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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

LUÍS EDUARDO POMPEU DE SOUSA BRASIL HÁTERAS

RETIFICADORES MULTI-PULSOS

FORTALEZA
2019
LUÍS EDUARDO POMPEU DE SOUSA BRASIL HÁTERAS

RETIFICADORES MULTI-PULSOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Graduação em Engenharia Elétrica do
Centro de Tecnologia da Universidade Federal
do Ceará, como requisito parcial à obtenção do
grau de bacharel em Engenharia Elétrica.

Orientador: Prof. Dr. Demercil de Souza


Oliveira Júnior

FORTALEZA
2019
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

H288r Háteras, Luís Eduardo Pompeu de Sousa Brasil.


Retificadores multi-pulsos / Luís Eduardo Pompeu de Sousa Brasil Háteras. – 2019.
90 f. : il. color.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia,


Curso de Engenharia Elétrica, Fortaleza, 2019.
Orientação: Prof. Dr. Demercil de Souza Oliveira Júnior.

1. Retificadores Multi-pulsos. 2. Harmônicos. 3. Transformadores Defasadores. I. Título.


CDD 621.3
LUÍS EDUARDO POMPEU DE SOUSA BRASIL HÁTERAS

RETIFICADORES MULTI-PULSOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Graduação em Engenharia Elétrica do
Centro de Tecnologia da Universidade Federal
do Ceará, como requisito parcial à obtenção do
grau de bacharel em Engenharia Elétrica.

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Demercil de Souza Oliveira


Júnior (Orientador)
Universidade Federal do Ceará (UFC)

Prof. Dr. Ricardo Silva Thé Pontes


Universidade Federal do Ceará (UFC)

Prof. Dr. Domenico Sgrò


Universidade Federal do Ceará (UFC)
À minha família, pela dedicação, cuidado e cari-
nho.
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Carmen e Junior, por todo o investimento em minha formação, pelo
apoio e compreensão às minhas decisões e pelo carinho a mim dedicado.
Ao meu irmão, Frederico, pelo companheirismo, amizade e respeito os quais desejo
que se prolonguem por toda nossa vida.
Às minhas avós, Vanda Tahim e Clara Masih, e ao meu avô, José Háteras, pelo amor
e suporte.
Ao Prof. Dr. Demercil de Souza Oliveira Júnior pela orientação, respeito e paciência
ao tirar minhas dúvidas ao longo deste trabalho. Aos professores Dr. Ricardo Silva Thé Pontes e
Dr. Domenico Sgrò pelas importantes sugestões e críticas realizadas.
Aos meus amigos e companheiros do curso de Engenharia Elétrica por todos os
momentos bons e ruins que passamos juntos dentro e fora da universidade.
Ao Dr. Ednardo Moreira Rodrigues e ao engenheiro eletricista Alan Batista de
Oliveira pela adequação do template em Latex utilizado neste trabalho para que o mesmo ficasse
de acordo com as normas da biblioteca da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Aos colegas da ENEL Distribuição Ceará que me deram a oportunidade de lá estagiar,
conferindo-me uma rica oportunidade de aprendizado e desenvolvimento profissional. Ao meu
supervisor direto, Prof. MSc. Eudes Barbosa de Medeiros, o qual sempre se mostrou bastante
solícito ao sanar minhas dúvidas, compreensivo nos momentos que precisei me ausentar mais
cedo para realizar alguma atividade da faculdade e com quem pude também desfrutar de ricas
discussões. À engenheira Ana Lúcia Gondim Colaço, a qual pacientemente me auxiliou na
maioria das atividades ao longo do estágio, ao gestor da área, Marcelo Costa Palácio de Queiroz,
pela confiança e oportunidade conferida, aos demais colegas, Móriton, Naira, Kátia, Delano,
Marcos Oriano e, aos estagiários, Caio, Kleber, David, Pedro, Alex, Rodrigo e Júlio, pela
disponibilidade e apoio concedidos.
“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu,
mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre
aquilo que todo mundo vê.”
(Arthur Schopenhauer)
RESUMO

Com o intuito de reduzir os impactos na qualidade da energia elétrica decorrentes de harmônicos


produzidos por cargas não-lineares, propõe-se o estudo de retificadores multi-pulsos que são
associações de unidades conversoras CA-CC de seis pulsos defasados entre si por um ângulo
de fase adequado para eliminação das harmônicas características. Neste trabalho, realizou-se
um estudo comparativo das topologias de retificadores de 6, 12 e 18 pulsos com relação a
distorção harmônica causada na corrente de entrada do sistema, o fator de potência visto pela
rede, o aproveitamento percentual do transformador utilizado para o deslocamento de fase entre
as unidades conversoras, a influência das indutâncias de linha no processo de retificação e a
variação da tensão eficaz de ondulação na carga, a qual foi considerada como fortemente indutiva.
Ao final, generalizou-se os resultados para um retificador genérico de p pulsos, em que p é um
múltiplo de seis. Dessa forma, com o aumento do número de pulsos, conclui-se que há uma
redução da distorção harmônica total da corrente, melhoria do fator de potência, redução da
tensão de ondulação, diminuição da potência aparente vista pelo primário do transformador e uma
expressiva atenuação da potência equivalente necessária para o equipamento de transformação
quando em uma configuração não-isolada.

Palavras-chave: Multi-pulsos. Harmônicos. Retificadores. Autotransformadores.


ABSTRACT

In order to reduce the impacts on the quality of the energy supply due to harmonics produced by
nonlinear loads, it is proposed a study on multi-pulse rectifiers that are associations of six-pulse
AC-DC converter units which are offset by an appropriate phase angle to eliminate characteristic
harmonics. In this work, a comparative study of the 6, 12 and 18 pulse rectifier topologies was
performed in relation to the harmonic distortion caused in the system input current, the power
factor seen by the network, the percentage of the transformer utilization used for the displacement
angle between the converter units, the influence of line inductances on the rectification process
and the variation of the effective ripple voltage on the load, which was considered to be strongly
inductive. In the end, the results were generalized to a generic p pulse rectifier, where p is a
multiple of six. Thus, as the number of pulses increases, it can be concluded that there are a
reduction in total harmonic distortion of the current, improvement in power factor, reduction in
the ripple voltage, decrease in apparent power seen by the transformer primary and a significant
attenuation of the equivalent power required when using an autotransformer.

Keywords: Multi-pulses. Harmonics. Rectifiers. Autotransformers.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Formas de onda da corrente (I) e da tensão (V) de uma carga linear . . . . . 23
Figura 2 – Formas de onda da corrente (I) e da tensão (V) de uma carga não-linear . . . 24
Figura 3 – Representação de uma forma de onda distorcida . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 4 – Sistema elétrico simplificado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Figura 5 – Retificador de seis pulsos conectado ao transformador ∆/Y . . . . . . . . . 35
Figura 6 – Tensão de saída (Vo ) do retificador de seis pulsos com α = 0◦ . . . . . . . . 35
Figura 7 – Tensão de saída do retificador de 6 pulsos variando o ângulo de disparo dos
tiristores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 8 – Relações dos valores da tensão eficaz, média e ondulação na saída do retifica-
dor de seis pulsos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Figura 9 – Formas de onda das correntes no retificador de seis pulsos . . . . . . . . . . 41
Figura 10 – Distorção harmônica total da corrente com o ângulo de disparo dos tiristores
para retificadores de multi-pulsos com filtro LC na saída . . . . . . . . . . . 43
Figura 11 – Transferência de corrente entre dois tiristores durante intervalo de comutação 44
Figura 12 – Retificador de seis pulsos com presença de indutâncias de linha . . . . . . . 45
Figura 13 – Tensão de saída do retificador de 6 pulsos com indutâncias de linha . . . . . 46
Figura 14 – Influência das indutâncias sobre o índice de distorção harmônica total da
corrente no retificador de seis pulsos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Figura 15 – Configuração de um retificador de seis pulsos com carga capacitiva . . . . . 47
Figura 16 – Formas de onda da tensão e corrente de saída do conversor de seis pulsos . . 47
Figura 17 – Variação da distorção harmônica total com a resistência da carga (L = 300µH
e α = 0◦ ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Figura 18 – Variação da distorção harmônica total da corrente de entrada e do fator de
potência com a indutância de linha (α = 0◦ ) . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Figura 19 – Retificador de 12 pulsos com transformador delta-estrela . . . . . . . . . . 52
Figura 20 – Diagrama das tensões nos enrolamentos em delta e estrela no secundário do
transformador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Figura 21 – Tensão de saída do agrupamento em delta (vo∆ ), estrela (voY ) e da saída do
retificador (vo ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Figura 22 – Formas de onda da tensão CC do retificador de doze pulsos variando o ângulo
de disparo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Figura 23 – Relações dos valores da tensão eficaz, média e ondulação na saída do retifica-
dor de doze pulsos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Figura 24 – Representação das conexões nos enrolamentos ∆ −Y − ∆ do transformador
trifásico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Figura 25 – Formas de onda das correntes no retificador de doze pulsos . . . . . . . . . 56
Figura 26 – Conexão dos enrolamentos na configuração zigzag e o diagrama de fase . . 60
Figura 27 – Esquemático e diagrama conexão delta-polígono genérico . . . . . . . . . . 62
Figura 28 – Posicionamento indicado para os tap’s do autotransformador . . . . . . . . 64
Figura 29 – Autotransformador delta-diferencial com deslocamento de fase de 30◦ . . . 64
Figura 30 – Diagrama do delta-diferencial com deslocamento de fase de 30◦ . . . . . . . 65
Figura 31 – Autotransformador polígono-conectado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Figura 32 – Tensão de saída do retificador de 12 pulsos com indutâncias de linha . . . . 67
Figura 33 – Influência das indutâncias sobre o índice de distorção harmônica total da
corrente no retificador de doze pulsos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Figura 34 – Retificador de 18 pulsos com transformador ∆/Z − Z − Z . . . . . . . . . . 70
Figura 35 – Diagrama de fase dos enrolamentos zig-zag no secundário do transformador 71
Figura 36 – Tensão de saída do retificador de dezoito pulsos com α = 0◦ . . . . . . . . 71
Figura 37 – Relações dos valores da tensão eficaz, média e ondulação na saída do retifica-
dor de dezoito pulsos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Figura 38 – Representação fasorial das correntes de linha em um retificador genérico . . 74
Figura 39 – Formas de onda das correntes no retificador de dezoito pulsos . . . . . . . . 75
Figura 40 – Distorção harmônica total da corrente para retificadores multi-pulsos . . . . 77
Figura 41 – Fator de potência para retificadores multi-pulsos com α = 0◦ . . . . . . . . 78
Figura 42 – Potência aparente vista pelo primário para retificadores multi-pulsos com
α = 0◦ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
Figura 43 – Tensão de saída do retificador de 18 pulsos com indutâncias de linha . . . . 81
Figura 44 – Influência das indutâncias sobre o índice de distorção harmônica total da
corrente no retificador de dezoito pulsos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Exemplos de cargas não-lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23


Tabela 2 – Fator de forma, ondulação e crista para diferentes formas de onda . . . . . . 33
Tabela 3 – Fator de forma, ondulação e crista para tensão CC do retificador de seis pulsos 42
Tabela 4 – Fator de forma, ondulação e crista para tensão CC do retificador de doze pulsos 58
Tabela 5 – Potência nominal equivalente e a relação das espiras nas conexões diferenciais
relacionadas ao conversor de doze pulsos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Tabela 6 – Limites de distorção harmônica (Ih /I1 ) em porcentagem para sistemas de
distribuição com nível de tensão entre 120 V e 69 kV para harmônicas de
ordens ímpares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Tabela 7 – Fator de forma, ondulação e crista para tensão CC de um retificador multi-pulsos 79
Tabela 8 – Potência nominal equivalente e a relação das espiras nas conexões diferenciais
relacionadas ao conversor de dezoito pulsos . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CA Corrente Alternada
CC Corrente Contínua
CCAT Corrente Contínua em Alta Tensão
DFP Fator de Potência de Deslocamento
DHI Distorção Harmônica Individual
DHT Distorção Harmônica Total
DHTE Distorção Harmônica Total Efetiva
FC Fator de Crista
FD Fator de Distorção
FF Fator de Forma
FP Fator de Potência
FR Fator de Ondulação
HVDC High-Voltage Direct Current
IPT Interphase Transformer
TDD Taxa de Distorção da Demanda
LISTA DE SÍMBOLOS

a Relação de transformação

α Ângulo de disparo do tiristor

C Capacitância

d Número de níveis na forma de onda da corrente do primário do transformador

f Frequência

h Ordem harmônica

Ia1 Corrente fundamental eficaz contínua na saída do conversor

Io Corrente elétrica contínua na saída do conversor

L Indutância

θ Intervalo do pulso em radianos

φn Defasagem angular da n-ésima harmônica

P Potência ativa

Pmedio Potência ativa média na carga

p Número de pulsos

Q Potência reativa

R Resistência elétrica

S Potência aparente

t Tempo

u Ângulo de comutação

Vm Tensão máxima de linha no secundário do transformador

Vo Tensão na carga

VFrms Tensão eficaz de fase

VLrms Tensão eficaz de linha

w Frequência angular

Zeq Impedância equivalente


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.1 Contextualização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.2 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.3 Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.4 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.5 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.6 Estrutura do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2 HARMÔNICOS EM SISTEMAS ELÉTRICOS . . . . . . . . . . . . . . 21
2.1 Tipos de cargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.1.1 Cargas lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1.2 Cargas não-lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1.3 Fluxo de correntes harmônicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.2 Cálculos de potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.2.1 Valor médio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.2.2 Valor eficaz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.2.3 Potência aparente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.2.4 Fator de potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.3 Indicadores de distorção harmônica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.3.1 Distorção harmônica total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.3.2 Taxa de distorção da demanda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.3.3 Distorção harmônica individual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.3.4 Fator de forma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.3.5 Fator de crista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.3.6 Fator de ondulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.4 Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3 RETIFICADOR DE SEIS PULSOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.1 Princípio de funcionamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.2 Operação com cargas indutivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.2.1 Tensão na carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.2.2 Corrente de linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.2.3 Distorção harmônica total, fator de potência e parâmetros de performance 42
3.2.4 Utilização do transformador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.2.5 Influência das indutâncias de linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.3 Operação com cargas capacitivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.4 Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4 RETIFICADOR DE DOZE PULSOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.1 Princípio de funcionamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.2 Operação com cargas indutivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.2.1 Tensão na carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.2.2 Corrente de linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.2.3 Distorção harmônica total, fator de potência e parâmetros de performance 57
4.2.4 Utilização do transformador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.2.4.1 Conexão zig-zag . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.2.4.2 Conexão polígono . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.2.4.3 Conexão delta-diferencial plana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.2.5 Influência das indutâncias de linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.3 Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
5 RETIFICADOR DE DEZOITO PULSOS . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.1 Princípio de funcionamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.2 Operação com cargas indutivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
5.2.1 Tensão na carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
5.2.2 Corrente de linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
5.2.3 Distorção harmônica total, fator de potência e parâmetros de performance 76
5.2.4 Utilização do transformador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
5.2.5 Influência das indutâncias de linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
5.3 Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
6 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS . . . . . . . . . . . . . . . 84
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
16

1 INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização

Em uma sociedade cada vez mais dependente da energia elétrica para realização de
suas atividades, é natural que haja uma maior preocupação com relação à qualidade da energia
elétrica consumida. Com a evolução tecnológica, a globalização e o aumento da competitividade,
os prejuízos causados por distúrbios elétricos se tornaram críticos para diversos segmentos
industriais com processos contínuos, tendo como consequências perdas de produtividade, prazos,
matérias-primas e equipamentos (ALMEIDA et al., 2003). Nesse contexto, esforços tem sido
efetuados por parte das concessionárias e agências reguladoras com o intuito de fornecer energia
elétrica com parâmetros adequados e taxar os clientes que infligirem as normas estabelecidas de
controle de qualidade do sistema.
No entanto, com o crescimento das cargas eletrônicas, as quais são as principais
causadoras e vítimas das distorções elétricas (ALMEIDA et al., 2003), tem-se alterado o perfil
das cargas do sistema, se aproximando cada vez mais de uma característica não-linear, sendo essa
ainda mais significativa no setor residencial, o qual gradualmente vai se inserindo junto ao setor
industrial e comercial como fonte de correntes harmônicas (ROSA, 2006). Estas constituem um
problema comum nas indústrias devido a utilização de dispositivos comutadores, ferromagnéticos
ou à arco elétrico. Além disso, alguns processos industriais exigem que a alimentação seja em
corrente contínua, necessitando de conversores de potência CA-CC, que injetam harmônicos na
rede.
Ao utilizar um retificador trifásico controlado de onda completa de seis pulsos,
injeta-se uma quantidade elevada de harmônicos na corrente, deteriorando sua forma de onda
senoidal e potencialmente afetando a qualidade do fornecimento para os demais consumidores
conectados ao mesmo barramento. Desse modo, diversas técnicas foram desenvolvidas com o
intuito de minimizar esses impactos. Para este trabalho, emprega-se a técnica de retificadores
multi-pulsos que consiste na associação de conversores de potência de seis pulsos conectados por
meio de transformadores defasadores com o objetivo de eliminar as harmônicas características.
17

1.2 Aplicações

• Sistemas de transmissão de corrente contínua em alta tensão (CCAT) (do inglês high-
voltage direct current (HVDC)): com o desenvolvimento da eletrônica de potência, essa
modalidade de transmissão vem ganhando destaque devido à redução dos custos em longas
distâncias e de menores perdas elétricas em comparação com sistemas equivalentes de
transmissão em corrente alternada (KIM et al., 2009). Além disso, não há necessidade
de três fases e nem sofre com o efeito pelicular (do inglês skin effect). Para sua imple-
mentação, utilizam-se normalmente retificadores de 12 pulsos com o objetivo de suprimir
adequadamente as ondulações (ripple) após a conversão e minimizar o espectro harmônico
do sistema. Há ainda outras topologias de ordens elevadas que empregam arranjos de 24
pulsos e 48 pulsos de modo a facilitar a manipulação do conteúdo harmônico remanescente
(ACHA et al., 2002).
• Processos eletroquímicos: na eletroextração, aplicam-se níveis significativos de corrente
contínua nas células eletrolíticas com a finalidade de recuperar os metais em solução
aquosa (FRANCO; BARROS, 2016). Esse procedimento pode ser realizado a partir de
conversores de 12 pulsos formados pela associação em paralelo de retificadores de 6 pulsos
(BROWN, 1989) com a finalidade de maximizar a produção de cobre (FUENTES et al.,
2015). Além da eletroextração, os retificadores multi-pulsos são aplicados em processos
de eletrólise em larga escala, como do alumínio, o qual há estudo comparando topologias
de 12 pulsos e 84 pulsos (ZHIHENG et al., 2014).
• Conceito More Electric Aircraft: com o intuito de diminuir o peso do avião e permitir
um ganho em eficiência (VITOI, 2018), esse conceito está se desenvolvendo na indústria
aeronáutica de modo que alguns subsistemas da aeronave serão alimentados por energia
elétrica invés de energia mecânica, hidráulica e pneumática (TAHA, 2017). Para isso, o
sistema deve ser confiável, de fácil manutenção e de baixo custo (GONG et al., 2003),
sendo o conversor de potência CA/CC como uma parte importante do conjunto. Nesse
contexto, há estudos com diversas topologias para o retificador utilizado, sendo boa parte
constituído por conversores de 12 pulsos, mas também há análises com 24 pulsos e 36
pulsos (SETLAK; KOWALIK, 2019).
• Diversos: há ainda retificadores para a subestação de tração do sistema metroviário sendo
normalmente de 12 pulsos (FILHO, 2018), sistemas eólicos (ANO-VILLALBA et al.,
2016), sistema de radar (ZHANG et al., 2018), dentre outros.
18

1.3 Justificativa

Tendo em vista a adversidade da elevação do nível harmônico ocasionado na uti-


lização de retificadores de potência, as topologias de conversores de 6, 12 e 18 pulsos são
analisados com a intenção de avaliar a distorção harmônica gerada, as harmônicas características,
os parâmetros de performance, a potência necessária do transformador e o fator de potência visto
pela rede. A partir dos dados coletados, otimiza-se o projeto do conversor de modo a atender os
requisitos de qualidade do sistema, eliminando de forma considerável seu espectro harmônico.
Posteriormente, os resultados são generalizados por um retificador de p pulsos, em
que p é um número natural múltiplo de seis, com a intenção de prever a configuração de menor
complexidade e custo que satisfaça as normas estabelecidas.

1.4 Objetivos

• Descrever o funcionamento de um retificador de múltiplos pulsos com carga fortemente


indutiva.
• Medir os valores de tensão média e eficaz na carga com a intenção de avaliar o valor
máximo de ondulação (ripple) da tensão CC.
• Calcular o valor da corrente fundamental eficaz e corrente eficaz resultante no primário
do transformador bem como avaliar sua forma de onda distorcida pelas componentes
harmônicas.
• Verificar o aprimoramento da distorção harmônica total, dos parâmetros de performance e
do fator de potência para retificadores multi-pulsos.
• Demonstrar a influências das indutâncias de linha sobre os valores de distorção harmônica
total e da tensão na carga.
• Comparar a utilização de transformadores com conexões variadas de modo a otimizar a
potência equivalente para o projeto do conversor.

1.5 Metodologia

A metodologia utilizada consistiu em pesquisa bibliográfica, que serviu de base


para contextualização, análise e comparação dos resultados obtidos bem como a utilização de
simuladores para os circuitos tratados e softwares matemáticos para solucionar as expressões
mais complexas.
19

1.6 Estrutura do trabalho

Este trabalho está organizado em seis capítulos, em que o primeiro, já apresentado,


introduz o tema que será tratado e os demais estão resumidamente descritos a seguir.
Capítulo 2 - Harmônicos em Sistemas Elétricos. Neste tópico será realizado uma
abordagem teórica sobre o conceito de harmônicos, os tipos de cargas, como fluem as correntes
harmônicas na rede e as definições de valor médio, eficaz, potência aparente, fator de potência,
distorção harmônica total, taxa de distorção da demanda, distorção harmônica individual, fator
de forma, fator de crista e fator de ondulação.
Capítulo 3 - Retificador de Seis Pulsos. Este ponto aborda de modo abrangente o
princípio de funcionamento de um retificador trifásico controlado de onda completa de seis
pulsos ideal em que os conceitos apresentados servirão como base para a compreensão dos
demais capítulos. Para este retificador, será avaliado sua operação tanto com cargas fortemente
indutivas como fortemente capacitivas. Além disso, diversas análises serão feitas com o intuito
de comparar sua performance e impacto no sistema em relação às topologias de maior número
de pulsos.
Capítulo 4 - Retificador de Doze Pulsos. Consiste no estudo do funcionamento de
um retificador trifásico controlado de onda completa de doze pulsos ideal construído a partir
da associação em série de dois agrupamentos de retificadores de seis pulsos defasados entre si
por um ângulo de 30◦ . Considerando cargas fortemente indutivas, analisam-se as harmônicas
características na corrente de entrada no primário do transformador utilizado, os valores de tensão
média, eficaz e de ondulação na saída do conversor bem como suas formas de onda ao variar
o ângulo de disparo do tiristor, os índices de distorção harmônica total da corrente de entrada
do sistema, fator de potência visto pela rede e as medições dos fatores de forma, ondulação e
crista. Adicionalmente, realizam-se algumas comparações de possíveis conexões utilizadas para
o equipamento de transformação com o intuito de obter os menores valores possíveis de potência
nominal equivalente. Ao final, verifica-se o comportamento ao variar o valor das reatâncias de
linha.
Capítulo 5 - Retificador de Dezoito Pulsos. Consiste no estudo do funcionamento de
um retificador trifásico controlado de onda completa de dezoito pulsos ideal construído a partir
da associação em série de três agrupamentos de retificadores de seis pulsos defasados entre si
por um ângulo de 20◦ . De forma análoga ao capítulo anterior, realizam-se as mesmas análises de
modo a comparar o aperfeiçoamento da conversão bem como a redução do espectro harmônico
20

com o aumento do número de pulsos do conversor. Além disso, generalizou-se as equações


tratadas para uma situação genérica de um retificador de p pulsos, assim, obtendo conclusões
gerais sobre o comportamento desse tipo de retificador ao se elevar o número de agrupamentos
associados.
Capítulo 6 - Conclusões e Trabalhos Futuros. Este tópico se resume a discutir os
resultados obtidos e divulgar sugestões de trabalhos futuros de modo a aprimorar o estudo de
retificadores multi-pulsos.
21

2 HARMÔNICOS EM SISTEMAS ELÉTRICOS

O termo harmônico (ou também comumente utilizado como harmônica) é empregado


em diversos campos de estudo, tendo bastante destaque na música e na acústica. No sistema
elétrico, ele é definido como uma componente senoidal de uma forma de onda periódica em que
sua frequência é um múltiplo inteiro da frequência fundamental do sistema, como expresso pela
equação

fh = h. f1 (2.1)

em que h é um inteiro e f1 é a frequência fundamental do sistema (ROSA, 2006). Então, se


uma onda periódica é rica em componentes harmônicos de alta intensidade, implica que sua
forma é bastante distorcida em relação ao padrão senoidal do sistema elétrico em corrente
alternada, podendo provocar efeitos indesejados no modo de operação e a redução da vida útil
dos equipamentos alimentados.
Há ainda situações em que se verifica a existência de harmônicas não características,
também conhecidas como interharmônicas, que não satisfazem a equação 2.1 e que podem
aparecer como frequências discretas ou como um espectro de banda larga entre as frequências
harmônicas (GUNTHER, 2002). Elas se originam normalmente pelo desbalanceamento das
tensões de entrada, pela diferença de reatância de comutação entre as fases ou pelas discrepâncias
entre os intervalos de disparo dos dispositivos interruptores (ROSA, 2006). Existe também o
termo subharmônica, que é um caso especial de interharmônica, em que sua frequência é menor
que a frequência fundamental da rede. O cicloconversor é um exemplo conhecido de fonte dessas
componentes (RASHID, 2007; GUNTHER, 2002).
No contexto histórico, uma das primeiras observações dos problemas acarretados
por harmônicas surgiu em 1893 em Hartford, capital do estado americano de Connecticut.
Engenheiros estavam enfrentando um problema de sobreaquecimento de um motor síncrono o
qual era alimentado por um gerador trifásico de uma planta hidroelétrica a 16,3 km de distância
(OWEN, 1998). Na ocasião, percebeu-se que ambas as máquinas funcionavam adequadamente
de forma isolada, mas, quando conectadas por uma linha de transmissão de alta tensão, eram
notados distúrbios em seus desempenhos (EGUILUZ et al., 1999).
Apesar da limitação de instrumentos de medição na época, Charles Steinmetz de-
monstrou que o problema estava relacionado à ressonância na linha de transmissão, a qual se
tornava ressonante em frequências próximas de 1600 Hz correspondendo ao 13o harmônico da
22

frequência fundamental (125 Hz). Em paralelo a isso, as formas de onda da tensão dos geradores
do período eram ricas em componentes harmônicas de ordens elevadas. No entanto, proble-
mas de ressonância em linhas de transmissão não eram comuns na Europa onde se utilizavam
frequências menores para o sistema elétrico de potência. Desse modo, uma das soluções propos-
tas por Steinmetz consistia exatamente em reduzir a frequência do sistema pela metade (62,5
Hz) a fim de reduzir os problemas por ressonância harmônica (OWEN, 1998). Com o tempo,
foram detectadas outras adversidades correlacionadas às harmônicas, como interferências nas
comunicações por telefone, sobretensões em bancos de capacitores, aquecimento de condutores,
atuação indevida de dispositivos de proteção, dentre outros (MCGRANAGHAN et al., 1984;
ANTUNES et al., 2014).
Inicialmente, as distorções harmônicas eram causadas principalmente pela saturação
magnética em materiais ferromagnéticos, como transformadores e máquinas rotativas, e a
utilização de dispositivos à arco, como fornos à arco elétrico (ROSA, 2006). Contudo, com
o aumento do emprego de cargas não-lineares, ou seja, aquelas em que a forma de onda da
corrente não é diretamente proporcional à tensão aplicada (ANTUNES et al., 2014), como em
retificadores, elevou-se o espectro de conteúdo harmônico no sistema e, consequentemente,
afetou a qualidade da energia elétrica fornecida.

2.1 Tipos de cargas

Quando se realiza um estudo de qualidade de energia elétrica, alguns parâmetros


devem ser levados em consideração, tais como o valor de tensão em regime permanente, fator de
potência (FP), distorção harmônica, desequilíbrio e flutuação de tensão, variação de frequência e
variações de tensão de curta duração (ANEEL, 2007). No Brasil, eles são estabelecidos pelo
Módulo 8 do PRODIST o qual define limites adequados de operação de modo a atender critérios
de qualidade do sistema.
Como referência, um padrão de tensão que atende a essas exigências é aquele em
que sua forma de onda é senoidal, com frequência e amplitude fixas respeitando os parâmetros
máximos de cada modalidade de atendimento (ANTUNES et al., 2014). Para a corrente, esta deve
ser diretamente proporcional à tensão podendo ter defasagens que não afetem substancialmente
o fator de potência. As cargas exercem papel relevante na conservação dessas características
tendo em vista seu potencial em distorcer os perfis de tensão e corrente fornecidos pela rede caso
sua impedância se altere com o tempo.
23

2.1.1 Cargas lineares

São aquelas em que a tensão e a corrente preservam suas características senoidais, ou


seja, a corrente é proporcional à tensão em todo o instante como mostrado na Fig.1. Elas podem
ser modeladas como resistores lineares, indutores não-saturáveis e capacitores de capacitância
fixa. (ANTUNES et al., 2014).

Figura 1 – Formas de onda da corrente (I) e da tensão (V)


de uma carga linear
V

Fonte: autor próprio.

2.1.2 Cargas não-lineares

São aquelas em que sua impedância varia com a tensão aplicada de modo que a
corrente não é diretamente proporcional à tensão, como mostrado na Fig. 2. Podem ser divididas
em convencionais ou chaveadas. As primeiras são aquelas em que a distorção da forma de onda
ocorre normalmente por meio da saturação magnética do material, não havendo o acionamento
de interruptores. Já as chaveadas, são aquelas em que se utilizam dispositivos comutadores
para desempenhar as funções necessárias do sistema. Estas ainda podem ser controladas ou não
controladas dependendo da presença de um circuito de controle para o disparo dos dispositivos
interruptores (ANTUNES et al., 2014). A tabela 1 mostra exemplos de cargas não-lineares.

Tabela 1 – Exemplos de cargas não-lineares


Dispositivos não-lineares

Conversores de potência Cicloconversores Carregadores de bateria


Inversores de frequência Transformadores Lâmpadas fluorescente
Máquinas rotativas Fontes de alimentação ininterrupta Fornos à arco
Fonte: adaptado (ROSA, 2006)
24

Figura 2 – Formas de onda da corrente (I) e da tensão (V)


de uma carga não-linear
V

Fonte: autor próprio.

2.1.3 Fluxo de correntes harmônicas

Quando se analisa a distorção na forma de onda causada por uma carga não-linear,
percebe-se, por séries de Fourier, que essa pertubação é resultado da superposição de componen-
tes senoidais puras de amplitudes distintas e de frequências múltiplas da frequência fundamental
como mostrado na Fig. 3. Em virtude disso, considera-se que as cargas não-lineares são fontes
Fundamentals of Harmonics
de harmônicos na rede.
170 Chapter Five
Figura 3 – Representação de uma forma de onda distorcida

60 Hz
(h = 1)

+ 180 Hz
(h = 3)
+
300 Hz
(h = 5)
+
420 Hz
(h = 7)
+ 540 Hz
(h = 9)
+
660 Hz
(h = 11)
+ 780 Hz
(h = 13)
+
·
·
·
Fonte: Dugan
Figure 5.2 et al.
Fourier (2012).
series representation of a distorted waveform.

Usually, the higher-order harmonics (above the range of the 25th to


Posto50th,
isso, considera-se
depending ono sistema elétrico
the system) aresimplificado da Fig.
negligible for power4 em que o gerador
system
analysis. While they may cause interference with low-power elec-
fornece ao sistema uma potência ativa a qual terá uma parcela dissipada ao longo da linha de
tronic devices, they are usually not damaging to the power system. It
is also será
transmissão e o restante difficult to collect
fornecido sufficiently
às cargas. accurate
Com efeito, umadata to model
corrente poweré drenada
distorcida
systems at these frequencies. A common exception to this occurs when
there are system resonances in the range of frequencies. These reso-
nances can be excited by notching or switching transients in elec-
tronic power converters. This causes voltage waveforms with multiple
25

pela carga não-linear, a qual se propaga ao longo da impedância do sistema, causando uma queda
de tensão para cada componente harmônica. Desse modo, mesmo que a tensão VS no barramento
da fonte seja puramente senoidal, a tensão VL no barramento das cargas será distorcido.
Não obstante, essa distorção será proporcional ao valor da corrente e da impedância
do sistema de distribuição. Este é projetado tendo em vista uma boa regulação de tensão, o
que implica que essa impedância é normalmente pequena em relação à da carga, o que reduz
significativamente a distorção da forma de onda da tensão VL . Como consequência, as cargas
lineares do mesmo barramento não serão significativamente afetadas, e a carga não-linear poderá
ser modelada como uma fonte ideal de corrente harmônica (DUGAN; MCGRANAGHAN, 1988).

Figura 4 – Sistema elétrico simplificado


VS VL
Zeq Carga Linear

Geração com Carga Não-Linear


tensão senoidal
pura
Fonte: adaptado de Dugan et al. (2012).

Apesar disso, há situações em que essa impedância é relevante, o que prejudica os


demais consumidores e potencialmente sensibilizará as centrais de geração ou transformação, po-
rém isso é improvável haja vista que os sistemas de potência são capazes de absorver quantidades
consideráveis de correntes harmônicas (DUGAN; MCGRANAGHAN, 1988).
Uma outra preocupação é descobrir qual carga está injetando essas correntes na
rede. Como elas conduzem ao longo do caminho de menor impedância, que normalmente é a
impedância do sistema, então, seu fluxo geralmente é da carga para a fonte. Há exceções, pois
caso haja, por exemplo, um banco de capacitor em série com a impedância da linha pode existir
um caminho de menor impedância para alguma componente harmônica e, portanto, a corrente
fluir em um sentido indesejado (DUGAN; MCGRANAGHAN, 1988).
26

2.2 Cálculos de potência

2.2.1 Valor médio

Em circuitos em que haja distúrbios nas formas de onda, a potência média é calculada
pela Eq. 2.4 sendo a tensão e a corrente instantâneas representadas por séries de Fourier como
expressas nas Eqs. 2.2 e 2.3, respectivamente,

v(t) = Vcc + ∑ Vh cos(hwt + αh ) (2.2)
h=1

i(t) = Icc + ∑ Ih cos(hwt + βh ) (2.3)
h=1
Z T +t0
1
Pmedio = v(t)i(t)dt (2.4)
T t0

em que Vcc e Icc são os termos contínuos da tensão e corrente na devida ordem.
Resolvendo a Eq. 2.4, obtém-se o valor da potência média expressa na Eq. 2.5 e, de
forma análoga para a potência reativa média, pela Eq. 2.6 (HART, 2011)
∞   ∞
Vh Ih
Pmedio = Vcc Icc + ∑ cos(αh − βh ) = Pcc + ∑ Ph (2.5)
h=1 2 h=1
∞   ∞
Vh Ih
Qmedio = Vcc Icc + ∑ sin(αh − βh ) = Qcc + ∑ Qh . (2.6)
h=1 2 h=1

Vale ressaltar um caso especial das Eqs. 2.5 e 2.6 quando a tensão da fonte é senoidal
e a carga não-linear, o que é característico de situações em que a forma da tensão não foi
comprometida pelas correntes harmônicas, à vista disso, Vh = 0 para h 6= 1 e Vcc = 0, uma vez
que o valor médio de uma senoide em um ciclo completo é zero. Finalmente, a potência média
ativa e reativa são representadas nas Eq. 2.7 e 2.8 (HART, 2011)
 
V1 I1
Pmedio = cos(α1 − β1 ) (2.7)
2
 
V1 I1
Qmedio = sin(α1 − β1 ). (2.8)
2
27

2.2.2 Valor eficaz

Em circuitos em que há presença de harmônicos, os valores eficazes da tensão e da


corrente são calculados pelas Eqs. 2.9 e 2.10
s Z s
1 T 2 1 T ∞ 2 2 ∞
Z
Vrms = Vcc dt + V cos (hwt + )dt = V 2+ 2 (2.9)
T 0 ∑ h
T 0 h=1
α h cc ∑ Vh−rms
h=1
s Z s
1 T 2 1 T ∞ 2 2 ∞
Z
Irms = Icc dt + I cos (hwt + )dt = I 2 + 2 (2.10)
T 0 ∑h
T 0 h=1
βh cc ∑ Ih−rms
h=1

em que Vh−rms e Ih−rms representam o valor eficaz de tensão e corrente da h-ésima harmônica.
Em sistemas trifásicos equilibrados, as tensões de linha não contém as triplas harmô-
nicas, pois, como não há defasagem entre elas, são canceladas. Com isso, para h 6= 3k tal que k é
um número natural, sua tensão eficaz é calculada por (ANTUNES et al., 2014)
s
√ √ ∞
VL−rms = 3VF−rms = 3 Vcc2 + ∑ Vh−rms 2 (2.11)
h=1

Convém observar pelas Eqs. 2.9, 2.10 e 2.11 que as componentes harmônicas elevam
o valor da tensão e da corrente eficaz aumentando a potência dissipada nos equipamentos o que
pode levar a um sobreaquecimento e falhas na isolação (ANTUNES et al., 2014).

2.2.3 Potência aparente

A potência aparente (|S|) corresponde ao módulo da potência complexa que relaciona


a potência ativa e reativa de um circuito. Por convenção, esta última é positiva para cargas
indutivas e negativa para cargas capacitivas. Em resumo, quando se necessita dimensionar algum
equipamento utiliza-se normalmente o valor de potência aparente, a qual é definida, para sistemas
monofásicos, como

S = V I ∗ ⇒ |S| = Vrms Irms (2.12)

em que V e I ∗ representam a tensão e o conjugado da corrente, respectivamente, enquanto que


Vrms e Irms são a tensão e corrente eficazes. Já para sistemas trifásicos

|S| = 3VLinha−rms ILinha−rms (2.13)

decorrendo para ondas puramente senoidais a equivalência


p
S = P + jQ ⇒ |S| = P2 + Q2 (2.14)
28

sendo, na devida ordem, P e Q as potências ativa e reativa.


No entanto, a potência aparente é fortemente influenciada pelas distorções nas formas
de onda. Em virtude disso, pode ser desmembrada em suas componentes eficazes (IEEE. . . ,
2010; ANTUNES et al., 2014)
  
∞ ∞
|S|2 = (Vrms Irms )2 = V12 + ∑ Vh2  I12 + ∑ Ih2 
  
h=0 h=0
h6=1 h6=1
     
∞ ∞ ∞ ∞ (2.15)
V12 I12 + V12 Ih2  + I12 Vh2  +  Ih2 Vh2 

=
     
∑ ∑ ∑ ∑
h=0 h=0 h=0 h=0
h6=1 h6=1 h6=1 h6=1

= S12 + D2i + D2v + Sh2

sendo Vh a tensão eficaz da h-ésima harmônica, S1 a potência aparente na frequência fundamental,


Di a potência de distorção da corrente, Dv a potência de distorção da tensão e Sh a potência
aparente harmônica (ANTUNES et al., 2014).
É oportuno destacar que em situações nas quais a tensão é senoidal e a corrente é
distorcida, os termos Dv e Sh serão zero. Dessa maneira,
s

|S| = V12 I12 +V12 ∑ Ih2. (2.16)
h=2

2.2.4 Fator de potência

É a medida que indica o quão eficientemente a energia drenada da fonte é utilizada


como potência útil na instalação. É definida como a razão da potência média pela potência
aparente (HART, 2011)

Pmedio
fp = . (2.17)
|S|

Em instalações de cargas lineares, o fator de potência é o cosseno do ângulo de


defasagem entre as componentes fundamentais da tensão e da corrente (ANTUNES et al., 2014).
Já em circunstâncias nas quais há distorção na tensão e na corrente, o fator de potência é expresso
29

por (IEEE. . . , 2010)



Vcc Icc + ∑ Vh Ih cos(φh )
h=1 P1 + Ph
fp = s  =q 2 (2.18)
∞ ∞ S1 + SN2
Vcc2 + ∑ Vh2 2 + ∑ I2
Icc h
h=1 h=1

Ph = Vcc Icc + ∑ Vh Ih cos(φh ) (2.19)
h=2
v     
u
q u ∞ ∞ ∞ ∞
u
2 2 2
2
SN = Di + Dv + Sh = u
tV1 ∑ Ih2 + I12 ∑ Vh2 +  ∑ Ih2 ∑ Vh2 (2.20)
    
h=0 h=0 h=0 h=0
h6=1 h6=1 h6=1 h6=1

em que Vh e Ih são a tensão e corrente eficaz da h-ésima harmônica, enquanto que φh é o ângulo
de defasagem entre elas. Embora os termos contínuos tenham sido considerados, eles raramente
possuem valor significativo em sistemas de corrente alternada mesmo que sua ocorrência seja
comum (IEEE. . . , 2010). A esse respeito, considerando que não haja distorção na tensão, o fator
de potência é simplificado para

I1 I1
fp = r cos(φ1 ) = cos(φ1 ) = FD.DFP (2.21)
2

2 Irms
Icc + ∑ Ih
h=1

em que FD é o fator de distorção dado por I1 /Irms , e DFP é o fator de potência de deslocamento
que é o cosseno do ângulo de defasagem entre a tensão e corrente fundamental.
Como Irms ≥ I1 , então, fp ≤ DFP, tendo a igualdade quando a tensão e a corrente
são senoidais. Portanto, constata-se que uma carga não-linear pode ter um elevado fator de
potência de deslocamento (DFP) e, ao mesmo tempo, um baixo fator de potência resultante (fp)
(ANTUNES et al., 2014).
Além disso, ainda que haja componentes de potência ativa harmônica (Ph ), os
motores síncronos e de indução utilizam apenas a potência ativa de sequência positiva para gerar
potência útil (EMANUEL; MILANEZ, 2006). Assim, as componentes harmônicas acarretam em
aquecimento dos enrolamentos do estator e do rotor e também em torques reduzidos ou pulsantes,
elevando as perdas nas cargas e no sistema elétrico (ORTS-GRAU et al., 2011; IEEE. . . , 1993).
Adicionalmente, destaca-se que Ph pode conter componentes interharmônicas e subharmônicas
na forma que foi definida na Eq. 2.19 (IEEE. . . , 2010; ANTUNES et al., 2014).
30

2.3 Indicadores de distorção harmônica

2.3.1 Distorção harmônica total

É uma medida que representa o quão distorcido a forma de onda de um sinal está
em relação ao padrão senoidal de frequência fundamental devido às componentes harmônicas
presentes. A distorção harmônica total (DHT) pode ser definida para a tensão e a corrente,
respectivamente, como (IEEE. . . , 2010)
q
2 −V 2
Vrms rms,1
DHTv = (2.22)
Vrms,1
q
2 − I2
Irms rms,1
DHTi = (2.23)
Irms,1

Há ainda uma variante conhecida como distorção harmônica total efetiva (DHTE)
que é definida por (ANTUNES et al., 2014)
q
2 −V 2
Vrms rms,1
DHTEv = (2.24)
Vrms
q
2 − I2
Irms rms,1
DHTEi = (2.25)
Irms

Além do mais, a partir da Eq. 2.22 e Eq. 2.23, pode-se reformular os termos das Eqs.
2.15, 2.18, 2.19 e 2.20 gerando (IEEE. . . , 2010; ANTUNES et al., 2014)
q
S1 = P12 + Q21 (2.26)

Di = S1 .DHTi (2.27)

Dv = S1 .DHTv (2.28)

Sh = S1 .DHTv .DHTi (2.29)


 
Ph
1 + P1 cos θ1
fp = q (2.30)
1 + DHTi2 + DHTv2 + (DHTv .DHTi )2

2.3.2 Taxa de distorção da demanda

É um indicador que avalia a distorção harmônica da corrente em relação a máxima


demanda da corrente de carga de frequência fundamental (IL ), medida em intervalos de 15 a
31

30 min (TEIXEIRA, 2009; IEEE. . . , 1993). Este indicador é importante quando se precisa
mensurar o impacto dessas distorções no sistema elétrico haja vista que o DHT pode levar a
uma interpretação equivocada, pois apresenta valores elevados para baixas correntes as quais
normalmente não causam grandes pertubações para a rede (ANTUNES et al., 2014). A expressão
da taxa de distorção da demanda (TDD) é
s
N
∑ Ih2
h=2
T DD = (2.31)
IL
a qual se considera harmônicas até a 50o ordem, podendo ser expandida para ordens mais
elevadas quando necessário e excluindo interharmônicas (IEEE. . . , 2014). Em boa parte das
situações, pode-se considerar que IL > I1 o que implica que TDD < DHTi .
Para o valor de IL , é considerado a média das medições mensais de máxima demanda
da corrente de carga nos últimos 12 meses. Para instalações novas ou que não tenham essas
medições, alguns métodos podem ser aplicados para obter uma aproximação de seu valor, tais
como uma estimativa com base em um modelo de previsão de cargas (DUGAN et al., 2012), ou
a partir da corrente de plena carga do transformador ou ainda pela ampacidade do condutor da
instalação (ANTUNES et al., 2014).

2.3.3 Distorção harmônica individual

É uma grandeza que representa o valor eficaz de uma componente harmônica indi-
vidual de um sinal em relação ao valor eficaz de sua componente fundamental em percentual
(ANEEL, 2018). Assim, para um sinal de tensão e corrente, respectivamente, a distorção
harmônica individual (DHI) é dada por
 
Vh
DHIv = 100% (2.32)
V
 1
Ih
DHIi = 100% . (2.33)
I1

2.3.4 Fator de forma

O fator de forma (FF) é a razão entre o valor eficaz de um sinal e seu valor absoluto
médio (em inglês average rectified value). Seu valor é unitário para um sinal contínuo e 1,11
para uma senoide, calculado pela expressão genérica (ANTUNES et al., 2014)
Frms
FF = (2.34)
FARV
32

2.3.5 Fator de crista

O fator de crista (FC) é estabelecido como a razão entre o valor de pico e valor eficaz

de um sinal, tendo seu valor igual a 2 para um sinal senoidal, calculado pela expressão

|Fpico |
FC = (2.35)
Frms

Assim, quanto mais elevado esse fator, maior a tendência do sinal ter um perfil ponti-
agudo, sugerindo sobrecargas pontuais consideráveis que podem ocasionar aberturas inesperadas
dos dispositivos de proteção (ANTUNES et al., 2014).

2.3.6 Fator de ondulação

Do termo inglês ripple factor, o fator de ondulação (FR) é uma medida de ondulação
de uma forma de onda, expressa por

Fca
FR = (2.36)
Fcc

Como observado pela série de Fourier, um sinal pode ser decomposto em sua
componente contínua e alternada. Quando se calcula seu valor médio, as componentes alternadas
são canceladas, restando apenas a componente contínua. De outro modo, ao se calcular o valor
eficaz sobra o valor médio da componente contínua e o valor eficaz da componente alternada,
evidenciados pelas Eq. 2.37, 2.38 e 2.39, logo, o fator de ondulação pode ser relacionado ao
fator de forma como mostrado na Eq. 2.42

f = fcc + fca (2.37)

fmedio = fcc (2.38)

| frms |2 = | fmedio |2 + | fcarms |2 (2.39)


frms 2 fcarms 2
   
= 1+ (2.40)
fmedio fmedio
FF 2 = 1 + FR2 (2.41)
p
FR = FF 2 − 1 (2.42)

Ainda sobre a temática, a tabela 2 resume os valores de tensão média, tensão eficaz,
fator de forma (FF), fator de ondulação (FR) e fator de crista (FC) para diferentes formas de
onda.
33

Tabela 2 – Fator de forma, ondulação e crista para diferentes for-


mas de onda
Tipo de onda |Vmedio | Vrms FF FR FC

2
q
π2

Senoidal √1 π
√ −1 2
π 2 2 2 q8
1 1 π π2
Senoidal retificada de meia onda π 2 2 4 −1 2
2
q
π2

√1 π
8 −1
Senoidal retificada de onda completa √ 2
π 2 2 2
1

3

Triangular √1 √2 3
2 3 3 3
Quadrada 1 1 1 0 1
Fonte: adaptado Antunes et al. (2014)

2.4 Considerações finais

Neste capítulo, introduziu-se os conceitos de harmônicos e seus efeitos no sistema


elétrico, como o aquecimento de condutores e equipamentos, a atuação intempestiva de disposi-
tivos de proteção, sobretensão de bancos de capacitores, redução do fator de potência, dentre
outros. Além disso, caracterizou-se as cargas em lineares e não-lineares, sendo estas as respon-
sáveis pelas distorções nas formas de onda da tensão e da corrente e, consequentemente, pelos
impactos na qualidade de energia elétrica fornecida aos demais consumidores. Para mensurá-los,
foram apresentados indicadores de distorção harmônica e cálculos para análise de circuitos com
perfis não-senoidais, que serão extensamente abordados no estudo dos retificadores devido a sua
não-linearidade e contribuição no conteúdo harmônico da rede.
34

3 RETIFICADOR DE SEIS PULSOS

Devido a questões econômicas e históricas, a maior parte da energia elétrica trans-


mitida no Brasil é em corrente alternada (CA). Apesar disso, muitas aplicações tanto no setor
residencial quanto industrial são alimentadas em corrente contínua (CC) em que a utilização de
dispositivos de conversão CA-CC são necessários, denominados como retificadores.
No entanto, devido ao chaveamento de seus dispositivos interruptores, os retificadores
contribuem como fontes de harmônicos na rede, prejudicando a qualidade do fornecimento. Para
minimizar esses efeitos, foram definidos limites máximos de distorção tanto para corrente quanto
para a tensão estabelecidos por normas nacionais e internacionais, dentre as quais uma das mais
conhecidas é o padrão IEEE 519-2014.
Nesse contexto, há diversas topologias para retificadores, os quais podem ser clas-
sificados de acordo com a possibilidade de ajuste da tensão CC, o número de fases, o tipo de
conexão de seus elementos e a quantidade de pulsos por ciclo na tensão de saída (POMILIO,
1995). Este capítulo abordará o retificador trifásico de onda completa controlado de seis pulsos
utilizado como bloco constituinte básico para a construção de conversores de maior número de
pulsos os quais aprimoram a conversão e reduzem significativamente as distorções harmônicas
produzidas (PYAKURYAL; MATIN, 2013).

3.1 Princípio de funcionamento

Considere a topologia de um retificador de seis pulsos como mostrado na Fig. 5,


o qual pode ser operado com ou sem transformador, e assim denominado por possuir seis
combinações de tensões de linha na saída do conversor (Vab , Vbc , Vca , Vba , Vcb , Vac ) por ciclo da
tensão da fonte (HART, 2011). Neste capítulo, admite-se a utilização do transformador o qual
normalmente é empregado em aplicações em que se tenciona o isolamento galvânico e controle
da tensão (BARBI, 2006).
Desse modo, à medida que os tiristores são disparados, a tensão de saída é formada
pelos valores mais elevados das tensões de linha naquele instante (HART, 2011), como mostrado
na Fig. 6. Para que isso ocorra, dois tiristores conduzem ao mesmo tempo, cada um por intervalo
de 120◦ , sendo um da metade superior da ponte (T1, T3 ou T5) e o outro da metade inferior
(T2, T4 ou T6), ambos de ramos diferentes, de modo que a sequência de condução resulta em
(T1,T2), (T2,T3), (T3,T4), (T4,T5), (T5,T6), (T6,T1), repetindo o ciclo. Além disso, ajusta-se o
35

ângulo de disparo α do controle de gatilho dos tiristores com a intenção de variar a medida da
tensão CC.
A esse respeito, há dois casos em que o tiristor T1 conduz em um ciclo: (T1, T2) e
(T6,T1). O primeiro sucede quando a maior tensão de linha é igual a Vac e o segundo quando é
Vab . Então, aplicando a mesma ideia para os demais tiristores, cada tensão representará um pulso
de 120◦ /2 = 60◦ na saída do retificador. Como o período da fonte é de 360◦ , há 360◦ /60◦ = 6
pulsos por ciclo da tensão da fonte de alimentação.

Figura 5 – Retificador de seis pulsos conectado ao transformador ∆/Y


L

c
A T1 T3 T5

R
n a

C T4 T6 T2

Fonte: adaptado Rashid (2007).

Figura 6 – Tensão de saída (Vo ) do retificador de seis pulsos com α = 0◦

Fonte: autor próprio.

Nesse sentido, considerando o sistema balanceado, alimentado por tensões de sequên-


cia de fase ABC e tendo como referencial o ângulo de defasagem da tensão Van no secundário do
36

transformador, como mostrado na Fig. 5, as tensões no secundário são dadas por



Van = 2VSFrms sin(wt) (3.1)

 

Vbn = 2VSFrms sin wt − (3.2)
3

 

Vcn = 2VSFrms sin wt + (3.3)
3
√  π
Vab = Van −Vbn = 2VSLrms sin wt + (3.4)
6
√  π
Vbc = Vbn −Vcn = 2VSLrms sin wt − (3.5)
2 



Vca = Vcn −Van = 2VSLrms sin wt − (3.6)
6

de modo similar para as tensões da fonte, levando em conta o deslocamento de fase na ligação
delta-estrela, obtém-se
√  π
VA = 2VPFrms sin wt − (3.7)
6 



VB = 2VPFrms sin wt − (3.8)
6
√  π
VC = 2VPFrms sin wt + (3.9)
2

VAB = VA −VB = 2VPLrms sin (wt) (3.10)

 

VBC = VB −VC = 2VPLrms sin wt − (3.11)
3

 

VCA = VC −VA = 2VPLrms sin wt + (3.12)
3

sendo VPFrms e VSFrms as tensões eficazes de fase no primário e secundário, VPLrms e VSLrms as
tensões eficazes de linha no primário e secundário, e w = 2π f a frequência angular do sistema
em que f = 60 Hz, a frequência fundamental da rede.
Com o intuito de observar o comportamento do dispositivo em diferentes tipos
de cargas, separa-se a análise em cargas de característica indutiva e capacitiva, permitindo a
realização de cálculos e simulações computacionais para cada situação.

3.2 Operação com cargas indutivas

Quando conectado a uma carga fortemente indutiva, a corrente de saída do retificador


é praticamente sem ondulação podendo ser modelada como uma fonte ideal de corrente constante.
Isso ocorre pois, para grandes valores de indutância, há uma grande reatância indutiva, que reduz
37

significativamente a componente CA da corrente da carga, produzindo uma corrente praticamente


CC. Desse modo, de acordo com a Fig. 5, seu valor pode ser calculado por
Vomedio
Io = Iorms = Iomedio = (3.13)
R
em que Iorms representa o valor da corrente eficaz CC, Iomedio o valor da corrente média CC e
Vomedio a tensão média CC.
Conforme o ângulo α de disparo muda, a tensão de saída terá o valor médio alterado
como
1) mostrado na Fig.
Load Voltage Para α < 90◦ , a energia é transferida da fonte para a carga operando
and7. Current
como Since the gating
retificador, para pulses ◦ o valor
α > 90control themédio
conduction o f the
da tensão SCRs, the
é negativo output voltage
indicando o f the é
que a energia
six-pulsedaSCR
transferida cargarectifier relates
para a fonte to the como
operando so-called firingnão-autônomo
inversor angle or delay angle
e, para α=a .90◦ , a 2-2
Fig. tensão
shows
média the load
é zero voltageBARBI,
(LI, 2005; waveforms at different as. Obviously, the bigger the a , the lower
2006).
the line-to-line voltage will be. Note that the range o f the delay angle a is firom 0 to 7i
Figura 7 – Tensão de saída do retificador de 6 pulsos variando o ângulo de disparo dos
radians.
tiristores

ab

0 0

a= 0 a = 2t i /3

"TV,

a =1112) a= SnJ6

0 0

a =n
Fonte: Li (2005).
Fig. 2-2 Load voltage waveform s o f the six-pulse SCR rectifier with inductive loads at Z^=0.

3.2.1 Tensão na carga

Dado que o intervalo do pulso é de 60◦ , os limites de integração do valor médio e


eficaz da tensão de saída são calculados dividindo esse valor pela metade, devido à simetria
0 7 t/6 (7 i/6 )+ a {ntiyi-a

F ig. 2-3 Calculate the average load voltage VL,mg at L,=0.


38

em relação ao eixo central do pulso, em seguida, somando ou subtraindo o resultado por 90◦ ,
representando seu ponto máximo e, finalmente, soma-se ambos os limites ao ângulo α (YOUNG,
2013). Nessa circunstância, as tensões média e eficaz CC são
Z α+ π + π
1 2 6 3Vm
Vomedio = π
 Vm sin(wt)d(wt) =
cos(α) (3.14)
3 α+ π2 − π6 π
s
Z α+ π + π
s √
1 2 6
2 V
2 sin (wt)d(wt) = √m 3 3 cos(2α)
Vorms = π
 Vm 1 + (3.15)
3 α+ π2 − π6 2 2π

sendo Vm = 2VSLrms que representa a tensão máxima de linha no secundário do transformador.
Conforme o modo de conexão dos enrolamentos delta-estrela e sendo a a razão entre
as tensões de fase do primário (VPF ) e secundário (VSF ), a razão entre as tensões de linha é, em
valores absolutos, (CHAPMAN, 2013)

VPF
=a (3.16)
VSF
VPL VPF a
=√ =√ (3.17)
VSL 3VSF 3

na qual a tensão de linha do secundário está adiantada 30◦ em relação à tensão de linha do
primário do transformador. Posto isso, substituindo os valores das tensões de linha das Eqs. 3.4,
3.5 e 3.6 em VPL tem-se

3V ∠θ
PL p
|Vm ∠θs | = |VSL | = (3.18)


a

θs − θ p = +30◦ (3.19)

em que θ p e θs são, na devida ordem, os ângulos de fase das tensões de linha do primário e
secundário. Adicionalmente, considera-se uma relação de transformação unitária das tensões
de linha de modo que a diferença entre elas se resume ao deslocamento de fase. Para que essa

condição seja satisfeita, a = 3, representando a relação do número de espiras do primário sobre
o secundário.
Além da tensão média e eficaz, calcula-se também o valor eficaz da tensão de
ondulação (Vondrms ) definido na Eq. 3.20. Dessarte, a variação de Vomedio , Vorms e Vondrms com o
ângulo α (em radianos) está representado na Fig. 8. Observa-se que, com o aumento do ângulo
de disparo na região de retificação (α < 90◦ ), a ondulação na tensão de saída é incrementada
apontando uma supressão ineficiente da forma de onda senoidal após a conversão (HELD, 2016).
Para α = 90◦ , seu valor é máximo correspondente a 0, 2941Vm enquanto que, para α = 0◦ , seu
p := 6
39
Vm := 1
p⋅ Vm⋅ cos ( α)
vmedio( α) :=

valor é 0, 04Vm .
q √ p⋅ cos (2α)⋅ sin  2π  
q  
Vm 3  ⋅ 13π
vrms ( α) :=
Vm
+ − 6 cos(2α)  p  + 2 (π 2 − 9)
Vondrms = Vo2rms −Vo2medio =  2 sin  π   2 4π . (3.20)
  p  2π

2 2
vond ( α) := vrms ( α) − vmedio( α)
Figura 8 – Relações dos valores da tensão eficaz, média e
ondulação na saída do retificador de seis pulsos
1

0.5

vmedio ( α)
vrms ( α) 0
vond ( α)

− 0.5

−1
0 1 2 3
α

Fonte: autor próprio.

Como a tensão CC tem um sexto do período da tensão CA, então, suas harmônicas
têm frequências angulares da forma wk = 6kw com k natural (HART, 2011). Ademais, descreve-
se a forma de onda da tensão de saída como uma série de Fourier tal que n = 6k,
∞  h πi 
Vo (t) = Vomedio + ∑ Vn sin n wt + α + + φn (3.21)
n=6,12,... 6
q
Vn = a2n + b2n (3.22)
 
an
φn = arctan (3.23)
bn
adicionalmente,
Z α+ π + π
2 2 6
an = 2π
 Vm sin(wt) cos(nwt)d(wt) (3.24)
6 α+ π2 − π6
Z α+ π + π
2 2 6
bn = 2π
 Vm sin(wt) sin(nwt)d(wt) (3.25)
6 α+ π2 − π6

resolvendo as integrais, é obtido


6Vm
q
Vn = cos2 (α) + n2 sin2 (α) (3.26)
π (n2 − 1)
    
(−1 + n) cos α + n(2α+π)2 − (1 + n) cos α − n(2α+π)
2
φn = arctan      (3.27)
(−1 + n) sin α + n(2α+π)
2 + (1 + n) sin α − n(2α+π)
2
40

3.2.2 Corrente de linha

De forma similar, as formas de onda das correntes para α = 0◦ estão plotadas na Fig.
9. Por meio dela, observa-se a pertubação harmônica causada pelo retificador na corrente de
entrada ia (t) (Eq. 3.28) medida no secundário do transformador. Sua condução inicia em valores
positivos relacionados ao disparo do tiristor T1 nas tensões Vab e Vac começando na sequência
(T6-T1) e conduzindo por 120◦ (Eq. 3.29) e depois por valores negativos relacionados ao disparo
de T4 cujas tensões são Vca e Vba (Eq. 3.30).

ia (t) = iT 1 (t) − iT 4 (t) (3.28)


π 5π
ia (t) > 0 : + α + 2qπ ≤ wt ≤ + α + 2qπ (3.29)
6 6
7π 11π
ia (t) < 0 : + α + 2qπ ≤ wt ≤ + α + 2qπ (3.30)
6 6
em que q é um número inteiro. Assim, descrevendo essa grandeza por uma série de Fourier

ia (t) = Iamedio + ∑ In sin (nwt + φn ) (3.31)
n=1

Iamedio = 0 (3.32)
"Z 5π Z 11π +α
#
1 6 +α 6
an = Io cos(nwt)d(wt) − 7π Io cos(nwt)d(wt) (3.33)
π π6 +α 6 +α
"Z 5π 11π
#
1 6 +α 6 +α
Z
bn = Io sin(nwt)d(wt) − 7π Io sin(nwt)d(wt) (3.34)
π π6 +α 6 +α
 
an
φn = arctan = −nα (3.35)
bn
Resolvendo essas equações, percebe-se que as componentes triplas e de ordem par
são eliminadas restando apenas às de ordem h = 6k ± 1 tal que h é a ordem da harmônica e k
um número inteiro. Portanto, os retificadores trifásicos balanceados têm a vantagem sobre os
monofásicos por não injetarem correntes triplas na rede, as quais normalmente são as de maior
amplitude (ANTUNES et al., 2014). Finalmente,
4Io sin nπ


3
ia (t) = ∑ sin(nwt − nα) (3.36)
n=1,5,7... nπ
√ √
4Io 3 6
ia1rms = √ = Io (3.37)
2π 2 π
s
Z 5π +α r
2 6
2 d(wt) =
2
iarms = Io Io (3.38)
2π π6 +α 3
ia
FD = 100% 1rms = 95, 49% (3.39)
iarms
41

Figura 9 – Formas de onda das correntes no retificador de seis pulsos

Fonte: autor próprio.

sendo ia1rms a corrente eficaz da componente fundamental, iarms a corrente eficaz resultante de
ia (t) e FD o fator percentual de distorção.
Pela Eq. 3.36, tem-se que (IEEE. . . , 1993)
Ia1
Iah = (3.40)
h
em que Iah é a amplitude da componente harmônica de ordem h da corrente ia .
Para o primário, a forma de onda da corrente de linha da fase A com α = 0◦ também
está representada na Fig. 9. Segundo a relação de transformação, seu valor eficaz é igual a

3iarms
ia primario = = iarms (3.41)
a
o mesmo decorre com as amplitudes das componentes fundamentais. Seu perfil de onda é
Io

composto por dois níveis ou degraus, para valores positivos, sendo o primeiro de valor 3
eo
segundo 2 √Io3 .
Como os tiristores conduzem por um terço do ciclo da tensão (LI, 2005), o valor
médio e eficaz da corrente em cada um é
Io
ITmedio = (3.42)
3
Io
ITrms =√ (3.43)
3
42

3.2.3 Distorção harmônica total, fator de potência e parâmetros de performance

Para esta situação, não há fluxo de corrente contínua nos enrolamentos do transfor-
mador e desprezam-se as perdas. Então, a partir das Eqs. 3.37, 3.38 e 3.35 e supondo uma tensão
senoidal na entrada do retificador, tem-se
q
i2arms − i2a1rms  p
1

DHTi = 100% = 100% 2
π − 9 ≈ 31, 08% (3.44)
ia1rms 3
ia 3
fp = 1rms cos(−α) = cos(α) ≈ 0, 9549 cos(α) (3.45)
iarms π

o que mostra que o controle do ângulo α afeta negativamente o fator de potência do sistema.
Logo, em aplicações de retificação em que haja forte preocupação com os distúrbios provocados
pelas harmônicas, é recomendado que se trabalhe com α = 0◦ no caso de tiristores ou opte pela
utilização de diodos na construção do dispositivo de conversão.
Apesar do valor do DHTi não estar em função de α, pois considerou-se uma carga
fortemente indutiva, não se pode concluir que seu valor é invariante com o ângulo de disparo
dos tiristores. Na realidade, esse indicador harmônico aumenta com o ângulo sinalizando uma
elevação na não-linearidade do retificador o que contribui para que as componentes harmônicas
da corrente sejam mais significativas. A Fig. 10 mostra essa variação para retificadores de 6,
12, 18 e 24 pulsos com filtro LC, podendo seus resultados diferenciar bastante de acordo com as
especificações de projeto (YOUNG, 2013).
Para a tensão CC, considerou-se alguns padrões de performance discutidos na seções
2.3.4, 2.3.5 e 2.3.6. A tabela 3 sintetiza os resultados de fator de forma, fator de ondulação e
fator de crista para o conversor de seis pulsos.

Tabela 3 – Fator de forma, ondulação e crista para ten-


são CC do retificador de seis pulsos
Fator Tensão de saída (Vo )

1√
q √
Fator de forma π 3 3 cos(2α) + 2π sec(α)
q6 √
1

Fator de ondulação 6 π 3 3 cos(2α) + 2π sec2 (α) − 36

√ 2 π
Fator de crista √
3 3 cos(2α)+2π

Fonte: autor próprio.


versus the firing angle  for the simulated 6-, 12-, 18-,
and 24-pulse controlled rectifiers is shown in Figure 4.
From Figure 4, it is clear that %THDi is lower for higher
43
pulse count controlled rectifiers than for lower pulse
count controlled rectifiers; the reduction in %THDi is
Figura 10 – Distorção harmônica total da corrente com o ângulo
greatly reduced by successively increasing pulse count.
de disparo dos tiristores para retificadores de multi-
pulsos com filtro LC na saída
40

35
6 pulsos
30

25
%THDi (%)

DHTi (%)
20
12 pulsos
15
18 pulsos
10
24 pulsos

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Ângulo de
α disparo (graus)
(degrees)
Fonte: adaptado Young (2013).
6‐pulse 12‐pulse 18‐pulse 24‐pulse

Figure 4. Percent total harmonic distortion in iap


3.2.4 Utilização do transformador
versus  for p–pulse controlled rectifiers
with a two-pole LC output filter.

Devido a questões econômicas e de otimização (DUGAN et al., 2012), o modo


de operação dos transformadores é próximo ao joelho da curva de magnetização do material
ferromagnético (ANTUNES et al., 2014). Para efeito desta análise, as condições serão idealizadas
com o intuito de apurar a potência aparente necessária do equipamento de transformação
xxiii
conectado ao retificador.
Para sistemas trifásicos, a potência aparente do transformador foi definida na Eq.
2.13. Adicionalmente, a partir das Eqs. 3.14 e 3.38, a potência aparente vista pelo primário é
dado por

|S| = 3VLinha−rms ILinha−rms
 r !


Vm 2
|S| = 3 √ Io (3.46)
2 3
πVomedio Io π 1, 0472
|S| = Vm Io = = Pmedio ≈ Pmedio
3 cos(α) 3 cos(α) cos(α)
em que Pmedio é o valor da potência média ativa na carga, estando em acordo com o encontrado
por Barbi (2015).
Com relação ao primário do transformador e considerando um retificador não-
controlado, consegue-se um melhor aproveitamento da potência de entrada nesta situação
(104, 72% Pmedio ) comparativamente a um retificador de três pulsos no qual a potência aparente
no primário é 121% Pmedio (BARBI, 2006).
44

3.2.5 Influência das indutâncias de linha

Em uma rede de alimentação real, sempre haverá a presença de indutâncias que


modificam o desempenho do retificador. Devido a elas, a transferência de corrente de um tiristor
para outro ocorre de forma gradual durante um período conhecido como intervalo de comutação
como mostrado na Fig. 11 (RASHID, 2007). Durante esse período, ambos os tiristores estarão
conduzindo gerando um curto-circuito transitório, que afetará a tensão de saída, causando
entalhes em sua forma de onda, do inglês notches, que reduz seu valor médio e podendo, em
casos severos, operar indevidamente dispositivos que usam como referência o cruzamento por
zero, como é o caso de alguns equipamentos de proteção.

Figura 11 – Transferência de corrente entre dois tiristores


durante intervalo de comutação

Fonte: IEEE. . . (1993).

Para análise, considera-se os indutores LA , LB e LC no secundário do transformador


como expresso pela Fig. 12. Durante a comutação, os tiristores T1 e T3 conduzem ao mesmo
tempo de modo que a tensão v no ponto de interseção é expressa por

v − v = L dia
a A dt
(3.47)
v − v = L dib
b B dt

como a corrente da carga é sem ondulação tem-se

dia dib d(ia + ib ) d(Io )


+ = = =0 (3.48)
dt dt dt dt

substituindo a Eq. 3.48 na Eq. 3.47, encontra-se que a tensão no indutor La é

dia LA
vLA = LA = vab (3.49)
dt LA + LB
45

e a tensão durante esse intervalo é dado por


va + vb
v= . (3.50)
2

Figura 12 – Retificador de seis pulsos com presença de indutân-


cias de linha

LC T1 T3 T5
vc
LA
va Vo Io
LB
vb
T4 T6 T2

Fonte: autor próprio.

Nesse sentido, a comutação se inicia quando a polaridade muda em wt = π + α e


a corrente vai de Io até zero. Portanto, o ângulo de comutação uAB para os tiristores T1 e T3 é
dado por
Z 0
Vm LA
Z π+α+uAB
sin(wt)d(wt) = LA dia (3.51)
w(LA + LB ) π+α Io
 
−1 (LA + LB )Io w
uAB = cos cos(α) − −α (3.52)
Vm
caso LA = LB = LC = L, os ângulos de comutação serão iguais a
 
−1 2Io Lw
u = cos cos(α) − −α (3.53)
Vm
Nessa circunstância, a Fig. 13 representa a tensão de saída (Vo ) para L = 50µH e as
demais tensões de linha da fonte, sendo o valor médio da tensão CC calculado por
 
1 3Vm LIo w
Z π+α
Vomedio = 2π  Vm sin(wt)d(wt) = cos(α) − (3.54)
3 uAB +α π Vm
portanto, a tensão CC terá um valor médio menor que o medido sem as indutâncias e, como
a reatância do indutor aumenta com a frequência, as componentes harmônicas da corrente de
entrada de ordens elevadas serão amortecidas, reduzindo significativamente suas amplitudes,
promovendo assim a diminuição da distorção harmônica total. Além disso, o ângulo de defasagem
entre a tensão e a corrente fundamental diminui, o que eleva o fator de potência de deslocamento
e, por fim, o fator de potência resultante do sistema. A Fig. 14 mostra a variação do DHTi com o
valor de indutância L com corrente de carga Io constante.
46

Figura 13 – Tensão de saída do retificador de 6 pulsos com indutâncias de linha

Fonte: autor próprio.

Figura 14 – Influência das indutâncias sobre o índice de distorção harmô-


nica total da corrente no retificador de seis pulsos
32

28

24

20

DHTi (%) 16

12

0
5 50 100 200 500 750 1000 1500 2000 2500 3000 4000 5000
L (µH)
Fonte: autor próprio.

3.3 Operação com cargas capacitivas

A Fig. 15 mostra uma configuração de um retificador de seis pulsos com o objetivo de


produzir uma tensão de saída praticamente constante. Para isso, emprega-se um grande capacitor
que tem como função estabilizar a tensão na carga. Para valores elevados de capacitância, a
carga pode ser substituída por uma fonte ideal de tensão constante de amplitude Vcap . Ademais,
consideram-se as indutâncias no secundário do transformador as quais evitam um curto-circuito
entre a tensão da fonte e a tensão da carga (LI, 2005).
Em um circuito genérico, o capacitor é carregado até que seu nível de tensão seja
superior à tensão de linha da fonte. Posteriormente, ele passa a alimentar a carga enquanto
polariza inversamente os tiristores do retificador. À medida que vai descarregando, as tensões
de linha vão se aproximando do valor de tensão do capacitor até ultrapassá-la, quando então
47

Figura 15 – Configuração de um retificador de seis pulsos com carga


capacitiva

LC T1 T3 T5
vc
LA
va C R = Vcap
LB
vb
T4 T6 T2

Fonte: autor próprio.

polarizam diretamente os tiristores e recarregam o capacitor. Para a situação idealizada na Fig.


15, a descarga do capacitor é praticamente desprezível e sua tensão livre de ondulação. A esse
respeito, as formas de onda da tensão no capacitor (Vcap ), tensão retificada e corrente da carga
(Io ) estão mostrados na Fig. 16, em que se observa que Io é máximo quando a tensão de linha é
igual à tensão no capacitor.

Figura 16 – Formas de onda da tensão e corrente de saída do conversor de seis pulsos

Fonte: autor próprio.

Contudo, em situações reais, o valor de Vcap varia com o carregamento. Em cargas


pesadas, uma corrente maior será demandada, elevando a queda de tensão nos indutores e
reduzindo o nível de tensão Vcap . Por outro lado, em cargas leves, a corrente será menor o que
acarreta uma elevação de Vcap a qual se aproxima do pico da tensão de linha possibilitando um
modo descontínuo de condução (LI, 2005).
Dessa maneira, uma carga pesada pode ser modelada como uma pequena resistência
em que as componentes CA das correntes de entrada do retificador são amortecidas pelas
indutâncias, ampliando a contribuição da componente fundamental sobre as harmônicas e, assim,
tornando sua forma de onda mais próxima do perfil senoidal, representada pelas resistências
menores da Fig. 17. De maneira oposta, uma carga leve é modelada por uma grande resistência
48

em que a contribuição do espectro harmônico na corrente é significativo, elevando o DHTi .


Além disso, com o decréscimo da carga, o valor médio da corrente de saída Io é reduzido até se
estabilizar, limitando o valor máximo de distorção e, consequentemente, o valor mínimo do fator
de potência para o modo contínuo de condução.

Figura 17 – Variação da distorção harmônica total com a


resistência da carga (L = 300µH e α = 0◦ )
46%

44%

42%

40%

DHTi 38%

36%

34%

32%

30%
10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150
Resistência da carga (Ω)

Fonte: autor próprio.

Além disso, plota-se a variação do DHTi e o fator de potência (fp) com relação ao
valor da indutância de linha. Como mostrado na seção 3.2.5, o aumento de L implica numa
redução da distorção harmônica da corrente de entrada no retificador influenciando na elevação
do fator de potência do sistema. Contudo essa variação vai decrescendo até se estabilizar uma
vez que um valor elevado de L diminui o fator de distorção, mas aumenta o fator de potência de
deslocamento, evidenciado na Fig. 18.

Figura 18 – Variação da distorção harmônica total da corrente de entrada e do fator de


potência com a indutância de linha (α = 0◦ )
60 0,94
0,93
50
0,92
40 0,91
0,9
DHTi (%) 30 fp 0,89
0,88
20
0,87
10 0,86
0,85
0 0,84
30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 390 420 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 390 420
L (µH) L (µH)

Fonte: autor próprio.


49

3.4 Considerações finais

Neste capítulo, analisou-se o funcionamento de um retificador trifásico controlado de


onda completa de seis pulsos e a distorção harmônica provocada em sua operação considerando
a variação no ângulo de disparo dos tiristores (α), na característica da carga e na presença de
indutâncias de linha no secundário do transformador. Adicionalmente, calculou-se a potência
aparente vista pelo primário do transformador, demonstrando um melhor aproveitamento do
equipamento de transformação comparativamente ao utilizado em um retificador trifásico de três
pulsos.
Para uma carga fortemente indutiva, a corrente de saída do conversor é constante,
devido à eliminação das componentes alternadas a partir do valor elevado de reatância indutiva,
enquanto que a corrente do primário é distorcida com harmônicas de ordens 6k ± 1, sendo k
um número inteiro. Desse modo, em um sistema trifásico balanceado, não há o aparecimento
de harmônicas pares ou triplas, o que constitui uma vantagem dessa topologia de retificação.
No entanto, as componentes de 5o e 7o ordem têm amplitudes expressivas que contribuem para
uma elevada distorção harmônica total da corrente de entrada do sistema correspondendo a
31, 08% nesta configuração. Associado a isso, a tensão de saída pode ser alterada por meio
da variação do ângulo de disparo do tiristor, assegurando uma ganho em controlabilidade do
processo, porém acarretando no acréscimo da tensão eficaz de ondulação, denotando assim uma
supressão ineficiente da tensão alternada da fonte e um aumento do nível harmônico da rede.
Com isso, a elevação do ângulo de disparo enriquece os índices de espectro harmônico da rede
concomitantemente com a redução do fator de potência.
Com o intuito de minimizar esse impacto, pode-se adicionar indutâncias de linha
na entrada do retificador com intuito de amortecer as componentes alternadas das correntes de
linha, ampliando a parcela da componente fundamental sobre as demais, minimizando o DHTi
e beneficiando o fator de potência. Para uma carga fortemente capacitiva, a tensão de saída
será praticamente constante e o nível harmônico relacionado com a intensidade da corrente
drenada pela carga. Em cargas pesadas, essa intensidade é elevada indicando uma menor parcela
harmônica, reduzindo o DHTi e, de maneira oposta às cargas leves, há um aumento desse
indicador. Por fim, ressalta-se que com a redução da carga, o valor médio da corrente de saída
será reduzido até se estabilizar, limitando o valor máximo de distorção e, consequentemente, o
valor mínimo do fator de potência do sistema.
50

4 RETIFICADOR DE DOZE PULSOS

Como tratado no capítulo 3, o retificador trifásico de seis pulsos tem a vantagem


de ser um conversor de baixo custo e bastante robusto (VARGHESE; GEORGE, 2013; SRI-
VASTAVA; KUMAR, 2012), contudo introduz correntes harmônicas significativas na rede e
possui baixo fator de potência (PANDEY et al., 2015). Nesse sentido, diversas técnicas foram
empregadas para minimizar esses impactos, como a utilização de filtros passivos, ativos e híbri-
dos (SINGH et al., 2004) conectados ao retificador. No entanto, em muitas situações quando
há um rigoroso controle de qualidade da energia elétrica, esses filtros são consideravelmente
dispendiosos, volumosos e com perdas significativas (SINGH et al., 2004). Nessa perspectiva, a
utilização de conversores CA-CC de multi-pulsos é uma solução conveniente para aprimorar a
distorção harmônica total e o fator de potência do sistema (GAMIT; CHAUDHARI, 2016).
Com a elevação do número de pulsos, as formas de onda na saída do retificador terão
suas ondulações reduzidas, aperfeiçoando a conversão. Isso é alcançado ao agrupar unidades
conversoras de seis pulsos e transformadores com deslocamentos de fase adequados entre si para
cancelamento de certas harmônicas características (ANTUNES et al., 2014; WU; NARIMANI,
2017). No caso do retificador de doze pulsos, utilizam-se dois módulos de conversores de seis
pulsos defasados de 30◦ entre si de modo que as harmônicas de ordens (12k − 6) ± 1, com k
inteiro, são canceladas restando como harmônicas dominantes às de 11o e 13o ordem (PANDEY
et al., 2015).
Para construí-lo, pode-se conectar os agrupamentos em série ou paralelo. Na primeira
situação, a saída terá um valor de tensão média correspondente ao dobro da tensão CC de
cada agrupamento, sendo importante em aplicações que exigem uma tensão elevada. Além
disso, é menos prejudicado pelas imperfeições presentes na tensão senoidal da fonte (PAICE,
2004) e mais simples de ser implementado. Para a segunda situação, um transformador de
interfase (IPT) é normalmente utilizado para permitir a operação independente de ambos os
agrupamentos, absorvendo as diferenças instantâneas nas formas de onda das tensões CC, sem
que haja desbalanceamentos no fluxo das correntes drenadas (KAZEM, 2013; CHOI et al., 1997).
Assim, são mais caros e complexos para implementar, porém com a vantagem de duplicar o
valor da corrente de carga (TZENG et al., 1997).
Para obtenção do deslocamento de fase na tensão de entrada do retificador, há
diversas conexões possíveis para os enrolamentos dos transformadores, tais como a delta-estrela,
zig-zag, polígono e outros (FARIAS et al., 2012). Há ainda aquelas topologias não-isoladas
51

como a delta-diferencial e estrela-diferencial que tem como benefício a elevação da densidade


de potência do conversor (OLIVEIRA et al., 2011) e um custo comparativamente menor em
relação ao mesmo nível de potência da carga em uma conexão isolada (HINK, 2002). No entanto,
essa falta de isolação pode trazer prejuízos à segurança da instalação bem como sua menor
impedância interna em comparação a um transformador convencional o que acarreta uma maior
corrente de curto-circuito.
Para este estudo, utiliza-se a conexão ∆/Y − ∆ e os dois agrupamentos de seis pulsos
são dispostos em série. Por fim, a distorção harmônica produzida será analisada e discutida de
forma similar ao realizado com o retificador de seis pulsos excetuando-se a operação com cargas
capacitivas por não ser um tratamento usual em retificadores de multi-pulsos.

4.1 Princípio de funcionamento

Considere um retificador de doze pulsos como esquematizado na Fig. 19. O trans-


formador utilizado tem a conexão do primário em delta e o secundário com dois enrolamentos,
sendo um também em delta (∆) e o outro em estrela (Y). Com esse arranjo, o deslocamento de
fase de 30◦ é obtido, eliminando certas componentes harmônicas do sistema como será mostrado
a seguir. Ademais, os agrupamentos de seis pulsos operam independentemente e de modo
idêntico ao apresentado na seção 3.1 com o diagrama das tensões expressas na Fig. 20 tal que o
primário está em fase com o secundário em delta. Em virtude disso, a topologia de doze pulsos
pode ser descrita a partir da superposição das contribuições individuais de cada agrupamento.
Nesse sentido, para um ângulo de disparo α = 0◦ , a tensão de saída de um retificador
de doze pulsos é representado na Fig. 21. Observa-se que sua forma de onda possui um maior
número de pulsos por ciclo da fonte e que seu valor é máximo nos pontos de cruzamento das
tensões CC dos agrupamentos. A partir disso, como há doze tensões de linha em cada ciclo,
o pulso terá um intervalo de 360◦ /12 = 30◦ . Como resultado, a conversão é aprimorada, e a
frequência da tensão de saída é 12 ∗ 60 = 720 Hz.

4.2 Operação com cargas indutivas

De forma similar ao mencionado no retificador de seis pulsos, a corrente de saída


do conversor (Io ) é praticamente CC podendo ser modelada como uma fonte ideal de corrente
constante (Eq. 3.13) e sendo o dispositivo capaz de operar como retificador (α < 90◦ ) ou inversor
52

Figura 19 – Retificador de 12 pulsos com transformador delta-estrela

c
T1 T3 T5

n a

A T4 T6 T2

C Io

T1' T3' T5'


a'

Rectificadores
b' de onda com pleta
c' y trifásicos: Conversión CA-CC
T4' T6' T2'
161

A<}> B<}> C<f>


Fonte: autor próprio.

Figura 20 – Diagrama das tensões nos enrolamentos em delta e estrela no secundário


do transformador
Vc'a'

Vca Vcn Vab

Van 120° Va'b'


30°
90°

Vbn

Vb'c'
(Y) (∆)
Vbc
Fonte: autor próprio.

Figura 21 – Tensão de saída do agrupamento em delta (vo∆ ),


estrela (voY ) e da saída do retificador (vo )

Fonte: Hart (2011).

Figura 4.21. (a) Rectificador trifásico de doce pulsos, (b) Tensión de salida para a = 0.

La siguiente serie de Fourier representa la corriente de las líneas de alterna que alim enta al
transformador Y-A
53

não-autônomo (α > 90◦ ). Para α = 90◦ , ambos os agrupamentos terão tensão média igual a
zero, resultando em uma tensão média nula na saída do conversor de doze pulsos. Além disso, as
formas de onda da tensão resultante (Fig. 22) variam com o ângulo α de disparo dos tiristores
de forma semelhante ao mostrado na seção 3.2. Para o estudo, admite-se que a relação de
transformação das tensões de linha é unitário.

Figura 22 – Formas de onda da tensão CC do retificador de doze pulsos variando o


ângulo de disparo

Fonte: autor próprio.

4.2.1 Tensão na carga

Dado que cada agrupamento opera independentemente, a tensão resultante CC será


a soma das tensões de saída Vo (t) dos dois módulos de 6-pulsos em série e defasados 30◦ entre
si como mostrado na Eq. 4.1 em que Vn e φn foram calculados nas Eqs. 3.26 e 3.27.

Vo (t) = VoY (t) +Vo∆ (t)


! !
∞    ∞
π
Vo (t) = Vomedio + ∑ Vn sin n wt + α + 6 + φn + Vomedio + ∑ Vn sin (n [wt + α] + φn )
n=6,12,... n=6,12,... (4.1)
∞  nπ   h πi 
Vo (t) = 2Vomedio + ∑ 2Vn cos sin n α + wt + + φn
n=12,24,... 12 12

Realizando as operações por meio de fasores se torna mais cômodo de calcular a


54

amplitude e a fase inicial da resultante da tensão CC em que


1
Vm 5π
∑ Vme j( 3 +α+k 6 ) = 2 sin  j(α+ 12 )
π π
VR = π e (4.2)
k=0 12

Vm
então, a amplitude é π
2 sin( 12 )
com fase inicial de 75◦ .
A partir dessas informações, calculam-se os valores da tensão média, eficaz e de
ondulação representados nas Eqs. 4.3, 4.4, 4.5 em que suas relações com o ângulo de disparo
α (em radianos) estão reproduzidos na Fig. 23. Nota-se que, para α = 90◦ , a tensão eficaz
de ondulação é máxima, cujo valor é 0, 29Vm sendo inferior ao do retificador de seis pulsos,
indicando uma melhor conversão CA-CC acompanhada de uma menor distorção harmônica
produzida. Para α = 0◦ , seu valor é 0, 0196Vm .

6Vm
Vomedio−12p = 2Vomedio = cos(α) (4.3)
sπ r
Z α+ π + π
1 1 2 12
2 Vm 1 3 cos(2α)
Vorms−12p = π Vm  1π
  Vm2 sin (wt)d(wt) = π
 + (4.4)
2 sin 12 6
π
α+ 2 − 12 π 2 sin 12 2 2π
Vm cos ( α)
√vmedio
q ( α)  6 √
72 Vm3π− 21 cos
  
Vm 1 + 3 2 (α) + 3π cos(2α) + π 2
3 cos ( 2 α)
Vondrms−12p = vrms( α)    (4.5)
2 sin  
π 22π 2 π
 12 
em que Vm que representa a tensão máxima de linha no secundário do transformador.
2 2
vond ( α)  ( vrms( α) )  ( vmedio( α) )

Figura 23 – Relações dos valores da tensão eficaz, média e


ondulação na saída do retificador de doze pulsos
2

1.6

1.2

0.8

vmedio( α ) 0.4

vrms( α ) 0
vond( α )
 0.4

 0.8

 1.2

 1.6

2
0 0.785 1.571 2.356 3.142
α
Fonte: autor próprio.

0.15


Vm 1  3 
π 2

0.015
0 α 3.1415
55

4.2.2 Corrente de linha

No secundário em estrela do transformador, a corrente de linha iaY é igual a ia (t)


calculada no capítulo anterior (Eq. 3.28), pois consistem essencialmente na mesma configuração
∆ −Y e com mesmo referencial de fase. Já para o secundário em delta, a corrente de linha ia∆ está
atrasada 30◦ de iaY . Como não há defasagem entre conexões ∆ − ∆ e a relação de transformação
é unitária, a corrente ia∆ é idêntica vista pelo primário do transformador. Desse modo, com o
intuito de calcular a pertubação causada pelo retificador na corrente do primário (iaR ) é preciso
relacioná-lo com as correntes de fase e linha dos enrolamentos como esquematizado na Fig. 24.

Figura 24 – Representação das conexões nos enrolamentos ∆ −Y − ∆


do transformador trifásico
Y

a'

b'

c'

Fonte: autor próprio.

Pela relação de transformação (Eq. 3.16), a corrente de fase iaFP do primário é dado
pela soma das correntes de fase dos enrolamentos do secundário tal que

ia
iaFP = iaF + √Y (4.6)
3
56

o que resulta em
     
iaY icY iaY − icY
iaR = iaFP − icFP = iaF + √ − icF + √ = (iaF − icF ) + √ (4.7)
3 3 3
iaY − icY
iaR = ia∆ + √ = ia∆ + iacY (4.8)
3

de modo que há uma defasagem de 120◦ entre icY e iaY com as relações representadas graficamente
na Fig. 25. Então, substituindo as variáveis da Eq. 4.8 por ia (t), tem-se uma expressão genérica
para iaR dado por

π  ia (wt) − ia wt + 2π
 
√ 3
iaR = ia wt − + (4.9)
6 3
∞ √ √ 2π
4Io sin( πn
3 )( 3 sin(n(wt−α))+3 sin(n(−α+wt− 6 ))− 3 sin(n(−α+wt+ 3 )))
π
iaR = ∑ 3πn (4.10)
n=1,5,7,..

Figura 25 – Formas de onda das correntes no retificador de doze pulsos

Fonte: autor próprio.

No entanto, os termos do somatório (Eq. 4.10) cujas ordens são diferentes de 12k ± 1
com k inteiro terão suas medidas zeradas. Com isso, para um retificador de doze pulsos ideal,
ou seja, em que todas as correntes harmônicas na entrada do sistema tenham ordens na forma
n = 12k ± 1, a equação de iaR é simplificada para

8Io cos 5πn



  nπ 
6
iaR (t) = ∑ cos + nwt − nα (4.11)
n=1,11,13,.. nπ 3
57

logo, a corrente fundamental eficaz é


8I cos 5π  2√6

o
iaR1rms = √ 6 = Io (4.12)

π 2 π
que, comparativamente à Eq. 3.37, tem o dobro do valor.
Para a corrente do primário, há três níveis ou degraus para medições positivas, as
Io 2Io
quais em ordem crescente são √ , I + √Io3
3 o
e Io + √ 3
. Em valores absolutos, há quatro trechos de
mesmo nível por ciclo da corrente tendo cada uma o intervalo de 30◦ , portanto, seu valor eficaz é
calculado como
v " 2π
u 2π 2π #
u
1 R3  Io 2 R3  Io
2 R3 
2Io
2
iaRrms =t √ d(wt) + Io + √ d(wt) + Io + √ d(wt) (4.13)
2π 3 3 3
0 0 0
s √ s √
( 3 + 1)2
 
4+2 3 1
iaRrms = Io = Io = Io 1 + √ (4.14)
3 3 3
então, detendo uma corrente eficaz 1,93 vezes superior à do retificador de seis pulsos.
Desse modo, o fator de distorção (FD) (Eq. 2.21) para o retificador de 12 pulsos
equivale a 98,86% sendo superior ao do conversor de 6 pulsos, assim, indicando que a contribui-
ção da corrente fundamental é mais significativa neste caso, pois a defasagem de 30◦ entre os
agrupamentos eliminou as harmônicas de ordem (12n − 6) ± 1 (HART, 2011). Logo, a partir
da Fig. 25, é visível a melhoria do perfil senoidal da forma de onda da corrente no primário,
sinalizando uma redução no DHTi .

4.2.3 Distorção harmônica total, fator de potência e parâmetros de performance

Como já discutido, é de se esperar que a distorção harmônica total tenha uma


melhoria expressiva devido à eliminação das harmônicas de quinta e sétima ordem presentes no
retificador de seis pulsos. Dessa maneira, para esta configuração, a distorção harmônica total é
dada por
q
i2aRrms − i2aR
" r #
1rms 1  √ 
DHTi = 100% = 100% 2 + 3 π 2 − 36 ≈ 15, 22% (4.15)
iaR1rms 6
e, como a defasagem na frequência fundamental entre iaR e a tensão na fonte é o próprio ângulo
α, então, o fator de potência de deslocamento é igual a cos(α) enquanto que o fator de potência
do conjunto visto pela rede é
√ √ 
iaR1rms 3 2 3−1
fp = cos(α) = cos(α) ≈ 0, 989 cos(α) (4.16)
iaRrms π
58

Dessa maneira, a distorção harmônica total teve uma redução de quase 51% em
relação ao conversor de seis pulsos, apresentando um surpreendente aperfeiçoamento da qua-
lidade da energia elétrica ao utilizar a técnica de deslocamento de fase entre os enrolamentos
do secundário do transformador garantindo uma elevação do fator de potência. No entanto, o
ângulo de disparo α ao ser incrementado reduz consideravelmente esse fator o que justifica a
utilização de diodos invés de tiristores na ponte retificadora quando a maior preocupação reside
na qualidade da energia em comparação à controlabilidade do processo. Nesse contexto, os
parâmetros de performance para a tensão CC estão representados na tabela 4.

Tabela 4 – Fator de forma, ondulação e crista para tensão CC do


retificador de doze pulsos
Fator Tensão de saída (Vo )
1
√ √ p
Fator de forma 12 1 + 3 π 3 cos(2α) + π sec(α)
1
√ q √ 
Fator de ondulação 12 1+ 3 (π − 3)π sec2 (α) + 6π + 72 3 − 2

3−1
Fator de crista q
3 cos(2α)
π +1

Fonte: autor próprio.

4.2.4 Utilização do transformador

Neste capítulo, empregou-se um transformador isolado ∆/Y − ∆ para obter o desloca-


mento de fase de 30◦ entre as tensões de saída de ambos os agrupamentos de seis pulsos. Como
forma de permitir uma comparação de custos e perdas dos diferentes tipos de transformadores
defasadores foi estabelecido (PAICE, 2004) uma expressão para a potência nominal equivalente
do equipamento, também conhecido como taxa kVA (OLIVEIRA, 2011), dado por

1 ∑ Vrms Irms
kVAequivalente = (4.17)
2 1000

em que Vrms é a tensão eficaz equivalente senoidal e Irms é a corrente eficaz nos enrolamentos.
Nesse sentido, a potência total vista pelo primário do transformador é

|S| = 3VLinha−rms ILinha−rms

   
Vm 1
|S| = 3 √ Io 1 + √
2 3
√ (4.18)
   
πVomedio−12p 1
|S| = 3 √ Io 1 + √
6 2 cos(α) 3
√ 
π 3+1 1, 0115
|S| = √ Pmedio ≈ Pmedio
6 2 cos(α) cos(α)
59

estando o resultado de acordo com o encontrado por Schaeffer (1965). Comparando exclusi-
vamente a potência total, em um retificador não-controlado de doze pulsos, o transformador
é melhor aproveitado (101, 15% Pmedio ) em relação ao de seis pulsos (104, 72% Pmedio ). Nesse
contexto, pela Eq. 4.17, a potência equivalente nesta situação é

Pmedio  √ √  1, 03
kVAequivalente = 4 + 2 + 6 π sec(α) ≈ Pmedio (4.19)
24 cos(α)

que está de acordo com o citado por Choi et al. (1996).


Além da conexão ∆/Y − ∆, é possível obter o deslocamento de fase de 30◦ a partir
da associação de enrolamentos secundários de conexão zig-zag, o que será útil principalmente
para conversores acima de doze pulsos.

4.2.4.1 Conexão zig-zag

A Fig. 26 representa as conexões dos enrolamentos em uma configuração zig-zag


com as fases deslocadas de 120◦ entre si sendo V 1 é a tensão eficaz nas bobinas superiores e V 2
nas bobinas inferiores conectadas ao neutro. Para o primário, o diagrama de fase da conexão em
delta permanece como o esquematizado na Fig. 20. Uma das vantagens da conexão zig-zag é
permitir o controle do deslocamento de fase a partir da relação do número de espiras, as quais
são relacionadas pelas equações

VF V1 V2
= = (4.20)
sin(120 ) sin(θ ) sin(60◦ − θ )

V1 sin(θ )
n= = (4.21)
V 2 sin(60◦ − θ )
VF sin(θ )
V1 = (4.22)
sin(120◦ )
VF sin(60◦ − θ )
V2 = (4.23)
sin(120◦ )

em que n é a relação das tensões eficazes das bobinas e VF é a tensão eficaz de fase (HØIDALEN;
SPORILD, 2005). Como as tensões de fase estão deslocadas de 120◦ entre si, a tensão de linha é

dado por VL = VF 3.
Para obtenção de um deslocamento de fase de 30◦ , as tensões V 1 e V 2 devem ser

3
iguais a V1 = V2 = VF 3 , então, a potência do transformador de conexão zig-zag comparado a
60

Figura 26 – Conexão dos enrolamentos na configuração zig-


zag e o diagrama de fase

a
V1
V1
b' 120°

VF
V2
θ

c
N

V2 c'
a'

a' b' c'


b

Fonte: adaptado de Kulkarni e Khaparde (2004).

um com conexão em estrela é dado por



3
|Sz | = 6VF IF (4.24)
3
|SY | = 3VFIF (4.25)

|SY | 3
= ≈ 0, 866 (4.26)
|Sz | 2
em que IF é a corrente eficaz de fase. Logo, a partir de 4.26, um mesmo transformador com
enrolamentos em conexão zig-zag consegue fornecer apenas 86, 6% da potência em relação à
conexão em estrela. Posto isso, sua utilização para o deslocamento de fase de 30◦ exigiria uma
elevação da potência do secundário de aproximadamente 1, 15 vezes (PARMAR et al., 2015).
Assim, um transformador zig-zag é normalmente mais caro que um convencional para as mesmas
condições (KULKARNI; KHAPARDE, 2004).
Apesar desse inconveniente, ele é importante para diversas aplicações no sistema
elétrico, como transformador de aterramento em sistemas conectados em delta ou estrela não-
aterrada para criar um ponto de aterramento do neutro, como forma de conexão capaz de eliminar
a componente contínua da corrente de magnetização em retificadores de três pulsos com ponto
médio, cancelando as componentes harmônicas de ordens triplas nas tensões de linha, dentre
outros (KULKARNI; KHAPARDE, 2004).
Em substituição à análise feita para o retificador de doze pulsos com conexão estrela,
a potência equivalente nos enrolamentos do secundário em zig-zag é
√ r
|SY | 2 3πVmedio−12p 2
|Sz | = = √ √ Io (4.27)
0, 866 6 2 3 cos(α) 3
π 0, 6046
|Sz | = √ Pmedio ≈ Pmedio (4.28)
3 3 cos(α) cos(α)
61

então, a potência equivalente do transformador ∆/Z − ∆ é calculado por

|Sz | + |S∆ | + |S|


kVAequivalente = (4.29)
2
1  √ √ √  1, 07
kVAequivalente = 6 + 3 2 + 4 3 + 3 6 π sec(α)Pmedio ≈ Pmedio (4.30)
72 cos(α)

como esperado, tem um aproveitamento inferior ao transformador ∆/Y − ∆.


Uma outra topologia viável seria um transformador ∆/Z − Z em que um enrolamento
zig-zag estaria atrasado de 15◦ e o outro adiantado de 15◦ , tal que o deslocamento de fase
completo corresponderia a 30◦ . Desse modo, as tensões nos enrolamentos da conexão zig-zag
são:

sin(15◦ )

π 3−1
 
Vm
V1 = √ √ = Vmedio−12p (4.31)
2 3 sin(120◦ ) 36 cos(α)
sin(45◦ )
 
Vm π
V2 = √ √ ◦
= Vmedio−12p (4.32)
2 3 sin(120 ) 18 cos(α)
analogamente à Eq. 4.29, a potência equivalente desta configuração é
r
2
|Sz | = 3 Io (V 1 +V 2) (4.33)
3
√ 
1 + 3 π sec(α) 0, 584
|Sz | = √ Pmedio ≈ Pmedio (4.34)
6 6 cos(α)

comparativamente a uma conexão em estrela esse valor é 1,115 vezes maior (SCHAEFFER,
1965). Analogamente, a potência equivalente para essa configuração é
√ 
9 + 5 3 π sec(α) 1, 09
kVAequivalente = √ ≈ Pmedio (4.35)
36 2 cos(α)

4.2.4.2 Conexão polígono

Uma outra configuração possível consiste na conexão em polígono como exempli-


ficado na Fig. 27. Com o objetivo de alcançar um deslocamento de fase de 30◦ , haverá dois
polígonos no secundário em que um estará atrasado de 15◦ e o outro adiantado do mesmo ângulo.
Assim, as tensões nos enrolamentos estão relacionados por

VLS VNL VNS


= = (4.36)
sin(120 ) sin(45 ) sin(15◦ )
◦ ◦
r
2
VNL = VLS (4.37)
3
√ !
3−1
VNS = √ VLS (4.38)
6
62

em que VLS é a tensão eficaz de linha, VNS a tensão eficaz do enrolamento menor e VNL a tensão
eficaz do enrolamento maior. Analogamente, para as correntes nos enrolamentos i1m , i2m e i3m
indicados na mesma figura, tem-se
i1 − i2
i1m = (4.39)
3
i2 − i3
i2m = (4.40)
3
i3 − i1
i3m = (4.41)
3
em que i1 , i2 e i3 são as correntes de linha na entrada de um agrupamento de seis pulsos cujos
valores eficazes são expressos pela Eq. 3.38. Desse modo, a corrente eficaz em cada enrolamento
é igual a

2
Im = Io (4.42)
3

Figura 27 – Esquemático e diagrama conexão


delta-polígono genérico

Fonte: Paice (2004).

Com os valores obtidos, calcula-se a potência equivalente de cada secundário em


polígono correspondendo a 0, 58% Pmedio (MARTINIUS et al., 2002). Com isso, aplicando na
Eq. 4.17 para o transformador ∆/P − P com α = 0◦ , obtém-se
1, 0115 + 0, 58 + 0, 58
kVAequivalente = Pmedio ≈ 1, 09Pmedio (4.43)
2
Desse modo, para cargas de potência elevada, essas topologias ampliam substan-
cialmente o tamanho, peso e custo do transformador. Para contornar esse problema, algumas
63

configurações foram propostas (SEIXAS et al., 2001) alterando o arranjo dos enrolamentos
e possibilitando uma redução da potência nominal do transformador. Uma dessas propostas
consiste na utilização de um autotransformador de conexão delta-diferencial plana, patenteado
em 1981 por John Rosa da Westinghouse Electric Corporation (ROSA, 1981) e esquematizado
na Fig. 29, onde existem seis enrolamentos secundários em paralelo com as bases do primário
em ∆. Como não há isolamento galvânico, uma fração da corrente circula entre essas bobinas
sem que haja transformação, reduzindo o fluxo magnético processado e consequentemente o
tamanho do sistema (SEIXAS et al., 2001).
Apesar disso, algumas desvantagens devem ser levadas em consideração em um
projeto com autotransformador. O principal problema consiste na falta de isolação entre o
primário e o secundário, o que pode trazer riscos à segurança da instalação e sua operação
principalmente quando utilizado para abaixar um alto nível de tensão para outro bem inferior,
visto que uma falha nas bobinas pode acarretar que toda a tensão do primário seja aplicada
diretamente no secundário caso não haja um aterramento adequado do condutor neutro ou de um
condutor comum do autotransformador (FARRY, 1954). Além disso, por ter uma impedância
normalmente inferior à uma configuração isolada (FINK et al., 1987), possui uma corrente de
curto-circuito mais elevada, exigindo um sistema de proteção adequado a fim de evitar danos
no equipamento. Adicionalmente, por serem mais sensíveis às descargas atmosféricas, há uma
maior dificuldade em prover dispositivos de proteção contra sobretensões apropriados (FARRY,
1954). Um outro ponto de destaque consiste no posicionamento dos tap’s sendo indicado mais
próximo do centro dos enrolamentos (Fig. 28) de modo a mitigar estresses por surtos de tensão
(WESTINGHOUSE, 1964), o que torna seu arranjo mais complicado. Por fim, as vantagens
em eficiência e custo se tornam menos expressivas à medida que a relação de transformação
aumenta, a qual raramente excede as relações 2:1 ou 3:1 (WESTINGHOUSE, 1964; FINK et al.,
1987).

4.2.4.3 Conexão delta-diferencial plana

Definindo como referencial de fase a tensão V1 da fonte, o autotransformador é


construído de modo a formar dois sistemas trifásicos defasados de 30◦ entre si em que cada um
está deslocado 15◦ (adiantado ou atrasado) da tensão de referência, como mostrado na Fig. 30.
A relação das espiras do primário e do secundário é o que determina o ângulo de defasagem,
logo, não é factível a alteração dessa relação com o objetivo de modificar a tensão de saída do
64

Figura 28 – Posicionamento indicado para os tap’s do auto-


transformador

Fonte: Westinghouse (1964).

autotransformador, sendo possível apenas pela mudança da tensão de alimentação (SEIXAS et


al., 2001).

Figura 29 – Autotransformador delta-diferencial com deslocamento de fase de 30◦

Lab1 Lab2
V1
L

V2

V3
c

T1 T3 T5
Lc
Lb

N
Lc

T4 T6 T2
c1
a2

Lb

Lab
Lc

c2
a1

Lb

T1' T3' T5'

T4' T6' T2'

Fonte: adaptado de Seixas et al. (2001).

Para a fonte, as tensões de fase são (V1 , V2 , V3 ) e as de linha são dadas por
(Vab ,Vbc ,Vca ), já as tensões entre os terminais de cada enrolamento do secundário são (Vab1 ,Vbc1 ,Vca1 )
e (Vab2 ,Vbc2 ,Vca2 ). Para as tensões de saída do autotransformador, há dois sistemas os quais são
(VR1 ,VS1 ,VT 1 ) e (VR2 ,VS2 ,VT 2 ). Desse modo, a partir do triângulo retângulo formado na Fig. 30, a
relação das espiras é calculado por
√ √
Vab V1 3 3
K= = = ≈ 6, 464 (4.44)
Vab2 V1 tan(15 ) tan(15◦ )

65

Vinícius Assad Gonçalves Capítulo - 3 66


Figura 30 – Diagrama do delta-diferencial com desloca-
mento de fase de 30◦
Vab1 Vab2 Vab2

V R1 VR2
V1 V1
VR 2

Lbc 30° 15°


Lca

V T2 N VS1
V2
V3
Vca2 Vbc1

L ab
Vca1 V T1 VS 2 Vbc2

Fonte: adaptado de GONÇALVES (2006).


O sistema de tensões R1, S1 e T1 forma um sistema trifásico que está adiantado de 15o
Como todos os enrolamentos diferenciais são idênticos, o módulo da tensão de saída
em relação ao sistema de tensões de fase da rede de alimentação (referência), enquanto que o
é também obtido na mesma figura por
sistema R2, S2 e T2 está atrasado de 15o em relação à mesma referência. Portanto, a defasagem
V1
VR2 =
entre os
≈ 1, 035V
◦ ) sistemas é 1de 30º.
dois
(4.45)
cos(15

Com de auxílio
linhadodetriângulo
saída é Vretângulo destacado na Fig. 3.9, formado pelas tensões Va,
como a tensão RS2 = VR2 3, então,
√ , fica fácil obter o valor de V através da expressão (3.12) e o valor de V pela
Vab2 e V3V
R2
1 Vab bc2 R2
VRS2 = ◦)
= ◦)
≈ 1, 035V ab (4.46)
cos(15
equação (3.13), cos(15
uma vez que o ângulo de atraso de VR2 em relação a Va é de 15º.
Vab
n= = cos(15◦ ) ≈ 0, 9659 (4.47)
VRS2 Vbc 2 = Va .tag (15º ) = 0,268.Va (3.12)
V
VR 2 = de linha
em que n é a relação entre a tensão a
=do primário
1,035.Va sobre a tensão de linha(3.13)
da saída do
cos(15º )
autotransformador. Relacionando a Eq. 4.47 com Eq. 4.3 e considerando uma associação em
Como Vab = Va . 3 e VRS2 = VR2 . 3 a equação (3.13) pode ser estendida para as
série de agrupamentos, a tensão média na carga fica
tensões de linha,
√como expressado na equação (3.14).
6VRS2 2
Vomedio−12p = cos(α) Vab (4.48)
π VRS 2 = = 1,035.Vab (3.14)
cos(15º )
em que VRS2 representa
A relação a tensão
de espiras (K0eficaz
) entre de linha deesaída
o primário do delta-diferencial.
o secundário é calculada pela expressão

(3.15). Algumas publicações (CHOI et al., 1996; SEIXAS et al., 2001; PATEL, 2014)
calcularam a potência equivalente para o autotransformador delta-diferencial plano mostrando
Vab 3.Va 3
K0 = = = , correspondendo
= 6,464 (3.15) a 80%
que seu valor é aproximadamente
V 18, 4% tg (15º )
V Pmedio
bc 2 bc 2
a uma redução superior
em relação ao esquema convencional.
Além da delta-diferencial plana, Seixas et al. (2001) analisou diversas outras configu-
rações não-isoladas, algumas delas sendo inéditas até então, os quais estão sintetizados na tabela
5 junto aos valores encontrados para taxa kVA e a relação de espiras entre os enrolamentos do
required. One form of conventional autotransformer
connections is differential delta connection, such as shown in
Fig. 4. In this connection the kVA rating of autotransformer
is 0.18 Po [11. By using extension of the proposed transformer
66
connection, such as shown in Fig. 5, the kVA rating of Substituting (9
autotransformer is 0.101 Po [4]. It means that by using the the kVA ratin
primário e secundário. Além dele, Martinius et al. (2002) propôs uma generalização da conexão
proposed autotransformer, the required kVA rating can be kVA rating
delta-diferencial much
formando um autotransformador
smaller compared to thepolígono-conectado,
rated load. conhecido em inglêsconnection
por is
polygon-connected autotransformer, a partir da remoção do isolamento galvânico na conexãodifferential del
Interphase
polígono (seção 4.2.4.2) obtendo assim uma potência equivalente de 10, 1% Pmedio , sendo sua
Reactor

representação, com agrupamentos em paralelo, dado na Fig. 31.

Tabela 5 – Potência nominal equivalente e a relação


das espiras nas conexões diferenciais rela-
cionadas ao conversor de doze pulsos Load

Tipo de conexão Taxa kVA Relação de espiras

Delta-diferencial plana 18, 4% 6, 464


Delta-diferencial fechada 16, 8% 4, 732
Delta-diferencial aberta 52, 6% 1, 732
Estrela-diferencial aberta 26, 7% 2, 732
Estrela-diferencial fechada 21, 3% 3, 732
Fonte: adaptado de Seixas et al. (2001)
Fig. 4 Differential delta connection
(kVA = 0.18 Po)
Figura 31 – Autotransformador polígono-conectado
Interphase
Reactor

Fonte: Martinius et al. (2002).


Fig. 5 Extension of the proposed transformer connection
(kVA = 0,101 Po)
4.2.5 Influência das indutâncias de linha
Fig. 6 shows the detail winding connection and vector Fig. 6 Ex
diagram
De forma the extension
of retificador
análoga ao of theas indutâncias
de seis pulsos, proposed detransformer
linhas amortecem
connection. By using similar manner in the previous section,
mais significativamente as harmônicas de ordens elevadas atuando como filtros passa-baixa,
it can be obtained
minimizando a distorção harmônica total da corrente de entrada do conversor. Em cada agru-To verify th
pamento, sua operação será análogo ao tratado na seção 3.2.5 em que durante a comutação
current sharin
a experiment
dois tiristores conduzirão no mesmo instante provocando um curto-circuito que ocasionará uma
redução na tensão de saída. Como a tensão CC resultante é a superposição das tensões de saída
- 1023 -
de cada agrupamento, este retificador é mais sensível que o conversor de seis pulsos com relação
67

às variações nas indutâncias de linha.


A Fig. 32 evidencia a tensão de saída do retificador de 12 pulsos com L = 20µH
contendo as demais tensões de linha da fonte, enquanto que a Fig. 33 exibe a redução do DHTi
com a elevação das reatâncias de linha obtido por simulação computacional, considerando a
corrente da carga Io constante.

Figura 32 – Tensão de saída do retificador de 12 pulsos com indutâncias de linha

Fonte: autor próprio.

Figura 33 – Influência das indutâncias sobre o índice de distorção harmô-


nica total da corrente no retificador de doze pulsos
12

10

DHTi (%) 6

0
30 60 90 120 150 180 210 240 300
L (µH)
Fonte: autor próprio.

4.3 Considerações finais

Neste capítulo, analisou-se as características de um retificador trifásico controlado


de onda completa de doze pulsos e seu impacto no espectro harmônico da corrente de entrada
do sistema. Como observado, ao associar dois agrupamentos de seis pulsos em série com uma
68

defasagem de 30◦ entre si conquista-se um expressiva melhoria da distorção harmônica total,


reduzindo praticamente pela metade seu valor com relação ao medido no retificador de seis
pulsos devido à eliminação das harmônicas de ordem (12n − 6) ± 1, com n inteiro, tendo como
consequência o aprimoramento do fator de potência visto pela rede. No entanto, de forma
análoga ao conversor de seis pulsos, essa melhoria pode ser prejudicada caso se ajuste o ângulo
de disparo dos tiristores (α 6= 0◦ ) com a intenção de obter um ganho em controlabilidade do
processo a partir da alteração do nível de tensão CC.
Apesar desses avanços, ao elevar o número de pulsos também se ampliam os custos
necessários para sua implementação. Ao se utilizar o deslocamento de fase para eliminação
das harmônicas significativas, empregam-se transformadores defasadores que muitas vezes
utilizam conexões especiais tornando mais oneroso sua obtenção, necessitando assim um estudo
comparativo dos diferentes tipos de conexões possíveis para otimização dos resultados. Dentre as
conexões isoladas analisadas, a convencional ∆/Y − ∆ apresentou o melhor ganho em potência
equivalente, correspondendo a 103% Pmedio , porém consiste em uma topologia difícil de ser
implementada em virtude dos enrolamentos secundários ∆ −Y não fornecerem precisamente a
mesma tensão e nem possuírem a mesma impedância (MARTINIUS et al., 2002), por isso não
são adequados na utilização de sistemas em paralelo por intermédio de um transformador de
interfase (SCHAEFFER, 1965).
Quanto às conexões não-isoladas, a potência equivalente é substancialmente reduzida,
maximizando o aproveitamento do autotransformador. Dentre as tratadas, as conexões com
melhor ganho de taxa kVA foram a polígono-conectado (10, 1% Pmedio ), delta-diferencial fechada
(16, 8% Pmedio ) e delta-diferencial plana (18, 4% Pmedio ), sendo acessível em aplicações que não
se necessita de isolamento galvânico. No entanto, como discutido, sua utilização também pode
trazer riscos à segurança e operação devido a falta de isolação entre os enrolamentos do primário
e secundário.
Por fim, bem como no retificador de seis pulsos, as indutâncias de linha contribuem
para a redução do DHTi e a elevação do fator de potência, atuando como filtros passa-baixa,
amortecendo mais significativamente as harmônicas de ordens elevadas. E como há dois tiristores
por agrupamento conduzindo simultaneamente durante o intervalo de comutação, o retificador de
doze pulsos é mais sensível às variações nas reatâncias de linha que o conversor de seis pulsos.
69

5 RETIFICADOR DE DEZOITO PULSOS

No capítulo anterior, utilizou-se a associação de dois agrupamentos de seis pulsos


em série e defasados de 30◦ entre si com o intuito de reduzir significativamente a distorção
harmônica da corrente e aprimorar a conversão CA-CC. Em aplicações que exigem um alto
controle da qualidade da energia elétrica, mais agrupamentos são associados com o objetivo de
reduzir ainda mais os impactos decorrentes dos chaveamentos dos dispositivos comutadores.
Nesse contexto, ao agregar requisitos como performance, custo e baixo conteúdo
harmônico, o retificador de dezoito pulsos pode ser uma solução atrativa para concretização das
exigências do projeto. Além disso, a técnica de eliminação de certas harmônicas por conversores
multi-pulsos tem a vantagem de não causar interferências eletromagnéticas no sistema elétrico
de potência, como ocorre em conversores de potência que operam com filtros ativos, bem como
evitam o fenômeno da ressonância susceptível em filtros passivos com bancos de capacitores
(KHAN et al., 2018).
Para este capítulo, utilizam-se três agrupamentos de seis pulsos conectados a um
transformador com primário em delta e três enrolamentos em zig-zag no secundário, defasados
entre si de modo que as harmônicas remanescentes na corrente de entrada do sistema sejam da
ordem 18n ± 1 com n inteiro. Por fim, pretende-se ao longo do capítulo estender as análises
e os resultados obtidos para um retificador genérico de p pulsos, sendo p um número natural
múltiplo de seis, com a finalidade de ampliar as conclusões alcançadas para qualquer associação
de agrupamentos de seis pulsos em série.

5.1 Princípio de funcionamento

Considere o retificador de dezoito pulsos como esquematizado na Fig. 34. De um


modo geral, cada pulso de um retificador genérico de p pulsos tem um intervalo, em radianos,
dado por


θ= (5.1)
p

em que, para p = 18 tem-se θ = 20◦ , o qual corresponde também à defasagem que deve existir
entre dois agrupamentos para que o conversor seja capaz de eliminar as harmônicas pretendidas.
Para o retificador em questão, as harmônicas características na corrente do primário são da ordem
70

h = 18n ± 1, com n inteiro, sendo generalizável para qualquer retificador de multi-pulsos, tal que

h = pn ± 1 (5.2)

em que h corresponde à ordem harmônica de um retificador de p pulsos. Ademais, como a


frequência da tensão de entrada (60 Hz) é considerada puramente senoidal, a tensão CC terá a
frequência igual a

f p = 60 ∗ p (5.3)

logo, tem-se que f18 = 1080 Hz.

Figura 34 – Retificador de 18 pulsos com transformador ∆/Z − Z − Z

T1' T3' T5'

Z1

A
- 20° T4' T6' T2'

C Io

T1 T3 T5

Z0

0° T4 T6 T2

T1'' T3'' T5''

Z2

+ 20°
T4'' T6'' T2''

Fonte: autor próprio.

Para o referencial de fase, adota-se a tensão Van do enrolamento secundário em


zig-zag com o ângulo de deslocamento, definido pela relação de espiras, igual a 0◦ , como
evidenciado no diagrama da Fig. 35. Desse modo, caracteriza-se analogamente a uma conexão
71

em estrela com sua tensão de linha adiantada de 30◦ da tensão de linha do primário. O diagrama
de fase dos enrolamentos do secundário é descrito pela Fig. 34, enquanto que para o primário,
seu diagrama é idêntico ao retratado pela conexão ∆ na Fig. 20. A partir disso, as tensões de fase
e linha da fonte continuarão sendo representadas pelas Eqs. 3.7 até 3.12.

Figura 35 – Diagrama de fase dos enrolamentos zig-zag no secundário


do transformador
Z0 Z1 Z2
ref. a' 120° a''
120°

a VF
VF
20° 20°
VF b'
N c''
N

c b
c'
b''

Fonte: autor próprio.

5.2 Operação com cargas indutivas

Analogamente aos capítulos anteriores, o conversor é capaz de operar como reti-


ficador ou inversor não-autônomo, a depender do ângulo de disparo, de modo que as formas
de onda da tensão CC obtidas ao variar α são similares às expostas na Fig. 22 com um menor
intervalo de pulso. Para α = 0◦ , a Fig. 36 mostra a tensão de saída do retificador de dezoito
pulsos. Igualmente, sua corrente de saída (Io ) é praticamente constante, sendo modelada como
uma fonte ideal de corrente CC.

Figura 36 – Tensão de saída do retificador de dezoito pulsos com α = 0◦

Fonte: autor próprio.


72

5.2.1 Tensão na carga

Como cada agrupamento opera independentemente e defasados entre si por um ân-


gulo θ (Eq. 5.1), a tensão resultante de saída pode ser generalizada utilizando uma representação
fasorial similar ao empregado na Eq. 4.2 com Vm a tensão máxima de linha no secundário do
transformador de modo que
p
6 −1
   
j π 2π
3 +α+k p
Vm j π π
2 +α− p
VR = ∑ Vme =  e (5.4)
k=0 2 sin πp

Vm
correspondendo a uma amplitude igual a 2 sin( πp )
com fase inicial de π
2 − πp para α = 0◦ .
A partir da Eq. 5.4, os limites superior (θU ) e inferior (θL ) da integração da tensão
de saída são

π π
θL = α + − (5.5)
2 p
π π
θU = α + + (5.6)
2 p

assim, calculam-se os valores gerais para tensões média, eficaz e de ondulação que são

1 1 pVm cos(α)
Z θU
Vomedio =     Vm sin(wt)d(wt) = (5.7)

2 sin πp θL 2π
p
v  
u
v 2π
1 u 1
u Z θU
Vm t 1
u p cos(2α) sin p
2 2
Vorms =  t  Vm sin (wt)d(wt) =   + (5.8)
2 sin πp 2π θL 2 sin π 2 4π
p p
r          
Vm2 p cos2 (α) π cot πp − 2p + π π csc2 πp − p sin2 (α) cot πp
Vond = √ (5.9)
2 2π

substituindo p = 18, tem-se

9Vm cos(α)
Vomedio−18p = (5.10)
πq
  
π
csc 18 Vm2 9 sin π9 cos(2α) + π
Vorms−18p = √ (5.11)
2 2π
q
Vm2 (18(π cot( 18
π
)−36) cos2 (α)+π (π csc2 ( 18π )−18 cot( 18π ) sin2 (α)))
Vondrms−18p = √ (5.12)
2 2π

a partir dessas medidas e variando o ângulo α, plota-se a Fig. 37 que, assim como nos outros
capítulos, mostra a elevação da tensão eficaz de ondulação na região de retificação atingindo o
73

valor máximo correspondente a 0, 2893Vm . Comparativamente aos demais retificadores aborda-


dos, esse valor não se altera significativamente. Para α = 0◦ , seu valor é 0, 013Vm . Nesse sentido,
para p pulsos, o valor máximo de Vond é
r     
Vm2 π csc2 πp − p cot πp
Vondmax = √ (5.13)
2 2π

ademais, o valor teórico para a tensão eficaz de ondulação para um retificador com um número
muito elevado de pulsos é dado por
9  cos( α)
vmedio( α) 
π
Vm sin(α)
lim Vond = √ ≈ 0, 288675Vm sin(α). (5.14)
p→∞ 2 3

para essa situação, a maior tensão eficaz


 π
de ondulação ocorre quando α = 90◦ obtendo Vond ≈
9 sin   cos ( 2 α)  π
  9
 aumento de pulsos não altera sensivelmente a tensão eficaz de
0, 288675Vm , o que mostravrms
que( α) o
2 sin    2 π
π
2
ondulação máxima.  9 sin18 π 
 

   cos ( 2 α) π  2
9
  
9 cos ( α) 
vond ( α)   
 2 sin    2 π
π
  π 
Figura 37 – Relações  dos 18 valores da tensão eficaz,
média
e ondulação na saída do retificador de dezoito
pulsos
4

vmedio( α )

vrms( α ) 0
vond( α )

2

4
0 0.785 1.571 2.356 3.142
α
Fonte: autor próprio.

5.2.2 Corrente de linha

Para medir a corrente eficaz de entrada do sistema, pode-se aplicar a mesma meto-
dologia empregada na seção 4.2.2. No entanto, com o aumento do número de enrolamentos do
secundário, os cálculos se tornam bem mais complexos e de difícil simplificação. Para contornar
74

esse problema, utiliza-se a mesma percepção fasorial usada na tensão da carga (Eq. 5.4) e
aproveita-se a relação de transformação unitária das componentes de linha.
Em um retificador de doze pulsos, há dois vetores, representando as correntes de
linha do secundário, separadas entre si por um ângulo de 30◦ . A resultante entre elas equivale a

√ √
q r q  
2 1
IaRrms = Ia6prms 2 + 3 = Io 2 + 3 = Io 1 + √ (5.15)
3 3

o que é idêntico ao encontrado na Eq. 4.14 de um modo menos trabalhoso. Nesse contexto,
q
p
supondo um retificador genérico, deve-se ter 6 vetores com módulo I6p = Io 23 indicando a
corrente eficaz de linha na entrada de um retificador de seis pulsos defasados entre si por ângulo

de p como mostrado na Fig. 38. Logo, a corrente eficaz de linha resultante no primário do
transformador é

p  
6 −1  
j k2π
p
1 Io 6
IaR = ∑ I6p e =    I6p =   (5.16)
2 sin πp 6 sin πp

k=0

então, para o retificador de 18 pulsos, IaR ≈ 2, 35101Io , detendo assim uma corrente eficaz 1,49
vezes superior ao do retificador de doze pulsos.

Figura 38 – Representação fasorial das correntes de linha


em um retificador genérico

Fonte: autor próprio.

Para a corrente fundamental eficaz, foi observado, como na Eq. 4.12, que seu valor
p
é 6 vezes a corrente fundamental eficaz de um retificador de seis pulsos. Na próxima seção,
será demonstrado que essa suposição é válida. Então, a corrente fundamental eficaz para um
retificador genérico é

p 6
iaR1rms = Io (5.17)


3 6
então, para p = 18, iaR1rms = π Io .
75

As formas de onda das correntes no retificador de dezoito pulsos foram geradas por
simulação computacional como exposto na Fig. 39. Nota-se que há nove níveis ou degraus tanto
para valores positivos quanto negativos de corrente resultante do primário. Para um retificador
multi-pulsos, o número de níveis ou degraus corresponde a

p
d= (5.18)
2

válido para p > 6.

Figura 39 – Formas de onda das correntes no retificador de dezoito pulsos

Fonte: autor próprio.

Por fim, para o retificador de dezoito pulsos, o fator de distorção equivale a 99, 49%,
assim, indicando que a contribuição da componente fundamental é bastante significativo em
relação à corrente eficaz total, o que somado a forma de onda mais próxima da característica
senoidal da Fig. 39 comprovam que houve uma melhoria nos índices de distorção harmônica
total a partir da associação de três agrupamentos de seis pulsos.
76

5.2.3 Distorção harmônica total, fator de potência e parâmetros de performance

Como tratado ao longo deste trabalho, a grande vantagem dos retificadores multi-
pulsos consiste na eliminação de parte das componentes harmônicas injetadas na rede, tornando
seu espectro desprovido de harmônicas de ordens mais baixas as quais geralmente possuem
os maiores impactos na qualidade da energia elétrica fornecida. No caso do conversor de
dezoito pulsos ideal, as maiores correntes de frequências distintas à fundamental consistem nas
harmônicas de 17o e 19o ordens o que, pela Eq. 3.40, representam, respectivamente, correntes de
Ia1 Ia1
módulo 17 e 19 , sendo Ia1 a corrente eficaz fundamental de entrada no sistema, exibindo assim
uma relevância pouco expressiva.
A partir das Eq. 2.23 e 3.40, calcula-se a distorção harmônica total da corrente do
primário de um retificador multi-pulsos, tal que
q
2 + I2 + I2 2
I p+1 p−1 2p+1 + I2p−1 + ...
DHTi = 100% (5.19)
I1
r∞ ∞
2 2
+ ∑ I pn−1
∑ I pn+1
n=1 n=1
DHTi = 100% (5.20)
I
s  1 
∞ 2 ∞  2
1 1
DHTi = 100% ∑ +∑ (5.21)
n=1 pn + 1 n=1 pn − 1
v
π2
u
DHTi = 100%t   −1 (5.22)
u
2 2 π
p sin p

assim, para p = 18, tem-se DHTi ≈ 10, 107%, equivalendo a uma redução de 33, 6% da distorção
harmônica total da corrente em relação ao retificador de doze pulsos. Ao plotar a Eq. 5.22 como
mostrado na Fig. 40, observa-se que, à medida que se aumenta o número de pulsos, menor é a
redução percentual do DHTi o que torna importante uma avaliação do custo associado com a
performance pretendida.
Como já mencionado, algumas normas estabelecem limites para o conteúdo harmô-
nico na rede, dentre as mais conhecidas está a norma IEEE-519 (2014) que estabelece para a
distorção de corrente harmônica de ordens ímpares em sistemas de distribuição com nível de
tensão entre 120 V e 69 kV os valores expressos na tabela 6, em que Icc é a corrente máxima
de curto-circuito no ponto comum de conexão (PCC) e IL é a corrente de demanda máxima de
carga na frequência fundamental no PCC sob condição normal de operação (IEEE. . . , 2014). Na
seção 2.3.2, considerou-se que, na maioria dos casos, é válido assumir que o TDD < DHTi , visto
que IL > I1 , em que I1 é o valor da corrente de entrada do sistema na frequência fundamental. A
77

Figura 40 – Distorção harmônica total da corrente para retificadores multi-


pulsos
33
30
27
24
21
18
DHTi (%)
15
12
9
6
3
0
6 12 18 24 30 36 42 48 54 60
Número de pulsos (p)
Fonte: autor próprio.

partir da tabela tratada, o menor valor para que a taxa de distorção da demanda esteja dentro dos
limites categorizados corresponde a TDD ≤ 5%. Como a distorção harmônica total da corrente
é normalmente maior que a taxa de distorção da demanda, então, ao se definir o DHTi ≤ 5%
consegue-se uma margem de segurança maior contra eventuais ultrapassagens desses limites.

Tabela 6 – Limites de distorção harmônica (Ih /I1 ) em porcentagem para siste-


mas de distribuição com nível de tensão entre 120 V e 69 kV para
harmônicas de ordens ímpares
Icc /IL h < 11 11 ≤ h < 17 17 ≤ h < 23 23 ≤ h < 35 35 ≤ h T DD(%)

< 20 4, 0 2, 0 1, 5 0, 6 0, 3 5, 0
20 < 50 7, 0 3, 5 2, 5 1, 0 0, 5 8, 0
50 < 100 10, 0 4, 5 4, 0 1, 5 0, 7 12, 0
100 < 1000 12, 0 5, 5 5, 0 2, 0 1, 0 15, 0
> 1000 15, 0 7, 0 6, 0 2, 5 1, 4 20, 0
Fonte: adaptado IEEE. . . (2014).

Nesse sentido, para requisitos de DHTi inferiores a 5%, deve-se ter, no mínimo, um
retificador de 42 pulsos (DHTi = 4, 32%) embora seja possível obter valores próximos com 36
pulsos (DHTi = 5, 04%). Além disso, fica claro pela Fig. 40 que o melhor ganho em DHTi
ocorre na variação de 6 para 12 pulsos em que há uma redução de quase 51% do indicador.
Nesse contexto, a utilização de indutâncias de linha pode ser bastante eficaz para redução dessa
distorção e permitir aplicações com menor quantidade de pulsos.
Na seção anterior, supôs-se que a corrente fundamental eficaz tinha o valor dado
78

pela Eq. 5.17. Então, associando as Eqs. 5.22 e 5.16 demonstra-se essa suposição, tal que
q
i2aRrms − i2aR
v
π2
u
1rms
DHTi = 100% = 100%t   −1 (5.23)
u
iaR1rms p2 sin2 πp
iaRrms π
=   (5.24)
iaR1rms p sin πp

p 6
iaR1rms = Io (5.25)

o que torna válido o pressuposto. Adicionalmente, pela Eq. 5.24, encontra-se o fator de distorção
(FD) para um retificador multi-pulsos em que
 
p sin πp
FD = (5.26)
π

com essa informação, calcula-se o fator de potência conforme definido na Eq. 2.21 em que
 
p sin πp
fp = cos(α) (5.27)
π

para o conversor de dezoito pulsos, tem-se fp ≈ 0, 995 cos(α). Para α = 0◦ , o gráfico que
representa o fator de potência de acordo com o número de pulsos é mostrado na Fig. 41.

Figura 41 – Fator de potência para retificadores multi-pulsos com α = 0◦


1,00

0,99

0,98

0,97
fp
0,96

0,95

0,94

0,93
6 12 18 24 30 36 42 48 54 60
Número de pulsos (p)
Fonte: autor próprio.

Como observado, há uma elevação do fator de potência, mas com uma variação
menor que a encontrada na transição de seis para doze pulsos. Nesse sentido, para um conversor
genérico de p pulsos os fatores de forma, ondulação e crista são apresentados na tabela 7.
79

Tabela 7 – Fator de forma, ondulação e crista para ten-


são CC de um retificador multi-pulsos
Fator Tensão de saída (Vo )
r
  p cos(2α) sin( 2π )
p
π sec(α) csc πp π +2
Fator de forma 2p
r     
π sec2 (α) csc2 πp p cos(2α) sin 2π
p +2π
Fator de ondulação 4p2
−1
 
4 sin πp
Fator de crista r
p cos(2α) sin 2π
( ) +2
p
π

Fonte: autor próprio.

5.2.4 Utilização do transformador

Ao longo dos capítulos, avaliou-se a potência aparente vista pelo primário do trans-
formador em função da potência média da carga. Como a corrente Io é livre de ondulações, essa
potência média pode ser generalizada como
pVm Io cos(α)
Pmedio = Vomedio Io = (5.28)

assim, isolando a tensão máxima de linha obtém-se
2πPmedio
Vm = (5.29)
pIo cos(α)
que, a partir dessa expressão, é possível relacionar a potência aparente vista pelo primário do
transformador com a potência da carga para um retificador genérico de p pulsos de maneira que

|S| = 3VLinha−rms ILinha−rms (5.30)
 √ 

 
Vm 6
|S| = 3 √    Io  (5.31)
2 6 sin πp
 
π
|S| =     Pmedio (5.32)
π
p sin p cos(α)
1,0051
assim, para o conversor de dezoito pulsos, |S| = cos(α) Pmedio , o que indica que este transformador
(100, 51% Pmedio ) é melhor aproveitado em comparação com o do retificador de doze pulsos
(101, 15% Pmedio ) para α = 0◦ uma vez que há uma redução da potência de distorção da corrente
e uma maior parte da energia fornecida pela rede é convertida em potência útil para a carga. Essa
tendência é mantida para demais agrupamentos associados como mostrado na Fig. 42.
Para a configuração da Fig. 34, calcula-se a potência equivalente (Eq. 4.17) para
cada enrolamento do secundário do transformador expresso nas equações a seguir, em que V1 e
80

Figura 42 – Potência aparente vista pelo primário para retificadores multi-


pulsos com α = 0◦
1,06
Potência Aparente (S) / Pmedio 1,05
1,04
1,03
1,02
1,01
1
0,99
0,98
0,97
6 12 18 24 30 36 42 48
Número de pulsos (p)
Fonte: autor próprio.

V2 são, respectivamente, a tensão eficaz na bobina superior e inferior da conexão zig-zag como
esquematizado na Fig. 26 e VF a tensão eficaz de fase, então
sin(20◦ ) sin(20◦ )
 
Vm
V1 = VF = √ √ (5.33)
sin(120◦ ) 2 3 sin(120◦ )
sin(40◦ ) sin(40◦ )
 
Vm
V2 = VF = √ √ (5.34)
sin(120◦ ) 2 3 sin(120◦ )
|Sz1 | = |Sz2 | = 3(V 1 +V 2)Irms (5.35)
 r !
sin(20◦ ) + sin(40◦ )
 
Vm 2
|Sz1 | = |Sz2 | = 3 √ √ ◦
Io (5.36)
2 3 sin(120 ) 3
Pmedio
|Sz1 | = |Sz2 | ≈ 0, 39694 (5.37)
cos(α)
|Sz0 | = 3VFIrms (5.38)
  r !
Vm 2 πPmedio Pmedio
|Sz0 | = 3 √ √ Io = ≈ 0, 34907 (5.39)
2 3 3 9 cos(α) cos(α)

com isso, a potência equivalente do secundário é


Pmedio
kVAsec = |Sz0 | + |Sz1 | + |Sz2 | ≈ 1, 1429 (5.40)
cos(α)
realizando o procedimento análogo para o primário do transformador, calcula-se a potência
equivalente para o transformador de modo que
kVA prim + kVAsec Pmedio
kVAequivalente = ≈ 1, 074 (5.41)
2 cos(α)
o qual está em conformidade com o encontrado por Barbi (2015). Assim, para uma mesma
potência da carga, admite-se um transformador com potência equivalente inferior ao utilizado
no retificador de doze pulsos com conexão ∆/Z − Z indicando um melhor aproveitamento do
equipamento.
81

De forma análoga ao retificador de doze pulsos, Seixas et al. (2001) analisou também
a potência equivalente para autotransformadores com conexão diferencial em conversores de
dezoito pulsos. Como esperado, esses arranjos garantiram uma redução elevada da potência
nominal, contribuindo assim para a redução do tamanho, peso e custo do equipamento de
transformação, como mostrado pela taxa kVA na tabela 8. Dessa forma, nota-se que, em
relação à configuração ∆/Z − Z − Z, o autotransformador com conexão delta-diferencial plana
possui potência nominal equivalente 6, 355 vezes menor para α = 0◦ , desempenhando um ganho
considerável nas características citadas.

Tabela 8 – Potência nominal equivalente e a relação das espiras nas conexões


diferenciais relacionadas ao conversor de dezoito pulsos
Tipo de conexão Taxa kVA Relação de espiras (K1 ) Relação de espiras (K2 )

Delta-diferencial plana 16, 9% 24, 89 5, 638


Estrela-diferencial aberta 33% 2, 879 1, 879
Estrela-diferencial fechada 21, 9% 8, 292 2, 879
Fonte: adaptado de Seixas et al. (2001).

5.2.5 Influência das indutâncias de linha

De forma similar aos retificadores de seis e doze pulsos analisados, as indutâncias de


linha reduzirão as amplitudes das componentes harmônicas da corrente de entrada o que provoca
a redução do DHTi e também do valor da tensão média de saída, a qual está mostrada na Fig. 43.
É importante perceber que caso haja limitações para o aumento do número de pulsos, a inclusão
de indutâncias de linha podem trazer resultados satisfatórios quando presentes.

Figura 43 – Tensão de saída do retificador de 18 pulsos com indutâncias de linha

Fonte: autor próprio.

Em retificadores multi-pulsos, à medida que se eleva o número de agrupamentos


associados em série, maior é a sensibilidade com relação às variações nos valores medidos das
indutâncias de linha. Pela Fig. 44, nota-se que, para pequenas alterações no valor de indutância,
82

há notáveis variações na distorção harmônica total da corrente, o que torna menos oneroso a
utilização de filtros passivos caso se tenha limitações para aumento do número de pulsos uma
vez que após 24 pulsos os custos associados podem se tornar excessivos em relação aos ganhos
na redução da distorção harmônica total.

Figura 44 – Influência das indutâncias sobre o índice de distorção harmô-


nica total da corrente no retificador de dezoito pulsos
10
9
8
7
6
DHTi (%) 5
4
3
2
1
0
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
L (µH)
Fonte: autor próprio.

5.3 Considerações finais

Neste capítulo, analisou-se as características de um retificador trifásico controlado


de onda completa de dezoito pulsos e expandiu-se os resultados para um retificador genérico de
p pulsos, sendo p um número natural múltiplo de seis. Como previsto, ao elevar o número de
agrupamentos associados, menor o índice de distorção harmônica total da corrente de entrada e,
consequentemente, maior o fator de potência visto pela rede. Além disso, há uma redução na
tensão eficaz de ondulação na saída do conversor, a qual, no pior caso, se estabiliza em um valor
máximo teórico correspondente a 0, 288675Vm com α = 90◦ e p → ∞. Em paralelo, houve um
aumento no fator de distorção da corrente provida pela rede, indicando uma maior contribuição
da componente fundamental sobre as demais.
No entanto, à medida que se aumenta o número de pulsos, menor é a variação
percentual do DHTi , ou seja, nas transições de 12 para 18 pulsos, e assim por diante, o ganho em
redução harmônica é cada vez menos significativo, o que torna necessário um número elevado
de conversores em série para atender as normas mais rígidas de controle e monitoramento da
qualidade da energia elétrica, afetando os custos intrínsecos na instalação. Para contornar isso
de forma menos onerosa, adicionam-se reatâncias indutivas que atuam como filtros passa-baixa
amortecendo principalmente as harmônicas de ordens elevadas, tendo impacto na redução do
83

DHTi .
Nesse contexto, para o transformador ∆/Z − Z − Z com α = 0◦ , a potência equiva-
lente resulta em 107, 4% Pmedio sendo menor que o de conexão análoga no conversor de doze
pulsos (109% Pmedio ) devido ao melhor aproveitamento das bobinas adicionais. Apesar disso,
a potência nominal equivalente do transformador se torna elevada ao alimentar cargas de alta
potência. Em contraste, ao utilizar uma conexão não-isolada obtém-se um ganho considerável de
custo, tamanho e peso uma vez que, para uma mesma aplicação, a potência equivalente pode
chegar a 16, 9% Pmedio que é o caso da conexão delta-diferencial plana.
84

6 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS

Ao empregar o método de associação de conversores estáticos de potência com o


intuito de eliminar certas componentes harmônicas, conquista-se uma expressiva melhoria na
qualidade da energia elétrica do sistema e do processo de conversão CA-CC. Para isso, recorre-se
à utilização de transformadores defasadores de modo a obter o deslocamento de fase pretendido
entre os conversores de seis pulsos que são interligados com o propósito de formar um retificador
mais preciso e que acarrete uma menor pertubação na rede.
Nesse sentido, ao incrementar a quantidade de pulsos, reduz-se a tensão de ondulação
(ripple). Para retificadores não-controlados, essa medição é pequena, correspondendo a 4%,
1, 96% e 1, 3% da tensão máxima de linha (Vm ) para os retificadores de seis, doze e dezoito
pulsos, respectivamente. No entanto, para um conversor controlado e com o ângulo de disparo
(α) dos tiristores de 90◦ , essa medição é maior e com pouca variação entre as topologias, tal
que, mesmo com muitos conversores associados, alcança-se, no mínimo, uma tensão eficaz de
ondulação aproximadamente igual a 28, 87% de Vm .
Em paralelo, há também a redução da distorção harmônica total da corrente (DHTi ),
a qual terá um perfil mais próximo de uma senoide. Apesar disso, o ganho em DHTi é maior
na transição de seis para doze pulsos, correspondendo a quase 51% de redução. Nos demais, é
gradualmente reduzido se tornando pouco atrativo devido ao custo e complexidade. Ao adicionar
indutâncias de linha, consegue-se uma redução desse indicador.
Adicionalmente, um ganho em controlabilidade do processo, decorrente do ajuste do
ângulo de disparo, afeta negativamente o DHTi , o que torna necessário um estudo complementar
a fim de balancear o nível de tensão desejado com o limite de distorção causado. Dessa maneira,
com a diminuição do DHTi , há uma maior contribuição da componente fundamental da corrente
sobre as demais, elevando o fator de distorção (FD) e, consequentemente, há uma melhora no
fator de potência (fp) visto pela rede. Contudo, isso só é válido para valores fixos do ângulo α,
uma vez que sua variação também prejudica o fator de potência.
Um outro ponto de destaque consiste no aproveitamento do transformador utilizado
e a potência aparente vista pelo primário. Esta se reduz à medida que se eleva o número de
pulsos tendo em vista a redução da contribuição da potência de distorção da corrente. Apesar
disso, em transformadores isolados, é necessário uma potência equivalente significativa para
cargas de alta potência. Para essa situação, é conveniente a utilização de autotransformadores que
necessitarão de uma menor potência nominal equivalente reduzindo o tamanho, peso e custo do
85

equipamento de transformação. Em destaque, a topologia delta-diferencial se mostrou bastante


eficiente para essa finalidade nos conversores de doze e dezoito pulsos. Apesar disso, há diversas
desvantagens em se trabalhar com autotransformadores principalmente devido a falta de isolação
entre o primário e o secundário haja vista que, em autotransformadores abaixadores, uma falha
nas bobinas pode acarretar em toda a tensão do primário seja aplicada diretamente no secundário,
constituindo um risco à instalação. Outros problemas também foram citados, como a elevada
corrente de curto-circuito, a sensibilidade às descargas atmosféricas, a complexidade no arranjo
dos tap’s e ao declínio dos ganhos em eficiência e custo à medida que a relação de transformação
aumenta, a qual raramente excede as relações 2:1 ou 3:1.
Como trabalhos futuros, há uma gama de temas possíveis, tais como estender a
análise do retificador de multi-pulsos para associações em paralelo dos conversores, realizar
as mesmas análises para o modo descontínuo de condução, propor conexões especiais para
o transformador de modo a buscar o melhor aproveitamento de sua potência equivalente ou
comparar experimentalmente os resultados teóricos obtidos para um retificador de número
elevado de pulsos.
86

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