dos pri- Ezequias, quc na guerra contra os assírios de-
X. Relevo cm marfim de um díptico consular: atol'
trágico com máscara removida, provavelmente depois
mitivos hizantinos, relativos aos Profetas, e su - positara toda a sua confiança em Deus. ven-
de recitar um monólogo de Medeia. c, 500 d.C. (São gere tamhém que os inventos técnicos do tea- cendo aSSil11 os pagãos, () imperador era ho-
Petcrxburgo, Ilennitage). tro da Anngüidade, tais como os guindastes e menageado como benfeitor da humanidade e

• 181
H ís t àri u J\l l fl / '/ j ll / do T e at r o.

defen sor do im pério . Ao final. os doi s ha n- vassa lage m eram tão rig o ro same nte regulados
dos, "Az uis" e " Ve rdes " , cada qu al co m se us qu ant o os ritu a is litúr gi co s e m ho nra de Deu s.
rud es godos, saía m dançand o do salão pel as A tradi ç ão do rei no d ivin o . d er ivad a do Egit o
duas portas opo sta s. e do antigo O riente, e nc o nt ro u sua última gran-
Essa c uriosa representação pare ce dever d e g lor ificação no ce rimonia l da co rte de Bi-
mu ito às prát icas nat alinas e dan ças cu!tuai s z ânc io . O alteado tron o do so be ra no sec ular
de guerra dos povo s germâ nicos e ao s cost u- e stabe lece u o m odelo p ar a o alta r c ristão qu e.
mes de Ano Novo d os var angos. Se a int erp re - "e m sua locali zação es pac ia l. s ua sig nific ação
tação está correta e o texto é de origem gótic a , no cu lto e se u sobrec éu com o c ibório corres-
subse qü e nteme nte latiniz ad a, co m inse rto s ponde ao tron o imp er ial" (O . Tr eitinger ).
greco-cristão s no estilo das cerimônias da co rte O fato de os m im o s e a te res qu e exi bia m
bizantina s, o go tliikon é pro vavelm ent e ma is suas ar tes d iant e do imper ado r devessem ser
um a prova da mescla de elementos pagãos e tod os se m cxceção co nde nados pel a igrej a re-
cristãos , qu e pod e se r re petidamente observa - ve la um a falt a de co ns is tê nc ia lógi ca . O escri -
da no teatro primi tivo do Ocid ente. tor Zonaras e m pe nhou- se e m corrigir essa in-
Ass im, ningu ém p od eria co nside rar uma co ngruê nc ia . Em sua inte rpre tação do quadra-
profanação ind ecente a associação de co stumes gési mo quinto c âno n do Conc ílio de Cartago,
festivos de ca ráte r religioso e circe nse em lu - que condenava ig ua lmen te todo s o s artistas e
ga res sag rados. Na escadaria da Hagia Sophia "amantes do teatr o" , ele ex p licou que era pre-
em Kíev, que Iaroslav, o Sábio, co meço u a ciso traçar uma dis tinção en tre atores, que re-
con struir em 1037, há uma série de afre scos presentavam di ant e de perso nalidades impe-
qu e nos dá uma demon stração pict óri ca da es - riais e desfrutavam de todos os direitos civis. e 9. Pintura mura l na escadaria da l lagia So phia. em Kie v: m imos. mu.. il'os c ac robatas . M eta de do s écu lo XI.
sência do teatro bizantino. O imperado r e a im - os "desrespeit osos hu fõe s q ue se metiam em
peratriz são retratado s co mo espec tado res do s bri ga s no s festivai s ca m pestres" .
circenses , no Hi pódromo . Acro batas exibe m E m Co ns tantino pl a , s ua c id ad e nat al .
suas habili dade s; uma or ques tra, en tre cujos Zonaras foi um imp ort a nte o fic ia l da co rte e
mem bros há uma mulher, aco mpan ha a da nça do Estad o no rein ad o do imperador Al éxio I
de algun s pe rsonagen s pou co vestidos; u m Co m ne no . Q uando e sc re ve u s ua defes a dos
grupo de mim os ag ua rda sua entrada em cena. a to res d a corte , não po di a s us pe itar qu e seu
No teta ab ob adado da esca da ria de Kíev próprio se nho r im per ial iria tra ns fo rma r-se e m
es tão postado s g uerreiro s arma dos encara nd o a lvo de co med ian tes tiu lico s - na corte dos
uns aos outros. A lg un s de les usam m áscaras scl d júc idas , e m Kon ia . Ne ste caso. tal vez tivcs-
de pássaros. Um dos hom e ns empun ha um es - se revogado sua boa opi nião . Por ém . qua ndo a
cudo e um ma chado , ar mas dos varango s, a fi lha do imperador. Anua Co mnena . co me nto u
respeit o dos quai s o Livro das Cerim ônias co- o incid ent e na Alcxiada . Zo naras estava entre-
ment a qu e " na sua lín gu a matern a desejam -se gue à co mposição de seu próprio Chronicon.
mutu am ent e vida lon ga . cruza ndo seus mac ha- Num prim e iro período e m Bi z ânci o, ima-
dos ao di zê -lo" . Aqui exi ste um paralelo ó b - ge ns e es t át ua s de m im o s e ra m e rig ida s e m
vio com o go thiko n, hip ótese mui to sedutora praças e ed ifícios públ ico s . Co mo re sult ad o
para a históri a do teatro, embora qu estion ada desse cos tu me , inclu iu-se um a passa gem no
por algu ns erudi to s. Não há dú vida. entreta n - C ódice Teod osiano , det ermin and o qu e monu -
to, de qu e os afrescos de Kíev forn ecem evi - mentos ao s mi mos fosse m perm itidos somente
dências signifi cativas de repre sent ações teatrai s no teatro e não em loc a is o nde se erguessem
na Igreja do Oriente. estátuas de homen s p úb licos. Porém, apesar
O ce rimonia l da corte era um a dem on s- dessa proibição . pla c as d e m ármore e frag -
tração do poder e da exclusividade do impera- mentos encontrados sugere m qu e os monu-
d or: u rna cor t in a ve rmelha parti a- se para mentos de imp erad or e s. cô n su le s c comed ian-
revelá-l o se ntado num trono co mo numa ce na te s freq iient em ente de sfrut avam de harmonio-
teatra l e o c urso do ceri mo nial rendendo-l he so con vívio.
lO. Deta lhe do l l 'l o na esc ad aria da Hagia Sophia. c m Kiev: hom em segurando UIU ;1 1:1I1I.;a . co m a cab eça co be rta por
uma lII:í",.: ar ;t d e p. u o . l O ~ lI c-rrei ro
cu ru escu do 1.." m ach ad o . M et ad e d u s écu lo X I.

• 182
~ ..

A Idade Média

INTRODUÇÃO numa nova forma de arte: a representação nas


igrejas. Seu ponto de partida foi o serviço di-
o teatro da Idade Média é tão colorido, vino das duas mais importantes festas cristãs,
variado e cheio de vida e contrastes quanto os a Páscoa e o Natal. O altar tornou-se o cenário
séculos que acompanha. Dialoga com Deus e do drama. O coro, o transepto e o cruzeiro
o diabo, apóia seu paraíso sobre quatro singe- emolduravam a peça litúrgica a expandir-se
los pilares e move todo o universo com um cada vez mais e devolviam o eco das antífonas
simples molinete. Carrega a herança da Anti- solenes provenientes das alturas imaginárias
güidade na bagagem como viático, tem o às quais se dirigiam.
mimo como companheiro e traz nos pés um Fizeram-se necessários cinco séculos para
rebrilho do ouro bizantino. Provocou e igno- que a cerimônia pascal da adoração da cruz
rou as proibições da Igreja e atingiu seu es- levasse aos mistérios da Paixão, estendendo-
plendor sob os arcos abobadados dessa mes- se por muitos dias, e para que as "boas novas"
ma Igreja. anunciadas aos pastores se desenvolvessem nos
Assim como a Idade Média não foi mais ciclos do Natal e dos Profetas com seus nu-
"escura" do que qualquer outra época, tampou- merosos elencos. Durante esses séculos, a
co seu teatro foi cinzento e monótono. Mas Ecclesia triunphatis estendeu sua autoridade
suas formas de expressão não foram as mes- para além da casa de Deus, projetando-a para
mas da Antigüidade e, pelos padrões desta, as cidades e aldeias, e analogamente a repre-
foram "não clássicas". Sua dinâmica desafiou sentação litúrgica saiu do espaço eclesial dian-
a disciplina das proporções harmoniosas e pre- te do portal para o pátio da igreja e a praça do
feriu a exuberância completa. É por isso que o mercado. O teatro somente ganhou em cores e
teatro medieval é tão difícil de ser estudado, e originalidade ao ser assim colocado no meio
é por isso que freqüentemente ocupa um lugar da vida cotidiana.
inferior no certame das formas rivais do teatro Em locais especialmente preparados, er-
mundial. guiam-se plataformas e tablados de madeira,
A cristianização da Europa Ocidental cul- tublcaux vivants eram carregados em procis-
tivara florestas e almas. Elementos do "teatro sões e encenados em estações predetermina-
primitivo" sobreviventes nos costumes popu- das. Enquanto os cidadãos atenienses abasta-
lares, o instinto congênito da representação e dos e os ambiciosos cônsules romanos haviam
a força não secularizada da nova fé combina- competido pela honra de financiar espctácu-
ram-se, perto do final do milénio. para conju- los teatrais, na comunidade do tardo Medievo
gar os vestígios esparsos do teatro europeu seu lugar foi ocupado pelos grêmios e corpo-
H is t o rin /1, / 1111(/; (1/ <1(1 T v u rro •

rações. Ao lado do E van gelho. descobriram e con ll itos e g uerras ca mpeanun ao redor do edi-
cxploraram as incsgouive is reservas do mimo . fíci o co ns tru ído sob re o G ólgo tu. Aq ui. na Igre -
da arte do ato r cm todas a s snas po tencia lidade s j a do Santo Sepu lcro , cm Jerusa lé m . as raíz es
- o Ca rnava l t Fasnnutnsspicl) e a re p re ~e llla ­ da fé cristã aprofundam -se a i': o s eve ntos his-
ção ca mpo nesa. a farsa. a sollil'. a alegor ia e a t óricos so b P ôncio Pilatos. Aqu i, no século IV.
mor al idade. O prob le ma artís tico do teatro a A do ratio Crucis fo i ce leb ra da pel a primeira
medieval. co nforme di sse um a vez o fil ólogo ve z - a ado ração pasc al d a c ru z. que sei s séc u-
e histo riador alemão Karl Vossler, não foi o lo s m ai s tard e se to rna ria o germe d a re pre-
confl ito trágico e ntre Deu s e o mundo, mas se ntação cristã na ig rej a ,
antes a submissão do mundo a Deu s. So b a c úpula dessa ig rej a , e rg uida orig i-
nalmente por Consta ntino , o e nta rde cer par ece
Sub~C4 liCI Hl" I1I1..~IlI(' . um a ' "U qu e o mundo t" ~tôlYa
co loca r doi s mil énios tan gi velmcnte ao alc an-
seguro em (er mo dl." igreja. C'1c (o probl em a ] se dcvlocou
mai s c mai... pala a qlh~ -,tão da com p.uihil idadc formal
ce d o es pec tado r, po r mei o da fund ação co-
" JUre o L"•uütcr cc lcv ui.. . Ü \:Il. I IIU ; l ll' ht lÍ r~ i\.·1 1 d a ;t\:;:i n pr in - mum da fé c da var ied ad e de se u ritu al. O ci s-
cipa l e acréscim os c intc rtudios pro fanos. Por todo omun - m a e ntre a Igrej a Orien ta l e a Igrej a Lati na,
do ocideural. a h l"l ll ri ... ii;. I'c pn"" 'lIlaç5o rl'li,gio ...a ;1 de- é
qu e se lo u a decadê ncia d e Biz ãnc io e que , ape-
1I11W prllgre ssi' ";1 dl';l Jllall /;It.;;h \ tL-atnl dtl Sac r: III1I'1l10 .
sa r dos muitos es forço s de re concil ia ção, ain-
A ssim . como resultado. o palc o divr u'ciou. vc LÍu cleme n-
to di vin o c tomou.ce iruc-ir.uu cnt c tcncnul .- quer ~~'l'
da complica a situação legal d a Igreja do San-
caminho levasse, corno 11;1 ü.il ia. d unta rc... uh..une lírica c to Sepulcro, também fe z co m que as represen-
melodram áticn. LHL COIllO l1a Expunha. a uma de curátcr tações religiosas do in íci o da Idade Média se
nacionali.. l a c rniluar. ou ainda. L'01l1(l na lrnn ça. n UIll:1 desenvolvessem em du a s linha s distintas.
ulcg oria didiiti cu ou a UII !:\ divcrxáo a nedóti ca . Em todu
A partir da metad e do primeiro milénio,
part e, u cvot uç ào tcnu iuu com Ull I c:-.pe !:kul u :l11 11' h1. ~ , _
1'..11.; 0 ...0 e: de al cil1ll"l.' <ufici cnte jldl'a cu ca tupar Ioda ;, ri- houve um impul so pe rcept ível p ara en corajar
qll (' /a (h,.. inl t'T t:''' '-I.· ... e jl lt·( ICUp a,·út· ... do 111111 1(10 . as pl usma ções c énic as d a s a n tífo nas litúrgica s
na Igrej a Bi zantina , o qu al não e ncontro u. no
e nta nto, re sposta sig nifi c.u iva no s pa íscs bal c â-
R EP R ES E KT ..\ Ç ÚE S RELI GI O S A S ni c o s . Tai s co nfig ur ;",;C>e s inf'l ucn c ia ram , na
ve rd ade. detalhes do p ro c esso que levou . nas
ig rejas, da ce rimôni a pura me nt e c u ltua l ao de-
C e l e bra ç6c s C éni ca s n o A l i ar se nvo lvimento da rep re se nt aç ão d ram átic a -
ma s isto ocorreu quando a próp ria Igr ej a Lati-
Nas tard es de s.ibado . a Igr ej a do Santo na j ü havia dado um pa sso co nside r.ive l ne sse
Se pulc ro e m Jeru salém é o ce n.irio de uni cs- se ntido , e o proc esso veri fico u-se qu a se s imul-
pet áculo único l' inesqu ec ível: a ado ração ao ta nea me nte em tod o o mundo cató lico ro ma -
Sen ho r e m co ra is da s mais di versa s língua s, no d ur ant e os séculos IX e X,
O visitante e ncon tra rá a Ivl issa Maior . a Di - O ponto d e partid a e ra a ce lebração da
vina Liturgia e a pro ci ssão ; verá os fra ncis - P ásc oa , a reprodução em a ro s d a c ruc ificação
ca nos em seus h ábito s marrom -escuros cam i- e da Re ssu rrei ção e . orde na da no s termos da
nhand o da Ca pela da A parição ao Ca tho lico n. g ra nde s ig nific ação atempora l de todo s os c ul-
escu tará" crescendo do K\Ti (' dos armênios. tos rel igi osos. a vi tória da lu z d iv ina sobre os
qu e ava n<;am pela Rotunda a té qu e seu canto po de re s da s treva s, Q ua nto mai s proeminên-
se ex tinga nas profundezas da Cape la Helena . cia a cru z ganhava no c âno n do s símbolos re-
E o forte odo r de incenso qu e sobe das abó- ligiosos, tanto mai s e n fa tica me n te devia tor-
badas mi stura-se com os c ânti co s de rogação nar-se visível par a os fi éi« o at o da redenção
qu e os fi éi s ortodoxos gregos e ca t ólicos ro - do qual era ela o in strument o .
manos ento avam na elevada Cap ela do Cal- A scqüêncin da ad ora ção pa scal da cruz
vár io. ac o m p anhava (J S passos d a Pai x ão . Depois da
A Igr ej a do Sant o S epu lcro, o iocal cris- Adoratio Crucis, na man hã da Sex ta-Feira San-
tão mais s agrado da Te rr a Sa nta . testemu nha a la , seg ue -se , tarde , a Dcpo si tio Crucis, a co -
à

op ulência e a "a rieda de da C ristandad e. ma s J. As Três Mar ias visiuuu o nunu !o do Se nhor no Dom ingo de Páscoa e são rece bid as pelo Anjo . A esquerd a. os
hlc a, ã o da cruz cobe rta so bre o ali ar. O s s inos g uardas ado rme c idos. Min iatura do Hcncdictionu l de Se Et hcl wo ld . Esco la de Wiuc hcstc r, C. 970 (Co lcção do Duqu e de
tam bém sua d ivi sã». Por mil e quin hcnt o-,anos. perman ecem em silênc io a té a m anhã de P ás- Dcvon sbire I
• lfi6
• Ao I d a d e Al é d i a

co a. A El e vatio Cri/ei s, a eleva ção da cruz, obra co nté m inst ruçõe s precisas sobre a re pre-
anuncia a todos a Ressurreição. sentaçã o d ram ática da Visitatio Sep ulchri e
O uso d o simbolismo da cruz re mont a ao most ra que, cxa tame nte em meio às noites ne-
séc ulo V III . Durante o séc ulo IX, o se u largo bulosas e tristes da Inglaterr a e da Irland a, a
emprego trou xe a primeira interp retação grá- ênfase missionária na luz e na salvação foi das
fica da históri a do Evangelho , Qu ase ao mes- mais fortes.
mo tempo , a liturgia se ex pand iu. Seq üê ncias A Regularis Concordia de Winchester, que
adiciona is em latim foram inseridas na s parti- rem ont a ao séc ulo VII e é um dos pilares mais
turas mu sicai s e poéticas das matinas pascais, antigo s da Igrej a anglo-saxã, é também - no
atribu ídas com certeza ao monge de São Galo, sentido estr ito da históri a do teatro - o primei-
Notker Balbulo, o Gago (840 -9 12). Se u ami- ro exempl o de " d ire ção teatral" para a repre-
go, o mon ge Tutilo (c. 850 -9 15), deu um pas- sentação medi eval na Igreja , muito embora não
so além e inseriu diálogos em prosa na liturgia vá além da so lenidade cerimonial da ce leb ra-
da Mi ssa. Os chamad os t rop o s são c an tos ção litúrgica. A hor a e o lugar é a das marin as
antifona is que conduzem ao hino da Ressur - do dom ingo de Páscoa e o altar representa o
reição. Santo Sepulc ro.
As primeir as testemunhas bíb licas da Re s- "D um tertia recitatur lectio , quatorfratres
2_Cena ao ar livre da visitosio. co m o Se pulcro cir- surreição são as três Marias, na manh ã de Pás- indu an t se.,;" - é dessa forma que come çam as
cundado por um muro. Miniatura. Esco la de SI. Gall. co a (Visilario Sepulchr iy. Elas se põem a ca- instru ções c ênicas de Winchester. O texto co m-
século X (Basil éia. Biblioteca da Universidade).
minho com uma angustiante pergunta: "Quem pleto tradu zid o diz:
moverá a pedra do sepulc ro para nós ?" Mas o
sepulcro está aberto. Um anjo acha-se sentado Enqua nto se recita a terceira leitura. quatro irm ão...
deverão prep ara r-se . U m de les deve vestir lima alva s:d iri -
sobre o sarcófago vazio, que co nté m apenas
gir-se cm segredo ao lugar do sepulcro. onde perman ecerá
os len çóis de linho branco, e deco rre o seguinte sentado em s üê nc io ('O IH uma palma nas mãos. Qua ndo o
diálogo entre o anjo e as mu lheres a lar madas: terceiro respon s ório for cantado. os out ros tr ês ava nça -
rão até O local do se pulc ro. vestidos com mantos c 1'01' -
Q II (, III q uae ritis in scpulclr m , " cínistíco luc? tando runbulos co m ince nso . ca minhando vagaro s.uncn -
Jesum N aturenum crucifixum. n coclicoícu-. te <.:UIIIO qu em procu ra alguma coisa. V ê- se qu e cs va é
NO/r est luc. surrex it. .eicut prucdixcrat, uma imitação da s mulheres qu e chegam co m espec iarias
I IC, nun tia tr, qui" snr resit di' se poíchro. para ungi r o corp o de Jesu s. Quando em seg uida u irm âo
3. Diálogo de Páscoa entre as três Marias c o A njo . se ntado ju nto ao se pulcro . qu e represen ta o anj o. vê os
Miniatura de um Psa íter íum Nocturruun sitcs iano. c. [A 4ucm buscai s no sepulcro, Ó c ristãos? três se ap rox imand o. co mo que vagando à procura d e
124 0 ( Bre xluu. S taa tvhib fio thc k). Jesus de: Nazaré crucificad o. (', cehc o la... alp o. de ve co me çar a ca nta r num a voz mod ulada c d oce :
NJ o está aqu i. rcssucito u. COlllO tinha predi to . QII(, III q nan-tis, A o fi nal, os três res pon de rão c ru un is- o-
Ide . anu nci ai q ue res.. . u.. . l.:iI OU d o sc p ul c ro . ] no: llus tun Naturcsnnn, () alijo lhes repl ica : ,~'./(l 11 C.\ / híc:
(Trad. Paulo Sé rgio de Vasco nce llos) .<;II' ''-C_, ;I s ívu t prucdixcrut, I re IItIllIÚlIl' lf ll i ll ."lII"'t' X ; 1 II
1110 1'111;"'. A esse com an do. o.. . três deverão voltar-se para Il
coro. ca nta ndo : A ííetuio: ress urcv ít dosuinu s. Dep o is di s-
Esta antiga forma de trop a de Páscoa en-
so. o anj o que pe rma nece u 110 sepulcro os cha mar á til."
contra-se num manuscrito de São Ga lo, de 950 , vo lta. e n to and o a uunfona \ b rilc et víodetc locum, e ao
e m co nexã o imed iata com os trap os de Tutil o soar dessas palavras e le se leva nta. rem o ve o véu c lhes
e co m a versão de Limoges, na Fran ça, d o ser- mo stra q ue no lugar da cruz co berta restar..m ape ll;' ''' o...
viço pa scal. véus qu e a envolvia m. Depoi s de: ter visto is.. .o . t .... l n 1.,
devem de posita r o s lnccnvórios no sep ulcro. tom ar o su-
Embor a seja muit o fácil traçar uma linha
dário c estend ê-lo d iant e do co ro para mostrar 4ue n S<.' -
de ligação de São Ga lo, um mosteiro aberto nh or ressu scit ou c q ue não ma is está en vol vido por e le. c
ao mundo e empenhado em um vivo intercâm- então devem co meça r a cantar a antifoua Surrcxít doniinns
bio cultural, com o ritual da missa dialogada de sepulcluo. dep o sitando os véus mortu áno s so bre ;I S
da Igreja Oriental, digamos, co m o Christus toalha s dr: linho do altar. Quando 3 antffoua tcrrni nur, o
Prior iniciuni (l h ino Ti' Ik lOlI l.audcnnus. regozij aIH.l\) o
ane ste da proci ssão da seg unda -fe ira da Pás-
tr iunfo do Nos:-.o Se nho r por ter vencid o a morte c rv... -
co a bizantina, ainda assim, precisam ente na suscitado. Q uando n hino co meçar. todos os sinos deve -
liturgi a pa scal, aparece m influên cias inequ í- rüo ser tocados *.
vocas do No rte. A Rcgularis Concordia , escri -
ta por vo lta de 970 por Ete lvoldo , bispo de ~, Hard in C ra ig, /:'lIg /i.,·h Religi o us otthr It/i tl lt ,
\Vinch cster, demonstra essas infl u ências. Essa A g I' .\". O xfor d . 1')5 5. p. I Li _

• 18 <)
É dessa fo rma qu c a Reg ularis Conco rdia peça . Ele abor da as mulhe re s a caminho do
estabe leceu o padr ão b ásico da dram atização se p ulc ro e lh es ofe rece se us p rodutos co m
latina da celebração da P áscoa pa m o conj un- muita ges ticulação . Uma mesa co m um a ba-
to do mu ndo oc ide nta l. O Te Deum L mll/llIII/1S , lan ça, caix as de pe rfu mes c po tes de ung üen-
um dos mais a ntigos hinos corais, é ainda ho je tos ma rcam o cen ário desse pr im ei ro interl údiu
ca ntado em todas as igrej as c ristãs. Era orig i- " m unda no" .
nariament e c hamado "hino a mbros ia no" e No início do séc ulo X I, o ilu minador do
atrihuído a Sa nto Ambr ósio, mas é pro vável Evangelho de Uta, em Regen sburgo. co nside-
que tenh a sido esc rito po r Nic etas de Trier por ro u a cena da co mpra d os perfumes bastante
volta de 535. Por tod os os pa íses e e m todas as imp ortante para retratá-Ia num medalh ão or-
époc as, o Te D eum e ntoado em co ro consti- name ntal do Evange lho de S;1o Marcus. Nas
tuiu a conclu são de toda s as ce lebrações da esc ulturas das catedrais fra ncesas de Beau caire
Páscoa que prol i fer ar am a partir da visi tatio e Si-Gilles. o boticári o aparece ao lado de sua
original. es pos a. Mas havia ai nda um lon go caminho a
Os ac r éscimos subse q üc ntes à represcn- pe rco rrer até a pilhér ia de slavada que e nvol-
ra ção c énica seg uia m estrita mente u texto dos veri a a co mpra dos perfumes nas Paixões pos-
Evang elh os. Ped ro e J oão. tend o ouv ido as ter io res . O Merca to r do Se pulcro Pascal em
boa s nuvas da s m ulh eres q ue retorna m. cor- Co n stan ç a não suge re nada ne sse se ntido.
rem ao sepul cro. A for ça sim bó lica da ação U san do o ca puz do s eru ditos e portando sua
não é de maneira alg uma d im inu ída por essa lent e de aumento, manté m os olhos baixos e
"corrida ao túmulo" , precon izand o os primei- sile nciosam e nte tritura us ingredientes de seus
ros elementos gro te scus d o espetác ulo teatral. un g uen tos e m seu almofariz de botic ário. Se
4 , Pedro e João no Sepulcro : Mari a Madalena observa po r de trá s da co lina. Min iatura Pedro, o mai s velho dos d o is di scí pulos, man- esse honrado Hipócr ate s tive sse alguma fala.
do evangcliério do impe rador Oto , século X (Aachen, Te so uro da Cated ral). ca e ofega at rás de João . M as João, logica- esta só pod eri a se r c m so le ne c pau sado latim.
men te. o deixa e ntra r prime iro no sepulcro. Um texto de Praga do séc ulo XIII de fato lhe
Gestos amplos, co mp ree ns íve is para todos. in - co nc ede algumas linhas:
terpre tam o texto so le ne me nte cantado. Aq ui
tem os a primei ra ce na de pan tomima na ig rej a vol -is II H t:Ill 'lIia f ll,lima .
1 )0 " (1
voí vau wi-: 111I. l:/Il'l"I' vul neru,
- es pec ialme nte qu ando o coro ca nta as an t í-
.\ ('/ ,u lllt rtli' eilt\ ati 11lí.'II UlI"iO Ill
fo nas. co mo mostra o c ód ice de São Blás de I 'i not nini ciuv ad glo riam .
Brunswick. do séc ulo X II. e os dois apóstolos
I o ~ melhore . . ungi.k l1ro -, lh c s d a re i.
entoa m Eccc lintcam ina até qu e os véus de li-
p;lra ung ir :I" ft:rid ;h do S al vador.
nho lhes sej am reve lados. crn mem ória de Seu sl ' 11u l l :ll m : nto
Enqua nto isso , as três m ulheres saíam de C para a g ló ri:, do Se u no mc .]

cen a. exe cro qu a nd o lhe s e ra per mitido per-


manecer por pe rto e ass istir à co rrida por de- o sa lto até a cen a do mer cador de Erlau,
trás do sepulcro. co nfo rme nos mostra uma mi - do séc ulo XV, é eno rme . Nela, Med icu s ainda
nia tura de um manu sc rito o to niano de Aachen. d iscursa num mal falado lat im , mas, apoiado
da tadu do séc ulo X . por sua esposa Medica e se us assiste ntes Rubin
Possi bili dades bem maio res de enr ique - e Pusterha lk. so lta um a e nxur ra da de invecti-
ci me nto cé nico for am ofe reci das pela ce na do vas . q ue dei xam as três M ari as atónitas. Nada
Merca tor , introdu zida pel a prim ei ra vez por poderia ser mais si nce ro do qu e sua ameaça
volta de 1100. De acord o co m São Marcos, de qu e deve riam parar de chorar e se recom-
Maria Madalena, M a ria Salo mé . mãe de Tiago. por. se não "vou lhes dar uma no nariz". No
e Maria Cleofas haviam co m prado doces fra- final. o próprio Mcdi cus começa a qu estionar
grã ncias a caminho do se pulcro. e esta afir- se e le e seu s co mpanhe iro s não teriam ido lon -
ma ção abriu a pori a par a um dos caracteres ge de mais. e volta-se. apologéti co, para o pú-
fixo s tradi ci on ais do tea tro pop ular: o M erca- bl ico . 'T alvez os te nh am os ab orrecido co m
IO r - bot icár io. c ura nde iro . mc d icastro e pilu- nossa g ritaria" , ele suge re, e an uncia qu e vai
5. Co rrida dos d iscí pu los ao Sep ulcro, Pedro ~ fre nte . Min ia tu ra de um Livro de Pcr icop e s. C lm . 157 13 _ Esco la de leiro do burlesco e do m im o . N;1o foi preciso re tir ar- se e dei xar qUL' as Marias sig a m se u
Regenshur g, l'. 1130 (M uniq ue , Staatsbiblioihck ). invent á-lo. ma s sim plesme nte introdu zi-lo na ca m inho.

· 1'11
6. As trê s Marias co mprando há ls;1I110 S_ À e sq ue rda . o botic ário c s ua mu lher. Pi,gur as d a fr isa do transcpt o no rte da
Notrc- Daruc-dcs- Pon ilers em Beaucaire, sécul o XII.

x. Duas Marias lia I.:o m pra de b.dsaru os. r\ mais am iga


7 . O merc-a d or de b ãlcnno s co mo e ru d ito. co m (1 pil ão rq m.'se nla,·;lo c xi-t vnr e tlL-ss a ce na tea tral c m ilustr ação
d e hoti l.:a c ti lupa . l-ieu ra d a frisa den tr o (lo Sa nt o Sc p ul- de livro. t 111I mc clalbâo da pâg illa o rnam e nta l do E vun ge -
cm na C ape la UI.' SolO Maur ício, tut cdru l d e C o u vtúnc ia. lho de S úo M arco s. no E van gel ho da Ahndcs sa 1ltn d e
c. 12:-\0 , RL·f!l.'n s h lll ~ . c- l (l ~ (l ( M u ni q ue . S ta.us b ihlioth ck ).
H í s t ó rí u M ll1u l i a / d o Fr u t ro • • :\ í d a d v M éd ia

Os anjos gritam o seu "siletci", e a pri- m on ge-pintor Dionysos do M ont e A tos , for - term inad o na Rcgularis Co ncordia, ou seja, a nua l d a Páscoa. Um dos exe m plo s mais belos
meira das três Marias ent oa o " Hcu Nobis" em nece as seg uintes instru çõe s para a " cor rida à aco ntecia m durante as matinas no domingo de é o S anto Sepulcro na Ca pe la de São Maur í-
latim. O tosco interlúdio do Mercator vai dan- tumba" : " Pedro permanece incl in ad o dentro p;íscoa. ap ós o tercei ro responsóri o. Poster ior- cio . na C atedra l de Co nsta nça. E ssa ca pela foi
do lugar aos lament os so lene me nte recitad os. da tumba e toca o sudá rio. João es tá do lad o mente, e sse horár io para as represent a çõe s co nstruída pelo bispo Co nra do de Co nstança
parte em alemão e parte em latim. de fora e assiste a tudo , utônit o . M aria Mada- dram ática s da litur gia fo i mantido mesm o quan- (93 4 -9 75 ), e co nta-s e que nela " ele ad ornav a
Ma s o M crcator, [untumentc co m sua es- lena permanece ao seu lado. ch orando" . Essa do os autos da Paixão e os mi stéri os, ca da vez o túmul o do Senh or co m obras maravilh osas".
posa e assistentes, não tem direito à salvação. é a descriç ão da cena teatral. Biz âncio codifi- mai s numerosos, j á haviam de há muito se El e vi sitara a Pale stin a três vezes a fim de ver
Bertoldo de Regensburgo condenou-os cate- co u a representação, que o m ini aturista do emancipado da Ig rej a e transferiram- se para a a "Jerusalém terrena" . O atual Sagrado Sepul-
goricamente em seus sermões no século XIII: có d ice otoniano de Aachen ha via a ntecipado praça do mercado e para as salas d o teatro, sen- cro de Constança - qu e reproduz na forma o
até mesmo os nome s de seus assistentes, Pus- ci nco séc ulos antes (ver ilustraçõe s página 190). do en cenadas duran te os m ese s do verão . No de Jerusalém - e suas interess a ntes esculturas
terbalk e Lasterbalk , eram traiçoeiros e repul - A questão da rela ção entre as art es visuai s século XV, en sai ar o " de vc rtoo nigen \'lI1/ de d at am de 1280 . Ele es tabelece uma pont e en-
sivos o suficiente, dois nom es de dem óni os que e o teatro na Idade Média é tão fascinante qu an- opsral/dil/g des Hceren" para o se rv iço matu- tre as Cruzada s e o ce ná rio da ce rimô nia da
os bon s cristãos costumavam atribuir aos ata- to co ntrovertida . Desde qu e Emil e M âle pro- tino de Páscoa na Ca te d ral de U tree h t era ain- P ásco a. Os Cru zad os não ape nas ret ornaram
re s. Essa aguda ce nsura resid e num fato da pôs, e m 1904 , a aud aciosa hip ót ese de qu e te- da um a da s atribui ç õe s do su pe rvisor da Esco- co m um conhec ime nto pessoal do mod el o de
hist ória do teatro . O ve nde do r de ungüent os e ria havido " uma renovação da a rte por meio la Capitul ar de Utrec h t. Na C ate dral de Ge rona, Jeru sal ém e com o desej o de rep rodu zi-lo o
sua parentela palradora e abusada foram os pri- da represent ação dos m istér ios" , segu iu-se uma co nfor me nos infor ma um códice litúrgico do m ais fielmente possí vel e m su a terr a natal :
meiros a falar novam ente co m a voz do mimo sé rie ininte rru pta de obse rvações e m part e co n- séc ulo XI V, a respons a bilidade d e re prese ntar aq ueles qu e eram afo rtuna dos o s uficiente para
imortal. Qu ando, dessa form a, o mimo voltou co rda n tes e em parte di scordantes. Es tud iosos o auto das três M ar ias cabia aos "jovens cô- regressar a salv o tamb ém tinh am tod as as ra-
de novo à vida. teve necessari amente de fazê- es pe cialistas no período bizantin o as se ntaram negos", zões para celebrar sua volta com genero sos
lo em latim , mas isso o ligou tant o mais a seus marcos confiáveis. Eles mostraram hav er uma Para o servi ço d a Sexta-Feira Santa , o fa- don ativos.
antigos prede cessores. concord ância co mprov áve l entre a j ovialida- moso lamento latino "p latict us ante ncscia" Walbrun , pre boste da Catedral de Eich-
As 224 dramatizações pert en cente s ao ser- de narrat iva dos testemunho s te xtu ai s e os re- evo luiu já no iníci o d a Idade Méd ia para o la- s tiit t. reg ress o u d as C ruzadas e m 1147 co m
viço pascal , recolhidas por tod a a Euro pa e g istros pict óricos subs iste ntes. e le varam em ment o de Maria, qu e foi m ai s tard e ampliado um a lasca da Sant a C ruz e m sua bagagem , jun-
publicada s por Carl Lau ge em 18X7, provam co nside ração infl uências teatrai s. Relações si- para um diál ogo en tre M ari a e João . Esta é a tam en te com as med idas ex at as d o Santo Se-
o qu ant o o desenvol vim ent o da litur gia, no que m ilares po de m ser con statadas na Europ a Cen - primei ra vez e m qu e sc pod e perceb er o pró- p ulcro . Fund ou um pcqu en o m ona stéri o fora
diz re speit o à representação dra má tic a, fo i tral, co rno por exempl o no ciclo da Epifania prio Cristo, embora a pe nas no recit ativo e não d a c id ade e o o ferec eu a um gru po de frades
uni vers al no co njunto do Ocident e. de Lambach , no Saltério de Sa nto A lba no de realm ent e visível. irla nde ses e escoceses dados a per egrina ções.
O diálogo do "quem quaeri tis" ent re o anjo H il d e sh e im , ou no E van gelh o d e U ta d e Um man uscr ito de Zurique. do final d o Dedi co u a igrej a 11 "Sa nta C ruz e ao Sa nto Se-
e as Maria s podia ser ou vido no Domingo de Reg cn sburgo. séc ulo XII. traz um di álogo profund am ente to - pulc ro" c, em 1160, co nstruiu d entro dela uma
Páscoa em São Galo e em Vien a, em Estras- Qu alquer suposta rela ção co nsti tui uma ca nte, a pesar de s ua bre vidade. É um grito su- có pia fiel em tod os os as pec tos 11 de Jerus a-
hurgo e em Pra ga, no m on ast ério italiano de tent ativa de ex trair do passad o im agen s que . foca do de pesar da mã e para seu fi lho, prega- lém . H oje es se monumento roman esco es tá na
Sutri e em Pádua, na Catedral de Litchfield na ape sar de tod o o cuidado e preocupação na in- do na cruz por ca usa dos pecados dos homens: Igr ej a dos Capuch inh os de Eich stiitt. Exem-
Inglaterra, no mosteiro espa nh ol de Silos. em te rpretação, podem ter sido pen sad as de ma- "Mater: fifi' C hristus : Mater: Mat er: deus es' pl os sim ilares são a cr ipta do Santo Se pulcro
Link õping na Suécia e sob os arcos gó ticos da neira bastante diferente daquela e m qu e hoje a C hristus : s/lm ! Mate r: cu r ita pendcs" Christus: d e Ge m ro d e, nas montanhas Har z , o San
Catedral de Cra cóvia . concebemos . Co m essa ressal va, ca be invoc ar nc genus /111111(11/11// 1 tendat ad iut eritum" , Ex a - Sc po lcro em Bolonh a. São Mi guel em Fulda e
A corrid a dos apóstol os ao se pulcro. se- tam bém para o teat ro testemunhos pict óricos tam ent e as mesm as pal a vras foram enco ntra- Saint-Bc nigne e m Dij on .
g undo se sabe, nos é tran smiti da pelos regis- qu e nã o têm a ver co m o teatr o, m as q ue re fle- das num ca nde labro instal ad o no mosteiro de Tod as essas cóp ias mais ou men os fiéis do
tro s do monastério de São Marci al em Limo- tem o es pírito de um a época e m qu e e le me n- San to Emerâo de Regcn sburg o em 1250 , du- Sa nto Sepulcro tornaram-se o ce ntro espiritual
ges, em Zurique e em São G alo, no mona st ério tos teatrai s primitivos estav a m pr esen tes. Ott o runte o co nfl ito e ntre a facção pap al e a dos c cêni co da cerim ôni a da Páscoa. O texto do
de São Floriano na Á ustria. e m Helrn stcdt , no Paccht . que seg uiu os rastos fasci nante s da s Hoh enstaufen . O bisp o de Regen sburgo o ha - serv iço er a o mesmo c m Jerusalém e no Oci-
norte da Alemanha. e também e m Dublin. De influências teatrais, se m no e nta nto prescindi r via o ferec ido co mo ex piaç ão por um atentado dent e. A Bibl ioteca do Vati can o possui um raro
Dublin, exis te inc lus ive uma d escrição de do m ais frio ceticismo . concluiu c m 19 62 qu e. co ntra a vida do Rei Co nr ado IV. um inc ide nte docume nto, " Ord in ad IISIII11 Hiero solymitunum
como os após tolos deveriam es tar param cn - na Idade Médi a, o que "estim ulava a ima gina- pelo qual não se se ntia inocente. iii/II i 1160" (MS . Barberini lat. 65 9). que con-

tados: de scalç os, vestidos e m " albis sine ção do artista cm primeiro lugar não era a ex- A extensão e m qu e se op era va a transfor- tém o texto de um a ce rimônia dramática de Pás-
paruris cum tunicis", João usando uma túnica periência visual ". mas que "o impul so criativo ma ção do altar no Sa nto Sepulc ro para a ceri- coa representada, em latim, em 1160 no Santo
branca e carregand o uma palm a. e Pedro, uma primário par ece ter vindo do mundo da fala", m ônia da Páscoa e ra d ei xada a c rité rio de cada Se pulcro original, e m Jeru salém. O texto cor-
vermelha, seg urando as ch aves do Paraí so. de acordo com uma frase atri b u ída po r Plur a rco mon astério. A Regul aris CIJI IClmlia se contenta resp onde literalmente aos trapos de P áscoa de
A ce na em si co rres po nde exa ramc nrc às a Simonides, de qu e a poesia é lim a pintura co m um " assim ila /i" sc p ulchri vclantque", Rip oll e Silos, aos te xtos das represent ações de
regras estabe lecidas nos manu ais de pintura da fa lada . e a pint ura. um poem a silen c ioso. Po rém. j á no sé culo X II. es tru turas tumulares Besançon, Ch âlons-sur-Ma ruc e Fleury, e aos
Igr ej a bizantin a como guias para os pintores To da s essas primitiva s ce le b raç ões dra- es peciais era m ergu ida s nas igr ejas, num a ten- te xt o s d r am áti c os lit úrgic o s , da S ic ília à
d e ícones. O mais fa mo so deles. o livro do m áti ca s da P ásco a res pe ita va m o te m po de- tati va de c riar um ce n.irio di gn o da cele bração Esca ndi náv ia, da costa do A tlântico ao Vístula.
• 194 • 195
H ís t o rí a ftl uf/( /ia l do Tra t rn •

o séc ulo XIII foi tam bém a Era da Cava- Agora, cenas retratando Pilato s e envol-
lar ia, dos cava leiros . dos nobres c dos prínci- vend o os so lda do s da guarda preced em as da
pes qu e se org ulhavam de oferece r sua palro- Yisitatio e das três Marias co mprando as fra-
nagern espec ial il arte da cerim ôn ia dr amática . g râ nc ias . Os so ld ado s rom an os mo nt ando
O papel do pat rono das artes, agrad ável ao s guarda no sepulcro ag ora dis cut em sobre seu
olh os de Deu s, sempre continha a promessa soldo, A ressurreição, orig inalmente indicada
de rec om pen sa nes te e no outro mundo. As- simplesme nte pelo sa lto ass ustado dos so lda -
sim Lip old o, o advocatus (protetor) da Aba dia dos, tem agora um a co nse q üê nc ia, num a ce na
de SI. Morit z, em Hildesheim, doou à igreja em que Pil atos ac us a os hom en s de neglig en -
local, em 1230, uma pre benda que pa garia a- ciar suas res po nsa bilida de s. Um a viva lingua-
nua lme nte os custos de uma repr esent ação dra- gem ges tua l int errompe aq ui a solenidade rí-
mática da Assump tio Christi na festa da As- gida da re pre sentação .
ce nsão . Da me sma form a, em 126 8, o Co nde A introdução do pa pe l de Jesus ab re ca -
Heinrich de r Bogener de Wildesh ausen tran s- minho para a repre sentaç ão dos acont ecim en-
feriu um a soma considerável ao Alexanderstift tos post eri ores Pásc oa: sua aparição a Mari a
à

local, para ser usada " numa solene celebraçã o Madalen a co mo jard ineiro (" Noli me tangere" ),
do sepulta me nto de Nosso Senhor na Sex ta- ao inc rédu lo To mé, aos discípul os no ca rni-
Feir a Sant a" . nho de Em aús (a uto dos Pcrcgr inus ), ao g rupo
Por sua vez , o auto pascal de Muri, o mai s dos ap óst olos em J eru sal ém e, fin alm ent e ,
anti go exi stente em alem ão - e numa lingua- como tem a de infinitas possibilidades, a de s-
gem mu ito refin ada, clarame nte mold ada na cida ao In fern o e a libert ação de Adã o e Eva
poesia épi ca das cortes - parece sugerir um do limb o, primei ro ato de salvação .
patrono princip esco. Porém, esse auto prova- Co m esse acr éscimo de novas cenas, o
ve lm e nte nã o fo i represent ado na igr ej a. espaç o destinad o 11 dr amati zação teve de ser
Edu ard Hartl, respon sável por uma nova ed i- proporc io nalm ent e am pli ado. Enquanto o en-
ção do texto em 1937. sugere que em " um do s co ntro de Jesu s c Ma ria Madalen a ainda pod ia
grande s cas te los da Su íça. por volta de 1250. acon tecer j unto ao alia r o u ao Sa nto Sepulcro.
o auto deve ter sido montado sob a d ireç ão do a viagem a Ema ús ex igia nece ssariamente UI11
cape lão parti cul ar, um homem de ed ucação intervalo espac ial. No auto de Páscoa do sécu -
cortesã, pa ra a ed ificação cristã de seu s mora- lo XIII de St.- Bénoit -sur-Loire (Fl eury) , E-
dores". A total om issão de hinos latin os, a ê n- ma ús silua-se na pa rte ocidental da igrej a, e a
fase reconhecível no sentimento de cla sse dos mesa da ceia, no centro da nave : Jeru salém fi ca
cava leiro s e a introd ução de fig uras de servos no coro. A ce na in terior. e m Ema üs, é marca-
- tudo suge re um es forço para aprese ntar a da por um a mesa com vinho, um ped aço de
história da Pásc oa ao senhor do castelo e se us pão e três hóstia s ti nas . Ames do iníci o da cena
hóspedes num meio socia l adequado. Ass im. da ce ia, traz-se ág ua pa ra a lavagem da s mã os.
do o ratório ecle siástico saiu o primeiro dra ma Tod os os es paços necess ários à repr esen -
fal ado nas terra s do norte do Oci dente , e sua tação eram especificados no início e ide ntifi -
ence nação se deve a um patron o nobre. cados por ce n ários e acessóri os apropriados.
A sim ultane idade da a ção e as áreas utilizadas
o AI/to Pa s cal lia I gr ej a determinaram o futuro palc o de todo o teat ro
medi eval - seja em forma de uma di sposição
O séc ulo X III trouxe consigo duas inova - es pac ial so bre um a supe rfície inteira rese rva-
ções de gra nde import ância para o desenvol- da rep resentação, sej a de uma justaposição
à

viment o do teat ro ocid ental. Cristo. que até ao longo de um a pa ssa rela estreita. Os es pe tá-
então havia estado presente apenas co mo "s ím- culos ec les iais desfi lam os eve ntos bíbli cos ao s
bolo", agora aparece em pessoa como parcei - olhos do espectador co m a mesma justap osi-
ro q ue fa la e atua, e a linguagem ve rn.icula ção si m u lt ânea de um painel pintado. As du as
traz vida aos rígidos textos litúrgico s. A ceri- grandes o bra s do pin to r Han s Memling, Os 9 . Cicl o es panho l da Paixão . cuja riqueza narrativa rivaliza com a das cenas do s '~ lltos da Pa.ixão. A~ inu,' o beij o de Judas
mônia dram át ica ampliou-se para rep resent a- Set e Go zos de Mari a e A s Se te Dores de Ma - e us so ldado s levando Jesus. Ao cen trn , o Gúl gota co m a crucifi xâo c os ladr õe s : ab a ixo, a desc ida da Cl lIZ; a esquerda . Judas
e nforc a-se nu ma árvo re. I';igina de miniatura cm uma l ííbí iu Sacro de Ãvila. c. 1100 (Mad ri. Biblioteca Nacional) .
ção ada ptada livremente. ria. co m sua ah undâ nc ia de cenas a es tender-
• 196
H i s t úr i u .\l Hm /i ll / tio T eat ro . • A t do d e M é d i a

se lar gam ent e pel a paisagem, surgiram de uma co n fo r mad a ao âmbi to fí si c o d o cená rio d a do Santo Sep ulc ro . reci ta um a e spé c ie de epí- não baseada numa represe ntação dranuitica . Se
ex periência idênt ica à qu e or ig ino u a simulta- igr ej a. N os c iclos da Paixão dos sécu los X V e logo, em que a qu in taessênci a do te ma da peça é. a ntec ipa em alto gra u desen vol vimen to s pos-
neid ad e cê nica do palc o med ie val. XV I. entretanto , qu e freq üente me nte tinh am a co mbina- se co m um pedido ao s espectadores te rio re s. Poderia tam bém ajudar a ilu m inar o
Paraíso c Infern o, Gct sêm ani e Gólgota, d uraç ão d e vá rios dias, o Infern o a ssu m iu um para que pen sem no s "pobre s e rud itos" e de - "c re p úsc u lo teatr al" qu e e nvo lve a criativa e
Satã e os Bem- Aven tur ad o s são tão didatica- papel m ai s imp ort ante e pro voca tivo , mu itas monstrem s ua g ratidão, o fe recendo -lhes uma prolífica escritora Hrot svith a. c ujos dramas em
mente confro ntados no teat ro qu ant o no sermão. vezes beirand o a violência crua . N a retrataç ão bo a refe ição: la ti m , e sc ritos à m an eira d e T e rên ci o , sã o
O dr ama eclesial medieval sempre teve uma fun- do Inferno, o teatro tentou superar a arte pi c- a lte rn adame nte con sid erados m uito importan-
ção pedagógica, mes mo quando passou a ser tó ric a . O mundo pecador deveria co nte m p lar Oucti huttc ich l1Iil'1I vore csscn, te s ou to talmente insignifica ntes para a história
dv llrmt.'n schul cr / 10 /) (' 11 niclu c :u (' ,\ .\t 'l l.' do tea tro. Pode ser tam bé m que o marfim de
apresentado na praça do m erc ado e passou a plenamente o abis mo do qual se aproximava.
H'er yn g cb ít ire brcücn,
preocupar-se com o co nj un to dos c idadãos. A O poder do Infern o , que aguardava im pe rado- G andcrsc heirn não s ignifi que m ai s do que a in-
don wí í got hute unü un nn in nch r hera/cu ,
palavra latin a pulpitum ainda abrange as diver- re s e rei s d a mesma forma qu e sace rdo te s in - "'er yn geb ít ire vícuicn, ten ção do arti sta de pre star homen age m espe-
ge ntes form as de represent ação , po is pod e sig- d ignos, usurár ios, prostitut as, a ssassinos e a l- dcn wí í g ol ;11 (Ia: ttvtnsne írich c luc/cu . c ia l a suas protetoru s, mo strando M aria ves tida
nificar tanto o p úlpito quanto o tabl ado. co vite iras. era ass im reconhecid o . U ma vez q ue [Al ém do ma is. cu ha via me esqu ec ido :
como um a ve neráve l ca no nisa.
A descida de C risto ao Inferno es tabelece o a uto d o J uízo Final se desvincul ar a d o ce ná - os pobres erudito ... não têm nada para co mer: E m bor a a co rre nt e do tea tro me dieval pos-
um a ponte en tre a Reden ção do Novo Testa- rio da ig reja. foi necessári o some nte um pa sso Se lhes ofe rccc rdc ... UI1I po uc o d o \-OSSO as sado. sa , d e mod o gera l. pa re ce r un ifo rme no qu e
mento e a históri a da C riação no Velho Tes- a ma is para chegar às sá tiras sec ula res d as co r- De us vos pro te ge rá e gui ar :í se m p re : d iz re sp eito a sua s raízes. sua s a sp iraçõe s. pos-
Se lhes o ferec erdes um po uco de pão .
tamento. Para os iniciadore s do d rama na igreja por açõe s e par a as re prese ntações profanas da s ib ilidade s de repre sen tação e so bre tud o e m
Deu s vo s levará p ~lra o Cé u. I
ela trouxe um desl oc ament o efe tivo do lugar D ança da M or te. De acor do co m ve lh as cre n- s u as o rigens na fé c ris tã , e le se di vi de e m m úl-
da ação . Os ate res caminham em procissão ao ças populare s so bre as or g ia s n oturnas d os A per spectiva de ganhar um lugar no Pa- tipla s co rre ntes no de lta de seu de se nvo lv i-
redor da igrej a até o pó rtic o , q ue simboliza os m orto s, n o Banquete do s M or to s e na Dança ra íso, graças a um pedaço de c arn e ass ada e me n to poste rior , Torn ou -se incrive lme nte mais
portões do limb o . Cristo, represen tado por um do s Mortos , a Morte personific ad a força os um a fati a de pão , de ve ter feito o p úb lico con- natural , graça s ao u so não apenas de di feren-
c lérigo escolhido, hate en e rgi cam ente diver - vivos a segui -Ia em se u séq u ito , independen - side rar que valia a pena o fer ece r uma refe ição te s líng uas ve rnác ula s, mas ta mbé m de di fe-
sas ve zes . Dent ro. Sa tã. per sonificado por um te me nte de idade , sexo ou co nd ição socia l - re nte s figurinos e ac e ssórios c énico s. Na ce na
ao s padres e e rud ito s.
d iácono ves tido para o pap el , procura imped ir tant o o papa qu ant o o ve lho men di go , a res- Até o séc u lo XV , o s pa pé is femini no s. d o No /i m e tangere, C ris to é um jardi ne iro co m
a entrada do Redentor. ma s p or fim tem de abri r peit á ve l burguesa quanto o deva sso menes tre L mesmo na lam e nt aç ã o d e M ari a ao s pés d a u m gra nde c hapéu e um a pá. c o m o qu e pa ra
os "po rtõe s do Inferno" e lib ert ar as pobres A D un:a d e Mu erte espa n ho la , a D OI/c e tornar ba stant e claro ao s espec ta do res por ql lC
cru z, eram de sem pen had o s por cl érigos e e ru -
a lmas pri sioneir as de Adão e Eva e dos Patriar - Mu cab re franc esa , as danças d a Morte ingle- d itos. Na Idad e M édi a. da me sm a forma q ue M ar ia Mada lena não pod eria rec onhe cer o
cas. Nesse mo ment o . o pór tico d a igreja reas- sas . es lavas e ale mãs do séc ulo XV, co m seu na Anti gui dad e . no a ntigo Ori en te Pró xi mo e Senhor ressu rre cto " iII sp cci« horlulani", Além
sume o papel tão ricam ente document ad o nas d idáti co d esp ert ar de co nsciê ncias. e ncontra- no teatro d o Ex tre mo O rie nt e. a pla téia não d isso. Je s us se diri ge a e la co m pa lavra s áspe-
dec ora ções esc ulturais : o de enc ruzi lhada onde ra m ex pre ssão efcti va na escultura e na pintu- via nenhum a inco ngruên ci a na in terpretação ras. crí ticas:
se dá a separação entre o mundo do pecado e a ra. E stra nha me nte, porém , tive ra m pequeno de um pap el fe min ino por u m atol'. Parece q ue
I sI (III: gll!t' r ! l"dll CI/ J"ccil f ,
sa lvação eterna. Agora. todo s os que partici- im p acto no teatro . (Hugo von Ho fmanns tha l até em con ven to s de freira s os c lérigos fazi a m do : vv IIIl1lull fk n (II: d.,· l.nrcht
pa ram da representação e ntram j un tos na igre - ado ta este tem a em se u dra ma lírico Der Tal' os papé is femi nino s. No auto pa scal de Praga, 0,0 Iro \' 11 dt' .\ t ' IJI (;u l' /('I/' )
j a , seg uidos pela co ng regação . III/d der Tod - O Lo uco e a M orte ). mo ntado no conve nto da s freir as de S. Jorge , Ire : hastn hv 1:11 \ 1"(11"1(''' '.'
Nenhuma outra con cepç ão bíb lica fasci - Enquanto os espe tác ulos re lig ios os primi- apenas a cantora ( Clllllrix ) é e spec ifica da co mo [É co rreto que unm mu lher d ec e nt e
nou tant o os artis tas med ie va is quanto a do tivos e ra m e scrito s e o rga nizados ex cl usiva- um a part icipant e d o sexo feminin o, q ue re pre - pc rambulc CO Ill () co ra ção leve
Inferno, o co ntraste e ntre a da nação e a salva- m ent e pel o clero reg ular e sec ula r, mai s ta rde se nta o coro dos a pósto los . Pedr o e João são ue-,...e ja rdim co mo o-, "(" 1"\"0:-'·.'

ção. Dram atizações teatra is co m pe tiram co m os profe ssore s das escolas de lat im encarrega- descrit os co mo du o presb vtcri , O texto não A q ue m l' s l a i ~ evpcrnn do" ]
a im aginação de es c ulto res, pint ores, ent alha - ram-se de ssa s mont agen s, diri gindo se us alunos es cla rec e se os p ap éis d as três M aria s são de-
dor e s e grava dores. Em br e ve a simbolização na s re pres e ntaçõ es da Pá sc oa , Pentec ostes e se mpenha dos por fre iras . A abadessa tinh a o M aria Ma dalen a I in ha tod a a razão de per-
do Infern o iria para bem mai s a lém do simples do Natal. O pe ríod o de trans iç ão p rodu ziu privilégio de bei jar o livro de ora ções no iní- g unta r-lhe, es pa ntada : " Po r qu e gr itai s co mi-
batente do pó rtico da igr ej a, convertendo-se manuscrit os em latim co move d o ra mente im- c io e no fin al do Te Deum. go'!" Ela in for ma ao rud e jardi ne iro q ue es tá
nas mandíbu las abe rtas d e um a fe ra, soltando perfeito, qu e ainda a ssim tent ava sob reviver Um entalhe e m marfim, rem ane scente de pro curando pel o " san to homem " e per gun ta
fumaça e fogo -- ou, interpret ad a literalmen te co mo um ve st ígio erud ito , ao lad o de passa- Gan de rsc he im . o c o nve n to da d rama tur g a se es te pod e informar-lhe a lgo sobre e le. Mais
co mo a própri a boca ab erta do Inferno, mo s- ge ns ve rnáculas. Do século XIV em di ante, por Hrotsvitha , pode tal vez ser mai s bem interp re- tarde. no auto pascal de Innsb ruck ( c no de Er-
trando ent re suas presas uma multidão de de - fim, os wandering scho lars, erud ito s errantes, tado em termos do auto pascal de Praga. Rep re - lau, bem mai s grosse iro. mas pa ra o qu al m uitos
rn ônios horrí ve is e g ro te scos, qu e malt ratam co ns egue m colaborar no s d ramas reli g iosos - senta uma Anunc iação. M ar ia é retratada co mo paral el ismos text ua is apon ta m) . o reco nhec i-
as pobres almas co m trid ent e s e co rre ntes de e qu em poderia proibi-lo s de inse rir, ocasio- um a cano nisa da época de Hrot svit ha. no co ro mento cu lm ina no ve lho J'/llI ICtl/S latino , Dolor
fe rro . nalme nte. um a palavr a em ca usa próp ria? No da igreja do co nven to de Gandersehe im. Essa Crcscit , O mon ól ogo de Ma ria Ma da le na co-
O au to pascal do sé c ulo X III e XIV era au to pa sca l de lnn sbru ck. o apósto lo Jo ão , en- pequena preciosid ade en ta lhada data da seg un- bre o te mp o que o int érprete d o Cr isto neces-
a inda uma a ção ritual Illude st a e imag inativa. qu ant o ce de a Ped ro a p reced ên ci a na e nt rada da metade do sécu lo X . A qu estão é se ela é ou s ita par a trocar de ro opa .
• /1)8 · l fJf.J
tt is t o rio M UJJdia l d o Tr n t ro •
10 . Boca do I nferno com Adão. Eva c os Patrióll"l.-.as . Face lateral de um cadeiral do coro de Vale ucic nnes. século X lV.
Na viag e m a Ema ús, Jesu s usa um cap uz do rea çõc s de un ifo rmidade dificilmente recor-
de felt ro , um bornal de per egrin o e um ba s- rentes no mundo oc ide nta l. Na Fran ça, Esp a-
tão. A pe ç as. na verda de. o most ra como o nha. It ália e nu s paíse s de língua alemã , como
mesmo Percgrin us que aparece u j á no sécu lo tamb ém no s pa íses escandi navos e esl avos , o s
XII nos vitra is de Cha rtres, no Saltéri o inglês organizad ore s de esp et ácul os enco ntraram um a
de S I. Alba ns e num ba ixo-rel evo d o mon as- respo sta qu e , se não enco rajnva seus esforço s,
tério espanhol de Sil os. O mesmo motivo é pelo men os não os de sen corajav a.
adorna do co m muitos detalhes e m pinturas e m O s a spect o s org anizacionais do teat ro
pa inéis. medieval d esen vol ve ram -se sohre o m es m o
O as pec to tim idamente gro tesco que ocor- plano qu e sua s uperestru tura teológic a e d idá -
rer a pela primeira vez no " Currcban t dI/O si - tica. Embora o clero haj a perdido o co ntro le
mul " da "co rr ida ao sep ulcro" de senvol ve- se sobre as ca da vez mai s numerosas repre senta -
num a pa ró dia carinho sa dos ancião s. na qual ções pro fana s, o s fl agel ant e s e as corp oraç ões
Pedr o é dado à ga rrafa e se forti fica co m um reli gios as tinh am ambiçõ es similares. ;
;;.
bom go le an tes de vir a perceb er o mil a gre da Na It ália, a C on frat e rnit à dei BatI/ IIi e m
Ressurreição . Anteriormente ainda, no séc ulo Tre viso , desde 1261 , e a Confratcrnit ã dei
X, os menestr éis faz iam troça ben é vol a co m a Gonfalone , fund ad a e m Roma em 1264 , pro -
figura do ve lho de barbas bran ca s. qu e tin ha du zir am . e m es p lên d idas en cenações. a for m a
ca rac terísticas demasi ado humanas - mesm o tipicament e itali ana d e esp et ácul o reli gioso. a
sendo a legendária "pedra sobre a qu al eu co ns- sacra rappre sentazione. Santos locai s e na -
truirei minha Igrej a" . Deram-lhe o papel de co- c iona is eram po s to s a se rviço da prop aganda
zinhe iro no banquet e dos bem -aventurado s, teatral reli gi osa . As co nfrarias de atere s. co mo
di scutindo até qu e pont o essa a tri b u ição e ra iniciadora s das repre sent ações dialog ad as c ha-
com pa tíve l c o m sua fun ção de porteiro do madas laudes dr am aticae, gravavam or gulho-
Paraíso, o qu e abriu c am inho para o tratame n- samente e m seu s escudos a de sign açã o iocula-
to afe tuo so e humor ístico dos santos, q ue mai s tores Dom ini (" me nes tré is do Senhor" ).
tard e se refletiri a e m inúme ras fo rmas, tan to No âm b ilo d a lín gu a france sa , as rc pre -
no teatro qu anto na s art es visu ais. sentaçõ cs reli g iosa s e ra m de responsabilida-
Os menestr éis têm sua vez , e o mim o tam - de das Confrcrics d e la Passion (Irma nda de s
bém . qu ando se ex ige que o Merca tor e o ven - da Pai xão ), fun d ad a s e specialme nte para e sse
de dor de un giienl os sejam ca reca s. O 1I/iI Il IlS prop ó si to . E ss a s irm and ad e s e x ist ia m e m
calvus da Antig üid ade se introduzira no drama Lim oge s (c ená rio da s mai s an tigas ce leb raçõe s
religioso, arrastando consigo toda a s ua paren- pa scai s ), Rou eu . Nant e s , A m ie ns. A rra s .
tela - mascarados. malabaristas e hobo s. Um Angers, Bourg e s, Val en ci enn es e, naturalrn cn-
afresco da Igreja de Fyn, na Din amarca. mostra te, e m Par is. A Confrt'rie d e la Passion de Pari s
um bobo com chapéu de guizos à frente da pro- era fam o sa por volta de 1400. e , e m 1402. su-
cissão em qu e Cri sto carr ega a cruz . Nos afres- per ou tod as a s c o m pa nh ia s teatrai s européias
cos na Igrej a de São Jorge em Staro Nagoricino, simi lare s: a e la foi dado o mon op óli o abs o lu -
na Iugoslávia, mim os e mencstr éis part icip am to em Pari s, conse rvado a té o sécul o X V I. O
de um a dan ça tumultuosa e blasfemam ao s pés clero nã o ape nas empreendia e montava o s e s-
da cru z. Doi s dele s usam um traje co m as ca - pet ácul os, mas parti cipava deles, esc revia o
raet erísticas man gas longas e larg as. qu e lhe s rotei ro ou . em a lg uns c aso s e spe cia is, os fi-
co brem as mão s, c que desem pe nham papel im - nanciava.
port ant e na linguagem ges tual de tant as civi li- O e stoque d e ac e ssóri os e figurinos. cui-
zações - sublinhando ex pressão da dor e pa - dad osamente g ua rdado durante du zent os a no s
rodia ndo -a . No bom ou no mau se ntido. foram pelas igr ej as e m on ast ério s, de um a tempora -
ela s. dur ant e muit o tempo, o s ím bolo da co nd i- da teatral a outra, pa ssa va ago ra às mão s do s
ção do atol' na Ch ina. no ant igo Ori en te c em burgueses e art e são s. pois. a partir do momen -
Biz âncio, to em qu e os g ré m ios e co rporações se e nc a ro
Em me io a toda a sua hetero geneidade, o rega ram do fin an c iament o dos espe t ácu lo s.
públ ico do tea tro med ieval deve ter apr c scuta- recl am aram tam bém o d ireit o de org aniz á-los
• 200
• A Idade Média

a seu modo, de distribuir os gastos e escolher falso Messias enviado por Satã surgiria e reu-
o elenco. O caminho da celebração litúrgica niria todos os poderes do mal no mundo para
ao espetáculo teatral, que a Igreja havia ence- lutar contra a Igreja Cristã; no final. porém,
tado e incentivado, fundia-se agora com o da seria vencido pelo verdadeiro Messias.
ascendente população urbana européia, que, No texto da peça de Tcgcrnsce. as cenas
nos séculos seguintes, determinaria o curso da que mostram os acontecimentos diretamente
história c, dessa forma, também o aspecto do ligados ao Anticristo são precedidas por cenas
teatro ocidental. que tratam do declínio do império romano e
do triunfo do império germânico. O Rex
A Se p a r aç o da Igreja: a
ã
Tcutonicus subjuga todos os reis do Ocidente.
Peça de Lendas Os governantes da Grécia e da França e, no
final, o Rcx Babiloniae, príncipe dos pagãos,
Os textos dos Evangelhos foram realmente são derrotados na batalha. Então, o imperador
urna importante fonte de material para as germânico deposita sua insígnia imperial dian-
dramatizações religiosas, mas não a única. A te do altar, no Templo de Jerusalém. Coroa e
"irrupção do mundo" manifestou-se não ape- cetra abrem caminho para um poder ainda
nas num estilo mais realista de representação, maior. A peça reflete o apogeu do espírito das
mas nos figurinos e no surgimento de elemen- Cruzadas na época de Barbarossa. Sugere-se
tos farsescos e grotescos dentro da dramatiza- que tenha sido escrita em conexão com a Die-
ção na igreja, revelando-se também em refe- ta de Mainz em 1184. quando Barbarossa se
rências tópicas e na crítica de acontecimentos recusou a ocupar o trono, dizendo que este
11. Juízo Final com Boca do Inferno. Parte do tímpano sobre o portal sul da Catedral de Vim, c. 1360-1370. contemporâneos, que se tomaram um elemento pertencia somente a Cristo.
do teatro europeu no século XII. Isso invalidaria a data de 1160. Por outro
As Cruzadas eram a principal preocupa- lado, Gerhoh de Reichersberg refere-se clara-
ção da época. A idéia de Jerusalém e as no- mente ao Ludus de Antichristo de Tegernsee
çõcs correntes a respeito do milénio, que in- em 1162.
fluenciavam grandemente a política da Igreja. À primeira parte do texto, altamente pa-
também inspiraram um dos mais magníficos triótica e tópica. segue-se o verdadeiro auto
textos do século XII conservados . o Anti- do Anticristo. Logo que o imperador germâni-
christo de Tcgcrnsec. Seu autor é desconheci- co deposita sua coroa e cetro, o falso Messias
do. embora se suponha que ele tenha sido um aparece. Apoiado pela Hipocrisia e pela He-
membro do monastério de Tegernsee. na resia. toma o poder. cm parte por meio do ter-
Bavária, fiel ao imperador. Na época, essa pi- ror e em parte por meio de subornos. O Rcx
toresca abadia beneditina vivia um período de Tcutonicus resiste. mas até mesmo ele é final-
grande florescimento cultural. A reputação de mente convencido por falsas curas mi lagro-
seus escribas e miniaturistas comparava-se à sas. A Svnagoga também se submete ao Anti-
influência política de seus abades. No Anti- cristo.
christo de 1160. proclamavam sua lealdade ao Quando o Anticristo, porém, torna-se sull-
imperador. cientemente audacioso, no auge de seu poder,
De acordo com fontes conservadas, o para se atrever a anunciar "pux ct securitas",
l.udus de Antichristo, era representado por clé- Deus o fulmina comum raio. A Ecclesia recu-
rigos. Seu texto é escrito cm latim e, apesar de pera as honras que lhe são devidas. À frente
suas preocupações claramente políticas. pre- de todos os participantes, que incluem até
serva inteiramente o caráter oratório da repre- mesmo os Profetas, ela entra pelas portas aber-
sentação eclesiástica. tas da igreja ao som dos sinos e do canto co-
O modelo literário do LIU!IISde Tegernsce munitário do Te Deum,
é o Libcllus d" Antiihristo, escrito no século Não se conservou nenhum plano de cená-
X pelo abade lotaríngio Adso de Toul, o qual, rio do Tcgernscc, mas presume-se que a peça
por sua vez, se apóia numa noção que remon- era representada no espaço aberto e meio ova-
12. Boca do Inferno de uma peça mitológica barroca, apresentada num can-o alegórico do Préstito dos Deuses em ta aos primeiros tempos do cristianismo, de lado na parte ocidental da abadia, perto do lago.
Dresden. 1695, com a participação da corte. Esboço pafa gra\'aç:lo cm cobre (Dresde~. KupferxtichkahiucttI. que, logo após a Segunda Vinda de Cristo. um Seu ponto culminante - o lugar onde ficava o

• 20.!
Hi s t o ria .\ 1I[//{Iio/ do Tru t ro •
• A Idade A-Iéliia

dos heróis seculares se convertia no ponto cul- forma salvou uma vida cristã. Para Jean Bodcl,
minante das representações - como, por exem- porém, a lenda é meramente a moldura para
plo, em 1208 e 1224, no Ludus cum Gigan- as alegres cenas do seu gênero - a batalha dos
li/Jus, em Pádua - mais o efeito das cenas de Cruzados contra os pagãos no Oriente Próxi-
torneio ia encobrindo o conteúdo religioso da mo e la vil' joyeuse ("a vida alegre") na taverna
peça. Temas de danças de espadas rituais, há- e no bordel, em versos que antecipam o sabor
bitos camponeses e lendas da Cavalaria se do argot francês.
mesclavam entre si. No auto de Pentecostes As representações de lendas, alegorias e
de Magdeburgo, Rolandsreiten, ou na Távola milagres muito cedo deixaram o interior das
Redonda de 1235, a tradição pagã é mais forte igrejas. Pretenderam e alcançaram efeitos que
e evidente que o matiz cristão. Mas os cavalci- necessitavam de urna área não restrita que per-
ros e menestréis tinham uma importante fun- mitisse fazer soar o íragor da batalha e - como
ção nos espetáculos encenados fora das igre- no caso de Jean Bodel - o estrépito das garga-
jas, no século XIII: proporcionavam colorido lhadas. Quando os espectadores que assistiam
à fábula c à representação. Davam à lingua- ao auto dos Profetas dc Riga fugiram tomados
gem a sua marca e eram vistos - ou viam a si de tenor, o cronista pôde desculpar o fato atri-
próprios - tanto no espelho da exaltação quanto buindo-o à sua "ignorância". Mas quando Fre-
13. O Anticristo, seduzindo os Três Reis com prc--cntc ...... Miniatura do Honus Delíciariurn de llcrrad de Laudsbcrg.
século X[[. no da paródia. Os Carmina Burana, escritos derico o Temerário, margrave da Turíngia, vol-
na abadia beneditina de Beuren, por volta dc tou as costas com desprezo a um auto sobre as
1230, são um dos mais conhecidos testemu- Virgens Prudentes e as Virgens Insensatas, re-
altar, flanqueado pela Ecclesia e pela Svnagoga Os temas do Antichristo de Tegernsee fo- nhos não adulterados do prazer sensual medie- presentado em Eisenadi, o conjunto da cate-
- era o portal da igreja, uma disposição lógica ram retomados por vários sucessores, desde val. Algumas dessas canções de letrados er- quese cristã da salvação viu-se abalada.
correspondente ao conteúdo religioso do auto. as cenas de batalha do auto dos Profetas "in rantes, os goliardos, devem tanto à arte poéti- "O que é a fé cristã, se o pecador não re-
Assim. se a ala norte fosse ocupada pela {oca media Riga" (l204), quc tanto assustou os pa- ca de Ovídio c Catulo quanto ao gosto desses cebe misericórdia pela intercessão da Virgem
dos reis ocidentais e a ala sul pelo pódio do rei gãos chamados à conversão, fazendo com que poetas pelo amor e pelo vinho. Os poemas po- e dos Santos?", exclamou o margravc, cons-
da Babilônia, todo o centro permanecia livre fugissem, até o auto suíço de Carnaval, EI1- líticos c religiosos mostram aquela atitude irô- ternado, e foi-se embora, deixando atrás de si
como um espaço neutro de atuação. para ser tkrist (1445). Passagcns inteiras do diálogo
nica diante da autoridade que, sem dúvida, se cortesãos desconcertados, urna platéia perplexa
usado e interpretado conforme se exigisse. foram incorporadas ii peça de Natal da abadia
expressava mesmo na Idade Média, de forma e uma não menos perplexa classe de estudan-
Poderia ser o mar Mediterrâneo. a ser cruzado beneditina de Beurcn - mais uma prova da cs-
mais freqüentc e forte do que se aceita nor- tes ginasianos, para não falar de seu professor,
na jornada à Terra Prometida, ou poderia scr tima que mesmo a posteridade imediata tinha
rnalmcntc. Os elementos rítmicos e teatrais em que havia envidado o melhor de seus esforços
um campo dc combate onde os adversários cru- pelo valor literário c pela eficiência teatral do
algumas dessas canções latinas inspiraram as para apoiar com sua peça uma indulgência con-
zassem suas espadas. A representação de ba- Ludus de Antichristo, Na época da Reforma. a
obras para coral de Carl 01'1'1', Carmina Burana cedida pela Igreja. A súhita revolta do margrave
talhas era um ingrediente popular das pcçns tigura do Anticristo ainda fornecia aos protcs-
(1937) e Catulli Carmina (l943 l. demonstra a profundidade da impressão que o
medievais, que os atorcs de Tegernsec certa- tantes uma imagcm útil em sua luta contra o
Jean Bodcl, um cruzado, funcionário pú- teatro medieval podia causar com seus ternas
mente não neghgeucíaram. papado. O inflamado polemista anti-Roma e
blico da cidade de Arras, membro da Confrêric e representação, ainda que seu nívcl artístico
Uma montagem do auto do Antichristo, lnterano Naogeorgus, aliás Thomas Kirch-
des .Ionglcurs, e autor de um auto de São não fosse muito superior ao de grupos amado-
feita na Alemanha por estudantes do Dclphische mayer de Straubing, declarou em seu drama
Nicolau (por volta de 1200), oferece urna irna- res cheios de boa vontade. A lenda conta que,
Institut de Mainz, em 1954, diante do portal Pammachius (1538) que o Anticristo não era
gcm viva e colorida dos cavaleiros, cidadãos e
da ala norte da Catedral de Eichstãtt, demons- outro senão o próprio papa. Naogeorgus dedicou
camponeses de sua época. Um contemporâ-
trou a atemporalidade de sua força artística e sua peça ao arcebispo Cranmer de Cambridge
neo mais velho de Hodel, o erudito errante in-
dramática. Como loca de cada atuante foram - onde foi encenada em 1545 por estudantes
glês Hilário, que viera à França em I 125, tam-
usadas pequenas plataformas de madeira sem no Christs College - ofendendo bastante o
bém devotara um auto de milagre a São
nenhum adorno. O único acessório cê nico cra bispo Gardincr, Chanceler da Universidade, o
Nicolau. Le leu de Saint-Nicolas (O Auto de
um altar de madeira com a cruz. Os atores eram que resultou numa correspondência que che-
São Nicolau) de Jean Bodcl é construído em
identificados pelos figurinos, barbas, coroa e gou até nós.
tomo dos feitos piedosos do santo. Ele ajudou
espada. Tudo o mais era deixado a cargo do O público dos séculos XlII e XIV era, por
um rei pagão a recuperar seus tesouros c dessa
texto e da arte declamatória dos intérpretes. enquanto. mais prontamente impressionável
No final da peça, quando Ecclesia sai de cena, pela luta de espadas do quc pela sutileza dos
desaparecendo dentro da catedral ii frente do argumentos, As guerras religiosas no próprio
elenco que se rctira. o público penuaneccu país por sorte ainda pertenciam a Ulll futuro 14. Banquete do arcebispo Balduino de Tricr. Minia-
imóvel durantc vários minuros. distantc. Quanto mais a habilidade na esgrima lura rcnana. século XIV
• 204
• 205
lõ. Cena da legenda de Teófilo, o Fausto medieval que
faz um pacto com o demónio. Miniatura do Lib er
Matutinalis de Conrud von Schcvcm. começo do século
XIII (Munique, Staatsbibliotliek).

15. As Virgens Sábias c as Virgens Tolas. Pintura mu-


rai no coro da capela do castelo, Hocheppan. sul do Tirol,
xcculo XII.

17. Cena percgrlní: Cristo com embornal de peregri-


no e os apóstolos na estrada para Emaús, miniatura do
salteiro ill,)ês de Santo Albano, século XII (Hildcsheirn,
Alemanha).
Hí st ó ria Alul1dial do Teatro. • A Idade Mé d i o

18. Grande prccisxao cm Estrasburgo (a mais antiga


após o choque da alegoria sem perdão, o Nesses dois últimos exemplos, encontra-
representação gráfica da Catedral l. Xilogruvuru do
margravc Frederick sofreu um colapso e mor- mos os primórdios da personagem e da ação Geschichtl' Pctcr Hagellh(/chL de Conradus Pfettivhciru ,
reu dois anos mais tarde. A alegoria das Virgens dramática. Tanto Teófilo quanto Frau Jutta têm Estrasburgo, 1477.
Prudentes e das Virgens Insensatas - retratada a oportunidade de uma decisão livre e indivi-
pelos artistas dos manuscritos medievais anti- duai - e tanto um quanto a outra não se arre-
gos, do Codex Rossa-nensis, do Genesis de pendem até ficar face a face com a danação
Viena e nos portais das igrejas de Estrasburgo, eterna. Dessa forma, presenteiam o teatro com O desenvolvimento do palco processional
Magdeburgo, Trier c Nurembcrg - trouxe à tona a esplêndida oportunidade de dispor do visto- e do palco sobre carros deu-se de maneira inde-
uma impressão inteiramente nova e surpreen- so aparato do Inferno e dos demônios, para pendente da literatura dramática. Sua natureza
dente no teatro. não falar dos alados mensageiros angélicos, de móvel oferecia duas possibilidades: os especta-
Não apenas os gwndes mistérios e os au- Deus-Pai em toda a Sua glória, dos santos de dores podiam movimentar-se de um local de
tos do Juízo Final, mas todas as representações barbas brancas e das pobres almas no mais pro- ação para outro, assistindo à seqüência das
de lendas e milagres por todo o Ocidente apro- fundo desalento. cenas à medida que alteravam a própria posi-
veitaram fortemente o contraste entre a dana- A primeira peça de teatro no teatro ocorre ção; ou então as próprias cenas, montadas em
ção e a redenção. O mundanismo, a ambição, no auto de milagre holandês Marieken von cenários sobre os carros, eram levadas pelas
o orgulho e atividades profanas são confron- Nieumeghen (Marieken de Nieumeghen), es- ruas e representadas em estações predetermi-
tadas com a danação eterna, como também com crito entre 1485 e 1510 por um autor anôni- nadas.
a redenção que aguarda o pecador arrependido. mo. A heroína, tão bela quanto apreciadora dos Na Espanha, o cerimonial da procissão dc
Mas o demónio, o tentador, que é a mais fre- prazeres da vida, vende sua alma ao demónio Corpus Christi se transformou no allto sacra-
qüente personificação do mal no teatro medie- por sete anos. A apresentação de uma peça re- mentai e na fiesta dei Corpus, duas ocasiões sional de carros-palco num auto sobre os Reis
val, deve ser enganado no final. ligiosa - num palco à parte, montado numa para a demonstração de fervor religioso. É Magos. A cidade de Florença utilizou, em 1439
Assim Teófilo, que se vende ao dernônio carroça - é o que faz com que se arrependa. revelador da aguda violência da luta religiosa, e 1454, nas festividades em homenagem a São
por amor aos bens terrenos, obtém a graça di- Ela pede ao papa que a perdoe de seus peca- primeiro contra a infiltração do Islã e mais tar- João Batista, vinte e dois cenários. que foram
vina por intercessão de Maria. Le Miracle de dos e, num paralelismo medieval com a mima de contra a Reforma, o fato de que o auto sa- transportados pela cidade em plataformas mó-
Théophilc (O Milagre de Teófilo), escrito pelo da Antigüidade, Pelágia, termina sua vida num cramental tenha encontrado a sua contraparte veis iedifizi, - um antegosto dos suntuosos cor-
trouvere parisiense Rutebeuf, antecipa, sob a convento em Maastricht. no auto-de-fe, o espetáculo da execução dos tejos teatrais que iriam ser vistos mais tarde,
roupagem da lenda cristã, a quintessência do heréticos sob a Inquisição. sob os príncipes Mediei.
Fausto, de Goethe: "O eterno feminino nos Estações, Pro ci ssõ e s e Teatro As cenas eram apresentadas na famosa Conforme testemunham os registros, nos
conduz às alturas". roca, carregada CID procissão de uma estação Países Baixos, especialmente em Flandres, o
em Carros
Spiel von Frau Jutten (O Auto da Senhora a outra. Nos arquivos da Catedral de Sevilha, \\ftlgellspiel religioso foi apresentado em 1450
Jutta) termina com a mesma solução de perdão. Sem dúvida, o auto holandês Mariekcn ela é descrita como uma plataforma transpor- e 1483. Os Gcsellcn \"II1l de Spclc. associações
Essa peça, escrita por volta de 1480 pelo sacer- \'(ln Nieumeghen, como tantos outros desse tada por doze homens e sobre a qual o cená- teatrais de artesãos em Bruxelas e Bruges, acon-
dote Dietrich Schernberg de Mühlhausen, na período, foi encenado num espaço ao ar livre rio era organizado como um tableau, Quando selhavam suas platéias, das plataformas de seus
Turíngia, é baseada na lenda da "Papisa Joana", na cidade; porém, o estratagema da peça den- a procissão chegava ao local apropriado, o palcos móveis em miniatura, a atentar para sua
uma mulher que supostamente subiu ao trono tro da peça pressupõe uma outra forma de en- tableau ganhava vida com a representação tea- consciência e examinar seus modos de vida.
papal em 855 como João VIII. Disfarçada com cenação tipicamente medieval, ou seja, o pal- tral. Nos dois lados dos Pireneus, conforme Na pequena cidade de Nymwegen, seu "bem
roupas masculinas, Joana vai estudar com os co montado numa carroça ou o carro-palco, os cenários se tornavam mais elaborados e o intencionado epigrama" abriu caminho até o
grandes eruditos em Paris, juntamente com seu comum em procissões na Espanha, Itália, In- elenco maior, o pequeno tablado da repre- coração da Marieken da peça teatral, fazendo
amante Cléricus, Mais tarde, no meio de uma glaterra, Alemanha, Tirol e Países Baixos. sentação processional passou a ser construído com que ela se arrependesse. No dia de Corpus
procissão papal, a Morte se aproxima dela e a As origens do carro-palco remontam a sobre um carro. A idéia do carro-palco espa- Christi, um carro-palco entrava na praça do
ataca. Logo em seguida, ela dá à luz uma crian- 1264, quando o papa Urbano IV instituiu a nhol sobrevive até hoje, na expressão fiesta mercado, onde se representava um julgamen-
ça c é desmascarada - não mais o Papa João, festa de Corpus Christi, que foi depois cele- de los ca rros, to no qual a Virgem Maria intercedia pela hu-
mas a "Papisa Joana" - agora como Frau Jutta, brada com procissões solenes por toda a Eu- Originalmente as representações eram es- manidade pecadora e arrancava do demónio
em vergonha e desonra. Ela morre, e os demó- ropa ocidental. A peça freqüentemente deri- tritamente associadas à celebrações de Corpus as pobres almas que haviam caído em seu po-
nios levam sua alma para o Infemo. Frau Jutta vava da procissão teatralmente plasmada. Além Christi, com a simples recitação de textos ra- der. A peça dentro da peça em Manekcn \'01/
ora a São Nicolau para que interceda por ela, e de sua origem no ensejo religioso cerimonial, zoavelmente curtos, relacionados ao mistério Nicumcghcn termina com um piedoso desejo:
Deus envia São Miguel para trazer a pecadora a peça de teatro possui também raízes secula- do Sacramento; logo, porém, esse tablado mó- "Que isto vos conduza ao Paraíso".
arrependida ao Paraíso. A cena dos demónios. res nos torneios e nos cortejos de rua, que se vel para as representações passou a ser utiliza- A principal característica de todas essas
santos e arcanjos, representando simbolicamen- organizavam em homenagem aos soberanos c do em vários países e também na celebração peças era fazer parte de uma procissão - quer
te a doutrina cristã da redenção, é vivificada pela que foram os precursores dos grandes trionfi de outras festividades. Os monges dominicanos fossem dedicadas aos Profetas, como em
riqueza imagética da linguagem. alegóricos da Renascença. de Milão adaptaram, em 1336, a forma proces- Innsbruck, em 13') I, ou à Paixão. como em

• 208 • :!()t)
Bol za no e Freiburg im Bre sga u. qu er ainda ca marim". como apo nta G lynne Wi ck ha rn, scu
ab rangess em desde a Cr iação ao Juí zo Final. palc o era o mu ndo.
como em Künzelsau, em 14 79. Ess as procis- O te rm o pa geant. em ge ra l assoc iado ao
sõe s provo cavam um impac to no púb lico , mes- ca rr o -pa lco inglês, originalme nte se referia
mo q ue se desenro lassem co mo um simp les aos locai s preparados nas vá ria s partes d a c i-
es pe tác ulo silencioso . A des cri ção de DUreI'. dade par a os festiva is ou para a s re pre senta -
da grande procissão qu e teste munho u em An- çõ e s fe sti va s. Tanto um eve nto profa no q uan-
tuérp ia, em 19 de agosto de 1520 - "q uando to um a fe stividade religiosa pod iam ser mo-
toda a cidade estava reunida, todos os art ífices tivo de tai s repres enta ções . A alegor ia q ue
e mercadores, em seus melhore s trajes de acor - John Lyd gatc co mpôs par a acolhe r o j o vem
do co m suas posições" - deixa ab erta a que s- rci He nr iq ue VI em Lo ndres foi aprese nt ad a
tão de se os "carro s" e a " peça" era m simples- c m se is co rtejos se parados, em po ntos s ig ni-
mente levado s de um lado para o utro ou se ficativo s da cidade, Isso acon tec e u em 14 32,
consti tuíam també m oc asião para representa - um exem plo prematuro dos t rionf i da Ren as-
çõ es dramáti cas, DUreI' relat a no diário de sua cença .
viagem aos Países Baixos: O primei ro co rtejo es pe rava o jovem so -
19 . Mar ícken \'on Nieumeghen, De lima edição de xilog ravuras, c. 15 18. be rano no port ão da ma rgem sul da Pont e de
Vinte pe ssoas carreg avam a Virgem M an u COIII o Londres. A li, ele foi infor mado, em pala vras
No sso S enhor Jesus. na lIl ai ~ su ntuos a elegância cru ho n -
bem esc o lhidas. do que a cida de es perav a de
ra de Deus. E ll~ S S~1 l,l I O ,:,,· i ~ :' ~·I O 110LI\ 'I,:' m u itas coi sa-, agra -
d ávei s. e cs plc udidam cru c conce bida De la part ic ipavam se u novo rei e Crisris champ ionn, Os cortejos
m u ito s ca rro .... representavam -se obrn sob re barco s e o u- sub seque ntes recordavam-no da lea ldad e ade-
tro s ba I1l;1I1 t= ~ . Entre e les ia a ho st e l hh Pro fetas c m 01' quada a se u alio cargo. Na tone da ponte leva-
de m cro no l ógica. e. dcp oi -, dela. () ('\0\'0 Tcst.uuc nto . diça. m ag nifica mente g uarneci da de seda . ve-
CP Il1 0 por exemp lo na ~ ~ t lld ;Il;·;.10 d o Aujo. c o s TI"~"'i Rc i-,
ludo e brocad o dourad o. as figura s aleg óricas
:\ la go \ ca va lgando grandc-, cam e lo ... 1,:' outros cstr.mho-, c
mirac u loso-, anima is protu cnmcnt e adornados. c tamb ém da Fort una , Natur eza e G raça rep resent a vam
;\ fu g a de No ssa Se nho ra par a o Egito. (' 111 atitude muito os atributos necessários a um rei glorioso . Se te
devo ta : C' muu u.. outra... (,.'( Ii ..a, aqui (l l lli l i (!J..;; ro r lulra de do nzelas corporificavam os don s do Espír ito
C :"' p~H; O . No final de urdo . \ inha UIII ~ 1 ; lIld~ d ra ~ ;·lo . c-ou-
Sa nto e o utr as sete os don s terrenos qu e lhe
d uz ido por S;'lllta " 1 ; l r~ ; l n d a c :.. lIa " d OIl/d a:.. po r uma 1'1,::.
(k a parncuí.ume mc v i..to . :, a ..-\ cln "' l' ~ lI i a -s e S ~1I 1 Jor~ l,.·
ser iam co nce didos, Em Cornhill. a proci ssão
co m ~': U '" ca vale iros. UIll co urace iro 11Iuil O funuo -,o. E encon tro u a Dama Sa bedoria . aco mpa n ha da
cm m e io a 1.-·......;,1 mu lndào l' a\ ·a l ~ ; l\ ~ ll ll I:llll lx;m lH l.-'J1iIl O ' 1..' por A rist óte les. Euclid es e Bo éc io . Na sex ta e
mcnin .r-. vcvrido- d'l m.uu-ira mui -, gru..: 11 1....t L L·-, 111..· lh l id d. última es ta ção do cortejo, no Conduto de Cor-
de aco rd o ..-om vario ... ..-o vnuu c ... (LI t\' ~! I;-H L no l up.n d o-,
nhi ll. a C lem ência co nvocava D avi e Salomão
ti i \ 'I.-'l"so ", ~ ; ;.1t 1l 0 "' . E",s<I P h1 1.-· j." , ;11'. alllL' s d L' I Lr pa....~ t d {l 1.-"< 1111 -
pletamc utc di ante de 110 .... .. c. e, u. d e m orou 1ll:l i ~ de dll a ~
co mo te stem unh as da autorida de ade q ua da-
hor a.... do inÍl:io ~I O fim . ment e ap licada:

Na Inglaterra surgiu um es tilo específi co Honour olr 1..y"gy.l , iII ( 'l'I ' I ".'" 111<11I11.' \ .\ '-'11.
de palco processio nal e de carro -palc o, As ce- (J{ 0 " 1/" 1 c ns nnn '''l'ir'' n/ l nfl ' ilU I! nln.
lebraçõe s de Corpus Christi, qu e se dese nvol- i".-\ hO llr:1 d o," reis, . . L' ~ lll1do <I v is ;'\(l d o sen so
vera m de 13 11 em dian te co m uma ceno gra fia com um .
cada vez mai s rica. enco ntraram um co ntra- c') l:i l."1II .un ar ii equidade c o dire-ito ." ]
pont o forma l nas es tações dos cicl os de misté-
rios. Enquant o os ce n ários m últiplos se torna - O conj unt o era mais um pan egíri co inteli-
vam comuns em toda parte. no palco ao ar li- gente me nte ori entad o do que um aco nteci men-
vre da s regi ões ale mãs e no palc o-platafo rma to teatral e, na verdade , Lydgat e o ha via pla-
da Fra nça, os direro rex ingle se s trabalhavam nejad o assim : porém . ivso dem on stra COIIIO o
no interior do est reito ce n ário do calTo-palco- prin cípi o da procissão foi variada me nte apli-
o qua l, entretanto, não era tão red uzido q uant o cado . des de o co meço , Serv iam tant o a fins
at é ag ora se con side rava . Di fer entem ente das profan os qu anto religiusus. A es tru tura ex ter-
20 . Roda da Fortuna c recepç ão dos arcebispos pelo imperador Carlos V cm Bru xe las. per sonag en s do teatro post er ior. as do tea tro na da rcprc se nra çà o e m es t a~''-' c s podi a ser
1515 ,
de cortejo não ficavam "apri sionadas cm seu preench ida tant o pur aleg orias qu e homcna-
• :l tl
Híst oria Mundial do Tca t ra •

geassem alguém como por um auto sacrantcn- Viena, por volta de 1400, em sua Lectura super
tal. Podia servir para a glorificação da Virgem Salve Regina, "que csses espctáculos teatrais
Maria ou do deus egípcio Osíris. Mais do que sobre Pusterbalk e seus desenfreados compa-
toda a sua dependência do tempo. o teatro nheiros, encenados por certos clérigos na Pás-
mostra que é atemporal, pela consistência com coa, são ímpios e deveriam ser banidos dos
a qual preserva seus modelos básicos ao longo lugares sagrados. Tais representações teriam
dos milénios e latitudes. provocado ofensa mesmo em outros tempos,
nos teatros e espetáculos dos pagãos".
A Paixão no Palco Porém, por trás dessa dura repressão, per-
Simultâneo em Espaço Aberto cebe-se que, mesmo sob as asas do clero, toda
sorte de condutas ímpias de há muito já se in-
À medida que a língua vulgar foi se es- sinuava dentro das peças religiosas.
tendendo, até mesmo o auto pascal rompeu sua Os dramas da Paixão de Frankfurt-am.
estreita ligação com a liturgia. A solenidade Main, no mercado de vinhos de Lucema, na
dos eventos atemporais abriu caminho para a Viena da Baixa Idade Média, na praça do mer-
multiplicidade do presente e a linguagem cor- cado de Antuérpia ou em Valenciennes - cuja
rente, trajes e gestos espalharam seu colorido apresentação se estendia por vários dias - são
pela história bíblica. exemplos de um desenvol vimento colorido,
Quando a Igreja abriu suas portas e dei- inventivo, irresrrita e de incontida exuberância.
xou o drama escapar para a confusão e a ani- A próspera e livre cidade-elllporillnt de
mação da cidade, o fato significou mais do que Frankfurt-am-Main pôde produzir um drama
um simples aumento de espaço. A próspera de Paixão que durava dois dias, já em 1350.
população da cidade apoderou-se com dedi- Seu conteúdo abarcava desde o batismo de 21. Auto lia Paixão, apresentado na praça do mercado de Antuérpia: cena do ('cce homo pintada por Gjllis Mostaert. c.
cado fervor do drama, esta nova forma de auto- Cristo no Rio Jordão até a Ascensão. A estru- 1550 (Antuérpia, Koninklijk Museum voor schone Kunstcn ).
expressão agradável a Deus e que crescia de tura didática era fornecida pelas disputas en-
forma cada vez mais exuberante. Patrícios, bur- tre Ecclesia e Synagoga e entre profetas e ju-
gueses e artesãos tinham a liberdade de apre- deus. Havia também alusões tópicas. como, por
sentar as verdades da fé de acordo com sua exemplo, à peste que assolara a cidade em 1349
própria interpretação da vida. Uma das pare- e ao fanatismo do movimento dos flagelantes.
des da nave da Catedral de Lirnburgo exibia O porta-voz da verdadeira fé era Santo Agos-
uma tentadora loira, simbolizando a Luxúria; tinho. de quem, numa impressionante lição fi-
os orgulhosos cidadãos locais, num de seus nal, dez judeus recebiam o batismo.
dramas ao ar livre, transformaram Maria A documentação de Frankfurt relativa a
Madalena numa linda cortesã, a quem era per- essa representação é um exemplo curacterísti-
mitido levar a mais alegre das vidas munda- co da direção cénica medieval. Conhecido
nas, cantar uma toada profana claramente ins- como o Dirigicrrolle (Pergaminho do Diretor)
pirada em poemas da corte, sentar-se à mesa de Frankfurt, trata-se de um rolo de aproxima-
com José para uma partida de xadrez e tocar damente 4,40 m de comprimento. trazendo um
alaúde. Depois disso, a mesma Maria Mada- roteiro no lugar da música geralmente escrita
lena cantava uma das mais tocantes seqüên- nos pergaminhos (rotuli) e utilizada por can-
cias pascais, a Victimac Paschali. Os contras- tores e menestréis. Os diálogos são registrados
tes não entravam em conflito, mas intensifica- apenas por palavras chave, com indicações cla-
vam-se um ao outro. Formas sofisticadas de ras das "deixas" dos atores. Mais explícitas,
expressão podiam ser seguidas das mais rudes no entanto, são as indicações cénicas. Foram
vulgaridades, passagens de poética ternura, de especialmente anotadas com tinta vermelha
sequências completas de obscenidades. Lavra- pelo escriba do Dirigicrrollc de Frankfurt.
dores, servos e demónios competiam entre si Baldemar von Peierwei}, cânone na Abadia de
na invenção de tesouros de blasfémias e in- São Bartolomeu em Frankfurt. A partir desse
vectivas. pcrg.uuinho, Julius Pctcrsen, num esmerado
"Isso vem mostrar", escreveu reprova- estudo, reconstruiu as cenas e a sequência do
doramente o dominicano Franz von Reli. dc cspcuiculo. 22. O grandl' ecce hcnno, Gravaçào cm cobre de LUL'as vau Lcvdcn. 1510 .

• 212
• A l da d r M éd;d

Co nforme se pode ded uzir a partir de uma di am trocar de roupa. Os laço s do teat ro co m a
descrição contem por ân e a da c id ad e , escrita Igrej a de mod o algum foram rompi dos pelo
pelo próprio Bal dcrnar. a peça foi aprese ntada fato de es te ter deixado materia lm ent e seu re-
no monte Samydagis Sa ncti Nico lai, hoje ch a- c into . Frequentemente as re pre se ntações da
mado R ôrnerbcrg . A praça incl inada é fec ha- Pai xão se iniciavam ou termin avam pel o se r-
da ao sul pela Igrej a de São Ni col au iNikolai - viço divino . C om certeza, os cantos lat inos. a
kirch e ). qu e era submetida ao capítulo da Ca- m úsica c as pas sagens corais logo deram lugar
tedral e também à Abadia de São Ba rtolomeu, a um prazer desenfreado na lin gu agem e na
anexa. Des sa forma. Balde ma r tinh a à sua dis- rep resentação, não limitado por qualquer te-
posição um terreno conhecido par a sua ence - mor pi edoso. O cru real ismo observad o nos
nação e para a con stru ção dos ce ná rios ind ivi- painéi s pintados do fim da Idade Médi a ga-
du ais da obra. Fora esse o local onde, um ano nhou terreno ta mbém nas peças: (') S verdugos
ant es, os cidadãos haviam pre stad o homena- que pregavam Cri sto na cruz devi am ter a ap a-
gem ao Imperador Carlos IV. rên ci a horrível , brut al, desprezíve l, co m a face
No plan o óptico . havia uma va ntag em na dist orcid a.
incl ina ção da praça onde a Pa ixão se ria revi- A Pai xão de Alsfcld , co m se us 8.095 ver-
vida , pois as três cruzes poderiam se r e rigidas sos , o mais longo exemplo da regi ão francôni o-
na parte mai s elevada e, assim, vista s a dis- hessi an a, mostra a Crucifixão com o urna hor-
tância. A leste das cruzes , fo i ergu ido o Trono rível cena de tortura. Os executores gri ta m un s
do Cé u, ap oi ado firme mente na s antigas e aos outro s: "An hende 1Il1d an fus: hyndet em
elegantes residências pat rícias (que sobrevi- stren ge und reck et en nach. des cruezes lengc"
veram até o sécul o XX ), e a seus pés ficava o ("Aman -em-no fortem en te pelas mãos e pé s, e
Jard im do Get sêm ani . As si m , o anjo com o estiq ue m-no ao lon go da cruz") . Eles demons-
cá lice de fel tinh a qu e dar ape nas um passo à tram o esforço que precisam efetuar a fim de
fre nte para surgir aci ma do inté rpre te do Cris - esticar o co rpo de Cristo ao longo da cruz, para
to ajoe lhado . Os mestr es c énicos medi evai s que cons igam pregar os cravos nos bu racos
eram realmente habil ido sos no s tru qu es da previament e abertos nos lenhos.
sua profis são. Do ator qu e represent ava Cris to exig iam-
N um esp aço ova l de aprox imadamen te se esforço s físicos tremendo s. Ele tinh a de se
36 ,S rn, o loca dos vários atores e cenas seguiam- dei xar pux ar, e mpurrar, arrastar e bater, e so -
se um ao out ro : a cas a de M ar ia , M art a e frer uma viol ên cia não muito m en or do que
L ázaro , a casa de Simão, o Carcer e o Cast runi era co m um nu ma exec ução em seu própr io sé-
de Herodes. o Pal ati um e o P ret orium de cu lo . X IV ou Xv. O peq ueno degrau de ma-
Pilatos; na extremidade oes te, inferior, da pra- dei ra que lhe der am na cruz para apo iar os pés
ça , fica va o portão do Infern o (tomando pos- (supp edaneum i era lima pequena compe nsa-
sível a entrada de Sa tã qu e emergia do lI't1sser- ção pelos maus-tratos receb idos a nteriorme n -
graben , o velho fosso): aqui também ficava a te. de mod o a imp ed ir qu e o papel aca basse
font e meio coberta usad a para as cenas de ba- matand o o ator. (O suporte dos pés j unto à c ruz .
tismo. A mesa para a Última Ce ia (m ensaí; o muit as vezes encontr ado nas represent açõe s da
Templo e a coluna com o ga lo. c ujo canto pro - Crucifixão nas artes plásticas, nã o der iva dos
clamava a negação de Pedro - tud o isso ficava au to s da Pa ixão, mas de prin cípios iconog ráfi-
situado no meio do es paço abe rto. O públic o cos. É um último lembrete do fato de qu e a
assist ia tan to da rua quanto da s janelas das ca- arte cristã primiti va tentou preservar a imagem
sas próx imas. Como ocorre em todos os cená- do rei entro nizado mesmo na figura do Filho
rios simultâneos dispostos em espaço abe rto, de Deus so fredor . Terra. a terra, ou Adão, ajoe-
os diversos loca indi vid uais eram platafor mas lhado, segura m o Cristo crucificad o, erguido
ba ixas, se nece ssário co bertas po r um balda- sob re o pequeno dcgrau.)
quino leve arrimado cm pilares de madeira, o que "Robusto e sensual prazer. co mhinado co m
não impedia a visibilidade de nenhum dos lados. uma forte pied ade" - essas eram as carac tcrísti-
Pctcrsen presnm e que os ator es entravam cas das grandes Paixões cív icas nas regiões de
23. Cen a do eco ' 110111(1. Painel cc nrral de um altur da Cated ral de Brun swick . de UIll mestre da Baixa Sa xóni a. 15tH} pela Igr eja de São Nico lau, onde também po- líng ua ale m ã. Ao lad o dos sitios da reg ião
(B ru nxwiv k, l Icrzog- AnronU lrich M uxc um ).
• l l5
H ís t o ri a M' u u d i u l d o Tea tro .

ren ano -hcssi a na, on de essas peça s era m apre- d os do século X V, Luc e rn u. na reg ião de dia. 24. o Mercado de Vinhos de Luccrn a. vista oeste, no prime iro dia do auto pascal de 151:D . A fil eira de casas à esque rda
sent adas de sd e muito ce do , elas eram comuns Ictos alernânico s, tornou-se um centro de repr e- é mostrada apenas em planta baixa com as indi ca ç ões do s nomes de seus proprietários na époc a . No fundo, à dire ita. a
Boca do Infe rno. Esboço de rec onstrução de A. 3111Rhyn (do livro de Oskar Ebcrtc. The cuer-grschichte drr inne rn Schweír ,
esp eci alm ente ao re d or de Vien a. nas á reas se ntações suntuo sas . Aq ui. também , as peças
Künigsberg. 1(29 ).
alemân icas no sul do Tirol (Boze n), em SI. G a ll e ra m pro duz ida s pel as irm andad es religiosas
e Lu cern a. d e c idadãos. As re prese nt ações da Paixão de
O aut o pascal vie ne nse " \'(l/I der besu- Lu cern a co ntinua ra m até o séc ulo XVI. Num a
cliunge dcs g rabis und von dir ofirstendunge é poca e m qu e o es pírito da Ren ascença há
goti s" ("da Visita ao Se pulcro até a Res surrei- muito ro mpera co m as velh as tradições, os c i-
ção de Deu s" ). que pod e ser datado de 1472 c dadã os de Lu ccrn a a inda se reuniam no Mer-
proced e de um moste iro de erem itas ago stin ia - ca do de Vinh o s da c idade pa ra devotar doi s
nos. co meça so me nte após a Cruci fix ão, Ele d ia s inteiro s. da madrugada ao cai r da noite. a
mostra " ,,) . Christ ist erstanden \ '011 des rodes re viver a Pai xão de Cri st o , co m tod as as suas
bandin, und hat dy heiligvn veter irlost vo u prefigur açõe s e a ro s subseqüe ntes de Reden-
der bit/em hellin rost" ("como Cr isto escapou ç ão . O cro nista da c id ade, Renward Cysat, pre -
dos laços da morte c lihertou os Sa ntos Pad res parava e editava os libret o s, e nsa iava o elen co.
da s c hamas do Infern o" ), isto é. a Ressurrei - diri g ia o es pe t áculo . negoc ia va co m os artesãos
ção e a desc ida ao Inferno. Ap arecem Ab raão e nca rregados d a c ons truçã o d as plataform as e
e Isaac, o arc anjo Ga briel e Adão e Eva imp lo - interpre tava o pap e l d a Virge m. Ele também
rand o a sa lvação. A lingu agem e os se ntime n- proj et ou. com det alhe s me ticu losos, o palco
tos estão im buídos da cordialida de do povo em doi s planos. A isso se d eve o nosso conhe-
simp les e. nas ce nas do Me rcator; transfor- ci me nto da mon tagem d a g ra nde Paixão de
mam- se e m far sa d ese nfreada. intima men te re- Luce ma de 1583. No prim e iro d ia, o rio Jord ão ,
lacionada com as peças ca rnav a lesca s. Em ter- cenári o do bat ism o de Je su s, cruzava diagon al -
ras da Boémia. o ve nde do r de un g üeruo s. o m ent e a área d e repre se ntaçã o ; a "Haus zur
Mastick a r, seg uiu o mes mo cam inho - o do SOIlII e" ("Casa Fre nte ao So l"), situa da na parte
herói grotesco e pro fano das pequenas fars as mais alta e est re ita da pr aça, rep resentava o
independent es. C é u. e. d iante del a. no se gu nd o di a, ergue ram-
O dese nvo lvime nto da Pai xão viene nse se as três cruzes do G ólgot a . O s loca dos d is-
cu lmina com o no me de um mestre fam o so . cípu lo s. da s sa n tas m u lhere s, de Jo sé de
que alca nçou g ra nde repu tação co mo esculto r Ar imatéia e de He rodes fica va m ao nort e, os
e co mo dir et or teatral. Wi lhelm Rollinger. Foi do Templo de Jeru sal ém e d a Svnagoga, ao
ele que m, no pe ríodo de 1486 a 1495. criou o s su l, e a Boca do Infern o de Lú ci fer e do s "a l-
pain éi s em rele vo do s famosos "a ssentos do tos dem ónios " ficava ab e rta a oeste. junto da
ve lho co ro" na Catedra l de Sant o Estêvão, e m manj edour a da Nati vid ad e no pr imeiro dia. e
Viena . (E les fora m destruído s pelo fogo e m da co luna do s flagelos, no seg undo.
1945 .) Do tota l de qu arent a e se is ce nas, trinta A m esma d ist ribu içã o fica ev ide nte no
e oi to era m so bre a h istória da Páscoa, co me - c ha mado plan o c ênico d e Donauesc hinge n. O
çando com o Do m ingo de Ramo s e term iuan- Paraíso , o Getsêmani c o G ólg ota es tão na ex-
do co m a descida de Cr isto ao Inferno. Embo- tremidade lest e d o espaço céni co , enqua nto
ra não fosse m um a c ópia das ce nas realmente o s rep resent ant es d o ma l c d as trevas fica m a
ap rese ntadas na peça, os pai néis refl etiam se u oe ste, em frente ao pôr-d o- so l. Entretant o. pes -
espír ito. Wi lhe lm Ro llin ger era um membro qui sas rece ntes pr o varam de fi n itiva me n te que
da irma nda de de Co rpu s Chri sti de Viena. qu e o plano. ao co ntrá rio do qu e s ug e re a den omi -
respon dia pel a repre se ntação an ua l da Paix ão na ção pe la qu al o co n hece mos, não se refer e
e pel o aut o de Corp us Chri sti . Em 1505, iI Pai xão de Don aueschingen de 1485. m as,
Roll inger s up erv is iono u a prod ução completa tan to no qu e di z res pe ito ao co njunto qua nto
e a dirc ção artística de um espcuic ulo q ue, co m aos det alhes cé nicos. ao segundo dia da Pai -
seu elenco de m ai s de du zen tas pessoa s. fo i o xão aprese ntada e m 2 1 e 29 de março de 1646 lWltD UVílOV ffiJtr~~ ~~MM(l"D1J
E S TE
clímax e - lu z da Rc forrn a iminente e do ce r-
à
e m Villinge n, na Flores ta Negra. Essa reti fi - '~7H.l.9
BUG /{ ' N A C H · W N.

co turco - ta mb ém () ca nto do ci sne da trad i- A..." RtlY ",. A Vf Cif R V STET' F VR 'O E N ' ER STEN.T AG
ca çâo , que devemo s a A . M . Nag ler, não des-
A II'''l'I f H .' Y' DE S ' OSTERSp j E LS'VQ N UB;l
ção cios aut os rnedi cv ui-, em Viena. Em meu- ca rta a possibili dad e de que um esqu ema an.i-
• 216
• A Ida de M édi a

logo lenha sido usad o para a riqu eza da s ce- O cspc uic ulo de sele dias foi diri gid o pelo
nas g ro tescos e crué is de Don au cschingen . em pint or Vigil Rab er de Sterzin g, arti sta II1UilO
qu e. ant e s da flagel ação, a cade ira de C risto é so lic itado no Tir ol com o dramaturgo. ce nógra-
pu xada e. depoi s de sua ine vitáv el queda. ele fo. figurin ista, di retor e atol. Hoje ex iste 11111
é novamente posto cm pé - pel os ca be los . Po- esque te de Vigil Raber para o prólogo da Pai-
demos pre sumir qu e disp osi ções c êni ca s se- xão de Bozen . qu e não foi aprese ntado na pra-
melhantes lenh am ex istido nos grandes aut os ça do mercado. mas no conjunt o gótico da igre -
da Páscoa e da Pai xão, que duravam vários ja paroq uial. Os atores entravam em proci ssão
dia s. em Erlau, na Hun gri a; na pr aça do mer- so lene. pela porta principal. a porta niagnu, À
cad o de E ger ; ou na c ida de h an seáti ca de esquerda, dist ribuídos pela nave e pe lo tran-
Lübeck (q ue muit o provavelment e era tam- se pto, ficava m os loca de Caifás e A n ás, e a
bém o cenário do aut o pascal do Red entor, da casa de Simão , o leproso; à direita, o Mont e
Bai xa Alemanha ). das O live ira s e , junto ao coro , o es trado da Si-
C onhecemos co m mais preci são a Iradi- nagoga ; do lad o oposto, o Infern o. e. no cí rc u-
ção c ênica da Paixão do Tirol do SIII (hoje a lo do coro, o Cé u e os angeli C II IIl sile tc ,
província italiana de Bolzan o) . que foi de sen- Fora um longo caminho atrav és elos séc u-
volvida tanto pelas ambiçõ es dos camponeses los, desd e os pr imórdi os do auto da Pai xão até
da região quanto pela dos cidadão s. O s ciclos a Paixão de Bozen. Em termos de histór ia do
de peças amplamente planej ad os, que eram teatro. o desen volvimento era igualment e co n-
apresentados por pró spe ras c idade s comerciais sistent e . tant o em seus aspectos intele ctu ai s
como Bozen (Bol zan o), Brixen (Bréscia) e qu ant o no s cé nicos. A igreja c a praça do mer-
Stelzing, tiravam proveit o de um a tendência cad o eram o local da representação, o cl ero e
nativa para o drama e para a orgulhosa exibi- os cidad ãos . seus protagonistas. O princípio
çã o cívica. Cada vez mai s, ce nas foram adicio- do cenário s imultâneo se diversificava cm mo-
nada s ao cicl o de peças até qu e, co mo num dificações e labo radas, gove rnadas pelas neces-
clímax, e m 1514 a represe nt a ção da Paixão de sidades pn iricas e pelo s efeitos visua is. Ca da
Bozen ( Bolza no) dur ou nad a men os do que parti c ipante linha sua posição pred et ermina-
sete dias. Com eçava co m um pról ogo no Do- da. se u lu g ar , variadamente de scrit o co mo
min go de Ramos (entra da de C risto cm Jeru- locus. mans ão, sedes, casa, ou stcllinge. Quan-
salém I, continuava na Qu inta -Fe ira Santa . co m do se u pap el o exigia, ele desci a de se u pruri-
a Últi ma Ceia e as cenas do Mont e da s Oli vei- c.ivel pa ra o espaço cent ral de re pre se ntaç ão ,
ras, e apre sentava a flagel ação e a Cruci fix ão ou recebi a o s outros atores cm se u própri o "lu-
na Sex ta-Fe ira Sa nta. O lam ent o da s Marias e gar" quand o o texto os fazia ir até ele.
um auto dos Profetas eram apre se ntados no sá- A disp osição dos cenários podi a ser to po-
bado . a Ressurrei ção no Domingo de Páscoa gr,ífic a. corno no me rcado de vinhos de Lucer-
c, na segunda-feira, a viage m a Em aú s. O ci- na; o u podi a seguir a seqüê nc ia crono l ógica
cio terminava co m a g lorificação de C risto no dos eve ntos, C0 ll10 na Pai xão de Donauesch in-
dia da Ascensão. gcn/Vü linge n: podia decorrer de co nsidera ções

2ú . Plano cênico da Pai xão d l' Don a uc schin pcu . pruva vrhu c utc para (I ~1..·~ lIn dn dia de rcprc scuuu..-ÚO d e I Cl.Hl. 1.'111
25. Plano cê nico de Renward Cys~1I para o auto tI;:1 Paixão de Lucern a (prime iro dia), represe ntado c m 1583 . V ill ingL" ll.

• 2 f t)
• A Idade Mé día

28. Plano cénico de Vigil Rabcr para o auto da Pai-


xão de Bozen (Bolzuno). representado em 1514 na igreja
da paróquia da cidade. Os atores entravam pela porra
lIJagna, o portal principal. Os lugares de Caifris, Aruis e
Simão, o Leproso ficavam à esquerda; o Inferno, o Céu
(Angeli Cllm silete) e o lugar da Svnagogu encontravam-
se na cabeceira; o Monte das Oliveiras situava-se à direi-
ta e o Templo de Salomão no centro.

estilísticas, como em Alsfeld; ou ainda, das


circunstâncias locais, como na igreja de Bozen.
Os cenários obedeciam à regra inevitável
do paleo em espaço aberto, onde a visão livre
de todos os lados não poderia ser impedida por
nenhum muro. As casas de Pilatos, Caifás e
Anas, bem como o Templo de Jerusalém, ti-
nham de ser feitas apenas com um teto apoia-
do em quatro pilares. Um modesto elemento
de surpresa era às vezes introduzido por meio
de cortinas, que o ator - por exemplo, repre-
sentando Herodes em seu trono - abria na sua
vez de entrar em cena.
O espetáeulo era anunciado e comentado
pelo praecursor. que pronunciava os versos
introdutórios e, freqüentemente, dava explica- casas que se abriam para a praça, podia des-
ções didáticas durante a peça, resumindo os cortinar de uma janela todo o espaço da re-
eventos. "Hut und tret mil' aus dem wege, das presentação.
ich meyne zache vor lege!" ("Atenção, venham Sempre que se anunciava uma represen-
a mim dos caminhos, que eu vos conte tação, o povo das aldeias próximas vinha reu-
lzminhas coisas!") - assim ele abre o auto de nir-se aos cidadãos, e mercadores, menestréis
Páscoa de Viena, com um apelo ao bom com- e letrados errantes chegavam de terras longín-
portamento e à atenção da assistência. Pede quas. Os artesãos fechavam suas lojas e a guar-
silêncio aos "aldcn floucnaschin", pois "wir da interrompia o acesso à cidade, fechando os
wellin haben eyn osterspiel, das ist frolich um/ portões. Todo o trabalho se paralisava quando
kost nicht vil" ("mantenham-se calados, velhos soava a ordem: "Nu swiget alie still!" ("Silên-
tagarelas, pois vamos assistir a um auto pascal, cio, todos!"). A fórmula latina "Silete, si/ete,
que é alegre e não custa muito"), embora a silentium liabete" sobreviveu como um últi-
"alegria", neste caso, claramente não devesse mo vestígio na drasticidade vernacular da lin-
ser entendida como "terrena", mas, sim, de um guagem dos autos da Paixão do tardo Medievo
tipo espiritual, mais saudável. adentro. Em numerosas representações, o ter-
Os espectadores se distribuíam ao redor mo silete veio a ser usado tanto para marcar o
de todo o espaço da representação ou senta- final como para conectar as cenas individuais.
vam-se em cadeiras dobráveis que levavam Introduzia a próxima fase da ação e acalmava
consigo e, se a multidão não fosse muito den- distúrbios ocasionais entre o público, especial-
sa, acompanhavam a ação, quando esta se mo- mente na medida em que este se movia para
via de um lugar a outro. É claro que mal havia acompanhar a ação. No caso de representações
.. 27. O auto da Paixão de 1583 representado no Mercado de Vinhos de Luccrna. Maquete de reconstrução de Albert essa possibilidade nas peças representadas que se estendessem por vários dias, o silete
Koster, segundo planos cênicos do cronista de Luccrna, Rcnward Cysat. Na parte frontal, a "1 Iaus zur Sonnc" (Casa frente
dentro das igrejas e nos palcos da praça do assinalava a cesura para uma possível inter-
ao Sol), com o Céu entre suas duas sacadas, acessível por uma escada; diante dela, as três cruzes do Gólgota. No centro, à
esquerda, a árvore na qual Judas se enforca, c à sua direita, o Templo representado por um baldaquino sustentado por mercado do fim da Idade Média. Porém, quem rupção, até a próxima vez. Amiúde, entretan-
quatro colunas. Na plataforma erguida no primeiro plano, a fonte, cuja coluna foi usada para o flagelo (Munique, Thcatcr fosse afortunado o suficiente para ser um vi- to, a apresentação de cada dia terminava com
Museum).
sitante de honra da cidade. ou habitar uma das uma nota deliberadamente didática ou utilitá-
• 221
Hí s t oriu M u n d i a l (/ 11 Te a t r o . • A I I/ 411ft' M éd i a

ria. co mo qu ando os pu si lânimes c os c éticos tacul o reli g io so. Isso levou cad a ve z m ai s il presentação ex ig ia qu atro di as. C om um a efi- nh o sa tare fa . Em se u lugar, e ntret anto . a mu -
eram co nci tado s a se deixar converte r de sua inclu sã o de part e s do Velho Te sta me n to, as c ie nte a lte rnâ nc ia de ce na s sé ria s e paté ticas e lhe r do fe rre iro - H édroit - pe gou o m artel o , a
compassio a uma nova promissio: ou. num pla - predi ções dos Pro fet as e, finalment e , d e toda a for te m e nte gro tesc as, co nta a histór ia de Adão, tenaz e o fe rro e foi para a bigo rna.
no mais profano. qua ndo era m sol icitados a história da C riação. À Paixão com o tal foi subs- a vid a de Jesu s na terra e a Sua Pa ix ão c Res- Jean Michel incorporou es ta cena ii sua
recompensar os "p ob res erud itos' co m co mi- tituída pel o M ysterc de la Passion (O Mi st é rio sune ição , termin ando co m o mil agr e de Pen - Paixão . Ex is te m paralelo s intcre ssant cs na es -
da e bebi da po r seu es forço na peça ; ou. ainda. da Paixão ). um esp et áculo origi nado no se rvi- teco st es. O a mor maternal d e M ari a por seu c ultura. nas ilum inuras dos livro s e nas pintu-
qu and o era dado o anúncio. bastante agnidavcl, ço d ivi no e , ao m esm o tempo , firme men te filho é co nfro nta do co m o a m o r d iv ino de C ris- ra s mura is . No tím pan o do pó rtico ce ntra l da
de que era tempo de par ar " para um a boa ce r- ap o iad o na int erpretação teológic a, c o m o C é u to pel a humanidade. O ma n usc rito inclu i mi - ala oc ide ntal da Ca tedral de Estrasburg o ( 1280-
vej a" . e o In fe rn o co nstante mente present es em cada niaturas qu e dão um a idéia da rique za de ce- 1290 ), u ma jove m segura três lon go s pregos
De sde q ue a peça a ba ndo na ra o rec int o palavra c imagem. nas e perso nagen s e d e sua ad aptaç ão teat ral nas m ã o s . a braçando a cruz de Cristo: num
da igrej a. sua direç ão e organizaç ão haviam Isso não significav a. entretant o. que o es- a lta mente fun cional. manusc rit o inglês de 1300 , e la é vista na b i-
passado cad a vez mai s às mãos do s c idadãos. paço da s representaçõe s estivesse atado ao in- Um contemporâneo ma is jovem e suces- gorna, um a velha ag itando vi gorosamente o
Escrivães da cidade. professores de latim e fi- terior d a igrej a. A o contrário , o m ai s anti go sor de Gréban , o médico e dram aturgo Jean braço; e, num afresco no moste iro Zemen, na
na lm ente "artistas livres" co ntribuíram muit o d os drama s rel igi o so s ex is te n te s e m língu a M ichel , a m p lio u e m od ifico u o te xt o d e M aced ôni u, um grupo inteiro d e pessoas está
para sec ularizar cad a vez mais as peças. Esse fran cesa, o Mys t êre d 'Adam , da metade do sé - G r éba n, produ zind o u ma no va ve rsão e m sua reun ido c m vo lta da forj a.
desen vol vimento começou logo qu e os dese m- c ulo X II. j á se reali zava fora do portal d a C a- c id ad e natal . A ngers, em 14 R6 . co m o títul o O bufã o , co m seu repe rtóri o ine sgotá ve l
penhos nas represen tações for a m co nfiados a ted ral. E m três gra ndes ciclo s tem ático s, e le d e A1.' ·SI1'I'C de III PlISSi Oll d,. IIOSlrc Saulve ur de hi stória s. m uit o q uerido e ao mesm o te m po
se m inaristas. estuda ntes de lat im . letrados e r- trat a do pecado e da rede nção prom e tid a à hu - Iltesncrist (M isté rio d a Paixão d e No sso Sal- vilipe nd ia do, conseguiu ac har um a estrei ta
rantes e. po r fim . aos m imos qu e o ferec iam mani d ad e : a Qu ed a. o assassinato de Abel po r vad o r Je su s C risto ). porta d o s fundo s para sua es timu lan te e n tra-
se us serviços em tod os os lugares. O s suces- C a im e o s Profetas. Às rubricas suge re m o uso A peç a co nté m urn a ce na qu e é a lta mente da, mesmo lá aonde as autoridades es tava m ce r-
sores do s anligos joculatorcs aceit aram. com de uma armação de madeira adequada me nte relevante par a a controvertida qu estão da in - tas de ter conseg uido bani-lo . Es co nd id o nas
aleg ria c co m a experiênc ia d c se u ofício, os de co rada. q ue se apoiava na fac hada da igr ej a fluência recíproca da pi nt ura e d o tea tro na e ntre linha s da trad içã o co m u mcn te aceita , e le
papéi s de dem ónios. de Jud as e de verdugos - - co mo no espet ác ulo atua l do Jedennann , Id ad e Méd ia. U ma mulh e r. a "[ê vressc Hé- es pe ra, jun to ao s se us seme lha ntes, pa ra de s-
tod os repr esent antes do ma l, q ue davam mu i- dia nte da C a tedra l de Salzburgo. O pórtico er a d ro it", forja os prego s para a C ruc i fixã o . O mentir o s ve lho s clic hés que sc refere m às tre-
to ca mpo par a a co méd ia. mas com os quai s a Po rta do C éu. De um lado ficava o Pa ra íso , d iretor de cena c m inia turist a Jean Fou qu et a vas d a Id ad e M édia .
um burgu ês respeit ável e esta be lec ido relut a- sob re u m ta bl ad o e levado: do o utro , m ai s ab a i- re tra to u , por vo lt a d e 14 6 0 , n a s H eu re s Em 154 7 , os habit antes de Vale nc ie nn es
ria em ide ntific ar-se . xo , a Boc a do Infern o. d 'Esticn nc Che valier, co mo também havia fei- se reun iram para en treg ar-se ao gr ande Mvstcre
É à inclusão do mimo que a pa ixão da Bai - À pal avra falada, os cânticos so le nes (co m to o iluminad or de um m an us crito ma is anti go de la Passion duran te vinte e cinco dias. D ian -
xa Idade Média deve mu ito de sua exubcrân- as partes do co ro a ind a em latim ) c a an ima da d a Paixão de Mercadé . Je a n Mi ch el des igna a te de se us o lho s di stribuíam-se as ce nas , su-
cia e da visão terr a-a-t err a. as sim como um a açã o pant omím ica (E va e a serpe nte) int egr a- m ulhe r Héd roit como a " cana ille de Jeru sa - ces siva m e n te, ao long o de um e ixo lon gitudi-
vivê nc ia realista do esti lo de rep resent ação qu e vam- se numa expe riê nci a teatr al qu e deve le r lem", m as a Bíbl ia não a men ci on a . De acordo na l, co m o na scacnae [rons da A nrig üidadc.
nunca te ria podido se dese nvo lve r dentro dos de ixad o u ma impressão profund a e d ur ad ou ra co m u ma lend a, obvi amente m uito co nhec ida O s pr in cí p io s céni co s da Re nasce nç a tê m li-
limi tes do s círculo s la icos. nos es pec tado res . Um co ntrapo nto m od ern o é na Id ade Média. ess a "[cvrcssc H édro it" . uma gaç ão co m o pa lco de plataformas c o m ce rni -
o M isu'rio de EIC//(' rea liza do lodo s o s a no s se rva na casa do sumo sac e rd o te A náx e cu- rios si mu ltâneos d as peças fra ncesa s d o fina l
O s M i st ér io s C O II/ Ce n rios á
e m 15 de agost o , na Espa nha . na c id ade d e n ha d a de Mal chu s, ca rre g o u a la nterna por d a Id ad e Média. O s modos de pe nsa me nto e
Simult ân eos /10 Elche, fa mo sa por suas tamarei ra s. O clíma x ocas ião da traição no Gersêrn ani. E la é retra- represe nt ação d e o utrora são assimilad o s nas
Pa Ico - P la tafo rt n a da pe ç a, qu e é uma combinação de co ro e pan- tada nos relevo s cm már more do séc ulo XlV. formas re novadas do por vir.
tomima , dá- se no mo mento em qu e um g rup o M as co mo teria chegado a forjar p regos na Co m toda a riq uez a de se us ce n.iri os e
O grande mistéri o da Pai xão do dram a- de c ria nças, vestida s de anjos, desce - exnra - Pa ixão de An gcrs' Parece qu c d evemo s recor- duração d o s es pet ácu los, Vale ncie nnes c nco n-
turgo e teól ogo francês Arnoul G réba n co n- ment e co m o se fazia no século XIV .. da c úpula rer aos bufões, aos jocul utorr s, para um a ex- Ira va riva is nos cicl o s dos Ap ó sto los e do Ve-
tém um a ce na muit o significaliva. Como fun - da Igrej a de Sa nta M ari a até o coro , radiante - plica çã o . A fig ura de Héd ro it ap ar ece num a lh o Testame nto de Paris, d il at ad os de fo rm a
do para a agonia no Hort o. há urna d iscu ssão ment e ilu m ina do por milha res de c írios . É o Passion dcs Jong lcurs , do séc ulo XII. e tam - g iga ntes ca ( 154 1 e 1542), e nos d ra m as de
I. e ntre Deu s-Pai e Iu stit ia sobre a necessida de mesmo ac um ulo de eleme nto s de corati vo s e bé m no poem a narrati vo ingl ês Thc S/O ,.y c~r qu arent a d ias dos Ap óstolos. de Bourge s - ac u-
i lhe Ho ly Rood (A H ist ór ia do Cruci fixo Sa - mulaçõ e s inigu al á ve is na hist ória d o teat ro
do so frime nto de Cri sto. A idéia escatológ ica psicol ógi co s qu e encontra um a ex pressão cs -
co meça a atingir. além da vida human a de Cris - tonteante na arte das catedrais espa nho las. grado , Harle ian Library, I\Is. 4196 ). O que se mundi al. Se esse s monstruoso s ci cl o s aind a
I,, to. as premi ssas do ato da Red en ção. O s m istéri o s fra nceses , igu alad o s ~I S ve- seg ue é narr ad o co mo tend o acontec ido ao permit iam um efe ito coere nte e a co nce ntra-
Par a a ment e rac ion ali st a fran cesa. era zes . mas n unca ultrapa ssados e m pe rfe içã o teu- e nta rd ece r do d ia da C ru c ifi x ão , c m J erusa - ção no cs pc uic ulo , c e m qu c exte ns ão , é al go

\. algo natural tornar a h istóri a do Evangel ho , o


aq ui e ag ora da Paixão, co mo o ce ntro da his-
traI pe las m isterv plavs inglesas. tive ram se u
m áxi m o tloresc im ento nos séc ulos XV e XVI.
lé m : três ho me ns for am ao ferre iro c lhe e nco -
m e ndaram os prego s. O ho me m , po ré m. era
qu e pe rm an ece du vid oso. Uma m in iatu ra de
Hubcrt C a ille au ret rata o palc o- plata fo rma de
! Va le nc ie nn e s, co m se us ce n ário s m últi p los,
tó ria d o m undo, não só nas d isput as erud itas O Mvster« dI' la Passi on , de A rno ul Gréhan. um se guidor sec re to d o Naza re no e simulou
do s te ólogos. mas també m no palco do espe- co nta qu ase trinta e c inco m il ve rsos , e s ua rc- um a mão machu cada para se livra r d a vergo- se us loca , hald aqu inos, tron o s. pód io s c inte -

• 222 • 223
Jesu s é levad o à c ida de 1.:011I0 prisioneiro.
Jesus é en viado a Herodes por Pilatos .

29. Painci -,cm rele vo do ve lho cade ira l J o 0)[0 h it-:-.l ru íd o Pl..')o rCl~ll em 1')·1:'1. prove niente tio fin al do Ik'rí t.k.lo gÓl il..'o ,
na Catedral de S;1I110Eq':'\,;lo til' Vie na : \.'II I; d lk'S do (' il.: I" d a Pa i xfiu. 1..' 11l-l6 <.'l..' II;I.'i. I'cali l au o s pelo escul tor e d ir c tor teat ral
W ilhel m Ko ll in)!er, entre 1 , ~ X h t' 14\)).
I'"" ...

• :\ I d a d e !& f éllin

rio res acortinados, Na extre m a esq ue rda , en- dos, sentam-se a baixo do nível dos tablados, em-
contra -se Deu s-Pai entro nado co m um a auréo- bor a alguns per son agen s privilegiados. ev ide n-
la, co mo o sím bo lo do Paraí so, e na ex tre ma tem e nte, ocupe m lugares mais altos. e ntre os
d ireita es tá o Infern o, ce rcado por fogo c re- a ta res.
pleto de dem ónios gesticul ando se lvagc me nte. E ssa m ini atu ra , a m iúde reprodu zida , é
Al ém da s tradicion ais mand íbul as de a nimal, possi velmente respon sável pela noção e rr óne a
aqui o Inferno possui uma caracte rística espe- do " palco de mi stéri o em três ní vei s" . alto
cifica mente fran cesa - uma torre fo rt ificada, Devrie nt co ncl uiu, a partir das rubri cas do
co m ple mentada por um poço, onde Sa tã é ati- mi stério francê s - qu e prescreve um Paraíso
rado depoi s de Cris to ter abert o os port ões do "en hauteur", no alto - q ue o Infern o, a Terra
In ferno. e o Cé u es ta va m di spostos em tr ês dife rent es
. ~ (1'»4~ "'"' v ; Os 'dramaturgos e en ce nad o res dos misté- nívei s o u andares. e. em 1876 , mont ou o Fausto
;-0-.,) .......... _ ••'t- .:..~ ...... -.'~7-- rios do fim da Idade Médi a fran cesa pod iam . num palc o como este, que ele sup unha ser o
,. . ~ ~'\f ~"'~ ~...."" C"/f ~:'. com ce rteza, co ntar co m técni cas cê nic as de dos m istério s me diev ais. Qu atro anos dep oi s,
alto padrão. Os conducte urs de sec ret (condu- estud iosos pro varam q ue essa conclu são era
.. . ~cf~· . tore s de seg redo) , os mágicos da prod ução tea- falsa . mas a noção eq uívoc a do " palco dc mi s-
.1c7 f\~ ~-If r;..ff......~:..... tra l, nada ficavam a de ver aos m echan opo ioi té rio e m trê s n íveis" ainda per siste teimosa-
..... ......- .'t-kJ","'.~""" da Aruig üidade. Faziam co m q ue praticá ve is me nte .
e nvo ltos em nuven s baixassem flutu ando para A duração da s repre sentaç ões e a riqueza
tra zer Deus-Pai à terra, ou conduzir Cristo para dos cenários por si já exigiam um espaço aberto
o Cé u . Atinaram até com um truqu e, por meio de gra ndes dimen sões - em Rou en, o palco
do qu al o Espírito Sa nto se tornava visível . ver- tinha ce rca de 55 m de com primento , e em
te ndo -se so bre a ca beça d os A pósto los, por Mon s, na Bél gi ca, 37 m de comprimento por
mei o de língu as de fogo. ace sas " a rt ific ialmen- 7 m de profundi dad e. Mas. além d isso, so bre-
te , co m a aj uda de co nhaque" . Jean M ich el ha - tudo e m Par is, desde mu ito ce do há a tcnd ên-
via in sistid o especialme nte nessa represent a- cia de transf e rir o cs pct áculo para um teatro
ção visua l do milagre de Pent ecoste s par a a fech ado. O princí pio do pa lco- p latafor ma co m
representação de 1491 do se u Myst érc de la ce nários sim ultâ neos e ra relativamente f áci l de
Ressu rccti on . se r tran sp ost o para um a sala de ex te nsão e
Para a Boca do Infern o, não ba stavam so- amplitude se me lha ntes. e no teatro ao a r livre
mente portas praticá veis de made ira ; as pr ó- já ha viam sido co nstruídas fileir as eleva das de
prias mandíbulas mon struosas pr ecisavam abrir as se ntos .
e fechar-se segundo as nec e ssid ades . "Enfer A Confréri e de la Pass ion , de Paris. re-
fa it en niani êre d 'une grande gucu lc se clouant presentava de sd e o ano de 14 11 e m inter iores
et o uvrant quand bcsoin 1'11 cst' (" Infe rno fei- - a princípio no Hô pital de la Tri nit é. dep oi s
to à maneira de um a gra nde go ela se a br indo e 110 Hôt el de Flan d re e, fina lme nte, no H ôtcl de
fec hando qu ando for necessário" ), é o qu e le- Bourgogne , onde o tea tro fran cês mais tard e
mos nas rub ricas do M vst érc de l 'Incarnation lançou as bases de sua brilhante carre ira co m
aprese ntado em 1474 . em Rou en , Moli êre e a Comedir Italicnnc .
Essa mostra de perfei ção técn ica co rres- As desp esas da peça e a resp on sabi lid ad e
pondia ao estilo realista do espet ácul o. A suges- por s ua produ ção e ra m di vid id a s e nt re a
tiva drasticidade exibida nas tort ura s de Sant a confrcrie, o co nse lho da cidade e os partici-
A po ló nia rivaliz ava co m a d os ver d ugos do pantes. Do s en saios e m si ocupava -se o 11I1'1Iellr
a uto da Pai xão de Alsfeld . A cena é representa- de jeu, que - como no co nj unto do tea tro medi -
da nu ma mini atura de Jea n Fouquet, datada en- cval - e m geral tamb ém declamav a o prólogo e
tre 1452 e 1460. At rás da área cê nica ao ar livre, as pas sage ns de ligação ou de escl arecimento,
em primeiro plano, as plataform as-palcos estão mant endo a unidade de a ção . At é meados do
disposta s num semicírculo hori zon tal - no alt o, séc ulo XV, a di fícil tarefa de "d irigir" o gru po
30 . Pág.i na do texto c minia turas do s t vstcrc '/f ' la t 'ass íon ths Am ou l G ré bau . A repr esent aç ão do ;UIt O, CO I11 q uasc ii esq uerda , Deus-Pai entrunad o e rodeado de hetc ro gên eo formado de artesãos. estudantes,
3,5.000 verso <, est endeu-se por qu•n ro d ias. Aq ui silo 1Il11~lr;:u..la!; remi s tia in fâm-ia de Je su s. c . 1450 (Paris Bibliot h êque de anjos e músicos; emb aixo, ii direi ta, a Boca do le trados e viaj ant e s qu e trab ulh avum num a
I Ar sen a l ). •
Infern o. Os espectadores, den sam ente a mo ntoa- peça er a ge ra lmente reali zad a por clé rigos e,

• 22 7
História M'u n dí at do Teatro.

31. Narrador do prólogo.


às vezes, por acadêmicos ou patrícios ambi- ção de Adão e Eva. A determinação de Lúcifer
ciosos. em se vingar, como o texto especifica, deve
A miniatura de Apolónia, de Jean Fouquet, saltar como uma faísca para o carro seguinte,
mostra um clérigo como niagistcr ludens, usan- que começa então a funcionar. Adão e Eva, ten-
do um chapéu vermelho alto e uma longa túni- tados pela serpente, são suas primeiras vítimas.
ca azul com bordas brancas. Em sua mão direi- Os mistérios de Chester e York, bem
ta erguida, segura um bastão, e na esquerda, o como os de Towneley, apresentados em
libreto aberto. O diretor cênico de Hubert von Wakefield, exibem um senso de humor auda-
Cailleau usa um barrete chato e uma beca roxa cioso e em parte altamente original, que se
sobre calções curtos e largos, e segura o rollet, atribui a uma revisão do começo do século
ou o rolo do texto. É como podemos imaginar XV, feita por um monge do vizinho mosteiro
que Jean Bouchet - promotor público por pro- de Woodkirk. Ele~ contêm uma cena magis-
fissão, e por inclinação encenador de mistérios tral de diálogo, no episódio da Arca de Noé.
e autor de agressivas sotties - tenha aparecido Reclamando feito uma megera, a mulher de
como mencur de jeu. Quando enfrentou o pú- Noé se recusa terminantemente a entrar na
blico como narrador do prólogo, Jean Bouchet Arca: devia ter sido avisada do plano previa-
exigiu de si a mesma rigorosa clareza de dicção mente e, além do mais, por que não salvar
que solicitava de seu elenco de leigos. Dialetos também suas comadres? Somente quando a
eram proibidos, bem como expressões impró- água realmente a alcança é que ela se deixa
prias ou barbarismos. Uma dicção cultivada foi levar para dentro da Arca. Fazer essa cena
desde sempre uma regra da grande escola tea- deve ter exigido muito dos atores, mas tam-
tral de Paris e seus cidadãos, com sua orgulho- bém da capacidade do público para aceitá-Ia.
sa consciência nacional. As indicações para os carros-palcos conten-
tam-se em ordenar que a Arca "seja demar-
Os Pageant Cart e o Theater ln cada por um círculo em redor e o mundo ani- Miniaturas da Passion â'Arrus, por Eustachc
the Round Apresentam a maI reunido à beira esteja pintado". Mercadé. Primeira metade do século XV.
O problema de como era possível repre-
História da Criação
sentar com coerência, num espaço retangular
de pouco mais de 3 m por 6 m, a história do
Na Inglaterra, o modelo formal dos mis- mundo e do Evangelho, subdividida em vinte
térios encontrou uma expressão muito menos ou até mesmo quarenta peças de um ato, des-
rigorosa do que na França. O princípio de re- de a Criação até a Ressurreição de Cristo, é
presentação em estações, utilizado para as ce- algo inexplicável para quem não pôde estar lá
lebrações de Corpus Christi, foi adotado para para ver. Dos relatos de testemunhas oculares,
os grandes ciclos de mistérios do século XV. entretanto, fazem isso parecer bastante fácil.
Isto significava dividir o texto numa série de Uma descrição do século XVI do arquidiácono
pequenas sequências dramáticas, ou em peças Robert Rogers de Chester recapitula assim a
teatrais de um só ato de igual duração. mecânica de uma representação pageant:
O ciclo de mistérios de York, conservado
num manuscrito proveniente mais ou menos Iniciavam nos portões da abadia, c quando o pri-
de 1430, contém mais de trinta dessas peças, meiro carro-tablado se havia apresentado, era levado para
cada qual montada em seu próprio cano, or- a cruz alta diante do burgomestre. e daí por todas as ruas;
e assim [as pessoas em] todas as ruas tinham um carro se
ganizados como numa fileira de dominó. Em-
apresentando diante delas cm algum momento, até que
bora cada uma das peças devesse ser dramati- todas as apresentações em carros marcadas para o dia fos-
camente concisa, havia uma certa repetição, a sem feitas; [... 1c todas as ruas tinham seus carros diante
fim de que a linha da ação não fosse interrom- de si. todos eles se apresentando ao mcsmo tempo.
pida. O ciclo de York, que mostra sinais claros
de revisões e adições feitas por várias mãos, Cada peça dispunha, portanto, de seu pró-
gasta cento e sessenta versos para cobrir a cria- prio carro. E assim, em cada ponto da cidade,
ção do Universo, a revolta e a queda de Lúcifer, urna sucessão de carros chegava, um após o 32. A mulher Hcdroit forjando os pregos (Arras,
a confirmação da onipotência divina e a cria- outro, para representar as peças separadas, Hibliothêquc Municipalc) .

• 228
numa sequ ência ininterrupta - o que , e ntretan- o verdad eiro palco da a ção, ond e agora os ato-
to , pressupõe que todas as ce nas dura ssem rcs entra m e no qual di sp õem de espaço para
aproximad am ent e o mesmo tempo, par a pre- se mover, ge stic ular e exibir sua hab ilidade dr a-
ve nir qu alquer atraso. Dur ant e a proc iss ão. os mática. co mo não pode ria oco rrer no inevita -
atores perm aneciam nos se us própri os C:UT OS- velme nte exíg uo pag caut ca rt.
tabl ad os, em atitude estática, até a pró xima pa- A engenho sa co mbinação de Wickham do
rada, onde entravam em a ção novamente . Cad a pa geant car t com o scaffold cart (os scaffolds
um tinha seu lugar determinado, onde ficava sempre foram co nsiderado s apen as armaçõ es cê-
e m pé ou se ntado. Poucos objet os pessoais e nicas co mpleme ntares) explica até mesmo CO IllO
c énico s co nstituiam o cená rio , A Boc a do In- Noé pode ler disc utido co m sua obstinada mu-
fern o, prov avelm ent e, era a pa rte in ferior do lher no pa lco da frente e, ao final, tê-la posto a
carro, escondida por panos - de qu alqu er ma- sa lvo na Arca, so bre o carro principal,
ne ira , é co mo a descreve D avid Ro ge rs. filho À frent e da fila de canos, a cavalo ou a
do arq uidiá co no Rogers. M as Glynne Wick - pé, vinha o expo sitor, qn e inf orm ava ao p übli-
ham pro vo u q ue David Roger s e ra, soh mu i- co reunido nas dif er en tes esta ções cê nicas o
lO S as pect os, um cronista não m uit o c u n fiá ve l. significado c o c urso da apresenta ção qu e ocor-
A s re fl ex ões de Wickham ace rc a da re lação rer ia. A s repr ese ntaçõ es era m diri gidas pel o
entre as ex igê ncias c énicas co nd icio nadas ao chamado CO/l vc)' o r (co ndutor ), qu e dava o si-
text o e as d imens ões lim itad as do 1"l g CllI1t nal para o in íci o da peça, atu ava co mo pont o
lI' a goll o levaram a uma reconstituição do s e, no final , fazia com que seu ca rro seguisse
palcos am bul ante s ing leses, e ess e mod elo nos adi ante, de ac ordo com o program a. Em gera l,
escl arece muit o. o cOIn 'cWJr e ra um membro da corpora ção qu e
O ca rro -palco reconstruí do por W ick ham havia finan ci ado a ence nação e os ato res de
é abe rro e m três lados. Ao lon go da pared e de um co rtejo especí fico . Co nstituía um pont o de
fu ndo , de tábu as, ele insere lim a ti ring house ho nra para ca da cl asse de artesãos part ici par
? 3. Auto de mi stério, repr esentando o martírio de Sa nta Apol ónia. À dir eit a , () nvag ístcrludcn s e nvergando urna lon ga (camarim) estreita, oc ultada por uma co rtina: do s autos dos mist érios de sua cidade . O di-
batin a e segurando na mão esquerda o lib reto abert o e na direit a a batuta de rege nte. Ao fund o, o Cé u com uma esc ad a
11 sua fre nte, ficam os loca, co m os ator es ade- nhei ro co rr ia solto, e nenhuma economia era
enco stad a e dois a njos sentados nos deg raus ma is alto s: à direit a. Boca do Infern o po voada de dem ónios. Minia tura de
Jean Fou qu et , c. 1460. para o U1- 'I'O das Hora... de Élicn nc Che vali er (Cham illy, Mu sée C onde ). q uad am ente agru pad os durant e o traj et o de feit a, Se o s ca rpinteiros se en ca rr ega vam da
uma e staç ão 11 o utra. Um seg und o c arr o, o Arca de No é , os our ives do ca rro dos M agos e
scaffold ca rt, é levado às estações o nde as re- os co me rc ia ntes de tecidos da aparênc ia di gn a
pre senta çõe s acontecem e co locado e m posi- dos Profet as. e ntão o público podi a esperar não
çã o imedi atament e contígua ao ant eri or. Es se só o uvir, co mo também assi stir a coi sas me-
segundo ca rro co ntém simplesme nte um pódi o mor áv eis . O prep aro inadequ ad o de um carro-
vazio, da mesma altura qu e () pugca n t cart. É pa lco de lim a corpora ção pod ia acarreta r lima

34 . Pla no c ênic o do M y.rlt\ yt' de Ia l'assion de Valcnc iennes. 15-1 7. A s e sta ç ões ind ividua is lk atua ç âo s:io enfile irada..
num plano : à esq uerda, o Paraíso Co m Delis Pai cm Glorio ta: à direita , ao fun do, o Infern o com Bocu do Infe rno c to rre da
fortal eza, c cm pr imeiro plan o lima bacia CO Ill água (" Ia Ince") para a pesc a de Pedro (Paris, Bibli oth equc Nati ou ale}.

• 23 1
H i s t orin M UI/d i al d o [ c arr o . • A l du d e M éd i a

sena reprovação dos vereadores, e até uma t-.IO\ RY: Th ís ctu íde is goddvs an d ."0111: Historica/ and Monu m ental of Co rnwa ll (Ob- para ou vir o lo ngo ar g ume nto d e lin ha tco tog ica q ue at rn-
pesada multa . Fo i o qu e aco ntece u ao grémio ]OSI' I'H: Goddys chi/di' fil ou lvis t i II fav servações sobre as A ntig üida des Hi stóri cas e vc ssnra Ioda a repre senta ção .
God drd e II c l'J'r jap( ' .\"0 wíth ma )'
d os pintores de Beve rley e m 1520, "porque sua Monumen tais da Corn ua lha) , ass im os descre-
An d I cam II f' l"y r ther I t/art' \n'l .\ uy A infinita am plitude d a ter ra e do mar de-
peça [...) foi ma l e co nf usamente repre senta- vitt so n.r" thi boure ve: " Nesses r o unds, cí rc u los co mpletos, o u a n-
da , em desrespeit o a tod a a co munida de, dian - se m pe nhava seu pap el , assim co mo o cé u azul
inü vít lsev II'lIOO U C/lilclt' i·o this. fitea tros de ped ra (não inte rro m pido s co mo os
te de muitos estr ange iro s" . M ARY: Goddys and youre I ." l'." i-lt'YS.
de A te nas. ainda que , e m luga r da cla rida de
ci rco s de pedra), o s brit âni cos costumav a m
Embora os textos es tivessem estabelecidos J OSH 'I l: Yil ya ali olde me" 10 tnc tut:c tent grega , nuv ens ci nze nta s e tempestuosas ser-
reunir -se para ouv ir peças re presentad as", e
há temp os, sempre pre ci savam ser revisad os e und wedd vth no lI y Jf ín 1/0 kvnnvs \lYS t' vis sem de ab óbada pa ra o Juízo Final nessas
acrescenta qu e "o m onument o mai s notável
thu t Ü a yo ngl' wench he myn a ·.\'(' 1ll terras do Norte.
adaptad os aos g rupos parti culares de ateres. for dou tc and JU lie mui .\ \1"."(' '' , "cn'Ys(, desse tip o fica perto d a Igrej a de SI. Ju st , em
Além da rivalidade entre as diferentes corpo- A las alas my tl W I U.' is ~-I/('1Il Pen with" . O fascínio do lu gar m ant e ve-se até
rações, as cidade s estavam freq üentemenre ten - al! l11l'n may me fi OU' dysl' yst' hoj e - e m m ontagen s re tro s pec tivas , muito o A u t o d e N a ta l
tand o superar umas às o utras co m suas peças . mui seyn olde co1..w olt/ thi /J O H' is bem di stante s de to dos os es te reó tipos de festi vais.
1U , u -ly 1l()11 ' afit'r lhe [renscln: g vse .
Os el aboradores de textos podiam brilh ar por Rich ard Southern c ita um espectad or do séc u- O tempo tod o as Paixõe s, os m istérios e as
sua erudição ou , melhor ain da, pel a origin ali- J OSE: Diz e , M aria , qu em é o pai de sse meni no '! lo XX que assistiu aí a uma representação: rep resentações das lendas foram acompanhados
dad e das grotescas ad içõe s de sua autoria. Foi M ARIA: Esse men ino é de Deus c é l eu . pel os o fícios e ciclos rel aci onad os co m o Natal.
assim que o monge de Woodkirk, que fez acrés- J O.\I~ : Filho de Deus! Na verdade. lu m en te s . Deu s nU IIC' 1 Só o p lan o e m .l;r all ilO d e S t. Ju-a. à vista do cabo Ori g in a ram- se d o m e smo Q uem q uaeritix
me co nsi deraria tão lo uco . c o uso d ize r qu e eu nun - Co ruwal l c d o oc ea no tr.uis pare ntc q ue: bate co ntra ~I(l u e ­ ora torial que é o germe do auto pascal. "A quem
cimos ao ciclo de Town eley, teve a idéia de
c a es tive assim [50 perto de ti. e po r i ~so (c pergu n- le mag nífico prom o n r óno. j ~í se ria UIl1 teatro perfei to para
inse rir, antes da Ado ração dos Pastores, uma buscais?" , era a pergun ta d irigida tanto às três
l n : de qu em é esse men ino'! a exibiç ão l...1d a g rande H is tóri a da Cr iação . da Queda
farsa que pode tranqüil am ente ser com parada l\ T·\ RI..v: fil ho de Deus e teu filh o , eu se i co m roda a M a rias, no do mingo de Pásco a, co mo aos pas-
c da Rcdcn cão do Ho me m [.,.}. O enorme aflux o de pe s-
às de Hans Sachs. O pa stor Mak, astuto e pat i- cert eza. soa s \' inda~ de longe qu a se não parec ia um a m u lt id ão tores que chegavam à m anjedoura. na noite de
fe , rou ba um carne iro dos outros pastores e o Jo st.: S im, sim ! Que tod os os ve lh o s sejam preve nid os nessa região er ma , OIl J C nada cre sce que lim ite Do visã o. Nat al.
de c as ar-se de s sa man ei ra . qu e a m im foi co n fia da seja d e q ue t ido fo r (.. . 1. Tutilo de SI. G all fo i o pr im ei ro a incluir
leva para casa , para a m ulher. Po r tudo isso ,
uma do nz ela p~lr~1 fazer-me . se m nenhum m edo ou
ela o repre ende ru idosam ent e. embru lha o ani- um a passagem d ialogada no se u tropo de Na-
dúvi d a . cvvc se rvi ço . A i. a i, lI1 ~U nome c sui do so u-
maI (cla ramente tre inado pa ra o palco), co lo- So uthern ac res ce nta . co m ref er ê nci a às tal Ho di e Ca ntandus. A ce na presta-se por si à
rad o ! Todo s o s ho m e ns po dem agora d e spre za r-
ca -o no berço, de ita-se ela própria na ca ma e, me e d izer: velho com udo, passaram -te a peru a. " influências mentai s d a ex pectativa e da re li- imed ia ta dramat iza ção . Os past or es q ue se
quando os comp anheiros pastore s de Mak che- co mo di ze m os fra nccsc.... gião", qu e os espec tadore s o rigi nais er a m apro ximam são saudados por dois di áconos
gam e revistam a cas a com desconfi ança. ela com longas e largas d al mática s. Eles represen-
Co nqua nto o carro- palco fosse um a forma gente do cm 11l'k) o u da s c idad es iruc riornua s. d e uma ép oca
tam as mulheres qu e, d e aco rdo co m o evan-
lhes pede silêncio, em cons ideração a si mes- agr kol ~l , anvio su por qu al qu e r di v,.-rvâo, reu nid a cm mut -
assa z ca racter ística do s m istérios ing leses, não ge lho apóc rifo de Ti ago, ou P rotevang elium,
m a e ao novo beb ê. M as quando um deles le- rid ão cm me io a U llI ale gr e j og o d e ve stirne nta s. e ntr e
era a úni ea. Na região da Cornualha, os ce ná- assistiram Mari a no part o. A lé m di sso, incum-
va nta a coherta do " bebê" , a frau de é desco- co li na v c ba ndei ra s. co m um fo s-,o c uma barre ira se pa -
rio s múlt iplos, simultâneos, era m tamhém uti- be-lhes a tarefa ad iciona l d e se re m testernu -
bert a, e Mak apan ha. Exa ustos. todos caem em rando-a do mundo do coti d iano de trabalho [ ... 1. Devora
liza dos no século XV, tanto num palc o circ ular, o u 11:10 . i"o de pe ndia d e c nd n um . 111 :\ , a m uni dã o CO IllO nh as d a imaculada co nce pção e parten og énese
so no profnnd o, para ser em despert ados pelo
q ue acomodava os loco ao nível do ch ão (com o urn todo pcrt cn cia a um u ciPOC I d e form ato rl'l igio so do - - um duplo papel qu e a arte m edi eval lhes co n-
Gloria in cxcelsis do s a njos .
na morali dade TI/(' Cast!c 01' Persevcrance - () m iuaut c : c a ...... im sc ndo , pe nso L'lI , L'1a e stari a preparada
fi ou muito ce do , especia lme nte nos monumen -
As fontes da co leção de peças de 1.:I6l\,
Cas te lo da Pcrseverun ça ). ou n um a rco mais tos bizantino s. Com o o bste triccs (parte iras),
Ludu s COl'elllriae - embor a pareça não haver
amplo. rem anescent e do antiteatro da Antigüi- oc upa m-se da Mãe e do Me nino e ban ham o
nenh uma co nexão com Coventry (Craig as atri-
dade. O texto das c ha ma das corn ish plays in-
bui ao cond ado de Li ncoln ) - re mo ntam a recé m-nascido e m bac ias e cá lices de o uro.
cl ui d iagram as que assinala m, dentro de dois
Bizâncio. Urna de suas ce nas de maior efe ito, Na s ve rsões m ai s a ntigas do officilll/l
cí rculos co ncê ntricos, os loca dos ato rc s. desd e
"A Volt a de Jo sé" , coinc ide qua se literalm ente pastorum, as quasi obsteiriccs agem vicaria-
a C riação até a Asce nsão de C ris to, e te rmin an-
co m o fragment o de um di ál ogo at ribuído ao men te e m lugar da Sag rada Fa m íl ia. As inf or-
do, não co m o solene Te Deum, ma s co m um a
Patriarca Germano de Co nsta ntinopla. A Igreja mações mais ant igas so bre a "e nce na ção" des -
exo rtação aos menestr éis para tocar e aos ato-
Ori ental e o ca rro- pa lco se enco ntram, ao lon - sas ce lebraçõ es de Na tal es tão no s trop as do
res e esp ecta dore s para parti cip ar d a d an ça.
go dos séculos, na ex pressão dos se ntimentos sé cu lo XI. U m de le s é d e S t.- Ma rt ia l, e m
Do is desse s teatros circ ulares ou co rnis li
dem asiad o hu man os de Sã o Jos é, dos quais Limogc s, e o o utro, d e ori ge m des co nhec ida,
rotuuls ex iste m ain da hoje - um em SI. Ju st,
fonte s sírias tinh am fal ad o aberta mente e so- en contra-se hoje em Ox fo rd. A pe rgunta intro-
e m Penwith, e o outro em Perr anzabuloe, na
hre os quais os inté rpre tes oc ide ntais haviam dut óri a, "Q uem quarcr itis i II presepe , pos/(}-
Corn ua lha . A mhos são palc os medi e vais ao ar
so licitame nte esten dido o m ant o da Imaculada n 's, dicitl'" ("A qu e m pr ocurai s na manj ed ou -
livre, de mais ou me nos 3H m a 43 m d iâ me -
Co nceição . José ac usa Mari a de ter-Ibe posto
tro , ada ptaçõe s do a nfitea tro da A ntigiiidad e
dl ifres e envergo nhado se u nom e:
co nstruídas nas tempest uo sa s terras do No rte .
William Borlase, um antiqu ári o que pu blicou, 36. o te atro c.1~ ar e na (/ le r n ll1 H U I/ I/ II ) d(" Pcr r:lll l.:lbu-
J OSEPH : Sey lI1e M u !".\' III is cl Ji/dy .\ IÚ t! \T ho j, ..
e m 17.:15, suas OiJ.I'e r \'o lioll.l' 0 11 Ih" A llfi<j ll i l ie.l' loc , Co rnualha. diltado do st.:l.:ulo X v. ( iravura d l' 1758.

• 232
• 233
lí is t ár i a Mundial do Teatr o . • A t d a d c M édin

ra, ó pastor es?" ) e a subsequente ado ração são igrej a da Aba d ia de Larnbach, no Danúb io , Acessos de cólera e ameaças violentas, em te dos autos, o o rdo Rache/is faz parte, de qu al -
seg uidas , enquanto transição para o Alelui a da qu e fo ra m co m p le ta me nte resgat ad as e m co ntraste co m a credulidade e a co nfia nça ino- quer mod o, da liturgia de 28 de dezemb ro , o
Missa, pela orde m: "Et lJIill C euntes di cite quia 1967, são prova velment e um reflexo plásti co ce nte, se mpre foram um tema de e feito teatr al. dia dos Sant os Inocent es.)
natus est" (" Ide e dizei a todo o povo qu e Ele do Officium S te llae de Lambach, um auto dos Os autos de Natal são um outro exe mplo da Herod es se nte o se u fim aproximar-se. En-
nasceu" ). O texto do officium é ainda mu ito Magos tam bém co nse rvado em latim. As três antiga intromi ssão, desde muito cedo , do mim o trega a coroa a se u filh o Arquelau, cai mort o
próxim o do texto do Evangelho . mulh eres ao red or da Mad on a entronad a são na so lenidade da igreja. Por volta de 1170, a do tron o, "co nsu mido por vermes", e é levad o
Por volta do século XI, a cena foi enriqu e- as obstetrices, as primeiras a receb er os Ma - abadessa Herrad de Land sberg reclamou da pelos dem ôni o s e m júbilo selvage m. Um anjo
cida com a inclusão de novas personagens. Ao gos qu and o es tes chegam à manj edoura. Karl bufon ari a qu e havia se prop a gad o d e sm e- aparece a José e m so nho e lhe orde na qu e fuja
retornar, 05 pastor es encontram os três Re is M. Sw ob od a, e m 19 27, foi o primei ro a afi r- dida me nte, em especial nas ce nas de Herod es. para o Egito . El e o faz, co m Maria e o M en i-
Magos que, escutando as boas novas, por sua mar qu e o pint or do af resco deve ter se inspi - Para mostrar a maneira adequad a de tratá-Ias, no. A isso se segue um Ludus de Rege A egyp ti,
vez se aproximam do Menino, oferece ndo-lhe rado nas figu ra s do aut o latin o dos Ma gos. apresent a, em seu Hortu s Deliciarum (des truí- . que fala da c hegada da Sagrada Famíli a ao
respeitosa mente seus presentes. Nessas antigas A ce na foi posteri orment e ampliada , co m do num incêndio em Estrasbur go, em 1870 ), Egito e da qu ed a dos deuses do imp ério do
representações, eles não se ajoe lham. Na arte a inclu são dos anjos anunciando, das alturas, Herod es entronado com toda a dignidade. Nilo - e part es desse diál ogo são tirad as do
antiga tal co mo na do Medievo inicial , o ge - as boas novas (co mo e m Orl éan s). As galerias As peças, nesse meio temp o, seg uiam se us Antichristo de Tegern see.
nufl exio não era uma expressão de veneração, em arcos das igr eja s rom âni cas e os trifóri os própri os caminhos, em parte co nde nadas pela E ass im vári os episódios cobrem, de for-
porém de súplica por misericórd ia. A primeira das catedra is gó ticas prop orcionavam os lo ca Igreja , em parte promovidas pelo clero . As ce- ma abrange nte, ca da aspec to dogm ático da his-
represent ação que mostra um dos Reis Magos ideais par a esse fim . nas básicas eram cada vez mais enr iquec idas tória do Nata l, com tod os os seus antecede ntes
ajoelhad o aparece no Antep endium de KJoster- O officiutn litúrgi co tran sformou -se e m co m detalhes epi sódicos, embo ra ao m esm o e ramifi cações. Com alguns detalhes a mai s ou
neuburg, de Nicholas de Verdun ( 118 1), qu e teatro no mom ent o em qu e aparece um anta- tempo nenhum esforço fosse poupado para apre- a men os aq ui e ali, pod em os encontrar paral e-
sugere, co m o vívido impacto de suas numero- gonista: o rei Herod es, a personificação do mal. sentar pro vas teológicas do milagre do Natal. los nas peças de Nat ividade de Nevers ( 106 0),
sas ce nas, uma conexão com as peças represe n- Sobre ele e sua co rte , os co mpilado res de tex- O auto de Natal da abadi a beneditin a de Cornpi êgn e. Met z. Montpellier e Orléan s, no
tadas em KJostem euburg, perto de Viena. Os três tos medi evais co nce ntraram livrem ent e tod a a Beuren , incluído nos Carmina Buran a do sécu- mosteiro de Ein siedeln na Suíça , no mosteiro
Reis Magos tamb ém só ostentam coroa a partir sua riqu eza im agin ati va. Sentado em se u tro - lo XIII , co meça com uma disputa dos Profeta s. belga de Bilsen e, na Espanha, co m o Au to de
de meados do século XII; antes, apresentam-se no púrpura e rodea do de escribas, Herod es re- Aparece m Balaão e seu asno, Sa nto Agostinho los Reyes Magos, da Catedral de Toledo.
"sábios", como magos usando o capuz frigia . cebe os Magos, dep oi s de um mensageiro ter e um ep iscopuspuerorum. O Bispo Criança, qu e Co m a ex pa nsão do s idioma s vernác ulos,
Até o séc ulo XIII, a própri a Mad on a apa- anunc iado os vis ita ntes orient ais. No ato de na Fe st a dos Lou co s fran ce sa e na Fcs tu m o caráter dogm ático da s peças foi gra dualme nte
reci a co mo im agem esc ulpida , ge ra lme nte Natal de Orl éans, o filho de Herodes, Arquelau, Asinorum preside uma grande qu antidade de perden d o terren o pa ra cenas p opu Ia res ,
co mo a Virgem entronada co m o Menin o, no está ao se u lad o . Encolerizado co m as revel a- frivolidad es clericai s, no auto da abad ia ben e- ce ntradas na manj ed oura e no Menin o no ber-
altar decorado para representar a manj edoura. çõe s dos escribas. Herod es joga ao chão o li- ditina de Beuren apena s anuncia, prec ocem en - ço, confor me sobrev ivem até hoje em ca nções
O Menin o Jesus, prenun ciand o o futur o Panto - \'[0 dos Profet as. E m sa nha pant orn ímica, os
te, qu e a qu estão do nascim ent o virg ina l só e cos tumes locai s. José av iva o fogo e se oc u-
crato r, levant a a mão direita , e m atitude de atare s retr at am a fúria do pai e do filho br an - pod e se r adequ adam ente explicada por Agos- pa co m foles e velas , prep ara um mingau para
bênção. À sua volta estão as num erosas perso- dind o suas espadas co ntra a estrela - pend ent e tinh o . o infant e (co mo no M yst êre de Gréban), flert a
nagen s dos c ic los da Epifania. As pinturas de cor da. ela é pu xad a ao longo da igreja - A Anunciação à Maria e a Vis itação ba- co m as servas e é a lvo de muita zo mbaria.
murai s româ nicas , do antigo coro oeste da que anuncia o Rei recém -nascido. seiam-se na história autêntica do Nata l. A es- Na cape la do cas telo de Hoch eppan , um
trela apa rece aos Ires Reges no Or iente. Eles vi- pintor tirol ês de afresco s do séc ulo XII retrata
sitam Herod es, que os recebe em presen ça de uma don zela ajoelh ad a junto ao fogo, com um a
um men sageiro. O anúncio da Nati vidad e aos frigid eir a, ex pe rime nta ndo os habi tuais bol i-
pastores co ntém um contraste teatral de gra nde nhos de massa da região, antes que a pu érper a
efeito na pessoa do diabolus , que faz o melh or receba os se us. Du zent os anos depois, no auto
qu e pod e para demolir a credibilida de da men - de Natal de Hesse, um a alma gê mea dá um
sage m angé lica. Os pastores vão à manj ed oura, tratam ent o se me lha nte à ce na. Enquanto em
ado ram o Menino e na volta enco ntram os Três Hoch epp an José perm anece qui eto e entreg ue
Reis, qu e por sua vez chegam ao presépi o e O a se us próprios pe nsame ntos e Maria su perv i-
venera m. Avisados em sonho por um anjo , e les siona a prep ar ação dos bolinh os em se u divã
in ici am a j orn ad a para ca sa se m vo lta r a bizantino, no auto de Hesse ela está inteira-
Herodes. Mas Herodes ouve do Archisynogogus ment e tomad a pel a preocup ação de fazer co m
e de se us sumos sacerdotes qu e a profecia se que as recalc itrant es se rv içais cuide m da coz i-
realizou. Ele determ ina o Massacre dos Inocen - nha. "Q ue qu er es, velho barba de bode?" - re-
tes. Nas co linas de Belém ressoa m os lam ent os cebe co mo resposta. Ele as ameaça "com uma
37 . C iclo cpifânico co m as person agens do auto do s Mago s. Có pia de lima pintura mura l no antigo coro oe ste da das mãe s. Raquel, a mãe ju dia represent ativa, esfrega no lom bo" e e las, por sua vez, o amea-
igreja da A bad ia de Lambuch. junto ao Dan úbi o. alta Au su-ia. séc ulo XI. chora por se us filhos: "O dul ce sfilii ...". (À par- çam "e mp urr á-lo sobre os carvões" e mini strar-

• 234 • 235
39. O Nas c imento de Cri sto . Ce na natal ina. co m espe ctadores c m trajes co ntempo râneo s. Pintura ..II.' lIans M ultschcr,
1.t7J ( Bcrlim -Dahlcm. Sta atli cbc M useen . Gcmaldcga leri cj.

J8 . Cen a do ('("("( ' hom o . rep resentada nutu varru-pa lco illgll's . Pilatos c m seu tro no; à es q ue rda. a co luna do flag ele c
o sen o co m J bac ia d ·.ígtl:l . Gr avura de Da vid J t:C" . Extra ído d e Th omas S harp. A Dissertation 0 11 '''(~ Pugcan ts (lr Druma tic
Mvstcries "ud l'm ly Pcrfonn c.t m Co vcntrv, 1825.
,
40. A mulher H édroit forja os pregos, enqu anto seu ma rido exibe a mão machu cada; à esquerda, dois homens fazem
perfuraçõ es na cru z. Do manuscrito Ms. 666 Holkam Hall, c. 1300 (Biblioteca do Lorde Leiccster) .

-+ 1. A Sa grada Pam úiu com anjos . Paine l pint ado por um artista do Reno, I ' , 14()().O realismo popular, a rique za de detal hes
c o presépio do tipo baldaqui no co mhiuam co m a ex ub erânc ia narr ativa do s alllos de Nat al ( Bcrluu-Dahlcm. Suuulichc 1\111:-'(,'CII,
Gcmãldcga lcr iej.
lhe um as bofetadas. José grita " '0"011"0. aj\ll k m-
me ,., e tud o o que consegue é qu e as c riadas
com os doi s cs talaj adciros se ponham a dançar
l í is t o ti n ,\I lt1/(li o l d o T CII / I"" •

de Sant a C a ta rina . que c m tod os o s demais de -


talhes correspo nde ex.ua mente ao or igi na l, n ão
levou em co ns id eração e sse Mctu : tcke l.,
T
lassivament e cm volta do be rço. O dr am a natalino m al necessit ava de equi -
Mai s o u men os na ép oca do a uto de Na ta l pamentos téc nicos especia is. No s paí ses de lín-
de Hcssc , Konrad vo u Soc st, o cr iador do mag- g ua alemã . eslava e ro m ânica, ele m an teve-se
nífico altar de Niedcrwildung, co m se u piso de dent ro das igr ej as, m e sm o quando os a ut o s d'l
o uro . m ostr a José, de barbas bran cas. •ijoclhu- Pa ixão e J as lendas co meçaram a ex pa ndir-se
do junto ao fogo, co zinhando prudente me nte o pelos pát io s do s m o st ei ro s e pel as praça s do s
di sputa do m ingau . O alt ar pode se r da tado de me rcado s. Q uando m a is tarde se transformou
1404 , enquant o o auto fo i escrito entre 1450 e no elemen to imprescindível dos gra nde s ciclo s
1460 . embo ra, provavelmente , já tiv esse sido da Paixão. o bvia m en te a "cho upa na natalina"
ap res enta do de sde o final d o sécu lo X lV. O s leve seu lug ar . corno no g ra nde palco ao a r
mo steiros de Hesse, ma is pa rtic ularme nte o do s livre com ce n ário s simu ltâ neos de Lu cc rn a, em
fra nci sca nos de Frie dberg. era m not ó rios. nes- 15 8 3, o u no s m ist ér io s a pre sent a dos n o s
sa época. po r sua " vulgaridade impró pria". E m pagcllllt carts ing le ses .
1485, os ed is fo ram levad os a ex igi r no s termos O s a utos dos P ro fet as , o rigi na lme nte li-
mais ca tegórico s qu e os dois mos teiros de fra - ga do s ao ofício de Na ta l. havia m se tornad o
des agostinian os e des calços passassem a CO Ill- independent e s da ce na da manj ed o ura já po r
portar-se de m aneira mais dec e nte . volta do séc u lo XII. E m vez da int erpretação
Nos a utos de Natal , co mo cm o utra s peças teol ó gica e did áti c a do Evange lho , co mo a
reli giosas, o robusto prazer se nsua l e a pied ad e introduz ida pel o s Padre s da Igr ej a so b a c úpu-
singela estão intima men te liga dos . () monge qu e la da H ag ia So phia . e m Cons tan tinopla. o no r-
es creveu o manuscrito de Hesse co loca urna es- te prefer iu a s dan ça s de d iabo s e as lu ta s de -t2. ( \ ·n;1de N a t~1 1 co m "a pro vadura de bo linho s" . uma ser va qu e pre para c ex pe rime nta () prato loca l para a part urie nte
tranh a cunriga de nin ar nos I;í bios do Menino es padas . às ve zes de rea lism o tão c ru e l q ue M aria . Piu uuu mura l na (·;IPc!' 1do cu cte to d e Hoc hc p pa n. sul d o Tiro l, séc ulo X II.
Jesu s na manjed oura: " Eva. e."a. õta ri« licb c alguns es pec tado res m en o s av isa dos fi ca vam
mu tter "'.\'11 , sal ich \ '011 deli jodcn litcu g rasse tomado s de horror. A crónica do bi spo Albert o
pin" (''Ai de m im, ai de mim, Maria, m inha mãe da Livôni a registra . c o m satisfaç ão questio -
q uerida, os judeus me farão so frer tão grande nável, qu e se us co m patri ot as, de mane ira a l-
do r"). M aria o co nforta: " 5I1'i g<' libcs /':i(/(I"'.\'1I g lllna covardes. fu gi ram apavo rado s do Lud us
icsu christ, 1>"11'<'."11 dein nutrtcl uirht ; 11 dicsrr Prnphetarnm Orn atissimus, re pre se nt ad o cm
frist" C'Q uieto, qu ieto . q uerido menino Jes us 1204 por c'!érigos de Ri ga .
Cr isto. não la ment es agora a tua mort e de unir- Um au to profét ic o le vad o do , a no s an te ,
rir" ). A to sca co micidade de ta berna é rcpcnti- em Regen sburg (Rnu sbona) . e m I 1') --1 . não
na ment e sobre puja da pela prem oni ção infantil ca usou p ânico . e mbora abarcas se .1 cria ção do ~,
da sua Pai xão vindour a. anjos, a q ue d a de L úcifer e seu s sl'g uid o re s , a
Na R cp resentacion dei N aci m irn to d e cri ação do homem e o Pecado O rig ina l. Tal -
N nestro Sel101; um au to da Na tiv ida de escrito ve z as reuumçõcs f O;-iS l"IH mai s modexta s - ou
pe lo poeta espanho l Gomez M anrique e m me a- talvez os ha b ita nt e s de ssa c idade cosm o po lita
dos do sé cul o XV, mostra m ao men ino na ma n- do D an úb io estivesse m m ai s famil iarizado s
jedoura os in strume ntos da Pai xã o : a ce na ter- co m os efe ito s d a s p ro fec ias. pcl os Se rlll(,es
mina Com uma ca ntiga de nin ar, ca ntada e m q ue o uvia m . A lé m di sso . o povo de R,>gen sburg
forma de salmód ia e, a cada es trofe . a po iada vivia numa cnc ruz ilh.u la de intl uênc ias bi za n -
por um duplo grito : "ii." do lor'" tinas e a ntig a s : talve z co nhecesse m não ap'~ ­
O pin to r fla mengo Ro ger van der Weyden nas as hi stúri as ele Ba luão c seu asno. dos trô:
inco rpo ro u. no seu ret ábulo do s l\ la gos (A lu: jo ve ns na fo rn a lha arde nte e da s profec ias das
Pinakoth rk , Mu niq ue), a idéia da C rucifixã o S ib ila s. ma s ta mbé m so uhcsse m co mo Virgílio
ant ec ipa d a na m anj ed oura . D iscr et a ment e , devia a pre se nta r-se na fu nçã o de tcst e m unh u
quase de s per ce bido. um cru c ifixo c su i coloca - da histór ia do m un do p r é-cri s t ão .
d o junto ii ar cada cent ra l das ru ínas da Nativ i- O de senvolv im e nto po sterio r do a uto d e -13. ( )s Tr ê s Reis l\la ;.! us r um I lcrod c s. a c u jo pés se cn co uu um <e nmndo x If""S escribas . Min iatura .I II Codn ..\ 11I1"" .\" de
dade . ( Uma có pia cont emporânea Jo I\ks tre Na ta l não fo i. de m o d o a lglllll . iuttu c nci. ulo Eclm-m ach . c'. 10 20 INurc mbcrc . (i LTlIltl ni sl'!ll".'i Nntionulmusc-um L

• 240
por disputas teol ógi ca s eruditas. Tend o se li-
vrado de tod o o lastro do Vel ho Testam ento.
Hist ório "' u u li i" l d o T e a t r o .

fam a de se u príncipe. Muito v iajad os e ex pe -


rimentad os e m tod a classe de mi ssõe s deli ca-
T 44 . Sa ltimba nco com m aca c o . Bai xo relevo rom âni-
CO o Catedral de Baycu x.

el e co nser vou a magia da m anjedour a de Belém da s. puder am com frequ ência co m pa ra r-se com
até hoj e, enriq uec ida pel o s mai s diver sos cos- os m elhores repr esentantes d a nobre za e m ha-
tumes populares locais. bili d ade d iplomática e cu ltura g eral. " Eu vivo
na ge nerosa família do Landgrave" , c a nta Wal -
ter vo u der Vogelweide a respe ito de si m es-
AUTOS P ROF A NO S m o, " é de m eu feiti o estar se m p re e ntre o s me-
lhore s" .
Crónicas, trat ados e ed ito s da Igrej a refe-
Jo c u lat o re s , Men e str é is e rem- se ao s canto res ambulante s - o s ruenes-
Errant es tr éi s . m ini s ter íales , nii nstrels , nuin est rel es ,
m eurtricrs - e co nta m qu e el e s " serv ia m" a
Os mesmo s a rgum entos co m os q uais o se us príncipes com o alaúde e a s c a nções. Por
estadista bizantin o Zonara defendia, por volta fim, e ssa de signação acabou se fundin do qua-
de 1100, a reab ilit ação dos atu res da cort e fo- se indistint amente com a à de joculator , her -
ram prop ostos mais tard e a um gove rnant e oci- dad a da A nt ig üidade , ao termo fr ancêsjOllg lell r
dent al por um outro interc essor afi cionad o dos e ao a lemão Spileman.
autos. Na co rte do rei e spa nho l Alfonso X de É ve rda de qu e Afon so de C a ste la - o rei
Castela (1252-1284 ), o tro vador G iraut Riquier erudito, poeta e astr ônomo - recusou a Riquier,
pediu ao rei para estabe lecer. co m a força da o mai s nobre de se us tro vadores , o rec onheci-
sua autoridade rea l, um a nomencla tura precisa ment o le gal qu e ele tão fer voro sament e dese-
par a os menestréi s, de m odo qu e os artistas " no - jara . No e nta nto , os suce ssor es d o rei Afonso
bres" e os " vulgares" pud essem se r diferencia- se ntira m-se tanto mai s a ns ios os por se ver re-
dos uns dos outros. Não era justo , e le argumen - tra tados no Tratado de Batallas c o m o so bera-
ta va, trat ar os ma is altos repre sent ant es da arte no s de O riente e Oc ide nte , ador and o a atitude
rec itat iva, cu jos ver sos be m -torn ead os e ca n- de p rínc ip es cleme ntes. rod eado s de neg rinhos,
çõ es divertiam a cort e, da mesma fOl111a q ue toda bufões e s ímios burl escos.
a h oste de palh aço s , buf ões , c o m ed ia ntes. O s bufões, sa ltim ba ncos m úsicos, d ança -
ch arlatães e domadores de anim ais que desem - rin os e do m adores de animais da Idade Média
~.~ p
penhavam seu ofí cio na praça aberta do merca- ce rta me nte não podi am reclama r de qu e sua " ' ...io... •

do, diante de q ualq uer um do povil éu. exi stênc ia fosse dei xad a no esq uec im e nto. E les ".J~. tl : -J:;' ,
/ .- ;.: " .
A decl aração rim ada e c he ia de ben evo- so brev ive m nos p órticos das igrej as. no s tím -
lên cia que Riqui er afirm ou ser a respo sta do rei pano s e ca p itéis , nos pa in éi s d o s c o ro s, em
a seu ped ido prov avelment e partiu de sua pró- cornijas. m anuscritos e o bj e tos e sm a ltad os e
pri a pe na. O único regi st ro ofic ial que tem os é de marfim - retratados no s ma is e s me ra dos
um a ju stificação para os autos nas igreja s, co n- de ta lh es e variedade .
tid a nas Leves de las Partidas, o cód igo de leis No s séc ulos VII! e IX . o moste iro de SI.
com pilado sob Alfonso X . Depoi s de ce nsurar Gal! c o ns ide rava um pont o de honra re ceber o
se veramente toda a "libertinagem bufa que di- senh or feudal não apenas co m c ântico s pi edo-
minuía a dignida de da Ca sa de Deu s" , e le afir- so s. ma s co m mú sica , dan ç arinos e acrobatas.
m a: " Mas há represent ações permitidas aos sa- Seu s N a tai s era m tão fam osos qu e. e m 9 11, o
ce rdo tes, Como por ex e mp lo a do nasci mento rei Conr ad o I de cidiu vis ita r SI. G a l! par a vê-
de Noss o Senhor Jesus Cristo .." lo s pe ssoalmente . (Por outro lad o , São Luís, o
Essa s palavras não sa tisfizcram o orgulho Pi o , não se interes sava por es se s e speuic u lo s:
do a mbic ioso tro vad or Gui rot de Riqui er, Ele. se u c ro nis ta Theganu s nos co nta qu e e le nun-
poré m, teve de co ntentar- se com o favor pes- ca ri a . m e smo nas fest ivid ade s m ais a leg res,
soa l qu e alca nça ra e . co m ele. as ce nte nas de qu an do bufões e mim os, flautist as e toc adores
menestr éis, cantore s e m úsicos , extrema men- de c ítara faziam rir a todo s os prcsentcs.) A jul-
te so licitados como poetas da co rte. oruani za- gar pela biografi a do erudito ar cebispo Bru no 4 5. Sa ltimba nco e S50 Jo âo Eva nge lista . Min iatura s de um co men tá rio de Bcat us so bre o A poc a lipse . Manuscr ito
do res de fe stiva is. co nse lhe iro s e ara uto -, da de Co lô nia. escrita por Ru otge r. a herança tea- e span hol do mo ste iro de Sa nto Do m ingo de Silos, c. 1100 ( Lo ndre s. Briti sh Mu seum ).

• 2./2
"
·T'
",

trai da Antig üidade estava tão em evidência nes- de Kreu zenstein, do século XIV (da qual só
I se tempo quanto a comédia atelana. As far sas e restaram fragm entos) prescreve um balé for-
! auto s de mimos - ele nos conta - com os quais maI para Sal omé e qu atro de suas don zela s,
OS outros sc torciam de rir, Sua Eminê nci a so- decert o não preten dia qu e fosse interpr etad o
mente os lia co m propósitos sérios: na verdade, por desaj eitados monge s . Para isso. co ntava
ele pen sa va muit o pouco no cont eúdo dessas com o menestrel erra nte e sua companheira de
com édias e tragédias , e muito mais no se u va- ofício, a sp ilwip, J á no início do século XII, a
lor como modelo para figuras de oratória. eremit a Frau Ava, que vivi a perto de Gõttwei g,
A Co m edia Bile dos peix es falant es, uma junto ao Danúbi o, escreveu um poema rim ado
farsa popul ar de ventriloquia do s histrion cs do sobre João Bati sta, aprese nta ndo Salomé co mo
final da Anti g üidad c, também so breviveu até uma sp ilwip; co nhec edo ra de toda s as arte s da
o séc ulo XV co mo um número de ' g'ala do s pant omima e da dança: " vil wol spilt div nuigct.
mimos. Dan ça s de animais. imitação de suas Si bcgut tde 11'01 sing cn. snacllichlichrn sp ring cn
vozes e a far sa de tipos como meio de crítica niit herpliin vud c mil g igcn, mit o rg el/ cl1 \,I1'!c'
soci al eram as fontes inesgot ávei s do mimo. mit h TCI/ " (" Co mo atua bem essa moça. S ab e
Qu and o, no séc ulo X, o Ecbasis Cap ti vi se ins- como ca ntar e da nç ar co m agilidade, ao so m
piro u em Esop o, num a alego ria di vert ida qu e da harp a e do violi no , do órgão e da lira" ).
zo mb ava da vida monástica tran sp ondo-a para Assim a Sa lo mé da regi ão do Danúbi o,
o reino animal. seu autor clerical beb eu da de 1120, que F rau Ava fa z aparec er em "c lum i-
mesma font e que os ousados mimos e j ocula- chlich em gaerwe"; em trajes reai s, é a própria
tores. Quando o trouvcrc pari siense Rut eb euf, ima gem da mim a bizantina descrita por Cri sós-
em seu Dit ele l 'Erb crie , apresenta um médi co tom o, por vo lta do an o 400 .
charlat ão qu e se gaba das centenas de medica- Mas na vid a mon ásti ca do séc ulo X II! os
ment os qu e ex pe rimentou no sultão do Egito. deu ses so rria m até me sm o ao mai s pobre ac ro-
revive ne ssa person agem o curande iro da An- bata . A lenda fran ce sa Lc Tomb cur No tre Dome
tig üidade, tant o quant o o Mc nator no auto da conta uma hist ór ia comovente. Um acrobata,
Priscoa . Esse papel é sempre do jo clI/ato r , tan- cansado de vagar pelo mundo , rene ga seu di -
to nas c a n ç õe s de nu'nestrcl e do s g olia rd i. nheiro. cavalo e roupas. c ingressa num m os-
qu ant o no d rama religioso. teiro. Toda s as noite s, secre tame nte, ele desce
Sozinhos ou aos pares. esse s ar tistas apre- ii cripta, onde lui uma csnit ua de Nossa Senh ora
sentavam suas ce nas co m trajes C' rnaquiagern. na capela . Ti ra seu h ábito. veste sua camisa
Gestos vívid os e dan ças suge stivas rev elam o fina e a vene ra , n ão co m ora ções. mas co m
joculator. por toda s as suas ambi ç ões Iitc nirias, dan ças ac ro b átic as . E xecuta os sa ltos fran cê s,
co mo um sucessor di reto da arte decl arnut ória es panho l e bret ão, " rodopia se us pés no ar" ,
dos mim os e pant om ima s da Anti gu idade - ca minha apo iado nas mã os - até que . exausto.
e mbor a e le tenh a tomado a hi stória b íb li cn do desm aia , O abade, adv ertido de se u estranho
Filh o Pródi go do " poema dram.itico" francês co mporta me nto, o o bse rva secretamente e te s-
Courtois dArras, escrito e recitado por um temunha um milagre: Maria desce do Cé u e
j onglcur por volta de 1200. De sua participa- aban a o acrobat a prostrado , Profundamente co-
ção nos m vst êrcs miu u's não h:i dú vid a alg u- mo vido, o abade o toma nos braço s e o ad mite
ma . Qu and o Filipe, [)Justo, fez represent ar em
pant omima toda a Paixão de C risto em 1313 ,
durant e os festejos em honra do rei da Ingla-
terra , com ce rteza foram "ate res profissionais"
qu e se ocupar am da express ividade exig ida
pel o auto mudo. E quand o o autor da Pai x ão

-l.ú, Mcucsudi s lI ~a lH ll ll';\Pll lC S coru ~ ll l/ ( l'i . d:IIl , ',JlilIU'i 1l1a\ l' ar ados c Ç (; Il ~I'i de- dom ad ores d e ca val os , T\largens in fc. 4 7 , S a lll lll é 1.L.1I1\';I di an te de He rode s. Miniutura do
riurc 'i urn unu-uta dn s th-fi~~llr:t \ do I.i N/I I!/ u lI s 11"\//\ 1/11111"1'. "~ l'll l \l X IV (M v. Ho d lc-inu u 2(1:). O x íurd).
Jl nrt l /\ I>dici u r i ulII de 1I1.'l T'H1 de l. nnü-bcrg. \ CCll\O XII.

.. 2-15
T • :\ t dod c M él/i l l

na co m unida de do s fra de s. Mas o rde na -lhe e le ríve l ex periência de 11m sacerdo te. Certa noite,
qu e co ntinue fazendo o " servi ço" di ant e da no co m eç o da primavera . pa ssou junt o dele. no
imagem da Virgem , a t é q ue o " tum beor No strc ar. uma hoste sel vagem ent e mascarada. ulula n-
Dam e" morre e m bem-a vcnturança. A ópe ra te e exaltad a de dem óni os co nd uz ida por um
d e Masse net , Lc Lon g lcu r d e Not re Dam e g iga nte a rmado co m um a c lava . Er a a ca çad a
( 190 2), é baseada ne ssa ve lh a len da. se lvage m dos arlequins. zfam ilia H erlc chini.
Co nta-se qu e Santa An gús tia de Lucca re- M enos de cem ano s ma is ta rde , Peter de
compensou um violinista co m seu sap ato de ouro B loi s, na sua dé cima quarta epís tol a pa ra os
e que a M adona de Rocamado ur teria baixado o fic ia is da corte do rei in g lês ( 1 175) men cio-
uma lâmpada do aliar sobre o instrumento de um nou o s fe ito s nefa stos do s a rle q uins . E les e ra m
humi lde joculator qu c a venerava. E, com o no filh o s de Sa tã, di zia. im agem d o gê ne ro hu -
fim de contas a Ig rej a não podia ficar atrás de man o pre sa da va ido sa mundan id ad e; se u lí -
suas própri as lendas, todas as interd ições não evi- der, o arq uidern ônio. não tinha o utro obje tivo
taram que os vagantes e "habi!idosos menestréi s" se nã o o de aco meter a Igrej a e todas a s suas
fossem emprega do s co mo mú sicos nas igrejas. o bras e levar à tent ação e ao pe c ad o até o ma is
Finalmente, também aos joculatores deve- virt uo so e sábi o dos homen s.
se ag radecer a co nservação de uma das form as A amiga mesni e Herl equin fran cesa é um a
teatrai s mai s anti gas e populares : o teatro de bo- d as inúmeras ver sões da caçada se lva ge m, cio
necos e marionetes. As figuras art icu ladas, movi - e xé rc ito d e alm as pen ad a s, d o ex ército dos
das por cordéis e varas, como retratadas no Hortus m ort o s - todos pro fundamente enra izados nos
Deliciarium de Herrad de Landsberg, gozavam c u lto s d emoníaco s pag ãos. Se us atributos são
de tanta popularidade qu ant o os bon ecos do imor- m á sc ar as de animais a pav o ra nte s , lob os e ca-
tal espetácu\o Punch /I/Id Judy, nos quai s os ala - cho rro s co mo acompanh ante s, o bimbalhar de
res ficavam oc ultos por uma co rt ina atrás de um a sino s, urros e fúria. assobios e g ri to ». S urg e m
barraca. O palco dos bo nec os podia, na ocas ião. a ss im e m muit o s ex e m p lo s. d e sd e a hos te
ser esple ndida mente trabalh ado, co mo testem u- ge rmâ nic a de Od in e suas mu ita s derivaç ões
48. llusic nista. Pintura de Hie ru nymu s Bosch (St.-Ge rl11a in-en-Layc, l\lu séc Munici pal). nha um a miniatu ra no manu scrito flam engo do no s c o stume s pop ulare s. até o s lo biso mens na
século XIV, Li ROII/lI11S du Bo in Roi A lixandrc , Á s ia M en or e , mai s tard e, na s ile nc ios a apro -
em que o palco é eq uipado co m am eias e balcõe s x imaç ão de um ha lo de neblin a no Erl k õnig
e os guerreiros estão ladeados por duas sentine- (O R e i do s E lfo s). de Goe the . O arquidem ônio
las arm adas com clavas e maças. A sociedade cor- H e rlequin acabou em pres tando seu nom e ao
tesã pare ce incitada a uma viva discu ssão pe lo Arl ec chi no ela COIIIIIl Nlia deli 'rt rt r.
co nteúdo da peça. U m tema de tão ampl as poss i- A da m ele la Halle. ex -teó lo go , apaixo nado
bilid ades e tão rico e m elementos lend ários e his- defe nsor da justiça, poeta e mú si co . co nfio u um
tóricos quanto o romance de A lexandre exig ia impor tant e pap el ao Hcrl ekin Cro qu csot e m se u
com cert eza do titerei ro medieva l um a familiari- 1<'11 de III Fcuill ce (Jo go da Ra mada). Nesse auto,
dade não menos por men or izada de se u ambicio- qu e fo i a prese ntado e m Arras. e m 1262, a per -
so lema do qu e a exigi da do lI'aym lg indonésio so nagcrn C roquesot surge co m uma m áscara de
ou do artista do bunraku j apon ês. Num aspec to. demônio peluda e de bo ca gra nde . "Me sied-il
entretanto, o titereiro medi eval levava vantage m : bicn, li hurcpiaus'l", são suas primeira s pala-
não preci sava fazer co m q ue sua hoste de heróis vras. com as quais se ap resent a ii p latéia, ao to-
aluasse, sem interrupç ões , por horas a tio, nem q ue dos sinos da hoste de a rleq u ins qu e passa
renunciar a uma boa refeição com os servos - ou, ulula ndo pe lo s ar es: "Não me cai bem e ssa
se fosse aceit o como igua l. na mesa do senhor. m á sc ara, essa careta desgre nhada'?" Possivel-
ment e ta m bém usava um ma nto vermelho com
D o P ré s t i t o d e Máscara ii P e ç a c apu z, que , como vestime nta comum ao d iabo
e ao a rleq uim. ser ve para ide ntifi c ar a am bos.
d e Pa lco
LI' Jru de la Fcuille« de Ad am d e la Hall e
po de se r co ns ide rado o mais a n tigo d rama pro-
49 . T irerelros aprese ntando-s e para li rei. Miniatura do It onus tsclícianun de Herrad de La nd sbe rg. séc ulo X II (o O cronista norm ando Orderi cus Vitali s des- fa no fr an c ê s . Comb ina e le m ent o s c u ltuais.
ori ginal foi destruído pelo fogu cm Estra sburgo , cm I X70 }. creve u, por vo lta do fim do séc ulo XI, um a ler- C0 1lt ," de fadas e superst ições d e uma mane i-

• 247
Hí s t oría Mundial do Tc n t r., •

ra inspirada. Foi a despedida imaginativa e Os autos de Neidhart alemães tiram seu


espirituosa do autor de sua cidade natal, Arras, nome do trovador alemão Neidhart von Reuen-
antes de partir para Paris e para a universida- tha!, um cavaleiro e vassalo do duque da Bavária,
de, certo de que sua platéia entenderia perfei- ano II. Por volta de 1230, Neidhart von Reuen-
tamente as suas alusões diretas ou disfarçadas. thal tomou-se desafeto do duque. Mais tarde en-
A ruidosa e desenfreada festa dos arlequins controu refúgio na Áustria, onde rompeu com
falava ao coração de sua época e de sua cida- as convenções poéticas das minnesang, que na-
de, assim corno a sua sátira, repleta de alu- queie tempo haviam se tomado rígidas, trans-
sões lógicas, grosseria e encanto, malícia e pa- formando-se no representante máximo do que é
lavras mágicas. conhecido como "hõfische Dorfpoesie", isto é,
Vinte anos depois, com seu leu qe Robin "poesia das aldeias sob influência da corte".
et Marion, uma graciosa pastourelle com Mediante essa nova forma, uma ponte é
acompanhamento musical, Adam de la Halle construída entre os costumes da corte e os dos
antecipou o modelo dos autos pastorais da aldeões - expressa tão bem na antiga cerimónia
Renascença. popular da colheita anual das violetas, da qual
No decorrer do século XIV, a [amilia tanto os aldeões quanto os cortesãos participa-
Herlechini emancipou-se de uma forma das vam. No antigo auto de Neidhart, a duquesa da
mais prosaicas. Na Charivari, os arlequins Áustria promete ao Cavaleiro de Reuenthal
desmitificados transformavam-se em demónios elegê-lo seu "amante de maio", se ele lhe entre-
barulhentos, que saíam às ruas fazendo mal- gar a primeira violeta.
dades e perturbando o sossego. A Charivari Precedidos por flautistas, os senhores e as
era uma espécie de parada carnavalesca de damas da corte dirigiam-se em cortejo festivo r
í
bufões; seus participantes assustavam os ho- ao campo, às margens do Danúbio. Neidhart
nestos burgueses com empurrões e com o ba-
ter de panelas de cobre, chocalhos de madei-
acha a flor que contém tantas promessas. Ele a
cobre com o chapéu e se apressa a contar à
-- r-'
.,i
-, I

ra, sinos e sinetas de vaca. duquesa sua "grande alegria". Mas os campo-
Sob a proteção de peles de animais e más- neses, que tem contas a acertar com Neidhart
caras grotescas, a mascarada, que em Adam por causa de seus versos satíricos, amargam
de la Halle apresentava ainda um aspecto de seu triunfo. Quando chega acompanhado da
comédia e teatro, se convertera agora num fim nobre dama e com floreios levanta o chapéu,
em si mesma, alheia a toda intenção artística. encontra sob ele algo bem menos aromático
Demónio ou bobo, o mascarado podia estar que uma doce violeta.
seguro de sua impunidade para todo o sempre. A primeira versão do auto de Neidhart está
A liberdade dos bufões é a única que a huma- conservada num fragmento de um mosteiro
nidade tem preservado, da pré-história até hoje. beneditino de São Paulo, em Kârnt (datado de
Nenhuma regra de moralidade e decoro aproximadamente 1350). A peça provavelmen-
punha limites às algazarras noturnas. Não ad- te deve ser recitada por dois menestréis, e ela
mira que a Igreja exortasse clero e leigos a "não é teatro no sentido de que seu tema é um festi-
assistir nem tomar parte nas festividades cha- val de primavera, em campo aberto; não obs-
madas Charivori, nas quais o povo usa másca- tante todas as piadas rústicas, ainda é um poe-
ras de demónios e coisas terríveis são perpe- ma distinto e cortês. No final, todos se reúnem
tradas". numa roda para dançar e concluir a peça numa
Os autos de Neidhart, desenvolvidos nos atmosfera geral de dia de festa.
Alpes austríacos e no Tirol, pertencem à tradi- Na versão tirolesa, mais extensa, do auto
ção ligada ao solstício de inverno, ao Carnaval de Neielhart elo século XV, a recitação por duas
e aos ritos da primavera. Remontam a costu- pessoas se transforma na riqueza elecenas e ato-
mes como o da eleição de um rei e de uma ra- res elosautos da Paixão. O cenário muda do pra-
inha de maio, na Festa de Pentecostes, lembran- do primaveril para a cidade. Nada menos do que
50. Mencstréis. Miniatura do poema satírico Roman de Fauvel, cujo herói é representado pela figura de um cavalo. A
do a italiana "sposa di niaggio" e o "Lord and cento e três atores participam da peça. Trajes
serenata a uma viúva que deseja se casar corresponde ao Charivari. com instrumentos musicais e ruidosos, como era
Lady ofthe Mav", o equivalente inglês do Robin típicos coloridos, gestos animados, episódios costume nos cortejos de mascarados da "mesnic l Icrlcquin" francesa c nos cspeniculos das farsas. Manuscrito de Gervaisc
ct Marim? de Adam de la Halle. humorísticos e grotescos, um contraste óbvio du Bus, anterior a 1314 (Paris. Bibliothcquc Nationale ).

• 248
H ís ns rí u .H u lf tl i Cl I (/(1 T Clll r o •

5 1. Nci.Ihart (' II \ í o h' fCl. Xi logmv ura . pnw <l vc lmcn _


te de um a impressão de Augshllrg. Ante rior a 1.500 .
T
I
52. O Rei Davi. seg uido pu r U IH vio linista c um locador
de a laúde. dan ça diante da A rca d a Alia nça, puxad a por
lima junta de bo is. Mini atu ra d a B íb lia do rei Vencesla u
IV. Cor/ex víndobon, 29 60 . C. 1-1-00 . Os músi cos das cida-
des C lia corte bo êmia s já e ntão gozava m de grand e fama
S e u pred ece ssor , o funilei ro e a rmeiro de (Vie na. Ôsrerre ichisc ne Nationa lh ihliothc k).
Nu re m bc rg , Hans Rosen pl iit, le va ra a a ntiga e
tradi c ion al for ma de co rtejo , com suas piadas
de di sfarce e de smascaramcnto de identidades
sec re ta s, a um rude grote sc o d e a ne do ta e m
ver so , a c h amada Scliwank. Han s Fo lz er a co -
nh ecido p or se us contem porâneo s e c o m pa-
nhe iros d e o fício como o "Schn cpp erer" (o
sa ngrado r). Ele não apena s des fe ri u poderosos
go lpe s na co ntenda entre o povo de N urem berg
e o m argravc de Brandem burgo . co mo tam bém
co m as falas elegantes e co rteses e co m as ro u- ex alto u a burg uesia em seus Fast nuchts spícle,
pa s do s cava le iro s tran s formam o ro mance ou auto s ca rnavalescos nos qu ai s fa lava co ntra
nu ma turbul en ta co mé dia cam avalesc a. O In- os nobre s c ava leiros polí tica e m or al men te de -
fem o intei ro desata-se agora em tom o do inci - cad e nte s. N uma das peças a ele at rib uídas , Des
den te da violeta, dem ónios entregam-se a uma turken vasna-chtspil (Aut o Carn aval esco Turco).
d iscu ssão baru lhenta, ca m po neses com pernas va i tão lon ge a po nto de co ntras tar o Oriente ,
de pau dança m sobre se u fantástico brinqued o "o nde o sol se levan ta , e a s co is as e s tã o bem e
e velhas megeras lutam co m es talaj adeiros. É e m pa z" , :1co rro mp ida s ituaç ã o de s ua pátria.
q uase um pren úncio de Han s Sach s que, em Pa ra re fo rçar o argum en to , o a ramo . q ue pre-
1557, reescreve o trad icion al auto de Ne idhart, s ide e apr e se nta todo o co rtej o de participan -
tran sform ando-o no carn ava lesco Schwa nk. te s. inclu s ive o esc udei ro tu rc o . fa z um pro -
nu n c ia m e nto evidentemen te c ríti c o : " Se u pa ís
é c h a m ado Grande T urquia, o nde ningu ém
A u to s d e C a rl/a va l preci sa p agar impo stos" . Seg ue- se e ntão toda
so rte d e di spu tas ru idosas e v io le n ta s a mea -
o co nselho da C ida de Livre de Nure mberg ças e ntre o s cavaleiros c o s de le ga do s d o im -
era compos to de homen s m uito preocupados perado r, do pap a e do g rão -llIrc o . q ue rep ro va
co m o decoro e a or dem p úblicos. E uma vez os c ristãos po r sua "arrog ânc ia. u sura e ad u l-
qu e seus porta-vozes e ram pessoas inteligen- té rio " . O s c ristãos respo nde m a v isa ndo ao mu -
tes, sabiam qu e a prim eir a co isa a fazer e ra ç u lm a no qu e vão escnnh o.i-lo com u ma fo ice
co ntrolar os entretenime nto s. Assim, em 19 de e lavar seu ro sto com vinag re .
ja ne iro de 1486. ass inaram e selaram um do- D o is burg ueses de Nure m bc rg têm de in-
cume nto estabele cendo qu e er a permiti do ao te rr o mpc r se u trabalho para asseg ura r um sal-
" mes tre Hans, o ba rbe iro , e ao rest o do se u vo -cond uto ao hóspede malt rat ado . Ag radeci -
grupo" apresentar-se nu m a uto de Carnaval em do . o turco parte com gratidão e bên çãos de
ve rso , desde q ue obse rvasse m decoro e não re- pro sp e rid ade. c o arauto anuncia u m a m uda n -
cebess e m d inheiro por e le. ça para u m lugar melh or. Essa é um a co ncl u-
O mestre Hans a quem era dada essa permis- são fr equ en te dos autos ca rn a va le scos , qu e
são era Hans Folz, nascido em Worrn s, mestre sug e re. corno nas cen as orig ina is d o s co rtej os .
cirurgião e barbeiro, que vie ra para Nure m- qu e tudo se repetir á algu ma s ru as ad ia nte.
berg em l479, ficando logo co nhecido co mo rea- U ma antiga pou sada o u tabe rn a. co m ce -
lizador e autor de peças ca rn avalesc as dc robus- nári o ade q uado , podia se rv ir co mo lo ca l de re -
ta co micidade. Suas atividad es encontraram um pre se nta ç ão se m preparativos espec ia is. Um ta-
ca mpo ideal em Nurern berg, co m sua con stitui- b lado d e mad e ira so bre ton é is. um a pa rede 53. G ravura do Irom ispfci o do a uto ca rnava le sco O
ção aristocrá tica , sua riqu eza. se u orgu lho bur- co mo fun do e uma port a pa ra a s cnrrudas dos Mercadorde Indulgências. de Ni klaus Ma nuel. 1525 (Bcr-
guês e artesão. seu culto às artes c as ciências. atore s. tal vez uma mesa ou cad ei ra se rvindo na. Slaulbihtiolhck).

• 250
H ís t orí a l\ / lI ll d i Cl I d o T e a t ro •

54. 1\ Mulher A tirada c u M ulh er Reca tada . X ilogra-


vura de um ~H1 W carn avalesco. de Hans Fo!z. N u rem be r~ .
(', 1480 .
T
I
g icame nte , a palav ra tem raízes lin g ü ísti cas no
vocábulo do a lto- m é dio alem ão da Baixa Id a-
de Média, sche mb a rt, schenebart , urna masc a .
I
ra barbuda . G oe the estava familiarizado com
ela como ep íto me de mascarada. "M as diga -me
por qu e e m d ia s tão bon s, q ua ndo no s livra -
mos de preoc up aç õ es c usa mos belas m ásca-
ras barbu das .:" - d iz o Im perad or. na segunda
parte do Fausto.
Em Nuremberg, o Schemb artlauf, privilé-
gio alternad o das co rpor ações, rivalizava violen-
tamente e m cert os trechos co m o auto carnava-
de barr a de tribunais, balcão de loja ou tron o - lesco , O s digníssimos magnatas, por veze s de
tais era m os sim ples acessórios. Essas farsa s so - uma idade mad ura, que se dedicavam com pre-
bre os ca vale iro s, judeus e cl érigos, canônico s dileção a es ses fe stejos permitidos oficialmente,
e alcovite iras, imperadores e aba de s, acu sado - tentavam ocas io nalme nte ofusca r o prestígio das
re s e acu sados, médi cos e pacientes. ca m po ne- represent ações c arn avales cas. Em 151 6 , o Co n-
ses e damas da nobreza deviam tod o o seu e fe i- selim da C ida de concede u ao auto de Ca rnav a l
to à tirada de es p írito e à ag udeza verbal. A vi- um a licen ça limit ad a a do is d ias. " para qu e a
ta lidade do povo da cidade e o a leg re desfruta r SC""III1>or l não fo sse desacr editad a" .
da vida vio lavam todos os tabus. delician do o Nas reg iõe s a lpina s, o s autos de Carnaval
públi co co m falas rudes e diretas, tan to n o a s- e a Scltc/II/)a r l/oq(m a ntivera m seu es treito vín-
pecto sexual e fecal quanto no político e moral. c ulo com os costu m es pop ula res. A s co ntro -
As ve lhas se co nverte m e m j ove ns do nze - vér sias predo m in a nte s e ntre a ge nte da cidade
las na rod a do s bufões: juízes de paz matr e iro s e os campo nese s e ra m men os ace ntuad as - o u.
tiram vantagem de se us dem andantes . pr inci- ao men o s. não tão c arac terizad as - de mod o
palme nte se forem mul heres; um pai de trê s que o Schwan k tirolês, o u anedo ta cómi c a ,
filh os pIOme te sua herança ao filho qu e de - baseava se u efe ito no bom sens o inato e hu -
mo nstra se r o ma is rem atado caluniador c va- mor bon ac hão . E co mo o S u l se m pre tiver a
dio ; c am po nes es lascivos têm de suporta r p u - uma fraqu e za pelo N o rte , o s autos passara m a
niçõe s cuj a ob sc e nidade faria enr ubesce r u m situar-se na co rte do rei A rtur. A fa ma dos fei -
so lda do . tos he ró ico s d o le nd ário rei ce lta ha via se es -
Um tema favor ito dos autos de Carna va l. pa lhado j:í no c ur so d os séc ulo s X I e X II pOI
usad o mais de uma vez por Hans Sachs. era a interm édio do s rn cn e srr éis britân icos e bretõe s.
história de Arist óteles e Fíl is. O triunfo da as - e seus c anta re s ( Ia is) era m bem conhec ido s nas
túcia femini na sobre a erudição é um moti vo regiõe s ale mã s. N a S uíç a , o re i Artur, o mode-
qu e jü havia s id o exp lorado teatra lmente trê s lo do s rei s ca va le iros, tinha por co m pa nhe iro
mil an os ant es pel os sumé rios . A re solut a e o Anticrist o . tran sform ad o e m te ma fa rsesco
epi gon al Fíli s tenta agora co locar o mest re de no auto Des Entk rist VOSI/(/c !l1 (O C arnaval do
joelho s e fazê -lo andar de qu atro, apressan do - Anticri sto ).
o co m o c h icote de mon tari a. Nenh um a d a s impropriedade s dos auto s
Outro c ntrcte nimc nto qu e fa'z ia part e da s do su l da A le m a nh a. A ustr ia. T iro l e S uíça in -
divers õe s carnavalescas de Nurc m berg era a vadiram o s cí rc u lo s de L übcc k, o s c ha mado s
Sch embart la uf o u Schõnbartlan] , cu jos ves tí- Zirkelgcsellscluftcn , A di gn idade da s man e iras
g ios a ind a so brevive m e m cos tu mes pop ula- patríc ia s p ro ib ia q u alq ue r p iad a indecente e )5. As salto ao Inte rn o Schcmban. Nurernbcra . 15J9 . O Inferno é representado por um navio sobre rodas . reple to de
re s da Bav ária. da Áustria e do T irol. Etim o lo - ob scenida de s. A te nd ên cia para a alegor ia 1110 - mascar..rs de de món ios c de pássaros (do man usc rito Schctnba rt, Nor. K. 44 -i, Nurem bcrg , St adtb ibliothck ).

• 251
T
I
• .-\ Idllde M éd ia

5K t\1:b ,,:ara de cam uval. 14 X-4 . Es bo ço do a rmoria l


de G c nl ld b lllha c h {St aat sarch iv. Z u riqu e )

nado . Escr ita por um aut or desco nhecido . ro i


rep rese ntad a pe la pri mei ra vez por vo lta de
1465. Su a primeira edição. não datada. apo nta
para Ru ão como local de ori gem . O di álogo
mor da z, as fra ses polidas a de sem bocar em
bri ncad eiras grosse iras traem o co nhec imen to
do mei o profi ssional co ntempo râneo dos ad -
voga dos . A utor es posteriores. de Rabel a is a
Gri mme lshnuscn , da Henn o de Re uch lin às
Kl e in s tiid te r (O s Pequ en os C ita d ino s) de
Kotzcbu e, apro priaram-se do tipo est úpido c
co nfiante dessa farsa.
ral j á se fazia ev idente no a uto carnavalesco. M estre Pier re Pathelin é um advogado res-
Os regi stro s admini str at ivo s da c idade han- peitad o, verdade iro orna me nto de sua profi s-
se ática livre de Lübeck, dos ano s de 1430 a
são. No entanto , não ape nas é inescru pul oso
1515, mostram qu e esses cí rc nlos fraternos, como e nco ntra real prazer em enganar se u vi-
constituídos por mem bros do pat riciado, de- zinho , o neg oc ia nte de tecidos Gu il lau m e ,
dicavam-se à rep resentação de pequenas co- qu anto ao preço de alguns metro s da melhor
méd ias fechad as. Se u palco era uma platafor- faz enda . A lé m disso. aceita defender um pas-
:'6 . Festa da A .WlO numa catedral france sa. representa ção pro venie nte do séc ulo XV (Paris, Biblioth êq ue de J' A rse nal). ma so bre rodas pred est in ad a, já pela forma to r a qu em G uillaurne ac usa de te r lhe ro uba-
externa de carro-palc o , a ir ao enco ntro da s d o ca rne iros. Po ré m, depo is de co nse g u ir a
aspirações da peça de mor alidades . ab so lvição de se u c liente. Patheli n é cnganado
na mesm a moed a. Tendo oricntado o pastor a
Far sa c S o tti e fing ir-se de bo bo e só respo nde r " be -b é" a to-
elas as q uest ões na corte, qu ando chega a ho ra
" Mas volte mo s aos no ssos carneiros" - de pagar o ad vogado é cxaramentc isso o q uc
e m o utras pal avra s. tom emo s o mui c itado
co rp us de lict i co mo ev idê nc ia de q ue também
o csp rit francês não d ispensou o traje de bufão.
Co nta -se qu e as pa la vra s " Reveno us ii ces
II UJ 1l101l.1'' ' fora m usadas pela primeira vez num

palc o perto do Sen a, e m Ru ào . Elas derivam


de um gênero de represent a ção c uj o aguçado
es pecaçar teatral deve tud o à espirituos idade
gaulesa : a farsa.
Sua s origen s rem o ntam tunto às festas dos
bufões quanto às rec itaçõe s dia logada s dos
agress ivamente chistoso s rncn estréis. Sua bri-
lha nte entrada na hi stória da litera tura e do tea-
tro foi marcada por Maist rc Pierre Pathelin,
uma obra que trata de um trapac eiro trapacea-
do co m o negócio do carne iro acima meneio-
57 . "Ari st óteles c Hli s", tema que reaparece nos autos
ca rna valescos de Hans Sachs. mas q ue também pod e ser en-
con trado num a pintura mural toscana do século XIV. cm San
G im ig nian o . Xltogra vu ra de Haus Bu rgkm a ir ( Be rlim . 59 . Maist re Pierre I'athrlin, X ü o gru vu ru de u ma cd i-
Staa tlichc Mu sccn , Kupfcrstichkabinetu . ç üo de 1-190 .

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l í is t o rí a M'n nd inl d a T ru t ro • A I d a d e Mé d i ll

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aque le faz; tu do o qu e Path elin rece be, em ve z o jo ve m rei C arlos V II I e ra representado ale- heróis da far sa sã o tru ões e m traj es co m uns o u mesmo na ce na do ce sto . No teatro hol an dês.
do se u dinh ei ro, é " b é-bé" . go rica mente co mo um a fo nte cristalina "e nla- co rt esã os - os herói s da sottic são ge nte eo mu m e nco nt ra mo s um d e se us predecessor e s e m
O núcl e o da peça, natural mente, é o j ul- meada pel o s c o rte são s, poi s podiam pescar ou da corte e m vestime nta de bobo . Mij nhecr We rrenbrac ht, e mbo ra aqui a histó ria
game nto , q ue se per de num a co nfu são de as - melhor e m ág ua s re vo ltas" . Era uma picada A so ttic estri intimamente ligada aos Enfants aco nteça ao revés. \Ve rrenbracht é um respeitá-
sunto s irrel evant es a ele. Em vão o ju iz te nta num vespeiro. A te m pestade de prote sto de- S{I/IS Sal/ri (cri a nças se m preocupa çôe s) de Pa- vel burguês, atormen tad o pelo de stino e por se us
traz er o s litigantes de volta ao ponto co m o sencadeouse d e pronto. Eles mandaram pr en- ris e outros incontáveis gruposde tipo seme lhan- queridos vizinho s. Ele se faz levar à própr ia ca sa
seu "R evcn ons ii ccs 1I IO II lOlI S" . der o aut or e realizador da pe ça, Henri Bau de, te, que se espa lha ram pela França no século X V dentro de um cesto, para surp reender sua m al-
A crítica soc ial e a sátira encon trara m um a e tam bém o s a te re s . M as o Parl amento não viu Cada um po ssuía se us próprios estatuto s, seu vada cara-metade flertand o co m um padre.
ben vinda vá lv ula na farsa. Seus fundad ores ra zão para co nden á-lo s e, qua se e m conivên- próprio rei dos bufõe s, scu p rince des S O IS (prín- O Ta rtufo de M ol i êrc es tava a ca m inho .
eram advog ados e escritores, estudantes e asso - cia secreta, os libe rtou . cipe dos bobo s) e sua m ére des sot s (mãe dos Mas. enq uanto isso , havia as burl csqucs ho -
ciações c êuicas de c idadãos, erud itos erra ntes. A farsa triu nfa ra . Mais tarde, mud ou de bob os). Em co nce ito e imagem, a so ttie era real- landesas, as farsas Sot tcrniren e Klucht, c rué is
mercad ores e artes ãos. As melh ores e m astúc ia pena e most rou até hab ilid ad~ cortesã. Qu an do ment e muito ma is ant iga. Já no séc ulo X II. um e robu stas, qu e faz ia m um a po nte e ntre a fa rsa
e orig ina lidade era m as associações de ju ristas em 1499 o pal ác io arq uie pisco pal em Avignon entalhe de co nso lo na torre sul da ca tedra l de fra ncesa e o Fastnaclu sspiel ale mão . S ua s co -
conhec ida s co mo Bas oches , que haviam se es - foi prepa rado para a v isita do esca ndalosa men- C ha rtres mo st rava a mãe go rda e fe ia de um res são fartas e firmes, se u humor vigo ro so e
tabelecido dura nte o século X IV em Paris c na s te notório Cé sar Bó rg ia, nenhum esforço fo i bobo, co nd uzindo um asno a locar lira. saturado daq ue la a uto -iro nia arredo nd a, qu e é
provínc ias. Essas associaçõe s real izavam reu- poupado par a co nq uistar o s favores do imprevi- O pr ínc ip e d o s bobos e a mãe do s bob o s a marca do po vo ca m po nês na s pint ur as de
niões anuais, em qu e se entretinham com pa n- sível visitante . Assim, o sa pateiro Jean Bellieti , são os papéi s-títul o da peça m ais co nhec ida Piet e r B ru eg h c l, o Ve lho . A peça Kluclu qu e
tomimas e pequenos diálogos farsescos, Possu- um obscu ro precurso r de Hans Sach s, foi in- do parisiense Pie rre Gri ngoire, aut o r de sáti- está sendo levada e m se u quadro A Quer mes-
íam um estoq ue incrível de cenas de jul gamen - cumbido de mo ntar um a farsa apropriada para ra s e sotties. Seu l eu du Prince des Sots ct de se, em mei o a um a multidão feli z qu e co me,
to, casos fictícios de direito e problemas de ju- a ocasião. O cro ni sta cala-se sobre o sucesso la Mere Solte foi apresen tad o na terça-feira gor- beb e e d an ça , po de se referir ao Mi jnh e e r
ri sdição, vistos ao espelho distorcido da s átira a dessa empresa. De qu alqu er maneira, César não ela de 1512 , em P ari s; era um ali ado ataque à Werr ellbracht. H á uma mulher sentada à m esa
si mesm os. Sem dúvida, o autor an ónimo do saiu descontent e do pal áci o. E quando mais tar- Igreja, um pan or am a da época sob a roupa- com um galã a e nte rne cer-se, enquanto u m ho-
Maistre Pierre Path eli n veio da Basochc , Ex is - de Belliet i empo brece u, foi mantido por fun - gem da bufon ari a . mem co m um pesado fardo às costas es tá e n-
te uma pro va hi stórica de que a origem da farsa dos públi cos, poi s "com pe nsara a cidade, com G ringo ire era membro do s En fauts sans trand o na ce na . C lara me nte , a s co isas nã o vã o
rem onta a um edi to do Pre boste de Paris, de suas obras e farsas" . So uc i de Par is e . nã o à toa, o favori to de Lu ís aca ha r hem oNo fund o do pa lco . atrás da co rti-
1398, e q ue e la se desen volveu a parti r daí co m Co mo se u pri m o -irmão , o au to carnava- XII. O rei nã o pode ria ter desej ado propa g a n- na. algué m es tá receb e nd o um esc ahc lo . É fá-
as represent ações das Basoches du Palais de Pa - lesco, a far sa não nece ssitava de técnicas c ên i- d ista melh or e m s ua co n trov érsia co m o Pa pa c il de imag ina r a co nfus ão qu e cabe agu ar dar.
ris, doc u m e n ta d as de sde 144 2. Es tas e ra m ca s espec iais. Um sim ples pód io, com acesso s J úl io II. A so ttie , re present ada e m tr aj es de As farsas Sottern iciin e Klucht haviam sido
marcad as princi palmente para a terça-feira g o r- laterais ou por trás - co mo no palco de Terên cio bufão , fo i o ca ba ré político d o sé c ulo XV I. p re ce d id a s pel a s " c o m pa n h ias de b o bo s"
da e. alc a nçando um públi co bem maior do qu e - eram sufi cie n te s. A far sa viv ia da astú ci a A lém d e e scre ver souics, Pier re Gri ng oire. vustenu vondg rap p cn , a versão ho landesa dos
o círc ulo dos seus mem bros, eram muito apla u- verbal, não imp ort an do se seu palco fosse mon - co mo o se u c o n te m porâ neo Jea n Bou c het , auto s carn ava les cos . co m suas mascarad as e
didas co mo divert idas "buto narias" , tado nu ma sala pú blic a, num auditório da uni- ta m bé m re p re se n ta va o m ag is te r lu d i no s iden tidades trocada s. A s cró nica s muni ci pa is
A farsa não tinh a escrúpu los. S ua efic iên- versida de, nu ma casa part ic ula r ou no paláci o mi s tério s . A lém di sso , esc reve u u m a pe ç a de Dendc rmonde se refe re m. em 1-11 3. ao cos-
c ia de pe nd ia da auto- ironia, da zo mb aria d os arcebispa l. Si tua çõ es e person agens cóm ica s. exalta nd o o s fei to s d e São Lu ís. e foi ta m - tume há mu ito esta be lec ido de oferecer ao s j o-
ab uso s corre ntes. d a im pudência com q ue as identid ades tro cad as e plan os para enga nar a l- bé m um p rod u tor te atra l de sucess o. G ringoi re
polêmi ca s políli cas eram mordazmente d issi- g ué m o fe rec ia m es p lê nd id as oportunida de s é idea liz ad o na no ve la de Vic to r H ug o , O
mul adas co mo a legor ias ino fe nsivas. Qua ndo pa ra os dest aq ues d e atuu ção e torna vam -se Corcunda de Notre Dam e .
o marech al Pier re de Rohan teve de pagar po r assim um ince nti vo pa ra qu e os mim os profi s-
um processo de Estado co ntra a rainh a A na d a siona is viesse m aj udar o s a madores e co nse- So tte miec n, KIu cht e Peças
Bre ta nh a c o m se u descrédit o na co rtc . o s guir apl au sos es pec ia is . Ca mpo ne sas
parisienses p uder am divertir-se co m uma fa r- O que po d ia fal tar ao e lenco em técn ica de
sa de impac to certeiro. Um ferrei ro tentand o representação so brava e m indumentária e má s-
O Falst aff de As A legr es C om a d re s de
ferrar um a mula é recompen sado por seus es- caras. A barba c uida dosame nte penteada do Wilzdsor teve mui to s prec ursores · . na farra da
forços co m um pesado coi ce trasei ro. To d o s pomposo filisteu , as at itude s solenes do advo-
bebedeira. no parasitismo pimpão ii tripa forra
sabiam a qu e a grossa piada teatral aludia. A gado de peru ca e bec a, o ousado penteado da como bom companheir o, alegre pa rasita c até
anexação da Bretanha à Fran ça. a ferradu ra po - coeotte, os cos tum es requi nta dos dos cortesãos.
lítica, era a m alograda idéia diretriz de Roh an . o capuz de guizo s do bob o ide ntificavam as pes-
Entreta nto, uma irrestrita disposição agres- soas e o am biente da farsa e de sua irm ã gê mea ,
siva po d ia re s ulta r num epílogo judi c ial. mes - a sottic. Farsa e sottic di verti am p úbl ico e ato- 60 . Pri uci pe e l\ lã ~d o s To los. tron ti... picio de .IC tl du
mo na Fra nça d o séc ulo Xv, Em 14X6. a s res de forma tão ig ua l que é quase impossíve l l'ril1n ' dcs ."lo ls c / ( /cla .\1 ('1'<' SOf1<', de P ier re Gri ugo irc .
Baso clies de Paris mo ntara m uma fnrsa na q ua l determi nar uma d iferen ça precisa entre elas. O s rep res e ntad a c ru Par i:-- 1.:111 15 12.

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61. Palco de rua francês. c. 1540. Desenho (Ms. 126, Carubrai. Bibliothêque Municipale).

63. Palco de rua na Holanda, c. 1610. Detalhe de uma gravação cm cobre com cenas de qucrmcse. Segundo urna
pintura de 1610 atribuída a David Vinckboons. no Koninklijk Muscum voar schcnc Kunsten, Antuérpia.

62. Representação de lima farsa francesa em Paris, por volta de 1580. Gravura em cobre de Jean de Gourrnont.
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ve ns " peç as d ivertida s" no Carn aval. "goedc da An tig üidade , utili z a ra m (JS tem as pop u la-
solaselikc spclc", como as a presentad a s so bre res do passado e elo presente - do ven ded or de
os carros-pa lcos. ung üentos Mastickar da Boêmia ao Karagii;
E ssa s bufo na ria s usa va m as mesma s fo r- tu rco .
mas teat rai s do Corpu s C h risti e das re pre sen - Tod o s parti lha vam d o palco co m u m e
tações de le nd a s . A s So ttcrnie ên foram a lém. m o de sto - sim p les t ábua s so bre ba rr is o u pila-
n um parentesco an álog o ao da peça sa tírica da re s de m ade ira nas quermes se s e feiras, não
A nt ig üid ad e . F ormavam uma ret agu arda mais importand o se o s tr aj e s d os ateres e do públi -
aleg re de uma fo rma d ramática espec ifi camen- co fo sse m de c ampon e se s ou burg ueses ita lia-
te ho la nde sa d e teat ro, q ue su rgi ra no B ra ba nte nos, es lavos o u h ol ande se s . D el es era a sabe-
por vo lta d e 135 0 : os Abelespe le , prod uçõe s dori a elo s palhaç o s e b obo s , at empo ral e à
d ra m áti cas e r ud ita s , q ue no sé c ulo X V I se tor- vo nta de e m q ua lq ue r lu g a r d o mundo, O co me-
naria m a e sp eci a lidad e d o s Rederij kers , N os di ó grafo di namarq uê s L ud vi g H olberg, ao fi-
séc u los X IV e XV, na H ol an da, co mo e m to da na i de sua o bra Q ua rto d e Pa rto , re sumiu e sse
part e , não obstan te a s ele vadas reg ra s da p oe- fa to : "E ag ora vo cês v ira m , mi n ha boa ge nte,
sia . a fa rs a ta m bé m te ve se u lugar recon hec i- como a lgué m q ue a li me nta q uime ras torn a -se
do . N o fina l d o Abelespc le , os e spectadores bobo e é o bj eto d e riso" .
era m co nv ida d os a dar a sua a te nção e spec ia l
também à Sottern ie que se segu ir ia . A l e gor i a s e M ora li d a des
Naquela é poca, as burlesques e o s autos
cam po ne se s, q ue e stavam no m esm o nível das No final da A nti g üid ade , por vo lta do ano
Sottc rn ieen e d a s far sa s Klucht , começ ava m a 4 00, o retór ic o P ru d ê nc io es creve u uma o bra
tornar- se mu ito po p ul ar e s po r to da a E ur o pa . e m lo uvor à C ri s ta nd ade , c ha m ada Psycho-
Na Itál ia , os e s tudan tes da U nive rs idade de ntachia . Seu le m a - a batalha das virtudes e
P ávia levaram () Ian us Sacerdos e m 14 27 , e a víc ios pe la a lm a d o h omem _. viria a se r o fa-
Conu nedia dei Falso Ypocrito e 1l1 1437 , a m bas vorito do s a utos de m ora li dade , m il anos de-
peças q ue combinava m a sátira loca l com as pois . P rudênci o fo i o p rimeiro a personi fic ar
patu scad a s e ru di ta s . o s co nce ito s funda m e nt a is da é tica cri stã . E le
U m g ru po s ie n ês, a Cong rega de i Ro zzi , ha vi a fa lad o da Ecclcs ia ( Igreja) e da Syna-
ob teve tan to sucess o co m se us autos ca m pone- go ga , do Prínc ipe de st e m und o e da Roda da
ses q ue fo i con vidad o a se a pres en tar e m Ro m a Fortuna . D e sde e ntão, os escu lto res e m iniatu-
e no Vaticano . U m dos se us m e mbro s m ai s ati- ri sta s medievai s do iníc io do M edi evo os re-
vo s e ra o aut o r, a ror e e mpre s ário N icc o lo pre sent ar am. ante s q ue o teatro reconh ecesse
Ca m pa ni, c uj o ta len to o co locava na pr o xim i- o se u valo r cénico .
dad e imediata d o 1111111b O " R uzzante" , A ngelo Igr eja e S inagoga, Hipoc ris ia e Her es ia j á
Beolco de P ád ua : a m bo s fo ra m , c m sua o bra, hav ia m a parecid o a n te s , no A nti christ o d e
os precu rsores da Connncdia dc ll 'urtc. C a m pa ni Teg ern se e , c e sporad ica me nte e m a lgu mas
tomou-se te m a de conve rsa na c ida de de Ro m a Pa ixões. ma s some nte no século XV lhe s fo i
so b o nome de "S tru sc ino" , se u pap e l favorito da da u ma fu n ção d ire ta na a ção . Georg es
numa de sua s pró pri as peças . O pa pa Le ão X C ha ste lla in . cronis ta e diploma ta na corte de
não lhe po u pa va se us favo res , c e m 15 1S " Lo Fi lip e . o Bom . du q ue d a Bu rg úndi a, escreveu
Stra sc ino" a par eceu num ca sa me nto e m Orsini, e prod uz iu e m 14 31 u m a peç a c hama da Le
no qua l, dep o is da a presenta ção de a lg u ns o u- Concite de B âle . Ent re s uas fig ur as alegó ricas
tro s co m ed iantes . foi ac lam ado como um intér- estavam não apenas a Ig reja e a Heresia, mas
prete so li sta ele se us pró prios text os . tam bém a Paz, a J usti ça e até o próp rio Co nc í-
Por ém . difere nte m ente de se u co nte m po - lio de Basilé ia (B âlc ). E las não S:l O, co mo nas
râ neo " R uz za ntc". c uj as peça s a ind a e ra m im - Pa ixõ es e nos a utos da s le nd as , m eros a licer-
pre ssas no séc u lo X V I, " Stra sc ino" deixou um a ce s da su pe restru tu ra e s p iritua l e rel ig io sa, mas
ma rca tão peq uen a na hi stória ela li tera tu ra ativos protagoni sta s da própria peça.
64 . .Auto tu rscsco de Khu-ln num a qucrmcsc C, t Il IJli.Hl L'Sa <ln s2c lIio XV I. Detalh e dI." uma pi ntur a da Escol a FI;..lllle nga. q uanto a de tod o s o s burlescos anónimo s e ato- A per so n ific aç ão do mund o co nce it ua !
,I
segun do Itllh a de Pctcr Brue ahet. (I Velh o t Vicnn. KUIl"'l hiSln riscl1es Muscum r re s camponc se s q uc , na tra d iç ão d o s m imos co rres po nd ia ao s cre scente s es forço s do sécu-

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História Mundí al do Te ct t ro •

lo XV no sentido de ver e descobrir por trás carnaval d'ollegorics". um verdadeiro carna- 65. Planta do palco para O Castelo da Perseverança,
representado em 1425. Do manuscrito do Macro Morais.
das coisas a relevância essencial da "moral". val de alegorias. Mondain, o homem munda-
Para o teatro, isso signifcava considerar o re- no, se entrega alegremente a todos os vícios
presentado tradicionalmente de maneira abs- personificados, enquanto Juste, seu contra-
trata não apenas como as respeitáveis figuras ponto, não lhes presta atenção, em renúncia
ambientais do Prólogo ou do Epílogo, mas cristã.
como o próprio tema das peças. Nesse caso, a aparição das figuras alegó-
Os estudantes do College de Navarre de ricas pressupunha sem dúvida alguma um des-
Paris, em 1426, converteram numa moralidade taque, por meio de figurinos originais. O mes-
um sermão promtl1ciadopelo chanceler da Uni- mo se aplica à representação de 1494, em
versidade e doctor christianissimus, Jean de Tours, de L'homme pécheur, o pecador cuja
Gerson. A Razão aparecia como uma "baila alma "ascende" no final, enquanto seu corpo
niagistra", e seus alunos eram os órgãos hu- "apodrece" no chão, e também à famosa Con-
manos dos sentidos, cuja tarefa era resistir às damnation de Banquet, impressa em Paris em
tentações terrenas e sustentar os ensinamentos 1507, e sem dúvida encenada nessa época.
cristãos da virtude. O centro da obra era a ine- O autor e encenador dessa moralidade,
vitável cena do julgamento, um exercício de Nicolas de Chesnaye, esboça um panorama,
disputa diaIética, nesse caso uma conseqüên- fundamentado em argumentos médicos, da
cia natural do próprio tema, sob os auspícios higiene do corpo e do espírito, em parte pinta-
da "bona magistra", do com a irreverência rabelaisiana e, em par-
O palco e o cenário das primeiras morali- te, com requintes de esprit. Diner (Jantar),
dades eram despretensiosos. Já que os elemen- Souper (Ceia) e Banquet (Banquete) tentam
tos teológicos e pedagógicos dominavam, e a provar que o outro está errado e, com a ajuda
representação servia corno experiência retóri- de Bonn e Comp agnie (Boa Companhia).
ca; só se fazia necessário um pódio. A dicção Gonrmandise (Gulodice), Passc-tenips (Passa-
clara era essencial, e, no caso dos espetáculos tempo) e de personificados Brindes, culpam-
de estudantes, a declamação devia ser bem en- se mutuamente pelos males atentatórios à boa
saiada. Os figurinos também não precisavam viela, incluindo Colic (Cólica), Gout (Gota),
ser muito luxuosos. A "baila magistra" usava Janndise (Icterícia), Apoplexia e a Hidropisia.
uma longa beca de letrado. a Igreja, uma co- O compêndio médico inteiro é passado em re-
roa. a Sinagoga, uma venda sobre os olhos, e vista. Souper e Banquei terminam diante da
os eruditos eram identificados por seus capelos. corte. Hipócrates e Galeno atuam como asses-
Por outro lado. a representação da mora- sores. Souper é condenado a usar, daí por dian-
lidade Bien avise, mal avise, em 1439, na ci- te. "nianchcttcs de plonib" (algemas de chum-
dade de Rennes, fez consideráveis exigências bo) a fim de evitar qualquer recaída na gula;
quanto aos gastos e o poder criativo. A rivali- Banquct , porém, é condenado a morrer enfor-
dade entre o "Bem-avisado" e o "Mal-avisa- cado. Seu carrasco é Diet, a Dieta.
do" foi elaborada em 8.000 linhas e requereu Nessa obra ambiciosa, Nicolas de la
um elenco de sessenta pessoas. A Roda da For- Chcsnaye oferece uma variedade de informa-
tuna tinha de girar no palco e, no momento de ções sobre as maneiras e a arte de servir e pre-
sua morte, o "Bem-avisado" era levado pelos parar a mesa, assim corno sobre a música às
anjos ao Céu. O palco da moralidade aprovei- refeições. Ele descreve detalhadamente com
tava os apetrechos técnicos da Paixão e, na quais trajes suas personagens devem aparecer.
segunda metade do século, igualou-se a ela Moderation, Diet e todos os outros servos de
tanto na duração do espetáculo quanto na Dame Expcrience surgem vestidos de homem
riqueza de conteúdo. e falam com voz masculina. porque exercem
O auto L'Honnne Juste et I'Hrmune MOIl- funções na corre judicial e "se ocupam de coi-
daiu (O Homem Justo e o Homem Mundano), sas its quais os homens se sujeitam mais a fa-
representado em Tarascon no ano de 1476, du- zer do que as mulheres". O bobo usa seu tradi-
rou v.irios dias. Seu autor. Simon Bougoin, cional capuz com orelhas de asno, um casaco
valete de Luís XII, desenvolveu um "vcritablc multicolorido, guizos no gibão e nos sapatos- 66. Planta do teatro cm que foi apresentado O Castelo da Perseverança, 1425. Reconstrução de Richard Southcm .

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de for ma nã o d iver sa do qu e se u irm ão nas g lesa a ti ng iu se u a ug e co m Tlt e Cas tlc of


mini aturas d o mi st ério de Sant a Ap o ló n ia d e Pcrsevemn cc (O Cas telo d a Pers everan ça ),
Jean Fouquei. o u do qu e tod a a sua parent el a re present ada em 1425 . O ma nuscri to reú ne ao
repre sent ad a nas miniaturas do s manu scrito s. todo três autos das c hama das Macio Morais . qu e
nos marfin s. es m a ltes. pinturas mura is. na in - tamb ém inclu em um plan o cén ico detalh ado ~
finita varie d ad e de representações pi ct óricas um dos pri me iros esboços, se não o primeiro , de
medievais. uma cenografia teatr al na Inglatena.
Um sécul o int eiro estava seg ura ndo um O manuscrito co ns iste em qu atro partes:
espe lho di a nt e de si e recebendo sua imagem "T he Banns " ("Os Proclamas") , um anúnc io
de vo lta, m il ve zes ampliada . O es pe lho refl e- da obra e m forma de pr ól og o ; a própr ia obra :
tia as figuras ca rica tas da libertinage m e d a g ula um a lista de per son agen s; e, na últim a página.
con fra o rico fun do de procl am as e m par áb ol a o plano cê nico . Rich ard Southe m publico u uma
da jurisprud ên c ia, me dici na e filo so fia - m as exaustiva pe squi sa sob re todos os aspectos das
tam bé m m o st ra , e m traço s m a is di sc re to s. téc nicas teatrai s utilizad as, em seu livro Thc
co mo é d ifíci l a honrad os pais peq uen os-bur- Medieval Theatre ii i lhe Round (O Tea tro Me-
gueses lid a r. " hoj e e m d ia". com se us filho s. dieval na Are na ) ( 1957), e . co m a ajuda do texto
Esses filho s, Les Eufa nts de M ai nt enant, sã o e do plano. recon stru iu tod a a repr esent ação .
os filh o s d e um padeiro . Um deles, Fi ne t, ac a - Dois po rta-es ta ndartes anunc iavam o au to
ba na forca , e nq ua nto o outro, M aldu iot, só é nas vilas e c ida des pr ó ximas, um a se mana an-
disciplinado pel a vara. Um espert o pe d ago go tes da representação. Despediam-se co m a es-
havia escrito essa pe ça despreten siosa, mas in s- pe rança de volt ar a e nc o ntrar se us fa irfriends
tru tiva, para se r re present ad a por es tud an tes . (bons amigo s) no dia elo cspe tác ulo. co mo bon s
La M oraliu' e ra um instrument o de respo s ta o uvintes. Essa procl am ação co rres pond ia a um
tão se nsíve l no es paç o do dia-a- di a qu ant o no cos tume ge ne ra lizado e ntre as co mpa nhias d e
cenár io m aior e ma is rico e m alegoria do ca m - teatro (embo ra não ex istam o utros textos me -
po de bat a lh a. d ievais comparáve is), q ue a ge nte do c irco con-
No co ntine nte e urope u. as m or a lid ad es se rvo u até hoje .
mos tra ram um ce ticis rn o cresce nte: da " Ve r- O ce nário do Ca s te lo da Pers everança,
dad e, co mo e la é ex pulsa de toda parte" , d a fé. e ncontrado pel o pub lico e m sua c heg ada. e ra
q ue é " pro c u ra da, mas nunca e ncontrad a" , até único e se m parale lo s no Co nti nen te: uma área
o Hens elyn de Llibeck . pe ça na qu al a sabe d o - ele re pres entaç ão de for ma ci rcul ar, c ircunda-
ria dos bobo s pr eva lece uma ve z ma is, e m unís- da por um fo sso de ág ua e um a barrage m de
so no com o a uto ca rnavalesc o . terra (ou pali çad a ) da altur a de um ho me m .
Ent re m e ntcs. as morali dades se a rraig a- No ce ntro. erguia-se o "c aste lo", uma torre com
ram firme me nte na Ingla terra, qu e pa rti lha co m a me ias e, na peri fer ia . fi ca vam as plataformas
a Fra nça as honras de ser o be rço c lássico d o pa ra Deu s, o M undo , Sata ná s, a Carne c a Co-
gê nero . Já e m 13 78, John Wicl if se refe re a biça. As plata fo rmas, de acordo com a recon s-
um Play oftlic Lo rd 's Prover (A uto do Pad re- trução de Sout hern , era m co nstruíd as seg un-
No sso) ale g ór ico , aprese ntado e m se u co nd a- do os mesm os pr incí pios e assemelh ava m-se
do natal de Yo rk. E m 1399, de novo , um docu - ils "ntaus ions" d a m ini a tura de Sa nta Ap ol ônia,
ment o de Yor k me nci ona um a Irm an dad e d o de Fouque t. Ca da um a das c inco plata for mas
Padr e- No sso. qu e ce rta me nte apresentava a u- e ra fec ha da po r um a co rtina . A primei ra a se
tos do Patcrn ostcr todos os ano s. Outro s rc - abrir, no iníci o do esper áculo, e ra a do tablado
gistro s simil ar e s de Lincoln e Beverlcy estão do Mundo, qu e ap re sent a a si e a sua ge nte :
co nse rvad os a té hoj e. Valuptas (Volúpia), Stulucia (E stuln ci ai e um
A s Virtud es e o s Pec ad os M ort ai s, Boa Me nino. Em seguida, e ntra m Satã tBelva l, e a
Fa ma e D esgr a ça , Pregui ça e Avar eza , A s túc ia Ca rne ( Cam ). Eles a nunc ia m qu e estão oc u-
e C iênc ia medi am fo rça s nas mo ralidad es in - pados, d ia e no ite. e m d estrui r a Hum ani dade .
67 . Te.u ro d a J\ lIlig iiid adc. co mo con ce bido pel os pr i lll c im~ hUIII41llisl41 S. R ~ prCSC nl 41ç50 de C a ho pe COlHOnvuato r e. à g lesa s. tão ri ca s e m propó sito s d idál ico s e A peq ue na a lma da Humanid ade. "nasc ida esta
csq l~c rda. n.a me tad e inferi o r. o re trato do dmma turgo Te rênci o . Mi nia tura do Tcrcncc dcs LJu CJ. iníc io d o s éculo XV ret órico s q uant o as co nferê nc ias d ram at izad as noi te de m inh a mã e" , q ue ago ra co meç a a
I Paris. Blh llOtllCq Ul' de 1-Arxeual j
so bre Ética . no cu nti ne nte. A moralid ade in - mover-se debaixo da torre ce ntral (que So uthcrn

• 265
H ís t áriu M UII ll i ll l tio F e l/ l l' d • A Idtlt!c M éd i l.

e rige so bre qu atro p és a lto s. de modo que a nar vis íve l o invi sí vel. Entre me ntes. uma o u qual o mundo o co nhece hoj e . E Sa lz burgo tem causa da chuva . Co mo o Evervnum inglês d o pa s -
ca ma e m ba ixo sej a visfvel 1'0 1' lod os ). <' sub- o urra vez o a lo r med ieval pod ia aba ndo na r seu s ido a c ida de do 1:.'1'1' /)'11/(/ 11 no sé c ulo X X , gra- sado , o a tua l continua re uni ndo o s per e grinos
metida a todo tipo de te ntação. Ela resiste muito pap el e vo ltnr ii vida cotidia na, co m o o " po bre ças às suas represent a çõe s na praça da Ca te- do te atro v in dos dos quat ro ca nto s do mund o ,
bem ao cerco. ma s na ve lhice . qu a ndo a pobre e rud ito" Johanne s do aut o pascal de In nsbru ck d ra l. II o bra preserva u m re fl exo d o q ue fora m m esmo q Ul' a lgu ns c ríticos conte m porâ neos
a lma muito teuradaj á se ac red ita ac ima d" bem e as personagen s do teatro ép ico do séc u lo X X os ce n ários das mor al id ad es da Ba ix a Idad e c éricos se pe rguntem "se essa in g ênu u e s in -
e do ma l. os po deres da destrui ção plancjam o - por exem p lo , a fa m ília A niro bus d e Thurn ton M édia - o car áter sim ult âne o . a a lcgoria de ge la s im p lifi c a ção do tem a d a c u lpa e ex p ia -
ataq ue fin al. Satã so lta fogo e fum aça . A Sa l- Wil der em TlII' su« ofOur Teeth (Po r um Tr iz ). bri lha nte co lor ido , as raí zes numa con ce pção çào é ai nda vrilida ", e mesm o q ue a m aioria do s
vação par ece de rrotada. Mas a Mi seric órdia in- o u Seis P I'I'.I'I JIl ll g ('Il S li Procura d e: 1/111 AIII(lI', religi o sa do mundo - m e sm o q uando a pe ç a espec tadores não refli ta se é, e em q ue ex te nsão.
ter vém e co nduz a pobre alma do hom em ao de Pirandell o . precisava ser transferi da para o teat ro cobe rt o por um últi m o re pre sentante do teatro medieva l.
trono de Deu s. "Pala scdens in 11'0/1"" pro- Na ú ltima o bra das três Macro M o rais in-
nunc ia as palavras fin ais do alt o de sua plata- glesas, c ha ma da Man kind (H uma n idade ) e es -
forma . lan çand o-as so bre o públi co e os alares cri ta por vol tade 1475, um dos at o re s d á um
reunido s: "Assim terminam no ssos jogos. Para passo à fr ente no m om ent o mais c ruc ia l da re -
livr ar- vo s do pecad o, pe nsa i, desd e o princí- prese n taç ão e a nu nc ia qu e o a rq u ide m ôn io
pio. e m voss o últim o mom ent o" . Titivillu s só pod e rá fa zer sua prometi d a a pari-
H á um a evidente a na log ia en tre o ce ná rio ção "s e a co le ta qu e aca ba de se r iniciada na
ci rcu la r do Cast elo da P ers CI 'I ' IW I ÇI/ e o das plat éi a junt ar dinh ei ro su ficiente " . O sa lto do
Co rnish Rounds. Segundo se sabe, o tea tro de plano teatral para o da realidad e tem um obje-
ar ena era desconhecido no co nt ine nte co mo tivo bem claro e sig ni fica tivo . O pequeno elen-
uma forma medieval distinta de te a tro . Um co da Mankind. co mpo sto de apenas cinco a
par al eli smo aproximado se en contra so mente sete intérprete s, pro vavelm ent e não atuava em
e m teori a, na s primitivas concep ç õe s hum an is- conexão com o s ev ent o s das corpo raç õe s. mas
tas do pa lco de Terênci o. con for me cxe mpli- ii c us ta do pr ópri o bol so . Co m ce rtez a forma-
fi cadas na s mi niaturas do Tcrcncc eles O Il CS. vam uma c omp anh ia am bulan te e tinham de
dat adas de 1400. Os ateres. de sig nados co mo faze r d e tudo par a garantir o se u d inheiro. an -
joculutoirs . usam me ias m áscaras. c lara mente te s que o p úblico se di sp er sasse ao fin al do
reconhec ivei s, mais pró xim as do es tilo cénico csp ct áculo .
da Co nuncdia dell'artc do q ue do da Idade Mé- De vo lta ii soc ieda de co rte sã e s o b o s
d ia . Em a mbos os caso s. e ntre ta nto, e nco nt ra- auspício s de um pat ron o influent e . a m o ral id ad e
mos um a fa lia quase tot al de cc n.irios, Os ges - Nature rum be lo interlúdio da nature za" ) fo i
to s e os mov imentos tinh am de se r ex trem a- re pre se ntad a e m 1495 dian te do ca rdeal M ono n.
me nt e habi lido sos pa ra cri ar a ilu são e não tor - de Can tc rb ury, F u i esc rita pe lo c a pe lão d c
Morton , Henry M edwu ll, auto r tam b ém da pri
m e ir a peç a pr o fan a ingle sa co n hccid a . o
interlúdi o Fulgcns (//11 / L I/CH'ce. No q ue se re fe -
re ao tea tro , est á co mpletamen te esq uec ido.
Não es t á esq uec ida , por ém , a o hra ele um
poet a a nó n imo qu e perman ece viva at é hoj e :
Evcrvnutn (Todo Mundo ). Enq ua nto os estu-
di osos di scut em se co nce de m prioridad e à pri -
meira edi çã o in gl es a. surgi da e m 150l). ou :1
publicada em D elft , na Hol anda . e m 1495
iSpvcglic! der Sa lichcyt \ '(// 1 El ckcrlijlc), o tea -
tro conserva-se fiel a e la há quinhentos anos.
foi Hugo von Hofmannsth al quem deu ao
EVI'r\'I1I1J11 a form a verb al do Jcdcnnann sob a

ÚS. Evcrv nunr , Fro l1l i ~ p ít.: i o de lim a t'di,'úo de Joh n


SI..II I. c. 1:'I21t
...
' ''-
I
1

A R en a scença

I NT RO D UÇ Ã O à qu al. no me smo m omen to. Copé rnico nega-


va su a po siçã o cen tral no Universo, atribuin-
Jacob Burcka rd r afirmo u q ue as d ua s do -lhe a ca teg o ria de u m as tro e ntre outros.
mo las propu lsoras da Ren asce nça for a m a li- Pela pr imeir a vez . a C r ista nd ade viu-se co n-
ber ação d o ind ividua lism o e o desp ert ar da fro ntada com a A n tig üi da de e m largo plan o.
perso nalidade . D an te c Petr arca . em sua so li - Nico lau de C usa procurou conceber a idé ia
tária a ltitu de lite rá ria . já ha viam so nha do co m d e De us co m o " u n ida de de co ntrár ios". O s
o re nasc ime nto do ho me m. de ntro do e spírito papas munda no s do Re nasc im ent o não via m
da Ant ig üid ade . En tre os pintore s. G io tto ti - pro blema a lgu m em la nçar pon tes sobre a ap a-
nha encetad o a desvi nc ulação do có d igo de rentemente irr edutí ve l contradi ção entre a fé
formas bi za ntino . No en tanto , somente no fi- c ristã no a lé m e o ap e go d a A ntig üid ad e à
na i do séc ulo X V o no vo po nto de vis ta se es- terre na lidad e. Si sto IV o ferec ia suntuos o s ban-
prai o u. e a v isã o d e mu nd o escol ástica d o quetes co m g ua rn ições q ue se tornaram mi to -
mcdievo fo i fi na lm en te ult rapassad a. Infl uê n- lóg ica s. J úlio II e nc arregou o j o vem Ra fae l de
cias dec isivas e m ana rum dos c írculos hum a - pinta r um a Escola de A tena s e m ta ma nho na-
nistas rom an o s e flor entin os. tu ral. para o s apo se nto s do Va tica no - um a ex-
A qued a de C o ns tant ino pla torn ou as o bras pre ss ão pic tó rica do desejo de a lcançar uma
dos escritores gregos aces síveis ao Oc idente . sínte se harmonio sa e ntre a Ant igu ida de e o
Mi lhares de e ru d ito s e letrados bi zantino s. em c r is tia nis m o , seg und o o id e a l da A cade m ia
sua fuga para o Oeste. ca rreg a ra m se us m a is Pl at ónica . Ao pa lmi lha r e m proc issão () ca mi-
prec ioso s tesou ro s. o s manu scrit os da A ntig üi- nho q ue va i d o Vatica no à Ig re ja de São João ,
dade. No s m o st e iro s. q ue deram asilo aos re- Leão X pa ssava por pe dest a is e ncim ado s de
fugia do s. e m pilhara m -se g ra ndes rique zas es- es tá t uas d e A po lo , G a n im ed es . M ine rva e
piritua is ii es pe ra de exp lo ra ção . V én us . Ele pe rm itia qu e sua cri ad age m travas-
O papa Paulo II in st a lou o pri me iro pre lo se, co mo d iver são ca rn ava lesc a. uma bat alha
e m Roma , no a no de 1467. e publ ico u obra s de lar anj as e m fre nte ao Castel o de Sanr ' An-
em grego. Seguiu-o. cm Veneza, a imprensa g elo e as sino u. ao part ir para uma caçada. a
d e A ldo M a nur iu s, co m a lon g a sé r ie do s b ula d e ex co m unh ão d o m o nge ago st inia no
"C lás sico s A ldi no s" . A Ren ascen ça to rnou -se M art inho Lu te ro .
a gr ande er a d a de scobert a no s ca mpos do in- O s mer ce ná r io s ale m ãe s e es pa nhó is do
tele c to e da ge o g ra fi a . O s navegador e s ex plo - im pe rado r Ca rlos V in vad iram a C idade Eter-
rara m no vo s co ntine ntes e mares dest a Te rra . na e. co m sua pilhag e m e saq ue dera m um fi m
'"

H ís t oriu AIu n d i a l cio T ('(f! r o

abrupto ao flor esciment o da s a rte s e e xtra va- o TE ATK O DO S HUMANI ST A S nc ceu ao ami go informaçõe s segu ras so bre a Ire s da lin gua gem lati na e do di scurso flu ent e .
gânc ias . Embor a o vel ho trono de Pedro ca ís- seC/WC[rons roman a, de scrita dctalh ad amente protótipos de um modo culto de vida c o m o pa-
se vítim a de sse saque de 1527. a vitalidade do no quinto livro de Vitrú vi o . dr ão de tudo o que o drama tinha a co ntr ib uir
Vaticano nã o foi abalada . Miche lal1gclo rece- Qu and o o a inda j ovem Nicol au de Cu s.i Com isso deu -se a definitiva refutação de para a no va imagem d o homem (em que Pl a uto
beu o encar g o de desenh ar a grand iosa cúpula g ra d uado e m lei s pel a Universidade de l\1ain z. todas as va ga s e co nfusas concepç ões do teatro e ra o mod el o da pronta e vivaz resp osta de es -
da no va cate dr a l. de scobriu e m 1429 os textos de do ze comé - antigo de aren a, qu e se e ncontrava m e m ma- pírito e Terêncio, de uma inteli gên cia urbana e
Já no desv anecer da Idad e M éd ia . o m o- d ias de Pl aut o , a té e ntão co nheci das ap en as n usc ritos m edi evai s . O s e sco lá sticos acei tav am po lid a) .
naqui sm o e a cavalaria ce deram s eus papé is pe lo no m e , sa udou o achado co mo um gan ho que um le it or erud ito reci tasse o tex to . enq uan- Em 151 3, na Pr aça Capito lina (hoje Piazza
de lid eranç a às c lasses m édi as e merge ntes . para a re tóri ca e rudi ta e não como um ac ré sc i- to m ascaradosj oell/awres o representassem em dei Campod o glio), PocII1I1IIs (O J o vem Carta-
G u ildas , corpo rações e o qu e o s te st emunhos mo para o teatro . Do mesm o modo . um com e n- forma pantomím ica . O último e m ai s es plên- gi nês) de P lauto fo i representad a . Para e s sa
co nrernporâneos chamam de academi as " vul- tári o de D onat o sobre Terêncio , e ncontrad o, dido testemunho dessa vi são, baseado e m par- enga lan adn produção, toda a praça (e ntre o Pa -
ga re s" , vernáculas, torn ara m -se força s vitais pouc o depoi s . pelo cardea l G iovanni Auspira , te c m e rros de tradução e em parte e m férti l lácio dos Senatori e o dos Conscrvatori ) foi
na vida cultu ral. O culti vo humani sta do d ra- na mesma c ida de , cha mo u a atençã o exc lus i- imagina ção, é o m anu scri to fr an cês Terence des transformad a em um amp lo the a trum, c o be rto
m a , de um lad o, ia ao e ncontro d o impulso vam enre de e ru d itos . Um ce rto me stre J ohaun Ducs, do in íci o d o século X v, Suas miniaturas por toldo .
lú di co das classes po p ulare s , de o utro . M andel . de A m be rg , fez urna prel e ção na U ni - de pág ina int eir a, ce rcada s de o rna me ntos re- A aç ão d ecorria e m um pa lco a be rto , com
A Ingl at erra ro mpeu co m o pa pado so b ve rs ida de d e Vien a. em 1455, so bre a peç a bu sca do s, m ostram, e m vez da es paç o sa are na cinco p ort a s d e ace sso. To m rnaso Ing hirami ,
Henrique V l!l . A riva lida de e n tre s ua filha Adclphi (O s Adel fos) de Te rêncio . Considerou d o tea tro antigo . um c ilind ro e strei to . Ao ce n- b ib lio tecário d o Vatican o co ro ado com a láurea
Eli zabeth I e Maria St uart , rainha da Escóc ia. a maté ria co mo um tema para as humanidad e s tr o , lad eado por mú si cos, um rccitator, em um a de po et a por Maximiliano l. su pe rvis io no u a
na di sputa pel o trono. foi um choq ue de poder e para a prá tica da lin guagem lat in a - a spec to tend a cortinada , designada co m o sce llll: à su a en cenaçã o , no s molde s preconizad o s por se u
pol ítico e ta mb ém religioso : o prote st antis mo qu e já os es co lásticos haviam enfati z ad o e q ue fr ent e, o s jocula to res repre sentam , ro dead o s mestre, Pomp ônio Leto. Lo uvor parti cular cou-
es pa lhava -se por toda a E uropa se te ntr ional. ainda er a cruc ia l para Er asmo de R ot erdã no pe lo público, po pulus ronianus . O narrador é be à pron úncia culta d o latim por seu s at ere s.
A nim ado pel o sentime nto de auto val or d o nas- co meço do séc ulo XV!. "Sem Terêncio" , d e - c ha mado de Calliopius , e m referência com - o s "jove ns mai s bel o s da nobreza ro m a na" .
ce nte poder io mundi al ingl ê s. o teatro eliza- claro u ele. " n ing ué m co nseg uiu a in da tornar - pl et amente infund ad a ao g ra má t ico lati no Durant e o s tri nt a anos e m qu e Pompôni o
be ta uo fl or esceu às m argen s d o T â m isa ilum i- se um bom la tinista" . Calío po, do século !II, q ue j am a is fo i con he - Let o devo tou se u e nsino da re tó rica e expe -
nad o pel a es tre la de Sha ke spe are . Um fi ló logo ro ma no e o pr ín c ip e renas - c id o por e sta r e mpenha do e m qualqu er a tivi- riên ci a tea tr al , sua sala de confer ên cias era o
As corte s imperi ai s de Pari s e Vie na co - ce ntis ta. d e r-errara. fo ram os prim e iros a re s- da de teatral. Ele foi desi gn ad o para e s se papel ponto de e nc o ntro dos jo ven s erud ito s e uro pe us .
meçaram a revel ar se us es ple ndores mon árqui- gatar o d rama a ntigo de se u cr is ta liza do es ta - si ng u la r por uma tá cit a c o nve nç ão póstuma, Enquant o os as pirante s a jurist as d irig iam- se a
coso Paris e M adri, sob Fr an cisco I c Fil ipe II. tuto de m ero objcto de estudo c a reconvertê -lo cujas o r igen s sã o desconhe cidas. Bo lonha e os f uturos médicos a Pádua, os e stu -
tornaram- se no vos centros da políti ca e uropé ia em repre sen tação corpórea e visível. P ompôni o O palco " a utêntico". orie ntado por Vitrú- dante s de filosofia e ret óri ca ac orri am a Rom a.
de poder. Foi , e ntreta nto. da It ália qu e o mun- LeIO. e m 1486. promoveu a a pre se nta çã o e m v io . para o Hip olvtus. e ra bem d iferente . El e à Acad e m ia Pl at ón ica de Pomp ônio Let o.
do receheu as di retrize s no dom íni o da s ciên- Ro ma d o H ipoli to de S ênec a: ao m e s mo tem - adoto u o pri nc íp io da scctuu:[rous ro ma na . Kon rad Ce lt is , hum an ist a ge rmâ n ic o e
c ias e artes. da literatu ra c di plo mac ia. da c ul- po . Menaecln ni (O s G êm eo s) de Pl aut o. fo i en - c o m s ua fi lei ra de po rt as de ace s so . E m lugar pro fe ssor itine rante . fico u co n hec ido e m Fer-
tura e ed uca ção . ce nad a na co rte dos Este de Ferra ra. O qu e n u n- da s co lu nas ricam en te orna m e nt a da s. um ta - rar a e Ro m a por sua s reconstru çõe s práti cas
O or gulho d ito pore sta tivo do tempo do ca havi a oco rrido cm vida a Sên eca ve io a se bl ad o s im p les de made ira . S u lp ício Verolano do s c láss icos a ntigo s . Jod oc us Ba di us . fil ól o go
im péri o do s Césares, seg undo o qual " todos os
caminhos levam a Roma" . m ostrou pel a seg unda
co ncre tiza r m il e quinhent os an o s de poi s, e m
a lt o nív el ac a dé m ico . O s mais renomado s
ex p lico u na int roduç ão 'I o b ra de Vitrúv io, c l.issico e im por ta nte co laborado r d a ed iç ão
publicada e m 1486, logo após a ap re sentação Lyons de Terê ncio, e m 1493. também encon -
vez sua validade na história do mundo . Enquan- human ist as de Roma tomaram part e na pro- qu e o palco fica va a um m etro e m e io de altu - trou-se co m Pomp ônio em sua v iagem de es -
to no pa ssad o as vitoriosas legi ões haviam leva- d uçã o . Sulp íci o Verol an o esc rev e u o pr ól ogo. ra c e ra e q ui pado c o m uma " g r:lIl de va rieda- tudos pela Itáli a . Em 1497. qu an d o o humani st a
do a cultura do imp éri o ro ma no a três co ntinen- e o pap el de Fc d ra es teve a ca rgo de Tomm aso de de e fe ito s de cor" . Trata- se pre sumi vel - Joh ann Re uchlin , de Pfor zh eim, mont ou se u
tes, agora, as forças espirit uai s da Itál ia atraíam ln ghi rami . di scíp ulo de Pomp ônio e , m a is tar - me nte d e par ede o u te lão d e fuu d o de um cc- H euno, peç a na tradi ção da farsa fra nce sa de
toda a Emopa para seu ca mpo magn ético, de . favorito do pap a A lex an d re VI. O pa trono mirio -pa drão. Maitrc Pathclin , utilizo u-s e de tudo o qu e ha -
Se fÍlsse mo s escolhe r um mar co par a a fina nce iro d a realiza ção foi o ca rde a l e spanhol Comparad o à pompa cê ni ca d o s palc os s i- v ia vis to e a p re nd ido c m suas vi sitas a Roma,
"R enascença" d o teatro, a dat a se ria 1486. É o Riari o. o e nce nado r, Pom p ônio Leto e a pri mei- mult âneo s d o Medie vo tardio - co rno por e m 14 8 2 e 1490.
ano e m que a primeira tragéd ia de S êncca foi ra a pre se ntaç âo , no Fórum, A est a , seg u iu-se e xe m p lo as esferas rot ati vas do mi c rocosmo. O pro fessor Ja cob Locher, da Universida -
montad a em Roma pelo s human ist as e a pri- uma re aprc sc nta çã o perante o papa In ocêncio co ns tru ídas em 1438 por Brune lle sch i para a de de F rei burg, fez bom proveito das impres-
m eira comédi a de Plauto pel o duque de Ferra- V III , no Cas te lo de Sa n!' An gel o . c o utra no SI/ c m Rapprcscntazion c da Festa d a A n unc ia- sõ cs tea tra is que co lheu em 14 9 2 e 1493 na
ra . E foi ne sse ano ta mbém qu e saiu do pre lo a Pa l:íci o Ri ar io . <; ão e m Fl orença - . o te atro d o s prim eiros Itáli a . m ai s e specia lme nte e m ferra ra . qu an-
De Architectnra (D ez Li vro s so bre a Arq uite - Ao e ve n to d ra m át ico acresce u u m a deli - humani st a s par ec ia mui to m ode sto . O text o in- do , e m 149 7. veio a publ icar com sua Trag edia
tur a ) de Vitrú vio. uma co ntribuição essenc ia l berada recon strução do pa lco ami go . S u lpí cio tc rc ssa va mais qu e qu a isq ue r e sfo rços a rtíst i- de Thurcis ct SIIJd{// /(I, um a peça ao m odo de
pa ra pl asm ar o pa lco e o tea tro seg undo o Vero lu no , que e s tava prepa rand o a o b ra cos e m re la ção ao s efe itos d o palco . S éneca. Ce lt is e qu e temati za a ame aç a tur ca à Eu ro pa
mod elo da A nt ig üida d« . " \ /'c h i / (' c l /lI '<l de Vi trúvio para publ ic a ção . for- Te rên cio e Plaut o era m dominante s. co mo me s- c ristã .
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H ís t o r í n 1l11111l/i (,I! (l u 1'('(11'-0 • • A !?l'I11I SC e ll f o

o teatro dos h umanistas desenvolvido a de la Taille, a tarefa do dr amaturgo era misturar A tragé d ia huma nis ta, entretanto. seg ui u mesm o ma nteve-se co m pletame nte à margem .
partir da ati vidade de ensino e promovido po r o bem e o mal. a paixão e o se ntime nto, em com - uma trilha so mbria . Na tentativa de punir se us A corte e a C úria d ivert ia m- se mais co m os
sociedades acadê m icas especialmente funda - binação que deve ria reve lar um a ação clara mente heróis co m o desti no da antiga perdi ção e ru í- gracejos da co méd ia do q ue co m o sombrio
das para esse prop ó sito. foi visto co m alia co n- definida - no sentido ren ascenti sta - a fim de na. c hafurdo u e m sa ngue e horror. furor da tragéd ia e dei xa va m aos cí rculos lite-
sideração ta nto ao su l qu ant o ao norte dos A l- rep resentar "uma verdade ira imi tação da vida Enq ua nto T rissino ainda se ori e nta va, re- rár ios o encar go de desa vir -se so bre os prós
pes. Universidades e escolas latinas arma ram humana, em que a dor e a alegri a seg uem-se um a lati vam ent e, pe los padr ões objet ivos da tragé- ou co ntras dos princí pios a rtís ticos.
palcos imp rovis ados e m seus pátios. Prínci pes à outra e vice-versa" . d ia antiga, ta nto e m sua Arre Poética ba se ada A tragedi e ii l 'antiquc , entretanto, enco n-
e card eais co mprazia m-se em ser patronos do Em Ar istót eles, os human istas encontra- em Aristóteles q ua nto em seu paradigmático trou na corte france sa maior res son ância. Em
teat ro. Reis. imp eradores e papas atraíam pa ra ram a necessária au torida de a ntig a para o dr a- Sofo nisba , dr ama de 1515, em Ferrara o pro fes- Paris, a Plêyade, gru po de autores liderados por
suas cortes poetas. a ta res e pintores para orga- ma , e m harmoni a co m as reg ras de Vitrú vio so r de filosofia e ret óri ca Giovanni Ba tt ista Pierre de Ronsard, preoc upo u-se em remo delar
nizar suas festa s. pa ra a form a do palco. Os pro ble ma s fo rmais "Cinthio" G ira ld i nu tri a a a mbição de so bre - o palco segundo o mode lo clássico. O movimen-
A arte do di sc urso dramático. domestica- e te mp or ais do s dr ama turgos co ns tituíam a puja r os horror es da saga dos Ãtridas. Sua tra- to de reforma foi fortalecid o pe la proibição de
do pelo teat ro escolar; para aplicação didá tica co ntrapa rtida dos prob le mas de es paço para os gédia Orb ecche foi rep resentada em 1541 . na repre sentar Mistérios e m 154 8. Étienne Jodelle,
e pedagógica, er a co mbinada co m os padrões o utros artistas. O teatro d os h um anistas tent ou próp ria casa do a utor. Era um amontoado de em 1552, colhe u o ap lauso unâ nime da ali sto-
da procissão e da hom enagem no progr ama faze r j ustiça a ambos . E nvidou se us me lhores horr or es, Incesto. as sassinato do marido e d os cracia pari siense co m sua tragédi a Clcopatre
das festivid ades co rtesãs. Nas peças pastor ai s. esfo rços pa ra e ncarar a her a nça medieval. re- net os, parricíd io e , fin a lmente. su icí d io da Captive (Cleó patra Ca tiva), insp irada e m Plu-
revestia-se de g raç a se ntime ntal. Na tragédi a . lacion ando-a co m a no va e co ntras tante teoria infor tunad a princesa Orbecche, acum ula va m - turco. O autor, à época co m vinte anos de idade,
era submetida às regras rec ém-redes co bc rtus da arte da Antigui da de, p rep ar ando, assim, um a se num pa nde môn io de Nêmesis e das Fú ria s. rep resentou o papel- título . O rei Henri que \I as-
da s unidades ar isto té lica s e, eventualme nte , bas e intelect ual e teatral para o novo espírito O horror e o medo do minavam a ce na, apo de - sistiu à mont agem no H ôtel de Reims e co nce-
ajudou que os primeiros temas históricos rel a- da Renascença. ravam-se do públ ico. " L 'o rribilc" era a pala- deu a Jodelle a honra, se mpre relem brada, de
cion ados co m a atualidad e da época ganh as- vra de ordem q ue G iraldi, em seu Disco rso lhe ser pessoalment e apresentado: não está cla-
sem a luz do palco. A Tr a g é d i a Human i st a dellc Commedi e e dell e Trag edie (Disc urso so - ro se co mo reconhe cime nto pelos ambiciosos
Enqu anto pin tor es e escultores glorifica - bre a Co médi a e a T ragéd ia) de 1543. prescre- versos alexand rinos da peç a. o u co mo recom-
vam o aqui e ago ra. o teatro respondi a co m o o generoso patro no e spa nho l da pri meira via a si mesmo , co m o apo io de Aristó te les . pen sa pel a co mé d ia m ostra da e m se g uida.
dram a histórico, ofe rec ido no mel hor estilo da apresentação de S êneca e m Rom a, o ca rdeal Co mo precurso r do cl assicismo barroco fran - Eug éne. De qu alque r modo, o A bade Eugê nio,
tragédia - a única form a "d igna de homens sé - Riari o, pa ssou às mãos de Pomp ônio Leto, em cê s e de Le ssi ng, e le usava a defi nição da personage m criada por Jod elle, rico em alusões
rios", co mo afirm ou Jean de la Taille. O teatro 1492 . um drama históri co . Estava particu lar- catarse a risto télic a co mo purificação das pa i- contemporâneas e d iret as. pod e reivindicar a
medieval. es cre ve u ele em seu tratado L 'A rt me nte interessad o na re prese ntação da Histo - xões po r meio do tem o r e da co mpai xão . co ndição de precursor imed iato do Tart ufo de
de la Trag édie (A Art e da Tragédia), havia des- ria Baetica de Ca rio Verardi, uma vez qu e o Na co nstru ção dra rnat úrgica de suas tra- Mol iõre.
cido ao níve l dos se rvos e das pessoas de bai - assu nto era ext ra ído da histó ria co ntemporâ - géd ias de horro r, qu e mais tarde suav izo u um A peça foi aprese ntada co m um ce nário
xa extra ção - um áspero j ulgame nto, que se nea: a recente libertaçã o da cidade es panhola pou co . G irald i at in ha-se à antiga un idad e de único, e m um sa lão, so bre um "magn ifique
pode atribuir tanto à arrogância da aristocra- de Granada do domínio mou ro. lugar e de a ção . Em Orbecche, a ce na desen - appa reil de lo S CÚI C a ntiquc "("magnífico apa-
cia intelectual francesa do século XVI. qua nto A pe ça foi levada no Paláci o Riario, e m ro la-se em fre nte ao Palácio. Os assúsx i n arr»; rato da cena an tiga" ), q ue deixou Jodell e mui-
ao tom freq üc nte mente vulgar dos últimos mis- ho nra ao hisp ânico prínc ip e da Igr ej a, o qu al, no inte rior do edifício são descritos pe lo coro to satisfeito . Segui ndo es tr ita ment e as regras
térios medi e vais. co mo se co mpree nde facilm en te, estava e m- e por me nsagei ros. de unidade de luga r e te m po . represent o u-se o
Para se us próp rios d ramas, entretanto, qu e pe nhado no cas o. Fo i re prese ntada pelos es tu- Girald i desa tou um a verdadeira inu ndaçã o trágico fim de C leópa tra, d ian te da fach ada do
eram exe mplares , seg undo pre tendia m. Jea n da ntes da acade mia de Po m pôn io Leto - co m de drama s e rudi tos e com suas novelas e m pro - pa lác io, co m a tum ba de A ntô nio ao lado. on de
de la Tail le elege u te mas bíblicos. Na introd u- sua devida autor iza ção, decert o , mas se m sua sa abastece u os gra ndes au tores da literatur a un i- a rain ha se suicida par a escapar ao cativeiro.
ção ao Sau l Fu rieux (Sa ul Furioso) de 1560 , parti c ipação dire ta - co mo pro vou Max Herr- versal. Su a obra M oro di Verzezia (O Mouro de Em um a seg unda aprese ntaç ão, reali zada pou -
em form a de livro , faz uma interpretação das ma nn em sua Entste hung der bcrufsmã bigen Veneza ) foi a fonte do Oleio de Shakespeare . O co de poi s no Co llege d e Bo ncourt, Jodell e
três unidades aristo tél icas, red uz os m últip los Schauspiclkunst itn A ltcrtum und iII der Nen zri t tem a do incesto parece u tão atraen te a Sp erone qu ei xo u-se da indigênc ia do ce nár io . Ma is
cenários ex ig idos a apena s um e sublinha, es - (O r ig e m da Arte do Teat ro Profi ssio nal na Spe roni, pro fessor de litera tura e filosofia e m im port an te, por ém . d o qu e essa pobreza, foi a
pecificame nte, q ue o " Mo nte Gu ilboa" e a Antig uidade e nos Tempos Modern os) . Pádua, qu e o levou a escrever a tragédia Canace, infl uência qu e Jodell e co nq ui sto u nos cír c u-
"grut a de Endor" devem ficar muito próxim as O te ma da peç a, embor a de interesse im e- inspirada em O rbccche. Ele eonsegu iu, co m essa los aca dê micos interessados em teatro co m sua
(iey p rcs ) , In advertidam en te, utilizo u-se d a diato, não co nse g uia escamot ea r sua inad e- obra, despeit ar o interesse de seu compatrio ta, tragédia em cin eo aros e m verso s alexandrinos.
concepção ce nográf ica do Med ievo tardio q uaç ão literária ao s olh os do humanis ta rom a- Angelo Bcolco, qu e. como diretor de um gru po O s colegas da Pl êyad e o ce le brar am co mo um
co m se us ce nários simultâneos d ispostos e m no apreciador de teat ro. Pompôn io Leto per- de teatro, co nstru iu a ponte entre a co nuncdia promi ssor e jovem ta len to, qu e a po ntava o ca-
platafo rma - para dar ao seu drama a req ue rida ma necia inarreda velmc nte fiel aos inigua lãveis erudita e a Couuncdia dell'o rtc profissio nal. m inho para o fut uro da tragéd ic, Ele sa tisfez,
unidade de lugar "s elon ror! et III 11/0"(, dcs mod elos da tragéd ia clássica . As inovações do A d ura di sp uta das Academi as pro vocad a inclu sive, as ex ig ênc ias de Du Bel lay relativas
vicux authcurs tragiqucs" ("segun do a arte e o mo men to ficavam mu ito abaixo dos padr ões pel a publicação da o bra de Speron i. e m 1542, ao cultivo do idiom a e, do mesmo mod o, aos
estilo dos antigos autores ntigicos") . Para Jean ace itáve is para es se ex igente e ru dito. durou até dep o is de sua morte, mas o teatro idea is poé ticos de Ron sard . Barf e P éruse.
• 272 • 27.i
o êxito de Jode lle e o c resce nte prestígi o
H ís t o sio M u ndi a l d o

mai s tentador do q ue ver e m G orbodtu: uma


TC (/ II" O • "r
i, l . Inicial com ce nas tea trai s de Hcrcu les [urens ,
da P lêyade incit a ra m o hi hl iot ed rio real. premon ição da lut a pelo trono entre as dua s de Sé neca. À d ireita, no alto e emba ixo. o s espe cta-
dores. D(l Cod cx Urbin , séc ulo X IV (Lar. 355 . Rom a,
Me llin de Sai nt-Ge lais, a trad uzir para o fran - rainhas. tão difer e ntes en tre si. Co ube . por ém . Bibli oteca do Vatican o) .
cês a tragédia mod elo de Trissiuo, Sofonisb a . a T homas Sa ck vi lle, Barã o de Buckhurst e pri-
Henri qu e II prop orcio nou uma pomposa re- mei ro Duqu e de Dors et, a tarefa de ir ao Ca s-
pr esentação de gala na cort e. A s filh as do rei. telo de Fo ther ing a y anunciar a Maria Stuart.
" faus tos ame nte vestidas", colabo rara m e, en- rainha da Esc ócia , sua sen tença de morte. Ap ós
tre elas, a pl'ometida do delfim , M ari a Stuart . ess e pró logo , no esti lo de S ênc ca , o dram a
A representação de 1556 no Ca stelo de renasce nti sta in glês e mancipou-se da s regras
Bloi s, animada por interlúdio s mu sicais e mon - formai s. Shakespeare, do mesmo mo do que os
tada co m g rande pontpe, foi ape nas um entre espanhói s. preferiu o livre empreg o do lugar e
muitos ent re tenimentos em um a sé rie de dia s do tempo. Apresent a um mosaico de momen-
festi vos organiza do s em ho nra da jovem prin- tos que, pe la co ntínua mudança de ce nas e
ce sa d a Escócia. Que significado pod eria ter, co nt raste e ntr e o trágico e o c ômico , formam
para e la, Sofonisba - a de sg raçada rai nha da um gra nde pai ne l. Ele resolveu na aç ão o que
Nurn ídia - que precisa beber o ve neno da ta ça a trag édia francesa do Rena sci mento acu mu -
e nviada pe lo próp rio ma rid o') M ari a Stuart , lava em impon en tes solos dec lamatórios. O
depoi s da ap resentação, da nço u co mo todas as relato da mort e de Hip ólito em Hyp p olvtc , fils
de mais e co m todos, sem presse nti r q uão logo de Th ésee , peça de 1573 de Rob ert Garnier,
ela própria se tornaria título e he ro ína de uma tem mais de cento e setenta versos. o que pres-
trag éd ia e uropéia. supõe. além de um grande pod er de concen-
Menos de cinquenta ano s mais tard e, em tração do ator, uma sa la de teatro fec hada. O s
160 1, Antoine de Montchrestien esc reve a peça vôos or ató rios de G arnier, precursor imed iato
L 'Ecos saise (A Escocesa ou A M á Estre la) . de Cornei lle e Rac ine. exigiam pro ximidade
Esse primeiro drama sobre Mari a Stuart. es - com um público livre de qualquer di stra ção,
c rito por um huguenote, surgiu trint a e três anos Co mo paradoxa l co ntraste. ess a exigê ncia fez
apó s a sua mo rte e ainda dur ant e o reina do de surgir na tra gcdic classique o mau háb ito de
Eli zabe th I. Era a seg unda o bra te atral de reser var a es pec tado res privilegiad os assen tos
Mont chrestien. Fora ante cedida por um tem a sobre o próprio pa lco,
cláss ico : Soph onisbe. Na seg unda me tad e do sécu lo XV I. o dr a-
A n êrnesis da tragédia qui s que os tios do ma renasce nt ista de es tilo clássico co meço u
drama renasce ntista se enla çasse m na Ingla- a es palhar-se pcla Euro pa. O poeta e dra ma -
te rra tamb é m com o destino de Maria Stuart. turgo po lon ês J an Kochanowski esco lhe u um
George Buchanan, tradutor de Eu rípedcs e au- tem a da Il ía da para falar à co nsciê ncia de se u
ror das tragédia s Baptistcs e Jcphtcs , foi tutor rei_Se u d rama pa triót ico O Desp edi m ent o dos
de Maria Stuart até 1567; após o assassinato de Embaixadores G regos , em cenário úni co , alu -
Darnley tornou-se seu inimigo e. em 1572. pu - dia inequi vocamente à Po lónia , ameaçada por
blicou um sumário de culpa - Dctcctio Marial' Ivã, o Te rr íve l. Qu ando no palco o troia no An -
Rcginao - contra ela. te nor exorta va o vacila nte rei Príamo a ag ir.
A tra gédia humanista inglesa . ao contrá- resp ondia o p úbli co com um aprova tó rio ti-
rio do c ulto francês pelos alexandrino s. pref e- nir de arma s. Essa represen tação de j an e iro
riu o e mpreg o do verso livre. O primei ro exem- de 1578 celebrou o noivado do chance le r po-
pl o d e sse est il o foi a o bra dec lamat ória lonês Jan Zamoysk i com Chris ti ne Radziwill ,
Go rbo di«: or Fcrrr : and Porres, inspi rada e m princesa da L it uânia , no Caste lo Ja zdowo,
S énec a. surgida em 1561. Se u e nredo trata da perto de Var só via, e cump riu se u duplo obje-
lula pelo tron o de doi s irm ãos inimi gos que tivo: deu aos jovens ac adêmicos no palco o
precip itam o pa ís no infortú nio. Seu s dois au- es pe rado ap lau so e troux e aos impacie ntes pa-
tores, Thomas Sack ville c Thomas Nort on per - tr io tas na pla téi a a aprovação do re i E stê vão
2. Palco human ista, por volta de 1550: pro vável -
te nci am ao Parlam c nto e ao Iuu er Temp le Ba thor y da s medid as de def esa q ue e les ar - ment e cena de um mon ólo go de II l'd l cgrillo . de
(C o leg iudo Jurídico de Lo ndre s). No mesmo den temente advoga vam - medidas que e ste C;i ro lall)o l'urubosc o . Primei ra edi ção e m V l "Il C I.:l .
ano. Maria Stuart voltou ;1 Escóci a. Nada é Vaivoide da Tran sil v ânia, eleito rei da Po ló nia I »~ .
• 2 74
Hís t ó ria All1l1di(l/ do Tc cnro •

3. Cena da comédia /\Ill/rja. de Terêncio. Xüogravura


de lima edição das obras de Terêncio, Veneza, J '+07.

apenas dois anos antes, teria dispensado de


bom grado.

A Comédia Humanista

Os príncipes da família Este de Ferrara


sabiam manter a posição de mecenas da co-
cunhou-se o termo "cabine ele banho" para des-
média literária renascentista. A retomada do
crever esse tipo de cenário.
drama clássico, iniciada em 1486, com Me-
A peça I Suppositi levou Ariosto ao salto
naechmi (Os Gêmeos) de Plauto, foi seguida
para Roma. Em 1519, ela foi apresentada,
por numerosas representações em italiano. Em
como espetáculo de gala no Castelo de Santo
1491 representou-se Andria e, em 1499, Eu-
Angelo, diante elo Papa Leão X. Ninguém
nuchus (O Eunuco) de Terêncio.
menos elo que Rafael elesenhou os cenários.
A corte ducal de Ferrara atraiu humanistas
Estes, "fiéis à natureza da arte ela perspecti-
e poetas. Quando Isabella D'Este mudou-se para
va", representaram a cielade ele Ferrara corno
Mântua após o seu casamento e ali promoveu a
o local ele ação da comédia. Para assegurar à
produção dos Adelphi (Os Adelfos) de Terêncio,
sua obra-prima cênica o necessário efeito ele
em 1501, auxiliando os duques de Gonzaga a
surpresa, Rafael ocultou o décor atrás de uma
entrar para a história do teatro, em Ferrara apa-
cortina, que no início da representação - ao 4. Ilustração panorâmica da Ãndrio de Terêncio, im- 5. Apresentação de Fortnio, de Terêncio. Xilogravura de
recia uma nova estrela: Ludovico Ariosto.
antigo estilo romano - caía num fosso aberto pressa em Estrasburgo, 1496. O gravador criou UIll cená- Albrecht Dürer dcsunado ao frontispicio de uma edição ilus-
Na verdade, no início de sua carreira, do diante elo palco. Ariosto e Rafael foram igual- rio imaginário para eventos que aparecem no texto sob a trada que não chegou a ser publicada das comédias de
mirrado poeta, dotado de luxuriante fantasia, mente celebrados. Entretanto, o secretário da
forma de relato. e indicou a relação entre as personagens Terêncio, c. 1492 (Basiléia, Kupfcrstichkabinctt)
mas vivendo em circunstâncias apertadas, mal por meio de linhas que as conectam.
embaixada ferrarense Paolucci não fez men-
se ofereceu a oportunidade de colher a man- ção ao nome de Ariosto, ao informar seu prín-
cheias. E por isso mesmo sentiu-se tanto mais cipe sobre o Carnaval romano ele 1519: "Não
incitado a enriquecer as festas cortesãs com se falava de outra coisa a não ser ele mascara-
comédias de sua lavra. Assim, em 1508, es- elas e comédias [... ] e do aparato cénico de
creveu Lo Cassaria (A Caixinha) e, em 1509. Rafael de Urbino construíelo para as mesmas".
sua obra teatral mais famosa, I Suppositi (Os Mas Os Impostores fizeram carreira nas
Impostores), diretamente inspirada em Plauto, festas da corte, na Conunedia deli 'arte e pelo
tanto nos tipos quanto na técnica cénica. A teatro ele escola. Antonio Vignali, membro da
forma do palco em Ferrara, desde a primeira Academia degli Intronati eli Siena, encenou a
representação em 1468, era urna fachada pla- peça em Valladolid, em 1548, como contribui-
na de rua, com cinco casas, cada urna com uma ção teatral às festividades de núpcias de
porta e uma janela. Maximiliano da Áustria com a infanta Maria,
O princípio elo palco elevado, com urna filha do imperaelor Carlos V. A Commedia
fileira de casas - uma adaptação reduzida da deli 'arte reportou-se à figura elo sarraceno
clássica sccnae jiYJ11s romana - tornou-se ca- Rodomonte do Orlando Furioso, de Ariosto:
racterística elo teatro dos humanistas. Aparece as fanfarronadas bombásticas das quais se gaba
em gravuras de muitas edições de Terêncio e o Capitano, endossado por outros valentões,
era realizável mesmo com os modestos meios receberam o nome de "rodomontadas".
do teatro erudito. Em sua forma mais primiti- Entre 1518 e 1521, pessoas ilustres rivali-
va, se hou vesse necessidade, era dividido em zavam como autores ele comédias, encoraja-
gabinetes, com cortinas ele correr, "parecidos dos pelo papa Leão X, cujo Gaudeamus (can-
com cabines ele banho em vestiário ele pisci- to litúrgico) de alegria terrena estendia-se tam-
nas" (Creizenach). No início do século XX, bém ao teatro. Um homem de intelecto e cul- b. Xitogravura para Fónnia, comédia de Terêncio. Da cdiçâo de t.yon de 1493.

• 276
H í vnsriu M u n d ío í d o Tca t ro •

7. Cena d" I: fl m ~ d i a A c/ude' '1"(' .\l' /i ,,,,,, ,.a ti .\1 ..\ln


m o t H C(/ U tOlll il1l ( I1"ulI/ ( ' J! O\~ . Xilogravuru de 1I 1H ~1 n lil, :;-h )
das o bra ... til' Terê nc io . V e..' Ul'l. a . 156 1.

_. compa ra r-se a M aq uia ve l. Sua mordac ida-


de, entre ta nto , c u sto u-lhe os favore s da Cú ria.
La Cortigian a ce de u seus direito s c énico s it
"Co rtesã" d a Conunedia deli 'urte, ao passo qu e
se us co nh ec im e nto s de o fício Are tino os reto-
mou e m / Ragioncuncnti (O s Arg ume ntos ).
Em ge ral. na é poc a da Ren ascen ç a. o s au-
tur a devia mostrar igualment e , co mo part e do tor es de c o méd ia não pod iam qu e ixar-se de
bo m- to m , dom ínio da lin gu agem po lida e n- uma falt a g e ra l de magn animidade . O Pap a
qua nto dramaturgo . Jü En éas Si lvio Picc ol o - Leão X perdoava ao e sp írito polido até o s at a-
mini . mai s tarde Pap a Pio Il , baseou sua comé- qu es abe rto s iI sua pr ópria co rte . Torres Na -
d ia Clirvsis , de 1444 , em leitura s de Terê ncio barro , pr ecursor da s co mé dia s es p anho las de
fe ita s na ju ventude, quando e studa nte em Vie- capa e esp ad a, fa m iliarizo u-se em c asa de seu
na. O pintor e artista Leão Bati sta A lherti es- amo em Roma co m a intri ga e o cabo-de-guerra
cre ve u a comédia latina Philodoxeos e , e m por poder e influên ci a , ben efícios e sinecuras.
1582 , G ior dano Bruno ainda fazi a sua ten tat i- Deu largas a seu des agrad o e m uma comédia
va co m l/ Candclaio, sátira aos a lq uimistas e m chamada Tinclariu , um a fiado ataque às intri -
com éd ia esc rita segund o as regras. gas da s a nte -sa las t t i ne los ) de um ca rdeal. No
A nte s de sua partida pa ra a Fr a nça c o mo prólogo , o au tor ad ve rte: "o q ue aqui vo s faz
X. Ce nas da co mé dia Gl í lng anni, de C urvi c Go nvaua.
e nviado pap al , o cardeal roman o C asen ti no rir pod ei s c a stig ar cm ca sa" ; nas pal avras fi-
Xl logruvura de um a ed ição im pressa em V ,-' Ih..'Z.l. ISl)2 .
Bibbicna , e m 151 8. orga nizo u e m Roma um a nai s vo lta a ad ve rt ir qu e esses ahusos n ão be-
di spend iosa rep resent ação de ga la - e m ho - nefi ci avam S uas E mi nê ncia s.
men age m ao Papa Leão X - de sua Cnlandria, A o us ad a c o m éd ia foi re pre sent ad a c m
ex plor a ndo o tem a dos irm ãos gê meos . con- 151 7 . na p re sen ça de Le ão X e do c a rde a l
fo rm e o mod elo de Plaut o . repetind o o êx ito Giu lio de M ed ie i, q ue. mais tard e. seria o Papa
q ue a lcançara na estréia de 151 3, e m Urb ino C lem ent e V II. O s ex c elsos se nhores n ão ve s-
(trint a an os mai s tarde. e m 154 8. a peça foi tiram a c arapuça e divert iraru-xe C 0l11 II ~ rll ­
e sco lh id a c o m o co n tr ib u iç ão da co l n i a
ô te sco pa r lapat ór io de sen cade ado pel o .uuor.
flo re ntina de Lyon il rece pçã o e m hon ra do rei Para ele s. era CO lH o 1I11\ regi stro - C0 0 10 ~t' fI ) ~; ­

He nr iq ue II e sua j ove m noiva, C atarina de se U I11a gra va~ ã o - ti l' 1I1l1a asse m b l éia de to -
M ed ici ). do s os rin c õe s d o g loh o . No pal co . h uv ia a
Ao autor- cardea l j unto u -se , e m 15 20 . o me sm a ba bel de d ia le to s e spa nhó is, france -
a u to r- po l íric o, na fi gura d e Nico la u Ma - se s, ale mã e s e ita lia no s. inte nsific ada nas C L' -
q uiavcl, o utro ad apt ador de Terên c io . S ua co- nas de be bed ei ra . a pon to de a ss um ir o aspec -
m édi a Maudragola (A M andrágor a ), rep resen - to de um ve rd ade iro sab;i de bru xas . I.d o X
tada c m Florença e pou co dep o is em Ro ma . ficou tão e ntu sias m ado qu e co ncede u a '1'0 1'-
su perava de longe tod as a s suas predece ssoras rcs Naharro um privil égio de dez anos pa ra a
e m or iginalidade, atreviment o e e spírito . Os impress ão de suas coméd ias . Até o carde al
cr ít ico s modernos da lit eratura ita lia na vão Bernardino de C urvuj al. cuja c asa era referid a
a lé m , ao considerar a peça "o bra -prima dra - na Tincl aria . aceitou. sem ofender-se. a cdi -
m ática não somente do Ci ll 'lI Il' CCII( () . ma s de ção a ele dedi c ad a . Torr es Naharro conseguiu
to do o teatro italiano" (G . Totfan in). seu int ento. ao incluir, intcli gent cmeurc. a Ill'\; a
So me nte Pictro Aret ino , a migo de T ici an o entre sua s co medi as " 1I00ici {I. c o méd ias de
e mes tre da chronique scandalcusc (crónica es- observn ç úo . di stint as das comedias li [an ut -
c a nd a los a ) ve nez ia na, co m s ua cum édia L" siu, e ve nto s fi cu ci os com mera apa rênc ia ,k
Co rtigiana (A Cor tesã ). p" d<: - co m reservas realidad e .
• 2 78
lii s t ória Al 11 ll di a l d o Te a tr o . • A R (' l l l /SC C ll ç o

Logo a segui r, se m que se saiba o no me ar te seja provida de " uma no va ca sa l...) Com A P e ça P a s t o r al Ru zzant e recitavam se us mad ri gai s e co nver-
dos autores, duas co m éd ias famosa s do Renas- asse ntos co nfo rtá veis, di spostos e m a nfiteatro sações co mo entreten imentos de mesa. Por vol-
cime nto e nce ta ra m sua march a triunfal por par a qu e mesmo um públ ico e xig ente se sen: "A Idad e do O uro , para o nde fug iu ela'?", ta de 1532, en tretanto, um a e nc e nação parece
tod a a Euro pa: a espanhol a La Celestina (A ris se à vontad e". lamentava- se o Tasso de G oeth e , evoca ndo a te r sido planej ada. porqu ant o Ru zza nte ped iu
Ccl estin a) e a siene nsc Gli Ingannati (Os En -
Ape sar da so licitação , várias décadas se ima gem daq uel e s Cam po s E líseo s també m de a ntemão a aj uda de Ari osto, q ue tinha con-
ga nados). A pe rson agem Cc lest ina, que dá
passar am antes qu e isso oco rress e. So men te cantados pel o Tasso hi stó rico: " reino da be le- su mada expe riência e m arranjos tea trai s.
nom e à prim eira o bra (hoj e atribuída a Fer-
co m o ad vento da ópe ra, pa ssou o públi co a za, livre de e rro" , o nde her ói s e poet as co nvi- Tasso, tamb ém , se e nca rrego u pessoal-
nando de Roja s), é uma alc oviteira de alto ní-
deliciar-se com as mági cas tra nsform ações de viam harm oniosament e, o nde faunos e ninfas , m ente dos ensaio s de su a peç a A mi m a. Por
vel, co m um sutil co nheci me nto dos prob le-
cenas po r meio da maqu inar ia teatral e a des- pastores e pastoras co rtej a va m-se com gracio- toda a Europa, esta e moc iona nte histór ia de
mas de seu ofício. A pr im eira edição que veio
fr utar teat ros SUl1l uosos e co nfo rtá veis. A coo sos versos . O ar fre sco d a sapiê ncia huma nista a m or , co m sua lou vação à Idade do Ou ro, con -
a público é de 1499, surgida e m Burgos. Vinte
media erudita do Rena scimento prosseguiu par e as inescru pulosas lut as pol ítica s pelo pode r ve rte u-se em mod elo , mu itas vezes co piado ,
anos mais tard e já circulavam tradu ções italia-
vá rias décad as em ce n ários úni cos , fiel às rc- levaram - co mo o utro ra nos tempos de Teócrito da pe ça pastoral. Em sua est ré ia e m 15'73, na
nas, fra ncesas, ing lesas e alemãs. A comé dia
g ras, ai nda que ben eficiad a pel a util ização da e Virgílio - fI fuga pa ra o o utro ex tre mo , à bus- peque na ilha de Bel vedc re , do rio Pó, na ca sa
dos Ingan nati foi rep resentada pela prime ira
pe rspe ctiva em seus ce nários, alé m da orna- ca de um irrea l e id eali zad o mundo de "pura de ca m po dos Este, o e le nco inclu ía não ape -
vez em 1531 , pe la Aca de mia deg li Intronati d i
me ntação de estuq ue. O s c ro nistas da época hum anidade" , um mu ndo " no coração da na- na s membros da soci ed ade pal ac ian a, ma s al-
Siena, e impre ssa anonimamente cm 1537. O
qu alifi caram de "s untuosa prod ução da corte" ture za" . guns ate res profis sionai s da j á famosa co m-
espanhol Lo pe de Rueda , a utor dramático e
a co méd ia Le Brave (O Bravo ) de Jean A ntoinc Desde o ina tin gid o am o r de Da nte por pa nh ia dos Co mici Ge losi .
diretor de uma co mpanhia de teatro ambulan-
ele Baif , versão fra nce sa do Miles Glo riosuç Bea triz e desde os lír icos sonetos de Petrarca A a ção de Amima re úne todos os elem en-
te, representou-a e m ruas e pátios so b o nome
(O Solda do Fanfarrão) de Pl au to, re presenta- dedicados a Lau ra co me ço u a soar o novo e tos da alego ria bucól ica: o pról o go é apresen-
Com édia de los Engan ados.
da e m 1567 no H ôtel de G u ise e m Paris . Os sensível acorde. Pintores, poet as e cortesãos tado pelo Am or, em traj e pasto ril. O pa sto r
O profícuo tem a do s do is irmãos e se us
e log ios , porém , devem tal vez se r c red itados a ren d iam preito à be leza e à j uventu de . Lou - A mi nta. neto de Pan, corteja e m vão a fria nin fa
disfarces, com a dec orre nte potencialidade dra-
Ro nsar d e outros poetas da Pl êyade, respon- renço de Medi ei, e m sua s ca nções de Carna - S ílvia. A prestativa int er vençã o de Dafne - as-
má tica, foi adotad o por S ha ke spea re e m
sá ve is pel os inte rl údios com ver so s e m home- val, exor tava a gozar a fug itiva e bel/a giovi- sim co mo a de an imai s, a de um sátiro imp er-
Twclft l: Ni glu (Noite de Reis). Uma trad uc ão
nagem aos con vida dos. o rei C arl os IX e Cata- ncr:a e, e m lou v or à fo r mo sa Si mo ne tt a ti nente e a de um provide ncial ar busto de es-
fran cesa de Ch a rles Esticnne , publicada cm ri na de Med iei, Vespucc i, o rga nizo u um co nc urso tea tral qu e pinhos - aj uda m o fiei A mi nta a con quista r sua
1540 e dedi ca da ao de lfi m , registr a co ns-
A influência direta da co méd ia ro mana é duro u vários d ias. A nge lo Po lizian o apro ve i- fe licidade, tão ard uamente porfiada.
eienciosa me ntc a o rige m da peça : " Ingannati:
e v ide nte no d ra ma t urgo Mart i n Drzi é, de tou a ocas ião pa ra compo r um lon go poe ma Gia mbattista Gu arini , suce sso r de Tasso
comédia segundo o est ilo e temática dos An ti-
D ubrovnik, viajante inc a nsáv el e a ventureiro panegirico, e Bo n icclli inspi ro u-s e para pintar na corte de Ferrar a. tent ou sup erá -lo co m to-
gos, chamada Os Enganados . Comp osta pr i-
a ncestral do teatro iugosla vo . Se u Dundo Maro j« o alegó ric o Nnscimento d e \ ''''111-'. Lor en zo da s as co mplicações poéti cas ima gináve is: o
meira mente em língu a tosca na pelos profes-
co locou e m cena um avare nto qu e - situado Lott o descreveu () Sonho de /111[(1 .f<Jl"C III co mo pob re pastor Mirtilo, he rói e pe rson age m pr in-
sores da Academ ia Ve rna cu lar de Siena, de
e ntre Plaut o e Moliêre - , e m ricoch etean tes si- ro mã ntica pa isa gem rupe stre co m fo ntes e cipa l do Pastor Fido , te m de pel ejar co ntra um
no me Intr onati, e trad uzida para o nosso idio -
tuaçõe s có micas, mostra j á suas relaçõ es co m a sátiros . A felicidade do po e ta alcançava se u labi rinto de ciú mes e intrigas , an tes de ganhar
ma francês por C harles Est iennc".
co méd ia de caracteres. A ce na de Dundo Ma roj» ápice quando a da ma de se us so nhos lhe e n- a mão da bela Ama rílis. O Past or Fido foi en-
Ape sar da cuidadosa re ferência às fonte s,
( 155 1) é Roma, para onde um pai viaja atrás de tregava a co ro a de lo ur os, e m meio a um ca m- ce nada pela primeira vez e m Crem a, e m 1595,
Estiennc se co nside ro u c riador de uma nova e
se u frívo lo fi lho, I;í e nco ntra ndo ape nas com- po florido . mesmo ano da mo rte de Ta sso . Con sti tuiu o
orig ina l comédia fran cesa . No prólogo, o a u-
pa triotas da Rag usa (Dubro vn ik) nat al do au- A nostalgia - liter ariam e nte cult ivada - do po nto c ulminante e o ca nto cio cis ne da peça
tor afirma ter sup erad o a far sa primi tiva medie-
tor. A peça reflete a moral da época. e m nível ho mem urb ano po r um idíl io bucóli co havia pa stora l do Ren asciment o itali an o, que come-
val, e reco me nda co m insisr ênsia que a no va
compar ável à Tinclaria de To rre s Na harro . encontrado em Ferrara . na co rte dos Este, um ça ra. exatamen te ce m anos an tes sob Lorenzo
Na mesm a lin ha acha -se tam bém Mo thcr centro de c ultivo afa mado pe lo mu ndo afora ; de Med iei, co m a pasto ril Favola d 'O rfeo (F;í-
Boinbie, surgida em 159 4 , o bra do d ramatur- uma Arc ádia como cele bravam Boj ardo em suas bula de O rfeu) de A ngelo Poli z ian o, o primei-
go ingl ês John Lil y, qu e ofe rece um qua dro éclogus, Ariosto e m suas estâncias, Tasso e m ro d rama profan o it al ian o , c uja co nce pção
rea lista do cotidia no da é poca e liza be tana, ins- sua peça pa storal Amimo. M as, no ca so de es tilística ainda está inteira ment e compro rm-.
p irad a e m tem as de Terên ci o. Na mesma dé- Ario sto, j;í havia sinais de dú vida - perceb ida tida com a sacra rapprcscnta zione,
ca da, porém. aparece u e m Londr es a estrela nas entrelinhas - so bre se esse no bre e heróico Nos ccrn anos q ue separa m o per íod o do
de Shakcspeare. Moth er Bombi r foi eclipsada por espírito ainda deveri a ser levado inteirament e a O rfeu de Po!iziano e o Pastor Fulo de G uarini,
Rom eu e Julieta c Sonho de I/m a No ite de \0 rtio . sério. Dura nte sua époc a de organ izador de tea- Floresc eu po r todo o mund o oc ide nta l um a
tro e das festas da co rte de Ferr ara, um no vo e profu são de idíli os pa sto ris. q ue, tra nspo ndo
mais prosaico e leme nto começ ou a invadir a tod a s as fro nteiras , lou va vam e m har mon ia lí-
peça co rte sã , t raz ido pe la co m pa nhia d e rica os bos ques da Arcá d ia.
9 . Cen a da coméd ia La Celest ino , Frtmt isp fci o da Ruzzante, com scus d i álogo s ca mponeses de Pii- J ua n dcl Encina, talent oso prec ursor do
l'd i\';:i(l es pan hola, To led o. 1538 .
dua . No início, c m 15 29 e 153 1, os atores de te a tro espa nho l, prefe r ia leva r sua s rcp rc-
• 280
• 28 1
A R cnns ccn c u

12 . X i lo g ra vu ra do ;'lI11 I.l!O LIm o ."opie'! .te Tctt, 15-1 5.


;\ hi s(úlia d e Cuilíu-nuc Tetl de Ut i l'ra co n h,..-cid a lia
S lIí..;a a pnu ir <1.1 metade do s écu lo XV. O ant ig o I/ ,."C,.
SI,id toi uprc seut ad o pel a prim cira \'(,./. t' 1lI ,.\ lt dlll f. c m
I~ 12.

Sl'll/lIc icH/('Se éc lo gas em am b ie ntes rurai s.


co m past o res e figura s mitoló g icas. Se us in-
tér prete s e nve rgava m traj es past o ris. m es m o
na a p re se ntação de ga la de sua Egloga dei
A mor. e m 149 7. na festa de ca saure nto do p rín -
c ipe D. J o ã o d e Ca ste la com M arg a rida
D ' Á us tria. filh a do impe rador Maximiliano.
Na ence nação de sua Eg los;« de Pl áci da y
VilO r i"I/o . na casa do ca rdea l A rbo rea em
tro pa lmo s: a única decoração era uma vel ha
Roma. foi utili zad o um cenário de bosq ues e
10. r. Lcc lere: cen as (Ic .'\ minta, de 'Iusso. G ra vura s impressas em Am sterdã , 1678. manta. pe ndurada e m cor dé is, qu e serv ia de ca -
flores tas. Pre sumi velm ent e. o au tor es tev e pre-
mari m e atrás do qua l es tavam os mú sicos.
se nte a essa apre sent ação. poi s. se ndo agora
O acompanha me nto musical era part e in-
arquidiácono em Málaga. desde 15m;, reno-
di sp en sável da peç a pastoral. pois um infeli z
vou várias ve ze s o co nta to com Ro m a.
pastor qu e ama se m se r correspondido e uma
Gil Vicente. organizador de fest iv id ades
j ovem rús tica e be la . naturalmente. preci sava m
na co rte de Portu gal e maio r dramat urgo do
ca ntar pa ra e xp re ssar suas e moçõe s. D a peça
país . também prefer ia o a mbiente pastoril. A
pastoral e da peça mu sicada ii ópera hav ia so o
Deu sa da Fam a. em seu A IIIIl da Fama. de 1510.
men te um peq ue no passo a ser dado. Ma s se u
surge cu mo um a aleg re pa stora,
ca minho atravessa va prime iro o ce n ário da s ho -
Do o utro lado do s Pirencu s. co m o e m lodo
lug ar. pe ça s pastorais e ram apresentada s nas menag en s corteses,
O poeta in gl ês G eorge Pede. um bo émi o
sa las teatrais dos pal áci os e na s casas de no -
qu e co mbinava u m dom lírico e pan egír ico co m
br e s . No s m eado s do s éc u lo XV I. o id ílio
um a ed uca ção uni ve rsitária . alc an çou o s tuvo-
bu c ólico també m se torn ou parte d o repe rtó -
res da rainh a e m 15:-:-1 . co m TI/{' A rm igl/lll cl/ l
rio d:h tru pes ambulan tes. Lope de Rucda -
autor c d ire tor que. de 15-1-1 a 1565. pe rcorreu
4 Pari s (O Ju lgamen to de Pa ris).
Par is. qu e a parec ia vestido de pa stor . to -
toda a Espanha com sua companhia - trcq üe n-
cando tl a uta . e m ver sos muito be m compos -
te m en te escol hia roupa s de pasto re s para re-
to s. sa uda va a be le za de V ênu s. a maj e stad e
presentar ce nas da vid a popu lar. Seu acervo
de Jun o e a sa bedor ia de Palas Are na. A maçã
teatr al. co nforme registra Ce rva ntes . co nsi stia
dourada . e ntre ta nto. cab e ria a Eli zabeth I. " a
e m " q uatro pe lego s bra nco s. g ua rn ec ido s de
nobre fê nix d e no ssa é poca. nossa fada Elisa .
co uro dourad o, q ua tro bar ba s e ca be le iras e
nossa Zaheta fada" . D ian a e suas ninfas e ntre-
qu a tro cajados ·- mais ou menos. As pe,,' as era m
garum -l he o fruto . enq uan to V ênus, Jun o e Pa-
co ló q uios o u es tro fes ent re do is o u três past o-
las A rena confirmava m o prêmio:
res e uma pastor a: as funç ões era m en fe itadas
e c o m p letad as por doi s o u tr ês cntrc mczcs.
ace rca de uma negra. um rufião. um idiota ou Es te prem io do " ccu-, e de celestes deu s a".
Aceuu -o ago ra. ' !'!" te' I: devido por Dian a .
um basco: essas quatro per so nagen s e muitas
lo uvor da vabc doria . beleza c poder.
o utras fazia esse tal Lop e co m ma is habilida- qU L'melh or (0 11\:0 111 ii tua incomp ará vel (' .\\,,:l'I ~lI l·i 'l ~
de e e xce lênc ia que se pode imag ina r..." Cer-
va ntes acre scent ava q ue ,I palco co nsis tia me-
ramente em quatro ban co s di sposto s e m qu a- Todav ia. a pe.,-a pastoral somente e m apa -
d rado. q ua tro ou se is tábuas em c im a, de modo rên ciu e ra f éericn. poi s não perdia tot al me nte
I .~ . G ra\":I'":'o
rolu c para a peça paxto ra i /'t u -
C III
tor Fid o, de (jiamh:H1bla Gnarini . Vencia. l ó0 2. qu e o tabl ado se a lça va do c hão ce rca de qu a- de vista suas in ten ç õe s am iúde mui to rea lis-
• ~83
H ís t o ri o " Ium /ial ./ 0 T e u t rn •

tas. A floreada hom en agem. no mais das ve- mais baixa e partindo de se u centro, um cír-
ze s. era endere çada a um recept or muito con- culo po ssa ser descrit o e, dentro del e, quatro
creto e perseg uia objet ivos muit o concretos: tr iângulos eqüilaterais c eq üid istantes. Esses
poderia ser um a mulhe r, uma rainha, uma ci- triân gulos tangen ciam o cír culo, à maneira dos
dade - e o objetivo cra obter favor. astrónomos quando det erminam os doze sig-
O poeta servo-croata Gji vo Franje Gundulié, nos do zod íaco, de acord o co m as leis musi-
humanist a de famíli a tradicional e admirador de ca is das esfera s.
Tasso , glorifico u em 1628 sua cidade natal , G eometria, matem átic a, as tro no mia e
Dubrovnik , com a pcça pastoral Dubravka . Um música - de fato, Vitrúv io apresentava creden-
patrício de Nur embcrg, Georg e Phil ipp Hars- ciais notávei s para a aparên cia mod esta e oca -
d õrffer, glorificou, cm 1641, a laboriosidade do sionai do teatro . A edição de Virr úvio de 1486,
povo da cidade sobre o rio Pegnitz com sua com- preparada por Sulpício Verolano , servi a antes
posição Pegne sisches Sc hãfe rgcdicht, uma pas- de tud o para estudos eruditos e , na med ida em
torai de exuberância alegórica anacre ôntica, um qu e assunto s teatr ais estavam imp licados, ra-
artificial conglomerado de diálogos, poesia líri- ramente para a apli caçã o práti ca . As prescri-
ca e interlúdios musicais , que não tinha nada ções de Vitrúvio não exe rce ra m influência em
mais a ver co m o teat ro. círcu los mais ampl os a té a no va edição de
O cenário da peça pastoral. porém, acom- 15 21 , suprida de desenh os de Cesari ano e, ain-
panh ado no rom ance e na poesia lírica, sobre- da mai s importante, a ed içã o co me ntada de
viveu por séculos, plasmando ainda Bast ien 1556 em italiano , feita por Dan icle Barbaro,
und Bastienn e, de Mozart , e Die Fischcrin (As patri arca de Aquil éia,
Pescadoras) e Di e L (/1I1I e d es Verli cbten (O Ca - No primeiro per íod o da Ren ascença , as
pricho do Ena mora do), de Goethe. Em 1545 , representações em Roma e Ferrara pre su-
Se bastiano Se rlio, em sua L' A rchitettura. deu - mi velm cntc ainda adoravam ce n ários relativa-
lhe co mo modelo oásico a sce na satirica, com men te mod estos, em fo rma de ruas achatad as
gru pos de á rvo res , grutas c ca ra rnanchões . - o u ass im cabe supor. já q ue e ram descrit os
co rno pictu rata e S CC I1( /l' (ce nários pint ados ).
o D e s en vol vim ent o d o Pal co
e m P er sp e cti va
Mas , por volta da époc a em qu e a Calandra
do carde al Bibbiena era levada e m Urbi no, em
~~
== ~.- .
·.\ ~ <r .~
'Z.. __.
..'

1513 , o cen ário ganho u alguma profundidade 13. Scbastia no Sc rfio : sccn a ( omica. Cenário arquitet ônico fixo para co média . desenh ado em 15..t5 . X ítogravur a do
A perspec tiva fo i a grande pai xão do e m per specti va. Nessa mont agem foi mostra- Libra seco ndo di Pe rspett ívü da Arch itct tura de Serlio . Ve ne za . 1ó63.

Qua ttrocent o. Ao ideal human ista da harmo- da no palco, confor me Buldassa rc Ca stiglionc
nia do universo corres ponde u a sistematização escreve u cm uma ca rta ao co nde Ludovico
matem aticamente preci sa da arte e da ciência, Ca nossa . "um a cidade com ruas, palá cios, igre-
a co nstrução de um eq uilíb rio harmonioso en- ja s C torres, tudo em re levo" .
tre o detalhe e o tod o . As prop orções de um Para a rcapresent a ção em Roma, prom o-
rosto ou de uma laça eram submetidos a cá l- vid a por Bibbiena em 15 I8, perant e o papa
cul os não men os complicad os que os da fa- Leão X. Balda ssare Peru zzi crio u um cenário
chada de um prédio, o u das med idas de uma tão bcm -feit o, como relata Vasari, qu e parecia
co mposição pictóri ca monumental. " não se r de faz-de-conta, mas tão verdade iro
Bruncll esch i, Al bcrti e Bramante deram qu ant o poss ível, e a praça não um a coi sa pin-
express ão e m arq uite tura à ilu são de pers- ta da e pequena , mas re al e muit o ampl a" .
pec tiva do es paço: Piero della Francesca. em Peru zzi havia transform ado o ba stid or unica-
pintur a: Ghiberti c Donatell o, em escultura. To- mente pintado de fundo em uma utilizável área
dos eram tanto artistas com o c ientistas. Simi - de atuação a projetar uma profundidade real.
larmente, uma aplicação proveitosa do capítulo Isso foi co nseguido pela combinaç ão en tre 11m
sobre teatro, no qu into livro do De A rrhitect u - ce n ário com prati c áveis no proscé nio e uma
ra, de Vitrúvio, pressupunh a um construtor ex- parede de fundo pintad o em perspectiva plena.
peri ente. O fo rma to de um teat ro, explico u Em sua Archit cu ura (publicada em Veneza
Vitrú vio, deve ser planej ado de modo que, de e m 154 5), Seba stiano Scrlio, o gra nde teór ico 14. Bald assarc l'c ru zzi : dese nho de ce nário cm
perspectiva , C'. 1530 ( Florenç a, Un i/ i).
acordo com comprimento do di âmetro da área e urq uiteto que fora discípulo de Pcru zzi, dcs-

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------------------~ ~~ .-
•..\ I\CI10.\(·("II('U

creveu como, mediante a ajuda de bastidores Andrea Palladio. que, após colaborar com
em ângulo, era possível construir toda urna Barbaro na edição que este fez de Vitrúvio,
vista de ruas com colunatas e /oggias, torres e propôs-se a tarefa de reconstruir um teatro ro-
portões. Bramante, os irmãos Sangallo e o pró- mano antigo. Ele se manteve estritamente fiel
prio Peruzzi, antes de sua inovação, sempre a Vitrúvio no que diz respeito ao formato do
haviam fixado a perspectiva principal e seu auditório e das scac!/ac [rons . Três portas de
ponto de fuga dentro do quadro de pintura, tan- acesso integram-se na elaborada arquitetura
to em seus afrcscos monumentais quanto em das paredes do palco, feitas de madeira e es-
seus desenhos para o palco. Serlio agora pro- tuque, e com uma porta de proscênio de cada
jetava isto na distância, para além do prospec- lado. O auditório serni-elipuco, com treze fi-
to pintado, ou seja, para além da parede de leiras, é diretamente ligado às paredes do pal-
fundo do palco. Visava com isso frear a rapi- co c coroado por uma galeria e uma colunata
dez de redução no plano do escorço c desta com estátuas. O conjunto constitui uma cópia
profundidade ilusória ganhar algum espaço proporcionalmente reduzida dos enormes tea-
real de atuação no palco. tros tardo-romanos de pedra ao ar livre, trans-
De acordo com as três categorias do tea- posta para dentro do espaço fechado de uma
tro humanista, Serlio estabeleceu três tipos encantadora caixa de brinquedos. Presumi-
básicos de cenário: uma arquitetura de palácio velmente, o projeto original de Palladio pre-
para a tragédia (scena tragicai: a vista de uma via que as entradas das scacnae frons se apre-
rua para a comédia tscena comica) e uma pai- sentassem fechadas por prospectos pintados,
sagem arhorizada para a pastoral (scena mas ele morreu pouco antes que o teatro fos-
sotiricav. Ele as moldou como prescrevera se acabado, e seu sucessor Vincenzo Seamozzi
Vitrúvio: "Os cenários trágicos são dotados de transformou as vistas pintadas em vielas pra-
colunas, estátuas c outros acessórios reais. As ticávcis. Seguindo Serlio, ele situou o seu pon-
15. Interior do Teatro Olímpico de Vicenza. construído por Andrea Palladio e concluído por Vincenzo Scamozzi.
Inaugurado em 1584 com Üedipus Tyrannus de Sófocles. cenas cómicas mostram casas particulares com to de fuga para a perspectiva além da cena,
janelas, segundo a disposição das residências nas telas de fundo vistas através das três en-
comuns . .:\s cenas satíricas são decoradas com tradas. intcnsi ficando assim a ilusão de pro-
árvores, cavernas, montanhas e outros elemen- fundidade.
tos rústicos, ao estilo da pintura de paisagens". O teatro havia sido encomendado pela
Giacomo Barozzi de Vignola, autor do tra- Academia Olímpica de Vicenza, uma das nu -
tado Lc Duc Rego/e delta Prospcttiva Pratica, merosas academias teatrais humanísticas. para
publicado postumamente por Danti em 1583. cujas apresenraçôes Palladio erguera, em vá-
visa a um palco praricáve l composto em pers- rias ocasiões anteriores. palcos provisórios no
pectiva até a terceira rua, isto é. C0l11 entradas saguão da basílica em Vicenza. A nova casa de
para o palco tão recuadas quanto a distante espetáculos foi inaugurada em 1584 com o
vista pintada. Ele recomenda que os bastido- 1:.'di/JO Rei de Sófocles. O teatro é utilizado ain-
res em ângulo sejam substituídos porperiaktoi da hoje para cspetáculos em ocasiôcs festivas.
moldados conforme os modelos da Antigüi- No início do século XVII. ninguém que
dade. A cena deve ser formada por cinco pris- viajasse pela luilia e tivesse interesse em ar-
mas triangulares cqüiláteros de madeira, que quitetura ou cm teatro deixava de visitar o Tea-
podem girar em pinos, com dois prismas me- tro Olímpico. Joseph Furttcnbach o inspecio
nores, também de madeira, de cada lado, como nou em 1619, em seu retorno de Florença para
limites laterais, e outro, três vezes maior. atrás. a Alemanha. e anotou apreciativamente cm seu
O problema de como enfrentar as dificuldades Itincrarinm ltaliae que, embora "feito simples-
técnicas decorrentes da inclinação (rampa) do mente de madeira, o cenário era construído
palco foi cabalmente investigada. cinqüerua com perfeita beleza. conforme a arte da pers-
anos mais tarde. pelo teórico de arquitetura pectiva". Ele conjectura que 5.400 espectado-
alemão Joseph Furttenhach, em Ulm. res poderiam assistir ils comédias nesse teatro
O melhor exemplo ainda hoje cxistcute de sem ter a visão obstruída. mas esta é uma su-
16. Joseph Furucnbach: palco de um pakicio prin-
cipesco. Extraído do Archítcctura Cívilís, tlim, lú2X. um teatro rcnascentista italiano é o Teatro percstimarivn grosseira da capacidade do tea-
Gravações em cobre de Jacob Custodis. Olímpico de Vicenza. Foi construído por tro. que mal ultrapassa 2.000 espectadores.

• 2X7
18. Interior do Teatro de Subb ion eta, co nstruído por Vincen zo Scam ozzi para Vcspasiano Gon zaga e m 1587. Foram
instalados novos ban co s no auditor;"," ova l, mas a co lunata. estátuas c de cora ções murais ori gin ais foram prese rvada s.

I.
I 17. Vin cenzo Scam ozzi : desenh o de um cenário de rua (Floren ça , Uffizi).
• A Renas ccnça

Três a nos depois da conclusão do Teatro um labiado . Q uatro a nos mais tarde, cm 1589,
Olímpico , Sca mozzi construiu outro teat ro c m Buontalc nti re mod e lo u o auditório, converteu-
Sah bionela. Vespasiano Gonzaga, o úl tim o des- do-o num antitea tro co m c inco fileiras co ncê n-
ce nde nte de u m a mb ic ioso ram o d a ca sa tricas de cadeiras , divididas por passagens com
govem anle de M ântua. estava transfo rmando o escadas, no es tilo do te atro romano antigo .
povoad o de Sabhioneta, no sul de M ântua, em Em Floren ça, no início do século XV II
sua sede de gove rno . O trabalho de co nstru ção (co mo con fir ma m as plantas e esboços das
levou trin ta anos, e o local emergiu antes co mo obras de arqui tc turu de Joseph Furttenbach),
um dos modelos de "cidade idear ' de Anunanati o grande salão do Pal azzo Pitti era usado ex-
e Vasari , proj etado com régua e compass o, ele- pressamente para torneios. ju stas, danças e co-
ga ntc me nte encra vado numa espéc ie de forta- médias. Buont a len ti estava familiarizado co m
leza pentagon al . Um edifício simples e se m todos os me can ism o s técni cos; ele foi o pri-
ado rno s co ntém o teatro. Este é men or que o meiro a providen c iar e feitos decorativos para
Teatro Ol ímpico de Vicenza e tem o estilo de o palc o, tai s co mo os qu e o teatro barroco efe-
uma elega nte casa de espet áculos partitular. Gra - tivamente ado rou em larga escala. Não se sabe
ças à disposição orgâ nica de suas entradas c salas como Buontalc nti p lanejo u as transformações
laterai s, dá a impressão de constituir-se numa c ên icas , S u põe-s e, tod avia, que tenha empre-
peça única . Mesmo as pinturas e os bustos "clás- gado os pri smas giratórios de madeira, desen -
sicos" dos nicho s nas paredes foram projetados vol vidos por Sa ng a ll o, Barbaro, Vign ol a e
pelo próprio Scarn ozzi. enquanto o Teatro Olím- Dan ti - os qu ais, no início do século X V II,
~ 9: P~lco e cenário do Teatro Olímp ico de Vice nza , projciados por Scam oz zi. com vistas cm perspectiva para ruas
pico de Vicen za ga nhou suas últim as estátuas foram substituídos por um sistema de rotundas
pranca vcrs. O ~,onto li:
fuga está atrás do cen ário. No ce ntro, a po r/a regia , m ais tarde tra nsfor mada e ampliada no palco tão-somente depois de 170(). No qu e diz res- planas e deslizantes.
pecp -show do teatro Far uese de Parm a. pei to às pro porções, Scamozzi seguiu as regras No decorrer de um séc ulo, o teatro renas-
de Vitr úvi o mai s fielmente até do qu e se u mes- centista viveu uma repetição em câ me ra r.ip i-
tre Palladio havia feito. O model o de cidade do da do teatro roma no . Qu anto mais suntuoso o
duq ue Vespasiano não admitia co nces sõe s. Após palc o se tornava e q ua nto mais ate n ção e ra
a morte do duq ue, o sítio recaiu cm se u iso la- di spensad a a se us aspec tos visuai s, mais des -
mento rural; mas o teatro de Scamozz i ex iste valorizado ficava o co nteúdo literári o . Poi s
ainda e é co nservado com muito ca rinho . agor a. antes e aci ma de tudo, o principal man -
Do séc ulo XV I em diante, os teatros em damento para os atorcs era subord inar se u mo -
palácio s assumira m importância. tanto do pon - vimento e co m posição ao cálculo ótico do ce -
to de vista da históriu cultura l q uan to do da ná r io . A s s im c o m o a monumen ta lid a d e
urquitc tura . Em Florença. Bern ard o Buonr a- arquitetó nica das últ ima s scaenaefrons rom a-
lenti ex presso u o es plendor do s pr íncip es de nas não havia deixad o espaço para um dram a
Med iei nos arra njos decorativos e tea trai s das de qua lida de se me lhante, as decorações cada
festividades. Em 1585, Buon tale nti co nstru iu vez mais e labo radas do fim da Ren ascença re -
o famoso grande palco da co rte no lado leste legaram de fato a pa lavra a uma função se -
das Uffizi. e a li foram encen ados suntuos os cundá ria.
int crnrcdii e comédias dur ante o inverno de
1585-1 5 86 . A sa la media mais de 46 m de
co mprime nto e 18 m de largura, e seu ei xo
longitudin al era s ufic iente mente in clinado
para permitir um a boa visão a todo s os especta-
dores. O palco ficava na ex tremi dade inferior,
e os tronos par a a família gove rn ante encon-
travam-se im ed iat amente :1 sua frent e, sobre

::! I . Plan ta di I Tea tro () Ií lllpil.'t) de Viccu za . Cousu'ufdo


20. Corte IOllg illldi nal do Teatro Olí11lpil.'o de Vif..'l' llI"a , A esq ue rda . o ce ná rio d~1 rua ce ntral no ilng lllo do pa lco : ;'1
d ireita, o s acen to s ~JlI u ivei s. ;1 ma neira dI..' UII I anfit eatro pt 11- A ndn-a Palln dio e co ncl uído l'1I1 ISX·l pln Viuc-c nzo
SC õlIIlO/ 1'I

• 29 1
o palco, com seus bastidores em ângulos cos, expr essos apenas em pa lav ras, para sua nova duque sa. Ap olo oferec e as sete virtudes Visconti relata que a apresentação foi organi-
ou prismas rotativos de mad eira, era, na me- representação co rpor al e palpável. Tomrn as., a lsabella, e, em co ncl usão, entrega -lhe um za da da me sma m an eira que a do Ca stello
lhor das hipótese s, ap rove it áve l para a atua - Inghi rami . como ator em Fcd ra , so bressaiu por livro contendo o texto co mpleto de Bellincio- Sforzesco.
ção somente até a altura da segunda rua tran s- sua ma cstri a no latim . Um sé culo mai s tarde ni, Festa dei Paradiso . C om esta apresenta- Seri a, porém , subestimar as forças moti-
versal e raramente para entradas na altura do não e ra mai s a palavra qu e pred ominava, ruas ção , Ludovi co o M ouro reforçou sua posição. vadoras do s grandes festivais da Renascença
pro specto pintado. O s ator es deviam ficar lon - a organ iza ção c énica. O qu e importava a An- Os engenhos os mecani sm os de Leonardo, inte rpre tá -las meram ente como um a ex pressão
ge desta área, porque o tam anho natural de se u gelo Ing egneri era a perfeição do agrupamen. exibidos no cintilante festival de Milão, asse- do prazcr das cort es em representar. Por trás
corpo chocava-se com a ilu são de perspectiva to estético. guraram-lhe um lugar na hist ória da decora- da dispendiosa propaganda pessoal es condia-
e destruía a perfeição do ce nário, concebida ção cênica. Bellincioni gabou- se por muito se a reivindicação de poder político. a ex pres-
pela matem ática de prin cípios estéticos . A re- tempo de sua colaboraçã o com Leonard o nes - são de medidas tátic as e razões de Estado . Isto
gra suprema da pintura renascentista, segundo Os F E STI VAI S DA C ORT E ta ocasião festiv a: na posterior edi ção impres- pod e ser levado mu ito além, no exemplo de
a qual o olho não de veri a se r ofendido por sa de sua Rima, introduziu a Festa del Paradiso Lud ovi co Sforza. Nas festividad es promocio-
so breposições discordant es, aplicava-se tam - M aqu iavel co ns ide rava ma is va ntajo so com a seguint e explicação: nais em P ávia, em 1492, por exemplo, logrou
bém ao arranjo da s pe ssoa s no palco . para um príncipe ser temido do qu e amad o. neutrali zar elegantem ente o se ntimen to hostil
O tipo de peça en cen ada e o co nseqüe nte Contudo. um a de suas recom endaçõe s em O A seguinte ob ra de Messer Bernardo Bellin cion i é da família de Beatriz co ntra el e. Nessa oc a-
tipo de decor açã o também determinavam a Prín cip e era de que este , "nas estações conve- um a peça -fe sti val o u un te s um c spe r ác ulo ( rappre - sião, havia encarreg ado Bcllincioni de esc re-
escolha da indurnent ária . Qu ando o Teat ro nientes do ano, deve mant er o povo oc upado
senta Z;one ). intitulad o Purudiso, q ue o se nhor Ludovico
ve r um a co mpos ição proclamand o Bea triz o
Olímpico de Vicenza foi ina ug urado em 1584 mand ou or ga ni zar cm ho n ra d a duq uesa de Mil ão .
com festiv ais e mostra s", um a prática que foi Intitula -se Paradiso por q ue . pel o grand e dom de inve n- " novo sol" e as corte s de Ferrara e M ântua, os
com a encen ação do Édipo por Angelo ln - abundante no tempo da Ren ascença. ção c pela arte do me stre Leonardo da Vinci de Florença, campos elíseos da arte e da erudição . O poe-
gegneri, este escreveu: Os prínc ipes jogavam o jogo do poder com construiu-se o Paraíso com todos os sete planetas giran- ma também festej ava, em elegias loquazes, o
igual perícia tanto dentro do espl endor da corte do num círcul o. os pla ne tas sendo rep resentados segun- duque Ercole d ' Este de Ferrara e sua seg unda
É preciso co nsiderar e m qu e pab "Cpassa a aç ão da do as personagens c vesrime ntas de scritas pelos poet as.
quanto nas teias da conspiração . Quando o amo filh a Isabella, duqu esa de M ântua. q ue estava
peça a ser ence nada. e os ato rc... d ~ \'C: 1II estar vestido... ~IO
modo desse povo. E se a peça for uma tragédia . os traje s bicioso Ludovico Sforza , " o Mouro" , organi zou também present e. Int en ções similares podem
de vem ser rico s e s untuos o c: :'>C fo r uma co médi a. co - um a e norme apresentaç ão a leg órica na co rte de "O Paraíso qu e gira num cí rculo" é o fa- se r detectadas IIOS inumeráv e is co rtejos ale-
muns. porém elegante s: se. finalm ente. for uma pastor al. Mil ão em l4 'Xl, seu obje tivo era o bter os favo- moso prim eiro exe mplo de um palco girató - gó rico s e proci ssões . por mei o dos q ua is du-
hu mildes. mas de bom corte c graciosos, o que vale !<IlHO res da jovem Isabella de Ara gão, a recém-che- rio, do qual , além da de scri ção de Bel1incioni ,
q uant o a ostcmaç ão. No últ imo C3"' O. j ~í se (ornou con »- possuímos tam bé m al gun s esboços de Leo-
ta nte a prática de ves tir as mu lhe re s :, maneira de ninfa <.
ga da noi va de se u so brinho Gia n G alea zzo
Sfo rza. A celeb ração do casamento o ferecia a nard o. Estes nos dão a lg umas ind icações de
mesmo se forem simples pa stora s
melhor oportunidade para ad u lar a " d uq uesa co mo o mecanismo de ve ter funcionado . O
boneca" . Pouco temp o dep ois. Lud ovic o des- engenhei ro itali ano Roberto Gualelli o recon s-
Ingegneri empreendeu esta produção co m
membr os da Academia, antes de tudo como um posou Beatri z d'Este, outr a ocasião a ser cele- truiu para uma mostra sobre Leonard o cm Los
brada com grande pompa e os tentação . Os poe- Angeles, em 1952. George.J. Altm an. por cuja
exercício cor eográfico . "Fo i uma maravilha
tas da cort e torneavam em incessante produ ção incitação est e mod elo foi exe cut ado, cita a de-
como todos dominaram suas posições e movi-
hipérboles panegíricas em rima e lega nte. claração de um a testemunha oc ular de como o
mentos e o quão acurad amente se colocaram".
relatou ele. O piso do palco havia sido disposto () própri o Lud ovico plan ej ou uma grano ori ginal funcion ava : "O sem icírculo era di vi-
de II/asque a legó rica qu e c ulm inav a numa ho- dido ao meio. Os doi s quartos de círculo roda -
em quadrados, co mo um tabuleiro de xadrez, e
menagem a Isabell a. Ela foi escrita pel o poe- vam par.! a frent e e voltava m a fech ar-se , e o
cada qual sahia e m quantos q uud rad. » deve ria ir c vir. c ta da co rte florentina Bernardo Bell incioni e palco era subit am ente tran sform ado em cume
depo is de quantos q uad rad os de veria parar. E quando o or ganizad a por Leona rdo da Vinc i, que nessa esc arpado de montanha" . Leon ard o utili zou
núm e ro de IlC~~Oas cm cen a aumenta va e tornava -se 1Il.' - seu palco gi ratório por uma seg unda vez em
época trabalh ava na cort e de Mil ão co mo en-
cc ss ário trocar de po -,i\·õe ~. h «los mosrrava m estar bem 1518, no C hâtea u C lo ux pert o de Ambo ise.
instru ídos CO Hl rclaçüo a qu al fileira 011 a qua l cor de tina·
ge nhe iro militar. inventor, co nstr utor de ca-
nais, pint or e organizado r de fe stiv ais. Leo- onde organi zou outra apresent ação de Paradiso
dra do d~WIÜ III Se recolher : a vvim, tod os a prendiam se m
di ficuld ade a fazer SU a pane , nardo desenh ou um sistema plan et ário móvel , para o casamento de uma da s sobrinhas do rei
trajes pitoresc os para deuse s e deusas, másca- Francisco I e do duque de Urhino. Galcazzo
Cem anos haviam se passado desde as ras repre sent ando selvagens e fant ásticos ani -
prim eiras aprcsc ntações oferec idas pela Aca- mais de fáhula . Os versos de 8 e l1 inc io ni mer -
demia Pomponiun a em Roma, desde sua pro- g ulhava m e m elogio s arrebatadores: Ap olo d.i
dução do Hipolito, em 14R6. A inauguração 22. Leonardo da Vinci : desen ho de um palco girató-
as boa s-vind as a Isabella co mo o no vo so l en-
rio para a Festa dei Paradi so no Paço til: Milão. janeiro
do Teatro Olímpico de Vicen za foi o 11m de tre os pl anet as, os gove rna ntes do céu e da de 14lJO, Embaixo, vê -se J úpite r se ntado no trono , rodou -
um processo que co m e ça ra C O Jll O uma ilustra- terra mandam men sagen s em sua honra, e até do pelos sete planeta s: o ce nário é um a espécie de grut a.
ção de textos, a tran sposição de temas cl ásxi- me sm o V ênus curv a-se ant e () esple ndo r da q ue pode ser fech ad a por seg me ntos circu lares m óveis.

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,~
I; ,

2.... Ber na rdo Buontalcnu: figuri nos p.U:I os inte rmrdii d o g rande festival de teatro do s
Medi ei . orga niza do e m 1589 no sa lão de tea tro da Uffi zi, Fl or en ça (Lo ndres. Victoria and
A lbert Mu sc nm L

23. Francc vco dei Ce ssa: Carruage m festiva do Trumfo (Ii Apollo. Mur:11 pintado cm 1470 , representando o mês de 25. Cen a de torn eio. assistida pd o rei e sua corte. Decoração cm uma arca . c. I..tXO.
Maio. no Sa lon e dei Mcsi do Palazzo Schi tanoia. Fer ra ra. Atr ihufd a a Do men ico Moronc (Lon dr e s. Na n ona l G all cry).
Hí stó rí o MIII/diul do Tc ot ro •

ques e reis, usurpadores e governantes paga- ma começou, no estilo italiano, com trionfi mi-
vam-se tributos, buscando persuadir ou tapear tológicos e alegóricos, ou antes C0I11 seus cor-
uns aos outros. respondentes franceses, as cntrces solcnellcs,
Como forma específica desses festivais da e culminou com o internacionalmente famoso
corte, a idéia da triunfal procissão romana foi Ballet Comique de la Rovne, uma combina-
revivida e transformada no esplendor reluzen- ção de números de dança, recitações, árias e
te dos trionfi da Renascença. Enquanto o tea- pantomimas em homenagem à rainha.
tro processional do final da Idade Média em O grande salão Bourbon do Louvre, em
geral satisfazia-se com o princípio único da Paris, resplandecia em ouro e fulgia com can-
seqüência, ou seja, com uma única passagem delabros, enquanto Versailles, na época, ainda
pelos espectadores enfileirados ao lado de ruas era apenas um vilarejo nos campos e havia sido
e praças, o novo empenho era "apreciar a pro- contemplada com um único pavilhão de caça
cissão não apenas em suas seções separadas, por Henrique IV. Quão extraordinário deve ter
individuais, como o farão os espectadores sido o efeito do cenário com um jardim em
posicionados na periferia, mas antes em sua perspectiva como locação para os entreteni-
totalidade: de cima e, se possível, até mesmo mentos que o rei pedira a seus colaboradores
no eixo da procissão" (Joseph Gregor). mais próximos para projetar: seu ch amberlain
Os átrios dos palácios, com seus arcos e Balthasar Beaujoyeulx encarregou-se da en-
galerias, as praças das cidades com suas arca- cenação, seu conselheiro dAubigné da admi-
das e balcões, ofereciam uma oportunidade nistração e o poeta da corte de la Chesnaye
para que convidados de honra assistissem aos providenciou o texto.
trionfi literalmente colocados no alto, em cima O Ballet Comique de la RO\'l1e. expressão
- enquanto o cortejo passava num curso circu- de uma monarquia enganosa mente confiante
lar. Em Florença, a Piazza Santa Croce, com em si, marcou o declínio de uma dinastia à qual
seus balcões e tribunas de honra especialmen- o país arruinado e dividido perdoou tanto me-
te construídas, e o pátio do Palazzo Pitti eram nos essa dispendiosa [ata niorguna teatral. O
locais favoritos para os famosos festivais dos duque de Joyeuse foi derrotado em 1587 e. em
Mediei, nos quais Buontalenti fez valer toda a 1588. Henrique III não conseguiu reprimir as
riqueza de sua fantasia alegórica. Desenhou barricadas em Paris, nem suprimir os tumul-
trajes para os planetas, para as virtudes, para tos. Teve que fugir e morreu em 1589 retalha-
ninfas e deuses: delfins com rodas e tritões flu- do pela faca envenenada de um dominicano.
tuantes - até mesmo barcos de gala, usados Mas o novo gênero teatral-dançante sobrevi-
quando os átrios ou praças eram inundados, veu, e oitenta anos mais tarde floresceu de novo
para intensificar o efeito. Idealizou também tra- na corte. graças a Molicre e Luly e sua come-
jes para gênios alados, dragões que cuspiam dic-ballet.
fogo e querubins dançarinos que mergulhavam A arte do festival alegórico sobreviveu a
em cornucópias douradas para espalhar flores catástrofes e dinastias. Foi cultivada. de norte
perfumadas entre os membros da sociedade da a sul dos Alpes e de ambos os lados dos Pire-
corte. neus. Quando, em 1581, o rei Filipe II uniu as
O povo maravilhava-se com a pompa tea- coroas de Portugal e Espanha. os padres do
tral de seus governantes, ou a pressentia, na Colégio Jesuíta de Santo Antônio, em Lisboa,
medida em que conseguia captar algum vis- o receberam com a Tragicomedia dei Descubi-
lumbre dela. Não raro, a aparentemente des- micnte Y Conquista dei Oriente. encenada
preocupada magnificência representava o úl- numa armação de três andares ao ar livre, se-
timo e eufórico lampejo de um poder há muito melhante ao da Antiguidade. João Sardinha
debilitado. Mimoso o descreveu em sua obra Relacion
Quando Henrique III da França celebrou (1620) como um palco guarnecido de damas-
em 1581 as núpcias do duque de Joyeuse com co colorido e ricamente adornado com "pi-
pretensiosa pompa teatral, toda a sua corte, po- lastras. cornijas e arquitraves". À direita e il 2ó. l-csrn teatral aquática (Naumachia t IlO parque do castelo de Fontaincblcau: gUl"I"l"ciros, à bordo de barcos ornamen-
liticamente em extremo perigo como estava, esquerda foram construídos portais de acesso tados. assaltam uma ilha: cm primeiro plano, ii direita. o rei Henrique III c sua eSp\l~a. Tapeçaria mural do século XVI
foi mergulhada num frenesi festivo. O progra- aos bastidores. à semelhança das entradas do (Florcnçu. Uffizir.

• 296
• A Rt'lI l l. \( ·f ' n ç a

Atraç õe s fe sti vas par:l a ce lebração do cuxamento J o prínc ipe herdeiro Wilh c lm da Bavier a e de Re nata de Lore na, cm palc o da s paraskcnia gregas. Nesta pr odu çã o . Dan úbi o, cm honra d e M aximiliano I. O im-
Munique. 15(1R. Gravu ras col oridas de Nico ln-, Solis.
o rei portugu ês Emanuel e seu séq uito e n tra - per ador havia in stalado sua co rte em Lin z pa ra
va m no pal co pel a di reit a. c scus o po ne ntes as se manas de Ca rna va l. e rod eara-se dos leais
mouros. pela es q uerda. Dois nich os no pa vi - hum ani stas vie ne nse s. tão dedi cad os a ele ,
ment o supe rio r representavam a casa de Eol o, O que pod eri a se r mai s ad equ ado e m tal
de us do s vent os. c a boc a do infe rno; bem aci- ocas ião do qu e homenagear a Sua Majestad e
ma . ficava o tron o do s anjos . Aqui. ve stíg ios co m deuses, ni nfas . faunos, sáti ras antigo s,
dos múltiplos cen ários do final da Idade Mé- co m verbosos pan eg íricos a pintar a g lória do
di a combinavam-se com as carac te r ístic as imp ério , coroados co m o louvor do vinh o do
arqu iteturais da s anti gas scaenac frons num Da núbio - qu e era desp ejado e m "taças e tige-
estilo altament e o rig ina l de hom enagem cor- las de o uro" ao estím ulo de um Sileno b êbad o
tesã. antecipando as futura s formas do teatro e ao so m de tambo res e trompas?
jesu ítico . No fin al, Dian a tomava a palavra. Prome-
A legorias cc mc as e arr anj o s si m ila res tia ao casal imperi al tod as as boas graça s dos
eram co muns nos festivais áulicos da Ren ascenç a deu ses, desej ava a M a ximiliano e à sua es pos a
ing lesa. os interhíd ios. Com as mascar ad as da itali an a Bia nca S fo rza m uit os filh os esplê ud i-
co rt e, popu lare s entreten im en tos d e m e sa , dos, reunia to dos os pa rtic ipa ntes e m torn o de
co nstituía m uma variante aut ón oma da id éia si e declarava, num últi mo qu adro vivo co m
a ntig a do tri onfo, Um dos interlúdi os de maior aco mpanha me nto musical. qu e ago ra re to r-
sucesso de John Heywood, Pia)" of th e !Veatller nari a aos bosques de Wachau. No dia seguin-
(Auto do Tem po ), foi encenado em 1533 para te , como informa a ed ição impressa da peça
a corte real num palco de dois anda res. co m (ma io do mesm o a no), a "d ivino Maximiliano
Júpit er no 10p O, o uv indo as qu ei xas proferidas oferece u um banq uet e real a todos os pa rtic i-
co ntra o di sp en sad or dos ve ntos Eo lo, c o da s pa ntcs [q ue per fa ziam um tot al de vinte e qu a-
27 , Torneio de cavaleiros no grande salão da Rcsidcn z (Al/c,. I /(~fJ em Munique .
c huvas. Fo ibe . Os mercadores do m ar pe de m tro ] e os prese nteo u co m dádi vas rea is" .
ve ntos favor á ve is. exata rn e nt e co mo o s na ve- Konr ad Ce lte s c os humani stas de Vie na
gado res de Vasco da G am a na Trag ico m cdia agradece ra m- lhe co m um sem- n úmero de j o-
portugue sa . No a no d eci sivo de 15i111. Eol o gos sim ila res de homen agem qu c varia va m de
esta va do lad o da Ingl aterra q uando fez com urna ode poli fôn ica ao te xto lat ino da Ma rcha
.' qu e os re ma nesce ntes da denotad a Inven cí vel Tr iunfal de Maxim il ian o - en ge nh osamente
A rm ad a esp a nh ol a afu ndas sem nas tempesta- id ealizado; co nstru ções bomb ást ica s d e pa-
des do golfo d e Biscaia. Enqu an to os poetas lavr as. que hoj e j a zem enterrad as em b ibli o-
corteses de nações navegantes pr eferiam ex - teca s e arquivo s . De há muito esqu ec eu-se
trai r seus tema s e al egorias do reino de Netuno qu e o abade Ben edi ctu s Chclidoniu s (que cos-
e S aturno , se us co m panheiro s se m acesso ao tumava organ izar a pre se ntaç ões de Ce ltes na
mar preferi am a im agem das videiras e da caç a . esco la latina d e Vie na , c ha ma da Sc ho u c n-
Diana d ava se u nom e a mu itos dos es pe tac u- gy m nasium) exa ltou M a ximilian us triuntpha -
los de corte ; um do s primei ro s a e la de vot ad o s tor e m verso s e rud itos . N ão for am esquec idas.
fo i e sc r ito pel o hum ani sta a le mã o Konrad poré m, as ob ras de art e qu e o inspira ra m : a
Cc ltis . m agn ífi ca x ilo g ra v u ra d e A lbrec h t D üre r,
Esse ale mão oriundo das margen s d o Main " Ehrc npfon e des Kaise rs Ma ximilian" ("Por-
levou sua plat éi a de vo lta no tempo e para a ta de Honra do Imper ad or Ma xim ilian o" ) de
Itáli a, a o rigem do triunfo e do pan egi rico d a 1515, e se us esbo ço s de 1522 do "Tr iumph-
co rte . Ele co meçara a interessar-se pelo teatro wagen" ("Carro T ri unfal" ) - um a glor ificação
e m Roma e Fe rrara c, em mar ço de 150I le - póstuma de Maximil iano, o "últim o dos cava-
vo u it cena o prim eiro exempl o fam oso de um leiros", que fa lecera e m 1519.
pan egí rico-trioll/(' ao norte d os A lpes. Junta - O Ba rro co. co m s ua in can sável riq ueza
ment e co m se us a m igos da acad emi a humani s- cé nica e dec or ati va, pagari a o mais suntuoso e
ta vie ne nse Sodalil as Littcrar ia Danu bian a, or- último tribut o ao Sacro Impér io Rom an o. nas
ga n iz o u um a up rc se n t a ção d e s ua L u d u s LI/di Cacsa re i e nce nadas nas co rtes de Pra ga
28, Kiíbrlstrrlren (ju sta ) na l\1aric llpb ll.. O e ixo h-... ll' - O C Q C da pr uça c s(;í a... viua ludo pu r doi s ;.][(: 0 ... til' triunfo (M uni -
que, Stadtmu xc um ). [) ;{I/ /{ I<' e m c inc o aros. no castelo de Li nz, no e Viena .

• !Y9
H ís u rriu õtu n d ía í (lo T Ct1t r o •
• :\ R cn a s c cn ç a

o DRAMA ESCOLAR nas; outros, um cená rio neut ro e simples , do A Ref orma não ap enas acrescentou pro - tamente pel o co nfro nto com o Anticri st o .
tip o " ca b ine de banho" . A co n tra po n tís tic a fundidade ao co nte údo do teat ro escolar, ma s m as Bale seg uiu por um c a m in ho indiret o,
o estuda nte de filosofia e teol ogi a Chr is- tro ca d e lo cal entre uni ver sidad e e ci da de na- também lhe deu uma nor a co mba tiva. Porém . com figura s alegórica s a assu mi r as per sona -
to ph Stummel, de Frankfurt so bre o Oder, m al tal d o s es tuda ntes, tudo num úni co ce ná rio , é tomando partido nas co ntrové rsi as religio sas. ge ns reai s. de modo qu e o Poder Usurpado
contava vinte anos qu ando cheg ou a uma ines - a ind a influen ciada pelo princípi o da suc es- entrou em conflito com a intenção pedagógi- veio a ser o Pap a.
perada fama dramática. Em 1545 , foi celebra- são da moralidade do Medievo tardio. Tr au- ca . Quando Agrí cola. em 1537 , compôs um a Enquanto as controvérs ia s reli giosa s se
do em Wittenbcrg com o autor de um a peça que s içõ e s de sse tipo e ra m freq üentes no dr ama rí spida acu saç ão e m sua Tra gédia de Johunn is torna vam m ai s e mai s vee me ntes. a rainha
" ag radou grandem ent e" aos doutos erudit os . esco lar. e ainda for am usad as. por e xe m plo. HII.I"S, Lut ero o ce ns u ro u por se r tendencio so fr an ce sa Margarida de Nav arra tent ou trans-
Era chamada Studentcs, sem dú vid a inspirad a na peç a l.aurentius , representada e m Co lô - demais. Isto, afirmou Lutero, não era hom para por o s co nflitos com o seu M iroir de [',\1/11'
na comédia do mesmo título de Ari osto, e tra - nia,em 1581. a peça esc olar. Péchcressc (1531). M as seu escrito foi qu ei-
tava -se de uma descrição alegre e sem rodei os Nã o obstante todas as tentativas de v ivi- Da Suíça, também, vie ra m vio lentos ata- m ado co m o "protestante" em 15 33 pela Fa-
da vida estud antil d a épo ea e de tod os os pra- fica ção c ênic a. o palco escolar era um pódi o ques contra Roma. Em 153 9 Jakob Ruoff, culdad~ C a tó lica d a Un iversidade de Pari s.
zeres e peri gos que espreitav am o j ovem estu - para a a rte da declam ação. Professores, mes- talh adeira e cirurgiã o de Zurique, esc reve u Como Cal vino esc reve u e m outubro de 1533
dante, entre a seve ra Filosofi a e a conv idativa tres e reitores atuavam co mo a uto res , ad ap- Weillgllrlellspiel. uma peça qu e acu sava o s a o s se us a m igos em O rlean s, o s professores e
filia hospitalis. Ao fin al de cada ato , o coro tadore s ou tra dutores de pe ça s. Seus nomes são tab erneiros pelo as sassinato d o Filho de Deu s alunos da Faculdade C atólica de Navarra sen-
profere bon s co nse lho s, se m dúvida bem a pro- uma legião, do alsaciano Jakob Wimpheling e e o s apr esentava co m o papi sta s. ti ram- se ultraj ado s com a atitude pró-protes-
pósito, após as beb ed eir as, br igas barulhentas s ua co mé d ia Sylp ho ( 1494) , a Johann Rcu chlin Th om as Naogeo rgus , e m sua Pa/1/lII a - tant e d a rainha. As tent ati vas de m ed iação de
e aventura s noturn as precedentes. Finalm en- c sua H el11/{}, ence nada em 149 7 por es tuda n- chius ( 1538), apro veitou o tema do Ant icristo part e d essa inteligent e. se nsíve l e c ultíss ima
te, os pais dos jo ven s irrompem em cena al ar- tes e m Heidelberg , e da Tragedia de Thurcis ct e e la borou uma co m plexa con strução intelec- humani sta , cuj as peç as reli gi osas a leg óricas
mados e decid em resg atar os respecti vos filhos, Suldano, de Jakob Lo cher, a Philipp N. Fris- tu al cobrindo um milénio de hi stória da Igr e- te stemunham profunda devoção, for am irre-
co m um "mergulho" na bo lsa de di nheiro e c h lin. A este último a comédia esc olar latina j a. A peça deve o se u título à fig ura do bi sp o m ediavelmente afo gad as numa onda de ód io
um forçad o "s im" ao matrim óni o. prot estante deve o fat o d e qu e " não morreu de Pammachius, um co nte m porâneo do impera- mútuo . O s ant agoni stas reli gi o so s invocavam
Stumrnel - qu e havia es tuda do a técni ca fraque za e téd io. ma s foi ab sor vid a na s nov as dor rom ano Juli an o. o Ap ó st at a. Num a ce na o direito de ex pressão livr e e ind iv id ua l de
dranuitica com seu mestre. o comentador de formas de arte dram ática , rep resentadas, de um gro tesca no inferno , el e re cebe a tiara de Sat ã. op inião tal co mo entendido na democraci a
Terêncio Jod ocus Willi ch - pos suía quer o dom lado, pelo al uno de Frischlin, Heinrich Julius O ruidos o festim ond e o papa Anticrist o a n ti g a, mas esqueciam o se gundo e cruc ial
para a observação astut a. qu er bom senso sufi- vo n Br aunschwei g e Ayrer , e, de o utro . pel o Pammachius e Sat an ás ce le b ra m sua vitória é in grediente: a tolerância.
cie nte para perce be r qu e o êxi to nos palc o s drama jesuíta" (G . Roethe). int errompido pel as not ícias d e qu e Lute ro A o mesm o tempo os princi pai s reprc sen-
esco lares requ eria prova de a plicação mo ral Philipp Melancht on , o Pra eccpt or Genna- pr ega va suas Te ses no portal da igr eja e m ta ntes do drama esco lar esta vam assim empe-
profund a. nia e e gra nde reformador do siste m a ed ucac io- Wittenberg . No epílogo. anun cia-se que a ba- nh ado s num agressivo cruza r d e es padas; para
Studcntes de Stummel fo i apresentad a nal e es co lar, em pree ndeu intenso s esforços talha do Anticrist o contra Lutero ainda é vio - c onsumo interno seu s praticantes recolhiam-
duas vezes em Wiu enb er g. Entre os convida - para re viver o drama da Antig üidade . Em sua lenta, e qu e se u resultado não se ria de c id ido se a um terren o co nfe ss io na l mai s neut ro .
do s de honr a estava Mel unclu on, que lhe con - acad e m ia parti cul ar. e m 1525 , fora m en ce na - até o Dia do Ju ízo . C o mo qu e num aco rdo secre to. c não ra ra men-
fer iu o atributo de "el egantíssima " . e logio qu e d as H ccuba de Eur iped ex. Ties tcs de Sén eca. Naogeorgus dedi cou se u drama ao " ma ior te mesmo e m relaçã o diret a. m ateri al do Velho
se referi a tanto ao s diál og o s latin os ao estil o Miles Glo rios us de Plauto e muita s da s co mé - prín cipe antipapista da igreja da Inglat erra", o Testamento em ergia como tem as fa voritos por
de Terêncio e Plauto. com o ;1 erudição que o dias d e Terêncio, tod as com prólogo s do pró- ar cebispo Thoma s Cranmer d e Cant crbu ry , toda a Europa , co m Su sana. Jacó e Tobias à
autor demonstrava. Isto , na ve rdade, se evide n- prio l'vI elanchton . Cranmer es tabe lec e ra co nrato s pe ssoai s com frente.
ci ava j á na lista de dtani atis pcrsonae. Um do s Martinho Lut em ad m itiu qu e o teatro po- o s partidári os da Refo rma durante um a vi a- Si xt Birck de Aug sburg produ ziu . em
estuda ntes tinh a o nome de Acolostus. o d is- deria exe rcer urna influên ci a benéfica , como ge m à Alemanha e despo sara uma so brinha do 15 3 2. primei ramente uma ve rsão alemã, e
so luto - um a re ver ên cia au dramaturgo pro- test emunha a se g u in te p a s sag em d e se u pr egador evangélico de Nurcmberg, O siander. c inco a nos mais tard e uma ve rsão latina, de
testante holandês Gnapheus. que em 1528 ha- Tisch rcdcn: Presume-se que Pamm a chius foi representada S IlSaI/IW . Em Estrasburgo, em 1535 . por oca-
via escrito. no gê ne ro para esco la. uma peça na casa d o arcebi spo, e m Canterbury, Mas sua s ião da inauguração do novo Gvninasium (e s-
so bre o filh o pr ódi go , chamada Acolastus, Com édi as ence nada s não de ve riam se r proi b ida , p rimeira enc enaç ão d ocument ad a ocorreu em co la se cu ndár ia), constituído de três es co las
Eubulo s, o bom co nse lhe iro. mo stra va qu e ma-; c m convideru ção aos rapa zes da esco la, permit ida ..
m arço de 1545 , no Christs C ollege da Univer- latinas, Johannes Sturm es colheu o tema de
c tole rnd as. Em primeiro 11I ~.ar. po rq ue é boa prát ica. p;lra
Stum mel est ava familiarizado com os escritu - sidade de Cambridge. L á zaro para sua pe ça . Na pequena cida de
e les. da Ií n~ lI a l.u ina: cm sec undo lugar. porque nas (;'0-
res greg os de comédias. Eleuthcria, a sem pre- mé di as h.i pÓ Sí KI S c riada v, des crita s c rep re se nt ada ... c tuu Cranmer cuidou também ele lixar o dra- universit ária de Steyr so bre o Enn s. na Áu s-
co nce itos, testemunhava se u co nhe c imento da "1"11.." , d e m odo a in st ruir o PO\"\l e record ar il c ad a 11111 ' lia m a escol ar prot est ante na Ingl at erra . En co - tri a , o dramaturgo eva ng élico e re ali zad or
mit ologia anti ga. vit ua ç ào t.: o fíc io . lembrando II q ue- é adequ ad o para U IIl raj ou John Bal e . um d ram aturgo ingl ês in- Tob ia s Brunncr en cen ou um Ja k o b e um
O s histori adores do teat ro não concorda m se rvo . um mest re . um j ovem o u 1lI1l ve lho. c o YUL' e le
flu en ci ad o por Naogcorgus, e aj udou a le var To bias . Em Praga. Mathias C ollin, um di scí-
d t' \ c fn zcr. Na \ c tcladc . to rna m c laro l' e vid e nte cor no
q uanto ao tipo de pal co usad o nessas cucenn- seu dram a hist órico-al eg órico King John em pulo de Melan chton e profe ssor de filolog ia
n um c_'pL'lho a posi,";10, o...u pação e o "" (k \'t~ rc s de I(ldo""
ç ões . Alguns , co mo F R. La clun.m, visualizam l h di gni tür in s c ,,'0 1110 ca da qunl se d eve comportar c ... on- palco s uni versit ário s . Naogc o rgu s desd e () c láss ica . g a nho u os fav or es d o rei co m 51/-
uma cena feita de d iver so s co njunto s de co ru- d u/.ir s ua vida púb lica c ru "lia PO:-i\-'<111 ...1l1...·i;t1 . in íci o havia e nca mi nha do sua pol émi ca di re - S a l/ I III. t\ pr im eira apresent açã o . fe ita e m

• 300
.10 1
• A R rn as ccn çn

1543 no Collcgium Recek, teve de ser repet i- sedes de grémi os. salas de dan ça ou em pra-
da. con fo rme o desejo expresso de Ferdina ndo ça s púb lica s. qu and o o tam anho da audiênc ia
1, no cas telo. em presen ça de tod a a co rte : a assi m exigia . Em Eger, o cantor Betu lius pe -
rainha Ana e os do is príncipes. Ma ximiliano c diu permi ssão ao co nsel ho da cidade, em 15 .~ :),
Ferdinando, enco ntrava m-se no ca maro te real. para encenar sua co mé d ia De Virtutr ct Hllul' -
próximo do rei . lat e no mercado , dep oi s de te r sido apres enta-
Na Hun gria. na escola clássica de Ba rt- da " várias vezes antes. na es cola e no Deuts-
field, Lconh ard St ücke l levou uma Histo ria de cher HoJ, e. domingo retrasado. tamb ém na
Susana como "u m ex ercício público de orató- prefeitura".
ria e de co m porta me nto moral " para a j uvcn- O palco simples. de um úni co cenário, er-
tude . guido sobre vigas cruz adas o u so bre barri s, não
Outra S I/sana apa rece u na Din am ar ca, necessitava de nenhum eq uipame nto especi al.
escrit a e en cenada por Ped er Jan sen Hcgelund Um recurso po pular e útil para segu ir a a ção ,
e basead a na obra de Sixt Birck . A peça co nta- com seu elen co frequ ent em ent e numeroso e
va co m um inte rl úd io chamado Calumnia , no co m suas compl icaç õe s. era a prática de es-
qual a virgiliana figura simbó lica da ca lúnia creve r os nom es das personagens no alto de
de muit as língu as . Fama Mala . surge no palc o suas "c asas" , em let ras claras e legí veis. Quem
num figurino pit or escamente cos tur ad o com são as per sonagen s qu e es tão fa land o? De onde
29. Xilogravura para a Tragediu de Thurcis et Sitie/an o , de Jacob Loch er, rcprcsen tan- línguas de pa no . vê m? Para on de vão" Essas eram perguntas
do a cena dos sultões: "Consultatio baiazeti et suldani" . 0 0 Libri Philomus í, Estrasburgo , A esco lha de um tema do Velh o Tes ta- para as q uais o público leigo, q ue não sabia
1497. mento ou da Antig üidade colocava prof es so- lat im, prec isav a de alg um as indicações. Havia
res e alunos a sa lvo, do campo esco rregadi o mu itos prec edentes di sp onívei s na s numero-
da co ntrové rs ia co n fess io nal e polí tica . Quem sas edições de Terên cio. c u jas ilu strações em
o usass e a partar-se tinha de pagar caro por sua xilogravura apadrinhar am . da mesma ma nei -
agressividade . O va lente su ábio Phi lipp Ni- ra, o palco "cab ine de banh o" . Se algum aces-
kodcmu s Fri schl in - que havia recebi do a co - sório de palc o fo sse ne cessário . os carpintei-
roa de poe ta do imperador Ferdin and o e m ro s locais aj uda vam .
1576 e favor ecera o teatro escolar co mo rei- O teatro esco lar bu scava exe rce r seu e-
tor das es colas latinas de Leihach (Lj ubljanu) feit o mais pel a pal avra do que pela ima gem
e Braunschwei g, - foi longe dem ais e m sua visual. (O drama barroco encenado pelas or-
obra princ ipal . Jul ius Redivivus . Nessa peça, den s relig iosas uti lizou o ca m inh o oposto .)
co mbinava o lo uvo r às reali zaçõe s técn icas Er a pela declamação a lta e audível em latim -
alemãs com a culpa por suas fraquezas nacio - mais tarde. na líng ua na cion al - q ue os peda-
nais. Frischlin morreu em 1590 , pr isioneiro gogos demonstravam suas inten ções did.iti-
no ca ste lo de Hoh enurach. por " insultos co n- cus aos pai s e autor idad e s públi ca s. A a te n ção
tínu os às aut ori dad es" . do públi co era c ha mada para o fato de qu e " 0
Na Su éci a, no período de 1611-1614. o qu e não é represent ad o na rea lida de está des-
viaja do jurista Joh ann es Me sseniu s, professor cr ito nos ver so s" . co mo Tobias Brun ner indi-
na Univer sid ad e de Uppsala, procurou des pe r- co u no pról ogo de s ua pe ç a Jakob ( 156(,).
lar o interesse hi stórico de seus alunos co m A pesa r do despr end im ento, o mestre-escola
apresentações de e pisódios históri cos em diá- de S te ye parece te r c o ndesc e nd ido co m o
logo. Mas seu s projete s teatrai s levant aram sus - luxo de um palco co rtinado . Ele fala de um a
peit as; ele foi ac us ado de conspira ção com os "c or tina" . necess ária e m pa rte para ocultar a
polones es e levado a julgam en to. As sim. as ce na e, em part e. a fim de "puxar para a fre n-
ramificaç ões do teat ro escolar, cuja orige m cs tri te" no curso da peça .
na inofensi va decl am ação latina. per der am-se O Mcistcrsiug rr e dramaturgo alsac iano
em pol émicas reli giosas e, finalment e . termi- J õrg Wickram se m d úvida enceno u seu Tobias
naram no fogo cruza do da políti ca. de um a maneira sim ilar. quando foi represen -
O dr am a escolar foi represent ad o e m p á- tado por "c idadãos res peit ávei s" em 1551 . na
30. Desenho de ce nário para o auto de Laurcntius. de Ste phan Hroclm an. Colô nia. J 5RI. A peça fo i apresentad a no pátio do tios de colég io s, e m salas de aula. audi tório s praça do mercado de Kolmar. c o mesmo sc
Laurentia nvr Bursc: li pa lco é co n... uu fdo ao fedor de du a s :h \ o rl.:"(Col ô nia , Srnduu use unu . de conferênc ia em un iver sidad es, pre feitur as. aplica ii apre sc n ta ção de 1573 de Spicl ""11 der

• .111.1
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I

l í is t ár ia M UI/ d i a / do Te a t r o. • A R r ll11SCC IIÇ{/

pedaço de papel, co m visíve l esforço, pontua- id éi as da Re fo rma, como por ex e mp lo , e m


do pel o indicador erguido de se u viz inho, um 1539 , na a sse mbléia Redcrijke r e m Gand ,
te rceiro ap ont a di spli cen tem en te , com uma qu an do o mo tto esco lhido par a o dramático
j arra de cerveja vazia, para uma tabuleta na Spccl " {II/ Sim/e foi: "O que dá m ais conso lo a
pared e com a insc rição " in lief dc bloeinde" um ho mem que está morrend o?"
(" florescendo no amor") so bre um vaso flori- Q uando os "Violetas" de A ntuérpia esta-
do . Trata- se de memb ros da fa mosa Rcderij ker- vam prep arando seu gran de lan dj uwc cl e m
Ka mm er "Eg lantinc", de A ms te rdã. Ela se re- 156 1, dei xar am a escolha final do assunto para
fere não apen as ao se u ofíc io . m as igu almente a regente Margarida da Áustria, du qu esa de
à arte do teatro, qu e as guild as ho land esas pra- Parm a. Dos vinte e quatro títul os a ela pro pos-
ticavam co m cresce nte devoção do século XV tos, Margarida co nsiderou três: A sabedo ria é
3 1. Duas cenas do Spie l vou der Kiuderzuchr, de Johann Rasscr. X ilogravur as de uma edição impressa c m Ensisheim e m diante. ma is es tim u lad a pela ex pe riê nc ia o u pe lo
1514 . Tomados pelas aspirações culturais huma- apre nd izado ? Por que um avarento rico d eseja
nistas, resgataram as últimas mor alid ades me- mai s riqu ez as? O que pode melh or desp ertar
dievais e canalizaram -nas par a a arte da retóri - um ho mem para as artes liberai s? O s " Vio le-
Kinderzucht (Auto da Educa ção das Crianças) Em ocasiões mais modestas, um pan o ati-
ca vo lúvel - de acord o co m seu nome, que é tas" finalmente optaram pela última qu e stão,
d o ped agogo Johann Ra ss er, na vizinh a rado sobre os ombros fazia as vezes de um a
deri vado do fran cê s rh eto ri q ucur . Eram o um te ma qu e oferecia maior liberdad e de ação
E nsisheim. to ga romana, alguns atributos óbv ios identifi-
co ntraponto das Meistersinger alemãs, no que à sua tradi ci on al preferência pelas alegori as na
As possibilidades c ênicas dos pátios es- cavam os deu ses ou figuras alegóricas, e um
diz respei to à sua or ige m na s g uildas, seus retór ica e na decoração. O convite envi ad o pela
co lares (Estrasburgo já po ssu ía um festival em blema corporativo servia como in dicador
objetivos, e também qu ant o à sua org ulhosa "Camer van den Violie rcn" , na forma de uma
theatrum em 1565) são ilustrad as por um es- de status profi ssional. Um penacho no cha péu
hierarquia, que ia do patrono, pas sando pelo xilogr avu ra , an tecipa o conj unto das vir tudes
b oço da peça de Lau re ntius , em Colônia . significava um nobre, uma clave indicava um
deão, o porta- estand arte e o poeta , até o sim- ilu m inad as pe lo sol, de um lado; a de sor dem
Seu autor, Stephan Bro elm an, era professor lansqnen ê, uma barba branca indi cava um ve-
ple s membro. No séc ulo XV I, todas as cida- dos vício s, do outro; e, entronada no m eio, a
no La urentianer Burs e. Entre 8 e 12 de ago s- lho e um a faixa em torno da cabe ça , um tur co.
des de mai or tam anh o. na área entre Bru xela s Retór ica.
to de J 58 1, seus alunos orga nizaram. em ho- O qu e o emérito professorado esperava
e Ams terdã, possu íam sua próp ria c âmara de A "Peoen-Carnere" em Ma lines im primiu
men agem a seu santo padroeiro , quatro apre- do teat ro escolar enquanto mei o de ex pressão
retór ica. O clímax de suas atividades dra máti- o program a co mpleto de todos os números fa-
sentações do dram a latin o no arborizado pá- e g es to p od e se r apr e ndi do no Lib e r de
cas e teatra is era o lan dj uwcel a nual, um festi- lad os e ca ntados cm se u festiva l de 3 de maio
tio. e duas das árvores fora m habilidosament e Pron on ciat ion e Rhetorica. de Jodocu s Willich,
val para o qual as câ ma ras co nvidavam umas de 1620 . Ele foi publicado e m J 62 1, ilu strado
incorporad as ao ce ná rio . O piso da rampa qu e é o texto das preleções por ele proferid as
às outras. Esses festivais d uravam vá rios dias. co m x ilog rav uras, so b o pre ten s io so títul o
co nsistia em tábuas unidas pelas extremida- em Ba silé ia e Fra nkfurt so bre o Od er. C abe-
incl uíam pro ci ss õe s a legó ricas e ta blea ux " Um a A rca do Tesouro dos Filósofos e Poe-
des e apoiada s em só lida s vigas alinhadas. ça. testa, lábi os, sobrancelhas, nuca, pe scoço.
viva nts ( Verroon ing e) , e cu lm inav am numa tas" .
suportadas por barr is de vinho. Painéi s de braço s, mãos, pon tas dos ded os, j oelho s e pés
competição de peças alegóricas morais e re- Erud ito s e artistas aco rriam em m assa às
lon a verde emolduravam o palco como numa -. tud o tem se u papel predeterm inado na in-
ligiosas. Aí també m aparec iam as prim eiras Rederij kcrs. Prín cipes govern antes ace itavam
lanterna mágica. Os ade reço s para as várias te rpretaçã o "iII thea tro aut in theatra libus
cenas de ação - portas inseridas. um obelis- ludis ", D ificil mente pode-se co nsiderar Jod o-
co, um tro no imp eri al e uma ca deira cur nl cus Willich um es pecialista em es tudos indo-
para o pretor, uma prisão gradeada (cárcere) lógicos. Ele ficaria irritado se soubesse q uão
e um aliar de sacrifícios pagão caracterizam literalment e perto chego u do Natya sa stra , o
as cenas das peças - orde nada s de maneira si- gra nde manu al india no de dan ça e a tua ção . O
mult ânea como nos aut os "de lendas" do Me- qu e e le escreveu, sem pensar nas artes eleva-
dievo tardio . da s, so mente para o uso de esco las , ainda iria
O manu scrito de Broel man , que foi en- oc up ar Ri c c ob oni na Franç a , G oethe c m
co ntrado pelo estudioso de teatro Carl Niessen, Weimar e St ani slávski em Mo scou, muitas
de Colônia, contém não some nte o texto de gerações e séc ulos mais tard e.
sua peça e um esboço colorido do palco, mas
tamb ém numerosas notas sobre indumentárias,
gestos e o curso da aç ão . O herói e mártir ves- As R E D E R IJ K ER S
te um" longa e folgada túni ca e uma capa ama-
rela ornamentada co m motivos vegetais. Faus- Existe uma pintura, da ofici na do pin tor
tina aparece em um man to negro e com um Jan Steen . de Leyden, que mostr a um grupo
3 2. G rupo ale g órico de 11 11I "Sp('L' 1 \ '; 1Il Sil1lh..-". Xi logravu ra num co nvi re )l 'II ·"1 <'1 Landj uwccl a pn.':-.cnl :ula pe la C anil..-r
pen teado alto; seu nom e está afixado em le- dc pro bos mestres de ofícios num a j anela. Um
vau den Vio he mn. Autuc rpi.r. I ':=;ú I .
tras prateada s no seu ombro . hom em idoso e barbado lê alguma co isa num
• 304 • 305
33. Grupo da Rcde rikker -K anuuer de Am slcn lã
retratado com se u morto " in lie fde b locinde". Inspi ~
rado numa pintura da es co la de Jan Stcc n. séc ulo
X VII.

I
V , ~.

11

,
34. Palco de ru a , no mercado de ca valos de Bruxela s. Pint ado por Adam Fra ns van der Mcu lcn . c. I (l )O (Vad uz. Gale ric 15 . 'l u b lrüu vi vant num carro- palco : Judit e c l lol otcmc s. 1>0 c-ortejo CO II Ic-morutivo para a recepçã o de Joana de Ca:-;td~\
Liechtcnstei n ) em Bruxela s. no uno de I·N 6.1 >c·...c uho co lori do ll h-rli m . S ta ai li..-bc Mu-ccu . Kup fcrstnh kabinct tj.
H ís t ó rí a M u n dí a l tio T'c a t vo •

de bo m grado a qualidade de membros hononi- sé c u lo XI V. e se us pr e curso re s foram os


rios, e a c âmara am sterdamesa Eg lantine podia Miun cs ãng cr: O período de se u mai or flore s-
o rgu lha r-se de ter recebido sua Ilâmu la do im- c ime nto e m N ure m be rg, na é poc a d e H an s
per ad or Ca rlos V em pessoa . De se u âmbito Sach s. fo i im ortal izad o na ópe ra Os M est res -
emergiu o dramaturgo Pieter Cornc liszoon, fi- Cantores de Ri chard Wagner.
lho do prefeito de Amste rdã. A aprese ntaç ão de Enquant o as "escolas de ca nto" d os Mcis-
A chilles en Polyxena deste autor, e m 1614, inau - tersinger en sinavam as leis e regras de sua arte .
guro u o reflore scimento do clássico ant igo nos est ritame nte de aco rdo eom o Tabula tur, e e n-
Paí ses Bai xos. Sua peça pastoral Gra nida foi quanto as pe ças carnavalesca s entregavam -se a
insp irad a pelo Pastor Fido de Guarini , e sua tra- dísticos rim ad os co nheci dos co mo Kniuelvcrsc,
gédi a Gee raerd vall I'e!sell, e mbo ra formalmen - Han s Sach s. sa pa te iro e poeta, bu scava fami -
te na tradição de Sêneca, tirou se u tem a da pró- liarizar se us c a mara das artífi ces também co m
pria histór ia de seu país de ori gem e, assim, foi a mai s alt a her an ça do humanism o. El e se a-
o primeiro trabalho no palco holandês a respei - venturo u no d rama erudito e, a lém da s far sa s.
tar a regra aristotélica da unidad e de lugar c tem- esc reve u vo lu mo sos dramas e tragéd ias para o
po. O co ntemporâneo de Hooft , G . A. Bredero, palco M rist ersing er; Se us temas er am clássi-
membro dos Eglantines de A ms te rdã , é famoso cos e medi evai s, bem com o frequentement e
pel as farsas e comédias popul ares e realistas, bíhlicos, o qu e explica co mo puderam ser fei-
ric a s em tipos reminiscente s d e Pl aut o e tas apresentações na Igrej a de Santa Marta de
Brueghel. Elas eram encenadas principalmente Nurernberg, conforme se tom ou praxe a partir
nos palcos camponeses iKluchn, mas às vezes, de 1550, e começar com En thauprung Johan-
co mo por exemplo Spaanchen Bra bander em nis (A Decapitaçã o de Sã o João). Um pódio
1617 , tamb ém por membros da própri a câ mara de quase 9 m de altura foi erguido abaixo da
de retóri ca do autor. ab óbada gó tica do co ro, fech ado no fundo por
Pel o início do séc ulo X VI. o palc o Rede- um a co rtina, co m entradas por tr ás e também
rijke r havia adquirido em inên ci a repre sentati- iI direita, pela port a da sacristia . Foi assim qu e
3{). "R he to rica", a ret óri..-a per sonificada . corura um pa lco de rua , ao fu m.Ju. Aquarel a
va. A co mbinação da peça dramática e ret órica M a x Hermann re c on stituiu o palco M ei s -
do ca derno de e sboços de Hans Lu d vv ig Pfinzi ng , No rcmbc rg, c. 151.)0 t Msc. H ist. 176.
e do s Vertoo ning e didático s e decor ati vos e xi- tcrs ing er , no se u Forschungen rur deutsch rn
I ~ al l,hc rg . S taat stub tiothek) .
g ia uma moldura que fizesse ju sti ça a ambo s. Th ca te rg cs ch iclue des Mit telalte rs un d d er
E assim, um palco arquitetural recu ado foi de- Rcnaissa ncc (In vestig ação para a Hi st ória Te-
senvo lvido para encerrar a área de atuução: es ta atra l A le mã da Id ade Médi a e da Ren ascenç a )
divi são era orna mentada com co luna s e arca - ( 191 4 ). A lbert K õst cr, em contrapa rtid a. de-
das, às veze s dois andares ac ima e assim po - fen deu o pont o de vista de que o palc o teri a
di a fo rnecer a locali za ção par a o s tublcaux si do c o ns truí do na nave . A co ntrové rs ia foi
vi vants dos l'erlOollillg e. O derrade iro teat ro ac irra da e perman eceu se m so lução. O s a rq ui -
Rederijk cr, instruído na erud iç ão human ista e vo s de Nurc mb erg na da co ntribuíra m para II
influe nciado tant o pel a tradi ção teatral nativa esc la reci me n to da qu est ão , mas a Igrej a de
dos a rtífices qu anto pelo s atu res ambulante s Sa nta Mari a a inda ex iste - e dei xa abert as
ingl eses, usava uma forma de pa lco no qual as co njectur as sobre a mbas as possibilidades.
relíquias da s antigas sca cuac [ rons fund iam- Pod emos ter ce rteza de que, no ge ra l, o ta-
se co m ele mentos do palc o elizabe ta no . blado do s di as de festa dos Mestres-Cantores se
contentava co m a decoração verbal. Por outro
lado , Hans Sa ch s tampouc o renunc iou a ter um
Os M E IS TE RSIN G E R navio que era rolado para dentro da cena, como
acontecera na corte de Ferra ra. na apresenta-
O s Mcistcrsingcr alemães di vid em com as ção de 14R6 do M enaccluni. Nas instruções
Rederijk ers holandesas o mérit o de ter em pre- cénicas de sua BailO/II, rep resentada em 1559.
servado a continuidade entre as art es da atu a- lemos: "Ela beija o rap az e desce do navio .
ção e recita ção do final da Idade M édia e o Ele s part em no navio" . C ump re co nfia r na s
mund o d a Ren a scen ça . A s or ig e ns d os gu ildas de N ure mbe rg. e m que e las foram Ião 37 . () Juízo dr Sulomâo. e nc e na do na pra,';! titl mercado de.' Lou vain. 1) 9..J . A part ir de um desenh o de Guillaume
M ci st crs iugcr remontam ii cu ltura c ívica do cr iativ as qu ant o os ill gegllier i itali an o s. Booncu . 1594 : copiado po r L van l 'crcchc m. I X(d rl.o uvain. Muse u da C idad e ).

• 308
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40. Kunsthalle) J am-
Um ator. Bico - d e-pena de Rembrandt (LI
História M'un d iu l do Te a t rn •
• A Rcn asce nç a

o TEATRO ELIZABETANO John Bale foi o primeiro com seu King John
ampulheta os acontecimentos de muitos anos" o melhor papel de Shakespeare foi o de Es-
em 1548. As Chronicles (l5n) de Raphael
(trad. Oscar Mendes). pectro, em Hamlet. Aparentemente, ele não
Londres possuía três teatros públicos Holinshed constituíram uma fonte inesgotável
As peças de Shakespeare oferecem ali- mais aparece no palco depois de 1603, pois
quando o jovem Shakespeare chegou à cidade de material. Shakespeare e seus colegas dra-
mento abundante para a transformadora capa- seu nome não está incluído em nenhuma das
em 1590. Nos subúrbios setentrionais, bem maturgos encontraram nelas tudo aquilo de que
cidade da imaginação, da magia poética do listas de atores impressas para cada peça. Pes-
próximos um do outro, ficavam The Theater e precisavam para seus dramas históricos.
Sonho de Uma Noite de Vereio à loucura do quisas sobre esse assunto, embora abundantes,
The Curtain, e no bairro das diversões, ao sul Ao mesmo tempo, influências clássicas
Rei Lear na charneca tormentosa. Ele saltou são muito dificultadas pelas repetidas mudan-
do Tâmisa, entre as arenas de bear-baitiny e ainda emanavam do continente. John Lyly es-
por cima das regras clássicas pela força de seu ças de nome de sua companhia, sucessivamente
bull-baiting", A Rosa. Os barqueiros tinham colheu temas mitológicos para suas comédias;
gênio poético. Trouxe à vida períodos e luga- conhecida como Lord Hunsdon's, Lord Cham-
muito trabalho, quando a bandeira tremulava o poema Hera and Leander, de Marlowe, que
res, ternura e rudeza na "arena" do teatro. berlain's e, finalmente, The King's Men.
no telhado, indicando que nesse dia uma peça deu ao frio e cético Thomas Nashe oportuni-
Shakespeare não tomou partido na con- Os nobres patronos conferiam às com-
seria apresentada - uma bandeira branca para dade para zombaria, é uma adaptação livre de
trovérsia a respeito das regras teóricas, embo- panhias de atores que patrocinavam não so-
comédia, uma preta para tragédia. Musaeus. Mesmo Titus Andronicus de Shakes-
ra ela tenha se inflamado também em Londres. mente a licença para atuar, mas com muita
O teatro tornara-se uma instituição na vida peare está ainda embebido na paixão da vin-
Sir Philip Sidney, nobre letrado altamente es- freqüência seu próprio nome principesco. Da-
da cidade. Qual uma lente convergente, ele cap- gança e do horror de Sêneca. O tema dos
timado na corte como sobrinho do conde de vam-lhes proteção legal, grandemente neces-
tava as radiações literárias do Continente e as Suppositi de Ariosto volta uma vez mais em A
Leicester, havia defendido as unidades aristo- sária aos atores naquela época, dada a hosti-
focalizava em cores vivas, !1orescendo com a Megera Domada de Shakespeare. Romeu e
télicas - em sua Apologie for Poetry (escrita lidade do clero puritano.
recém-despertada consciência nacional. O Julieta, em seus diálogos de amor, não negam
por volta de 1580, mas impressa postumamente Na corte, entretanto, sempre foram bem-
tema principal da Renascença, o indivíduo seu débito para com o Canzonierc de Petrarca,
em 1595) e denunciado seus compatriotas por vindos. Ricardo, duque de Gloucester, tinha
consciente de si mesmo, alcançou seu zênite e com o jogo de esconde-esconde de Rosalinda
não lhe dar a devida atenção. Mas quando, em atores a seu serviço antes de subir ao trono
de perfeição artística no teatro elizabetano. À na floresta de Arden, Como lhes Apraz con-
1603, Ben Jonson se apresentou com sua tra- como Ricardo III. O rei Henrique VIII manti-
força de seus dramaturgos correspondia a res- serva ainda um pé na tradição pastoral.
gédia romana Sejanus, construída estritamen- nha uma companhia e, de tempos em tempos,
posta criativa da audiência. O teatro deu ex- Mas, em suas peças históricas, Shakes-
te segundo as normas, foi um fiasco. Sua força permitia que excursionasse, o que lhe poupa-
pressão à confiança em um poder mundial as- peare mergulhou na história da própria Ingla-
residia no terreno da comédia crítica contem- va a despesa de habitação e comida, e era bom
cendente, cuja esquadra havia derrotado a terra e posicionou-se apaixonadamente em re-
porânea, realista, no qual de fato também res- para a moral pública. A rainha Elizabeth mos-
Invencível Armada. Os atares tomaram-se, nas lação aos problemas do poder e do destino.
peitou as três unidades clássicas, em protesto trou bem menos propensão para a bela arte da
palavras de Hamlet, "as abstratas e breves crô- Ascensão repentina e queda abrupta, a embria-
contra a indisciplina dramática de muitos dra- representação. Apesar disso, Lorde Leicester
nicas do tempo". guez do poder, crime, vingança e assassinato
maturgos da época. conseguiu obter dela, em 1574, para sua própria
Sob Elizabeth I - filha de Henrique VIII dão vazão às imagens plenas de linguagem e,
Shakespeare divertiu-se arrolando um irô- companhia de teatro, uma licença real auto-
e Ana Bolena, que desprezava o papado e era na rápida mudança de cenas fragmentárias,
nico catálogo dos gêneros exemplares de dra- rizando seus próprios homens "a usar, exercer
antagonista de Maria Stuart - meio século culminam numa brilhante síntese. Enquanto a
ma. Quando Polonius anuncia a Hamlet a che- e ocupar-se da arte e da faculdade de encenar
ganhou seu semblante. Nesse período, tam- batalha se intensifica, uma luz é lançada sobre
gada dos atores, exalta-os como "os melhores comédias, tragédias, interlúdios, espetáculos
bém o teatro encontrou seus pressupostos ar- ela, ora do campo do rei, ora do campo inimi-
atores do mundo, tanto para a tragédia. como e similares [...] tanto dentro da nossa cidade
tísticos, seus temas e seu estilo. O novo lema go. A ação salta como uma faísca de cena em
para a comédia, a história. a pastoral, a pasto- de Londres e seus arredores, como também cm
da Inglaterra elizabetana era: livre da França, cena. A última retirada de Ricardo III o leva a
rai cómica, a pastoral histórica, a histórica trá- todo o nosso Reino da Inglaterra".
livre do papado, um orgulhoso reino insular seu fim num combate sem palavras.
gica, a pastoral tragicômica-histórica, a ação Mas as peças a serem representadas de-
"em um mar de prata". O hálito ardente dos acontecimentos, que
indivisível ou o poema continuado. Sêneca não viam primeiramente ser submetidas ao Mes-
Em 1589, Richard Hakluyt publicou sua a tragedie classique francesa aprisionou nos
pode ser demasiado triste para eles, nem Plauto tre-de-cerimônias, Master of the Reveis, um
grande obra The Principal! Navigotions, grandes monólogos do drama com unidade de
leve demais. Para o que está escrito e para o funcionário que supervisionava as festividades
Voiages and Discovcries ofthe English Nation. lugar, explodiu com Shakespeare em diálogos
improvisado, eles não têm quem os iguale" reais. Em 1581 outra carta-patente estendeu
O Tamburlaine de Christopher Marlowe rego- curtos e poderosamente delineados. Cada ocor-
(trad. Oscar Mendes). esse serviço de censura aos programas de to-
zijava-se com os recém-descobertos tesouros rência é transposta para a ação. "Um reino por
O jovem Shakespeare irrompeu no palco dos os palcos públicos. O Master oflhe Rcvcls
do mundo terrestre, os "mimos de ouro, dro- palco", almeja ele no prólogo do drama real
elizabetano numa época em que o ato r profis- adquiriu então o controle todo-poderoso e cen-
gas inestimáveis e pedras preciosas", e com a Henrique V, em vez do "indigno tablado" e in-
sional já tinha uma posição segura na estrutu- tralizado que governaria o destino dos teatros
expectativa do que estava para ser conquista- voca as "forças da imaginação" do especta-
ra da sociedade. Sobre suas qualidades como e seus dramaturgos por quatro séculos. Ainda
do "a leste do pólo antártico", dor: "Imaginai que no cinturão destas mura-
ator não se sabe nada que seja confiável. Su- no século XX, jovens dramaturgos, em que se
Ao aceno da distância correspondia a re- lhas / Estejam encerradas duas poderosas mo-
põe-se que ele tenha aparecido na comédia salienta a crítica de época, encontraram fecha-
flexão sobre os heróis da história nacional. narquias [...]. Porque é vossa imaginação que
Every Mali in His Humour etu 1598 e, presumi- do o caminho para o palco quando o Gabinete
deve hoje vestir os reis, transportá-los de um
velmente, haja desempenhado o papel de Adão do Lorde Camareiro negava sua aprovação;
Arena de açularucnto de cães contra urso-, c lou- lugar para outro, transpor os tempos, / colo-
ros acorrentados. (N. da T.) em sua própria comédia COIlIO lhes Apraz . Seu John Osborne e Edward Bond tiveram de iní-
cando a realização de acumular numa hora de
biógrafo Nicholas Rowe julgou no entanto que cio que se contentar com apresentações em
• 312
313
~l>.-._

THAME S\
~ .~

41. Mapa de Londres em 16 16. de J. C. Visscher: det alhe do pa norama, mostrando a margem Ban ksidc do T âmisa à
é poca de Shakes peare; à frente e ao centro, o Globe e o Bea r Gu rde n.

I:

43. Mascaradn N up c ia l na casa de Sir He nry U nto u. c. 1(,00: co m os co nvivas ii me.. . ;j do ban qu ete . nui sicoc c:dan ça de

I
42. Detalhe do mapa de Londres de:Ralph Agu. 1569·1 590 (ed. 1631): Bairro das dive rsões no Bunksidc com arenas roda . Detal he de um a p intur a an ónim a reprc sen tau d« os eve ntos ma is import an tes da \"iJa de S ir He nry Un tou (Londres
para tou ros e urso s. precursoras dos teatros elizabctnno s construídos após 1587 na margem di reita do T âmisa. N nno nal Poruuit G attcry j .
• A l? e l1(1Se Pll çn

clubes - já que o cl ube ingl ês é sac ross anto e sua to le rânc ia e ca pac idade de julgam ent o o
livre de in terferência s, mesmo da C oroa. Fo i fato de el e ter dei xad o pas sar sátiras bri lhan-
so me nte em 1968, e após vigorosos protestos tes e cáu sticas como volpo nc e O Alquimista
por parte da vang uarda, qu e Elizabeth II abo - de Ben Jo nso n. O Master of lhe Reveis Til ney
liu a ce nsura teat ral, origina lmen te exercida tal vez tenha si do a figura mais imparcial no
pe lo Master 01 lhe Reveis, cabo-de-gu erra pela autoridade e m questões
O serviço de control e rea l foi duplamente de teatro . O s edis lo ndrino s se mo straram
o pre ssivo para o teatro elizabe tano do fina l do exageradamente suscetíveis a panfletos po lê-
s éc u lo XV I, pois o C o n sel ho Muni cipa l micos co mo Playes Confu ted in Five A ction s
(Co mmon Council ) de Londres sentiu-se pre- ( 1582) de Stephen Gosson , e ch egaram a opor-
terido em seu s di reito s de ce ns ura , e estipu- se ao teatro com o um antro de iniq üidade que,
lou , de su a par te, restrições . Não poderia ha - nas palavras de T homas White (1577 ), " inci-
ver espet áculos aos domingos, e j am ais quan- tava ao ro ubo e prostituição; orgu lho e pro di-
do ho uvesse peri go de peste ; fez também ob - ga lidade; to rpeza e blasfêrnia". Por ém , nen hu -
,4 4 : Cena de Tit us Andronicus , 15 9 5 . Único d e se n ho da é po ca co nservad o de uma peç a de S hakes peare.
at ribufdo a Henry Peacham (Coleç ão da Marquesa de Bath, Long leat). jc ções às desord en s decorrentes de apres enta- ma restri ção o u represália pod eri a reduzir a
ções em "estalagens, haven do ap osentos e lu- importân cia e a flor escência do teatro eliza be -
gares secretos anexos a seus palc os abertos e tan o . De err antes e proscritos se m direito, os
galerias" , comediante s tinha m -se torn ad o homens de
O primeiro a exerce r o poder de cens ura urna profi ssão respeit ável e às vezes de co nsi-
abs oluto foi Edmund Tilney, M a stcr of lhe deráve l riqueza . As co mpanhias avulsas eram
Reveis por trinta anos , de 1579 até sua mo rte , organiz ad as em forma de co operativa ; o s pro-
e m J 6 1O. Por suas mãos pa ssaram as ob ras- prietários de casas de espe t áculos possuíam às
primas dramáti ca s do teatro e liza beta no . as- vezes vários empreendimentos comerciais, parti-
sim co mo a torrente das produçõe s e fémeras cipavam das receitas de bilheteri a e astutame nte
boas , ruins e indiferentes . Ne nhum dos rcgis- aumen tavam suas font es de renda.
tro s o fic iais de Ti lney foi co nse rvado , ma s po s- Jame s Burbage , con strutor da primeira
suímos o regi stro das licen ça s emitidas por um casa de es pe tác ulos pública permanente de
de seus su cessores . Sir He nry Herbert, qu e Lo ndres, er a conhe cid o sobret ud o como mem-
as sum iu o cargo em 1623. anotou c uida do sa- bro pr ivi legiado da co mpanhia do co nde de
4 5 . Xi log rav ura do h onti spí ci o da Span is h
mente não apenas o títul o e autor de cada peça, Leicester. Quando, e m 1576, e le ab riu su a
Tra g edv, de Th om as Kyd . À esqu erd a . no ca ra - corno tam bém toda s as obj cçõ e s - fre q üente - Pia)' H ou se (C as a de Espe t ác ulos) e m Sh or e-
m unc h ão . H o rú ci o eu fo r cudo p O I' acv ns xi nos ; mente tol as - e co rte s ex igidos . dit ch , for a do s limit es da cid ad e e ao norte de
Hicron im o (pai de Hordci or . Bc limp éria e Lo reuzo O s in-fólios de Tih H:Y. co mo o pró pr io tea - Bish op sgate. or gu lhosam ent e deu -lh e o mai s
precip iram-se para a ce na. De uma edição de 16 33 .
Iro, podi am bem ser descri tos, na s palavra s de di re to do s nomes: Th e T heat re. Escolhendo
S hake speare, co mo "res umos e breves crô ni- um local no s subúrbios, prudent emente co lo-
cas do tempo" . Suas entradas eram um inven - cou -se fora da j ur isdição im edi ata do L ord
tário vivo. Elas registravam os diál ogos de Lyly. Mayor (P re fe ito). Th e T heatre era um a cons-
m odelo s de refin ada e elabo rada lisonja em trução circular de m adeira com galerias e ca-
ve rso s polidos, e certament e tão irrcpreen s íveis marotes e c ausou sensação . At é o sev e ro pre-
qu anto as pastorais a lego rica mente e nfe itadas ga dor John Stockwood elogi ou- o ao de scr evê-
de G eorge Peel e ; mencion avam a s pe ça s de lo co mo " magn ífico loca l de atuação".
maior sucesso de Th om as Heywood e T homas U m ano mai s tard e. o utra cas a de esp etá-
Dekker - A lI'o nulI/ Kill cd with Kindn ess, do culos foi cons truída na vizinhança. Fo i cha -
primeiro, e The Honest 1I'/lOrc, do seg undo - mada Th e C urtain (A Cortina) . Co m suas três
ambas precursor as da tra géd ia burg ue sa; fala - fileiras de ba lcões, o Curtain era mu ito seme-
va m sobre os mi lagres s atíric o s de Ro bert lhante ao T heatre , assim como todo s os futu-
G reene e so bre as sangrenta s tragédi as e m ver- ros teatros de a re na ao ar livre da Lon dres
so branco de George Ch apm an . e, finalme nte, c liz abe ta na . Já era , evident em ent e , um falo
ci tav am como mais im portant es . no c ômputo muit o co nhe c ido qu e um teat ro nesse di stri to
ge ra l, todas as peça s de S ha kes pe a re . qu e pod e ria atra ir g rand es mullidões. O pr ó prio
"'6. Xi fo gra vu ru da Trugical Histo rv orDocm r Ti lney foi o primei ro a le r. Demonstr a hem James Burbage aluara no Cross Keys, uma es -
Fi.wSIIl.\'. til: Christopher M arfo we , c. 1(120 .'

• 317
História Mundial do Tc a n-., • • A Rc n asvcn ço

talagem em Gracechurch Street, que cm 1594 ao ar livre. A rendosa margem direita do Tâ- ao ar livre da era elizabetana. (Depois de 1620. gcm literária. O que importava no teatro
ainda servia como quartel de inverno aos Lord misa tornou-se o centro do mundo do teatro somente salas de teatro fechadas foram cons- elizabetano, corno em outros, não era a inven-
Chamberlaíns Men (Homens do Lorde Ca- elizabetano. The Swan (O Cisne), construído truídas.) Os espectadores pagavam umpellll)' ção de uma trama, mas sua elaboração criati-
mareiro), grupo de que Shakespeare era mem- em 1595 por Francis Langley, foi seguido em no portão externo, que dava acesso ao pátio in- va. Frequentemente, vários autores se junta-
bro. No Buli (o Touro), perto de Bishopsgate, 1605 pelo Red BulI (Touro Vermelho). temo - a famosa arena (Pit) - onde os ground- vam para uma produção conjunta. Francis
Richard Tarleton, o grande clown e impro- O holandês Jan de Witt, que visitou Lon- liugs" elevavam suas vozes em aprovação ou Beaumont e John Fletcher escreveram juntos
visador dos Queens Men (Homens da Rainha), dres cm 1596, descreveu o Rose e o Swan como desaprovação. muitas vezes selando irreversi- umas cinqiienta comédias populares nos anos
lotara as dependências das estalagens, dez anos os melhores dentre os quatro teatros da Lon- ve\mente o destino de uma peça. A origem de 1606-1616. contribuindo Fletcher com seu
antes, com multidões amontoadas. dres da época. Do Swan, o maior, ele mandou desse emprego do termo groundling não é co- espírito frívolo e viva fantasia, e Beaumont
Outro bom ponto era Bankside, ao sul do confeccionar um desenho, que mostra o inte- nhecida. Talvez a proximidade do Tâmisa suge- com seu talento dramático.
Tâmisa. Aqui os melhores locais de entreteni- rior com o palco e é o único registro gráfico risse a transferência do termo "peixe de fundo Podia-se ganhar muito dinheiro no teatro.
mento eram uma arena de touros, onde se pra- conservado de um teatro elizabetâno, com ex- de rio" para os ocupantes da arena. Aqueles Philip Henslowe fez fortuna com suas três ca-
ticava o bull-baiting; indicada nos mapas de ceção dos mapas. que pudessem custear um assento pagavam um sas de espetácu\os. Edward AIleyn, então o
Londres desde 1542 como Buli Ring, e um A estrutura cilíndrica acomoda três gale- suplemento à entrada da galeria apropriada. mais famoso membro das companhias Lord
bear garden, em que o urso era o objeto do rias de espectadores, sendo a mais alta prote- A receita da bilheteria ia para um fundo Admiral's e Lord Chamberlain's e ator princi-
bear-baiting, para não falar dos acrobatas, gida por um telhado inclinado para dentro. O comum do qual cada ator recebia sua quota pal e empresário das peças de Shakespeare. re-
funâmbulos, prestidigitadores e atores am- círculo fechado do auditório é acessível por contratual. Essa distribuição nem sempre era tirou-se do palco aos trinta e nove anos, como
bulantes. dois lances de escadas pelo lado de fora, dentro pacífica, porém este primeiro sistema de par- um homem rico. Dedicou-se então às suas in-
Aqui Philip Henslowe, pintor e agiota, eleva-se acima da estrutura do palco. O amplo ticipação nos lucros do teatro sobreviveu por clinações filantrópicas e fundou um college .
construiu seu primeiro teatro em 1587, "The pódio de atuação, denominado proscaeninm; séculos. Em regra, pouca remuneração cabia Richard Burbage. decano da mais famosa
Rose" (a Rosa). Este provou ser um negócio projeta-se na arena interna descoberta. Duas ao dramaturgo, a menos que ele fosse um mcm- família de atores da Inglaterra elizabetana, dis-
lucrativo, a julgar pelo diário e cômputos de portas levam ao mimorum aedes, camarins e bro permanente da companhia e como tal ti- punha, segundo alguns. de uma substancial
Henslowe, que chegaram até nós. Henslowe contra-regragcrn. Em cima há uma galeria co- vesse participação em todas as receitas. Caso renda proveniente das propriedades que pos-
fundou outros dois teatros, The Fortune (A For- berta por um toldo suportado por pilares. Esta contrário. ele vendia sua peça a um direior. que suía. Em comparação, a casa em Strarford-on-
tuna) por volta de 1600, em Finsbury, a sete- poderia ser ocupada por músicos, tornar-se então tirava tanto proveito quanto possível das Avon para a qual Shakespeare se retirou em
centos metros do Curtain, e The Hope (A Es- parte da peça como um palco superior ou ser- apresentações. Conta-se que tudo o que Tho- 1610 - agora um homem de renome c de situa-
perança) em 1613. The Hope ficava no local vir de camarote. mas Heywood recebeu por sua peça mais po- ção financeira confortável - parecia bastante
do bear garden, que havia sido demolido, e Acima dessa galeria eleva-se um estreito pular, A Womall Killed with Kindncss, foi seis modesta.
foi a última das casas de espetáculo londrinas ático com duas janelas e um balcão à direita. libras, enquanto Hcnslowe não pagou menos As troupcs de meninos, dirigidas por mes-
Dali o corneteiro anunciava o começo da apre- do que seis libras e treze shillings pelo traje de tres de coro e professores diligentes, eram vis-
sentação (que de Witt, por conveniência, mos- veludo negro da primeira atriz. tos mais como um estorvo pelas companhias
tra já em plena atividade). Em geral, as motivações dos dramaturgos profissionais elizabetanas. Grupos como Thc
O esboço de Witt pode ser visto em con- eram as "panelinhas" e a rivalidade mlÍtua. Children 01' thc Royal Chapei e The Children
junção com um mapa de Londres de Visscher, Enquanto Shakespeare estava ocupado refor- 01'SI. PauI's constituíam-se de rapazes canto-
publicado em 16 I 6. Este mostra o circular mulando o Hamlet original de Thomas Kyd - res originalmente treinados para cantar no ofí-
Swan como um dodecágono eqüilátero. hoje desaparecido - em seu próprio herói trági- cio divino. No decorrer do século XVI. eles
A reconstrução do Globe feita por George co, Ben Jonson se debruçava sobre uma tarefa apareceram diante do público em apresenta-
Topham Forrest é similar na forma. A parede similar. Ele estava adaptando o principal tra- çõcs teatrais. Atuavam no Convent 01' the
de fundo do palco pode servir de sala interna, balho de Kyd, The Spanish Tragcdic, que tam- Blackfriars na cidade, e por volta de 160(), num
a galeria central de palco superior. Existem ca- bém envolve um tema de vingança. a aparição teatro próprio. Seu público consistia em um
marins nos dois lados do "Inner Stagc" (palco de um fantasma e uma peça dentro da peça. O círculo de patrocinadores e amigos, e eles
interno). Acima deles, no andar superior, es- Hamlet de Shakespeare foi encenado no Globe gozavam da estima tanto da corte corno dos
tão os "Lords' Roam", reservados aos nobres no verão de 1600. A peça conquistou Londres magistrados. Christopher Marlowe, cujos Tani-
da platéia. c acabou fornecendo o mais representado he- burl aine tlic Grcat c Doctor Faustus foram
Esse modelo básico, excetuando-se algu- rói do teatro mundial. O esforço de Jonson encenados pela primeira vez pelos atores da
mas variações, foi provavelmente o mesmo chegou tarde demais e caiu no esquecimento. Lord Admirals e da Lord Charnbcrlains, de-
para todos os teatros redondos ou poligonais O poder de atracão de uma peça prepon- sentendeu-se com os atores profissionais a res-
derava grandementc sobre a questão de sua ori- peito de uma referência às companhias de me-
ninos e, a certa altura, pensou em confiar sua
47. Vista interna do teatro de Swan. em Londres.
Dido aos Chi ldren - uma idéia não muito pru-
Desenho baseado l'lIl notas de Jean de Wiü. I.')Q6. teatro. dente, em vista da paixâo amorosa suicida lI<!
o 318 oil'l
lí is t árí a M UI/d i a l do T e atro .

heroína. Mas as companhi as de c rianças po- ludo mod erad o. pois até no próprio meio da caudal. rem,
di am se r bem aproveitadas na ac irrada disputa pc stude e . pod eria d izer , torvelinh o de tu a pai xão . deves
man te r e mo strar aq uela tem pe ra n ça qu e torna suave e
par a cau sar efeito. Até Ben Jon son , na época
ele gan te a e xpres são. Oh!. fere -rue a a lma ter de ouvir
de sua cont enda co m Sh ak espeare , houve por UIIl robusto ca marada . com urna e no rm e pe ruc a, de spe-
bem suprir os "fed elh os' com ve rsos que ridi- daçar um a paixã o até co nvertê-la c m fra ngalh os, c m far-
cul arizavam o teatro de Sh ak espeare. rapo s. fe nd e ndo os ouv idos d o ba ixo pov o . () q U<.I I. na
Mas Shak espeare . de sua parte. revidou , ma ior parte. só se deixa com over , hahitua lme nte por in-
com preensíveis pan tom ima c baru lhad a. (...] Ne m tam-
em Hamlet: "a parece u um a ninhad a de crian-
po uco sej as tím ido dema is; por ém de ixa q ue teu bo m
ças. pintos na ca sca do ovo. c ujas vozes de se ns o sej a teu guia. Q ue a ação res po nda à palavra e a
falsete se eleva m tanto mai s alto qu anto mais palavra à aç âo. pondo espec ial cuidado e m não uhrapas-
são aplaudidos . Estão agora na moda e de tal sa r os limites da simplicidade da nature za. porque tudo o
modo vocifera m contra os teatros vulgares (as - qu e a e la se opõe. afasia-se igua lmente do pró prio fim da
arte dramát ica. cujo objc tivo. ta nto e m sua o rige m Como
sim os ch amam eles) que muita ge nte de espa-
nos te mpos que COITem, foi e é apresc mar. por assim di ~
da à cinta ficou co m medo da c rítica de certas ze r, um espe lho à vida: mostrar It virtude suas pró prias
penas de ganso e mal se atr ev e a pôr ali os fe içõe s. ao vício sua verdadei ra imag e m e a cada idade c
p és':" . ge raç ão sua fi sionom ia c carac terísticas. 1...1 çtd., ih id .)
O medo das "penas de ga nso " co nti n na a
importân cia atribu ída à pa lavr a fal ada e à d ic- P ara efe ito ex terno. os ateres podia m con-
ção clara , sej a no verso poético o u no polêrni- tar com trajes co lorid os c freqüen tcmente sun -
co oAs rubricas sugere m um a art e de represen- tuosos, e com os ade reços pessoais e acessó-
tar sutilmente refinad a. M as a declama ção rio s de palco necessári os. qu e pode riam ser
grandiloqü ente sem dú vida também estava lá. trazid os para o pro scêni o durante a peça e reti -
O palco descoberto. as gal eria s apinhadas e a ra dos no va mente . Nos bastid ores, um interior
multidão de g roundlings no fosso ex igiam o- e um balcão er am provide nci ad os. S e preci so,
briga tor iamente do ato r um a vo z penetrante c g uindas tes e alça põe s estava m di sponívei s.
gestos amplamente visíveis. Este s e ra m indi spen sá vei s, tant o para S ha kes-
Jam es Burb age era fam oso por seus po- peare co mo para Ca klcr ón: ge ra lme nte entra-
der es de e xpressão mesm o e m pant om ima. va m e m ação co m o aco mpa nha me nto de um
Mas. para ele. assim co mo pa ra Edward Alleyn, so m de tro vão, q ue não só aume nta va a te nsão,
o g rande momento chegava qu ando ava nça- mas tam bém e nco bria o ra ng ido do m aquin ário .
vam até a beira do palc o e lança vam-se em um M as o "c e nário cli má tico" preci sava se r c riado
gra nde solilóquio. "Afogar o palco em lágri- pe lo pr ópri o ator, interpretan do aS pal avras do
mas e fe nder o ouvi do co mum co m terrível dr am aturgo. Ele tinha de evoca r a hor a do di a.
d iscurso", tal era a a mhição do ator elizabe- o so l qu e tinge o cé u notu rno de vermelho. "a
tano, Edwa rd Alleyn, di sse Bc n Jonson, havia a uro ra, e nvo lta num man to ave rmelhado" (Id.,
dom inado tão perfeitamente essa a rte, que nada ibid. ) sur gindo atr ás das mont anh as d o Leste e
jama is se afigurava e xage rado o u artificial, e as es tre las bri lhand o no cé u - apesar da pálida
ele parecia totalmen te tom ad o pelo espüito de e en e voada tarde lo ndrina (as peça s eram e m
sua persona gem. ge ral ap resentadas e ntre três e se is horas). não
Sh akespeare usou o própri o palco par a ob stante as nu vens carregada s a tro veja r e o
c ritica r o exees so paté tico , quando Hamlet ins- barulho inoportuno do Tâ mi sa ,
trui os atore s: O "ce nário falado" é um traç o esti lístico
crucial do palco cliza betano . Sh ake speare ma-
DiZe. por favor. aq uela tirada ta l co mo a declamei,
nipula-o co m gê nio. Os es panhó is Lo pe dc Ve-
co m desembaraço e naturalidade. ma s se gritares. como
é de hábito cm muitos de teus atere s, melhor seria que eu ga e Calderón não lhe fica ram atrás . É revelador
desse meu texto para que o pregoeiro publ ico O apregoas- qu e me sm o um te órico da trag cdic classiquc
se. Nem serres muito o ar com a mão, de...re je ito. Sê. em francesa. que obed ecia a leis tot alm en te dife-
rentes , re conhecesse a necessidade da conju-
* E xtraído da tradu ç ã o d e F. Ca rlo s de A. C . ra ção poéti ca do cenário. Em se u trat ad o La
Mede iro s. e Oscar Mendes. Edi tora No va Aguilar, It.) ~t). Pratique du Thciur«, o aba de d ' A ubignac ex i-
(N. da T. ) g ia qu e o d écor fosse explicado nos ve rsos , " para
4 X. Palco da casa de cs pct áculos Red Bul l. e m Lon dres . Pron tispi c io de 11Jt' \l l a . de Fran c is Kirkm an . Ió72 .
• 320
H i st óri a /U ll ll dia / cio T e o t ro •

assim conec tar a a ção com o lugar e os even-


tos com os objetos, e assim ligar todas as par-
tes para forma r um todo bem ordenado" .
rece em meio a raios e tro vões e um estrondo
surdo e confuso per segu e as ninfas, que dan-
ça m. O poet a diz ad eus ao pa lco, que era seu
o Barroco
Seria um c hoque atroz se ocorresse a a l- mundo .
gum encen ad or combinar um canto de pássa- "Agora os meu s sor tilég ios estão todos
ro com as suaves palavras de amor: "Foi o rou- de sfeitos" , diz Próspero com sabedoria melan-
xinol e não a co tov ia" . Às vezes, Sha kespear e cólica, e solicita ao es pectador a sua prece e a
recorre à mú sica quando quer ace ntuar um sua graç a, "qu e assa lta / até mesmo a mercê
contraste no clima. Em Romeu e Julieta, os mais alta, / apagando fac ilmente / as faltas de
músicos param abru ptamente, quando a "ale- toda gent e. / Co mo qu erei s se r perd oado s / de
gria de casa mento" transform a-se em " triste todos vossos pecad os, / permite que se m vio-
velório" . Em A Tempestade, Arie l entra, invi - lênc ia / me so lte voss a indu lgên cia".
sível, tocando e ca ntando, música solene e es- Estes foram os último s versos esc ritos por
tranha envolve Próspero ; o banqu ete desapa- Sh ak espe are.

I NT RODU Ç Ã O tesoE assim como a arte barroca desabrochava


em te atra lidade re sp landecente, do me smo
mod o o abso lutism o lut ava po r uma apoteos e
O hi storiad or d e art e suíço H einri ch
grandiosa da sobe rania , e a Contra-Reforma
Wõlfllin carac terizou certa vez o barroco co mo
invoca va todos os me ios óticos e intelect uais
"a convulsão das fo rmas renascentistas" . A ob-
da arte do palco - ass im também o teatro vivia
servação é literalm ent e con firmada pe los gran-
um mome nto de ext raordiná ria asce nsão.
des botar éus com volutas da Igreja de Sa nta
Pal avra , rima, im age m , representação ,
Maria deli a Salut e em Veneza. Na era barr oca
fantasmagoria e aplicaçõ es pedagógicas uniam -
a linearidade cl ara e clá ssica da Ren ascen ça
se agora à música, qu e e mergia, de mero ele -
adquiriu ap elo e mocio nal, a linha reta - tan to
men to de acompanha mento do teat ro, para uma
nas estruturas qu ant o no pensament o - di sso l-
art e autónoma. O barroc o viu o nasciment o da
veu-se no ornam ento, a clarez a deu lugar à
ópera. Das cort es da Itália, a óp era seguiu em
abundância, a a utoconfian ça, à hipérbole . Os
marcha triunfal , levada pe lo patrocínio de pa -
conce itos ve stiram os trajes da alegoria , e a
pas, prínc ipes, reis e imperad ores. Pintores e
realidade pe rd eu -se num reino de ilu são . O
arquitetos se lhe entregavam . R omain Roll and
mund o se torn ou um palco, a vida tran sfo r-
descreveu o teatro m usical do tempo do pap a
mou- se numa represent ação, num a seq üênc ia
C le me nte IX c o m o um a p a ix ão d oe ntia
de transformações. A ilusão da infin itud e pro -
(p assion maladive ), q ue ex ibia todos os sinto-
curou exorci zar os limites da breve existência
mas de uma loucura co letiva:
do homem na Terra.
O barroco reviveu a abundância alegórica Um papa co mpõe óperas e envia so netos a prima-
do fim da Idade Média e a enr iqueceu co m o do nas. Os cardeais fazem o trab alho de libretistas c cc-
mundanismo se nsual da Rena scença. Ma s, ao n ógrafos; desenh am fig uri no s c orga nizam apre sentações
teatrais. Sulvaror Rosa utua e m co médi as . Bcrnini cscre-
fundo da ce na , a are ia do temp o estava cor ren-
vc óperas. para as qua is pinta cenários, escu lpe es t átuas.
do, e o mem ento mori da Dança da Morte soa- invent a maquinarias , esc reve o tex to, com p õe a uni vicu c
va de novo. O s prazeres do mundo c a so mbra co nstró i o teat ro.
da morte . coi sa s terrenas e coisas celestia is,
fluíam juntas tea tral e espiritualmente, num Nos últim os d ias da Rena scen ça e nos pri-
grande crescendo . Uma e ra estava ence na ndo mei ros dias do per íod o barro co , a sala de es-
a si mesma. petácu los torn ou -se um do s mais import ant es
Nunca , ant es ou depois, uma época pin - espaço s de represe ntaçã o de qu alquer palácio.
tou sua própri a imagem em cores tão exu beran- Foram erguido s palcos no Vaticano em Rom a,
• 322
H ts s óri a M n n di a l do Te a t r o . • O Bar r o c o

no palácio Uffiz i em Flore nça, no Palais Royal ÓPERA E S I N G SP IEL trião, O co mpo sito r e o libreti sta for am feli ci- Era fl Rapi nten to di Cefa lo, de Gi ulio Cacc ini,
em Paris. Cercado pelo esplendor do cas telo tados por um a platéi a ilustre a prop ósit o de qu e desta vez é c itado co mo único co mposi-
de Versaill es, a graç a caden ciada da dança cor - No ano de 1531 , quando Galileu Ga lilei, sua " revivificação do drama antigo no esp írito tor. Gabriele Chiabre ra havia escrit o o libreto .
tesã deu orige m à arte do bailei. Luís XIV apa - aos dezessete an os, matri cul ou- se na Univer- da mú sica". e Buontalenti mai s um a vez criara os cenários.
receu num figurino dourado de raios de so l sidade de Pisa, se u pai Vincenzo publicou uma O produto erudito de arte tinha , porém , afo- As despesas for am c us tea das pela cid ad e de
co mo o jovem Roi So leil, muito antes da hi s- obra altam ent e erudita sobre teoria da música , ra louváveis inten çõe s, pouco em co mum com Florença . Perto de quatro mi l convi dados, de
tória ter-lhe outorgado este nome. Rainhas fa- Dia logo della M usica An tica e della Moder- o dra ma da Antigüidade . Ma s, no fundame nto aco rdo com a gener o sa co ntagem dos cronis-
ziam o pape l de ninfas, príncipes e prin cesas na. Vincenzo Galilei , um matemático, era além de seu teor lír ico-dramático ia ao enco ntro do s tas, adm iraram os mil agres cênicos revelados
vestiam-se de querub ins - tanto no palco quan - disso um UOIl IO uni versale no sentido comple- esfor ços da peça pastoral, dos intenncdii e do s q uand o a cortina de se da vermelha ornamen-
to nas telas do s pintores. Para agradar à rainha to do ideal c lássico . Foi ele quem deu o passo trionfi . Com sua g rac iosa pintura so nora, tran s- tada se abriu: a ca rruage m dourada de Hélio.
Cristina da Su écia , o filósofo René Descartes ou sado que Vitní vio apenas ensaiara, ou sej a, figurou os ca mpo s eliseus de pastores e ninfas o trono magnifi cent e de Júpiter, montanh as que
escreveu um balé chamado O Nascimento da partir da lógica dos números para calcu lar o e absorveu suas canções corai s, origina lmente desapareciam no chão, bal eias surgindo aq ui
Paz, que foi enc enado no Castelo de Estocol- segredo das nota s mu sicais . indep endentes, no novo sti!o reppresentativo . e ali. terremotos ass us tadores e prados ado rá-
mo em 1649, logo ap ós o término da Guerr a Vincen zo pert en cia ao cenác ulo flore n- Orfe u, o bard o da Tr ácia q ue lançava seu en- veis rescen elendo a perfume.
dos Trint a An os. Enq uanto isso, os atares am - tin o de conde G io vanni de ' Bard i, um círculo cantamento sobre árvores, rochas e anima is sel- La nçava-se a ó pe ra em sua march a triun-
bulantes e a Commedia dell 'urtc serviam de acadêmico . Seu s membros passa vam longas vagens guiava a nova arte corn sua lira . ta l. co m toda a lu xu osa extravagâ ncia c énica
ponte entre os campos inimigos. horas conversando so bre a doutrina aristotélica Peri e Rinuccini cooperaram mais uma vez da arte da tran sformação cê nica do palco no
Partindo da im provi sada sa la de espet á- da música co mo parte essencial da tragédia. numa "tragedi a di mu sica " conjunta. pa ra o iníci o do barroco . Se us cenógrafos e ence na-
culos do s patronos da arte, o passo seguinte Ness as dis cu ssões, embora pro curassem de- cas amento de M aria de Med iei e Henr ique IV dores mos traram- se incansáveis na invenção
levou à casa de ópera independente e autô no - mo nstrar com exemplos práticos a "d ramati- da França. E les escolheram o tem a de Orfeu e de meca nismos sem pre no vos, de puxar, voa r
ma: o teatr o arq uite tonicam ent e ornamenta- zação da mú sica" , tam bém tin ham por certo cha maram sua segunda ópera de Eurid ice , E la e deslizar para movimen tar a mult idão de fi-
do , com se u auditório de fileiras e galerias, em alta cont a a art e da comédia. Ba rdi, com foi encena da co m gra nde esplendo r e m 9 de g uras alegó ricas q ue sufocavam o verdade iro
com um ca ma ro te do soberano e articulado seu AlIlico Fido (O A migo Fiel) encenado em feve reiro de 1600, no salão do Palazzo Pit ti. tema da ó pe ra.
de aco rdo co m a hierarquia áulica do s esp ec- 1585 por Bu ont alent i, foi aclamado por tod a Ca cc ini no vam ent e co ntribuiu co m al gumas Levand o- se e m co nta a variedade de te-
tad or es. O palco assumiu a form a de lantern a Florenç a. E ste a m ig o e patr on o e sc olh eu inserções cantadas , como havia feito em Da fne . ma s da Antig uidade . é sur preende nte a mo-
mágica, em o ldurado por um esplê ndido arco Vincenzo como seu interlocut or no animado Jaco po Pe ri ca nto u Orf eu , o pa pel d e noton ia co m a qu al os pr imei ros compo sito-
no proscên io . C ariá tides s upo rt av am a r- deb ate sobre a po lifo n ia co ntempo râ nea e Eurídice fo i interpret ado por Vittoria Arc hilci. res de ópe ra s se fix aram no s mesm os pou cos
quitraves, querubin s seguravam co rtinas d e co mpos ição in strum ental. Enquant o Bard i a ce le brad a so prano coloratura da é poca . Pa s- te rnas . Se m dú vid a , o s pi on ei ro s do stilo
estuq ue. O recém-desenvol vido si stema de defendeu a po sição mai s mod erada nesse diá- tores. ninfas e es píritos do infcrn o estava m re - rupprcscnta tivo pe rceb iam o quanto e ra qu es-
bastidores latera is alternados possibilitava a logo , pois, afina l, dev ia a se us amigos, os mú- pre se ntad os no c o ro . en c ab eç ad o por um rion.ivel sua int erpret ação mu sical do teatro
ilusão de profundidade e as freq üen tes trocas sicos florentinos, a música festiva e os inter- core uta p r inc ip a l. co nfor me o exe m p lo da c l ássico. Por décad as. agarraram- se aos dois
de cena. mé dios de dança de se u Amico Fido, Vincenzo Antigüidade. Rin uccini seguiu à risca a peça te ma s que não podi am se r co ntestados po r-
Trans formação é a palavra mágica do bar- atacou com pa lavras duras a mú sica cortês pastoral Orjco de Poli ziano, mas uma vez q ue qu e ninguém con hec ia nenhum melhor, o u
roco . A metamorfose tornou-se o seu tema fa- de seu tempo. Acu sava-a de impropriedade e sua " tragéd ia" pretendia se r um a ce leb raç ão seja, Orfeu e Dafn e . Ne nhum texto tea tral a
vorito, inexauríve l em suas potencialidad es de cha mava-a de " pro stituta depravada e se m pu- nupcia l. e le co ncede u-lhe um final fel iz: Orfe u respe ito de amba s a s pe rso nagen s no s foi
exaltação glorificante. Vendo a Natur eza co mo dor" . Exigiu a subord inação da mú sica à poe- faz Plut ão e nternece r-se e é aut orizad o a tra- tran sm itido pel os d ra ma turgo s grego s o u ro-
a grande man ife stação de Deus, nas pala vras sia e, como exe mp lo do qu e pret endia dizer zer Eu rídi ce do Had es, de volta ii vida . ln anos antigo s.
de Giordano Bruno, o Homem agora emergi a co m stilo repp resent at ivo da co mpo siç ão do O ce nógrafo de sta aprese ntaç ão de gala , A D u fn « d e R inu c c ini foi novame nte
como o enc enador de si mesm o. Porém, "a futuro, mu sicou alg umas pa ssagen s da Di vi- provavelment e l3uo ntalenti . tinha a tarefa de- musicada em J ÓO~ . desta vez pelo mestr e-de-
Vida é Sonh o". O univer so é o grande teatro lia Com édi a de Dante e as lam ent açõe s de safiado ra de co ntrastar o cen ário pastor al d os capela fl o ren tin o M arc o da Ga gliano. A nova
do mund o cujos papéis são distribuídos pe lo Jeremias. "maravilhoso s campos" co m os so mbrios hor - obra foi ence nada a pedido do Duqu e Vince nzo
mais Poderoso do s mestres de cena . Cald erón Em 1594, três anos dep ois da morte de rores do infern o , qu e, no final , são rerran sfor- Gonzaga na cort e ele Mântua, ond e prevalecia
desn uda o avess o da hvbris do barroco, num Vincenzo Galilei , a pri meira obra no novo es- mudo s e vo ltam ii lind a cena pastor al. "Si ri- um alto padrão no c ultivo tanto do teatro qua n-
símbolo apropriado de' sua era: a imagem do tilo dramático fo i encenada di ante de um cír- volgc la SCI'I /(/ , I' to m a cont e prima " ("A ce na to da música . Já em 160 I o pr íncipe havia in-
teatro no tea tro. Quando seu mendigo recl a- culo peq ueno e se leto em Flor en ça. Foi es ta a se trans forma, e vo lta a ser como antes" ), co n- dicado. co mo 11/(1(' .1'11'0 di cappclla de sua cor-
ma que só a ele fo ra adjudi cad a "a obri gaçã o famosa prim eira ópe ra do mundo, Dafne, com forme R inu cc ini espec ific a em suas in stru ç õe s te, o violista e cantor C laudio Monteverdi de
da pobreza" , que ele não recebera nem cetro música de Jacop o Peri para um texto de Otta vio cé nicas . Cab e supo r que Buouta lcnti te nha tra - C re mo na . Na s fe sti vidad es do Ca rnav a l de
nem co roa , a respo sta vem das mais profun- Rinu ccini e intermédios c antado s de Giuli o ba lhado co m os prism as rotatórios de mad ei- 160 7. Mon te ve rd i s u rg iu pel a prime ir a vez
das co nv icções da cos movisão cristã: "Quan- Cacci ni. ra. j á utili zados c m 1535 no Am ico Fido. co mo co mpo sitor. Orfco er a o tema e o títn lo
do um dia a co rtina cair, você (e o soberano ) Em 1597, numa reap rescnt ação no pal á- Três dias depoi s de Euridicc. o utra ó pera de sua obra . O texto , de A lessa ndro Strigg io,
serão igu ais" . cio do erudi to flor entino Jacop o Cors i, o anfi- foi encenada na sala de espc t.icu los do U ffiz i. co nservava o desfecho origi nai. Orfeu olha para
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H ís t ó rí a M u n dí a l d o T e a tr o .

trás ao dei xar o Hade s; Eur íd ice está perdida verd i, L 'lncoronazione di Poppea (A Co roação
par a ele. Apol o o con sola co m a prom essa de de Popéia). Florença, Roma, Bolo g na, Gê nova
qu e os dois se encontrarão nova ment e no ou- e Módena logo seguiram o exe mplo.
tr o mundo. O espetáculo e nc err ava-se com Ao norte dos Alpes , Salzburgo, Vie na e Pra-
um a dança mouri sca . ga ado rara m a nova forma de arte, in icialmente
Os prim eiros admiradore s da ob ra foram no qu adr o do teatro dos festivais da co rte e co m
os membros da Accade mia degl i Invaghiti ele ncos de cantores predominantem ent e italia-
(Acade mia tios Apa ixo nad os), q ue costuma- nos . Ao poeta Martin Op itz e ao co m pos itor
va m marcar se us enco ntro s no palá cio do du - Heinrich Schütz coube a glória de terem levado
que e que haviam recomend ado a encenação. a pr imeira ópera em língua alemã - Dafne, ba-
Co nfor me o desejo do duque, Orfeo foi reapre- seada nas obras de Rinuccini e Pe ri, e e nce nada
sentada na corte em 24 de fevere iro e em I Q de 110 castelo Hartenfels perto de To rgau, por oca-
mar ço daqu ele ano . A Itáli a inteira falava de sião do cas amento da princesa Luise da Sax ônia
Monteverdi . Os adm irado res do mestre esta- e do land grave Georg de Hesse-Darmstadt.
va m entusiasm ados ; era imp ossí vel , afi rma- Na corte de Viena, estrei to s laço s de fa-
vam , dar melhor ex pressão aos se ntimentos da m ília com a Itália asseguraram à ó pera urna
alma na harmoni a da poesia e da música do recepção hospit aleira. A im per atriz Eleo nora,
qu e havia sido fei to em Orfe o . es posa de Fe rd inando II, que per ten ci a à ca sa
O grande lamento de Ariadne na segunda du cal dos Gon zaga em M ântua, receb eu as no-
ópera de Monteverdi , A rianna, tornou-se a mais tícias do s últimos aco ntecimento s m usica is em
fam osa ária he róico-dram ática de seu tempo. A pri m eira mã o, por assim di zer. Em 16 27, ela
primeira a int er pret ar o pap el fo i Virgi nia pa trocino u a ence nação de um d ranuu a per
An drei ni, cuja expres siva inter pretação, como mu s ica co m person ag en s d a Co m mc di a I. Interior da casa de ópe ra de M un ique. na Salva to rp lma. co ns truída po r France sco Santurini e inaugur ada e m I 65.t.
O camarote: real foi acresce ntado cm 16 8 5. por Dornenico e Ga sparo 'Ma uro. Gravura de Mich ael \ Ve ning . 16 86 .
lem br am os cronistas, con tribuiu muito para o d eli'art e, a pres e ntada no g ra nde s a lã o do
suce sso da apresentaç ão inici al em ]603. A era Ho fburg e m Viena . Mont everdi foi hom ena-
da prima donna estava pró xi ma . geado com um a e ncenação de sua Arianua .
Por ci nco anos aind a, a estrela do nome Francesco Ca valli dedi cou sua ópe ra Eg isto à
de M onteve rd i br ilh ari a so bre a cort e de d ina sti a dos Habsburg os. O m úsico ita liano
M ântu a. Em 16 13, ap ó s a morte do duque A nto nio Bert oli foi nomeado rege nte do coro
Vince nzo Gon zaga , Mo nte verd i ace itou um da ca pe la da co rte imperi al.
convite de Veneza, onde, co mo dire tor de rmi- M as a magn ificênci a c ênica da cas a de
sica em S. Marco. te ste mu nho u, em 1637. a ópera de Viena deu- se com Giovanni Burna cin i,
abertura da primeira casa de ó pera pública. o um arq uiteto e desenh ista qu e prova ra se u gê -
Tea tro di S. Ca ssiano. Seu funda do r foi o mú - nio e m Ve neza e Mântua, e qu e Ferd in and o III
sico , comp ositor e libret ista Benedetto Ferrari, c ha mara para sua cort e e m 165 1. Burnacin i
que havia esc rito o text o para o esp et áculo de fez sua estréia em 1652, co m a montage m de
abertura, uma ópera cham ada Andromeda. com um a ópera chamada Dofne , pr o vavelme nte a
música de Manelli . ver são de Rinu ccini-Peri . Um a no ma is tarde,
A nova arte da ópera - teimo usado pela pri- im press iono u a Dieta de Regen sburg co m um a
meira vez pelo discípulo de Monteverdi, Francesco co nstru ção impro visada para o festival, "um
Cavalli - irned iatame nte co nq uistou Veneza . tea tro eri gi do si mplesme nte com tábu as, nas
Constru ir casas de ópera tom ou- se um negócio di me nsões e altura de uma igr ej a de tamanho
lucrativo. Ingressos barato s atraíam mu ltidões de médi o" . Fo i ajudado por se u filh o Lu dovico,
espectadores. Quem quer que se desse alguma q ue logo em seguida sucede u ao pai e m Viena
importância alugava um camarote e fazia-se de e igualo u- se a ele tan to e m ha bilid ad e quanto
patrono . Dentro de pou cos anos, Veneza possuía e m fama .
meia dúzia de casas de ópera, q ue eram muitas Ludo vico Bumacin i de sen ho u ce ná rio s,
vezes abertas simultaneamente durante a princi- maquinaria de palco , carro s alegóricos e fi guri-
pal estação c énica, as se manas do Carnaval. no s par a mais de cento c cinque nta ópe ras, além
Nápo les inaugu rou sua pri meira casa de de festi vais aquáticos no lago do castelo Favo- 2. Aprese ntaç ão ao ar livre da grande ó pl'ra Angel ica . ví ncítrt cc d i Alcino. de J. J. Fux. no Parque Favorit e de V iena.
ópera em 165 1, com urna produção de Monte- rire, e de balés a cavalo, no estilo fl orentino. 17 16. C riação de cenário de Fe rdi uando c Gi lh CppC Ga lli-Hib ie ua : g ravur'l de F. A . Dictcl .

• 326
5. Acis et Galatlu'e . ópe ra d e J, B. Lully, levada e m ve rsai llcs, 1749 , co m a Madame de Pom pad ou r e o Visconde de
Rohan nos papéis princip ais. Bico de pena de C. N. Coc hin. O Jo vem .

3. Ludovico Burnacini: projet o de cenário para a ópera II Pomo d'Oro de Cc sti e Sba rra, Vien a. 1668 . Boca do inferno
co m o barqueiro care nte. Gra vur a de Mathãus Küsel.

4. Espcrácu lo de gala de /I Po mo d 'Or o na nova casa de ópe ra de Viena, construída por Ludo vico lt umacini em 166X.
6. L 'Upcra Ser ia IIUI11 rc.u ru ve ne z ia no do séc u lo XV II I. Pintu ra d a c,.'st,."o la d e Pieu'o I. o ngh i lt\ l il;-IO. 1\111sc o Tca tralc
N a primei ra fileira da platéia. o impe-rador Leopoldo I t,.' Margareta CO I11 seu séquito. Gravura de Pran s Cidl c ls lo edifício
foi destru ído em 1783 1. a lia Se a la) .
H i st or ia /II/1 I1 c1 i <t 1 cio Fc u t rn •

A nova casa de óp era de Vien a foi aberta pecificamente adequada à co rte e à alt a socie- 7_ Ballet Comique de la Ro vne em Paris. Apre-
dade. Ne sta nova forma teatra l a part e prin ci- se ntado em 1581. Gravu ra do progr am a, Pari s. 15RL
em junho de 1668 com o pro vad o terna do
trionfo , de Paris e se u pom o de ouro. Nesta pal dizia re speito à dan ça : o balle t de co ur,
oc as ião, Burnacin i supe rou a si mesmo - e à Ele re spondia ao reclamo de pompa da co rte e
obra mu sical também . Apresent o u um gigan- abria um infinito campo de aç ão par a home-
tesco desfile de coro s de deu ses, pit ore scamen- na gen s magnificamen te enc en ada s . Ao me s-
te ag rupados ; nuvens ma ciça s qu e recu avam mo tempo, da va ao rei um a o po rtunidade de
par a um fundo infinito e fin alm ent e desliza- exib ir-s e e m sua mai s adorável facet a, como o
vam para os lad os, para revelar Júpiter em seu de stinatário e patro cin ador de todo s os suntuo-
trono; onda s sobre onda s espumant es de um sos cortej os , masqu es, inten nezri e dan ça s or-
mar coal hado de navio s ; te rríveis monstros ga nizad as para o prazer da co rte , e m última
marinhos e ninfas de licadas - tud o isso se m instâ nc ia, do povo.
dúvida prendeu mais a atenção da ad mirada O ab so lutismo enco ntro u no cortejo tea-
assistência festiva d o que os es forços co mpa- tral uma forma congenial de expr essão. " Foi
rativamente modestos do s cantore s e da orques- um remoinho e um êxtase - muita be leza e
tra . O ator que fazia o papel de P áris teve a cultura, uma gra nde esp iritu osidadc e pr o-
honra de descer do palco, na apoteose final, e digalidade de riq ueza e car áter", escreve u o
e ntregar o pomo de ou ro à jovem imperatriz his tor iador Veit Valentin , " a má gica total da
Ma rgareta. Ela o aceitou com um sorri so, não ave ntur a, da vida improvi sada, do espetác ulo
me no s lisonjeada do que a rainh a Elizabe th da despreocupado com as qu estões mais séri as: a
Inglaterra se sentira um séc ulo ant es, na apre- sed utor a atracão do mal envolvia essas cortes
sentação da peça pastor al de George Peele. govern adas pe lo ab sol utismo, e é por isto qu e
A ópera, nesse meio tempo, havia chegado e las eram se mpre censur adas pe los te ólogos ,
ao pont o em que o próprio teat ro, pretensa - ma s admirada s e am adas pelos arti sta s".
ment e se u servo, fazia- se se u mestr e. A ópera Quando Ortavio Rinu ccini e Giulio Cacei-
e ra um meio par a um fim , uma opo rtunidade ni . os doi s pioneiros da ó pe ra itali ana, c hega -
par a a ex ibição da magia da decoração e ma- ram a Pari s em 1604, tiver am de co meçar a
q uina ria barro cas. Q uand o 1/ Pomo d 'O ro foi pen sa r em termos co m pleta me nte d iferent es.
apresentada em Viena em 1668, sua música, O rei He nr iq ue IV não desej ava recitativos
co m pos ta por Marc Antonio Ces ti, e se u es tatues co s, mas, si m, a graça da dan ça . Ele
lib reto, de autor ia do jes uíta Fran ccsco Sbarra , amava as " ma scaradas-ba lé" , bail es à fantasia
tiveram um papel sec undário, diant e do suntuo- dos qu ai s tod a a corte participa va .
so ce nário desenh ado por Lu do vico Bum acini, Ne m Rinuccin i ne m C accini po de ria m
sob cujo nome o espet áculo encon trou seu lu- ve nce r na vida tea tral fran cesa co m se u dram a
ga r na história do teat ro. p cr mu si ca . Contudo. foram be m-sucedi do s ao
inle rcala r recitati vos em estilo itali an o no balé
da co rte - primeira me nte, nos ve rsos recita-
o BALLET DE CO UR dos pela feiti ceira Alcine no ba lé do d uque de
Vend ôrnc , e nce nado em janei ro de 1610, uma
Plutarco , que certa vez de sc reveu a dança oca sião le m brada co mo e vent o teatral e corte-
co mo "poesia sem pa lavras" , foi urna das prin - são memorável no rein o de Henrique IV.
cipais auto ridades invocadas por Baif e se us M as o próprio nom e qu e aparcce no tít ulo
co labo radores em seus esforços para reviver o desse bail e noturno às marg en s do Se na mo s-
drama antigo. Na sua visão , a combinat ória das tra que o eve nto corre u mais so b a estre la da
quatro grandes formas de arte - música, poe- graça real do que sob o sig no de um a arte ca-
sia, dança e pintura - ofereciam a única possi- paz de marcar époc a. O duque de Vendô me -
bilid ade legítima de "expressar tud o, represen- filho legi timado de Henriqu e IV e Ga br ielle
tar tudo e ilustrar tudo , até os mais profund os d 'Estrées. um hom em elegante, int cligente e
segredos da alm a e da natureza" . ambici oso - dirigiu ele próprio o hal é, co m
Na Fra nça, essa idéia re nascenti sta de "fu- três aprese ntações e 111 um a se ma na . A prime i-
sã o das artes" gerou uma forma de teatro es- ra aprese ntaçã o no gra nde salão de hai le do K. Tornei o na corte de Lor en a. c m Nan cy. Jacqu es Catlo r: ·· I.~ Cornb.u i} la Barri êre". 1627.

• 330
9 . Representação de gala da ópera A lces/e, de Lully e Quinault, no pá tio de m ármore de Versa illes, na abertura do
festival de corte organizado ali por Lu ís XlV, em julh o e agosto de 1674 . Gravura e m cob re de Le Pa utre . 1676.

II . Teat ro do Ca stel o c m C\.' ~ k y Kn unlov: vista dos bastido res do lad o esq ue rdo do pa lco .

10 . O teat ro do castelo do Pr ínc ipe Schwarze nberg e m Ce sky Krum lov, decor ado ror J. Wetsch cl e L Mer ke! ( 1766 -
1767 ). Palco com cenário de bastidores representando uma cida de e pano de fund o pintado.
"
,: f

Lou vre, em 12 de j aneiro de 161 0 . seguiram -


se outra s du as no s dias 17 e I X do mesmo mê s,
H ís t ú ri n AIII"diul do T e at ro .

Na ve rdade . e m 16 53, Luí s XIV, e nt ão


com 15 anos, pa rti c ipo u de um a peça-d anca
• O Bar r o c o

do ba llet d e co ur, um peque no ba lé de ca ll-


cio ncs es pa nho la s. d u et o s it ali a n o s . c o m
lant erna mág ic a , atrás do qu al se esca lo na va m
se is pa res de b a sti d or es de sli za ntes. A ssi m
no Ars ena l. O du q ue de Sully, supe rinte nd e n- d a co rte. intitulada Ballet de la NlIit (Ba lé da Arlecc h ino , Scaram ucc ia e T rive llino . Ist o per- Aleotti foi o prim ei ro a aume ntar a área de at ua -
te de fin an ça s. não q uis ser lem bra do por suas Noit e). e m qu e se a presenta va co mo "o Re i- mitiu um a tran siçã o ao festival de corte e d eu çâo c m profun didad e a té a pared e de fu ndo do
med idas de po upança nessa oc asião e man d o u Sol" flam a nte de o uro . mas em seu re inado , a Lully, p ar ceiro de Moliêre , a o por tu nidad e palco, ca rac te rí stica do melh or período do tea -
gu arn ecer o salão com do is palanques p ara Jean Bapt iste Lully e M oli êre desenvolveram de contribuir co m os ingredien te s mu si cai s e tro barroco e dec is iva ruptura formal com a
espectador es e outros arranjos para o espet á- uma nov a fo rm a de arte, na qu al a dança esta- de dança para a be m- suce did a ap re se ntaç ão . área de ação tr an sve rsal do prosc énio da Re-
culo de bal é . va mai s intim amente do que antes ligada à nascença.
O rei e toda a su a cor te homenage aram palavra. E ra a conted ie-ha llet, um a tent ati va Sei s an o s após a m orte de Ale ott i, Ni cola
Mon seign eu r le Du c co m sua presen ça: bem- su ced ida de fu nd ir o espírito da coméd ia B A STIDO R E S D ESLI Z A NT E S E Sab battini, arq uite to de palc os em Pesare . pu -
co m a graça co rtesã do bailei. de co ur, e. par a b lico u um tra b alho p ion ei ro e m maqu in ar ia
S U.I Maje stade c m seu trono, a ra inha Ma ri u de
M A QUI N A RI A DE P AL C O
Moli êre e sua co m pa nh ia, um a cha ve para a teatr al , chamado P ratica di Fabri ca r Sccnc e
Med iei e a ra inha precedente. Margucrit c. ao seu lad o . O Machi nc ne' Tea tri (Prática de Fabricar Cená-
bene volê nc ia d e S u a M aje stade. Um grande
delfim aos se us pé s. c por toda a extens ão do s alão , todo s O s ba st id ore s em nível e des liza ntes co ns-
os pr ínci pe s e prince sas de sangue real . e o utros prínci -
festival de teatro aconteceu e m Versailles em rios e Maquinar ias no Teatro ) (163 8). Recor-
mai o de 1664 . Sob o lema de Plaisirs d 'Lslc titu íram a g ra nde novidad e do te a tro b arro co . rendo à s ua pró pri a e x periênc ia, e le requer .
pes e prin cesas do reino. funci on úri ov da co ro a, d uque s.
marqu e se s. co nde s. ba rõe s. cava lhe iros. nobres. a s d a - Enchan u'e (Prazere s da Ilh a Enca ntada ), su- A nova forma de decoração de palco ve io d a co mo primei ro pre ssupos to para u ma troca de
mas da co rte - tod o s co loca do... •.Je acordo co m sua pos i- cederam -se d uas se ma nas de torn e ios, banq ue - Itál ia. e a pa rti r de 1640 ap ro xi mad amente e s - cená rio funciona l, um palco co m ba sta nte e s-
çã o e m érito . O s capi tães da gU;Jrd:t ;'is cos tas de Sua M a - palh ou- se por toda a Euro pa . Sua inve nç ão é
tes , cortejos, fogos de artifíc io, balés e pa sto- paço, de mane ir a q ue "a trás . ao lado , e m c im a
je stade. c un-as deles . os arqueiros armados : oficiais d e cr ed itad a a Batt ista Aleotti, a rq u ite to da corte
polí ci a Ç O Ill os me strcv.d c-cerimón ia próximos às pa re - rais. Nesta ocasião Moliere co ntribuiu com as e abaixo do fu ndo d a cena e do cenár io haja
des. para impe dir qualqu er perturbaç ão ou confu são . comcdie- ball cts Les Fâch eux in Vallx (Os Im - d e Ferrara, q ue de senvolveu um s iste m a de e spaç o suficiente p ara todos os tip os de maqui-
pertinent es e m Vau x ), Le Mari ag e Ford (O mudança de c enário que diferi a do s b astido- naria que devam ser u sad os par a o aparec ime n-
O ba lé do d uque de Vend ôrne fo i um d os Casame nto à Força) e La Princesse d 'Elidc (A res e m â ng u lo e dos prismas g irat ó rios de ma - to de cé u, terra, oceano e m undo s infe rna is ,
último s g rande s festi vais de tea tro orga niza - Prin cesa d 'Ellde ). d ei ra usad o s e ntão , o ferecendo po ssi b ilidades be m co mo para os nccc ss ános a fasta me ntos e
do s no re ino de Henrique IV. qu e morreu as - Quan do . e m ou tubro de 1670. Lu ís X IV mai s ric a s do que os hab itu a is trê s c e ná rio s aprox imações". E m u ní sso no co m os ba stido -
sas sinado e m 14 de mai o de 16 10 . e xpre ssou o de sejo de ver e nce na da um a padr ão do p alco da Re na scen ça . Es te no vo res mó veis. e le também mo difi cou a corti na
Se u filh o Luís X IIl a princíp io deixou a s turq uer ie - tud o o qu e era turco estava a lta- ce ná rio con sis tia e m um a série lat eral d e m ol - de fu ndo co m sua p intu ra em perspec tiva, sus-
am bi ç õ es teatra is par a su a mãe , M ar ia de mente e m m oda na é poca .- Moliêre o o bse - d ura s de ripas reve st ida s de tel a pintada qu e pen de ndo -a ou a ba ixa ndo -a de ntro de um poç o
Medie i - qu e foi sua tutora e log rou também qui ou com uma co méd ie -ballct, Le Bourgeois d es lizava m so bre trilhos . Sa be -se q ue fo ra m atr ás do palco .
fazer -se regente - c, mais tarde. para o ca rdea l Gentil-honun e (O Burgu ês Fidalgo), a q ua l, usadas no Te atro Fa me se em Par m a. co ns tru ído G iacomo Torc lli , qu e esta be lecera o s is-
Rich el ieu , q ue. em 1624. tomo u as rédea s d o co m se us e le me ntos da Commedia dell 'art c, é por Al eotti em 161 8. Em 25 de julho . I' regis- tema de ba stid o re s nive lados e desliza ntes . fo i
desti no da Fra nça. uma sequ ênc ia c intila nte de paródias de atu a - trado, " a sceua tragica ali estava. co m p le ta". celebrado em Ve neza. Paris e Versaill c s co mo
Ri ch eli eu encenou o suntuoso Ball et d e lidades so br e pre sunção de cultura e moda, es- O bastidor em n ível havia ch egad o . O públi - o "grande má gi co" d o cenário barr oco . Te cni-
la P rosp érit é dcs Armes de la Fraucc (B a lé tupidez e va idade. canção pastor al e minuct o co, todavia , não conse g uiu ver a inovação se - ca me nte , a m á gi ca de Turelli residia no s iste -
da Pro sp eridad e da s Arma s da Fra nça) e m h o- na casa bu rgu e sa e , so bre tudo . so bre os ef e i- não dez a nos dep o is. quando o Teat ro Farn es e ma invent ad o por A leo tt i e desenvolvid o pelas
men agem ao c as a l re al. O e spe uic ulo foi apre - tos secundário s do es tabe lec imento da em bai- lh e fo i tardi ament e aberto . e m 16 2X. técn ic as de Sabba ttin i. Em Flore nça . Alfonso
sen tado no recém -co nstr uído tea tro do Pal a is xada oto ma na, c uj a e ntrada em Par is po ucos Po ss ivelmen te. A leo tti insta lo u um s iste - Parigi rea lizou um a obra impo rtante c o m ce-
C ardi nal, e pe la primeira vez a ação aco nte- anos ante s havia pro voc ad o um a onda de pit o - m a s im ila r de troc a de ce nário no te at ro qu e nas fa ntásticas e m ba stidor es. Seu dccor par a
ce u excl usiva me nte no palco, dei xand o a pl a- resca s abe rra çõ es de go sto . cons tru iu em 160 6 par a a A cc ade m ia d e gli La Flo ra (A Fl o ra ) I 1( 28 ) e t» No~~i d egli Dei
téi a para os es pec tador es. O ce nário foi m on- "O Se nho r s abe qu e o filho do Gr ão -Tur- In trepi di (Ac ade m ia dos Intrép id o s> de Fer- (As Nú pc ias d os Deuse s) (163 7) introduziu no
tad o a partir dos bastidore s laterais, seg undo co es tá na cidade, não sa be?", o cria do Co vie llo rara, qu e gozara a fa ma na é poc a d e se r o m ai s teatro barroco as vi s õe» e m pro fu ndi dade q ue
o mod el o ita lia no , e alguma s da s máquin as, pergunta a Jourdain, o " burguês fidalgo" , cuj a bel o teatro barroco da It ália. E le pegou fogo Lud o vic o Burna c ini le va ria à per fei ç ã o na
., util iza da s pa ra a abe rtura um mê s ant es. com filha e le co nq uista para o se u amo g raç as a u ma e m 1679, e o s croq ui s q ue c hegaram a té nó s Ó pera de Vien a.
i o dr am a Mi ramc , for am dessa vez utili z ad a s desenfreada masca ra da. "Como, o Senhor n ão não forn ec e m ind ica ç ão co rret a do me cani s- E nq ua nto isso , e m Ulm, Joseph Furt tcn-
para o balé . C o mo resultado, o ballet du co u r sabia? El e trou xe um séquito esplêndido, e todo m o da ceno grafi a de palco. bach continu av a usando o "método co rre to de
adquiriu uma forma intei ram ent e nova. D ora- mundo fo i lá p ara saudá-lo, e ele foi recebido O ma gn ífico cdi fíc io de madei ra du Tea- tran sformação do pa lco", o confi ável si stem a
vant e se ria ence nado exc lus iva me nte no pa l- por aqu i no país co m o con vém a um g ra nde tro Farn ese em Parma. qu e fu i b om b a rde ado trla ri qu e havi a ap rendid o em Fl ore nça (po r
co e, a ssim , se pa rado do piso pr inc ipal da sa la. senhor " . na Segu nda Guerra Mu ndi al. cons is tia numa vo lta d e 1(20 ) com G iulio Par igi ( pa i de A l-
o qu e s ig n ifi c ava um a divi são e ntre a da nç a O re i d ivert iu- se m u ito com e sta obra- p ri - sa la d e e s pec tado res em fo rma de ferrad ura fonso l. O te at ro po r e le co nstruido e m 16-11
no pa lco e a da nça .iulica. Fo i a prim eira a - ma da comédia e n ão se ofendeu co m a s ind is - d ia nte de um pa lco , onde a porta regia c en tra l no Bi ndc rhof. e m ll lm . que é descrit o e m por -
bor dage m da d ança profi ssion a l e do " ba lé Ia rça das a lu sõe s de M ol i êre à sua próp ria d i- s e al arg a v a a fim de fo r m a r u m a rco d e menor no se u Maunhu fftcr Kun tsp icgcl (p ub li-
cláss ico" . plomac ia pró-tu rc a. No final, uma lembra nça proscén io p ara um palco in terior. (111 do tipo cado em 166 3 l, po ssuía três pa res de prismas
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,. O Barroco

de madeira , um para c ada tip o conve ncio nal chada rio abaixo até Viena , onde a util izar am
de ce na, seg undo Se rlio. Apesar desse " retro- posteriormente e m apres entações populares.
ce sso", Furt tenbach guarneceu se u pa lco co m Fo i o qu e Bõckl er relatou ao cxpcrt em mat é-
navios c mo nstros marinhos, qu e era m movi- ria te atr al , Furtt enba ch, sobre o "Teatro" de
dos no fund o, ao lon go de um poço à moda Bu rn acini :
típica barro ca, co m so fitos pen dent es que re-
Em 12 de fevereiro, Sua Majestad e Imperial fez CO Ill
presentavam nuven s, com pro spectos móveis, l}1Il.: fo sse
encenada uma co méd ia extrema mente be la. na
na par te de trás do palco, com luzes que po- qu al mais de duas mil e qu inhentas pessoas tomara m par -
d iam ser diminu ídas para efeitos de ilumina- le . O te atro é espaçoso e eq uipado com ci nco troc as de
ção e máquinas voa doras. Out ra das idéias de cen a muito bonit as. e, segundo se alcgu. c usto u 16 .000
Furttenbach, inteiram ente no es pír ito do co n- coroas . O me st re q ue o construiu é c ha ma do Jo hann
Buru acini . um ualiano. Dado q ue os ita lian os são muit o
cei to barroco da necessári a ilusão de profu n- sigi los os no que diz respeito a se us pr ecio sos intere sses
didade, foi se u dispo siti vo para , em casos es- pró pr ios. não pude ver o eq uipamento. M as, 1.:0 1110 se i
pec ia is, iluminar os espaços do s camarins atrás qu e o Sen hor é um perito nestes assu nto s. imp loro -lhe
do prospectos do fund o do palco e inclu í-los qu e me e xpliqu e de que man e ira as pessoas vão t âo rapi-
dam ent e de um lugar pa ra o ut ro. do palco para den tro
no quadro cê nico para e fe itos espe taculares,
das nu ve ns. Constr uí um di spositivo mov ido po r um ba-
Mod esto co mo parecia se r po r fora , es treito lanço . Po rem . não sei se o seu funcio na do mesm o modo.
co mo era por dentro e mobil iad o so men te co m
ca deiras planas e lileiras de bancos, do ponto Os miracul osos truques da técn ica cê nica
de vis ta de seu co nstru tor era com paráve l aos não era m compreendidos nem me smo por co-
teatros posteriores das cortes de Sch wetzi ngen , legas de ofício. Isto não some nte explica po r-
Hannover e Lud w igsburg do fim do harroco. que Furttenbach se limit ava tão con ser vadora-
O teatro de Furttenbach foi , na verdade, a ment e aos se us te/a ri. mas tem um pa ralel o
primeira casa de es pet áculos civil da Alemanha nos pr ojete s c énicos do ingl ê s Ini go Jon es,
(co nstruí da nas redo ndezas de onde ou trora Jon e s es tivera em Florença mai s o u men os ao
exis tira um monasté rio domin ican o): perten- mesm o tempo que Furtt enbach e tam bém ha-
cia aos mu nícipes da cidade . Serv ia ao teatro via es tudado co m Giul io Pari gi . Assim co mo
,
i. esco lar e ao s Meistcrsinger. co mo ta mbém a Furttenbach , Inigo Joncs obedeceu, por déca-
ato res ambul ant e s in gl e se s e ale mães. Em das, ao si st em a ren a scenti st a it ali an o do s
1652, Furtt en bach ve nde u tod o o seu equipa- periakt oi. Ap ós 1640, entretan to , abando nou
me nto de palco para urna soci ed ade de com e- o esq uematis mo rígid o dos prismas g ira tó rios
dia ntes da sua Leutkirc h natal, " tcla ri, apare - de made ira com cenas diferentes e m ca da face.
lhos, máquinas, figurinos, e , pa ra resumir, tudo Passou a desenhar ce nários de florestas revo l-
o que lhe pertencia, por um preço baixo" , como vid as por um olhar impressionist a, que inl1u-
sabe mo s por seu di ári o manu scr ito. O ed ifício enciaram , a partir do palco, o dcsen vol vim en-
fo i utili za do ma is tarde para o utro s fins e lO da pintura da paisage m ingle sa.
dest ruído na Seg unda Gu erra Mundial. Outro arq uiteto de teatro s de suces so des-
Enqu ant o Furtt enbach se mostrava tão ge- te tempo foi o venezi ano Fran ce sco Sa nturi ni.
ner osam ent e infor mativo , outros ce nóg rafos Em 1650 ele foi cham ado pel a co rte bavari an a
guardava m se us seg redos co m mais ci úmes . e m Munique, onde co meço u sua ca rre ira ao
Isto se ev ide ncia numa c arta qu e Furttcnbac h co ns tru ir uma casa de ópera em esti lo itali ano
rece beu em 1653 de Re gen sbu rg, da tada de 17 no lugar de um cele iro na pra~' a Salva to r, qu e
de fevere iro e ass inada pel o engenhe iro de fo i inaugurad a em 1654. Santurini também
Frankfurt, Georg Andreas Biickl er. Refere-se proj etou os cen ários, embora te nham sido co n-
à fam osa construção do teat ro, erguido cm Re- feccion ados por Francesco Mauro , o "mestre
gensburg por Giovanni Bu rn acini co m ajuda de maquinari a" do novo teatro . Mais tarde , os
de se u filho Ludovico. A in stal ação teatr al ha- filho s de Fr an ccsc o Maur o , Do me n ico e
via sido en com end ad a pel o imp erad or Fcrdi - Ga spa ro. por sua vez, aplicara m bem o co nhe-
nan do III em hom ena gem à Di eta e. depois de c ime nto de técn ica teatral tran sm itido pel o pai,
termin ad a a ce lebração, fo i c uidadosa me nte no teat ro de Munique. Ale ssa ndro , neto de
12. Pr ojet o par a uma sa la de l' ~ Ill't ;ín dos com q uatro pa kll s, por IOSL'ph Furu enbach. G rav u ra d o Munnl tuttrn
desm ontada , carrega da e m barcaças c despa- France sco Mauro, veio a Drcsden , onde .Ioh ann
Kunst spírg rl, Au g:sburgo. I ( l( l .1.
• .lJ7
Híst ori a Mundial do Teatro.

Oswald Harms, o "pintor da corte e o mais Em 1748 Giuseppe Galli-Bibiena foi eha-
importante pintor de teatros" nascido em Ham- mado a Bayreuth. Ali, juntamente com seu fi-
burgo, trouxera fama para o Teatro Saxão Bar- lho Cario, executou o projeto do interior, mo-
roco com seu suntuoso cenário de ópera e balé. bília e decoração da Ópera de Margrave. Na
Alessandro Mauro aumentou o renome de reforma da Ópera de Dresden, em 1750, pôs
Dresden com suas espetaculares e suntuosas en- em ação seu ideal de fusão da sala de especta-
cenações de gala, gigantescos fogos de artifício dores e do palco. Em 1751, Frederico o Gran-
e festivais aquáticos. No espírito do alto barroco, de o chamou a Berlim. Ali. em 1756. Giuseppe ,
a característica dominante de todas essas produ- Galli-Bibiena morreu, enquanto trabalhava
ções era o efeito sensível das mudanças de luz. numa ópera em colaboração eom o composi-
A arte do cenário em perspectinva barro- tor Carl Heinrich Graun. Sua morte pôs fim à
co - e sua exposição na escrita e na ilustração grande era do cenário teatral barroco.
- atingiu seu zênite nos trabalhos do jesuíta Três anos antes, "a mais preciosa jóia do
italiano Andrea Pozzo. Em seu tratado Pers- rococó" era concluída em Munique: o Residenz-
pectivae Pictorum atque Architectorum (Pers- theater de François Cuvilliés, resplandecen-
pectiva na Pintura e Arquitetura), publicado em do em branco, dourado e vermelho.
Roma em 1693, ele estabeleceu os preceitos
para os artistas do barroco e do rococó nas-
cente: a perspectiva ilimitada, contínua, que o TEATRO JEsuíTA
dava a ilusão de expansão infinita do espaço -
a ser conseguida por meio da pintura. Andrea A consagração da Igreja de São Miguel em
Pozzo aplicou tais preceitos em afrescos, em Munique culminou, em 1597, num espetáculo
13. Projeto de cenário de Inigo Jones para a peça pastoral Florímênc, c. 1625 (Coleção do Duque de Devonshire,
altares e, em Viena, nos projetos de arquitetu- de massa como nunca se havia visto antes na
Londres, Courtauld Institute of Art).
ra para as celebrações jesuítas das grandes fes- Baviera. Ao som de tambores e trombetas, cen-
tividades da Igreja. tenas de participantes, em pane a pé e em parte
Na arte dos teatros e dos palcos. este pre- a cavalo, uniram-se durante horas num gigan-
ceito foi realizado genialmente pela família dos tesco desfile de grupos alegóricos: representa-
Galli-Bibienas. Mestres consumados na apli- vam o Triunfo de São Miguel. Enviados do céu
cação da perspectiva diagonal e no uso de com- e dragões das profundezas, idólatras, apóstatas,
plicadas escadarias, arcadas e na arquitetura hereges e déspotas imperiais podiam ser vistos.
de palácios. criaram projetos de palco de pro- A mostra concluía com urna cena tumultuosa.
fundidade ilimitada. superlativos na tradição na qual trezentos demónios, dotados de másca-
do palco ilusionista, levada até o século XIX ra e cauda, eram arremessados ao inferno. Esta
adentro, graças a artistas como Quaglio, Ga- memorável festa de consagração da nova Igreja
gliardi e Fuentes. de São Miguel foi organizada pelo Colégio Je-
Giuseppe Galli-Bibiena, o mais famoso suíta. Imponente igreja, inspirada pela 11 Gesu
representante da família, desenhou cenários de de Roma, ela foi a primeira construção do bar-
ópera em Viena, Dresden, Munique, Praga, roco inicial ao norte dos Alpes. Ela conferiu ex-
Bayreuth, Veneza e Berlim. Em seus imponen- pressão cfetiva ao poder da Companhia de Je-
tes cenários ao ar livre, ele replasmava o jardim sus (fundada por Inácio de Loyola em 1540) e
que lhe era dado ou a locação arquitetural numa tornou-se um baluarte da Contra-Reforma. O
apoteose em perspectiva na qual realidade e ilu- teatro, tão comprovado em seu serviço da reli-
são se fundiam harmoniosamente. Há uma sé- gião quanto condenado como um perigo para a
rie de gravuras de seus cenários para a ópera fé quando enveredado por trilhas erradas, en-
Constanza e Fonerra (Constância e Força). que contrava patrocinadores decididos nos jesuítas.
foi encenada e m 1723 no parque do Castelo Em toda pane, nas escolas latinas secundá-
Imperial de Praga, em honra ao imperador rias. nos colégios da Societas Jesu, a arte da
Carlos VI: compunham uma polifonia ótica cuja retórica, a disputatio na eloquência, era posta
grandiosa auto-suficiência tomava quase para- 14. Giuseppe Galli-Bibicna: apresentação de gala da grande ópera Constanza e Forte zru, de J. J. Fux, no Castelo
à prova no palco.
Imperial de Praga, 17'2:'. O palco ao ar livre, ladeado por duas torres e limitado por nove bastidores, abre-se em perspectiva
doxal esperar que uma orquestra e cantores pu- O drama escolar protestante. em sua ma- ilusionista cm profundidade. As construções arquitetônicas, no plano de fundo, podem ser alteradas para combinar com a
dessem ainda impor-se em tal cenário. neira modesta, havia ajudado os defensores da tripla troca de cenários (Munique, Museu do Teatro).

• 338
• O Borroco

Refonna a afiar o fio de sua navalha verbal. Ago- O bávaro Jakob Balde, pregador e tutor
ra o teatro jesuíta, por outro lado, procurava da princesa, foi o autor de uma tragédia cha-
deliberadamente efeitos cênicos e endossava as mada Jeftias, apresentada em Ingolstadt em
artes que falavam aos olhos e ouvidos, à mente 1637. A narrativa bíblica e a herança cultural
e aos sentidos. A palavra simples do púlpito foi humanística entrelaçam-se com as idéias mis-
superada pela representação viva no palco. O sionárias da Contra-Reforma, e o tema apa-
poder do júbilo, ao qual a arquitetura da igreja rentado com o de Ifigênia é apresentado de
barroca devia tão decisivo estímulo, provou es- modo a apontar simbolicamente para o sacri-
tar "em primeiro lugar em efeitos frutíferos". fício e a morte de Cristo. A caracterização ha-
Assim lemos no prefácio da edição de bilidosa da obra e sua construção dramática
1666 das peças de Jakob Biderrnann, um jesuí- são tais que, mesmo na época de Herder, ela
ta e dramaturgo do sul da Alemanha: mereceu comentários apreciativos.
Em Praga, os estudantes jesuítas do
É sabido que CenO(/OXIIS, que como quase nenhu- Clementinum encenaram um drama intitulado
ma outra peça sacudiu a platéia inteira com lima garga- Maria Stuart, em 1644, que, com a ajuda de
lhada tão festiva a ponto de os bancos quase desabarem,
uma rica alegoria, demonstrava quão vergo-
causou, apesar disso, uma grande movimentação de pie-
dade verdadeira no espírito do espectador, de modo que
nhoso era esse julgamento aos olhos dos cató-
as pOllcas horas devotadas a esta peça fizeram o que uma licos. No argumentum, um programa em ale-
centena de sermões dificilmente poderiam ter feito. Por- mão que explicava o significado e história das
que catorze homens da mais eminente corte da Buvána e peças jesuíticas para o público, a peça era cha-
da cidade de Munique foram unidos por salutar temor a
mada uma "Tragédia Real", ou "Maria Stuart,
Deus, o severo juiz dos atas humanos, e não muito de-
15. Giuseppc Galli-Bibiena: cenário cm pcspccuva diagonal para uma apresentação de gala para a celebração do
pois de a peça haver terminado, retiraram-se conosco para
Rainha dos Escoceses e Herdeira do Reino da
casamento do príncipe eleitor da Saxónia (mais tarde Rei Augusto III) e da princesa austríaca Maria Josepha, em Dresden. Inglaterra, que Elizabeth, a Rainha Regente da
os exercícios inacianos. e, como resultado disso, muitos
1719. Gravura de 1. A. Pfcflel.
deles experimentaram urna conversão miraculosa f...l. En- lnglaterra, mandou decapitar por ódio à reli-
tre aqueles que se retiraram para os exercícios. estava o gião católica e por ambição". A. A. Haugwitz,
homem que havia feito o papel de Ccnodoxux excepcio-
o dramaturgo do alto barroco silesiano, tomou
nalmente bem. Foi recebido em nossa Companhia não
muito tempo depois. e viveu nela por muitos anos lima o mesmo terna em 1683 em sua tragédia Ma-
vida tão sem pecado c santa que conseguiu a vitória eter- ria Stuart, baseando porém seu tratamento nas
na e agora habita entre os anjos sagrados. heróinas de Gryphius e Lohenstein, que, em
nome da fé, passam por duras provações, sem
O objetivo pedagógico e propagandístico discutir a questão da culpa.
fora atingido: catorze áulicos renunciaram ao O tratado teórico Ars Nova Argwztiartll11
mundo. A Comico-Tragocdia de Bidermann (1649), de Masenius, um professor jesuíta a-
sobre a vida vaidosa, a danação e a conversão tuante em Rhineland e na Vestfália exerceu
do letrado Cenodoxus, que mais tarde fundou enorme influência no drama jesuítico da se-
a ordem eartusiana como São Bruno, tem o gunda metade do século XVII. Jakob Masen
apelo da perfeição real e suprema. Elementos ingressara na Companhia em 1629, e seus pró-
da comédia antiga misturam-se à alegoria cristã prios dramas contribuíram muito para o
num todo eficaz. A peça .- encenada pela pri- florescimento do teatro jesuíta na Alemanha
meira vez em Augsburg em 1602 e reaprcsen- setentrional. À sua tragicomédia, Andro-
tada em 1609 no Colégio Jesuíta cm Munique philus, foi concedida a honra de ser encenada
com o sucesso missionário acima relatado - nas negociações de paz no fim da Guerra dos
foi o protótipo da forma barroca da tragédia Trinta Anos, em Münster, na Vestfália, em 1647
de mártires. Personagens da Bíblia, especial- e 1648. Sarcotis, outra peça deste autor, influen-
mente do Antigo Testamento, da história da ciou Milton na execução de seu grande épico
Igreja e as lendas dos santos forneciam mate- religioso Paradise Lost (Paraíso Perdido).
rial que demonstrava a futilidade de todas as Ao lado dos jesuítas, as ordens dos piaris-
procuras terrenas diante da ameaça da dana- tas e beneditinos promoveram o drama cm gran-
ção eterna; aqui o espectador era dispensado. de escala. A Akademietheater cm Salzburgo e
16. Ferdinando Galli-Bibicna: desenho de um cenário, com duas escadarias ornadas com estátuas c urn teto quadricu- corno em Cenodoxus, com a admoestação: o monastério beneditino em Kremsmünster tor-
lado projetando a ilusão de profundidade barroca (Londres, Victoria and Albert Museum). MUI/di disperite gaudia! naram-se grandes centros do teatro monástico

• 341
H ís t orí o Afll l/ d io / do [ ('(//1" 0 •

no alto barroco. sob Simon Ren cn bac her, Ele Cae sarei ) qu e, a parti r da metade do séc ulo
próprio. qu and o e ra professor de gin ásio, e s- XVII , e xalt aram a dinastia de Habsburgo no
cre veu e co mpôs a mú sica par a cerca de vi nte teatro. Tai s proj et e s levaram o dram a jesu ítico
dr am as e m latim. dos quais apenas uns pou- mu ito além dos limit es do teatro de co lég io e
co s foram im press os . escol ar. A g lor ifica ção d a d ina st ia reinant e
Com o as orde ns religiosas pretendi am qu e havia gara ntido o ge neroso apo io de sta úlii-
seus dramas fala ssem não tant o à m ente por ma . Para Pictas Victrix. a corte providenciou o
mei o da pal avra . mas aos se ntido s pela im a- dinheiro. part e dos figurinos c - a mais im po r-
ge m, os limites nacionais e de lingu agem não tante de tod as as a m bicios as fant asias c ênicas
eram obstác ulos. Se a apresent ação era e m la- de Avan cini - os se rv iços do nrquite to de tea-
tim , o espectador podi a seg ui r a ação co m a tro s Gi ovanni Bu rnacin i.
aj uda do Argumentum , esc rito em sua própria O tem a da P iel as Victrix de Avan c ini é a
lín gua. A lé m disso, flexíveis co mo e ram, os vitória do impe rad or c ristão Con stantino so-
j e su ítas se m pre tent avam e nco raja r talento s bre o " impe ra do r pagão" Maxên cio. A mb os
loc ais para suas prop ostas mi ssion árias. Isto os governantes sã o guiado s por visões em so-
se apli ca m ais particularment e ao dram a esco- nhos; Pedro e Paul o fort alecem Co nstant ino,
lar. Os gin ásios jesuítas em Liubl ian a, Kruml ov o espírito do fa raó inci ta Maxêncio contra o
e Ch omutov na cidade da coroação húngara, povo de Je ová. A ba talha de Rom a em 312 faz
Pre ssburgo, hoje Bratislava na Eslováquia, e parte do enred o. as si m co mo o sonho d e
na Pol ônia, logo atraíram os dram aturgo s lo- Constantino ant es d a bat alha, no qual, de acor-
ca is. Por volta de 1628, for am ence nadas pe- do com a lenda. ele vê um a cru z incandescente
ça s em latim em Pressburgo, inici alm ent e num no céu com as pal avras "H oc signo Victor "ri s"
palc o simples ao ar livre. e mais tard e em re- - acontecend o à direi ta do palco. Anjos em er-
cint os fech ad os; em Tirn au, hoj e Trn ava, por ge m de colun as de fogo, os es píritos d o in fer-
outro lado , a língua húngara foi usad a no pa l- no inter vêm na bat a lha , c ha mas bru xulei am no
co d o Co lég io Je su íta já em 1633. Na Pol ôni a , Tibre. Os so ld ados de Co nstantino co nstroe m
o jesu íta Gregório Cnapius dir igiu se u mart irio- escadar ias viva s, q ue se us co mpa nhe iro s es-
lógico e moral izant e Exemplo Dranuuica; ini - cal am até o topo dos I\lIlfOS da cidade , enq ua nto
ciou o de sen vol vim ent o de um es ti lo étnico , no outro lado do pa lco uma batalh a na val rai-
di stinto, do drama polonês, <juc se espalho u vece no Ti bre . M esm o para um técn ico de cen a
a té ci da de s di stant es co mo Pult usk. Vilna e exper ient e co mo Gi o van ni Burn aci ni isto não
Pozn am. era um trabalh o fác il.
Enquan to nas terras distantes o drama mo- O f urioso da s d in ámicas de palco de Ava n-
nástico se contentou por um longo tempo com cini era estilistica mc nte signifi ca nte. na me d i-
um palc o neut ro erguido no pátio do co légio, na da em qu e trab al hava de 1110do co nsiste nte com
sala de reun iões (aI/Ia ) e às vezes até mesm o o de sloc am ento tipicam ente ba rroco da fre nte
numa igreja, o teatro jesuíta na terra natal da para o fun do do palco. /\ visão o nírica d e Co ns-
Companhia logo proveu a si mesm o de todos os tantino aconteci a na ret aguard a do palc o c. ao
meios ex iste ntes de ilusionismo. acorda r, ele ca m in ha va para a frc nte a fim de
Em Vie na, Nik olaus de Avancini escreveu proferir um g ra nde mon ólogo: enq uant o isso.
alego rias e milagre s par a os q ua is exig iu a a cortina caía para esconde r a tran sformação
m ag ia completa da decoração e tran sforma ção que ocorria atrás. Es te ritmo espantosa me nte
c ênicas do barroco: iluminação e fogos, deu - teatral de "frent e" e de " trás" pode ser traçado
ses, fantasmas e demónios , co m interlúdios de ao longo de tod a a peça.
mú sica e insertos de balé, e out ros veícul os do Pictas Victrix te rmin ava com uma apoteo - . \ 1 H;· >~;:" I~)I"
h J) II ·": -11 -"
barr oco. Sua peça Pielas vi ctrix foi apresenta- se barroca no estilo das Ludi Cacsarci. mo s-
da di ant e do imperador Leopol do I, e m Viena, trando o imper ad o r C o nstantino entronad o
em 165 9. Esta apresent ação foi o cl ímax d a co mo ven ced o r, ro dea do por se us s úd ito s e
co ntribuição da orde m je suíta para o "eston- abenço ado po r um a n jo que flutua va nu ma nu -
teant e esple ndo r d o catolicismo barroco " , de n- vem. O a rco tr iun fal d e três port ais atrás d o
tre tod as as peça s imperiai s pa neg fricas (Lud i trono, decorado co m a d upla ;íg uia dos Hah s- 17 . 1'IIlI .m lel D íonvsíavum, fl.'~( a ·ha J é 1111 c vtilo d os I .IIll ; ( 'tll',wuá rom ano s, na co rt..- n upc ria l de Pr<Jga, cm 16 17 .

• 342
Hí s t ó r i a Mundial do Teatro. •o Barroco

burgos, tornavam a quintessência da peça cla- A questão do tempo que o dramaturgo trouxe-lhe a honrosa indicação para a Socie- teto Le Mercier para equipar o palco de seu
ra até mesmo para aqueles que não eram capa- pode conceder à ação dramática e a do lugar dade dos Cinco Autores, de Richelieu. pala is urbano com todos os mecanismos trans-
zes de compreender a totalidade do texto em da cena é discutida com grande minúcia na Richelieu encarregou este grupo de escre- formadores da maquinaria cênica barroca.
latim: o império cristão dos Habsburgos basea- Pratique du Thcatre (Prática do Teatro) do aba- ver em conjunto peças sobre um tema dado, Uma dispendiosa cortina de tecido escondia o
va-se na vitória de Constantino. Nove gravu- de François Hedelin d' Aubignac. O cardeal cada autor um ato, e estritamente de acordo décor de bastidores escalonados em perspec-
ras de cenas da Pie tas Victrix estão conserva- Richelieu, não menos meticuloso como admi- com a regra aristotélica das três unidades. tiva que, ao ser suspensa, revelava o cenário
das e mostram o quanto este drama, com seus nistrador do capital intelectual do que o era Corneille obedientemente contribuiu para a de George Buffequin em atmosferas variadas,
interlúdios de coral e balé, estava próximo da em relação aos bens económicos, fundou a fa- Comédie des Tuileries, que foi elaborada em com iluminação mutante de acordo com a hora
ópera barroca. mosa Sociedade dos Cinco Autores, para in- 1635 por este método. Ele tinha grande espe- do dia desejada. A peça era Mirame, hoje es-
Na França, o teatro jesuíta harmonizava, vestigar e experimentar as regras teóricas em rança de vir a ocupar uma cadeira na Acadé- quecida, assim como o grupo de dramaturgos
no princípio, com o gosto da corte pela ópera e um trabalho conjunto. Entre os indicados por mie Française, que havia sido fundada por recrutado para escrevê-Ia. Diz-se que o pró-
balé. A densa rede de escolas e colégios da Com- Richelieu para formar esta sociedade estava um Richelieu. Sua primeira tragédia, Médée prio Richelieu teria assinado como autor. Na
panhia de Jesus garantiram o grande alcance de jovem advogado de Rouen, que conseguira seu (Medéia), também se mantinha fiel ao esque- apresentação de balé que se seguiu a Miramc,
sua influência no desenvolvimento do teatro. Al- primeiro sucesso teatral em Paris, em 1629 - ma clássico. Porém, um ano mais tarde, Cor- relatam os registros, o novo teatro exibiu seus
gumas das obras teóricas fundamentais foram Pierre Corneille. neille viu-se privado das poderosas graças do assombrosos e engenhosos dispositivos de
produzidas em círculos jesuítas. O padre Um ano antes, Corneille havia encontra- cardeal devido a um acesso de gênio dramáti- transformação.
Ménéstrier escreveu a primeira história e do, em Rouen, o ator e empresário Mondory, co. Ele pôs em cena um tema que transgredia Corneille precisou esperar o devido reco-
metodologia do balé francês, e a Perspective que lá realizava espetáculos sob uma licença todas as regras acadêmicas. De uma fonte es- nhecimento até 1647, quando finalmente foi
Pratique (Perspectiva Prática) do padre Jean provincial concedida por Richelieu. Mondory panhola, Mocedades dei Cid, Corneille criou admitido na Academia Francesa. No entre-
Dubreuil foi uma importante contribuição para começara sua carreira como membro da com- Le Cid, o jovem herói ideal, ardente de amor e meio, escreveu os dramas históricos Horace,
o desenvolvimento da perspectiva de palco. panhia de Valleran-Lecomte e, tal como o seu paixão, coragem e espírito de luta. Nenhum Cinna e Polyeucte, nos quais se submeteu aos
Mais do que isso, da escola da influente antigo patrão, representava um vínculo entre palco francês ouvira antes linguagem poética princípios acadêmicos da forma. Sua Andro-
Societas Jesu, vieram os maiores escritores os teatros tardo-medieval e humanista, e a de tal força. mede foi encenada em Paris no Petit Bourbon
clássicos franceses: Comeille, Moliêrc, Voltaire irrupção da grande época do drama clássico Le Cid tornou-se o ídolo da geração jo- durante as semanas do Carnaval de 1650, com
e Le Sage. francês. Em Paris, Mondory partilhou de iní- vem. O teatro rompeu sua casca de esteticismo os mui afamados bastidores em cena criados
cio com os comediens italiens o tradicional conservador, e voaram faíscas. O drama de por Torelli em 1647 para a representação de
teatro do Hotel de Bourgogne, que pertencia à Corneille, que foi montado pela primeira vez Orfeo em Paris. O privilégio do reaproveita-
Confrérie de la Passion, mas, em 1634, trans- em 1636 no Théatre du Marais, desencadeou mento de adereços de ópera sugere que mes-
FRANÇA: TRAGÉDIA CLÁSSICA E
feriu-se com sua companhia para uma sede uma onda de entusiasmo. Ajeul1esse de France mo em Paris uma eventual economia de recur-
COMÉDIA DE CARACTERES viu sua própria glorificação na postura resolu- sos não era desprezada no campo das artes.
própria, na Vieille Rue du Temple no bairro
do Marais, em Paris. Este novo Théâtre du ta de dom Rodrigo no fatídico conflito entre a Mas havia a contradição de estilos. A ópera da
Desde que Aldus Manutius publicara o Marais estava destinado a tornar-se um dos três honra e o amor. O Cid espanhol tornou-se o corte da França trazia a marca da arte teatral
texto grego original da Poética de Aristóteles esteios da vida teatral parisiense. herói nacional francês. do barroco italiano. A tragcdie classique. por
em sua prensa veneziana em 1508, o afluxo O repertório de Mondory consistia em Mas Corneille foi severamente censurado outro lado, era, do ponto de vista da lingua-
de comentários eruditos a respeito desta obra pastorais e tragicomédias, do prolífico escri- por seus colegas dramaturgos. Eles o acusavam gem, um temperado em linhas classicistas.
nunca cessou. Na França do século XVII, as- tor de peças Alexandre Hardy, de tragédias ins- de ofensas imperdoáveis às leis da moralidade e como nas pinturas em antique de Poussin. Sua
sumiu proporções torrenciais. O problema mais piradas em Sêneca, de autoria do advogado cri- da verossimilhança. As temerárias mudanças de força emocional era expressão, não de senti-
discutido e controvertido era o apresentado minal Robert Garnier, de adaptações de Plauto cena, a unidade de lugar e de ação ditada não mentos transbordantes, mas de uma escala cui-
pela regra das três unidades, que Aristóteles e Terêncio e, finalmente, de peças alegóricas por um princípio, mas por uma disposição poé- dadosamente graduada. "Espectadores glaciais
de modo algum havia estabelecido tão incqui- bíblicas. Era um conjunto que correspondia ao tica, contradiziam toda a sua penosamente pra- de sua própria fúria. professores de sua pai-
vocadamente quanto seus intérpretes posterio- programa do teatro da corte e do teatro ama- ticada arte regrada. Amigos e adversários toma- xão", definiu Schiller certa vez as personagens
res alegavam. Todos concordavam sobre a dor acadêmico. Quando, em 1628, o advoga- vam partido na disputa. Uma caudal de panfle- da tragédie classique francesa.
requerida unidade de ação - porém, em rela- do de vinte e oito anos, Pierre Corneille, lhe tos manteve a controvérsia acesa por meses. Em As regras do verso alexandrino (a linha
ção à unidade de lugar e a unidade de tempo - ofereceu em Rouen uma comédia que havia nome de Richelieu, a Academia Francesa con- iâmbica de doze sílabas, cujo nome se origina
"uma revolução solar ou pouco mais" -, não escrito, Mondory concordou imediatamente denou o dramaturgo e sua obra. dos versos utilizados num velho romance fran-
se sabia se deveriam ou não, e em que exten- em estreá-Ia em Paris. Chamava-se Mélite ou Desiludido, Corneille retirou-se para cês sobre Alexandre, o Grande), com sua rigi-
são, ser consideradas igualmente obrigatórias. les Fausses Lettres (Mélete ou as Cartas Fal- Rouen. E assim deixou de figurar entre os con- dez antitética, determinavam o ritmo do ver-
Esta última questão estava no cerne dos deba- sas), e era uma peça inteligente e elegante à vidados de honra no mais resplandecente dos so. Por uma regra correspondente, o número
tes teóricos que formavam o clima intelectual moda espanhola, de acordo com o gosto da eventos teatrais da Paris de sua época - a abcr- de atos devia ser obrigatoriamente cinco, sen-
no qual a tragedie classique francesa se de- época. Seu sucesso abriu ao jovem e promis- tura da nova sala de espetáculos no Palais Car- do o terceiro seu eixo central. A ligação das
senvolveu. sor autor as portas da aristocracia parisiense, e dinal em 1641. Richelieu convocara o arqui- cenas era indispensável: quando uma perso-

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H ís t úri u Il fltlld illl d o TClItro • • O B a rr o c o

nagem dei xava o pal co, tinh a de estabelece r a criar um lugar no palco que não seja nem o Fr ançai se . Nenhuma o utra lín gu a, nenhum M ad el ein e B éjart e ass um iu o nome artístic o
uma co nex ão co m a cc na seg uinte, mesmo qu e quart o de Cleópatra, nem o de Rod ogun e na peça outro dramaturgo, j amai s fe z o met ro alexan- de M ol iêre. Represent ou num sa lão perto da
fosse com frases tão banais co mo: "Mas que m co m títul o, nem o de Foc a s , Leontina ou drino obt er pod er tão majestoso. Porte de Nisle e e m um a quadra de jogo de
vejo chegar? A rainh a se aprox ima. É preciso Pulqu ério em Heraclitus (Hcniclio) , mas um Em sele prodi g iosas tragéd ias, co ntando - p éla , fo i det ido por dí vid a e m uma pr isão para
que eu me vá rapidament e". espaço sobre o qual estes d ifer ente s aposentos se de Androm aqu e a Ph êd re (Fe dra) , Racin e deved ores e mant eve viva sua pai xão pelo tea-
Corneille e, melhor ainda, seu jove m con- se abram.." percorre a ga ma de sua ex peri ência moral e tro ao lon go de anos de pobreza enqua nto ex-
te mporâneo e rival Jean Racin e conduziam o Tant o as figur as dr am á ticas de Co rneille artística. Su a adm issão à Acad érnie Franç aise cur sio nava pelas pro vín cias.
verso alexa ndrino co m elegâ ncia sobe rana. Por como as de Racin e foram domi nadas pela sun- re forço u o se u prestígi o público, mas sua Em 24 de outubro de 165 8, ve io a gra nde
vinte anos, di sputara m en tre si quem seria o tuosidade do s figur inos barr ocos. Entravam em autoconfianç a fo i minad a por viole ntos atritos o po rtunidade co m a qual qualquer dir etor de
mestre da rragédie clas sique . Q uando Racin e sa pa tos de crino lina e co m fivel as, Pol yeucto com os janseni stas, qu e detestavam o teatro. co mpanh ia so nhava: M ol iére e se u conj unto
estreo u e m 1664 co m sua peça La Th ébaid c tir ava o c hapéu e mp lumado para rez ar. e será Após uma intriga de co rte q ue rest ringiu se n- a prese ntaram -se no Lou vre d iante do rei . O
(A Tebaid a), Cornei lle havia co meçado a re- pre ciso Diderot par a qu e a lg ué m e nco ntre en- sivelme nte o sucesso de sua Ph êdre, pel a apr e- pro g ram a co nsistia na N ico m êde de Co rne illc,
gi strar a co lhe ita de sua ex per iência anterio r. sejo para lou var um a a triz - Mlle C lai ron - sentação de um a peça rival de mesm o títul o, e seguida da far sa do pr óprio M oli êre , Le D épit
Em Discours des Tm is Unitês (Discurso das pel a tentativa de represent ar reali sti cam ente o a pós se u romp im ento com a at riz Mlle de A mou re ux (A Decepção Amorosa). A peça
Três Unidades) e na a utoc rítica Examen inclu í- dese spero . Além d isso, na é poca da tragédia Champmesl é, ele se afa stou do teatro por doze principal redundou em um fra casso, mas a di-
da na edição de 1660 de suas obras co mpleta s, cl ássica fran cesa, ganhou terren o o hábit o no- anos. ve rt ida intriga qu e se lhe seguiu e seu autor - e
curv ou- se à reprovação po r ter feito muda n- ci vo de dar a espectadores d ispostos a pagar Um novo int er esse por qu estões religio- int é rpr ete - foram ca lo ros am ente aplaudido s
ças de cena demais e muito arbitrariamente e m lugares privil egiados no palc o , um abuso do sas reconciliou Ra ci ne co m Port -Royal. A ati- por Lu ís XIV e sua cor te.
Le Cid . Quão afastado est ava , ent ão, de Lop e qual ninguém antes de Volt air e conseguiu se va Madame de Mainten o n, esposa morganática A fe liz ocasião trouxe uma conseqü ência.
de Vega, que zombou dos ped ante s magísteres livrar. do envelhecido Roi Sol eil , co nseg uiu finalmen- O j ov e m rei, ainda sob a tutela de Mazarin nas
e desafiou as regras aristotéli cas - e quão afas - Jean Racine , filh o de um advogado e dis- te reconquistar Ra cin e para o palco. Em 1689, qu e stõe s de Es tado , agradou-se em ser patron o
tado estava, também, de Le Sou li a de Sat in cípulo dos janseni stus de Po rt-Ro yal, deve seus ele escreveu a tra gédi a bíb lica Esthe r para a do teatro. Moliêre e sua troupe tornaram-se
(A Sapatilha de Cetim ) de Claudel, que tão primeiros sucessos no pa lco - La Th ebcúde (A Maison de Saint Cyr , pen sion ato fundado por um a co mpa nhia de atores oficiais de "Mon-
imaginativamente se del eita va na plenitude cê - Tebaida ) em 1664 e Al exandre le G rand (Ale- Mm e De M ai nte no n para a educ ação de meni- sie ur de frêre uniqu e du Roi" , e re ceberam pri-
nica do dram a es pa nho l bar roco. Apenas o ab - xa ndre, o Gr ande) cm 1665 - a um e mpresá- nas pob res da nobreza a rr uinada, e, doi s a nos mei ro o palco do Petit Bourbon e mais tard e,
solutamente esse ncia l dever ia se r mostrado no rio teatr al e co lega dr am aturgo c ujo nom e co- mais tarde , At ha lie , uma tra géd ia baseada no e m 1661 , o Palais Royal. So b o so l da ben evo-
palco , declarou Racine no prefác io ao Mithri- nheceu um a subi da meteór ica co mo o do pró- Livro dos Re is. co m um pa pel- título qu e , à lên c ia real , M ol iére co meçou a colaborar co m
dare. pri o Racin e: Moliêre. Contrové rsia s pessoais época de Volta ire, aind a e ra co biçado pel as Lull y, e j untos cria ra m a co med ie- ballet par a
A coe rção auto -impo sta de linguage m e e rivalid ades pelos favores da a triz Du Parc le- atrizes trágicas. o d ivert im en to da sociedade da cort e. O " esprit
lugar da trag édie classique, à qual mesmo Vol- va ra m Racin e a e ntre gar s ua Andromaqu e Ao lon go de pou cas décadas. a rragéd ie ga ulois " (esp írito ga ulês) co m o qu al M oli êre
taire ainda se se ntia obrigado , tinha seu co n- (Andrômaca) e os dra ma s subs eq ue ntes aos classique havia erguido a fam a do teatro bar- co ntrib uía par a essas bri ncadei ras de co me -
traponto na estilização del iberada do mundo e r ivais de M ol iêre , a co m panhia do Hôtel de roco fra ncê s a altur as liter ár ias estontea ntes , d ian te s serv iu de abe rtura pa ra a arte eleva da
da image m hu ma na, q ue só ela parecia apro - Bourgogne. Foi aq ui, no vene rá ve l e ancestral q ue levou també m M oli e re a arr iscar sua pena da coméd ia de cará ter.
priada à exigênc ia ética. "Doravante, as per- berço da tradi ção teatral de Paris, que o gran- no gê nero . Em 1661 ele es c reve u um dr ama Em Éco le des Ma ris (Esc o la de Mar idos),
sonage ns do palco clássico francês são atrela- de estilo declamató rio da tra g édi« classique heróico chamado D O II Ga rcia de Navarre o u e m 1661 , Moli êre extra i seu tem a do Adelphi
das co mo trabalhad ores da e mprei tada ao es- se de senvolve u. Este foi o so lo no qu al se en- Le Prince Jaloux . A peça teve urna pobre car- de Ter ên cio, mas um a no de pois, na peça que
quema de tempo da a ção e, aco rrentadas à es- rai zou o "s ublime ai!" qu e Racin e ex igia de reira de se te apre sentações e en sin ou -lhe qu e lhe faz par L 'École des Fenun es (Esc o la de Mu -
taca de suas próprias crises , devem deixar sua suas person agen s e m um gr ito metri cam ente sua força residi a e m o utro campo. lher es), ele usou co mo mod elo e co nfio u in-
alma nua" (Karl Voss ler). temper ado. Racin e não via a regr a a ristotélica No mesm o an o , 1661 , o rei cedeu a Moli ê- te irament e e m sua pró pria perspi cácia , q uant o
Em que stõe s técni cas, Co rnei lle sem pre da s três unid ades co mo uma impos ição árida. re e sua co mpa nhia o teatro do Pala is Royal , à c rí tica de é poca. Durant e dez criat ivos anos,
se submeteu ao sistema do palc o barroco. Ap e- formal, a ser ace ita de má vo ntade - ma s com o outrora o Pal ais C a rd ina l de Rich el ieu, em re - num a obra-pri ma ap ós outra, Moli êre decla-
sar de toda a sua atrevida irregularidade, mes- uma estrita co ncepção dra ma túrg ica que é o conhecimento aos lon gos e du ro s esforços a rou gu e rra aos hip ócr itas, fanáti co s e in vejo-
mo Le Cid atém-se ao prin cípio barroco do pressuposto necessário pa ra a intensidade psi - serviço do teatro . Fo i aqui qu e a contraparte e so s, ou a qu em mais a carapuça servisse . Dois
palco frontal e posterior. O palácio imperi al cológica. pendam da tragedic classi que dese nvolve u-se an os ant es, e m 1659, Paris inteira havi a per ce-
ao fundo permanece constante, enquan to a pla- O conflito de co nsciê nci a de Berenice. o como a hautc comcdic, a co méd ia clássica fran- bido, e m Les Prccieuses Ridicules (A s Pre cio-
taf orma livre à sua fren te perm ite Iodas as tormento dalrn a em Mit hridate. ambos decla- ce sa. Seu gênio so be ra no foi Moli ere . Desde sas Rid ícul as), a sátira subjacente ao af etado
mud anças necessárias de ce na. "O s j uri sta s mados em gra ndes e arioso s mon ólogos, difi- 1643 , Jean Bapti st e Po q ue li n, filh o de um cí rc ulo liter ár io do H ôtel de Rambouillet. Ele
admite m cer tas ficç ões de lei" , Corn eille es- cil mente requ er iam a lg um ce nário . At é hoje tapeceiro c va le te re al, d iscí pulo dos jesuítas e não poup ou ne m seq uer se us atores rivai s do
f creveu em seu di scurso sob re as três unidades fasc inam qualquer freq üe ntado r de tea tros em estuda nte de di reit o g raduado , dedicava -se ao Hôt el de Bou rgogn e , co mo de scobriram em
i aristotélicas, "c eu pretendo seguir seu exemplo
e introduzir cenas ficções de teatro, de maneira
Pari s. prese rvados das agr ura s do tempo co mo
e s tãu, no g ra nd iloq üe nte es tilo da Co médie
teatro. Fun dou a co m pa nhia L' Illustrc Th éâtre
(O Teatro Ilu stre ) junt am ent e co m a a tr iz
166 3 po r ocastão do L 'Impromp tu de Versailles
(O Impro viso de Versa illes) .

I • 346 • 347
• O Barroco

A co mpetição era aguda, e não fo i fácil crítica social e moral, mas também os desen -
pa ra a co m panhia de Mol iêrc ma nter-se e m ganos pessoa is de Mol iêre, O casa mento ins-
face das du as co mprovadas casas teat rais, o tável co m An nande Béj art, filha de Madele ine,
Hôt el de Bourgogne, onde a gra nde tragéd ia solapo u sua saúde. A proposta de eleição para
clássica imperava, e o Th éatre du Marais, co m a Aca démie Fra nçaise não foi adiante, porque
suas co médias recreativas. Em ad ição, hav ia a significaria aba ndo nar o palco, e isto parecia-
co m éd ie italien ne ; adap tação fra ncesa d a lhe um preço a lto de mais pela honra. Era tão
Commedia de //'a rte, tam bém autorizada a re- apa ixonado co mo co me diante quanto co mo
present ar qu atro vezes por semana. co med iógrafo. Como a utor, escrevia para o
Moli êre expôs-se à hostilidade dos círcu- ator; co mo ato r, guiava a pena do autor.
los cleri cais e literários. Os ataques mais vio- Moliêre foi profunda mente influenc iado
lent os foram diri gidos a Le Tartuffe (O Tartu - pela com édie italienne, Baseava sua atuaç ão
fo). Intri gas de co rte e rivais, más-lín guas e em Tiberio Fiorilli, o famoso Scararnuccia; sua
irrit ada s reações dos ofendidos result ar am na troupe e os itali anos representaram durant e um
proibi ção de aprese ntá-lo ao públi co; só de- per íodo o mesm o teat ro, e a linhagem de tipos
poi s d e vin te an os de um cabo-de-g ue rra da Commedia de//'art e forneceram-lhe co n-
exas perante conseguiu Moli êre mostrar a peça tornos, e às vezes até nom es, de suas própri as
às platéias e m geral. persona gen s. M oli êre, porém, o criador da co -
A profunda e vulnerável tristeza por trás média de ca rac teres, deu -lhes uma vida nova,
do Tartufo, do Misantropo, do Avarento e tam- individual. Coloc ou no palco figuras que era m
bém do Doente Imaginário reflete se m dúvida mais que meros pret ext os para situações en-

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18. Sala de teatro do Palais Cardinal em Paris - os convidados de honra. inc luindo o Cardea l Riche lieu . o Rei Luís X III,
a Rainha e o De lfim. Gravura de Loch on. anterior a 1642. seg undo uma grisa ille (pintura escura o u c inze nta) agora no 19. Cen as de Le Bourgeoís Gcnti ltionnnc de Moli êrc e Lcs Pr õc ícuses Ridi cul cs. Gravura em cob re de P. Hrissart .
I. Musée dc s Arts Décoratifs e m Paris. subseq üe nte à edição de Paris de 1682.

I • 349
20 . Ce na de O Doen te Im agin ário de Moliêre, Pintu ra de Cornelius Tro o st, 1748 (Berlim. Stanüicbe Mu seen ).

22 . Lcs Comed íens França ís. Pintura de Ant oine Watteau. c. 1720 (Nova York , Metropolit an Mu seurn of Art ).

2 1. O Doente Imaginár io de Mo fierc cm Versailles. 1674. Gravura cm co bre de Lc Pautre, 1676.


lí ist ári a l\t Ulll f i a f </0 Te u t ro . • O B cnro c o

graçadas. Seu Scapino e seu Sgan arell o, o mico de seus es tuda ntes estava sendo posto em cupava co m o destin o de seu s co me d iantes". cia da peça pa stor al, ao passo qu e suas últ i-
guardião Arnolfo em Escola de MI/1I1 eres c a risco pelos "costumes livres" dos Comedian- Não poderiam desej ar melh or lem a do qu e as mas obras La Pi ovanna e La Vaccar ia são
piada do cli ster no final de O Doente Imagi - tes. La Grange tran sfer iu ent ão sua troupe para tão c itadas pal avra s de Nap oleão: "O teatro ada ptações de Pl aut o. " refor mado para ves tir
nário não negam sua origem na COII/II/ed ia o leu de Paume de I' Étoil e desocup ado, uma fran c ês é a g lória da França, a ópera. mera- os vivos".
dell 'arte , mas revelam maior diferenciação e quadra de pél a co m uma área es paços a o sufi- mente uma ex pre ssão de sua vaid ad e" . Ruzzante apres ento u-se pela prim eira vez
sensibilidad e. Moli êre deu forma literária a ciente para abri gar o palco e uma platéia para com SeUpequeno grupo em Veneza, durante o
personagen s derivados do repertório de tipo s mil e quinhentas pessoas, construída pelo arqui- Carn aval de 1520. AlUOU em residências par-
da peça de imp roviso. teta François d' Orbay. O novo teatro foi inau- CO M M E D IA D ELL 'ARTE E ticulares, ganhou aces so a círculos erudit os por
De in íci o, Moliêre utili zou também a gurado em 1689 e logo se tornou o centro do s intermédio do aba st ad o patrício Alvi se Cor-
T EA TRO PO PU L AR
gama de máscar as dos italian os. No papel de círculos literári o, artístico e ga lante de Paris. naro, a quem conheci a de Pádua, e em 1599
Sganarello, simplesmente esc urec ia suas so- É mais ou men os de sta época, tamb ém , foi c ha mado a Ferrara pelo duque E rco le
Co mmed ia dell'arte - com édi a da habili-
brancelhas e bigode, com o é bem mostrad o na que proced em os primeiro s registros de paga- d'Este . Ruzzante tinh a um pé no teatro huma-
dade . Isto quer d izer arte mim éti ca seg u ndo a
conhecida gravura de Simonin. A lgumas per- mento de percent agem na Com édie Françai se . nista e o outro no teat ro popular. Pela form a
insp ira ção do mom ent o, improvisa ção ág il,
sonagens qu e ele tomou deliberadame nte da Eles rezam que ao autor cabia um nono da re- em cinco atas de suas co médias, aind a pert en -
rud e e burlesca, j ogo teatral primitivo tal co mo
comme dia , tais co mo os dois pais em As Ar ti - ceita, e concedi am em co ntrapart ida ao elenco cia à conunedia eru dita; ma s com seus tip os,
na A ntig üida de os atelanos haviam apresenta -
manhas de Scapino, ou os filósofos em O Ca - o direito de riscar do pro grama uma peça qu e, que carac terizava por d iferentes dialetos, abriu
do e m se us palc os itinerantes : o gro tesco de
samento Forçado , continuaram em sua troupe, abaixo de um cert o per centual mínim o de ca i- a porta para o ext en so c ampo da Commedia
tipos segundo esq uemas básicos de co nt1itos
para surgir co m as tradicionais meias másca- xa, não é ma is rentáv el. A qu ota mínim a foi dell 'arte. Seus ser vo s e a gente do ca mpo fa-
hum ano s, demasiad amente humanos, a ine s-
ras de cou ro . originalmente fixada em trez ent os livres no ve- lavam o dialeto de Pádu a ou o berg am asco ; os
gotável , infinitament e variável e, em última
Moli êrc atuou em mais de trinta papéi s rão e quinhent os no inverno, se ndo mais de patrões, o dialeto veneziano ou o tosc ano - um
análise , sempre in alterada matéria-prima dos
em suas própri as peças , até o fatídico dia 17 uma vez subse qüe nte mente alter ada e aumen- expedi ente desenvolvido mais tarde por A ndrea
comediantes no gran de teatro do mun do . Mas
de feverei ro de 1673, quand o, na pele de Argan , tada. Os dram aturgos procur avam melhorar seu Calmo .
isto também sig nifica domínio art ístico d os
em O Doente Imaginário, teve um co lapso no status legal. E m 177 5 Beaumarch ai s pediu A fixação de tip os pel o dialeto torn ou- se
meios de expressão do co rpo, reser vatóri o de
palco e morreu . vis tas dos bal an cet e s de bilh eteria quand o a traço ca rac terístico da Co nuncdia delt 'anc. O
cenas prontas para a apresentação e mod el os
Sua co mpanhia, agora sem patr ão, uniu- Co médie Fran çai se qui s tirar do repertório O de situações , co mbinaçõ es en gen hosas, adap- contraste da lingu agem , status, saga cidade ou
se, sob o atar La Gr ange, ao elenco do Théatre Bar beiro de Sev ilha , de sua autoria. Ele fun- tação esp ont ân e a do gracejo à situa ção do mo- estupidez de per son agen s pred eterminadas as-
du Marais, e toda esta nova troup e uniquc dou a Socie té des Auteurs Dramatiq ues (So - me nto. segurava o efeit o cô m ico . A tipifi cação levava
mud ou -se par a o H ôtel Gu énegaud. A peça ciedade dos A uto res Dramáticos), a primeir a Qua ndo o co nce ito de Conunedia de li'arte os int érp re tes a es pecializa r-se numa perso na-
apresent ada no espct áculo de abertura, em 9 assoc iação par a a pr ot e ç ão dos direitos dos surgiu na Itál ia no co meço do séc ulo XVI , ini- ge m em particular, num papel qu e se lhes a-
de julho de 1673, foi a obra mais violentamente autores da Eu rop a. Ma s ela foi arrastada pela cia lme nte sig nificava n ão mais qu e uma deli- ju stava tão perfeit am ent e e no qu al se movi-
atacad a de M ol iêre: Le Tartuffe . Revolução Francesa, e mai s uma vez a única ment avam tão naturalmente, que não havia
mitação em face do teatro literári o cu lto , a
Sete anos mais tarde, a Co médie Française oportunidade de o autor prot eger-se. tanto fi- conuncd ia erudita. Os atores dellarte eram, necessidade de Ulll texto teatral con sol idado.
nascia, por uma proclamação de Luís XIV, di - nanceira com o artisticamente , era o contato no se ntido ori gin al da palavra, artes ãos de sua Bastava combinar, antes do espetáculo, o pla-
tada num campo militar em Charlev ille. Este pesso al co m o te atro . arte. a do teatro . Foram, ao contr ário dos grupos no de a çã o : intri ga, desenvolviment o e so lu-
fam oso docum ent o, que traz a data de 13 de A morte de Luís X IV, e m 1717, marcou o amadore s aca dê m icos, os prim ei ros atar es pro - ção . Os detalhes era m deixado s ao sabor do
agosto d e 16 30 , e é contra- a ssin ad o por fim de uma er a. O s Co médie ns du Roi esta- fi ssion a is. mom ento - tod as as piada s e chistes ao alca n-
Colbert, decla ra: vam estabelecid os em Pari s em seu próp rio Ti veram por ancestrais os mim os ambu- ce da mão, os tro cadilhos, os mal -enten dido s,
teat ro, do qual nen huma ca lúnia maldosa con- lant es. os prestidigit adores e os imp rovisadores. jogos de pre stidi git ação e brincadeiras pant o -
Su a Maj estade dec idiu unir o s do is grupos de a IO - seguiu desalojá-los. porém a esca ssez de es - Seu impul so imedi ato veio do Cama val. co m os mímicas qu e sus te ntaram os im prov isad ores
res estabelecid os no Hótct de Bourzo an e e na Rue de
Guc negau.j e pro videnciar para que ~o "'f uw ro prossigam
paço forçou- os n migrar du as gera ções mais co rtejos m ascarad os, a sátira social dos figuri- por séc ulos . Agor a e ntrava m na Conunedia
como um ~Ó empreendi mento, com o objetivo de chegar tarde. nos de se us bufões, as apre sent ações de nú- dell 'arte co mo la zzi , o u seja, truqu es pré-ar-
a atuaç õcs ainda mais pe rfei tas. A Sall e Rich eli eu , onde a Co m éd ie Fran - meros ac ro bá ticos e pantomimas. A COI11I11C- mados ou repertór io de tramas. Os lazzi adqui-
çaise ainda hoje representa, deve sua destina- dia de li 'arte estava enraizada na vida do povo, riram uma função dr amatúrgica e torna ra m-se
La Grang e foi nomead o diretor das dua s ção a uma orde m em itida por Napoleão em extraía dela sua in spiração, vivia da improvi- as principais atra ções de determinados ate res.
companhias unidas. A nova Co mé die Fran- 1812, às port as de Moscou - uma analogia ex - sação e surgiu em co ntraposição ao teatro li- O lazro da mosca é, hoje, a obra -prima pan-
çaise per maneceu no começo no H ôtel Guén e- traordinári a co m o edito de fund ação que Luí s te rári o do s hum ani st as. Em se u lim iar e n- tomími ca de Arlecchin o, Servitore di DI/e
gaud. com a comédia predominand o no verão XIV exp ediu no ac a m pa me nto de C ha rle - co ntra -se An gel o Beolco de Pádua , apel ida do Pad roni (A rleq uim, Se rv idor de Dois Am os).
e a tragéd ia no invern o. Mas a prot eção do rei ville. A Com édi c Fra nç aise a inda rel embra II Ruzzante. por causa da person agem do es - na ence naç ão de G iorg io Strehler da o bra de
não con seguiu ev itar que os profe ssore s do vi - com org ulho es te "a to qu e red unda na fama pe rto ca mponês qu e criou e int erpret ou . E le Go ldo ni no Piccolo Teat ro di Mil ano. E quan-
zinho Co llege des Qu atre-Nations (fundado eterna de Napoleão qu e. mesmo no ca mpo de escreveu peç as baseadas na obse rvação da vid a do Charles Ch apl in, em silencioso esq uecime n-
por Mazarin) reclamassem que o zelo acadê- batalha, e corno Luís X IV antes dele. se preo - cotidia na no ca mpo, de iní cio co m resson ãn- to de si mesm o, co me o s cor dões dos sa patos
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em vez de macarrão , está saudando o brilho Vomita c itaç õe s e m latim , cria uma co nfu são
do s la ~ú da Commcdia dclla rtr, da m e sma dese sp e radora, toma as Graças pel a s Parc as e
form a qu e o ator qu e finge ler um ca be lo na hr ilh a pela m ai s câ ndida lógi ca - por exe m-
boc a - e po r isso é e lo g iado por S ta nisl ávs ki. plo : " Um na vio q ue nã o está no m ar, o bv ia -
Na represent ação de qu alque r peça, os ato- m ente está no po rto" ,
re s seg u iam o scenario , o u soggeto (rot eiro), O terce iro na liga d os enga nados é o Ca-
do qual duas cópias e ram afix ad a s atrá s do pal- pitano , um tip o m iles glori osus , um fanfarr ão
co , uma à di reita e out ra à e sq uerda, par a in- pusi lâ nime e um covarde quando as coisa s se
formar os participantes do c urso da a ção c da co m p lica m , Orig inalment e uma ca ricatur a d e
seq u ênc ia de ce nas , o fic ial e spa nho l, torn ou -se em seg u id a un iver -
O esteio do eleme nto c ôm ico era m os Za nni, sa lm e nte inter cambi ável como va le ntão e fa -
as figuras c se rvos provenient es de B érga mo , (As lado r. O mais conhec ido repre sentante d e st a
va ria ntes de seu nome, Zan no ni, Z an ou Sanni figura foi o at o r F rance sco Andreini do g rupo
su g e rem tr at ar -se de u m a f(\lima do d ia leto dos C o m ic i G e lo si. El e publico u sua s im p ro -
ven e ziano para Gi ovanni: o utra teo ria, q ue faz visaç ões cê nicas em 1624 . num livro intitul ado
remo ntar a etimo logia até a A utig üidadc, liga-o Lc Bra vu rc dei Capitan Spa vcnto (A s Bravu -
à pa lavra grega S W lI lO S , bobo , e ao latim sannio, ra s do C a pitão Spavento) . Um d o s suce ss or es
pa ntomimciro.) O Za nni ge ra lm e nte ap arece em do Ca pitano foi o Sca rumuccia, q ue fic o u fa -
parelha. É esperto e m alic ioso, o u bo nachão e m o so e m toda a Euro pa na pesso a de Ti her io
est úpido c, em am bos os casos, g lutão , Usa uma Fiorill i. o astro da comedie italicnnc em Pari s,
mei a m áscara feita de co uro, bar ba descuidada, profe s s or d e M oli ere e ce le brad o co mo " o
um c hapé u de abas largas e , no cinto de suas m a io r dos p alh aços" e "o g ra nde excêntrico
ca lças largas e bufantes, uma ada ga de madeir a do teat ro cóm ico" ,
sem fio, Os sucesso re s de Zanni co nstitue m le- O filh o e a filh a do Dotto re o u Pant a lone.
gião - Br ighell a c A r lec c hi no , Tu ffal d ino , o s a ma ntes (innamo rati v. co rte são s e a lc ovi -
Trivellino, Covie llo, M ezzet iu o , Fritell ino e teiras pa rtic ipavam do e lenc o d e per sonag en s,
Pedrolino . São Ha n swu rst . P ickle -h errin g e se nec es sári o . E stes tip o s eram m en os fi xa dos
S tock fish, e lod os os iuumer.i vei s tipos loca is - m ai s d e fin ida , tal ve z.• fosse a c riad a Colo m-
de bufões do campo o u da cidade , O Pu lc inclla bi na ou S merald ina, co mo par ceira . am a nte o u
de Acc rra tran sfo rm o u-se c m P unch na Ingla- e s po sa de A rlecc hino - c e m ge ra l não usa vam
te rra , Pol ic hin ell e na Fra n ça . Pe tru shka na m.isca ra s.
Rúss ia, c .ilgurna» de suas características so bre- U m a da s ma is fa m o sas int érpret c s d a
vive m no Kasperl alem ão . Co nun cdin dcll 'ortc foi Isabell a A nd re ini , c s-
O alv o e o o hjc to do s j og o s c óm icos s:io os po sa do a to l' F ra ncesco A nd rei n i. Era - com o
23. Personagens da Commedía de ítanc: Pant a leão . ti
tipo s pas sivos , se m pre trapace ad os , qu e se tor - é la rg a m ent e e stam pado na p ,ígi na -tí tu lo da
jo vem heró i (o u Ca pita no ) e Zanni. Ág uas -fo ne s de nam ca ricaturas gro tescas de s i m esm os. São ed ição d e s uas Co rtas por se u m ar ido - intc -
Jacq ues Calku . Horen ça, 1619 , en cabeç ado s po r do is pa pé is pat erno s, Pant a - g ra lHe da A cc ad e rn ia de i S igno ri lnt ent i. rece-
lon e e Dotr ore . Pant all one, o se n il. rico e des - hia so ne to s d e Ta sso c re spondi a -lhe em ve r-
co nfiado mer cador de Ve neza , o Signo r Mag- sos ig ualmente bem -feitos . Seu pap el de m aior
nifi c o c o m o cav a nhaq ue hr an c o e o m ant o h rilho fo i em Lo Parzia , um tour d e [orce
neg ro so bre o ca saco ve rm el ho , po ssui ou um a ling üfstico . " Bel/a di nome, bclla di co rpo c
filh a caxado ira, ou atra i a goza\'ão po r ser e le bclliss ima d'an imo" - "bela no nome . b el a de
próprio um co rtej ado r tardi o. Se u c riado Zanni co rpo e belís sim a e m espírito" - ass im e ra e la
o p rec ipita em aventura s, nas quai s Pant alon e aclamada na Itál ia . Qu and o, no sé c ulo X V III,
leva a p ior. Zanni, na melhor das hipótese s, ga - B ust elli c r io u a s suas fig uras da Conimcdia
Ilha a lguma coisa para co m e r, po rém , co m mais drll 'ortc e m porce lana de Ny mphe nb urg . de u
freq u ência . leva uma so no ra surra . o nome de Isabe lla ;1 m a is gra c io sa das esta-
O Dou orc de Bo lon ha , luz e rudita de to - tuc tas feminin a s.
d as a s facul dades, usa uma Iog a pr et a co m go la N a m e tade do sécu lo XV I. a Conmu -dia
br an c a, capu z pret o apert ado so b um chapéu dr ll 'a rte c o me ço u a expa nd ir-se para o s paí-
pr et o co m as abas larga s virada s para c im a . sc s ao no rte d os A lpes . O s co m ed ia ntes it ali a-

• 355
• O Ba rr o c o

USc;;m... H OIJ"h..

26. Cenas da comedir italienn e na época de Henri q ue III . Sé rie s de xilograv urus. pub lica das po r Fo ssard . Paris c.
1575 (da co leç ão Recuei ! Foss ard, Drottningholm Th eater Musc um ).

nos apar eceram e m N ôrd liuge n em 1549 , e O príncipe herdeiro Wilhelm e sua noiva le-
logo depoi s em Nurember g, Estr asburgo , varam com eles os comediantes para o Castelo
Stuttgart, em todo o sul da Alemanha, e mais de Trausnitz, em Landshut, ond e, por dez anos,
particularment e em Linz e Viena. Os Cornici " m uito aficionados a diversões e co isas es-
Gelosi, os Confidenti e os Fidelli foram hospi- trange iras", deleitaram-se em ser os patronos de-
taleiramente recebido s na corte de Viena. Em dicados dos atores nesta alegre e festiva corte.
Munique, onde Orla ndo di Lasso regia a or- Final mente, ordens paternas de Mu nique deter-
questra da corte, a Co nuned ia dell 'arte já em minaram medidas de economia e deram fim à
1568 granjeara a maior popularidade. Neste pro speridade dos comediantes. Desta form a, o
24. Commed ia de íl'a rte e Carn aval na Piazza Navona cm Ro ma. Ten da s de ate res ambula ntes; à d ire ita. j unto a fo nte , ano o duqu e bávaro Albrecht V organizou um príncipe herdeiro Wilhelm viu-se obrigado a dis-
um canto r de baladas macabras ; deta lhe de uma gravura e m co bre de Pe trus Schen k, Amsterdã . 170 8. programa de festividad es qu e du rou várias se- pensar os intérpretes da conunedia; uma coisa.
manas, para comemo rar o casamento de seu porém, ele logrou preservar: um retrato, em ta-
filho Wilhelm co m Ren ata de Lorraine. O pro- manh o natural, de seus atores. Esta pintura de
grama incluiu uma sé rie de torneios, concer- Alessandro Scalzi, conhecido como Padovano,
tos e apresent ações teatrai s, e fechou-se, em 7 guarnecia totalmente a "escadaria dos palhaços"
de março, co m uma " Conuned ia ali 'imp roviso no Ca stelo de Trausnitz, da adeg a ao quarto an-
alia italiana". Orlando di La sso dirigiu a en- dar. com afrescos ilusionistas mostrando vari a-
ce nação e fez o pa pe l de Pantalone. A ação çõe s dos tipos básicos e situações da Conunedia
co mpunha-se de elementos do Carnaval burles- deli 'arte. Este é o seu primeiro testemu nho pie-
co veneziano. Co rrespond ia aos soggetti habi - t órico ao norte dos Alpes. Corresponde m às des-
tuais e está descrita em detalh e no livro do festi- crições de Massimo Tro iano, mas não são cópia
val, escrito por Massimo Tro iano para o noivo do espetác ulo de Munique.
e príncipe herdeiro Wilhel m. A fresco s das personagen s da Co nuncdia
A trama pode se r co nsiderada como típi- dellarte, pint ados por Lederer em 174 8 e ar-
ca da Conunedia dell 'orte. Um rico veneziano tisticam ent e mais ricos e mais festi vos, podem
entra e exalta as aleg rias do a mor. Recebe uma ser encontrados no Cas te lo de Kruml ov na Bo-
carta que o afasta instantaneamente da com- êmia. Vinte anos mais tarde, a fam r1ia Schwar-
panhia da bela cortesã . Pant alone e seu servo ze nberg, ent ão vivendo em Kru mlov, contra-
Zanni cortej am a beldade ab and onada. Um tou os pintores Wetschel e Merkel pa ra deco-
nobre espanhol ap arece e em erge como um ra r o teatro do castelo com um novo e enge-
rival preferencial. Cenas de equ ivocadas iden - nhoso ce nário de bastidores alternados.
tidades e pancadaria, sere natas trocada, e due- Pari s afranceso u a Conuncd ia de li 'ar/e,
los quixotescos precipit am -se umas sobre as q ue se tom ou a coméd ic italicnne, ado rou a lín-
outras. Tudo ter mina e m reconciliação pacífi- g ua do país anfitrião e adapto u-se à sua exi-
25. Conunedia delt 'artc co m figura s simplórias de cam pone ses. Próxim o ;IS criadas corn másca ras, à dir e ita , um Za nni ca . e ateres assim co mo espectadores partici- gênc ia de "maior plausibilidade , regularidade
e Pantalc âo. Pintura anónima do s éculo XVI IJ (Milão, Mu seu Tea tra l all a S cnl.u . pam de uma dança italian a. e d ignidad e", como coloca J. B. Du Bos. En-
• 357
H i st ó r i a MII Ud illJ eío T eat ro.

tret ant o, a jul gar pela co leção de cenas e di .i- A peça improvi sad a a utê ntica , como nos
logos publi cad os por vo lta de 1700 por Eva- vel hos tempos, retirou -se para as feiras e, em
risto Gh erardi so l> o título LI.' Th eãt re Itulicu , Pari s, para II Th éâtre de La Foire . Ela agora
o co ntrário estava mai s próximo da verda de . procurava o seu públ ico entre o povo. Seu s
A co m édic itali enn e pre stava-se muito bem não principais centro s eram Sa int-G e rm ain e Saint -
apenas à crítica moral ge ra l, ma s tamb ém ii Laurent. De acordo co m o esc ritor dinamarquês
paródia hilariante de se us rivais franceses. Ar - L. Holberg, que esteve em Paris por volta de
lequim (um sucess or do H arlequin medieval. 1720, paródias "extremamente felizes e fiéi s"
co m a máscara peluda) entrava como Vulcan o , d o s gestos e voze s dos in térp re tes france ses
op eri sticamente aparelhad o num traje alegó ri- podiam ser vistos neste s pa lc o s. Mas, pro sse-
co; Pierr ot, como Mercúrio; C olombina, como g ue ele, prejudicava esse tabl ad o a sua exce s-
V ênu s; arrastava m Pégaso , encarnado na figura siva multiplicação, poi s " ta is paródias eram le-
de um burro , e pas s a vam a apresent ar o vad as pela cidade intei ra, no s su búrbios, em
Arlequin Protée (Arleq uim Proteu), uma pa- todas as praça s públi cas e palcos " ,
ródi a da grande tragédia de Racin e, B ércnice . Em uníssono co m o se u in íc io em Paris,
O mote dos atores da com édie italienn r sem muita adapt ação artís tica específica, a
era "Castigai ridendo m ores" ("El e cas tiga os Commedia de/I'art e tamb ém se dirigiu para o
cos tumes pelo ridículo"), qu c haviam aprcn- leste. Em sua forma orig ina l, ela c hegou a Var-
did o tanto com Moliere quanto Moli êre co m sóvia, Cracóvia, Vilna e Gdan sk. Em 1592, no
eles. Castelo de Cracóvia, o " fie l ao original" Zanni,
A comédie italienne atuou, nos anos de em triplicara, tomou part e no int ermedii musi-
165 8-1673, no Petit Bourbon, dep ois no H ôtel cai, apresentado na celebra ção das núpcias de
Guénegau d, e mudou-se, ap ós a fusão da tra- Sigismundo III e An a da Á us tria. Em festivi-
gé d ia e co mé d ia fr ance sa s na Co mé d ie dades em Varsóv ia, na co rte de Ladisl au IV, a
Françaisc e m 1680 , para a sa la de cspet áculos Co mm edia dell'artc foi um a da s atraç ões fa-
do Hôtel de Bour go gn e. No H ôtel de Bour- vor itas, pois o rei havia vi aj ad o pela Itália e l:í
gog ne, co m suas veneráveis tradi ções, viveu apreciara o teatro popul ar e improvisado. O
os momentos de sua mai or g lória. E aqui, em j ogo de tipo s de imp roviso e ra ca paz de supe-
1697 , ela própria co rto u o fio de sua vida . Urna rar as limitaçõe s da língu a, cl asse so cia l e co n-
sátira insuficientemente di ssimul ada atacando ven ç õe s . Poucas d é c ad a s m a is tarde , a
Mme de Mainten on , a co méd ia La Falisse Co mmc dia dell 'art e atr avessou o oceano. Em
Prudc (A Falsa Púdi ca ), ii maneira de Saint- fe ver eiro de 1739 , os co nvida do s d o Mr. H olt 's
Simon , provocou o fech am ent o instantâneo do Long Room em Nova York puder am apreciar a
teat ro por Luís Xl V. O s com ediantes italian o s primeira pantomima arleq uina da qu e se sab e
tiveram de deixar Pari s. ter sido apresentada e m so lo a mer icano. Foi
Watteau regi strou a Par tida dos Come- a nu nci ada como "U ma no va Di versão Pant o-
diantes Italian os numa tel a, a partir da qual o mímica, com Person agens G rot esca s, chama-
ilustrador Louis Jacob cri ou um souvcnir im - d as 'Aventuras de Harlequim e Scararnouch ou
presso: a última reverên cia d e Mezzetin an tes II Espanhol Enganad o ' :'.

de partir, um adeus pe saro so das dama s da Viena, na époc a o ce lei ro da c ult ura da
co mpa nhia, mulheres assistindo das jan elas Europa Central, abrira suas portas à Commedia
vizinhas, um jovem afixando o decret o real de dcll'arte por volt a de 1570. O s intérpretes dos
proi bição na parede da casa. "Iazzi estrangeiros", Zanni e se us comparsas,
Dezenove anos mais tarde , em 1716, o s foram entusiasticamente re cebidos; porém,
comédiens italiens estavam de volta a Paris . logo se confrontaram co m um rival nascido em
Encabeçados por Luigi Riccoboni, co nsuma- solo austríaco: Han swurst.
ram a tran sição da peça improvisada para a O titereiro Josef Ant on Stranítzky destro-
escrita. Riccoboni , que ant es, em Veneza e nas nou Zanni, Arlecchino e Brighella. Criou a fi-
c idades da Lorubardia, fora ativo reform ador g ur a de Hanswurst, o an cestral de muitas ge- 27 _Ce na da Connncdia dcli 'uru', por A lcssa ud ro SL-;II /.O_ch a ma do ti p.tdm -;u}\). lI .: se us m ur ai s.na e sca da ria do.. . bo bo x
da tradição nativa da connncdi« italiana. agora rações de irrcprim íveis tip o s teatrais popula- no Ca ste lo Tr au sn itz c m L lIltlshu l ( 157XI: 1\1II1:lleüo e Za uni faze nd o sere nata: ;1 janel a. um ga to. no lu gar da dama
ace itava dramas fran ce se s e m se u repertório . res, ch egando até Nestro y e Ra imund. co rteja da.

• 358
2R Os Farn'III·.I" [rancnis ct italírns, no TI~L,\I[ . ' ~
;:- 'C Rovnt em Paris. 1670. A esquerda. !\1.oliert~:
, (ISUI
r" -ih(PaI
'di / '//'tlrte Pintura a nico anónima
palco, .sozmhas ou em grupos. as pCTSOlla,QCIlS afrnuccx.tdux da Canunc, /(/ i c .
LItidos
_.'. atrnvex
1''- Collc
do
"ollcction

de la Comédic h'all(,;aist').
29. Palcos nas feiras anuais de Paris: Tb éâtre de la Foire. na Place Vendôme. Este, e ainda Saint-Gerrnain e Saint-
Laurent, deram abrigo à Comédie Italienne, a Commcd ía de íl 'arte afrancesada, após a interd ição real de 1697. Estampa
colorida. séc ulo XVII.

30 . A rleq ui n Grand \'1.'0 ;'; Comeaie Nouvcllr, de Fuze licr. e nce nada pela A nc ien ne T ro upc de la Co m édie hali enn c no 3 1. Investidur a do novo Harlequin da Co m éd ic lta lienn c no Hôtcl de Bo urgog ne . a pô s a mor te de Domcnico Biuuco lelfi
palco do Hôtel de Bourgogne em Paris. provavelmente em 16R7. No papel-título. Dom euico Hian co lelli. o famoso Dou uu ique (Du ru iniq uc ). cujo sa rcó fago c a viúva . ao s prantos, pod e m ser vistos ao fu ndo , A lma nac h de Paris para u ano de 16 RlJ (de
da troupe , q ue morreu e m 1688. Gra vur a de Bonu at , tio A hnanac h de Pari s de 16 X8. o . Klinger Dir Comcdie -ltoticunc iII l 'ans nuch de r Sammlung nUl Gherardt. Estrasb urgo , 19( 2).
• O Barroco

32. ~s Comedicns Ltatiens. Pintura de Antoine Watteau, 1720. No centro da trempe, Pierror ou Gilles ; à sua esquerda,
Harlequin com máscara negra. (Washington, National Gallery, Kress Col1ection).

33. Palco com figuras-tipo da COIIZ11Jcdia deítane, Agua-forte, frontispício para o B{/1Ii di Sfessania, de Jacques
Callol, 1622.

Em 1707, no mesmo ano cm que o estu- Hanswurst de Stranítzky anunciava: "Com os


dante de odontologia Stranítzky era aprovado diabos, minha bunda está balançando como ba-
em seus "examen dentifraguli dentiumque n.ha de porco". E quando o rei da peça indul-
medicatoris" na Universidade de Viena, o co- gentemente o perdoa por sua língua solta, di-
mediante Stranitzky, co-diretor dos Comedian- zendo: "É preciso levar a bem a tolice dos bo-
tes Alemães, tirava seu chapéu verde e pontu- bos", Hanswurst replica: 'Também penso as-
do com devoção grotesca no palco do Ballhaus sim, caro colega".
na Teinfalstrasse. A seus pés rejubilava-se uma Mas quanto mais tosca a improvisação,
entusiasmada platéia suburbana, para quem ele mais vulgares as piadas e mais obscenos os
havia apresentado o protótipo do homenzinho assuntos se tornam, mais próximo está o peri-
simples e astuto, na pessoa de Hanswurst, o go da decadência, da degradação na mera vul-
camponês de Salzburgo que vinha instalar-se garidade. Nem a Commedia dell 'arte. nem o
em Viena. teatro popular foram capazes de evitar esse pe-
O Hanswurst de Stranítzky, nascido da rigo. Fossem Zanni, Arlequim ou Hanswurst,
inventividade teatral individual e alimentada Stockfish ou Pickle Herring - nenhum deles,
pela esperteza materna nativa, tornou-se a figu- no final, teve o poder de dar vida nova a pia-
ra nuclear do teatro popular austríaco. A das gastas. Em Viena, o sucessor de Stranítzky.
Commedia dell'arte foi sua madrinha. Suas ca- o jovem Gottfried Prehauser, manteve-se na
racterísticas extemas eram uma jaqueta verme- altura da esperta malícia; em Leipzig, Hans-
lha curta, calças amarelas, um chapéu pontudo wurst foi expulso, com todas as desonras, do
verde e uma gola branca de bufão. Como espe- palco da adorável Karoline Neuber.
cialidade particular, desenvolvia piadas sexuais Na Itália. Goldoni e Gozzi tentaram tra-
e escatológicas grosseiras, que logo ultrapassa- zer o teatro popular improvisado para o reino
ram em crueza seus predecessores italianos. da literatura. Goldoni reduziu o número de ti-
Quando, por exemplo, o Zanni da Conuncdia pos cômicos da Commediu deli' a rte para qua-
dell'artc, conforme o cenário pendurado, de- tro ou cinco, e ajustou-os a ambientes solida-
via representar o "medo" e para isso choramin- mente estruturados ou comédias de costumes.
gava: "Oh, meus joelhos estão tremendo", o Colhia seu material da vida cotidiana de Veneza
• 365
• O B ar ro c o

34. Tr oupe de sa ltim bancos nu m tablado erguido e escreveu O Servidor de Dois Amos par a o a imaginação de Stanislávski co m a idéia de um
sem cenários. Um charla tão apr eg oa Suas mercador i-
as; próximo a d e, um co m ed ia nte em co stume de
grupo do fam oso int érprete de Truffaldino , o palco de improvisação, no qual os "próprios ato-
Za nni, um a ca n to ra co m a la úde e d o is músi cos. ator Anto nio Sa cch i. Co m suas peças. Go ldo ni res criam as peça s" .
Bu fões nas fe iras a nua is e ra m uma forma primitiva rea lizo u a tão tardi a renovação do teatro italia- A Conunedia dcll 'an c é o ferm ento da mas-
da Commcdia de íl'ortc, Aq ua rela an ônima, do início no e repetiu o processo de fusão qu e , um séc u- sa azeda do teatro . Ela se oferece como forma
do século XVI (Ila m berg, St aatsb ibl iothe k).
lo antes , Mol iere havia efetuado e m Paris. intemporal de repr esentação sempre e quando o
Gozzi rej eit ava a imitação da natureza pre- teatro necessita de uma nova forma de vida e
gada por Gol doni . Ele negava a nec essidade am eaça paralisar-se nos caminhos batidos da
da comédia de cos tumes e mostra va a magia convenção.
mul ticolorida de suas Fiabe , suas co méd ias de
co nto de fadas, qu e ele povoa va de feiticeiras,
fadas e ma gos. E m sua vio lenta co ntro vé rs ia o TEATRO B ARR O CO E S PANH OL
com Goldon i, defe ndia o teatro improvisad o,
alegando qu e Go ldoni o havia maltr at ad o. Mas O Dom Qu ixote de Cerva ntes encontra um
em bora G ozzi desej asse insufl ar vida nova à dia um es tranho ve íc ulo na estr ada . Parece
imp rovisação, exigia que os intérp retes se man- " mais a barc a de Ca re nte do que um carreto
tivessem fiéi s ao s texto s qu e escrevia. Por vin- comum" , e é pu xado por mula s condu zid as por
te e cinco an os, trab alh ou e m estrita co labor a- um horrível dem ôni o .
çã o com o grupo de Sacchi. A admiração pelo
ce lebra do int érprete de Truffald ino , Sacchi, A primeira figu ra qu e Do m Quixote viu [neste estra-
que viajara até mesmo a Portu gal co m sua com- nho veíc ulo] foi a da própria morte. com rosto humano;
panhi a , era o único pont o onde Go ldo ni e ju nto de la vinha U111 anj o co m gr an de s e pintad as a sas:
dum lado esta va um i mpe rador, co m uma coroa, qu e pare-
Goz zi co nco rda va m unanim em en te . A fo rça do
c ia de o uro . na cabeç a : ao" pés da mort e vinha o deu s que
tea tro vivo rec on c ili o u -- e inco rp o rou - as cha mam Cupido . se m ve nda nos olho s, mas co m o se u
int en çõe s opostas destes dois antagonistas e arco , aljava c seta s : vinha também um cavaleiro armado
reformador e s. de po nto c m branco. ruas se m mcn'iâo. nem ce lad a, e em
A heran ç a de Go ldo ni e Go zzi influiu, por vez d isso um chapéu c he io d e plu mas d e dive rs as c o res '"-.

sobre a fri a razão do Iluminismo, no teatro po-


pular de Vie na do século X IX: na figura do Alarmado . Dom Qu ixo te barr a o cam inho
Kasp erl e de Laroche, nas co média s parod ís- do carro e ped e in form a ções so bre aque le es-
ricas fabulo sas do período do Bâuerl e (peque - tranh o carregament o . E ouve a resposta .
no campo nê s), no grande rein o româ ntico da
Se n ho r. xom o s c om c di aru c s d a co m pa n h ia de
fant asia de Rai mun d e no mundo Bied ermeier"
A ng ulo. o Ma u: rep re sc ntum os hoj e , lü na a lde ia . que
c ético e irôn ico de Nestro y. fica atrá s da c o lina , port a nto apó s a o itava tio Corpo de
Em suas o bras de j uve ntude, Goethe de u Deu s. o au to do Cone da Alo rtl!. e have mos de (I re pre -
ehão para Sca pino e para o Dott ore ; L udw ig sc nrar c stn ta rde naqu el a o utra aldeia qu e daq ui se avista:
Tieck co nvocou Scara mouche. Pierrot . Pantalone por estar tão próxima , e pa ra po upa rmos o trabal ho de
no s de s pi rmos e d e nos to rnarmos a vestir. \';J JIIO~ co m os
e Truffaldin o para a amarga e irónica crítica de
m e-an o s fatos co m "lHe havem os de entr ar cm ce na ü d. ,
sua época; G rillparzer tirou suas melan cóli cas i !Jid.)
e sagazes fig ura s de criados do rese rvató rio de
tipos da Conuncdia dell 'artc: Hoffm ann esc re- o incid ent e descrito por Cervantes, que
veu uma suí te de bal é cha ma da Arlequ ino e a obviame nte co nduz a um a qui xotesca bat alha
gro tesca e teatral mente jo cosa Phan tasi esui - com o "dem ónio" , c aracteriza a situação do
ckc iII Callots Mani cr (Fantasias à Moda de teatro espanhol no iníc io da era barroca: o espi-
Callot): Richard Strauss conc ebeu sua Ariadnc rito resoluto dos co me diantes de troupes am-
auf Naxos como uma peça imp rovisada ii ma- bulantes. a mistura da Antiguidade e do cristia-
neira itali ana: G órki, no exílio em Capri, inte- nism o na ale gor ia de s uas a prese ntações, o
ressou- se pel as imp rovisa ções da Co nuuedia
35. Fol ia masca rad a co m figu ras de Pulci ne lla da
Comm ed ía del iurtr, Pintu ra c m par ed e:de Giovanni dcllartc napolit ana: mais tarde. tent ou inflama r .~ ;:: Don Quixote , Mi guc ! de Cervantes Saavcdra . t ra
Do menico Tiepoto ( 11'2 6 - 179 5 ), da Villa Z ia nigo d ução de Visconde de Ca stilho e Az evedo, \'01 II. C írculo
(Veneza , Mu sco C a ' Rezzo nico ) c " Bicdc nucier": e stilo IJt'qUl' Il O h lll'g llê ~ . du Livro.

• 36 7
H is t ár i a Mu n d i al d o Teatro . • O Barroc a

tradicional ourope l de se us figurinos c, não me- do c re nte em suas re lações co m De us" - por licen ça local para a ap re sen tação da peça e, muitas vezes ainda uti liz avam os carroç ões-
nos, o fato de que não necessitavam de grandes exemplo, q uando em El Cabal/e m de Olmedo sej a como orga nizadore s ou arr endadores, di- pal co do tea tro proce ssio nal do fim da Idade
prepara tivos para at uar em mui tos lugares num (O Cavaleiro de O lmedo ), de Lop e de Vega, vidia m os lucro s co m co me d iantes e au tores. Média. Dispostos lateral mente ju nto ao tablado
mesmo dia, espec ialmente durant e a "tempo- um a pro st ituta gri salh a ves te o hábito de uma As sim o teatro e nco ntrava sua sede, e o do co rra l, co mpletava m o palco. ou coloca-
rada de teatro" , que aco nteci a por volta da fes- freira e ensina a urna jovem da ma da nobreza a caixa do ho spi tal, um a rend a extra. E as auto- do s atrás, serviam de e spaço interno do cerni-
ta de Corpus C hristi . tabuada do amor, ou q uand o o mesmo autor ridade s con segu iam co ntro lar os comediantes rio . A lém disso, pod iam também ser utili za-
O contraste entre a mais alta esfera misteri- m obiliza a famo sa operadora de mi lagre s, a sem pro blemas, mant end o -os dentro da ordem. do s com o vestiários para os atores.
osa da fé e a mais primitiva realidade não pre- Ma do na de Guada lupe, para promover uma Em Mad ri, a Confradia de la Pasi ón man teve O mais impo rtante ace ssório cênico era uma
judicava, de maneira nenhuma, a intensidade "cura" miraculosa com a qu al uma bela viúva esses corrales a partir de 1565, um na Ca lle escada, que conectava o palco de baixo, o princi-
do efeito : o milag re da Eucaristia projeta-se esconde um lapso muito mundano. deI Sol e ou tro na Call e dei Prín cipe; em 1574 pal e o superior. Sua indisfarçada visibilidade
além do crepúsc ulo da ca tedral, sobre as tábuas Todas essas comédi as foram impressas - a Confradía de la Soledad abriu se u Corral de não prejudi cava de mo do nenhum a magia do
rangentes de um palco mambembe. Os atores j un ta me nte com os inte rlúdi os t entremesesy e Burguillos. Valência tinha um teatro- corral sobrenatural. Em data tão tardia quanto 1675,
ambu lantes, ainda situados pelo legislador jun- loas , or igi nariamente prólogos curtos e, mais desde 1583, e em Sevi lha há registro s de se- Marie-Cath érine d' Aul noy, viajante francesa na
to aos ladrões e assa ssinos, cumprem uma mis- tarde, peças independentes - na época de sua guidas repre sen ta çõe s num Corra I de Dona Espa nha e autora de uma das mai s import antes
são dogmática na peça de Corpus Christi. apresen tação , e distribuídas em centenas de Elvira, de 1579 e m di ant e. e divertidas descri ções do teatro-corra/, escre-
A exube rante alegoria do retábulo espa- exemplares, e toda s tinh am de pas sar pela ce n- Por volta desta é poca, em Londres, o pal - veu de Madr i: "Na cena em que Aline conjura
nhol repete-se no denso simbo lismo do auto sura da Inqu isição. Co ntant o que todavia os co elisa beta no co meçava a tornar forma; mas, os dem ónios, estes sobem do inferno assaz con-
sac ramental, que, ao con trário dos "mistérios", escritores não se subtraíssem à ce nsura oficial , e m co ntrapartida, o teatro -corral espanho l fort avelmente por meio de esca das" .
diz respei to não à representação da Paixão mas conseguiam sair-se com fala s ma lic iosas so- ma ntinha seu ca ráter provisóri o. A era de gran- Ma s o teatro es pa nhol barroco estava di-
à transfiguração simbólica do sacra mento da bre o clero, as instituições es tatais e até mes- de florescência do drama espanhol, o siglo de ret am ent e ligado à trad ição do medievo tardi o
Eucaristia. O fantástico, o metafórico e o espi- mo sobre o fanatismo re ligio so. oro, de 1580-1680 , oc orreu na modesta estru- não somente por suas técnicas de representa-
ritual comb inam-se, seja na mais modesta peça As pesquisas científicas têm mos trado que tura de um palco ao ar livre rod eado pelo s mu- ção, ma s tamb ém por se us temas. Qu ando Lope
teatral, ou no mais suntuoso cortejo barroco. a influência da Inqui sição na literatura, arte e ros das casas , um palc o qu e podi a ser armado de Vega, aos trinta anos, princ ipiou a escrever
Ambo s deviam serv ir aos propó sitos tanto da tea tro foi incrivelmente pequ ena. De qua lquer num dia e desm ontad o no outro . para o palc o em 1575 , teve, de certo mod o,
edificação religi osa quanto da propagand a da mane ira, o pulular exub eran te da fantasia não O tabl ado erguia-sejunto à fachad a do pá- " de simplesme nte abrir as comportas da repre-
Contra -Refor ma. O teatro espan hol, com sua so freu a menor perd a. " Não repare Vossa Mer- tio pavimentado. Uma cortina escondia os ca- sa". A riqueza contida nas epopéia s e rom an-
retóric a aguçada pelo espírito do conflito cen- cê em ninharias, Senh or Dom Qu ixo te, nem marin s do s intérpretes ao mesmo tempo que ces, a história nacional. mi tos e lendas supri-
tenári o com o Islã, fo rneceu a imagem para o queira levar as coisas tant o à risca. Não se re- servia de pano de fund o para o palc o . Os bal- ram-no de materia l temático. Ele encontrou ,
conceito. Vesti u o sacramento da Eucaristia pre sentam todos os dia s por a í mil comédias cões e galerias da frent e da casa formavam lo co mo co loca Grillparze r em se u belo poem a,
com o colorido da fábu la. Interpretações mora- c hei as de impropriedades e de disparates, e alt o dei teatro, o palc o superior, que era tão
pa ra ludo I.) qu e a hu manidade de sde se mpre havia cxperi -
lizantes haviam removido largamente o "pe- co m tudo isso elas percorr em fe licissimam ente ind ispensá vel quant o o a lça pão. ment ad o. uma P õ.l!JV I";l , tuna ima ge m, tuna rima e H ill fi nal.
cado" da heran ça es piritual da Renascença. a sua carreira e são escuta das não só co m aplau- As jan elas e ga lerias das casa s vizinhas
Mais de quatro séculos se passaram desde que sos, mas com admira ção ')" Ass im me stre Pe- se rviam de e sp lênd ido s ca maro tes para as se- Por quarent a anos, Lop e de Vega foi o so-
Bernardo de Morlaix den unciara o int1uxo de dro , o titereiro, defende o non sensc extrava- nhoras da platéia . enq ua nto os cava lheiros sen- beran o incont estável do palco espan hol. Seus
idéias da Antigüidade na literatura teológica, ga nte de seu mundo encan tado mouro-cristão. tavam-se em fileir as de ban cos. No séc ulo XV II contemporâneos chamava m-no "M onstruo de
como "beijos indece ntes trocado s por erudi- "A nda para dia nte, rapaz, e dc ixa dizer que, uma galeria es pec ia l só para mu lheres (ca - la Na turaieza" (Mo nstro da Na tureza) e "Fe nix
tos cristãos com Zeus" . tendo eu enchido a bo lsa, pou co imp orta que Zl/ela ) fo i acrescent ad a ao lad o. de los lngenios" (Fêuix dos Engenhos). Ele pro-
Agora, assi m como os ge nerais es panhóis represe nte mais impropried ade s do que átomos Ma s os qu e podiam, e não se furta vam de d uziu nada meno s que mil e q uinhentas obras
estavam luta ndo pelo ouro e os missionários tem o sol." (Manuel de Falia homenageou este fazê- lo, con sagra r ou destruir uma peça eram dra mátic as, das q uais q uin hen tas, aproximada-
jesuítas, pelas al mas do s índio s, o teatro tam- episódio de Dom Quixote em seu adorável balé os niosqueteros, homen s do povo que lotavam mente, es tão co nservadas, incluindo peça s para
bém não ficava atrás. Lo pe de Vega, em sua /l Retallw de Maestro Pedro - O Teatro de Tí- a areua. Extern avam suas opiniões com o po- o Co rpus Christi, comédias e comedias de capa
peça de Co rpus Chris ti, Ara l/cana, ca racteri- teres de Mestre Pedro.) der voc al de mosqueteiros, e eram temidos y esp ada . Por trás da do ida alegr ia da infatigá-
zou o Filho de Deu s como um chefe indígena O olh ar para a bolsa de dinheiro foi, por pelos dramaturgos es pa nhó is não menos do qu e vel esc ritura de assent ame nto, en contra-se, po-
sul-americano e, com certeza para impressio- fim, também o que aj udou a levar as com- o eram os groundl ings pelos colegas autores rém, semp re, em Lope de Vega, a consc iênci a
nar a platéia indígena, O fez ex ibir sua destre- panhias itineran tes espanholas a locais per- na Inglaterra e lizabetana. de sua perten ça naci onal. Já em urna de suas
za muscular na luta e no salto em altura. man entes de atuação na seg unda metade do Foss e nas long ínquas encos tas dos Pire - primeiras obras , Jorge Toledano, exaltava a co-
Atrás do esconde-esconde espiritual com séc ulo XVI. As irmandade s rel igiosas reco - neus, além do Cana l ou. na verdade. em qual- rag em e () orgu lho es p anhóis: "Ac ho es tran ho
seus desnorteadores d isfarces, entre tanto, en- nhece ram as van tagen s de explorar a an uên- quer outro lugar ond e existissem palcos ao ar qu e Alexandre sej a na tural da M aced ónia, e
cont rava-se o inv io lado poder da Igreja e, c ia do públ ico com propósit os caridos os. Pu- livre sem insta lações de iluminação, os espe- não da Espanha" .
como disse uma vez Ka rl Vossler, "a ce rteza nham os pátio s de se us ho spitais (co rrales ) à táculo s aconteciam iI tard e, ante s de escure- Nas assim chamadas peças de honra, um
muitas veze s de um a insolênc ia quase jocosa di sposição da ge nte de teat ro , c u idava m da cer. Nas c ida des , as pe ças de Co rpus Chri sti irmão ou pai vinga -se da virtude ultrajada de

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Hi s t ór ia M UHe/i al do T c n t ro •

uma donzela; as de capa e espada são ricas em ma teria sid o possível encen ar um a peça como
vivos duelos verbais e de armas, intriga s sutil- La s M oc edades dei Cid - a mai or obra de
mente urdidas, dissimulações. e raramente dis- Guill én de Castro, e modelo para o EI Cid de
pen sam um servo esperto e co nfide nte (g racio- Corne ille - um drama épico com tamanha ri-
so) como figura de contraste cômico. queza de locações? (O teatro clá ssico francês
Nas pegadas da "fênix" radiante que era resol veu o problema com o sistema do palco
Lope de Vega trilhava o mon ge merc edário lon go e do c urto. O fund o do palco exibia o
Gabriel Téllez, que começo u a escr ever peças paláci o do re i, a boca de cena era essenc ial-
em 1624 e as publicou sob o pseudônimo de ment e neutra e acomodava as mudan ça s de
Tirso de Molina. Assumiu a técnic a teatral de cena. ) Um segundo contemporâneo de Tirso
Lopc de Vega e triunfou pelo cuidadoso desen- de Molina, Juan Ruiz de Alarc ón, foi o inicia-
volvimento psicológico de suas personagen s. Es- dor da co mé dia de costumes na Es panha. Sua
pecialistas em Tirso dizem que o co nfessionário principal obra. La Verdad Sos pecltosa (A Ver-
agu çou o seu conhecimento da natureza huma- dad e S uspe ita) torn ou-se um sucess o perene
na. Uma de suas peças mais brilh antes é Don no palco, graças à adaptação de Goldoni e da
Gil de las Calzas Verdes (Dom Gil dos Calções ado ção anterior do terna por Corneille cm se u
Verdes) - na verdade, Dona Diana disfarçada, Le M enteur (O Mentiroso, 1644 ).
uma jovem adorável e inteligente que resoluta- Co m o desenrol ar do século XVII, as avan-
mente desafia a educação co nvencional femini- çadas técnica s da transformação cê nica barro-
na e sai em busca de seu noivo infiel. cas, então comuns nos teatros das cort es de
Com El Burlador de Se villa (O Burlador tod a a Europa, apar eceram também na Espa-
36 . Teatro co rra l espanho l do séc ulo XV II: aprese ntação no Corr aI dei Príncipe, Madri. Desenho de recon strução de
de Sevilha ), peça que retom a dua s velhas sagas nh a. O arq uitet o florentin o Cos irno Lotti ins-
Juan Com ba y Ga rcia (1 888).
es pa nholas, Tirso de Molin a troux e pela pri- talou um teatro na ala leste da re sid ênci a real
meira vez a figura de Don Juan Ten orio para o de ve rão . Buen Retiro. a leste de Madri. e seus
palc o. Ele seria o protótipo de muitos suces- disp ositivos técnicos eram compará veis aos de
sores - do scenari o da Commedi a dell 'a rte ao Floren ça e Vie na. A par ede de fundo podia
D ali Juan de Moli êre, do Don Giovann i de abrir-se para mostrar a vista do j ardim . Lope
Mozart a DOII Juan , ou o Amo r ii Geo metria de Vega, no entanto. não se ag radou das artes
de Max Frisch. E a elega nte máxim a de Tirso do mago Lotti . Quando, em 162'J, sua La Sei-
de Molina, "a misericórdia de Deus adapt a-se va sin Amor (A Sel va sem Amor) foi enc enada
à no ssa natureza e a enobrece sem destruí-l a", diante da corte no palácio de Zarzue la com um
encontra eco na epígrafe de A Sapatilha de Cc- rico ce ná rio de Lotti, ele ficou desa pont ado.
tim de Cla udel: "Deus escreve certo mesmo " Meus versos eram a ínfima part e de tud o" .
que por linhas torta s" . Com seu subtítulo "dra- di sse. " D iante do esplendor visual do ce nário
ma espanhol em quatro dia s", Claudel retoma de Lotti. o se ntido da audi ção teve de ret irar-
o esquema formal do teat ro barro co espa nhol. se: ' O ve lho Lope de Vega ac hou difícil e ntre-
Dividia as peças não em aros, mas, sim, em gar- se ao mod ern o " varal para rou pas e pr ega-
j orn adas de um dia, o que forn eci a a possibi- dor es" em q ue o teatro estava se des integran-
lidade ilimit ada para a tro ca alternada através do. Se u coração perten cia ao despretensio so
dos tempos e dos espaços, e deixava um ca m- palco- corra I, onde a fanta sia da lin guagem e a
po florido ii poesia , que nele vicejou em luxu- sag ac idade verbal reina vam supre mas .
riantes entrel açamentos de liri sm o, aventu ra, Porém . assim corno na Itáli a, na Fran ça e
burle sco e misticismo. por tod a a Europa do barroco. a soc iedade da
A grandiosidade do drama barroco espa- cort e deleitava-se com os elabora dos mccauis-
nhol está na força da palavra poéti ca. Embora mo s do palco de tran sforma ção dos bastidores
modesto, o palco-coITai era suficiente. Alguns laterai s. O s sucessores de Lotti . Bacci o dei
acessó rios cênicos, um palc o superior e um Bian co e Francesco Ricci cuidaram de qu e os
alçap ão era tudo de que se necessit ava; todo o figurin os no palco não fossem men os suntuo-
rest o - a atm osfera sugerida pela iluminação. sos do que os trajes de veludo e brocado da
a im aginaç ão cênica e a troca de cenário - era plat éia. e de que as palavra s. falad as ou ca nta- 37. Corral de Almagro . Ci udad Real. O pátio fo i restaurado e hoje é utilizado para espetac ulos no estilo do "S iglo de
criado pela palavra falad a . De qu e out ra for- das. foss e m di stribuídas e m uma "armação" O ro " ,

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• O Barroco

capaz de fazer o autor sentir-se tanto lisonjea- pada, juntamente com os espirituosos peque-
do quanto sobrepujado. nos interlúdios conhecidos como "lances de
Durante esta época áurea, mais de trinta Calderón".
mil comedias foram escritas na Península Ibé- Mas, além da requintada rede de intrigas
rica. Seu clímax e canto do cisne estão ligados em A Senhora das Fadas, o inflexível código
ao nome do grande dramaturgo espanhol, de honra de O Juiz Alcaide de Zalamea e o
Pedro Calderón de la Barca. Sua origem aris- melancólico auto-sacrifício de O Príncipe
tocrática deixou marcas em sua vida, persona- Constante, Calderón verte todo o seu poder
lidade e obras dramáticas. Ele não necessitava criativo nos autos sacramentales, a celebração
dos mecanismos cênicos, mas não os despre- teatral da recondução do homem à ordem di-
zava. Nas produções de seus grandes autos vina do mundo. O poeta sublima e estiliza emo-
sacramentales - com suas solenidades cerimo- ções e reduz o destino terreno à concepção fun-
niais, sua sublimação da matéria, de um lado, damental de Deus e do homem.
e sua personificação de conceitos abstratos, de Em EI Gran Teatro dei Mundo (O Grande
outro - ele se utilizou de bom grado dos aces- Teatro do Mundo), Calderón tira a soma me-
sórios técnicos da magia cênica, sem tomar-se tafórica da "máquina de los ciclos", do gover-
dependente deles. "Suas peças são completa- no divino que administra as órbitas das estre-
mente adequadas ao palco", enalteceu-o Ias e da distribuição do quinhão de cada ho-
Goethe mais tarde, "não existe nelas nenhum mem. Este é também o título de uma de suas
traço que não seja calculado para obter um efei- maiores obras, encenada em 1675 no teatro do
38. Carro-palco tripartite, trazendo uma apresentação da comédia La Adultera
Perdonada, de Lope de Vega, em Madri, 1608. Reconstrução de Richard Southern (1960). to deliberado. Calderón foi um homem de gê- palácio real de Buen Retiro, com Calderón su-
nio que ao mesmo tempo possuía uma inteli- pervisionando pessoalmente a encenação. Nas
gência superior". palavras da peça soa algo da suntuosidade bar-
Mas ao entendimento acrescentava-se o roca que é adjudicada ao cenário e aos figuri-
poder de uma imaginação soberba e criativa, nos desta obra de gala: "Provede adornos, e os
através da qual capturava o transcendental, e ostentai".
"da plataforma da eternidade refletia a vida E quando se diz que a criação do mundo
como um sonho, antes do despertar do homem se apresenta num "jardim com os mais gracio-
em Deus (La Vida es Sueiio - A Vida é So- sos contornos e maravilhosas perspectivas",
nho)". Calderón via o significado e o propósi- pode-se imaginar prontamente a maquinaria
to de sua própria vida como um serviço de barroca dos bastidores entrando em ação para
39. Cortejo festivo com grupos alegóricos em Barcelona, na recepção do Arquiduque
honra à Igreja, à nação e ao rei. Em 1640, du- abrir à visão os verdejantes jardins do palácio
Carlos de Hahshurgo, pretendente ao trono espanhol (como Carlos III). Litogravurn da
época (Paris, Bibliothêque de I' Arsenal). rante a rebelião catalã, quando a Ordem de de Buen Retiro.
Santiago, da qual Calderón era membro, cha- Em Calderón, a corte real espanhola en-
mou às anuas todos os seus cavaleiros, Filipe controu um diretor teatral extremamente ver-
IV tentou impedir seu poeta por meio de or- sátil que fornecia não somente o grande dra-
dem real: insistiu em celebrar o festival em ma pejado de pensamentos filosóficos, mas
Buen Retiro conforme havia sido previamente também a alegre comédia musical. A ele re-
combinado. Calderón terminou a peça em uma monta a zarruela, a forma específica de co-
semana - e correu ao campo de luta. média musical da Espanha do século XVII, que
Comparada à profusa fecundidade de recebeu este nome por causa do pavilhão de
Lope de Vega, a produção de cento e vinte co- caça real, Zarzuela, próximo de El Pardo, nas
médias, oitenta autos sacramentales e vinte pe- encostas ao sul das montanhas de Guadarrama,
ças menores pode parecer "uma limitação a um onde o rei Filipe IV e o infante dom Fernando
círculo muito restrito de motivos", como decla- gostavam de assistir a entretenimentos musi-
rou uma vez Adolf Friedrich von Schack. Mas cais. Calderón escreveu por encomenda tex-
Calderón foi único na precisão impecável com tos de peças musicais líricas em dois atas (cujas
que as engrenagens de seus enredos se articu- partituras, de compositores anónimos, se per-
lam. Sua força motriz é o inexaurível estratage- deram).
ma dos disfarces e identidades trocadas que são Por volta de 1657, quando a "écloga de
a marca de qualidade da comédia de capa e es- pescadores" de Calderón, EI Golfo de las Si-

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H ís t á rí a õt u n d í a ! da T e cu ro •
• () Ba rroc o

do C ontinente. Eles eram aplaudido s e m to- trai áulica de sua pr opri edade. O pr ópr io du -
dos os lugares . Em bre ve, pa ssaram a ac eitar que escre ve u em torno de de z peças e m pro sa.
atares locais em seus co nj untos , ado rando a fort em ente morali zantes mas teatralment e de
língu a local e assim exe rce ndo inlluên cia per- efeito, co nta ndo em part e co m a habilidosa art e
man ente so bre o teatro dos Paí ses Ba ixos , Di- de clown de Sack ville.
namarca e espe cialmente da Alemanha . O chefe de co m pa nhia, Robe rt Brown e,
Enq uan to a Commedia deli 'arte bri lhava por outro lado, e ra um daq ueles qu e torn avam
com o có mico das situações da comédia dos as co isas difíceis pa ra si me smos . Sua am b i-
tip os, os dir e tores ingleses gabavam- se de pre- çã o e ra oferec er te atro literário, embora tem-
se ntea r sua plat éia co m " be las, magnífica s, a- perado pe lo anúncio de que ele e suas Act ion es
lcgre s e co nfortadoras co méd ias tirada s de assegurariam "es plêndido oblectamentum co n-
narra tivas históri cas" . E como no s paí se s pro- veni en te a todos e, par a os melancholicis , um
testantes do Norte a lição de moral co ntava ta n- divert im en to muito agr ad ável". Uma part e de
to qu anto a art e da atuaçã o pe rfeit a, Rob er t sua ge nte foi contrat ad a pelo land gra ve M oritz
Browne, ao so licitar ao Co ns elho da cida de de de He sse , em cu j a cort e atuava o o rga nista
F ra nkfur t permissão par a atuar, em 160 6, deu- Heinrich Sc hütz . Br ownc ret ornou à Ingl ater -
se ao trabalho de acentuar que se m pre for a seu ra, deixando se u g ru po so b a administra ção de
mais " sério esforço" proporcionar ao s honra- se u be m -s uce d ido e am bicios o clo wn John
dos es pec tadores " motivo e o portuni dade para Green.
seg uir a probid ade e a vir tude". Alguns anos mais tarde, em maio de 16 18,
Mas no final das co ntas o púb lic o deseja- Browne vo lto u ao Co ntinente, com um novo
va um pouco menos de ed ificaç ão e um pou co gru po e no vo repe rtó rio . Em Praga, contribuiu
mai s de divertiment o . Nesta bre ch a e ntrava o co m várias " co méd ias , tra gédias e hist órias
bu fão e o palhaço. Ele e ra o primei ro a sa ltar a bem-feitas" para a bre ve glória real do "rei de
-iü . D esenho de cenário para lima peça lírica de Cald crón. De lim a s érie de dese nho s de ce nário s de I ólJO ( Madri. barrei ra d a lin guagem co m um a es piri tuo- inverno" , o outrora eleitor palatin o Frede ric k.
Bibli o teca Nacional).
sidade ve rbal direta e se m rod eio s. Rel ata- se e para sua rainha, a pr incesa inglesa Eli zab cth.
qu e havia um gru po de co me di a ntes ingl eses Dep oi s di sso, as pegad as de Browne pe rder am-
rena s (O Go lfo das Sereias), foi e nce nada, e gra nde era da trag édie classique e a Conunedia e m Munique já e m 1599 qu e co ntava , e ntre se na co nfusão da G uerra dos Trinta Anos.
onde " a senhora Zarzuela" era uma das perso- deli 'arfe e ncont rava port as abertas e m todos se us int érpret es, co m um palha ço " q ue profe- Outro ingl ês, John Sp encer, um hábil táti -
nagens alegóricas, a design ação m rzucla tor- os lugares, a Euro pa ce ntral e ra atormentada ria muitas are ngas e asneir as e m al em ão" . co c homem de muit as pr áticas e versatilida-
no u- se co m um para conceituar o gênero. O pela Gu erra dos Trinta Anos . Co mo se m pre e A rival idad e entre as pretensões literárias des, crio u fama em Leiden e Haia por vo lta de
tex to da zarzue la era uma variant e do aprecia- em qualquer parl e, bufõ es e ater es am bula ntes e a bufo nc ria de Hansw urs t, q ue iri a alca nçar 160 5, viaj ando ent ão muitos anos, via Drc sden.
do te ma de Odi sse u-Circe, que as peç as pasto- seg uiam na ret aguarda do s corpos do exé rci- o se u ma nifesto ponto alto em 1737. nos dias a lugar es tão d ist a nte s quanto Ko uigsbe rg e
rais de tod a a Europa con sumi am. O próprio to. O nde qu er q ue houvesse luta o u o nde a ba - de Karoline Neub er, já se des enhava no pri - Gd an sk . Em 161 5. co nverteu-se ao ca to lic is -
Calderón já lhe dedicara em 1637 a sua com é- talha esti vesse e nce rrada, ele s podi am es tar cer- meiro es tád io da ce na itinerante . Um dos co- mo e m C o lô nia, adqu irind o destarte o pr ivi lé-
dia El Mayor Encanto Amor (Amo r, o Maior tos de serem bem -vindos, fosse sob a bandeira med iant es mai s populares foi Thomas Sac kv i- gio de representar "a ctiones religi osas, re sp ei -
Feiticeiro ). A encena ção de O Golfo das Se- imperial (c a tó lica) ou a sueca (pro testa nte) , na lIe. pai esp iritu al e c riador de uma per son a- tá vei s e a pro vadas" , mesm o na te mporada de
reia s no palácio de Zarzuela em 165 7 deve ter corte ou nas c ida de s, na praça do mercado. nas ge m c ha mada vari adam ent e com der iva tivos Q ua res ma .
sido, levando-se em cont a a sua fama , uma da s feira s e na s es talagens do s vilarejos. O s ateres das pal avra s cl o wn ou posset (grogue) , eve n- É e m co nexão com a troupe de Spe ncer
mai s cara s na época de Calderón . Teria custa- ambulantes era m cap aze s de lança r pont es en - tualmenie conhe cid o pelo nome a rtístico de Jan qu e pod em o s ter um a das poucas indicações
do 16 O()O ducado s. A zarzuela, com seu cará- tre paíse s c ujos gov ernantes estavam e m guerra. Bou sch et. Sack vill e e ra membro de uma da s preser vadas de co mo teri a sido o pa lco dos co -
ter original e qua se into cada pelos de se nvolvi- Via Din am arca e Hola nda, os co med ia n- mai s anti ga s co mpanhias ing lesas qu e viaja- mediantes ingleses no Co ntine nte . Para a a pre -
mentos da música ocident al , so brev iveu no tes ingleses haviam perambu lado até bem ao ram atravé s do Contin ente, e chegou , a pó s uma se ntação de uma " Co média sobre o Triunfo
séc ulo XX . Sul, como a S ax ônia e Hesse, por volta do fi- es ta d a e m Cope nh agu e. it corte d o duq ue Turco" , Die Einnahnic von Konstantin opel, er-
na i do séc ulo XVI. A int ensa competição cm He inrich Juliu s de Brunswic k, em 1592 . O du- gu eu- se uma di spe ndiosa construção de ma-
se u próprio país, e mais ainda , os volúve is fa - qu e casa ra-se co m uma princesa din am arque- deira e m Regensburg, claramente inspirad a no
Os ATüRE S AMBULANTE S vores da ra inha Eli zabeth, que podi a o ra pro - sa e tinha in form ações prévias, vindas de Co- mod elo e lisabe tano , ma s, nesta forma parti cu -
mul gar proibi ções, o ra di stribuir privilégi os. penhagu c, so bre a repr esen tação do g ru po vi- la r, mai s provave lm ent e na exceç ão do qu e na
Na prim eira me tade do séc ulo XVII , e n- obrigara m muit os g ru pos profi ssion ais ingl e - sita nte . Ele gostou tan to de Sack ville q ue o reg ra. Era " um teatr o o nde os mú sicos loca-
q uanto no além-Pireneus o dram a barroco es- ses a emigrar. Carl as de recom endação de um a mant eve e m sua co rte e m Wol fenb üu cl de 1593 varn mai s de dez gên eros dif erentes , e m tod os
pa nh ol fl ore scia, a França co ntribuía com a cor te a outra facilit aram sua trajetória atravé s a 159 l) co mo d ireto r de um a co mp anhia tea- os tip os de instru mentos. So bre o pa lco ha via
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H ís t ár ía M u n d i ol do Té a t rn • • O Ba r roco

um segundo tablad o, ergu ido a dez metros so- Em Frankfurt. j áem 1649. "die Greene-Reinol_ 4 L Cena no tablado de ate re s am bula n tes : drama
Il bre seis grandes pilares; em c ima de tudo isto dsche Truppe" anunci ava orgu lhosamente qu e heróico (Haup t- und Ssaot suk nonv . G ravura em cobre.
, foi co nstruído um telhado e , embaixo, uma frontispí cio de urna colcç âo ale mã de peças apresentadas
havia "de longe superado a arte dos estran gei - por atores ingleses e france se s (o s englischem kom õ-
boca de cena aberta , onde reali za vam actioncs ros " . Naquele mesm o ano, Jori s Jolliphus, que dunuenv. Frankfurt arn Main . 1670 .
maravilhosas" . chegar a a Colôni a em 1648 vind o da Holanda,
Spencer era versáti l não ap en as em assun- fez sabe r que possuí a "uma companhia que
tos religiosos. mas tamb ém nos artísticos. Ele fa lava alto alemão, facilment e co mpreens íve l,
oferece u a seu púb lico um novo tipo de c/mm , e q ue poderia oferecer pastor ais e peça s musi- à époc a dos Rederijker, introd uziam suas pe-
aprese ntado em 1617 em Dre sd en e, em 16 18, cais à m oda itali ana, bem co mo tra gédias", ças co m um tableau viv am . " Q uando aque-
na cort e de Brandemburgo co m o nome de "cujas histórias nunca antes haviam sido colo- la exibição, que é g e ra lme n te c ha m ad a
St ockfi sh - um c o ntr apo n to par a o J an cada s no palco de stas redond ezas" . Vert oo ninge , term ina" , co nta Rist, "cada es-
Bou schet de Thomas Sackeville e para o PickJe É pro vável que isto se refi ra às primeiras pectador já sabe quantos e qu e tipo de ateres, '
Herring criado por Robert Rein old s, um atol' apresentações das peças de Gr yphius, porque e com que figurin o e les apa recerão nas comé-
que pertencera originalme nte à co mpanhia de se sabe q ue , em 1651. suas peças martirioló- di as e tragédias que serão levad as".
Robert Browne e que mais tarde se tornou, e le gic as Leo Armen ius e Catha rina von Georgir n Se alguém fosse traçar os itinerários dos
próp rio chefe de uma comp anhia . foram levad as por atores amb ulantes em Co- co med iantes ingleses e hol and eses, dos atores
A origem inglesa permaneceu até a meta - lôni a . Andreas Gryphiu s ha via con hecido o da Commedia dell 'art e e se us companheiros,
de do século XVII uma ga rant ia da qualidade tea tro profissional holand ês quando est udan te dos burattini com suas tendas de marion etes,
dos intérpr etes, que foi aceita em toda a Euro- em Leiden . Viera par a ad mirar o dr am aturgo e, enfim, da s inúmeras companhi as itinerantes
pa ce ntral e até na orient al. com o por exemplo humani st a barroco Joost van de n Vondel, o da Europa centr al, faria um map a inextricavel-
em Elbing, Varsóvia e Graz. Comedi antes In- maior dentre os au tore s clássicos holandeses. me nte confuso e marcado po r linh as cruzadas.
gleses do Landg rave em Ca sseI era o título de A obra de Gryphius foi muito infl uenc iada pela Os nomes dos diretores de co mpanhias conhe-
honra outorgado por Moritz de Hesse à sua de Von del; se bem que, co mo seu Horr ibilicri- cidos abarc am um século inteiro da história do
co mpanhia de teatro da co rte. qu e teve o privi- bifax demon stra, ele tam bém tinha laço s es- teatro europeu, do Barr oco c do Ilumini smo até
légio de representar no prim ei ro edifício tea- treit os com a Comm ed ia del larte . a fundação dos teatros nacion ais.
tral de pedra da Alemanha, o Ott on ium, cons- Gysbrecht van Aemstel, de Vond el, foi a Rivalizavam por cau sa dos favores de prín-
truíd o em Cassei em 160 6. O Otto nium ainda pe ça esco lhida par a a a be rt u ra de ga la do cip es e magistr ados, das melh ores peças e da-
exi ste. Após muitas recon stru ções, abr iga hoje Schou wburg de Amsterdã e m 1638. (É a inda tas ma is favoráveis, e dos serviços de atore s
um museu de história natura l e as exposiçõ es hoje ence na da todos os anos no A no Novo .) de mais sucesso, e velava m para que o teatro lógica de notáveis grupos posteriores". Durant e
da Sociedade de Arte de Ca sse l. G raça s às peças de Vondel, os atores itin erant es não se co brisse de ferru gem . As troup es am- quinze an os Velten e sua co mpanhia per arnbu -
Em 1651 , quando a G ue rra dos Trint a holandeses tom aram- se os bem -su cedidos co n- bulan tes abrir am a Eur opa para o teatro mun- laram de lugar em lugar. ganhando popul ari -
Anos havia terminado. um grupo de comedian- co rre ntes dos comediantes ingleses. O grupo d ial. O direto r de co mpa nhia Ca rl Andreas dad e e estima cm toda parte. Em Nur emberg,
tes ingleses foi o prim eiro a se r autorizado pelo de Bru xel as do arquiduque Leop old Wi lhelm Paul sen , de Hamburgo , c a co mpa nh ia de Bresl au e Hamburgo, ele levou à cena a assim
co nselho da cidade de Ulm a repr esentar no da Á us tria, dur ant e uma tourn ee apresentou- Mi chael Dani el Treu apresemara m à Europa cha mada Ratskom õdie (co méd ia de co nse lho),
teat ro no Binderh of co ns truí do por Josep h se em Am sterd ã. Posteriorm ente viaj aram e ga- se tentrional e oriental Marl owe, Kyd e Shakes- uma ence nação beneficent e qu e expre ssava a
Furtte nbach. Inaugurad o em 164 1, foi o pri- nh aram fama co m seus espetác ulos co mo con - pea re, Lope de Vega e Ca lde rón, mesmo que gratidão dos atores pela recepção hosp italeira.
me iro teatro municipal na A lema nha; ao lon- vidados no Caste lo de Go ttor p e m Holstein e m seus e sforço s pre valece ssem se mpre as Nestas ocasiões. conta Devrient , "os conse lhei-
go desses dez anos - na medi da que os temp os (setembro de 1649), e em Flensbu rg, Copenha- boas intenções mais do qu e os resultados artí s- ros co m pa rec iam in co rpore, oc upa vam os lu-
atribulados permi tiam - sed iou apresentações gue e Hamburgo. Quando voltaram a A msterd ã ticos e, no que diz respei to ao texto, se mostras- gares mai s privil egi ados, ou seja, no próprio
de ato res ambulantes e do dram a didático. em 1653. Vond el receb eu-os com um poem a sem tão distantes do ori gi nal quanto na geo- palc o em ambos os lad os do proscên io , e não
Em Ulm , como em qu alqu er outra parte. que expres sa va sua gratidão e admiração. Seu grafia. Encenaram também Vondel e Gryphius, se recusa vam a ser homenageados co m lima
os administradores teatrai s qu e eram também diretor Jan Baptista Fornenbergh em 166 6 ga- cuja tragédi a política her óica Pap inia nus teve oferenda mu sical (Serenada) pel o alto favor e
dra matu rgos gara ntiram qu e o dram a didático nho u o e log io do padre e poeta de H amb urg- urna montagem de sucesso em 1685 dia nte da gra ça demonstrados" . Em Dre sd cn, Velten foi
co ntinuasse a manter-se ao lad o das peças apre- Wedel , Joh ann Rist, o qual declaro u que ele e co rte bávara no Caste lo Schleissheim, onde convidado por Jo hann Georg II para partici-
sentadas pelos atores pro fissionais. Eventual- sua excelente companhi a hav iam superado em utilizaram todos os meios di sponíve is para in- par dos festivais de teatro da corte organi za-
ment e, ambos vieram a dividir as mesmas as- muito a infeli zmente fam osa maneira dos "cu - te nsificar a emoção em um palco impro visado dos em 167 8 e, depois de 1684 , foi em prega -
pir ações e os mes mos autores. As obras do ra nde iros, arran cad ore s de dentes e poet a s num salão de baile. do perman ent em ent e por Johann Georg III.
silesiano Andreas Gryph ius e do holandês Joost bufões" . Rist for a especialment e a A ltona a fim O edil Johannes Vclten e se u Ch ur-Sâ - Vien a, Gr az e Klagenfur t foram (J dom í-
van deu Vondel - qu e orig ina lme nte haviam de ass istir à apresent ação co nvida da. Ficou um c hsisc he Kom õd iante n prover am Dresden com nio do e lenco de Andre as Elen son , cuja suce s-
escrito para o teatro did ático - foram inclu í- tant o perpl exo co m o fato de qu e os ho land e- se u tea tro. Neste "famoso gru po teatral", con- são conduz por intermédio de Joh ann C as pa r
das no repertório de hist oriis li moda inglesa. ses , de acordo co m um h ábito qu e so brev ivera ta Edu ard Devrient, " rad ica va a árvore genea- Haack e até o ator Karl Ludwig Hoffma nn. qu e
- 3 76 - '; 77
H i st ó r i a M u n dí a l do T e atro . o Hu rro co

O palc o er a e m essência di vidido ao me io tas possibilidades. Figurinos orientais estavam


por um a cortina. qu e deixava um a área de aç ão mu ito em voga , co mo pod e ser visto nas grav u-
neutra à frent e e. co mo elemento de surp resa ras das ce nas de Ca tharina \'on Geo rgie ll. da
adic io nal. um palc o de fund o. já equ ipado co m montagem de 16 54. em \Vohlau. César usava
acessórios . Na metade do séc ulo XV II, as co r- uma peru ca de cac hos, e Amúnio um penacho .
tin as de frent e do palc o (cuja função de " m as- O B ãuerisch e r M acch iave llus (Ma q uiave l
carar as mara vilh as" j á havia sido d isc utida e m Bávaro) de Chri stia n Wei se sentava-se num tro-
detalhe pel o a rq u ite to de te atro s Jo seph no sob um dos sei barro co , e a pomp a e a po se
Furtte nbac h, de Ulm) era gera lme nte usad a pe - da person agem principal na tragédia heróica as-
las tro up cs ambulantes . Amb os os tip os de cor- semelhava -se à do Roi Solei l em seus mais su n-
tin a co rria m da direit a e da esquerda. Durante tuosos retrato s. " Ne m tudo o que reluz é ouro " ,
o séc ulo X VIII . o própri o aspecto ex terno do e scr e veu o -gra vad or de A ugsburg . M art in
palco ben efi ciou -se da tend ên cia ge ral para a Engelbrech t, no topo de suas páginas povoadas
co nso lidação, qu and o gran des c idades permi- de atores ambula ntes lu xuosamente vestido s e
tiria m qu e determinados gru pos at uasse m re- portando ce tros. A tentativa de a plicar esta d ivi-
g ularme nte e m temporadas definid as nas sa- sa a uma refo rma dos figurin os teatrais envo lve -
Ias de teatros ex istentes. ria Go ttsched, o crítico e refor-mador do dra ma,
Os efeitos baseados em di sfarc es se mpre num a batalh a ama rga e assaz infrutífera, qu e pôs
foram populares, especialment e as troca s de tra- fim à sua co laboração com Karolin e Neubcr, a
pos de mendigo por trajes de rei. co m suas mui- famosa atriz e che fe de um grupo ambul ant e .

4 2. (eó·c.:",". do dr..u na barroco de martírio Ca thuri na ' -V II Ücorgien, de A ndrcas Gryptnu s . Gr avura cm cobre de Joh .
Using. •

e m 1724 orie nto u a estréia de uma jo vem atriz tcs conh ecid os co mo Skomorok hi, foi agora
cuja es tre la nasceu e se pôs no firm am ent o do apresentada. pel o cnsemb lc de Kun st , ao dr a-
Ilumini sm o : Ka ro line Neube r, nascida Weis- ma e uro pe u ocidenta l. a inda q ue e m refl exo
senborn. filh a de um ad vogado de Zwi ckuu, tímido. Co m Co rnei llc e M oli êrc , e ntre ta n-
qu e. recebeu um a edu cação hum an ista. c fu- to . te ve de a tu rar ta mb ém um a mp lo repe r-
giu de casa para desposar o aror Joh ann Ncubc r, tóri o de tragéd ia s her ó icas no es tilo bom -
Fina lme nte, um dos não menos im po rta n- hást ico de Loh cn stc in , uma espec ialid ade de
tes grup os pionei ros do teat ro mund ial fo i a Kun st,
troupe de Joh ann Christian Kunst, q ue abriu Os ce nár ios e fi gurinos das troupes a m-
seu ca m inho a través da Prússia oriental c hc - bul antes e ra m de iníc io bastante modest os.
ga ndo até Moscou . Tr inta anos ant es, Puulsc n, Com o seu c us to c res ce nte. o desfil e ba rro co
então e m Danzig (Gdansk). havia sido con vi- de roupas suntuosas e c ha pé us emplumados
dado pel o cz ar para atuar no Krêmlin. mas a dependia inteirament e do qu e estivesse dispo-
viage m não se realizou. Kunst e seus homens nível em caixa e da generosidade de quem por-
?t i ng i ram~) Volga cm 1702. O cza r Ped ro I pôs ventura emprega sse os ateres. Se o grupo esti-
a disposição deles o palco de salão no Krêmlin, vesse a serviço de um prín cipe mão-aberta, o
em uso desde 1673, e os contratou co mo ato- guarda-roupa da co rte se m dúvida ajudava a
rcs de sua co rte. Em 1702, um teat ro es pecia l reabastecer o es toq ue de figurinos. Quando a
para co méd ias foi con struído na pr ac; a dia nte peça ori ginal inclu ía papéi s qu e não podiam
do palác io (hoje Praça Vermelh a). A soc ieda- se r di stribuídos o u adornados ade q uada me n-
de á ul ica ru ssa , a té e ntão e ntre tida pel a s te, estes e ra m reescr itos o u, se preciso fosse.
ofe re nda s art ístico-musicais de bufões erran - co mple tame nte o m itidos.
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A Er a d a Cidad ania Bur gue s a

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I NT ROD UÇ ÃO dic ionári o secularizador e cético , e a Epístola


de Tole rância de Joh n Locke era m avidamen -
Em toda a Europa, o séc ulo XVIII foi um a te lid o s na s biblioteca s pública s. O Terceiro
époc a de mudanças na orde m social tradici o- Estado aume ntava sua exigência de partici pa-
nal e nos modos de pen sar. Sob o signo do çã o no s assuntos do mundo e da men te .
Iluminismo instituiu-se um novo postul ado: o M as as fun dações sobre as quai s apo iava-
da supremac ia da ra zão. Idéias humanitár ias, se a soc iedade européi a no século XV III eram
ent usiasmo pela nat ureza, noções de tolerân- a inda fe udais. Sob o rótulo "Anc ien r égime" ,
cia e várias "filosofias" fort aleceram a confian- seu curso fo i direcionado par a a Re vol ução
ça do homem na pos sibili d ade de dirigir seu Fra nce sa, que fundiu todas as gr and es emo-
destino na terra. Em 1793, Deu s foi oficial- ções d o século numa explo são treme nda de
ment e destron ado na Catedra l de Notr e Dam e po vo, nat ureza , sentim ento e razão, de finindo
de Paris, e a deu sa Razão foi co loca da em Seu sua p rópri a forma de vida e exigindo seus de-
lug ar. vidos di reitos humanos e civis.
Apesar de sua fragm en tação em pequ e- O teatro tentou contribuir co m a s ua par-
no s Estado s, a Europa co nj untara -se mai s. te para a for maç ão do séc ulo q ue se ria tão
Durante a primei ra met ade do séc ulo, sentiu- c heio de contradições. Tornou-se uma p lata-
se unida na atmosfera otirnista da Ilustração . fo rma do novo autoco nhecimento do homem,
ao pa sso que na s cort e s pri nc ip e scas o um pú lpit o de filosofia mor al, um a esc ola éti -
[ortissimo do ba rroco ia morrendo nos espe- ca , um te ma de contr ovérsias eruditas e tam-
lho s e mol d uras do ro co c ó . Enqu ant o o s bém um pat rim ônio co mum, co nscie n tem e n-
galantes da sociedade da co rte de Watteau em- te de sfrutado. Le P êre de Famillc (O Pai de
barcavam par a a ilha de Ci te ra, Hog arth Família ), de Didcrot, o gra nd e model o do
perambulava pelas rua s de Londres fazendo no vo dr am a de classe méd ia, co nforme de-
esbo ços de prostitu tas e criados . A corte e a clarou Lessing, não era " ne m fran cês nem
cidade foram os do is centros da sociedade do ale mão, ne m de qu alquer ou tra naciona lida-
século XVIII , e a França e a Inglaterra forma - de, mas simplesmente humano" . A peç a as -
ram as duas esfe ras de infl u ência das quais a pirava a ex press ar a penas "a qui lo q ue cada
soc iedade recebi a suas idéias. um pod ia expressar, com o o e ntend esse e se n-
De Paris e Londres e ma navam os prime i- tisse" .
ros esforços para concilia r as nova s idéias se- A e ra do s gran des teatros da c idadania
c ulares e científicas co m o modo de vida da burg uesa co meçava. Dentro de pouca s déca-
classe médi a. O Dictionnairc, de Piem: Bayle. da s, es p lê nd idos te a tro s e ó pe ra s seriam
H í s t ó r iu M u n d i al d o Té a t ro •

con struídos por toda a Europa, co m três. qua- o ILUMI NISMO


tro ou cin co fileir as de assent os e m se micír-
c ulo ou e m forma de ferradura . dian te de um
ali o e magnificamente e mo ld urado palco do
o T eatro Eur op eu e nt re li

tipo " cosmora ma" , Algun s deles, sem dúvi- P ompa e o Natu rali smo
da. for am enco me ndados aind a por mon arcas.
mas foram co ncebidos co m a mesma finali- Visto que. para a Ilustração. a Iorma mais
dade qu e inspi rou Au gu sto, o Fone. eleitor da elevada do pen sar e do atuar humano consistia
Sa x óni a , qu and o con struiu o Zwinge r em na po ssibilidade de subordinar a ex istência e o
Dr esden : ser um cen ário para festas do povo. seu meio ambiente ao con ceito de razão, o tea-
em g rande estil o. O Th éâtre de la Monn aie, tro . por sua vez, foi també m chamado a ass umir
em Bruxela s. foi o pr imeiro na longa série de um a nova função . O palco viu-se conv ocad o a
edifícios teatrais imp on ent es do século XVIIl , se r o fórum e o baluart e da filosofia moral , e
do Teatro Argentina em Rom a ao Haym arket prestou-se a este dever co m deco ro e zelo, na
e ao Cov e nt Garden em Londres. dos Grand - medida e m que não preferiu refugiar-se no rei-
Th éâtres em Lyon e Bordeau x ao Royal Ope- no enc antad o da fantasia ou do riso da Comntedia
ra Hou se em Copenhague, do Sa n Cario em dcli'arte . O s critérios do novo drama literário
Náp ol es ao Gran Teatro dei Li ceo em Barce- foram o da máxima da veross imi lha nça, isto é, a
lon a . regra do bon sens - senso co m um - como de-
O lema era: "No que os olh os vêe m. o senvolvida por Boileau em sua L'Art Poetique
co ração crê" , e o teatro. como edifíci o festivo (A Arte Poética) (1674 ) e o princípio moral.
e cen ário do drama da cidadania burgu esa. for- O século do Ilum inism o tendia para a re-
nec ia uma moldura descornedida para auto - flexão . o sentimentalismo e a cr ítica. Houve
reflexão co medida. muita morali zação e argume ntação, a utor iza-
A época, inici ada so b o sopro frio da Ra- da s e ins pir adas pela nova de usa da Razã o.
zão, terminou e m se nti me nta l ânimo, sendo Sur gira m as revi stas sema na is para as classes
ao mesm o tempo, por ém , abrasad a pelas no- médias, e elas dedi ca vam p ágina s int eiras :1
çõ es de gênio do Sturm IIl1d D rang q ue. e n- qu estão do teatro. Mas o e rgu ido ded o ind ica-
tão do mes ticadas. foram ce ntrai s na era do dor da admoestaç ão fazia pro sp erar mai s a
classicism o de Weimar. A represa do século resp eit abil idade que o gênio, No pr efácio à tra-
decorrido inundou as co rre nte s intelectu ais e gé dia bur gu esa The Lying Lover (O Aman te
po lítica s do séc ulo X IX . O ro man tismo to r- M entiro so) ( 1702) . um a ad aptação senti men-
no u- se o primei ro movi ment o literário cos - tal de Le Mcnt eur de Co rne ille. o dr am atu rgo
mop olit a capaz de reunir tant o a Revolução ingl ês Richard SteeI e es perava qu e a graç a se
q uanto a Restaur açã o. O s paí ses da Europa rec upe rass e de seus excessos e e ncoraj asse a
ce nt ra l. setentrional e orienta l desejavam um vi rtude, e nq uanto o víc io pe lo co ntrá rio fosse
teatr o própri o, e este e ra um dos impul sos entregue à vergo nha.
princip ais do teat ro ; o o utro e ra a idéia de um Na Fran ça . Marivau x, o prime iro esp ecia-
rep ert ório mundial, como o id eali zad o por lista na psiqu e fem inin a. escr e veu uma série
Goeth e. de co méd ias brilh ant es. nas qu ais element os
Para Victor Hugo, o drama histórico ro- do 1/00lVeaU th éãtre italien de Lui gi Riccoboni
mânti co e ra um "m iroir de concentration " são refinados par a serv ir aos propósito s de es-
("espe lho de concentração") - a ópera o cn - tudos psicológicos sutis. M ar ivaux foi autor
vol veu na ebriedade sonora da s grandes or- de trinta peças sin gul ares e c rio u uma forma
qu estr as, e o realismo transformou o palco no de arte conhecida com o coni édie Raie (comé-
ce ná rio da arqueologia ou no sal ão elegante. dia jovial), que era em muit o supe r ior à mora-
A d ivers idade de formas sim ultâneas procla - lidade sentenciosa do lacrimoso drama bur-
mava a aprox imação de um pro cesso de de- guê s, embora contribu ísse ba sta nte para o seu
moc rati zação q ue en con trou sua pr imeira ex- desen vol vimento.
I . MU c. Clai ron como Idnnt é. cru C( lrp hcli n di' la Chi nc de Voltai rc. I Iidcrut . cm 175X. e logiou a corage m t.I t: ~I ;1 atn z
pressão no nat urali sm o do início do século Lui gi Riccoboni fez-se. c m 1738 , o pr i-
por usar um Iigurino -úun asiu c m c ~lilCl chinês. sem unqu iuhas. f\1as no 1"" ( 'CllJier d e C O .\" III Ut'S Pra"....uís , pllhliculo c m
XI X . mei ro ca m peão de 11111 tip o de co méd ia na qua l Pari s. 177 1) . e la é mo strada , num li ~tITino da moda. co m c rino fiua . d c scul urdo pelo li!!urini... la (ti co rt e , Sarraain.
• 382

I
2. Dispositivo cenográfico para uma cena do drama burguês L' Enfant Prodigue (1736), de Voltaire: o filho pródigo no
bordel. A vista pintada do jardim, na tela de fundo, acentua a ilusão de profundidade e distância.

4. Quadro final de Le Pere de Famille de Diderot, levado no Nieuwe Schouwburg em Amsterdã. 1775.

3. Apresentação da tragédia Irene, de Voltaire. 11aComcdie l-rançaisc, em Paris, nu dia lO de março de 177X. No palco. 5. Cena de l.c Gtorívuv. de P. N. Dcxtouchcx, na Comédic Française. com Grandval no papel de Valere, Quinault
o busto de Voltaire coroado com uma grinalda de louros. O autor de Cam/ide. então com X4 anos. observa ((.Ir) camarote Dutre snc no de Comte de Tufierc. e Mllc. Grandval no de Isnbellc. Gravura de N. Dupui s , a partir de Nicolas Lancret,
aconinado à esquerda) enquanto é homenageado.
c. 1738.
H i st á r ío Mundial d o Teatro . • A Era da Cid a d a nía Burgu esa

a magnanimidade e a renún cia se combinam " Um poeta inglês é um hom em livre que de vraisemblance (veros sim ilhança), entendi- tab ilid ade, j á em 1710 , co m sua ópera Rinaldo,
num fina l feli z, e qu e Chass iron descreveu deixa sua linguagem o servir enqua nto o espí- da por Voltaire e D id erot co mo " natu re za seguida algun s anos mais tarde por Pastor Fido
zo mbe teir ament e como coméd ie lan noyant rito o move", escreveu Voltaire em 1730, quan- embelezada" , passou por maus momentos na (O Pa stor Fiel) e Teseo e, em 171 7, pela \Vater
(comédia lacrimosa). (L essing, em sua tradu- do env iou Brutus ao lorde Bolin gbr ok e, com prática teatral. Houve qu em sentisse como uma Mu sic (Música Aqu ática), co mpo sta para uma
ção das R éfl exi ons sur le Com ique-larmoyant qu em perm anecera em correspo ndência des- impertinência qu e a atriz C lairon, no pap el de festa real no Tâmi sa. M as então Jon atha n Swift
- Reflexões so bre o C ómico-lacrimoso - de de sua estada na Inglaterra. Idamé em 1755, se atreve sse a aparece r numa deu a John Gay a idéia de e screve r a mais bem -
Chassi ron, esco lheu o term o alemão weiner - indumentária em estilo chi nês sem anqu inha s. s u c e d id a sá tira mu s ic al do s éc ulo , Th e
lisches Lustspicl, cujo ad vogado no palco ale- o fr ancês é um escravo da rima, e é obr igado algu- Mas Diderot enalteceu-a entusiasticamente em Beggar 's Opera (A Ópera dos Men digos), que
mão foi o dram atur go Gellert. ) mas vezes a pôr para fora quatro linhas a fim de expres - seu De la Pocsie Dramatique (Da Poesia Dr a- sa tirizava in teli gente e im pudente me nte o
sar uma idéi a que um inglês pode de sc reve r numa única. pathos do estilo oper ístico de Haendel, os sen-
Na Inglaterra, a assim chamada comédia mática), de 1758, e m qu e pede:
sentime ntal foi igualmente bem suced ida e tim entos elevados e heróicos do teatro mu si-
atr aiu uma série de au tore s, de Richard Steele Voltaire invoca Co rneille, Racine e Boileau Não co nsinta que o precon ce ito e a moda a subju- ca I contemporâneo , atrás dos q uai s soavam
ao atar-empresári o Co lley Cibber e aos con- antes de chegar à seg uinte co ncl usã o: guem. Confie em seu gos to e gê nio. Mostre-nos a natu- co m ba stante freq üência eco s vaz ios e, por fim,
reza c a verdade: porque e ste é o dever daquel es a quem
temp orâneos da Sent imental Journey through m as não menos important e, o se ntimentalismo
Quem quisesse livrar-se do fard o c arregado pelo amamos e c ujos talento s nos incl inaram a ace itar de bom
France and ltaly (Viagem Sentimental através grande Co rnci lle seria visto n ão como um espírito auda- grado qualque r c oisa que o usem querer. burguês .
da França e Itália) de Laur ence Stern . Lessing cioso a abrir caminho num a 110 \' 3 estrada . mas como um Qu ando John Rich produ ziu The Begga r 's
traduziu a pal avr a in gl esa se ntimental por fraco incapaz de so breviver na vel ha trilha. A medid a do re ssent iment o do púb lico Opera. em 1728, no Lin coln ' s Inn Fields Th ea-
Empfi ndsam e com isso cunhou um termo ale- fra ncês, ao se r privado dos costumeiros robe trc , arriscou o pescoço . A despe ito de Defoe
mão para o idílio bur guês por volta de 1730: Voltaire não via futu ro na tentati va de " nos à la mode, pod e se r con statada pelo que acon - ter trovejado, tacha ndo-a de " imo ral peça dc
Empfindsamkeit. O L'Ellfallt Prodigue (O Fi- dar tragédias em prosa" . Did ero t demon strou- teceu à óper a e ao ba lé. Loui s René Bouquet , esc ândalo" , a obra foi um sucesso e co ntou
lho Pródi go ) de Voltair e não está longe da lhe o contrário - o auda cioso prop on ent e da o imagin ativo mestr e do figurino rococó, ves- sessenta e três aprese ntações qu e, como gra -
comédie larmo ya nte, mas inten sifica o tom metod ologia do Paradoxe sur le Comédien (Pa- tiu suas bail arin as co m c rinolina s de seda cejavam os londrinos, tornaram o co mpos itor
sermonário. Voltaire adulava o espírito de sua rad oxo sobre o Com edi ant e) e co mpilado r te- bufant es, man gas pre gueadas, véus de ren da, "Gay rich" e o diret or " Rich gay"* .
época sem se suje itar a e le. " Vejo a tragédia e naz da gra nde Enciclopédia decla rou -se parti- plumas de aves truz e guirlandas de flores. Os A forma escolhida por Gay, que alternava
a co média como preleções sobre virtude e res- dár io do drama sentime ntal bur gu ês e escre- her óis-titul o do Castor et Pollux de Rarneau canções e diálogos, tinh a par alel o no Sing s-
peitabilidade" , tam bém declarava, mas prefe- ve u Le P êrc de Famill e (O Pai de Fam ília), na aparece ram co m eno rme s penachos; Febo usa- piei (peça ca ntada ), um a es péc ie de ópera c ô-
riu provar a nobreza de suas personagens em pr osa simples da lingu agem do q uotidi ano. va um a vo lu mosa s a ia ba lão , e as Fú rias mi ca . O S ing sp ie t ale mão desen vol veu-se em
terra s distantes gove rnadas por príncipes mu- O teatro francês teve se u triun fo de senti- resplandesciam e m pro fund o décolleté e apli- linh as muit o pró xim as às da ope reta; em Pa-
çulmanos e tártaros, em vez de fazê-lo no té- men tali dad e. Mesmo um dos " mais empeder- cações de pe le de co bra . A lfi g ênia de G luck ris, o T héâtre de la Foire transform ou-o em
pido co nforto dos interi ores burgueses. nid os egoístas de sua época , o rei Luís XV", e a Zemira de Grét ry, nas respectivas óperas , vaudev ille co m um toqu e de caba ré; trinta anos
"Fui conquistado por sua virtude", confes- con ta m-nos os cronistas, derr am ou lágrimas tinham a me sm a e leg â ncia que as figu ras m i- ma is tard e, as arias bufa de Vie na , parodian-
sa Gêngis Khan, no final do drama L'Orplielin na rep resent ação de Le P êre de Famillc em tológicas do mest re de danças Jean Georges do a opera seria. e ram pr imas e m primei ro
de la Chine (O Órfão da China), a Idamé, a março de 176 1. A co nsistênc ia co m a qual a Noverre. grau de The Beggar 's Op era . U m segundo de-
es posa do mand ar im , qu e incorr uptivelm ente era da cidadania burgu esa fo rjo u sua própri a Desde se mpre , a ópera reivindicava o pri - se nvolvimento foi a forma artística do melo-
resistira tanto à sua co rte qua nto a suas amea- forma dram ática corria à frent e de sua lingua- vilég io de ser co nservadora. Financia da pel as dra ma , mais bem tram ad a; já experimentada
ças. Voltaire reinterpreto u seu mode lo chinês, ge m no palc o. Os atores da Co m édie Française cortes, desafi ou todas as ordens da razão, mes- pel o tea tro didáti co e ainda mo stra ndo sua in-
de quatroce ntos anos de idad e, segundo o es- es tava m acos tumado s a o bse rva r a partitura mo na époc a do ra ci on a lism o, e regalou -se na flu ênci a na Za ide de M ozart , tin ha sua ori-
pírit o da Razão e do Ju ízo . Admirav a a sabe- decl amat ório do verso . Qu an do foram priva- mágica dos ba stid o re s lat erais e maquinaria ge m no monodr am a para um só ator, c ujos pio-
doria do Orient e e a ten az persi stência com dos de la, sentiram-se perdido s num país des- de pa lco, co m v ulcões e m erupção , navio s neiros fora m Jean-Jacqu es Rou sseau e Geo r-
qu e suas tradições se defendi am de qualquer conheci do. Após o es petác ulo, Di derot esc re- afundando e ba lé s orienta lizantes . (Uma en- ges Ben da.
tipo de violação . E assim atr ibui u a seu impe- veu a Voltaire: ce nação restrospec tiva de Les lndes Galant es A retom ada dos modelos básicos da An ti-
rador tártaro o mérito de rend er-se à virtude - As Índias Ga la ntes - de Rameau , na Ópera gü idade tamb ém na mú sica e suas aplicações
So me nte Brizard , no papel -titulo e a se nhora de ao mun do se ntimenta l bur gu ês abriu um vasto
de Idam é e ser um ve nce do r inteligente. "Este de Paris, foi entu sia sti ca mente aplaudida em
Pré vill e co mo Céc ile realme nte responde ram aos requi- ca mpo de possibi lid ades teatr ai s entre os pó-
é um estranho exe mplo da superioridade na- sitos da peça. Para os outros. o novo gê nero e ra tão estra- 1952 e teve ca sa che ia po r três anos.)
tural da razão e do gê nio so bre a força cega e nho que . asseguraram-me e les. tremi am o temp o lodo em A vida ope r ística de Londr es foi domina - los da pomp a e da natur alidade, um ca mpo de
bárbara", escreveu Volt aire em seu prefácio. que estiveram cm cena. da por Haen del a parti r de 1720. Com o co mpo - co rre ntes e co ntra-c orre ntes contrastantes.
Seus heróis persegu idos sofrem em verso, exa- sitor e maest ro da recém -fundada Royal Aca - O es plendo r áulico do ab so lutismo estava
tam ente como os de Corneille e Racine. Ele A esta altura, a Corn éd ie Fr ançai se já ha- demy of M usic , e le levou a ópera ita liana a ce lebrando se us últim os triun fos. A burguesia
ad mirava Shakespeare , mas sentia-se incapaz via introd uzido uma reforma c ujos inícios ha- um bri lhantismo mu ito a lém daquele alcança-
de tirar prove ito do trata ment o livre de seu via m ca usado um choqu e: a ren uncia ao ab- do em Paris, Vie na e mesm o na Itália. Haen del ~, Tr ocadil ho entre as palavra s gllY (alegre) e rich
diálogo. surdo lastro do figur ino barroco . A ex igê ncia havia obtido os favores da corte inglesa e no - (ri co, dos nomes de John Ga y e Joh n Ri ch.

• 386 • 387
His tó ria Mu n d ía l d o T eatro .

provou ser uma fonte de poder criativo. O es- Espet áculos), opusera-se à pred om inân cia do
pírito puritano e piet ista revelou uma obstina- drama cl ássico francês no teatro suíço e ch a-
ção rabugenta em limit ar os domínios de ati- mara a aten çã o dos seus ami go s confederados
vidade que mal acabava m de ser co nquistados, para sua própri a tradi ção de teatro popular.
mas não logrou a "jo rna da na direç ão do bom Volt aire divertiu-se à soca pa fazendo o papel
gos to" . "Oh, perm iti qu e o es pírito lúdico se de ad vo gado do diabo na ass im c ha ma da
aproprie dos ca mpos, da trilha dos desejos de "guerra do teatro suíço" qu e ele havia desen-
nosso coração, do jardi m dos nossos sonhos cadeado .
amo rosos", assim Tieck, em Pri n; Zerb ino (O Medido por Corneill e e Racine, o poder
Príncipe Zerbino), zo mbo u, um século mais dramátic o de Voltaire era muit o m en or qu e sua
. tarde, de uma era na qual grandes pensamen- razão críti ca . Ma s os atores o am avam . Com -
to s e idéia s revolucionárias amadureceram peti am pel o s famo sos pap éi s principais de
debaixo de peruc as que iam até os pés. Zaira. Maom é, Alzira, Brutus, Mérope . Quan-
Com O Barb ei ro de Sevilha, Beaumar- do Voltaire, aos oitenta e qu atro anos, vo ltou a
chais irrompeu através da hierarquia clássica Paris ma is uma vez em 1778 para um a apre-
de personagens do dram a e da orde m social da sen tação de sua tragédi a f r ene, foi receb ido
sua época. Elev ou o tr adi ci on al pap el se- co mo her ói nacional , no palco e pela Acad érnie
cundário do confidente, transformando-o no he- Fran çai se , ago ra que, nas pala vras de Goethe,
rói da peça, que engana duqu es, doutores e clé- "avançara em anos , com o a Lit eratura, qu e ele
rigos e desacredit a a política e os privilégios. dominara por qua se um século".
E, em As Bodas de Fígaro, que a censura barrou O suc esso de um aut or media-se pel as lá-
por seis anos, Beaumarchais revelou os abismos g rimas d erram adas na pl at éi a . C h ris to ph
sobre os quais a guilho tina logo se ergueria. Martin Wieland , então jovem pro fessor parti-
Em O Barbeiro de Sevilha, Fígaro paro- cular em Zurique, em junho de 1758 viu Soph ie
dia a garbosa arte do verso antitético e, ao mes- Ac ke rma nn, diretora da Troupe Ack ermann,
mo tempo, também o grande Voltaire . que ha- no pap el da Alzira de Voltair e. Ele havia co-
via se mostrado incapa z de libertar- se tanto de meçado a esc rever uma tragédi a, Lady Johanna
Pietro Metastasio na mú sica do alexandrino Gray, e agor a retomava o trabalho. Um mês
quanto da "invenção de lugar es plausí veis" . mai s tarde, em 20 de julho de 1758, a se nhora
Junt amente com Ram eau, Voltaire havia escrito Ac ke rma nn representou o pap el -títul o da peça
a ópera-balé La Princesse de Nava rre (A Prin- de Wieland em Winterthu r. A rrebatou o públi-
ces a de Navarra), qu e foi ence nada em Ver- co co m "encanto dulcíssimo" a lterna do com
sailles em fevereiro de 1745 , e co m isso incor- " freq üentes lágrimas" . O au tor e logiou sua a-
porou a sucessão da com édie-ba llet, forma tu ação , por ter ela exp ressa do toda a di gnida-
criada por Moli êre e Lull y. de da per sona gem , e também aquilo qu e ele
Mas em Genebra, como dono primeira - próprio pudera apena s sentir, ma s não tradu zir
mente de uma casa de campo chamada Les e m palavra s.
Délices e depois de uma propri edade nas re- C horar e rir à sac ieda de, numa única noi-
dond ezas de Ferney, Voltaire deu-se ao prazer te, era a exigê ncia do públi co, à qu al o teatro
de desafiar a lei das autoridades calvinistas que de Londres do século XV III tam bém obed e-
proibi a espe t áculos teatrais. Co nvocou os as- cia . Aí o dra ma burguês prosperava em doi s
tros da Comédie Française, as atrizes Dumesnil teatr os rivais, o Drury Lan e Th eatr e , fundad o
e Clairon e os ator es Le Kain e Aufresn e, en- e m 1663 e orig inalme nte a casa da Kin gs
saiando com eles se us dr amas. Ele próprio Co rn pany, e o Dorst Garde n Theatre, proj eta-
co ntracenou com Le Kain em Mahomet e con- do e m 1666 por Chri stoph er Wr en . O Drur y
seguiu que "lágrimas jorrassem aos borbotões Lan e Th eatre encenou a bem-s uce d ida Thc Tra-
de todos os olhos suíços", no "do mínio de gedy of Lady Jan e Grcy (A Tr agédi a de Lady
mando das vinte e ci nco peru cas" do conselho Jan e Grey) ( 1715) de Nic ho las Rowe, qu e ser-
da cidade de Ge nebra. viu de mo delo à versão ale mã de \viel and . 6 . Encenação de uma opera rom ique de carércr burguês no Il útcl de Bourgognc. Paris. 1769 . Bastidores na parte de Irás do
Rousseau, em sua Lettre ii d'Alembcrt sur Geo rge Lillo foi um pioneiro do dra ma burguês palco. que foi aumentad o para a frente c equipado COIll luz. de rihaha c ca ixa de ponto. De senho de P. A . Wi llc. o Jovem ( Paris.
les Spectacles (Ca rta a d ' A lembert sobre os co m The Lo ndon Merchan t (O Mercador de Biblioteca Nacional).

• 388
• A Era lia C íJ a d a n i a Hu rg u rs n

Lon dres), e seu tipo de "c o média se ntimen- Ad dison foram ence nados também no ou tro
tal" atraiu respeitosa ate n ção também no Con- lado do At lântico . Atores profission ais ingle -
tin ent e . Diderot discut iu-a , e Lessing escolheu ses aprese ntara m-se em Nova Yor k, Filadélfia .
Tlte London Merchan t co mo mod e lo de sua Boston e Charleston e deram a co nhece r ao
própri a tragédia burguesa, M iss Sa ra Sampso n, Novo Mu ndo o dra ma burguês do Ilumini smo
The Recruiting Offi ccr (O Re cruta) , de euro pe u. A pr ópr ia primeira peça de Ga rrick,
George Farquh ar, é um retrato áspero e licen- a burleta mitológica Lethe, cuja estréia oc or -
cio so da classe dos burg ueses e dos costumes reu no D rur y Lane T hea tre em 1740 , quase
do exé rcito, embora se destaque por sua saga- im ediatame nte depois co nhece u suce s sivas
c idade e humor bem acima do ní vel da "co- represen taçõ es nos palco s nort e- america nos,
médi a de costumes" co nte mporânea. Em The em ge ra l co mo o número que se seg uia a uma
Beaux' Stratag ême (O Estratage ma do s Jano- tragéd ia - co stume recebido de um a tradi ção
tas), uma com édia sobre a conve rsão de pati- euro péia que remonta à anti ga peça satírica (e
fes encenada pela prim eir a vez no Hayrnarket qu e na Co mé die Française é usual até hoj e).
Th e atre e m Londre s e m m arço d e 170 7, G arrick atuo u prim ei ramente em vári os
Fa rq uhar criou o prot ó tip o da co nfissão de teatros de Londres, inclusive o Co vent G ard e n,
amor dram ática no qu al da va as mãos IIs heroí- co nstru ído em 1731. Em 1747, ele se uniu a
nas de Marivau x, exerce ndo uma influ ênc ia Jam es Lac y para adquirir o Drury Lane Theatre
ain da prese nte sessenta anos dep ois na Min na e divid iu com ele sua administração até 1776 .
\ '01 1 Barnhelm de Lessing . A hero ína de classe Ex istia grande rivalidade entre os doi s teatros ,
média da peça, Dorind a, obedece ao princípio qu e ficava m disputando a glória de es tar le-
de "h onestidade inigu alável" e considera seu vando o me lhor de Shakespeare. Em 175 0 , am -
7. The Beggar's Opera. quadro de W ill iam lI ogan h (1 72 9). Po lly c Lu cy, imp lorand o re la vida de Mac he ath. A a mo r mais bem recompen sad o qu and o se pro - bo s e nc e na ra m s imultanea me nte R OIII ('u e
"Ópera do Mend igo", de John Ga y. fo i apresentada pela pri meira vez em 1728. no Lincc ln' s Inn Fields Playhouse em va desinteressado: Jul ieta , co m Spranger BalTY e Susannah Ma-
Londres, por John Rich.
ria C ibbc r no Co vent Garden, e David Ga rric k
An tes eu me orgu lhava. sen hor. de sua riqueza c d c ao lado de G eorge An ne Bellamy no Drury
se u título, mas agora 1l1 ~ org u lho m nis ainda de q ue o
La ne . O p úblico e os críticos tomavam parti -
se nho r n ão tenha amb os: ago ra po sso mostr ar q ue o meu
am or estava correramentc di rig ido. e q ue 11:'0 linha ne-
do , apaixo nadame nte. O Drantat u: Censor, en-
nhu m propósito, sa lvo t) ' U110r. tre tanto , pilheriou : " De novo Rom eu ?... Ma l-
dição sobre ambas as ca sas" .
Em meados do século XV III hou ve uma Renunc iand o deliberadame nte ii os tenta-
ret oma da de Shakespea re nos teatros londri- ção, Ga rri ck usou os corriqueiros cen ári o s pa-
no s de públi co burgu ês. A nova prop osta na drão es tocados no Dru ry Lane T heatre. E m
époc a era comp reend er a alma do esc ritor, e contra ste ao s vistosos decors de John Ric h no
fa ze ndo exaramente isto Da vid Ga rrick, em- Lin co ln 's Inn Fie lds e mais tard e no Cove nt
presário e atar, moldou o teatro inglês por trinta G ard en, G arrick achou mais impo rta nte inte n-
a no s. Ele " baniu decl am aç õe s , ling uagem sifi car a pal avra falada . Ma s permitiu a se us
bombástica e caretas" , co m o escreve seu bió- co nvidad os a ostentação qu e recu sava a si
gra fo T homas Davies, e " restauro u a natur ali- mesm o. Q uando, no verão de 1754 . ele convi-
dad e. a desenvoltura, a simp lic idade e o hu- d ou o cé le bre mestre de danças e co reó gra fo
mor genuíno" . francês Jean Ge orges No verre a aprese ntar-se
O Ricardo III de Ga rrick torn ou- se o mo- no Dr ury Lane Thcatre para a tem porada de
delo de interpret ação shakespe ariana na Ingla- inverno de 1754 -1755, Noverre , confo rme nos
terra oitocentista. Sa m uel Jo h nson , que em conta T ho m as Davies. "co mpôs aqu ele ac ú-
1765 publicou sua grande edi ção da obra de mu lo de figuras multifárias, den om inado Fes-
Shakes peare, via a própria alm a do dramat ur- tival Ch inês ; um espetáculo no qu al foram exi-
go inco rporada em Ga rric k e pagou-lhe o tri- bid os vestimentas e figurinos do s chinese s, cm
buto de dizer que este havia sido o prim eiro a form at o s e c ara ct eres qua se inumerrivei s" .
8. G rav ura snruica de Wi llia m Ho gnn h so bre Thc Uegga r 's Ope ra: ao fun do . um a co mpanhia d a corte e nce na a
e spa lhar a fama de Sha kespe are pe lo mundo Co mo que po r má so rte, verificara m-se con-
obra; di ant e dela. lima t nrup c po pular. de uto rcs ambul ante s, e rgueu um tab la do c faloii pa ródia do s cantore s da ó pe ra tod o . De mai s ou me no s 1730 e m di ante , flit os de fr ont eira na América, e , quando as
co m g ro tesca" uuiscuras de animai ... _ S ha kes peare, Farqu har. Co ngreve, Otw ay e ho stilid ad e s irr omperam en tre Ingl a te rr a e

• 3 91
lí i s t árí o M Ulli / itl! '/0 T (' (I / ,.n

Fran ça, o públic o começou a protestar contra tr ig a s de struíram se u empre en diment o, e


o fato de Garrick empregar tão grande núme- Ga rric k, segundo Davies, "sempre aliando a
ro de franceses num teatro inglês. Co nsideran- mai s estrita econo mia às ma is liberais despe-
do o quant o j á havia investido na produção, sas " , transferiu o es pet áculo do Ju bileu para o
Garriek foi em fre nte e estreo u. A nobreza Drury Lanc, co mo quadro de encerra mento do
ap laudiu nos ca marotes , mas a platéia ultraja- repe rtório programado, e "o pú bli co fico u tão
da descarregou seu ódi o num a luta generali- encantado com a inco mum proc issão [oo.] que
zada. Garrick só co nseg uiu sair ileso sob es - sua apresen tação foi repetida per to de ce m ve-
co lta policial. zes". (Por iniciativa popular o prim eiro Memo-
Pouco depois, empreendeu uma longa via- riai Theatre de Shakespeare foi co nstruí do em
gem ao continente. Foi festejado na Itália e na S tratfor d em 1879, e, após ter sido destru ído
França, mas não deu espetáculo público em lu - num incêndi o, um novo teatro foi erguido em
gar nenhum. Ocasionalmente consentia em apa- 1932 co mo sede do festival anua l.)
recer numa récita de amostra em círculos priva- Enquanto isso, na Alema nha, o estilo na-
dos, e numa dessas ocasiõ es foi visto por Diderot tur al de representar encontrou um ca mpeão em
em Paris, que o elogiou entusiasticamente: Konrad Ekh of', c ujas ca racterizações c én icas
próp ria s chegar am até o tempo de Lessing e,
Nós o vimos re p rese nt ar a c e na do punh a! de
na verdade, foram responsá vei s pel a confian-
Macbeth; na sa la, sim plesm en te . co m SCL1S trajes co mun s,
sem qu alq uer aux ílio de ilu são teat ral. Enq uanto segui a
ç a des te último nas prete nsõe s artísticas do tea-
co m os o lhos O punha l (invisível ) s uspenso à sua frente e tro. O Odo ardo de Ekhof, na Enii lia Galotti de
se afa ... rava, sua uum ç ào era tão excelente que e le provo- Lessing , foi elogiado co mo um es tudo exem-
co u. em lodo s os co nv idad o s, um g rito de admiração. p lar da em oção contida. "S uas nuanças de rai-
va sufoc ada, fúria e range r de den tes, dor aba-
Após O seu retorno do co ntinente, Ga rrick 9. Cena de O Alquimista. de Ben Jonson , co m John Burton co mo S ubtle, John Pal mer co mo Face e David Ga rrick no
fada. sua risada de dese spero - q uem poderia papel titulo. Al ez-z.o lima de John Dixon, a pa rtir de J. Zof fany. 1771 (Lo ndres, British Mu scu m. Som crse r Maugh am
introduziu um novo sistema de iluminação no d e sc revê -l a s" , esc reve u o c r ítico J oh ann Co llection).
Drury Lane, qu e eliminava os candelabros em F rie dric h Schink; suas pa lavras:
arco (os quais ao ilu m inar o palco sempre obs-
truíam a vista da galeria). Ele intensificou a ma s, mi nha filha [...}. Da me s ma to rm u q ue a te rra tre me
ilumin ação pro veni en te dos bastido res por so b uma te mpestade noturnn. a ssi m tam b ém o co raç ão
meio de refletore s em butidos e, com isso, con- do e s pectador tre mia q ua ndo e le as pronu ncia va. Todos
seguiu a vantagem de uma ilum inação brilhante se ntia m o so pro d n mo rte e e ncolhimn-s..L' CO Ill su a do r.

e graduável para o meio e o fundo do palco tam-


bém. Durante o per íodo romântico, o Drury Lane Em adição a se u poder pessoa l de plasma-
Thcatre manteve sua dianteira nas técnicas de ção , Ekhof demon strava um zelo de reforma-
iluminação, sendo um dos primeiros teatros eu- dor. Fundou uma academia de inté rpretes em
ropeus a introduzir a iluminação a gás. Sc hwerin em 1753, cujos o bj e tivos fixou em
Mas a reje ição de tod a a pompa conven- vinte e quatro artigo s. Su a idé ia de "h arrn oni-
cional não cerro u e m G arrick a ambição de ter zaçã o da interpretação" foi a prime ira defini -
figurinos e ce nários "fié is à natureza e ao esti- ç ão conce ituai dos futuro s pri ncí pios da dire-
lo" . "As vestes e ra m ricas e magnifi centes" , ção tea tra l.
conta Thom as Davie s, referin do-se it produ- A arte deve estar tão próxim a da natur e-
ção, em 1749, da tragéd ia f r ene de Samue l za, exigia Ekhof,
John son, "e as cenas e splê ndidas e alegres,
q ue a veross im ilhnnçu há de se r tom ada p~ l a ve rdade. Oll
porq ue be m ada ptad a s ao int er ior de um
o que se pa sso u deve se r reprodu z id o t ão nat uralm e nte
serralho turco; a vista de seus jard ins estava CO Ill O se e sti vesse aco ntece nd o agor a . Atin g ir profivsio-
ao gosto da elegância orient al" . nulism o ne sta arte dc num da ru im ag in aç;l o v iva , ju izo sin -
Em 1769, Ga rrick orga nizou as celebra- cc ro . e sforço in fa tig.íve l e pr..i tica iuint cnuptu.
ções dojubileu em Stratford -on-Avon em gran-
de estilo, co m uma proci ssão de personagens Este có d igo profi ssional pode soar algo
shakespear ianos. co nce rto s. fOg l'S de artifício professor al. Voltaire expressou isto co m mais 10. Tlu : Schoo l fo r Srondal, de Richard Brinsley She ridan , t31 co mo encenada em 17 77 no Dru ry L.Hl ~ Theatn-.
e mostras de teatro . U II1 <1 chuva copiosa c in- te m pe ra me nto . "C 'cst lc co cur S<' II/ 'I IIi fa it lc Lo ndr e s.

• 392
• A E ra (la C íd a do n í u B n rg n cs u

succês 0 /1 la chute", es creve u ele para a atriz ap resentação de Ath al ic de R acine na Comedir
Qu inault - " só o co ra ção decide so bre o su - Françaisc preci sou se r int errompida porque os
ce sso ou o fraca sso " . M as S ch werin não e ra intérp retes co rriam pe rigo de serem esmagados
Par is. Port ant o . tant o m ai s instrut iva é a iden - pel os oc upantes das />0 11'1111'1/('05. No prefá cio
tidade de ponto s d e vis ta ac erca da di re ção tea- d e Brutus , Vo lta ire recl am ou am ar gam ente
tral. Repetidas veze s Voltai re , co mo E kho f , de sse abuso. qu e tornava " qua lq ue r ação q ua-
insistiu em qu e um c u id adoso cálc ulo deveria se impraticável". Mas nã o foi ant e s de 1759
ser feito para a " verossimilhan ça", na atua ção qu e ele, finalment e , co ns egu iu acabar co m o
co nj unta do elenc o e na relação e ntre ce ná rio inconv eniente. Ele per su adiu o conde de Laura-
c e nredo . g ua is a fazer um don at ivo de sesse nta mil fran-
Diderot foi ainda mai s lon ge. E le dit ou cos para co m pe nsa r a g e n te d o teatro pe la per-
regra s de direç ã o teatral tai s co mo ela s volt am d a da fo nte de renda .
a apa recer no es ti lo de ence nação de G oethe No ca so das ITII UI' I'S itinerantes. o abuso
em Weimar. "Os a to res devem ser c om bina- dos lugare s no palco ta m bé m e ra co m um e m
dos, se parados o u di stribu íd o s. isol ad o s o u tod a a Europ a. Há um a pintura, do Gr õnneg ade
ag rupado s" , e xigia Diderot. T hea ter em Co penha gu e. tratando do ass unto .
Le ssin g menc ion a, na seçã o 10 da Hamb ur-
com o pa ra faze r dc lrs sé ries d e pill 1ltras. toda . . til." co m -
gi sc he Dram a turg ie (D ra ma tu rgia Hambu r-
posi ção g ran de c verdad e ira . O uào úti l pod eria ser o
pintor para o ater c o .uo r pa ra o pintor! Se ria um rec ur gu e sa) , "o bárba ro costu m e de per m itir e s-
so para aperfei ç oar d o is importante s tal en to s xim ul ta - pect adores no palc o" . Uma represent ação em
neame ntc. tou rn ée do grande int ér prete de Lea r, Friedrich
Lu d wi g Sch rôd er. e m H amburgo no ano de
A ex ige nte co nce pç ão de Diderot pre ssu - 1784 , atrai u tam anh a a fl uê nc ia q ue ca dei ras
punha atore s nos qu a is se pod eria espe ra r qu e extras foram co loc ada s at é entre os bastido-
I L David G arrick no pa pe l de Ricardo III. Pintura de Wít liam Hogarth . isto tivesse a lgum eco - pro tagonistas ca pazes res. Mas esse fo i u m ex ped ie nte excepci ona l
de for ma r estilo. co m o por exe mplo o cé lebre q ue prcsumivel rn entc não di mi nuiu. de mod o
int érpret e de Voltaire . Le Kaiu . que se torn ou alg um. o fogo de Sc h r õde r.
renomado por sua im p ressiona nte imerp rcta ção
gestua l c qu e . c o mo direto r, aspirava a um a
1\ .1"O r ig c ns do T c a t ro N n c i o n a l
peintu re aninu'c (pi ntura a nimada) . O gra nde
Françoi s Talma baseou se u e stil o de in terpre ta- lia Europ a S I' 11' 1I I r i o ll ({ / I'
ção no de Le Kain e reconhece u sua dívida para O' ri e n t a l
co m ele em R'U7l'xiolls SUl' Li' Kain (' I S U l' l'Art
Thcâtral (R efl ex õe s so bre Le Kain e sobre a A Fran ça não e nv io u para o ex te rio r ne -
Arte Teat ral) ( I X25 I: ma s mesm o a ntes . por nhu ma troup c am bu la nte , ma s se us c lás sicos
vo lta de I ROO, Ta lma se rv iu de ligação di ret a fo ram e nce nados e m tod a a Eu ropa. Esta apre n-
com Weim ar. Wi lhelm vo n Humbold i o havia d eu a gr aça do mo vime nto c o m os mest res de
visto c m Paris e esc reve u a se u respeito a Goethe da nça france se s. a c o nve rsaç ão e legante co m
numa cart a detalh ada. pro fe ssores fr an cese s. as de lica dez as c u liná-
Entret ant o . na comedi» Françaisr da ép o - ria s co m os coz inhe iros franceses . Q ue m qu e r
ca de Le Kain qu a lqu er VlJ O de imagrna ção d a qu e aspirasse à c u ltura . lia c e screvia fran cê s.
ence nação trop e ça va na s fami gcrad as pernas Pa ris dit ava a moda a té p ara Estocolm o c pa ra
da s c adeiras: o s lu gar es es pec iais e m c ima d o Moscou.
pa lco, que se adq ui ria m por preços mai s ele- O primeiro país no qual o teat ro tOl1l0U
vados. Essas assim c hamada s bunqu cttcs sig- aut oconsciência de s uas potencialidades nacio .
nifi ca vam um subs íd io bem- vind o para o cai- nai s foi a Dinamarc a. qu e já servi ra outro ra de
xa , ma s para o s a tures era m um a imp o siç ão porta de ent rada para os novo s im pu lso s tea -
su fic ie nte par a liquidar qualquer d ispo s ição . trai s vind os d a Euro pa. Via C op enhagu e. o s
Num a fra se mu ito c itada . um d iretor de ce na pr ime iros co me d i.une s ing lc ses c hegar a m ao
teria ped ido : " M e us se nho res . ab ram es pa ço co ntine nte no fin al do sé c u lo X V I. E, e m Co-
12. ~h1in' Presrr vcd, de T homas O rway, co nlortuc e nce nada cm 1762 no Drur y La nc Th ca trc . Londres. co m David
Garr ick c S . M . Cib bc r. Al{'~~o tinl:\ d~' J. McArdel l, 17rj..L para o fan ta sm a d e C ésa r !" Em 17 3'). um a pc nhaguc, no início d o sécu lo X V III. um a arte
H ís t ú rí a Mu n dí al dn T e at ro. • A Era da C íd a du n í a Burg ucs o

teatral nativa começou a e me rgir, co m o auxí- co nto u ele, a mult idão foi tão grande que "mui- para produzir seus pap é is-t ítulo inteirame nte Cope nhague . A parti r de e ntão, de 1728. e sob
lio do s atore s fra nceses . Se us iniciadores fo- ta s pe ssoa s simples me nte não co nseguiram originais, de finid o s co m ag udeza e reali st i- o re in ad o de Cri stiano VI. a influê nc ia do cle-
ram o tite rei ro Éticnne Capion e René Magnon a trav essar e tiveram de pe rma necer c m pé do came n te pint ad o s : J e ppe da Mont anh a , o ro d om in ou . Não ha vi a como pen sar numa
de Mon taigu , qu e c heg ara m co m uma carta de lad o de fora" . Mas Holberg ressentiu-se com Barb eiro Volúve l, J ean de France, Ul ysses, re vi vên cia d o teat ro popu lar. Quando Fred eri -
aprese ntação à co rte d inamarqu esa. Esta ndo as interpretações erradas ou mal co mpreendi- Jacob von Thyb oe (um tipo mi les glo riosusy . co V asce nde u ao trono e m 1746 e oferec eu
Ca pio n tão profundament e endividad o que pa- das: " Houve, ape sar d isso , aq ue les qu e não Dom Ranudo de Colibrados, os as tuciosos um a nova chance ao teatro, Holberg, após um a
recia ameaça do de perder o alento, Montaig u gostara m desta com éd ia" . notou com irrit ação, servos Henrik e Pernille (toma dos diretam en- pau sa de vi nte a nos, pôde p roduzir ape nas
redi giu um a peti ção ao rei dinamarquês Frede- te da Com media dell 'arte ). Em outras peças, " filho s pálid os de um pai ido so " .
rico IV, e m qu em , após o término no Norte da po rq ue não co mpreend eram se u se ntid o c imagi naram
tais co mo No Baln eário, A Festa de Baco. O Um desenh o do século XIX de R. Chris-
q ue ela p retend ia zo mba r do s ed is d a c id ade. Ma s nin-
Guerra dos Trint a Anos, o po vo dep ositava Sa lão de N ata l e O Q ua rto de Parlo , e le tian sen nos reco ns tró i o teatr o Gr õnne gad e du-
g ué m ant es escr eveu uma com édia 4,lI C afirma sse mais
grandes es peranças na revivescência do país . e n fa tica me nte o prestí g io ..b s aut or idades . c rio u q uad ro s co loridos dos co stumes de se u rant e um a representação de Jcppe da Monta-
Mont aigu tent ou atrai r o interesse do rei para tempo . Ilha . A platéia e as du as orde ns de ga lerias es-
o teatro. "A co nstrução de um teatro", dizia o Por mais fer ino que Holbe rg gostass e de Entretant o, mesm o no teatro Gr ônnegade tão c he ias de espec tado res , d o is ca nde labros
pedido, se r em sua crítica, e le não e ra d e eonfessá-Io de Co penhag ue, os primei ros passos do drama co m m uitas velas es pa lha m luz e fulige m, um a
mais tard e. " Vo lto m inh a pena a penas co ntra nacion al din am arq uês era m obsc urec idos pela ribail a di stribui os focos de luz e , ao lado , e n-
na história de pra uca mcnte lodos os povos. acompanh ou
o víc io, e não co ntra pessoas", prot estou . " De haut e comedir fran cesa. O própri o Holdberg tre os bastidores, alg uns cav alheiros oc upam
o perí odo mais prós pero do reino. A paz que Vo s<;a Ma -
je stade rece nte mente propo rcionou à Vossa nação. 3 p()S
resto . en cont rar- se- ri mai s bri ncadeira do que mistura va suas peças para que "fossem repre- ca de ira s no palco .
as vi tó r ias de urna longa gu erra . parece -me mar car o a marg ur a em minh as obras; porque eu não sentadas em alternân cia co m as famosas comé- Joh ann Elias Schlegel, tio dos rom ânt icos
mom ento ma is apropriado para esse e mp ree ndim ento. busco a censura pela sim ples ce ns ur a, mas ten- dias de Moliêre e recebidos co m o mesmo aplau- ale mã es Wilh elm e Friedrich Schlegel, foi por
to corrigir as falta s dos hom ens". so". De fato, acr es centa ele, as apresentaçõe s lá al gum tempo sec retário do embaixador saxão
A époc a foi bem escolhida. Frederico IV A forte ê nfase de Holb erg na função mo- eram muito melhores, porque "o Senhor Montai- na co r te din am arquesa. Em seu t rata d o
anu nciou sua aprovação. Porém. mais decisi- ral da comédia co rres po nd ia inteiramente à gu, um famoso ator fran cês" , instruía seu pes- G edan k en z u r A ufn ah nie d es d ãnisch en
vo ainda fo i o "sim" da histór ia, que exata - vis ão utilitária da Ilu str ação. Es tava preocu- soal com muit o cuidado so bre a forma como de - Th eatcrs (Co nside rações sobre a Rec epção do
ment e e ntão produzia o primei ro d ramaturgo pad o co m o efeito didático e ape rfe içoador do veria m pronunci ar suas falas , e a respeito de Teatro Di namarq uês), escrito e m 1747. usou
dinamarquês - Lud vi g Holberg. palco públi co . Se us esfo rço s e m ves tir a aç ão " maneiras, gestos e outra s qu estões" . suas ex periê ncia s e m Co pe nhague co mo base
O no vo teat ro c m Lille G rõnnegadc . em e as personage ns com os trajes de sua própri a As peças de Hol ber g era m levadas em para um a crítica lite rária e so c ia l. Suas co nsi -
Cope nhag ue. foi inau gurado e m 23 de sere m- nação serviram de mod el o para Gottsc hcd na ravernas, casas de faze nda e salões públicos. de rações levaram- no. por via do o timismo edu -
brode 1722, com O Avarento de Mol iêrc numa A le ma nha, assim co mo par a os re formadores As pragas, murro s e pontap és ali d ist ribuídos cac io na l do Ilu min ismo. a um a d iscussão so-
ada ptação din am arquesa. Dois dias mais tar de do teat ro nacion al nos países da E urop a se tcn- mantinh am a ca sa re al lo nge do Lill e Grônne- bre necessidade de um tea tro nacion al, e fo-
foi ence nada um a co méd ia de orige m dinamar- trienal e orie ntal. gade ; co nce dia m- lhe a ben e vol ência real, mas ra m lo go e m seg uida mais bem desenvol vid as
qu esa. Denpolitiske Kandestiiber (O Estanha- Em cinco a nos. e ntre 17 22 e 1727 , Hol- não a presença. Q ua ndo. e m ja neiro de 1723, em Zuf ãl lig e Geda nken Über di e de utsche
dor Politiq ueiro ). Se u autor. anunciado co rno be rg escreveu vin te e se is co méd ias. Suas fon- Frede rico IV convido u os atore s dina ma rq ue- Schaubiihne iII lVil'll (Conside rações ao Aca so
" um novo mestre din am arquês". era pro fessor tes e ram sua própria obse rva ção do m undo em se s a ap resentare m -se na corte, esco lhe u du as sobre a Casa de Espe tác ulos A le mã em Vie-
de metafísica, re t órica e história em Copen ha - de rre dor . Plauto. a quem ad m irava g ra nde- co mé dias de lavr a fra ncesa , prefer ind o-as ao na ). Ao defende r o teat ro nacional com o uma
gue, mas descob riu qu e a profi ssão acadêmi- me nte, e. mais do qu e tudo. as per son agen s de gênero rude dos d ramatur gos nativo s. in stituição es tata l. sustcntada e fin anciada pe-
ca, da qu al tirava o suste nto, lhe era insuporui - Moliere . Tom ara co nhec ime nto da Co nunedia Cin co a nos du rou a fama do pri mi tivo tea- los so be ra nos, J . E . Sc hleg el pressup unh a a
vel. Esc reveu suas primeiras peças cô micas so b dcll 'a rtc dura nte um a viage m iI Itáli a, e na ver- tro nacion al din am a rq uês. Em 25 de fevereiro ex istênc ia de dramaturg ia nati va, q ue, e m sua
o pseud ónimo de Han s M ikkelsen e não reve- dad e e III rara e m co ntare co m uma 11'O/{1' 1' dcs - de 1727, a aventura in ici ada co m tão g ra ndes o pinião, era de lon ge preferíve l à francesa.
lou a autoria até o lançame nto de uma co le t â- ses a te res q ua ndo e m Roma . Ist o lhe troux e, es per a nças foi ao túmul o co m a far sa melan -
nea de suas co méd ias . S ua peça O Estanhador e ntão, frutos . O Thcâtrc Italien (Tea tro ital ia- có lica do FIII/cml da Comédia Dina marques a J;,í que. [alando de forma ge ral. é prejudi c ial .10 cs-
pí r ito d e uma na ç ão o Iato dc avir-se se m p re COIll Iractll -
Politiquvtn, logo se torn ou a cpítome de tudo no ) de Gherardi, a muit o usada . in exau st ível de Holberg. " O qu e vou fazer do rava nte, vi sto
çõcs de obras ~~ tra n g l' i ra s e fal har no e nco rajame nto da s
o que ele atacou numa sátira franca e liberal - co le ção de tem as util izados pel os improvisa- qu e a comédi a es t á aca bada'?", lamentava-se men tes b ril hante s do p ró p rio país.
o sabic hão político das tab ern as de cerveja de dores. era um a font e de c histes e réplicas, ÜS no palco a atri z Soph ie Hjort . "Onde hei de
classe média -baixa. vezes de cenas e situa ções co m pletas. Em sua encontrar emprego '! Brigamos co m todo mun- Sc hlegc l pr otestou contra a dominação das
Holberg nunca prestou muit a ate nção à comédia Feitiça ria. Holberg prop õe uma cena do, com oficiais, médi co s, ad voga dos. funilei- peça s c l ássicas francesas nos palcos da Euro-
afluênc ia e m seu auditório de preleções, Mas na qual dois atores, aos qu ai s inc speradamcn- ros , marqueses. ba rõ es e ba rbei ros". No final. pa e co ntra sua ind ife re nça endémica às pla-
qu and o seu teatro atraiu grande afluxo de es - te se ped e um epílogo alegre , puxam rápido apenas Tália perm an ecia pa ra descrever o mi- téi as co muns, q ue as impediam de atingi r o
pectador es. ele orgulhosamente men ciono u o uma cópi a de Ghe ra rdi e seg ue m o modelo . seráve l estado da Co méd ia. entr e o e m bargo e coração do largo pú b lico.
fato em "Notícias de Minh a Vida e m Trê-,Car- Moli c re ha via d ito : " JI' prctuls tuou bicn a prisão por dí vid a. an tes de "morrer de tísica" .
tas para um Cava lheiro Distint o". Na primeira 1'1/1'1011 1 oi,.il' II' 11'01 1\ '1' '' ; as s im também Um a no mai s tar de . o tea tro G riinnegade o 110111\:111 l:OI H UIIl 11;-10 pod e a pr ec iar a s uu levu tio
apre sentação de O Estanhador Politiqueiro, Hol ber g co lhe u o s fru tos de suas lei tur as. fo i redu zid o a c inzas no g ra nde incêndi o de ,\fi sm l1l"l1l Jo de- Mofi eu- l' tio Il m g g a r l tI~ Dcctou chcv. c

• 39ó • 3<.)7
15 . Palco de troupc am bul ant e no An gcr c m Muniqu e. c. 1750 , Qu ad ro de Jose ph Stc phan (Munique. M useu do
Teatro).
13, O Gr ônnegadc Thcatcr em Ccpenha gcn ( 1722-1728) dura nte uma apresent ação de j t'I'I'(' da Mont anha de Holb erg
Há espec tado res sentados nos ba stid ore s: um contra-regra está aj usta ndo os pavios da s velas da ribalt a. Reconstitui ção
num desenho de R, Ch ristiansen . séc ulo XIX (Co pennage n, Chrisuansbo rg Th cu tcr Mu seum ).

J 4 . Cena de Jepp e da Montanha . Gravu ra de J. E C lemens. a pa rt ir de uma pintura de 16. lin '!Jn'c/If n m Arms tel, de .Ioosl vau deli vo udc l. no Nicuwc Scho uwb urg. Am ste rd ã. 1775. (' rnvum a part ir de F.
C . \\'. Ec ke rsberg (da Ga lcne Hol bc rc v. L'opc nhapcn. IH:?X). va u Drc cht .
H ís t ári a M'u n d i al do TeaTr o.

de ou tra s peça s deste ti po. ao passo Y U l' ela s sâo um a de 1742 e 1743 , quarenta C qu atro foram de l7 _Frau Neubcr como Elizabet h e m Esses de Thomas
atração partic ular pa r~' as pessoas da c0I1c. visto que:pcu - obras de Holberg. Corneillc. Lnogravura de C. G. Bach , a partir de C. Loedel .
sam reconhecer aq ui l ' ali o retra to de alguém de: suas
relações c. às veze s. vêe m a si própri os. O teatro nacion al, co mo co nee bido por J.
E. Schlegel, por Joh ann Gcorg Sulzer na SUÍ-
Esta deveria ser a preocupa ção de tod o dra- ça, pel os promotore s d a Empresa de Hambu r-
maturgo, prosseguia Schl egel, eleger tem as po- go e também por Gellert e Klop sto ek, seria "um
pulare s próx imos da gente de seu própri o país; espelho de aut oconh ecimcnto" , Com o desper-
na escolha dos per sonagen s o escritor preci sa- tar das forças cria tivas pr ópri as de um paí s,
va "ser guiado pelo s co stumes de sua nação". A faria, ao mesm o tempo. justi ça aos " modos par-
partir deste ponto de vista, Schlegel não fazia ticulares e temp er am ent o de uma nação ". Ha-
obje ção à com édie larm oyante e às burlesques via razão para esp er a r, declarou Sulzer em
populares reje itada s por Gottsched co mo "far- 1760, em sua contribuição an ua l à Academia
sas d issolutas" , porque estas se riam " a mai s Re al Prussiana de C iê ncias de Berlim, "que
natural descrição dos costumes do hom em co - um número de circ uns tâ nc ias favoráveis irá
mum". O dramaturgo, entret anto, deveria ir mais rest aur ar no teatro a di gnidade que possuía no
longe ao retratar as grandes massas e incluir ap ogeu da República de At en as" .
também círculos mais elevados, de modo a ofe- Como exempl o do qu e ent endia por drama
recer ao público "o prazer da diversidade [oo.] nacional alemão, J . E . S chlegel escreveu
um financi sta francês, o Dottore da com édi a ita- Hermann, que apre sentava estreita afinidade pa-
liana, um gentleman da zona rural inglesa", as- triótica com o Hermanns Schlacht (A Batalha
sim pensava Schlegel, "fariam pobr e exibição de Herman) de Kl op st o ck (Hermann é o
num palco dinamarquês". Holberg expe rimen- Armínio citado por T ácito . Como chefe dos
tara o co ntrário disso. O plano de represent ar queruscos, conduziu as trih os ale mãs à vitória
seu Estanhador Polit iqueiro em Paris falhou . contra o comandante ro ma no Quintílio Varo na
Num a tradu ção francesa. quei xou -se ele, "to - bata lha da Floresta de Teut ohurg). Nenhum de-
dos os artes ãos teriam de se transform arem dou- les conseg uiu suce sso no palc o co m essas obra s
tores ou advog ados ou outras pessoas d istintas" . nascid as do sentime nto patri óti co e do compro-
e sua co méd ia teria desse mod o perdido todo o misso c ultura l. Em 180 9, qu and o Kleist prop ôs
significado, " porq ue a coisa toda se dirigiria prc- produ zir sua própri a Hcrma unsschlacht, escri-
cisame nte co ntra o hom em co mum". Vestir sua ta com um o lho na époc a e na si tuação politi ca.
peça co m figurinos parisienses, temi a Holberu, e le disse: "So u indi ferent e a qu alqu er condi ção.
fali a de sua "com édi a divertida e moral Ulll e~­ faço [desta obra] um present e aos alemães". Se
petác ulo banal e maçant e" . se contar tam bém co m o dr am a de Grabbe , de
A pen a c rít ica de Le ssin g dei xou passar mesm o nome. perfaz-se um total de quatro ver-
ape nas alguma s pou ca s peças de Hulberg. Es - sõ es . nenhuma das q ua is foi bem -sucedid a.
c reve ndo e m 1751 no Berlinische privilegirrt c Os camp eõe s da idéi a nac ional no apara-
Zeitung , ele o inclu iu entre aq ueles autores qu e , to da vitó ria alemã na Bat alh a da Floresta de
"graças a algumas obras justificad ament e bem - Teut oburg falha ram unde , um século ant es, o
recebidas, tiram va ntage m da feliz suposição
de que tud o ()que flui de suas ativa s pen as seja
dramaturgo suec o Joost va n den Vondellogra-
ra êxito em Am sterdã. Su a tragédia Gysbrccht
1
~

I
exce lente" . O interes se de Goethe por Holberg vali Aemstel, um a glo rificaçã o da cidade de
limit ou- se a O Estanhador Poliquciro; Sc hille r Amsterdã base ada e m fontes históricas, sobre-
não tinh a nenhum uso para ele; Kotzebu e, po- vive até hoje como uma grande peça festiva
rém, empresto u temas de Holberg par a suas nacional e é apre sent ada anualmente no Ano l
próprias turbulentas peças. Novo no Schouwburg. Na Holanda, um teatro i
i
Holb erg foi o grande trunfo de bilh eteria nacional vital nunc a foi pro blema, nem no sé-
das troup cs ambulantes na Alem anh a setentrio- culo XVIII nem m ai s tarde . Gvs brecht vau
nal e IIOS países bálticos. A Ackermann. Konrad Acmstel, obr a enr aizad a no passado do país e
Ekho f e Fried rich Ludwig Schr iider e ncena- nas tradi ções locais, "é vista qu ase como um
ram suas co méd ias. Da s ce nto e noven ta apre- drama nacional " , co mo Fr ithj of van Thienen IX. Gou sch ed L' S lI :1 es po sa. l-ruu Luise Adc lgundc
se nta ç õcs rcg istradu-, e m Hamburgo, nos ano s prudentemente se ex primiu em 1963. Vikro ria. nasc ida Kuln ue- . Ret rato un ônimo. C". 17) (1.

· 400
• A Era da Cí d u d n n iu RJl l' g IH' ,'W

Graças tan to a seus gra ndes drama turgos Ecaa t' M'o la d eve I~rn l ~m ~ c e r so h m e u co ntrol e. pt1i..
quanto a um do m natural para a atuação, a In- a mu i-, alta autor id ad e ed uca ci ona l c devo pt. 1I1 ~1I 1 ­
:--011 c u
to pe rma necer respon sável (lia me de Deu s pe la mora l de
glaterra. França. Espa nha c Itália desenvolve- mCII po vo .
ram suas formas nativas de teatro no século XVI
ou XVII. numa época em que o Norte e o Leste Em Varsóv ia. a ca pi tal da Pol ón ia. a tradi-
do continente europeu ainda estavam rateando ção do teatro jesu íta so brev ivera ao lado da tra-
seu caminho através da auto-e xpressão no teatro. dição da ópera áulica e do Singspicl. O teat ro
Politicam ent e, o século da Ilustração ain- pú bl ico, co nstruí do e m 177 9 por Bonaventur a
da estava sob o signo da monarquia absoluta. So lari, fui oficialme nte cha mado Teatr Naro -
Assim co mo Lu ís X IV se fez patrono da dow y, o Teatro Nacional. Seu primeiro drama -
Com édie Fran çaise. do mesmo modo os teatros tur go notável foi o pad re jesuíta Francisz ek
nacionais emerge ntes do século XVIII qu ase Zab locki , um port a- voz das id é ias rad icais
sempre devia m sua criação às am bições artís ti- burgu esas. Traduziu Le P ére de Famillc de
cas de um mi so leil e m min iatura. Co mo em D ide rot para o po lonês e e nce no u o Figuro de
Cope nhague. a rea lização prá tica se mprc ex i- Beaurn arch ais co mo exe mplo . para o povo
gia a ajud a de atores fra nceses. Qua ndo. em po lonês. da luta pela lib erdade.
1737, Estocolm o co nseg uiu o seu primeiro Tea- Enquanto isso, em Praga, o am ante das ar-
.t-~ \{~t·1-~i:n~1' \'l' .
~tl'1' ún.,o11llJ' Ü·dl l. i\·J·Jm'ifí\ft"it"fl ftlÁ-J1I"1t tro Real Sueco, a dir e ção foi assumida pelo ator tes, con de Nostic- Rhi neck , dedicou-se a co ns-
l'h'lf.;' ll'áí~w~ " ~\\" ·I'\' ; Ofldl \~l ll i l, d.h" l
# francês Langlois. C inque nta anos mais tarde, truir um teatro nacional na Praça Carolinum, e,
J:'''I.)t~l· mnrt lÚL.·i'tt1\fll:·Ü1il t1id l' ht.ÍI(.
.:t)\Ut,.:,tSU'·: ~Ut meu (.... 111·lJ·udlfd .
porém, o Teatro Real Drarn ático de Estocolmo no es pírito do cos mopolitismo da Bo êmia c
l~) ~l i"·IÇ~(.3?i'lc{. ~~nJa l· \'J JJ ul ":l ~nd.lh·f . possuía seu próprio elenc o de intérpretes sue- da tradição ce nte ná ria do teatro de Praga, o
'nl!.~~I~~~:~~~~~it:I.~ 6~if.f J.I.C(~~·!i . cos e um mara vilh o so te a tr o barroco em dedi cou a " todo e qualquer tipo de peça per-
Drottningholm, um edifíc io do palácio real de miti da, se m discriminação de lín gua". O novo
19. A "C o mocd ie n-Ha us' no Fe ch thof em Nur cmb c rp. pre sum ida me nte co m um espetacul o da troupc Neu be r, que
sempre se apresentava al i. Tragédia hcrõicu (Haupr-e Staats a ku om com o par de amante s e quatro bobos. Gra vura co lori - verão reform ado em 1766 (que está preserva- teat ro foi inaugu rado co m gra nde pumpa em
da , do Angenehme Bi ídcrlust , Nuremberg, c. 1730. do). O rei Gustavo III. e le pr óprio autor das pri- 2 1 de abr il de 1783, co m um a encena ção da
mei ras peças escritas em língua sueca, atraiu Emilia Ga lotti de Lcssi ng .
poetas c hom ens de letr as para a co rt e . Em seu A primeira com panhia teat ral tcheca foi
encantador teatro no Ca ste lo Grip sholm, gos ta- for mada e m 17R6. num a tentativa de torna r o
va tanto de atua r em peça s de teatro como en - tch eco a lingu agem do palco de Praga. Nos
cená- las. Seu cenóg rafo era Louis-Jean Desprez , ses se nta anos que se seg uiram. a idéia de um
a quem o rei trouxe de Roma para Estoco lmo . tea tro naci on a l tch ec o . co nfo rme V ladi mir
Na Rússia. a dra matu rgin nativa deveu mui- Proc hazka obse rvou cri ticame nte num co n-
to à imperatriz Ca tarina II. Ela escreveu comé - gr esso cm Liubliana em 1963, "evoluiu. de um
dias e dramas com temas da história da Rússia. racionalismo ilustrado , pa ra um pobre nacio-
e fazia -o influe nc iada por model os frances es e nali smo burguês" .
esforçando- se por desenhar suas personage ns A história nos e nsinou a acolher co m ce-
"estritamente fiéis à rea lidade". Discutia os pri n- tici smo a idéia de um tea tro naci on al. No de -
cípios da co mposição de diálogos em sua cor- co rrer do s séculus seg u intes. e la foi não raro
respondência co m Voltaire c Didcro t, c envio u invocada para propo stas qu e po uco tinham a
a Voltaire suas co média s. disfar çadas co mo ve r com as aspi rações de se us pioneiro s. Mas
"obras de um jovem autor desco nhecido", par a foi . tam bém . aplicada a teatros qu e realmente
que desse sua op inião . O mestre foi cavalheiro provaram ser o que o te rmo originalmente qu e-
o suficiente para expre ssar ii autora imperial sua ria dizer. No períod o de 1767-1786, os mais
"cxtrême admiration 1'0111' votrc auteur incounu, novos desses teatros - o que incluía os teatros
qui ecrit des comedies dign es de Molien-" C'ex- na ci on ai s a le mães de Hamburgo . Vien a.
trema admiração por voss o auto r desconheci- Ma nnheim c Berlim -- dedicaram-se a "ser ins-
do, que escre ve com édias dignas de Moliere"). tru men tos de ideali sm o humano" e tentaram
Catarina II ade riu ii filosofia do Iluminismo fran- cu mprir se us obj etivos.
cês na visão do teatro co mo'a esco la do povo" . Ma is ou meno s na mesma época . emergia
Ela via o problem a de um teatro nacional e m o concei to de um "teatro univer sal". Goethe o
20. PJ1co com bastid ore s c cenário para C.:lll1lé úia de varan-r hurgu ês: rena farse sca (·(1111 Hcnswn rst co mo pint or retra tista; no
term os co ncretos, ed ucac ionais: defend ia em Weimar c cunhou o term o " liiera-
primeiro plan o , cai xa de P1lfl lo aberta. Pintura a óleo. 17S(1 (~ 111niqllc. Mu seu do TC.;IlW).
j '.

• ./11./
H íst órí a M u n di al d o T eat ro •

tura universal" . " Ma is e ma is. estou chegando a É bem pro vável qu e não te ria havid o ne- 2 L Hanswurst do sul da Alemanha co m figuri no de
cam po nês . G rav ura colo rida. c. 1790 .
ver que a poesia é um bem comum à humani- nhuma ap rox ima ção entre o j o vem e inteli gente
dade" , disse em 1!l27 a Ec kerm ann , "a literatu- este ta e o tacanho pro fesso r, mes mo em época
ra nacional não co nta muit o nos dias de hoj e. A mai s prop íci a. M as Le ssin g ve io a conhecer o
época da literatura un iver sal aí está. e tod os pre - ditador liter ári o e m Leipzig so mente quando
cisam contribuir agora para realizá-Ia" . o ard or reform ista do últim o es tava qu ase pe-
Entre o supre mo se nso de cidad ani a do trificado em pe da ntism o resse ntido .
mundo em G oethe e o s autores da idéi a de um O própri o Gottsch ed, em se us dias de ju-
teat ro naci on al e stã o as décad as dur ant e as ve ntude, enqu anto doc ent e universitário co m um
qu ais o teatro a lemão se esfo rçou para adqui- inte re sse apaixon ado pelo te atro , abo rda m com
rir um rosto próprio . A trilha de seu dese nvol - a rdor a tarefa qu e inflama va as gra ndes mente s
vimento leva, via Sch aubiihne de Gousched do séc ulo. "O razoável é ao mesmo tempo natu-
(Deutsche Scha ubiihne nach den Regeln der ra l" - tal era a proposição estética que Gottsched
alten Grieche n und R õmer cingeri-chtct, " o q uer ia não ape nas procl am a r ex cathedra , mas
palco-c ênico organ iza do segundo as regras do s ve r praticad a no drama. Isto implicava, para ele,
antigos gregos e ro m anos " . 6 vols.. 1740-1 745 ) uma arte poéti ca instru ída nas regras raci on alis-
e a Hambu rgis ch c Dr aniaturgie (Dramaturgia ta s de Boil eau , subme tida à le i das três unida-
de Hamburgo ) de Lessing. à era do classici smo des de Arist óteles tant o qu ant o ao princípio mo-
de Weim ar e aos ecos que despertou em Berlim rai. que não ofend esse nem a verossimilhança
e Vien a. nem o bom gosto, e se baseasse na "inalterável
natureza do homem e no se nso co mum" .
A s R ef ormas Dramáti ca s d e "O poeta escolh e um a proposição moral ,
G o tt s c h e d que deseja imprimir nos espec tado res de ma-
nei ra concreta. Ele inventa uma fá bula geral para
Se fôss emos no s g uiar apena s pe las apre - ilustr ar a verdade de suas prop osições" , expli -
ciações c ríticas de Lessin g, o c urador Ião dcs - co u G ottsc hed e m Versuch ein cr Critischcn
preconcehido do teatro alemã o da era da Ilus- Diclu kun st vor di e Dcutsch cn (Te nta tiva de uma
traç ã o , o pr ofe s s or d e li te rat u ra Jo hau n A rte Poética para os A lemães. 1730 ). Ele dis-
Christoph Gortsch ed teria poucos méritos a se u c u tiu as possibilidad es d e dec id ir-se por uma
crédito em ass unto s d e teatr o. Pois Lessing fá bula có mica. trágica ou é pica ou esópica . Um
esc reveu : pont o essencial era qu e a co m éd ia. por ex por o
víc io ao ridícu lo, deve ria prop orcionar não so-
N os dias d e <J. pO~ l· lI d a xra. Nc uhc r. lllh "'i l plX' , i ~1 men te praz er. mas também um a lição. isto é.
dramática vivia num es tado mi ser ável . Nâo ex! ria m re -
riso saudáve l sobre as tol ices human as.
gras. niuguérn ob edec ia a nen hum mod elo. No o ... "d ru -
IU ólS heróico s" (S u tats .n n. í. Jl d dcl1-:U l i pl1("Il ' e ram chc io-.
As teor ias de G ot tsc hed est avam e m larga
de tolices. lingu agem bo mbá stica . pi"ld a:- iud ecc utc - l ' med ida em unísso no co m as do te ór ico da poé-
vulgares. Nos.. . as "co méd ias" ( LU,\ 1Sl'iC/c ) consistiam 1.:11I tic a do barr oc o , M artin O pit z, c uja obra Bu ch
disfarces c bru xarias. c os II HIIT OS c soco.. eram ~ Ua nuu... 1'(/1/ der deutschen Poetercy (L ivro da Poética
espirituosa inven ção . N ão ha via necessidade de ser UI'!
A le mã , 1624 ) pe rma nec e u c o m o a utor idade no
espírito part icularme nte gra nde ou suril para pe rcebe r e sta
degradaç ão ass unto e o hra de orie ntaçã o d o séc ulo XVIII.
In vocando Horá c io , G o usche d baniu o
Est a pa ssa g em. incluíd a e m 1759 e m " m iraculoso " , tud o o qu e ia c o ntra a verossi-
Brieje , dic ncu este Literatur betreffend (Car- milhança, tanto e m termo s de poesia como de
tas sobre a Nova Literatura) foi o primeiro pas- palco - e isto significava Iod a a "fe itiçaria, fór-
so para o assassinato literário de um homem mulas mágicas e trap aça s" que envolviam o
de quem Lessing, numa passagem muito cita - palco italiano e o Th éâtre de la Foirc em Paris,
da, d isse conc isa me nte : "Seria de se de sejar e do qual até me sm o M oli e re , " para agradar à
que o SI'. Go ttsc he d nun ca tivesse se metido Co roa " , hav ia e m prestad o muitas invençõe s.
com o te at ro. Seus prete nsos melhoramento s O utra coi sa que Go tt sc hed não gostav a em 22. Jose ph Fcrd inan d M uller, c he fe da trou pe rival da
refer em -se a as su ntos dcsneccsx.irios ou 11'1'- M ol icr e era qu e, a pesar de suas peça s se rem co mpa nhia da Frau Nc ubc r e m Leipzig , co mo A rleq uim .
nam as coisas piore s" co nstruí da s de acordo com as regr as e o s mo - Gravu ra da me tade do sécul o X V III.

• 40~
tt ístórí a Mn n dí n I do Tcat ro • • A l: 'rtl d a Cí do dun i u Burglll'sn

delos dos Antigos. "ele sempre tornava o vício Gottschcd confiou sua peça Der Sterbend- vestes de palhaços e depois obrigados a deixar 1740 e 1745. estabeleceram a base de um fu-
apenas muito agradável. e toda virtude muito Cato (Carão Moribundo) à companhia dos o palco. Para Frau Neuber, o episódio foi tem- turo desenvolvimento que atraiu para o teatro
teimosa, incivilizada c ridícula". Neubers cm 1731, texto que foi anunciado perado com a satisfação pessoal de assim obter a burguesia com suas aspirações culturais. Es-
Nature - raison - antiquité, exigia como "a primeira tragédia original cm alemão" vingança contra seus competidores cm Leipzig, tes volumes contêm peças de Holberg,
Boileau, e Gottsched, da mesma forma. guia- e que era uma recomposição de partes tiradas a companhia do popular Arlcquim.T. P.Müller. Destouches, Dufresny e Addison, com tradu-
va-se por esta trindade. Ele assistiu aos espe- de Addison e Deschamps, um tipo de tradu- Lessing entendeu a coisa como "a maior ções dos alunos de Gottsched em Leipzig, dele
táculos das troupes ambulantes, a despeito do ção-compilação que mais tarde provocou do das arlcquinadas", (Brie]e. dic neuestc Li- próprio e de sua esposa, Luise Adclgundc.
muito que elas o irritavam com suas histórias crítico de arte suíço Johann Jakob Bodmer o tcratur betreffend. Cartas Relativas à Novís- Mol ie re está representado apenas com O
e criaturas de "uma imaginação perturbada" e comentário desaprovador de que "Gottschcd sima Literatura, n. 17) por mais que, confor- Misantropo. Gottsched também incluiu uma
com todas as "coisas inacreditáveis que não construía suas peças com cola e tesoura". me disse num outro lugar, larga seleção de peças de autores do início da
têm precedente na natureza". Mas em 1725, A representação foi um brilhante suces- Ilustração alemã. Gellert, Borkenstein, Quis-
uma jovem atriz ganhou sua aprovação. Num~ so. Frau Neuber havia insuflado vida teatral todos os teatros alemães [... ] parecessem concordar com
torp, Mylius, Uhlich e Fuchs contribuíram com
este banimento. Digo "parecessem", porque na verdade
peça chamada Das Gesprãchc im Reiche der no anêmico produto da mente do professor. Ela apenas removeram o casuquinho gnrrucho c o nome, mas
suas "comédias originais"; J. C. Krüger, o tra-
Toten (A Conversação no Reino dos Mortos), própria interpretava Pórcia, vestida com o tra- mantiveram o truão. A própria Frnu Ncuber apresentou dutor de Marivaux, e J. E. Sclegel estavam re-
ela atuou em quatro papéis masculinos dife- dicional figurino, de comprovada popularida- muitas peças nas quais Arlequim era II personagem prin- presentados e, é claro, também o próprio Gotts-
rentes - um pastor, um diletante em línguas de, "com um toucado mais largo que a rua, cipal. Mas Arlequim era chamado Hãnvcheu. c vestia-se ched, com sua tragédia modelo e numerosos
todo de branco, cm lugar de xadrez.
orientais, um briguento e um gentil-homem - rijo e com todas as cores de um papagaio", insertos de sua teoria, desde as idéias de
o tipo de tour de force de discurso e máscara, segundo Christlob Mylius a descreveu. Como Lessing reconheceu o lado da questão so- Fénelon sobre a tragédia até as polêmicas de
por meio do qual Isabella Andreini se tornou Carão, Friedrich Kohlhardt vagava solenemen- bre o qual Gottschcd fazia vista grossa, ou seja, SI. Evremond contra a ópera.
famosa cm sua época. Gottsched escreveu um te com uma peruca e de meias com pompons. de que, com o banimento do bobo, muito da Die Dcutsche Schaubiihnc de Gottsched
artigo entusiasmado sobre a jovem intérprete. Para Gottsched, foi uma amarga vitória. valiosa herança da representação popular havia tornou-se o fundo literário do teatro ilustrado
Ela havia "caracterizado tão inimitavelmente Ele havia sonhado com trajes romanos, não sido jogada fora e, com mais faro para a comé- de língua alemã. A teoria do utilitarismo mo-
quatro rapazes das mais famosas academias com um desfile de moda com chapéus emplu- dia, acrescentou: "Acho que faríamos melhor ral, mais tarde tão injuriada e tão pedantemen-
saxónicas". que ele nunca havia visto nada mados e espadas de pano. Mas neste ponto se lhe devolvêssemos seu casaco multicolorido". te remodelada pelo próprio Gottsched. chamou
melhor em toda a sua vida. Esta crítica - Frau Neuber era conservadora. Era uma mu- A colaboração entre Gottsched e Frau ii cena forças posteriores que exerceram uma
publicada em 31 de outubro de 1725 no sema- lher sensata e decente: mantinha em ordem a Neubcr foi interrompida por um compromis- influência duradoura e validou seus esforços:
nário moral Die verniinftigen Tadlerinncn de vida privada de sua troupc e dava, ela própria. so em S. Petersburgo. Quando a troup« retor- embora tÚO haja contribuído com nenhuma
Gottsched - foi o primeiro tributo impresso a um bom exemplo; apreciava as reivindicações nou a Leipzig em 1741, desapontada e desilu- obra original de qualidade, esse teórico e críti-
Karoline Neuber. da literatura e era uma atriz completa. Mas não dida, Gottsched havia se ligado ii Companhia co criou as condições para isso.
De nada adiantou o esforço de Gottsched ficaria sem seu chapéu de plumas. Aceitava o Schoncmann. Frau Neuber queria uma estréia As troupes ambulantes tornaram como pon-
para interessar a companhia Haacke-Hoffrnan, palco como "um púlpito da filosofia moral" - sensacional. Ensaiou o Sterbcndc Cato. e in- to de honra a apresentação regular de pcças em
então atuando em Leipzig e ii qual presumível- mas não um palco sem o efeito dos figurinos. tensificou o aspecto de paródia que dez anos verso e. remetendo-se ii "bem conhecida alian-
mente pertencia Karoline Neubcr, em suas pro- Ela uniu suas forças às de Gottsched na antes havia rejeitado. ou seja. o "traje romano ça entre o professor Gottsched e Frau Neuber",
postas de reformas. Ele pleiteava a adoção do batalha contra Arlequim. Em outro de seus "se- fielmente copiado". cujo melhor efeito con- a demonstração de que eram tão capazes quanto
discurso métrico segundo o modelo da tragé- manários morais", Der Bicdermann, Gottsched sistia nas pernas nuas "drapejadas com linho eles de satisfazer as exigências de uma platéia
dia clássica francesa, mas o diretor, Hoffman, declarara guerra ao "Iicencioso Hans Wurstc", cor da pele". O público. conta-se. "enterrou a meticulosa e severa. Há evidência dos dois as-
declarou que seus atores não estavam acostu- a popular personagem folclórica retratada por tentativa COIn gargalhadas", pectos nas petições de uma recém-fundada com-
mados ao verso declamado. Diderot deparou- comediantes e palhaços. Dez anos mais tarde, Por fim, em I Xde setembro de 1741. Frau panhia em Danzig (Gdansk) e em documentos
se com a objeção oposta quando a Comédie Frau Neuber traduziu os repetidos ataques às Neuhcr conseguiu levar à cena, COl110 espetá- relacionados com as companhias teatrais na Áus-
Française estava ensaiando sua comédia em "brincadeiras vulgares" do palhaço numa ação culo de abertura Der allcrkostborstc Schat: (O tria. Quando as troupes de Eckenberg e Hilver.
prosa Le Pêre de Famille. demonstrativa. Num erguer de cortinas, cla Tesouro Preciosíssimo). pC"'a na qual punha ding aventuraram-se no drama em verso ao esti-
Por volta de 1727, Karoline Neuber e seu baniu solenemente Hanswurst do palco. (Ele em cena seu antigo mentor sob a figura de um lo de Gottschcd, conta-se que foram muito aplau-
marido eram chefes de uma companhia pró- foi banido e não queimado, conforme escre- criticastro, e zombava dele não apenas com didos, "embora a platéia fosse da velha guarda e
pria, e ela se mostrou simpática às idéias de veu Eduard Devrient, c como pode ainda ser propriedade mas com sucesso. apresentando- parcial aos autores vienenses".
Gottsched. Compreendeu as vantagens que a lido ocasionalmente hoje, embora este ponto o COI110 um guarda-noturno com asas de mor- As pe,,:as recomendadas por Gottschcd.
colaboração com Gottsched poderia trazer para tenha sido esclarecido já em I X54 por E. A. cego. Isto selou sua ruptura com Gotlsched. com sua estreita unidade de lugar. adequavam-
a melhoria do nível geral da atuação. Concor- Hagen cm Gcschichte dcs Theaters iII Preusscn Assim, o que começara em zelo comum por se até a teatros equipados com os cenários mais
daram numa combinação de teoria e prática, à [História do Teatro na Prússia].) Não existem urna boa causa terminou num escândalo pe- modestos. Se preciso, podiam ser levadas num
qual o teatro alemão ficou devendo alguns registros exatos de como isto se processou no queno e mesquinho de viugança. paleo simples dividido por uma cortina central,
novos impulsos importantes e também alguns Rossmarkt em Leipzig. Provavelmente, Arle- Mas os seis volumes de Dic dcutschc a forma básica do palco itinerante do barroco,
eventos espetaculares. quino e Scaramutz foram desapossados de suas Schaubühnc; que Gottsche d publicou entre As companhias mais completas e de sucesso

• 406 • -I1i7
H íst ori a M'u n d i u í do T e at ro •

pod iam vale r-se do s gê ne ros cos tumei ros de ce ntena de bagatel as im porta ntes qu e um poe-
ce nár ios qu e. de acordo co m a cla ssificação ta dramát ico prec isa conhecer" .
de Opitz sobre tipo s de espetác ulos, dizia m Em 1748. Frau Ne ubc r apresentou a pri-
respe ito à tragédi a o u ii co média. tais co mo o me ira co méd ia de Le ssin g, Der jungc Gelehrtr 1= II II =1 II :~
I I I . •••• ' • ."
sa lão de um cas te lo. um templo co m átrio. uma (O Jo vem Erudito). Ao s dezenove anos, o jo-
vive nda com ja rdi m . um ca mpo de bata lha ou vem viu-se festej ad o pe lo s amigos com o um
uma floresta. futuro Moliêre. Somava-se à sua feli cida de o
Gottsched co nside rava crucial que "o lugar fato de ess e ter suce sso aco ntec ido em Leipzig.

· '<" t~~.::~~r;i~·~-
.....>4
representado pe rma nec ess e o mesmo ao longo
de toda a tragédia (ou co méd ia)". pois. arg umen-
o balu arte da vida literária da época, dentro do
hori zont e do "grand e Du ns" (Bes ta Qu adrada ), iii' . ••••
....
·•• lii

~~ª,~f ';' ~ ,•
tava, uma vez que o espectador permanecia em q ue foi co mo Lessing rot ulou G ott sch ed em
sua cadeira no c urso da representação. parece- 1759 na Literatu rbrief e (Carta s so bre a Litera - ''a~ ~ .
R .I'
ria inverossímil se hou vesse uma Iroca de ce ná- tura), c ritic a ndo v io le n ta me n te se u " tea tro
rio no palco. A regra racionalista da verossimi- a france za do" , Mas numa q uestão Lessing CO II-
lhança era a razão do preconceito de Gottsched co rdava completa me nte co m Gottsc hed, e ao
contra o th éâtre italicn e se u descendent e e m mesmo tempo antecipava o co nce ito de Schiller
Paris. o ope ra com ique, e o mund o de con tos do teatro co mo um a instituição m oral : na con-
de fadas e fantasia da ópera e Singspiel . vicção de que a co média tem valor porque pro-
Mas enquanto Gottsched pontificava com voca o riso (embora pusesse obje ção ao riso de
severidade edificante sobre a simpl icidade em- escárnio pretendido por Gottsc he d ). É a con-
polada. a razão fazia um jogo dupl o no teatro trapartida da interp retação d a ca tarse aristotélica
áulico do rococó. A sociedade elegante enfe ita- com o a transform a ção da co mp aix ão e medo
va-se co m guirlanda s de flores, cercava -se de e m "práticas virtu osas" - interpretação que deve 23. O teatro no G ãnse markr cm H amburgo, construído cm 1765 por K. Ackerrnann e admi nistrado corno Teatro
chinoiscries c usu fruí a de seu frívolo jogo como se r co mpreendida co m o mesmo se li SO moral. Nacional co m a co laboraç ão de Lcssing . de 1767 a 1769. De senh o a lápis. 1827.

os de uses e mbe lezado s do Parnaso. O amor Enq uanto trab alh a va co m o jorna lista e m
entalhava se u arco no bo rdão de Hércul es. Berlim. Lessing se rv iu de int é rp re te a Voltaire.
Em Munique. o ma is belo teatro do roco có Co m e le aprend eu a " d isting uir o moral do pu -
foi inaugu rad o e m 12 de outubro de 1753, no ra me nte int elect ual " , e ag uço u o se nso crítico
d ia do no me d e se u pat ron o. o e leito r Max nesse co niato co m o divin o e a bsolutame nte
Em anuel. Cons truí do por Fra nço is Cuv illiés no nã o-di vino Volt aire, cujo Esp rit não o impedia
pátio do pa lácio Rcsid en z, onde resiste até hoje. de per de r a Contenancc, o a uto cont ro le. Uma
sua inaugur ação. com a ópera Catonc in Utico desa ven ça acabo u com a c olaboraç ão. l. cssing
de Ferra ndini , co nstituiu-se num a celebração de tent ou e m vão "ob ter um perd ão do filósofo";
gala: as tapeçarias suntuosas e as 1'(/111/<'1/<'.1 da s pe rde u um a posição bem pag a, e o secretá rio
paredes brilhavam rub ras e dourada s ;1 luz do s de Voltaire, Richier de Louvain. q ue co nseguira
incontáve is cande labros . O herói da ópera era o o e mp rego para e le. tam bé m fo i desped ido .
próprio Calão da época de Césa r. que Go rtschcd O rei Fred er ico o G ra nd e fico u sa bendo
forçara a e nve rga r o ap ertado casaco das re- do ocorrido . e s ua lembran ça d o falo. qu inze
gras aus tera s de sua tragédia mod elo. a nos mai s tarde, arrui nou as be m- fu ndadas es-
per an ças de Lessin g co m respeito ao posto de
L e s s i n g c o Mo vi m e n m d o diretor da bibli ote ca rea l. É a es ta c ircunstãn-
T e at r o Nu c i o n.al Al e m ão c ia que a históri a do teatro a le mão deve um de
se us mais brilhant es docu mentos , a Hambur-
A paixão de Lessing pel o teatro desper - gisclic Dranuttu rgi e (D ra maturg ia Harnbur-
tou sob os olhos de Frau Neuber. Se u primo guesa) de Lcssing .
Christlob M ylius o apresentara ao círc ulo dos Hamburgo , a liber al c idade hanseárica so-
Musensõhnc (F ilhos da s Mu sas), quc se diri- bre o rio Alster, já er a importan te ce ntro cultu-
gia em ba ndo ao Qu andtsch e Hof. na Niko lui ral no período bar roco . O s Co me d iantes In -
Strasse e m Lei pzig , para adm irar a es trela e g leses , os primórd io s da óp era. as peças de
sua troupc. Lessin g pa rtici pava dos ensa ios. fa- Joh ann Ri st, as aprese ntações de Fra u Ne uber 24. Cenário para a estréia de D íe Riiubcr (O~ Salteado res) de Sc hil ler e m 13 de janeiro de 17K2 no Te atro Nacional cm
ze ndo- se útil co mo trad utor. (' aprendeu "uma co mo co nv ida da d a Co moed ic nhudc in de r Mannh cirn. Fot og rafia do s ce nários o rig inais, que foram pre servados até 1944 .

• -/08
• A Era do C ida dania Bll r gllt'Jfl

25 . Palco para drama burgu ês. c. 17 XO. A ce na tem ribalta aberta, ca ixa de pontu c bast ido res co m po rias praticá"c is c Lessi ng e ra bastant e cuidadoso pa ra não
jane las pintadas. Estampa da époc a . Fuhlentwiet, a recepç ão precoce a Holb erg e seu
eco e m Book esheutcl (Livro de Bo lso) ( 1742) ca ir e m nenhuma das dua s armad ilhas . Mas os
de Borkcnstein, ludo isso foram pedras mili ares aco ntec ime ntos o pus er am à prova mais de-
na vida teatr al de Ham burgo . Em 176-1. o dire- pressa do q ue temia . Os empresários não co n-
tor Konrad Ackerrnann co nsegui u permissão seg uia m co nco rda r e ntre si nas qu estões de ne-
para dem olir a velha ópe ra do Ga nsc mârk t e góc ios e nas q ues tões artísticas, havia intrigas
co nstru ir no local um novo e espaçoso tea tro com entre os atures e , para co mpletar, o pastor-m ór
du as gale rias para es pec tado res . A peça ale- de Ham bu rgo . J . M. Goe ze, and ava pregando
gó rica Di e Comedir im Tempcl der TI/gel/ti (A cont ra "0 pecado do teat ro" . Tud o isso pr ejud i-
Co mé dia no Templ o das Virtudes) de Friedrich cou o impul so e o lucro do empree ndimento . E
Lo wen encetou um breve período áu reo , qu e co- assim a e nce naç ão de Minna \ '0 11 Ba rnh elni de
meçou em 3 1 de j ulho de 1765 e terminou um Lessing, e m 30 de setembro de 1767, teve um a
ano mai s tarde co m a ruína de Ackerma nn. Ele recepção morna da part e do públi co.
alu gou o prédio a um co nsórc io de doze cida- Na rca prese ntação do es pe tric ulo hou ve
dãos hamburgu eses que se inte ressaram pe la arte um a tent a tiva de d ivertir a plat éia inserindo- se
do teatro em parte por razões finan ce iras, cm núm e ro s ac ro bá ticos . A Dram atu rgie de Les -
parte por con sideração a suas atrizes . sing não fo rnece escl arecimentos a es se re s-
O comerciante Abel Sey lcr assumiu a di- peit o . Suas not as ficaram no período be m a n-
reç ão financeira, e Friedri ch L õwe n, a artística. ter ior às es tré ias. Sua elevada demanda es téti-
Em apoio às exigências de J. E. Sc hleg el, o novo ca, sua cuida do sa apreciação de uma arte " tra n-
empreendimento chamou- se Teatr o Nacional sitória por nat ureza" , sua integridade pe ssoal
Alemão . Esta assim cha mada Empresa Ham- e seu se nso de res po nsabilidade com re laç ão
bur guesa foi con struí da por atores que rivaliza- ao projet o e a s i mesm o não pud eram ev ita r o
vam entre si e por homen s de negócios ex peri- confli to co m o s in t érp re tes. Sua posição no tea-
ment ados em mat éri a de bancarrota : faltava -lhes tro , como crítico pago pela dirc ção , e ra e m si
um a insígni a séria e um nom e respeit ável. próp ria co ntrad itó ria.
A escol ha recaiu sob...z Lessing . "Aconte- A sra . Sophie Hen sel, a princip al atriz do
ce u de e u estar parado na praça do mercado, elen co e espo sa de A be l Sey ler, ofe ndeu- se se-
sem na da para tazc r: ningu ém qu eria me e m- riam e nte co m o qu e Lessing o usou d ize r na
pregar, se m dúvida porque ninguém precis ava se ção 20 da D ram aturg ic so bre se u papel e m
de mi m para nada" , lembra Lessin g no final da Ccni e : "Parece-me ver um gigante exerci tun -
Hamb urg isch en Drcunaturg ic. A idéia de tom ar do -se com a arma de um cade te" e: "E u p refe-
parte e m empreendime nto tão promi ssor. o bom riri a n ão faze r tudo o qu e so u perfeit am ente
salário e o desapont ame nto de ter sido rejeitado capaz de fazer m uit o bem ".
cm Berlim co nco rreram pa ra que acei tas se . Enq ua nto a co m pan hia e stava tent ando
Em 22 de abril de 1767. o Teatro Nacional rem en d a r se u de sti no fina ncei ro exc ursi o-
de Hamburgo (na) G ãnse ma rk t foi inaugurado nan do . Less ing d isc utia os probl em as de um
co m a tragédia de nu ut íri o Olha II l1d Sophnmia Tea tro Nac io na l A le mão e as causas da - c la-
de J. F. von Cronegk . No mesmo dia Less ing anun- ram ent e pre vi sí vel - falência e m Ham bu rgo .
c ia va a publi cu çã« de s ua Ha rnbn rg isch cn Ao e nce rrar a Drcuna turgie co m a se ção I ()~ .
Dramatutgi c. O novo em pree ndime nto, prome- ele o fez co m uma ama rga ve rificação : " Te-
tia ele. não pouparia esforços ou custos: "se vai mos arorcs , m as nenhuma arte da int erpret a-
ter bom gosto e espírito cr úico, o tempo dirá". ção. Se alg uma vez existiu tal arte , n ão a pos-
Ele se comprometeria a dar " um relato detalhado su ím os m ais : es tá perdida: é preciso desco bri -
de tudo o que for leit o aq ui tanto na arte da la int eiram ent e de novo".
dramaturgia quant o na da rcp rcsenta çáo". Não Lessin g permaneceu em Hamburgo por três
seria possível , entretanto, evitar peças medíocres. anos. De po is, pa rtiu. O sonho de um teat ro na-
"Não quero elevar de mais as ex pectativas do pú- ci on al acabara, no qu e diz respeito tant o a suas
blico. Ambos dan-se mal: os ho men s qu e prome- asp iruç õc« a rtí stica s q uant o a se us objc tivo s
2.6. O Te atro Naciona l em Man nhcim, proj e tado por Lorcnzo ()uagliu e co nstru ído cm 177K De senho J ' J F. \'011 tem demai s e os qu e esperam muit o". co ncluía soc iais. O ato r con tinuo u, co mo a ntes, ii me r-
Schlich tcn: gravura de Klaubcr, I7R2. l: .
cê das vici ssitud e s de uma vida n ôrnad e . A de-
Lessing, cuja expe ri ência o ensinara a ser c ólico.
• -I1t
H íst ó rí a M'un d i a í d o T ( ' { I/ I "O • • A E ru du C i d a d a n ia B u rg u rs n

silusã o de Lessing c ulmino u cm zomba ria so- de Maximil ian L. K.Iinge r. Em vez dos princí- Graç as seja m dad a!'. ao hom e m q ue tem ~I c orage m c ultura l j á tentad o no teatro ale mão: Go eth e.
bre "a bem inte ncio nad a idéia de prop orcio- de re be nta r o q UI: agri lho a n O '~~1 me nte e coração. c nos Seu teat ro e m We imar torn ou- se o embrião do
pios de Aristóteles e do classicismo francês, e
pro porc io na cm troca (1 que é Ião ra ro - pe sso a!'> reais e
nar aos alemães um teat ro nacional, quando de sua adapt ação no Crit ische Dichtkunst (Art e classicismo ale m ão. Da cooperação de Goeth e
sentimento verdadeiro. Graças lhe sejam dadas por não
nós, alemães, não somos sequer um a nação I Poética Críti ca) de Gott sched, Shakespeare era se deter quando a torrente de seu g ênio se de rra ma. e Schiller br otou a harmonia entre cr iação po é-
Não estou fal and o da co nstitu ição pol ítica , acla mado co mo o novo modelo. Su stent ad os tica e teatr o que a In gl aterra havi a co nhec ido
porém excl usivame nte de car áter mor al" . pela tradução em pro sa de Wieland, os patrícios Um dos pou co s hom en s de tea tro , co n- nos dias de Shakesp ear e, a Esp anha, no s de
Herder co nco r dava co m a qu ei x a de do Stunn und D ran g porfiavam na lingu agem ternp or âneos, q ue abriu suas portas ao dr am a Cald e rón e a Fr an ça, na época de Moli êre .
Lessin g. Em se u premiado ens aio Übe r d ie solta e na arrojada sucessão de trocas de cen a. do S tu rm IIIld Dran g fo i Friedri ch Lud wi g O estilo cê nic o de Goe the em Weimar não
WirkuII g der D ichtkunst auf di e S itten d er Já J. E. Schl egel havia zombado co ntida- Sc hr õde r, E m 1771 , aos vi nte e se te a no s de possu ía ne m a espont ânea vitalid ade do teat ro
Võlke r iIIa/reli und neuen Ze iten (So bre o Efei- mente da regra da unidade de luga r com a idade, ha via suced ido Konrad Acke nna nn e m el ízabetano nem a pe rfeição artí stica do th éât rc
to da Poesia na Moral dos Povos nas Épocas lac ônica nota : "Local da cena: sobre o palco", Hamburgo . Se u credo artístico viri a a se r o "ve r- [rançais. Era o resultad o de cuid adoso e árdu o
Anti gas e Modernas) ele explicava a a usê ncia e também Ju stus Môser em Harlequins Heirath dadeiro" e o não "belo" . Sentiu-se chamado e trabalho preliminar, uma tentativ a de transfigu-
de uma arte poéti ca nac ion al pela falt a de uma (O Casament o de Arlequim), com a rubrica : interpelado pelo ímpet o dos jovens dramatur- rar os prosaicos tij olos de um ensemble inad e-
língua viva comum, e e m penetrant e alusão ii "L ocal : no lu gar mar cad o"; ag ora, J . M . R . gos de "gê nio" e pelos "negro s sonhos d o dese - qu ado nos átrios d e m ármore dos altos idea is.
prática dos governantes alemães de vender seus Lenz , em seu Der ne uc M endoza (O Novo jo poético" , conforme coloco u Me rc k, e m de- " Os ale mães , em méd ia, são pessoas ret as
súditos ind efesos para trabalh ar na América, Mendo za), decl ara va suci ntame nte : " Loca l da saprovação crítica. Encenou Clavi go e Gôt: VOII e decent es, mas n ão possuem a mais vaga no-
acresc entava : "A Ale man ha não te rá por ce rto ce na : aqui e ali" . Berlichingen de Goeth e em Hamburgo, e tam - ção do qu e sej a origi na lidade, inventi vid ad e,
nenhum Hom e ro , enquanto este tivesse de can- Um pouco ante s, co m a peça Der Hofmeis - bém Die Zw illinge (Os Gêm eos) de Kl inge r e car áte r, unidade e aca bame nto num a obra de
tar so bre se us irmãos embarcados co mo lotes ter (O Precept or) , na qu al uma abund ância de Der Hofm eister de Len z. arte " , qu ei xa va- se Goethe em 28 de fever eiro
de escravos para a América" . personagens coloridamente variada transmite A alternância da representação no proscê- de 1790, numa carta a J. F. Rei ch ardt: "Dadas
Na Kab al e und Lieb e (Intr iga e A mor) de um vívido corte transversal na estrutura social nio o u em pro fundidad e o ferec ia alg uma po s- estas co nd içõ e s, o senh or pod erá imaginar que
Schiller, o c riado de quarto de ladv M ilford da é poca , Len z havia pel o menos le vad o e m sibilidade de fazer pelo menos um a remo ta ju s- es pera nça s dep osit o e m seu teat ro , es tej a a car-
relata co rno um soberano vend e seus súd itos. co nta as possibil idad es cê nicas do pa lco . Dic tiça ao din âmi co "aqui e agora" da ili m itada go de quem est iver" . A ocasião para es tes c é-
Hou ve um a exp losão de piedade c am ar gura . Soldate n (Os So ldados) também era ainda um a mobilid ade dos dr am atu rgo s do SW rJlI un d ticos co me ntá rio s de Go ethe fo i a rec on st ru -
O otim ismo da Ilustração qu e impero u na pr i- peça ence n ãve l e, e m se u ensa io Übe r d ic Dru ng . Ma s o exe mplo de Schrod er, q ue a r- ção pendent e , e m 1791 , do teatro da cor te de
meira meta de d o séc ulo foi subme rso por uma Veriinderu ng rn des Th ea te rs in Shak espeare riscou mu ito por escasso suce sso , não e nco n- Weima r, do q ua l se tornar ia vít ima e salvado r.
o nda de a paix o na da reb el ião co ntra o es ta - (Sobre as Variações do Teat ro em Shakespeare I. trou im itaç ão. A estr eita moldura do palco de Ele não tinha moti vo para sub trai r-se a essa
do pol ítico e soc ial das co isas . Os jo vens dra- Lenz admi tia que as m uda nças de ce na em p ec p- sh ow era uma con stante qu e não ced ia. tarefa e pr o vavelmente nunc a teve nenhu ma
maturgos do m?vimento Sturm un d Drang Sha kespeare e ram sempre exce ç õe s às regra s. Em 17R6, o jovem Schiller confessou numa intenç ão sé ria de faz ê-lo.
(Te mpes tade e Impero) de sca rrega ram suas qu e ele sacrificara ap en as por " vantage ns mais ca rta a Fri ed rich Lud wig Sc hrõder e m Ham - Desde 177 5, G oeth e foi o coração e a alma
e mo ções ant i- ilumin ista s num prot e sto con - altas" . Len z aprese ntou a alega ção de que o bur go: "Agora co nheço muit o bem os lim ites da feli z c a rt íst ica soc iedade da Corte em
tra os pod e res da co mpu lsão po lític a . teatro era " um espetác ulo dos se ntidos . não da q ue as pa red es de madeira e tod as as ci rc un s- Weimar, co mo p oe ta , e ncenador e ato r, Suas
" Ple nitude de co ração" e liberd ade de sen- memó ria" . Ar ma do co m essa franqu ia, impe- tânci as necessári as do preceit o teat ral im põe m prim ei ras ope re ta s, far sa s e mascarada s dest i-
timent os er am as pal avra s de o rdem de um mo- liu a errá tica situaç ão técnica de Der ne u c ao dr am aturgo" , navam -se ao se le to círculo íntimo e à duqu e-
vime nto ren o vador burguês e jo vem qu e tira- M endo:a ao ex cesso caracterizado por Erich sa-mãe, A nna Am al ia . No palco prov isó rio do
va sua inspiração de Rousseau : " Le senti mcu t Schmidt co mo " caos fre n ético" . Redoutenhau s de Weimar, a pr imeira ver são
est plus que /a raison!" - "o sentimento é maior O ap aix onado en gajamento co m que es- CL A S S IC IS M O AL EM ÃO em pro sa rítm ica de Iphigenie auf Tauris foi
que a razão" . O ideal de uma hum anid ad e co ns- tes j oven s S tiirnte r und D rün ger desafi aram ence nada c m 6 d e abril de 1779. Goe the int er -
tituíd a pela pe rson alid ade aut óno ma do ho - se u tempo despre zava qua lque r co ncessão fi Wei m ar pr et ou O re s tes, o prín cipe Co nsra n t ín fo i
mem " natural" em erg ia. O co nflito en tre o que co nve nção, e desd enha va tam bém das limi ta - Pylade , Se id ler - um sec retário - foi Arkas, e
era e ntão ch am ado na Alem anh a de "z ênio ori - çõe s do palco . Ist o sig nificava renunciar ii pos- o teat ro ~ UIll da que les n t:~(k i o ~ q ut" me no s "e p r~ . . - von Kneb el, tut or do pr íncip e, aparec ia Como
gina i" e a ordem do mun do exist ente de rru- sibilidade de c umprir a função de s.itira e crí- u uu a 11111 trat a ment o plancjad o : a tod o mo me nto dc pe n- Thoas. O pap el de lfigêni a foi desempenhad o
bou as barreiras dos tabus po líticos, sociais e d e -se intei ramen te do temp o c d a c un tc m por. mc ida dc : po r Co ron a Sc hrôter, a atriz qu e Goethe havia
tica soc ial qu e tr azia m no co ração . Bertolt
aq uilo q ue o aut or que r esc rever. o ator. iu «..r prc tar, o
morais e desafiou a complacência da a utori - Brecht adap tou Der H oftneister c m 1950. entusiastica me nte ad mi rado e m seus dia s de
p úblico. \"(:1' e o uvir, é ist o qu e tira niza 0." ad minis trad o -
dade até então inquestionada. No dram a, isto numa tent ativa de ren ovar o aspect o de críti- rc s l' ns dc s apo s:'> a de qualq uer j Uí / íl pró p rio . estudante e m Leipzig .
enco ntro u ex pr essão nu ma enfática din âmica ca soc ial da peça a parti r de um pont o de vista Ela mu si cara e ca ntara os versos de Di!'
da ação. Es ta passagem co nsta do exem p lar de mar - Fisch crin (As Pe sc ad or as) de Go e the qu and o
d o séc u lo XX . O Fra n kfu r te r g cl e h r tc
O mov im ent o tirou seu nome de S turnt um Anzr ige n (No tícias Doutas de Fran kfurt ) de ço de I R0 2 do Jo urn al drs Luxus u nd da encenad os e m 17 X2 no Parq ue de Tieíurt "c m
Drang do título altern arivo q ue C. Kaufmann 26 de j ulho de 1774 . e ntre ta nto. dec lar a va : M"d" 1I (J orn al do Lu xo e da Mod a), Q ue m a cenár io natu ral" - um a pitor esca pastoral e m
de \Vinterlhur , um ap ósto lo do movi men to, ha- "A peça inte ira transpi ra co nheci mc nto da na- esc reve u es tava profu ndam ent e en vo lvido no estilo roco có so b o c éu noturn o às marg en s d o
via dado ao dr am a D a lI'irn \'l/1T (A Co nfusão ) tureza hum an a" e : mai s sis te ma tica me nte pla nejado progr amu 11m .
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28. Apresentaç ão da peça lírk3 Die Fischrr in (As Pescad o ras ). de Goe the. no parqlh.::c m Ti cfun . 1782. Corona Schr õter
no papel títu lo . Aqua n..·la de G . M . Krau s [We ima r, C as telo T icfu rt}.

27. Cena de iphigen íe ouf Taur is, de Goethe: Iphigen ie, Orest es e Pyladcs. Desenho a giz d e Angc lika Kauffman
(Weimar, Mu seu Nacional Goethe).

29 . () palco c cc n.i rio s d o teat ro de Lau c b vtâdt , on de o Teat ro da Co ne de Weimar. so h a di rc ç ão d e Goethe . at uou no s
meses de verão d us a no s d e I l'\02 a 1806 .
H ís t ó ríu M u n d i a l d o Te u t ro • • A Er a da Cidadan ia Bu r g u cs u

A prima vera de 17l\3 marc ou () fim das re- Um no vo el en co fo i reun ido e fez sua es-
present ações amadoras de Goethe. Ele precisou tréi a so b a nova direção e m 7 de maio de 1791 .
de votar -se às obrigações de suas funções públi- co m Die Jiiger (Os Caça do res) de Iffl and. um
cas, especia lmente às finança s do Estado. das retrato dos cos tumes rur ais. Fo i o co meço de
qu ais havia se encarregado em 1782. De 1784 um importante qu art o de século da história do
em diant e, Joseph Bellomo e sua "Co mpanhia teatro alemão, so b a ad ministração e direçã o
de Comedi antes Alem ães" toma ram cont a da artí stic a de Goethe. O prólogo ao pro grama
vida teatral da cidade. Durante o invern o, três daquela noit e de abertura dava express ão do
espe t ác ulo s se manais eram pro gr am ad os na qu e ele tinha em vista : " Harmo nia da re pre -
Red outen-und Cornodienh aus em Weimar; no sentação inte ira " e " um belo todo co nj unta-
verão, o elenco de Bellomo apresentava-se nas mente rep resentad o" .
termas da Turíngia. especi alment e e m Lau- Já o g ra nde ato r-d iretor Ekhof ha via. al -
chstâd t, o nde ele adquirira um teat ro próprio, e gum tempo ant es, falado do "co nce rto" cê ni-
tam bém nas cidades de W. Eisenn ach , Go tha e coo G oethe, por sua vez, também gostava de
Erfurt , na Turíngia. (Em Goth a, sua trou pe teve retirar suas met áfo ras da música , co nfor me tes-
como rival por algum tempo a com pa nhia Seyler, temunha a seg uinte passagem a respeit o da arte
lider ada por Konrad Ekhof, que sobrevivera à de repre sent ar, e x traída de se u romance
bancarrota dos Empresários de Ham burgo.) Wilhelnz Mei st er: 30. O Teatro da Corte cm Weimar. na é poca de Goethe. Gra vur a de L. Hess.
Bellomo teve licença para usar livremen-
te a Redo ute n-und Cornõdienhaus de We imar, Não devemos ab or dar co m a mesma precisão e com
inc lusive, além do edifício, o equipam ent o de o mesmo espírito () nosso trab alho. já q ue praticamos uma tando mccanieamente se us ver sos". Ele se pro- Egm ont , de Goethe, especialmente p ara
arte muito mai s deli c ada do q ue q ualq ue r gê ne ro de mú- punha a escrever algumas peças, fazendo con- Iffland, c trab alhou com o ator na elaboração
ca le fação e iluminação - e também o ce nário
sica. já que somos ex ortados a dar lima re pres e ntação cessões razoáveis ao go sto co rre nte, e então do pap el. N aturalmente, o grande galardão nos
e decorações, dos quais, dentro de um co njun- saboro sa c in tc re ...sun tc das mai s co muns e ra ra s das ma-
verificar se os intérpretes pod eri am pouco a pap éi s de lffland - Fraz Moor, em Die Riiuber
to de sesse nta e nove iten s, faziam part e urn a ni fcstaço c s huma na s:
pou co aco stum ar-se a texto s métri co s mais so- (O s S alt eador es) de Schiller - tam bém e stava
casca ta pint ada e m papel ão, um a torr e de teci-
fisticados. no pro gr ama . Iffland cria ra o pap el na pr im ei-
do e um can o triunfal com du as rodas e um A ba se do "cs tilo de Weimar" , co rno co n-
Goethe não co nside ra va de modo algum ra apres e ntação de Die R ãuber em Ma nnhe im ,
vara l. O tesouro ducal co ntribuía co m qu aren- ce bido por Goeth e. e ra a lingu agem mét rica.
o palco de Weimar co mo instrume nto para se us e m 13 de jane iro de 1782. e por tod a a sua
ta táler s por mês para c us to s o pe rac io nais. Uma d istr ibui ção d isci plinada do verso e um a
pr óprios dramas. Uma vista d'olhos so bre o vida se ntiu q ue possuía um dir eit o e urn a liga-
Po rém a mais important e co ntribuição vinha estrutura o rdenada a 11m de fo rma r um lod o
repert óri o mostra qu e mesmo durante o perío- ção co m el e.
de "co nsideráveis subsídios dos co fres parti- pic tó rico parec ia-lh e esse ncia l para uma a pre-
do áureo de Weimar esse palc o fo i dominado No to tal, lffl and apareceu e m cato rze pa-
cu lares de vários me mb ros da fa míl ia d ucal" , sentação imagi nosa so bre (l palco. " Não ape-
pel o s " confecc ionadores" de peças para o go s- péi s di ve rsos, de pre fer ência em peças dc sua
qu e, e m troca, recebiam cadeiras reser vadas e na s imita r a natu re za , ma s re p re se n tá - Ia
to público, enca beçados po r Kot zebu e e, a um a pr ópria a utor ia. Estas eram exem plos de dr a-
en trada livre a qu alqu er hor a. ide alme nte" , e ra o q ue ele espera va de um a to r
ce rt a distância , Iffland , co m Goethe , Schiller, ma tri vial burg uês, qu e Goethe estava p redi s-
A Red out en -und Co m õd i e nh a u s de qu e. "assim. de veri a com binar ver dade e bele-
Sh ak espe are e Lessin g formando a ret aguar- po sto a aceit ar de maneira mai s indulgente do
We ima r, co ns tru ída em 17XO pr ó xim a ao za c m s ua atuaç ão" .
d a . No tr ab alh o refl et id o d o a to r Au gu st qu e Sc h ille r. A tent at iva de liga r lft1and per -
Wittumspa lais da duquesa-mãe A nna Amalia. Edu cam -se pel a arte - este era o g ra nde
W ilh elm Iffl and , Goe the via muito de se us manentement e a We imar falho u a pós prol on-
e ra um teatro da cidade e da co rte, co mo outros ideal de Goethe, qu e ele próprio pôs em pr áti -
próprios esforço s co loca dos e m prática; ele gadas negociaçõe s. Berlim ofereceu -lhe a d i-
tantos ex istentes alhures - nem pior, nem me- ca . A au to-ed uca ção co rno compree nd ida pelo
apresentava, co mo exe m plo par a o se u elen- re ção d o Te atro Nacion al Real. c é po ssí vel
lhor, se bem que sua aparê ncia ex te rna fosse olhar humanista da Grécia era o lem a de seu
co, " a intel igência co m a qu al es te excel ent e também qu e tivess e tom ado co nsc iê nc ia de
mais mod esta: " Não mais vistosa qu e a da rei- ro ma nce Wilhi'llll Mc istc r , dos dramas lphigcn ie
a rtista se mant ém di stant e de se us pap éis , faz qu ão po uco o es tilo artísti co de Wei ma r lhe
toria em nossa cidade" , coment ou desapontado e Tasso e, es se ncia lme nte, de Fausto , A voca-
um todo balanceado de cada um e pode retra- assentava . Na realidade , Schiller vale u-se da
o filho do maestro da corte , W. G . Go tthardi, ção do homem para a liberdad e mora l e a dig-
tar tanto o que é nobre co mo o que é comum, oportunid ad e e m 1796, em sua p aró di a
q uand o esteve pela primeira vez e m Weim ar, nidade, a "nobre inocê ncia c grande za silencio-
sempre artisticament e e co m beleza". Shakcspca res Schatten (A Sombra de Sh a kes-
Es ta e ra a situação que Go eth e e nco ntrou sa" de Winckelm ann enquanto uma definição peare ), pa ra ridi cul arizar os fabricantes de pe -
A temporada de um mê s de Iffland em
qu an d o, a pó s a dispensa da Companhi a de da beleza clássica - co m base nestas idéias era Weimar em abril de 1796 foi o primeiro gran- ças se nt ime ntais que, em vez de César, O res-
Bello mo e m 1791, o duque Carl A ugus t pe- possível construir obra s-primas da arte poética. de acontecimento so b a ad m in istração de te s o u Aquiles, levavam ao palco nada além de
d iu-lhe qu e assulllisse a dire ção do teat ro . Sua Mas como fic avam, no meio tempo, os prosai- Goethe. Schiller c a esposa vier am de Jena "clé rigos , homens de negócios , guarda-mari -
primeira reação foi c uidadosa: "Esto u co me- cos aspectos do trab alh o prático do teatro? (o nde ele ocupava um cargo de professor de nha s, sec re t ários ou majores de hu ssard os" , e
çando a trabalhar bastan te piano: tal vez saia. A p re ocupa ção im edi ata de Go ethe e ra história na Univ er sid ade). e a casa de Goethe c ujas m ai or es amb ições e ra m se r com ple ta -
finalm e nte , alguma co isa di sso, par a o púhli- tira r g rad ual me nte os ate res "do terr ível estilo e m Fraucnplan torn ou- se o ce ntro de co piosas mente populares, d omést ico s e bu rgu e se s .
co e para mim" roriue iro em qu e a ma iori a se aco mo dava reei - co nve rsas sobre o teatro . S c hi ller ad apt ou Sc h illc r qu eri a ver e m ce na " 0 g ra nde , g i-
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História M//lldi(J/ do Teatro. • A Era da Ci d n d a ní a Bu r g u c s a

gantesco destino, que exalta o homem mesmo cm agosto de 1799. Goethe publicou a carta O que irrita nos parágrafos de Goethe não em Weimar, em 2 de março de 1808, consti-
quando o esmaga", Os heróis de suas tragé- de Humboldt cm seu periódico Propylden em é o fato nem a época de sua redação (Konrad tuiu um fracasso catastrófico. A divisão em
dias foram Fausto, Don Carlos, Mary Stuart, 1800 com o título Ü/;er die gegellwdrtige Ekhof, também, havia começado sua promis- três aios desta peça tesamente construída em
Joana d' Arc e Wallcnstein. [ranrõsische tragische Biihuc (Sobre a cena um só ato foi apenas uma das razões. A causa
sora, embora de vida curta, academia de ato-
WallclIstcills Lager (O Acampamento de francesa atual). interior do malogro estava na cstaticidade do
res, em Schwerin, com um programa de vinte
Wallenstein) de Schiller (ao lado de Die Korsen O que Humboldt escreveu sobre a arte estilo wcimariano de jogo interpretativo e na
e quatro princípios), mas o formalismo con-
- Os Corsos - de Kotzebue) foi a peça esco- do celebrado atorTalma, que preservara a tra- indelével declamação aprendida no desem-
vencional das regras de postura e movimento.
lhida para a reabertura de gala do teatro de dição da Comédie Françaisc através do perío- penho do atar principal. Um dos integrantes
O parágrafo 43, por exemplo, reza:
Weimar, em 12 de outubro de 1798, após sua do da Revolução Francesa, pareceu a Goethe do elenco de Weimar, Anton Genast, escre-
reconstrução e redecoração pelo professor uma confirmação brilhante de seus próprios Uma bela e reflcttda postura - por exemplo. para veu: "A despeito de todas as descomposturas
Thouret. Em dezembro de 1799, Schiller mu- objetivos. "Se em outros atares pode-se de um jovem - é quando permaneço na quarta posição de de Goethe nos ensaios, não havia como tirá-
dou-se definitivamente para Weimar, Todas as vez em quando notar uma bela pintura, como dança, o peito e o COIVO todo virados para fora, e inclino
io (o ator principal) de seu ostentoso fluxo ora-
noites, ele e Goethe se encontravam para con- a cabeça levemente para o lado, fixo os olhos no solo c
dizem aqui", escreveu Humboldt, "sua (de tório".
deixo os braços penderem.
versar, e assim se iniciou a colaboração direta Talma) atuação mostra uma sequência inin- Semente lançada por Goethe... Este era o
entre ambos nas questões da criação dramáti- terrupta delas, um ritmo harmonioso de to- Mas há uma explicação para esse aparen- título de um panfleto publicado em 1808 pelo
ca e do teatro, dos os movimentos, pelos quais a coisa toda ator K. W. Reinhold, após sua demissão de
te pedantismo. Por trás se acha Noverre, cujas
Nesta época, Goethe havia começado a retorna de novo à natureza, embora muito des- famosas Lettres sur la Danse foram divulgadas Weimar. Vale a pena mencioná-lo, nem que seja
procurar um caminho de ligação com a tragé- te jeito de interpretar, tomado em detalhe, a na Alemanha desde 1769 na tradução que única e exclusivamente por ter induzido
dia clássica francesa. Desde os dias do Sturm deixe pra trás". Lessing fez, de vários excertos; e em volumes Gerhart Hauptmann em erro. quando ele o usou
IIl1d Drang e da influência de Herder em Em especial, Humboldt elogiava no esti- para escrever Die Ratten (Os Ratos). Nesta
inteiros das mais variadas discussões teóricas.
Estrasburgo, embora apreciasse Diderot c lo francês de atuação a perfeita harmonia es- Goethe os versou com domínio suficiente para peça, o diretor de teatro Hassenreuter profes-
Rousseau, rejeitava Voltaire. No entanto, in- tética de movimentos e gestos com a cadên- que, no parágrafo 90, ele os resumisse como sa "o catecismo dos atores de Goethe" como
teressou-se por Mahoniet e Tancrede, deste cia do verso, "os aspectos pictóricos do jogo se segue, inteiramente no espírito de Diderot: sendo o alfa e o ómega de suas convicções ar-
autor. Propôs a Schiller uma adaptação alemã da atuação". a justa proporção entre a graça c o ator deve "apropriar-se, conforme os seus tísticas. O parceiro de Hassenreuter nos diálo-
de Mithridatc de Racine c do Cid de Corneille. a dignidade que Goethe lutava com tanta fir- significados, de todas essas regras técnicas. e gos, o jovem estudante de teologia Spitta, re-
A sugestão originalmente viera de Wilhelm meza para atingir no palco de Weimar. deve sempre aplicá-las, de modo que se tor- jeita as regras de Goethe como "completo dis-
von Humboldt, numa longa carta sobre o tea- O trabalho diário de Goethe, no tocante nem um hábito. A rigidez deve desaparecer e parate mumificado". O Spitta de Hauptmann
tro que ele havia escrito a Goethe de Paris, ao teatro, é documentado em seu famoso, ou a regra tornar-se meramente a secreta linha exclama triunfalmente:
famigerado, Rrgeln [iir Schauspiclrr (Regras mestra da ação viva".
para o Ator), que Eckennann coletou em 1824 Goethe estava bem consciente do perigo E o que dizer se ele decretar: "Todo ntor, indepen-
a partir de notas dispersas em pedaços soltos dentemente do personagem que representa, precisa -
do maneirismo frígido. Sua máxima "primei-
cu cito suas palavras - 'precisa mostrar algo de cnniba-
de papel e que, com a aprovação de Goethe, ro belo e depois verdadeiro" levou a um tipo listico em sua fisionomia' - estas foram suas palavras-
reuniu em noventa e um parágrafos. As re- de estilização que se tornou uma camisa de 'alguma coisa que nos lembre imediatamente a alta tra-
gras referem-se a questões tais como técnica força. Eduard Dcvrient apontou por certo um gédia'''.
da fala, recitação e declamação, postura do importante critério do trabalho de Goethe
corpo, atuação conjunta e, ponto repetido para o teatro, cm Geschichte der deutschen Hauptmann expôs seu ponto de vista alta-
exaustivamente. agrupamentos em quadros Schauspielkunst (História da Arte do Teatro mente teatral, mas Goethe é inocente da impu-
estilizados. As regras de Goethe têm muitos Alemão). Ele argumentava que a "abordagem tação. A fonte, conforme Hans Knudsen pro-
predecessores e sucessores no teatro univer- poética e crítica" preponderava e que Goethe, vou, não é Goethe, porém o panfleto de
sal para serem lembradas como excepcionais. a despeito de seu fino sentido para a arte do Reinhold, Saat \'011 Gothe Gcsiiet dem Tage der
Gramáticas da arte da atuação existiram em desempenho, "não sentia sua pulsação". Garben ZlI reifen. Ein Handbuch fiir Asthetiker
todas as épocas cm que a reflexão crítica foi As teses de Goethe na estética do teatro undjungc Schallspieler(Sementcs Lançadas por
mais forte que a vitalidade mímica e o inte- formaram uma concepção básica da arte clás- Goethe para Amadurecerem no Dia dos Feixes.
lecto ponderador mais pesado do que a emo- sica de escrever e montar peças teatrais, que Um Manual para Estetas e Jovens Atores).
ção espontânea. serviram de pedra de toque para gerações fu- Após a prematura morte de Schiller (em
turas. Elas causaram algumas violações, como, 1805, aos quarenta e seis anos), Goethe conti-
por exemplo, nas adaptações de Shakespeare nuou no caminho que haviam percorrido jun-
em Weimar; e falhavam completamente quan- tos, sem ceder em nenhum de seus princípios.
") J lffland IlO pape 1de Nuth.m crn Xi/lhi/II de!" \\l'is('
tNnt.ur. () Sáhiol dl' Le",.,ill~. /\gua-fonc da xcric /ff7(1//(!.' do um espírito independente irrompia no an- E assim cresceu o conflito entre Weimar e a
/\/illlis('/IC [)UI".\"1I'lIl1l1gl'JL do." Inll;los Hcnschel. Berlim. seio apolíneo pela harmonia. Der rcrbrochene escola de Hamburgo, cujo objetivo supremo
I K II Krug (A Bilha Quebrada) de Kleist encenada era a representação realista. A principal figura
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H ís t or í a M u n d ial do Tv u t ro •

no te atro hamburgu ês era e nt ão Friedr ich nos paí ses de lín gu a a lemã, ambas torn aram-
L udw ig Schr õder , o grande int érp ret e de se foco do desenv ol vim ent o e do destin o da
Shake speare e chefe de co mpanhia, c uja força heran ça cl ássica e das fo rmas c1assici stas.
era a indi vidu aliza ção das perso nage ns. De
início, tão logo ass umiu o teatro de Weimar, B erlim
Goe the fez diversos contatos co m Sc hr õder e
ficou intere ssado no sistema de direit os auto- Qu ando Sch iller esteve em Berlim em
rais e de divisão de lucro s que este últ imo ha- maio de 1804 , pa ssava as noites no teatro, des-
via intr oduzido em Hamburgo, como tam bém frutando de um progr am a metropolitan o qu e
em sua org anização financeira; mas no que oferecia generosas produ ções de Mozart e de
dizia re spe ito ao estilo individualista e reali sta Gluck , e um repertório dramátic o no qual o
de interpretação da esc ol a hamburgu e sa, dram aturgo de maior sucesso era... Sch iller.
Weim ar não fez nenhuma concessão. A incom- lffland , o diretor do teatro, ence nou suas
patibilidade dessas duas concepções artísticas, mais ambicio sas produ ções para o convidado
tão basicam ente diferentes que deixaram ambas de Weim ar: Di e Braut \'on Messina (A Noi va
sua marca no século, foi o assunto de um acalo- de Me s sina ) e a brilhant e mo nt ag e m de
rado deb ate ainda em vida de Goethe e Schr õder, Jungfrau VOII Orl ean s (A Donzela de Orlcans),
e também muito tempo depois. "Se e como as que fora uma font e de dinhe iro dur ante os úl-
escolas de Weimar e Hamburgo podem ser re- timos três anos. O clím ax da noite era o quarto
concili ada s", escreveu Heinrich Laub e, "esta é ato com os cenários da catedral neogótica e o
a verd adeira substância de tudo o que preocupa cortejo da coroação co m duzen tas pessoas. "O
os ami gos que se dedicam honesta e reflet ida- esplendor da apresent ação é mais que régio",
mente ao teatro alemão, desde o co meço do sé- entusias mou-se K. F. Zelter , "e . incluindo a 32. Cen a de Wall ellslclwi ú lge l" (O Aca mpame nto de Wallenstei n ) de Sc hi lle r. a prese ntada pela prim eir a vez e m 12
culo" . música e tod o o resto, de efe ito tão notável de outubro de 1798. na rea be rtura do teat ro de Wei mar reconstr uído . Gravura co lorid a de L C . E. M ull er. a partir de G .
Sc hrõd er morreu em 1816. Goeth e aba n- tvL Kr aux.
que a platéia entrava em êxtase a toda hora" .
don ou o teatro em 1817. Havia intriga dem ais O crítico teatral do Biirgcrblatt de Berlim atre-
para se u gosto. Quando Caroline Jagemann . a veu-se a usar a atributo "sensacional". Schiller
First lady que dominava o teatro e o co ração reagiu de maneira bem mais fria. A suntuosa
do duqu e, teve o gosto do triunfo e viu acei ta a parad a da coroa ção , deci diu ele, sufocava a
pe ça de um gru po vis ita nte rej eit ad a por peça: o públi co havia visto o "cortejo" c não a
Go ethe , Der Hund dcs A II!>n- de Mout-Didicr "Donzela", Assim tam bém reclamou outro ra
(O Ca cho rro de Aubry de Mont-Di dier), ele Lope de Vega qu ando viu seus versos submer-
pediu imediata demi ssão do cargo. Em 12 de girem na maquinari a cê nica do barroco .
abril de 1817 , o ator Karsten subiu ao palco Mas pa ra Iffl and , desde novem b ro de
com se u poodle adestrado, e em 13 de ab ril o 1796 dirctor do Teatro Real Nacional, () apa -
duque Carl August, a contragosto. leve de anuir ralo exte rno e ra part e de sua co nce p ção de
ao desej o de Herr Geheimrat e Staalmin ister da j ogo teatral . C o nhec ia se u públ ico c sabia
Intendência do Teatro da Corte, de ser dispen- como conquistá-lo . "O qu e é passional. rom ân-
sado dessa função. Assim terminou a grande era tico c suntuoso afeta a todo s, enaltece as emo-
do teatro de Weim ar sob a direção de Goe the. ções dos melh ores e ocu pa os sentidos da mul-
Durante a noite de 21 para 22 de março de 1825. tidão", havia el e esc rito a Schiller em 30 de
o edifício foi destruído por um incênd io. abril de 1803 e, referindo-se a Jungfrau von
Goeth e recebeu a notícia calm am ent e na- Orleans, chamou a atenção do autor para o
que le momento, pois não estava nem um pou- fato de que dado <.jue a bilhet eria ganha consi-
co interessado no trabalho prático do teatro. deravelmente com es petácu los deste gênero.
Suas idéi a s não estavam presa s a nenhu ma ela pôde fazer mai s pel os autores de peças , do
casa . As met as propostas e as reali zações e fc- que antes. Iffland suger iu a Schiller <.jU C con-
tundas no se u exercício da inte ndên ci a tea- duzisse impercept ivelm ent e se u espírito livre
tral co nt inuaram a exercer influ ênc ia diret a c c sobrepairantc na di re ção de um assunt o não
33 . Cena da mom aecm n ct I Il H.'n ",I.' de Hümlrt , l' 1II 177X: J. E Broc knuuru co mo Haml et c K. M. no.. -bbe lin co rno
às vezes indircta no teatro ale mão . Berlim e excess ivame nte ubstrato, "As enormes despe- O fé lia . G ravura de' D. Úc rgcl. ii p;trli r d I,.' Dan iel L'hodowiec ki. Ikrlilll. 17XO Ido liv ro I k u h e/ Il' Scha nspicícr. Sc bri n c n
Vien a tinham es tre itas ligações co m Wei mar: sas op erativas força m -me a nma aprox imação " , -"r Cit.' sdlscha fl fürTl u-ate rgcvcl uc-lu,-. \ 0 1. IX. Be rlim. 190 7 1.

• 420
• A E ra "(I Cida d an i a l íurg ncv u
prát ica da s co isas do es p írito . Posso al cg ar ex ib ir sua arte " , pode mo s ler no A III /{/l cl1 de
c o m o de sculpa a pe na s q uc es to u tentando IR02. "A zo na rural de Nic éia é um e nsejo par a
co m binar os interesses do dra ma tu rgo co m os esplê ndidas e românticas pinturas: Vero na re-
d a bi lhe teria" , velo u-se um mest re do ce nário, porqu e a deco-
E st es era m os pri nc íp ios fra nca men te ração é pod ero sa, rica, varia da e cintilante ."
ad mi tido s de um hom em q ue foi tão bom ad- Enquanto G oeth e, no estrito ce nár io e co m
m inistra do r qu ant o art ista . E m troca de um o ap e rtado o rç a me nto de Weima r, pr eci sa va
salário de três mil t áler s por a no e um a apre- pe nsa r c uida dosame nte no equilíbrio da s des-
se ntação benefi cient e a nua l. sua tar efa, co n- pesas e dos lucr os, Iffland tinh a plen os pode -
forme de finida pelo rei Frederico Gu ilherme res, O ce nó g ra fo Ba rto lomeo Vero na era ve r-
II, e m sua ordem no Con se lho de 1796, e ra: s átil o sufi ciente para ir ao enco ntro de tod os
os desejos altame nte subje tivos de Iffland .
o se nhor não devorani sua ate nção exc lus iva ne m à Iftl and d irigiu o Teatro Nacio nal de Berli m
ópe ra . nem ao drama. Ame s, ded ica nd o igual co nside ra - até sua mor te e m 1814 . Foi ence nado r, ator e
ção à s d ua s art es irmã x. devera tent a r m an te r UIIl cquih-
viajo u e m tum ês. Em es treita co labora ção co m
brio g lo bal. Tan to na opera q uanto no d ram a. procu re
va riar a d istrib uição de pap éis. ~ fim d l' ap rese ntar ta len -
Sc hiller e Goe the , co ube- lhe o mérit o de ele var
tos reconhecidos e revel ar os qu e brota m. e sa lva r o atol' a dir e ção teat ral à categoria de art e, Qu e tenha
d a neg ligê ncia, e o púb lico . do tédi o defi nitivo" custeado o d ia-a-d ia do teatro com peças po pu-
lares do repert óri o sentimental corrente; qu e não
Até 180 I, O velh o teatro na Behrenstrasse tenha enco ntrad o uma chave de acesso a Kle ist
estava em funcionamen to . Nel e, a Minna von e qu e tenha aco lhido com reserva as obras dos
Barnhelm de Lessin g e o GOIZ \ '011 Berlich ing en rom ânti cos - es tas foram falhas qu e parti lho u
de Goethe haviam ganhado o a pla uso do públi- co m Weimar. Um ano antes de sua morte, Iftland
co be rlinense, e foi neste teatro q ue Ca rl Th eophil cham o u a Berlim Ludwig Devrient, um ato r c uja
D õbbelin iniciou e term inou sua ca rreira de di- arte e ra toda mi stério fantástico, paixão e fasci-
reter-e mpres ário . O rei co m pro u sua pa rticipa- nação demoníaca - em crasso co ntras te co m o
ção toda no ativo da sociedade po r q uato rze mil seu pró prio mo do de representar. lffl and , o in -
t álers e a integro u no Teat ro Na c ional. té rp re tc pautado pelo intelecto qu e tinh a e m
Em I" de j aneiro de 180 2. ltfl an d mud ou- vista a " pintu ra dos sentime ntos" . c uja preo cu-
se pa ra um a nova e es paç os a casa de es pc t ácu- pação estava no efei to pol ifôn ico do mim o e do
los. Suas poltronas inclin ad as e três ga lerias gesto. recon hecia o gê nio deste conflit uoso in-
aco mo davam dois mil espec tadores. Loca liza- t érprct e do horr or,
va- se na Genda nuenmark t e fora co nstruída Iffland não vive u para ver o debut de Oe-
por Langh ans, o Velho ; um ed ifíc io de a mplas vrient e m Berlim. Um novo Fran z Moor pisou
insta lações co m por ta l cl.issic» . no palc o. "um mon stro espreitante arma do de
IfIland pro me teu a seu pa tro no real Frede- ve ne no s e punh ais" , um gê nio au tod est ru tivo,
ri co G uilherm e III prod uzir "o mel hor teat ro ale- um ex poe nte do rom ântico - de mo níaco gos to
mão no mais fino edifício teat ral " , O rei e sua pela vida, o co m pa nheiro de E, T. A, Hoffmann ,
es posa, a rainh a Lu ísa, co m pa rece ra m iI inau-
g uração de gala. Iftl and reci to u um pról ogo que
expressava sua gratidã o. Seg uiu-se uma apre-
sentação de Dic Krcuzfahrer (Os Cruzados) de
Kotz ebue. Isto deu a lffland a oportunidade de
ex ibir o esplendor co mp leto de sua vistosa de-
cor a ção . "A peça con fere ao ce nóg rafo uma
opo rt unidade qua se ininterrupta e brilhante de

34 . Co rtejo so le ne d'l cor oa ção n a l:I lo: n :u; ão til' lfff und de /)it' ." ",gI ra u n m Urlcans tA D Oll l. l'b til' t Ir h-an x) de 35. I.u dwi g Dt':n i L'11I l 'P l lI O h ":lIll i\ 11)1}1 11o "" INlll hc l"
(O S Sa ln-ad o n-s ). d r Sc-h iller. l . i l ' } ~ I ;I \"llra da l·pOl'a .
Sch ille r: da <)u<.I 1 Schiller disse , <.II)()S sua v i, ilól a Berlim ( IXO---t ), "q ue haviam re pres en tado II cor te jo. c 1I:i.1) a Do nzela".
G ravu ra de E Jugcl . a partir de H. D:lhliny. Hcrfiru. c. I XI S.

· n ./
ií i s t o riü MUI/ di al d o T e a t ro .
• ..\ Era do Cíd u d o n ía Bu rg u cs u

bebendo noit e aden tro na adega de vinho de O teat ro construído por Langhans. o Ve- Weimar. O príncipe Harde nberg indicou o con- Mcrk ur. Ma s o imperador José II fo i ba stante
Lutter e Wegne r - Falstaff e Mefi st óícles em um. lho. na Gendannenmarkt em Ber lim . compar- de Brü h l para dire tor-ge ral dos teatros reais em sagaz. e bast ante v ie ne nse, par a não sacrificar
Apó s a mo rte de lffland, o cond e Karl Briihl tilhou o destino de muito s de seus contempo- 181 5 e, segundo se re lata, leria di to as seg u in- o ja rd im florid o da tradição do teatro popu lar
assumiu a administração do Teatro de Berlim em râneos Te mpl os da Mu sa. aos quais ve las de tes palavras : " Faça deste o melhor teatro da ii no va e ambiciosa insti tu ição c ultural. Todas
18 15 . Ele co ntra tou como cenó grafo o grande sebo e ca nde labros ca usaram desas tres : ince n- Ale m an ha e diga -me qu ant o cus ta" . O ed ifí- as f igura s folc lóricas das qu a is J o s e ph
arquiteto cl ássico , planejador de cidades e pintor dio u-se em 18 17 . Para subs tituí-lo. Sc hinke l de - cio de Sc hinkel no Ge ndannenmark t foi com- Sonnenfe ls teria c om tant o gos to se livrad o.
Karl Friedri ch Schinkel, tentou adaptar o estilo senho u um novo e representativo edifício clás- ple tamente destru ído em 1944 : sua re co nstm - tod os os Kaperls e Stabcrls e Th addãdls (arle-
dos figurino s a cada drama individualmente e. sico, co mbinando de liberada devoção à revi- ção co m eço u em 1967. qui ns na tivo s e pe rso nage ns bufas) conti nu a-
no 1000. estava preoc upado com a "exatidão his- vência do esti lo grego com o funcionali smo em vam a v ive r a legremen te no s teat ro s subu rba-
tórica e geográfica" da decoração. conforme A. grande escala. Goethe seg uiu os trabalho s de Vic n a nos - sob La ro ch e, no teatro em Leopo ld stadt,
W. Schlegel exigira em sqas confe rências sobre aca bamento com g ra nde interesse, conforme sob J . A . G leic h e Adolf B ãuer le no teat ro em
arte dram árica . Nomes como os de C la ude evide ncia sua correspondência de Weimar com O terceiro vé rtice do triâ ng ulo do tea tro de r Jo sefs tadt , at é num nível ma is e levado. na
Lorrain, Poussin e Ruysdacl começ aram a vir à o co nde Brühl e Sc hinkel em Berlim. A inau- cl ás sico a lemão foi Viena. Aqui foram dados co méd ia de conto de fadas e magia de R a i-
baila como modelos para décors tea trais. guração so le ne, cm 26 de maio de 1821. fo i os pr ime iros pas sos rumo a um tea tro nac io - mund e na espirit uo sa sá tira local de Ne stroy.
Schinkel criou . em 1816. o ce nário para A dominada pe la tríade: A ntig üidade, Weimar e na l na época de Lcssing . Quand o. em 1776 . o O D OII Gio\'Qlllli de Mozart teve uma re-
Flauta Mágica de Mozart. e consegui u fama Berlim. Começou com um pró logo . escrito po r impera dor Jo sé II elevo u o st atus de H aus an cepção fr ia no Burgtheater em ma io de 17 88 .
mundial com o firma mento maj estoso e estrela- Goe the. seguido por sua Iph igenie auf Tau r is, der B urg para o de teatro naci on a l e imperial. Se u libret ist a Lore nzo da Pont e le mbra o co -
do. a imponente esfinge. a misterio sa arqui tetura emoldur ada pela ab ert ura de Ifig ênia cm Áulis Lessing te ve a esperança de que se lh e abria ment ário ap o logético do imp er ad or : '-A óper a
de pedra ce rca nd o o salão do tem plo ant igo . de Gluck, e co ncluída com um balé c hamado u m novo campo de atuação no Da n úb io , de é d ivina. tal ve z mais bonita aind a do qu e
Aq uilo que Goethe havia desenhado para o Tea- Die Rosenfee (A Fa da das Rosas) , do duque q ue uma nomeação o capacitas se a participar Figa ro, mas não é co m ida para os den tes do s
tro de Weimar co m a modesta intensidade de sua Karl de Mecklen burg , irmão da rainha Luísa. da formação de uma inst ituição central d e cul- meu s vienen ses" .
peq uena escala era prodig amente realizado em Goethe rec eb eu o co nvite para hon rar a oca- tura e de progr esso cu ltural no espírito do idea- Co nt udo. foi prec isame nte no do m íni o
Berlim pela ce nogra fia de Schinke l. Goe the to- sião co m sua p rese nça . mas. a pre texto da ida- lism o hum an o, tal com o Klop sto ck havia so - da ó pe ra qu e Vie na co nq uisto u seus m érito s
car a a melodia, Schinkel a elaborou numa parti- de , rec usou (tinha setenta e doi s ano s) . Ele se m - nhado . mais rel e vant e s du rante as primeiras d écad a s
tura completa. Os croqu is do templo jôni co de A pre fe licit ara se us amigo s de Ber lim por suas O imperador incumbiu se u tea tro da tare- de sc u Tea tro Na ciona l. Acolheu as reform as
Flauta Mágica trazem à mente o pórtico do pe- maiores possibilidades e pe la "va ntage m de fa d e "d isse m inar o bom gosto e o rcfinamen- de Gluck , difundiu a fama de Mozart e , e m
queno e antigo Te mplo de Diana em Assis. cuj a perte ncer a um g ra nd e Estad o" . e e le pode lO do s cos tu mes". Sua administra çüo foi con-
180X. mo ntou uma bri lhan te ap rese nta ção d e
harm oni a parecia perfeita a Goethe. e nqua nto e le muito bem ter se poupad o tamb ém en tão da fiada a um co lég io go verna mc ntul de c inco pes- ga la d a Cria ç ão de Ha yd n, E a especifi ca-
não tinha nada de bom a dizer a respeit o das expe riência de efetuar pessoalm ente a co m pa - so as. O a to r J. H. F. MUller foi inc u m bido de ment e v ie nen se o p era buffa co m bino u todo s
"s ubco nstruções góticas" do grand e mon ast ério. ração co m seu pr ópri o e "p equ eno mundo" de realizar u m a viage m explorat ória pe la A lema- o s e lem en to s m ágico s e exótico s q uc a lc a n-
nha a fim de pro curar j oven s talent o s . ça ra m a té E . T. A . Hoffmann, Carl Maria vo n
Ele en controu Lessin g e m Wo lfenb ünel . Web er e Albert Lo rtzing na ópe ra rom ân ti c a ,
q ue lhe d isse: e c uj o s ves tíg io s se e nc o ntram também no
Fidclio de Bee thove n.
E u e ... tnvn p n: t1 i:-. po~1O co ntra II pa lco ti l..' Vien a. po r- A s de ci s ões co nc e rn entes ao progr ama .
q ue l i c m d ivc rs o-, panfl eto s dc:sl."ri,·ú,,:s ( I' ll' u úo ': 1"1.1 111 a-, escu la ção de e le nco e co ntratos ficavam a car -
me lhor e :'> . Agora vo ltei alr;b c m nun ha o p iu iáo co nce bi- go d a comi ss ão d o s cinco nomeados pe lo im-
da . co mo (1 se n hor mesm o pôd e \ 'e: r (L c s si ll ~ havia es ta-
pe rador. Â in st ân cia s upre ma, po rém . co n ti-
d o c ru Vie-na no a nil ant eri o r. c ru 17 76 . c u vc ra 1I111 ~t re-
<: ~ P," üo e Hl lls i <istic a ). Ainda L1ha 1l111it ;1 ço i ~a . mas (I tea -
nuou se ndo el e próprio. Ele intervi nha, no tra-
Iro é me lhor qll~ qualquer outro '111\.' co n heç o ba lho teatra l p r.iti co . com sugestões e in stru -
ções. Ha via nece ssidade de mais ensa io s. e
E le d eu ao proj eto do Teat ro Naciona l de ensaio s ma is intensivos; na di st ribuição d e
Vien a priori dade sob re Man nheim , onde tam - pa pé is para cs pc tá c ulo s importantes cu mpri a
bé m se cogitava ter a co laboraç ão de Lc ssing , preve r u ma dupl a ind ica ção (titulares e sub sti -
porque Mannheim , disse e le. não co nta va com tuto s ). e o s direitos de prioridade dev eri a m se r
um a populaçã o suficientem ent e gr a nde pa ra le- observados : a responsa bilidade pel o fu nc io na-
va n tar o s re cur sos nece ssário s para ta l e m - me nto desimpedido dos trabalhos no tea tro de-
pr cendi mento . ve ria se r alt ernad a de acordo com um a lis ta
" Vie na deve se r par a a A leman ha o q ue se m a na l d e re ve zamen to .- um sis te m a d e
Pa ri s é para a Fran ça" . esc re ve u Wi c laud. por slllg<'lI/ lI l/lIgc r - por co inc idê nc ia aq uele qu e
3tl. Das NC lIl' Sc hau xpiclhauv c m Berlim . 110 Gcndan ucmu urkt. proje tada po r Karl l-ricd ric h Sc hink cl c con vnufda
c m 1821. Dese nho de Berger. gruv urn por Nor nm.l Soh u s ua ve z. c m sua revi sta litc r.iria Drr Tcntschc Goethe ad ot ara e m Weimar,

· 424 • -125
• :\ Era d u Cí d u d u n i a R l/ rgu l' .\lI

A irnprovisão de qualquer tipo foi daí por dade entre os objc tivos de Goethe e Schr õder,
diant e estritament e banid a do Holf und Natio- perdeu algo de sua agude za em Viena. Schrõde r
naltheather. Em suas instruções aos more s, José temperou sc u estilo da naturalidade no Burg-
II es tabe lec ia ex plicitamente: theuter, e não perdeu a op ortun idade de e nce -
nar suas próprias tragédias burguesas e ada p-
A nin g uém é pe rm itido deliberada ment e ad icio nar tações.
qualque r co isa a se u pa pel. alter â-lo ou em pre gar ges to s Um elo imedi ato entre Weimar e Vien a es-
incon ve nient es : ao con tr ário. todos devem man te r-se ex -
tabeleceu-se na pessoa de Joseph Schreyvoge],
c lus ivameurc nos le rm os presc ritos pel o a utor c auto riza -
dos pe la ce ns ura imperi al e do teatro rea l: no C I :-.O de dramaturgo e guard ião art ístico do Burgtheater
iufraç ào. o ofe nsor ê m ultado cm 1/8 dl) seu saki rio me nsal. de 1815 a 1832 . Ele havi a vivido por três anos
na cidade universitária turin giana de Jena , es-
Se , no entanto, o texto do drama turgo de- crito para o Jenaer Litcraturreitung e respirado
via ser respeitado, assim tamb ém devi a ser a a atmosfera intelec tua l de Schiller e Goethe.
aut oridade do cen sor, que eventua lme nte as - Apurara sua crític a no exe mplo do estilo tea -
sumia prop orções grotescas. Kabalc und Lieb e tral de Weim ar e ha via refl etido sobre a ag uda
(Intri ga e Amor) de Schiller escapou de ser disparid ade e ntre o so brepuja nte pod er de
rebatizada Kabale und Neiguug (Intriga e Afei- Goeth e como poeta e a medio crid ade do tea-
ção) por um triz. Mas o censo r topou com um tro de Weimar. Mas, apó s dois anos de seu pró-
outro problema: o presidente teve que tornar- prio trabalh o de Sísifo no teatro, seu jul garnen-
se tio de Ferdinando, porque sua atitude para to abra ndou- se subs tanc ialmente.
com o filho era indi gna de um pai. E assim o Joseph Sc hreyvogcl construiu sistemati-
texto de Schiller precisou ser ret ificado, de for- cament e um rep ert ório no Burgtheater de Vie-
ma que a fala de Ferdinando decl amada em na, nos moldes do " teatro universal" de Goeth e.
37. Ca ste lo de Thurneck. De senho de ce nário de Karl F ricdri ch Schinkcl para a peç a de Kl c ist. K ãtchen wm Heilbronn;
en ce nada na Ko nig lich e Scbauspilh aus.. Berl im . 1H24. Aq ua rela de Dietri ch , Viena soou assim : "Existe uma região em meu Como editor do Sonntagsbla tt de Vien a, até
coração onde a palavra tio nunca pen crrou .;" 181l> , ele ten tou ao mesmo temp o educar seu
Enqu ant o em Berlim , sob a oc upação fran- público. O grande dram atur go austríaco G rill-
ces a. Iftland pudera, sem maiores entraves, ap e- parzcr recon heceu dever suas primeiras rela-
lar para sentimentos patrióticos com sua ence- ções co m o mu ndo intel ectu al de Weim ar in-
nação do 1\ ~l!lel/sfeills Lager. o cen so r napoleó- teiramente a Sc hre yvo ge l e se us ar tigos e crí-
nico em Viena suspeitou de conspiraçã o c m ticas no So nntags blat t,
Fidrlio , e a permi ssão par.!o espetáculo foi dada Em matéria de trab alho teatr al pr át ico,
apenas no últim o mome nto. (Wiela nd Wagner Schreyvoge l persegui a obje tivos inteira me nte
saliento u, e m sua mont agem de sta ob ra e m pessoais. Não seguia nem o estilo declamatório
Stuugart, em 1954 . o que a vienense. e m I X05. de Weimar, nem o es tilo cspe iac ular de Be rlim.
encobrira : fez co m qu e o govern ad o r Don Seu manda mento ex ig ia a piasmação interp rc -
Pizarro ap are cesse em máscara de Na poleão .) tativa do pape l a part ir "de dentro", idéia esta
Friedrich Lud wig Schrôder foi c hama do fortem ent e influenciad a pela s no ções rom ân -
de Hambu rgo e m 17l> I, e levo u par a Bu rg- ticas. Sc hrey vog e l levou A III1Irall (Av6 ) de
theat er o ard or passional do estilo d o St u rnt Grillparze r e sua lírica e melan cólica Sa p pho,
und Drung : Uma onda de probl em as art íst ico s So phie Sc hrõdc r foi e log iada pelo rom ânt ico
agora envolvi a a esco la de Viena. "To da Viena sueco P. D. A. A uerbo rn por haver co mpree n-
é testemunha da mud ança que tomou conta da dido "a música to tal da poesia em suas SOl 11-
interpretação de sde qu e cheg uei" . e screveu bras ma is sutis " e por tê-Ia expressad o em
Schrõder numa cart a ao diretor Dalberg, do "sons ce lestiais".
teatro de Mannheim. Naquil o qu e Goethe falhara em Weimar e
Schrodcr pret endia com unica r a todos os ltfland cm Berlim, Schreyvogel realizou e m
ateres alemães " naturalidade e verdade", que Viena : estabe lec eu a fama dramática de Klcist.
eram os própri os mand amentos aos qu ais o sé- Conse guiu est rear com suce sso Der Prin; \'(lll
culo int eir o se dedi ca ra. La 1/(/f1lJ'<' ct lc vra i, Hombu rg (O Prín cipe de Hamburgo) - so b o
haviam sido os ideais de Voltaire. Mas, em con- ritulo D ic SCh /Oc/U I'(l1l Fehrbellin (A Batalha
38. Palco qu ad ripartite de Das Haus da li.-'",/ It' I W/It 'JJt C (Â Casa dos Temperam e ntos) de Nestro y, Gravura colorida de A.
Geiger. a partir de J. C. Schoc llcr, c u raido UI ) Uí,·w ',. nU'at" J~állUlg de Adolf Bàuerle , IR38.
traste co m Weim ar, a aparente incorupntihih- de Fehrbellin l. co mo insistiu a censura - c as-

• .J2'i
H is t ór ío Mun lJial d, » Tva t ro • • Ao Er a d a C ídn d n n i u Il lfr ~lI c HI

sim tornar uma presença viv a no palco um tenha se apress ad o a assi stir à premicrc, pois Sc h lcge l O chamo u. manteve -se a meio ca mi- ciam uma boa visão e habi litavam o palco, que
herói que , so b o radiante pod er de triunfar, re- comentou : "a ce ns ura pode em seguida encon- nho en tre o esti lo tableau de Weimar e os sun- estava ind o de encontro ao reali sm o, a te r a
ve la o re ve rs o h uma no, o med o da morte . trar um cabelo na so pa e proibir a peça, e eu tuo so s cortejos de Berlim. O orça me nto , se m- incl in ação requer id a para adequ ar o ce n ário .
Philipp vo n Stubcnrauch, um ex perimentado não conseguiria vê -Ia" . pre lamentado pela exigiiidade de sua dot açã o.
peri to em todos os esti los de é pocas, a cujo Em se us princípios básico s, o estilo do podi a se r es ticado o bast ante para permitir pro -
eargo es tiveram os eenários dos teatros impe- Burgtheater vienense caminhava bastante pró- duções muito respeitáveis. Schreyvoge l equ i- R OI\IANTlSM O
riai s de Vien a nos anos de 1810-1 848, vestiu o ximo aos ideai s de We imar, e a cena do Da- pou a m aioria das peças com ce ná rios e um
eleneo em un ifor mes fielmente co piados da núbio es tava igualme nte preocupada com os ga rde-robe de sua próp ria autoria e - aux ilia- Um certo número de defi nições teóricas
época do Gr ande Eleitor. Schreyvogel, poré m , arra njos pictóri cos . Isto se evidenci a numa des- do por um consider ável jnn.àc, in st ructus, co- freq üente rnente citadas foram propostas para
precavidamente apressou-se a oferecer a seu crição da celebrada atriz Soph ic Schrõder na mo conta o ator Heinrich An sch ütz - co m um di stin guir o cl assici smo do romanti smo . Pa-
público não apenas o Klei st "pruss ia no" , ma s revista Europa : estoq ue permanente, espec ialme nte de figurinos. re s de contrastes tai s como lei e gê nio , inte-
também, logo depois, o inspir ado poeta român- O palco do velho Burgtheatcr medi a qua- lecro e e mo ção, forma fechada e aberta, co m-
tico de Kiithchen 1'01 1 Heilbronn, como um Ela esteve co move nte c emocionante, emoc ionante se 9 m de larg ura por 12 m de profundidade, e, plei eza e infinitude, art e obj etiva e subjetiv a ,
prato pa lat áve l, nada probl em átic o. até o ponto do te rror. Suas posturas foram belame nte cal-
com o au xílio da ce na curta e lon ga, podi a ef e- tod as to cam a pe na s as pec tos par ci ai s . tal
culadas; mesm o nas ma is ousadas, nunca excedeu os li-
Schreyvogcl dem onstrou um infalível sen- tivam e ntc forn ecer um a ilusão de profundida- co mo a po lêmic a o bse rvaç ão de Goe the : " O
mit e s da bele za. Se mp re pr ojetou um a co mpos ição
so de qualidade artística no decurso de seus pictorial: o jogo com seu manto, a queda de lima dob ra . de . Em adição às costume iras per specti va s c l áss ico é o qu e é saudá vel, o rom ant ism o é o
dezoito anos como "secretário e co nsultor" do tudo foi cui da dosame nt e e studa do . diagonai s no estilo de Gali -Bibiena, o pintor q ue é doente".
Burgtheater, o que assegurou a este um reper- da cone e membro da Academia Imperial de Entrementes, con cordou-se e m de sligar
tó rio do s mais exige ntes. Incluía Shakespeare Goethe nun ca veio a Viena, mas teria acha- Artes. Jose ph Platzer, que começ ar a a tra ba- os doi s conceito s de sua po laridade hosti l. E
e Ho lberg, Goethe e Schiller , C a lde r ón e Go l- do seus idea is ad miravelmente realizados na lhar para o Burgthcate r em 1791 , desenv o lve u deixou-se de incl uir no roma nti sm o excl usi-
doni , Sheridan e o me nos ilustre Kot zebue . "harmo nia da postura e expre ssividade c êni - um outro artifício ilusio nista para um a pcrfe i- vamente a poesia e a pin tura do perí od o entre
Contra a expectativa , o Tartufo de Molierc, na ca" que seus cont emporâneos tão efusiva mente çã o exemplar: o pano de fundo arqueado, uma 1800 e 1830 como uma forma es pecí fica de
adaptação de 1. L. Deinh ard stein , passou pel a elogiavam e m Sophie Sch rõdcr. tel a perfurada qu e podia se r erg uid a e in serida arre alemã. Estudi osos mai s recent es retira-
censura, embora para ape nas doi s espetácu los. O szenisch er Reulideali smu s (o realidea- di ant e da par ede pintada atrás do palco, per - ra m o ro ma ntis mo ale mão de sua posição iso-
É de se presumir que o imp erador Francisco lism o céni c o ) de Schreyvogel. co mo A . W. mitindo as s im a multipli cação do efe ito de lada e lhe assegura ra m um luga r no qu adro
per sp ect iva . total da Europ a . "A partir do meio do séc ulo
Dezc nove dos ce n ários típ icos c riados por XV III" . escrev e Klau s La nkhcit e m se u livro
Platzer para o teatro do cas te lo e m Leitomischl Revolu çã o i' Restauraçã o , "o pré-rom anti smo
(L ito misl) na Boêmia ainda estão co nse rvados. propaga- se a partir da Inglaterra. Era e m pri -
Inclu em um vsalã o gó tico", c u jo pro sp ecto du - meiro lugar lit er ário. com Thomson . Young ,
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pl o continua e nge nhos a me nte a persp ectiva B u r ke e M ucph crson na Ing la te r r a . c o m
diagona l do es ca loname nto em profundi dade Rou sseau na França. com o Sturm 111/(1 Drang
... projetada por seis pares de ha stidores late- na S uíça e Al em anha". As express õe s ma is
rais que eram a rranjados em zig ue zag ue c abri - vigo ros as do ro ma ntis mo alemão for am os ir-
a m a vis ta de um sa lão aberto. Esses ba stido- mão s Schlegel. Ti eck , Novali s, Wac keurodcr,
!. res la te ra is pod iam se co mbina r co m diferen - o Dichtcrkreis (C írc ulo de Poetas) de Heid el-
tes prospecto s para formar no vos ce n ários . be rg e E. T. A . Ho ffm ann . O movimento 1'0-
i ;: O mesm o sistema foi usad o por Lor en zo m ântic o fran cês co me ço u co m Li' Gc ni« c/II
L
,,.. Sacc he tti e Ant oni o de Pian o ce n óg rafos da Christia nisme d e C ha tea ubria nd ( I ~0 2) e c ul-
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t ;: ópe ra de Vien a. e também por Gcorg Fuent cs m inou e m Vict or Hugo e A lfred de Mu sset.
11 e m Frankfurt e por se u alun o Fri cdrich Bcuther Na lt ália, Ugo Foscol o e Alessan dro Manzon i
p.
e m \Veimar. O princípi o do palco curto e lon - inflamaram -se c o m as idéia s d a nova corre nte

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go desempenh ou um papel impor tante até a
meta de do sécul o. O problema da dia gona l em
profund idade ofe recia algu mas difi cu ld ades
técnicas adi cionais. desde que o teatr o e o sa-
literá ria . Na Ingl ate rra, seus mai s fort es repre-
se ntantes fo ra m Scott, By ron. Shelley, Kea ts
e \Vords wo rt h . Na Suécia. o grupo do s Fos -
fori stas reunia- se à vo lta de Per Dani el A ma-
lão do bail e de nuiscara d ividia m um recinto c deu s Atterbom . A literatura da Rú ssia e da
l:.1i as poltronas xituav.uu -sc no nível do c hão . Isto Pol ónia foi profundam ent e influen ci ada por E.
Li
!'i fo i e fim in. ulo co m uma nova prá tica . a da c res - T. A . Hoffm ann, e P úschk in e G ógol lun ça ram
'.'
ii 39 . Desenho de Franz Grill parzer para a cena final de lJ it ' A1 XmWIllCIl lO s A rgo nautas) scgundu dr a ma ele s ua ce nte co nstruçã o de casa s de csp cuic ulo in- a pon te para a "e sco la natur al" de mead os do
trilogia Da...goí dene Víírss (O Tovão de Our. u Es tr éia c m J ~2 ~ . no Burg thea tcr . Vie na . depend en tes. Agora, poltronas e levada s ofere- s écu lo .
. 428 • ·12 CJ
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o rom a ntismo flo resc eu cm toda a Euro-
His tó ria M ll ll d i o / do Ie cu r o •

po nte sobre o abismo entre o fin ito e o in finito


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• A Ern d a C i d u d u n i u ít u re u cvn

Uma pa rticipação e m tudo isso teve M ille mi tiva no I )(/[ /W S med ido da Cinncd ic Françai sc,
pa . Nas palavras de E. R. Meijer , ele aco meteu por mei o da ironi a rom ân tica , a peç a e spiri tuo- de Staêl, Ela se dei xou g uiar pe lo co nse lho lite- O esp írito do rei Leal' de Kea n parcce ainda as-
todo o mun do ocide nta l "c o mo um a epidemia" . sa com a ilu são e o auto -a nu la m e nto - tod as r ário de A . W. Schlcgc l ao e logiar, em sua obra so m brar os desenhos a nan q uim e stranhame nte
E ra co sm opo lita e , a o m esm o tempo, desper- est a s form as de autocriu ção c a uto -a niq uila- De I'Al lcmagnc, a fo rm a imaginativa dos d ra- lúgu bres de Victor Hu go . Ed mu nd Kean mor-
tava impulsos nacion ais no s países indi vidu ais. ção c o n fe riram ao dr am a do ro ma nt is mo suas matur gos a lem ãe s, in cl u sive as tradu ções de re u e m 18 33. u m an o d e p o is d e Lu d w ig
"A poesia ro mâ nt ica é um a poesia progressiva carac te rísticas improvisac io nais , fra gmentári- Sha kespeare e Ca lde ró n. Em se u salão no C h ã- Devr icnt, a "fl am a a elevar-se c m alt as labare-
univer sal" , esc reveu Fri edrich Schlegel , "pre- as e tenden tes ao arab c sco . O "e go artís tico" teau Co ppc t, junto ao La go de Genebra, encon- d as" da atuação romântica na A le ma nha.
tend e prime iro me scl ar e logo fundir a poesia se rv ia de s ig nificado, a s m últ ip las refraç ões trava-se a eli te in telectual da Eu ropa. Foi aí qu e Por es tranho qu e parcça , Lu d wig T ieck
à pr osa, a literatura criativ a à crítica, a poesia j u st ifi cava m-se no "j ogo d o teatro co ns igo a tragéd ia De r vie rundrwanzigs te Feb rua r (O re agiu de mane ira ba stante co n fusa 11 ên fase
d a arte à poe sia da natureza" . E: "E la soz inha me smo ". Em Der gesticfe ttc Kat er (O G ato de 24 de Fe ver e ir o ), d e Zaeha rias We iner, foi pa ssion al dos int érpretes shake spearianos in-
é infi nit a, da me sm a forma qu e e la soz inha é B ot a s) e Prinz Zerbino . L ud wi g T icc k brilhan- e ncenada e m 1809 par a um círcu lo litcrár io g les es. Ele foi a Lo ndr e s c m 181 7 à procura
liv re , e sua prime ira lei é que o livre -arbítrio temente pôs fim à identidade do púb lico com privado, be m ant es de sua pr imeira ap resenta- do teatro "ge nuíno", m as ficou d esapontado .
do poe ta não reco nhece nenhuma lei superior". o palco, do j ogo co m a rea lid ad e . ção públi ca no Teat ro da Cort e de Weimar e m Kemble e Kean . os acla m ad os predil eto s do
No valis deu o lem a: " Para dent ro va i o cami - A impregnação da vid a co m as forma s exis- 1810: foi aí q ue Be nja m in Co nstam co lhe u o pú bli c o lon drino , pa rec e ra m -lhe arr uina r os
nho mi ste rioso" . ten ciais do teatro é um aspecto d o ro man tismo estímulo pa ra suas R éflcxions su r le Th câ tre te xto s co m s ua inte rpre tação fe bril. Charles
O teatro, por outro lado , é um a arte diri- p r im it ivo na Ale ma nha . qu e , lig ad o à " tea - A llemand e sua ad aptaçã o frances a de IVallell- Kemble lem brava lffl a nd a T ie c k, po r ca usa
g ida para fora , socializante, e veio a ser nesta tro m ania " da época de Goet he , en contro u expres- stein para o ator fran cês Josep h Ta lma . de sua abordagem cere bra l e re citaç ão pesaro-
époc a assoc iado às técnica s de palc o e a pa- são numa s érie compl eta de rom anc es teatrais, de Ao mesmo tempo , Walt er Scot t e lorde sa , e nq uanto Edm und Kean parecia -lhe es tar
drõe s soc io lógic os e organizaci on ais, cujos Anton Reiser de K. P. M o ri tz, pa ssando por Byron deram asas na In gl aterra ;IS fantasma- de sint egra ndo os pa péis com sua m ane ira im -
pr incíp ios par ecem, 11 primeira vista, ter esca - Wilhell/1 Meiserde Goeth e, até Tita n de Jean Paul. gorias históricas, líri ca s e sa tíricas de sua poe- petu o sa e excê ntrica. Tanto no Covent Ga rden
pad o a qu alqu er influência sali en te do movi- Não era tão fácil, escreveu T ieck , "dive rt ir-se com sia cosmopolita. Goethe ass e nta no Euforion qu ant o no Dru ry La ne, o palco era dem asi ado
ment o romântico . Tanto mai s forte por ém era o teatro, sem ao mesmo tempu diverti r-se com o do Fausto II um m onume nt o a Byron, " por grande e o j og o de co n junto demasiado fra co
se u im pacto na es tr utur a íntima do dram a e na m undo, porquc ambos deságu am de todo um no interm édio ele c ujos me m bro s as melodi as eter- par a perm itir q ua lque r " atmo s fe ra romântica".
arte da interp reta ção e. e m últ ima an álise. na o utro, principalmente em nossos d ias" . nas são po stas e m mo vimen to" . O palco não N em e m S tra tfo rd -o n -Av o n e nc o n tro u
arte da repr esentação cén ic a. 1\ mai s alta autoridade para a desintegra- estava ii a ltura da ta re fa de do m inar o D O II Juan Ti ec k o q ue sentia fa lta no te at ro . Em ve z de
O teatro da corte e a óp era da corte eram ç ão ro mâ ntica da forma, co mo a nte rior mentc de Byron , gra nde é p ico e m ve rso. qu e tran s- um a g rac iosa pa isagem do SOl/h" d e V II/a No i-
flan qu eados po r tea tro s municip ais e do Esta- para o Stunu und Drang , fo i Sha ke spea re. Em ce ndc fro nte iras e satiriza o m undo inte iro -- te d c \'t' /'{Io . e le encontrou u ma c idade iudus-
do . Os c idadãos havia m tomad o a iniciativa Pri nz.Zcrbiuo ele faz uma apari ção c m pessoa a da me sm a fo rm a que também e ra inad eq uad o tri al c uida do sament e ed ific ad a, d and o teste mu-
de co nstruir ess es teat ro s indep endent es e o s fim de assestar um suave go lpe ba ixo em Weimar, para o Prin; Zer/,;, IO de- Ti ec k. nh o lau to da arte da ma nu fa tu ra qua nto do
co nside ravam co mo suas p róprias instituições " Be m , então tomam-nu por um esp írito selva- O s g ra ndes a to res do ro ma ntismo ing lês e n lua rad o êxtase da po esi a.
c ulturais. Q ueriam ve r se us próp rios heróis no gcm, sublime" - Ze rbin o o saúda - "q ue estu- j uravam por S ha ke spea re . C ha rles Ke mbl c e N e m me s mo a no va il u m i na ç áo a gás,
palc o . A Schicksalstragodic . ou "t ragéd ia de do u ape nas a Natureza. que se aba ndo na por Ed mund Kean ce le brara m se us grand es triun- int rod uzi da ne sta épo ca na Covent Ga rdcn L'
de stin o" . que Schi ller ainda e ncarava com o o com p leto 11 sua paixão e ins pir ação , e depo is vai fos nos papé is-título desse teatro. " Vê- lo atuar" . no Drnry La ne , uma re ali zaç ã o té cn ica pio -
co nflito da person alidade moral livre co m o s e m frente e escreve o qu e quer q ue sej a - bom e disse Co lerid gc a re sp ei to de Edm und Kean, "é ne ira. redimi a a situa ç ão ao s o lho s de T ieck .
podere s da hist ór ia. tornou -se um retrato d a mau . sublime e ordi n ário. tudo d esor denada - CO lIJO ler Shake spe a re ao cintilar de raios " . A le- O pr ínc ipe P ück lcr-M u sk au . p or outro lado.
famíli a burgue sa. No pe ríodo Bie derm eier, o me nte" . Sha kespeare seg ue por um trecho do xandre Dumas, pai. e ra t ão fascinado pel a vida e m su as Brief « cincs Vc rstorb en rn (Ca rtas aos
povo e ntrego u-se ao ve rso escr ito, leu sobre ca m inho co m Ze rbino, mas d iz ade us qu and o turbulent a da "a lma tirânica" de Kean. que es- M o rto s ) e log io u e m co nson ânc ia poét ic a de
mod a, poesia e teat ro cm alma naques poé ticos c c heg a ;1 sua casa. o "Jardi m d a Poesia " , pois creveu um dr ama so bre el e. um a "p e ça-espet áculo" se m va lo r dra máti co .
livros de bo lso. e e m sua literatura de entreteni- Ze rb ino se m dúvida go staria de ir adiante. E m 181 8 , Ed m und Kea n levou , no Dru ry po ré m suges tiva me nte e nc e na da qu e ha via vis-
men to desenvol veu um gosto pelo horrível, que O s ro mânticos se ntia m -se ligad o s por a fi- La ne Theatre e m Lond re s. o dra ma BI'II/II .' . do to no Drury Lc ne e m 1X27: " É no ite. mas a lua
no palco tomou a forma de peças de fantasmas. ni da de co m o "s eu" Shake sp eare pr eci samen- ame rica no John Ho w ard Payne , Do is anos ma is resp lund cs ce no céu az u l e s ua lu z ptilida mes-
U m desenv ol vimento par alelo foi a cres- te ne ste Jardim da Poesi a. E é assim qu e August tarde, apresentou-se c m Nova York co m a me s- cl a -se co m as j ane las br ilh ant ement e ilumi na-
ce nte comercializ aç ão do te atro , qu e com eçou Wilhelm Schl egel, L ud w ig Ti cck c seu s cola- m a peça, c, é claro , também co m sua s famosas d as d o ca stelo c da cape la" . Poderia ser a des-
na s grande s c idade s da Europa e es timulou a boradores levaram a cabo a g rande obra-pri- interpretações d e Ri cardo III. Haml et, Otelo e cri ç â o de uma p in tura de Caspa r Da vid Frio .
tend ên cia para o estrclato no palc o . A Améri- ma da tradução alemã de S ha ke speare, uma Shylock. A filha d e Kc mb lc , Fanny , Tyrouc dri ch .
ca ent rou em ce na com sedutore s co ntratos para recriação congenial no es p írito d o início do Power e \V. C. Macr e ady m anti veram a cor- Qua ndo. após anos turbulento s como co n-
convidado s e atraiu os grandes ato res român - séc u lo XIX, um Sh ak e sp e are "roma ntizado" rent e de a stros da re pr e sent ação teatral atra - se lheiro dram atúrgico do Teatro da Corr e e m
ticos, es pec ialmente o s dc Lon dr es, para No va q uc , na co rr ente das idéi as cos mo po litas, co n- vessando o Atl ântic o pa ra () Oe ste. () pró prio Dre sden , Lud wig Tieck finalment e teve a opo r-
York. Filadélfia e Bosto n. q ui sto u a E uro pa intei ra . A Fra nça, Espanha, Kean vis itou o s Es tados Un ido s um a seg und a tun id ade de ct c tuar um a e nc e nação própria na
A idé ia có sm ica , o prim atlo da imagina- Itá lia e Rússia apr end eram a ad m ira r Sha kes- vez c m 11\25 e , e m I X28 , a pres entou -se e m co rte do re i pru ssi ano Frede ric o G uilhe rme IV
ç ão livre . cr iativa , a tent ativa de co nstru ir lima pear e por me io dos româ nti co s alemães. Pari s, introdu z ind o um a rom âmica força pri- c m Berl im. e sta e ra qua se um a nacron ismo .

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H is tó r ia Mun dia l do Teatro . • A Era da C íd a da n ío Bu r g ue s a

na e tod o o entulho impu ro" . As co ndições ex- ris, enquanto isso, o balé do compos itor Etie nne
tern a s co m as qu ai s tev e d e tr ab alh ar e m Nicho las M éhul, La Dan somanie - que incid en -
Bamberg, co m a troupe Seconda, a seg uir, em talm ent e aprese nto u os paris ienses à valsa -
Dresden e Leip zig, eram ce rta mente modes- em 1800 dita ra a mod a para a mani a pós-revo-
tas. M as Hoffrnann co nseg uiu atra ir o clero de luci on ár ia do ba lé, Co reog rafia, tem as, figuri-
Bamberg para o teatro co m versões alemãs de nos e estilo iam na direção do /IOIH'eau merve i-
La Dcvoci ôn de la Cruz, a " ma is profunda e lleux, um a ramifi cação do romantismo alemão.
ao mesm o temp o mais vív ida peça" de Ca lde- O ce ná rio e os fig urinos criado s para a
ró n, e de El Príncipe Constante, do mesm o ópe ra e o balé de Paris por Cic éri, Despl échin
auto r. Ho ffm ann reconh eceu sua dí vida em e Joseph Thi erry tent aram co mbina r o enca n-
relação à Commc dia deli 'arte . co m sua Prin - to do româ ntico e do maravilhoso co m eleme n-
zessin Brambilla e a suíte de balé A rlequino, e tos do folc lore e da história. Torn aram -se os
sua ópera fant ástica Undine, qu e se base ia em pred ecessores da "cor local", qu e em me ad os
Fouqu é, inspirou, em 181 6 , o clas sicista berl i- do séc ulo levari a o rea lismo româ ntico aos lu-
nense Karl Friedri ch Schinkel a cria r um ce- xuosos figurino s d os Meinin gers e de Ma kar t.
nário co m ág ua e cas telo que o tornou um al ia- Qu and o a e nce nação da ópera româ ntica
do do ro ma ntis mo. e históri ca La Mu et te de Portiei , de A uber, es-
Se os historiadores da art e de hoje falas- tava se ndo prep ar ad a em 1828 , Cic éri fo i e n-
sem, co m referência ao fenô meno ge ral da Eu- viado à Itáli a para estudar paisagem e arq uite-
40. Edmund Kean como Ricardo III no Drury Lane Theatre, Londres, c. 1815. Gravura da época. ropa, de um "classicismo româ ntico", seu pri- tur a . Iria também a Mil ão e se familiari zaria
meiro representante na cenogra fia seria Schinkel. co m as técn icas teatrais do La Sca la, co nstruí do
Tie ck , então com setenta anos, juntam en- Inesperadament e, as idéias reformistas de Seus proj etos para a Flauta M ágica em Berlim em 177 8, com ca pac idade para 3600 pe ssoas
te co m o co mpos itor Felix Mend elssohn , en- Tieck haviam falh ad o exa tamente lá onde e le em 181 6 ou, em 1821 , para a ópera Olymp ia de o q ue era , ju nt a ment e com o Sa n Ca rio e m Ná-
ce nou o So nho de Uma Noite de Verão em 184 3 confi ara no mai s alt o grau em sua co mpetên- Spontini (com texto de E. T. A. Hoffm ann), são, poles, o maior teatro da Itália, admi rado pela
no Neu es Palai s em Potsdam , co mo um mo- cia - em Sha kes peare. Uma produ ção anterior co m a sua fusão de conceitos clássicos e român- Europa inteira.
delo póstumo do "teatro rom ântico" . da Antigona de Só focl es, co m "imitação fiel ticos, o mais puro "classicismo româ ntico" . A fim de cheg ar ao clima ce rto para a espc -
O arvo redo no qual Titânia e Bou om se da skene antiga", levant ara men os problemas Ca rl Maria von Weber aprec iou muit o a tacul ar ópe ra Robert te Diable, de Meyerbeer
aninh avam foi colocado sob um lan ce de es- e enco ntrara um a aprov ação unân ime. Obvia- Undine de E. T. A . Hoffman n (em bora tenh a (com texto de E ug êne Sc ribe e Germai ne Dela -
cada qu e se erguia dos dois lados. Em vez dos ment e, era mai s fácil lançar a po nte entre o sido ult rapassado por Lort zing, trint a anos mais vigne) e o balé no co nvento que a ópe ra co ntém,
cos tume iros bastid ores laterai s, o palc o era classicismo e o reali sm o histórico do que co n- tarde) . Ho ffm ann , por sua vez , abriu ca m inho o ce nógrafo C ha rles Séchan esteve em Arle s e
delimitad o por tapetes pendu rados na vertical. creti zar um a co nce pção românti ca de palco . pa ra o Fre isc hüt; (O Franco A tirado r), de observo u o clau stro de Saint Trophim e, buscando
O qu arto na casa de Quince, o ca rpinteiro , era Karl Imm ermann o ha via tentad o desde 18 29 Web er. O ideal de uma "progre ssiva poesia co lher idéias pa ra a montagem, program ada para
pint ado num ce nário mais abaixo. em Düsscld orf co m suas repre senta ções mo- uni ver sal " de Friedrich Schlege l co nfirmava- 18 31 na G ra nd Ó pera em Pari s. Spo ntin i e
A montagem foi mostrada em 14 de ou- delares par a o Th eat er verein . Ele parece ter se, pel o me nos até certo pont o . Rossini co mpe tia m pela fama de regente e com-
tub ro de 184 3 para a corte em Potsd am e a sido consistente ao excl uir a " farsa insípid a" O públi co de Londres de 184 5 foi co nvida- positor. Les Hu gu enots de Meye rbeer tran sfor-
seg uir tran sferid a para o Teat ro Real em Ber- (ainda qu e preci sam ent e o roma ntismo tivesse do para o espetáculo de quatro das maiores bai- mou um dos ma is brutais atos de violênc ia da
lim , ond e entro u para os anais da crítica dra - tirad o muit a inspiração de element os da Com - larin as do mund o, que aparece ram j untas num hist óri a num " tri unfo de virtuosismo".
mática co mo "a curiosidade lítero -teatral pro- med ia dell 'art e e da idéia da " peça de ntro da pas de quatre: Maria Taglione, Fan ny Ceni to, Q ua ndo a Co médie Fran çaise, em 25 de
du zida pel o poeta Ludwi g Tiec k" , nas pala- peça"), o mel odram a crue l e traduções de "i n- Ca rlota Grisi e Lucile Grahn. Q uatro anos an- feve re iro de 1830, aprese ntou pela primei ra vez
vras do lllustrine Ze itung de Leip zig, em 2 1 signifi cânci as es tra ngei ras" ; mas, co m tod o o tes, em Nova York , Fanny Elssler recebera o o dram a rom ânti co Hernani de Victor Hugo.
de dezembro de 1844. O crítico nota com em- seu élan reformi sta, ele não estava imune a uma maior enc h ê até então registrado no mu ndo, a hou ve uma ba ta lha esp etacular no teat ro . O s
baraço qUe o es petáculo não era co nsiste nte cert a unil ater alidade. saber, quinhent os dólares por noit e. O Novo simpatizantes dos c lássicos france ses prot e s-
co m os prin cípi os teóricos tão freq üentem en - Os e feitos cê nicos do ilusionismo, músi- Mun do sabia como atrair e celebrar os astros da taram co ntra o tra tame nto dra mático livre de
te ex pressos pelo poeta. Graças à exce lente ca e a mágica da atmo sfera suges tiva medi ant e ópera e do balé europeus, seus bailarinos e can- Victor Hu go , mas os jove ns o festeja ram . G ri-
música de Mend elssohn , ao cen ário pint ado a mu tação ce nográfica desafiava qu alqu er ti- tores. Em 1850, Jenny Lind, o Rou xinol Sueco , tos indignados de " Racine, Racine !" vi nham
por J. C, Ge rst, aos ricos e brilhantes figuri - po de pu ritani sm o cultural. E. T. A. Hoffrn ann , teve um a recepção extasiada em Nova York. Fora da platéi a. Mas Théo phile Ga utie r levan to u-se
nos e à incl usão de danças, ca nções e procis- apontado em 1808 co mo diretor cê nico e mu- con tratada por P. T. Barnum, e o maior showman e pronunciou o vered icto da nova era: " ' htre
sões à luz de velas, havia se revelado " uma sicai do teat ro de Bambcrg, deliciava-se em e e m pres ário de então mont ou um primei ro Racin e est 11111 p olisson, Mess ieurs" - "Seu
mi stura de curiosidade histórica, co nce pção "despert ar no espec tado r aquele de leite q ue exe m plo do sensac io nal tip o de c a mpanha Racin e é um tratant e, senhores" .
fantás tica e acessórios esplêndido s co mo os liberta o se u se r inteiro de toda a torment a des te promocion al que mais tarde se torn aria uma téc- Para os historiadores franceses da lite ra-
de um ba lé" . mundo, tod o o peso depressivo da vida co tidia- nica bem-sucedida do teatro come rcial. Em Pa- tur a, o dia da bataille d'Hcrnani marca a vit ó-
• 432 • 433
4 3. O Covent Garde n Th eatre ~ 111 exc ursão e m Paris: apre scn tnçáo de Hamlet c m 11 de se tembro de 1R27, com C harl es
Kc mb lc no papel de Haml et e, no de O fé lia. Henrictta Con stance Sm ith son. q ue se casou co m Hector Berl ioz. Lit ogrnv urn
4 J. Int erior do velho Burgth eater na Mic haeler platz cm Vie na. tea tro qu e apó s 1776 passou a cha mar -se Hof- und de Gaugu in. a partir de Boulange r c Deve ria I Pa ris. Bi blioth cqu c de I' Arse na l).
Nati on altheate r. Gravura co lorida . iníc io do séc ulo X1X.

42 . O Cov ent Garden Thca lre c m Lo nd res. no início do séc ulo XIX. Da série de caricatu ras 'lintr of D,: .\ \ '1ItlJ.\ ;11 4.1. S hake s pear e no palco ro mân tico: nu uua gc m de Lud wi c Ticc k d o So nho de um a /\'oit(' de ~ ('rúo, Be rlim. I K B .
Scarch 01 lhe Picturvsquc de Th om as Rowland son . Londres. 18 15. Ce nário de J. C . Ge rsr. IIltísica de Fel i x M c nd c lsso bn tlitog rnvu rn do l. ('i/' ,-.igr r/l/It\-rrinl' Zt'illOlg, IX-1-1).
fiis/ória }\fUI/diu/ do Tel/fro •

45. Esboço de Victor Hugo para seu drama I.es


Burgravcs, ato II. Estréia em 1843. na Comédic Fran-
çaise , Paris.

mas Goethe considerou II COI/tedi Carmagno-


ia merecedor de apreciação mais detalhada em
sua própria revista Über Kunst und Altcrthum
(Sobre Arte e Antigüidadc).
Stendhal alinhou-se com Manzoni quan-
do, em Racine ct Shakespeare (1828), rejeitou
as unidades aristotélicas em favor da tragédia
psicológica em prosa, transmitindo um qua-
dro verdadeiro e acurado das emoções huma-
ria final do romantismo. O Hernani de Victor nas. Não era, argumentava, uma questão de
Hugo tornou-se o drama romântico francês por imitar Shakespeare, mas de aprender, com seu
excelência. Mas o fracasso de Les Burgraves exemplo, "a olhar e entender o mundo no qual
em 1843 pôs fim à sua breve glória. Hugo era vivemos". Esforços para reviver o interesse nas
o centro do Cénacle, um grupo literário que obras de Manzoni têm sido envidados desde
incluía, além de Théophile Gautier, outros es- 1940 por R. Simoni no Maggio Musicale de
critores, tais como os irmãos Émile e Antony Florença e desde 1960 por Vittorio Gassman
Deschamps, Sainte-Beuve e Brizcux: seu mais em seu Teatro Popolare Italiano,
°
jovem e, para palco, mais importante mem- Na Rússia, Alexander Púschkin escolheu
bro, era Alfred de Mussct. o elegante e elegíaco para sua tragédia Boris Godunov um tema his-
herói do mal du sieclr. tórico dos "tempos conturbados" da Rússia.
O romantismo foi capaz de ligar-se tanto Shakespeare e Karamzin foram seus modelos.
à Revolução quanto à Restauração. Quando La Mas o teatro não podia competir, em igualda-
Muette de Portici foi apresentada, na véspera de de condições, com a audaciosa mistura de
da revolta popular da Bélgica em Bruxelas, o tragédia heróica e elementos folclóricos, ilus-
público, ao deixar o teatro, tomou de assalto trada em vinte e três cenas, com sua riqueza
as barricadas. "Aqui o teatro representou o ele- de personagens vívidas e contraditórias e al-
gante e nobre papel (\;I tocha que acende as ternância ele verso e prosa. () drama nacional-
chamas da Revolução", escreveu Aleksandr popular de Púschkin compartilhou o destino
lakovlévitch Taírov um século mais tarde: "a da maioria das grandes obras elo romantismo,
pulsação do propósito comum, que despertara fazendo exigências ao poder de imaginação
no teatro, incendiou a Revolução mas extin- que o palco, cônscio de suas limitações, pre-
guiu a ação teatral". feria evitar,
Na Itália, o principal desafio ii tradição Embora Boris Godunov estivesse comple-
clássica veio de Giovanni Berchet, tradutor de to em 1825, não foi encenado até 1870, no Tea-
Fénelon, Schiller e Goldsmith. em 1816, COI1l tro Mariinski em São Petersburgo. Quatro anos
sua Lettera semiseria di Crisostomo, que deve mais tarde, musicado por Mussórgski, foi mon-
muito às baladas de G. A. Bürger. Ele queria tado como uma grande ópera nacional russa.
escritos criativos, "tão livres como o pensa- A força dramática elementar desta obra abriu
mento que os inspira e tão audazes como a meta caminho para o futuro desenvolvimento do
ii qual aspiram". Alessandro Manzoni pôs ii estilo realista da ópera.
prova a fórmula em seus dois dramas, Adelchi Nikolai Gógol fez uso de uma ancdota que
e II Colite di Carmagno!n, e deliberadamente Púschkin lhe contara, juntamente com alguns
voltou as costas à tragédia clássica para abra- temas da comédia Die dcurschen Klcinstãdtcr
çar, em vez dela, o principio da verdade histó- (Os Provincianos Alemães ) de Kotzebuc. para
rica. Foi violentamente atacado pelo jornal escrever O 11I.1"!)('tor Geral. Conta-se que o czar 46.I.Ál Uatoiltc d'Hrrnani. Tumulto na estréia do Hcrnaní de Victor Hugo na Comédie Françaisc. Paris, 2':; de fevereiro
acadêmico La Biblioteca Itolicuia de Mil.i». Nicolau I esteve presente:' estréia no Teatro de 1830. Pintura de Albert Bcsnard (Paris, Museu Victor Hugo).

• 436
4 9. Ce na de Adr icn nc l.cco uvrr ur. de Eug ênc Sc ribe c Erncst Lego uv é. ta! co mo en ce nad a e m 1849 na Co m édie
Fran ça isc. Paris. Dese nho de H. Valcru in (Pa ris. Biblioth êquc de l' Arsc nah .

47 . Cena do qu into ato de II Come di Cormagn oto de Ales sa nd ro Mau zon i. a prese ntado pe la primeir a vez c m 18 28 era
Florença (gravura da s Ope re Varie de A. Manzoni , Milão . 1845 ).

50 , C e na do ba l é () I_o,~ o dos Cisnes . com m úsivu de Tchai kov sky. uprexcn tudo rl"1a prime ira ve z no Teatro 8 01s110 i,
48. Cena de Bori s GOdWIO\' de Alexunder Púshkin. corno encenad a C Ill 1878 uu A lcxandrin sky Th c ath er. São l'ctcrsburg o. ~h l S C( IlI .
Des enh o de Goutchar ov If.,,1( l "'l ' IH 1. MlI SCl1 Hakhru schi n }.
H is t ó ri a Mun d ia l (l o T eatro .
• A E ra da C ído üo n ía B u r g u es a

~--------------..... di sposta numa esca la m aior " . Isto parece an- mármore, cortinas drapeadas proporci onavam
\ tecipar a violenta controvér si a entre Stift er e a intim idade de boudoir requerida por Sardou
Hebbel. e Labi ch e para suas comédias de cos tumes. O
Goethe e o pintor -lit ógr afo Schadow di- exte nso mon ólogo dramátic o foi subs tituído
vergiam a resp eit o do qu e den ominavam " na- pe la ação episódica sustentada por ade reços .
turalismo". Adolph von Menzel, um mestre da As personagens sentavam-se à mesa tomando
meticulosa pintura hi stórica tant o quanto da chá ou jog ando paciência e, fal ando com seus
atm osfera mágica, declarou: " Ne m tud o o que parcei ro s, em vez de dirigir-se ao público, ca-
é medrosamente co piado da natureza é fiel à sualme nte revelavam seus problemas. " Hoje o
natureza". Lembrando o ex emplo das figuras palco é uma sala de visitas mobiliada para pa-
de cera, "nas quai s a imitação da natureza pode recer ex atamente com o os elegantes salões de
atingir seu mai s alt o grau" , Sch openhauer re- hoje", escreveu Sardou. "N o centro, os atares
jeitou toda aparência de realidade que " não sentam-se em volta da mesa e conversam co m
deixa nada para a imaginação". O con ceito de bastante naturalidade, olhando um para o ou-
" rea lismo poétic o" , de Ott o Ludwig, talvez seja tro, como fazem as pessoa s na realidade" .
o que melhor haja caracteri zad o a fase es tilís - No lugar de "Ia nature et le vra i ", com o
tica entre o rom anti sm o e o naturali sm o. no tempo da Ilustração e ainda no teatro de
Compreender os tempos e sua realidade Goethe, a nova palavra de ordem era "le mili eu
significa também ver o homem em sua vida er la r éalit é" - o meio e a realidade - e isto se
5 1. Desenho feito por solicitação de Gógol para a ce na final de O lnspeto r Ge ral. Estréia em 1836, no Teatro
Alexa ndrinski, São Petersburgo. quotidiana, em seu meio ambiente e seus com- aplicava não apena s à peça de costumes con-
promissos sociais. Como afirmou Ale xandre temporânea, mas também ao drama histórico.
Dumas Filho , era tarefa do teatro reali sta des- Para Th éodora, cuja ação se pa ssa em Biz ân-
Alexandrinsk.i, em São Petersburgo , em 19 de REALISMO nudar o abuso social, di scutir o rela cionam en- c io, Sardou expressamente pediu um "a mbien-
abril de 1836 e comentou, com uma gargalha- to entre o indivíduo e a soc ieda de e. tanto no te tão correto, do ponto de vista arqueo lóg ico",
da: "Esta foi uma peça para todo mundo, mas O s historiadores da arte têm um ponto de sentido literal quanto em outro mais elevado. quant o o s produzidos para moderno s inte-
es pecialmente para mim" . referência legítimo para datar o iníci o do "Rea- mo strar-se com o um th éãtrc utile (tea tro útil ). riore s.
Mas há mais nesta peça do qu e simples- lismo": o mom ento em que o term o se torn ou Enquanto Eugêne Scribe ainda se limit a- Est a abordagem levou a todos aquel es
mente ridi cularizar o tapeador tapeado e cri- o lema programático de um movimento . Seu va a elaborar sobre a "cond ição hum ana" es- suntuosos d écors cê nicos com os quai s se re-
ticar a burocracia corrupta da administração iniciador foi Gu stave Courbet . Qu and o o júri pirituosas com édias de bo ulevard , o j ovem ga lava m tanto o teatro quanto a ópera. Gra ças
provincial russa, que tanto divertiu o czar e da Mostra Uni versal de Paris rejeitou , em 1855, Dumas era mai s dado à morali zaçã o . Em se us aos es fo rços combinados do co reó gra fo e do
aj udo u a peça a ter êxito nos palc os europeu s. dois de seus qu adros, ele con struiu um pavi- dr ama s, ele luta por um a causa (es pec ialmen- ce nóg ra fo , o Benvenuto Cellini (1 83 8) de
Ela é, nas palavras de G . von Wilpert, "uma lhão próprio, se parado do salão ofic ial. so bre te. por exemplo. em Le Demi -monde e Le Fils Berlioz ex ibia-se num a turbul enta ma scarada
peça sarcás tica, com uma bas e metafísica, so- cuja entrada esc reveu em letras gra ndes "Le Naturel - O Filho Natural ) e denun cia a burgue- ro ma na desenrolada diante de um co lor ido
bre a susce tibilidade do hom em às tentaç ões R éalisme". p an o de fund o ren ascenti st a. Philem on e
sia de sua época, sua inescrupulosa avareza e
do mal e sua inclinação a ouvir o dem ônio, No teat ro e na literatura, o co nce ito de se u apego à vida , se us se ntime ntos fingidos , Bau cis ( 1860), de Charles Gounoud, foi ence -
que termina com o surg ime nto do juiz do reali sm o torn ou- se objeto de discu ssão muit o seus prec onceit os e suas con vençõe s antiqua- nado e ntre monumentais co lunas dóri ca s. A
mundo como repre sentante da incorruptível ante s, pelo men os em termo s teóri cos. Na prá- das. O tema foi tratad o por Dickens, Carlyle e Carmen ( 1875) de Bizet deu ensejo para o ima-
ju stiça divina" . ti c a, a os c ilação mai s lar ga d o p êndul o é Thackeray na In gl at er ra , po r Dost oi évski , gi na tivo folclore mouro anti go . M as a mont a-
Os dramaturgos do reali sm o europeu ado- traçad a pelos espetáculos dos Mein inger s e de Tol stói e Turguênicv na Rú ssia, por Büchner e ge m pari sien se de Tannh ãuser infl ou as ban-
taram os elementos folclorísticos de O lnsp e- Charles Kean, em Londre s. Gr abbe na Alem anha . deiras da controvérsia entre os partidários e os
tor Geral, e Werner Egk fez dela uma ópera Já em 1795 , Schiller, em seu e nsaio Über O drama de crítica soci al e de real ism o opo nentes de Wagner. O desafio de Saint-Saêns
em 1957. Os esboços cênicos e os figurinos, naive und sentimentalische Dichtun g (So bre a hi stórico precisava de um novo es tilo de repre - - " a wa gneromania é uma do en ça" - torn ou -
que um desenhista amigo de Gógol realizou e Poesia Ing ênua e Sentimental), es tabe leceu sentação e um novo cenário. Stendhal havia se o lcitm otiv apaixonadament e debatido no
que chegaram até nós , mostram a importân - uma distinção entre o reali sta e o idealista . O falado do "arti sta espelh ant e" . O crítico de desenvolvimento da ópera realista na Fran ça.
cia qu e atribuía ao destaque do s elementos primeiro, reconhecia ele , era consciencioso, teatro do Journal des Débat s de Pari s, J ules- Da tradição da ope ra co m iquc provei o
titerescos em suas per sona gen s, o fato de es- enquanto o seg undo "reconciliar-se -ri até me s- Gabriel Janin, atribuiu à revolu çã o na art e Jacqu es Offenba ch, c ujo teatro de miniatura,
tarem à merc ê de umtitereiro supe rior, em ou- mo co m o extravagante e com o mon struoso" . dramática con seqü ên cia s a se rem per cebidas o Bouffcs Parisi cns, tornou-se o contrapeso da
tras palavras, a enfatizar aqu ela "v erd ade in- Ele usou a ima gem do "be m planejado jar- tant o na arte da pal avr a esc rita quanto da fa- pompa operística pari sien se . Ap elidad a de La
terior" qu e, no espírito do roma ntismo, fun- dim " do reali sta , " no qu al tud o tem se u uso" e Bomb onni êre pelo públi co, o es paço de bol so
lad a.
dem numa só co isa as front eiras entre o jogo dá frut os, em contrapos ição ao mundo do idea- servia muit o bem para as op eret as de câ mara,
O palco co nverte u-se num a sala de estar.
da peça na peça e a realidade. li st a , de "natureza men os utili zad a, ma s deri vada s do vaudcville , qu e deitaram o ger-
Sofás luxuosos, vaso s de plan tas, lareiras de
• 440 • 441
me da fam a mundi al de Offenba ch . Lud ovic
Hal évy e Henr i Me ilha c esc reveram libretos
para ele, e sua mú sica de u um a ênfase elctri -
lí is u ir í a /\! llI lll i a {

fanta smag órica da lu z a g ás e tochas. Ele se


per m itia mexer livreme nte no texto da peça.
mudava ce nas. reduzi a e co rtava. a fim de con-
ri" Te at r o .

1
•~

zante à sátira e à frivolidade, às fra ses de efei - centrar o c urso da peça em se u s untuoso décor
to e ao s paradoxos. Orphée m /x Enfers (O rfeu (George Bernard Shaw não perdoava essa "bár-
no Infern o). La Bel/c H élêne (A Bela Helena). bara arbitrar ied ade " dos sucessores de Kean,
La Perichole, toma ram Paris de assalto. Par e- He nry Irvin g c Herbert Beerbohm Tr ee).
cia qu e Offcnbach, "por acaso . tivesse desp er - Entretan to. sir John Wat son G ordon. o pre-
tado as em oçõe s latent es do públi co " . escre- side nte da Royal Scottish Academy e deca no
veu o críti co Franc isque Sarc ey. A Paris aman te do s pintores histór ico s ingleses. considerava
do prazer e lige ira me nte dec adent e do Segu n- u ma ho nra desenhar o s cenários e figuri nos d.as
do Impé rio. e logo toda a Europ a. regalou-se re montagen s "S hakespearian Re vivais" nas de
com o ritmo do cancã e da valsa. E qu and o Charles Kean . Espe cialista s eram co nsultado s
Offe nbach apresentou A Grande Duquesa de em questões de fi gur ino s e armas. O palco dava
Gerolstein, em 1876. em Nova York, o públi - lições de histó ria tão s u ntuo sas e ca ras que
co o ova cionou "tão entusiasticam en te como Kcan inau gur ou o siste ma de lo ngas tempora-
a pouco s arti stas euro peus antes dele" iConrrier da s de até cem espe tác ulo s consecutivos. Como
des É/a/s Uni s) . a tar. Char les Kcan não alcançou o poder de
Du as décadas m ai s tarde. os superlativos plasm a ção de seu pai, Edmu nd Kean . Sua for -
dos críti cos am erica nos concentraram-se e m ça estava na grandios a conce pção global de
um a atr iz cuj a estre la se levantara com os dra - s uas mont age ns no esti lo de su a ép oca. Ele fo i
mas de Sard ou em Paris: Sar ah Bem hardt. Seu s o mais destac ad o represe ntante do teatro rea-
papéis mai s famoso s for am o da imperatri z lisl a na Inglate rra . De IR48 e m diante. combi - 5 2. Cena de ,\I(' /H U!c I. de Honorc de Bal znc. la l co mo e nce nado em I};7 1 no T h éáu'c (j ~ rn nasc , c m Pari s. De se n ho de
bizantina marcad a pel o escând alo Teodora - a nou suas atividades teatrai s co m o ofí cio de P. Ph ilipo tco ux (Pari ", Bib liot h êqu c de I' Ar seu al j .
espo sa de Ju stinian o - no dram a homó nimo ce nsor de peças e nc e nada s, o Ma stcr of Re-
de Sard ou e o do j ovem duqu e de Rei ch stad t. vei s aba ixo do Lord Chamberl ain .
filho de Napoleão L em L'Aiglon , de Edmond Na Alemanha. Fra nz Dinge lsted t foi a m-
Ro sta nd . O diretor da C o rn édie Française , bici oso em se u uso d e ac hados arq ueo lóg icos
Ém ile Perrin , trou xe Sarah Bern hardt do Od éon. na mo ntagem da Antigona , de Sófoc les. em
onde er a co nhe c id a por se us cole ga s como I R51 em Munique. A nsioso para apresentar
"Madame la Revo lte" C'Madame Revol ta" ). produções exemp lares em grande esca la, vol -
Junto com Mo unet -Sull y, ela introduziu um so - to u-se par a a arte e pa ra a ci ê nc ia co mo fiado -
pro moderno. real ista , ao declamatório estilo ras da int erp re tação fie l à An tig üidade, O filó -
interpretativ o do ve neráve l teatro . logo Fri edrich T hiersch tra bal hou o texto. o
Em Londres. Charles Kean aproveitou -se ce nóg rafo Simon Quag lio foi o rientado pel o
do trab alho pioneiro do s arqu eólogo s ingle ses arqui teto Leo vo n K lenze , o pintor Wil helm
e m suas mon tagen s no Princess' s Theatr e . vo n Kaulbach . d ire tor da A cad emia. opin ou
Q uando enc en ou Sardanapalo; de Byron. em sobre os figur inos e a coreo grafia. e a música
1853. sobrepuj ou o esplend or históric o do con- ficou a cargo de Fe lix Mend e lssohn. O espa ço
tinent e e m aute nlicidade. As e ntão re cé m - cé nico era um ce ná rio dórico e es tritamente
pub licadas no tícias de Layard sobre suas esca- simé trico. com um a ltar adornado de folhagen s
vações no sítio da an tiga Nínive serviram-lhe no primeiro plano, um lance de escadas erg uen-
de fonte para um magnífico e pitoresco cen ário do-se no centro e. ao fu ndo . um pórtico de tem-
de pal ác io. ljue, no clímax da cena da destru i- plo com qu atro co lunas .
ção fin al. de smorona em peda ços enquanto a Din gel stedt co nfia va no poder de persua -
"estátua ge nuína" do re i assírio Assurbanipa l são óptica do cenário . Qu an do. em 1859. mon o
de spen ca es tro ndos a me nte de seu pede stal. tou !Valien s/cill co rno o c límax da s celebraçõe s
Kean era não me no s conh ecido por suas de Schi ller e m Weimar, en cerrou a peça com
en cen ações de Sh ak espe are. nas quais trans- um tab leau revestido pe lo espírito da é poc a e
punha par a o palc o o estilo co nte mporâneo da de grande efeit o : "Seni , junto ao cadáver de 53 . Cen a de carn ava l na mon tage m dr:C harl es Kcun para O Mrrca ríor ele: \ -; 'IIt' ; (1 1111I' r i rh':c s :-, ' S Theat n..-, l. ond rv- . IS5X.
pi ntura h ist óri ca , rod ea do pela il umi nação Wa llen stein " , a rra njou co nfo r me o fam o so Aquare la d e Wil liam ' Ic l bi n I L ondnr c. Vic tori a and Al be rt " 1U:-'I..' 1I1I1 1.

• 441
• A Era da Cí d a d a ni a Bu rg uvsa

quadro de Karl von Piloty, de 1855 (Se ni er a sua Bricfen iibe r das deutsche Theat er (C artas
um a person agem da peça). sobre o Teatro Alemão). falava abertamente
No Cair o. a estréi a da Aida de Verdi, em 24 contra o "e xagero e em polame nto" do estilo
de dezembro de H~71 . foi uma ocasião espeta- contemporâneo de e nce nação e repre sentaç ão,
cular e fe stiva. combinando tema s da hist ória e e exi gia em seu lugar que toda palavra e con -
do folclore. A ópera havia sido encom endada ceit o de veri a ser expresso com clareza . e qual-
pelo Qu edi va pouco tempo depoi s da abertura quer detalhe tratado com cuidado a fim de com-
do Canal de Suez. e. em homenagem àquele por um grande cspet áculo.
evento. deveria recorrer a um terna do Egito an- Dic Karlsschiile r (O Discípulo de Karl )
ligo . O libreto é baseado numa novela do egip- de Laube foi apres e ntado pela prime ira vez na
tologi sta Aug uste Mariette, que esca vara a ne- seg unda-feira de Pá scoa de 1848 em Viena . Seu
crópole de M ênfis , e a aç ão aco ntece nos locais her ói é Schiller, em se us dia s de estudante. e
revelados pela pá: templo. portão da cidade e nenhum outro tema poderia ter inflamado mai s
tumba em Mênfis e Tebas. o público naquela ép oca. Um ano mai s tarde,
Em Aida, Verdi criou uma ópera em gran - Laube tom ou- se diretor do Bur gtheater de Vie-
de estil o , um a fusão da pompa ope rística fran- na . O cáu stico e es p irituos o lVielJer Th ea -
ces a. do bel ca nto ita liano e do drama mu sic al tcrreitung , de Ad olf Bãuerl e, preven iu- o so-
wagneri an o . Os ce nários vier a m de a tcl iê s bre o qu e o esperav a: " Pégaso domesticado e
pari sienses. Enquanto o pa lco mo str ava um a tran sformad o em cavalo de parada imperial e,
" noite enluarada às margen s do Nilo", o gran- em vez do templo dos deuses. um salão públi-
de rio , a cintilar com mil luze s. fluí a majesto- co de chás estéticos" .
54 . Cenár io mó vel em Bayreuth; Gurneman z c Parsifal à ca minho do ca stelo do Santo G raal. Desenho de ce nário de same nte di ant e das portas da casa de ópera. Mas La ube sab ia o que queri a. Seu teatro
Max Briickn er par a a abe rtura do Festspielhau s com Parsifal, 26 de julho de 1882 . "Cop iar a realidade pode ser uma coisa boa". não de via de stinar-se mer amente aos o lhos.
di sse Verd i uma vez. " mas inventar a realid ad e mas ao s ouvidos e ii mente. Co nstruía se u tra -
é melhor. muito melhor'. Sua Aula até hoje balh o num a linha de dire ção voltada para a
dificilment e pod e ter um efeito mai s ··real" do palavra e co m base e m en saios meti culosos.
que na vas tidão noturna do anfite atro d e Em vez do s bastidor es laterai s, introduziu o
Verona; ki, todos os es fo«..os histori ci zantes ce ná rio -ca ixa . repre sent and o interiore s com
para col ocar o reali smo no palco falham , e II pared es. Isto lhe dava a intimidade óptic a e
firm am ento inte iro torna-se parte da peça. acústica da qu al necessita va tant o para a peça
A última expre ssão maior do ex p ira nte de co nversação fran cesa qu ant o para a co mé -
realismo ro mântico -histórico foi a idéia do fes- dia de sal ão Biedcrrneier. Baniu tod os os ex-
tival de te atro. Ela levou Richard Wagner a cessos do cenário di strativo . Quando a cortina
co ns truir sua Fe stspi elhau s (Casa do Festi val ) se erguia e reve lava três cad eira s no palco. o
em Bayr euth, ab erta em IXX2 com "u ma peça público podi a e star ce rto de qu e devia es perar
fes tiva de co nsag ração de palco" : sua ópera precisam ent e três pessoas -nem mais. nem me-
Pars ifal, De acordo co m a co ncepção de Wag- nos. Laube acreditava que qu alqu er tip o de de -
ner e co m um plan o que Schinke l havia pro - cor ação osten siva encor aj ava a platé ia ii pre-
posto um a vez para Berlim , o fosso da orques- gui ça e ii levi andade. e era "in imiga m ortal do
tra foi ocult o dent ro do qu e Wagn er chamo u casto mundo poético" .
de " um abismo m ístico". Torn ou- se grande A severa op osição de Laube ao cenário
cuidado para evitar tud o o que pa recesse lu- elabor ado co ns tituía, na verdade. um prote sto
gar-co mum: " Parsifal, em última an ali se. pod e mais profundo . Era uma decl aração de gue rra
pertencer so mente à minh a criação e m Bay- à influênc ia da ópe ra sobre o palco. um a con -
reuth", escreveu Wagner, cinco meses após a fissão de fé no "seco esqu eleto do drama" -
premiêrc, "Doravante ser á apre sent ada exclu- um protesto contra o mundo col orido de
sivame nte lá. e m meu fest ival de teatro" . Wagn er e Meyerbec r, que se pultou a decl ama-
O teatro de efeitos rea listas também ti- ção num "t úmul o florido e ressonant e" . Como
nham. porém . se us oponentes. e um do s mais d iretor teatr al , Lauhe - embora tamb ém não
55. Mor te de S iegfried . Cena final t.1~1 segunda parte de Os Nibctungo s. de Christian Friedr ich Hebbcl . mon tado em ex tremados foi o dramatur go. crítico c produ - se opuses se a prazeres epicuristas - não tinha
1861 em Weimar com a dirc ção de Franz Diugelstcdt. Desenho de Carl Emil Docpl er (ex traído do Lcipz.igt'r l llustrirtr tor alem ão Heinrich Lanh e. Jú em I X46. em gosto pela culin ária g ou rnict da pompa opcrís-
Zl'illl1l g,I Rhl).

• 44 5
Híst o rí a /lJlIl1dial do Teatro.

tica; preferia a ela até mesmo a comida ca-ciru Wiener Stadttheater. Um ano mais tarde
de Ernst Raupach, "as batatas do teatro alc- deflagrou a luta entre as duas causas - ambas
mão, o prato quotidiano da pobreza". esforçando-se para aprontar e estrear Ein
Surpreendentemente, essa abordagem o- Bruderzwist iII Habsburg (Uma Briga entre
rientada para o teatro da palavra falhou com Irmãos em Habsburgo) de Grillparzer, Franz
um dos maiores dramaturgos daquele tempo, von Dingelstedt, diretor do Burgtheater desde
Friedrich Hebbel. Laube deu-se bem melhor 1870 e diametralmente oposto a Laube em
com o prato mais leve do Der Erbfõrster (O questões artísticas, levava dupla vantagem.
Guarda Florestal) de Otto Ludwig do que com Possuía de longe os melhores recursos técni-
Herodes IIl1d Mariamnr de Hebbel. Na sua es- cos e, graças ao trabalho anterior de Laube no
tréia em 19 de abril de 1849, a sombria tragé- Burgtheater, os melhores atores. O Stadttheater
dia foi mostrada para uma casa quase vazia. O apresentou a obra póstuma de Grillparzer em
ator Heinrich Anschütz, cujas memórias são, 24 de setembro de 1872, o Burgtheater, em 28
em vários aspectos, mais honestas e imparciais de setembro. Laube precisou pagar a dianteira
do que a prestação de contas do próprio Laube de quatro dias com a censura de ter deixado
acerca do seu tempo de Burgtheater, explorou uma "impressão de pobreza e improvisação".
as razões para esse fracasso. O Burgtheater, por outro lado, foi elogiado pelo
Ele as viu na situação política na prepon- Wiel1er Extrablatt por ter sido "maravilhoso"
derância de que dispunham então Karl Gutz- e por haver causado uma impressão profunda.
kow e Gustav Freytag, os dramaturgos da "Jo- especialmente na cena do campo.
vem Alemanha" (cujo objetivo era encontrar Todo o realismo e historicismo, toda a arte
um teatro nacional e democrático) e, sobretu- da cenografia, direção de cena e de palavra que
56. Esboço do Duque Gcorg II de Saxe-Meiningen: cena final de Romeu e Julieta, 1897.
do, no próprio Laube. Auschütz achava que havia amadurecido nos teatros da Europa atin-
precisamente Die Karlsschiiier de Laubc, este giram seu último grande ascenso no estilo dos
"primeiro gole de mel da taça da liberdade", Comediantes de Meiningen, cuja fama e in-
fora tão sedutoramente fácil que obstruíra a fluência se espalharam por todo o Continente
receptividade da platéia para o espírito pesado c a Grã-Bretanha. e até mesmo os Estados Uni-
e complexo de Hebbel. Mas ele acreditava qu" dos. Esta troupc mostrou ao mundo, em 2591
a outra metade da parte da culpa cabia ao pú- cspetáculos em tournce, apresentadas em 3'1',
blico. tão obcecado com o materialismo e com cidades, o que um trabalho teatral metódico
o realismo que "o mundo feito de telas por trás havia conseguido em termos de qualidade cê-
da ribalta" estava destinado a lutar em vão. nica na pequena capital do ducado de Mei-
O próprio Laube protestou contra a im- ningen.
putação de que se mostrara complacente com O príncipe herdeiro de Saxe-Weimar le-
qualquer "tendência" de sua platéia. Durante os vado em 1866. como Georg II, ao modesto tro-
dezessete anos de sua administração do Burg- no de seu ducado, devotou seu principal intc-
theater ele se concentrou cada vez mais em di- resse ao teatro da corte, construído em 1831 e
rigir a elocução do texto e cultivar a dicção. e até então usado sem maiores pretensões. O
atraiu para a sua casa de espetáculos atores e duque Georg II agora o desenvolvera num tea-
atrizes de primeira linha, tais como Friedrich tro modelar. Abdicando da ópera e concen-
Mitterwurzer, Adolf von Sonnenthal, Bernhard trando-se no drama, construiu um repertório
Baumeister, Stella Hohenfels, Charlotte Wolter clássico de montagens lJuc sobressaiu numa
e Hugo Thinling. Em seu repertório, deu a amhiciosa combinação de palavra e imagem,
Grillparzer a merecida prioridade. Se não era precisão em estilo e cenário. Neste projeto, foi
possível distrihuir os papéis nas suas peças, disse assistido pela atriz Ellen Franz, que recebeu o
ele, isto apenas revelava as falhas do elenco e a título de Freifrau von Heldburg quando se ca-
necessidade de recrutar gente nova. sou com o duque em I H73.
A rivalidade em torno do legado de Grill- O ator Max Grubc, que foi um dos intér-
parzer trouxe a Laubc uma de suas mais amar- pretes, deixou um registro do trabalho de am-
gas derrotas. Ele havia deixado o Burgtheater bos na Geschichtc der Mcininger (A História
em 1867 e, em 1'1',71, assumido a direção do dos Mciningcr, 1926). "A atração do duque 57. Don Juan und Faust, de Christian Dicu-icb Grabbc. no Hofthcatcr, Mciningcn. 1'i,Y7.

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H i s t ár ia Mun d i al d o Tvu tr o • • A E ra du C íd a d an ía Bn r g u cs a

pela encenação", escreve . "de início partia de nou -se tão grande autori dade para as e ncena- de pano ao fundo . O duque Georg, entre tan to, ment os criadores da atmo sfera da s grandes ce-
uma abordagem puramente pictóri ca das tare- ções do s Mei ninger qua nto o eram os efeitos permaneceu fiel ao velho pri ncípi o teatral: o de na s de multidão reali sticamente movimenta-
fas . A importância literári a e dramat úrgica do da pintura hi stórica ingle sa para Ch arl es Kean manter a pintura estática e a core og rafia em mo- das. O astro de hoje poderia ser o figu rante de
que foi feito em Meiningen é. em primeira ins- cm Londre s. vimento. am anhã. Os melhore s intérpretes alemães do
tância. atribuída à influência que Freifrau von Mas havia um ponto no qual os Meinin- Os Meininger, em suas extensas tourn ées, período atuararn com os Meini ngers e apren-
Heldburg exerceu sobre seu marido" . gers diferiam ba sicamente dos princípios de cfe tuaram mudanças em sua s mont agens, e o deram com eles - incl uindo Ludwig Barnay,
Em longos ensaios. qualquer produção era direç ão cénica de Kean: nunca se permitia qu e mundo do teatro começou a seguir seu exem- Jo sef Ka inz, Max Grube , Friedrich Haase,
elaborada nos mínim os detalhes. e ce nas em o centro do ce nário pintado coincidi sse com o plo. Bastidores laterais suspensos davam espa- Arthur Kraus sneck, Ludwig Wüllner e Amanda
so lo ou de multidão eram concaten adas e har- cent ro do palco real; Nada de simet ria! O du- ço a elementos tais como ped estais, escadas ou Lindner.
mon iosamente ligadas . Tão preci sos e "autên- que lera Boile au: L' ennui naquit 1111 jour de um piso com terraço, a fim de fornecer diversos Quando o mai s íntimo colabor ador do
tico s" quanto os desempenhos deviam ser os l'uniformit é (" O tédio nasceu um di a da uni- níveis . (Já em 1858 . Dingelstedt havia utiliza- duque , o diretor de cen a Ludwig Chronegk.
décors e os trajes. e o próprio duque desenha- formidade" ). E seu interesse em art e j ap onesa do um lance de escada arq úitetural no teatro em leve um co lapso e morre u, o duque Ge org sus-
va os cenários e os figurino s. Ele esco lhia a ensinou-lhe que a assime tria marcad a aumen- Weimar.) Não impo rtava o quão volumosa a tou as excursões. O último espe tácul o da com-
cor. o co rte e o material do s cos tumes . aten- ta o encanto óptico. bagagem da Companhia pud esse ser, o duque panhia no exterior foi Noite de Reis de Sh ake s-
tando para cada detalhe . Teci do pesad o, velu- Para cenas em interiores, o teatro de Mei- nunca se punha em marcha sem levar consigo peare, em 1Q de j ulho de 1890 , em Od essa .
do precioso. seda pura, pe les de qua lidade em ningcn prefe ria o cenário-caixa, um c õmodo todos os itens dos cenários e contra-regragem . Ma s os pri ncípios cénicos do s Meininger
vez da habitu al pele de coelho. foram introdu - co m ple tam e nte de corado co m tet o , ni chos Os Meininger nunca permitiriam que um so b re vive ram ao natural ismo, ade ntrando o
zidos - não " tec idos de teatro de Katz de embutido s; no primeiro plano, colunas e balaus- figurante recrutado durante uma tourn ée pi- séc ulo XX . Stanislávsk.i, em Moscou. c An toi-
Krefeld", como diz Max Grube, mas fazendas tradas co nstit uíam um pré-requisito, sugerindo sasse o palco de suas rep resentações, sem pri- ne , em Pa ris, admitiram sua dívida para com
feitas sob encomenda especial em Lyo n e Gê- a "quarta parede" invisível. Esta inovação havia mei ro treiná-lo ; nenhum m embro do elenco, eles, em mat érias tais como: a exatidão hi stó-
no va. As armas vinha m de Granget em Pari s. sido introduzida em Paris nos primeiros dias do por menor que fosse sua parte, era substituível. rica, a sugestão cénica de um a quar ta parede.
O s cená rios, segundo os es boç os do du- realismo, e também por Laube, em Vien a. Me smo papéi s mudos eram individualmente a atuaç ão em conjunto e a idéia de qu e a dire-
que , eram executado s pelos irm ãos Brückner O duque Ge org não empregou os cenários escalados, porque cada papel era um dos ele- ção cê nica cr ia um estilo.
em Coburg, que trabalhavam também para móvei s que então ca usavam sensação cm Viena
Ba yreu th , A cor básica da ce na cra um mar- e Londres, embo ra tivesse ficad o impressio-
rom avermelh ado que realçava as cores bri- nado com o uso que Charles Kean fazia dele s.
lhantes dos figurin os. O duqu e havia es tudado Em Henrique Vl lI , de Shake speare. o diretor
co m o pintor histórico Wilh elm vo n Kau lbach inglês aprese ntava um panorama co mpleto , da
em Munique, cuja teoria da co mpos ição para Abadia de We stminster em Londres até Grey
o palco, inspirada por Corn eliu s e Piloty, ror- Friars em Greenwich, deslizando num painel

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58. Desenho de cenário do Duq ue (i l' or~ II dl' Saxc-Mc ini nge n para a tragéd ia n,p.H S ist us \!. de Julius M inJ ing .
Mcini ugen . I l'7 .t

• ·N8 • .J.J9
Do Naturalismo ao Presente

INTRO DU Ç ÃO "A arte tende a tornar-se de novo natureza,


Ela o faz até o máxim o de se us recursos, em
A e ra da máquina havia co meçado. A ciên - qu alqu er é poca dada" , disse Arn o Holz , o pio-
ci a e m pree nde u a tare fa de int erpret ar o ho- neiro defen sor ale mão do naturali sm o co n-
mem como produt o de sua or igem social. Fato- seqü ente , sob a influência de Zol a, A fa ntasia
res biol ógicos fora m reconh ecidos co mo forças subjetiva de veria ser totalmente eliminada, a r-
formati vas da soc ieda de e da históri a. Numa gume ntava Hol z. Co m isto, Dumas F ilh o. na
é po ca em qu e a soc iologia começ o u a investi- França , havia dado um corte afiado à sua ampla
ga r a rel açã o do in di víduo c da co m unida de c críti ca moralizante , aind a que seu conce ito de
a de rivar novas teori as estruturai s da s m uda n- th éâtre utile a ser viço da renovaçã o soc ial fo sse
ças o bse rvadas na vida colcrivu, os hi stori ado - bastant e tó pico. Mas para ele o demi-monde era.
re s da cultura clara me nte pr eci sa vam també m antes de tud o, um meio rico em contrastes.
de no vas ca tegor ias de c lass ificaç ão . No drama naturali sta, o própri o quart o
A visã o de qu e o destino ind ivid ua l é co n- estado erg uia sua voz, um a vo z de acu sação.
di ci onado pel a di sposição c pelo impul so ins - sofri me nto e revolta. Tolst oi. Gorki , G erhart
tint ivo ( t rieb ), no co ntex to de juízos de valo r Hauptmann desc er am aos bairro s do s o primi-
moral deri vados de co nfli to s de po de r e inte- dos e hum ilh ad os. A co letividade , mai s qu e o
resse s, gove rnav a o ro mau expe ri m e n ta l dos indi víduo , era ag o ra o herói do dram a: os fa-
gr ande s re alistas fra nceses Bal zac, Flaubert mintos tecel ões silesianos em Gerhart Haupr-
e St endh al , e deu no vas dimen sõe s ii ficção mann , os parias arruinados de No Fundo, de
na rrativa de esc rito res co mo Di cken s e Tha- Górki, os hab itant es dos bair ro s mi se rá vei s de
ckcray, Dostoiévski e Tol st ói. Hippolyte Taine Dublin em Sean O 'Casey.
exigia o me smo "se us du rée l" (" se ns o d o A denúncia da ordem social existe nte as-
re al " ) do dr am atu rgo . O de ve r de ste últ im o, sum iu um gume revolu cionári o , Ela foi a fiada
decl arava e le, e ra o de le var a o pa lco um a rea - pelos ex pressio nistas e, mais ainda , no teatro
lid ade qu e ex plicas se todo o comport amento proletári o e po lítico após a Primeira G ue rra
hum an o co nfo rme det erminad o pel a " raç a. Mundial. O espírito agressiv o tran sferiu -se do
m ei o-ambient e e mo me nto " , É m ilc Zo la, e m texto para a encenação, como se viu em Meierh old ,
se u Lc Naturalismo ali Tlu'át rc (O N at ura lis- Piscator o u no teatro de Agitprop , A di re ção
m o no Teat ro, I RR I ). c unho u uma se nha pro - versus o text o levou às controv é rsias e m torno
gra ma tica para a nov a a bo rda gem qu e se to r- de Pi sc a ro r no s a no s 20 c , apó s 19 6 5 , ii
nou a d ivisa da luta soc ial co ntra a bu rgu esia pro vocati va dem oli ção lotai da velha es trut ura
conven ci onal. da peç a corno tal.
.,-··
1
..

H i s t ó ri a Mu n d ía í d o Tru t r o • • D o Na tura l is mo '10 P re s c n t c


~~

o diret or moveu-se para o ce nt ro da plas- o N ATUR ALI SMO CÊN ICO Arts; O programa constituía-se de peças de um apa gou . Ant oin e registrou , cuidadosa me nte, os
mação do espetáculo e da crítica teatr al. Defi- ato de Byl, Vidal, Duranty e A lex is, mais o ele- e ntrete ns desse desen volviment o . Após um a
nia o estil o. mold ava os ate res. dom inava o o Th é â t r e Libre d e Par i s ment o decisivode seu sucesso , um a dramatização aprese ntação de O PaIO Sel vag em de lb sen em
cada vez mais compl exo mecanism o de técn i- do relato Jacques Damou r de Zo la. 1891 . decl arou qu e seu teatro estari a abe rto ao
cas cê nicas. O palco giratório, o c iclorama, a Zola critico u co m palavras duras o teatr o O crítico de teat ro do Figuro, Henri Fou- dram a simbo lista, tant o qu ant o ao natur al ista.
ilum inação policromática estavam à sua dis- de sua ép oca e não deixou dúvidas de que se u quier, escre veu co m det alhe so bre esta "curio- Mas se recu sou a levar La Prin cesse Ma le ine ,
po sição. Form as de estilo e de jogo teatral se- alv o principal era a veneráve l in stituição da sidade" que se havia produ zido num lugarzi- de M auri ce M aeterlinck, com o argume nto ju s-
guiram em rápida sucessão dentro de poucas Co médie Fran çaise. Seu escrito programáti co nho fora de mão em Montmartre, numa Pari s tific ad o de qu e urna peça assim não es tava ao
décad as, sobrepondo-se: natur alism o. simbo- Le Na tura lisme ali Th éãtrc, de 1881 . era um que não se cansava de surpreender. Ele a acla- alc an ce de seu teat ro e qu e mont á-la sig nifica-
lism o. ex pressionismo. teatro co nve ncio nal e incisivo aju ste de contas co m o pateti sm o co n- mou corno " uma daqu el as lâmpada s ace sas por ria entrar num a aventura que fat alm ent e ter -
teatr o liberado. tradição e experime ntação, dra- vencional da decl am ação petri ficad a, e decla- um gê nio ou um malu co , e qu e um dia será a m inari a na dis torç ão do intuit o do auto r. Os
ma ép ico e do absurdo , teatro mágico e teatro rava guerra às " m ensonges ridicul es" (" men- fonte de um novo am anhecer o u urna confla- simboli stas assumidos tinham um campeão e m
de massa. tiras rid ículas" ) das peças de sala de es tar co m gração". Lugn é-Po ê, que lançou a pont e até o teat ro po -
Bert olt Brecht propôs a qu estão di al ética: as quais Ém ile Au gier, Alexandr e Dumas Fi- A ntoine não era um gê nio . mas sabia o ético moderno .
o teatr o se rve para o entr eteniment o ou para lho e Victorien Sardou do minava m o palc o. que queria, Havia se fam iliariza do com o ofí- O o lhar de Antoine voltou- se para Ber lim.
prop ostas did áticas" Avaliand o meio século de Zola exigia um dram a natur alista que aten- c io teatral qu and o figuran te na Comédie Adquiriu os direitos francese s de Die Weber (Os
ex perime ntos em quase todos os países civili- desse a todos os requ isitos do palc o se m se Française e com as teori as naturali sta s da arte, Tecelões) de Ge rhart Hauptmann, que o Th éâtre
zad os, o nde "domínios temáti cos e co njuntos apegar às leis ob soletas da tragéd ia clássica. como ouvinte das palestr as de Hipolyte Taine. Lib re produ ziu com o título Les Tisserands,
de problemas inteiramente novo s foram con- Corno um exemplo did ático, recomendava a Habilmente, estendeu o rep ert ório do Théâtre men os de três meses após a estréia na Fre ie
qu istad os e convertidos em um fator de emi- adaptação que havia esc rito em 1873 de sua Libre e incluiu nele peças de toda a Europa. Bühne. Ant oine conseguiu mais com esta mon-
nente sig nificação social". ele chegou à co n- novela Therêse Raquin , Th érêse e Laurent, Depois de tomar em co ns ide raç ão os autores tagem, decla rou o crítico Jaurês de Paris , do que
clu são de que tais fatores "levaram o teatro a entregues ao azar de seus apetites , eram "ani- franceses contempor âne o s qu e não tinham tod as "as lutas e discussões políticas".
uma situação em que qualqu er am p liação ul- mai s humanos" . Ele, Zola, co mo autor, havia acesso aos grande s te at ro s , acolh eu Ibsen, A peça fo i co mo um grito de desgra ça e
teri or da vivência intelectual, social e política simplesmente praticad o em dois co rpos vivos Strindberg, Tol st ói, Turgu êni e v, Bj õrnson , desesper o. Firm in Gémier represent ou o Pai
des tinava-se a arruinar a vivência artística " . a dissecção qu e os cirurgiões prati ca vam nos Heij ermans e Hauptmann . S uas obras " tinham Baumert - e le proje tava uma acu sa ção ún ica,
Este d iag nós tico de uma crise tem validade a- mortos. O mét od o do dram aturgo naturalista, o efe ito de um tr o vão no pa lc o fr an cê s" silenc iosa e a meaçado ra, co m a ca nção dos
tempor al e mio restrit a ao perí od o de 1890- dizia e le. co rre spo ndia aos procediment o s da (Catulle Mendes). tecel ões retumband o fora de cena du rant e todo
1940 , ao qu al era dirigido. pesquisa c ien tífica. que o séc ulo e mpregav a Esse s autores ecl ipsara m o s pionei ros do o seg und o ato . No qu art o ato , e m qu e os tece -
Sta nis lávsk.i e Max Reinh ardt , Toscan ini co m zelo febril. Zol a trabalhava co m o escalpo ; dram a natu ral ista francês . Zo la . o s irm ãos lões invade m a ca sa do indu str ial , a platé ia sal-
e Stravi nski. Diaghilev e Anna Pavlova des- revelava . fr ia e imparcialment e. os loci da cri- Gon court (cuja Henri ettc Marechal ca usara um tava d as ca de iras . O so mbrio q uadr o da revo l-
pont aram co mo meteoros no fir ma me nto do se. Empunh ava II c sca lpelo e co meçava a co r- e sc ândalo em 1865 ) e He nri Be cqu e i Les ta de I R44 do s tecelões silesia no s pin tado por
teat ro . Pessoas viaj ava m a Pari s. Londr es, tar de fora - enquant o Dost oi évs ki co loca va Co rbcaux - Os Corvos) j á era m vistos corno Ge rhart \-I au pt mann ajustava-se à atmo sfera
Berlim , Monte Cario e Mosco u para assistir seus heróis di ant e de uma câma ra de ra io-X ultrapassados, quando viera m a ser mont ados. de cr ise socia l que impregn ava tod a a E uropa
aos espetáculns de drama . ópera ou bal é so bre para ex plorar, a partir do inte rior. o qu e havia em 1890 , pelo Th éãtre Libre e pela Freie Bühne nos a no s YO. Es tava destin ada a ler um efe ito
os qu ais "se" fal ava. O teatro lançava pontes em sua alma. em Berlim. político num a época de sub levação. qua ndo o
sobre fronteiras e entre co ntine ntes . A Améri- A poiado nas re ivindi caçõe s do g ra nde O grande esteio do teatro naturalista, po- palco tinh a, co mo nun ca antes . o adqui rid o
ca fazia contribui ções cada vez ma is signifi - Zo la e enc orajad o por sua benevo lênc ia, um ré m , foi Henrik Ibsen . No co rre r de poucos d ire ito de se r tópi co e ag ress ivo . O te at ro na-
cativas para o co ncerto teatral do séc ulo XX. funcionário desconhecido da Co mpanhia de anos, sua peça Espect ros havia a tiçado vivos turali sta deu o prime iro passo . Mas e m I !;<)(,.
A fit a de ci nema desenvolvia-se numa ob ra de Gás pari sien se ou sou abrir a primeira bre cha debates acerca do dram a mod ern o em toda a Vim Roi (U bu Re i). a cáustica far sa de A lfre d
arte autônoma. na perfeição do teat ro estereot ipad o. Em pou- Europa. Em 1889, con sta va do program a da Jarry sobre os usurp adores, baseou -se cm re-
Ob s ol ~t a . a opereta foi supla ntada pelo cas semanas André Ant oine e um grupo de in- inauguração da Freie Bühne e m Berlim. Em c ursos de esti lo inteiramente diferentes e un-
musical , cam seu ritmo agres sivo, dança, pan- térpr etes amadores ha viam atraído a atenção 1890, foi apre sentad a pel o Th éâtre Libre em tinatu rali st as ,
tom im a e aparato cênico. Show Boat , Porgy n ão apenas de Pari s, mas de toda a Europa. Paris, em 1891 pelo ln dep endent Theatre em Qu and o André Antoine escreveu suas
and Bess , lVesl Sitie Storv; com se us co lori- Em 30 de março de 1887 , o Théãtre Libre Londres; foi produ zida em 1892 por Ermette mem óri as, dividiu-as em três fases. tra ta ndo
dos ense m b les foram mostrados pel o globo (Teatro Livre) de Ant oin e aprese ntou-se pela Zacconi em Florença e e m 1896 em Barcelo- respectiv am ente da luta do Théãtre Librc co n-
tod o. Agê ncias mundiais trou xer am suce ssos primeira vez perante um círcul o estrito de crí- na; Stanislávski e nce no u -a em Moscou ; tra o s defen sores do teatro conv en cional. no
da Broad w ay a Viena, a Ópera de Peq uim a ticos e homen s de letra s. O nom e tinha sua M eierhold apresent ou -a em São Petersburgo per íodo de 1887 a 1895; da conqui sta co m'
Pari s, o bal é Bolsh oi a Londr es. a Corn édie origem nas palavras de Victor Hugo so bre " le em 1906 - já numa ence nação se m cortinas, plet a do gra nde p úblico pelo Th éâtre A ntoine ,
Franç uise a Nova York. Os tea tro s do mundo thcât r« en lib er u'" ("o teatro em liberd ad e" ); deliberadamente an tinaturali st a. entre I!l9(' e 190 6 ; e de suas atividades co mo
torn ar am -se propr iedade co mu m d o tea tro o local de de sempenh o situava-se num quin- Com o program a co mbativo . o naturalis- admin ist rad or do Od éon , subs idiado pel o go-
mu nd ia l. tal na Pas sage (hoje rua ) de r Elysée dcs Beau x mo co nstituiu um fogo imp etuo so qu e logo se verno nos anos 1906 a 1914.
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H ís t o ri n l\t ll ll t /i ll / do T(' O frO • • /) 0 N o tu ru lís m o u o P U ' .\ C II ( f '

A fase impor ta nte para o desenvol vimen- açoug ueiro no palc o, co isa qu e fez num aces- que a sup licante e se us doi s filh os. ao se apro- par áfr ases do so nho e do int ele ct o. do engaj a-
to do teatr o foi a primeira, o período no qu al o so de rai va, qu and o um ce nógrafo o deixou na ximar d o govern ador Ge ssler, qu e es tá ca m i- m ent o so cial e da iro nia rom ânti c a ,
Th éâtr e Libre mudou-se das de pendências pro- m ão. Foi uma solução rel âmpago, nasci da do nhand o à s ua fre nte vo lta m as cos tas pa ra a
visó rias na Passage de I' Elysée des Beaux Arts ma u humor, não um barbari sm o inerent e a seus platéi a . o F r e ie Bii h u e d e B e rl im
para o Th éâtre Montparnasse na margem es- princ ípios. " Por qu e e sta novi d ade ló g ica e de m od o
querda do Sen a e, finalmente, para o Menu s- Não exist em front eiras claras e ntre a in- algum d ispendiosa não d everia substitu ir aque- Em Berlim, o im p ulso pa ra o teat ro natu -
Plaisirs no Boul evard de Strasbourg. ten sificação de efeitos e flagrantes verdadei- las intoleráveis fo rm as convencionais qu e acei- rali sta originou- se no d escontentament o críti-
O estilo c ênico naturalista de Antoine, ra me nte realistas e naturalistas e o realismo tos- tam os sem saber o motivo?". per guntava An- co co m os estereót ip os do teatro com ercial e
" imp regné de réalité" ("impregnado de reali- co , não artístico. Elas são, em últi ma análise, toine , Mas nem os astro s da Coméd ie Fra n çai- co mo re a ção con tra a tut el a da cen sura, Po e-
dade "), inspiro u-se tIOS Mcin ingen. Ele viajou um a qu estã o de gosto pesso al. Cert a vez, lbscn se, nem S arah Bernha rdt , nem Coqu elin teri - tas e dram aturgos ace ita va m o ap el o que lhes
especialmente para Bruxel as, em j ulho de c u m p rime nto u o ce nó g ra fo d o Ch ristia nia a m permitido q ue se u efeito sobre o pú bl ico er a fe ito no se ntido de qu e a bord asse m os pro-
1888, par a vê-los atua r no Monn aie Theater Theater de Oslo, Jc ns Wan g, di ze ndo-lhe qu e fosse prejud icad o de ssa man eira . Durant e sé- blemas de sua é poca . D ie naturwissenscha ft-
durante duas se ma nas . Co mo Stanislávski em suas árv ore s eram pint ad as d e m an eira tão fiel culos, todo g ra nde ato r havi a exig ido o privi- lich en G rundlag en der Poesi e (Os F undame n-
Moscou, ele admirav a o cuidado que tomavam à natureza que poderiam e nganar um cac hor- légio de o cupar a fre nte do palco, de d irig ir tos Cie ntíficos da Poesia. 1887 ). de Wilhe lm
co m o detalh e real ista (em bora desap rovasse ro. Ma x Reinh ardt , e m sua famosa mont agem seus mon ól ogos di re ta me nte ao pú blico e o lha r Bõsch e, foi escrit o int eiramente no espírito de
as despes as desnecessária s qu e fazia m) e elo- do Sonho de Uma No ite de \I,'rilo e m Berli m, o palco co m o m ol dura decorativa de sua a tuu- Zo la. Em se u folhet o Re vo lution iII der Litera -
giava a con sistên ci a lóg ica de sua conce pção não resistiu à tent ação de trazer d as floresta s ção pesso al. Não o bsta n te Iod as as mu dan ç as tur (Re vo lução na Lit e ratura), Karl Bleibtre u
cênica. esta tais pru ssianas e e rg ue r no palco g iratório de esti lo, os pr incíp ios d o tea tro da Renasce n- ex ig ia do poet a u m a participação ati va na vida
"O mili eu (meio ) determina os movimen- um bosque de árvore s e arbustos ve rdade iros . ça pe r m a nec ia m , bas ic a me nte . in alt erados. públi ca e a coragem de descer às áreas mais
tos das pers on agens" . Antoine explicava, "e David Belasco, o precursor american o do na- Haviam de sobrev iver até mesmo no estreito so mbrias da fom e e da pobreza.
não o contrário" , Es te era tod o o segredo da tur al ismo, trou xe ao palco nova-iorquino n que espaço do palco-c aixa, pelo menos por razões Da mesma fo rma qu e a Paris da mesma
novidade qu e ele pre te nde ra in troduz ir por co ns iderava co mo có pias fiéis d o O este selva- ac ústica s. é poca, a indústr ia do es pc uic ulo e m Be rli m
meio de seu s exper ime ntos no Théâtre Libre . ge m. co m a aur a ro mâ ntica d e se us explora- A nto ine o bteve cx iio na sua tent ati va de vivia da peç a de sala d e vis ita e da co méd ia de
Mil ieu "genuíno" , no sentido da " reproduction dor es d e o uro e band idos. Q ua nd o e nce no u The concretizar um dese m pe nho naturali sta de co n- costu me s. O Teat ro Re al . a lta me nte subve nci-
exaete de la vie" C're produç ão exa ta da vida" ) Gir l of th e Goldcn m 'st (A G a ro ta do Oeste j unto po rq ue se us a tu re s e ram ama dores . e ele. on ado, lim itava-se a ad ula r os cl ássicos. U m
de Zola, imp licava, no palco de An toine, um a Do ur ado ). à qua l a m úsica de Pu cci ni de u um por co nse guinte . não e ra detido c m se u ca m i- grup o de hom en s e ng aj ados no ca mpo da lite -
caixa cêni ca mostrando aposentos com portas brilha n te arranco op erístico c m 191 0, tra ns- nho por basliües de a mb içã o pessoal. S ta nis- ra tu ra e do dram a seg uiu o ex e m plo do Th éâtre
praticáveis e j anel as, tetos de madeira suste n- formo u o palco do New Yorks Met ropol iran l.ivski co nseguiu o mesmo devi do à devoção Li bre d e Pari s e. e m a bril d e 1889, fundo u a
tad os por pesad as vig as. tron cos de árvores na- O pera Hou se num " genu íno" eamfl de caba- que lhe de d ica vam os se us int érpret es pr ofi s- assoc iação teat ral Freie B üh ne . Aq ui, també m,
tur ais, gesso de verdade cai ndo das pared es, nas californiano. E. no te rce iro ato , q uando o sionais. Isto não oco rre u en tre Sha w e Henry o nome expre ssava ao me smo tempo o pro -
Seu famig era do go lpe de mestre foi pendurar. laço é posto no pescoço do bandi do Ramerrez Irving. o guard a-sel o da imerge nte era do ator- gra ma : livre de co ns ide rações comerciais e li-
certa vez, postas de carne crua em ganchos de - Enrico Caruso fo i apla ud id o no pap el, co mo d iretor, quc se des van eceu final ment e sob a \ T C d a coação da cen sur a. O grupo elegeu co mo
o ast ro da noit e - as árv o re s da fl o re sta virge m opulê ncia da s novas possibilidades cê nicas. tais se u presidente o j ovem c rítico de literatura e
do ce nário eram tão reai s quant o as ár vores de como M a x Rci nhardt abri u-as nos prim eiros teat ro O ito Brahm.
Reinhardt em Berlim. vinte a no s d o sé c ulo XX . A d if u nd id a s u po s iç ão d e q ue A nd ré
O se g undo co m po ne nte d o na tural ism o A é poca d o nat ura lismo fo i ta mbém a d as A nto ine e seu grupo tivesse m re pre sentado c m
cê nieo de Antoin e e ra o jogo co m a "quarta pri me iras avent ur as co m o "c inem ató g ra fo" . Berlim em 1887 e ass im inspirad o a empresa
pare de"; ou seja , a qu c ma nda va ignorar o pú- Os fi lme s de C ha rles C haplin e Buster Keat o n eq uivalente é erró nea. As própri as memórias de
blico. Q ua ndo a cena requ e ria, o aror voltava sobre a lut a do ho me m co m um co ntra a tra i- Ant oine nada d izem a es se respeito. Entretant o.
as costas para a platé ia. A pri m eira lei da dire- ção da s co isas infl e tirnm a ênfase nat ura lista O ito Brahm, o d iret or-administra do r do Freie
ção cê nica e ra não mais o e fe ito pict óri co fron - ao mundo da coisa mat eri al par a o g ro tesco e Bühne, estivera em Pari s e m 1888. Ele ha via
tal, vo ltado para o es pec tad or - mas a posição para o cómico . A nto ine ded icou -se inte ira me n- co nheci do o bril ho declama tó rio da Co m éd ic
rel ati va do s atorcs, e xig id a pelo c urso da aç ão te ao cinema ap ós 1914. primeiro co mo ator e Française e tam bé m o se u rever so, o estereó tipo
e pe lo diálogo . O ma is famoso e xe mplo é a d iretor, e por fim co mo crítico. Rodou pcl ícu- alheio à natureza. e sem dúvida havi a ponde rado
ce na de Rua Pr o fun d a na mont a gem dos las utilizando m aterial de Dumas. Hugo c Zola. criticamente as pote ncial idades do Th éâtre Libre.
M einin gen de Guilhcnne Tcll de Schi ller. em e tran sp ós se u es tilo na tura lista do palco para a O Freie B ühne obtinha seu respaldo finan-
tela. Co mo Ren é C la ir escr eve u e m 192 2. Irata- ceiro dos assim chama dos membros "passivos"
va-se sim ples m e nte de tran spor " a do ut ri na d o q ue o integravam em base associa tiva. Seu mi-
Th éâtre L ibre ao c ine ma". Del e pro vei o o im - mero cresceu em um alio pa ra mais de cem. Suas
I . Ubu Rei. De- senho de- A lfn'd bIT) para sua peç a
Ubll Rei. Prime ira apn-.. l· ll[õ li,;:HJ e m I Xl) (). no Th éâtre de pulso mai s fo rte pa ra o co ntra-mov ime nto q ue co ntribuições cob ria m as despesas de ate res e
I' Ocuvrc. Pari.. . con d uz iu ao fi lm e fant ástico e surrc a lista, Il S dire tore s. co mo tamb ém o alug uel do teatro. As
• 454 • -155
• Do Naturalismo (/0 Presente

organizações de freqüentadores habituais de tea- positalmente O instrumento. Mais tarde, des-


tro, que ainda são comuns em diversos países da culpou-se formalmente por isto quando o Freie
Europa, baseiam-se num sistema semelhante. Bühne o levou aos tribunais).
Uma das primeiras foi a Freie Volksbühne, fun- Com csta montagem, o naturalismo explo-
dada em Berlim já em 1890, por pessoas em parte diu no palco alemão. Não apenas a interpreta-
anteriormente associadas a Brahm. ção, mas a cenografia, também, era "fiel à vida".
O Freie Bühne foi inaugurado com um O cenário do segundo ato representava um pá-
tributo à "cabeça da nova escola realista", tio de fazenda com todos os detalhes, incluindo
Ibsen, o grão-senhor do teatro naturalista. um poço, um pombal, estábulos, arvoredo e jar-
Brahm escolheu Espectros, o mais controver- dim frontal, banco e portão do jardim c meia
tido e celebrado drama do grande norueguês. dúzia de diferentes portas e portões. "É uma pena
Ele fora apresentado dois anos antes em Ber- que eles tenham esquecido o item principal",
lim, mas após a estréia havia sido interditado escreveu malevolamente o crítico Karl Frenzcl,
pela censura. Agora, numa matinée dominical "um monte de esterco com um galo cantador
de um clube privado, estava protegido da polí- em cima". (A tentativa de reproduzir os cheiros
cia. Um elenco brilhante acentuou a singulari- do ambiente foi rejeitada - porque teria sido
dade do evento, em 29 de setembro de 1889. impossível livrar-se deles nas trocas de cena, que,
O programa anunciava orgulhosamente a se- no melhor dos casos, poderiam apenas ser
guinte distribuição de papéis: Emmerich Ro- recobertos por novas "nuvens de odores".)
bert, do Burgtheater de Viena, representava o De repente, o nome do jovem dramaturgo
papel de Oswald; Arthur Kraussneck o do Pas- estava na boca de todos. O principal crítico
tor Manders; Marie Schanzer (a segunda es- dramático de Berlim, o novelista e poeta Theo-
posa do diretor Hans von Bülow, que perdera dor Fontane, colocou-se ao lado de Hauptmann.
Cosima para Richard Wagner) interpretou a sra. Aprovadoramente, descreveu-o como "o ver-
Alving; e a jovem Agnes Sorma atuou como dadeiro capitão do bando negro dos realistas",
Regine. Assim o Freie Bühne deu mostra de que mostrava a vida como ela realmente é, em
ter não apenas objetivos ambiciosos, mas tam- seu completo horror, que não acrescentava
bérn meios consideráveis. nada, mas tampouco nada subtraía, e merecia
A segunda produção tornou-se um marco o elogio de ser um "Ibsen inteiramente desi-
na história do naturalismo na Alemanha. Foi a ludido".
primeira peça de um jovem e até então desco- O Freie Bühne havia encontrado o "seu"
nhecido dramaturgo alemão, que havia circula- autor. Tornou-se o porta-voz de Gerhart Haupt-
do apenas privadamente e alertado a oposição: mann, da mesma forma que o Teatro de Arte de
o drama social Var Sonnenaufgang (Antes da Moscou tornou-se a casa de Tchékhov. Nem a
Aurora), de Gerhart Hauptrnann. A peça trata representação de Henriette Marechal. dos irmãos
da exploração dos camponeses silesianos, da Goncourt, ncm o esboço ambiental berlinense
vida e atitudes dos novos-ricos, do alcoolismo da Familie Selicke, de Amo Holz e Johannes
e da pobreza crônica. Esta famosa montagem Schlaf. nem as obras de Bjomson, Anzengrubcr
do Freie Bühne teve sua espetacular estréia em c Suderrnann puderam comparar-se com a res-
20 de outubro de 1889, no palco do Lessing sonância das peças de Gerhart Hauptmann.
Theater. Cartas anônimas de ameaça aos ato- O efeito de Die Weber (Os Tecelões), en-
rcs participantes anunciavam o escândalo que tretanto, revelou-se mais agitador no Théâtre
se devia esperar. A excitação febril no teatro Libre do que em Berlim. Isto se deveu prova-
lotado chegou a seu clímax no quinto ato. No velmente a considerações pessoais de Otto
momento que a rubrica pede que os gritos de Brahm. Uma primeira representação pública
uma mulher cm trabalho de parto sejam ouvi- originalmente planejada por Adolphc L' Arron-
dos dos bastidores, o médico Ixidor Kastan - ge para o Deutsches Thcater foi proibida pela
no meio de um tumulto dc aplausos e protes- polícia no último momento. Assim, coube ao
tos - ergueu-se de sua poltrona e brandiu um Freie Bühne , um clube livre da censura, (l
2. Marcha dos Tecelões. Água-forte de Kâthc Kollwitz. Berlim. I R97. Inspirado cm (h Tecelões de Gerhart Hauptmann, par de fórceps sobre a própria cabeça (ele ha- mérito de ser o primeiro a representar essa
drama montado pela primeira vez no Freie Bühne cm Berlim. 1X93. Kãthe Kollwitz começou a elaborar o Ciclo dos
Tecelões dois anos após a estréia.
via planejado esta demonstração e trazido pro- "mais poderosa obra da moderna literatura

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• D o Na t ura lis mo dO P re s en t c

de acusação" , em 26 de fevereiro de 1893. Os IX91, George Bern ard Sh aw publicou se u en-


principais c ríticos notaram qu e, es tranha mente, sai o A Essência do Ibscnismo, uma agud a re-
o efeito não ha via sido Ião e letrifica nte co mo j eiçã o do teatro comercial e dos astro s, da peça
seria de esperar a partir da leitura da pe~·a. de intriga à la Sardou (sa rdood ledu m igual a
0110 Brahm po ssiv elmente já tinh a plan os sardô n ica -pa té tica) , e do s a ssim chama do s
futuro s em m ente . Um ano mais tarde (e m pseudo-ibseni stas. Como crítico de teatro do
1894 ), dei xou a direção do Frei e Bühne e as- Sa turday Review. Shaw int er veio diret am ent e
sumiu o Deutschc Th eater . na Schumanns- nas pol êrnicas correntes sobre o novo dram a.
trasse , por dez anos . Lá, em 25 de setembro de O s alvos favorit os de se us violentos ataqu es
1894, apre sentou ao públi co ger al uma versão eram as peç as "be m-feitas", de problemática
desarmada de Die Weber, de Hauptrnann. com reali st a , de Pinero, c uja Thc Second Mrs.
Rudolf Rittner, Josef Kain z e Arthur Krau ss- Tanqu eray (A Se gunda Senhora Tanqueray)
neck no elenco. A ce ns ura mante ve- se cal ada teve ca sa cheia durante meses.
c o sucess o de público foi garantido . Ma s para Sh aw medi a as qualidades do s di retores
o Freie Bühne a saída de Brahm significou ao de co mpanhia em Londres por sua relutância
me smo tempo a pe rd a d u "auto r da casa" , e m enc enar lb sen . Henry Irving e Herb ert
Gerhart Hauptmann , que ago ra naturalmente Beerb ohm Tree , os dois celebrados repr esen -
entregava suas peç as ao Deutsches Theater. A tant es du teatro reali sta, saíram-se muito mal.
presidência do Fr ei e Bühne pa ssou a Paul Shaw não os perdoou por cortarem Shakespeare
Schlenther, que se tornou também na ocasião a seu critério e por destruírem a estrutura de
seu diretor administrativ o e era um dos mais sua s cena s em prol do grande efeito pict óri co.
3. Cenário de Honneíes Hinunelfahrt (A Ascensão de Hann ele ). de Gerhart Hauptmann, mon tada pela primeira vez em destacados membros fun dad ore s da associa- A g ue rra aberta explodiu quando Irvin g rejei -
1893 no Konigliches Schauspielhaus. Berlim . Aquarela de Euge n Quaglio (Munique. Theater Museum ), ção, j untamente com os esc ritores Maximilian tou uma peça de um ato sobre Napoleão qu e
Harden, Theodor Wolff, os irmã os Hcinrich e Shaw havia escrit o especialmente para ElIen
Juliu s Hart e o edit or Sa mue l Fische r. Quando TeITY, Thc M W l ofDest iny (O Homem do Des-
Schlenther, em I Xl)8, ac e ito u um co nvite do tino ), mont and o, e m seu lugar. uma outra peça
Burgtheaterde Viena, foi suce dido por Ludwig so b re Nap ol e ão . Madam e Sans-G êne, de
Fulda. O Freie Bühne bu scou então um a parti- Sa rdo u .
cipação periféri ca no mistici smo lírico dos sim- Exa tame nte então , tamb ém em Londres,
boli stas. O s duros co nto rnos do natu rali sm o um pequen o teatro a ma do r ficou de um dia
social borraram-se na poéti ca ca nçã o de des - pa ra o utro no ce ntro da s atençõ es. Em 1891.
pedida de M adonna Dil/l 101"lI de Hofmann sth al, J. T. Gr ein, hom em de negócios de ori gem ale-
de Totc Zc it (Te mpo M ort o) de Ern st Hard t. mã , fundo u uma assoc iação teatral com o o b-
ou Friihlingsopf cr (O Sacrifíci o da Prim ave- jetivo de produ zir " peças avan çad as". para as
ra). de Eduard vo n Keyserling. qu ais os grandes teatros perm aneciam fecha-
Quando, em 1l)()9, o Fre ie Bühn e ce lebro u dos ; est riba ndo-se no Th éâtre Libre cm Paris
se u vigésimo aniver sári o co m uma apresen- e no Frei e Bühne em Berlim, el e o chamo u de
tação come mo rativa de \ ()r So nnenaufgang Ind ep end ent Th eatre Society,
(Antes do A manhec er), de Hauptmann , não A inten ção de Grein era, também , colo-
houve nem barulho nem prot esto . O autor foi ca r o va lor literári o acima de consider ações
festejado, com Otto Brahm ao seu lado . O rá- co me rciais e co ntorn ar a censura; de modo bas-
pido curso da históri a e do teatro haviam de há tant e lógico, produziu primeiramente um a peça
muito acertado e de sarmad o o qu e, vinte anos do port a-v oz do naturalismo europeu , Ibsen .
atrás, dividira o esp írit o do s hom ens. Apresentou os Espectros em 1891 , no Royalty
Th eatre no Soho , que havia alugado para essa
o l n d c p e n d c n t Ttiea tr e e tn oc asião . Sh aw não poupou elogios à produção
c deu a Grein sua primeira peça longa, IVidO\I'er's
Londres
Houses (Cas as de Viúva s), que estreou em 18lJ2,
Ela foi representada como a " primei ra peça
4. Cena de Micha el Krurncr , de: Gcrhan I ta u p"ll;lnn .l'ú 'mil'r c m IIJ{){) 110 Dcmschcs T hca tcr. Herl im . Max Reinh ardr
(à esq uerda ) no papel-título , l.oui sc Dum ont ( à d ircil;t1 I.'OIHO Mich aliuc Krnmcr, Ext ra ído de l tiíl nte und Ui'll (P a lco c
o terceiro p ólo do campo de ten são do ori gin al did ático-reali sta " . Aplausos e vaias ga -
Mu ndo), vo l . 1900 -190!. teatro natu rali sta na E uro pa foi Lon dres. Em rantiram a nccesx.iriu se nsação e um a nova
H i st ór ía Mu n di al do T e at ro •

apresentação no quadro que a protegia da cen- nos. Se u métod o did áti co, apre ndi do co m
sura, isto é, a da associação. Era algo muito lbsen , proporcionava um acessível esq uema de
parecido com o que acontece ra em Berlim: um ensino . Para Shaw o teatro modern o havia co-
co meço com lbsen , seg uido pelo SIlCceS de meçad o no momento em que Ibsen esc revera
scan dale ("sucesso de escâ ndalo") de um jo- Casa de Bonecas, e Nora co nvidava o marido
vem autor nacional. para sen tar-se e discutir seu casamento. Ele via
Mas Grein não era Brahrn, e Shaw prosse- a tarefa do dram a realista (ou seja, naturalista)
guiu. Enquanto o Independent Theatre lutava na discu ssão de conflit os psicológicos e con-
para manter-se vivo do melhor modo possível vencionais . O palco conve rtia-se e m ce nário
até 1897, Shaw seguiu seu rumo para a fama de deb ates. Em seus prefácios e indi cações cê-
mundial por meio de patrocinadoras devotadas nicas, Shaw desenvolvia o plano de fund o es-
às artes. Miss A. E. F. Hornima~, abastada piritu al de suas peças - as própri as interpreta-
quacre, ajudou na montagem de Anns and lhe ções do autor com base na técnica analítica da
Mar! (As Armas e o Homem ), em 1894, no cena ibseni ana. (Este exe mplo seria seg uido
Avenue Theatre. Subseqüe ntemente, o ator e por dr amaturgos posteriores, co mo Euge ne
p roducer (diretor) americano Richard Mansfield O 'Neill . Arthur Mill er , Gra ha m G ree ne e
levou essa peça, e também The Devil 's Disciple Tenn essee William s.)
(O Discípulo do Demónio) para Nova York,onde Na Inglaterra, a evolução do teatro mo-
ambas tiveram urna longa e lucrativa carreira. dern o nos leva a Murder in lhe Cathedral (As -
Nesse meio temp o, a enérgica miss Horni- sassi na to na Cat edral ), de T. S . Ellio t; An
mam estava empenhada em criar um teatro na- Inspector Calls (Um Inspetor Cha ma), de J.
cio na l irlandês. Em 1904 , fundo u a Irish B. Priestley; e Venlls Observe d (Vê nus Obser- 5. Quarto alo do drama Fuhrmunn Henschel (O Coc heiro Hcnsc hel ), de Gerhart lIauptmann, en cenad o e m J899 no
National Theatre Society, em Dublin. W. B. vada), de Christopher Fry. Desviando-se da Lobe -Tbeatcr , Breslau (extraído do Bidme und Ue/I . vol , 1899 ).

Yeats, que co-participava do projeto, obteve poesia e da comédia da Restau ração, favore-
de seu compatriota Shaw a promessa de escre- cia a cozi nha, a alcova e o so taq ue do s j ovens
ver urna comédia irlandesa: John Bull 's Other freqüe ntado res de teatros. Geo rge Devi ne, o
Island (A Outra Ilha de Joh n Buli) urna espiri- fundador e diretor da English Stage Company,
tuosa e afiada peça desmascaradora. Mas Shaw determinou o curso do modern o teatro inglês
a entregou, assim co mo Ca ndida , ao ator e e se us dram as de auto-análise co m sua mont a-
e nce nador Harl ey Gran vill e-Barker, que a ge m de Loo k Back in Anger (O lhe para Trás
montou no Royal Court Theatre de Londres, com Raiva), de John Osborne, em 1956 no
oito semanas antes da Irish National Theatre Royal Co urt Theatre em Lon dres. Típ icas des-
Society abrir suas portas. Quando as cortinas tas novas peças são Thc Kitchen (A Co zinha)
do Dublin's Abbey Theatre se ergueram em e Chi cken So up with Barley (Ca nja co m Ceva-
27 de dezembro de 1904 , foram levadas duas da), de Arno ld Wesker, que mos tram a vida da
peças de um ato, uma de Yeats e a outra de classe méd ia domin ada pela políti ca e pela re-
Lady Gregory. Elas não ofe reciam material sig nação; Caretaker (O Ze lador), de Harold
inflamável; este havia sido depo sitado lucrati- Pinter, e a vigorosa peça realista Savcd (Sa l-
vamente por Shaw. vos) de Edward Bond . Mu itas des tas peças ,
O realismo (termo anglo-arnericano para co mo Look Back in Ang er, es trea ra m no Royal
aquilo que se chamava naturalismo na Euro- Co urt Th eatre de Londr es, anfitrião fidedigno
pa) de urn tipo perturbador era o objetivo da do palco vanguardista. Algumas, porém, como
Manchester Repertory Company, outro empreen- os velhos dramas pioneiros do teatro natura -
dim ento de Miss Horniman. Ela colocou o lista, precisaram da segurança das apresenta-
Gaiety Theatre, em Manchester, à disposição ções em club es fechados.
de uma audaciosa compa nhia de repertório, pa- Já em 1909 Shaw havia atacado violenta-
ra a encenação de peça s de Stan ley Houghton, mente a censura, de cujos poderes ninguém fora
SI. John Ervine e Harold Brighouse. Shaw mm- ca paz de se livrar desde os d ias do Master of
ca mais voltou a assoc iar-se a ela. Ela influen- lhe Revels, mestre-de-cerim ôni as elisabetano.
ciou menos a vanguarda teatra l européia de sua Quando Mrs. \Varrell 'S Profe ssion (A Profissão
época do que os joven s dramaturgos america- da Sra . Warren) foi proibida, Shaw, que se des- 6. Projeto de cen ário para Os Guerreiros em Helgeíand, de Ihsen : ce na na Islândia. Aquarela de Eu gen Quagl io (Mu-
nique. Theater Mu scum).
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História Mundial do Tc a t ro • • Do Naturalismo 00 Prc sc n t e

crevia como um "especialista em obras imorais com grandes interesses em música e teatro. Os autor, Anton Tchékhov, e baseou-se em A Gai- Com as obras de Maxim Górki , St a-
e heréticas", enfureceu-se diante do insulto e pais de Stanislávski (seu nome real era Kons- vota, a segunda de suas montagens, que estreou nislávski ganhou um novo componente, o dra-
da repressão do censor teatral. O resultado foi tantin Serguêievitch Alexêiev) mantinham em em 17 de dezembro de 1898. A peça havia fra- ma de acusação e crítica social. O "realismo
não um afrouxamento, mas um aperto no para- sua casa palcos infantis e amadores. cassado um ano antes no Teatro Alexandrinski, externo" era agora trabalhado com a mesma
fuso. Foi somente em 1968 que a Câmara dos Quando os Meiningers foram a Moscou em São Petersburgo, e Tchékhov foi persuadi- intensidade que a fidelidade histórica ao meio
Comuns aprovaram um projeto, apresentado em 1885, Stanislávski, então com vinte e dois do, com dificuldade, a apresentá-Ia uma se- ambiente, que levou Stanislávski a enviar um
pelo governo trabalhista, que abolia a função anos, não perdeu nenhum de seus espetácu- gunda vez. grupo a Chipre antes da encenação de Otelo, e
da censura do Lord Ch amberlain (Lorde los. Ele admirava a "espantosa disciplina re- Esta encenação tornou-se a pedra de to- Simov, o cenógrafo, a Roma para a de Júlio
Camareiro-Mar) como Master of the Reveis. velada nesta grande festa teatral", mas os mé- que do Teatro de Arte de Moscou. Se, no caso César, ou encomendar mobília da Noruega
todos "despóticos" de direção de Chronegk do Czar Fiador Ivanovitch, o maior esforço para uma montagem de Ibsen.
levaram-no à sua primeira ponderação crítica dizia respeito ao cenário, agora, concentrava- Durante os ensaios de No Fundo, de Górki,
A EXPERIMENTAÇÃO DE N OV AS de prós e contras do poder do diretor e seus se na interpretação, na projeção de estados de Stanislávsk.i levou seus atores ao mercado
possíveis efeitos tirânicos. O próprio Stanislávski ânimo, pressentimentos, alusões, matizes de Khitrov, num subúrbio de Moscou, onde os va-
FORMAS
nunca foi um diretor tirânico. Nunca se can- sentimentos. A interpretação enveredou pela gabundos e marginais costumavam acoitar-se.
sou, muitas vezes ao longo de centenas de en- nova estrada da intuição e do sentimento, um Eles comeram com essa gente, e Olga Knipper
Stanislávski e o Teatro de Arte saios, de apelar para a compreensão de seus caminho, como dizia Stanislávski, "do exte- dividiu um quarto com uma prostituta, a fim
de Moscou atores. Nunca lhes imputou suas próprias con- rior para o interior, em direção ao subcons- de "aclimatar-se" no tipo de vida em que se
cepções, mas sempre se empenhou em sinto- ciente". Isto significava a entrega total à peça, dava o papel de Natasha. A plasmação a partir
Em junho de 1897, houve um encontro, nizá-Ias com as exigências de seus papéis - uma devoção quase religiosa. "Nós nos abra- da realidade - "representar significa viver" -
num restaurante de Moscou, entre o escritor este seria a base de trabalho sobre o qual mais çamos como na noite de Páscoa", escreveu é um dos ingredientes do muito gabado (e
Vladímir Ivanovitch Nernirovitch-Dantchenko tarde construiria o "método Stanislávski". Stanislávski após o sucesso da estréia de A igualmente pouco entendido) método de Sta-
e Stanislávski, o jovem teatrômano filho de um Mas, desde sua primeira representação do Gaivota. nislávski. Isto lhe valeu a crítica de que subes-
industrial de Moscou. A conversa durou de- ponto de vista da verdade histórica, o Teatro O Teatro de Arte de Moscou havia encon- timava a capacidade da imaginação. Na ver-
zoito horas - das duas da tarde até as oito da de Arte de Moscou adotou por completo o prin- trado seu autor e seu estilo. Tornou-se a "casa dade, porém, Stanislávski pretendia que seu
manhã seguinte. O resultado foi a fundação de cípio da veracidade histórica prescrito pelos de Tchékhov" e, daí por diante, uma gaivota "método", tão amiúde mal interpretado como
um novo empreendimento teatral privado: o Meiningers. O teatro foi inaugurado com o dra- com as asas abertas tornou-se seu emblema, um abracadabra da arte do ator, fosse um guia
Teatro de Arte de Moscou. ma histórico Czar Fiador Ivanovitch de Alexei figurando nas cortinas, programas e nos ingres- flexível que levasse à colaboração entre dire-
Os cuidados prodigalizados desde o início Konstantinovitch Tolstói (parente afastado de sos. A estreita conexão artística e pessoal com tor e ator. Stanislávski, também, tomou uma
ao planejamento de todos os detalhes artísti- Leon Tolstói), que havia sido escrito em 1868 Tchék.hov - ele desposou a atriz Olga Knipper posição intermediária na controvertida ques-
cos e organizacionais permaneceram caracte- e tinha, na época, sido proibido pela censura. - aprofundou-se com as montagens subseqüen- tão da identificação, que sempre tem sido de
rísticas do Teatro de Arte de Moscou durante Durante os meses que antecederam a estréia, tes de Tio Vânia, As Três Irmãs e, posterior- novo debatida de Riccoboni a Brecht: o atar é
todo o seu futuro desenvolvimento: nenhum Stanislávski, sua mulher Lilina e o cenógrafo mente, ele O Jardim das Cerejeiras. Stanislávski aquilo que ele interpreta, ou interpreta alguma
outro teatro manteve tão inalterado o seu sen- Victor Simov haviam visitado locais históri- desenvolveu um refinado estilo impressionista. coisa que ele sabe que não é') Em última aná-
so de missão durante tantas décadas com dedi- cos. Procuraram vestimentas oriundas dos Ele mobilizou todos os meios concebíveis de lise, o sistema de Stanislávski era uma pro-
cação tão firme. Stanislávski assumiu a res- monastérios e igrejas na área entre os rios Volga ilusão ótica e acústica, de forma a criar a posta de delicado equilíbrio. Ele advertia seus
ponsabilidade das questões artístico-cê nicas. e Oka, esquadrinharam lojas de antigüidades "atmosfera" COI1'eta para seus atares e para o atores a não abusar do palco para confissões
Nemirovitch-Dantchenko, a direção literária. e mercados de trastes a fim de reunir material público. Coadjuvavam e integravam também privadas. Emoções pessoais, argumentava, não
Os fundos eram proporcionados por acionis- para uma produção de poder emocional e am- este jogo de efeitos o som da balalaieka e de enriquecem a arte do desempenho teatral; um
tas, pela Sociedade Filarmónica de Moscou, biente "genuínos". O resto do elenco, enquan- grilos, de sinos de trenó tilintando ruidosamen- ator que esteja tomado, ele próprio, pelo ciúme,
que já mantinha uma escola de arte dramática to isso, prosseguia os ensaios num celeiro em te próximos, ou tenuemente à distância. Com não faz um Otelo melhor, mas um pior, infor-
onde Nemitovitch-Dantchenko lecionava in- Pushkino, um local de veraneio a cerca de 32 desarmante autocrítica, Stanislávski admitiu mava ele com base em experiência pessoal.
terpretação, e pela Sociedade para a Arte e a km de Moscou. que tendia ao exagero nesse domínio, e ele Michael Tchékhov (sobrinho de Anton
Literatura, cujas apresentações amadoras Em 14 de outubro de 1898, a cortina se mesmo gostava de contar a difundida anedo- Tchékhov), cujas anotações sobre seu traba-
Stanislávski estivera financiando nos últimos ergueu pela primeira vez no Teatro de Arte de ta: Tchékhov teria dito uma vez que escreve- lho nos estúdios do Teatro de Arte de Moscou,
dez anos. Moscou. O ator Moskvin pronunciou as signi- ria urna nova peça, começando-a da seguinte soh a direção de Stanislávski, foram utilizadas
Nesta época, Moscou era afortunada por ficativas palavras introdutórias ao Czar Fiador forma: "Como é maravilhosamente tranqüilo no início dos anos 30 pelo New York Group
possuir generosos patronos da alie. Industriais e Ivanovitch: "Neste empreendimento deposito aqui, não se ouve um pássaro cantando, ne- Theatre, resumiu a essência do método de
homens de negócio devotavam sua fortuna a toda a minha esperança". Nesta tragédia eles nhum cachorro latindo, nenhuma coruja pian- Stanislávski com a fórmula: "A matéria-prima
propostas artísticas. Os irmãos Tretiakov pro- não chegaram a nada, mas lançaram o Teatro do, nenhum rouxinol cantando, nenhum reló- da imaginação é sempre tirada da vida".
moviam a pintura; a ópera e os concertos eram de Alie de Moscou na estrada da fama mundial. gio batendo, nenhum sino tocando, e nem O próprio Stanislávski, entretanto, apoiou-
financiados por S. 1. Mamontov, um homem A fama do teatro ligou-se ao nome de "seu" mesmo um simples grilo cricrilando". se nos doi s conceitos, o de "ação física" e o de
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,
1
7
• Do Nn t u ral istn o (10 Presente

"superobjetivo", O que significava a adoção de Os artistas que lideravam os novos tem-


uma tese criativa básica para a interpretação pos - Vsevolod Meierhold, Eugeni Vakhtângov,
de um trabalho teatral. Como exemplo, esco- e Aleksander Taírov - vieram da escola de Sta-
lheu o Hamlet (a sua plasmação com Gordon nislávski, dos estúdios experimentais do Tea-
Craig, em /911, deixou rastros profundos e tro de Arte de Moscou. Já em 1905, Meierhold
duradouros). Hamlet, afirmava Stanislávski, tentara interessar Stanislávski no princípio da
podia ser interpretado como drama familiar a cena estilizada. Mas a revolução de 1905 pôs
partir do seguinte aspecto: "Quero honrar a me- fim ao Estúdio da Rua Povarskaia antes que
mória de meu pai". Ele poderia ser interpreta- Meierhold alcançasse quaisquer resultados prá-
do como a tragédia de um homem decidido a ticos para mostrar.
explorar os segredos da existência. Finalmen- O assim chamado Primeiro Estúdio do
te, há a possibilidade do mais alto "superobje- Teatro de Arte de' Moscou empreendeu expe-
tivo": "Quero salvar a humanidade". rimentos sistemáticos sob a direção de L. A.
Mas, se a tragédia de Shakespeare é inter- Sulerjítski e, após a sua morte em 1916, sob
pretada em termos de política aplicada - "Que- Vakhtângov. Maxim Górki cedeu ao Estúdio
ro que o estado feudal seja abolido" - então o suas anotações sobre os métodos de improvi-
princípio de "superobjetivo" nada em águas sação usados pela Commedia dell'arte napo-
perigosas. O diretor, a seu arbítrio, pode colo- litana, que ele estudara em minúcia durante seu
car o "superobjetivo" a serviço de ideais hu- exílio voluntário na ilha de Capri. O caráter de
manitários ou das autoridades constituídas. início muito provisório da sala de espetáculos
Num estado totalitário, a expressão máxima do Estúdio impôs combinações não convencio-
7. Sala azul: cena do primeiro ato da comédia Um Mês no Campo, de I. S. Turguênev, estreada em 1872 no Teatro da arte equilibra-se no fio da navalha. nais, com praticáveis e plataformas móveis.
Maly, em Moscou. Aquarela de Mstislav Dobujinsky. Durante um tempo, a "ideologia completa- Stanislávski inventou uma grade de metal presa
mente burguesa" de Stanislávski foi tão suspei- ao teto, no qual poderiam ser pendurados pai-
ta na Rússia quanto as chamejantes palavras néis decorativos, como se desejasse.
"Senhor, dê-nos liberdade de pensamento", No formato em miniatura das possibili-
pronunciadas pelo marquês Posa no Don Car- dades técnico-cénicas dessas improvisações de
los, de Schiller, ou o juramento de Rütli em estúdio, Stanislávski experimentou coisas que
Guilherme TeU, na Alemanha de 1940. Já os o teatro revolucionário mais tarde transpôs para
distúrbios da revolução de 1905 faziam Sta- dimensões de massa. Há registros detalhados,
nislávski sentir-se num beco sem saída. E, após por exemplo, do emprego do veludo negro em
a revolução de outubro de 1917. ele manteve- cenários de peças simbolistas. Na peça A Vida
se longe das massas em ebulição. Felizmente, do Homem, de Andrêiev, ele usou tapeçarias
A. V. Lunachártski, o primeiro comissário do desse material para sugerir uma floresta, e
povo para a Educação, ergueu uma mão pro- transparências cobertas igualmente de veludo
tetora sobre Stanislávski. De setembro de 1922 negro, mas com pequenos pontos de luz re-
a agosto de 1924, o elenco do Teatro de Arte cortados, a fim de dar a ilusão de lanternas de
de Moscou esteve em tournee no exterior, hon- uma estação a brilhar ao longe. Uma cena se-
rando compromissos duradouros na Europa e melhante, inteiramente desmaterializada, foi
na América. "Precisávamos ganhar distância", projetada por Stanislávski para encenação que
escreveu Stanislávski em sua autobiografia não chegou a realizar-se, do drama lírico A
Minha Vida na Arte, publicada pela primeira Rosa e a Cruz, de Alexandre Blok.
vez cm 1924, "distância de uma atmosfera de No exterior, o trabalho de direção de Sta-
desorganização". Isto se refere à época em que nislávski foi conhecido apenas por montagens
a tempestade revolucionária nos teatros havia clássicas do Teatro de Arte de Moscou, no seu
ganho a força de tormenta e o Teatro de Arte mais alto grau de perfeição, com cada detalhe
de Moscou não estava sendo absolutamente refinado ao longo de décadas de repertório en-
considerado com benevolência. De fato, não cenado. Seu jogo soberano com a "quarta pa-
era apenas o próprio governo que o desapro- rede" - como por exemplo no segundo ato de
vava, mas também a gente de teatro que se- A Gaivota, quando um banco é colocado diante
8. Prcniier da inauguração do Teatro de Arte de Moscou, 189H: Tsar Fvodor Ivanovich, de A. K. Tolstói, dirigida por
guia estritamente a linha do Partido. da ribalta e os atores sentados voltam as cos-
Stanislávski. Cenário de Y. A. Simov.
• 465
História Mu n d iaí da Teatro.

tas para a platéia - tornou-se exemplo para o um teatro "de dentro", da mesma forma que
mundo todo. os românticos haviam procurado pelo "cami-
A experimentação com novas formas li- nho para dentro".
mitavam-se aos estúdios, que se tornaram a Baudelaire falava da "floresta de símbo-
despensa do teatro russo moderno. Ao Primei- los". Para ele, o universo visível era uma des-
ro Estúdio seguiram-se o Segundo, o Terceiro pensa de imagens e símbolos, às quais somen-
(mais tarde o Teatro Vakhtângov) e o Quarto, te a imaginação poética podia atribuir devido
como também um Estúdio Musical dirigido por status e valor. Valéry dizia que a bela palavra
Nemirovitch-Dantchenko. Stanislávski teve precisava reeuperar da música aquilo que lhe
participação pessoal no desenvolvimento do perteneia de direito. E assim, poesia e música,
estúdio de afores do teatro hebraico Habima, juntas, deram ao teatro do simbolismo sua mais
onde, a seu pedido, Vakhtângov ensinou por convincente justificativa. O antiqüíssiino pro-
alguns anos e ele próprio deu cursos sobre o blema, a rivalidade entre palavra e música se-
seu método. O clímax artístico deste estúdio ria a matéria da última ópera de Richard Strauss,
foi a montagem de Vakhtângov, em 1922, de sua aguda e polida Capriccio.
O Dibuk, a dramatização de Sch. An-Ski de O naturalismo era um programa, mas não
uma lenda hassídica. Após excursionar pela necessariamente uma limitação para a perso-
Europa e América, parte do elenco do Habima nalidade criativa. Ibsen viera de Peer Gy11l, da
dirigiu-se para a Palestina em 1928, fixando- atmosfera nacional do romantismo norueguês,
se mais tarde ali, e quando o Estado de Israel onde estivera antes de escrever Espectros e
veio a ser fundado em 1948, tornou-se o Tea- 9. Cenário de Joseph Wening para Macheth, representado no Nationaltheater, Praga, 1914.
Casa de Bonecas. Mais tarde, ele também dei-
tro do Estado Hebraico de Tel Aviv. xou o naturalismo puro para trás e criou o mis-
Outros grupos que trabalharam com os terioso simbolismo de O Pato Se/vagem.
métodos de Stanislávski foram o Estúdio Gerhart Hauptmann já havia ido além da crueza
Armênio em Moscou, o Reduto polonês, fun- doutrinária em Hanneles Hinunelfohr (A As-
dado em 1919 em Varsóvia, o estúdio estabe- censão de Hanele) e entrou no mundo neo-ro-
lecido em Kíev pela atriz polonesa S. Wisocka, mântico do mito com Die versnnkcne Glocke
e o Teatro Nacional Búlgaro, em Sofia, sob a (O Sino Submerso) e Und Pippa tanzt (A Pipa
direção de N. O. Massalitinov, um discípulo Dança). O jovem Konstantin, em A Gaivota,
de Stanislávski. Todos esses teatros do méto- suplicava por novas formas, por forças que pu-
do Stanislávski formavam uma corrente, cujos dessem pôr fim à rotina do teatro contemporâ-
elos, por intermédio de Mikhail Tchékhov, che- neo e a seus patéticos esforços "de pescar uma
garam até os Estados Unidos. moral em figuras e frases batidas". Mas
Konstanrin Treplev naufraga no caos de seus
Simbolismo - Imaginação e sonhos e figuras. O próprio Tchékhov, na fron-
Iluminação teira entre o naturalismo e o simbolismo, re-
conhecia o perigo, para a arte e para a vida,
representado pelo escapismo para o reino dis-
O realismo cênico, como proposta progra- soluto dos sonhos, de uma jornada para o nada
mática, originou-se em Paris, e foi da França dos estados emocionais, no qual o Tintagilcs
também que proveio como reação, o abando- de Maeterlinck se perde.
no deliberado do naturalismo: o simbolismo. Um dos mais jovens simbolistas de Paris,
Stéphane Mallarmé, "o príncipe dos poetas", Paul Fort, voltou-se contra o realismo do Théâtre
protestou, em nome da poesia, contra a exi- Libre já em 1890. Com o apoio de um grupo de
gência de que tudo quanto se poderia esperar escritores com idéias semelhantes, fundou o
do poeta fosse uma mera cópia do que o olho Théâtre d' Art e nomeou, como seu diretor artís-
do não iniciado encontra. A tarefa do poeta, tico, o ator Alexandre Lugné-Poê, que havia
afirmava Mallarmé, não era nomear um obje- começado a carreira com Antoine. A atmosfera
to, mas conjurá-lo com o poder de sua imagi- intelectual no teatro em Paris, dividida pelo con-
10. Desenho de cenário de liduard Sturm para Dic Hiirgcr \'011 Calais (Os Burgueses de Calais), de Gcorg Kaiscr.
nação. Mallarrné sonhava com "um teatro ma- flito de estilos, foi bem caracterizada por Lugné- dirigido por Gustuv Lindcmann c Louise Dumont, Schauspielhaus. Düxscldorf 192X (Düsseldorf. Dumont-Lindcmarm-.
ravilhosamente realista da nossa imaginação", Poé na época: "Minha mente confusa oscilava Archiv).

·466
• D o Na t u ra l i s m o ao Pre s ent e

do real ismo ao simbo lismo, e e m am ba s as Essa simultane ida de de aparentes co ntra-


mangedouras encontrava pouco alimento" . diçõe s tornou-se a m arca ca racterística de de-
O Théâtre d' Art teve o seu ce ntro de gra- senvolvimentos futu ro s. No mesmo instante em
vidade no simbo lista Maeterlinck, no dr ama qu e as co nve nç õe s dr amáticas tradicionais
lírico de so lidão e melancolia. A rep ercussão eram rompidas, o palc o também co meçava a
favorável a Pelléas et Mélisande, em mai o de fazer em pedaços sua habitual moldura de "cai-
1893, encorajou Lugn é-Poê a fund ar um tea- xa de vistas" (cosmorama). Os prim eiros a to-
tro próprio, o Théâtre de 1'0euvre. Nesta em- mar a iniciativa foram os simbolistas, co m sua
pre sa, teve o re sp aldo do escritor e c rítico recusa de serem escravizados pelo det alhe rea -
Ca mille Mauclair, O teatro foi inau gurado em lista . Em O Pato Selv agem , de Ibsen, a vida do
outubro de 189 3 co m Ro sm ersh olm de Ibsen. j ovem Ekd al corno fot ógrafo é uma decep ção:
Em sua procura de um alimento mais substan- ela denun cia o em ar anhado de mentiras de um
cios o, Lu gn é-Po ê deparou-se co m Ub u Roi arranj o conveniente . A c ârnera torn ou-se um
(Ubu Rei ), um a peça do jo vem bo êrnio pari- instrumento de aut o- en g an o.
siense Alfred Jarr y. Esta farsa co legial, co m Par a os sim bo lista s, o empenho fotográ-
sua a m arga crít ica soc ial, estre ou e m IOde fico do drama naturali sta er a um a tela qu e
dezembro de 189 6, e terminou num tumulto obstruía a penetração d o o lhar em vistas mais
que Paris não vi a desde Hern ani, Firrnin pro funda s. O palc o não deveria apre sent ar um
G érnier fazia o papel de Ubu, e sua primei- milieu real, m as ex p lor a r zonas de es tados
ríssima palavra - " Me rde" - estilhaçou o con- d ' ulrna . Sua tarefa não era descrever mas en -
forto pós-prandial das platéias. canta r. A luz adquiriu urna função imp ortan-
As poltronas estavam ocup ad as pela elite te, e a palavra en controu auxílio na mú sica e
do c ulto s im bo lista da beleza. Ali es tavam na dan ça. Em algun s ca sos felizes, os simbo -
Mallarmé e Henri G h éon, W. B. Yeats e A rthur listas co nseguira m tran spor di sposições ínt i-
Symo ns - e diante de seus olhos nasci a o tea - mas enra izada s no liri sm o par a o dom ín io pú-
tro de vanguarda do século vindouro. Aqui se bli co do palc o. O mérito de o dram a simbolis-
II. Projeto de ce ná rio para o conto-de-fadas simbo lista O P ássaro Azul. de Maurice M aete rlinck , Paris. 1923 (Pa ris. abria a estra da do dram a simbolista para o sur- ta ter sobrevivido se m d an os a tais revelações
Biblioth êqu e de I" Arse na l). reali sta e, finalment e, para o dram a do absur - do " eta t de I' ânte" ("e stado de al ma" ),pod e
do, via Victor, 0 11 Les Enfants a li Pou voir ser cred itado uni cam ent e à mú sica.
(Victor, ou As C rianças no Poder), de Roger Fo i a mú sica de C la ude Debu ssy que co n-
Vitrac , até Ion esco, Beckett e Audiberti. qu istou para o poem a L 'Ap rés-midi d 'un Faune
Quase cinq ue nta anos mai s tarde, Henri (O Entardecer de um Fauna) um lugar no tea-
Ghéon, em seu e nsaio retrospect ivo L'Art du tro e na sala de co nce rto. Na coreo grafia de
Th éãtre (A Art e do Teatro, 1944), ainda e nal- Nijin sky, ela se torn o u, e m 1912 , um dos pon -
tecia Vim Roi co mo se ndo uma peça "cem por tos altos do balé ru sso em Paris. E foi a música
ce nto teatro" qu e, " no limite da realidade, c rio u de Debussy qu e co nferiu ao dram a élfico de
outra real idade co m o auxílio do s símbo los" - amor, de Maet erl inck , Pelléas et M élisande.
um a interpretação qu e dem onstra qu ão de pert o um grau de tran sfigu raçã o poét ica inalcanç á-
os cí rculos d ivergent es realment e se toca vam . ve l pel o te at ro so me n te fal ad o. Hu go vo n
(Em 1958 , Je an Vil ar rede scobriu o valor cê ni - Hofmann sth al en controu um parceiro conge-
co de Ubu Roi, quando o mon tou no Th éâtre nial e m Rich ard Strau ss. E o turbilh ão simbo-
Nati onal Populaire em uma encena ção do gro- lista de so m e co r de Gabriele d' Annunzio vi-
tesco e agre ssi vo jogo de má scar as . U m a via da escura e s ugestiva melodia da dicção de
adaptação tch eca foi mostrada e m toda a Eu- Eleonor a Duse.
ropa, a partir de 1960, pelo Teatro Balaustrada Esta foi a épo ca e m que Augu ste Rodin
de Praga.) esculpiu os amantes em mármore branco, em
A prática do teatro se deixava e nvolve r tão qu e Rainer Maria Ril ke escreveu o Soneto a
pou co pelas controvér sia s de natur eza c rítico- Orfe u, em que Jun g eudstil e art -nou veau re-
estilística, qu e, e m março de 1908, G émi er galavam-se CO I\I decorati vos orname ntos e n-
tamb ém apareceu co rno Pére Ubu no Th éâtr e trel açados, em q ue Isad ora Dun ca n da nço u
12_Alfrcd Rolter: desen ho do quarto de dormi r da Fe ldm arsch alli n em Der Rose nka va íie r (O Cava lei ro das Rosas). de
Richard S t T<.1l1 SS. e streado no Hofnpcr. Dresdcn, 19 11. Antoi ne. Af rod ite vestida co m urn a túni ca e sandá lias

• 469
História Mundial do Teatro. Do Ncuurulisnto {I(} Prcs cn t e

de tiras, e declarou, com efusão ingénua e O Tristão e Isolda de Appia para o La Quando montou a liricamente simbólica palco disponha apenas de "meios grosseiros e
entusiástica: "Minha alma era como um cam- Scala, de Milão, em colaboração com Jean Das gerettete venedig. de Hoffmannsthal (ba- primitivos" para satisfazer as "mais altas aspi-
po de batalha onde Apolo, Dioniso, Cristo, Mercier e Arturo Toscanini, seu Anel dos seada em Veneza Preservada, de Thomas rações que nascem das mais puras profundezas
Nietzsche c Richard Wagner disputavam ter- Nibelungo« para o Stadttheater na Basiléia, sob Otway), no Lessing Theater de Berlim para estéticas" do homem. A Stanislávski e seu di-
reno". a direção de Oskar Wãlterlin, e seu cenário para Otto Brahm, Craig limitou-se a lougas corti- retor Sulerjítski coube a difícil tarefa de adap-
O mundo ocidental fazia o seu inventário. L'Annonce Faite à Marie (O Anúncio Feito a nas coloridas. Os refletores criavam, com in- tar o modelo trazido e apresentado por Craig a
Na cena da ópera, isso foi feito por Richard Maria), de Paul Claudel, para Hellerau, foram terseções e feixes de luz, aquela iluminação realidades práticas inadequadas.
Wagner. Seu ideal de Gesamtkunstwerk, a obra ainda mais longe na luta pela transcendência mágica que se tornaria também um traço dis- Craig alcançou em Florença, em dezem-
de arte conjunta, manteve ocupados os estetas metafísica. Sua culminação utópica, divorcia- tintivo do teatro expressionista e mais tarde de- bro de 1906, um de seus mais felizes sucessos
da Europa e da América. Já em 1892, o cenó- da do teatro, foi a "Catedral do Futuro". senvolvida por Kokoschka e Cocteau - por pessoais, quando montou Roniersholm, de
grafo suíço Adolphe Appia projetou uma série O primeiro pré-requisito de Appia era este, até mesmo em filmes - em seu estilo dra- Ibsen, com Eleonora Duse. Ela lhe escreveu uma
de esboços e maquetes para Das Rheingold (O manter o palco livre de qualquer coisa.que pre- mático próprio. (Em 1954, o diretor londrino carta de agradecimento no dia seguinte à es-
Ouro do Reno) e, em 1896, para o Parsifal. judicasse a presença física do ator. "O corpo Peter Brook apresentou um protesto contra a tréia: "Atuei ontem à noite como num sonho -
Ele atribuiu à luz uma tarefa que até então o humano está dispensado do empenho de pro- pintura cénica por efeito de luz. Ele afirmou e muito além. Sentia sua ajuda e sua força ...',
teatro não fizera nenhum uso, ou seja, lançar curar a impressão da realidade, porque ele pró- que Craig havia superestimado a importância O sonho de Craig de ter um teatro próprio
sombras, criar espaço para produzir profundi- prio é realidade. O único propósito da ceno- do spotlight. A seu ver, mesmo anteparos co- nunca se tornou realidade. Sua escola de tea-
dade e distância. Appia construiu formas arqui- grafia é tirar o melhor proveito da realidade." loridos podiam apenas suavizar gradualmente tro em Florença também durou apenas alguns
teturais de pesados blocos, cubos e cunhas, Essa era a convicção de Edward Gordon a crueza e não podiam rivalizar com o pincel anos. Mas seus escritos teóricos foram difun-
transformando-as nas largas superfícies daqui- Craig, também. Mas em seus desenhos ele tra- do pintor, nem em sutileza, nem em sombras didos no mundo inteiro, tanto seu livro funda-
lo que chamou de "cena interior", de acordo tava as figuras no palco e seus movimentos ou cor). mental, The Art of Theatre (A Arte do Teatro,
com seu princípio do palco estilizado em três como componentes do todo gráfico. Os bra- Craig concebia seu palco não apenas na 1905), como sua revista teatral The Mask (A
dimensões, com pontos de luz. Mas o convite ços estendidos de Electra, as costas curvadas qualidade de simbolista da luz, isto é, como Máscara), que com algumas interrupções ele
de Bayreuth nunca veio. Cosima Wagner sal- de Lear, a silhueta esguia de Hamlet não eram iluminador, mas também, na mesma medida, editou em Florença de 1908 a 1929. Era uma
vaguardava o testamento do mestre, com o acessórios, mas elementos prévios da visão como arquiteto. Os screens (biombos) que ele publicação bem ilustrada, que abordava todos
Valhalla e o Castelo do Santo Graal feitos de cénica. No Hamlet de Moscou, lanças, setas usou na famosa montagem de Hamlet, no Tea- os aspectos do teatro. Ilusão, naturalismo e
papier-maché, panoramas realistas móveis e e bandeiras erguidas em escarpa acentuavam tro de Arte de Moscou de Stanislávski, em estilismo cénico eram discutidos. assim como
plataformas com rodas que carregavam as a monumentalidade das verticais e, abaixa- 1911, aspiravam a algo mais do que apenas o velho problema do ato r: identificação ou
Donzelas do Reno. O primeiro corte radical das, transpunham o fim trágico em imagem uma monumentalidade vazia. Propunham-se, distanciamento? Craig desenvolveu a teoria da
com essas convenções precisou esperar meio óptica. ao mesmo tempo, a apagar o efeito visual da supermarionete, da peça de máscaras, que por
século por Wieland Wagner, que livraria o palco Filho da atriz ElIen Terry, Craig estava "caixa de vistas" tradicional para realçar. com si só - dizia ele - era capaz de eliminar todos
de Bayreuth dos velhos cenários e realizaria familiarizado com o palco desde a infância. imponente mobilidade, a ação interpretativa do os traços de "egotismo", e então, "coada pelo
as visões de luz e espaço que os dois grandes Aprendera a conhecer e interpretar Shakes- atar e fornecer aberturas cambiantes às luzes fogo dos deuses e demónios", liberta e indene
reformadores simbolistas do palco - Adolphe peare com Henry Irving. Considerava-se her- cm sucessão. "da fumaça e da exalação da mortalidade", po-
Appia e Edward Gordon Craig - haviam pla- deiro de Irving, por mais opostos que fossem Temos o registro do próprio Stanislávski deria "pretender vestir-se de uma beleza cada-
nejado. seus caminhos artísticos, da veneração por sobre os preparativos em conjunto para a me- vérica, exalando ao mesmo tempo um espírito
Por mais que os desenhos e idéias de Shakespeare à rejeição a Shaw. Craig preferia morável encenação: de vida". Algumas de suas idéias voltam em
Appia fossem ao encontro da sensibilidade dramaturgos com grandes curvas da emoção. Meierhold, O'Neill e Brecht.
poética dos simbolistas, foi limitada na práti- Fascinava-o converter linhas patéticas e místi- Craig pensava num cspctaculo sem intervalo", nem A mística ela luz de Craig encontrou um
ca a escala em que puderam ser comprovados. cas sobre o destino humano em luz e espaço, cortinas. O público chegaria ao teatro c não verta palco ou seguidor no cenógrafo americano Robert
para espiritualizar o realismo cénico. cci-,a parecida. Os biombos funcionariam C\lI11Q \) pro- Edmond Jones, cujos desenhos para as produ-
No teatro particular da condessa de Béarn, em
longamento urquitetural da sala dos espectadores c se har-
Paris, Appia teve oportunidade de criar, em Quando Craig, em 1900, juntamente com monizariam COI11 esta. Mas 110 início da aprcscntaçào os
ções de Hopkins-Burrymore de Ricardo III e
1903, "imaginações" cénicas, isto é, não rea- seu amigo Martin Shaw (nenhuma relação com biombos se movimentariam graciosa e solenemente; to. Macbeth em 1920 e 1921, em Nova York, fo-
listas p'lra partes da ópera Carmen, de Bizet, e G. B. Shaw) montou a ópera Dido e Eneias, o das linhas e agrupamentos transpor-se-iam de um para o ram grandemente influenciadas por Appia e
para o Manfred, de Byron, que tinha sido mu- cenário consistia em um simples pano de fun- outro. até que se fixassem por fim em nOV;JS combinações Craig. Três grandes arcos, contra um fundo
De algum lugar, acender-xc-ia a luz CjUl' projetaria sobre
sicada por Robert Schumann. O encontro de do azul. Mas este azul expressava a alma, negro, serviam de equivalente óptico às ambi-
elas efeitos pictóricos, e todos os presentes 110 teatro se-
Appia com Émile Jacques-Dalcroze levou à "I'êtat de l'ôme", da ópera de Purcell: clarida- riam levados, como IlUlll sonho, para algum outro mundo
ções de Macbeth. Eles desmoronavam quan-
série de esboços que ele chamou de Espaces de brilhante, pálido crepúsculo e, ao fundo, somente insinuado pelo artista, mas que se tornaria rc..1l do a curva da fortuna de Macbeth declinava.
Rythmiques - contrapontos óticos ao conceito uma distante, delicada filigrana de mastros de pela virtude das cores d,l imuginuçào dos espectadores. Na Europa, os jovens pintores abstratos
de direção eurrítmica desenvolvido pelo Insti- navio. O esboço para o drama Os vikings em no fim dos anos 20 recorreram às idéias sim-
tuto Suíço Jacques-Dalcroze em Hellerau, per- Helgeland, de Ibsen, parece uma antecipação É interessante ler adiante. na autobiogra- bolistas de reforma. Naum Garbo e Antoine
to de Drcsden. do Parsifal de 1953, em Bayreuth. fia de Stanislávski, o quanto ele lamenta que o Pevsner, com sua montagem de La Cliattc (A

• 470 . rI
15. Dese nho de Ed war d Go rdon Craig para () Rei
Lear . tercei ro ato . cen a 2. Xilogravu ra do periódico
The Mas k, jane iro de 1924.

13. Ado lphc Appia : Lu z do tu a r , tia série de cenários ESPll( O,\' R ítm icos , estimulad os por se u e nco ntro com Emile
Jacques- Dalcroze, 190X-ttJ I2 . Em 19 13. Appia desenhou ce ná rios para L'Ann(lllllce [a itc il Morte. de C laud el, e para o
Orfeu . de G luck . no lnvritutc Jacquc s-Dalcroze. cm Hcll e ra u. pe n o de Dresdcn.

16. Página do caderno de di rcçâo de Craig. corri


instruções para a CIl CCIl .ílJt<lO de Hamlet no Teatro de
Arte de Moscou . 191 l. Ha mlet c os atores. no alo IL
1-1 . Ado lphe Ar r ia: ( ; â l1l'u!iim lll l' r1f1lg (A Alvorada do s D\,:lI Sl~ S). seg undo alo, )925. ESI1tli;O
. c énico estilizado para a cena 2: o primeiro ato r es tá rec itando as linhas "T hc
montagem de O.. . kar Walt crl in de () A nrí, de Wauncr. no Studt thc.ucr. Basil éia. ruggcd Pyrrh us" do assass inato de Príamo.
1
• f) o N ú t u ral is m o 0 0 P "('J{' II / ('

Gata) e m 192 7 em Paris, e L ászl ó Moh oly- listas do porvi r. o co nfl ito entre o instinto livre
Nagy, co m C 0 ll10S de Hoffmann , em 192 8 no e restos cas tradores d e rel ig ião - tudo isto foi
Krollop er e m Be rlim. tentara m. no es pírito de se soma ndo a um fard o tão pesado quc ro m-
Cruig. co nstitui r "espaço a part ir de luz e so m- peu a lingua gem coer ente . Êx tase, co nfissão,
bra". Os bastidores tornaram-se meros requi - protesto explodiam, numa condensação fren é-
sitos par a a produção de sombras, tud o e ra tica da lingu agem , e m din âmi ca s estridentes
translúcido, e tod a esta transpar ência culmina- do som : no gri to . Ob ras com o os assim cha -
va num a es tru turação de espaço "s uperabun- mad os Sch rei-Dramen (D ra mas de Grito), de
dante, mas aind a compreensível" . Augu st Stramrn, e Seeschlach t (Bata lha Na-
A plasma ção dos proc essos cerncos e m val) , de Reinhard G oering, que com eçavam
termos de palco e de atuação por uma úni ca co m um grito - tudo pare ci a pad ecer com a
perso nalida de c riativa. que os sim bolis tas ha- agonia do estar perdido. Em sua peça de um
viam exig id o em nom e da poesia e C ra ig em ato Ein Geschl echt (U ma G era ção), na frent e
nom e da ma g ia do espaço e da luz, viria co m do muro de um ma ca bro ce mi tério, Fritz von
os gran des di rct ores do século XX : Konstantin Unruh faz a so rna tio horror: uma co nj urante,
Sta nislávsk i ( 1863- 1938) e m Moscou ; M a x ex t ática denú nci a da gue rra e de suas a troc i-
Reinh ardt ( 1873 - 1943 ) e m Berl im , Vie na . d ade s, um c ha mame nto ir human id ad e e ir
Sa lzburg e Nova York: Jacques Copc au ( 1879- fra tern idade e m pent âm ctro s iâmbi cos áspe -
19-19 ) em Pari s: Elia Kazan (nascido em 1909 ) ros e agressivos .
~.-,>""" ..;':;" em Nova York. O grand e ator e diretor Jean-Louis A ge ração dos pais tornou-se o alvo dos
~"'''~. ""lo. ' ~.>. -, ',_..: -.>.~. ~\ .V'.."~ ~'í.~/.'-r.<:'>·· Barra ult (19 10- 1994), de Pari s, deu a Crai g o poeta s e dramaturgo s profeti cam ente ag ress i-
17. Edward Gor don Craig: dese nho para Mucbcth, 1909 (e xtraído de Craig. Towards ti Nt'H' Tliecure, 19 13). c umprimento supremo : "O trabalh o de Cr aig vos da selva das metróp ole s. A luta entre o novo
foi meu ca tec ismo . e ele próprio. o art is ta d e e o velho. ent re filh o e pai, irrompeu em mani-
teatro mais perfe ito" . festos e no palc o. O co nflito de gerações, nas
co médias Der Suo b (O Esnobe ) e 1913, de Carl
Expre s si o ni sm o , Surr eal i sm o c S teinhei m, ainda te m a da cá ustica sá tira ao s
burguese s filisteu s, cru agora estimulado até a
Fu t u ri s in o
exec ução sangre nta. e m pe ças co mo Der Sohn
(O filh o), de Wa lter Hascn clever, Dies [m e,
De sde a A ntiguida de. ' lO; co utro v érs ias in- de A ni on Wil dgans. Der 8 cu/ er (O Mendi go ),
telcc ruais d ifund ida s no palco faze m part e da de Rc inhard Joh ann es Surge . até vatermom
herança teat ral. assim como o esple ndor de sua tParri cidio ). de Aruo lt Bronncn, e D ic Kran kh e it
festividade . A ri stófa nes tir ou o fô le go dos da Jugend (A Doen ça da Ju ventu de). de Fe r-
aten ien ses co m suas polêmicas provocações. dinan d Bruckn er.
Em todas as épo cas . esc ânda los e bri gas ve n- O palco pos suía ape nas urna poss ibilida-
tiladas no teatr o foram fer me nto e m sua far i- de de ca pta r ce nica me n te es sa vio lenta in-
nha . To rn ar am- se mais freq uentes qu an do a vesti da dos "s o n âm bulos" , co m sua "carga de
arte co meço u a se o por ir pressão nivelad ora atualidad e de terror". co mo Alfred Kerr cha -
tia soci edade indu strializad a de ma ssa. O pro - mou ce rta vez os dramaturgos expressioni stas:
grcsso téc nico e a co mpetição pel o me rcad o utilizar todo o potenci al de iluminação con10
haviam levado ir Prim eira Grand e Guerra e sua um mei o de ence na ção de luz. visualida de cê -
mani a, a se u del írio. A pessoa hum an a foi de- nica, como um sinal tempestu oso da crise in-
gradada , reduzid a a nada, deixada inde fesa , ;1 tel ectu al. em oci onal e po lítica . J:í em 1911.
mercê de pod eres incontrol áveis. Oskar Kokoschka exigiu, para seu drama Der
"So mos uuui onetcs cujas cord as são p u- !>n 'II I1I'lI d " Dorubusrh (A S arça Ardente), um
xada s por mestres desconheci do s" , d iz o Dan - apo sen to iluminado pe la lua. "grande e cheio
ton de Büchn er, em D lI lIIOII S Tod (A Mort e de dc so mbras ard ilosa s. qu e desen hassem figu-
Dant on ). O dr am a expressio nista ale mão res- ras no chão" , C••nes de luz se procurari am uns
IJOIH h a ~I cri se da aurodestrui cão

com 1I1TI ccri- aos outros. c ruzando -se pa ra form ar um halo
18. Edw ard G ordon Craig: cen ário com biombos móve is, desenhado para a prod ução de I q II de Hamlet, no Teatro de to. Pesad el os c utopias. o de termi nismo por e m torno do honu- m mort o. Kokoschka via a
Arte de Mosco u de Stuni vl ávs ki. Desenhos para (} ú ltimo ato.
td s das dcc ixõe« individuais. as vi sõe s soc iu- ce na COIllO U Il1 pin tor. Ma x o alvoro ço cau sa-

• 4 75
Híss ár ío M un d i a l d o T e a t r o .
1
do pel o es pet áculo d e 1919 . e m Berlim. foi se u me stre e m Le op old Je ssn er, direr or do
atribuído mais ii exube ra nte ima ginação de sua St aat sth eater de Berl im na Ged an ne n markr.
lingu agem do que às suas ima gens visuais. Je ssner for de Kõnigsberg par a Berlim, e em
Por sua vez, Reinhard Su rge , qu and o a 1919 en carregou-se do Schi nke l-Baue s, suce-
socie dade liter ária Das [unge Dcutschlan d (A dendo uma direç ão até aí mar cad amente tra-
Jovem Alem anha) apres ento u seu dram a Der dicional. Em 12 de deze mb ro de 1919, apre-
Bettler , em 1917, no Deu tsch es Th eaterde Max se ntou um lVilhellll Tell (G uilhe rme TeU) qu e
Reinhardt , pediu refl et or es móveis que real- ev itav a, rigorosamente. tod o o es ple ndor da
ça sse m uma figur a isol ad a ou um grupo den- pai sagem de montanhas suíça s: um au stero sis-
tro da esc uridão noturna. Na montagem de tema de degraus contra um fu nd o de co rtinas
Richard Weichert, em 191 8. de D er 501111 de esc uras era o cen ári o int eiro ; e havi a Albert
Hasenclever, em Mainheim, um fach o de luz
incidindo verticalmente so bre o palco atingia
o grau de total isolament o qu e o dram aturgo
pretendia. No dr am a ext ático de hum anidade,
Bassermann como TeU. um g iga nte d o tip o re-
tratado na s pinturas de Hodl er, e Fritz Kortner
co mo Ge ssl er, num a caracte riza ção marcial e
forrado de medalhas. Não havia nenhum " lago
o
Die WalldlulIg (A Transfi guração). de Ernst risonho" , nenhum "des filade iro". mas em vez
Toller, que Karl Heinz M artin mo ntou em di sso o estentóreo ch am ad o à or de m de Bas-
191 9. no Tribüne de Berlim, o palc o foi reves- serrn ann , da rampa para a pl atéia. quando a
tid o com tecido escuro. e os pou cos e insigni- continuação do espet ácul o viu-se ameaçada
ficantes cenários curvavam-se. mal saltando pelo tumulto e gritaria: " Ponha o s arruaceiros
aos olhos, ao furioso da palavra. pagos pra fora l"
As peças de Ernst Barlach tornaram evi- A situação foi salva. e o espet áculo conti-
dent e a co nex ão entre o drama expressionista nuou; Jessner firm ou- se no ca lde irão de bruxa
e a pintura express ionista. O mesm o efeito ob- d as intrigas de teatr o. E o lan ce de escadas qu e
teve Ern st Stern co m se us ce nários da monta- e le usou nessa mon tagem torn ou-se sua marca
ge m de 1919. em Berlim. de Die I\'IIPl' er . de registr ada art ística. Para o Rica rdo III de S ha-
Else Lasker-Schüler, na qu al ch aminés de f;í- ke speare, Em il Pirchan lhe dese nho u uma larga
brica se inclin avam sobre casas verme lho- ler- e scada ria fro nta l. qu e se estreitava suavemen-
rugem de operários . e v io lentos co ntrastes de te na direção do top o - um a in terpret aç ão vi-
co r enfatizavam a atm osfer a realisticamente ex- sua l da a sce nsã o e qu ed a do re i assass ino e
pressiva da peça. d om ina dor, retrat ado por Fr itz Kortner num
A tendência par a a lu z colorida co mo re- e sti lo di ab oli c am en te adeq uado e el eg ant e.
c urso c ênico enco ntro u outro parti dário cm Em oçõe s e discórdi as eram indicad as pe las co-
Her warth Walden. editor do Der 51111'111 . Uma res vermelho. preto e bran co .
pr odu ç ão de So neta SIISOI/1 /(/ . de A ugu s: As esc ad as de Jessn er fizera m e sco la .
S tra mm, no Kün stl erh au s de Berlim dispôs o Pr e stavam -se a se r interpre tadas prin cip a lm en-
espectro inteiro co mo pan o de fu ndo par a um te co mo ex pressão de um cós m ico se ntime nto
interior de igreja : um se m icí rc ulo vermelho de mundo, test ificavam port ant o a pretensão
profun do e, acima del e, ané is co ncêntricos cm intele ctual. Eram tamb ém fiicci s de imi ta r. po-
amarelo. azul , ro xo e , fina lmente. preto . As dia m se r u sadas para qu ase toda s as proposta s
cores prim árias repetiam-se nos figu rinos. Mais e não apresentavam dificuldade , nem me smo
tarde . Oskar Schlemrner, em sua montagem de para um palco tecni cament e primitivo. Quando
Das Triadische Ballet (O Bal é Tri ádico), no Jessner, ao retornar de uma viage m por alguns
Bauhau s, também jogou com cor rítmica e con- teatros de província, foi que stio na do sobre suas
trastes de formas. impressões. deu um a resp osta muito citada:
Os grandes palcos do s Teatro s de Estado. "Escadas. nada mai s alé m de e sc ad as" . Mais
co m seu repre sentativo pro grama de cl ássicos, tarde. em 1960. dur ante uma di scu ssão em Mu-
difi cilment e podiam cu stear ex periências com nique, ao ser interr ogad o so bre aq ue le "c ós -
dr a maturg os e x pres s io n is ta s. e xce to c m mi co " lan ce de escadas, Fritz Kortner decla - 19 . Fotografi a de urna cena da trag éd ia !:"iII ( ;(,R11!cc/ll (l Jrua G er aç ão }. de Fritz von ll nruh . mo ntada pel a pri nu-iru vez
ma tin ées literária s. Ma s os pri nc ípios da abs- cm 1918 no Schauspicl hau s d e Frankf urt am Main. Dircçào: G usmv Il artung: cenário: Aug ust Babb crgcr. COI II Rosa
ro u eva siva me nte: se o Staa tstheate r tive sse um
Bertens como" Mãe. Ge rda Müllcr como a Filha c Carl Ebcrt co mo o Filho .
tração po r meio da ILl / . C d a cor encontraram palco g ira tório. não seria obr igado a recorr er a
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1

20. Projeto de cenário de OUo Reigbcrt para Der Solvi (O Filho), de Walter Hasenclever,
destinado ao Staduheater de Kiel. 1919.

22. Pintura de cenário feita por Otto Reigbert, para a montagem de Oüo Falckenberg de Herodes und Murianinc, de
Friedrich Hebbel. Deutschcs Theater, Berlim. 1921.

21. Morte na Án'ore. Pintura de César Klein para o cenário da montagem de Victor Barnowsky para o drama 23. As escadas de Jessner. Projeto de cenário de Ernil Pirchan para Ricardo JlI. de
expressionista em "estações" Von Margens bis Míncrnacnts (Desde a Munhâ iI Meia-Noites, de Georg Kaiser. levado em Shakespeare. na encenação de Leopold Jcssner. Staatsthearcr am Gcndarmenmnrkt.
] 920 no Lcssingtheater, Berlim. Berlim. 1920.
H i s t á ri u M'u nü íal do Te u t ro • D o Ncu n ral is tn o (/O Prescnt c

escadas para co nseguir se u efeit o. Q uaisquer D eni s, que se torn ou dirc tor da Esc o la de Arte As qualidad e s d ramáticas do bal é nã o fo- ficou mais irri tado não tanto pel a recepção de
que seja m os moti vos conducentes, transfor- Dram ática do Old Vic. ram postas em d úvid a desde Se rge Diaghilev. se us film es surrealistas , d e Le S{//Ig d 'un Poete
mar uma necessidade em um prin cíp io artísti- O Th éâtre du Vie ux Co lo m b ier fechou Schch érazadc ( 19 09) e Pct ro uchka ( 19 11) de - (O Sa ng ue de um Poeta) a Orph ée (O rfeu) , o u
co é privilégio do en cen ador. E o emp rego de suas portas em 19 24 . M as os e nsi na mcntos de cl ar avam-se ob ras de arte coreográ fico- m usi- de se us dra mas La Mach ine In fcrn ale (A Má -
escadas no palco remont a j á a Pir ane si, Ju vara, Copeau permanecer am v ivos no "Ca rtel des cais independentes. Léon Bakst e A lexa nd re qu ina Infern al ) ou Bacchus (Baco), qu ant o pela
os Mein ingers e Appia . Quatre" , co nhec ido co mo os " Q uatro Gr an- Ben ois ga nha ra m fa ma da no ite par a o d ia co m recep ção da mont agem de 1962, em Mun iqu e ,
Jacqu es Cope au , o reform ador da arte tea- de s" , um grupo fundado c m 1926 e que durou seus proj et os de ce ná rio e figurinos. A primei- de L 'aigle à deux t êtcs (A Águi a Bic éfal a), qu e
tral france sa, forma lizo u similarme nte o palco até a Segunda Grande Gu e rra. Co nsistia nos ra bailarina, de st aqu e ex clu sivo no entardece r se realiz ara so b a ég ide pe ssoal de ste auto r. O s
com co mbinações de escad as. Pediu a Francis m ai s important e s dir etor cs de teatro particul a- do sé culo X IX, d ivid ia ago ra o apla uso co m o j ov en s prot e staram . Mas a razã o não era , ab -
Jourd ain que criasse, para o tablado do Th éâtre res de Pari s: Lou is Jou vet , C ha rles Dullin, pintor e o coreógrafo. Ter parti cip ad o de uma so lutame nte, um surrea lismo tardi o mal-enten-
du Vieux Colombier em Paris, que ele inaugu- Gaston Bat y e Ge or ges P ito eff. Ape sar de di- en cen açã o de Di aghil ev, em Par is, L ondres ou dido, po ré m, o prot es to , ne ste caso, dev ia -se
rara em 1913 , um a moldura arquit etôn ica fixa, ferirem muit o qu ant o à o rigem e temperamen - Monte Cari o , era o prim ei ro degrau na escada às suas inadequa ções de melodrama históri co
co m um a área neutra para a atuação na frente. to , tinham em comum o obje tivo de produzir, do êx ito int ernaci on al. barato .
Seu model o era a cena e lisabetana, seu obje tivo no sentido de Cop eau , um tea tro não-conven- Jean Coc te a u alca nço u se u primeiro A grande real izaç ão de Coct eau no lim iar
era a "re tea traliza ção do teat ro" : um palco cla- cio na l, de hum ani zar a ar te do palc o c de op or- succ és de sca nda le e m 1917 , em Roma, com do surrea lis mo co ns isti u em ha ver de spert ad o
ro, simples, be m-proporc ionado ; um incons- se à corrente da crescente artificializaç ão. Logo um balé cha ma do Parade. A mú sica era de Eri c o intere sse dos pintores da Escol a de Par is pel o
pícuo tablado para o text o dram ático, qu e não ve io a cen sura qu e os " Q ua tro G ra ndes" esta- Sat ie , o cená rio, de Pablo Picasso, e seu e st ilo tea tro. Picasso , Mati ssc , Braque, Utrillo, Ju an
requeria mais do que "um pódio vazio". riam superestimando o pap el do dirctor. Mas foi descrito no p rog rama por uma palavra, cu- Gri s, Gi o rg io de Chirico, André Deraiu ,
Copeau e stava em contato co m Appia , esse era um desen vol vimento natural numa nhada por Guillaume Ap ollinaire: Surrealismo. Delaunay, Ma x Ernst e Joan Miró de senharam
Cr aig e Stanislávski, e de sua escola vieram época em que o plurali sm o da s po ssibilidades Era uma nova palavra de o rdem para uma for- cen ári o s e d e corações para Stravin ski e
diret ores como Louis Jouvet e Ch arles Dull in, de plasmação alcançar a um a primeira culmi- ma de arte que pretendi a se r não-naturalista, Prokófiev, par a Maurice Ravel e Manuel de
e mais tarde , quando foi co-diretor da Co m édic nância. não-realista, super-rea lis ta . O termo apareceu Fali a, para Al béni z e Richard Strauss.
Fran çaise em 1944, também Jea n-L oui s A direção teatr al pre ssu pu nh a discrimi- pela primeira ve z no subtítu lo da fantástica c O palc o torn ou -se o portador das co m po -
Barrault e Jean Vilar. O foc o de interesse origi - nação críti ca e requ eria u ma habilidade para gro te sc a peç a d e c hoq ue Les M aniclles de sições pictór icas de vanguarda, em gran de es -
nal de Copeau residia na litera tura. Seu ideal f undir os elem ent os ma is het erog êneos numa Tiresi as (As M am as de T irésias), q ue os a mi - ca la . O Ba lé Ru sso , alca nça ndo nova g lór ia ,
era a hum ani zação do teat ro a part ir da pala- forma de arte intern am en te co nsiste nte. A es- gos d o autor e ncenara m co mo um " dra ma desde 191 7, no qu adro da Óp era de Paris, e o
vra . Foi um dos fundadores da NO/lI 'eUe Revuc col ha começa va co m as técni ca s c ênicas e não surrea lista" e m 24 de j unho de 1917 no Thé âtr c Bal é Sue co , no Th éâtr e Hébert ot a parti r de
Françoise, e m cuja edi ção de setembro de 19 13 se limitava à peça e m s i. Ouo Brahm havia se Maubc l. em M o nt martre. i\ reação dos críti- 192 0 , ce le bra ra m os tr iunfos dos decors a lta -
anuncio u a c riação de se u própr io teat ro e seus arvorado em advogado de Ge rhar t Hauptmann: cos pari sien ses foi mo rna . A apresentação não ment e ex pre ssivos. Para Le Tricome (O C ha-
obje tivos artís ticos, so b o título Le Th éâtre du o Teatr o de Arte de M o sco u de Sta nis lávski levava nem ao sucesso, ne m ao esc ânda lo . O s péu de Três Bico s), de Manuel de Fali a, q ue o
Vlellx Colomb ier (O Te at ro do Vieux Colem- fo i a cas a de Tch ékho v: e Lo uis Jou vet suge- co nce itos de Apollinaire exerceram infl uê ncia Balé Russo trou xe a Londres em 191 9, Picasso
bier). ri u c pr om oveu a t ivame nt e a mu dan ça de mais dur ad o ur a so bre o teatro do que suas pe- viro u o espelh o d'água do lago de M ille r na
A prime ira vez qu e Copeau causou sen- G iru udo ux do roman c e p ara o d rama. Na ças. Dele ta mb é m procede o termo "rayonis- vertical c alinho u um lad o do s o utro s e lem en-
sação foi quando da dr amatização do últi mo Co m édie des Champs -E lys ées, Jou vet produ- mo ", par a a va riante especificamente russa d o to s cub istas . Fe rna nd Léger deri vou o ce ná rio
rom ance de Dost oi e vski. Os Irmãos Kara- z iu , e m 192 8. Siegfried, de Gi ra udo ux, um fut ur ismo (os ismos co meçava m a se multipli - de Skating Rink (O Ri nqu e de Pat inação) de
mazov , em 1910. (O esp etácul o produ ziu uma "d iálogo com a Alemanha, o paroxi smo da pai- ca r) qu e a ting iu reco nhec imen to m und ial, gra- d inâm icas de cor cubistas , e De Chirico erg ue u,
imp res são tão d ura do ura q ue , e m 19 27, o sage m e da pa ixão, ao qu a l so mc nte a alma ça s aos co la borado re s de Diag hi lev, Nat ália ao fun do da ce na de La Jo rre, as se re nas vasti -
Th eatre G uild pediu que ele o ence nasse no- podc dar plen itud e" . Gont charova c se u marido Mikh a il Lari on o v. dões de sua per sp ecti va na pintura - a m bo s
vamente e m Nova York .) A influ ência de Co - Gast on Baty, o princ ipa l dos Co mpag no ns Bal é e mú sic a estava m e ma nc ipando -se par a as memor á vei s produçõe s experiment ai s
peau en tra ma -se como Um fio verme lho em de la Chimerc (Co m pan he iros da Quimera ), rapidamen te , e o ímpe to desse movim ent o e n- do Ba lé Sueco e m Paris, em 19 22 e 19 24 , res -
todo o moderno teatro fran cês. Ela se es tende , agi a na área e ntre a rel igiosidade, co m um to- co ntro u ex pressão no ass im chama do "G ru po pectivam e ntc . Idéi as e stimulantes des te apo -
co m certez a, até Giraudou x e An ouilh, mas in- que de simb oli sm o , e o imponderável verbo do s Sei s" - ou seja, os se is co m po s itore s : ge u da arte da dan ça ainda continuam a atua r
clui aflor ame ntos aparentement e tão rem otos, espirituoso de Labi ch e , Ievc co mo uma pena. Georges Auric , Loui s Durey, Dariu s Milhaud, no interlú d io balético do oratório dram átic o
co mo por e xe m p lo a peça bíblic a Noé, de Georges PitoetT, nascido na Arm énia e estabe- Francis Poulen c , G er mainc Taill eferre e Arthur I cann e d 'Arc ali Bucher (Joana d' Ar e na Fo -
André Obey, diretor da Comédie Françoise lecido em Paris em 1922, n ão ape nas encenou Honeggcr. Seu s a ta q ues ao s se gu id ore s de gu e ira ) de Arthur Honegger. A fama mundi al
após 194 6, cujo sucesso no palco, em 1931 , se autores russos e es can din av o s, m as também Wagner e Debu ssy troux eram a es te s últimos, de.Hon egg er, e ntre tanto , remonta a 1921 , e s ua
deveu ao so brinho e pupilo de Cop eau , M ichel Pirandello. Sha w e Ferd inand Bruckner, Quan- conforme Co ct c au -- que era al iado dos "Seis" m úsica par a o Roi D avid, apresentada no fe s-
Saint-Deni s. Pi err e Fresnaye fez o pnpel-títu- d o Charles Dullin mon to u Ri cardo 1I1 no - gracejou com malícia, o peri go de se re m lc- ti val van guardi sta do s irmãos Ren é e Je an
lo em Nov a York , John Gi elgud , em Lo ndres. Théatre de lAt cli er. es tilizo u as ce nas de ba- vados li sé rio. M orax, cujo T h éatrc du Jorat em M ézi êres ,
Muit as das idéias de Copea u co ntribuíram para talh a :1maneir a do ba lé _. u ma a fro nta ao mod o O própri o Coc ica u fico u mui to co ntra ria - pe no de La usa nnc, visa va propiciar uma e s -
o desen vol vim ent o do tea tro inglês, via Sain t- tradi cional de rep resen tar o s c láss icos. do qu and o o pú blico o pús e m d úv ida . Mas trcit a co laboração e ntre o palco e a platé ia.
• 480 • .JSI
1
D o Nat u ral is mo ao P re s e n t e

Na Itália, o futuri sm o co meçou nas arte s Ma x R e i nh ardt : Ma g ia e


plásticas e con vert eu -se numa rejeição radi - T é clli c a
cai à tradição. F. T. Mar inetti preci sou em se u
P roclam a mI Teatro Futurista (Manifesto do
Teatro Futurista) (1 915 ) as exigências do fu - O séc ulo dos grandes d iret or es co nto u
turi smo em relação à ce na . Os critérios para o com um segundo trunfo além de St ani sl ávski:
teatro do futur o deveri am ser a dinâmica da M ax Reinhardt. Ele também percorreu , em
máquin a, a mecani zação da vida, o princípi o sua s co ncepções artísticas, os e stilos mutantes
fun cional do autômato. Para o ata r, isso sig- de sua época. Reinhardt chamou a si mesm o,
nificava um sta cca to de mo ntages verbais ce rta vez, de " mediador entre o so nho e a rea-
acusticamente co ndicio nada s, um movimen- lid ade" . Verdadeiro herdeiro do espírito do bar-
lo de marionete elevado ao nível acro bá tico e roco aust ríaco, gostava de abando nar-se, se m
a redu ção da própri a pessoa a uma en grena- reser vas, à magia festiva do teatro . Era parte da
gem bem azeitada do "t ea tro sintético" . natu reza de sua arte e de sua personalidade re-
Tamb ém a cenografia há de ser din âm i- co rre r ge nero samente a recur sos caros, es pa-
ca. A cen a deve to rnar-se parte do ritm o do lhar no palco todas as riquezas apree nsíveis
movimento , de acordo c om a Scen ografia de atmosfera e cor, de expre ssão visual e inte-
Futurista de Enri cu Pr am polini. Léger ado- lectual.
tou esse princípio até ce rto ponto. Em seus Por sua vez, o teatro naquele exato mo-
desenhos para o balé La Cr éation du Monde ment o fo i equ ipado com os novos meios técn i-
(A Criação do Mund o) ( 1923 ), havia algu- cos, pelos quais metamorfoses até então nunca
24. Quadro de cenário de Pab!o Picasso para () ballet O Chapé u de Três Pontas, de Manuel de Fa lia, co m co reogr afia mas seções planas na composição geométri- sns pei tadas poderiam ser arrancadas do tosco
de Le6n ide Massinc. Levad o pelo Ballet Russe, sob direçãu de Diaghil cv. no Alhambra Theatre, Lon dres, 1919. ca de cores fort es, co ncebi das para estar em apa ra to tra dicional da cenografia. Em 1896,
movimento co nsta nte . Co mo um a variante em M unique, Karl Lauten schl ãger invent ara o
tardia, tem os o Figu rales Kab ineu, de Oskar palco gira tório e assim criara as co ndições prá-
Sc hlemmer, co nce bido par a um a banda de ticas para rea lizar um velho sonho do teatro .
jar; e desenh ad o. em 1927, par a o Bauh au s No O rie nte, o ka buki japon ês co nhecera já
e m Dessau . o utros predecessores , primitivos, e Leonardo
Os expe rimen tos da era da máqu ina com da Vinci, em Milão, havia co nstruído um ce -
a nova forma encont raram express ão efetiva na nário giratório em 1490; mas o palco giratório
nova arte do cine ma . O pintor Robert Wiene não se torn ou acessó rio co mum e pra ticá vel
usou. em I'J19, em se u filme de horr or Das cio teatro até que Lautcnschlãge r inventou a
Ka hin ett des D r. Cali gari (O Gabinete do Dr. p lataforma giratória operada eletrica me nte . O
Ca liga ri), um cenário expressio nista, truques ciclorama , iluminação multi colorid a. horizonte
de luz e reflexos de choq ue para sugerir as e m cúpula e projetores de efeitos co mpleta-
visões de pesad elo de um a person alid ade pa- va m o ars enal das novas possibilidades de
tologicament e cindida. Ren é C1air, em seu pe- magia e Max Reinhardt torn ou- se um mestre
qu en o film e Ent r'oct . tr ou xe à mostra o em seu uso.
bru xuleante subco nsc ie nte de uma bailarina Ele supervisionou a reform a do Kleines
acometida do medo de represent ar no palco Th eater em Berlim em 1905, e suas instruções
- um tributo ao Balé Sueco, para o qual a pe- nessa ocasião ilustram a importância dos dis-
lícula pretendia serv ir, co mo seu nome suge- positivos técnicos para a arte dramática do fu-
re, de entr eato. Em Lc Sa ug d 'un Poete (O tu ro . O sistema de iluminação pre ci sava ter
Sangue de um Poeta), Jean Co cteau demons- " ricas possibil idades, de fato, cores e projeto-
trou, num fantá stico pit or e sco e intelectual, o re s", Deviam substituir os cenários, ao s qu ais
que poderia ser fei to co m o cine ma como "um Reinhardt quer então renunciar. Nã o imp ort a-
documento reali st a de eve ntos irreais". Seu va o qu e aco ntecesse , o palco giratório prec i-
uso s urrea lis ta da c âmera foi mai s tard e sava ser co nstruído: "Eu atribu o a maior im-
inesgota velment e rep eti do no Orp hee e, pos- port ância possível a este palco gi ratório!"
teriorm ent e, no Tcsta nte nt d 'Orph éc (Tes ta- Nada de bamb olinas, "ess es fa rrapos de-
25. Projeto de cenário de Eurico Pr.unpoliui: ..l rqu;ld llfll Mrtafis ícn , 11)24 . ment o de Orfeu ). pior ávei s"; da mesma form a, Reinhardt não via

• 483

26. Pintura de ce nário de Oskar Schlemm er para D OII Juan e Faust de Chr. D. Grabbe, Nat ionaltheater, Weimar, 1925.
Cena simultânea em Rom a: à esquerda. uma rua: à direita. estúdio de Fau sto no Avcntino.

28. Cená rio de Eru i! Pirch an paru Gas . de Gcorg Kai scr . levad o em 1928 no Schillertb c ater, Berl im .

27. Proictu de cenário de Alexandra Extcr par" () M ercador fIe H·na n. 1927.
f
1
• Do N rü n ru lísm o ao Prcs c n t e

utilidade no urdiment o: "O que ve m lá de cima tapete de grama, árvo res atrás das quais a lu a
es tá qu ase sempre podre" . Seu ideal residia no nascia e sobre as qu ais as estrelas brilhavam
palc o giratório , cujo cená rio tridimen si on al nas abó badas ce lestes . Em cen a abe rta, a flo-
para a peça toda deveria, se possível , ser insta - resta girav a, bem como o apo sent o do ca rp in-
lad o com antece dência, tend o co mo abó bada teir o e o pal ácio. Reinhardt encen ou o So nho
um céu em cúpula. de Uma Noite de Ver ão aproximadamente uma
Max Reinhardt chegou a Berlim por Vie- dúzia de vezes, e se mpre de forma diferente -
na, Bratislava e Salzburgo, ond e O tto Brahm sendo a últi ma vez em 1935 , num filme em
o viu no papel de Franz Moor e o co nvidou Hollywood, juntam ent e com Wilhelm Dieterle
para o Deut sch es Thcater. Ali , ele estreou jun- - mas nenhuma apre sentação lhe trouxe mais
tamente com Josef Kain z, Agn e s .Sorma e fama do que a do palc o giratório e das árvores
A lbe rt Ba ssermann. Mas o naturali sm o frio , verda deiras de Berl im .
objetivo e invariável do protestante Otto Brahrn No ver ão de 1905, Reinhardt transferiu-
não pod eria satisfazer Reinh ardt a lo ngo pra - se para a Schumann strasse com o diretor ad m i-
zo. Ele qu eri a transformar as co isa s. Pro cura- nistrativo do Deut sch es Theater e, poucos me -
va as o utras possibilidades, mais luxuri ant es, ses mais tard e, co mprou-o de seu fundador,
mais enfeiti çadoras do teatro, a realidade mais Ado lphe L' Arron ge, o comediógrafo. Era o
elevada e se nsual, em vez de sua có pia profa- mesmo local onde Reinhardt atuara sob a di-
nada. rcç ão de Otto Brahm; um dos mais proemi-
O trampolim de Reinh ardt foi o cabaré li- nentes teatros alemães na época, rec upero u
terário . El e arriscou a sorte com um grupo de essa posição dep o is de 1945, quand o Gu stav
jovens artistas que se auto -intitulava "Schall Gründge ns, Pau l Wegen er e Horst Ca spar pro-
und Rau ch " ("So m e Fumaça" ) e co meço u a porcionaram novo brilho ao nome Max Rei -
atrair aten çã o desde 1901 , prim eiram ent e co m nhardt Deutsch es T hea ter.
núm ero s cm forma de esquetes c urtos e logo Após ter reco nstruído em 1906 uma sala
co m peças maiores. (Tudo se inici ou co m um de dança vizinha co nverte ndo-a no Kam mer s-
espetáculo beneficente para o poet a Chr istian piele, Rein hard t usou esses espaços menores
Morgenstcm, doente e incapaz de pagar por para peças de Sternheim , Wedekind , Ibsen e
sua permanência num sanatório suíço .) Ma x Strindberg, enq ua nto no teatro princip al do-
Reinhardt desvinculou-se de Brahm . O intér- mina vam sobretudo os clá ss icos. Strind berg
prete torn ou- se diretor, e dent ro de po ucos anos veio em pessoa e ficou imp ressionado com a
o diretor torn ou-se o mais apai xon ado motor atmosfera elegant e e íntima do Kamm erspie le
artístico e o maior empresário teatral de Berlim. e o es treito contat o entre a platéia e o palco,
No vos proj etos, novos palco s, reco nstruções, sem qualquer ram pa que o prejudicasse. Em
ampl ifica ções para dimensões cada vez maio- 1907, ele fund ou o Teat ro Íntimo em Estocol -
res. teatro de massa, arena, festivais - a co nta- mo, segundo o mod elo de Reinhardt. Co mpo r-
giante energia de Max Reinh ardt superava to- tava apenas ce nto e sessenta pessoas, c assi m
dos os obs tác ulos. ofe recia a garantia desejada para as sutilezas e
No fin al de fevereiro de 1903, ass umiu a nua nç as psicológi cas que, sob a direção de
adminis tração e direção do Nenes Th eater am August Falck, finalm ente trou xeram sucesso il
Sc hiffb aue rda mm. Ali, o se u áp ice fo i uma Senhorita Júlia, também em Estocolmo.
en cenação picante e parodística de Orp h éeaux Para M ax Reinhardt , o Karnmerspiele e ra
Enfers (Orfeu no Inferno) , de Offenhach , com simplesmente um acorde da orquestra de se us
Alexander Moissi como Plutã o-Ari steu c o plano s - um acord e que sustentava com requin-
jovem Otto Klcmperer brandi ndo a batuta de tada de licadeza, co nve niente a esse auditório
regente. No Kleines Theater, na Unter dcn que, co m seu reve stim ento escuro e cade iras
Lind en , a modernizante sala do "Schall und confortáveis, parecia tão particular quanto uma
Rauch " , o so mbrio e naturalista No Fundo , de sa la de estar. Para a inauguração, em 8 de no-
Gó rki, foi seguido por uma não me nos natura- vembro de 1906, ele levou os Espectros, de
29 . Karl Lautenschlãger: palco girat ório o perado clctricam eute. Usado rela primeira vez cm 1896 . no Nationaltheate r lista j eérie, o Sonho de lima Noite de Verão . Ibs eri , co m cenários do pint or noru egu ê s
de Munique . de Shake spea re, com árvores rea is num verde Edvard Mun ch .

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1
H is t o ri n Mu nd i a l d o Tcu t ro •

Reinhardt também obteve os se rviço s do s modo pas si vo , mas ativa me nte. E ele produziu
pintore s M ax S levogr, Lovis Co ri nth e . e m e ntão o se u famoso e not ório Danton , de Ro-
G CIl OVCI'lI. de Hebbcl, de Max Pech ste in . Ernst main Roll and . Foi no Grosses Sch au spi elha us
Stern , César Kle in e Em il Orli k co labo raram em Berlim, e m 19 20 . Se ntados e ntre o públi -
com el e durante anos . Estabeleceu co ntato co m co , m ais o u m en o s ce m atures lançavam aos
Edward G ord on Craig e envidou o se u élan e gritos sucessivos apa rtes dur ante a asse m b léia
autoconfia nça para tran sformar em real idad e revolu cion ári a , sa lta ndo da cade ira co m ge s-
aq uilo qu e Rom ain Roll and e Cra ig procl ama - tos se lvag e ns . Todo o imen so es paço , trans-
vam como o Teatro do Futuro : o espet ãculo formado por Han z Poel zig numa mon struosa
par a as ma ssas, es paço festi vo, de dim ensões abó bada de es talact ites, tr ansform ou -se no Tri-
cc lçssais, onde as multidões se reuni riam como bun al.
ha viam feit o na Anti güidade ou na pr aça d o " E então , entra va Paul We gen e r co mo
mercad o, na Idade Médi a cris tã . Dant on , alt o, largo, ma ciço ; parava so b uma
Reinhardt alugo u o Zirku s Schu mann , luz brilhante, na rampa da tribun a gradeada ,
com capacidade para ci nco m il pe ssoas, para que avança va d ia nte do palco efeti vo, até as
en cenar o Édip o Rei , de Sófocl e s, na no va pr ime ira s file iras" , re la ta Paul Fechter. Ele e s-
ada ptaç ão de Hugo von Hofmann sth al. Altre d tava entre o s p ou c o s di sp ost os a admirar
Roller construiu para ele um a im pone nte es - Reinhardt também nest a encruzilhada crítica.
cadar ia, a fim de introduzir a tragéd ia antiga em 1920. A platé ia co nse rvadora interpôs seu
dentro da arena. Como coro, Reinhard t orga- veto. O "teatro tot al", qu e menos de meio sé-
niz ou uma multidão em moviment os monu- culo mais tarde se to rno u a divisa comum de
ment ai s. El e assenhorou-se da arte da direção todos os experimentad or es, nasceu na Alema-
de m assa e co nquistou o públi co, prim ei ramen- nha com o gra nd iuso fracasso de Max Reinhardt
te co m o Édipo Rei em 1910. c. um ano mai s no Gro sses Schauspi elh aus. em Berlim. 30. Esp ectros, de Ihscn. encenado por Max Reinhardt para a inauguração do Kammc rsp iele de Berlim, cm 8 de novcm-
bro d e 1906 . Ce nár io de Ed ward Mu nch (Ba silé ia. Ku nsth allc ).
tarde, também no Circo Schuman n, co m a Em o utubro de 19 20, Reinhardt retirou-se
Orcstcia de Ésq uilo. No mesm o ano - e m 191 1 da adm inistra ção do De utsc hes Th eat cr (s e u
- tran sformou o grande sa lão do Olyrnpia, e m velh o co la borad or, Feli x Holl aend er. o subs ti-
Londre s. numa catedral gó tica , para u Mil a- tuiu por doi s anos) e foi para Viena . No o uto-
gre, de Karl Vollmõller, Jan elas com vitrais, no e no inverno de 19 22 e 1923, ence no u al -
arcos og ivais e colunas, desenh ad os por Ern st gumas peça s no Wi enc r Redout e nsaal e no
Ste rn , m ascaravam a au ster a estrutura de aço e Dcut sch e s Vulksth e ate r c , em 1924 . assum iu a
banha vam tod a a sala numa penumbra m ágica. di reção do Th eat er in der Josefstadt. inau gu-
O púb lico era inserido em uma atmosfera medie- ra ndo -o em I" de abril, com O Servidorde Dois
val mí stica , para a qual a m úsica de Enge lbert Amos , de Guldo ni - a de claração de amor de
Hum perdinck tam bém co ntribu ía. Reinhardt à Conunedia dcllane. um a de cl a-
Tent ati vas similares de reali zar Ulll teatro ração qu e el e nunca se ca nso u de rep elir, e m
de massa foram empreendidas pelo dir e tor fra n- muitas varia ntes.
cês Firmin Gémi er no Cirque d'H iver, e m Pa- Reinhardt cons ide rava a mais simples for -
ris. Ali ele produziu, em 1919, Oedipc. Roi dr ma de encen aç ão Ião desafiadora qu an to a m ais
Th êbes (É dipo, Rei de Teb as), um a versão do ela bo rada . Re iter ad am ent e ree xaminou e pôs
tema em pauta simbo lista e reli giosa, de autoria à prova a ex te nsão de seus pod eres criativos.
de Saint -Ge orges de Bouhéli er. O ce nógra fo Julgava tent ador e nve re dar por trilhas nã o pal-
Emile Bertin, no entanto, recorreu ao s m odelos milhadas, jogar se u feiti ço metamorfoseador
rom anos , em vez dos gregos, edilieand o na are- sobre comediantes q ue não co nhec ia. Em 1929,
na elementos de arquitetura do circo no estilo recebeu os primei ro s parti cip antes de seu se-
de Orange. A essa produção seguiu -se , em mar- minár io sobre int erpret aç ão e dire ção no
ço de 1920 , La Grande Pastoralr (A G rande Schõnbunner Schl o ssth eat er e m Viena, com
Pastoral ), uma peça crist ã de Cha rles Hellem e estas palavras: "Não é o mund o da aparê nc ia
Pol d' Estoc, montada por Gasion 13aty. este qu e vocês ade ntra m hoj e; é o mundo do
Reinhardt po rém foi ai nda m ais lon ge. O se r" . Aq ui, em po ucas pa lavras, cxt.i a própria
públi co preci sava lom ar part e não apena s ,I.: fé de Reinhardt na ve rdade supe rior do te at ro. 3 1. M ax Rc inhard r 1Il1l11 en-aio d o f :ilipo Rei, de Só foc les . I. irl\us S...h umanu . Berlim. 19 10 {aqua rela de Em il O rfik l.

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32. Encena ção de Reinhard t no O lympia lIall , Lond res, 191 I: O Milagre , de Karl Vollm õller. co m mú sica de Engetbert
Humperdinck: dispo sição cé nica e cenários de Ernst Stern . Desenho de J. Duncan (Lo nd res, Victori a and Albert Museu m),

34. A Morte de Danton, de Geo rg Büch ner , en ce nado por Ma x Reinh ardt no Karnmerspiele de Muniq ue, t 92 9: V.
Sokoloff co mo Ro bespierre. Desenho de Peter Trumm .

33. O "tea tro total" de Rcinhardt no Grossos Schausp ielhaus, Berlim , 1920 : Danton , de Ro main Ro lland. co m Paul
weneger no papel- título. Desenho de Ernst Stern.
Hí stárí a MUlldial do Tc cu ro •

Max Reinhardt não se agarrou exclusiva- de um grande evento festivo. Era uma cidade
mente nem a formas estilísticas particulares, bonita, intelectual e alegre, e a combinação de
nem a autores particulares. Ele apresentou um ambiente natural encantador com uma es-
Ludwig Thoma e Ludwig Anzengruber a plêndida arquitetura, numa localização tão con-
Berlim. Criou espaço para os expressionistas veniente, lhe parecia ideal para um centro de
pacifistas nas matínées de domingo do peregrinação artística. Sob o signo de Mozart,
Deutsches Theater e em seu periódico Das ele pretendia recuperar para o teatro o "espíri-
Iunge Deutschland (A Jovem Alemanha). to festivo e alegre, a singularidade" que "é a
Amava Shakespeare, Hebbel e Kleist, e captu- marca de toda arte, e que o teatro da Antigüi-
rou um reflexo do teatro do longínquo Oriente dade possuía".
com uma montagem de Sumurun, no Kam- Hugo von Hofmannsthal apoiava essa
merspiele de Berlim, em 1910, na qual o atar idéia. Reinhardt escreveu cartas insistentes para
principal fazia sua entrada numa passarela de despertar o interesse cultural e econômico dos
flores que ia até o alto da platéia, como no edis de Salzburgo. Finalmente, no verão de
kabuki japonês. 1920, tudo estava organizado, e o primeiro fes-
Em 16 de junho de 1933, Max Reinhardt tival, estruturado. Em 22 de agosto, o chama-
escreveu o que talvez seja a mais comovente do de Evervman (Todo Mundo) foi ouvido pela
carta jamais escrita por um homem de teatro primeira vez na praça diante da catedral bar-
bem-sucedido, depois de voltar as costas a um roca, e a fortaleza de Hohensalzburg repercu-
regime totalitário. Os nazistas haviam expro- tiu o eco. Reinhardt convocara suas melhores
priado seus teatros, cuja administração ele en- forças para representar a versão do mistério 35. Jedennann, de Hugo von Hofmannsthal, na praça da Catedral em Salzburg, 1920. A montagem de Reinhardt abriu
tregara, em 1931, a Rudolf Beer e Karl Heinz tardo-medieval reescrito por Hofmannsthal. o festival de Salzburg, que ele criou juntamente com Hofmannsthal.
Martin. Agora, Reinhardt reconhecia formal- Alexander Moissi interpretava Todo Mundo,
mente a situação: Wilhelm Dieterle, o Bom Companheiro,
Heinrich George era Mamon, Werner Krauss,
Com esses teatros eu perco 11<10 ap~nas os frutos de a Morte e o Demónio, Hedwig Blcibtreu, a Fé,
trinta e sete anos de trabalho, mas também o solo que
Johanna Terwin, o Amor Sensual e Helene
cultivei durante toda a minha vida c no qual cresci. Perdi
minha casa ... Mas visto que o fiar do Estado criou uma
Thimig, esposa de Reinhardt, as Obras de
situação em que já não há mais nenhum lugar apropriado Deus. Salzburgo guardou essa primeira ence-
para o meu trabalho, e visto que, desse modo. se tornou nação do Festival como nm legado. Nos anos
impossível para mim continuar cuidando da obra da mi- 60, quase meio século mais tarde, ela ainda
nha vida. e cumprir as obrigações a ela ligadas, é preciso
era um dos esteios sacrossantos dos progra-
que eu encare como natural dcixar todo este trabalho ao
Estado.. Além de preencher sua principal tarefa. a de mas - com freqüentes mudanças na distribuição
manter suas portas abertas as correntes vivas do tempo, e dos papéis, mas piedosamente preservada no
trazer à luz as obras dramáticas nacionais, o Deutschcs estilo.
Thearer adquiriu uma reputação Internacional incompa- Dois anos depois de Jedermann (Todo
rável, por numerosos cspetaculos que foi convidado a
Mundo), em 1922, Reinhardt montou Das
apresentar em todas as grandes capitais do mundo ... ;\
satisfação de ter dado o melhor de mim, ao contribuir Salzburger Grof3e Welttheater (O Grande Tea-
para este resultado, modera a amargura do meu adeus. tro do Mundo de Salzburgo), a peça barroca re-
ligiosa de Hofmannsthal, baseada em Caldcrón.
Reinhardt enviou cópias desta carta a Ele a encenou numa igreja, a Kollegienkirche.
muitos órgãos do governo em Berlim. Nenhum Tudo o que tivera de conjurar em austeros sa-
deles respondeu. lões solenes, para o Milagre, de Volmiiller, a
atmosfera de um espaço sagrado, estava pronto
A Idéia do Festival ali, para ele. Reinhardt submeteu-se à majesto-
sa arquitetura de Fischer von Erlach. Escolheu
O nome de Max Reinhardt está associado dosséis estilizados e painéis de tecido verme-
não apenas a Berlim e Viena, mas também a lho brilhante como únicos complemcntos à fria 36. Das Satzburgcr grasse Weluhealer, de Hugo
Salzburgo, a cidade de sua primeira infância e alvura dos plintos, colunas e pilastras. von Hofmannsthal ; levada pela primeira vez cm
Salzburg, em 1922, na Koltcgicnkirche. foi rcence
a cidade do Festival. Desde I'103 vinha alimen- O mais importante, porém, foi o ano de
nada em 1925 no Festspiclhaus: palco com cenário
tando a idéia de converter Salzburgo em palco I'122 para o estabelecimento do futuro peso de baldaquino gótico.

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H í sur ri u Al u n d i (l l d o T cu t rn •

mu sical do Festival de Sa lzburg o. Pel a primeira é . e stão fora do alvoroço da me trópole . Mas, Inverno. en ce nado c m Pet rogrado. e m 7 de ce nário , pôs ti gur antes a correr a tod a a ve lo -
vez , q uatro ópe ras de M oza rt fig uravam no pro- não impo rta se co m es fo rços pro d igi o sos o u no vembro de 19 20 . como um a ce lebração d ra- c idade ao lon go da s prim ei ra s fil eiras da pla-
g rama, cada um a de las co m q uat ro ap resenta- modesto s. todos possuem sua jusrifie.u iva e se u máti ca e teatr al do s evento - hi stó ricos da Re - té ia di sp osta s em ce na , fê- lo s e sc a la r and a i-
ções: 0 0 11 Giovanni . Cosi Fali lili/I' , As Bodas mérito, na med ida em q ue sua preoc upaçã o é vo luç ão em se u te rc e iro an ive rsá rio . Ho uve m e s e esc o r re ga r po r e sc ada s d e co rd a .
de Figaro e O Rapto do Serralho , (Salzburgo com o te at ro e não co m o mero turi s m o. sa lvas de ca nhão , fa n fa rra s e ho lofotes; u ma M ei erho ld varreu os últi mo s ves tíg ios do tea-
co nhec ia festi va is de mú si ca co m obras de P ar a co m pletar o qu adro . ca be m e nci o - p lataforma branca e o utra ve rm el ha era m uti- tro bur guês ; não esta va preo cup ad o co m a at-
M o zart desd e 1877.) Era o co meço de uma nar as peça s e os co rtej os loca is , o s g ra nd io- lizad as co mo pa lco s para a a presemação dos m osfera , mas co m a ag itação propagandística.
mu dança em favor da ó pe ra, reforçad a pe la sos es pe uic ulo s, tão difundi d os es pe c ia lm e n- czaris tas e sma gado s e d o s bolcheviqu es vito - Como uma reprodução da Revolu ção no
co nstruçã o da casa de esp etác ulos do Festival te na S u íç a, desd e os lud os de Tcll ao ar livre . riosos; hou ve fo go de art ilha ria. e o assa lto ao palc o , e le concl uiu a peça so bre a Guerra Mu n-
e s u a a m p liaç ão. em 1926 , por C le men s e m A ltdorf o u Interlaken, ii trad ici onal fe st a palác io. Exibia-se um a e str e la so viética g ra n- di a l, Terra Revolta. de Tretiakov, co m uma cena
H ol z m e iste r. E ntre o s mae s tr o s es tavam d os tab ern e iro s de Vevey, com mi lh are s de pes- de e verme lha - e toda a asse m b léia ca ntav a a na q ual os so lda do s do E xérc ito Ver m e lho to -
R ich a rd Stra uss, Art uro To scan ini , Bruno so a s to m ando part e nas proci s sõ e s e e sp e - lnternaci onal, e nq ua nto fogos de art ifício co n- m avam de assalto o palco, o aud itório e o foy er ,
Walter, Clemens Krauss e W ilhelm Furt wãngler, t ácul o s . cluíam esse e norme e spet ác ulo ao ar livre . O ar vo rava m ba ndeiras ve rme lhas e entoava m a
Os pa péis princip ais era m cantados por astros eve nto fo i d irigid o por Ni ko la i Ev re inov, ii c uj a Int ern acional. Em Berra, Chino , de Tretiakov,
de Viena , Milão e No va Yo rk. No es paço pito- di sp os ição havia ce rc a de q uinze m il pa rt ici - M ei erhold su blin ho u o c o n fl ito ideo l óg ico
resco da Fclscnreitsclnde, ant iga escola de pa ntes , um e le nco formad o por so ldados do e ntre c ules e co lo nizad o res, fa ze ndo os eur o-
eq uitaç ão , acomo da vam -se ó pe ra e dram a .
o TEA T R O EN G A JADO
pe us usarem máscaras e co m por tare m -se co mo
Exé rc ito Vermel ho e po r ato res . Conta -se qu e
or atório e balé. O velho tcat ro torno u-se mui- o número de es pe cta dore s be iro u o s ce m m il. nu m a op ereta. em provocativo co ntra ste co m
to peq ueno para a caudal de visitantes. C lemens Rússia So vi ét i ca : O .. O u t u b r o "Teatra liza ção da vida " _. era co m o Evreinov o reali s mo da m isé ria dos trabalhadores. Para
Ho lzm eister desenhou um no vo e ult ram oder- Teatral" descrevia estas fest a s - espet.iculos de massa, efe itos de pura pantomima, acrobacia ou clow-
no ed ifíc io. profundamente incrustado nas ro- para os quai s o s feriad o s do ca le ndário ver- ning, M ei erhold vestia seus atore s com ma ca -
c has de M õnchsberg. Su a in aug uração, e m Com a Revolu ção Ru ssa, o teatro assistiu melho of ereci am , a n ua lme nte , repet idas opor- c ões-uni fo rm es: ro u pas prosaicas de trab alh o
1960 . tamb ém deu iní cio ii era Karaja n, rica a uma rupt ur a das mai s e leme nta re s, rad ic ais tunidade s. co mo co rres pondência con se q üente ao palc o
em rea lizações art isticas e reveses admini stra - e d ura douras com a trad ição. Nos a nos imedia- O me sm o 1//11110 reg ia o tra balho dos três o pe rário de spido de ilusio n ismo . Nada deve -
tiv os, o q ue tro uxe um a no va mudança. em tam e nte po steriores a 1917, um a v io le nta pr e s- mai s import ant es e ucc nndo res de teat ro da Re- ria di stra ir a atençã o. nem adornar a a ção " bio -
1968, co m o Festiva l da Páscoa, ideal izado e são fo i ex e rc ida para lev á-l o ii mohiliza çã o po- vo luç ão. qu e c a na liza ra m a ca ud al su pe ra- mec ânica" no auste ro ce nário de pl ataformas
largamen te c usteado po r Herbert von Karajan. lític a . A Re volu ção ce lebrav a a si m es m a e a bundante dos eve ntos de massa na s dim en s õe s g irató rias . alçapões. g uindas te s c co rdames .
J u ntamen te co m Bayreu th . Munique e d isse mi nação dos ideais co munistas. C o m íc ios ma is lim itadas d o d ra m a : M ei erho ld. Vak htã n- O a ntiilusionis mo de M e ie rh o ld não co-
Vien a, Salzbu rgo fo rm a o núcl eo do festival giga ntescos . com coros falados c cançõe s. com gov e Ta íro v. Tod os e les pro ced iam d o Te atro nh eci a limites. l úri Elagi n, te ste m unha visua l
de mú sica de ve rão d a Europ a . À sua volta proclamaçõ es ribombantes de tan q ues e armas. de Arte de M oscou e da trad ição do humani sm o da Re vo lução no teatro ru sso . co nta, e m seu
ag rupa -se a inahrang ivc l mu ltid ão dos ma is e ra m te a tra lm en tc armado s - m e io fe xri val h urgu i's de S ta nis lá vski . I ivro A D OIII C.Hil"l/ ( iio das A rtcs ( I ':J51 ), q ue
d ive rso s tipos dc festi vai s loca is. Se us nomes po pu lar. m e io represe maç ã» de .uu ado rc . . . G ru- No-, p ~! lc n s impc rini • de S;ill Petersbur go. ele IH IIl Cil c hegara a Ve L subsc qu e ute mc nte. Il OS
sào leg ião. e atrae m art istas de renom e inter- IH h especia lmente treinado s pura a (/gir/no!] Mc icrh old começuraIog» :1J]ú.. . " virud.: do sé - pulcox da Euro pa e A méri ca . q ua lq uer 'Irt ifí-
nacion al. Para me ncio nar al gun s exemplos, há , "prOptlga nda de agita ção" : e ge nte de te at ro c ulo. a de se nvo lver u m estilo própri o de van- c io c ênico q ue Mei erh o ld j,í não tivesse usa-
o F e sti va l da H o la nd a . e m Am s terd ã: " co m e xper iên cia assumi am a o rgan ização dos gu arda. j untamente co m a atriz Vera Komm i- d o . Isto . acr escen tava e le. a p licava -se n ão a pe-
Fe stwochen, de Berlim : o M aggio Musicalc, eve nto s de m assa diretam eute pat ro c in ad o s sarjevs kuia. EIH vez da h a nuo ni za çào sens ível nas au s a no s posteri ores a 19 17, ma s tam bém
e m Floren ça: o M usical, c m Bordeaux: o Fes- pe las auto ridades do Parti do Ce ntra l nas ca p i- al mcj ada po r S tu ni- Livs k i. M c ic rh ol d es tabe- aos ex pe ri me ntos anteriore s d e M e ierho ld co m
tiva l de Musiq ue . e m A ix- en -Pro vence : o Fes- ta is - c ta m b ém dos não men os e stri rum cnte leccu () domínio da ra zão . C ada movim ent o. u tea tro " m ístico" de Ma ete rl inc k. ao s co nta-
tival G ulbenkia n de Mú s ica , e m Portugal: o co ntro lado s " eve ntos impro visado s" no pa ís cada gesto, e ra co ns ide ra do po r e le co mo pro - to s e s tilís ticos co m o M ünch ne r Künstler-
Intern at ion al Fest ival, e m Edim burgh: o Festi- todo . Por e ssa é poca. I\lei erho ld declaro u q ue dut o de cá lcu lo n uu cm.it ico pre ci so : e les ad - th euter, co m Max Reinh ardt e m Be rl im , CO Ill
va l Noru eguês, em Berge n: as se ma nas do Tea- o objet ivo do teatr o não era " a pres e nta r um a qu iriam si gn ificad o xi m b ól ico, nos termos de as peça s de ma rione tes e bo nec os (c u jo inter-
tro Nac iona l F inlandês , cm Hel sinque - e os o bra de a rte aca ba da . ma s. ante s . to rn ar o e s- sua "bi oru ecâui ca" - re mi n isce nte do teat ro da naci on alm ente co n heci d o me stre r usso fo i
fe st ivai s de At enas. Epid au ro. Avig uon e pectador co -criador do drama" . Asia Ori ental e dos "e fe itos de di st anciamen - S erg uei O bratsov , um homem de mui ta int eli-
Stra tford -ou-Avo n. predominantem ente ded i- "Devemos rep resent ar o esp írito do povo". to" de Brecht. gê nc ia e se ns ibilid ade ) e, sobretudo, c om a
cados ao drama. Além disso. há tod os OS espe- escreveu Vakht ângov e m 191 8. "c m tod"s os Meierhol d ap re sen to u se u método em Conu ncdia dell 'urte, cujas técnicas Meierh old
t áculos de verão que acontecem nas ruínas de atos é a própri a massa q ue atua .. I~ c la quc 1918. quando encenou em Pctrogrado O Mis- esco lhera em 1912-1913 como matéria de es-
ruonast érios. co nventos e teat ro s ao ar livre, as sa lta o s ob suicul os e os vence. E la triunfa. tcrio Buto. de Vlad úuir Maiuk óvski. e em 1922, tud o , nos se us es túd ios ele ensino .
q ue ten tam manter-se ii margem da competição Enterra se us mort os. C anta a ca nç ão m undi al na Terra Revolta. de Serguei Tre tiakov. Ele usou D i/ III(/I/ , a turbulenta m ont agem de 19 20.
do g rand e festival. A lguns não tê m mui to mais da lib erdad e" . projc çào de filmes. j a:': e concertina. ace lerou de M a x Re inhardt no Grosse s Sc ha uspi c lhau s
a o ferecer além do pitoresco cená rio natural Um das mais imp on en te s re a liz nç óc s de " ritmo das máq ui nas. de mo tor es e roda s e m de Berl im , parece muit o men os isol ada e úni-
qu e Rein hurdt, or iginaria me ntl' . buscou - isto ma ssa do p<;, ríodo foi A Tr'" /l1 d" do Pi/lúcio de mo viment o; mont ou es uu tura-, de meta l co mo ca q ua nd o vista 110 co ntex to do teatro revo lu -

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c io n.íri o russo. O pa ral e lo é bastuu tc p ró xu no ma do pel o consuu rivis m o e pela mani a de im -
tant o no tema qu an to no esti lo. /\ escolha por pro visa ç âo de M ci erhold . Ma s sua e nce na ção
um te ma da Revol ução Fra ncesa no caso de ma is af ama da . e ma is pe ssoa l. foi a de Prince-
Re inh ard t explica -se pel a situação políti ca . O sa Turatulot, d e C a rio G o LZi . cm 19 22_no Ter-
fat o de ter escolh ido para se u teatro de massa s ce iro Estú d io d o Teat ro de A rte de M oscou .
não ti M orte de Dunt on , de Büch ner, ma s que logo e m seg uid a foi reba tizado de Tea tro
Danton, de Rom ain Rolland - qu e ad vogo u o Vaklu ângov. Vaklu ângov, já sob a sombra d a
espetácu lo popula r organizado - . confirma I I mort e, m ais uma vez invo cou no palco toda a
, q uant o Reinh ardt est ava pró xi m o de Meier- magia do Inun do das fadas. o e ncanto c a g ra-
ça ga lhofe ira d as m ario neles . Os int érpret e s
r
:?
hold . A linh a pode ser estend ida mai s adiante
pas s an d o pel as mont agen s berl in e ns es d e entra vam e m cena e m fr aqu e e ves tid o d e noi -
Pisca to r durant e os a nos 20, e além . po r exem - te . e. com a aj uda d e a lg u ma s po uca s fazendas
plo . at é a e nce nação de Orson We lle s d e Julius co lorida s, tr an s for ma va m -se em e nc a ntado ras
Cesar , e m 19 3 7 no Me rc ur y T he a ter. na chinoisrrics im p ro vi sad as . Aca len tad a pe la
Bro ad w ay. O s romanos de Shakes pe are surg i- músic a de Si sov, e d omi nada pelo Tartag lia d o
am e m roupas feit as mod ernas. O rson We lles jovem Bo ris S tschuki n, nu ma a rm açã o me io
int erpr et ava Brutus. O palco não tin ha cen á- oníri ca, mei o nntii lusionista, a fábula d ecorria
rio . No te xto livremente ada ptado . O cr ítico no seu curso como um relógio d e car rilh ão .
Precisament e o s ato res qu e nada tinham a fa -

..~~~~jrf. , .,
Burns Mantle. de Nova York , detect o u alguma
co isa re m iniscente de uma co ns piração co ntra zer no momento mi st uravam-se com o públi-
co das primeira s file iras. co mentav am o espe-
um d itador do tipo Mussolini . ft;. Ir~*\_•..,..- .~.)
No s anos 30. Mci erh old perm itiu-se uma taculo com piad as im prov isada s e punham em
prática o princí p io a q ue Vakht ângov .ixpuav»:
ir ..
'.·.~~ "i.i.m~
t- "re caída em imitaçôe s burg uesas" . Enq uanto '\7, Pano do fund o da mo mac cm de Mcic rho ld pa ra a Terra N""" /I<I d,' Se,gei Trc tyckov. Len ingrad o. 1923.
as idéias de seu tea tro de ag itação política era m "Lembreru os es pec tadores. ma is de um a ve z
avid amente absor vida s ond e q uer q ue hou vesse no c líma x da a ção dram ática . q ue islo é um "
llH1Hl ItO . ele pagava. agora. seu tributo ao tca - peça. e n âo a rea lidade , qu e não d eve se r leva -
,, '
tro d e ilus ão. Levo u ri D alila das ClI IIH' /ias , de da ( ~ O a s ério, J1'li:-. o h..-a tro nâo é viela ".
Tairo v. o te rceiro do s grandes dirc tore s do
( Du mas/i/s. num ce nário sutil e íntimo. Marguc-
rite Gaut hier, interpretada por Zi naid a Raikh . Ou tub ro te a tra l. d e sen vol ve u um a /'111'1 pou r
a mava c sofria entre mnhília de: mog no ~r n l1 í­ ror! ("a arte pe la arte") rigoro:,anH: nl t? ra cio-

no . va liosa por ce la na de S<' \'I <' s ~ fúnt'lll 'e s n:dil ada. Er;1 u m t: sh:~ ta d e cstritu uhediêllc ia ;1
cort in:e- de ve ludo . Mcierhok l ex plicou qUl' ;rs 1'01"111;\ C que 1l "~Il J ~C dl."i ,utl urra -u u. nem pt' I :1

be las untigü idude» irradiavam u m a m bi,' ulC tempesta d,' ti;, Re \'\11ll<;'1I 1. p;,ra alem d" s fro n-
qu e . ele esper ava . pudesse eno brece i a -euxi - tei ra s d o re. uro. em q Ut' a 1,<'" lida d,' so hre p uja
hilid ad c do s .uo res. Estuvu d,' vo lta a(l Ici n(l c II tea tro 1. .. l'~ ....( 1. Como ex e m plo. Ta uov L'ila a
de S ranishivs ki. com êntuse pri nuui u num ex- h istóri c a rc pu-se n ta ção da óp era l .a A11/1'1il' d I'
tilo d inâm ico d ifere nciado. Ponici, d l' A u hcr. qu e t' llI I X30. l' 1I1 Bru xe la ».
lmpro vi sa ção e perfe ição c r.un o s dtl i ~ deli \) si nal p;lra a rl' lw li;-IO do po,'o he lga.
pó los en tre os q uai s se mo vimen tava 1;lIub0nl ",-\q ui. o te. u ro de sempe nhou o r,'q ui lltado "
o trabalh o de outro diret or russo de sta é poca, nob re pap e l d" tochu qu c ateo u o fo~o da Re vo -
Evgtutcni Vakhtângov. Co mo UU I d us ruem - lu çúo, m us o l'spc tüculu fui com i S SIl i ui crrom -
hros e . a partir de 1916. cab e ça d o Primeiro pido. r\ pul s" <J 'o d o se ru irue nto de u nida de qUl'
Estúdio do Teatro de Arte de Mosco u. ele ha- despertou no tc.u ro ace nde u a Rcvo luç áo. mas
v ia tomado partc em ce r ta s cx pe ri ênci us extinguiu a a\ 'ãu teatral:'
suge rid as por Maxim Gorki . entre e las a qu e :\ cOIlSl'qiic llc ia de sse disc e ru imc nto eh.i -
pr et end ia reviver a no ç ão d a C OII/III I'I/i(l mava-se . par" Tníro v. " t e a t ra l i za~' ;H ' do teatro"
dellurt« segundo a qual os alo re s t0m lim a Ele t'xi g i ~ l LJlIl' () atol' d o mi n a ~ s c igll alIncn tc
função criatiya c d l' \ 'l'lll "dar fl 1l111<1 lh \w\'as" bem to do s o s Inciu...; de l'.\pJ\' ssãD . No K ~lI 11 c rIl Y
enq ua n to "I ua m . Eru I <J I X. \ ·"hhl;,ng",· "r~" ­ de i\ hhL' Ull . li 111 l ê ;lIru l' .\ I'(' r i ll1l' 1l 1~ li di rig ido
,X . C l.·n;Írio co m I,." l.· ;ld a \'m l·:-p ira l. da Il Hl Il I ~1 1~ l'll1lk f\k l\'lho ld para a l.·tl 1H~ d ia :\ ,,""11I.'.\'10. l k :\ k \ .mder O SIlO\·...l\y.
nizotl lll ll grupo tL'lIlporarialll l'llh..' I.:onhcl: ido por Taír ",' d c 1') 14 e m di " nte. o l' it'n co prt'c i-
I\ l tlsn Hl. 19 ,2..1. t\ 1:lqUl.' ll' de F.. . ·O(llI l o\'.
co mo Te"lro Pop ul" , de An ,·. t' I;í se' ' iu lo - s" esta r a pto a ;,Iua r. ,';lnl" r l' dan <;a r. lida r colll
0 0 N ct t u ruí iv m o ci O P rvv cn t e

4 1. Pm ll o ll/;/I1(' {'\}lagl/ o /c. CO Il" lrtli.;:IO Cl-n iC I d e A le -


xa ndra E \II..' 1" para () Kamcrn y de Tairo v. i\tO-,c-ou. 192ú .

situações de so lenidade litúrgi ca e de varieda -


de excêntrica . exibir alma e fogos de artifício .
co biça brutal e fant asia enigm ática . E ste é o
prog ram a v isad o pelo títul o de seu livro O Tea -
tro Desacorrentado , qu e se tomou o rótulo do
Outubro teatral .
Ta íro v e ra um ence na do r decl ar ad am ent e
literári o . El e inaugurou o Teatro Kamerny de
M o scou com Shakuutala , de Kalidasa , fas ci -
nad o pel o velho drama hindu . co mo o fo ra
Lu gné -P oe e m Par is . que na m on ta gem de
1895 de Le Chariot de Torr e Cuitc (A C a rroça
de Barro) contou co m os cená rios des en ha do s
por Tou lou se -L autrec . Ta íro v utilizou a Co- cio u a ist o m ai s ta rde e seguiu se u próprio ca -
IIlI1ICdí o de ll 'ane co m peç as de Go ldon i, e m inho . N o c inema, el e enco ntro u um m eio de
como sua primeira montag em pó s-revolucio- cuja din âmica form al e visua l obte ve ob ras -
nária e sco lhe u um a a rl equin ada fanl úsl icn. primas, como o se u Ell col/l'{/\,lIdo Potcrnkin,
baseada na Prin t cssi n B raiu b i t la ( P r ince sa de 19 25 . Po r m e io de co rtes de efe ito e monta -
Br amb ill a). de E . T. A. Hoftmann . En cen o u ge m . Ein scn st ein conse guiu, e m se us filme s .
39. Model o c êuico para a encenação de Vakh rãngov. c m 1921 . de Princesa Turundot, de G ozzi, no Te,fceira Est.ú ~ i o do Cl audel e de scobriu nos prirn ciro s dra m as de uma po te nc ializa ção da s ce na s de ma ssa e d o
Teatro de Arte de Moscou. que logo cm seg uida passou a se chamar Teatro Vakht ángo v. Esboço de Vakht ângo v c Niviusky. detalhe . um rompiment o das d imens ôes cos -
O ' Nei ll não ape nas crítica soc ia l. ma s a co nfu-
são ps icol óg ica do mod ern o sentime nto de mu n- tu me ira s, q ue o palco j am ais lhe poss ibita ria .
do , que lhe deu op ortunidade de pô r à prova o
conce ito e o efe ito de se u Ge sto de Em o ção . Pi scu t o r c o Teat ro P ol it ic o
E m co ntras te co m o teat ro "proletá rio" da-
qu ela épo ca. o Teatro Kamerny de Ta íro v per - A Re voluç ão R ussa tentou esta belecer um
ten cia ao âm bi to do pa lco "a cadêmico" . Ne le
no vo princípi o qu e uniri a tod os os po vos . O
tam bé m se inse riram . en lJuanro insrituiçõe« his- pro lctu riado e mu ito s intel ectu a is e uro pe u s
tór icas. a Ópera do Bolsh oi , o Tea tro ;\ lal y. o (' lll h r i ag ar~lI n - se co m () ide~1I de uma xoc ieda-
Teatro Korsch, que fora co nstru ído pelo pa tron o de se m c l;\sse s e sem Estad o. "A Rlíssi ;\ é o
de arte Bakhrushi n, e o Teatro de A rte de M os- rochedo qu e prop agará a o nda da Revol uç ão
cou de Sta nisl ávxk]. Como expoe nte do lado Muud ia!" . escre ve u Erwin Piscato r e m 191 ).
op osto estava o "palco da cultura proletária" . d o '
e m se u m anitc st o e nde reça do aos trab alh ado -
P rol etkul t, de Sergei Ein sen stcin, co m se u ex- rc-, de Berlim . co nc lnmando :\ cria ção de um
cêntrico e acro báti co es tilo de 11m teatro " e mo - "Tea tro P ro let ário " . Fo i em Berl im . no Ri u
c io na lme nte sa turado": " O gesto é int en sif ica - Spree, qu e as rajadas vinda s de Mo scou so -
do em g iná stica, a fú ria ex pre ssa por um a p i-
praram m ais v io lent am e nte. Piscut or utili zou -
ru et a , a e xc itaç ão , por UIII snlt o nt ortalc",
: ",., as para um tea tro de agitação. O obj c tivo de
Einsen stein admitia q ue ess a s te nd êuc ias , a p li- seu c m pree nd iiue nto não era pro d uz ir arte . ma s
cadas di reta e literalmente . n âo cnco n rrnva m prop aganda efe t iva , para co nquistar as m assa s
logi camente seu caminho no d ra ma , m as " tor - aind,\ politi cam l'nte he s itant es e indi ferent e s .
navam-se co nhe c idas por m e io da buf o neria. As sa las e pré d io s usado s para as asse mb l éia ,
exc en tric ida de e da M on tagem de A traçôes". 110 di stri to o perário de Berlim eram se u c. un-
ist o é , de mimeros circe ns es . E las se ligavam po de aç ão . A s ma ss as deveriam ser atingi das
l- aos sl ogans de Mei erhold e de Ta írov: da e mo -
J;i ond t- m o ra v.un . com o lia Rlb sia . pel os g ru -
40 . M ode lo cén ico pa ra a prod uçã o UL: A. Y. Tau'o v.....111 1924, de () Macaco Cab elud o. de Eugc llc O 'N e ill. no Kam cmy ção ii máq uina, da superexc uaç à« ao truque,
de Mo sco u. funda do por Tairov cm 191 ..L co mo teatro ex pe rimental. po s da ag i l/} m ! } te atra l. Pa lcos nu senivei s. ce -
do pa lco ii are na do c irco . Einsen st ein re n un- mirins primiti vo s. fumaça de ta bac o e va po r
• n o N t l / /lrIl J i\fII /1 110 I ' n ' ." ' fl l l '

de cerveja seri am so bre pujados pelo ílllpclo se ntido ) 1".J ma s, na ver dade. um jornal co m da . co loco u o acento po litico noAsmu s ha nse.i- técni ca . c m q ue Pi sca ro r at rihu ía ii parte ti l-
da proposta. O " te atro pro let ário" de l' iscalOl pap éi s dranuitico s di stribu ído s". rico, a qu em ap re sentou com um a m áscara de mada lima acentuada fu nção d id ática, To ller
era um instrume nto da lut a de classes . Diri- Não apenas o te atro de Pi sc ator e o da Lênin, gl orificando assim o pr ime iro de te ntor fo i um d os dramatu rgo s do ex press ion is m o
gia-se à int eli gên cia do s espectadores co m ar- Rev o lução Russ a empe nharam-se nesta linha . do poder da U nião Sov iétic a. qu e morre ra e m tardio c u jas peça s a ntib e lici sta s co m b inam
gume ntaçã o polí tica. econ ómica e social. Sua Po r vo lta de 19 35, um a forma de reportagem I 92.f. Interp retou a pe ça como " a revolta do acusação ant ibe licista e s impatias soc ialista s
proposta e ra pedagógica. co mo seria mais ta r- cênica de atualidades, chamada Living News - re voíuciomiri o se ntime nta l Sr õn cbcke r, que radicai s . Vi nte anos mais ta rd e . \Vo lfgao g.
de a de Brc cht . El a se chamava neste caso: papcr, desenvo lveu -se t.nnb érn nos EUA e por provavelmente se ria hoje um na c ion al -soc ia - Borchert escrev e u uma peç a par ecida em e sti-
sucesso de pro paganda . vo lta dos anos 60 . o "j omal v ivo". snb a forma lista. contra o se nsato e positi vo homem de Ia e acusaç õe s. sua Drausscn 1' 01' der Tiir (Do
Pa ra as elei ções parl am entare s de 19 24 . de peça-d ocume nt á rio. co nquistou inegáve l açã o. Asmu s. o típi co revolucion ário raci ona- Outro Lado da Po rta ), a primeira peça a abor-
Piscator, a pedido do Partido. mont o u a Rcvu e s ig nificação inte rna cional. ai nd a qu e envolta lista. tal como exemplificado po r Lênin" . dar de ma neira pe rdurante o te ma da ho ra pre-
Roter Rumn iel (Revista do Barulho Vermelho) . e m veemente debate . O esc ânda lo foi ine vitáve l. Nem Heinrich sente na A lemanha a pós a Segunda G uerra . h li
co m textos de sua autoria e de seu futuro co la- Em 19 25. Piscator met eu-se e m proble- Ge or ge c omo Sto rte bek er, ne m A le xa nder o grit o ex tá tico e co mo ve nte de uma jo ve m
borado r. Ga sbarra. " M uita coisa foi re un ida de mas co m as autorid ad es por causa de se u dra - Gra nach co m o As m us, nem o ma teria l filmado ge ração de fra udada e des arra igad a q ue voltou
maneira crua, o texto era basta nte desp rete n- ma-doc ume nt ário de m a ssa Trot ; a lle dc m (ced ido por C urt Oert el para estabe lece r a as so- da g ue rra para a s ruínas. Piscator co lhe u ( I S
sioso. ma s foi justament e isto que permitiu a (A pes ar de Tudo ). O título provinha de um c iação co m Lênin) pud eram ju st ificar a maciça últ imo s reben to s d o d rama ex pressio nista ao
inter calaçã o. até o ú ltimo momento da atuali- reparo de Karl Li cb ckncch t ap ó s o es ma ga- vio laç ão do ma terial hist órico . As prú prias oh- q ual se o pus era vi ol entame nte em 1920 e ten -
dade " , re le m bra P isc ator e m seu livro Das m en te da rebeli ão esp.maq uis ta . Joh n Heart- je ções de Elu u Welk haviam sido in úteis. Re - to u impregn á- los de g ra nde tensão políti ca.
Politischc Th eat e r (O Teatro Pol ílico ) ( 1929 ); field encarregou -se da montagem c ênica de di s- signado , e le tomou o partido do s crí ticos, qu e Dos fr aca sso s e se m ifru c ass os de Piscat o r
"e nós us ávamos indi scriminadament e todos cursos imp ressos, arti go s. rec ort e s de jo rnal. dec lararam : " um grandioso trab alh o de d irc ção , na sceu sua o bra -pr ima inconte st e. a reali za -
os meios po ss íveis: m úsica. cançõe s. acro ba- ma nife stos. fo lhe to s. fotografias e filmes, di á- uma di re ção co lossa l co ntra um a peça ". ção da sátira épi c a Dic Abentcuc r dcs Brave n
cias. ca ricaturas rap idnm em e esboçadas , espo r- logos imp ressos. entre per so nagens histór icas Isto levou a uma r upt ura com a Volk s- Soldat en Schwejl: (A s Av e nt uras d o B ravo So l-
te, ima gen s proj etada s, film es. es ta tística. ce - e ce ná rios ar ranjad os . t\ repre se ntação de u-se bühne. Piscu tor conceb eu o plano de co ns truir dado Schwejk ). Bcrto lt Breclu , Fé lix Ga sh ar ra .
na s interpretadas. di scursos" . no Grosses Sc ha us p ic lha us de Ber lim . o nde um pa lco pr óprio de agi taç ão c pro paganda e m Le o Lania e o próprio Pi scator haviam ad apt a-
A técni ca de Piscator, livre de co nsidera- Max Reinhard t ha vi a e nce nado o se u es pe ta - seu esti lo s ing ular. grandioso e im prc ssioni sta. d o o ro mance d o escrito r de Pra ga . J aroslav
ções estru turais, de martelar o lcitnu niv polu i- c ular Danton e m 19 20 ," per dido ta ntas simpa- A atri z Tilla Durieu x arrumou-lhe pat roc ina - Hasek. para o palco - um em p ree ndi men to
co co ns tante me nte repe lid o co m um a saraiva- tia s en tre uma larga fa lia da pla téia de teatro dore s finan cei ro s. Wal ter Gropi us, (I d ire ror do prob lem ático. dada a na tu reza puramente é p i-
da de exemp lo s. era co nhec ida co mo "ação co nvenc io na l. Piscator pe rce be u. com satisfa - Ba uhau s c m De ssa u, entu sia smou -se co m a ca da obra . Seus ing red ie ntes - um herói pa s -
diret a". palavra muito e m voga na é poc a . A ção. qu e a ativaç ão das m assas cu-atuantes co n- idé ia . D e senhou para P iscu tor um ul tramo - s ivo. c o ntín ua s tro c a s de cena e pas sa ge n s
que bra provocat iva da forma dramática bur - ce bida por Reinhardt não havia ido além de de rno "t eatro to tal " . uma proposta de casa de glo s.uu es co m o po rtadore s de teo r satírico -
g uesa havia co meça do ames em Berl im. co m uma "boa idéia" de mo vê -Ia s. Ap ós a seg unda es pc nic ulos poli val ent e . audacio sament e co n - são mai s adequados a o teatro " é pico" do qu e "
os es pe uic ulo s dadaísta s e sua alga zar ra. de s- a presentação de Trot; u llcdrm . a ce ns ura in- ce bida. co m piso gi ra tú rio e ada pt;í\ l'I a qua sc um dr ama no se ntido conve nc io na l. Illas a ntes
cr ita po r Pi scat o r como Klunu mt: (" harulh o te rveio. Q ua ndo. e m I IJ~ () . P isc.uo r atualizou tod o apar. uo c êui co . Ele pod eri ;r se r usa do para () teatro ··épi co..· .
ensurdece dor" l . Dic Riiuber (0 , Sa lteadores) . de Sc hille r. con - co mo anfire.uro, c o rno are na co m palco ce n- P isc ator de sco briu um a sa íd;, bril hant e
Na Fran ç a d a m e sma épocu . Anto n in ve rte ndo -o e m peç a pol iu c.uu cnt c <' nga jada e tra l. OLl ainda c om 1I111l:l\,."io periférica e acc s s~ ) S para m unter a açiio em m o vimento. c unindo
Arraud pro cl ama va um a teoria do teau o eu- fe z com qu e Pau l Berdi . no papel de Spi cl- c ircu nda nd o o aud it ório. () mod el o c lab o ra d»
qua nto "aç ão " pur a e simpl es - não mab a ilus- herg, usasse uma má sc ara de Trot sk i, ho uve po r Gropiu x, e xibid o e m Par is em I 'n o. foi
traçã o de um te xto literário, mas "forj ado 110 tum ulto. mu ito admirad o. m as nunca rcu lizudo: pcrr u a -
palco". O con ce ito de Art aud de Tlu' átrc til' 1(/ Um tumulto a inda m.ii x fort e SC~ lI i ll - S e [I neceu COl H O 1I111 proj eto ~r;llldi o s () . III)) ca stelo
Cl'llall ré co mo do " tea tro da cr uc ldade" te m apresentação . um ano m ai s ta rde. da ence na-
no ar. COl HO o s plano s ig uallne nlc d i'i pe ll d ioso~
sido m uito ma l interpret ado; ele sig nili ca ba- ç ão de P isc at or de G'·\I';rr,'" iil,,'1' Cor lll/" I de M ei e rh ol d pa ra um teatro ltllal de va ng uar -
sicamente algo bem di ver so: o uso irrestr ito (Te mpora l soh re G otland ) de Ehll l \Ve lk. pa ra
da . em 1\'! osc ou .
de todos os mei os teat rai s. e ntrega ndo o palc o o Volksbiihllt' . A pe sar dl" se us rece ios inic iais.
Pi sc at or a lu g ou o Theal er a m No lle n-
a um vi tali smo e ru ptivo qu e tra nsform a a ação Piscalor havia ass um ido a dire,'ão do Berlinl'l'
dor rpl at z em Berlim e o inau gun 111 ,' 1lJ -' de
cênic a num foco de inquieta,'ão con tag ioso e Volks biihn l' em 19 24 . Aprovei tou a o po rtuni-
sete mbro de 19 27. COlll a pC,'a antibu rg ue sa
ao mesmo tempo curativo. O s d eitos. C<1l11 os dade par a pro d uzir tea tro políti co. l'c'\'oluc io-
lIL- Ern st To ll cr. H "/ 'I !lo, \1' ;" 1('/ " '11 lO b a !
quais :\ naud arguI11cllt;.l\'U. ~ralll os mcslno s n;írio. com um CIIS"II I"'" pri moroso .
E :-.t :Il110S Vi,-os!) 111II11, 1 Ill onl ag elll alt aIlH~IlIt·
de Pisca lor. C ell'irrcr iiher Gor/o ll d. dc Ehm \Velh: .
A Ifred Ker r. o advogado do d iaho entre ahorda a luta do pir at a Klau s St iirt ch eker co n-
os crítico s d,' tea tro a lemães. ,'scrcvc u. j;'r em tra a Liga Han sd tica. q ue termi l\llll em I.fOI
191 0 : " No futuro . mu il(h dram ." pod ,' r;ro se r co m a exe cu,':' o de Sti il lcbeke r. e lll ) lam bur- I~_ 111/ U / f !t I ' fI { , ' j f'r l 1j l "(l 1 til- \ \ -alh' l ( ; l ll plU ' P;Il .1
ape na s UIlI pret ex to p:rra o drama (n o "e1ho go. Piscalor dcu ao ( l~ I H ; 1 uln a lei tura alual iza- 1:1\\111 P" ..: a ltlL 1 \ ) .~ 7 .

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H íst órí a MIllIt/i al d o T e u t ro •

tantos epi sódios quanto possível numa conti- O co me ntário de Kerr sobre o "jornal com
nu idade se m costuras: a esteira rolante. Os papéis distri buídos", datado de 19 10, confir-
modern os processos de manufarura em linha ma-se ao ritmo das crises de geração, mostran-
de montagem deram-lhe a idéia: ele usava duas do ser verdadei ro no teatro do início dos ano s
esteiras ro lantes atravessando o palco da es- 30, nos EUA, qu and o o gráfico de temperatu-
querda para a direita , em di rc ções opo stas . ra econ ômi ca do N eil' Deal atingiu seu clímax.
Mo ntada s sobre elas fi cavam seções niveladas O dramaturgo E lmer Rice foi o pod er impul-
mostrando o ambiente de Shweik : "o s tipos sionante por trás do federal Theatre Project, o
petrificad os da vida política e social na velha único palc o subsidiado pelo govern o, que as -
Áustria" , um mundo grotesco-satírico , no qual sumiu a dupla tarefa de dar empre go a cente-
Schweik, "ú nico ser humano, se vê indefeso. nas de atores se m trabalho e pôr em discu ssão
A intenção original de Piscator havia sido até as questões eco n ôrnicas da época . Elme r Ric e
a de pre encher o papel-título co m um só atol' e usou a documentação dramá tica corrente do
contrastá-lo com um aparelho exclusivamente Living N ewspapcr para a crítica social e socio-
mecânico. lógica. Power (Poder) era o nome de um a das
O pint or George Grosz desenho u os ce- d ramatizaç õe s-d ocumen tário da M a rch 01'
nários de trucagem e marionetes, dando tanto Time, medi ant e as quais ele punha no palco
aos ap etrechos quanto aos tipos de figuras uma discussões po líti cas . Neste caso, acend ia as
função c ôrnica supercaricatures ca, c ômico- questões do desenvolvimento e da proprieda-
c1ow nes ca . (Seus desenh os terminaram na de do pod er econ ômico da energia e l étrica .
mesa do promotor público e acarretaram-lhe Out ra edi ç ão o c up o u-se do pr ob lema da
um processo por blasfêmia.) Para as cenas de extinção do s corti ços: chamou- se On e -Third 4 3. O palc o de Piscator em Berlim . 1927: construção tra nsparente co m vá rios andares para Hoppia, \Fir l.eben ! (O ba,
rua em Praga, Piscator usou co mo fund o um o] a Nation (Um Terço de uma Nação), com Esta mos Vivos!) de Ernst Toü cr. com lim a Le ia ce ntral pam a co mbina ção de palc o c film e (quadro de montage m de Sus ha
filme feit o no local. Para a march a a Bude- referência à terça parte da população ame rica- Sto nc , com a silhueta de Piscator j
jovice, havia ronques de árvores co piados de na q ue, seg undo uma palavra de Roosevelt ,
natur ezas mortas, desenhados ao longo do pal- habitava cort iços e bairro s miseráveis. Passa-
co. co mo representação da estrada infinita. O gens épicas, episódi cas e pedagógicas. jograis,
grande aro r Max Pall e nber g inter pret ava come ntá rio s, poem as e in ser ç õe s mu sicai s
Sch weik . Ele deu à personagem a substância constituíam os e lementos motores do Jornal
human a, e mais do que isso, inteirame nte de Vivo. Em Washin gton , os crítico s da proposta .
acordo com as intenç ões de Piscat or, "algo logo depoi s, co rt aram o fio da vida dessa
rem iniscente do espetáculo de variedades e de "re presen taç ão ao mesmo tempo partri ótica e
Charl es Chaplin". Palleuberg viera do grupo verda de ira de interesse s vitais": sustaram os
de Max Reinhardt, e Piscator acentuava, não subsídios go vernam entais para esse co ntro ver-
sem orgulh o. o imenso esforço interior a que tido empree ndi mento, que assim chego u ao
Pallenberg fora por ele induzido a efetuar, a fim.
fim de "faze r justiça a este novo. matemáti co A relação e ntre o teatro e a políti ca tem
gên ero de interpretação". sido tensa h.i do is mil e quinh entos anos . Aris-
Pi scat or se pron unciou repeti das vezes tófanes investiu, a parti r do palco, co utra os
sobre a q uestão de como definir seu estilo es- dema gogo s e adv oga dos da Guerr a do Pelo-
pecífic o. Sua proposta, explicava ele, era in- poneso; ele o fez na soberana forma artistíca
tensificar o efeito ao grau máximo , pelo uso da Comédia Ática, que atrai como forma tea-
de mei os extrareatrais. Crucial para a intensi- tral original mesm o lá onde as alusões políti-
dade do efeito era que a escolha correta do tema cas não são compreendidas. Mas quando se
deveria ser idêntica ao efeito político. O efeito trata soment e de pro vocação pol ítica, a sua
de propag and a desejado não poderia ser con- atrelagem ao palc o torna-s e dispensável.
seg uido na falta de uma peça suficientemente Artaud fal ou da "impotência da palavra" ,
forte , nem co m uma montagem técni ca que quando comparad a ir vitalidade da ação dire-
transmiti sse meramente uma lição de objcri- ta, do co up de thcât rc ritual e rítmi co, da for-
--l4. Cen as co m marion et es de G eorge:(i l O SZ. pa ra a "e steira 10 1: II1IC" na mise (' 11 .\"(" ('11 (' ti.: Piscaror pa ra V h , Abcntcu cr
vos estéticos.Tal critério divide as o pin iões ain- ça da peça cuja a ção é desdobra da es pacia l-
des B ra vcn Sokkuen Se/m "ej "- rA s A VCIl Hl ra\ <.1 0 B ravo So lda do Schwej k r udupt a ção do ro man ce de Jurosluv Ha sc k.
da hoje, passadas décadas. mente na di reção dos quatro pontos cardeais , Bl:rlim. 19 27.

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H ís t úriu A/lll1dill/ cio T ocu ro • • /) 0 N cn u rn l is m o u o P r C .H ' l lI C

ci ndida po r paro xism os e depois en feixa da Bre c h t e o T eatro Épi co . carac te rís ticas ex te rna s são : co me ntá rios in se- instituiç ão m o ra l. o nde cada indivídu o "de s-
pe la lu z, e de novo atiçada. Ele co nside rava o ridos na a ção , fe itos por um narr ad o r, títulos fruta o praze r de todos". e "seu pe ito dá lugar
grito o ele me nto pr imordial da ação diret a, um O palc o assu m ia o ritmo de nossa épo ca . de "ca p ítulo s" em gra nde carta ze s , máscaras e para ape nas u m a em oção , a de ser um ser hu -
grito lan çado da e xtrem idad e da sa la dc espe- o " tempo" do séc u lo X X . Enq uanto a refor- image ns proj e tadas. mano" . Brecht recu sa a ambo s d rasti cam ent e .
tácul os e transm itido de boca e m boca, num mul ação co m fin s de agi tação e propa ga nda A ori gem co nce itua i e did ática do tea tro A peça anarquista de Brecht sobre solda-
acc elerand o se lvagem. As cr iaçõ es co letivas da peça ai nda e sta va e m and am e nto, o novo é p ic o re m ont a ao c írc ulo de Pisc at o r. Li o n dos q ue vo lta m do fro nt para casa , Tro ntmeln iII
do Li vin g T heatre. assim como a o bra do di - d rama encontrou um autor em Bertolt Bre ch t. Fe uc h tw ang er, qu e em 1924 c o laborou com der Nada (Ta mb o res na Noite). foi ence nada
retor polon ês Jerzy Grotowski. deve m muito Este, em sua co la bo raç ão com Piscat or, veio a Brecht num a vers ão racionali z ada , t ópica- por Otto Falckenberg em 1922, primeiramente
ao ritual do m ovime nto e gest o de A rta ud . Seu perce ber qu e o te atro revoluci on ário depend ia m ente atu ali zad a, do Eduardo II , de M arlowe , no Munich Karnmerspiele e, logo em seg uida,
teat ro tot al da ":Ição dir eta" co ntribuiu para não ape nas da peça. ma s também da d ireçã o . atr ib ui a in venção do princ íp io épico a Bre cht. em Berlim . O autor qu eri a pen dur ar cartazes no
os impul so s de destruição da for ma nu teatro Mas a ence na ção "d inâ m ica" per manec ia para A lf re d Kerr re ivind ica tê- lo defin id o j á e m recinto do aud it ório, co m aforismos tais co mo
políti co da seg unda metade deste séc ulo. Brecht um a so lução pr o visór ia, vá lida ap e na s 191 5 , qu an do falo u do d rama do futuro como "Em sua pr ópri a pe le, todo hom em é'o m elhor",
O le m a do teatro de agi tação política de enquanto não fosse po ssí vel um a tran sfo rm a- um "j o rn a l co m papéis dist ribu ídos" . O pr ó- ou o tão citado " Não arregale os olhos tão ro-
hoje é : a d ire ção para a ação . O texto subja - ção radical do tea tro pel a base . Não aceitav a prio Brec ht aceito u a atrib uição da prim azia manticame nte" . Eles culm inavam na ca tegó ric a
cente, na med ida e m q ue é cons ide rado ob ri- nem o "m ilieu co mo desti no " na tura lista, nem co m a au toconfia nça do esc rito r c ria tivo, re- afirmação : " O teatro não é um dispe nsário de
gatório' é simp lesme nte matéria-pri ma . Pode o pathos exp re ssi on ista do Ó- Hom em , e tin ha ce p tivo ao s s ina is d e sua é poca , pr oce ssa ndo- sucedâneos par a vivê nc ias não tidas" .
ser substitu ído por provocadoras co lagens de suas reser vas sobre a d ireção pu rame nte ag i- o s no e stilo d e se u te mp o . Influ ências da psi- Em suas anotaçõe s P:U<I a ó pcraA lifslieg und
filme s, ca rtazes, no tícia s de j ornal, s inais o u tadora . Não desej ava provocar e moções. m a s co log ia behavi or ista a mer ican a e a c o ne xã o Fali der Stadt Mahagonny (Asce nsão e Q ueda
transpar ê ncia s - pela " introd ução de m eios apelar para a inte ligência crítica do es pec ta- q ue se es ta be lece e ntre a pro du ç ão d e bens e da Cidade de M ahagonn y), Brech t, pela prim ei-
extrateatra is" , como dizia Piscator, dor. Seu teatro devia tra nsm itir conhec im ento . co n su m o de ma ssa deixaram m a rc as e m suas ra vez, dispôs a lista an titética das form as "d ra -
A peça-documentário tem se u lugar num a e não vivên ci as . peças, da m e sm a forma qu e as teo ria s do pal- mática s" e "épicas" do teatro. A tabel a qu e se
zo na int ermediária formalmente restri ta, qu e O dr am a d a e ra c ientífica . co mo o v ia co ru ss o da agitprop ; o teatro " p ro d utivo" ba- tom ou des de então exe mplar e que foi, co m li-
vai, di gamo s , de The Ca ine Mut iu v Court Brec lu, e nte nde o homem como part e daq ue - sea d o nas fu nções de ag itação e o rga n ização. ge iras m o d ifi cações, usada no va m e nte po r
Mart ial (O Moti m do Caine), de Herm an Wouk le meca ni s m o int eiram e n te calc u láve l q ue Mas B recht anc orava e m ho rizonte s m a is Br ec ht e m Ve rgn iigungsthcatcr oder Leh r-
(baseada em se u ro mance) a Der Stellvcrtreter ma nté m e m func ion amen to a histór ia mund ial ; d ista ntes as raízes de seus pri ncípi os e sti lís- theater'! (Teatro de D iver timent o o u Teatro D i-
(O Dep utado ). de Rolf Hoc hhuth. e / 11 der tra ta o ho mem c omo um in stru mento dos ór- ticos . " Do po nt o de vista estilíst ico " , e sc reve u d ático") , e m 1936 . Ver ta be la na pági na se -
Sach e 1. Rob ert Oppcnlieim e r (No q ue Di z gãos ex ec ut ivo s que o ma nipu lam a se u be l- ele no iníc io d os anos 30 . "o teatro ép ic o não é guinte .
Respe ito a J. Robert Oppcnheim er ), de He inar prazer. Entra e m cena o e mpac otado r Galy G ay. nada part icul arm e nte no vo . co m se u c ará te r Para o tra balh o de en saios. Brec ht reco-
Kipphardt , a Die En uinlnng (A Invest igação ). ho mem ino fe ns ivo q ue sai uma manh ã par a ex pos ic io na l e sua ênfase no artí st ic o , e le é mendava três co nste la ções de apo ios: m udar
de Pe ter We iss. A peça de Weiss é co mo um co mprar pei xe , ca i nas m ãos dos soldados no apa re nta do ao antigo asiá tico . Tai s te nd ê ncias as fa las do ato l' para a ter ceira pessoa ; tra ns pô-
orató rio. um doc umentário co mpleto so bre o caminho, e é tra nsfor m ado num a "m áq uina hu- d idática s são evidentes nos m ist é rios me d ie- las para o pa ssad o : e incluir, na leitura das fa -
inferno do ho loca usto nazista. q ue , segundo mana de com bate". Ga ly Ga y, o heró i remo- va is. as sim co mo no drama c l.isxico es pa nho l Ias. as rubric as.
ele assinal ou. não contém " nada a não ser fa - del ado de M m/ II ist IV/ UII II (O Home m é o Ho- c no teatro j e su íta" . Toda a ção repre sentada ad qu ire auto m a -
tos tais co mo surgiram nos processos penais", mem ). de Brech t, to rnou- se o exemp lo c l.isxi- Foi do es tudo da art e c hine sa do e s pe t á- tic am e nte o carú ter de um m ud e lo . As im .
Da documentação factua l. o teatro po li- co do novo teat ro didát ico. c ulo qu e Brec ht de rivo u a q ui ntaessê ncia da Dickicht der St iid t« (Na Se lva da s C id ades).
rico dos anos 60 foi ii informação engaj ada . Pete r Lo rre int er pr e to u o pap e l e m 19 31 , e nce naç ão e represe ntaç ão do se u tea tro é pi- esc rita e m 19 24 , trat a da " luta e m si" . de mons -
como em Vie tn ant R ep o r! ( Re la tó rio do no Staatst hea ter de Be rlim (e nquanto trab a lha- co : o e fe ito do di stanci ame nto . E le se ba sei a trada pe la o bst ina da prova de fo rça entre dois
Viern ã), de Pet er We iss, MacB ird, de Barbara va ao me sm o te m p o so b a dirc ção de Fritz numa ne ut ra lização co mp leta do s mei o s tr adi - homens. tend o como pano de fundo a g ra nde
Ga rson . Une Sais on ali COlig o (Uma Tem - Lan g. no Thrillcr de C ri me M ). Ele fez da s e- c io na is de expressão tea tra l. Man ter d is t ânc iu c idade de Chic ago . Bre cht anu ncia sua int en-
porada do Congo ) - a peça de Ai mé Cé sa ire qüência de inci dent e s se parados aque le "inve n- é o pr im e iro man damento. ta nto para o ato l' ção d idá tica logo na ap rese ntação : " Não qu e -
so bre Pa trice Lumu mb a - Nots tndsiibun g tári o de a rg u m en to s" q ue Bre c ht li nha e m q uant o par a o público . Não é permitid o q ue se bre a ca beç a com o s mo tivos desta luta , po rém
( Ex e rcíc io s d e Em er gên ci a ), d e Mi ch ael me nte . Lorre , co me nto u Bre cht , havia rea liza- fo rme ne nhu m "campo hipn ótic o" e ntre o pa l- co mpartilhe d o s e m pe nhos hum anos, j u lg ue
Hatry, ou na ence nação de Br em e n o u na re - do co nvince nte m e nte a "ex ibição mais o bj eti- co e a pla té ia . O ator não de ve desp er ta r e mo- imp arcia lm en te a for ma de luta dos o po ne nte s
vista -co lage m de Wilfried Mi nks. O comen - va pos síve l de um processo interno co ntrad i- çõe s no es pectador, mas pro vocar sua co nsc iên- e diri ja se u int eresse para o fin al".
tário de E lag in sobre Mei erhol d - de que nin- tóri o como um todo". O cenári o. neste caso a cia crítica. "Em nenhum momen to deve ele (o Esta nota aos es pectadores antec ipa a es-
guém, no tea tro e uropeu ou americano. pode - Índ ia, não é c ruc ia l pa ra a ação. Brecht es tü ato l') perm itir qu e ocor ra sua co m p leta m et a- sê nc ia de Bre c ht: a fu nç ão pedagóg ic a e a
ria imag ina r um truq ue cé nico q ue M cierho ld e mpe nhado e m faze r der ivar de um ato ind i- mor fo se na fig ura da per so nage m, escre ve u met od ol ogia a rt ística de seu tea tro ; a re nún c ia
j á nã o tive sse usado - pod e ria també m se r viduai a validade gera l. O caráter "exposicio na l" Brec ht em 19-1 8, e m Klcincs Otg anon fiir das à psicol o gi a e m favo r da exemp lari dad e ; o
ap lica do a Piscator. visto q ue o teatro po líti- de seu teatro é um tcn ninus q ue Breclu insistiu 7//('(1/ (' 1' (P eq ue no Ó rganon par a o Teatro ). A apelo ii o bj e tiv idu de c rítica . É um a co nseq üê n-
co ain da hoj e vive da sua provi s ão de "m eio s em reiterar. Refere-se a uma forma dramar ürgica trad iç ão aristo télica é tão insus tent áve l q ua nto cia lógica de se us obje tivos qu e ele os m o st re
ex trat e.nnn s específica. ao princí pio do tea tro épico . Suas a idé ia de Sc hi ller do palc o cé nico e nq ua nto de prefer ên c ia em se us he ró is nega tivos. ta l
• 504 · 505
• no No t u rat is nso (/ (1 P" (' .\( ', I1 c'

]('( 111'0 Dranuitico


- o palco personifica um eve nto -- d e o narra
- envolve o espectador numa ação c - torna-o um o bse rvado r. mas
- usa sua atividadc - despert a sua atividadc
- po ssib ilita -lhe se ntimentos - exige LIde de ci s ões
- tran smi te-lh e vivê ncias - transm ite -lh e c o nhec ime nto
- o es pec tado r imerso na ução é - é confrontado com ela
- ela é tra balha da co m suge stão - el a é trabalhada co m arg ume ntos
- os se ntime ntos são prese rvados co mo tais - são levad os ao pOIHO do co nhec ime nto
- o homem é pressuposto como algo co nhecido - o home m é objeto de uma investiaação
- o ho me m é imut ável - o homem se transforma e é transformável
-te ns ão voltada para o desfecho - te nsão vo ltad a para o proce sso
-lima c e na em função da <mira - cada ce na para si
- o s aco ntecime ntos desenvolvem -se nu m
c urso Ii ncur - os aco ntecime nto s de senvolvem-se c m curvas
- "atu ra flOII [acit saltus -· f llâ l.\(/ II/lS
- o mundo co mo ele é - o mundo co mo e le se to rn a
~ o que o homem deve (uzcr - o que o ho me m te m de faze r
- seu s in st in to s - seus motivos
- o pen same nto determina a ex istê nc ia - a exist ência soc ial determi na o pensamento

como podem se r enco ntrados. de sd e Na Selva de 194 3. sobre Sc hw c ik. Tra nsposto do am -
das Cidades ( 19 24 l, ao lon go de sua obra dos biente original da Pra ga de H asck para uma di-
ano s 30 . até e m suas grandes obras posterio- tad ura to ta lit ária na g ue rra, o her ói de Schwe ik
res . Milita Couragr IIlId iiin: Kindcr ( M;le C o- i m Zl1'e;I CIl Ircl rkr; eg (Schwe ik na Segu nda
ragem e se us F ilh os) - e nce nada pe la pr ime ira Guerra Mundial ) é um daq uele s que march a m
vez em 19 41 . s o b a dirc ção d e L e op ol d para S ra lingrndo , q ue prec isa m leva r a pró pria
l.i ndrbe rg em Z uriqu e. o corajoso refúgi o do pele pala LI ca m po de batalha, e assi m forne -
teatro de língua a lemã no exilio - nã o pret en - cer ( I co uro para o ta m b o r, Brec ht c hamo u -o
de provo car compai xão. ma s promover o co - de co ntrapo nto il M ãe Corage m e o co nce beu
nhecimento e a c onden ação da exp loraç ão da de man eir a muito mai s cortan te ne sta ocasião
guerra, Quando M ãe Co rage m enfia a mã o no do qu " na m ontagem d c 192 7. feit a po r P is-
bo lso ;1 11m de e ntregar suas última s m oed as cator. do or ig inal de Hasek, O Bom So lth ul,»
para o fu ne ral de se u últim o filh o. e la tira ra p i- Schwci]: . .'\ pe.; a e stre o u. com ca nç ões mu si -
dnmen tc a lg um as : pois a gllt:ITil continua. e cadas po r Hann s Ei sl er . e m Var sóvia. em 195 7 .
um an o de poi s da mo rte de Brccht .
A .!!lIC ITa IÜ O (.: , \':nJ o u m ll q ! \ )\,' i ll ,
As ca uções tiveram um pa pel import a nte
cm vez de ..c r \,:1\111 quei jo, ~; coru c humbo
I..' "I,' \ ) \.'U .. ( tt 1I Il r~lpa ' ''~ 1 tua I OI \..:a,
nas peças de Brec ht, desde o in ício . Elas intcr.
n;\11 c-,tar. i-, 11;1 p.al"lda lia ' -III ·lria . rom pe m a a çâo . m arc am a pausa. que ~'S \ ·l"/(."S
é anu nciada po r um go ngo . E m õreig rosch«,
Th ere se Gic hse e m Z uriq ue e M un iq ue . e 110/''''' I i\ Ópera d os T rês Vin té ns) , e em A s -
a e spo sa de Brccht , Heleno Wcigc l, no Berliner censâ o I ' Qu eda d" Cidade de M ali ag ounv,
Theater no Sch iffbauerdamm, fize ra m da IVlãe somam- se ;\ mús ic a " c u liná ria" de teatro . e m.
Coragem uma figura inesq uecíve l. se m parale - hora Brcch t pre te ndesse que ela fosse "a nti-
lo e m se u poder de impacto atual e agressivo. culin ária" . A hicentc ná ria Bcgga r's Opera
O dese mpe n ho mod elar do Berlincr Lnsem - (Óp er a do s M endi gos), co m um a fun ção d id ;i-
ble, com H clcne Weigel , fo i filma d o . es tando rica nova cm fo lha. teve um retorno br ilh ant e
as s im dispon ível como registro. em J 92X co mo A Upcra dos 7Í'<'s ViJl1é/1.l . No
A o bje tivaç ão críti ca é ta mb ém a in te n- T heat cr am S c h iffh a uerd.un m . em Be rli m ,
ção de Lcb en ilcs Ga lilci IA Vida d e Ga lileu Lotte l. cn y« . Er ic h Pon to e Rom a Ba h n as se -
-t5, Quad ro có nico de {)1I0 Reigbcrt pala Tn snnnvín iII .tcr Na d a (Tambores na No llc I, (te Ikrtcll1 Brech t. mon tada (le ia Galilei l, de H crr Puntilu und sci n Kucclu Maui guraram um grande s uce sso pa ra Bert olt Brecht
prim eira \' 1.'1. po r Oito Fa lckcnbcrg no K ;U1 Il11l~r:-;pi d \' de Muni qu e. JO de setembro dI..' 1 " ~ 2 , (O Se nhor P un tila e se u C riado Matti) c da peça e se u co m pos ito r Kun \Ve ill. Ma s foi um tri un-

• 507
46 . Heleno \Vci gcl co mo Afile Cora gem , na mo ntage m
de 1949 no T hc alcr nm Scluffbaucrda mm, Berl im.

4 8. C harles Laughton na mont agem de A Vida de Galil eu, de Bre c ht, diri g ida pe lo autor. no Coronet T bcat er. Los
A nge les. 1947.

-t7. Hcrtoil Hrccht -- CO Ill o ded o indicador 1,." l'g tliJo - --1 9 . Dreig rosrhenoper (A Ópera dos T rês Vinténsr . de Brcclu . no Kammcrspic lc de Mun ique . 1929 _ Di rcção : lIa m;
diri ge Ali;e ('( w a g('11I no Kamm crxpick- de M u nique . It)) (l. Sch we ikart. com Kurt Ho rwit z c o mo Mac heath . Th crcsc Gieh sc co m o S ra . Pcuch um . Maria Ban i co mo Poli )' c Bert a
Ce nário de Tco 0 110 . Drc ws co mo Jenny, Cen ário de Cas pa r Ncb cr.
Hís t órí a Mu udí aí do Tcu t ro • • Do Nrt t u ru l is m o (/(1 PreSeI/II'

fo contrário às intenções de Brecht. O dedo bados até que a completa infra-estrutura dessas por Max Reinhardt, Evg(u)eni Vakhtângov ou guns dos manifestantes irrompem no ensaio.
indicador erguido em acusação ficou submerso ideologias seja à força alterada". Giorgio Strehler, ou ainda como figuras O "Chefe" distribui os rebeldes em seu elen-
sob o deleite do público com o romantismo de O sistema de brechtiano da forma aberta, "clowncscas" intercambiáveis, despersona- co, tenta refundir suas emoções em teatro, en-
gangster e de bordel. As pessoas divertiam-se isto é, com um futuro opcionalmente prorro- lizadas e neutralizadas, como na niilista Espe- carando a realidade como o material bruto para
deliciosamente; as canções davam a volta, e a gável, desafia o dogmatismo ideológico. Ele rando Godot, de Samuel Beckett (1954). a sua montagem.
provocação ficava fora. A proposta didática pretende que seus incidentes dramatizados se- No limiar do moderno teatro, antiilu- Peter Weiss usou um esquema análogo em
havia sido parodiar a ópera romãntica burgue- jam compreendidos como situações exibidas sionista, encontramos Luigi Pirandello. Já em Die Vcrfolgung und Ermordung Jean POli!
sa, com seus próprios meios, e transformá-la, de um "acidente social", como ações que po- 1918, sua peça-parábola Cosi e
(se vi pare) Marats, dargestellt durch die Scluiuspiel-
de entretenimento, num orgão de informação. dem ser prolongadas à vontade. "Sentimo-nos (Assim É [se lhes Parece]), levantou a questão grupp e des Ho spi res tu Ch arenton unter
Esta proposta falhou. Brecht, o artista, vence- desapontados, e nos levantamos com desalen- basicamente insolúvel de ser e parecer. O pro- Anleitung des Herrn de Sade (A Perseguição
ra Brecht, o teórico. to quando a cortina se fecha, e nossas pergun- blema da identidade fragmentada levou-o, do e o Assassinato de Jean Paul Marat Represen-
O escândalo e a controvérsia que não hou- tas permanecem penduradas no ar", como ele drama Eurico IV, à sua obra mais conhecida e tada pelo' Grupo de Atores do Hospício de
ve nesta ocasião aconteceram dois anos mais próprio diz no epílogo da peça parábola Der gute de maior sucesso, Sei Personaggi in cerca Charenton sob a Direção do Marques de Sade).
tarde, com a estréia em Leipzig de Ascensão e Mensch \'on Sezuan (A Alma Boa de Setsuan). dautore (Seis Personagens à Procura de um Já com a natureza de seu título, ele nos dá a
Queda da Cidade de Mahogonny, A agres- As peças de Brecht não apresentam pala- Autor). Os seis personagens são membros de conhecer o duplo chão de seu jogo de moldu-
sividade deliberada de Brecht rompeu a em- vras de ordem - desmascaram fatos. A lição é uma família decadente de classe média - ima- ras, que culmina na luta furiosa dos loucos in-
balagem do meio de entretenimento operístico. rompida em múltiplas refraçóes irónicas e CCll1- ginada como material dramático cru e não ternados no asilo, a quem nada inibe.
A denúncia cínica da sociedade capitalista lo- duz o espectador por trechos de rica e áspera completamente elaborado - que invade o pal- O teatro no teatro oferece uma oportuni-
grou seu intento. Quarenta anos mais tarde, poesia. Brecht sempre recorre à parábola, que co durante um ensaio. Eles representam seu dade de apresentar dramaturgicamente o fa-
quando Brecht foi promovido a clássico do tea- é um modo de guinar a ilusão - modo que Max próprio destino para o pessoal do teatro, e os miliar como estranho, empurrando-o para a
tro moderno - com "a penetrante falta de efei- Frisch e Friedrich Diirrenmatt também perse- comediantes tentam, por sua vez, reproduzir distância, na acepção brechtiana, dando-lhe
to de um clássico", como Max Frisch gracejou guiram, cada qual em seu próprio caminho. "a vida real". Dois, três, até mesmo quatro ní- uma refração irónica, interpretando-o "epi-
- os diretores retomaram com predileção as veis de consciência sobrepóem-se. O conflito camente" com o auxílio do diretor, locutor,
óperas "culinárias" de Brecht, como, por exem- T~cnicas do Teatro tpico: entre a realidade e a ilusão, entre a vida e a narrador ou do coro. Os dois mais importantes
plo, a encenação feita por Giinther Rennert de O Palco no Palco forma, é lançado abertamente. Quando o dire- dramaturgos do século XX que trilharam uma
Mahagonnv, cm 1967, em Sttutgart, com Anja tor, no final, manda embora os espectadores, senda análoga à do princípio épico de Brecht
Silja, Martha Modl e Gerhard Stolze. A ruptura dramatúrgica da ilusão teatral, a para continuar a ensaiar, atrás das cortinas, "a são Thornton Wilder e Paul Claudel, ambos
Com dialética brilhante, Brecht negou, por peça dentro da peça, a inserção do discurso di- peça que ainda está por ser feita", a questão da muito diferentes entre si na sua orientação em
fim, que pretendesse "emigrar do reino do reto ao público, o pronunciamento de senten- "verdade" humana remanesce tão aberta quan- termos de visão de mundo e diametralmente
agradável". Laconicamente, ele admitiu que o ças críticas ou didáticas e canções sobre temas to a de Brecht no tocante à revisão futura das opostos a Brecht.
caráter didático de seu teatro épico não preci- da época - todos são expedientes que o teatro relações sociais. \Vilder vem de um background de convie-
sa necexsariamente excluir os aspectos burgue- conheceu e usou por milhares de anos, desde a O esquema formal de Piranclello. o de si- çõe s quietistas, humanístico-religiosas, e é
ses da beleza e da fruição. Fez as pazes entre parabasis da velha comédia ática à canção de tuar sua ação na moldura de um ensaio teatral. nesta direção que aponta o seu gestns indi-
os irmãos distanciados, "Teatro" e "Diversão", Salomão em A Ópera dos Três Vinténs. Sob o propagou-se em um sem-número de ecos. O cativo. Mas no que diz respeito ao intento de
porque "nosso teatro precisa provocar o pra- signo da ironia romântica, o dramaextraiu cen dramaturgo americano Maxwell Anderson o "des-iludir" o palco, ele é, pode-se dizer, mais
zer no conhecimento, organizar a brincadeira, telhas poéticas do salto entre o infinito e o finito tomou emprestado para a sua Joan ofLorrainc rigoroso que Brecht. Prefere um palco inteira-
a alegria da mudança da realidade. e usou o teatro dentro do teatro para polemizar. (Joana de Lorena). Dentro das dúvidas e re- mente despido de cénario, arranjando-se com
Brecht, todavia, não mudou decisivamen- "Se devo dizer qual é minha efetiva opinião, ceios da primeira atriz, ele graduulmente in- uma mesa e algumas cadeiras que, corno nos
te a função social do teatro mas, sim, o próprio vejo a coisa toda como Ulll truque para difun- troduz os problemas humanos da Joana D'Arc jogos infantis, servem de carros ou trens . O
teatro e o drama. Sua proposta de denunciar e dir opiniões e insinnaçoes entre as pessoas. histórica, juntamente com os de sua intérprete narrador explica a cena e os acontecimentos,
abolir as contradições económicas e sociais da Vocês verão se estou certo ou não. Uma peça moderna, e encontra paralelos atemporais e re- apresenta as personagens co-atuantes e inter-
sociedade burguesa pressupunha, antes de tudo, revolucionária, na medida em que a entendo, correntes entre o passado e o presente. preta os incidentes episódicos da vida real, para
a convenção como o oponente indispensável, com monarcas e ministros bomveis..." Estas li- Outro exemplo nos é dado por Günter revelá-los como pequenas parábolas do gran-
que cumpria desafiar, e o espectador deveria ser nhas são encontradas, não numa peça política do Grass com sua "tragédia alemã" de 17 de ju- de curso de toda a existência.
transformado, de um observador saboreante século XX, mas cm 1797, num ataque parodístico nho de 1953, Dic Plebejerproben den Aufstand Se em QUI' Tm1'll (Nossa Cidade) (1938),
num parceiro especulativo. Conseqiientemen- ao Iluminismo de Berlim, Der Gesticfeltc Katcr (Os Plebeus Ensaiam a Revolta). Grass traba- Wilder nos oferece o mundo numa casca de
te, "nossas peças não são definitivas ou, falan- (O Gato de Botas), uma peça de Ludwig Tieck. lha em três níveis. No palco do teatro, ensaia- noz, a cidadezinha de Grover's Comer, em Thc
do francamente, são inacabadas", e a razão é Os personagens da Conmicdia de!! 'arte e se Coriolano, de Shakespeare: o encenador é Skin or Cur Teeth (Por um Triz) (1942), ele
que "o conjunto de todos os complexos concei - da mascarada agem como forças atemporais, o "Chefe", isto é, Bertolt Brecht, que escreveu tenta abranger o drama da humanidade em cin-
tos necessários paraa sua compreensão são ain- antiilusionixtas. quer em seu próprio nome, como uma adaptação de Corio!ano. Fora, na rua, está co mil anos de história do mundo. A idade do
da muito vagos c precisam permanecer inaca- nas famosas montagens de Goldoni e Gozzi, em curso a rebelião dos trabalhadores, e al- gelo, o dilúvio e o bombardeio da Guerra Mun-

• 5/0 • 5JJ
·1)0 NU!IIUllis/I/o lIO I'r(',\('I/!('

dial são as grandes catástrofes das quais o pro- S HOII' B USINESS NA B ROADW A Y
tótipo da família média de Wilder escapa "por
um triz", e depois das quais torna a reunir-se e
a recuperar-se das ruínas restantes. seguindo A fórmula medular de Max Reinhardt para
adiante num novo começo. para velhos con- () teatro de Nova York era "divertimento como
tlitos. Na Europa exangue do pós-guerra, esta negócio". Comparando-o a quatro importan-
peça refletida e pertinente. na qual os atores tes centros teatrais europeus, ele observou que
ficam saindo de seus papéis para recair na rea- o prazer artístico era predominante em Paris,
lidade. causou grande impressão. Karl Heinz que o prazer sensorial dominava o palco em
Stroux encenou-a em 1946 no Teatro Hebbel, Viena, que em Berlim "um trabalho inaudito
e ninguém que tenha visto o espetáculo, entre preparava a batalha entre ateres e espectado-
as ruínas de Berlim. é capaz de esquecê-lo. res críticos" e que em Moscou tanto os atores
As experiências dramatúrgicas de Paul quanto o público tinham uma dedicação qua-
Claudel com o teatro épico remontam ao ano de se religiosa ú arte do teatro.
1927. Quando, a pedido de Max Reinhardt e ten- No que diz respeito tanto forma quanto
à

do como libretista de Darius Milhaud, Claudel a substância, durante dois séculos os teatros
começou a escrever seu Cliristophe Colomb, da América do Norte recorreram a modelos
optou por um mediador entre o palco e a platéia europeus. Logo, porém, mostraram maior ha-
na pessoa do narrador. Colocou-o ao lado do bilidade em fazer o teatro dar certo como em-
palco, com um livro aberto apoiado numa es- preendimento comerciai. Nas palavras da fa-
tante: Lc L;\'/T de Christoplu: Colonib (O Livro mosa canção de Irving Berlin, os americanos
de Cristóvão Colombo) (este é o título da ver- descobriram que tltcres no business likc ShOlI'
são revisada. produzida por Jean-Louis Barrault business ("não há negócio como o negócio do
e publicada em 1953 em Bordcaux.) O explora- sl/OII''').

dor é dividido em duas figuras -. um ancião do- Vários aspectos da cena americana foram
ente que se aproxima, ao lado do narrador, e sen - discutidos previamente com relação aos dife-
ta-se. para o próprio julgamento. num nivel vneu- rentes gêneros dramáticos, mas o capítulo se-
tro" de espaço e tempo; e o jovem navegador guinte diz respeito. sucintamente, ao teatro en-
que singra os mares para descobrir a América, quanto S!lOII' business, na acepção que acabou
Um solene Aleluia é cantado pelo coro para con- sendo exemplificada pela Broadway.
cluir a alegoria. enquanto em uma tela o pere- Embora. para o bem ou para o mal.
grino Tiago t' a rvIãe de Deus aparecem. Nova York seja hoje II centro teatral inconte s-
Chrisroph« Colontb, de Claudel. I'oi vista rave i dllS EUA e P"UClS peças pos-.un: ser
durante muito tempo como o modelo almeja- bem-sucedidn-, sem a chancela de uma pro-
do de teatro total. em eontrap("i~'ão it peça rc- duç.«: nesta cidade. (IS origens do teatro pro-
volucionária, que se propõe a apresentar lima fis.-.;ion,1\ americano devem ser procur.ul.u- !la
visão rc lip iosa do mundo COll1 meio-, moder- cidade vizinha e por um longo tempo rival:
.~
nos. Esta abordagem volta, cm larga escala. Filadélfia, Na verdade. foi ali que a prime i r»
em Lc Soulier de Sutin (A Sapatilha de Ce- peça csctitu na América para ser montada
tim); aqui. Claudel. inspirando-se no drama por uma companhia profissional de atort's.
barroco espanhol, caminha entre o mistério e tt., Prince otParthia (O Príncipe de Púrti'l),
a farsa numa poderosa obra-prima de imagi- de Thomas Godfrey Jr., estreou em 1767 no
nação e linguagem, Pantomimas. dança e Southwark Thcarrc, o primeiro teatro pcrma .
esquetes, interlúdios alegóricos e filosóficos nente dos Estados Unidos. Tragédia em ver-
alinham-se entre a peça religiosa do século so, com um ccn.irio exótico. tratava. de uma
XVII e as formas modernas de expressão. FICI maneira que traía cluramcute sua inspira\~ão
a critério do diretor te dos recursos financei- sbakespenri.ma. da rivalidade principesca en-
ros ii sua disposição) intensificar verbalmente tre dois irmãos. Houve apenas uma reprexcn-
a peça num palco nu. ou transformei-Ia num tacão.
50. Cenário de \Volfgang Znamcnacek para a montagem de Friedrich Domin de () Chinelo de Cetim, de Paul Claudel.
grande expeüiculo com a ajuda de todos os re- Ass'lz profeticamente. entretanto. Nova
no Kammcrspiclc de Munique, 1947. cursos técnicos do teatro moderno. York foi o cenário da primeira comédia nativa

• 513
H ís t úri a f&llHu lia l d o F ca t ro • • /) 0 N at u rcüi s nro ao I' r (' .\ ('II / ('

da Amé rica, The Contrast (O Contraste), 1787, Foi no Park Th eatre que William Dunlap, uma paródia da vida dos negro s, qu e se torna- Por cau sa do já poderoso star s isteni. mui -
de Roya ll Tyler, Nela, o autor lisonjeava seus dramaturgo e autor da pioneira Histo ry of th e ria uma tradição difíc il de destrui r. tas da s melh ores primeira s peças americanas
com patr iotas, no país recém-indep endente. Ameri call Thea tre (História do Teatro Am eri- Em 1847. a situação do tea tro de Nova foram escritas como veículos para atore s fa-
co m uma história envolvendo a co mpetição cano) ( 1832) . ofereceu o mais estimulante car- York era tal que Walt Whitma n, escreve ndo no mosos. A lé m disso, ce nário s exóticos ainda
rom ântic a entre Billy Dimple, um anglófilo dápio teatr al da cid ade. Sua grande atra ção e Bro oklyn Eag le, estig ma tizo u todos os teatros, agradavam muit o. Ant es de descobri r que a
de desconcertante facilid ade com as mulhe- bilheteria era Kotzebuc, cujas peças eram vis- com exceç ão do Park, como " luga res baixos falt a de leis so bre direitos autora is torn avam
res, e o Coron el Manly, um leal oficial revo- tas co mo ap licações introdutórias de idéia s das onde a vulgaridade (não ape nas no palco, mas prec á ria a s ubs istê nc ia do a utor, Rober t
lu ci onário, pelo amo r de uma pura ga rota Revoluções Francesa e Americana. Na te m- diant e de le) predomina. e o mau go sto triunfa Mont gom ery Bird, um dos melh ores drama-
americ ana. Co média ainda encenável, mas não por ad a d e 17 9 9 - 1800, foram mont a d a s com poucos pontos favorá veis que di minuam turgos ro m ânticos dos primórd ios. escr eve u
muito fre qüenternente encenad a, sua popula- quatorze peças de Kotzebue em Nova York. sua grosseria" . Até mesmo o Park, dizia ele, para Edwin Forrest peç as como Tlie Gl adi ator
rid ade e importância devem- se à introdução, Produ zida ano nima me nte, um dos sucessos de pro po rciona somente "im itaçõe s de terceira (O G ladiador), 1831, uma história sobre Esp ár-
na peça , do primeiro personagem teatral tipi- Dunlap em 1799, The Italian Father (O Pai cl asse dos melhores teatros de Londre s. Ence- taco e a Ro ma antiga , na qual predo mi nava m
ca me nte americano - Jonatha n, servo do Co- Italiano) fo i ta mbém atribuída por mu ita gen- na os dramas recusados e os atore s desempre- sent imentos abo licion istas. e Th e B roker of
ronel Ma nly. Sua visão da vida, dire ta, práti- te a Kotze bue, até qu e Dunlap reconheceu sua gados da Grã- Breta nha, e nestes dra mas e ato- Bo gota (O Age nte de Bogotá) ( 1834), um tu -
ca e rural fariam dele o protótip o de centenas dívid a par a co m Th e Hon est lVhore (A Pro sti- res, da mesma forma que trajes de segunda mão multuoso drama passado na Colômbi a.
de fig uras similares na ficção , no drama, nos tuta Hon esta ). de Th om as Dekker, Dunl ap dad os pelo cavalheiro ao valete. tudo cai desa- Porém , o texto "importado" co ntinua va a
filmes e nas comédias musicais. adaptou també m DOI1 Ca rlos . de Schiller, Ln jei tadame nte" . dom inar na Broadway. Essa preferência refl e-
Embora hoje esteja em moda dizer que o Fenune ii d eter M aris (A Mu lher com Dois Whiuuan esta va se ndo . ta lvez. algo injus- te-se no prêarnb ulo ao "sucesso ineq uivoca-
teatro da Broadway é tão antigo qua nto o ci- Maridos) de Pixerécourt . e uma variedade de to. mas ele pôs o dedo nas du as forças mo- mente br ilhant e" de Fashion, ar Life in N eli'
nem a e tenha emergido em condições pareci- peças de autores popular es europeus . Houve. trizes do teatro americano de sua época : a já York (M oda. ou A Vida em Nova York). de
das, suas origens são, na verdad e. co nsidera- além disso. um fl uxo cons tante de re mo n- demasiado opressiva e declinant e tradição in- Anna Mowatt (a descrição é da própria auto -
velmente mais antigas. As práticas comer ci- tagen s de Shakespear e, glesa e a tendência a ficar no st ur s vs teni , "Al- ra. porém justificada ). que lotou o Park por
ai s. a admi nistração. as tend ência s para o Não era costume então de nenhum teatro gun s atores ou atrizes passam pelo país. traba- várias se ma nas em 1845. Corre ndo os olhos
perfeccionismo, o princípio do star e o siste- conce ntrar -se exclusivamente seja no dra ma lhando uma semana aqui e outra ali. trazendo por um anú ncio da peça no jorn al, o Prólogo
ma de lon ga temporada vigente s na Broadway ou na óper a. En ceuava-se o qu e prometes se co mo su a maior referên c ia a no vidade - e comenta e m verso: "B ah ! Cal icôs feitos em
foram desenvolvidos já no século XIX. Gran- casa cheia . Um grupo de ópera ital ian o, sob a mui to Ireq üentcmenre nenhuma outra: ' Nos casa podem ser bons o suficiente / Mas dra-
des atore s e cantores. cuj a apresen tação po- direção de Montrésor, lotou o Richmond H ill inter valos entre estas apresen tações de virtu o - mas feitos e m casa são ne ces sari am ente urna
dia asseg urar um sucesso se nsacional, foram Thearre de No va York por três meses em 1832. se s . os teatros ficavam sempre vuzios, a des- coisa es túpida / Se tiver a estampa Lotulon , aí
trazidos da Europa. Ao longo dos anos e pelo num total de trin ta e cin co réci tas. O con se- pe ito do fato de qu e ex cele nte s co m panhias sim.," A peça não era só planta de ca sa, mas
século XX adentro, astro s como os Kernbles, lh eir o art í stico do em preendimen to f o i de repert ório locais esti vessem muitas vezes escr ita por uma mu lher '
Sara h Bernh ar dt, Coqu e lin , Je nn y Lind , Lorenzo da Pont e, outrora amigo e libre tista encenando peças inte ressa ntes. Inspi rand o-se em O Co ntraste, de Tvlcr, e
Eleonoru Duse, Caruso e Richard Tauber re- de Mozart. Apes ar das repreensõe s de \Vhitm an. o dc Thc Scltoolfor Sca nda l (Esco la do Éscâ n-
pet iram seus triunfos europeus no palco ame- Em Lou isvil le, Kentucky, cm 1828. o ator drama americano moxtrou co nvider.ivel vitali- dalo ), de She riclan. a Sra. Mowatt apresentava
ricano. Thomas D. Rice, ind icado para interpre tar um da de e hab ilidade no empn:go de e lem entos uma intri ga em que as virtudes nativas eram
Co mediant es e col oni zad ores cru zaram trabalhad or neg ro do ca mpo num melod rama nativos. No Chestnut St rect Th ea rre, cm Fila- contrasta das com a desonestidad e estran geira.
juntos o Atlântico. O contingente teatral foi local. observou um velho negro cantando e dél fia, Jam es Ne lso n Bark er ap rese ntou Thc O hon esto Ada m Trueman, convidado rural da
cond uzid o pelos chefes dos pio neiros, e suas dançando do lad o de fora do teatro. Ficou tão Indian Pri nccss, "r Lo Bcl l« "l m ll 'ag e (A Prin- atrapa lhada sra , Tiffany, que espera casar sua
troupes chegaram logo, bem providas em nú- tomado pela a tua ção , qu e a incor porou a seu cesa Índia. ou A Bela Selvagem) ( 1808): um filha com o conde Jolimai tre - "u ma imp orta-
mer o de ate res e rapida me nt e : e m 1750 , papel, e de sua bem-sucedida int e rp ret a ç ão da co nto de Pocahontas, a jovem indíg ena que ção européia em moda" - é uma ree ncarnação
M urray e Kean; em 1751, Rob ert Upton: em canção Jump Jim Cm w. com o rosto pintado ter ia se apaixonado pelo Cupitão Sm ith e por reconhe cí vel do Jonath an, de Tyler,
1752, William e Lewis Hallam. Nos dias de de preto, nasceu o minst rel sho w. A moda pe- isso salvo a sua vida. foi o primeiro drama en- O pondo -se ~ te ndência da coméd ia. do
Geo rge Washington - um defensor do teatro. gou com o fogo na palha. e em 184 3 um 1IL1VO ce nado na Amé rica que utiliza va perso nagens melodr ama exótico e da celebração das virtu-
quando vivo, e que mais tarde seria glorifica- compet id or no slto w business , o Virginia índ ios. No ano seguinte. a peça foi apresenta- des democráticas, assinalam -se as tragédi as
do co mo herói de inúmeras peças sem sucesso M instrcl Sliow, fez sua estréia no Bowery da no Park e em seguida cm teatros de todo o patrícias em verso de George Henry Boker, que
- Nova York já podia vangloriar-se de possuir Amphith eater de Nova York. O program a co n- pa ís. Sua fama difundiu- se tant o que co nse- desenvolv eu a tra dição inaugurada em Fil udél-
mu itos teatros permanentes. inclusive o John sistia em uma mistura sentimental de baladas. guiu a distinção de uma mon tagcm ad ulterada lia com O Priucipc de Ptirtia, de Go dfrev. Ele
St reet Th eatre, onde ocorre u a estr éia de O número s mu sicais e di álogos curtos: a m úsica c pirateada no Drury Lane, em Londres. em próp rio um tiladelfiano, Bake r seguiu o co n-
Contraste levada pela Ameri ca n Co mpany, o era fornec ida por banjos. violinos. ca sta nho - 1820. Além de muitas adapta ções de peças. se lho q ue d e ra ao p oe ta Ri ch ar d Henry
literari amente ambicioso Park Th eatre, e o las e pande iros . Logo. apresentava-se miustrcl novela s e poemas europeus, Burker também Stodda rd: "Afaste-se para o mais longe possí -
Ricetts Circus aclamado como o " novo e c ô- sho ws em lodo o país . Ateres bra ncos. co m o escreveu Supcrstition (S u persti ç ão l, 1824. um vel de sua época". A melhor de suas peças é
modo anfi teatro". rosto pintado de preto, divertiam platé ias com dram a sobre a intolerâ ncia puritana , sem dú vida Fmu ccsca da Rim ini ( IS55 >. que
• 5J.1
• 5 15
H í vt o ri u ,\I li 11d i u l c/o T ('OI ,.o • • D o Nr t t n ru l is m n (1(' P res e nt e

permanece co mo o mai s fino tratamento dado in ve nto u um tre men do s uc e s s o do sho w final. É tão no vo, barulhento e Ião fora de qual- dão indicação seg ura de co mo a Broadway rea -
no dr ama inglês ao s amantes condc nados de busincs s, q ue se ma nteve no pa lco pela s três q uer padrão qu anto o contine nte que o o r i- girá, e es tréias em No va York são um negóc io
Dan te. déca da s seg ui nte s. a des pei to dos ataque s d o gi no u" . tenso para os " anj os" - os investidores finan -
Co nfo rme W hilman havia obser vado. es- pú lpito e da im pren sa. Percebend o qu e nad a m a is po d e ria se r ce iros. Se a primei ra no ite é um fraca sso , lud o
petácul os inova do re s e vin uosísticos co ntinua- A rra njado co m as ex igê nc ias da Broad wa y ex tra ído do s ve lhos e sentime nta is c lic h és, a está perd ido; se é um es tro ndo so sucesso , os lu-
ram a do min ar o teatro em Nova York . Qu an - e m mente , o music al flore sceria ali, ao lad o Bro ad way recordou- se das bibl ioteca s e entre- cros aume ntam co rno lim a bola de neve. A apos-
do. por exe m plo . Edwin BOOlh. em parceria do sho H' de vari edade s, o nde o ca nto , a dança go u-se ao s m odel os literários, rei nterp re ta nd o ta es tá entre o ê xito es tro ndo so e o ma logro to-
com um ho mem de negócios de Bos ton, abriu e os aros curtos de vá rios tipos era m amarra- o s clássico s co nte m pora ne am e nte : Kiss me tal: Thcre 's 110 business like show business.
seu no vo te at ro e m 1869 . Nova York engalfi- dos um no out ro sem o intuito de desenvolver Kate (Beij e -m e , Kate), 1948. base ad o em A Um pouco men os espetacular qu e o de-
nhou- se pel os ing ressos. qu e fo ram leil oa dos uma hi stóri a linear. Foi no re cém-inau gur ad o M egera D omada , de Shakesp ear e ; Wes l Si dc scnvo lvimento do mu sic al foi a evo lução após
a pre ço s su pe rior es a US$ 125. A no ite da teatro de Floren z Z iegfe ld, c ujo espe tac ula r SIOI}'. 1957, in spirado em Romeu e Julieta ; c a Guerra Ci vil d o drama. que começou . num
préntier no teatro de Booth causou tripla se n- Z igfcld Follies havi a começado, em 1907, a My Fair Lady, 1 ~5 6, inspirado em Pigm alcào ce rto se ntido. com o sucesso br ilh an te. um a no
sação: a magni fi c ência da casa. o eq uipamen- " g lo rificar a garota americana " , q ue o mu sical de G. B. Shaw. Ca ndide (19 56 ), ba seado no antes do co nfli to , de Tlte Octoroon (O Oi tav ão)
to técn ico pr o mi ssor - que inclu ía a lça pões america no alcançou um no vo pi co co m Shovv romance sa tírico de Voltaire . des tacava um ( 1859 ), de Di on Boucic au lt, um dra ma so br e
hidrá ulico s - e a le m brança do irmão de Ed win, Boat (19 27 ). Basead o no ro mance sentimen- lib ret o de Lill ian Hellman, um a pa rt itura de o amor de um ho me m branco e uma j ove m
John W ilke s Boot h, o assassin o do presidente ta l de Edn a Ferber. do a no an terior, apre se n~ Leonard Bern st ein ; e ca nções co m let ra de mulat a livre . A ter-autor irl andês, que ve io para
Lin col n. ta va um libreto de O scar Ham mc rstein e mú - R ich ard W il bur, J ohn Lar ou che e D o roth y No va York a pó s ter esta be lec ido sua re puta-
Descr ito, co m a prop en são am erica na para s ica de Jerome Kern . S ua canç ão de impacto Pa rke r. E m bo ra este mu sical haj a atingi do no - ção e m Londre s . Bouci ca ult tinha um se ns o
a hipérbol e , co mo " 0 ma ior sucesso do mu n- Ol 'M an Ri ve r arr eca da ria milhões para o tea- vos cim os em te rmo de habilidade literária e seg uro do teatro co mo e ntretenimento . Em bo -
do", a dra matiza ção do rom ance a bo licio nista tro e as gravad or as. humor, foi um frac asso financ eiro , Conti n uo u . ra sua peça trata sse de problemas sociais que
Uuc!e TO/l/ 's Cab in (A Cabana do Pai Tomás) Seu sucesso. entre tanto, seria of uscado, em entre tanto, a des frutar de um a vid a oc ult a, em co nt inuam a rond ar os Estados Un idos, sua
de Harri et Beec her Stowc, estr eou no ivluse um 1943. por Oklahonuú, mu sical ba seado na co- fo rma de g ravação. ênfa se - como gra nde parte d o teatro soc ia l
Th eater e m T ro y. Nova York. em 185 2. Um méd iafà//.: Grecn GIVII' IIIl' Lilacs (Os Lila se s Tenta tiva s de trazer o m usical da Broad - q ue se seg uiria - estava no se ntimento . A lé m
efe tivo êx ito . fo i tra nsfe rida no ano se g uinte Cresce m Verde s) . de Ly nn R iggs, da tada de way para mai s pe rto da ópera - Porgv and Bess, d isso , o ferec ia u m ce rto número de ce nas e s-
para o Purd y ' s National T heatre em No va York . 19 3 1. A peça introdu ziu uma ten dência em q ue de G ersh w in ( 1935), base ad o no ro m a nce pet ac ulares, q ue iam de sde um leilão de csc ra -
Pere ne favor ito . no c urso do s anos, es te espa r- a coreografia desem pen haria um pap el ca da vez Porgy , de Du bo se Heyw ard , e Stre et Scene vos até um navi o a vap o r se ince nd iando.
ramado ataq ue à e sc ravidão em se is ato s de- mai s imp o rtante . Por cau sa d a fa bulos a combi- (Ce na de R ua ). de Kurt Wei ll ( 1947 ). c o m ba se Boucicaul t ta m bé m teve parte n um d os
senvo lve u vid a próp ria. Seu lem a. da desuma - nação de diá lo gos. c a nçõe s. balé e ritmo s sed u- na peça hom ónim a de E lm a Ri c e , e c o m - m a is famo so s s ucessos do pa lco americano
nidad e d o home m para co m o ho mem , era re - to ra me nte o rq ue stra d o s. Oklalunna I q uebrou ple me ntad a por ca nções com letra s d o poe ta qua ndo co labo ro u co m J oseph Jefferson III
vestido de uma variedade de efeitos cênicos todo s os recordes de bilh et eri a, ati ngindo 2250 Lan gst on Hu gh es - inicialme nte tiveram s u- na últ im a ad a pt aç ão da cláss ica hist ó ria de
espetucul nre s, e ac o mpanhado de dan ças e GUI - ap rese ntaçõe s so me nte e m No va York. No in- ce sso fin an ce iro lim itado . ma s são ain da revi - Washi ngton Ir vi ng , Rip Vali Will/.:/e (João Pe s-
\.'ões com banj o ro i finalm ente enccnudo. em tervalo entre Show Boa t e Okl ahonu úentraram vidas. Em 195 0 . P{IIK1' anil B ess exc ursio no u tana). A peça es treou or ig ina lm e nte e m L O Il ~
18:-\ I. nu m a prod ll(;,\ o de P. 1'. Bamu m e J.uu e -, em cartaz as efervesce ntes com édias musicai-. co m muito ê x ito pe la Europa. levad o por um dres, e m 1865 , ma s fo i logo tran sferid a para
A. Buil cy, de h un a c ircense. Esta aprcxcnt.i- de Ge orge G crshw in: Stril.« UI' lhe Band ( 1930) e lenco tod o de a teres negros, q ue at uou inclu- Nova York e lo go depois para out ra s pa rte s
Çi\O torn o u-se ass im . de cen a Ionu a, um an- « ot Th"e I Sillg ( 193 1) (com libreto de George sive em M oscou . Pos terior me nte, den tre os mu - d o país. No dec o rre r do s a no s. Jefferson . se -
ce str al da g ra nde co ntribuiçã o da Amé rica par a S . Kuufman ), o pr im e iro dc ste gê nero a ganhar sic ais am erican os q ue tiver am sucesso in ter- gui ndo os passos de se u pai e avô famo so s.
o palc o : o dese nvo lvimen to, p óx-Gucua Civil. um Prêm io Pulitzer. nac ion al figuro u Fiddler 0 11 the Roof (U m Vi- qu e haviam ap re sentado nduptu ções a nte rio-
do mu sical . O mu sical am e ricano a lca nço u êx ito in- o lini sta no Tel hado). 1964 , ba sead o na s hi stó- re s da h istór ia de Ir vin g . al terou muita, ve-
Por é m . a verd ade ira fo nte deste gé nero te rn ac ional e triunfo u so bre lI S vestígios da "e ra ria s imortai s de Sc ho lem Ale ikhem so bre a vida zes a peça .
nat ivo é pro vave lmente Th e Black Cro ok (O de prata " da o pere ta . quando o bras de I ohann de Te vie . o Leit eiro. num a a ldeia ru s sa pr é- Po de- se d ize r que o rea lis mo no te a tro
Trapace iro Ne g ro ). de Charles M. Barras. q ue Strauss. Franz Leha r, Fr an z von Supp é, Nico Prim ei ra G uerra Mundial - dirig ido e coreo- a me rica no dat a do "ousado" trat am en to dado
estreo u e m I:-\66 pa ra o enca ntado aplauso do s Do s tal e E mm eri ch Kalm an flor esci am no grafado por Je rome Robbin s, e Hair, 196 9, uma às co nse q üê nc ia s d o ad ulté rio . po r Jam es A .
nova- io rqu inos no Ni blos Garden . A mo nta- Carlstheater e no Theat er 'ln de r Wien . em Vie- roc/.:-ce lebra ção do m isticismo e pro tes to d o Hern e em M arg a rct Fl cming ( 1890 ). q ue teve
ge m deu -se C0 !l1 0 resultado de um for tuito ac i- na, e no M et ro pol , e m Berlim. mundo hippie . um a única mat ince no Palmer Theat re de No va
dente. qu e pê) s em dificuld ade 11m corpo de Ao desenvol ver o musical. a Broad w ay A Broad w ay produz pelo men os dez no- York, UIlI ano de poi s de suas primeir as a pre-
baile e m NO\',r York, ap ós o teatro o nde esp c- c urvou-se ao de sejo do público de uma forma vo s musica is a ca da ano. tenden do reccntem e n- sentaçõ cs em Lynn, M assachu sett s. Um ad m i
ravum atu ar ter pegad o fogo - um acon teci - e s pec if ic a me n te nmcric u na d e ex p ress ã o . te a pro d uzir pou ca co isa a m ais . O s inve sti- radar a pa ixonado de lbsen , o aro r-autor Merne
men to co nte mpo rân eo COnll11l1. Co mbinando Co mo exprim iu o fa to G ideon Freu d, esta é men tos podem facilme nte chegar a mai s de mei o despiu seu dr ama de muitas das convenç ões
belas bai lar inas cscassumc nte vcstida-, co m um um a for ma qu e " a A m éri c a in vent o u a 11m de milhão de dól ares com ateres, m ús icos, ce no - teat rai s da é poca com vis tas ao s favo res da s
mel od ram a a envo lve r cxpctucu lurcs cxibiçõe « desab afar em g rande escal a . Seu estilo é flu- grafi a e coreo grafias. Po uq uíssimos m usi c ai s pl atéia s da Bro ad w ay, mas a pe ça raram ente
cénica s. o ad m inivtrudor do Nihlu' » Gar.lcn tuante e até ago ra n ão a ting iu nenhum caniter fazem suc esso . Te ste s em cidades pequenas não chego u a ser re ence nada, mes mo de po is qu e

• 5/ ó • 5 17
H ís t ori u /ll lIl1d ;o / d o T r a t ro • • D o N u t u ra l ism o cto P r C .\'( ' 1I 1('

ele ree screve u o último ato , a fim de suge rir profundamente em The Thr ee (!( Us (Nós T rês), en treter - , William Saroyan contrapôs as for- Nos últimos anos, o pa lco da Broadway
uma po ssí ve l reconc il iação entre marid o e 1906. de Rach el C roth e rs, o pri m eiro de uma ças modern a s do be m e do mal em Tlie Tim e of tem s ido dominado q ua se no se u tod o pe la
mu lher. Anlerionnente , em sua carreira, Herne sé rie de d ramas e co mé d ias no s qua is a a utor a YOllr Life ( A Chance da sua Vida ), 1939, e sco- coméd ia leve e so bre tudo pe lo m usical - qua-
dividira o palc o com D avid Be lasco, o brilh ante ex a m ina va q uestõe s soc ia is d o pomo de vista lhen d o romanticam en te um boreco d e San se nenh um dos temas parece re si stir ao trata-
atol', diretor e dramaturgo c uj as noções de rea- feminino . A s Husba n ds C o (Q uand o os Mari- F rancisco c o m o c e nário para se u encontro. m ento co m ca nção e dança .
lismo, de um teor ma is bombástico do qu e as dos s e Vão), 193 I. IVhel/ Ladies M ect (Q uan- Naq ue le m es m o a no . Lill ian He llman exami-
de seu antigo parc eiro , dominariam o palc o da d o as Se nhoras se Enc ontram ), 19 3 2 e Susa n naria as raí ze s do ca pitalis m o americano em
Bro adway por algu m tempo . Belasco é atual- a nd God (Susan e De us), 19 3 7 . Após 192 2, Th e L ittle Fax es (A s Raposinh as), em que a
men te lembrado sobretudo por suas adap tações Philip Barry divert iu e co nfu nd iu a Broad wa y trad ição ari st ocrática sulista é mo strada co mo
o TEATRO C O M O EXPER IM ENTO

das óperas Madani e B tllIerfl )', 1900 , e Tire Giri a lte rnadamente com um a sé rie de c intilante s agente no proce sso pe lo qu a l a s força s do
of the C ald eu I\'est (A Garota do Oe ste Dour a- c o mé d ias sociais e dramas co m o rie ntação industrialismo abrem ca m inho . Em 1900 , a revista ilu strada me nsal Thc
do) , 191 0, de Pucc in i. mística, incl uindo Holidav ( Fe riado) , 192 9, a O s ano s 40 as si stiram à eme rgên c ia de Theatre foi fund ada em Nov a York, Ela infor-
O reali smo. no se ntido da d rarnatu rgia de re volta de um jovem contra a v ida " sen sata" ; doi s d ramaturgos qu e - ao lado de Edward m ava se us leitores so bre mo ntagens america-
cr ítica socia l e sátira, enco ntrou seu exp oente Th e Animal Kingdom (O Reino Anima l), 19 32, A lbee , após o s uc e ss o de II'ho 's Afraid Df na s, pub licava as teo ria s e projetos dos re fo r-
mais bem -sucedido em Cl yde F itch, qu e havia u m exa me da verdadeira nature za d o cas a men- Virginia 1I'0olf? (Q ue m Tem M ed o de Vi rgi nia mad ore s europeus do pa lco , Appi a e Crai g, e
originalme nte formado sua repu tação co m co - to; H ere Come the Clo\VI/S (A í V êm os Palha- Woo!f?) , 1962 - permanecem até hoje como cri ticava o comercialism o do teat ro da Broad way.
médi as românt ica s como Beau Brtll11l11e/,1890, ç os) , 1938 , uma fas cinante - m as comercial - os mais re presen tativos d o teatro da Broadway Em 191 3, pub licou um gri to de alerta: " O qu e
e Capt ain Jinks of The H o rse Murin rs (Capi - mente ma lsucedida - inve sti g aç ão das raízes em se u esp írito " sério" : Tennessee Williams e há de err ado com o pa lco ame ricano?"
tão Ji nks da Cavalar ia Marinha), 190 I. Em profund as da motivação hum a na : e Thc Plnla- Art h ur Mill er . E m Tlle G lass Menage rie (À A so luç ão , ao que parec ia. en cont rava-se
peças como The C linibc rs (O s A lpi ni stas) , de lphia Storv (A Hi stória de Filadé lfia). 1939, Margem da Vida ), 1944 , William auto bio g ra- for a da Broadway - fora do alcance da di ta-
1901, Th e Truth (A Verdade), 1906, e Tlie City um relato hilári o e mord a z de uma indócil fic am e nte refletiu sobre as lasti m ávei s preten- dura do teatro comerc ia l - na descentrali za-
(A Cid ade), 1909, Fi tch volt a sua con sciên cia mu lhe r da soci ed ade às vé spe ra s de u m se- sões dos reman e sce nte s da tradição suli sta e ção e na cor agem ele ex pe rim entar. A er a dos
ét ica da Nova Inglaterra para aspe ctos qu esti o- g undo cas ame nto . Mais o u m enos na mesma mostro u se nsibilidade refugiando -se da aspe- Li tt le Theatre s, pequenos teatro s, de sponta-
náveis da sociedade america na . é poca, Ma xw ell Anderson te ntava . em peças reza do mundo m oderno nos so nhos e no re - va . Na lider an ç a es tav am os teatro s da saf ra
Qu at ro anos ap ó s o tri unfo do dra ma ro- como Elizabcth thc Qu een (A Rain ha Elisa - tra i m en t o. O tema foi ex pa nd ido em A de 19 12, o Toy Theate r em Bo sto n, o Litt le
manti cament e " rea lis ta" de Bela sco, so bre o b e th) , 1930, e Mary of SeOlI(///(1 ( M a ria da Streetca r Namcd Desi re ( Um Bo nde Chama- T hea ter em No va York e o L ittl e Thea ter de
longínq uo O est e ame ricano, Wi lliam Vaughn Escócia). 1933, e IVillters ct (O Inverno ), 1935, do De sejo). 194 7 , e m qu e a se ns ibilidade de - C hicago, Eram os corres po nde ntes am eri ca-
Mood y apre se nto u. e m Th c Great Divide (A - in spirada no caso Sacco e Van zetti - revi ve r cadente de B la nche se o põ e ao vigo r bruta l de nos do Estúdi o ru sso , teatros experim entai s
Grand e Fro ntei ra ), 1909. uma adapt ação de sua o drama em verso . se u cunhado Stanley. Williams co ntinuo u ne st e qu e se inte ressa vam mai s pelo re per tó rio do
antiga peça e m ve rs o, The Sabinc 110111(// / (A Durant e os an os 30 . a B ro ad w ay m ostrou- caminho co m va riações ca da ve z mai s g ro te s- qu e por lon ga s tem poradas e ofe reciam a j o-
Mu lher Sa bina ). 1906 . um interessante dr am a se à a ltur a do d esa f io d a D e p re s s ão e d o ca s so bre se u tema . ve ns auto res e a rt is ta s de va ng uarda um a
que foc aliza os va lor es co nflitantes do Leste ac úmul o da s nuve ns da g ue rra . co m uma sér ie Enqu ant o a c rí tica de W illi am s ii v id a o por tunida de de ex perim e ntar no vas peça s e
puritano e do rud e e d ispo nível Oeste. Sozi - de dramas vigoroso s q ue exa mi na va m as C() Il~ am erica na parece , de ce rto m od o, v ir de um técni cas de ence nação.
nha na ca bana de se u irm ão no Arizona , Ruth . vic ções básicas da so cied ade a me nc ana. Tal- outsi der, Ulll margin ali zndor. o ex a me qu e A o mesmo tempo , c o m eç aram a ser ati-
um a garota cresc ida no Leste . é assed iada por vez o m ais represent at ivo d e le s ten ha s ido Mill er faz d a é tic a dos homen s de negóci os vados os palco s universi tário s da América . Em
três rufi ões. Ela se sa lva ao imp lorar a um de- AII' ake and Sing ! ( De spe rte e C ame !l, 19 35. em A lI M ." Som (Todos os meu s Fi lho s ), 194 7. Harvard, o profe ssor George Pierce Bak er fun -
les que a torne sua . Ste phe n Gh ent "c o mpra" de C lifford Odet s, no qu a l um j o ve m é apai - acei ta, inc o nsci e nt emente . m uitas das reg ras do u, e m 19 13. o seu 47 WorksllOfJ . q ue foi logo
a moça de se us co m panhe iros. e quando Ruth xo nadamente ex ortado a " pa rt ir e luta r. por - fund ame nt ai s do ca pita lis mo - ta nto q ue a s seg uido por numeroso s de pa rtamentos sim i-
co nseg ue o d in he iro pa ra "recomprar" a si qu e a vida não de ve ria se r impre ssa e m no tas upre se rnu ç õe s d a pe ça foram s uspe ns as na lar es de dr ama e teatro e m o ut ra s universida -
mesma, vo lta para Nov a Inglaterra. Mas e m d e d ólares" . Dead Eud (Se m S aí d a), 19 35 , de URSS - e ap e na s c ritica as infrações . Foi so - des pelo s EU A . O s aspectos artístico s. práti-
essência ela rejeita o s ho mens cultivado s de Sid ney King sley, de u às pl at éi as da Broadwa y men te com Dc ath (!f ({ Salesman (A Morte de cos , técnicos e organizacionais do teatro pa s-
seu amb ien te e an seia pel o ind ómito co mpa- um sinistro lam pejo dos bairros da margina- um Ca ixei ro Viajante ), 1949, qu e M iller ofe - saram a constar do cu rrícu lo ac adê mic o. Gru-
nheiro a qu em mos tr ara as possibilidades de lidade e do crime e m No va York. Em ldiot 's rece uma crí tica mais fundam ental d os va lo- pos amadores universitários apresentavam-se em
vida. Tlic Faith Hcal cr (O Curand eiro pela Fé). Dc liglit (O Delei te do Id io ta l. 1'.J35. Ro bert E. res americanos . na hist óri a da destru iç ão de espet áculos públ icos e co m isso exer ciam um a
1909, embora uma peça possivelment e melhor. She rw ood retratou as to rça s q ue estavam le- Willy Lornan pel a s ilusões que g uiaram sua influência indireta no teatro profission al. O
obteve menos suces so por cau sa de seu tema va ndo o mundo a um a co nflag raç ão de g rande vid a . Em al gum a s d e s ua s ú ltimas peças. worksliop d o prof. Bak er encontrava-se déca-
míst ico, em qu e o po der e sp iritual inat o do ho- porte e co nc lamo u o homem comum a res istir Miller tro c ou sua ê n fas e na crític a soc ia l pelo das à fren te de em preend im entos europeus si-
mem é co ntrapo sto ao racionali sm o e à reli- a elas . De forma pou co men o s agr essiva mas est udo p sic ol ó g ic o : A Viell' [tom tlic B ridge mi lare s, ta is co mo os Th éophiliens, grupo fun -
giã o co nvencion a l. não meno s int eressant e ..- porque a desp eito de ( Pano ra m a Vist o da Pont e ). 195 5, re vi sada em dad o e m Pari s por G ust a vo Cohen , que estr eou
O co ntras te e ntre o Le ste e o Oeste nos se u fervor moral S ne rwood não ha via esq ue- 1957 . After th c Fali (D e po is da Qu eda ). 1964. e m 1933 co m o Mirocle de Th éophilc (Mi la-
Estad os Un ido s foi tra tado um pou co men os c ido q ue a fu nção es se nc ial da Broad wa y era Tlie Price (O Preço), 196 8. g re de Te ófi lo), de R utebe uf, de o nde o co n-

• 5 /8 • 5/9
H i st á ri ü Al ll ll d i u l {/o Tecu ro • • /) 0 N ut u ruli sm o er a P rt ' J( ' I/ ! C

j unto tir ou seu nome. Baker estava tam bém incentivava a co labor ação de es critores , pi n- na Eu ro pa por v ários an os. Foi du rant e e ste o T EATR O E M C RI SE?
muito avançado e m relação aos palc os experi- tor es e compositores. que poderi am. na s pala- período que o grupo desenvolv eu um novo con-
ment ais. hoj e em d ia vinc ulados a quase tod os vra s de Herb ert Mach iz, diretor des tas e nce na- cei to de tea tro . no qu al o dram aturg o co mo tal O séc ulo X X não est á sozi nho ao pe rg un -
os dep artamentos de teatro das universidades ções, "ex peri me nta r com no vas pe rsp ecti vas pa recia ser a ba ndo nado, e a ob ra ap resentada tar se o teat ro es tá em c rise. Já Sêneca, e m
européia s. De seu 4 7 lVorksllOp emergiram os p ara si mesm os e oferecer ex pe riê ncias fres- surgia a pa rtir da co laboração e da ino vação Roma, e Lessin g , e m Hamburgo, qu estion a-
dram aturgo s ameri ca nos Eugene O'Neill, S. ca s para a platé ia" . A s peç as ev itava m o rea lis- de pa rte do s vá rios membros da companhia na ram o se nt ido e a forma do teat ro de sua épo-
N. Behrm an , Sidne y How ard, Ph ili p Barr y, mo que dominava o pa lco " sé rio" da Broadway c riação co le tiva . Em d iscutida s mo n tagens ca. Ma s é es pe c ia lm e n te a la rmante o d ia -
Percy M ucKayc e Thomas Wolfe. e , ironicament e encaravam a situação do ho- co mo Frankenstein e Paradise NOI \ ' (Paraíso gn óstico pe ssimista qu e desde os anos 50 vem
Eugen e O 'Neill . o primeiro criador teat ral me m moderno num m und o co mp lexo, qu e não Ag ora), os Beck davam gra nde ên fa se ao fat o sendo apresent ado com cre scente freq üência
estadunide nse de es tatura internac ional, per cor- se prestava a um a interpretação única ou sim- de qu e se u " tea tro livre" era inse pa ráv e l de sua sob os qu ais d ive rso s as pe ctos na es fera do pú -
re, dentro do co mpasso de suas própr ias obras, pl es. Muit as das peças - Try! Try! (Tente! Ten - orientação a na rquista e paci fi sta , e qu e consti- bli co, e m co ng ressos de teatr o, pelos resp on-
todas as fases do dra ma europeu conte mporâ - te l), de Fran k O ' Ha ra , Th e Heroes (Os Heró is). tu ía o re sulta do direto do esti lo de vida co m u- sávei s por subvençõ e s -tea tra is, por clu bes de
neo. Escre veu peças nat uralistas e simbol istas. de John Ash bury, e Th e Ba it (A Isca), de Jam es nitár io do gru po . freq üentadore s de te at ro , por críticos e drama-
peças de crítica soc ial e de psicologia profun- Menill- for am escritas e m ver so, mas sua sim- Enquanto o Living Theater p are cia ter se tu rgos. Arthur Miller declarou a certa altur a
da, peças româ ntico- realistas e expressioni stas. p lic ida de e objetiv idade est avam em ag udo d ispersado, o Op en Theater, um do s mais vi- qu e "o no sso te at ro , m edido pelos padr ões vi-
Seu desenvolvime nto e esco lha de temas são cont raste com o te at ro " poé tico" a utocons- go rosos g ru pos ex pe rime ntai s no s EUA_ tor- ge ntes . alcan çou a pa re nteme nte um insólu vel
sintomáticos em re laçã o a seus co ntem porâ - c ie nte de Maxwell Andersen . Talvez a ma is no u-se uma de suas ramificaçõe s m a is dura- fund o de poço". E no ca so não importa sabe r
neos e à ge ração seguinte de dramaturgos . inter essant e ten ha s id o Absa lom . de Lio nel dou ra s . Fo i fun dad o em 19 6 3 p or J o se ph se ele se refe riu apena s às condições america-
Assunto e amb iente são tirados da expe riên- Ab el. uma ada ptação e m pro sa da hist ória bí- C ha ikin , q ue in ic iou uma série de workshops nas o u à s ituação ge ral.
cia pessoal : um lar desp edaçado, empr ego ca- bli ca. na qu al o dramaturgo ten tava intr oduzir devotados a nov as experiênci as na forma. M ai s O teat ro de hoj e é tão secul arizado em sua s
sual, explora ção do ouro. navegação marítima, no palco am erican o o tip o de d ra ma filosófico uma ve z o resultado fin al nascia d a "c o labo- possibilidad e s form ais e tão uniforme em su as
atores ambu lantes. o sanatório, e, nesse ínterim . qu e havia sido popul ari zad o na Fr an ça por ração" e nt re o grupo e o autor. Ent re as ma is tend ê nc ias. q ue a agulha do baróm et ro ass ina-
teatro aplic ado no lVorkshojJ. Os Provincetown Sa rt re e Camus , conhe cidas pro duções do O pen Theatre de s- la em No va York o u L ondres. Paris ou Be rli m
Players, um do s teat ros experimenta is impor- O teat ro off-Broadway , imed ia ta mente tac a ram -se Viet Rock. de Me ga n T erry, e igua is ní vei s de a lta ou baixa. Hoj e o teat ro d o
tan tes desde 191 5. montou o drama de mari- po sterior ii guerra, esteve duran te mu ito tem - Amcrica Hu rrah (O Gr ito da A mér ica) e Th e mu ndo é verdade ira me nte um tea tro mund ial.
nheir os de O ' Ne ill , BOlllld East [or Cord ifT po preocupado com a rec riação dos cl ássicos. Scrpe nt (A S erpente) d e Jean- Cl aude van G raças ao s me ios de co munica ção de ma ssa,
(Rumo a Card iff): em 1921 . o Th eatre Guil d, tanto antigo s quanto mo de rno s. Es ta foi. em Itallie . ao rádio, ao ci ne ma e à televisão, ele tem uma
en tão co m doi s a nos de exi stênc ia. e nce nou ce rta medi da. a ve rdade d o Living Th eatcr, Na trad ição do Tea tro d o Ab s u rdo de platé ia qu ase ili m itada. No lim iar da era atô -
Beyond thr Horizon (Além do Horizon te) e deu formado pel os intrépi do s Judith Malina Beck lone sco e Bec ket t, c ump re c itar Th r Ameriran mica , apre senta- se co mo um fenômeno inter-
a O 'Ne ill se u prime iro sucesso na Broadway. e Ju lian Beck , q ue en cenavam seus prime iros Dreani (O Son ho A merica no ). d e E dwa rd nacional. É um s is mógrafo do estado po líti co
Trê s ano s depo is. The MooII of thr Ca ribbecs csp et áculos e m se u pró p rio aparta me nto. To- Albee, q ue es treou no York Pl ayh ouse. no off- e intelec tua l da hu man idade num momento d a
(A Lua do Cari be ), foi levada por Pisca tor no davia. as primeiras monragen s do grupo in- Bro adw ay de Nova York. Em sua peça. A lbee histór ia qu e. fi custa de desastres de vastado -
volks biihn» de Ber lim, bem co mo o drama c luía m iten s tão ex ot ic amente não com erciais. procede a um fr io diagnóstico e expos ição do res. nos ofer ec e nada mais do que um a paz
ex press ionista Th c Hair." Al' c (O Macaco Ca- co mo Doct o r Faustus L ig tu s tlu : Ligh ts (Dr. anicrican II 'ai' of life, da grotesca tri via lidade parc ial ilu sór ia e nt re novos focos de cri se.
belud o) e , logo depoi s. Desire und cr thc E/III.' Fau sto Acende as Lu ze s ). de G ertrude S tei n, e e ban a lidade do s ído los es tereotipa dos do ho- Exortado a se rvir de campo de teste pa ra
(Desejo sob os Olmos, ap resentad o no Brasi l M ali." L Ol 'C.l' (M u itos A more s) . de W illi am me m co m u m, o isolamento se m es pe ra nç a do uma nova ord e m , o teat ro acumula o entu lho .
co mo Desejo), fo ra m montados por Taírov no Ca rlos Williams. Por fi m , os Beck introdu zi- indi víd uo na es tufa da s ne uro se s. de um lado , e os e st re itos veio s de min é rio de
Moscow Kam ern y Th eat er. ra m em se u repertór io o bras e xperime ntais de O es for ço pa ra escapa r das restrições da ou tro , dia nte de um a vara de med ida c om as
O' Neill di sse uma vez que escrevia peças dram aturg os americanos joven s e des conh eci- Broadway levou ir fundação - sempre e fé mera mais co ntrad itó r ias esca las: lugar de diversão
a fim de to rna r claro o pedaço de verdade qu e dos. A mais not áve l dest as fo i TJI(' Conn cct ion -- de um gra nde nú mero de co m panh ias 01'1'- e ou agê nc ia de propagand a. ter ra prometida o u
lhe fora dudo a lcan çar. S ua obra explora a me- (O Co ntato) . de Jack Ge lber, um d rama em do is o ff-off-Broudway. Mer ece me nção es pec ia l o fóru m de de bate s, ete rno "com o se" de um a
lanco lia da vida pr ivada. a exposi çã o de suas aros e em forma ab erta q ue enfoca va aspe ctos Bread and PUppCI Th eatcr, um grupo de teatro real ida de m ais e levada ou tela de raio X de
mentiras. faze ndo um a aplicação do s e nsina- do vício nas drogas e do ja zz - produzindo o de ru a, po liticamente radical , di rigi do por Pcter uma realidad e mai s ba ixa , institu ição mo ra l no
mento s de Fre ud na revelação das casualida- efeito de u ma im provi sação bru tal - e Tltc Brig Sc h uman n. qu e uti lizou eleme ntos co mo ba- sentido de Sc h iller o u "r e flex ão ativa do ho -
des psicanalíticas. (A Prisão do Na vio ). de Kenneth Bro wn , uma ladas e parábol as terrifi cantes co lhid o s em mem sobre si mesmo" nas pal avras de Novalis,
Um do s mais interessantes teatros experi - recr iação ter rivel ment e reali s ta de um dia num mis tér ios medi evais e esp euicul os c irce nse s: e plataf orma de lan ç am ent o de disc ussõe s é ti-
mentais do pós-Segunda G uerra foi o Art ist» co mplexo presidi ário da Ma rin ha ameri cana. o La M am a Experi ment al T hea ter C luh, de cas, ideol ógi cas e filos óficas ou mu seu pa ra as
Theatre q ue, e m sua curta vida. entre 1953 e No início dos anos 60 , a pós a lgumas tem- ElIen S tewa rt, cuja influ ênc ia em técn ica s só clá ssicas estre las fix as. trilh a para o encontro
1956 . mo ntou de ze ssei s peça s o rig inai s de pestuosa s disco rd ânc ias co m o Se rv iço Inter- de inte rpret aç ão foi tão extensa qu e se refl e tiu do hom em co nsigo me sm o o u mostra sem ini -
hom en s q ue eram a princípio poe tas. Dando no de Ren di me ntos P úblicos ace rca de impos - nos g ru po s de teatro experi me nta l da Europa bição da s própria s emoçõe s... Tan tos SIOgllIIS,
determinudamen te as co stas ao lucro. o grup o tos não pa go s, o Li vin g Theatr e "exilou-se" e do Ja pão . tantos argu mentos sério s. sup erfi ciais, preser-
• 520 • 51 1
H i s t o ri a M uudial do T eu tt o • • /) 0 Ncu u ra íi s nt n (10 Pr t' .H ' 111 t '

vadores ou provocad ores'de um fenôme no qu e não ter pé ne m cabeça, e assi m o palco surge
de modo algum pode ser suficientem ent e liti- com o um espelho deformante a refletir uma
giosa . imagem que o públic o não está preparado para
A fra se de Ham let sobre o teatro co mo "a aceitar.
crôn ica ab strata e ab reviada do tempo" tal vez lo nesco d is se c e rta vez qu e o traço m ai s
nu nca tenh a sido mai s verdade ira do q ue hoje. cara cte rístico das pes soas de nossa época é que
A breve crónica da era atómica q ue ape nas elas perd eram " q u alq uer tipo de con sciência
começou está saturada de pro ble mas, de con- mais profunda de de s ti no" . O drama mostra ,
trovérsia social, sociológica, psico lógica e po- necessariamente , um q ua dro tra g ic ómi co da
lítica , de ilus ória au toconfiança de urna parte vida, numa época e m q ue nã o mais podem o s
e mal-e star e protesto, de o utra, da suave radia - evitar a q ue stão so b re "o que es ta mo s faze n-
ção dos hom en s de boa vo ntade e da tur bul e n- do na te rra e como podemos suportar o pe so
ta vigília do s qu e dir igem o mundo para uma esm agador d o mundo das coi sas" .
nova ca tástrofe. O Teatro do Ab surdo é um a co nseqü ên cia
O te atr o perma nec e cxat ament e no m eio l ógica dessa s con sider ações. Anu nc iava -o de
de tudo isso . A Alemanha, entre as ruínas da uma ma ne ira provoc ad ora e brutal, em 1895,
Segunda G rande G uerra , precisou co brir a de- o Vim Roi (Ubu Rei), de Jarry, e lon e sco e
ma nda re pr imida de uma dra maturgia interna - Bec kett o estabeleceram so lidame nte no pa l-
cio nal. Nos últ im os anos, con struiu mode rnos co da seg unda metade do séc ulo XX. A lbert .5I . Proj eto c m grav ura feito cm 1'-)5 6 pe lo arqu irctc d inumarq uê ... Jo ru Utzon par a o Teatro de Ópera de S yd ney.
palácios de vidro e co ncreto, qu e se pres tam a Ca mus definiu , e m Le Mvthe de Sisyphe (O Auxtrá liu .
propostas mú ltiplas. Em No va York , ed ifico u- Mito de Sísifo), 194 2, de que for ma a moder-
se o complexo do Linco ln Cent er, COIll o M e- na conscientiz açã o do abs urdo: " Um mundo A "men sagem " pro metid a e m Les Cha i- co mo também do c ine ma, A dedução do princí-
tropolita n Oper a e suas sa las de co nce rto e tea- qu e pod e se r exp lic ado , mesm o q ue com fu n- ses (A s Cadeir as), de Ion esco, é u ma far sa: um pio épico, por Bre cht, a partir do "cará te r ex -
tro . Em Lond res, um novo e grande ce ntro de damentos inadeq uad o s. é um mundo fa m ilia r. surdo -m udo apr esenta- se em ce na como o ora- positivo" do " a ntiq uíssimo teatro asi áucoé tão
arte emergiu na margem sul do T âmisa, co m Num uni ve rso , porém. que é repentin am ent e dor c he io de prom essas qu e a a nunc ia. uma pa- pertinente quanto. d igam os, a dec laraç ão de
um a ga leria de arte . três salas de concert o e despojado da s ilu sões e da luz da razã o, o ho- téti ca per son ificação de grot esco desa mparo . Ein sen stei n de q ue devia a idéia da mont agem
um Te atro Nacion al. A capi tal da A ustrá lia, mem sente-se um estran ho [...] Esta se paraçã o A s per son agen s de lo ne sco err am à der i- do fi lm e " prim eira mente e an tes de mais nada
Syd ne y, possui um imponente teatro de óp era do ho mem e de sua vida , do ato r e de sua ex - va n um m undo desco ne ctado , co n finados e m aos princípios básic os do circo e do mu sic hal l" ,
em forma de um grande barco a ve la. s ituado periên cia, é es te. pre ci samente, o sentido do se us medos, carica turas de si m esmos , palha- pe los quai s tinha pai xão desde a infâ ncia .
no porto , numa ponta da enseada. Seu projeto ab surdo" . ço s ma cabros de um " trágico es pe tác ulo de fan- O pr ime iro passo à fre nte em técn ic a ci-
foi idealizad o pelo arq uiteto dinamarqu ês Jorn Ionesco escreveu algo mu ito seme lhante toches" . lo nesco fa la do pro cesso criativo do nematouráfic u foi o da fant asia e do truq ue ,
Utzon. E le ganho u co m sua ou sada constru- e m 1957, nu m ensa io so bre Kafka t Ca hiers d ra m a turgo C0 l110 um "emp ree n d imento de alca nçad o por Georges Méli es ; o seg undo fo i
ção em con cha o prime iro prêm io em conc ur- de lo Conipag nic Mculcleine RCI/ O I/(I ... Jean- pe sq uisa" . Não pro mete de sco brir terra nov a . a fars a burl e sc a : o terce iro . o acti on ((J/.JI C{[ 1f
so público . Louis Barraultv: "Absurdo é al go qu e não te m Ao contrári o, o objetivo da va ng uarda dra má - (quadro v ivo). qu e se or igi nou no teat ro do
O te atro torn ou -se mais culin árioe ao me s- o bjetivo. Quando u m home m está des liga do tica deve se r red escobrir. não inve nta r. "as for - séc ulo X IX .
mo tem po mai s espartano do que nu nca , mai s de suas ra íze s reli g io sas, metafí sicas e trans- m as e ternas e OS ideais esq uec ido s do teatro Q ua ndo He nr y Irving mont ou R OII/l'lf e
inte lec tua l e s ubj e tivo , go sta d e po sa r de ce ndentais, e le se perde , tud o o qu e faz fica e m se u es tad o mais puro" . Juli eta em Londre s, em 188 2, tento u c riar uma
antiteatro . E le está tentando verificar a té onde se m se ntido . abs ur do . inú til, ce ifado e m se u " Prec isamos romper co m os c lic h és". co n- repro duç ão fot ográfi ca da ép oca e do lugar por
pode ir no qu est io nam ent o de sua própria va- g érmen" , mei o de c en ários e de quadros vivos . Tr in ta
tinua ele . "fugir do 't ra dicio nal ism o tacanho .
lidade . Con ta co m a possibilidade de se rv ir-se O qu e co nta é a realidade psicol ógica . () Preci samo s red escobrir a ún ica . ve rd ade ira e anos mais tar de, qu and o Loui s Mercanto n fil-
de todos os mecanismo s teatra is mod ern os con- palc o torna-se um e sp aço sem nen hum a refe- viva tradiçã o" . O Tea tro do A bs urdo é a COIII- mou Queen Elitabeth, trabalhou com ce n ári os
cebíveis ou de prova r, ao contrário. qu e não rência identific ável. o pesade lo visíve l da va- media dr llorte do niilism o , o g rand guignol e téc nicas te a trai s. Sara h Bernhardt não ape-
necessi ta de ab soluta me nte nenh um acessório cuidade . Um plan alt o desolado com um a últi- de um m undo de paradoxos. nas fi lmou a chamada para os apl au so s. como
cê nico. O tea tr o pode de ver seus impulsos a m a árvore nu a, di ante da q ua l Vladim ir e E s- esc reve Ni ch o las Vardac, "mas seu m er g ulho
um dramatu rgo, a uni diret or, a um adm inis- tragon , numa auto -suges tão sem sent ido , es - fina l em um a pil ha de travessei ro s dia nte da
trador. a um ó rgão que o sub venc ione o u a uma peram Godo t; um des e rt o de are ia no q ua l c âmc ra , no clímax da ce na da morte. pa rec ia
companh ia co merci al. Winnie va i afundando mais e mai s pro funda- o T E AT RO E OS M EI O S D E
mai s co média burl esca do q ue drama" .
Ma s, quand o o púb lico fala de um a crise ment e ; duas lat as de lixo ond e Nag g e Ne li CO I\I U NI C AÇ ÃO DE M A S S A O de safio o fe recido por Qu ecn Eli zab cth
no tea tro . ele o faz não tanto co m referên cia a co nso me m -s e na e xpec tativa do mise rá ve l fi- e pel as produções itali anas de G . Pa st ron c foi
co ndições externa s. como ii suhstância da re- nai do Endgan u: (F im d e Jogo) - este e o mun - acei to por D . W. Griffith . Judi th of Bcthulia
A "redescobert a" , so b o ut ro s signo s. tor-
presen tação teatral. O drama modern o parece do cén ico do A bs ur do de Sa m uel I3eck ett . baseou- se no espetáculo hom ónimo de T. B .
no u-se carac terística do teatro do século XX.
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História Allflulio! do Te otro »

Aldrich, na época um sucesso de palco. Mas possível uma transição fluida entre as cenas
foi com lntolerance e The Birth 01 a Nation de interiores e as de rua. Esse tipo de cenário
(O Nascimento de Uma Nação) que Griffith era, no entender de Mielzincr, o mais fasci-
pôs fim aos dias do "poeira". Nesse ponto, foi nante de todos. Por seu intermédio as idéias
preciso construir grandes cinemas ou tomar de Appia e Craig, que chegado aos EUA por
posse dos teatros para a exibição de novos fil- intermédio de Robert Edmond Jones, voltavam
mes. para a Europa com formas novas e diferencia-
René Clair rejeitou qualquer aproximação das graças ao cinema. Sua infl uência mais di-
entre os irmãos díspares - teatro e cinema. reta pode ser encontrada, talvez, nos cenários
Reivindicou para a tela o privilégio de trans- feitos no início dos anos 50, por Wo1fgang
gredir o dogma do realismo - mais ou menos Znamenacek.p.ara o Kammerspiele de Muni-
como Robert Wiene fez em O Gabinete do que, como, por exemplo o de Die Ehe des
Doutor Caligari (1919) - e de configurar uma Herrn Mississippi (O Casamento do Senhor
"verdade subjetiva". René Clair argumentava Mississippi) de Dürremnatt, ou, a partir da dé-
que teatro e cinema são governados por leis cada de 60, no cenógrafo tcheco Josef
artísticas completamente diferentes e precisam Svoboda. Para uma montagem do Édipo Rei,
ser claramente separados. E ainda em 1950, de Sófocles, no Teatro Nacional de Praga, em
ele declarava consistentemente: "Não compar- 1963, Svoboda construiu uma escada de qua-
tilho da opinião daqueles que sempre encara- se dez metros de largura com degraus semi-
ram o cinema como um mero instrumento para transparentes, que se erguia do fosso da or-
a expansão das peças teatrais". Ele tinha uma questra até o urdimento do teatro. A música
fórmula simples para uma distinção básica das era ouvida através de perfurações na escada.
duas categorias: "No teatro, a palavra conduz Outro tipo de convergência entre as técni-
a ação, enquanto a óptica possui importãncia cas artísticas do teatro e do cinema surgiu com
secundária. No cinema, o primado cabe à ima- o palco miniatura, que se tornou popular na
gem, e a parte falada e sonora aparece em se- Europa após 1945 sob várias denominações,
gundo lugar. Fico tentado a dizer que um cego como teatro "intimista" ou "de cârnera". Numa
não perderia dinheiro indo ao teatro, e um sur- sala pequena e sobre um palco nu, os atores
do, ao cinema". encaravam a platéia quase tão diretamente
Não obstante, elementos e possibilidades quanto a câmera e o microfone do estúdio.
do filme exerceram, por sua vez, influência Qualquer excesso de voz, gesto ou mímica era
artística estimulante sobre a moderna cenogra- captado pelo espectador, sentado bem próxi-
fia teatral. Quando, em 1949, Jo Mielziner mo, como que por lentes fotográficas - sem,
desenhou o cenário da montagem nova- entretanto, possibilidade de correção.
iorquina de ii Morte de 1IIJ1 Caixriro viajante Enquanto no teatro com cenário a distân-
(dirigida por Elia Kazan), dispôs em cena o cia, no peep-show ou na arena, o ator tem de
esqueleto de uma casa, de uma só família, aper- prender a atenção do espectador de uma dis-
tada entre arranha-céus, mas mostrada no meio tância de 20 m ou 30 m e introduzi -lo no espa-
de árvores banhadas pelo sol nas ações re- ço vivencial dramático, no teatro de câmera
trospectivas em flashback. Um leve véu de mus- acontece o oposto: destaca-se a emoção, a sim-
selina com fileiras de transparentes janelas pin- plicidade e, se tanto, atenua-se a empostação
tadas dava a impressão de melancólicas facha- do texto; o ator não usará maquiagem, e a in-
das; uma projeção verde-amarela de folhagem terpretação será intensiva, em vez de de ex-
transformava o mesmo quadro - depois de apa- tensiva. Esta é a origem da economia de mei-
gadas as luzes de fundo e da supressão do am- os, baseada na constante consciência do c/ose.
biente das casas numa atmosfera de radiante Quando essa técnica de interpretação é trans-
primavera. ferida para a distância do cenário comum, em
Para UIII Bonde Clianiado Desejo, de forma de peep-show, a audição pode, às ve-
Tcnncssee Williams, dirigida em 1947 por Elia zes, ser prejudicada.
Kazan, Mielziner usou paredes transparentes O apogeu do teatro de cârnera contempo- 52. Neli c Nagg cm suas latas de lixo. 1."111 Fun til' jogo. de Samuel Bcckcu, que estreou cm _~ de abril de 1957 no Royal
que. com a ajuda de luz e sombras, tornavam râneo deu-se na metade do século XX. A farsa Court Thcatrc de Londres. Direção: RogL'r Hlin ; ('lu I";-;jllgos como Neli e G Adct COIllO Nagg.

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Hístori ci M'u n d i n I do Tcu t ro • Do Nu t uraíisnto (10 Presente

Le Désir Attrapé par la Qucue (O Desejo Pego A tecnologia atual permite pelo menos que um Nada disso elimina o fato de que o teatro e antiteatro. Raymond Queneau foi ao extremo
pelo Rabo) de Picasso, foi encenada pela pri- grande número de cópias de qualquer filme o cinema baseiam-se em pressupostos artísti- do nonsensc espirituoso com seus Exercicios
meira vez durante a Segunda Guerra Mundial, sejam feitas antes que ele se estrague, permi- cos completamente diferentes. O teatro filma- de Estilo, um malabarismo parodístico com a
em 1944, pelo pequeno círculo em torno de tindo, assim, guardar testemunhos documen- do é mais convincente quando a fita se mantém linguagem. Seu romance Zazic dans le Metro
Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Foi tais tanto de seus primeiros tempos quanto dos fiel a sua própria lei, que é o enunciado óptico, atingiu o grande público graças ao cinema: seus
uma conspirativa sessão privada, da qual par- acontecimentos teatrais. Na verdade, um es- a expressão visual. Com o aparecimento da te- exercícios estilísticos foram interpretados em
ticiparam os literati importantes de Paris, num petáculo teatral filmado é um "híbrido", a meio levisão como um novo veículo de comunica- pantomima pela primeira vez, em 1948, por
apartamento em Saint-Germain-des-Prés - um caminho entre teatro e cinema, mas, no míni- ção de massa, acentuaram-se as antinomias. Yves Robert, e, em 1966 e 1967 viajaram pe-
happening ; uma brincadeira de atelier, na tra- mo, pode ser, desta maneira, repetido e trans- Centenas de cinemas de bairro tiveram de fe- los teatros da Alemanha e da Suíça como o
dição dada, surrealista e do Cabaret Voltaire. portado. Abre espaço para comparações, que char suas portas, mas dificilmente um único tea- petisco predileto dos gourmets da lingüística.
Camus e Queneau estavam entre os partici- podem ser fascinantes e instrutivas mesmo tro foi afetado. O teatro, talvez por causa da sua René de Obaldia levou a cândida perfeição da
pantes. quando a deterioração começa a se tornar vi- função social, mantém o seu terreno, apesar da banalidade para além da trilha do absurdo. O
Na Alemanha, o primeiro teatro de câmera sível. Um exemplo é o filme para a televisão televisão. A TV transmite trechos de estréias simplório agora fala com ironia: "'O acidental
foi organizado em 1947 por Helmuth Gmelin, da montagem milanesa de Giorgio Strehler de teatrais e até mesmo festivais inteiros ou espe- tomou-se permanente", diz Zephryn, na farsa
no piso superior de sua casa em Hamburgo: Arlecchino Servitorc di D1Ie Padroni, com táculos de ópera. Diretores teatrais encenam Le Cosmonaute Agricole (O Casamento Agrí-
logo em seguida, transferiu-se para um edifí- Marcello Moretti. Quando Ferruccio Soleri shows de tevê. Dramaturgos escrevem para pro- cola), de Obaldia.
cio neoclássico, onde, entre outras obras, passou a desempenhar o papel, a mudança foi gramas de rádio e de televisão e transformam Na Scéne à Quatre (Cena em Quatro), de
Günther Rennert. da Ópera de Hamburgo, en- quase imperceptível, mas, conforme a tela peças breves para rádio e TV em obras mais lonesco, somos informados de que as pessoas
cenou Esperando Godot. Berlim, Frankfurt mostra, existem em sua interpretação nuances extensas para o teatro. Max Frisch ampliou seu "falam para não dizer nada". Peter Handke,
(sob a direção de Fritz Rémond), Wiesbaden, marcadamente diversas da de seu professor e Biedermann und die Brandstifter (O Homem em suas Sprechstiicken e em Kaspar (1968),
Düsseldorf e Colônia o seguiram com teatros predecessor. Honrado e os Incendiários) e Martin Walser tenta usar o frágil veículo da linguagem com o
de câmera: Munique, em 1949, com um tea- O Hamlet de sir Laurence Olivier foi fil- acrescentou um segundo ato aDie Zimniers- objetivo oposto: tornar o homem consciente
tro-estúdio no Schwabing, o bairro dos artis- mado em 1948 como um registro de uma im- chlacht (A Batalha de Almofadas), por suges- de si mesmo. Quando Kaspar Hauser, o miste-
tas. Luigi Malipiero estabeleceu-se no torreão pressionante seqüência de cenas teatrais dian- tão de Fritz K011ner. "O tema da peça me pare- rioso enjeitado de Nuremberg, diz: "Lch
de Sommerhausen. um povoado da Francônia. te de sets móveis, e este acordo entre o palco e cia um pouco privado demais", Walser admitiu mochr'ein solcher werden, wie cinnial ein
Em 1953, foram inauguradas em Milão duas a tela foi premiado com quatro Oscars e com o numa explicação a respeito ele seu desvio em anderer ge\l'esell ist" C'Quiscra me tornar al-
versões em miniatura do space sta g« - o Leão de Ouro em Veneza. O mesmo aconte- direção aos meios de comunicação de massa. guém como ninguém nunca foi antes"), a fra-
Teatrangolo, organizado pelo professor de li- ceu com a montagem do Fausto em Hambur- "Pensei que o teatro deveria dedicar-se em pri- se se converte numa tortura lingüística, no exer-
teratura Francesco Prandini em sua própria sala go, com Gusraf Grúndgens como Mefisto e meiro lugar às questões políticas." cício beat de um eco que vem e vai.
de jantar, e logo em seguida no Teatro Will Quadflieg como Fausto. Na versão filma- Em 1967, Martin Walser atacou o teatro Nesse ponto Handke - ou seus encenadores
Sant'Erasmo. O esforço de converter a neces- da, a câmera se colocou tão perto dos rostos como um "balneário de almas". Em seu en- - encontra-se com o happeuing inventado pelos
sidade numa virtude artística triunfou em mui- elos atores que o que se justificava para a dis- saio, ele escreve: músicos e pintores. "'O meio é a mensagem",
tos casos. En1 inúmeras cidades universit.uias tância do teatro surgiu COITI U1l1 grosseiro proclama o canadense Marshall McLuhan. Des-
existem até hoje teatros de câmera ativos: eles embrutecimento. Para a posteridade, porém, o Se olhamos para a\ açúcs tcauui- do teatro lcguuuo. de 1958, o estúdio de pintura de AI Hansen e as
desenvolveram um estilo próprio e mantêm- isto é. a soma de todas as chumaturgias tradicionais c a-
filme Fausto é de valor tão inestimável quan- aulas de música de John Cage na New School
tuais. ventos que o resultado é uütn -cqüêuciu ritual de
se a meio caminho entre o palco e o cinema. to, digamos, a filmagem do Don Giovanni, for Social Research em Nova York converteram
eventos, que é. se ncccvsrtno. recarregada C' atualizadn com
Jerzy Grotowski diz: dirigido em Salzburgo por Wilhelm Furtwãn- funções conciliadoras de imitação e assim se oferece u um o happenitig num evento antiteatral. Seu lema é
gler em 1950, no velho Festspielhaus, ou a público de h;í muito especializado. Como podemo." rom- "um vôo para dentro da realidade", em vez do
Há apCll<l.., um cfcmcruo que o cincru.r l' a tclcvisáo versão para o cinema, feita por Palitzsch e per essa rotina? Seria possível comes'ar como o jovem dra-
convencional vôo a partir da realidade. Cooíjar-,
não podem roubar do teatro a intimidade do tlrg;lllisllHl maturgo nlcmâo Handke (nascido cm 1943), com PII"
Wekwerth, da encenação modelar do Berliner latas de tinta derramada, ritmos frenéticos, ruí-
vivo. Por causa eh-c-o. cad.r desafio para o utor. cada Hill hlikllllls!Jeschillll}!Ú/lg (Insultos i:I Platéia) e ,',dhsthc::,i-
Ensemble, de M1I1Ier Courage, no Theater am Chrigllllp, rAuto-Acusuçüoi. Mas cabe c-.;perar que se possa dos de fundo, trapos e pedaços de papel de em-
dos xcux aro-, l1lú~ic()." (que a platéia é incapaz de rcpro
du/irl tornu-:,c ;lIgUIlLI coi",\ de grande, de cxtraordiu.i- Schiffbauerdanuu, 1960. continuar representando algo que contenha ução. brulho são os ingredientes do happening, e seu
rir). algulll:l coi..,a próxima do êxtase. É portanto ncccss.i- O filme japonês sobre os samurais, resultado é uma colagem de charadas, cópias per-
rio abolir a dist:1I1eia entre () utor c ,-l platéia. climinando Rashomon, de Akira Kurosawa, é sem dúvida O protesto contra o teatro culto conduz, vertidas em forma de espantalho da moderna
n palco. rctunvcndo rodu-, a" fronteiras. Deixar que '-IS
incomparavelmente mais impressionante do por um lado, às acima mencionadas Sprechstii- sociedade de consumo e do mundo crsat; em
cenas mai-, dr;í"tiL':\" ocorr.un face a face com o expec-ta-
dor. para lIue .u.-.im ele e"teja ~l mão elo atol'. POSS;l percl'- que a história em quatro versões imitada em cken (peças de discurso) de Pctcr Handkc, ou, estilo da arte pop e op.
bcr sua l'L,,,pira\';ln L' -cuur -.;ua rr,lIhpiraçilll [...,.,,() implll:a alguns teatros alemães. e. graças à montagem por outro, à direção oposta - às ações cruas, à "Queremos ultrajar o público, obrigá-lo
;1 uccc-c.idadc de 1I111 teatro (lê càmcru. de Peter Brook, o Marat/Sadc de Peter Weiss combinação de ação e ruído com o fito de cho- por meio do choque a uma participação dire-
teve na tela uma sugcstiva força de impacto car: o happcning, ta", declarou Jean Jacques Lebel, que organi-
Os pioneiros do cinema lamentavam sun que dificilmente se alcançaria em qualquer lonesco já havia descrito La Canuuricc zou uma semana de happcuings no Centro
efemeridade. a escassa duração de SCll material. palco. Chauve (A Cantora Careca) como antipeça e Americano de Artes de Paris, em 1964. Seus
• 516
• nu Nututuli s m o {/(I Prcs cn t c

, companheiros de arma alemães. por exemplo maiores consumidoras do teatro de repertório.


j os pioneiros do 1IlII'IJC1ÚIlg dcscart.ivel de Ulm, Os teatros alemães subsidiados pelos municí-

j em 1966. proclamaram que iriam "vencer a


banalidade" desconectando e alienando pro-
cessos concretos de seu contexto normal. Os
pios ou pelo Estado devem hoje algo entre vinte
e quarenta por cento de seus rendimentos a um
público filiado à Volksbühne e à Theatcrge-

,~ dadaístas vêem a mente como precursores re-


lativamente inofensivos. e a estetiznçào, por
meindc,
O sistema ele assinaturas e o aluguel de
Marinctti. das barragens de artilharia e das ex- camarotes ou lugares para a orquestra remon-
,
• plosões. oferece um paralelismo discordante . tam aos primeiros dias das óperas ele Veneza e
j A tabula UlS" que Lebel exige como ponto de aos tempos dos teatros municipais e da corte.

i partida para um novo "teatro" encontra uma


resposta vívida. mas efêmera. em Barcelona.
Em muitos países europeus. a venda de ingres-
sos para a temporada é ainda a única negocia-

i Amsterdã. Belgrado e na Escandinávia.


Entre os músicos, Karlheinz Stockhausen,
ção entre os teatros e o público. A primeira
associação teatral a ser fundada na Alemanha

ld ~.,----,-----, ._ .... _-- .. _-, ------------_. _.-


53, Projeto de cenário de Jo Miclziner para a montagem de Elia Kazan de A Morte di' 11111 Caixeiro \liajall!c, de Arthur
John Cage e Maurício Kagel tentaram domi-
nar os paradoxos da era do medo por meio de
música espacial. concertos para latas cLígua.
manipulações aleatórias e em cenas mudas de
foi a Freie Volksbühne, criada em 1890 (que
não deve ser confundida com a naturalista Freie
Bühne, sociedade para a produção de novas
peças). Uma ramificação dela, a Neue Freie
Miller, que estreou em 1 de fevereiro de 1949 no Moroscn Thentre. Nova York. pcr.uubulaçao com uma bengala obbligato. Volksbiihne. estabeleceu-se em 1914 num tea-
O pintor Max Ernst. um dos fundadores tro próprio, o The ater am Bülowplatz em
do daclaísmo em 1919, não dava o menor crédi- Berlim e. por meio ele um convênio, admitia
to ;L destruição de formas segundo a maneira também os membros da organização matriz.
antiga. Ele diz ccticarnenre: "Dada foi uma bom- Em 1920. reuniram-se numa sociedade con-
ba. Seria possível que, meio século depois de junta. a Volksbühnc, il qual cm 1926 se aliou
sua explosão. alguém se incomodasse em pro- uma outra empresa independente, o Theater
curar seus estilhaços e grudá-los novamente?" am Schiffbauerdanuu (hoje o Berliner En-
Quem trcqücnta o teatro. em c.u.itcr pri- semble )
vado é livre para decidir, caso a caso. até onde Para completar. constituiu-se em 1919 a
deseja ser envolvido na problemática do "tea- Bühncvolksbund, com o propósito explícito de
tro". Os admini str.ulorcs dos clubes e organi- promover uma compreensão de todos os cam-
zaçi")L'S de Ireqücntadore-, preocupam-se L'UIll pos de "ida artística entre todas as classes da
u que podem ()!'L'rcccr c rccornend.u ;\ xeu-; populaç.i«, npoiundo-sc 1l11111'-l hase religiosa
membros, ou.viu ultimo C~\SO. esperarqlll' eles crist:1. As dll~IS ~Issoci~\\-'l->Cs chq;"lralll íl sucum-
suportem. Padrocs. tidos originalillt'llll' corno bir após IlJ33. Voltaram a ressurgir em 1949
evidentes por si me-ruo. convertem-se L'I11 te na Verband der Dcutschen Volksbühncnvcre ine
Illas de- confcrcncin-. tais como: "Existe 1I111 (Liga das Comunidades Teatrais Alemàs) e na
teatro cristão')" ou "O teatro deve ser um r()rUlll Bund der Theutcrgcmunden tl.iga dos Teatros
da época ou Ulll lugar da atemporal i.l.rde?" ..\ lem,ks I. fundada cm 195 I para suceder a
Hanns Braun. crítico teatral de Munique. cxa- Biihnenvolksbund. Orgunizaçoe» similares de
minou em !lJ5h <I situuçào do teatro e do dra- freqücuuulores de teatros existem também na
ma <I partir do ponto de vista de que '1I11hos Áustria e na Suiça.
chegariam ao fim quando. além da inccrrez«
sohre seu significado e seu propósito, L'hcgas-
sem <I perder Sll<l forma. "Neste est.idio. o tea- o TE . \TRO DO DIRETOR
tro do diretor .nuonomo j<i lião defende slla
sllbst;~Ll1ci~1 dr.uu.itica". escreveu, "ek SL' ncu- No início dos .mo-, 60, seis 1l1onlagl'lls
tralizou a si mesmo: a novidade de' lima cncc- diferentes do Tanuio de Molicre eslaV<II11 em
n<l~"\(l parece' nlais nnportantc do que qualquer cartaz em Paris. em seis diferentes teatros,
outra C()l~a durante <I mexmn tcnlporada. Os críticos vi-
54. Cenário de wolfgang Znamcnacck para a cnccnaçao de Hans Schwcikart de () Casamento do Senhor Mi.\sissi/'{Ji. Nus últimos cinquenta anos. as ()r~alliz<l­ ram-se diante da Ill'ccssidadc de especializar-
de Fricdrich Dürrcnmatt, cuja estréia alemã se deu no K;1I11111t..'rspiek de Munique cm 2ú de m;\I\'O de 1952 ~'iíes dL' frêqúent<ldores de teatro 10111 sido <IS se em "análise cump.uativa dc direção teatral".
Hí s t oriu M'u n d iu l do Fc ctt ro •

Essa tarefa volta agora a competir-lhe amiúde, O grande aristocrata do teatro inglês, sir
não apenas no caso dos clássicos, mas também Laurence Olivier, que em 1962 assumiu a di-
no de obras novas. Die Ennittlung (A Investi- reção artística do National Theatre de Londres
gação), de Peter Weiss, estreou simultanea- (o novo Old Vic), promoveu um estilo de cons-
mente em dezesseis teatros em 19 de outubro cienciosa dicção culta, sutil de naturalidade e
de 1965 e, no final de janeiro de 1968, Biogra- de intensa replasmação, mesmo no mais míni-
fia, de Max Frisch, foi encenada mais ou menos mo papel. Em 1966, ele encenou no National
ao mesmo tempo em quatro cidades. Theatre JWIO e o Pavão Real, drama de Sean
A questão de COl7l0 eclipsa a de o quê. A O'Casey sobre a guerra civil irlandesa, e o fez
interpretação dos clássicos é a pedra de toque, sem qualquer aparato externo - como uma
hoje, em todos os países que possuem uma tra- advertência de que o nacionalismo fanático e
dição importante em teatro. Quando Roger fraseologias de segunda classe não podem exi-
Planchon, diretor do Théâtre de la Cité, em gir um sacrifício cruel e sem sentido da vida.
Villeurbanne, perto de Lyon, se propôs a mon- Em suas grandes interpretações de per-
tar o Tartufo de Moliêre, constatou que dois sonagens de Shakespeare, Olivier gostava de
expressivos intérpretes haviam concebido a peça atuar sob a direção de Peter Brook, cerca de
de dois pontos de vista totalmente opostos: vinte anos mais jovem. Em Stratford-on-Avon, 55. A clássica Noite de Walpurgis. na segunda parte do Fausto: cenografia de Teo Otto para a montagem de Gustav
Coquelin utilizou a obra para atacar a religião, trabalhou também com Peter Hall. O Archie Gründgens no Schauspiclhaus, Hamburgo. 1958.
Fernand Ledoux, para defendê-la. Na termino- Rice de Olivier, em The Entertainer, de John
logia de Stanislávsk.i, poder-se-ia dizer: "Tudo Osborne, montada em 1957 em Londres e em
depende do superobjetivo que se atribui à obra". 1958 em Nova York, assim como o Bérenger
É tarefa do diretor distribuir o peso. O ce- de Rhinocerôs (O Rinoceronte), de lonesco,
nário cria para isto uma atmosfera, que pode no Royal Court Theatre em 1960, foram mo-
ser tão reflexiva e internamente refratada quan- mentos luminosos da interpretação dramática
to a encenação pode ser. Quando, em 1967, KUI1 contemporânea. Neste teatro, o mais impor-
Hübner montou Macbeth em Bremen, Wilfried tante palco experimental de Londres, Roger
Minks preparou-lhe um palco revestido da cor Blin montou Endgame (Fim de Jogo) de
marrom enferrujada, Um cenário superior trans- Beckett, em 1957. Ele mesmo interpretou o
versal horizontal foi equipado com uma linha Hamm, com um lenço sobre o rosto, sentado
de tubos de néon coloridos , e o ciclorama tinha em uma poltrona, como os dignitários sem face
um brilho avermelhado. Fora os painéis de ma- do pintor inglês Francis Bacon,
deira escura que se deslocavam ao fundo, o meio O filósofo Edmund Husserl fala em seus
para transformar a cena era a mudança de luz. escritos fenomenológicos da "evidência intui-
As idéias de Craig continuam a estar em voga, tiva" e da necessidade de "preservar toda a
e as dos Meiningers, bem distantes. escala completa de variações". Seus termos
Foi, entretanto, apoiando-se nos Meiningers poderiam ter sido cunhados especialmente para
que Stanislávski, em sua época, procedeu às as concepções cênicas do século XX. Ques-
primeiras reflexões sobre o "despotismo do tões de estilo são hoje não mais condiciona-
diretor", O que tinha em mente era o proble- das pela época, mas pelo indivíduo: ficam à
ma da disciplina do atol', mais do que o discrição pessoal do diretor, Karl Heinz Stroux
subjetivismo na encenação. No caso de Max em Düsseldorf; Boleslaw Barlog em Berlim;
Reinhardt, seu temperamento pessoal determi- Oscar Fritz Schuh em Colônia, Hamburgo e
nava o estilo de direção e cenário. Leopold no Festival de Salzburgo; Gustav R. Sellner
Jessner introduziu a redução criativa dos re- em Darmstadt e Berlim; Heinz Hilpert cm
cursos externos, Erwin Piscator iniciou a dire- Gôttingen - todos, enquanto produtores c di-
ção "contra a obra". Jürgen Fehling e Fritz retores, devotaram-se, em todo o seu âmbito,
Kortner eliminaram a concepção pessoal do à necessidade de recuperação, após 1945, do
ato r para retrabalhá-lo a partir do zero, de acor- agressivo drama moderno e dos clássicos in-
do com sua própria visão. Gustaf Gründgcns ternacionais. Cenógrafos como Caspar Neher,
56. Estréia cm Berlim de Di c Ernuttlung (A Invcsuaação I. de Petcr Weiss. Freie Volksbühne. 19 de outubro de 196.5.
trouxe a paixão fria c límpida de seu intelecto Wolfgang Znamenacek, Helmut Jlirgens, Direção: Erwin Piscator: música: Luigi Nono; cenário: l l. U. Schmücklc. À esquerda, o acusadot à direita, o udvnpudo: 21
para a plasrnaçao de seus papéis c cncenaçôcs. Rochus Gliese. Teo Otto e Emil Preetorius cui- frente, Hilde Mikulicz como a quinta testemunha c Martin Bcrliner como a oitava testemunha .

• 530
• 0 0 Naturolíuno lIO Pre .fj(·III C

daram da "escala co mpleta de variações" nos more Theatre, Nova York), qu anto por sua ver-
cenários . Tran sparên cia cinematográfica dos são para o cine ma, co m Marl on Brand o e
elementos do d écor e na fria estilização e Vivien Leigh - e, na Suéc ia, Ingm ar Bergman.
irrealidade imagin ativa no aspecto visual con- Enquanto Kazan filmava Sindicato de Ladrões,
tribuíram muit o para o estilo de encenação. Bergman criava o sombrio e melan cólico Noi-
Durante muit os anos, Jean Vilar foi a favor tes de Circo . Após O sucess o de sua montagem
de um palco nu e revestido de preto, que po- da ópera de Stravinski The Rake 's Progress (O
voava com um elenco vestido de trajes colori- Progresso do Farrista), na Ópera Real de Esto-
dos, cativante pela perfeição gestual e declama- colmo em 1961, Bergman esboçou planos para
tória. Ele inaugurou o Théâtre National Popu- um teatro de repertório sueco, de status inter-
laire em 1951, no Paliais de Chaillot, diante da nacional, que não deram em nada . A magia ou
Torre Eiffel em Paris, com dois papéis centrais as chances do cinem a foram mais fortes.
para Gérard Philipe: o Cid de Corneille e O Jan Grossman, do Balustrade Theatr e de
Príncipe de Homburgo de Kleist. Com o Festi- Praga, desenvolveu um a form a individual de
val d' Ar! Dramatique de Avignon, Vilar tentou, estilização que se mostrou alta mente sugesti-
como faria mais tarde Roger Planchon, em va nas montagens de Ubu Roi de Jarry e de O
Lyon, renovar o teatro francês levado nas pro- Processo de Kafka. O diret or polonês Tadeusz
víncias. Em 1967, encarregou-se, por iniciativa Kantor fez profissão de fé no "c irco como a
de André Malraux, de realizar uma reforma ra- base elementar", co m sua encenação alemã de
dicaI nas casas de ópera estatais de Paris. D erSchrank(OArmário), de S.l. Witkiewicz,
Como dir et or de teatro e de cinema, em 1966 - ba se ada no original W malym
Luchino Visconti , às vezes em colaboração dworku (Numa Pequ ena Casa de Campo).
com Roberto Rossellini , é visto na Itália como Em Moscou, Ruben Sim onov continuou
57. Alise en scêne de On o Schcnk do Macbeth de Verdi. co m Anja S ilja. Nanona hheatcr, Mun ique. 1967. Ce nário
técnico estilizado de Rudolf Heinrich. o fundad or do neo-realismo. Conseguiu que a tradição de seu mestre Vakh tângov. Reviveu
Salvador Dalí trabalhasse para uma produ ção s ua última montagem , a fa mo sa Pr in ces a
de Shakespeare e m Roma , produziu óperas de Turan dot, recebend o por ela aplausos unãni-
Bellini e Ver di no La Sc ala de Mil ão, e m mes nos festivais de Viena e Zurique em 1968.
Spoleto , em Paris e em Berlim. Sua mont a- Mas a devoção fiel a uma concepção tea-
gem do Fal st aff e m Vien a fo i regida por tral particul ar du rante décadas, co mo por e-
Leonard Bern stein ; a de O Cava leiro da Rosa , xemplo no caso do Jedermann de Salzburgo,
por Geor g So lti, em Londr es. Engajamento é hoje um isolado pólo opo sto em face dos
social, obsessão objetiva e fria, e paixão pelo esforços de inovação e subj etivaç ão do teatro
elementar são car acterísticas também dos fil- moderno.
mes de Visconti , como seus títulos já indicam: Qual pode e deve ser a tarefa do diretor?
Ossession e (Obsessão) (1943) e La Terra Tre- A primeira resposta que vem à mente é a tra-
ma (A Terra Trem e) (194 8). dicional: servir à obra. A segunda é levar a obra
Seu compatriota Franco Zeffirelli ganhou adiante, prolongand o o trabalho do autor. A
o primeiro prêmi o na temporada de 1965, do terceira, desafiar a obra. As front eiras se des-
Théatre des Nations, em Paris, com sua monta- vanecem. Aparentemente , apen as servir à peça,
gem de Romeu e Julieta ensaiada pelo elenco explorar suas possib ilidades e expor sem reto-
do teatro de Florença. Um ano antes, Zeffirelli ques o seu núcleo pode, em tempos conturba-
dera prova de sua versatilidade artística ence - dos, realment e equi valer a um desafio. Duran -
nando a ob ra de Albee, Quem Tem Medo de te a Segunda Guerr a Mundial, de 1939 a 1945,
Vuginia Woolf?, em Veneza, e a Tosca na Ópera o Schauspielhaus de Zurique perm aneceu no
de Paris, com Maria Callas no papel-título. co ntinente com o a última ilha do teatro cos-
Doi s dire tores hoje internacionalmente mopolita e livre de língua alem ã. Sob a dire-
conhecidos começaram no teatro, vindo depoi s ção de Oskar Walt erlin , Le onard Steckel e
a dedicar-se pred ominantemente ao cinema : Leop old Lindtberg, abriu suas portas a obras
nos EUA, Elia Kazan - responsável tanto pela modernas que não haviam encontrado acesso
primeira montagem de Um BOI/de Chamado ao palco em nenhum outro lugar da Europa.
5&. Projeto de ce nário de Cas pcr Nebcr para Corío íano, de Shake spea re , 1925. Desej o de Tenn essee Williams (1947, BaITY- Foi aqui que tiveram lugar as primeiras apre-

· 53J
lI i . .rá r í a M un d ia l d o T r at ro •

se nta ções d e O So ldado Tanaka , de Geo rg A seg unda po ssibilidade de dire ção c ria-
Kaiser (1940), de Mãe Coragem (19~ I ) e ri tiva, a de co ntinua r o trab alh o do autor, pode,
Alma Boa de Setzuan ( 1943) , de Brccht . A em ca sos afortunad os, levar a res ultados bas-
ada ptação do romance The Moon is Down (A tante satisfatórios . Quando Jean -Loui s Barrault
Lua se Pôs) . de John Steinbe ck , estreou e m preparava, em 194 2, a m ont agem de A Sapati -
língua ale mã em Basiléia, em 1943. As repre- lha de Ce tim. d e C la ude l, co m a Com édie
sentações no Stadttheater desta cidade tiveram Fran çaise, em Paris, manteve- se em co nstante
continuamente casa lotada . contato com o aut or. Su a idéi a original, apro-
Na Suíça, a ob ra de Steinbeck fo i co m - vada por Cl audel, de dividir a en orm e peça em
pre endida co mo uma co ntribuição para a de- du as noite s foi re j eit ad a pel o co m itê da
fesa es piritua l do própri o paí s. Oskar Wal- Com édie Fran çai se . A ún ica co isa a fazer er a
terlin . qu e e m geral dificilmente se interes- co rtar, cortar, co rtar... com result antes quebras
sava por uma peça oste nsivame nte polític a, no texto e no sign ifica do . O próprio Cl audel
esco lheu uniformes imaginári os de cor cá - co mpareceu aos e ns a ios . Barr ault prop ôs mu-
qu i e deu ê nfas e às " pessoas atuantes co mo danças e co nto u c o m q ue fer vor C laude l as
ferr amentas da s potências por trás del as" na acolheu :
luta em que " a brutalidade é derrotad a pel o
No dia seguinte , cu estav a na Co rn édie Fran çai se
espírito" (G . Schoop). Toda a sua efi cáci a foi
às oito horas da manhã. O tele fon e tocou : Claudel tivera
trazid a d e dentro. Seu sucesso tanto mai s re- lima inspiração na noite an teri or e ha via reescrito a cena
tumbante . Ao servir à obra, demonstrou sua inte ira. Às nove ele estava lã, e m lágrim as, O autor de
imp ort ância para a época, intensific ad a pela sesse nta c seis anos solu ça va co mo um garo to de dezoito
profi ssão de fé responsável e pessoal do di - [...] trancamo-nos num a sa let a d o te atro, e e le leu para
mi m tud o o que hav ia e scrito numa ún ica tirada durante
ret er.
a noite.
Walt erlin esc reve u, em 1947:
A version pou r III scê nc (versão para o pal-
o tea tro serve à obra de criação, ruas a obra preci.... ;J co) e laborada em co nj unto foi incl uída na ed i-
respirar o so pro de UIIl cspc táculo alua i e vivo , q ue n ão
ace ita a impo siçã o de nenh uma exi gênc ia program ática .
ção das obras completa s de C laudel, co m a se-
A criação po ética precisa ressa ltar a visão c a ati tud e in- guinte nota: "abreviad a, reescrit a e organizada
rcrior da repre senta ção. Sem isto. ela é por ." lI a vez U IlI em co labor ação co m Jean-Lou is Barrault" .
simples livro de texto s a oferecer oportun idade para um Mas há exempl o s co ntrários . Em 1967 ,
mo vi mento. qu e: é a mes ma ohra inde pen de nt e d e SU:l Rud olf Noe ltc assumiu a dire ção da nova peça
represen taç ão cénic a. ligada a qualquer mom ento dado
Dian te de nóx, en cara mos n ão 1II11:l situação de validade
de Max Fri sch , Biografi a. e m Zurique. O s en-
e..t ática. mas 1.1 111 proc esso . saios co meç ara m na prese nça do aut or e do
dir etor, mas e ntã o as diferen ças de opini ão
A mesm a aborda gem pode se r encontra- crescera m e ntre ele s, Leop old Lindt berg tom ou
da e m Piscat or, a despeito dos result ados co m- o lugar de Noelte. Noel te, por sua vez , entro u
pletam ent e diferentes de sua encen açã o. O d i- co m uma a ção e xigindo qu e as alterações fei-
retor não pode simple sment e ser um mero " ser- la s seg u nd o s ua s s u g e s tõ es d e veriam se r
vo" da obra [que escreve I, porque uma peça indi cada s co mo tai s. Fri sch porém se opôs .
não é um a Coisa rígida e definiti va mas, um a Há menos probab ilid ade de confl ito qu an-
vez lançada no mundo, arraiga -se no tempo. do se trata de um au to r j ri fal ec ido. Giorgio
adquire uma pátina e assimila novos co nteú- Strehler montou a pe ça inacabada de Piran-
dos de consci ência, É tarefa do diretor enco n- dello, I Giganti delta Mont a gna (Os Gigantes
trar o ponto de vista a partir do qual poder á da Montanha), com um ter ce iro ato adiciona-
desc obrir as raízes da criação dramática . Este do, em pantomima. Seu pont o de partida para
pont o de vis ta não pode ser sutili zad u, nem isto foi uma informaç ão do filho de Pirandello,
escolhido arbitra riamente. Apenas na medi da segundo o qual, na noit e anter ior ií morte de
em qu e o diretor sinta-se como servidor e ex - seu pai , este havia lhe fa lado da intenç ão de
poent e de s ua é poca , ele conseg uirá fi xar o terminar a peça com um a pant omima e lhe ex-
mod o de ver e m co mum com as forças cr uc iais plicara Iod a a co nce p ção d a c rip tica rne rue ob s- 51). Ce nár io de Franz Mcrt z para a ence nação feita por G. R. SeJlnc r do I;'dipo Há de Sófo cles no Land esth eatc r,
que mo delam a natur eza de uma época. cura ohra. Darm vtadt . 1952. Um exemplo de dram a c láss ico grego estilizado no pa lco mo de rno .

• 534
60. Open Theatre, Nova York, durante ensaio da montagem de Peter Feldman da peça The Masks (As Máscaras). com
peças em um ato de Brecht, Ioncsco e outros.

61. Cenário de Teo alto para a montagem de Kurt Hirschfield de Andorra. de Max Frisch. Estréia em 2 de novembro 62. Cena de Kosinsky na montagem de Pctcr Zadek de Os Salteadores, de Schiller. em Bremen, 1966. Cenário de
de 1961 no Schauspielhaus, Zurique. Cena final com Peter Brogle como Andri. Wilfricd Minks, com projcção de fundo baseada em pintura de Roy Lichtenstein
H i st ó r ia Mundi al tio T eatro· Do No tura íisnva a o P res e n t c

Na primeira m ontagem , em 1930, de Dic Sc hiller, fazendo Spi egelberg (um ambicioso Uma soc iedade est ável c harm oniosa preci saria ape- Enquant o as pl atéi as não esquece re m de
vilão) usar um a másca ra de Tr ótski. Em 1966, nas procurar ca minhos para refletir e reafirmar ess a har- qu e são parcei ros c ria tivos no teatro e não ape -
Siidpolexpedition dcs Kapit ãns Scott (A Ex-
mo nia em se us teatros. Esses teatros poderiam se cs tabc -
pedição de C apit ão Scotr ao Pól o Sul ), de e m Wiesbaden , Han sgünther Heym e c hego u nas co nsum idores pa ssivos, enquant o afi rma -
leeer com elenco e platéia unidos num "s im" nuitno . Mas
Reinhard G oering, Le op old Jessner dispôs o ao pont o de retrab alh ar Gui lherme Tell para rem seu direi to de part icipar es po ntanea me nte
um mun do caótico . e em transform ação. precisa esco lher
terceir o ato antes do segu ndo. Rud olf Noe lte, fazer a peça ex pre ssar "a de sumanidade de ent re um teatro qu e ofer eça um "sim" espúrio ou lima do espetáculo medi ant e sua ap rovação ou pro-
ao dirigir As Três Irmãs, de Tch ékhov, em toda s as revolt as de ma ssa". provocaç ão tão forte que estilhace sua platéia em frag- testo, o teatro não ce ssará de ser um elem ento
Stuttga rt em 1965 , reduziu a peça inteir a a um À pro cura de no va s abordage ns para os mentos de intensos "n ão". exc itante e m nossa vida.
eenário : um a sutil tro ca de luz transpunha o drama s hi st óric o s d e S hakes peare , Peter
drama líri co e mehmcóli co para um domínio Pal itzsch , em 19 67 e m Stuttgart, for çou a
de ag uda solidão, c uja resignação total equi- tril ogia de Henrique Ifl a ass u mir um form ato
vali a ao nii lism o . que se desenrol ava em du as noit es. Co m o tí-
Não ape nas diretore s, mas também dr a- tul o deA s Guerras das Rosas, apres ento u es ta
maturg os der am novas e diferentes interpret a- m onument al c r ôuica (co m ce nários de
ções a obras de o utros. Jean -Paul Sar tre adap- Wilfried Minks), int e rpret ando -a como um
tou As Troianas, de Eur ípedes: Peter Hack s, A ex e m p lo programát ic o d e ga nâ nci a in e s -
Paz, de Ar istófanes (E irene r. Mais ou me nos c ru pulosa pel o po der. a coxo e co rc unda
na mesm a épo ca, Karolos Koun , viaja ndo com Ricardo de Gloucester anunc ia num monólo-
seu Teatr o Grego de Arte de Atenas, ap resen- go (excertado de Ricardo III e reorganizado
tava sua ver são do drama clássi co. Ele o via num prólogo) até o nde suas amb ições o esta-
"profundamente enraizado em seu so lo, uni- vam levando. Um an o dep o i s , Palitzsch
versal e eterno". Em 1968, versã o greco-ami - logicamente prosseguiu co m um a nova mon-
ga do Prometeu - montada em Stutt gart por tagem de Ricardo III - u m paralelo do ciclo
G . R . Se ll ner c em Munique por Au gu st shakespeariano da s Guerras das Rosas mon-
Eve rding - o co mpos itor Carl Orff sob re pu- tado em Stratford -on-Avon por Pe ter Hall, cujo
jo u seu Édipo e sua Antigona . E le ex trai u da vas to e rico empreen d im ent o trazia assass i-
tragédia clássica novas possibilidades de efeitos natos, política , intriga e g uerra.
musica is e c énico s qu e puxavam -no da A nti- Th om as Mann certa vez fez um a pilhé-
güidade para a época modern a. ria a respeito de Os Salteadores, dizendo qu e
a teat ro, qu ando alca nça a perfei çã o, é a peça podia ser consi d erada co mo um a es-
igualme nte a mai s antiga e a ma is co ntempo- péc ie de "western supe rior" . Ist o é aproxi-
rânea represe ntaç ão da vulnerabilidade do ho- madamente o q ue Pe te r Zadek real izou em
mem dian te de for ças inescrut áveis. sua mont agem de 19 66 , em Bremen . Trans-
Há geraçõe s que se travam inúmeras dis- pôs a obra para o m undo d a atua l sociedade
cussões acalora das so bre corno dirigir e mon- de con sumo . Wil fr ie d Mi nks desenho u um
tar os clá ssico s. Shaw, em sua época, já se irr i- ci clo rama co m tir as de quadrinho s, seg undo
tara bastant e com a reo rganização arbi trári a de um a tela d e Roy Li ch ten s tein. Um ano de -
eenas quand o Beer bohm Tree e Hen ry Irving pois, Zadek mon tou Medida por Medida , de
mont aram Sha kes pea re nos seus palcos lon - Sh akespeare, c o mo e xe m p lo de lima "d ire-
drinos reali stas e maj estosam ent e equipados. ção intui tiva, subje tiva", confo rme ele pró -
Seu obje tivo , como o de Charles Kean antes prio explicou . N um pa lco vazio, adornado
deles , era co nseg uir quad ros vivos comoventes. por Minks com lim a fil e ira de lâmpad as co-
Assim , tradu ziam a fantasia cênica de Sh akes- loridas, Zadek mo st rou "o q ue aco ntece com
peare para seu próprio conceito realista de es- a imaginação ao ler u m a obra" . Indagado,
tilo teat ral. numa conferência e m Mun iqu e, sobre até
No sé c ulo XX, obras de Shakespeare e onde iam os limite s d a di re ção s ubj etiva ,
Schiller serv iram para explorar o out ro aspec- Zadek respondeu co m desconce rta nte fran -
to probl em áti co da direção teatral : trazer 11 luz qu eza: "Quando o p úbli co se recusa a nos
a provocação dentro da estru tura da peça . Os seg uir, é pre cis o p ar ar" .
resultados, não raram ente, foram esc ânda lo c Peter Brook resum iu o problema e m ter-
c hoq ue . E m 19 2 6, e m B c rlim , Pi sc .uo r mos de uma dimen sã o mai or , a da relaç ão
poli tizou Die Riiubcr (O s Sa ltead ore s) de crucia l entr e o teat ro e a soc iedade:

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• 550 • 551
Índice

Ab el, Lionel : Absalom , 520 Alexandre, o Gra nde , 7, 8, 17,23,29,124, 130,34 5


Ác io, Lúcio, 144 Aléxio I Co mnc no, 25, 182
Ac kermann, Konrad , 411 , 41 3; troup e de , 400 Aléxis , 124
Acke rman n, So phie, 388 Alfonso X, 242
Addi so n, Joseph, 39 1, 40 6, 40 7 Allcy n, Ed wa rd , 3 19. 320
Ado (segundo ator), 87 A ltma n, Geor ge J., 293
Adra sto, 104 Ambró sio, Sa nto , 191
Ad so de Toul : Lib ellu s de Antichristo , 20 3 A menó fis III. 13
Ae ro bindo, 177 Ana da Breta nha , 256
Afrânio, Lúcio: Casa em Chamas , 155 Ana, Rai nha, 303, 358
Agatarco, 114 Anastác io I. 172
Ágato n, 120 Anaxandride s, 124, 130
agoll , 107, 113, 121 A nd, Melin , 25
Agop, G üllü, 26 A ndersen, Maxwe ll. 520; Elizabeth thc Quem (A
Agostinho, Sa nto , 2 12, 235 Rainha Elisa bc th) . 5 18; Joan of Lo rra inc (Joa n
Agostin ianos, 240 de Lor en a), 5 1 1; ,\I{//:,. of Scotlan d (M aria da
Agrico la, Johannes: Tragéd ia dr Joha nnis Huss, 30 I Escóc ia) , 5 18; H'illterset (O Inverno ). 5 18
A larcón, Juan Ruiz de : La Ferdad Sosp ech osa (A Andre ini, Fran cesco . 355 ; Le Bra vurr dei Capitan
Verdad e Su spe ita), 370 Spu vent o (As Bravuras do Ca pitão Spavc nto),
A lbee, Edward: The A merican Dre at n (O Sonho 35 5
American o ), 52 1; IVh o 's Afraid of Virginia A nd re in i, lsabe lla , 40 6; Ca rtas, 35 5
1V00lf.' (Q uem Tem Medo de Virgini a Woo lf") . Andrcini. Vi rginia, 326
5 19,533 And reyc v, Leonid Nikolaevich: A Vida do H OII/cm ,
A lbêniz, Isaac, 48 1 465
Alberti, Leão Batista, 278, 284 ; Philo doxeos, 278 anfiteatro, 140, 155- 16 1: e teatro de mistério in-
Albe rto da Livôni a, 240 g lês. 232
Albrecl n V, 357 Angústia de Lucca, Sa nta, 247
A ldr ich, Th omas Bail ey: Judith o] Bethulia , 523 , Aníba l, 141
524 Anna Am ali a, 413, 416
Alegorias , medieval, 261 -267 Annunzio . Ga briele d' , 469
Ale ikhem, Scholcm, 51 7 A nouil h, Jea n, 147,480
Alema nha: classicismo da, 4 13-429 ; teatro da. 529; A nsc h ütz , Hcinrich . 429, 446
Teatro Nacional da . 408-4 I3 A n-Ski, Sc h: () Dibuk , 466
A leo tti. Battista, 335 Antichristo (Tegern see). 203-20·t 235, 2h I ; infl u ên-
A lexa nderstift , 196 cia nos aut os de Nata l, 235
Alex andre VI, 270 Antífancs. 124
H ís t or í a Mu ud i a ! do Tra n-o Índic e

An toi ne . André . 449 . 452 . 45.' . 454 . 4511 Augus to , 139. 140 , 154 . l5 5 . 157. 163. 1M Sel vagem ), 5 15; Sup ers tition (S u pe rst içã o) . Berc het, Giovanni: Lenrru semis eria di Cris ostomo,
Anzcngrubcr, Lud wig. 457.492 Augusto, o Forte . 382 5 15 4.16
Apo llinairc. Gui llaum e: Lcs Mamrllr» de Tircsias Aulnoy, Marie-Cathe ri ne d ' . 369 Bar lac h, Ern st, 476 Bergman . Ing mar: No ite.. . de Circo. 533
(As Mamas de Tir ésia s). 481 A urélio. Marco. 154 Ba rlog , Boleslaw, 530 Ber lin , Irving. 5 13
Apol od oro. 114 Auric, Geor ge s, 481 Barnay, Ludwig. 449 Ber lio z. l lec tor: Benvcnuto Crliiní, 44 1
Apolónia. Santa. 227. 265 Auspi ra, Gio va nn i. 270 Barnu m, P. T.. 4 33. 516 Bernard de M orl aix, 368
Appia, Ad o lphe , 470 . 519 ; Cop eau , e, 480; influ ên- Auto de Paixão. 185. 19 1. 194, 195, 2 12-222. 22 3. Ba rras, Charles M.: The Black Crook (O Trapacei ro Bcmhardt , Sarah , 442 , 455 . 5 14. 52 3
cia em Jon es. 47 1; influênc ia em Mie lziner, 524 iit . 233 . 234 . 240. 248. 26 I, 262 ; AIcOl~'iO. e. Negm).516 Bernhart , Jo seph. 109
Ap uleio . 137. 155; O ASl/o de OUIV . 1:1 7. 155 19; Alsfeld , 2 15, 227 ; A nge rs, 223: Donaue- Barrault. Jea n-Lo uis. 4 75. 480 . 5 U . 534 Ber nini, Giovan ni Lorenzo . 323
aragoto, 9 1. 9 2. 95 schingen/ Villingc n, 2 19; dram a grego, e. 173 ; BA RROCO. 155. 323-324 ; coméd ia de ca rac te res. Bern stein , Le on ard . 5 17. 533
Arca de Noé, 228 . 23 1 Egípc ias. 7.8. I I ; H ussein. 4, 23; influência na s 344- 35 2; Commedia dcll 'u rte, .153 -36 7: Bal/ er Bcni n, Emi le . 4 88
Archi lei, Vin oria . 325 repr esen taçõ es pro fa nas, 24 8 ; irmandades, e. d e Cou r, 330-334; teatro fran c ês. 344 -352 Bertoldo de Rc gen sb urgo, 194
Ard álio , 169 200 ; Kreu ze nstein , 245 ; Luc crna , 2 16; medie- Barry, Philip. 520 : Tlic Anima! Kingdom (O Rein o Berto li. A nto nio . 32ó
Areoi da Po linésia, 4 val, 178; Obcrmmer gau . 23 ; palco. 262 ; Persa. Animal), 5 18: H ere COII/(' th r C IOInI.' (Aí vêm Betu lius: De virtute " r voluptate, 303
Are tino, Pietro: La Cor tigia na (A Cortesã). 278 ; I 19,20; Tirol (Bozen), 2 16. 2 19: Viena. 216 os Palh aços), 5 18: Holiday ( Feri ado), 5 18; TIl<' Beuther , Friedrich . 429
Ragionmncnti (Os Argumentos). 278 Auio de Páscoa , 178. 185 . 186 . 189. 194·203.212. Philndelphia Storv (A Hist óri a de Filadélfia) . 5 18 /1110110 . 42
Ariad ne. 136 219.245: Er lau . 199 : ln nshr uck. 198. 199. 209: Ba rry , S pranger, 39 1 Bharara: Natyasa stra . 29. 32,33 -37.38
Ar ion de Lesbo s. 104. 105 Viena. 2 16, 22 1 Ba sílio. São. 181 Bhasa: BII/II"(II'iro, 39 ; Charudattu , .19: Dutav ukvu,
Ariosto, Lodovico, 28 1; La lassaria (A Ca ixinha ), Au to de São Nico lau . 205 Bassermann, Albe rt, 47 6, 487 39
276 ; Orl ando Furioso , 276; Shakespeare . e. 3 12; A uto do Padr e-N osso , 265 Bathory, Estêvão. 274 Bhavabhuti . 42
Snuientes. ., 00: I Suppositi (Os Imp ostores). 276. A uto dos profetas, 2 19, 240 Batilo,l64 Bibb iena, Ca seriti no : Ca landr ia . 278. 284
3 12 A lIra sacramental, 209, 2 12, 368 . 373 Baty, Gaston, 480 . 488 Bidenna nn, J akob . 34 1; Cenodoxus, 341
Ari stoderno. 130 A utos de carnaval . 2 16. 250-255. 308 Baude, Henri, 256 Bicber. Ma rgarete, 134 . 161
Ari stófanes de Biz âncio, 129 Autos de Natal . 18 5, 19 8. 19 9. 233-240 ; aba d ia Baudelaire, Charles Pierr e. 4 66 Birc k, Sixt : Susa nna, 30 1
Ari stófane s. 114. 117. 118-124. 14 1. 475. 50 2: 0, beneditina d e Beuren . 205 . 235 ; ale mã. 182 ; Ba ucrle. Ad olf, 4 25; lI'iell('l' Th cotrrzeítung, 445 Bird . Robert M ontgome ry: Th e B rokcr o( BO,~o(II
Arcal/ial/os . 123, 124; A A ssembleia das M u- "B árbaros", 80; Bizanti na. IS2: Gótica . 18 1, 182 Ba umcis ter, Bernh ard , 446 10 Agente de Bo gotá). 5 15; Thc G/adia ror ln
lheres , 124 ; Os Babilóni os, 124; Os Banqu e- Autos de Ne idhnrt . 248. 2 50 Ba y le. Pierre: Dic tionn a ire , 38 1 Gl adiador). 5 15
tradores , 120 . 12 1; Os Cavaleiros , 121 -1 2.' : AY3.l1lc. Veja Yoshi zawa. Aya mc Bcaujoyeu lx, Balthasar , 29 6 Bize t. G eo rgcs: Ca rmen, 441. 470
deu ses. e, 121. 123; Lisistrata . 123: As N uvens. Ayrcr, Jakob. 300 Bca unuuc ha is. Augusrin C aron: O Barbeiro de Se- BIZA NClO. 171-11ll. 186. 240; arte, 172. 173: hal.'
121. 12 3; Os Pássaro s. 123: A Ik . 118. 12.1. vilhu . 352. 388 : ti, Bodas de Fig u ro, 3X8. 403 aqu ático c jogo s. 16"': influência no teat ro de
538; As Rús. 104 . 113, 121: A Ri'l Il(·: tI ( PIIIIII.I). Beaumon t, Fran cis. 3 19 mistério. 2.12; mimo. 162, 163. 172 -177 : mú si-
121:As Ibpas. 120. 123 Baccio dei Bian co. 370 Bcauvoir, Simo ne de . 526 ca. 172 ; padres da Igreja, 175. 240 : teat ro g re -
Aristóteles. 140. 211. 272. 273. 41 1. 4 12: defini- Bacon . Fra ncis, 530 Bcck , J ud ith Malina e Julia n. 520 . 5 21 go. e, 173- 175 ; tea tro na aren a. 177 -178 : teat ro
ção de trag édia. 110 ; l'ílis. e. 252 : mú sica . e. Bad ius, Iod oc us, 27 1 Beckeu . Samuel. 469.52 1. 522 ; Endg anu: ( Fi m de na co rte . 18 1. 18 2; teatro na igrej a. 178- 22 3:
324 : ori!!I..'u'" da com édia, c, 120 ; {'oc;rictl , 120. Bahn . Roma, 50 7 Jog o ), 522 . 530: Esp eram/ o God ot. 5 1 I . 526 teatro sem dr a ma . 17 2-177
130. .1-14: Sófocles. e. 114 Ba'lf. Jean A nto ine de . 27 3. 280 , 330 Bccquc , He nri: Les Corbcau. v lO S C or\'OS). 45 3 Bjorn so n. Bj õm stj ern c, 453, 45 7
Ar lequim, 162. 247.248. 353 . 358. 40c>. 40 7. 42 5 Bailey, Jam es A.• 5 16 Bccr, Rudo lf. 492 Bleibtreu, Hcdwig , 4 92
Arquelau. I 10 Baker. George Pierce. 5 19. 520 Beet hove n. Ludwi g van: Fidrlio, 42 5 . 4 27 Blcibt reu . Karl: Re volutiou ;/J der Litrratnr I R L'H l -
arquite tura: de Atenas. 130; de Roma . 130. Veja tum- Bakhru shin , 499 Behnnan, S. N .. 520 lu ção na Lit era tura I. 455
bém co nstru ção de teatros Bakst, L éon, 481 Béja '1, Arm ande . 349 Blin, Roger. 530
Armnge. Adolphe L' . 45 7. 487 Balho. Lúcio Comdio. 154 Béjan. M adeleine. 349 Boch et. Jea n. 257
Arta ud. Antonin. 500 . 502 . 504 Balhul o. Nolker. 189 Be lasco. David. 5 18; Tlle Girl oJ rhe Go/dell lI" sr Biicklcr. G eorg Andreas. J J 7
An e rom ãnti ca . 177 . 1'15.234 Balde, Jakob: .leJria.', 34 1 ( 1\ Garo ta do Oe s te Dourad o ). 4 54 . 51 8 ; Bodel. Jean : u .1('/1 de Soim-Nicola.' (O Au to d~

Artur. 252 balé. 433 ; aquá tico, 164 : Bizant inu . 164: co rte bar- Madalllc Burre~fly, 99. 51 8 São Nico lau) . 205
Ashbury. John : The Heroes (Os Heró is ), 520 roca, 3.10-335 ; histór ia do . 344: infl uência em Be llamy. Geo rge Anne. 39 1 Bodm er. J ohann Jakoh. 406
Aspendus. 154 Diaghil ev, 481 : Roman o , 164 , 167; Ru sso , 469. Bell a)', Joachim Du. 27 3 Boge ner. lI c inrich der . 196
Assurbanipal , 442 481 ; Sueco, 48 1 Bell ieti, Jean. 256 Bo il e all- De s p réa u x , N icol as, 4 04 . 406 : L 'I I ri
Asvagh osha , 39 Ba le. John: Killg .lOhll, 30 1. 3 12 Bellincioni , Belll ardo , 292, 29 .,; Leonardo. e, 292. p",lriq/lc (A Art e Poé tic a). 382; Voll aire. e. 38(,
Atores ambu lantes. 374-379. 395. 3%. 40 7 Balzac, Honoré de. 451 29.1: rima , 2'13 Bojardo . 28 1
,-\lIerbo m. Per Daniel Amadeus . 427 . 4 29 Bal/quel/es. 395 Bellini, Vinc en zo, 533 Bak er, Gcorgt: Hen ry. S15: Fnmu'su/ d" Rill/;'/i .
Auher. Dan iel: La M//clte de Porriei. 4.13, 4 36 , 496 Barbam, Daniele. 284 . 287 . 291 Bellomo. Jo seph . 4 16 5 15
Aubi gn ac . Ahade Fran \'oi s d' : La I''''t iq//c d// Barhaross a. 20 3 Benda. Georges, 387 Bolena. An a , 3 12
rh,fátr<', .120. 344 Bardi. G iova nni de ' : Amico Fido (O Amigo Fiel ), Be ned itinos . 203. 248 Bolin gbrokc , 3R6
Aubu lo. 124 324. 325 Benoi s. Alexa ndre . 48 1 Bol s ch ~ . \\'illldlll : /)i( ' IUllltn .. iss el1 schl ~/ il i('/I ( ·lI
Audiberli. Ja cque s. 46'1 Barkcr. James Nd so n: The Im/inu Prill r r ss. or Beolco. Ange lo. (" RlIzza llle" ,. 261. 273 . 281 ; ú, Grulldla gcII c/er POl'si(' (Os Fundamento s C i ~ H ­
1\1Ifresne. 3XX 1.1/ lIel/ e Salll'llge (A Prin ce sa índia . ou A Bela I l im 'iII l1w . J53 ; L..ll \ ilcclIrill . 353 títi co s da Pocsia l. 455

• 55-1 555
H í srúr i a M un d ia l d o Tva t ro • • í "d i ce

Bond , Ed wa rd, 313 : Suvcd (Salvos). .160 (A Doença da Ju ventude). 4 75 Ca m pa ni, N ícco l õ, 26 1 C hika matsu , M on zacm on. 75 , 89 . 92 . 95
Booth, Ed wi n, 5 16 Brucghcl, Pieter, o Velho . 257 . 308 Cam us , A lbe rt, 520 , 526 : Le Myth« d e Sisyp hc (O Chikaz a ne, Koma no. 7 8
Boo th, John Wilkc s, 5 1I> Brühl, Karl, 4 24 M ito de S ísifo) , 522 C HINA, 5 3-73: " Ce m jogos" . 54- 58: co mo lema
Bo rchc rt , W"lfga ng : Druussc n m I' tia Tür (Do Brun clleschi, Filippo . 27 1. 284 Ca nç õe s dos goliardi , 2.15 no balé de Novcrr c , 39 1: co nce ito xa m ânico d a,
O utro Lado da Porta ). 501 Brunner, Tobi as: Jakob , 30 1, 303 can to: Bizantino, 177 ; cantica. 1.17 : G re go . 137 ; II/di 78 : dra ma do Norte e do Su l da. 6 1-66 :' Jardim
B órgia, César. 251> Bruno de Co lônia, 242 scacnici, 140; Romano, 161. Veja tam bé m kabuki dai' Pcras, 58 -6 1: Ó pera de Pequim , 66 -70-, pe ç a
Bork en ste in: Bookcsbcutcl, 4 11 Bruno, G iordano, 324; II Cmulelll io, 278 C apio n, Étie nne, 396 musical da, 66 ; te at ro de máscaras japon ês, e.
Borlase, W illiam : Obscrva tions 0 11 lhe Antiq uities Bruno, São. 34 1 Carcov, 155 75 : tea tro modern o , 73
Historicot <lI1I1 M II/IU/Ilenlal of Cornwall (Oh- Brun swick , duque Hc inrich J uli us de, 375 C arino, 161 C hirico , Gi or gio de, 4 81
se rva çõ es so bre as Ant igüidades His t órica s e Buch anan, George: Bap tistes, 274 ; Detect io Mariuc Carl Au gu st, 416, 4 20 C hri stiano V I. 397 ,, ; -,
Monu men tai s da Cor nualha ), 232 , 233 Rrginae, 274 ; Jeph tes , 274 Carlos IV, 2 15 Chri stianscn, R., 397
Bott icel li. Sa nd ro: Nascimento de V êl/IIS, 28 1 Büchner, Georg, A., 4 4 1; Dw,((IlIS Tod (A Morte d e Ca rlos IX, 280 Chroneg k, Lud wi g, .149,462
Bouch et, Jean , 228 Danton ), 47 5, 4~5 , 49 6 Carl os V, 269, 276, 308 C huan g ,54
Bouci cault, Dion : Thc Octoroon (O Oi ravão), 5 17 Bud a. 39: nasciment o de , 78 : da nça em hon ra a, Ca rlo s V I, 33 8 C ibber, Colley, 38 6
Bo ugo in , S imo n: L' Hom me Jus to "I L 'H om m r 9 1; pers onificaç ão de , 41 Ca rlos V III, 256 Cibbe r, Su sa nna h Mari a, 3'11 .: ;
Mondam , 262 Budi smo, 39 , 54 ; ascet ismo , 4 2: d rama do, 42 : in- Carly le , 111Omas, 4.j I . Cicéri ,433
Bouh élie r, Sa int-G corges de: Oedipc . Roi ti" Th êbcs flu ência no teatro de m áscaras. 75; Japão. e, 78; Ca ren te, 114 , 367 Cí cero, 139, 16 2 , 16 3
(Éd ipo , Rei de Teb as ). 488 Mahayana, 39: I/( ) . e , 8 1,9 1; poe sia, 39 : Samurai. Ca rtus ianos, 34 1 Cicl o de Town el ey, 23 2
Bousche t, Ja n. Vej a T homas Sackcvillc e, 8 1; )'ugel1, e, 38,83 ; ZlI , c, 81 Car uso , En rico, 454 , 5 1.1 Cine ma. Veja film es
Brabante , 26 1 Buffequin, George, 345 Caso Sacco e Vanzetti, O , 5 18 C ip ião Afri can o M aior, 141
Brahm, 0 110. 4 55-460, 471, 480, 4 87 bugaku, 78-80 Caspar, Horst, 4 87 Cipi ão Africano Men or , 147, 148
Brahma, 29 , 33. 36 . 37 B ülow, Hans von, 45 7 Castiglione, Bald assare, 284 circ o : Barnu m e Bail ey, 516: Bizantino, 177 , 178 ,
Bramante, 28.1. 287 bunraku, 75, 260 , 247 Castro, Guillén de: U lS Mocedades dei Cid, 370 181 , 182 ; Orie nte Próximo, 19: Roman o, 139 ,
Brando, M arl on , 5 33 Bunrakuken. Veja Ue mur a, Bu nrakuk en Catarina II, 403 140, 155, 157 , 162 , 172 ; Turco, 26
Braqu e, Georgcs, 4 81 Buo ntalcnti, Bern ard o. 29 1, 296 . 324 , 325 Catulo, 205 C IVILIZAÇÕ E S INDO-PACÍFIC AS, AS . 2'1-51 ;
Braun . Han ns, 529 B urbage, Jam es, 3 17. 320 Ca valli , Fran cesco, 326; Egisto, 326 Índia, 32 -44 : In don ési a. 4.1-51
Braun sch wc ig , Hei nrich J uli us vo n, 300 Bu rbage, Richard . 3 19 Ce ltis. Konrad , 27 1; Ludus Dianae. 29'1 CIV ILIZAÇÕ ES IS Lt'IMIC AS. AS , 19-2 8 : Pé rsia.
Breclu , Berto lt, 4 2. 4 12, 452, 46 3, 4 71 , 49 5, SOO. Burckhar d t, Ja co b , 104. 26 9 Cem jogos , 54 -58 20· 2 3: Turqu ia . 23-28
50 1, 50.1·5 10.523: A'!(l'lieg lII1ll l·itl l der SllIrIl Bürger, G . A.. .136 Cc no do x us , 34 1 Clair, Ren é. 4 55 , 52 .1: Entr'acte . 4 83
Mal/llg m lllv ( A scen são e Queda da Cidade de Burke, Edmund. 42'1 Ce ns ura , 3 17, 388 . .127-42 8 : Frei e B ühn e. e. 457. C lairo n, Mlle ., 63 . 3.11>. 387. 388
M ahago nn yj, 505, 5 111: Der gutc Mrnsch 1'01/ burlesco: ca racte res do . 19 1; prahasana. c. -12. Veja 459: Sh a w, c, 460 . 462: teatro po líti co , e . SOO Claudel, Paul, 4 99, 5 11. 5 13: L 'Anno ncefaitei, M arie
S"Zl/lII' (A A lma Boa de Sctsua n) , 5 10, 534 : também farsa Ce rr ito , Fann y, .133 (O Anú nc io Fe ito a Mari a), 470 : Brecht, c, 5 11;
Dick iclll der St ãdt e (Na Se lva d as Cidades) . Bumacini. Giov an ni, 326. 330 . 337, 34 2 Cervan tes, 283: D OI/ Quixote. 367 -368 Christ op he Co lomb. 5 13: Ú ' Sou lier de Sati l/ (A
505 . 507 : Hcrr Punti la IIl1 d sri n Knrclu Muni Bum acini. Ludo vico . 326, 330 . 335 , 337 C ésai re, Ai m é: Un« Saison a li COligo (U m a Tem - Sa pa tilha de Ce tim) , 54, 3.16. 370, 513 , 5.,4
10 Se nho r Pun tila c seu Cr iad o r.la[(i). 507: Buste lli, 355 porada do Co ngo), 50-1 Clerncru V II. 278
~ll'i'll·.\" O rg anon [iir da s Th ru te r ( Peq ueno By!. 453 Césa r. J úlio, 151. 155, 157. 16 3 Cleme nte IX, 323
Orga no n pa ra o Teatro ). 505 : 1"'1"'1/dcs Gulilci Byro n. Geo rg e G ord on . 42~ : 0 0 11 I uu n. 43 1: Cesaria no , 28.1 Cl éon , 123, 124 , 141
tA Vida de G alileu Ga lilci), 507: M unn ist MlIIlI' Munfrcd, 470 : Snrdanapaln, .142 Ccs ti. M arc Anto nio: 1/ Pom o d 'Oro , 330 Cleóp atra , 41
(O Home m é o Homem), 50 4: Mut trr Co urugc C h ' i Ju -sh an, 67 Clístenes. I ().j
und 1111''' Kindrr (M ãe Corage m c se us Fi lho s), Ch ' ie n Lun g, 6 1, 66 Cnapi us, G regório : Es emp la dnnnutica, 34 2
507. 5 21>. 53 .1: A Opem do" Trh Vinu'ns, 507 . Cacc ini. Gi ulio, 330 : Dafi, e , 32.1: Euridicr, 325: 1/ C ha ik in. Joseph , 52 1 Coctea u, Jea n, .17 1; I. 'Aig le ii deux t êtcs (A Ág uia
5 10: pe ças de Grass. e. 5 11: Tago re . e. 4 2, .1.1 : RtlI' illlcII1o di CeIlI/o . 325 C ha m r me slé, I\m e de. 3.17 B ieé fa la) . 48 1: Ba c c hns ( Baco\. .18 1: La
teatro '''i;ítieo, e. 54: O tea tro é pico de, 505 : Cage. Joh n, 527 , 529 C ha ng T se -tuan , 60 Mac/til/e h ife l"lla le (A r.1;íquin a Infern al l. .18 I ;
Tr0I11111l'/1/ in tle r Nachl (Tam bores na No ite1, Caillea u, Hubert , 223 C hapelain- M idy. 155 Orl'ft <'e (O rfeu ). 481 ,483 : Parad,', 4 8 1: [ .l ' SlIllg
505: Ih g ll üg '<II gs llIeale r oder Lell rtlleat e r :' C hap lin, C ha rle s, 353, 502 d "l1I poét e (O S an gu e de um ' Poe ta ), .j RI, 4 83 ;
Calderón de la Barca. Ped ro, 320 , 377, 4 13.428. 43 1;
(Teatro de Divertimento ou Teatro Did;ítico ?), 505 La rIeWJciól/ rIe la Cru z, 4 33: EI go lfo de las sire- Chapman , G eorge, 3 17 Testam ent d 'O rj1ftée (Tes tamento de Or feu) . .183
Bred ero, G , A.. 308 Charivari , 248 Co hen, G ustave , 5 19 .
1I(/S (O Golfo das Sereias), 373 , 374 ; EI grall lealro
Brighou se , Il arold, 460 dei 1I11llldo (O Grande Teatro do Mundo). 373: O Chassiron: R~flexiolli' i' lI r le Com i'l" ,'-Ia rm oyanl Co lbell , 352
Brizeux, Juli en Augustc Pdage. .116 Príllcipe Conslallte, 373 , 433: ti Sell/zora rias Fa- (Refiexões sobre o Cômi eo Lacrimoso). 386 Col cri dgc , Sa m ue l l :'ylor, 431
Broad way, :'i13-519 Chastellain, Georges: Le COllci le de Bále, 261 Co liseu, 154 , 157
n
dm, 373. O lllizAlmide de li,/ame a, 373: Mal'or
Broclma n. S tep ha n. 30.1 Chateaubriand , Fr anç ois Rcn é d e : L,' C""ie dll Co lli n, Malth ias, 31))
Enca1lloAmor (Amor, O Maior Feiticeiro). 374
Bronn en , A rn olt: liclte ,.,n" ,,1 (Parricídio) , .175 Calíg ula. 164 C/zrisliolli stne, 42 9 Com édi a de ca rac te res. 344 -352
Brook , Pe leI'. ~ 7 1. 526 , 530. 538 Callas. Mari a, 533 Chen-tsun g, 59 Com me dia er udit a. 273 , 353
Brown . K t:Jlllelh : nu' Ur ig 1,.-\ Prisão do !\:a\'io l. 520 Ca lliopius.27 1 C hes naye, Nico las de la, 262. 296 : COllllam lla lioll Co mé d ia hum ani sta. 276 -28 0
Bro\\'nc, Roh ert . _,75: " c tiO/li'.\' , 375 Ca lvino, 30 1 d e Ballq llel, 262 cOln~tlia : G rega. I I X- 120; comédia médi a fl ) IHa na
BllIck.ner. Fenlinand. 4XO; lJit' KraJlJ.:ltcil deI" ./llgCIlt1 C;,mer van den Violie re n. 30:'i C h iah re ra, Gabrie le, 325 (tn" .vl'), 124 : Co méd ia no va (Ilell ). 129 : Gr éc ia

• 551'> • 557
lt íst o r ía /~ flf lJ(lia l de) Tca rr o •

Antiga. 120 -124 ; orige ns da. II R- 120 ; Rom a- Corne lius, 44 8 20 5; gig aku, 58, 7l\ ; guerre iras rituais germ âni- Dioniso, 103, 105,109, 118, 120, 121, 130; Ari adne.
na. 144-14 R. 16 1. 162; seena colll;m. 287 Com ualha, 232 . 233 cas, 3; Hator, 7, 8; Indian a, 29 -32. 33, 38, 162: e, 136 ; festiv ais de. 2, 103, 105-107; Nero , e.
Co médie Française, 352. 431 .433.442.452-453 . Corpo ração de teat ro Shoc hiku-Kaisha (Shoc hi ku Irani ana. 23; Japon esa, 38 , 76. 78, lIO, 99, 102: 134 : em As Rãs , 113; sacerdo te de, 114
455; 4 8 1. 534 sociedade anón ima ), 90. 98. 102 ka buki, 90 ·99 ; kaguru , 75; ko rdax , 123 ; leão, Dionysos, 194
com édie gui e (comédia jo vial ), 382 Corsi, Jacopo, 32 4 78 : lu di scoenc i, 140 ; mag ia , 33 ; mimo, 2; Djarall-kél', mg. 4
com édie italienne , 227, 357, 358 cortejo teatr al , 2 28- 233 m imll s , 162; morte, 198 ; mu sical a mericano , DO NATURALISMO AO PRESENTE, 451-539 :
comédie-ballrt, 296, 334. 347 cortejo, medi eval , 228 , 23 1 516,517; maa , 14; Plutarc o, e . 330 ;py rrhic, 137 ; Brecht, 404-510; Broa dway, 513 -519; dese nvol-
Commedia dell 'ar te, x, I, 3, 4, 16, 120, 162,247, costumes : ator es am bul ante s, e. 378, 379; Buonta- Renascença, 296; representaçã o, e, 32, 33. 36; vimento do palc o, 466-475; Expressioni smo.
261, 266, 276, 278, 324. 352 . 353, 374, 375, lenti, 296; far sa, 25 6; francês do século XVIll. ritual. 91 ; Romana, 162-163 : Sa ss ânida, 175: 475-483; Frei e B ühnc, 455-459; Futurism o, 475,
377, 510 , 5 23; adaptação francesa de , 349; bar- 387; Garrick , .1 9 2; G ottsched, e , 406, 407; simbolismo, c, 469 ; Turca, 25. 26; urso , 3; "'" 4 83; A idéia do Fe stival, 492-494; lndependent
roco, 353 -367; co média erud ita, e, 273 ; comedie- Holberg, e, 400 ; medi eval, 200 ; ópera de Pari s, Th eatre, 45 9 -4 6 2; Meios de comuni ca ção de
IVII, 54
bailei , e, 334; definição de, 353; G órki, e, 367. 433; reali smo, e, 44 8; teatro primit ivo e, 2-4. Dand olo, doge, 171 massa, 5 23 -5 29 ; Natur alismo, 452-462 ; pal co
46 5 ; G ri llpa rze r. e , 367; G ryphi us, e, 376 ; Veja também máscara Dan júró . Veja lchik awa , Danj úr ó no palc o, 5 10-5 13; Piscat or, 499 -504 ; Rei nhardt ,
Hof fmann , e, 432, 433 ; Iluminismo. e . 382 ; in- Co urbe t, Gu stave , 44 0 Dante, 269 , 28 1, 516 ; Div ina Co média, 324 48 3-4 94 ; Simbol ism o, 466-4 75 ; Stanis l ávski.
flu ên cia e m Holber g. 39 6; infl uê nc ia e m Craig , Edw ard Gord o n, 232,465 , 470 , 47 1,475. Danti , Vincenzo, 151, 287, 291 46 2-46 6; Surrealismo, 475-4 83; te atr o de art e
Moli êre, 349. 352; influência no teatro ru sso. 488, 519 ; Thc ,\ rt of lhe Thcatre (A Arte do Tea- Davie s, Th om as, 391, 392 de Moscou , 462, 466; O teatro do diretor, 529 -
496 ; início da ópera , e, 326 ; kvogcn, c, 87; más- tro ). 471 ; Copeau. e, 480 ; influ ência em Barrault. Debu ssy, C laude, 469, 48 1 539 ; O teatro engajado , 494-513 ; Tea tro Épico .
cara medi eval, e. 266 ; Mci crh old . e, 495. 496; 47 5; in flu ênc ia e m Jon es, 471 ; infl uência e m Décimo Labéri o, 163 504 -510; Tealro Experimental , 519-52 1; Tealro
napolit ana, 367; orla 0 )' /(/ 111 . e, 26; Reinhanh , c, Mielziner, 52 4 ; Th e Mask (A Máscara ), 471 Dckker, Th om as: The Hon est IVluJI'e (A Prostituta Político, 499 -504 ; teatro russo, 494-499; Th éã trr
488; Rom antismo. e, 433; sce nu rio para, 355; Cra nmer, Th om as, 204, 30 I Hon est a), 317, 5 14 Libre (Tea tro Livre), 452-455
Taírov, e. 496. 499 Cra tes, 121 Dclaunay, Jul es Élie, 481 D õbbclin, Carl Th eoph il, 423
Comnena, Anna, 25, 182 Cratino, 121; A Ga rraf a , 121 Delavigne, G errnaine, 433 D õlger, Franz, 171 , 172
Concílios da Igreja , 169; Basiléia . 261 ; Cartago. Creizcnach, The odor, 276 Demak, sultã o, 44 Domiciano, 140 , 157 , 164, 167
178 ,182 ; Nicéia, 181 Crisós tomo, Sã o João, 172-175, 245 Demódoco, 104 Dominicanos, 209, 337
Confú cio, 53 , 54, 6 1, 63, 66 C ris tãos: ac eit o s em Ro m a, 167 ; e a utos de Dendermond e, 257 Donatcll o, 28 4
Co ngreve, William , 39 1 mo ralidade, 2(, I ; e mit ol ogia, 17; Nestoria no, deng aku , 80, 8 1 Donato, 150 . 16 3,270
Co nrado de Constança . 195 54: perseg uição, 140 ; ridi cu lari zação de , 167 Dcrain, And ré, 48\ Dossenu s, 161
Co nrado I, 242 Cristina da Su écia. 324 Descart es, René: O Nascime nto da Paz: 324 Dosta l, Nico , 5 16
Co nrado IV, 195 Cristo. 109: asce nçã o de. 212. 2 19, 232; bati smo Dc sch arnps, Émile e A nto ny, 406, 436 Do sto ievsk i. Fedor M ikha ilo vich , 441, 451 . 452 ;
Co ns ta m , Benj am in: Rcfl exion s s IIr le th e útrc de . 2 12: en carnação de. 178 : Ma rduk, e, 17: De spl échin, 433 Os Irm ã os Karam azov. 480
allema nd, 431 mimo.c, 16 7-169 ; morte de. 13, 167,1 86. 215 , Dcsprcz, Louis-Jea n, 403 Dra ma do S ul e do Norte (China), 6 1-66
Co nsta ntino 41 3 219, 240, 34 1; nasciment o de , 181, 24 2; ressur- Dcstou ches, Phillippe, 407; Bragga rt. 397 Dra ma escolar, 300-304
Constant ino. 155, 171,1 72,1 86 rei ção de , 186 . 189 , 2 19. 228 . Veja tam bém deu s (de uses) : Aristófa nes , 121 ; gregos, 104 .1 39; Drziê, Martin : DIII/I/o Marojc , 280
Construção de teatros: Bumacini, 326. 330; casa de Antic hristo, au tos de N atal teat ro medieval, 185, 186; perso nificação de. 19; Du Bos, J. B., 357
ópe ra, 324, 326; início do período elizabetano, Croncgk, J. F. von: Olint und Sop hronia . 411 Romanos, 139, 140; teatro. 103 . Veja também Dubreuil. Jean : Per sp ective pratiqu e (Perspec tiva
317-319; Italiana. 433; de Langhan. 424 ;paraske- Croq ucsot, llcrlek in. 247 religião Prática), 344
I/ia, 130; primeiro público, 317; prosce nia . 134: Cro thc rs , Rachel : A s Husbands Gu (Q ua ndo os deus ex ma china, 117. 118 Dufresny, Charles Rivié re, 407
revivência do estilo grego, 424 : Romana. 148-151. Marido s se Vão ), 5 18; Susa n and Gud (S usa n e Dcutsches Th,'alcr , 457,459 Dullin , Charles. 4 80
154. 155; de Schinkel. 424. 425 ; século XV III. Deu s). 5 18; TlI/' Thr ee '!i'U" (Nós Três) , 5 18; Devine. George , 460 Duma s, Alex and re. 7 3. 43 1. 441 , 451, 452 . 455; A
382 ; "teatro lotai", 50 1. Veja tam bém palco 11'/"'1/ Ladies M cct (Q ua ndo as Se nhoras se En- Dc vri ent , Ed uard, 37 7, 406 ; Gesch íct ue d er Dama da s Ca mélias . 73, 496; Le Dem i-nunule ,
Co pea u, Jacq ues, 475 . 480 co ntram) , 5 18 d eut schen Scha usp ielkunst (História d a Arte do 441 ; l .e Fit s nature! (O Filho Natural), 44 1
Copé rn ico, 269 Cruza das. 171, 19 5, 203 Teatro Alemão) , 4 19 Dumes nil, Mari e, 3811
Coq uelin, Benoit Co nstant, 455, 492, 5 14, 530 Cupido, 367 Devrient , Lud wig, 423, 4 24, 43 1 Dun can , Isad or a, 469
co r: e mon tagem de ce nário, 475 . 476; cubista . 481; C úrio, Escribô nio, 157 Devrient, Ott o, 227 Duní ap , Willi am . 5 14; Hi story of th c A m erica n
no teatr o chinês, 70 Cuvi lliés. Fran çois, 338 , 40ll Diaghilev, Sergei Pavlovich , 452, 481 Th eatre (His tó ria do Teatro America no ), 5 14
Corinth, Lovis, 488 Cy nlhius. Vej a G iova nni G ira ld i Dickens, Charles, 44 1, 451 Dur ant y, Walter . 453
Cornaro, Alvise, 353 Cysar, Ren ward. 2 16 Didcrot , Deni s, 63, 346 . 392 , 395 , 41 9 ; Ca tarina Dürer , Albrec ht, 2 11, 299
Co rneille, Pierre, 274, :\44, 379, 388 ; Andromêde, II, e, 403; /)1' la poésie dr am ati quc (Da Poesia Dure y, Louis, 48 1
345; Le Cid, 8 1. 345. 346, 370, 4 18, 533; Cinnu, Dramática), 387; Goethe, e , 41 8; Le P ére de Durieux, Tilla, 50 I
345; Discou rs des trois unites (Disc urso das Três Dacier. Anne Lefê vre, 148 [amille (O Pai de Farrúlia) , 381 , 386 , 40 3, 406; D ürrenrnatt, Fri edri ch , 510; Dic Ehe dcs Herrn
Unidade s >. 346; Examen , 346 ; /lom a , 345; Paradou .<lIr le co méd ien, 386; Voltaire , c, 386 . Mississil'i (O Casame nto do Senh or Mississipi),
Dada ístas, 500 , 524 , 5 29
M édée (Me déia), 345 ; Mél it,' "" les flll/He., Dali. Sa lvador . 5.1.\ 387 52 4
leures (Mé lete ou as Ca rIas Fal sas) . 344 ; L" dança : Analótia. 25 ; Asiá tica. 76; Australia na , 3; Dicterle, Wilhelm , 487, 492 Dose , Elea nora, 469 . 47 1, 5 14
Mel/Ie" r (O Ment iroso ). 370. 382 ; N ico lllh le. Budista. 78. 80. 9 1; bút' ,lo. 3; bllgakll . 78, 80 ; DíI,lus: influ ência em Ter ênc io , 147. 14R
347; Po l)'('//Cle. 345 : Raci ne, e. .\X6: Vo ltaire . e. burro, 1.16 ; C hinesa. 60 ; Coreana, 58 ; den-iches , Dingcl stedt , Fran z, 442 . 44 6, 449
386 c, 26; Egípcia . 7, I I , 14 ; <'III&U , e, 8D; espada, Diocl ecian o, 169 Eberlc, Oska r: Cl'lIa /o ra, 1,4

• 559
558
H ís t o r i u M u n d ía l ti o Tcat r o •
• í nd ic e

Eckermanm, Johann Peter, 404 , 419 Bucantes, 110; Ésquilo, e, 110 ; Hécub a, 300 ; Filonides, 120, 121 Futurismo, 475 -48 3
EGITO E A!'<iIGO ORIENTE, 7-17; Mesopotâmia, Hipólito, 117; lfigênia ell1 Àulis, 110; lfi g énio
Fiorilli , T iberio, 349, 355
14-17 ; teatro bizantino, e, 175; tema no Reali s- em Tauride, 110; Med eia. 117 ; Orestiada , 117; Fisch er, Sa m uel, 4 59
mo , 442 , 44 5 As Pcliades, 110 ; Sófocles, e , 1\0, 113; As Fitch C lvde: Bcau Brummcll, 5 18 ; Captain Iinks G aho. Naurn. 471
Egk , Werner , 44 0 Troianas , 134.538 aj rlle-Horse Muri nes (Ca pitão Jink s da Caval a- gag aku, 78 , 80
Eisenadi , 205 Eu stácio de Saloni ca, 173 ria Marinha). 51 8: tt« City (A Ci da de), 51 8 ; Gagliano, Marco d a. 325
Eisenstein , Se rgei. 499, 523 ; Enco uraçado Porem- Evcrding, Augu si, 53 8 Tile Clinibe rs (Os Alpini stas), 5 18: Tile Trutil Ga gliardi, 338
kin, 499 Everyrnan, 266, 267 (A Verdade), 518 G alilei, Galil eu , 324
Eisler, Hanns, 507 Evr einov, Nikol ai, 495 Galil ei, Vincenzo: Dial ogo dclla musica antica e
Flácio, 150
Ekho~ Konr ad , 392 , 39 5. 400, 4 16, 4 19 Expressionismo, 475-483 Flaubert , Gu stave, 451 della mod ema, 324
Elagin, Yuri, 504 ; A Dom esricação das Arres, 495 Flet ch er, John, 3 19 Galli -Bibiena, Giu seppe , 33 8
Elenson , Andreas, 377 Fol z, H an s : Pastna ctussp iele, 250 ; Des Turk rn Ga ma , Vasc o da, 299
Eliot , T. S .: Murder in the Cathedral (Assass inato Fábul a atelana, 161, 162 I'asna-cilrsl' il , 250 G andershe im , Hrot sv itha von : influenci ad o por
na Cat edr al). 460 Falck, Augu st, 487 Foniane. Theodor, 457 Terênci o, 148
Elizabeth I, 270, 283 , 312, 3 13, 330, 374 Fal ckenberg, oue . 506 Fornenber gh, Jan Baptista, 376 Gandhi, M ahatrna, 32
Elizabeth II , 317 Falia, Manuel de: II Retalho de M aestro Pedro (O Forrest. Edwin, 5 15 G animedes, 269
Elssler, Fa nny, 43 3 Tea tro de T íter es de M estre Pedro) . 368; Le Forrest , George Topharn, 31 8 Gardiner, 204
Ene ina , Juan dei , 28 1: Egloga d ei Amor , 28 3; Trlcorne (O Cha péu de Três Bico s), 481 Fort , Paul. 466 G am ier, Rob ert , 34 4: H ipp ol vte.fils de Th és ér, 27 4
Egl oga de Plácida )' Vitoriano, 283 Farquhar, George: The Beaux ' Stra tagem , 391 ; The Foscol o , Ug o, 4 29 Garrick, David , 39 1, 392 ; Let he, 39 1
Engelbre cht , Martin, 37 9 Recruitin g Office r, 39 1 Fos t, 155 G arson , Barbara : M a cB ird , 504
Ênio, Quinto: Al exandre, 141; Anais , 141; Aquiles. far sa : Alcorão, e, 19; Chinesa, 59 , 60; Egípci a. 7, Fouquet, Jean, 22 3, 227, 228, 265 ; Heures d'Es - Gasbarra , Fclix , 501
141; Sabinas, 141 8; Francesa, 257; Indi an a, 42; kom os grego s, 120 tienne Chevalier , 223 G assman, Vittorio, 43 6
ERA DA CIDADANIA BURGUESA, A. 38 1-449; Fav or, 163 Fouquier , Henri , 453 Gautier , Th éophile, 43 3, 436
Berl im , 4 20 -42 5 ; Clas sici smo alem ão , 41 3- Fccht er, Paul , 488 Francesca . Piem della , 284 G al', John : Thc Beggar 's Opera (A Ópera dos Men -
429 ; Le ssing e o M ovim ent o do Teatro Nac io- Fehling, Jür gen. 530 Franci scan os, 186, 240 di gos), 387. 50 7; Haendel. e, 387
nal Alemão, 40 8-41 3 ; As O rigen s do Teat ro F énelon, Fran çois de. 407, 436 Fran cisco 1. 270 Ge a ório de N issa . São, 173
Nacio na l na Euro pa Set entri onal c Or ient al . Fen ícia, 175 Fran z, Ellen, 44 6 G eiber, Ja ck : Tile Conneetion (O Co ntato) . 520
395-40 3 ; Re ali sm o , 44 0-449 ; As Reformas Fcrb cr, Edna : ShOlI' BO IlI , 516 Fred eri co Guilherm e 11,4 23 Ge llel1, Chri stian, 38 6, 400. 40 7
Dramáticas de Gottsched, 404-408 ; Romantis- Ferdinand II. 326 Frederi co Guilherme III, 42-' G émicr, Firmin. 453 , 4 69. 488
mo, 42 9-440; O Teatro Eur opeu entre a Pompa Fe rd inand III, 326. 33 7 Freder ico G uilhe rme IV. 431 Ge nésio, 169
e o Naturalism o , 382-39 5; Viena, 4 25 -4 29 ; Ferdinando I, 303 Fred eri co IV, 3'16, 397 G êngis Khan , 23.25.53,60.6 1,63, 386
Weim ar, 413-4 20 Ferr and ini: Catone in Utica. 4 08 Frede ric o V, 3'17 Ge org ll. 44 6
Erasmo de Roterdã, 270 Ferr ari , Benedctto: A nd rome du , 32 6 Fred eri co , o Gr and e. 338 , 408 Geo rge. Heinri ch . 492, 50 I
Erlach, Fischer von , 492 Festa de Corpus Christi, 208-2 11. 216 , 228, 26 1. Fred eri co . o Tem erário. 205 . 208 Ge rhoh de Reich er sber g, 203
Ernst , Max, 481 , 529 367, 368 , 369 Prei e Bühne, 453, 455-4 59 Ger mano, 17 8, 23 2
errante s, 242-247 Fe sti vais da cort e. 292, 299 . Fren zel , Karl. 457 Gershwin , Ge orge : Porgv e Hess , 517; Of Thee I
Ervine, Saint John, 460 Fe sti vais de Ano Novo: a nt igo. 17: Biza ntino. 177: Fre sn a yc , Pierre , 480 Sing. 5 16: Strike Up the Band. 5 16
Esopo.245 Romano , 157. 161 Freud. G idcon, 5 16 Gerso n, Jean d e. 2ó2
Ésquil o, 63 , 105 , 107 , 110. 113, 114, 117 , 130; festivais. 4 92-494 Fre yt ag , G ustav, 446 Gers t. J. C .. 4 32
Eurí pid es, e, 113; Orc ste ia, 488; Os Persas, 107, Feuchtwange r, Lion . 50 5 Friedrich . Caspar Da vid, 43 1 G h éon, Henr i: L 'A rt du theâtn: (A Arte do Teatro),
109, 120 ; Pes agem das Almas , 118; Prometeu Fídi as, 109 Frínico , 107 ; As Feníc ias, 10 7 469
Acorrentado, 107; Pro met eu. o Portador do Fil cm on, 129 Frisch. Max, 510 , Biedcrmunnund du: Brandstíft er Gh erardi dei Testa. 396
Fogo, 107; Sófocles, e, 114 Filipe II da Macedónia, 124 , 130 (O Homem Honrado e os Inc endi ários) , 527 ; Gherard i, Evaristo : Le Tlieâtre italien, 358
Estações medievais, 20 8 Filipe II , 270 . 296 lI iagrajill . 530, 534; /)011 Juan. ou O A II/or ÍI G hiberti. Lorcnzo, 28 4
Este, Ercol e d ' , 29 3, 353 Filipe IV, 37 3 G eom etria, 370 Gichsc, ·n leresc. 50 7
Este, IsabelI a d ' , 27 6 Fil ipe . o Bom , 261 Fri schlin, Philipp Nikodemus. 300 ; Juliu s Redi vivus. G iclgud, John , 480
Estienn e, C harles , 280 Filipe, o Ju sto , 245 303 gigakll. 78 -8 1
Estoc, Pai d ': La G rand e pastorale (A Grande Pas- Fíli s, 25 2 Fry, C hristo phe r: l'e/l IlS OIJ.I·en 'ed (Vé nus Obse r- G iotto di Bo nd on e. 269
toral) ,488 film es, 455; Broadway, e, 5 14 ; Co cteau , c, 471. 481; vad a) ,460 G iraldi. Gi ovanni: D isc orso d cllc commedie r de/le
Estrées , G abrielle d' , 330 co mo documentári os d e teat ro . 5 26 . 52 7; de l-uch s, 40 7 tragcdie (Discurso sob re a Co média e a Trag é-
Etelvoldo, 189 Eisenstcin, 499 ; Exp ressi oni sm o , e, 483; Futu- Fncm es, Ge or g , 338, 429 dia ), 273 ; influên cia em S hakespeare . 273 ; in -
Eud óxia, 175 rismo, e, 483; Jap on ês. '19, 10 2, 52 6 ; montagem. Fui Lia. L udw ig, 4 59 fl uênci a e m Spe roni , 273; Mo ro di 1'<'llczia (O
Eupólide, 121 523 ; de Reinh ard t. 487 , 488; Surrea lis mo . e, 481. Furtt en hach . Joseph . 150 , 287, 291. .135. 337 ..176. Mour o de Veneza ), 273 ; Orb ecche, 27.1
Eurídic e, 325 , 326 483: teat ro , e. 523-526 : teat ro políti co . e, 500. 379 : ltin rru rium frlll illr . 287 : M IlIIIII/(/[li er Giraudo ux, Jean , 4RO; Siegfried , 480
Eurípides, 38, 110, 113. 117, 118, \3 0. 134, 141. 50 I, 502; tel evisã o. 52 6 KII /lsrspieg el, 335 G leich, J. A.. 4 25
173,274; Agall1e1l0l1, 117; Arque/mi, 110; As Fil ogclo, 137 Furtwiingler, Wilh elm, 494 , 526 G liese. Ro chus. 530

560 • 56 1
H ís t árí a Mu n d ía l do Teatro • • í ndi c e

Gluck, Cheistop h Willibald , 387,420 , 425; Ifi gênia, Grabbc . Chri stian Dict rich, 4 00 Hagen, E. A .: Gesch íchte des Thcaters in Preu sscn Hen slowe , Phili p. 3 18, 3 19
387, 424 Grahn, Lu cile , 433 (História do Tea tro na Prússia), 406 Henze, Hans Werner: O Peq ueno Lorde, 81
G rnelin, Helrn uth, 526 G ra nac h, Alexandc r, 501 Haklu yt , Rich ar d : Th e Pri nci pal l Navigations, Heráclito, 104
Gnapheus: Acolastu s. 300 Gru nville- Barker, Harlet, 460 \'c>iages and Disco veric s 'if the EIIg/ish Nation, Herbert , Hen ry, 3 17
Go-K omatsu , 83 G rass , Günter , 5 11; Di e Plc b ej cr prob en dcn 31 2 Hércules, M aximinian o, 164
Gobineau, Joseph Art hur de, 23 A ufs tand (Os Pleb eu s Ens aia m a Revolt a), 51l Halév y, Lud ovic, 44 2 Herder, Johann Gottfried von , 41, 34 1. 41 2; Goe the,
Godfrey, Thom as, Jr.: The Prin ce of Parthia (O Prín- Graun, Carl Heinri ch, 33 8 Hall, Peter, 53 0 e, 418; Über die Wirkung der Di chtkunst auf die
cipe de Parti a). 5 13, 515 Gr éban, Amoul, 222 ; Myst ére de la Passion, 222, Hallam, Willi am c Lewis, 514 Sitten der võlker iII alten und nellen Zc iten (So-
Goering, Re inh ard : Seeschlacht (Batalha Naval), 223,235 Halle, Adam de la: Le Jeu de la Fe uill âe, 247; Jeu bre o Efeito da Poesia na Moral dos Povos nas
475; Die Siidp ol exp" lJition des Kapitiins Scott G RÉC IA, 103-13 7; co méd ia, 118-1 30 ; Infl uência de Robin er M a rion , 248 Épocas Anti gas e Mod ernas), 412
(A Exped ição de Ca pitão Scott ao Pólo Sul), 538 arq ui tetôniea em Rom a, 151 , 154 ; influ ê nci a e m Hamrn erstei n, Oscar, 5 16 Herne, James A .: M argaret F1emin g, 5 17
Goethe , Johann Wolfgang von, 26, 41, 63, 28 1, 367, Ter êncio, 147, 148 ; influên cia na Índia , 37; Harnurabi, 16 Hernnann, Max: Entste hung der ber uf sm iibi gell
395. 40 3. 404 , 413-420, 423 , 425 . 427, 4 30, litur gia, 186-189; mimo , 136-1 37 ; nô, e, 83 ; tea- Handk e, Pet cr , 52 7: Kaspar, 527 Schausp ielkuns t im Alt ertum und in der Neuzei t
Cla vigo, 41 3; na da nça indi ana. 32; Diderot, e, tro helenístico. 130 -136 ; tragédi a, 104-1 18 Han sen, AI. 527 (Origem da Arte do Teatro Profi ssional na A n-
4 18; Egmont, 4 17; Elpenor, 63: Erik õnig, 247 : G ree n, John , 375 Harden , M ax imilian , 459 ti güidade e n o s Tem pos M od erno s ), 272 ;
Fausto. 26 , 208, 227, 252 , 41 6, 431, 526 ; Dit, Greene, Grah am . 460 Hardcnberg, Fried rich von . Vej a Novalis Fors chun gen zu r de uts che n Th eatergeschi ch te
Fischerin (As Pescadora s), 284, 4 13; G õt; "on G ree ne, Robert, 317 Hardenberg , Karl A ugus r von , 425 des Mitt elalt ers und de r Renaissance (Investi-
Berlichingrn, 4 13, 4 23 ; Herder, e. 4 18; Holberg, G rego r, Joseph, 296 Hardt , Ern st : Tot e Zeit (Tempo Mono ), 459 gaçã o para a Histó ria Teatral Alemã da Idad e
e, 400; lffl and , e. 4 23 ; lphigcn ie a uf Tauris G regório de Nazianzo , São, 172. 17 3 Hardy, Al exandre . 344 Méd ia e da Ren asce nça ), 308
(Ifig ênia e m T auride). 63, 4 13. 416, 424; Di e G rci n, Jacob Th om as, 45 9 Harms, Joh ann Os wa ld, 337 , 338 Herodes. 21 5 . 2 16. 221. 234, 235
Laune des Verlie btcn (O Capri cho do Enamora- G r étry, André Em est Modesto, 387 Harsdõrffer, G eo rge Philipp: Pegnesisches Sclui- Herodes Ático, 154
do), 284 ; Man zoni , e, 436 ; Realismo, e, 441; G riffith, David Wark : Judith of Bethulia, 52 3 fergedicht , 2 84 Heródoto, 7, 13, 14, 23 , 104
Regeln [iir Schnusp ieíer (Regras para o Ator ), G rillpa rzer, Franz. 367, 36 9, 427, 42 8 ; Ahnfrau Harsha, 32 ; Pr iya darsika, 41 ; Ratna vali , 41, 42 Herondas de Có s, 137
418 ; na rep resent ação, 4 19; Rousseau, e, 41 8; (Avó), 427 ; Ein Br uderzwist in Habsburg (U ma Hart , He inri ch e Julius, 459 Herr ad de Lan dsber g: Hortus Del iciarum , 235. 245 ,
Sch adow, e, 441 ; Sc hiller, e, 4 17. 4 1R; Schinkel. Briga entre Irmãos e m Hab sbu rgo ), 446; Sapp ho , Hartl, Edu ard . 196 24 7
e, 424; Schrõder, e , 42 7; Tasso , 416; Voltaire, e, 4 27 Hasêk , Jaroslav: O Bom Soldado Schwcik, 50 7 Hes íodo, 175
388 ,4 18; Der lVestii,<tl iche Divan , 4 1; 1171helm G ri mrne lshausen, Ha ns , 25 5 Hasen cle ver, Wa lter : Der Sohn (O Filhll ), 4 75 , 476 Heyme, Han sgünth cr , 538
M eister , 41 6, 430 ; Willic h, c, 304 Gringoire. Pierre: Jeu da Prin ce des So is ct de la Hassenrcut e r. 4 14 Heyw ard , Du bose: Porgy, 5 17
Goeze, J. M., 4 11 M êrc Sotte, 257 Hatr y, Mi ch ael : N o tstadsiibung (E xe rc íc io s d e Heywood , John : Pla v of the H" a ther (Auto do Tem -
Gógo l, Nikol ai Vasil ievi ch, 429 ; O lnspctor Geral, Gri s, Ju an, 48 1 Em ergên c ia), 504 po), 299
436440 Grisi, Ca rlona , 43 3 Haugwit z, A. A ,: Maria Stu art, 34 1 Heywood , Th om as: A \\bt1l1111 Killed with Kindness,
Goldoni , Ca rio, 26 , 36 7, 370 ,428, 499,510; O Ser- Gropius , Walter, 50 1 Hauptmann , Gerhart, 99, 110,4 51, 453. 457,459 , 3 17, 3 19
vidor de Dois Amos , 367 , 488 G ross ma n, Jan , 533 480 ; Die Rattcn (Os Ratos ), 419; Di<' I'a sunkene Hikita, Awaji -no-jo, 89
Goldsmith, O liver, 43 6 Grosz, George, 502 Glocke (O S ino Submerso) , 466 ; Dic Weber (O s Hilário. 205
Goncourt, Ed mo nd e Jules: Hcnri eu e Marechnl. G rotowski, Jerzy, 504, 526 Tecelões), 45 3, 457,459; Hanneles Himmelfahrt Hilpcrt, Heinz, 530
453, 457 G rube, Max, 448, 449 ; Ge sch ich te d er Meinin ger (A Ascen são de Hanele), 46 6 ; UIJ(J Pippa tan it Hinduísmo, 29 , 44, 4 7
Gontcharova, Natha lie, 481 (A História do s Meinin ger ), 44 6 (A Pipa Dan ça), 466; \'r,,- Sonlletlaufgan g (An - Hypokrites. 105, 107
Go nzaga, Duyu e Vince nzo , 325 , 326 G rü ndg cns , G ustaf. 487 , 526, 530 tes da Aurora), 457, 45 9 Hjon, Sophie, 397
Gonzaga, Vespasiano, 24 I G ry ph ius, And reas, 376; Ca tha rina vo n Georgien, Haydn , Jo se ph : C riaç iio, 4 25 Hochhuth, Rol f: Der S rel/vertreter (O Depu tad o),
G ordon, John Wa tson , 442 376 ; Co m ml'dia d el/'art", c , 376 ; lI ocr ibi- Hcartfield. Joh n. 500 504
Górki , Máximo, 367 . 45 1. 4 63. 465 , 496: No FUI/ · lieribifax, 376 ; Leo Armen ius , 376 : Parinianus, Hebbel . Fricdrich. 441, 44 6, 492 ; Gmon'lIa , 488 ; Hodl er. Ferdinand, 4 76
do. 451, 46 3, 487 377 He rodes allll Mariamlle, 446 Hoffmann Karl Ludwi g. 377
Gosson , Steph en : Pla)'es COI!fllled in fi l'e Aetiom, Gu ari n i, G iambattista: Pastorl ido, 281 ,308 ; lfooft , Hédroit, 223 Hoffmann , E. T. A., 367 . 4 06 . 4 23, 4 25, 429 . 432,
3 17 c,308 Hegelund, Ped er Je nse n: CalU/nllia, 303 4 33 ; A rleq uino , 36 7, 4 33; Ph ant asiest iieke iII
Go tthardi . W. G.. 4 16 Guatelli, Robert o, 293 Heijerman s, \l e rm an, 453 Callots Man ia ( Fa ntasi as à Mod a de Callot),
Gotlseh ed. Joh ann C hr is lo ph, 379 , 40 4- 408; Gu ndulié. Gjivo Franj e: Da brlll'ka , 284 Hélio . 32 5 367 ; Prin zessill Brambilla. 4 33. 499; Ulld ine ,
Deutsehe Sclumbiilllle, 404 . 407; Lessing, e, 404 ; Gustavo III, 403 Hellem, C ha rles : La Grallde pastora/ e (A Grande 433
Moliêre, c, 404 ; Neuber, c, 406, 407 ; Schiller. G utz kow, Karl, 446 Pastoral ), 488 Hofmannsthal, Hu go von . 266, 469 , 488; Das ge-
e, 408; Da StcrbCllde Cato (Catão Moribundo), Hellman, Lillian , 5 17; The Lini<· }-(,xe s (As Raposi- reltete Vened ig, 471; Madonna Diallora . 459;
406, 407 ; Ih sllch cincr Critisehl'll Dichtkun sr nha s) , 5 19 Das Sal zburger G rojJe Welnheat er (O Grande
vor die D e UTSdlCIl (Te ntativa de lima arte Poét i- lI aack c, Johann Cas par, 377 Henri qu e II, 273,274 ,278 Teatro do Mundo de Sa lzburgo), 492 ; Der Tor
ca para oS Ale mãe s) , 404, 41 2 lI aasc, Friedrich, 449 Henriyue III , 296 , 299 umI der Tod (O Lou co e a Mone), 198
Go ttsehed, Lu ise Alld gunde, 407 , 408 Hack s, Peter , 147, 538 Henriyue IV, 296, 330, 33 4 Hogarth , Will iam , 38 1
Giittwe ig, 245 Hacndel. George Freder ich , 3X7; Pa.Hor Fida (O Henriyue VII I, 270, 3 12, 3 D Hoh enfel s, Stella . 44 6
Go unod, Cha rles: Pllilelllo" aml R,,",,;S, 441 ('ast nr Fiel ), 387 ; Rillaldo . :, 8 7; 'li·s e o. 387 ; Hen ry VI, 2 11 Holberg. Lud vig, 35 8. 396-400,407,428; No Bal-
Gozzi, Cario, 365.367, 5 10 : Princesa '/im md01, 4% \\'tua Masic (1'o1úsica Aquática), 387 Hen sc\ , So ph ie, 41 I Ileári o , 397 ; ri'itiçori" , 396; A Festa di' /l aco,

• 562 • 563
Hís t àr i a M' u n d in l do T e at r o . • ín d ic e

o Inim igo do 1'0 \'0, 73 ; no Japão. 102; O Palo JAP ÃO, 75-'19; bug uk u , 78-80 ; deng aku , XO-8 1; Karuasutra. 33
397 ; Fune ral da Comed iu Din amarquesa , ,' 97;
S elvagem , 4 53 , 466 , 4 6 9 ; Pee r G yn«, 466; g ig a k u , 7R ; k abuk i, '10 -99; kag u ra, 76·7 8 ; Karuor, Tadcusz, 533
Jepp e da Montanha, 397 ; De n po litiske Kandcst-
Rosmersholm, 469, 47 1; Os Yikin gs em Hclge- kyogen; 87 ; 1I1i , X1· 87; sarugnku , 80-X I; shintpu, Kao Ming: O Conto do A laúde , f>3
boa (O Estr anh ad or Pol itiqu eiro), 396, 397 ;
99: shingcki. 99- 102: teatro de bo necos. X7-9 0 Karagoz. 19, 25 , 2f> . 2X. 26 1
Qu arto de Parlo, 26 1, 397; O Salão de Natal. lallll. 470
Ich ikawa, Danjuro IX, 99 Jaques-D alcro ze , É mile, 470 Karajan, Herbert vo n, 494
397
Jardim da s Pe ras, 58 -6 1, 175 Karamzin, Niko lai M ikhailo vich: Púschkin, e, 4.16
Holinshed , Raphael: Chrollicles . 3 12 Ichi ka wa, Danjur o: Kajincho , 95
Jaur ês, Jean Léo n, 453, 476 Karl, Duke of Meck lcnburg: D ie Ros cnfe c (A Fada
Hollaender, Fclix, 488 IDAD E M ÉDIA, A, 185-267; alegorias, 26 1-267;
Holz, Am o: Familie Seticke. 457 ; Zola, e, 45 1 auto de carnaval, 250 -255 ; auto de Natal, 233- Jeffer son tu. Jo se ph, 5 17 das Rosas), 424
Jens, Walter, 110 K arsten, 4 20
Holzrneister, Cle rne ns. 494 24 2; auto de Paixão. 2 12-222 : auto de Páscoa,
196-203; autos de moralidade, 26 1-267 ; co rtejo Jen sen , Peter , 17 Kastan, lsidor, 457
homens: co mo mul heres em peç as, 148, 368, 369,
370 ; em Aristófanes, 123, 124 ; em laziyé, 20 ; teatr al , 228 -233 ; Estações, p roc issõe s e tea tro Jessner, Leopold, 530, 538 Kaufrnan, Geo rge S., 5 16
e m ca rros. 208-222 ;j oc ulatpre s, menestréis e er- Jesuítas, 90, 296, 299 , 300 . ,30 , 338 -344, 368 , 403 , Kaufm an n, C" 4 12
na China , 70 , 73; no Jap ão , 70; no teatro nó, 83,
505 Kaulbach, Wilh e lm vo n, 44 2. 44 8
84 rumes, 24 2-247; peça de palco , 247 -250; peça
KII/chl , 257 -26 1; peças ca mpone sas , 25 7-26 1; Jimmu Tenn o , 76 Kawak ami , Otoj iro , 99
Hom ero, 104, 175, 41 2; Odisseia , 140
Joana D' Are, 5 11 Kazan, Elia, 47 5, 524 , 533
Honegger, Art hur, 48 1; Ieanne d 'Are au buchcr peça s de lendas, 20 3-208 ; peças reli gio sas, 186-
João V III, 20X Kea n, Charles, 440 . 44 2, 44 X, 53X
(Joan a d ' Are na Fogue ira), 48 1; Roi David, 481 242 ; préstit o de máscara, 247 - 250 ; re prese nta-
joculato res , 222, 223 , 242-2 47, 266, 27 1. Vej a tarn- K can, Edmun d, 4 3 1, 432
Hooft, Piete r Corne liszoo n: Achilles ell Polyxena . çõcs profanas, 242-267 ; Sottcrnieên, 257 -26 1;
sottie, 25 5- 257 ; teat ro de mi sté rio , 222-228 ; hém men estr éis Keaton, Buster, 455
308; Geera erd vali Velsen , 308; Granida, 308
th eater in lhe roun d, 228-2 33 Jod ell e , Étie nne , 273, 27 4 ; Cleo p a trc c aptivc Keats, John , 4 29
Horácio, 105. 139, 40 4
IfIl and . August Wilhelm , 4 17, 4 20 , 423 , 424, 427, (Cleópatra Cat iva ), 273 ; Eu gén e. 273 Kernal, Narnik: Vatan, 26
Horniman, A. E. E, 460
431; Die Iãger (Os Caça dores), 4 16 jogos: Gr ego s, 103. 104 ; O límpicos, 157: Roma- Kernble, os, 431 , 514
H oughton, Stanley, 460
Iluminismo, O, 382 -41 3 nos, 139, 140, 15 1. 154 Keno, 83
Howard , Sidney, 520
Immermann, Karl, 432 Johann Georg II, 377 Kern, Jerorne, 5 16
Hrotsvitha, 199
Johann Georg \li , 377 Kerr, Alfred , 475, 499 , 50 5
Hsuan-tsung, 58 Ináci o de Loyola, 338
John son , Samuel , 39 1: Irene, 3'12 Keyse rl ing, Eduard vo n : Friihlin gsopfer (O Sac ri-
Huang T i, 54 lndep cndent Theater , 459-46 2
Jolliphus, Joris, 376 fício da Prim ave ra ), 459
Huang-hung. 59 Índ ia. 32-44; dançarin as, 32-33, 162 ; dr ama clássi-
Jones, lnigo, ss, 33 7 Ki Kiun-siang: O (Jr[tlo da China (Voltaire ), 6,
lIü bner, Kurt, 530 co , 3X-44; música, 78 . 80
Jo nes, Robe rt Ed mond , 47 1: Appia, e, 524 : Crai g. Kingsley, Sidney: Dend End (Se m Saída ). 5 1X
Hughes, Langston, 5 17 Índi o s. Norte-a mericanos, 5 15
e.524 kiogen , 87 ; fa rsas , 75: nô , e, 9 1
Hugo. Vict or. 257, 382 , 4 29. 4 31, 452 , 455 ; Les Indon ésia. 44 -5 1
jonglcu r. Veja mcn estr éis Kipphardt , Heina r: I II der Sa chr l . Robrrt ()1'1'1'-
Burgra vcs. 4 36 ; O Corcunda de Notre Dame, Infe rno repr esentado no palco (" po rtõe s do lnfer-
Jon son . Ben , 3 19 , 320 ; () Alquimista, 3 17; Evcrv nh ci m cr (N o q ue Diz Re sp e ito a J. Ro hert
257 ; Hernani, 436, 469 no " ), 198, 2 15, 2 16. 227 , 231, 299 , 30 1, 338
M ail iII HÜ' llum our, 313 : Scjanus. 3 13: S ha - Oppenhe imerj .óü-l
Hui-tsung, 60 Ingeg ncri. Angelo. 292
kespe a re . e, 3 1'1: votpon«, 3 17 Kirch mayer. Th om as. Veja Naogeorgus
Humboldt, Wilhelm von, 395 . 4 18 Ingh ira mi , Tornmaso, 270 , 27 1, 292
José II, 4 25 , 427 Kitabatakc. Ge ne Honi, 87
humor: nas alegorias. 265; atere s ambulantes, 375; Inocê ncio vm, 270
lo nesco , Eugene, 1, 469, 52 1: La Cu ntatricc rhauve Jou ve t, Loui s. 4XO Klein, César. 488
cm autos de Neidhart. 248 , 250; em Bhana, 42;
Joyeu se . Duque de, 296 Kleisl. lI e nrich von . 400 , 4 19 .423, 428,492 : Anf i -
burlesquc , 257 . 261. co média grega. 118- I3 U; (A Ca ntora Careca ), 527 ; lu -s C haises (As Ca-
Ju kich i. 98 tri ão . 147: Herma nns schlacht , 400 ; K üthch rn
co rte biza ntina , 182; farsa egí pcia. 78 ; Hans- de iras) , 523; sobre Kafka, 52 2: Rh ino ce r ôs (O
Juliano, o A pós ta ta, 30 I \ 'OH Hcilbronu , -..28: O Príncipe de Hombu rgo ,
wu rst, e. 365 : mimos romanos, 162, 163- 167; Ri noce ron te), 530: Sc cn e it quatre (Cena e m
Júl io II, 257, 269 533 ; "Sobre o Teatro de Mar ionetes", 89 ; na
em Mol iêre. 347 , 349 . 352 ; orla 0)'111111 turco, Qualro ), 527
zerbm cl,clIl' Kr ug (A Bilha Q uehr ada).41 9
26,28; Renasc ença , 278 ; re presenta ção profana Irving, Henry, 44 2, 455 , 459 , ·n o, 523 , 538 J ürgcn s, Hel mut , 530
Irvi ng , Washington : Rip lú n lI'illkl e (J oão Pestana). Justi nia no. 1f>2. 17 1. 172 , 175. 177 Kle mpe rcr, 0 110, 4 X7
medieval, 245 ; São Lu ís, o Pio , e, 242; Schwank ,
Juslilia, 22 2 Klc nze, Leo von, 44 2
e, 252; no tea tro da Mesop ot âmia, 16-1 7; no iea- 5 17
Ju vcn al , 155, l ól Klinger. Maximil ian: Der \\'in w ar r (A Confusão),
tro de mistério , 200 , 228 , 232 , 235 ; teatro de Isabell a de Aragão, 292
4 12: Die Z ...illill gl' (Os Gêm eos), 41 3
so mbras de Karagoz, 26, 28; teatro jap onês, 75, !ta llie , Jean -Clau de van: A meric'a flllr rah (O Gri -
Klo pstock , Fri edri c h G o tt lie b, 4 25 ; l/ a lllclIlns
7 6 , 87 ; teatro pr imiti vo , 4 , 6 ; za lllli . 355 ; l O da Améri ca ), 52 1; The Serpe lll ( A Se rpe nte),
kaiJuki, 75 , 87, X9-99 , 483, 492 SCl1lclCll1 (A Ba talha de Herman), 400
Zirkelgesell schaflell, 252. Vej a tamhém COI/lI/l<'- 52 1
Kadikiiy, 26 Knip per , O lga, 46 3
dia dell' arle . comé dia. farsa , sollie !tehu , 83
Kafka, Franz: lon csco. e. 52 2; O Proc esso , 533 Knud sen , lI alls. 4 19
Humperdinck. Engcl hert, 488 Ivã, o terrível, 274
Kagel, Mauríci o. 52 9 Kochanoll'ski, Ja n: O Desl'edillll'llto dos Eml" lixlI-
Husserl. Edm und. 53D Izumidayu, 92
kagllrll, 76 -?X; Tr agéd ia grega. e. 105 dor e.l C rego." 274
hypokr ites, 105, 107
Kainz , Josef, 4 49 . 459 , 487 Kohl hardt, Friedri c h. 406
Kaiser, Geor g: () Soldado TlII llIka . 53 4 Ko koschk a. Oska r, 4 71 : D er bn'/IIlCllde f) om lll l.l'cll
Jacob , Georg, 28
Iaroslav. o S,ihio, 182 Kalida sa, 38, 4 1-4 2: inll utncia c m Z ugii1ima , 42 , (A Sarça Arde nlCl. 4 75
Jaco h. Loui s, 358
Ibsen, lI en rik: Casa de 1I 01l1' CllS , 460, 466; Espe c· SlllIkulI/llla , 32, 4 1. 499 Kom achi, Soto ba . XI, X3
Jagelllann , Caroli ne, 420
Iros , 453 , 457 . 459, 46 6, 487 ; inllu ência cm Kallllan, Em mcr ich , 5 16 Ko mmi sarjevska ia . Vera, 49 5
Ja n in. Jules-Gabr iel. 441
Herne, 5 17, 5 18 ; inllllên cia e m Shaw. 459, 460: Ja nry, AI!'red: Ubll Roí (Vh u Rei ), 45 3, 469, 533 Kal \'Od ov<Í-Sís-Vanis, 66 Kortn er. Fritz. 527 , 530

• 565
564
H ís t o ria M u n d íal do Tea t r o . • í lld i c e

Leão ru, 1R\ Lo mmcl , An dreas, 3 Mandel , Johann . 2 70


Koster. Albe rt. 30 3
Kotaro . 83 Leão X, 26 1, 269, 276 , 278 . 284 Lon gin o. Cá ssio, 150. 15 t Manelli : Andromedn, 32 6
Kotzebue, Au gusr Friedri ch Ferd inand, 40 0. 4 17. Leb cl, Jean -Jacqu es, 527. 529 Lo pe d e Vega, 14 8, 345 , 369-373 , 3 77 , 420: Maníl io.1 29
429. 5 14; Die deutschen KIl'illsliidler (Os Pro- Led crer, Geo rge \V., 357 A m ura llll . 368; EI cabal/em de O lm cdo (O Ca- Mann , Th o mas, 538
vi nc ia nos A le m ães). 4 36 ; Di e Ko rs en (Os Led oux, Fernand, 530 valei ro de O lmedo), 368 ; Jo rg e Tolcdano . 369 Manriqu e, G óm ez : Rcpresentuci on drl nocimi ento
Corsos), 41 8; Die Kre u zfohrer (Os Cruzad os), Lég er, Fernand, 483 ; Sk a ting Rink (O Rinqu e de Lorr ain, Cla ude, 4 24 de Nuestro Seiior, 240
423 Patin ação), e, 48 1 Lorr c, Peter, 504 Mansfield, Rich ard , 460
Koun, Karolos, 538 Lehar, Franz, 5 16 Lort zi ng , Albe rt. 425. 433 Mantle, Burns, 496
Krauss, Clerne ns, 494 Lei cester, 313 Loui, Co simo, 370 Manu el II Paleól og o. 25
Krauss, Werner, 49 2 Leigh, Vivien, 53 3 Lotto , Loren zo. 28 1 Manutius, Aldus, 269. 344
Kraussneck, Arthur, 44 9. 457. 459 Lenda do Papa João. 208 Lo uva in , Ric hier de, 408 Manzoni, A less a n d ro . 4 29, 4 36: Ade/ch i , 4 36 ; 1/
Krü ger, J. c..
407 Len éias, 140 U iwe n, Fried ric h: Die Comedir im Tem p el d er Co nte di Ca rmagnola , 4 36
Ku e h·u·lu. 63 Len in, 501 Tug rnd (A Co média no Tem po das Virt ude s ). Maom é. 19 , 20 , 29 ,47
Kuan Han- King: A Pe rmu ta entre o \<:11I0 e a Lua . Lenya , Lou e, 507 4 11 Maqu iavel , Nico la u: Mandragola (A Man dr ágora ),
63 Lenz, J. M . R.: Der Hofme is tc r (O Preceptor) , 4 12, Lúcio , 137 27 8; O Principe, 292
Kublai Khan, 63 413 ; Der /leue Mendoza (O Nov o Mcnd oza), Lúc ulo , Lú cio e Marco. 150 Marceau, M arcel , 1.70, 164
Kunisada, 95 41 2; Die Soldaten (O s So ldados), 41 2; Über die Ludi Cae surei , 299, 342; teatro jesuíta. e , 34 1. 344 M arcial : Lib ell us spe taculo rum , 164
Kunst, Johann Christian. 378 Veranderungen des Thea te rs iII Sha kespea re Ludi Rom ani, 139- 144, 15 1, 162 Marco Pa lo. 6 1
Kurosawa, Akira: 526 (Sobre as Variações do Tea tro em Shakes peare), Ludwig, O tto , 44 1; Der Erbfo rster (O G uarda 1'1 0- Margarida da Á us tria. 30 5
Kwanami, Kiyotsu gu , 81, 83 412 restai), 44 6 Marg ari da . Rain ha. 30 1, 334: Miro ir de I' ânu:
Kwanze Kojiro Noburnitsue, 87 Leonardo da Vinci, 98 , 292 , 293, 483 Lugné-Poe, Ale xand re, 453. 4 66 , 49 9: Pelleas et péchére ss e , 30 1
Kyd, Thomas, 377; Ttie Spanish Tragedi e, 3 19 Leopoldo I, 342 Melisande, e, 469 Mari ett e . Au gu sto. 445
kyo gen , 75, 87; cicl o de Towneley , 232; med ieval, Les bos, 151 Luís XII, 257 Marinett i, F. '1'., 529 ; Proclama sul teatro futu ris ta
255-257 ; Rom ano , 161, 162; Turco , 25, 28 Lessing , Gotthold Ephr aim , 26 , 110,273.382. 400 , Luís XIII. 334 (Ma nifes to do Teatro Futurista), 48 3
40R-413 , 417 . 4 25. 5 21; A rleq uim. e, 406 , 407; Luís XlV, 324 , 334. 347 , 352. 358, 403 mar ion et e. Vej a te atro de bonecos
Brieje . die neue." " Liter a tu r bct reffcnd (Cartas Luí s X V. 386 Marivau x, Pierre C arlet de C hamblain de, 38 2. 4 0 7
La Grange, Sieur de. 352 Sobre a Nova Literat ura ), 404 ; Dramaturgia de Luís, Sã o , 25 7 Marlowe, C hristop he r, 3 12, 377; Dido, 3 19; Dort or
La Mou é-Fouqu é. Fr iedr ich, 4 33 Hamburgo , 148. -'95 . 404 . 40X. 4 /1 , 4 12; Emitia Lull y. Jean Bapti ste, 296, .U 4. 335 , 388 ; M ol iêrc , Fa ustu s. 3 19 ; E duardo II , 505 : He ro and
Labiche, Eug êne Marin , 44 1, 480 Galoui . 392 . 40 3: G ousc hcd , c. 4 04 . 406 . 40R; e, 347 , 349 Leaiule r, 3 12; Tambu rlai ne the Great . 3 19
Lachma nn, F. R,. 300 Der j ung e Gelch rtc (O Jove m Erudi to) , 408 ; Lu mum ba, Palr ice. 504 Mart in, Ka rl Hein z, 4 76 . 4 92
Lactâncio, 169 Lillo , e, 388 , 39 1: l itenuurbricfc (Cartas sob re Lunach ártski. A . v.. 465 Másca ra e teat ro de m áscara: a rlequim , 358: d o
Lacy, Jam es, 391 a Lite ratura), 40 8; M inna "011 Ba rnhelm , 39 1, Lu te ro. M art inho: Tischredrn, 300 arq uidcm ônio , 247 ; Biza ntina, 175. 1X2: C h i-
Ladislau IV. 358 4 11; Mi ss Sara Sa mpso n, 39 1; Natan, II Sábio , Lyd gat c. Joh n. 2 11 nesa . 70: Egíp cia. 7, 11; far sa. 256 , 257 ; G rega .
Lang, Fritz. 504 26; Voltaire, e, 40 8 Lyl y. Jo hn. 3 12. 3 17; /11011", 1'Bomb ic, 2XO 105, 107. 117, 123 ; Ind iana. 36 , 37: Japo nesa.
Lange, Ca rl, 194 LeIO, Giulio Pomponio. 164 75 . 76 -81 ; m ed ie va l. 248; m imo , 16 2. 167 ;
Langhans, 423 . 42 4 Let o, Pompônio, 164. 27 0-272 Piscator (uso d e). 538 ; pri mitivo. 2-6: Rom ana.
Langley, Francis. 3 18 Libãn io, 175 I> lach iz. He rber t, 520 148; taziv«. 23 : Teatro é pico. 5 11; teat ro políti -
Lania, Leo, 50 I Lichtenstcin, Roy, 538 Ma c Kaye . Percy. 520 co . 500 . 50 1; teor ia de Craig. 4 71. 4 75 ; Ubu Ro i
Lankheit, Klau : Revol u ção e Restauraç ão, 429 Licur go, 118, 130 M ac phe rson , Jam es, 4 29 (Uhu Rei), 4 6 9 , urso , 157; zu nni , 355
Lari onov, M ikh ail. 4 8 1 Liebkn echt, Karl. SOO Mac rcad y, W. C .. 431 Masen ius: A nd rophilus 34 1;A rs No\'QArglllill rwn .
Laroch e. J. J., 367 . 425 Lillo, Georg e : The Lotulon M rrchunt (O Mer cad or Macrerl inck . Maur ice, 495: Pcl leas 1'1 Mclisandr . 34 1; influ ên ci a c m M ilton , 34 1; Sarcot is. .~ 4 1
Lasker-Schüler, El se : Di e lI'upp er. 47 6 de Lond res). 388. 39 1 41 , 469 ; U I Princess e /II"ld"e. 45.\; 71111Ogi ll'.I". Maspcr o. Ga sto n, I I
Lasso, Orlando d i, 357 Lin coln . Abraha m, 5 16 466 Massalitino v, 466
Lasterbalk, 194 Lind , Jenn y, 43 3. 5 14 Magn os . 120 , 121 . 123 Massenct, J ules Ém ilc Fréd éric: Le Jongle ur d e
Latouchc, J" h n. 5 17 Lindner, Am and a, 44 9 M agn o. Carlos. 89 Notre·Dllme. 247
Lau be . Hein ri ch . 420 . 446: Brief ell Über d lls Lindtberg. Leopold, 50 7, 533. 53 4 1\1ahcndra-Vikramavarman: ft-fa ta l'illl sl1-l' ra!lasl11w . Matisse , He nri, 4 81
dell/sche The a te r (Cartas sobre o Teatro Ale- Li poldo, 196 42 Maucl air. Ca mille . 4 69
mão), 44 5 ; Di e Karlsschüler (O Discípul o de Liutprando de Cremon" , 18 1 Maiakóvski. Vladím ir: O Mi.Ht'rio Bufo . 49:; Mauro , Ales sand ro , 337, 338
Karl). 445 . 446 Living Theater, 0.520, 52 ! Maintenon. Madame Lle. 347 . 35 8 Mau ro . f'ra ncesco. 33 7
Laureolus, 167 Lí vio Andrónico. 140. 141, 147 , 148 Maka.1.433 Maxênci o, 34 2
Laul enschl ager, Karl . 98, 483 Lív io, 139, 150 MãIe. Emi le , 194 Maximil ian o I, 27 1, 27 6, 283, 303 ; M arch o TriUII-
Layard . Aus te n Henr y, 442 Lo-yang,58 t\lalipicro , Lui gi. 526 fa l. 299
Lázló. Moh ol y·Nagy, 475 n
Loc her, Jacob : Tm MI'dia de Th u rci" 1'1 Sulda llo, I, Matlarm é. St ép han e, 466. 4(,9 ; " L'Ap n'.I"-lIIid i d'lIl1 Maza rin. Jul es. 34 7
la zzi. 35 3, 355 300 FlIlllle (O En tardecer de um Faun o l. 469 I>1cLuhan. M arsh all . 527
Le Kain, He nr i Lou is, 388, 395 Loc ke, John : Ep ísrola d e u Jler tillci a , 38 t l\'la lra ux, A ndré . 53 3 I>ledici . (',,[arina L1e. 27 R, 280
Le Mercier. Loui s Jea n Népomucén c, 345 Lohenstein. Daniel C" spcr von. .178 /l. la mo nl<)\", S. I.. 462 Med iei. Júli o de , 27X

• 566 • 56 7
Índice
Hí s t ár i a Alul ld ial d o Tvarro •

mora lid ade , med ieva l, 186, 252. 255, 261 -267 Napoleão, 35 2
Mediei , Louren ço de . 28 I Mimashi.78
Morux , Ren é e Jean. 48 1 Natvasa stra, 32 , 38 , _~04
Mediei, Maria de . 325. 33-1 M imo (miml<s), lJ6-137 . 15 1, 157 . 16 1. 162, 235;
More nz.. S .. 16 Nehcr, Caspar . 53 0
Medicus, 19 1 Anneno. 25 ; Biza nti no . 177 , 178 ; caracteres do .
M oreui , Marcel lo, 526 Ncmirovich-Dantc hc nko , Vladímir lvanovich, 46 2.
Medwall, He nry : Ful gcns and lucrccc, 266 191; Cigano, 25; cristol ógico , 167-1 69 ; dcll 'urte,
Morge nstern, C hristian, 487 46 6
Megalenses, 140 353 ; Egípcio, 7, 8. 16; gigak u, 78 ; G rego , 25. 38.
Mo ritz , K. P.: A nto n Reiser, 430 Nero , 13-1. 154 . 155 . [ 57 . 164
Mégara, Epicarmo de . 120 , 12-1 136-137; improviso, e, 163, 164 ; Indiano, 33, 36;
Morto n de Ca nte rbury , 266 Nestroy, 367 , 42 5
M éhul, Ni ch olas: La Danwmallie. 4.' 3 influ ência em Bharata, 36 , 37; influência no auto
M õscr , J ustu s: Hurlequins Hci ruth (O Ca sam en to Neuber, Johann, 378
Mei Lan -fang, 66. 67. 73. 164 de Paixão. 167; Japo nês, 78 ; judeus, 25 ; ma gia e,
de Arlequim), 4 [2 Ne uber, Ka roline , 365, 375 , 378, 379. 40 6, 407.
Meierhold, Vscvolod Emilievich. -151. 45 3, 465. 2 ; Marceau, c, I ; mi stério me dieval, 185, 186,
Moskvin, 462 40 8; Gottsc hed, e, 406. 407, 408
471, 494 . 495, 496 . 4 99. 501 , 504 194,245; pagão, 175; Romano, 151. 162-167;
Moul êne, 155 N évio, Gneu, 14 1; Romulus, [41
Meijer, E. R .. 4 30 Toj uro, n, 95; Tur co, 25 ; Yu-meng, 54
Mo une t-Sull y, 442 Niceta s de Tri er, 191
Meilhac, Henri , 442 Mimoso , João Sardinha : Rela cion, 296
Mowatt, A nna : Fashi on , ar Li/e iII Ne il' York (M od a. Nic holas de Vcr~un : Antependium, 234
Meini nge rs, os. 530 Mi namoto no Hiro masa, 80
Melanchtho n, Phi lipp , 300. 30 1 o u A Vida em Nova York ), 5 15 N ico lau de Cusa, 269, 270
Mi ng Huang, 58 , 59 , 70
Mélie s, Ge or ges, 52 3 Mozart , Wo lfga ng Amadeus, 420, 424, 425. 5 1-1; Nico lau I. 436
Minks, Wilfried , 50-1, 530, 53 8
Bastien und Bastienne , 284 ; A.>Bodas de Figuro , Niessen , Ca rl, 304
Memling, Ha ns : Os Sete Go zos de Maria e As Sele Mir ó, Joan , 481
Dores de Maria , 196
425 _494 ; Cosi fantuttc , 494 ; A Flauta Mágica . Nijin sky. Waslaw, 469
Mi tterwurzer, Frie drich , 4-16
Menaechm i (O s Gêmeos), 1-17 4 24 , 4 33 ; DOII Giovanni, 370, 425 . 494. 526; O Niko laus de Avancini : Pielas victrix, 342 . 3-1-1
Miyako, Denn a i, 95
RI/pIo do Serralho , 494 ; Zaide. 387 Noe lte, Rudolf , 534. 538
Menandro, 118, 129, 172 , 175; A Arhit ragem , 129; Mn ester, 164
Dyscolus (O M al-hum orad o), 129; Plaut o, c, 129, mulheres: como homens cm peças. 369, 370, 4 06; Norton , Th omas, 274
Mo Ti , 54
144, 147, 175; Terêncio. e, 129, 147, 148, 175 dramaturgas, 5 15, 516 , 5 18. 5 19 ; M ari vaux, e. Nostic-Rhineck, 403
M ódl , Manha, 510
Mendel ssohn , Felix, 442; Sonho de Uma Noit e de 382; mimo bi zan ti no. 245 ; mimos, 136, 137, Novalis, 429 , 52 1
M ohammed II, 172
175, 177 ; no auto de Pai xão, 245; nos autos de Noverre, Jea n Georges, 387, 391; Lemes sur la
Verão , 432 M oi ssi, Alexander, 4 87, 492
Mendes, Catulle, 453 carnaval, 250, 252; no Coliseu , 157; no s mimos dansr, 419
Mo liere, 26, 120, 129 , 227 . 280 , 296, 334, 344 , 346,
menestr éis e joc ularorcs. 2-12-2-17, 266, 27 1 romano s. 162 ; no teatro de mistér io. 19 8, 199 ; Nóvio, 161
3-17,349, 355,367.370. 37 8.3 88,408.4 13,428,
M énéstrier, 3-1-1 no te at ro japonês . 91. 92 . 99 Num erian o, Marco A uré lio. 161
530; Anfitrião. 14 7 ; A s Artinumhas de Srapino,
M uller, J . H . E, 4 25
Menukiya, C hozaburo, 89 352 ; O Avarento, 147, 396; U ' Bourg eois genti l-
Menze l, Adolph von . -1-1 1 Miimio, Lúcio . 150
IUIIII/Ile (O Burg uê s Fid al go) . 334 ; Com édie
Mercad é, 223 Munch, Edvard. 4 87 O ' Ca scy, Sea n, 45 1; Juno e o Pa vão Real, 530
l tul icnne, e. 357 . 358: L, ' Di!,il a l/lOUreln (A
Mercanton , Loui s: Qu een Eliznbcth, 523 l\ lurray e Kcan , 5 1-1 O · Hara . Frank : Try! Tn'! ITe nte' Te nle!), 520
Decepção Amorosa), 34 7; O 0 0 (' 111(' Imaginário.
música: cun ti ra . 1-17; C hinesa. 53, 5-1 . 55 . 59 . 60 . O ' Neill , Eugcne. -160. 4 71. 499; Bevond the Ho rizon
Mcrcati , Giovanni , 178 352; L'École des [enunes (E scol a de Mu lheres).
6 1. 6 3 , 6(, . 7 X, 80 ; co m éd ia i ng le sa. 37 6 ; (A lé m do H o rizon te ). 5 20 ; Bound Ea .H (o r
Mercator , 19 1. 194,200.216. 2-15 3-17, 3-19; Écol e dcs maris (E sco la de l\ lari dos).
Commedi a dcl lorte, 357 ; co rte medi e val. 2-12, C",diff( Ru mo a Ca rd iff), 520 ; Desi re underthc
Mercier, Jean . -170 3-17; Les Fâcheux iII \'<:w x (O s Impert inentes cm
2-15: Eg ípcia . 7, 8, II. 13- 16; g u mrlun, 5 1: Gr e - Elnis ( Des ejos sob os Olmos [Desejo j], 520; TI,e
Merck. Johann He in rich . 413 Vaux). 334 ~ 0 0 11 Ga rcia de Navu rre ou Ú · Prince
ga, 10 5 . 136 , 137 ; Indiana, 3 2, 3.1, 36 . 37; Hai rv Ap c (O Ma ca co Cabeludo ). 520 ; Iml'''''' -
Merkel, 357 j uloux, 3-17;Gou sched , e, -10-1. -106 : L'llIIp rop/IJ
litúrg ic a . 189 ; mim o ro ma no, 16 3. I ()-1: o rla do r I one s , 6 ; Thr M oon of thc Cari bbees ( A Lua
Merrill, Jame s: t t« Bail IA Isca ). 520 de vcrsailles lO Improviso de Versaillcs), 3-17;
OX W IU , 25 ; peç a pastoral. 283. 28-1; poe sia , e. do Ca ribe) , 520
Mesopotâmia . 7. 16-1 7 infl uência em Ho lbcrg, 396, 39 7; Jodc lle, e. 273 ;
-166 : primitiva , 3, 4, 6; em Shake spea re . 320. Obaldi a, René de : Le Cosmoncuue agrico lc (O
Messenius, Joha nnes . 303 0 011 Juan , 370 ; U' Mariug e l orcé (O Ca same nto
322; simb olis mo. e, 469 : no teat ro de mi sté rio Casa me nto A gríco la ). 527
Meyerbeer, Gia corn o : L('.\· /fl/ gl/CIIOIS. -1 .'3 ; Robert it Força) , 334, 352 ; Misanthropos , 129, 397,407;
ing lês, 23 2. 233: o teatro de Tago rc, e. 42 , 44; Obey, André: Noé . 4 80
le Diable, 433 Lcs Pr écieus cs ridicules (As Preciosas Rid ícu-
Teoria a ris to tel ia na d e. 324 ; Turc o . 25 . 26 : Obrat so v, Se rge i. 4'>5
Mezzetin, 35 8 las ), 347 ; U , Prin cesse d'Uide I A Princesa
\nn·oll g . 46 ; za rzuela, 373 . 37-1 . Veja tam bé m Odets, Clillord: AlI'llk<' and Si ng! (De sperte e Can-
Michel , Jean , 223; Mvsterr de la Panioll de no strc D 'E lide), 33-1; O Tartufo , 25 7..'49. 352. -128. 529.
ba lé, ó pe ra , ca nçõe s le !). 5 18
Sal/h'el/r Jllt'Sl/crist. 2 2 3 ; MY.Hére d <' la 530 ; Terêncio . e. 347
Mú sica gamelllll , 46, 51 ; slm dm e p elog. 51 Odoardo, de Konrad Ek hof. 392
RéJsurrectitm. 227 Molina, Tirso de . Veja Tir so de Molina
M us ical americano, 516 Oe- no-Masafu sa : Rokuvo dellgllku-ki, 8 1
Michelangelo . 270 Mo mmsen. Th eod or, 14 1
Musse t. A lfred de, 42 9, -136 Oert el , C urt , 501
Mielziner, Jo, 524 M ond orl', 344, 345
Mikkel sen , Hans. Veja Lud vig Holherg
Mu ssó rgski , Mod est Petr ovi ch , 436 Offenbach, Jacq ues : La Relle Hél élle (A Be la Hel e -
Montaigu, Ren é Magn on de, 396, 397
Mylius, ehristl "h, 406 , 407, 408 na), 442 ; COlltos de Hoffmallll, 475 ; A Grallde
Milhaud, Darius, 48 1; Reinhardt. e. 513 M ont ehr estien, Antoine de : L 'i:'co.u ai sc (A Esco-
Miller, Arth ur, 460; A Viell'frolll Ih,. /lridge (Pano- DUlJuesa de Gero lslr/ II, 442; 0/f<'1l1l0 IlIf em o .
cesa ou A Má Estrela ), 274 ; So!,llOllishe. 274
36, -142, 524 ; UI Páicllole, 442
rama Visto da Ponte), 519 ; Aft a lhe Fali (De · Mo nte ve rd i. Claud io : Arill/lIl1/ , 3 26 ; C lllc o -
Nag lcr. A . M , 216 Ogimachi, 95
poi s da Que da), 5 19; Ali My SO/1S (Tod os os rOlzaZÍolle di POPPi'U, 32 6 : Orfeo, 325. 326
Na kam ura,9 1 Oku ni,91
Meus Filhos) , 5 19: lJ cl/ t h of 1/ Sl/leSlIIl/1I IA M ontrésor, 5 14
Narn iki, S hozo, 89, 98 Olearius, 23
Morte de um Ca ixei..., Viaja nte \. 519 . 52-1 : 'I],,, l\lood y, William Vaughn : TI/(' I'i li lh H{,lIla, 618 ;
Pri ce (O Preço ). 5 19 Nam iki. So suk e: Kan ahedon C hu-sh ing ura. 98 Olivier, Laurencc , 52 6 , 530
TIr.. Gr{'al Dil 'ide (A Grande Front e ira) . 5 18 ; n,e
Mi lton , Joh n: Ma seniu s. e. 342 ; Pmwli lt, LosI (Pa· Naogeorgus (T homas Kirchnlayer ): Pll11l11UlC!lill ....
', Open Th eater, O . 5 2 1
SlIhi/l{' \I <,mllll (A l\lu lher S a hina) , 5 1X
raíso Perdido), 3-11 20-1.30 1 opera bujJa , 425
l\I<KI/. Fran z. -1n . 424 . -18 7

• 568 • 56lJ
H is r ór a Mun di al d o Tc o t ro •
í
• i" Ji n '

opera co mique, 408, 441 Chinês, 66. 67, 70; ci rcu lar, 232; Co média gre - P ári s. o Jovem, 164 P io 11: Ch vrsis, 27 8
Ópe ra de Pequim, 53 , 59, 66-70, 73, 452 ga , 123; co mé d ia in g lesa, 375 , 376; com édia mé - P áris, o Velho, 164 Pira ndc llo, Lui gi. 480 ; Cosi e tse \'i pare ) (A ss im
opera seria , 387 d ia . 12 9 ; d e C o rne ill e , 34 6 ; de scr iç ã o d e Par ker, Dorothy, 5 17 É. [se lh e s Parcce l), 51 1, Enrico IV. 5 1 1; 1
ópe ra: Bar ro c a , I. 324 , 330 . 34 2, 344 ; drama, e . Stanis l ávsk i de ,47 1; d euscxmachi1la , 117- I IS; pastoure lle, 248 Giganti drlla Montugna (O s G iga nte s LIa M on-
420, 44 5, 446 ; dra ma indi ano , e, 38 ; Fran ce sa . do is andares, 299; ccic lema, 117, 118; Elizabe- Pastrone. G., 523 lanha ), 534~ Seis Personagens ti Procura d l ' 11111
35 2 , 353 , 386, 387; Gui lher me li, e . 423 ; Ja - ta no, 3 18, 3 19; episke nion, 129, 130 ; esca da s Patanjali, 33 , 37 A utor, 266 , 5 11
ponesa , 99, 102 ; nan ch'u, 61 ; Napoleão em , no , 476, 480 ; es te ira ro lante, 502 ; es tuda nte s de Paul, Jean : Tuan , 430 Piscaror, Erwi n, 451, 496, 499-504 , 5 .,0 , 53 4 . 53 8 ;
352, 35 3; na scim ento, 325 ; Pequim , 59; Ro- teatro , 304; ex pressio nis ta, 47 5, 476 ; Fe rr ara. Pa ulo II , 269 D ic Abenteuer des Braven Soldaten Srhwcjk (As
mântica , 425 ; SI. Ev rernond, e , 407; Si ng spiel, 276; filme, e, 524 ; gira tório, 89 , 293, 45 2. 45 4, Pa ulo , Lú cio Emílio, 147 Ave nt uras do Br avo So ldado Sc hwejk), 5 0 I;
e, 324 -330 , 38 7, 403, 408 ; teatro primitivo. 3, 476 ; Gottsched, c, 407, 408; Gr õnnegade , 397 ; Pa ulse n, Carl Andreas , 377, 378 O'Neill, e, 520 ; Das politische Th ca ler (O Tea-
4; Tu rca , 26 hanamichi, 98 ; iluminação. 392 ; de Jessner, 476 ; Pav lova, An na, 452 tro Político), 500; Revue Roter Rum mel (Re vis-
Op itz , Martin, 326 . 408 ; Buch \'01' der deutschen de Jones, 471 ; kabuki, 98 ; Klucht, 308 ; logeion , Payne , John Howard : Brutus , 43 1 ta do Barulho Vermelh o ), 50 0 ; Trot; utlcdem
Poet erey ( Liv ro da Poéti ca A lem ã) , 404 129 ; lugar e s no , 395, 397; maqu inari a. 335-338, Peça de Igreja, 178-1 8 1 (Apesa r de Tu do) , 500
Orbay, Fr an çoi s d ' , 352 373 ,387, 4 20; me canism o. 373 ; Meistersing er, Peç a de lendas, 203-208, 233 Pitágoras , 169
orches tra, 123, 129. 134 , 175 ; na tra géd ia grega, 308; m iniatura , 209; m ora lidad e, 262 , 265 -267 ; Peç a dentro da peça, 4 1, 42 , 20 8, 209, 2 11,432. Pit oeff, G eorges, 480, 48 1
104 , 105, 107 , 118 mu ltim ídia . 49 5 ; nó, 83 , 84, 87, 98; ópe ra , 387 ; 4 33,510, 5 11 Pixer ecourt: La Femme à deux ma ris (A M ulher co m
or de ns reli gio sas, 303 , 34 1, 342 ; Agostinianos , 240 ; palco no , 5 11-5 13; plan o cê nico de Do nau es- peça mu sical tk 'un-ch 'ü ), 66 . 67 Doi s M aridos), 5 14
Beneditin o s, 203 , 248 . 34 1; Canusian os. 34 1: ch inge n, 21 6, 2 19 ; pa raskenia, 118, 130, 154 ; Peça pastoral , 330; ó pera, e. 324 ; Re na sce nça . 280- Plan ch o n, Roger , 530 , 533
Domini can os, 209 , 320 , 337 ; Fran ci scan os, 185, peças ca m po ne sa s, 26 1; p eriukt oi, 150 , 151 ; 284 ; scena satirica , 28 7: S ha ke s pea re, e , 3 12. PiaIão , 12 1; Banq uete (Sympos iumv, 118
240 ; Jesu ítas, 90, 296, 299 , 300, 330, 338 -344. perspectiva, 28 4 , 28 7, 291 , 292 , 344 ; de Piscator, 313 Pl atze r, Jo seph, 429
36 8, 4 03 , 50 5 ; Piar istas, 34 1 534; plataforma , 211 , 222 , 223, 227 ; de Platzer, Peça satírica. J07, 16 1; de C rítias, I 13; de Eurípides, Pl auto , 16, 144 . 150 , 161 ,270, 271 , 300 , 30 8.344 ;
Or ff, C arl , 109 ; Antigona, 538 ; Carmina Burana, 429 ; prim itivo , 2 , 3 ; produção de Hübn er , 5 30; 110; Sisifo, 134 ; de Sófocle s, 10 9 Amphitruo, 14 7; Aulularia (O P ote de O uro o u
205; Catlulli Ca rmina , 205 ; Éd ipo , 53 8 ; Pro- proskenion, 12 3 , 130 , 134; pulpitum , 154 ; a P eças cam po nesas. medieval , 186 , 2 57-261 C o m é d ia d a P a nela) , 147 ; Bc o lc o. e, 35 3 ;
meteu, 538 quarta par ede. 44 8, 449, 465 ; rai sed , 42 9 ; rea- Peç as Klucht , 257- 261 Cistclla ria , 147 ; influ ência em Ari osto . 276; in-
O rlik, Emil , 488 lism o, e , 448 , 44 9 ; Rederijker, 305 , 308 ; de Peças xiitas de Husse in, 14 flu ência e m Hol bc rg, 396 ; Menacrhm i (O, Gê -
O rsini , G iuli o , 261 Rein hardt, 483-492 ; Re nascença , 223, 29 1. 292 . Pechstein, Max. 488 meos), l,n . 270. 276 ; Mcnand ro . e . 129 . 144 .
or ta O)'UIl U , 25 . 26 300 ; roeu. 209; Ro man o, 148- 151 , 154 , 155 ; Pedro I, 378 14 7, 175 ; Milcs Glori osus (O Sold ado Fan far-
O rteg a y Ga sse t. José , 114 século X V III. 38 2: sckkon. 20; Schilier no , 41 3; Ped ro , M estre, 368 rão ). 14 7 . 280 , 300 ; Pseudolus, 147; S hakcs -
O rtol ani, Ben ito, 99 sigl o de oro , 369 ; sim bolista, 469, 471 , 4 75 ; Peelc, George, 3 17. 330 ; Tlic Arruignmrnt of Puris peare .e. 3 13: Sli cll/ls. 147; Terê ncio .e. 14 7.148
Osbo rne . John, 3 13; Tire Entrrtainer, 530 ; Loo k spo cc stagc, 52 6 ; de Stern. 488; de Svo boda. (O Jul gam ento de P áris r. 283 Pleyade. 273. 27 4 , 280
Back in Angcr (O lhe para Trás co m Raiva), 460 52 4 : tea tro e sco lar, 300 -304 ; teatro med ieva l. Pe lág ia. 208 Pluta rco, 194 . 27 3, 330
Osia nder, A nd rea s, 30 I 18 6 , 2 0 0 , 21 2 , 2 15 , 231 , 24 0 , 24 7 - 2 5 0 ; Pell y, Lewis, 20, 23 Poclzig , Hans, 4 88
Os ma n .25 Tcgernscc, Antichristo, 203, 204 ; leia ri . 150 : Pent eco stes, 198, 223 Poli cl cro, o Jovem , 130
O ts uro ,83 theologeio n, 118 , 123; de Ti eck , 431 , 4 32 ; T ra - P eri, Jacopo: Daflle , 3 24 . 326 ; E uridicr. 325 ; Pó lio . As ínio , 144
ano I. 18 1 gé di a g reg a , 114 ; três ní vei s. 227. 296 ; d e Sch ütz, and, 326 P oli zia no, An g el o : Favo la dO rfco (F ábula de
Ot to II. 24 8 Verona. 4 23 ; de Vi lar . 533 : de Vitr úvio , 27 1; Pé ric les, 107, 113, 114. 11X. 161 Orfeu ). 28 1, 283, 325, 345
Ono III . 175 Weimar, 4 13-4 20 ; de Wie land Wagne r, 470, Veja Pe rri n, Émile, 44 2 Pompe u, 15 1, 154
Ono , Teo. 53 0 també m constru ç ão de teatros Pérs ia, 20-23 Pornp ônio , Lú c io. 161
O tway, T ho m as. 39 1; \b.cza Preser vada , 47 1 Palitzsch , Peter, 526. 5 38 Péru se , 27 3 Pôn c io Pil at o s, 186 , 196, 2 15. 22 1
O usde)'.20 Palladi o, Andrca , 287, 29 1 Peruzzi, Baldassarc. 284 Pont e. Lor en w da , 425, 5 14
Ov idio, 205 Pal lcn berg, Max. 502 Peshko v, Veja M áxim o Gó rki Po nto. Eri ch . 507
Parnmachi us. 301 Pet er de Blois, 247 Poquc lin , Jean Ba pti ste. Veja Mo li ê re
pa n to m im a, 15 7 , 161. 53 4 ; A u st ralia na , 3; Pet er sen , Juliu s. 2 12, 2 15 Por f írio , 169
Pacú vi o, 1\1" 144 Bizantina. 172 , 17 3, 177 . 181 , 18 2; "C cm jo - Pet er weil , Baldem ar vo n, 212 Por firog ênit o. Co nsta nt ino. 181
Paecht , alto , 194 gos " , 58; Egípci a , 16 3, 164 ; Festivais de Ano Pet rarca, 269. 28 1; Canzonicrc, 3 12 ; S ha ke speare. Po ule nc, Franci s, 48 1
Paládi o, 172 Novo, 17 ; India na, 29, 4 2; Japonesa, 76, 78; me - e , 3 12, 3 13 Pou ssin , 345 , 424
pa lco : ag itl'ro l', 505 ; de Antoine, 453. 454, 455; de dieva l, 19 1, 234 , 2 35; pagã, 175, 18 1, 18 2; pri- Pe vsner, Antoine, 471 Power, Tyrone, 43 1
Appia, 470 ; are na, 524 ; Ateni en se, 118 ; auto de me ira na Améri c a , 35 X; Qu intili an o , e. 164; Philipe , G érard, 533 Po zzo . Andrc a : Pcrsp cc ti vac pictorutn a t q ur
Pai xão, 2 15, 2 19, 22 1; Auto s de ca rnaval, 250, Sum éria , 16 ; taziyc , 20 ; no teatro ép ico, 5 13 ; Pia n, Ant on io de, 42 9 archit ect o rum (Pe rspec tiva na P in tura e A rq ui-
252 ; a utos de Natal, 240; de Avan cini, 34 2; bal é, unive rsa l, 164 , Vej a també m mi mo Picasso. Pabl o, 481 ; LI' Dcsir at trap t' par la quem ' ret ura ). 338
334; Barr o co , 323, 325-326, 330, 334, 33 5-338, Paolucci , 276 (O Desejo Pego pelo R ahol, 526 Pra mpolini, Lnri co : Srcnog rof ia Futu rista, 4 83
34 2.344- 346,370, 420; Bayreuth, 470 ; Be rlim . parabasis, 12 3. 5 11 Pilades, 163, 164 Pra nd ini, Francc sco , 526
4 8 8; bo necos , 87 . 89 , 247; bu gaku, 78, 80 ; pa raskenia , 1 18, \30,296 Pil ot y, Karl von , 448 Pr alin a s. 10 7
Bu on t a lenti . 32 5 ; Burg th e at e r, 4 2 8 . 429 ; Pare , du , 346 P inern: Tile Scco1ld AI,-s. Ttm qltel'llY (A Segunda Preet oriu s, Em il, 530
Calderón . e. 373 ; calToça ecarm-palco. 208-212. Par igi, A lfo nso , 335 Se nhora Tanq ue ray ), 4 59 Preh auser. Go n fr ied . 365
228-242. 25 5, 257 ; cm'ca. 154 ; cen,írio, 442. Par igi . Gi ulio . 335 . 337 Pint er , Harol d: Ca rctak", (O Ze lador), 460 Pré sti to de m :ísca ra, 247-2 50

570 • 57 1
H ís t ári a Mu nd ia l li a Te a t ro
• í "tl il- t'

Priestlcy. J. B.: A" Insp ector ColI., (Um lnspet or Rassc r, Johann: Sp ir! \ '0 11 der Kinderzurht, 304 Rich cl ieu . 334 . 344 , 345 Sacch i. Antonio. 367
C ha ma). 460 Rat skom odie , 377 Riggs. Lynn: Grecn G roH' thc Lilacs (Os Lilase s Sac hs, Han s, 232 . 250 . 252. 256 ; Beritola , 308:
Procha zka, Valduni r, 40.1 Raup ach . Ern st, 446 Cre sce m Ve rd es), 5 i 6 Mcnacchmi (O s Gêmeo s), e, 308
procissões : d e A no Novo, 17: Bizamina, 189 : Rave l. Mauri cc , 4 81 Rilke , Rain er Maria: Soneto a Orfeu, 469 Sac kville , Th om as, 274. 375 . 376
Charivari, 248 : Co rtejos teatra is. 209: des te , 20 : reali sm o . 440-449 ; no auto do s profet as, 240 ; no Rim ski -Kor sak o v, Nikolai : SC/Il'hérazad,', 481 Sage . Le, 344
Egípcias. 8. II : gigaku, 78 : em Ju stiniano. 177: le atro de mistério. 227 Rinrão, 124 Sai nt Ev re mo nd , 4 07
litúrgi ca, 17 1: medieva l. 208 -2 12: Páscoa. 178 : Redentor , 219 Rinu ccini, Ot tuvio, 330: Dafne, 324 , 32 5 : Euridice , Saint -Oenis , Mi eh el , 4 80
primitiva, 4 : Ren ascença. 296 R ederijkcrs. 26i. 305- 308: Meistcrsing er. e, 308 325; Sch ütz, a nd , 326 Sa int-Ge lais. Mellin de, 274
Proelo, 178 Reforma, A. 209; influ ência nas peças de mistério . Ripoll, 195 Saint-Saens, Camil le, 441
Prokofiev, Ser gei Sergeievitch. 481 2 16 Riquier, Guirot de, 242 Sa int-Simon. 358
Protá gora s, 110 Re gras aristotelianas , 272 , 346 , 404 ; catarse, e, 38 ; Rist, J ohann , 376, 377 , 408 Sa inte- Be uve, 4 36
Prud ênc io : Psycilo",acili o . 261 Kalidasa , e, 41 ; Stendhal , e, 4 36 Rittner, Rudol f. 4 59 Sakata, Tojuro, 92 , 95
Ps ístrato. 104 Rei ch , Hennann , 167, 175 Robbins. Jerom c, 5 17 Salviano, 161
Ptolomeu , 129 Reinhardt, Ma x. 98 , 4 52, 4 55, 4 75, 4 76. 483-494 , Robert , Emmer ich , 4 57 Sa ruurai, 75, 81 , 83, 87, 89. 92 .95 : esté tica de. 9 1;
Púb lio Siro, 16 3 500 , 50 2, 511 : DClIIIOII, 495. 4 9 6. 500; influ ên- Rob ert . Yves, 52 7 ética de, 9 8; e ui jidaimono , 9 1: IIÓ, e, 90
Puccini, Gi acom o : Th e Gi rl of lhe Golden IVesl (A ci a em Me ierh old , 495 . 496 : M ilh aud , e, 5 i l; Rodin, Augusto. 469 Sangallo, 287
Garota do Oeste Dourad o), 454. 518; M adamc teatro de Nova York , e, 5 13 Roe the , G ., 300 Sa nnio nes , 162
Butterfly, 99 , 5 18 Re inho ld , K. W.: Saat \ '011 C OII,,' gesiiet dem Toge Rogcr s, David . 23 1 Sâ nscrito. 36 , 39 -4 1; dr am as. 4 2
P üc kl er-Mu sk a u , H ermann vo n: Briefc e in cs der Garb en cU re ifen . E in H andbuch [ü r Rogers , Rob ert , 2 28 Sa nturini, Franc esc o . 337
verst orben en (Ca rtas aos Mortos), 4 31 ASlhe liker W IlJ [un g e S ch au spiel er (Sementes Rohan, mare ch al Pierre de. 256 São Luís, o Pi u, 242
Pulcher, Cai o Cláud io . 150 Lançadas por Goeth e par a Amadurecerem no Dia Rojas, Fern and o de, 280 Sarcey, Francisqu e , 44 2
Purcell, Henry : D ido e Eneias, 470 dos Feixes. Um M anu al para Estetas e Jovens Rolland, Rorn a in , 323, 488; Dunt on, 488. 496, 500 Sard ou, Victorien, 452: Madame Sans- G êne , 459;
Púschkin, Al e xander Sergcievitch , 4 29 : Boris Atores), 419 Roller, Aifred . 488 Théodora, 441 , 44 2
Goduno v, 4 36 Re ino lds , Robert. 376 Rollinge r, Wilhclm, 2i 6 Sa royan. William : Thc Tim e o f Your Life (A Cha nce
Pusterbalk, 19 1. 19-1 Reli giãu do Islã, 181. 209 ROMA . 139 · 169 ; a nfi tea tro. 155-1 61 ; co méd ia , da sua Vida ), 5 19
re ligi ão , I , 2. 3, 177 . 4 88, 529 ; ce nsura , e. 368 ; 144-i48 ; e volução da con stru ção de teat ro s. 148- Sa rtre, Jean-Paul. 520, 526. 538
Claude l, e. 5 13; e m Cr üias , i 13 ; d rama esco lar. 151 ; fáb ula a te lana, 161. 162 ; Ludi Roma/l i, 140 - sarugaku , 80 -8 1
Quadfli eg, Wi ll, 526 e. 300; Egípci a, 11-1 6: cm Ésquilo , 109; na 144 : mi mo c ristológico , 167-1 69 : mi mo e pan- Satie, Erie , 4 81
Quaglio, Simon. 338 . 4-12 G ré cia. 103. 104 ; Igreja O rie ntal, 178- 181 : In- tomima, 162 -167 : tea tro na Roma Impe ri al. i 5 1- Sbarra. Franccsco . II Pom o d 'O ro. 330
Quediva. 445 dia na . 29. 32 . 33 , 36 . 39 . 4 1; teatro barroc o. e. 155 SCa,'IIl/l' [tons , 14 8 -1 5 1. 154 . 16 2. 22 3. 27 1. 276 .
Qucneau , Ra yruon d , 526 ; Exercicios de Estilo , 527 : 367 . 36 8; em teatro de mi st éri o , 186-242 Ro manti sm o . 41 , 429-40 287 , 29') , 30 8
Za rie duns lc m et ro , 527 Rémond, Frit z, 526 Ro mcrberg, 2 15 Sca lzi, Alcssa ndro. 357
Quinault, 395 RENASCENÇA, 269- 322 . 330 : Coméd ia hum ani s- Ro nsard . Pi er re d e. 273 . 280 Sca mozz i. Vince nzo . 287. 29 1
Quiruiliano, 16-1 ta. 276 -280 : desen vol vim ent o do palc o, 284-292; Ro sa. Sa lva ror. 3 23 Scauro, Emíli o. 150
Qui ônides. 120 dra ma escolar, 300 -304; fe stivais da co rte . 292- Roscnpl üt, Han s . 250 Sc hac k, Adolf Fri cdrich vo u. 373
Quistorp. -107 29 9; Meistersinger. 308 ; peça pastoral. 281- 284; Rossellini , Rob e rto . 533 Sch adewaldt, Wolfg an g . 110
Rcdcrijkers, 304- 308 : Teatro elizabct an o. 3 12- Rossini , Gi oa cch ino Antonio, 433 Sc ha dow, 44 I
322: Tragédia human ista. 272- 276 Rostand, Ed mo nd : L 'Ai gl on, -142 Scha fer. Heinrich . 13
Rabelais, Fran ço is, 255 Renncrr. Günther, 510 , 526 Rou sseau , Je an -Jacqu es, 387.4 12, -1 29 ; Goeth e, e, Scha nzcr, Marie, -157
Raber, Vigi l, 2 19 Re pre se ntações profa nas, medi e vai s. 200, 242 -26 7: 41 8; Le IlH' II d 'Al emb ert sur les spe ctucles (Ca rta Scheffcr, Thassilo vo n, 10-1
Racine, Jean , 274, 3-16, 388, -1 18, -133: A lexan dre France sas antigas. 247 ; Ingle sas antigas. 266 a d ' Ale rnbe rt sobre os Espet ácul os). 388 Schern bc rg, Dietri ch : Spi el von Fra« Juttcu (O Auto
te Grand (A lexandre. o Gr ande). 3-16: Andro- Rett enb acher, S imo n. 3-12 Rowc , Nic ho lus , 3 13: Tlu: Trog cdv 01 La d v Jane da Senh or a Jutr a ), 208
", aqu e (A ndr ômaca), 346 . 347 : At halie , 347 . Rct z. Franz von : Lcctu ra super Sal ve Regi na, 2 12 Crer (A Tragéd ia de Lady Jan e Grcy). 38 8 Sc hiller. Joh ann C hr is to ph F ried rieh voo. 345. 41 2.
395: Cor neille , e, 38 6; E.Hher , 347; lfi gêllia elll Rcu c hlin, Johann : Hcnno, 255 . 27 1. 300 Rueda. Lopc de, 280, 283 420 , 42 7, 42 8, 4 30 . 4 36 . 44 5. 505 ; Die Bra ut
Á ulis. 110 : ljig ê"ia" /Il Táuride, 110 : Milhridlll" . Re uenthal. Nei dhart von, 248 Ru off. Jak ub : m 'illga rll'1lspie/. 30 I "011 M essill a (A No iva de Messin a ). 4 20; DOII

346 ,41 8 : pa ró dia de Brréllicc . 358 ; Pliédre Rezv ani. l\ledjid . 23 Ruot ger. 242 , 24 5 Ca r/os , 4 65. 5 14 ; G oethe . e . 413, 41 6-41 8 ;
(Fedra) , .~ 4 7 ; ÚJ Th éba úl e (A Teh aid a). 3-16: R iario , 270, 272 Rulebeu f, 208 , 24 5: Le Mi m ele de T!u'0l'hi le (M i- Iftl and, e, 4 2 3, 424 ; D ie JUllgf"," " 0 11 Or/e al/,.
Voltaire, c. 386 Ri ca rdo III, 312, 3 13 lagre de Teólil u), 208. 519 (A Donzela de O rlea ns ). 420; Kabal e "' Id Liebl'
Radziwill. Cliri stin e, 274 Rica rdo. duque de G lo ucester. 313 Ruysdacl, J .. 424 (Intriga e Am or ). 412. 427: Lessing. e. -108; Die
Rafael, 276 ; Esco la de Alellas. 269 Ricci . Francesco. 370 Ruzzanle. Veja An gelo Beoico Riillher (O s Salt e adores l. 417 . 500 . 538;
Raikh. Zinaid a, 4 96 Riccobo ni, Lui gi, 358 . 382. 463; Willi ch . e. 304 Slw kesp ea l'es Sc/W IIl'1I (A Sombra de Sh akes -
Raimun d. I'enlinando . 367 . 425, 4 27 Ric e. Elmer: One -l1ril'd ol a Na tio n (U m Terço de pear e ), 417 ; Über /la il'{' Im<l selllim ell/ll/isc ile
Ramea u, Je an Pliilippe : Ca .'lor el Pol/ux . .~ 87 : L,'s um a Nação). 502 : POlI','r (pud e r), 502: Slreel Sa hha ll ini. N ieola ; PraliCll d i f a b rica r seelle e Dicll1lmg (Sohrc a Poe sia Ingénua e Se ntime n-
I"des Calalll es (,\ s índi as Ga lante'l. 155..~ 8 7 ; Sall" (Ce na de Rua ). 5 17 l1l11chi"r Il(~ 'lcalr; (Prática d ~ Fahricar C~ nários tal ). 44 0 : 1I'<lllell,l'lci llS LlIgI'I lO Aca mpa mento
Ln P r ill c l'.' .'il' de N ll\ 'll lTl ' ( A Pril1c~s a d~ Na\'ar- Rice, Th um as O .. 5 14 e l\l aqui nar ia s no Tea lro ). 335 de Wall en st ein ). 41 8. -1 27 . 44 2: \Fil//l'lm Tell
ra), 388 Rich . John . 387. 39 1 Sa ce he lli , Lor en l.O. 429 (G uilherme Telll, 4 54 . 465. 476. 538

572 • 5 73
H ís t o rí o Mu "d ifll do T e a t r o . • Í n d ic e

Schink. Joha nn Friedri ch. .192 280. 312. .122 . J 9 1. 5 17. 52.1. 5-'3: Sc hrõd cr. e. So lari. Bonaventura. 40 .1 S travi nsk i. lgor Fédoro vich . 452. 4 RI : Pctrnurhkn ,
Sc hinkel, Karl Friedr ich. 4 24. 4 .1.1; G oe the, e. 424; 420 : S éneca . c, J 12: Shaw. e. 459 ; So nho de Uma Sulcri, Ferru ccio. 526 -t X I : Tir e Rakr '.\ Pro g ress (O Pr o gresso d o
Wa gner. c. 44 5 N oite de I b ';o. 1-'6 ,31 3. 4 .11, 432. 4 54 . 4 87 ; So ltí. Georg. 5.1 3 Far ri st a ). 53.1
Schl af, Johannes: Familic Scli ckr, 457 teatro persa. e. 2 ~; A Temp estade. 322; Ter ên cio. Somadevasuri : Nitivak vamrta, J7 Strehlcr. G io rg io . .15.1 . 511. 526 . 5.,4
Schl egel. August Wilhelm von . .197. 424 . 429 . 4 30 e, 147 . 148: Ticá . e, 43 1. 43 2: Titus Andro nicus. Sonnenfels. Josef. 425 Striggi n . A less andro . .125
S chl egel, Fri edri ch. .197, 4 29. 4 30. 4 .'3 3 12: TU'd f/h Nig lu (No itc de Rei s), 280 , 44 9 : So nnenthal, Ado lf vo n, 44 6 S trindb crg. Aug ust, 99 .453 . 487
Sc hlcge l, Johanu Elias. .197. 400. 407.411 .41 2; vers ão japo nes a de, 99 ; Voltaire. e, 386 Sorge, Reinhard Joh anncs : Der Bcttlcr (O Me nd i- Stro ux , Karl Heinz, 5 13, 530
Gedankcn ~lIr Arifi",hm e des diillisclwll Theaters. Shao Wong. 55 go), 475. 47(, St schukin. Bori s. 496
(Co nsideraç ões sobre a Recepç ão do Teatro Di- Shara ku.95 Sorrna, Agues. 457 . 4 87 St ua rt , M a ria, 270. 274. 3 12
namarquê s). 397; Her ma nn , 400 ; Zufã lli gr S haw. George Bernard, 44 2. 4 80, 538 ; Arms and Soroba Kornachi : ,. Koma ch i 110 S epulcro", 8 1. 8.1 S tubc nra uc h , Philipp von, 4 28
Geda nkcn iiber die deutsche Schanbii lme iII II'il'll III<' Mail. 57 8; Cand ida, 460 ; C raig, e, 470, 4 71 ; Sotternieen , 257 . 26 1 S tun une l. C hristop h: Studentcs• .100
(Co nsidera çêes ao Aca so sobre a Cas a de Espc- Thc Dcvil 's D isc ipl e (O Discípul o do Deru õnio), .sou ic, 186.228.255-257 Sturm 1I11l1 Drang , 382 . 412 , 41-' . 41 R. 427 . 4 29 .
táculos Alem ã em Viena). 397 460 : A. Es sência do Ibse nis mo. 4';9: lb -en, e. Southern , Richard, 2-'.1; 7111' Medieval Theatre iII 430 . Veja também Goe the
Schl ernrner, Osk ar: Figurales Kabinett. 483 459 ,460; Irving . e. 455; John Bull» Orh,., 1., 1,,"d lhe Round. 26 5 Sturm. Joh annes. 301
Schl enther, Paul , 4 59 (A O utra Ilh a de John Buli ). 460; TI/(' M IlII oI Spe ncer. Joh n. 375. 376 Su de n na nn. 4 57
Sc hmidt, Erich , 412 D cstinv (O Homem do Destino). 459 ; Pi gma - Spcroni. Sperone: Can acc, 27 .1 S udo , Sadanori, 99
Schm õke l, Hartm ut, 17 le ão, 5 17; M I'.<. lI a rren 's l 'rofession (A Pro fis- Spontini. 4.1.1 ; Olvntpia , 4 3:\ Su draka. 41
Schoo p. G .. 53 4 são d a S ra . Warrcn ). 4 60 ; ll'id o\\'cr.' ll ouses Ssu-ma Chic n, 54 . 55: Reg istro H istá rico, 54 S u g im ori, No b umo ri. Veja Ch ik ama tsu . M on-
Sch openh au er. Arthur, 441 (Casas de Viúvas ). 459 Sta él, Anne Loui se Ge rmai ne de : De l 'Al lrmagn c. zacmo n
Schreyvogel , Joseph . 427. 4 28 S haw. Marti n, 470 4 31 S ule rj ítski. L. A.• 465. 471
Schr oder, Friedrich Ludwig, 395. 400 , 413 . 420 . 427 Shclley. Percy, 4 29 Stanislávski, 102. 35 5 , 367 , 44 9 . 45 2. 453, 4 54 , Sulze r, Joh ann Geor g. 400
Schrõder, Sophi e, 427, 428 Sheri dan, Richard Brinsley: Tlie School for Scun dal 455 ,457.462-466.471·475,48 3,495.499.5.10; SUn1ltnm , 98
Sch rôt er, Corona, 4 13 (Esco la do Esc ândalo), 515 Cop eau. e. 480 : G órki, e, 367: Mcierh old. e, 496 ; Supp é. F ra nz von, 516
Schuh, O scar Fritz. 530 Sherwood , Rob ert E.: ldiot 's Dclight (O D eleit e do método de. 46.1: Mi nha " ida li a A m '. 465 : Ole io . Suroro. Noto, 5 1
Schumann . Percr, 521 ldio ra) . 5 18 e. 46 .1 ; Tc h ékho v, e , 4 6 .1: W illi ch . e. 304 S urrea lismo . 475-4 X3
Sch uma nn. Robert , 470 shimpu , 98-99 Sleckd . Leonard. 5 .13 S utri. 194
Schü tz, He inrich, 326. 375; Dap hu e . .1 26: Peri, e. shingeki. 99 . 102 Stce le, Richard : Tire Lvi ng Lo ..cr I.O Amante 1\len - S \'oboda. Jose f. 524
326 ; Rinccini, e. .126 Sh inran Sho nin, X~ riroso), .182 S wi ft. Jon ath an , 387
Schwauk , 250 -252 Shoioku ·Ia ish i. 7X Stec n. Jan. .104 Swu hoda. Karl 1\1.. 234
S cott. Walter, 429. 4 31 Show s d~ me ncstréi s, 51-1- Stc in, Gertrudc: D oct or Faustus L ig ht« lhe L ig hts SYIllOIlS, A rt h ur. -lú9
Scri be, Eugene, 43 3. 441 shows de vari ed ad es. Chineses. 60 (Dr. Fau sto Acende as Luzes). 520
Séch an , Charles. 433 Sidney, Sir Ph ili l' : Apolog iefor Poe ll}'. 31 3 Steinbeck , John : Th e M OIJIIIs J)0I1'1l (A Lua se Pôs ).
Selln er. Gu stav R., 530, 538 S igismun do III. 358 5.14 T ' a ng I bic n-tsu: () Pa l'illrc1o tlll ,\ " Pt'ôlrias. 6 .1
Sê neca . 144. 161. 164. 270 . 271. 272 . 274 . 521; Si lja. Anja . 5 10 Stcndhal. 4_1ó . 441. 4 5 1: I\l an zoni . e. 4.16 : Raeill e Tá c i" . T ito . 141. 155
Ilipóli la. 270. 271; I\ ooft. e. 308 ; iufluên cia em sí mbo los. 466 -4 75: C hinês, 67· 70 ; Indian o . 4 4: Ja- el Shak " JI'ea re , 4 .16 T áci to . Cornd io . 400 : AI/ ai s. 150
Ga rn ier, .144; Shakespeare, e. 312 ; Tiesles. 3[Xl rh ))1 ~ S . 76 . 7X; cm ta:iy(;. 20 ; Veja t a mh~ 1ll co r Slcrn. Ern st. 4 76. 4 88 Tagli o ni. Mari a. 4 3.1
Serli o. S ebastiano. 287 ; C A rchilettnra . 284 Sim o ni. R.. 4 .16 St.:rne. Laurcn<..·':: SelJl;IJU'lJllll J O UrI U'Y t" rou g" Tagur e. Rabi ndra nath . 4 2. 44: Brcch t. c . 4 2: O Ci -
Se sóst ris III . 13 S imo nides. 194 Fra11Ct' mu I l tal y ( Vi ag~ m Sentimen tal Atra\"t~'s cio da Pr;llu n 'era. 44 ; \Vilder. c. "'*2
Se vero . Septimo, ln Sínlll nin . .152 da Fran ça l' Iláh a ), .' 8(, l ,üll c . Je a n de la: C arl de la l rag t'd ie (A A n c da
Se yler. Abel, 411 Sim onov. Ruben . 533 Slernheim. Ca rl. 48 7 : D er Sao h (O Esnobe ). 47 5: Tr a géd ia), 272 . SmJlfu riellx (Sau1 I' ur ios,, ). 272
S forza. Bianea. 299 Simo\'. Victor. 46 2. 463 1913. 475 Taill c fcrr c. Ge rma inc. 4 81
Sforza. Lod ovico . 292-29.1 s illg"l'iel . 32 4·.1 .10 Slewar t. Ellen. 52 1 -I;.ine. H ip pol yle. 4 51. 453
Sforza. Lud ovico. o Mouro. 292, 29.1 Sin uhc. 14, 16 Sti fler: Heh hel. e. 441 Taí ro \'. Ale ksa ndr Jako\'lé vit ch . 4 36 . 387, 495 : G es·
Shake speare , William. 41, 63. 270 , 274. .177.39 1, Sisov,496 Sliickel. Leonha rd. 303 l o de Emoção . 49 9 ; O 'Neill, e, 520 ; () Telllro
41 2,41 3,41 7,428.430,431. 4 .16 ; Ar iosto. e, S isto IV. 269 Sloc khau sen. Ka rlhe inz. 529 D cw lCo rrcll l ad o . 499
3 12; Com édia dos Er m s. 147; Como /lles Apra z. "kme. 114 . 118. 1-'0; em Os An'a/lial/ os, 12-' ; c m A s S tuck wood , John , 3 17 l ',ked a. !zumo : K{//w hedol/ Clz/l·slzillgll ra . 98
3 12.3 13; Coriolano. 5 11; C raig. e. 470, 47 1;As N/m "'-,. 123; c m ti Paz, 118. 123; e m l 'I·.<agem S toddard. Ric hard Henry. 5 15 Tallll a . F ra nço is J" seph . 395 . 41 R. 4 31 : R t'j7. 'xi oll s
Guerras das Rasas, 5.18; Ham lel • .1 19-320. 465. dm Alma.' . 118; Ro mano, 155 ;scac/lIle(;o /ls. 148 S lolze. Gerha rd. 51 0 .H/r Le Kain cI .\/1 1' l 'ar l lhMlm l (RdlcxÔés so -
470. 526; Hen riquc VlII, 44 8 ; Henry 1'1. 538; Slc vogt. Max. 4 8R Stortehcker. Klaus. 500 , 50 I hr e L,' Kain e sobre a Artc Teal ral \. .19 5
Irving. e. 470; Johnson. and , 39 1; Jonson, e, 319. Smirnoff. 23 Slowe. li arri el 13eech e r: {l a el e l i" n '.I' ('a " in (i\ Talllhllrl a ine. 312
326; Jlilia César . 463. 495. 496; Lcn z, e. 4 12: Sócr:lles. 118 . 120, 1-'6; Arislól:lI1es. c, 12 1 Cahan a do Pai TOIll,is). 5 16 Ta rascon. 262
M acb"III. 392. 47 1. 5.10; M edi da ['ar M edida . SOCS1. " onrad \'o n. 240 Stra mm. Aug.usl. 475; Scll1Cfa SUSClIJIW. 476 l ' ,r!clon . Ric ha rd. 3 18
538; A M egera Domada . .112. 5 17: O M ercad" r SÓli>clcs . 1m. 109. I I-' . 114. 117. 118. 1-'0: Amígo · Slraní lzky. Joscr Anto n. .1:';8 . .165 ·);lrq llín io. 155
de l'cll e;a , 99; a livicr. e, 530 ; Olc/o. 273. ~6J ; /1 1/. 4 .12. 44 2: {',hi'o Rei . 287. 488, 495: I\ quilo. Slrauss. Jultann . 5 16 l~l s so . To rqu ato. 2X-I. 355: Amillta, 28 1
prod uçiíes de Kean . ~ 4 2 ; I' üsch ki n . e . ~ , 6 ; e. 114; Eur ipides. e. l lO. l lJ ; A , Traq/líll il/s, 110 Strauss. Richar d , 469 . 4 81 . 4'14 : A ri", l//<' (III! Naxo.'. Ta uhc... Rich ard . 5 14
Ri ca rdo III, 471, 476. 4XO, 5.1X : Ro m ,." e Jllli"II/. Sófro n. 1-'6 .1(,7 ; ('a /, ric";o. 4 66 ·I;" ·c rn i,,r. Jean Baptiste. 23

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• 5 75
Histáriu Aflll1dial do Tco t ro • • Íl1di{'c

Taziyé, Paixão, 19, 20, 23 Teodoro, Mãnlio, 161 Tolstói. Alexei Konstantinovich: Ctar Fiodor Verdi, Giuseppe: Aida, 445
Tchékhov, Anton, 457, 480; A Gaivota. 463, 465, Teodoro, o Erudito, São, 181 lvanovich. 462, 463 Verolano, Sulpício. 270, 271, 284
466; O Jardim das Cerejeiras, 463; As Três Ir- Teodósio II. 178 Tolstói, Leon, 441, 451, 453, 462 Verona, Bartolomeo, 423
mãs, 463, 538; 710 ViÍIlia, 463 Teólilo, 208 Torelli, Giacomo, 335, 345 Vespasiano, 155, 157, 163
Tchékhov, Michael, 463, 466 Terêncio, 129, 144-150, 161, 175,270,271, 278, Torres Naharro: Tinelaria, 278, 280 Vespucci, Simonetta, 281
Te Deum, 172, 189, 191,203,232 300,303,344; Adelphi (Os Adelfos), 147, 148, Toscanini, Arturo, 494 Vicente, Gil: AlIlo da Fama, 28,1
Teatro de Arte de Moscou, 462-466 150,270,276,347; Andria (Ândria), 147,276: Toulouse-Lautrec, 499 Vidal, Paul Antonin, 453
Teatro de Berlim, 420-424; Reinhardt no, 513 concepções humanistas de palco de, 266; EIlIIlI- Tragédia humanista, 272-276 Vignali, Antonio, 276
Teatro de bonecos, 87-90, 247, 377; bunraku, 75; chus (O Eunuco), 147, 276; Heautontimoru- tragédia, 344-353, 374, 470; antes de Ésquilo, 105, Vignola, Giacomo da, 151, 291; Le due regale .trlla
no Festival de Muharram. 20; Indiano, 38; off- mel/Os (Aquele que Castiga a si Próprio), [47; 107; descrição de, 110; etimologia de, 105: Gre- prospettiva pratica, 287
Broadway, 520, 521; em Pequim, 55; em Hecyra (Hecira), 147, 150; Hrotsvitha, c, 199; ga, 104-118 Vilar, Jean, 469, 480, 533
Szechuan, 55; Turco, 19-20, 28; em wayallg Mcnandro, c, 129, 147, 175; Molicre, 347, 349; tragédic classiquc (tragédia clássica), 344-353, 374 Virgílio, 151, 240, 280
golek, 47, Veja também teatro de sombras Phormio (Fermião), 147; Pio 11, e, 278; Plauto, Trajano, 154, 155 Visconti, Galeazzo, 293
Teatro de Cârnera, 526 c, 144, 147, 150, 161, 175; Poenulus (O Jovem Tree, Herbert Beerbohm, 442, 459, 538 Visconti, Luchino: Ossessione (Obsessão), 533; La
Teatro de mistério, 11, 178, 194,222-228; Brecht Cartaginês) 271 Treitinger, O" 182 terra trema (A Terra Treme), 533
no, 505; Européias, 19, 20; Francês, 222, 223, Tcrry, Ellen, 459, 470 Trcplev, Konstantin, 466 Visschcr, Comelis, 318
227; Inglês, 228-233 Terry, Megan: ViI'I Rock, 521 Tretiakov, Sergei, 4fi2; Berra, China. 495; Terra Rc- Vitalis, Ordericus, 247
Teatro de Nova York, 513-522; Reinhardt no, 513 Tertuliano: De spectaculis, 167 volta. 495 Vitrac, Roger: Victor; Oli Les Enfants nu pouvoir
Teatro de Paris, Reinhardt, e, 513 Terwin, Johanna, 492 Treu, Michael Daniel, 377 (Victor, ou As Crianças no Poder), 469
Teatro de sombras, 19,28, chavanataku, 37: Chinês, Teschncr, R., 47 Trissino. Giovanni: Arte Poética, 273: ..Sofonisbo, Vitruvius Pollio, Marcus (Vitrúvio), 114, 150,272,
55; Egípcio, 14; Indiano, 37, 38, 39,4 I, 42, 54; Téspis, 104, 105, 107 273,274 284, 287, 324; De Architectura. 270, 284
Indonésio, 55, 80; Karagoz, 26, 28; Oriental, 14: Tessalo, 130 Troiano, Massimo. 357 Vogclweidc, Walther von der, 242
Turco, 25,44, 55, Veja também teatro wa)'a/lg Tevfik, Mustafá, 28 Trótski, 500 Vollmoller, Karl: Milagre, 488, 492
Teatro de Viena, 425-429; Reinhardt no, 513 Thackeray, William Makcpeacc. 451 Tsubouchi, Shoyo: Kiri Hito Ha, 102 Voltaire, 344, 346, 392, 427; Brutus, 386, 395;
Teatro de Weimar. 413-420 theâter [rançais, 413 Turguêniev, Aleksandr lvanovich, 453 Candide, 517: Catarina II, e, 403; L'Enfant
Teatro do diretor, 530-539 theatcr in the round, medieval. 228-233 TÚ'1,io, Lúcio Ambivius, 150 prodigue (O Filho Pródigo), 386: Goethe, e, 388,
Teatro Elizabetano, O, 312-322,413 théâtre italien, 408 Turquia, 23-2S, 334, 335 418; Irene, 388: Lessing, c, 408, 411; Matiomet.
Teatro em crise, O, 521-523 Théãtre Libre (Teatro Livre), 452-457, 466 Tutilo, 189; Hodie Cantandus, 233 38S, 418; L'Urplielin de la Chine (O Órfão da
teatro engajado, 494-513 Thcganus, 242 Tyler. Royall: The Contrast (O Contraste), 514, China), 63, 386: La Princessc de Navurrc (A
Teatro Épico, 504-510; Teatro dramático, e, 505; Thévenot, 23 515 Princesa de Navarra), 388; Tancredc, 418
técnicas do, 510-513 Thiencn, Frithjof van, 400 Vondcl, Joost van dcn, 376-377: Gvsbrecht va/1
Teatro espanhol: Barroco, 367-374; Brecht, e, 505: Thierry, Joseph, 433 Actnstel, 376, 400
drama indiano, e, 42 Thiersch, Friedrich, 442 Uemura, Bunrakuken, 90 Vosslcr. Karl. 186, 346, 368
Teatro Experimental, O, 519-521 Thimig, Hclene, 492 Uhlich,407
Teatro francês, Barroco, 344-353 Thimig, Hugo, 446 Unruh, Fritz von: Ein Gescltlccht (Uma Gcraçào i.
Teatro helenístico, o, 130-136 Thoma. Ludlwig, 492 475 Wackcnroder, Wilhelm, 429
Teatro na Corte Bizantina, 0, 181, 182 Thomson, James, 429 Upion. Robert, 514 Wagner, Richard, 445, 457, 470, 481: .-\IIe! dos
Teatro na Igreja, Bizantino, 178-181 TIago de Kokkinobaphos, ln Urbano IV, 20S Nibelungos, O, 470: Meistersingcr, 308: Parsi-
Teatro Nacional da Dinamarca, 396-397 Tibério, 164 Utrillo. Maurice. 481 [al, 445, 470; Das Rheingold (O Ouro do Reno),
Teatro Nacional, 395-404 Ticiano, 278 Utzon. Jorn. 522, 523 470; Tannluiuser, 441; Trisuio e Isolda. 470
Teatro nõ, 38, 66, 75, 81-87; estética do, 91; kvogcn. Tieck Ludwig, 367,429,431, 432; Der gl'slújelle Wagner, Wieland. 427, 470
e, 87, 91; tragédia grega, e, 83, 84 Katcr (O Gato de Botas), 430, 510: Prín: Wakhcvitch, 155
Teatro Político, 499-504 Zerbino (O Príncipe Zerbino), 388, 430, 431 Vakhtãngov, Evg( u )eni, 466, 494, 495, 4<)6,51 1,51,1 Walbrun, 195
Teatro popular, barroco, 353-367 Tilney, Edmund, 317 Valentin, Veit, 330 Waldcn, Herwarth, 476
TEATRO PI{[MITIVO, 0,1-6 Timoclcs, 124 Valéry, Paul Ambroise, 466 Walser, Martin: Dic Zimmerschlacht (A Batalha de
Teatro russo, 378, 403, 436, 440, 462-466, 494-499; Tirol, 248, 252 Valle, Pictro della: viaggi, 2S Almofadas), 527
teatro político, 499-504; Reinhardt, e, 513 Tirso de Molina, 148, 370; EI Burlador Sevilla (O Varangos. 1Xl Walter. Bruno, 494
Teatro suéco, 403 Burlador de Sevilha), 370; DOII Gil de las coiras Vardac, Nicholas, 523 Waltcrlin, Oskar, 470, 533, 534
Teatro tcheco, 403 verdes (Dom Gil dos Calções Verdes), -'70: Lopc Vasari, Giorgio, 284 \Vang Shih-fu: Romance da Câmara Ocidrntal, 63
televisão, 526-527; filme, 526 de Vega, c, 369, 370 Vaticano, 1<)5, 2(, I, 269, 271 Wang, Jt?I1S, 454
Téllez, Gabriel. Veja Tirso de Molina Tito, 155 Vedas, os quatro, 3,1, 38 Washington, George, 514
Temócrito. 114 Toffanin, G" 278 Védico: religião, 29. 32: histórias, 39, 41 Watteau, Jean Antoine, 358
Tenji,78 Tõjuró, Veja Sakata, Tójurf> Vclten. Iohannes: "Clwr-Siichsische KOIllúdillflt('I/", lI'uyallg. 29, 44-51: teatro de bonecos Illcdit.·\'aL e,

Teócrito, 137,281 Toller, Ernst: H0l'l'la, II'ir lebm (Oha' Estamos Vi- 377 247
Teodora, 177 vos'), 501; Di" \Val/dllllll( (A Transfiguração), Vendi'''lle, Duque Lle, 330, -'-'4 Weher, Carl Maria von, 425, 433: Frnlcluir; 10
Teodorico, o Grande, li>I 476 Vcrardi. CarIo: Historia 1311l'tinl. 272 Franeo Atirador), 433

• 576 • 577
Hístó rí a Mlllulia{ do Te u t r o .

Wedekind, Frank. 487 Wilbur, Richard, 517


Wegener, Paul. 487. 488 Wilde, Oscar: O L<'4I1e de Ladv !Findermere. 73
Wei Liang-Iu, 66; Quatro Sonhos da Sala Yu-Ming, Wilder, Thornton: Brccht, e. 42, 511, 513; 77le Skin
66 of our Teeth (Por um triz), 266, 511; Tagorc, e,
Weichert. Richard, 476 42; teatro asiático, e, 54: Our Town (Nossa Ci-
Weigel, Helene, 507 dade),511
Weill, Kurt, 507; SI rcet Scenc (Cena de Rua), 517 Wildeshausen, Heinrich der Bogcner, 196
Weise, Christian: Biiuerischer Macchiovellus, 379 Wildgans, Anton: Dies irae, 475
Weiss, Peter: Dic Ermiulung (A Investigação), 504, Wilhelm, Leopold. 376
530; Die verjolgung und Ermordung Jean Paul Williams, Tcnnessce. 63, 460; 711eGlass Menageric
Marats, dargeslelll durch die Schauspielgruppc (À Margem da Vida), 519; A Stretcar Named
des Hospizes ZII Charenton unter Anleitung des Desire (Um Bonde Chamado Desejo), 519, 524,
Herrn de Sade (A Perseguição e o Assassinato 533
de Jean Paul Marat Representada pelo Grupo de Williams, William Carlos: Mail)' LOI'es (Muitos
Atores do Hospício de Charenton sob a Direção Amores), 520
do Marquês de Sade), 511,526; vietnam Repor! Willich, Jodocus, 300; Liber de prononciatione
(Relatório do Vietnã), 504 rhetorica, 304
Wekwerth,526 Wilpert, G. von, 440
Welk, Ehm: Gewitter uber Gotland (Temporal so- Wimpheling, Jakob: Stvlplio, 300 NO PALCO DA PERSPECTIVA
bre Gotland). 500 Winckelmann, JohannJoachim, 416
Welles, Orson, 496 Wisocka, S., 466
Werner, Zacharias: Der vierundiwanrigstc Februar Witkiewicz, S. 1.: Der Schrank (O Armário), 533 • COLEÇÃO DEBATES Moderna Draniaturgia Brasileira - Sábato
(O 24 de Fevereiro), 43 I wur, Jan de, 318 Ma galdi
Wesker, Arnold: Chicken SOllP with Barlev (Canja Wolfe, Thomas, 520 A Tragédia Grega - Alhin Lesky
com Cevada). 460: Thc Kitchen (A Cozinha), 460 Wolff, Theodor, 459 Maiakovski e o Teatro de vanguanla - Angclo • COLEÇÃO ELOS
Wetschel. 357 Wülfllin, Heinrich. 323 Maria Ripellino
A Idéia do Teatro - José Ortega y Gasset
Weyden, Roger van der, 240 Wolter, Charlotte, 446 Sctniologia do Teatro - J. Guinsburg, J. Teixeira
White, Thomas, 317 Wordsworth, William. 429 Coelho Neto e Reni Chaves Cardoso (Orgs.)
Wouk, Herman: Tlic Caine Mutinv Court Martial • COLEÇÃO TEXTOS
Whitman, Walt. 516: no teatro de Nova York, 515 Teatro Moderno - Anatol Rosenfcld
Wickharn, Glynne, 211, 231 (O Motim do Caine), 504 O Teatro Ontem c Hoje - Célia Bcrreuini Marta, a Árl'Ore e o Relógio - Jorge Andrade
Wickram, Jürg: Tobias, 303 Wren, Christopher..,88
O Teatro Épico - Anatol Rosenfcld O Dibuk - Seh. An-Ski
Wiclif, John, 265 Wu-ti, 55, 58
O Teatro Brasileiro Modema - Décio de Almeida Leal/c de Sonuni: Um Judeu 1/0 Teatro tia Rc-
Wicland, Christop Martin. 412; Ladv Iohanna Grav, Wüllner, Ludwig. 449
Prado I/ascel/ço Italiana - J. Guinsburg (Org.)
388
A Arte do Alar - Richard Bolexlavski Urgência e Ruptura - Consuclo de Castro
Wiene, Robert: Dos Kabinett des DI: Coligar! (O
Gabinete do Dr. Caligari), 483, 524 Zeami, 38, 81-83. 87 Para Trás e para Frente: UIII Guia para Leitura Pirandcllo: do Teatro 1/0 Teatro - J. Guinsburg
de Peças lá/Irais - David Ball (Org.)
Canctti: O Teatro Tcrrivcl > Elias Caneui
• COLEÇÃO ESTUDOS
• COLEÇÃO SIGNOS
João Caetano - Décio de Almeida Prado
Mestres do Teatro I - John Gassner VIII Encenador de Si Mesmo: Gcrald Thomas -
Mestres do Teatro 1I- John Gassner J. Guinsburg c Silvia Fernandes (Orgs.)
Artand e o lá/Iro - Alain Vinnaux Três Tragédias Gregas - Guilhcrme de Almcida
Improvisação para o Teatro - I'iola Spolin e Trajano Vieira
Teatro: Leste & Oeste - Leonard C. Pronko
Uma Atriz: Coei Ida Bcckrr - Nanci Fernandes e • COLEÇÃO PERSPECTIVAS

Maria Thcreza Vargas (Orgs.) Eleonora Ouse: I'ida c Arte - Giovanni Ponticro
TBC: Crônico de 1II1l SOI//to - Alberto Guzik
Linguagem e vida - Antonin Artaud
() 7('.\10 IlIJ Teatro - Sábato 1\1agaldi
O Alor 1/0 Século XX - Odctte Aslan • LIVROS SEM COLEÇÃO
Zcami: Cena e Pcnsanicnto Nó - Sakae M.
Giroux A História Mundial tio Teatro - Margot Bcrthold
O Tniquc e a A 11110 - Angclo Maria Ripcllino O Jogo Teatral no Livro do Dirctor> Viola Spolin
Falando de S/takespmu' - Bárbara I1eliooora Dicionário de '[('UfrO - Patricc Pavis

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