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Nov/2017 Vol. 01 nº 02
TRABALHOS COMPLETOS
SEÇÃO 03
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E FORMAÇÃO DOS
TRABALHADORES
1 APRESENTAÇÃO
Refletir sobre a formação de professores, resgatar o caminho trilhado com olhar
histórico crítico, significa redirecionar sua intencionalidade para o horizonte e lançar luz no
caminho percorrido. Certezas e incertezas, sucessos e insucessos, desafios e conquistas numa
compreensão não linear, é acreditar que lutas incansáveis que esta categoria fez e fará, fazem
parte de jornadas intensas pela busca do reconhecimento e conhecimento uma vez que este,
jamais será exaurido pois, “essa é a primeira decisão que temos de tomar: nossa entrada no
mundo da ciência e a tecnologia será pela porta de trás, a da ciência em construção, e não pela
entrada mais grandiosa da ciência acabada”. (LATOUR, 2011, p. 6).
350
Mestre em Ensino Profissional e Tecnológico pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas.
docarmoandrade58@gmail.com
351
Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas. prof.acsouza@gmail.com
aquisição quanto aos seus momentos e fases de construção. (TARDIF, 2014, p. 61-
68).
na rede pública da educação básica que não tinham formação superior ou que mesmo tendo essa
formação se disponham a realizar curso de licenciatura na etapa/disciplina em que atuavam em
sala de aula; ii) Segunda licenciatura para professores licenciados que estivessem em
exercício há pelo menos três anos na rede pública de educação básica e que atuavam em área
distinta da sua formação inicial, ou para profissionais licenciados que atuavam como tradutor
intérprete de Libras na rede pública de Educação Básica; e iii) Formação pedagógica para
docentes ou tradutores intérpretes de Libras graduados não licenciados que se encontravam no
exercício da docência na rede pública da educação básica.
Conforme os dados do observatório do PNE (2014), baseados no Censo Escolar de 2014,
na região Norte, havia cerca de 31,7%, isto é, 60.559 professores sem formação em curso
superior, e o estado do Amazonas detinha 28,2% desse indicativo, o que representava,
aproximadamente, 11.847 profissionais. Com relação a esse estado da federação brasileira, os
dados revelaram ainda que os professores que possuíam a formação adequada para atuar nos
anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio eram em torno de 30% (12.738) e 70%
(59.061). (MARQUES, 2016, p. 24).
Assim que,
A ‘Gênese’ desse percurso advém do Projeto Pedagógico do curso strictu sensu [...] o
qual evidência, em seu histórico que, quanto ao grupo de professores pesquisadores
que fazem parte do corpo docente, a preocupação com a escassez de profissionais para
investigar questões emergentes que tratem do ensino tecnológico (GONZAGA, 2015,
p. 9).
a) a busca dos professores por uma base epistemológica para fundamentar os objetos
de investigação dos professores;
b) as atividades pedagógicas que retroalimentaram os saberes dos professores e alunos
durante as vivências nos encontros, nas disciplinas, e que ganharam sentido através
de registros dos professores e mestrandos, decorrentes das atividades pedagógico-
investigativas tanto durante os encontros na sala de aula, quanto nas reuniões,
orientações e no II Colóquio do MPET do IFAM (Ibidem, 2014).
352
Rede em Educação em Ciências e Matemática – Doutorado – REAMEC. Universidade Federal do Mato Grosso.
4 METODOLOGIA
No referente aos procedimentos metodológicos a pesquisa está estruturada em duas
seções nas quais, suas bases epistemológicas estão ancoradas em pesquisa documental
assentada em documentos, escritos - Legislação da Educação Brasileira ou não, denominadas
de fontes primárias. De caráter bibliográfico ou de fontes secundárias para identificar na
literatura alusiva às contribuições científicas sobre um tema específico da literatura pertinente
a uma determinada área (LAKATOS; MARCONI, 2010, p. 157; MALHEIROS, 2011, p.81-
82).
5 OBJETIVOS
O artigo tem por objetivo apresentar amostragens de pesquisa realizada no estado do
Amazonas que elucida um percurso da formação de professores no período de 2009 a 2015 por
meio do Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica e discutir a proposta
desafiadora para a formação de professores com a criação do Programa de Pós-graduação no
Mestrado Profissional em Ensino Tecnológico pelo Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia do Amazonas no ano de em 2013.
6 CONCLUSÃO
O estudo aqui apresentado, com bases teóricas em investigação documental e
bibliográfica em dois programas de formação de profissionais na educação Básica no período
de 2009 a 2015 - PARFOR e Pós-graduação em MPET/2013 no estado do Amazonas buscou
resgatar com olhar crítico a trajetória destas iniciativas que elucidam sua importância na
temporalidade e remetem à compreensão de quão pertinentes continuam sendo tais demandas
com investimentos de políticas públicas para o estado do Amazonas, debruçando-se sobre as
etapas já percorridas pelos professores doutores, mestres e mestrandos do MPET nos anos 2013
a 2017. Concluímos que, aos poucos o Amazonas adentra na estatística não somente
quantitativa, mas qualitativa de profissionais que dedicam tempo à pesquisa em serviço haja
visto as volumosas pesquisas realizadas e publicadas pelos professores, egressos e mestrandos
do programa do MPET.
REFERÊNCIAS
BRASIL. LDB. Lei N. 9394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 1996.
Disponível Em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 27 ago.
2017.
LATOUR, Bruno. Ciência em ação: Como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora.
Tradução: Ivone C. Benedetti. Revisão de tradução: Jesus de Paula Assis. 2. ed. São Paulo:
Ed. Unesp, 2011.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 16. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2014.
RESUMO
O objetivo do presente estudo foi objetivo analisar a produção científica acerca da educação continuada como
estratégia para o aperfeiçoamento dos profissionais da área da saúde. Trata-se de uma revisão integrativa, realizada
nas bases de dados LILACS e MEDLINE com a associação dos descritores: profissionais da saúde, educação
continuada e formação profissional em saúde. Os critérios de inclusão foram: artigos disponibilizados; divulgados
em português, inglês e espanhol; e publicados no período compreendido entre 2006 e 2016. A coleta de dados foi
realizada no período de novembro e dezembro de 2016. Na busca inicial foram encontrados 441 artigos, 151 na
LILACS e 290 na MEDLINE. Foram excluídos estudos em duplicidade, em idiomas distintos do definido e aqueles
que, conforme percebido através do título ou após leitura do resumo, não atendiam ao tema proposto. Dos 08
artigos lidos na íntegra, apenas 06 responderam à questão norteadora e definiram a amostra final. Após a leitura
minuciosa, foi possível organizar o conteúdo dos artigos selecionados em duas temáticas: Valor Social; Ensino
Superior na Formação do Cidadão. O nível de evidência dos estudos mostra que a educação continuada em saúde
é um desafio para os serviços de saúde, pela articulação com os demais atores, do ensino, da gestão e do controle
social. Conclui-se a escassez de pesquisas abordando o assunto, apontando a necessidade de desenvolvimento de
mais estudos que aprofundem a discussão sobre a temática.
ABSTRACT
The objective of the present study was to analyze the scientific production about continuing education as a strategy
for the improvement of health professionals. An integrative review was performed in the LILACS and MEDLINE
databases with the association of the descriptors: health professionals, continuing education and professional
health training. The inclusion criteria were: articles made available; published in Portuguese, English and
Spanish; and published in the period between 2006 and 2016. Data collection was performed in the period of
November and December of 2016. In the initial search we found 441 articles, 151 in LILACS and 290 in
MEDLINE. Duplication studies were excluded, in languages other than those defined and those that, as perceived
through the title or after reading the abstract, did not meet the proposed theme. Of the 08 articles read in their
entirety, only 06 responded to the guiding question and defined the final sample. After a thorough reading, it was
possible to organize the content of selected articles in two themes: Social Value; Higher Education in Citizen
Training. The level of evidence from the studies shows that continuing education in health is a challenge for health
services, through articulation with other actors, teaching, management and social control. It is concluded the lack
of research addressing the subject, pointing out the need to develop further studies that deepen the discussion on
the subject.
353
Mestranda em Saúde Coletiva. Universidade de Fortaleza. herikapp@hotmail.com
354
Graduanda em Enfermagem. Universidade de Fortaleza. lusousaoliveiraol@gmail.com
355
Graduanda em Enfermagem. Universidade de Fortaleza. rafaelaliman@hotmail.com
356
Docente do programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Universidade de Fortaleza. mirnafrota@unifor.br
1 INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define educação continuada como um
processo permanente de educação, complementando a formação básica, objetivando
atualização e melhor capacitação de pessoas e grupos, frente às mudanças técnico-científicas
(OMS, 1978). O Artigo 200, inciso V, da Constituição Federal de 1988 define as competências
do Sistema Único de Saúde (SUS), dentre as quais está o fomento ao desenvolvimento científico
e tecnológico na área da saúde (BRASIL, 2016).
A sociedade atual vivencia a velocidade da mudança, impulsionada pela aceleração da
produção, aplicação e difusão do conhecimento científico e sua concretização em processos e
produtos tecnológicos que invadem o cotidiano individual e coletivo. Ocorre ainda uma
globalização competitiva, que gera a multiplicação de processos de exclusão. Se não compete
à escola responder por essas mudanças sociais significativas, cabe a ela questionar os fins e a
função da universidade neste contexto, mediante a natureza da educação oferecida a todos,
como direito de cidadania, e a função social que cabe à educação superior (FARIA et al., 2008).
Estudiosos brasileiros da área da educação e da saúde vêm, há alguns anos, propondo
relações de parceria entre universidades e serviços como forma de garantir esses avanços. Isso
exige, além de investimentos no aperfeiçoamento dos profissionais, uma estrutura acadêmica
apoiada em relações de parceria da universidade com os diversos setores da sociedade civil
(VENDRUSCOLO et al., 2016).
A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde é uma estratégia que tem por
objetivo a capacitação dos profissionais da área da saúde para um trabalho articulado entre as
esferas de gestão, serviços de saúde, instituições de ensino e órgãos de controle social. O
Ministério da Saúde vem destacando a importância de problematizar a qualidade da atenção
individual e coletiva, bem como a organização do sistema de saúde com base na reorganização
dos processos formativos, transformação de práticas educativas e também de assistência à saúde
(BRASIL, 2005).
Todo processo que esteja comprometido com a educação continuada precisa ter a força
de gerar no trabalhador, transformações da sua prática, o que implicaria a capacidade de
problematizar a si mesmo no agir (LIMA et al., 2014).
O cuidado em saúde é parte do fluxo de informações e conhecimentos, na medida em
que a prática em saúde contribui para a geração de conhecimento na interação com as
universidades, mediante demandas e fornecimento de informações sobre as tecnologias em uso.
Dessa forma, reforça-se a importância do incentivo à formação continuada dos trabalhadores
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2 METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa, método que consiste na construção de uma análise
ampla da literatura, contribuindo para discussões, avaliação crítica e síntese de evidências
disponíveis sobre o tema investigado (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
Para o desenvolvimento do presente estudo, foram seguidas as seguintes etapas:
identificação do tema e seleção da questão norteadora; estabelecimento dos critérios de inclusão
e exclusão; definição das informações a serem extraídas e categorização; avaliação;
interpretação dos resultados e apresentação da revisão (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO,
2008).
As buscas foram realizadas nas bases de dados LILACS e MEDLINE por meio da
utilização de forma associada dos seguintes descritores: profissionais da saúde, educação
continuada e formação profissional em saúde. Os critérios de inclusão dos estudos foram:
artigos científicos com o texto disponibilizados na íntegra que abrangesse o tema da pesquisa;
divulgados em português, inglês e espanhol; e publicados no período compreendido entre 2006
e 2016.
A coleta de dados foi realizada nos meses de novembro e dezembro de 2016. Para a
caracterização dos estudos selecionados as seguintes informações foram extraídas e
organizadas em um quadro: título, periódico, ano de publicação, objetivo e método empregado.
Os resultados dos estudos selecionados foram avaliados criteriosamente, as informações
extraídas e analisadas de forma descritiva.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na busca inicial foram encontrados 441 artigos, 151 na LILACS, e 290 na MEDLINE.
Foram excluídos estudos em duplicidade, em idiomas distintos dos definidos como critérios
para inclusão e aqueles que, conforme percebido através do título ou após leitura do resumo,
não atendiam ao tema proposto. Dos 08 artigos lidos na íntegra, apenas 6 responderam à questão
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Quadro 1 – Distribuição dos estudos selecionados de acordo com título, periódico, ano de
publicação, objetivo e método empregado
Dentre os seis artigos incluídos para análise, três foram publicados em revistas da área
de saúde coletiva, dois da área de enfermagem e apenas um da área de medicina. No que diz
respeito ao ano, observou-se que as pesquisas foram divulgadas de 2012 a 2015, com ênfase
para o ano de 2013, no qual teve três publicações.
No que concerne aos objetivos dos estudos selecionados, fica evidente uma
concentração de artigos que buscam analisar a contribuição da educação permanente para os
profissionais de saúde (quatro artigos), uma pesquisa enfatiza a gestão dos recursos financeiros
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4 CONCLUSÃO
Verificou-se a necessidade de desenvolvimento de mais estudos que abordem a
importância e a possibilidade da integração ensino-serviço na educação permanente dos
trabalhadores da saúde na melhoria da qualidade da assistência e na construção do SUS.
REFERÊNCIAS
AMARAL, A.F. et al. Impacto da capacitação dos profissionais de saúde sobre o rastreamento
do câncer do colo do útero em unidades básicas de saúde. Revista Brasileira de Ginecologia e
Obstetrícia, v. 36, n. 4, p. 182-187, 2014.
MORAIS FILHO, L.A. et al. Educação permanente em saúde: uma estratégia para articular
ensino e serviço. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, v. 14, n.5, p. 1050-1060,
2013.
SOUZA, M.T.; SILVA, M.D.; CARVALHO, R. Revisão integrativa: o que é e como fazer?
Einstein, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 102-106, jan./mar. 2010.
ABSTRACT
Education can be understood as a universal process, as it requires varied tools and resources for the construction
of the learning process. Thus, monitoring can be highlighted as a crucial methodology in education, since it
provides the interaction and improvement of the teaching of an institution with its students, and the students, both
the classmates and the monitors, an opportunity for teaching and learning differentiated. The general objective of
this work is to analyze monitoring as a methodology in the learning process to disseminate the entrepreneurial
culture in the Baturité Massif. This work is a descriptive research with a qualitative approach, carried out at the
Federal Institute of Education, Science and Technology of Ceará (IFCE) - Campus de Baturité, from May to
October 2017, focused on the student-monitor activities of Entrepreneurship. Among the main activities developed
by the monitor, we highlight the follow-up of the students with their mini-companies in the events of the institution,
production of evaluative performance report and individual, group and online follow-ups. It was proposed that the
institution make available permanent vacancies for the Entrepreneurship discipline in its monitoring program,
whether in the form of voluntary monitoring or scholarship. It is considered through this study that the monitoring
should be understood, studied and applied in the teaching practice of the IFCE Campus de Baturité courses. It
can be affirmed that the use of monitoring in the discipline of Entrepreneurship is fundamental for the
dissemination of the entrepreneurial culture in the Baturité Massif.
1 INTRODUÇÃO
A educação pode ser entendida como um processo universal, pois necessita de métodos
e recursos variados para construção do processo de aprendizagem, uma vez que proporciona
desenvolvimento da sociedade, de acordo com a visão de Cunningham (1975) pelo repasse dos
conhecimentos entre gerações, além do próprio indivíduo. Nesse contexto, pode-se destacar a
monitoria como uma metodologia para melhoria da educação, pois proporciona
357
Graduando do curso Técnico em Administração pelo IFCE Campus de Baturité. silveira.sangelo@gmail.com.
358
Docente do curso Técnico em Administração do IFCE. sosbraun@gmail.com.
2 EDUCAÇÃO E MONITORIA
A educação é um processo universal indispensável para o desenvolvimento do ser
humano, uma vez que de acordo com os pressupostos de Piaget apud Munari (2010) constitui-
se como a primeira tarefa de todos os povos sem distinção entre as diferenças políticas e
ideológicas. Assim, a educação pode ser entendida como um processo complexo, que necessita
de vários recursos, sejam materiais ou humanos, entre esses recursos procurou-se destacar a
monitoria como metodologia aplicada à educação.
Nesse contexto, as definições para educação podem ser descritivas, quando se fala em
processo educacional, ou normativas, quando se relaciona aos fins para o qual se pretende
atingir (CUNNINGHAM, 1975). Ele ainda aprofunda explicando que como processo ela pode
ser abordada a partir de dois pontos de vista, o da sociedade e o do indivíduo. Na primeira:
Mas o que devemos ter em mente, é que estes dois aspectos da educação não se opõem,
mas se completam. Não se compreende desenvolvimento individual (ao menos no seu
início) exceto a partir do momento em que o indivíduo entra na posse da herança
social; assim como não se admite transmissão social sem transformações individuais.
Neste sentido, pode-se perceber a educação como um processo complexo que necessita
de metodologias de ensino e pessoas para que alcance o seu objetivo final, o aprendizado e
transformação pessoal e profissional de um indivíduo. Assim não é apenas o professor sozinho
a peça central do aprendizado, mas a dupla, aluno e professor, que pode ser analisada na
monitoria, como explica Paulo Freire apud Pereira (2007, p. 69-70)
Deste modo, surge a monitoria como metodologia que possibilita esse aprendizado
compartilhado entre professor e aluno, sendo definida por Ferreira (2010, p. 1418) como “o
conjunto de funções e de direitos ligados à atividade de um monitor”, e o monitor é descrito
pelo mesmo autor como o “aluno que auxilia o professor no ensino de uma matéria, em geral
na aplicação de exercícios, na elucidação de dúvidas, etc., fora das aulas regulares”.
A monitoria de acordo com Pereira (2007) é originária da Índia, e posteriormente foi
adotada pelos ingleses no período da Revolução Industrial, por volta de 1917, onde era usada
como uma estratégia para compensar a falta de professores qualificados. No Brasil ela só
aparece na segunda metade do Século XIX, já que os registros da literatura nacional apontam
que a primeira prática de monitoria só ocorreu em 1823 no Rio de Janeiro por intermédio do
Ministério da Guerra, sendo aplicada da mesma forma que os ingleses, ou seja, a monitoria foi
implantada no Brasil de forma inadequada, sendo utilizada apenas como uma “solução barata”
segundo o próprio autor. Desta forma, a maneira inadequada de implantação da monitoria
acabou por desvalorizar essa metodologia perante os professores.
monitoria acadêmica, para alunos que estejam com dificuldade de aprendizagem, sob a
orientação de um professor orientador; contribuir para um maior envolvimento dos alunos com
o IFCE; propiciar uma melhor formação acadêmica ao aluno e estimular a participação dos
alunos no processo educacional e nas atividades relativas ao ensino (IFCE/EDITAL, 2017).
359
SWOT sigla do inglês de Strenghts (forças), Weaknesses (fraquezas), Opportunities (oportunidades) e Threats (ameaças).
dois dias do evento vendendo seus produtos. O monitor acompanhou mais uma vez as empresas
e auxiliou nas vendas, divulgação dos produtos e organização do ponto de vendas das mesmas.
Para este evento não foi necessário uma avaliação e produção de relatório, já que o período de
avaliação das empresas já estava encerrado.
Além disso, as ações do Estudante-Monitor foram pensadas para proporcionar o melhor
aprendizado para os alunos da disciplina de Empreendedorismo dos cursos Técnico em
Administração e Tecnologia em Gastronomia, onde o foco foi o acompanhamento dos alunos
durante a absorção e aplicação dos conceitos apresentados durante o período letivo.
Deste modo foi possível observar os seguintes resultados:
Portanto, o aprendizado obtido durante o período da monitoria não pode ser descrito
como um conhecimento individual, mas como um a aprendizado coletivo e social, que promove
a interação entre docente, estudante monitor e os educandos que foram assistidos pelo
programa. Merece ainda destaque a premissa que acompanhou este processo, defendendo que
a aprendizagem se constrói na medida em que os indivíduos são provocados a desenvolver
competências, podendo com elas autorregular e controlar sua ação educativa e com isso
promover espaços de reflexão e apreensão de conhecimento.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação é um processo complexo, que necessita de várias metodologias para a
consolidação da aprendizagem, dentre eles: professores, alunos e materiais didáticos são
recursos utilizados em conjunto para este fim, além de outras ferramentas, como os programas
de monitoria, pensados para auxiliar e dinamizar o processo de ensinar e aprender.
Foi possível perceber que a monitoria é uma ferramenta útil e indispensável no processo
de aprendizagem, traz benefícios à instituição, aos alunos e ao próprio monitor. Aos estudantes
proporciona maiores possibilidades de aprender, aplicar os conceitos da disciplina, interagir
com a instituição e se motivarem através da imagem do Estudante-Monitor. A instituição
assume o papel de facilitadora na docência e cria um vínculo mais profundo com os estudantes.
Ao monitor promove sua qualificação profissional e pessoal, além do aprofundar e aprimora os
conhecimentos já adquiridos e possibilitar novas experiências e conhecimentos.
A disciplina de Empreendedorismo, por estar presente na maioria dos cursos do IFCE
Campus de Baturité, deveria possuir em cada semestre ao menos um monitor. Sugere-se então
à instituição que disponibilize em seu programa de monitoria vagas permanentes para a
disciplina, seja na modalidade de monitoria voluntária ou bolsista.
Considera-se através deste estudo que a monitoria deve ser entendida, estudada e
aplicada na prática da docência dos cursos do IFCE Campus de Baturité. Pode-se afirmar que
a utilização da monitoria na disciplina de Empreendedorismo é fundamental para a
disseminação da cultura empreendedora no Maciço de Baturité.
REFERÊNCIAS
BOGDAN, R. e BIKLEN, S. Investigação Qualitativa em Educação: uma introdução à teoria
e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994.
FRISON, Lourdes Maria Bragagnolo. Monitoria: uma modalidade de ensino que potencializa
a aprendizagem colaborativa e autorregulada. Disponível em:
www.scielo.br/pdf/pp/v27n1/1980-6248-pp-27-01-00133.pdf. Acesso em 30 de outubro de
2017.
monitoria/2017/campus-baturite/edital-no-04-2017_selecao-de-monitoria-voluntaria_campus-
baturite_2017-1.pdf/view >. Acesso: 22/05/2017.
MUNARI, Alberto. Jean Piaget. Tradução e organização: Daniele Saheb. Fundação Joaquim
Nabuco (Coleção Educadores). Editora Massangana. Recife. 2010.156 p.
NUNES, João Batista Carvalho. Monitoria acadêmica: espaço de formação. 2007. In:
SANTOS, Mirza Medeiros dos; LINS, Nostradamos de Medeiros. (Orgs). A monitoria como
espaço de iniciação à docência: possibilidades e trajetórias. Natal, RN. EDUFRN. Editora da
UFRN, 2007. 102 p. (Coleção Pedagógica; n. 9).
ABSTRACT
The data of this articles are the results of the master thesis in Social Work by the Federal University of Paraiba
which analyzed the professional qualification through the Pronatec under the teachers and students' perspective.
This study aimed to identify the possibilities and/ or obstacles in the process of the professional and social
qualification, as well as of the professional and social education. The methodology which was used was an
exploratory research, with qualitative approach, using systematic observations which were recorded in field
diaries, questionnaires and interviews application as the instruments of data collection. The research was applied
with students and teacher who take part of the Pronatec in the city of João Pessoa through the offer of the Federal
Institute of Education, Science and Technology. It was directed by the following questions: Do the courses, which
are carried out by Pronatec, offer conditions for the students to enter to the formal labour market? What do the
students aim when they seek the courses of Pronatec? Are there tools which evaluate the objective conditions to
the qualification and insertion in the labour market? The results showed that students and teachers evaluate the
program in a positive way. There are advancements in its execution, although there are weaknesses in the process
of qualification, which presents a small outreach to the adequacy between what is advocated and the needs for the
labour market.
1 INTRODUÇÃO
O conceito de Qualificação Profissional ganhou destaque teórico na França após a
Segunda Guerra Mundial, tendo como precursores, George Friedmann e Pierre Naville,
considerados pais da sociologia do trabalho na naquele país.
360
MESTRE EM SERVIÇO SOCIAL (UFPB). MONIQUELOURENCO01@GMAIL.COM
361
Docente da graduação em Serviço Social (CCHLA/UFPB) e do programa de pós-graduação em Serviço Social (PPGSS/UFPB).
fatmelo@uol.com.br
362
Docente da graduação em Economia (CCSA/UFPB). rejanegcarvalho@yahoo.com.br
foram organizados sem planilha eletrônica do programa Excel para composição de tabelas e
gráficos, contemplando informações sobre o perfil socioeconômico dos participantes e
considerações em torno da Qualificação Profissional, Pronatec e Mercado de Trabalho.
A pesquisa teve o objetivo de analisar o Pronatec enquanto programa de qualificação
profissional a partir dos sujeitos inseridos nesse processo, identificando as possibilidades e/ou
entraves no processo de qualificação e formação profissional e social dos trabalhadores. A
pesquisa foi direciona pelas seguintes questões: os cursos realizados pelo Pronatec oferecem
condições aos educandos para inserção no mercado formal de trabalho? O que almejam os
educandos ao buscar os cursos do Pronatec? Existem ferramentas que avaliam as condições
objetivas para qualificação e inserção no mercado de trabalho?
grande difusão do conceito de empregabilidade o qual, segundo Moraes (2005, p.126), refere-
se ao esforço de cada indivíduo para “buscar um estoque de competências exigidas pelo
mercado, passando, pois, a ser reconhecido por este, como alguém empregável”. A noção de
empregabilidade estende a responsabilidade da qualificação para cada indivíduo, exigindo que
esteja preparado para o mercado de trabalho, apresentando, assim, uma desresponsabilização
do Estado, que, ao mesmo tempo, oferta algumas ações públicas focalizadas e restritas de
qualificação dos trabalhadores.
O Planfor recebeu uma série de críticas voltadas à ideia de que estava contribuindo para
a formação de cidadãos passivos, e não mais trabalhadores, crítica essa também feita ao PIPMO.
Acerca do Planfor, também recaia a crítica do seu alto custo de execução, financiado pelo FAT,
e sua ineficácia no processo de qualificação, dada a forma de articulação com outras políticas
de educação e a contingência de qualificar o trabalhador para um mundo sem trabalho e para o
mercado informal (PRESTES, 2006, p. 121). O Planfor foi extinto em 2002, devido aos
problemas de fraudes e controle dos recursos. Em 2003, no governo Lula (2003-2010), entrou
em cena o Plano Nacional de Qualificação (PNQ), implantado pela resolução nº333/2003 do
Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (CODEFAT).
O PNQ buscava atuar como política pública a partir da integração das ações de emprego,
trabalho e renda (BRASIL, 2003). O plano foi implementado por meio de Planos Territoriais
de qualificação (PlanteQs) e de Projetos Especiais de Qualificação (ProEsQs). Os cursos
passaram a ser de longa duração, tentando articular-se com os programas do sistema público de
emprego (DIEESE, 2016).
O plano abordou a qualificação na perspectiva da participação da sociedade civil,
buscando uma construção social de maneira que “representou uma ruptura na própria concepção
de qualificação, antes voltada apenas para a competência e empregabilidade” (CARVALHO,
2001, p. 214). O PNQ manteve-se até o final do governo Lula. Em 2011, na vigência do governo
Dilma Rousseff (2011-2015), foi criado o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego (Pronatec), por meio da Lei nº 12.513/2011, com amplos objetivos, entre eles:
“expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de educação profissional técnica de
nível médio e de cursos de formação inicial e continuada ou qualificação profissional presencial
e a distância” (BRASIL, 2011).
O Pronatec foi responsável por um grande contingente de matrículas, atuando em
diversas modalidades, através de educação presencial e a distância, trazendo entre seus
objetivos a ampliação de oportunidades educacionais dos trabalhadores, bem como a
articulação entre a política de educação profissional e as políticas de geração de trabalho,
ISSN – 2448-4210 http://laborufc.wix.com/anaislaborufc Página 953
Anais do Encontro Internacional Trabalho e Perspectiva de Formação dos Trabalhadores
Nov/2017 Vol. 01 nº 02
compreendendo 55% dos educandos, estando 37%entre 30 a 49 anos, 6% com 50 anos ou mais
e apenas um participante não informou (2%).
Entre os níveis de ensino dos educandos, pode-se identificar que 82% haviam concluído
o ensino médio, 8% o ensino superior e 8% o ensino fundamental completo, 2% indicaram o
ensino médio incompleto, mas ainda estavam na escola.
A maioria dos educandos (17,6%) não possuía renda fixa, 5,9% vivia com renda inferior
a um salário mínimo (no período da pesquisa correspondia a R$880,00), 35,3% tinha renda
familiar de um salário mínimo, 15,7% apresentou renda familiar de um salário e meio até dois
salários mínimos e 15,7% tinha na família a renda de dois a três salários mínimos. Apenas 2%
registrou renda de quatro a cinco salários, sendo este mesmo percentual dos que declararam
renda acima de cinco salários mínimos. De acordo com dados do IBGE (2016), a renda familiar
per capita na Paraíba foi de R$ 790,00, estando entre as dez mais baixas do país.363Esses dados
demonstram a vulnerabilidade social da maioria dos educandos, destacando assim a relevância
da qualificação profissional como oportunidade de preparo para o mercado de trabalho e a busca
de melhores condições de emprego.
Sobre a perspectiva dos educandos acerca do Pronatec, a visão geral foi positiva, embora
em alguns pontos tenha-se apresentado críticas, no tocante a encaminhamento para o mercado
de trabalho e tempo dos cursos. O tempo de duração dos cursos foi considerado insuficiente por
57%, enquanto 39% concordaram com o período de realização. Todos os cursos
compreenderam aulas expositivas e visita ao campo de atuação, requerendo do aluno o
aproveitamento de 70% para sua aprovação. Os educadores foram avaliados de forma positiva,
sendo33% excelentes, 31% ótimos, 28% bom e apenas 8% avaliaram com o conceito regular.
Acerca das percepções de educandos e educadores sobre o Pronatec, obteve-se as seguintes
considerações:
“Um bom projeto, na época da minha adolescência não tive esse direito e quero que os
outros jovens e adultos se qualifiquem e prosperem”(Educando nº 34, 57 anos, sexo
feminino).
“O programa diz acesso ao ensino técnico e emprego, mas desde que eu fiz meu
primeiro curso na esperança que mudaria minha vida, eles falam que o Sine tem um
banco de dados, que irão ajudar os alunos um emprego, mentira” (Educando nº8, 33
anos, sexo feminino).
363
Disponível em:< https://goo.gl/PuJECj >. Acesso em: 01 jan. 2017
Na exposição dos educandos, existe uma boa aceitação do programa e a valorização dos
seus aspectos de promover o acesso a qualificação profissional, trazendo uma oportunidade.
Por outro lado, um dos educandos discordou ao considerar que é “uma mentira” o fato de
auxiliar na busca por um emprego. É necessário ressaltar que o Pronatec não apresenta, em seus
objetivos, a inserção dos que participam dos cursos. Assim, a qualificação profissional pode
amenizar, mas não resolve o programa do emprego, problema que requer outros elementos
diante da concorrência por vagas, o número restrito de emprego e as diversas exigências para
sua ocupação.
Quando os docentes foram questionados sobre o Pronatec, apresentaram avaliação
semelhante aos educandos no tocante a destacar os aspectos positivos, embora com
ressalvassem outros aspectos.
Dessa forma, diante das colocações de educandos e educadores, tem-se que a visão dos
participantes sobre o programa estão distanciadas a ponto de divergirem em suas considerações.
Em particular, os educandos analisaram positivamente os professores. No caso dos docentes,
colocou-se a dificuldade dos educandos em absorver os conhecimentos ministrados durante as
aulas.
conhecimento. Foi recorrente a utilização dos termos trabalho, mercado de trabalho e emprego,
todos voltados à mesma conotação.
“Entendo que se uma determinada pessoa, não tem uma qualificação, ela tem a
tendência de ficar fora do mercado de trabalho[...]” (Educando nº47, 38 anos, sexo
masculino).
“Acrescentar mais este cursos no meu currículo para que o mercado de trabalho veja
a minha qualificação” (Educando nº19, 27 anos, sexo feminino).
trabalho diante das exigências de escolaridade, além da qualificação profissional específica para
ocupação dos postos de emprego.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Pronatec surgiu em um contexto de crise econômica para responder de forma precária
as necessidades daqueles que deveriam estar potencialmente aptos ao mercado de trabalho, em
uma tentativa de mostrar que o Estado atua com políticas públicas para a população. Os
resultados obtidos na pesquisa de campo revelaram que o perfil dos educandos nas turmas
pesquisadas constituiu-se por uma maioria jovem, com baixa renda familiar e que estão fora do
mercado de trabalho. Embora a maioria dos educandos tenha expressado empenho ao frequentar
as aulas, conclui-se que os cursos de curta duração são insuficientes diante de um mercado de
trabalho cada vez mais restrito e que exige trabalhadores qualificados e competentes, embora
se deva considerar a relevância do programa e seu papel social, ao possibilitar o acesso da
população à qualificação profissional.
As entrevistas com os educadores revelaram em suas perspectivas que a natureza do
curso em curto tempo pode ser adequado para qualificar. No entanto, um dos principais entraves
relatados está na baixa escolaridade e nível de conhecimento do público participante dos cursos,
apesar de ser reconhecida a oportunidade que é a abertura promovida pelo Pronatec para
educandos de diversos perfis, sinalizando a expansão como principal ponto de alcance positivo
do programa em pauta.
Embora os dados oficiais sejam limitados para avaliar a inserção profissional dos
educandos no município de João Pessoa – PB, há o entendimento de que existe dificuldade para
inserção profissional, a partir dos relatos de alunos egressos de outros cursos realizados em anos
anteriores pelo programa, admitindo a falta de êxito de inserção na área para a qual foram
preparados. No tocante às ferramentas que avaliam as condições objetivas para qualificação e
inserção no mercado de trabalho, identificou-se que há o trabalho de levantamento das vagas
por meio da parceria com o SINE e a realização de evento, com a intermediação da mão de
obra, assim como encaminhamento para as entrevistas. Dessa forma, as ferramentas existentes
para inserção restringem-se a avaliação das demandas do mercado.
Quanto às condições objetivas para qualificação, estas seguem as normas federais, que
procuram ofertar os cursos de acordo com as realidades locais. Os procedimentos
metodológicos dos cursos revelaram, por meio dos seus Planos Pedagógicos disponibilizados,
uma boa estrutura e organização na condução dos cursos, não cumprindo apenas os aspectos
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho?ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do
mundo do trabalho.15.ed. São Paulo:Cortez,2011.
MORAES, Lélia Cristina Silveira de. A formação profissional em nível técnico no contexto
da política educacional dos anos 90-Compreendendo os seus impactos a partir dos sujeitos
que a vivenciam. In: SOUSA, Antonia de Abreu (org.) Educação Profissional: análise
contextualizada. Fortaleza: CEFET- CE, 2005.
ABSTRACT
The present article proposes to recover the historical trajectory of the organization of the category of port workers
(TPA's) in the Port of Paranaguá-PR, considering the labor experiences and educational practices that have been
present since the creation of these workers in the port of Paraná at the end of the century XIX, correlating them
with the process of port modernization and the current demands for maritime professional training, based on the
requirements of new technical knowledge of the current logistic methods of handling cargoes of maritime transport
in the port sector. The methodology consists of a bibliographical research about the academic production
regarding the subject of the professional formation of the TPAs and, in documentary sources with the
Administration of the Ports of Paranaguá and Antonina (APPA / PR) (public company subordinate to the Secretary
of State of infrastructure and logistics, responsible for managing the ports of Paraná). The theoretical references
that supported the analysis of the study were: Freitas (1999) and Westphalen (1998) that deal with the historical
scenario of the commercial activities of the Port of Paranaguá-PR; André (1998), Gitahy (1992) and Araújo
(2013) that deal with the characteristics of the single port worker (TPA); Manfredi (1986) in relation to the
educational experiences of the workers' organization; Diéguez (2007) regarding the modernization of Brazilian
ports. It is considered that with the new vocational training paradigms due to the new methods of cargo handling
and modernization of port infrastructure, a new type of worker profile is required for the new functions required
for the port sector, constraining the traditional practices of organizing the TPA category.
Keywords: Port Workers (TPA's). Professional Maritime Training. Port Modernization Process.
364
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade, linha de pesquisa Tecnologia e Trabalho da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campus Curitiba - PR. luceligs@gmail.com
365
Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e
Sociedade, linha de pesquisa Tecnologia e Trabalho da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campus Curitiba - PR.
marioamorim@utfpr.edu.br.
1 INTRODUÇÃO
As mudanças ocorridas nos setores portuários, ao longo dos últimos 40 anos,
aproximadamente, impuseram à organização da categoria dos trabalhadores portuários avulsos
(TPA’s) novos desafios. A partir de discursos de adequação das infraestruturas portuárias do
comércio mundial marítimo, cuja finalidade é a produtividade, competitividade e concorrências
entre os mercados importadores e exportadores, ensejou-se um novo tipo de perfil do
trabalhador portuário avulso (TPA), o que acarretou no constrangimento das experiências
laborais que se fizeram presente na constituição histórica da organização da categoria dos
TPA’s nos antigos trapiches portuários.
Nesse contexto, o presente estudo se propõe a resgatar a trajetória histórica da
organização da categoria dos trabalhadores portuários avulsos (TPA’s) do Porto de Paranaguá-
PR, considerando as experiências laborais e as práticas educativas que se fizeram presente desde
a constituição desses trabalhadores na orla portuária paranaense no final do século XIX,
correlacionando-as com o processo de modernização portuária e das atuais demandas para a
formação profissional marítima, a partir de requisitos de novos conhecimentos técnicos dos
atuais métodos logísticos do manuseio das cargas dos transportes marítimos do setor portuário.
Nesse sentido, tem por objetivo contribuir para uma discussão, ainda incipiente na
literatura acadêmica, acerca da formação profissional dos TPA’s, dentro das perspectivas dos
novos paradigmas dos marcos regulatórios da modernização dos portos brasileiros da década
de 90 e, sobretudo, das mudanças do perfil do trabalhador portuário avulso (TPA).
O trabalho apresenta três fases distintas da formação da mão de obra dos TPA’s do porto
de Paranaguá-PR. Inicialmente, realiza uma breve apresentação histórica a respeito do cenário
do porto de Paranaguá, litoral do Paraná, e das peculiaridades das tradições do ofício da
categoria dos trabalhadores flutuantes do cais do porto. A seguir, apresenta a introdução do
fenômeno de conteinerização, dos processos logísticos automatizados, a partir da inauguração
do Corredor de Exportação pela Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina
(APPA/PR), no final da década de 70, onde começam a vigorar as primeiras iniciativas de
formação profissional do porto de Paranaguá-PR, correlatos aos TPA’s, fornecidas pelo
Programa do Ensino Profissional Marítimo (PREPOM) administrado pela Diretoria de Portos
e Costas (DPC), órgão ligado ao Ministério da Marinha, com a finalidade de transmitir noções
dos métodos e técnicas do acondicionamento de cargas. Na última fase aborda o processo de
modernização em curso, a partir da promulgação da lei n° 8.630 de 1993 e da sua edição com
a nova lei n°12.815 de 2013, respectivamente (conhecidas como Leis de Modernização dos
Portos). Entre as principais estratégias trazidas pelas Leis dos Portos, destacam-se: as alterações
ISSN – 2448-4210 http://laborufc.wix.com/anaislaborufc Página 962
Anais do Encontro Internacional Trabalho e Perspectiva de Formação dos Trabalhadores
Nov/2017 Vol. 01 nº 02
da organização do trabalho portuário e, as formas de gestão da mão de obra dos TPA’s em torno
dos Sindicatos portuários dos avulsos, passando essa última a ser executada por uma instituição
sem fins lucrativos, mas mantida pela iniciativa privada, chamado Órgão Gestor de Mão de
Obra do Porto de Paranaguá (OGMO). Dentre as atribuições conferidas ao OGMO/Paranaguá
está a competência de ofertar cursos do Programa do Ensino Profissional Marítimo (PREPOM),
celebrando convênios com o Governo Federal, através da Marinha do Brasil, representada pelo
departamento específico da Diretoria de Portos e Costa (DPC).
366
Fundear significa ancorar a embarcação a fim de mantê-la segura.
367
O atual porto de Paranaguá recebeu, ao longo do tempo, várias denominações; Porto d´Água, Enseada do Gato. Em 1935 foi, oficialmente,
inaugurado o Porto de Paranaguá com o nome de Porto Dom Pedro II.
368
A Província do Paraná foi instalada oficialmente em 19 de dezembro de 1853 por desmembramento da Província de São Paulo, a quem
pertencia desde o século XVI (APPA/PR, 2007)
369
A francesa Compagnie Gènèrale de Chemins de Fer Brésiliens obteve a concessão da ligação ferroviária de Curitiba à Paranaguá.
370
Os melhoramentos no porto incidiam na permissão ao acesso de todo tipo de navio, resultando, obviamente, no proveito das exportações de
erva-mate, madeira e, posteriormente, o café (chamado ouro verde) (WESTPHALEN, 1998, p. 31).
371
O Decreto n° 12.477 autorizava o Governo do Estado do Paraná a construir instalações portuárias em Paranaguá e por contrato lavrado com
a União, em 4 de agosto de 1917, obteve a concessão para administrar o Porto. (WESTPHALEN, 1998); o Porto de Paranaguá até o ano de
2014 era denominado uma Autarquia Estadual, atualmente é uma Empresa Estatal.
conta da abolição do tráfico internacional de escravos para o Brasil em 1850, o que ocasionou
uma demanda por outro tipo de mão de obra, a estrangeira, centrada numa política de imigração
europeia em detrimento da força de trabalho escravagista. Com a instauração do trabalho livre
e assalariado, formou-se um contingente de trabalhadores flutuantes (escravos libertos e
imigrantes) que migrariam para os principais portos da orla marítima brasileira em busca de
trabalho372, sob o controle dos capitalistas do setor- os consignatários das agências de
navegação e das casas exportadoras (ANDRÉ, 1998).
Segundo Gitahy (1992, p. 105), a partir disso, “floresce uma política de contratação da
mão de obra que desembocou na criação de um sistema ocasional de trabalho373. Este sistema
apareceu como resposta dada pelos empregadores às constantes flutuações da carga e descarga
de mercadorias nos portos”. Assim:
[...] o sistema de contratação nos portos adquire um peso especial na história sindical
do grupo. Na realidade, é impossível entender esta história sem lidar com este sistema.
Em momentos históricos diferentes, os empregadores, os trabalhadores e o Estado
intervêm no controle deste processo. A disputa concreta entre estes atores sociais tem
definido historicamente o grau que cada um controla o processo de contratação. Os
resultados desses conflitos têm consequências visíveis na forma em que o trabalho é
feito, incluindo a introdução ou não das inovações técnicas. (GITAHY, 1992, p. 105-
106)
O ofício tinha seus ‘segredos’, mas eram segredos que não podiam ser aprendidos na
escola: cada navio era diferente, as cargas eram diferentes e a combinação de
mercadorias também variava muito, tanto que só com a prática, o estivador o
dominaria totalmente. Como exemplo, o café exigia no mínimo 40cm de dunnage e a
372
Consiste na arrumação e retirada (estivagem e desestivagem) das mercadorias no convés e nos porões do navio. A própria atividade do
trabalho na estiva varia em função do tipo de carga a ser transportada, o que tende a alterar ainda mais a composição de uma força de trabalho
por definição flutuante. (SARTI, 1981)
373
Este sistema de contratação conhecido como free call (Inglaterra), shape up (Estados Unidos) ou “parede” (Brasil), levou à criação e
manutenção de um exército permanente de reserva na área do porto, ao qual os empregadores recorrem nos momentos de pico do movimento
do porto. (GITAHY, 1992)
madeira tinha que ser coberta para impedir que o peso dos pacotes de cima danificasse
os de baixo. O café absorve o cheiro dos outros produtos; se é guardado perto do
açúcar, o café altera-se, reduzindo seu valor a 10 ou 20%. Rum, pimenta ou sal podiam
desperdiçar toda a carga de café. Se o café está perfeitamente seco, ganhará peso
durante a viagem. Se o café está verde, poderá fermentar. Estes exemplos mostram
que a estivagem exige um considerável conhecimento que era fonte de orgulho e
identidade para os estivadores. (GITAHY, 1992, p. 114)
[...] trabalho não qualificado, mas que exige força física e habilidade no manejo da
maquinaria: atividade do tipo intermitente, mas que requer disponibilidade da mão
de obra que a qualquer momento pode ser convocada; local de trabalho que se
distingue por ser o X da questão do comércio de exportação e importação.
374
Nessa época, os trabalhadores recebiam pela diária do trabalho realizado, atualmente a remuneração é baseada pelo sistema de produção.
(ALMEIDA, 2003)
organização de trabalho portuário o qual foi introduzido nas diferentes regionalidades das orlas
portuárias brasileiras. Nesse contexto, é necessário dizer que, a maioria das organizações de
estivadores até a década de 1930, dos portos de Porto Alegre, Paranaguá, Antonina, Santos,
Vitória, Salvador, Cabedelo, etc., tinham como matriz e atendiam a orientação da União dos
Operários Estivadores do Rio de Janeiro, conforme consta nas atas das assembleias da época,
atualmente guardadas no Sindicato do RJ (OLIVEIRA, 1999, p. 39).
A UOE desenvolvia um trabalho de organizar e regulamentar o serviço de estivagem,
até então realizado conforme as necessidades e os interesses unilaterais do patronato. Isso
provocou nos estivadores um sentimento de proteção e garantia contra as mazelas a que estavam
sendo submetidos. Sendo assim, a UOE agia em defesa do estivador, “infringia prejuízos aos
patrões que não respeitassem as regras que então começou-se a surgir, garantia a disciplina no
trabalho e o respeito mútuo, tanto entre patrões e empregados como de companheiro para
companheiro” (ALMEIDA, 2003, p. 37).
No cenário do porto de Paranaguá a primeira associação de classe surgiu em 1903,
formada por um contingente de trabalhadores flutuantes que seguiram a tendência de
organização da classe operária portuária do RJ. Em 1919, nasceu o primeiro sindicato dos
trabalhadores portuários avulsos de Paranaguá, o Sindicato da Estiva Marítima. Em 1921 surgiu
a União dos Estivadores de Paranaguá (ARAÚJO apud CARDOSO, 2013). Segundo Araújo
(2013), houve registros de greve em 1912 e em 1923, está última eclodiu em razão de
reivindicações para melhorias nas condições de trabalho da categoria dos estivadores contra as
firmas marítimas Guimarães & Cia e a Rocha & Cia situadas na época em Paranaguá.
Pode-se dizer que, as ações organizatórias da categoria estivadora foram marcadas
fortemente pela vertente do “Sindicalismo Revolucionário” ou do “Anarcossindicalismo375”
que tinham por finalidade dispor dos sindicatos como instrumento de organização e
conscientização das classes operárias e, sobretudo, como meio da propaganda e imprensa
operária.
Nesse contexto, nas primeiras décadas do século XX, surgem alguns jornais operários
que relatavam as formas inusitadas de comunicação dos trabalhadores portuários; escreviam
suas reivindicações com carvão nos porões dos navios e iam disseminando a organização da
classe sindical portuária (ARAÚJO, 2013).
375
O anarcossindicalismo uma das últimas correntes do anarquismo, tem proposições diretas de Mikhail Bakunin (1814-1876). Inspirado na
Confederação Nacional do Trabalho (CGT) francesa, tornou-se uma tendência predominante nos círculos libertários brasileiros, tendo a
organização sindical um elo de conquista para os direitos dos trabalhadores, além da propagação da educação como instrumento de
emancipação e conscientização para a classe operária. (FOOT; LEONARDI, 1982)
Além disso, difundiam uma autoeducação por meio de reuniões e sessões de leitura
coletiva para que se pudesse favorecer a conscientização da classe, instrução e educação,
resistência e militância, além de emancipação social (RODRIGUÊS, 1998).
Para André (1998, p.51), essa conscientização da classe possibilitou aos trabalhadores
dos portos formas de aprendizagem para criarem não só as condições objetivas e subjetivas de
suas existências, mas, sobretudo, os potencializarem como sujeitos. Sendo assim, as
experiências organizativas da categoria dos trabalhadores portuários avulsos pode indicar, nas
palavras de Manfredi (1986), aquelas práticas alternativas de educação que as próprias
categorias de trabalhadores criam e recriam a partir de sua prática social, enfim, aquela
educação em que os próprios trabalhadores proporcionam a si próprios na família, no trabalho,
através de sua participação em organizações de classe, como no caso, em sindicatos e em
movimentos sociais tais como, greves, reivindicações salariais, sociais e políticas, entre outras.
A organização da categoria e a institucionalidade sindical representativa, bem como os
saberes e as experiências educativas adquiridas através da trajetória do trabalho nos portos,
possibilitou a criação de uma identidade própria do trabalhador portuário avulso e que, no
entanto, com os avanços nas bases dos processos produtivos portuários, iniciados nos portos
dos países centrais e que, paulatinamente se estendeu aos portos dos países periféricos, como
no caso o Brasil, os métodos de movimentação das cargas dos navios foram sendo modificados,
constrangendo as tradicionais práticas e experiências laborais, acarretados pela nova
racionalização técnica dos métodos de manuseio das cargas dos navios.
A partir disso, além dos estivadores (primeiros trabalhadores a se organizarem
coletivamente), outras categorias de trabalhadores376 também surgiram no cais do porto a partir
do aumento da especialização técnica do trabalho portuário, a saber: consertadores,
arrumadores, vigias, conferentes e bloco. Essa divisão técnica do trabalho portuário se
desenvolveu com a preocupação dos armadores dos navios377 com a armazenagem das cargas
e, para que não sofresse nenhum tipo de avarias no momento do seu manuseio. (ANDRÉ, 1998)
É justamente nesse contexto que a partir da década de 70, iniciou-se uma tendência da
mecanização portuária no comércio marítimo mundial, apoiada no fenômeno da
conteinerização na logística dos portos. Esse advento se tornou um dos pontos focais para as
mudanças das características laborais dos trabalhadores portuários avulsos, antes identificados
376
Esse conjunto de categorias de trabalhadores possuem características peculiares semelhantes, já que se constituem a partir de uma atividade
intermitente, sem vínculo empregatício com um único empregador fixo (vez que prestam serviços à vários operadores portuários). (grifos
nossos)
377
Denomina-se aquele que física ou juridicamente, com recursos próprios, equipa, mantém e explora comercialmente as embarcações
mercantis. É a empresa proprietária do navio que tem como objetivo transportar mercadorias. APPA/PR, Dicionário Básico Portuário, 2°
edição, 2011.
culturalmente pelo dispêndio da força física na movimentação das cargas dos navios e pela
própria característica de organização da categoria na sua gestão da força de trabalho. Ademais,
essa questão estabelece novos critérios de adequação profissional à nova realidade portuária e
às modificações dos métodos de manuseio e acondicionamento das cargas 378 dos modais
marítimos.
Sendo assim, a seguir será contextualizado brevemente o cenário dessas transformações
nos aparatos produtivos do porto de Paranaguá e as novas demandas de formação profissional
que são requisitadas para a readequação do trabalhador portuário avulso nessa nova fase da
atividade portuária.
378
A Convenção n°137 da OIT ou Convenção sobre o Trabalho Portuário de 1973, aponta para às repercussões dos novos métodos de
processamento de cargas que devem ser adotados nos setores portuários, bem como das novas regras, referentes à segurança, higiene, bem-
estar e formação profissional dos trabalhadores, sejam aplicadas aos portuários. (OIT, 1973)
379
Os ships loaders são equipamentos que fazem carregamento de navios de granéis; soja, milho, farelo, açúcar entre outros.
380
São navios especializados no transporte de veículos e multi-cargas, como automóveis, carretas, contêineres, rolo de papel, bobinas de aço,
outros.
381
Informações obtidas in: Brasil, Força de Transporte, Carregamento de Navios (1972)
a) formação:
- cursos básicos para formação dos TPA´s para as suas funções, conforme
peculiaridades de cada categoria de trabalhadores e sindicatos avulsos. Como exemplo
tem o Curso Básico do Trabalhador Portuário (CBTP), o Curso Básico de Arrumação
e Estivagem Técnica (CBAET) e o Curso Básico de Conferencia de Carga (CBCC);
b) aperfeiçoamento:
- cursos de aperfeiçoamento aos cursos básicos. Exemplos do Curso Avançado de
Arrumação e Estivagem Técnica (CAAET) e do Curso Avançado de Conferencia de
Cargas (CACC).
c) especiais:
- preparam os TPA´s para o exercício de atividades não relacionadas à sua atividade
como o Curso de Técnicas de Ensino (CTE) voltado para a formação de TPA´s
instrutores dos cursos do EPM).
d) cursos Expeditos:
- habilitam os TPA´s para o exercício de atividades para operação com equipamentos
como o Curso de Operação de Guindaste de Bordo (COB).
e) curso de Operação de Portainer (COP), Curso de Operação de Transtainer (COT),
Curso de Operação de Empilhadeira de Pequeno Porte (COEPP);
f) cursos Avançados:
- são cursos voltados a preparação do TPA para o exercício de funções na
Administração e Gerência Técnicas em Terminais Portuários como o Gestão
Operacional em Terminais de Carga Geral (CGTCG).
g) cursos de Atualização:
- os cursos são voltados para a atualização dos TPA´s frente à exigência do avanço
tecnológico em relação aos equipamentos portuários. Entre esses cursos estão o Curso
de Atualização em Operação com Guindaste de Terra (CAOGT), o Curso de
Atualização em Operação com Guindaste de Bordo (CAOGB).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo se propôs a resgatar a trajetória da organização da categoria dos
trabalhadores portuários avulsos (TPA’s), considerando as experiências laborais e práticas
educativas que se fizeram presente desde a constituição desses trabalhadores na orla portuária
paranaense e, correlacioná-las ao processo da modernização portuária da década de 90 e das
atuais demandas de formação profissional marítima, a partir de requisitos de novos
conhecimentos técnicos dos métodos logísticos do manuseio das cargas dos transportes
marítimos do setor portuário.
Sendo assim, o que se pode observar sobre essa questão, é que o trabalhador portuário
avulso, além da preparação prática para suas funções laborais precisa de noções e
conhecimentos mais amplos para fazer frente a esse processo de mudança em curso do setor
portuário. É fato que, as novas formas de manuseio das cargas, antes realizadas pelo dispêndio
da força físico, constrangeu as práticas tradicionais de organização dos trabalhadores portuários
avulsos no porto. São questões que são postas ao trabalhador, as quais demanda habilidades
382
(NORMAM-30/DPC, 2012).
REFERÊNCIAS
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Trabalho dos Portuários Avulsos, São Paulo: Editora EDUFES, 1998.
ALMEIDA, Luiz Gustavo Nascimento de. Estivadores do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.
Editora: Topbooks, 2003.
ARAÚJO, Silvia Maria de. Da precarização do trabalhador portuário avulso a uma teoria da
precariedade do trabalho. In: Revista Sociedade e Estado: Volume 28, Número 3: p.565-586,
setembro/dezembro, 2013.
DIEGUÉZ, Carla Regina Mota Alonso, De OGMO (Operário Gestor de Mão-de-Obra) para
OGMO (Órgão Gestor de Mão-de -Obra): modernização e cultura do trabalho no Porto de
Santos;149f., Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo- USP, São Paulo, 2007.
GITAHY, Maria Lúcia Caira. Ventos do Mar: trabalhadores do porto, movimento operário e
cultura urbana em Santos, 1889-1914. São Paulo, Unesp, 1992.
MANFREDI, Silvia, Educação Sindical: entre o conformismo e a crítica. São Paulo: Editora
Loyola, Coleção Educação Popular, 1986
OLIVEIRA, João Batista de. O estivador no sindicalismo. Rio de Janeiro, Editora: Alves
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SANTOS, Arnaldo Bastos & VENTILARI, Paulo Sérgio Xavier, O trabalho portuário e a
Modernização dos Portos, Curitiba- PR: Editora Juruá, 2004.
ABSTRACT
This article aims to discuss the historical experience of instruction and professional qualification produced by the
hands of workers organized around the mutualist organization known as the Sociedade União Progressista dos
Artistas Mechanicos e Liberaes de Parnahyba, in Piauí, between the years of 1919 and 1920. For that, we used
the methods of the hemerographic research to understand the relations developed in the educational process,
spread in the pages of the newspaper O Artista, propaganda vehicle of the União Progressista. In the theoretical
field, we work with Social History to understand the importance of workers' action in forging new forms of
instruction. The work is divided as follows: Introduction, presenting aspects that motivated the creation of the
research, also bringing a dialogue about the theoretical and methodological perspectives used here; Development,
discussing the history of Parnaíba, the education available in the city during the period studied and the creation
of schools by the city workers, where they learned to read, count and access the technical knowledge of some
artistic craft; Conclusion, performing a balance of research, including by examining the similarities between the
practice of other associations of mutual aid in the state.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho resulta de esforços de pesquisa iniciados desde 2013 no curso de
graduação em História da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), e aprimorados no Programa
de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Ceará (UFC), objetivando
desenvolver uma análise histórica da experiência educacional em Parnaíba realizada pelas mãos
383
Discente do Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Ceará (UFC). awss.phb@gmail.com
2 DESENVOLVIMENTO
Parnaíba é uma cidade situada ao Norte do Estado do Piauí. Teve papel importante para
o desenvolvimento da economia piauiense e regional por estar nas proximidades do litoral, e na
foz do rio que recebe o mesmo nome da cidade. Por conta disso logo atraiu rotas comerciais e
manufaturas, superando já nos fins do século XIX a perspectiva de isolamento atribuída ao
Piauí. Autores atribuem essa distinção “ao espírito empreendedor de suas lideranças
empresariais, estimulado certamente por ter a oportunidade do contato com resto do mundo”.
(MENDES, 1994, p. 73).
Internamente, o escoamento da produção para o interior do Estado através da navegação
a vapor entre o litoral e as demais cidades e vilas piauienses permitiu uma maior integração
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[...] as iniciativas particulares foram as que figuraram como responsáveis por algum
desenvolvimento do ensino. As atividades de ensino em Parnaíba, durante a Primeira
república, [...] eram todas desenvolvidas nas residências dos professores, [...],
mantidos pelas mensalidades dos alunos.
seu ofício”. A energia dispendida para a defesa da profissão reflete o esforço de seus membros
instruírem sobre a arte de suas ocupações, materializando-se nas escolas fundadas pela União
Progressista ao longo de sua existência.
A educação era um fator fundamental para a União Progressista. Percebemos isso em
suas Bazes de Fundação, onde declaram como um dever da organização “difundir a instrução
pelos menores aprendizes de artes e officios, comprehendido em trez ramos, a saber: Leitura,
Musica e Desenhos” (Bazes de fundação. O Artista, 19 de ago., 1919, p. 01). Notamos ao longo
do estudo das edições do periódico que seus idealizadores projetaram o interesse em não só
ensinar a ler e escrever, mas também dar continuidade aos ofícios e artes desenvolvidos pelos
membros da União Progressista, como percebemos na segunda edição do jornal O Artista:
No bairro dos Tucuns desta cidade damos aula noturna nos dias uteis aos menores
aprendizes de artes e officios filhos de artistas e de mais creanças que quizerem
aprender a ler, escrever, e contar, em casa de residência o Illustrado e competente
professor Sr. Rogâncio Britto. A Nossa escola de muzica será aberta até o dia 15 deste
mez sob a direção do artista Sr. Manoel Falcão. O nosso Director Gerente Artista João
Bezerra Leite presidente da S.U. Progressista está empenhado em obter por aluguel
um salão para abertura da aula de noções de dezenhos sob sua direcção, destinada aos
menores aprendizes de artes que já souberem ler e escrever. (As nossas escolas. O
Artista, 07 set., 1919, p. 02).
Pela localização da escola, no Bairro dos Tucuns, que fazia parte do que juridicamente
era tratado como “zona suburbana” (Lei municipal n° 120. Diario do Piauhy, 09 jun., 1914, p.
04), entendemos que a instrução oferecia pela União Progressista dialogava com o traço urbano
da cidade, privilegiando o ensino nos bairros pobres da urbe, espaço onde faziam de habitação
“as empregadas domésticas, as lavadeiras, os meninos de recado, os carregadores de água e de
lenha, os catraieiros, os estivadores, os vareiros, os ladrões de galinha, os mendigos e as
prostitutas” (BRANCO, 1981, p. 20-21)
Algumas de suas escolas nos permitem perceber as relações de tempo e trabalho na
cidade. Considerando o trabalho formal, realizado pela manhã e tarde, a União Progressista
criou em outubro de 1919 a Escola Noturna 7 de Março, “para o ensino de noções de dezenhos,
aos aprendizes de artes e officios e artistas que queiram aprender a ler e desenhar. Funciona na
sede social da ‘União Progressista’” (A Escola Noturna 7 de Março. O Artista, 05 out., 1919,
p. 02). Deste modo, seu público voltava-se para indivíduos que se ocupavam durante o dia e
tinham durante a noite, oportunidade de instruir-se, além de aprender e/ou aprimorar ofícios.
Com dificuldades financeiras, e com a expulsão de seu Presidente por ter enviado ofícios
falsos em nome dos membros da associação, diversas medidas foram tomadas para auxiliar a
recuperação econômica da União Progressista. Em 1920, além de reduzir a periodicidade e
qualidade de impressão do periódico O Artista, a organização fecha a Escola mixta do Alto do
Cemitério, demitindo a professora Marianna Bezerra Cardoso. Afirmam que tomaram tal
decisão baseados no fato “da sociedade não poder manter duas escolas” (Escolas. O Artista. 01
jan., 1920, p. 03). Apesar disso, fundam uma nova escola noturna na cidade:
A directoria da União Progressista resolveu fundar mais uma escola noturna, na séde
social, aonde os artistas e seus filhos poderão colher alguns conhecimentos de
Portuguez e Arithmetica, tão necessarios ao homem. O ensino será ministrado
gratuitamente. O Corpo docente será composto dos membros da Directoria (Escolas.
O Artista, 01 jan., 1920, p. 03).
3 CONCLUSÃO
A prática de instrução das associações mutualistas era comum. Seus associados
investiam na “organização de uma biblioteca ou na construção de escolas noturnas e liceus de
artes e ofícios, entre outras possibilidades” (VISCARDI, 2014. p.197). No Piauí, “foram
mapeadas 03 entidades de associação profissional; 17 mutualistas e beneficente e 32 de
categorias profissionais”. Destas, “09 montaram escolas de primeiras letras e
profissionalizantes” (NASCIMENTO, 2004. p. 04), sendo 03 em Parnaíba. Até o momento, as
fontes que localizamos nos permitem estudar a situação e a experiência das escolas criadas pela
União Progressista, uma vez que o jornal da associação sobreviveu ao tempo, e garantiu nossas
reflexões sobre o tema.
O impacto da instrução ofertada pelos integrantes da União Progressista em Parnaíba é
difícil de mensurar, embora a proposta da associação tenha sido claramente necessária. Em
1920, as estatísticas apontavam que em uma cidade com pouco mais de 20.000 habitantes,
18.019 destes, entre homens e mulheres, não sabiam ler nem escrever (Recenseamento do
Brazil. Vol. IV, 1° Parte, 1926, p. 710).
Apesar de fundar aproximadamente quatro escolas, mantendo planos de desenvolver
“pequenas escolas por todos os bairros da cidade” (As nossas escolas. O Artista, 05 out., 1919,
p. 03) o empenho da União Progressista em garantir o aprendizado de técnicas das artes e as
primeiras letras de seus filhos não consta nos estudos dos pesquisadores em educação de
Parnaíba. As edições d’O Artista encontram-se digitalizados pela Hemeroteca Digital da
Biblioteca Nacional, assim como disponível para download na Plataforma Mundos do Trabalho
– Piauí. Queremos apontar com isso que “a memória social de suas vidas vai-se perdendo antes
por um esquecimento ideológico do que por efetiva ausência de documentos”. (DIAS, 1984, p.
07).
Esperamos que o trabalho colabore nas discussões sobre história da educação no Piauí
e sirva de incentivo para novas pesquisas sobre os processos de educação desenvolvidos pelos
trabalhadores e trabalhadoras do Estado, que mostram, pela prática, outras possibilidades de
pensar a instrução e o trabalho.
REFERÊNCIAS
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Política. In: SANTANA, Raimundo Nonato Monteiro (org). Piauí: Formação –
Desenvolvimento – Perspectiva. Teresina: Halley, 1994.
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Paulo: Brasiliense, 1984.
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das Letras, 2007.
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instrução pública para os pobres no Ceará. In: RIOS, Kênia Sousa; FURTADO FILHO, João
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SANTANA, Raimundo Nonato Monteiro. Piauí: Formação – Desenvolvimento – Perspectiva.
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VISCARDI, Claudia Maria Ribeiro. O Ethos mutualista: valores, costumes e festividades. In:
CORD, Marcelo Mac & BATALHA, Claudio (org). Organizar e proteger: Trabalhadores,
associações e mutualismo no Brasil (século XIX e XX). Campinas: Editora da Unicamp,
2014.
RESUMO
O objetivo do presente estudo foi objetivo analisar a produção científica referente as concepções e intervenções
dos professores acerca do bullying nas escolas. Trata-se de uma revisão integrativa, realizada nas bases de dados
LILACS, MEDLINE e BDENF com a associação dos descritores: bullying, professores de ensino médio e
fundamental e escola. Os critérios de inclusão foram: artigos disponibilizados; divulgados em português; e
publicados no período compreendido entre 2012 e 2016. A coleta de dados foi realizada no período de junho e
julho de 2017. Na busca inicial foram encontrados 161 artigos, 37 na LILACS, 121 na MEDLINE e 4 na BDENF.
Foram excluídos estudos em duplicidade, em idiomas distintos do definido e aqueles que, conforme percebido
através do título ou após leitura do resumo, não atendiam ao tema proposto. Dos 22 artigos lidos na íntegra, apenas
09 responderam à questão norteadora e definiram a amostra final. Após a leitura minuciosa, foi possível organizar
o conteúdo dos artigos selecionados em três temáticas: Concepções dos professores acerca do bullying;
Dificuldades encontradas para a identificação do bullying; Meios de intervenção. Conclui-se a necessidade de
desenvolvimento de mais estudos com a finalidade de enaltecer o conceito de bullying, os tipos de intervenções
relevantes e, destaca-se a formação deficiente durante a graduação dos professores, a qual não é desenvolvida de
forma aprofundada e efetiva, causando um despreparo para o enfrentamento da violência dentro dessas instituições.
ABSTRACT
The objective of the present study was to analyze the scientific production concerning the conceptions and
interventions of teachers about bullying in schools. It is an integrative review carried out in the LILACS,
MEDLINE and BDENF databases with the association of descriptors: bullying, high school and elementary school
teachers, and school. The inclusion criteria were: articles made available; disclosed in Portuguese; and published
in the period between 2012 and 2016. Data collection was performed in June and July 2017. In the initial search
161 articles were found, 37 in LILACS, 121 in MEDLINE and 4 in BDENF. Duplication studies were excluded, in
languages other than those defined and those that, as perceived through the title or after reading the abstract, did
not meet the proposed theme. Of the 22 articles read in full, only 9 answered the guiding question and defined the
final sample. After careful reading, it was possible to organize the content of the articles selected in three themes:
Teacher conceptions about bullying; Difficulties encountered for the identification of bullying; Means of
intervention. It is concluded that there is a need to develop more studies with the aim of highlighting the concept
of bullying, the types of relevant interventions, and the poor training during the graduation of teachers, which is
not developed in depth and effective, causing an unpreparedness to confront the violence within these institutions.
384
Graduanda em Enfermagem. Universidade de Fortaleza. lusousaoliveiraol@gmail.com
385
Graduanda em Enfermagem. Universidade de Fortaleza. rafaelaliman@hotmail.com
386
Mestranda em Saúde Coletiva. Universidade de Fortaleza. herikapp@hotmail.com
387
Docente do programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Universidade de Fortaleza. mirnafrota@unifor.br
1 INTRODUÇÃO
O bullying tem se destacado como um problema importante a ser investigado e
enfrentado. Conceitualmente, constitui um tipo de violência interpessoal caracterizado pela
intimidação entre pares. Representa qualquer comportamento – ou atitude – agressivo
intencional, repetitivo e realizado dentro de uma relação desigual de poder entre vítimas e
agressores (AHTOLA et al., 2012). Trata-se de um fenômeno preocupante tanto pelo seu
crescimento quanto por atingir faixas etárias iniciais, relativas aos primeiros anos de
escolaridade, e pelo sofrimento que impõe aos sujeitos envolvidos, sejam como vítimas,
agressores ou espectadores (OLWEUS, 2013).
Segundo Moura et al. (2011) o bullying pode assumir formas mais tradicionais, que
incluem comportamentos agressivos de natureza física (socos, pontapés, empurrões, etc.),
verbal (fofocas, xingamentos, apelidos, entre outros) e psicológica (ameaças, insultos e
chantagens). Formas mais recentes, como o cyberbullying, pela internet e pelo telefone celular,
têm sido utilizadas para espalhar mensagens caluniosas ou difamatórias. Pode, ainda, ser
vivenciado de forma direta (agressões praticadas à vítima na sua presença) ou indireta (que
geralmente acontecem na ausência da vítima, como, por exemplo, espalhar fofocas, estragar
pertences, entre outros).
A transição para o ensino fundamental coincide, para a maioria dos alunos, com o
período da adolescência (caracterizado por transformações biológicas, de inteligência, caráter
e personalidade), no qual aumentam a probabilidade da manifestação de comportamentos de
risco e a exposição à violência (BRASIL, 2009).
A compreensão dos professores sobre o bullying coincide com alguns aspectos
identificados pela literatura referentes à natureza das agressões (física, verbal e psicológica),
uma vez que é compreendido enquanto comportamentos negativos, intimidações, insultos,
assédios, exclusões e discriminações de todo gênero que provocam na vítima sentimentos de
inferioridade e, em geral, contribuem para o desenvolvimento de desordens psicológicas e
sociais (JONES; WAITE; CLEMENTS, 2012).
Ademais, isso pode ser considerado preocupante em função de diversos estudos
indicarem que a maioria dos professores apresentam dificuldade em identificar as agressões
praticadas pelos alunos, com destaque para as mais sutis, devido principalmente as fragilidades
na formação inicial para a docência e à complexidade que as situações de violência assumem
na interação entre os alunos (GAZQUEZ et al., 2009; PERRON, 2013).
2 METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa, método que consiste na construção de uma análise
ampla da literatura, contribuindo para discussões, avaliação crítica e síntese de evidências
disponíveis sobre o tema investigado (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
Para o desenvolvimento do presente estudo, foram seguidas as seguintes etapas:
identificação do tema e seleção da questão norteadora; estabelecimento dos critérios de inclusão
e exclusão; definição das informações a serem extraídas e categorização; avaliação;
interpretação dos resultados e apresentação da revisão (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO,
2008).
As buscas foram realizadas nas bases de dados LILACS, MEDLINE e BDENF, por
meio da utilização de forma associada dos seguintes descritores: bullying, professores de ensino
médio e fundamental e escola. Os critérios de inclusão foram: artigos científicos
disponibilizados na íntegra; divulgados em português e publicados no período entre 2012 e
2016.
A coleta de dados foi realizada entre o período de junho e julho de 2017. Para a
caracterização dos estudos selecionados as seguintes informações foram extraídas e
organizadas em um quadro: título, periódico, ano de publicação, objetivo e método. Os
resultados foram avaliados criteriosamente, as informações coletadas foram categorizadas,
construindo-se os grupos temáticos e analisadas de forma descritiva.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Quadro 1 – Distribuição dos estudos selecionados de acordo com título, periódico, ano de
publicação, objetivo e método empregado
Título Periódico Ano Objetivo Método
Bullying: verificando a Analisar a compreensão
compreensão dos que os professores
Psicologia Escolar e
professores sobre o 2016 possuem acerca das razões Qualitativo
Educacional
fenômeno no ambiente promotoras do bullying no
escolar ambiente escolar
Identificar o
Estudo exploratório sobre conhecimento dos
as concepções e estratégias professors do 6º ano do
Psicologia Teoria e
de intervenção de 2015 ensino fundamental sobre Qualitativo
Prática
professores em face do o bullying e as
bullying escolar intervenções por eles
desenvolvidas
Comparar os escores de
problemas de
Problemas de
comportamento relatados
comportamento segundo Estudos e Pesquisas
2014 por adolescentes, vítimas Quantitativo
vítimas de bullying e seus em Psicologia
de bullying, aos escores
professores
reportados por seus
professores
O olhar de professors sobre
Compreender o bullying
o bullying e implicações Revista da Escola de
2014 escolar, na perspectiva Qualitativo
para a atuação da Enfermagem da USP
dos professores
enfermagem
Investigar se professors do
6o do Ensino Fundamental
Bullying: conhecimentos,
conheciam, identificavam
atitudes e crenças de PSICO 2014 Qualitativo
e como intervêm nas
professores
situações de bullying
ocorridas na sala de aula
Analisar a percepção de
Características do bullying
alunos e professores do
na percepção de alunos e
Temas em Psicologia 2014 ensino fundamental acerca Quantitativo
professores de uma escola
das características do
de ensino fundamental
bullying nas escolas
Refletir a respeito das
concepções sobre o
Professores sabem o que é fenômeno e do que eles
Psicologia Escolar e
bullying? Um tema para a 2013 consideram serem formas Qualitativo
Educacional
formação docente eficazes de intervenção
diante dos casos ocorridos
em escolas públicas
Bullying e relação Associar bullying e
PSICO 2013 Quantitativo
professor-aluno: relação professor-aluno
percepções de estudantes
do ensino fundamental
Verificar se professores de
6º ano do Ensino
Bullying na sala de aula:
Arquivos Brasileiros Fundamental identificam
percepção e intervenção de 2013 Qualitativo
de Psicologia situações de bullying em
professores
sala de aula e como
intervêm nessas situações
Fonte: Elaborado pelas autoras.
6 ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÕES
De acordo com Buloch et al. (2003) os professores eram mais propensos a intervir nas
situações que consideravam mais graves ou vexatórias, tais como ataques físicos e verbais, por
demonstrarem maior empatia com os alunos envolvidos.
Le Blanc (2003) comenta que no que tange às escolas, importa que elas se dediquem ao
desenvolvimento de um ambiente seguro, no qual exista supervisão efetiva por funcionários
nos momentos em que os alunos estejam interagindo em espaços favoráveis à manifestação de
atitudes agressivas, tais como quadra, pátio e corredores, em horários de entrada, saída e recreio
especialmente.
Roth et al. (2011) frisaram que o menosprezo da gravidade das agressões e de seus
efeitos, para os sujeitos envolvidos, sejam essas verbais ou físicas, pode conduzir à
subestimação dos danos causados pelo bullying, especialmente pelas formas consideradas
menos violentas de intimidação. No entanto, diante da complexidade que reveste as agressões
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7 CONCLUSÃO
Conclui-se a necessidade de desenvolvimento de mais estudos com a finalidade de
enaltecer o conceito de bullying, os tipos de intervenções relevantes e, destaca-se a formação
deficiente durante a graduação dos professores, a qual não é desenvolvida de forma aprofundada
e efetiva, causando um despreparo para o enfrentamento da violência dentro dessas instituições.
Por conseguinte, esse estudo torna-se relevante para promover o conhecimento dos
profissionais de saúde e a para contribuição do desenvolvimento de futuras pesquisas com essa
população e ações satisfatórias para prevenção e promoção de saúde na comunidade escolar.
REFERÊNCIAS
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Educator, v. 34, n. 1, p. 01-16, 2010.
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Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor, Fundação Instituto de
Administração, 2010.
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PERRON, T. Peer victimisation: strategies to decrease bullying in schools. Br. J. Sch. Nurs.,
v. 8, n. 1, p. 25, 2013.
MURRAY-HARVEY, R.; SLEE, P.T. School and home relationships and their impact on
school bullying. School Psychology Inter- national, v. 31, n. 3, p. 271-295, 2010.
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SOUZA, M.T.; SILVA, M.D.; CARVALHO, R. Revisão integrativa: o que é e como fazer?
Einstein, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 102-106, jan./mar. 2010.
HERNANDEZ, D. et al. How safe is a school? An exploratory study comparing measures and
perceptions of safety. Journal of School Violence, v. 9, n. 4, p. 357-374, 2012.
1 INTRODUÇÃO
A reflexão sobre a avaliação da aprendizagem deve estar presente em todos os níveis e
modalidades de ensino. Na Educação Profissional e Tecnológica (EPT), a ação avaliativa do
professor torna-se mais complexa tendo em vista que esta modalidade abrange conteúdos que
envolvem a ciência, a cultura, a tecnologia e o mundo do trabalho. A EPT teve grande expansão
nos últimos anos e, portanto, tem sido estudada e discutida no campo educacional, em seus
diversos elementos como: formação docente (MACHADO, 2008; MOURA, 2008), concepções
(FRIGOTTO et al. 2005), estratégias de aprendizagem (SCACCHETT et al., 2015) e processos
avaliativos (GASPARIN, 2011).
Observa-se que com a expansão das instituições de educação profissional, cresce
também o número de alunos desta modalidade, atingindo-se uma matrícula em 2016 de 1,9
milhão de alunos (BRASIL, 2016). Neste contexto de crescente procura pelo ensino
profissional, é importante a realização de pesquisas e práticas que busquem a melhoria no
processo de ensino-aprendizagem e, em específico, no processo avaliativo.
As pesquisas são importantes devido à complexidade que envolve a avaliação no
processo de aprendizagem, sendo esta, muitas vezes decisiva na vida escolar do aluno, como
mostraram Lüscher e Dore (2011), em estudo sobre evasão escolar, pela qual concluíram que
questões pedagógicas, incluindo a avaliação, possuem peso significativo na decisão do aluno
de curso técnico de abandonar seus estudos.
388
Mestranda em Educação Profissional e Tecnológica - PROFEPT/IFCE. amandacoelhoh@gmail.com
² Docente do Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica- PROFEPT/IFCE. laninharoque@gmail.com
Considerando que tal realidade pode ser resultado de aspectos como a concepção de
avaliação que predomina nas escolas bem como as formas avaliativas vivenciadas por alunos e
professores, e, tomando-se como referências pesquisas sobre avaliação na educação
profissional, foi realizado um levantamento bibliográfico na tentativa de compreender que
resultados essas pesquisas revelam. Como é realizada a avaliação da aprendizagem no ensino
técnico? Quais as concepções de avaliação dos alunos, professores e instituições pesquisados?
Que instrumentos são mais utilizados? Tais questões conduzirão a uma reflexão sobre o cenário
do processo avaliativo da aprendizagem no Ensino Técnico brasileiro em algumas realidades
escolares.
Para tanto, utilizou-se como recurso metodológico, a pesquisa bibliográfica realizada a
partir da análise de estudos já publicados na área de avaliação da aprendizagem e avaliação do
Ensino Técnico. Assim, foi feita uma busca no Portal de Periódicos CAPES e na ferramenta de
busca Google Acadêmico. Os descritores utilizados foram: avaliação da aprendizagem,
avaliação da aprendizagem na educação profissional e avaliação da aprendizagem no ensino
técnico. Dentre os resultados encontrados, foram selecionados os trabalhos relacionados à
avaliação da aprendizagem em cursos presenciais de ensino técnico no Brasil. Vale ressaltar
que para seleção dos artigos considerou-se o período a partir de 2001 até os dias atuais, no qual
maior número de pesquisa foi observado.
2 AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Na perspectiva da abordagem Histórico-crítica da avaliação, ensino e aprendizagem
formam uma unidade no processo. Desta forma, a avaliação deve ser processual e não um
produto final. Ela precisa ser vista como uma forma de diagnóstico contínuo e que possa ser
modificado ao longo do processo de ensino-aprendizagem, não devendo, então, ser reduzida a
uma função classificatória dos alunos.
A avaliação é uma das principais etapas do processo de ensino-aprendizagem. Para
Luckesi (2002), a avaliação deve ser praticada como um julgamento de valor sobre dados
relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão. Além disso, o autor esclarece
que esses “dados relevantes” não devem ser eleitos ao acaso pelo professor, mas sim escolhidos
de acordo com o que se propõe com a educação.
Para o autor, a avaliação como é realizada está a serviço de uma educação que, por sua
vez, está a serviço de um modelo específico de sociedade. Logo, é uma avaliação que está
inserida em uma prática escolar voltada para a manutenção da dessa sociedade, de modo que,
para contrapor esse paradigma, é preciso situar a avaliação dentro de uma pedagogia
direcionada à busca pela transformação social.
Sendo assim, a avaliação escolar realizada dentro de um modelo liberal conservador é
autoritária e disciplinadora, pois exige controle e enquadramento dos indivíduos dentro de
parâmetros pré-definidos pela sociedade. Todavia, o que se busca com as pedagogias que visam
às transformações sociais, é a autonomia do educando, possibilitando assim sua participação
em uma nova conformação de sociedade em que a participação democrática de todos seria
realmente garantida (LUCKESI, 2002).
Todavia, para Leite e Kager (2009), as práticas de avaliação da aprendizagem ainda se
dão a partir de um modelo teórico tradicional. Tal modelo, segundo os autores, de avaliação
escolar classificatória contribui para produzir consequências negativas como preconceito e
estigma, o que pode se tornar um instrumento autoritário e prejudicial ao desenvolvimento
escolar para muitos alunos. Ademais, as decisões que o professor toma, em relação às práticas
de avaliação produzem marcas afetivas e interferem na relação que se estabelece entre o aluno
e o objeto de conhecimento em questão (LEITE; KAGER, 2009).
Essa forma de classificação taxativa do aluno, em ‘bom’ ou ‘ruim’, segundo Moreira
(2006), pode condicionar o status do estudante na sociedade e sua possível profissão. A autora
explica que o “mau” desempenho em certas disciplinas faz com que o aluno seja excluído de
diversas atividades acadêmicas (como estágios ou grupos de pesquisa), podendo prejudicar o
interesse por determinados conteúdos devido à ausência de criação de um vínculo positivo com
o conhecimento. Os resultados considerados “ruins” podem fazer com que o aluno pense que
não tem capacidade de aprender e que, desse modo, não pode optar por carreiras que exijam
conhecimentos específicos em áreas em que sempre foi avaliado como “fraco” (MOREIRA,
2006).
Assim, é preciso reconhecer que as práticas de avaliação não se restringem apenas a
aspectos cognitivos, mas também envolvem a dimensão afetiva (LEITE; KAGER, 2009).
Portanto, a avaliação não deve ser somente o momento de realização de testes, mas sim um
processo habitual, que visa à correção de erros e direciona o aluno a atingir os objetivos
previstos, tornando-se, portanto, um elemento motivador do processo de ensino-aprendizagem
(ALCÂNTARA et al., 2016).
No que diz respeito à legislação, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL,
1996) trata de avaliação em seu artigo nº 24, onde se lê:
Cada plano de curso deve ser coerente com o projeto pedagógico da instituição e deve
conter, conforme estabelecido pelo Artigo 10 da Resolução CNE/CEB nº 04/99: [...]
critérios de avaliação, entendida esta como verificação contínua e efetiva da
apropriação de competências, incluindo a definição de processos e instrumentos.
(BRASIL, 2000, p. 20)
avaliação tradicional, pode modificar sua prática? De modo que também se faz necessária a
mudança nos métodos aplicados durante a formação docente inicial e continuada. Além disso,
muitos docentes que atuam no ensino técnico sequer possuem formação pedagógica. E mesmo
para os que a possuem modificar suas práticas não deixa de ser um grande desafio.
Castro (2016) investigou o processo de avaliação da aprendizagem também em uma
escola técnica em saúde. Seu estudo mostrou que a concepção de avaliação esteve, desde a
criação da escola, reduzida à verificação do rendimento escolar relacionado ao conhecimento
adquirido e ao desempenho do aluno. Portanto, os resultados demonstram que problemas
relacionados à concepção de avaliação perduraram durante o período analisado e que ainda são
necessárias as reflexões sobre avaliação da aprendizagem no âmbito institucional.
Além dos estudos a nível institucional, foram identificados trabalhos que buscaram
caracterizar a prática avaliativa dos docentes. Como em Avelar (2001), que identificou, a partir
de aplicação da observação de aulas e da aplicação de questionários e entrevistas com docentes
e estudantes, a avaliação como um dos fatores causadores de desmotivação para o estudo de
língua estrangeira em turmas de ensino médio integrado ao curso técnico. Os professores
entrevistados durante esse estudo caracterizaram a avaliação como “um fio condutor de
ensino/aprendizagem”, o qual contribui para o aprimoramento deste, já que permite aos alunos
perceberem o que aprenderam e que podem melhorar. Todavia, a prática desses docentes se
mostrou contraditória. A autora observou que os “professores agem inconscientemente, de
acordo com concepções arraigadas sobre o avaliar como instrumento disciplinador e
discriminatório”, além de reforçarem a concepção de avaliação criadora de competição,
discriminação e nervosismo. Ademais, os docentes afirmam não confiar nos resultados das
avaliações, os considerando injustos, não acreditando na avaliação como meio eficiente de
verificação do desenvolvimento dos estudantes.
Dessa maneira, é possível observar que os docentes já apresentavam uma postura
questionadora a respeito das práticas avaliativas em vigor, além de opiniões que se
direcionavam a um posicionamento crítico quanto à avaliação tradicional. Tais pensamentos
podem ser vistos, assim, como um terreno fértil para a mudança almejada dos processos de
avaliação.
Em um estudo mais recente, Prates e Müller (2015), que entrevistaram professores do
ensino técnico integrado ao ensino médio de uma instituição de EPT, também identificaram
contrastes. Os docentes têm a preocupação de não avaliar os alunos em apenas um único
momento e não fazê-lo somente para a obtenção de uma média. Os entrevistados também
expuseram em suas respostas a ideia de que o resultado da avaliação pode ser utilizado no
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participam dos momentos de reflexão e sequer são ouvidos quanto a esta e outras temáticas
relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem, do qual são foco principal. Avelar (2001),
inclusive, identifica esse fato como um aspecto que influencia o desestímulo dos estudantes.
Ao tomarmos como referência a perspectiva da pedagogia histórico-crítica, pode-se dizer que
a avaliação pertence tanto a professor quanto a alunos, já que ambos se avaliam de forma
recíproca, ainda que não formalmente (GASPARIN, 2011).
Alcântara et al. (2016), por sua vez, identificaram que a maioria dos estudantes
participantes de sua pesquisa, matriculados em cursos técnicos integrados ao ensino médio,
associa avaliação à prova. Além disso, verificaram o temor dos alunos quanto as práticas de
avaliação e que estas mexem com os sentimentos dos discentes, os quais podem assumir
posturas que se tornam barreiras ao seu desenvolvimento cognitivo. Isto é, os processos
avaliativos podem ser nocivos e afetar a qualidade da vida escolar dos discentes
(ALCÂNTARA et al., 2016). A avaliação, assim, que deveria ser vista de forma positiva, é
encarada como algo assustador, gerando ainda mais problemas para a aprendizagem.
Foram encontrados também estudos descrevendo a utilização de formas alternativas às
provas e aos testes na avaliação de alunos de cursos técnicos. É o caso de Moreira (2006), que
apresentou duas experiências que visavam à ruptura com o modelo tradicional de avaliação,
utilizando a arte, a música, a dramatização, os recursos pictóricos, o trabalho com argila, a prosa
e a poesia, como elementos facilitadores da criação, com resultado final positivo.
Outra experiência exitosa foi a de Pacheco e Damasio (2009), ao aplicarem uma
proposta de melhoria da educação científica e tecnológica através da aprendizagem
significativa. Os autores observaram que mapas conceituais e diagramas V mostraram forte
potencial quando utilizados na avaliação da aprendizagem de alunos de cursos técnicos. Lopes
et al. (2011) descreve, ainda, uma experiência de aplicação da Aprendizagem Baseada em
Problemas como metodologia de ensino em uma turma de ensino médio integrado ao técnico
em Análises Clínicas. Em seu estudo, os autores escolheram um percurso avaliativo baseado
no olhar do próprio estudante sobre o seu próprio processo de aprendizagem, utilizando-se da
autoavaliação, da heteroavaliação por outros estudantes, além da avaliação realizada pelo
professor através de observações, pareceres e materiais apresentados pelos estudantes.
Se hoje sabemos que as pessoas aprendem de formas diferentes, que os alunos
apresentam potenciais distintos e que as inúmeras combinações de inteligências existentes
tornam cada pessoa única, como avaliar uma turma inteira da mesma forma? Ou utilizar
“instrumentos variados”, mas que tenham a escrita como base comum a todos? O próprio
Gardner (1995), autor da Teoria das Inteligências Múltiplas, ressalta que sua proposta
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pedagógica exige uma avaliação inicial das inteligências de cada aluno, o que facilitaria a busca
por alternativas às dificuldades de cada um, e que as avaliações devem ser adequadas às
diferentes capacidades humanas. A diversidade de instrumentos avaliativos, portanto,
possibilita a obtenção de dados mais completos e condizentes com a realidade.
4 CONCLUSÃO
Com base nos dados apresentados, pode-se inferir que as práticas de avaliação da
aprendizagem no ensino técnico devem ser discutidas e modificadas. As experiências relatadas
demonstram a necessidade da disseminação e aplicação de formas alternativas de avaliação da
aprendizagem, com a colaboração de todos os envolvidos no processo educativo, buscando
transformação social e o desenvolvimento integral dos alunos.
Os estudos analisados demonstram que é predominante entre os sujeitos professores e
alunos a concepção tradicional de avaliação, tendo como instrumento avaliativo a prova escrita
tradicional. Observou-se que essa concepção norteadora da prática avaliativa, limita o processo
de avaliação da aprendizagem dos alunos, causando também efeitos negativos, como os
ressaltados pelos alunos entrevistados. Observou-se, além disso, a necessidade de que os
professores possam construir uma visão dialógica de avaliação, podendo utilizar as diferentes
formas de se avaliar, de modo que o processo de avaliação da aprendizagem se torne mais
diverso e abrangente, o que contribui para a ressignificação da visão negativa para com o
processo avaliativo.
REFERÊNCIAS
AVELAR, Silvana Lucia Teixeira de. Mudanças na concepção e prática da avaliação e seu
efeito no ensino/aprendizagem de língua estrangeira (Inglês) em uma escola de ensino médio
e técnico. 196f. Dissertação (Mestrado). Universidade Estadual de Campinas, Instituto de
Estudos da Linguagem, Campinas, 2001.
BRASIL. Censo escolar 2016: notas estatísticas. INEP, Brasília, 2017. Disponível em: <
http://portal.mec.gov.br/docman/fevereiro-2017-pdf/59931-app-censo-escolar-da-educacao-
basica-2016-pdf-1/file>. Acesso em: out. 2017.
LEITE, Sérgio Antônio da Silva; KAGER, Samantha. Efeitos aversivos das práticas de
avaliação da aprendizagem escolar. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação,
v.17, n.62, p. 109-134, 2009.
LOPES, Renato Matos; SILVA FILHO, Moacelio Veranio; MARSDEN, Melissa; ALVES,
Neila Guimarães. Aprendizagem baseada em problemas: uma experiência no ensino de
química toxicológica. Quim. Nova, v.34, n.7, p. 1275-1280, 2011.
SCACCHETTI, Fabio Alexandre; P. OLIVEIRA, Katya Luciane de; MOREIRA, Ana Elisa
da Costa. Estratégias de Aprendizagem no Ensino Técnico Profissional. Psico-USF, Bragança
Paulista, v. 20, n. 3, p. 433-446, 2015.
RESUMEN
Este trabajo tiene como objetivo presentar la evaluación de los concluyentes del curso Técnico en Agropecuaria
ofrecido por el Instituto Federal de Educación, Ciencia y Tecnología de Ceará - campus Iguatu, sobre la
contribución del referido curso a su formación profesional. Para ello, a partir de un abordaje cualitativo, se
aplicó un cuestionario a 66 concluyentes de las clases de 2007 a 2014 de dicho curso cuyos datos fueron
analizados a la luz del documento producido por el Ministerio de Educación y por la Secretaría de Educación
Profesional y Tecnológica sobre la la resignificación de la enseñanza agrícola en la Red Federal de Enseñanza,
además de los principios de la Educación Profesional del Campo, elaborados por los movimientos sociales del
campo. Se identificó que, a pesar de la posibilidad de oferta de una educación integral, del tipo politécnico y
tecnológico, la enseñanza desarrollada en estas unidades escolares tangencia esta perspectiva, priorizando, así
como en el pasado, las demandas del mercado de trabajo, orientado hacia la asistencia técnica al trabajo pequeño
productor, desconsiderando, sin embargo a la especificidad de la región que hace relevante el conocimiento
profundo sobre el paradigma de la convivencia con el semiárido.
1 INTRODUÇÃO
Ao analisar a realidade econômica brasileira e as novas configurações em todos os
setores produtivos, ressalta-se aqui a reestruturação produtiva do campo. Priorizando essa
análise, depreende-se a existência de dois modos distintos de produção agrícola: um deles
voltado para a produção e consumo (produção de alimentos e as necessidades alimentares da
população), sendo identificada como agricultura familiar camponesa, e outro voltado para a
produção em grande escala, conhecida como agricultura capitalista ou agronegócio.
A constatação dessa polarização – agricultura familiar camponesa e agronegócio - levou
a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC) a constituir um Grupo de
389
Docente do Instituto Federal do Ceará – campus Horizonte. madalena-silva81@hotmail.com
390
Docente do Liceu de Iguatu Dr. José Gondim. wandersondiogo@hotmail.com
Trabalho (GT) denominado GT do Ensino Agrícola, que iniciou suas atividades elaborando o
documento “Contribuição à Construção de Políticas da Rede Federal de Vinculada ao
MEC/SETEC” destinado a provocar um repensar sobre o ensino agrícola da rede federal
(BRASIL, 2007, p. 4).
O resultado deste trabalho foi o Documento Final do Seminário Nacional sobre a (Re)
significação do Ensino Agrícola da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica,
elaborado no decorrer de 2008, constatando-se que o modelo de ensino predominante nas
instituições que oferecem essa modalidade de ensino ainda tem por base a metodologia
implantada pela Coordenadoria Nacional do Ensino Agrícola (COAGRI) nas décadas 1960 e
1970, que “sistematizou e ainda hoje orienta a prática pedagógica do modelo escola-fazenda,
baseada no princípio do aprender a fazer fazendo voltado para um sistema de produção agrícola
baseado na grande produção” (BRASIL, 2007, p. 4).
No momento atual da sociedade capitalista há um domínio econômico e uma hegemonia
cultural do agronegócio sobre a agricultura camponesa, porém a sustentabilidade desse modelo
evidenciada nas crises de produção e distribuição de alimentos, na maior concentração de terras,
ampliação da pobreza no campo, combinada com a destruição do meio ambiente e o
comprometimento da qualidade de vida, abre a possibilidade concreta para a construção de um
projeto alternativo de desenvolvimento do campo.
Na compreensão desse contexto e no bojo das contradições que dele emergem, desde o
final da década de 1990 vem se constituindo no Brasil “um novo jeito de lutar e de pensar a
educação para os brasileiros que trabalham no campo e vive do campo” (CALDART, 2002,
p.18). Além de uma construção conceitual, se constitui numa construção política e ideológica
que nasce da crítica à educação rural cuja referência é o produtivismo, que vê o campo somente
como lugar de produção de mercadorias e não como espaço de vida.
Considerando que o sistema federal de ensino agrícola surgiu para atender as demandas
da chamada revolução verde, o debate sobre as finalidades educativas da educação profissional
para o campo e da formação de profissionais vinculados a produção agrícola aponta que:
essa modalidade de ensino tem uma tradição ligada a duas vertentes: o preparo de
trabalhadores assalariados das empresas agro-exportadoras e a formação de
extensionistas – vinculados a órgãos públicos ou mesmo a empresas – para o trabalho
de assistência técnica aos agricultores [...] (CALDART, 2010, p. 236).
do Ceará (IFCE) – Campus Iguatu, antiga Escola Agrotécnica, que tem como um dos seus
cursos o Técnico em Agropecuária?
Nesse contexto, o presente estudo surge com o objetivo de analisar a formação do
Técnico em Agropecuária, egresso do IFCE – campus Iguatu, tendo como referência principal
a vivência profissional desenvolvida pelos mesmos e o documento produzido pelo Ministério
da Educação (MEC) e pela Secretaria de Educação e Tecnologia sobre a ressignificação do
ensino agrícola na Rede Federal de Ensino e os princípios da Educação Profissional do campo
elaborado pelos movimentos sociais do campo.
O golpe militar de 1964 “[...] foi uma manobra dos setores mais avançados da burguesia
brasileira, que contou com o apoio e aliança dos latifundiários, das multinacionais, do governo
dos Estados Unidos e dos militares, responsáveis pela intervenção executiva” (GERMANO,
1994, p. 165). Os responsáveis pelo golpe fizeram a opção por um projeto de desenvolvimento
associado e subordinado ao capital estrangeiro, o qual alcançou a agricultura brasileira com o
objetivo de modernizá-la.
O ambiente político e econômico era ideal para a adoção de políticas de produção
agrícola, para a exportação de grãos e importação de implementos e insumos favoráveis aos
interesses econômicos e financeiros que operam em escala internacional. O padrão agrícola
brasileiro se transformou por meio da política de crédito que financiava a compra de insumos
modernos (máquinas, tratores, colheitadeiras, fertilizantes, defensivos químicos), além de uma
integração entre o setor primário e o setor secundário. Esse processo de modernização na
agricultura promoveu uma revolução no campo, denominada de Revolução Verde.
Ao estudarmos a formação do técnico em agropecuária com atenção voltada para o
período pós 1960, percebe-se que as orientações curriculares têm sido determinadas pelo
modelo de desenvolvimento capitalista de sociedade, que é redimensionado na medida em que
para a educação profissional, urgentes mudanças para que o país pudesse acompanhar os
avanços científicos e tecnológicos da sociedade do conhecimento (ou técnico-informacional).
Em 1996 foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) n. 9.394,
que configurou o ensino médio como a etapa final da educação básica, possibilitando o ingresso
do aluno no ensino superior ou na carreira técnico-profissional, depois de atendida a formação
geral, conforme o artigo 36, parágrafo 2º, seção IV da referida lei. Dessa forma, caracterizou-
se a separação entre o ensino médio de caráter propedêutico, como aprofundamento do ensino
fundamental, e o ensino médio técnico profissionalizante. O Decreto 2.208/97 que
regulamentou a reforma da educação profissional estabeleceu, em seu art. 5º, a separação entre
os ensinos médio e profissional gerando dois sistemas de ensino.
O decreto 2.208/97 traz a pedagogia das competências e como diretriz o aprender a
aprender. O entendimento é de que a empregabilidade depende do esforço individual de
adaptação/adequação, e aos cursos profissionais cabe tornar a sua clientela empregável,
adequando-se às demandas do mercado.
Pelo referido Decreto, a educação profissional foi dividida em 20 áreas profissionais e
conforme as diretrizes apresentadas para o Curso Técnico em Agropecuária, os alunos deveriam
dedicar-se aos estudos sobre atividades de produção animal, vegetal, paisagística e
agroindustrial, cujo objetivo era a preparação para a atuação de profissionais na cadeia
produtiva do agronegócio (RESOLUÇÃO CNE/CEB N. 04/99, p. 7).
Agronegócio foi a denominação dada ao novo modelo econômico para a agricultura
capitalista, cuja origem está no sistema plantation, em que grandes propriedades são utilizadas
na produção para a exportação. O modelo do agronegócio evidencia o caráter da política
neoliberal no campo que coloca as instituições públicas a serviço do capital privado. Trata-se
de uma revitalização da teoria do capital humano, introduzida nas décadas de 1960 e 1970,
quando a revolução verde, por um lado, aumentou consideravelmente a produtividade no setor
agropecuário, mas, por outro, aumentou o êxodo rural, a dependência do pequeno produtor rural
para com o capital e a concentração agrária (SOBRAL, 2009).
Analisando a estrutura do ensino técnico agrícola e tendo em vista o painel traçado sobre
as novas configurações do campo, concluir é perceptível que esta reforma colocou em segundo
plano os conhecimentos técnicos desenvolvidos pela escola. O processo formativo dos
profissionais de nível técnico que nele deverão atuar encontra-se subsumido ao grande capital.
A orientação para a formação do técnico em agropecuária está fundamentada numa concepção
de produção e trabalho, que desconsidera os determinantes históricos, sociais, culturais e
políticos presentes nos processos produtivos.
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Os critérios estabelecidos foram: a) alunos que obtiveram êxito e conseguiram cumprir todas as exigências curriculares para a obtenção do
diploma de Técnico em Agropecuária; b) ter sido aluno interno do campus no período em que curso o Técnico em Agropecuária; c) ter declarado
na ficha de matrícula do campus ser filho de agricultor/a; d) possuir alguma informação que possibilitasse contato (e-mail e/ou telefone).
as disciplinas profissionalizantes como essenciais para sua formação, como representado nas
falas a seguir:
Como profissional do setor, acho que o domínio das técnicas de produção faz
diferença na hora em que estamos diante do produtor para que possamos mostrá-lo,
outro ponto de vista sobre suas atividades no sentido de encontrar viabilidade para sua
produção lhe dando noções de que seu trabalho precisa dar lucro (EGRESSO 27,
Turma de 2009).
São as matérias que trabalho no dia a dia no campo com os agricultores. (EGRESSO
38, Turma de 2010).
Os que estão em cursos superiores ligados à área reconhecem o estudo das matérias
propedêuticas como importante para o ingresso no Ensino Superior, e as disciplinas
profissionalizantes como base para aprofundamento na área. Os dados levantados apontam que
dos 66 egressos, 24% estão matriculados em cursos de nível superior. Desses, 12% estão em
cursos superiores como, Veterinária, Agronomia e Zootecnia, e os outros 12% estão em áreas
diversas. Vejamos os relatos a seguir:
As falas dos egressos citam que todas as disciplinas são importantes no processo de
formação, no entanto, na perspectiva da integração é necessário articular as disciplinas do
núcleo comum e específicas buscando a superação da fragmentação do conteúdo e a formação
que atenda a necessidade do mercado de trabalho. Nessa perspectiva, ao se pensar a formação
dos trabalhadores do campo, Caldart (2010) afirma que um desafio teórico-pedagógico a essa
formação é articular a compreensão dos princípios científicos e tecnológicos que estão na base
da produção moderna com uma compreensão profunda dos processos produtivos agrícolas que
implicam uma interação necessária entre o ser humano e a natureza.
Durante todo o meu curso técnico quase nunca ouvi falar da agricultura familiar, com
exceção da disciplina de extensão rural! Grande parte das disciplinas e visitas são em
grandes propriedades rurais ou grandes empresas, me lembro que fiz uma visita uma
grande propriedade produtora de leite e outra em uma grande empresa de fruticultura
no RN que fazia até exportação. Além disso, lembro que grande parte das apostilas
faziam referência a grandes produções e criações, a exemplo que no curso não vemos
criação de galinha caipira, mas galinhas de granja, tivemos também uma apostila que
colocava para controle de uma praga de alguma frutífera a aplicação de agrotóxico
com uso de avião! Eu acho que temos uma formação contraditória, porque muitos
colegas meus da época foram trabalhar na agricultura familiar principalmente via
EMATERCE, e não temos uma formação pra isso (EGRESSO 37, Turma de 2010).
O incentivo à produção através dos governantes, pois está cada vez mais insustentável
lutar contra fatores como a “seca” que deixa a atividade no vermelho a todo o tempo
(EGRESSO 53, Turma de 2011).
Posso destacar três problemas dentre os mais relevantes para a agricultura familiar
atualmente. Primeiro, a falta de terra. O que parece um contrassenso, em um país com
dimensões continentais, no entanto isso é um fato, e enquanto não houver uma
autêntica reforma agrária o problema persistirá. Segundo, a falta de profissionais
técnicos qualificados ou assistência técnica e extensão rural quando considerada em
aspectos gerais. Em terceiro lugar a dificuldade ao crédito rural por parte do pequeno
agricultor, apesar de muitos avanços, ainda é praticamente irrelevante, quando
comparado proporcionalmente ao crédito destinado ao agronegócio. Portanto, esses
são no meu entender os desafios a serem enfrentados pela agricultura familiar.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um estudo desenvolvido em qualquer área do conhecimento não significa o desvelar de
toda a verdade, mas apenas uma forma de ver uma determinada realidade. É por essa razão que,
ao refletirmos sobre o PP do curso técnico em agropecuária, fazendo uma análise crítica e
autocrítica desse processo, apresentamos alguns elementos que devem ser levados em
consideração no processo de reconstrução:
A análise dos dados coletados por meio do questionário aplicado aos alunos egressos do
curso técnico em agropecuária aponta que o exercício da profissão tem se mantido ligado à
vertente do trabalho voltado para a assistência técnica ao pequeno produtor. Nesse sentido, o
PP do Curso deve considerar os arranjos produtivos locais. Ainda, buscando atender à
especificidade dessa região, torna-se relevante o conhecimento aprofundado sobre a proposição
da convivência com o semiárido que “[...] retira ‘as culpas’ atribuídas as condições naturais, e
enxerga o espaço semiárido com suas características próprias, seus limites e potencialidades”
(SILVA, 2006, p. 225).
Para tanto, o PP do curso deve incluir atividades complementares, tais como
participação em feiras agroecológicas; seminários temáticos; visitas técnicas em áreas que já
desenvolvem experiências com produção agroecológicas; gestão da produção; manejo de água,
etc., que possibilitem aos discentes trocas de conhecimento com as comunidades tradicionais,
assentamentos e/ou acampamentos que desenvolvem experiências exitosas na perspectiva da
convivência com o semiárido;
REFERÊNCIAS
ARANHA. M. L. A. História da educação e da pedagogia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2008.
__________. Por uma Educação do Campo: traços de uma identidade em construção. In:
KOLLING, E. et al (Orgs.). Educação do Campo: Identidade e Políticas Públicas.
Brasília/DF: Articulação Nacional por uma Educação do Campo, 2002.
1 INTRODUÇÃO
Temas concernentes aos fenômenos sociais contemporâneos têm sido alvo de ampla
discussão sob variados enfoques, um deles é a identidade. Tal estudo constitui um pilar
fundamental no pensamento moderno graças, sobretudo, aos estudos de Cooley (1902; 1922) e
Mead (1909; 1910; 1934), que iniciaram as discussões sobre o tema que ganharia grande
visibilidade relacionado à compreensão das práticas singulares ou coletivas das organizações.
O objetivo deste trabalho é apresentar aspectos da identidade do oficial militar por meio dos
valores éticos e morais que fundamentam sua formação profissional, estes desenvolvidos e
firmados ainda enquanto Cadetes da Academia da Força Aérea (AFA). Alguma teoria sobre
identidade social (TAJFEL, 1982-83; TAJFEL & TURNER, 1979), bem como discussões sobre
identidade no trabalho e identidade organizacional, de forma ampla, mostram-se adequadas
para subsidiar esta abordagem.
Remeto-me aos domínios das ciências humanas e sociais contemporâneas, em que a
questão da identidade é abordada por intermédio da noção do si-mesmo (self), e ainda que
implique perspectivas mais coletivas para uns e mais pessoais para outros, é discutida a partir
do ponto de vista individual e avança para o aspecto social (CERULO, 2007, ELLEMERS;
SPEARS; DOOSJE, 2002, STETS; BURKE, 2000). Educadora com alguma experiência no
universo do ensino militar instiga-me apresentar nesta ocasião: aspectos da condição do “ser
cadete”, que jura e cumpre, na sua rotina, o código de honra de Aluno da AFA; aspectos da
constituição da identidade militar baseada no culto das virtudes; identificação e caracterização
das virtudes militares utilizadas, historicamente, como instrumento circunstancial, mais ou
menos político, social, econômico e militar.
Docente do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Pós-Doutoranda pela Universidade da Força Aérea –
392
para favorecer o grupo de pertença relativamente ao grupo dos outros (BREWER, 1979,
TAJFEL; TURNER, 1979).
2 DESENVOLVIMENTO
Na fabricação de um profissional não estariam apenas inclusas a totalidade de
disciplinas aprendidas em seu processo de formação, mas implicaria, sobretudo, “uma espécie
de iniciação ao novo papel profissional e numa conversão à nova visão de mundo que permitirá
o desempenho desse papel”. No transcurso deste processo se verifica uma verdadeira conversão
identitária, que consiste em modificar a si mesmo a partir da inclusão de novas ideias sobre a
natureza do trabalho a ser realizado e da aquisição de competências específicas que possibilitem
o seu desempenho em termos de uma carreira profissional. A fabricação de si mesmo
concretiza-se, portanto, a partir de uma nova identidade, uma identidade profissional.
A identidade profissional, para Dubar (2005), refere-se às formas identitárias definidas
a partir de uma configuração eu-nós vinculadas ao campo das atividades de trabalho
remunerado. A identidade profissional básica leva em consideração não somente uma
identidade no trabalho, mas também uma projeção do si no futuro, a antecipação de um caminho
de emprego e a preparação de uma lógica de aprendizagem, ou melhor, de formação (DUBAR,
2005). A visão de identidade profissional de Dubar (2005) é próxima à noção de identidade no
trabalho de Sainsanlieu (1977), que designa modelos culturais ou lógicas de atores em
organização. As formas visadas não são relacionais, ou seja, as identidades dos atores em um
sistema de ação são também biográficas, visto que se referem às trajetórias do indivíduo no
transcurso de sua vida no trabalho. De acordo com Dubar (1994), as identidades profissionais
são formas reconhecidas socialmente em que os indivíduos se identificam uns com os outros
no espaço do trabalho e do emprego. A identidade no trabalho pode ser entendida como a
expressão das percepções do indivíduo sobre o significado do seu trabalho.
Na visão de Machado (2003), existe a força dos processos de categorização na
organização que colaboram para maior consolidação da identidade no trabalho, resultando em
sentimentos de vinculação e diferenciação que favorecem uma visão simbólica do indivíduo
como integrante de um espaço imaginário maior na organização. Nesse ambiente,
concomitantemente, ocorre um fenômeno responsável pela ligação psíquica do indivíduo à
organização, ou seja, a identidade organizacional.
O artigo 142 da Constituição Brasileira define Forças Armadas como uma organização
que integra Marinha, Exército e Aeronáutica – instituições que se destinam à defesa do país e a
garantir a lei e a ordem dentro do território nacional. De acordo com os artigos 27 e 31 do
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Estatuto dos Militares, o militar se liga à sua Pátria através de vínculos morais, entre eles a
dedicação e a fidelidade à Nação com o sacrifício da própria vida. A carreira militar diferencia-
se das demais, sobretudo, pelo risco de vida, pois durante a carreira o militar convive com a
iminência da morte: na formação, nos treinamentos, na rotina profissional, em guerras e missões
de paz. Além de conviver com um eminente risco de dano físico, diferentemente das demais
profissões, o militar é permanentemente disponível para o serviço, podendo ser acionado a
qualquer hora. Além disso, nunca estará residindo na mesma cidade por mais de três anos, o
que implica uma vida de sacrifícios também para a família. A profissão militar é definida por
características peculiares, típicas, que traduzem uma identidade social, uma identidade
organizacional (das corporações Marinha, Aeronáutica e Exército), sobre as quais passo a tratar.
A primeira característica diz respeito a uma grande motivação interna. Nos tempos
modernos, a supervalorização do capital e a necessidade de recompensa monetária são
motivações relacionadas com o condicionamento do comportamento (SCHOR, 2004, apud
NOBRE, 2007): necessidades supérfluas são transformadas em prioridade, o consumo leva ao
culto dos prazeres efêmeros. Trabalha-se para consumir e consome-se para dar o sentido à vida.
Segundo Nobre, neste cenário é fácil o militar deixar a profissão em busca de maiores salários.
Para resgatar os verdadeiros ideais do bem comum e da abnegação da carreira militar, as
instituições militares apostam em líderes com perfil de educadores, capazes de alimentar a
motivação baseada na consciência dos desejos e impulsos internos, indivíduos que não
dependam de recompensas, de elogios, de estímulos positivos externos. Este perfil de liderança,
para Daniel Goleman (1995, apud NOBRE, 2007) exige, além de habilidades de comando,
também atributos de inteligência emocional, autoconsciência, autocontrole, motivação, empatia
e habilidade de relacionamento interpessoal.
Uma segunda característica atribuída à identidade militar é igualmente complexa: uma
personalidade ética. Formar pessoas íntegras e honradas numa sociedade dominada pelo
individualismo, pelo materialismo e pelo imediatismo é uma dos maiores desafios para pais e
educadores. Na profissão militar a honra tem fundamental importância e, ainda que desvios de
ética sejam passíveis de serem vistos também no interior das forças armadas, visto não se tratar
de uma instituição blindada, ainda que tradicionalmente sólida, há uma constante atenção e
esforço da corporação para exterminar sua presença. De acordo com La Taille (2009, apud
NOBRE, 2013, p. 19), honra é “o valor moral que o individuo tem aos seus próprios olhos e a
exigência que faz a outrem para que esse valor seja reconhecido e respeitado.” Assim entendida,
honra é um atributo que depende da construção de uma personalidade ética. Enquanto a moral
pode ser definida com uma sensação de obrigatoriedade que se fundamenta na obediência a
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marcam uma fronteira entre militares e civis, duramente vigiada e que justifica punições
disciplinares. E no que se refere a estas, a regra e o conceito ideológico são simples:
transgressões pequenas como lençol da cama mal esticado e cinto sujo são punidos para que
não se chegue a cometer erros maiores.
O conjunto de atributos morais é outra característica da identidade militar: grande senso
de honestidade, de caráter, preocupação com causas nobres como a defesa da nação, espírito de
renúncia a bens materiais e prazeres efêmeros, disciplina, hierarquia. Tais atributos constituem
o que Castro (2009) chama de “espírito militar” – e também o que reforça o distanciamento do
universo militar com a sociedade civil. Os cadetes veem a carreira militar como um universo
global em que as esferas – aspectos físicos, morais, espirituais e intelectuais – são interligadas
para o equilíbrio individual e coletivo. Consideram o militar um ser coletivo, a despeito da
sociedade individualista em que cresceram. Enxergam no mundo civil um universo
fragmentado em que tudo é desvinculado e à mercê dos interesses. De fato, é comum uma
pessoa sentir maior confiança na palavra de um militar do que na de um civil, dada a sólida
formação de caráter que se pode atribuir à sua formação. Há relatos de que o isolamento do
grupo militar em relação ao civil leva a uma espécie de tensão permanente entre o mundo “de
dentro e o mundo de fora”. Como educadora com experiência em ambos os contextos, civil e
militar, atesto que aquilo que antes se chamou de afastamento, hoje, é quase um abismo entre
os dois universos educacionais, e deve-se, sobretudo, às mudanças negativas na forma de
ensinar, de aprender e de formar nosso alunado civil a partir das condições desfavoráveis
impostas historicamente por políticas públicas que afetaram a sociedade, a qualidade do ensino,
o trabalho, a identidade e a autoridade do professor.
É lícito dizer que os professores militares lidam diretamente com a moldagem do jovem
militar, pertença ele à Infantaria, à Aviação ou à Intendência. Mais do que a instrução formal
da graduação em Administração Militar, a formação desses jovens, em especial, presta-se a
qualificá-los para servir à nação em situações de conflito armado, até mesmo com o sacrifício
da própria vida. À formação do jovem militar são imprescindíveis passagens de ritos
organizacionais e estratégias de socialização que eduquem para uma subcultura organizacional
de corporação militar - experiências intensas que oportunizarão um ensino de excelência e a
preparação para a prática diária de uma carreira consolidada no respeito à disciplina, à
autoridade e à resiliência. Tais constatações levam a questionar: dentro de que limites pode ser
moldado o ser humano? Como o professor lida com os limites de modelagem necessários à
educação de um padrão militar? Sabemos que, em parte, é determinado pela cultura qual, dentre
diferentes caminhos de comportamento, dentro das capacidades físicas e mentais de um
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indivíduo, ele irá caracteristicamente seguir. O material humano tem certa tendência no sentido
das formas próprias, mas uma das definições de socialização, em qualquer cultura, é a
previsibilidade do comportamento diário de um indivíduo em várias situações definidas. Grosso
modo, quando uma pessoa abre mão de boa parte da autonomia fisiológica em favor do controle
cultural, quando se comporta a maior parte do tempo como fazem os outros, seguindo rotinas
culturais, essa pessoa está socializada. Cada cultura, entretanto, tem seu próprio esquema para
os métodos mais aprovados de satisfazer suas necessidades. Cada sociedade diferente comunica
à nova geração, muito cedo, um quadro padrão de fins apreciados e meios sancionados, de
comportamento apropriado homens e mulheres, jovens e velhos, formando as identidades
sociais... Evidentemente, não está implícito aí que os caracteres da personalidade dos membros
de qualquer grupo sejam idênticos; há desvios em toda sociedade. Mesmo entre aqueles que se
aproximam de uma das estruturas típicas de personalidade, há grande ordem de variação.
Teoricamente é natural, porque a constituição genética de cada indivíduo é única. Mais ainda,
não há dois indivíduos da mesma idade, sexo e posição social, na mesma subcultura, com
idênticas experiências de vida. A própria cultura consiste de um conjunto de normas que se
aplicam de maneira variada e são interpretadas de forma única. Entretanto, sabemos pela
experiência que os membros de diferentes sociedades tenderão, tipicamente, a manejar os
complicados problemas da satisfação biológica, do ajustamento ao meio físico, do ajustamento
a outras pessoas, de maneira que garanta o que é comum.
Uma das grandes contribuições da antropologia cultural foi chamar a atenção para uma
variedade de estilos de comportamento e ao fato de que há certas correspondências espantosas
entre os padrões de educação da infância e as instituições da vida adulta, e isto repercute na
inteiração social, na profissionalização, nas escolhas sociais. O modelo geral de personalidade
tende a ser compreendido apenas em termos da experiência total da infância somada às pressões
situacionais da vida adulta. Entretanto, isso pode ser considerado como base, não como uma
promessa de realização.
Há uma filosofia unificadora por trás do modo de vida de cada sociedade em qualquer
dado ponto de sua história. Os principais perfis das suposições fundamentais e dos sentimentos
recorrentes só excepcionalmente têm sido criados a partir do material da herança biológica
única e da peculiar experiência de vida. Geralmente, constituem produtos culturais. Dos modos
de vida de seu meio, o indivíduo comum deriva a maior parte da sua visão mental. Para além,
sua cultura e ou subcultura parecem constituir um todo homogêneo, e tem ele pouco senso da
sua profundidade e diversidade histórica.
Cada cultura tem suas tramas padronizadas, seus conflitos e suas soluções típicas. Cada
cultura é impregnada de seus próprios significados. Daí porque nenhuma ciência válida do
comportamento humano pode ser construída com base nos cânones do behaviorismo radical
postulado por Skinner (1963). Certos tipos de comportamento serão manifestados por todos os
seres humanos, não importa qual tenha sido a sua formação. Um impulso orgânico em cada
diferente indivíduo o conduz a certos tipos de atos, mas a cada característica biológica dada é
atribuído um significado cultural. Ademais, cada cultura é bem sucedida, em maior ou menor
grau, em impelir a variedade de impulsos na mesma direção. É lícito: característicos do animal
humano e que tornam possível a cultura são a faculdade de aprender, de comunicar, por meio
de um sistema de símbolos aprendidos, e de transmitir o comportamento aprendido de geração
a geração. Porém, o que é aprendido varia amplamente de sociedade para sociedade e mesmo
em diferentes setores dentro da mesma sociedade. A maneira de aprender mostra também
formas padronizadas e características. De forma muito rasa, tais considerações introduzem uma
especulação sobre as bases que dão origem à organização da educação militar específica às
forças armadas brasileiras – subcultura imprescindível à organização e segurança nacionais.
A Academia da Força Aérea tem como missão formar Oficiais de Carreira da
Aeronáutica dos quadros de Oficiais Aviadores (CFOAV), Intendentes (CFOINT) e de
Infantaria da Aeronáutica (CFOINF), desenvolvendo em cada cadete os atributos militares,
intelectuais e profissionais, além dos padrões éticos, morais, cívicos e sociais, obtendo-se, ao
final deste processo, Oficiais em condições de se tornarem líderes de uma moderna Força Aérea.
O marco inicial da formação é o Estágio de Adaptação Militar (EAM), caracterizado por um
período de aproximadamente quarenta dias em que os estagiários são submetidos a intensas
atividades físicas e aprendem valores militares essenciais com vistas à adaptação da vida na
caserna. Esta fase termina com uma cerimônia em que os estagiários se tornam cadetes,
condição que persistirá pelos próximos quatro anos. Nesses anos, formação significa
desenvolver no cadete a disciplina física e intelectual, a compreensão de hierarquia e ideais de
coragem, lealdade, honra, dever e amor à Pátria, que, alicerçados por um caráter sólido, serão
os pilares para o desempenho das funções como oficial da Força Aérea. A formação integral
dos cadetes, que dá base à identidade do trabalho militar, é constituída por quatro pilares: 1.
formação ética e moral, cujo objetivo é proporcionar ao cadete um contato e uma vivência dos
princípios de conduta éticos e morais elevados e próprios da profissão militar transmitidos pelo
exemplo de seus superiores; 2. desenvolvimento do caráter: espera-se que o cadete adquira
qualidades de excelência moral que conduzam a pessoa a fazer a coisa certa, a despeito das
pressões em contrário. A Força Aérea tem a expectativa de formar líderes, tornando-os a
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referência a cada degrau desse processo. Portanto, a ideia do exemplo é intensamente reforçada
na conduta de não mentir, não roubar, não enganar e nem permitir que outros o façam. Assim
que o cadete chega à caserna, depara-se com uma série de proibições e o despertar do receio
das consequências, caso ocorra o seu descumprimento. Interpretar a conduta por meio de
valores positivos como integridade, honestidade, respeito e comprometimento, além do
acatamento a tais valores ameniza o receio da violação e as consequências dos atos, levando o
cadete a agir corretamente, evitando sanções disciplinares. Assim, o cadete desenvolverá um
senso de correção e honradez em relação aos seus atos ao mesmo tempo em que aprenderá a
aceitar e a entender outras pessoas e suas diferenças. É fundamental compreender que
preconceitos culturais, étnicos, raciais e religiosos afetam profundamente o relacionamento e a
qualidade de vida de qualquer grupo. A liderança efetiva para a qual todos os cadetes estão
sendo preparados requer uma boa capacidade de relacionamento humano. Neste sentido, a
educação e a formação intelectual tornam-se essenciais para o aprimoramento do convívio
cotidiano, desde que empregados num ambiente de cooperação e não de competição; 3.
formação cívica e social: desperta no cadete nobres sentimentos de amor e serviço à Pátria,
além de estimular o desenvolvimento da cidadania e da correção na conduta social, que refletem
a imagem do militar como representante de sua classe perante a sociedade como um todo; 4.
formação de liderança: elemento que proporciona ao cadete, por intermédio do exemplo, dos
ensinamentos e da prática, o amadurecimento e o conhecimento de suas forças, fraquezas,
capacidades e limitações, para que possa controlar e disciplinar a si mesmo e, com isso, liderar
pessoas efetivamente, baseando tal liderança na dignidade e no respeito. Esta formação
desenvolve, ainda, sua capacidade de comunicação, de relacionamento humano e os atributos
físicos e morais necessários ao papel de liderança. O cadete assimila códigos de conduta,
aprimora-se no relacionamento humano e desenvolve o senso de honra, ética, responsabilidade
e todos os demais aspectos relacionados ao caráter do futuro oficial da Força Aérea, este que se
poderá revelar em três ideais que lhe formam o ser: integridade em primeiro lugar; servir antes
de pensar em si mesmo; buscar a excelência em tudo o que faz.
Preparado fundamentalmente para ser comandante, o cadete é formado no seio da
organização para agir e decidir em qualquer situação de adversidade. Aprende, nos anos de
formação, que o exercício da autoridade que lhe será conferida ao longo da carreira de oficial
deve somar-se à responsabilidade na utilização da força de forma letal. O cadete em formação
compreende que influenciar os subordinados para o cumprimento das missões emana não só de
capacidade técnica e tática, mas principalmente da sua força de caráter, do seu exemplo como
ser humano e como profissional.
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a formação, o cadete assume o querer Ser Oficial e ingressa numa vida de
poucos privilégios e muitas exigências. Sua formação, em regime de internato, tem um ritmo
específico, enquadrado na disciplina e rigor, e inclui estudo, investigação, formação militar,
preparação física, cerimonial militar e atividades culturais. Na caserna, o cadete tem
consciência, desde o primeiro dia, da importância da subordinação à hierarquia militar, assume
e respeita a restrição constitucionalmente prevista do exercício de alguns direitos e liberdades
em prol da segurança da soberania da Nação. O futuro oficial aprende que terá a legitimidade
da força em prol da paz e da estabilidade em um Estado que cultiva a separação de poderes, os
direitos fundamentais, a liberdade e a democracia. É preparado para defender a paz e a
estabilidade em seu país ou em qualquer parte do mundo, com ou sem armas, sempre com o
esperado equilíbrio e sensatez. Sua formação é árdua, contínua, específica, desafiante,
consubstanciada no desenvolvimento do Ser (educação militar, moral e cívica), do Saber
(formação científico técnica e tecnológica), do Fazer (formação militar e preparação física) e
do Pensar (combinação integral das três formações). Concluo que a Academia da Força Aérea
tem cumprido sua missão de desenvolvimento das virtudes militares numa perspectiva
simultaneamente comportamental, científica e transparente.
REFERÊNCIAS
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_______. Vade-Mécum: Valores, Deveres e Ética Militares, VM10. Brasília, DF, 2008.
CASTRO, C. A invenção do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora. 2002
CASTRO, C.; LEIRNER, P. (Org.). Antropologia dos militares: reflexões sobre pesquisas de
campo. Rio de Janeiro: FGV, 2009.
STETS, J. E., & BURKE, P. J. Identity theory and social identity theory. Social Psychology
Quarterly, v. 63, n. 3, 224-237, 2000.
TABACHNICK, B. G.; FIDELL L. S. Principal Components and Factor Analisys. In. Using
Multivariate Statistics (4. ed., p. 582-652). Needdham Heights, MA: ALLYN & BACON,
2000.
Mudanças negativas na profissão docente produziram incertezas e uma forte crise de identidade naquela que foi,
historicamente, uma profissão estável. Apresento a docência entendendo que a identidade profissional é uma
construção do “si mesmo” profissional que evolui ao longo da carreira influenciado pela escola, por reformas e
contextos políticos, incluindo, ainda, compromisso pessoal, disposição para aprender a ensinar, crenças, valores,
conhecimento sobre a matéria que ensina, o próprio ensino, experiências passadas, vulnerabilidade profissional,
enfim, tudo o que forma uma “complexa rede de histórias, conhecimentos, processos e rituais” (SLOAN, 2006).
Este é um pequeno recorte da pesquisa pós-doutoral realizada na Universidade da Força Aérea - UNIFA
(“Narrativas autobiográficas: exercício de (auto)formação do professor militar da Academia da Força Aérea”). De
forma estrita, importa-me abordar certas concepções reforçadas nos aportes científicos gerais sobre o trabalho
docente que se me ofereceram enquanto metodologia de pesquisa na obtenção de elementos que estruturam esta
identidade.
1 INTRODUÇÃO
A identidade profissional docente, tal como em quaisquer outras profissões, constitui-
se a partir da interação entre experiências pessoais e profissionais do trabalhador. Identidade se
constrói e se transmite independentemente de contexto social ou cultural. Estudos sobre a
profissão docente têm identificado, recorrentemente, certas características ou particularidades
de identidade que se repetem há muitas décadas. Algumas dessas particularidades guiam esta
breve discussão sobre o “operário do conhecimento” (SHULMAN, 1998), este que pode, a
partir de seu compromisso com a difícil tarefa de ensinar, melhorar a qualidade do ensino no
país.
A sociedade vivencia mudanças profundas na forma como se organiza, trabalha, aprende
e se relaciona. Conhecimento, hoje, tem grande valor para os cidadãos. O valor das sociedades
atuais está diretamente relacionado com o nível de formação e com a capacidade de inovação e
empreendimento. Todavia, os conhecimentos têm validade curta, exigindo o estabelecimento
de garantias formais e informais para que os cidadãos e profissionais atualizem constantemente
suas competências. Ingressamos numa sociedade que exige dos profissionais uma permanente
atividade de formação e aprendizagem. Tais mudanças afetam particularmente os docentes,
como têm comprovado relatórios de pesquisas internacionais. Na berlinda, novamente a
identidade do professor em relação às possibilidades de aprendizagem dos alunos.
Pesquisas tem confirmado, sobretudo nas últimas décadas, uma variação negativa na
eficácia do trabalho docente. Apesar disso, a docência é uma profissão imprescindível para a
Docente do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Pós-Doutoranda pela Universidade da Força Aérea –
393
sociedade do conhecimento, o que significa dizer que sua prática deve cumprir padrões
profissionais de excelência que assegurem o direito que os alunos têm de aprender. Professores
são importantes. Tão importantes quanto tornar a docência uma profissão atraente; tão
importantes quanto os sistemas educativos sejam capazes de atrair os melhores candidatos para
se tornarem docentes; tanto quanto são necessárias boas políticas de formação inicial de
professores para assegurar as competências duráveis na sua longa, flexível e variada trajetória
profissional; tanto quanto conseguir que os professores continuem aprendendo ao longo de sua
carreira. Chapman e Aspin (2001) pontuam as necessárias transformações nos sistemas
educacionais como forma de enfrentar os atuais desafios da sociedade do conhecimento:
oferecimento de oportunidades educativas que respondam aos princípios de eficácia econômica,
justiça social, inclusão social, participação democrática e desenvolvimento pessoal; reavaliação
dos currículos tradicionais e maneiras de ensinar em resposta aos desafios educacionais
produzidos pelas mudanças econômicas e sociais e pelas tendências associadas ao surgimento
de uma economia do conhecimento e de uma sociedade da aprendizagem; reavaliação e
redefinição dos ambientes de aprendizagem, bem como criação de ambientes de aprendizagem
flexíveis, positivos, estimulantes e motivadores, que superem as limitações de currículos
padronizados, da divisão por matérias, dos tempos curtos e das rígidas pedagogias; aceitação
da importância do valor agregado à aprendizagem; consciência de que a escola não é a principal
fonte de aquisição de conhecimento, porém, está se convertendo em instituição fundamental na
socialização da população jovem; maior relação entre escolas e instituições de ensino superior
a fim de se obter maior impacto na formação de relações entre a escola e a comunidade;
promover a escola como comunidade de aprendizagem e como centros de aprendizagem ao
longo da vida. Apesar de necessárias transformações, o que se vê são equivocadas políticas de
reforma educacional executadas em muitos países, dentre eles o Brasil, implicando a
deterioração das condições do trabalho docente, causando desmoralização, abandono da
profissão, criando forte impacto negativo na qualidade da educação oferecida aos alunos. Pouco
a pouco, os professores foram desconsiderando a parte essencial do seu trabalho, a interação
com seus alunos, em detrimento a prioridades de gestão e avaliação. Da mesma forma, as
mudanças negativas na profissão produziram incertezas e uma forte crise de identidade naquela
que foi, historicamente, uma profissão estável (DAY, ELLIOT, & KINGTON, 2005). Com base
em tais perspectivas apresento, neste artigo, particularidades sobre a profissão docente
entendendo que a identidade profissional é uma construção do “si mesmo” profissional que
evolui ao longo da carreira influenciado pela escola, por reformas e contextos políticos,
incluindo, ainda, compromisso pessoal, disposição para aprender a ensinar, crenças, valores,
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2 DESENVOLVIMENTO
A identidade pessoal e profissional é um processo em constante mudança, vinculado às
relações estabelecidas entre experiência pessoal e vida social. Lopes (2002, p.10), numa revisão
epistemológica, revela que a categoria identidade atravessa os termos pessoa, sujeito e
indivíduo “estruturando-se transversal e dialeticamente” sobre eles. Para Dubar (1998), a
identidade humana constrói-se e reconstrói-se ao longo da vida, dependente não apenas do
indivíduo, mas do julgamento de outros a seu respeito: “o modo de pensar e tornar operacional
esta distinção entre identidade pessoal (o que sou/gostaria de ser) e identificação social (como
sou definido/o que dizem que eu sou) dá margem a múltiplos desdobramentos” (DUBAR, 1998,
p. 2). Vê-se que o processo de formação da identidade segue dois caminhos, de acordo com
Dubar (2005), a “identidade para si” e a “identidade para o outro”, sendo a primeira entendida
como a maneira como nos reconhecemos, e a segunda, a maneira como as pessoas nos
enxergam. Segundo o autor, a “identidade para si” e a “identidade para o outro” são inseparáveis
e ligadas de maneira conflitante na medida em que a experiência do outro nunca é vivida
diretamente pelo eu, e contamos com informações sobre a identidade que o outro nos atribui.
Logo, a maneira como o outro nos enxerga ou visualiza a nossa profissão produz reflexos na
percepção da nossa identidade. A perspectiva desenvolvida por Dubar faz coro com Ciampa
(1994), que também considera a identidade humana como algo dinâmico. Para o autor, somos
o que fazemos em um determinado momento e em cada papel que desempenhamos, o que
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movimentam, sem que haja conflito. Quanto mais importante é uma sub identidade, mais difícil
mudá-la; a identidade profissional contribui para a percepção de auto eficácia, da motivação,
do compromisso e da satisfação no trabalho docente. Parto de tais perspectivas para recair nos
elementos que estruturam a identidade docente desde a formação inicial. A socialização prévia
é o primeiro elemento.
Na docência os futuros profissionais são expostos a um maior período de observação
não dirigida em relação às funções e tarefas que desempenharão. Tardif fala em exigência de
uma socialização e uma vivência profissional através das quais a identidade “vai sendo pouco
a pouco construída e experimentada, e onde entram em jogo elementos emocionais” e
simbólicos que permitem ao indivíduo se considerar um professor e “assuma assim, subjetiva
e objetivamente, o fato de realizar uma carreira no ensino” (2004, p. 79). Na voz de Lortie
(1975), em seu clássico trabalho sobre socialização prévia no ensino, os professores
desenvolvem padrões mentais, crenças sobre o ensino, a partir do longo período de observação
como alunos. Assim, a identidade docente vai se configurando paulatinamente de forma pouco
reflexiva através da aprendizagem informal pela recepção de modelos docentes com os quais
se vão identificando, mais emocional e menos racionalmente. Logo, a interação humana é
importante construto da prática docente e através dela os professores, com frequência,
envolvem-se muito profundamente com seu trabalho. Daí porque pesquisas confirmam que as
emoções constituem um elemento essencial no trabalho e na identidade dos professores (2005,
p. 918). É oportuno, portanto, levar-se em consideração o vínculo entre os aspectos emocionais
e cognitivos da identidade profissional docente nas propostas formativas, visto que, como
veremos em seguida, as emoções constituem uma parte muito importante das crenças que
professores desenvolvem acerca de como se ensina, como se aprende, e como se aprende a
ensinar. É preciso lembrar que mudança numa crença firmada requer igualmente uma contra
força emocional. É o que se verifica quando olhamos para o segundo elemento estruturante da
identidade docente: as crenças pessoais sobre ensino dirigindo a prática profissional.
Aspirantes a professores não são tábulas rasas ao chegarem a uma instituição de
formação inicial docente; trazem concepções e crenças fortemente estabelecidas sobre o que é
ensinar e aprender. Crenças são como proposições, premissas que as pessoas guardam sobre o
que consideram verdadeiro. Ao contrário do conhecimento proposicional, as crenças
desempenham duas funções no processo de aprender a ensinar: influem na forma como os
professores aprendem; e influem nos processos de mudança que os professores possam tentar
(RICHARDSON, 1996). Uma revisão especializada sobre aprender a ensinar leva à
identificação de implicações experienciais influenciando as crenças e os conhecimentos que os
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avaliador e episódico das crenças se convertem em um filtro através do qual todo novo
fenômeno é interpretado; as subestruturas de crenças, como são as crenças educacionais, devem
ser compreendidas em termos de suas conexões com as demais crenças do sistema; devido à
sua natureza e origem, algumas crenças são mais indiscutíveis que outras; quanto mais antiga é
uma crença, mais difícil mudá-la; os indivíduos tendem a manter suas crenças baseadas em
conhecimento incompleto ou incorreto; as crenças são instrumentais ao definir tarefas e
selecionar os instrumentos cognitivos para interpretar, planejar e tomar decisões em relação a
essas tarefas; portanto, desempenham um papel crucial ao definir a conduta e organizar o
conhecimento e a informação; desenvolvemos conhecimentos e crenças sobre ensino, alunos,
escola ou professor, e também sobre a matéria que ensinamos ou pretendemos ensinar. A forma
como conhecemos uma determinada disciplina ou área curricular afeta a forma como a
ensinamos. Logo, o conteúdo ensinado também constrói a base da identidade de um professor
– próximo elemento que estrutura a identidade docente.
É lícito dizer que o princípio maior de identidade profissional docente está no conteúdo
que se ensina. Buchmann (1984, p. 37) atesta que “conhecer algo nos permite ensiná-lo; e
conhecer um conteúdo com profundidade significa estar mentalmente organizado e bem
preparado para ensiná-lo de uma forma geral”. Quando o docente não possui conhecimentos
adequados da estrutura da disciplina pode expor o conteúdo de forma equivocada aos alunos.
Logo, o conhecimento que os professores possuem do conteúdo a ensinar também influi no que
e no como ensinar. O conhecimento do conteúdo se bifurca em dois componentes:
conhecimento sintático e conhecimento substantivo. Este último é constituído por informação,
ideias e tópicos a conhecer, ou seja, o corpo de conhecimentos gerais de uma matéria, os
conceitos específicos, definições, convenções e procedimentos. Esse conhecimento é
importante na medida em que determina o que os professores vão ensinar e a partir de qual
perspectiva o farão. Já o conhecimento sintático do conteúdo completa o anterior e é
representado no domínio em relação a questões como a legitimidade, tendências, perspectivas
e pesquisa no campo de sua especialidade. Gess-Newsome (2003) afirma que o conhecimento
do conteúdo da maioria dos professores principiantes é fragmentado, compartimentalizado,
pobremente organizado, dificultando o acesso eficiente a esse conhecimento enquanto se está
ensinando. Como consequência, muitos professores principiantes se veem forçados a ensinar
recordando dos seus anos escolares. Um baixo nível de conhecimentos pobremente organizados
influi no ensino de várias formas, geralmente negativas. Quando os professores principiantes
planejam, geralmente se baseiam nos livros de texto como ponto de partida para o ensino.
Ensinar se equipara a recordar informação. Esse conhecimento superficial prejudica os alunos,
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definir uma prática eficaz em termos dos resultados desejados. Desta maneira os padrões se
convertem em base para organizar a formação inicial e continuada dos professores.
O despreparo diante das tecnologias é o último elemento contemplado que constitui a
identidade profissional docente. Fullan e Hargreaves (1992) definem os docentes como
artesãos, porque acostumados a fazer seus próprios desenhos, a tecer seus próprios meios e a
desenvolver suas técnicas a partir de ensaio e erro ou observação de outros artesãos. Assim
definido, este profissional parece combinar pouco com o uso das tecnologias da atualidade. Não
nos esqueçamos que, ao longo dos últimos cinquenta ou sessenta anos, várias tecnologias
adentraram as salas de aula: do mimeógrafo ao televisor, ao projetor de imagens, ao projetor de
slides, ao retroprojetor, ao datashow, ao computador... Todavia, poucas dessas inovações
tecnológicas tiveram um impacto tão generoso nas práticas tradicionais docentes. Talvez
porque sobreviva mais fortemente uma espécie de desconfiança endêmica dos docentes diante
das tecnologias, sobretudo no que tange à sua apresentação enquanto produtos acabados,
projetados e prontos à utilização. Talvez porque tenha o professor se acostumado à escassez de
recursos pedagógicos obrigando-o a criar os próprios processos de ensino aprendizagem.
Para Contreras (2002), a autonomia do professor é um processo que busca uma ação
consciente e transformadora, tanto no que diz respeito às condições de trabalho, quanto no que
diz respeito à efetivação do processo de ensino e aprendizagem. Nesse movimento, o professor
aprende sobre seu trabalho e suas possibilidades pedagógicas passando por um processo de
reconstrução da própria identidade profissional. O professor constrói sua autonomia a partir das
dinâmicas presentes na ação educativa e, pensada numa dimensão mais ampla, no pleno
exercício profissional. Isto demonstra uma postura consciente e crítica frente ao próprio
trabalho.
A formação tem sido relevante para adquirir conhecimento e inserção profissional. A
multiplicação na quantidade de doutores atuantes na academia parece ressaltar ainda mais a
necessidade de atualização constante, formação de parcerias, inserção internacional, entre
outras formas de qualificação, formal ou informal.
“A docência é um ofício? O quanto de arte existe neste ofício? Ofício evoca maestria e
qualificação, identidade corporativa e comunidades de práticas” (FISCHER: 2010, p. 210).
Arroyo, citado por Fischer, lembra que “o ofício remete a um passado artesanal, ao saber perito
e criativo”. A docência, portanto, seria um “fazer relacional, um construir e reconstruir pessoas
em processo de formação, o que requer permanente construir-se a si mesmo, uma invenção de
si”. Nos termos de Josso, também citado pela autora (2010, p. 210), “a formação de um
professor é o resultado das ‘artes do tempo’, isto é, o professor se constrói como pessoa e faz
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uma opção profissional pela docência” e esta transforma a vida em projeto de conhecimento,
projeto de formação. A formação de professores vai além da discussão de conceitos científicos,
avança para a reflexão sobre os próprios conceitos constituidores do processo formativo. Ao
refletir sobre os processos de formação, enfatiza-se a necessidade de o professor tornar-se
sujeito do conhecimento agindo com autonomia no espaço educacional, e de modo a
ressignificar suas práticas a partir da problematização de seu contexto. Compreender o ambiente
de ensino como um dos principais espaços para realizar pesquisas deve ser o primeiro passo
para a construção da identidade de um professor em constante auto formação, visto que este
pode adquirir postura e habilidades que propiciem uma leitura crítica do contexto educativo a
partir da problematização das situações vivenciadas. Entretanto, para o êxito desse processo de
formação são necessárias condições básicas: um processo de descobertas voltado para a
pesquisa; proposta de articulação dos conteúdos curriculares às atividades desenvolvidas;
utilizar ferramentas teórico-metodológicas que possibilitem a ressignificação de suas práticas
no transcorrer do processo; registros de experiências; prática do acompanhamento da docência
e da pesquisa por meio de consciência reflexiva de trabalho. A consolidação dessas diretrizes
como instrumentos de auto formação podem contribuir para o desenvolvimento de um modelo
de docência que, por si, propicia a formação do professor-pesquisador. A partir dessa
perspectiva, infere-se que toda escola, toda instituição de ensino é também formadora de seus
próprios professores, estes comprometidos com a auto reciclagem, em condição de sujeitos da
auto formação mediada pelos processos da pesquisa e capazes, nesta triangulação, da ação
educativa enquanto intelectuais autônomos, instrumentalizados por uma educação científica e
crítica.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na voz de Nóvoa (1992, p. 16), identidade traduz “um lugar de lutas e conflitos”, um
“espaço de construção de maneiras de ser e de estar na profissão”. Neste sentido, podemos dizer
que antes mesmo da entrada nos cursos de formação inicial de professores, já possuímos uma
propensa identidade do ser professor, e ela é reforçada no exercício da profissão (NÓVOA,
1992) através de processos identitários de “adesão”, de “ação” e de “autoconsciência”. A
“adesão” implica princípios e valores e à adoção de projetos, investimento positivo nas
potencialidades das crianças e dos jovens; a “ação” surge das escolhas e maneiras de
experimentação pedagógica; e “autoconsciência” é o elemento que marca o processo de
reflexão decorrente da ação prática, e que resulta em mudança e inovação pedagógica.
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Mestre em Teologia pela Escola Superior de Teologia. cybele.nogueira@ifce.edu.br
395
Mestre em Gestão e Avaliação da Educação Pública pela Universidade Federal de Juiz de Fora. msantos@seduc.ce.gov.br
396
Mestre em Gestão e Avaliação da Educação Pública pela Universidade Federal de Juiz de Fora. mariaalves@seduc.ce.gov.br
Com isso, torna-se cada vez mais evidente a necessidade de incorporar à formação dos
gestores um maior compromisso e seriedade no desempenho desses profissionais educadores.
É preciso redefinir o que realmente é necessário para que os gestores sejam comprometidos
com a sua missão frente à instituição escolar e à sociedade.
A gestão de uma Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) exige um conjunto
de conhecimentos e competências específicas do gestor para que ele possa realizar o seu
trabalho de forma eficaz. Em se tratando de educação, a eficácia da administração vincula-se à
consecução dos objetivos intrinsecamente educacionais, relacionados aos aspectos pedagógicos
das escolas. (SANDER, 1995 apud FALCÃO, 1997, p. 319).
Dessa maneira, compreende-se que, para a gestão da escola alcançar o nível de eficácia,
é necessário que o gestor escolar não só tenha clareza do seu papel como líder da comunidade
escolar, mas é primordial também que se utilize da visão estratégica e desenvolva ações capazes
de alcançar o pleno desenvolvimento da comunidade escolar.
Hoje não é suficiente apenas lidar com as questões administrativas, financeiras e
burocráticas próprias do trabalho da gestão escolar. O diretor de escola e sua equipe de gestão
precisam ter um maior conhecimento e envolvimento com a área pedagógica e, principalmente,
com seus resultados. Portanto, um dos grandes desafios para a gestão de uma escola é criar o
equilíbrio necessário entre a gestão pedagógica, vista como a atividade fim de qualquer escola,
a gestão financeira, a gestão administrativa, a gestão do cotidiano escolar, dentre outras.
Na escola, todas as ações são importantes e impactam a área pedagógica, da qual partem
as discussões e deliberações na tomada de decisão quanto ao ensino e à aprendizagem. Portanto,
da gestão escolar, se esperam posturas proativas e compartilhadas, que envolvam cada membro
do seu grupo pela delegação planejada e a valorização do trabalho individual e coletivo. Espera-
se também que o gestor envolva a comunidade escolar nas decisões pertinentes e possua as
competências e habilidades necessárias para a prática de uma boa gestão.
É primordial a tarefa do gestor da escola pública na condução de todos os processos
inerentes à escola. Sua postura frente às inúmeras atribuições requer uma liderança dialogada e
comprometida com os atores escolares, a comunidade local, as instâncias parceiras e superiores
como a Secretaria da Educação. Conforme Lück (1997, p. 16):
Assim, embora podendo contar com o apoio dos coordenadores escolares, que são
membros da equipe gestora, é missão do gestor escolar dar conta de todas as ações referentes à
gestão com vista ao bom desempenho dos processos de ensino e de aprendizagem.
Em se tratando do gestor que atua na Escola Estadual de Educação Profissional do
Ceará, é importante ressaltar que a Secretaria da Educação, além de seguir e implementar as
políticas educacionais estabelecidas pela instância federal, também cria suas políticas estaduais
como forma de desdobramento das diretrizes nacionais. Dentre essas políticas estaduais,
devem-se ressaltar as políticas de formação dos gestores de escolas profissionais, foco de
análise desse trabalho.
No entanto, a SEDUC não exige, para o gestor de EEEP, experiência em gestão escolar
nem oferece formação que atenda a todos os ocupantes de cargos de gestão dessas escolas. Tal
contexto nos encaminhou para a formulação do seguinte problema: quais formações recebidas
pelos gestores das EEEPs nos anos de 2008 a 2014 têm contribuído para melhorar suas práticas
de gestão? A pergunta poderia ser direcionada para o órgão gestor, a Secretaria da Educação do
Estado do Ceará, porém busca-se, na investigação, a percepção dos gestores sobre a qualidade
da formação continuada ofertada para eles.
Quanto ao recorte da rede de ensino a ser estudada, a pesquisa de campo envolveu os
103 (cento e três) gestores das Escolas Estaduais de Educação Profissional (EEEP) que
compõem as 20 (vinte) Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Escola (CREDE) e
a Superintendência das Escolas Estaduais de Fortaleza (SEFOR). Essas escolas iniciaram suas
atividades letivas entre os anos de 2008 e 2014. Entre seus gestores, há os que passaram pela
seleção, foram aprovados e receberam a formação em educação profissional e há os que não
passaram por todo esse itinerário.
Dessa maneira, o censo da pesquisa representa o público envolvido diretamente com a
política de educação profissional aplicada na rede de escolas estaduais que ofertam o ensino
médio integrado no Ceará. Portanto, torna-se primordial conhecer até que ponto o papel
desempenhado pelos gestores das EEEPs tem contribuído para que, articulado com a
comunidade escolar, possibilite a emancipação humana e a transformação social dos alunos,
correspondendo ao compromisso da Secretaria da Educação do Ceará de promover a efetiva
articulação do ensino médio à educação profissional com equidade e foco no sucesso do aluno.
[...] em geral, a formação básica dos dirigentes escolares não se assenta sobre essa
área específica de atuação e que, mesmo quando estes profissionais a têm, ela tende a
ser livresca e conceitual, uma vez que esta é, em geral, a característica dos cursos
superiores na área social.
[...] os programas de formação, para serem eficazes, deverão ser realizados de modo
a articular teoria e prática. [...] evidenciar por meio de situações que sejam simuladas,
por dramatizações, ou estudos de caso e outros exercícios, a aplicação e a expressão
na realidade, das concepções teóricas tratadas. [...] ao associar teoria e prática,
deveriam focalizar o desenvolvimento de habilidades, pelo diretor, para se tornar
sujeito nesse processo.
satisfatoriamente situações comuns e incomuns. Para McLagan (1997, p. 41 apud Fleury, 2001,
p. 18), a competência ao relacionar-se com o mundo do trabalho, assume vários significados,
podendo se referir às características da pessoa (conhecimentos, habilidades e atitudes) ou à
tarefa e aos resultados.
Verifica-se a partir do entendimento do autor que a competência voltada para o mundo
do trabalho viabiliza alargar as dimensões de atuação. Isto significa que a competência se
compõe de fatores internos e externos inerentes às pessoas, que nas relações social e
profissional se tornam evidentes e se aprimoram.
Em se tratando do gestor escolar, pode-se dizer que as suas competências tendem a se
desenvolver mediante as trocas de aprendizagens, a oportunidade de formação continuada, a
predisposição a recomeçar criativamente. Para Lück (2009, p. 12), competência,
criação de políticas desse tipo é das Secretarias de Educação dos Estados. Dessa maneira, as
redes de ensino podem contribuir de maneira fundamental para que as escolas profissionais
tenham uma gestão eficaz.
Para Lück (2000), a grande dimensão dos papéis assumidos pelo gestor requer constante
aprimoramento para o exercício da gestão. É estratégico que os sistemas de ensino incluam nas
suas políticas de apoio à gestão escolar, a formação do gestor, a fim de que ele nunca se
acomode e possa contribuir de maneira proativa para a construção da autonomia e do sucesso
dos estudantes.
3 CONCLUSÃO
Nesta pesquisa, de caráter qualitativo do tipo estudo de caso, utilizou-se o estudo
bibliográfico, com o intuito de compreender o pensamento dos autores com relação ao tema
analisado: formação continuada de gestores escolares. Complementou-se com uma pesquisa
documental sobre a política de educação profissional para a rede de escolas estaduais de
educação profissional do Estado do Ceará e uma pesquisa de campo utilizando como
instrumento para coleta de dados um questionário disponibilizado para os gestores por
intermédio do sistema Google Docs. Esse questionário eletrônico da avaliação das formações
recebidas foi aplicado a 103 gestores num período de dez dias obtendo-se 80 respondentes em
quase todos os quesitos.
Esta pesquisa teve como objetivo geral analisar até que ponto as ações de formação para
os gestores das EEEPs foram suficientes para atender à demanda na rede a fim de propor
contribuições para uma formação em gestão de EEEP mais efetiva.
O resultado da pesquisa serviu de base para traçar o perfil do gestor das EEEPs, com as
suas dificuldades no lidar com demandas e aspectos da gestão, bem como os seus interesses, e
necessidades de formação. Assim, construiu-se um plano de intervenção que visa atender às
necessidades de desenvolvimento de habilidades e competências do gestor da EEEP, no
cotidiano da escola.
Constatou-se também a importância das formações ofertadas, porém as fragilidades
apresentadas, como a baixa oferta de vagas no atendimento à formação do gestor escolar e o
distanciamento da teoria com a prática da gestão escolar, inviabilizam a formação eficaz
comprometendo a gestão escolar de qualidade.
Percebeu-se na pesquisa gestores ávidos por formação de mestrado, por acreditarem que
novos conhecimentos e práticas poderão contribuir satisfatoriamente com o seu desempenho
profissional e da escola. Contudo, percebeu-se também há a necessidade de um
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maneira prática quando diz que “o processo de avaliação é [...] um instrumento importante para
o aperfeiçoamento contínuo dos programas de capacitação e desenvolvimento”.
Essa constatação coaduna com as proposições teóricas de Mintzberg (2010) e Lück
(2000) quanto à articulação entre teoria e prática como suporte a aprendizagem e atuação do
gestor. Mintzberg (2010) identifica na dinâmica da gestão escolar a necessidade da integração
entre os conhecimentos teóricos e práticos formados pela tríade: ciência, habilidade prática e
arte. Logo, o conhecimento adquirido com as formações, unido às experiências práticas e as
condições vivenciadas oportuniza o desenvolvimento de competências e habilidades próprias
para a função de gestor.
Lück (2000) considera que para os programas de formação serem eficazes, necessitam
articular teoria e prática e serem capazes de identificar as habilidades do gestor tornando-o
sujeito dessa ação. Desse modo, o resultado da pesquisa vai ao encontro do referencial teórico
apresentado por esses autores. Com base nessa compreensão e no resultado da pesquisa de
campo verificaram-se diversas formações que não articularam a teoria com a prática,
fragilizando assim a aprendizagem, a aplicabilidade do conhecimento adquirido e a eficácia no
exercício da gestão escolar.
Assim, percebeu-se que avaliar as formações no decorrer da sua execução ou logo após
o seu término dará condições de se obter as informações mais fidedignas. Todavia, oportunizou
o conhecimento à própria COEDP e SEDUC, dos resultados das formações ofertadas aos
gestores das EEEPs. Isso possibilitará ações de ajuste, melhoria e planejamento de novas ações
voltadas para a formação continuada do gestor escolar da EEEP.
Portanto, constatou-se pelos resultados da pesquisa, que os cursos de formação ofertados
aos gestores da EEEP pela SEDUC/CE e parcerias não atendem a todas as necessidades
demandadas por eles. Isso é decorrente da insuficiência de vagas na oferta dos cursos, da
descontinuidade de boa parte desses cursos, do distanciamento da formação com a prática
gestora no tocante aos processos administrativos financeiros, da gestão pedagógica com as
especificidades da educação profissional e da ausência de sistemática troca de experiências e
práticas de gestão.
Essa pesquisa trouxe dados fundamentais sobre as formações já realizadas e em
realização com os gestores das EEEP, que servirão de subsídios para a proposta de formação
continuada a ser pensada para esse mesmo público. É evidente que as formações recebidas pelos
gestores das EEEP, elencadas nessa pesquisa, foram importantes e responderam às necessidades
do papel da gestão escolar, no decorrer desses anos de atuação da rede de escolas públicas de
educação profissional. No entanto, faz-se necessário pensar novas propostas de formação
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REFERÊNCIAS
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e Administração da Educação (ANPAE), 1997, Porto Alegre, RS.
Abstract
This article presents results of a research made at a Federal Institute of Education, Science and Technology. The
research focused to analyze if, or how, occurs the effectiveness of the integrated education in the pedagogical
practice, at physics and math classes, of the freshman year, of the Integrated Technician Course in Edification,
offered in full time mode at the institution. The categories that underlie the meaning of integrated education are
linked to the full human formation (omnilateral) of the student, to the dimensions: work, science, technology and
culture as the structuring axis of the curriculum. It was used a qualitative approach, as a methodology, for
exploratory objectives. Data was collected through the application of a questionnaire with open and closed
questions, semi-structured interviews (audio recording), observation of classes taking notes and audio and video
recording of some classes. A common factor was present in the answers, a lack of knowledge of the different actors,
teachers and students, regarding the assumptions of integrated education, although there are considerations of
their relevance for a good progress of the technician formation. The answers showed an intention to make such
integration. However, aspects related to the management, to the integration and to the dialogue between the areas
of knowledge and the political / ideological / epistemological conception of integration, curricular elements, the
timetable of the disciplines and their quantity per year, besides the difficulty in constructing a project of group
course prevented its effectiveness in pedagogical practice.
Keywords: Integrated High School. Pedagogical Practice. Science and Mathematics Education.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo traz o resultado de pesquisa, desenvolvida no Câmpus Jataí do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG), que teve como objetivo analisar de
que forma ocorre (e se ocorre) a integração entre a formação de nível médio e a educação
397
Pedagoga, Mestre em Educação para Ciências e Matemática - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás - Câmpus Jataí.
elinamrosa@hotmail.com
398
Socióloga, Doutora em Educação - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás - Câmpus Jataí. lucieneapires@gmail.com
profissionalizante em um curso técnico integrado ao ensino médio – que tem como um de seus
princípios norteadores a questão da integração. Assim, em razão das delimitações inerentes a
qualquer pesquisa, o processo investigativo limitou-se aulas de Física e de Matemática do 1º
ano do curso Técnico Integrado em Edificações, desenvolvido em tempo integral, no campus
supracitado.
Para alcançar tal intento de pesquisa, o processo ocorreu, inicialmente, por intermédio
da revisão bibliográfica de obras teóricas de pesquisadores/autores que laboram com a temática
trabalho e educação no Brasil. Na defesa por uma formação integral do ser humano
(trabalhador) na perspectiva de uma educação politécnica, de uma educação omnilateral e de
uma escola unitária, destacam-se os teóricos Gramsci (1978), Frigotto (2005, 2006), Ciavatta e
Ramos (2011), Ramos (2004, 2008), Kuenzer (2009), Saviani (2003), Machado (2006).
A escolha da educação profissional técnica de nível médio integrada ao ensino médio
como locus desta pesquisa se deve à convicção na qualidade da escola pública como
instrumento de transformação social, por entender que a proposta de educação integrada
propicia o amplo desenvolvimento das potencialidades do educando e por defender que a
educação dos trabalhadores deve ter como horizonte a plena formação humana.
A escolha da prática pedagógica como locus da pesquisa se sustentou nos seguintes
alicerces: considerar que o professor e o aluno são a centralidade da escola; compreender que a
prática pedagógica de um curso técnico de nível médio integrado ao ensino médio e em tempo
integral se torna sui generis quanto ao ensino e à aprendizagem; depreender que a prática
pedagógica pode refletir o projeto político-pedagógico; compreender que a prática pedagógica
se constrói mediante à formação pessoal, social, cultural, acadêmica e profissional do professor.
Para responder ao objetivo proposto, alguns objetivos específicos se fizeram
necessários, a saber: analisar a legislação educacional das políticas públicas quanto à
fomentação da implantação e da efetividade da educação integrada nos cursos técnicos de nível
médio nas instituições federais de educação profissional, científica e tecnológica; correlacionar
os fundamentos da educação integrada na prescrição dos documentos do IFG; examinar a
perspectiva da educação integrada no currículo do ensino médio integrado ao ensino técnico do
curso técnico em edificações; investigar os aspectos pedagógicos que norteiam a educação
integrada na ação educativa; especificar os limites e as possibilidades encontradas na oferta em
regime de tempo integral dos cursos técnicos integrado ao ensino médio, pela perspectiva dos
professores e dos alunos.
2 O CAMINHO DA PESQUISA
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nº 11.741/2008, que altera dispositivos da LDB vigente; a Lei nº11.892/2008, de criação dos
Institutos Federais (IF); a Resolução CNE/CEB nº 6, de 20 de setembro de 2012, que define as
diretrizes curriculares nacionais para a educação profissional técnica de nível médio; e, ainda,
a Resolução CNE/CEB nº 2, de 30 de janeiro de 2012, que define diretrizes para o ensino médio.
Compreende-se, contudo, que a prescrição da lei não é garantia de execução na
ambiência da educação/da escola. A escola e a educação são constituídas e constituintes de
relações sociais de classes sociais antagônicas; os processos para sua materialização são
contraditórios, conflituosos, portanto, processam-se com avanços e retrocessos. Ademais, não
se pode perder de vista que a regulamentação abre novos espaços e possibilidades para a
efetivação.
Nesse sentido, Ramos (2004) tece considerações importantes acerca da compreensão da
possibilidade de mudança do foco para os sujeitos, capaz de contemplar uma formação humana.
Segundo a autora, não se trata de,
sujeitos abstratos e isolados, mas sujeitos singulares cujo projeto de vida se constrói
pelas múltiplas relações sociais, na perspectiva da emancipação humana, que só pode
ocorrer à medida que os projetos individuais entram em coerência com um projeto
social coletivamente construído. Com isso, colocamos a discussão sobre as finalidades
do ensino médio ou, ainda, sobre o que lhe confere sentido: sujeitos e conhecimentos.
Sujeitos que têm uma vida, uma história e uma cultura. [...] Conhecimentos que são
construídos socialmente ao longo da história, constituindo o patrimônio da
humanidade, a cujo acesso, portanto, todos têm direito (RAMOS, 2004, p. 39-40).
Nesse horizonte, toma-se uma construção de um projeto coletivo que caminhe para a
superação da dualidade entre formação específica e formação geral e cujos objetivos tenham a
formação humana, laboral, cultural, técnico-científica como foco, deslocando do alvo mercado
de trabalho. Por esse prisma, os IF devem desenvolver um projeto de educação profissional
capaz de se estender além dos muros da escola e incluir os aspectos históricos, políticos,
pedagógicos, conjunturais e estruturais que cercam a criação dessas instituições públicas cujo
vínculo estreitamente se associa com o perfil do aluno/trabalhador.
A meta deveria ser construir, no bojo da expansão da Rede Federal de Educação
Tecnológica, não uma inovação superficial ou renovação camuflada ou reforma da reforma,
mas uma inovação que passa pelos fins os quais se quer atingir, ou seja, a questão se centra no
problema da mudança dos fins da educação. A formação integrada compreende, também, a
proposição de uma educação politécnica, na medida em que politecnia diz respeito ao domínio
dos fundamentos científicos das diferentes técnicas que caracterizam o processo de trabalho
produtivo moderno (SAVIANI, 2003). Assim, abarca uma visão que busca a totalidade das
relações sociais, de modo que, almejando a formação humana plena do trabalhador, haja
integração entre o trabalho e a educação. É necessário, para se atingirem as novas finalidades
(o ponto de partida, o centro da inovação), buscarem-se os meios, os métodos, as formas mais
adequadas e eficazes, conforme a recomendação de Gramsci (1978, p. 124): “[...] encontrando
nos fins a atingir a fonte natural para elaborar os métodos e as formas”.
Para Gramsci (1978), a função da escola e sua dimensão transformadora deveriam ser
planejadas de maneira que todos os alunos, independentemente de classe social, pudessem ter
acesso a elementos intelectuais, culturais e, dessa forma, fosse-lhes permitida a garantia de se
tornarem cidadãos ativos, governantes. A escola deveria, pois, comprometer-se com a “tarefa
de inserir os jovens na atividade social, depois de tê-los levado a um certo grau de maturidade
e capacidade, à criação intelectual e prática e a uma certa autonomia na orientação e na
iniciativa” (GRAMSCI, 1978, p. 121). Destarte, os fins para a educação profissional no âmbito
dos IF deveriam priorizar a formação dos seres humanos para a transformação da forma social
na qual estão inseridos, de maneira a sair da exclusão para a inclusão social, tornando-se
cidadãos partícipes de sua própria existência. Logo, dever-se-ia desenvolver a concepção de
escola unitária defendida por Gramsci.
Diante desse quadro que se apresenta para a implementação da escola unitária, não há
que se desanimar, mas buscar o avanço em face de limitações e possibilidades. Kuenzer (2009,
p. 37) aponta que é um grande desafio, mas não se pode desistir do enfrentamento. Para tanto,
Será necessário, portanto, formular diretrizes que priorizem uma formação científico-
tecnológica e sócio-histórica para todos, no sentido da construção de uma igualdade
que não está dada no ponto de partida, e que, por esta razão, exige mediações
diferenciadas no próprio Ensino Médio, para atender às demandas de uma clientela
diferenciada e desigual.
A autora pondera que é, com base na realidade na qual se encontra o ensino médio no
Brasil, que se há de tratar a concepção que se deseja implantar, visto que uma “concepção só
ganha concretude quando tomada em relação às condições reais de sua implantação”
(KUENZER, 2009, p. 37).
A incorporação da proposta de educação integrada ao ensino profissional técnico de
nível médio ocorre – ou não –, segundo Frigotto (2005), por razões econômicas e ideológicas.
A isso, ele denomina de travessia:
para se fazer a “travessia” para uma nova realidade (FRIGOTTO, 2005, p. 43, grifo
do autor).
deveriam propiciar maior integração, a fim de modificar a prática. Quanto ao que oportunizaria
aos alunos a integração na prática pedagógica, os dados não apresentaram elementos
significativos em relação ao aluno, e os professores se limitaram a afirmar que, ainda que
existam tentativas, tal prática, de fato, não ocorre.
Verificou-se que os alunos veem uma ligação acentuada entre as disciplinas técnicas,
mesmo que alguns tenham feito ligação entre as disciplinas das ciências exatas e as técnicas.
Como resultado, 92% dos alunos responderam reconhecer ligação entre as disciplinas do curso
e apenas um (8%) indicou desconhecimento. O resultado mostrou que a relação entre as
disciplinas técnicas é grande e a justificativa predominante foi que há repetições de conteúdos
entre as disciplinas do curso, fazendo referência à área de edificações e que, também, todas as
disciplinas técnicas se complementam, todas têm relação entre si. Como a investigação tinha
como foco a prática pedagógica das disciplinas de física e de matemática, abordou-se uma
questão específica direcionada à relação do que se trabalhava nessas disciplinas em articulação
com as técnicas. Ainda, incluiu-se uma questão que abordou as outras disciplinas das ciências
exatas e da natureza - química e biologia -, por serem, também, ciências importantes para a área
de edificações, e buscava-se um contraponto ou um consenso com a física e a matemática.
Quanto à percepção do aluno com relação às aulas de física, questionou-se se, em algum
momento, foi trabalhado o conteúdo dessa disciplina articulado ao do ensino técnico. Os
resultados apontaram que, para 69% dos alunos, isso acontecia algumas vezes; 23%
consideraram que sempre ocorria articulação; 8% declararam que tal prática poucas vezes foi
realizada. Contudo, nenhum aluno respondeu que raramente viu ser realizada articulação entre
física e conteúdo técnico. Em relação à articulação entre conteúdo de matemática e conteúdo
técnico, os resultados apontaram que 62% consideraram que algumas vezes ocorreu articulação;
para 23% dos alunos, ela sempre ocorreu; 15% afirmaram que poucas vezes e nenhum aluno
respondeu que raramente pôde verificar a articulação entre matemática e conteúdo técnico.
Depreende-se que, quanto à articulação da matemática e da física com as disciplinas
técnicas, os resultados foram similares, com diferenças mínimas. Há, consoante os dados
gerados, uma articulação entre os conteúdos das disciplinas de física e de matemática com os
conteúdos das disciplinas técnicas. Contudo, quanto à relação entre as disciplinas do curso,
predominou a afirmação de ocorrência de conexão entre as disciplinas técnicas, de modo que
somente 31% indicou a articulação entre a física e a matemática e as disciplinas técnicas. Dentre
estes, apenas 15% se referiu à química e à biologia. Infere-se, então, que a articulação percebida
pelos alunos está intimamente relacionada às ciências que são a base para a construção civil –
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em face dos resultados aqui apresentados, verifica-se que há muitas variáveis
circundando a prática docente, as quais ocasionam a imobilidade diante da proposta de
educação integrada a ser incorporada no ensino técnico de nível médio integrado ao ensino
médio. Acrescentam-se a isso momentos de desarticulação dos agentes educativos que cercam
o curso técnico integrado. Deve-se, portanto, investir em promoção de ações e estratégias para
a articulação de ideias, de processos que propiciem uma posição com foco para a
implementação efetiva da educação integrada. Para isso, é decisivo o compromisso da
instituição e dos educadores no que tange à proposta de emancipação social.
É fundamental a percepção de que a proposta de integração não significa um somatório,
superposição ou subordinação de conhecimentos uns aos outros. O significado deve ser o de
uma integração na perspectiva da totalidade, de se construir uma postura em se pensar como
um professor de formação profissional com base humana integral.
Os limitadores demonstraram que há certo desconhecimento dos professores e alunos
sobre o tema - educação integrada pela perspectiva humana - e não uma crítica elaborada que
justifique a não adesão à proposta de formação humana integral, politécnica. Depreende-se que
a resistência ao projeto não se mostra visível, latente, entretanto, há um conjunto de fatores
convergentes que apresentam uma insensibilidade, certo desinteresse para com o caráter
político-pedagógico da proposta.
No emaranhado da ação, que articula um projeto de ensino integrado em tempo integral,
delineia-se, pelos dados apresentados quanto à infraestrutura e outros aspectos circunstanciais
do IFG, como biblioteca, laboratório, área de descanso, lazer, esporte, cultura, que as condições
ainda não são adequadas. Dentre os elementos indicativos, predominam a falta de um refeitório,
a falta de uma área de descanso e vestuário, problemas com transporte, laboratórios que
necessitam ser revitalizados, ausência de biblioteca em uma unidade do Câmpus Jataí.
Nessa direção, articula-se uma interpretação de que a expansão dos tempos/espaços se
contrasta com a redução dos tempos/espaços, uma vez que, se o aluno gasta mais tempo na
escola e na sua dinâmica de alimentação e de transporte, ele “perde” tempo e também espaço
para uma alimentação saudável, um descanso merecido, uma higienização necessária. Há de se
entender que, de um objetivo de ampliação de tempo/espaço de escola, de ganhar tempo, poupar
tempo, acessar novos espaços, de forma inversa, ao aluno está sendo oferecido
redução/diminuição de tempo/espaço.
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Anais do Encontro Internacional Trabalho e Perspectiva de Formação dos Trabalhadores
Nov/2017 Vol. 01 nº 02
KUENZER, Acácia Zeneida (Org.). Ensino médio: construindo uma proposta para os que
vivem do trabalho. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
RAMOS, Marise. Concepção do ensino médio integrado. In: Seminário sobre ensino médio,
2008. Secretaria de Educação do Pará. 08-09 maio 2008. Disponível em:
<http://www.nre.seed. pr.gov.br/wenceslaubraz/arquivos/File/curriculo_integrado.pdf>.
Acesso em: 10 fev. 2013.
ABSTRACT
This article aims to understand the context of professional education in the State of Ceará focusing on the course
of Hospitality, Tourism, and Leisure offered by the State Schools of Vocational Education of the State of Ceará;
analyze the curriculum; describe how the course can help the student's professional growth and their entry into
the labor market and reflect the performance of the subjects of modern foreign languages in this process. This
study is characterized as a qualitative bibliographical and documentary research. As a theoretical reference, the
Curricular Matrix for Professional Education of Seduc-ce, EEEP, was used as support for the text of the LDB
(Law on Guidelines and Bases of National Education). Authors: Acacia Kuenzer, (1992), Saviani (2007), among
others. We conclude that the educational project of EEEPs in a curriculum integrated with Higher Education
Professional Education made concrete the commitment of the Government of Ceará with the educational
development of thousands of students from Ceará: professional qualification and entry into the labor market. The
vocational schools with their political pedagogical projects came to re-signify the education of the public schools
of the State of Ceará.
1 INTRODUÇÃO
A educação profissional no Brasil remonta ao século XIX e, desde então, já se
encontrava vinculada a formação de mão de obra, uma vez que já era ensinado o oficio do
trabalho aos índios, escravos, órfãos e desvalidos da sorte. Com a chegada da família real, foi
criado o Colégio das fábricas, a primeira instituição fundada pelo poder público e tinha o
objetivo de prover educação aos aprendizes e artistas que vinham de Portugal.
399
Tutora em Língua Inglesa da UFC Virtual, professora especialista da rede estadual Ceará. Email: lucimar456@hotmail.com
400
Graduada em Letras – Espanhol , professora especialista da rede estadual do Ceará. Email: angela.onofre@hotmail.com
401
Graduado em Filosofia (UECE), Graduando em Educação Profissional Cientifica e Tecnológica - EPCT pelo IFCE e professor da rede
estadual do Ceará.Email:fjassuncaoaioros@bol.com.br
402
O Estado do Ceará tem se destacado no cenário nacional pela grande capacidade de desenvolvimento e ampliação da política de Ensino
Médio integrado à educação profissional. Em 2008, quando o programa foi iniciado, foram implantadas 25 Escolas Estaduais de Educação
Profissional (EEEP), que ofertavam, quatro cursos profissionais de nível técnico: Informática, Enfermagem, Guia de Turismo e Segurança do
Trabalho. Fonte:http://educacaoprofissional.seduc.ce.gov.br/index.php?option=com_content& view=article&id=3&Itemid=103
403
O critério adotado pela SEDUC para a escolha dos municípios (...) seguiu alguns parâmetros para eleger as escolas estaduais que se tornariam
escolas de educação profissional: se situarem em áreas de vulnerabilidade social; apresentarem indicadores educacionais abaixo do esperado
como forma de revitalizá-las; e estarem em condições mínimas necessárias à implantação. A escolha dos cursos se deu em função das
características socioeconômicas dos municípios inicialmente contemplados, em diálogo com os projetos estratégicos do governo estadual no
que se refere ao desenvolvimento econômico e produtivo do Ceará. Fonte:
http://educacaoprofissional.seduc.ce.gov.br/index.php?option=com_content &view=article&id=3&Itemid=103
do educando e seu ingresso no mercado de trabalho e refletir a atuação das disciplinas de línguas
estrangeiras modernas nesse processo.
Este estudo se caracteriza como uma pesquisa qualitativa bibliográfica e documental. A
primeira se baseia basicamente da coleta de material de diversos autores a respeito de um
determinado assunto. O mesmo processo acontece na pesquisa documental, sendo que esta
utiliza um material diversificado, podendo este ser encontrado em órgãos públicos ou
instituições privadas.
Segundo LAKATOS (1992, p.44), a pesquisa bibliográfica permite compreender que,
se de um lado a resolução de um problema pode ser obtida através dela, por outro, tanto a
pesquisa de laboratório quanto a de campo (documentação direta) exigem, como premissa, o
levantamento do estudo da tão que se propõe a analisar e solucionar. A pesquisa bibliográfica
pode, portanto, ser considerada também como o primeiro passo de toda pesquisa científica.
A pesquisa está basicamente dividida em dois momentos pontuais. O primeiro, pela
identificação e contextualização da política de Educação Profissional da Seduc-CE, do turismo
no Ceará e suas implicações na economia do estado e o segundo, pela análise curricular do
curso Técnico em Hospedagem e da contribuição das Línguas Estrangeiras Modernas ao serem
determinantes para os egressos na inserção no mundo do trabalho, além de ser uma porta de
entrada ao mundo acadêmico e incentivo à pesquisa.
De acordo com a Lei Federal 11.788, o poder público não tem obrigação de oferecer
estágios remunerados aos estudantes das escolas de educação profissional. No
entanto, o governo do Ceará, reconhecendo a importância dos estágios para a
formação técnica dos alunos, assumiu esse compromisso, tornando o estágio
curricular remunerado, conforme estabelece o Decreto n. 30.933, de 29 de junho de
2012.
Nesse contexto, a partir do ano de 2012, o estado do Ceará intensificou uma política
educacional voltada tanto para o tempo de permanência do estudante na escola como para a
capacitação para o mercado de trabalho, por meio da implementação das EEEPs, que tem como
pilar constituinte o decreto lei nº 6, de 20 de setembro de 2012. Por meio desta política, a oferta
nestas instituições de ensino será tanto em cursos técnicos na matriz de tecnologia, como em
saúde e serviços (SEDUC).
Considerando ser, o estado do Ceará, de grande potencial econômico no setor de lazer,
entretenimento e turístico, um dos cursos oferecidos pelas EEEPs é o de Hospedagem,
Hotelaria, Turismo e Lazer. Dessa forma, pretendemos investigar no desenvolvimento desta
pesquisa, o que justifica a oferta integrada do ensino médio ao curso profissionalizante em
Hospedagem pelas EEEPs no Estado Ceará e quais os elementos demandantes para a oferta dos
cursos técnicos no setor de serviço.
... é fato que o Ceará possui uma rica variedade paisagística em seus três principais
macro ecossistemas - litoral, serra e sertão - que garantem uma diversidade ambiental
e um diferencial para os produtos turísticos. Além disso, considerando a localização
geográfica estratégica do nordeste brasileiro, pela proximidade da América do Norte,
América Central e Europa em relação ao centro-sul, o estado do Ceará e sua capital
podem reivindicar a condição de “portão de entrada” para o turismo
internacional,(p.82).
Sendo assim, o papel que o Estado deve desempenhar no provimento de bens públicos
e infraestruturas sociais e físicas é fundamental. Esses são os pré-requisitos necessários para a
produção e troca capitalista, mas os quais nenhum capitalista individual acharia possível prover
com lucro. (HARVEY 2005, p. 85, apud PAIVA, 2014). Dessa forma, para tornar os lugares
mais atrativos, cabe ao estado a responsabilidade de criação de infraestruturas (transportes,
saneamento, energia, comunicações, etc.) para a fruição da atividade turística, essenciais para
viabilizar os deslocamentos dos sujeitos entre centros emissores e receptores.
Para que isso aconteça, o Estado deve atuar de diversas formas, nas suas mais variadas
instâncias, por intermédio principalmente das políticas públicas. Por isso, a Secretaria de
Turismo do Estado do Ceará (SETURCE), compreende o turismo, conforme o documento
denominado Plano Integrado de Desenvolvimento Turístico no Ceará (2003-2007),
Dentro dessas estratégias e com um discurso de possibilitar um futuro mais justo, mais
equânime e com mais oportunidades para os jovens cearenses, acenando para a materialidade
da experiência de um maior exercício de cidadania surgem as EEEPs. De acordo com a SEDUC
(2015), a escolha dos cursos se deu em função das características socioeconômicas dos
municípios inicialmente contemplados, em diálogo com os projetos estratégicos do governo
estadual no que se refere ao desenvolvimento econômico e produtivo do Ceará. Como o
Turismo é um dos setores com maiores possiblidades de desenvolvimento do estado, futuros
profissionais teriam uma viável oportunidade de emprego e um espaço para que possam
desenvolver sua capacidade de empreendedor.
4 PROGRAMAÇÃO CURRICULAR
4.1 POLÍTICAS PÚBLICAS DO CURSO
O currículo da Escola Estadual de Educação Profissional tem como diferencial a
integração entre as disciplinas do ensino médio e dos cursos técnicos. Em 2012, iniciou-se uma
ampla revisão curricular dos cursos técnicos com o objetivo de adequar o conteúdo de acordo
com o perfil de profissional desejado e em consonância com o que se requer deste quando da
sua atuação no campo de trabalho.
Essa revisão do desenho curricular, iniciada com o curso de enfermagem, e mantida para
outros cursos nos anos seguintes, também se baseia na necessidade de integrar o currículo ao
contexto sociocultural e econômico do Ceará. A partir desse trabalho, a Coordenadoria de
Educação Profissional (COEDP) produziu guias pedagógicos para cada curso técnico integrado
ao ensino médio.
simulações de práticas nos laboratórios da escola. A carga horária total do estágio é de 600
horas para os cursos do eixo Saúde e 400 horas para os cursos dos demais eixos. A idade mínima
para iniciar o estágio é 16 anos, conforme estabelece a Lei 11.788/08.
A política de estágio das escolas cearenses é inédita entre as redes de educação
profissional. Esse modelo favorece a visibilidade do programa junto ao mercado de trabalho,
contribuindo com a inserção produtiva dos egressos das Escolas de Educação Profissional.
Para cada curso há sempre uma ou duas disciplinas que, por apresentarem mais afinidade
com as disciplinas técnicas, são disponibilizadas com maior carga horária. É o caso, por
exemplo, das disciplinas de Língua Inglesa e Língua Espanhola, para os cursos da área de
Hospedagem e Turismo. De acordo com o 3◦ paragrafo do capítulo II, da Portaria de n◦ 27, de
30 de janeiro de 2014, e dever do guia de turismo possuir grau de conhecimento suficiente na
língua estrangeira que incluir em seu cadastro, a fim de promover adequada condução de grupo
de pessoas, com bom grau de compreensão e expressão oral.
A carga horária é de 2.620 horas na formação geral, 1.140 horas na formação
profissional e 1.640 horas na parte diversificada, totalizando ao final dos 3 anos de curso 5.400
horas aulas.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A organização curricular do Curso Técnico em Hospedagem oferecido pelas EEEPs do
Estado do Ceará realiza uma integração dos saberes através das áreas do conhecimento
diretamente envolvidas com a hospitalidade. Dessa forma, o curso atende à realidade dos
educandos e à dinâmica do profissional de hospedagem, pois as disciplinas apresentadas
compõem à exigência do mundo do trabalho na atualidade.
No primeiro semestre do primeiro ano do curso, percebemos que já são ofertadas
disciplinas que ajudam a contextualizar a realidade da hotelaria no mercado de trabalho. A partir
do segundo semestre, são trabalhados os conteúdos ligados a aspectos do empreendedorismo,
à ética e relações interpessoais, noções básicas de turismo, lazer, recreação e fundamentos da
hotelaria.
Já no 1◦ semestre do segundo ano, as disciplinas trabalham os aspectos da
sustentabilidade ambiental nos meios de hospedagem, práticas de recepção, reservas e
governança, além das leis aplicadas ao turismo. No semestre II, são introduzidas disciplinas que
darão noções de higiene e manipulação de alimentos, eventos realizados na rede hoteleira e
hospitalidade.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que o profissional habilitado para trabalhar na área de hospedagem, poderá
desenvolver suas atividades em diversas áreas de atendimento à população, desde o ramo do
turismo, eventos e lazer.
O estudo sobre a grade curricular faz-se importante no sentido de conhecer sua eficácia
na formação integral do profissional egresso do curso. Observou-se que a carga horária do
referido curso, é bastante significativa, totalizando 5.400 horas aulas e um currículo diverso e
plural que tenta abranger uma formação critica-reflexiva e profissionalizante. Desse modo, é
notório perceber o empenho em oferecer uma grade curricular satisfatória que possa suprir as
necessidades do profissional do mercado da hospedagem.
No que concerne a Língua Inglesa, enfocada na parte diversificada do curso, as quatro
horas-aulas semanais, são direcionadas para a parte comunicativa. Nota-se, então, o
compromisso em qualificar os alunos, focando o sentido no real significado e na interação da
língua estrangeira com o contexto a ser aplicado. “No cenário da globalização, o conhecimento
de línguas estrangeiras assume um caráter definitivo e indispensável para a comunicação,
tornando-se assim uma exigência crescente no mercado de trabalho”. (COSTA, 2002, p.13) Isso
torna a aprendizagem de atividades relevantes e que atendem as necessidades dos egressos do
curso.
Já a Língua Espanhola, não apresentou relevância na grade curricular. A única hora -
aula ofertada semanalmente põe em dúvida a capacidade de preparar o egresso para lidar de
forma eficiente com o hispano falante.
Nesse contexto, o projeto educacional das EEEPs em um currículo integrado a Educação
profissional de ensino médio realizou a concretude do compromisso do Governo do Ceará com
o desenvolvimento educacional de milhares de estudantes cearenses: a qualificação profissional
e o ingresso no mercado de trabalho. As escolas profissionalizantes com seus projetos políticos
pedagógicos vieram ressignificar a educação das escolas públicas do Estado Ceará.
Este trabalho não teve a intenção de fazer generalizações sobre seus resultados, mas
apresentar um panorama do cenário da Educação das Escolas Profissionalizantes do Estado do
Ceará e uma análise da Grade Curricular do curso de Hospedagem, Turismo e Lazer. Ao mesmo
tempo, objetivou observar como o referido curso pode ajudar no ingresso dos educandos ao
mercado de trabalho. Esperamos que esse estudo possa contribuir como fonte de informação,
pesquisa e reflexão acerca do Ensino Profissionalizante no Estado do Ceará.
REFERÊNCIAS
ALENCAR, Vagner de. Ceará une ensino integral e profissionalizante. Disponível em:
<http://portal.aprendiz.uol.com.br/arquivo/2012/10/15/ceara-une-ensino-integral-e-
profissionalizante/>. Acesso em: 01 jun. 2017.
G1. Ceará lidera geração de emprego no setor de serviços, segundo pesquisa. Disponível em:
<http://g1.globo.com/ceara/noticia/2015/07/ceara-lidera-geracao-de-emprego-no-setor-de-
servicos-segundo-pesquisa.html>. Acesso em: 18 jun. 2017.
LIMA, Ângela Maria Onofre da Silva. O ensino da língua espanhola através de lúdico: um
processo de encantamento. 2016. 120 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidad
Politécnica y Artística del Paraguay, Ciudad Del Este, 2016.
SAVIANI, Derneval. História das ideias pedagógicas no Brasil. 3. edição – Campinas. SP:
autores associados, 2011.
1 INTRODUÇÃO
Este estudo emergiu da disciplina de Práticas Didático-Pedagógicas, do curso de Pós-
Graduação Stricto Sensu - Mestrado Profissional Ensino em Saúde, da Universidade Estadual
de Mato Grosso do Sul, UEMS. Para tanto, foi analisado um cartaz do Ministério da Saúde,
veiculado em uma campanha publicitária no ano de 2013, através de um cartaz institucional
direcionado a ser afixado nos serviços de saúde (Figura 1). O material aborda a prevenção da
obesidade e a necessidade de cuidado com a saúde ocular, temas que foram tratados durante a
Semana de Mobilização Saúde na Escola, no respectivo ano, como parte integrante das
estratégias de ação do Programa Saúde na Escola (PSE).
Os conteúdos apresentados no cartaz foram observados, descritos e analisados à luz do
suporte teórico de Antoni Zabala, de acordo com a sua tipologia, que é descrita na obra A
Prática Educativa: como Ensinar (ZABALA, 1998), amplamente conhecida.
Em seu texto Zabala (2008, p. 38) descreve que “o conhecimento geral da aprendizagem
adquire características determinadas segundo as diferenças tipológicas de cada um dos diversos
tipos de conteúdo”, e evidencia, com essa informação, que os conteúdos possuem
404
Mestrando em Ensino em Saúde no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Ensino em Saúde (PPGES) da Universidade Estadual de
Mato Grosso do Sul (UEMS). renato.moreno88@hotmail.com
405
Mestranda em Ensino em Saúde (PPGES) da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). cacamaebara@gmail.com
406
Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Ensino em Saúde (PPGES) da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
(UEMS). profesales2@gmail.com
407
Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Ensino em Saúde (PPGES) da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
(UEMS). cibele_salles@hotmail.com
peculiaridades em comum, apresentando similaridade entre si. E, por meio dessas similaridades,
se agrupam durante os processos de ensino e aprendizagem.
Na perspectiva desse autor os conteúdos podem ser caracterizados através das seguintes
tipologias de ensino: conteúdos factuais e conceituais (o que se deve aprender), procedimentais
(o que se deve fazer) e atitudinais (como se deve ser). Assim, são essas questões que se deve
ter em mente ao elaborar um material de ensino ou de educação em saúde: O que a população
deve aprender? O que ela deve fazer? Como ela deve ser para que possa melhorar seu estado
de saúde?
Portanto, este estudo tem como objeto proceder à análise dos conteúdos de
aprendizagem de um cartaz publicitário do Ministério da Saúde sobre o Programa Saúde na
Escola, tendo com referencial de análise a tipologia de conteúdos proposta por Zabala.
Aprendeu-se uma atitude quando a pessoa pensa, sente e atua de uma forma mais ou
menos constante frente ao objeto concreto a quem dirige essa atitude. Estas atitudes,
no entanto, variam desde disposições basicamente intuitivas, com certo grau de
automatismo e escassa reflexão das razões que as justificam, até atitudes fortemente
reflexivas fruto de uma clara consciência dos valores que as regem (ZABALA, 2008,
p. 47).
3 METODOLOGIA
A metodologia adotada neste estudo se caracteriza como pesquisa qualitativa, de cunho
analítico e descritivo. Foi desenvolvida no período de agosto a setembro de 2016, analisando-
se um cartaz publicitário de uma campanha do Ministério da Saúde veiculada no ano de 2013,
durante a Semana de Mobilização Saúde na Escola.
A escolha do material se deve à afinidade dos autores com a temática pesquisada, tendo
o respectivo cartaz sido selecionado de forma intencional.
No que concerne ao formato de análise, sua caracterização se constrói pela análise dos
conteúdos de aprendizagem, embasado no referencial teórico de Antoni Zabala.
A Figura 1 apresenta o cartaz do programa Saúde na Escola, que traz elementos verbais
(textuais) e não verbais (imagens), e no qual se observa o tópico frasal: “A saúde e a Educação
juntas no mesmo ritmo”.
Ainda percebe-se no referido cartaz mensagens textuais-imagéticas com as seguintes
frases: “Cuide da sua visão”, “Coma alimentos saudáveis” e “Pratique atividades físicas”,
acompanhadas, respectivamente, da imagem de um óculos, uma bandeja de frutas e uma bola.
No centro do cartaz visualizam-se imagens de estudantes, professor, profissionais de
saúde e outras imagens aludindo ao consumo de frutas e à prática de atividade física,
representada por uma bola de basquete e outra, de futebol.
O material expõe a importância das relações interativas que ocorrem entre discente,
alunos, profissionais de saúde e os conteúdos expostos nos processos interativos entre escola e
saúde.
Diante do respectivo cartaz, o emissor, que é o Governo Federal, através do Ministério
da Saúde, propõe ao destinatário, os estudantes das escolas brasileiras, a participação no
Programa Saúde na Escola, com o propósito de cuidar de sua saúde. Assim, sob a égide da
aprendizagem dos conteúdos na perspectiva de Antoni Zabala (2008), e a partir das informações
da Figura 1, construímos o Quadro 1, a seguir:
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Zabala (2008) segue a linha construtivista na qual há uma busca por um processo de
ensino e aprendizagem que vise aos vários âmbitos da vida do aprendente. O construtivismo
como concepção metodológica baseia-se em virtude da validação empírica de uma série de
princípios psicopedagógicos: os esquemas de conhecimento, o nível de desenvolvimento e dos
conhecimentos prévios e a aprendizagem significativa.
saúde, apontar a obesidade, que também é um problema de saúde pública e o conceito de que
esporte e alimentação se complementam para que haja boa saúde.
Segundo Gavidia (1998), a educação em saúde pode ser entendida como um processo
que procura capacitar os indivíduos a agir conscientemente diante da realidade cotidiana, com
o aproveitamento de experiências anteriores, formais e informais, tendo sempre em vista a
integração, continuidade, democratização do conhecimento e o progresso no plano social. É um
campo multifacetado para o qual convergem diversas concepções, tanto das áreas da educação
quanto da saúde, as quais espelham diferentes compreensões do mundo. O conceito
de educação em saúde é definido como um processo que abrange a participação de toda a
população no contexto de sua vida cotidiana e não apenas das pessoas sob o risco de adoecer.
Quando aos conteúdos factuais, devem ter em seu cerne estratégias de aprendizagem
que coloquem o aluno diante de experiências que potencializem a cognição, ou seja, a reflexão
das situações.
Os conteúdos procedimentais tratam de aprendizados que requerem um conjunto de
ações coordenadas, dirigidas a uma determinada finalidade, segundo Zabala (2008).
Verificamos, no cartaz, uma forte intenção de estimular os alunos a participarem das ações do
Programa Saúde na Escola, sendo que os procedimentos ficam explícitos quando se observa,
por exemplo, a seguinte orientação: “Veja na sua escola se ela está inscrita”, apontando-se os
procedimentos a serem adotados para que o leitor procure o programa.
Conteúdos atitudinais são um conjunto de valores, atitudes e normas que necessita, em
um dado momento da vida, uma aproximação específica, segundo Zabala (2008). Verifica-se,
no cartaz, o estímulo ao consumo de uma alimentação saudável, à prática de atividades físicas
e o reforço para o cuidado com a visão, que são conteúdos atitudinais cuja intenção é a de propor
ao aprendente uma reflexão para ressignificar suas ações aos cuidados com sua própria saúde.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise realizada no cartaz do Ministério da Saúde, destinado às escolas
públicas de todo o país, é possível identificar que a forma de comunicação empregada para cada
público é diferenciada e pensada de forma a atingir objetivos específicos. Ao trabalharmos
conteúdos, é necessário definirmos como avaliar o processo de aprendizagem para, ao final,
sabermos se os objetivos foram alcançados ou não.
A maneira de repassar conteúdos nas escolas ainda ocorre da forma tradicional na maior
parcela das instituições. O material educativo, na forma do cartaz que foi analisado, não fugiu
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Anais do Encontro Internacional Trabalho e Perspectiva de Formação dos Trabalhadores
Nov/2017 Vol. 01 nº 02
REFERÊNCIAS
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Editorial Trillas. Traducción al español de Roberto Helier D., de la primera edición de
Educational psychology: a cognitive view.
DARIDO, S. C.; FERREIRA, L. A.; GALVÃO, Z.; PONTES, G. H.; RAMOS, G. N. S.;
RANGEL, I. C. A.; RODRIGUES, L. H.; SANCHES NETO, L.; SILVA, E. V. M. Resenha
do livro A prática educativa, de Antoni Zabala. Revista Brasileira de Ciências e Esporte. v.
23, n. 2, Campinas, jan./2002. p. 195-205.
GAVIDIA, V. Salud, educación y calidad de vida: De cómo las concepciones del profesorado
inciden en la salud. Santa Fe de Bogotá: Magisterio, 1998.
ZABALA, A. A Prática Educativa. Como ensinar. Porto Alegre, Artmed, 1998, reimpressão,
2008.
ABSTRACT
This article presents initial reflections as a result of the research on Training Needs and Skills Development in the
PARFOR / UFMA First Degree (Licenciate) Courses: challenges for the development of innovative pedagogical
practices in the public schools of Maranhão. In this study, scientific and technological innovations were taken as
the axis of analysis based on the understanding that science and technology have not only played a significant role
in increasing the production of material goods, but also made great contributions to the development of the
productive forces over the centuries. The aim of this study is to analyze the training needs and competencies
development in 1st degree (licenciate) courses of the PARFOR Program at UFMA, seeking to add to the
development of innovative pedagogical practices in public schools, as well as to the improvement of basic
education in the State of Maranhão. It is concluded that it is the changes produced in the production of material
goods in each historical moment and in each geographical space that define and impose new training needs,
requiring new professional profiles according to the requirements of each period and place.
408
Professora Adjunta Departamento de Educação II – UFMA. E-mail: silvadias2612@gmail.com
409
Professora Adjunta Departamento de Educação II – UFMA. E-mail: helianane@yahoo.com.br
410
Professora Adjunta Departamento de Biblioteconomia - UFMA. E-mail: rr.marinho@ufma.br
Nas últimas décadas, consolidou-se a consciência de que a Educação deve ser, antes
de tudo, uma política de Estado, que conduza o Brasil a conquistas de longo prazo,
independentemente da alternância natural de governos. Prova disso é a própria
existência do Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado em junho de 2014, que
traz metas e diretrizes a serem alcançadas no prazo de dez anos e, assim, constitui a
agenda estratégica da Educação brasileira.
incompleto. Esses dados mostram que 24% dos professores que estão atuando na educação
básica brasileira ainda não têm formação em nível superior.
Outros dados do Anuário da Educação Básica (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2016)
registram que, na Região Nordeste, dos 626.643 professores, 37% ainda não têm formação
superior. Já no Maranhão, de um total de 98.892 professores da educação básica, 49,6%
encontram-se sem nível superior. Tanto a Região Nordeste quanto o Maranhão precisam
avançar no quesito formação docente, o que só será possível com sólidas políticas públicas de
formação de professores.
Ademais, o Relatório do 1º Ciclo de Monitoramento das Metas do PNE: biênio 2014-
2016 (BRASIL, 2016) aponta que dos professores da educação básica com formação superior,
ou seja, 1.670.823 docentes, somente 52,5% possuem curso superior compatível com a
disciplina lecionada; a Região Nordeste e o Maranhão possuem os índices mais baixos de
compatibilidade, com 38,2% e 26,1%, respectivamente.
Diante desse quadro sombrio que denuncia o descaso do poder público com a formação
docente e com a qualidade da educação básica, faz-se necessário avançar tanto qualitativamente
quanto quantitativamente nas políticas de formação docente, visando à profissionalização
desses professores que já atuam na rede pública de ensino da educação básica. Mesmo que
alguma política tenha sido instituída desde 2009, como por meio do Decreto nº 6.755/2009, que
se coloca enquanto mecanismo institucional para viabilizar a formação desses professores, a
sua existência ainda não é suficiente.
Destaca-se ainda que, nesse mesmo decreto, está definida a atuação da CAPES quanto
à oferta de programas de formação inicial e continuada para os professores da educação básica.
Logo, interessa aqui registrar que, nesse decreto, já fica também instituída a atuação da CAPES
que, dentre outras ações, prevê a “oferta emergencial de cursos de licenciaturas e de cursos ou
programas especiais dirigidos aos docentes em exercício há pelo menos três anos na rede
pública de educação básica que sejam graduados”, mas que ainda não possuam licenciatura na
área de atuação da educação básica e sim em área diversa da atuação docente (BRASIL, 2009,
grifos nossos).
Posteriormente, foi criado o Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação
Básica – PARFOR que, na modalidade presencial, conforme o Manual Operativo, “é um
Programa emergencial, criado para atender o disposto no artigo 11, inciso III do Decreto nº
6.755/2009, tendo como objetivo induzir e fomentar a oferta de educação superior, gratuita e
de qualidade, para professores em exercício na rede pública de educação básica”. Com essa
ação, ampliam-se as possibilidades de atendimento desse público específico, de acordo com a
ISSN – 2448-4210 http://laborufc.wix.com/anaislaborufc Página 1095
Anais do Encontro Internacional Trabalho e Perspectiva de Formação dos Trabalhadores
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Na maior parte dos países, o novo século vem acompanhado por reformas
educacionais orientadas para adequar a educação às exigências dos novos tempos e
contextos, tais como a globalização das economias, as atuais políticas públicas e
especialmente os impactos das novas tecnologias e formas de comunicação. Nessa
situação, o conhecimento e a educação passam a ter um valor de grande importância,
assim como a formação do professor torna-se um campo de sérios desafios
(RAMALHO; NUÑEZ; GAUTHIER, 2004, p. 18).
Nesse contexto, as pesquisas e dados sobre a educação no Brasil têm demonstrado que
se precisa avançar na qualidade da educação básica e na formação e profissionalização docente.
Os processos formativos criados nos últimos oito anos, sobretudo através das políticas
educacionais instituídas pelo MEC e implantadas pela CAPES, como o PARFOR,
especificamente os cursos de Primeira Licenciatura, retratam essa necessidade.
Entende-se que o processo de formação tem como um dos eixos a formação de
competência. Nesse sentido, a formação e profissionalização docente, como bem explicitam
Ramalho, Nuñez e Gauthier (2004), guardam suas especificidades, pois é o que irá orientar sua
ação de forma responsável e comprometida a partir da unidade entre teoria e prática, ou seja,
por meio de uma ação refletida que gera uma ação renovada, ou a práxis educativa. Igualmente,
as competências “constituem qualidades do profissional que lhe permitem desenvolver
determinadas atividades socialmente úteis, com sucesso e responsabilidade ao longo do seu
desenvolvimento profissional” (RAMALHO; NUÑEZ; GAUTHIER, 2004, p. 72).
A necessidade de formação de novas competências profissionais é determinada pelo
contexto social, político, econômico e cultural de um determinado tempo histórico e de um
determinado espaço geográfico. Considerando o tempo histórico desta pesquisa, que tem como
elemento central as profundas transformações decorrentes da segunda crise global do capital,
com seus primeiros sinais no final da década de 60 e início da década de 70, deve-se atentar
para as necessidades formativas determinadas por esse tempo histórico e pelo espaço em que
atuam os sujeitos desta pesquisa, ou seja, os professores da educação básica das escolas públicas
do estado do Maranhão. Esses professores são formados ou se encontram em processo de
formação pelo modelo dos programas emergenciais, como o PARFOR/UFMA.
A partir desse fato, compreende-se que necessidades formativas são entendidas como
produto das relações sociais mediadas pelas atividades humana, mas que, ao longo da história
sofreram significativas mudanças como reflexo das transformações ocorridas no contexto em
que estão inseridas. Por certo, entende-se que as necessidades formativas, por si sós, não se
explicam. Nesse caso, compreendê-las significa, antes, buscar suas explicações em outros fatos
sociais. Essa perspectiva de análise impõe a categoria da totalidade social como um dos aportes
essenciais neste estudo. Sobre isso, de acordo com Kosik (1976, p. 41),
Totalidade não significa todos os fatos. Totalidade significa: realidade como um todo
estruturado, dialético, no qual ou do qual um fato qualquer (classes de fatos, conjuntos
de fatos) pode vir a ser racionalmente compreendido. Acumular todos os fatos
Diante do exposto, tem-se a clareza de que o objeto de pesquisa que se quer conhecer
encontra-se engendrado em um todo estruturado e em constante movimento: ao mesmo tempo
em que determina é também determinado pelas complexas relações que se estabelecem no
processo de sua materialização, o qual está inserido em uma totalidade. Então, por mais que se
queira conhecer o objeto por completo, este será sempre um conhecimento inacabado por se
encontrar em constante movimento.
Para dar sustentação a este estudo, optou-se inicialmente pelo conceito de necessidade,
por se considerar uma palavra polissêmica, que se caracteriza de acordo com o contexto, espaço,
tempo e por estar ligada aos valores, desejos, aspirações, carência, falta, ao que é
imprescindível, útil e necessário tanto aos sujeitos quanto ao meio social (LALANDE, 1993;
HOUAISS, 2006; OUTHWAITE; BOTTOMORE, 1996).
A necessidade encontra-se intrinsecamente ligada à luta pela sobrevivência, pois as
primeiras necessidades básicas do homem são alimentar-se, vestir-se, agasalhar-se, ou seja, o
que move o homem é a necessidade (MARX, s/d). À medida que essas necessidades vão sendo
satisfeitas pelas ações provenientes dos meios de produção e das relações sociais, novas
necessidades vão emergindo, possibilitando ao homem criar e recriar sua história enquanto ser
social, dotado de necessidades materiais e espirituais, e que age sobre elas por meio da atividade
que desenvolve como mecanismo de realização.
Para tanto, os pressupostos epistemológicos da Teoria da Atividade, de Aléxie
Nikoláevich Leontiev (1983), são alguns dos fundamentos para se investigar as necessidades
formativas dos professores. De acordo com os estudos desse teórico, a atividade se materializa
a partir de ações instigadas por necessidades e motivos. Dessa forma, Leontiev (1983, p. 147)
denomina atividade como “al proceso que se es estimulado y orientado por un motivo enelcual
esta objetivada una u outra necesidad”. Já para Núnez e Ramalho (2013, p. 28),
Nesse sentido, esta pesquisa teve como propósito detectar as necessidades formativas
dos professores que estão em formação nos cursos de Primeira Licenciatura do PARFOR/MA,
tendo como um dos fundamentos epistemológicos a Teoria da Atividade (LEONTIEV, 1983).
O objetivo é analisar as relações existentes entre a emergência dessas necessidades e a formação
inicial, considerando o modo como essa atividade de formação pode contribuir para a superação
das necessidades no âmbito da prática pedagógica dos professores. Vale ressaltar que esses
professores já se encontram no processo de desenvolvimento da profissão docente.
Estabelece-se, portanto, uma correlação entre necessidades, motivos e atividades, pois
de acordo com Leontiev (1983), a atividade precisa coincidir com um motivo ou motivos e
necessidades. Assim, ao se considerar que a atividade do professor é uma atividade tanto laboral
quanto didática, e, acima de tudo, sensitiva, a qual tem como meta central a aprendizagem de
outros sujeitos, pode-se afirmar que as necessidades, nesse caso as formativas, emergem das
relações sociais do sujeito em um dado contexto histórico, político, social e cultural.
Com essa visão ampla de necessidades formativas, as quais podem ser trabalhadas pela
formação inicial como atividade principal nesse processo, aponta-se que o sujeito adquire
conhecimentos profissionais não só dentro da escola, mas também fora dela, isto é, no ambiente
de trabalho. Não se pode compreender as necessidades formativas de professores aprisionando-
as na escola, até porque os fatos que ocorrem dentro dela só se explicam pelas inter-relações
com os fatos que ocorrem fora dela.
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação inicial de professores em serviço, nesse contexto, é entendida como uma
atividade que possibilita a superação de necessidades a partir da apropriação dos conhecimentos
necessários e adequados, visando ao desenvolvimento profissional docente e à melhoria da
prática pedagógica. Ao mesmo tempo, tal formação possibilita a própria reconstrução da
identidade docente, pois esta é construída e reconstruída no movimento das relações sociais, as
quais são determinadas no contexto histórico social que o sujeito - neste estudo o professor -,
encontra-se inserido.
Compreende-se ainda que as políticas educacionais elaboradas e implantadas
atualmente para a formação docente colocam-se como mais uma categoria de análise para a
compreensão deste objeto de estudo, pois são as políticas educacionais que legitimam, no
campo da legalidade, os formatos ou os tipos de formação docente destinados aos professores
da educação básica pública. Tais políticas vêm se materializando por meio de programas e
projetos, os quais são institucionalizados pelos decretos e resoluções.
ISSN – 2448-4210 http://laborufc.wix.com/anaislaborufc Página 1099
Anais do Encontro Internacional Trabalho e Perspectiva de Formação dos Trabalhadores
Nov/2017 Vol. 01 nº 02
REFERÊNCIAS
BRASIL. Censo Escolar da Educação Básica 2015: resumo técnico. Brasília, DF, 2016.
_______. Relatório do primeiro ciclo de monitoramento das metas do PNE: biênio 2014-
2016: resumo técnico. Brasília, DF, 2016.
LALANDE, André. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. São Paulo: Martins Fontes,
1993.
<http://www.comperve.ufrn.br/conteudo/observatorio/arquivos/artigos/profissionalizacao-
docencia.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2014.
RAMALHO, Betania L.; NÚÑEZ, Isauro B.; GAUTHIER, Clermont. Formar o professor,
profissionalizar o ensino: perspectivas e desafios. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2004.
ABSTRACT
In the current world where competitiveness has even become more intense. Choosing to differentiate from other
groups, may be a water divisor between success and failure at professional careers. In this article, we worked in
a descriptive, exploratory and explanatory methodological quantitative approach, whose central objective of the
research is to examine the importance to insert the skills and abilities in technical trading for students’
professional performance in higher education in a HEI. For this a survey was conducted through a closed
questions questionnaire with the students of three courses in a private HEI. It is concluded that despite the
Technical Trading discipline be offered as optional for the Administration course, It is realized as more important
to the professional life, by the future graduates at Dentistry and Architecture courses, so It could be used these
techniques with their clients, where such subject is not being offered on the matrix of their courses. By the found
descriptions in the search, it is recommended to insert the Trading Techniques discipline in all the higher
education courses, at least as optional, whereas the good professional to exercise his or her profession, he should
ensure not only an superb quality level in their provided services, as must also ensure their business perpetuity.
1 INTRODUÇÃO
A competitividade no mercado de trabalho tem se mostrado cada vez mais acirrada, que
tem sido agravada com a quantidade de desempregados gerados principalmente após as crises
econômicas e políticas enfrentada pelo Brasil, em que só no segundo trimestre de 2016, a taxa
de desemprego no Brasil subiu para 11,3%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), onde até o final de junho de 2016, o país tinha 11,6
411
Docente do Curso de Administração e do curso de Contabilidade da UNICATOLICA. adylsonsa@unicatólicaquixada.edu.br
412
Docente do curso de Psicologia, do curso Filosofia e do curso Teologia da UNICATOLICA. stanianagila@unicatolicaquixada.edu.br
413
Livre Docente em Administração Geral pela Universidade Estadual do Ceará. messias@unicatólicaquixada.edu.br;
2 TECNICA DE NEGOCIAÇÃO
Atualmente vive-se em um mundo voltado a capacidade da interação do homem com as
tecnologias, onde o uso das referidas tecnologias transformou a vida das pessoas, que em geral
se tornaram ainda mais aceleradas, e isso afetou diretamente o comportamento do ser humano,
que está tendo que dá respostas cada vez mais rápidas às demandas diárias, e está tendo cada
vez menos tempo para suas atividades pessoais e profissionais.
ISSN – 2448-4210 http://laborufc.wix.com/anaislaborufc Página 1103
Anais do Encontro Internacional Trabalho e Perspectiva de Formação dos Trabalhadores
Nov/2017 Vol. 01 nº 02
Sabe-se que o fenômeno globalização está se ampliando e afetando, cada vez mais,
empresas, pessoas e países [...] com os rápidos acontecimentos e mudanças da
humanidade, as distâncias diminuíram e os contatos aproximaram-se. Empresas
possuem filiais em inúmeros países.
Desta forma fica constatado que o grande diferencial competitivo nas negociações estará
não só na habilidade dos negociadores em saberem conduzir uma negociação, como também
na competência em falar mais de um idioma, conhecer os hábitos e costumes de cada país, e
respeitar as diferenças culturais e sociais em cada negociação.
Segundo Mello (2011), observa-se que, dentre os tipos de negociação, existe a
cooperativa, quando compradores e vendedores estão dispostos a conceder informações, desde
que ao longo da negociação possam sentir a reciprocidade de ambos os lados, e que as
informações compartilhadas sejam verdadeiras e consistentes, ou seja, essa sempre será uma
negociação ganha–ganha.
Já uma outra forma de se efetivar a negociação, será pela negociação competitiva, onde
se estabelece um território de incertezas e desconfianças, em que comprador e vendedor sempre
reservam uma carta na manga, e na maioria das vezes faz o jogo de cartas marcadas gerando
Negociar é uma questão da estratégia que você deve adotar em função de seus
objetivos, dos objetivos do outro, do estilo do outro negociador, da relação de
confiança, da situação do mercado e da ética pessoal do outro negociador, entre uma
série de outras variáveis.
Desta forma pode-se observar que "Negociação é um processo em que duas ou mais
partes, com interesses comuns e antagônicos, se reúnem para confrontar e discutir propostas
explícitas com o objetivo de alcançar um acordo." (Berlew, 2011, apud, Carvalhal, 2014), e
que, assim, existem diversas formas de negociar.
com os alunos dos cursos de Administração, Odontologia e Arquitetura, que estavam cursando
o último ano.
Atualmente, encontram-se matriculados nos cursos de Administração, Odontologia e
Arquitetura, 172 alunos, no último ano, distribuídos conforme tabela abaixo.
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As perguntas 1, 6 e 8 utilizadas no questionário objetivaram a compreensão dos
pensamentos dos alunos pesquisados sobre a importância da disciplina de Técnica de
Negociação para os futuros egressos, onde se buscou uma relação sobre a percepção destes com
relação à importância das competências e habilidades das técnicas de negociação na formação
profissional do aluno do ensino superior.
CURSO
Administração (16) Arquitetura (10) Odontologia (31)
Opções N N N
S N NS Q NR S N NS Q NR S N NS Q NR
Perguntas
R R R
1 – Na sua opinião, as
técnicas de negociação são
100 100 96,77 3,23
parte imprescindíveis na
% % % %
formação do egresso no
ensino superior?
6 – Você julga que as
técnicas de negociação
possam ajudar nas relações
do profissional com seus 100 100 96,77 3,23
clientes e/ou fornecedores? % % % %
(Marque a opção que você
julga mais próximo do seu
pensamento)
8 – Você recomendaria a
inclusão das técnicas de
negociação (competências e 100 20 100
80%
habilidades) na formação % % %
do profissional do ensino
superior?
Fonte: Própria Pesquisa Direta deste Artigo
Legenda: S - Sim; N - Não; NS - Não Sei; NQR - Não Quero Responder; NR - Não Respondeu
quais das alternativas relacionadas que ele identificaria com um maior grau de semelhança com
o seu pensamento sobre a importância das competências e habilidades de negociação na
formação profissional. Em seguida, foi solicitado que fosse ranqueado as 5 principais escolhas
da menor para a maior relevância, onde o número 1 teria baixa relevância e o número 5 teria
maior relevância.
CURSO
Administração Total de
Arquitetura (10) Odontologia (31) Rank
(16) Respostas
Quantid. Quantid. Quantid.
Afirmativas Rank Rank Rank Geral
respostas respostas respostas
Muito importante. 11 3 6 5 15 32 5o.
Poderei utilizar com meus
10 5 6 5 18 4 34 4o.
fornecedores.
Será útil em minha vida
14 2 8 3 19 3 41 3o.
pessoal.
Poderei utilizar com meus
11 3 9 1 23 1 43 2o.
clientes.
Poderá melhorar minha
performance de forma 15 1 9 1 22 2 46 1o.
geral.
Negociação poderá
rentabilizar melhor meus 7 7 4 18 4 32 5o.
negócios.
Fonte: Própria Pesquisa Direta deste Artigo
A opção mais escolhida pelos alunos entrevistados, dentre as opções existentes, foi que
a Técnica de Negociação (Pode melhorar minha performance de forma geral) onde foi
assinalada por 46 dos 57 alunos pesquisados, correspondendo a 80,7%. A segunda opção com
maior número de referências, como uma maior semelhança com o pensamento dos
entrevistados com relação a Técnica de Negociação foi que (Poderei utilizar com meus
clientes). Nessa questão teve-se 43 entrevistados assinalando essa opção, o que representou
75,4% do total de alunos 57 entrevistados.
Certamente essa situação do curso de Administração ter escolhido em terceiro lugar essa
alternativa reflete a realidade dos profissionais dos diversos cursos pesquisados, pois é sabido
que o profissional da área da arquitetura e odontologia tem uma interface maior com a
negociação junto aos seus clientes e fornecedores no dia a dia de suas atividades laborais,
enquanto que para o administrador, tem uma interface maior com a negociação, caso ele se
dedique a área de vendas, ou em sua vida pessoal, o que seria útil para todas as pessoas,
independentemente de suas formações e profissões.
CURSO
Administração Arquitetura Odontologia Total
Rank
(16) (10) (31) Respostas
Afirmativas Resp. Rank Resp. Rank Resp. Rank Geral
Importante, pois poderei iniciar minha
11 8 2 23 1 42 3o.
profissão com mais segurança.
Muito importante, pois esse
conhecimento adicional poderá 11 3 7 18 36 4o.
assegurar maior sucesso.
Poderei utilizar com meus
fornecedores, garantindo maior 7 5 8 2 21 3 36 4o.
rentabilidade para o negócio.
Será útil em minha vida pessoal, pois
13 2 4 11 28 5o.
negociamos desde criança.
Poderei utilizar com meus clientes,
pois brasileiro gosta de pechinchar, e 7 5 6 5 13 5 26 6o.
tenho que preservar minhas margens.
Poderá melhorar minha performance
de forma geral, pois o resultado de
uma boa negociação interfere 16 1 8 2 20 4 44 1o.
inclusive na minha performance
financeira.
Negociação poderá rentabilizar
11 3 10 1 22 2 43 2o.
melhor meus negócios.
Fonte: Própria Pesquisa Direta deste Artigo
Ressalto que, apesar de essa ter sido a opção com a maior quantidade geral de votos,
para a turma da Odontologia e Arquitetura, essa opção ficou apenas em quarto lugar e segundo
lugar, respectivamente.
Quando avaliam-se as respostas dos entrevistados do curso de Administração, verificou-
se que são poucas as interfaces com os demais cursos pesquisados, pois além de já terem a
disciplina de Técnica de Negociação ofertadas, suas percepções para o uso na profissão são
diferentes, como verificado no ranking das suas escolhas, ficando em primeiro lugar a opção
(Poderá melhorar minha performance de forma geral, pois o resultado de uma boa negociação
interfere inclusive na minha performance financeira) com 16 votos dentre os 16 entrevistados,
ou seja, 100% da amostra.
Carneiro (2008), alerta sobre a importância do conhecimento de negociação para o aluno de
Administração, em que faz referência sobre como o profissional (administrador), acaba aprendendo
as competências da negociação no dia a dia, ou seja, na prática, e que se faz necessário que esse
aprendizado seja adquirido nas academias, pois dessa forma quando ocupar um cargo gerencial nas
organizações, já estará devidamente preparado para o desafio das situações conflituosas.
Essas observações relatadas no paragrafo anterior, reforçam os fundamentos da pesquisa,
em que a academia é o local ideal para a formação dos diversos profissionais, independente da
profissão escolhida, pois o deixará mais preparado para os futuros desafios da sua profissão, no que
dizem respeito a gestão, controle e negociação; principalmente quando as profissões têm como
fundamento básico para o bom exercício, uma vocação para o uso das ferramentas de negociação
em seu dia a dia, quer seja com clientes ou fornecedores.
Ratificando o pensamento versado acima, para a turma da Odontologia, a opção com
maior relevância foi a (Importante, pois poderei iniciar minha profissão com mais segurança),
que ficou em primeiro lugar tendo sido escolhida por 23 alunos dos 31 entrevistados,
correspondendo a 74,2% dos votos; e em segundo lugar ficou a opção (Negociação poderá
rentabilizar melhor meus negócios) onde 22 dos 31 entrevistados escolheram essa opção,
representando 70,9% dos votos. Com isso, pode-se observar claramente uma maior
preocupação dos alunos, no que diz respeito a percepção da importância da disciplina na
carreira profissional.
Já com a turma de Arquitetura, a opção com maior quantidade de votos foi a
(Negociação poderá rentabilizar melhor meus negócios) que foi marcado por 100% dos alunos
entrevistados, ou seja, 10 dentre os 10 alunos entrevistados assinalaram essa opção, tendo ficado
empatado em segundo lugar com 8 votos, ou 80% da amostra, as opções: (Poderá melhorar
minha performance de forma geral, pois o resultado de uma boa negociação interfere inclusive
na minha performance financeira); (Poderei utilizar com meus fornecedores, garantindo maior
rentabilidade para o negócio); (Importante, pois poderei iniciar minha profissão com mais
segurança); o que evidencia ainda mais a importância da disciplina para os futuros egressos do
curso de arquitetura em sua carreira profissional.
Desta forma, observou-se que a disponibilidade de um maior aprofundamento aos
futuros egressos, voltado à aplicação das habilidades e competências das técnicas de negociação
na vida profissional e pessoal, poderá ofertar aos futuros profissionais liberais mais segurança
e confiança, tanto nas questões da gestão dos negócios, nas relações humanas, como no
gerenciamento financeiro, pois esses profissionais terão que atuar no mercado de trabalho de
forma autônoma, independente e profissional, buscando rentabilizar seus negócios de forma
responsável, visando a perpetuidade do seu negócio.
Gráfico 1 - Você já teve alguma experiência com o uso das técnicas de negociação?
80,65%
75%
70%
30%
25%
19,35%
usar algumas das habilidade e competências das técnicas de negociação, ao passo que os demais
cursos não conseguiram identificar em sua rotina diária, algum momento em que tenham
negociado.
AVANÇADO, JÁ PARTICIPEI DE
31,25%
TREINAMENTOS.
12,90%
MODERADO, PARTICIPEI DE
ALGUM TREINAMENTO.
25% 40%
SUPERFICIAL, NEGÓCIO DE
ALGUMA FORMA.
43,75% 60% 70,97%
evidenciando dessa forma uma fragilidade para o bom exercício da profissão, já que os
odontólogos têm que efetivar, várias negociações quer seja com seus clientes e ou fornecedores,
durante o exercício de sua profissão.
12,90%
CURSOS EXTERNOS 10%
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa demonstrou que a disciplina da Técnica de Negociação é percebida como
importante para a vida profissional pelos futuros egressos dos cursos de Odontologia e
Arquitetura, com uma maior relevância do que para a turma da Administração, pois os egressos
poderão utilizar as referidas técnicas com seus clientes e/ou fornecedores.
Certamente essa maior percepção de importância pelos alunos dos cursos de Arquitetura
e Odontologia, deve-se ao fato da técnica de negociação contribuir com uma melhor
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Sistema Nacional de Qualificações. Decreto Lei nº 396/2007 de 31 de dezembro.
Lex: Adota os princípios consagrados no acordo celebrado com os parceiros sociais e
reestrutura a formação profissional inserida no sistema educativo e a inserida no mercado de
trabalho.
Abstract
The present work presents a reflection about the themes and situations that arise during the accomplishment of
the discipline of Stage I: observation of elementary education II and course FIC of the course of Licenciatura and
Scientific and Professional Education - EPCT of the Federal Institute of Education of Ceará. Being the stage is a
fundamental stage of the degree courses especially because it is in this discipline (training stage) in which the
student is immersed in his object of study and future workplace where he can simultaneously encounter the
relationship theory and practice And its variant factors (the activism of the school floor). The methodology used
to carry out this research was to survey bibliography regarding the theme stage and observation of qualitative
characteristic of the activities developed during the discipline. By itself an initial discipline of the field of the stage
of the course that has in its curricular matrix five destined disciplines of this moment of the teacher formation. We
will analyze the impressions obtained during this discipline and its relevance for the formative process of the
students in EPCT.
1 A RELEVÂNCIA DO ESTÁGIO
Ao longo das últimas décadas tem-se observado uma maior atenção por parte das
universidades em relação a formação dos futuros docentes sobretudo no que corresponde a
realização de estágio enquanto componente de formação necessário para a prática docente.
Segundo Pimenta; Lima (2004), o estágio é uma das partes significativas na formação
docente, pois permite ao acadêmico obter uma visão mais detalhada da realidade de seu futuro
campo de atuação, levando o mesmo a analisar os pontos por ele observados a partir das teorias
já estudadas (embasamento teórico).
É por meio da realização da observação e levantamento de dados que o acadêmico
desenvolve o seu estágio observatório visando compreender a realidade da ação docente com
414
Graduando em Licenciatura em Educação Profissional, Científica e Tecnológica do InstitutoFederal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará – IFCE. fjassuncaoaioros@bol.com.br
415
Graduando em Licenciatura em Educação Profissional, Científica e Tecnológica do InstitutoFederal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará – IFCE. raquel.siqueiradasilva@yahoo.com.br
seus desafios e expectativas, ou seja, é nesse momento em que o mesmo realiza um verdadeiro
diagnóstico do seu futuro campo de atuação. Nesse enfoque LIBÂNIO (2001), apresenta oito
aspectos gerais para a realização da coleta de dados da escola: caracterização socioeconômica;
estrutura física e material; pessoal integrante da comunidade escolar; estrutura, organização e
funcionamento; planejamento escolar; organização geral da escola; direção e gestão da escola;
avaliação.
Além disso, tal prática (estágio) auxilia nas reflexões e debates a respeito da função
social da escola a qual segundo SAVIANE (1997) refere-se ao atendimento educacional das
diversas classes sociais, de modo, que haja a disseminação do conhecimento proporcionando a
todos uma formação que venha a atender tanto os aspectos técnicos científicos quanto os sociais
dando-lhes assim subsídios necessários para que se tornem agentes transformadores do meio
em que vivem.
Diante dessa realidade, é possível compreender a relevância significativa do estágio no
processo de formação dos futuros docentes, pois permite aos mesmos obter novas experiências,
compartilhar conhecimento, interagir com a realidade escolar além de verificar se os
conhecimentos adquiridos ao longo da formação atendem as necessidades impostas à futura
profissão.
uma formação básica que superasse a dualidade entre cultura geral e cultura técnica,
assumindo o conceito de politecnia. O que significava tentar reverter o dualismo
educacional através de um de seus mecanismos mais efetivos, a subordinação no
trabalho e na educação. Com base em Manacorda (1989) e em Saviani (1989),
pretendia-se a “superação da dicotomia entre trabalho manual e trabalho intelectual,
entre instrução profissional e instrução geral” (SAVIANI, IBID., p.
13).416( CIAVATTA ,2005,p4)
416
CIAVATTA, M. A formação integrada: a escola e o trabalho como lugares de memória e de identidade, v.3, n.3, 2005. Disponível em:
http://www.uff.br/trabalhonecessario/images/TN_03/TN3_CIAVATTA.pdf. P.4
417
RAMOS nó apresenta a proposta de “ensino médio de forma integrada – trabalho, ciência e cultura – que entendemos a necessidade de o
ensino médio ter uma base unitária sobre a qual podem se assentar possibilidades diversas de formações específicas: no trabalho, como
formação profissional; na ciência, como iniciação científica; na cultura, como ampliação da formação cultural. Vide: RAMOS, M. N.
Concepção do Ensino médio integrado. Disponível em: http://www.iiep.org.br/curriculo_integrado.pdf P. 10
418
No Estado do Ceará “Seguindo está política educacional o estado do Ceará tem sido uma referência por atuar tanto na implementação de
Escolas Estaduais e Educação Profissional e implementação de Escola de Ensino Médio de Tempo Integral. As Escolas Estaduais de Educação
Profissional são instituídas no Ceará a partir de 2008. Essas escolas desenham a possibilidade de um futuro mais justo, mais equânime e com
mais oportunidades para os jovens cearenses, acenando para a materialidade da experiência de um maior exercício de cidadania. Atualmente
são 115 Escolas Estaduais de Educação Profissional. Escolas com funcionamento em tempo integral que organizam e integram o ensino médio
à educação profissional, configurando cenários de cidadania que articulam o direito à educação e ao trabalho”. Vide: CEARA, Secretaria de
Educação do Ceará, Escolas Regulares em Tempo Integral na Rede Estadual de Ensino In: http://www.seduc.ce.gov.br/index.php/projetos-e-
programas?id=10229:escolas-regulares-em-tempo-integral-na-rede-estadual-de-ensino; CEARA, Secretaria de Educação do Ceará, Escolas
Estaduais de Educação Profissional no Ceará In: http://www.seduc.ce.gov.br/index.php/educacao-profissional
419
“O diferencial das escolas de ensino médio em tempo integral, segundo o Governo, é dar a possibilidade ao aluno de ele mesmo montar
seus componentes curriculares com base em aptidões e objetivos profissionais, desde que estes sigam eixos temáticos sugeridos pela Seduc,
como: educação em direitos humanos; educação científica; formação profissional em informática; educação ambiental e sustentabilidade;
mundo do trabalho; comunicação, uso de mídias, cultura digital e tecnológica; esporte, lazer e promoção de saúde; artes e cultura, entre outros.”
SEVERO, Luana. 26% das escolas do CE serão de tempo integral até o fim do ano. In O povo – Disponível em:
http://www.opovo.com.br/jornal/cotidiano/2017/03/26-das-escolas-do-ce-serao-de-tempo-integral-ate-o-fim-do-ano.html
(...) que já atende a cerca de 10 mil alunos, é um programa que visa não somente o
aumento da permanecia do aluno no ambiente educacional, mas a potencialização do
ensino e das aptidões das crianças e jovens matriculados na rede municipal de ensino.
O principal projeto dessa natureza são as Escolas Municipais de Tempo Integral
(ETIs), que já são 20 unidades em Fortaleza. ETIs, a Escola Francisco Suderland
Bastos Mota, atende a alunos surdos e ouvintes, com o estudo obrigatório da Língua
Brasileira de Sinais (Libras). E a unidade Dra. Francisca de Assis Canito da Frota tem
uma proposta pedagógica voltada para as questões ambientais. Além das Escolas de
Tempo Integral a Prefeitura de Fortaleza desenvolveu, por meio de parcerias entre
secretarias e com outras instituições, programas que suplementam o conteúdo
oferecido nas escolas de tempo parcial e ampliam a carga-horária dos alunos.
420
(FORTALEZA,2016,p1)
3 METODOLOGIA
Desta pesquisa e qualitativa e documental por tratar de uma analise de dados obtidos
durante as disciplinas de Estágio I e II do curso de Licenciatura de Educação Profissional
Científico e Tecnológico e os dispositivos normativos das políticas educacionais
implementadas no estado do Ceará por meio da secretária de educação do estado do Ceará e do
município de Fortaleza.
Segundo Gil;
4 CONSIDERAÇÕES
420
Dados obtidos apartir dos levantamentos feito pela Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza Disponível em: FORTALEZA, Prefeitura
Municipal, CANAL DA EDUCAÇÃO, Educação em Tempo Integral In: http://educacao.fortaleza.ce.gov.br/index.php/educacao-integral
421
CIAVATTA, M. A formação integrada: a escola e o trabalho como lugares de memória e de identidade, v.3, n.3, 2005. Disponível em:
http://www.uff.br/trabalhonecessario/images/TN_03/TN3_CIAVATTA.pdf. P.6
422
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa.In:JOYE, Cassandra Ribeiro. Metodologia da pesquisa em turismo: semestre II,
Fortaleza:UAB/IFCE, 2009. ISBN 978-85-63953-14-8 P28.
REFERÊNCIAS
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FERRARI, Márcio. Maria Montessori: a médica que valorizou o aluno. Revista Nova
Escola, p. 2-4, 2014
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. In:JOYE, Cassandra Ribeiro.
Metodologia da pesquisa em turismo: semestre II, Fortaleza: UAB/IFCE, 2009. ISBN 978-85-
63953-14-8 P28.
LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2004.
SEVERO, Luana. 26% das escolas do CE serão de tempo integral até o fim do ano. In O
POVO – Disponível em: http://www.opovo.com.br/jornal/cotidiano/2017/03/26-das-escolas-
do-ce-serao-de-tempo-integral-ate-o-fim-do-ano.html
Abstract
The present study consists of an assessment about the access of people with disabilities in the labor market. The
objective of this research was to understand the challenges and perspectives of productive inclusion experienced
by this segment, as well as to problematize the programs and actions developed by the Center for Inclusive
Professionalisation for People with Disabilities (Cepid). As for the methodological aspects, it is a bibliographical
research. It was decided to approach the evaluative paradigm of the in-depth evaluation, besides being referenced
in the method of dialectical analysis. As a result, the inclusion of people with disabilities in the world of work is
limited by the non-compliance with the legal reserve recommended by the Quotas Law, insufficient governmental
initiatives regarding the professionalization of this public, as well as the precariousness of access to work.
1 APRESENTAÇÃO
O presente estudo consiste em uma avaliação acerca do acesso de pessoas com
deficiência (PcD) no mercado de trabalho. Este foi construído a partir da leitura de textos
abordados e das discussões travadas na disciplina de Avaliação de Políticas Públicas do
Programa de Pós Graduação em Avaliação de Políticas Públicas (PPGAPP) da Universidade
Federal do Ceará (UFC), os quais subsidiaram a elaboração desta proposta investigativa. Tal
investigação avaliará os desafios e as perspectivas no acesso ao mercado de trabalho,
vivenciados por PcD, à luz das iniciativas desenvolvidas pelo Centro de Profissionalização
423
Este trabalho contou com o apoio da Instituição Financiadora Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES).
424
Universidade Federal do Ceará – UFC. thaynahba@gmail.com.
425
Universidade Federal do Ceará – UFC. milenafreitasdesouza@hotmail.com.
Inclusiva para Pessoas com Deficiência (Cepid), no Estado do Ceará. A partir disso, é
importante compreender que:
Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades
de condições com as demais pessoas (BRASIL, 2009, p. 28).
Ao abordar esta temática, identifica-se que nos dias atuais se vivencia a fragilidade das
políticas públicas e o desmonte dos direitos sociais. Nesse cenário, vem se acirrando o debate
acerca do mundo do trabalho e dos retrocessos no tocante aos direitos da classe trabalhadora.
Entendendo que o não acesso ao trabalho, os vínculos empregatícios instáveis e o trabalho
informal são expressões que permeiam o cotidiano de milhares de trabalhadores brasileiros.
Porém, estas problemáticas são ainda mais perversas em relação aos trabalhadores com
deficiência, os quais são alvos prioritários da vulnerabilidade e da precarização do trabalho.
Sobre isso, Silva (2011, p. 26) pontua:
A partir de uma análise crítica, identifica-se, com ressalvas, que tais iniciativas
representam um avanço na busca pela efetivação do direito ao trabalho das PcD, uma vez que
expande as oportunidades de inserção destas, entretanto, são insuficientes para atender esse
segmento.
Nessa perspectiva, destacam-se as ações realizadas pelo Cepid. Este órgão público
realiza o recrutamento das vagas para PcD no território cearense, com foco na capital, Fortaleza,
e encaminha os candidatos para diversas empresas, a fim de que sejam absorvidos pelo mercado
de trabalho, cumprindo as determinações da Lei de Cotas, além de promover a qualificação dos
aspirantes às vagas, por meio de cursos, conforme expressa o anúncio abaixo.
emprego e renda. Porém, salienta-se que, paradoxalmente, este órgão perpetua a lógica
precarizada de acesso ao trabalho, necessitando haver um redirecionamento nas suas ações, a
fim de romper com a “[...] nova forma de precarização do trabalho, que perpassa a experiência
vivida de trabalhadores e trabalhadoras na sua vida cotidiana e que diz respeito à estrutura da
própria práxis humana” (ALVES, 2012, p.10).
O Cepid foi pensado a partir do tensionamento e da força do Movimento Social de
Pessoas com Deficiência e em resposta às demandas de PcD. Ademais, ressaltamos que, entre
outras razões, ele foi fruto de uma pesquisa realizada em 2007, em parceria entre a UFC e a
STDS, em que se investigou sobre a situação de empregabilidade de PcD no território cearense,
a fim de construir um diagnóstico neste campo. Os dados coletados foram alarmantes e
demonstraram a necessidade da criação de um espaço que ofertasse serviços de
profissionalização para este grupo social.
Assim, o Cepid surgiu com iniciativas de incentivo a alguns setores da economia para
receber o referido público em seus quadros de funcionários. Nesse cenário, inúmeras empresas
descumpriam (o que se perdura nos dias atuais) as legislações, sobretudo, a Lei de Cotas,
justificando que a falta de qualificação profissional seria um dos motivos para o impedimento
da contratação.
O serviço supramencionado almeja fomentar o atendimento da demanda por formação,
qualificação e inserção de PcD no trabalho, atuando junto ao trabalhador pela oferta de
qualificação, intermediação para o mercado e monitoramento do empregado, supervisionando
seu processo de adaptação ao ambiente de trabalho e junto às empresas, com orientação e
suporte para mudanças nas estratégias de inserção.
Nesta breve análise, identificou-se, inicialmente, que instituições como a STDS, o SINE
e o Cepid reproduzem a subalternização do trabalho e desvalorizam o potencial criativo do
público em tela. Apesar do avanço no crescimento das vagas de trabalho disponibilizadas e das
iniciativas de qualificação profissional, elas ainda estão aquém do necessário para o
aproveitamento das capacidades e habilidades de que dispõem as PcD.
Reitera-se que o não acesso ao trabalho e à qualificação profissional é uma constante na
vida de PcD. Somado a isso, estas enfrentam uma diversidade de outras barreiras como o
estigma, a dificuldade de acessibilidade e a insuficiência de políticas públicas, sendo necessário
buscarmos meios e estratégias de fortalecimento de políticas públicas que se proponham a
superar os entraves sociais que segregam esses sujeitos.
Concluí-se este tópico destacando que, para além da inserção desses sujeitos ao trabalho,
também é importante refletirmos acerca da sua inclusão nos seguintes eixos: esporte, cultura e
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2 OBJETIVOS
Objetiva-se, a partir desta investigação, apreender os desafios e as perspectivas
vivenciadas por pessoas com deficiência na inserção no mercado formal de trabalho, bem como
problematizar os programas e as ações desenvolvidas pelo Centro de Profissionalização
Inclusiva para Pessoas com Deficiência (Cepid).
3 METODOLOGIA
Quanto aos aspectos metodológicos, trata-se de uma pesquisa bibliográfica com
inspiração no método de análise dialético, o qual “colabora para o entendimento de que não
existe ponto de vista fora da história, nada é eterno, fixo e absoluto." (MINAYO, 2010, p. 340).
Ademais, lançou-se mão da avaliação em profundidade como abordagem metodológica.
Considera-se importante fundamentarmos esta pesquisa, nas linhas que seguem,
conceituando o campo da avaliação. Assim, tem-se que a avaliação corresponde a:
Sobre isso, Arretche (1999) pontua que tal atividade pressupõe um julgamento, uma
análise que atribui um valor, implicando aprovar ou desaprovar uma estratégia, um programa
ou uma política. Isso se dá baseado em uma concepção de justiça. Desse modo, “não existe
possibilidade de que qualquer modalidade de avaliação ou análise de políticas públicas possa
ser apenas instrumental, técnica ou neutra” (ARRETCHE, 1999, p. 1). A avaliação possibilita
mensurar o impacto das ações governamentais, sua efetividade e eficiência na alocação dos
recursos, mas não se limita a isso, uma vez que contempla os significados que as políticas
públicas têm para os sujeitos que as formulam, que as executam e que as vivenciam.
Para melhor apreender a dimensão avaliativa das políticas públicas, faz-se necessário
explicitar o que estas são e o que representam. Destaca-se uma definição que afirma se tratar
de um campo de conhecimento, no qual sua formulação “constitui-se no estágio em que os
governos democráticos traduzem seu propósito e plataforma eleitorais em programas e ações
que produzirão resultados ou mudança no mundo real.” (SOUZA, 2006, p. 26).
Sobre isso, corrobora-se com o pensamento de Silva (2008) que compreende a política
pública como um modo de intervenção e de regulação na sociedade, que contempla um conjunto
de ações e estratégias do Estado, por vezes omisso, permeadas por interesses conflitantes.
No solo brasileiro, a avaliação de políticas públicas ganha ênfase a partir do final da
década de 1980, momento em que se discutia sobre a reforma do Estado e a “necessidade” de
um modelo de gestão gerencialista que substituísse o paradigma burocrático e que coadunasse
com as determinações neoliberais. O novo modelo vai ganhar destaque nas administrações
públicas latino-americanas. Neste contexto, como estratégia contra hegemônica, uma proposta
inovadora foi inserida no Brasil, a fim de fomentar novos conceitos avaliativos, para além dos
modelos direcionados à tomada de decisão e resultados, denominada avaliação em
profundidade.
Este paradigma defende uma imersão no campo de investigação pelo pesquisador, que
se dê de modo detalhado, amplo e multidimensional. Na referida proposta, a pesquisa
qualitativa se destaca a fim de dar conta de aspectos não contemplados pelas restrições dos
dados estatísticos. A avaliação em profundidade contempla quatro aspectos, são eles: análise
do conteúdo do programa/política, análise do contexto da formulação do programa/política, do
espectro temporal e territorial e da trajetória institucional (RODRIGUES, 2008). Nesse estudo,
evidenciou-se o último aspecto.
Para fins ilustrativos, explicita-se que a análise de conteúdo do programa/política se
refere à apreciação do conteúdo institucional, por meio de leis, portarias, dados estatísticos,
documentos internos, relatórios, projetos, entre outros. A análise de contexto da formulação do
programa/política organiza dados acerca da situação socioeconômica e do momento político de
sua elaboração, estabelecendo as conexões com as esferas local, regional, nacional e
internacional. O espectro temporal e territorial busca contemplar a dimensão temporal e
territorial do programa/política analisada, confrontando o que este/a se propõe a realizar e as
singularidades e historicidade locais. E por fim, a trajetória institucional de um programa/
política elenca os caminhos institucionais percorridos pela política em estudo, visando elucidar
o nível de dispersão e coerência em seu percurso.
4 CONCLUSÃO
Esta proposta investigativa buscou avaliar a inserção de PcD no mercado de trabalho,
problematizamos a trajetória institucional dos equipamentos públicos que desenvolvem
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estratégias de inclusão produtiva destes sujeitos no Ceará, com foco nas ações realizadas pelo
Cepid.
Desse modo, apreendeu-se que as vagas ofertadas para PcD possuem um caráter
tecnicista, com pouco teor intelectual e de baixa remuneração, que há limites e barreiras no
acesso deste segmento ao trabalho, que a reserva legal estabelecida pela Lei de Cotas é
comumente descumprida, que as vagas ofertadas são pouco divulgadas pelas empresas no
território cearense, que estas necessitam ser descentralizadas para o interior do Estado.
A partir desse estudo, concluiu-se que o acesso de PcD ao trabalho é perverso, envolto
por estigmas, preconceitos e insegurança, necessitando haver uma fiscalização mais atuante dos
órgãos que acompanham as empresas no cumprimento da reserva legal. Ademais, é urgente que
o poder público invista em iniciativas de qualificação profissional. Observou-se a
subalternização dos cargos disponíveis, bem como se problematizou o modo precarizado pelo
qual vem se dando a inserção deste público no trabalho formal. Assim, concluímos que há, nas
empresas, um preenchimento de vagas de PcD de modo quantitativo e não qualitativo, o que
em vez de incluir, reforça a exclusão e a segregação destes indivíduos.
REFERÊNCIAS
ALVES, Giovanni. O enigma do precariado e a nova temporalidade histórico do capital -
partes 1, 2 e 3. [S. l.: s. n.]. 2012. Disponível em:
<http://boitempoeditorial.wordpress.com/2012/14/o-enigma-do-precariado>. Acesso em: 03,
jul. 2017.
ARRETCHE, Marta Teresa da Silva. Tendências no estudo da avaliação. In: RICO, Elizabeth
Melo (Org.). Avaliação das políticas sociais: uma questão em debate. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 1999. p. 107-127.
BRASIL. Cartilha do Censo 2010 Pessoas com Deficiência. 2012. Disponível em:
<http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/publicacoes/cartilha-censo-
2010-pessoas-com-deficienciareduzido.pdf>. Acesso em: 22, set. 2017.
______. Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Convenção sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência. 2009.
______. O Ceará é o Estado com a maior proporção de pessoas com deficiências. 2015.
Disponível em: < http://www.ceara.gov.br/sala-de-imprensa/noticias/14171-ceara-e-o-estado-
que-mais-emprega-pessoas-com-deficiencia> Acesso em: 10, jul. 2017.
SILVA, Maria Ozanira da Silva. Avaliação de políticas e programas sociais: uma reflexão
sobre o conteúdo teórico e metodológico da pesquisa avaliativa. In: SILVA, Maria Ozanira da
Silva (Org). Pesquisa avaliativa: aspectos teóricos-metodológicos. São Luis: GAEPP, 2008.
p. 89-177.
SOUZA, Celina. Políticas públicas: uma revisão de literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano
8, n. 16, p. 20-45, jul./dez. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/soc/n16/a03n16>.
Acesso em: 12, ago. 2017.
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende levantar questões relevantes em relação a dualidade estrutural do
novo tipo que influencia decisivamente acerca da formação dos filhos da classe trabalhadora.
Deveremos expor primeiramente como o capital - imperialismo determina essa dualidade e
como essa se reflete nas propostas pedagógicas que estão sendo aplicadas na formação de
diversos jovens e adultos. Sendo a minha pesquisa pautada em uma Escola Técnica Federal,
realizar esse tipo de debate é muito importante, pois começaremos a desvendar as bases da
formação técnica em saúde. Sabemos que na dualidade de novo tipo os caminhos de formação
existem, porém, a qualidade das instituições de ensino atreladas ao Estado não é semelhante às
da classe burguesa. Se cria uma ilusão de que através da educação os filhos da classe
trabalhadora obterão êxito e construirão uma “vida de sucesso”. Entretanto o itinerário
formativo na nossa sociedade é definido pela classe na qual estamos inseridos. E para a classe
trabalhadora o conhecimento fragmentado e superficial é indispensável para a sua precoce
inserção no mercado de trabalho. Como nos ressalta Frigotto:
O homem da classe operária tem desde cedo necessidade do trabalho de seus filhos.
Essas crianças precisam adquirir desde cedo o conhecimento e sobretudo o hábito e a
tradição do trabalho penoso a que se destinam. Não podem, portanto, perder tempo
nas escolas(...) os filhos da classe erudita, ao contrário, podem dedicar-se a estudar
durante muito tempo, tem muitas coisas para aprender para alcançar o que se espera
deles no futuro. (...) (DESTTUT apud FRIGOTTO,2010p.37).
A partir dessa reflexão enfatizamos que se esse percurso não for encurtado devido as
condições socioeconômicas e a necessidade prematura de obter uma atividade laboral, os
426
Docente do Curso Técnico de Enfermagem do CEFET/RJ Uned -NI. Mestranda da EPJV/Fiocruz. fe.velasco@hotmail.com.
O capital dinheiro descola-se cada vez mais de sua referência real e torna-se fictício,
especulativo, permitindo aos que tem o manejo das informações auferir ganhos
extraordinários, mesmo que seja às custas de milhares de trabalhadores em todas as
partes do mundo, particularmente nas nações de capitalismo periférico. Em suma, o
capital desvencilhou-se da ameaça comunista, dos controles sociais do Estado de bem-
estar e da organização e poder coletivo da classe trabalhadora construídos a partir de
meados do século XX. Chegou a hora de sua vingança contra o trabalho. “O capital é,
de agora em diante o único detentor da soberania capaz de decidir diretamente, por
um ato imperial, o destino das nações. (RAVELLI apud FRIGOTTO,2016p.59).
E a partir dessa idéia devemos colocar a importância da formação desses jovens nessa
escola pública federal. Sabemos que em nossa sociedade a formação técnica para a enfermagem
ocorre em sua maior parte pela iniciativa privada. Esta formação é inadequada e extremamente
superficial. Temos a inserção no SUS de profissionais preparados aligeiradamente com um
precário embasamento teórico e prático.
E o que esperar desse profissional na assistência direta aos usuários do SUS? O produto
final de nossas atividades de ensino refere-se à produção de saúde, formamos indivíduos que
cuidarão da população na esfera pública e privada. Esses profissionais do cuidar deveriam ter
diferenciadas de forma desigual e combinada. Esta estratégia na verdade visa tornar mais
próxima a universalização de índices de escolaridade sem universalizar condições de
permanência e sem obter o sucesso e nem os padrões socialmente referenciados de qualidade
pedagógica. (RUMMERT et al,2013, p.735).
Desta forma devemos resgatar as políticas públicas encontradas nesta categoria da
educação, para podermos compreender melhor o papel das escolas públicas que ofertam essa
formação técnica e como esses espaços de aprendizagem estão desenvolvendo a formação dos
indivíduos. Cabe lembrar que será necessário analisar questões referentes ao trabalho e a
educação. Precisamos saber como os jovens estão sendo formados nas escolas técnicas em
questão. E para isso precisaremos compreender as políticas governamentais, elucidar como o
capitalismo dita as normas nos processos educacionais, entender a dualidade estrutural de novo
tipo e como ela se articula com o capital-imperialismo, o qual tem determinado cada vez mais
a separação entre trabalhadores e dirigentes, entre trabalho intelectual e trabalho instrumental.
Para que classe social essas escolas foram idealizadas? Qual é a finalidade dessa formação?
Como se articula ou se afasta o ensino técnico e o ensino propedêutico?
Desta forma temos como objetivos deste trabalho promover um debate sobre a dualidade
estrutural de novo tipo e a sua influência na formação da rede federal. E desvendar a dinâmica
que vem determinando a formação da classe trabalhadora, com ênfase nos futuros trabalhadores
de saúde. A metodologia empregada vai constar de pesquisa bibliográfica a respeito da temática
apresentada ao longo do trabalho e será utilizado como fonte de pesquisa publicações em
periódicos e livros.
e de famílias, gerando a exploração de adultos, crianças e idosos. Temos cada vez menos
trabalhadores unidos em um mesmo ambiente e como conseqüência dessa estrutura de produção
o que observamos é a desconstrução das forças sindicais. Sem organização, com condições
políticas e sociais adversas como o trabalhador vai se articular para lutar pelos seus direitos? É
quase impossível reverter essa situação de exploração máxima proposta pelo sistema capitalista.
Nesta abordagem tentam nos fazer acreditar que a principal meta da escola é projetar o
futuro, porém diante de uma sociedade individualista, institucionalizada que prega o
consumismo compulsório, o que percebemos é que cabe a cada indivíduo se qualificar e
competir para obter um lugar no mercado de trabalho através de suas tão cultivadas
competências. Neste modelo educacional é difícil sonhar e projetar um futuro, pois a escola
reforça as desigualdades sociais e culturais, uma vez que o conhecimento ofertado aos jovens é
organizado para satisfazer os interesses de um grupo hegemônico. Neste pensamento devemos
iniciar o debate sobre a dualidade de novo tipo, ressaltando que o problema educacional da
atualidade não se concentra mais na ausência ou na oferta do itinerário formativo, mas nos
remete a um debate sobre a qualidade de ensino ofertado a classe trabalhadora. Todos têm
realmente acesso aos conhecimentos produzidos na sociedade capitalista?
No trecho acima a autora enfatiza que a classe trabalhadora hoje consegue ter acesso a
escola, porém esta não possui o mesmo nível de ensino ofertado na escola da classe burguesa.
Os jovens e adultos das classes subalternas possuem um ensino fragmentado e superficial, não
se estimula conhecimentos ampliados e não se observa por parte do Estado a preocupação de
se formar sujeitos críticos que poderão transformar realmente a sua realidade social e a do
ambiente no qual estão inseridos. Perpetua-se a manutenção da desigualdade no próprio
processo de democratização da escola. Sabe-se que ocorrem mudanças nas condições de
permanência, de acesso ao conhecimento e de obtenção dos certificados. Em relação a
certificação e ao acesso ao conhecimento observamos claramente uma diferença entre as escolas
estaduais e municipais em relação as escolas de primeira linha que são ofertadas a classe
burguesa. As escolas públicas estão extremamente sucateadas, ocorre déficit no número de
docentes e estes são extremamente expropriados. Já na escola burguesa temos oferta de um
aparato tecnológico e docentes altamente qualificados nos demostrando que quem pode pagar
recebe as benesses do que há de mais moderno em nossa sociedade desigual. Cabe ressaltar que
a Rede Federal, mesmo sendo pública não mantém as características das demais escolas
ofertadas pelo Estado. Nesta rede se tem escolas bem estruturadas, com docentes bem
remunerados e que estão em constante capacitação, por isso essas escolas acabam se tornando
elitizadas.
Em relação a permanência cabe ressaltar a nossa experiência na escola Federal de
formação profissional. Mesmo sabendo que temos um ensino diferenciado hoje temos a questão
da cota, 50% das matrículas são de alunos provenientes das escolas públicas. Neste caso vale
refletir como esse aluno conseguirá se manter nestas instituições, visto que ele não tem a base
adequada para cumprir as exigências deste tipo de ensino. E desta forma começamos a perceber
um aumento da evasão. Isto reforça a exclusão por dentro do sistema e merece total atenção por
parte de gestores e docentes. Nesta conjuntura de certificações vazias e de extrema desigualdade
entre os percursos formativos notamos que o desejo da classe dominante é impedir de formas
reais e simbólicas a capacidade da classe trabalhadora tornar-se dirigente. Desta forma é
atribuído a educação um papel ideológico de contenção e desmobilização do elemento
revolucionário da classe trabalhadora ao associar-se à idéia de equalização econômica, política
e social, independentemente das relações sociais concretas. E criam uma crença de que o
sucesso ou fracasso no atual mundo competitivo depende somente de um conjunto de
competências e habilidades individuais, definidas sob a égide do mercado. (RUMMERT, 2016
p. 1000).
Também é necessário voltarmos o nosso olhar sobre a questão da formação quase que
exclusiva para atender as demandas do mercado de trabalho. Não estamos formando jovens
somente para que esses tenham uma qualificação que permita a sua inserção em algum viés das
linhas produtivas do capitalismo. Desejamos formar indivíduos críticos, criativos, determinados
e senhores de sua própria história. E que consigam através dos ensinamentos difundidos no
ambiente escolar, alterarem a sua realidade e a da sociedade na qual estão inseridos. Devemos
romper com o discurso hegemônico que prega que cada um deve lutar pelo que é seu. Desta
forma não alcançaremos êxito, pois sozinhos e alienados não tencionaremos as estruturas até
então impostas.
Uma forma possível de começar a alterar essa realidade na educação profissional é
através da implantação de um ensino médio integrado. “Não apenas por uma justaposição de
disciplinas, currículos, planos de cursos e habilitações profissionais, mas através de uma relação
orgânica do processo ensino-aprendizagem, dos conhecimentos gerais com os específicos, da
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Com esta indicação deseja-se educar não somente para o universo do trabalho, mas para
que os indivíduos possam plenamente exercer suas ações com princípios éticos e humanitários.
Que possam se tornar indivíduos socialmente produtivos satisfazendo de forma digna suas
necessidades essenciais. Ao se formar esses jovens devem ser capazes de agregar teoria e
prática no enfretamento das situações adversas propostas por nossa condição social.
A formação do trabalhador não pode ser pensada fora da história, das relações sociais e
das transformações operadas pelo trabalho organizado socialmente. Como toda atividade
humana corresponde a uma determinada concepção de mundo, a construção humana deve ser
unitária e coerente para que ocorra uma elaboração crítica e consciente daquilo que realmente
somos.
Por isso não podemos entender a formação profissional como indispensável para o bom
desempenho das atividades profissionais da juventude. Considerando que se houver políticas
públicas e investimentos constantes nessa área de ensino, os problemas reais de desemprego
seriam solucionados como em um passe de mágica. Sabe-se hoje que esse conceito está longe
de ser verdadeiro. O que se precisa é exigir práticas educativas problematizadas que estimulem
os educandos enquanto sujeitos capazes de entender as relações de trabalho, na qual estão
inseridos.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entender como a dualidade estrutural de novo tipo se apresenta em nossa sociedade
dividida em classes é essencial para entender como a educação se coloca do lado da classe
burguesa. Entendemos que mudanças no percurso educacional da classe trabalhadora
proporcionaria indivíduos mais críticos e envolvidos com questões referentes a coletividade.
Entretanto o que observamos são escolas diferenciadas, formando indivíduos que serão
dirigentes e outros que serão inseridos nos meios de produção com salário baixos e condições
precárias de sobrevivência.
Em relação a escola técnica federal da qual faço parte, sabemos que ela não se encontra
no mesmo patamar das demais escolas ofertadas pelo estado, porém com o advento das cotas a
dualidade se dá pela permanência dos alunos provenientes das escolas estaduais. Esses alunos
não apresentam a base adequada para o avanço no ensino propedêutico e técnico, gerando uma
elevação da evasão nos quadros dessas instituições. Sabemos que caberá aos docentes e gestores
dessas escolas criarem estratégias que amenizem essa situação, evitando que a exclusão se faça
por dentro dessas escolas tão conceituadas e tradicionais.
Reforçando a dualidade estrutural de novo tipo temos a contrarreforma do ensino médio.
Estas alterações propostas em lei, vão prejudicar ainda mais a estrutura já abalada das escolas
estaduais. Serão solicitadas ações que devido à falta de investimento não poderão ser atendidas.
Agravando a situação dessas unidades de ensino. Em relação a rede federal os cortes de recursos
serão uma realidade, prejudicando concretamente a condução das atividades dessas escolas, ou
seja, asfixiando lentamente o sistema, a fim de promover o sucateamento desse segmento. E
quando o governo fala que essa lei também será aplicada a iniciativa privada, sabemos que
nenhum dano haverá nessas instituições devido aos recursos que serão aplicados para amenizar
possíveis impactos indesejados.
REFERÊNCIAS
DUARTE, Newton. Vigotski e o “aprender a aprender”: crítica às apropriações neoliberais e
pós-modernas da teoria Vigotskiana. 2°ed.Campinas: Editora Autores Associados, 2001.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a crise do capitalismo real. 6 ed, São Paulo: Cortez,
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Politecnia e formação integrada: confrontos conceituais, projetos políticos e contradições
históricas da educação brasileira. Rev. Bras. Educ. [online]. 2015, vol.20, n.63, pp.1057-1080.
ISSN 1413-2478.
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NOSELLA, Paolo. Ensino médio: unitário ou multiforme? Rev. Bras. Educ. 2015, vol.20,
n.60, p.121-142,2015.
1 INTRODUÇÃO
Esse artigo propõe a discutir e analisar as concepções e princípios do Currículo
Integrado do PROEJA. O programa busca atender a formação dos trabalhadores com uma
proposta diferenciada do que havia sido defendido em programas anteriores para o público da
EJA, como por exemplo: o ensino supletivo, a formação acelerada, formação focada no
mercado de trabalho, em que o ensino da EJA era tratado da mesma forma que o ensino voltado
para crianças e com ausência de profissionais especializados para atuarem nessa modalidade.
As concepções e princípios que permeiam o PROEJA não são, no entanto, pensamentos
recentes. Sabemos que numa sociedade capitalista um dos fatores marcantes é a contradição
que ela expressa, bem como o movimento constante de lutas entre as classes sociais existentes.
Por isso, mesmo havendo uma educação de jovens e adultos com os fatores acima citados, não
significa dizer que não houve movimentos que buscaram romper com tais concepções.
Nos anos 30 e 40, por exemplo, havia uma urgência em formar mão-de-obra qualificada
para o mercado daquele momento – devido ao crescente processo de industrialização – o que
levou o governo brasileiro a criar centros de ensino como SENAI, SENAC, SESC e SESI que
ofereciam cursos para jovens e adultos com baixa escolaridade. Sendo que dentre as
características desses cursos estavam a formação acelerada e direcionada a uma formação
específica (LEITE, 2013).
427
Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Maranhão, Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão
(UFMA), Bolsista CAPES. nataliacgds@hotmail.com.
428
Professora Dra. do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Maranhão, Vice-Coordenadora do FEPAE, Editora
da Revista Educação e Emancipação. lelia.silveira@ufma.br.
Porém no final dos anos 50, em contraposição a essa formação dos jovens e adultos,
presencia-se o surgimento de uma nova discussão sobre a necessidade em romper com
preconceitos que envolviam não só o analfabetismo, mas em relação as pessoas analfabetas. É
nesse momento que presenciamos também a metodologia do professor Paulo Freire, que
desenvolveu um método cujo objetivo era contextualizar às necessidades essenciais dos alunos
juntamente com eles, ou seja, buscava colocar o aluno como produtor da sua própria
aprendizagem (STRELHOW, 2010).
Além da metodologia diferenciada, a visão freiriana sobre o analfabetismo também era
diferente, uma vez que ele explicava o analfabetismo como efeito de uma sociedade injusta e
não como este sendo a causa da pobreza daquela parcela da população. Vários foram os
movimentos que adotavam a metodologia do professor Paulo Freire, como por exemplo: o
Movimento de Educação de Base, Movimento de Cultura Popular do Recife, Centros Populares
de Cultura, Campanha De Pé no Chão também se Aprende a Ler.
A concepção na qual o aluno é produtor do seu próprio conhecimento – que surge na
metodologia freiriana - é justamente uma das concepções defendidas pelo PROEJA na sua
criação. Percebemos então que mesmo após o Golpe Militar de 1964, que marginalizou
programas que defendiam e aplicavam a metodologia freiriana – pelo fato de buscarem
transformação social – essa concepção não ficou esquecida, tendo sido retomada e defendida
anos mais tarde.
Durante os anos de Ditadura Militar no Brasil – de 1964 a 1985 – o programa que
vigorou foi o MOBRAL, cujo objetivo era a alfabetização funcional, ou seja, a apreensão da
habilidade de ler e escrever sem haver a compreensão contextualizada dos signos
(STRELHOW, 2010). Só veríamos mudanças novamente no campo da EJA no Brasil após a
ditadura militar que leva consigo a extinção do MOBRAL em 1985, e em seu lugar foi
implantada a Fundação EDUCAR - Decreto nº 91.980, de 25 de novembro de 1985 - que além
de alterar a sua denominação redefine os seus objetivos.
Nos anos 90 foi realizada a Conferência Mundial de Educação para Todos em Jomtien
na Tailândia que consagrou a ideia de que a alfabetização não pode ser separada da pós-
alfabetização. Essa Declaração impulsionou programas e projetos no Brasil voltados para essa
preocupação que surgia em torno da EJA.
Os anos 90, no entanto, foram um divisor de águas na questão política-econômica-social
brasileira, afinal, os anos 90 passariam de fato a contemplar uma vida pós-ditadura no Brasil.
Os novos rumos tomados pelo governo brasileiro afetariam a economia, bem como a vida social
e educacional do Brasil. O novo cenário que a EJA estava inserida era de transição e, portanto,
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(…) reiterou os direitos educativos dos jovens e adultos ao ensino adequado às suas
necessidades e condições de aprendizagem, estabelecendo as responsabilidades dos
poderes públicos na identificação e mobilização da demanda e provisão de ensino
fundamental gratuito e apropriado. A EJA passou a ser uma modalidade da Educação
Básica e foi garantido por lei o atendimento aos jovens e aos adultos que não tiveram
acesso ou que não deram continuidade aos estudos na idade apropriada no sistema
regular. (LEITE, 2013, p.26).
A garantia que a EJA adquiriu em lei, não foi suficiente para mudar sua realidade
imediata. Além do governo federal não contar com um programa a nível nacional para uma
mudança significativa na EJA, foi estabelecido o Decreto nº2208 que não admitia uma
integração entre ensino médio e educação profissional.
O Decreto nº 2208/97429 deixa bem claro que o objetivo da educação profissional de
nível básico seria reprofissionalizar e qualificar o cidadão trabalhador “para o exercício de
funções demandadas pelo mundo do trabalho, compatíveis com a complexidade tecnológica do
trabalho, o seu grau de conhecimento técnico e o nível de escolaridade do aluno”.
Percebemos então, que a formação do jovem e adulto seguiu ao longo dos anos 90 por
uma fragmentação não só entre os níveis de ensino da educação básica, mas para sua formação
enquanto cidadão.
Em 2003, porém, ocorreria no cenário político de nosso país uma nova mudança: a
chegada de um partido de esquerda na Presidência da República trazendo consigo uma
expectativa de mudança em vários cenários no país e importância significativa para as
429
Revogado pelo Decreto nº 5.154 de 2004.
Deve ser destacado que as alterações realizadas pelo Decreto nº5840/06 foram
proporcionadas por um coletivo de áreas relacionadas ao Programa. Assim,
diferentemente de outras propostas geralmente produzidas em gabinetes, o PROEJA
foi construído a partir de intensos diálogos com atores pertencentes ao campo da EJA
e da educação profissional (p.7)
430
Decreto nº 5.840 de 2006 revogou o Decreto nº 5.478 de 2005.
Este período foi também marcado por pressões dos setores produtivos pela definição
de políticas educacionais para a formação de mão de obra. Surgiu o Serviço Nacional
de Aprendizagem Industrial (SENAI) em 1942, o Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial (SENAC), o Serviço Social do Comércio (SESC) e Serviço Social da
Indústria (SESI) em 1946. Eles abrigaram grande parte dos jovens e adultos com baixa
escolaridade, atendidos em cursos rápidos e direcionados para uma ocupação
específica, acentuando a permanência no sistema dual, ou seja, educação propedêutica
para a classe favorecida e formação profissional para a classe popular (LEITE, 2013,
p. 18).
O que esse tipo de educação trouxe para a sociedade foi um sistema cada vez mais
excludente, uma formação de baixa qualidade, e, consequentemente uma sociedade mais
desigual.
Ao fazermos uma análise mais ampla e profunda dessa complexa teia social, podemos
perceber claramente que esse tipo de educação na verdade exclui uma grande parcela da
sociedade de acesso ao conhecimento e até mesmo de uma maior oportunidade de alcançar um
espaço diferenciado na sociedade.
Percebemos então como as políticas do nosso país voltadas para a educação, ao longo
dos anos excluíram o cidadão de uma participação ativa da vida política e social, ou seja,
“significa ainda que a totalidade da estrutura social é segmentada e o sistema produtivo assume
o lugar do todo, da produção da existência humana, assim como a educação profissional assume
o lugar da formação humana como educação unitária, integral, omnilateral” (CIAVATTA e
RAMOS, 2011, p.29).
Baseado então nesse contexto histórico de fragmentação e dualidade na educação
brasileira o PROEJA é criado com uma concepção de educação que visa a formação humana e
integral, ou seja, uma educação que contribui tanto para a integração social do aluno como para
compreender o mundo do trabalho que ele irá assumir, sem no entanto, limitar-se a ele:
A partir do momento em que nos propomos a construir uma formação humana e não
somente uma educação profissional fica mais fácil compreender que o aluno não é um mero
reprodutor daquilo que aprende na escola, mas sim um produtor, ou seja, um ser que produz
conhecimentos, estratégias, táticas para lidar com as múltiplas situações de sua vida que
envolve não só a vida econômica, mas também social e política.
O Documento Base (BRASIL, 2007) deixa claro que a concepção abordada no programa
está direcionada as possibilidades enriquecedoras que o jovem e o adulto terão, uma vez que
poderão ler o mundo entendendo que eles também fazem parte desse mesmo mundo que às
vezes pareça tão distante – as decisões políticas tomadas no congresso, as decisões dentro da
empresa que trabalham, etc.
É importante lembrar que a concepção de formação humana defendida pelo programa
está intimamente ligada a concepção de educação continuada de cunho profissional, para além
da educação básica, pois ao defender a educação continuada o programa tem por objetivo o
rompimento com:
a dualidade estrutural cultural versus cultural técnica, situação que viabiliza a oferta
de uma educação academicista para os filhos das classes favorecidas
socioeconomicamente e uma educação instrumental voltada para o trabalho para os
filhos da classe trabalhadora, o que se tem chamado de uma educação pobre para os
pobres (BRASIL, p.35, 2007).
•o sujeito deve ser concebido como ser histórico-social concreto, capaz de transformar
a realidade em que vive; • a formação humana enquanto síntese de formação básica e
formação para o trabalho deve ser visada; • a realidade concreta é uma totalidade,
síntese de múltiplas relações; • o trabalho seja visto como princípio educativo, ou seja,
como compreensão do significado econômico, social, histórico, político e cultural das
ciências e das artes; • estar baseado numa epistemologia que considere a unidade de
conhecimentos gerais e conhecimentos específicos e numa metodologia que permita
a identificação as especificidades desses conhecimentos quanto à sua historicidade,
finalidades e potencialidades; • seja centrado nos fundamentos das diferentes técnicas
que caracterizam o processo de trabalho moderno, tendo como eixos o trabalho,
ciência e a cultura. (p. 108-109).
Os pressupostos defendidos pelos autores para serem a base do currículo integrado estão
baseados em uma educação integral/omnilateral que concebe o sujeito como ativo na sociedade
e, portanto, como um ser que transforma. Para que a formação educacional humana esteja
presente desde a educação básica, bem como a preparação do aluno para o trabalho – e não para
o mercado – sem fragmentar o conhecimento entre gerais e específicos.
Esses pressupostos defendidos pelos autores também são encontrados nos princípios do
programa pelo Documento Base (2007), que veem estes como consolidadores da concepção
educacional defendida. São seis os princípios:
• O compromisso e o papel das entidades públicas integrantes dos sistemas educacionais
têm com a inclusão da população em suas ofertas educacionais.
• A inserção da modalidade EJA integrada à educação profissional nos sistemas
educacionais.
• A ampliação do direito à educação básica, pela universalização do ensino médio.
• Trabalho como princípio educativo.
• Pesquisa como fundamento da formação.
• Condições geracionais, de gênero, de relações étnico-raciais como fundantes da
formação humana e dos modos como se produzem as identidades sociais.
Os princípios para o programa foram definidos:
Podemos concluir então que teoria e prática andaram juntas para que se pensasse como
se fazer uma educação em uma modalidade que tanto sofre com essa dualidade. Percebemos
que os princípios abordam os aspectos mais marcantes da modalidade da EJA. Aspectos que
sempre foram características das políticas desenvolvidas para essa modalidade.
O primeiro princípio ao tratar de inclusão não se preocupa somente em ter um aluno a
mais na lista de chamada, mas se preocupa principalmente com a forma como essa inclusão é
feita para evitar um dado que segue a EJA há anos: o da evasão.
Alunos que não se sentem pertencentes a escola, que não se sentem sujeitos daquele
processo acabam abandonando a escola. Daí porque, esse princípio é tão importante, pois ele
reforça não só o direito a educação, mas também o direito a permanência e o sucesso dos alunos.
O segundo princípio reforça a integração educacional entre educação básica e educação
profissional onde ambas são de responsabilidade do Estado, ou seja, cabe a ele garantir o acesso
desses alunos até a conclusão dos mesmos, sem direcionar essa responsabilidade a iniciativa
privada.
O terceiro princípio, ao abordar a ampliação do direito à educação, pela universalização
do ensino médio, busca a conscientização do prejuízo educacional, social, humano de um ensino
aligeirado. Ao se buscar uma formação humana entende-se que esta não se faz em um curto
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período de tempo. É preciso que haja tempo para que aspectos culturais, linguísticos, sociais
sejam consolidados em um ser humano. Para que haja uma transformação no mundo é preciso
formar integralmente, do contrário estaríamos formando um ser para simplesmente reproduzir.
No quarto princípio vemos abordado o trabalho como princípio educativo. Para
entendermos esse princípio é necessário desfazer o conceito de que trabalho e ocupação
profissional são as mesmas coisas. O conceito de trabalho é mais amplo e advém muito antes
da criação da divisão do trabalho na sociedade capitalista. Todo mundo precisa do trabalho,
pois é através dele que “o homem produz sua própria existência na relação com a natureza e
com os outros homens e assim produz conhecimentos” (RAMOS, 2010, p.49). Ou seja, todos
precisam de trabalho não só para ganhar dinheiro ou prover sua família, mas também porque a
partir dele podemos criar, produzir e interagir com o mundo a nossa volta.
O quinto e o sexto princípio alertam para a necessidade de compreender que a
modalidade de ensino da EJA possui alunos com características próprias e, portanto,
diferenciadas de alunos da modalidade básica regular:
Pensar em sujeitos com idade superior ou igual a 18 anos, com trajetória escolar
descontínua, que já tenham concluído o ensino fundamental é tornar uma referência,
certamente, bem próxima da realidade da vida dos sujeitos da EJA. Esses sujeitos são
portadores de saberes produzidos no cotidiano e na prática laboral. Formam grupos
heterogêneos quanto à faixa etária, conhecimentos e ocupação (trabalhadores,
desempregados, atuando na informalidade (BRASIL, p. 45, 2007).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que as concepções e os princípios desenvolvidos para o PROEJA buscam
a melhoria dessa modalidade de ensino. Um exemplo é quando os princípios, que reafirmam as
concepções já mencionadas anteriormente, enfatizam a necessidade do compromisso dos
educadores que atuam na EJA de formularem suas aulas e seus programas para atender as
necessidades educacionais de seus alunos. Pois, uma vez que professores atuam como
pesquisadores dentro de sua própria sala de aula, eles constroem novos conhecimentos e com
isso, contribuem para a melhora pedagógica da modalidade.
Apesar de considerarmos importante as concepções e os princípios mencionados acima,
sabemos que os desafios para a execução do programa são grandes. Para que ocorra o
desenvolvimento do currículo integrado do PROEJA da forma como foi previsto no Documento
Base, é necessário conhecer como os docentes estão sendo preparados para trabalharem com o
currículo do programa.
REFERÊNCIAS
ABREU, Júnior; JUPTER, Martins. PROEJA: trajetória, concepções e discussões sobre o
processo de exclusão. Revista Mundi Sociais e Humanidades. Curitiba, PR, v.1, n.1, jan/jun
2016. Disponível em: <file:///C:/Users/Usuario/Downloads/93-798-3-PB.pdf>. Acesso em: 15
ago. 2017.
EDUCAÇÃO MILITAR
Lucinéia Contiero431
Resumo
Professores e Instrutores Militares da Academia da Força Aérea lidam diretamente com a formação dos cadetes –
aspirantes a oficiais militares da Infantaria, Aviação e Intendência. Mais do que a instrução formal da graduação
em Administração Militar e doutrinamento militar, a formação desses jovens, em especial, presta-se a qualificá-
los para servir à nação em situações de conflito armado, até mesmo com o sacrifício da própria vida. À formação
do jovem militar são imprescindíveis fundamentos morais e éticos rigidamente definidos positivamente para o bem
comum, além de estratégias de socialização que eduquem para uma cultura organizacional de corporação militar
– base da identidade social militar. Este artigo busca apresentar, de forma ampla, os princípios morais e éticos
fundamentais ao indivíduo e que servem de base para a formação e a construção da identidade dos oficiais
militares.
1 INTRODUÇÃO
A formação humana tem sido tema recorrente de minhas pesquisas como educadora. No
contexto de atuação atual, professora da área de formação de professores da UFRN, pós-
doutoranda pela Universidade da Força Aérea (UNIFA) e tendo feito parte do corpo docente,
nos dois últimos anos, da formação de oficiais da Academia da Força Aérea (AFA) em
Pirassununga - SP, tornou-se um interesse pessoal investigar as relações da vida e da formação
militar, visto o histórico de estudos que tenho construído e a temática central de estudos
recentes. Além disso, enquanto professora civil do quadro ocorreram-me as inevitáveis
comparações com o atual universo educacional civil. Inevitável e naturalmente, instaurou-me a
forte impressão de que a educação militar, nos aspectos específicos de sua base de fundamentos
morais, éticos e disciplinares, nunca foi tão oportuna e apropriada à educação formal e moral
dos indivíduos que temos dentro das escolas de todo o país nos dias de hoje, em qualquer
instituição educacional civil que busque índices apropriados a um ensino de qualidade e a mudar
o curso dos muitos problemas instaurados e agravados pela sociedade do consumo e da
espetacularização, que, em seus muitos desdobramentos, favoreceu o individualismo, a
indisciplina, a intolerância, a desonestidade e a violência. Meu interesse de pesquisa, antes
centrado unicamente na (auto)formação de professores/instrutores militares, ampliou-se após o
contato pessoal com os resultados de ensino nesse contexto educacional que valoriza e
desenvolve valores indispensáveis à formação do indivíduo, como amor à verdade, disciplina,
respeito à hierarquia, espírito de corpo, honra, lealdade, honestidade, ética, patriotismo... As
possibilidades de desenvolver novas leituras e novos entendimentos sobre educação e formação
humana nesse contexto de educação militar doutrinária se impuseram como um foco de grande
Docente do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Pós-Doutoranda pela Universidade da Força Aérea –
431
UNIFA. conlucineia@hotmail.com.
interesse pessoal, constituindo uma rota preciosa de pesquisa e descobertas de novos contextos
educacionais. Acentuou meu interesse os comprovados resultados positivos também nas catorze
escolas militares espalhadas pelo país em nível fundamental e médio – notícia que, por si, daria
conta de muitos outros artigos bastante oportunos para o contexto educacional da atualidade.
Nesta abordagem, porém, restrinjo-me a dar notícia, de forma ampla, da presença e significado
dos valores de formação do oficial militar da Força Aérea, consciência e importância desses
valores para a estrutura educacional e organizacional militar e sua implicação para o
desenvolvimento da identidade profissional e social, tanto do oficial militar quanto do professor
militar. Teoricamente, reforce-se, a temática não dispensa um olhar sobre o professor, suja
qualidade de ensino, ao lado do respeito à disciplina e à autoridade, dão base ao sistema
educacional da corporação. Situo a importância dos valores humanos experienciados na
formação militar entendendo que as experiências que demarcam os princípios morais desses
sujeitos transformam-se em elementos identitários com implicações na carreira e ao longo da
vida. O aporte teórico de que sirvo reúne, além de recursos militares como documentos
impressos, de apontamentos, diretos ou indiretos, contribuições de Bordieu, Foucault, Klinger,
Dubar, Med, entre outros.
A identidade profissional docente, tal como em quaisquer outras profissões, constitui-
se a partir da interação entre experiências pessoais e profissionais do trabalhador. Identidade se
constrói e se transmite independentemente de contexto social ou cultural. Estudos sobre a
profissão docente têm identificado, recorrentemente, certas características ou particularidades
de identidade que se repetem há muitas décadas. Algumas dessas particularidades guiam esta
breve discussão sobre o “operário do conhecimento” (SHULMAN, 1998), este que pode, a
partir de seu compromisso com a difícil tarefa de ensinar, melhorar a qualidade do ensino no
país.
A sociedade vivencia mudanças profundas na forma como se organiza, trabalha, aprende
e se relaciona. Conhecimento, hoje, tem grande valor para os cidadãos. O valor das sociedades
atuais está diretamente relacionado com o nível de formação e com a capacidade de inovação e
empreendimento. Todavia, os conhecimentos têm validade curta, exigindo o estabelecimento
de garantias formais e informais para que os cidadãos e profissionais atualizem constantemente
suas competências.
Pesquisas tem confirmado, sobretudo nas últimas décadas, uma variação negativa na
eficácia do trabalho docente. Apesar disso, a docência é uma profissão imprescindível para a
sociedade do conhecimento, o que significa dizer que sua prática deve cumprir padrões
profissionais de excelência que assegurem o direito que os alunos têm de aprender. Professores
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são importantes: tão importantes quanto tornar a docência uma profissão atraente; tão
importantes quanto os sistemas educativos sejam capazes de atrair os melhores candidatos para
se tornarem docentes; tanto quanto são necessárias boas políticas de formação inicial de
professores para assegurar as competências duráveis na sua longa, flexível e variada trajetória
profissional; tanto quanto conseguir que os professores continuem aprendendo ao longo de sua
carreira. Chapman e Aspin (2001) pontuam como necessárias uma série de transformações nos
sistemas educacionais como forma de enfrentar os atuais desafios da sociedade do
conhecimento, quais sejam: oferecimento de oportunidades educativas que respondam aos
princípios de eficácia econômica, justiça social, inclusão social, participação democrática e
desenvolvimento pessoal; reavaliação dos currículos tradicionais e maneiras de ensinar em
resposta aos desafios educacionais produzidos pelas mudanças econômicas e sociais e pelas
tendências associadas ao surgimento de uma economia do conhecimento e de uma sociedade
da aprendizagem; reavaliação e redefinição dos ambientes de aprendizagem, bem como criação
de ambientes de aprendizagem flexíveis, positivos, estimulantes e motivadores, que superem as
limitações de currículos padronizados, da divisão por matérias, dos tempos curtos e das rígidas
pedagogias; aceitação da importância do valor agregado à aprendizagem; consciência de que a
escola não é a principal fonte de aquisição de conhecimento, porém, está se convertendo em
instituição fundamental na socialização da população jovem; maior relação entre escolas e
instituições de ensino superior a fim de se obter maior impacto na formação de relações entre a
escola e a comunidade; promover a escola como comunidade de aprendizagem e como centros
de aprendizagem ao longo da vida. Apesar da urgência de necessárias transformações, o que se
vê são equivocadas políticas de reforma educacional implicando a deterioração das condições
do trabalho docente, causando desmoralização, abandono da profissão, criando forte impacto
negativo na qualidade da educação oferecida aos alunos. Pouco a pouco, os professores foram
desconsiderando a parte essencial do seu trabalho, a interação com seus alunos, em detrimento
a prioridades de gestão e avaliação. Da mesma forma, as mudanças negativas na profissão
produziram incertezas e uma forte crise de identidade naquela que foi, historicamente, uma
profissão estável (DAY, ELLIOT, & KINGTON, 2005). Tais perspectivas sobre a profissão
docente não desmobilizam entender que a identidade profissional é uma construção do “si
mesmo” profissional que evolui ao longo da carreira influenciado pela escola, por reformas e
contextos políticos, incluindo, ainda, compromisso pessoal, disposição para aprender a ensinar,
crenças, valores, conhecimento sobre a matéria que se ensina, o próprio ensino, experiências
passadas, vulnerabilidade profissional (LASKY, 2005), enfim, tudo o que forma uma
“complexa rede de histórias, conhecimentos, processos e rituais” (SLOAN, 2006). Ingressamos
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numa sociedade que exige dos profissionais uma permanente atividade de formação e
aprendizagem. Tais mudanças afetam sobremaneira os docentes, como têm comprovado
relatórios de pesquisas internacionais. Na berlinda, novamente a identidade do professor em
relação às possibilidades de aprendizagem dos alunos. Porém, nesta ocasião, tratamos
especificamente de um alunado especial, cadetes da Força Aérea Brasileira, assim como
falamos de professores em uma condição de ensino (diria) bastante privilegiada em muitos
aspectos.
A motivação desta discussão é apresentar um pequeno recorte de projeto de pesquisa
que vem sendo desenvolvido em nível de pós-doutoramento junto à Universidade da Força
Aérea (UNIFA), intitulado “Narrativas autobiográficas: exercício de (auto)formação do
professor militar da Academia da Força Aérea”. Em nossa exploração das histórias
autobiográficas militares pertinentes ao desenvolvimento da formação, acabamos por
dimensionar, como um desdobramento, o quão importantes são os ritos e símbolos militares
aplicados ao ensino com o objetivo não apenas de instruir, mas de fortalecer o que será uma
identidade profissional. Importa-me trazer a esta discussão essa identidade profissional que
resulta de um complexo e dinâmico equilíbrio em que a própria imagem como profissional deve
se harmonizar com uma variedade de papéis a serem desempenhados. Comprovo, por fim, que
a identidade docente (e) militar baseada em valores é o aspecto mais marcante na vida e na
carreira desses militares, sejam eles profissionais da Intendência, da Infantaria ou da Aviação.
Cultura é um conjunto de pressupostos básicos ou um sistema de significados
compartilhados e expressos pela linguagem pelo qual o comportamento dos indivíduos é
orientado e controlado, assegurando a coesão e sobrevivência do grupo. Se concordamos com
essa ampla definição de cultura como uma espécie de programa mental coletivo, assumimos
implicitamente que ela determina as diferenças não biológicas essenciais entre os seres
humanos, vez que abrange quase todos os aspectos e manifestações da mente, sejam eles
concretos ou simbólicos, comportamentais ou interativos. Embora tenhamos consciência das
diferenças existentes entre culturas, nem sempre percebemos tão claramente as diferenças
internas às culturas. Em qualquer sociedade, podemos identificar diferenças de gênero, grupos
etários, níveis educacionais, níveis econômicos, tradições religiosas, ideologias políticas,
origens étnicas, aparência física... Relativamente, em poucos grupos e comunidades isoladas os
indivíduos apresentam padrões de comportamento e reações emocionais comuns, qualificados
por alguns estudiosos como traços de personalidade básica. Entretanto, há crescentes evidências
de similaridades de comportamento entre indivíduos de diferentes culturas nacionais, bem
como grandes diferenças entre indivíduos de uma mesma sociedade.
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estruturas se referem a concepções que o indivíduo possui sobre certos atributos próprios. Se
faltam aos indivíduos esquemas sobre todos os aspectos que os constituam, as situações sociais
são importantes construtos de auto esquemas. A identidade social é a representação que um
indivíduo atribui a si mesmo por pertencer a um grupo (TAJFEL,1981); constitui-se por uma
série de identificações que o indivíduo admite com várias categorias sociais (BREWER,1997).
Grupos sociais contribuem para a construção da identidade social dos seus membros,
sendo a sociedade, portanto, responsável não só pela definição, mas também pela criação da
realidade psicológica (TAJFEL, 1983). Relacional e comparativa (TAJFEL & TURNER,
1979), a identidade social diz respeito ao conhecimento e valor que o indivíduo tem de pertencer
a um grupo, acrescido de um valor emocional. Na fabricação de um profissional não estariam
apenas inclusas a totalidade de disciplinas aprendidas no processo de formação, mas implicaria,
sobretudo, uma espécie de iniciação ao novo papel profissional e uma conversão à nova visão
de mundo que permitirá o desempenho desse papel. É no transcurso de formação que se verifica
uma verdadeira conversão identitária: modificar a si mesmo a partir da inclusão de novas ideias
sobre a natureza do trabalho a ser realizado e da aquisição de competências específicas que
possibilitem o seu desempenho em termos de uma carreira profissional.
No exercício de desempenhar papéis é que os indivíduos constroem ativamente suas
identidades e a organização apresenta-se como um lugar importante para a socialização dos
indivíduos. A força dos processos de categorização na organização colabora para maior
consolidação da identidade no trabalho e, nesse ambiente, concomitantemente, ocorre um
fenômeno responsável pela ligação psíquica do indivíduo à organização, ou seja, a identidade
organizacional.
A identidade no nível da organização tem sido acompanhada por um vigoroso foco no
coletivo, nos eus organizacionais e suas implicações para a teoria e a prática (HE; BROWN,
2013). Abrange o processo, atividade e acontecimento em que a organização se torna presente
na mente de seus integrantes (SCOTT; LANE, 2000). Disto surge a identidade organizacional,
fenômeno que une o indivíduo à organização.
De forma ampla, a sociedade é a expressão da solidariedade praticada entre indivíduos.
Assim, uma consciência coletiva seria responsável pela formação dos valores morais que
exercem pressão sobre os homens no momento de suas escolhas. A consciência coletiva
promove os valores do grupo; é transmitida entre as gerações pela educação e fundamenta a
vida social. Logo, a consciência coletiva varia e determina o nível de coesão de um grupo. No
caso do grupo formado por militares, esta subcultura estabeleceu uma consciência coletiva
composta por certos “valores militares”, rigidamente compartilhados, visto que há uma
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2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ciente da discrepância entre as duas realidades educacionais, civil e militar, é que elejo
importante abordar um contexto de ensino construído e organizado sobre uma base ética e moral
rígida em que os recursos, mesmo escassos, dão conta de cumprir com o objetivo aos quais são
destinados. Os profissionais da AFA lidam diretamente com a formação dos cadetes da
Infantaria, Aviação e Intendência. Mais do que a instrução formal da graduação em
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REFERÊNCIAS
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Senado Federal, 1988.
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CASTRO, C. A invenção do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora. 2002
CASTRO, C.; LEIRNER, P. (Org.). Antropologia dos militares: reflexões sobre pesquisas de
campo. Rio de Janeiro: FGV, 2009.
GIFFIN, Karen. A inserção dos homens nos estudos de gênero: contribuições de um sujeito
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RATTNER, H. Liderança para uma sociedade sustentável. Editora Nobel, São Paulo, 1998.
SHAPIRO, H.L. (org). Homem, Cultura e Sociedade. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura,1966.
SLOAN, K. Teacher identity and agency in school worlds: beyond the all-good/all-bad
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STETS, J. E., & BURKE, P. J. Identity theory and social identity theory. Social Psychology
Quarterly, v. 63, n. 3, 224-237, 2000.
Resumo
Este ensaio teórico de caráter bibliográfico e documental se insere no debate que analisa a reestruturação do Ensino
Médio (EM), seus desdobramentos no âmbito da Educação Profissional e discute, a partir de uma perspectiva
crítica, a atual proposta de escolarização da classe trabalhadora cearense, promovida por meio das escolas
profissionalizantes, as EEEP’s, implantadas no Ceará, a partir de 2008. O presente texto discute a formação
profissional da classe trabalhadora, problematizando, de modo especial, a rede de escolas profissionalizantes de
nível médio do estado do Ceará, implantada a partir de 2008. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental
tendo como fundamento estudos teóricos de autores que se debruçam sobre esta temática no País, a exemplo de
Saviani (2007), Nosella (1998), Frigotto Ciavatta e Ramos (2012), Ramos (2006), Kuenzer (2007, 2009 e 2012) e
de alguns documentos oficiais, a saber: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/96, o Decreto
nº 5.154/2004, o Decreto nº 6.302/07 que instituiu o Programa Brasil Profissionalizado, entre outros. Conclui-se
que apesar da proposta de ensino médio integrado defender uma perspectiva que acena na direção de uma educação
integral, na prática, o grande compromisso desse modelo de escola é a preparação do jovem trabalhador para o
mercado de trabalho.
1 INTRODUÇÃO
A educação profissional, sobretudo, aquela que acontece no âmbito do Ensino Médio é
um assunto que vem sendo discutido há bastante tempo no país, não só por intelectuais e
acadêmicos universitários de diversas áreas, mas também por técnicos governamentais, seja na
esfera federal, estadual ou municipal. Contudo, este tema só assume maior relevância, e
inclusive como agenda pública de governo, nos primeiros anos da década de 1930, após as
reformas educacionais de Francisco Campos. Referidas reformas tinham como objetivo
prioritário, segundo Saviani (2007), atender, de modo especial, às demandas promovidas pelo
processo de industrialização em curso acentuado e o crescimento da população urbana em ritmo
acelerado. Nosella (1998), destaca que, apesar destas reformas defenderem a ideia de
democratização do ensino primário, garantindo inclusive, sua laicidade e gratuidade para todos,
mostrou-se incapaz de resolver os problemas da escola, marcada pelo abandono histórico do
Poder Público, desde seus primórdios.
432
Pedagoga. Especialista em Gestão de Políticas Públicas da Educação- UFJF. Mestra em Avaliação de Políticas Públicas–UFC e Doutoranda
em Educação Brasileira pelo Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação, da Universidade Federal do Ceará- UFC.
433
Pedagogo, Mestre e doutorando em Educação Brasileira pelo Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação, da Universidade
Federal do Ceará- UFC. gilsongili@yahoo.com.br
434
Doutor em Educação na Universidade Federal do Ceará e Pós-Doutor em Filosofia da Arte e Subjetividade, pela Ecoledes Houtes Etudes
em Sciences Sociales-Fr.
435
Para o aprofundamento deste debate, ver (Schultz, 1973, sobre a Teoria do Capital Humano-TCH).
Na segunda metade dos anos de 1980, com o processo da Constituinte, o País vivenciava
um rico processo de disputas no âmbito dos direitos sociais, culminando com uma série de
conquistas, incorporadas à Constituição Federal de 1988. Acreditava-se que com a publicação
desta Lei, muitos dos novos direitos (educação, saúde, moradia, segurança, trabalho, entre
outras), se materializariam por meio de serviços públicos de qualidade, realidade que ainda não
se concretizou nem parece fazer parte das agendas de prioridades de nenhum governo brasileiro,
até os nossos dias.
No plano internacional, vivia-se uma das mais graves crises econômicas do sistema
capitalista de que se tem notícia. De acordo com Mészáros (2000), trata-se de uma crise sem
precedentes e completamente diferente das crises vividas por este sistema econômico no
passado. De acordo com este pesquisador, pode-se afirmar que a partir deste momento há uma
crise estrutural436 do sistema capitalista. Neste cenário, todos são fortemente atingidos, porém,
seus efeitos profissionais, sem mencionar ainda a falta de estrutura em laboratórios, bibliotecas,
equipamentos e mobiliários específicos para atender as demandas de cada curso são mais
devastadores sobre as populações das nações periféricas e dependentes do capital financeiro
internacional, a exemplo do Brasil. Defendia-se, como saída para aquela crise, uma alargada
reforma dos Estados nacionais em todas as áreas, sendo materializada no Brasil por meio de um
amplo programa de reformas estruturais, consubstanciadas por meio da privatização de
empresas estatais, flexibilização das leis trabalhistas e dos novos contratos de trabalhos, que
deu origem, entre outros, ao fenômeno da terceirização, com enormes prejuízos para a classe
trabalhadora.
Para Frigotto (2007, p.12), o governo Collor foi quem primeiro iniciou este processo no
País, aderindo cegamente à doutrina neoliberal. Porém, foi no governo de Fernando H. Cardoso
que é posto em prática o receituário neoliberal de forma competente, em absoluta observância
aos aconselhamentos propostos no documento que ficou conhecido como Consenso de
Washington437, que funcionava como uma espécie de cartilha, elaborada por técnicos das
436
Para Antunes (2002, p. 29-30) a crise estrutural do capital apresenta algumas características diferenciadas das crises cíclicas vividas por
esse sistema, em anos anteriores, a saber: (1) queda da taxa de lucro, dada, entre outros elementos causais, pelo aumento do preço da força de
trabalho; (2) o esgotamento do padrão de acumulação taylorista/fordista de produção (que na verdade era a expressão mais fenomênica da crise
estrutural do capital), dado pela incapacidade de responder à retração do consumo que se acentuava; (3)hipertrofia da esfera financeira, que
ganhava relativa autonomia frente aos capitais produtivos, o que também já era expressão da própria crise estrutural do capital e seu sistema
de produção; (4) maior concentração de capitais graças às fusões entre às empresas monopolistas e oligopolistas; (5) a crise do Welfare State
ou do “Estado de bem estar social” e dos seus mecanismos de funcionamento, acarretando a crise fiscal do Estado capitalista e a necessidade
de retração dos gastos públicos e sua transferência para o capital privado; e (6) incremento acentuado das privatizações, tendência generalizada
às desregulamentações e à flexibilização do processo produtivo, dos mercados e da força de trabalho, entre tantos outros elementos contingentes
que exprimiam esse novo quadro crítico”.
437
Realizado em 1989, foi um desdobramento da reunião de integrantes do governo norte-americano e organismos financeiros (FMI, BM e
Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID). Teve como objetivo avaliar as “reformas” na América Latina e impor a adoção do ideário
neoliberal em seus países como condição para a concessão de cooperação financeira. Representando o Brasil, participou da reunião o
economista Luiz Carlos Bresser Pereira, que na gestão de FHC foi a maior expressão intelectual da “reforma” no País. Para garantir tais
manobras políticas o Banco Mundial e FMI, assumiram a tarefa de articular as “reformas” estruturais de maneira a viabilizar o projeto burguês
no Brasil.
438
Para maiores esclarecimentos sobre a atuação dessas Agências no Brasil e na América do Sul, consultar Haddad (org.), 2008.
439
Cumpre ressaltar que esses eventos tinham o patrocínio financeiro e consultivo do Banco Mundial que, a partir dos anos de 1990 concentram
seus maiores esforços na suposta resolução dos graves problemas educacionais da região.
currículos que podem integrar-se à formação científica, tecnológica e cultural, cujo escopo é
formar indivíduos capazes de articular as dimensões do fazer, do pensar e do sentir.
Ressalta-se que o termo politecnia mencionado neste trabalho, tem o mesmo significado
de educação tecnológica440, ou seja, uma educação capaz de colaborar para que os indivíduos
dominem os fundamentos científicos e tecnológicos das diferentes técnicas que caracterizam os
processos de trabalho existentes na sociedade em dado momento histórico. O termo politecnia,
portanto, não pode ser compreendido de forma literal, conforme nos esclarece Saviani (2003,
p. 140). Para este autor,
A noção de politécnica nada tem a ver, ainda segundo este autor, com o referido tipo de
visão de educação. Esclarece-se, portanto que,
Sobre as mudanças trazidas pelo Decreto nº 5.154/04, cumpre esclarecer que estas não
contemplam a concepção de ensino médio integrado e de educação unitária, politécnica e
omnilateral defendidas por professores, estudantes, sindicalistas e outros profissionais ligados
à educação. Contudo, como afirmam Frigotto et al. (2005, p.43):
440
Para Saviani (2003), apoiado em estudos de Manacorda, educação tecnológica é o termo que melhor traduz o significado marxista de
politecnia ou de educação politécnica (MANACORDA, Mario, A. Marx e a pedagogia moderna. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991).
Dessa forma, os utilizaremos neste texto como expressões sinônimas. Entretanto, Saviani (2003) adverte que é preciso ter cuidado com o uso
do termo educação tecnológica, em função da apropriação que a concepção burguesa da educação fez do termo tecnologia.
[...] Entendemos que o ensino médio integrado ao ensino técnico, sob uma base
unitária de formação geral, é uma condição necessária para se fazer a “travessia” para
uma nova realidade. Sabemos que foi essa travessia que o Decreto n.2.208/97
interrompeu, ao forçar a adequação da realidade à lei, proibindo que o ensino médio
propiciasse também a formação técnica. O restabelecimento dessa garantia por meio
do Decreto n. 5.154/2004 pretende reinstaurar um novo ponto de partida para essa
travessia, de tal forma que o horizonte do ensino médio seja a consolidação da
formação básica unitária e politécnica, centrada no trabalho, na ciência e na cultura,
numa relação mediata com a formação profissional específica que se consolida em
outros níveis e modalidades de ensino.
De modo geral, a educação destinada à classe trabalhadora e aos seus filhos, inclusive,
aquelas experiências que se autodenominam como educação integrada. Na atualidade estas não
garantem uma formação do tipo omnilateral, de base unitária, perspectiva defendida nessa
análise como antítese ao modelo dual em curso. Na prática, as políticas públicas de educação
profissional de nível médio têm como horizonte apenas a preparação do jovem trabalhador para
o ingresso precoce no mercado de trabalho. A base teórica desses currículos baseia-se,
fundamentalmente, pela lógica da Pedagogia das Competências (RAMOS, 2006), do
empreendedorismo e da falácia da empregabilidade, propostas que, além de negarem qualquer
perspectiva emancipadora de educação para aqueles que vivem do trabalho, os culpabilizam
pelo seu (in)sucesso profissional, uma vez que recai sobre eles a responsabilidade de sua
inserção no mundo produtivo, não importando a forma, se por meio do emprego formal ou
apenas, como empreendedor individual.
Não há, portanto, o que comemorar com a perspectiva de integração, inaugurada com a
implantação do Ensino Médio Integrado (EMI) à educação de nível técnico. Seus esforços
tendem a responder aos reclames do empresariado nacional apenas. Na perspectiva de Frigotto,
Ciavatta e Ramos (2005b), o Decreto nº 5.154/04 representou apenas a forma possível de fazer
com que a dualidade no campo da educação básica e da educação profissional fosse pelo menos
amenizada no âmbito da legislação. Pode-se afirmar que tal decreto limita-se apenas a admitir
a articulação entre o ensino médio e a educação profissional, numa mesma instituição de ensino,
num mesmo curso, com currículo e matrículas únicas e de forma integrada, mas que, ao
contrário do que se tem afirmado, a sua estrutura não foi em nada afetada/modificada. Mudar
os atuais modelos de escolarização da classe trabalhadora pressupõe, antes de tudo, tomar
decisões políticas propositivas, capazes de suplantar o projeto das forças hegemônicas em
curso, de modo a reconduzir os sujeitos ao processo criativo e dinâmico do trabalho como
autorealização.
As questões que se colocam nesta breve análise são: a educação nos marcos do
capitalismo contemporâneo é capaz de promover uma formação para além da utilidade de
mercado? Como superar a lógica atual das políticas públicas de educação profissional que estão
empenhadas em formar apenas para o ingresso do jovem num mercado de poucas
oportunidades? A formação da classe trabalhadora brasileira, sobretudo nas últimas três
décadas, está comprometida com uma formação que tem como horizonte a emancipação
humana? Apesar das mais recentes proposições do Governo Federal, que revelam
intencionalidades na oferta de uma educação do tipo politécnica e tecnológica 441, a quem de
fato as atuais políticas de educação profissional no Brasil beneficiam?
441
Para saber mais sobre esse assunto, sugere-se uma leitura de Frigotto, Ciavatta e Ramos (2012).
442
Programa Brasil Profissionalizado tem como objetivo fortalecer as redes estaduais de educação profissional e tecnológica (EPT). Por meio
desse Programa, o governo federal repassa recursos para que os estados invistam em suas escolas técnicas. O Programa possibilita a
modernização e a expansão das redes públicas de ensino médio integradas à educação profissional, uma das metas do Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE).
Observa-se claramente que, os pressupostos que orientam o EMI no Ceará não são os
mesmos que se efetivam na prática. Nas escolas profissionalizantes cearenses, o currículo
prioriza fundamentalmente um ensino comprometido com a formação do novo trabalhador do
tipo flexível, necessário ao complexo mundo do trabalho atual, bem ao gosto dos donos dos
meios da produção e distante da perspectiva de formação integral dos sujeitos, ressaltadas de
Este número passa dos 40 mil no final da gestão do governo Cid Gomes, em 2014,
representando um aumento nas matrículas de mais de 1.000%. Para Magalhães (2013, p.19),
443
A educação profissional no Ceará, inspirou-se, até 2013, no Programa de Desenvolvimento dos Centros de Ensino Experimental –
PROCENTRO - implementado no Estado de Pernambuco. Referidos Centros de Ensino Experimental (CEE), também conhecidos como
ginásios experimentais, eram escolas modelo que tinham como ideia forçar o ensino em modalidade integral para alunos de Ensino Médio
desde o ano de 2003. Tratava-se de parceria entre o governo do Estado do Pernambuco e o Instituto de Corresponsabilidade pela Educação –
ICE.
444
A TESE é uma proposta de gestão escolar fundamentada no modelo gerencial empresarial de resultados, baseada na Tecnologia Empresarial
Odebrecht (TEO). “Trata-se de um instrumento para o planejamento, gerenciamento e avaliação das atividades dos diversos integrantes da
comunidade, ou seja, a síntese de um planejamento estratégico para uma gestão por resultados” (CEARÁ, 2014, p.19).
inicial, as experiências de formação da classe trabalhadora, nascidas a partir deste decreto não
só negligencia a perspectiva de uma formação omnilateral dos sujeitos, como também perpetua
e até aprofunda a dualidade imposta por meio do decreto anterior.
Por fim, sem a pretensão de dar conta de uma análise profunda do arcabouço que
envolve as verdadeiras motivações que norteiam as EEEP’s do estado do Ceará, esclarece-se,
com base em Kuenzer (2000b) que,
[...] não basta afirmar que a nova educação média deverá ser tecnológica e, portanto,
organizada para promover o acesso articulado aos conhecimentos científicos,
tecnológicos e sócio-históricos, e ao mesmo tempo extinguir os cursos
profissionalizantes, estabelecendo por decreto que a dualidade estrutural foi superada
através da constituição de uma única rede, o que justificou, inclusive, a não discussão
de formas de equivalência entre Ensino Médio e profissional. (KUENZER, 2000b,
p.20).
Hoje, apesar da proposta de ensino médio integrado defender uma perspectiva que acena
na direção de uma educação integral, na prática, o grande compromisso desse modelo de escola,
infelizmente, é a preparação do jovem trabalhador somente para, e em razão do mercado de
trabalho.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a Centralidade do
Mundo do Trabalho. Ed. Cortez, 8ª edição
dá outras providências. Diário Oficial do Estado do Ceará, Fortaleza, CE, série 2, Ano XI, nº
245, 23 dez. 2008.
FRIGOTTO, G.; CIAVATTA, M.; RAMOS, M. (Orgs.). Ensino médio integrado: concepções
e contradições. São Paulo: Cortez. (2012).
HADDAD, Sérgio (org.). Banco Mundial, OMC e FMI: o impacto nas políticas educacionais.
São Paulo: Cortez, 2008.
________________. O Ensino Médio: agora é para a vida: entre o pretendido, o dito e o feito.
Revista Educação & Sociedade, n.º 70. Campinas, Abril 2000b.
KUENZER, Acácia (org.). Ensino Médio: construindo uma proposta para os que vivem do
trabalho. São Paulo: Cortez, 2009.
MARX, K. & ENGELS, F. Crítica do programa de Gotha. In: MARX, K. & ENGELS, F.
(Orgs.) Obras Escolhidas. São Paulo: Alfa e Ômega, s.d. v.2.
SAVIANI, Dermeval. O trabalho como o princípio educativo frente às novas tecnologias. In:
Novas tecnologias, trabalho e educação: um debate multidisciplinar. 5ª Ed. – Petrópolis, RJ:
Vozes, 1999.
SILVA JUNIOR, João dos Reis. Reforma do Estado e da Educação no Brasil de FHC – São
Paulo: Xamã, 2002.
UNESCO. Declaração de Nova Delhi. Nova Delhi, 1993. Declaração mundial sobre
educação para todos: Satisfação das necessidades básicas de aprendizagem. Jomtien, 1990.
Resumo
Este artigo é parte da pesquisa empreendida pela autora, na Linha de Políticas Educacionais do Mestrado em
Educação da UFPR, e apresenta a discussão sobre a formação de trabalhadores através de cursos do Programa
Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) em um Campus do Instituto Federal, confrontando-
se com a oferta realizada por uma das Unidades do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai),
localizada na mesma cidade, bem como avaliando-se a existência de alinhamento ao Arranjo Produtivo Local da
região e/ou aderência à expertise institucional do Campus em questão. Para tal, considera-se a extrema importância
da retomada do Ensino Médio Integrado (EMI), pelos Institutos Federais (IF’s), como uma modalidade que confere
profissionalização em conjunto com uma formação humana integral que, visando à inserção no mundo do trabalho,
privilegia a cidadania e a emancipação dos indivíduos. A pesquisa fundamenta-se na contribuição de autores como
Frigotto, Ciavatta & Ramos (2005), e Moura (2015), que sustentam a importância do Ensino Médio Integrado à
Educação Profissional como uma “fase de transição” ou “proposta de travessia” em prol de milhões de jovens que
precisam da escolarização para melhor se situarem no sistema produtivo. E, mais recentemente, conta com
Saldanha (2016), que desenvolveu uma investigação com críticas detalhadas sobre concepção e implementação do
Pronatec.
1 INTRODUÇÃO
Apesar dos avanços sociais advindos com os programas governamentais de orientação
progressista nos últimos anos, o Brasil segue com desigualdades históricas e apresenta um
grande contingente de indivíduos que, por questões de subsistência, necessitam adentrar mais
cedo ao mundo do trabalho, sendo a Educação Profissional uma grande aliada para inclusão
social.
Isso se observa principalmente no que se refere ao Ensino Médio Integrado (EMI) dos
Institutos Federais (IF’s), que primam pela formação humana integral e pela amenização da
dualidade existente entre ensino médio propedêutico e ensino técnico profissionalizante,
agregando num único currículo o itinerário formativo necessário à educação cidadã, ao passo
em que integra a profissionalização, com vistas à emancipação humana.
445
Mestranda em Educação (UFPR), Linha de Pesquisa: Políticas Educacionais. Áreas de formação: Letras (UFSC) e Administração (USJ).
simone.sell@ufpr.br
No entanto, conforme Moura (2015), as bases para o EMI têm sido atingidas devido a
políticas públicas que carregam, em seu bojo, programas que, primordialmente, disputam o
fundo público sem de fato oferecer condições de contribuir para o desenvolvimento social,
como é o caso do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).
Moura et al. (2015) destacaram que o Pronatec promoveu o financiamento público na
esfera privada, originalmente com prioridade ao Sistema S (SALDANHA, 2016), para que
estudantes do ensino médio propedêutico público fizessem cursos técnicos concomitantes
nessas organizações.
Essa configuração – a de realizar o Ensino Médio em uma instituição e o curso técnico
em outra – acabou por trazer obstáculo à conciliação dos estudos em dois turnos, dificultando
o acesso por parte de alunos trabalhadores (SALDANHA, 2016).
A partir desses aspectos, surgiu o seguinte questionamento: Quanto à pertinência dos
cursos, segundo os propósitos do Programa, em confrontação com as características
institucionais dos IF’s, bem como com o Arranjo Produtivo Local (APL) e a oferta do Sistema
S, através do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), como se traduziu, no
período de 2012 a 2015, o Pronatec no Campus Y?
Nesse sentido, empreendeu-se uma investigação para levantamento da forma de
tradução do Pronatec, em termos de cursos ofertados por um Campus do IF e por uma Unidade
Senai, ambos pertencentes à mesma cidade.
2 METODOLOGIA
Na presente pesquisa, utilizou-se o estudo de caso para avaliação da oferta do Pronatec
em um Campus do IF, observando-se as características institucionais, de modo a traçar
panorama comparativo com uma Unidade do Senai na mesma cidade, haja vista que a gênese
do Programa esteve intrinsecamente ligada à Federação das Indústrias, proporcionando, assim,
uma análise de desempenho que tem por base o padrão de referência “normativo” (COSTA &
CASTANHAR, 2002), avaliando-se a iniciativa organizacional a partir de um quadro
referencial ou padrão comparativo que foi previamente definido (TREVISAN & BELLEN,
2008).
Sob essa perspectiva, foi necessário, inicialmente, buscar identificar o princípio
orientador por trás do programa (PALUMBO, 1994), de modo a esboçar uma análise política
específica sobre a constituição do Pronatec. Ademais, evidenciou-se a população-alvo prevista
(COTTA, 1998; COSTA & CASTANHAR, 2002), durante a formulação do Programa,
destacando-se os objetivos de seu surgimento.
ISSN – 2448-4210 http://laborufc.wix.com/anaislaborufc Página 1181
Anais do Encontro Internacional Trabalho e Perspectiva de Formação dos Trabalhadores
Nov/2017 Vol. 01 nº 02
Os resultados são analisados no que diz respeito ao alcance dos objetivos do Programa
(DRAIBE, 2001, apud BAUER, 2011), isto é, avaliação da eficácia (COTTA, 1998), de acordo
com o desenho proposto pelo Pronatec, tendo em vista sua população-alvo, seus principais
objetivos com base na própria nomenclatura do Programa e, principalmente, com relação à
pertinência da oferta dos cursos Pronatec no Campus Y, durante o período de 2012 a 2015.
3 OBJETIVOS
O objetivo geral da investigação é avaliar os tipos de cursos ofertados por um Campus
do Instituto Federal (denominado Campus Y), através do Pronatec, ao longo dos anos de 2012
a 2015, analisando-se a pertinência no que diz respeito às características institucionais, assim
como a possibilidade de correlação com o APL da cidade em que se situa e confrontando-se
com a oferta de uma das Unidades Senai (doravante denominada Senai Y), pertencente à mesma
cidade do Campus analisado.
a) analisar os cursos Pronatec ofertados pelo Campus Y (2012 a 2015), com atenção à
existência de postos de trabalho de nível técnico relacionados a eles, ou seja, de ocupações no
mercado de trabalho, com base na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), bem como
observar a ocorrência de elevação da escolaridade;
b) verificar a correlação da oferta Pronatec no Campus Y (2012 a 2015) com os
objetivos traçados pelo próprio Programa, com o APL e com a oferta do Senai Y;
c) identificar se houve alinhamento da oferta Pronatec no Campus Y à especificidade
das áreas técnicas do próprio Campus.
446
Educação Profissional Técnica de Nível Médio (EPTNM).
Sob a luz desse e de outros aspectos, em que o Programa vem recebendo inúmeras
críticas, desenvolveu-se a pesquisa ora apresentada para avaliar a tradução, isto é, os cursos
ofertados em um Campus do IF, de modo a se verificar se a oferta direcionou os indivíduos
para a elevação da escolaridade, se houve preocupação com a existência de postos de trabalho
de nível técnico, conforme a CBO e de acordo com os propósitos do Programa, se existiu
alinhamento com o APL da região, consonância com a oferta Senai, que possui forte ligação
com o sistema produtivo ou, ainda, correlação com a expertise do próprio Campus em análise.
No Campus do IF em análise, no período de 2012 a 2015, 100% foram cursos FIC, com
duração de 160 a 200 horas de carga horária.
Em sua área de atuação, os Institutos Federais foram desenvolvidos para promover a
Educação nas dimensões social, econômica e cultural, em busca da aplicação de suas práticas
tanto do ensino, quanto da pesquisa e extensão para aperfeiçoamento das condições de vida dos
indivíduos de sua respectiva localidade primordialmente.
Vidor (2011) disserta muito bem acerca do teor dos Institutos Federais:
É patente que essa formação ampla e com vistas à emancipação fica impossibilitada com
a oferta de cursos Pronatec e, mais ainda, quando se trata da modalidade FIC. Sendo assim,
torna-se paradoxal que o Instituto Federal, haja vista sua raiz, abra espaço para tal Programa.
Indo além, pode-se relacionar propostas de educação como o Pronatec como estratégias
de reforço da divisão internacional do trabalho, em que países periféricos como o Brasil são
impelidos à reprodução de mão de obra para o trabalho simples, concentrando processos
produtivos ao redor da mais-valia absoluta.
Com base em Frigotto (2005, p. 57), no processo de globalização e mundialização do
capital, a ideologia dominante estabelece conexões que mascaram “as relações assimétricas de
poder e os mecanismos estruturais que produzem e mantêm a desigualdade entre nações, regiões
e entre grupos ou classes sociais”.
7 CONCLUSÕES
Já a partir das primeiras análises, evidenciou-se que a oferta de cursos Pronatec do
Campus Y girou em torno de habilidades e não exatamente de formação profissionalizante.
Com a coleta de dados, ficou explícito que, entre os anos 2012 a 2015, apenas 37,5%
foram cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC), que, pela curta duração (160 ou 200
horas), caracterizaram-se pelas primeiras noções relativas ao ofício a que se referiam, não
havendo continuidade, em semestres posteriores, de outros níveis de aperfeiçoamento
relacionados ao teor da atividade laboral em questão. Os demais cursos se trataram de
natureza da instituição como esfera de formação humana integral, com vistas à cidadania e
inserção social digna no mundo do trabalho.
Quanto à atuação dos Senai’s, sabe-se que o Pronatec foi desenhado, sob medida, para
o Sistema S, sendo a ele pertinente do ponto de vista de sua estrutura organizacional, o que não
significa que suas diretrizes não devam ser questionadas quando se apresentam como modelo
de formação para os trabalhadores.
REFERÊNCIAS
AQUINO, L. A juventude como foco das políticas públicas. In: ANDRADE, C. C. de.;
CASTRO, J. A. de.; AQUINO, L. M. C. de. (Orgs.) Juventude e políticas sociais no Brasil.
Brasília: IPEA, 2009.
TREVISAN, A. P.; BELLEN, H. M. van. Avaliação de políticas públicas: uma revisão teórica
de um campo em construção. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro: maio/jun.,
2008.
Abstract
This article, an excerpt from a larger dissertation study, proposes a parallel between the epistemological and
philosophical foundations that originate and sustain the conception of integrated curriculum, as pedagogical
theory of Marxist base, on the one hand, and, on the other hand, the organizational and pedagogical parameters
that emerge from the experience of a Technical Course in Nursing analyzed, looking for notes on the ruptures and
continuities concerning omnilateral education. For this purpose, research of a basic nature, of the exploratory
type, with hypothetical-deductive approach and qualitative approach was used. Regarding the procedure, a case
study, based on the oral history technique, in the thematic modality. The conclusions pointed out that the case
analyzed, although it did not fully reach the challenge of integrative education, given the disputes and the
organizational arrangements to the contrary, for presenting actions and intentions integrating, although
embryonic and inconclusive, was an unusual proposal, in its spatio-temporal context, which shows its merit and
relevance.
1 APRESENTAÇÃO
Este texto constitui excerto de estudo de dissertação de Mestrado, cujo objetivo foi
descrever o processo de construção de uma nova práxis pedagógica, com base em uma reforma
curricular, do tradicional para o integrado, a partir da trajetória de professores do curso Técnico
em Enfermagem do Instituto Federal da Bahia (IFBA), campus Eunápolis.
Nesse recorte, aqui proposto, engendra-se um paralelo entre os fundamentos
epistemológicos e filosóficos que originam e sustentam a concepção de currículo integrado,
como teoria pedagógica de base marxista, de um lado, e, de outro, os parâmetros
organizacionais e pedagógicos que emergem da experiência no curso Técnico em Enfermagem
Professora do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais – IFNMG, campus Araçuaí. Possui licenciatura em Letras Português e
447
2 METODOLOGIA
Utilizou-se pesquisa de natureza básica, do tipo exploratória, com abordagem
hipotético-dedutiva e enfoque qualitativo. No que tange ao procedimento, utilizou-se o estudo
de caso, a partir da técnica de história oral, na modalidade temática. Na análise dos resultados,
as depoentes, constituintes da amostra, foram identificadas com nomes de artistas do
Movimento Modernista, iniciado em 1922, o qual permeou a literatura, a arquitetura, a pintura,
a escultura, o teatro, a música, dentre outros. Com essa associação, pretendeu-se aludir ao
caráter de protagonismo e de inovação do trabalho das professoras, no âmbito da reforma
curricular em análise.
Para captação das informações, foi empregada a entrevista semiestruturada, a partir do
registro de depoimentos com recursos de captação de áudio, transcrição de fontes, e constituição
do arquivo. Paralelamente, e de modo complementar, utilizou-se uma pesquisa documental em
acervo legal acerca do tema, englobando leis, decretos, resoluções, portarias e documentos
escolares pertinentes.
3 OBJETIVO
Relacionar a construção de uma nova práxis pedagógica, do modelo tradicional para o
integrado, no curso Técnico em Enfermagem do Instituto Federal da Bahia, campus Eunápolis,
com os fundamentos epistemológicos e filosóficos que originam e sustentam a concepção de
currículo integrado, como teoria pedagógica de base marxista, buscando apontamentos no que
concerne a rupturas e a continuidades concernentes à educação omnilateral.
4 DESENVOLVIMENTO
4.1 Educação profissional: “o trabalho dignifica o homem?”
É a história de um rei egípcio que ensinou aos seus macacos a dança da espada. As
criaturas, com apurado instinto imitativo, rapidamente aprenderam e passaram a
actuar [sic] na corte adornadas com trajes vermelhos e máscaras. Durante algum
tempo o espectáculo [sic] foi um grande êxito. Até que um dia um engenhoso
espectador trouxe consigo algumas nozes e as atirou para o palco. Num ápice, os
macacos esqueceram a dança, deitaram fora a sua humanidade e voltaram à sua
macaquice: ei-los rasgando os trajes e esmagando as máscaras, numa luta feroz pelas
nozes. E assim ruiu o corps de ballet e a solenidade do auditório. (SAMÓSAFA, 1905,
p. 222).
...ao homem não basta o que a natureza lhe confere, como outros animais, pois, para
além de um produto da evolução biológica das espécies, o homem é um produto
histórico e, deste modo, membro de uma determinada sociedade, pertencente a uma
ou outra classe ou camada desta sociedade, numa determinada etapa da evolução
histórica. (MARTINS, 2004, p. 57).
Nessa acepção, o termo, por sua intensidade reconhecível, abarca todas as dimensões da
vida humana, constituindo um sentido ontológico ou, conforme Lukács (1978), assumindo uma
essência e generalidade ontocriativa, isto é, uma dimensão de criação do ser humano. De tal
forma que todas as sociedades são compelidas a entrar nesse metabolismo com o meio natural,
através do trabalho, garantindo a sobrevivência física de seus membros. Nesse sentido, Frigotto
(2012) chega a afirmar que “...o trabalho só pode deixar de existir se os seres humanos
desaparecerem ou se transmutarem em ‘anjos’.” (FRIGOTTO, 2012, p. 59).
A segunda, dimensão histórica, é mediada pelas relações econômicas de produção e pela
venda de força de trabalho, relacionando-se às noções de emprego e/ou atividade laborativa;
que, no transcurso da história assumem algumas instâncias específicas, com roupagens e relevos
ancorados nas esferas sociais, entre elas, o “trabalho servil”, a “escravidão”, o “trabalho
assalariado”. Isso porque os atos de trabalho só se desenvolvem no interior de relações sociais.
Conforme Saviani (1994), inicialmente, nos meios de produção humana, prevalecia o
modo comunal, em que tudo era produzido em caráter comum. Não havia classes e as coisas
eram repartidas solidariamente. Contudo, a medida que avança o processo de sedentarização,
isto é, à medida que o homem se fixa na terra e essa passa a ser considerada como o principal
meio de produção, surge a propriedade privada e a consequente divisão de classes. Com efeito,
os não proprietários assumem a atribuição de trabalhar a terra, mantendo a si próprios e aos
senhores, os quais, vivendo do trabalho alheio, constituem classe ociosa.
É, nesse momento, ainda de acordo com Saviani (1994), que se origina a escola, cuja
denominação, em sua origem etimológica, do latim schola, refere-se à folga, tempo ocioso.
Uma alusão a um lugar a que tinham acesso as classes ociosas, enquanto a maioria da população
se educava no trabalho. Além da palavra escola, a palavra ginásio tem origem semelhante,
referindo-se ao local dos jogos que eram praticados pelos que dispunham de ócio. Enquanto
que a ginástica dos que tinham que trabalhar, também era o próprio trabalho.
Posto isso, não é imprevisto notar o papel de centralidade que o trabalho ocupa na teoria
sociológica; bem como a sua importância no construto social. Dessa forma, configura-se “...em
direito e dever e engendra um princípio educativo”. (FRIGOTTO, 2012, p. 60) Para Frigotto
(2012), é possível compreender o trabalho como princípio educativo, dada a sua condição
imperativa de transformação da natureza em meios de vida, produzindo valores para mantê-la
e reproduzi-la. A relação encontra-se, de tal modo imbrincada, a ponto de tornar-se crucial e
educativa, mesmo quando o trabalho se dá sob a negatividade das relações de classe existentes
no capitalismo.
De acordo com Pistrak (2002),
Essa interseção entre trabalho e ensino é de tal monta relevante, que embasa e inspira
projetos educativos, já há bastante tempo; figurando entre os principais debates que concernem
à educação profissional. Dentro desta perspectiva, é possível mencionar a contribuição de Marx
e Engels. Tais teóricos apontam para uma dimensão educativa do trabalho, entendendo-a como
elemento importante para o ensino. Essas mesmas discussões são retomadas, posteriormente,
por Lênin e por educadores soviéticos, sendo aplicadas em algumas escolas após a revolução
russa de 1917.
Conforme Dal Ri e Vieitez (2012), os escritos de Marx e Engels, embora pouco
numerosos e inespecíficos no que tange à temática, são bastante consistentes e relevantes no
bojo desse debate. Esse material, que convencionou-se denominar de pedagogia marxista, tem
como ponto básico a união do ensino com o trabalho produtivo. Para Marx, crianças e
adolescentes, subdivididos em classes, deveriam receber um programa gradual e progressivo
de ensino intelectual, físico e tecnológico. Para ele, também, a união do trabalho produtivo,
ensino intelectual, exercício físico e adestramento politécnico elevariam a classe trabalhadora
acima das classes superiores e médias. Dessa forma, ele afirma que “...a combinação do trabalho
produtivo com o ensino, desde uma tenra idade, é um dos mais poderosos meios de
transformação da sociedade...”. (MARX, 1983, p. 242)
Ainda que não se possa precisar, de maneira nítida, o conceito de omnilateralidade, na
obra do sociólogo, é inegável a vinculação do termo com um processo de ruptura com a
dualidade estabelecida entre o trabalho manual e o trabalho intelectual, estabelecendo relações
menos fragmentadas. Cumpre notar a tentativa de desvinculação da escola com sua tradição de
receptáculo e transmissora da cultura erudita, voltada para as classes dominantes e ociosas; e
distante da classe trabalhadora, que é incumbida das atividades manuais, e alvo de uma
formação para isso. Por esse motivo, é recorrente, na pedagogia marxista, não apenas o
atrelamento entre educação e trabalho, mas também a necessária alusão às atividades de
ginástica, de modo a romper com as dicotomias estabelecidas na escola tradicional, reunindo
fragmentos esfacelados pela divisão de classes, com vistas a um ensino verdadeiramente
omnilateral.
Esse e outros postulados da concepção marxista de educação foram retomados por
Lênin, como base do sistema escolar do primeiro Estado socialista; em que foi possível
vislumbrar uma materialidade da proposta, transmutada na pedagogia soviética, após a tomada
do poder do Estado, na Revolução Russa. Lênin “...estudou os escritos de Marx e Engels sobre
a escola e, em seus textos, sempre empregou atenção especial à combinação do ensino com
trabalho produtivo.” (DAL RI; VIEITEZ, 2012, p. 268).
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(...) não se pode conceber o ideal de uma sociedade futura sem unir o ensino com o
trabalho produtivo da nova geração. Nem o ensino e a educação sem um trabalho
produtivo, nem o trabalho produtivo separado do ensino e da educação poderão
colocar-se à altura do atual nível da técnica e do presente estado dos conhecimentos
científicos. (LÊNIN, 1968 apud KRUPSKAYA, 1986, p. 41).
Para o estudioso seria fundamental romper com a cisão entre “trabalho manual” e
“trabalho intelectual”. Segundo ele, em todo e qualquer trabalho físico existe esforço
intelectual, portanto, não se pode reservar a intelectualidade a um grupo seleto de pessoas.
Todos os homens são intelectuais, embora nem todos encontrem espaço na sociedade para
exercer esse papel. Para Gramsci, o fato de que “...a escola profissional destinava-se às classes
instrumentais, ao passo que a clássica destinava-se às classes dominantes e aos intelectuais...”
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Essa fala de Pagu sobre as mudanças instauradas pelo Decreto 5154/2004, bem como
acerca do momento político, vivenciado à época, situa os caminhos percorridos na implantação
da mudança curricular, em análise, e a interface deles com as concepções sobre ensino e
aprendizagem.
Conforme Frigotto, Ciavatta e Ramos (2012), essa articulação no ensino médio,
instaurada no texto legal, é bastante importante, na medida que consideramos que, nessa
modalidade, o dualismo na educação brasileira atinge sua maior expressão. “É nesse nível de
ensino que se revela com mais evidência a contradição fundamental entre o capital e o trabalho,
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... a gente viu a inviabilidade do curso integrado, tanto por ser o curso técnico, um
curso que já tem carga horária muito alta, né...a demanda desse curso, geralmente,
muito mais...a nossa demanda lá, historicamente, lá, nossa demanda era de pessoas
adultas...a gente não tinha muito jovem procurando, né, e, também, por uma outra
questão, que naquela época, ainda era uma dúvida muito grande pra gente, né, porque,
quando você abre pra alunos jovens, vai entrar com alunos de 14, de 15 anos...como
é que a gente faria isso no serviço de saúde...então gerou muita inquietação... como é
que a gente coloca um aluno de 15 anos pra ir pras...instituições de saúde. [sic]
(PAGU).
[...] a enfermagem, embora, é...a gente não tenha, né, é...essas disciplinas da base
comum, mas gente tem...outras disciplinas, né...é...ligadas à área de humanas, ou
mesmo na área de exatas, né mas que também estejam envolvidas nessa formação
integral, né, tendo o trabalho como princípio educativo. [sic] (TARSILA).
Desse modo, ainda que estruturado na modalidade de ensino subsequente, o curso passa
a buscar estratégias de integração, iniciando, assim, um desenho da reforma curricular. Pagu
fala a esse respeito:
E aí...quando a gente teve que reestruturar todos os cursos, porque aí...o ensino médio
que tinha lá teve que começar a pensar os cursos de...integrados que faríamos, e o que
que ia manter com o subsequente. [...]
A fala, além de remeter ao início do processo de mudança, revela, também, certo grau
de protagonismo de Pagu, na condução disso. A esse respeito, Tarsila faz algumas menções,
referindo-se à colega: “...tinha muitas coisas boas para dar, né...já vinha de uma formação
diferenciada [...], né...já era uma nova formação...um outro olhar, né. E aí ela já tinha essa
proposta de mexer no currículo... [sic]” (TARSILA).
Sobre esse importante papel docente, evidenciado pelos movimentos iniciais de Pagu,
Leite e Fernandes (2010) nos esclarecem que “...existe um certo consenso em relação à ideia de
que os professores são peças centrais na construção da mudança em educação, quer o sejam
como meros consumidores do currículo, quer como seus configuradores.” (LEITE;
FERNANDES, 2010, p. 16).
No contexto do Curso Técnico em Enfermagem do IFBA, ao lado do protagonismo
docente, figuraram como fatores motivacionais para a mudança, estruturando as ações dos
professores, questões políticas, associadas a aspectos ideológicos.
[...] realmente, é por conta da necessidade de atualizar, né. O currículo é...ele foi feito
pra isso, pra acompanhar essa mudança da sociedade...a própria mudança do mercado,
também, porque não adianta a gente negar, existe um mercado de trabalho, né, embora
a gente fale muito do mundo do trabalho, existe um mercado de trabalho, mas a gente
não deve, apesar de existir esse mercado de trabalho, a gente não deve, também,
é...deixar nossa base humana, né, de formação, realmente, mais integral, né. Então,
essa necessidade de mudança mesmo, formar mesmo a pessoa da forma mais integral,
para modificar, realmente, o mundo, apesar do mercado de trabalho, apesar desse
sistema é ...bastante cruel ainda... [sic] (TARSILA).
A esse respeito, Moysés (1994) lembra que a tarefa docente é complexa, requer preparo
e compromisso; envolvimento e responsabilidade. “É algo que se define pelo engajamento do
educador com a causa democrática e se expressa pelo seu desejo de instrumentalizar política e
tecnicamente o seu aluno, ajudando-o a construir-se como sujeito social. (MOYSÉS, 1994, p.
13-14).
Acredita-se que, no caso analisado, essa ideologia docente, foi, em boa medida,
influenciada pelas experiências prévias de Pagu, no contexto de sua formação superior, e pelas
vivências de Tarsila como trabalhadora de saúde, dado o entrelaçamento do seu percurso de
formação com as contradições do processo de trabalho em Enfermagem. Fatores que parecem
ter constituído força motriz para o processo de mudança.
[...] eu nasci para cuidar nas várias dimensões e, entre elas...a educação, né. E...essa
minha...sempre eu me sentia muito incomodada no hospital, quando eu tinha a
impressão que não tinha mais nada para fazer...que eu não ia dar conta de nada...eu
sempre partia para a educação continuada, a educação em serviço...porque era um
momento em que eu me sentia mais realizada, né, então...se eu via que
administrativamente, tinha muitos entraves, eu...era através da educação que eu me
realizava, porque eu achava assim...eu empoderando esses meninos, empoderando
essas pessoas, elas poderiam, também, galgar outras coisas e até se tornar sujeitos de
direito e lutar. [sic] (TARSILA, GRIFOS DA AUTORA).
É...a proposta é a integração das disciplinas propedêuticas, né, que não se chama mais
propedêuticas, mas da base comum, com as disciplinas técnicas, né. Eu penso na
formação integral, né...essa formação omnilateral, que tanto se fala, que a gente tanto
almeja, mas que a gente não consegue. Então não é formar apenas para o trabalho,
para o mercado de trabalho, mas eu acho que...tendo o trabalho como princípio
educativo, né. A formação humana, mesmo, né, do sujeito que vai modificar o mundo,
né, que consegue fazer essa reflexão e intervir nesse mundo que tá, atual, né. [sic]
(TARSILA).
Tal ideologia, embora recorrente nas falas, aparece de modo restrito sob o ponto de vista
da análise documental acerca do currículo construído, o que pode evidenciar os antagonismos,
as incoerências e as dificuldades que perpassaram o processo. Não obstante, a ideologia que
subjaz parece aproximar-se do ideário de “currículo integrado”, como teoria pedagógica de base
marxista. É preciso considerar que as contradições são inerentes ao processo; ponderando, desse
modo, que, no percurso de implantação da proposta, muitos entraves se fizeram sentir e muitas
negociações precisaram ser estabelecidas, implicando ora em aproximação, ora em
distanciamento no que concerne à concepção original do projeto, que vigora, na prática, a partir
de 2005.
Vale ressaltar, ainda, que, embora influenciada por rearranjos nas políticas públicas
educacionais engendradas em âmbito nacional, a proposta gestada no Curso Técnico em
Enfermagem da unidade de Eunápolis do IFBA manteve-se singular. Outros cursos da unidade
e, até mesmo da instituição IFBA, embora alvo das mesmas proposições legais, mantiveram-se
em organizações curriculares mais voltadas para o modelo tradicional. A mudança mais
vigorosa, nos demais cursos, foi mesmo a incorporação da modalidade de ensino integrado, do
ponto de vista meramente organizativo, estruturando, desse modo, o ensino médio articulado à
educação profissional. Tal fato, infelizmente, parece não constituir-se como caso restrito à
realidade baiana. Conforme Frigotto, Ciavatta e Ramos (2012):
Nesse sentido, o caso analisado, embora não tenha atingido plenamente o desafio da
educação omnilateral, de base pedagógica marxista, dadas as disputas e os arranjos
organizacionais em contrário, por apresentar ações e intenções integradoras, ainda que
embrionárias e inconclusas, constituiu-se como proposta inovadora e inabitual, em seu contexto
sócio-histórico, o que evidencia seu mérito e relevância.
5 CONCLUSÃO
Nesse sentido, e como proposição para o arremate final desse artigo, deixa-se as
seguintes questões: Na atual conjuntura de formação, quem [e para quem] seria favorável [a]
um sistema de ensino politécnico, de base marxista? Será que os embates e desafios que
emergem de um processo de reforma curricular desse tipo limitam-se, de fato, à especificidade
de cada contexto locorregional? É possível pensar que a ruptura em um processo de reforma
curricular dessa monta, embora implique em descontinuidade, possa, de fato, representar, um
efetivo sucesso da proposta, na medida que toca em certos organismos, em boa medida estáveis,
conformando conflitos?
Como possibilidade de análise, cita-se Garcia (1995) que, referindo-se às mudanças
pedagógicas que têm ocorrido no Brasil, afirma que as inovações, como as técnicas, não são
neutras. “Sua ocorrência, num determinado contexto, não é fortuita, como não o é sua difusão
nesse contexto e em outros.” (GARCIA, 1995, p. 62).
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – 1996). Lei nº 9.394, de 20
de dezembro de 1996. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf> Acesso em: 8 mai. 2016.
GARCIA, Walter E. Inovação educacional no Brasil. São Paulo: Autores Associados, 1995.
GRAMSCI, Antônio. Cadernos do Cárcere. 3. ed. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
LENIN, Vladimir Ilitch. Cultura e revolução cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1968 apud KRUPSKAYA, Nadezhda. La educatión laboral y la enseñanza. Moscú: Editorial
Progresso, 1986.
MOYSÉS, Lúcia. O Desafio de Saber Ensinar. São Paulo, Campinas: Papirus, 1994.
SAMÓSAFA, Luciano de. The Works of Luciano of Samosata. Vol. 1. Oxford: Clarendon
Press, 1905.
SAVIANI, Dermeval. O trabalho como princípio educativo frente às novas tecnologias. In:
Novas tecnologias, trabalho e educação. Petrópolis /RJ : Vozes, 1994.
Abstract
This article presents results of a research made at a Federal Institute of Education, Science and Technology. The
research focused to analyze if, or how, occurs the effectiveness of the integrated education in the pedagogical
practice, at physics and math classes, of the freshman year, of the Integrated Technician Course in Edification,
offered in full time mode at the institution. The categories that underlie the meaning of integrated education are
linked to the full human formation (omnilateral) of the student, to the dimensions: work, science, technology and
culture as the structuring axis of the curriculum. It was used a qualitative approach, as a methodology, for
exploratory objectives. Data was collected through the application of a questionnaire with open and closed
questions, semi-structured interviews (audio recording), observation of classes taking notes and audio and video
recording of some classes. A common factor was present in the answers, a lack of knowledge of the different actors,
teachers and students, regarding the assumptions of integrated education, although there are considerations of
their relevance for a good progress of the technician formation. The answers showed an intention to make such
integration. However, aspects related to the management, to the integration and to the dialogue between the areas
of knowledge and the political / ideological / epistemological conception of integration, curricular elements, the
timetable of the disciplines and their quantity per year, besides the difficulty in constructing a project of group
course prevented its effectiveness in pedagogical practice.
Keywords: Integrated High School. Pedagogical Practice. Science and Mathematics Education.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo traz o resultado de pesquisa, desenvolvida no Câmpus Jataí do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG), que teve como objetivo analisar de
que forma ocorre (e se ocorre) a integração entre a formação de nível médio e a educação
profissionalizante em um curso técnico integrado ao ensino médio – que tem como um de seus
448
Pedagoga, Mestre em Educação para Ciências e Matemática - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás - Câmpus Jataí.
elinamrosa@hotmail.com
449
Socióloga, Doutora em Educação - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás - Câmpus Jataí. lucieneapires@gmail.com
2 O CAMINHO DA PESQUISA
A pesquisa foi desenvolvida no IFG-Câmpus Jataí, especificamente, no Curso Técnico
Integrado de Edificações. O recorte para analisar a integração se deu nas disciplinas de física e
de matemática. A escolha do curso de Técnico em Edificações ocorreu em função de dois
fatores: é um dos cursos mais antigos do Câmpus Jataí, iniciado em 1988 (organizado como 2º
grau técnico, subsequente, educação profissional integrada de jovens e adultos, ensino médio
integrado ao ensino técnico), é um curso em que as disciplinas de física e de matemática são
consideradas básicas. Portanto, sua influência histórica, nos aspectos local, regional e nacional,
quanto à formação de técnicos na área de construção civil, é pertinente.
A opção por se investigarem as disciplinas de física e de matemática deveu-se ao fato
de serem áreas do conhecimento com estreita fundamentação com a área de Construção Civil,
à qual pertence o curso, e, também, são componentes importantes para o eixo tecnológico de
infraestrutura, além de se constituírem disciplinas historicamente consideradas de difícil
aprendizagem pelos alunos.
A escolha da turma do curso de Edificações, do ano de 2013, ocorreu por ser a segunda
turma que ingressaria com o novo currículo, que incorpora o ensino médio integrado ao ensino
técnico, oferecido em dois turnos de funcionamento (formato em tempo integral), com duração
de três anos. Havia, portanto, possibilidade de maior experimentação da matriz curricular e do
projeto pedagógico do curso, por ser o segundo ano do curso organizado nesse formato, além
do intuito de analisar uma turma de 1º ano, a fim de perceber se/como a efetivação ocorreria
desde o início do curso.
Buscaram-se, ao fazer a análise dos dados, as etapas no processo de uso da análise de
conteúdo. Segundo Bardin (2011), as três etapas básicas no trabalho com a análise de conteúdo
são a pré-análise, descrição analítica e interpretação inferencial.
O referencial teórico-metodológico que orientou a pesquisa, no que tange à produção
do conhecimento, foi a perspectiva do materialismo histórico-dialético, que permite uma
apreensão radical da realidade na busca por sua transformação. Na análise, privilegiou-se a ótica
dos alunos e dos professores, como sujeitos da pesquisa, por serem partícipes ativos na prática
educativa e por se investigar a prática pedagógica, inexistente sem ambos.
Para a análise de dados, procedeu-se a uma organização do material: a seleção dos
dispositivos legais e delimitação daqueles que ofereciam sustentação à temática da pesquisa.
Leitura e releitura dos fundamentos teóricos que embasam a temática e agrupamento dos
teóricos que se aproximavam da proposta de educação integrada em uma mesma perspectiva;
elucidação das categorias fundantes que compõem a proposta.
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nº 11.741/2008, que altera dispositivos da LDB vigente; a Lei nº11.892/2008, de criação dos
Institutos Federais (IF); a Resolução CNE/CEB nº 6, de 20 de setembro de 2012, que define as
diretrizes curriculares nacionais para a educação profissional técnica de nível médio; e, ainda,
a Resolução CNE/CEB nº 2, de 30 de janeiro de 2012, que define diretrizes para o ensino médio.
Compreende-se, contudo, que a prescrição da lei não é garantia de execução na
ambiência da educação/da escola. A escola e a educação são constituídas e constituintes de
relações sociais de classes sociais antagônicas; os processos para sua materialização são
contraditórios, conflituosos, portanto, processam-se com avanços e retrocessos. Ademais, não
se pode perder de vista que a regulamentação abre novos espaços e possibilidades para a
efetivação.
Nesse sentido, Ramos (2004) tece considerações importantes acerca da compreensão da
possibilidade de mudança do foco para os sujeitos, capaz de contemplar uma formação humana.
Segundo a autora, não se trata de,
sujeitos abstratos e isolados, mas sujeitos singulares cujo projeto de vida se constrói
pelas múltiplas relações sociais, na perspectiva da emancipação humana, que só pode
ocorrer à medida que os projetos individuais entram em coerência com um projeto
social coletivamente construído. Com isso, colocamos a discussão sobre as finalidades
do ensino médio ou, ainda, sobre o que lhe confere sentido: sujeitos e conhecimentos.
Sujeitos que têm uma vida, uma história e uma cultura. [...] Conhecimentos que são
construídos socialmente ao longo da história, constituindo o patrimônio da
humanidade, a cujo acesso, portanto, todos têm direito (RAMOS, 2004, p. 39-40).
Nesse horizonte, toma-se uma construção de um projeto coletivo que caminhe para a
superação da dualidade entre formação específica e formação geral e cujos objetivos tenham a
formação humana, laboral, cultural, técnico-científica como foco, deslocando do alvo mercado
de trabalho. Por esse prisma, os IF devem desenvolver um projeto de educação profissional
capaz de se estender além dos muros da escola e incluir os aspectos históricos, políticos,
pedagógicos, conjunturais e estruturais que cercam a criação dessas instituições públicas cujo
vínculo estreitamente se associa com o perfil do aluno/trabalhador.
A meta deveria ser construir, no bojo da expansão da Rede Federal de Educação
Tecnológica, não uma inovação superficial ou renovação camuflada ou reforma da reforma,
mas uma inovação que passa pelos fins os quais se quer atingir, ou seja, a questão se centra no
problema da mudança dos fins da educação. A formação integrada compreende, também, a
proposição de uma educação politécnica, na medida em que politecnia diz respeito ao domínio
dos fundamentos científicos das diferentes técnicas que caracterizam o processo de trabalho
produtivo moderno (SAVIANI, 2003). Assim, abarca uma visão que busca a totalidade das
relações sociais, de modo que, almejando a formação humana plena do trabalhador, haja
integração entre o trabalho e a educação. É necessário, para se atingirem as novas finalidades
(o ponto de partida, o centro da inovação), buscarem-se os meios, os métodos, as formas mais
adequadas e eficazes, conforme a recomendação de Gramsci (1978, p. 124): “[...] encontrando
nos fins a atingir a fonte natural para elaborar os métodos e as formas”.
Para Gramsci (1978), a função da escola e sua dimensão transformadora deveriam ser
planejadas de maneira que todos os alunos, independentemente de classe social, pudessem ter
acesso a elementos intelectuais, culturais e, dessa forma, fosse-lhes permitida a garantia de se
tornarem cidadãos ativos, governantes. A escola deveria, pois, comprometer-se com a “tarefa
de inserir os jovens na atividade social, depois de tê-los levado a um certo grau de maturidade
e capacidade, à criação intelectual e prática e a uma certa autonomia na orientação e na
iniciativa” (GRAMSCI, 1978, p. 121). Destarte, os fins para a educação profissional no âmbito
dos IF deveriam priorizar a formação dos seres humanos para a transformação da forma social
na qual estão inseridos, de maneira a sair da exclusão para a inclusão social, tornando-se
cidadãos partícipes de sua própria existência. Logo, dever-se-ia desenvolver a concepção de
escola unitária defendida por Gramsci.
Diante desse quadro que se apresenta para a implementação da escola unitária, não há
que se desanimar, mas buscar o avanço em face de limitações e possibilidades. Kuenzer (2009,
p. 37) aponta que é um grande desafio, mas não se pode desistir do enfrentamento. Para tanto,
Será necessário, portanto, formular diretrizes que priorizem uma formação científico-
tecnológica e sócio-histórica para todos, no sentido da construção de uma igualdade
que não está dada no ponto de partida, e que, por esta razão, exige mediações
diferenciadas no próprio Ensino Médio, para atender às demandas de uma clientela
diferenciada e desigual.
A autora pondera que é, com base na realidade na qual se encontra o ensino médio no
Brasil, que se há de tratar a concepção que se deseja implantar, visto que uma “concepção só
ganha concretude quando tomada em relação às condições reais de sua implantação”
(KUENZER, 2009, p. 37).
A incorporação da proposta de educação integrada ao ensino profissional técnico de
nível médio ocorre – ou não –, segundo Frigotto (2005), por razões econômicas e ideológicas.
A isso, ele denomina de travessia:
Se a preparação profissional no ensino médio é uma imposição da realidade, admitir
legalmente essa necessidade é um problema ético. Não obstante, se o que se persegue
não é somente atender a essa necessidade, mas mudar as condições em que ela se
constitui, é também uma obrigação ética e política garantir que o ensino médio se
desenvolva sobre uma base unitária para todos. Portanto, o ensino médio integrado ao
ensino técnico, sob uma base unitária de formação geral, é uma condição necessária
para se fazer a “travessia” para uma nova realidade (FRIGOTTO, 2005, p. 43, grifo
do autor).
deveriam propiciar maior integração, a fim de modificar a prática. Quanto ao que oportunizaria
aos alunos a integração na prática pedagógica, os dados não apresentaram elementos
significativos em relação ao aluno, e os professores se limitaram a afirmar que, ainda que
existam tentativas, tal prática, de fato, não ocorre.
Verificou-se que os alunos veem uma ligação acentuada entre as disciplinas técnicas,
mesmo que alguns tenham feito ligação entre as disciplinas das ciências exatas e as técnicas.
Como resultado, 92% dos alunos responderam reconhecer ligação entre as disciplinas do curso
e apenas um (8%) indicou desconhecimento. O resultado mostrou que a relação entre as
disciplinas técnicas é grande e a justificativa predominante foi que há repetições de conteúdos
entre as disciplinas do curso, fazendo referência à área de edificações e que, também, todas as
disciplinas técnicas se complementam, todas têm relação entre si. Como a investigação tinha
como foco a prática pedagógica das disciplinas de física e de matemática, abordou-se uma
questão específica direcionada à relação do que se trabalhava nessas disciplinas em articulação
com as técnicas. Ainda, incluiu-se uma questão que abordou as outras disciplinas das ciências
exatas e da natureza - química e biologia -, por serem, também, ciências importantes para a área
de edificações, e buscava-se um contraponto ou um consenso com a física e a matemática.
Quanto à percepção do aluno com relação às aulas de física, questionou-se se, em algum
momento, foi trabalhado o conteúdo dessa disciplina articulado ao do ensino técnico. Os
resultados apontaram que, para 69% dos alunos, isso acontecia algumas vezes; 23%
consideraram que sempre ocorria articulação; 8% declararam que tal prática poucas vezes foi
realizada. Contudo, nenhum aluno respondeu que raramente viu ser realizada articulação entre
física e conteúdo técnico. Em relação à articulação entre conteúdo de matemática e conteúdo
técnico, os resultados apontaram que 62% consideraram que algumas vezes ocorreu articulação;
para 23% dos alunos, ela sempre ocorreu; 15% afirmaram que poucas vezes e nenhum aluno
respondeu que raramente pôde verificar a articulação entre matemática e conteúdo técnico.
Depreende-se que, quanto à articulação da matemática e da física com as disciplinas
técnicas, os resultados foram similares, com diferenças mínimas. Há, consoante os dados
gerados, uma articulação entre os conteúdos das disciplinas de física e de matemática com os
conteúdos das disciplinas técnicas. Contudo, quanto à relação entre as disciplinas do curso,
predominou a afirmação de ocorrência de conexão entre as disciplinas técnicas, de modo que
somente 31% indicou a articulação entre a física e a matemática e as disciplinas técnicas. Dentre
estes, apenas 15% se referiu à química e à biologia. Infere-se, então, que a articulação percebida
pelos alunos está intimamente relacionada às ciências que são a base para a construção civil –
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em face dos resultados aqui apresentados, verifica-se que há muitas variáveis
circundando a prática docente, as quais ocasionam a imobilidade diante da proposta de
educação integrada a ser incorporada no ensino técnico de nível médio integrado ao ensino
médio. Acrescentam-se a isso momentos de desarticulação dos agentes educativos que cercam
o curso técnico integrado. Deve-se, portanto, investir em promoção de ações e estratégias para
a articulação de ideias, de processos que propiciem uma posição com foco para a
implementação efetiva da educação integrada. Para isso, é decisivo o compromisso da
instituição e dos educadores no que tange à proposta de emancipação social.
É fundamental a percepção de que a proposta de integração não significa um somatório,
superposição ou subordinação de conhecimentos uns aos outros. O significado deve ser o de
uma integração na perspectiva da totalidade, de se construir uma postura em se pensar como
um professor de formação profissional com base humana integral.
Os limitadores demonstraram que há certo desconhecimento dos professores e alunos
sobre o tema - educação integrada pela perspectiva humana - e não uma crítica elaborada que
justifique a não adesão à proposta de formação humana integral, politécnica. Depreende-se que
a resistência ao projeto não se mostra visível, latente, entretanto, há um conjunto de fatores
convergentes que apresentam uma insensibilidade, certo desinteresse para com o caráter
político-pedagógico da proposta.
No emaranhado da ação, que articula um projeto de ensino integrado em tempo integral,
delineia-se, pelos dados apresentados quanto à infraestrutura e outros aspectos circunstanciais
do IFG, como biblioteca, laboratório, área de descanso, lazer, esporte, cultura, que as condições
ainda não são adequadas. Dentre os elementos indicativos, predominam a falta de um refeitório,
a falta de uma área de descanso e vestuário, problemas com transporte, laboratórios que
necessitam ser revitalizados, ausência de biblioteca em uma unidade do Câmpus Jataí.
Nessa direção, articula-se uma interpretação de que a expansão dos tempos/espaços se
contrasta com a redução dos tempos/espaços, uma vez que, se o aluno gasta mais tempo na
escola e na sua dinâmica de alimentação e de transporte, ele “perde” tempo e também espaço
para uma alimentação saudável, um descanso merecido, uma higienização necessária. Há de se
entender que, de um objetivo de ampliação de tempo/espaço de escola, de ganhar tempo, poupar
tempo, acessar novos espaços, de forma inversa, ao aluno está sendo oferecido
redução/diminuição de tempo/espaço.
REFERÊNCIAS
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
______; RAMOS, Marise (Org.). Ensino médio integrado: concepção e contradições. São
Paulo: Cortez, 2005.
ISSN – 2448-4210 http://laborufc.wix.com/anaislaborufc Página 1212
Anais do Encontro Internacional Trabalho e Perspectiva de Formação dos Trabalhadores
Nov/2017 Vol. 01 nº 02
KUENZER, Acácia Zeneida (Org.). Ensino médio: construindo uma proposta para os que
vivem do trabalho. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
RAMOS, Marise. Concepção do ensino médio integrado. In: Seminário sobre ensino médio,
2008. Secretaria de Educação do Pará. 08-09 maio 2008. Disponível em:
<http://www.nre.seed. pr.gov.br/wenceslaubraz/arquivos/File/curriculo_integrado.pdf>.
Acesso em: 10 fev. 2013.
Abstract
The present work presents a reflection about the themes and situations that arise during the accomplishment of
the discipline of Stage I: observation of elementary education II and course FIC of the course of Licenciatura and
Scientific and Professional Education - EPCT of the Federal Institute of Education of Ceará. Being the stage is a
fundamental stage of the degree courses especially because it is in this discipline (training stage) in which the
student is immersed in his object of study and future workplace where he can simultaneously encounter the
relationship theory and practice And its variant factors (the activism of the school floor). The methodology used
to carry out this research was to survey bibliography regarding the theme stage and observation of qualitative
characteristic of the activities developed during the discipline. By itself an initial discipline of the field of the stage
of the course that has in its curricular matrix five destined disciplines of this moment of the teacher formation. We
will analyze the impressions obtained during this discipline and its relevance for the formative process of the
students in EPCT.
1 A RELEVÂNCIA DO ESTÁGIO
Ao longo das últimas décadas tem-se observado uma maior atenção por parte das
universidades em relação a formação dos futuros docentes sobretudo no que corresponde a
realização de estágio enquanto componente de formação necessário para a prática docente.
Segundo Pimenta; Lima (2004), o estágio é uma das partes significativas na formação
docente, pois permite ao acadêmico obter uma visão mais detalhada da realidade de seu futuro
campo de atuação, levando o mesmo a analisar os pontos por ele observados a partir das teorias
já estudadas (embasamento teórico).
É por meio da realização da observação e levantamento de dados que o acadêmico
desenvolve o seu estágio observatório visando compreender a realidade da ação docente com
450
Graduando em Licenciatura em Educação Profissional, Científica e Tecnológica do InstitutoFederal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará – IFCE. fjassuncaoaioros@bol.com.br
451
Graduando em Licenciatura em Educação Profissional, Científica e Tecnológica do InstitutoFederal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará – IFCE. raquel.siqueiradasilva@yahoo.com.br
seus desafios e expectativas, ou seja, é nesse momento em que o mesmo realiza um verdadeiro
diagnóstico do seu futuro campo de atuação. Nesse enfoque LIBÂNIO (2001), apresenta oito
aspectos gerais para a realização da coleta de dados da escola: caracterização socioeconômica;
estrutura física e material; pessoal integrante da comunidade escolar; estrutura, organização e
funcionamento; planejamento escolar; organização geral da escola; direção e gestão da escola;
avaliação.
Além disso, tal prática (estágio) auxilia nas reflexões e debates a respeito da função
social da escola a qual segundo SAVIANE (1997) refere-se ao atendimento educacional das
diversas classes sociais, de modo, que haja a disseminação do conhecimento proporcionando a
todos uma formação que venha a atender tanto os aspectos técnicos científicos quanto os sociais
dando-lhes assim subsídios necessários para que se tornem agentes transformadores do meio
em que vivem.
Diante dessa realidade, é possível compreender a relevância significativa do estágio no
processo de formação dos futuros docentes, pois permite aos mesmos obter novas experiências,
compartilhar conhecimento, interagir com a realidade escolar além de verificar se os
conhecimentos adquiridos ao longo da formação atendem as necessidades impostas à futura
profissão.
452
CIAVATTA, M. A formação integrada: a escola e o trabalho como lugares de memória e de identidade, v.3, n.3, 2005. Disponível em:
http://www.uff.br/trabalhonecessario/images/TN_03/TN3_CIAVATTA.pdf. P.4
453
RAMOS nó apresenta a proposta de “ensino médio de forma integrada – trabalho, ciência e cultura – que entendemos a necessidade de o
ensino médio ter uma base unitária sobre a qual podem se assentar possibilidades diversas de formações específicas: no trabalho, como
formação profissional; na ciência, como iniciação científica; na cultura, como ampliação da formação cultural. Vide: RAMOS, M. N.
Concepção do Ensino médio integrado. Disponível em: http://www.iiep.org.br/curriculo_integrado.pdf P. 10
454
No Estado do Ceará “Seguindo está política educacional o estado do Ceará tem sido uma referência por atuar tanto na implementação de
Escolas Estaduais e Educação Profissional e implementação de Escola de Ensino Médio de Tempo Integral. As Escolas Estaduais de Educação
Profissional são instituídas no Ceará a partir de 2008. Essas escolas desenham a possibilidade de um futuro mais justo, mais equânime e com
mais oportunidades para os jovens cearenses, acenando para a materialidade da experiência de um maior exercício de cidadania. Atualmente
são 115 Escolas Estaduais de Educação Profissional. Escolas com funcionamento em tempo integral que organizam e integram o ensino médio
à educação profissional, configurando cenários de cidadania que articulam o direito à educação e ao trabalho”. Vide: CEARA, Secretaria de
Educação do Ceará, Escolas Regulares em Tempo Integral na Rede Estadual de Ensino In: http://www.seduc.ce.gov.br/index.php/projetos-e-
programas?id=10229:escolas-regulares-em-tempo-integral-na-rede-estadual-de-ensino; CEARA, Secretaria de Educação do Ceará, Escolas
Estaduais de Educação Profissional no Ceará In: http://www.seduc.ce.gov.br/index.php/educacao-profissional
455
“O diferencial das escolas de ensino médio em tempo integral, segundo o Governo, é dar a possibilidade ao aluno de ele mesmo montar
seus componentes curriculares com base em aptidões e objetivos profissionais, desde que estes sigam eixos temáticos sugeridos pela Seduc,
como: educação em direitos humanos; educação científica; formação profissional em informática; educação ambiental e sustentabilidade;
mundo do trabalho; comunicação, uso de mídias, cultura digital e tecnológica; esporte, lazer e promoção de saúde; artes e cultura, entre outros.”
SEVERO, Luana. 26% das escolas do CE serão de tempo integral até o fim do ano. In O povo – Disponível em:
http://www.opovo.com.br/jornal/cotidiano/2017/03/26-das-escolas-do-ce-serao-de-tempo-integral-ate-o-fim-do-ano.html
(...) que já atende a cerca de 10 mil alunos, é um programa que visa não somente o
aumento da permanecia do aluno no ambiente educacional, mas a potencialização do
ensino e das aptidões das crianças e jovens matriculados na rede municipal de ensino.
O principal projeto dessa natureza são as Escolas Municipais de Tempo Integral
(ETIs), que já são 20 unidades em Fortaleza. ETIs, a Escola Francisco Suderland
Bastos Mota, atende a alunos surdos e ouvintes, com o estudo obrigatório da Língua
Brasileira de Sinais (Libras). E a unidade Dra. Francisca de Assis Canito da Frota tem
uma proposta pedagógica voltada para as questões ambientais. Além das Escolas de
Tempo Integral a Prefeitura de Fortaleza desenvolveu, por meio de parcerias entre
secretarias e com outras instituições, programas que suplementam o conteúdo
oferecido nas escolas de tempo parcial e ampliam a carga-horária dos alunos.
456
(FORTALEZA,2016,p1)
3 METODOLOGIA
Desta pesquisa e qualitativa e documental por tratar de uma analise de dados obtidos
durante as disciplinas de Estágio I e II do curso de Licenciatura de Educação Profissional
Científico e Tecnológico e os dispositivos normativos das políticas educacionais
implementadas no estado do Ceará por meio da secretária de educação do estado do Ceará e do
município de Fortaleza.
Segundo Gil;
4 CONSIDERAÇÕES
Sabe-se que o estágio I do formando em EPCT destina-se a observação no fundamental
II curso FIC, tendo em vista proporcionar ao futuro docente um primeiro contato com a
realidade encontrada dentro das instituições de educação que proporcionam cursos de
qualificação profissional, ou seja, permite ao discente conhecer melhor as particularidades do
seu futuro campo de atuação (educação profissional).
456
Dados obtidos apartir dos levantamentos feito pela Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza Disponível em: FORTALEZA, Prefeitura
Municipal, CANAL DA EDUCAÇÃO, Educação em Tempo Integral In: http://educacao.fortaleza.ce.gov.br/index.php/educacao-integral
457
CIAVATTA, M. A formação integrada: a escola e o trabalho como lugares de memória e de identidade, v.3, n.3, 2005. Disponível em:
http://www.uff.br/trabalhonecessario/images/TN_03/TN3_CIAVATTA.pdf. P.6
458
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa.In:JOYE, Cassandra Ribeiro. Metodologia da pesquisa em turismo: semestre II,
Fortaleza:UAB/IFCE, 2009. ISBN 978-85-63953-14-8 P28.
Assim precisamos entender o estágio não só como uma disciplina isolada e sim como
um elemento ímpar do processo formativo do futuro docente para que isso ocorra de forma
adequada faz-se necessário que tal disciplina venha ter sua elaboração dialogada com as demais
disciplinas do curso e o tempo em que esta será ofertada para que se possa imprimir nos
discentes as características necessárias à sua formação.
Tendo como ponto de partida a missão da escola que é “Proporcionar as crianças
educação e situações prazerosas de descobertas e aprendizagem, com atenção ao seu
desenvolvimento integral, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social para
contribuir na formação de pessoas cidadãs conscientes de seus direitos e deveres. Suas ações
se pautarão na importância do brincar que é um componente de suma importância na
formação do cidadão de direitos.” Finalizamos nosso estágio com sensação de dever cumprido
e vendo que aqueles pequenos nos ajudaram muito em cada descoberta nova para nós e que
foi gratificante fazer parte do corpo docente da escola.
Percebemos que nessa etapa da formação e da educação aprendemos que vivem em
constantes descobertas tanto dentro como fora da sala de aula (ligação entre o conhecimento
teórico visto na formação acadêmica da universidade) vemos a necessidade que aflora de
entender tudo que os rodeia foi bem estimulante para nós que passamos o tempo do estagio.
Através das diversas formas e dinâmicas da escola e mais ainda na área da educação
profissional.
REFERÊNCIAS
BRASIL, LBD, Lei9394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em:
<www.mec.gov.br>. Acessado em 23 dez. 2016.
FERRARI, Márcio. Maria Montessori: a médica que valorizou o aluno. Revista Nova Escola,
p. 2-4, 2014
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. In:JOYE, Cassandra Ribeiro.
Metodologia da pesquisa em turismo: semestre II, Fortaleza: UAB/IFCE, 2009. ISBN 978-85-
63953-14-8 P28.
GOLBERT, Clarissa Seligman. Jogos Matemáticos Athurma. 2ª Ed. Porto Alegre: Mediação,
vol.1, 2002.
LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2004.
SEVERO, Luana. 26% das escolas do CE serão de tempo integral até o fim do ano. In O
POVO – Disponível em: <http://www.opovo.com.br/jornal/cotidiano/2017/03/26-das-escolas-
do-ce-serao-de-tempo-integral-ate-o-fim-do-ano.html>. Acesso em: 05 dez. 2016.
Abstract
Music presents itself as an alternative methodological tool to the traditional school practice, which in an
interactive and playful way, can make possible the comprehension of more complex contents. Therefore, the
present study aimed to evaluate the potential of music, as complementary alternative methodology in the teaching
and learning process of science contents, in Elementary Education II Thus, the present study is characterized as
an action research of a qualitative and quantitative nature. Data were obtained through direct and participant
field observation. Four groups from 6th grade from two schools from Jaguaribe municipal education network,
Ceará state, participated in the study. In order to obtain the data, a questionnaire and interview with the 6th-year
science teacher, of the participating classes were applied in order to identify the contents of greater complexity
and, therefore, difficult to assimilate. From this, a parody lesson was elaborated, in which the playback of the
song "Amei TeVer" by the singer and composer Tiago Iorc was used as a methodological resource, in order to
approach and fix the indicated content, this class was given in a class from each school. The other two control
groups were given a traditional, expositive class of the content. The best learning and participation results were
obtained by the classes in which parody teaching methodology was used. Therefore, it is concluded that music
arouses students' interest in content and stimulates learning in a creative and spontaneous way.
Key Words: Methodological Alternatives. Assimilation of Content. Science Teaching. Ludic. Parody.
459
Licenciada em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)
460
Professora do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE) – Examinadora.
461
Professora do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE) – Orientadora.
462
Professora do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE) – Orientadora.
1 INTRODUÇÃO
A partir de 1971, por meio da Lei nº 5.692, o ensino de Ciências passou a fazer parte
dos currículos escolares (LEITE; ARCHILHA; CARNEIRO, 2016; KRASILCHIK, 2011).
Atualmente, o ensino de Ciências no nível Fundamental é compreendido como necessário, para
que a criança possa entender os fenômenos naturais e relacioná-los com a realidade cotidiana
(ARMSTRONG, 2012; UNICENTRO, 2012).
Portanto, o professor deve diversificar sua prática docente, adotando estratégias de
ensino que favoreçam a assimilação de conteúdos de maior complexidade (KRASILCHIK,
2011; SANTANA, 2010). Ainda conforme os referidos autores, a aplicação de jogos didáticos,
a utilização de modelos anatômicos, o uso de paródias constituem-se alternativas metodológicas
valiosas, para o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem das ciências, bem como, o
uso de outras expressões artísticas.
Diante disso, o interesse por essa temática surgiu a partir das experiências vivenciadas
durante o estágio curricular realizado durante o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas,
onde foi possível se perceber que as atividades lúdicas propiciavam um melhor ambiente de
aprendizagem, pois despertam o interesse dos estudantes e melhoram sua concentração e a
assimilação dos conteúdos trabalhados em sala. Pois conforme Silva, Pereira e Melo (2015), a
forma lúdica de ensinar minimiza a tensão própria dos processos avaliativos.
Contudo na educação infantil e no ensino fundamental, a utilização da música é feita de
forma lúdica, sem que haja cobrança pedagógica, já no ensino fundamental II, a música é
raramente utilizada, porém, o professor interessado em enriquecer sua prática pedagógica pode
incluir no planejamento de suas atividades a música como recurso metodológico, permitindo
ao aluno desenvolver a análise e interpretação da letra, defendendo-a, rebatendo-a ou
acrescentando-lhe algo (PORTAL DA EDUCAÇÃO, 2016).
De acordo com o PCN de Ciências Naturais (1998), as teorias científicas, por sua
complexidade e alto nível de abstração, não são passíveis de comunicação direta aos alunos do
ensino fundamental, portanto, seu ensino requer adequação dos conteúdos para o nível
proposto. Logo, a reaplicação desta metodologia alternativa de ensino em um grupo amostral
considerável, poderá confirmar à contribuição de forma significativa para o processo de ensino-
aprendizagem de Ciências, em turmas do Fundamental II, de escolas da rede pública do
município de Jaguaribe, Ceará.
2 MÉTODO
O presente estudo se apresenta como uma pesquisa de natureza exploratória, de caráter
quali-quantitativo, realizado por meio da observação em campo, direta e participante
(MARCONI: LAKATOS, 2011). Participaram do estudo 70 alunos e um professor do 6º ano
do ensino Fundamental II, das escolas municipais E. E. F. Franklin Monteiro Gondim e E. E. I.
Alice Diógenes, sediadas no município de Jaguaribe, Ceará.
A metodologia abaixo proposta foi aplicada em duas turmas de 39 alunos (com aula
expositiva e paródia), as outras duas turmas de 31 alunos, turmas testemunhas, assistiram
somente à aula expositiva. A participação no presente estudo foi confirmada mediante a
assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, pelos pais ou responsáveis pelas
crianças.
Para a obtenção dos dados realizou-se a aplicação de um questionário aberto e entrevista
com o professor de Ciências do 6º ano das duas escolas (turmas) participantes, a fim de
identificar os conteúdos de maior complexidade, portanto, de difícil assimilação. A etapa
seguinte consistiu na elaboração de uma aula, na qual foi utilizado como recurso metodológico
complementar o playback da música “Amei Te Ver” do cantor e compositor Tiago Iorc, por
meio da paródia para a abordagem e fixação do conteúdo: As Propriedades do Ar
(GEWANDSZNAJDER, 2012).
Após a aula expositiva e apresentação da paródia, o assunto foi discutido, sendo a
atividade empregada como metodologia complementar de reforço, no sentido de promover a
fixação do conteúdo. Em seguida a realização das etapas descritas, procedeu-se a avaliação do
conteúdo trabalhado, por meio da aplicação de um questionário também aberto, nas quatro
turmas participantes deste estudo.
Após a coleta dos dados, realizou-se a análise das frequências de acertos em função da
metodologia empregada, utilizando-se para tanto, o programa estatístico SAS, v.8 (2000). Para
efeito de comparação entre os percentuais de certo utilizou-se o teste de qui-quadrado (ᵡ2)
considerando-se 5% de probabilidade de erro. Em seguida, procedeu-se a discussão dos
resultados.
3 RESULTADOS
O professor de Ciências das escolas participantes desta pesquisa é licenciado em
Ciências Biológicas, e exerce a atividade docente há pelo menos um ano e meio, atendendo a
uma carga horária semanal de duzentas horas. Segundo o referido docente, os recursos
metodológicos mais utilizados em sala, durante a suas aulas, são o livro didático, o quadro e o
pincel, eventualmente utiliza o kit multimídias, pois não há disponibilidade para todos. Porém,
o professor considera que o tempo destinado ao planejamento das atividades escolares é
insuficiente para elaborar aulas mais dinâmicas e participativas, ressaltando ainda, que nas
escolas analisadas, não existem espaços destinados à experimentação, além disso, as salas de
aula estão sempre superlotadas.
No tocante, a avaliação dos conteúdos ministrados, o professor afirmou utilizar a
avaliação oral, realizada após a aula expositiva, a resolução das questões do livro didático e a
aplicação de avaliações individuais. Apesar de não empregar metodologias de ensino
complementares, em função do tempo reduzido para o planejamento de tais atividades, o
professor considera satisfatório o desempenho das turmas avaliadas. Entretanto, para Krasilchik
(2011), o professor deve sempre diversificar a prática de ensino, adotando estratégias que
favoreçam a assimilação do conteúdo.
Em se tratando da análise ao livro didático adotado nas escolas estudas, o professor
considera a obra utilizada em ambas as escolas investigadas, como de boa qualidade. Em sua
opinião, o conteúdo mais complexo para o 6º ano do Fundamental II se refere “as propriedades
do ar”, por se tratar de um assunto de maior nível de abstração, sendo necessária a utilização de
alguma alternativa metodológica complementar à aula expositiva, para facilitar a assimilação
do conteúdo.
Após a exposição do conteúdo indicado pelo professor, os participantes da pesquisa
responderam a um questionário elaborado especificamente para avaliar a amostra selecionada.
Para a questão 01: explique por que o ar é expansível? Foram obtidos os seguintes resultados,
nas turmas em que não se aplicou a metodologia, 83,8% dos estudantes respondeu
satisfatoriamente à questão. Já as turmas que utilizaram além da aula expositiva, a paródia,
obtiveram 82% de acertos (Tabela 1). Entretanto, essa diferença não foi significativa, no que se
refere à questão 01, ambas as turmas atingiram igual percentual de acertos. A esse
questionamento obtiveram-se as seguintes respostas:
“Porque com a expansibilidade a pessoa sente o cheiro de longe da comida” (aluno da
turma A)
Além disso, é importante ressaltar que no presente estudo, quando se anunciou que seria
utilizada uma paródia durante a exposição do conteúdo, os estudantes mostraram-se
entusiasmados (“Oba!”) em responder ao questionário, inclusive o número de participantes foi
maior nas turmas em que se utilizou a música como forma complementar a aula expositiva.
Pois a música possibilita trabalhar aspectos significativos como, por exemplo, a inclusão da
ciência no cotidiano do aluno (Oliveira et al., 2011).
Tabela 02. Percentual de acertos e de erros em função do tratamento, com música (CM)
e sem música (SM).
COM MÚSICA SEM MÚSICA
Acertos (%) Erros (%) Acertos (%) Erros (%)
75ª 25c 49,19b 50,81b
Letras iguais na mesma linha, não diferem entre si pelo teste de ᵡ (P<0,05); letras diferentes na mesma linha
2
Assim, por meio deste estudo constatou-se ainda que, nas turmas testemunhas, que
assistiram apenas a aula expositiva, além do menor percentual de acertos obtidos, o percentual
de erros também foi elevado. Enquanto, nas turmas que utilizaram a música, o percentual de
acertos foi significativamente maior (p<0,05) que o de erros, o qual pode ser considerado baixo
(Tabela 2). Esses resultados sugerem que a música pode ser utilizada como ferramenta
metodológica complementar às aulas de Ciências, no 6º ano do ensino Fundamental II, pois ela
promoveu o entusiasmo dos alunos proporcionando com isso, um ambiente de aprendizagem
mais prazeroso.
4 CONCLUSÃO
Diante do exposto conclui-se que a música, na forma de paródia conforme foi
empregada neste estudo, contribui de forma significativa para o processo de ensino-
aprendizagem de Ciências, em turmas do 6º ano do Fundamental II, de escolas da rede pública
de Jaguaribe, Ceará, por despertar o entusiasmo dos estudantes e promover um ambiente de
aprendizagem mais favorável à assimilação do conteúdo.
REFERÊNCIAS
ARMSTRONG, D. Metodologia do ensino de ciências biológicas e da natureza. 1. ed. São
Paulo: Intersaberes, 2012. 66 p. Disponível em:
<http://ifce.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788582121955/pages/67>. Acesso
em: 04 jul. 2016.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
314 p.
ABSTRACT
Report of professional intervention in the field of Quality of Life at Work (QWL) applied in the industrial context.
The Ergonomics of Applied Activity to Quality of Life at Work (EAA_QVT) method was used as an alternative for
preventive intervention in the situations diagnosed. The first stage of the intervention consisted in the collection
of quantitative and qualitative data that identified work situations that fomented malaise, in which the Inventory
of Work Quality of Life Evaluation (IA_QVT) was used, this account has five macro-ergonomic dimensions : work
conditions; organization of work; socio-occupational relations; recognition and professional growth. The second
stage of the intervention was due to the fact that in the quantitative data of the IA_QVT three categories were
identified as more problematic: work organization, recognition of professional growth and socio-professional
relations. It is understood that these three categories need to be better understood, and for this we have developed
the Understanding to Transform instrument with clear reference to the principles of Activity Ergonomics. With the
IA_QVT we obtained results that point to a global average on the scale (ranging from 1 to 10) of representations
according to the QVT is at 7.07. That is, the overall average considering the five categories of analysis included
in the IA_QVT is within the moderate wellness zone. Already in the second instrument can be perceived the
existence of coherence with the quantitative results of the IA_QVT. Finally, it is understood that only those who
experience the work activity are able to identify and propose changes in the productive organization.
1 INTRODUÇÃO
Nas primeiras décadas do século XXI vivenciamos um complexo e dinâmico cenário de
transformações no mundo do trabalho. Tal realidade éreflexo do processo de reestruturação
463
Docente do curso de Psicologia do Centro Universitário Católica de Quixadá. leonardolima@unicatolicaquixada.edu.br.
464
Discente do curso de Psicologia do Centro Universitário Católica de Quixadá. mara.rakel.10@gmail.com
produtiva que se inicia por volta da década de 1970 e se caracteriza, dentre outros, pela
proliferação das políticas gerenciais que visam à flexibilização e precarização das condições de
contratação dos trabalhadores, alémda vivência temporal e produtiva mais intensificada das
jornadas de trabalho.
Tal contexto de inserção e permanência no mercado de trabalho obviamente acarreta em
consequências na saúde física e psicológica dos trabalhadores. AOrganização Internacional do
Trabalho (OIT) em seu relatório de 2013 aponta um preocupante cenário:
As novas formas de organização do trabalho têm, “apesar de seu discurso voltado para
a participação, provocado pressão, o excesso de exigências no trabalho e a ameaça da demissão”
(LIMA, MENDESeCOSTA, 2015, p. 202). A reestruturação produtiva tem sido pautada pelo
individualismo e pela competitividade e, assim, percebe-se a corrosão das relações de trabalho,
processo denominado por Dejours (2004, p. 30) de “desestabilização do coletivo de trabalho”.
Este é o contexto do mercado de trabalho o qual se insere a experiência relatada neste texto. A
realidade de intensificação do trabalho, riscos à saúde dos trabalhadores, flexibilização da
produção, competitividade e outras características condizentes ao cenário após o processo de
reestruturação produtiva, constituem anteparo para a problematização e intervenção dos
pesquisadores com objetivo de diagnosticar e intervir na saúde dos trabalhadores industriais a
partir das contribuições sobre a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) com ênfase na
Ergonomia da Atividade.
2 O MÉTODO
O método utilizado esteve em consonância com a EAA_QVT (Ferreira, 2015). Neste
sentido buscou-se diagnosticar, analisar e propor intervenções na atividade de trabalho de
determinada amostra de trabalhadores com fins de investigar sobre as situações-problemas que
implicam em risco à qualidade de vida no trabalho destes profissionais, bem como sobre as
possibilidades de transformação destas situações.
O campo em questão trata-se de uma indústria de calçados localizada no interior no
Estado do Ceará. Os sócios fundadores são ex-colaboradores de uma empresa calçadista que
encerrou suas atividades em meados do ano de 1998. Tem aproximadamente 3000
Colaboradores (as) no total. A produção diária é de aproximadamente 35.000 pares de calçados,
desde a elaboração do modelo, processamento matéria prima, procedimentos de montagem e
acabamento do calçado, culminando com o encaixotamento para que todo o produto seja
encaminhado ao público alvo, ou seja, mercado consumidor nacional e estrangeiro.
A primeira etapa da intervenção consiste, portanto na aplicação de instrumentos para o
diagnóstico sobre as situações-problemas que afetam a QVT. Tais informações servirão, numa
segunda etapa da intervenção, como referencial para o diálogo coletivoafim de elaborar coletiva
de estratégias de ações práticas capazes de transforma a realidade e agregar vivências de
qualidade de vida no trabalho.
Para tanto se utilizou de abordagem, com viés preventivo e contra-hegemônico, que
considera o papel do trabalhador e o significado do trabalho para a qualidade de vida no
trabalho. Na EAA_QVT “o foco está em remover ou atenuar problemas gerados de mal-estar
ISSN – 2448-4210 http://laborufc.wix.com/anaislaborufc Página 1230
Anais do Encontro Internacional Trabalho e Perspectiva de Formação dos Trabalhadores
Nov/2017 Vol. 01 nº 02
nos contextos de produção, atuando, para tal, nas condições, na organização e nas relações
socioprofissionais de trabalho” (MEDEIROS e FERREIRA, 2015, p.172)
2.1DIAGNÓSTICO
Segundo Ferreira & Torres (2015), para efetivação da EAA_QVT deve-se, após o
processo de aproximação institucional e pactuação ética acerca da pesquisa, realizar a
sensibilização do público-alvo e aplicação de questionário qualitativo e quantitativo
denominado Inventário de Avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho (IA_QVT).
Este questionário possibilita mapear indicadores (comportamentais, epidemiológicos e
perceptivos) que avaliam, quantitativamente, cinco dimensões macro-ergonômicas: condições
de trabalho; organização do trabalho; relações socioprofissionais; reconhecimento e
crescimento profissional. Tais dados apontam para tendências de percepção na ótica dos
trabalhadores acerca qualidade de vida no trabalho que realizam.
A etapa preliminar de atuação consistiu, portanto, de aproximação institucional e
esclarecimentos éticos junto ao corpo de diretores da indústria, assinatura de Termo de
Anuência e aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa (Parecer N. 2.120.715).
Após tal aproximação institucional foi estabelecido que os pesquisadores deveriam priorizar
(como amostra para diagnóstico) os trabalhadores do setor administrativo e os líderes de
produção.
Sendo assim, a amostra coletada foi referente à aplicação do IA_QVT junto a 117
trabalhadores do referido setor da indústria. Os respondentes do inventário atuam em diferentes
setores como: recursos humanos, faturamento, compras, laboratório, estagiários, segurança no
trabalho, manutenção, montagem, modelagem, palmilha, acabamento, expedição, meio
ambiente e programação.
O IA_QVT é constituído por cinco categorias de análise que estruturam conceitualmente
a QVT sob a percepção dos respondentes (Ferreira & Torres, 2015). Tais categorias
fundamentam os itens do inventário, coleta e análise dos dados, sendo eles: a) Condições de
Trabalho, que indica as condições físicas, materiais, instrumentais e o suporte; b) Organização
do Trabalho, que expressa às variáveis de tempo, controle, traços das tarefas, sobrecarga e
prescrição; c) Relações Sócio-Profissionais, o qual destaca as interações sócio profissionais em
termos de relações com os pares e com as chefias, comunicação, ambiente harmonioso e
conflitos que influenciam a atividade de trabalho; d) Reconhecimento e Crescimento
Profissional que seria as variáveis relativas ao reconhecimento no trabalho e ao crescimento
profissional, que influenciam a atividade de trabalho; e e) Elo Trabalho-Vida Social, que
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expressa as percepções sobre a instituição, o trabalho e as analogias com a vida social que
influenciam a atividade de trabalho.
3 RESULTADOS QUANTITATIVOS
Para o processo de análise e interpretação, os dados quantitativos são organizados
segundo uma “cartografia psicométrica” (Ferreira e Ferreira, 2015, p. 188) que facilita o
diagnóstico macro-ergonômico por meio da visualização das tendências de percepção da
amostra de trabalhadores sobre a qualidade de vida no trabalho. Porém, para a formulação de
propostas que envolvam a QVT faz-se necessário uma complementar coleta de dados para o
diagnóstico micro-ergonômico das situações-problemas geradoras de mal-estar no trabalho.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Zona de Transição
Mal-estar Bem-estar
Mal-estar intenso Bem-estar intenso
moderado negativo positivo moderado
Organização do
6,38 0% 77,7% 22,2%
Trabalho
Relações
6,75 43,7% 56,3% 0%
Socioprofissionais
Reconhecimento e
Crescimento 6,97 42,9% 57,1% 0%
Profissional
Elo Trabalho-
7,18 60% 30% 10%
Vida Social
Fonte: Elaborado pelos autores.
partiu da própria gestão da indústria por exercerem função estratégica na condução das tarefas
de todo o setor produtivo.
A escolha pela aplicação deste instrumento no próprio momento e espaço de trabalho
seguiu o interesse duplo de, por um lado, coletar informações de maneira objetivas e fidedignas
a real experiência dos trabalhadores em suas respectivas atividades e, por outro lado, fomentar
auto-observação dos trabalhadores a partir de instrumento indireto (Lima e Batista, 2013) capaz
de promover reflexões referentes às suas ações, determinantes e impedimentos durante a própria
execução de suas tarefas.
Neste momento quais são os Como as relações pessoais estão Como e por quem a sua ênfase
impedimentos para a boa facilitando ou dificultando a boa para boa realização do trabalho
realização de seu trabalho? realização do seu trabalho? tem sido reconhecida?
Muita coisa nova ao mesmo tempo De um modo geral é facilitador, No meu ponto de visa, não estou
pois a equipe como um todo possui sendo reconhecida
um pensamento coletivo
Diversidade de modelos Existe comunicação eficaz, Tenho sido elogiado pelo meu líder
facilitando relações satisfatórias direto pelas contribuições que faço
no trabalho
Sobrecarga e funções e afazeres: Prezo muito pelas boas relações Estou sempre me dedicando por
tenho que acompanhar a produção pessoais com meus colegas um salário melhor, para ajudar a
e o funcionamento do sistema novo minha família
Grande demanda por modelos Há divergências, discussões Esta pergunta promove uma boa
novos, variedade de materiais e diárias, mas sempre com objetivo reflexão. Procuro sempre trabalhar
falta de tempo para conhecer o de agilizar o processo produtivo. para atender as necessidades da
novo processo. Imediatismo Não existe comigo “ficar de mal”. minha superior. Mas muitas vezes
É olho no olho e se relacionar bem.
Quando se ama o que faz, tudo fica que bato a minha meta não sou
fácil de resolver. reconhecida.
Troca de sistema e os materiais que Temos reconhecimento, mas não é
não chegam no período correto o que devíamos ter. Devido tanta
cobrança e esforço de nossa parte,
às vezes isso tira a motivação
Constantes alterações no processo Tenho sido pouco reconhecido pelo
de modelagem trabalho que faço, enquanto a
cobrança é muito maior.
Normalmente não sei se estou bem
ou mal
Muitos consertos e peças faltando Tem sido reconhecido através de
treinamentos
Como eu não tenho muito
reconhecimento do meu trabalho
eu procuro fazer as minhas próprias
avaliações do meu trabalho
Fonte: Elaborado pelos autores.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente relato de experiência é uma ação em continuidade. A pesquisa nasceu a partir
da parceria entre Centro Universitário Católica de Quixadá (Unicatólica) e uma indústria de
calçados localizada na região, coma finalidade de diagnosticar e estimular práticas de QVT no
âmbito do trabalho cotidiano. O compromisso de ambas as instituições esteve, desde a
assinatura do convênio até a divulgação dos resultados do IA_QVT, pautado no diálogo entre
teorias, métodos e o campo de trabalho com o objetivo de constante aprimoramento destas três
dimensões no tocante ao objeto em estudo.
Até a data de submissão deste relato de experiência para a presente revista científica
(setembro de 2017) os pesquisadores haviam finalizado o período de coleta e tabulação dos
dados quantitativos e qualitativos. A partir de então, foi organizado relatório de devolutiva para
apreciação dos resultados por parte da diretoria da indústria. Após tal análise será discutido
sobre estratégias de ação que podem contribuir para melhoria na percepção da QVT por parte
dos trabalhadores.
Importante ressaltar que, por coerência institucional, a aprovação e planejamento das
futuras ações de intervenção por parte da diretoria da indústria é uma etapa crucial. No entanto,
metodologicamente - assim como recomenda Ferreira (2015) sobre o método EAA_QVT e
todos os pesquisadores que atuam no campo da Ergonomia da Atividade - é defundamental
importância que os próprios trabalhadores sejam os interlocutores para as possíveis
transformações na realidade de trabalho com relação à QVT.
A dimensão do trabalho real deve ser problematizada no sentido de discutir
coletivamente sobre os impedimentos e constrangimentos que implicam mal-estar nas rotinas
de trabalho. Compreende-se que somente aqueles que vivenciam a atividade de trabalho são
capazes de identificar e propor mudanças na organização produtiva. Tais proposições podem,
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REFERÊNCIAS
ALMEIDA, R. G.A ergonomia sob a ótica anglo-saxônica e a ótica francesa.Revista
Vértices. Campos dos Goytacazes - RJ, v. 13, n. 1, p. 115-126, jan./abr., 2011.
ANTUNES, R. L. C.O caracol e sua concha: ensaios sobre a nova morfologia do trabalho.
São Paulo: Boitempo. 2005.
DEJOURS, C. Subjetividade, trabalho e ação. Revista Produção: Florianópolis – SC, v.4, n.3,
2004.
MÉSZAROS, I. (2002). Para além do capital. Tradução de Paulo César Castanheira e Sérgio
Lessa. São Paulo: Editora da UNICAMP e Boitempo Editorial.
1 INTRODUÇÃO
Esse trabalho trata da temática da formação docente em matemática na Educação de
Jovens e Adultos que passou a ter uma atenção sensível nas instituições formadoras, no tocante
aos desafios de compreender e favorecer elementos que contribuam para uma proposta de
ensino de matemática na EJA e que atenda as novas exigências do mundo globalizado. Dessa
forma, traçamos algumas questões de estudo que propõe refletir sobre essa formação. Que peso
ganha a formação inicial na base de conhecimentos do profissional, ou seja, no repertório dos
conhecimentos profissionais e dos saberes docente de matemática da EJA? Será que após a
formação inicial, licenciatura em matemática, o profissional docente adquire uma base de
conhecimentos didático-pedagógicos que ele deve mobilizar no momento em que atua no
espaço escolar? Para quem o professor de matemática da EJA deve ensinar? E como ensinar?
Percebe-se o quanto é específico o ensino nessa modalidade e como tal ensino é carente
de uma formação adequada e sólida na área desse saber. Desse modo é necessário nessa
465
Docente da Rede Municipal de Ensino. taciovsilva@yahoo.com.br
466
Docente da Universidade Federal Rural do Semi-Árido. magnusgorky@gmail.com
467
Docente do Instituto de Educação Superior Presidente Kennedy. franvand@bol.com.br
468
Docente do Instituto Federal da Paraíba. Adriana.azevedo@ifpb.edu.br
modalidade de ensino professores com perfil para ensinar aos jovens e adultos e que mobilize
orientações didático-pedagógicas, metodologias e referencial teórico que servirá como base a
toda prática desenvolvida na escola.
A formação inicial não discute com clareza esses aspectos, pois conforme Brito, Neves
e Martins (2004, p. 287), “A maioria dos cursos de Licenciatura em Matemática tem
privilegiado uma concepção formalista dos conteúdos matemáticos”, isso revela a deficiência
na formação inicial no campo da docência mostrando a ausência de um currículo próprio que
norteie à práxis docente no âmbito de uma proposta de ensino diferenciada para os jovens e
adultos. Não há ajuste entre os saberes oriundos da formação inicial com os saberes necessários
à aprendizagem dos educandos dessa modalidade.
Estudos apontam que a formação inicial não dá conta de formar profissionais com
saberes e competências nas diversas modalidades de ensino nas quais a matemática está
inserida. A citação especifica que,
No entanto, para resolver essa questão deve-se obter as bases teóricas e os meios
conceituais que devem configurar um programa de formação inicial. Dessa forma, é preciso
mobilizar os conhecimentos que o professor deve ter para ensinar assim como os seus atributos
profissionais em benefício do aluno e de si próprio, no tocante à reflexão sobre a prática no
processo constante de construção e de reconstrução da aprendizagem.
Associamo-nos às ideias defendidas por (Bicudo, 2005), quando afirma que não é
possível que se queira ensinar algum conteúdo para alguém sem que se conheça esse conteúdo.
O professor em geral, e os de matemática privilegiam, normalmente, alguns conteúdos que já
conhece e julgam importantes de serem aprendidos por seus alunos. No entanto, ao se tratar do
público da EJA, é necessário que o professor saiba para quem está destinando os conteúdos
matemáticos considerando as especificidades dos alunos: pessoas já experientes na vida,
envolvidos no mundo do trabalho, com idades defasadas e com expectativas específicas em
relação à escola, aos professores e ao conhecimento que busca conquistar.
Na EJA, há uma “naturalização” na condução de um campo de atividade que, via de
regra, é tratada como um desdobramento da escola chamada regular: a que se destina para os
alunos em idade escolar. Dessa forma a pesquisa assume o pressuposto de que: o professor de
matemática que atua na EJA precisa mobilizar competências e saberes profissionais específicos
para elaborar e desenvolver atividades didático-pedagógicas que os permita atender às
especificidades dos educandos da EJA.
É necessária uma maior atenção com os docentes em formação, privilegiando uma
capacitação que lhes é específica e que esteja relacionada com a função que esses vão
desempenhar.
A formação de professores, na sua trajetória tem discutido e buscado meios de conferir
ao docente uma formação capaz de responder às exigências e necessidades da sociedade.
Formar professores para esse novo paradigma da educação exige uma formação ampla, porém,
centrada no que se vai ensinar, relacionada aos aspectos socioculturais e nas especificidades
dos alunos. Rêgo (2006, p. 72) relata que, “[...] os professores precisam aprender o quê ensinar
e como ensinar, através da atualização e aperfeiçoamento ao longo de sua vida, equilibrando a
competência pedagógica com a competência na disciplina ensinada.”
Dessa forma defendemos uma maneira de ensinar em que se associem os saberes docentes
e as competências num âmbito geral, ou seja, não fazer com que o professor priorize só a
competência técnica dos conteúdos em detrimento as outras competências. Assim, acreditamos
que:
Encarar a docência como profissão é entender que ela tem sua linha de compreensão
imbricada na profissionalização. Gauthier, Nuñez e Ramalho (2003, p. 50) acreditam que “A
profissionalização é entendida como o desenvolvimento sistemático da profissão,
fundamentada na prática e na mobilização/atualização de conhecimentos especializados e no
aperfeiçoamento das competências para a atividade profissional.”.
O tema profissionalização apesar de estar presente nas últimas décadas nos congressos
acadêmicos e bases de pesquisas no país não se mostram com a mesma intensidade nas
instituições formadoras e nos programas de formação inicial e continuada. A ausência dessa
temática como componente curricular no currículo dos cursos de formação de futuros
professores nos leva a questionar: como fazer com que a profissionalização seja incorporada ao
repertório da classe docente?
anteriores pela escola e o aumento da demanda indica um número cada vez maior da presença
de adolescentes e jovens recém-saídos do Ensino regular, onde tiveram passagens acidentadas
e buscam a EJA visando superar essas dificuldades.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 9.394 de 1996 na seção V
concernente a Educação de Jovens e Adultos no seu Art. 37. Fala que: A educação de jovens e
adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino
fundamental e médio na idade própria. Essa lei propôs a redução da idade mínima sendo
normatizada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) que estabeleceu a redução de 18 para
15 anos.
3 OBJETIVO GERAL
Investigar como o professor de matemática da EJA que atua no Ensino Fundamental,
desenvolve uma ação pedagógica que mobilize os seus conhecimentos profissionais saberes e
competências para ensinar.
6 RESULTADOS DA PESQUISA
Os dados analisados referentes aos 27 professores revelam que, a formação inicial dos
professores de matemática que atuam na EJA não condiz com as necessidades de aprendizagem
do jovem e do adulto dessa modalidade de ensino. Outro resultado revelado nessa pesquisa é
que a formação inicial do professor de matemática da EJA precisa ser reconfigurada de modo
a formalizar a base de conhecimentos profissionais (dos conteúdos matemáticos, da didática e
dos saberes profissionais). Percebemos, a partir da fala dos professores, a necessidade de
mudança na estrutura curricular dessa formação. Constatamos por intermédio da pesquisa que,
no curso de Licenciatura em Matemática da UFRN, frequentado pelos sujeitos pesquisados,
apenas a estrutura curricular do ano de 1960 oferecia duas disciplinas optativas relacionadas à
EJA.
Confirma-se, portanto, que o professor licenciado em matemática pela UFRN e que atua
na EJA, hoje, não teve acesso em sua graduação, ao conhecimento dessa modalidade
educacional e não teve oportunidades de desenvolver saberes e competências para exercer o
ensino da matemática em contextos inerentes ao público da EJA. Dessa forma, entendemos o
que todos os teóricos e pesquisadores defendem: há urgência por uma mudança curricular
(apoiada por uma revisão conceitual), de tal maneira que a formação inicial possa, de fato,
qualificar um perfil de professor para iniciar e continuar aprendendo o metier da docência da
EJA. Faz-se necessário, para além da formação, de um Plano Nacional para a Educação de EJA,
no país e de Planos Estaduais que fundamentem os princípios, os objetivos, as metas e os
conceitos didáticos e pedagógicos para a EJA.
Faz-se necessário, ainda, uma formação continuada e especializada para professores e
outros profissionais que atuem na EJA. Essa necessidade está evidenciada na fala dos
professores participantes dessa pesquisa.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Posicionamo-nos, nesse trabalho, por um perfil de professor cuja maneira de ensinar se
associe aos saberes docentes e às competências básicas a serem formadas em cada nível ou
modalidade de ensino.
O estudo propõe que essa base de conhecimentos seja incorporada na prática pedagógica
desses professores, para que haja uma completude do processo do ensino e da aprendizagem
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dos jovens e adultos, o estudo também aponta que há uma necessidade dos professores
participarem de uma formação continuada que priorize planejar situações de aprendizagem dos
conteúdos matemáticos considerando entre outros aspectos os conhecimentos prévios dos
alunos.
De um modo geral é necessário que o professor compreenda a especificidade da
profissão docente, conscientizando-se que são imprescindíveis o domínio de determinados
saberes e competências profissionais para que ele possa atuar, com eficiência, no seu exercício
profissional. Nessa perspectiva, as análises dos resultados de nossa investigação evidenciaram
que o professor atuante na EJA não se mostrou capaz de revelar o que é preciso mobilizar em
termos de habilidades, saberes e competências para ensinar nesse contexto marcado por
especificidades, inerentes ao perfil do seu alunado.
REFERÊNCIAS
ALVES, F. T. O. Quando professoras se encontram para estudar Matemática: saberes em
movimento. Tese (Doutorado em Educação) - Centro de Ciências Sociais Aplicadas,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2007.
_______. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Apresentação Carlos Roberto Jamil
Cury. 8. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
MENDES, Iran Abreu. Matemática e investigação em sala de aula: tecendo redes cognitivas
na aprendizagem. Natal: Flecha do Tempo, 2006.
PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências para Ensinar. Tradução Patrícia Chittoni
Ramos. Porto Alegre: Artmed, 2000.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 8. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
Palavras-Chave: Educação Profissional. Funcionários Escolares; Ensino Técnico Nível Médio; Secretaria
Escolar.
1 APRESENTAÇÃO
As políticas de incentivo à qualificação profissional dos funcionários técnico-
administrativos das escolas públicas do ensino básico do país estiveram durante muito tempo
focadas em ações bastante pontuais, cabendo a alguns poucos estados o papel de oferecer essa
formação em serviço.
O Programa de Formação Inicial em Serviço dos Profissionais da Educação Básica dos
Sistemas de Ensino Público – Profuncionário foi instituído como política de governo do
Presidente Lula através da Portaria do Ministério da Educação nº 25, de 31 de maio de 2007
para ofertar cursos técnicos de nível médio a todos os trabalhadores não-docentes pertencentes
às escolas municipais e estaduais do Brasil.
O Profuncionário passa a ser tema de importante relevância quando se leva em
consideração a trajetória histórica e a luta dos funcionários escolares por condições de melhoria
de trabalho e salário, assim como a ausência de políticas públicas na oferta de formação
profissional desse setor trabalhista. Essa lacuna de ações inclusivas do Estado acabou por
legitimar e reforçar a invisibilidade social desse segmento profissional (MONLEVADE, 2014).
469
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Avaliação de Políticas Públicas da Universidade Federal do Ceará. hobson.cruz@ifce.edu.br
As configurações que surgiram nas relações de produção nos primórdios do Século XX,
exigiam da classe trabalhadora determinadas competências cada vez mais vinculadas aos novos
arranjos produtivos e com isso a necessidade de oferta de ensino voltada para essa finalidade.
Considerando o ensino a partir dessa reestruturação produtiva, a escola acabou se
constituindo um legítimo espaço da histórica perpetuação dessa divisão entre o saber teórico e
o saber prático a partir dos seus elementos constitutivos, sejam estes através do planejamento,
currículo e gestão escolar (KUENZER, 2005).
A educação profissional nessa perspectiva pode ter uma função preponderante na
formação de uma classe trabalhadora cada vez mais consciente e reconhecedora das condições
materiais as quais ocorrem as atividades laborais e suas relações de poder, visando aproximar
cada vez mais o trabalho manual e o trabalho intelectual como elementos indispensáveis e
forjadores de sujeitos emancipatórios.
Este trabalho, portanto, apresenta como objeto de investigação a avaliação da oferta dos
cursos a distância desse programa no estado do Ceará a partir da coordenação do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE, considerando se a implementação
das ações propostas no programa está de acordo com o que foi planejado e executado nos seus
atos normativos tentando circunscrever as razões de possíveis tensões nos ajustes entre o
idealizado e o realizado.
Considera-se também de extrema relevância investigar as repercussões deste programa
nas trajetórias profissionais dos funcionários atendidos na condição de concludentes, egressos
com êxito (formados) e egressos sem êxito (evadidos) do curso técnico em Secretaria Escolar
ofertado no campus Quixadá do IFCE, a partir das ofertas de turmas no polo Caucaia.
Para auxiliar na avaliação da execução do programa, elencamos as perguntas
norteadoras a seguir, que serviram como base para o delineamento do objeto e a definição dos
objetivos considerando o curso técnico em Secretaria Escolar do Profuncionário ofertado no
polo Caucaia e coordenado pelo IFCE no período de 2012 a 2017: o programa contribuiu
significativamente para a capacitação de profissionais da educação onde a formação foi
ofertada? Os alunos dos cursos eram do perfil de público-alvo esperado, ou seja, servidores
efetivos de escolas públicas municipais e estaduais? Os cursos ofertados pelo programa estavam
alinhados às necessidades de formação identificadas pelos servidores? A taxa de conclusão dos
cursos oferecidos pode ser considerada satisfatória?
A partir das perguntas norteadoras definidas, os objetivos deste trabalho são os
apresentados a seguir: (I) traçar o perfil dos estudantes que realizaram o curso, identificando
cargo/função (professor, assistente administrativo, vigilante, secretário escolar etc.), sexo
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Anais do Encontro Internacional Trabalho e Perspectiva de Formação dos Trabalhadores
Nov/2017 Vol. 01 nº 02
(masculino, feminino), faixa etária (jovem, adulto ou idoso), vínculo trabalhista (efetivo,
temporário ou sem vínculo), escolaridade (ensino médio, superior, etc.), entre outros; (II)
analisar de que forma o curso contribuiu para aperfeiçoar as práticas profissionais dos seus
egressos no trabalho, a partir da visão do egresso e dos usuários dos serviços destes
funcionários; (III) analisar a taxa de conclusão do curso - detalhando por ano de ingresso, sexo,
faixa etária, vínculo – comparando-a com a taxa de conclusão dos demais cursos oferecidos no
polo.
A escolha do curso e do polo se justifica por concentrar o maior número de alunos
matriculados e formados do programa no estado. O recorte temporal vai de 2012, ano de início
da oferta dos cursos pelo IFCE até o primeiro semestre de 2017, período previsto para o término
das turmas ingressantes no programa.
A etapa inicial do trabalho partiu da pesquisa bibliográfica e documental e a análise
considerando o Profuncionário a partir das suas as bases legais, seu contexto de criação e
implantação do programa e a percepção dos sujeitos envolvidos,
A pesquisa apresentou um enfoque qualitativo a partir da aplicação de questionários e
entrevistas no objetivo de compreender as representações simbólicas que os atores envolvidos
no programa possuem, sem prescindir das bases quantitativas relacionadas ao fluxo escolar dos
alunos com ênfase nas situações de conclusão ou não-conclusão dos estudos.
A pesquisa avaliativa com base nos estudos de Silva e Silva (2008) foi utilizada como
metodologia para entender como o programa Profuncionário foi proposto, implantado e
executado, considerando o contexto, as dimensões de sua formulação e efetivação a partir das
bases legais e sujeitos envolvidos (gestores e alunos).
A aplicação dos questionários aos alunos ocorreu em três etapas. A primeira etapa ocorreu
na forma presencial no Polo Caucaia como pré-teste para quinze alunos matriculados no curso
no objetivo de poder validar as questões no tocante à linguagem e clareza. A segunda e terceira
etapas ocorreram online com envio das perguntas aos e-mails dos alunos utilizando os recursos
das ferramentas de elaboração e acompanhamento de questionários LimeSurvey e o Google
Formulários.
[...] como e com que intensidade a pressão política dos movimentos sociais, em suas
lutas, interpelam o Estado, no sentido de redefinição das políticas públicas na
afirmação e no reconhecimento de direitos para maiorias expropriadas da
humanidade, no âmbito de processos de exclusão, de opressão e discriminação.
Nos 210 anos de educação jesuítica eles eram chamados de ‘irmãos coadjutores’ – e
trabalhavam, na maioria, em funções não docentes, como as de enfermeiros,
sacristães, bibliotecários, cozinheiros, hortelãos, escriturários, arquivistas,
tesoureiros, administradores de fazendas e engenhos, pedreiros, pintores,
marceneiros, ferreiros, arquitetos e até pilotos de navios. Ao contrário dos “padres”
que, além das funções sacramentais, ocupavam os cargos de professores nos colégios
secundários e escolas primárias, e tinham longa formação humanística e pedagógica,
os coadjutores não possuíam via de regra formação profissional formal. Todos sabiam
ler e escrever, ou mesmo escolarização mais avançada, mas dominavam seus ‘ofícios’
o mais das vezes pelo aperfeiçoamento da prática de trabalho, obtida fora ou dentro
da Companhia de Jesus.
Sem a presença dos irmãos coadjutores, coube aos escravos a execução das tarefas não-
docentes, desempenhando a função de manutenção e limpeza dos rudimentares espaços
escolares. No alvorecer da República, concomitante ao aumento populacional e várias cidades
em expansão, é impulsionada a criação de prédios escolares organizados a partir da seriação em
ensino primário e ensino secundário que, segundo Monlevade (2014, p.17), irá provocar “a
necessidade do recrutamento de novos servidores não-docentes assalariados, mesmo porque se
acelerava o processo de emancipação dos escravos”.
Consequentemente, ao longo da trajetória histórica, em decorrência da ampliação o
número de estabelecimentos escolares, elevou-se o quantitativo de trabalhadores não-docentes.
Por sua vez, a seleção do funcionário escolar ocorreu a partir da expansão das escolas
basicamente de duas maneiras: via seleção pública, para futuros servidores que possuam
certificação escolar no atendimento às necessidades da função ou via terceirização dos serviços,
através da indicação política para aqueles cujas tarefas necessitavam de níveis elementares de
escolaridade.
Paulatinamente, a luta pela profissionalização dos funcionários escolares ocorre quando
os mesmos se organizam e criam as fundações e os sindicatos dos trabalhadores da educação.
Vale destacar o início desse processo a partir de 1945 quando professores do ensino primário,
hoje denominado de ensino fundamental, criaram associações as quais foram crescendo e se
espalhando por diversos estados, fundando em 1960 a Confederação dos Professores Primários
do Brasil (CPPB), vindo a se tornar uma entidade federativa.
No final dos anos 1970 com a integração dos professores secundários, atualmente
compreendido como ensino médio, ocorreu uma mudança significativa no estatuto da CPPB,
tornando-se Confederação dos Professores do Brasil (CPB). Finalmente, em 1990 a CPB passa
a ser denominada Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), contando
atualmente com mais de 1 milhão de sindicalizados.
Sobre essas organizações nos anos 1980, Paoli e Teles (2000, p. 103) explicam: “os
movimentos sociais se organizaram, os sindicatos se fortaleceram e as aspirações por uma
sociedade mais justa e igualitária ganharam forma na reivindicação de direitos (...)”. Esta
sindicalização, todavia, também deve ser compreendida no âmbito da Constituição de 1988 que
permitia a filiação nas entidades sindicais. Silva et al. (2012, p.22) considera que nesse
contexto:
Secretário Escolar
Agente Admnistrativo
15% 15%
6%
Professor
Cabe destacar que nos egressos sem êxito agrupamos os alunos que deixaram de
frequentar o curso (abandono) e os que tiveram suas matrículas canceladas (de forma
compulsória ou voluntária).
Para que possamos compreender os números relativos ao curso técnico em Secretaria
Escolar do Polo Caucaia, devemos ter como referência a situação de matrícula dos alunos
agrupados da seguinte maneira: alunos matriculados em todos os polos nas quatro habilitações;
alunos matriculados em todos os polos na habilitação de Secretaria Escolar; alunos matriculados
no Polo Caucaia nas quatro habilitações; e alunos matriculados no Polo Caucaia na habilitação
de Secretaria Escolar. Cabe ressaltar que todos são cursos ofertados pelo Profuncionário sob a
coordenação do IFCE no período entre 2012.2 e 2017.1.
Iniciamos a análise pelo Quadro 1 onde podemos evidenciar que do total de 2.798 alunos
matriculados em todos os cursos vinculados a todos os polos do programa, obteve-se o resultado
de aproximadamente 42% de alunos com os estudos concluídos e 52% de alunos com os estudos
interrompidos.
Os dados dos alunos egressos com êxito e egressos sem êxito do curso técnico de
Secretaria Escolar ofertado no Polo Caucaia em comparação às situações de matrícula
evidenciadas nos quadros desta seção apontaram que o referido curso nesse polo alcançou o
menor índice de evasão com 42% e a maior taxa de conclusão com aproximadamente metade
dos alunos diplomados com a habilitação de secretário escolar, conforme consta no quadro a
seguir.
Podemos observar no próximo quadro como foram distribuídos os dados sobre a evasão
e conclusão discente a partir do ingresso dos alunos e previsão de término considerando a
situação das matrículas no Polo Caucaia do curso técnico em Secretaria Escolar.
Conforme o Quadro 2, podemos concluir que o maior índice alcançado de alunos que
conseguiram terminar seus estudos refere-se àqueles que ingressaram em 2013.1 com
aproximadamente 60% de egressos com êxito. Já o maior índice de egressos sem êxito está
concentrado nas matrículas iniciadas em 2014.1 com aproximadamente 54% de evasão.
Também é possível identificar que todos os alunos na situação de matriculados estão na
condição de alunos retidos, ou seja, alunos que já ultrapassaram além do prazo mínimo previsto
para conclusão do curso, onde provavelmente irão cursar as disciplinas no semestre de 2017.2.
Cabe destacar nesse quadro que, na situação dos alunos matriculados, 16 destes
obtiveram IRA abaixo de 6,0. Isso significa que deverá ser feito pela coordenação local um
trabalho de recuperação da aprendizagem desses alunos ao longo semestre de 2017.2 no
objetivo de evitar a evasão no curso.
No caso dos egressos com êxito temos 4 alunos nessa mesma situação com o índice de
rendimento abaixo da média. Esse índice obtido pelos alunos pode ter sido resultado de
sucessivas reprovações por nota ou por falta, o que não foi fator de impedimento para que esses
mesmos alunos conseguissem concluir seus estudos. Já na situação dos alunos egressos sem
êxito o quantitativo de alunos com IRA abaixo da média, cerca de 92% desse total, acabou se
concretizando na taxa de evasão do curso.
Ainda sobre os dados dos alunos egressos sem êxito, a Figura 3 ilustra o número de
períodos cursados pelos 109 estudantes pertencentes a esse grupo. A partir dela é possível
observar que 41% dos alunos que se evadiram, ou seja 48 (quarenta e oito) do total de 109
(cento e dezenove), o fizeram logo no primeiro período letivo do curso. Entretanto, esta figura
também nos permite visualizar que os outros 59% de alunos prosseguiram estudando por 2 a 7
períodos letivos, demonstrando variados níveis de persistência na continuidade de seus estudos.
13
4 3 5 2
1 2 3 4 5 6 7
N ú me r o d e P e r í o d o s C u r s a d o s
Fonte: elaborado pelo autor.
4 CONCLUSÕES PRELIMINARES
Nessa direção foram pesquisados 258 alunos matriculados entre os períodos de 2012.2
e 2015.2 no campus Quixadá do IFCE no curso Técnico em Secretaria Escolar com oferta de
turma no polo Caucaia a partir dos dados disponibilizados no sistema acadêmico do instituto.
Os resultados preliminares apontam que a taxa de evasão (egressos sem êxito) é
aproximadamente 46% e a taxa de conclusão (egressos com êxito) é de 37%. Os restantes 17%
são de estudantes que ingressaram no período letivo 2015.2 e ainda estão estudando visto que
ainda não houve tempo hábil para a integralização do curso, o que só ocorrerá no final do
período letivo 2017. Outro dado coletado nesse levantamento indica uma taxa de evasão em
torno de 38% dos alunos que deveriam concluir em 2017.
Em relação ao questionário aplicado ao total de alunos matriculados, 50 destes
responderam as questões enviadas aos seus respectivos e-mails utilizando a ferramenta de
pesquisa Lime Survey. Os alunos respondentes encontravam-se assim distribuídos em relação à
situação acadêmica: 32 haviam concluído o curso (egressos com êxito), 8 haviam desistido do
curso (egressos sem êxito) e 10 continuavam matriculados.
Considerando as perguntas realizadas é possível concluir a partir das percepções iniciais
que 84% dos alunos são servidores efetivos, sendo que somente 30% estão na função de
Secretário Escolar, fugindo da proposta inicial do curso. Por tratar-se de curso ofertado na
modalidade de ensino a distância, 56% já possuíam alguma experiência no ensino e 80%
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.
Brasília: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 192p.
CARVALHO, Alba Maria Pinho de. Políticas Públicas e o Dilema de Enfrentamento das
Desigualdades: Um olhar Crítico sobre a América Latina no Século XXI. Poder e Políticas
Públicas na América Latina. Fernando José Pires Sousa (Org). Fortaleza: Edições UFC, 2010,
p. 171 a 200.
IBGE. Acesso à internet e à televisão e posse de telefone móvel celular para uso pessoal : 2015. Rio de Janeiro:
IBGE, 2016. 87 p. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv99054.pdf. Acesso em: 20
set. 2017.
MANFREDI, Silvia Maria. Educação Profissional no Brasil. São Paulo: Cortez, 2002.
PAOLI, Maria Celia e TELLES, Vera da Silva. Direitos sociais no Brasil Contemporâneo.
Cultura e Política nos Movimentos Sociais Latino-Americanos. Sonia Alvarez, Evelina
Dagnino e Arturo Escobar (Org) Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2000, p. 103-148
SILVA E SILVA, Maria Ozanira da. Avaliação de políticas e programas sociais: uma
reflexão sobre o conteúdo teórico e metodológico da pesquisa avaliativa. IN: Pesquisa
Avaliativa: aspectos teóricos e metodológicos. São Paulo: Veras Editora, 2008.
Palavras-Chave: História da Educação. História das Instituições Educativas. Ensino Profissionalizante. Lei nº
5.692/1971. Educação em Mossoró.
1 INTRODUÇÃO
O objetivo desse trabalho é analisar a formação profissionalizante ofertada, no
município de Mossoró, aos estudantes do 2º Grau, durante a década de 1970. Mossoró é um
município localizado no estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Conhecida popularmente como
a capital do oeste potiguar, essa cidade se constituiu na atividade comercial desde o período
imperial. Nas primeiras décadas da República, a busca por modernização e as demandas
oriundas do crescimento da atividade comercial levou as entidades e associações implantarem
o ensino profissional na cidade (BANDEIRA, 2015).
As primeiras práticas de formação do trabalhador foi de ensino comercial, com o Curso
de Comércio União Caixeiral, criado pela Sociedade União Caixeiral 473 em 1912. Esse espaço
ofereceu aulas informais ministradas pelos próprios sócios da entidade criadora, com duração
de quatro anos. O ensino comercial só viria a ser implantado de forma organizada e
470
Agência financiadora Capes.
471
Doutoranda do PPGED/UFRN, taina_bandeira@hotmail.com
472
Docente do PPGED/UFRN
473
A Sociedade União Caixeiral foi uma entidade criada por comerciantes do município de Mossoró, em 1911. Essa associação, em 1937,
construiu seu prédio sede (que abrigaria a Escola Técnica de Comércio União Caixeiral) e atualmente esse local é a Biblioteca Municipal da
cidade onde abriga o arquivo da entidade sob responsabilidade do senhor Luís Soares. Essa associação ainda implantou a Faculdades de
Contabilidade, em 1942 (que seria englobada pela atual Universidade Estadual do Rio Grande do Norte).
sistematizada com a Escola Técnica de Comércio União Caixeiral, em 1936, pela mesma
associação.
Apesar da preocupação primeira de formar trabalhadores para atender às demandas
locais ter sido direcionada ao atendimento da atividade comercial, foi a Escola Normal o espaço
escolar institucionalizado primeiro na cidade. Isso se deve ao fato dessa instituição ter sido fruto
de um projeto nacional e, quando trazida a Mossoró, ser ofertada prioritariamente aos filhos da
elite local. Dessa maneira, o ensino profissional se constituiu no município de Mossoró de
forma dicotômica no qual o ensino profissional direcionado aos trabalhadores (o comercial) foi
oferecido com características instrumentais e o direcionado aos filhos da elite (Escola Normal)
foi completo e humanizado474.
O ensino profissional foi pensado e regido por grupos privados em sua maioria até início
dos anos 1970, nessa cidade quando a Lei nº 5.692/1971 foi implantada, impondo o ensino
profissionalizante aos espaços escolares que ofertassem o 2º Grau. Assim, as escolas públicas
passaram a também oferecerem ensino profissional. Desse momento, questionamos como se
constituiu a formação profissional no município de Mossoró a partir da Lei nº 5.692/1971,
entendendo que, de acordo com as diretrizes postas nesse regimento, os formados nos cursos
técnicos deveriam ser absorvidos pelo mercado de trabalho local.
Inserido em uma dimensão da História da Educação, partimos dos pressupostos de uma
abordagem da História das Instituições Educativas por percebermos a formação dos estudantes
trabalhadores a partir das escolas que ofereciam o ensino profissionalizante compulsório que
foi acordado na Lei nº 5.692/1971, no município de Mossoró. Com isso, nos embasamos nos
estudos de Magalhães (2004), Buffa e Nosella (2005). Por pensarmos com domínio no ensino
profissional, nos apropriamos dos estudos de Moura (2010) e Cunha (2000).
Decidir pela década de 1970 para analisar a formação profissionalizante dos estudantes
a serem introduzidos no mercado de trabalho se deve por ser o período que iniciou a
consolidação do ensino que está latente atualmente, ainda baseado em uma ideologia do capital
humano, buscando atender aos ideais de um capitalismo, agora globalizado, que incentiva a
competitividade e um discurso meritocrático na sociedade, estando a Educação Profissional
ainda a atender demandas econômicas e dicotômicas quando comparada a outros tipos de
ensino.
Isto é, quando nos propormos investigar o ensino profissionalizante ofertado em
Mossoró na década de 1970, partimos da compreensão que foi nesse momento que se
474
Entendendo que essa afirmação sobre a Escola Normal não está sendo dita de forma generalizada para o país, outro caso semelhante ao de
Mossoró foi do município de São Carlos/SP, como pode ser percebido na fala de Buffa e Nosella (1996).
2 ESTUDANTES-TRABALHADORES NO BRASIL
De acordo com Manacorda (2010), após a Segunda Guerra Mundial, a concepção de
estudante-trabalhador ganha força, oriunda de um contexto de desenvolvimento da fábrica e da
escola na qual a primeira é a força motora e segunda é apenas movida. Essa figura de estudante-
trabalhador busca o estudo com o objetivo principal de “fugir da condição operária” (p. 411).
Essa condição passa a ser pensada pelos Estados podendo ser percebidas nas ações que esses
direcionam à educação e suas regulamentações.
Ainda de acordo com o mesmo autor, Manacorda (2010), a alguns países pode-se
apontar tentativas de associar a educação básica à formação para o trabalho na busca de formar
estudantes-trabalhadores, como relatado a seguir:
a necessidade de qualificar aqueles que iriam formar a classe trabalhadora do país em prol do
crescimento econômico. Foram injetados financiamentos estrangeiros na educação também
sendo embalados pelo período de ‘milagre econômico’ que vivia o Brasil, período em que o
Brasil teve um acentuado crescimento produtivo e de consumo com a baixa (por curto tempo)
da inflação.
Diante disso, a educação ficou associada diretamente aos interesse políticos e
econômicos, estando presente nos planos de amplitude nacional assim como nas reformas. O
primeiro regimento foi a reforma universitária, Lei nº 5.540/1968, que trouxe por principal
finalidade silenciar as exigências da crescente demanda por Ensino Superior. Entretanto, ainda
não seria de fácil acesso as camadas sociais com menor poder aquisitivo, ficando a essas o
ensino técnico que, a partir de 1971, com a Lei nº 5.692/1971, seria compulsória ao 2º Grau.
Esse último regimento objetivou tanto conter a demandas das classes mais baixas a um
possível acesso ao Ensino Superior como especializar os jovens trabalhadores para adentrarem
no mercado de trabalho local fomentando, assim, esse momento de crescimento econômico,
sendo também o principal objetivo do ensino profissional compulsório.
Nesse contexto, o ensino profissional compulsório chega ao estado do Rio Grande do
Norte. De acordo com notícias publicadas no jornal Diário de Natal, durante a década de 1970,
a Secretaria do Estado da Educação e Cultura do Rio Grande do Norte (RN) promoveu
diferentes encontros para discutir a implantação da reforma proposta na Lei nº 5.692/1971 no
estado como demonstra a reportagem de 11 de janeiro de 1972, que informa sobre a palestra a
condição do magistério ante a implantação da Lei 5.692. Nesse ano de 1972, existiam duas
escolas atendendo as diretrizes postas nesse regimento: a Joaquim Honório, no bairro do Baldo,
e Henrique Castriciano, no bairro das Rocas, ambas na cidade do Natal, capital do estado do
Rio Grande do Norte.
As instituições escolares do Rio Grande do Norte que atenderam a Lei nº 5.692/1971 se
organizaram, de acordo com o jornal Diário de Natal de 19 de junho de 1979, da seguinte
maneira:
475
Centro de Educação Integrada Professor Eliseu Viana
formação técnica (oferecida nessa escola) e as demandas econômicas locais fizeram com que
a Instituição Educativa rompesse com a lei e se reorganizasse de forma particular passando a
ter currículo resumido, cursos técnicos descontinuados e alunos que não foram inseridos no
mercado de trabalho, além, da contratação de agentes sem a formação e treinamento exigido
seguindo interesses pessoais dos que obtinham o poder político do município.
Na reportagem de 29 de maio de 1979, no Diário de Natal, Celina Santa Rosa expõe as
dificuldades da materialização da formação profissionalizante expressa na Lei nº 5.692/1971:
Apesar das inúmeras dificuldades, como por exemplo, a carência de professores para
as disciplinas de formação especial; carência do mercado de trabalho, que não
absorve os estudantes profissionalizantes e o desinteresse do aluno, que prefere
estudar para o vestibular. Celina espera até o final de 1981 equipar as últimas escolas.
No entanto, segundo informou, existe apenas um projeto em fase de estudos, o do
Atheneu, orçado em 1,5 milhão de cruzeiros. Os preços elevados dos equipamentos
é outro problema apontado pela subcoordenadora, principalmente pelas condições de
subdesenvolvimento em que vive o Rio Grande do Norte. Malgrado essas
dificuldades, a Secretaria de Educação presta assistência pedagógica a diversos
colégios, inclusive alguns da rede particular como o Nossa Senhora de Fátima, Santa
Águida (Ceará-Mirim), Escola Normal (Macau), Paula Frassinetti 9curso noturno do
Colégio Imaculada Conceição), e o Educandário Nossa Senhora das Vitórias em Açu.
Apesar dessa reportagem afirmar que existia apenas para a escola Atheneu projeto com
objetivo de equipar para o ensino profissionalizante e, sabermos que o CEIPEV já existir
construção de laboratórios (o que demonstra muito mais um desinteresse de conhecer a
realidade além da capital do que relatar realmente a precariedade educacional do RN), a fala
traz a tona as dificuldades que o momento da implantação da Lei nº 5.692/1971 já apontava.
Outro ponto a ser analisado é o momento em que se aponta ser falho o mercado de
trabalho no absorver o aluno técnico, entretanto, os cursos profissionalizantes não atendiam as
demandas da economia, um exemplo é o curso de ensino de contabilidade, saturado no mercado
de trabalho local.
Moura (2010), salienta que as escolas estaduais que ofertavam o ensino
profissionalizante compulsório, caso do centro de Educação integrada professor Eliseu Viana,
a medida que essa formação era implantada nas escolas, o currículo ligado a uma formação
geral era deixado de lado o que fomentava um caráter instrumental. Além disso, a falta de
investimentos direcionada a formação dos agentes educacionais também acentuou as
dificuldades. Entretanto, as escolas federais ofereciam cursos técnicos complexos, industriais
como Geologia e Edificações, recebendo financiamentos adequados e agentes educacionais
preparados, acentuando a dicotomia com as instituições das redes estaduais.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do apresentado, podemos entender que a formação profissionalizante dos jovens
trabalhadores ficou limitado ao CEIPEV durante a década de 1970, abrindo um novo espaço
de ensino profissionalizante na década de 1980 com a Escola Estadual Professor Abel Coelho.
Entretanto, isso não impediu de que o ensino profissional ganhasse espaço nos anos posteriores,
seja sob as diretrizes das metas e planos do regime militar ou após esse período político. A
década de 1970 foi início da consolidação de um ensino profissional que pretende atender a
uma sociedade competitiva na qual a formação é utilizada em um discurso de crescimento
econômico individual.
Apesar do CEIPEV possuir em sua nomenclatura o termo integrada, essa instituição
reafirmou as dualidades presentes na própria legislação, Lei nº 5.692/1971, como nas
instituições do contexto nacional. Isso se deve ao fato de que não fora objetivo tornar o ensino
profissionalizante uma formação completa – priorizando um homem omnilateral – mas sim,
“onde a produção do conhecimento, dos valores e símbolos buscam [...] afirmar e reproduzir a
estrutura social dominante” (FRIGOTTO, 2016, p. 24).
REFERÊNCIAS
BANDEIRA, T. Escola Técnica de Comércio União Caixeiral: contextos de uma criação.
Revista do Ceres. Caicó - RN, v.1, n.1, p. 72-77, 2015. Disponível em
<https://incubadora.ufrn.br/index.php/Revistadoceres/index>. Acesso em: 13 set. 2015.
CUNHA, Luiz Antônio. O ensino de ofícios nos primórdios da industrialização. São Paulo:
UNESP, 2000.
MAGALHÃES, Justino Pereira de. Tecendo Nexos: história das instituições educativas.
Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2004.
NOSELLA, Paolo; BUFFA, Ester. Instituições escolares: por que e como pesquisar. 2. ed.
Campinas, SP: Editora Alínea, 2013.
XAVIER, Maria Elizabete; RIBEIRO, Maria Luisa; NORONHA, Olinda Maria. História da
Educação: a escola no Brasil. São Paulo: FTD, 1994.
ABSTRACT
The present work aims at analyzing the Professional-Subsequent Teaching in the field of Hospitality, in particular
the Hosting course of the Federal Institute of Maranhão on the IFMA-Alcântara campus. To carry out the research,
we opted for the qualitative approach using a questionnaire as a data collection instrument, as well as documents
and materials published on the subject. The analysis of the data was made from the qualitative model where we
can apprehend how the teaching of lodging in the investigated institution takes place, which guaranteed
systematization based on the quality. Conducting research on this phenomenon may be relevant not only to
educational institutions, but also to employers, who can benefit from the training of professionals in the area of
hosting.
1 INTRODUÇÃO
A formação no campo da hospitalidade é um tema em crescente discussão tanto na
academia como no mercado de trabalho. Pela recenticidade desta área do conhecimento, no
Brasil, esta ainda se depara com algumas barreiras teóricas e práticas, e ao mesmo tempo
questões emergentes necessitam de respostas, mesmo que provisoriamente e por isso, é
fundamental neste debate trazer a produção teórica de outros campos do conhecimento tais
como a educação, a sociologia e a economia, que transitam e confluem para alcançar respostas
à problemática da hospitalidade.
Nelson e Dopson (2001) dizem que as questões sobre formação em hotelaria são
amplamente debatidas na literatura primeiramente em razão de ser novidade como campo do
conhecimento em comparação com outras áreas, e da contínua reestruturação do currículo para
satisfazer as necessidades do mercado. A partir desse pressuposto é que se propôs desenvolver
uma monografia no Curso de Hotelaria da Universidade Federal do Maranhão sobre o ensino
476
Mestre em Educação (UFMA) e Doutorando em Educação (FaE – UFMG). Bolsista FAPEMA.
477
Graduando em Hotelaria – UFMA.
continuavam e foram feitos acordos de cooperação técnica com a Cornell University, nos
Estados unidos.
Ao fim dos anos de 1970, o SENAC/SP criou um centro de estudos chamado CEATEL,
com o fim de trabalhar no âmbito da gestão hoteleira e estabelecendo algumas parceiras com
escolas internacionais já citadas. Em 1986 o Governo Paulista, através da lei n°6.410 de 8 de
dezembro de 1986, doou de forma definitiva para o SENAC o Grand Hotel São Pedro e Grand
Hotel Campos do Jordão (SENAC-SP, 2016)
Em 1978 onze anos após o primeiro curso ser lançado no Brasil, o economista Geraldo
Castelli, formado na Suíça, trouxe o modelo suíço de educação profissional em hotelaria e criou
na Universidade de Caxias do Sul – RS o primeiro curso de Tecnologia em Hotelaria do país,
com forte foco operacional, sobretudo em alimentos e bebidas (CAMPOS, 2000).
O ensino de hotelaria promovido pelo SENAC propunha como já foi dito, capacitar
profissionais para as áreas operacionais de hotéis e restaurantes, cuja formação técnica
preparava camareiras, garçons e mensageiros. Esses cursos ficaram a princípio limitados às
unidades SENAC do eixo Rio/São Paulo, sendo que o estado de São Paulo servia como modelo
para os outros estados (CAMPOS, 2000).
Entendemos aqui, que estes primeiros cursos tinham o interesse em oferecer uma
formação especializada e pragmática, que segundo Purin (2010) possibilitaria desenvolver
apenas o necessário para o educando ser uma força de trabalho explorada.
Então, percebe-se com isso que o ensino técnico-profissionalizante no campo da
hospitalidade tem sua gênese no SENAC e somente anos mais tarde passa a ser oferecido pela
rede federal de ensino através dos CEFETS, ou seja, sua história ainda é muito recente com
relação aos Institutos Federais de Educação se comparado a outros cursos.
também foi durante essa década que ficou instituído o Ministério da Educação e Saúde no qual
o ensino técnico industrial ficou vinculado.
Em 30 de janeiro de 1942, com a necessidade de responder às novas demandas
educacionais no setor industrial em face da intensificação do processo de substituição das
importações, o Decreto-lei nº 4.073 instituiu a Lei Orgânica do Ensino Industrial. Nesse
contexto, criaram-se as Escolas Técnicas Industriais e o então Liceu Industrial de São Luís
transformou-se na Escola Técnica Federal de São Luís.
Posteriormente ao golpe do ano de 1964, o Governo sentiu a necessidade de refazer a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LBD e transformou o segundo grau na época, hoje
ensino médio, fazendo que o mesmo possuísse um caráter de curso profissionalizante,
chamando de “profissionalização compulsória”, através da portaria nº239/65 a Escola Técnica
Federal de São Luís passou a se chamar Escola Técnica Federal do Maranhão e seguindo a
disposição da Lei nº 4.795, de 20 de agosto do mesmo ano. (IFMA, 2017).
Ainda de acordo com informações contidas no portal do IFMA (2017) foi no ano de
1989, que a então Escola Técnica Federal do Maranhão passou a ser o Centro Federal de
Educação Tecnológica do Maranhão (CEFET-MA) por meio da Lei nº 7.863, passando a
ministrar também diversos cursos de graduação e pós-graduação.
Art. 1° A Escola Técnica Federal do Maranhão, criada nos termos da Lei n° 3.552, de
16 de fevereiro de 1959, alterada pelo Decreto-Lei n° 796, de 27 de agosto de 1969,
fica transformada em Centro Federal de Educação Tecnológica. (BRASIL, 1989).
5 IFMA - ALCÂNTARA
Alcântara é considerada Patrimônio Nacional e de grande visitação em relação ao
turismo cultural, por possuir casarões belíssimos, museus, igrejas centenárias, ruínas e uma
gastronomia variada cujo maior símbolo é o famoso doce de espécie.
Sucede também em Alcântara a festa do Divino Espírito Santo que é apreciada por toda
a população local e também por visitantes que vão para conhecer essa manifestação cultural e
religiosa. A cidade fica situada no noroeste de São Luís, havendo apenas transporte marítimo
para sua chegada e saída, por sua proximidade com a capital São Luís, assim o turismo que
mais acontece é o de excursão, popularmente conhecido como “bate e volta”.
Por conta do crescimento turístico na cidade, era necessária uma qualificação para os
habitantes, a fim de oferecer um bom atendimento ao público visitante. Essa foi à justificativa
que o IFMA - Campus Alcântara utilizou para instalar na cidade o curso de Técnico em
Hospedagem.
6 O PERCURSO METODOLÓGICO
Esta pesquisa é de natureza qualitativa, cuja abordagem “verifica uma relação dinâmica
entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números” (MINAYO, 2016, p. 22). A
partir da emergência de variáveis que caracterizam o campo da pesquisa foi fundamental um
tratamento de dados a partir da abordagem quantitativa.
Desse modo, este trabalho compreende duas fases: na primeira ocorreu a revisão de
literatura, ou seja, a pesquisa bibliográfica, que foi realizada através de consulta a livros,
dissertações de mestrado, revistas, artigos, materiais digitalizados, dito em outros termos, uma
técnica de documentação que abrange todo o material existente já publicado que versa sobre o
assunto. A leitura da bibliografia deve ser um exercício de crítica, na qual serão destacadas as
categorias usadas pelos diferentes autores. Este é, segundo Goldenberg (2007, p. 79), “um
exercício de compreensão fundamental para a definição da posição que o pesquisador irá
adotar”.
A segunda fase compreendeu a pesquisa de campo que foi dividida em dois momentos:
no primeiro foi a coleta de dados quando se aplicou uma entrevista com professores do curso,
bem como análise do Projeto Político Pedagógico do Curso de Hospedagem do IFMA –
Campus Alcântara que aconteceu nos meses de maio e junho de 2017. A pesquisa de campo é,
pois um momento em que o pesquisador se aproxima das pessoas e com elas mantem um
contato direto quando aplica o instrumento de coleta de dados seja entrevista, conversas, dentre
outros.
Finalmente a análise e discussão dos dados. Esta pesquisa foi um estudo de caso que
segundo André (2008) focaliza uma situação, um programa, um fenômeno particular a partir de
entrevistas, por exemplo, como forma de aproximação do pesquisador aos sistemas de
representação, classificação e organização do universo estudado.
No IFMA, os cursos Técnicos Subsequentes ao Ensino Médio não tem por obrigação
acontecer de forma regular consecutiva. No âmbito do Campus Alcântara, alternamos
a oferta de três cursos técnicos subsequentes: Técnico em Hospedagem, Técnico em
Meio Ambiente e Técnico em Eletrônica, tendo em vista fatores como a nossa
estrutura física, nosso quadro de profissionais e os demais cursos ofertados em outras
modalidades (PROFESSORA DO IFMA – ALCÂNTARA).
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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educacional. Brasília: Liber Livro Editora, 2008.
_______. Constituição dos Estados Unidos do Brasil (de 10 de novembro de 1937) Leis
Constitucionais. Rio de Janeiro, 1937.
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM-15-10-1827.htm>.Acesso em: 05 mai.
2017.
_______. Decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909. Cria nas capitais dos Estados da
Escolas de Aprendizes Artífices, para o ensino profissional primário e gratuito. Rio de
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<http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/decreto_7566_1909.pdf>. Acesso em: 10 mai.
2017.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 28.
ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.
MÉSZÁROS, Istiván. A teoria da alienação em Marx. 1 ed. São Paulo: Boitempo, 2016.
NELSON, A.; DOPSON, L. Future of hotel education: required skills and knowledge for
graduates of US hospitality programs beyond the year 2000 - par tone. Journal of Hospitality
and Tourism Education, 13 (5), 2001.
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo traz uma, importante, temática; que é o tipo de formação oferecida
pelo Instituto Federal do Piauí (por campo de atuação desta pesquisa, tomou-se esta instituição
por referência). Primeiramente, sabemos que a educação brasileira está sendo reorientada pelas
constantes alterações na conjuntura de mundo, como é o caso dos avanços na tecnologia, no
conhecimento e nas informações, e, não podemos negar a influência das exigências do mercado
de trabalho.
Nisso, é necessário observar qual é a formação que esta sendo desenvolvida: se é uma
educação preparadora de um cidadão crítico ou uma mera oferta de mão de obra qualificada.
De certo, a necessidade que urge; é por uma educação que forme os indivíduos para o
domínio dos fundamentos científicos, tecnológicos e conceituais da vivência moderna. É nessa
perspectiva, que iremos nos debruçarmos. O fato é que: a Rede Federal, em 2008, deu vida a
um projeto (Lei nº 11.892) – trata-se dos institutos federais. E, neste mesmo ano, O Piauí foi
comtemplado com a criação grandiosa do IFPI - Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Estado do Piaui. O termo “grandioso” usado para descrever a criação do IF no
Piauí, não é exagero, quando compreendemos o impacto de instalação do instituto em um estado
como o Piauí, que esteve historicamente na linha da pobreza extrema, como nos indica a recente
478
Mestrando em Educação profissional e Tecnológica PROFEPT - pelo IFCE. Especialista em psicopedagogia institucional, clínica e
Especialista em ludopedagogia pela UCAM – Universidade Candido Mendes. Pedagogo, formado em janeiro de 2016. Servidor Público
Federal; Parnaíba/PI. E-mail: alcemirhoracio@ifpi.edu.br
pesquisa da Fundação Abrinq, com uma triste constatação de que em 2015 o Piauí tinha 56,9%
da População entre 0 e 14 anos em situação de pobreza e extrema pobreza.
O IFPI tem grande importância para o estado do Piauí através da oferta de formação
profissional e tecnológica, principalmente de cursos técnicos; tanto para o desenvolvimento
econômico regional quanto para o desenvolvimento profissional, cientifico e tecnológico da
população.
É a partir deste contexto, que iremos buscar a compreensão sobre a formação oferecida
pelo Instituto federal no estado do piaui. Levantando-se as características e os aspectos da
cultura e economia piauiense.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Esta pesquisa foi desenvolvida através de pesquisa bibliográfica, buscando basear a
veracidade do texto em leis e autores de relevância para atemática deste trabalho.
Desenvolvemos uma investigação de caráter qualitativo com o intuito de revelar as nuances na
formação oferecida pelo instituto federal na realidade do estado do Piauí.
Destacando a situação do estado e qual o impacto da implantação de uma instituição da
rede feral dentro do estado. Destacamos a realidade da pobreza e da desigualdade tão marcante
no estado; e, que a população encontra a esperança de um futuro e de melhores oportunidades
no IFPI.
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
O objetivo geral deste trabalho é refletir sobre qual formação está sendo desenvolvida
pelo Instituto Federal no estado do Piauí - e neste trabalho, levando em consideração os aspectos
econômicos do estado.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
ISSN – 2448-4210 http://laborufc.wix.com/anaislaborufc Página 1293
Anais do Encontro Internacional Trabalho e Perspectiva de Formação dos Trabalhadores
Nov/2017 Vol. 01 nº 02
Esta foi uma das tentativas de unificação da educação profissional com o ensino –
propedêutico. Outro passo importante, para a identidade da formação profissional foi a
promulgação da nova LDB, lei 9.394 de 1996 que destaca em seu artigo 40: “a educação
profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular”. Com esses mecanismos
de regulação da educação, o que percebemos, é uma clara tentativa de se romper com o velho
modelo de formação dualista. E foi neste contexto; de unir formação profissional e formação
geral, que em 2004 tivemos o Decreto n° 5.154/04 - com a possibilidade de integrar o ensino
médio à educação profissional técnica de nível médio, após longos embates, entre legislações
contrárias e a favor da formação profissional. E, com a validação do Decreto nº 5.154, chegamos
a uma nova estrutura que se fazia a favor do desenvolvimento da educação profissional em
comunhão com a educação de formação geral, formando uma unidade.
E foi nessa conjuntura, que em 2008, a Lei nº 11.892, traz a criação do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí, como a finalidade institucional bem clara: "ofertar
educação profissional e tecnológica, em todos os seus níveis e modalidades, formando e
qualificando cidadãos com vistas à atuação profissional nos diversos setores da economia"
(BRASIL, 2008). (grifo nosso)
A educação ofertada no estado do Piauí, pelo Instituto Federal, tem uma visão,
claramente, voltada para a preparação para o exercício profissional. A intensão é bastante clara,
que uma das prioridades da formação oferecida por essa instituição tem por objetivo formar
mão-de-obra destinada a preencher os setores da economia com profissionais aptos e prontos
para dar vida e continuidade ao andamento dos setores da economia.
Não podemos deixar de mencionar que o Piauí, bem como os demais estados brasileiros,
passa pela influência efervescente da política do neoliberalismo, na intensa tentativa de
crescimento econômico. Que a partir dos anos 90, intensificou-se no Brasil, na liderança do
presidente Fernando Henrique Cardozo, sob a forma de ideologia de desenvolvimento de
mercado, submetendo fortemente o país, e sobremodo, a própria educação aos ditames do
capitalismo. Nisso, o Piauí está fortemente acentuado sob a lógica econômica de fronteira
agrícola de expansão: desenvolvendo a cultura da soja, do milho, eucalipto; e nos últimos anos
vem desenvolvendo na região norte, o projeto de usinas eólicas, e na região sul, usina de energia
solar. Outro destaque na economia do estado é a área de serviços, contemplando: lojas,
supermercados, restaurantes etc.
O Piauí, além de continuar com sua economia na área agrícola, vem experimentando o
desenvolvimento de algumas novidades em sua economia: como é o caso da energia renovável,
na região sul e norte; e, desenvolvimento de grandes empresas de telecomunicações e indústrias,
concentradas principalmente na capital, Teresina. E todo esse contexto, leva o estado a ânsia
por pessoas cada vez mais preparadas e capacitadas. Existe, portanto, o realce do papel do
Instituto em conjugação com a economia do estado. É o que observamos através da Lei de
criação do IFPI, n° 11892, que em seu artigo 7° nos leva a compreender que o papel do IF do
Piauí será exatamente de se agregar ao desenvolvimento socioeconômico do estado Piauiense
e suas localidades: “V - estimular e apoiar processos educativos que levem à geração de trabalho
e renda e à emancipação do cidadão na perspectiva do desenvolvimento socioeconômico local
e regional ”. (grifo nosso).
A educação profissional ganhou destaque no estado do Piauí, principalmente pelo
surgimento de novas áreas da economia com surgimento recente, como as usinas de energias
renováveis; que vem acompanhado de aumento da necessidade de mão-de-obra especializada.
E, por exigência econômica, viu-se a necessidade de estimular a formação para o exercício
profissional para atender a demanda da economia do estado.
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí é a principal instituição
voltada para a educação profissional e tecnológica no estado. Contando, em 2017, com 20
campis, espalhados por todo o estado. E ofertando os mais variados cursos de formação
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o mercado, o que já está bem claro na própria lei que o instituiu no estado do Piauí. Embora,
reconheçamos que tal instituição, é um projeto grandioso e tem dado resultados expressivos,
tanto em transformação da economia local, quanto na qualidade da formação oferecida.
Diagnosticando a formação que temos, podemos pensar na formação que queremos.
Certamente, outro ponto que deve ser levado em consideração é o sentido atribuído à
formação oferecida pelo IFPI, principalmente no ensino médio integrado, que é sua principal
especialidade de oferta. Deve ser atribuído a essa formação, sentido e identidade, com o intuito
de tornar essa formação algo integral, que envolva a prática, mas que também que se desenvolva
a formação propedêutica; que seja, portanto, uma educação integral, no sentido de ser completa.
Essa etapa educacional é pobre de sentido tanto na esfera pública quanto privada.
Nessa perspectiva, é necessário de conferir-lhe uma identidade que possa contribuir
para a formação integral dos estudantes. Uma formação voltada para a superação da
dualidade estrutural cultura geral versus cultura técnica ou formação instrumental
(para os filhos da classe operária) versus formação acadêmica (para os filhos das
classes médiaalta e alta) 7. Esse ensino médio dever ser orientado, tanto em sua
vertente dirigida aos adolescentes como ao público da EJA, à formação de cidadãos
capazes de compreender a realidade social, econômica, política, cultural e do mundo
do trabalho para nela inserir-se e atuar de forma ética e competente, técnica e
politicamente, visando contribuir para a transformação da sociedade em função dos
interesses sociais e coletivos. (MOURA, 2007).
O que queremos, bem como precisamos, é de uma educação que forme muito mais que
mão-de-obra. Está faltando uma educação que forme um tanto mais para a cidadania e um tanto
menos para o mercado. A educação que defendemos é aquela que forma o indivíduo para
exercer conscientemente a própria vida, desenvolvendo o espirito crítico, social e cultural; que
leve o indivíduo a ter curiosidade e capacidade de desenvolver-se frente às adversidades da
contemporaneidade. E, jamais confundirmos formação profissional com a ideia reducionista de
vincular a educação ao mero preparo de mão de obra para o mercado.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diagnosticou-se que a formação ofertada pelo IFPI está sendo uma formação
demasiadamente voltada para o mercado. Nisto, concluímos que é fundamental levantarmos a
bandeira do fortalecimento da educação profissional e tecnológica, dentro da perspectiva de
formação para a vida; vista como a educação que unificará formação profissional e formação
geral. Mas, que esse fortalecimento não ocorra de forma isolada, nem dividida, mas, sim de
forma conjugada, de modo que, de acordo com (MOURA, 2007), “assume-se que o ser humano
é capaz de produzir-se e modificar-se na relação com os demais, em um movimento dialético,
sujeito-objeto, criando e recriando, de forma consciente a própria existência”. E por fim, que
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seja menos inintencional e mais intencional, menos dependente das raízes do sistema capitalista
e mais significativa; mais social, mais real, mais integradora e mais libertadora.
REFERÊNCIAS
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO RIO GRANDE DO NORTE.
Projeto de reestruturação curricular. Natal: CEFET/ RN, 1999.
___________. Lei 5.692. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus, e dá outras
providências. Brasília, DF, 1971.
IBGE. A Síntese dos Indicadores Sociais 2008 - Uma Análise das Condições de Vida da
População Brasileira”. Disponível em:
<https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv95011.pdf.>. Acesso em: 20 out. 2017.
ABSTRACT
Humanized care in health is based on basic premises where it is sought to offer quality care to the users of health
services in an equal way as would be provided to the workers themselves. It is working with the idea that you are
watching a person who has feelings, who has a history, who has an identity. The multiprofessional health team is
the main agent responsible for this dignified and humane assistance to the patient who experiences the health /
illness process. One of the factors to be considered when discussing humanization in health is the team's knowledge
regarding its potentialities and limitations, given the complexity of the humanized caregiving action. The
relationships in the multiprofessional team are built along the way, with each conflict resolution. Actions can
provide success, as long as the focus is the process, the relationships themselves, and not the individualized
professional. This study aims to reflect on the aspects of humanized care in health spaces through the relationships
of multiprofessional work. In this way, discussing humanization in health services becomes relevant through the
multiprofessional team becomes relevant since it allows the creation of criteria to be executed in order to provide
humanized and quality care.
1 APRESENTAÇÃO
479
Enfermeiro, mestrando em cuidados clínicos em enfermagem e saúde, Universidade Estadual do Ceará – UECE;
480
Pedagogo e psicopedagogo, mestrando em educação brasileira, Universidade Federal do Ceará – UFC;
481
Enfermeira especialista em urgência e emergência pelas Faculdades Integradas de Patos - FIP
482
Graduando em psicologia, Centro Universitário Leão Sampaio - UniLeão
483
Odontólogo com especialização em saúde da família pela Universidade Regional do Cariri - URCA
O atendimento humanizado nos serviços de saúde tem ganhado espaço nas discussões
entre profissionais da área e pesquisadores, a fim de se proporcionar uma assistência mais digna
ao ser humano, com foco em uma melhor experiência no que se refere ao contexto do processo
saúde/doença durante o período em que determinados cuidados lhes serão dispensados
(DESLANDES, 2006).
Cuidado humanizado parte de um princípio onde ações norteadoras de uma assistência
mais qualificada estão sempre sendo postas em evidência. Esse processo, que busca ofertar a o
ser cuidado uma experiência menos dolorosa e mais digna, promove uma maior satisfação para
as partes, tanto para quem cuida como para quem é cuidado. Busca garantir a dignidade da
pessoa, em vigência do seu processo de alterações humanas básicas, e de seus familiares,
através de ações simples como a comunicação verbal e não-verbal, e as diversas demonstrações
de empatia para com as pessoas que buscam os serviços de saúde (VIEGAS, 2010).
Humanizar na saúde é tratar o paciente da mesma forma que queremos ser tratados, é
ter em mente que aquela pessoa tem um nome, uma história, uma vida, que apesar de inúmeros
outros objetivos, foi prioridade sua presença e permanência no espaço de saúde. É saber que
em algum lugar, seja numa sala de espera, ao lado de um leito, ou mesmo em grandes distâncias,
há alguém que se importa, que anseia por sua recuperação, que sofre junto. Enfim, humanizar
é garantir a existência humana da pessoa que naquele momento, precisa de cuidados
(GIORDANI, 2015).
Em serviços de saúde, um dos enfoques principais encontra-se na estabilização e
recuperação do paciente nas mais diversas situações de agravos à saúde, e das mais variadas
complexidades para o atendimento, a fim de que se possa garantir uma assistência rápida e
resolutiva a quem necessita, com base, principalmente, na gravidade da situação.
Nesse contexto, nos últimos anos, a preocupação em relação à melhoria da qualidade da
assistência passou a ser uma prioridade, tanto nos serviços públicos, quanto privados de saúde.
No entanto, apesar dos avanços acumulados no que se refere aos princípios norteadores do SUS
(universalidade, integralidade, equidade), muitos ainda são os desafios a serem enfrentados,
uma vez que existe de uma formal geral, certo despreparo por parte dos profissionais em lidar
com a dimensão subjetiva nas práticas de atenção à saúde (BRASIL, 2006).
Nas unidades de saúde, onde se busca uma atenção rápida e criteriosa ao paciente, a fim
de lhe proporcionar resolutividade de seus problemas em tempo hábil, o cuidado humanizado
pode passar despercebido devido a imensa rotatividade de pacientes e a superlotação dos
serviços públicos de saúde do nosso país (MELLIN, 2010). Nessa perspectiva, percebe-se que,
infelizmente, a rotatividade torna-se tão rotineira para muitos profissionais que acaba sendo
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2 OBJETIVO
Refletir sobre os aspectos do atendimento humanizado nos espaços de saúde através das
relações do trabalho multiprofissional.
3 METODOLOGIA
O estudo apresentado é de cunho teórico acerca da humanização nos serviços de saúde
a partir da ótica das relações multiprofissionais. Para Demo (2000), a pesquisa teórica é
"dedicada a reconstruir teorias, conceitos, ideias, ideologias, polêmicas, tendo em vista, em
termos imediatos, aprimorar fundamentos teóricos".
Esse tipo de pesquisa visa a (re) construção de teorias, condições explicativas da
realidade, polêmicas e discussões pertinentes, não implicando, no entanto, em intervenções
imediatas da realidade, pois seu papel é decisivo na criação de condições para a intervenção
(BAFFI, 2017).
Com base nisso, discutimos a temática como espaço de construção da profissão, mas
principalmente do trabalho em equipe para o processo de humanização do atendimento, uma
vez que, com o tempo de profissão, o acréscimo na sobrecarga de trabalho, apresenta alguns
desgastes nas relações profissionais, os quais precisam ser repensados, pois se não conseguimos
trabalhar efetivamente em uma relação harmoniosa e afetiva na equipe, torna-se quase
impossível de conseguirmos desenvolver esse aspecto emocional junto aos pacientes. A
exigência da "produtividade" muitas vezes nos leva a pensar e agir mecanicamente, perdendo
o sentido e, consequentemente, a dimensão do seu valor enquanto importância para a sociedade.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O atendimento humanizado em Serviços de Saúde em nosso país é ainda um grande
desafio a todos os trabalhadores da saúde. Na busca por um atendimento mais rápido ao paciente
que muitas vezes chega em estado crítico, foca-se tão somente na rápida estabilização e
posterior cura e reabilitação do mesmo, deixando-se de lado aspectos importantes para o
atendimento humanizado, dentre eles o fato de que aquela é uma pessoa, com um passado, com
uma história, com um nome.
É preciso manter a dignidade da pessoa sobre qualquer circunstância. A equipe
multiprofissional atuante deve estar preparada para o atendimento rápido e eficaz ao paciente,
ofertando simultaneamente uma assistência livre de constrangimentos e de forma humana. Para
tanto, propõe-se treinamentos e atualizações dos trabalhadores, com ênfase em suas relações
interpessoais, para que haja cada vez mais o abandono de rotinas, muitas vezes frias, focada
somente na cura e no cuidar, que deixam de lado a função de atender integralmente o doente e
seus familiares, para a assimilação de atitudes voltadas para a humanização, a dignidade e a
manutenção do cuidado humanizado.
Garantir o cuidado humanizado ao usuário dos serviços de saúde é um grande desafio
na atualidade, principalmente quando a assistência prestada exige agilidade e rapidez no
atendimento, como ocorre em muitos pacientes em estado crítico ou que necessitam de condutas
imediatas para que possam ter maior possibilidade de sucesso no tratamento a ser dispensado.
No entanto, garantir a identidade e humanidade do ser que se encontra aos cuidados de
toda a equipe multiprofissional de saúde é uma das tarefas básicas que cada um destes
profissionais deve ter sempre em mente, pois ao lidar com pessoas que já não têm as devidas
capacidades necessárias para realizar seu autocuidado, o trabalhador da saúde assume a
responsabilidade social de manter a dignidade da pessoa a ser cuidada.
A equipe multiprofissional de saúde deve então buscar medidas práticas e eficazes para
que possa prestar uma assistência de qualidade, em tempo hábil, e com garantia da manutenção
da dignidade do paciente através do cuidado humanizado.
Faz-se necessário então que cada componente desta equipe conheça a si mesmo, a fim
de que haja um respeito às limitações de cada um para que não seja dispensado um cuidado
mecanizado, rotineiro, e sem qualquer demonstração de empatia.
Conclui-se com este estudo, que é possível implantar o processo de humanização mesmo
em serviços de saúde cujas dinâmicas exigem maior agilidade, ainda que em um processo a
longo prazo. A literatura já tem nos dado os subsídios necessários para ação humanizada do
atendimento em serviços de saúde, urge agora tornar tais ações como práticas diárias.
REFERÊNCIAS
BAFFI, Maria Adélia Teixeira. Modalidades de pesquisa: um estudo introdutório. 2017.
Disponível em: <http://usuarios.upf.br/~clovia/pesq_bI/textos/texto02.pdf.>. Acesso em: 22
nov. 2017.
1 INTRODUÇÃO
A identidade profissional docente, tal como em quaisquer outras profissões, constitui-
se a partir da interação entre experiências pessoais e profissionais do trabalhador. Identidade se
constrói e se transmite independentemente de contexto social ou cultural. Estudos sobre a
profissão docente têm identificado, recorrentemente, certas características ou particularidades
de identidade que se repetem há muitas décadas. Algumas dessas particularidades guiam esta
breve discussão sobre o “operário do conhecimento” (SHULMAN, 1998), este que pode, a
partir de seu compromisso com a difícil tarefa de ensinar, melhorar a qualidade do ensino no
país.
A sociedade vivencia mudanças profundas na forma como se organiza, trabalha, aprende
e se relaciona. Conhecimento, hoje, tem grande valor para os cidadãos. O valor das sociedades
atuais está diretamente relacionado com o nível de formação e com a capacidade de inovação e
empreendimento. Todavia, os conhecimentos têm validade curta, exigindo o estabelecimento
de garantias formais e informais para que os cidadãos e profissionais atualizem constantemente
suas competências. Ingressamos numa sociedade que exige dos profissionais uma permanente
atividade de formação e aprendizagem. Tais mudanças afetam particularmente os docentes,
como têm comprovado relatórios de pesquisas internacionais. Na berlinda, novamente a
identidade do professor em relação às possibilidades de aprendizagem dos alunos.
Pesquisas tem confirmado, sobretudo nas últimas décadas, uma variação negativa na
eficácia do trabalho docente. Apesar disso, a docência é uma profissão imprescindível para a
sociedade do conhecimento, o que significa dizer que sua prática deve cumprir padrões
Docente do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Pós-Doutoranda pela Universidade da Força Aérea –
484
profissionais de excelência que assegurem o direito que os alunos têm de aprender. Professores
são importantes. Tão importantes quanto tornar a docência uma profissão atraente; tão
importantes quanto os sistemas educativos sejam capazes de atrair os melhores candidatos para
se tornarem docentes; tanto quanto são necessárias boas políticas de formação inicial de
professores para assegurar as competências duráveis na sua longa, flexível e variada trajetória
profissional; tanto quanto conseguir que os professores continuem aprendendo ao longo de sua
carreira. Chapman e Aspin (2001) pontuam as necessárias transformações nos sistemas
educacionais como forma de enfrentar os atuais desafios da sociedade do conhecimento:
oferecimento de oportunidades educativas que respondam aos princípios de eficácia econômica,
justiça social, inclusão social, participação democrática e desenvolvimento pessoal; reavaliação
dos currículos tradicionais e maneiras de ensinar em resposta aos desafios educacionais
produzidos pelas mudanças econômicas e sociais e pelas tendências associadas ao surgimento
de uma economia do conhecimento e de uma sociedade da aprendizagem; reavaliação e
redefinição dos ambientes de aprendizagem, bem como criação de ambientes de aprendizagem
flexíveis, positivos, estimulantes e motivadores, que superem as limitações de currículos
padronizados, da divisão por matérias, dos tempos curtos e das rígidas pedagogias; aceitação
da importância do valor agregado à aprendizagem; consciência de que a escola não é a principal
fonte de aquisição de conhecimento, porém, está se convertendo em instituição fundamental na
socialização da população jovem; maior relação entre escolas e instituições de ensino superior
a fim de se obter maior impacto na formação de relações entre a escola e a comunidade;
promover a escola como comunidade de aprendizagem e como centros de aprendizagem ao
longo da vida. Apesar de necessárias transformações, o que se vê são equivocadas políticas de
reforma educacional executadas em muitos países, dentre eles o Brasil, implicando a
deterioração das condições do trabalho docente, causando desmoralização, abandono da
profissão, criando forte impacto negativo na qualidade da educação oferecida aos alunos. Pouco
a pouco, os professores foram desconsiderando a parte essencial do seu trabalho, a interação
com seus alunos, em detrimento a prioridades de gestão e avaliação. Da mesma forma, as
mudanças negativas na profissão produziram incertezas e uma forte crise de identidade naquela
que foi, historicamente, uma profissão estável (DAY, ELLIOT, & KINGTON, 2005). Com base
em tais perspectivas apresento, neste artigo, particularidades sobre a profissão docente
entendendo que a identidade profissional é uma construção do “si mesmo” profissional que
evolui ao longo da carreira influenciado pela escola, por reformas e contextos políticos,
incluindo, ainda, compromisso pessoal, disposição para aprender a ensinar, crenças, valores,
conhecimento sobre a matéria que ensina, o próprio ensino, experiências passadas,
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vulnerabilidade profissional (LASKY, 2005), enfim, tudo o que forma uma “complexa rede de
histórias, conhecimentos, processos e rituais” (SLOAN, 2006). A motivação desta discussão é
apresentar um pequeno recorte de projeto de pesquisa maior que vem sendo realizado em nível
de pós-doutoramento junto à Universidade da Força Aérea (UNIFA), intitulado “Narrativas
autobiográficas: exercício de (auto)formação do professor militar da Academia da Força
Aérea”. Tal recorte diz respeito a resultados de etapa de estudos sobre a identidade profissional
docente. De forma estrita, importa-me abordar certas concepções reforçadas nos aportes
científicos gerais sobre o trabalho docente que se me ofereceram enquanto metodologia de
pesquisa na obtenção de elementos que estruturam a identidade profissional do professor na
formação inicial, quais sejam: socialização prévia; crenças pessoais sobre ensino que dirigem a
prática profissional; o conteúdo ensinado construindo a base da identidade; fragmentação do
conhecimento; aprendendo a ensinar na prática; prática do isolamento; motivação para ensinar;
competências e incompetências ignoradas; despreparo diante das tecnologias.
2 DESENVOLVIMENTO
A identidade pessoal e profissional é um processo em constante mudança, vinculado às
relações estabelecidas entre experiência pessoal e vida social. Lopes (2002, p.10), numa revisão
epistemológica, revela que a categoria identidade atravessa os termos pessoa, sujeito e
indivíduo “estruturando-se transversal e dialeticamente” sobre eles. Para Dubar (1998), a
identidade humana constrói-se e reconstrói-se ao longo da vida, dependente não apenas do
indivíduo, mas do julgamento de outros a seu respeito: “o modo de pensar e tornar operacional
esta distinção entre identidade pessoal (o que sou/gostaria de ser) e identificação social (como
sou definido/o que dizem que eu sou) dá margem a múltiplos desdobramentos” (DUBAR, 1998,
p. 2). Vê-se que o processo de formação da identidade segue dois caminhos, de acordo com
Dubar (2005), a “identidade para si” e a “identidade para o outro”, sendo a primeira entendida
como a maneira como nos reconhecemos, e a segunda, a maneira como as pessoas nos
enxergam. Segundo o autor, a “identidade para si” e a “identidade para o outro” são inseparáveis
e ligadas de maneira conflitante na medida em que a experiência do outro nunca é vivida
diretamente pelo eu, e contamos com informações sobre a identidade que o outro nos atribui.
Logo, a maneira como o outro nos enxerga ou visualiza a nossa profissão produz reflexos na
percepção da nossa identidade. A perspectiva desenvolvida por Dubar faz coro com Ciampa
(1994), que também considera a identidade humana como algo dinâmico. Para o autor, somos
o que fazemos em um determinado momento e em cada papel que desempenhamos, o que
confere um movimento constante à identidade. A identidade pessoal ou individual é única,
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de si mesmo e em relação aos demais, concepções sobre relações entre escola e sociedade, sobre
família e cultura, procedência socioeconômica, étnica, sexo e religião como determinantes que
afetam as crenças acerca do aprender a ensinar; experiências com o conhecimento formal,
entendido como aquele sobre o qual se deve trabalhar na escola; crenças acerca da matéria que
se ensina assim como a forma de ensiná-la; experiência escolar e de aula, que inclui todas as
experiências enquanto estudante, capazes de formar uma ideia acerca do que é ensinar e qual é
o trabalho do professor. As crenças que os professores em formação trazem afetam de uma
maneira direta a interpretação e a valorização das experiências de formação de docentes. Essa
modalidade de “aprender a ensinar” se produz através do que é denominado “aprendizagem
pela observação” (LORTIE, 1975) – aprendizagem muitas vezes produzida de maneira não
intencional, mas que vai penetrando as estruturas cognitivas – e emocionais – dos futuros
professores de maneira inconsciente e de modo a criar expectativas e crenças indissolúveis.
Pajares (1992) foi dos pesquisadores que mais contribuiu com a análise das crenças e atentou
para a dispersão semântica e terminológica característica: crença, atitude, valores, juízos,
axiomas, opiniões, ideologia, percepções, conceitos, sistema conceitual, preconceitos,
preceitos, teorias implícitas, teorias explícitas, teorias pessoais, processos mentais internos,
regras da prática, princípios práticos etc. Tal dispersão semântica inviabiliza comparar
resultados por não partilharem um mesmo marco conceitual.
Pesquisas vêm mostrando que os professores entram no programa de formação com
crenças pessoais acerca do ensino, com imagens de bom professor, imagem de si mesmos como
professores, e a memória de si mesmos como alunos. Essas crenças e imagens pessoais
geralmente permanecem inalteradas ao longo do programa de formação e acompanham os
professores durante suas práticas de ensino (FEIMAN-NEMSER, 2001; KAGAN, 1992). Nesta
perspectiva, Feiman afirma que as imagens e crenças que os professores em formação trazem
ao iniciarem sua formação atuam como filtros para atribuição de sentido aos conhecimentos e
às experiências. Todavia, ao contrário, podem atuar como empecilhos a mudanças limitando as
concepções que podem vir a desenvolver sobre o ensino (FEIMAN-NEMSER, 2001: p.116).
Em uma importante sintetização das crenças dos professores, Pajares (1992) pontuou: as
crenças se formam em idade precoce e tendem a se perpetuar superando contradições causadas
pela razão, pelo tempo, pela escola ou pela experiência; indivíduos desenvolvem um sistema
de crenças que estrutura todas as crenças adquiridas ao longo do processo de transmissão
cultural; os sistemas de crenças funcionam ajudando o indivíduo a definir e a compreender o
mundo e a si mesmo; conhecimento e crenças são inter-relacionados, mas o caráter afetivo,
avaliador e episódico das crenças se convertem em um filtro através do qual todo novo
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Tal lacuna entre diferentes tipos de conhecimentos também se dá na relação entre universidade
e escola. Não raro, os estudantes testemunham que tanto os conhecimentos como as normas de
atuação na Instituição de Formação não comungam com os conhecimentos e práticas
profissionais do mercado, o que repercute, entre outros fatores, na motivação para ensinar –
próximo elemento em questão.
Em geral, os docentes desenvolvem sua atividade profissional com os alunos como
únicas testemunhas. Como Lortie apontou, a motivação profissional docente está ligada aos
alunos. A motivação para ensinar e para continuar ensinando é uma motivação intrínseca
fortemente ligada à satisfação de conseguir que os alunos aprendam, desenvolvam capacidades,
evoluam, cresçam. Outras fontes de motivação profissional, como aumentos salariais, prêmios,
reconhecimentos, somam real satisfação quando repercutem na melhora da relação com o corpo
discente. E este – nativo digital na atualidade – não só desempenha um papel importante na
configuração da identidade profissional docente quanto vem promovendo uma mudança
significativa nas escolas e centros de ensino, sobretudo em função dos próximos elementos a
serem abordados.
Competências e incompetências ignoradas (FULLAN & HARGRAVES, 1992). Os
docentes são profissionais que raramente têm a oportunidade de observarem outros docentes
exercendo sua atividade, ou seja, ensinando, o que significa não ter chance de revisar o que faz,
de submeter a própria maneira de ensinar a avaliações, a avanços. Socialmente, é reconhecida
a profusão de bons docentes realizando seu trabalho de maneira honesta e profissional,
comprometendo-se com uma boa aprendizagem de seus alunos, ainda que suas inovações e
resultados geralmente não ultrapassem as paredes da escola ou da comunidade. Da mesma
maneira, docentes se refugiam no anonimato ou isolamento característico da identidade
profissional enquanto desenvolvem um ensino que frustra o direito de aprender dos alunos ao
mesmo tempo em que impõe um dilema no sistema de ensino. Daí porque a maioria dos países
aposta em um sistema de padrões que determine quais as competências que todo docente deve
possuir e demonstrar. Yinger e Hendricks (2000) atestam que os padrões educacionais
constituem uma das ferramentas mais poderosas para a profissionalização do ensino, visto que
desempenham um duplo papel no desenvolvimento da profissão: tanto demonstram ao público
e aos políticos que a profissão tem satisfatórios processos de controle de qualidade, de acesso
e de exercício de uma prática eficaz garantindo legitimidade social, quanto funcionam como
parâmetros e orientações para o desenvolvimento do trabalho profissional, vez que podem
definir uma prática eficaz em termos dos resultados desejados. Desta maneira os padrões se
convertem em base para organizar a formação inicial e continuada dos professores.
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na voz de Nóvoa (1992, p. 16), identidade traduz “um lugar de lutas e conflitos”, um
“espaço de construção de maneiras de ser e de estar na profissão”. Neste sentido, podemos dizer
que antes mesmo da entrada nos cursos de formação inicial de professores, já possuímos uma
propensa identidade do ser professor, e ela é reforçada no exercício da profissão (NÓVOA,
1992) através de processos identitários de “adesão”, de “ação” e de “autoconsciência”. A
“adesão” implica princípios e valores e à adoção de projetos, investimento positivo nas
potencialidades das crianças e dos jovens; a “ação” surge das escolhas e maneiras de
experimentação pedagógica; e “autoconsciência” é o elemento que marca o processo de
reflexão decorrente da ação prática, e que resulta em mudança e inovação pedagógica.
O desenvolvimento profissional dos professores implica adaptação a mudanças
decorrentes das necessidades individuais, profissionais e organizacionais (HEIDEMAN, 1990,
ISSN – 2448-4210 http://laborufc.wix.com/anaislaborufc Página 1316
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ABSTRACT
This study aims reporting the teacher’s experience in the discipline “Methodologies applied to environmental
education”from the Coexistence with the semiarid program, approaching the pedagogical practices adopted,
transversality, interdisciplinarity projects and this experience potenciality for the teacher’s curricular activity.
Coexistence with the semiarid was a formation program offered by the Federal Institute of Education, Science and
Technology of Ceará (IFCE), campus Umirim, in partnership with Umirim Town Hall, to the teachers from the
municipal network of education. The formation aimed helping teachers to work the thematic “Coexistence with
the semiarid” in conventional classes. With a structure composed by disciplines that discussed about rural
education, such as “Methodologies applied to enviromental education”, the program sought to appreciate the
potencialities from the Brazilian semiarid region. This discipline, through various methodological strategies,
approached the enviromental question and its educational vision, preparing the teachers from the program to the
challenges faced in the coexistence with the semiarid practices. In this discipline, the course members had the
opportunity to elaborate environmental educational projects that better help schools necessities and local
communities, considering the proper use of sustainable technologies to the coexistence with the semiarid.Thus,
this discipline provided a challenging, significant and rich experience to all participants, because it helped them
in the acquisition and production of new knowledges and understandings about environmental education to that
the semiarid context could overcome the campus field and get a social proportion.
485
Pedagoga do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará/ Campus Umirim, Especialista em Gestão e Supervisão
Educacional com docência do Ensino Superior, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação Agrícola /UFRRJ, Endereço
eletrônico: larisse_alves@hotmail.com.
486
Professor de Língua Portuguesa e Inglesa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará/ Campus Umirim, Mestre em
Letras pela UFC e Doutor em Educação pela UNESP/Marília-SP, Endereço eletrônico: andersonibsen@ifce.edu.br.
1 INTRODUÇÃO
Buscando contribuir com a prática pedagógica de docentes da rede pública e privada de
ensino do município de Umirim - CE, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Ceará (IFCE) campus Umirim desenvolveu, em parceria com a Prefeitura Municipal local,
no período de outubro de 2015 a abril de 2016, um curso de extensão na modalidade Formação
Inicial e Continuada (FIC) sobre Convivência com o semiárido.
O objetivo central da formação era auxiliar os docentes do município a trabalharem com
a temática da convivência com o semiárido junto às aulas convencionais, de forma
interdisciplinar, contribuindo assim com o desenvolvimento de práticas educativas que
assegurassem a aprendizagem significativa dos alunos das escolas onde tais profissionais
atuavam, levando em consideração o respeito e as especificidades do contexto regional local.
Sobre o cenário ambiental, um breve olhar sobre o bioma da região semiárida cearense
é suficiente para entender que esta é fortemente marcada pela estiagem – período caracterizado
pela ausência de chuvas e por altas temperaturas –, o que consequentemente acarreta grandes
prejuízos para as atividades agropecuárias desenvolvidas pela população rural. Partindo da ideia
de qualificar os docentes do município para serem multiplicadores de tecnologias sustentáveis
de convivência com o semiárido na prática educativa, o IFCE campus Umirim procurou
contribuir com a melhoria da qualidade de vida da população local, uma vez que 42% da
população da região mora na zona rural (BARRETO; MENEZES, 2014) e, dos que vivem na
sede do município, são inumeráveis os casos dos que mantêm hábitos ruralizados, com criações
de animais de médio e pequeno porte em seus quintais, plantio de hortas ou mesmo mantendo
o hábito de se deslocar diariamente para trabalhar na zona rural.
O ambiente escolar, como local sui generis de transmissão de conhecimento, é um
espaço privilegiado para se tratar de temas que promovam a cidadania e contribuam com a
formação democrática dos educandos; e falar de semiárido para sujeitos inseridos nesse meio,
é dar-lhes conhecimento sobre a realidade em que estão inseridos, para que possam atuar como
protagonistas no meio social. De acordo com Bezerra e Rosito (2011):
Para uma melhor organização das turmas, de forma que a participação dos docentes no
curso não impactasse no andamento regular das aulas das escolas onde atuavam, os cursistas
foram divididos em duas turmas. Nos dias de aulas do curso, eles eram dispensados pelas
escolas e substituídos por estagiários ou coordenadores, já que a formação continuada, além de
ser essencial para a atividade docente, tem amparo legal na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996, que no artigo 67, inciso
II, estabelece que os sistemas de ensino devem assegurar aos seus docentes o “aperfeiçoamento
profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse
fim.”(BRASIL, 1996).
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Nov/2017 Vol. 01 nº 02
Com uma estrutura curricular composta por disciplinas voltadas à educação do campo
– “Uso racional da água”, “Uso racional do solo”, “Técnicas de irrigação”, “Produção de
alimentos” e “Metodologias aplicadas à educação ambiental” –, as quais integravam e
complementavam os saberes de diversas áreas de conhecimento, o curso buscou valorizar as
potencialidades da região do semiárido, a transversalidade e dotar os participantes de
conhecimentos para se tornarem multiplicadores dos métodos e técnicas abordados na
formação, além de propagarem o cuidado com o meio ambiente.
As referidas disciplinas foram ministradas por professores do curso Técnico em
Agropecuária em parceria com os técnico-administrativos ocupantes dos cargos de pedagogo e
técnico em agropecuária, que buscaram por meio de uma perspectiva teórico-prática capacitar
os docentes cursistas por meio de vivências acadêmicas voltadas ao trabalho pedagógico e do
campo.
A idealização do curso seguiu os preceitos dos documentos norteadores da educação
básica nacional, como os PCN, que propõem a abordagem de temáticas transversais, como é o
caso da Educação Ambiental (EA), envolvendo a própria realidade dos educandos no ato de
aprender, como fica evidente no seguinte trecho:
Educação Ambiental estar inserida em todas as áreas de atuação, os docentes cursistas passaram
a compreender melhor a tarefa do educador na mediação da mesma enquanto tema transversal
do currículo escolar, a qual deve ser trabalhada numa perspectiva interdisciplinar, conforme
define a Resolução nº 02, de 15 de junho de 2012, que estabelece as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Ambiental.
Na segunda etapa, por meio de uma abordagem teórico-prática e construtivista, a
disciplina propiciou aos docentes cursistas uma maior conexão com a prática didático-
pedagógica, já que abordou temas voltados mais para a atuação docente. Nessa etapa, a
disciplina instigou a criatividade, a participação, o debate, o trabalho em equipe e a resolução
de problemas, ao desafiar os docentes cursistas para a construção de projetos educativos
interdisciplinares de convivência com o semiárido, com o potencial de serem implantados nas
escolas onde estes trabalhavam.
Após toda a explicação da proposta do projeto, os docentes cursistas foram divididos
em grupos de acordo com as escolas onde atuavam. Cada grupo teve que criar um projeto
educativo ambiental que melhor atendesse às necessidades da escola e da comunidade, levando
em consideração o uso adequado de tecnologias sustentáveis para a convivência com o
semiárido, respeitando o que dizem os documentos oficiais que norteiam a educação básica
brasileira, que apontam para:
[...] a importância de educar os brasileiros para que ajam de modo responsável e com
sensibilidade, conservando o ambiente saudável no presente e para o futuro; saibam
exigir e respeitar os direitos próprios e os de toda a comunidade, tanto local como
internacional; e se modifiquem tanto interiormente, como pessoas, quanto nas suas
relações com o ambiente. (BRASIL, 1998, p. 181).
A partir da proposta, juntamente com a comunidade escolar e local, cada grupo elaborou
e desenvolveu um projeto de educação ambiental cujos resultados foram apresentados aos
docentes da disciplina no final do curso de formação. A intenção com a proposta do projeto era
atender aos objetivos fundamentais da educação ambiental, entre eles,
“o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do
equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor
inseparável do exercício da cidadania.” (BRASIL, 1999).
A junção de docentes das mais diversas áreas do saber em uma mesma formação
certamente colaborou com a superação da fragmentação do conhecimento, pelo potencial de se
trabalhar conteúdos integralizados com vistas a um mesmo objetivo: a execução de projeto
interdisciplinar e sustentável através do engajamento e protagonismo da comunidade escolar e
local. “O cerne do protagonismo, portanto, é a participação ativa e construtiva do jovem na vida
da escola, da comunidade ou da sociedade mais ampla.” (COSTA, 2001, p. 179).
Dessa forma, ao final do curso, cada grupo de docentes cursistas apresentou o projeto
que estava sendo desenvolvido no seu campo de atuação, entre eles: cultivo de hortaliças
orgânicas, cultivos de árvores frutíferas, reflorestamento de áreas devastadas e reciclagem de
lixo escolar.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A disciplina “Metodologias aplicadas à Educação Ambiental” proporcionou a todos
(docentes formadores, docentes cursistas, escolas e comunidades) uma experiência rica,
desafiadora e significativa, visto que contribuiu para que a aquisição e produção de novos
conhecimentos e saberes sobre educação ambiental para o contexto do semiárido
ultrapassassem os muros do campus e ganhassem contornos sociais, pela capacidade de
servirem de base para projetos que pudessem ser implantados nas escolas do município de
Umirim em parceria com as comunidades.
Vale ressaltar, ainda, que os projetos interdisciplinares desenvolvidos através do
trabalho em equipe levaram os docentes cursistas a promover uma maior integração entre escola
onde trabalhavam e comunidade local, tornando todos os sujeitos protagonistas do projeto
educativo e corresponsáveis pelo exercício da preservação ambiental do semiárido de forma
sustentável. De fato, como afirmam os PCN, o principal objeto ao se trabalhar com a temática
do meio ambiente nas escolas “é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a
decidir e atuar na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-
estar de cada um e da sociedade, local e global.” (BRASIL, 1998, p. 187).
É certo que, a disciplina “Metodologias aplicadas à Educação Ambiental” abriu um
espaço instigante para se discutir as práticas sociais e a atuação do docente enquanto mediador
de conhecimentos; também auxiliou os cursistas a levarem para suas comunidades escolares e
locais toda a problemática da responsabilidade que cada indivíduo e grupo devem ter em relação
à construção de uma sociedade ambientalmente sustentável, colaborando dessa forma, para o
sucesso da formação proporcionada no curso Convivência com o semiárido.
REFERÊNCIAS
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evidências recentes e reflexões. Fortaleza: IPECE, 2014.
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Congresso Brasileiro de Agroecologia, 2007, Pelotas. Resumos. Pelotas: Universidade
Federal de Pelotas, 2007. p. 1-5.
ABSTRACT
The interdisciplinary and interbranch aim to integrate areas of knowledge and professionals, respectively, and are
constituted as epistemological and pedagogical categories from 1960, demanded by the labor market and later for
education. Since 2008, it is in the area of Capes that brings together several programs of academic and professional
graduate. Currently constitute as pedagogical principles that guide the basic and higher education in an attempt to
improve the quality of education, especially for work. In this sense, the paper analyzes the contribution of these
categories for vocational training. The research, which originated the article, was constituted in a quali-quantitative
research, whose instrument for data collection was semi-structured interview with the Program students researched
and aimed to identify the interdisciplinary contribution to the training of students. The interdisciplinary practices
developed in the program, in view of the students, have contributed to the development of capabilities to interact,
talk to different areas, exchange experiences, open and new, collectivize, listen, share, contextualize, relate theory
and practice as well as the dialogue between knowledge and professionals from different fields of study and work,
preparing future professionals and teachers to a more interactive, reflective and active action in the workplace.
1 INTRODUÇÃO
Existem três vertentes de análise e interpretação da interdisciplinaridade. Uma
humanista, que orienta-se na defesa de que a realização de um diálogo ecumênico e reflexivo
487
Professora do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA/MG. E-
mail: adilene.quaresma@prof.una.br.
488
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA/MG.
Email: arigobira@gmail.com.
489
Bolsista de Iniciação Científica e aluna do curso de Pedagogia do Centro Universitário UNA/MG.
E-mail: eva.prado2010@hotmail.com.
entre as várias áreas do conhecimento precisa de uma mudança de espírito dos sujeitos
envolvidos no empreendimento interdisciplinar. Isso indica que a interdisciplinaridade depende
de mudança de postura. A vertente da complexidade, que defende diferentes propostas de
integração disciplinar com base na incorporação da temática da complexidade e da perspectiva
sistêmica. E a vertente social-crítica, que considera a dimensão histórica e social da produção
do conhecimento subordinada ao capitalismo, tomando por referência a perspectiva marxiana
de análise da realidade (MANGINI; MIOTO, 2009).
Assim, com base nas discussões de Marx (2010), nos Manuscritos econômico-
filosóficos, sobre a unidade entre as ciências da natureza e do homem, nas discussões da
vertente da complexidade e da vertente social-crítica, serão analisadas a interdisciplinaridade e
a interprofissionalidade, como categorias epistemológicas e pedagógicas necessárias para a
formação profissional na perspectiva da formação humana integral.
No mundo do trabalho e na educação, a interdisciplinaridade, a partir de 1960, torna-se
objeto de pesquisa e interesse de pesquisadores e empresários. A partir de 2008 constitui-se em
área da Capes que reúne diversos Programas de pós-graduação acadêmicos e profissionais.
Já a Interprofissionalidade é categoria presente na área da saúde e aparece como Educação
Interprofissional tendo em vista o trabalho interprofissional no contexto da política de atenção
integral à saúde. Sendo assim, defende-se nesse artigo que essas categorias são necessárias para
a formação profissional em todos os ramos, tendo em vista a complexidade do mundo do
trabalho e da sociedade atualmente.
A pesquisa da qual esse artigo resultou insere-se no grupo de pesquisa sobre os
Processos Pedagógicos na Educação Profissional, do Programa de Pós-graduação em Gestão
Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una, com o título: “A
interdisciplinaridade no contexto do mestrado profissional: estudo de caso da experiência do
Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro
Universitário Una – as práticas educativas interdisciplinares e a formação para o trabalho” e
foi desenvolvida em duas etapas: a primeira, de 2014 a 2015, analisou as práticas
interdisciplinares desenvolvidas no Programa e qual a avaliação dos alunos sobre as mesmas.
A segunda, desenvolvida de 2015 a 2016, analisou a contribuição dessas práticas para a
formação profissional. Esse artigo apresenta os dados dessa segunda etapa.
O texto está estruturado em torno de três eixos centrais. O primeiro discute os conceitos
de interdisciplinaridade e interprofissionalidade e seus sentidos para os cursos de mestrado
profissional; o segundo discute os conceitos de interdisciplinaridade e interprofissionalidade a
partir das discussões de Marx (2010) sobre a integração das Ciências do Homem com as
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inovação postas pelo desenvolvimento social e econômico atuais. Para Quelhas, Faria Filho e
França (2005):
Assim, esse princípio da integração das áreas de conhecimento não é nada novo, como
alguns imaginam, e no mestrado profissional, ele possibilita a integração da formação ao mundo
do trabalho e da vida em geral, bem como o diálogo com os conhecimentos de diversas áreas e
entre os diversos profissionais.
Outro aspecto relevante e que dá sentido às categorias interdisciplinaridade e
interprofissionalidade no mestrado profissional é a exigência do produto técnico, ou seja, pensar
um produto técnico como resultado de uma pesquisa, exige pensar que ele será utilizado e por
sujeitos diferentes. Nesse sentido, a escuta, o diálogo e a construção do mesmo pressupõe a
integração de conhecimentos, saberes, culturas, tecnologias, etc. Isso impõe postura de abertura
e diálogo constantes entre mestrandos, pesquisadores e comunidade, sociedade em geral.
A história mesma é uma parte efetiva da história natural, do devir da natureza até o
homem. Tanto a ciência natural subsumirá mais tarde precisamente a ciência do
homem quanto a ciência do homem subsumirá sob si a ciência natural: será uma
ciência. IIXI O homem é o objeto imediato da ciência natural; pois a natureza sensível
imediata para o homem é imediatamente a sensibilidade humana (uma expressão
idêntica), imediatamente como o homem outro existindo para ele; pois sua própria
sensibilidade primeiramente existe por intermédio do outro homem enquanto
sensibilidade humana para ele mesmo. Mas a natureza é o objeto imediato da ciência
do homem. O primeiro objeto do homem - o homem - é natureza, sensibilidade, e as
forças essenciais humanas sensíveis particulares; tal como encontram apenas em
objetos naturais sua efetivação objetiva, [essas forças essenciais humanas] podem
encontrar apenas na ciência do ser natural em geral seu conhecimento de si. O
elemento do próprio pensar, o elemento da externação de vida do pensamento, a
linguagem, é de natureza sensível. A efetividade social da natureza e a ciência natural
humana ou a ciência natural do homem são expressões idênticas. (MARX, 2010, p.
112) (grifos do autor).
Marx (2010) parte do entendimento de história como o devir da natureza até o homem
e da humanização dessa natureza pelo homem para iniciar sua ideia de integração entre homem
e natureza e, posteriormente, dizer sobre a integração da ciência da natureza com a ciência do
homem, ou seja, ciência natural do homem.
Além disso, diz que o primeiro objeto do homem, o próprio homem, é natureza, é
sensibilidade e somente uma ciência do ser natural em geral pode promover o conhecimento
desse homem natureza em si. Acresce aqui, como elemento importante também, a linguagem
como externação do pensamento e necessária nesse processo de integração.
Portanto, há nessa discussão de Marx sobre a integração da ciência da natureza com a
ciência do homem a perspectiva da integração dos conhecimentos e a necessidade da formação
do ser total, omnilateral, objetivo e subjetivo, social, provido de sentidos e de sentimentos: "Pois
não só os cinco sentidos espirituais, os sentidos práticos (vontade, amor,etc.), numa palavra o
sentido humano, a humanidade dos sentidos, vem a ser primeiramente pela existência do seu
objeto, pela natureza humanizada”. (MARX, 2010, p. 110).
A partir de Marx, a integração das áreas de conhecimento através do Complexo
Temático é colocada em prática pela primeira experiência de educação socialista, após a
Revolução Russa de 1917, por Pistrak (1981 e 2009), ou seja: “os alunos devem ter uma clara
compreensão das regularidades da história em suas manifestações concretas (troca de formas
econômicas, desenvolvimento das forças produtivas, luta de classes, etc.) à luz da compreensão
marxista” (PISTRAK, 2009, p. 411). Daí que o Complexo Temático não é apenas uma forma
de organizar os conhecimentos, mas “um sistema que garante uma compreensão da realidade
atual de acordo com o método dialético” (PISTRAK, 1981, p. 106), pois os conhecimentos são
reunidos a partir de um tema, complexo e, de forma integrada, estes estabelecem relação, de
forma contextualizada e problematizada com a realidade. São três os grandes complexos:
Natureza e o Homem, O trabalho e A sociedade e a partir deles as disciplinas são integradas.
Em relação ao complexo trabalho, por exemplo, segundo Pistrak (1981), este deve ser
introduzido na escola "[...] como um elemento de importância social e sociopedagógica
destinado a unificar em torno de si todo o processo de educação e formação” (PISTRAK, 1981,
p. 42). Ao Complexo Temático articulam-se as categorias “atualidade” e “auto-organização ou
autogestão”, sendo a atualidade o contexto presente, com todas as suas contradições. A
categoria autogestão compreende a coletividade e a auto-organização, que se dão no viver e
organizar-se coletivamente. Assim, a integração se dá a partir dos complexos e das categorias
"atualidade" e "autogestão".
A vertente social-crítica aponta para a análise da dimensão histórica e social da produção
do conhecimento com base na perspectiva marxista, que diz estar a ciência moderna
subordinada à lógica da divisão social e técnico-científica do trabalho no modo de produção
capitalista. Nesse sentido, a interdisciplinaridade para essa vertente é uma necessidade, mas
também e, sobretudo, um problema (MANGINI; MIOTO, 2009). É um problema não somente
no que tange à sua concretização, mas também, pela apropriação do conceito por outras
vertentes, ou seja, a humanista e a da Teoria da Complexidade.
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Assim, para Frigotto (1995, p. 26), a interdisciplinaridade se coloca pela forma a partir
da qual o ser humano produz enquanto ser social e enquanto sujeito e objeto do conhecimento
social: "[...] funda-se no caráter dialético da realidade social, pelo princípio da contradição, pelo
qual a realidade pode ser percebida, ao mesmo tempo, como una e diversa.".
Para Moacir Gadotti (2004), a interdisciplinaridade visa garantir a construção de um
conhecimento globalizante, rompendo com as fronteiras das disciplinas. Para isso, integrar
conteúdos não seria suficiente. Será preciso, como sustenta Fazenda (1979), uma atitude, isto
é, postura interdisciplinar. Atitude de busca, envolvimento, compromisso, e reciprocidade
diante do conhecimento.
Já para Morin (2005, p. 176 - 177): "A ambição da complexidade é prestar contas das
articulações despedaçadas pelos cortes entre as disciplinas, entre categorias cognitivas e entre
tipos de conhecimento. De fato, a aspiração à complexidade tende para o conhecimento
multidimensional.".
Ou seja, para a teoria da complexidade o que se coloca é a necessidade de articular as
disciplinas, as categorias e os conhecimentos e compreender o ser humano como
biológicosociocultural, pois os conhecimentos e a realidade são incompletos e incertos.
Segundo Japiassu (1976, p. 74), "a interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade
das trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas no interior de um
mesmo projeto de pesquisa." Não basta a integração das disciplinas, faz-se necessária a troca
entre os especialistas, entre os profissionais.
É na perspectiva da integração dos profissionais que a interprofissionalidade aparece.
Ela compreende a integração de práticas profissionais tendo em vista dar respostas mais
eficientes, eficazes e rápidas às demandas do trabalho. Segundo D’Amour e Oandasan (2005,
citado por Araújo e Galimbertti, s.a,p. 467), "a interprofissionalidade é uma resposta para as
práticas de saúde fragmentadas, sendo desenvolvida através da prática coesa entre profissionais
de diferentes disciplinas com foco nas necessidades do usuário, da família e da comunidade."
Na área da saúde constitui-se como Educação Interprofissional (EIP) que "é definida
como o aprendizado que acontece quando duas ou mais profissões aprendem sobre, com e entre
si, de forma a melhorar a colaboração e os resultados na saúde (OMS 2010, apud GERMANI
et al, s.a. p. 3).
A Educação Interprofissional como o trabalho interprofissional requerem a cooperação
interprofissional que segundo D’Amour e Col. (2005 citado por MATUDA, AGUIAR E
FRAZÃO, 2013, p.179): "A cooperação interprofissional pode ser definida como o conjunto de
relações e interações que acontecem entre profissionais que trabalham juntos, no âmbito de
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profissionais com capacidade de desenvolver ações sociais inovadoras nos campos da educação
e da gestão social comprometidas com o desenvolvimento local e com a inovação social. A
esta área de concentração se integram duas linhas de pesquisa: Gestão Social e
Desenvolvimento Local e Educação e Desenvolvimento Local.
Por ser interdisciplinar e profissional, além de conter corpo docente e discente de
diversas áreas de conhecimento, o Programa desenvolve práticas interdisciplinares na tentativa
de promover a integração dos conhecimentos e das experiências diversificadas desses docentes
e discentes, bem como desses com a realidade da vida e do mundo do trabalho dos mestrandos
e futuros mestres e profissionais. As práticas interdisciplinares desenvolvidas no Programa
compreendem:
Docência Compartilhada, na qual 2 ou 3 professores ministram conjuntamente uma
disciplina ou com divisão de conteúdos da disciplina e com encontros de todos os professores
com a turma no início, no meio e/ou no final da disciplina.
Atividade de Campo Interdisciplinar: a atividade de campo interdisciplinar compreende
estratégia didática de processos de ensino-aprendizagem, realizada por professores e
acadêmicos no local onde o fenômeno estudado ocorre. A interdisciplinaridade nessa atividade
consiste no diálogo e integração dos conhecimentos da(s) disciplina(s) e destas para com a
realidade contextualizada, analisada e visitada. Os objetivos são contextualizar conteúdos
estudados em disciplinas; desenvolver a capacidade de observação e do senso crítico; integrar
as práticas sociais à atividade acadêmica; formar atitudes como o senso de responsabilidade,
cooperação, diálogo e trabalho em equipe; desenvolver habilidades de coleta, sistematização e
análise de dados; desenvolver a capacidade de trabalhar com modelos analíticos e conceitos
para compreensão das realidades observadas, especialmente por meio da prática
interdisciplinar; desenvolver habilidades relacionadas aos procedimentos metodológicos
adequados à pesquisa científica; possibilitar a troca de ideias e de experiências entre os
participantes do ambiente acadêmico e entre esses e os locais visitados. Os locais podem ser
uma comunidade, espaço público ou privado, associação de moradores, acampamento e/ou
assentamento, ocupação urbana, dentre outros. Esta atividade é desenvolvida pela disciplina de
Fundamentos da Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local (disciplina obrigatória),
ministrada por 3 professoras e a visita, no primeiro semestre de 2015, foi à Vila Itaú, em
Contagem - MG, na qual os moradores se encontram em disputa com o poder público pela
permanência e posse do terreno de suas casas. No primeiro semestre de 2016 foi na Ocupação
Rosa Leão que está localizada na região da Isidora, vetor norte de Belo Horizonte, que faz
fronteira com o município de Santa Luzia. Esta ocupação teve início em 13 de abril de 2013.
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Isto eu senti muito na disciplina que estou fazendo agora, desenvolvendo um trabalho
em rede que mudou minha forma de atuar como coordenador, e entender que é
necessário trabalhar de forma diferenciada com meus alunos, pois entendi que não
podia desenvolver uma abordagem de cima para baixo com meus professores, assim
também com meus alunos e eu pude perceber que todos têm algo para contribuir, uns
mais, outros menos, dependendo da ênfase do evento e durante as aulas do mestrado,
enquanto debatíamos os textos, eu mudava meu comportamento e minhas percepções
e apliquei muitas coisas no meus grupos particulares, durante a aula mesmo, tentando
fazê-los participar juntamente comigo (Entrevistado 10).
Acontece o tempo todo, e faz você pensar muito na sua prática profissional. As
aulas não são só expositivas, eles apresentam os textos antes e lançam para o debate
dentro da sala de aula. Na produção de conhecimentos acontece o tempo todo, a partir
do momento que você estuda, debate e pensa na sua prática profissional em tudo você
vai criando coisas que contribuirão para sua área profissional e no meio acadêmico.
Ex: produção de artigos, dissertações. (Entrevistado 12).
Ressalta-se nessas falas a contribuição no que tange à escuta do outro, ao diálogo com
o outro que vem de áreas diferentes, desconhecidas, mas necessárias para o exercício
profissional.
No meu trabalho na parte da visão do outro, estou mais aberta para ouvir para
modificar práticas minhas através da opinião e da visão do outro, a minha opinião hoje
não é a única, tudo passa a ser relativizado. As soluções hoje são conjuntas e todos
ficam felizes com isso. (Entrevistado 2)
E após ver no mestrado essa prática eu pude repensar o meu trabalho no meu dia a dia
e vi que tudo fica mais gostoso, e a proposta que eu levei à coordenação, foi inserir a
geografia no cotidiano desses alunos, e antes eu via as coisas de forma fragmentada e
hoje a minha visão mudou, então as práticas interdisciplinares são
importantíssima para a atuação no trabalho. (Entrevistado 8).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O artigo apresentou o resultado da pesquisa realizada em um Programa de Pós-
graduação Profissional e Interdisciplinar sobre a contribuição das práticas interdisciplinares
desenvolvidas nesse Programa para a formação profissional. Nesse intuito, defendeu que a
categoria interdisciplinaridade já estava presente nos Manuscritos Econômico-filosóficos de
Marx, quando este defende a integração das Ciências da Natureza com as Ciências dos Homens,
bem como em Pistrak através dos Complexos Temáticos.
Ainda na tentativa da fundamentação teórica da temática, apresentou os sentidos para o
mestrado profissional de práticas interdisciplinares, uma vez que desse, exige-se preparação de
profissionais que estabeleçam integração entre os conhecimentos científicos e as demandas do
mundo do trabalho e da sociedade, com caráter inovador, considerando a complexidade dessa
sociedade.
No que tange às categorias interdisciplinaridade e interprofissionalidade, mostrou-se
que estas ocupam o cenário educativo e profissional desde a década de 1960 e visam contribuir
com uma formação e ação profissional mais eficiente, eficaz e responsável no que tange a
atender às demandas dos usuários seja do setor de saúde ou dos outros ramos profissionais.
Provindas do mundo do trabalho, foram inseridas no ambiente educacional na tentativa de
melhorar a formação profissional tendo em vista as demandas atuais da sociedade. Nesse
sentido, uma vez que a sociedade contém divergências e contradições, diferentes vertentes de
entendimento da interdisciplinaridade se colocaram no cenário, ou seja: a vertente humanista,
da complexidade e social-crítica.
Tomou-se, portanto, as vertentes social-crítica e da complexidade para a discussão sobre
interdisciplinaridade e interprofissionalidade apresentada, para a quais a interdisciplinaridade
entende o ser humano enquanto ser social e sujeito e objeto do conhecimento social e nesse
processo o caráter dialético e complexo da realidade social, precisa ser considerado e esta ser
percebida, ao mesmo tempo, na sua totalidade e diversidade que se complementam.
Assim, para os mestrandos entrevistados, a interdisciplinaridade permitiu desenvolver
capacidades de diálogo com o diferente; integração dos conhecimentos das diversas áreas;
mudar a opinião; relativizar; abrir-se ao novo; interagir com o outro; trocar conhecimentos;
coletivizar soluções não somente no ambiente de trabalho, mas na vida em geral. Nesse sentido,
destaca-se a fala de uma entrevistada: "E após ver no mestrado essa prática eu pude repensar o
meu trabalho no meu dia a dia e vi que tudo fica mais gostoso [...].", ou seja, apesar das
contradições do mundo do trabalho, existe possibilidade, mesmo que mínima, do trabalho ficar
mais gostoso?
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REFERÊNCIAS
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em 10 de abril de 2016.
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RESUMO
No início de 2012, com a redução das vagas de trabalho da indústria agrícola canavieira na região do Pontal do
Triângulo Mineiro, os trabalhadores e as famílias migrantes da região, atraídos pelas vagas de trabalho,
encontraram dificuldades na busca de novas oportunidades de trabalho e de geração de renda. Nesse contexto, o
presente estudo relata as dificuldades dos migrantes nordestinos em Ituiutaba, no processo de inclusão na educação
e no mercado de trabalho, além de relatar ações de ensino e extensão voltadas a promover um processo contínuo
de educação e de acesso a novas oportunidades de renda. Essas ações advêm de um projeto de ensino, pesquisa e
extensão, aprovado no Programa de Bolsas de Graduação – PBG, no ano de 2012, da Universidade Federal de
Uberlândia – UFU, em Ituiutaba - MG. A pesquisa foi descritiva-exploratória, de abordagem quali-quanti, na qual
obteve-se os dados por meio de questionários, de entrevistas semiestruturadas e de técnicas etnográficas. As ações
permitiram a observação direta e a vivência da realidade dos migrantes nordestinos e de suas famílias,
possibilitando identificar o perfil dos envolvidos e suas principais necessidades e dificuldades em relação a
educação e ao trabalho. A vivência da realidade dos migrantes e de suas famílias apresentou o cotidiano de
trabalhadores sazonais submetidos a uma exausta jornada de trabalho, ao preconceito e a condições sub-humanas
de moradia, bem como famílias que não tinham suas necessidades básicas atendidas. Por fim, conclui-se acerca da
necessidade de ações amplas, com viabilidade prática, que promovam uma mudança urgente desse contexto.
1 APRESENTAÇÃO
Em toda região do Pontal do Triângulo Mineiro, em Minas Gerais, existe um número
expressivo de migrantes do Nordeste do Brasil, atraídos a princípio pela oferta de trabalho da
indústria agrícola canavieira. A maioria dos trabalhadores eram sazonais e residiam
temporariamente na cidade de Ituiutaba, centro do Pontal, em virtude da proximidade às usinas
e da procura por melhores condições de vida. Depois, muitos trouxeram suas famílias e fixaram
residência na cidade.
No início do ano de 2012, iniciou-se uma redução drástica das vagas de trabalho diante
da crise econômica do setor canavieiro e do processo de automatização da colheita:
490
Mestre em Administração pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU (2016). Atua como Técnica-administrativa de Ensino na
Faculdade de Ciências Integradas do Pontal - FACIP/UFU (Campus Pontal) e foi Coordenadora dos Projetos citados no estudo. E-mail:
vanyne@ufu.br.
491
Bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU (2015). E-mail: julianamenezes_27@hotmail.com.
492
Licenciado em Pedagogia pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU (2016) e mestrando do Programa de Pós-graduação em
Educação/UFU. E-mail: fernandohenrique@hotmail.com.
Além da maioria das vagas de trabalhos disponíveis exigir alguma educação profissional
específica, existem outros fatores desfavoráveis na busca de profissionalização, que vão desde
o papel familiar exercido por cada membro, como por exemplo, o papel da mulher migrante -
dona de casa e cuidadora dos filhos - até às associações negativas e preconceituosas que
relacionam os migrantes aos problemas sociais existentes na região. E ainda, a realidade dos
trabalhadores sazonais e das famílias no município de Ituiutaba ainda é associada ao tráfico de
drogas, furtos e aumento da violência urbana, favorecendo conflitos sociais decorrentes da
diversidade étnico-cultural e do preconceito.
Diante de tantas dificuldades e aspectos sociais da vida das famílias migrantes
nordestinas na região, seria possível desenvolver inúmeros estudos relacionados à vivência e à
inclusão deles na sociedade e no mercado de trabalho (VIALLI, 2005). Contudo, e diante desse
contexto, o presente estudo apresenta as principais dificuldades em Ituiutaba dos migrantes
nordestinos, e também de suas famílias, no processo de educação profissional, bem como
apresenta um conjunto de ações de ensino e extensão, voltadas a promover aos envolvidos um
processo contínuo de educação e de inclusão nas vagas de trabalho.
2 METODOLOGIA
No ano de 2012, com um levantamento inicial, identificou-se que as famílias migrantes
nordestinas residiam principalmente no Bairro Novo Tempo I da cidade (SILVA, 1997).
Outrossim, em contato com a Pastoral do Migrante, identificou-se que os trabalhadores
migrantes sazonais residiam em alojamentos, disponibilizados pelas empresas contratantes, em
três locais específicos no município.
Com a aprovação do primeiro projeto no Programa de Bolsas de Graduação da UFU nesse
ano, o estudo contou com a colaboração de dois discentes bolsistas dos cursos de Pedagogia e
de Serviço Social. A carga horária semanal disponibilizada por cada discente foi de vinte horas
semanais, distribuída em estudos direcionados, trabalho de campo, orientações, encontros e
reuniões. Este primeiro projeto teve a duração de um ano.
Inicialmente, como embasamento para realização do projeto, os discentes fizeram um
embasamento teórico relacionado ao tema e dividido entre eles: (1) metodologia da pesquisa
aplicada aos Cursos de Administração, de Serviço Social e de Pedagogia; (2) o trabalho
enquanto conceito, seu papel como gerador de identidade e de interação social, bem como suas
problemáticas atuais; (3) a cultura como metáfora e o processo de construção da cultura
organizacional, a partir das relações existentes na sociedade e nas organizações; (4) a
problemática do migrante no contexto sociocultural no Brasil e na região; (5) os métodos de
pesquisa; e (6) o método etnográfico e sua aplicabilidade na construção do conhecimento nos
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deste artigo.
Após o levantamento bibliográfico, foram estruturadas as ações de ensino e extensão,
com caráter intervencionista, e como ferramentas de integração e interação entre Universidade
e comunidade. As ações foram divididas em três etapas e permitiram aos discentes a observação
e a vivência da realidade dos trabalhadores sazonais e das famílias.
As ações de ensino e de extensão foram realizadas em forma de encontros monitorados,
com conteúdos relacionados à formação e à conscientização da importância da educação,
planejados para cada momento. Os discentes fizeram os registros específicos das etapas do
estudo em resenhas, fichamentos, tabulações e diário de campo. Registraram também as
entrevistas, os questionários e as análises dos dados. Além disto, as ações de extensão foram
registradas no Sistema de Informação de Extensão da UFU.
A pesquisa e suas ações foram estruturadas e divididas em três etapas:
3 RESULTADOS
Etapa A
Nesta primeira etapa, traçou-se o perfil dos envolvidos e depois, os discentes estruturam
relatos e identificaram as principais necessidades e dificuldades dos trabalhadores migrantes
sazonais e das famílias em relação ao trabalho.
Das quarenta e três pessoas questionadas, a maioria estava na faixa de idade de vinte e
cinco a quarenta anos, e poucos com idade inferior a vinte e cinco anos. A maioria eram casados,
e vieram para Ituiutaba em meados dos anos de 2007 a 2012. Os trabalhadores sazonais estavam
todos empregados e esperavam retornar às suas cidades de origem, sem definição precisa do
tempo de permanência em Ituiutaba.
A maioria das dezesseis pessoas questionadas residentes no município não manifestou
vontade de retornar às suas cidades de origem, justificando que as condições aqui vivenciadas
ainda eram melhores do que as da região de onde vieram. Dessas, oito estavam empregadas e
a metade já havia trabalhado em outras atividades. As dificuldades relatadas na hora de buscar
trabalho foram: horário de trabalho inviável, como horário noturno para as mulheres;
discriminação; necessidade de carteira de habilitação específica; exigência de referências
profissionais e experiência; e ausência de educação básica e profissional adequada.
Já os cursos relatados como os mais desejosos de profissionalização foram de
Cabeleireiro, Informática, Culinária, Manicure e Tratorista/Operador de Máquina. E as
principais necessidades de educação identificadas foram de conclusão do Ensino Fundamental
e de educação profissional.
Na tentativa de comparar o perfil identificado com informações das empresas
contratantes, foram enviados ofícios solicitando dados dos trabalhadores, como quantidade total
de trabalhadores migrantes alojados em 2012, a escolaridade de cada um, idade e naturalidade.
Contudo, as empresas não deram nenhuma resposta.
Etapa B
Os discentes fizeram o levantamento das vagas no Ensino Básico e das oportunidades
de trabalho existentes.
No levantamento das vagas, os discentes buscaram informações SINE do município,
para análise das vagas disponíveis. As vagas de emprego monitoradas no ano de 2012 foram
ofertadas em uma média de vinte vagas mensais. Frequentemente, as vagas com exigência de
formação profissional tinham maior dificuldade de ser preenchidas.
As vagas de trabalho para os homens, na sua maioria, exigiam experiência e/ou carteira
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Etapa C
E por fim, executou-se a terceira etapa com o intuito de preparar os trabalhadores e as
famílias para o mercado de trabalho e de apresentar os cursos disponíveis de formação e de
educação profissional. De início, os discentes ministraram um módulo de cinco encontros, nas
famílias e nos alojamentos, composto por temas como noções básicas de mercado de trabalho,
diretos humanos e de informática.
Depois, foram identificados e apresentados os principais cursos de educação
profissional ofertados no município no respectivo ano, por entidades como Serviço Nacional
de Aprendizagem Comercial e Industrial – SENAC e SENAI, respectivamente, e pelo Centro
Vocacional Tecnológico, em parcerias como o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico
e Emprego (PRONATEC). Estes cursos foram: Cursos de Aprendizagem Profissional -
Usinagem, Mecânica, Ajustagem, Soldagem, Instalação Elétrica Industrial, Instalação Elétrica
Predial, Processos Administrativos, Tornearia Mecânica e Padeiro; Cursos de Qualificação
Profissional - Manutenção Mecânica, Soldador, Eletricista Montador, e Eletricista Predial; e
Cursos de Capacitação – Operador de Computador, Técnicas de Vendas, Cozinheiro Básico,
Garçom, Manicure, Cabeleireiro, Técnicas para Barista e Cuidador de Idosos.
Em continuidade, propôs-se às empresas contratantes uma pareceria com essas
instituições, no intuito de viabilizar os cursos. Na proposta, esses cursos seriam direcionados às
necessidades de mão-de-obra das empresas, inicialmente custeados por elas, com pagamento
posterior pelos trabalhadores. Às famílias, foram apresentados os cursos de educação
profissional gratuitos ou mais acessíveis financeiramente, em consonância às escolhas pessoais
levantadas na primeira etapa.
As empresas não manifestaram interesse em iniciar o processo de educação dos
trabalhadores e nas vagas gratuitas ofertadas pelo PRONATEC, somente três integrantes das
famílias se inscreveram.
Ao final de 2012, os trabalhadores sazonais retornaram às suas cidades de origem.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Além do aprimoramento como futuros pesquisadores e da prática de pesquisa entre
diferentes áreas, este estudo proporcionou aos discentes a vivência do cotidiano dos
trabalhadores sazonais e das famílias migrantes nordestinas. Com a consciência do papel da
Universidade como espaço de debate das questões sociais, os discentes tiveram a oportunidade
de direcionar a produção do conhecimento às necessidades da comunidade.
Frente aos resultados, chegou-se à seguinte conjuntura: trabalhadores na eminência do
desemprego e famílias com necessidades urgentes de renda; vagas disponíveis no Ensino
Fundamental e em cursos de educação profissional; e vagas de trabalho condizentes às vagas
dos cursos disponíveis.
A princípio, conclui-se que os envolvidos, inclusive as empresas, não viram a educação
como alternativa de buscar e de propiciar melhores condições de vida. Contudo, o insucesso
das ações não foi devido à falta de conscientização. A vivência na pesquisa trouxe a dura
realidade de trabalhadores temporários cansados, submetidos a uma exausta jornada de
trabalho, à exploração, ao preconceito e à condições sub-humanas de moradia. Eles chegavam
do trabalho no campo por volta das vinte horas, tomavam banho, alimentavam, lavavam seu
uniforme e preparavam o equipamento de trabalho para o outro dia. Nas entrevistas, ficou
evidente a insegurança de não saberem o tempo de permanência na cidade, a qual era a principal
justificativa de não buscarem a conclusão do Ensino Básico ou do Ensino Médio. Ao final do
ano de 2012, os trabalhadores sazonais voltaram para suas cidades de origem.
Do mesmo modo, as famílias não tinham suas necessidades básicas supridas e
frequentemente relataram a falta de alimento, de segurança e de renda: “dona, é muito bonito o
estudo apresentado por vocês, a gente até fica com vontade de estudar, mas a nossa cabeça dói
e está em casa, pois falta o arroz para comer”. (MORADOR BAIRRO NOVO TEMPO I, 2012).
Nesse contexto, um ponto de destaque foi a vontade, principalmente das mulheres, de
serem precursoras das mudanças sociais nas suas famílias. Esse destaque originou, como
continuidade da pesquisa, outros dois projetos no PBG, aprovados nos anos de 2013 e 2014.
Os discentes, no processo de conclusão do estudo, tiveram um cuidado especial no relato
da situação do migrante nordestino na região, diante do engano difundido na região e
constantemente policiado, de responsabilizá-los por suas condições de vida. Após a conclusão
do projeto, identificou-se como temas para futuras pesquisas a atualização do perfil e das
condições sociais das famílias migrantes na região, tal como a verificação da situação atual
destes trabalhadores e trabalhadoras de inclusão no trabalho e do contexto social na região
frente às temáticas da migração, do trabalho e da educação.
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Por fim, como as ações não foram direcionadas a dizimar os problemas sociais
evidenciados, cabe sugerir que as alternativas para esse contexto vão além da necessidade de
incluir os migrantes nordestinos e suas famílias na educação ou no mercado de trabalho, ou
além da necessidade de eliminar o preconceito e a discriminação. É preciso mobilizar a
sociedade – Universidade, entidades sociais, empresas, escolas, entes federados, comunidade -
em ações de proporções amplas que atendam a urgência desse quadro, e ainda que promovam
a conscientização e valorização de todo o processo histórico da vida do migrante na região.
REFERÊNCIAS
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BARBOSA, L. Marketing etnográfico: colocando a etnografia em seu devido lugar. RAE, Rio
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cortador de cana-de-açúcar da zona da mata pernambucana no período de entressafra.
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VIALLI, Antônio. O maior desafio está no campo social. O Estado de São Paulo: Especial
Proálcool 30 anos. São Paulo, 08 nov. 2005, p. H7.
ABSTRACT
This article presents initial reflections as a result of the research on Training Needs and Skills Development in the
PARFOR / UFMA First Degree (Licenciate) Courses: challenges for the development of innovative pedagogical
practices in the public schools of Maranhão. In this study, scientific and technological innovations were taken as
the axis of analysis based on the understanding that science and technology have not only played a significant role
in increasing the production of material goods, but also made great contributions to the development of the
productive forces over the centuries. The aim of this study is to analyze the training needs and competencies
development in 1st degree (licenciate) courses of the PARFOR Program at UFMA, seeking to add to the
development of innovative pedagogical practices in public schools, as well as to the improvement of basic
education in the State of Maranhão. It is concluded that it is the changes produced in the production of material
goods in each historical moment and in each geographical space that define and impose new training needs,
requiring new professional profiles according to the requirements of each period and place.
493
Professora Adjunta Departamento de Educação II – UFMA. E-mail: silvadias2612@gmail.com
494
Professora Adjunta Departamento de Educação II – UFMA. E-mail: helianane@yahoo.com.br
495
Professora Adjunta Departamento de Biblioteconomia - UFMA. E-mail: rr.marinho@ufma.br
Nas últimas décadas, consolidou-se a consciência de que a Educação deve ser, antes
de tudo, uma política de Estado, que conduza o Brasil a conquistas de longo prazo,
independentemente da alternância natural de governos. Prova disso é a própria
existência do Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado em junho de 2014, que
traz metas e diretrizes a serem alcançadas no prazo de dez anos e, assim, constitui a
agenda estratégica da Educação brasileira.
incompleto. Esses dados mostram que 24% dos professores que estão atuando na educação
básica brasileira ainda não têm formação em nível superior.
Outros dados do Anuário da Educação Básica (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2016)
registram que, na Região Nordeste, dos 626.643 professores, 37% ainda não têm formação
superior. Já no Maranhão, de um total de 98.892 professores da educação básica, 49,6%
encontram-se sem nível superior. Tanto a Região Nordeste quanto o Maranhão precisam
avançar no quesito formação docente, o que só será possível com sólidas políticas públicas de
formação de professores.
Ademais, o Relatório do 1º Ciclo de Monitoramento das Metas do PNE: biênio 2014-
2016 (BRASIL, 2016) aponta que dos professores da educação básica com formação superior,
ou seja, 1.670.823 docentes, somente 52,5% possuem curso superior compatível com a
disciplina lecionada; a Região Nordeste e o Maranhão possuem os índices mais baixos de
compatibilidade, com 38,2% e 26,1%, respectivamente.
Diante desse quadro sombrio que denuncia o descaso do poder público com a formação
docente e com a qualidade da educação básica, faz-se necessário avançar tanto qualitativamente
quanto quantitativamente nas políticas de formação docente, visando à profissionalização
desses professores que já atuam na rede pública de ensino da educação básica. Mesmo que
alguma política tenha sido instituída desde 2009, como por meio do Decreto nº 6.755/2009, que
se coloca enquanto mecanismo institucional para viabilizar a formação desses professores, a
sua existência ainda não é suficiente.
Destaca-se ainda que, nesse mesmo decreto, está definida a atuação da CAPES quanto
à oferta de programas de formação inicial e continuada para os professores da educação básica.
Logo, interessa aqui registrar que, nesse decreto, já fica também instituída a atuação da CAPES
que, dentre outras ações, prevê a “oferta emergencial de cursos de licenciaturas e de cursos ou
programas especiais dirigidos aos docentes em exercício há pelo menos três anos na rede
pública de educação básica que sejam graduados”, mas que ainda não possuam licenciatura na
área de atuação da educação básica e sim em área diversa da atuação docente (BRASIL, 2009,
grifos nossos).
Posteriormente, foi criado o Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação
Básica – PARFOR que, na modalidade presencial, conforme o Manual Operativo, “é um
Programa emergencial, criado para atender o disposto no artigo 11, inciso III do Decreto nº
6.755/2009, tendo como objetivo induzir e fomentar a oferta de educação superior, gratuita e
de qualidade, para professores em exercício na rede pública de educação básica”. Com essa
ação, ampliam-se as possibilidades de atendimento desse público específico, de acordo com a
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Anais do Encontro Internacional Trabalho e Perspectiva de Formação dos Trabalhadores
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Na maior parte dos países, o novo século vem acompanhado por reformas
educacionais orientadas para adequar a educação às exigências dos novos
tempos e contextos, tais como a globalização das economias, as atuais políticas
públicas e especialmente os impactos das novas tecnologias e formas de
comunicação. Nessa situação, o conhecimento e a educação passam a ter um
valor de grande importância, assim como a formação do professor torna-se um
campo de sérios desafios (RAMALHO; NUÑEZ; GAUTHIER, 2004, p. 18).
Nesse contexto, as pesquisas e dados sobre a educação no Brasil têm demonstrado que
se precisa avançar na qualidade da educação básica e na formação e profissionalização docente.
Os processos formativos criados nos últimos oito anos, sobretudo através das políticas
educacionais instituídas pelo MEC e implantadas pela CAPES, como o PARFOR,
especificamente os cursos de Primeira Licenciatura, retratam essa necessidade.
Entende-se que o processo de formação tem como um dos eixos a formação de
competência. Nesse sentido, a formação e profissionalização docente, como bem explicitam
Ramalho, Nuñez e Gauthier (2004), guardam suas especificidades, pois é o que irá orientar sua
ação de forma responsável e comprometida a partir da unidade entre teoria e prática, ou seja,
por meio de uma ação refletida que gera uma ação renovada, ou a práxis educativa. Igualmente,
as competências “constituem qualidades do profissional que lhe permitem desenvolver
determinadas atividades socialmente úteis, com sucesso e responsabilidade ao longo do seu
desenvolvimento profissional” (RAMALHO; NUÑEZ; GAUTHIER, 2004, p. 72).
A necessidade de formação de novas competências profissionais é determinada pelo
contexto social, político, econômico e cultural de um determinado tempo histórico e de um
determinado espaço geográfico. Considerando o tempo histórico desta pesquisa, que tem como
elemento central as profundas transformações decorrentes da segunda crise global do capital,
com seus primeiros sinais no final da década de 60 e início da década de 70, deve-se atentar
para as necessidades formativas determinadas por esse tempo histórico e pelo espaço em que
atuam os sujeitos desta pesquisa, ou seja, os professores da educação básica das escolas públicas
do estado do Maranhão. Esses professores são formados ou se encontram em processo de
formação pelo modelo dos programas emergenciais, como o PARFOR/UFMA.
A partir desse fato, compreende-se que necessidades formativas são entendidas como
produto das relações sociais mediadas pelas atividades humana, mas que, ao longo da história
sofreram significativas mudanças como reflexo das transformações ocorridas no contexto em
que estão inseridas. Por certo, entende-se que as necessidades formativas, por si sós, não se
explicam. Nesse caso, compreendê-las significa, antes, buscar suas explicações em outros fatos
sociais. Essa perspectiva de análise impõe a categoria da totalidade social como um dos aportes
essenciais neste estudo. Sobre isso, de acordo com Kosik (1976, p. 41),
Totalidade não significa todos os fatos. Totalidade significa: realidade como um todo
estruturado, dialético, no qual ou do qual um fato qualquer (classes de fatos, conjuntos
de fatos) pode vir a ser racionalmente compreendido. Acumular todos os fatos
Diante do exposto, tem-se a clareza de que o objeto de pesquisa que se quer conhecer
encontra-se engendrado em um todo estruturado e em constante movimento: ao mesmo tempo
em que determina é também determinado pelas complexas relações que se estabelecem no
processo de sua materialização, o qual está inserido em uma totalidade. Então, por mais que se
queira conhecer o objeto por completo, este será sempre um conhecimento inacabado por se
encontrar em constante movimento.
Para dar sustentação a este estudo, optou-se inicialmente pelo conceito de necessidade,
por se considerar uma palavra polissêmica, que se caracteriza de acordo com o contexto, espaço,
tempo e por estar ligada aos valores, desejos, aspirações, carência, falta, ao que é
imprescindível, útil e necessário tanto aos sujeitos quanto ao meio social (LALANDE, 1993;
HOUAISS, 2006; OUTHWAITE; BOTTOMORE, 1996).
A necessidade encontra-se intrinsecamente ligada à luta pela sobrevivência, pois as
primeiras necessidades básicas do homem são alimentar-se, vestir-se, agasalhar-se, ou seja, o
que move o homem é a necessidade (MARX, s/d). À medida que essas necessidades vão sendo
satisfeitas pelas ações provenientes dos meios de produção e das relações sociais, novas
necessidades vão emergindo, possibilitando ao homem criar e recriar sua história enquanto ser
social, dotado de necessidades materiais e espirituais, e que age sobre elas por meio da atividade
que desenvolve como mecanismo de realização.
Para tanto, os pressupostos epistemológicos da Teoria da Atividade, de Aléxie
Nikoláevich Leontiev (1983), são alguns dos fundamentos para se investigar as necessidades
formativas dos professores. De acordo com os estudos desse teórico, a atividade se materializa
a partir de ações instigadas por necessidades e motivos. Dessa forma, Leontiev (1983, p. 147)
denomina atividade como “al proceso que se es estimulado y orientado por un motivo enelcual
esta objetivada una u outra necesidad”. Já para Núnez e Ramalho (2013, p. 28),
Nesse sentido, esta pesquisa teve como propósito detectar as necessidades formativas
dos professores que estão em formação nos cursos de Primeira Licenciatura do PARFOR/MA,
tendo como um dos fundamentos epistemológicos a Teoria da Atividade (LEONTIEV, 1983).
O objetivo é analisar as relações existentes entre a emergência dessas necessidades e a formação
inicial, considerando o modo como essa atividade de formação pode contribuir para a superação
das necessidades no âmbito da prática pedagógica dos professores. Vale ressaltar que esses
professores já se encontram no processo de desenvolvimento da profissão docente.
Estabelece-se, portanto, uma correlação entre necessidades, motivos e atividades, pois
de acordo com Leontiev (1983), a atividade precisa coincidir com um motivo ou motivos e
necessidades. Assim, ao se considerar que a atividade do professor é uma atividade tanto laboral
quanto didática, e, acima de tudo, sensitiva, a qual tem como meta central a aprendizagem de
outros sujeitos, pode-se afirmar que as necessidades, nesse caso as formativas, emergem das
relações sociais do sujeito em um dado contexto histórico, político, social e cultural.
Com essa visão ampla de necessidades formativas, as quais podem ser trabalhadas pela
formação inicial como atividade principal nesse processo, aponta-se que o sujeito adquire
conhecimentos profissionais não só dentro da escola, mas também fora dela, isto é, no ambiente
de trabalho. Não se pode compreender as necessidades formativas de professores aprisionando-
as na escola, até porque os fatos que ocorrem dentro dela só se explicam pelas inter-relações
com os fatos que ocorrem fora dela.
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação inicial de professores em serviço, nesse contexto, é entendida como uma
atividade que possibilita a superação de necessidades a partir da apropriação dos conhecimentos
necessários e adequados, visando ao desenvolvimento profissional docente e à melhoria da
prática pedagógica. Ao mesmo tempo, tal formação possibilita a própria reconstrução da
identidade docente, pois esta é construída e reconstruída no movimento das relações sociais, as
quais são determinadas no contexto histórico social que o sujeito - neste estudo o professor -,
encontra-se inserido.
Compreende-se ainda que as políticas educacionais elaboradas e implantadas
atualmente para a formação docente colocam-se como mais uma categoria de análise para a
compreensão deste objeto de estudo, pois são as políticas educacionais que legitimam, no
campo da legalidade, os formatos ou os tipos de formação docente destinados aos professores
da educação básica pública. Tais políticas vêm se materializando por meio de programas e
projetos, os quais são institucionalizados pelos decretos e resoluções.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Censo Escolar da Educação Básica 2015: resumo técnico. Brasília, DF, 2016.
_______. Relatório do primeiro ciclo de monitoramento das metas do PNE: biênio 2014-
2016: resumo técnico. Brasília, DF, 2016.
LALANDE, André. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. São Paulo: Martins Fontes,
1993.
<http://www.comperve.ufrn.br/conteudo/observatorio/arquivos/artigos/profissionalizacao-
docencia.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2014.
RAMALHO, Betania L.; NÚÑEZ, Isauro B.; GAUTHIER, Clermont. Formar o professor,
profissionalizar o ensino: perspectivas e desafios. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2004.
ABSTRACT
The Youth Statute is one of the legal provisions of Brazil that regulates basic education, stating that this is
mandatory and must be offered free of charge to all young people, including those who did not have access to
education, at the appropriate age, according to the provisions of the Federal Constitution of 1988 and Law no.
9.394/1996 that provides guidelines and bases of education in Brazil. Thus, it aims to analyze the Youth Statute as
a legal/legal instrument regulating the guarantees of constitutional rights to young people in a way articulated
with the official educational indicators that account for the inclusion or not of these subjects in the educational
processes of vocational training. It is a bibliographical/documentary research in which the methodological
approach privileged the reading and interpretation of a law whose nuances involve the theme and compose the
history of the legal frameworks of youth in Brazil. It is observed from this perspective that the investigative action
goes beyond the study in the legal device in its previously defined instruments and techniques, since the
methodological action becomes a meticulous process generating unfinished and criticized knowledge in the
dialectical movement of history. It is therefore considered that it goes beyond the appearances of the facts and
phenomena under study, even though the object of research is a legal instrument, since it belongs to a given socio-
historical, economic and cultural context in which contradictions are apparent in the sense that the existence of
the law does not guarantee the existence of the guarantee of the rights to professional education for the young
people of the 21st century.
1 INTRODUÇÃO
496
Advogada. Pós-Graduada em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. Aluna do Programa de Mestrado em Educação Profissional, do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – PPGEP/IFRN. E-mail: sonalealves@hotmail.com
497
Pós-Doutor em Sociologia da Educação pela Universidade do Minho/Portugal. Doutor em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em
Educação da UFRN. Mestrado em Educação pela UFRN. Especialista em Processos Educacionais pela UFRN e graduado em Pedagogia pela
UFRN. É professor no Mestrado Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional pelo IFRN. E-mail:
marcio.azevedo@ifrn.edu.br
escuchar a estos jóvenes es que sus decisiones suelen ser lógicas, teniendo en cuenta
sus circunstancias. En su transición durante la adolescencia tienen que hacer frente
a la dura realidad que los ha rodeado toda su vida. Fuente: SIMO Consulting, 2015.
(GRUPO BANCO MUNDIAL, 2016, p. 16).
2013). Entende-se que a profissionalização, tida nesse marco legal, como um direito
fundamental e inalienável dos jovens, devendo o Estado assegurar os meios necessários à sua
implantação por meio de políticas públicas eficazes e enérgicas, sob pena de configurar grave
ilicitude constitucional, a sua ofensa. Adite-se que a juventude foi acrescida à Carta Magna por
meio da Emenda Constitucional n. 65/2010, ao rol dos direitos fundamentais já garantidos às
crianças e adolescentes. Sendo assim, basta nascer brasileiro para ter esses direitos garantidos.
No Estatuto da Juventude também se vê em destaque a preocupação com as
necessidades dos jovens negros, do campo, indígenas e com deficiência para que esses direitos
sejam garantidos. Nesse direcionamento, compreende-se que há de antemão o reconhecimento
de que esses jovens são os que se encontram em situação emergencial e carecem do Estado para
ter seu desenvolvimento pessoal, intelectual e econômico assegurado. Traz como prerrogativa
a garantia à liberdade de organização dos estudantes e a sua participação efetiva na gestão
democrática das escolas e universidades. Com fulcro nesse regulamento, é garantido também
que todo jovem possa ter acesso à profissionalização, ao trabalho e à renda, em condições de
liberdade, equidade e segurança, adequadamente remunerado e com proteção social.
Prevê ainda, esse Estatuto, a promoção de formas coletivas de organização para o
trabalho, de redes de economia solidária e da livre associação que tenham os jovens como
protagonistas. Assim, dadas às condições especiais, antevê a compatibilização entre horários de
trabalho e de estudo.
Todo esse aparato legal de proteção à juventude brasileira tem chamado atenção de
estudiosos e pesquisadores, que além de observarem o contexto sócio-histórico, tentam por
observações contextuais de amplo espectro da sociedade brasileira, compreender como esses
direitos estão sendo efetivados. Indicam que os jovens brasileiros, em sua maioria, estão fora
dos espaços de formação de educação profissional e tecnológica. Essa é uma constatação que
necessita de indicadores oficiais para uma discussão mais aprofundada, posto que neste artigo
a proposta é a de promover uma análise crítica acerca do Estatuto da Juventude e do direito dos
jovens brasileiros à educação profissional e tecnológica, como forma de garantia mínima à
educação e ao trabalho.
O desenrolar desse estudo apresenta-se em momentos articulados nos quais se discute,
num primeiro momento, os marcos legais que traçam o percurso dos direitos dos jovens no
Brasil, em relação à educação e ao trabalho, bem como o acesso à profissionalização pelas vias
da educação profissional e tecnológica até a instituição do Estatuto da Juventude em 2013. No
segundo momento, também de forma articulada aos demais, é feita uma abordagem crítica ao
Estatuto da Juventude e são apresentados indicadores educacionais relativos aos jovens de 18 a
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2 ABORDAGEM METODOLÓGICA
Considerando-se as proposições desse trabalho, afirmamos que a produção do
conhecimento acerca da questão central deste estudo, requer a adoção de uma abordagem
metodológica que consiga traduzir as nuances que envolvem a temática, compondo a história
dos marcos legais da juventude no Brasil.
Observa-se, assim, que a ação investigativa deve ir além de estudar um objeto pelo que
está posto nos métodos, instrumentos e técnicas previamente definidas. Essa deve ser
concebida, como um processo minucioso que gerará conhecimentos inacabados e passíveis de
críticas, no movimento dialético da história. Isso porque, a ação investigativa não pode se
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convencer pelas aparências dos fatos e fenômenos em estudos, mesmo que o objeto de pesquisa
seja um instrumento legal, pois ele pertence a um dado contexto sócio-histórico, econômico e
cultural. Segundo as proposições de Minayo (2010):
pesquisar constitui uma atitude e uma prática teórica de constante busca e, por isso,
tem a característica do acabado provisório e do inacabado permanente. É uma
atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma
combinação particular entre teoria e dados, pensamento e ação. (MINAYO, 2010, p.
47).
Desse modo, o processo formativo dos jovens traz em si a busca pela história e pelas
teorias que sustentam os contínuos movimentos de observação e abstração do que seja a
juventude, pois esse é um objeto mutável e dotado de particularidades e historicidade próprias
que conformam que não há juventude, mas, sim, juventudes. Essas particularidades conceituais
são parte de um processo metodológico que não despreza a história e as situações
sócio/existências dos jovens e que podem ser contextuais e substantivas quando esclarecidas
por meio de indicadores educacionais.
A presente pesquisa se norteará pelos princípios da pesquisa de abordagem quali-
quantitativa, fundamentada em uma investigação de natureza legal, portanto, básica e aplicada,
bibliográfica e documental, pois buscará compreender o objeto em seu processo histórico e nas
relações sociais que esse estabeleceu ao longo de sua construção dialética como temática
reflexiva, para se pensar sobre o real, apresentando-se como,
Desse modo, o caminho teórico é a dialética como estratégia metodológica para pensar
o legal/concreto, para a reconstrução explicativa do tema, por essa se encontrar profundamente
vinculada à perspectiva de fornecer elementos que permitem a compreensão da realidade em
sua totalidade. (MINAYO, 2010).
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os objetivos da educação profissional e tecnológica se mostram integrados aos
diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da
tecnologia de forma transversal, notadamente, a partir de 2008 com a criação dos Institutos
Federais amparada na Lei n. 11.982, de 29 de dezembro de 2008.
postos de trabalho deve ser assegurado com amplitude, o que se verifica no art. 6º, da CF,
quando indica os direitos sociais e inclui o denominado direito ao trabalho.
Os jovens, em 2010, ocupavam um quarto da população do Brasil, representam, assim,
51,3 milhões de jovens de 15 a 29 anos. Destes 84,8 % viviam nas cidades e 15,2 % no campo.
A pesquisa mostra que 53,5% dos jovens de 15 a 29 anos trabalham, 36% estudam e 22, 8%
trabalham e estudam simultaneamente, conforme o Censo de 2010, do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Ressaltamos que em 2014, as matrículas na Educação
Profissional de nível médio perfaziam apenas 1.741.528 alunos, conforme dados do INEP/MEC
(BRASIL, 2017). Assim, se for considerado que, 25% dos 51,3 milhões de jovens de 15 a 29
estão na faixa etária que deveria cursar o nível médio, teríamos fora da formação profissional e
tecnológica em torno de 11 milhões de jovens sem essa formação entre 15 e 17 anos de idade.
É correto observar que a Lei n. 12.852/2013 promulgou o Estatuto da Juventude
determinando quais são os direitos dos jovens que devem ser garantidos e promovidos pelo
Estado brasileiro, independente de quem esteja à frente da gestão dos poderes públicos. Esta
estabelece ainda, dentre as garantias já previstas pela CF, quais são as especificidades da
juventude que precisam ser afirmadas. Assim, o Estatuto pode ser configurado como
instrumento que legitima essa parcela da população como sujeitos de direitos. Direitos que
poderiam ser garantidos pela via da Educação Profissional e Tecnológica dentro de uma
perspectiva de formação humana integral, atendendo todos os jovens indiscriminadamente.
O Estatuto regulou onze direitos específicos: Direito à Diversidade e à Igualdade;
Direito ao Desporto e ao Lazer; Direito à Comunicação e à Liberdade de Expressão; Direito à
Cultura; Direito ao Território e à Mobilidade; Direito à Segurança Pública e ao Acesso à Justiça;
Direito à Cidadania, à Participação Social e Política e à Representação Juvenil; Direito à
Profissionalização, ao Trabalho e à Renda; Direito à Saúde; Direito à Educação; Direito à
Sustentabilidade e ao Meio Ambiente. Tais direitos devem ser assumidos como parte de uma
agenda pública que incorpore as várias políticas governamentais de forma absoluta, para
permitir e pronunciar ações de enfrentamento às diversas violações de direitos lidadas pelos
jovens, posto que apenas a promulgação da lei não é garantia de sua efetividade.
Todo jovem tem direito à educação de qualidade, em todos os seus níveis, adaptando-
se às necessidades e especificidades da juventude, até no período noturno. Esse é um direito
garantido pelo Estatuto da Juventude. A educação básica é obrigatória e deve ser oferecida
gratuitamente a todos, inclusive para aqueles que não tiveram acesso na idade adequada.
O Estatuto ressalta a importância das políticas afirmativas e da expansão: da educação
superior nas instituições públicas, do financiamento e da assistência estudantil, das bolsas de
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estudos e do transporte escolar. Também são destacadas as necessidades dos jovens negros, do
campo, indígenas e com deficiência. É garantida a liberdade de organização dos estudantes e a
sua participação efetiva para a gestão democrática das escolas e universidades.
Com fulcro no que está regulamentado no Estatuto em tela, é garantido também que
todo jovem possa ter acesso à profissionalização, ao trabalho e à renda, em condições de
liberdade, equidade e segurança, adequadamente remunerado e com proteção social. Prevê
também a promoção de formas coletivas de organização para o trabalho, de redes de economia
solidária e da livre associação. Dada às condições especiais, antevê a compatibilização entre
horários de trabalho e de estudo.
O Estatuto norteia a promoção de incentivos ao jovem trabalhador rural em sua
organização na produção da agricultura familiar e dos empreendimentos familiares rurais. A
formação e a qualificação profissional também devem estar garantidas aos jovens
com deficiência.
Além dos direitos mencionados, o Estatuto traz dois benefícios diretos, que são os
descontos e gratuidades em transporte interestadual para jovens de baixa renda e a meia-entrada
em eventos culturais e esportivos para estudantes e jovens de baixa renda. Instituiu ainda a
criação do SINAJUVE, que deverá organizar, em todo o país e de maneira participativa, o
planejamento, a implementação, o acompanhamento e a avaliação das ações, planos e
programas que constituem as políticas públicas de juventude.
Em especial, no direito à educação, entende-se que os preceitos legais caminharam no
sentido de promover o direito do jovem à educação em todas as suas modalidades e o
reconhecimento da diversidade da juventude nas políticas de acesso, assistência estudantil e,
certamente, a participação democrática nas instâncias educacionais. No direito à
profissionalização, o Estatuto robustece a importância do trabalho decente para a juventude,
exercido em condições e com remuneração e proteção sociais adequadas e de ações de geração
de emprego, economia solidária, cooperativismo e desenvolvimento sustentável.
Nessa perspectiva, o ensino profissional, a aprendizagem e o direito à profissionalização
seria o caminho para a garantia desses direitos aos jovens, esse seria percorrido em meio a
posições doutrinárias, jurisprudenciais e diplomas legais, apontando situações e condições que
propiciassem a concretização dos preceitos constitucionais brasileiros voltados para os jovens,
sem esquecer a literatura crítica sobre trabalho e educação que daria suporte às práticas de difícil
concretização.
Adite-se a esse caminho a compreensão de que a educação e o trabalho no Brasil são
direitos constitucionais que devem ser respeitados e garantidos pelo Estado e seus
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Nov/2017 Vol. 01 nº 02
Por outro lado, quanto à oferta do Ensino Médio, embora haja escolas públicas de
excelente qualidade como os atuais institutos federais, essa não é a regra geral. Assim, grande
parte delas, nas quais estudam os filhos da classe trabalhadora, tenta reproduzir o academicismo
das privadas, mas não conseguem fazê-lo por falta de condições materiais concretas. Tal é a
discrepância que a formação nem contribui de forma efetiva para o ingresso digno no mundo
de trabalho nem é significativa para o prosseguimento dos estudos em nível superior.
Assim, é necessário atribuir uma identidade ao Ensino Médio para que ele possa
contribuir para a formação integral dos estudantes, voltada para a superação da dualidade entre
cultura geral e cultura técnica; formação profissional e formação acadêmica. O ensino, seja ele
profissional ou médio, deve ser orientado à formação de cidadãos capazes de compreender a
realidade social, econômica, política e cultural e do mundo do trabalho para nela inserir-se e
498
Parecer de n.16. Publicado em 5 de dezembro de 1999. Trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível
Técnico. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf_legislacao/rede/legisla_rede_parecer1699.pdf
atuar de forma ética com competência, técnica e politicamente. Esse tipo de formação visa
contribuir para a transformação da sociedade, direcionada a interesses sociais e coletivos e não
individualistas como preceituam os neoliberais.
Para termos uma ideia do panorama da informalidade no mercado de trabalho brasileiro,
no período compreendido de 2001 a 2013, tendo como foco nos jovens e adultos, a Figura 1
nos mostra:
60 56,2
55,2 54,7 54,3 52,4 51,4
47,9 48 47,2 46,7 46,4 44,8 49,6 47,4 46,1 38,7 40
40 44 42,6 42,1 38,2
39,8 37,1
20 36,2
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
A Figura 1 exibe a evolução da taxa de informalidade para jovens e adultos entre 2001
e 2013, destacando três fatos. De início, tem-se a tendência de queda desse indicador para os
jovens, com 55,2%, em 2001, e alcança a marca dos 38,2%, em 2013. Outro fato, é que a
intenção de queda na informalidade para os jovens se estende por, praticamente, todo o período
analisado, não se concentrando, em um episódio isolado. Há uma clara convergência entre as
taxas de informalidade no trabalho para jovens e adultos. Em 2001, a taxa de informalidade
para jovens superava em 7% a dos adultos, e, em 2013, essa diferença foi de apenas 2%.
Assim, destacamos que apesar dessa queda significativa na informalidade do trabalho
em passado recente, a taxa para os jovens ainda é expressiva, beirando os 40%. Isto posto,
destaca-se a importância de se criar condições para que o país possa dar seguimento a essa
tendência como de queda na taxa de informalidade dos jovens. Para isso, é fundamental que se
entenda o mecanismo que determina a queda aqui reportada para o período de 2001 a 2013.
Pode-se dizer que a má qualidade da educação básica no Brasil e as políticas públicas
voltadas para a juventude trabalhada, alimenta a reprodução do capital, particularmente no que
concerne à formação de mão de obra capaz de adequar-se subjetiva e funcionalmente aos postos
de trabalho precarizados. Os programas sociais objetivavam modificar a situação de
precarização social vivenciada pela juventude – principalmente em situação de pobreza – , mas,
na verdade, eram destinados a suprir as demandas do mercado em detrimento dos problemas
sociais. Assim, a permanência para o jovem do desemprego que afetava muitos dos que
apostava na educação profissional como possibilidade de melhorar suas condições de vida.
Alguns são considerados como programas causadores de formas precarizadas de formação,
embora buscassem mudanças nas condições sociais dos jovens.
Para termos uma ideia da dimensão do problema, segundo o relatório da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), de 2007, denominado “Trabalho decente e juventude na
América Latina”, o desemprego, as inserções atípicas do trabalho na informalidade, e a
consequente precarização do trabalho afetam cerca de 106 (cento e seis) milhões de jovens
Latino Americanos. Ou seja, mesmo antes da atual crise financeira de 2008, podemos dizer que
já enfrentávamos em nossa sociedade, uma crise de diversas formas, como é o caso da crescente
precarização do trabalho assalariado.
Nesse aspecto, a juventude é penalizada. Os jovens estão vivendo a condição de
contratos temporários, ou labutam na informalidade, ou, compõem a faixa de desempregados
deste país. Assim, faz-se rebelar a “terceirização”. Em sua face mais perversa conduz a redução
de custos pela via da exploração de trabalho em condições e relações precárias, em detrimento
da lei, sem mencionar, que estimula a rotatividade de mão de obra, vez que os trabalhadores
terceirizados são, comumente, menos especializados e facilmente substituíveis.
Os jovens estão entre os mais afetados pela precarização e/ou terceirização do trabalho.
Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2012,
constatou que a rotatividade dos trabalhadores terceirizados é maior entre as pessoas que têm
de 18 a 29 anos, com taxa de alternância chegando a 72% em 2010499. Segundo o estudo “A
Dinâmica das Contratações no Trabalho Terceirizado” 500, a terceirização vem fortalecendo o
giro dos trabalhadores pelas empresas. Em 2010, por exemplo, a taxa de rotatividade dos
empregados terceirizados foi 76,2% maior que a dos ocupados não terceirizados.
Essa rotatividade é relacionada com o achatamento salarial, pois os trabalhadores são
demitidos depois de pouco tempo e substituídos por outros com salários mais baixos. Os efeitos
dessa rotatividade são a insegurança, a incerteza, a falta de perspectiva de futuro. Isso tem
efeitos sobre a sociabilidade dos jovens, já que o trabalho é ainda uma das formas centrais de
relações sociais. Essa sociabilidade se torna frágil, flexível e precária. O que pode ocasionar
isolamento, desgaste mental e até o adoecimento dos jovens.
499
IPEA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Rotatividade dos trabalhadores terceirizados. Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/agencia/index.php?option=com_alphacontent&ordering=2&limit=10&Itemid=24&limitstart=14800
500
O Estudo “A Dinâmica das Contratações no Trabalho Terceirizado”. Disponível em: https://www.sindeepres.org.br/acontece/sindeepres-
apresenta-novo-estudo-sobre-a-dinamica-das-contratacoes-no-trabalho-terceirizado.html
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se diante das prerrogativas ensejadas pelos marcos legais, que a educação
profissional e tecnológica deve ser concebida não apenas como uma modalidade de ensino, mas
como uma política social de garantia de direitos aos jovens. Essa tem sua relevância no que se
refere a sua função de socialização do conhecimento, e, ainda, contribui para o processo de
inserção dos jovens no mercado e no mundo do trabalho.
A participação precoce do adolescente no mercado de trabalho tem provocado muitos
questionamentos, dificultando e interferindo na implementação de políticas específicas voltadas
para o trabalho do jovem. Sem ressaltar que as políticas públicas educacionais não possuem
uma centralidade quando o assunto é educação, servindo-se, muitas vezes, às práticas
imediatistas e assistencialistas, que não combatem de forma mais incisiva as vulnerabilidades
que os jovens passam como a dificuldade de acesso à educação e ao trabalho.
Desta feita, a profissionalização deve ser compreendida como um direito fundamental
que tem como pressuposto a educação e como desígnio o trabalho lícito e remunerado. E o
direito à profissionalização está vinculado à ideia de qualificação, capacitação ou formação
técnica, medida virtuosa e necessária, que tem o condão de transformar o trabalhador em um
sujeito socialmente responsável, em um cidadão o que pelos indicadores não vem sendo
cumprido pelo Brasil.
REFERÊNCIAS
BANCO MUNDIAL. Ninis en América Latina: 20 millones de jóvenes en busca de
oportunidades. HOYOS, Rafael de; ROGERS, Halsey; e SZÉKELY, Miguel (Org.) Banco
Mundial, Washington DC, 2016. Disponível em:
<https://openknowledge.worldbank.org/bitstream/handle/10986/22349/K8423.pdf>. Acesso
em: 21 nov. 2017.
______. Trabalho Decente e Juventude no Brasil. [Brasília]: OIT, 2009. Disponível em:
<http://www.oit.org.br/sites/default/files/topic/youth_employment/pub/trabalho_decente_juve
ntude_brasil_252. pdf>. Acesso em: 20 out. 2017.
ABSTRACT
This study is the result of a research developed at the Federal University of Piauí, Campus de Picos - PI and
brings a reflection on the schooling and profession of the parents and the provenance of the high School (IN) of
the students of the pedagogy course, knowing the social origin of the same and how parents can interfere with
study and career choices of the son. This is a qualitative research in education, with application of questionnaires
to 50 students of the said course between the months of November 2013 to January 2014. A universe of 91 parents
mentioned in the questionnaires of 30% has higher education. Already those who have not completed the basic
education comprise the following sum: father 22.7% and mother to 23.4%. As to the economic activity exercised,
of a total of fifty parents (men) was informed of the occupation of 76%, being more frequent the farmer with a
34.2% and self-employed professional with 21%. In addition to these there appeared other occupations. Between
the mothers, it was informed to the profession of 72%, being 14% farmers, 10% autonomous and 27,7%
housewives. The schooling of these parents reflected in their professions, to the extent that it is observed that the
employment in the area of vocational training of higher level is almost non-existent. Thus, the information
collected allow assert claim that the majority of the graduates is from the popular class of Piauí, and that because
of the socioeconomic conditions opt for courses of less financial cost.
1 APRESENTAÇÃO E OBJETIVOS
Este estudo é o recorte de uma pesquisa realizada no ano de 2013 com os graduandos
do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade Federal do Piauí – UFPI -
Campus Senador Helvídio Nunes de Barros- CSHNB em Picos-PI o mesmo partiu de um
501
Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Piauí- Professora de Educação Infantil da Rede Municipal de Ensino de Fortaleza.
(E-mail: denigomes64@hotmail.com.)
502
Docente na Universidade Federal do Cariri. (E-mail: ana-carmita.souza@ufca.edu.br.)
503
Doutorando em Educação na Universidade Federal do Ceará; Economista na Universidade Federal do Cariri (E-mail:
paulo.freitas@ufca.edu.br.)
esboço acerca das políticas públicas de expansão do ensino superior, a partir das ações do
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais-
REUNI, criado pelo governo Federal como parte integrante do Plano Nacional de Educação
2002-2011. O REUNI de acordo com as informações do Ministério da Educação (MEC) foi
estabelecido pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007, sendo uma das ações que integram
o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e tem como principal objetivo ampliar o
acesso e a permanência na educação superior.
Assim, a referida pesquisa delineou o perfil socioeconômico dos sujeitos envolvidos e
abriu leque para outras análises as quais abordaremos aqui e que partiram da reflexão sobre a
escolaridade e profissão dos pais e a procedência do Ensino Médio (EM) dos alunos do curso
de pedagogia, com o objetivo de conhecer origem social destes e o quanto os pais podem
interferir nas escolhas escolares e profissionais dos filhos, seja como transmissores de capital
cultural ou como força para subverter as dificuldades de inserção no espaço acadêmico, dadas
às condições objetivas de suas vidas.
Mas, que relação tem a escolaridade e profissão dos pais com a procedência do ensino
médio dos graduandos? E o que isso implica nas escolhas acadêmicas referente a profissão?
Alguns estudiosos como, por exemplo, Marta Arretche 2012, diz que os estudos na área
de avaliação mostram que a escolaridade da mãe tem muito mais efeito que a própria escola no
desempenho do aluno. Assim acreditamos que tais dificuldades podem ter consequências
durante toda a vida do educando.
Akemi Nitahara 2016, em artigo publicado no site Agência Brasil, com base nos dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diz que:
O nível de instrução dos pais é fator determinante na formação educacional dos filhos.
É o que mostra o estudo Suplemento de Mobilidade Sócio ocupacional, da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios 2014, lançado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Foi a primeira vez que o instituto abordou a forma
como a origem sócio ocupacional pode influenciar a inserção laboral dos filhos.
Segundo os dados analisados, entre os pais que não eram alfabetizados aos 15 anos,
23,6% dos filhos também não eram na mesma idade e apenas 4% completaram o nível
superior posteriormente. Entre os pais com nível superior completo, apenas 0,5% dos
filhos não tinham instrução aos 15 anos, enquanto 69,1% também completaram o
nível superior. O levantamento foi feito com pessoas a partir dos 25 anos e que
moravam com o pai aos 15.
Os dados mostram que a escolaridade dos pais tem papel de certa forma determinante
no futuro dos filhos escolar e talvez profissional dos filhos. Contudo, retomando os
questionamentos supracitados podemos dizer que existem inúmeras respostas, as quais
gerariam longos debates visto que envolve questões financeiras, objetivos pessoais e familiares,
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herança cultural familiar, dentre outros. Além disso, levando em consideração que a maioria
dos estudantes envolvidos nessa pesquisa vem de escolas públicas, vale salientar que a decisão
de matricular um filho em escola particular, cujo, alguns defendem ser o ensino de melhor
qualidade, não depende apenas de questões financeiras apesar de esta ser uma condição
relevante, mas depende também das perspectivas quanto ao êxito escolar, o futuro e formação
profissional dos filhos, passando ainda pelo que Bourdieu (2008) chamou de Capital Cultural:
2 METODOLOGIA
Esta é uma pesquisa qualitativa em educação, na qual realizamos aplicação de
questionários com uma amostra de 50 alunos do curso de pedagogia entre os meses de
novembro e dezembro de 2013 e janeiro de 2014.
Vale informar que, conforme afirma Minayo (2001):
Assim, diante do exposto por Minayo (2001), a pesquisa qualitativa nos permite nos
colocamos de forma sensível diante da análise dos questionários aplicados com o intuito de
melhor elucidarmos nossos achados.
É importante salientar que a pesquisa se embasou teoricamente em autores como
Bourdieu (2002- 2010), Charlot (2011), Lahire (1997-2004), Pavão (2002), Passos e Pereira
(2006).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Esta pesquisa realizada entre novembro de 2013 a janeiro de 2014 possibilitou
relacionar a procedência do ensino médio dos discentes de pedagogia a escolaridade e profissão
de seus pais permitindo ainda compreendermos a influência da origem social no interesse de
ingressar no curso superior, bem como suas reflexões no desempenho escolar do grupo
pesquisado e o quanto os pais, tidos como referências, podem interferir nas escolhas dos filhos,
seja como transmissores de capital cultural ou como força para subverter a impossibilidade de
estudo daqueles, dadas as condições objetivas de suas vidas. Dessa forma é que a discussão
partiu primeiramente da escolaridade e profissão dos pais e depois, a procedência do ensino
médio dos discentes.
Escolarizar a população nem sempre foi prioridade das políticas públicas no Brasil. Os
investimentos na oferta de ensino gratuito para todos tiveram início de forma ainda muito tímida
com a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública em 1930. E mesmo com um plano
de educação escolar gratuita para todos, durante muitos anos as camadas populares
permaneceram fora da escola básica e do ensino superior. Tal situação histórica se confirma
com informações sobre a dificuldade de acesso à educação escolar dos pais do grupo informante
nos permitindo afirmar que num universo de 91 pais e mães, citados nos questionários (sendo
44 do sexo masculino e 47 do sexo feminino), 30% possui formação superior. Deste total, 4,5%
são homens 25,5% mulheres. Já os que não concluíram a educação básica perfazem a seguinte
soma: pai 22,7% e mãe 23,4%, ou seja, 36 pais e 27 mães.
Esses achados sugerem duas reflexões, uma delas refere-se ao acúmulo de capital
cultural transmitido por estes pais aos graduandos durante a vida: Quais os valores e costumes,
as práticas culturais, possibilidade de acesso a livros, lazer e ambientes de socialização destas
famílias? E a outra: quais as chances dos filhos de pais analfabetos, que nesse estudo expressam
8,7% entre pais e mães, terem as mesmas perspectivas de acesso a outros bens culturais que os
filhos de pais escolarizados?
Essas reflexões sugerem ir mais a fundo na análise dos dados coletados e ainda buscar
outras informações, visto que para chegarmos a uma resposta concisa para tais questionamentos
não depende somente do que fora informado nos questionários, mas necessita de investigações
sobre a relação destas questões com tantos outros fatores sociológicos, históricos e até
psicológicos dos sujeitos informantes.
Creio que o nível de escolaridade dos pais pode interferir de forma negativa ou positiva
na vida dos filhos, não só nos anos iniciais da educação escolar, mas durante toda a vida. De
forma negativa logo que ser analfabeto ou não ter uma formação superior nos dias atuais implica
na exclusão de alguns contextos sociais principalmente na oportunidade de trabalho, fato que
pode comprometer o futuro dos filhos, pois oferecer aos mesmos o acesso a outras culturas,
outros ambientes de socialização se torna algo distante da realidade financeira. E de forma
positiva por vários motivos, como por exemplo, se o pai e/ou a mãe não teve acesso a escola,
por falta de oportunidade ou condições financeiras, pode servir de incentivo buscando fazer
diferente com seus filhos. E os filhos por não aceitarem realidade semelhante à dos pais,
poderão buscar, por si mesmos, o acesso e sucesso escolar. Além disso, podemos dizer ainda,
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que as próprias mudanças sociais exigem esforços para obterem sucesso escolar, pois “entrar
na universidade já não é mais um sonho, tornou- se uma obrigação para quem ambiciona “ser
alguém”, ter uma “boa vida”, um trabalho digno e respeitado, os recursos para sustentar sua
família sem viver na angústia da penúria financeira.” CHARLOT (2011, p. 8).
Dessa forma, a escolaridade e profissões dos pais, apesar de ecoar de forma significante
na vida dos filhos, estes devem mover esforços para subverterem as dificuldades impostas pelas
desigualdades sociais como as dificuldades de acesso ao ensino de qualidade e, por conseguinte
ao ensino superior.
Quanto à atividade econômica que exercem, do total de cinquenta pais (do sexo
masculino) foi informada a profissão de 76% (38 pais), mostrando-se mais frequente a de
agricultor com 34,2%, seguido de profissional autônomo com 21%. Além desses apareceram
às ocupações de pedreiro, marceneiro, carpinteiro, administrador de empresas, motoristas,
policial e vigia. Ocupações pouco remuneradas. Já entre mães, foi informada a profissão de
72% (36 mães), sendo 14% agricultoras, 10% autônomas e outros 27,7% donas de casa.
Ao refletirmos sobre as profissões mais frequentes entre as famílias dos graduandos ou
primeiramente sobre o nível de escolaridade das mesmas, não é difícil imaginarmos as
condições de trabalho as quais estão inseridas e consequentemente sua classe social, tendo como
base os salários que o mercado de trabalho picoense e de regiões vizinhas oferece hoje.
Assim, podemos dizer que escolaridade desses pais reflete em suas profissões, na
medida em que se observa que o vínculo empregatício em área de formação profissional de
nível superior é quase inexistente. Entre as mães, doze possuem formação de nível superior e
destas, sete atuam como professoras. Chama-nos atenção ainda o número de alunos oriundos
de escolas públicas, representado por 74% do universo de 50 investigados.
Complementando o cruzamento de dados, dos 50 participantes da pesquisa, nove
concluíram o ensino médio em instituição de ensino privada e entre os pais destes, seis possuem
formação em nível superior sendo que quatro mães, além da formação nesse nível de ensino,
atuam como professoras.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a análise da escolaridade e profissão dos pais e procedência do EM dos graduandos
tornou-se possível chegar mais próximo de seu perfil, pois as informações são oportunas para
afirmar que a maioria é oriunda da classe popular do Piauí e que devido as condições
socioeconômicas os graduandos acabam optando por cursos de menor custo financeiro para
obter o diploma de nível superior e seguir na carreira profissional.
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Dessa forma, podemos dizer que refletir sobre a escolaridade e profissão dos pais e a
procedência do ensino médios dos graduandos do curso de pedagogia da UFPI possibilitou para
nós pesquisadores olhar de forma sensível e subjetiva o percurso acadêmico dos discentes, visto
que, podemos refletir sobre suas condições de inserção e permanência no mundo universitário
com seu vasto campo de possibilidades, heterogeneidade cultural e possibilidade de novos
conhecimentos.
Afirmamos ainda que a desigualdade social é a grande vilã no sucesso/fracasso escolar
nos vários segmentos sociais e requer dos governantes maiores investimentos em políticas
públicas de assistência estudantil, bem como sistema de avaliação da qualidade de permanência
dos jovens nas universidades.
REFERÊNCIAS
AVALIAÇÃO das políticas públicas de educação. Entrevista com Marta Arretche. Univesp,
2012. 15’02”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=LsT21yPiTQA>.
Acesso em: 16 out. 2017.
BOURDIEU, Pierre. Os três estados do Capital Cultural. In: NOGUEIRA, Maria Alice e
CATANI, Afrânio (orgs). Escritos de Educação. Trad. Aparecida Joly Gouveia. 11. ed.
Petrópolis (RJ): Vozes 2010, p. 72-79.
LAHIRE, Bernard. Sucesso Escolar nos Meios Populares. São Paulo: Editora Ática, 2004.
PASSOS, Guiomar de Oliveira; PEREIRA, Samara Cristina Silva. Herança cultural e êxito
escolar das classes populares na universidade: a força do ethos na mobilização de capitais
rentáveis ao percurso escolar. Disponível em:
<http://www.ufpi.edu.br/subsiteFiles/ppged/arquivos/files/eventos/2006.gt16/GT16_2006_08.
PDF>. Acesso em: 17 out. 2017.
1 INTRODUÇÃO
A privação sensorial auditiva é uma condição que diminui a capacidade de perceber os
sons ocasionando muitas limitações, tanto no desenvolvimento do indivíduo como nos aspectos
sociais, biológicos, psicológicos e educacionais, e se não ocorrer algum tipo de intervenção ou
tratamento para essa dificuldade, na medida em que o indivíduo for envelhecendo, tal privação
pode torná-lo mais debilitante e até mesmo surdo. O indivíduo surdo é aquele com incapacidade
auditiva. (ARAGON; SANTOS, 2015). Portanto, essa privação deve ser monitorada,
acompanhada e pode ser tratada do nascimento até o indivíduo ser totalmente incluído no campo
social, bem como ter completado todo o seu ciclo escolar.
O direito à educação deve ser garantido a qualquer pessoa sem distinção, sendo
responsabilidade do Estado a garantia de sua oferta. Além da educação básica, o Estado deve
garantir ao aluno o “acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um” (LDB, Art. 4°, V), o que inclui também sua
inserção no ensino superior. Porém, apesar de todas as pessoas terem direito à educação, o
acesso e a permanência de alunos com deficiência em escolas ou universidades ainda tem sido
difícil devido à falta de recursos (físicos, humanos e pedagógicos) dessas instituições para o
adequado atendimento as necessidades específicas desses sujeitos.
A luta pela inclusão de alunos com deficiência é antiga e para ampliar e fortalecer o
acesso e permanência desses indivíduos nas Instituições de Ensino Superior (IES), o Ministério
da Educação e Cultura (MEC), resolveu organizar:
Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas
concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e
difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e
de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. (BRASIL, 2002).
Porém, ainda é possível encontrar instituições que não ofertam o ensino de libras e nem
outros recursos que garantam a inclusão do aluno com deficiência auditiva no âmbito
acadêmico, o que dessa forma contribui para que este não venha ter sucesso em sua formação
profissional.
Apesar de ter aumentado o número de alunos surdos ingressantes em cursos superiores,
ainda é possível perceber que a formação desses sujeitos é permeada de desafios. Com base
nisso, formulou-se a seguinte questão norteadora: Quais são os desafios na formação
profissional de nível superior dos alunos deficientes auditivos?
Dessa forma, na busca de responder essa indagação, foi objetivo deste estudo identificar
na literatura acadêmica os desafios na formação profissional dos alunos deficientes auditivos
nas Instituições de Ensino Superior.
2 METODOLOGI
O presente estudo derivou-se de uma revisão de literatura retrospectiva e descritiva a
partir de periódicos científicos de circulação nacional e internacional, nos quais foram
identificadas as produções acadêmicas dedicadas à divulgação de pesquisas sobre formação
profissional de alunos deficientes auditivos nas Instituições de Ensino Superior.
Para o desenvolvimento da pesquisa, foi realizado um levantamento no banco de dados
da SCIELO (Scientific Eletronic Library Online) e Scholar Google, no qual foram utilizados os
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descritores: deficiência auditiva, surdez e ensino superior. Para isso, foram utilizados os
seguintes critérios de inclusão: artigos publicados em português com resumos disponíveis nas
bases de dados e textos completos disponíveis em meio eletrônico. Além disso, foram utilizados
os seguintes critérios de exclusão: as cartas ao editor, editoriais, livros, artigos sem data e
identificação e os artigos que não estejam ligados ao tema, no período compreendido entre 2010
a 2016.
Na operacionalização desta revisão, foram utilizadas as seguintes etapas: identificação
do tema, estabelecimento dos critérios para a inclusão e seleção da amostra, leitura dos títulos
e resumos, leitura e análise dos resultados, discussão e apresentação dos estudos incluídos de
acordo com o interesse proposto pelo estudo.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A pesquisa na literatura resultou no achado de 102 periódicos pré-selecionados, dentre
os quais14 foram selecionados para participar do presente estudo, sendo 04 da SCIELO e 10 da
Scholar Google, conforme descrições apresentadas nas Tabelas 01 e 02.
Bisol et al (2010); Moreira, Bolsanello e Seger (2011); Albino (2013); Lima e Costa
(2014), apontaram a adaptação dos alunos deficientes auditivos em um curso superior de uma
instituição de ensino regular como uma dificuldade para formação desses sujeitos. Afinal, a
adaptação de qualquer aluno à vida acadêmica pode ser difícil, pois o ingresso em um curso
superior requer maturidade, organização, mudança de rotina, responsabilidade, autonomia,
compromisso e recursos financeiros, e para um aluno deficiente, além de todos os critérios já
listados, a adaptação também requer acessibilidade nas mais diversas dimensões. Porém, o que
acontece é que nem toda IES está preparada para atender devidamente a esse público. Para
Fernandes et al (2015):
A inclusão no ensino superior é hoje uma realidade para muitos jovens que provêm
de diversas matrizes socioculturais e que expressam distintas necessidades. Por isso,
permanece como um desafio para a universidade responder de forma positiva à
demanda crescente dos estudantes com deficiência.
Mesmo amparada por lei, a inclusão tem sido um grande desafio para as instituições de
ensino, que em sua grande maioria, apesar de teoricamente defendê-la, não estão preparadas
para lidar com essa realidade na prática educativa, como apontou o estudo de Bisol et al (2010).
Daroque (2011) alerta para questão da defasagem da educação básica, o que
consequentemente, interfere no desempenho acadêmico do aluno.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo conseguiu delinear os principais desafios para formação do aluno com
deficiência auditiva no âmbito das Instituições de Ensino Superior.
Evidenciou-se que as IES compreendem a importância da inclusão e têm buscado
melhorar o atendimento às especificidades dos alunos com deficiência auditiva, ainda que, com
algumas limitações de diversas ordens, que vão desde a estrutura física às práticas pedagógicas.
No entanto, de todos os desafios apresentados, vale destacar que os de ordem
pedagógica foram os mais citados, entre eles: capacitação docente, estratégias metodológicas e
avaliativas. Nesse sentido, cabe a cada IES buscar meios que visem superar estas e outras
dificuldades, de forma a possibilitar o sucesso acadêmico do aluno com deficiência auditiva,
bem como sua inserção no mercado profissional.
Vale destacar que, as políticas públicas para inclusão de deficientes no âmbito
educacional vem aos poucos propondo diversas mudanças para o ensino (com mais recursos
pedagógicos: livros, materiais, equipamentos e instrumentos), pesquisa e extensão (instruções
e/ou capacitação aos professores, comunidade e técnico-administrativo) e infraestrutura
(construções de espaços acessíveis) das Instituições de Ensino Superior, possibilitando,
garantindo e melhorando as condições de acesso e permanência do aluno com deficiência
auditiva no ensino superior.
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REFERÊNCIAS
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http://www.lapeade.educacao.ufrj.br/anais/files/WSMC4063.pdf> . Acesso em: 02 set. 2017.
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e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia, Curitiba v.1, p.1-141, 2010. Disponível em:
< http://www.scielo.br/pdf/cp/v40n139/v40n139a08>. Acesso em: 03 set. 2017.
BISOL, C.A.; VALENTINI, C.B. Desafios da inclusão: uma proposta para a qualificação de
docentes no Ensino Superior via tecnologias digitais. Revista Portuguesa de Educação, v. 25
n. 2, 2012. Disponível em:
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_________. Lei 10.436 - Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras
providências. Brasília, 2002. Disponível em: <
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BRUNO, M.M.G. Políticas afirmativas para a inclusão do surdo no ensino superior: algumas
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COSTA, Matheus Rocha da; RESENDE, Mariani de Ávila; SILVA, Keli Maria de Souza
Costa. A inclusão do aluno surdo na Universidade Federal de Uberlândia: uma experiência a
ser compartilhada. IN: SEMINÁRIO NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE URBELÂNDIA, 6. 2014. Disponível em:
http://www.cepae.faced.ufu.br/sites/cepae.faced.ufu.br/VISeminario/trabalhos/oral/eixo5/6_a_
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Revisão da Legislação. Cient., Ciênc. Human. Educ., v. 16, n. 3, p. 194-200, 2015. Disponível
em : <http://www.pgsskroton.com.br/seer/index.php/ensino/article/viewFile/3104/2880>.
Acesso em: 08 de out. 2017.
ABSTRACT
The objective of the present study was to investigate the scientific production about social values and higher
education in the formation of the citizen. An integrative review was performed in the LILACS and MEDLINE
databases with the association of descriptors: social values, students and social participation. The inclusion
criteria were: articles made available; disclosed in Portuguese; and published in the period between 2007 and
2017. Data collection was performed in June and July 2017. In the initial search, 17 articles were found, 09 in
LILACS and 08 in MEDLINE. Duplication studies were excluded, in languages other than those defined and those
that, as perceived through the title or after reading the abstract, did not meet the proposed theme. Of the 09 articles
read in full, only 07 answered the guiding question and defined the final sample. After a thorough reading, it was
possible to organize the content of selected articles in two themes: Social Value; Higher Education in Citizen
Training. The level of evidence of the studies points to the social responsibility that the university has, as well as
the fundamental role of approaching the social reality to the individual, providing a favorable environment for the
construction of the value system and citizenship. It is concluded the lack of research addressing the subject,
pointing out the need to develop further studies that deepen the discussion on the subject.
1 INTRODUÇÃO
Os valores estão no cerne do processo de desenvolvimento moral, entendido como o
processo de valoração de atos, comportamentos e características do indivíduo, tais como a
504
Mestranda em Saúde Coletiva – Universidade de Fortaleza – herikapp@hotmail.com
505
Curso de bacharelado em Enfermagem – Universidade de Fortaleza – lusousaoliveiraol@gmail.com
506
Curso de bacharelado em Enfermagem – Universidade de Fortaleza – rafaelaliman@hotmail.com
507
Coordenadora e Professora do programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva – Universidade de Fortaleza – mirnafrota@unifor.br
capacidade de refletir sobre aspectos morais e realizar julgamentos pessoais de ordem moral,
escolhendo entre o que parece ser certo ou errado, justo ou injusto, bom ou mau (FINKLER;
CAETANO; RAMOS, 2013).
Park, Twenge e Greenfield (2017) relatam que os valores que irão determinar as atitudes
e os padrões de comportamento que se observa no dia-a-dia, fornecem sentido e justificam as
escolhas dos indivíduos. Nas recentes gerações o desenvolvimento dos valores tem sido
impactado por fatores sociáveis únicos, como a Internet.
No contexto atual de deterioração da ética e da moral, é de extrema importância educar
o indivíduo no sistema de valores que sustenta a sociedade em que ele se desenvolve, contudo,
vale ressaltar a necessidade de aperfeiçoamento das Instituições de Ensino Superior (IES) não
só para instruir, mas educar para o processo de socialização (SAINZ et al., 2013).
As IES são responsáveis pelo processo de formação e profissionalização das pessoas
por meio da relação crítica e reflexiva com aspectos técnicos, teóricos, éticos e morais
implicados na vida em sociedade nos termos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB) (CAIXETA; SOUSA, 2013).
Rocha e Siqueira (2009) salientam que o desenvolvimento de valores, habilidades e
entendimento está implicado ao agir como um cidadão. Um currículo voltado para a finalidade
de formação da cidadania dos sujeitos, o provimento de uma seleção de temas de enfoque local,
regional, nacional e global que exigem posicionamento e ação sociopolíticos deve ser
prioridade nas IES.
A educação para a cidadania diz respeito a todas as instituições de socialização, de
formação e de expressão da vida pública, cabendo à universidade proporcionar ao estudante
acesso aos saberes e às práticas de uma cidadania ativa, que tenham um significado real para
sua futura prática profissional, assumindo o dever de retribuir à sociedade a sua educação. Não
que sua formação seja submetida a ela, mas acreditamos ser necessário retornar a ela, em
benefício dela, o que se aprendeu (PINHEIRO; ARANTES, 2015).
Em um Brasil cada vez mais enfraquecido em termos econômicos, políticos e culturais,
onde os mercados financeiros e as grandes capitais imperam, questiona-se a crise de valores
dos cidadãos brasileiros. Cada vez mais se ouve falar, não só em crise de valores, como no
consequente surgimento de novos valores. Importa, pois, refletir se eles mudaram de fato ou
passaram simplesmente despercebidos em função das mudanças sociais e culturais a que se
assiste.
Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo investigar a produção científica
acerca dos valores sociais e do ensino superior na formação do cidadão.
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2 METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão integrativa, método que consiste na construção de uma análise
ampla da literatura, contribuindo para discussões, avaliação crítica e síntese de evidências
disponíveis sobre o tema investigado (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
Para o desenvolvimento do presente estudo, foram seguidas seis etapas distintas,
similares aos estágios de desenvolvimento de pesquisa convencional (MENDES; SILVEIRA;
GALVÃO, 2008). Na figura 1 estão descritas essas etapas.
Fonte: Autora
As buscas foram realizadas nos meses de junho e julho de 2017, nas bases de dados
LILACS e MEDLINE por meio dos descritores: valores sociais, estudantes e participação
social. Com critérios de inclusão dos estudos pautou-se em artigos científicos com o texto
disponibilizados na íntegra abrangendo a temática, divulgados em português, inglês e espanhol
e publicados entre 2007 e 2017.
Os resultados dos artigos escolhidos foram analisados criteriosamente, as informações
extraídas foram separadas por categorias, construindo-se os grupos temáticos e analisadas de
forma descritiva.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente a busca do material de análise resultou em um total 17 artigos, 09 na
LILACS e 08 na MEDLINE. Excluíram-se estudos em duplicidade, em idiomas distintos dos
definidos como critérios de inclusão e aqueles que, conforme percebido através do título ou
após leitura do resumo, não atendiam ao tema proposto. Dos 09 artigos lidos na íntegra, 7 foram
selecionados para elaboração da revisão do presente projeto. A seguir descreveremos essas
etapas (Figura 2).
MEDLINE: 08 LILACS: 09
MEDLINE: 05 LILACS: 04
Total: 07 artigos
Fonte: Autora
Valores Sociais
Os valores estão correlacionados com as aspirações do indivíduo que irão determinar o
comportamento na vida cívica, qualidades individuais e características que correspondem a
esses interesses sociais (MESQUITA et al., 2016).
De acordo com Kusdil e Simsek (2008) a maior crise que o ser humano pode enfrentar
é uma crise de valores, pois afeta a humanidade, que passa a viver de forma mais egoísta, cruel
e violenta. Em contrapartida, Finkler, Caetano e Ramos (2013) argumentam que não estamos
vivendo em uma época de perda de valores. Os valores estão ao nosso dispor, o que precisamos
fazer é vivenciá-los, pois eles só têm sentido quando fazemos uso em nossas relações e na vida
cotidiana. Eles são atualizados com o passar dos tempos, conforme as culturas e os povos, mas
não perdem sua essência.
A idade juvenil é o período das contradições, questionamentos, construção da
personalidade e identidade da pessoa como um todo. Por isso, a educação a partir de valores
torna-se fundamental nessa fase da vida. A falta de perspectiva de futuro leva os jovens a
arriscar-se, muitas vezes, com comportamentos destrutivos, manifestando sentimento de
revolta, violência, xenofobia, exclusão, depressão e outros. Para Chan, Ou e Reynolds (2014) a
figura do jovem pós-moderno é caracterizada por uma distorção de valores, alheios aos ideais
coletivos, resultante do ambiente em que vivem.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste contexto, conclui-se a necessidade de realizações de mais estudos com a
finalidade de contribuir para uma formação profissional mais voltada a cidadania e a
participação social, com o intuito de despertar nos universitários a responsabilidade com a
sociedade e o dever de cidadão.
O nível de evidência dos estudos analisados aponta para a responsabilidade social que a
universidade tem, além do papel fundamental de aproximar a realidade social ao indivíduo,
disponibilizando de ambiente favorável para a construção do sistema de valores e da cidadania.
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2017.
ABSTRACT
The present article, with a bibliographical and historical-documentary approach, in its first section, presents
research samples taken in the state of Amazonas that elucidates a way of teacher training in the period from 2009
to 2015 through the National Plan for the Education of Teachers of Basic Education Teaching. The second session
discusses the challenging proposal for teacher training with the creation of the Postgraduate Program in the
Professional Masters in Technological Teaching by the Federal Institute of Science and Technology Education of
Amazonas in the 2013 year. Both continuing education programs brought immeasurable gains to the Amazonas
state. Reference has also been made to authors who anchor the proposals presented.
1 APRESENTAÇÃO
Refletir sobre a formação de professores, resgatar o caminho trilhado com olhar
histórico crítico, significa redirecionar sua intencionalidade para o horizonte e lançar luz no
caminho percorrido. Certezas e incertezas, sucessos e insucessos, desafios e conquistas numa
compreensão não linear, é acreditar que lutas incansáveis que esta categoria fez e fará, fazem
parte de jornadas intensas pela busca do reconhecimento e conhecimento uma vez que este,
jamais será exaurido pois, “essa é a primeira decisão que temos de tomar: nossa entrada no
mundo da ciência e a tecnologia será pela porta de trás, a da ciência em construção, e não pela
entrada mais grandiosa da ciência acabada”. (LATOUR, 2011, p. 6).
Em recorrência ao histórico dos cursos de formação de professores, verifica-se que estes
oscilam entre o século XIX e o início dos anos de 1900 em experiências de origem francesa e
alemã, sem continuidades. Apenas na década de 1930 foram iniciados no país os cursos de
Pedagogia, reforçados pelo movimento dos Pioneiros da Educação. (LULIANELLI, 2016).
508
Mestre em Ensino Profissional e Tecnológico pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas.
docarmoandrade58@gmail.com
509
Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas. prof.acsouza@gmail.com
professores como o Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica de Ensino
(PARFOR), Decreto n. 6.755 revogado pelo Decreto de n. 8.752 de maio de 2016 que dispõe
sobre a nova Política Nacional de Formação dos Profissionais da Educação com vistas a atender
em regime de colaboração o Plano Nacional de Educação e os Planos Decenais dos estados, do
Distrito Federal e dos municípios.
Uma vez revogado, por qual motivo trazê-lo em pauta neste artigo? Com o objetivo de
fazer uma interface na trajetória da formação de profissionais da educação no Amazonas, nas
políticas públicas, no pouco investimento, no espaço geográfico dentre outros, pois,
distinta da sua formação inicial, ou para profissionais licenciados que atuavam como tradutor
intérprete de Libras na rede pública de Educação Básica; e
iii) Formação pedagógica para docentes ou tradutores intérpretes de Libras graduados não
licenciados que se encontravam no exercício da docência na rede pública da educação básica.
Conforme os dados do observatório do PNE (2014), baseados no Censo Escolar de 2014,
na região Norte, havia cerca de 31,7%, isto é, 60.559 professores sem formação em curso
superior, e o estado do Amazonas detinha 28,2% desse indicativo, o que representava,
aproximadamente, 11.847 profissionais. Com relação a esse estado da federação brasileira, os
dados revelaram ainda que os professores que possuíam a formação adequada para atuar nos
anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio eram em torno de 30% (12.738) e 70%
(59.061). (MARQUES, 2016, p. 24).
Assim que,
abrangente, não apenas para a certificação ou para as exigências do mercado de trabalho e sim
para o conhecimento, pesquisa que possibilita transformação na sociedade.
Deste modo se observa que é necessário,
de inserção tecnológica e o ensino não pode estar a quem dos inventos tecnológicos, passar sim
de meros usuários executando programas para programadores autônomos do próprio
conhecimento e assim, o Amazonas é contemplado por um mestrado com foco na formação de
novos pesquisadores na ação reflexão e na reflexão ação. Programadores autônomos do próprio
conhecimento? No sentido de que,
A ‘Gênese’ desse percurso advém do Projeto Pedagógico do curso strictu sensu [...] o
qual evidência, em seu histórico que, quanto ao grupo de professores pesquisadores
que fazem parte do corpo docente, a preocupação com a escassez de profissionais para
investigar questões emergentes que tratem do ensino tecnológico (GONZAGA, 2015,
p. 9).
formativo, tanto nos dez professores pertencentes ao corpo docente, que experienciaram um
processo de formação contínua, quanto dos mestrandos, referente à formação continuada
culminou em dois momentos significativos:
a) a busca dos professores por uma base epistemológica para fundamentar os objetos
de investigação dos professores;
b) as atividades pedagógicas que retroalimentaram os saberes dos professores e alunos
durante as vivências nos encontros, nas disciplinas, e que ganharam sentido através
de registros dos professores e mestrandos, decorrentes das atividades pedagógico-
investigativas tanto durante os encontros na sala de aula, quanto nas reuniões,
orientações e no II Colóquio do MPET do IFAM (Ibidem, 2014).
4 METODOLOGIA
No referente aos procedimentos metodológicos a pesquisa está estruturada em duas
seções nas quais, suas bases epistemológicas estão ancoradas em pesquisa documental
assentada em documentos, escritos - Legislação da Educação Brasileira ou não, denominadas
de fontes primárias. De caráter bibliográfico ou de fontes secundárias para identificar na
literatura alusiva às contribuições científicas sobre um tema específico da literatura pertinente
510
Rede em Educação em Ciências e Matemática – Doutorado – REAMEC. Universidade Federal do Mato Grosso.
a uma determinada área (LAKATOS; MARCONI, 2010, p. 157; MALHEIROS, 2011, p.81-
82).
5 OBJETIVOS
O artigo tem por objetivo apresentar amostragens de pesquisa realizada no estado do
Amazonas que elucida um percurso da formação de professores no período de 2009 a 2015 por
meio do Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica e discutir a proposta
desafiadora para a formação de professores com a criação do Programa de Pós-graduação no
Mestrado Profissional em Ensino Tecnológico pelo Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia do Amazonas no ano de em 2013.
6 CONCLUSÃO
O estudo aqui apresentado, com bases teóricas em investigação documental e
bibliográfica em dois programas de formação de profissionais na educação Básica no período
de 2009 a 2015 - PARFOR e Pós-graduação em MPET/2013 no estado do Amazonas buscou
resgatar com olhar crítico a trajetória destas iniciativas que elucidam sua importância na
temporalidade e remetem à compreensão de quão pertinentes continuam sendo tais demandas
com investimentos de políticas públicas para o estado do Amazonas, debruçando-se sobre as
etapas já percorridas pelos professores doutores, mestres e mestrandos do MPET nos anos 2013
a 2017. Concluímos que, aos poucos o Amazonas adentra na estatística não somente
quantitativa, mas qualitativa de profissionais que dedicam tempo à pesquisa em serviço haja
visto as volumosas pesquisas realizadas e publicadas pelos professores, egressos e mestrandos
do programa do MPET.
REFERÊNCIAS
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TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 16. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo é parte de pesquisa em desenvolvimento que busca resgatar a história e a
memória da formação técnica no Ceará, tendo a antiga Escola Técnica Federal como cerne.
Contar esta história remota a necessidade de resgatar e contextualizar a instituição que
foi criada pela Portaria Ministerial de n° 331, de 06 de junho de 1968, em plena ditadura militar,
no governo do Marechal Artur da Costa e Silva, a finalidade primeira foi ofertar cursos técnicos
de nível médio nas áreas Edificações, Estradas, Eletrotécnica, Mecânica, Química Industrial,
Telecomunicações e Turismo. (SIDOU, 1979).
Esta formação remota ao ano de 1942, governo Vargas, quando foi instituída a Lei
Orgânica do Ensino Industrial, Decreto-Lei n° 4.073, de 30 de janeiro. Dentre os objetivos, se
encontra a regulação da formação profissional para a indústria, estabelecimento das bases de
organização e o regime do ensino industrial em caráter de segundo grau, destinado à preparação
profissional de trabalhadores que iriam atuar nas “modernas” indústrias, nascentes no Brasil.
(CUNHA, 2000).
511
Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). E-mail:
512
Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). E-mail:
513
Graduanda em Licenciatura em Artes Visuais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). E-mail:
514
Graduanda em Licenciatura em Artes Visuais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). E-mail:
culturais o que possibilita a expressão do imaginário social, político e econômico dos homens
pertencentes ao contexto observado, consentindo a divulgação e preservação de uma memória
cultural de uma sociedade. Nesta perspectiva a fotografia como registro dos acontecimentos –
ao contrário de apontar para um passado inacessível – é potencialmente histórico e carrega os
sinais e rastros do seu tempo. (STAMATTO, 2009).
A esse respeito vale ressaltar que a realidade contida na imagem fotográfica não
apresenta apenas a imagem estática dos fatos sociais. A fotografia não se faz em abstrato, ela
ocorre sempre entre seres ou fenômenos relacionados, situados em um tempo e espaço
determinados, por isso a necessidade de entender o contexto social, econômico e político do
Brasil, para que fossem criadas as instituições de formação para o trabalho no âmbito do Estado.
(STAMATTO, 2009).
É olhando para o Brasil de meados dos anos 1950, no bojo do desenvolvimento
industrial, início da internacionalização da economia, com forte presença do papel do Estado
no processo de modernização, particularmente nas áreas de infraestrutura e energia, que se
encontra a preocupação com a formação do técnico de nível para o País. O Plano de Metas do
Governo Kubitschek (1956-61) evidenciou a passagem definitiva da Nação à condição de
industrializado e de sociedade urbana. (CUNHA, 2000).
Data desse período, a expansão da educação profissionalizante, com o surgimento de
ginásios industriais, de centros de educação técnica e de programas de preparação de mão de
obra industrial. Assim, em 1959, as instituições federais de ensino profissional passaram à
condição de autarquias, com autonomia de gestão e pedagógica. Nesse período, se acentua as
tendências tecnicistas de educação. (CUNHA, 2000).
O regulamento do ensino técnico em seu primeiro artigo estabeleceu que:
Como o próprio instrumento legal indica ocorre a transformação das escolas técnicas e
das escolas industriais em escolas técnicas federais conferindo às mesmas a condição de
autarquias, com autonomia didática, administrativa, técnica e financeira. (BRASIL, 1959).
A formação técnica, no contexto dos anos de 1960, mantém a mesma tendência, por
meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº. 4.024, de 20 de dezembro de
1961 – fixou as diretrizes e bases para o ensino de 1° e 2° Graus e estabeleceu como objetivo
REFERÊNCIAS
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Palavras chave: história da formação profissional. trabalhadores da construção civil. canteiro escola. autogestão
na construção civil. emancipação social.
APRESENTAÇÃO
O presente artigo relata de modo conciso os resultados da pesquisa de doutorado516 em
fase de conclusão também intitulada “Formação profissional dos trabalhadores da construção
civil: o canteiro de obras e a emancipação social”. A pesquisa atuou diretamente em
experiências de educação profissional unitárias e integrais de trabalhadores da construção na
forma de “canteiro escola autogestionário”, com objetivo de contribuir com a ampliação da
autonomia dos educandos construtores.
Concebemos que a ampliação da autonomia do trabalhador é potencializada pela critica
do processo produtivo – alienado, opressor e exploratório - e o conseqüente exercício pelos
próprios trabalhadores das atividades hoje dominadas por engenheiros e arquitetos: projeto,
cálculo, planejamento de cronogramas e atividades de obra, orçamentação do trabalho e dos
materiais de construção.
Uma das experiências se realizou junto de um movimento popular, o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, nas atividades pedagógicas do “Canteiro escola casa
515
Doutorando do Programa de pós-graduação em arquitetura e urbanismo do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo – IAU USP, campus São Carlos. Pesquisador do Habis – grupo de pesquisa em habitação e sustentabilidade do IAU USP, e do LCC –
Laboratório de Culturas Construtivas / Canteiro Experimental da FAU USP, campus Butantã, São Paulo. A pesquisa de doutorado pôde se
realizar devido bolsa de pesquisa concedida pela CAPES - Demanda Social da USP. chicobarros@usp.br
516
A referida pesquisa é realizada com orientação do Prof. Dr. João Marcos de Almeida Lopes, desde março de 2013, e tem data de conclusão
– banca de defesa – prevista para dezembro de 2017.
das artes Frida Kahlo”, com o emprego de processos agroecológicos de construção, na Escola
Nacional Florestan Fernandes – Guararema, SP; e outra, foi realizada junto ao “Canteiro escola
águas urbanas”, realizado por uma universidade, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
USP – FAU USP, em obras comunitárias de drenagem urbana alternativas no bairro dos
Alvarenga, São Bernardo do Campo, SP.
As vivencias experimentadas nos colocaram diante de impasses e suscitaram a busca
por uma melhor compreensão do processo histórico que nos trouxe a atual problemática do
trabalho alienado e heterônomo, bem como oprimido e explorado. Ou seja, saímos em busca da
resposta para a seguinte questão: “Como foi que chegamos à atual forma – cindida - de produção
do espaço?” Desde quando há a separação entre teoria – desenho da arquitetura - e prática –
construção da arquitetura? Como é que o conhecimento foi “tratado” nesse processo de
separação?
Olhamos para o todo do processo histórico, mas com foco na modalidade formativa e
pedagógica da construção civil, nos séculos XX e XXI, no estado de São Paulo. Neste período
os trabalhadores da construção foram – de forma hegemônica e com resistências emancipatórias
- primeiramente, qualificados para a materialização dos espaços das elites - pois se vivia o
período do “ecletismo” - construído com maior autonomia, criatividade e participação dos
trabalhadores. Posteriormente, com o avanço da industrialização e do desenho “moderno”, o
emprego do concreto armado – controlado pela engenharia e a arquitetura autoritária – os
construtores passaram a ser desqualificados, com a ampliação de sua heteronomia no processo
construtivo – em um processo formativo dialético em relação a arquitetos e engenheiros civis.
METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada pelo método da pesquisa-ação517, ou seja, da práxis cientifica,
mobilizada pela problematização sucessiva entre abordagens práticas reais – os canteiro escola
- aliadas a elaboração de entendimentos críticos da teoria – incursão histórica.
Partiu-se das necessidades vivenciadas, dos limites, problemas e contradições
enfrentados nos ensaios de “canteiro escola”, onde educadores e educandos buscaram realizar
um processo formativo que contribuísse com a ampliação da autonomia dos construtores,
segundo preceitos de Paulo Freire, organizados em “A pedagogia do oprimido”.
517
Michel Thiollent em “Notas para o debate sobre pesquisa-ação”, concebe que a Pesquisa Ação – PA é uma modalidade da Pesquisa
Participante – PP: “A PA não é apenas PP, é um tipo de pesquisa centrada da questão do agir. (...) além da participação dos investigadores,
a PA supõe uma participação dos interessados na própria pesquisa organizada em torno de determinada ação. Que tipo de ação? Em geral,
trata-se de uma ação planejada, de uma intervenção com mudanças dentro da situação investigada” (THIOLLENT, pág. 83).
Para tanto, foi trabalhado junto aos educandos construtores atividades da teoria da
arquitetura, tais como desenho, cálculo, orçamentação do trabalho e dos materiais, bem como
organização e planejamento coletivo das atividades de obra para a construção de espaços com
uso e função social.
A partir de questões vivenciadas nos ensaios é que se deflagrou a curiosidade pela
realização de uma investigação histórica acerca dos processos formativos enfrentados pelos
trabalhadores da construção civil para que se tenha atingido o atual estado de alienação e
heteronomia (FERRO). Teve-se, aliado ao modo de operação do sistema econômico, a estrutura
educacional nacional dual, que separa os profissionais – e não apenas os da cadeia produtiva
da construção civil - entre aqueles teóricos – arquitetos, engenheiros e técnicos em edificações
e os práticos – pedreiros, pintores, eletricistas, encanadores, carpinteiros, dentre outros.
OBJETIVOS
Tivemos como objetivo contribuir diretamente com experiências de educação dos
trabalhadores pelos trabalhadores no campo da construção civil em três âmbitos: dos
movimentos populares518 – onde participamos do “Canteiro escola casa das artes Frida Kahlo”,
realizado na Escola Nacional Florestan Fernandes – ENFF519; das universidades520 – onde
contribuímos com o “Canteiro escola águas urbanas em áreas de mananciais”, realizado no
bairro dos Alvarengas, em São Bernardo do Campo; e por fim, do poder público – onde
trabalhamos na implantação do “Canteiro escola de arquitetura popular”, pela Prefeitura
Municipal de Santo André, mas que não foi implementado devido a mudança de gestão, no
período pós golpe de 2016.
CONCLUSÃO
Apesar da não finitude dos processos formativos, e da impossibilidade de haver uma
conclusão definitiva sobre o tema, chegamos a aproximações importantes, que nos permitem
compreender que a formação dos trabalhadores da construção – e dos trabalhadores em geral –
carece de acesso à totalidade do conhecimento produzido no campo de cada conhecimento, pois
este é guardado e reservado para uma minoria, que acessa o ensino universitário.
Pudemos verificar que os profissionais antes apenas práticos da construção ao terem
acesso a parcelas do conhecimento da teoria da arquitetura – desenhos, planilhas, textos e outras
518
O movimento popular elencado foi o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST.
519
A ENFF localiza-se em Guararema, Grande São Paulo, às margens da Rodovia Presidente Dutra.
520
A universidade com qual contribuímos foi a USP, em pesquisa conduzida pelo Laboratório de habitação e assentamentos humanos – Lab
Hab, e do Laboratório de Culturas Construtivas, ambos da FAU USP.
formas abstratas de lidar com a arquitetura, bem como o reconhecimento social de seu saber –
agora mais completo – alcançaram maior entendimento de suas capacidades livres e criativas
de ação. Isso foi possível pois estes profissionais encontravam-se inseridos em processos mais
amplos de ação emancipatória diante do status quo, junto do MST - Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra, e das associações de moradores de luta pela moradia da região
da Billings, em São Bernardo do Campo.
Ou seja, os ensaios experimentais – aliados a pesquisa histórica – para a formação e
ampliação da autonomia, com fins à emancipação dos trabalhadores, inseridos em processos
amplos e críticos de enfrentamento do status quo, nos permitiram considerar que o
enfrentamento da condição separada da teoria e da prática é central para a ampliação da
democracia radical e socialista – sendo que na construção civil, a separação se dá no âmbito do
canteiro e o do desenho.
Diante disso, sua reunião, é uma tarefa urgente.
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RESUMO
Este trabalho faz parte de uma pesquisa em andamento que trata do impacto da formação profissional na
empregabilidade dos egressos dos Cursos Superiores de Tecnologia em Sistemas para Internet (SPI) e Logística
(LOG) do Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), Campus Uberlândia Centro. O objetivo foi analisar os
impactos da formação profissional na empregabilidade destes egressos a partir das suas percepções. Os
pressupostos estabelecidos foram que os egressos buscam formação profissional para inserir-se e/ou manter-se no
mundo do trabalho, a fim de melhorar seus rendimentos, ou para dar continuidade aos estudos após a conclusão
do curso superior. Para tanto, realizamos uma pesquisa descritiva e explicativa de natureza qualiquantitativa, em
que, em um primeiro momento procedeu-se a revisão da literatura sobre o tema e, posteriormente, no campo
empírico, foi aplicado um questionário contendo questões fechadas e abertas, disponibilizado aos egressos na
forma online. Participaram 37 egressos do curso de SPI e 48 do curso de LOG, os dados foram importados para o
software GNU PSPP, possibilitando o tratamento estatístico das questões. Em ambos os cursos, o perfil
predominante dos egressos é: idade entre 20 a 29 anos, gênero masculino, cor branca, solteiros e haviam estudado
em instituições de ensino público. Com relação à formação continuada, 54,0% dos egressos do curso de SPI e
46,0% do curso de LOG continuaram sua formação profissional em cursos de capacitação/atualização e pós-
graduação, indicando a preocupação desses com a atualização permanente frente ao avanço tecnológico e às
transformações no mundo do trabalho.
APRESENTAÇÃO
O presente trabalho faz parte de uma investigação em desenvolvimento, no âmbito do
Programa de Pós-Graduação em Educação Tecnológica do Instituto Federal de Ciência,
Educação e Tecnologia do Triangulo Mineiro (IFTM), Mestrado Profissional em Educação
Tecnológica, que visa avaliar o impacto da formação profissional na empregabilidade dos
egressos dos cursos Superiores de Tecnologia em Sistemas para Internet (SPI) e Logística
(LOG) do IFTM - Campus Uberlândia Centro, analisando, segundo a percepção dos seus
egressos, quais os aspectos contribuíram para garantir/possibilitar a empregabilidade destes. A
pesquisa objetiva responder à questão: qual o impacto da formação profissional, segundo a
percepção dos egressos dos cursos de SPI e LOG do IFTM, na empregabilidade?
A motivação pela escolha dos cursos de SPI e LOG se deu pelos seguintes fatores: a)
serem os cursos mais antigos do IFTM Campus Uberlândia Centro; b) cursos com o maior
521
Discente do Mestrado Profissional em Educação Tecnológica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro
Campus Uberaba e Prof. EBTT do IFTM Campus Uberlândia Centro Uberlândia-MG; nilomedeiros@yahoo.com.br
522
Profa. Dra. EBTT do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro Campus Uberlândia Centro, Uberlândia-
MG; elisa.ribeiro@iftm.edu.br
Apoio Financeiro: MEC - CONIF - ProfEPT (Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica).
523
Na década de 1960, Theodore W. Schultz, professor da Universidade de Chicago, publicou textos que formalizaram a nova teoria, teoria
do capital humano. Seu trabalho teve repercussão mundial e rendeu-lhe o Prêmio Nobel da Economia em 1979 (FERNANDES, 2012).
METODOLOGIA
Nessa pesquisa a escolha metodológica foi pela pesquisa do tipo descritiva e explicativa,
de natureza mista (quantitativa e qualitativa) e quanto aos objetivos, pela realização de pesquisa
bibliográfica, documental e empírica. Neves (1996, p.02) destaca que “combinar técnicas
quantitativas e qualitativas torna uma pesquisa mais forte e reduz os problemas de adoção
exclusiva de um desses grupos”.
A pesquisa bibliográfica constituiu-se do estudo das obras dos autores: Cunha (2000),
Pacheco (2010), Manfredi (2002), Batista (2011), Deluiz (1995), Frigotto (2010), Bastos
(2006), Helal (2005), Minarelli (1995) entre outros, objetivando assim, fazer a fundamentação
ISSN – 2448-4210 http://laborufc.wix.com/anaislaborufc Página 1433
Anais do Encontro Internacional Trabalho e Perspectiva de Formação dos Trabalhadores
Nov/2017 Vol. 01 nº 02
CONCLUSÕES
Por se tratar de uma pesquisa em andamento, constatamos, entre os egressos de ambos
os cursos, SPI e LOG, perfis similares, tendo como, predominância, jovens, com idade entre 20
e 29 anos, brancos, gênero masculino e estado civil, solteiros.
De acordo com a Tabela 1, na coluna curso de SPI, o resultado aponta para um perfil
predominante entre os egressos: idade entre 20 a 29 anos (54,1%), gênero masculino (86,5%),
cor/raça branca (51,4%) e estado civil solteiro (48,6%). Na coluna curso de LOG, verifica-se o
seguinte resultado entre os egressos: idade entre 20 a 29 anos (47,9%), gênero masculino
(66,7%), cor/raça branca (50,0%) e estado civil solteiro com (52,0%).
masculino.
verificada também por Fernandes (2012) e Alkmin (2015). A pesquisa de Fernandes (2012,
p.128) revelou que a trajetória de escolarização dos egressos de ADS, “da educação infantil ao
ensino médio, manteve-se, predominantemente, em escolas públicas”. Realidade similar na
pesquisa de Alkmin (2015, p. 151) “o percurso escolar dos ex-alunos do CST em ADS no nível
fundamental e médio de ensino foi definido em mais de 80% somente em escolas públicas”.
Com o objetivo de verificar se os egressos dos cursos de SPI e LOG haviam começado
o investimento em sua formação profissional antes do ingresso no Ensino Superior, foi
perguntado, se eles tinham feito algum curso técnico de nível médio. As respostas indicaram
que 40,5% dos egressos do curso de SPI fizeram cursos técnicos de nível médio, 86,7%
estudaram na forma concomitante/subsequente e 13,3% na integrada524. Já no curso de LOG,
37,5% fizeram cursos técnicos, 66,7% cursos na forma concomitante/subsequente e 33,3% na
forma integrada ao Ensino Médio. Estes dados sinalizam que o curso técnico pode ter
influenciado na escolha do curso superior, considerando que os egressos tiveram, contato com
um modelo formativo técnico, podendo assim ter-lhes despertado para um possível
prosseguimento nessa área.
Conjuntura análoga encontrada por Fernandes (2012) em pesquisa com 65 egressos do
curso de ADS do IF Goiano Campus Urutaí, em que, 38,46% passaram pela formação
profissional técnica de nível Médio antes do ingresso no ensino superior, dos quais 60% haviam
cursado o Ensino Técnico, nas formas, concomitante ou subsequente, e 40% na forma integrada
ao Ensino Médio. Alkmin (2015), ao pesquisar os egressos do curso de ADS, no IFMG Campus
Bambuí, IFNMG Campus Januária e IFTM Campus Uberaba, apurou, que 54%, 74,4% e
58,3%, respectivamente, cursaram o curso Técnico de nível Médio, na área de Informática,
antes de optar pelo curso de ADS.
No que se refere à formação continuada - igualmente importante para composição da
empregabilidade. A Tabela 3 demonstra que, 54,0% dos egressos de SPI continuaram sua
formação profissional em cursos de capacitação/atualização, pós-graduação (Especialização) e
Mestrado. O restante, 46,0%, declarou ter realizado somente o curso superior.
524
Artigos 36-A, 36-B e 36-C da Lei nº 9.394 de 1996.
I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à
habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, contando com matrícula única para cada aluno;
II - concomitante, oferecida somente a quem já tenha concluído o Ensino Fundamental ou esteja cursando o ensino médio, na qual a
complementaridade entre a educação profissional técnica de nível médio e o ensino médio pressupõe a existência de matrículas distintas para
cada curso, podendo ocorrer: a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as oportunidades educacionais disponíveis; b) em instituições
de ensino distintas, aproveitando-se as oportunidades educacionais disponíveis; ou c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios
de intercomplementaridade, visando o planejamento e o desenvolvimento de projetos pedagógicos unificados;
III - subsequente, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino médio (BRASIL, 1996).
Sobre esta questão, Batista (2011, p.65) também afirmar que, “com o advento de novas
tecnologias e dos novos dispositivos organizacionais e gerenciais, engendraram a necessidade
de uma força de trabalho mais escolarizada e mais qualificada”.
Conforme dito anteriormente, trata-se de uma pesquisa em andamento, para tanto,
esperamos analisar o restante dos dados do questionário com objetivo de responder à questão
central, quais aspectos são determinantes para a empregabilidade dos egressos dos cursos de
SPI e LOG no cenário de alta inovação tecnológica, aprofundamento da financeirização da
economia e visível impacto das políticas neoliberais ao modelo educacional para atender à
classe trabalhadora.
REFERÊNCIAS
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tecnologia em diferentes regiões do Estado de Minas Gerais: o caso do curso de análise e
desenvolvimento de sistemas. 2015. 238f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação,
Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2015.
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dos estudos com egressos na avaliação de programas. In: ________. Estudos com estudantes
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DELUIZ, Neise. Formação do trabalhador: produtividade & cidadania. Rio de Janeiro: Shape
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MANFREDI, Sílvia Maria. Educação profissional no Brasil. São Paulo: Cortez, 2002.
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http://www.senac.br/informativo/bts/271/boltec271c.htm>. Acesso em: 27 jan. 2017.