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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ELÉTRICA


CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

EDUARDO ENDERLI BODANESE

PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM AMPLIFICADOR


DE ÁUDIO CLASSE D

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

PATO BRANCO
2017
EDUARDO ENDERLI BODANESE

PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM AMPLIFICADOR


DE ÁUDIO CLASSE D

Trabalho de Conclusão de Curso de


graduação, apresentado à disciplina de
Trabalho de Conclusão de Curso 2, do
Curso de Engenharia Elétrica do Departa-
mento Acadêmico de Elétrica - DAELE - da
Universidade Tecnológica Federal do Pa-
raná - UTFPR, Câmpus Pato Branco, como
requisito parcial para obtenção do tı́tulo de
Engenheiro Eletricista.

Orientador: Everton Luiz de Aguiar

PATO BRANCO
2017
TERMO DE APROVAÇÃO

O Trabalho de Conclusão de Curso intitulado PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO


DE UM AMPLIFICADOR DE ÁUDIO CLASSE D do acadêmico Eduardo Enderli Bo-
danese foi considerado APROVADO de acordo com a ata da banca examinadora N◦
145 de 2017.

Fizeram parte da banca examinadora os professores:

Everton Luiz de Aguiar

Andrei Bordignon

Kleiton de Morais Sousa


Este trabalho é dedicado à toda minha famı́lia. Em especial
aos meus pais, Sadi e Maria Helena, por todos os ensina-
mentos e incentivos fornecidos durante a caminhada; e a
minha esposa, Yasmim, pela compreensão e ajuda nos mo-
mentos mais difı́ceis.
O insucesso é apenas uma oportunidade para
começar de novo com mais inteligência.

Henry Ford
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, pelo dom da vida.


Agradeço ao Professor M.Sc. Everton Luiz de Aguiar pela orientação, dedicação
e companheirismo em todos os momentos, pricipalmente nos não tão bons.
Agradeço aos colegas que de uma forma ou de outra contribuı́ram para o
desenvolvimento deste trabalho, tanto de forma técnica como motivacional; especi-
almente a Felipe Sassi, Lucas Gaspar de Miranda e Luiz Henrique Meneghetti pela
parceria e auxı́lio durante todo o trabalho, principalmente na reta final. Também aos
colegas, amigos e companheiros de antes e também durante a etapa da graduação;
com certeza vocês tornaram essa fase muito mais prazerosa.
Agradeço a todos os professores do Departamento de Elétrica e os demais
do caminho: sem vocês não teria chegado onde estou.
Por último, mas com total importância, agradeço à famı́lia pelo incentivo e
apoio durante todas as etapas da vida. A vocês se devem todas as minhas conquistas
e realizações passadas, atuais e futuras.
RESUMO

BODANESE, Eduardo Enderli. Projeto e Implementação de um Amplificador de


Áudio Classe D. 2017. 105 f. Monografia (Graduação em Engenharia Elétrica) -
Departamento Acadêmico de Elétrica, Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
Pato Branco, 2017.

Este trabalho aborda o conceito de amplificadores classe D (chaveados), indicando-


o como um substituto às demais classes de amplificadores de áudio em algumas
aplicações especı́ficas por ser mais eficiente e, mostrando ser possı́vel obter uma
qualidade de áudio satisfatória. No trabalho são discutidas as classes de amplifica-
dores de áudio, as topologias de amplificadores classe D, as principais modulações
usadas e as diferenças entre um classe D analógico e um digital. Depois de defi-
nida a topologia ponte completa, a modulação por largura de pulso (PWM) de 3 nı́veis
e digital, cada etapa é analisada para ser projetada baseada na teoria. Simulações
numéricas computacionais são desenvolvidas nos softwares PSIM R e LTspice
R para
validar as etapas projetadas do circuito e o projeto como um todo. É desenvolvido um
protótipo para aquisição de resultados experimentais para determinar os parâmetros
que caracterizam o amplificador e compor sua tabela de especificações técnicas. Fi-
nalmente são apresentados, comparados e discutidos os resultados de simulação e
experimentais do amplificador projetado e implementado.

Palavras-chave: Conversor CC/CA, Modulação por Largura de Pulso(PWM), Amplifi-


cador Classe D, Áudio.
ABSTRACT

BODANESE, Eduardo Enderli. Class D Audio Amplifier’s Design and Assembly.


2017. 105 f. Monografia (Graduação em Engenharia Elétrica) - Departamento Acadêmico
de Elétrica, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Pato Branco, 2017.

This work addresses the concept of class D amplifiers (switching amplifiers), indicating
it as a substitute for other classes of audio amplifiers in some specific applications,
because it is more efficient and it is possible to obtain a satisfactory audio quality.
In this paper it is discussed the classes of audio amplifiers, the topologies of class
D amplifiers, the main modulations used and the differences between an analog and
a digital class D. Once the complete bridge topology, digital modulation and 3-level
pulse width modulation (PWM) are chosen, each step is analyzed to ultimately be
designed based on theory. Computational numerical simulations are developed in the
PSIM R and LTspice R softwares to validate the projected steps of the circuit and the
project as a whole. A prototype is developed for the acquisition of experimental results
to determine the parameters that characterize the amplifier and compose its table of
technical specifications. Finally, simulation and experimental results of the designed
and implemented amplifier are presented, compared and discussed.

Keywords: Converter DC/AC, Pulse Width Modulation(PWM), Class D Amplifier, Au-


dio.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Diagrama contextual do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21


Figura 2: Circuito do amplificador classe A . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 3: Circuito do amplificador classe B . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Figura 4: Distorção de cruzamento por zero no amplificador lasse B . . . 25
Figura 5: Circuito do amplificador classe AB . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Figura 6: Comparação entre o rendimento de classes A, B e D . . . . . . 28
Figura 7: Diagrama de blocos de um Classe D . . . . . . . . . . . . . . . 28
Figura 8: Conceito da topologia meia ponte . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Figura 9: Conceito da topologia ponte completa . . . . . . . . . . . . . . . 29
Figura 10: Modulação PWM de 2 nı́veis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 11: Modulação PWM de 3 nı́veis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Figura 12: Modulação Delta-Sigma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Figura 13: Filtro passivo de segunda ordem e filtro ativo de segunda ordem 38
Figura 14: (a) Filtro de uma saı́da e (b) Filtro balanceado . . . . . . . . . . 39
Figura 15: Circuito de Bootstrap para um braço da ponte . . . . . . . . . . 45
Figura 16: Esquemático de um optoacoplador . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Figura 17: Ilustração do tempo morto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Figura 18: Snubber em uma ponte completa . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Figura 19: Microcontrolador Piccolo TMS320F28069 . . . . . . . . . . . . . 51
Figura 20: Ilustração da operação de um amplificador de instrumentação . 52
Figura 21: Circuito básico de um amplificador de instrumentação . . . . . . 53
Figura 22: Circuito equivalente simplificado de um alto-falante . . . . . . . 56
Figura 23: Curva de impedância de um alto-falante . . . . . . . . . . . . . 57
Figura 24: Diagrama da topologia escolhida . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Figura 25: Resposta no domı́nio da frequência do filtro de saı́da projetado 60
Figura 26: Circuito completo para um dos drivers . . . . . . . . . . . . . . . 63
Figura 27: Pico de tensão negativa em função do resistor série . . . . . . . 64
Figura 28: Circuito utilizado para um optoacoplador . . . . . . . . . . . . . 66
Figura 29: Circuito utilizado para o amplificador de instrumentação . . . . . 68
Figura 30: Topologia Sallen-Key de um filtro ativo de 2a ordem . . . . . . . 69
Figura 31: Filtro Anti-Aliasing completo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Figura 32: Simulação do filtro anti-aliasing de 4a ordem . . . . . . . . . . . 71
Figura 33: Circuito da fonte do amplificador . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Figura 34: Sinal de entrada modulado em 4 PWMs . . . . . . . . . . . . . 76
Figura 35: PWMs à saı́da dos 6N137 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Figura 36: PWMs de acionamento das 4 chaves IRF540 . . . . . . . . . . 77
Figura 37: PWMs de acionamento das 4 chaves IRF540, referenciados ao
terra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Figura 38: Saı́da do amplificador com potência nominal . . . . . . . . . . . 78
Figura 39: Saı́da do amplificador antes e depois do filtro . . . . . . . . . . 78
Figura 40: PWM sobre o filtro de saı́da . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Figura 41: Ondas de tensão, corrente e potência . . . . . . . . . . . . . . . 80
Figura 42: Amplificador implementado em seu gabinete . . . . . . . . . . . 80
Figura 43: Gabinete aberto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Figura 44: Gabinete aberto destacando-se as placas componentes do am-
plificador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Figura 45: Sinal de entrada: onda senoidal 1 kHz . . . . . . . . . . . . . . 82
Figura 46: Forma de onda na saı́da com carga nominal . . . . . . . . . . . 83
Figura 47: Forma de onda na saı́da sem carga . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Figura 48: Eficiência em função da potência de saı́da . . . . . . . . . . . . 85
Figura 49: Perdas relativas em função da potência de saı́da . . . . . . . . 86
Figura 50: Relação sinal/ruı́do . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Figura 51: Resposta em frequência do amplificador . . . . . . . . . . . . . 88
Figura 52: Sinal de áudio após etapa de condicionamento . . . . . . . . . 90
Figura 53: PWMs 1A e 1B na saı́da do microcontrolador . . . . . . . . . . 91
Figura 54: Tempo morto dos PWMs 1A e 1B . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Figura 55: PWMs 1A e 1B na saı́da do optoacoplador . . . . . . . . . . . . 92
Figura 56: PWMs 1A e 1B na saı́da do driver . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
Figura 57: Padrão de resposta em frequência para amplificadores . . . . . 102
Figura 58: Núcleo de ferrite tipo EE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
Figura 59: Indutores implementados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
LISTA DE TABELAS

1 Parâmetros para Projeto do Amplificador . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58


2 Perdas dos modelos de MOSFETs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
3 Perdas dos modelos de MOSFETs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4 Rendimento do Amplificador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
5 THD do Amplificador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
6 Especificações dos parâmetros do amplificador . . . . . . . . . . . . . . 94
7 Parâmetros tı́picos para dimensionamento dos indutores . . . . . . . . . 105
8 Dimensões do núcleo de ferrite EE-30/15/14 . . . . . . . . . . . . . . . 106
LISTA DE SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


AC Alternating Current
A/D Analógico/Digital
BJT Bipolar Junction Transistor
CA Corrente Alternada
CC Corrente Contı́nua
CI Circuito Integrado
D/A Digital/Analógico
DC Direct Current
EMI Electromagnetic Field
FET Field Effect Transistor
IEC International Electrotechnical Commission
IGBT Insulated Gate Bipolar Transistor
LED Light Emitting Diode
MOSFET Metal Oxide Semeconductor Field Effect Transistor
NBR Norma Brasileira
PDM Pulse Density Modulation
PWM Pulse Width Modulation
THD Total Harmonic Distortion
SDM Sigma-Delta Modulation
LISTA DE SÍMBOLOS

LC Indutivo-capacitivo
Vo (s) Tensão de saı́da do filtro
Vin (s) Tensão de entrada do filtro
L Indutância do filtro
R Resistência da carga
C Capacitância do filtro
ωc Frequência de corte do filtro de saı́da em rad
A0 Ganho de um filtro
fc Frequência de corte do filtro de saı́da em Hz
fr Frequência de ressonância do filtro de saı́da
RDS(on) Static Drain-to-Source On-Resistance
k Parâmetro constante relacionado ao RDS(on) de um MOSFET
BVDSS Drain Source Breakdown Voltage
Pcond Perdas de condução
IDef Corrente eficaz no MOSFET
Qg Carga do Gate
Pgate Potência dissipada na porta do MOSFET
VGS Tensão entre a porta e a fonte
fsw Frequência de chaveamento
Qrr Base Diode Reverse Recovery Charge
Pcom Perdas de comutação
Coss Capacitância entre dreno e fonte
E Tensão de barramento
tf Tempo de descida da corrente
tr Tempo de subida da corrente
Ptotal Perdas totais
S2 Chave inferior do braço 1
Cboot Capacitor de bootstrap
VDboot Queda de tensão no capacitor de bootstrap
S1 Chave superior do braço 1
Rsn Resistor do snubber
Csn Capacitor do snubber
D Razão cı́clica
RG Resistor de ganho do amplificador de instrumentação
Acl Ganho de malha fechada
Rdc Resistência do fio que forma a bobina do alto-falante
Ls Indutância do enrolamento da bobiba do alto-falante
Cr Capacitância que representa o cone do alto-falante
Lr Indutância que representa a suspensão do alto-falante
Rr Resistência que representa as perdas de suspensão no alto-falante
VCA Tensão de Alimentação
POU T Potência de Saı́da
η Rendimento
Vpp Tensão de pico a pico
m Índice de Modulação
Zo Impedância da Carga
Vruido,% Percentual de ruı́do que o filtro deixa passar
VDS Tensão entre o dreno e a fonte
VB Saı́da de referência do driver para o MOSFET superior
Pin Potência de entrada na fonte CC
f Frequência da rede
Vmax Tensão de pico da saı́da da fonte CC
Vmin Tensão mı́nima da saı́da da fonte CC
0
Uo,n Tensão do componente harmônico analisado no cálculo da THD
Uo Tensão da saı́da do amplificador para cálculo da THD
Pmed Potência de saı́da do amplificador
VRM S Tensão de saı́da para potência nominal
IRM S Corrente de saı́da para potência nominal
S Sinal
N Ruı́do
A Amplitude das componentes de frequência para cálculo do THD
T HD + N Distroção harmônica total + ruı́do
Kw Fator de utilização da janela do carretal
Bmax Densidade máxima de fluxo
Jmax Densidade máxima de corrent
µo Permeabilidade magnética do ar
Iorms Corrente eficaz no indutor
Iopk Corrente de pico no indutor
Ae Aw Produto das áreas
N Número de espiras do indutor
Aw Área da janela
Ae Área do entreferro
Lt Comprimento médio de uma espira
Ve Volume do núcleo
a Distância entre janelas
b Largura da janela
h Altura da janela
d Profundidade do núcleo
δcu Profundidade de penetração no cobre
Amax Área máxima da seção transversal de um condutor
Acond Área necessária para conduzir a corrente eficar do indutor
ncondutores Número de condutores
Acarretel Área do carretel
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

1.1 MOTIVAÇÃO DO TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20


1.2 OBJETIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.2.1 Objetivos Especı́ficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.3 APRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA DO TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.1 CLASSES DE AMPLIFICADORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23


2.1.1 Classe A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1.2 Classe B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.1.3 Classe AB . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.2 AMPLIFICADORES CLASSE D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.2.1 Principais Topologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.2.2 Principais Modulações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.2.3 Acionamento Analógico e Digital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.2.4 Teorema de Nyquist-Shannon . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.3 A NORMA ABNT NBR 60268-3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.4 TOPOLOGIA ESCOLHIDA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.4.1 Modelo do Filtro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.4.1.1 Filtros Ativos versus Filtros Passivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.4.1.2 Filtros de uma saı́da versus Filtros Balanceados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.4.1.3 Filtro Passivo e Balanceado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.4.2 Chaves Semicondutoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
2.4.2.1 Parâmetros e Perdas de MOSFETs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.4.3 Circuito de Acionamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.4.4 Optoacoplador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
2.4.5 Tempo Morto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2.4.6 Circuito de Auxı́lio a Comutação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.4.7 Microcontrolador Piccolo TMS320F28069 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
2.4.8 Amplificador de Instrumentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
2.4.9 Filtro Anti-Aliasing . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2.4.10 Fonte de Alimentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
2.4.11 Carga (Alto-Falante) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

3 PROJETO DO AMPLIFICADOR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

3.1 PROJETO DO FILTRO DE SAÍDA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59


3.2 ESCOLHA DAS CHAVES (MOSFETS) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
3.3 PROJETO DO CIRCUITO DE ACIONAMENTO DAS CHAVES . . . . . . . . . . . . 62
3.4 ESCOLHA DOS OPTOACOPLADORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.5 PROJETO DO CIRCUITO DE AUXÍLIO À COMUTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3.6 PROJETO DO CONDICIONAMENTO DE SINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3.6.1 Amplificador de Instrumentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3.6.2 Filtro Anti-Aliasing . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
3.6.3 Buffer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.7 PROJETO DA FONTE DE ALIMENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.8 ESCOLHA DA CARGA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

4 ANÁLISE DE RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

4.1 RESULTADOS DE SIMULAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75


4.1.1 Modulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.1.2 Optos e Drivers . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4.1.3 Formas de Onda da Saı́da . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
4.2 RESULTADOS EXPERIMENTAIS DO PROTÓTIPO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
4.2.1 Sensibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
4.2.2 Potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
4.2.3 Eficiência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
4.2.4 Relação Sinal/Ruı́do . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
4.2.5 Resposta em Frequência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
4.2.6 Distorção Harmônica Total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
4.2.7 Resultados Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
4.2.8 Especificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

5 CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
APÊNDICE A - DEFINIÇÕES DE PARÂMETROS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100

A.1 POTÊNCIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100


A.2 SENSIBILIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
A.3 RELAÇÃO SINAL/RUÍDO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
A.4 RESPOSTA EM FREQUÊNCIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
A.5 DISTORÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102

APÊNDICE B - PROJETO DOS INDUTORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104


19

1 INTRODUÇÃO

O som é gerado quando um objeto vibra, fazendo com que o ar que está
ao seu redor seja deslocado (PIRES, 2010). Isto permite que o som seja criado por
uma infinidade de diferentes vibrações. Todavia, o que permite que algum tipo de
som emitido tenha importância é o fato do ouvido humano ter capacidade de captá-lo
e interpretá-lo. Biologicamente, o conceito da frequência tem papel importantı́ssimo,
pois o ser humano não é capaz de ouvir todas as frequências. A faixa audı́vel do ser
humano restringe-se, em média, entre 20 Hz e 20 kHz (RODRIGUES; COLLINO, 2008).
No decorrer do tempo, sinais de áudio passaram a ser amplificados para
suprir a necessidade de transmitir uma mensagem sonora para um maior número de
pessoas em um mesmo lugar (RODRIGUES; COLLINO, 2008). Com isso, o desenvolvi-
mento de amplificadores de áudio passou a ganhar espaço.
Nas décadas passadas, os amplificadores de áudio restringiam-se a apare-
lhos de rádio e equipamentos profissionais de sonorização para grandes espetáculos
musicais. Na atualidade, por outro lado, os equipamentos de áudio são utilizados
amplamente em outras aplicações, tais como: sonorização doméstica, reprodução de
mı́dias digitais, telefonia móvel, sonorização automotiva, dentre outras. Os amplifi-
cadores de áudio estão embutidos em diversos aparelhos eletrônicos. Grande parte
destes dispositivos é móvel, e isso leva à necessidade de transformar o amplificador
em um componente pequeno, leve e eficiente (RUMSEY; MCCORMICK, 2009).
A evolução da eletrônica analógica e digital, aumentou a demanda por am-
plificadores, uma vez que reduziu o custo dos equipamentos, tornou-os mais compac-
tos, mais eficientes e com maior densidade de potência. A topologia do circuito ampli-
ficador depende das caracterı́sticas desejadas para o equipamento. Caso o principal
parâmetro desejado seja alto rendimento, então um amplificador Classe D pode ser a
melhor opção. Em contrapartida, caso busque-se a melhor fidelidade de reprodução
de áudio, o amplificador Classe A torna-se mais atrativo (SELF, 2002). Nas seções
2.1 e 2.2 serão abordadas as principais topologias e aplicações dos amplificadores de
áudio de potência.
1.1 Motivação do Trabalho 20

1.1 MOTIVAÇÃO DO TRABALHO

As classes de amplificadores mais difundidas e utilizadas são as que com-


preendem os amplificadores chamados lineares, como A e AB. Elas são tão populares,
tanto por estarem há mais tempo no mercado mostrando serem confiáveis, quanto
pela caracterı́stica de linearidade e fidelidade sonora que apresentam (RODRIGUES,
2008).
Os amplificadores chaveados, como o classe D, logo que foram desenvol-
vidos deixavam muito a desejar na qualidade do som que apresentavam, principal-
mente em função dos dispositivos semicondutores da época, os quais eram usados
como chaves. Esses semicondutores operavam apenas em frequências relativamente
baixas, o que acarretava em mais complexidade ao processo de filtragem e maior
distorção. Com a evolução das chaves nos anos 80 e 90 e, consequentemente, o au-
mento da frequência de chaveamento, o classe D passou a ter resposta com menores
nı́veis de distorção, o que o deixa interessante para as mais diversas aplicações.
O trabalho proposto consiste no desenvolvimento de um amplificador de
áudio classe D de baixa potência, pronto para uso (não necessita o uso de fontes
e equipamentos auxiliares). Visa-se mostrar que com o uso de técnicas adequadas
de modulação e demodulação do sinal, é possı́vel obter um amplificador com carac-
terı́sticas de rendimento, portabilidade e qualidade de áudio satisfatórias para variadas
aplicações. Um bom amplificador classe D pode tanto ser usado na amplificação de
sons profissionais, onde devido às grandes potências necessita ser pequeno e leve,
quanto para uso em um smartphone, por exemplo, onde a eficiência é fator crucial,
visto que ele opera com energia fornecida por uma bateria.
Outro fator que motivou o desenvolvimento deste trabalho é o auxı́lio à
produção de trabalhos futuros, fazendo-se a comparação de amplificadores lineares
de mesmos parâmetros com este chaveado. Até mesmo podem-se realizar compara-
tivos com outro classe D, empregando uma técnica de modulação diferente, a fim de
analisar as divergências entre os modelos. Tais estudos podem ser baseados tanto
em testes de bancada, buscando-se realizar a comparação de resultados elétricos,
como testes de audição, onde a opinião dos ouvintes pode ser levada em conta.
1.2 Objetivos 21

1.2 OBJETIVOS

O objetivo geral deste trabalho é projetar e implementar um amplificador


de áudio classe D com 50 W de potência, para uso como receiver, com um canal de
saı́da, na configuração em ponte completa e respondendo para todas as frequências
audı́veis.

1.2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Têm-se como objetivos especı́ficos do trabalho apresentado:

• Fazer a revisão bibliográfica das topologias de amplificador classe D e das cha-


ves semicondutoras;

• Analisar e projetar a fonte CC, o conversor CC/CA full bridge, os módulos de


acionamento (drivers) para as chaves e o filtro de saı́da;

• Fazer simulações numéricas computacionais das etapas projetadas;

• Projetar e implementar os elementos magnéticos do amplificador;

• Implementar e validar a simulação;

• Analisar os resultados com os parâmetros e norma 60268-3/2010;

A Figura 1 apresenta o diagrama geral do projeto e o contexto onde ele


enquadra-se.

COMUTADOR EQUALIZADOR AMPLIFICADOR

ENTRADAS DE ÁUDIO ALTO FALANTE

Figura 1: Diagrama contextual do trabalho.


Fonte: Autoria própria.

1.3 APRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho está organizado em 7 capı́tulos, sendo:


1.3 Apresentação da Estrutura do Trabalho 22

• Capı́tulo 1: Introdução, como a apresentação do tema, a motivação que levou a


este trabalho e os objetivos dele.

• Capı́tulo 2: Fundamentação Teórica, onde toda a teoria é abordada, desde as


principais classes de amplificadores de áudio, passando pelas principais carac-
terı́sticas do amplificador classe D, até a topologia escolhida, com a caracterização
de cada item que a compõe. O conhecimento adequado das topologias e das
funções de cada componente é fundamental para o sucesso do projeto.

• Capı́tulo 3: Projeto do Amplificador, no qual é apresentado o passo a passo


do projeto realizado com base no conhecimento teórico adquirido, simulações
computacionais e testes de bancada.

• Capı́tulo 4: Análise de Resultados, que traz o equipamento que foi implemen-


tado, junto com suas caracterı́sticas de resposta e resultados para os parâmetros
desejados além das simulações numéricas.

• Capı́tulo 5: Conclusão, o qual define o que foi concluı́do com o desenvolvimento


deste trabalho.

• Capı́tulo 6: Apêndices, em que são mostrados conceitos sucintos dos princi-


pais parâmetros de avaliação da qualidade do áudio e também o projeto e a
implementação dos indutores do filtro.
23

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nesta seção é apresentado o embasamento teórico acerca das topologias,


circuitos e componentes que formam o amplificador de áudio, tanto de forma geral,
quanto voltado ao amplificador Classe D.

2.1 CLASSES DE AMPLIFICADORES

Inicialmente foi desenvolvido o amplificador classe A. Por volta de 1950,


surgiu o amplificador classe B. Só então, adotou-se nomenclaturas relativas ao com-
portamento da corrente no estágio de saı́da, assim como sua linearidade. Essas no-
menclaturas são conhecidas como as classes de amplificadores (PIRES, 2010).
Novas classes foram surgindo com o avanço dos estudos que buscavam
melhorias de rendimento nos amplificadores, sem prejudicar seu desempenho em
relação à qualidade de áudio. A seguir, apresenta-se as principais classes de am-
plificadores que são usadas para amplificação de áudio na atualidade.

2.1.1 CLASSE A

O amplificador classe A particuliza-se por ser o amplificador com a melhor


caracterı́stica de linearidade. O ponto de polarização em que o elemento amplificador
opera é bem no centro da reta de carga, estratégia essa que garante a linearidade do
dispositivo e diminui a distorção na saı́da, segundo Cordel (2011). Esse fato também
faz as perdas serem elevadas, visto que sempre há tensão e corrente, simultanea-
mente, no transistor ou similar. No entanto, as maiores parcelas de perdas são devido
à corrente de polarização, que mesmo quando a fonte sonora está desativada ou em
nı́vel nulo, circula pelo circuito com valor elevado (em torno de metade do valor da
corrente máxima de carga), dissipando energia também nos resistores do circuito de
polarização.
A eficiência máxima teórica do amplificador classe A é em torno de 50%
(quando utilizado um transformador para o acoplamento com a carga), mas na prática
esse percentual dificilmente ultrapassa os 25% (BOYLESTAD; NASHELSKY, 2004). Isso
2.1 Classes de Amplificadores 24

o torna um amplificador inviável para aplicações de grandes potências. Além do


mais, toda a energia que não é aproveitada é transformada em calor, necessitando
a utilização de muitos dissipadores, o que implica em maior custo, tamanho e peso
(BORTONI, 2012).
A Figura 2 mostra o diagrama básico mais utilizado do amplificador classe
A. Utiliza um transistor BJT na configuração emissor-comum. Há também amplifica-
dores que utilizam válvulas ou dispositivos FET.

VCC

R1 RL

VOUT
C1
IN+

R2 RE C2

IN- 0V

Figura 2: Circuito do amplificador classe A.


Fonte: Adaptado de (BOYLESTAD; NASHELSKY, 2004).

2.1.2 CLASSE B

A Figura 3 traz o esquema básico do amplificador classe B. De acordo com


Peccerini (2016), os amplificadores classe B são amplificadores que surgiram devido
à necessidade de melhorar o rendimento dos amplificadores classe A, o qual dissi-
pava muita energia em forma de calor. Os amplificadores classe B são caracterizados
por não possuı́rem corrente de polarização nos transistores de saı́da. Cada transistor
conduz durante somente um ciclo, positivo ou negativo, dependendo da polarização
efetuada no transistor. Conduz, portanto, durante somente 180 graus, sendo que os
50% restantes do perı́odo ele está no modo de corte, não dissipando energia, ideal-
mente.
2.1 Classes de Amplificadores 25

+Vcc

-Vcc

Figura 3: Circuito do amplificador classe B.


Fonte: Adaptado de (BORTONI, 2012).

Devido à necessidade de um nı́vel de tensão mı́nimo para polarizar os tran-


sistores e estes começarem a conduzir, a distorção que é provocada na saı́da é co-
nhecida como distorção de cruzamento por zero ou efeito crossover. Ela é um nı́vel
morto na faixa de tensão positiva e negativa do sinal, com amplitude igual à tensão
de polarização do dispositivo amplificador (SCHWAAB, 2012). O amplificador classe B
é, normalmente, mais eficiente que o amplificador classe A, com rendimento aproxi-
mado de 78,5%. Por outro lado, o amplificador classe B apresenta maior distorção em
função do efeito de cruzamento por zero. Quando trata-se de grandes nı́veis de sinais,
ou seja, grandes potências, a distorção é relativamente pequena devido ao sinal ser
muito maior que os harmônicos gerados. A Figura 4 mostra esse efeito.

Vout

Figura 4: Distorção de cruzamento por zero no am-


plificador classe B.
Fonte: Adaptado de (BORTONI, 2012).
2.1 Classes de Amplificadores 26

2.1.3 CLASSE AB

Os amplificadores classe AB foram desenvolvidos de modo à aliar o que


apresentam de melhor os amplificadores classes A e B. Reuniu-se o princı́pio de fun-
cionamento do classe A, que amplifica o sinal sem introduzir-lhe não linearidades,
juntamente com o do classe B, que utiliza dois dispositivos para amplificar o sinal,
cada qual em um ciclo, proporcionando um alto rendimento (ELIOTT, 2014) Realiza-se
isso mantendo os dois dispositivos ligados simultaneamente, por um curto perı́odo de
tempo. Isso garante que cada um deles conduza por mais de 180 graus, sobrepondo-
se no momento que a onda cruza o zero, eliminando assim o efeito crossover e re-
construindo o sinal original de maneira fiel.
O rendimento do amplificador classe AB aproxima-se de 75%, bem próximo
do valor alcançado pelo classe B, mas sem o prejuı́zo da distorção que este introduz
no sinal de saı́da (PECCERINI, 2016). Esse alto rendimento deve-se ao fato de a cor-
rente de polarização, diferentemente do classe A, ser a mı́nima possı́vel para manter o
dispositivo amplificador ligado. A Figura 5 apresenta o circuito básico do amplificador
classe AB.

+Vcc

Vbias

Vbias

-Vcc

Figura 5: Circuito do amplificador classe AB.


Fonte: Adaptado de (BORTONI, 2012).
2.2 Amplificadores Classe D 27

2.2 AMPLIFICADORES CLASSE D

Surgidos em meados dos anos 1960, os amplificadores Classe D, conhe-


cidos como amplificadores chaveados, operam de maneira totalmente diferente das
outras classes até então discutidas. Os transistores de saı́da funcionam como chaves,
comutando entre os modos de saturação e corte. Porém, devido às interferências de
frequência de rádio e a falta de dispositivos com capacidade de chaveamento rápida,
este modelo não teve muito sucesso na época de sua criação. Somente a partir da
década de 1970 e 1980, com a chegada ao mercado dos dispositivos FET (Field Effect
Transistor - Transistor de Efeito de Campo) e MOSFET (Metal Oxide Semiconductor
Field Effect Transistor - Transistor de Efeito de Campo Metal - Óxido - Semicondutor),
é que este amplificador passou a ser viável (ELIOTT, 2014).
Os amplificadores classe D se destacavam pela sua alta eficiência em ta-
manhos muito pequenos. Por outro lado, sua baixa fidelidade ao sinal de entrada
de áudio sempre foi motivo de hesitação ao uso deste tipo de amplificador. Este
quesito tem sido aperfeiçoado continuamente desde o fim dos anos 1990, utilizando-
se técnicas mais modernas de modulação, chaveamento e demodulação (TAVARES,
2010).
Idealmente toda a potência que entra no amplificador classe D é aplicada
na saı́da, já que quando a chave está no modo de saturação a tensão é virtualmente
zero e no estado de corte a corrente que passa pela chave é zero. Isso de fato não
ocorre, devido a pequenas dissipações e não idealidades das chaves semicondutoras.
Mesmo assim, o rendimento dos amplificadores classe D fica em torno de 90%, o que
requer menos potência fornecida pela fonte e menos dissipadores de calor para um
amplificador de mesma potência que um linear (CORDEL, 2011). A Figura 6 mostra a
comparação entre a média de rendimento dos amplificadores das classes A, B e D.
No amplificador classe D analógico mais simples, os sinais de comando das
chaves são gerados a partir da comparação do sinal de entrada a uma onda triangular,
de frequência várias vezes superior à máxima frequência audı́vel. O resultado dessa
comparação é um sinal modulado (retangular), que possui largura variável e proporci-
onal ao valor da amplitude do sinal de entrada. A frequência do sinal triangular é o que
determina a frequência de chaveamento. O sinal modulado é primeiramente amplifi-
cado para então ser usado no controle das chaves. As chaves reproduzem esse sinal
sobre a carga, porém com uma amplitude muito maior. Para recuperar o sinal origi-
nal da entrada do amplificador (processo chamado de demodulação), um filtro passa
2.2 Amplificadores Classe D 28

baixa remove as componentes de alta frequência devido ao chaveamento e demais


ruı́dos e perturbações. Esse princı́pio é chamado de Modulação PWM (Pulse Width
Modulation - Modulação por Largura de Pulso). A Figura 7 apresenta o diagrama de
blocos de um amplificador Classe D desse modelo.

100
Classe D
90
80
(%)

Classe B
70

60
Rendimento -

50
40
30
Classe A
20
10
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
Po/Po(MAX)

Figura 6: Comparação entre o rendimento de classes A, B e D.


Fonte: Adaptado de (TAVARES, 2010).
Comando e
Comparador PWM Chaveamento Filtro Passa-baixa Alto Falante
Sinal de Entrada

Onda Triangular

Figura 7: Diagrama de blocos do projeto.


Fonte: Autoria própria.

Há também os processos de modulação Delta-Sigma e modulação Auto-


Oscilante, os quais serão abordados mais adiante neste trabalho.

2.2.1 PRINCIPAIS TOPOLOGIAS

Ao dar-se inı́cio ao desenvolvimento do projeto de um amplificador classe D,


um dos primeiros passos é a escolha da topologia a ser empregada. Ela determinará
o modo de funcionamento do circuito, os requisitos básicos de alimentação e quais
componentes serão necessários. A seleção da topologia é efetuada com base na
aplicação e no nı́vel de potência exigido (HEERDT, 1997).
Basicamente, os amplificadores classe D possuem duas principais topolo-
2.2 Amplificadores Classe D 29

gias: a half bridge (meia ponte) e a full bridge (ponte completa) (PIRES, 2010). A Figura
8 apresenta o conceito da topologia de meia ponte e a Figura 9 apresenta o conceito
da topologia de ponte completa.

+Vcc

Q1
Filtro

Driver Superior L
Entrada Modulador de Q
Largura de Pulso
Q C
Driver Inferior
Q2

-Vcc

Figura 8: Conceito da topologia meia ponte.


Fonte: Adaptado de (RODRIGUES, 2008).

+Vcc

Q1 Q3
Filtro Filtro

Driver Superior L L Driver Superior

C C Driver Inferior
Driver Inferior
Q2 Q4

Entrada Modulador de Q
Largura de Pulso
Q

Figura 9: Conceito da topologia ponte completa.


Fonte: Adaptado de (RODRIGUES, 2008).

A topologia meia ponte torna-se interessante para uso em baixas potências,


devido principalmente ao seu altı́ssimo rendimento (mais de 90%) (SCHWAAB, 2012).
Possui apenas um braço com duas chaves complementares, o que reduz o número de
componentes no geral, como circuitos de acionamento, chaves e dissipadores. Isso
faz com que o circuito seja compacto. Para aplicações nas quais o tamanho reduzido
é fundamental, essa é uma importante caracterı́stica.
O conversor na topologia meia ponte necessita alimentação simétrica, o
que depende da fonte que alimentará o sistema e pode ser um problema. Nessa
topologia pode ocorrer o fenômeno de bus pumping, que é a devolução à fonte de
alimentação da energia armazenada pela carga com caracterı́stica indutiva (alto fa-
2.2 Amplificadores Classe D 30

lante). Esse fenômeno pode levar ao incremento da tensão sobre a carga, podendo
causar danos ao alto falante, ao conversor e à própria fonte de alimentação (RODRI-
GUES, 2008).
A topologia ponte completa é melhor em termos de qualidade de áudio. É
constituı́da por dois braços. Em cada braço estão dispostas duas chaves operando em
modo complementar. Os amplificadores de ponte completa apresentam a desvanta-
gem de possuirem mais componentes envolvidos na sua construção. Em contraponto,
com apenas metade da tensão de alimentação, fornece a mesma potência que um
conversor meia ponte. Essa caracterı́stica é extremamente importante pelo fato que
chaves semicondutoras com as caracterı́sitcas de chaveamento desejadas, são mais
fáceis de serem encontradas com limites de tensão de até 150 V. Devido a isso os
amplificadores de alta potência usam essa topologia (CORDEL, 2011).
Outra vantagem da topologia ponte completa é que ela não está susceptı́vel
ao fenômeno de bus pumping. Também funciona com alimentação unipolar, não re-
querendo uma fonte simétrica. A configuração ponte completa possui conveniente-
mente um estado off (desligado), durante o qual os dois lados da ponte estão em
nı́vel alto ou baixo, criando uma diferença de potencial nula sobre a carga. Isso possi-
bilita melhores técnicas de modulação, como por exemplo o PWM de três nı́veis (será
discutido na sequência) que resulta em um menor filtro de saı́da (SCHWAAB, 2012).

2.2.2 PRINCIPAIS MODULAÇÕES

Modulação é definida como sendo o processo no qual a onda portadora so-


fre variações de alguma caracterı́stica, de acordo com o sinal que contém a informação
(PIRES, 2010). O estágio de modulação de um amplificador classe D tem uma in-
fluência muito grande no sistema, visto que ele influencia fundamentalmente a qua-
lidade de saı́da do amplificador. É o primeiro estágio que compõe o amplificador.
Qualquer informação perdida ou mal modulada neste estágio irá criar distorção na
saı́da do equipamento, reduzindo a fidelidade do áudio de saı́da.
Existem muitas técnicas de modulação que podem ser consideradas opções
na hora de projetar um amplificador de áudio classe D. As usadas na prática conden-
sam a informação do sinal de áudio em um trem de pulsos, os quais tem sua largura,
densidade ou outra caracterı́stica variada de acordo com a amplitude do áudio (MO-
REY; VASUDEVAN; WOLOSCHIN, 2008). Entretanto, algumas delas são mais viáveis que
outras por razões como eficácia, simplicidade do circuito, dentre outras. Levando-se
2.2 Amplificadores Classe D 31

em consideração esses fatores, três técnicas se sobressaem:

• Modulação por Largura de Pulso (PWM)

• Modulação Delta-Sigma (SDM)

• Modulação Auto-Oscilante

A Modulaçao PWM é a mais simples de todas. Consiste na técnica em que


a amplitude do sinal de entrada é representada através da razão cı́clica do sinal de
saı́da, sendo geralmente de dois, três ou mais nı́veis. Embora existam muitas ma-
neiras de realizá-la, a mais comum é gerar um sinal PWM através da comparação do
sinal modulante (sinal de áudio) com uma onda portadora. Na maiora das vezes a
onda portadora é uma triangular de alta frequência. O resultado da comparação será
uma onda quadrada de largura de pulso variável de dois nı́veis. A Figura 10 mostra o
princı́pio básico dessa modulação (MOREY; VASUDEVAN; WOLOSCHIN, 2008).

✁ 1 Entrada
Triangular
✁ 2
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2

6
5
4
3
2
1
0
PWM
1
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2

Figura 10: Modulação PWM de 2 nı́veis.


Fonte: Adaptado de (ELIOTT, 2014).

Pode ser visto na Figura 10 que quando o sinal de áudio possui uma am-
plitude maior do que o sinal de referência, a saı́da é um nı́vel lógico alto e a razão
cı́clica do PWM é maior por mais tempo. Na situação oposta, a saı́da é um nı́vel
lógico baixo. Isso cria um sinal que representa instantaneamente a amplitude do sinal
de entrada analógico, através da largura do pulso no sinal da saı́da. Para aplicação
2.2 Amplificadores Classe D 32

em áudio, é recomendado que a amplitude da portadora seja maior que a amplitude


do sinal modulante, de modo que o ı́ndice de modulação fique menor que a unidade.
Isso é importante para obter-se um sinal PWM fiel ao sinal original, sem perdas de
informação durante a modulação (TAVARES, 2010).
No caso da modulação de 3 nı́veis (a qual não é possı́vel de implementar
na topologia meia ponte), a comparação dá-se de maneira um pouco mais elaborada.
Para sinais de áudio maiores que 0, a saı́da da comparação varia entre nı́veis alto
(+Vcc ) e baixo (zero), de forma similar à descrita na modulação de dois nı́veis, porém
esse PWM comanda somente o primeiro braço da ponte. O PWM comanda direta-
mente a chave superior, enquando o PWM negado comanda a chave inferior. Para
sinais de áudio menores que 0, a comparação resulta em nı́veis de saı́da alto (zero) e
baixo (-Vcc ). Esse sinal juntamente com o seu complemento são usados para operar o
segundo braço da ponte.
A Figura 11 mostra em resumo as ondas do PWM de 3 nı́veis.

−1 Entrada
Triangular
−2
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2

−2

−4
PWM 3 Níveis
−6
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2

Figura 11: Modulação PWM de 3 nı́veis.


Fonte: Adaptado de (LEACH, 2001).

Essa modulação em 3 nı́veis permite que as variações de tensão sobre à


chave sejam metade daquelas sofridas na técnica de 2 nı́veis; em vez de excursionar
entre +Vcc e -Vcc a cada comutação, o PWM varia entre uma delas e zero. Isso diminui
a taxa de variação de tensão necessária às chaves e aos drivers, além de impor
um regime de trabalho mais ameno ao filtro. Isso ajuda muito na hora de projetá-
2.2 Amplificadores Classe D 33

lo, permitindo o uso de um esquema de demodulação menos complexo. O espectro


harmônico obtido dessa modulação também é uma vantagem, pois as componentes
harmônicas de chaveamento se concentram mais distante banda de áudio.
Outra técnica bastante utilizada é a chamada Modulação Delta-Sigma (SDM),
também conhecida como Modulação por Densidade de Pulsos (PDM). Esse modo
de modular o sinal, já mais complexo que o PWM, apresenta o valor médio do sinal
analógico de áudio na forma de pulsos em um dado intervalo de tempo. Quanto mais
pulsos se concentrarem em um dado perı́odo, maior a amplitude do sinal. Um único
pulso não pode determinar a amplitude do sinal por si só, mas sim, uma quantização
de pulsos determinada pelo clock. Isso dificulta o aparecimento de erros de modulação
(PIRES, 2010).
Essa técnica de modulação requer um circuito que contenha um amplifi-
cador operacional e um flip-flop tipo D, além de elementos passivos, como visto na
Figura 12.
C

Vcc
R1

D Q
Sinal Saída
de Áudio R2 Vee CLK Q Modulada

Sinal de Clock

Figura 12: Modulação Delta-Sigma.


Fonte: Adaptado de (SCHWAAB, 2012).

Nesta configuração, o amplificador operacional funciona como integrador,


inversor e somador. Quanto maior a variação da entrada, maior será a variação dos
nı́veis de tensão na saı́da do flip-flop (SCHWAAB, 2012).
Para a modulação sigma-delta, a maior parte da energia do chaveamento
de alta frequência aparece no espectro distribuı́da ao longo de uma larga faixa de
frequências, e não concentrada em valores múltiplos da frequência de chaveamento,
como ocorre na modulação PWM. Isso dá à modulação delta-sigma vantagens sobre
o PWM, como por exemplo a filtragem dessas componentes indesejáveis (GAALAAS,
2006). Porém, essa modulação de 1 bit não é empregada substancialmente em am-
plificadores classe D porque esse modulador é perfeitamente estável até um nı́vel de
modulação de no máximo 50%. Além disso, são necessárias no mı́nimo 64 amostras
2.2 Amplificadores Classe D 34

para quantização, o que tornaria o chaveamento incrivelmente rápido, exigindo com-


ponentes e circuitos muito mais elaborados, além da perda de eficiência devido as
perdas de chaveamento tornarem-se maiores (MOREY; VASUDEVAN; WOLOSCHIN, 2008).
Similarmente, existe a modulação auto-oscilante. Recentemente esta técnica
passou a ser empregada no desenvolvimenteo de amplificadores. Esse tipo de modulação
usa uma malha de realimentação, cujas caracterı́sitcas determinam a frequência do
modulador (em vez de um clock ) (GAALAAS, 2006).
Essa modulação é basicamente uma versão analógica do modulador delta-
sigma. A diferença é que em vez de ser usado um flip-flop para gerar o atraso, o
sinal de realimentação é retirado depois das chaves, o que acarreta em um atraso
natural do circuito, proveniente do tempo de propagação dos circuitos de acionamento
e dos tempos de subida e descida das chaves (SCHWAAB, 2012). É possı́vel obter
excelente qualidade de áudio graças à realimentação. Por outro lado, a frequência de
chaveamento variável em função do sinal de entrada, torna difı́cil fazer o sincronismo
com outros circuitos chaveados, conectar o sistema com fontes de áudio digitais, além
da complexidade de sintonizar o filtro demodulador (GAALAAS, 2006).

2.2.3 ACIONAMENTO ANALÓGICO E DIGITAL

Muitas pessoas acreditam que a letra D que determina a classe de ampli-


ficadores chaveados (classe D) seja um indicador de que se trata de um amplificador
digital. Isso é incorreto. A letra D, como já mencionado, apenas representa a classe
do amplificador, e é usada devido ao fato de que na época de sua concepção, era a
próxima letra disponı́vel no alfabeto para designar uma classe de amplificador. Exis-
tem tanto amplificadores classe D analógicos quanto digitais (CELLIER et al., 2009).
O amplificador analógico é aquele em que a modulação é feita através de
componentes analógicos, tais como comparadores, flip-flops, dentre outros. Já o am-
plificador digital recebe o sinal de áudio digitalmente ou através de um conversor A/D
(analógico para digital) o qual transforma o sinal em bits desde a entrada, e o pro-
cessa totalmente de forma digital, através de um microcontrolador ou microproces-
sador, podendo-se aplicar várias técnicas de modulação através de linhas de código
(KULKA, 2007).
Os amplificadores digitais são preferencialmente empregados onde o áudio
já está em formato digital. Isso economiza o processo de convertê-lo em analógico,
simplificando o circuito e aumentando a eficiência. Nesse caso, a partir do sinal binário
2.2 Amplificadores Classe D 35

são gerados os pulsos que posteriormente irão acionar as chaves com a modulação
que for implementada. O sistema digital não necessita da geração da onda portadora
(triangular) para referência, o que é uma das etapas mais trabalhosas de serem ajusta-
das em um amplificador analógico. Porém, dependendo da velocidade do processador
e da resolução do conversor A/D, a precisão na hora de realizar a conversão do sinal
analógico para digital pode ser baixa, levando a distorções no estágio de saı́da do
amplificador (STARK, 2007).
Os estágios de acionamento das chaves, etapas de potência e de filtra-
gem continuam iguais para os dois modelos, visto que não é possı́vel encontrar um
conversor D/A (digital para analógico) para potência além de nı́veis de sinal.

2.2.4 TEOREMA DE NYQUIST-SHANNON

O Teorema da amostragem de Nyquist- Shannon, ou simplesmente Teo-


rema de Nyquist, é extremamente importante na área de telecomunicaçõe e proces-
samento de sinais. Amostragem é definida como o sendo o processo que converte um
sinal contı́nuo no tempo em valores discretos. O teorema baseia o desenvolvimento
de codificadores de sinais analógicos para sinais digitais (CASTRO, 2008).
Segundo este teorema, a quantidade de amostras colhidas por unidade
de tempo de um sinal de banda limitada (conhecida como frequência ou taxa de
amostragem) necessita ser maior que duas vezes a maior frequência contida no si-
nal analógico que está sendo amostrado. Isso é necessário para que o sinal seja
reproduzido totalmente, sem erro de aliasing (LSHAUEN, 2000).
A metade da taxa de amostragem é conhecida como frequência de Nyquist
e é a máxima frequência do sinal que pode ser amostrado e reproduzido. Para garantir
que o sinal não contenha frequências acima desse limiar, utiliza-se um filtro passa-
baixa, também conhecido para essa aplicação como filtro anti-aliasing, o qual será
descrito posteriormente (TATEOKI, 2009).
Sabe-se porém que a condição mı́nima que o teorema apresenta não é a
ideal para a reconstrução de sinais que exigem alta fidelidade. Assim, o projetista
deve fazer um balanço entre o número de amostras retiradas do sinal e a largura de
banda que ocupará, para obter um nı́vel de qualidade de reprodução satisfatório para
sua aplicação, sem tornar o sistema lento devido a uma superamostragem.
2.3 A norma ABNT NBR 60268-3 36

2.3 A NORMA ABNT NBR 60268-3

A partir da definição da classe de amplificador a ser desenvolvido e de


seus objetivos, buscou-se normativas para orientar os parâmetros que deveriam ser
determinados, seus limites e como fazer suas medições.
A norma ABNT NBR IEC 60268 intitulada ”Equipamentos de sistemas de
som”, possui um volume chamado ”Amplificadores”, o terceiro volume. Trata dos am-
plificadores analógicos de áudio das classes A, B, AB e D, ou seja, os mais difundidos.
Determina quais especificações devem ser apresentadas junto ao produto, bem como
a forma de cálculo e medição desses mesmos parâmetros tanto em amplificadores
de uso profissional como doméstico. Passou a ser válida a partir de 06/2010 e teve
sua última correção realizada em 05/2011 (ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas,
2010).
A norma indica métodos de medição de parâmetros, bem como suas
definições, que vão desde tensão de alimentação, nı́veis e caracterı́sticas que o si-
nal de entrada deve ter (sensibilidade), passando por medição de potência em função
de variadas condições de uso, eficiência do conjunto, até nı́veis de ruı́do e distorção
da saı́da. Um desses parâmetros é do THD (Total Harmonic Distortion - Distorção
Harmônica Total). A norma não traz valores definidos que devem ser respeitados.
Portanto, o limiar do projeto em relação à distorção do sinal de saı́da será não ultra-
passar o THD de 10%. A relação sinal/ruı́do da saı́da do amplificador também será
analisada.

2.4 TOPOLOGIA ESCOLHIDA

Na hora de dar inı́cio ao projeto, é preciso decidir sobre as caracterı́sticas


básicas do amplificador que irão nortear o desenvolvimento do projeto até o fi-
nal. Precisa-se escolher a topologia do amplificador classe D, o tipo de modulação,
potência de saı́da, dentre outras.
A topologia escolhida é a de ponte completa, pois tamanho não é um fator
crucial no desenvolvimento deste protótipo e ela apresenta inúmeras vantagens em
relação à topologia meia ponte, as quais já foram discutidas previamente.
O tipo de modulação escolhida é o PWM de três nı́veis, visto que sua
implementação é possı́vel pelo uso da topologia ponte completa. Essa modulação fa-
cilita o projeto do filtro, garante melhor qualidade de áudio, além de um menor esforço
2.4 Topologia Escolhida 37

sobre as chaves e filtro.


O amplificador deve ter resposta de frequência plana na banda que com-
preende o espectro audı́vel, ter apenas um canal de saı́da que forneça potência de 50
W para uma carga de 8 Ω.
A seguir, haverá uma análise teórica sobre cada módulo componente do
amplificador de áudio classe D em questão.

2.4.1 MODELO DO FILTRO

Uma das maneiras mais fáceis de determinar a qualidade de qualquer am-


plificador de áudio é através da medição da nı́vel de ruı́do presente na saı́da dele. Em
amplificadores de áudio em que eficiência e qualidade são fatores importantes, isso
acentua-se ainda mais, visto que ruı́do representa perdas de energia além de degra-
dar a qualidade do áudio final. Os amplificadores de áudio classe D são extremamente
susceptı́veis a ruı́dos, devido à sua caracterı́stica de amplificador chaveado (MOREY;
VASUDEVAN; WOLOSCHIN, 2008).
Nesse amplificador, o estágio de filtragem é um dos mais importantes, por-
que é onde a demodulação do sinal de saı́da da etapa de potência é realizada. Caso
não seja realizada uma demodulação adequada do sinal, informação será perdida e a
qualidade do áudio na saı́da do amplificador será insatisfatória. Dependendo do tipo
de modulação utilizada, o filtro sofre ajuste em seus parâmetros de projeto e monta-
gem (TAVARES, 2010).
Ele deve deixar passar as frequência que situam-se dentro da banda do
sinal de áudio e atenuar as frequências de chaveamento do modulador, portanto, deve
ser um filtro passa baixa (SCHWAAB, 2012). Dentre as várias topologias de filtros exis-
tentes, deve-se primeiramente fazer algumas diferenciações básicas.

2.4.1.1 FILTROS ATIVOS VERSUS FILTROS PASSIVOS

A primeira decisão a ser tomada na hora de projetar um filtro é se ele será


um filtro ativo ou passivo. Para altas frequências (maiores que 1 MHz), os filtros são
geralmente constituı́dos de elementos passivos, como capacitores, indutores e resis-
tores. Porém, para frequências mais baixas (de 1 Hz até 1 MHz) o valor da indutância
fica muito grande, assim como o próprio indutor. Isso torna difı́cil sua implementação,
tanto pelo fator econômico como para manter o circuito compacto. Nesse caso, opta-
se por circuitos de filtros ativos (KUGELSTADT, 2008).
2.4 Topologia Escolhida 38

Filtros ativos usam elementos ativos (como amplificadores operacionais e


transistores) associados a resistores e capacitores para fornecer resposta semelhante
a dos filtros que usam indutores. Os filtros ativos também podem possuir ganho maior
que o unitário e possuir maior precisão (MOREY; VASUDEVAN; WOLOSCHIN, 2008). A
Figura 13 apresenta o modelo básico de um filtro passa baixa passivo e outro ativo,
ambos de segunda ordem.

C2

L R R1 R2
Vin Vout Vin
Vout
C C1

Figura 13: Filtro passivo de segunda ordem e filtro ativo de segunda ordem.
Fonte: Adaptado de (KUGELSTADT, 2008).

Em ambos os tipos de filtro há componentes que adicionam complexidade


ao circuito. Nos ativos é o elemento ativo, o qual necessita alimentação externa e
possui resposta em frequência limitada de acordo com o modelo. Nos filtros passivos,
o indutor dificulta a obtenção de alta precisão, além de ser um elemento grande e
caro. Outra diferença consiste no fato que filtros passivos podem ser construı́dos
sem resistores, o que na teoria pode torná-los dispositivos com perda nula (MOREY;
VASUDEVAN; WOLOSCHIN, 2008).
Devido a caracterı́stica do ruı́do presente em um amplificador classe D,
a frequência de corte do filtro de saı́da não necessita ser extremamente precisa.
Associando-se isso à necessidade de alta eficiência e ao fato que o estágio em
que o filtro opera dispõe de altos valores de tensão e corrente (consequentemente,
potência), opta-se pelo uso do filtro passivo. Para essa aplicação, suas vantagens
superam suas desvantagens.

2.4.1.2 FILTROS DE UMA SAÍDA VERSUS FILTROS BALANCEADOS

Escolher entre um filtro ativo ou passivo é somente o primeiro passo no


projeto de um filtro para um amplificador de áudio Classe D. Há muitas topologias
possı́veis para tais filtros. Precisa-se escolher a ordem do filtro e o valor dos com-
ponentes que serão empregados. Porém, primeiramente, precisa-se escolher entre
filtrar somente um lado do sinal com um filtro de uma só saı́da ou filtrar os dois lados
do sinal, com um filtro balanceado (MOREY; VASUDEVAN; WOLOSCHIN, 2008).
2.4 Topologia Escolhida 39

A Figura 14 apresenta os dois modelos de filtro.

L L

Vin C R Vin C R
L

(a) (b)

Figura 14: (a) Filtro de uma Saı́da e (b) Filtro Balanceado.


Fonte: Autoria própria.

O filtro de uma saı́da possui unicamente a vantagem de possuir menos


componentes. Já o filtro balanceado elimina o offset, centrando o sinal de saı́da em
zero, sem a necessidade de um barramento negativo, de acordo com Palmer (1999).
Isso facilita o projeto da fonte, já que essa caracterı́stica de fonte assimétrica já é
permitida pela topologia de ponte completa adotada. Portanto, o filtro a ser utilizado
será um filtro passivo e balanceado.

2.4.1.3 FILTRO PASSIVO E BALANCEADO

Após ter-se optado por um filtro passivo e balanceado, outras


especificações devem ser feitas para projeto dele. O filtro pode ser de segunda,
terceira ou quarta ordem, normalmente sendo um Butterworth, técnica que garante
ganho constante na banda-passante, ou seja, resposta de frequência plana. Os in-
dutores e capacitores utilizados devem possuir caracterı́sticas especı́ficas para o fil-
tro. O indutor deve possuir uma baixa resistência CC, pequeno tamanho e pouca
saturação. O capacitor também deve ser pequeno, ter pouca dissipação, baixa re-
sistênca intrı́nseca, além de ser compatı́vel com a tensão do barramento. Normal-
mente utiliza-se um filtro de segunda ordem para a demodulação em um amplificador
classe D. Portanto, um filtro LC será empregado para atender a ordem escolhida, de-
vido a sua simplicidade e possuir -40 dB/década de atenuação na banda de transição
(TAVARES, 2010).
A principal função desse filtro é atuar como uma indutância à frequência de
comutação, impedindo que a corrente na carga varia diretamente com a oscilação da
tensão, que sofre variações na mesma frequência de modulação (PIRES, 2010).
Considerando o circuito apresentado na Figura 14:(a) de um filtro de uma
saı́da e assumindo que o alto-falante seja representado pelo seu modelo resistivo,
utiliza-se a trasformada de Laplace para obter-se a função de transferência da saı́da
2.4 Topologia Escolhida 40

pela entrada que representa o bloco filtro + carga, que é apresentada na Equação 1.
A função de transferência já encontra-se normalizada, conforme apresenta a Equação
1

Vo (s) 1
= L
. (1)
Vin (s) 1 + R s + LCs2

onde: Vo (s) representa a tensão de saı́da do circuito; Vin (s) representa a tensão de
entrada do circuito; L é o indutor; C é o capacitor e R representa o resistor.
Usando a metodolodia de projeto de filtros Butterworth apresentada por
Kugelstadt (2008), chega-se à equação gabarito de um filtro passa baixa de segunda
ordem, Butterworth, apresentada na Equação 2

 
s A0
A = √ . (2)
ωc 2 s2
1+ ωc
s+ ωc2

na qual A0 é o ganho que o filtro introduz no sistema, que neste caso, deseja-se que
seja unitário (maior ganho possı́vel para um filtro passivo) e ωc é a frequência de corte
do filtro, em radianos.
Igualando-se as Equações 1 e 2 termo a termo, obtêm-se as equações
para cálculo da indutância e da capacitância para obtenção do filtro desse amplifica-
dor. As Equações 3 e 4 são as equações que determinam indutância e capacitância,
respectivamente:


2·R
L= , (3)
2 · π · fc

1
C= . (4)
4· π2 · fc2 · L
Os coeficientes utilizados para obtenção do gabarito de Butterworth são
equivalentes a ter-se escolhido um fator de amortecimento de 0,7, o que garante uma
resposta mais próxima do comportamento assintótico de um filtro passa baixa de se-
gunda ordem, no qual não haja elevação de amplitude na frequência de ressonância
(fr ) do filtro, determinada por

1
fr = √ . (5)
2 · π · LC
Tendo em vista que foi adotada a topologia de filtro balanceada para este
2.4 Topologia Escolhida 41

amplificador, a modelagem do filtro de uma saı́da é válida, sendo necessário apenas


um ajuste. O valor da resistência que representa a carga é dividio por dois e são
projetados então dois filtros de uma saı́da iguais, que combinados originarão o filtro
balanceado (MOREY; VASUDEVAN; WOLOSCHIN, 2008).
Portanto, a nova equação que determina o valor da indutância é


2·R
L= . (6)
4 · π · fc
Um fator importante que deve ser levado em conta na hora do dimensiona-
mento dos componentes é que quanto maior a frequência de corte, mais ruı́do chega
à saı́da do amplificador, aumentando a taxa de distorção harmônica; quanto menor a
frequência de corte, maior o indutor necessário para filtragem.
Como o filtro é conectado em série com a carga, nota-se que a função de
transferência do amplificador é dependente da carga. Isso faz com que o amplificador
tenha menor controle sobre o alto-falante, principalmente em altas frequências (KULKA,
2007).

2.4.2 CHAVES SEMICONDUTORAS

Nos circuitos conversores e inversores estáticos, os interruptores são dis-


positivos semicondutores de estado sólido como IGBTs, MOSFETs ou BJTBipolar
Junction Transistor s (Transistor Bipolar de Junção). Cada interruptor possui um diodo
intrı́nseco em conexão anti-paralela, cujo objetivo é proporcionar o fluxo bidirecional
da corrente de carga (MIRANDA, 2012).
Na hora da escolha das chaves a serem utilizadas, deve-se levar em conta
caracterı́sticas tais como tensão mı́nima de bloqueio, resistência série de condução,
corrente máxima para comutação e tempos de comutação para a frequência preten-
dida (CEREZO, 2009). É necessário observar também as perdas associadas aos com-
ponentes, sejam elas perdas de condução ou perdas de comutação (ou chaveamento).
Para potências de saı́da elevadas, as perdas de condução predominam, enquanto as
perdas de comutação são as maiores responsáveis pela redução de eficiência em bai-
xas potências de trabalho. Portanto, a escolha do componente interruptor deve levar
em consideração que as perdas por condução e por chaveamento são inversamente
proporcionais, necessitando uma profunda análise de qual é menos prejudicial ao am-
plificador (GAALAAS, 2006).
O BJT opera como um interruptor que é controlado por corrente, a qual
2.4 Topologia Escolhida 42

deve ser injetada incessantemente na base do transistor todo o tempo em que ele
estiver conduzindo. Essa corrente pode apresentar valores elevados, dependendo do
modelo do dispositivo, o que passa a ser um problema no quesito rendimento devido
as grandes perdas causadas. Também torna-se mais complexo o circuito de aciona-
mento, visto que necessita fornecer nı́veis maiores de corrente e também os drenar,
para que o transistor BJT entre no modo de corte de forma rápida (BARKHORDARIAN,
2011).
Já o transistor de efeito de campo (MOSFET), funciona como uma chave
que é controlada por tensão. Portanto, o driver deve fornecer tensão ao terminal gate
do MOSFET, com referência ao terminal source. Também deve ser capaz de fornecer
e retirar a corrente necessária para carregar e descarregar a capacitância de gate
do MOSFET, para que ele entre em modo de condução e em modo de corte. Sua
velocidade de comutação é muito superior por não haver recombinação de portadores
minoritários, como é o caso do BJT (SCHWAAB, 2012).
Sendo o MOSFET um dispositivo que pode ser controlado por tensão, ca-
paz de chavear em frequências elevadas, além de ter uma alta impedância de entrada
e exigir um circuito de acionamento mais simples comparado aos BJTs, escolhe-se
ele para implementação da ponte conversora do amplificador.

2.4.2.1 PARÂMETROS E PERDAS DE MOSFETS

A escolha correta dos MOSFETs de potência relaciona-se diretamente com


o desempenho do amplificador em vários aspectos, tais como sua eficiência, EMI
(Interferência Eletromagnética) e THD. Dessa forma, deve-se escolher os MOSFETs
de modo que haja coerência com as especificações técnicas do amplificador do qual
eles serão parte. Leva-se em conta a potência de saı́da, a topologia empregada, além
da impedância da carga e do ı́ndice de modulação (CEREZO, 2009).
Há um grupo de parâmetros elétricos do MOSFET que devem ser analisa-
dos de acordo com o objetivo do amplificador projetado.

• BVDSS (Tensão de Avalanche entre Dreno e Fonte): que é a tensão máxima que
pode ser aplicada entre o dreno e a fonte, sem que o dispositivo entre em ruptura
por avalanche (BARKHORDARIAN, 2011).

• RDS(on) (Resistência Estática entre Dreno e Fonte): é a resistência de condução


que situa-se entre o dreno e a fonte do MOSFET e se relaciona com BVDSS
através da Equação 7 (PIRES, 2010)
2.4 Topologia Escolhida 43

RDS(on) = k · BVDSS , (7)

onde k é uma constante relacionada ao modelo do dispositivo (MOHAN; UNDE-


LAND; ROBBINS, 2002).

Percebe-se a necessidade de escolher um MOSFET com BVDSS moderado, para


reduzir as perdas de condução, as quais são representadas pela Equação 8

2
Pcond = IDef · RDS(on) (8)

onde IDef é o valor eficaz da corrente que circula pelo MOSFET.

• Qg (Carga da Porta): é a carga necessária para carregar a capacitância interna


do MOSFET e habilitar sua condução. Este parâmetro relaciona-se com a ve-
locidade de comutação do dispositivo, pois quanto menor seu valor, maior a ve-
locidade de comutação. Isso implica em menos corrente e, consequentemente,
menor perda na porta do MOSFET, expressa pela Equação 9 como

Pgate = Qg · VGS · fsw (9)

onde VGS é a tensão aplicada entre a porta e a fonte e fsw é a frequência de


comutação.

• Qrr (Carga de Recuperação Reversa da Base do Diodo): é a carga acumulada


no diodo intrı́nseco do MOSFET durante a polarização direta, sendo necessária
sua descarga para o MOSFET entrar em modo de corte. Interfere na geração de
EMI, pois sua descarga acrescenta pulsos de corrente à saı́da (CEREZO, 2009).

As perdas de comutação são compostas pelas perdas na porta na transição


de estados, em que há corrente e tensão no MOSFET por um curto perı́odo de tempo
e perdas de carga e descarga das capacitâncias. São representadas pela Equação
10

Pcom = (Coss · E 2 + 0, 5 · IDef · E · (tf + tr )) · fsw (10)

onde:
Coss : capacitância interna entre dreno e fonte
2.4 Topologia Escolhida 44

E: tensão de barramento
IDef : corrente que circula pelo MOSFET
tf : tempo de descida da corrente
tr : tempo de subida da corrente
fsw : frequência de chaveamento
Portanto, as perdas totais em cada MOSFET de saı́da podem ser represen-
tadas como

Ptotal = Pcond + Pgate + Pcom (11)

Conclui-se então que deve ser escolhido um MOSFET que tenha BVDSS
maior que o valor máximo de tensão que será aplicado a seus terminais, mas não
muito elevado para não resultar em maiores perdas de condução devido à sua
relação com RDS(on) . Qg não deve ser grande para ter-se uma elevada frequência
de comutação, assim como Qrr deve ser pequena para reduzir EMI (CEREZO, 2009).

2.4.3 CIRCUITO DE ACIONAMENTO

O circuito de acionamento das chaves, conhecido como circuito driver, é


uma etapa crucial para o bom funcionamento de um amplificador chaveado. Depen-
dendo da tecnologia de chaveamento adotada, o circuito driver pode apresentar di-
ferentes configurações. Como exemplo, para uso de chaves como MOSFET ou In-
sulated Gate Bipolar Transistor [IGBT], deve prover energia suficiente para carregar
ou descarregar as capacitâncias de entrada dos interruptores, para que eles operem
na região de corte ou de saturação. Com um driver corretamente dimensionado é
possı́vel representar o estado das chaves pelos nı́veis lógicos aplicados às entradas
(MIRANDA, 2012).
Nos amplificadores classe D, os sinais PWM provenientes do modulador
são baseados em sinais de nı́vel lógico, ou seja, possuem baixa tensão e pratica-
mente nenhuma capacidade de fornecimento de corrente. O circuito driver deve ser
capaz de amplificar esses sinais para nı́veis de tensão compatı́veis com os das cha-
ves, além de ter a capacidade de fornecer corrente necessária para ativar as chaves
dentro do tempo máximo pretendido. Também deve drenar a energia devolvida pelo
capacitor da chave no momento em que ela vai abrir, sem comprometer a integridade
dos componentes (BASCOPé et al., 2013).
2.4 Topologia Escolhida 45

Quanto maior a frequência de comutação das chaves, mais robusto o cir-


cuito de acionamento deve ser, devido ao fato de que necessitará fornecer e drenar
maior corrente em um tempo menor. Na hora da escolha do componente que realizará
essa função, é importante ter em mente essas condições, além dos parâmetros das
chaves que deverão ser acionadas. Isso é importante para obter-se um par driver +
chave compatı́vel (PIRES, 2010).
Uma dificuldade encontrada no chaveamento de interruptores tanto na to-
pologia meia ponte quanto na ponte completa é o fato de a tensão do gate da chave
superior do braço estar refereciada a um ponto de tensão flutuante em relação ao ter-
minal negativo do barramento, como apresenta Pires (2010). O sucesso no disparo
dessas chaves exige o uso de fontes isoladas. No entanto, no mercado são facilmente
encontrados circuitos integrados que realizam o comando do gate do transistor supe-
rior, adequando a referência dele ao valor encontrado no meio do braço sem o uso de
fontes isoladas. Isso é realizado através de um circuito chamado de charge pump ou
de um capacitor de bootstrap (MIRANDA, 2012).
Na Figura 15 é apresentado o esquema do circuito de bootstrap, constituı́do
pelo capacitor Cboot e pelo diodo Dboot .

Vgate
Dboot

Cboot
S1
PWM_1 Driver

Vcc

S2
PWM_2 Driver

Figura 15: Circuito de Bootstrap para um braço da ponte.


Fonte: Adaptado de (SCHWAAB, 2012).

Quando a chave S2 está conduzindo, o capacitor Cboot é carregado com a


tensão Vgate - VDboot . Após a chave S2 cessar a condução, o capacitor é quem fornece a
2.4 Topologia Escolhida 46

tensão de referência para a chave S1 receber a tensão de disparo em um nı́vel correto.


Para garantir que os esforços de corrente realizados pelo driver durante
chaveamentos em frequências elevadas não cause ruı́dos e interferências da saı́da
da etapa de modulação, circuitos optoacopladores podem ser inseridos entre eles.
Desta forma, os efeitos indesejados dos ruı́dos e interferências são restringidos e o
circuito de acionamento é isolado do circuito de potência.

2.4.4 OPTOACOPLADOR

Isolação elétrica é geralmente um requerimento de normas de segurança e


condições de operação quando a tensão da chave flutua em relação à referência ou
mesmo quando deseja-se separar os circuitos de controle e comando do circuito de
potência (BOURGEOIS, 1999).
O optoacoplador é um componente eletrônico largamente utilizado para
aplicações onde deseja-se isolação total de sinal entre a entrada e a saı́da. Em di-
versas aplicações, tem-se a necessidade de usar um optoacoplador para separar as
referências do circuito, quando elas não são comuns (CANôNICO; TREVISO, 2010).
Os optoacopladores são geralmente constituı́dos por um LED (Light
Emitting Diode - Diodo Emissor de Luz) na entrada, associado à um fototransistor na
saı́da, o qual somente conduz corrente quando o diodo está emitindo luz. A Figura 16
mostra o esquemático simplificado de um optoacoplador em um circuito integrado.

1 8

2 7

3 6

4 5

Figura 16: Esquemático de


um optoacoplador.
Fonte: Adaptado de (BOUR-
GEOIS, 1999).

Como o sinal é transmitido opticamente, garante-se que o lado que envia o


2.4 Topologia Escolhida 47

comando (modulador) fica totalmente imune aos esforços de potência que ocorrem na
outra referência do circuito.

2.4.5 TEMPO MORTO

Quando utilizam-se dois interruptores formando um braço entre a tensão de


barramento e a referência (ocorre tanto na topologia de meia ponte quanto na ponte
completa) é necessário que por nenhum instante os dois interruptores permaneçam
conduzindo, pois uma série de efeitos indesejáveis poderiam ser resultado disso.
Além de possı́veis perdas, ineficiência e sobreaquecimentos para os casos onde esse
evento ocorreria por uma mı́nima fração de segundo, a condução simultânea de duas
chaves do mesmo braço causaria um curto-circuito franco na fonte de alimentação.
Isso implicaria em danos tanto às chaves quanto à própria fonte, podendo se propagar
para o restante do circuito (XI, 2008).
Para evitar a condução simultânea, a idéia básica é aplicar sinais de co-
mando complementares para acionamento das duas chaves de um mesmo braço. No
entanto, esta solução não é suficiente, visto que em condições reais a comutação
de interruptores não é instantânea. Para garantir que essa condução indesejada não
ocorra, insere-se um intervalo de tempo entre um sinal e seu complementar, denomi-
nado de tempo morto (do inglês, deadtime). Esse técnica consiste basicamente em
manter os dois interruptores em nı́vel baixo, enquanto a corrente residual ainda flui
por aquela chave que estava conduzindo. A inserção de tempo morto pode ser feita
independentemente da técnica de modulação empregada (MIRANDA, 2012).
O uso de tempo morto está diretamente relacionado ao nı́vel de ruı́do pre-
sente na saı́da do conversor CC/CA. Quanto maior o tempo em que ambas as chaves
são forçadas a permanecer desligadas, maior o erro de modulação que surgirá na
saı́da e, portanto, maior o nı́vel de distorção.
Alguns circuitos drivers já possuem o circuito de geração de tempo morto
em um mesmo circuito integrado. Através de um pino que recebe pré-determinado
nı́vel de tensão, ou uma capacitância que é conectada ao CI (Circuito Integrado),
ele fornece um tempo morto pré-estabelecido entre a comutação dos dois sinais de
acionamento. Quando usando dispositivos microcontrolados ou microprocessados
para realização da modulação, a inserção do tempo morto também pode ser realizada
de maneira mais trivial, através de alguma função já inserida ou mesmo através de
algoritmos simples. No caso de um circuito totalmente analógico e que utiliza um
2.4 Topologia Escolhida 48

driver que não possui essa função acoplada, a inserção de tempo morto é mais
elaborada, requerendo o uso de circuitos eletrônicos para tal fim.

Período
S1

Ton Toff

S2

t
Tempo Morto

Figura 17: Ilustração do tempo


morto.
Fonte: Adaptado de (SCHWAAB,
2012).

2.4.6 CIRCUITO DE AUXÍLIO A COMUTAÇÃO

Equipamentos chaveados de potência, como os amplificadores classe D,


utilizam semicondutores operando como chaves. Circuitos de auxı́lio à comutação, os
Snubbers, são circuitos utilizados junto aos semicondutores de potência para melhorar
performance e proteger o dispositivo dos esforços de grandes tensões e correntes,
além de reduzir as perdas por comutação e interferências eletromagnéticas (HART,
2011).
O objetivo básico do Snubber é absorver a energia armazenada nas
reatâncias parasitas do circuito. Ele fornece um caminho de baixa impedância para
que essa energia, originada nos picos de chaveamento, seja drenada. Sem esse
caminho, a corrente armazenada nas indutâncias acha um caminho através das ca-
pacitâncias parasitas causando sobretensão e oscilação no PWM, o que aumenta o
THD de um amplificador chaveado (TI, 2015).
Snubbers podem amortecer oscilações, controlar derivadas de tensão e/ou
2.4 Topologia Escolhida 49

corrente e grampear tensões, dependendo da configuração (SEVERNS, 2008).


Segundo Todd (1993), existem várias classificações para os snubbers. Po-
dem ser:

• Passivos: formados apenas por resistores, capacitores, indutores e diodos.

• Ativos: possuem elementos ativos como transistores, entretanto, não possuem


aplicação muito vasta.

Também classificam-se em:

• Dissipativos: a energia retirada do circuito é dissipada em um resistor.

• Regenerativos: a energia (ou parte dela) é devolvida à entrada ou saı́da do cir-


cuito.

Como a saı́da do amplificador chaveia uma carga com caracterı́stica


indutiva no modo Hard Switching (corrente e tensão diferentes de zero na hora do
chaveamento), o esforço sobre as chaves, principalmente de tensão, é enorme. Deste
modo, escolheu-se utilizar um snubber passivo e dissipativo, conhecido como RCD,
que tem por caracterı́stica o grampeamento de tensão. Por ser usado em pararelo
com a chave, ele atua no momento de desligamento dela. A Figura 18 ilustra a
utilização do snubber RCD em uma ponte completa de MOSFETs.

Rsn D Rsn D Snubber


S1 S4

Csn Csn

Rsn D Rsn D
S2 S3

Csn Csn

Figura 18: Snubber em uma ponte completa.


Fonte: Autoria própria
2.4 Topologia Escolhida 50

De acordo com Severns (2008), o resistor snubber Rsn e o capacitor snub-


ber Csn são definidos respectivamente por:

IDef · (1 − D)
Csn = , (12)
4 · E · fsw

D
Rsn = . (13)
5 · Csn · fsw
O diodo escolhido além de suportar a corrente de pico e média necessárias,
e a tensão de bloqueio, deve ser de rápida recuperação, pois operará na frequência
de chaveamento do circuito.

2.4.7 MICROCONTROLADOR PICCOLO TMS320F28069

Na hora de decidir o método a ser utilizado na implementação da


modulação, várias opções são viáveis, como já abordado. Pode-se aplicar tanto
métodos analógicos quanto digitais. A principal vantagem que a implementação da
modulação feita de forma digital oferece é a flexibilidade de um software ser o res-
ponsável pelo processo. Assim, caso outro método de modulação mostre-se mais
apropriado e deseja-se testá-lo, apenas uma rápida reprogramação do dispositivo é
necessária para tal.
Dentre as possı́veis formas disponı́veis para implementação digital, um mi-
crocontrolador apresenta-se bastante atrativo. Por ter um processador de médio de-
sempenho, associado a vários periféricos necessários, ele sozinho já garante o hard-
ware necessário para realizar o processo. É vantajoso utilizar apenas um componente
como ele, do que fazer a montagem de um sistema de hardware com processador,
memórias, fontes de clock, conversores A/D (Analógico/Digital) e assim por diante.
Entretanto, mesmo tendo-se reduzido à busca a um microcontrolador, uma
infinidade destes dispositivos estão disponı́veis no mercado. Para filtrar o componente
mais efetivo, alguns critérios foram estabelecidos, como: clock com frequência su-
ficiente para que o PWM resultante possua um mı́nimo de 150 kHz de frequência;
conversor A/D com resolução mı́nima de 10 bits; 4 canais de PWM independentes;
unidade de ponto flutuante para facilitar as operações matemáticas dentro do soft-
ware; robustez para operações repetitivas e, finalmente, se não disponı́vel em apenas
um CI, que seja um kit experimental o menor possı́vel.
Levando-se em consideração as opções disponı́veis na Universidade e de
2.4 Topologia Escolhida 51

fácil aquisição, optou-se pelo emprego do microcontrolador Piccolo, da famı́lia C2000,


modelo TMS320F28069, conforme o apresentado na Figura 19.

Figura 19: Microcontrolador Piccolo TMS320F28069.


Fonte: Adaptado de (TI, 2011).

O microncontrolador escolhido atende todas as caracterı́sticas requeridas


de acordo com, seu fabricante, TI (2011), pois possui:

• 90 MHz de clock;

• 2 circuitos de conversão A/D de 12 bits;

• 16 canais de PWM (acesso direto a 8 deles, neste modelo);

• Possui unidade de ponto flutuante;

• É projetado e desenvolvido para controle de motores (tarefas de alto desempe-


nho, repetitivas e intensivas);

• Seu kit de desenvolvimento (controlstick) é bastante pequeno em comparação


ao dos demais microcontroladores.

A principal vantagem agregada ao amplificador pelo uso de um módulo


reprogramável como este microncontrolador, é a versatilidade. Sem alterar nada
do hardware, é possı́vel, futuramente, adicionar uma série de periféricos ao am-
plificador, como equalizadores, crossovers, processadores, dentre outros, através
de modificações no software dele. O amplificador acaba se tornando uma plata-
forma versátil, onde periféricos podem ser testados, além de diferentes métodos de
modulação e proteção do sistema.
2.4 Topologia Escolhida 52

2.4.8 AMPLIFICADOR DE INSTRUMENTAÇÃO

O amplificador de instrumentação é um dispositivo que amplifica a diferença


existente entre seus dois terminais de entrada. A diferença de um amplificador de
instrumentação para um amplificador diferencial comum, é o fato de agregar dois
amplificadores não-inversores no primeiro estágio, o que melhora muito suas carac-
terı́sticas, deixando-o com altı́ssima impedância de entrada e baixa impedância de
saı́da, dentre outras (FLOYD, 2012).
O objetivo principal de um amplificador de instrumentação é amplificar pe-
quenos sinais que possam estar flutuando em maiores tensões de modo comum. Suas
principais caracterı́sticas, além das já citadas, são a alta rejeição de modo comum e o
baixo offset de saı́da (PERTENCE JUNIOR, 2003).
O amplificador de instrumentação mede os sinais diferencias entre o
positivo e o negativo da entrada e somente deixa essa diferença passar. O resto
do sinal é rejeitado. Essa caracterı́stica é bastante útil para a entrada de sinal de
áudio do amplificador classe D. O chaveamento da etapa de potência do amplificador
gera interferências eletromagnéticas que causam ruı́dos de modo comum no sinal de
áudio, até mesmo na entrada do amplificador. A Figura 20 ilustra o exemplo.

Figura 20: Ilustração da operação de um amplificador de instrumentação.


Fonte: Adaptado de (FLOYD, 2012).

De acordo com Pertence Junior (2003), o amplificador de instrumentação é


constituı́do basicamente por 3 amplificadores operacionais e uma malha resistiva. En-
tretanto, para operar corretamente, os amplificadores operacionais devem ter suas
caracterı́sticas completamente fiéis uns aos outros, além de que a tolerância dos
resistores utilizadas deva ser praticamente zero. Pela dificuldade de obter-se com-
ponentes com esse nı́vel de fidelidade, geralmente é utilizado um amplificador de
instrumentação em um único circuito integrado. Ele pode possuir ganho unitário ou
ajustável, geralmente regulado por um resistor externo (JUNG, 2006).
Um circuito básico de um amplificador de instrumentação é apresentado
2.4 Topologia Escolhida 53

na Figura 21.

Figura 21: Circuito básico de um amplificador de instrumentação.


Fonte: Adaptado de (FLOYD, 2012).

Os amplificadores operacionais A1 e A2 são configurações não inversoras


que fornecem alta impedância de entrada e ganho de tensão. O amplificador A3 é
usado como um amplificador diferencial de ganho unitário com resistores de alta pre-
cisão que possuem valores iguais (R3 = R4 = R5 = R6 ).
A função de transferência deste circuito é dada por

 
2R
Acl = 1 + (14)
RG
onde:
Acl : ganho de malha fechada;
R: resistores R1 e R2 ;
RG : resistor de ajuste do ganho.

2.4.9 FILTRO ANTI-ALIASING

Aliasing é um fenômeno que pode contaminar qualquer processo de con-


versão analógico para digital. Ele é a amostragem insuficiente para um dado sinal de
alta frequência, possibilitando a criação de um falso sinal de baixa frequência (ZERKUS,
2001).
Sendo de baixa frequência, geralmente é um sinal quase indistinguı́vel de
2.4 Topologia Escolhida 54

um deslocamento por um nı́vel CC. De acordo com o Teorema de Nyquist, a maior


frequência que pode ser amostrada é no máximo metade da taxa de amostragem.
Porém, sinais analógicos possuem ruı́do com frequências elevadas. Assim, toda
frequência maior que metade da taxa de amostragem sofre aliasing e aparece como
erro na saı́da. Segundo Calkins (1992), o ruı́do então é sub-amostrado e a diferença
entre o ruı́do e a frequência de Nyquist aparece nos dados convertidos. A amplitude
do sinal falso é dependente da amplitude do ruı́do. Quanto mais próxima da taxa de
amostragem é a frequência do ruı́do, mais baixa é a frequência da componente do
aliasing no sinal amostrado (CHEN, 1989).
Ao contrário do que muitos pensam, não é possı́vel remover o efeito de
aliasing digitalmente, ou seja, através de softwares. Após o sinal ter sido amostrado
e convertido para digital, ruı́do e dados são mixados tornando-se impossı́vel saber
qual é qual. A única maneira de evitar esse fenômeno é fazendo o tratamento do sinal
analógico. Esse tratamento é, basicamente, a utilização de um filtro passa-baixas,
o qual irá remover as componentes com frequência maior que as contidas no sinal
o qual deseja-se amostrar. Esse filtro é conhecido como Filtro Anti-Aliasing (STEER,
1992).
Antes de realizar a amostragem do áudio na entrada de um amplificador
classe D, faz-se necessária a inserção deste filtro para garantir que não ocorram as
complicações acima mencionadas. Como um sinal de áudio, em tese, possui a largura
de banda de 20 Hz a 20 kHz, a maior frequência de interesse nesse sinal é de 20 kHz.
Portanto, é necessário ser usado um filtro que permita os sinais com frequência abaixo
desse limite e atenue/corte as frequências acima desse valor.
A frequência de corte do filtro deve estar situada entre a maior frequência
do áudio (20 kHz) e a frequência de amostragem (150 kHz). O filtro deve possuir
a maior ordem possı́vel, para obter-se uma região de transição curta, mas 8 pólos
geralmente é o limite prático para a maioria dos sistemas (ZERKUS, 2001).
A aproximação utilizada, a ordem do filtro e os componentes utilizados
serão tratados na seção do projeto.

2.4.10 FONTE DE ALIMENTAÇÃO

Uma das etapas do projeto e construção de um amplificador de áudio classe


D, que as vezes não recebe a devida atenção, é a fonte de alimentação. Embora sua
funcionalidade é praticamente de senso comum, ela possui uma papel importantı́ssmo
2.4 Topologia Escolhida 55

em um amplificador chaveado (CORDEL, 2011).


Há três principais maneiras de alimentar um amplificador de áudio:

• Fonte linear não-regulada

• Fonte linear regulada

• Fonte chaveada

Torna-se óbvio que a primeira e mais simples opção é a que possui melhor
relação de custo, porém, pode-se ponderar que ela fornecerá ripple e ruı́do o que
prejudicará a qualidade final do amplificador (SELF, 2002).
Discorrendo brevemente sobre cada uma, tem-se os seus prós e contras.
A fonte linear não-regulada é barata, confiável e simples, além de não sofrer inter-
ferência dos chaveamentos de alta frequência e ter a capacidade de fornecimento de
corrente durante os picos de potência, caracterı́stica fundamental para boa qualidade
de áudio. Como desvantagens, essas fontes apresentam um ripple significativo na
saı́da CC, além de ser volumosa e pesada, principalmente pelo transformador. De
acordo com Self (2002), as fontes lineares reguladas conseguem eliminar o ripple da
saı́da, sua mais importante vantagem. Porém o circuito torna-se mais complexo, a
eficiência é reduzida, ela passa a não ser tão confiável, principalmente durante os pi-
cos de corrente, que o regulador pode não conseguir suprir. Também torna-se mais
cara e maior. Por sua vez, as fontes chaveadas tem suas principais vantagens pelo
controle da tensão da saı́da, seu tamanho e peso reduzidos e pelo seu altı́ssimo rendi-
mento. No entanto, possui um circuito muito mais complexo, o que acarreta em menor
confiabilidade. Bastante susceptı́vel a ruı́dos devido ao chaveamento e também a
interferência de alta frequência (ZHANG, 2013).
Se bem projetadas, qualquer topologia adotada da fonte pode fornecer uma
excelente performance para a saı́da de áudio do amplificador. Portanto, faz sentido
adotar a solução mais simples, ou seja, a fonte linear não-regulada. As fontes regula-
das vão exigir um trabalho maior tanto na busca por componentes compatı́veis, como
no projeto e construção. As fontes chaveadas de alto desempenho já são assunto pra-
ticamente pra especialistas, o que exigiria dedicação redobrada. O principal desafio
para a fonte não-regulada é manter o ripple pequeno e fora da saı́da de áudio, o que
pode ser resolvido facilmente seguindo uma boa metodologia de projeto (SELF, 2002).
2.4 Topologia Escolhida 56

2.4.11 CARGA (ALTO-FALANTE)

A carga utilizada em um amplificador de áudio é um alto-falante. Alto-


falantes são transdutores eletro-mecânicos que convertem energia elétrica, vinda da
saı́da do amplificador, em energia mecânica que movimenta o cone do alto-falante,
gerando ondas sonoras. São então transdutores eletro-acústicos. A principal carac-
terı́stica elétrica dos alto-falantes é sua impedância sendo uma função da frequência
(SELF, 2002).
A impedância da maioria dos alto-falantes geralmente é descrita, muito
simplificadamente, como sendo um valor de 16, 8 ou 4 Ω (PIRES, 2010). De fato,
um alto-falante tem impedância complexa e pode armazenar enormes quantidades
de energia. Segundo Duncan (1996), pode-se simplificar o circuito equivalente do
alto-falante a um composto RCL, conforme apresentado na Figura 22.

Cr

Rdc Ls Rr
ALTO-FALANTE_+ ALTO-FALANTE_-
Lr

Parte Elétrica

Parte Mecânica

Figura 22: Circuito equivalente simplificado de um alto-falante.


Fonte: Autoria própria.

Dintinguem-se duas partes: o equivalente da parte elétrica e o equivalente


da parte mecânica.
Na parte elétrica:

• Rdc a resistência do fio que forma a bobina;

• Ls é a indutância deste enrolamento da bobina.

Na parte mecânica:

• Cr representa o cone e sua massa;

• Lr representa os elementos da suspensão;

• Rr representa as perdas de suspensão.


2.4 Topologia Escolhida 57

A equação que representa o equivalente deste circuito é dada por

!
1
Z(ω) = Rdc + jωLs + 1 1 . (15)
Rr
+ j(ωCr − ωLr
)

Enfatiza-se o fato de ser estudado apenas o modelo simplificado do


alto-falante, sem ser levada em consideração a interação dele com a caixa e com o
ambiente. Entretanto, por ser uma carga complexa, nota-se que a impedância nominal
do alto-falante é variável conforme a frequência de operação. Por isso é importante
conhecer a curva de resposta em frequência do alto-falante para cada aplicação. A
Figura 23 apresenta, como um exemplo, a curva de impedância de um alto falante
para graves de 15 polegadas, com impedância nominal de 8 Ω, em relação a variação
de frequência. Evidenciam-se as variações de impedância que o alto-falante sofre
desde 5,5 Ω quando a carga é totalmente resistiva em aproximadamente 450 Hz, até
seu pico de ressonância em 31 Hz, onde atinje a impedância de 40 Ω.

Ressonância

Indutivo Capacitivo

Indutivo

Resistivo

Frequência [Hertz]

Figura 23: Curva de impedância de um alto-falante.


Fonte: Adaptado de (DUNCAN, 1996)

De acordo com a norma ABNT NBR IEC 60268-3, à qual remetem-se as


especificações de amplificadores de áudio, as medições devem ser feitas com uma
carga puramente resistiva, de valor igual à impedância nominal do alto-falante. Para
caracterização dos parâmetros do presente amplificador, uma carga resistiva de apro-
ximadamente 8 Ω deverá ser utilizada.
58

3 PROJETO DO AMPLIFICADOR

O amplificador ponte completa, com filtro passivo balanceado e utilizando


modulação digital através de um microcontrolador é apresentado no diagrama da
Figura 24.

+Vcc

Opto
1
IR2110

Q1 Q3
Instrumentação Filtro
Opto
Microcontrolador

2
L L
Anti
Entrada Aliasing
de Áudio
Opto
3 C
IR2110

Buffer
Q2 Q4
Opto
4

Figura 24: Diagrama da topologia escolhida.


Fonte: Autoria Própria

Alguns parâmetros são pré-definidos para o projeto do amplificador, para


que ao fim da implementação do protótipo seja possı́vel verificar se ele atendeu as
expectativas ou não. Estes parâmetros são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1: Parâmetros para Projeto do Amplificador

Parâmetro Sı́mbolo Valor Unidade


Tensão de Alimentação VCA 127 VRM S
Potência Nominal de Saı́da POU T 50 WRM S
Rendimento Mı́nimo η 80 %
Sensibilidade 1,55 Vpp
Índice de Modulação m 85 %
Tensão do Barramento CC E 34 V
Frequência de Chaveamento fsw 150 kHz
Distorção Harmônica Total THD 10 %
Impedância da Carga Zo 8 Ω
Fonte: Autoria própria.

Alguns desses parâmetros como tensão de alimentação, potência de saı́da


e impedância da carga foram definidos na proposta de TCC. Rendimento, sensibili-
3.1 Projeto do Filtro de Saı́da 59

dade e THD limitam valores que se atingidos ou melhorados, garantem a obtenção


de um bom amplificador. Índice de modulação, frequência de chaveamento e tensão
de barramento foram limitados de acordo com o hardware disponı́vel e sugestões da
literatura.

3.1 PROJETO DO FILTRO DE SAÍDA

Como já definido, o filtro de saı́da do amplificador será um filtro LC passa


baixa de segunda ordem, composto por dois indutores e um capacitor por se tratar de
um filtro balanceado. A frequência de corte do filtro de saı́da será de 25 kHz para ser
capaz de atenuar em mais de 30 dB o ruı́do proveniente do chaveamento, que situa-
se à 150 kHz e garantir a passagem da banda de áudio (20 Hz a 20 kHz). A carga a
ser utilizada é um resistor de 8 Ω. Desta forma, todas as variáveis necessárias para
solucionar a Equação (6) são conhecidas. Assim, o valor dos indutores é definido por


2·R
L= = 36, 01 µH. (16)
4 · π · fc
Com o valor de 36,01 uH para cada indutor do filtro é possı́vel calcular o
valor dos capacitores através da resolução da Equação (4)

1
C= = 563 nF. (17)
8 · π 2 · fc 2 · L
Tendo-se determinado o valor dos componentes do filtro, realiza-se uma
validação deste filtro no software matemático MatLab .
R Para aproximar-se do circuito

real, serão utilizados na simulação valores de componentes comerciais. Desta forma,


os indutores serão de 36 µH e o capacitor de 570 nF. Inserindo a função de trans-
ferência do filtro é possı́vel observar como ele se comporta no domı́nio da frequência,
através da análise do Diagrama de Bode da Figura 25.
Nota-se que o filtro tem o comportamento esperado, pois sua frequência
de corte (-3 dB) situa-se exatamente em 25 kHz no diagrama de magnitude. Também
nota-se a inversão de fase esperada de -90◦ , aproximadamente. Ainda pela Figura
25 percebe-se que o filtro atenua 31,2 dB do sinal que situa-se em 150 kHz, que é a
frequência de chaveamento. Transformando isso em uma relação, através da Equação
(18), é evidenciado que uma pequena parcela do ruı́do ainda passa pelo filtro.

−31,2
Vruido,% = 10( 20 ) = 2, 75% (18)
3.2 Escolha das Chaves (MOSFETs) 60

Diagrama de Bode
20

Magnitude (dB)
System: x
System: x Frequency (kHz): 150
−20 Frequency (kHz): 25 Magnitude (dB): −31.2
Magnitude (dB): −3

−40

−60

−80
0

System: x
−45
Fase (deg)

Frequency (kHz): 25
Phase (deg): −90.4
−90

−135

−180
0 1 2 3
10 10 10 10
Frequência (kHz)

Figura 25: Resposta no domı́nio da frequência do filtro de


saı́da projetado.
Fonte: Autoria Própria

Aproximadamente 2,7% do ruı́do de chaveamento estará presente na saı́da


do amplificador. Para corrigir esta caracterı́stica, seria necessário aumentar a ordem
do filtro, aumentar a frequência de chaveamento ou reduzir a frequência de corte do
filtro. Como nenhuma das alternativas é viável de ser realizada, aceita-se este nı́vel de
ruı́do e espera-se uma análise futura na qual, com o sistema todo em funcionamento,
o ruı́do torne-se imperceptı́vel.
Portanto, valida-se o modelo do filtro e os valores dos componentes para
ele projetados. Destaca-se, conforme objetivo do trabalho, que os indutores serão
projetados e implementados. Este projeto encontra-se nos apêndices do trabalho. O
capacitor escolhido é de 570 nF, cerâmico, com baixa resistência intrı́nseca e tensão
nominal de 150 V, o que garante o bom funcionamento do componente e consequen-
temente, que o filtro funcione como projetado.

3.2 ESCOLHA DAS CHAVES (MOSFETS)

A primeira etapa da escolha das chaves, que é qual semicondutor deve ser
usado, já foi previamente realizada, sendo definido que o MOSFET apresenta algumas
vantagens em relação aos outros modelos para a aplicação em um amplificador de
áudio chaveado.
Há uma infinidade de MOSFETs disponı́veis no mercado, cada qual com
3.2 Escolha das Chaves (MOSFETs) 61

seus parâmetros especı́ficos que o qualificam para desempenhar melhor determinada


função. A partir disso foram selecionados 4 modelos de MOSFET de diferentes fabri-
cantes, com parâmetros compatı́veis com os buscados: fácil aquisição, baixo custo,
alta robustez e o mesmo encapsulamento (TO-220). Estes modelos de MOSFET são
apresentados na Tabela 2 junto com os valores máximos dos principais parâmetros de
interesse.

Tabela 2: Perdas dos modelos de MOSFETs

IRFZ46N IRF540 IRF640 IRF740


VDS [V] 55 100 200 400
ID [A] 53 28 18 10
RDS(on) [mΩ] 16,5 77 180 550
Qg [nC] 72 72 70 43
Qrr [nC] 312 2800 7100 3200
Coss [pF] 407 560 430 220
tr [ns] 76 44 51 10
tf [ns] 57 43 36 10
Fonte: Autoria própria.

Apenas analisando a Tabela 2 já é possı́vel identificar favoritos. Quanto


menor a resistência de condução RDS(on) , mais propenso o MOSFET estará a ter
menores perdas. Como a tensão de barramento é E = 34 V e a corrente RMS da
carga é IDef = 2,5 A, nota-se que todos suportam esses nı́veis de tensão e corrente.
Porém, o MOSFET IRFZ46N suporta apenas 55 V de tensão entre dreno e fonte.
Como em comutações de alta frequência ocorrem picos de tensão no bloqueio da
chave, é provável que o dispositivo não suporte essa tensão, mesmo com o emprego
de circuitos de auxı́lio à comutação. Assim, ele não será mais considerado como uma
opção.
Após análise dos parâmetros apresentados e cálculo das perdas que cada
modelo de MOSFET propicia, de acordo com as Equações 8, 9, 10 e 11, apresenta-se
a Tabela 3 com os valores em W das perdas de cada um, considerando uma tensão
de chaveamento VGS = 12 V, corrente de carga e tensão de barramento nominais.

O MOSFET IRF540, da International Rectifier, apresenta as menores per-


das de condução, devido sua baixa resistência de condução. Tem maiores perdas na
porta por necessitar de uma carga maior para começar a conduzir. Ainda, possui mai-
ores perdas de comutação, devido à sua alta capacitância de saı́da e grandes tempos
3.3 Projeto do Circuito de Acionamento das Chaves 62

Tabela 3: Perdas dos modelos de MOSFETs

IRF540 IRF640 IRF740


Pcond [W] 0,4813 1,1250 3,4375
Pgate [W] 0,1296 0,1260 0,0774
Pcom [W] 0,6517 0,6292 0,1656
Ptotal [W] 1,2626 1,8802 3,6805
Fonte: Autoria própria.

de subida e descida. Mesmo assim, possui as menores perdas totais dos 3 MOSFETs,
totalizando 1,2626 W. A carga de corpo do diodo Qrr é a menor dentre todas, o que
o caracteriza como menos susceptı́vel a EMI e, portanto, a melhor escolha dentre os
modelos avaliados.
Como duas chaves sempre conduzem simultaneamente, a perda total nas
chaves é 2 vezes o valor encontrado. Assim, a perda total é de 2,5252 W, ou seja,
5,05% da potência nominal do amplificador.
A simulação para validar a escolha das chaves será realizada junto à
simulação completa do circuito, pois não há propósito em fazê-la separadamente.

3.3 PROJETO DO CIRCUITO DE ACIONAMENTO DAS CHAVES

Tendo-se escolhido o MOSFET IRF540, fabricado pela Vishay, para ser a


chave utilizada para formar a ponte completa do amplificador, deve-se agora projetar
um circuito de acionamento que seja compatı́vel com os parâmetros dessas chaves e
eficiente no acionamento delas.
Como a frequência de chaveamento é de 150 kHz, precisa-se de um driver
capaz de suprir e drenar a corrente de acionamento do MOSFET em tempos na es-
cala de microssegundos. Isso já limita bastante as opções de circuitos integrados dis-
ponı́veis para o projeto. Como não foi encontrado algum driver com as quatro saı́das
necessárias para acionar a ponte, e já que com uma única saı́da o circuito acabaria
ficando maior, limita-se a busca para CIs com duas saı́das.
Deste modo, escolhe-se o driver IR2110, da International Rectifier. Este CI
possui duas saı́das independentes, para comandar um braço, como requerido. Por
consequência, serão utilizados dois CIs para acionar a ponte completa. A saı́da para
a chave superior utiliza o artifı́cio do circuito de bootstrap para enviar o pulso de co-
mando, já que o terminal source da chave encontra-se em outra referência que não
a do driver. Como não possui o recurso de tempo morto integrado, faz-se necessário
a implementação dele no estágio anterior, ou seja, ainda na modulação. Pode for-
3.3 Projeto do Circuito de Acionamento das Chaves 63

necer até 2 A de corrente em cada saı́da, além de suportar até 500 V de tensão de
barramento, o que garante que ele atenda os requisitos do sistema e das chaves.
Assim, a Figura 26 apresenta o circuito montado para um dos drivers, que
consiste de capacitores de desacoplamento, circuito de bootstrap e de resistores para
limitar a corrente fornecida.
+12V

R1
1 14
2 13
D1
3 IR2110 12 PWM_2 R3
4 11
C1 C2 Vcc
5 10 PWM_1
R2
6 9
Cboot Dboot
7 8
D2 R4

Figura 26: Circuito completo para um dos drivers.


Fonte: Autoria própria.

Os capacitores de desacoplamento são conectados em paralelo com a re-


ferência e o pino de alimentação do CI de modo a neutralizar/diminuir as indutâncias
parasitas das trilhas, que impedem que o CI receba corrente suficiente nos picos de
demanda, devido, justamente, à essa caracterı́stica indutiva. Com os capacitores aco-
plados o mais próximo possı́vel aos pinos, eles podem fornecer essa corrente quando
solicitada. São utilizados um capacitor eletrolı́tico de 22 µF para as frequências mais
baixas, juntamente com um capacitor cerâmico de 100 nF para as altas frequências,
conforme indicado no datasheet fornecido pelo fabricante.
O circuito de bootstrap é composto por um diodo e dois capacitores, con-
forme a Figura 26. O diodo deve ser de rápida recuperação, pois irá conduzir e blo-
quear na mesma frequência do chaveamento. Então, escolhe-se o diodo BYT600,
fabricado pela ST Microelectronics. Tem limite de corrente média de 3 A, corrente de
pico repetitiva de 50 A e tensão de bloqueio de 600 V, além de tempo de recuperação
de 150 ns, o que supre os requisitos da tarefa. O valor da capacitância de boots-
trap é definido em equações empı́ricas variadas, que utilizam parâmetros do capa-
citor e das chaves que, por vezes, precisam ser estimados. Desta forma, seguindo
recomendações do fabricante do IR2110 e através de testes de bancada, definiu-se a
utilização de um capacitor cerâmico de 100 nF e de um capacitor eletrolı́tico de 1 µF,
3.3 Projeto do Circuito de Acionamento das Chaves 64

conectados em paralelo.
Por fim, definem-se os resistores conectados entre a saı́da do driver
e a chave. A malha DR (diodo-resistor) é inserida para que quando o sinal de
saı́da seja alto e a corrente esteja carregando a capacitância da porta do MOSFET,
o diodo polarize-se reversamente e bloqueie. Assim, o sinal percorre o resistor,
que limitará o valor da corrente máxima fornecida pela saı́da do CI. Sabe-se que
quanto maior o valor da corrente, maior pode ser a frequência de chaveamento.
Como o valor da capacitância de porta é baixo nesta chave e o driver trabalha bem
abaixo do seu limite máximo de frequência, escolhe-se o valor de 47 Ω para o resis-
tor, levando-se em conta o gráfico fornecido pelo fabricante, apresentado na Figura 27.

Amplitude do pico de tensão


negativa

Resistência Série de Porta

Figura 27: Pico de tensão negativa em função do re-


sistor série.
Fonte: Adaptado de (HV. . . , 2007).

Intuitivamente, sabe-se que tensões negativas no meio do braço não cau-


sam bons resultados, pois estão levando a carga a esforços maiores que os preten-
didos, além de aplicarem uma tensão negativa sobre a chave inferior. Desta forma,
escolheu-se este valor para o resistor, onde a corrente mantenha-se suficientemente
grande para acionar a chave sem dificuldades, e a tensão negativa no pino VB seja
a menor possı́vel. O resistor de 1 kΩ conectado entre a porta e a fonte do MOS-
FET serve para garantir que quando ligados, todos os MOSFETs iniciem em modo de
corte, até receberem sinais de comando. Isto visa evitar curto-circuitos em potencial
devido a cargas residuais na capacitância das chaves. Também auxilia na hora de
descarregar a capacitância, oferecendo um caminho alternativo à corrente.
3.4 Escolha dos Optoacopladores 65

A simulação que exibe o funcionamento dos drivers nas condições de tra-


balho projetadas é apresentada na Seção 4.1.2.

3.4 ESCOLHA DOS OPTOACOPLADORES

Como no circuito proposto pelo projeto a modulação é realizada por um


microcontrolador e estes elementos são bastante sensı́veis, além de terem um custo
maior que a maioria dos outros componentes, alguma proteção faz-se necessária. A
isolação óptica é uma boa medida para proteger o dispositivo, separando os sinais e
a referência do microcontrolador do restante do circuito de potência.
A escolha dos optoacopladores baseia-se em alguns pré-requisitos: deve
drenar baixo nı́vel de corrente na entrada e ter um threshold menor que 3,3 V (assim,
pode ser acionado diretamente pela saı́da do microcontrolador). Deve aceitar uma
alimentação de 5 V ou mais para acionar o driver com sua saı́da e, principalmente,
deve funcionar na frequência de 150 kHz.
Dadas essas caracterı́sticas, a popular linha de CIs optoacopladores
6N13x, da Vishay, é escolhida, dentre eles o modelo 6N137, o qual atende todos
os requisitos. Drena apenas 5 mA de corrente para seu acionamento, fornecendo
até 7 V de tensão na saı́da e corrente de 50 mA. Tem somente um canal, o que
torna necessário o uso de 4 CIs. Utiliza externamente um resistor de 470 Ω para li-
mitar a corrente de entrada em um valor menor que 10 mA; um resistor de 1 kΩ que
limita a corrente de saı́da e funciona como pull-up, pois o opto tem saı́da em cole-
tor aberto. Também foram adicionados capacitores de desacoplamento em cada CI,
tendo a mesma função e valores que aqueles utilizados e explicados no circuito de
acionamento.
Tem como caracterı́stica a inversão de sinal; deste modo, é necessário
conectar o pino de 3,3 V do microcontrolador no resistor de entrada e o pino do PWM
no pino 3, conforme a Figura 28 apresenta. Assim, o sinal na saı́da do opto será igual
ao gerado na modulação.
3.5 Projeto do Circuito de Auxı́lio à Comutação 66

+5V
R1 1 8
R2

6N137
3,3 V 2 7
C1 C2
PWM 3 6 Saída
4 5

Figura 28: Circuito utilizado para um optoacoplador.


Fonte: Autoria própria.

3.5 PROJETO DO CIRCUITO DE AUXÍLIO À COMUTAÇÃO

Como será usado um snubber RCD grampeador de tensão, define-se os


valores do capacitor, do resistor e escolhe-se o diodo.
O diodo escolhido é o mesmo dos utilizados junto ao circuito driver, BYT-
600, para manter a uniformidade dos componentes, visto que ele atende todos os
requisitos de corrente e frequência requeridos para o snubber.
O capacitor do snubber Csn é escolhido de acordo com a Equação 12 e
pelos parâmetros do circuito

IDef · (1 − D)
Csn = = 18, 4 nF. (19)
4 · E · fsw
O resistor do snubber Rsn é escolhido de acordo com a Equação 13

D
Rsn = = 61, 59 Ω. (20)
5 · Csn · fsw
Utilizam-se componentes com valores comerciais mais próximos aos defi-
nidos, sendo o capacitor de 18 nF e 2 resistores de 33 Ω em série.

3.6 PROJETO DO CONDICIONAMENTO DE SINAIS

A etapa de condicionamento de sinais é de vital importância para qualquer


circuito que utiliza sinais analógicos. Ela filtra, ajusta e adequa os sinais para serem
usados na próxima etapa do circuito. Além do mais, condicionamento de sinais é im-
prenscindı́vel para sistemas que utilizam conversão de sinais analógicos em digitais,
através de amostragem. Qualquer ruı́do, aliasing ou outra forma de interferência pre-
3.6 Projeto do Condicionamento de Sinais 67

sente no sinal analógico deve ser removida antes da conversão; do contrário, será
quantizada junto com o sinal, tornando-se impossı́vel distinguir um do outro.
Com este objetivo, projetou-se um circuito de condicionamento formado por
um amplificador de instrumentação, um filtro anti-aliasing e um buffer, os quais tratam
o sinal de áudio vindo da fonte sonora e o tornam apto a ser utilizado pelo conversor
A/D do microncontrolador.

3.6.1 AMPLIFICADOR DE INSTRUMENTAÇÃO

Como abordado anteriormente, para se fazer um amplificador de


instrumentação efetivo, os componentes utilizados (amplificadores operacionais e re-
sistores) devem ser idênticos. Do contrário, o circuito não realiza a tarefa para a qual
foi projetado. Como é difı́cil de encontrar componentes com esse nı́vel de precisão,
optou-se pela utilização de um amplificador de instrumentação encapsulado.
Buscou-se um CI que pudesse ser alimentado simetricamente (isto é im-
portante devido ao fato de o áudio excursionar em torno do zero, possuindo valores
de tensão negativas); com largura de banda suficiente para todas as frequências do
áudio, mantendo o ganho constante e boa linearidade; ajuste de ganho e alta rejeição
de ruı́dos de modo comum.
O amplificador de instrumentação AD623, da Analog Devices atende os
requisitos e ainda oferece um recurso útil para este projeto: possui regulagem de
offset através da tensão colocada em um pino do CI. Isto permite elevar o sinal até
que fique todo positivo, permitindo que o conversor A/D do microncontrolador faça a
conversão e não sofra danos.
Utiliza-se capacitores de desacoplamento na alimentação como os utiliza-
dos nos CIs anteriores. Para controle do ganho, utiliza-se um resistor externo entre os
pinos 1 e 8, como mostra o circuito montado com o CI na Figura 29.
O valor do resistor, em função do valor do ganho desejado é obtido pela
Equação 21

100 kΩ
RG = . (21)
(G − 1)
3.6 Projeto do Condicionamento de Sinais 68

R1 R2

+5V
1 8

AD623
Entrada_+ 2 7
Entrada_- 3 6 Saída
-5V 4 5
R3
C1 C2

C3 C4

Figura 29: Circuito utilizado para o amplificador


de instrumentação.
Fonte: Autoria própria.

A função de ganho só será utilizada caso a fonte de áudio possua tensão de
saı́da menor do que a sensibilidade do amplificador, o que causaria perda de resolução
na conversão A/D e aumento na distorção de saı́da. Desta forma opta-se por um
ganho mı́nimo de 1 e máximo de 2.
Para isso, conectou-se entre os pinos 1 e 8 um resistor de 100 kΩ e um
potenciômetro de 5 MΩ em série. Desta forma, quando o potenciômetro estiver em seu
valor máximo de resistência (5 MΩ), o ganho será aproximadamente 1. Quando ele
estiver com o valor mı́nimo de resistência (0 Ω), o ganho será 2, conforme o rearranjo
da Equação 21 é mostrado na Equação 22.

 
100 kΩ
G=1+ . (22)
RG
Para controle de offset, conectou-se um trimpot de 100 kΩ no pino 5, con-
forme a Figura 29. Dessa forma obtém-se um deslocamento tanto positivo como ne-
gativo, dependendo da condição de utilização.

3.6.2 FILTRO ANTI-ALIASING

Para projetar um filtro efetivo, mas não exageradamente grande,


determinou-se a utilização de um filtro de 4a ordem, ativo. Como deseja-se preservar
a linearidade na faixa de frequência do áudio, a topologia Butterworth é novamente a
mais propı́cia, semelhante ao filtro de saı́da. Conforme o projeto do filtro de saı́da nos
3.6 Projeto do Condicionamento de Sinais 69

capı́tulos anteriores, utiliza-se a metodologia de Kugelstadt (2008) para filtros passa


baixa.
A frequência de corte será fc = 25 kHz para dar margem suficiente para toda
a faixa de áudio (20 Hz a 20 kHz) passar sem atenuações significantes, enquanto todo
sinal acima dessa frequência será atenuado/cortado.
Para obter-se um filtro de 4a ordem, dois filtros de 2a ordem são utilizados
em cascata. A topologia destes filtros de 2a ordem é a Sallen-Key, que é de um filtro
ativo que utiliza apenas resistores e capacitores, juntamente com um amplificador
operacional, conforme mostra a Figura 30. O amplificador operacional que será
utilizado é o LM358, da Texas Instruments, por ser um amp op com ampla largura de
banda, e, principalmente, por possuir uma altı́ssima linearidade para ganho unitário.
O mesmo CI tem dois amplificadores, o que permite que o filtro seja implementado
com um único componente ativo.

C2

R1 R2
Vin
Vout
C1

Figura 30: Topologia Sallen-Key de um filtro ativo de 2a ordem.


Fonte: Adaptado de Kugelstadt (2008)

A função de transferência desta topologia é dada pela Equação 23

Vo (s) Ao
= , (23)
Vin (s) 1 + ωc ·[C1 ·(R1 + R2 ) + (1 − Ao )·R1 ·C2 ]·s + ωc 2 ·R1 ·R2 ·C1 ·C2 ·s2

onde Ao é o ganho que o filtro introduz no sistema, que neste caso, deseja-se que seja
unitário.
Existem coeficientes que são inseridos na função de transferência do filtro
para determinar qual a aproximação que o filtro seguirá. Para simplificar, a Equação
24 traz a forma geral de um filtro de segunda ordem para qualquer aproximação, com
os coeficientes a e b, os quais determinam a aproximação
3.6 Projeto do Condicionamento de Sinais 70

 
s Ao
A = . (24)
ωc a1 b1
1 + s + 2 s2
ωc ωc
Os coeficientes a serem utilizados são para dois blocos de 2a ordem, que
juntos formam um filtro de 4a ordem, Butterworth. Para o 1o bloco (filtro passa baixa
Sallen-Key de 2a ordem), os coeficientes são a1 = 1,8478 e b1 = 1. Para o 2o bloco, os
coeficientes são a2 = 0,7654 e b2 = 1.
Assim, igualando as equações e seus respectivos coeficientes com a
função de transferência da topologia Sallen-Key apresentada na Equação 23, obtêm-
se as seguintes equações:

a1 = ωc ·C1 ·(R1 + R2 ) (25)

b1 = ωc 2 ·R1 ·R2 ·C1 ·C2 (26)

a2 = ωc ·C3 ·(R3 + R4 ) (27)

b2 = ωc 2 ·R3 ·R4 ·C3 ·C4 . (28)

Como há menos valores de capacitores disponı́veis no mercado, especifica-


se os valores dos capacitores para em seguida calcular os resistores, rearranjando as
variáveis das equações. A Equação 29 deve ser seguida, para que todos os compo-
nentes possuam valores reais

4·b1,2
C2,4 ≥ C1,3 · . (29)
a1,2 2
Assim, atribui-se os valores dos capacitores como sendo C1,3 = 1 nF e C2,4
= 47 nF. Os resistores podem ser definidos pelas Equações 30 e 31,

p
a1 ·C2 ± a1 2 ·C2 2 − 4·b1 ·C1 ·C2
R1,2 = (30)
4·π·fc ·C1 ·C2

p
a2 ·C4 ± a2 2 ·C4 2 − 4·b2 ·C3 ·C4
R3,4 = , (31)
4·π·fc ·C3 ·C4
3.6 Projeto do Condicionamento de Sinais 71

resultando em R1 = 75 Ω, R2 = 12 kΩ, R3 = 180 Ω e R4 = 4, 7 kΩ.


O circuito final do filtro:

C2
C4

R1 R2
Vin R3 R4
C1 Vout
C3

Figura 31: Filtro Anti-Aliasing completo.


Fonte: Autoria própria

Busca-se a validação deste filtro através de simulação computacional.


Desta vez, por se tratar de um circuito eletrônico com alto nı́vel de precisão, a
simulação será realizada em ambiente Spice, no software LTspice .
R

Implementa-se o circuito representado na Figura 31 e utiliza-se o Diagrama


de Bode para analisar a resposta em frequência do filtro e verificar sua frequência de
corte. A Figura 32 apresenta o resultado dessa simulação.

V(n004)
5dB 0°

0dB -40°

Magnitude
-5dB -80°

-10dB -120°

Fase

-15dB -160°

-20dB -200°

-25dB -240°

-30dB -280°

-35dB -320°

-40dB -360°

-45dB -400°

-50dB -440°
10Hz 100Hz 1KHz 10KHz 100KHz

Figura 32: Simulação do filtro anti-aliasing de 4a ordem.


Fonte: Autoria própria

Nota-se que o ponto de -3 dB fica, de fato, na frequência de 25 kHz,


frequência de corte projetada. Devido a não ter uma ordem muito elevada, o filtro
3.7 Projeto da Fonte de Alimentação 72

começa a atenuar a magnitude do sinal logo após 19 kHz. Isso faz com que o agudo
mais alto sofra uma pequena atenuação, o que pode resultar em um desvio na res-
posta de frequência do amplificador, nessa região.
A resposta de fase mostra um desvio de 180o na região da frequência de
corte, como esperado. Pode-se dizer então que o filtro Anti-Aliasing está validado
como foi projetado.

3.6.3 BUFFER

Após o sinal ter o ruı́do de modo comum removido no amplificador de


instrumentação, onde um offset também foi inserido, e ter sido filtrado quanto a ruı́do
de alta frequência e aliasing no filtro passa-baixa, um buffer é implementado. A função
do buffer nesta etapa é desacoplar a impedância de saı́da do filtro anti-aliasing, da en-
trada do conversor A/D, além de proteger o conversor.
Como o conversor A/D do microcontrolador escolhido funciona entre 0 e 3,3
V, qualquer tensão fora deste intervalo pode vir a danificar a porta dele. Desta forma,
utiliza-se este buffer com alimentação assimétrica de 3,3 V, para limitar o sinal dentro
dessa faixa.
Utiliza-se novamente o amplificador operacional LM358, da Texas Instru-
ments, alimentado no pino 8 e conectado ao terra no pino 4. Os pinos 2 e 3 são
curto-circuitados, sendo a entrada inversora e a saı́da. O sinal entra no pino 1. Capa-
citores de desacoplamento são inseridos.

3.7 PROJETO DA FONTE DE ALIMENTAÇÃO

Na alimentação, necessita-se de uma fonte com diferentes nı́veis de tensão


e capacidades de fornecimento de corrente. Como discutido no Capı́tulo 2, a fonte
que fornecerá a tensão de barramento (potência para a carga) será uma fonte linear
não-regulada. Desta forma, torna-se mais fácil utilizar fontes lineares para toda a
alimentação. Porém, para alimentar os CIs, utiliza-se reguladores de tensão que ga-
rantam uma tensão CC com menos ondulações e, consequentemente, o bom funcio-
namento dos componentes.
A etapa de condicionamento de sinais utiliza tensões de +5 V e -5 V; a
etapa de isolação óptica e acionamento das chaves utiliza tensões de +5 V e +12 V.
Esses valores foram escolhidos de modo que existem circuitos reguladores de tensão
3.7 Projeto da Fonte de Alimentação 73

compatı́veis. Por fim, a tensão de barramento será de, aproximadamente, 34 V, que é


determinada pela tensão nominal eficaz de saı́da e ı́ndice de modulação selecionado,
segundo a Equação 32


20· 2
E= = 33, 85 V. (32)
0, 85
A Figura 33 apresenta o circuito completo utilizado para a fonte.

D1 D3
1S Cbar 34 V
D2 D4

Ponte 1
C1 C3 LM7805 C5 5V
127 Vrms 2S

C2 C4 C6 -5 V
LM7905
Ponte 2

C7 C9 LM7812 C11 C13 12 V


3S

C8 C10 LM7805 C12 C14 5V

Figura 33: Circuito da fonte do amplificador.


Fonte: Autoria própria.

Como os circuitos que utilizam reguladores aceitam ripples maiores, devido


justamente ao uso do regulador, o projeto do capacitor do filtro não é tão essencial.
Utilizam-se capacitores eletrolı́ticos de valor elevado com grande capacidade de for-
necimento de corrente, antes e depois dos reguladores, para a tensão de 12 V que
é a fonte usada para acionar as chaves. Para as outras tensões são utilizados capa-
citores eletrolı́ticos somente como filtro capacitivo antes do regulador. Em todos os
reguladores são utilizados capacitores de cerâmica antes e depois, para estabilizar o
componente, como recomendam os fabricantes.
Os diodos que formam as duas pontes retificadoras das fontes auxiliares
são determinados basicamente pela capacidade de corrente, que não é maior do que
o valor médio de 1 A para as fontes auxiliares. Como operam em baixas tensões e na
frequência da rede (60 Hz), outras caracterı́sticas tornam-se irrelevantes.
Para a fonte do barramento utilizou-se diodos com corrente média de 6
A para garantir que eles não sejam danificados no momento da primeira carga dos
capacitores do filtro, pois a corrente inicial é consideravelmente elevada. O valor da
capacitância do filtro é determinado pela Equação 33
3.8 Escolha da Carga 74

Pin
Cbar = 2 2
= 9, 058 mF (33)
f (Vmax− Vmin )
onde, f é a frequência do ripple, que para um retificador de onda completa é 120 Hz;
Pin é a potência de entrada da fonte e Vmax − Vmin é a variação máxima aceitável para
a fonte. Assumiu-se um ripple máximo de 2% para essa fonte, ou seja, Vmax − Vmin =
0, 68 V.
Utilizou-se 2 capacitores em paralelo de 4,7 mF cada, resultando numa
capacitância total de 9,4 mF, e, portanto, um ripple ainda menor do que os 2% máximos
determinados no projeto.

3.8 ESCOLHA DA CARGA

Como parâmetro de projeto definido, a carga para teste é um resistor de


8 Ω. No entanto, utilizou-se um resistor de 7,3 Ω devido ao fato de não encontrar-
se facilmente no mercado resistores com 8 Ω. Associação de resistores também foi
descartada porque seriam necessários inúmeros resistores conectados em série e pa-
ralelo para ser possı́vel a obtenção desse valor, além da potência mı́nima necessária.
Além de tornar a carga maior fisicamente, o investimento necessário para a aquisição
desses componentes seria substancial.
75

4 ANÁLISE DE RESULTADOS

Este capı́tulo apresenta os principais resultados do amplificador de áudio


projetado no capı́tulo anterior. Primeiramente, apresenta-se os resultados gerados
na simulação nos softwares LTspice
R e PSIM
R e, posteriormente, os resultados

experimentais obtidos através do protótipo implementado.


Como o circuito possui uma etapa digital processada, através de um micro-
controlador, sua simulação em softwares de circuitos eletrônicos não é trivial. Assim,
os resultados apresentados são a partir do circuito de geração dos PWMs, ou seja,
após a saı́da do microcontrolador.
Serão apresentados resultados experimentais dos parâmetros mais rele-
vantes para um amplificador de áudio, e, consequentemente, para criação de sua
folha de especificações. Uma sucinta definição desses parâmetros é encontrada nos
Apêndices deste trabalho.

4.1 RESULTADOS DE SIMULAÇÃO

Para obter os resultados referentes à modulação da forma mais aproximada


possı́vel, utilizou-se o software PSIM
R com componentes ideais, para reproduzir o

comportamento do amplificador desde a entrada do sinal até os 4 sinais de PWM que


saem do microcontrolador. Estes PWMs são, então, introduzidos em fontes de sinais
no software LTSpice .
R

Neste software é possı́vel utilizar o modelo não-ideal de componentes, tais


como os optoacopladores 6N137, os drivers IR2110, assim como as chaves e demais
componentes do circuito. Dessa forma, a simulação torna-se mais precisa em relação
àquelas que usam componentes ideais.

4.1.1 MODULAÇÃO

O sinal de entrada utilizado para a simulação foi uma onda senoidal, de 1


kHz de frequência e valor de pico a pico igual a 1,65 V. A modulação é realizada por
comparadores ideais e uma onda triangular, seguindo a técnica de modulação de 3
4.1 Resultados de Simulação 76

nı́veis. Por fim, os 4 sinais são negados (invertidos) para compensar a caracterı́stica
inversora do optoacoplador. Assim, à entrada do driver eles estarão novamente com
sua polaridade inicial. A Figura 34 contém os sinais de PWM oriundos do PSIM
R

e inseridos nas fontes do LTspice, que são ondas quadradas de 0 a 3,3 V (nı́vel de
saı́da do microcontrolador).

V(pwm1) V(pwm2)

3.2V

2.4V

1.6V

0.8V

0.0V
V(pwm3) V(pwm4)

3.2V

2.4V

1.6V

0.8V

0.0V
2.144ms 2.146ms 2.148ms 2.150ms 2.152ms 2.154ms 2.156ms 2.158ms 2.160ms 2.162ms 2.164ms 2.166ms

Figura 34: Sinal de entrada modulado em 4 PWMs.


Fonte: Autoria própria.

4.1.2 OPTOS E DRIVERS

A entrada senoidal (na forma de 4 PWMs) passa pelos optoacopladores


6N137 que separam a referência do sinal de entrada e do microcontrolador da parte
de potência. O sinal que tinha 3,3 V de nı́vel e fora invertido, agora será convertido
ao normal e possuirá o nı́vel de 5 V. A Figura 35 mostra esses PWMs à saı́da dos
optoacopladores e à entrada dos drivers.

V(out1) V(out2)

5.0V
4.0V
3.0V
2.0V
1.0V
0.0V V(out3) V(out4)
5.0V
4.0V
3.0V
2.0V
1.0V
0.0V
2.144ms 2.146ms 2.148ms 2.150ms 2.152ms 2.154ms 2.156ms 2.158ms 2.160ms 2.162ms 2.164ms 2.166ms

Figura 35: PWMs à saı́da dos 6N137.


Fonte: Autoria própria.
4.1 Resultados de Simulação 77

Esses sinais agora passam pelos drivers IR2110, onde receberão um


ganho de tensão (até 12 V, por ser a tensão de alimentação do CI) e capacidade de
fornecer e drenar as correntes de acionamento das chaves. A Figura 36 apresenta os
4 sinais nas chaves IRF540, entre porta (gate) e fonte (source), sendo os sinais 1, 2,
3 e 4, respectivamente, os sinais vermelho, azul, amarelo e verde.

V(SW1,MID1) V(sw2)
12V
10V
8V
6V
4V
2V
0V
V(sw3) V(SW4,MID2)
12V
10V
8V
6V
4V
2V
0V
564µs 570µs 576µs 582µs 588µs 594µs 600µs 606µs 612µs 618µs

Figura 36: PWMs de acionamento das 4 chaves IRF540.


Fonte: Autoria própria.

Nessa figura demonstra-se como a simulação com elementos não-ideais


é importante, pois mostra as deformações dos sinais pela limitação de corrente e,
consequente, baixo slew rate (taxa de crescimento). Os sinais 1 e 4 estão referen-
ciados cada um à fonte da chave a qual estão acionando, porém observando esses
sinais todos à mesma referência (ground), como na Figura 37, fica clara a funcionali-
dade do circuito de bootstrap. Sem ele, o pulso de 12 V não acionaria a chave superior.

V(sg1) V(sg2)

40V
30V
20V
10V
0V
V(sg3) V(sg4)
50V
40V
30V
20V
10V
0V
2.144ms 2.146ms 2.148ms 2.150ms 2.152ms 2.154ms 2.156ms 2.158ms 2.160ms 2.162ms 2.164ms 2.166ms

Figura 37: PWMs de acionamento das 4 chaves IRF540, referenciados


ao terra.
Fonte: Autoria própria.
4.1 Resultados de Simulação 78

4.1.3 FORMAS DE ONDA DA SAÍDA

Por fim apresenta-se a simulação das formas de onda mais importantes:


da saı́da do amplificador. A Figura 38 apresenta a onda senoidal demodulada e
amplificada. A Figura 39 traz a mesma onda, porém o sinal PWM sobre os terminais
do filtro é acrescentado à imagem, para demonstrar a modulação de 3 nı́veis e o
funcionamento do filtro demodulador.

V(N006,N007)
30V

18V

6V

-6V

-18V

-30V0.0ms 0.1ms 0.2ms 0.3ms 0.4ms 0.5ms 0.6ms 0.7ms 0.8ms 0.9ms 1.0ms 1.1ms 1.2ms 1.3ms 1.4ms 1.5ms 1.6ms 1.7ms 1.8ms 1.9ms 2.0ms

Figura 38: Saı́da do amplificador com potência nominal.


Fonte: Autoria própria.
V(MID1,MID2) V(N006,N007)
35V
29,11 V

21V

7V

-7V

-21V

-29,13 V

-35V0.0ms 0.5ms 1.0ms 1.5ms 2.0ms 2.5ms 3.0ms 3.5ms 4.0ms 4.5ms 5.0ms

Figura 39: Saı́da do amplificador antes e depois do filtro.


Fonte: Autoria própria.

Como pode ser visto, com os valores de pico de 29,11 V e -29,13 V, a tensão
de pico a pico da senóide fica em 58,24 V, o que resultaria em uma potência pouco
maior que os 50 W projetados. Isso deve-se também ao sinal de entrada que possui
amplitude de 1,65 V, quando o ideal para a sensibilidade projetada desse amplificador
seria 1,55 V ou 4 dB.
Observa-se também, algumas distorções no cruzamento por zero, o que
4.1 Resultados de Simulação 79

não era esperado por não ser caracterı́stica do amplificador chaveado. Analisando
as ondas de PWM sobre a carga pode-se concluir que quando o sinal senoidal está
fazendo a transição em zero, a lógica da modulação de 3 nı́veis troca de um sinal
positivo para um sinal negativo. Como a simulação utiliza componentes reais, até o
PWM chegar nas chaves, ruı́do é inserido e o amplificador comuta em torno de zero
alguns pulsos até o valor do sinal negativo aumentar e ele voltar ao curso da senóide.
No circuito implementado não haverá esse problema, já que essa lógica é criada com
o microcontrolador.
A Figura 40 mostra o PWM apresentado na Figura 39, porém com um
intervalo de tempo menor. Nele, é possı́vel perceber que o valor máximo fica em torno
de 32 V, sendo que a fonte CC é de 33,85 V. Assim é possı́vel ver a queda de tensão
provocada pela resistência de condução das chaves (RDS(on) ). O ponto inferior, que
deveria ser zero, apresenta valor negativo. Aqui percebe-se mais uma peculiaridade
do circuito de bootstrap já discutida. O pico de corrente exigido para acionar o
MOSFET faz a tensão do pino VS , que seria o meio do braço, ficar negativa. Se o
resistor série fosse menor, consequentemente a corrente direcionada ao acionamento
do MOSFET seria maior e ocasionaria um pico ainda mais negativo.

V(MID1,MID2)

32V

24V

16V

8V

0V

2.068ms 2.072ms 2.076ms 2.080ms 2.084ms 2.088ms 2.092ms 2.096ms 2.100ms 2.104ms 2.108ms 2.112ms

Figura 40: PWM sobre o filtro de saı́da.


Fonte: Autoria própria.

Por fim, a Figura 41 mostra a forma de onda da tensão e da corrente


da saı́da do amplificador e a onda da potência , obtida pela multiplicação das duas
anteriores, sendo a potência a linha vermelha, a tensão a linha amarela e a corrente
a linha azul.
4.2 Resultados Experimentais do Protótipo 80
V(N006,N007)*(-I(Carga2)) V(N006,N007) -I(Carga2)

115W Potência

95W

75W

55W
Tensão
30V
35W
18V Corrente
4A
15W
6V
0A
-5W -6V
-4A
18V
-

-30V
0.0ms 0.1ms 0.2ms 0.3ms 0.4ms 0.5ms 0.6ms 0.7ms 0.8ms 0.9ms 1.0ms 1.1ms 1.2ms 1.3ms 1.4ms 1.5ms 1.6ms 1.7ms 1.8ms 1.9ms 2.0ms

Figura 41: Ondas de tensão, corrente e potência.


Fonte: Autoria própria.

4.2 RESULTADOS EXPERIMENTAIS DO PROTÓTIPO

O protótipo final, montado em um gabinete metálico, é apresentado nas


Figuras 42, 43 e 44. Externamente tem-se acesso ao botão liga/desliga do amplifica-
dor e ao botão liga/desliga do barramento. Possui uma entrada em conector RCA e
duas saı́das paralelas com conectores RCA. No detalhe, o cooler para a ventilação
forçada.

Figura 42: Amplificador implementado em seu gabinete.


Fonte: Autoria própria.
4.2 Resultados Experimentais do Protótipo 81

Figura 43: Gabinete aberto.


Fonte: Autoria própria.

Figura 44: Gabinete aberto indicando as placas componentes do amplificador.


Fonte: Autoria própria.

Para confirmação do método de projeto e sua implementação é necessário


4.2 Resultados Experimentais do Protótipo 82

que os resultados experimentais sejam coerentes aos encontrados em simulação.


Deste modo, o protótipo é conectado a um equipamento gerador de funções para
fornecer os sinais para os testes, carga de teste (resistor) e um osciloscópio para
observar e salvar as imagens.
O amplificador não utiliza áudio como entrada nem um alto-falante como
saı́da, pois essa seria uma avaliação subjetiva, a qual cada usuário poderia ter um
parecer diferente. Retirar formas de onda no osciloscópio de um sinal de áudio torna-
se bastante inconclusivo devivo as variadas formas que este sinal pode assumir.

4.2.1 SENSIBILIDADE

Este parâmetro determina qual nı́vel de tensão o sinal de entrada deve


ter para que o amplificador forneça sua potência nominal na saı́da, para uma carga
de valor nominal. A Figura 45 apresenta a forma de onda do sinal na entrada do
amplificador, ou seja, na saı́da do gerador de funções.

Figura 45: Sinal de entrada: onda senoidal 1 kHz.


Fonte: Autoria própria.

Trata-se de um sinal senoidal com frequência de 1 kHz (sinal padrão para


medições de desempenho e linearidade de equipamentos de áudio) e valor de 1,6
V pico a pico, aproximadamente. Nota-se que essa senóide está centrada em zero,
exatamente como o sinal de áudio.
A Figura 46 traz o resultado na saı́da do amplificador para esse sinal. A
4.2 Resultados Experimentais do Protótipo 83

forma de onda é apresentada com valor de tensão que leva o amplificador à máxima
potência com sua carga nominal: 20 V. Como o resistor utilizado tem valor menor que
o nominal, a potência fornecida é um pouco maior. Nota-se pequenos desvios nas
tensões de pico, devido à presença das componentes harmônicas no sinal de saı́da.

Figura 46: Forma de onda na saı́da com carga nominal.


Fonte: Autoria própria.

Verificando os valores de tensão de entrada e saı́da, nas Figuras 45 e 46,


verifica-se que a sensibilidade do amplificador é de 1,6 Vpp , pouco acima da projetada.
Caso deseje-se alterar esse valor, basta editar no software que realiza a modulação
algum parâmetro de ganho do conversor A/D. Esse fato apresenta-se como a primeira
vantagem observada na utilização da modulação digital.
O ganho de tensão do amplificador é, então, de 35,15, conforme a Equação
34

Vo 20
Gv = = = 35, 15. (34)
Vin 0, 569
A Figura 47 apresenta a forma de onda da saı́da, para o mesmo sinal de en-
trada, porém com a saı́da em aberto (amplificador sem carga). Há uma distorção mais
acentuada na saı́da quando ela está em aberto; isso se deve ao fato de o amplificador
não estar fornecendo corrente na sua saı́da, condição que tira o filtro de seu ponto de
operação, pois ele é projetado para que seus indutores filtrem o sinal de corrente da
saı́da.
4.2 Resultados Experimentais do Protótipo 84

Fazendo a comparação da saı́da simulada com a implementada,


comprovou-se que a distorção no cruzamento por zero não acontece na prática.
Isso é um indicador positivo, pois mesmo que em potências mais elevadas essa
distorção possa passar despercebida ao ouvido humano, em sinais de baixa intensi-
dade pode ser prejudicial à qualidade do áudio do amplificador.

Figura 47: Forma de onda na saı́da sem carga.


Fonte: Autoria própria.

4.2.2 POTÊNCIA

Para realizar a medida de potência do amplificador, o ideal seria realizar


medidas de tensão e corrente. Entretanto, devido à falta de ponteiras capazes de
medir corrente, utiliza-se uma variação da Lei de Ohm, que relaciona a tensão e a
impedância da carga. Assim, como mostra a Equação 38 através do valor de tensão
medido no item anterior e a carga nominal a ser usada no amplificador, obtém-se

VRM S 2 202
Pmed = = = 50 W. (35)
Ro 8

4.2.3 EFICIÊNCIA

Utilizando como entrada um sinal senoidal de 1 kHz foram realizadas


medições para diferentes valores de potência, a fim de traçar uma curva e facilitar
4.2 Resultados Experimentais do Protótipo 85

a visualização do comportamento do amplificador com relação ao seu rendimento.


A Tabela 4 apresenta os valores de potência de saı́da, potência consumida pelo
amplificador, rendimento e também sua perda relativa. Com esses dados duas curvas
são traçadas. A Figura 48 é a eficiência do amplificador em função da sua potência
de saı́da.

Tabela 4: Rendimento do Amplificador

Potência de saı́da [W] Potência da fonte [W] Rendimento [%] Perda relativa [%]
50 55,18 90,62 10,36
40 45,37 88,16 10,74
30 34,07 88,05 8,14
20 22,89 87,38 5,78
10 11,43 87,45 2,86
Fonte: Autoria própria.

95

90
Eficiência [%]

85

80
10 15 20 25 30 35 40 45 50
Potência de Saída [W]

Figura 48: Eficiência em função da potência de saı́da.


Fonte: Autoria própria.

Observa-se que o rendimento cresce à medida que a potência de saı́da


se aproxima da nominal. Isso deve-se, principalmente, ao fato de que os circuitos
complementares como o modulador, a instrumentação e os drivers, funcionam em
ambos os casos demandando aproximadamente a mesma potência. O projeto ter sido
realizado com base nesse ponto de operação, também contribui para esse rendimento
superior em regime nominal.
A Figura 49 representa as perdas relativas do amplificador em função da
4.2 Resultados Experimentais do Protótipo 86

potência de saı́da. Essas perdas são o valor da perda absoluta dividido pela potência
nominal do amplificador; ou seja, é a perda em p.u. É importante ressaltar que as
baixas perdas relativas são um indicador positivo do aproveitamento de energia do
amplificador, tanto quanto o indicador de eficiência é. Mostram que em qualquer
ponto de operação ele pode ter um bom rendimento, muito maior que a maioria dos
amplificadores lineares.

12

11

10
Perdas Relativas [%]

2
10 15 20 25 30 35 40 45 50
Potência de Saída [W]

Figura 49: Perdas relativas em função da potência de saı́da.


Fonte: Autoria própria.

4.2.4 RELAÇÃO SINAL/RUÍDO

A relação sinal/ruı́do é usada para mostrar a qualidade do amplificador em


comparação ao ruı́do por ele produzido. Como o sinal que interessa é a saı́da, quanto
menor o ruı́do proporcional a ele melhor será a qualidade do amplificador. É expressa
em dB, podendo ser facilmente calculada tanto pela potência dos dois sinais, como
pela tensão. Entretanto, é difı́cil isolar o ruı́do do sinal no domı́nio do tempo para
medı́-lo e calcular a relação. Assim, normalmente, analisa-se a resposta no domı́nio
da frequência, e subtrai-se o ruı́do de maior amplitude do sinal fundamental. Essa
diferença já é expressa em dB e é, então, a relação sinal/ruı́do.
A Figura 50 mostra a resposta em frequência na saı́da de potência do am-
plificador para uma entrada senoidal de 1 kHz, à potência nominal (50 W). Com os
cursores mede-se o valor de diferença de tensão, em dB, entre o sinal de 1 kHz e o
maior pico de ruı́do presente.
4.2 Resultados Experimentais do Protótipo 87

Vê-se que a diferença entre esses sinais é de 39,2 dB, que é a relação
sinal/ruı́do. Amplificadores de alta fidelidade possuem relações sinal/ruı́do maiores
que essa, porém este valor ainda é considerável. Quanto maior a potência de saı́da
aplicada, menor torna-se o ruı́do em relação ao sinal. No teste audı́vel, não foi
possı́vel notar ruı́dos que interferissem na qualidade do som.

Figura 50: Relação sinal/ruı́do.


Fonte: Autoria própria.

4.2.5 RESPOSTA EM FREQUÊNCIA

Quando a potência de um amplificador é mensurada, escolhe-se um valor


de frequência tı́pica para esta medição, ou seja, é uma medida pontual. Entretanto,
quando objetiva-se observar o comportamento do amplificador em todo o espectro do
áudio (20 Hz a 20 kHz) faz-se uma varredura nessa faixa de frequência para analisar
os resultados na saı́da.
A resposta em frequência da magnitude é a relação entre o sinal da saı́da
e o sinal da entrada, geralmente expressa em dB, como em

 
Vo
G(dB) = 20 log (36)
Vi

É um importante parâmetro, pois permite identificar as ondulações do ga-


nho na faixa do áudio e quais grupos de frequências (graves, médios ou agudos) serão
atenuados ou amplificados em relação ao sinal como um todo. Realiza-se a medição
4.2 Resultados Experimentais do Protótipo 88

com o amplificador em metade de sua potência nominal utilizando a impedância de


carga nominal, onde provavelmente ele não possui sua melhor caracterı́stica de linea-
ridade.
A Figura 51 apresenta a resposta em frequência da magnitude para estas
condições.

30

29

28

27

26
Ganho [dB]

25

24

23

22

21

20
1 2 3 4 5
10 10 10 10 10
Frequência [Hz]

Figura 51: Resposta em frequência do amplificador.


Fonte: Autoria própria.

Nota-se que a curva da Figura 51 assemelha-se muito em comportamento


na banda de áudio com a curva padrão de amplificadores que é apresentada na Figura
57.
Percebe-se pequenas oscilações de ganho durante a banda de áudio. Há
uma oscilação notável entre 10 kHz e 20 kHz, onde há uma atenuação do sinal em
torno de 2 dB. Isso deve-se ao limite de banda passante dos dois filtros: o filtro anti-
aliasing e o filtro de saı́da. Ambos tiveram sua frequência de corte ajustada em 25
kHz, devido a limitações do projeto e mostraram atenuação antes dos 20 kHz em suas
respostas em frequência. Tais fatos associados geraram a atenuação vista na saı́da
do amplificador, que ainda é menor que o limite que define a banda de um amplificador,
conforme o Apêndice A.4.
Em geral, é uma boa resposta, mostrando que o amplificador pode atuar
como um receiver para toda a banda de áudio como projetado, sem causar descon-
forto ao usuário ou prejuı́zo significativo à qualidade do áudio.
4.2 Resultados Experimentais do Protótipo 89

4.2.6 DISTORÇÃO HARMÔNICA TOTAL

Para medir o nı́vel de distorção harmônica total (THD) presente no amplifi-


cador, recorre-se à norma ABNT NBR IEC 60268-3 que define como deve-se proceder
para obtenção destes resultados. Ela fornece diferentes métodos para avaliação deste
parâmetro, dependendo da situação que a medição será realiazada e do objetivo final
do equipamento.
Assim, escolhe-se o método de medição denominado ”Distorção harmônica
de n-ésima ordem em função da amplitude e da frequência”. Neste método, é reco-
mendada a medição do sinal de saı́da levando-se em consideração algumas compo-
nentes harmônicas, através de um filtro passa-faixa ajustável conectado à saı́da ou
através de um analisador de espectro de frequência. Será utilizado a FFT do osci-
loscópio como espectro de frequência para realização do cálculo. O sinal de entrada
padrão continua sendo uma onda senoidal de 1 kHz de frequência. É possı́vel fazer
essa medição em outros valores de frequência, desde que especificado na descrição
do equipamento.
O resultado é determinado pela somatória da distorção individual dessas
harmônicas, conforme a Equação 36

1
[ ∞ 0 2 2
P
n=2 Uo,n ] · 100%
T HD = , (37)
Uo
onde:
0
Uo,n é o valor de tensão do componente harmônico analisado;
Uo é o valor de tensão da saı́da total do amplificador; n é a ordem do harmônico.
A norma determina essa somatória até ∞ quando usa-se o filtro na saı́da,
atenuando uma única componente como declara o procedimento. O valor de tensão
resultante será a somatória de todo o espectro. Entretanto, quando utiliza-se analisa-
dor de espectro, a norma recomenda a avaliação do 2o ao 5o harmônico.
Para obtenção da distorção real no amplificador de áudio implementado,
decidiu-se incrementar essa somatória até a 20a harmônica, para o caso que o sinal
de áudio é uma onda de 1 kHz. Assim, é possı́vel analisar toda a distorção que possa
ser identificada pelo ouvido humano.
A Tabela 5 apresenta os valores de THD obtidos pelo método descrito,
para uma onda senoidal de 1 kHz e o amplificador trabalhando em 1 W, 25 W (meia
potência) e 50 W (potência nominal).
4.2 Resultados Experimentais do Protótipo 90

Tabela 5: THD do Amplificador

1W 25W 50W
1,717% 1,943% 2,096%
Fonte: Autoria própria.

Percebe-se que os valores ficaram bem abaixo dos 10% tolerados na


especificação do projeto, o que demonstra a qualidade que ele possui, embora não
possa ser considerado um amplificador de extrema fidelidade.

4.2.7 RESULTADOS COMPLEMENTARES

Após apresentados os resultados de performance do amplificador, alguns


resultados intrı́nsecos ao processo de funcionamento dele serão mostrados. Como
explicado, em vez de apenas dar ganho ao sinal de áudio como os amplificadores
lineares fazem, o amplificador chaveado o converte em pulsos quadrados, como parte
do processo de modulação. Serão demonstradas formas de onda do sinal desde sua
entrada, passando pelos processos de modulação, isolação óptica até a saı́da do
circuito driver.
Como mostrado anteriormente, o sinal que entra no amplificador passa pri-
meiramente por um circuito de condicionamento de sinais. Ali ele é filtrado para retirar
o ruı́do de modo comum, o aliasing e ele recebe um offset. A Figura 52 apresenta o
sinal após o condicionamento.

Figura 52: Sinal de áudio após etapa de condicionamento.


Fonte: Autoria própria.
4.2 Resultados Experimentais do Protótipo 91

O sinal exibido é lido pelo conversor A/D do microcontolador. Ele converte


esse sinal analógico em quatro trens de pulsos digitais (PWMs), através da modulação
por largura de pulso de três nı́veis. Dois desses sinais, designados às chaves 1 e 2,
ou seja, complementares entre si, são apresentados na Figura 53 e na Figura 54.

Figura 53: PWMs 1A e 1B na saı́da do microcontrolador.


Fonte: Autoria própria.

Figura 54: Tempo morto dos PWMs 1A e 1B.


Fonte: Autoria própria.

Nota-se a presença do tempo morto entre um pulso e outro, o qual foi


4.2 Resultados Experimentais do Protótipo 92

inserido no código da modulação para ser de aproximadamente 3% do perı́odo de


comutação. A Figura 54 mostra mais claramente o tempo morto.
Em ambas as figuras, os sinais possuem nı́vel alto idealmente em 0 V e
nı́vel baixo em -3,3 V (os transitórios do chaveamento em alta frequência deformam
a onda e causam os picos de chaveamento positivo e negativo). O sinal negado é
requerido pela caracterı́stica inversora do optoacoplador, conforme demonstrado na
simualação. Quando chegar ao driver, o sinal novamente estará com nı́vel lógico ”1”
positivo e nı́vel lógico ”0” em 0 V. Assim, a Figura 55 apresenta esses dois sinais
PWM na saı́da inversora do optoacoplador.

Figura 55: PWMs 1A e 1B na saı́da do optoacoplador.


Fonte: Autoria própria.

O tempo morto já é visivelmente menor. Isso deve-se ao optoacoplador ter


um slew rate pequeno, o que aumenta o tempo de resposta dele e ”aproxima” os pul-
sos dos dois sinais. Porém, esse tempo ainda é suficiente para evitar o chaveamento
simultâneo do braço, como será visto em seguida.
As saı́das do driver já possuem formas bem menos ideais dos PWMs que
as vistas até então, mas bem similares àquelas encontradas na simulação na Seção
4.1.2, como são exibidas na Figura 56.
4.2 Resultados Experimentais do Protótipo 93

Figura 56: PWMs 1A e 1B na saı́da do driver.


Fonte: Autoria própria.

Como o driver emprega o bootstrap para gerar a referência da chave su-


perior, o valor dessa referência oscila conforme a carga e descarga dos capacitores.
Também, apresenta-se na Seção 3.3 um gráfico que relaciona o pico de tensão ne-
gativa no chaveamento ao resistor de saı́da para o IR2110. Para manter esse pico
como na imagem o resistor utilizado foi de 47 Ω, o que reduz substancialmente o pico
de corrente fornecida para o acionamento da chave, gerando um atraso na subida da
tensão, já que são fatores entrelaçados. Isto é o que causa a impressão de slew rate
nos sinais, mesmo o IR2110 tendo velocidade de comutação superior a demandada.

4.2.8 ESPECIFICAÇÃO

Após as medições de todos os parâmetros que caracterizam o amplificador,


é possı́vel criar a Tabela de Especificações Gerais do Amplificador, que traz todas as
suas caracterı́sticas relevantes e é apresentada na Tabela 6.
4.2 Resultados Experimentais do Protótipo 94

Tabela 6: Especificações dos parâmetros do amplificador

ESPECIFICAÇÕES GERAIS:
Classificação Classe D
Impedância Mı́nima da Carga 8Ω
Potência Máxima (RMS) 50 W
Resposta de Frequência 20 Hz - 20 khz (± 2 dB)
Distorção Harmônica (THD+N) ≤ 2% @ 1/2 potência @ 1kHz
Relação Sinal/Ruı́do ≥ 39 dB
Sensibilidade 1,62 Vpp
Impedância de Entrada 2 GΩ
Conectores RCA
Refrigeração Forçada
Alimentação 127 V @ 60 Hz
Dimensões (L x H x P) 371mm x 105mm x 217mm
Peso 4,0 kg
Fonte: Autoria própria.
95

5 CONCLUSÕES

O alto rendimento comparado à outras classes e a evolução da eletrônica,


principalmente das técnicas de modulação, fazem o amplificador de áudio classe D
mostrar-se como uma boa alternativa para quem quer alta densidade de potência em
um amplificador compacto, confiável e eficiente. Este trabalho objetivou apresentar
um amplificador de média potência para ser utilizado como receiver, ou seja, para
uso doméstico. Os resultados obtidos, em simulação e experimentalmente, mostram
que esse projeto é uma alternativa interessante para o que foi proposto, necessitando
apenas de algumas melhorias.
O amplificador desenvolvido neste trabalho é composto por uma etapa de
modulação, uma etapa de acionamento das chaves, a ponte completa (chaves), um
filtro demodulador, além das fontes e etapas auxiliares. A etapa de modulação foi re-
alizada de maneira digital por um microcontrolador que se mostrou bastante versátil e
funcional para o que foi proposto. Esta etapa contava com um circuito de condiciona-
mento de sinais para preparar o sinal de entrada para ser modulado no microcontro-
lador. Quatro sinais de PWM de 3 nı́veis eram a saı́da, os quais eram conectados à
outra placa.
A etapa de acionamento recebia os quatro sinais de PWM e os isolava
da referência seguinte (de potência) através de otpoacopladores. Na sequência, os
drivers eram responsáveis por tornar estes sinais capazes de acionar as chaves da
ponte. Na etapa de potência, as chaves eram comutadas de acordo com os sinais
vindos dos drivers. Cada chave tinha um snubber conectado em paralelo a seu dreno
e fonte, para redução dos picos de chaveamento. Por fim, no centro da ponte, estava
o filtro demodulador e a carga.
Para fornecer a potência de 50 W, conforme projetado, o amplificador re-
cebia sua tensão de barramento de uma fonte linear não regulada com um banco
capacitivo que armazenava a energia necessária aos picos de corrente requisitados
pelos graves. Para um melhor resultado da qualidade do áudio na saı́da, o barramento
deveria possuir um banco capacitivo maior, o que não foi efetuado devido aos altos pi-
cos de corrente na carga inicial destes capacitores. Um circuito de pré-carga seria
uma solução interessante para trabalhos futuros.
5 Conclusões 96

Verificou-se os resultados de cada etapa, além dos resultados do amplifica-


dor como um todo em análises numéricas e experimentais. Para simulação, os softwa-
res PSIM
R e LTspice
R foram utilizados. A partir de seus resultados foi possı́vel ob-

servar o funcionamento do amplificador, antes da implementação do protótipo. Pode-


se concluir que simulações são úteis para antecipar o funcionamento de um circuito,
ainda mais quando realizada com componentes que simulam o comportamento dos
seus respectivos reais.
Os resultados experimentais foram bastante satisfatórios, uma vez que o
amplificador alcançou a potência desejada de 50 W com rendimento superior a 90%,
resposta de frequência plana em praticamente toda faixa de áudio, baixo nı́vel de ruı́do
com uma relação sinal/ruı́do maior que 39 dB e THD 5 vezes menor que a tolerada,
atingindo o valor de 2%. Os resultados do protótipo vieram de encontro aos obtidos
nas simulações de validação, o que sincronizou com harmonia o projeto, a simulação
e o experimental. Quanto a testes utilizando sinais de áudio também mostrou-se fiel
ao sinal original. O trabalho atingiu seus objetivos, visto que cada item descrito neles
foi atendido.
Como sugestão para os próximos trabalhos, pode-se utilizar o protótipo pro-
jetado para implementar funções digitais de tratamento de áudio no microcontrolador,
como equalizadores, crossovers, processadores de áudio, dentre outros. Também
pode ser realizado um estudo da interferência do ruı́do de chaveamento na qualidade
do sinal de saı́da. Ainda, pode-se utilizar as etapas de condicionamento, modulação e
acionamento para implementar um amplificador de maior potência. Seria necessário
apenas o projeto de uma fonte com maior capacidade e uma etapa de potência ade-
quada, como chaves, filtro e snubber mais robustos.
97

REFERÊNCIAS

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100

APÊNDICE A - DEFINIÇÕES DE PARÂMETROS

A seguir, alguns parâmetros avaliativos de amplificadores serão, breve-


mente, descritos, dos quais resultam valores numéricos que facilitam a comparação
de amplificadores. Esses parâmetros foram escolhidos por serem os mais recorrentes
em fichas de especificações de amplificadores.

A.1 POTÊNCIA

A potência fornecida, mais conhecida como potência de saı́da, é um dos


parâmetros mais valorizados na hora de escolher um amplificador, por isso fabricantes
buscam sempre aumentar esse quesito. Para definir a potência, várias condições
devem ser determinadas, pois elas influenciam no resultado, tais como: frequência do
sinal a ser amplificado, máximo THD, tensão de alimentação, dentre outros.
Há vários tipos de potência que fabricantes apresentam, geralmente bus-
cando aquela que apresenta um valor ”maior”. Isso pode levar o usuário a adquirir um
amplificador que possui a maior potência numérica, o que não se reflete na prática. Al-
gumas dessas medições não levam em conta procedimentos das normas e são nada
mais do que marketing.
A potência padrão é a potência média, que é também (erroneamente) cha-
mada de potência RMS. Como o sinal de áudio varia no tempo, ela é calculada através
de uma média da tensão em uma carga resistiva. Portanto, quando relaciona-se os
valores RMS de tensão e corrente ou de tensão com a carga nominal, não é obtida a
potência eficaz e sim, a média, como na Equação 38

VRM S 2
Pmed = VRM S · IRM S = (38)
Ro

A.2 SENSIBILIDADE

Quando associado à amplificadores, o termo sensibilidade significa o nı́vel


de tensão do sinal de entrada que leva o amplificador à sua máxima potência. Quanto
maior o ganho do amplificador, menor a tensão de entrada para máxima potência, ou
seja, mais sensı́vel ele será.
Há amplificadores com ganho constante, ou seja, conforme a tensão do
sinal de entrada, será a potência fornecida por ele.
A.3 Relação Sinal/Ruı́do 101

Os valores de sensibilidade dos amplificadores disponı́veis no mercado, em


geral, variam de 0,775 V até 2 V.

A.3 RELAÇÃO SINAL/RUÍDO

A relação sinal/ruı́do (S/N) é a forma mais comum, mesmo que indireta, de


especificar o nı́vel de ruı́do existente em um amplificador. Ela expressa o quanto o
nı́vel do sinal amplificado está acima do nı́vel de ruı́do.
Pode ser apresentada em dB por
 
S S
(dB) = 20 log , (39)
N N

quando S e N estão em V; e por


 
S S
(dB) = 10 log , (40)
N N

se S e N estão em W.
É comum ver a relação S/N especificada para a potência nominal do ampli-
ficador, pois assim a relação será a maior possı́vel de ser obtida.

A.4 RESPOSTA EM FREQUÊNCIA

A resposta em frequência revela o comportamento de um amplificador em


função da frequência, do sinal de saı́da em função do sinal de entrada. Na prática,
para obter essa resposta, aplica-se um sinal senoidal à entrada, com amplitude cons-
tante e mede-se o nı́vel do sinal de saı́da, enquanto a frequência do sinal de entrada é
variada, e plota-se esses resultados em uma escala logarı́tmica. Desse modo, obtém-
se a curva de magnitude (ganho) da resposta em frequência.
Também é possı́vel obter a resposta de fase medindo o desvio dela, porém,
em amplificadores de áudio, essa curva é bem menos divulgada do que a resposta
de magnitude. Isso acontece porque variações de fase são menos perceptı́veis ao
ouvido humano do que variações de ganho no sinal, quando irradiado de uma única
fonte. Além de que quanto menor a variação do ganho, menor será o desvio de fase.
Na curva de magnitude, os pontos onde o ganho apresenta uma redução de
3 dB são os limites da faixa útil do amplificador. Entretanto, espera-se que a região das
áudiofrequências seja plana (20 Hz a 20 kHz). Assim, os produtos tem especificada a
A.5 Distorção 102

sua resposta em frequência nessa faixa audı́vel, com atenuações de no máximo 3 dB.
A Figura 57 mostra uma curva tı́pica da magnitude de resposta em
frequência para um amplificador.

Figura 57: Padrão de resposta em frequência para amplifica-


dores.
Fonte: Adaptado de (SCHWAAB, 2012).

A.5 DISTORÇÃO

Um circuito amplificador ideal deve fornecer em sua saı́da, um sinal idêntico


ao sinal de entrada, mas com uma amplificação em sua amplitude, podendo ter um
atraso de tempo. Devido à não-idealidade dos dispositivos semicondutores, como
banda de frequência limitada, não-linearidades, além de ruı́do inserido, os amplifica-
dores reais não replicam exatamente o mesmo sinal, ou seja, o sinal de saı́da sofre
distorção.
Distorção harmônica é o aparecimento de harmônicos no espectro de
frequência, pois um sinal que não seja senoidal puro é composto por uma frequência
fundamental e seus harmônicos (frequências múltiplas inteiras do sinal fundamental).
A distorção pode ser caracterizada de várias formas. Uma delas é a
Distorção Harmônica Total (THD), que é, comumente, utilizada para mensurar o nı́vel
de distorção de um amplificador. É determinada pela Equação 41 como

qP
n
Ai 2
p
i=2 A2 2 + A3 2 + ... + An 2
T HD = = (41)
A1 A1
onde, A é a amplitude de cada componente de frequência (podendo ser tensão, cor-
rente ou potência) e n é o número de harmônicos que serão considerados, conforme
o método de medição. Para obter a THD em percentual, basta multiplicar o valor
A.5 Distorção 103

encontrado através da Equação 41 por 100.


É comum de ver o termo THD+N nas especificações de THD dos amplifi-
cadores. O N significa o ruı́do (do inglês, Noise) gerado pelo circuito amplificador e
presente durante as medições, pois ele se distribui por todo o espectro de frequência.
A não ser que o aparelho utilizado para realizar a medição do THD seja preparado
para medir as componentes harmônicas geradas pela distorção desconsiderando o
ruı́do, deve-se utilizar o termo T HD + N .
104

APÊNDICE B - PROJETO DOS INDUTORES

O funcionamento do filtro de saı́da depende basicamente de um bom pro-


jeto e da qualidade de seus componentes, principalmente dos indutores. Visando a
qualidade, deseja-se construir os indutores para o filtro. O grande problema é que
a operação em alta frequência do indutor insere no circuito de potência elementos
parasitas: as não-idealidades. Tais peculiaridades trazem resultados indesejados no
comportamento do filtro e, consequentemente, do amplificador como um todo (BARBI;
FONTE; ALVES, 2002).
Existem inúmeras maneiras para projetar um indutor, divididos de forma
geral pelo tipo do núcleo utilizado. Baseado na utilização de um núcleo tipo EE, será
utilizado o método Ae Aw , o qual é baseado nas áreas do núcleo, apresentadas na
Figura 58.

Figura 58: Núcleo de ferrite tipo EE.


Fonte: Adaptado de (BEKOSKI, 2016).

O núcleo tem como função fornecer um caminho para o fluxo magnético.


Para operação em alta frequência, o núcleo de ferrite mostra-se o mais indicado. En-
tretanto, possui baixa densidade de fluxo de saturação (0,3 T) e baixa robustez a im-
pactos, fatores que devem ser levados em conta tanto no projeto, quanto no manuseio
para implementação.
Alguns parâmetros tı́picos devem ser conhecidos para utilização dessa me-
todologia de projeto. A Tabela 7 traz a definição desses parâmetros necessários.

Definidos os parâmetros, ainda necessita-se saber a frequência de


operação, a corrente eficaz que irá circular pelo indutor, a corrente de pico e, final-
mente, a indutância desse indutor. A frequência de operação é a mesma do chavea-
mento do amplificador, pois os indutores ficam em série com a carga. Portanto, fsw =
150 kHz.
Apêndice B - Projeto dos Indutores 105

Tabela 7: Parâmetros tı́picos para dimensionamento dos indutores

Parâmetro Sı́mbolo Valor Unidade


Fator de utilização da janela Kw 0,7
Densidade máxima de fluxo Bmax 0,3 T
Densidade máxima de corrente Jmax 400 A/cm2
Permeabilidade magnética do ar µo 4π·10−7 H/m
Fonte: Autoria própria.

A corrente eficaz é dada pela potência nominal do amplificador e a im-


pedância nominal a ser utilizada. Logo,

r
Po
Iorms = = 2, 5 A. (42)
Zo
A corrente de pico no indutor é encontrada com a tensão máxima sobre a
carga e a impedância nominal. Dessa forma,

Vmax
Iopk = = 3, 536 A. (43)
Zo
Por fim, o valor da indutância para cada indutor, conforme projetado no
Capı́tulo 3.1, é L = 36,01 µH.
Conhecidos todos os parâmetros necessários, dá-se inı́cio ao projeto fı́sico
do indutor. Como apresentado em Barbi, Fonte e Alves (2002), a escolha do tamanho
do núcleo é definida pelo produto das áreas Ae Aw , encontrado na Equação 44

L · Iopk · Iorms · 104


Ae Aw = = 0, 038 cm4 . (44)
Bmax · Jmax · Kw
Consulta-se o catálogo de núcleos de ferrite para indutores do fabricante
THORNTON (2017), onde seleciona-se o núcleo 30/15/14 e suas dimensões são
apresentadas na Tabela 8. O núcleo 30/15/7 seria o menor núcleo que atenderia o
valor das áreas Ae Aw , mas devido a ruı́dos que aparentavam serem provenientes de
saturação do núcleo, foi escolhido um núcleo maior.
Realiza-se o cálculo do número de espiras do indutor, pela Equação 45

L · Iopk · 104
N= = 7, 07 espiras. (45)
Bmax · Ae
Arredonda-se então para o primeiro inteiro maior, ou seja, 8 espiras serão
enroladas em cada indutor.
O entreferro é determinado por
Apêndice B - Projeto dos Indutores 106

N 2 · µo · A e
le = = 1, 34 mm. (46)
L
Para núcleos EE, pode-se dividir esse valor por 2 e inserı́-los nos dois braços laterais
do núcleo.

Tabela 8: Dimensões do núcleo de ferrite EE-30/15/14

Parâmetro Sı́mbolo Valor Unidade


Área da janela Aw 0,80 cm2
Área do entreferro Ae 0,60 cm2
Comprimento médio de uma espira Lt 5,60 cm
Volume do núcleo Ve 4,00 cm2
Distância entre janelas a 7,20 mm
Largura da janela b 6,15 mm
Altura da janela h 19,40 mm
Profundidade do núcleo d 5,25 mm
Fonte: Autoria própria.

Para o uso em alta frequência, os condutores devem ser dimensionados


levando-se em consideração o efeito pelicular ou efeito skin. Quando a frequência au-
menta, a corrente começa a se distribuir nas bordas do condutor, ou seja, a densidade
de corrente é maior no entorno do condutor do que no centro dele. Esse efeito diminui
a área útil do condutor, o que causa a limitação da área máxima que um condutor deve
possuir para dada frequência (BARBI; FONTE; ALVES, 2002)
A profundidade de penetração da corrente em um condutor de cobre é,
simplificadamente, determinada por

7, 5
δcu = √ = 0, 01936 cm2 (47)
fsw
e a área máxima da seção transversal de um condutor é

Amax = δcu 2 · π = 0, 001178 cm2 . (48)

Verificando esses limites em uma tabela de condutores de qualquer fabri-


cante, seleciona-se o fio de cobre esmaltado AWG 26 para ser utilizado no enrola-
mento destes indutores.
Contudo, ainda é necessário calcular a bitola necessária para conduzir a
corrente eficaz do indutor. Essa bitola depende da corrente e da máxima densidade
de corrente (Jmax ) admitida no condutor, conforme
Apêndice B - Projeto dos Indutores 107

Iorms
Acond = = 0, 00625 cm2 . (49)
Jmax
Como a área necessária para a corrente eficaz é maior que a área do con-
dutor, é necessário associar condutores em parelelo para evitar o sobreaquecimento
dos fios. Assim, o número de condutores é determinado por

Acond
ncondutores = = 4, 856 condutores. (50)
AAW G26
Arredondando para o maior inteiro, serão associados 5 condutores em paralelo.
Para finalizar o projeto, é recomendado verificar se ele é executável ou não.
Este cálculo pode ser realizado analisando-se qual o percentual da área do carretel
será utilizada. Se passar de 100%, intuitivamente sabe-se que não será possı́vel
realizá-lo, através da Equação 51

ncond ·N ·AAW G26 ·100


Acarretel = = 6, 435%. (51)
Aw
Conclui-se que é possı́vel executar este projeto de indutores; eles são
apresentados na Figura 59.

Figura 59: Indutores implementados.


Fonte: Autoria própria.

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