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26/10/2021 19:15 É hora de mudar de vida!

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Texto da aula Aulas do curso

Direção Espiritual: a Jornada

É hora de mudar de vida!


Se queremos ser santos, precisamos tirar a limpo essa história: estamos ou não estamos em estado de graça?
Para boa parte das pessoas, é aconselhável fazer uma confissão geral, passando a régua na vida e garantindo,
com alguma segurança, o bem da própria alma.

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É importante entender a lógica do que estamos propondo neste curso para que não deixemos
de dar nenhum passo. Primeiro, São Francisco de Sales apresentou nos capítulos iniciais a
necessidade da devoção, este foguete que precisamos construir para chegar à Lua, isto é, à
santidade. Mas a vontade não será devota, pronta para o serviço de Deus, se a inteligência não
enxergar que é boa e necessária a devoção, virtude para todos e adaptável a cada estilo de vida.
Por último, ele falou sobre a importância de ter um diretor espiritual.

Tudo isso foi tratado como preâmbulo para a purificação da alma. No entanto, tivemos de abrir
um parêntese, interrompendo a leitura do livro para considerar alguns outros temas. A razão,
como vimos, é que somos cristãos do século XXI, e já passou muita água debaixo da ponte
nesses quatro séculos, desde a morte de São Francisco.

O que aconteceu? Recapitulemos brevemente. Em primeiro lugar, as pessoas já não creem na


existência de uma alma imortal, por isso tivemos de explicar que, sim, todo ser humano, seja
crente ou não, tem uma alma incorruptível. Além disso, vimos que, por influência do
protestantismo, que infelizmente envenenou a cultura católica, as pessoas pensam que a graça
é uma espécie de “documento” pelo qual, de forma puramente extrínseca, Deus anula uma
dívida.

Que a graça e o perdão divinos possam ser comparados à anulação de uma dívida, isso é dito
pelo próprio São Paulo. Sucede, porém, que a graça não é somente isso. Quando somos
redimidos de nossos pecados pela virtude do Batismo, opera-se uma modificação em nossa
alma. Não é como pensava Lutero, para quem a graça seria extrínseca, isto é, a justificação
seria a mera imputação externa dos méritos de Cristo, sem que houvesse qualquer mudança
real no pecador.
Suporte

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Ora, já os nossos primeiros pais, Adão e Eva, foram criados em estado de justiça original,
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adornados com a graça santificante, pela qual eram verdadeiramente amigos de Deus e gratos
aos seus olhos. O pecado, no entanto, deitou tudo a perder, além de arrojar os primeiros pais
àquela condição de desordem interior sobre a qual falamos na aula passada.

Quanto a isso, é importante notar o que já notara Santo Tomás de Aquino. Com o pecado
original, não é que o homem passe a estar inclinado ao mal como tal, mas a querer ou bens
aparentes ou bens fora da ordem devida. Nossa vontade, afinal, está naturalmente inclinada a
querer o que se lhe apresenta como bom. Mas entre os bens existe hierarquia e, portanto,
relações de preferência entre uns e outros.

Queremos sexo porque vemos que é bom para o corpo; queremos fama porque vemos que é boa
para a alma etc. Mas estes bens precisam ser buscados com ordem, o que significa que, em
muitos casos, devem ser preteridos em função de outros maiores, melhores ou mais
convenientes. Apenas Deus é o Sumo Bem, a quem devemos querer sempre e sobre todas as
coisas, razão por que todos os outros bens que buscamos devem estar subordinados à busca de
Deus.

Ora, o pecado original debilita nossa inteligência e vontade, tornando difícil — e até
moralmente impossível, sem o socorro da graça ao longo da vida — tratar os bens inferiores
como realmente inferiores. Noutras palavras, uma das consequências da queda é a tendência
de pôr acima do que é melhor (e até de Deus mesmo) o que muitas vezes só parece ser bom ou
é um bem de nível inferior.

Isso é importante na prática porque precisamos ter bem claro que a nossa natureza humana
está ferida e debilitada, mas não completamente corrompida. Não é que queiramos o mal, é que
preferimos, entre os bens que se nos oferecem, o que é pior ao que é melhor e maximamente
bom. Queremos o bem do prazer do sexo como se ele fosse dar sentido à vida, ou o bem da
glória humana, como se ela valesse mais do que a de Deus etc. 

É a graça que nos devolve a ordem perdida, mas ela precisa antes estar em nossos corações
como algo real e concreto. O Batismo a semeia em nossa alma, o que não quer dizer que, de
uma hora para a outra, o nosso mundo interior esteja plenamente restaurado. No Batismo,
recebemos a graça como uma semente que precisa ser trabalhada para crescer: precisa ser
regada, adubada etc.

Temos de pôr mãos à obra, prevenidos e assistidos por outras graças divinas, para que essa
semente cresça e finalmente as coisas voltem à ordem. Foi isso o que Lutero não enxergou: que

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existe verdadeira santidade neste mundo, pois a semente da graça pode crescer e, como diz o
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Evangelho, dar frutos de trinta, de cinquenta e de cem por um, conforme o terreno e a
generosidade de quem a acolhe e cultiva.

E agora? O que devemos fazer? Qual é o próximo passo? No capítulo 5, São Francisco de Sales
fala da purificação em geral, mas no capítulo 6 ele diz: “A purificação primeira é a purificação
de todos os pecados mortais”. Mas como se livrar dos pecados mortais? Em princípio, bastaria
confessar-se. Só há um problema: a maior parte das pessoas se confessa mal ou muito
raramente.

É, por exemplo, o caso daquele católico que sempre frequentou a igreja e se confessa desde
pequeno, mas só agora, com os seus já 40 anos, finalmente acordou para a vocação à santidade.
Ora, como ser santo? Trabalhando a semente da graça santificante. Mas aí é que surge a
dúvida: “Será que eu tenho a semente?” 

Acaso temos certeza de que todas as nossas confissões foram válidas? Será que, nesses longos
anos de prática católica, não fomos desleixados, deixando de nos preparar como convinha?
Será que acusamos todos os pecados mortais, com seu número e agravantes? E quanto ao
arrependimento? Será que alguma vez não nos confessamos bem dispostos e arrependidos
porque, na época, não levávamos a sério a vida cristã, ou nos confessamos por simples hábito,
ou costumávamos omitir do padre certos pecados? Talvez seja um pecado de infância, algo
vergonhoso que nunca tivemos coragem de dizer… 

Todas essas perguntas são pertinentes porque, se fizemos no passado alguma confissão
inválida, se não nos retificamos depois, todas as subsequentes também foram inválidas. É
como os botões de uma batina: se erramos um, mas continuamos abotoados, veremos no final
que ficará sobrando outro. O que fazer? Não basta ajustar o último. É preciso desabotoar tudo e
começar de novo. Assim é a confissão em não poucos casos.

Suponhamos que, aos 15 anos, fizemos uma confissão em que deliberadamente, isto é, de caso
pensado, omitimos um pecado grave do qual tínhamos muita vergonha. Essa confissão, além
de sacrílega (ou seja, um pecado que deveria ser confessado também), foi inválida. Se dali para
frente continuamos a nos confessar como se nada tivesse acontecido, renovando a intenção de
ocultar do padre os pecados que nos envergonham, então todas essas confissões serão
igualmente inválidas.

Eis o problema. Ora, se queremos ser santos, precisamos tirar a limpo essa história: estamos ou
não estamos em estado de graça? Se estamos de consciência tranquila, cientes de que

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procuramos nos confessar devidamente e já nos acusamos, após um diligente exame, dos
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pecados graves de que temos lembrança, então não é necessário fazer uma confissão geral. No
entanto, para boa parte das pessoas é aconselhável passar a régua e garantir, ao menos com
certa segurança, a validade das confissões futuras.

Essa é a finalidade da confissão geral, na qual devem ser acusados todos os pecados graves já
cometidos até o presente momento. Para isso, obviamente, é necessário parar e, com tempo,
anotar pecado por pecado, especificando o número de vezes e os agravantes.

Se não for possível quantificá-lo, diga-se ao menos um período estimado de tempo e a


frequência aproximada. Por exemplo: “De tal a tal idade, cometi tal pecado de duas a três vezes
por semana”. É preciso também declarar os agravantes. De fato, uma coisa é ter relações
sexuais fora do matrimônio, o que é pecado de fornicação; outra é relacionar-se com alguém
casado, o que é adultério. A condição de “casado”, aqui, é um detalhe que torna o pecado sexual
ainda mais grave, porque fere tanto a castidade quanto a justiça.

Uma vez preparada a confissão, devemos pedir a Deus a graça de detestar sincera e
profundamente todo e qualquer pecado mortal: “Não quero nunca mais cometer na minha vida
um pecado grave!” O arrependimento é essencial e deve ser fortalecido pelo propósito firme de
não tornar a pecar, desde já e para sempre. É preciso detestar e arrepender-se de todos os
pecados, não só de alguns. Sem isso, a confissão é inválida. Temos de estar dispostos a
derramar antes o nosso sangue que cometer um único pecado grave.

Noutras palavras, para que a confissão seja válida, é necessário amar a Deus acima de todos os
pecados mortais e estar disposto a evitá-los. Alguém deve estar pensando: “Ah, padre, mas e se
eu cair de novo semana que vem?” Ora, isso é uma coisa que vai acontecer semana que vem, se
acontecer; agora, neste momento, você tem de pôr um ato de vontade, o mais firme possível,
com o propósito de nunca mais repetir esses ou quaisquer outros pecados graves, além de
evitar todas as ocasiões próximas de pecar.

Sem propósito, a confissão também é inválida. De nada adianta, por exemplo, dar a absolvição
a um jovem “arrependido” de fornicar com a namorada, mas que não tem a menor intenção de
parar de fornicar, ou de evitar aquelas ocasiões em que ele sabe que, cedo ou tarde, acabará
caindo em pecado. Falta de propósito, no fundo, é outro nome para falta de verdadeiro
arrependimento.

Estamos fazendo direção espiritual, isto é, buscando ser santos. Ora, ser santo é pegar a
semente da graça santificante e desenvolvê-la até que ela cresça numa árvore frondosa e dê

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frutos de caridade. Mas como iremos desenvolver a semente se não temos nem mesmo certeza
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(ao menos certeza moral, que é a possível nesta matéria), de que a temos em nossa alma?

É por isso que São Francisco de Sales, no capítulo 6 da Filotéia, diz: “Sucede a cada passo que
as confissões ordinárias dos que vivem em vida comum e vulgar estão repletas de grandes
defeitos, porque muitas vezes”, número um, “não se faz a preparação ou se faz mal”; número
dois, “não há contrição precisa. Até acontece frequentemente que alguns se vão confessar”,
número três, “com uma vontade oculta de voltar ao pecado porque não querem evitar a ocasião
dele nem empregar os meios precisos para a emenda de vida, e em todos esses casos é de
necessidade a confissão geral para tranquilizar a alma”.

Pois bem, a tarefa de casa desta aula será preparar uma confissão geral. Para isso, colocamos à
disposição um exame de consciência detalhado. Ele tem também a vantagem de indicar
aqueles pecados que são potencialmente mortais. Com efeito, é difícil às vezes saber se um ato
foi pecado grave ou não, mas se nele há matéria suficiente, então é bom examinar-se a seu
respeito, mesmo que, no fundo, não tenha passado de pecado leve. Afinal, subiste a
possibilidade de ter sido mortal. Em resumo, 99,9% das perguntas contidas no exame dizem
respeito a pecados mortais líquidos e certos. Alguns deles, dependendo da situação, até podem
ser veniais; mas, como podem ser mortais, nós os incluímos na lista. 

Faça seu exame de consciência e anote todos os seus pecados graves certamente cometidos,
indicando o número (ao menos aproximado) de vezes que os praticou, com os agravantes (se
houver). Peça antes, é claro, a graça do Espírito Santo, o auxílio de Nossa Senhora e do seu anjo
da guarda, para que os céus o assistam nessa importante tarefa.

Peça a Deus a graça de detestar todos os pecados, de uma vez e para sempre, com o firme
propósito de abandonar as ocasiões perigosas. Em seguida, procure o confessor mais seguro
possível. Sim, às vezes é difícil encontrar um confessor sábio e santo; mas, para os fins desta
aula, basta que ele seja bom, isto é, tenha fé católica e administre dignamente o sacramento,
sem alterar a fórmula da absolvição: “Eu te absolvo de teus pecados, em nome do Pai e do Filho
e do Espírito Santo. Amém”. Feita a confissão e pronunciada a fórmula, os pecados estão
perdoados. Agora, enfim, é possível começar o caminho de desenvolvimento da semente!

Outra ferramenta que pode ajudar a preparar a confissão geral são os cinco episódios do
programa Resposta Católica dedicados especialmente ao sacramento da Penitência. São
vídeos breves que dizem substancialmente o mesmo que dissemos nesta aula [1]. Mesmo
assim, é recomendável assistir a eles para se preparar bem..

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Nunca nos esqueçamos que ir confessar-se é aproximar-se do tribunal da misericórdia de


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Deus, diante de quem não devemos (nem podemos) esconder nada. Se, durante a preparação,
nos assaltar alguma dúvida do tipo: “Mas será que esse pecado aqui é mortal ou venial?”, o
melhor é confessá-lo. Não deixemos de confessar por escrúpulos, receios ou vergonhas. Se
temos consciência de ter cometido um pecado, de forma deliberada e consentida, ainda que
não saibamos precisar com certeza sua gravidade, é salutar acusá-lo. Assim trazemos paz à
consciência e não expomos o sacramento ao risco de ser inválido.

Nota

1. Os cinco episódios são os seguintes, por ordem: i) Como fazer uma boa confissão?; ii) Como fazer um bom exame
de consciência para se confessar?; iii) O que é o arrependimento dos pecados?; iv) Que propósito devo fazer para
me confessar?; v) Como acusar os próprios pecados na confissão?; vi) Por que o sacerdote nos dá uma penitência
na Confissão?.

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