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26/10/2021 19:16 Arrependimento não é chororô

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Texto da aula Aulas do curso

Direção Espiritual: a Jornada

Arrependimento não é chororô


Para poder se confessar válida e frutuosamente, é preciso estar arrependido, mas não com um arrependimento
qualquer. Ele deve possuir cinco qualidades básicas, sem as quais, ainda que haja lágrimas e choro, não pode
haver perdão.

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Na aula passada falamos da Confissão geral. Daremos continuidade ao assunto, mas de outro
ângulo. Recapitulemos o visto até agora.

A Confissão geral, ou seja, aquela em que apresentamos todos os pecados mortais cometidos
ao longo de nossa vida, não é necessária absolutamente. Um fiel que sempre se confessou bem
e está tranquilo, consciente de nunca ter omitido nenhum pecado, de preparar-se
diligentemente, de buscar um arrependimento sincero de suas faltas etc., não precisa fazer
uma Confissão geral, ao menos em princípio.

O problema é que um fiel assim é raro. Inúmeras pessoas que já se confessaram na infância ou
na adolescência fizeram no passado confissões muito mal feitas, sem um diligente exame de
consciência (portanto, têm pecados não confessados, não porque se tenham esquecido, mas
porque foram negligentes, isto é, não buscaram saber o que era pecado); ou têm pecados que,
embora confessados, não foram objeto de um verdadeiro arrependimento (talvez por acharem
que o sacramento era um ato mágico: “Basta contar os pecados, e está resolvido”); ou têm
pecados escondidos propositalmente.

Eis aí algumas das situações que tornam inválida a confissão. Ora, uma vez que se invalidou
uma confissão, a série das confissões seguintes, em muitos casos, precisa ser refeita porque
normalmente subsistem as mesmas indisposições por parte do fiel.

Assim, por exemplo, quando alguém se aproxima do confessionário e diz: “Padre, eu me


confessei semana passada, mas só hoje criei coragem para confessar um pecado que cometi
vinte anos atrás e sempre escondi por vergonha”, é necessário levar tal penitente a confessar-
se não só daquele pecado escondido, mas dos últimos vinte anos de sua vida, incluindo os
Suporte

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pecados graves acusados nas confissões intermédias e também as (possíveis) comunhões


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sacrílegas. Por isso é muito oportuno, e às vezes necessário, fazer uma Confissão geral. 

Mas agora precisamos enfatizar um aspecto essencial dela, que é o arrependimento. O tema
desta aula, portanto, serão as cinco características que deve ter o nosso arrependimento para
que nossa confissão seja não somente válida, mas também frutuosa. 

Antes disso, é preciso recordar que o sacramento da Confissão é um pouco diferente dos
demais. Por quê? Porque todo sacramento tem uma matéria visível e, por assim dizer, palpável:
no Batismo, usa-se água; na Eucaristia, pão e vinho; na Crisma, óleo bento; no Matrimônio, são
os corpos dos nubentes, e assim por diante. Na Confissão, porém, a matéria não se vê nem se
toca propriamente e, ao contrário do que se dá com quase todos os outros sacramentos,
depende mais de quem o recebe que de quem o administra.

Se na Missa, por exemplo, é o celebrante quem toma o pão e o vinho para consagrá-los, na
Confissão é o próprio fiel quem deve providenciar a matéria, levando-a até o ministro para que
atue sobre ela. E que matéria é esta? É, numa palavra, o pecado arrependido. Se não há pecado,
ou se o fiel não se arrependeu, não é possível receber o sacramento.

Noutras palavras, a confissão não pode ser válida se não houver arrependimento. Mas como as
pessoas não costumam ter uma noção clara do que é o arrependimento, ficam muitas vezes na
dúvida: “Será que valeu, será que não valeu? E agora, o que faço?” Nessa aula, iremos ver em
resumo mas de forma precisa o que é o arrependimento e quais são suas características
essenciais.

Pois bem, o que é o arrependimento? A contrição (ou arrependimento) exigida pela Igreja e pela
própria natureza do sacramento da Penitência não é um movimento do apetite sensitivo, razão
por que nem sempre vem acompanhada de sensações, mas um ato da vontade. O Concílio de
Trento a define como certa “dor de alma e detestação do pecado cometido, com o propósito de
não mais pecar” (Sessão XIV, de 25 nov. 1551, c. 4: DH 1676).

Essa detestação dos pecados, segundo Santo Afonso Maria de Ligório, deve possuir cinco
qualidades:

1) Antes de tudo, o arrependimento deve ser verdadeiro, ou sincero. Parece óbvio, mas é
necessário dizê-lo. Ele não pode ser da boca para fora. Quem diz: “Estou arrependido”, mas em
seu coração está disposto a voltar a pecar, ou não deseja empregar os meios para evitar o

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pecado, não está arrependido de verdade. É preciso querer detestar os pecados todos, como o
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maior mal que existe para o homem.

Por isso dizemos que o arrependimento é um ato de vontade: ele não exclui necessariamente
certa inclinação sensível ao pecado, isto é, que ainda achemos prazeroso aquilo que agora, por
graça e pela fé, sabemos ser contrário à justiça de Deus. Um alcoólatra arrependido, por
exemplo, ainda sente forte atração pela bebida, sente que a embriaguez é boa, mas sabe que é
um pecado e, por isso, quer detestar seus atos viciosos como o que são — um mal.

O corpo dele pode até espernear: “Beba, é gostoso”, mas sua alma decide ouvir a Deus: “Filho, o
que fazes, embora te cause um prazer momentâneo, me ofende e te faz grande mal. Crê em
mim e deixa de beber”. E ele, contrito, diz a si mesmo com força de vontade: “Se Deus detesta o
que estou fazendo, também eu o detesto; se Deus se ofende com o que estou fazendo, então vou
parar, não o quero mais”. É um ato de vontade: “Não quero. Sinto ainda que é gostoso, mas não
quero”. 

2) Além disso, o arrependimento deve ter um motivo sobrenatural. Não é suficiente para a
Confissão que um bandido se arrependa do furto porque foi parar na cadeia. O ladrão até pode
pensar: “Não devia ter feito isso! Acabei me dando mal”, e o seu arrependimento pode ser
sincero, mas não é sobrenatural. Tampouco é suficiente o arrependimento dos pecados pela
vergonha que causam ou pelos danos temporais por eles ocasionados (por exemplo, contra a
própria saúde, patrimônio ou boa fama). 

O motivo será sobrenatural quando se referir a Deus de alguma maneira, seja em si mesmo,
enquanto Ele é o principal ofendido com o pecado, quer em seus efeitos, na medida em que,
pecando, perdemos o céu, com o qual Ele quer remunerar nossas boas obras, e merecemos o
inferno, ao qual Ele pode justamente nos condenar por nossa falta.

3) Além disso, o arrependimento deve ser sumo. O que isso quer dizer? Não se trata de
debulhar-se em lágrimas, pois o arrependimento, como vimos, não é uma dor sensível. Há
quem vá ao confessionário quase em prantos, enquanto outros não têm uma sensibilidade tão
aflorada. Assim como o choro, por si só, não é sinal de arrependimento sincero, tampouco a
ausência dele indica falta de sinceridade.

Pois bem, o arrependimento é sumo quando, diante de Deus, dizemos: “Prefiro derramar o
sangue a voltar a pecar contra Vós”. É por isso que muitas vezes é difícil arrepender-se de
pecados veniais. Mas dos mortais é preciso, sim ou sim, arrepender-se de coração: “Meu Deus,
prefiro morrer a cometer um só pecado mortal”. Antes morrer que pecar! Trata-se, noutras

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palavras, de amar a Deus acima de todos os pecados mortais, ou de estar disposto a perder
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tudo, a vida e os bens, para não ofender o Senhor. Isso precisa estar bem consolidado em nós.

4) É necessário ainda que o arrependimento seja universal. Ou seja: não basta arrepender-se de
99,9% dos pecados mortais, e deixar um “de estimação”. É possível ir à Confissão e não estar
arrependido plenamente dos veniais, mas quanto aos mortais há que se arrepender de todos,
de uma vez e para sempre. Sem essa detestação, a Confissão não pode ser válida.

Alguém talvez pergunte: “Mas, padre, como eu sei que um pecado é mortal?” A Igreja nos
ensina de várias formas o que é pecado mortal. Temos também à disposição neste curso um
modelo de exame de consciência. Todas as perguntas ali enumeradas dizem respeito a
pecados que são certa ou potencialmente mortais. De todos eles, 99% são com certeza mortais,
embora nos demais possa dar-se alguma circunstância que os torne veniais. Mas isso já nos
serve de parâmetro.

Quem seguir esse exame talvez se espante; de fato, para muitos será uma revelação: “Nossa,
padre, eu nem sabia que isso era pecado”. Mas agora está sabendo, e Deus quer que você
deteste aquilo de verdade, por razões sobrenaturais (por ter perdido o céu e merecido o inferno,
por ter ofendido a Deus). Feito o exame, peça a graça de detestar sinceramente todos os
pecados, de uma vez e para sempre, com o propósito de nunca mais tornar a pecar. Com a
graça, não será uma tarefa impossível, de “outro mundo”!

5) Finalmente, o arrependimento precisa ser confiante, não em nossas próprias forças, mas na
misericórdia de Deus. Judas, depois de trair Jesus, se arrependeu, mas por que o seu
arrependimento não foi eficaz, senão que, pelo contrário, o levou ao desespero? Entre outras
coisas, porque não foi confiante. Judas não confiou na misericórdia de Cristo, que o acolheria
de braços abertos, se ele estivesse sinceramente contrito, mas em si mesmo ou, antes, em sua
pobre percepção das coisas: “Pequei gravemente entregando um justo; logo, Deus não pode me
perdoar”… 

Procuremos então alcançar a graça do arrependimento, revestido dessas cinco preciosas


qualidades. Maria Santíssima, embora nunca tenha cometido nenhum pecado nem, portanto,
tenha precisado arrepender-se de nada, pode nos alcançar a graça da contrição. Afinal, ela
sentiu aos pés da Cruz o peso do pecado, vendo como ele ofendia e desfigurava seu Filho
querido.

Antes de fazer o exame de consciência, peçamos a Nossa Senhora, Virgem das Dores, que nos
dê verdadeiro arrependimento, e digamos-lhe uma Ave-Maria. Sem arrependimento, não é

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possível ser salvo. Santo Afonso cita as palavras do Evangelho: Nisi paenitentiam habueritis,
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omnes similiter peribitis — “Se não fizerdes penitência, perecereis todos igualmente”, ou seja,
se não houver arrependimento, iremos morrer para a eternidade.

E ainda que tenhamos dificuldade de compreender o que é o arrependimento, se procurarmos


levar à prática as qualidades que mencionamos acima, contando sempre com a ajuda da graça,
veremos que não é impossível arrepender-se como Deus deseja de nós. Coloquemo-nos diante
dele, conscientes de que, se o pedirmos, Ele nos concederá um arrependimento verdadeiro,
sobrenatural, sumo, universal e confiante. 

“Ah, mas se eu cair semana que vem?” Isso é apenas uma estimativa. Ponhamos um ato de
vontade, aproveitemos o momento presente. Uma coisa que ajuda a dispor o coração para o
arrependimento é considerar-se às portas da morte: “Se essa Confissão geral fosse a última
confissão de minha vida, porque irei morrer logo após a absolvição, o que eu faria? Seria capaz
de propor-me sincera e resolutamente a nunca mais pecar, para não ofender ao bom Deus?”
Sim, com a graça, você seria capaz!

Coragem! Quem disse que teremos amanhã para nos arrepender? Temos somente o hoje.
Tenhamos coragem e, sobretudo, confiança em Deus. Ele não pede de nós uma dor sensível,
mas está disposto a fortalecer nossa vontade para que nos determinemos: “Não quero mais!
Chega! Deus me manda detestar os pecados, então eu os detesto, mesmo que ainda tenha
algum gosto sensível por eles. Deus é meu amigo, sabe o que é bom para mim”. Confiemos nele
mais do que em nós!

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