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O livro começa com uma trova de Estêvão da Escuna e que dita o seguinte:

O mundo só vai prestar


Para nele se viver
No dia em que a gente ver
Um gato maltês casar
Com uma alegre andorinha
Saindo os dois a voar
O noivo e sua noivinha
Dom Gato e dona Andorinha

A História

O livro retrata uma história de amor impossível entre um Gato Malhado e uma
Andorinha e também uma história de coragem. Uma pequena Andorinha,
conseguiu desafiar um Gato que era temido por todos.

A Andorinha é jovem, alegre, destemida, inconsciente e cheia de vontade de


viver, o Gato Malhado é um gato de meia idade, feio e mau, mas que se
transforma devido ao amor pela jovem andorinha.
A história passa-se nas quatro estações do ano. Este amor começa na Primavera
e termina no Inverno, com o casamento da Andorinha com o Rouxinol e a morte
do Gato Malhado.

Começa na Primavera, época em que o Gato e Andorinha se conhecem, no


Verão têm o seu tempo de felicidade e percebem que estão apaixonados um
pelo outro, passam para o Outono que é uma época de nostalgia e perda porque
a Andorinha tem de partir antes do Inverno chegar e termina no Inverno em que
se dá a separação definitiva de ambos e o casamento desta.

Primavera
Quando a primavera chegou o Gato Malhado espreguiçou-se e abriu os olhos
pardos, eram olhos feios e maus. O Gato Malhado era um gato de meia-idade,
corpo forte e ágil de riscas amarelas e negras. No entanto era um solitário, não
conseguia manter relações de amizade com ninguém. Tinha até má fama.

O gato levantou-se e começou a andar e quando o fez todos os habitantes do


Parque desapareceram. O Gato suspirou, olhou em volta, mas não havia
ninguém. Até que reparou que no ramo de uma árvore estava a Andorinha
olhando e sorrindo para ele.

O Gato sentou-se, alisou os bigodes e perguntou:


- Porque não fugiste com os outros?
- Eu? Fugir? Não tenho medo de ti, os outros são todos uns covardes. Tu não
voas por isso não me podes alcançar. És um gatarrão tolo e feio. E olha lá que
és feio…
Feio eu? – e o Gato riu. Riso espantoso de quem se havia desacostumado de
rir, e desta vez, até as arvores mais corajosas, como o Pau Brasil – um gigante
– estremeceram. Ela o insultou e ele a vai matar, pensou o velho Cão
Dinamarquês.
(…)
- Tu me achas feio? – perguntou – De verdade?
- Feiíssimo – Disse a Andorinha
- Não acredito. Só uma criatura cega poderia me achar feio.
- Feio e convencido! – argumentou a Andorinha
(…)
Entretanto a conversa não continuou porque os pais da Andorinha Sinhá
vencendo o medo, chegaram voando e levaram-na, ralhando com ela. Mas ela
ainda teve tempo de dizer ao Gato:
- Até logo, seu feio.

E foi a partir daqui que começou toda a história do Gato Malhado e da Andorinha
Sinhá.
De repente, o amor desperta do seu sono à inesperada visão de um outro ser.
Mesmo se já o conhecemos, é como se o víssemos pela primeira vez e por isso
se diz que foi amor à primeira vista. Assim o amor do Gato Malhado pela
Andorinha Sinhá. Quanto ao que se passava no pequeno, porém valoroso
coração de Sinhá, não esperem que eu explique ou desvende

Verão
Curto foi o tempo do Verão para o Gato e a Andorinha. Encheram-no com
passeios vagabundos, com longas conversas à sombra das árvores, com
sorrisos, com palavras murmuradas, com olhares tímidos, porém expressivos,
com alguns arrufos também...mas o amor crescia e continuava.

Outono
Chegou a hora da Andorinha partir. O Gato entregou-lhe um soneto que
escreveu. Ela voou, muitas vezes voltou a gentil cabecinha para vê-lo, tinha
lágrimas nos olhos.
No dia seguinte — aí, foi o dia mais longo do Outono — ela não voltou a aparecer.

O temor ao Gato Malhado voltou a habitar o parque, e começaram os


comentários entre os habitantes
.
No terceiro dia do Outono, o Pombo-Correio atirou-lhe de longe uma carta. O
Gato a leu tantas vezes que até a aprendeu de memória. Uma carta triste e
definitiva enviada pela Andorinha Sinhá.
"Uma andorinha não pode jamais casar com um gato." Dizia também que eles
não deviam mais se encontrar. Em compensação falava que jamais fora feliz,
exceto no tempo em que vagabundeava com o Gato Malhado pelo parque.
E terminava: "da sempre tua Sinhá".

O Gato com desgosto deixou de falar fosse com quem fosse, foi vivendo apenas
das suas recordações, dos bons momentos vividos com a sua amada.

Inverno
Foi o tempo de sofrimento, em que o Gato é confrontado com a realidade, a
Andorinha ia casar-se com o Rouxinol.

No momento em que o cortejo nupcial, numa revoada, saía da capela a


Andorinha viu o Gato no seu canto e ao passar por ele deixou cair uma pétala
de rosa vermelha do seu ramo de noiva. O Gato a colocou no peito onde parecia
ser uma gota de sangue. O Gato guardou a pétala de rosa e olhando mais uma
vez o Parque, saiu andando devagar. E dirigiu-se à encruzilhada do fim do
mundo.

E aqui termina a história de um grande amor que a Manhã ouviu ao Vento e


contou ao Tempo para ganhar uma linda rosa azul.

O que é a coragem?
Coragem não é a ausência de medo, é deixar o coração agir, apesar do medo,
tornando cada um de nós capaz de alcançar os próprios objetivos.
Coragem é força, mas é, também, amor. Libertarmo-nos dos nossos medos
exige coragem.
Quando pensamos em coragem, é comum imaginarmos grandes atos de
valentia, às vezes até coisas de super-heróis, mas a coragem também se refere
que somos fortes enfrentando os nossos medos. Alguém que é corajoso é,
sobretudo, alguém que sente — coragem é força com amor. Uma pessoa
corajosa age com o coração, com o sentimento de se superar a si próprio.
Podemos concluir, então que a coragem não vem da força física, mas da força
de sentimentos nobres, por isso a coragem é uma virtude.
No fundo, foi isso que o Gato Malhado e Andorinha Sinhá se permitiram viver,
viver com coragem um amor impossível, que ainda que por um período curto,
fosse vivido de forma intensa e maravilhosa.

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